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Oavid Lapoujade
Todos sabemos que a violência circula por todo o campo social sob
as mais variadas formas, às vezes direta e explícita, outras vezes indireta,
encoberta, implícita e sorrateira, às vezes física, outras vezes mental.
Não vem ao caso descrever todas essas formas de violência, seria uma
tarefa interminável. Tampouco tenho a pretensão de agrupar todas as
uas manifestações sob uma definição geral que se pronunciaria sobre o
que é a violência, em si e por si mesma. A violência não existe. A violência
. sempre qualificada, nunca qualquer, sempre já tomada na percepção
ti' um campo social que a codifica ou a qualifica, mas que sobretudo a
distribui. Nesse sentido, as definições da violência são sempre já políticas
l' estratégicas.
esse ponto de vista, podem-se distinguir dois aspectos da violência.
I k um lado, a violência enquanto exercício de uma relação de força, força
I ,cn u mental, a violência enquanto relações entre corpos (em todos
1I • cntidos da palavra corpo, não apenas corpo físico, mas corpo social
1111 corpo oletivo). Esse aspecto diz respeito ao poder e às relações entre
jllldt'r ·S.M s há necessariamente um segundo aspecto: pois essas relações
1I 1 ('lllpr' dificadas, submetidas a regras ou normas que distribuem
( po I 'r 'S essas relações de força num campo social dado. É sobretu-
II1I (' Ii [lstribui ão da violência através do campo social que eu gostaria
di I 11111 1l111', P rque ela tem a ver com a maneira pela qual a violência é
IIIIIII( \UI.I, qunlif ada, mas também percebida.
" 111111.1" " •• l"I'Hrllll' rIO uio,ilOduintlo os ítaçõ s de obras feitas pelo autor, é de Paulo Neves.
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Por exemplo: como se pode dizer de um ato violento que ele é legí- quantidade inimaginável de sofrimentos, de torturas, para que os homens
timo, enquanto outro ato, às vezes da mesma natureza, será considerado constituíssem os laços sociais que os vinculam, para que obedecessem a
ilegítimo? Seria preciso fazer perguntas de criança: como explicar que o regras, para que se fizesse do homem um animal capaz de prometer. Se
fato de agredir alguém na rua e de lhe roubar todos os seus bens seja cabe fazer a genealogia disso, é precisamente porque tais violências foram
considerado uma violência ilegítima, um ato criminoso? Como explicar, esquecidas, como que dissimuladas por seu caráter natural e sua ances-
inversamente, o fato de que despedir alguém, levá-lo talvez à ruína e à tralidade. É uma violência que sua repetição naturaliza e torna invisível.
miséria, a ele e a seus familiares, não seja considerado violência ilegítima Reencontramos as mesmas observações em Marx, em O capital, acerca
c nem sequer violência? Não se trata de mergulhar na demagogia dessa da extorsão da força de trabalho nos primeiros tempos do capitalismo.
questão, mas de ver que ela supõe necessariamente uma partilha, uma Ele mostra como a população dos campos, violentamente expropriada
distribuição da violência social a que se dá o nome de direito. De um lado e reduzida à vagabundagem, primeiro foi submetida à disciplina que o
os poderes, de outro o direito que os distribui. Desse ponto de vista, é um sistema do assalariado exige "por leis de um terrorismo grotesco, pelo
rro opor sumariamente o discurso à violência, dizendo que a violência chicote, pela marca do ferro em brasa, pela tortura e a escravidão'", Mas,
o antilogos, a negação de toda forma de discurso. À forma pacificada, acrescenta em seguida Marx,
n gociadora do discurso, pretende-se opor o mutismo dos corpos e a bru-
talidade dos golpes. Sabemos bem, no entanto, que os discursos podem forma-se uma classe cada vez mais numerosa de trabalhadores que,
s .rvir para legitimar certas formas de violência e que constituem assim, graças à educação, à tradição e ao hábito, aceita as exigências do regi-
,I s próprios, uma forma de violência. me tão espontaneamente como a mudança das estações [...]. Às vezes
Pode-se dizer que eles buscam explicar, legitimar ou justificar os atos ainda se recorre à coerção, ao emprego da força bruta, mas só excepcio-
de violência. Justificar deve ser tomado aqui no sentido mais literal: é nalmente. No curso ordinário das coisas, o trabalhador pode ser aban-
pn.' iso tentar explicar o que um ato de violência contém de justiça. Nesse donado à ação das "leis naturais" da sociedade, isto é, à dependência do
sentido, justificar deve ser compreendido como um verbo milagroso. Ele capital, engendrada, garantida e perpetuada pelo próprio mecanismo
transforma em justiça aquilo que ele explica. Então se adivinha facilmente da produção'.
