avaliação da disciplina Universidade, Cultura e Relações Étnico-raciais ministrada no semestre de 2017.2 pela professora Ana Maria de Oliveira Urpia.
Santo Antônio de Jesus – BA
Dezembro de 2017 GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Educação Anti-racista: caminhos abertos pela Lei federal nº 10.639/03. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, p.39-62, 2005.
Pedagoga brasileira e primeira mulher negra a ser nomeada reitora em uma
universidade pública federal, a autora aborda uma reflexão sobre os termos e conceitos que permeiam as relações raciais no Brasil. Essa reflexão trata, principalmente, sobre a teorização da temática racial, suas diferentes análises e visões e, ainda, o diálogo entre os movimentos sociais e a produção acadêmica. Nilma Gomes opta, não pela definição, mas pelo uso de termos e conceitos-chave mais utilizados ao referir-se aos negros e negras brasileiros (as), buscando aproximação entre campo educacional, reflexão teórica e prática social. Para tanto, a escritora utiliza de produções autorais, bem como teóricos de outras áreas do conhecimento, posicionando-se a favor da educação como meio de combate ao racismo, contra o mito da democracia racial e a desigualdade racial entre negros e brancos. O texto discorre, portanto, das concepções acerca da identidade e identidade negra; raça; etnia; racismo; etnocentrismo; preconceito racial; discriminação racial e democracia racial. Nilma, ao introduzir-se na temática, destaca o Movimento Negro como ator social que redimensiona e redefine a questão social e racial no país e inicia sua discussão através do esclarecimento do conceito de pessoa negra pela definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em seguida, ao tratar de identidade e identidade negra, cita autores como Silva Novaes e Jacques d’Adesky, destacando que, no sentido de igualdade, identidade não é efetivamente praticada, mas é um recurso indispensável para a reivindicação de espaços sociais e políticos, sendo que sua construção não é isolada e sim negociada por meio de diálogos externos e internos, dependendo de suas relações com os outros. Por isso, ao ser construída socialmente, o processo identitário é significativamente importante para a construção da identidade negra, que em seu sentido político é a tomada de consciência do excluído, aquele que contribuiu efetivamente para a formação brasileira, mas que lhe foi negada legítima cidadania. Entretanto, destaca a autora, as identidades sociais gozam de caráter instável, fragmentado, plural, histórico e são também construídas durante a trajetória dos indivíduos em sua formação escolar. No tópico seguinte, Gomes expõe que o termo “raça” ainda é o mais usado nas mais diversas situações cotidianas e explica que, diante da discriminação contra os negros, é o termo que mais dá a dimensão do que é o racismo, dos ranços da escravidão e do que é ser negro no país. Em contrapartida, a autora ressalta que é preciso atentar para seu uso, sentido, significado e contexto. Ademais, a discriminação racial e o racismo não se dão somente por aspectos culturais de seus grupos representantes, mas também de seus aspectos físicos e de sua estética corporal, tendo como base a aparência física determinante do que se considera “bom” ou “ruim”. Isso acontece porque o histórico da escravidão continua afetando a inserção social e a trajetória dos afrodescendentes e, após sua abolição, não houve a efetivação de políticas de combate ao racismo. Somado a isso, este se afirma pelo fato de que sua existência é, contraditoriamente, negada. Para comprovar essa afirmação, Nilma aponta a situação de evidente desigualdade entre os segmentos étnico-raciais, destacando as discrepâncias entre negros e brancos nos setores da saúde, emprego, escolaridade, entre outros. Portanto, “raça”, ao se referir ao negro brasileiro, não deve carregar sentido biológico, mas significado político, também sendo possível utilizar os termos “étnico-racial” e “raça social”. Daí, pode-se compreender que as raças são construções produzidas no contexto cultural e sócio-histórico, sendo que as relações entre os indivíduos ocorrem de maneira hierarquizada, e suas desigualdades são, dessa forma, naturalizadas. No próximo conceito, a pedagoga desenvolve a ideia de etnia, um grupo composto por pessoas conscientes de suas origens, interesses e experiências compartilhadas e comuns. Compreendê-la é importante porque, no Brasil, a diversidade cultural se insere no contexto da questão racial, momento em que a autora chega na questão do racismo. Definido por ela, o termo tem dois significados: o primeiro, é um comportamento, uma ação, resultante da aversão ou ódio pelos indivíduos caracterizados pela cor de sua pele, por exemplo. O segundo é a crença na existência de raças inferiores e superiores que também resultam no comportamento de impor crenças como verdades únicas. Embasada nas afirmações de vários pesquisadores, Nilma diferencia o racismo individual, aquele cometido por indivíduos contra outros de forma individual através de atos discriminatórios e/ou violentos, e o institucional, que implica os atos discriminatórios sistematicamente fomentados pelo Estado, ou com seu apoio indireto. Seguindo seu raciocínio, o texto flui para o etnocentrismo, o qual se diferencia do racismo, no sentido de que aquele designa um sentimento de superioridade de uma cultura em relação à outra(s). Porém, a exacerbação desse sentimento aliado ao pensamento de inferioridade biológica pode torná-lo racismo. Além disso, o preconceito, julgamento prévio e negativo, formado antecipadamente na ausência de ponderação ou conhecimento de fatos, não é inato, como ressalta Gomes. Como atitude, o preconceito é aprendido e, aliado à discriminação racial e ao racismo, se relacionam entre si, sendo este último a principal fonte do preconceito racial. A discriminação é, então, execução do preconceito e a prática do racismo, ou seja, sua efetivação. Não é, como alerta a autora, o preconceito racial que gera a discriminação. Esse pensamento, é chamado de “mito da democracia racial”, no qual a responsabilidade maior estaria no indivíduo portador do preconceito, gerando a discriminação. Esse mito desconsidera outras razões para a prática da discriminação, como o interesse na manutenção de privilégios, o que contribui para a continuidade dessas práticas. É uma corrente ideológica, como pontua, que nega a desigualdade existente entre negros e brancos como resultado do racismo, disseminada por autores como Gilberto Freyre, em sua obra “Casa-Grande e Senzala”. Por fim, Nilma Gomes pontua a importância do posicionamento de diversos movimentos sociais, autores e pesquisadores na luta antirracista para a construção de um Brasil que apresente condições de vida dignas e oportunidades para todos, ações e políticas para sua criação, além da educação como caminho para se chegar a esse fim. Para isso, convoca professores, educadores, entidades, ONG's etc a não se calarem diante dos preconceitos e discriminações, bem como dialogarem e trabalharem em conjunto para combater essa realidade existente no país.