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LYTROLOGIA1
No coração da fé cristã encontra-se a doutrina da expiação. Tudo que foi dito sobre
a encarnação aponta agora na direção da expiação, pois “Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores” (1Tm 1.15) — e o caminho pelo qual essa salvação se torna possível
é a expiação.
SIGNIFICADO
De modo bem literal e verdadeiro, a palavra “expiação” (atonement, em inglês)
significa “em unidade” (at onement, em inglês arcaico).2 Pode se referir ao fim
concretizado, uma unidade completada ou o processo pelo qual a unidade é alcançada. É
este último, de maneira mais clara, o foco da doutrina, i.e., o modo pelo qual a unidade se
torna real. Alguns obstáculos se erguem no caminho: é só pela sua remoção mediante um
ato “que torna [vários elementos] em um só” que a unidade pode ser de novo uma
realidade.
Olhando um pouco mais adiante, a expiação está particularmente relacionada com
a transposição de uma séria ruptura entre duas partes. Significa realizar algum ato que
possa fazer uma reparação satisfatória por alguma ofensa ou injúria e cancelar os efeitos
nocivos de modo que as duas partes possam se unir novamente.
A expiação, desse modo, significa “reconciliação”. Reconciliar significa restaurar à
harmonia; é unir de novo aqueles que se alienaram um do outro.
A palavra “expiação” assume o seu significado mais profundo somente quando se
refere à relação entre Deus e o homem. Existe uma separação ampla e profunda, causada
pelo pecado do homem e que o homem não pode transpor. O próprio Deus, a um custo
extraordinário, interveio na situação e, mediante seu Filho Jesus Cristo, provê o caminho
para a restauração da unidade. Desse modo, ele efetua a expiação ou reconciliação.
Assim, o apóstolo Paulo escreve: “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o
mundo” (2Co 5.19). Também: “Quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados
com ele mediante a morte de seu Filho [...]. Não apenas isso, mas também nos gloriamos
em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a
1
Lytrologia. Escolhemos a palavra grega lytron (λύτρον) para definir expiação.
2
A palavra atonement é um termo anglo-saxão derivado do século XVI. Segundo o New Oxford Dictionary, apareceu
inicialmente como duas palavras separadas, at onement, e se referia apenas a relacionamentos pessoais harmoniosos. No
século XVII, uma única palavra, atonement, começou a ser cada vez mais usada como um termo quase teológico (e.g., como
ocorre com frequência na versão KJV da Bíblia [1611]).
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reconciliação”3 (Rm 5.10,11). A expiação, reconciliação com Deus, é de fato razão para
grande regozijo!
EXPIAÇÃO 4
"Podemos definir a expiação da seguinte forma: A expiação é a obra que Cristo fez
em sua vida e morte para ganhar a nossa salvação.Esta definição indica que estamos
usando a palavra expiação em um sentido mais amplo do que é usado às vezes. Às vezes
é usado para se referir apenas a morte de Cristo na cruz e teve de pagar por nossos
pecados".
A causa da expiação
Qual foi a causa raiz que levou Cristo para vir à Terra e morrer pelos nossos
pecados? Para encontrar a resposta, temos de voltar a algo no caráter do próprio Deus. E
aqui o ponto de Escrituras para duas coisas: o amor e a justiça de Deus.
