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09/05/2018 Lógica jurídica, argumentação e racionalidade - Jus.com.br | Jus Navigandi
INTRODUÇÃO
É muito difundida a ideia de que o Direito guarda íntima ligação com a Lógica, e
que nas relações estabelecidas entre as diversas normas que formam o
ordenamento jurídico-positivo, bem como na aplicação dessas normas aos casos
concretos, devem ser obedecidos os princípios da lógica. Lee Lowwvinger afirma
que a “lógica, ou razão tem sido reivindicada por filósofos igualmente como
propriedade especial e como fundamento principal do Direito, desde pelo menos o
tempo de Aristóteles” (apud Kelsen 1986, p. 434). Para a maioria dos leigos e
grande parte dos juristas, assim, o Direito é um fenômeno estritamente lógico,
cabendo ao juiz, ao aplicar a lei a um caso concreto, deduzir logicamente a
sentença a partir do silogismo entre as leis gerais e os fatos. Daí ter W. F.
Maitland, historiador do Direito inglês, afirmado que os juristas “são os
mediadores entre a vida e a lógica” (apud KELSEN, 1965, p. 275).
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Neste modelo, que teve suas bases estruturadas a partir do liberalismo do século
XVIII, a atividade judicial é tida como meramente declaratória da norma legal
aplicável ao caso concreto, cabendo ao juiz unicamente fazer um silogismo lógico-
dedutivo em que a premissa maior seria a norma e a premissa menor seria o fato,
decorrendo daí uma única solução possível, que deveria ser a adotada. O papel a
ser desempenhado pelo juiz, assim, seria o de mero aplicador da lei, cabendo-lhe
tão-somente “dizer a lei do caso concreto”, extraída a partir da lei genérica e
abstrata. Por isso é que Montesquieu (1997, p. 203) afirmava que os juízes “(...)
não são mais do que a boca que pronuncia as palavras da lei; seres inanimados que
não podem moderar-lhe nem a força nem o rigor”. Em virtude dessa visão, como
afirma Kantorowicz (apud Prado, 1995, p. 62),
O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A maior deve ser a lei geral;
a menor, a ação conforme ou não à lei; a conseqüência, a liberdade
ou a pena. Se o juiz for constrangido a fazer um raciocínio a mais,
ou se o fizer por conta própria, tudo se torna incerto e obscuro.
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Com efeito, a relação entre o direito e a lógica, pelo menos nessa forma estrita
defendida pelo modelo formalista, está longe de ser pacífica, como bem demonstra
a célebre frase do Justice Holmes, para quem “a vida do Direito não tem sido
lógica, mas experiência”. No mesmo sentido, afirmou Taine que “as sociedades
humanas são um escândalo para a razão pura, pois elas não são obra da Lógica,
mas da história” (apud FRANCO MONTORO, 1995, p. 20).
2. A LÓGICA.
Cuando el jurista defiende una interpretación lógica del derecho, cuando sus
adversarios replican que “la vida del derecho no es la lógica sino la experiencia”;
cuando los abogados se acusan mutuamente de no respetar la lógica, la palabra
“lógica” no designa, en ninguno de estos casos, la lógica formal, la única practicada
por la mayoría de los lógicos profesionales, sino la lógica jurídica, que los lógicos
modernos ignoran por completo[3].
Assim, antes de se iniciar uma discussão acerca das relações entre a Lógica e o
Direito (e à questão relativa á própria existência de uma Lógica Jurídica), é
necessário que se delimite aquilo a que nos referimos quando falamos de lógica.
Neste aspecto, como Fabio Ulhoa Coelho (2009, p. 04), temos que por lógica deve-
se entender uma maneira específica de pensar, ou melhor, de organizar o
pensamento, ou, como afirma Cezar Mortari “lógica é a ciência que estuda
princípios e métodos de inferência, tendo o objetivo principal de determinar em
que condições certas coisas se seguem (são conseqüência), ou não, de outras”
(apud CARNEIRO, 2010, p. 1).
Pelo princípio da identidade, entende-se que “o que é, é”, ou seja, que todo objeto
é idêntico a si mesmo. Como afirma Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 6), “no interior
do pensamento lógico, as coisas não podem ser entendidas como um complexo de
múltiplos fatores contraditórios. Uma árvore é uma árvore, e não o vir a ser de
uma semente”.
