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UNIDADE-2018.1
Contexto histórico
Então, quando a gente vai para a segunda fase, a gente vai está falando de
um mundo que vai está muito mais centrado no ambiente europeu. Quando o mundo
anterior era um mundo centrado no oriente, esse mundo vai está, ou o mundo que se
inicia a partir da idade média vai tá mais centrado no oriente ocidental. Na Europa e na
Europa ocidental.
Essa fase ela começa com a idade média, ela começa com a queda do
império romano do ocidente, e isso é caracterizado como sendo um período muito
conturbado na história. Tem um certo vácuo de poder. Ou seja, a ausência de um poder,
que no caso era o poder romano, do estado romano, ou que se poderia entender como
sendo o estado romano, deixa uma lacuna muito grande, com muitas divisões. E
certamente aquilo que caracteriza essa fase são as invasões bárbaras e toda uma
anarquia internacional muito grande. Isso só vai se resolver. Digamos que no início da
idade média, a caracterização do início da idade média é esse período muito conturbado,
e só com o tempo se vai adquirindo uma certa ordem, ou aquilo que se poderia entender
como uma certa ordem no plano internacional.
As guerras, que foram a regra, nós vamos ter uma mudança em relação ao
padrão de guerra. Ou seja, a primeira fase é uma fase que tem tipicamente a guerra
como regra. OU seja, o que acontece no mundo é essencialmente guerras de conquista.
Essas guerras continuam, só que elas vão ter um padrão um tanto quanto diferente.
Digamos que os objetivos são relativamente os mesmos, mas elas diminuem em
intensidade. Os objetivos são a expansão territorial, ou seja, aquilo que os realistas
chamam de glória. A busca da glória. A busca da glória se alcança a glória também em
função da expansão territorial.
Por expansão territorial se pode entender não só a expansão do território
física, mas a aquisição também dos bens da natureza que estão no território. Então a
agua, a agua sempre foi muito desejada e necessária. E, portanto, boa parte das guerras
aconteceram, as guerras de conquista aconteceram em função de expansão territorial.
Aconteceram também em função de definição de fronteiras. Esse é um
dos elementos, digamos assim, constituidores do direito internacional. Ou seja, o direito
internacional se justifica, ou se justificou ao longo do tempo em função da necessidade
de definir fronteiras. São muitos os tratados, tanto os tratados na antiguidade, mas
sobretudo a partir da idade média. Nós vamos ter tratados, e sobretudo tratados
bilaterais que a ocorrência de tratados multilaterais é algo relativamente recente. Só vai
ter tratados multilaterais a partir, mais do que tudo no final do século 18, no século 19.
É quando nós vamos ter tratados multilaterais.
Então os tratados são tratados mais como uma realidade bilateral. Ou seja,
são cidades, um envolvendo o outro que decidem estabelecer certos acordos. Então,
imagine que era uma confusão, uma dificuldade muito grande, havia uma desconfiança
muito grande. O cenário no plano nacional e no plano internacional a política ainda era
muito caracterizada por desconfiança, mas mesmo num contexto como esse, um
contexto de muita disputa bélica, e a guerra era ou a regra ou muito recorrente, então na
hora em que se fazia tratados era também muito difícil de se chegarem a acordos.
Esses acordos tinham que ser combinados em instâncias diferentes por
parte dos “conventores”. Então, dois estados se encontravam, depois um daqueles
estados se encontrava com outro estado, por exemplo, França com Alemanha,
Alemanha com a Suíça. Cada um estabelecia acordos diferentes, ou em bases diferentes
e era muito difícil, muito complicado chegar a um denominador comum nesse contexto
de muita desconfiança. Então, nesse contexto de muita desconfiança se dava também as
guerras de conquista, principalmente as guerras relacionadas à conquista do Oriente, em
função de definição de fronteiras.
Mas também em função do controle político. E esse é um momento
histórico em que as disputas eram muito caracterizadas pela predominância de
determinadas famílias ao lado de determinados reis ou de determinados estados. Talvez
não seja muito adequado falarmos em estados propriamente durante toda essa fase,
porque o estado, a depender evidentemente da nossa compreensão e da nossa
interpretação, o estado só vai surgir muito tempo depois. É só a partir do tratado de
westfalia é que muitos autores consideram que nós vamos ter propriamente estado, ou o
estado como nos entendemos nos dias de hoje.
Então, as guerras continuam, elas continuam em função de expansão
territorial, em função de definição de fronteiras, de controle político, esse controle
político exercido mais do que tudo por famílias, e nesse contexto todo surge uma
religião que tem uma predominância, sobretudo no contexto europeu, e que é o
Cristianismo.
O cristianismo vai deixar marcas muito profundas no que diz respeito ao
direito internacional, muitos dos institutos do direito internacional, ainda hoje vigentes,
ainda hoje com significados, eles foram organizados, foram propostos, foram iniciados
nessa fase. É o caso, por exemplo, de todos aqueles acordos conhecidos como “bons
ofícios” que surgiram no ambiente de “papa”. Foram os papas que propuseram os bons
ofícios.
Um grande exemplo de bons ofícios é o tratado de Tordesilhas, que o papa
Alexandre VI definiu, aí combinando uma negociação envolvendo Portugal e Espanha
em torno das terras descobertas nas américas. Ou seja, as terras em que exatamente o
Brasil hoje está e que o Brasil descumpriu junto com os portugueses, mais do que tudo
portugueses e brasileiros também, e a gente tem uma conformação territorial superior ao
que está definido no tratado de Tordesilhas. Mas isso também é revelador que há algo
importante para a nossa discussão, do ponto de vista histórico que é essa disputa entre o
poder temporal e o poder religioso, que é uma característica da idade média e da idade
moderna. É isso que vai fazer também que nós tenhamos marcas no direito internacional
que são resultantes desses embates. Ou seja, essa é uma fase caracterizada por uma
disputa envolvendo os papas, o poder católico ou o cristianismo, que queria exercer, ou
buscava exercer uma predominância sobre o sistema internacional, sobretudo o sistema
europeu, e os reis, os imperadores que queriam manter o controle e foram vitoriosos, ao
longo do tempo foram vitoriosos e por isso nós temos o estado-nação e nós temos as
marcas do direito internacional, temos o instituto do direito internacional. Só tem
sentido falar do direito internacional porque o direito internacional surge, ou se
consolida como uma conformação a partir dos estados-nação, tanto quanto direito
internacional interestatal, é disso que nós estamos falando. Portanto, só tem sentido falar
em direito internacional porque existem, ou o direito internacional que nós conhecemos
só tem sentido falar em função do Estado-Nação.
Se o estado-nação deixar de existir é muito provável o direito internacional
deixar de existir ou adquira uma outra conformação. Pode ser até que suplante os
direitos nacionais, suplante o estado nacional. Mas tudo isso está na ordem, digamos
assim, do que se pode presumir, do que se pode acontecer (acho que é no mundo). O
autor fala também da cisão da igreja, ou seja, a reforma ela tem um papel importante
também no próprio controle do poder religioso e no fortalecimento do poder temporal.
As guerras continuam existindo, como eu falei anteriormente, guerras
também por motivações religiosas. Ou seja, além daqueles elementos que eu falei
anteriormente, que o autor faz referência, também tem a situação religiosa. Ai,
imediatamente a gente lembra das cruzadas porque esse sistema Europeu, ou os estados
que dominavam esse sistema europeu ....
Professor critica a forma de estudar o desenvolvimento histórico e diz que
fazer Salto da idade média para a idade moderna é desconcertante porque não foi assim
que aconteceu.
Então na idade moderna, em função dessa disputa envolvendo o poder
temporal e o poder religioso, a gente vai ter o fim da monarquia, ou melhor dizendo,
do absolutismo. Ou seja, o poder monárquico, ao mesmo tempo que se consolida ele
também tem uma série de limitações, e dentro disso aí o autor fala no conceito que é
muito importante para a nossa discussão que é o equilíbrio de poder.
Porque que a gente fala em equilíbrio de poder? Ou porque o autor faz
tanta questão de mostrar a importância do equilíbrio de poder. Porque o equilíbrio de
poder é um princípio que, se é que já existia, quando o autor falava, por exemplo,
naquelas independências múltiplas. Ou seja, houve momentos na antiguidade em que os
estados, ou aquilo que nós podemos entender como o início do desenvolvimento dos
estados, eles tinham alguma preocupação com a sobrevivência deles próprios e com a
sobrevivência dos outros enquanto independência múltiplas.
E quando se fala em equilíbrio de poder, que é um conceito que nasce
dentro do realismo. Nós falaremos a respeito da fundamentação histórica e filosófica do
cenário internacional, das questões internacionais, das elações internacionais e eu não
falaria apenas das teorias de direito, falaria também das teorias das relações
internacionais. E aí surge o realismo, e é muito caro ao realismo falar nessa ideia de
equilíbrio de poder.
Se ela já existia antes, digamos assim, não tão explicita, ela se torna muito
conhecida, muito fundamentada, muito estudada nesse período que a gente pode
entender como o período de maior desenvolvimento do direito internacional. Porque?
Porque é através do equilíbrio de poder. O equilíbrio de poder a gente pode entender
como um princípio do direito das relações internacionais, por meio do qual os estados
começam a entender que eles precisam limitar o poder dos outros e deles próprios, para
que seja possível uma convivência melhor, uma convivência com mais recorrência de
paz, digamos assim. Com menos ocorrência de guerras.
Então o equilíbrio de poder é algo que surge, é evidente que não é caro
apenas ao realismo. O realismo potencializa muito esse princípio, mas os idealistas
também trabalham com a noção de equilíbrio de poder. Então, podemos entender esse
equilíbrio como a possibilidade de limitar a ocorrência de guerras. E num determinado
momento, quem precisava ter o poder limitado era o Reino Unido, era a França e
principalmente a França (a França de napoleão que precisava ser contida).
Aluno: Professor, sobre esse equilíbrio de poder, é como se os estados que exercem
uma forma de dominação, uma hegemonia, tivessem mais (dispostos eu acho) a aceitar
essas limitações diante do equilíbrio é isso?
Professor: É isso.
Então, em dias atuais o equilíbrio de poder que foi estabelecido foi com
base naqueles países que tem maior poder econômico, mais poder militar, e que estão no
conselho de segurança com poder de veto. Isso depois da segunda guerra. Então se
chama isso de equilíbrio de poder. Esses estados são como que garantidores de uma paz,
a paz possível.
O concerto da Europa é descrito por Adam Robinson como sendo aquele que é
garantidor de independências múltiplas, ou seja, entre 80 e 100 anos nós vamos ter essas
independências múltiplas, o mesmo conceito utilizado na fase anterior é utilizado agora
e se comunica com a ideia de equilíbrio de poder (é um arranjo definido por esta ideia).
Este equilíbrio não pode ser visto no sentido apenas idealista, o qual é relacionado à
distribuição igual de poderes – que não existe –, alguns Estados (um, dois ou mais) tem
uma prevalência e garantem uma certa paz durante um certo tempo. Aqui o Concerto da
Europa vai sendo descrito pelo autor como sendo caracterizado por essas
independências múltiplas, ou seja, esses Estados que tinham pretensões integralistas,
eles contém por determinado tempo essas suas pretensões para evitar a guerra ou se... as
guerras que existiram foram mais em outros contextos na África, América Latina, a
Europa foi preservada de grandes guerras graças ao Concerto da Europa. Esse é um
momento também caracterizado (ou seja, o Concerto da Europa) por uma igualdade
política, aquilo que vem desde Vestfália, ou seja, a ideia de igualdade jurídica entre
Estados é definidora desse momento do Direito Internacional, embora tenha uma certa
idealização nisso porque alguns são mais iguais que outros, tem paridade no plano
interno. E a ideia de legitimidade do Estado que houve no espaço internacional, esse
também é um elemento definidor do que se chama Concerto da Europa, sobretudo em
função da resolução de controvérsias internacionais. Esse momento ocorreu no século
XIX e, especialmente, no século XX (que vamos falar na próxima aula do século XX,
deste sistema global, vigente com todas suas limitações, é quando se tem o grande
momento das soluções pacíficas de controvérsias internacionais), notadamente foram
criados e que tinham pouco significado na Antiguidade e na Idade Média começam a ter
um significado maior, a ideia de fontes do direito é muito mais presente, é
fundamentada, e tudo isso vai facilitar esse processo de solução de controvérsias
internacionais.
Toda discussão em torno das fontes do direito, sobretudo estatais, ele tem uma
grande guinada é que a principal fonte do Direito Internacional ou, como mais
apropriado à época, direito das gentes eram os costumes internacionais e passam a ser
os tratados a partir do século XIX, no final desta fase. O tratado passa a ter mais
significado que os usos e costumes no plano internacional.
Temos 10 minutos finais pra gente conversar a respeito desta fase... (ninguém
queria falar, mas o homem é insistente, viu?)
Pergunta: A segunda fase só vai surgir depois do Tratado de Vestfália né? Com relação
aos Estados?
Professor: Antes existia um Estado com poucas características, com elementos não tão
palpáveis. Há toda uma consciência nacional/internacional da necessidade desses
elementos dos Estados, da necessidade da soberania, principalmente, e da ideia de
independência.
Comentário do prof: Para boa parte dos autores é aí que surge o Estado Nação, em
Westfália. Trazem entendimentos de como deve ser a vida social, alguém tem algum
comentário?
Pergunta inaudível
Professor: Sim, tudo isso faz parte desse processo de formação dos Estados Nacionais.
São processos que não são muito violentos, mas depende de quem conta a história, do
autor.
Pergunta: Uma coisa, também, que eu penso a respeito é até que ponto é viável essa
autonomia do Direito Internacional? E eu digo isso porque o Direito Internacional
depende de uma inter-relação entre países soberanos e hoje, cada vez mais, a tendência
é que países semelhantes se unam e possuam uma intervenção muito grande. Aqui
temos o caso da União Europeia... A criação de uma constituição única para a União
Europeia, pensando-se que esse é Direito Internacional, isso seria uma autonomia ou
seria formada para um direito global? Entende?
Professor: É um processo de formação, não é muito diferente em relação ao Direito
Internacional... Por isso, existe hoje, em alguns lugares/países, obrigações
internacionais no ambiente europeu. (...) Se vai se tornar um direito internacional
global é difícil dizer, mas digamos que há força nessa ideia.
Aluno: Eu acho interessante que são países distintos com características muito
distintas, que tentam criar normas em comum para regular tudo.
Áudio:
[...] internacional geral, especifica, global e regional, e a partir de agora a gente
vai falar bastante a respeito disso, ou seja, dos tratados gerais, os tratados específicos, os
tratados de caráter global, os tratados de caráter regional, tudo isso vai fazer parte da
nossa linguagem, e depois começar a falar sobre o fundamento do direito internacional.
Esse é um tema que vai se desdobrar ao longo do nosso curso, nos falaremos muito e ele
retornará bastante, nós não ficaremos nessa aula apenas. E como já falei também em
aulas anteriores, a discursão em torno do fundamento do direito internacional vai se
desdobrar em mais 2 aulas que nós teremos uma abordagem sobre as teorias das
relações internacionais.
Bom, vamos lá para essa distinção entre comunidade e sociedade internacional,
essa é uma distinção que vem do âmbito interno, vem do, não diria tanto do direito, mas
da sociologia, do âmbito da sociologia no plano interno, ou seja, se aplica ao âmbito
nacional, aos âmbitos nacionais, aos âmbitos locais e com a criação do direito
internacional essa noção foi levada, também, para o âmbito internacional.
Então certamente vocês já ouviram falar em comunidade internacional, como já
ouviram falar em sociedade internacional. São coisas distintas: o que que a gente
entende quando fala em ‘comunidade’? independente, antes de falar em ‘comunidade
internacional’, o que que nós entendemos quando falamos de ‘comunidade’? E o que
que nós entendemos quando falamos de sociedade? (turma falando coisas inaudíveis)
Allan: pra mim, comunidade é algo específico, não sei se estou certo
Alan: essa é uma divergência doutrinária né? a gente tem que escolher uma das
duas.
Jayme: sim, vocês tem que escolher uma das duas para se guiar.
MARLON fazendo algum comentário que também não fui capaz de traduzir,
sorry!!!
Quadro:
Áudio:
Essas Teorias foram sendo construídas ao longo dos anos, mas só foram sistematizadas quando a
disciplina de Direito Internacional é criada, o que só acontece no início do século XX, mas existem
autores da antiguidade que defendem o Realismo, o Idealismo e, os mais recentes, o Marxismo. Na aula
de hoje, vamos falar dessas três correntes principais: Idealismo, Realismo e Marxismo.
Além delas, vamos falar - nas próximas aulas - das teorias alternativas das Relações Internacionais,
que surgiram mais recentemente, nos anos 80 do século passado, e têm o condão de atualizar as teorias
mais antigas, de mostrar como o mundo vem se desenvolvendo ao longo dos anos no plano internacional.
Essas teorias alternativas são: o construtivismo, teorias críticas, pós-modernas, pós-coloniais,
feministas e as teorias Queer (dentro das teorias de gênero).
As tradicionais são o Idealismo, Realismo e Marxismo. Podemos dizer que elas disputam significado
entre si, principalmente o Idealismo e o Realismo. Nós vamos ver que elas vêm de longe – da Idade Média
– e, naquela segunda fase do desenvolvimento do Direito Internacional, já estavam muito presentes. E
mais, no séc. XIX, o Marxismo surge para disputar espaço com o Idealismo e o Realismo.
A tabela serve para facilitar o entendimento da matéria, os principais elementos da teoria, alguns dos
principais autores.
O Realismo é uma ideia que reúne diversos elementos, mas o elemento central a ser analisado nas
relações internacionais é o Estado, ou seja, o Estado é o grande sujeito nas relações internacionais. O
realismo é “estado-cêntrico”, digamos assim, pois coloca o Estado no centro das análises das relações
internacionais.
O Realismo trabalha com a ideia de que não existe a possibilidade de uma organização da vida social
entre os Estados, essa vida é anárquica. Surge a Ideia de Anarquia Internacional.
O Realismo trabalha com a ideia de que isso não vai mudar, porque o elemento central para entender
o que acontece no plano internacional é a guerra, ou seja, os Estados, mesmo que busquem melhorar as
condições de guerra, mesmo que [as guerras] tenham sido reduzidas em seu significado, nunca haverá
uma guerra permanente. Haverá sempre conflitos, o que caracteriza a vida entre os Estados.
O que caracteriza a vida social entre os Estados é a ideia de guerra. Nesse sentido, alguns autores são
importantes para entender a perspectiva do Realismo.
Tucídides talvez seja o autor mais antigo numa perspectiva realista. Ele escreveu, há cerca de 2500
anos na Grécia Antiga, uma obra denominada “A História da Guerra do Peloponeso”, uma guerra entre
Atenas e Esparta. É um livro denso que busca chegar a verdade: “qual o sentido da guerra?”.
É um livro que expõe a guerra como elemento central. Ao escrever essa obra, o autor [Tucídides] diz
que em todas as guerras acontece aquilo que ele viu, que ele presenciou, no livro.
Não é muito diferente da perspectiva de Maquiavel. Claro, muitos séculos depois. No livro o ”O
Príncipe” de Maquiavel, o ensinamento é que a política é um elemento cultural, diferente do que se
entendia no passado, que a política era entendida como elemento da natureza. A partir de Maquiavel,
passamos a entender que a política é uma expressão da época. Dessa forma, por Maquiavel, se você quer
ascender, observe como a política foi feita até agora.
Ele [Maquiavel] vai consagrando um série de elementos do passado, e do presente, para demonstrar
como a política era realizada, numa perspectiva tida, também, como realista. Nesse sentido, ele analisa os
elementos estruturadores da ideia do Realismo Político e do Realismo Internacional.
Hobbes vem dizer, também seguindo a ideia de natureza humana, que o ser humano é essencialmente
mau. Mais para aqui, claro que dando muitos pulos, pois é uma aula expositiva focada mais no D.
Internacional.