O amor de Deus como uma causa para a expiação é visto na passagem mais
conhecida da Bíblia: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna “(Jo
3.16). Mas a justiça de Deus também precisam encontrar uma maneira de pagar a pena
que devíamos por nossos pecados, (porque ele não podia aceitar que temos comunhão
com ele, se essa pena não foi pago). Paulo explica que esta foi a razão pela qual Deus
enviou Cristo para ser a nossa “propiciação” (Rm 3.25, isto é, um sacrifício que traz a ira
de Deus para que Deus é “adequado” ou é favorável eliminados para nós): “Deus o
ofereceu como sacrifício de expiação ..., a fim de demonstrar a sua justiça.No início de
sua paciência, Deus passou sobre os pecados, mas no presente momento se ofereceu para
Jesus Cristo, para demonstrar a sua justiça “(Romanos 3.25). Paulo está dizendo aqui que
Deus era perdoar os pecados no Velho Testamento, mas não tinha cumprido a pena, fato
que as pessoas iriam pensar se Deus fosse verdadeiramente justo e quer saber como ele
poderia perdoar pecados sem punição. Não que fosse verdadeiramente Deus poderia fazer
isso, não é? No entanto, quando Deus enviou Cristo para morrer e pagar a pena pelos
nossos pecados, ele fez “para declarar a sua justiça. Assim, Deus é justo e,
simultaneamente, o que justifica aqueles que têm fé em Jesus “(Romanos 3.26).
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As traduções modernas geralmente apresentam “reconciliação” em vez de “expiação”. Isso parece apropriado tendo em
vista o fato de que a palavra grega é katallagē, que, na forma verbal, é traduzida por “fomos reconciliados” no versículo
acima e em outras passagens no NT. A tradução da KJV traz “expiação”, mostrando como os dois termos são
intercambiáveis.
4
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999, p. 471-473.
2
A necessidade de expiação
Havia outra forma de Deus para salvar os seres humanos, sem ter que enviar seu
Filho para morrer em nosso lugar?
Antes de responder a essa pergunta, é importante que percebemos que não havia
necessidade alguma de Deus para salvar os seres humanos. Quando vemos que “Deus não
fez anjos de reposição quando eles pecaram, mas lançou-os no inferno, colocando-os em
abismos tenebrosos a ser detidos para julgamento” (2 Pedro 2.4), vemos que Deus
poderia ter escolhido com justiça perfeita nos deixado em nosso julgamento pendente
pecados: ele poderia ter decidido não poupar ninguém, como fez com os anjos que
pecaram. Portanto, neste sentido, a expiação não era uma necessidade absoluta.
Mas quando Deus, no amor, decidiu salvar os seres humanos, várias passagens das
Escrituras indicam que não havia nenhuma maneira Deus poderia tirá-lo, mas através da
morte de seu Filho. Portanto, a expiação não era uma necessidade absoluta, mas como
uma “consequência” da decisão de Deus para salvar os seres humanos, a expiação era
uma necessidade absoluta. Este conceito é o que é às vezes chamado de “consequência
absolutamente necessária” da expiação.
A natureza da expiação
Nesta seção, vamos considerar dois aspectos da obra de Cristo: (1) obediência de
Cristo por nós, pela qual ele obedeceu as exigências da lei em nosso lugar e era
perfeitamente obediente à vontade do Pai como nosso representante, e ( 2) os sofrimentos
de Cristo para nós, através do qual suportou o castigo de nossa parte por nossos pecados
e, consequentemente, morreu por nossos pecados.
É importante que percebemos que ambas as categorias, a ênfase primária e a
principal influência da obra redentora de Cristo não está em nós mesmos, mas em Deus, o
Pai. Jesus obedeceu ao Pai em nosso lugar e cumprir integralmente as exigências da lei. E
sofreu em nosso lugar e tomou sobre si o castigo que Deus, o Pai teria imposto. Em
ambos os casos, a expiação nós vemos isso como objetivo, isto é, algo que teve uma
influência principal diretamente de Deus. Apenas secundariamente tem implicações para
nós, e este é apenas por causa de algo definitivo que aconteceu na relação entre Deus Pai
e Deus Filho, que garantiu a nossa salvação
Esta verdade é repetida e explicada com mais detalhes no NT. Ali, fica claro que
todos os homens são pecadores (Rm 3.23) e que o inferno os aguarda (Me 9.43; Lc 12.5).
