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o espelho baZY
m a g tc o
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C1P -Brasil. Ca talogação- na -Publicação
Câmara Brasileira do Livro, SP fenômeno
Gaiarsa, José Ãngelo, 1920-
so c ia l
GUle O espelho mágico : um fenômeno social chamado
corpo e alma / José Angelo Gaiarsa. - São Paulo : cham ado
Surnrnus, 1984.
17. CDD-301.1 J o se
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84-0296 18. 301.14
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O E 'S P E L H O M Á G IC O zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Copyright © 1973, 1984
by José Ângelo Gaiarsa
Capa:
Claudio Rocha
Projeto Gráfico e
Ilustrações: Claudio Rocha e
Suzana Barros Freire
com a cooperação criativa do Autor.
Impresso no Brasil
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ÍN D IC E zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
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1
o
1.
A FACEbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ESTRANH A
QUEYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É
A M IN H A ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
M eu r o s to me é m a is e s tr a n h o
que m eu ín tim o .
M a is fá c il me é a c e ita r um
p e n s a m e n to com o m eu, do que
a c e ita r (o u sequer perceber) que
a o d iz e r " s in to m u ito " , a expressão
d e m e u r o s to e r a
de c o m p le ta in d ife r e n ç a .
o o
r"
Sou apresentado a uma pessoa em reunião social. Converso com NO DIALOGO COM O OUTRO
ela meia hora. Vejo mais do seu rosto, durante este tempo, do que QUEM ESTAZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D E COSTASYXWVUTSRQPONMLKJIHG
É VOCf:,
QUE NÃO SE v s .
vi do meu rosto durante o ano inteiro.
Não só vi muito mais, como vi de outro modo.ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E u r e p a r e i no
seu sorriso, no seu modo de olhar, prestei atenção no gesticular de
suas· mãos, e nas posições de seu corpo.
Tudo o que vi influiu no nosso relacionamento; mas se, ao me
despedir, alguém me perguntar o que achei da pessoa, resumo minha
impressão em frases curtas:
simpático
chato
legal
que pretensioso
um coitado
que matraca.
10
2.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O ACONTECER E
A S C A T E G O R IA S YXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
~ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
por tudo isso e por muito mais, preferimos, sempre que não seja
absolutamente indispensável proceder de outro modo, acreditar que
as palavras se confundem com as coisas, e que o mundo é uma vasta
sinfonia de significados verbais e mais nada.
O mundo é uma soma de significados sem substância: um dicio-
nário!
Além disso,
"O ACONTECER É GLOBAL E
SIMULTANEO. AO PASSO QUE O VERBAL
É SUCESSIVO E LINEAR ... "
MarshalI McLuhan
Muitas coisas acontecem a cada instante. Se fôssemos descrever,
com toda a precisão, um instante do acontecer, facilmente escrevería-
mos um livro. Para ler este livro, de outra parte, levaríamos tempo
deveras enorme, se comparado com a duração do instante em que o
acontecer aconteceu.
As palavras representam muito pouco do fato e, além disso, colo-
cam todos os fatos dentro do mesmo sistema de coordenadas.
13
o menino
O menino chama-se Joãozinho
A bola
Joãozinho corre atrás da bola
O cachorro
O cachorro chama-se Leão
~ ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA O por tão
A cerca
O portão completa a cerca
J oãozinho está na frente do portão
A árvore
A árvore está dentro do cercado
l- - \.-
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o o o
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19
DO·
DO
DO
5.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O V íC IO
DA PALAVRAzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
23
6 . baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O E S P E L H O M Á G IC O D A
R A IN H A
T o d o s o s e s p e lh o s s ã o YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC
m a q rc o s .
M o s tr a m a p e n a s o q u e q u e r e m o s v e r .
- - - - - - - zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
PONHA UM ESPELHO
NO RETÂNGULO
I
EM BRANCO.
I
I OLHE.
I
VOC~ TEM REALMENTE
I PRAZER EM CONHECER-SE?
I
CONVERSE
I
I COM ELE.
I
PERGUNTE COMO
I
-------- ELE SE CHAMA ...
