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FACULDADE KURIOS – FAK

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS

ELAINE ROCHA DE SOUZA

ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA SEÇÃO LINGUAGEM EM FOCO NO LIVRO


DIDÁTICO PORTUGUÊS: LINGUAGENS DO 6° ANO

MARANGUAPE – CE

2017
1

ELAINE ROCHA DE SOUZA

ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA SEÇÃO LINGUAGEM EM FOCO NO LIVRO


DIDÁTICO PORTUGUÊS: LINGUAGENS DO 6° ANO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


coordenação do Curso de Letras da Faculdade
Kurios -- FAK, como requisito parcial para
obtenção do Título de graduado em Letras –
Português e Inglês.

Orientador: Prof. Me. Hugo Leonardo Gomes dos


Santos

MARANGUAPE – CE

2017
2

TERMO DE APROVAÇÃO

Elaine Rocha de Souza

ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA SEÇÃO LINGUAGEM EM FOCO NO LIVRO


DIDÁTICO PORTUGUÊS: LINGUAGENS DO 6° ANO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


coordenação do Curso de Letras da Faculdade
Kurios -- FAK, como requisito parcial para
obtenção do Título de graduado em Letras –
Português e Inglês.

Artigo aprovado em: ___/___/____ Nota: ______

_____________________________________________

Elaine Rocha de Souza

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________

Prof. Me. Hugo Leonardo Gomes dos Santos


Orientador

____________________________________________
Prof.ª Me. Rosangela Duarte Marquês
Coordenadora do Curso de Letras

___________________________________________
Prof. Me. Francisco Martins Matos
Examinador

MARANGUAPE – CE
2017
3

ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA SEÇÃO LINGUAGEM EM FOCO NO LIVRO


DIDÁTICO PORTUGUÊS: LINGUAGENS DO 6° ANO

Elaine Rocha de Souza


Prof. Me Hugo Leonardo Gomes dos Santos (Orientador)

RESUMO

Este artigo se propõe a investigar o tratamento do preconceito linguístico e da


variação linguística presente em um livro didático do 6° ano do ensino fundamental,
objetivando fazer uma análise sobre esse tratamento. Como fundamentação teórica,
tratamos de conceitos sobre a Linguística, a Sociolinguística, a variação linguística e
o preconceito linguístico, a partir de alguns autores como: Bagno (2007, 2008),
Gomes (2009), Bortoni-Ricardo (2004), e ainda com algumas propostas contidas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997, 1998). Apoiado em conceitos que
fundamentaram nossa pesquisa, foram analisados três exercícios do livro didático,
que refletir-se-á sobre o tratamento adequado da variação linguística e do
preconceito linguístico. Por meio da análise, pudemos verificar que o livro didático
avaliado abordava questões sobre a variação linguística e o preconceito linguístico,
no entanto, se limitavam em questões soltas não sendo possível uma compreensão,
muitas vezes por parte do aluno, que é o principal manuseador desse subsídio (livro
didático).

PALAVRAS-CHAVE: Variação linguística. Preconceito linguístico. Análise de


material didático.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade em sua totalidade tem mostrado o quanto tem avançado em


todos os aspectos, sejam eles: políticos, econômicos ou tecnológicos. Assim, a
população tem se emprenhado a contribuir para que esse avanço seja significativo,
já que a cada descoberta um passo é dado para o progresso. E a língua também
está nesse ciclo de evoluções. Com o estudo da língua, a sociolinguística tem
4