Mas fica igualmente claro que Deus deseja trazer a salvação e que Ele já a trouxe na vida,
morte, ressurreição e ascensão do Seu Filho. O amor de Deus é a força motriz (Jo 3.16;
Rm 5.8). Não devemos pensar que um filho amoroso arrancou à força a salvação de um
Pai justo, porém severo. É da vontade do Pai que os homens sejam salvos, e a salvação é
levada a efeito, não com um simples gesto, por assim dizer, mas por aquilo que Deus tem
feito em Cristo: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19),
uma reconciliação levada a efeito pela morte de Cristo (Rm 5.10). O NT enfatiza a Sua
morte, e não é por acidente que a cruz veio a ser aceita como o símbolo da fé cristã ou
que palavras tais como “crucial” vieram a ter o significado que agora possuem. A cruz é
absolutamente central à salvação conforme o NT a vê. É aspecto distintivo do
cristianismo. Outras religiões têm seus mártires, mas a morte de Jesus não foi a de um
mártir. Foi a de um Salvador. A Sua morte salva os homens de seus pecados. Cristo
tomou o lugar deles e sofreu a morte deles (Mc 10.45; 2 Co 5.21), a culminação de um
ministério em que Ele, coerentemente, Se fez um com os pecadores.
O NT não propõe uma teoria da expiação, mas há várias indicações do princípio
em que a expiação é efetuada. Dessa forma, um sacrifício deve ser oferecido - não o
sacrifício de animais, que não pode ser eficaz para os homens (Hb 10.4), mas o sacrifício
perfeito de Cristo (Hb 9.26; 10.5-10). Cristo pagou a devida penalidade do pecado (Rm
3.25-26; 6.23; Gl 3.13). Ele nos redimiu (1Co 6.20; Gl 5.1). Ele fez uma Nova Aliança
(Hb 9.15). Ele obteve a vitória (1Co 15.55-57). Ele levou a efeito a propiciação que
desvia a ira de Deus (Rm 3.25), fez a reconciliação que transforma inimigos em amigos
(Ef 2.16). Seu amor e Sua paciente perseverança diante do sofrimento deram o exemplo
(1Pe 2.21); devemos tomar a nossa cruz (Lc 9.23). A salvação é multilateral. Mas, de
onde quer que seja vista, Cristo tomou o nosso lugar, fazendo por nós aquilo que não
poderíamos fazer em nosso favor. Nossa participação nisso é simplesmente corresponder
com arrependimento, com fé e com o viver altruísta.
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Teorias diversas sobre a expiação
O significado e o impacto da expiação são ricos e complexos, dando origem a
várias teorias a seu respeito.
1. A teoria sociniana ou da expiação como exemplo. Rejeita qualquer ideia de
satisfação vicária. A morte de Cristo e os demais aspectos de sua vida tem valor apenas
inspirativo para os homens (1Pe 2.21). A expiação é um conceito metafórico. Para a
restauração do relacionamento com Deus basta adotar os ensinamentos de Jesus e seguir
o seu exemplo. Defendida por Fausto Socino (séc. XVI).
2. A teoria da influência moral ou da expiação como demonstração do amor
de Deus. Ensina que a natureza de Deus é essencialmente amor, minimizando outros
atributos divinos como justiça, santidade, retidão. A iniciativa da reconciliação é posta no
homem, pois Deus não tem dificuldade para perdoar. O pecado é visto como uma doença
da qual precisamos ser curados. Cristo veio para corrigir este problema e sua morte
demonstra a grandeza do amor de Deus. A consciência desse amor deveria nos estimular
a voltar para Deus. Popularizada no início do séc. XIX nos EUA e Grã-Bretanha.
3. A teoria governamental ou da expiação como demonstração da justiça
divina. Como governante do universo Deus tem o direito de punir o pecado, mas pelo seu
amor ilimitado não é obrigado a fazê-lo. Para manter a ordem moral do universo, Deus
enviou Jesus não para sofrer a pena estipulada para a humanidade, mas como um
substituto da pena. A morte de Cristo deveria ser uma demonstração de justiça suficiente
para nos impedir de pecar. Quando o homem reconhece o que o pecado fez contra Cristo,
Deus pode outorgar-lhe o perdão num ato de compaixão. Esta teoria nega a morte vicária
e substitutiva de Jesus e seu principal proponente foi o advogado Hugo Grotius (1583-
1645).