Edward Cam, no séc. passado, escreveu um livro chamado “Vinte anos de crise”. Esse livro também é
uma perspectiva Realista. Realista em que sentido? No sentido de que ele trabalha com uma visão
contrária ao Idealismo de que o mundo não estava indo em bom caminho. Aquilo que estava sendo criado
entre o final da 1ª Guerra Mundial e a 2ª Guerra Mundial, ele viu como algo que não era seguro. Ele
[Cam] não via segurança nas instituições que estavam sendo criadas. O arranjo internacional que estava
em vigência (liga das nações) também não passava segurança para ele. Então, [Cam] lança uma série de
elementos (o prof. não disse quais elementos). Esse autor serve para quem quer entender as relações
internacionais entre as duas Grandes Guerras do ponto de vista pessimista.
Outro autor que contribuiu bastante para a teoria realista foi o Samuel Huntington. Ele escreveu um livro
muito famoso chamado "O choque de civilizações". Essa obra trabalha com a ideia de que existem nove
principais civilizações no mundo, entre elas a civilização Ocidental, Latino-americana, portanto, a
civilização Latino-americana não é parte, na visão dele, da civilização Ocidental.
Temos ainda as civilizações Africana, Sínica (Chinesa), Japonesa, cada uma delas com suas
características fundamentais. O autor diz, ainda, que, a partir dos anos 80/90 do séc. passado, os conflitos
que existiriam no mundo seriam entre civilizações, conflitos civilizatórios. Não seriam conflitos
ideológicos, políticos, e sim conflitos em função das características civilizacionais. Atualmente, muita
gente vê pertinência no que ele falou, pois nossa política, seja no plano nacional ou internacional, é muito
caracterizada por elementos culturais, divergências culturais.
Um autor que, também, ficou muito conhecido nesse ramo foi o Morgenthau e fundamentou a utilização
do Realismo pelos norte-americanos no âmbito internacional. É, portanto, um autor de referência no
estudo das relações internacionais.
Resumão do Realismo: essa é uma perspectiva que trabalha com uma ideia de que o Estado é o
grande elemento de análise. Só existe política internacional porque os Estados querem e na medida que o
Estados venham a querer, como eles venham a querer, porque o cenário internacional é anárquico e toda
tentativa que tenha havido, no sentido de domesticar o cenário internacional, é limitada. Alguns vão dizer
que ela é vã, não é séria e, dependendo do realista, vão achar que ela seja domesticada até certo ponto,
pois o que caracteriza o cenário internacional é uma disputa permanente, assemelhado com uma guerra.
Em função dessa disputa os Estados podem fazer guerra. Não necessariamente uma guerra do passado,
uma guerra que era permanente em relação à primeira fase do Direito Internacional, mas travestida de
guerra fiscal, comercial, etc.
Um Estado vai sempre querer estar numa posição superior, nenhum Estado vai cooperar de
boa-vontade. Essa ideia [cooperar de boa-vontade] é uma ideia Idealista, que não convence os Realistas.
O grande legado do Realismo é a ideia de que a força produz sentido. Muitas vezes você pode não ter
força, mas demonstra ter força e consegue resultado no plano internacional. A força falada aqui é a força
bélica, militar. O poder econômico-político-militar constitui poder de dominação no plano internacional.
Falando das críticas, o Realismo tem uma insuficiência, pois trabalha com uma perspectiva pessimista de
que a natureza humana é má, como escrita em Hobbes. A paz é objetivo dos idealistas, o Realismo não
vislumbra a paz e sim a guerra. A ideia de força como argumento também pode ser vista como uma crítica
negativa ao Realismo.
Um exemplo de aplicação do Realismo é a composição do Conselho de Segurança da ONU,
formado por 15 membros, dos quais 5 têm assento permanente e poder de veto. O poder de veto significa
que um único Estado pode vetar a discussão. Isso significa, na prática, balizar a ordem internacional com
a ideia idealista de organização global.
Ao se criar uma organização global, quem está pautando o cenário econômico é uma visão
Idealista, mas o realista pensa numa organização que desconsidere que os Estados são diferentes,
politicamente, socialmente, economicamente, ele não concebe que o mundo seja governado por iguais, e
sim por um conselho desigual, com poderes diferenciados e compatíveis com o seu lugar no mundo. A
invasão dos EUA a Síria é uma expressão do Realismo norte-americano.
O Idealismo é, sem dúvida, a ideologia que mais disputa significado com o Realismo. Podemos
chamar o Idealismo de frente liberalista. A perspectiva Liberal vem da concepção de que o indivíduo é o
elemento central, e a partir dele chegamos a um Estado que vá servi-lo. O idealismo é, sem dúvida, uma
expressão do Racionalismo que se expandiu. A partir dessas possibilidades da construção da paz.
O livro "Utopia" é uma das correntes do pensamento Idealista. Foi dele que Thomas Moore, o
autor, propôs uma sociedade ideal, normatizada, influenciada pelas visões das pessoas que conheceram o
novo mundo (Grandes Navegações) e acharam que tinham encontrado algo aproximado da visão de
Paraíso. Vários autores passaram a teorizar a ideia de paz. O liberalismo trabalha com a ideia de que o
mundo será melhor na medida em que se constituam organizações internacionais, pois facilitam o diálogo
entre indivíduos e cooperam entre si. A grande agenda é a construção da paz.
Dentro disso, há a ideia de comércio internacional livre: devem ser colocadas poucas barreiras
entre o comércio dos Estados, pois muitas das guerras do passado se iniciaram por conta de barreiras
comerciais. Não à toa foi criada a OMC (Organização Internacional do Comércio) e tratados
internacionais para evitar a guerra a partir do comércio. O liberalismo pretende domesticar a política
internacional, fazer com que os Estados tenham regras e sigam essas regras.
Diante disso, temos uma série de juristas que participaram dessa concepção, como Kant, Everd
Voltel e Jeremy Bentham que deram a sua contribuição para a Ciência das Relações Internacionais. A
sociedade onde eles viveram precisava ser organizada, para isso o Direito natural contribuiu muito, pois
havia a necessidade de uma aliança internacional para formar uma vida em sociedade de Estados. Tudo
isso baseado na segurança dos Estados e na segurança dos indivíduos.
Woodrow Wilson, presidente dos USA, foi uma figura fundamental para a construção da liga das
nações. São famosos os seus 14 pontos em relação ao final da Primeira Guerra Mundial e a construção da
nova ordem mundial. É a partir daí que se faz sentido falar em nova ordem mundial. Essa nova ordem é
uma criação do Liberalismo/Idealismo para dar sentido ao mundo formado por organizações
internacionais que vão construir a paz por meio da cooperação entre Estados.
(Propaganda de Genebra e do Palais Wilson. Visitem Genebra!)
A concepção idealista é dita utópica porque constrói, propõem arranjos internacionais no sentido
de mudar a ótica no plano internacional e as práticas no campo internacional.
Um dos autores mais estudados e criticados é o Fukuyama (38:30)
Francisco Ruian que escreveu livros para dizer que teríamos chegado sobretudo depois do fim do
socialismo real, e teria chegado ao ponto, que é o fim da história, então tem uma pretensão muito grande
na perspectiva dele, quer dizer que nós chegamos ao ponto da organização social, dos estados e do mundo,
que é a democracia liberal, que melhor se teria construído na teoria política e na prática política, não
poderíamos esperar outra coisa, mas eu particularmente vejo muita pretensão em congelar a história, a
história está acontecendo, é o que o futuro vai ser, então não é possível dizer que chegamos no fim da
história e que não tem outra coisa melhor além do liberalismo, mas, então o grande legado do liberalismo
ou do utopismo, no plano internacional é a ideia do que o utopismo constrói e é em função dessa
construção que temos um mundo melhor e organizado hoje em dia, temos organizações internacionais,
tratados internacionais, princípios do direito internacional que orientam as relações internacionais, isso
não existia no passado, foi algo que foi se estabelecendo a partir do renascimento, e mais do que tudo a
partir do iluminismo é que se deve essa incapacidade de propostas dos idealistas.
Ai chegamos no ponto das críticas, e é exatamente isso que dizem sobre ao liberalismo no plano
internacional, ao utopismo ou idealismo, ou seja, o liberalismo seria capaz de criar estruturas, nas quais os
autores acreditam muito, que essas estruturas são dissociadas da realidade, é quando você lê muitas vezes
um liberal, um idealista, você tem certeza que algo existe e não é propriamente dito como é escrito, então,
para falar de um autor no campo dos direitos humanos, aliás, muitos já se veem aqui, como o professor
Antônio Augusto você ler o tratado dele tem uma descrição muito liberal na perspectiva dos direitos
humanos, então ele vai dizer que, ou seja, que nós não tínhamos organizações internacionais, não
tínhamos tratados, e agora nós temos, e você fica acreditando que o mundo dos direitos humanos é uma
perfeição, eu sei que ele não acha exatamente isso, porque conheço ele pessoalmente, ele tem críticas
também, e o que leva a crê é que existem uma correspondência com a descrição e a realidade e não é
exatamente isso que acontece, tem portanto uma grande crítica, é que eles expõem uma realidade que não
tem uma correspondência exatamente como é descrito para todo mundo, ainda mais na cabeça deles.
Um exemplo é o Brasil na liga das nações, tem um livro que se chama “ O Brasil e Liga das Nações (
não tem certeza do nome do livro)”, o autor o sobrenome é Vargas. Ele conta a história do Brasil na Liga
das Nações, o Brasil acreditava muito que deveria ser o líder da América Latina. Esse autor estudou, foi
para os documentos, o Brasil queria um lugar na liga das nações, parecido como conselho de segurança, e
ai foi feito uma campanha para que o Brasil tivesse esse assento, só que o Brasil acreditou demais, numa
perspectiva muito utópica e idealista deste lugar e não acreditava que outros países queriam boicotar a
campanha brasileira, só que o México boicotou, a Argentina também, a própria América Latina não deu
apoio a candidatura brasileira, o que resultou foi o Brasil ter se retirado da liga das nações, e também a
liga foi perdendo forças, nas condições da segunda guerra mundial, mas no final dos anos 20 o Brasil se
retirou por conta de ter feito uma campanha no plano nacional e internacional, acreditando muito no
liberalismo e a capacidade de representar a América Latina e não teve esse apoio, assim se retirou da liga
das nações. Isso ilustra que muitas vezes os valores liberais não andam muito de acordo com a realidade.
E ai vem o marxismo como uma terceira teoria que vai procurar explicar as relações internacionais,
não vai se contentar em explicar as relações de poder interno, dentro do próprio Estado, mas as relações
entre esses Estados. A grande contribuição do marxismo /e por meio de uma crítica ao capitalismo. Luta
de classes no plano interno que é levado também para o plano internacional tem um nome para essa luta
de classes que é o imperialismo, que é como se revela a luta de classes no ambiente internacional de
acordo com a análise marxista.
O Estado é visto como o instrumento que facilita a acumulação de capital por parte dos capitalistas, e
há uma disputa entre os Estados por uma hegemonia no plano internacional. Se existe uma disputa de
classes no plano interno, existem também uma luta de classes entres Estados, porque os Estados também
são desiguais. Se os Estados são desiguais eles disputam há quem diga que o marxismo é um idealismo à
esquerda, pelo fato do marxismo potencializar muito a disputa no plano internacional. Então vamos ter
Estados que são exploradores e vamos ter Estados que são explorados, tem toda uma luta contra o
imperialismo, como autores vamos ter Marx, Lennie que teorizou em torno do imperialismo, vai
demonstrar quais são os elementos construtivos do imperialismo, vai mostrar situações em que teria
plausividade para sua teoria em relação ao momento que ele criou, e tem uma série de seguidores
denominados como neomarxistas que tem uma visão mitigada do marxismo.
O grande legado para o marxismo é a consciência de classes, de que viemos de classes diferentes,
estão aí na base da sociedade, de que é o mundo, também tem sentido no plano das relações
internacionais, e a ideia de que o diferentemente do que se pensava no passado o mundo é uma construção
cultural histórica, fatores de que a ideia materialismo histórico é tão ... no marxismo. A análise marxista
seria concentrada na economia, na organização econômica do mundo, por isso que a ideia de luta de
classes é tão central.
Então as políticas internacionais de base marxista buscam articular Estados em torno de uma agenda
de fortalecimento das políticas nacionais dos Estados que se identificam nessa política. A grande disputa
no campo da diplomacia, nos cursos de relações internacionais é entre o realismo e idealismo, são essas
duas teorias que disputam o sentido do mundo.
No campo das relações internacionais, eu já falei pra vcs que há algum tempo eu
exponho também a teoria das relações internacionais nas aulas de direito internacional
pq as teorias tradicionais elas já são muito antigas como nós vimos e elas são limitadas
para explicar, embora toda teoria seja limitada para explicar o q quer q seja e no caso
das teorias das relações internacionais também, mas elas foram construídas foram
sistematizadas ao longo do século XX embora muitos autores como nós vimos realistas,
idealistas, marxistas (estes mais recentes), mas realistas e idealistas eles produziram
conhecimento nessa perspectiva desde a antiguidade, então cabe ressaltar q tem uma
produção antiga q foi sistematizada pelo autores no campo das relações internacionais a
partir do início do século XX.
Disciplinas que navegam pela filosofia do direito, - certamente já devem ter
trazido pra vcs tb a crítica feita pelo discurso a chamada virada linguística -, ou seja, a
ideia de q a linguagem constitue a realidade, ou seja, a realidade não é algo q
simplesmente representa mas a própria realidade é constituída pela linguagem, então
esses autores e essas autoras e nós vamos perceber que cada vez mais vão aparecer
autoras no campo do feminismo no estudo do gênero elas vão procurar explicar e trazer
uma contribuição q certamente e sobretudo os realista vão ver com muita resistência
com muitos pés atrás essas contribuições pq certamente são todas elas teorias q vão de
encontro às teorias tradicionais.
Então o realismo é entre as 3 teorias principais, as 3 teorias tradicionais a teoria
q mais se coloca como tendo hegemonia do campo internacional e sobretudo pelo fato
de se colocar como uma teoria q expõe a verdade, é isso q o realismo busca, expor como
as coisas são e sempre serão. Em função dessa racionalidade exacerbada os teóricos no
campo dessas outras teorias vão criticar muito em grande parte o realismo, mas criticam
tb o idealismo e o marxismo.
Todas elas, todas essas teorias aqui elas são alternativas também por isso, ou
seja, por criticar as teorias tradicionais, mas sobretudo o realismo pq elas criticam
sobretudo o realismo? Porque o realismo se coloca diante da posição de explicar o
mundo, de explicar plenamente, racionalmente o mundo e aí vem toda aquela crítica a
razão q diz que o mundo não pode ser explicado nesses termos e mais do que isso q a
própria construção racional do realismo é uma ficção pq pra esses autores q têm essa
visão, uma visão orientada pela crítica a razão pela crítica trazida no campo do discurso
as teorias não passam de construção e portanto de ficções, como aliás muitos autores no
passado e certas explicações, eram explicações ficcionais, o próprio Estado seria uma
ficção, a própria ideia de sujeito de direitos seria uma ficção.
Como já vimos, como vcs certamente já viram então é por aí q essas teorias vão
trabalhar, mais uma vez chamo atenção pelo fato de que são teorias comparadas com as
outras, são teorias minoritárias, são teorias alternativas nesse sentido mas não é pelo
fato de elas serem minoritárias q elas não tem plausibilidade ou e muita gente vê
plausibilidade nelas.
Então comecemos a falar sobre as teorias críticas q surgem no cenário
internacional sobretudo a partir dos anos 80 do século passado e trazem uma série de
novos elementos, novos temas q estavam de fora da análise internacional, como eu falei
pra vcs nas aulas passadas o q é q o realismo indica coloca como sendo um elemento
central da análise internacional - o Estado - , ou seja, tudo gira em torno do Estado, q é o
grande sujeito, senão o único das relações internacionais ou da política internacional e
os críticos vão apresentar novos elementos, novos temas q não passsam necessariamente
pela definição estatal ou pelos estados, mas tb vão criticar a idealização feita pelo
idealismo e análise marcadamente economicista do marxismo.
Então q temas são esses? Ou q novos temas são estes trazidos pelas teorias
críticas? Em primeiro lugar a segurança internacional que sempre foi vista como um
elemento de preocupação apenas entre os Estados e quando se fala em Estados, significa
os poderes estatais. Então os militares, os governantes, no máximo os deputados e
senadores, porém ONGs, por exemplo, não deveriam se preocupar com isso e além
disso toda preocupação com segurança seria de caráter eminentemente militar,
segurança para segurar fronteiras, para fazer com q os Estados protegessem seu
território e suas populações de ameaças estrangeiras.
E os teóricos críticos vão trazer outra ideia de segurança internacional então
entre essas ideias vai haver a noção de soft security e hard security, esta é a segurança q
diz respeito propriamente a segurança nacional e internacional é a segurança dura
digamos assim, mas a gente teria uma compreensão de segurança soft que é aquela
flexível, q faz com o Estado seja respeitado por exemplo, pela criação de condições de
diálogo e isso também seria uma forma de trabalhar com a segurança quando por
exemplo determinados projetos de integração fronteiriça estabelecido entre dois ou três
estados ou mais Estados essa tb seria uma preocupação com a ideia de segurança na
medida em q Estados cooperam uns com os outros vai melhorar a vida do espaço
fronteiriço, aí tá uma preocupação q é diferente da preocupação tradicional, dos atores
tradicionais, sobretudo os realistas, a ideia de hegemonia, hegemonia não em termos
tradicionais do direito internacional, mas a hegemonia como emancipação, ou seja, com
a possibilidade de cooperação envolvendo Estados.
PÓS MODERNOS
Hoje, nós vamos tratar do tema das Fontes do Direito Internacional. Essas
fontes provêm do Direito como um todo, só que aí nós vamos ver que têm algumas
fontes que são específicas, que dizem respeito à vida no plano internacional, no direito
internacional.
A partir da aula de hoje, digamos que a nossa disciplina fica mais com cara de
Direito, parte normativa. Então, eu vou pedir que vocês leiam alguns tratados. Eu peço
que vocês leiam, primeiro, TODA a Carta das Nações Unidas, que é o grande tratado
que institui as Nações Unidas, pode-se entendê-la como o tratado fundação das Nações
Unidas, de 1945. Incluindo, também, o seu anexo, que é o Estatuto da Corte
Internacional de Justiça.
O Estatuto da Corte Internacional de Justiça é parte da Carta das Nações, embora
seja um instrumento a ela anexo. Peço que leiam, também, pelo menos, o artigo 2º da
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados. E por que eu estou pedindo isso?
Porque são os documentos que regem a vida relacionada às fontes do direito e, muito
em particular, aos tratados internacionais - podemos chamar “tratados internacionais”,
embora tenha aí uma impropriedade, porque só tem sentido se falar em tratado
internacional.
É diferente de costume, pois costume existe também no âmbito interno. É de lá
que vêm os costumes internacionais e outros nem vêm de lá, foram constituídos no
âmbito do direito internacional. Então, cabe falar em costume internacional, mas tratado
só existe internacional.
Então, essas convenções, esses documentos internacionais regulam esse tema
que começamos a ver hoje, ou seja, fontes do direito internacional e, muito em
particular, os tratados.
Pelo Estatuto da Corte Internacional de Justiça (ECIJ), nós podemos ver que
existe ali uma definição de quais são as fontes válidas no âmbito do direito
internacional, embora haja, como vamos ver daqui a pouco, uma impropriedade da
definição dessas fontes. O ECIJ deixou de considerar outras fontes e nós vamos ver o
porquê.
Então, leiam a Carta das Nações Unidas, TODA, incluindo o Estatuto da Corte
Internacional de Justiça. Peço que leiam, também, a Convenção de Viena sobre Direito
dos Tratados, pelo menos o artigo 2º, porque, no artigo segundo, vamos ter a definição
de tratado, a definição do ponto de vista desta Convenção. Vamos ver, também, que tem
uma impropriedade, ou seja, na hora de legislar (isso vale para o plano nacional e
internacional), os legisladores podem se equivocar e, muitas vezes, equivocam-se.
Então, definem de uma maneira que não é a mais apropriada, do ponto de vista da
doutrina, da jurisprudência, dos princípios gerais do direito, do acúmulo histórico que se
tem a respeito de um determinado tema e, nesse caso específico, das fontes do direito
internacional.