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De se ressaltar, ainda, que tais princípios da lógica formal não guardam nenhuma
relação com a veracidade ou validade do conteúdo da argumentação lógica. Como
afirma Coelho (2009, p. 7),
O argumento pode ser lógico, mas isso não quer dizer que sua
conclusão seja necessariamente verdadeira, isto é, corresponda à
realidade. Muito pelo contrário, a única garantia que o raciocínio
lógico oferece é a de que, sendo verdadeiras as premissas e válida a
inferência, a conclusão será verdadeira. Em outros termos, há duas
condições para que o raciocínio lógico nos conduza à verdade: a
veracidade das premissas e a correção do próprio raciocínio. Os
lógicos se ocupam dessa segunda condição apenas, já que da
veracidade das premissas cuidam os cientistas (biólogos,
matemáticos, físicos, sociólogos, psicólogos, etc.).
Ocorre, entretanto, que o termo lógica, como assinalado por Kalinowski (1973, p.
30), é suscetível de pelo menos três sentidos: o mais restrito, segundo o qual a
lógica seria apenas a lógica formal dedutiva, a ciência das estruturas formais do
pensamento; um sentido amplo, que designa não só a lógica formal, mas também
a lógica não dedutiva, que estuda os esquemas e regras dos raciocínios não-
dedutivos (como os redutivos e analógicos), e, por fim, um sentido ainda mais
ampliado, que incluiria a metalógica, isto é, a parte da lógica que estuda também
as propriedades e os componentes dos sistemas lógicos.
2. LÓGICA JURÍDICA.
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Ora, de fato, ao se entender a lógica unicamente como a lógica formal, que analisa
as inferências necessárias entre as proposições, resta evidente que a aplicação da
lógica ao direito não configuraria uma nova disciplina, mas seria antes a mera
aplicação de postulados universais a um ramo específico do saber, de modo que
não seria possível falar-se em lógica jurídica, posto que, como afirma Chaim
Perelman (1998, p. 5),
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que são verdadeiros ou falsos e verificáveis, e que as normas não são verdadeiras
ou falsas, e sim válidas ou inválidas.
Essa distinção entre uma norma e uma asserção se torna evidente quando se
compara, por exemplo, a norma que dispõe que o homicídio deve ser punido com
reclusão de 6 a 20 anos, com a asserção de que “todo homem é mortal”. A
asserção tem a estrutura de um ato de conhecimento que, a depender da
adequação de seu conteúdo à realidade, pode ser qualificado como verdadeiro ou
falso, enquanto na norma verifica-se um ato de vontade editado pelo legislador e
dirigido abstratamente à conformação da conduta de todos os cidadãos, que
devem se abster de praticar o ato incriminado. A norma não pode ser qualificada
como verdadeira ou falsa, mas sim de válida ou inválida. Nas palavras de Kelsen,
(1965, p. 276/277)
A partir dessa constatação, Kelsen afirma não ser possível aplicar-se às normas o
princípio lógico da não contradição, que somente teria sentido quando aplicado a
asserções. Isso porque, quando se trabalha com asserções, a existência de duas
afirmações contraditórias sobre um mesmo objeto implica que um deles seja falso
(princípio da não-contradição). Assim, se é afirmado que “todo homem é mortal”
e que “o homem José é imortal”, uma das asserções é falsa.
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Defende Kelsen, ainda, a tese de que os silogismos não são aplicáveis direta ou
indiretamente às normas. Para ele, o silogismo normativo não pode ser admitido
porque as premissas não têm o mesmo caráter lógico, já que a premissa maior é
uma norma geral hipotética (ex. aquele que cometer homicídio deve ser punido
com reclusão de 6 a 20 anos) e a premissa menor (ex. João cometeu homicídio) é
uma asserção, um enunciado sobre um fato, de modo que não há relação lógica
possível entre ambas e, portanto, não é possível extrair-se a validade da norma
individual (a conclusão do silogismo, a sentença) da norma geral à qual ela
corresponde.