4. Teoria do resgate ou da expiação como vitória sobre as forças do pecado e
do mal. Na luta cósmica entre o bem o mal, Satanás estabeleceu controle sobre a
humanidade. Cristo deu sua vida em resgate ao diabo para que este libertasse a
humanidade. Satanás foi derrotado pois perdeu o controle sobre as almas dos homens e
não conseguiu reter a Cristo, que ressuscitou dos mortos. Teoria defendida por Orígenes,
Anselmo, Agostinho, foi muito popular na Idade Média. Embora Cristo em sua morte
tenha triunfado sobre as forças do mal (Cl 1.13, 2.14-15), a ideia de um resgate pago ao
diabo não é bíblica. A derrota do inimigo só foi possível pela sua morte vicária na cruz
(Gl 3.13).
5. A teoria da satisfação ou da expiação como compensação a Deus. Em Cristo
foram satisfeitas todas as justas exigências de Deus com relação ao pecado. Qualquer
atitude humana seria insuficiente para satisfazer a Deus, portanto só Deus poderia fazer
esta satisfação, o que resultou na encarnação de Cristo para o cumprimento da pena. Esta
teoria possui duas variantes de interpretação:
a) Satisfação absoluta em Cristo todos os pecados da humanidade (passados,
presentes e futuros) foram removidos; todos os homens eventualmente crerão em Cristo,
antes ou depois da morte (apoia-se em textos como 1Pe 3.18-20; 4.6).
b) Satisfação moderada tudo depende da fé, que deve ser exercida durante a
existência física.
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A história inteira da humanidade pode ser contada com apenas três palavras:
1. Geração;
2. Degeneração;
3. Regeneração.
O Livro International Standard Bible Encyclopedia, organizado por James Orr, diz
que “a ideia de redenção no Antigo Testamento tem início a partir do conceito de
propriedade (Lv 25.26; Rt 4.4)5[1]“. Um preço era pago em dinheiro, em conformidade
com a Lei, para comprar novamente uma propriedade que necessitasse ser liberta ou
resgatada (Nm.3.51; Ne.5.8). E a partir deste uso, o termo no Antigo Testamento foi
usado normalmente com um senso de libertação, embora a ideia de pagamente sempre
estivesse presente.
Nesse mesmo sentido levantado, Deus é visto como o Redentor de Israel, pois é
aquele que provê Libertação para seu povo. Em Dt.9.26 temos uma bela demonstração
desse fato: “Ó Soberano Senhor, não destruas o teu povo, tua própria herança! Tu o
redimiste com tua grandeza e tiraste da terra do Egito com mão poderosa‘. Como
podemos observar, Deus é visto por Moisés como “Aquele que Liberta“. Redenção aquilo
é vista exatamente neste sentido, e a história da saída do povo do Egito é a prova
definitiva desse fato. Observe:
E quem é como Israel, o teu povo, a única nação da terra que tu, ó Deus,
resgatastes para dela fazerdes um povo para ti mesmo, e assim tornaste o teu nome
famoso, realizaste grandes maravilhas ao expulsar nações e seus deuses de diante desta
mesma nação libertaste do Egito? (2Sm.7.23).
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Parente seria alguém com capacidade para remi-lo, e que “se preocupasse suficientemente
por ele, a ponto de responsabilizar-se pelas dívidas e as solvesse, então poderia ser
libertado[2]“.
Um outro uso muito comum nos Salmos e nos profetas, é a identificação de Deus
como Redentor de Israel. Neste caso, o preço da redenção não é citado, embora a ideia de
julgamento sobre os inimigos de Israel seja citado em Is.43.1-3.