Então, de acordo com o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça,
enumeram-se as fontes do direito internacional, quais sejam:
a. Os tratados;
b. Os costumes internacionais;
c. Os princípios gerais do direito internacional - muitos são
princípios gerais do direito aplicados ao direito internacional e alguns
são princípios específicos do direito internacional, construídos ao
longo dessa história que nós vimos de formação, de consolidação do
direito internacional;
d. As decisões internacionais, ou seja, a jurisprudência
internacional. Por que se fala aqui em decisões internacionais?
Porque nem todas as decisões se tratam de decisões de órgãos
jurisprudenciais… Enquadram-se não só as decisões do âmbito dos
tribunais internacionais, mas decisões de outros órgãos, como, por
exemplo, as Comissões, os Conselhos, que muitas vezes estabelecem
decisões que têm um certo grau de cogência. Teremos, também, uma
aula sobre a cogência do direito internacional, embora esse tema
esteja presente o tempo inteiro nas nossas aulas;
e. A doutrina internacional que, como vocês sabem, essa
discussão vale também para o plano interno, ou seja, há quem não
veja na doutrina a capacidade de fonte do direito, no caso do direito
internacional também, mas vamos trazer as posições que existem a
respeito.
Vocês observam que essas fontes são limitadas. Há, pelo menos, duas outras fontes
que hoje são, claramente, entendidas pela doutrina, pela jurisprudência como sendo
fontes do direito internacional e que não estão previstas no Estatuto da CIJ, que são:
1. Os atos unilaterais dos Estados - alguns atos que são tomados, que são
decididos, atos elaborados, colocados em prática pelos Estados unilateralmente,
como uma promessa, como um protesto, dentre tantas outras formas e que, ainda
assim, produzem efeitos no plano internacional, ou seja, embora não sejam atos
nem bilaterais, nem multilaterais, sejam atos unilaterais, mas eles produzem
efeitos, têm um significado no plano internacional… Causam, muitas vezes,
constrangimento, exigem respostas de outros Estados, de organizações
internacionais, de indivíduos. Por isso, exercem efeitos no plano internacional;
2. As decisões das organizações internacionais, ou seja, aquelas organizações
internacionais que hoje têm um caráter de um sujeito do direito internacional. Na
época de formação do Direito Internacional, não existiam organizações
internacionais. Então, elas não tomavam decisões, porque não existiam.
E aí nós vamos entender porquê… O ECIT, de 1945, que é um anexo da
Carta das Nações (esta foi estabelecida quando da criação da ONU, é o
documento que funda a ONU, com ela surge o ECIJ), praticamente é a cópia do
Estatuto do Tribunal do âmbito da Liga das Nações, ou da Sociedade das
Nações, que foi criada em 1919, o Estatuto de 1920. Então, o que a ONU fez?
Adotou o texto do Estatuto daquele Tribunal, da Corte Permanente de Justiça
Internacional, era outra denominação. Adotou como Estatuto e só mudou o
nome, praticamente, do tribunal para Corte Internacional de Justiça.
É por aí que nós podemos entender essa limitação na definição das fontes do
direito internacional. Por volta de 1919, 1920, quando a Corte Permanente de Justiça
Internacional foi estabelecida, não se tinha a compreensão de que atos unilaterais dos
Estados produziam direito internacional, e essa é uma grande limitação, porque os
Estados já existiam, mas talvez a noção muito estrita de soberania não permitisse que se
entendesse os atos unilaterais dos Estados como sendo também fontes do direito
internacional.
E mais grave ainda é o fato de as decisões das organizações internacionais
também não serem vistas como fontes do direito internacional. E aí a explicação é que
as organizações surgiram na época do Tribunal, as duas primeiras organizações: a Liga
das Nações e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), instituídas em 1919.
Então, naquele momento não havia a compreensão, produção de doutrina, nem de
jurisprudência que levasse à compreensão de que as decisões das organizações
internacionais produziam direito internacional.
Estamos falando, portanto, de fontes formais do direito internacional. Nas aulas
anteriores, nós falamos de fontes materiais, ou seja, aquilo que diz respeito ao
fundamento do direito internacional. Quando se fala em fonte material, é a discussão
relacionada ao fundamento das coisas. No caso específico da nossa área, ao fundamento
do direito internacional. Por que existe o direito internacional? Vimos as teorias
relacionados ao direito internacional e vimos as teorias relacionadas às relações
internacionais, nas aulas passadas.
Nessa aula, vamos falar das fontes formais, ou seja, os meios através dos quais o
direito se revela, se reveste, ou, nos termos do que diz o NEVYEN QUOC DINH, as
técnicas pelas quais o direito se revela. É aí, portanto, que se fala em tratados, costumes
internacionais, princípios gerais do direito internacional, decisões internacionais,
doutrina internacional e, além deles, aqueles que não estão no art. 38 do Estatuto da CIJ,
mas não há dúvidas de que são fontes do direito internacional, a doutrina já pacificou
em relação a essas questões, pelo menos essas duas fontes são reconhecidas como fonte
do direito internacional.
Vamos observar, também, que entre as decisões de organizações internacionais
têm aparecido aquilo que se convencionou chamar de Soft Law.
Soft Law (norma não convencional) - relaciona-se tanto com costumes quanto
com decisões de organizações internacionais. São normas NÃO CONVENCIONAIS,
uma boa tradução seria essa ou normas flexíveis.
Pergunta: a Soft Law não tem cogência?
Resposta: às vezes, elas têm mais cogência, são mais significativas do que a
Hard Law (o tratado). Ou seja, o que se espera do tratado? Que por ser obrigatório, ele
tenha uma capacidade de se fazer valer na realidade internacional, mas, muitas vezes, o
tratado não é propriamente colocado em execução e uma Soft Law é muito mais capaz
de penetrar a vida social, no plano internacional, do que uma Hard Law.
Em todo livro hoje, tem, pelo menos, uma Soft Law, então vocês pegam um
livro e, na contra capa, tem o número do livro, aquilo significa uma norma construída no
âmbito da diplomacia internacional e que foi sendo aceita ao longo do tempo. Portanto,
está na fronteira entre princípios, costumes e, muitas vezes, é algo adotado por uma
decisão de organização internacional, segundo a qual, no caso em questão, os livros, a
partir de determinado momento, precisam ter um número. É a forma que o Estado e as
organizações têm de saberem quantos livros são vendidos, produzidos no âmbito
nacional por ano, em tal tema… É a forma de saber quantos livros e em que condições
eles são publicados.
Todo livro, em princípio, precisa ter um número. Se alguém quiser publicar um
livro sem número, não tem nenhum problema, publica, mas não será contado e, também,
como tem uma outra Soft Law que são os currículos digitais, se você tem um currículo e
precisa colocar um livro, ao colocar a autoria do livro, se não tiver número, não registra,
no caso do Brasil, no Lattes.
Então, estamos falando de uma Soft Law que tem uma capacidade de entrar na
vida social muito mais do que um tratado. Há tratados que se relacionam com uma Soft
Law, mas a Soft Law tem uma vida autônoma. No entanto, nós veremos isso tudo em
detalhes nas próximas aulas, por enquanto vamos nos ater ao que está no quadro, ou
seja, as fontes do direito internacional.
Antes de começarmos a falar sobre tratados, tem uma discussão a respeito da
hierarquia das fontes. Será que existe hierarquia das fontes? Essa discussão, certamente,
vocês já viram no âmbito do direito interno.
Será que existe um hierarquia em relação as fontes no âmbito do direito interno?
Eu diria que a maior parte da doutrina diz que sim, existe uma hierarquia e ela está
relacionada à legislação. No direito interno, a lei é hierarquicamente superior às demais
fontes. Certamente, essa é uma discussão aberta, haverá quem discorde.
No âmbito do direito internacional, costuma-se dizer que não existe hierarquia
entre as fontes do direito internacional. Ao mesmo tempo, os autores trabalham com a
ideia de que existe fontes primárias e fontes secundárias. Eu acho que tem uma certa
contradição, porque se diz que não existe hierarquia entre as fontes do direito
internacional, se está dizendo que todas são iguais, há uma mesma capacidade de
validação envolvendo tratados, costumes internacionais, princípios gerais do direito,
decisões internacionais, doutrina internacional e as outras. Todas são hierarquicamente
iguais, é o que a maior parte dos autores diz, o próprio NEVYEN QUOC DINH é muito
enfático, o Guido Soares também, praticamente todos trabalham com essa ideia de que
não existe hierarquia no âmbito do direito internacional. Ao mesmo tempo de que
trabalham com a ideia de que existem fontes primárias e fontes secundárias. O que, de
alguma forma, implica em estabelecer certa hierarquia entre as fontes.
Pergunta: a ideia de Hard Law e Soft Law também não compromete essa ideia de
que não há hierarquia entre as fontes do direito internacional?
Resposta: eu acho que sim. Há uma idealização muito grande no direito como um
todo e no direito internacional e, também, quando se fala nessa questão de hierarquia ou
não. É como se os autores quisessem que não exista hierarquia, mas, na prática, acaba se
estabelecendo.
O que seria uma fonte secundária? Uma fonte que precisa de legitimação por
outras fontes. Então, os princípios gerais do direito precisam ser reconhecidos por outras
fontes, principalmente pelos tratados. As decisões internacionais também, ou seja, têm
que estar condicionadas por tratados e por costumes. Uma decisão internacional por
melhor que seja, por mais relevante que seja, se não estiver de acordo com um tratado,
com um costume internacional, ela é suscetível de questionamentos.
Pergunta: Se houver um conflito entre duas fontes primárias, quem prevalece?
No caso entre tratados e costumes.
Resposta: a resposta quanto a isso vai variar, mas uma resposta positivista seria
a de que vai prevalecer o tratado, o que estiver definido no tratado.
● TRATADOS
2.1 Agente capaz. Exceções. Cláusula Federal: Os agentes capazes são os Estados e
as Organizações Internacionais. As "pessoas comuns" estão sujeitas ao direito
internacional porque têm direitos e obrigações, podendo inclusive ser julgados no plano
internacional até por questões penais, mas não têm autonomia para contrair obrigações
em termos de tratados. Existem casos excepcionais em que estados federados têm
capacidade de construir tratados. É o caso da Califórnia, que ao entrar nos EUA definiu
essa regra. É o caso também da Cruz Vermelha, que não é uma Organização
Internacional; é uma ONG que foi instituída como organização nacional inicialmente e
tem sede junto às organizações internacionais em Genebra, mas é uma ONG. De toda
forma, por força da prática tem participado de tratados.
Vinculada a essa discussão, temos a chamada cláusula federal, que vai ser
elemento de vários tratados, como a Convenção (Inter)Americana Sobre os Direitos
Humanos e a Carta das Nações. Essa cláusula quer dizer que apenas o Estado enquanto
união tem a capacidade para estabelecer tratados, sendo os casos citados acima as
exceções.
Se a CFRB ou qualquer outra constituição estabelecer que um, dois ou todos os
estados podem ratificar tratados, isso deverá ser respeitado no plano internacional. A
regra geral é relacionada à cláusula federal, e isso vale não só para a negociação, a
assinatura e a ratificação de tratados, mas também para o cumprimento das obrigações.
Se o governo de Pernambuco agir de encontro a uma determinação internacional, o
Brasil tem que se responsabilizar. No exemplo do estado da Califórnia, por sua vez, o
caso é diferente, como ele é ente apartado, limpa a merda que fizer.
2.2Objeto lícito: O objeto deve ser lícito (assim como o direito interno e direito dos
contratos). Isso tem muito a ver com uma discussão que veremos mais adiante, ou seja,
não é sobre qualquer tema que o tratado pode versar. Por exemplo, hoje (essa é uma
regra um tanto quanto aberta porque depende do que se entende no momento) alguns
Estados resolverem reinstituir a escravidão isso será visto como um objeto ilícito,
portanto não passível de ser regulado no plano internacional. É uma questão que tem
certa correlação com as cláusulas pétreas que temos no plano interno, mas voltaremos a
esse tema mais adiante; por enquanto fiquemos com a generalidade do objeto lícito.
2.3 Ademais, deve haver o consentimento mútuo; não pode ser imposto por um Estado
em relação aos outros. Deve haver um acordo entre as partes (Estados e Organizações
Internacionais).
Pergunta: Quando vai haver decisão sobre determinado território a ONU tem que ser
convocada, mas sobre a situação de Jerusalém como isso é resolvido na prática?
Porque o papo de que vai tudo se resolver pacificamente é lindo, mas não cola;
enquanto a gente fantasia o pau canta e gente morre... Então hoje o que está sendo
feito?
Jayme: Atualmente essa questão em particular está sendo regulada por Trump, rs.
Aluna pistola: Eu sei professor, mas o senhor tá dando aula pra falar desse tópico,
então responde aí minha pergunta...
Jayme: A resposta não é simples. Eu acho que o direito internacional (muita coisa
inaudível). As limitações são grandes, mas ao mesmo tempo a gente tem visto no
desenvolvimento histórico da disciplina e veremos mais ainda que existe possibilidade
de regulação, de normatização, de aplicação do direito, mas ainda assim com certas
limitações, ou seja, o direito internacional é um direito diferente dos outros direitos que
tem potencialidades e limitações também. É uma resposta insuficiente, mas é uma
resposta que deve guiar as nossas discussões daqui por diante. Só terei condições de
responder de forma mais afirmativa em situações específicas. Como generalidade fica
difícil. No fim das contas vem acabando por valer a lei da força.
A tradição dos plenipotenciários vem da época dos reis absolutistas, que não
podiam estar em todas as discussões de todos os tratados, mas se preocupavam muito
com quem poderia negociar tais tratados. Plenipotenciárias são aquelas pessoas a quem
o Estado dá poderes para que negociem os termos dos tratados e assuma compromissos
em relação aos tratados, muitas vezes podendo assiná-los também. Essas pessoas
recebem os chamados "plenos poderes", que têm seus limites traçados pela autoridade
responsável por uma autoridade do âmbito nacional, podendo limitar os poderes do
pleno potenciário de modo que eles simplesmente participem da negociação sem assinar
o contrato. Há casos em que a autoridade do chefe de Estado não é suficiente para
assinar determinado contrato por esse poder ter sido delegado ao pleno potenciário
(entendi dessa forma no áudio, mas não faz tanto sentido). "Plenos poderes" também é o
documento que deverá ser exibido pelo pleno potenciário na hora de negociar o tratado.
Normalmente há conferência desses representantes na qual eles devem exibir esses
documentos registrados com a assinatura de quem tem o poder de delegar tal atribuição.
Pergunta: Eles são agentes com diplomatas ou pode ser qualquer um?
Resposta: Em geral são diplomatas, mas pode ser qualquer um, como inclusive vem
acontecendo, sobretudo no exterior.
A constituição do país vai determinar quem tem poder para constituir pleni
potenciários e quais os plenos poderes. No Brasil, isso cabe ao presidente da república.
Ele pode também delegar essa atribuição ao Ministro de Relações Exteriores, que é o
que normalmente acontece, mas depende de uma lei específica.
Os plenos poderes podem ser limitados e ainda assim serão plenos poderes.
Em algumas situações, algumas pessoas de alguns cargos não precisam exibir
plenos poderes (o documento). É o caso dos chefes de Estado; eles não precisam
apresentar plenos poderes porque são reconhecidos como tais. O mesmo vale para o
Ministro de Relações Exteriores, pro Chefe de Missão Diplomática e pra representantes
em conferências específicas para definição de um tratado (achei isso um tanto confuso).
Pode-se dizer que os plenos poderes são uma "procuração internacional" dada
pelo Estado para negociar os termos de um tratado, podendo ser revogados.
Se for uma organização global, se for uma organização regional...Ou seja, é o espaço
que vai garantir essa... E no passado, quando não haviam as organizações
internacionais, os próprios Estados que davam poderes ao depositário. Quando a reunião
se estabelecia para realizar os tratados já se definia quem era o depositário, quem seria o
depositário. E aí o depositário, o Estado dava poderes ao depositário. A figura do
depositário sempre foi uma figura muito importante, ou seja, é comum que uma pessoa
relevante no espaço internacional. Poderia ser um estudioso, podia ser um diplomata
poderia ser um governante um rei.
Emenda
Em relação às reservas, o que se deve observar é que faz parte da soberania das nações
estabelecer reservas. Então, reserva é uma sinalização, a manifestação de vontade
unilateral do Estado por meio da qual o Estado diz que não se compromete com
determinadas clausulas do tratado. Isso é plenamente possível na ordem internacional,
desde que não alcance os elementos fundamentais do tratado.
Imagine que num tratado sobre mudança do clima, um Estado imponha uma reserva
justamente num ponto fundamental sobre a mudança do clima, o que equivaleria a não
ratificar, ratificar só pro forme. Certamente isso aconteceu com muitos tratados ao longo
da história. Então, por isso a doutrina vem adotando a compreensão e a jurisprudência
internacional também, no sentido de limitar as possibilidades de reserva.
Mais recentemente, alguns tratados já não permitem mais reservas, alguns tratados da
área ambiental, o tratado do tribunal penal internacional não é passível de reservas... não
é possível. Então o que vem acontecendo: alguns Estados não ratificaram e tem se
organizado com outros Estados pra que outros Estados não ratifiquem. É uma forma de
tirar legitimidade ao tratado. Então, por exemplo, Estados Unidos não ratificaram,
Colômbia também não. Vários Estados que tem problemas humanitários – digamos
assim – não ratificaram o Estatuto de Roma, que institui o Tribunal Penal Internacional.
Porque também só seria possível ratificar inteiramente o tratado, ele não é passível de
reservas. Então, digamos que tem essa tendência dos dias de hoje, em função de uma
busca de uma cogência maior para o direito internacional e em função de consideração
das reservas como que algo que tira o significado de muitos tratados. Então há uma
tendência de que tratados mais recentes não permitam reservas. Isso vem acontecendo
com os tratos de meio ambiente, os na área penal. Ou seja, o tratado que institui o
tribunal penal, como se admitiria reservas? Ou se admite inteiramente ou não.
Pergunta: professor, eu não sei se o senhor já falou, mas no caso de adesão precisa de
autorização de outros Estados que já eram parte?
Pergunta: e no caso de emenda, como é que é? Qualquer Estado chega e propõe essa
emenda?
Quando falamos da emenda, falamos de uma série de condições, uma séria de situações
que são reguladas pelo próprio tratado. Ou seja, é o tratado... digamos que a regra geral
válida para o direito internacional é, no âmbito dos tratados, o tratado define as suas
regras. Claro, tem os princípios gerais do direto, tem as condições mais gerais. Em
princípio, com relação a reserva, a emenda, a adesões, tudo isso é regulado pelo tratado.
Eu falei pra vocês do formato do tratado. Ou seja, o tratado ele começa com o
preâmbulo, no qual nós vamos ter a qualificação das partes do tratado, nos vamos ter
também os princípios do tratado, ou seja, aquilo que justifica o tratado. Depois vem a
parte propriamente normativa, por meio dos artigos, que é o corpo do tratado. E tem o
fecho, ou a finalização, que é aí onde vem essas regras relacionadas a suspensão, a
reserva, a denúncia. Tudo vai ser definido pelo tratado. Vale o que está no tratado. O
próprio tratado deve dizer: tais e tais artigos não são passíveis de reservas. Agora se
permitir também... Inclusive, tem alguns tratados que são completamente
descaracterizados por isso.
*Diálogo com aluna confirmando a afirmação do professor, com o exemplo da
Convenção de Viena*
Suspensão
As condições de direitos humanos, por exemplo, dizem que determinados direitos não
podem ser suspensos. Por exemplo, o direito a liberdade, o direito a vida. Tudo vai
depender do tratado.
Denúncia
Extinção
A extinção do tratado se dá por duas formas principais: a perda de objeto, que é quando
o objetivo não foi cumprido ou foi cumprido, aí ele deixa de existir, o tratado é extinto.
Como o tratado que instituiu a liga das nações deixou de existir quando eclodiu a
segunda guerra mundial. O tratado veio para trazer a paz, aí eclode outra guerra
mundial, então ele perde seu objeto. É o que pode acontecer com a ONU se eclodir a
terceira guerra mundial. A carta das nações está extinta. Não falem isso por enquanto
pra... por enquanto vamos deixar só aqui entre a gente.
