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DOI: http://dx.doi.org/10.22296/2317-1529.

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uma rede aberta, a autora compara o processo de fave- mentos da arquitetura e urbanismo, a Estética da ginga
lização – de ocupações informais – com o mato que pode ser considerado um ponto de inflexão.
nasce discretamente nas bordas e que logo acaba ocu- Para concluir, valeria acrescentar que, no caso es-
pando a totalidade dos vazios deixados pela máquina pecífico do processo de ocupação de terrenos e criação
imobiliária. Estabelece, assim, um confronto entre a de favelas, questão chave do trabalho, os processos ur-
lógica do mato (da “erva daninha”) e a lógica da árvo- banos, especificamente as produções de arquitetura e
re, ou seja, entre o sistema erva/rizoma do pensamen- urbanismo, podem vir a ser considerados tanto “má-
to da multiplicidade e aquele configurado no pensa- quinas abstratas” de sobrecodificação efetuadas pelo
mento binário ainda dominante. Insiste na oposição “aparelho de Estado” quanto “máquinas de guerra” que
entre uma cultura acentrada, não-hierárquica, instável, procuram escapar à sobrecodificação e resistir aos “apa-
e uma cultura arborescente, hierárquica e enraizada. relhos de captura” que se encontram a serviço do
Explica, assim, como um rizoma, a exemplo do mato, aparelho de Estado. Essa situação extremamente con-
da erva, está sempre no meio, não têm começo nem flitante em nosso país acaba por exigir, compulsoria-
fim, transborda, e evoca a idéia de infiltração, de um mente, ao lado das realizações de natureza estética, no
escoamento que preenche vazios. O processo de faveli- espaço físico da percepção urbana, um inadiável posi-
zação, na surpreendente comparação ao mato, escapa à cionamento ético, passando inevitavelmente pelo viés
idéia de projeto, cresce onde não se espera, formando político, que poderá promover uma melhor qualidade
encraves no território urbano. de vida, hoje tão aviltada e insegura sob a hegemonia
Na parte final do trabalho, apropriando-se da do paradigma científico/tecnológico.
proposição criativa “jardins em movimento” do paisa-
gista Gilles Clément e contestando ao mesmo tempo
sua idéia de “arte involuntária” e sua aplicação às fave- MODERNIDADE E MORADIA.
las, refere-se à suposta intenção da prefeitura do Rio HABITAÇÃO COLETIVA
de Janeiro de “preservar” as favelas. Contrariando o NO RIO DE JANEIRO NOS
senso comum e o consenso generalizado dos responsá- SÉCULOS XIX E XX
veis pelas intervenções do programa oficial “Favela- Lílian Fessler Vaz
Bairro”, a autora propõe: em lugar de preservar as fa- Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002.
velas o que “seria necessário preservar é o seu próprio
movimento”, ou melhor, “territórios em movimento”, Eloísa Petti Pinheiro
ainda melhor, “bairros em movimento”, procedendo
através de quase não-intervenções, ou seja, interven- Partindo das primeiras habitações coletivas no
ções mínimas. Rio de Janeiro – os cortiços e as estalagens do século
Depois dessas breves considerações sobre o traba- XIX – até chegar ao edifício de apartamentos con-
lho à guisa de resenha, ocorre perguntar que lição o lei- temporâneo, e aos arranha-céus dos anos 30 do século
tor de Estética da ginga poderá tirar? Sem dúvida, a ati- XX, a autora analisa não apenas as diversas manifesta-
tude de ousar, de contrapor-se à forma de pensar ções de habitação coletiva como também as mudanças
consensual, lançando no intercâmbio de idéias, ima- tipológicas e populacionais ao longo do período abor-
gens conceituais novas que podem receber um desejá- dado. Lílian demonstra de que forma as habitações co-
vel acolhimento em relação aos fundamentos da arqui- letivas surgem como habitação popular, transforman-
tetura e do urbanismo. Como ato criativo, o trabalho do-se, ao final do período estudado, em habitação das
constitui um singular acontecimento, pois, como tal, classes média e alta, compreendendo os diferentes es-
pressupõe ainda um processo de atualização, isto é, co- paços construídos como produtos dos sistemas econô-
mo sistema aberto, propício a conexões e heterogenei- mico, político e cultural.
dades sob a égide da lógica da multiplicidade, instru- Considerando a habitação coletiva como mani-
mental teórico extremamente rico em noções e festação própria da modernidade, a autora percorre os
conceitos. Sem dúvida, no âmbito dos estudos teóricos distintos tipos de moradia propondo-se a fazer uma
produzidos no País e que se relacionam com os funda- leitura da modernidade, ultrapassando os limites da ar-