desmitificado conceitos que a gramática normativa vem impondo desde muito


tempo.
A Sociolinguística estuda a língua falada em seu contexto social e
também suas variações. É importante ressaltar que esse estudo impacta no meio
educacional, pois ensinar a língua e suas diferentes normas é um dos papéis
fundamentais que o professor de língua portuguesa exerce.
Existem diversos recursos que facilitam o ensino do professor de língua
portuguesa. “Dentre os diferentes recursos, o livro didático é um dos materiais de
mais forte influência na prática de ensino brasileira (PCN, 1998, p. 96) ”. Vale
ressaltar que o livro didático1 não é o único suporte que o professor tem para ampliar
os conhecimentos dos alunos, mas que é de suma importância a utilização desse
subsídio.
Desde 1929 quando iniciou o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), programa do governo federal que se destina a avaliação, seleção e
distribuição de livros didático para as escolas públicas de todo o Brasil. Houve
diversas mudanças que foram significativas para a melhoria da educação de
estudantes da rede pública, que por algum tempo, em relação ao português, eram
voltados ao estudo da língua como sendo homogênea e unívoca, priorizando o “falar
bem” e o “escrever bem”, isto é, a gramática normativa. Hoje, com estudos mais
pautados nos avanços da linguística, o ensino da língua tem se firmado e
selecionado livros que abordem da melhor forma a valorização da variação
linguística e o reconhecimento do preconceito linguístico ainda presentes no meio
social.
Para desenvolver o seu trabalho o professor de língua portuguesa tem
enfrentado uma série de dificuldades que vai desde aspectos estruturais, até a
diversidade linguísticas dos seus alunos. E quando o aluno chega na escola,
observa-se que já vem com uma gama de recursos comunicativos adquiridos antes
mesmo de ingressarem em sua vida escolar, e para ajudar esse educando a
entender as normas existentes em determinada língua a interação com o LD e com
o professor permitirá maior entendimento dos conteúdos. Mas é preciso que esse LD
esteja de acordo com as normas que permitem melhor o entendimento do uso da
língua, e o professor como mediador desse conhecimento precisa saber como lidar

1
Utilizaremos, a partir daqui, a abreviatura LD.
5

com o uso desse instrumento, e acima de tudo aceitar cada traço linguístico,
incluindo a diversidade da língua no processo de ensino-aprendizagem.
Portanto, o que propomos neste estudo é investigar como a variação
linguística e o preconceito linguístico são abordados em um LD voltado para o 6°
ano do ensino fundamental, precisamente em exercícios que abordam esses
conceitos. Dessa forma, pretendemos ainda verificar se a variação e o preconceito
linguístico vem sendo abordado de maneira adequada, já que esse assunto vem
sendo pontuado há muito tempo pelos PCN e pela própria Sociolinguística.
Um trabalho parecido com o presente artigo, já foi feito. Chamma (2007)
autora do trabalho, analisou livros de português da 5ª a 8ª série. Diferente da
dissertação da autora, o nosso artigo pretende analisar apenas um livro, que
apresenta no 1° capítulo cinco exercícios sobre o tema, dos quais três exercícios
estão ligados ao trabalho teórico.
Este artigo está dividido em cinco seções, das quais esta introdução é a
primeira. Na segunda seção intitulamos de fundamentação teórica, onde
discutiremos conceitos como: Linguística e suas formas de ação da linguagem,
Sociolinguística e seu estudo da língua na sociedade, variação e preconceito
linguístico na qual é o foco para a construção da nossa pesquisa, voltados para o
ensino a partir do LD. Na terceira seção estão os procedimentos metodológicos que
conduzirão a análise do LD. A análise do artigo, na quarta seção, está baseada na
avaliação de exercícios do LD, se está abordando adequadamente ou não as
variações e o preconceito linguístico no mesmo, seguido algumas vezes de uma
crítica. E por fim, as considerações finais na quinta seção, que concluirá de uma
forma geral os objetivos traçados.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Linguística é a ciência que estuda e descreve a língua, constituída


pelas diversas formas em que a linguagem verbal está sendo manifestada. Esse
estudo se mostra recente em relação aos estudos da Gramática Normativa, para
qual existem formas “certas” e “erradas” de usar a língua. A Linguística por sua vez
se mostrou mais aberta aos usos da língua adotando uma perspectiva mais
descritiva do que prescritiva, esse conhecimento tem demonstrado uma evolução
significativa, permitindo não só aprender as palavras e suas combinações, mas
6

também aprender os seus significados, que se constroem em determinado contexto


onde a linguagem verbal é construída.