n finalidade desses discursos: eles querem fazer desaparecer a violência,
r -qu lificar a violência como justiça. Não há mais violência, há somente Assim como em Nietzsche, o modo de funcionamento capitalista
uçõ 's de justiça e operações policiais (a serviço da justiça). Em outras tornou-se tão natural como a presença das árvores ou do céu, e mesmo
pnI.vras, a violência nunca está do lado da violência legítima, mas sempre suas extorsões fazem parte de um sistema legitimado por sua simples
do urro lado - revolta, insubrnissão, insubordinação, protesto -, razão existência. A violência nunca está no seu campo, mas do lado dos que
pela qual, aliás, se deve exercer a justiça legitimamente. É o que vemos: a querem sabotar as máquinas, assaltar os depósitos de mercadorias, esva-
viol n ia legítima é uma violência que busca desaparecer como violência. ziar as fábricas.
Os dis ur os buscam negar essa violência, pela simples e boa razão de que Não se trata de dizer que as sociedades civilizadas demonstram tanta
il vlol .n ia nunca está do seu lado, é sempre atribuída ao outro lado. Essa selvageria e barbárie (ou até mais) quanto as sociedades ditas bárbaras ou
I 16 yj do Estado ou dos aparelhos de poder: não somos violentos, a selvagens. Desde muito tempo tem-se denunciado a violência das socie-
vlol nri; v m mpre de fora. d d s ivilizadas. O que importa aqui é a escamoteação dessa violência,
m grand número de filosofias pro ur LI r v lar ssa vi I êncir
(I( tdla ou invisívr]. I qu m sira à suz mr ncira Ni .tzschc, na S j.?,lIndn ~. K"Ii M,"" I.d'II/"III/. 1011l<' " I'url : 1,11 111lod,', '969, pp, 11956. Hdl 'o brasil .ira: o cnpllnl, livro " São
P,I\II" I\nlll'1I11H1. JCII'
dINS('I't,I~'a() d,l (;(,/1cfllo.~i{/ d(/ momt, quando diz que foi lH'rt'I'S(II'i,1 lIlI\:I I 1/""1'111
significa aqui capturar. Não se trata apenas de capturar o que já existe, a ordem da qual doravante são os únicos fiadores.
como se capturam cavalos. Trata-se de assegurar o monopólio da violência. De certa maneira, o que está em questão aqui são os fundam nto,
O déspota, o rei e o soberano são depositários de toda a violência social, da soberania política. Mas a questão nada tem de abstrata. A qu stão d().
de tal modo que ninguém mais tem o direito de exercê-Ia. É a própria fundamentos não é uma questão teórica. Ao contrário, trata-s' muhu
definição da soberania. A violência não é mais um poder que cada um pode concretamente de impor um novo tipo de espaço-tempo. De fato, v N!