25
para ver se a barba está comprida, se o cabelo está despenteado, se
a pintura ficou como devia.
Sempre olhamos para o espelho com alguma intenção e, por isso, nada
mais vemos fora desta intenção. A intenção é umihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
s e le to r de estímulos.
Por isso o espelho não serve para nos mostrar nossa face que, lembre-
mos, é uma estranha face para nós.
O espelho não serve para descobrirmos o criminoso.
E a fotografia? Será que serve? Tomemos o álbum de retratos.
Quando vemos uma fotografia nossa, logo vamos dizendo:
"N ão p a r e c e c o m ig o . N ão sei de quem é e s ta c a r a . N ã o s o u fo to g ê n ic o .
O lh a m eu c a b e lo desarrum ado! Q ue n a r iz fe io que eu te n h o . Is to YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
é
lá fo tó g r a fo !"
E a voz? Numa hora de brinquedo, gravamos a conversa das pessoas
e a nossa também. Em seguida, ouvimos o gravador e continua o
rosário:
"Q ue voz e s q u is ita ! M in h a v o z n ã o é a s s im . N u n c a im a g in e i que
m in h a voz fo s s e a s s im . Q u e v o z fe ia , n ã o g o s to d e s ta c o is a . É a s s im
que fa lo ? "
Por fim, o acaso feliz ou um amigo rico nos permitem ver a nós
mesmos numa película de cinema ou em vídeo-tape. Aí a coisa alcança
níveis absurdos ...
Nossa aparência pode, num instante, produzir em nós- desvanecimento
de complacência e, em outro momento, agudo sentimento de vergonha,
de constrangimento ou de estranheza. Por isto evitamos todo fe e d b a c k .
Positivamente: não nos conhecemos
'D/~lJTTf:
26
7.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O íN T IM O
ESTA
P O R F O R A ! zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT
TOMAR CONSCI~NCIA
29
8.
CORPOYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
E baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A L M A ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
P o r q u e a p a la v ra YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
é tã o b o a p a ra d isfa rç a r? zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT
31
9 . baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
QUEM VÊ CARA VÊ
CORAÇÃO?
V ê . V ê m u ito b e m . B a s ta o lh a r . zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
PECADO?
34
10.
O IN C O N S C IE N T E
V IS íV E L
(R E IC H ) ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
37
Mas para ver - note-se - é preciso olhar ...
Ainda, se vejo alguém pela primeira vez, vejo-o como novidade.
Então, de novo: nossos complexos e recalques estãoYXWVUTSRQPONMLKJ
POR FORA,
Só ao reencontrá-Ia ou ao conviver com ele vou percebendo o quanto
ele se repete. no jeito. Por isso não queremos ver nem saber de nosso jeito:ihgfedcbaZYXWVUT
38 39
1 1 . baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
HAM LET
EA
P E R P L E X ID A D E zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
SUPRIME UM DELES.
41
Como nos será dado compor uma resposta que responda simul- a sentir - não sei porque - que a pessoa é simpática, nos condoemos
tânea e adequadamente a solicitações tão discordantes? da sua desgraça e ouvimos suas queixas. Neste caso concluiremos que
É muito difícil estar engajado inteiro no aqui e no agora, perce- a pessoa é uma boa pessoa e tê-la-emos na conta de nossa amiga. Mas
bendo "tudo o que há para perceber" (Chardin) também podemos - não sei porque - nos deter mais em todas as
Só os iluminados o conseguem - às vezes. intenções desagradáveis expressas em seu corpo, concluindo que a
Todos os demais suprimem alguns ou muitos aspectos das coisas: pessoa é insuporfável e que é nossa inimiga.
Diante de tantas intenções contraditórias, podemos ser levados
o
o
o YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o
L
o c'-.\~·_ •.
42 43
Claro e evidente
que faremos
assim.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D IV ID IR E M O S A P E S S O A T R A N Q Ü iL A M E N T E A O M E IO
E NO MESMO ATO NOS D IV ID IR E M O S AO M E IO . YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R e s p o n d e re m o s d e m e ta d e a m e ta d e .