A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma


finalidade especifica; um processo de interlocução que se realiza nas
práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos
distintos momentos da sua história. (PCN,1997, p. 22)

Dessa forma, encontramos linguagem em todo e qualquer âmbito onde


haja interação, seja em um ambiente informal ou em um ambiente mais formal,
possibilitando assim que o indivíduo possa expressar não só suas ideias e
pensamentos, mas possa agir através da interação verbal. Esse processo se dá de
acordo com as formas com que dizemos algo a alguém em determinado momento.
A concepção da língua(gem) está ligada ao conhecimento de mundo que
esse ser humano tem, pois é a partir desse domínio que ele irá produzir, interagir,
expressar suas visões de mundo de acordo com a construção dessa prática no meio
social, sendo que tais usos linguísticos são fortemente influenciados pela sociedade.
Assim, esse uso da língua é escolhido pelo falante em determinado evento de
oralidade, podendo haver mudanças de acordo com o momento em que esse
indivíduo emprega a variedade linguística.

[...] toda e qualquer variedade linguística é plenamente funcional, oferece


todos os recursos necessários para que seus falantes interajam
socialmente, é um meio eficiente de manutenção da coesão social da
comunidade em que é empregada [...]. (Bagno, 2007, p. 48)

Assim, toda variedade além de servir a comunicação, também se presta a


manutenção da organização social e da identidade linguística da sociedade.

2.1 Sociolinguística

A Sociolinguística é um ramo da Linguística que surgiu para estudar a


relação entre língua e sociedade, ou seja, descreve o uso dessa língua em
determinados momentos reais. Ou, como afirma Bagno (2007, p. 38):

O objetivo central da Sociolinguística, como disciplina cientifica, é


precisamente relacionar a heterogeneidade linguística com a
heterogeneidade social. Língua e sociedade estão indissoluvelmente
entrelaçadas [...].
7

Assim, para a Sociolinguística não é possível estudar a língua sem ao


mesmo tempo estudar a sociedade em que essa língua é falada, pois elas estão
interligadas. Como outro argumento, podemos compreender a partir de uma das
apresentações básicas dos PCN (1997, p.21) que, “O domínio da Língua tem
estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio
dela que o homem se comunica, tem acesso a comunicação, expressa e defende
pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.”. Por
tanto, o indivíduo que fala manifesta pensamentos seja falando ou escrevendo, esse
uso da língua é a representação do seu grupo social fazendo com que a sua cultura
não seja excluída.
Nesse aspecto a escola ganha um papel fundamental na garantia do
conhecimento necessário em relação a língua para o desempenho do aluno no meio
social. O que acontece é que “algumas escolas” não desenvolvem de fato esses
conhecimentos, pois tratam o ensino da língua como o ensino de gramatica
normativa, desconsiderando a fala do aluno.
Por isso Bagno (2007) questiona se: “É ou não é para ensinar gramática?
” Para ensinar gramática primeiro de tudo é preciso entender a forma como ensinar.
Se é para analisar, decorar, sem objetivo nenhum, isto é, perspectiva normativa, é
melhor não ensinar gramática. Mas se ensinar gramática é conscientizar o aluno
sobre o conhecimento dos recursos da língua sem o preconceito em relação aos
diferentes falares, e esclarecer que se o ser humano é capar de produzir
conhecimento através dessa língua, sim, é para ensinar gramática.
A primeira perspectiva pode levar o aluno a compreender que existe
apenas uma variedade, sendo que:

A variação linguística tem que ser objeto e objetivo do ensino de língua:


uma educação linguística voltada para a construção da cidadania numa
sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os
modos de falar dos diferentes grupos sociais constituem elementos
fundamentais da identidade cultural da comunidade dos indivíduos
particulares, e que denegrir ou condenar uma variedade linguística equivale
a denegrir e condenar os seres humanos que o falam como se fossem
incapazes, deficientes ou menos inteligentes- [...](BAGNO, 2008, p. 16).

Portanto, a escola precisa ensinar que a língua varia na sociedade de


classe social para classe social, de região para região e que a composição das
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diferentes formas do falar dos educandos é uma amostra da heterogeneidade da


sociedade. Essa dinamicidade da língua é uma característica que vem desde a
forma social (que é onde ele aprende desde criança a forma do falar, a partir da sua
convivência como meio em que vive) até o estrutural (que é onde ele vai aprender
na escola a gramática normativa).

