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ESTUDOS DE GRAMSCI.
Ramon Rodrigues Ramalho
“A regência (governo/ Regierung) não pode achar solução
alguma, pois é ela mesma o problema.” Rosa Luxemburgo
Lineamentos preliminares
1
Gramsci. Concepção Dialética da História. Pg11.
2
“Gramsci parte da afirmação de que o homem, pelo simples fato de ser homem, de ter portanto uma
linguagem, de participar do senso comum, de aderir a uma religião, ainda que na forma mais simples e
popular, é filósofo.” Gruppi, L. O conceito de Hegemonia em Gramsci. Pg66.
3
.Gramsci. Concepção Dialética da História. Pg12.
4
Gruppi, L. O conceito de Hegemonia em Gramsci. Pg67.
A pobreza é situação antagônica com a ordem vigente, que produz a desigualdade, mas
não se verifica, em geral, que estas pessoas em desvantagem material se colocam em condição
critica perante a ordem societária, mas sim, que a reproduzem.
Uma vez constatada a existência de consciências subordinadas, abre-se então a questão
da quebra desta subordinação.
O primeiro passo para que se resolva um problema é entender que ele existe. O primeiro
passo para se quebrar a hegemonia classista, burguesa, que rege e unifica a sociedade atual em
torno de certos interesses, é compreender que tal hegemonia efetivamente se manifesta.
Devemos tomar a sociedade em sua totalidade e enquanto uma totalidade. Percebendo-
se uma unidade de diferentes forças sociais e políticas, e a tendência de conservá-las juntas
através da concepção de mundo traçada e definida. Perceber, assim, enquanto categoria abstrata
cabível, uma vez que designa algo efetivamente verificável, a existência de um Bloco Histórico,
entendido enquanto a totalidade de fatores e agentes que caracterizam um momento histórico; os
arranjos da direção, a regência (Regierung), supremacia e dominância.
Em cada bloco histórico há a presença de uma hegemonia que mantém a coesão social
na heterogeneidade que a compõe. Entende-se hegemonia enquanto um conjunto de crenças e
idéias, de relações sociais e produtivas que conservam a unidade societária, do bloco histórico,
em torno de determinadas diretrizes e lineamentos paradigmaticamente centrais, como a
dominação de um grupo, uma classe, coalizando as condições socais que se apresentam. Jurar
honras ao trabalho e à necessidade de trabalhar, obedecer a ordem e a sociabilização vigente e
exigir o mesmo do outro – levar a diante a produção da vida tal como ela se apresenta
contemporaneamente; eis o trunfo duma hegemonia determinada que está inculcada e faz parte
de cada um de nós. “A hegemonia é isso: capacidade de unificar atrravés da ideologia de
conservar unido um bloco social que não é homogêneo, mas sim marcado por profundas
contradições de classe. Uma classe é hegemônica, dirigente e dominante, até o momento em que
– através de sua ações política, ideológica, cultural – consegue manter articulado um grupo de
forças heterogêneas, consegue impedir que o contraste existente enrte tais forças exploda,
provocando assim uma crise na ideologia dominante que leva à recusa de tal ideologia, fato que
irá coincidir com a crise política das forças no poder.” 5
Faz-se necessário, por fim, após a compreensão da existência de tal hegemonia,
compreender as possibilidades de sua superação, uma vez que as condições sociais que se
encontram atualmente apresentam evidente disparidade social, material, isto é, humanas, entre
os homens. Esta quebra da ideologia dominante é condição sine qua non para a superação da
sociedade baseada no capital, na qual a apropriação do mundo pelo homem se dá através da
propriedade individualizada, particular, cabendo aos desprovidos dos meios para sua realização
material, simplesmente vender sua capacidade de trabalhar, suas faculdades pscicomotoras,
enfim, a sua vida, para a exploração alheia.
Pode-se encontrar brechas na sociedade civil, uma vez que é nela que se encontram as
contradições no sistema social vigente, logo, na hegemonia.
Proletários criarem seus próprios intelectuais.
Criar um clima cultural que prepare a nova hegemonia (Anita Schlesener).
“Trata-se, portanto, de elaborar uma concepção nova, que parta do senso comum, mas
para criticá-lo, depurá-lo, unificá-lo elevá-lo, àquilo que Gramsci chama de bom senso, que é
para ele uma visão crítica do mundo.”6
5
Gruppi, L. O conceito de Hegemonia em Gramsci. Pg70.
6
Gruppi, L. O conceito de Hegemonia em Gramsci. Pg69. (grifos meus)
“Não é possível implementar um novo sistema de produção sem que se transforme a
concepção de mundo, os hábitos, os costumes, toda a vida dos trabalhadores e da sociedade em
geral.”7. Transformar a vida dos trabalhadores mesmo que não, num primeiro momento,
materialmente – eles ainda estarão sobre as regras de produção do capital – mas já fazendo-se
indagar sobre esta condição de mundo e construção da vida, levando-o, imediatamente, a pensar
em outras alternativas possíveis; levando-o, por fim, a libertar as suas possibilidades de
pensamento, a quebrar os preceitos que até então lhe pareciam universais e eternos. Primeiro:
esta busca, contudo, nunca se limita a esfera do pensamento apenas. a própria construção
especulativa de uma nova realidade já quer dizer que o indivíduo na prática já não se contenta
com as condições vigentes. Segundo: a busca pela transformação social, a existência de
elementos descontentes em seu seio, já altera a própria sociedade. O advento do comunismo,
inicialmente, de somente pensar o comunismo, foi um dos que mais transformou a sociedade
burguesa.
7
Schlesener, A. H. Hegemonia e Cultura: Gramsci. Pg25.