Se ela for nossa amiga - se não sei como, nem porque, decidir-
mos que ela é nossa amiga - responderemos como amigo e a achare-
mos boa, talvez trágica, nobre, heróica.
Caso contrário, achá-la-emos aborrecida, enfadonha, chantagista e
ou tras coisas assim.
44
12.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
LEI DA DESG RAÇA
IR R E M E D IÁ V E L ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC
C . G . J u n g v iv e u p a r a d e m o n s tr a r e s ta v e r d a d e : o in -
c o n s c ie n te fu n c io n a s e m p re c o m p le m e n ta n d o a p e r-
cepção c o n s c ie n te , e com pensando as d e fo r m a ç õ e s
d e v a lo r e s ig n ific a d o d e q u e a c o n s c iê n c ia s o fr e -
o u q u e n o s s ã o im p o s ta s p e la educação e p e la s c ir -
c u n s tâ n c ia s .
••
- YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A LUZ DE TUDO AQUILO QUE PERCEBEMOS COM CLAREZA,
47
13. Pela estrada ia também
O C A V A L E IR O uma pobre velhinha
com um enorme
A N D A N T E zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA feixe de lenha
nas costasYXWVUTS
o cavaleiro
aproxima-se
da velhinha
sofredôra ...
. . . seguido de seu
fiel escudeiro.
contempla-a
do alto de sua
magnificência ..
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
'Ir " !li Ir
NÃO POSSOihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A G IR COMO MOCINHO E
BANDIDOYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
AO M ESM O TEM PO.
51
14.
M ORENO,
O P S IC O D R A M A
E OS
P A P É IS
•
C O M P L E M E N T A R E S zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
•
O s d o is papéis formam u m a unidade. Logo, cada um deles
é metade do outro:
baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
maeido mulher.
53
Com esta comparação creio que o tema volta a fazer-se familiar,
pondo-se em paralelo com quanto dissemos a respeito da aparência
das pessoas, e das solicitações múltiplas e divergentes presentes nesta
aparência.
"SOMOS TODOS UMA SOMA NÃO MUITO
CONGRUENTE DE MEIOS PAPÉIS".
Isto é outra definição para aihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
c o u r a ç a m u s c u la r d o c a r á te r . Toda
a psicologia da estrutura social pode ser descrita em termos de papéis
ou de couraça muscular. Os dois referenciais esclarecem de modo com-
plementar a dependência de todos para com todos.
Moreno separou os papéis sociais - aqueles que exemplificamos
- dos papéis emocionais ou psicológicos, precisamente aqueles que
Reich estudou mais de perto.
15.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
LORENZ
E AS
C O N D U T A S IN S T IN T IV A S zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
57
16.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
OS FUNDAM ENTOS M OTORES DO
P R IN C íP IO D E N Ã O C O N T R A D IÇ Ã O
" §, ',,, ';"', i\;.. , ~ . ; '; " ,.',.- ,.: ; '.: .. ' : . " , : .,: ,: ; ',~~~ -~
ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA - ;i'~
.; .R iit;..-& ~ :.~ QUE ELE FAZ.
Nossos princípios nos são apoio e nos elevam. O mal é que podemos cair deles.
59
Basta que levantemos o braço, que inclinemos a cabeça ou o corpo
para um lado, e já estamos comprometendo nosso equilíbrio no espaço.
Pode tratar-se de ações ligadas a objetos, carregar uma mala, andar
de bicicleta, manejar uma serra, um martelo. Pode tratar-se de uma
agitação emocional, de expressão veemente de ódio, de medo, da atitu-
de de ataque ou de fuga. A dificuldade é sempre comparável.'
São esforços muito complexos e bem organizados, a cada momento
unitários, isto é, voltados para um fim e, via de regra, capazes de
alcançã-lo. No momento seguinte esses esforços podem se inverter e
se compor de outro modo.
E bebendo
E evacuando
E dormindo
E tendo relações sexuais
E cuidando da prole ...
60
1 7 ..