2.2 Variação Linguística

Corroborando com o que já foi apresentado neste presente artigo sobre


concepção de língua e os pressupostos da Sociolinguística, podemos assim dizer
que a língua está fortemente ligada ao aspecto social, apresentando-se como uma
variável que influencia nas diferentes manifestações da língua. Esse fator variável,
dependendo de sua natureza, pode gerar diferentes variedades linguísticas. Quando
esse fator é de natureza geográfica, temos as variedades regionais, também
conhecida como diatópica. Quando a questão é diastrática, temos as variedades
entre os modos de falar dos grupos sociais. Quando o fator é a comparação entre
língua falada e língua escrita, temos a variação diamésica. Quando depende da
situação em que se encontra os falantes, o uso da língua pode ser mais ou menos
monitorado, chamamos então de variação diafásica. E por fim temos a variação
diacrônica, que pode ser histórica ou temporal, onde com o passar do tempo, as
palavras ou até mesmo as construções de uma língua podem ser alteradas.
No âmbito escolar, é importante destacar como essa variação é abordada
nos LDs. De acordo com Bagno (2007, p.119) “[...] o tratamento da variação
linguística nos livros didáticos continua sendo um tanto problemático. ” Partindo
desse pressuposto, podemos observar que existe o estudo da variação linguísticas
no LD, mas que ainda existe questões que precisam ser analisadas, principalmente
quando essas questões estão voltadas para o preconceito linguístico. E o que tem
se observado é que linguistas e educadores tem procurado desenvolver estudos que
possam a cada dia melhorar a qualidade das obras distribuídas que farão parte da
vida dos educandos, como forma de aprendizado e conscientização.

O mais importante de tudo é preservar, no meio ambiente escolar, o


respeito pelas diferenças linguísticas, insistir que elas não são “erros” e
até mesmo tentar, na medida do possível, mostrar a lógica linguísticas dela.
(BAGNO, 2007, p. 125) (grifo do autor)
9

Entretanto, é preciso que os professores possam ter todo o cuidado ao


repassar os seus conhecimentos, pois é em suas pesquisas e também em seu
conhecimento de mundo adquirido durante sua vida acadêmica que eles irão
reforçar a valorização de cada variação linguística, para que assim o que é rotulado
como “erro” possa ser desmitificado no meio educacional.

2.3 Preconceito Linguístico

O preconceito linguístico, pode ser entendido como julgamento, da


valorização, da desvalorização de uma pessoa pela forma como fala. O mesmo se
dá a partir do caráter prescritivo da gramática normativa, que nos leva a achar que
todo uso da língua que seja diferente das regras gramaticais é “errado”, e que
somente podemos considerar “corretas” as formas estabelecidas pelas normas
gramaticais. Podemos assim dizer, que é fruto de uma tradição de tratamento da
língua como um sistema rígido de leis a serem cumpridas e aquele que não cumpre
é julgado e condenado por aqueles que não conhecem os pressupostos da
Sociolinguística e, por isso, prejudicam toda forma de expressão da comunicação
pela língua. Porém, essa concepção de “certo” ou “errado” é muito relativa, pois,
como afirma Gomes (2009, p. 77):

Certo é tudo o que está conforme as regras ou princípios de um


determinado grupo, dentro dos limites do próprio grupo. Considerando isso,
a falta de concordância de número pode ser errada para o grupo que
domina uma variedade linguística que tem esta regra ou este mecanismo.
Mas para um grupo, que não apresenta mecanismos de concordância em
sua variedade, o errado é extremamente uma construção que exibe todas
as mascas formais explicitas de concordância.

Então, não existe o errado, mas o diferente. Nesse caso, não significa
prescrição, mas uma sistematização linguística. O problema de ser diferente não
está no fato linguístico, mas nas convenções sociais em que está inserido o falante.
No meio educacional, o preconceito linguístico se manifesta quando o aluno não é
“aceito” pela sua forma de falar ao chegar na escola, muitas vezes parte do
professor que não sabe lidar com as diversidades linguísticas.
Na concepção de Bagno (2011), existe um mito que se destaca como
sendo um dos mais sérios preconceitos no Brasil contra a língua, esse preconceito
se baseia na “unidade linguística do Brasil”. Nas palavras de Bagno (2011, p. 27):
10

Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a


verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor
sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os
quase 190 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua
origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de
escolarização etc.

