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“euojouny apepuewu| © owod 2 wesadn9e as sosquiaus $0 OWOD e}U09 SOWUQUY SO211902/ 2p JopepunJ-o2 ui | RELI OS DOZE PASSOS e AS DOZE TRADICOES Naan 'SERVICOS GERAIS 9 ALCOOLICOS ANONIMOSDOBRASIL Ditetos Avoris 1952 1953 1981 de The A.A. Grapevine, Ine ‘Aleobolies Anonyisous Publishing agora onheido pelo nome Aleoholics Anonymous Wold Services, In.) Twelve Steps and Twelve Traditions Copyright © 1971 ‘Translated from the english with permission of Alcoholics Anonymous World Services, Ine. (A.A.WSS) No part this translation may be duplicated in any form without the writing permission of A.A.WS., In. Os Doze Passos e as Doze Tradigies Direitos autorais © 1971 ‘Traduicdo do inglés com permissao de ‘Aleoholies Anonymous World Services, Ine. (A.A.W.S.) ‘Nenhuma parte dessa tradugdo pode ser publicada sob qualquer forma, sem permissao escrita de A.A.W.S., Ine. Primeira edigdo em inglés - abril de 1953 Primeira edigo em portugués- junho de 1995 ‘Segunda edigo em portugues -junho de 1997 ‘Terozira edigdo em portugues - novembro de 1999 Quarta edigiio em portugués - junho de 2000 Quinta edigio em portugués - janciro de 2001 ‘Sexta edicio em portugués - junho de 2001 Sétima edigio em portugués - maio de 2002 Citava edigao em portuguds - agosto de 2003 ‘Nona edigdo em portuguas - fevereiro de 2004 1Déeima edigio em portugués - setembro de 2004 Décima primeita ediea0 em portugues - outubro de 2005 Publicado na lingua portuguesa pela JUNAAB Junta de Servigos Gerais de Aleodlicos Anénimos do Brasil ‘Caixa Postal 3180 CEP: 01060-970 Sao Paulo SP wwwaleoolicosanonimos.org.br Literatura aprovada pela Conferéncia de Servigos Gerais de A.A. IMPRESSO NO BRASIL, 5.000 Outubro / 05 PRIMEIRO PASSO wns SEGUNDO PASSO ‘TERCEIRO PASSO. CONTEUDO OS DOZE PASSOS w “Admitimos que éramos impotentes perante o dlcool — que tnhamos perdi- 0.0 dominio sobre nossas vidas. ” (Quem gosta de admitira derrota total? A admissio da impoténcia é o primeiro passo paraa libertac2o. A relagdo entre a humildade e a sobriedade. A obses- siio mental somada &alergia fisica. Por que é necessério que todo AA chegue a0 “fundo do pogo”? arian meneret 21 “Viemos a acreditar que um Poder superior a nds mesmos poderia devolver- nos d sanidade. ” [Em que podemos acreditar? A.A. adi exige crenga; 0s Doze Passos sto ape- nas sugestOes. A importéncia de tera mente aberta. A variedade de caminhos em directo fé, Substituigdo por A.A.como forca superior. A mi situagio dos desiludidos. As barreiras da indiferengae do preconceito. A fé perdida éreen- contradaem A.A. Problemas do intelectualismo eda auto-suficiéncia, Pensa- rmentos negativos e positivos. A honestidade. O desdém é uma caracterist saliente dos alcoslicos. © Segundo Passo é um ponto de reagrupamento em direcio & sanidade. E 2 relagdo certa com Deus. osrren een “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebiamos.” (0 Tereeiro Passo 6 como abrir uma porta trancada, Como faremos para permitir que Deus entre em nossas vidas? A disposigdo 6 chave. A dependéncia como rmaneira de chegar d independéncia. O perigo da auto-suficiéncia. Entregando a nossa vontade a um Poder Superior. Abuso da forga de vontade. O esforgo pesso- al prolongado é necessério para se harmonizar com a vontade de Deus. 4 coNTEUDO QUARTO Passo .. “Fitemos minucioso ¢ destemido inventério moral de nds mesmos. ‘Como os instintos podem excedera sua verdadeirafungdo. O Quarto Passo é umeesforgo para descobri nossas deficiéneias. O problema bisico dos extre- mos nos impulsos instintivos. 0 inventério moral mal orientadlo pode resul- taremsentimento de culpa, grandiosidade eo habito de culpar os outros. Po- ese anotar as qualidades junto as deficiéncias. A autojustificagio 6 perigo- sa, Adisposiglo de fazer o inventéio traz luz uma novaconfiange, © Quarto Passo € 0 comego de uma prética que Gurard a vida toda. Sintomas comuns de inseguranga emocional sto a preocupacao, 0 rancor, a autopiedade ¢ a depressio, O inventirio revisa as telagées. A importincia da minuciosidade. QUINTO PASSO oer “Admitimos perante Deus, perante nds mesmos e perante outro ser humano, ‘a natureza exata de nossas falhas.” (Os Doze Passos desincham o ego, © Quinto Passo & dificil, prém necessério A sobriedade e & paz de esprito. A confissio é uma disciplina antiga. Sem a destemida admissio dos préprios defeitos, poucos poderiam se manter s6- bros. Que recebemos do Quinto Passo? O comego da verdadeira afinidade como homem ecom Deus. Perde-se a sensacdo de isolamento; reeebe-se ese «Go perelio; aprende-se a humildade; aleancam-se a honestidads ea realidade a respeito de nds mesmos, O perigo da justificagio, Como escolher a pesson ‘em quem confiar. Os resultados so a trangtllidade ea conscigneiade Deus. A ‘unio com Deus e com o homem prepara-nos para os préximios passos. SEXTO PASSO ... “Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de cardter.” O Sento Passo é necessério para 6 rescimento espiritual. © comego de uma tarefa para a vida inteira. O reconhecimento da diferenga entre 0 esforco para alcangar um objetivo e a perfeigio. Por que precisamos continuar ten- tando? “Estar pronto” é de suma importancia, A necessidade de tomar medi- das. A demora é perigosa. A rebelido pode ser fatal. O ponto a partir do qual abandonamos os objetivos limitados e nos encaminhamos em direcio & von- tade de Deus para conosco. conTEdDa 5 SETIMO PASSO “Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeigoes.” Que € humildade? Que pode significar para n6s? O largo caminho rumo & verdadeira liberdade do espfrito humano. Uma ajuda indispensével a sobrie- dade. O valor do esvaziamento do ego. O fracasso e a miséria transformados pela humildade. A forga que vem da debilidade. A dor 60 prego da entrada para uma nova vida, O medo egocéntrico & 0 propulsor principal dos defei- tos. 0 Sétimo Passo ¢ a modificagdo de atitude que permite que nos transpor- temos em direcao a Deus, COrrAVO PASSO 69 “Ficemos uma relacdo de todas as pessoas que tinhamos prejudicado e nos dispsemos a reparar os danos a elas causados." Este © os pr6ximos dois passos tratam das relagées pessoais. Aprender a viver com os outros é uma aventura fascinante. Os obstéculos:relutinciaem perdoar; ano admissfo dos males feltos aos outros; 0 esquecimento propo- sitado, A necessidacle de uma revisdo exaustiva do pasado. O discemimento cada vez mais profundo resulta da minuciosidade. O tipo de dano feito aos outros. Evitando os julgamentos extremos. Adotando o ponto de vista objeti- ‘vo, 0 Oitavo Passo € 0 comego do fim do isolamento. NONO PASSO .. 74 “Ficemos reparagbes diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possivel, salvo quando fazé-las significasse prejudicd-las ou a outrer.” ‘Tera mente tranquila 6 0 primeiro requisito para poder julgar avertadamen- te. A horacerta ¢ importante quando se trata de reparagio. Que éa coragem? A prudéncia significa assumir riscos calculados. AAs reparagdes comegam quando nos tornamos companheitos em A.A. A paz de espfrito ndo pode ser compratla & custa dos outros. A necessidade de discriglo. A disposigdo de arcar com as conseqtiéncias de nosso passado € de nos responsabilizarmos pelo bem-estar dos outros € 0 espirito do Nono Passo, DECIMO PASSO semnene TS “Continuamos fazendo o inventério pessoal e, quando estdvamos erradios, nds o adnittames prontamente."” Podemos manter a sobriedade e o equilibrio emocional sob quaisquer condi- 6 conTEGDO Ges, A investigagdo prdptia torna-se umn hébito regular. Admiti, aceitar € corrigir, pacientemente, os defeitos. A ressaca emocional. Quando foram fei- tas as pazes com o passado, pode-se enfrentar os desafios do presente. Os tipos de inventério. O rancor, os ressentimentos, o citime, a inveja, a autopiedade, 0 orgulho ferido — todos levaram & garrafa. O autocontrole é 0 primeiro objetivo seguro contra a mania de grandeza, Olhamos tanto as qua- lidades quanto as deficincias. Exame dos motivos. DECIMO PRIMEIRO PASSO ... 85 “Procuramos através da prece ¢ da meditagao, melhorar nasso contato consciente com Deus, na forma em que o concebiamos, rogando apenas 0 conhecimento de Sua vontade em relagéio a nés¢ forgas para realicar essa vontade.” ‘A meditagio e a oragio so as principais vias para um Poder Superior. A relagio entre o exame de si mesmo, a meditagdo ea oragdo, Uma base indes- teutivel para a vida, De que maneira meditaremos? A meditagGo nfo tem l- rites. Uma aventura individual, O primeito resultado € oequilirio emocio- nal. Que diremos da oraeio? Pedidos didrios para compreender a vontade de Deus paraa graca a fim de p0-la em pratica. S20 indiscutfveis os resultados efetivos da oracio. As recompensas da meditagio e da oracdo. DECIMO SEGUNDO PASSO 94 “ Tendo experimentado um despertar espirtual, ragas a estes passes, pro- curamos transmuitir esta mensagem aos alcodlicos e praticar estes princt- pias em todas as nossas atividades.” A.alegria de viver €0 tema do Décimo Segundo Passo. Sua chave €a oragao. dar que niio pede recompensa. O amor que niio tem preco. O que é0 des- ppertarespiritual? Um novo estado de consciéncia érecebido como uma dadi- va gratufta, A disposigdo de receber a dddiva esté na pratica dos Doze Passos. A maravilhosa realidade. Os beneficios de ajudar outros alcosticos. Tipos de trabalho do Décimo Segundo Passo, O que diremos da pritica destes prinef- ppios em todas as nossas atividades? A monotonia, ador, adesgraga, transtor- rmadas com a pritica dos passos. As dificuldadcs em praticd-los. “A. danga dos dois pasos”. Mudando para “o samba dos doze passos” ¢ demonstracOes| de fé, O crescer espiritual & a resposta para nossos problemas. Colocando 0 crescimento espiritual em primeiro lugar. A dominagao e dependéncia exa- ‘geradas. Colocando nossas vidas na base do “dar ereceber”. A dependéncia ‘conTEtDO 1 de Deus é necessiria & reeuperacio dos alcoslicos. “Praticando estes prinef- ppios em todas as nossas atividades.” AsrelagGes conjuzais em A.A. Omodo de encarar os assuntos materiais vai mudando. Tamibém mudam os nossos. sentimentos a respeito da importdncia pessoal. Osinstntos voltam ater seus verdadeiros objetivos. A compreensio € a chave das atitudes corretas, ¢ a ago correta é a chave para viver bem. AS DOZE TRADICOES PRIMEIRA TRADICAO .. 15 “Nosso bem-estar comun deve estar em primeiro lugar; a reabilitacdo indi- vidual depende da unidade de A.A.” ‘Sem unidade, A.A. morreré, Liberdade individual e, nfo obstante, uma gran- de unidade, A chave do paradoxo: a vida de cada AA depende da obediéncia « principios espiriuais, O grupo precisa sobreviver; caso contrétio, nfo so- brevivers o individuo, © bem-estar comum vem em primeito Iugar, A me- Ihor forma de vivere trabalhar juntos como grupos. SEGUNDA TRADICAO 18 “Somente wma autoridace preside, em titima andlise, ao nosso propésito ‘comum— um Deus amantissimo que Se manifesta em nossa consciéncia cole- tiva. Nossos lideres sao apenas servidores de confianca; ndo tém poderes ara governar.”” Dende recebe A.A. asua diregio? A Gnica autoridade em A.A. é um Deus amantissimo que Se manifesta através da consciéncia do grupo. A formagio de um grupo. As dores resultantes do crescimento. Os comités rotativos Sio ‘constituidos de servidores dos grupos. Os lideres ndo governam; eles servem apenas. Serd que A.A. tem uma verdadeira lideranga? Os “velhos mentores” © 05 “velhos resmunges”. Manifesta-se a consciéncia do grupo. 12s | olinico requisite é 0 deseja de parar de beber” ‘TERCEIRA TRADIGAO .. “Para ser membro de A. {A intoleréncia inicial estava baseada no medo. Privar qualquer alcoslico da oportunidade de experimentar A.A. significa, 3s vezes, pronunciara sua sen- tenga de morte. Regulamentos de ingresso abandonados. Dois exemplos de 8 CONTEODO experigneia, Qualquer aleodlico toma-se membro de A.A. quando ele assim se declara. QUARTA TRADICAO oswensnenonnnnssnnninninnsnnnnt 131 “Cada grupo deve ser autOnomo, salvo em assuntos que digam respeito a outros grupos ou a A.A, em seu conjunto.” Cada grupo cuida de suas proprias atividades & sua maneira, salvo quando AAA. em sen conjunto esteja amescado, 1 perigosa tamanha iberdade? O grupo, tanto quanto o individuo, € finalmente obrigado a aderir a prinejpios que garantam a sobrevivéncia. Dois avisos de tempestade — um grupo nio deve fazer nada que possa ferir A.A. em seu conjunto, nem filiar-se a entida- des alheias. Um exempla: 0 “Centro de A.A.” que fracassou. QUINTA TRADIGAO .anenonenmnsnen 138 “Cada grupo € animado de um inico propésito primordial — 0 de transmitir sua mensagem ao alcoético que ainda sofre.” melhor fazer uma coisa bom feta do que muits mal fies. A vida da nossa Irmandade depende deste princfpio. A capacidade de cada A.A. de se identi- ficar com o recém-chegadoe de proporcionar-Ihe a recuperagio é uma diva de Deus... passa essa diva a outros é a nossa nica finalidade. Nto se con- segue manter a sobriedade sem passétaadiante SEXTA TRADICAO “Nenhum grupo de A.A. deverd jamais sancionar, financiar ou emprestar 0 nome de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimento atheio & Irmandade, afim de que problemas de dinheiro, propriedade e prestigio nao nos afastem do nosso objetivo primordial.” A experiéncia provou que nio podfamos sancionar qualquer empreendimen- to, por melhor que fosse. Nao podiamos representar todas as coisas para todos ‘os homens. Percebemos que ndo podfamos emprestar o nome A.A, a nenhu- ma atividade alheia SETIMA TRADICAO.... 44 “Todos os grupos de A.A. deverio ser absolutamente auto-suficientes, rejei- tando quaisquer doagées de fora.” ‘conTEGDO 9 Nenhuma outra tradigdo de A.A. nasceu to dolorosamente como esta. No inicio, a pobrezacoletiva foi uma necessidade. O medo de sermos explorados. Anecessidade de separaro espiritual do material. A decisio de sustentar-nos com as contribuigdes voluntirias de A.A. apenas. Atribuigdo da responsabili- dade de sustentar a sede de A.A. diretamente aos membros de A.A.A politica da sede éade ter apenas 0 dinheiro necessério para garantir 0 funcionamento ce uma reserva prudente, OITAVA TRADIGAO 150 “Aleodlicos Anonimos deverd manter-se sempre ndo-profissional, embora nossos centros de servicos passam contratar funciondrios especializados.” io se pode misturar dinheiro com o Décimo Segundo Passo, Uma linha de separagio entre o trabalho voluntério de Décimo Segundo Passo ¢ os servigos pags. A.A. ndo poderia funcionar sem empregados em tempo integral. Tra- balhadores profissionais no so AAs profissionais, RelagGes de A.A. com a indiistria, educagao, etc. O trabalho do Décimo Segundo Passo nunca pago, ‘mas aqueles que trabalham para nés merecem o que ganham. NONA TRADICAO... atone 156 “A.A. jamais deverd organizar-se como tal: podemos, porém, criar juntas on comités de servico diretamente responsdveis perante agueles a quem presiam servigas.” Juntas e comités de servigos. A Conferéncia de Servigos Gerais, a Junta de Servigos Gerais os comités de grupo niio podem baixar ditetrizes aos mem- bros ou grupos de A.A. Aos AAs nada se impée-— individual ou coletivamen- te. A auséncia de imposigfo funciona porque, a nfo ser que cada AA siga os 1passos para arecuperacio, ele assinard sua propria sentenga de morte. A mes- ‘ma ondigGo se aplica aos grupos. O sofrimento eo amor soos dseiplinadores em A.A. A diferenca entre 0 espirito de autoridade € 0 espitito de servigo. O objetivo de nossos servigos € colocar a sobriedade ao alcance de todos que a desejarem. DECIMA TRADIGAO. sw 160 “Alcodlicos Andnimos ndo opina sobre questées atheias a Irmandade; por- tanto, o nome de A.A. jamais deverd aparecer em controvérsias pablicas.” A.A. nflo toma partido em nenhuma controvérsia piblica, A relutfincia em 10 coNTEGDO polemizar nao é uma virtude especial. A sobrevivéncia e a difusdo de A.A. Sd 08 nossos cbjetivos principais. As ligdes aprendidas com © movimento Washingtoniano. DECIMAPRIMEIRA TRADICAO, 163 “‘Nossas relagdes com o piiblico baseiam-se na atragdo em vex da promo: $40; cabe-nos sempre preservaro anonimato pessoal na imprense, no radio eemfilmes.” As relagdes com o pablico sto importantes para A.A. As boas relag6es como piblico salvam vidas. Procursmos publicidade para os principios de A.A., ‘no para os membros de A.A. A imprensa tem cooperado. O anonimato pes- soal no nivel pdblico 6a pedra angular de nossa politica de relacbes pablicas. ‘A Décima Primeira Trauicdo é uma advertencia constante de que & ambiga0 pessoal nZo tem lugar em A.A. Cada membro torna-se um guardifo ativo de nossa Inmandade. DECIMASEGUNDA TRADICAO, 167 “O anonimato € 0 alicerce espiritual das nossas tradigdes, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os prinetpios acima das personalidades.” A substincia espirtual do anonimato 60 sacrifiio. A subordinagio dos anseios pessoais ao bem comum ¢ a esséncia de todas as Doze TradigSes. Por que ‘A.A. ndo podia permanecer como uma sociedade secreta. Os principios esto acima das personalidades. Cem por cento de anonimato no nfvel piiblico. O anonimato ¢ a humnildade verdadeira ASDOZES TRADICOES - Forma Integral sn at PREFACIO Aleodlicos Andnimos é uma irmandade mundial de mais de cem mil* ho- mens e mulheres alcodlicos, unidos a fim de resolver seus problemas comuns € ‘de ajudar seus inmaos sofredores na recuperacdo daquela velha e desconcertante cenfermidade, o alcoolismo, Este livro se dedica aos “Doze Passos” e is “Doze Tradigdes” de Aleoslicos AnGnimos. Apresenta uma visio clara dos prinefpios através dos quais os mem- bros de A.A. se recuperam e pelos quais funciona sua Trmandade. (Os Doze Passos de A.A. consistem em um grapo de prinespios, espirituais ‘em sta natureza que, se praticados como um modo de vida, podem expulsar a ‘obsessiio pela bebida e permitir que 0 sofredor se torne integro, feliz e til. ‘As Doze Tradigdes de A.A. dizem respeito & vida da prdpria Irmandade. Delineiam os meios pelos quais A.A. mantém sua tnidade e se relaciona como mundo exterior, sua forma de viver e desenvolver-se. Embora os ensaios que se seguem tenham sido escritos principalmente para ‘05 membros de A.A., muitos amigos opinam que podem despertar interesse € ‘encontrar aplicagiio mesmo nao sendo da Irmandade. Muitas pessoas no-alcoslicas dizem que, como resultado da pritica dos Doze Passos de A.A., conseguiram enfrentar outrasdificuldades na vida, Consideram que os Doze Passos podem signficar mais do que a sobriedade para 0 bebedor problema. Véem neles um caminho para uma vida feliz e efetiva para muitos, Aleoslicos ou nao. 2 PREPACIO Hid um interesse crescente acerca das Doze Tradigies de Alcosticas Andni- ‘mos, Estudiosos de relagbes bumanas comegam a perguntar-se como e por que ‘A.A. funciona como uma sociedade. Por que razio, indagam, nenhumm membro de A.A. pode ter uma posiglo de autoridade sobre outro e nio existe qualquer vestigio de governo central na organizagio? Como pode ur conjunto de princi pos tradicionais, despidos de qualquer forga legal, manter a unidade e eficdcia de Alcoslicos Andnimos? A segunda seczo deste volume, embora destinado 20s membros de A.A., forneceri aos curiosos uma visto interior de Aleoslicos And- nimos até agora impossivel de se ter. Aleodlicos Anénimos nasceu em 1935 em ‘Akron, Ohio (EE. UU.), como conseqUéncia de um encontro entre um conhecido cirurgifo um corretorde Nova York. Ambos eram casos graves de alcoolismo, destinados a se tornarem co-fundadores da innandade de A.A. (s principios bisicos de A.A., na forma em que se conhecem hoje, foram ‘tomados emprestados principalmente das areas da religifioe da medicina, embo- +a algumas das idéias as quais eventualmente levaram ao éxito, resultaram da ‘observacdo do comportamento ¢ das necessidades da propria Irmandade. ApS és anos do método das tentativas na selegso das prinefpios mais aplicé- ‘vis sobre os quais se poderia basear a sociedade, e apds grande miimero de fracas- 0s na recuperacdo de alcodlicos, surgiram trés grupos bem sucedidos—o primei- 10 em Akron, o Segundo em Nova York o terceito em Cleveland, Mesmo-ssim, ceradificil encontrar quarenta recuperagoes seguras entre todos os trés grupos. Nao obstante, a incipiente sociedade resolveu registrar sua experineis num livro que chegou ao pablico em abril de 1939. 4 essa altura, jf havia umas cem recuperag6es. livro se chamou Alcodlicos Anénimos, edele a Irmandaderece- beu seu nome. Nesse livro, descreveu-se oalcoolismo do ponto de vista doaleod- lico; codificaram-se nos Doze Passos, pela primeira vez, as idéias espiituais da Sociedade e esclareceu-se a aplicagao desses passos 20 dilema do aleodlio. O resto do livro foi dedicado & exposigio de trntahistrias, nas quais 0s lcoslicos descreveram suas experiéncias com a bebida e suas recuperagGes. Isto esabele- ceutuma identfieagio com os letores alcodlicose es provou que virtualmen- te impossivel, agora se tornara possivel. livro Alcadlicos AnOnimosconverteu- se:no texto bisico da Irmandade, e ainda o 6. O presente volume visa anpliar€ facilitara compreensio dos Doze Passos, tuis como foram iniialmenteapresen- tados na obra anterior. Coma publicagio do livro Alcodiicos Andnimos em 1939, findou-se 0 perfodo PREFACIO| 13 pioneito iniciou-se uma prodigiosa reagio em cadeia quando os alcoblicos re- cuperados comecaram a levar a mensagem a outros também alco6licos. Nos ‘nos seguintes, chegaram em A.A., verdadeiras multidées de alco6licos, princi- palmente devido & excelente ¢ continua publicidade graciosamente dada por re- vistas e jomais do mundo inteiro, Tanto os clérigos como os médicos apoiaram 0 novo movimento, encorajando- € aplaudindo-o sem restrigbes, Essa surpreendente expansio foi acompanhada de sérios problemas de cres- cimento, Estava comprovado que os alcoélicos podiam se recuperar. Porém, fal- tava comprovar que um nimero tio grande de pessoas ainda desorientadas, puidessem conviver e trabathar, harmoniosa e eficientemente Por todo canto surgiram perguntas delicadas sobre quem poderia ser mem- bro, sobre dinheiro, relagées internas,relagdes pablicas, administragao dos gru- pos eclubes e dezenas de outras complicagées. Foi neste vasto tumulto de expe- rigncias explosivas, que as Doze Tradigdes de A.A. foram forjadas e publicadas inicialmente em 1946 e, mais tarde, confirmades na primeira ConferéneiaInter- nacional de A.A., realizada em Cleveland em 1950. Um outro ivreto desereve ‘minuciosamente a experiéncia que acabou levando as Doze Tradigdes e dando a0 A.A. sua forma, substnciae unidade atuais, Agora A.A., atingindo a maioridade, esté comegancdo a penetrar em cerca de quarenta® paises. Na opinidio de seus amigos, isto € apenas o comego do seu valioso e singular servigo. Espera-se que este livro fornega.a todos os que o leiam uma apreciagio clara dos principios ¢ das forgas que fizeram do A.A. 0 que ele € hoje, Em 1994, AA. jf estava estabolocido om 144 paises, OS DOZE PASSOS PRIMEIRO PASSO “Admitimos que éramos impotentes perante 0 alcool ~ que tinhamos perdido o domfnio sobre nossas vidas.” Quem se dispée a admitir a derrota completa? Quase nin- guém, é claro. Todos os instintos naturais gritam contra a idéia da impoténcia pessoal. E verdadeiramente terrfvel admitir que, com 0 copo na mao, temos convertido nossas mentes numa tal obsessiio pelo beber destrutivo, que somente um ato da Providén- cia pode remové-la. Nenhuma outra forma de faléncia é igual a esta. O dlcool, transformado em voraz. credor, nos esvazia de toda auto-sufi- cigncia ¢ toda vontade de resistir 4s suas exigéncias. Uma vez que aceitamos este fato, nu e cru, nossa faléncia como seres humanos est4 completa. Porém, ao ingressar em A.A., logo encaramos essa humilha- 40 absoluta de uma maneira bem diferente. Percebemos que somente através da derrota total € que somos capazes de dar os primeiros passos em ditegao a libertaco e ao poder. Nossa ad- missdo de impoténcia pessoal acaba por tornar-se o leito de ro- cha firme sobre o qual poderdo ser construfdas vidas felizes ¢ significativas. Sabemos que pouca coisa de bom adviré a qualquer alcosli- co que se torne membro de A.A. sem aceitar sua devastadora debilidade e todas as suas consegiiéncias. Até que se humilhe desta forma, sua sobriedade ~ se a tiver ~ ser4 precéria. Da felicidade verdadeira, nada conheceré. Comprovado sem 18 PRIMEIRO PASSO sombra de diivida por uma longa experiéncia, este € um dos fatos de vida de A.A. O principio de que nfo encontraremos qualquer forga duradoura sem que antes admitamos a derrota completa, é a raiz principal da qual germinou e floresceu nossa Inmandade toda. : Inicialmente, ao sermos desafiados a admitir a derrota, amaio- ria de nés se revoltou. Havfamos nos aproximado de A.A. espe- rando ser ensinados a ter auto-confianga. Entio nos disseram que, no tocante ao dlcool, de nada nos serviria a auto-confianca, alids, era um empecilho total. Nossos padrinhos afirmaram que {o sutilmente podero- ‘a quebraria. Nao era sa que nenhum grau de forga de vor ek posstvel, disseram, a quebra pessoal desta obsessio pela vonta- de desamparada. Agravando nosso dilema impiedosamente, nossos padrinhos apontaram nossa crescente sensibilidade a0 Alcool — chamaram-na de alergia. O tirano alcool empunhava sobre nds uma espada de dois gumes: primeiro éramos domina- dos por um anseio Jouco que nos condenava a continuar beben- do, e depois por uma alergia prenunciadora de que acabariamos nos destruindo. Pouqufssimos mesmo eram os que aflitos desta forma, haviam saido vitoriosos lutando sozinhos. Era um fato estatistico os alcodlicos quase nunca se recuperarem pelos seus pr6- prios recursos. E assim parece ter sido desde a primeira vez. que 0 “homem espremeu as uvas. aa ‘Nos primeiros tempos de A.A., somente 0s alcodlicos, mais de- sesperados, conseguiram engolir e digerir esta verdade amar- ga. Mesmo estes “agonizantes”, freqlientemente encontravam dificuldades em reconhecer quo poueas esperangas havia, Con- tudo, alguns 0 reconheceram, ¢ tendo se agarrado aos prineipios de A.A. com 0 mesmo fervor dos que esto se afogando e se agarram aos salva-vidas, quase que invariavelmente se torna- ram s6brios. £ por isso que a primeira edigao do livro Alcodli- cos Andnimos, publicado quando éramos poucos membros, tra- tava somente de casos desesperados. Muitos alcoélicos menos_ PRIMEIRO PASSO 9 desesperados experimentavam A.A., mas nilo eram bem sucedidos porque nao podiam admitir a suaimpoténcia. ‘.. ~ Ecom imensa satisfagao que podemos afirmar que, com o pas: sar dos anos, isso mudou. Os aleoélicos que ainda mantinham sua satide, suas familias, seus empregos, e até dois carros na garagem, ‘comegaram a reconhecer seu alcoolismo. Ao crescer esta tenden-, cia, uniram-se a eles muitos alcodticos jovens, que mal erty de alcodlicos em potencial. Evitaram os tiltimos dez ow quinze anos de puro inferno pelo qual nés outros havfamos passado. Em vista do Primeiro Passo, que exigia a admissao de que nossas vidas ha- viam se tornado ingoverndveis, como podiam pessoas como estas, aceitar este passo? 