A outra possibilidade é o fim do prazo. O tratado pode ter um prazo determinado. Ele
vai funcionar... por exemplo, na área cultural, é muito comum que nos tratados da área
cultural os Estados estabeleçam um plano para a cooperação cultural por um período
por 3 anos, para fomentar bilateralmente ou multilateralmente a cultura entre ambos os
Estados. Ou seja, vai valer por tempo determinado. Uma vez concluído esse prazo, ele
deixa de existir. Não foi nem pelo cumprimento do objeto, mas sim porque o tempo foi
extinto.
Uma questão muito relevante com relação aos tratados é o tema da nulidade. Os tratados
podem ser declarados nulos em função de dolo, coação, erro. Aqueles elementos que já
conhecemos em relação ao direito civil, que se aplicam ao direito internacional também,
talvez com uma gravidade maior. Imaginem – como já aconteceu muito no passado –
um Estado ser coagido a assinar e ratificar um tratado. Em guerras no passado isso já
aconteceu. Um rei dominava a situação e obrigava outros a assinar o tratado. Na
doutrina, esse tratado era visto como um tratado passível de ser anulado. E hoje há a
clareza de que sendo alegado e provado isso, o tratado deverá ser considerado e
declarado nulo. Claro, há possibilidades de correção do erro.
Então, a doutrina é quem preenche, digamos assim, essa interpretação, ela não está
definida, são os doutrinadores que vão dizer que elementos que temos, estão tendo aí,
sobre a norma imperativa do direito internacional; é uma discussão um tanto quanto
assemelhada a cláusula pétrea, embora as cláusulas pétreas possam ter uma definição
mais clara que, no caso do Brasil, não se tem claramente o que é uma norma imperativa,
digamos assim... é uma importação da discussão no plano constitucional para o direito
internacional e, ao mesmo tempo, a busca de estabelecer mais segurança no âmbito do
direito internacional.
Não, nesse caso, não é costume nacional, é um costume internacional. É o costume que
pula os estados no plano internacional... muitos costumes são também princípios
internacionais do direito, ‘passagem inocente’ é um princípio internacional do direito
que é um costume também; o direito de passagem que aliás fica bem no plano interno;
todo mundo sabe que, por exemplo, uma casa, ela às vezes é encostada no terreno de
uma outra, então quem mora naquela casa tem o direito de passagem pelo terreno
daquele... mesma coisa quando for levado pro plano internacional que se chama
tecnicamente de “passagem inocente”, que é a passagem que aviões fazem sobre
território de estados nação, a passagem que os navios fazem sobre o mar territorial
também, tudo isso é considerado passagem inocente, ou seja que não oferece nenhum
risco a soberania dos Estados e implica no direito, de um princípio do direito
internacional, um princípio e um costume, que ao longo do tempo foi se instituindo
como um princípio e como um costume. Então, claro é preciso informar ao Estado: “vou
fazer uma passagem inocente por aí (...) me comprometo, ao fazer essa passagem, em
não pousar, não estou levando armas, não estou tocando na sua soberania, simplesmente
preciso passar, seja pelo mar territorial seja pelo ar".
Pergunta: Tem a ver com o direito positivo? Sim, ele foi positivado. Antes de ser norma
prevista no tratado, era um costume que hoje está positivado. Houve o processo de
positivização do costume.
Nós vimos anteriormente as discussões sobre as fontes materiais e sua relação com as
fontes formais. Estamos agora nas fontes formais, mas antes estávamos nas fontes
materiais, ou seja, nas teorias que embasam o direito internacional. Entre elas, o
voluntarismo e o objetivismo. Aplicado aos costumes, os voluntaristas podem dizer e
tem dito que o costume deriva do consentimento tácito dos Estados. É o voluntarismo
jurídico que embasa a existência do costume.
Numa perspectiva objetivista, alguns autores podem dizer que é a consciência social do
grupo, ou seja, um elemento objetivo; não um elemento voluntarista. Crítica do
professor: “Não sei se é tao objetivo assim, está mais no campo de uma idealização
espiritual". Esses autores trabalham com esse elemento objetivista: “a consciência social
dos Estados. Os Estados chegaram a conclusão de que deveriam validar um
determinado costume. A grande diferença em relacao à validação do costume, é que no
plano interno é validado pela pratica reiterada dos indivíduos e sua aceitação por estes,
no direito internacional é pelos Estados.
Pergunta: dificilmente consigo pensar em algum direito no plano internacional que não
tenha sido anteriormente um costume.
Professor: Eu acho que é relativamente fácil definir o que é costume e tem normas que
nascem sem antes terem sido costumes. Por exemplo, a ideia de que existem crimes
internacionais, não era tido como um costume. Crimes internacionais não eram tidos
como um costume. Aí houve uma Convenção, a de Genebra de 1949, que definiram os
crimes internacionais. Agora, obviamente, há muitas situações que a norma escrita
simplesmente positiva um costume anterior.
A ideia de que os pactos devem ser cumpridos é algo definidor no Direito internacional.
Falamos do poluidor pagador, que diz respeito, mais especificamente, ao direito ambiental; do
princípio das coisas julgadas, e falei pra vocês que nós vamos encontrar, além do poluidor
pagador, vários princípios específicos do direito internacional ambiental, como o princípio da
autodeterminação dos povos. Exemplo de pergunta da prova: que princípios vocês poderiam
indicar que são exclusivamente aplicáveis ao Direito Internacional? Um deles é o princípio da
autodeterminação dos povos.
Vamos seguir agora falando das outras fontes formais do direito internacional, ou seja,
são todas as fontes formais, com exceção daquelas em que vimos na primeira aula sobre o tema.
Os atos jurídicos unilaterais e as decisões das organizações internacionais não estão presentes no
Estatuto da Corte Internacional de Justiça, em seu artigo 38 (que elenca as fontes do Direito
Internacional: tratados, costumes, princípios gerais do direito, doutrina, jurisprudência). Com
relação à doutrina, há uma divergência doutrinária em torno da sua pertinência ou não às fontes
do direito internacional. Para termos uma compreensão a esse respeito, pergunta-se: o que é uma
fonte formal? A fonte formal é uma técnica por meio da qual o direito se revela. A dúvida com
relação à doutrina se estabelece porque não existe uma única doutrina, e sim opiniões em
diversos sentidos expressadas por seus autores em artigos e livros. Existem, portanto, posições
doutrinárias.
Aqueles que defendem que a doutrina é fonte do direito internacional entendem que,
apesar dessa divergência, as opiniões dos doutrinadores constituem fontes, por serem utilizadas
para fundamentar julgamentos. Seria uma fonte sem caráter mandatório, mas que ainda sim
fundamenta decisões tanto jurídicas quanto políticas. Devemos nos posicionar quanto a uma
dessas correntes.
Com relação à jurisprudência, não há dúvida: estamos diante de uma fonte clara do
direito internacional. Essa fonte veio crescendo em significado a partir do Século XX, quando
podemos falar na existência de tribunais e organizações internacionais. Já existiam algumas
iniciativas anteriores, mas muito mais enquanto experimentos e com um grau de informalidade.
Eram mais assemelhadas, no século XIX, às arbitragens. No sec. XX, temos mais propriamente
tribunais internacionais, que passam a julgar casos internacionais e constituir jurisprudência
internacional, ou seja, conjunto de decisões que dão significado, no plano internacional, a
determinadas áreas. É o caso de alguns tribunais no âmbito global e no âmbito regional.
Vejamos agora alguns dos principais tribunais que produzem jurisprudência no âmbito
global e regional. No âmbito global, o principal tribunal internacional é a Corte Internacional de
Justiça (CIJ), que tem uma competência amplíssima, e para isso eu pedi que vocês lessem a
Carta das Nações e o Estatuto da Corte Internacional de Justiça (ninguém leu), e daqui a pouco
eu vou pedir que vocês me falem sobre o que vocês leram. A Carta das Nações institui a
Organização das Nações Unidas, estabelecendo as regras fundamentais da ONU. Além disso,
ela institui a Corte Internacional de Justiça. Eu posso perguntar a vocês: qual é a competência da
Corte Internacional de Justiça? Em primeiro lugar, a CIJ só julga Estados, e não indivíduos. Em
princípio, qualquer controvérsia envolvendo Estados pode ser encaminhada à Corte
Internacional de Justiça, a não ser que a própria ONU crie um tribunal com competência
específica, a exemplo do Tribunal Penal Internacional. O TPI, no entanto, não julga Estados,
mas apenas indivíduos. Poderia haver algum pedido para que o Estado fosse levado ao Tribunal
por crimes internacionais, mas a partir do momento em que o TPI foi criado, a competência
penal foi por ele assumida.
Antes de 1982, quando foi criado o Tribunal Internacional do Mar, as questões de sua
competência eram julgadas no âmbito da Corte Internacional de Justiça. A rigor, dependendo do
caso, pode haver a competência do Tribunal Internacional do Mar ou da CIJ. Se o conflito, por
exemplo, envolver definição de fronteiras, incluindo o mar, a competência poderá ser da CIJ. É
o caso de um conflito envolvendo Chile, Bolívia e Peru. O mar faz parte desse conflito, mas a
questão primordial envolve disputas territoriais, envolvendo guerras do passado. Uma delas é a
Guerra do Pacífico, na qual a Bolívia perdeu acesso ao mar que hoje é parte do território do
Chile, ao norte. Os assuntos relacionados mais propriamente ao mar, por sua vez, estão no
âmbito de competência do Tribunal Internacional do Mar, como divergências envolvendo
direito de passagem (passagem é um direito que o Estado tem de passar pelo mar ou por espaço
aéreo sem oferecer perigo à soberania de um outro Estado, desde que o informe, preenchendo
determinado formulário e esperando uma autorização para que essa passagem possa ser feita).
A competência do Tribunal Internacional Penal (TPI), por sua vez, conforme o Estatuto
de Roma, consiste em julgar pessoas que pratiquem crimes internacionais. Os crimes
internacionais são quatro: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de
agressão. Comentário de aluna: crítica de países africanos quanto à seletividade dos acusados
perante os tribunais internacionais. O professor responde que há, de fato, essa seletividade, e
que isso se dá, dentre outros fatores, pelo fato de muitos Estados não haverem ratificado o
Estatuto da Corte Internacional de Justiça, como os EUA, Canadá, Colômbia...
Existem também os tribunais ad hoc. Tem dois do passado, que já concluíram seus
trabalhos, que são os de Nuremberg e o de Tóquio, ambos instituídos pelos vencedores. Há uma
crítica, portanto, quanto a isso, por não se poder falar propriamente de tribunais globais,
instituídos por uma organização global, e sim pelos países que ganharam a Segunda Guerra
Mundial, para julgar os perdedores (Nuremberg para julgar os alemães e Tóquio para julgar
alguns japoneses). Nós temos, atualmente, dois tribunais ad hoc: o Tribunal para a antiga
Iugoslávia, instituído em 1993, e o Tribunal para Ruanda, em função dos dois genocídios
ocorridos nesses dois países. Esses dois tribunais continuam julgando casos atualmente. Houve
quem quisesse instituir tribunal para julgar crimes ocorridos em Timor Leste, mas não houve
consenso. Terminou-se criando um tribunal no âmbito nacional no Timor Leste.
Enquanto cortes regionais, vale a pena mencionar as cortes comunitárias. Eu falei pra
vocês que o Direito Internacional Comunitário regula as comunidades econômicas, que
surgiram no século XX (Mercosul, NAFTA, Comunidade Andina). São agrupamentos de
Estados que buscam, por meio da cooperação econômica, eliminar os problemas do passado,
relacionados à guerra, tanto bélica quanto comercial. Cada uma delas tem um meio de resolução
de controvérsias, incluindo-se tribunais. Então o Mercosul tem um tribunal, embora tenha
características mistas em relação a outras formas de resolução de controvérsias, já que se trata
de tribunal arbitral. Há uma impropriedade na denominação, pois ou falamos de arbitragem, ou
falamos de tribunal. A União Europeia tem seu tribunal, a Comunidade Andina tem seu
tribunal... Podemos falar das Cortes de Direitos Humanos, que são três: a Corte Europeia
(Tribunal Europeu de Direitos Humanos), a Corte Interamericana de Direitos Humanos e uma
corte africana, que ainda é incipiente e de pouca normatividade. A Corte europeia é exemplar,
julgando por ano mais de mil casos há pelo menos duas décadas. Todas essas cortes, à exceção
do TPI e dos tribunais ad hoc, julgam Estados. Essas cortes regionais de direitos humanos têm
um caráter de complementariedade em relação às cortes nacionais: quando a ordem nacional não
é profícua na proteção dos direitos humanos, se aciona a ordem internacional.
Vimos as fontes formais típicas, ou seja, aquelas que estão previstas no artigo 38 do
Estatuto da Corte Internacional de Justiça, e passaremos a ver as outras duas fontes que não
estão previstas na CIJ, mas que a doutrina internacional entende como fontes formais, o que
pode ser revelador do pertencimento da doutrina entre as fontes formais. Essas fontes não foram
consideradas, pois o Estatuto da CIJ foi editado em 1945 e é praticamente a reprodução do
Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional, criada em 1919. Naquela época, não se
tinha clareza de que os atos unilaterais dos Estados e as decisões das organizações
internacionais eram fontes do direito internacional. A doutrina, no entanto, veio preencher essa
lacuna, validando essas fontes.
Em primeiro lugar, há os atos jurídicos unilaterais dos Estados. Isso significa que os
Estados produzem atos jurídicos unilateralmente, e esses atos produzem efeitos na realidade
internacionais, embora sendo unilaterais. Poderíamos imaginar que só haveria sentido imaginar
como fonte do direito internacional aquelas que fossem fruto da vontade de pelo menos dois
Estados, mas, mesmo quando a vontade é unilateral, estaremos diante de uma fonte formal do
direito internacional. Tem alguns elementos comuns: o primeiro deles é que são manifestações
unilaterais de Estados que produzem efeitos no direito internacional. Essa fonte é autônoma, no
sentido de que não precisa de convalidação por nenhuma outra fonte do direito, embora se possa
dizer que algumas precisam do reconhecimento por parte de outros Estados. Porém, para que
elas existam, é fundamental, antes de tudo, a própria vontade do Estado. Só há sentido essa ideia
de autonomia quando não há necessidade de uma conjugação de outras vontades para que haja
validação dessa fonte. É ato jurídico unilateral de um Estado, por exemplo, quando ele protesta
contra alguma decisão de um outro Estado, se afirmando em função da vontade unilateral do
Estado. Os atos unilaterais em princípio não são formais, não havendo exigência de nenhum
registro escrito. Pode-se manifestar por exemplo por um discurso de um representante
internacional, que poderá ser proferido em ambiente formal ou perante a mídia. Exemplo: O
presidente Trump chega diante da mídia e faz uma declaração que tem efeitos jurídicos no
âmbito internacional, como a de que a partir de determinada data, serão tiradas as tropas de um
território ocupado. A partir do momento em que um governante vai a público, mesmo que não
demonstrando sua vontade no papel, ou que essa manifestação não se dê em um contexto
formal, encontra-se caracterizado o ato jurídico unilateral. Disso decorre que esses atos
prescindem de registro, podendo ou não serem registrados. Quando se fala em registro, refere-se
a documento com carimbo ou de uma organização internacional ou de um Estado, como o
registro em um cartório de organização internacional ou em um cartório nacional ou de um
espaço da diplomacia.
Exemplos de ato jurídico unilateral: quando um governo toma uma decisão, por
exemplo, de não aplicar mais determinada tarifa. Nesse caso, estamos diante de uma notificação,
quando o Estado notifica o outro de uma mudança em relação às suas decisões. Antes disso,
falemos do protesto. O protesto é uma decisão de maior importância, pois, por meio dela, o
Estado impede que se forme um novo costume. Imaginemos que um representante de um Estado
toma uma decisão em relação a invadir um outro território. Os demais Estados aceitam essa
decisão, e, para impedir que isso vire um costume, os Estados protestam contrariamente à
decisão de invasão. O protesto, portanto, demonstra inconformidade em relação ao
comportamento de um Estado, impedindo a formação de um costume. Um exemplo de
notificação, por sua vez, é aquele que Trump fez em relação ao comércio com o Brasil,
sinalizando mudanças na política comercial, o que pode ser feito através de um email, através de
um memorando, ou qualquer outro meio, pois não se exige uma formalidade. Pode ser um
discurso na rádio, na tv... O reconhecimento é outro ato unilateral, por meio do qual se chancela
determinada situação, como o reconhecimento da soberania de um país. O Timor Leste, quando
foi criado, precisava de reconhecimento tanto dos demais Estados quanto da ONU
(reconhecimento também ocorre por organizações internacionais). O mesmo aconteceu com
todas as ex-repúblicas da URSS e da Iugoslávia.
-Pergunta inaudível...(?)
A renúncia é um ato unilateral por meio do qual o Estado anuncia a decisão de não mais
se comprometer, ou não mais realizar algo que era corrente na sua prática. A renúncia, por
exemplo, a uma guerra; a renúncia a um território (algo muito difícil de acontecer, mas que pode
acontecer). Ou seja, a partir de tal momento nós nos retiraríamos de tal território, entregaríamos
tal território, a partir daí cria-se uma obrigação: o Estado assume uma obrigação de cumprir, de
renunciar realmente a esse território. Então, é um tanto quanto assemelhado à promessa. A
promessa é um ato jurídico unilateral dos Estados pelo qual o Estado se compromete em fazer
ou não fazer algo. Só que no caso da renúncia, ela é no sentido negativo. Ou seja, é a decisão de
se desvencilhar de um compromisso ou de uma condição. A promessa é uma decisão ou um ato
unilateral por meio do qual o Estado se compromete a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.
De acordo com Kim ?? xxxx (?) aquele autor do livro vermelho que tem aí na biblioteca
(curso de direito internacional ou é direito internacional público), e outros, os atos unilaterais
podem ser: autonormativos e heteronormativos. Ele é AUTONORMATIVO quando estabelece
obrigações sobretudo para o próprio Estado, é o caso da ratificação, é o caso da denúncia. Nós
vimos em aulas anteriores o que é uma ratificação e o que é uma denúncia. Aliás, é um outro
tipo de ato unilateral. Ratificação é quando o Estado de compromete no cumprimento de um
tratado e a denúncia é quando o Estado se retira de um tratado, portanto já não está mais
disposto a cumprir os termos do tratado. Além desses aqui, a ratificação e a denúncia são
exemplificativos, há outros exemplos. E o HETERONORMATIVO é aquele institui obrigação
prevalentemente para os outros Estados, a exemplo da promessa e do protesto. Obrigações no
Direito, ou seja, com a promessa se institui na realidade um direito do outro Estado. E com o
protesto se coloca o Estado que foi protestado na posição de se responder de acordo com as
normas de direito internacional, tem repercussões sobretudo para com outro Estado que não
aquele que tomou a decisão.
As organizações internacionais foram criadas por Estados por meio de tratado fundação,
mas elas têm uma vontade autônoma em relação aos Estados. Agora elas também são
condicionadas politicamente pela vontade dos Estados; mas a sua decisão ela é autônoma em
relação ao Estado. Cabe aí toda uma discussão, a doutrina idealiza muito acerca disso, mas o
importante aqui é entender que uma coisa são as decisões dos Estados e outra são as decisões
das organizações internacionais (estas tomam decisões que em alguma medida são
condicionadas pela vontade dos Estados, mas também são decisões próprias das próprias
organizações).
-Pergunta: poderia se dizer que os atos unilaterais autonormativos são mais objeto de
estudo do direito internacional privado?
-Jaime: Não.
-Jaime: Não, não. Ele vale para os dois, tanto para o direito internacional público,
quanto para o privado. Mas nesse caso específico tudo se refere ao direito internacional público.
Esta é uma matéria que tem evoluindo muito como vimos nas aulas sobre o
aspecto histórico do Direito internacional. O que era entendido como sujeito do direito
internacional até o início do séc. XX era outra coisa, houve uma alteração muito grande,
portanto hoje nós podemos entender como os estados. O direito Internacional surge
como um direito criado pelos estados (interestatal), mas ele passa a ser caracterizado
como um direito que abrange não apenas a esfera interestatal, mas também organizações
internacionais e mais recentemente os indivíduos, ou seja, a pessoa humana passa a ser
sujeito do direito internacional.