O que na verdade separa essa diversidade linguística, é o fato de existir


falantes das variedades estigmatizadas (que são os falantes que moram em lugares
menos favorecidos), e falantes das variedades prestigiadas (que são os moradores
que vivem em lugares mais desenvolvidos).
Podemos assim dizer, que não existe erro de português, muito menos
falantes que falam ou escrevem errado, e sim que, segundo Bortoni-Ricardo (2004,
p.75) “ Todo falante dispõe de suficiente competência linguística em sua língua
materna para produzir sentenças bem formadas e comunicar-se com eficiência. ” Ou
seja, que todo nativo que chega na escola já tem sua própria forma de falar e que
suas falas são extremamente produtivas, apesar de serem criticados e muitas vezes
condenados.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como já afirmamos antes, os objetivos deste artigo é investigar como a


variação linguística e o preconceito linguístico são abordados em um LD voltado
para o 6° ano do ensino fundamental, precisamente em exercícios que abordam
esses conceitos e verificar se a variação e o preconceito linguístico vem sendo
abordado de maneira adequada.
Nossa pesquisa se caracteriza como descritiva de natureza qualitativa. Gil
(2002, p. 42) afirma que:

As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das


características de determinada população ou fenômeno, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que
podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de
dados, tais como o questionamento e a observação sistemática.
11

Assim, a partir dos objetivos estabelecidos nesse tópico e do que já foi


observado nesse artigo, analisaremos 3 exercícios de um LD do 6° ano (ensino
fundamental), que nos dará condições de compreender um pouco mais sobre a
variação e o preconceito linguístico presente nesse livro. O mesmo contém um total
de 320 páginas, sendo dividido em quatro unidades com três capítulos em cada,
totalizando 12.
A atividade em análise está na primeira unidade especificamente no
segundo capítulo do livro em análise, com exercícios e tópicos que nos faz
compreender o assunto na qual o LD quer repassar. Esses exercícios serão
explicados, analisados e em seguida (se necessário) será feito uma crítica, e para
uma melhor compreensão do trabalho, essa crítica é feita no item em análise para
que o objetivo seja alcançado.

4 ANÁLISES

A primeira atividade apresenta uma tirinha de Fernando Gonsales (Folha


de S. Paulo, 3/8/2007.), composto por 2 quadrinhos na página 39. No primeiro
quadrinho estão presentes uma mulher e um papagaio como se fosse na casa dela,
pois é visível um quadro, uma planta e também uma janela. No segundo,
observamos a mulher com o papagaio no seu braço e um homem para quem ela vai
devolver o pássaro, o homem parece estar por trás de uma mesa como se fosse um
escritório.

Fonte: Cereja e Cochar (2015).


12

Logo após a tirinha, vem as questões de interpretação da mesma.

A 1ª questão, referente ao 1° quadrinho, o aluno é levado a perceber as


diferentes formas em que o papagaio fala as palavras, palavras essas que causam
estranhamento na mulher. O item “a” pede ao aluno que escreva as palavras da fala
do papagaio, com que a mulher fica confusa com o falar do papagaio, logo em
seguida, o item “b” solicita que aluno também escreva como provavelmente a mulher
diria essas mesmas palavras.
Nesses dois primeiros itens “a” e “b”, observamos que é apresentada a
diversidade de formas do falar, o aluno precisa inferir por que à mulher reage
daquela forma à fala do papagaio. Observa-se então que por esse motivo o
preconceito linguístico está presente, mas é abordado de forma implícita.

A 2ª questão, ainda sobre o 1° quadrinho, indaga o aluno sobre a forma


como o papagaio aprende a falar. Para responder a mesma é necessário que o
aluno tenha conhecimento sobre como ocorre o processo de aquisição da
linguagem.
Inicialmente parece uma questão que desvia o foco do texto, mas visa
estabelecer uma relação entre o processo de aquisição da linguagem do papagaio e
do ser humano. Essa relação ocorre de forma implícita, portanto seria necessária
uma outra pergunta para que essa relação fosse de fato estabelecida, tanto pelo
professor como pelo aluno. Exemplo: “Esse processo parece com a forma que o ser
humano aprende a falar? Ainda sobre a tirinha, fazem uma confusão ao colocar
como foco principal um papagaio para fazer a representação de como um ser
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humano aprende a falar, fazendo então comparação da linguagem e atribuindo


noções de aprendizagem a um animal ao aprender a falar, que no final acaba
induzindo o aluno ao preconceito linguístico pela forma em que é abordado as
palavras, e que mesmo fazendo referência à variação linguística, a gramática ainda
se faz presente ao fazer a correção do exercício ditando “regras” da gramática
normativa, descartando a possibilidade de uma análise da língua.