O texto clássico sobre a redenção está em Jó.19.25: “Porque eu sei que o meu
Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra“. Alguns cristãos do passado o
assinalaram como uma referência à vinda de Cristo em sua Obra Messiânica, o que seria
uma grande colocação. Contudo, considerando o argumento do próprio livro, e a situação
de Jó, seria mais correto crer que faça referência a Deus, que, como amigo e parente-
resgatador, por meio da fé, por fim redimiria Jó do pó da terra. Por outro lado, não
podemos negar que exista uma relação profética neste texto relacionada com a Obra
Messiânica realizada por Cristo.
Padâ[6]: Êx 13:13, 15; 21:8; 34:20; Lv 19:20; 27:27, 29; Num. 18:15ff; Deut. 7:8; 9:26;
13:5; 15:15; 21:8; 24:18; 1 Sam. 14:45; 2 Sam. 4:9; 7:23; 1 Ki. 1:29; 1 Chr. 17:21; Neh.
1:10; Job 5:20; 6:23; 33:28; Ps. 25:22; 26:11; 31:5; 34:22; 44:26; 49:7, 15; 55:18; 69:18;
71:23; 78:42; 119:134; 130:8; Isa. 1:27; 29:22; 35:10; 51:11; Jer. 15:21; 31:11; Hos.
7:13; 13:14; Mic. 6:4; Zech. 10:8
O termo em pauta é um dos termos mais significativos para a ideia de Redenção do ponto
de vista cristão, porque recebe influências históricas. No Êxodo o termo é utilizado em
relação a redenção dos primogênitos de Israel, que são poupados por substituição,
enquanto os primogênitos do Egito são mortos (Ex.13.13, 15). Naquela ocasião, Deus
livrou a Israel da servidão pelo preço da morte de todos os primogênitos do egito, sejam
eles humanos ou animais (Ex.4.23; 12.29). O Termo é também utilizado em relação aos
levitas e seus animais, que deveriam ser separados para Deus, em lugar do povo e de seus
animais (Nm.3.4ss), que não eram dedicados ao Senhor (Ex.13.11-16; 34.19-20;
Nm.18.8-32). “Aquele que era santo para o Senhor, i.e, o primogênito de vaca, ovelha e
cabra, não seria resgatado[8]“.
Um texto que merece nossa atenção aqui é Dt.15.15: “Lembrar-te-ás de que fostes servo
na terra do Egito e de que o SENHOR, teu Deus, te remiu; pelo que, hoje, isto te ordeno“.
Israel também é visto como receptor da libertação proposta e executada por Deus.
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Portanto, o termo não trata exclusivamente da questão legal ou religiosa do povo de
Israel, mas é aplicado à Obra de Deus em relação ao Seu povo. Tal ideia, ainda será
exposta em outras épocas.
Em Sm.7.23 vemos uma colocação importantíssima: “Quem há como o teu povo, como
Israel, gente única na terra, a quem tu, ó Deus, foste resgatar para ser teu povo? E para
fazer a ti mesmo um nome e fazer a teu povo estas grandes e tremendas coisas, para a tua
terra, diante do teu povo, que tu resgataste do Egito, desterrando as nações e seus
deuses“. O reconhecimento sobre o privilégio da nação de Israel é vista historicamente
como conseqüência da Redenção de Deus, ou seja, a libertação do povo.
Inclusive, Isaías parece interpretar o chamado de Abraão como um ato remidor da parte
de Deus: “Portanto, acerca da casa de Jacó, assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão:
Jacó já não será envergonhado, nem mais se empalidecerá o seu rosto” (Is29.22). Com a
mesma visão, anteviu aquilo que Deus lhe revelara sobro o futuro de Sião: “Os resgatados
do SENHOR voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua
cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido“. (Is.35.10; cf.
50.2; 51.11; Zc.10.8).
