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Parte 1
Alfredo Marcos
1
Aristóteles. Ética a Nicómaco, 1103b 32 e ss.
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pode dar origem a injustiças maiores. Por sua vez, a prudência e a equidade
não podem ser reduzidas a princípios gerais, porque são saberes vivos.
Poderíamos perguntar:
Não podemos, nem devemos deles prescindir, mas sem uma discussão
racional não é possível decidir corretamente sobre os problemas básicos nem
sobre os conflitos.
2
Além disso, estes três objetivos podem entrar em conflito e ameaçar-se
mutuamente, de maneira que às vezes tenhamos que decidir entre um ou
outro, ou conciliá-los criativamente: para manter a diversidade ou a limpeza
pode fazer falta a intervenção humana, com a qual se reduz o caráter natural
de um meio envolvente.
Quais têm valor e porquê e como se pode comparar esse valor com o
bem-estar dos seres humanos quando há que conciliar ambos?
O que vale mais, um indivíduo com maior valor intrínseco (por exemplo,
um primata) ou um vivente que pertença a uma espécie em perigo de extinção?
3
Parte 2
O Antropocentrismo proclama o primado absoluto do homem sobre a
natureza e o seu direito a dominá-la. Nega qualquer caráter moral à relação
entre o homem e o resto dos seres naturais.
4
As práticas antropocêntricas utilizadas por algumas empresas nem
sempre são claramente brutais. Pelo contrário, às vezes são compatíveis com
um certo verniz ecológico que as torna socialmente respeitáveis.
Parte 3
Alguns críticos do Antropocentrismo, como Peter Singer e Tom Regan
propõem também estender a consideração da relevância moral a todos os
seres sencientes, ou seja, a todos os seres que sejam capazes de sofrimento,
incluindo desejos e frustrações.2 Singer e Regan, portanto, são parcialmente
Biocentristas.
2
Singer, Peter. Liberación animal. Trota: Madrid, 1999; Regan, Tom. The Case for Animal
Rights. University of Califórnia Press, 1983.
3
Rolston III, Holmes. Environmental Ethics. Duties to and Values in Natural World. Temple
University Press; Philadelphia, 1988, p. 93.
5
os animais, e quase nada diz diretamente sobre problemas como a
contaminação ou as alterações climáticas. Pelo contrário, os Biocentristas
propõem uma reforma muito mais radical da Ética, um novo pensamento ético
integral, que enfrente os problemas ambientais, que inclua até uma nova idéia
do que é a vida boa.
4
Cfr. Des Jardins. Environmental Ethics. Wadsworth: Belmont, 1067, pp. 130-1.
6
apenas sentimentais ou intuitivas ou místicas, a natureza intrínseca do valor
dos seres vivos?
Há que ter em atenção que do fato dos seres vivos não terem interesses
próprios não se segue que tenham direitos. Os direitos são considerados mais
como interesses que foram reconhecidos como legítimos no seio de um
sistema de regras capaz de resolver conflitos entre direitos que se opõem.
5
Goodpaster, K. E. “On being Morally Considerable”. In: Journal of Philosophy, 75/6, Junho,
1978m, pp. 308-25.
6
Mosterín, Jesús. Vivam os Animais! Debates: Madrid, 1998.
7
como da sua individualidade única, que persegue o seu próprio bem à sua
maneira”.
7
Taylor, P. W. Respect for Nature. A Theory of Environmental Ethics. Princeton University
Press: Princeton, 1986, pp. 128-9.
8
Idem, p. 129 e ss.
9
Rolston faz aqui uma ressalva. Considera que os seres que sejam capazes de dar-se conta
do seu próprio bem, têm mais valor.
10
Idem, p. 263-306.
8
Os outros quatro princípios (proporcionalidade, mal menor, justiça
distributiva e justiça retributiva) servem para resolver conflitos menos graves.
Baseiam-se na distinção entre interesses básicos e interesses não básicos.
Parte 4
Apesar do biocentrismo ampliar de forma apreciável o âmbito da
consideração moral e supor, nas suas versões mais completas, uma alteração
filosófica profunda, foi criticado por ser limitado e individualista.
A ênfase dada por Taylor ao valor dos organismos individuais, cada qual
em prol do seu próprio fim, acaba por ter como efeito a fixação excessiva nas
relações conflituosas. A sua ética corre o risco de deslizar para uma coleção de
indicações procedimentais para a resolução justa de conflitos entre indivíduos.
Deste modo, perde-se de vista as relações ecossistêmicas de cooperação e
dependência mútua. Segundo Taylor, não temos deveres diretos para com os
ecossistemas, as espécies ou seres naturais não vivos.