7 Obviamente, era necessirio elevar o fundo que nés outros ha- viamos atingido para o ponto em que esse fundo 0s atingisse. Vol- tando para trés em nossas proprias histérias de bebida, podiamos mostrar que anos antes de reconhecé-lo, jé haviamos perdido 0 controle; que, mesmo naquela época, nosso beber ja deixara de er um mero habito, sendo realmente o comeco de uma progres silo fatal. Aos duvidosos podfamos dizer: “Talvez vocé nao seja alcoélico, afinal de contas. Por que nao tenta seguir bebendo controladamente, lembrando-se sempre do que Ihe temos dito a respeito do alcoolismo?” Esta atitude trazia resultados imedia- los e praticos. Entiio, descobriu-se que quando um alco6lico plantava na mente de outro a idéia da natureza verdadeira da enfermidade, este outro jamais seria o mesmo outra vez. Apés cada bebedeira, diria a si mesmo: “Talvez esses AAs tenham ra- vio...” Depois de algumas experiéncias semelhantes e, freqlientemente, anos antes do comego das dificuldades extremas, ele voltaria a n6s, convencido, Havia atingido o fundo do seu poco tanto quanto nés. A propria bebida havia se tornado nossa melhor advogada. Porque insistir tanto em que todo AA precisa, antes de mais nada, chegar ao fundo do pogo? A resposta € que poucas pes- ‘sous praticardo sinceramente o programa de A.A., a no ser que 20 PRIMEIRO PASSO tenham atingido o fundo. Pois praticar os restantes onze passos de A.A. requer a adogdio de atitudes e ages que quase nenhum alcos- ico que ainda esteja bebendo sonharia adotar. Quem se dispée a ser rigorosamente honesto e tolerante? Quem se dispde a confessar suas falhas a um outro e a fazer reparaco pelos danos causados? Quem se interessa, ao minimo, por um Poder Superior ou menos ainda por meditagao e oracdo? Quem se dispde a sacrificar seu tempo e sua energia tentando levar a mensagem de A.A. a0 prOxi- mo? Nao, 0 alcoslico tipico, egofsta ao extremo, pouco se interes- sa por estas medidas a ndo ser que tenha de toms-las para sobrevi- ver, Sob a chicotada do alcoolismo, somos impelidos a0 A.A., € ali descobrimos a fatalidade de nossa situagdo. Nessa hora, e somente nessa hora, é que nos tornamos to receptivos a sermos convencidos € to dispostos a escutar como os que se encon- tram & beira da morte. Prontificamo-nos a fazer qualquer coisa que nos livre da obsessio impiedosa. SEGUNDO PASSO “Viemos a acreditar que um Poder Superior ands mesmos po- deria devolver-nos @ sanidade,” A partir do momento em que Ié o Segundo Passo, a maioria dos novos em A.A., enfrenta um dilema, ds vezes bastante sério. Quantas vezes os temos ouvido reclamar: “olhem 0 que vocés fizeram conosco. Convenceram-nos de que somos alcoslicos ¢ que nossas vidas so ingoverndveis, Havendo nos reduzido a um estado de desespero absoluto, agora nos informam que somen- te um Poder Superior poderd resolver nossa obsessio. Alguns de nés se recusam a acreditar em Deus, outros nao conseguem acreditar © ainda outros acreditam na existéncia de Deus, mas de forma alguma confiam que Ele levard a cabo este milagre, Pois é, nos meteram num buraco sem safda, tudo bem, mas e agora, para onde vamos?” Olhemos primeiro 0 caso daquele que diz que se recusa a acreditar—o caso do beligerante. Encontra-se num estado de espi- rito que s6 poderia denominar de selvagem. Esta ameagada toda a sua filosofia de vida, da qual tanto se gabava, J4 nao € fécil, pensa ele, admitir que est permanentemente vencido pelo élcool. Mas agora, ainda ferido por essa admissao, ele enfrenta algo realmente impossivel. Gosta de abrigar a idéia de que o homem, elevado tio majestosamente de uma simples e primitiva célula, é hoje a ponta de langa da evolugao e, portanto, 0 tinico Deus que ele conhece. Precisa renunciar a tudo isso para se salvar? 2 SEGUNDO PASSO Acstaaltura, seu padrinho em A.A. geralmente se poe ait. E isto, pensa 0 recém-chegado, é “o fim da picada”. Pelo menos © comego do fim. E é mesmo: ¢ comego do fim da sua vida anterior, e 0 comego de sua entrada para uma nova vida. Seu padrinho provavelmente Ihe diz: “Calma, calma. O obstéculo que yoos deverd saltar nao 6 to alto quanto parece. Pelo menos para mim nao o foi. E nem o foi para um amigo meu, que antes era vice-presidente da Sociedade Atéia Americana. Ele 0 supe- rou tranqliilamente.” “Bem”, diz 0 recém-chegado, “sei que esta contando a verdade. Sem divida é um fato que A.A. esté cheio de gente que antes pensava como eu. Mas como, nestas cir- cunstancias, pode alguém ir com calma? F isso o que eu que- ro saber.” “6 uma boa pergunta mesmo”, concorda o padrinho. “Acho que poderia the dizer como se acalmar. E nem ter que se es- forgar muito. Faca o favor de escutar estas trés afirmagdes. Em primeiro lugar, Alcodlicos Andnimos niio exige que vocé acre- dite em coisa alguma. Todos os Doze Passos sdo apenas suges- tes. Em segundo lugar, para alcangar a sobriedade e para man- ter-se sbrio, nfo € preciso aceitar todo 0 Segundo Passo de uma vez. Olhando para o pasado, vejo que eu mesmo o aceitei aos pedagos. Em terceiro lugar, a tinica coisa que vocé real- mente precisa é ter a mente aberta. Portanto, desista dos deba- tes e pare de se incomodar com questdes profundas como, por exemplo, se foi a galinha ou 0 ovo que surgiu ptimeiro. Volto a repetir, a tinica coisa que vocé precisa ¢ ter a mente aberta.”” © padrinho continua. “Tome, por exemplo, o meu caso. Tive uma educagao cientifica. Logo, respeitava, venerava, até adora- vaa ciéncia, Alids, fago isso até hoje, tudo menos na parte da adoragao. Vezes sem conta, meus professores apontavam o prin- cipio basico de todo o progresso cientifico: ‘procure e pesquise sem descanso, mas sempre com a mente aberta.’ Quando depa- rei com A.A. pela primeira vez, minha reagdo foi igual a sua, Este negécio de A.A., pensei, é totalmente anticientifico. Isto SEGUNDO PASSO 23 eu no posso tragar. Simplesmente recuso-me considerar tal bo- bagem. Entdo despertei. Tive de admitir que A.A, mostrada resul- tados, prodigiosos resultados. Percebi que minha atitude frente a esses resultados havia sido nada cientifica. Nao era A.A. que tinha a mente fechada, era eu. A partir do momento em que desisti de argumentar, comecei a ver e a sentir. Nesse instante, 0 Segundo Passo, sutil e gradualmente, comegou a se infiltrar na minha vida. Nao posso dizer a ocasido ¢ a data em que vim a acreditar num Poder Superior a mim, mas certamente tenho essa crenga agora. Para adquiri-la, bastou-me parar de lutar e praticar o resto do pro- grama de A.A., com o maior entusiasmo de que dispunha. E claro {que isso néo passa da opiniio de uma pessoa, baseada na prépria experiéncia. Preciso assegurar-lhe, desde j4, que os membros de A.A. seguem imtimeros caminhos a procura de fé, Se ndo interessar Aquele que Lhe sugere, certamente descubriré outro que Ihe conviré, se ficar atento. Muitas pessoas como voc comegaram a resolver © problema pelo método da substituigao. Poder, se quiser, con- siderar A.A. em si como sua forga superior, Nele se encontra um grande ntimero de pessoas que resolveram seus problemas com 0 {lcool. Nesse sentido, certamente representam um Poder Superior a yooé, que nem sequer chegou perto de uma solucdo. Seguramente poderd depositar sua fé neles, Mesmo esse minimo de fé bastard. Encontraré muitos membros que desta maneira atravessaram a bar- reira inicial. Todos Ihe dirao que, uma vez do outro lado, sua £6 se ampliou c se aprofundou. Libertados da obsessio pelo dlcool, com suas vidas inexplicavelmente transformadas, chegaram a acreditar no Poder Superior, ¢ a maioria comegou a falar em Deus.” Consideremos, agora, a situagdo daqueles que jé tiveram fé e a perderam. Existirio aqueles que se deixaram levar pela indiferenga, aqueles que esto cheios de auto-suficiéncia e que se afastaram de uma vez, aqueles que desenvolveram um precon- ceito contra a religisio ¢ aqueles que se encontram em plena re- 24 SEGUNDO FASSO belido porque Deus nao satisfez suas exigéncias. Poderd a ex- periéneia de A.A. dizer a todos estes que ainda poderdo en- contrar uma fé que funciona? As vezes, A.A, € aceito com maior dificuldade pelos que per- deram ou rejeitaram a fé, do que pelos que nunca a tiveram, pois acham que j4 experimentaram a fé e nfo Ihes serviu. Ex- perimentaram viver com fé e sem fé. E, em vista de que ambas as maneiras os decepcionaram amargamente, conclufram que no havia mais para onde ir. As barreiras da indiferenga, da presumi- da auto-suficiéncia, do preconceito e do desprezo provaram ser com freqiléncia, mais s6lidas e formidaveis para estas pessoas que qualquer barreira construfda pelo agnéstico duvidoso ou pelo ateu militante. A religido afirma que a existéncia de Deus pode ser comprovada; 0 agnéstico diz que ndo pode ser compro- vada; ¢ 0 ateu afirma que tem provas da inexisténcia de Deus. Evidentemente, 0 problema daquele que se afasta da fé é de uma confusio profunda. Acha-se desprovido do conforto de qualquer crenga. Nem sequer num grau minimo consegue alean- gar a conviccao do crente, do agnéstico ou do ateu. O desnor- teado é ele. Alguns AAs podem dizer para o indeciso: “Sim, nés também chegamos a achar graca da nossa £6 infantil. O excesso de con- fianga da juventude era muito para nds. Naturalmente, estavamos satisfeitos com a boa educacdo familiar e religiosa que nos le- garam certos valores. Estdvamos até certos de que deverfamos ser bastantes honestos, tolerantes e justos, que deverfamos ser ambiciosos ¢ trabalhadores. Estavamos convencidos de que es- tas simples regras de justica e decéncia seriam suficientes. Ao comegarmos a obter certo éxito material, baseados apenas nes- ses atributos comuns, achévamos que estivamos ganhando no jogo da vida. Estévamos estimulados e isto nos fazia felizes Por que nos preocupar com abstragGes teolégicas e deveres reli- giosos, ou com o estado de nossas almas na terra e no além? Bastava-nos o aqui e o agora. A vontade de ganhar nos levaria SEGUNDO PASSO 25 para frente, Entdo, 0 alcool comegou a nos dominar. Finalmente, quando todos os nossos tales de pontos marcavam ‘zero’ e veriti- camos que mais um gol nos colocaria fora do jogo para sempre, foi necessdrio que safssemos a procura de nossa fé perdida, Foi em A.A. que a descobrimos de novo. E vocé podera descobri-la tam- bém.” Agora chegamos a outro tipo de problema: o homem ou a mulher intelectualmente auto-suficiente. A estes, muitos membros de A.A. podem dizer: “Sim, éramos como vocés: inteligentes demais para o nosso proprio bem. Adorévamos ouvir as pes- soas nos chamarem de precoces. Usdvamos nossa educagao para nos inflar em baldes orgulhosos, embora cuidaéssemos de escon- der isso dos outros. Secretamente, achévamos que podiamos flu- (war acima dos outros utilizando apenas o poder de nossos cére- bros. O progresso cientifico nos dizia que nada estava além do Icance do homem. A sabedoria era onipotente. O intelecto era capaz. de conquistar a natureza. Por sermos mais vivos do que a maioria (assim nos considerdvamos), os espélios da vit6ria se- riam nossos, automaticamente. O deus do intelecto substitu‘a 0 Deus de nossos pais. Porém, mais uma vez, a bebida alcoslica tinha outras idéias. N6s, que tao brilhantemente havfamos venci- do sem esforgos, nos convertemos nos maiores derrotados de todos os tempos. Vimos que seria necessério reconsiderar, se- ino morrerfamos. Encontramos muitos em A.A. que antes pen- savam como nés. Ajudaram-nos a voltar ao nosso verdadeiro tamanho. Com o exemplo deles, nos mostraram que a humildade co intelecto poderiam ser compativeis, conquanto a humildade estivesse em primeiro plano, Quando comegamos a entender isso, recebemos a dadiva da fé, uma Fé que funciona. Fé que também esti 4 sua disposigio.” Um outro grupo de membros de A.A. diz: “Estévamos de- senganados com a religitio e todas as suas obras. A Biblia, dizi- amos, estava cheia de bobagens; podiamos citar capitulo e versiculo, sem contudo conseguir distinguir os beatos dos ben- 26 SEGUNDO PASSO ditos. Em certas partes, sua moralidade era inerivelmente boa, em outras, md até o impossivel. Porém, o que realmente nos decepeionou foi a moralidade dos religiosos. Olhévamos com maligna satisfago para a hipocrisia, os preconceitos 0 orgu- Iho opressor com que se vestiam tantos “crentes”. Como gostdvamos de apregoar 0 fato prejudicial de que milhares de “pons homens da religidio” ainda matavam uns aos outros em nome de Deus. Tudo isso significava, é claro, que haviamos subs- tituido pensamentos positivos por pensamentos negativos. De- pois de chegar em A.A., tivemos de reconhecer que este defei- to havia servido para alimentar nosso ego. Enquanto criticava- mos os pecados de algumas pessoas religiosas, podiamos nos sentir superiores a todas elas. Além do mais, podfamos escapar A necessidade de olhar para nossos proprios defeitos. A hipo- crisia, justamente o que havfamos condenado com desdém nos outros, era 0 nosso proprio pecado obstruidor. Esta falsa forma de respeitabilidade foi a nossa desgraga, no tocante a fé. Con- tudo, compelidos ao A.A., acabamos por aprender melhor. Como os psiquiatras muitas vezes observaram, o desafio é a caracteristica predominante de muitos alcodlicos. Nao é portanto -de-se admirar que muitos de nds te jssado bastante tem- po desafiando o préprio Deus. As vezes, era porque Deus no nos entregara as coisas boas da vida que encomenddramos, da ‘mesma maneira que uma crianga que sempre quer mais faz uma relagiio sem fim de encomendas para Papai Noel. A maior parte das vezes, contudo, haviamos deparado com uma grande desgra- {ga que, ao nosso ver, nos havia acontecido porque Deus nos havia abandonado. A moga com a qual querfamos casar se inte- essa por outro; rezamos a Deus para que ela mudasse de opi- nigio, mas néo mudou. Rezamos para ter filhos saudaveis © ga- nhamos filhos doentes, ou ent™o nao conseguimos ter filho al- gum, Rezamos por melhorias nos negécios ¢ nao vieram. Nos- sos entes queridos, dos quais muito dependiamos, foram leva- dos por “atos de Deus”. Entio, nos convertemos em bébados ¢ ‘SEGUNDO PASSO a rezamos a Deus para que nos salvasse. E nada aconteceu. Essa craa falha mais impiedosa de todas. “Para 0 diabo com este nogécio de fé”, dizfamos. ‘Quando encontramos A.A., nos foi revelado o erro de nossa rebeldia. Em nenhum momento havfamos pedido para saber qual seria a vontade de Deus para conosco; a0 cont i dizendo-Ihe o que deveria ser. Reconhecemos q menrpoderia acreditar em Deus e desafid-lo ao mesmo tempo.’ ‘A crenea significava a confianga e nao 0. Em A.A. vimos 0s frutos dessa crenga: homens e mulheres salvos da tiltima catis- trofe do élool. Vimo-los enfrentar e superar suas dores ¢ suas provas. Vimo-los aceitar com calma situagdes impossiveis, sem ‘0 desejo de fugir ou de recriminar. Isso nao era apenas fé; era uma fé que fancionava sob todas as condigdes. Logo concluimos que, fosse qual fosse 0 prego da humildade que tivéssemos de pagar, nés o pagarfamos. Agora, tomemos 0 “individuo cheio de {6", embora cheirando a alcool. Ele se considera devoto. Suas ‘observancias religiosas silo cuidadosas. Tem certeza de que ain- da acredita em Deus, embora suspeite que Deus nao acredita nele. Faz promessas e mais promessas para nao beber. Apés cada uma, no 86 volta a beber, como também se comporta pior do que antes, Tenta, valentemente, lutar contra 0 alcool, implo- tando pela ajuda de Deus. Mas a ajuda nao vem. Entio, o que se passa com ele? Para os clérigos, os médicos, os amigos e os parentes, 0 alcod- lico bem intencionado que se esforga bastante, é um enigma doloro- 0, mas para a maioria dos membros de A.A., nfo 0 6. Somos Inuitos os que ja fomos como ele e encontramos a chave do enig- na. Esta chave tem que vir com a qualidade da f6 e ndio com 0 volume da pratica religiosa. Esse foi o nosso ponto cego. Acre~ ditévamos ser humildes quando nao o éramos. Considerévamos haver praticado a sério nossas religides, conquanto, apés uma apreciagio honesta, reconhecemos que haviamos sido apenas superficiais. Ou, indo ao outro extremo, havfamos nos banhado 8 ‘SEGUNDO PASSO no emocionalismo, confundindo este com os verdadeiros sentimen- tos religiosos. Em ambos 0s casos, estdvamos querendo receber sem dar. A verdade era que nfo haviamos varrido nossa casa inte- rior para que Deus entrasse em nés ¢ expulsasse a obsessio. Ja- ‘mais haviamos, no sentido profundo e significativo, nos examinado. Jamais havfamos reparado os danos que haviamos causado aos ou- tros, ou dado livremente de nés a qualquer outro ser humano, sem pedir algo em troca, Nem sequer haviamos aprendido a rezar de maneira certa, Sempre haviamos dito: “Concedei-me as coisas que eu desejo”, em vez de: “Seja feita a Vossa vontade”. Ignordvamos por completo o verdadeiro amor a Deus ¢ ao semelhante. Assim, enganamos a nés mesmos e permanecemos incapazes de receber a ‘graca suficiente para nos devolver a sanidade. Pouquissimos so 0s alcodlicos ativos que tém consciéncia do grau de sua maluquice ou, percebendo-a, tém a coragem de enfrenté-la. Alguns estardo dispostos a se classificarem de “be- bedores-problema”, mas nao aceitardo a simples insinuagao de que esto mentalmente doentes. Sao amparados nesta cegueira por um mundo que nfo compreende a diferenga entre o beber racional e alcoolismo. A “‘sanidade” se define como “saide mental”, Contudo, nenhum alcodlico, analisando sobriamente seu ‘comportamento destrutivo, poderia se considerar possuidor de “satide mental”, caisse a destruigo sobre um objeto ou sobre sua estrutura moral. Portanto, o Segundo Passo € 0 ponto de con- vergéncia para todos nés. Sejamos agnésticos, ateus ou ex-eren- tes podemos nos agrupar neste passo. A verdadeira humildade ‘ea mente aberta poderao nos conduzir 4 fé, ¢ toda reunifio de ‘A.A. €uma seguranga de que Deus nos levard de volta a sanida- “de; se soubermos nos relacionar corretamente com Ele. TERCEIRO PASSO “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuida- dos de Deus, na forma em que O concebtamos.” A pratica do Terceiro Passo 6 como abrir uma porta que até io parecia estar fechada a chave. Tudo o que precisamos é a chave e a decisio de abrir a porta. Existe apenas uma s6 chave, © se chama boa vontade. Uma Vez usada a chave da boa vonta- de, a porta se abre quase que sozinha. Olhando-se através dela, yer-se-4 um caminho ao lado do qual hd uma inscrigo que diz: “Bis 0 caminho em direcdo Aquela {6 que realmente funciona.” Nos primeiros dois passos estivemos refletindo. Vimos que éra- mos impotentes perante o alcool, mas também percebemos que lguma espécie de fé, mesmo que fosse somente em A.A., esta- va ao alcance de qualquer um. Essas conclusées nao requere- ram agdo; requereram apenas aceitagaio. Como todos os outros, o Terceiro Passo pede uma actio posi- tiva, pois é somente através de agdo que conseguimos inter- romper a vontade prdpria que sempre impediu a entrada de Deus ou, se preferir, de um Poder Superior — em nossas vidas. A fé ¢necesséria certamente, porém a fé isolada pode resultar em nada. Podemos ter fé, mas manter Deus fora de nossas vidas. Portanto, 0 nosso problema agora € descobrir como e por que meios espectficos, poderemos deixé-lo entrar. O Terceiro Pas- 80 representa nossa primeira tentativa de alcangar isso. Alids, a eficdcia de todo programa de A.A. dependerd de quéo bem e sinceramente tenhamos tentado chegar i decisio de “entregar cr TERCEIRO PASSO ssa vontade ¢ nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O-concebjamos”. oot Para todo principiante mundano e de espirito pratico, este passo parece dificil ¢ até impossivel. Nao importa o quanto se queira tentar, permanece a pergunta: como entregar a vontade ¢ a prépria vida aos cuidados do Deus que se pensa possa existir? Felizmente, nés que o tentamos, apesar de termos tido as mes- mas diividas, somos testemunhas de que qualquer um, qualquer um mesmo, poder comegar a fazé-lo. Podemos acrescentar que basta um comeco, mesmo que seja um timido comego. Uma vez que tenhamos introduzido a chave da boa vontade na fechadurae tenhamos a porta entreaberta, descobrimos que sempre se pode abrir um pouco mais. Embora o egofsmo possa fech4-Ia de novo, como freqiientemente acontece, sempre voltaré a abrir no mo- mento em que utilizamos a chave da boa vontade. Talvez tudo isso parega misterioso e remoto, algo como a teoria da relativi dade de Einstein ou uma proposigao de fisica nuclear. Nao é isso. Vejamos 0 quio pritico é, na realidade. Todos os homens e mulheres que ingressaram e pretendem permanecer em A.A.. sem mesmo se aperceberem disso, comegaram a praticar 0 Ter- ceiro Passo. Nao € verdade que em todo assunto relacionado com 0 dlcool, cada um decidiu entregar sua vida aos cuidados, protegao e guia de Alcodlicos Anénimos? J4 mostrou a disposi- Ho de substituir a vontade e as idéias proprias sobre o proble- ma do élcool por aquelas sugeridas por A.A. Qualquer recém- chegado com boa vontade est convicto de que A.A. é 0 tinico porto seguro para o navio quase afundado que ele representa. Ora, se isso nao é entregar a vontade e a Vida & Providéncia re- cém-encontrada, 0 que é entio? Mas, suponhamos que o ins- tinto ainda grite, como certamente o faré. “Esté certo, com res- peito a0 dlcool, suponho que tenho que depender de A.A., mas em todos os outros assuntos preciso ainda manter minha independén- cia, Ninguém conseguir me tornar uma nulidade. Se continuar en- tregando minha vida ¢ minha vontade aos cuidados de Alguma TERCEIRO PASSO 3 Coisa ou Alguém, o que serd de mim? Vou acabar me tornando um “zero a esquerda”. Claro, este € sempre o processo pelo qual o instinto e a légica pretendem apoiar o egoismo e assim frustrar o desenvolvimento espiritual. O que acontece é que esse tipo de raciocinio nao toma em conta os fatos reais, E 0s fatos parecem ser estes: quanto mais nos dispomos a depender de um Poder Superior, mais independentes nos tornamos. Portanto, @ dependéncia, como se pratica em A.A., 6 realmente um meio de ganhar a verdadeira independéncia do espirito. Examinemos por um momento essa idéia de dependéncia ao nivel da vida cotidiana. Nessa area € alarmante descobrir 0 quan- to somos realmente dependentes e quao inconscientes somos dessa dependéncia. Toda casa moderna tem fios elétricos que levam forga e luz ao seu interior. Ficamos encantados com essa dependéncia; nossa maior esperanga 6 que nada possa vir a in- terromper suprimento da corrente. Aceitando nossa depen- déncia dessa maravilha da ciéneia, descobrimos que somos mais independentes pessoalmente, E nao somente somos independen- es como também nos sentimos mais confortiveis e seguros. A forga corte justamente para onde ela é necesséria. Silenciosa e confortavelmente, a eletricidade~ essa estranha energia que tio poucas pessoas compreendem — supre nossas necessidades mais imples, ¢ as mais desesperadas também. Pergunte ao sofredor de polio, confinado a um pulmo de ago, que depende com toda confianca de um motor para Ihe conservar 0 sopro da vida, Porém, no momento em que entra em jogo nossa indepen- déncia mental e emocional, como nos comportamos diferente- mente! Com que persisténcia apregoamos nosso direito de dec dir sozinhos o que pensaremos e como agiremos. Sim, certamente pesaremos os prds ¢ os contras de cada problema, Cordialmente ouviremos aqueles que queiram nos aconselhar, mas as deci es serio 36 nossas. Ninguém deve se intrometer em nossa in- dependéncia e questdes pessoais. Além do mais, pensamos, nao ha ninguém em quem possamos realmente confiar. Temos cer- 32 TTERCEIROPASSO teza que nossa inteligéncia, apoiada pela forga de vontade, pode muito bem controlar nossa vida interior e garantir nosso éxito no mundo em que vivemos. Esta filosofia valente, na qual cada um de nés faz o papel de Deus, soa muito bem, mas ainda tem que passar pela prova decisiva: sera que funciona mesmo? Uma boa olhada no espelho serviré de resposta para qualquer alcodlico. Se sua imagem no espelho for demasiadamente horrivel para se contemplar (¢ geralmente 6) poderia comegar por observar os resultados que as pessoas normais esto conseguindo com a au- to-suficiéncia, Por toda parte se véem pessoas cheias de édio ¢ medo, ¢ a sociedade se fragmentando em pedagos e se combaten- douns aos outros. Cada fragmento diz. 20 outro: “Nés estamos certos ¢ vocgs estao errados.” Tais grupos, quando suficiente- mente fortes, auto-justificadamente impdem suas vontades aos demais. Em todo lugar, a mesma coisa esté acontecendo numa base individual. A soma de todo esse esforgo gigantesco: me- nos paz e menos fraternidade do que antes. A filosofia da au- to-suficiéncia néo esta dando fruto, Evidentemente trata-se de uma avalancha esmagadora cuja realizacao final é aruina. Portanto, n6s que somos alcodlicos, podemos nos considerar realmente afortunados. Cada um de nds passou por seu encon- tro quase fatal com a avalancha da propria vontade, e sob seu peso sofreu o suficiente para se dispor a procurar uma solugio melhor. Assim, mais pelas circunsténcias do que por qualquer virtude, fomos parar em A.A., admitimos a nossa derrota, ad- guirimos os rudimentos da fé e agora queremos tomar a decisio de entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de uma Forga superior. Reconhecemos que a