Como “ga’al”, “padâ” é aplicado a diversas situações, principalmente nos Salmos. Deus é
apresentado como aquele que liberta/redime os homens do perigo (Sl.26.11; 31.5; 34.22-
23; 44.26; 71.23) ou da mão de opressores (Sl.55.18-19; 69.18-19). Nesse contexto
vemos que os Salmos ensinam a insuficiência do homem diante da morte, visto não poder
fazer nada perante ela (Sl.49.8-9), mas demonstra que o poder redentor de Deus não está
limitado a ela (v.15-16).
O mais interessante no uso deste termo é que uma única vez ele é utilizado em referência
ao pecado: “Espere Israel no SENHOR, porque no SENHOR há misericórdia, e nele há
abundante redenção. É ele quem redime a Israel de todas as suas iniqüidades” (Sl.130.7-
8).
Kapar: Gn 6.14; 32.21; Êx 21.30; 29.33, 36f; 30.10, 12, 15f; 32.30; Lv 1.4; 4.20, 26, 31,
35; 5.6, 10, 13, 16, 18, 26; 6.23; 7.7; 8.15, 34; 9.7; 10.17; 12.7f; 14.18ff, 29, 31, 53;
15.15, 30; 16.6, 10f, 16ff, 20, 24, 27, 30, 32ff; 17.11; 19.22; 23.28; Nm 5.8; 6.11; 8.12,
19, 21; 15.25, 28; 17.11f; 25.13; 28.22, 30; 29.5; 31.50; 35.31ff; Dt 21.8; 32.43; 1Sm
3.14; 6.18; 12.3; 2Sm 21.3; 1 Chr. 6.34; 27.25; 2Cr 29.24; 30.18; Ne 10.34; Jó 33.24;
36.18; Sl 49.8; 65.4; 78.38; 79.9; Pr 6.35; 13.8; 16.6, 14; 21.18; Ct 1.14; 4.13; 7.12; Is
6.7; 22.14; 27.9; 28.18; 43.3; 47.11; Jr 18.23; Ez 16.63; 43.20, 26; 45.15, 17, 20; Dn
9.24; Am 5.12
Este é o verbo denominativo que dá origem a termo como “koper” (resgate, dádiva para
obter favor), “kippur” (expiação) e “kapporet” (propiciatório, local da expiação). Embora
exista muita discussão sobre a raiz desse termo, alguns comentários devem ser
elaborados. Harris, no DITAT, dia que a “raiz kapar é usada cerca de 150 vezes. Tem
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sido objeto de intensos debates. Existe uma raiz árabe equivalente que significa ‘cobrir’
ou ‘ocultar’[9]“. Girdlestone nos informa que o termo árabe, mencionado pelo DITAT é
“kephr”[10], e que o sentido original é de ser coberto ou protegido.
De fato, não podemos negar o que a escritura nos ensina sobre a morte expiatória de
Cristo (sobre a morte de Cristo ser eficiente aos pecados cometidos antes de sua vinda ver
At.17.30; Rm.3.26; Hb.9.15). Segue-se que o termo pode auxiliar na compreensão do
conceito de “expiação”, como é visto por todo o velho Testamento. Portanto, concluímos
que, apesar da dificuldade de identificação da aplicação do termo para a teologia do
Velho Testamento, o termo é utilizado teologicamente como o conceito de “cobrir” os
pecados (sobre essa conclusão ver ISBE no tópico “The English Word). Enfim, após
algumas consideração etimológicas de aplicação teológica, vamos considerar o que o
termo “Kapar” e suas variantes podem auxiliar na compreensão de Redenção no Antigo
Testamento.
Em Gn.32.20 vemos um uso interessante do termo “kapar”, pois a ARA traduziu como
“aplacar”, a NVI como “apaziguar” e a versão Alfalit Brasil, como “perdoar” (A simples
observação deste caso já nos ilustra a dificuldade de se ter um termo definitivo para a
tradução conceitual acontecer. Por outro lado, é sempre importante ter em mente que não
existe tradução perfeita). O Contexto é a reconciliação entre Jacó e Esaú, e um presente
foi enviado adiante de Jacó, pois pensava que fazendo o presente chegar antes dele, seu
irmão o perdoaria. O termo é utilizado nesse contexto, e sua aplicação em português é
bem vista com qualquer uma das possibilidades ressaltadas pelas diferentes versões
bíblicas.