A 3ª questão o aluno é levado a questionar sobre o 2° quadrinho, onde


está a mulher com o papagaio para devolver ao dono.
Nesse item “a” pede-se que o educando estabeleça uma possível relação
entre o comerciante e o papagaio. E no item “b” onde está a “graça” da tira, é
solicitado que o aluno estabeleça também uma relação entre os dois, mas agora
relacionado a fala acontecida com os mesmos.
Essa questão fica meio confusa, pois deveria ter mais uma questão para
estabelecer de fato a relação entre os dois e novamente não é abordada a questão
de aprendizado entre pessoas e animais o que causa mais confusão de
entendimento aos alunos.

A 4ª questão, referente ainda ao 1° quadrinho, faz uma breve análise


sobre o uso da linguagem em determinados momentos em que a língua se
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manifesta, onde essa forma de falar por ter suas peculiaridades, pode ser vista por
muitos positivamente ou negativamente. A partir dessa breve introdução
comparando-se também com a situação em que o papagaio aprende a falar, o aluno
é levado a perceber sobre qual o outro argumento que fez a mulher levar a devolver
o papagaio.
Há um raciocínio muito complexo quando o aluno é levado a pensar sobre
a razão em que a mulher devolve o papagaio, já que o papagaio aprende a falar
repetindo o que o ser humano fala. No entanto, apesar da aquisição da linguagem
do papagaio ser colocado em foco, não é abordado mais uma vez a relação entre o
papagaio e a criança. Deveria então acontecer essa relação, pois a compreensão do
aluno entre seres humanos é complicada, imagina então entre homem e animal?
Assim, essa estratégia é subutilizada no livro, pois não fica explicita as relações de
aquisição da linguagem.
Outro aspecto interessante, é que o preconceito linguístico na tirinha e na
4ª questão são abordados, mas não há uma reflexão e nem uma crítica sobre isso,
na 4ª questão simplesmente é abordado e na tirinha ele vê uma manifestação do
preconceito linguístico na fala da mulher, “NOSSA! ELE FALA TUDO ERRADO! ”.
A segunda atividade apresenta também uma tirinha de Adão Iturrusgarai
(Folha de S. Paulo, 13/8/2005.), composto por quatro momentos em que é abordada
na página 41 e as questões estão presentes na página 42. Em todos os quadrinhos
as cenas acontecem como se fosse em uma sala, onde tem um sofá, um abajur e os
personagens que são: o pai, a mãe e Zezo o filho do casal. Na primeira cena está
presente os três personagens e o pai diz ao filho que eles vão a um casamento e
pelos trajes que o garoto está, ele não pode ir ao casamento daquela forma, então
no próximo quadrinho o pai pede que o garoto vá vestir uma roupa mais adequada.
O 3° quadrinho apenas esperam que o filho retorne bem vestido para a ocasião e
quando o menino volta vem apenas com uma gravata, o que demonstra que para o
rapaz roupa descente, como é chamada pelo pai, é apenas a gravata o que causa o
humor na tira.
15

Fonte: Cereja e Cochar (2015).

Após a tira, vem as questões de interpretação da mesma.

Os itens “a” e “b” abordam apenas o grau de formalidade das roupas de


Zezo e seus pais. No item “c” ainda é abordado a questão da formalidade da roupa
com especificidade no aspecto em que o pai esperava que o filho viesse vestido.