exercer, que pode circular entre indivíduos ou grupos em conflito. De claramente que o tempo muda. É uma espécie de temporalídadc dupl.l
direito, essa violência não mais lhes pertence; pertence agora ao déspota, De um lado, cada um de nós está sempre já despojado de S LI POt!t'I',
o único a possuí-Ia legitimamente, a tal ponto que, se vierem a exercê-Ia, em conformidade com a instauração mitológica. Houve uma primehu
isso constituirá uma ofensa ao soberano. O Estado se funda sobre esse v z fundadora, mas num tempo vertical, num tempo anterior a tempo,
desapossamento da violência. um prim ir d sapossarn nt , mas que s r p te a ada dia no t 'l1Ipn
Mais ainda, o aparelho de captura preexiste, de certa maneira, àquilo r n I gi h riz ntal. ix t mp ral v rti ai ntinua c r .ssour (' ,I
que ele captura. Esse é o sentido particular que adquire a palavra captura se T 'rH.' I ir 11( -ixo horlzomnl ronológ: 0, 01110 S cada Estndo, IlH'NIIlII
em Deleuze e Guattari. O Estado não pod nt ntar m apt LI!", r IllOd('I'nO, ('ontillllilSS(' ,\ ullmontur Ill1\hi( )t's lm] l'l'inis lll't'lIkilS 011,1'(,111
que já existe. Pois de ond tiraria I1t5) sut I 'gitimidn Il? Sl' 1I1ll'1 roi. li 11\('111)" ,I I'II'Sí'I'V,I1 III)\il IW'IIII d(', 01H' I'il 111.1. () !l, Lido 1(' \IIZII (", I" 1"0
IIIIV1tl111l1l1lilllllll
1111111111'1 Vllllnlll 111 11II1111111111111111111 111
platôs, distinguem sentimento de afeto. Eles veem aí uma distinção análo-
civilizações venceram, já antes de terminar o século XVIII, tanto rn p('
ga à do trabalhador e do guerreiro (como os dois estados do empregado
quim como em Moscou, tanto em Delhi como em Teerã'". Mas a pólvnr 1
despedido de Margin Call).
de canhão não basta para explicar esse desaparecimento. É que, paral 'I"
mente, a máquina de guerra deixa de ser exterior ao Estado, que cons 'gll('
o sentimento implica uma avaliação da matéria e de suas resistências,
apropriar-se dela sob a forma da instituição militar ou do exército r gulm
um sentido da forma e de seus desenvolvimentos, uma economia da
Ele se apropria não só da violência, mas de uma capacidade de destru j~"1(I
força e de seus deslocamentos, toda uma gravidade. Mas o regime da
guerreira permanente (da qual era desprovido, ele que precisou fi 1"111.11
máquina de guerra é antes o dos afetos, que remetem apenas à motiva-
exércitos). Mas a função da máquina de guerra se modifica igualm '111(';
ção em si, a velocidades e composições de velocidade entre elementos.
ela não está mais a serviço de uma fúria sem objetivo. Daí por diam \ t('I"1
O afeto é a descarga rápida da emoção, a resposta pronta, enquanto o
um único objetivo: a guerra e a destruição das forças inimigas. Se antes .1
sentimento é sempre uma emoção deslocada, retardada, resistente. Os
máquina de guerra podia dar a impressão de estar a serviço de uma livn-
afetos são projéteis da mesma forma que as armas, enquanto os senti-
circulação dos nômades por uma terra sem limites, isso não mais acont ('('(-
mentos são introspectivos como as ferramentas'.
com sua integração no Estado; daí por diante ela estará a serviço excllISivl)
da guerra e das conquistas territoriais.
Assim se compreende talvez melhor o que está em jogo nos textos
Essa história da violência nos é familiar, já que é a história mod rnn
mitológicos, aparentemente tão distantes de nós, mas que nos concernem
dos Estados-nações que não cessaram de fazer guerras entre si cada v 'Z
de perto. Compreende-se que as máquinas de guerra tenham sido a preo-
mais mortíferas, cada vez mais devastadoras, até as guerras ditas totais do
cupação permanente dos aparelhos de Estado. O que pensar de forças que
século xx. É que as guerras, cada vez mais, revelam sua subordinaçã ao
desorganizam a ordem, a composição do espaço-te~po deles? Quem con-
sistema capitalista: não se trata mais apenas de vencer o exército inimi
testa sua origem e a legitimidade de sua soberania? E o que se compreende
é preciso destruir a economia, a infraestrutura do país, ocasionando 111
ainda mais quando se sabe que grandes impérios foram riscados do mapa
pre um número maior de mortos nas populações civis. Capturada pios
por prodigiosas máquinas de guerra nômades (sociedades sem Estado),
Estados, a máquina de guerra não tem mais a forma de exterioridad que
como TamerIão e Gengis Khan. Tais máquinas de guerra são poderosas
tinha em sua primeira forma (embora tenha havido o retorno nazislU.
máquinas destruidoras, ora positivas, ora negativas, que vêm sempre de
no qual a máquina de guerra se apoderou do aparelho de Estad pnru
fora. Convém distinguir aqui o fora de uma exterioridade qualquer. Quando
levá-lo a uma destruição suicida. É o que se lê numa estranha conven I
dois Estados se enfrentam ou travam uma guerra, trata-se de uma questão
mencionada por Borges6).
de política externa. Mas as tribos ou as máquinas de guerra não têm lugar
Em sua apresentação do ciclo de conferências deste ano, Adau; No
fixo algum; é como se viessem de parte nenhuma, fora das relações entre
vaes lembroucom razão que a grande guerra de 1914-18 não t rrninou,
os Estados. Isso é tanto mais verdadeiro na medida em que elas contestam
na medida em que é uma guerra que celebra a subordinação do swdo
com toda a sua força os espaços-tempos englobantes dos Estados.