palavra “dependéncia” é ‘Go repugnante para muitos psiquiatras e psicdlogos como para 08 alcoélicos. Como nossos amigos profissionais, estamos cien- tes de que existem formas erradas de dependéncia, e experimen- tamos muitas delas. Nenhuma mulher ou homem adulto, por exemplo, deveria ter demasiada dependéncia emocional dos pais. Deveriam ter-se apartado hé muito tempo, e se nao o fizeram, TTERCEIRO PASSO 3 deveriam despertar desde jé para este fato. Justamente esta forma errada de dependéncia tem levado muitos alcoélicos rebeldes a concluir que qualquer tipo de dependéncia é intoleravelmente prejudicial. Mas a dependéncia de um grupo de A.A. ou de um. Poder Superior jamais produziu qualquer efeito perniciosé Por ocasiao da Segunda Guerra Mundial, este prinefpio espi- ritual teve a sua primeira grande prova. Membros de A.A. en- faram nas forgas armadas € espalharam-se pelo mundo todo. Seriam eles capazes de aceitar a disciplina, agiientar aluta debaixo do fogo e suportar a monotonia e a miséria da guerra? ‘\ forma de dependéncia que aprenderam em A.A. os levaria até fim? Bem, tudo isso aconteceu. Alids, experimentaram até Inenos recafdas alcodlicas ¢ “bebedeiras secas” que os mem- bros de A.A. que se encontravam seguros em suas casas. Mos- (raram tanta resisténcia e valentia quanto quaisquer outros sol- ados. Tanto no Alaska como nas praias de Salerno, sua depen- d@ncia de um Poder Superior funcionou. E longe de ser uma fraqueza, esta dependéncia provou ser a maior fonte de forga. Portanto, como faria um individuo de boa disposigao para se- guir entregando sua vontade e sua vida aos cuidados de um Po- der Superior? Vimos bem quando decidiu contar com A.A. para ‘4 solugdo de seu problema alcodlico. Agora, porém, deve ter- se convencido de que tem problemas que nao sio 0 alcool, ¢ que alguns deles se recusam a ser solucionados apesar da maxi ‘a determinagio e coragem que ele possa reunir. Eles simples- mente nfio desaparecem; tornam-no desesperadamente infeliz € ameagam sua recém-encontrada sobrie-dade, Nosso amigo ain- daé vitimado pelo remorso e sentimento de culpa cada vez que pensa no ontem. A amargura ainda o domina quando resmunga Sobre aqueles que continua invejando e odiando, Sua insegu- danga financeira 0 atormenta ¢ o panico o assalta sobre as pon- {es deixadas atrds, que o alcool conseguiu queimar. E como des- manchar aquela embrulhada danada que lhe custou o afeto da familia e que o separou dela? Nada poderd ser feito com ape- 34 ‘TERCEIRO PASSO nas a sua coragem e a vontade desassistida. Certamente, che- gou ahora de depender de Alguém ou Alguma Coisa. Ao infcio, esse “alguém” provavelmente serd seu amigo mais préximo em A.A. Ble confia na afirmagao de que seus muitos problemas, agora mais agudos, por nio poder usar o dlcool para matar a dor, também poderio ser resolvidos. E claro que seu pa- drinho explicaré que a vida de nosso amigo est ingovernavel apesar de ele estar sobrio e que, afinal de contas, apenas esté bem no infcio do programa de A.A. Uma sobriedade maior, gragas a0 reconhecimento de seu alcoolisimoe @ freqiiéncia a algumas reu- nides, é certamente uma boa coisa. Porém, fatalmente estard lon- “ge de ser uma sobriedade permanente e de ter uma vida felize Util. E agora que entram em jogo os restantes passos do progra- ma de A.A.. Nada menos que a prética constante desses passos como um modo de vida poderé levar ao resultado tio desejado. Explica-se, entiio, que é possfvel praticar com éxito outros passos do programa de A.A. somente quando o Terceiro Passo temha sido experimentado com determinagao e persisténcia. Esta afirmativa poderd surpreender os recém-chegados que até agora experimentaram apenas uma deflagio continua e uma crescente convicgio de que a vontade humana de nada serve. Ficaram con- vencidos, ¢ com razo, de que além do dlcool existem muitos outros problemas que também no se vencem apenas com a for- ca de vontade. Contudo, agora parece que hé certas coisas que somente 0 individuo pode fazer. Sozinho, e a luz das circuns- tancias que 0 rodeiam, ele precisa desenvolver a boa disposi do. Quando adquirir este estado de espfrito, ele & a Gnica pes- soa que podera decidir a se esforcar. Tentar fazer isso é um ato de vontade prépria. Todos os Doze Passos requerem um esforgo pessoal continuo para se adaptar a seus prinefpios e, assim se espera, & vontade de Deus. E quando tentamos adaptar a nossa vontade & de Deus que comegamos a usé-la corretamente, Para todos nés esta foi uma revelagio maravilhosa. Todo 0 nosso problema resultou do abuso TTERCEIRO PASSO. 35 da vontade. Havfamos tentado atacar nossos problemas com ela, ao invés de modificd-la, para que estivesse de acordo com a vontade de Deus para conosco. A fungio dos Doze Passos de A.A. € tornar isto cada vez mais possivel, ¢ 0 Terceiro Passo & aquele que abre a porta, Uma vez que concordemos com estas idéias, € realmente fa- iniciar a pritica do Terceiro Passo, Cada vez que aparecer um momento de indecisao ou de distérbio emocional, podemos fazer uma pausa, pedir siléncio, ¢ dizer simplesmente: ‘oncedei-meé, Senhor, a serenidade necessaria para aceitar a8 coisas que nao posso modificar; coragem para modificar aque- las que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras. Seja_ feita Vossa vontade, nao a minha,” aes oe © QUARTO PASSO “Fizemos minucioso ¢ destemido inventario moral de nds mes- mos.” ‘A Criacdo nos deu os instintos por alguma razio. Sem eles no serfamos seres humanos completos. Se os homens e as mu- Theres nao se esforcassem a fim de se sentir seguros, a fim de conseguir alimento ou construir abrigo, no sobreviveriam; se no se reproduzissem, a Terra nfo seria povoada; se nao exis- tisse o instinto social, se os homens nfo se interessassem pelo convivio com seus semelhantes, nao haveria sociedade. Portan- to, estes desejos — pela relagdo sexual, pela seguranga material ce ciocional, e pelo companheifismo — so perfeitamente néces- sfcios e naturais, e certamente dados a nés por Deus. Contudo, estes instintos, tio necessarios para nossa existén- cia, freqiientemente excedem bastante suas fungdes especfficas. Fortemente, cegamente e muitas vezes simultaneamente, cles nos impulsionam, dominam e insistem em dirigir nossas vidas. Nossos anseios pelo sexo, pela seguranea material e emocional, ¢ por posigzo importante na sociedade, nos tiranizam com fre~ giléncia. Quase deturpados desta forma, os desejos naturais do homem causam-Ihe grandes problemas, alids quase todos os pro- ‘blemas que existem. Nenhum ser humano, por melhor que seja, fica livre destas dificuldades. Quase todo problema emocional grave pode ser considerado como um caso de instintos deturpados. Quando 880 acontece, nossas grandes qualidades naturais, 0s instintos, tor- nam-se empecilhos fisicos e mentais. (QUARTO PASSO 37 © Quarto Passo representa nosso esforgo enérgico e meticu- oso para descobrir quais foram, ¢ so, esses obstaculos em cada um de nds. Queremos descobrir exatamente como, quando e onde nossos desejos naturais nos deformaram. Queremos olhar de frente a infelicidade que isto causou aos outros ¢ a nés mesmos. Descobrindo quais so nossas deformidades emocionais, pode- mos nos encaminhar em diregdo & correco delas. Sem um es- forgo voluntirio e persistente para lograr isso, haver pouca sobriedade ¢ felicidade para nés, Sem um minucioso ¢ destemi do inventério moral, a maioria de nés verificou que a fé que realmente funciona na vida didria permanece fora de aleance. Antes de atacar o problema do inventério em pormenores, olhemos mais de perto para ver qual é o problema basico. Exem- plos simples como os que se seguem tomam para si um mundo de sentido quando pensamos neles. Suponhamos que uma pe soa ponha 0 desejo do sexo acima de tudo. Em tal caso, o im- pulso imperioso pode destruir sua oportunidade de obter a se- guranca material e emocional e também seu prestigio na comu- nidade. Outra pessoa poder desenvolver tamanha obsessao pela seguranea financeira que s6 quer se dedicar a amealhar dinhei- to, Indo ao extremo, poderd se converter em avarento, ou mesmo em um recluso que se nega a conviver com a familia ¢ os amigos. Nem sempre a procura de seguranga se expressa em termos de dinheiro. Com quanta freqiiéncia deparamos com um ser amedrontado, resolvido a depender totalmente de uma pessoa mais forte a fim de obter orientagao e protecao. Este ser fraco, incapaz de enfrentar as responsabilidades da vida com seus prd- prios recursos, nunca cresce. Esté destinado a desiluso € a0 desamparo, Com 0 tempo, todos os seus protetores fogem ou morrem, e mais uma vez ele se encontra sozinho e amedronta- do. ‘Também temos visto homens e mulheres que ficam doidos } om busca do poder e que se dedicam a tentar dominar seus com- | panheiros, Estas pessoas freqiientemente jogam fora toda opor- 38 QUARTO PASSO tunidade de ter legitima seguranga e um lar feliz. Cada vez que um ser humano se torna um campo de batalha para os instintos, no pode ter paz. aiQue os Porém, o perigo nfo é s6 esse. Toda vez que uma pessoa im- pée seus instintos, sem razdo, aos outros, segue-se a infelici- dade. Se a busca de riqueza atropela os que se encontram no caminho, provavelmente despertard o rancor, a invejae a vingan- ¢a. Se 0 sexo se desenfreia, cria o mesmo tumulto. Exigir dos outros excessiva atencio, protecdo ¢ amor s6 pode despertar a dominagio ou a revolta nos préprios protetores — duas emogdes tao doentias quanto as exigéncias que as provocam. Quando se descontrola o gosto de um individuo pelo prestfgio, seja numa reunido de mulheres costurando ou na mesa de conferéncia in- ternacional, outras pessoas sofrem ou, com freqiiéncia, se re~ yoltam, Esta colisio de instintos € capaz de produzir tanto um desajuste frio quanto uma revolugio ardente. Desta maneira nos encontramos em conflito nio somente conosco, seniio com ou- tros que, também, tém instintos. Os alcodlicos, especialmente, deveriam ser capazes de per- ceber que os instintos desenfreados representam a causa bésica de suas bebedeiras destrutivas. Temos nos embriagado para afo- gar nossos sentimentos de medo, frustragiio e depressio, Tei: nos embriagado para fugir do sentimento de culpa causado por “nossas paiXOES, € entdo temos nos embriagado de. para ac dar mais paixdes. Temos nos embriagado pela vangléria, para melhor desfrutar sénhos absurdos de ostentagio e poder. Néo€ agradavel-olhar-esta-perversio doentia da alma. Os instintos agitados impedem a investigagdo. A partir do momento em que nos esforgamos para examiné-los, estamos sujeitos a sofrer rea- ges graves. Se, temperamentalmente, formos do tipo depressivo, adqui- riremos 0 costume de nos mergulhar em sentimentos de culpa e auto-repugndncia. Chafurdamos neste brejo confuso, fregiiente- mente obtendo dele um prazer doloroso e deformado. Enquanto QUARTO PASSO 29 prosseguimos morbidamente nesta melancélica atividade, pode- temos descer até tal ponto de desespero que nada, a nao ser 0 ¢squecimento, se apresentard como solugdo. A esta altura, é cla- 10, j4 perdemos a perspectiva e, portanto, toda auténtica humil- Gide. Pois isto é apenas o orgulho operando em sentido contri tio. Isto, certamente nao é um inventario moral; € justamenie o processo através do qual o depressivo foi levado, tantas vezes, D garrafa ¢ & morte. Se, por outro lado, a nossa disposigao natural é inclinada ao orgulho ou & mania de grandeza, nossa reagio sera exatamente contréria, Sentir-nos-emos ofendidos pelo inventdrio sugerido por A.A. Sem diivida, assinalaremos, com orgulho, a vida boa que considerévamos ter antes de nos tornarmos vitimas da garra- fa, Afirmaremos que nossos sérios defeitos de carter, se é que consideramos té-los, foram causados em maior proporgio pelo beber exagerado. Sendo assim, achamos que procede logicamen- te, que a sobriedade € a tinica coisa que precisamos procurar, que nossa boa personalidade anterior nascerd de novo a partir do mo- mento em que deixarmos 0 dlcool. Se sempre fomos bastante agra- daveis, excluindo o problema da bebida, que necessidade haveria de fazer um inventério moral, ja que estamos s6brios? ‘Também nos apegamos a uma outra excelente desculpa para evitar um inventario. Nossos problemas ¢ ansiedades atuais, dizemos, so causados pelo comportamento de outras pessoas que realmente precisam fazer um inventétio moral. Acredi mos firmemente que, se elas nos tratassem melhor, nao terfa- mos problemas. Portanto, consideramos que nossa indignagio € razodvel e justificada, que nossos ressentimentos sto “do tipo l6gico”, Nés nfo somos os culpados. Sao elas. ‘Aessa altura do andamento do inventério, somos socorridos pelos nossos padrinhos. Isto eles podem fazer porque sao eles ‘05 portadores da experiéncia comprovada de A.A. com 0 Quar- to Passo. Consolam o desanimado, mostrando-Ihes, em prime ro lugar, que seu caso nao é nem estranho nem diferente ¢ que 40 (QuaRTO PASSO seus defeitos de cardter provavelmente nfo sfio mais numerosos e nem piores do que os de qualquer outro em A.A. Isto 0 padri nho logo demonstra, falando livre e espontaneamente e sem exibicionismo, de seus préprios defeitos passados ¢ atuais. Este inventério, calmo e ao mesmo tempo realistico, é imensamente confortador, O padrinho provavelmente faz ver que 0 novo AA tem alguns valores junto com seus defeitos. Isto tende a dissi- par a morbidez e a encorajar 0 equilibrio. Tao logo se torne mais objetivo, 0 recém-chegado poderd encarar seus préprios defeitos sem medo. Os padrinhos daqueles que nao sentem necessidade de um inventério enfrentam um outro tipo de problema. Isto é porque as pessoas impulsionadas pelo orgulho, inconscientemente nio véem seus defeitos: Estas certamente nao estZio precisando de conforto. O problema € ajudé-las a descobrir uma trinca nas paredes construfdas pelo seu ego, através da qual poderao ver aluz da razio. ‘Antes de mais nada, owvirdo que a maioria dos membros de A.A, sofreu severamente por causa da auto-justificagdo, na época das bebedeiras. Para a maioria de nés, essa escapatéria foi a cria- dora das desculpas para beber, e para todo tipo de comportamento louco e prejudicial. Haviamos feito das justificativas uma céte~ dra. Precis4vamos beber porque as coisas andavam mal ou anda- vam bem. Precisévamos beber porque no emprego éramos gran- des éxitos ou fracassos funestos. Precisdvamos beber porque em casa nos sufocavam com amor ou porque no nos davam amor algum. Precisévamos beber porque nossa patria havia ganho uma. guerra ou perdido a paz. E assim por diante, “ad infinitum”. ‘Achavamos que “as cifcunstancias” nos levaram a beber, e quando tentamos corrigi-las e descobrimos que nao conseguia- mos fazer a nosso conteato, nosso beber se descontrolou ¢ nos tornamos alcoélicos, Nuca nos ocorreu que precisévamos mu- dar a nés mesmos para que NOs ajustéssemos As circunstancias, fossem quais fossem. QUARTOPASSO 4a Porém, em A.A. aprendemos aos poucos que era necessério fazer algo a respeito de nossos ressentimentos vingativos, auto piedade e orgulho descabido. Precisdvamos ver que cada vez que bancévamos “os tais”, atrafamos 0s outros contra nés. Era necessdrio perceber que quando abrigévamos rancores ¢ plane- vamos a vinganga por essas derrotas, estdvamos realmente nos batendo com o porrete da furia que pretendfamos usar contra os outros. Aprendemos que, se estévamos seriamente alterados, a hossa primeira necessidade era acalmar essa alteragiio, no importando quem ou qual consider4vamos ser a causa. Geralmente demoraya bastante para percebermos como as hossas emogdes descontroladas nos vitimavam. Notavamos logo hos outros, mas sé vagarosamente em nés. Antes de mais nada, era preciso confessar que tinhamos muitos d esta admissao fosse dolorosae hi E tas pessoas, tivemos de eliminara palavra “culpa” de nosso vocabulario e nossos pensamentos. Isto requeria uma dose ra- zoiivel de boa disposigao, sé para iniciar. Uma vez ultrapass das as primeiras duas ou trés barreiras, 0 caminho pela frente comegava a parecer menos dificil. Pois haviamos comegado a obter uma imagem objetiva de nés mesmos, o que é outra ma- neira de dizer que estavamos adquirindo certa humildade. Sem diivida, o depressivo e 0 arrogante so personalidades extremas, tipos que A.A. e o mundo inteiro possuem em abun- \cia. Muitas vezes estas personalidades so nitidamente defi- das, como nos exemplos oferecidos. Mas freqiientemente, al- guns de nés podem ser enquadrados em ambas as classifica- gdes. Nao existem dois seres humanos exatamente iguais, por- anto cada um de nés, ao fazer seu inventério, precisard determi har quais sao seus proprios defeitos de cardter. Havendo encon- trado os sapatos que Ihe sirvam, deveria calg4-los e andar com a hoya confianga de que, finalmente, est4 no caminho certo. Agora, consideremos a necessidade de uma relagdo dos de- feitos de personalidade mais marcantes que todos temos em va- 42 QUARTOPASSO rias medidas. Para aqueles com um treinamento religioso, tal relagdo incluiria sérias violagdes de prinefpios. Outros considera- riam uma relagao de defeitos de carter. Alguns a chamariam “um indice de desajustes”. Outros se incomodariam bastante se se falas- seem imoralidade, e mais ainda se se falasse em pecado. Contudo, todos os que sejam razoaveis concordardo em um ponto: que hé bastante de errado em nés alcodlicos, havendo muito que fazer se esperamos conseguir a sobriedade, 0 progresso e a verda- Geira capacidade de enfrentar a vida. Para evitar cair em confusiio sobre os nomes que deveriam ser dados aestes defeitos, tomemos uma relago, universalmen- te reconhecida, das principais falhas humanas, os Sete Pecados Capitais: orgulho, avareza, luxtiria, ira, gula, invejae preguig: ‘Nao & por acidente que a primeira delas ¢ orgulho. O orgulho, que leva d auto-justificagao, sempre iniciada por temores cons cientes ou inconscientes, é o principal causador da maioria das dificuldades humanas, o maior empecilho ao progresso verda- deiro. O orgulho nos induz.a fazer exigéncias de nds e dos ov- tros que nao podem ser cumpridas sem perversao ou abuso dos instintos que Deus nos deu. Quando a satisfagiio de nosso ins- tinto pelo sexo, seguranga e posigao social se tornao nico ob- jetivo de nossas vidas, ento 0 orgulho entra em cena para jus- tificar nossos excessos. ‘Todas estas falhas geram o medo, uma doenga da alma em si. Entio, o medo, por sua vez, gera mais defeitos de cardter. O ‘medo nio justificado de que nossos instintos nfo sejam satisfei- tos, nos leva a desejar os bens dos outros, a ansiar pelo sexo ¢ 0 poder, a nos irritar quando nossas exigéncias so ameagadas, a sentir inveja quando os outros parecem satisfazer suas ambi- ges enquanto nés nada conseguimos com as nossas. Comemos, bebemos e procuramos obter mais do que precisamos, por medo de nunca ter 0 suficiente, B com apreensio auténtica, frente & perspectiva do trabalho, nos quedamos preguigosos. Desperdi- ‘camos 0 tempo e demoramos, adiamos ou, na melhor das hipste- QUARTOPASSO 3 ses, trabalhamos de mA vontade e com pouca energia. Estas for- mas de medo so cupins que, incansavelmente, devoram os ali- cerces da vida que tentamos construir. Portanto, quando A.A. sugere um inventirio moral destemi- do, deve parecer a todo recém-chegado que estamos pedindo- Ihe mais do que cle & capaz. de fazer. Ambos, o orgulho ¢ 0 medo, 0 assaltam cada vez que tenta olhar para dentro de si. O orgulho diz: “Vocé nao precisa passar por aqui...” € 0 medo responde: “Nao se atreva a olhar”. Porém, o testemunho de AAS que realmente experimentaram fazer um inYentério moral & que orgulho e medo deste tipo ndo passam de fantasmas, nada mais. Uma vez que nos sentimos inteiramente dispostos a inventariar 4 nossa vida e nos esforcamos para fazé-lo minuciosamente, uma luz maravilhosa cai sobre esta cena nebulosa. Ao persistir- ' mos, nasce um tipo de confianga totalmenle novo, e ¢ indescri- \ tivel a sensagdo de alfvio ao nos encararmos finalmente. Estes / siio os primeiros frutos do Quarto Passo. i Agora, o recém-chegado provavelmente tera chegado as se- guintes conclusdes: que seus defeitos de carter, representando instintos desviados, foram a causa primordial de suas bebedeiras e de seu fracasso na vida; ao menos que agora esteja disposto a se esforcar para eliminar os piores destes defeitos, tanto a so- briedade quanto a paz de espfrito ainda se esquivarao dele; todo oalicerce errado de sua vida tera de ser arrancado e reconstruido num chiio de rocha firme. Disposto agora a iniciar a busca de seus prdprios defeitos, perguntard: “Por onde comego? Como devo fazer para levar a bom termo um inventério de mim mesmo?” Por ser 0 Quarto Passo o inicio apenas de um exercicio que durard a vida toda, pode-se sugerir que ele comece por investi- gar aquelas falhas pessoais que mais intensamente o molestam € que so relativamente dbvias. Usando seu melhor bom-senso sobre o que tem sido certo ou errado, poderd fazer um exame geral de sua conduta no que tange a seus instintos primérios de sexo, seguranca e vida social. Revisando sua vida, poderd co- 4 QUARTO PASSO ‘megar facilmente, com a consideragio de perguntas como estas: Quando, como, e em que circunstancias especificas minha pro- cura egofsta da relagio sexual causou prejuizos a outras pes- soas ea mim? Quais as pessoas prejudicadas, e até que ponto? Estraguei meu matriménio c prejudiquei meus filhos? Compro- ‘meti minha posigio na comunidade? Como foi que reagi a essas situagées, naquela época? Queimava-me com um sentimento de culpa que nada conseguia extinguir? Ou absolvia-me com a in- sisténcia de que era 0 perseguido em vez de perseguidor? De que forma tenho reagido a frustragiio em assuntos sextiais? Quan- do contrariado, tornava-me Vingativo ou deprimido? Desforra- ‘ya-me em outras pessoas? Se houvesse rejeicdo ou friezaem casa, usava isso como desculpa para prevaricagio? ‘Também de importincia para a majoria dos alco6licos sao as perguntas que precisam fazer sobre seu comportamento no {0- cante A seguranga financeira e emocional. Nessas reas, com mui- ta freqléncia, o medo, a cobica, a possessividade e o orgulho fizeram muitos danos. Analisando sua carreira de negécios ¢ em- pregos, qualquer alcoslico poderd se fazer perguntas como estas: ‘Além de meu problema de bebida, que defeitos de carter contri buiram para minha instabilidade financeira? O medo e o sentido de inferioridade, em matéria de minha capacidade para exercer ‘minhas fungSes, destruiram a minha confianga e me encheram de conflitos? Tentei encobrir esses sentimentos de inseguranga ble- fando, fraudando, mentindo, evitando a responsabilidade ou quel: xando-me? Queixando-me de que os outros nao reconheciam mi has habilidades verdadeiramente excepcionais? Exagerava o meu valor ¢ bancava o “manda-chuva”? Possufa uma ambigao (0 Inescrupulosa que trafa e minava meus colegas? Era extravagante? ‘Tomava emprestado dinheiro descuidadamente, importando-me pouco em rep0-lo? Era um “pao-duro”, recusando manter devi- damente a minha familia? Estava disposto a ganhar dinheiro deso- nestamente? Que dizer dos “negécios seguros”, a bolsa de valo- res, o mercado, 0 jogo? QUARTO PASSO 4s As mulheres de negécios em A.A. naturalmente notardo que muitas destas perguntas se referem também a elas. Mas também a dona-de-casa aleodlica pode trazer inseguranca financeira d fami- lia, Ela pode fazer mégicas com sua contas de crédito, manipular 0 orgamento da alimentagdo, passar as tardes jogando e levar 0 ma- rido a dividas sérias com sua irresponsabilidade, seus gastos e sua extravagincia. Porém, todos os alcodlicos que beberam até perder seus em- pregos, suas familias e scus amigos, precisarao reinquitir-se impiedosamente para determinar até que ponto seus defeitos de personalidade demoliram sua seguranga. Os sintomas mais comuns de inseguranga emocional sia preo- cupacio, a ira, a autopiedade e a depressio. Estas nascem de cau- Sas que, as vezes, parecem estar dentro de nés e, outras, vir de fora. Para o inventdrio nesse sentido, deverfamos considerar cuida- dosamente todas as nossas relagGes pessoais das quais sempre de- correm problemas. Deve-se reconhecer que esse tipo de insegu- ranga poderd surgir em qualquer ocasiona qual os instintos se veem ameagados. Perguntas feitas com esse objetivo poderiam ser como estas: olhando tanto para o passado quanto para o presente, que casos sexuais me causaram ansiedade, amargura, frustracio ou de- pressdo? Analisando cada caso imparcialmente, posso ver onde, como e quando cometi erros, Esses problemas me perturbaram por causa de egoismo ou exigéncias irrazoiveis? Se meu disttirbio foi aparentemente causado pelo comportamento de outros, por que ime falta a capacidade de aceitar as condigbes que niio posso modi- ficar? Essas representam tipos de perguntas fundamentais que po- dem revelar a fonte do meu desconforto e indicar se poderei ser capaz de alterar minha propria conduta e, dessa mancira, ajustar- me autodisciplina, serenamente. Suponbamos que a inseguranga financeira desperte constan- temente esses mesmos sentimentos. Posso me perguntar até que ponto meus préprios erros alimentaram minhas ansiedades e meus temores. E se as ages de outros so parte da causa, que 46 (QUARTOPASSO posso fazer a respeito? Se ndo tenho condigdes de mudar 0 esta- do atual das coisas, estou disposto a tomar as medidas necess4- rias para adaptar minha vida a elas, tais como so? Perguntas ‘como estas e outras serio lembradas, facilmente, em cada caso individual, ¢ ajudardo a desenterrar as causas originais, ‘Mas € por causa de nossas relagdes deturpadas com parentes, amigos e a sociedade 14 fora que muitos de nés sofremos mais. Temos sido por demais obtusos ¢ teimosos nestas relagdes. O fato principal que deixamos de reconhecer ¢ a nossa incapaci- dade total de manter uma verdadcira intimidade com outro ser humano. Nossa egomania cava duas armadilhas desastrosas. Insistimos em dominar as pessoas que conhecemos, ou depende- mos demais delas. Se nos apoiamos demasiadamente nas pesso- as, mais cedo ou mais tarde nos decepcionario, pois também sdo humanos e nfo