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CONTINGENTE INVISÍVEL
1. Introdução
A Lei de Execuções Penais, nº. 7.210, de 11 de julho de 1984 é vigente
a 32 anos no ordenamento infraconstitucional, e a 28 anos da nossa Constitui-
çãoCidadã de 5 de outubro de 1988 no país, mas lamentavelmente nos depara-
mos hoje, com antigos problemas relacionados com a efetivação da execução
das penas criminais. Perpetuam-se as ilegalidades da escravidão.
Marilene de Mello
“... Deveríamos então supor que a prisão e de uma maneira geral, sem
dúvida, os castigos, não se destinam a suprimir as infrações; mas antes
a distingui-las, a distribuí-las, a utilizá-las; que visam, não tanto tornar
dóceis os que estão prontos a transgredir as leis, mas que tendem a
organizar as transgressões das leis em uma tática geral das sujeições. A
penalidade seria então uma maneira de gerir as ilegalidades, de riscar
limites de tolerância, de dar terreno a alguns, de fazer pressão sobre
outros, de excluir uma parte, de tornar útil outra, de neutralizar estes, de 203
tirar proveito daqueles. Em resumo, a penalidade não ‘reprimiria’ pura
e simplesmente as ilegalidades; ela as ‘diferenciaria’, faria sua ‘econo-
mia’ geral. E se podemos falar de uma Justiça não é só porque a própria
lei ou a maneira de aplicá-la servem aos interesses de uma classe, é
porque toda a gestão diferencial das ilegalidades por intermédio da pe-
nalidade faz parte desses mecanismos de dominação. Os castigos legais
devem ser recolocados em uma estratégia global das ilegalidades. O
‘fracasso’ da prisão pode sem dúvida ser compreendido a partir daí”.
(Michel Focault, “Vigiar e Punir”)
Figura 1
Figura 2
3. A Condição Feminina
Se as mulheres em geral já possuem demandas e necessidades específi-
cas, as que estão em condições de prisões apresentam demandas ainda maiores.
Em sua grande maioria seu histórico vem agravado por violência fa-
miliar, maternidade, maternidade quando não na adolescência, nacionalidade,
perda financeira, baixa escolaridade, uso de drogas, dentre outros fatores.
A história demonstra que seguindo nossa cultura patriarcal, as prisões
são preparadas para homens, com a reprodução de serviços penais direciona-
dos para a população masculina, não verificando as atividades que compõem o
universo das mulheres, quer sejam relacionadas com suas demandas e diferen-
ças físicas, com sua raça e etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identida-
98 http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm
Marilene de Mello
7. Futuro
Dentro do relatório e também confirmado em entrevista pessoal, a
Sra. Heidi Ann Cerneka, restou atestado que a mulher, por ser em número bem
menor, geralmente fica em unidades totalmente inadequadas, e nos demais
estados brasileiros elas estão em conventos antigos, colégios e em unidades que
eram designadas para adolescentes, depois de declaradas não adequadas para
eles, então destinados para mulheres.
Isso somente reforça a cultura machista com que as mulheres são tra-
tadas, porém mais cruel porque estas estão no sistema prisional, reproduzido
e copiado do sistema que alberga os homens, até porque a origem das penas
a que a maior parte das mulheres eram submetidas tinha um recorte moral
Marilene de Mello
muito forte, no início do século. E até hoje são mantidas a percepção moral
dominante na sociedade machista e patriarcal de que, em certa maneira, as
condições a que estão submetidas essas mulheres fazem parte de uma punição
moral que a sociedade as impõe.
Se nada for feito em termos de Políticas Públicas para modificar essa
situação, mais CPIs virão despeito da que ocorreu em 1975, e que provocou a
publicação da LEP conforme exposição de motivos:
“A LEP é de ser interpretada com os olhos postos em seu art. 1º. Artigo 213
que institui a lógica da prevalência de mecanismos de reinclusão social
(e não de exclusão do sujeito apenado) no exame dos direitos e deveres
dos sentenciados. Isso para favorecer, sempre que possível, a redução
de distância entre a população intramuros penitenciários e a comunida-
de extramuros. Essa particular forma de parlamentar a interpretação da
lei (no caso, a LEP) é a que mais se aproxima da CF, que faz da cidada-
nia e da dignidade da pessoa humana dois de seus fundamentos (incisos
II e III do art. 1º). A reintegração social dos apenados é, justamente,
pontual densificação de ambos os fundamentos constitucionais”99.
10. Conclusão
Dentre tantas regras relacionadas, postas na Constituição Federal, ba-
seadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Lei de Execuções Pe-
nal, regras internacionais mínimas de presos, pactos de enfrentamento à vio-
lência contra as mulheres e tantas outras relacionadas com o tema aqui tratado
que se fossem cumpridas resolveriam o problema da execução penal feminina.
Regras não faltam, porém vemos desde os primórdios tempos do País,
que regras nunca foram cumpridas, começando pelo nosso próprio Judiciário,
conivente em não só desconhecer a Lei que impedia o tráfico de escravos afri-
canos, como ainda, determinar leis penais específicas para aqueles que insur-
giam contra os seus senhores sendo então tratados como semoventes.
A sociedade brasileira urge pelo posicionamento dos órgãos e profis-
sionais frente ao tema e verdadeiro compromisso com a efetiva aplicação da
Lei de Execução Penal, em relação a todos os presos, mas em especial às mulhe-
res encarceradas, pois estas representam famílias encarceradas.
Marilene de Mello
não somos o que ainda iremos ser. Mas, graças a Deus. Não somos mais
quem nós éramos”. Martin Luther King
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Marilene de Mello
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