às exigências do capitalismo. Mas talvez se deva sublinhar a rnutacã qUI'
Contudo, essas grandes máquinas de guerra nômades desapareceram
começou a se produzir no final da Segunda Guerra Mundial, que ntlo
definitivamente por volta do século XVII. Como diz Fernand Braudel, "a
pólvora de canhão triunfou sobre a rapidez delas", acrescentando que" as
5· F rnüud Br""d '1, Ivillsalloll "'flIrriclIl", deoll"",/c ri alllllllls"'l", xl" xvut' slfelt, v. !, 1"111. : /1"",11,,1 ,III1It"
'979, p. 7', Ildlç li hr sllelrn: 'Ivll/U/flo IIII"t·,/al, r ""o",/a (' 1'1I/,11111111I"': ~""U! rv VI/I () 11'11I1'11 '/11
""ouln, vol "S () P~llllo;W~tII M"llln Funlc'x, J(}OI)
4· Gilles Deleuze c Pélix uauari, Mil/c p/lllel"''', p"I"i~: Mlnuh, '9Ro, pp, 440 c '197 R. IIdl'il "IW.1SIit'It·.1: Mil
p11ll6s,SIO I'alllo: IIdllo"" !4, '9'1~, (I, () 1111111","IIV,'vl'lm"II/" ,. 11·1"11' 1111,1111," "I )"," ,I •••• 11''101''11'" d,' /"'11" I 111. 11,,,11"., 1"1""""1,, 1111
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1I
as grandes potências deixaram de fazer guerra diretamente entre si. É
Tudo se passa como se o capitalismo reencontrasse algo da ambiç5(
como uma nova mutação da máquina de guerra ou uma nova idade. Na
imperial de que falam os mitos. Não se trata mais de reinar sobre uma t I'
primeira, a violência da máquina de guerra pertence antes de tudo aos
ra extensa e de traçar imperiosamente seus limites. Trata-se de engloba I' n
nômades. Na segunda, os Estados se apropriam dela através da instituição
terra inteira, de cingi-Ia para vigiar e controlar todas as suas partes. Se 11:. (l
militar e dos combates armados. Mas chega uma terceira idade em que o
há mais poder central, é precisamente porque se trata menos de reinar
capitalismo, com o apoio dos Estados, deixa de fazer a guerra.
sobre uma terra limitada do que controlar os indivíduos que a povoam,
Claro, continuam existindo guerras locais, sempre devastadoras. As
Não se luta mais contra a população de um país, caçam-se indivíduos dl'
grandes potências guerreiam entre si através de países interpostos (como
um país a outro. O modelo que tende a se generalizar é o da luta antit I'
foi o caso do Vietnã); mas ao mesmo tempo se desenvolve uma estranha
rorista. É o que mostra Grégoire Chamayou num livro notável, Th.éorlc
paz, fundada num poder de destruição sem precedente, como uma vio-
du drône (Teoria do drone). A ocupação da terra não importa mais, o que
lência muda inédita: a da dissuasão nuclear. Pode haver guerras, mas elas
importa são os indivíduos, suas redes ou sua importância no seio d ssn
se fazem no interior desse equilíbrio mortífero, como um novo funda-
ou daquela rede submetida à vigilância. Tal é o novo englobamento: nr ()
mento e uma nova paz que faz de cada um de nós, desde o nascimento,
mais circunscrever limites como fazia o agrimensor romano, não mais
um sobrevivente ou uma vida em sursis. Pode-se mesmo dizer, como o
cercar ou demarcar o espaço, mas reconstituir um espaço liso englobam'
fazem Deleuze e Guattari, que as guerras locais que continuam a se pro-
(que passa pelo mar, pelo céu ou pelos circuitos informáticos) capaz d '
duzir no globo são partes de uma paz global aterrorizante.