podem absolutamente satisfazer as nossas exigéncias incessantes. Assim, nossa inseguranga cresce ¢ se inflama, Quando tentamos, habitualmente, manipular os outros para que cumpram nossas teimosas vontades, revoltam-se ¢ re sistem fortemente. Entdo, deixamos crescer os sentimentos fe- tidos, a mania de perseguicAo e 0 desejo de retaliagtio. Confor- me redobramos nossos esforgos para controlar, e continuamos fracassando, nosso sofrimento torna-se agudo e constante, Em nenhuma ocasitio procuramos ser um membro da fam{- Jia, um amigo entre amigos, um colega entre os outros, ou um membro itil da sociedade. Sempre nos esforgamos para chegar até o topo do morro, ou entdio para nos escondermos & sombra dele. Este comportamento egofsta impedia uma relagio intima com qualquer pessoa ao nosso redor. Da verdadeira fraternidade pouco conhecfamos. ‘Alguns fardo objecio a muitas perguntas feitas, por acharem que seus defeitos talvez. no tenham sido assim tao flagrantes. ‘A estes pode-se sugerir que um exame consciente é capaz de revelar justamente os defeitos dos quais tratam as perguntas desagradaveis, Pelo fato de nossa hist6ria no ter sido tio ruim QUARTOPASSO 4 na superficie, ficamos freqlientemente embaragados ao desco- brir que isto se deve simplesmente ao fato de havermos enterra- do tais defeitos no mais profundo de nés mesmos, debaixo de grossas camadas de autojustificagao. Sejam quais forem os de- feitos, acabaram por nos emboscar no alcoolismo e na miséria. Portanto, minuciosidade deveria ser o lema quando se trata de um inventitio. Neste sentido, € sdbio escrevermos hossas ~perguntas e respostas. Servir como ajuda aos pensamentos cla- 108 ¢ & avaliagio honesta. Seré a primeira indicago tangivel de nossa total disposigdo de tocar para frente. QUINTO PASSO “Admitimos perante Deus, perante nés mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas fathas. Todos os Doze Passos de A.A. nos pedem para attrar em sen- tido contrario aos nossos desejos naturais, todos desinflam nos- so ego. Quando se trata de desinflar 0 ego, poucos passos sio mais duros de aceitar que 0 Quinto. Mas, dificilmente, algum deles é mais necessfrio & obtengao da sobriedade prolongada ¢ A paz de espirito do que este. ‘ ; f ‘A experiéncia de A.A. nos indicou que no podemos viver soz rnhos com insistentes problemas ¢ 0s defeitos de caréter que os causam ce agravam. Caso tenhamos passado 0 holofote do Quarto Passo sobre nossas vidas, ¢ se ele tiver realcado aquelas experiéncias que prefes ‘mos nfo lembrar, se chegamos a aprender como os pensamentos ¢ as ages erradas feriram ands e a outrem, entio se torna mais imperativo do que munca desistir de viver sozinhos com esses fantasmas torturan- tes de ontem. E preciso falar com alguém aesse respeito. ‘Tao intensos, porém, so nosso medo e a relutncia de faz8-lo que, 20 inicio, muitos As tentam contomnar © Quinto Passo. Procuramos uma maneira mais facil - que geralmente consiste na admissio ampla @ quase indolorosa de que, quando bebfamos, éramos, 3s vezes, maus elementos. Entdo, para completar, acrescentamos descrig6es dramati- ‘cas desse lado de nosso comportamento quando bébados que, em todo aso, nossos amigos provavelmente ja conhecem. ‘Mas, das coisas que realmente nos aborrecem e maream, nada dizemos. Certas lembrangas penosas ¢ aflitivas, dizemos para ‘QUINTO PASSO 49 n6s mesmos, no devem ser compartilhadas com ninguém, Es- 8as serio nosso segredo. Ninguém deve saber. Esperamos leva- las conosco para a sepultura. Contudo, se a experiéncia de A.A. serve para algo, ela nos diz que a esse procedimento, nao sé falta critério, como tam- bém, é uma resolugao perigosa. Poucas atitudes atrapalhadas causaram mais problemas do que recusar-se & pratica do Quinto Passo. Algumas pessoas so incapazes de permanecer s6brias, outras recairio periodicamente enquanto ndo fizerem uma ver- dadcira “limpeza de casa”. Até os veteranos em A.A., sbrios hé anos, feeqtientemente pagam caro por haver praticado este passo superficialmente. Contarao como tentaram carregar 0 peso sozinhos; quanto sofreram com a irritabilidade, a ansiedade, 0 temorso e a depressio; e como, inconscientemente procurando o alfvio, as vezes até imputavam aos seus melhores amigos 0s defeitos de carter que eles mesmos estavam tentando encobrir. Enfim, descobriram que o alivio nunca chegava com a confissio dos pecados alheios e sim, cada qual se concentrando nos seus. Este sistema de admitir os proprios defeitos a outra pessoa é, sem diivida, muito antigo. Tem sido validado em todos os sécu- los, e caracteriza a vida de toda pessoa espiritualmente orienta- dae verdadeiramente religiosa. Mas hoje, a religido nfo é nem de longe 0 nico defensor deste principio salvador. Os psiquia~ tras ¢ psic6logos apontam a profunda necessidade que todo ser humano tem de, na pratica, discernir e conhecer as falhas de sua prépria personalidade e discutir sobre elas com uma pessoa com- preensiva e digna de confianca. No que se refere aos alcoé- licos, A.A. iria mais longe ainda, A maioria de seus membros niio teria dtivida em proclamar que, sem a corajosa admissio de seus defeitos perante outro ser humano, no teria podido se manter s6bria. Sem que estejamos dispostos a tentar esse reco- nhecimento, parece claro que a Graga Divina no nos tocaré para expulsar nossas obsessdes destrutivas. Que somos capazes de ganhar com 0 Quinto Passo? Em pri- 30 Quinto PASSO meiro lugar, livrar-nos-emos dessa terrivel sensagao de isola~ ‘mento que sempre tivemos. Quase sem excegiio,.0s alcoslicos sio torturados pela solidio. Mesmo antes de nossas bebedeiras se tornarem graves e as pessoas se afastarem de nds, quase to- dos nés sofremos a sensagao de estarmos sés. Eramos acanha- dos ¢ nao nos atreviamos a nos aproximar dos outros, ou éra- mos capazes de ser “bons sujeitos”, almejando a atencao ¢ 0 companheirismo, embora jamais 0 conseguissemos, pelo me- nos em nossa maneira de entender. Sempre existia aquela bar- reira misteriosa que no conseguiamos compreender nem supe- tar, Era como se fOssemos atores num palco, subitamente des- cobrindo que nao sabfamos uma $6 linha de nosso papel. Fis uma das razées pela qual amavamos tanto 0 alcool. Ele nos per- mitia desempenhar nosso papel a qualquer tempo. Mas, até Baco acabou nos prejudicando; finalmente, nos arrasavae deixava numa solido aterrorizante. ‘Quando chegamos em A.A., pela primeira vez.na vida nos encontramos entre pessoas que pareciam nos entender, a sensa- dio de fazer parte de alguma coisa era tremendamente emocio- nante. Achamos que o problema do isolamento havia termina- do. Porém, logo descobrimos que embora nao estivéssemos mais sozinhos no sentido social, ainda sofrfamos muito os antigos tor- mentos aflitivos de sentir-nos & parte, Enquanto ndo falasse- mos, com toda a franqueza, de nossos conflitos ¢ ouv{ssemos outra pessoa fazer a mesma coisa, ainda nao estariamos partici- pando. A solugio era 0 Quinto Passo. Era o comego de um verdadeiro parentesco com as pessoas e com Deus. Este passo vital também foi o meio pelo qual comegamos ter a sensago de que poderfamos set perdoados, niio importan- do o que houvéssemos pensado ou feito. Freqtientemente, en- quanto dévamos este passo com nossos padrinhos ou conselhei- 10s espirituais, pela primeira vez, nos sentfamos verdadeiramente capazes de perdoar aos outros, néio importa quo profundamen- te sentfssemos que nos houvessem maltratado. Nosso inventé- QUINTO PASSO st rio moral nos havia persuadido de que o perdo geral era desejével, mas foi somente quando demos o Quinto Passo com resolugdo, que soubemas, em nosso fntimo, o quanto serfamos capazes de aceitar o perdiio e perdoar também. Outra grande dadiva que podemos esperar por confiar noss0s defeitos a outro ser humano é a humildade - uma palavra freqiientemnente mal compreendida. Para aqueles que tém progre- io em A.A., representa um reconhecimento claro do que e de quem somos realmente, seguido de um esforgo sincero para ser aguilo que poderfamos ser, Portanto, nossa primeira medida prati- caem diregio a humildade deveria consistir no reconhecimento de nossas deficiéncias. NZo se pode corrigir defeito algum sem ver claramente 0 que é. Mas precisaremos fazer mais do que ver. A olhada objetiva que demos no Quarto Passo foi, afinal de conta, apenas uma olhada. Todos nés vimos, por exemplo, que As vezes nos faltava honestidadee tolexdncia, eéramos dominados por etises de antopiedade ou delirios de grandeza. Porém, embora isto fosse uma experiéncia humilhante nfo significava, necessariamente, que jé hou- véssemos alcancado a verdadeira humildade. Emborafinalmente 200- nhecidos, nossos defeitos permaneciam. Era nevessétio fazer algo a respeito deles e logo descobrimos que sozinhos nio consegufamos afasté-los, mesmo que 0 desejassemos. ‘Maior realismo e, portanto, mais honestidade a nosso res- peito sfo os nossos grandes ¢ positivos beneficios que ganha- mos sob a influéncia do Quinto Passo. Enquanto faziamos 0 inventério, comecamos a suspeitar de quantos problemas nos havia causado 0 nosso auto-engano. Disso havia se originado uma ponderacao inquietante, Se nos havfamos enganado duran- te quase toda vida, como poderiamos agora estar seguros de que nfo seguiamos auto-enganados? Como poderiamos estar cettos de tinhamos feito um verdadeiro catélago de nossos de- feitos e os haviamos admitido realmente, até para nés mesmos? Estando ainda perturbados pelo medo, pela autopiedade e por outros sentimentos feridos, provavelmente nfo estavamos em con- 2 Quito rasso digbes de nos avaliar com justiga. Demasiada culpa e remorso poderiam fazer com que exagerassemos nossas falhas Ouen- tao, a ira ¢ 0 orgulho ferido poderiam ser acamuflagem atrés da qual estévamos escondendo alguns de nossos defeitos enquanto culpdvamos outros por eles. Possivelmente, também, ainda es- t4vamos sendo prejudicados por muitas falhas, grandes ¢ pe- quenas, que nunca sonhayamos ter. ; Portanto, era evidente que uma auto-anélise de nossos defei- /t0s, feita solitariamente baseada s6 nisso, nem de longe seria su- | ficiente. Precisarfamos da ajuda externa de Deus & de um ser hu- mano para saber, com certeza, a verdade a nosso respeito¢ admiti- la. Unicamente através de uma discussd0 sobre nés mesmos, sem | esconder nada, estando: dispostos a receber. adverténcias e aceitar | consethos, poderfamos comegaracaminhar em diregao ao pensa- ‘mento correto, a honestidade sélida e a auténtica humildade. Porém, muitos de nds ainda nos sentfamos relutantes ¢ dizfa- mos: “Por que nao pode Deus, na forma em que O entendemos, nos contar onde estamos errados? Se 0 Criador nos deu nossas vidas, deve entdo, saber com minticias onde, como e quando temos errado desde o infcio. Por que nao fazer nossas admis- sées diretamente a Ele? Por que € necessaria a interferéncia de uma outra pessoa neste assunto?” “Aessaaltura, as dificuldades de tentar lidar corretamente com Deus, sozinhos, séo duplas. Embora possamos, a principio, fi- car espantados ao reconhecer que Deus sabe tudo a nosso res- peito, somos capazes de nos acostumar a isso em pouco tempo De algum modo, estar sozinho com Deus nao parece ser tao embaragoso quanto enfrentar uma outra pessoa. Até que resol- vamos sentar ¢ falar em voz alta a respeito das coisas que ba tempo, temos escondido, nossa disposigao de “limpar a casa” é meramente tedrica. O fato de sermos honestos com outra pes soa, confirma que temos sido honestos conosco ¢ com Deus. ‘A segunda dificuldade esta naquilo que nos vemenquanto estamos 36s, e que pode ser deturpado pelos nossos anseios ¢racionaliza- ‘QUINTO PASSO 8 ges. A vantagem em falar com outta pessoa & que podemos, de forma deta, obter seus comentirios e conselhos sobre a nossa stua- Gio, nfo podendo haver dividas em nossas mentes sobre esses conse- Ihos. Tratando-se de assuntos espitituais, andar sozinho é perigoso Quantas vezes ouvimos pessoas bem intencionadas proclamar a ori entago de Deus, quando era mais do que evidente que estavam mui- to enganadas. Faltando-Ihes tanto a pitica quanto a humildade, ha Viam se iludido e se permitiam justificar a mais rematada bobagem sob a slegagio de que era isto que Deus es havi dito, Vale notar que pessous de maior desenvolvimento espiitul quase sempre insistem em verificar,com amigos ou conselheiros espirtuais, a orientagio que consideram haver recebido de Deus. F certo, ento, que um rece chegado nao deva correr orisco de cometer, desta maneira, enga- nos, talveztrgicos, por falta de ertérios, Embora os comentirios ou conselhos de outros possam conter falhas,é possivel que sejam mais especificos do que qualquer orientacdo direta que possamos receber enquanto ainda somos to inexperientes no estabelecimento do con: tato com um Poder Superior a nds. i Nosso préximo problema serd descobrir a pessoa na qual ire- mos confiar. Aqui devemos tomar bastante cuidado, lembrando- Hos que a prudéneia é considerada uma das mais valiosas virtu- des. E possivel que seja necessario compartilhar com esta pessoa fatos a nosso respeito que ninguém mais deva saber, Desejare- mos falar com alguém experiente que ndo s6 tenha se mantido abstémio, como também conseguido superar outras sérias difi- uldades, iguais talvez As nossas. Esta pessoa poderd ser 0 noss pacino, embora ndo necessariamente. Se-a nossa confianya nele estiver bem desenvolvida, se oseu temperamento e seus proble- mas Zorem semelhantes aos nossos, entéo nossa escolha sers boa, Além do mais, nosso padrinho ja tem a vantagem de conhecer alguma coisa a respeito do nosso caso. Contudo, possivelmente sua relagio com ele seja tal que voce dlesejaria revelar apenas uma parte de sua historia, Se for este o (so, faca-o sem diivida, pois deve comecar o mais breve possivel, st QUINTOPASSO Poder acontecer porém, que vocé venha aescolher alguma outra pessoa para as revelagbes mais diffceis e profundas. Esta pessoa poderd estar inteiramente desligada de A.A. por exemplo, seu pre- ceptor religioso ou seu médico. Para alguns de nés, uma pessoa totalmente estranha poderd ser a melhor escolha. 'A inteira confianga depositada naquele com quem compar- tilharemos nossa auto-andlise, e nossa boa disposigao, serdo as provas verdadeiras da situagaio. Mesmo depois de ter encontra- do a pessoa, 0 aproximar-se dele ou dela requer muita deciszo. Ninguém deve dizer que o programa de A.A. nfo requer forga de vontade; este € um dos momentos em que poder ser neces- séria toda que tiver. Felizmente, contudo, vocé provavelmente receberd uma surpresa agradavel. Quando tenha explicado seu propésito cuidadosamente, e 0 depositirio de sua confianga te- nha entendido 0 quanto ele o poder ajudar, na verdade, a con- versagio comegaré facilmente ¢ logo se tomaré animada. Em breve, seu ouvinte poderd contar uma ou outra hist6ria a respei- to dele que deixard vocé ainda mais & vontade, Desde que voce nada esconda, sua sensacio de alivio aumentaré de minuto a minuto, As emogoes reprimidas durante anos saem de seu con- finamento, e milagrosamente desaparecem ao serem expostas. A medida que a dor diminui, é substitufda por uma tranqiiilidade balsamica. E quando a humildade ¢ a screnidade se misturam desta maneira, outra importantissima coisa é capaz de ocorrer. Muitos AAs anteriormente agnésticos ou ateus, nos dizem que foi nesta fase do Quinto Passo que realmente sentiram, pela pri- meira vez, a presenga de Deus. E mesmo aqueles que jé tinham 6, freqiientemente se tornam conscientes de Deus como nunca antes o foram. 'A sensagio de estar unido a Deus ¢ ao homem, a saida do isolamento por meio de um compartilhar aberto ¢ honest do terrivel peso de nossa culpa, nos leva a um lugar de descanso ‘onde podemos preparar-nos para os passos seguintes em dire- eo a uma sobriedade plena e significativa. SEXTO PASSO ‘Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removes- se todos esses defeitos de cardter .” “Este € 0 passo que separa os adultos dos adolescentes...” Bis 0 que declara um clérigo muito querido que, por sinal, é um dos melhores amigos de A.A. Ele prossegue para explicar que qualquer pessoa cheia de disposicao e honestidade suficientes para, repetidamente, experimentar 0 Sexto Passo com respeito a todos seus defeitos — em absoluto sem qualquer reserva — tem realmente andado um bom pedago no campo espiritual e, portan- to, merece ser chamado de um homem que esté sinceramente empenhado em crescer 4 imagem e semelhanga do Criador. Evidentemente, a tio discutida pergunta sobre se Deus pode —e quer, sob certas condigGes ~ remover os defeitos de caréter, ser respondida afirmativamente pela quase totalidade dos mem. bros de A.A. Para eles, esta proposigdo ndo sera apenas teoria; ser simplesmente uma das maiores realidades de suas vidas. Ge- ralmente oferecerdo suas provas em exposigdo semelhante a esta: ‘f claro, estava vencido, completamente derrotado. Minha pr6pria forga de vontade simplesmente nao funcionava no caso do alcool. Mudangas de ambiente, os melhores esforgos de pa- rentes, amigos, médicos ¢ clérigos nada adiantaram no caso do meu alcoolismo. Simplesmente nao conseguia parar de beber, e nenhum ser humano parecia ter a capacidade de me ajudar. Po- 16m, quando me dispus a “limpar a casa” e, rogue’ aum Poder Superior, Deus, como eu o compreendia, que me libertasse, en- 56 'SEXTO PASSO tio minha obsessdo para o beber sumiu. Simplesmente foi ar- raneada de mim.” Em reuni6es de A.A. em todo o mundo, diariamente se ou- vem declaragdes como esta. Esté claro, para que todos possam ver, que a cada membro sébrio de A.A. foi concedida a liberta- go desta mui obstinada e potencialmente fatal obsessao. Por tanto, de forma literal e completa, todos AAs “se prontificaram inteiramente” a deixar que Deus removesse de suas vidas a ma- nia pelo alcool. E Deus passou a fazer justamente isso. Havendo aleangado uma completa libertacao do alcoolismo, por que, entio, nio deverfamos poder chegar, pelos mesmos meios, 2 perfeita libertagdo de qualquer outro problema ou de- feito? Este € um enigma de nossa existéncia, para o qual ares- posta certa s6 poder estar na mente de Deus. Todavia, pelo menos uma parte da resposta nos é aparente. Quando homens e mulheres derramam tanto alcool para den- tro de si, destrem suas vidas e cometem um ato totalmente antinatural. Contrariando seu desejo instintivo de autopreserva- do, parecem estar resolvidos 2 autodestruigao. Atuam contra Seu instinto mais profundo. Por estarem humilhados pela terri- vel surra administrada pelo dlcool, a graga de Deus pode neles penetrar ¢ expelir sua obsessio. Aqui, ento, seu poderoso ins- tinto de viver pode cooperar plenamente com a deciso do Cria- dor de Ihes dar nova vida, Pois tanto a natureza quanto Deus abominam o suicidio. Porém, a maioria de nossas outras dificuldades ndo se en- quadram, de forma alguma, em tal categoria. Por exemplo, toda pessoa normal quer comer, reproduzir-se, ser alguém dentro da sociedade em que vive, e deseja estar razoavelmente protegido © seguro enquanto tenta conseguir estas coisas. De fato, Deus 0 fez assim, Ele nao criou 0 homem para se destruir pelo dlcool, ¢ sim Ihe deu os instintos para ajudé-lo a se manter vivo. Nao ha qualquer indicac0, pelo menos nesta vida, de que nosso Criador queira que eliminemos, totalmente, nossos impul- SEXTO PASSO 37 0s instintivos. Pelo que sabemos, em nenhum lugar consta que Deus tenha eliminado completamente, em algum ser humano, todos seus impulsos naturais. : Visto que a maioria de nés nasceu com abundancia de desejos naturais, no éde se admirar que, freqiientemente, se convertam emeexigéncias que excedem seus propdsitos originais. Quando nos impelem cegamente, ou quando, obstinadamente, exigimos que nos déem mais satisfagdes © prazeres do que é possivel ou do que merecemos, estamos no ponto em que nos afastamos do grau de Pextesto que Deus deseja para nds aqui na Terra. Essa é a medi- ec ie defeitos de cardter ou, se preferirmos, de nossos Se pedirmos, Deus certamente perdoaré nossas negligéncias. Porém, nunca ird nos tornar brancos como a neve Enos matite- 14 assim Seif a nossa cooperacdo. Nés mesmos devemos estar dispostos a fazer o necessério para Ele apenas alcangar isso. Pede para que tentemos, da melhor maneira possivel, obter pro- gresso na edificagao de nosso carter. De modo que 0 Sexto Passo - “prontificamo-nos inteiramen- tea deixar que Deus removesse todos esses defeitos de carter” 6 amaneira de A.A. expora melhor atitude possivel que se pode tomar para dar um comego nessa obra de toda uma vida. Isso nao quer dizer que esperamos que todos nossos defeitos de ca- rater sejam eliminados como foi nossa compulsio de beber. Alguns deles podem ser eliminados, mas com a maioria tere- mos de nos contentar com uma melhora que requer paciéncia, As palavras-chave, “prontificamo-nos inteiramente”, frisam 0 fa- to de querermos conseguir 0 melhor que conhecemos ou que podemos vir a conhecer Quantos de nds tém esse grau de disposigaio? Em sentido aabso-luto, praticamente ninguém o tem. O melhor que podemos fazer, usando de toda a sinceridade possfvel, é nos empenhar- mos para obté-la, Mesmo assim, os membros mais aplicados e dedicados descobrirao, para sua consternagiio, que sempre exis- B SEXTO PASSO te um ponto que nos prende, um ponto em que dizemos: “Nao, ainda nao posso me livrar disso”. E, com frequéncia, pisaremos em terreno ainda mais perigoso quando lamuriamos: “A isso ja~ mais renunciarei.” Tal € a capacidade de nossos instintos de se excederem. Seja qual for a distancia que tenhamos percorrido, sempre teremos desejos que contrariam a graga de Deus. Alguns, que julgam ter progredido bastante, poderio discor- dar; por isso, vamos refletir um pouco mais detidamente. Quase toda pessoa deseja se livrar de seus empecilhos mais salientes. Ninguém quer ser tio orgulhoso para ser desprezado como um fanfarrao, nem tdio ambicioso para que o chamem de ladrao; ninguém quer ter o rancor capaz de lev4-lo ao homicidio, nem lascivia para violentar e nem gula que lhe arrufne a satide. Nin- guém quer sofrer a cronica dor da inveja ou ser paralisado pela preguica, E claro que a maioria dos homens nao tém esses de- feitos em niveis tio altos. Nés, que temos escapado desses extremos, somos capazes de nos congratular; mas, podemos? Afinal de contas, no foi o interesse proprio que nos permitin escapar? Nao se requer muito esforgo espi: ritual para evitar os excessos que, de qualquer forma, nos trariam castigo. Porém, quando encaramos os aspectos menos violentos des- ses mesmos defeitos, nese caso, em que pé estamos? (O que precisamos reconhecer agora € que nos regozijamos com alguns de nossos defeitos. Adoramo-Ios, realmente. Quem, por exemplo, nao gosta de sentir-se um pouquinho superior ao outro, ou mesmo bastante superior? Nao é verdade que gosta- mos de deixar que a avareza se faga passar por ambigao. Parece imposstvel pensar em gostar da lascivia. Mas, quantos homens € mulheres falam em amor da boca para fora, e acreditam naquilo que dizem, para que possam esconder a lascfvia num canto es curo de suas mentes? E, mesmo ficando dentro dos limites con- vencionais, muitas pessoas precisam admitir que suas excurs6es sexuais imaginérias so capazes de adornar-se como sonhos ro- manticos. SEXTO PASSO 59 Orrancor hipécrita também pode ser agradavel, De um modo perverso podemos até sentir satisfagdo pelo fato de que muitas pessoas nos aborrecem, pois isso nos traz uma sensagio como- da de superioridade. A “fofoca”, acrescida de nossa ira, uma forma polida de homicfdio por meio do assassinato do caréter, também traz suas satisfagdes para nés. Nestes casos, nao estamos tentando ajudar aqueles que criticamos; estamos tentando pro- clamar nossa prépria retidao, Quando a gula ndo chega a ser prejudicial demais, também Ihe damos um nome mais brando; dizemos que estamos “desfru- tando de um certo conforto”. Vivemos num mundo repleto de inveja. Em grau maior ou menor, todos somos contaminados por ela. Deste defeito certamente tiramos uma satisfagio desnaturada, embora bem definida. Se assim no fosse, por que consumirfamos tanto tempo desejando o que nao temos, em vez de trabalhar para obt6-Io ou raivosamente procurando pot qua- lidades que nunca teremos, em vez de nos ajustarmos ao fato ‘iceité-lo? E quantas vezes trabalhamos incansavelmente, sem maior motive do que para estar seguros e preguicosos mais tar- de~s6 que 0 chamamos de “aposentadoria”? Considere, ainda, nosso talento para a vagabundagem. O que é, na realidade, a preguica em cinco sflabas. Nao seria dificil a qualquer um apre- sentar uma boa relacdo de defeitos como estes, e poucos dentre n6s pensariam seriamente em renunciar a eles, pelo menos até que nos causassem dano excessivo. Existem algumas pessoas, que poderiam coneluir, que estio realmente prontas a permitir que todos seus defeitos sejam re- movidos. Porém, até estas pessoas, se elaborassem uma relagio de defeitos ainda mais brandos, seriam obrigadas a admitir que prefeririam ficar com alguns deles. Portanto, parece evidente que poucos podem tornar-se de maneira répida e fécil, prontos para seguir rumo a perfeigdo espiritual e moral; desejamos nos acomodar com apenas 0 necessdrio em perfeig¢do que nos per- mita viver a vida, seja 14 0 que isso signifique para cada um de @ ‘SEXTO PASSO 16s. De modo que, a diferenga entre “os adolescentes ¢ 0s adultos” €a diferenga entre aquele que se esforca para alcangar um objetivo de sua propria escolha e aquele que aspira alcangar 0 objetivo pertei- to que 6 0 de Deus. Muitos logo perguntarao: “Como € possivel aceitar tudo em que implica o Sexto Passo? Ora — seria a perfei¢do!” Parece uma pergunta dificil de responder mas, na pratica, nao 0 €. So- mente o Primeiro Passo, onde admitimos inteiramente nossa impoténcia perante 0 dlcool, pode ser praticado com absoluta perfeigdo. Os onze passos restantes enunciam ideais perfeitos. Séo metas que aspiramos alcangar e padrdes com os quais me- dimos nosso progresso. Sob esse prisma, 0 Sexto Passo ainda é dificil, mas est longe de ser impossivel. A tinica coisa urgente € que comecemos e sigamos tentando. ‘Se quisermos obter algum resultado conereto na prdtica deste asso para a solugdo de problemas fora do alcool, precisaremos fazer uma nova tentativa no sentido de limparmos a mente dos pre- conceitos. Precisamos erguer nosso olhar em direcao & perfeigao e estar prontos para caminhar nessa diregio, Raramente importarii a velocidade com que andemos. A tinica pergunta seré: “Estamos pron- tos?” Contemplando de novo aqueles defeitos a que ainda nao estamos dispostos a renunciar, deverfamos ser menos teimosos. Talyez.ain- da sejamos obrigados em alguns casos, a dizer: “A isso niio posso renunciar ainda...”, mas nunea devfamos nos dizer: “A isso jamais renunciarei ‘Vamos consertar 0 que parece ser uma abertura perigosa que permanece, Sugere-se que devemos estar inteiramente dispostos a procurar a perfeigao. Notamos, contudo, que alguma demora po- deria ser petdoada. Essa palavra, na mentedeumalcoslico cheio de desculpas, certamente poderia ter o sentido de um prazo longo. Poderia dizer: “Como é simples. Claro, caminharei para a perfei- gio, mas certamente niio tentho pressa. Talvez possa evitar tratar, indefinidamente, alguns dos meus problemas”. Naturalmente, isso SEXTO PASSO a bastard. Essa maneira de enganar a si mesmo deverd ser climi- nada assim como outras prazerosas autojustificagées. No minimo, {eremos de enfrentar alguns de nossos piores defeitos de carter e tomar medidas para remové-los 0 mais répido possivel. No momento em que dizemos: “nunca, jamais”, fechamos nossa inente a graga de Deus. A demora é perigosa e a rebeldia pode significar a morte. Esse € 0 ponto exato em que teremos de aban- donar os nossos objetivos limitados e avangarmos em ditecao A vontade de Deus para conosco. SETIMO PASSO. “Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeigdes”. 