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quitetura e do urbanismo. O livro aborda ainda, em de alto custo. Além disso, há também as avenidas,
relação ao caráter simbólico, a habitação coletiva do sé- classificadas, por Lílian, como “tipo em transição”, e
culo XIX, símbolo da pobreza, da doença, da promis- consideradas estalagens higienizadas que abrigam no-
cuidade e da insalubridade, substituída, no século XX, vos moradores – uma vez que os antigos não podem
pela moradia multifamiliar, moderna e funcional, ex- pagar os aluguéis –, excluindo, assim, os benefícios da
pressão privilegiada da modernidade. modernização dos seus destinatários específicos. Se-
A metodologia adotada, uma pesquisa através de gundo a autora, “iniciava-se o processo de melhora-
classificados dos imóveis, permite rastrear as transfor- mento das moradias mediante a substituição dos seus
mações ocorridas e verificar na habitação, como a moradores” (p.45).
condição do que é coletivo passará a definir a inserção Na análise do processo de especialização funcio-
da cidade na modernidade. Também são analisadas as nal e social do espaço urbano, o uso do solo e as clas-
transformações urbanas, arquitetônicas e simbólicas ses sociais, categorias que antes se misturavam, agora
através de um levantamento de plantas de estalagens, passam a ocupar áreas exclusivas. A população pobre
avenidas, vilas operárias, casas de cômodos e de aparta- instala-se em locais onde os casebres são tolerados, em
mentos, prédios para renda e hotéis, e fica claro como terrenos de difícil edificação e de propriedade indefini-
o edifício de apartamentos inclui uma série de caracte- da, enquanto a classe média, que tem um aumento
rísticas presentes nos seus antecedentes e rejeita outras. progressivo a partir dos anos 20 do século XX, partem
Lílian define, assim, que o surgimento dos apar- para novas opções de moradia: casas isoladas ou em sé-
tamentos não ocorre como uma evolução dos tipos de rie nos bairros servidos por modernos bondes elétricos
casas ou quartos enfileirados – as estalagens, avenidas e e/ou “auto-ônibus”, e com infra-estrutura de serviços e
vilas –, mas representa uma profunda ruptura nessa comércio. As avenidas cedem lugar às vilas, definidas
evolução, apesar de ser um padrão que aprofunda a como “conjunto de habitações isoladas em edifícios se-
tendência de agrupar, cada vez mais, pessoas em uma parados ou não, e dispostos de modo a formarem ruas
área menor, tornando mais coletiva ou mais socializa- e praças interiores sem caráter de logradouro público”
da a moradia. O novo modelo a ser reproduzido, se- (Decreto 2.087 de 19/01/1925).
gundo a autora, é o prático-simbólico, no caso do Rio As vilas, uma vez desvinculadas das habitações
de Janeiro, onde a habitação não é apenas um abrigo, coletivas, vêm atender à emergente classe média e pas-
construção ou elemento isolado, mas também um sam por modificações, buscando privacidade, utilizan-
componente dos sistemas espaciais em que se insere e do novos materiais e novas técnicas que permitem um
que define seu complexo valor de uso. melhor aproveitamento dos lotes: começam as cons-
Tendo como limites espacial e temporal a cidade truções em altura, mesmo antes que se difundisse o uso
do Rio de Janeiro de 1850 a 1937, o livro se desen- do concreto armado.
volve em três partes e cinco capítulos, começando pela Por fim, surgem os apartamentos nos anos 20,
história da habitação coletiva em que são destacados um novo padrão de habitação no Rio de Janeiro que
não só os “grandes momentos de ruptura, mas também terá sua melhor expressão em Copacabana onde a os-
as permanências, fortes impactos e sutis modificações, tentação e o luxo da nova burguesia se cristalizam no
além de uma série de contradições inerentes ao proces- prédio que rompe a ocupação horizontal do recém-
so de transformação da moradia nos tempos moder- ocupado areal.
nos” (p.16). O livro enfatiza a importância da divulgação na
Adotando o conceito de habitação coletiva como aceitação da nova forma de morar, quando busca des-
várias unidades habitacionais abrigadas sob o mesmo vincular os apartamentos da sua condição de habitação
teto e construídas sobre o mesmo lote onde se com- coletiva, sempre associando-os a casas isoladas e inde-
partilham certos equipamentos, a autora identifica di- pendentes, pois, como explicar a aparição e difusão dos
ferenças em cada momento histórico. Das habitações apartamentos se havia um horror generalizado pela
coletivas insalubres, cortiços e estalagens, passa-se às habitação coletiva? A autora considera que o fato de
casas higiênicas – como um modelo ideológico ao os primeiros edifícios de apartamentos terem surgi-
qual são incorporadas inovações técnicas e sanitárias do em áreas nobres e modernas da cidade – como a