A M ORAL
AS
AVESSASzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
A q u ilo que é tid o c a m a bom por nós e para nós, pode ser tid o
c o m o m a u p e lo s n o s s o s o iz in b o s de o u tr a nação, de o u tr o e s ta d o ou
c id a d e , b a ir r o o u c a s a .
63
1 8 . baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O U N IF O R M E ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
E M C A D A C L A S S E , S E J A E L A E C O N O M IC A , P R O F IS S IO -
N A L , R E L IG IO S A OU M ORAL (O S V IR T U O S O S YXWVUTSRQPONMLKJ
E OS PECA-
D O R E S ), SEM PRE SE ESPERA, EM CADA UM A DELAS E EM
T O D A S E L A S , Q U E O S IN D IV 1 D U O S M O STREM CERTAS ESPÉ-
C IE S D E C O M P O R T A M E N T O S .
65
19.
A E X E M P L A R H IS T ó R IA
DO
R E IZ IN H O V A ID O S O
'" zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
obaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e além daquilo
NOihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
J O G O D A S R E L A Ç O E S S O C IA IS , A M E S M A C U M -
P L IC ID A D E DO S IL E N C IO E D A C E G U E IR A E X IS T E
D E C A D A U M P A R A C O M T O D O S O S D E M A IS .
67
Do contrato implícito à cegueira coletiva convencional vai passo
menor do que se imagina.YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Muito antes do tabu sexual, muito mais profundo e amplo, existe
É claro que os primeiros contratos humanos não foram verbais em nós o tabu da nossa nudez. Nem tanto a pele. Bem mais a aparên-
cia, o aspecto exterior, o gesto, a atitude ...
(nem registrados em tabelião!). Logo, podemos falar de contrato ao
assinalar que ninguémihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p o d e v e r o que n ã o c o n v é m à estrutura social. Tenho para mim, inclusive, que a condenação do prazer do corpo
Esta cláusula é tão original (tão próxima da origem), quanto a e da carne é conseqüência ló g ic a - isto é, necessária _ da negação
desta aparência.
do tabu do incesto. Também Preud, que denunciou a este, foi vítima
daquele: preferiu n ã o v e r seus pacientes!YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA " Atrás" daquilo que eu quero (e posso mostrar - a roupa,
meus aspectos convencionais aceitáveis) n ã o e x is te m a is n a d a .
A VERDADE S IM P L E S É QUE N IN G U É M ESCONDE N ã o p o s s o a d m itir que existe - ou me desclassifico socialmente!
M U IT O O QUE SENTE, NEM CONSEGUE D IS F A R - Logo: não posso ter corpo! Ter corpo significa aceitar tudo aquilo
ÇAR QUANDO ESTA D IS F A R Ç A N D O , MAS COMO
que por amor e temor à minha casta eu te n h o c e r te z a que não tenho.
NA P R Ó P R IA CLASSE TODOS USAM O MESMO Segundo a linguagem do asceta, a carne é o mal, é o pecado, é o
proibido ...
A R T IF IC IO E P R A T IC A M O MESMO EM BUSTE, N IN -
GUÉM D E N U N C IA N IN G U É M . E A M E N T IR A DE Ora, foi exatamente isso que dissemos até agora: quem se dê
CADA UM S U B S IS T E A CUSTADA M E N T IR A DE conta do corpo e da aparência perceberá que sente em ato tudo aquilo
TODOS. que mentalmente excluiu da imagem "oficial" de si mesmo.
Mas repetindo: o que eu « jogo fora" o outro recolhe. O que eu
Não vemos nem dizemos que o outro está nu, pois que no mes- . nego em mim o outro vê - simplesmente.
mo ato nos sentiríamos fazendo um s tr ip -te a s e em público! Nossos Pode-se conceber um estilo de convívio social no qual a unifor-
sonhos, que ainda são ingênuos, muitas vezes fazem exatamente assiml , midade do grupo não seja obrigatória?
