Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
PROFESSORES DE LÍNGUAS
1
Doutoranda em Estudos Linguísticos e Literários na Universidade de São Paulo (USP); professora de língua
inglesa na Educação Básica na rede pública do Estado do Paraná (SEED-PR). E-mail: katiamulik@yahoo.com.br
2
Doutoranda em Educação na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI); professora de língua inglesa na
Educação Básica na rede pública do Estado do Paraná (SEED-PR). E-mail: eliana_edmundo@yahoo.com.br.
ISSN 2176-1396
24704
Introdução
3
Orientações Curriculares para o Ensino Médio
4
Diretrizes Curriculares para a Educação. Básica do Paraná – Língua Estrangeira Moderna
24705
O presente questionário tem a finalidade de investigar sobre a formação e o desenvolvimento criticidade dentro
do curso de Letras. Não é necessário se identificar. Os dados revelados neste estudo servirão apenas como
caráter investigativo.
1) Você acha importante o aluno de Letras ter uma formação crítica? Sim ou não? Justifique.
2) O que você entende por formação crítica?
3) Que tipo de atividades são ou deveriam ser feitas para desenvolver sua criticidade? (atividades em sala e
atividades acadêmicas promovidas pela instituição)
4) Dada a resposta anterior, de quais atividades você já participa ou já participou?
5) Você tem espaço para expressar sua opinião em sala de aula? Com que frequência? Em quais disciplinas?
24706
Fonte: As autoras
5
Duração do curso era 3 anos e meio, ou seja, sete períodos.
24707
acadêmico que visem promover uma formação cada vez mais crítica que possa subsidiar o
futuro professor para lidar com as complexidades presentes na vida educacional.
Para conhecer o que os acadêmicos pensam sobre a formação crítica na graduação,
perguntamos6 aos participantes da pesquisa sobre sua relevância e solicitamos que
justificassem as suas respostas. Os alunos do 1º período, em geral, foram unânimes ao afirmar
a sua importância, como podemos exemplificar nos excertos a seguir:
C4: O estudante de Letras como futuro professor deve ter uma formação crítica diante
da realidade que o espera, a formação deve preparar o estudante com embasamento
teórico e prático.
C5: Penso que o curso oferece oportunidade ao aluno de desenvolver a sua
criticidade, mas acho que falta um direcionamento melhor por parte dos professores,
para ajudar o aluno a descobrir a forma mais “correta” de criticar.
6
Questão 1.
24708
I6: Algumas matérias oportunizaram nossa participação, porém são poucas as que
ocorrem interação, como, por exemplo linguística, que é um monólogo do professor.
I7: Acho que sim, posso expressar minha opinião nas disciplinas de linguística,
gramática e literatura, pois os professores convidam à reflexão. Essa facilidade não
se aplica ao espanhol e metodologia, pois as aulas são extremamente tradicionais.
C8: Espaço todos têm para expressar, mas as vezes fica tudo tão vago que não vejo
necessidade de minha opinião e nem perco meu tempo com isso.
C9: Acredito que todos temos, contudo, nosso ensino nessa instituição possui
7
Questão 5.
24709
ideologias engessadas.
Diante das respostas dadas pelos acadêmicos percebemos que, embora haja condições
para debates, o participante C8 não demonstra interesse por situações em que possa expor as
suas ideias. Ao afirmar que não deseja investir tempo nesse tipo de prática, ele parece não
considerar importante o que tem a dizer aos seus colegas ou professores ou, como o participante
C9, não acredita que seus discursos seriam ouvidos pelos outros que se encontram no contexto
institucional. Para C9, esses espaços são inócuos.
As respostas revelam como as práticas são realizadas no contexto acadêmico e, também,
que essa crítica a si mesmo pode ser entendida como o exercício de agência docente, conceito
relacionado a formação de professores e o desenvolvimento de saberes profissionais, ainda não
percebida pelos participantes. Para Ahearn (2001, p. 112), “agência se refere à capacidade
socioculturalmente mediada de atuar8”. Sob esta perspectiva, toda a ação é mediada
socioculturalmente, tanto na sua produção, quanto na sua interpretação. Nesse sentido, os
acadêmicos expressam suas críticas, tomando um posicionamento sobre como atuar no espaço
da sala de aula em que estão inseridos. De acordo com suas respostas, podemos afirmar que
exercer a agência nem sempre é participar dando uma opinião na forma de um comentário, por
exemplo, mas entender a necessidade de silenciamentos que podem oportunizar que o outro
possa manifestar seu posicionamento, ou ainda, se perceber um agente que está ou não
contribuindo para aquele conteúdo.
A temática da agência docente tem sido colocada em estudos recentes. A título de
exemplo podemos citar o trabalho de Duboc (2012) que, em sua tese de doutoramento, a partir
de uma pesquisa-ação colaborativa, discute a formação inicial de professores de língua inglesa.
