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Maciel, R.V. 1
Silva, P.T.G. 1
Sampaio, R.F. (PhD) 2
Drummond, A.F. (MsC) 3
Resumo
Este trabalho teve como objetivo refletir sobre as possibilidades de intervenção da Fisioterapia na atenção
primária à saúde, rompendo com a prática do profissional historicamente centrada em ações curativas. Em
geral, os currículos oferecidos pelos cursos de graduação em Fisioterapia no país estão muito voltados para
práticas hospitalares e ambulatoriais valorizando a reabilitação em detrimento aos novos modelos
assistenciais. A atuação do fisioterapeuta não se restringe somente ao campo curativo e de reabilitação. As
ações de prevenção e educação em saúde são fundamentais para propiciar a melhora da qualidade de vida
da população e as intervenções fisioterapêuticas no atendimento domiciliar podem produzir um impacto
positivo na relação do paciente com o meio, tanto físico quanto social. Tendo como proposta a superação
do modelo tradicional de formação dos fisioterapeutas, o curso de Fisioterapia da UFMG oferece estágio em
Unidades Básicas de Saúde para o aluno do último período do curso. Nessas unidades, o aluno tem a
oportunidade de vivenciar um trabalho com profissionais inseridos no Programa de Saúde da Família (PSF).
Este trabalho foi desenvolvido no Centro de Saúde São Gabriel (CSSG), no município de Belo Horizonte, onde
foi aplicado um protocolo para cadastramento e monitoramento dos usuários impossibilitados de se dirigirem
ao Centro de Saúde. Após o levantamento das informações, foram realizadas reuniões com as equipes do
PSF e oficinas que possibilitaram aos alunos e supervisor de estágio, refletirem sobre as possibilidades e
desafios da intervenção da Fisioterapia na atenção primária à saúde.
Palavras-chave: Programa Saúde da Família (PSF); Atenção Primária; Fisioterapia.
1
Acadêmicas de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais.
2
Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais.
3
Professora Assistente do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.
Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Presidente Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha, Unidade Administrativa II, Belo
Horizonte – Minas Gerais CEP: 31270-901.
Endereço para correspondência: Rosana Ferreira Sampaio. Rua Juvenal dos Santos, 222, ap. 602, Luxemburgo. Belo Horizonte,
Minas Gerais. CEP: 30.380-530
deste e com uma população cadastrada de 19.400 desenvolver a capacidade dos acadêmicos de Fisi-
pessoas. Neste trabalho, os acadêmicos têm pro- oterapia para atuar nos problemas de saúde de
curado se integrar ao PSF, buscando novos mode- famílias e de comunidades a partir da identifica-
los de assistência, para garantir independência fun- ção dos usuários impossibilitados de se desloca-
cional e melhorias na qualidade de vida da popu- rem até o Centro de Saúde, proporcionando assis-
lação. Assim, os alunos de Fisioterapia estão de- tência integralizada e multiprofissional a esses in-
senvolvendo um trabalho com a população im- divíduos e suas famílias.
possibilitada de se deslocar até a Unidade, por meio Neste contexto, o objetivo do trabalho foi
da aplicação de um protocolo que permite verifi- descrever esta experiência e refletir como a mes-
car as condições de vida e moradia desses pacien- ma influenciou na formação dos acadêmicos do
tes. último período do Curso de Fisioterapia da UFMG.
Esse protocolo foi resultado do Projeto
de Extensão “Estágio Vivência no PSF” viabilizado
pelo Pólo de Capacitação, Formação e Educação Metodologia
Permanente de Pessoal para Saúde da Família da
UFMG em 2000. O Projeto Vivência teve como Este trabalho foi desenvolvido no CSSG,
proposta possibilitar a integração de estudantes de localizado no Distrito Sanitário Nordeste, no mu-
graduação das diferentes áreas da saúde à estraté- nicípio de Belo Horizonte, no período de janeiro a
gia de saúde da família, capacitando-os a partici- maio de 2003.
par do processo de reorientação da atenção bási- Foi realizado um estudo transversal
ca à saúde e criando oportunidades para que os para caracterizar todos os usuários dependentes,
cursos de graduação pudessem refletir sobre o aqui definidos como aqueles que não conseguem
modelo educacional vigente e o perfil profissional deslocar-se provisória ou definitivamente até o
de seus egressos. O projeto foi desenvolvido em Centro de Saúde. Para o cadastramento e
duas UBS do município de Vespasiano e teve a monitoramento dessa população, foi usado o pro-
participação de estudantes dos cursos de Enfer- tocolo elaborado no Projeto Vivência no PSF, men-
magem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odon- cionado anteriormente.
tologia e Terapia Ocupacional. Os alunos acom- As Agentes Comunitárias de Saúde (ACS)
panharam o trabalho das equipes de saúde da fa- fizeram um levantamento de todos os dependen-
mília, conheceram o perfil epidemiológico da po- tes dentro da sua área de atuação. Depois de iden-
pulação e participaram do planejamento e da exe- tificados, esses usuários receberam a visita da ACS
cução das ações do PSF (MIRANDA et al., 2002). acompanhada de um acadêmico de fisioterapia,
A partir de suas vivências e por meio de na qual era aplicado o protocolo e realizado o
um trabalho interdisciplinar, os alunos elaboraram treinamento para a posterior reaplicação e
um protocolo com o objetivo de permitir o levan- monitoramento dos casos pela ACS.
