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RICOEUR E A PSICANÁLISE
Paulo Antônio Couto Faria
Mestre em Teologia
FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
pauloantoniocoutofaria@yanoo.com.br
CAPES
ST 11 – PSICOLOGIA E RELIGIÃO
Resumo: Este trabalho funda-se na leitura dos textos que compõem a obra: RICOEUR, P.
Écrites e conférences 1. Autour da la psychanalyse. Paris, Seuil, 2008. O filósofo, procura
pensar o método psicanalítico, segundo os pressupostos de sua fenomenologia hermenêutica,
mais especificamente, da inteligibilidade narrativa. Nesta operação é possível inferir uma
proximidade epistemológica entre a situação analítica e a experiência religiosa nos seguintes
pontos: na intersubjetividade e necessidade de reconhecimento dentro da situação de
transferência; na relação da realidade psíquica e também a religiosa com os fatos da vida; no
esforço de estabelecer uma “lógica” para fatos dispersos e enigmáticos através da construção
de uma história com sentido e o esforço, semelhante, de exprimir o sentido da experiência
religiosa, nem sempre acessíveis de imediato; na força da imaginação como instrumento hábil
para expressar tanto o psiquismo quanto a mística religiosa, exigindo uma “semiótica da
imagem”; na relevância do exercício de “rememoração”, tanto para psicoterapia quanto para
experiência de Deus na história; na presença do desejo e da cultura como determinantes de
ambas experiências; e por fim, contemplar a fecundidade da inteligibilidade narrativa. Estas
inferências mostram-se de proveito para psicanalistas e teólogos (as) ou cientistas da religião,
pois, podem contribuir no arrefecimento de possíveis resistências entre as partes, como
vislumbrar possíveis interlocuções que podem potencializar tanto a situação de análise quanto à
experiência religiosa ou mística.
Outro aspecto, digno de nota, é a relação entre a realidade material, os fatos tal
como se pode observar, e a realidade psíquica, não diretamente observável. Para a
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“La situation analytique ne sélectionne pas seulement ce que est dicible, mais ce que est dit à un autrui […] le stade
de transfert”.
Uma “história de caso” é uma narrativa capaz de ser comunicada e acessível aos
demais, em seu sentido. Mas há um longo caminho a percorrer até compor a narrativa.
Assim, tanto o relato de um sonho, quanto uma experiência mística, apesar de estarem
repletos de significados latentes, ainda não são, propriamente, narrativas. Narrar e
narrar para outro, são condições para que o que está latente se apresente significativo.
Nesta atividade é decisivo o papel da memória. Um tema caro para Ricoeur, para a
psicanálise e também para a experiência religiosa: partindo da situação analítica “a
rememoração, portanto, é que deve tomar o lugar da repetição. A luta contra a
resistência é o que Freud chama Durcharbeiten (perlaboração) – não há outro princípio
senão aquele de reabrir o caminho da memória”. 3(RICOEUR, 2008, p. 36) (Tradução
nossa). Também na experiência religiosa, o fiel faz memória, em sua vida, da própria
vida de Jesus Cristo. Apesar de unidas na rememoração, para a experiência religiosa
ela tem o sentido de atualização da história de Cristo, enquanto que para a psicanálise,
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La situation analytique retient de l’expérience d’un sujet ce que est capable d’entrer dans une histoire ou um récit.
En ce sens, les “histoires de cas”, en tant qu’histoires, constituent les texts primaires de la psychanalyse. Ce
caractère narrative de l’experience psychanalytique n’est jamais discuté directement par Freud [...] Mais il se refere
indirectement dans sés considérations sur la mémoire.
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la remémoration, dès lors, est ce que doit remplacer la répétition. La lutte contre la résistance ce que Freud appelle
Durcharbeiten (“perlaboration”) – n’a pas d’autre but que de reouvrir le chemin de la mémoire.
Estes elementos narrativos nem sempre foram levados em conta nas teorias
psicanalíticas. Isto se deve ao descompasso entre o fato psicanalítico, o processo de
investigação, a metodologia de tratamento das informações e a teoria psicanalítica
como tal. (RICOEUR, 2008, 79).
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Le problème de l’auto-reconnaissance est celui de la reconquête du pouvoir de raconter sa propre histoire, du
pouvoir de continuer inlassablement à donner la forme d’une histoire à la réflexion sur soi-même. La perlaboration
n´est pas autre chose que cette narration continuée.