A autora problematiza questões relacionadas ao currículo universitário recorrendo aos
pressupostos do letramento crítico como postura filosófica e conduzindo a ideia de “atitude
curricular”, delineada a partir do conceito de “brechas” que, segundo a autora, “emergem do
próprio contexto de formação de professores, de cujo processo resultaria o próprio
agenciamento dos sujeitos envolvidos”, sendo que a “atitude docente sobre essas brechas no
8.
Traduzido do inglês: “agency refers to the socioculturally mediated capacity to act. According to this bare bones
definition, all action is socioculturally mediated, both in its production and its interpretation”.
24710
currículo [é] que irá possibilitar o agenciamento crítico” (DUBOC, 2012, p. 94-95).
Entendemos que o conceito de agência é caro à formação de professores e está bastante
vinculado ao desenvolvimento crítico, pois esse último recai na possibilidade de preparar
indivíduos para mudanças de atitude. Assim, “a educação da complexidade e da agência quer
ensinar professores e educandos a aprenderem a buscar autonomia, a se assumirem no mundo”
(MOROSOV; MARTINEZ, 2008, p. 150). Esse conceito de agência exige o exercício constante
do questionamento e da problematização, isso quer dizer, se perceber como sujeito
“desmembrado pela fragmentação da experiência” (CORACINI, 2003, p. 100). É um sujeito
cuja identidade não é fixa e que reconhece que os saberes estão em constante processo de
transformação.
Concepções de crítico
Conceituar o termo crítico é uma tarefa um tanto quanto desafiadora, pois implica
compreender diferentes perspectivas epistemológicas. Isso porque o conceito de crítico
apresenta diferentes orientações teóricas dentro das variadas abordagens educacionais. De
acordo com Pennycook (2003, p. 25), uma das acepções mais comuns refere-se ao pensamento
crítico “utilizado para descrever um instrumento que propicia uma análise mais rigorosa à
solução de problemas ou à compreensão textual, por vezes identificada como um artifício para
desenvolver uma ‘distância mais crítica’”. Nessa acepção, o desenvolvimento do pensamento
crítico parece estar bastante atrelado à noção de ferramenta de análise que possibilita o leitor
de texto, ou de mundo, tomar certa distância daquilo que se analisa. Esse conjunto de
ferramentas pode ser ensinado e se assemelha a visão de leitura crítica nas palavras de Freire e
Macedo (1987, p. 29), “ler não é simplesmente decodificar a palavra escrita ou a linguagem;
melhor do que isso, a leitura é precedida e entretecida pelo conhecimento de mundo. A
linguagem e a realidade estão dramaticamente entretecidas”.
Segundo Monte Mór (2013), a habilidade de ser crítico tem sido entendida como um
elemento basilar de propostas educacionais, tais como o letramento crítico. Para a autora, essa
habilidade crítica se configura em:
C12: Pessoas que buscam mudar o “seu mundo”, pensando em como uma
compreensão do mesmo, os auxiliará nesse processo, ou seja, alguém que tem
consciência da realidade e que busca modificá-la.
C13: Compreender aquilo que muitas vezes está nas entrelinhas. Pensar de uma
forma mais ampla, saindo da superficialidade e buscando maior aprofundamento em
tudo aquilo o que é exposto.
9
Questão 2.
24712
em relação à compreensão do tema tratado na questão formulada, pois o mesmo (C12) não foca
sua resposta na formação crítica dentro do espaço acadêmico. Isso pode indicar que esse aluno
não se percebe dentro de sua agência (DUBOC, 2012; AHEARN, 2001). No entanto, é colocado
pelos participantes que a formação crítica envolve um processo de tomada de consciência da
realidade que possibilita a transformação dessa realidade. Ainda nesse sentido, a formação
crítica, de acordo com C10 envolve um processo de leitura que vai além do que está nos textos
buscando ampliar formas de pensar e interpretar o que é dado. Essa visão se assemelha ao que
é colocado por Macedo e Freire (1987), uma vez que ler é muito mais do que um processo de
decodificação. Ainda dentro dessa questão, o participante C14 atribui às atividades do curso a
responsabilidade de explicitar esse tipo de formação, como podemos exemplificar no excerto
abaixo:
C14: Sinceramente não entendo nada, por isso acho que deveria ser melhor
apresentado ao longo dos estudos.
C15: “Não. Eu acho que esse tipo de formação não nos leva a nada”.