Coerente com essa idéia, Kelsen afirma que a decisão judicial de um caso concreto
não é produto de uma operação lógica que deduz a norma individual (sentença) a
partir da subsunção de uma regra geral aos fatos, mas sim configura “também
criação do Direito, a continuação do processo de produção do direito que acontece
no processo legislativo (ou no costume). Ela é um ato de individualização das
normas jurídicas gerais que devem ser aplicadas” (1986, p. 286). Esse caráter
criativo da atividade jurisdicional fica mais evidente quando se percebe que o juiz,
ao suprimir as lacunas porventura existentes ou decidir com base na analogia, não
estará realizando qualquer operação lógica de dedução, mas sim criando normas
dentro do espaço de discricionariedade que lhe foi conferido. A tradicional ideia
de que o juiz, em sua atuação, não teria poder discricionário, pois estaria
vinculado ao “espírito da lei”, nada mais é do que uma ficção com fins meramente
ideológicos. Para Kelsen (1986, p. 345/347),
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Para Kelsen, portanto, as regras e leis da Lógica formal somente seriam aplicáveis
às proposições da Ciência do Direito (ou seja, à doutrina). Às normas, em especial
à sua aplicação judicial (jurisprudência), a leis e regras da lógica formal,
especialmente o princípio da não contradição e a regra da conclusão a partir de
um silogismo, não seriam aplicáveis.
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Segundo Siches, seria um grande erro pretender tratar o Direito com os métodos
da lógica tradicional, dado que os pensamentos dos operadores do Direito, sejam
legisladores, sejam juízes, advogados ou filósofos do direito não constituem um
pensamento sistemático, mas um pensamento construído sobre problemas. Por
essa razão ele sustenta que
A lógica do razoável, portanto, é uma lógica material, ligada não ao estudo das
conexões ideais entre as proposições e das correções formais das inferências, mas
sobretudo voltada especificamente ao tratamento dos assuntos humanos, como a
economia, a política e o direito. Siches defende que todos os métodos de
interpretação tradicionalmente defendidos pela doutrina (gramatical, histórico,
analógico, teleológico, sistemática, etc.) são meros recursos técnicos utilizados
quando o jurista sente a necessidade de justificar uma dada interpretação que lhe
parecia justa, quando na verdade, “a única regra que se deve formular, com
validade universal, é a seguinte: o juiz deve interpretar, sempre, a lei de modo que
leve à solução mais justa dentre todas as possíveis [...]”(apud PRADO,1995, p. 66).
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Ao juiz e mesmo ao legislador não interessa a realidade pura, mas sim decidir
sobre o que fazer de certos aspectos de determinadas realidades. E, precisamente,
os aspectos que dessas realidades interessam acham-se interligados com critérios
estimativos. O que ao juiz cabe averiguar é se a valoração, que serviu ao legislador
como determinante do preceito inserto na norma, seria aplicável ao novo caso
colocado.
Daí que o cerne da criação legislativa não é o texto da lei, mas os juízos de valor
que foram acolhidos pelo legislador na elaboração da norma. Assim, o juiz, ao
decidir um caso concreto, frente a situações particulares, deve atentar para os
valores que guiaram o legislador. Siches (apud Manson, 1977, p. 204) exemplifica
essa forma de atuação retomando o caso narrado por Radbruch, ocorrido na
Polônia, em que, numa estação ferroviária onde havia um cartaz proibindo a
entrada de pessoas com cães, certo dia chegou um camponês trazendo consigo um
urso. O funcionário da estação proibiu o camponês de entrar, ao que este
protestou, alegando que o cartaz proibia unicamente a entrada de cães, fazendo
surgir um conflito quanto à aplicabilidade da norma ao caso.
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Na teoria do Direito por ele desenvolvida, Robert Alexy sustenta que a dogmática
jurídica (isto é, a “Ciência do Direito” ou a “Ciência jurídica”) em grande medida é
uma tentativa de se dar uma resposta racionalmente fundamentada a questões
axiológicas que foram deixadas em aberto pelas normas existentes (2008, p. 36).
Vale ressaltar que para Alexy essas três dimensões da dogmática devem ser
combinadas se o Direito quiser cumprir sua função sua função prática, qual seja, a
de responder, em face de um caso real ou hipotético, aquilo que deve ser, posto
que “combinar as três dimensões é uma condição necessária de racionalidade da
ciência jurídica como disciplina prática” (ALEXY, 2008, p. 37). Alexy se
contrapõe à visão que resume a dogmática jurídica a um conjunto de operações
lógico-dedutivas, afirmando que
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Para Alexy, essa distinção não é feita em função de uma diferença de grau, ou seja,
não se diferencia uma regra de um princípio em função do “grau de importância”
ou do “grau de abstração” das normas, mas em razão de uma qualidade da norma.