Uma boa forma de começar essa discussão, é começar a distinção entre sujeito e
ator internacional, pois existem vários outros atores participando do plano
internacional, interagindo com o sujeito do direito internacional. Entretanto, não precisa
dizer que sujeitos do direito são aqueles que possuem direitos e obrigações e atores são
aqueles que não tem esse reconhecimento, mas ainda assim, tem uma capacidade de
intervenção no plano internacional, participam das disputas de sentido, participam do
cenário internacional, de alguma forma interferem. Imaginem aquelas conferências que
aconteceram durante a crise humanitária de 1993 na Sérvia, antiga Iugoslávia. Uma
série de organizações internacionais interagiram, organizaram conferências. Houve uma
série de mobilizações, mas eles são atores, aliás, terminaram condicionando para que
eles estabelecessem um tribunal penal internacional, para que eles criassem outras
normas condicionadas por essa discussão. Artistas famosos também se mobilizaram,
existe uma música famosa que o Pavaroti e o U2 cantavam, feita neste contexto sobre o
que deveria se fazer naquela situação, situação de graves violações ao direito
humanitário. Havia uma comoção muito grande, mas ainda não se sabia o que fazer,
havia as propostas relacionadas a instituição do tribunal penal internacional e a partir
daí foi se constituindo essa percepção e se mudou a ordem internacional nesse sentido,
de considerar crimes internacionais passiveis de responsabilização de pessoas. Essa
ideia não era corrente embora nós tivéssemos que os tribunais a quo do passado,
tribunais que não foram propriamente estabelecidos pelas Nações Unidas, mas que
foram estabelecidos pelas nações vencedoras como vimos na aula anterior. Aí foi se
arraigando essa noção de direito internacional. Então a doutrina faz essa diferenciação
entre sujeitos de direito internacional, aqueles que propriamente tem direito e exercem
de obrigações e aqueles atores que mesmo não tendo diretos e obrigações participam.
Então, os grupos de pressões, as ONGS, os partidos políticos, todos aqueles que
possuem organizações internacionais, é o caso dos partidos liberalistas, partidos
socialistas, comunistas, eles participam de ONG’S internacionais, de organizações da
sociedade civil, e com tem uma série de agendas, participam da normatização
internacional, participam da discussão em torno de novos tratados e novas estratégias no
plano internacional, mesmo assim continuam não sendo sujeitos do direito
internacional. Embora tenham uma capacidade muito grande de interação, de influência
no plano internacional. Lembramos do fórum econômico mundial, formado por
empresários, ou seja, empresas multinacionais tem um papel importante, talvez seja até
maior do que deveria ter, mas essas empresas também condicionam normas
internacionais e discussões no plano internacional. Até alguns atores como os
mercenários que são criminosos, há uma serie de tratados internacionais relacionados a
proibição, a limitação das possibilidades de atuação destes criminosos que também
interfere nessa produção de normas, ou seja, cada vez os criminosos condicionam o
direito internacional, que influem nessa construção, mas eles não são sujeitos do direito
internacional, eles são geralmente atores em relação aos quais há normas que regulam a
sua ação/intervenção no plano internacional. Antes disso, de serem destinatários de
normas, eles participam do cenário internacional, eles interferem no debate das questões
internacionais sem ser sujeitos. Então, hoje, sujeitos do direito internacional são os
Estados, as Organizações Internacionais, o Indivíduo, o Meio Ambiente. Uma
observação é porque não é propriamente um ator, mas é um espaço de regulação
diferenciado, que há algum tempo atrás não se imaginava que o direito fosse regular,
como o espaço sideral, a natureza. Não é um ator internacional, já que um ator
internacional, a princípio é um agrupamento de pessoas ou organizações. Enfim, há uma
série de espaços regulados pelo direito internacional, mesmo não sendo sujeitos. Então,
estes sujeitos hoje e de acordo com o desenvolvimento histórico que nós vimos
anteriormente, o direito internacional surge como uma criação dos estados, os seus
únicos sujeitos eram os estados, reconhecidos até o início do Séc. XX, e a partir de
então com a criação das criação das organizações internacionais, as organizações
internacionais passam a ser entendidas como sujeitos que possuem direitos, obrigações,
a partir também da criação das Organizações Internacionais, o individuo passa a ser
paulatinamente reconhecido como um sujeito do direito Internacional.
Falemos, então do estado. Partindo da ideia estudada em d. Constitucional,
sabemos que existem alguns elementos que compõe o Estado. O que é um Estado? É
uma discussão da Política, daCiência Política e também do Direito, que também o
regula ou seja há uma regulação no plano nacional e uma regulação no plano
internacional. A regulação no plano nacional considera, sobretudo, como elementos
definidores a sua vida doméstica no plano nacional e a regulação no plano internacional
considera essa interação com outros estados, com Organizações Internacionais e com
indivíduos também, sujeitos do Direito Internacional. Uma definição importante sobre o
que é o estado está na convecção pan-americana de 1933, que dispõe sobre direitos e
deveres do estado, então vocês observam que existem convenções que regulam a vida
do estado, da mesma forma que existem convenções que regulam a vida dos tratados,
que definem o que são os costumes, as fontes do D. Internacional, temos as convenções
que definem os direitos e deveres do estado. Então, lá nos vamos ter uma definição que
é a seguinte: O estado como pessoa do D. Internacional, deve reunir os seguintes
requisitos, população permanente, Território Determinado, Governo, capacidade de
entrar em relações entre/com mais estados. Em primeiro Lugar é preciso que o estado
tenha uma população permanente, por que essa preocupação, pq se o estado tiver uma
população flutuante haverá duvidas sobre a capacidade de exercer soberania sobre essa
população que seja flutuante, é preciso que a população seja permanente, no sentido de
que ela não altera com tanta facilidade, claro toda população altera em termos de
quantidade, pode alterar em termos de etnia , mas em principio deve haver certa
regularidade nesta população, isto é importante para a estabilidade do estado e seu
reconhecimento no plano internacional. Depois nos vamos ver com relação a cada um
destes elementos como vamos caracterizar os estados, sobretudo algumas situações
particulares como o vaticano, a ONB e algumas cidades no mundo que tem um status
diferenciados, alguns estados também, que tem status diferenciados, veremos como se
justifica essa relação. Então você ver que a palavra permanente é um elemento
importante para a definição do conceito de população, não é qualquer população, mas é
população permanente, se o estado em principio não tiver com a população
determinada, ou seja se a população for flutuante, se pessoas saem e volta, e função,
por exemplo, de questões ambientais, questões relacionadas a natureza ou em função de
guerra, estaremos diante da duvida se aquele é realmente um estado, pq sua população é
flutuante e em principio a população deve ter caráter permanente.
O Segundo elemento é o território e o território deve ser determinado, aí tem
toda a discussão em torno da fronteira, é por isso que a fronteira termina sendo tão
importante na definição do estado. Ou seja, é preciso uma clareza, que alguns estados
latino americanos ainda hoje têm controvérsias, o Brasil resolveu esta questão, o
México. Ou seja, algumas questões de fronteira, mas que alguns países como Chile,
Venezuela, Colômbia, Bolívia, tem problemas com essa delimitação, mas isto não
descaracteriza a presença destes estados como territórios delimitados. Mas não poderá
haver dúvidas em torno de determinadas partes do território sobre a atuação do poder
estatal, o que não ocorre nestes países da américa latina, mas em outros lugares, com
situação muito severas como Israel e Palestina, onde não se sabe se há essa
caracterização do território determinado, algumas partes do mundo têm essa dificuldade.
Não cabe a nós esta interpretação, vai depender de quem faça a leitura jurídica/política a
respeito desta situação.
Além do território determinado, há a soberania, o Governo, certamente vocês já
ouviram falar em soberania como elemento do estado, mas a convenção fala em
Governo como elemento caracterizador da soberania, ou seja, se o estado não tem um
governo, ele muito menos poderá ter soberania. Então o governo é um elemento
essencial na definição da soberania, então a convenção considera que este é o elemento
essencial, a presença de um governo claramente constituído, que esse governo seja
respeitado no plano interno e reconhecido no plano internacional, ou seja, a dupla
definição da soberania, como se sabe. Então um governo para ser tido como governo é
aquele que tem essa capacidade.
Essa convenção de 1933, fala também num quarto elemento, para além do que
normalmente se coloca, a convenção faz referência também a capacidade de entrar em
relação com outros estados. Esse elemento é criticado pela doutrina, pois é evidente que
um governo tem que ter capacidade de entrar em relação com outros estados, é só
digamos assim uma ênfase que a convenção colocou com relação a esta dimensão do
estado, ou seja, aquilo que podemos entender como sendo a capacidade de exercer a
soberania no plano internacional, o reconhecimento no plano internacional, como se a
convenção falasse em governo, mas relacionado a um plano interno e essa capacidade
de entrar em relação com outros estados como a relação externa da soberania e é aí que
parte da doutrina diz que seria desnecessário falar desse quarto elemento, porque é parte
dessa discussão sobre soberania ou sobre governo. Só tem sentido falar em governo se
ele tiver essa dupla dimensão, ou seja, a capacidade de exercer a soberania no plano
interno, sendo reconhecido pela população e a capacidade externa no plano
internacional.
A cláusula Federal é aquela cláusula existente em alguns tratados, para mostrar
que independente da conformação do estado, que nós sabemos que um estado pode ser
organizado de forma unitária ou enquanto uma federação, a cláusula federal foi
estabelecida com o objetivo de clarear/esclarecer e mesmo tendo uma conformação
federal tem que haver uma clareza a quem cabe a responsabilização no plano
internacional e aí a cláusula federal ela vale para os estados com essa caracterização
federal, significa que quem responde no plano internacional é a união a menos que a CF
diga uma outra coisa, é o que ocorre com a constituição Norte Americana, eu já falei em
outra aula que o estado da Califórnia ao sair do território Mexicano, votou essa
exigência e foi aceita, ou seja, eles podem ratificar tratados, bom é uma situação que
encontra uma certa paridade em outros estados. Significa que no plano internacional,
quem se responsabiliza são os estados nação, é a união quando o estado tem uma
conformação federal. É uma solução para a criação da federação que estabelece
responsabilidades distintas entre entes da federação, a união, os estados e onde existem
os municípios, então que fique claro, que no campo internacional, apesar desta
conformidade quem responde são os estados nação, eles podem até exigir que a
responsabilidade depois seja atribuída no plano interno ao estado federal, mas em
principio a responsabilidade é do estado nação ou da união. Esse ponto gosta de cair em
prova! A cláusula federal é aquela que permite entender que mesmo o estado tendo uma
conformação federal, a responsabilidade internacional não é dos estados federados, mas
do estado nação, da união. Isso tem repercussões, por exemplo, na capacidade dos
estados, a capacidade dos estados tem a possibilidade de ser responsabilizado por várias
questões, na área ambiental, por exemplo, então digamos que há um desmatamento,
como tantos que ocorrem no território brasileiro, digamos que essa questão é levada a
um espaço internacional e se atribui uma multa em função do poluidor pagador,
segundo o principio do poluidor pagador quem paga? A União. Ela pode até pedir
ressarcimento, mas a obrigação é de ela pagar. Agora também a decisão relacionada aos
índios xucuru aqui de Pernambuco, houve uma condenação do governo brasileiro a
pagar aos xucurus 3.700.000,00 Dólares, cerca de uma terra em Pesqueira de onde
foram retirados e o seu cacique assassinado. A obrigação que a corte interamericana
definiu foi essa, ou seja, o estado não demarcou a terra, não garantiu a titularidade da
terra, então em função disso o governo brasileiro foi condenado a pagar esse valor, que
é um valor significativo, que dá mais de R$ 10.000.000,00 ao povo Xucuru. Então, cabe
ao governo brasileiro pagar, embora o governo de Pernambuco possa ser acionado pelo
governo federal para que restitua o valor, mas a obrigação é do governo federal de
acordo com a cláusula federal. Não entendi a pergunta (32:38). Resposta Jayme: O
reconhecimento da soberania? Eu diria em princípio, pq é compartilhada essa
responsabilidade, é uma possibilidade tanto da ONU, quanto das organizações
regionais, mas em geral, é mais do que tuno a ONU que cabe fazer o reconhecimento da
soberania, da existência do estado. Então toda vez que surge um novo estado, acaba que
antes de tudo cabe a ONU um reconhecimento, mas pode ser que caiba um
reconhecimento regional. Mesma pessoa que fez a pergunta anterior fez um comentário
(33:32) Resposta Jayme: Então, já estamos diante de situações s particulares onde ele
terá a mesma dúvida e poderá ter duvida se o estado tem a mesmo todos os elementos e
o direito tem situações que não é muito claro, embora não haja dúvida de que estão
diante de um estado e o grande exemplo disso é o Vaticano, que é reconhecido como
um estado e a gente pode se perguntar o pq. Que elementos o Vaticano teria e que
elementos ele poderia não ter? Talvez a maior duvida seja com relação a população
permanente, ou seja, no estado do Vaticano não se pode dizer ou até mesmo nessa
hipótese que a população é flutuante, que são aquelas pessoas que circulam por um
território muito pequeno, que é praticamente uma praça o Vaticano. Não resta dúvida de
que tem um território muito pequeno, que tem um governo que até legisla para além do
seu território, para todos os católicos do mundo, mas não se pode aceitar a ideia de que
a população do Vaticano são todos os católicos espalhados pelo mundo, como lá se diz
para justificar que seria um estado e que teria uma população permanente, do meu ponto
de vista a única explicação plausível seria a histórica, o vaticano já regulou a vida
internacional, já legislou internacionalmente, na época da segunda fase do D.
Internacional, de acordo com Adam Watson era ali ou na maior parte daquele período,
era o Vaticano quem regulava quando estabelecia tratados, resolvia conflitos, definia
também a vida particular das pessoas., até a forma como se faz sexo hoje em dia foi
regulada pela igreja, as bulas papais tudo isso foi determinado pela igreja., a forma
missionária de fazer sexo, foi determinada por uma bula papal, então é disso que
estamos falando, ou seja, tem soberania, tem soberania para além do seu território, mas
não se pode dizer que seja uma população permanente ou até mesmo que se tenha uma
população, pois cada um dos padres ou das pessoas que circulam ali tem a sua própria
nacionalidade, são nacionais de outo estado, não existe nacional do Vaticano, embora
ele tenha passaporte, ou seja da mesma forma que os nacionais de outros estados , ele
tem capacidade estatais.
Os principados são Estados tb, tem todas as capacidades, tem assento nas
Organizações Internacionais, assinam Tratados, são Estados pequenos, mas são Estados.
A OLP que não é, pelo menos por enquanto, há toda uma luta no sentido de a
OLP ou o Estado da Palestina seja um dia reconhecido no plano internacional, mas por
enquanto não há ou n houve essa possibilidade. Sobretudo pq não há uma... aí, eu vou te
perguntar, por que será ? qual o elemento que falta para a Palestina ter esse
reconhecimento? Ao meu ver, falta basicamente o Território determinado, ou seja, há
uma disputa territorial, e seus territórios , há uma duvida sobre quem tem autoridade
final sobre o território, se é Israel ou se é a Palestina, ou se é a OLP, ou o futuro Estado
da Palestina, e portanto ao mesmo tempo que há dúvida sobre o Território, há duvida
sobre o governo, se o governo é eficaz, se existe um governo com essa capacidade, se
fazer valer no plano interno e no plano internacional.
-Professor, para o senhor, o povo curdo está nessa mesma situação?
Professor: Os curdos? Sim, os curdos tb. Há dúvidas sobre, na verdade, não há
dúvidas, pois eles não são um Estado. E Quebec? Que tem representação em países é
uma das situações curiosas, particulares, pq não é uma cidade, mas tem um consulado,
que no caso é na França. P q? Por razões históricas, pela razão cultural, pela
proximidade, ou seja a língua aproxima, ou seja, essa condição lhe foi outorgada.
-Em relação à questão da Palestina? O Senhor n acha que mais do que dúvida
sobre a capacidade do governo, sobre a existência de território, não existia uma vontade
política?
Professor: Claro, claro. Falta o convencimento de Estados que são muito
poderosos, os EUA e Israel. Ou seja, eles n têm permitido que a Palestina tenha assento
permanente no Conselho de Segurança. Não permitindo que essa discussão evolua para
uma outra perspectiva. A presença dos EUA é muito forte, sobretudo em partes
governamentais, isso n tem como prosperar e o atual presidente. Então nesse caso, há
esse tipo de interpretação de que n existe território e governo claramente definidos.
As capacidades nos Estados, e aí é bom a gente observar que essas capacidades
já foram exclusivas dos Estados, alguns autores mais tradicionais, vão falar nessa
perspectiva, de capacidades exclusivas, mas isso vem sendo alterado ao longo do sec
XX, e isso vem sendo compartilhado com outros sujeitos do direito internacional. Essas
capacidades compartilhadas, a primeira delas é produzir atos jurídicos internacionais,
observamos na aula anterior, que parte da aula foi sobre atos unilaterais dos Estados, eu
falei dos atos, e ontem houve um ato unilateral de um Estado, qual foi?
-Os EUA saíram de o acordo nuclear com o Irã. Então aquele foi um ato
unilateral. Qual foi o ato unilateral? Além do tratado?
-Foi a denúncia.
-Isso mesmo. Foi uma denúncia de Tratado. Na verdade, um anúncio da
denúncia. Pq ele tem que ver o Tratado para saber a partir de qd se é feita a denúncia.
Mas até então é possível, ele n vai respeitar o Tratado msm, então se houver uma
cláusula dizendo que é de um ano e ele disser que a partir de já, vai ser. Pode até fazer
greve e tudo. Produzir atos jurídicos internacionais, em princípio essa é uma capacidade
dos Estados, mas hj ela é uma capacidade tb das Organizações internacionais, os
indivíduos da pessoa humana, eles n tem essa capacidade de produzir atos
internacionais, mas as Organizações internacionais sim, elas por exemplo, reconhecem
governos e soberanias. Então é uma capacidade que já foi exclusiva dos Estados, mas
hjé tb das Org. Int, a ONU, a OEA, o Conselho da Europa, que tem paridade com a
OEA, é uma organização de Tratados políticos da União Europeia, que é uma
organização de caráter, a organização de caráter político é o Conselho da Europa. Atos
que são ou eram exclusivos dos Estados, mas hj vemos tb que são partilhados pelas Org.
Internacionais. Aquilo que nós falamos anteriormente, responder com responsabilidade
por atos ilícitos internacionais, na área ambiental, na área humanitária... na área
humanitária menos, pq hj quem responde pela área humanitária são os indivíduos, mas
enfim, responder com responsabilidade por danos, por fatos ilícitos, do âmbito
internacional. Anteriormente, cabia apenas aos Estados essa capacidade, mas hj nós
sabemos que o individuo tb pode se responsabilizar por ilícitos internacionais, sobretudo
a partir de meados do Séc XX, chegou-se a conclusão, como nós falamos na aula
anterior, pq falamos de Tribunais internacionais, então nós vimos que há uma
capacidade internacional de responsabilizar o indivíduo em matéria de direito
humanitário, ou seja em situações que correspondam a guerras e conflitos aramados,
então crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, são crimes
int, que demonstram essa capacidade de responsabilização do indivíduo, tudo isso
mostrando que o Estado já foi o grande sujeito do direito internacional, mas hj
compartilha algumas atribuições, responsabilidade e capacidade, com sujeitos do
Direito internacional, aí n tem mais o significado para o bem e para o mal, n tem mais o
significado de outros tempos, sobretudo na segunda fase do desenvolvimento do direito
internacional, então ele era o único sujeito do direito internacional.
A terceira capacidade: acesso aos procedimentos diplomáticos e jurisdicionais,
então aqui estão considerados os meios políticos e os meios institucionais. Ou seja, há
tribunais e eles existem, sobretudo para fazer discussões afetas aos Estados e tb para
responsabilizar Estados, mas hj nós sabemos que esse acesso n é exclusivo dos Estados.
Mas organizações internacionais tb participam desses procedimentos diplomáticos, a
própria ONU tem o que nós podemos entender como diplomatas internacionais, tem
mesmo uma diplomacia, até mesmo as Organizações não governamentais participam do
processo de Diplomacia, embora n sejam sujeitos, elas tem essa participação. Mas no
plano internacional, além dos Estados, a gente tem diplomatas que têm uma atividade
permanente no campo diplomático, ou seja, participam dos Tribunais, mas as org.
internacionais instituem os Tribunais, e no âmbito da diplomacia, tem toda uma
Diplomacia exercida pelos agentes da ONU, pelos agentes da OEA, pelos agentes do
Conselho da Europa e as diversas organizações que existem no plano internacional.
