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O sonho de Aristóteles,
Jacques Lacan

O sonho de Aristóteles 1

Jacques Lacan (1978)

Estabelecemos uma diferença entre o objeto e a


representação com a finalidade de representá-los
mentalmente. Bastam algumas palavras que, por assim dizer,
“evocam” ou “apelam” à representação.

Como Aristóteles concebia a representação? Somente o


sabemos por aquilo que se conservou em alguns de seus
discípulos da época. Os discípulos repetem o que diz o
mestre. Mas o fazem com a condição de que o mestre saiba o
que diz. E quem julga isso se não seus próprios discípulos?
Sendo assim, são eles os que sabem. Infelizmente, e é aqui
que devo testemunhar como psicanalista, eles também sonham.

Aristóteles sonhava, como todo mundo. Foi ele que se viu


obrigado a interpretar o sonho de Alexandre sitiando Tiro?
Sátyros-Tiro te pertence. Típica interpretação-jogo2.

O silogismo – e isso, em Aristóteles, se exerceu – procede


do sonho? É preciso esclarecer que o silogismo manca sempre
no triplo princípio, mas, sobretudo, em sua aplicação do
universal ao particular. “Todos os homens são mortais”.
Portanto, um entre eles também o é. Freud chega a isso e
diz que o homem o deseja.

A prova está no sonho. Não há nada mais terrível que sonhar


que se está condenado a viver repetidamente. Daí a ideia da
pulsão de morte. Os freudoaristotélicos, colocando à frente
a pulsão de morte, supõem Aristóteles articulando o
universal e o particular, isto é, transformam-no em uma
espécie de psicanalista.

O analisante também faz silogismos se for o caso, ou seja,


aristoteliza. E assim perpetua, Aristóteles, seu domínio.
Isso não significa que ele esteja vivo, mas que sobrevive
nos sonhos dos analisantes. Em todo analisante há um aluno
de Aristóteles. Mas é preciso reconhecer que, de vez em
quando, o universal toma lugar no gaguejar.

É verdade que o homem gagueja. E aí é complacente, como


podemos comprovar no fato de que o analisante volte à
sessão na hora combinada com seu psicanalista. Não se sabe
por que ele acredita no universal, pois é como indivíduo
particular que ele se entrega aos cuidados daquilo que se
denomina um psicanalista.

Enquanto o analisante sonha, o psicanalista deve intervir.


Tratar-se-ia então de acordar o analisante? Em caso algum é
o que esse deseja – ao sonhar, preserva a particularidade
de seu sintoma.

A peri psychés não tem a menor suspeita dessa verdade que


constitui a resistência à psicanálise. Por isso, Freud
contradiz Aristóteles, que, nesse assunto da alma, não diz
nada bom – mesmo quando o que fica escrito é um dizer fiel.

A discriminação do to ti esti e do ti en einai que se


traduz, respectivamente, por essência e substância enquanto
limitada – to horismon – reflete uma distinção no real:
aquilo que do verbal e do real foi afetado. O que já
distingui como simbólico e como real.

Se é certo, como já disse, que não existe relação sexual,


ou seja, que na espécie humana não há universal feminino,
que não há “todas as mulheres”, ocorre que entre
psicanalista e analisante há sempre alguém mais. Há aquilo
que eu enunciaria não como representação, mas como
apresentação do objeto. Essa apresentação é o que eu chamo
de objeto a. É extremamente complexo.

Aristóteles não dá importância a isso porque crê que há


representação. Isso é o que conduz Freud a escrevê-lo.
Aristóteles pensa – porém, não conclui que o seja – o mundo
naquilo que ele sonha, como aquilo que se dá a chamar todo
mundo, ou seja, as pessoas. O mundo que ele pensa, o sonha,
como todos aqueles que falam. Disso que resulta que – como
já disse – é o mundo que pensa. A primeira esfera é aquilo
que ele nomeia nous.

Não imaginamos até que ponto o filósofo sempre delira.


Claro que Freud também delira. Delira, mas percebe que fala
de números e de superfícies. Pode ser que Aristóteles tenha
suposto a topologia, porém não ficaram rastros disso.
Falei sobre o despertar. Há pouco tempo, sonhei que o
despertador tocava. Freud diz que se sonha com o
despertador quando não queremos, de modo algum, acordar.

De vez em quando, o analisante cita Aristóteles. Isso faz


parte de seu material. Há sempre, portanto, quatro pessoas
entre o psicanalista e o analisante. Às vezes, o analisante
traz à colação Aristóteles. Mas, o psicanalista tem atrás
de si seu próprio inconsciente, do qual oportunamente se
vale para fazer uma interpretação.

Isso é tudo o que posso dizer. Que eu alucine em meu sonho


que o despertador toca, considero-o um bom sinal, já que,
contrariamente, vale para fazer interpretação.

Isso é tudo o que posso dizer. Que eu alucine em meu sonho


que o despertador toca, considero-o um bom sinal, já que,
contrariamente ao que diz Freud, eu acordo. Ao menos foi
isso que me aconteceu.

1 Conferência proferida por Lacan, em 1978, no Hospital Saint-Anne no serviço do professor


Deniker. Traduzida ao espanhol por Pablo Peusner (versão utilizada para a tradução ao
português).

2 Freud cita, em A interpretação dos sonhos (1900), o sonho de Alexandre Magno. A referência
remonta a Artemidoro de Daldis, que relata como Aristandro – pertencente ao séquito de
Alexandre durante o cerco à resistente Tiro – interpreta um sonho que teve Alexandre durante
os dias do sítio. Ele sonhou com um sátiro dançando sobre seu escudo. Aristandro,
provavelmente para animar Alexandre, interpreta o sonho fazendo uma divisão da
palavra Satyros: Sa Tyros, o que significa Tua é Tiro. (Nota do editor)

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