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“La question préliminaire concernant la preuve em psychanalyse touche à la nature de la relation susceptible d’être
établie entre la théorie et ce qui vaut comme fait em psychanalyse.[...] Dans la perspective d’une analyse
opérationelle, les termes théoriques d’une science d’observation doivent pouvoir être reliés à des faits obersevables
par le moyen de règles d’interpretation ou de tradution que assurent la vérification indirecte de ces termes.”
O analista tem diante de si um fato que requer interpretação, e por trás de si uma
teoria explicativa que, no melhor dos casos, pode oferecer uma tipificação e não uma
decifração. O tratamento se dá por uma situação hermenêutica, uma vez que a “psyche
é um texto a decifrar”, mas o suporte teórico não contempla a situação interpretativa.
A questão que acaba de ser tratada, também encontra lugar nas atuais
pesquisas sobre a experiência religiosa, investigada pelas Ciências da Religião e
Teologia. Mas, somente esta última, esta apta a assumir os compromissos pessoais
que são exigidos, na experiência religiosa. Somente a hermenêutica teológica pode
penetrar na especificidade mesma da experiência religiosa, mesmo que para tal, ela
recorra a outras ciências, tal como a psicologia, para explicitar o que o fenômeno tem
de psicológico, ou sociológico, ou antropológico. Se desta forma o fenômeno se
esgotar, então não se tratava propriamente de uma experiência religiosa. Mas, se a
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“Cette parenté étroite entre diverses formations de compromise nous permet de parler de la psyche comme dún
texte à déchiffrer.”
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“Mais, si nous nous bornions à dégager les implications des concepts de texte et d’interprétation, nous arriverions à
une conception entèrement erronée de la psychanalyse. La psychanalyse pourrait étre purement et simplement place
sous l’égide des sciences historico-herméneutiques, parallèlement à la philology et la exégèse. Nous omettrions alors
des traits spécifiques de l’interpretation que ne peuvent étre saisis que quand la method d’investigation est jointe à la
méthode de traitement.”
Se, a experiência analítica estiver mais próxima de uma ciência histórica do que
uma ciência físico-biológica, em função da inteligibilidade narrativa, mais uma vez ela
se aproxima da experiência religiosa, que também compartilha com o mesmo tipo de
inteligibilidade, levado a cabo pela Teologia. Não só por que, boa parte das
experiências religiosas, estão registradas em textos, mas por que a própria vida tem a
estrutura de um texto. Ressalvando, que textos tratam de histórias que são fechadas, e
a vida é uma história aberta, por esta razão que a tarefa de se auto-narrar, em ambas
experiência as quais estamos tratando, é um trabalho contínuo.
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“Nous sommes ainsi invites à réfléchir sur le concept d’intelligibilité narrative que la pychanalyse a en commum avec
les sciences historiques.”
Nem tudo que vem à linguagem é linguagem, o caso da repetição acima citado,
aponta nesta direção. Assim as expressões desconexas que não encontram lugar nas
linguagens ordinárias, por ser incapazes de organizar o desejo, se mostram sob forma
de imagem, que, tal como a palavra, deve ser interpretada. Nada mais próximo da
experiência religiosa do que esta percepção do filósofo francês quanto à situação
analítica (RICOEUR, 2008, p. 129). De modo especial, a experiência mística rompe com
a linguagem e a própria teologia se faz apofática, que seria a expressão mais próxima
do mistério. Se na experiência analítica a imagem, a princípio, figura o escondido, o
pré-lingüístico, aquém da linguagem, na experiência religiosa, também a princípio,
mostra o pós-linguístico, aquilo que rompe a linguagem, está além dela.
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“C’est la possibilité d´insérer plusiers segments d’explication causale dans le processus d’ auto-compréhension
formulé en termes narratives. Et c’est ce detour explicative que justifie le recours à des moyens non narratives de
preuve.[...] Généralizations, lois et axiomes constituent la structure non narrative de l’explication psychanalaytique.”
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Mon hypothèse de travail est que l’univers de discours approprrié á la découverte psychanalytique est moins une
linguistique qu’une fantastique générale. Reconnaître cette dimension fantastique, c’est à la fois requérir une théorie
appropirée de l’image et contruibuer à son établissement dans la pleine roconnaissance de sa dimension sémantique.
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