Os princípios, assim, são normas que ordenam que algo se realize na maior
medida possível, em relação às possibilidades jurídicas e fáticas. São, portanto,
mandamentos de otimização, caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus
variado, dependendo o seu cumprimento não só das possibilidades fáticas, mas
também das possibilidades jurídicas (ALEXY, 2008, p. 90).
Por outro lado, as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não
satisfeitas. Diferentemente dos princípios, aplicam-se na maneira do “tudo ou
nada”, de modo que se uma regra é válida, deve ser aplicada da maneira como
preceitua, nem mais nem menos, conforme um procedimento de subsunção
silogístico. “Regras contém, portanto, determinações no âmbito daquilo que é
fática e juridicamente possível. Isso significa que a distinção entre regras e
princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau.” (ALEXY,
2008, p. 91).
Ocorre, entretanto, que essa classificação das normas é ainda insuficiente para
garantir a racionalidade nas justificações das decisões jurídicas. Isso porque:
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Tem-se, pois, que Alexy amplia o conceito de norma e, sem negar a importância da
lógica formal (especialmente no que toca à justificação interna dos silogismos
realizados nas aplicações das regras), reconhece a existência de uma categoria de
normas cuja aplicação não se dá por subsunção, o que, todavia, não implica que se
esteja abrindo espaço para o irracionalismo, dado que a vinculação às regras e
formas de argumentação racional garantiriam a possibilidade do controle racional
da justificação das decisões.
CONCLUSÃO
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A Lógica jurídica, por óbvio, mesmo a despeito de ter uma íntima ligação com a
pretensão de correção (segundo a visão procedimentalista de Alexy), não pode
garantir, por si só, que a decisão tomada seja a mais acertada ou mesmo a mais
justa. Entretanto, o desrespeito às suas regras é suficiente para que desde logo se
possa afirmar a incorreção da decisão adotada. O papel da Lógica jurídica,
portanto, consiste não só em garantir a possibilidade de que as conclusões
silogísticas, quando cabíveis, sejam corretas, mas também, e fundamentalmente,
em possibilitar que as escolhas das premissas sejam feitas de forma racional e
justificada, garantindo que o Direito possa efetivamente ser qualificado como
Ciência e possibilitando que se exerça um controle mais apropriado das decisões
jurídicas.
REFERÊNCIAS
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Interpretação. Revista AJURIS, v. 16, n. 45,
1989, disponível em
<<www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/.../INTERPRETAÇÃO.doc>>. Acesso
em 20.05.2011.
BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. 11ª. Ed. São Paulo: Hemus,
1995
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. São Paulo: Max Limonad, 1995
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______. Roteiro de lógica jurídica. 6ª. edição. São Paulo: Saraiva, 2009
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Por que ler Kelsen, hoje. In COELHO, Fábio
Ulhoa. Para entender Kelsen. São Paulo: Max Limonad, 1995
______. Teoria geral das normas. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1986
______. Teoria pura do Direito. 6ª. Ed. 3ª. Reimpressão. São Paulo: Martins
fontes, 1999.
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NOTAS
[1]“A lógica é a força vital do Direito Americano. Caso após caso, promotores,
defensores, advogados e juízes se baseiam nas regras da lógica para estruturar
seus argumentos. Os professores de Direito, por seu turno, exigem que os
estudantes defendam seus argumentos com uma lógica identificável e coerente.
Atualmente, todos estamos familiarizados com a ótima frase dita pelo professor
Kingsfield no romance "The paper Chase": vocês chegam aqui com a cabeça cheia
de mingau, e saem pensando como advogados. (...) A lógica ancora o Direito. A
insistência do Direito em uma racionalidade explícita e clara afasta advogados e
juízes da possibilidade de fundar seus argumentos em palpites soltos, sem
princícios e descompromissados”. (tradução livre)
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[5]“(...) a lógica em sentido próprio não esgota o domínio do racional e por outro
lado a retórica e a argumentação em direito (incluindo também a interpretação
jurídica) não estão condenadas ao irracional (mas devem tomar cuidado para não
caírem nele). Em consequência, e levando em conta o caráter analógico do
conceito de lógica e do seu significado, é possível, seguindo o exemplo de
Perelman e de Gregorowicz, estender o nome de lógica jurídica ao estudo da
argumentação jurídica de caráter retórico e ao estudo das regras “extra-lógicas” de
aplicação do direito”. (tradução nossa)
[6]Vale ressaltar que aqui se procura discutir se os princípios e leis da lógica são
aplicáveis ao direito, e não se são, de fato, aplicados pelos operadores do direito
nos casos concretos. A questão relativa à efetiva aplicação não só pressupõe que a
aplicabilidade abstrata já esteja demonstrada, mas também implica
necessariamente numa incursão sobre as práticas jurídicas reais, empreitada
atinente ao campo da Sociologia jurídica que somente uma extensa pesquisa de
campo poderia enfrentar.