Quando formos ver o ponto que fala da cooperação com base nas organizações
da ONU, vamos ver que há um plano espaço de diplomacia exercido pelos funcionários
da ONU, com as limitações do direito internacional, mas certamente isso é uma
realidade.
Acesso aos procedimentos internacionais, diplomáticos e jurisdicionais, sim e os
indivíduos tb, sobretudo qd falamos dos procedimentos jurisdicionais, ou seja, os
indivíduos podem ser julgados, eles n julgam, mas podem ser julgados. E no âmbito
diplomático, não os indivíduos e tb n enquanto sujeitos de direito, mas cada vez mais
organizações de indivíduos participam.
A capacidade dos Estados serem membros, os Estados serem membros de org.
internacionais, ou seja, as org. internacionais foram criadas pelos Estados e eles são o
garnde membro de org. internacionais. Mas elas tb podem favorecer a criação de outras
org. internacionais, como tb instituir espaços internacionais entre Estados e org.
internacionais, há tratados que podem ser estabelecidos, envolvendo Estados e outras
org. internacionais. Há tratados que envolvem a União Europeia e o Chile, que é um
país que tem tido essa capacidade de fazer acordos com em vários planos internacionais.
E tem um tratado muito cobiçado e vários países individualmente da América Latina
vem tentando, mas n conseguiram ainda, mas o Chile tem esse acordo preferencial com
a União Europeia. Ou seja, um tratado envolvendo um Estado e o Estado poderia ser
outros Estados tb, envolvendo essa ação internacional. Então a org. internacional tem
capacidade de ser membro, nesse caso ai, talvez não seja o exemplo mais apropriado pq
tá falando de membro suplente de org. internacionais. Significa que org. Internacionais
podem ser membros ou participar como ouvinte, não necessariamente com direito a
voto, mas como ouvintes e, portanto interferindo nas discussões, a União Europeia está
presente no debate da ONU e em diversos outros espaços, pelo menos como ouvintes.
A grande diferença é essa, a União Europeia é uma organização supranacional, é
isso que gera tanta divergência no âmbitos dos Estados nacionais, pq os britânicos que
já dominaram o mundo, não querem ter sua vida regulada por esses espaços.
E a última capacidade é estabelecer relações diplomáticas e consulares com
outros Estados. Capacidade de se fazer representar por meio desses espaços
considerados diplomáticos e consulares. Essa já foi uma capacidade exclusiva dos
Estados, mas org. internacionais tb tem capacidade nos dias de hj. Sobretudo falando de
uma organização como a OMC, que é plenamente atividade diplomática e tem
participação nos Consulados e os Consulados têm capacidade muito pronunciadas, por
exemplo, em relação a capacidade econômica, potencializar a economia dos Estados. A
OMC certamente tem representações em vários Estados, e aí tem essa caracterização do
Estado como sujeito de direito internacional, é o principal, mas já n é mais o único,
como foi até o início do século XX.
Hoje nós temos tb as Organizações internacionais ou inter-estatais, para quem
prefira uma designação ou outra, e até quem critique a designação inter-estatais, pq
reduziria muito o sentido dessa organização, há uma participação estatal, há um
estatismo muito pronunciado nessa designação. E muitos preferem a designação
internacionais, que tem essas características de em primeiro lugar ser criada por um
tratado, por um tratado de fundação, como nós vimos, de acordo com as tipologias dos
tratados, a fundação ´é aquilo que institui uma org. internacional, o tratado é fruto das
vontades dos Estados, então toda ela é criada por Estados, mas vimos que hj tem
organizações que são instituídas com a participação de outras org. internacionais. Pelo
menos no processo de formulação das ideias, mas independente disso, uma organização
pode ter assento, ainda como status consultivo em outras org. internacionais.
A primeira coisa é entender que as org. Internacionais surgem pelas vontades
dos Estados. Isso é muito característico do mundo do passado, do mundo conforme
aquela descrição, de desenvolvimento de que Estados tem a grande ressonância no
plano internacional, isso ainda tem ressonância no plano internacional, embora seja um
sistema interestatal com outros sujeitos, indivíduos e org. internacionais, mas as org.
internacionais, são criadas em princípio por Estados. Mas uma vez sendo criadas, elas
tem uma vontade autônoma ou de acordo com uma certa idealização q existe no plano
internacional, elas têm uma capacidade de tomarem decisões, que é autônoma em
relação aos Estados. É evidente que n vou chegar aqui e dizer que a ONU tem
capacidade de tomar decisão independente da vontade dos Estados, sobretudo dos que
tem assentos permanentes no Conselho de Segurança. Mas a idealização feita no âmbito
da doutrina é que as org. internacionais têm, mas não se está querendo se isolar em
política essa definição que é bem mais jurídica.
É claro que uma coisa é a vontade dos Estados, então os Estados se reúnem e
criam uma org.internacional, essa organização vai tomar decisões e vai considerar a
vontade dos Estados, mas a sua decisão n se confunde com as decisões dos Estados
individualmente considerados. Ou seja, essas decisões tem vontade própria, autônoma,
considerando a política que é feito no plano internacional, considerando os Estado. Eu
costumo dizer que ONU, OEA, todas as org são livres para tomar suas decisões. Elas
consideram tb o poder de alguns Estados. E elas são regidas pelo direito internacional,
ou seja, tem uma base de regulação, n apenas legal, mas há costumes, há princípios que
se aplicam a essas orgs, ou seja, todas as fontes do direito passam a valer, ou seja, o
elemento mais importante aqui para gente entender, é que as org. internacionais
entraram e cada vez mais vêm entrando com força no cenário internacional, embora haja
limitações, mas já n é mais o mesmo do início do século passado, em que só os Estados
tomavam decisões. Só os Estados atuavam no plano internacional, elas tb participam da
tomada de decisões no plano internacional.
E a questão do mecanismo, tanto há mecanismos convencionais como não
convencionais. Nós veremos isso qd falarmos de proteção internacional do
meio-ambiente, dos direitos humanos. Veremos que há mecanismos, qd falamos
mecanismos são meios concretos, em oposição a instrumentos, ou seja, os instrumentos
que são normativos, e em relação aos instrumentos, há mecanismos, são os meios
através dos quais o mecanismo é implementado, então mecanismo é uma comissão, uma
comissão ambiental, de direitos humanos, ou seja. São meios através dos quais o
trabalho das organizações terminam tendo relevância e nós vamos ver que essas orgs
trabalham com essa lógica dos mecanismos, além dos instrumentos , é preciso ter meios
concretos, por meio dos quais os instrumentos vão se fazer valer. Nós veremos isso com
maiores detalhes qd falarmos de proteção internacional.
E a pessoa humana nós tb veremos com mais detalhes qd falarmos na proteção
internacional dos direitos humanos, qd falarmos de proteção na área do tribunal penal
internacional, e que há muito tempo essa discussão vem se colocando no plano direito
internacional, em torno de como regular o indivíduo? Ou o indivíduo deveria participar
das questões internacionais? N resta dúvidas de que o indivíduo tem problemas a serem
resolvidos, sempre teve com relação aos Estados, mas n se tinha clareza se o individuo
deveria ser sujeito de direito internacional, a forma anteriormente existente era a
proteção diplomática. Sendo o meio pelo qual havia necessidade de mediar os interesses
do indivíduo e essa mediação era feita pelos Estados. Ou seja, como só o Estado era
sujeito de direito internacional, não existiam tb orgs. Internacionais, muito menos o
individuo era reconhecido com capacidade no plano internacional, então era preciso
que o Estado o protegesse. A proteção eram patrimoniais, durante uma guerra, como
ficavm os bens , o proprietário, por ex, de uma empresa, ou mesmo n sendo empresário,
ele tinha aptos ou casas, fazendas, como fica isso diante de uma guerra ou para n falar
de guerra, um governo que n visse com bons olhos os estrangeiros que moravam em
determinado Estado, como ficava a propriedade, isso aconteceu aos montes, e a maioria
ficava sem proteção diplomática e o nacional tb, poir n haver interesse por parte do
Estado, n haver ate mesmo regulação e além da regulação, n haver os funcionários
contratados para fazer essa regulação, então isso causou ao longo sobretudo dessa
segunda fase do direito internacional, prejuízo para muita gente. Embora existisse um
instituto, o instituto da proteção diplomática, a regra era que as pessoas n tinham
proteção alguma, então hj em dia não significa que n exista mais esse instituto, mas a
regra mudou, em termos de se entender que o próprio indivíduo pode exercer direitos
internacionalmente, em matéria de direitos humanos, em matéria comercial, de
propriedade intelectual e tem uma serie de regulações, tem tratados, normas, costumes,
tem princípios, que consideram a necessidade de proteger o individuo, e há situações em
que o indivíduo é responsável por violações ao direito, ou seja, na área de direito
humanitário e isso é crescente em relação à historia da humanidade. Ou seja, é de 1946
o primeiro tribunal penal internacional, com todos os problemas que ele teve, e depois
os tribunais deixaram o âmbito da ONU, 1993/1994, ou seja, antiga Iugoslávia, e em
1998, Tribunal Penal Internacional, estamos falando de uma realidade muito nova. Que
revelam isso, a capacidade do individuo n só exercer direitos, mas se responsabilizar,
isso e uma mudança muito grande com relação ao que se entedia sobre a subjetividade
internacional, então hj, pode ser que mude com o tempo, provável que sim, mas hj se
entende como sendo essas 3 capacidades: os Estados, as org. internacionais e os
indivíduos ou a pessoa humana.
Organizações Internacionais
- Pacto da Sociedade das Nações (1919)
- Carta das Nações (1945) + Estatuto da Corte Internacional de Justiça (1945)
-Carta da Organização dos Estados Americanos (1948)
- Tratado de Cooperação Amazônica (1978)
- Protocolo de Emenda ao Tratado de Cooperação Amazônica (1998)
Listagem incompleta
Vocês podem ver por aí que tem uma regulação do espaço internacional em dias
atuais bastante ampla. Em relação as Organizações Internacionais, que nós tivemos uma
aula anteriormente, que foi sobre os sujeitos – subjetividade internacional-, vimos que
são um desses novos sujeitos criados a partir do séc. XX. E hoje vamos tratar sobre os
Tratados que regulam a atividade das Organizações Internacionais, que fundam
Organizações Internacionais.
Há uma gama enorme de Organizações Internacionais, muitas das quais
vinculadas a ONU e algumas vinculadas a outas organizações internacionais, dentro
disso que nós podemos entender como “arquitetura internacional”, que tem validade a
partir do início do século XX.
Então, nós podemos falar de uma nova ordem mundial, a partir da 3ª fase
(relacionada ao desenvolvimento, a evolução da sociedade internacional, de acordo
com Adam Watson), quando temos a inauguração de um outro momento completamente
diferente do que se tinha anteriormente, com limitações, como nós sabemos, pois são
grandes limitações do sistema/sociedade/comunidade internacional, mas nós temos um
adensamento das possibilidades de regulação, incluídas a partir dos Tratados. Então
vejamos aqui alguns desses Tratados.
Primeiro lugar, ou seja, em relação a Organizações Internacionais, tivemos o
Pacto da Sociedade, de 1919, que inaugura, juntamente com a criação da OIT, as
Organizações Internacionais. É o tratado que institui, que funda a Liga das Nações.
A Carta das Nações, de 1945 - momento em que o sistema tem aí um revés,
com a eclosão da 2ª Guerra Mundial. Por isso, quando a guerra acaba nós temos o
surgimento da Organização das Nações unidas com a Carta das Nações e o Estatuto da
Corte Internacional de Justiça. Esse último é um adendo, é um anexo da Carta das
Nações, ou seja, faz parte daquele tratado.
A Carta da Organização dos Estados Americanos, poderíamos falar da
organização em outros âmbitos regionais, mas vamos nos contentar aqui, mas nos
limitar a falar das organizações no âmbito regional da nossa região. Então a Carta da
Organização dos Estados Americanos, de 1948, em que institui a Organização dos
Estados Americanos - OEA.
Então nesses tratados nós vamos encontrar normas, em primeiro lugar, de
fundação, que instituem esses tratados e que vão ter toda uma série de princípios, de
normas reguladoras para a vida dessas fundações.
O Tratado de Cooperação Amazônica, de 1978. Os Estados que estão no
território amazônico, como é o caso da Colômbia, como é o caso do Brasil, da
Venezuela, e outros Estados da América do Sul, têm uma série de iniciativas voltadas a
cooperação no ambiente amazônico. E o Protocolo de Emenda ao Tratado de
Cooperação Amazônica, que é 1998.
Sobre direito dos tratados, ou seja, temos também tratados que regulam a vida, a
existência dos tratados. Então a Convenção de Havana sobre o direito dos tratados, de
1928, ou seja, é anterior a ONU, sob a égide das Liga das Nações, que é a convenção
que eu pedi que vocês dessem uma lida. Eu pedi para vocês lerem sobre a Carta das
Nações, A Convenção de Viena sobre o direito dos tratados e também, e falando da
Carta das Nações, o Estatuto também. Nós precisaremos ter depois uma em que
falaremos sobre o conteúdo desses tratados, por que vocês precisam começar a entender
o sentido tratados.
A Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados entre Estados e
Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais, ou seja, vemos
aí a possibilidade de tratados envolvendo organizações e estados e envolvendo as
organizações internacionais, o que mais uma vez corrobora essa ideia de que estamos
diante de sujeitos típicos do Direito Internacional, as Organizações Internacionais.
Sobre as Relações diplomáticas também temos tratados sobre essa questão
específica, que só em termos exemplificativos, ou seja, Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas, de 1961; Convenção de Viena sobre Relações Consulares,
de 1963. Na área da segurança internacional, essa é uma área que preocupa sobretudo os
Estados e as Organizações Internacionais, então tem uma densa legislação, legislação
não, mas tratados normativo internacionais a respeito do tema, então Protocolo de
Genebra sobre o emprego na guerra de gases asfixiantes, tóxicos ou similares; Tratado
de Renúncia à Guerra, de 1928; Tratado de Proscrição das experiências com armas
nucleares sobre a atmosfera, no espaço cósmico e sob a agua; Tratado de não
proliferação de armas nucleares, de 1968, tratado que a rigor conta com uma regra que
diferencia os estados e é muito criticado com isso, por que alguns estados podem ter
armas nucleares e outros não podem, e digamos que isso fere um princípio básico do
direito internacional, do direito, o princípio da isonomia.
Pergunta de Aluna: “Foi esse o que Trump anunciou que
iria sair, professor?”
Jayme: “Não, o que ele anunciou que iria sair foi um
tratado específico com o Irã, tratado para que o Irã controlasse
armas nucleares”. O tratado de proibição completa dos testes
nucleares, de 1996.
O espaço marítimo tem várias convenções, mas essa, a Convenção das Nações
Unidas sobre Direito do Mar, conhecida também como Convenção de Montego Bay,
que institui inclusive o Tribunal do mar. O espaço cósmico também tem regulação em
termo de tratado, com aquela perspectiva de o espaço cósmico não pode ser objeto de
soberania, de definição ou de declaração de soberania, então o Tratado sobre os
Princípios Reguladores sobre a Atividade dos Estados na Exploração e uso do
Espaço cósmico, inclusive a lua e demais corpos celestes, de 1967. A gente pode
imaginar o porquê em 1967, ou seja, durante a Guerra Fria, e podemos ver a
preocupação das duas potências da época, de que se uma chegasse ao espaço cósmico e
declarasse soberania, então é isso que está por trás desse tratado. Convenção relativa
às infrações e a certos outros atos cometidos a bordo de aeronaves.
Pergunta de Aluna: “Essa Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar tem a ver com os conflitos também?
Jayme: “Tem, tem a ver com conflitos no mar. Por isso
mesmo que existe o Tribunal do Mar para resolver os conflitos.
A convenção regula e o Tribunal resolve os conflitos, sobretudo
entre Estados, mas as empresas transnacionais também podem
participar desses julgamentos”.
As zonas polares – também se busca que elas não sejam objeto de soberania,
então é o caso do Tratado da Antártida, ou seja, define aquele região como que pode
ser estudada, os Estados podem estar lá presentes, desde que tenham recursos
financeiros para desenvolver as pesquisas, para ter os seus pesquisadores lá, mas eles
não podem declarar soberania sobre a Antártida. Protocolo do Tratado da Antártida
sobre a proteção do meio ambiente, 1991, e a Convenção para preservação dos
recursos vivos marinhos da Antártida.
O que é que estamos vendo aqui? Que há uma busca por regular determinados
espaços, como é o caso dos espaços cósmicos e é o caso também dos espaços
marítimos, dentro de uma perspectiva que supera aquilo que nós vivemos a partir de
1492, ou seja, com a conquista da América, em que aconteceu a definição desse espaço
como de dominação, do gozo da discussão em torno da soberania, que foi declarada
como conquista. Busca-se que os novos espaços que possam ser objeto de estudo de
chegada que não se venha a repetir a história da conquista, então é isso que está por trás
es tratados e só é possível tê-los em função dessa 3 fase, apesar de todas as limitações
do Direito Internacional de hoje, ela permite essa regulação desses espaços.
No Comércio Internacional, o principal tratado é o que institui a Organização
Mundial do Comércio, que tem todo m sistema de solução de controvérsias específico.
No âmbito da integração regional, como nós sabemos, tem uma série de
desenvolvimentos nessa área, que estão especificamente os Tratados Relativos ao
Mercosul e que está bem “?”. O Tratado para a constituição comum entre a República
argentina, a República federativa do brasil, a república do Paraguai e a república do
Oriental do Uruguai, de 1991; o Protocolo adicional acional ao Tratado de Assunção, o
Protocolo de Ouro Preto; o Protocolo de Olivos sobre resolução de controvérsia, ou
seja, que institui o Tribunal Arbitral, no âmbito do Mercosul; O Acordo de Admissão de
Títulos e Graus Universitários para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados
Partes do Mercosul, de 1999, sendo assim relativamente recente essa preocupação com
os títulos acadêmicos cursados nos países; e o Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente no
Mercosul, que é de 2001. Fora isso tem uma série de outros tratados no âmbito do
Mercosul.
Em direito do trabalho também tem uma normativa específica e muito
abundante, da constituição internacional do trabalho é o principal texto (????). Na área
dos Direitos Humanos, uma série de normas da ONU, da OEA. No âmbito da ONU, o
pacto dos direitos civis e políticos, o pacto internacional de direito (???) (inaudível), a
convenção sobre eliminação de discriminação racial, sobre eliminação de todas as
formas de descriminação contra a mulher, a convenção contra a tortura e outros
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, de 1984; a convecção sobre direitos da
criança; a convenção americana sobre direitos humanos, ou seja, da OEA; a convenção
interamericana para prevenir e punir a tortura, a Convenção Interamericana para
prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher.
E no âmbito do direito humanitário, só algumas delas, como: a convenção (???)
(inaudível), de 1949, que eu já fiz referencia aqui que um cidadão chamado Rafael
Lenki, polonês que teve a família exterminada durante a 1 guerra, foi uma figura
fundamental para que se criasse o crime de genocídio, que só foi criado depois da 2
guerra, em 1949; O Estatuto de Roma que institui o Tribunal Penal Internacional; o
Estatuto do Tribunal Ad hoc para (???) ; e o Estatuto do Tribunal ad hoc para Ruanda.
Eu deixei de fora os tribunais ad hoc que não fizeram parte da ONU, como Nuremberg e
Extremo Oriente, que são aqueles famosos tribunais instituídos pelos vencedores, mas
não no âmbito de uma organização internacional.
E sobre direito dos refugiados, a Convenção Relativa ao Estatuto dos
Refugiados, de 1951, Protocolo sobre estatuto dos refugiados, de 1966. Direito
Internacional privado, para gente não ficar só com o direito internacional público, a
Convenção de direito internacional privado, o famoso Código de Bustamante, de 1928,
portanto anterior a ONU; o Estatuto da Conferência de Haia; Convenção sobre
Prestação de alimentos no estrangeiro; Convenção Interamericana sobre obrigação
alimentar; entre outras.
