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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR
MILTON SANTOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE

FICHA DE LEITURA: Traços do ​proprium​ cultural africano e sua relação com o


sagrado.
Autor: CANTARELA, A.G.
Título: Traços do ​proprium​ cultural africano e sua relação com o sagrado.
Palavras-chave: (3 a 5)
Culturas africanas, oralidade, histórias, sacralidade, teóricos africanos
Tema central:
O autor procura verificar, a partir de estudos de autores africanos, se existiria um
proprium ​cultural africano ligado ao sagrado.
Resumo do texto:
Cantarela inicia o texto reconhecendo que, embora a contribuição de
antropólogos e etnólogos europeus do início do século XX seja inegável para que a
historiografia do continente africano e registro de suas práticas passassem a assumir um
tom menos verticalizado, linear e condescendente, é marcante a ausência de teóricos
africanos nas bibliografias. O artigo passa então a discutir as seguintes questões, que o
próprio autor elenca em sua introdução, a partir de reflexões de estudiosos africanos:
- Há um ​proprium​ africano relativo ao sagrado?
- Quais aspectos se destacariam no olhar africano sobre o sagrado?
- Quais vozes - de teóricos africanos - expressariam esse olhar?
- Haveria a possibilidade de diálogo entre a visão europeia e a visão acerca do
sagrado?

Teóricos africanos apresentados no texto:


● Joseph Ki-Zerbo, historiador (Burkina Faso, 1922-2006)
Primeiro historiador africano a escrever um livro sobre a história da África, envolvido
politicamente na luta anticolonialista e fundador do Movimento de Libertação
Nacional. A proposta de sua obra é fazer uma historiografia da África a partir de um
olhar interdisciplinar de dentro do continente, que modifique o discurso sobre o
mesmo, visibilizando os diferentes povos e culturas, seus valores e tradições.
Pistas de um possível ​proprium​: energia vital.
● Amadou Hampaté Bâ, escritor e poeta (Mali, 1901-1991)
Foi membro do conselho executivo da Unesco na década de 1960. Defensor (como
Ki-Zerbo) da “oralidade como fonte legítima de conhecimento histórico”, coletou
tradições orais oeste-africanas, documentou práticas culturais, conhecimentos
tradicionais e cosmovisões religiosas. Em suas palavras: “A palavra falada possui valor
moral e caráter sagrado, devido à sua origem divina e às forças ocultas nela
depositadas”, “Materializa as forças vitais”.
Pistas de um possível ​proprium​: sacralidade da palavra,
● Honorat Aguessy, sociólogo (Benin, 1934-)
Aponta o preconceito na descrição europeia de África. Vê o deslocamento do escrito
para o oral como fator comum entre as diferentes culturas africanas. A tradição é uma
força em movimento. Aguessy diz, sobre a controvérsia entre estudiosos europeus
sobre se haveria ou não filosofia na África, que “não têm efeito sobre as culturas
africanas”, e denuncia os critérios eurocêntricos adotados para a aferição. Cantarela
argumenta, com Aguessy, que a narrativa mítica tem um caráter fundador, organizador
e por sua ligação com o domínio religioso, que “significa ao mesmo tempo o domínio
do meio ambiente e o respeito que a ele se deve”. Aguessy precisa que o que se chama
de “religião tradicional” não é um produto estático e puro, mas de um resultado
dinâmico e vivo de “processos de enriquecimentos recíprocos e dialéticos entre as
sociedades africanas”.
Pistas de um possível ​proprium​: tradições orais, transmissão oral de saberes, religião
com foco cosmoteândrico (que integra o cósmico, o divino e humano).
● Kwame Anthony Appiah, filósofo especializado em estudos culturais
(Inglaterra/Gana, 1954-)

Cantarela nos alerta sobre o perigo de generalizações e simplificações no


cotejo entre culturas, e salienta alguns elementos que, a seu ver, precisam ser tratados
de forma menos reducionistas: religião tradicional africana, história e oralidade e a
relação entre política e questões culturais.
Sobre a religião cultural africana, elenca constantes na cultura africana,
especialmente no âmbito da religiosidade: “a presença do sagrado em todas as coisas, a
relação harmônica entre a arquitetônica do mundo visível e a do invisível, a relação
dinâmica entre os vivos e os mortos, o acesso às sucessivas etapas do amadurecimento
técnico e humano baseado nos processos pedagógicos de afiliação e de iniciação, a
construção identitária alicerçada sobre o sentido do comunitário”
No que diz respeito a história e oralidade, celebra a crescente decadência do
conceito hegeliano de que o povos ágrafos eram povos desprovidos de cultura e
história. Ressalta que a oralidade é “dominante, mas não exclusiva do campo cultural
cultural africano” e que não significa necessariamente a incapacidade de uso da escrita.
Cantarela se utiliza do exemplo da produção literária africana para demonstrar
a forte ligação entre política e questões culturais no continente: as questões sociais e
políticos (lutas anticoloniais no tempo das colônias, fome e guerras civis em tempos
pós-coloniais) estão sempre presentes na temática das obras.
Por fim, Cantarela chama a atenção para o perigo da colocar a Europa e África
em direta oposição, como se uma representasse o extremo oposto da outra. Esta prática
pode contribuir para a cristalização de estereótipos e preconceitos, inclusive no campo
científico. Seria absurdo imaginar que pensadores africanos nada teriam a contribuir
para a Europa e vice versa.
O autor conclui que os autores africanos citados indicam que a religião e o
sagrado têm papel de destaque na constituição das culturas africanas, mas que dizer que
existiria uma visão de mundo comum a todos os povos de um continente heterogêneo
seria fazer uma generalização manipuladora à moda daquelas dos estudos científicos da
era vitoriana na Europa. Celebra as contribuições dos cientistas africanos que, ao
oferecer uma outra perspectiva, a “de dentro”, permitem uma leitura mais rica e menos
reducionista das culturas dos povos de África.
Observações pessoais sobre o texto:

Apesar de saber das limitações de recorte que impõe o formato de artigo, senti falta de
breve comentário que fosse sobre as possíveis contribuições de cientistas não-europeus
e não-africanos para o estudo das culturas africanas.

Salvador, 14 de julho de 2017

Nome do aluno: Marina Martinelli, Nívia Santana, Marcelo R Souza, Zulu Araújo

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