envolver a terra e de controlar a circulação e a atividade das populaçõ s,
Reencontramos algo da mitologia inicial: uma espécie de fundamento
Trata-se de englobar o espaço a fim de identificar os indivíduos criminos s
que captura todos os poderes de guerra para fazer reinar uma estranha que nele circulam (como fazem os drones).
paz. Como o mostram Deleuze e Guattari, a nova máquina de guerra que
Que o poder da nova máquina de guerra não mais se exerça de mal) i.
se instaura e se desdobra após a Guerra Fria não tem mais a guerra como
ra visível, em relação a um território, significa igualmente que não se p de
objeto ou objetivo, mas sim a paz, uma estranha paz de terror. É como
mais remontar a um poder central, por mais distante, por mais eleva 10
uma terceira guerra mundial, mas concebida como paz perpétua, me-
que seja. Os centros de poder não são mais distantes, são inapreensív is,
diante a organização de uma segurança pública e de uma ordem policial
fugazes. Há cada vez menos autoridades para (ou contra) as quais s vol
inédita, ao mesmo tempo local e global. Nunca os homens foram tão
tar. Há antes uma multiplicidade qunls
de sistemas de controle contra S
vigiados, controlados, suspeitados, como se a cada passo que dessem
nada podemos, pois são automatizados e contêm de antemão t dns IS
estivessem transpondo um posto de fronteira. Trata-se de uma máquina
instruções às quais devemos nos submeter imperativamente; d modo
de guerra ainda mais imperceptível porque ela não faz mais a guerra.
que não sabemos mais contra quem dirigir nossa cólera. Lidam fi CO!1\
Como os novos poderes não são mais políticos e militares, de ago-
uma cólera que não pode se organizar em conflito, por falta de adversários, dt'
ra em diante importa menos investir no armamento ou na organização
inimigos ou de responsáveis. Que toda violência tenha se tornado in p s
militar (embora isso sempre faça parte das prioridades) do que conduzir
sív 1, eis aí-urna forma de violência muito contemporânea, ins par. v I 1(,
uma política policial e de segurança. As novas formas de violência se dão
lima polítí a pr v ntiva 11 ralizada gu busca se pre aver ntra todo
menos no confronto entre exércitos do que entre vastos mecanismos de
ris ,t d transb rdam nto, ant ip I1d t d at criminoso.
segurança e de controle, de um lado, e populações quaisquer, de outro.
11111'50 não' difi il v r qual vi 1'nela S m qu n V() .spu o
O inimigo não é mais circunscrito, está potencialm nt m t Ia part .
I('mpo 'Stil1110S nWl'glllh Hlos, Um ('S])ll(;O n 10 V<'%l110is li"lj mcnuulo,
A paz substituiu a guerra as p ra Õ s d poli ia substitucn adn WIr,
11111 1l'll1pO St'll1 dlll'il~' O, íluxo de PI'('St'I1I('S qll(' ,~(' ,~Ohl'('P x-m ('()IIlO 1111
mais as P rações militnrl'S n mellOS que elas vcnhum n S(' rOll/'ul\dir.
t 1'0. I Illlos 11111('1' IllvII "I \('ndl' H111, , 11111 I I" P '( lI' dI' 1I (,1"1' 1\' 10 1/111' tlf','
11I II'IVIIII'III"III'III"
vllllr1111'111111111111111111111111
111111111I11 11
como uma violência invisível, mas incessante. A ironia desse novo espaço-
e abstrato, simples vestimenta ideológica (como os direitos humanos) , I'" I
-tempo é que ele repete, sob uma forma infelizmente rica de futuro, algo
pre refugada pela inércia. Nesse ponto, certas violências devem S 'I" vh 111
do mais longínquo passado. Ele perpetua a mitologia de um império do
como extremamente preciosas; pois elas constituem verdadeiras fOI\'o d,
qual toda violência estaria ausente, conjurada, posta para fora - mas que
oposição, as únicas capazes de engendrar novos discursos e de insta li 1'.1
I
fora? - por meio da violência que ele exerce sobre os indivíduos, uma
talvez-novos direitos, os novos modos de organização e os novos I11IHIII,
violência que não se chama mais violência, mas ordem ou justiça. Sob mui-
de existência do amanhã. Mas isso só é possível se a violência for vistu 111111
tos aspectos, a ausência de violência que nos impõem é um meio de nos
apenas como uma força, mas como uma expressão, a tarefa sendo ('111.111
privar de nossa capacidade de protesto. É o que eu gostaria de mostrar.