14 que este passo trata tio especificamente da humildade, deverfamos fazer uma pausa aqui para pensar sobre 0 que € & humildade e 0 que a sua prética poder significar para nés. Realmente, conseguir maior humildade ¢ o prinefpio funda- mental de cada um dos Doze Passos de A.A., pois semum certo grau de humildade, nenhum alcoélico poderé permanecer 6- brio, Alm disso, quase todos os AAs descobriram desenvolver esta preciosa virtude além do estritamente neces- sirio a sobriedade, nao terdo muita probabilidade de serem feli- zes. Sem ela, no podem viver uma vida de muita utilidade ou, com os contratempos, convocar a fé que enfrenta qualquer emer- géncia, A humildade, como palavra e ideal, tem passado bem mal em nosso mundo, néo somente é mal entendida a idéia, mas, freqiientemente a palavra em si desagrada profundamente. Mui- tas pessoas nio praticam, mesmo ligeiramente, a humildade como um modo de vida. Uma boa parte da conversa cotidiana que ouvimos, e muito do que lemos, salienta o orgulho que o homem tem de suas prdprias realizagées. Com grande inteligéncia, os homens de ciéncia vém forgan- do a natureza a revelar seus segredos. Os imensos recursos que atualmente podem ser utilizados, prometem tamanha quantida- de de bens e confortos materiais que muitos chegaram a acredi- tar que como obra do homem em breve chegaremos a desfrutar séTIMo PASSO 6 0 milénio. A pobreza desapareceré, e haverd tanta abundancia que todos, amplamente garantidos, terdo realizados todos os seus desejos, Em teoria parece ser assim: uma vez satisfeitos os ins- iitos primdrios de todos, pouca coisa restard que possa levé-los ‘discérdia. Entdo, o mundo se tornaré feliz ¢ livre para concen- {rar-se no desenvolvimento da cultura e do carter. Apenas com sua pr6pria inteligéncia e esforgo, os homens tero construido seu proprio destino. Certamente nenhum alcodlico e, sem ddvida, nenhum mem- bro de A.A. quer condenar os avancos materiais. Nem entramos cm debate com muita gente que ainda se agarra com tanta pai- Xfio & crenea de que satisfazer os nossos desejos bisicos € 0 objetivo principal da vida. Porém, estamos convencidos de que nenhuma classe de pessoas no mundo jamais se atrapalhou tan- to tentando viver segundo tal pensamento, como 0s alcoélicos. Hé milhares de anos vimos querendo mais do que a nossa par- cela de seguranga, prestigio e romance. Quando pareciamos es- lar obtendo éxito, bebfamos para viver sonhos ainda maiores ¢ quando estévamos frustrados, mesmo um pouco, bebiamos até esquecimento. ‘Nunca havia o suficiente daquilo que julgévamos querer. Em todos esses empenhos, muitos dos quais bem intencionados, fi- camos paralisados pela nossa falta de humildade. Havia nos fal- tado a perspectiva para enxergar que 0 aperfeigoamento do ca- rater © os valores espirituais deveriam vir primeiro e que as sa- sfagSes materiais nao constitufam o propésito da vida. De forma bem caracterizada, havfamos confundido os fins com os meios. Ao inyés de considerar a satisfagdo de nossos desejos materiais como meios pelos quais podiamos viver e funcionar como humanos, entendemos que estas satisfagdes constituiam a tinica finalidade e objetivo da vida. E verdade que a maioria de nés considerava desejével um bom cardter, porém mais como algo de que se iria nécessitar para estar satisfeito consigo mesmo. Com uma ostentaco ade- 64 ‘SETIMO PASSO quada de honestidade e moralidade, terfamos uma melhor opor- tunidade de obter 0 que realmente desejévamos. Contudo, sem- pre que tivemos de escolher entre 0 caréter e 0 conforto, a cons~ trugdo do cardter se perdia na poeira de nossa corrida atréis da~ quilo que achdvamos ser a felicidade. Raramente encarévamos a formacio do cardter como sendo uma coisa desejavel em si, algo que gostarfamos de tentar aleangar mesmo que nfio fossem satisfeitas nossas necessidades instintivas. Nunca nos ocorreu fazer da honestidade, da tolerancia e do verdadeiro amor ao pré- ~ ximoe a Deus, a base do viver Cotidiano., —Bsse falta de ligagao Solida a qualquer valor permanente e esta cegueira ao verdadeiro propésito de nossa vida, produziu um outro resultado negativo. Pois enquanto estvamos conven- cidos que podfamos viver exclusivamente pela nossa forga e inteligéncia, tornava-se impossfvel a fé num Poder Superior que funcionasse. Isto era assim, mesmo quando acreditévamos que Deus existia. Era até possfvel ter crengas religiosas since- ras que permaneciam estéreis porque nés mesmos ainda tenté- vamos fazer o papel de Deus. J4 que ptinhamos a confianga prépria em primeiro lugar, permanccia fora de cogitagio uma auténtica f num Poder Superior. Faltava esse ingrediente bé- ico de toda humildade, o desejo de solicitar ¢ fazer a vontade de Deus. Para nds, 0 processo de ganhar um novo ponto de vista foi incrivelmente doloroso. Foi somente através de repetidas humi- thagées que fomos forgados a aprender alguma coisa a respeito da humildade. $6 ao fim de uma longa estrada, marcada por sucessivas derrotas, humilhagdes e esmagamento definitivo de nossa auto-suficiéncia, comecamos a sentir a humildade como algo mais do que uma condigao de desespero rastejante. Todo recém-chegado a Alcodlicos Anénimos ouve ¢ logo reconhece por si mesmo, que esta admissiio humilde de impoténcia peran- te 0 dlcool constitui o Primeiro Passo no caminho da libertacao de suas garras imobilizantes. SETIMOPASSO 65 Assim & que vemos a humildade primeiro como uma neces- sidade. Porém, isto € apenas o comego. Para nos afastarmos com- pletamente de nossa aversio a idéia de sermos humildes; para que obtenhamos uma visdo da humildade como 0 largo cami: hho que leva 4 verdadeira liberdade do espfrito humano para estarmos dispostos a trabalhar para a conquista da humildade como algo desejavel em si, demora muito, muito tempo para a maioria de n6s. Uma vida inteira engrenada ao egocentrismo niio pode ser colocada em contramarcha de uma vez. De inicio, arebelido nos atrapalha cada passo. Quando finalmente admitimos, sem reservas, que somos impo- tentes perante 0 dlcool, é provvel que soltemos um grande suspiro de alivio, dizendo, “Bem, gragas a Deus, terminou. Jamais terei que passar por aquilo de novo.” Entio descobriremos, freqiien- femente, para nossa constemacdo, que é apenas o primeiro marco do novo caminho que estamos percorrendo, Empurrades por pura necessidade, nos agarramos com relutancia a esses graves defeitos de cardter que nos tornaram bebedores problema em primeiro lu- gar, falhas essas que precisam ser enfrentadas a fim de evitarmos um novo refiigio no alcoolismo, Desejaremos nos livrar de alguns defeitos porém, em alguns casos, isto parecerd uma tarefa imposst- vel, da qual recuaremos e, com uma persisténcia violenta, nos ape- gamos a outros igualmente prejudiciais ao nosso equilibrio, por- que ainda gostamos demais deles. De que modo poderemos reuni decisio ¢ disposigao para nos livrar de compulsdes e desejos tio inresistiveis? Contudo, somos novamente impelidos pela conclusio indis- cutivel que tiramos daexperiéncia de A.A. de que precisamos cer tamente tentar com vontade ou cairemos Amargem daestrada. Nesta etapa de nosso progresso estamos fortemente pressionados e coa- gidos a fazer o certo. Somos obrigados a escolher entre os sacrif- cios da tentativa e as penalidades inapelaveis de nZo tentar. Estes 1pass0s iniciais sdio dados de mé vontade, todavia os damos. Pode- remos ainda nio dar a humildade um valor alto como virtude pes- 66 SETIMO PASSO soal desejavel, porém reconhecemos que é uma ajuda necessi- ria Anossa sobrevivéncia. ‘Mesmo assim, quando tivermos olhado alguns destes defei- tos de frente, discutido com outra pessoa a respeito deles, ¢ este- jamos dispostos a remové-los, nossa mancita de pensar a res- peito da humildade comega a ter um sentido mais amplo. A esta altura, com toda probabilidade, j4 teremos adotado medidas ca~ pazes de atenuar os obstdculos que mais nos prejudicam. Desfrutamos momentos em que sentimos algo parecido & ver- dadeira paz de espirito. Para aqueles de nds que, até ent&o, co- nheceram somente a excitagdo, a depressdo ou a ansiedade em outras palavras, para todos nés — esta nova paz conquistada é uma dédiva inestimavel. Realmente, foi acrescentado algo no- vo. ‘Apesar de que a humildade houvesse, anteriormente, repre- sentado uma alimentagio forgada, agora comeca a significar 0 ingrediente nutritivo que nos pode trazer a serenidade. Essa melhor percep¢o da humildade inicia outra mudanga revoluciondria em nossa maneira de ver. Nossos olhos come- ‘gam a se abrir aos imensos valores que resultaram diretamente do doloroso esvaziamento do ego. Até agora, haviamos dedicado nossas vidas, em maior escala, 2 fuga da dor e dos problemas, fugi- mos deles como de uma praga, nunca quisemos lidar com o fato concreto de sofrer. A fuga através da garrafa foi sempre a nossa solugio. A edificago do carter através do sofrimento podia ser bom para os santos, mas certamente nao nos agradava Entdo, em A.A. observamos ¢ escutamos. Por todo lado per- cebemos 6 fracasso e a miséria transformados, pela humildade, em valores inestimaveis. Ouvimos hist6rias apés histrias de como a humildade havia convertido a fraqueza em forga. Em todos 0s casos, o sofrimento havia sido o prego de ingresso para uma nova vida, Porém, este valor de ingresso havia comprado mais do que esperdvamos e trouxe uma medida de humildade, que logo descobrimos ser um remédio para a dor. Comegamos a SETIMO PASSO o termenos medo da dor ¢ desejar a humildade mais do que nun- ca. Durante este processo de aprendizagem a respeito da humil- dade, o resultado mais profundo de todos foi a mudanga de nos- sa atitude sobre Deus e isto independia de havermos sido eren- tes ou descrentes, Comecamos a superar a idéia de que o Poder Superior era um tipo de reserva no jogo, a quem apeldvamos apenas numa emergéncia] A nocao de que seguirfamos vivendo WHOSSa prépria vida, com uma ajudazinha de Deus de vez em quando, comegou a se desvanecer. Muitos de nés que nos havia~ mos considerado religiosos, despertamos para as limitagBes desta atitude. Recusando colocar Deus em primeiro lugar, haviamos- nos privado de Sua ajuda. Porém, agora as palavras, “Sozinho nada sou, o Pai é que faz”, comegaram a significar uma promes- sacum sentido animadores. Percebemos que nfo era necessério sermos sempre levados & humildade por cacetadas e pancadas. Tanto poderfamos ating{-la procurando-a voluntariamente como pelo sofrimento incessante, Um momento decisivo em nossas vidas chegou quando procu- ramos a humildade como algo que realmente desejévamos, em yez de algo que precisdvamos ter e marcou o momento quando pudemos comecar a perceber toda a implicagao do Sétimo Pas- $0 -“humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeigdes”. Ao nos aproximarmos da prética do Sétimo Passo, nfo faria mal se nés AAS nos perguntassemos, mais uma vez, quais so realmente nossos objetivos mais profundos. Cada um de nés gos- aria de viver em paz consigo mesmo e com seus semelhantes. Gostarfamos de ser assegurados de que a graca de Deus pode fa- Zor por nds 0 que nés nao podemos. Temos visto que os defeitos de carater baseados em desejos imprevidentes e indignos so os obstéculos que bloqueiam nosso caminho em diregiio a esses ob- jetivos. Agora vemos, com clareza, que estivemos fazendo exi- éncias injustificadas a nés mesmos, aos outros ¢ a Deus. 8 SETIMOPASSO O principal estimulante para nossos defeitos tem sido o medo egocéntrico — especialmente o medo de perder algo que ja pos- sufamos ou de nao ganhar algo que buscdvamos. Vivendo numa base de exigéncias nao atendidas, estévamos num estado de per- turbagao e frustracdo contfnuas. Portanto, nfo haveria paz en- quanto néo encontrassemos um meio de reduzir estas exigén- cias. A diferenca entre uma exigéncia e um simples pedido é evidente para qualquer um. no Sétimo Passo que efetuamos a mudanga em nossa atitu- de que nos permite, com a humildade servindo de guia, sair de dentro de nés mesmos em direcZo aos outros ¢ a Deus. Toda a énfase do Sétimo Passo € sobre a humildade. Na realidade, esté nos dizendo que agora devemos estar dispostos a tentar a humil- dade na procura da remogdo de nossas outras falhas, da mesma forma como fizemos quando admitimos que éramos impotentes perante 0 alcool e chegamos a acreditar que um Poder superior ands poderia nos devolver a sanidade, Se esse grau de humilda- de nos tornou capazes de descobrir a graga pela qual uma ob- sessio assim fatal pOde ser banida, entdo deve existir esperanga de obter o mesmo resultado em relagao a qualquer outro proble- ma que possamos ter. OITAVO PASSO “Fizemos uma relagao de todas as pessoas a quem tinhamos pre- judicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.” Os Oitavo e Nono Passos se preocupam com as relagdes pes- soais, Primeiro, olhamos para o passado e tentamos descobrir onde erramos; entdio, fazemos uma enérgica tentativa de reparar 05 danos que tenhamos causado; e, em terceiro lugar, havendo desta forma limpado 0 entulho do passado, consideramos de que modo, com 0 novo conhecimento de nés mesmos, poderemos desenvolver as melhores relagdes poss{veis com todas as pes- soas que conhecemos. Fis uma incumbéncia dificil. 6 uma tarefa que poderemos realizar com crescente habilidade, sem contudo jamais con- cluf-la. Aprender a viver em paz, companheirismo e fraternidade com qualquer homem ¢ mulher, € uma aventura comovente € fascinante. Todo AA acabou descobrindo que pouco pode pro- gredir nesta nova aventura de viver sem antes voltar atrés e fa- zet, realmente, um exame acurado e impiedoso dos destrogos humanos que porventura tenha deixado em seu passado. Até certo ponto, tal exame jé foi feito quando fez o inventério moral, mas agora chegou a hora em que deveria redobrar seus esforcos para ver quantas pessoas feriu e de que forma. Esta reabertura das feridas emocionais, algumas velhas, outras talvez esquecidas ainda outras, sangrentas e dolorosas, dard a impressio, a primeira vista, de ser uma operagio desnecessdria e sem propésito. Mas se for reiniciada com boa vontade, entio as grandes vantagens 0 OITA PASSO de assim proceder vao se revelando tao rapidamente que a dor ir diminuindo & medida que os obstéculos, um a um, forem desaparecendo. Tais obstéculos, contudo, sfio muito reais. O primeiro e um. dos mais diffceis, diz respeito ao perdio. Desde o momento em que examinamos um desentendimento com outra pessoa, nos- sas emog®es se colocam na defensiva. Evitando encarar as ofen- sas que temos dirigido a outro, costumamos salientar, com ressentimento, as afrontas que ele nos tem feito. Isto acontece especialmente quando ele, de fato, tenha se comportado mal. Triunfalmente nos agarramos A sua ma conduta como a descul- pa perfeita para minimizar ou esquecer a nossa. Devemos, a essa altura, nos deter imediatamente. Nao faz, sentido um auténtico beberrdo roto, rir-se do esfarrapado. Lembremo-nos de que 0s alcoélicos no so os tinicos afligidos por emogGes doentias. Além do mais, geralmente é um fato que, quando bebfamos, nosso comportamento agravava os defeitos dos outros. Repetidamente abusamos da paciéncia de nossos melhores amigos a ponto de esgoté-los, e despertamos as piores reagdes naqueles que, desde o inicio, nfo gostaram de nés. Em muitos casos estamos, na realidade, em frente a co-sofredores, pessoas que tiveram suas desditas aumentadas pela nossa contri- buigdo. Se estamos a ponto de pedir perdao para nés mesmos, por que nfo comegar por perdoar a todos eles? Ao fazer a relagio das pessoas as quais prejudicamos, a maioria de nés depara com outro resistente obstéculo. Sofremos um cho- que bastante grave quando nos damos conta que estévamos pre- parando a admissio de nossa conduta desastrosa cara a cara pe- ante aqueles que haviamos tratado mal. J4 foi bastante embara- 080, quando em confianga, haviamos admitido estas coisas pe- rante Deus, nés mesmos ¢ outro ser humano. Mas a perspectiva de chegar a visitar ou mesmo escrever as pessoas envolvidas, agora nos parecia dificil, sobretudo quando lembravamos a de- saprovago com que a maioria delas nos encarava. Também ha- OrTAVO PASSO n via casos em que haviamos prejudicado certas pessoas que, fe- lizmente, ainda desconheciam que haviam sido prejudicadas. Por que, lamentivamos, nao esquecer 0 que se passou? Por que devemos considerar até essas pessoas? Estas eram algumas das maneiras em que o medo conspirava como orgulho para impe- dir que fizéssemos uma relagao de todas as pessoas as quais tinhamos prejudicado. Alguns de nés, contudo, tropegaram em um obstculo bem diferente. Apegamo-nos a tese de que, quan- do bebfamos, nunca ferimos alguém, exceto nés mesmos. Nos- sas familias nfo sofreram porque sempre pagamos as contas € raramente bebenos em casa. Nossos colegas de trabalho no foram prejudicados, porque geralmente comparecfamos ao tra- batho. Nossa reputaco no havia sofrido, porque estvamos cer- tos de que poucos sabiam de nossas bebedeiras e aqueles que sabiam nos asseguravam, &s vezes, que uma boa farra, afinal de contas, ndo passava de uma falha de um bom sujeito. Que mal, portanto, haviamos cometido realmente. Certamente nada que nfo pudéssemos consertar com algumas desculpas banai E claro que esta atitude € o resultado final do esquecimento forgado. E uma atitude que s6 pode ser mudada por uma busca profunda e honesta de nossas motivagdes e agdes. Embora em alguns casos no possamos fazer reparaco algu- ‘ma, €em outros 0 adiamento da agao seja preferivel, deverfamos, contudo, fazer um exame acurado, real ¢ exaustivo da maneira pela qual nossa vida passada afetou as outras pessoas. Em muitas instincias descobriremos que, mesmo que o dano causado aos outros ndo tenha sido grande, 0 dano emocional que causamos 1nés mesmos foi enorme. Embora, as vezes, totalmente esquecidos, 08 conilitos emocionais que nos prejudicaram se ocultam e perma- necem, em lugar profundo, abaixo do nivel da consciéncia. Essas ocorréncias podem realmente ter distorcido, de forma violenta, nossas emogdes que, desde entao, passaram a descolo- rar a nossa personalidade alterar a nossa vida para pior. ‘Ainda que seja da maior importincia o propésito de fazer n OITAVO Passo reparagio aos outros, é igualmente necessdrio que tiremos de um exame de nossas relagdes pessoais toda informagao posst- vel sobre nés e nossas dificuldades fundamentais. Em vista de que as relagdes deficientes com outros seres humanos quase sem- pre foram a causa imediata de nossas mAgoas, inclusive de nos- so aleoolismo, nenhum campo de investigacao poderia render resultados mais satisfatdrios ¢ valiosos do que este. A reflexio calma e ponderada sobre nossas relagdes pessoais pode apro- fandar nosso conhecimento. Podemos ir muito além daquelas coisas superficiais que estavam erradas em nés, até ver essas falhas que eram bisicas, falhas que, as vezes, eram responsé- veis pela formagio de nossa vida toda. A minuciosidade, desco- brimos, nos recompensard ~e nos recompensard bem. Poderiamos ento perguntar a nés mesmos: O que queremos { dizer quando falamos que “prejudicamos” outras pessoas? Que \ tipos de “danos” se fazem &s pessoas, afinal? Para definir a pa- | lavra “dano” de maneira pratica, poderfamos dizer que é 0 re- | sultado do choque entre instintos, que causam prejuizos fisicos, { mentais, emocionais ou espirituais as pessoas. Se estamos cons- \ tantemente mal humorados, despertaremos a ira nos outros, se |mentimos ou defraudamos, privamos os outros ndo somente de jseus bens materiais, mas de sua seguranga emocional e paz de espitito. Na realidade, nés os convidamos a se tornarem desde- | nhosos e vingativos. Se nossa conduta sexual for egofsta, pode- | remos despertar o citime, a angiistia e um forte desejo de nos ‘agar na mesma moeda, Tais comportamentos grosseiros esto longe de ser um cat: logo completo dos danos que causamos. Fiquemos a pensar nos menos palpaveis que podem, as vezes, ser igualmente prejud ciais. Suponhamos que em nossa vida familiar somos mesqui hos, irresponsiveis, insensiveis e trios. Suponhamos que so- mos irritaveis, criticos, impacientes e sem senso de humor, que esbanjamos atengées sobre um membro da familia e negligencia- ‘mos 0s outros. Que acontece quando tentamos dominar a familia orravorasso B inteira, seja por mao de ferro ou por um dilfivio de instrugdes minuciosas sobre como devem viver suas vidas hora por hora? Que acontece quando nos espojamos na depressio, a autopiedade saindo por todos os poros e impomos isso a todos os que nos rodeiam? Tal relagio de danos causados a outros — 0s tipos de danos que tornam dificil e freqiientemente insuportivel o convi- ver conosco, alcodlicos atives ~ poderia ser ampliada indefinida- mente. Quando levamos tragos de personalidade como estes para a oficina, o escritério e a companhia de nossos semelhantes, podemos causar danos quase tiio extremos quanto aqueles que causamos no lar, Havendo cuidadosamente revisto toda esta érea das relagdes humanas, ¢ decidido exatamente quais os tragos de nossa perso- nalidade que prejudicaram e incomodaram os outros, podemos agora comecar a rebuscar nossa meméria na busca das pessoas que temos ofendido. Identificar os mais préximos e mais profun- damente feridos nao deveria ser dificil. Entio, ao retroceder, ano por ano, pelas nossas vidas até onde chegar a meméria, certa- mente formaremos uma longa relago de pessoas que foram afe~ tadas em menor ou maior grau. Deverfamos, é claro, ponderar ¢ pesar cada caso cuidadosamente. Haveremos de querer nos ape- gar A decisio de admitir as coisas que nds temos feito, a0 mes- ‘mo tempo em que desculpamos as injtirias feitas a nés, sejam elas reais ou imaginarias. Deverfamos evitar os julgamentos extremos, tanto de nds mesmos quanto das outras pessoas envol- vidas. Nao devemos exagerar nem os nossos defeitos, nem os deles. Um exame calmo e objetivo sera nossa firme intengio. Cada vez que vacile nosso I4pis, podemos nos fortificar e animar lembrando-nos do que a experiencia de A.A. neste pas- so tem significado para outros. E 0 comeco do fim do nosso isolamento de nossos semelhantes ¢ de Deus. NONO PASSO. “Fizemos reparagdes diretas dos danos causados a tais pesso- as, sempre que possivel, salvo quando fazé-las significasse prejudicd- las ow a outrem.” Bom-senso, um cuidadoso sentido de escolha do momento, coragem e prudéncia— eis as qualidades que precisamos ter quan- do damos 0 Nono Passo. Apés haver elaborado a relagao das pessoas as quais preju- dicamos, refletido bem sobre cada caso especifico e procurado nos imbuir do propésito correto para agir, veremos que o reparo dos danos causados divide em varias classes aqueles aos quais nos devemos dirigir. Haverd os que deverdo ter preferéncias, tHo logo estejamos razoavelmente confiantes em poder manter nossa sobriedade. Haverd aqueles aos quais poderemos fazer uma reparagao apenas parcial, para que revelages completas no fagam a eles e a outros mais danos do que reparos. Haveré outros casos em que a aco deverd ser adiada, ¢ ainda outros em que, pela prépria natureza da situagao, jamais poderemos fazer ‘um contato pessoal direto. A maioria de nés comega a fazer certos tipos de reparos a partir do dia em que nos tornamos membros de Alcodlicos An nimos. Desde 0 momento em que dizemos as nossas familias que verdadeiramente pretendemos tentar adotar 0 programa, 0 processo se inicia. Nesta 4rea, raramente existir o problema de escolher o momento ou ter cautela. Queremos entrar pela porta gritando as boas novas. Apés voltar de nossa primeira reuniio NONO PASSO 5 ou, talvez, ap6s haver terminado de ler o livro Alcodlicos Anéni- ‘mos, geralmente queremos nos sentar com algum membro da familia c admitir, de uma vez, os prejutzos que temos causado com nosso beber. Quase sempre queremos ir mais longe e ad- mitir outros defeitos que fizeram com que fosse diffeil viver conosco. Esse ser um momento bem diferente ¢ em grande con- traste com aquelas manhiis de ressaca em que oscilamos entre insultar a nés mesmos e culpar a familia (e todos 0s outros) pelos nossos inforttinios. Nesta primeira sesso, basta fazer uma admissio geral de nossos defeitos. Poderd ser pouco prudente, a esta altura, reviver episddios angustiantes, O bom-senso suge- rird que devemos ir com calma. Embora possamos estar