A 2ª questão é onde o foco do humor se faz presente, pois é aonde todos


esperam como o Zezo vem vestido, principalmente pelo pai, é então que é
questionado se atendeu a expectativas da roupa. Também levando o aluno a refletir
somente a formalidade da roupa.
A atividade em si não há uma explicação especifica sobre do que se trata
a tirinha, apenas é colocado no início antes de apresentar a tira, “Falar bem é falar
16

adequadamente”. Existe uma analogia entre a tirinha e as questões, mas depende


de o professor fazer uma leitura logo em seguida do conteúdo, para que assim o
mesmo venha a ser compreendido.

A tira cria humor a partir do conceito de adequação e inadequação das


roupas. Com a língua não é diferente: variamos o emprego de acordo com a
situação. Em situações mais formais, empregamos uma variedade
linguística mais formal e próxima da norma-padrão. Em situações informais,
empregamos igualmente uma variedade linguística informal, sema rigidez
das regras da norma-padrão. (CEREJA E MAGALHÃES, 2015, p. 42)

A partir desse conceito é que percebemos a analogia que os autores


querem passar, pois os exercícios não deixam explícitos para os alunos as questões
a serem abordadas, assim acabam confundindo mais uma vez os alunos, somente
com a ajuda do professor é que compreenderam melhor o que se aborda.
Antes de começar o próximo exercício, são explorados alguns tópicos
relacionados ao uso da língua, essa parte teórica explora as variedades regionais e
a gíria, e para que esse conteúdo seja fixado pede que o aluno explore esses
conceitos e só então o mesmo comece a responder os exercícios.
A terceira atividade também é uma tirinha de Adão Iturrusgarai (Folha de
S. Paulo, 14/3/2012) apresentada na página 45 do livro em análise, nesse exercício
são abordados quatro quadrinhos para que seja respondida as questões (1 e 2) a
seguir. Nessa tirinha observa-se que tem uma mulher na qual sabe tudo sobre o
português, pois no 1° quadrinho vemos “ NORMA MC LAREN PH. D EM
PORTUGUÊS”, o que significa ser alguém que alcançou o maior nível relacionado
ao português. Logo em seguida, há ainda três personagens que repetem muito a
palavra “tipo” causando a “tiponite” e junto com palavras na forma nominal e
invariável do verbo, terminada em ndo que é o gerúndio e que são usadas
exageradamente causando o gerundismo.
17

Fonte: Cereja e Magalhães (2015).

Logo após a tira, vem questões de interpretação da mesma.

O humor da tira se concentra no emprego repetitivo da “tiponite” e do


gerundismo, onde no item “a” o aluno é levado a responder a partir do que entendeu
na tirinha o significado de “tiponite”. O item “b” faz uma breve explicação sobre o
sufixo –ite, e dá exemplos em que momento ele é empregado. A partir dessa
explicação pede-se que o aluno conclua a visão do autor a respeito do emprego da
palavra da “tiponite”.
Nesses dois primeiros itens “a” e “b” o aluno é levado a questionar sobre
o uso repetitivo de uma mesma palavra, objetivando que os mesmos percebam as
diferenças sociais (idade e região, no caso), e como essas diferenças interferem nos
usos da língua, questionando ainda no item “c” quais os grupos sociais que
costumam usar esse tipo de linguagem, e no item “d” pede que os educandos
opinem sobre a questão da aceitação com o objetivo de refletirem sobre a questão
da identidade grupal e linguística.
18

A 2ª questão aborda o “gerundismo”, fazendo na questão mesmo uma


breve explanação sobre o seu surgimento. No item “a”, pede que o aluno dê uma
explicação sobre a construção desse fenômeno. E o item “b” questiona onde o
“gerundismo” pode ser usado e em que caso. Na ‘c” pede que o aluno faça uma
reescrita de como seria a construção das frases sem a “tiponite” e sem o
“gerundismo”.
Essas questões dão continuidade a 1ª questão sobre o emprego desses
fenômenos, e com foco no item “c” observamos que os autores pedem que os
alunos façam a reescrita de como seria o uso correto das palavras, ou seja, pede
que os alunos corrijam a fala no ultimo quadrinho, sendo que é necessário um
contexto onde a fala “correta” seria adequada.
Antes das próximas questões serem analisadas, observamos um anúncio
na qual é visível um semáforo. É possível vermos que tratasse de um anúncio da
revista “Veja Rio” e “Veja São Paulo” que usam o semáforo como forma de chamar
atenção para aquelas pessoas que querem anunciar os seus produtos.
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A 3° questão, os itens “a”, “b” e “c” estão focados apenas no anúncio, e na