determinar o que, justamente, ela exprime com tanta força. É sob 1\ 11
Não só não devemos mais nos opor ao sistema, mas devemos mostrar
condição que a máquina de guerra volta a ser positiva, volta as,' 1111111
que estamos integrados nele, que aderimos a seus valores, a seu modo de força de destruição, de desorganização positiva.
funcionamento. O espaço-tempo no qual vivemos, as acelerações dos rit-
Claro, as coisas continuam. Só que, com a Guerra Fria, des nvol v, 11
mos de vida a que somos submetidos, fazem que nossos espaços-tempos
-se outra coisa que indica uma mutação nesse confronto. Certal1l\'llll'
sejam cada vez mais sufocantes, não havendo lugar nenhum para nossas
prosseguem as guerras, sempre atrozes, embora ocorram noutras plll'l I' ;
violências, de antemão desativadas. Desse ponto de vista, o trecho de
aliás, elas se tornaram partes de uma nova paz mundial. A rnáqutnn di
Margin Call que mencionei não ilustra apenas uma espécie de conflito
guerra não é mais a dos Estados, embora os Estados participem d 'Ia ,111
arcaico entre um aparelho de Estado que constitui o si e uma máqui-
vamente. Se a situação mudou, é também porque a soberania dos SI,Idl \,
na de guerra que nos arrasta para o fora de si. Ele mostra também um agora está subordinada à expansão do capitalismo mundial.
mecanismo de poder que tenta controlar todas as reações possíveis do
A hipótese de Deleuze e Guattari é decisiva, desse ponto d vlstu:
interlocutor, antecipar sua incompreensão, suas perguntas, que controla
o objeto da nova máquina de guerra não é mais a guerra, é a paz, UIlI,I
a duração da conversa, que o priva de suas redes (confisco do acesso ao
estranha paz de terror ou de sobrevivência, testemunhada pelo ntrok:
computador e ao telefone), toda uma gestão do risco como atentado-
sempre crescente dos indivíduos. É que o inimigo não é mai h '/1'
ou violência - dirigido ao sistema em questão. É como uma tentativa de
de guerra, é potencialmente qualquer um. Assim como a paz ubsurul ,I
neutralizar toda violência.
guerra, a polícia substitui o exército. Trata-se de um novo espaç -t 'mpo.
Ora, são esses limites, justamente, que o personagem ultrapassa por
Mas, se o Estado tinha ainda um fundamento, se era o fundam 11\()dll
um breve instante. Sua cólera faz com que por um instante ele passe para organização social, sabemos agora que não há mais fundam nt ,
o outro lado. Não é nada de extremo, não se trata de uma experiência
A violência das guerras por muito tempo se associou a um 'I\P,I\ I1
limítrofe. Só que ele não se alimenta dessa cólera, como também não dá
político no qual se disputavam territórios. Por muito tempo a OCUP,I
a ela os meios de se organizar. E, quando novas forças se manifestam, ele
ção constituiu um objetivo militar: ocupar o espaço, colonizá 10 P,II'.1
não as reconhece. Elas não criam uma nova zona de direito para ele que,
lutar contra populações insurrecionais. Mas o que importa agora u.lo
a seguir, abandonará essas forças para traí-Ias. Ele deveria tê-Ias organi-
lutar contra populações,1J1as contra indivíduos. O mod I não' I",ti
zado, dando-lhes uma consistência, uma forma, um prolongamento etc.
da ntra-insurreição, mas o da Iuta antíterrorista. C m dizem 1)1'
Reconhecer essas forças de protesto não é contestar o direito, mas obrigá-
I 'lIZ lIaLL,ri m Mil plaiôs, " salvos nã sã m is adv rsários, 111,1.
-10 a mudar para que as forças se redistribuam de outro modo. Pois uma criminosos a liminar,"
força não pode organizar-se no campo social sem um direito do qual s
valha; ela tem necessidade del par nstruir um pa d 111su ã .
Inv rsarn nt ,um dir it S .m pr der, ~ m essas forças passionnis, (, Víll';io