11
Jonhson, L.E. A Morally Deep World. Cambridge University Press, 1991; Rolston III, Holmes.
Environmental Ethics. Temple University Press, 1988.
9
Tais posições podem denominar-se de ecocentristas. O ecocentrismo
inspira-se, obviamente, na ciência e na ecologia, e nas entidades e relações
que estas nos ajudaram a conhecer e apreciar.
[a] uma metafísica que nos fala do estatuto ontológico das espécies, dos
ecossistemas, dos processos e das relações que ocorrem na natureza;
[d] e uma filosofia política que discuta a legitimidade das ações a favor
das entidades naturais e a justiça ambiental.
10
sucede com freqüência, ganharão sempre os mais materiais, os aparentemente
mais objetivos e quantificáveis. Deste modo, entre a preservação da harmonia
nas relações ecossistêmicas ou a beleza de uma paisagem ou a obtenção de
um maior rendimento industrial, está claro para que lado cairá a decisão.
11
biocentrista que pretenda reconhecer valor intrínseco às espécies deveria
começar por aceitar a sua condição de indivíduos. Todavia, o estatuto
ontológico das espécies é, no mínimo, um assunto problemático.
Parte 5
A Ética da Terra
14
Leopold, A. A Sand County Almanac and Sketches Here and There. Oxford University Press,
1949.
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forma, sem graça e em sentido literal, acaba por parecer um misantropo
ecofundamentalista.
É certo que chegou a escrever que “algo está correto quando tende a
preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica”15
Para ele seriam legítimos apenas os comportamentos que não interferissem
com o profundo equilíbrio das conexões naturais entre os seres. De acordo
com este pressuposto, o homem é considerado como apenas mais um. Um
ser, claro está, cuja ação pode ser justa ou injusta. Mas também é certo que
esta afirmação, tão frequentemente citada, tem um contexto pertinente para a
sua interpretação. Tentarei mostrar qual. O parágrafo em que aparece a
afirmação antes citada, diz o seguinte:
15
Leopold, A. Una Ética de la Tierra. Ed. Los Libros de la Catarata: Madrid, 2000, p. 155
(introduzi algumas modificações no estilo da tradução).
16
Idem, p. 155
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No sexto Inverno, o 65290 não apareceu, e a sua ausência nas
quatro campanhas seguintes confirmou o veredicto de que estava
“desaparecido em combate”. Apesar de tudo, 65290 foi o único […]
que mostrou engenho para sobreviver durante cinco Invernos. 3
duraram quatro anos, 7 sobreviveram três anos, 19 alcançaram os
dois anos, e 67 desapareceram depois do primeiro Inverno. Portanto,
se me dedicasse a vender seguros de vida a estes pássaros, poderia
calcular o prémio com total garantia. Mas colocar-se-ia o problema
seguinte: em que moeda se pagaria às viúvas? Imagino-me com
ovos de formiga […] Parece – especula Leopold sobre as causas de
morte – que o tempo é o único assassino e é tão desprovido de
humor e de sentido das suas proporções que é capaz de matar um
pássaro negro. Suspeito que a Escola Dominical dos pássaros
negros lhes ensinou os pecados mortais: não entrarás em locais
ventosos durante o Inverno e não te molharás antes da ventania.17
14
Encontramos um exemplo claro deste deslize na obra de Baird Callicot,
um dos discípulos de Leopold. Nos primeiros escritos de Callicot podemos
apreciar o mais cru fundamentalismo ecológico alimentado com todo o tipo de
afirmações misantrópicas. Para fazer justiça a Callicot há que reconhecer que
acabou mais tarde por recuar nas suas teses mais infelizes. De qualquer forma,
a interpretação filosófica que Callicot faz de Leopold continua a ser
tendencialmente ecofundamentalista (sob o nome de ”holismo”).
Marcos, Alfredo
Ética ambiental.
19
Por exemplo, Callicot, 1980 citado com aprovação por Eduward Abbey, segundo o qual os
veículos de resgate não deveriam entrar numa reserva natural mesmo que estivesse um ser
humano em perigo, e estava de acordo com Garret Hardin que considerava que era pior matar
uma serpente do que um homem. Em J. B Callicot, 1989. aparecem vários artigos de Callicot.
Na primeira parte pode seguir-se a sua evolução relativamente aos direitos e valores dos
indivíduos, desde as posições mais fundamentalistas do seu texto mais famoso de 1980, e aqui
reproduzido, até certa aproximação às teses a favor dos direitos dos animais de Regan.
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