Ou seja, volto a dizer, esse quadro aqui vemos que há uma regulação muito
ampla e nós vamos estudar especificamente algumas situações, e espero que nas ultimas
aulas tenhamos uma avaliação diferente, em termos de seminário e em grupo possamos
estudar algumas decisões do Tribunal do Mar, da Corte Internacional de Justiça, da
Corte interamericana de direitos humanos, da corte europeia de direitos humanos, dos
tribunais penais, entre outras possibilidades. Que possamos estudar essas decisões em
analise com a normativa internacional e fazendo discussões sobre o caráter jurídico
político dessas. Então é isso que eu vou querer, por isso também o sentido de estar
mostrando isso aqui. (Continua falando que o assunto tá em bom andamento).
Agências especializadas:
1. Cooperação Econômica: BIRD; FMI, OMC, FAO, OMPI; UNIB.
2. Cooperação Social: DIT; OMS; UNESCO.
3. Cooperação em Comunicação: UPU; OAC; OMM; UIT.
4. Cooperação em Outras Áreas: OMI; AIEA; OMT; OPAQ.
Não sei se nessa aula ainda ou na próxima falaremos do Banco Mundial, FMI e OMC,
que são as três organizações que normalmente os programas de Direito Internacional
pedem para a gente falar apenas dessas, ou seja, dentro de uma concepção de
cooperação econômica. Mas eu acho que a gente precisa entender mais do que a
cooperação econômica, entender que tem várias agências da ONU, pois estamos falando
aqui de cooperação no âmbito da ONU, não no âmbito da ONU e de outras
organizações de caráter regional. Não vamos entrar na OEA, não vamos entrar no
Conselho da Europa... vamos tratar apenas da cooperação no âmbito global. Então são
essas organizações aqui e começamos a falar sobre, digamos, o fundamento, o
fundamento jurídico político, para que tenhamos essas organizações.
E como eu falava anteriormente, essas três principais aqui, ou tidas por alguns autores
como as principais, são aquelas que em geral estão nos programas de direito
internacional público, tendo uma centralidade, uma importância para o bem e para o
mal, o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio. Mas vamos para
o fundamento jurídico e o fundamento político delas.
Vamos encontrar o fundamento jurídico delas na Carta das Nações. Em primeiro lugar
no preambulo, no qual há a fundamentação para que haja a criação de organizações de
caráter econômico ou de cooperação econômica dentro da ideia de promover o
progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla.
Então eu queria perguntar para vocês, dentro das aulas que nos tivemos sobre as teorias
que fundamentam o direito internacional e as relações internacionais, sobretudo essas
ultimas, como é que podemos classificar esta regulação aqui?
Resposta da sala: “é o idealismo é?”
Jayme: “Exatamente. É o Idealismo, o liberalismo.”
Ou seja, promover o progresso social, de melhores condições de vida dentro de
uma liberdade mais ampla, nada mais liberalista/liberal que essa vinculação de
“liberdade mais ampla”. Aliás, essa é uma expressão que ficou consagrada e tem um
artigo do KOOFE A NAM, que foi secretário geral da ONU, que tem esse título “dentro
de uma liberdade mais ampla”, para chamar atenção dentro dessa expressão, desse
princípio, dessa ideia.
E vamos encontrar no artigo 1º da Carta das Nações os objetivos:
Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse
fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças
à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da
paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os
princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou
solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações,
baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para
resolver os problemas internacionais de caráter econômico,
social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular
o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais
para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das
nações para a consecução desses objetivos comuns.
Aqui está o fundamento jurídico para a cooperação internacional “Conseguir
uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter
econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito
aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião”, da definição desse e de outros objetivos, a ONU foi se
organizando para ter agencias para a cooperação internacional.
E o fundamento político, em primeiro lugar, a regulação do espaço internacional.
Estamos vendo que dentro de todo o desenvolvimento histórico do Direito Internacional
ou da Sociedade Internacional não se imaginava essa possibilidade, ou até o séc. XIX,
pois pouquíssimas foram criadas até essa data e nem como organizações internacionais,
mas como organizações de direito interno, sobretudo na suíça. A suíça tem um papel
importante no desenvolvimento dessa situação, por que é um Estado que muito
incialmente desenvolveu capacidades e não é a toa que boa parte dessas organizações,
dessas agencias, está sediada na Suíça, por que se colocou como um estado aberto, e até
pouco tempo se dizia como neutro, estado que se colocou à disposição da ONU. Por
isso também muitos autores são suíços, desenvolveram a narrativa, desenvolveram os
princípios com base neles próprios, a partir deles e de seus posicionamentos.
Então hoje, nós temos uma série de organizações e que representam essa
regulação do espaço internacional. Não se imaginava a grande maioria das pessoas e dos
governantes, sobretudo dos governantes, não imaginavam a possibilidade de regulação
para todas essas matérias no plano internacional, por conta de que a soberania não
permitia, ideia essa proveniente lá do absolutismo, não permitia a regulação no plano
internacional. A situação, por exemplo, do comércio internacional, a regra era que todo
Estado pudesse competir como quisesse, realizar seu comércio nas condições que
quisesse. Na área da propriedade intelectual, vamos dizer que essa discussão só tem
pertinência hoje? Não, já existiam discussões relacionadas a ideia de propriedade
intelectual. Na área do patrimônio público, também já havia uma serie de tensões, de
necessidade de regulação, mas não havia era o acumulo de discussão em torno de que o
espaço internacional deveria regular essa matéria.
Em matéria de regulação na área econômica, ou seja, será que uma organização
internacional deve cooperar com os Estados para que eles saiam de crise? Ou para que
eles desenvolvam capacidades econômicas? Então havia tensão, mas não havia a
compreensão da necessidade de regulação do plano internacional e o grande óbice era a
soberania.
A superação de desníveis no desenvolvimento, ou seja, os Estados em níveis
diferenciados de desenvolvimento. Nós ainda hoje vemos isso, e como têm diferenças
na capacidade de desenvolvimento dos Estados e essas organizações viriam de uma
perspectiva idealizada, ou seja, uma perspectiva idealista, essas organizações viriam
para favorecer um desenvolvimento mais equânime dos Estados. Então um Estado, por
exemplo, o Haiti, a Costa Rica... como é que se desenvolve num conjunto onde temos
estados com muito mais capacidade? Mas isso vale para todos os Estados. Ou seja, há
Estados que alcançaram um nível de desenvolvimento econômico enquanto outros não,
ou enquanto outros estão num patamar de em desenvolvimento. Então é preciso ter
organizações, diziam os liberais/ idealistas, e a arquitetura está aqui, temos
organizações, pelo menos do ponto de vista formal, que o seu objetivo é favorecer o
desenvolvimento mais equânime dos Estados. Mas depois, ao longo do curso, vamos
ver se essas capacidades realmente são cumpridas, se esses objetivos são para valer, se
os Estados que compõe a ONU realmente estão querendo levar a sério essa história de
cooperação internacional... ou se não passa de uma idealização, de um discurso.
Objetivo político, que também é orientado pelo idealismo, que evitar guerras
por motivos econômicos. Ou seja, guerras do passado todas foram orientadas, definidas,
em elementos econômicos por trás, ou se não todas, mas boa parte delas. Mas eu diria
todas, pois mesmo as para guerras para definir fronteiras eram, no fundo, pautadas na
discussão econômica em torno do valor do território, seja marítimo, seja solo, seja no
ar... tudo está relacionado a um valor econômico, então, é por aí.
Tem uma referência aqui ao ECOSOC, que é o Conselho Econômico e Social da
ONU. A Carta das Nações, uma das coisas que ela faz é estabelecer os poderes da ONU,
e um deles trata do Conselho Econômico e Social, principalmente no artigo 62 e 64 a
definição dos poderes desse conselho, que são a coordenação das atividades na área da
cooperação econômica e social. Por tanto, em princípio, o Conselho Econômico e Social
deveria articular as agências da ONU em matéria de cooperação internacional, para
fazer com que uma contribuía com a outra, mas isso não vem sendo feito a contento. Na
realidade, essas organizações tem uma autonomia muito grande, sobretudo as de caráter
econômico, e em muitas ocasiões elas como que competem entre si e instituem
estabelecem objetivos conflitantes, sobretudo as de caráter social e econômico.
Enquanto o FMI diz para segurar as contas, governos devem manter as contas em
ordem, gastar pouco, as de caráter social vão procurara fazer a distribuição de renda.
Então as organizações/agências especializadas são essas aqui.
Cooperação Econômica:
Bretton Woods é uma cidade dos Estados Unidos onde os plenos potenciais se
reuniram e instituíram esse acordo, acordo que mudou o padrão de organização
financeira mundial, então, por exemplo, a partir daí nós vamos ter o padrão ouro trocado
pelo padrão dólar (o professor falou que pode colocar a tabela com essas informações
no dropbox).
Normalmente se exige uma contrapartida, uma parte do recurso tem que vir do
caixa do próprio Governo no caso do estado federal, o governo federal ou governo
federado e a outra parte é a parte que entrará no acordo de empréstimo. Normalmente
também como se trata de volumes muito altos que é para instituir infraestrutura,
condições de administração, então se exige também que o projeto é produtivo, ou seja, é
um porto, um aeroporto, uma rodovia, ou seja, são iniciativas de caráter produtivo.
Então essas iniciativas levam tempo pra entrar em funcionamento e gerar lucro, é por
isso que se exigem tempo ou se estabelece valor do tempo para pagamento.
Tem uma estrutura que valem para os dois órgãos, pra as duas organizações:
uma estrutura de poder muito vertical que reflete aquele momento, ou seja, no final da
segunda guerra a instituição de uma organização internacional, no caso, a ONU e o...
(não deu pra entender 9:30) que era a guerra fria. Então essa estrutura de poder ela
reflete esse mundo ainda muito conflituoso em que ele começa a ser dividido entre duas
grandes potências. Então temos uma estrutura vertical de poder, no caso das duas
organizações inicialmente estabelecidas pelo cenário econômico mundial: um conselho
de governadores. Desse conselho de governadores fazem parte todos os Estados que são
e integram o mundial, mas quem realmente tem o poder é o Conselho de Administração
que é formado por 7 Estados, o G7 (Alemanha, França, Japão, Reino Unido, Arábia
Saudita, Estados Unidos e... (10:52 não deu pra entender o outro Estado). Esses são os
Estados que fazem parte do Conselho de administração do Banco Mundial.
Então esse tem o caráter legislativo, ou seja, tem uma perspectiva mais
assemelhada ao da ONU, tem a assembleia geral, ou seja, tem um caráter universal e
legislativo, ou seja, as decisões legislativas são tomadas no âmbito deste órgão aqui.
Vemos que é uma estrutura bem vertical. A mesma coisa acontece no FMI, o
FMI é regulado, ou seja, a estrutura de poder é o conselho de governadores que também
dele fazem parte todos os estados ao qual integram o FMI, tem governadores que é
formado pelo G8, os estados que tem a maior quantidade de cotas parte (Estados
Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Japão, Arábia Saudita, China e Rússia) e mais
16 eleitos em caráter rotativo.
Ou seja, também com base nas cotas parte e no acordo que é feito de tempos em
tempos, então a junta de governadores é onde está o poder de tomar decisão, ou seja,
quem toma as decisões é a junta de governadores e o conselho de governadores legisla,
estabelece as grandes normas e o diretor geral executa e presta contas a junta de
governadores e ao conselho de governadores.
Nos últimos anos, então a cota parte mais elevada é a dos Estados Unidos que
tem 17,46%, ou seja, ele é detentor não só do valor máximo do empréstimo e
certamente se ele não precisa ir ao FMI para recuperar a sua economia, então o que vai
acontecer com ele? Ele vai ter recursos para investir em outros empréstimos e vai
receber/vai ser remunerado por isso, é dessa forma que funciona.
Ou seja, se o Estado não precisa ir ao FMI pra ter as suas contas ajustadas, ele
tem mais recurso pra investir em empréstimos que vão servir para outros estados.
O Reino Unido tem 5,5% e o Brasil 2,46%, o que, aliás, tem havido uma
aumento nas cotas parte de alguns países emergentes e pode ser até que isso mude, e
baixe, reduza o valor da cota parte do Brasil, pq a situação da economia brasileira não
está tão bem, mas no último ano era esse o quadro. (Aí tem um quadro mais ampliado
que o prof vai colocar no dropbox).
(pergunta: essa mais para a esquerda é OSC é? Resposta: É... OSC órgão de
soluções de controvérsias),
Bom, enquanto isso eu falava que nós tínhamos, nós temos, eu falei de todas
elas, de 17 agências de cooperação na área econômica e social; vimos aqui as da área
econômica e veríamos agora o quadro geral, ou seja, o Banco Mundial, o FMI e todas as
outras organizações.
Então, o Banco Mundial criado em 1944, pelos acordos de Bretton Woods, então
a tabela conta com esse tipo de informação: o nome da entidade, o ano de fundação, o
tratado de fundação e os objetivos, então o objetivo formal, ou seja, do ano do tratado,
fomentar o desenvolvimento dos países membros...
O direito das gentes surge pela dificuldade de denominar, até que Jeremy
Bentham em 1780 dá o nome de direito internacional, e aí fica conhecido desta forma.
O fundamento jurídico esas discussões vamos encontrar nos tratados e direitos
costumeiros que foram se estabelecendo o longo do tempo mas sobre tudo em função da
positivação do direito interncional nos tratados, e aí eu trago os tratados especificos
relacionados a cada uma das uniões. Cada união tem a sua conformação, o seu
fundamento legal.
Se nos quisermos saber sobre os fundamentos jurídicos, é importante ter
consciência que não existe um fundamento jurídico único.
Falando de integração regional é visível a intenção de acabar ou reduzir muito as
guerras, sabe-se que os conflitos continuaram existindo. O Mercosul tem como resolver
uma serie de questões de formas diversas, por exemplo, os meios de resolução de
controvérsias. Os Estados precisam solucionar suas controvérsias, e diante de um bloco
econômico regional, integração econômica regional.
A Corte internacional tem uma competência global, universal e estamos falando
aqui no âmbito regional, então as regiões que devem ser responsáveis por suas soluções
pacificas de controvérsias internacionais.
A primeira alternativa para a pacificação dos conflitos é a negociação para
resolução do problema, se não for possível caberá ao tribunal de resolução de
controvérsia.
Existem iniciativas de caráter regional de integração regional com objetivos
proteger as economias regionais. Nelas é criado um procedimento por onde eles
definem uma tarifa especial para alguns produtos. Se estabelece uma tarifa diferenciada
que fará com que os produtos nacionais cheguem a outro Estado com capacidade
competitiva.
O fundamento politico é a necessidade de regular a vida economica dos países
sobretudo o comércio internacional constituindo blocos economicos que protejam os
Estados e seus produtos, suas empresas, na medida em que um grupo de países
comerciam entre si, esse bloco já esta se protegendo em relação a uma competição mais
ampla, é muito diferente de um comercio mundial onde cada um comercia com quem
bem quiser. Aqui existe uma união de grupo de países que estabelecem uma tarifa
comercial com outras regiões.
O principal projeto do Abade de st. Pierre, que construiu um projeto de paz para
a europa, envolvendo elementos politicos, economico e toda uma fundamentação
ideologica para instituir uma paz perpetua.
Para os autores que consideram que um bloco economico deve ter autonomia de
ser governado pela ideia de supra nacionalidade, temo como único exemplo a UE, posto
que já estão ligados ao direito comunitário enquanto que as outras regiões estão focando
no direito de integração, mas não comunitário.
50:00
Os grandes princípios em matéria econômica são tomadas pelo Banco Central
Europeu, e os outros países devem se adequar.
E por que isso? Em nome de uma coerência para uma política com o objetivo
superior que é de uma estabilidade que faça com que região não tenha mais conflitos,
sobretudo, bélicos.
Então, o indivíduo (... inaudível) não há necessidade de recepção das tomadas de
decisão dos tratados no âmbito nacional, ou, se há recepção, ela é para o cumprimento,
orientando. Porque os estados aceitaram essa norma supranacional e, tudo isso, seria
para facilitar a integração e haja paz, tranquilidade, progresso nessa região, tendo em
vista que ela precisa ser pujante econômica e politicamente.
R: Pode ser que seja uma estratégia do advogado de defesa, não tem como
afirmar, para demonstrar que a constituição não estaria sendo cumprida.
Pergunta inaudível: Nessa hipótese se a comissão decidisse que não tinha prova,
essa decisão seria executada no brasil?
R: Nós vamos ter uma aula pra discutir melhor isso, mas já adiantando, as
decisões do sistema interamericano, do sistema europeu devem ser cumpridas pelos
estados, agora, eu não tenho dúvidas também de que a política se relaciona com o
direito, tanto no plano interno, como no plano internacional, então vai depender também
das condições políticas. Mas, em princípio, é possível. Tem algumas decisões muito
importantes, por exemplo, em relação ao Chile, decisões que alteraram a sua prática e a
sua constituição. Vamos falar sobre isso quando chegarmos nos meios obrigatórios.
Nesta aula, o objeto da nossa aula, nós vamos até os meios facultativos. A partir
do momento em que as organizações internacionais foram criadas, esse tema adquiriu
uma relevância muito grande, estamos falando de um ponto essencial do direito
internacional. É importante reconhecer que esses meios foram criados no decorrer da
história, nós falamos do desenvolvimento histórico do direito internacional (as
arbitragens vêm da antiguidade, os tribunais são mais recentes, do século XX). O meio
mais antigo de solução de controvérsia no plano internacional são as arbitragens. Como
nós sabemos a designação internacional só surge em 1780 com Jeremy Bentham, que
cria a designação international law.
Esses meios tanto previnem quanto solucionam as lides entre estados, entre
organizações internacionais, ou com a participação das organizações internacionais. As
organizações internacionais são, hoje em dia, grandes mediadoras, são espaços onde são
construídas soluções. Elas foram muito impulsionadas no século XX, tanto em função
do processo de racionalização, do processo de criação de organizações internacionais,
processo de codificação, de positivação, tudo isso contribui para estabule os princípios e
os meios de soluções de controvérsias. Um dos criadores da liga das nações, Woodrow
Wilson, foi defensor das soluções pacíficas e encontramos nos seus textos a defesa de
que abandonássemos os meios não pacíficos, a guerra.
No tratado que institui a liga das nações, nós vamos encontrar todos os meios de
solução de controvérsia: vamos encontrar o inquérito, o tribunal e a arbitragem. Vamos
encontrar claramente esses meios. Com a criação da ONU em 1945, nós vamos ter
referências (art. 33 da carta das nações) expressas aos meios admitidos para solucionar
controvérsias, que estavam anteriormente admitidos de maneira idealizada no tratado da
liga das nações: negociação, inquérito (é um meio obrigatório criado a partir das
organizações internacionais, ou seja não tinha antes da liga das nações, sobretudo da
ONU, onde temos muitos exemplos de inquérito em matéria de segurança, financeira,
dos diretos humanos); mediação; conciliação; arbitragem (obrigatório); solução judicial
(obrigatório). A carta das nações abre espaço para qualquer outro meio pacífico e faz
referência do papel do conselho de segurança no papel de manutenção da paz. Esse
sistema não é perfeito, mas temos avanços em relação ao que o DIP prometia e realizava
no século 19.
Resposta: É, porque o Estado cumpre ou não, se ele não quiser cumprir, não cumpre.
Aliás, muitas vezes fica sem cumprimento. Sobretudo, havia uma crença de que a ONU
cresceria muito em significado com a entrada do século XX, mas não se verificou, e está
muito relacionado ao que aconteceu em 2001, ao ataque às torres gêmeas, havia uma
crença de que os mecanismos da ONU seriam adensados, haveria muito mais
capacidade, sobretudo depois da 2ª Conferência Mundial de 1993, ou seja depois da
Queda do Muro de Berlim, se acreditava que haveria um adensamento em relação ao
cumprimento dos tratados dos direitos humanos. E aí com o atentado de 2001 notou-se
um freio em relação a este cumprimento. Então houve um tempo em que havia muito
mais recurso, mas em relação a hoje, não vou aqui mentir pra vocês, é uma área que os
relatores continuam visitando as localidades, mas com muito menos frequência e o
próprio cumprimento não tem o significado de outros tempos. Estamos num mundo
atualmente muito complicado, tanto no plano nacional como no plano internacional, as
coisas não estão funcionando como foram desenhadas na época, lamentavelmente.