4° questão (a partir do que está escrito no anúncio), pede que o aluno explique por
que a imagem principal é um semáforo.
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A 5ª questão solicita que o aluno observe as palavras que estão ao lado


do semáforo (na esquerda “farol” e na direita “sinal”) e em seguida no item “a”
questiona por que elas estão escritas dessa forma, no “b” pergunta ao aluno qual a
palavra é usada para designar semáforo.
Da 3ª a 5ª questão, o foco é o gênero anúncio e as estratégias usadas
nesse gênero para atingir seu objetivo, o foco não é a variação, mas como a
variação é explorada no anúncio e olhando o exercício como um todo, o objetivo
parece ter sido mostrar como a variação é explorada em diferentes gêneros com
diferentes objetivos comunicativos. E com um olhar mais analítico, observamos na 5ª
questão que a variação do aluno não ganha nenhum destaque, é preciso apenas
que informe qual a palavra que ele usa em sua região/cidade para se referir ao
semáforo. O que seria interessante é que se a questão criasse a situação de que a
revista circulasse na cidade do aluno e perguntasse: qual seria a palavra utilizada?
Ou então: A palavra utilizada seria uma dessas duas ou seria outra? Qual? Então o
foco estaria sendo para o uso da linguagem do aluno, o que seria melhor
compreendido.
Diante das análises feitas em cada uma das questões, é possível
observar que mesmo seguindo as propostas feitas pelo PNLD, é necessário
algumas vezes, existir questões que introduzam melhor o que está sendo abordado,
para que assim seja realizável uma maior compressão por parte do aluno.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No artigo em análise, foi possível encontrar no LD questões que tratavam


o uso da variação linguística e do preconceito linguístico, mas que ao mesmo tempo
não introduziam questões mais especificas para que fosse melhor compreendido o
assunto em discussão, eram questões soltas que sem o conhecimento de mundo do
aluno, o mesmo não seria capaz de alcançar objetivos estabelecidos pelo professor.
21

Apesar das melhorias que o livro didático tem apresentado desde de 1996
quando foi proposto o PNLD, observa-se que ainda há um atraso quando o assunto
é a variação linguística e preconceito linguístico abordados em alguns exercícios do
livro didático, as vezes “muito pouco” outros “quase nada”, mas que com o incentivo
de muitos pesquisadores em contribuir e combater alguns “rótulos”, esses resultados
têm sido significativos.
Assim, mesmo o LD sendo aprovado pelo PNLD, ainda há muito a se
fazer para que o que é abordado no LD seja de fato compreendido pelo aluno,
sabendo-se que a língua humana é viva, e no decorrer do tempo essa língua muda,
que ela não é morta, ou seja, não existe uma língua “una”, principalmente com a
diversidade que o Brasil tem, onde encontramos em cada região, em cada classe,
enfim, em cada brasileiro sua própria forma de falar.
Desse modo, contatou-se que são abordadas questões sobre variação
linguísticas e preconceito linguístico, mas que é necessário em alguns momentos
ser incluída outras questões para o melhor entendimento do aluno.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Por uma Sociolinguística militante. In: BORTONI-RICARDO, Stella


Maris. Educação em língua materna: A Sociolinguística na sala de aula. São
Paulo: Parábola, 2004, p. 7-10.

______. Preconceito linguístico: O que é, como se faz. 54. ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2011.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: A


Sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES T. C. Português: Linguagens. -9. ed. Reform. –São


Paulo: Saraiva, 2015

CHAMMA, Liv. A variação linguística nos livros didático de português (5ª a 8ª


séries). 2007. 227f. Dissertação (mestrado em Linguística) – Universidade de
Brasília, Instituto de Letras, Programa de Pós-graduação em Linguística. Brasília,
2007.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.

SAUSURRE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix,
2006.
22

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília: SEF, 1997.

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Brasília: SEF, 1998.


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ANEXOS
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ANEXO A – Atividade 1
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26

ANEXO B – Atividade 2
27
28

ANEXO C – Atividade 3
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30

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