inteira- mente dispostos a revelar o pior, precisamos nos lembrar que néio podemos comprar a nossa paz de espirito a custa dos ou- tos. O mesmo procedimento se aplicard no escrit6rio ou na fabri- ca. Logo pensaremos em algumas pessoas que conhecem bem nossa maneira de beber e que foram as mais afetadas pela mes- ma. Porém, mesmo nestes casos, precisaremos usar de um pou- co mais de discrigao do que com nossa familia. Talvez nada queiramos dizer por algumas semanas ou até mais. Primeiro, desejaremos estar razoavelmente seguros de que estamos fir- mes no programa de A.A. Entio, estaremos prontos para procu- rar estas pessoas, dizer-lhes 0 que é A.A. eo que estamos ten- tando fazer. Isso explicado, podemos admitir livremente os da- nos que causamos ¢ pedir desculpas. Podemos pagar ou prome- ter pagar, as obrigacdes financeiras ou outras, que tivermos. A recepeao generosa da maioria das pessoas perante tal sincerida- de freqiientemente nos assombrard. Até nossos mais severos e justificados critics, com freqléncia nos acolhersio bem na pri meira tentativa, Este ambiente de aprovagdo e elogios é capaz de ser tio esti- mulante que nos desequilibre, criando um apetite insaciavel para mais experiéncias semelhantes. Ou, pelo contrétio, poderemos 6 NONOPASSO nos inclinar na outra diregdo quando, em raros casos, enfrenta- ‘mos uma recepedo fria e céptica. Isto poder nos induzir a dis- cussio ou a martelar nosso assunto com insisténcia ou talvez, poder nos levar & tentagdo do desinimo e do pessimismo. Mas, se tivermos nos preparado bem antes, tais reagdes nao nos des- viardio de nosso objetivo firme e constante. Apés esta primeira tentativa de fazer reparagdes, poderemos desfrutar tamanha sensagdo de alivio, que chegaremos a con- cluir que nossa tarefa estd terminada, Haveremos de querer des- cansar sobre nosso louros. A tentagdo de evitar os encontros mais humilhantes e temidos que ainda restam, seré grande, Freqiientemente, inventaremos desculpas plausiveis para evi- tar, totalmente estas quest6es. Poderemos até procrastinar pura ¢ simplesmente, dizendo que ainda nfo chegou a hora, quando, na realidade, j4 deixamos de aproveitar muitas oportunidades boas para cortigir um erro grave, Nao falemos em prudéncia enquanto praticamos a evasio. To logo passemos a ter confianga em nosso novo modo de vida ¢ tenhamos comegado a convencer os que nos rodeiam de que, pelo nosso comportamento e exemplo, de fato estamos nos modificando para melhor, poderemos sem medo falar com total franqueza com aqueles que foram seriamente afetados, mesmo aqueles que possam saber pouco ou nada a respeito do que lhes fizemos. A tinica excegao que faremos seré nos casos em que as revelagdes possam causar dano maior. Estas conversagées po- dem comegar de maneira casual e natural, Porém, se nenhuma oportunidade se apresentar, em algum momento havemos de querer reunir toda a nossa coragem, nos encaminhar diretamen- te para a pessoa indicada e espalhar nossas cartas na mesa. No hd necessidade de nos banharmos no remorso excessivo ante aqueles que temos prejudicado. Entretanto, reparagdes deve- riam ser sempre francas ¢ generosas. S6 existe uma razio que poderia vir a modificar nosso dese- jo de revelar, por inteiro, os danos causados. Ela surgiré na rara NONOPASSO n situagio em que fazer uma revelagéio completa poderia prejudi- car seriamente a pessoa objeto de nossa reparacio ou, igual- mente importante, a outras pessoas. Nao podemos, por exem- plo, descarregar uma explicagdo pormenorizada de aventuras extramatrimoniais nos ombros de nasso desprevenido cOnjuge. E mesmo naqueles casos em que tal assunto precise ser discuti- do, devemos tentar evitar que redunde em prejuszo para quem quer que seja. Nao alivia a nossa carga quando imprudentemen- te tornamos mais pesadas as cruzes dos outros. Podem surgir muitas situagdes delicadas em outros setores da vida onde esta envolvido este mesmo principio. Suponha- mos, por exemplo, que tenhamos gasto em bebida um boa par- cela de dinheiro de nossa firma, seja “tomando-o emprestado” ou exagerando nossos gastos de viagem. Suponhamos que 0 fato continuara desconhecido se nada falarmos. Confessamos ime- diatamente nossas irregularidades perante a firma, na quase ce1~ teza de que isto os obrigard a nos demitire a nos tornar, pratica- mente, ndo empregiveis? Seremos (Zo rigidamente corretos, a0 fazer nossos reparos, que nao nos importam as conseqiiéncias para nossa familia e nosso lar? Ou antes consultaremos aqueles que sero gravemente afetados? Submeteremos o assunto a nos- so padrinho ou conselheiro espiritual, pedindo ardentemente a ajuda e orientagao de Deus ~ mas resolvendo atuar de maneira certa, quando ficar claro, custe o que custar? E claro que nao existe uma resposta facil que solucione todos os dilemas deste tipo. Mas todos requerem, isto sim, a completa disposigao de fazer todas as reparacdes de forma tZo ripida e completa quanto permitirem as condigdes do momento. Acima de tudo, deverfamos tentar estar absolutamente segu- ros de que nio estamos demorando por causa do medo. Pois a disposigaio de aceitar todas as conseqiléncias de nossos atos pas- sados ¢, ao mesmo tempo, de assumir a responsabilidade pe- lo bem-estar de outros, constitui o préprio espirito do Nono Passo. DECIMO PASSO “Continuamos fazendo 0 inventario pessoal e, quando estd- vamos errados, nds 0 admitiamos prontamente.” Quando vamos praticando os nove primeiros passos, estamos nos preparando para a aventura de uma nova vida. Mas, ao nos aproximarmos do Décimo Passo, comegamos a nos submeter & maneira de viver de A.A., dia ap6s dia, em tempo bom ou mau. Entiio, vem a prova decisiva: podemos permanecer sébrios, manter nosso equilfbrio emocional e viver utilmente sob quais- quer condicées? Uma olhada continua sobre nossas qualidades ¢ defeitos e 0 firme propésito de aprender e crescer por esta forma, so neces- sidades para n6s, Nés alcodlicos aprendemos isso de maneira dificil. Em todos os tempos e lugares, é claro, pessoas mais ex- perientes adotaram a pratica do auto-exame e da critica impiedosa. Os sébios sempre souberam que alguém s6 conse- gue fazer alguma coisa de sua vida depois que o exame de si mesmo venha a se tornar um habito regular, admita e aceite 0 que encontre e, entio, tente corrigir o que Ihe parega errado, com paciéncia © perseveranca ~Um brio nao pode viver bem hoje se esta com uma terrivel ressaca, resultante do excesso de bebidas ontem ingerido. Po- rém, existe outro tipo de ressaca que todos experimentamos, bebendo ou nfo. Ea ressaca emocional, fruto direto do actimulo de emogdes negativas sofridas ontem e, As vezes, hoje — 0 ran- cor, medo, o citime e outras semelhantes. Se queremos viver DECIMO PASSO 9 serenamente hoje e amanhi, sem dtivida temos que eliminar es- tas ressacas. Isto ndo quer dizer que devamos perambular morbidamente pelo pasado. Requer, isto sim, a admissZo e cor- reeGo dos erros agora. No inventério podemos por em ordem 0 nosso passado. Feito isso, nos tornamos de fato capazes de deixé- lo para trés. Se nosso balango é feito com cuidado e se tivermos obtido paz. conosco mesmo, segue-se a conviccio de que os de- safios do amanha poderdo ser encarados medida em que se apresentem. Embora todos os inventérios, em prinefpio, sejam iguais, a ocasifio os faz diferentes. Hé 0 “relampago”, feito a qualquer hora, toda vez em que nos encontremos enredados. Existe 0 do fim de cada jornada, quando revisamos os acontecimentos das iltimas vinte e quatro horas. E neste verdadeiro balancete did- tio que creditamos a nosso favor ou debitamos contra nés as coisas que julgamos bem ou mal feitas. De tempo em tempo, surgem as ocasiées em que, sozinhos ou assessorados pelos nos sos padrinhos ou conselheiros espirituais, fazemos a revisiio aten- ta de nosso progresso durante a tiltima etapa. Muitos AAs cos- tumam fazer uma “limpeza geral” em cada ano ou perfodo de seis meses. Outros de nés também preferem a experiéncia de um retiro, onde isolados do mundo exterior, calma e tranglila- mente, podem proceder & auto-revisdo e & meditagdo sobre os resultados. Nao sdo estas priticas “mata-prazeres” e meras consumido- ras de tempo? E mesmo necessirio que os AAs passem a maior parte de suas horas acordados, revendo cansativamente seus pe- ‘cados por ago ou omisséo? De forma alguma. O inventério s6 € dificil pela falta do hébito da auto-andlise meticulosa. U Vez que esta saudavel prética tenha se tornado rotineira, passard aser tio interessante e proveitosaque niio nos daremos conta do tempo tomado. Pois os minutos ou horas passados em auto- ‘exame certamente terfo o condo de tornar mais leves e felizes as horas restantes do dia. Com o passar do tempo, os inventé- bo DECIMO PASSO rios passario a fazer parte integrante de nossa vida didriae no sero coisas raras ou parte. Antes de saber o que seja um inventério "relampago”, deve- mos verificar qual o tipo de ambiente em que ele pode funcio- nar. E um preceito espiritual, o de que cada vez que estamos perturbados, seja qual for a causa, alguma coisa em nds esta errada. Se ao sermos ofendidos, nos irritamos, é sinal de que ‘também estamos errados. Mas esta é uma regra sem excegdes? Que é do rancor “justificdvel"? Se alguém nos enganar, nao te- mos 0 direito de ficar magoados? Nao podemos, com raz, fi car zangados com os hip6critas ou farisaicos? Para nds em A.A., as excegées siio sempre perigosas. Descobrimos que devemos deixar 0 rancor, embora justificdvel, para aqueles que possam “melhor controlé-lo.. —Poucas pessoas foram mais atingidas pelos ressentimentos do que nés alcodlicos. Nao tinha importancia o fato de nossas mégoas serem justificadas ou nao. Uma explosio de mau génio podia estragar o nosso dia, e um sentimento de revolta bem ali- mentado tinha forga para nos tornar miseravelmente intiteis. Além do mais, nunca fomos capazes de distinguir se uma rea- G0 rancorosa era ou nao justificada. A nosso ver, sempre tfnha- mos razo. A ira, aquele luxo ocasional a que se podem dar as (esas mais equilibradas, podia transtornar nossas emog6es por um perfodo longo de tempo. Essas “bebedeiras secas”, com freqiiéncia, nos levavam diretamente & garrafa. A mesma coisa acontecia quando sofrfamos outros distuirbios, como o citime, a inveja, a autopiedade ou o orgulho ferido. ampago”, levantado no meio de tais per- tubagoes, pode ser de grande valia para acalmar as emoc6es tempestuosas. O inventario de cada jornada é aplicavel as situa ges que surgem nas vinte e quatro horas correspondentes. preferivel deixar o estudo das dificuldades que existem ja ha ‘mais tempo para momentos reservados deliberadamente a esse fim. O inventério rapido visa nossas variagdes de humor did- DécIMo Passo 81 rias, especialmente aquelas quando pessoas ou novos aconteci- mentos nos desequilibram e nos levam a tentagiio de cometer enganos. Em todas essas situagdes necessitamos de autodominio, ané- lise honesta de tudo 0 que se encontra envolvido, disposigao para admitir nossa culpa e, igualmente, para desculpar as outras pessoas. Nao hé motivo para cair em desfnimo quando recai ‘mos nos equivocos dos nossos habitos antigos, pois estas disci plinas niio sio féceis, Seguimos & procura do aperfeigoamento, fio da perfeicao). ‘Nosso primeiro alvo deve ser o desenvolvimento do auto- domfnio, que €a mais alta das prioridades. Quando falamos ou agimOs precipitada ou imprudentemente, nossa capacidade de fazer justica e ser tolerante se evapora imediatamente, Uma s6 palavra dura ou um julgamento leviano pode estragar nossas relagdes com outra pessoa por todo um dia ou, talvez, um ano. Nada traz mais proveito do que o controle da lingua ou da pena. Devemos evitar a critica mal-humorada e os argumentos contun- dentes. O mesmo vale para o amuo ou 0 desdém silencioso. Es- tas sto armadilhas para as emogdes feitas com orgulho e espiti- to de vinganga. Precisamos o quanto antes nos desviar dessas armadilhas. Quando sofrermos a atragaio dessas iscas, devemos estar preparados para recuar um passo e ganhar tempo para re~ fletir. Pois nao poderemos sequer pensar ou agir da maneira certa antes que o dominio préprio tena se tornado em nés um habito automitico. Nao siio somente os problemas inesperados ¢ desagradaveis que requerem 0 autodominio. Precisamos ser igualmente cuida- dosos quando comegamos a assumir certa importancia ¢ alcan- gar sucesso material. Pois jamais alguém amou tanto os triunfos pessoais como nds os amamos: bebemos do éxito como se fora um vinho que sempre nos deixava exultantes; bastava que a for- tuna nos sorrisse por algum tempo para que nos entregdssemos a fantasias de vit6rias ainda maiores sobre pessoas ¢ situagdes. 82 iicimo Passo Assim, cegos pelo orgulho da autoconfianga, éramos capazes de bancar pessoas “cheias de si”, fazendo, é dbvio, com que os outros, enojados ou feridos, se afastassem de nds. ‘Agora que estamos em A.A., sObrios ¢ ganhando de novo a estima de nossos amigos e companheitos de trabalho, descobri- mos que ainda precisamos exercer severa vigiléncia sobre nés mesmos. Como seguranga contra a mania de grandeza podemos, com freqtiéncia, nos deter lembrando-nos que estamos sObrios Roje, somente porque Deus o quis, ¢ que qualquer vitéria que, porventura, estejamos gozando, é mais éxito d’Ele do que nos- so; Finalmente comecamos a percebér qué todas as pessoas, in- luisive nds, estamos até certo ponto emocionalmente doentes ¢ freqiientemente errados, ¢ ent&o, aproximando-nos da verdadei- ratolerancia, conhecemos 0 real significado do amor ao préxi mo. Enquanto progredimos, vai se tornando cada vez mais evi- dente o fato de que nio faz sentido ficarmos zangados ou ofen- didos com pessoas que, como nés, estéio sofrendo dos males ou desajustes peculiares ao crescimento. Tao radical mudanca em nossa maneira de ver as coisas leva- 14 tempo, talvez muito tempo. Raras pessoas podem de verdade afirmarque amam a todas as outras. Dentre nds, a maioria terd que admitir ter amado apenas alguns outros semelhantes, n&o ter tomado conhecimento de muitos, contanto que nio nos criassem problemas e, quanto aos demais, ter chegado a nutric por eles, na realidade, antipatia e até mesmo édio. A despeito dessas atitudes serem muito comuns, nds AAs sentimos que pre- cisamos de alguma coisa muito melhor para manter 0 nosso equi- Iibrio. Nao nos agiientaremos por muito tempo se mantivermos © 6dio arraigado em nosso interior. A idéia de que podemos amar possessivamente 2 alguns, ignorar a muitos e continuar a temer ou odiar quem quer que seja, deve ser abandonada, mes- ‘mo que seja, um pouco de cada vez. Podemos tentar parar de fazer exigéncias descabidas aqueles juem Podemos mostrar bondade onde no haviamos écimo rasso 83 demonstrado nenhuma. Podemos comegar a praticar cortesia e justia com aqueles de quem nao gostamos, quer sabe até fa- zendo um esforgo especial para entendé-los ¢ ajudé-los. Cada vez que desapontamos qualquer dessas pessoas, esta em nés admiti-lo imediatamente, sempre perante nés e, se hou- Ver utilidade, perante clas também. A cortesia, a bondade, a jus- tiga e o amor sao as chaves da harmonia entre nés e praticamen- te todas as outras pessoas. Na dtivida, sempre podemos fazer uma pausa, dizendo: “Seja feita a Sua vontade, néio a minha,” Com freqiiéncia podemos indagar de nés mesmos: “Hoje, estou fazendo aos outros o que gostaria que fizessem comigo?” Ao anoitecer, talvez na hora de dormir, muitos de nés fazem © balancete do dia. E uma boa hora para lembrarmos de que nem sempre 0 resultado do inventario esti escrito com tinta ver- melha. Seria mesmo ruim o dia em que nada tivéssemos feito Acertadamente. Alids, durante as horas em que estamos acorda- dos, geralmente praticamos uma porgdo de atos construtivos. As boas intengées, os pensamentos puros e as obras meritérias esto af. Mesmo quando tenhamos nos esforcado e falhado, po- demos considerar 0 fato como dos mais positivos. Sob estas con- digdes, as dores do fracasso se transformam em vantagem. Dela tecebemos o estimulo de que necessitamos para prosseguir. Um conhecedor do assunto disse uma vez que a dor era a pedra de toque de todo o progresso espiritual. Nés AAs podemos con- cordar de coragao com ele, pois sabemos que antes da sobrieda- de vem, obrigatoriamente, o sofrimento resultante da bebida, assim como antes da serenidade, vem o desequilibrio emocio- nal. Ao passarmos os olhos pela coluna de débitos do “razfio” de cada dia, devemos examinar cuidadosamente a motivagio de hossos pensamentos e atos que nos paregam errados. Na maio- tia dos casos nio nos seré dificil distinguire entender nossos motivos. Quando orgulhosos, irritados, ciumentos, angustiados ‘ou medrosos, agiamos de conformidade com esses sentimentos. 84 DiicIMO PASSO Aqui, basta o reconhecimento de que pensamos ou atuamos er- radamente; que tentemos visualizar que tipo de comportamento teria sido melhor e tomemos decisao de, com a ajuda de Deus, levar para o amanhi estas ligGes, fazendo, é claro, as reparagbes até aqui negligenciadas. Porém, em circunstancias diferentes, s6 uma investigagio mais acurada poder revelar quais foram nossos verdadeiros motivos. Hi casos em que nossa velha inimiga, a racionaliza- cdo, terd entrado em cena para justificar uma conduta indiscutivelmente errada. A tentacdo aqui é imaginar que tinha- ‘mos boas razSes ¢ justos motivos, quando ndo os tinhamos. Desejando triunfar numa imitil e banal discussio, forjéva- mos “critica construtiva”. Estando ausente a pessoa visada, aché- ‘yams que estariamos ajudando os outros a compreendé-la, quan- do, na realidade, nosso motivo era diminui-la para que nos sen- tissemos superiores. Sob o pretexto de que precisam “tomar uma ligdo”, as vezes atacamos aqueles que amamos quando 0 que queremos é, pura e simplesmente, puni-los. Quando querfamos atrair sobre nés simpatia e atengao, ficévamos deprimidos e nos piinhamos a queixar que nos sentiamos mal. Esta estranha ca- racterfstica do complexo mente-emogao, este desejo pervertido de ocultar atrés do bom motivo o errado, se infiltra nos atos humanos de alto a baixo. Este tipo de hipocrisia, sutil e iluséria, pode se esconder sob 0 ato ou pensamento mais insignificante. Aprender a identificar, admitir e corrigir estas falhas todos os dias, constitui a esséncia da edificagao do carater e da vida reta. O sincero arrependimento pelos danos causados, a gratidaio ge- nuina pelas béngdos recebidas e a disposiedo de tentar realizar melhores coisas amanha, sero os valores permanentes que pro- curaremos. Tendo, dessa forma, feito o exame meticuloso de nosso dia, sem deixar de incluir as coisas bem feitas ¢ tendo vasculhado nossos coragdes, sem medo ou concesses, estamos realmente prontos para agradecer a Deus todas as gracas recebi- das e podemos, ent, dormir coma consciéncia trangitila, te DECIMO PRIMEIRO PASSO “Procuramos, através da prece e da meditagao, methorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O conce- biamos, rogando apenas 0 conhecimento de Sua voniade em relagdo ands, e forcas para realizar essa vontade.” A oragio ¢ ameditagao sdo nossos meios principais de con- tato conscientecomDeus. Ten Nos AAS somos pessoas ativas, desfrutando a satisfagio de lidar com as realidades da vida, geralmente pela primeira vez em hossas vidas, tentando denodadamente ajudar o primeiro alco6- lico que aparecer. Portanto, ndo é de se estranhar que, com fre~ giiéncia, fagamos pouco caso da meditagaio ¢ da oragao séria como no sendo coisas de real necessidade. Sem diivida, chegamos a considerd-las como algo que possa nos ajudar a enfrentar uma emergéncia, mas, a princfpio, muitos dentre nds so capazes de entendé-las como expressio de um dom misterioso dos religio- sos, do qual poderemos esperar qualquer beneficio de segunda mio. E possivel que nao acreditemos em nada destas coisas. Para certos ingressantes e para aqueles antigos agnésticos que ainda se apegam ao grupo de A.A. como sua “forga supe- rior”, as afirmagoes sobre o poder da oragao, apesar de toda a I6gica ¢ experiéncia que a comprovam, podem no convencer e até desagradar bastante. Aqueles entre nés que uma vez ja se sentiram assim, certamente podem ter por eles simpatia e com- preensio. Recordamo-nos muito bem da revolta que se levan- tava em nosso intimo contra a idéia de genuflexio perante qual- 86 DECIMO PRIMEIRO PASSO quer Deus, Outros, usando légica convincente, “provavam” a ndo existéncia de Deus. E os acidentes, a doenga, acrueldade e a injustica no mundo? E todas essas criaturas infelizes, resulta- dos diretos da pobreza e de um conjunto de circunstancias incontrolaveis? A vista desses fatos, nio poderia haver justiga e, conseqiientemente, qualquer Deus. As vezes, argumentdvamos de outra maneira. Estd certo, nos dizfamos, a galinha provavelmente veio antes do ovo. Sem dii- vida o universo teve algum tipo de “origem primeira”; o Deus do tomo, quem sabe, se transformando sucessivamente em frio e calor. Mas certamente nio havia indicagao alguma da existén- cia de um Deus que conhecia e se interessava pelos homens. Gostavamos de A.A. ¢ nfo hesitévamos em dizer que operava milagres. Todavia, ante a meditagio e a orago, sentfamos o mesmo retraimento do cientista que se recusava a realizar certa experiéncia por temor de ter que derrubar sua teoria predileta. E claro que no fimn resolvemos experimentar e, quando surgiram resultados inesperados, nés vimos as coisas diferentes; de fato, sentimos de forma diferente acabamos capitulando totalmente diante da meditagio e da oragio. E isso, descobrimos, pode acon- tecer com qualquer pessoa que as experimente. Acertou quem disse que “os chacoteadores da oragio sdo, quase sempre, aque- Jes que nfioa experimentaram devidamente.” Aqueles de nés que estilo se utilizando regularmente da ora- 20 seriam tio incapazes de dispens4-la como ao ar, ao alimento ou A luz do sol, tudo pela mesma razo. Quando recusamos ar, luz ou alimento, 0 corpo sofre. Se viramos as costas 4 meditagdo € A oracHo, também estamos negando as nossas mentes, emogdes ¢ intuigGes, um apoio imprescindivel. Da mesma forma que 0 cor- po, a alma pode deixar de funcionar por falta de alimentagao. Todos necessitamos da luz. da presenga de Deus, do alimento de Sua forga e da atmosfera de Sua graga. Os fatos da vida de A.A. confirmam a uma extensio maravilhosa esta verdade eterna. A pratica do auto-exame, da meditagao e da oragao esto di- — DECIMO PRIMEIRO PASSO é 87 retamente interligadas. Usadas separadamente, elas podem tra- zer muito alivio e beneficio, mas quando so relacionadas e in- terligadas logicamente, resultam ein uma base inabalével para toda a vida. De vez em quando podemos gozar de um vislumbre dessa realidade suprema que é 0 reino de Deus. E estaremos reconfortados ¢ assegurados de que nosso préprio destino nese reino estaré garantido enquanto tentarmos, mesmo que vacilan- tes, encontrar ¢ realizar a vontade de nosso préprio Criador. Como nos foi dado perceber, & pelo exame de nossos pr6- prios pensamentos sentimentos que conseguimos que uma nova visio, ago e a graga venham a influir no lado escuro e negativo de nosso ser. E um passo para o desenvolvimento daquele tipo de humildade que nos permite receber a ajuda de Deus. No en- tanto, € apenas um passo e devemos querer ir mais longe. ‘Vamos querer que o bem que esté dentro de todos nds, mes- mo dos piores, cresga e floresga. Na certa, precisaremos do ar revigorante e de abundante alimentagdo, Mas, antes de mais, nada, desejaremos a luz solar: pouco pode crescer na escuridzo. A meditagio é um passo em dirego ao Sol. De que forma, en- to, meditaremos? A experiéncia existente a respeito da oragdo e da meditagio através dos séculos, é por certo imensa. As bibliotecas ¢ as igre- jas do mundo sio um tesouro a disposicao de todos que 0 procu- ram. de se esperar que todo AA filiado a uma religidio que dé énfase & meditagao, retorne a essa pritica com maior devogio do que nunca, Porém, que dizer aos menos afortunados entre n6s, que nem sabem por onde come¢ar? Bem, poderfamos comegar desta maneira. Primeiro procuremos uma oragio que seja boa de fato. Nao seri necessério procurar mui- to. Grandes homens e mulheres de todas as religides nos deixaram uma colegio maravilhosa. Iniciemos com uma que é clissica. ‘Seu autor foi um homem que é considerado um santo, hé al- gumas centenas de anos. Nao nos impressionaremos ou nos.as- sustaremos com esse fato, pois, embora ele niio tivesse sido al- 88 DECIMO PRIMEIRO PASSO co6lico, passou, como nés, pelo crivo de todas as emogdes. E quando ele surgiu do outro lado dessa dolorosa experiéncia che- gando A outra margem da vida, na oragio abaixo expressou 0 que viu, sentiu e desejou ser: “O Senhor! Faze de mim um instrumento da Tua Paz; onde ha dio, faze que eu leve 0 Amor; onde hé ofensa, que eu leve o Perdio; onde hi discérdia, que eu leve a Unido; onde ha davidas, que eu leve a Fé! onde ha erros, que eu leve a Verdade; onde hé desespero, que eu leve a Esperanga; onde hé tristeza, que eu leve a Alegria; onde hi trevas, que eu leve a Luz! 6 Mestre! Faze que eu procure menos Ser consolado, do que consolar; Ser compreendido, do que compreender; Ser amado, do que amar. Porquanto: F dando, que se recebe; & perdoando, que se é perdoado; E € morrendo que se vive para a Vida Eterna. Amém” ‘Como principiantes, poderfamos aprender a meditar, relendo esta oragfio varias vezes e bem devagar, para saborear cada pa- lavra e procurar absorver o sentido profundo de todas as frases e idéias. Seria de grande ajuda se pudéssemos abandonar toda a resisténcia as palavras desse nosso amigo. Pois na meditagao no ha lugar para o debate. Descansemos sossegadamente com os pensamentos de quem entende do assunto, para que possa~ mos experimentar e aprender. Como se estivéssemos deitados numa praia ensolarada, relaxemos ¢ respiremos profundamente aatmosfera espiritual com a qual a graca desta oragio teve 0 dom de nos envolver. Que nos tornemos dispostos a tomar par- —— DECIMO PRIMBIRO PASSO 89 te, fortalecer-nos e elevar-nos pelo poder, beleza e amir espiri- tuais absolutos, transmitidos por essas magnificas palavras. En- to, olhemos para o mar e meditemos sobre os mistérios que ele esconde e deixemos que o nosso olhar se perca no horizonte distante, além do qual iremos procurar todas as maravilhas ain- da desconhecidas para nés. “Ora!” — diz alguém. — “Isto € bobagem. Nao é pritico.” Quando tais pensamentos surgem, é bom lembrar, mesmo com certa dose de tristeza, quanto valor dévamos, em outro tempo, imaginag&o que tentava criar a realidade de dentro das garrafas. Nao € verdade que nos deleitavamos com esse modo de pensar? E, hoje, embora s6brios, no continuamos tentando, ds vezes, fa- zer coisa semelhante? Talvez nosso problema no residisse no fato de usarmos a imaginagao. Quem sabe, 0 verdadeiro proble- ma fosse o de nossa quase total incapacidade para dirigir a ima nagiio no rumo dos objetivos certos. Nada hd de mal na imagina- gio construtiva; todo o empreendimento bem fundado depende dela. Afinal de contas, ninguém pode construir uma casa sem antes arquitetar um plano. Bem, a meditago também é assim; ela nos ajuda a ter uma nogio de nosso objetivo espiritual antes que ten- temos nos encaminhar em sua diregdo. Isto posto, voltemos aquela praia ensolarada, ou talvez, a planicie ou is montanhas . Quando, por métodos simples como esse, tivermos entrado num estado de espirito que nos permita a concentracdo na imagi- naciio construtiva, sem interrup¢do, poderemos proceder assim: relemos a nossa oragao, tentamos novamente compreendé-la na profundidade de sua esséncia e pensamos no homem que foi o primeiro a proferi-la. Primeiro, ele quis tornar-se um “instru- mento de paz”. Entio ele pediu a graga de levar amor, perdio, harmonia, verdade, f, esperanga, luz e alegria a todos quantos pudesse. Depois veio a expresstio de uma aspiragaio e de uma esperana para ele préprio. Ele esperava que se Deus quisesse, Ihe fosse permitido sercapaz de encontrar alguns desses tesou- Tos também. Isso ele tentaria realizar através do que chamou 90 DECIMO PRIMEIRO PASSO darde si mesmo. O que ele quis dizer com “é dando que se recebe” e como se propos a consegut-lo? Ele achava melhor consolar e nao ser consolado; compreen- dere nao ser compreendido; perdoar ¢ nao ser perdoado. ‘Tudo isto poderia ser uma parte do que designamos por me- ditagfio, talvez nossa primeira tentativa em alcangar um estado espiritual ou, entdo, fazer uma viagem ao reino do espirito. De- verfamos, assim, comparar o ponto em que agora estamos com aquele em que poderfamos estar se pudéssemos nos aproximar do ideal que apenas vislumbramos. A meditagio é algo que pode sempre ser desenvolvido. Ela nao tem limites, tanto na extenséio como na altura. Embora possamos ser auxiliados por qualquer instrugo ou exemplo que encontrarmos, cla é essencialmente uma aventura individual que cada um de nds realiza a sua ma- neira. Porém, seu objetivo é sempre o mesmo: melhorar nosso contato consciente com Deus, com Sua graga, sabedoria e amor. ‘Lembremo-nos sempre, que a meditagdo é na realidade suma- mente pratica. Um de seus primeiros frutos € 0 equilibrio emo- cional. Com ela podemos alargar e aprofundar o canal de liga- do entre nés e Deus, na forma em que o entendemos. E a oragio? A oragio € a elevagiio do coragdo ¢ da mente para Deus e, neste sentido, abrange a meditagio. Mas, como se deve orar? E como se relaciona a orag%io com a meditagio? O estilo comum de orago é uma petigdo a Deus. Havendo aberto ‘0 nosso canal de comunicagao da melhor forma poss{vel, pro- curamos pedir determinadas coisas de que nés, ou outros, te- ‘mos premente necessidade. Acreditamos que em certa parte do Décimo Primeiro Passo est bem definida a extensio completa de nossas necessidades quando diz: “... 