A resposta dada por C15 diverge das demais respostas dadas pelo grupo a ponto de gerar
uma desestabilização. Com relação a esse tipo de posicionamento, Monte Mór (2014, p. 247)
nos coloca que “as visões sobre o inesperado e a revista às relações de poder proporcionadas
pelas situações de mobilidade trazem valiosas contribuições para os estudos de diversidade,
para o reposicionamento quanto ao outro e, necessariamente quanto ao eu”. Ao tomarmos os
pressupostos defendidos pelo letramento crítico entendemos que, embora gere algum tipo de
incomodo, por parte das pesquisadoras, o fato de o aluno não ver a importância de uma
formação crítica não indo de encontro com o que defendemos enquanto formadoras de
professores, reconhecemos que a existência de perspectivas divergentes faz parte das relações
interpessoais. Assim, o que se faz necessário diante de uma resposta como essa é a busca pela
problematização do pensamento, buscando entender o que o levou a pensar da forma como
pensa estabelecendo uma ética de ler-se-lendo (MENEZES DE SOUZA, 2011).
Com relação às práticas acadêmicas, perguntamos10 aos sujeitos participantes que
atividades são, ou deveriam ser, realizadas no curso de Letras e na faculdade, como um todo,
oportunizadas para propiciar o desenvolvimento crítico. A maioria dos alunos dos diferentes
períodos do curso citaram respostas semelhantes: debates, gincanas, visitas técnicas, palestras,
mesas redondas e seminários, conforme os exemplos que seguem:
I16: Mais palestras onde nós possamos expressar nossas opiniões críticas.
I17: Atividades que induzam o aluno a pensar de modo crítico e não mecanizado. A
instituição poderia proporcionar mais debates em relação com outros cursos.
C18: Atividades de mesa-redonda em sala de aula, já que é a nota motiva o aluno
(pelo menos por enquanto). Direcionar para atividades como: rodas de leitura,
produção de artigos em uma revista da instituição - Iniciação Científica.
C19: Muitas vezes os próprios professores cobram algo que eles mesmo não ensinam,
como a visão crítica, por exemplo.
Dos aspectos mencionados, observamos três apontamentos que merecem ser tratados.
Um deles é o fato de que os alunos almejam experiências extracurriculares, como mencionam
I16 e C 18. Com esse pensamento, parecem deixar de valorizar as experiências vivenciadas nas
aulas de línguas que, como explicam Jordão e Fogaça (2007), é um espaço privilegiado para
10
Questão 3.
24714
Sobre as atividades valorizadas pelos alunos, entendemos que estas podem ser vistas
como forma de ampliação do engajamento com novas e diferentes formas de saber, embora não
se possa garantir que o desenvolvimento crítico aconteça. Concordamos com Jordão (2004, p.
9) ao afirmar que “a agência localizada tem implicações também nos espaços mais distantes e,
11
Questão 4.
24715
Considerações finais
Contudo, precisamos criar estratégias para fortalecer esse diálogo no próprio curso e fora dele
ampliando as redes de contado dos acadêmicos e a descompartimentalização dos saberes.
Certamente, esses são entraves relevantes para o processo formativo dos futuros professores.
Entretanto, não nos é possível afirmar que a melhoria de tais aspectos possibilita o preparo
desses alunos para mudanças de atitude e, por conseguinte, para o exercício da agência docente.
O que a literatura da área tem apontado é que a abordagem reflexiva pode estimular a reflexão,
auxiliando o futuro professor a descobrir as dimensões de suas ações e a sua capacidade crítica.
Nesse artigo, exemplificamos representações do nosso trabalho como formadoras de
professores, por meio das percepções dos alunos. Entendemos que os resultados encontrados
podem servir como subsídios para as transformações necessárias os quais nos convidam para o
exercício constante de questionamento. Algumas das questões que nós fizemos durante a
análise dos dados e gostaríamos de compartilhar são: ‘Que professores somos? Que professores
queremos formar?’. Esperamos que nosso trabalho possa contribuir para que outros formadores
de professores problematizem suas práticas no ensino superior a fim de favorecer o
desenvolvimento crítico de seus futuros professores.
REFERÊNCIAS
AHEARN, Laura. Language and agency. Annual Review of Anthropology, n. 30, p. 109-137,
2001.
DUBOC, Ana Paula Martinez. Atitude Curricular: Letramentos Críticos nas brechas da
formação de professores de inglês. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos
Linguísticos e Literários em Inglês do Departamento de Línguas Modernas da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo: USP. 2012. 246 f.
FREIRE, Paulo.; MACEDO, Donaldo. Literacy: reading the word & the world. South Hadley:
Bergin & Garvey Publishers, 1987.
_____. Conversas com professores de línguas: avanços e desafios. In: SILVA, K. A.;
ARAGÃO, R. C. (Orgs.). Conversas com professores de línguas: avanços e desafios.
Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.
_____. A língua inglesa como commodity: Direito ou obrigação de todos? Conhecimento local
e conhecimento universal, v.3, n. 1, p. 272-295, 2004.
MONTE MÓR, Walkyria. Crítica e letramentos críticos: reflexões preliminares. In: ROCHA,
Claúdia Hisdorf; MACIEL, Ruberval Franco. Língua estrangeira e formação cidadã: por
discursos e práticas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.