tamento e a caracterização dos pacientes impossi- O protocolo consta de questões
bilitados de se deslocarem até as UBS. multidisciplinares envolvendo a saúde do depen-
A proposta final era usar parâmetros dente e de seu cuidador, abrangendo os seguintes
de avaliação a serem coletados pelos agentes de tópicos:
saúde para facilitar o acesso ao serviço e à assis- - Identificação do dependente: caracte-
tência integral aos dependentes e seus familiares, rísticas sociodemográficas, queixa prin-
garantindo-lhes uma atenção ampliada em torno cipal e motivo da dependência;
de suas necessidades. - Aspectos gerais: estado de saúde de
A partir dessa experiência e contando com um modo geral;
a participação das equipes do PSF, decidiu-se apli- - Mobilidade: locomoção e transferên-
car este protocolo no CSSG. Este trabalho tem sido cias entre posições;
realizado, portanto, em consonância com o novo - Nutrição;
modelo de atenção voltado para a família, que - Aspectos bucais;
pressupõe o desenvolvimento de um processo - Consumo de medicamentos;
integrativo e articulador, substituindo as práticas - Ambiente: verifica riscos e aspectos
convencionais de atendimento das UBS. Espera-se gerais da casa;
- Atividades da vida diária (AVD’s): ali- nente ou transitória passa pelo processo de
mentação, higiene e autocuidado; cadastramento, avaliação e discussão na equipe
- Aspectos sociais: renda, lazer, proble- de PSF responsável. A atenção aos usuários de-
mas existentes na família; pendentes e seus familiares a partir do projeto da
- Cuidador: identificação, dificuldades fisioterapia, passou a fazer parte da rotina das equi-
encontradas para lidar com o depen- pes de PSF do CSSG.
dente, treinamento recebido, dentre
outros.
Quem são os dependentes?
O protocolo consta ainda de um espaço
para que as ACS relatem observações importantes Durante os cinco meses de coleta (janeiro
que não foram contempladas nos itens anteriores a maio de 2003) os acadêmicos e ACS visitaram 51
e para anotar a conduta adotada, quer seja dependentes da área de abrangência do CSSG. A
monitoramento do dependente pela ACS ou enca- idade variou de 13 a 97 anos sendo a mediana das
minhamento para os demais profissionais da Uni- idades de 55 anos. A maioria dos dependentes era
dade. O protocolo foi elaborado para monitorar o do sexo feminino (76%). Vinte e três pacientes eram
dependente durante dez visitas. casados, 10 solteiros e 18 não se enquadravam en-
Após a aplicação do protocolo, os acadê- tre os mesmos. O problema principal encontrado
micos de fisioterapia e as ACS retornaram ao Cen- entre os dependentes estava relacionado à saúde,
tro de Saúde para discutir o caso com as equipes e representando 94% do total das queixas relatadas.
participaram de oficinas coordenadas pelo super- Com relação ao motivo da dependência,
visor de estágio, quando se discutia o papel do a maioria foi devido a Acidente Vascular Cerebral
fisioterapeuta dentro das equipes de PSF. (AVC) seguido de idade avançada e/ou queda. Um
Os dados coletados após a avaliação dos achado comum foi a presença de patologias asso-
dependentes foram informatizados e analisados ciadas como Diabetes Mellitus, Hipertensão Arte-
com o pacote estatístico SPSS (Statistical Package rial e Hipercolesterolemia. O tempo mínimo de
for Social Sciences) versão 10.0. Foi feita uma aná- dependência foi de 2 meses, sendo que grande
lise descritiva inicial (medidas de tendência cen- parte dos indivíduos tinham de 8 meses a 3 anos
tral e de dispersão, freqüência e porcentagem) das de dependência.
variáveis já citadas. Cinqüenta e cinco por cento dos pacien-
tes apresentaram aparência saudável. Quanto aos
aspectos psicológicos, 37% estavam irritados, ansi-
Intervenção dos acadêmicos de Fisiote- osos ou nervosos e 27% prostrados, tristes ou de-
rapia primidos no momento da entrevista. Os proble-
Após o cadastramento e aplicação do pro- mas de saúde mais relatados foram de visão (n=27),
tocolo, as ACS e os acadêmicos de Fisioterapia incontinência urinária (n=24), dificuldade para eva-
retornavam para a UBS e discutiam cada caso com cuar (n=16) e urinar (n=16). Em relação ao aspec-
a equipe de PSF responsável. Nestas reuniões era to da pele, foram encontrados 12 dependentes com
definido um projeto para as necessidades de saú- edema e 7 com úlcera.
de de cada dependente e sua família. Considerando a mobilidade, a maioria se
A discussão em equipe da situação de locomovia sozinha ou com apoio (n=25), seguido
cada dependente e sua família, o planejamento e por 11 que não se locomoviam. Desses, 72% só se
a definição de estratégias e ações, tanto de caráter locomoviam dentro de casa e 18% alguns quartei-
individual quanto familiar e comunitário ajudou a rões. A maioria dos indivíduos declarou passar o
envolver e a responsabilizar todos os profissionais, dia assentado e/ou deitado e conseguir alternar
aumentando a resolutividade das intervenções. posições sozinha ou com ajuda.
Do total de dependentes cadastrados e De acordo com os itens abordados em
avaliados, 25 foram encaminhados para tratamen- aspectos bucais, verificou-se que a maioria dos
to com algum dos profissionais da equipe de PSF dependentes fazia uma higiene bucal adequada e
e todos estão sendo monitorados pelas ACS. apenas alguns relataram dificuldade para mastigar
Cada novo caso de dependência perma- ou dor e sangramento gengival.