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A Filosofia é a mãe de todas as Ciências

Não venho aqui falar-vos como pedagogo, que não sou. Sou apenas um amante do conhecimento
e, como tal, consciente de que quanto mais sei mais me apercebo o quanto me falta saber. O
conhecimento dá-nos essa percepção, porque nos abre novas portas para mundos novos – que, por isso,
desconhecemos. Esta ideia, por consequência, deve levar a que nos tornemos mais humildes à medida que
vamos aprofundando o nosso saber.
Esta lição foi-me confirmada por um episódio da minha vida, que fortificou em mim este valor.
Quando tinha dezasseis anos fui assistir a uma conferência proferida pelo meu avô Henrique, na
Academia das Ciências de Lisboa, sobre o paralelismo entre Charles Maurras e Charles Péguy. Era a
primeira vez que lá ia. Lembro-me que estava bastante nervoso por ouvir o meu avô falar em tão ilustre
casa, onde se encontravam tantos intelectuais notáveis. Tinha-lhe uma confiança inigualável, mas penso
que era normal esse meu nervosismo miúdo. No entanto, a certa altura tudo mudou. Essa minha sensação
foi substituída por uma outra coisa, uma coisa muito diferente de medo ou de nervosismo. Sucedeu-se a
admiração. A admiração, certamente, pela sabedoria que emanava daquela sala mas, acima de tudo, a
admiração pela humildade contida em todas as palavras proferidas, de todos os que ouvi falar, sem
excepção.

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O iluminismo, ao divinizar a razão humana e ao trazer o homem para o centro do universo,


contribuiu, em grande medida, para uma degeneração desta atitude face ao conhecimento. A máxima de
Sócrates foi substituída por um orgulho e uma confiança sem impar na razão humana. O despotismo
iluminado foi a consequência desta corrente filosófica, na sua expressão política.
O sucesso da Ciência, principalmente da Física, foi o grande responsável por esta mudança – que
inverteu os papéis e submeteu a Filosofia à Ciência. Não estou a dizer, tal como Rousseau afirmou, que a
Ciência traz consigo a degeneração dos costumes. Também não quero dizer que o avanço da Ciência foi
responsável directo pela submissão da Filosofia à Ciência; apenas afirmo que a desvalorização da
Filosofia, a mãe de todas as ciências, passou a ser uma realidade, pois até os filósofos passaram a
conceber os seus sistemas com base em pressupostos estritamente científicos, a sua linguagem modificou-
se (Ortega e Gasset, nas suas 10 lições de Filosofia explica de forma notável esta submissão de que falo).
De resto, a preocupação que lhe é atribuída, pelos nossos contemporâneos, é prova mais que suficiente
para demonstrar este problema; basta olharmos para os nossos programas curriculares para que nos
apercebamos desta triste realidade (programas estes monopolizados pelo poder desmesurado do Estado –
infelizmente, não há liberdade onde deveria, mas sim liberdade onde não deve).
A consequência lógica deste processo, iniciado no século XVII, é a desintegração do homem. O
ser desintegra-se porque passam a existir diversos universos de conhecimento totalmente desconectados.
Falta um elemento integrador, falta uma ponte que faça a ligação das várias disciplinas. A especialização,
por si só, não é uma coisa negativa, antes pelo contrário. Mas é muito prejudicial existir especialização
sem haver, ao mesmo tempo, uma procura pela compreensão dos primeiros princípios. A compreensão do
ser, desde a relação consigo mesmo, à relação com a sociedade, até à sua relação com Deus são aspectos
fundamentais da vida humana. A Filosofia é esse elemento integrador e, obviamente, a Teologia e a Ética
também o são, pois pertencem ao mesmo domínio.
O homem contemporâneo caiu assim num estado muito desfavorável ao seu progresso. Está
convicto do seu progresso, pensa que sabe tudo e que de tudo é capaz. E esta fé será o fruto da sua
desgraça. Convence-se que saiu da sua “menoridade” (aludo aqui a Kant), mas só a aprofundou, pois
aquele que pensa que tudo sabe mais nada poderá saber, fecha-se na sua condição.
Falta-nos humildade!

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