[7]São essas as razões que justificam, por exemplo, a escolha de Siches ao invés de
Chaim Perelman, dado que apesar deste último ter elaborado sua teoria com
profundidade consideravelmente maior do que Siches, as conclusões e as
premissas de ambos são bem parecidas e a lógica do razoável de Siches ganhou
projeção maior entre nós do que a nova retórica de Perelman. Também foi com
base nesses critérios que se optou pela análise da argumentação de Alexy à teoria
da interpretação de Dworkin, já que, apesar deles chegarem a conclusões
significativamente diversas em relação à correção e à existência de uma única
resposta correta, suas teorias apresentam muitos pontos de contato, notadamente
no que diz respeito à admissão de valores na análise normativa, à busca por
critérios limitadores e justificadores das decisões e a uma visão do Direito como
produto de uma construção interpretativa, sendo que Dworkin acaba por construir
um modelo de Direito como integridade (com a tese da única resposta correta
como critério substancial), ao passo que Alexy opta por um modelo procedimental
metodológico em que a análise lógica tem função extremamente importante, o que
o torna mais adequada ao escopo do presente trabalho. De qualquer forma, não se
desconhece o fato de que a escolha dos autores a serem analisados reflete também,
a par da limitação de espaço, uma opção feita pelo autor do artigo a partir de suas
preferências político-ideológicas.
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[10]“Há que se explorar a razão jurídica dos conteúdos das normas de Direito, o
que permite superar o abalo e a confusão que sentem muitos juristas ao
perceberem que a lógica tradicional quebra no mundo da interpretação e do
desenvolvimento do Direito. Sem embargo, essa razão jurídica material deverá
ser, ao fim e ao cabo, uma espécie da razão vital e história, melhor dizendo, uma
lógica da ação, a qual é razão, ratio, logos, conceito rigoroso” (tradução nossa).
[11]
De notar que a tese de Alexy diferencia-se da tese de Reale porque, enquanto
para Reale a tridimensionalidade é ontológica (o Direito é tridimensional), para
Alexy a tridimensionalidade é epistemológica, ou seja, o direito deve ser estudado
a partir dessas três dimensões (GUERRA FILHO, 1995, p. 152)
[12] “[...] o nível das regras e dos princípios não proporcionam um quadro
completo do sistema jurídico. Nem princípios nem regras regulam por si mesmos
sua aplicação. Eles representam apenas os pilares passivos do sistema jurídico. Se
se quer obter um modelo completo, deve-se agregar aos pilares passivos um ativo,
referindo-se ao procedimento de aplicação das regras e princípios. Portanto, os
níveis das regras e dos princípios têm de ser completados por um terceiro. Em um
sistema orientado por um conceito de razão prática, esse terceiro nível pode ser
apenas o de um procedimento que assegure a racionalidade. Dessa maneira, surge
um modelo de sistema jurídico que pode ser chamado ‘modelo de
regras/princípios/procedimento”. (tradução nossa)
ABSTRACT: This article deals with the relationship between logic and law, and
starts questioning the ideas that the law is a logical system and that the
application of the laws to a specific case is merely a simple logical-deductive
operation. It is defended that the adoption of an broader concept of logic, which
includes not only formal logic but also the non-deductive reasoning, would allow
to overcome the controversy about the existence of a legal logic, showing its
existence as a branch knowledge with an object wider than the one of the formal
logic, embracing, besides the strictly logical-formal procedures such as deduction
and induction, extra-logical methods to justify judicial decisions, such as analogy
and rhetorical arguments. It analyzes the role of principles or laws of logic in legal
processes of rational justification of judicial decisions in pure theory of law of
Kelsen, the logic of reasonable Recasens Sicher and argumentation theory of
Robert Alexy.
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Autor
Marcio Luiz Coelho de Freitas
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