Para fugir ao vexame concordamos todos em que o homem é
composto de corpo e alma, a alma que só eu vejo, que só eu sei, que
só eu conheço; e um corpo que só os outros vêem - mas que não
tem muito a ver comigo, graças a Deus! Se meu corpo fosse de fato
meu, se eu o sentisse corno tal e se eu percebesse o que ele exprime,
S e ja m o s bem c o n c r e to s :
vam os s a ir n u s , na rua. Já !
É is to .
68
69
I
20.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O M AL DO BEM
E D O M A L zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
GRANDES PRINCIPIOS
que são a
LEI DE TODOS CONTRA TODOS.
Por isso nossa posição individual é frágil, incerta e pequenina _,
é difícil de sofrer. Por isso renunciamos a nós mesmos, à nossa fragi-
lidade, "maldade" e pequenez.
Que aihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
G r a n d e A u to r id a d e cuide de nós. Que os G r a n d e s P r in c í-
p io s nos protejam!
A n o r m a s o c ia l n o s a liv ia a o a b s o r v e r e c o n s a g r a r n o s s a in c e r te z a ,
d e v o lv e n d o -a lo g o s o b a fo r m a d e B e m e M a l C o le tiv o , d e O b r ig a ç ã o .
P o r is s o a c e ita m o s a m o r a l d e to d o s - do grupo. P orque e la
e lim in a in c e r te z a s in d iv id u a is p u n g e n te s e in s o lv ê n c ia s e m o c io n a is
d ifíc e is d e s o fr e r .
71
21.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
M IN H A V O N T A D E
EO
OUTRO
75
Mas também somos vítimas - todos.
Ou aprendemos todos a sofrer como vítimas - que somos;
ou seremos todos vítimas termo nucleares .
Não sou eu o bom e ele o coitado - ou oYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
f. da p.
Somos os dois coitados.
Ef.dap ...
Esta a tragédia, a comédia e a perplexidade. O capitalista é tão
coitado quanto o trabalhador e o trabalhador é tão f. da p. quanto o
capitalista. O russo é tão desgraçado quanto o americano que é tão
f. da p. quanto ele. Ou entendemos assim, ou continuaremos a fabri-
car a interminável tragédia que é a história da humanidade.
De onde nasce o temor de perseguição que reside em todos -
se aceitarmos os achados centrais de M. Klein?
S O Z IN H O .
76
23.baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O M IS T É R IO
DA
S O L ID A R IE D A D E A N T A G ô N IC A
, '. "
• •
'o zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
MISTÉRIO É ESSE: PRECISO DO MEU INIMIGO POR-
QUE ELE É METADE DE MIM. SEM ELE NÃO CONSIGO CON-
CEBER-ME E SEM ELE NÃO SEI AGIR.
SO SEI AGIR CONTRA ELE - O INIMIGO CUJA EXIS-
T:hNCIA ME ORGANIZA, ORIENTA E ANIMA.
MEU IRMÃO - APESAR DE TUDO E POR CAUSA DE
TUDO.
79
_ - ilfl"
24.
EPITÁFIO
AQUI JAZ
TUDO QUE EU NEGO
EM MIM
E PONHO EM VOCÊ
,~ YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A Q Ú I·;~ ·~
. TUDO:
QUE NEGO
. EM MIM
E PONHOEM
v o e e: YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É assim que são geradas e assim se mantêm as forças de repul-
são da estrutura social, tão necessárias para a manutenção desta estru-
- i- - tura, quanto a pressão das necessidades comuns, e a atração da soli-
dariedade humana. Ficamos todos imobilizados a uma certa distância
uns dos outros e compomos assim, em uma analogia inevitavelmente
molecular, uma estrutura, isto é, uma forma que se mantém indefini-
damente, à custa de forças de atração eihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
re p u lsâ o e q u ilib r a d a s e n tre s i.
\1111111'\
~.
1\ 111\· li,
Creio - é um ato de fé - que deste modo, e só deste modo,
.~! nos será dado transformar uma estrutura rígida, cristalizada, opressiva
e ameaçadora, numa organização capaz de crescimento, de fato viva,
de fato cálida, de fato amorosa.
'11\1'\11' lU\-
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81
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