Das Sete ocorrências do termo em Êxodo, seis são utilizadas na ARA como sentido de
expiação e uma como “propiciação” (Ex.32.30). Em Levítico a maioria dos casos é
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traduzido como “expiação”. Em Nm 5.8 vemos outro uso que merece nossa atenção. A
ARA traz a seguinte tradução: “Mas, se esse homem não tiver parente chegado, a quem
possa fazer restituição pela culpa, então, o que se restitui ao SENHOR pela culpa será do
sacerdote, além do carneiro expiatório com que se fizer expiação pelo culpado“. O termo
“Kapar” é traduzido pelo termo sublinhado no texto, mas o seu conceito é expresso pela
colocação em negrito. Ou seja, o bode expiatório, que era oferecido para morrer, tinha a
função de “fazer restituição pela culpa”. Portanto, podemos notar que o sentido mais
clássico do termo em relação com a Teologia do Velho Testamento diz respeito a preço
pago em favor de um débito. Deve-se lembrar que tal conceito aplica-se, não a dívida
financiara, mas religiosas. Note os versos anteriores: “Dize aos filhos de Israel: Quando
homem ou mulher cometer algum dos pecados em que caem os homens, ofendendo ao
SENHOR, tal pessoa é culpada. Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará
plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se
fez culpado” (v.6, 7).
[1] ORR, James (org). International Standard Bible Encyclopedia. Parsons Tecnology Inc.
[3] Sobre colocações mais profundas e completas sobre o termo hebraico em pauta, ver Robert B.
Girdlestone: Synonyms of the Old testament, pp.117-120. Girdlestone, faz a aplicação do conceito de
“ga’al” exposto no VT no NT, evidenciando os termos gregos relativos.
[4] HARRIS, R. Laiid, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionáio Internacional de
Teologia do Antigo Testamento. Pp.235
[5] Sobre Pv.23.10-11 é válido observar que a tradução da Septuaginta oferece para “por que seu
Vingado é forte“: “o’ ga.r lutrou,menoj auvtou.j ku,rioj krataio,j evstin”. O uso de “kúrios” associado
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com “lutroö” no presente do particípio médio, nominativo, masculino, singular nos dá a clara
identificação de Deus como Redentor-Parente Vingador.
[6] É ponto pacífico entre muitos comentaristas que ga’al e padâ sejam sinônimos, embora tenham suas
particularidades. Observe o que Willian Coker diz sobre o termo no DITAT:
“O emprego de padâ e seus derivados ocorre, às vezes, em paralelo com outras raízes. Deve-se
destacar particularmente que ga’al é usado como sinônimo. As duas raízes dizem respeito à redenção
mediante o pagamento de um resgate, embora seja sugerido que ga’al está basicamente associado a
situações familiares e, dessa forma, dá a ideia da ação de um parente consangüíneo. No entanto, o uso
de padâ e de ga’al em paralelismos encontrados em OS.13.14 e Jr.31.11 e o seu emprego como
sinônimos em Lv.27.27 exemplificam sobre aposição de ideias entre as duas palavras. Além disso, das
99 vezes que a LXX utiliza o verbo lutroö, em 45 esse verbo está traduzindo a raiz ga’al e 43 a raiz
padâ”
[7] HARRIS, R. Laiid, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionáio Internacional de
Teologia do Antigo Testamento. Pp.1200.
[9] HARRIS, R. Laiid, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionáio Internacional de
Teologia do Antigo Testamento. Pp.743
[12] ORR, James (org). International Standard Bible Encyclopedia. Parsons Tecnology Inc.
[13] BUTTLER, Trent C (org). Holman Bible Dictionary. Parsons Tecnology Inc.
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