0 conhecimento de Sua yontade em relago a nés e forgas para realizé-la..." Um pedido como este pode ser feito a qualquer hora do dia. Cedo, de manha, pensamos nas horas que virdo. Talvez ve- nhamos pensar no trabalho daquele dia, nas oportunidades de sermos titeis ¢ prestativos ou em algum problema especial que DECIMO PRIMEIRO PASSO 1 possa aparecer. Possivelmente, hoje ainda perdurara uma séria questo nfo resolvida desde ontem. Teremos a tentagio ime- diata de pedir solugGes especificas para casos especificos e aju- da para outras pessoas, da forma que nds julgamos devam ser ajudadas. Nesse caso, estamos pedindo a Deus que o faa Anos- sa maneira. Portanto, devemos ter o cuidado de aquilatar 0 mé rito real de cada pedido antes de faz6-lo. Mesmo assim, sempre que tivéssemos de fazer determinados pedidos, farfamos bem em acrescentar esta ressalva: “Se for de Sua vontade.” Simples- mente pedimos que durante todo o dia, Deus nos dé a melhor compreensio de Sua vontade e, através da graca, nos seja con- cedida forga suficiente para cumpri-la. No decorrer do dia, quando tivermos de enfrentar situagées delicadas e tomar decisdes, podemos parar um momento e reno- var o mais simples de todos os pedidos: “Seja feita a Sua vont: de, nao a minha,” Nos momentos de fortes perturbagdes emocio- nais, manteremos nosso equilfbrio se nos lembrarmos de uma oragio qualquer ou frase que, particularmente, nos tenha agra- dado durante a leitura ou meditagao. Dizendo essa frase ou ora- gio por algumas vezes, podemos em geral restabelecer uma | gaciio interrompida pelo rancor, pelo medo, pela frustragio ou pelo desentendimento, e poderemos voltar & mais segura de to- das as ajudas: a procura da vontade de Deus, nio a nossa, no momento de tensio. Assim, nestes momentos criticos, se nos Jembrarmos de que “é melhor consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido, amar do que ser ama- do”, estaremos seguindo a intengao do Décimo Primeiro Passo. E razodvel e compreensivel que se faca repetidamente a per- gunta: “Por que nao podemos submeter diretamente a Deus um dilema especffico e perturbador e, através da orago, receber d’Ele respostas certas e definidas a nossos pedidos?” Isso pode ser feito, mas apresenta graves riscos. Temos visto ‘AAs pedirem, com muita sinceridade e f6, orientagdo explicita de Deus sobre assuntos que variam desde desastrosas crises domésti- 2 DECIMO PRIMEIRO PASSO cas ou financeiras, até a corregio de pequenas falhas, como a impontualidade. Porém, é freqtiente o fato de que os pensamentos que afloram a mente e parecem vir de Deus nao sdo respostas ade- quadas. Provam ser, isto sim, bem intencionadas racionalizagdes inconscientes. E um individuo muito desconcertante o AA, ou qual- quer homem, que tenta implantar rigorosamente em sua vida este modo de rezar, com esta necessidade egoistica de respostas divi- nas, A qualquer pergunta ou critica a suas ages, ele vem logo com sua inabalvel confianga na orago como guia para todos os seus feitos, grandes ou pequenos. Pode ter esquecido a possibilidade de que seus desejose a tendéncia humana de autojustificar, tenham distorcido sua decantada orientagio. Com a melhor das intengdes, ele tende a impor sua propria vontade em qualquer situacio ou problema, confortavelmente seguro de que est agindo diretamen- te dirigido por Deus. Iludido desta maneira, é claro que pode sem querer causar grandes estragos. Hé uma outra tentacdo semelhante, na qual caimos quando formulamos idéias sobre o que achamos ser a vontade de Deus para com outras pessoas. Dizemos ands mesmo: “Este deve ser curado desta doenga fatal...” ou “Aquele deve ser tirado desta crise emocional...” e rezamos por estas coisas bem caracteriza- das, Tais oragées, é natural, representam, no fundo, atos de bon- dade, mas geralmente se baseiam na suposigao de que conhe- cemos a vontade de Deus a respeito da pessoa que tentamos ajudar. Isto significa que, a par de uma oragao sincera, pode existir dentro de nds uma boa dose de presungao e vaidade. Evi- dencia-se a experiéncia de A.A. especialmente nesses casos, quando sugere que deverfamos orar para que se faga a vontade de Deus, seja qual for, tanto para nés como para 0s outros. Em A.A. descobrimos que os bons ¢ reais resultados da ora- gio sio indiscutiveis. Eles so casos de conhecimento e exper: éncia. Todos os que persistiram, encontraram uma reserva de forcas além de suas préprias. Ostentaram sabedoria muito supe- rior A sua capacidade normal e desenvolveram cada vez mais a DECIMO PRIMEIRO PASSO 93 paz de espirito inquebrantavel, mesmo nas mais dificeis cir- cunstineias. Descobrimos que de fato recebemos orientagio para nossas vidas em proporgao & medida em que paramos de exigir de Deus que nos dé 0 que queremos e como queremos. Raro € 0 AA experiente que ndo possa contar como seus assuntos melhoraram incrivel e inesperadamente, na medida em que procurou estreitar seu contato consciente com Deus. Quase sempre ele poderd contar que nas épocas de sofrimento e dor, quando a mo de Deus parecia ser pesada e até injusta, foram aprendidas novas liges sobre a vida, descobertas novas fontes de coragem e que, finalmente e de forma iniludivel, chegou a convicgao de que Deus, efetivamente, “age de maneira misteriosa na realizagiio de Suas maravilhas” Esse5 acontecimentos devem constituir noticia animadora para aqueles que recuam da oragao por falta de £6, ou por se sentirem no contemplados pela ajuda ou orientagao de Deus. Todos nés, sem excecio, j4 passamos por perfodos em que s6 rezamos depois de impelidos pela maior forga de vontade possivel. As vezes, che- gamos air mais longe ainda, quando somos acometidos por uma rebeliio tdo mérbida que simplesmente nao rezamos. Quando es- tas coisas acontecem, néio devemos ser demasiadamente rigorosos conosco. Devemos apenas voltar a pritica da oragio tio logo pu- dermos, fazendo o que sabemos ser bom para nés. Talvez, uma das maiores recompensas que conseguimos ob- ter com a meditagio e a orago seja a intima convicgao de que passamos a fazer parte. Nao mais vivemos num mundo inteira- mente hostil. J4 nfo nos sentimos abandonados, amedrontados e sem objetivo na vida. A partir do momento em que percebe- ‘mos, mesmo que seja um pequeno vislumbre da vontade de Deus, e comegamos a ver a verdade, a justiga e o amor como os valo- res reais ¢ eternos na vida, néo mais ficaremos profundamente abalados com a aparente evidéncia do contrario que nos rodeia em assuntos apenas humanos. Sabemos que o amor de Deus vela sobre nés, Sabemos que quando nos voltarmos para Ele, tudo estard bem conosco, aqui eno que vier apés. DECIMO SEGUNDO PASSO “Tendo experimentado um despertar espiritual, gragas a es- tes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcosli cos e praticar estes principios em todas as nossas atividades.” No Décimo Segundo Passo de A.A., 0 prazer de viver é 0 tema e a agdo sua palavra chave. Chegou a oportunidade de nos voltarmos pata fora em ditego de nossos companheiros alcos- licos ainda aflitos. Nessa altura, estamos experimentando o dar pelo dar, isto é, nada pedindo em troca, Agora comegamos a praticar todos os Doze Passos em nossa vida diéria para que possamos todos, nés e as pessoas que nos cercam, encontrar a sobriedade emocional. Quando conseguimos ver em que o Déci- mo Segundo Passo implica, vemos que se trata do amor que njio tem prego. Este passo também nos diz que, como resultado da pratica de todos os pasos, cada um de nés foi descobrindo algo que se pode chamar de “despertar espiritual”. Para os AAs novos, este estado de coisas pode parecer diibio ou improvével. Eles per- guntam: Que querem dizer quando falam em “despertar espiri- tual”? E possfvel que haja uma definig&o de “despertar spiritual” para cada pessoa que o tenha experimentado. Contudo, os ca- sos auténticos, na verdade, t¢m algo comum entre si. Estas coi- sas comuns entre eles so de facil compreensio. Quando um homem ou uma mulher experimenta um despertar espiritual, 0 significado mais importante disso é que se torna capaz de fazer, DECIMO SEGUNDO PASSO 95 sentir e acreditar em coisas como antes niio podia, quando di punha apenas de seus préprios recursos desassistidos, A dédiva tecebida consiste em um novo estado de consciénciae uma nova maneira de set. Um novo caminho Ihe foi indicado, conduzin- do-o a um lugar determinado, onde a vida no é um beco sem safda, nem algo a ser suportado ou dominado. Foi transformado emum sentido bem real, pois langou mao de uma fonte de forga que, de um modo ou de outro, havia negado a si proprio até aqui. Encontrou-se possuindo um grau de honestidade, toleran- cia, dedicagao, paz de espirito e amor, dos quais se supunha totalmente incapaz. O que recebeu foi um presente de graga, contudo, geralmente, pelo menos em uma pequena medida, tor- nou-se pronto para recebé-lo, O meio de que A.A. dispde em nosso preparo para a recep- cdo desta dadiva esta na pritica dos Doze Passos de nosso pro- grama. Portanto, procedamos a um répido levantamento do que temos tentado fazer até aqui: Primeiro Passo nos revelou um fato surpreendentemente paradoxal: descobrimos que éramos totalmente incapazes de nos livrar da obsessio pelo dlcool até que admitissemos nossa im- poténcia diante dele. No Segundo Passo vimos que jé nao éra- mos capazes de, por nossos préprios meios, retornar a sanidade, € que algum Poder Superior teria que fazé-lo por nés, para que pudéssemos sobreviver. Em conseqiiéncia, no Terceiro Passo, entregamos nossa vontade e nosso destino 20s cuidados de Deus, na forma em que O concebiamos. A titulo provisério, aqueles de nds que eram ateus ou agnésticos descobriram que 0 nosso grupo ou AA. no todo, poderia atuar como poder superior. A partir do Quarto Passo, comecamos a procurar dentro de nés as coisas que nos haviam levado A bancarrota fisica, moral ¢ espi ritual ¢ fizemos um corajoso e profundo inventério moral. Em face do Quinto Passo, decidimos que apenas fazer um inventé- rio ndo seria suficiente; sabfamos que era necessério abandonar nosso funesto isolamento com nossos conflitos c, honestamen- 96 DECIMO SEGUNDO PASSO te, confid-los a Deus e a outro ser humano. No Sexto Passo, muitos dentre nds recuaram pela simples razio de que no dese- javam a prontaremogao de alguns defeitos de cardter dos quais ainda gostavam muito. Sab{amos, porém, todos, da necessida- de de nos ajustar ao principio fundamental deste passo. Portanto, decidimos que, embora tivéssemos alguns defeitos de cardter que ainda no podfamos expulsar, devfamos de todos os modos abandonar nossa obstinada e revoltante dependéncia deles. Dis- semos: “Talvez nao possa fazer isso hoje mas, pelo menos, pos- so parar de protestar: ndio, nunca!” Entdo, no Sétimo Passo, roga- mos humildemente a Deus que, de acordo com as condigdes rei- nantes no dia do pedido e se esta fosse a Sua vontade, nos liber- tasse de nossas imperfeig&es. No Oitavo Passo continuamos a limpeza de nosso interior, pois sabfamos que nao sé estévamos em conflito conosco, como também com pessoas ¢ fatos do mundo em que vivfamos. Precisévamos comegar a restabelecer relacdes amistosas e, para esse fim, relacionando as pessoas que haviamos ofendido, nos propusemos, com disposigao, a remediar os males que praticamos. Prosseguimos nesse desfgnio no Nono Passo, reparando diretamente junto As pessoas atingidas, os da- nos que causamos, salvo quando disso resultassem prejutzos para elas ou outros. No Décimo Passo, haviamos iniciado o estabele- cimento de uma base para a vida cotidiana, conhecendo clara- mente que seria necessirio fazer de maneira continua o inventa- rio pessoal, admitindo prontamente os erros que fdssemos en- contrando. No Décimo Primeiro Passo vimos que se um Poder Superior nos havia devolvido & sanidade e permitido que vivés- semos com relativa paz de espirito num mundo conturbado, va- lia apena conhecé-lo melhor, através do contato mais direto pos- sivel. Ficamos sabendo que o yso persistente da oragdo e da medi tacdo abria, de fato, o canal para que, no lugar onde havia existido um fio de gua, corresse um caudaloso rio que nos levava em dire- ¢&o ao indiscutivel poder e & orientagdo segura de Deus, tal como estévamos podendo conhecé-lo, cada vez melhor. DECIMO SEGUNDO PASSO 7 Assim, praticando esses pasos, experimentamos um despertar espiritual sobre qual, afinal, nfio nos restava a menor diivida. Olhando aqueles que apenas comegavam e ainda duvidavam de si mesmos, nés pod{amos ir observando a mudanga que neles se operava. Tomandé por base o grande ntimero de experigneias que tivemos, podiamos prognosticar que o companheiro cheio de diivida e que dizia nao haver ainda compreendido o “lado espiritual”, mas que insistia em considerar seu bem-amado gru- po de A.A. seu poder superior, em breve amaria a Deus, e O chamaria pelo nome, E agora, o que diremos do restante do Décimo Segundo Pas- so? A energia maravilhosa que ele desencadeia¢ a ago pronta pela qual leva nossa mensagem ao préximo alcodlico sofredor, e que finalmente convertem os Doze Passos em agio sobre to- das as nossas atividades é a recompensa, a magnifica realidade de Aleodlicos Andnimos. Até o tiltimo dos recém-chegados descobre recompensas nun- casonhadas quando procura ajudar seu irmio alcodlico, aquele que ainda esta mais cego do que ele. Ista de fato, € dar, nada pedindo. Ele nao espera de seu companheiro qualquer paga ou mesmo amor. E entéo, descobre que, pelo paradoxo divino con- tido nessa maneira de dar, jd recebew a sua propria recompensa, nao importando se seu itmio foi ajudado ou nao. Seu cardter pode ainda encerrar graves defeitos, mas de al- guma forma ele sabe que comecou bem, por obra de Deus, sen- tindo que esta & beira da descoberta de alegrias, experiéncias e mistérios jamais sonhados. E comum em quase todos os mem- bros de A.A. a afirmagao de que nenhuma satisfagio 6 mais pro- funda e nenhuma alegria é mais intensa e dufadoura do que um Décimo Segundo Passo bem executado. Contemplar os olhos de homens ¢ mulheres se abrirem maravilhados & medida em que passam da treva para a luz, suas vidas se tornando rapida- mente cheias de propésito ¢ sentido, familias inteiras se reinte~ grando, 0 alcodlico marginalizado sendo recebido alegremente 98, ECIMO SEGUNDO PASSO emsua comunidade como cidadao respeitavel, e acima de tudo, ver estas pessoas despertadas para a prescnca de um Deus amantissimo em suas vidas, so fatos que constituem a esséncia do bem que nos invade, quando levamos a mensagem de A.A. a0 irmio sofredor. E no fica nisso o trabalho do Décimo Segundo Passo. Nas reunides de A.A., no s6 escutamos para receber os beneficios de experiéncias alheias, como também para dar 0 apoio que nossa presenga possa trazer. Quando nos cabe falar, novamente tenta- mos transmitir a mensagem de A.A. Seja o nosso auditério com- posto por uma ou muitas pessoas, ainda € servigo do Décimo Segundo Passo. Existem muitas oportunidades para aqueles den- tre nds que nao se sentem capazes de falar ou, dadas as circuns- tancias, ndo tém condigGes para as abordagens. Podem eles acei- tar as incumbéncias pouco notadas, mas igualmente importan- tes e que tornam possivel a boa execugao do Décimo Segundo Passo, providenciando café e bolo para depois das reunides, quando tantos recém-chegados, ainda descrentes e fechados, encontram um ambiente de confianga e conforto no bate-papo alegre e descontrafdo. Isso é trabalho do Décimo Segundo Pas- so no melhor sentido da palavra. “Livremente receberam e li- vremente dio...”, eis 0 coragio deste tiltimo passo. Passamos por certas experiéncias no Décimo Segundo Passo que fazem, freqiientemente, supor que estejamos temporaria- mente “fora de onda”. Quando forem surgindo, parecerao séri- 0s reveses para nés, mas com 0 tempo, sertio encarados como meros degraus na ascenso para um estagio melhor. Por exem- plo, desejamos ardentemente evar a sobriedade uma determi- nada pessoa, fazendo tudo 0 que podemos durante meses, para depois vé-la recair. Talvez isto venha a acontecer varias vezes, 0 que poder4 nos acarretar grande decepcio, relativa & nossa capacidade de transmitir a mensagem de A.A. E a situagao in versa, quando chegamos a ter, com euforismo, a sensagdo de &xito, pelo menos aparentemente? Neste caso, a tentagio é nos DiiciMo SEGUNDO PASSO 99, tornarmos donos dos novatos. Pode ser que nao resistamos ao desejo de nos tornarmos conselheiros de seus assuntos priva- dos, nao estando nem preparados para essa dificil missio e nem devendo fazé-lo. Daf ficamos ofendidos e confusos quando os nossos conselhos so rejeitados ou, se aceitos, trazem ainda maior perturbagao. As vezes, com muito esforgo, levamos a nossa mensagema tantos alcodlicos que os companheiros nos colo- cam em posigdo de confianga, digamos, nos elegem para coor- denar o grupo. Este acontecimento pode nos trazer a tentacéo de cometer exageros na administragio das coisas, nos expondo a vexames e outras dificuldades incdmodas. Porém, a longo pra- 20, vamos reconhecendo claramente que essas sto as dores do crescimento ¢ que s6 0 bem poderd delas advir se procurarmos as respostas, cada vez mais profundamente, nos Doze Passos. Agora, a maior pergunta que jé fizemos; O que dizer da “pra- _tica destes principios em todas as nossas atividades”? Temos condiges para amar a vida em todos 0s Seus aspectos com tan- toentusiasmo quanto amamos aquela pequena parcela que des- cobrimos, quando tentamos ajudar outros alcoGlicos a aleangar a sobriedade? Somos capazes de levar s nossas vidas em fam{- lia, por vezes bastante complicadas, o mesmo espirito de amor tolerancia com que tratamos nossos companheiros do grupo de A.A.? As pessoas de nossa familia, que foram envolvidas e até mareadas pela nossa doenga, merecem de nés © mesmo grav de confianga e f€ que temos em nossos padrinhos? Podemos fazer com que 0 espirito de A.A. esteja de fato presente em nos- sas atividades didrias? Estamos prontos para arcar com as no- vas ¢ reconhecidas responsabilidades que nos cercam? Pode- mos levar para a religido de nossa escolha, novo propésito e nova devogao? Ser que podemos encontrar uma nova alegria de viver, tentando dar um jeito em todas essas coisas? Além do mais, como podemos nos ajustar a derrota ou ao éxito aparentes? Podemos aceitar e nos adaptar a ambos sem pero ou orgulho? Podemos aceitar a pobreza, a doenca, a 100 DECIMO SEGUNDO PASSO solidao e 0 luto com coragem ¢ serenidade? Podemos nos con- tentar resolutamente com as satisfagGes mais si s, embora is duravei so negadas as mais bri- Aresposta de A.A. a tais perguntas sobre a vida é: “Sim, tu- do isto 6 possivel.” Sabemos porque vimos a monotonia, a dor e até acalamidade transformadas por aqueles que continuam ten- tando praticar os Doze Passos de A.A. Se estes so os fatos da vida de muitos alcodlicos que se recuperam em A.A., podem muito bem vir a ser fatos da vida de muitos mais. E claro que até os melhores AAs nem sempre conseguem alcangar esses objetivos de forma consistente, Nao é necessario tomarmos 0 primeiro gole para que, muitas vezes, nos afaste- mos em maior ou menor distancia da faixa da normalidade. As vezes nossos problemas comegam pelo comodismo; sentimo- nos sGbrios e felizes em nosso trabalho de A.A.; as coisas vao bem em casa e no escritério. De certo modo, jf estamos nos congratulando por aquilo que mais tarde saberemos ser muito fécil e superficial. Temporariamente paramos de crescer porque nos acomodamos na crenga de que para nés no sera necessdrio © cumprimento de todos os Doze Passos de A.A. Estamos muito bem com parte deles. Talvez para nds sejam suficientes somen~ te 0 Primeiro Passo € 0 trecho do Décimo Segundo que diz: “levamos a mensagem”. Na giria de A.A. esse feliz estado de coisas € denominado “a danga dos dois passos” e pode durar varios anos. rie ee Até os mais bem intencionados entre nés podem ser iludidos por essa “danga”. Mais cedo ou mais tarde, a fase da euforia passa e somos envolvidos por monotonia, Comegamos ento a pensar que A.A., afinal de contas, nao vale a pena, Ficamos con- fusos e desanimados. Ai, € possivel que a vida, como sempre de novo acontece, nos dé um “bocado” to grande que no o possamos engolir, muito menos digerir. Deixamos de obter um aumento salarial DECIMO SEGUNDO Passo 101 pelo qual tanto havfamos lutado. Perdemos “aquele” emprego. E provavel que surjam sérias dificuldades domésticas ou senti- mentais. Aquele rapaz que nos parecia guardado por Deus, tal- vez nfio retorne da frente de combate! Que acontecerd entio? Ser que nés alcodlicos encontramos ‘ou podemos encontrar em A.A. os meios para enfrentar essas calamidades que a tantos afligem? Estes eram os problemas da vida que jamais consegufamos encarar. Temos agora condigbes para, com a ajuda de Deus, tal qual O entendemos, lidar com eles com a mesma decisio e coragem com que fazem, fre- qiientemente, nossos amigos niio-alcodlicos? Sabemos trans- formar essas desventuras em algo positivo, fonte de crescimen- “te alivio para nds mesmos e aqueles que nos rodeiam? Bem, comm certeza teremos uma chance se passarmos da “danga dos dois passos” para o “samba dos Doze Passos”, se quisermos ceber a graca Divina que nos pode sustentar e fortalecer em) qualquer catéstrofe. Nossos problemas basicos sio idénticos aos das outras pes- soas, porém, quando AAs bem alicergados se esforgam honesta- ‘mente para “praticar esses principios em todas as atividades”, parecem ter a capacidade, pela graga de Deus, de no se atrapa Ihar, convertendo suas dificuldades em auténticas demonstra- ges de f6. Temos visto AAs sofrerem doencas prolongadas fatais, quase sem queixa, permanecendo muitas vezes de bom humor. Freqllentemente temos encontrado reunidas de novo pela maneita de viver de A.A., familias inteiras desintegradas pela incompreensio, tens&o ou até infidelidade. Emboraa capacidade de ganho da maioria dos AAs seja rela- tivamente alta, alguns membros parecem nunca obter o alme- jado equilibrio financeiro, enquanto outros se debatem inutil- mente com pesados contratempos dessa ordem. E vemos que, em geral, estas situagdes so encaradas com energia e f8. Como a maioria das pessoas, descobrimos que somos capa- zes de suportar nossos reveses. Mas, da mesma forma que os 102 DEECIMO SEGUNDO PASSO outros, descobrimos que os maiores desafios nos vém dos peque- nos ¢ crénicos problemas da vida. Nossa resposta est em au- mentar nosso