Então o inquérito já teve mais significado. Anda funcionando muito mais na área de
energia atômica, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) possui inspeção
com grau de cogência muito alto, que aí não é soft law, as recomendações são
devidamente cumpridas, porque é segurança coletiva. Se ela descobre que um Estado
está descumprindo, violando o tratado de não proliferação de armas nucleares, a AIEA
vai indicar que o Estado deixe de produzir energia para fins bélicos. De posse de um
relatório com este teor, o conselho de segurança poderia autorizar até uma invasão.
Pergunta inaudível.
Resposta: Não tinha pensado nisso, mas o que se entende no âmbito da comissão
interamericana de direitos humanos é que funciona como sendo duas instâncias, né?
Tecnicamente poderia ser entendido como um inquérito. Ou seja, a comissão faz uma
apreciação e ao final ela recomenda o que o Estado deveria fazer diante da violação dos
direitos humanos, ela não julga e aí a Corte realmente julga. Agora, a Corte também tem
sido muito rigorosa, pode levar muitos anos para um caso ser levado e chegar a ser
aceito lá.
Bom, já que já está claro, então vamos para a arbitragem, que como se sabe é o
meio mais antigo de solução pacífica de controvérsias internacionais no âmbito
internacional. Precede aos tribunais, que só são criados no século XX, enquanto que a
arbitragem está presente desde a Antiguidade. O meio de solução tipicamente jurídico
do tribunal deveria ser utilizado apenas em situações muito graves, enquanto todas as
outras já deveriam ter sido anteriormente tentadas pela arbitragem. Mas a justiça é lenta
e precária, sobretudo a ideia de que no Judiciário há um vencedor e um perdedor, é a
lógica das decisões judiciais. Enquanto que na arbitragem se busca compor uma relação
vencedora a ambas as partes. A arbitragem no âmbito interno foi recuperada de tempos
pra cá, está muito em voga, no discurso de tornar o Estado mais eficiente, sendo este
utilizado apenas no Estado mínimo, apenas nas situações devidamente necessárias.
Independentemente dessa discussão, a arbitragem no plano internacional é vista
como um meio mais rápido, um meio que permite que as partes cheguem a uma certa
composição de seus interesses, e sobretudo que instituam uma jurisdição ad hoc. Ou
seja, as partes estão em condição de acordo, só não estão em condição de resolverem
sozinhas, por isso uma conciliação não resolve, precisa de um agente externo, que
normalmente necessita de um conhecimento técnico, como a demarcação de fronteiras,
por exemplo. Necessita de um conhecimento técnico de como fazer, que não é um
procedimento simples, requer outros conhecimentos relacionados a história, geografia,
política etc. Implica na definição de uma jurisdição ad hoc, específica para o caso, e que
uma vez concluída a solução, a lide, a jurisdição deixa de existir. É por isso que é uma
jurisdição ad hoc, como os tribunais ad hoc, só que em outra situação, daqui a pouco a
gente vai falar sobre isso, mas foram instituídos pelo conselho de segurança, com base
na Carta das Nações para situações específicas. Quando todos os casos tiverem sido
julgados, o Tribunal deixa de existir, por isso são tribunais ad hoc. Então no plano da
arbitragem estamos diante de uma jurisdição específica, ad hoc.
Pergunta: Como funciona a prescrição nos casos dos tribunais ad hoc, professor?
Resposta: É um tribunal como qualquer outro, só que no caso de Ruanda, por exemplo,
tem uma competência restrita ao ano de 1994, ou seja, só casos que aconteceram neste
ano, foi quando houve o genocídio. E em relação ao tribunal de Iugoslávia, todo e
qualquer caso acontecido de 1993 em diante, desde que relacionada a aquela situação,
do genocídio. E aí eu vou dar o endereço logo mais destes tribunais, onde vocês podem
encontrar as decisões (para o 2º exercício).
Há a necessidade de um compromisso arbitral de definição, de que seja
assumido pelas partes esse compromisso. É, portanto, um procedimento necessário de
substituição desta jurisdição ad hoc, e isso tá garantido por tratados internacionais
específicos relacionados à arbitragem.
Como já vimos em outras aulas, teremos a arbitragem no plano internacional
privado, que é a arbitragem envolvendo empresas transnacionais ou empresas e Estados
em matérias que dizem respeito às questões privadas, normalmente matérias comerciais,
quando o Estado é também um agente privado. Mas a arbitragem da qual estamos
falando é a do plano de direito internacional público, ou seja, arbitragem envolvendo
Estados. Dois Estados não estão em condições de resolver um conflito, mas eles
dialogam entre si, e aí definem que um outro Estado ou que uma pessoa ou um grupo de
pessoas funcionem como árbitro. Normalmente é uma pessoa, em função do seu
conhecimento, das suas habilidades (hoje existem escolas de arbitragem e há
associações de árbitros também, então é uma área que vocês podem se especializar), que
domine algumas línguas, e tenha habilidades para compor o conflito entre as partes. E
não habilidade para apenas chegar a um acordo qualquer, mas que seja satisfatório para
as duas partes, porque só aí a arbitragem terá sentido. Há situações em que uma parte
vai “ganhar mais”, ou ter mais vantagem, mas em geral não é o que se espera da
arbitragem pensando aqui no plano internacional, ou seja, espera-se que as partes saiam
satisfeitas desse processo.
Muitas das fronteiras do Brasil foram formadas com base de meios não
pacíficos, por guerras, mas em grande parte, sobretudo é o que se fala do Itamaraty, a
capacidade que este teve desde Rio Branco de compor e chegar a definir o território
com um certo grau de rapidez em relação a outros Estados da região. Existem ainda
muitos problemas envolvendo fronteiras da América Latina: Chile, Peru, Bolívia,
Venezuela... Felizmente o Brasil resolveu os problemas de fronteiras, talvez o mais
grave, até mesmo em relação ao Paraguai, inclusive com os movimentos que foram
feitos no final do século passado, com a criação de Itaipu, fica claro que ali se trata de
um território que foi demarcado, uma parte é do Brasil e a outra é do Paraguai. Mas até
em relação ao Oeste do Paraná, de Santa Catarina, alguns dizem até que toda aquela
área deveria ser do Paraguai, que o Brasil teria roubado. O fato é que até a Guerra do
Paraguai, aquela região ali era mais do Paraguai do que do Brasil e da Argentina. Mas
com a Guerra, o Brasil e a Argentina se tornaram donas das cataratas e aquela região
por ali.
A Corte Permanente de Arbitragem, que existiu, estamos falando de uma
experiência, ou seja, antes da Liga das Nações, teve uma série de julgamentos
mostrando justamente o significado dessa Corte enquanto uma experiência que não
estava relacionada a uma organização internacional, era um chamamento para a
importância de que existissem meios de solução de controvérsia no plano internacional,
então houve essa experiência. Depois, foi absorvida pela Liga das Nações e, sobretudo
pela ONU. No âmbito da ONU, tem-se resolvido muita coisa com base na ideia da
arbitragem. No Banco Mundial, tem um...
Pergunta: Ainda subsiste esta Corte?
Resposta: Não.
O Banco Mundial tem um espaço de solução de controvérsia com base na
arbitragem, ou seja, é um meio através do qual os contratos e os acordos estabelecidos
entre os Estados que não conseguem um acordo entre si, quando os estados não estão
em condições de resolver entre eles próprios, que se leva para o órgão de solução de
controvérsias que tem essa capacidade arbitral.
Um outro exemplo é o da fundição trail ou trail smelter, que é muito importante
também por conta da decisão em si, é um caso de 1941, em que disputavam os Estados
Unidos e Canadá: uma fundição foi estabelecida na fronteira entre os dois países e
levava poluição aos EUA, tentaram resolver entre si e não conseguiam, até que se
chegou a conclusão de que teriam que instituir uma arbitragem, instituiram a arbitragem
e o resultado foi a definição do plano internacional do princípio do poluidor pagador,.
Desde então, o princípio do poluidor pagador foi admitido é um dos princípios do
plano internacional, um dos princípios do direito ambiental internacional.
Pergunta: Mas de quem era a fundição ?
Era do Canadá, a fundição canadense levava poluição para uma cidade dos
EUA, e isso durou por vários anos até que se institui a arbitragem ou seja a jurisdição ad
hoc , e no final da resolução da controvérsia se define a obrigação do Canadá de
ressarcir pela poluição, o que significa a adoção do principio do poluidor pagador, e
como eu falava hoje este princípio está plenamente assentado no direito internacional
ambiental, a ideia do poluidor pagador, o que aliás é visto com reservas hoje em dia,
porque o Estado muitas vezes se compraz em poluir e pagar, desde de que ele esteja se
desenvolvendo ele polui e paga, e é por isso que tem outros princípios que foram
adotados também para tentar frear essa ânsia pelo capital, digamos assim, e a convenção
de Montego Bay.
Aliás a arbitragem que tem sido muito utilizada em várias áreas pelo que
estamos vendo, mas também em áreas comerciais e na área do direito ambiental, então
são áreas que tem demonstrado muita capacidade de utilização da arbitragem, de
resolver conflitos por meio da arbitragem: área financeira, comercial, do direito do mar,
e a obrigatoriedade da decisão está relacionada ao cumprimento do compromisso
arbitral, que é um documento que se assina, que está previsto nas convenções sobre
arbitragem, que os Estados assinam, pra que a decisão que for tomada, pelo arbitro, a
indicação da decisão que for dada, que ela seja cumprida, o que significa uma renúncia
ao poder judiciário em princípio,
Aí vocês vão perguntar, e se o Estado não renuncia ? E se o Estado resolve ir ao
poder judiciário ? Eu diria que o judiciário pode até aceitar a denúncia, pode aceitar o
caso, mas o outro estado vai alegar que este assumiu um compromisso arbitral e ficará
muito mais difícil pra ele e para o próprio tribunal que vai dizer que não aceita o caso
porque foi resolvido numa arbitragem. A mesma coisa é do plano interno vocês sabem
que neste plano também funciona assim.
A convenção de Montego Bay, como nós vimos também prevê a arbitragem, ou
seja, muitas dessas convenções, na hora de pensar, de regular a matéria em termos de
solução de controvérsias, indicam dentre as possibilidades, a arbitragem.
Pergunta: Com relação a arbitragem eu tenho algumas reservas especificamente
quando a gente trata a cerca do direito público , quando parte da iniciativa privada,
parece que as coisas são resolvidas da maneira mais tranquila, mas a própria escolha
desse árbitro já poderia implicar teoricamente na renúncia de alguns direitos que seriam
teoricamente indisponíveis, como você visualiza isso ?
Resposta: Não, em relação ao direito público de uma maneira geral, eu acho que
algumas áreas dentro do direito público por mais que.... não sei se é o caso dizer se sou
contra ou a favor, mas eu acho que se impôs, em relação á algumas áreas, a do direito
financeiro não, mas o direito ambiental, que é uma área do direito internacional público
e tem sido muito útil resolver controvérsias com base na arbitragem, porque tem muitos
interesses que não são só públicos aí, são interesses também relacionadas á empresas,
então tem sido muito útil a utilização da arbitragem.
O grande problema está também em que os tribunais nem sempre resolvem
pensando nas duas partes, por conta da lógica do judiciário que é dar ganho de causa a
uma parte ou a outra, a menos que o tribunal também tenha essa sensibilidade -
dependendo do tribunal vai haver essa sensibilidade- mas em geral não existe, nem no
plano interno, nem no internacional, é uma parte ou outra que ganha a causa, então
termina a arbitragem ganhando um incentivo entre os Estados em função disso: da
capacidade do árbitro, por ser instituído pelas partes pra tomar uma decisão.
Agora não cabe, como no plano interno, em situações em que as partes não
sejam iguais, entre Estados que não seja iguais - espera-se que os estados sejam iguais -
devendo ser iguais também na hora de estabelecer um árbitro, e devem ter cuidados na
escolha desse árbitro, mas se for entre estados que sejam muito diferentes entre si, pode
ser complicado.
Comentário: “ Parece que é outro discurso de desvalorização do papel dos
tribunais internacionais quando na verdade devia ser encaminhado no sentido de
favorecimento e valorização desses tribunais, aí a gente vê a iniciativa privada e outras
empresas, enquanto os tribunais ficam simplesmente recomendatórios”.
A outra discussão é com relação a capacidade dos tribunais de processar uma
quantidade muito grande de casos, nem sempre isso corresponde porque os tribunais
tem um custo, isso vale pro plano interno, as estamos falando aqui do plano
internacional, imaginem se todos os casos fossem para os tribunais, estamos pensando
que nos caso dos tribunais internacionais então certamente as viagens são
internacionais também.e isso geraria um grande custo.
Pergunta: Essa convenção do Montego Bay, pode também explicar a
controvérsia entre Reino Unido e o Chile?
Sim, pode utilizá-la também, certamente pode utilizar.
Então vamos seguindo que vamos falando sobre os tribunais.
Os tribunais são a forma mais tradicional e a mais rápida de solucionar
controvérsias. E o que é importante aqui de chamar aten é a cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória, é uma cláusula que alguns tratados tem.
A cláusula facultativa é aquela que está presente em alguns tratados, como por
exemplo a carta das nações, e também na convenção americana sobre os direitos
humanos, e significa nada mais nada menos de que o Estado só aceita jurisdição do
tratado, do tribunal selecionado pelo tratado se houver uma manifestação expressa
desta aceitação. Simplesmente com a ratificação do tratado não significa que ele aceitou
a jurisdição internacional. Então isto vale para a Corte Internacional de Justiça e a
Corte Interamericana de Direitos Humanos , por esta razão as decisões no âmbito da
Corte Internacional de Justiça elas não valem para todos os Estados, depende da
aceitação expressa pelos Estados. O Brasil, Israel não aceitou isso explica também
porque decisões em relação a Israel não são aplicadas, em relação aos Estados Unidos
também não. O Brasil aceitou a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos
Humanos que aconteceu em 1998 a partir disso o Brasil se juntou com outros países
da América Latina , porque a Convenção Internacional de Direitos Humanos conta com
essa clausula que diz que – mais ou menos isso – o Estado só aceitará a jurisdição da
Corte Interamericana de Direitos Humanos se manifestar expressamente consentimento
em relação a esta clausula. E qual o sentido da clausula ? Procura resguarda a soberania
dos Estados, a preocupação dos Estados com a perda da soberania na possibilidade de
uma decisão obrigatória em relação ao Estado or parte de um Tribunal Internacional.
Estamos ainda num momento em eu os Estados, sobretudo aqueles que tem mais poder
te preocupação em relação a isso.
Jaime: "Foi".
Tem outro caso muito interessante que se chama "Women on Waves", que foi de um
barco que foi alugado por um grupo feminista para fazer campanhas pelo direito ao
aborto, ai o governo de Portugal decidiu proibir a navegação do barco, com base em sei
lá o que; Tem o caso Lustig-Prean and Beckett, e esse eu conheço bastante, porque foi
objeto do meu trabalho no doutorado, é o caso de dois homens homossexuais que foram
proibidos de ter uma vida militar no Reino Unido.
Dos tribunais penais: temos o tribunal ad hoc para Ruanda, e que tem uma das
sentenças relacionadas e Jorge G., que é um sujeito conhecido como um senhor da
guerra. Ele está retratado no filme Hotel Ruanda. É uma daquelas figuras que
compraram armas com recursos públicos para usar no conflito.
Ademais, há o tribunal ad hoc para a antiga Iuguslávia, em que a decisão Sloboan
Milosevic, que atuou também como uma figura que fazia guerra, que era líder partidário
e morreu (se suicidou) antes de ser julgado. Em outra decisão temos sobre o Al Mahdi
que é o líder da Al Quaeda, que a decisão saiu não faz muito tempo. Isso tudo como
possibilidades, pois vocês podem escolher sobre as decisões que quiserem. Mas essas
são apenas algumas sugestões, para mostrar melhor como funciona o tribunal penal
internacional.
Aluna: Se nesse caso sobre o líder da Al Quaeda fosse submetido a outro tribunal, esse
tribunal que julgou poderia dizer: não, é minha competência.
Jaime: Não, só pode ser levado para um tribunal, é uma regra... O caso só chego no
tribunal se não foi resolvido no âmbito interno. Precisa ser uma coisa muito grave,
muito flagrante e que demonstra muita fragilidade institucional do estado, a sua justiça
não funciona. Por isso que os países não precisam se preocupar com a sua soberania se
as pessoas instituições estão funcionando. Nós vemos aí casos muito sérios de crimes
contra a humanidade, de crime de genocídio, onde se busca eliminar no todo ou em
parte um grupo étnico, racial, religiosos, tem coisas assim indescritíveis. Temos também
no plano interno situações muito graves. Existem também os casos de proteção às
testemunhas para que as mesmas possam depor e dar suporte a criminalização das
condutas. Um caso desses foi o do Hildebrando Pascoal, que era líder de um grupo de
extermínio que serrava as pessoas, que é uma coisa digna que tribunais internacionais,
mas que foi resolvido internamente, ele foi condenado e está cumprindo pena. Quando a
justiça interna funciona, não há motivo de se chegar ao tribunal internacional.
Aluno: Mas num caso desse, como fica pra turma buscar o cara aqui dentro , tem
alguma intervenção, como é feito isso aí?
Jaime: Tem, existem prisões hoje em dia, tanto na Holanda como da Alemanha...
Jaime: Não. Mas nos tribunais passados, de Nuremberg, por exemplo, eles admitiram a
pena de morte. Mas esses tribunais não eram da ONU.
Aluno: Mas professor, se o país não quiser, ele não se submete a jurisdição
internacional, se não assinar o tratado?
Aluna: Mas os tratados não são apenas sobre os tribunais internacionais, tem vários
outros aspectos.
Jaime: Um exemplo que tem uma boa relação com o que a gente ta discutindo agora é a
convenção que cria o tribunal penal internacional não admite a cláusula facultativa de
jurisdição obrigatória, se não seria ainda mais esquisito em relação aos outros tratados.
Porque os outros são mais gerais, regulam a matéria, por exemplo o estatuto da Corte
Internacional de Justiça só institui uma Corte, então não caberia existir essa cláusula,
mas tem; A Convenção Americana de Direitos Humanos ela cria direitos mas institui
também uma Comissão e um Corte; Então, os Eua e o Canadá podem ser levados
perante a Comissão, mas não perante a Corte. O Brasil por muito tempo também não
aceitou, ratificou a convenção em 1992 e só aceitou a convenção em 1998. Demorou
muito também por causa da Ditadura. A Corte Internacional de Justiça o Brasil não
aceitou.
Aluno: Professor, e o país pode denunciar essa cláusula facultativa, só ela, e manter o
resto estabelecido?
Jaime: Ficaria mal visto no cenário internacional, voltaria a um momento anterior, mas
pode. É só isso mesmo, não tem nenhuma pena para o país, pois estes são diferentes de
pessoas, porque se você penaliza o país, está penalizando a população dele.
A Convenção que institui Corte Européia de Direitos Humanos também não admite a
cláusula facultativa, tem alcance universal. Esta é uma indicação para a Corte
Interamericana, que retira essa cláusula, e não tem essa competência universal,
basicamente devido aos Eua e Canadá.
Aluna: Professor, como é a questão dos recursos destinados a estas Cortes, existe a
possibilidade de recorrer?
Jaime: É no próprio Tribunal. Tem a câmara recursal. Mas chega num momento que não
tem mais outro lugar para recorrer, como é no Supremo Tribunal Federal.
Aluno: Perguntaram sobre até que ponto o tribunal pode julgar. Deram o exemplo de
que queriam levar o caso do Impeachment de Dilma para ser analisado na Corte
Interamericana de Direitos Humanos, se isso era possível.
Aluno: Nesses casos, a ingerência nos estados teriam que ser muito maior. Porque uma
coisa é afirmar que o julgamento foi errado, e outra situação seria se não houvesse
julgamento, a intervenção, dependendo da situação, seria muito maior em determinado
caso.
Aluno: Sobre a questão da execução da pena antes do trânsito em julgado, isso poderia
ser levado ao âmbito internacional .