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Cinelândia, no Centro, e Copacabana, na Zona Sul – uso residencial, com mudanças quanto ao uso do solo
e serem ocupados por estrangeiros e capitalistas, além e à distribuição da população.
de estarem associados a certas práticas próprias das clas- No novo espaço urbano muda-se a relação entre
ses média e alta, pode explicar, em parte, esta aceitação. habitação popular e habitação coletiva. Desde a proi-
Como afirma a autora “o edifício de apartamentos e bição dos cortiços e a redução da tradicional forma de
Copacabana viriam a sintetizar um novo modo e mo- moradia popular, as favelas se multiplicam, localizadas
rar que significava simplesmente ser moderno” (p.81). próximo a possibilidade de trabalho, seja no setor da
Essa aceitação pode, também, estar vinculada às construção civil ou nas proximidades das moradias
formas de divulgação através da promoção das suas vir- da classe média. É assim que a verticalização e a faveli-
tudes pelos meios de comunicação – os jornais e as re- zação dominam boa parte do cenário carioca, expondo
vistas –, que constroem a imagem da nova moradia co- a cidade sua face mais moderna.
letiva através das características opostas aos dos antigos Ao abordar a questão da modernidade, o livro
cortiços. “Rompe-se, dessa maneira, o elo de ligação aponta a habitação coletiva como expressão privile-
com os tipos antecessores de habitações coletivas” giada da modernidade, e vai além do contexto habi-
(p.87). tacional da arquitetura e do urbanismo, buscando a
Na questão estética e formal, afirma-se que, na interface entre as áreas temáticas da habitação e da mo-
medida em que as habitações coletivas são apropriadas dernidade. Nos itens específicos, a autora busca, em
pela classe média, são incorporados elementos de dife- cada um, uma particularidade, uma constatação e uma
rentes estilos arquitetônicos, um processo de embur- observação sobre algum aspecto dessas transformações.
guesamento da habitação coletiva, além da transforma- É na relação entre o individual e o coletivo, a moradia
ção de seu conteúdo social no período abordado. A e o trabalho, a fragmentação do espaço e a exclusão so-
diferença entre as antigas habitações coletivas, destina- cial que busca estabelecer um paralelo entre a escala da
das às classes trabalhadoras, consideradas insalubres, e cidade e a escala da habitação.
os novos prédios de apartamentos, destinados às clas- Concluindo, Lilian levanta discussões de grande
ses média e alta, está em ser a primeira concebida por pertinência ao mesmo tempo que proporciona uma
uma classe para a outra enquanto a segunda é a mora- leitura agradável, com exemplos e imagens que facili-
dia da própria classe que formula conceitos de bem e tam sua compreensão. O livro, que não pretende es-
mal morar. “Desde o início da polêmica ficou clara a gotar o tema, traz uma grande contribuição ao estudo
articulação habitação coletiva/‘desprovidos da sorte’ e da história das habitações no Brasil, principalmente
edifícios de apartamentos/burguesia” (p.133). Marca a considerando o percurso realizado – as transforma-
diferença a utilização de habitação “multifamiliar” em ções arquitetônicas, urbanas, sociais e simbólicas da
substituição à habitação “coletiva”. habitação coletiva no Rio de Janeiro do final do sécu-
Este simbolismo marca-se, principalmente, pela lo XIX até os anos 30 do século XX. Sem dúvida, um
requalificação de elementos existentes, deixando pa- percurso pouco explorado, com poucas publicações e
tente que os edifícios de apartamentos não são nada muitas possibilidades dentro da historiografia da ar-
do que as antigas habitações coletivas foram, e passam quitetura brasileira.
a ser tudo o que aquelas não haviam sido. Além do Muito já se escreveu sobre as experiências de ha-
que, ao prestígio da moradia soma-se o prestígio do bitação coletiva no final do século XIX e princípio do
local da moradia, o “conceito da habitação coletiva foi século XX no Rio de Janeiro – como, por exemplo,
renovado, transformando-se o seu sentido negativo Roberto Moura, em Tia Ciata e a Pequena África no
em positivo e metamorfoseando o seu sentido simbó- Rio de Janeiro, e Lia de Aquino Carvalho, em Contri-
lico” (p.141). buição ao estudo das habitações populares. Rio de Janei-
No que se refere ao espaço urbano, a abordagem ro 1886-1906, além de outros, que mesmo não tra-
se faz através das transformações na morfologia e na es- tando especificamente do tema, abordam questões
trutura urbana que acontecem com o início do proces- referentes às formas da habitação das classes menos fa-
so de verticalização que, no caso do Rio de Janeiro, vorecidas como Visões da liberdade e Cidade febril, de
apresenta o predomínio da localização litorânea e do Sidney Chalhoub, e Evolução urbana do Rio de Janeiro,

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de Maurício de Abreu, apenas para citar alguns. É im-


portante destacar que o livro que Lílian nos apresenta
se soma aos anteriores na história da habitação no Bra-
sil, em particular, porque preenche uma lacuna ao es-
tudar o edifício de apartamentos no período da transi-
ção para o modernismo, quando se verifica a mudança
na forma de habitar, sua relação com o espaço urbano
e a produção social de moradias.

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