desenvolvimento espiritual. Somente assim tere- mos condigées de elevar nossas chances para ter uma vida verdadeiramente titil e feliz. E, ao crescermos espiritualmente, ficamos sabendo que as velhas atitudes diante de nossos instin- tos precisam sofrer dréstica revisio. Nossos desejos de segu- ranga emocional e material, prestigio pessoal e poder, vida sen- timental e bem estar no seio da familia, todos estes carecem ser equilibrados ¢ reorientados. Aprendemos que a satisfacdo de 1030s instintos nao pode ser 0 objeto exclusivo, a tinica finali- dade da nossa vida. Se pusermos os instintos em primeiro lugar, estaremos colocando a carroga diante dos bois ¢ seremos arras- tados para a desilusao. Ao contrério, se nos dispusermos a cle- var ao primeiro plano o nosso crescimento espiritual, entio, ¢ apenas entio, teremos uma boa chance. Apés o nosso ingresso em A.A., se continuarmos a crescer, nossa maneira de ver ¢ agir em relagHo a nossa seguranga emocional ou financeira comega a mudar profundamente. Nos- sas exigéncias de seguranca emocional, de ter as coisas & nossa maneira, consistentemente nos langaram em situag6es intrataveis ‘com outras pessoas. Embora muitas vezes nao tivéssemos cons- cigncia disso, o resultado era sempre o mesmo. Ou haviamos assumido o papel de Deus e dominado as pessoas que nos rodea- vam, ou insistido, abusivamente, em depender delas, Nos casos em que outras pessoas nos deixaram dirigir suas vidas por al- gum tempo, como se ainda fossem criangas, sentimo-nos imen- samente felizes e seguros de nés mesmos. Porém, quando opuse~ ram resisténcia ou se afastaram, ficamos ofendidos e desaponta- dos. Pusemos a culpa neles. Incapazes que éramos de perceber que nossas imposigdes injustificaveis haviam sido a causa de tudo Nos casos em que havfamos seguido 0 caminho contrario, querendo, como criangas, exigir dos outros protegiio e cuidados DECIMO SEGUNDO PASSO 103 ou que 0 mundo nos desse uma vida melhor, igualmente ocor- teu um resultado infeliz. Por esse motivo, quase sempre as pes- soas que mais amavamos eram levadas a nos repelir ou abando- nar por completo. Nao foi facil suportar nossa desilusao, pois no imagin4vamos que pudéssemos ser tratados dessa maneira, Jé nao percebiamos que, embora adultos em anos, ainda nos comportévamos infantilmente, tentando converter todos ~ ami- 05, esposas ou maridos ¢ até o proprio mundo — em pais prote- tores. Haviamos nos recusado a compreender a dura ligdo de que a exagerada dependéncia dos outros sempre nos leva ao fra- casso, dada a falibilidade até das melhores pessoas. Estas, mui- tas vezes tero que nos desapontar, especialmente quando nos- sas exigéncias de atenco se tornam impertinentes. A medida em que progredfamos espiritualmente, passamos a teconhecer a natureza desses erros. Tornou-se evidente que se esperdvamos, algum dia, nos sentir emocionalmente seguros entre pessoas adultas, terjamos de colocar nossa vida no mesmo plano que elas, dando e recebendo em igual medida, Seria ne- cessario desenvolvermos o habito de viver em sociedade ou fraternidade com todos os que nos cereavam. Vimos que sem- pre terfamos que dar tudo de nés mesmos, sem esperar qualquer troca. = ~~ Enquanto famos agindo assim, descobriamos gradualmente que as pessoas se sentiam atrafdas por nds como jamais 0 ha- viam sido antes. E mesmo que nos desapontassem, podfamos ser compreensivos e ndo serfamos tio afetados. Ao desenvolver-nos mais ainda, descobrimos que 0 préprio Deus, sem diivida, € a melhor fonte de estabilidade emocional. Descobrimos que a dependéncia de Sua absoluta justiga, perda e amor era saudvel, e que funcionaria quando tudo 0 mais fra- cassasse. Se realmente dependéssemos de Deus, nos seria diff- cil bancar 0 Dens perante nossos semelhantes, ¢ nem sentiriamos a iecessidade de nos apoiar totalmente na protegao e no cuidadd humano. Estas foram as novas atitudes que finalmente trouxe- 104 ECIMO SEGUNDO PASSO ram amuitos de nés forga e paz interior que dificilmente seriam abaladas pelas falhas dos outros ou por qualquer infortinio nao causado por nés, Compreendemos que esta nova maneira de encarar os fatos. era necessdria, em especial para nds alcodlicos. Pois alcoolis- ‘mo, para nés, representara a solidao, apesar de que estivéramos cercados por pessoas que nos amavam. Mas, quando a nossa prepoténcia havia espantado a todos e nosso isolamento se tor- nara total, fomos levados a bancar os importantes em botequins de Giltima classe e, entio sozinhos, perambular pelas ruas ¢ de- pender da caridade dos transeuntes. Ainda procurdvamos a se- guranca emocional, dominando ou nos fazendo dominar pelos ‘outros, E mesmo quando a nossa sorte nao havia descido tanto c estvamos 86s, mesmo assim insistfamos em procurar a segu- ranga por esses comportamentos doentios. Para aqueles de nés que cram assim, A.A. teve um sentido muito especial. Através dele comegamos aprendendo a manter boas relagdes com as pes- soas que nos compreendem; nao hd mais necessidade de ficar- mos 86s. ‘A maioria dos AAs casados tem lares muitos felizes. De for- ma surpreendente, A.A. contrabalanga os danos causados & vida familiar por anos de alcoolismo. Porém, como em todos 08 ou- tros agrupamentos, nds também temos os nossos problemas se- xuais e matrimoniais, as vezes, penosamente agudos. As sepa- rages e os deslizes permanentes, contudo, sio raros entre os membros de A.A. Nosso principal problema nao € conservar 0 casamento: € ter uma vida conjugal cada vez mais s6lidae feliz, eliminando-se as graves distorgGes emocionais que, na maioria das vezes, provieram do alcoolismo. Quase todo 0 individuo sensato experimenta, em algum mo- mento de sua vida, 0 desejo imperioso de encontrar um compa- nheiro do outro sexo com o qual possa realizar a mais completa unio possivel, ou seja: espiritual, mental, emocional ¢ fisica. Esse poderoso anseio é a raiz. de grandes empreendimentos hu- DECIMO SEGUNDO PASSO 105 manos, é uma energia criadora que influencia profundamente nossa vida. Deus nos fez. assim. Portanto, nossa pergunta s6 pode ser esta: de que modo, por ignorancia, compulsio e prépria von- tade, deturpamos essa dédiva para causar a nossa destrui¢ao? Nés AAs nao temos a pretensao de oferecer respostas cabais a antigas diividas, mas a nossa experiéncia pessoal nos di, isso sim, respostas adequadas que funcionam para nds, Quando 0 alcoolismo ataca, podem surgir graves anormali- dades que militam contra a harmonia e a compatibilidade entre 08 cOnjuges. Se foro homem o afetado, a esposa tera de assumir a chefia da familia e, quase sempre, se transformar em “o ganha pao”; 4 medida que as coisas vao piorando, o marido se conver- te em cfianga d De forma gradual e geralmente sem se aperceber do fato, a es- posa é forgada a se tornar mae de um menino transviado. Se ela jiitinha um forte instinto maternal, a situagao é agravada, Nes- sas condigdes, como € dbvio, pouco companheirismo pode exis- tir. E comum a esposa continuar fazendo o que de melhor pos: Sa, enquanto 0 alcoslico, alternadamente, ama e odeia seus cui- dados maternais. Estabelece-se assim uma norma de vida que poderd ser diffcil de romper mais tarde. Apesar disso, essas situages podem ser consertadas amitide sob a influéncia dos Doze Passos de A.A. Em forma adaptada, estes Passos sio também usados pelos Grupos Familiares Al-Anon. Essa grande Irman- dade Mundial € constituida de cOnjuges, familiares e amigos dos alco6licos (em A.A. ou ainda bebendo). O endereco no Brasil €Rua Ant6nio de Godéi, 20, 5° andar, salas 51 e 52, So Paulo/SP Caixa Postal 2034 - CEP 01060-970. Caso a distorgao tenha sido extensa, haverd necessidade de um grande e prolongado empenho na tentativa de corrigi-la. Apos o marido tornar-se membro de A.A., a esposa poderd se sentir decepcionada ¢ até muito ressentida pelo fato de Alcodlicos AnOnimos ter conseguido o que ela nao aleangou com todos os 106 DECIMO SEGUNDO PASSO seus esforgos ¢ anos de devocao. O marido poderd se envolver de tal maneira com A.A. ¢ seus novos amigos que, desconsidera~ damente, passa mais tempo fora de casa do que quando bebia. Percebendo que aesposa nio é feliz, ele recomenda-Ihe os Doze Passos de A.A e tenta ensiné-la a viver. Naturalmente ela ha de ponderar que, durante anos, conhecia muito mais do que ele sobre as coisas da vida. Cada um, ento, culpa o outro e pergunta quan- do 0 matriménio voltard a ser feliz, Nao é impossivel que come- cema desconfiar que desde os primeiros dias, o casamento foi uma droga. E légico que a incompatibilidade pode ser tanta que justifi- que uma separagio. Porém, esses casos so raros. O alcoélico, reconhecendo 0 que sua esposa aturou e tendo nitida compreen- sfio de quantos prejufzos ocasionou a ela e aos filhos, quase sem- pre retoma suas responsabilidades matrimoniais com a dis- posicdo de reparar o que perdeu e de aceitar o que nio puder. Ele persiste na tentativa de praticar em seu lar todos os Doze Passos de A.A., obtendo, muitas vezes, bom resultado. A essa altura, ele comega, com firmeza mas com carinho também, a se comportar como um marido e no como um menino mal acostu- mado, E, acima de tudo, esté finalmente convencido de que as aventuras sentimentais ndo so um modo de vida para ele, Existem em A.A. muitos membros solteiros que querem se casar ¢ esto em condigGes de fazé-lo. Alguns se casam com outros AAs. Qual o resultado destes casamentos? Na maioria dos casos, é muito bom. O sofrimento comum, como bebedo- res, mesmo interesse em A.A. e sobre as coisas do espirito, geralmente fortalecem esses vinculos conjugais. Somente quando © “rapaz encontra a moga no jardim de A.A.” ¢ 0 amor brota 4 primeira vista é que surgem as complicagdes. Os candidatos ao matrimOnio devem ser AAs s6lidos e se conhecer ha tempo su- ficiente para que possam saber que a afinidade entre eles no plano espiritual, mental e emocional é um fato e ndo apenas uma aspiragdo. Devem estar tio seguros quanto possfvel de que DECIMO SEGUNDO PASSO 107 nenhuma emogio negativa profunda em qualquer um dos dois, possa surgir sob pressGes futuras e prejudic4-los. Estas consideragGes sao igualmente validas ¢ importantes para os AAs que se casam com pessoas estranhas & Irmandade, Com clara compreensio e tomadas de atitudes definidas e adultas, resultados muito felizes podem ser alcangados, Que se poderé dizer de muitos membros de A.A. que por miltiplas razSes nao podem constituir familia? De inicio, mui- tos deles se sentem sozinhos, magoados e excluidos, ao perce- berem tanta felicidade conjugal a seu redor. Se nao podem ser felizes dessa maneira, pode A.A. oferecer a eles um ambiente de bem-estar igualmente vélido ¢ duradouro? Sim, toda vez que eles procurarem com vontade. Vivendo no aconchegante circu- lo de amigos de A.A., esses “solitarios” nos dizem que ja no se sentem mais em solidao. Em companhia de outros, homens ¢ mulheres podem se devotar a um sem ntimero de idéias, pessoas € projetos construtivos. Livres das responsabilidades oriundas do matriménio, podem eles se entregar 2 empreendimentos que por sua natureza seriam vedados aos casados. Todos os dias ‘vemos esses membros prestando relevantes servigos e receben- do, em compensagao, alegria incomensurével. Nossa maneira de encarar a posse de dinheiro e outras coisas materiais também sofreu mudanga radical. Com poucas exce- ‘Ges, nds todos jd fomos esbanjadores. Atirévamos dinheiro para todos os lados a fim de nos satisfazer e impressionar os outros. Na época em que bebfamos, atirévamos como se a fonte do di- nheiro fosse inexaurivel, embora as vezes, entre bebedeiras, f0s- semos a0 outro extremo e nos torndssemos quase usurarios. Sem que nos déssemos conta, estévamos apenas acumulando fundos para a proxima farra, O dinheiro foi para nés o simbolo do prazer e da importancia. Quando 0 nosso jeito de beber foi se agravando, o dinheiro nada mais era do que um simples, mas imperioso requisito para 0 nosso provimento futuro de bebida e © conforto do desligamento temporario que ele nos trazia. 108 DECIMO SEGUNDO PASSO, ‘Apés 0 nosso ingresso em A.A. essas atitudes sofreram uma brusca inversio, passando a ser, reiterada e exageradamente, a expressio do contrario, A fugaz.lembranga dos anos gastos bas- tava para nos levar ao pinico. Achd4vamos que no tinhamos mais tempo para reconstruir nosso destino. De que forma conse- guirfamos liquidar essas alarmantes dividas, possuir uma casa decente, educar os filhos e poupar alguma coisa para a velhice? Um importante volume de dinheiro nao era mais 0 nosso objeti- vo; 0 que reclamavamos agora era a seguranga material em ge- ral. Mesmo quando ja est4vamos restaurados em nossos nego- cios, o medo terrivel continuava nos perseguindo. Isto nos trans- formou novamente em avarentos e usurétios. Era um imperati- yo ter, a qualquer prego, a seguranca material completa. Esque- cemo-nos de que a maioria dos membros de A.A. tem capacida- de bem acima do normal para realizar numerério; nfo tivemos presente 2 imensa boa vontade de nossos companheiros em A.A. que estavam ansiosos por nos ajudar a conseguir melhores em- pregos, desde que o merecéssemos; nao nos lembramos de que a inseguranga financeira, atual ou potencial, acompanha de per- toa todos os habitantes da terra. E, o pior de tudo, olvidamos a Deus. Em matéria de dinheiro s6 confiévamos em nése, assim mesmo, nao muito. Na verdade, tudo isso significava que ainda estévamos bem desequilibrados. Quando um emprego para nds era apenas um meio de obter dinheiro ao invés de uma oportunidade para ser- vir; quando a aquisigao de dinheiro para a garantia de nossa independéncia financeira era, para nés, mais importante do que a dependéncia certa de Deus, ainda estdvamos sob a pressao do ‘medo injustificdvel. Esse medo tornaria impossivel uma exis- téncia serena e titil, qualquer que fosse 0 nosso nivel financeiro. Porém, com o passar do tempo, descobrimos que, com a aju- da dos Doze Passos de A.A., poderfamos perder 0 medo, nio importando quais fossem nossas possibilidades materiais. Esta- ‘va em n6s a realizago espontanea e alegre de tarefas humildes, DEiCIMO SEGUNDO PASSO 109 semnos preocuparmos com 0 amanhi. Se a nossa situagho se apresentasse revestida de otimismo, j4 nao receavamos uma mudanea para pior, pois havfamos aprendido que nossos pro- blemas podiam ser transformados em valores positivos. Deixa- va de ser importante nossa posi¢o material, porém, tinhamos em grande conta a nossa condigdo espiritual. Aos poucos, 0 di- nheiro foi deixando de ser nosso patrdo para se tornar nosso servidor; ele veio facilitar a permuta do amor ¢ da ajuda com aqueles que nos cercavam. Quando, pela graca divina, chega- mos a aceitar o nosso destino, compreendemos que podiamos, intimamente, viver em paz e mostrar aos que ainda sofriam do mesmo medo, que eles também poderiam superé-lo. Descobri- mos que a libertag¢io do medo era mais importante do que a libertagao da peniiri ia Tomamos conhecimentos aqui da melhora em nossa maneira de ver os problemas ligados importdncia pessoal, ao poder, & ambigao e a lideranga. Estes foram recifes contra os quais mui- tos dentre nés batemos e, a seguir, naufragamos durante a traje- t6ria que percorremos como bébados. Quase todo menino sonha em chegar a ser o Presidente da Repiiblica; almeja se o homem mais importante do pais. A me- dida que ele vai crescendo e vé que o seu desejo 6 impraticavel, pode rir bem-bumorado desse sonho da juventude. Ao longo dos anos ele descobre que a verdadeira felicidade nao esta na ambigao de ser o nimero um ou um dos primeiros na aflitiva Iuta pelo dinheiro, pela vida sentimental e pela importancia Aprende que pode ser feliz, enquanto souber manejar com maestria as cartas do baralho da vida que Ihe foram distribui- das, Continua ambicioso, mas nao absurdamente, porque agora ele pode ver e aceitar a realidade do momento. Esté disposto a reconhecer sua verdadeira dimensio. No entanto, nao ¢ isso 0 gue se passa com os alcoélicos. Quando A.A. ainda ensaiava 08 seus primeiros passos, varios psicdlogos e médicos submete- ram a um exaustivo estudo um grupo bem grande de chamados no DECIMO SEGUNDO PASSO bebedores-problema. Nao procuravam constatar 0 quiio diferen- tes éramos uns dos outros; queriam conhecer os tragos da per sonalidade, se é que existiam, que os componentes do grupo teriam em comum. Acabaram chegando a uma conclusao que horrorizou aos: membros de A.A. daquele tempo. Esses distin- tos homens de ciéncia tiveram a “coragem” de dizer que a maio- ria dos alcodlicos investigados ainda eram infantis, emocional- mente sensiveis e cheios de mania de grandeza. Quanto machucou a nés alcodlicos esse veredicto! Nao nos permitfamos acreditar que nossos sonhos de adultos eram, mui- tas vezes, sonhos infantis. E, considerando a mé fortuna com que a vida nos havia aquinhoado, julgamos perfeitamente natu- ral o fato de sermos sens{veis. Quanto as atitudes decorrentes de nossa mania de grandeza, insistimos que havfamos sido to- madas apenas por uma nobre e legitima ambigio de ganhar a batalha da vida, A despeito disso, nos anos seguintes a maioria de nés veio a concordar com os médicos. Temos concentrado nossa ateng: sobre nds mesmos ¢ 0s que nos rodeiam. Sabemos que fomos cutucados pelo medo ou por ansiedades injustificaveis a fazer de nossa vida um sé esforco para ganhar fama, dinheiro ¢ o que suptinhamos fosse lideranca. Assim, o falso orgulho tornou-se o outro lado da ruinosa moeda mareada “medo”. Simplesmente tinhamos que chegar primeiro para que pudéssemos encobrir as fraquezas do nosso interior. Com alguns &xitos esporadicos, alar- dedyamos as faganhas que seriam realizadas futuramente. J4 com a derrota éramos secos. Se néo conseguiamos muito sucesso material, nos torndvamos deprimidos ¢ intimidados. Ento os outros diziam que éramos do tipo “inferior”. Reconhecemos agora como éramos todos iguais. No fundo, todos haviamos sido medrosos de uma forma fora do comum. Nao tinha importancia se haviamos descansado & margem da vida, bebendo até o esque- cimento,ou haviamos mergulhado yoluntéria e descuidadamente além de nossa capacidade e por isso perdemos 0 pé. O resultado DECIMO SEGUNDO PASSO im foi sempre 0 mesmo — todos n6s quase perecemos afogados num mar de dlcool. No presente, constatamos que nos AAs maduros, os impul- 30s distorcidos foram restaurados a imagem do verdadeiro obje~ tivo e postos na diregdo certa, J4 néo nos esforcamos mais para dominar ou controlar os que nos cercam com o sentido de nos tornarmos importantes, Nao mais perseguimos a famac a gloria a fim de sermos elogiados. Quando, devido aos bons servicos que prestamos a parentes, amigos, patrdes e 4 comunidade, atraf- mos a simpatia geral e, 4s vezes, somos escolhidos para fun- ‘ges de maior responsabilidade e confianga, tentamos ser humildes no agradecimento e nos esforgamos mais ainda com o animo de amare servir. A lideranga auténtica é aquela que tem por base 0 exemplo construtivo e ndo as efémeras exibigdes de poder e gl6- ria, E mais maravilhoso ainda sentir que nao é necessério sermos especialmente distinguidos dentre nossos companheiros para podermos ser titeis e profundamente felizes. Muitos entre nés po- dem ser Ifderes proeminentes e nem querem ser. O servigo prestado com prazer, as obrigagdes cabalmente cumpridas, os, reveses calmamente aceitos ou resolvidos com ajuda de Deus, 0 reconhecimento de que, tanto no lar como fora dele, somos confrades num esforgo comum, o bem compreendido fato de que, perante Deus, todos os seres humanos so importantes, a prova de que o amor, livremente oferecido, na certa traz um retorno total, a certeza de que ndo mais estamos isolados e sozi- nhos em prisGes erigidas pela nossa mente. A seguranga de que nao somos mais desadaptados, sendo que nos integramos e fa- zemos parte do esquema de coisas criadas por Deus ~ estas so as satisfag6es permanentes ¢ legitimas de que frufmos, de uma vida correta que nenhuma pompa ou ostentagao de riquezas materiais jamais poderd suplantar. Estivamos enganados coma yerdadeira ambigdo; ela é 0 profundo e sadio desejo de viver uma vida itil e caminhar humildemente, por mercé de Deus 12 DECIMO SEGUNDO PASSO ‘Terminam aqui algumas consideragdes pelas quais analisa- mos os Doze Passos de A.A. Temos exposto tantos problemas que poderia parecer que A.A. consiste fundamentalmente em dilemas torturantes e no esforgo para eliminé-los. Até certo pon- to, 6 isso mesmo. Temos falado de problemas porque somos pessoas com problemas que encontramos uma safda por um ca- minho que nos eleva, e que desejamos compartilhar com os que dele possam tirar proveito. E somente accitando ¢ resolvendo nossos problemas que poderemos restabelecer a ordem em nos- so interior, com 0 mundo ao nosso redor e com Aquele que rei- na sobre todos nds. A compreensio é a chave que abre a porta dos princfpios e atitudes certas e a ago correta é a chave do bem viver. Portanto, a alegria de viver bem é o tema do Décimo Segundo Passo: Ft ai ; Em cada dia que passa em nossa vida, que cada um de nés sinta mais e mais o significado profundo da singela oragiio de AA: Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessdria para aceitar as coisas que ndo podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras. AS DOZE TRADICOES PRIMEIRA TRADICAO “Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a reabilitagiio individual depende da unidade de A.A." A unidade entre Alcoélicos Andnimos é a qualidade mais preciosa que a nossa Irmandade possui. Nossas vidas, as vidas dos que ainda esto por chegar, dependem diretamente dessa unidade. Ou nos mantemos unificados ou A.A. morre. Sem uni- dade, 0 coragio de Alcodlicos An6nimos deixaria de bater, nos- sas artérias mundiais deixariam de transportar a graga vivificante de Deus e as dadivas divinas dadas a nds seriam gastas & toa. De novo em sua pristio, os alco6licos nos condenariam, dizendo, “que coisa formidével poderia ter sido A.A.!” “Isto quer dizer", perguntarfo alguns, ansiosamente, “que em A.A. 0 individuo no significa muita coisa? Tera ele que ser dominado e engolido pelo seu grupo?” A indagagao poderemos responder com um sonoro “Nao!”. Acreditamos nfo hayer outra irmandade no mundo que dispen- se mais carinhosa atengo aos seus membros individualmente; no h4, sem diivida, quem mais ciosamente defenda o direito individual de pensar, falar e agir livremente. Nenhum AA pode obrigar um colega sew a fazer 0 que quer que seja; ninguém pode ‘ser punido ou expulso da Irmandade. Os nossos Doze Passos Para a recuperagio sio sugestdes. As Doze Tradigées, que as- seguram a unidade de Alcodlicos Andnimos, nfo contém um s6 “Nao faga”. Elas no se cansam de repetir “Devemos”, mas nun- ca “Vocé tem que!” 16 PRIMEIRA TRADICKO Para muitos essa liberdade individual traduz-se apenas por anarquia. Os recém-chegados, os amigos que pela primeira ver. contemplam A.A., ficam grandemente intrigados. Deparam-se eles com uma liberdade que quase chega a ser abusiva, mas re- conhecem de pronto que A.A. tem uma irresistivel forga de pro- pésitos © agdo. “Como”, perguntam cles, “consegue funcionar um tal bando de anarquistas? Como Ihes & possfvel colocar em primeiro lugar o bem-estar comum? Que coisa os mantém uni- dos?” ‘Aqueles que observam com atengio logo descobrem a chave do estranho paradoxo. Todo membro de A.A. deve conformar- se com os principios da recuperacao. Sua vida depende realmen- te da obediéncia a princfpios espirituais. Se ele se afasta de- mais, o castigo é certo e rapido: ele adoece e morre, A principio ele se submete porque precisa, mas depois descobre um modo de vida que realmente Ihe agrada. Ademais, ele descobre nio poder reter essa dadiva sem prego se por sua vez. nfo entrega-la aos outros. Nem ele nem ninguém mais poderd sobreviver, a ‘menos que propague a mensagem de A.A. No instante em que esse trabalho do Décimo Segundo Passo forma um grupo, uma nova descoberta é revelada: a maioria dos individuos no con- segue recuperar-se se no houver um grupo. Surge a compreen- silo de que nao se € sendo uma pequena parte de um grande todo; de que nenhum sacrificio de cardter pessoal é demasiado grande face A preservagdio da Irmandade, Aprende-se que 0 cla- mor dos desejos e ambigGes interiores tem de ser silenciado sem- pre que ameace prejudicar 0 grupo. Torna-se claro que 0 grupo tem de sobreviver para que o individuo nJo perega. De modo que, no principio, a melhor maneira de viver e tra- balhar em grupos tornou-se a questo primordial. Viamos no nosso mundo personalidades destruindo povos inteiros. A luta pela riqueza, pelo poder ¢ pelo prestigio esfacelava a humani- dade como nunca antes. Se gente forte ficava estagnada na bus- ca da paz e da harmonia, que estaria reservado ao nosso incerto PRIMEIRA TRADIGAO 17 bando de alcodlicos? Assim como havfamos um dia lutado e rezado pela reabilitagao individual, assim também encetamos uma busca séria dos prinefpios através dos quais A.A. propria mente dito poderia sobreviver. A estrutura da nossa Irmandade foi forjada A custa dos ensinamentos da experiéncia. Intimeras vezes, em inimeras cidades e aldeias, revivemos 0 drama de Eddie Rickenbacker e seus bravos companbeiros, quan- do seu aviao caiu no Pacifico. Tal como nés, eles se viram subi tamente salvos da morte, continuando contudo a flutuar num mar cheio de perigos. E perceberam muito bem que o seu bem- -estar comum estava acima de tudo. Ninguém poderia dar-se a0 Juxo de querer toda a égua ou todo o pao, Cada um era obrigado a pensar nos demais e, na fé inabalavel, sabiam que encontra- riam sua verdadeira fortaleza. E foi o que aconteceu em gran suficiente para superar todas as deficiéncias do frdgil barco, as incertezas, os temores, as dores, o desespero e até mesmo a ocor- réncia de uma morte entre eles. O mesmo se deu com A.A. Pela fé e através de obras fizemos valet as liges de uma incrfvel experiéneia. Essa fé e essas obras esto hoje presentes nas Doze TradigGes de Alcodlicos Andni- mos que ~ se Deus quiser ~ manterdo nossa unidade durante todo 0 tempo que Ele precisar de nés.

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