MENSAL

ANO XVIII
N.º 206
05/2018
€3.50
?ǕljNJDŽA

“Não vivemos à sombra dos louros

e não damos nada por garantido.”

DIMMU BORGIR KATAKLYSM GODSMACK

SEPTIC TANK SATANIC SURFERS AURA NOIR
 EDITORIAL
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

Ʋy   ƱƥƭƳ 

LOUD!

NA TERRA
Rua Carlos Mardel, 32 - 3.º Esquerdo
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O
que vemos quando imaginamos um país? Se pensarmos na Índia, o PUBLICAÇÃO MENSAL
mais certo é que a nossa mente se encha de cores vivas. Se pen- ISSN: 087-9531
sarmos em França, aquele aroma a pão quente estaladiço, pouca DEPÓSITO LEGAL: 152667/00
côdea e pouco miolo. A Austrália? Não há como não visualizar vas-
tas praias e desertos. Inglaterra? Chuva. Espanha? Tapas. Podíamos Registada na Entidade Reguladora para
a Comunicação Social sob o n.º 126774
estar aqui um parágrafo inteiro nisto. Há, no entanto, uma dessas
associações mentais que nos toca um bocadinho mais fundo. Isto TIRAGEM
porque, muitas vezes, a primeira coisa em que um estrangeiro pen- 15.000 exemplares
sa quando questionado sobre a Finlândia é o heavy metal. Sim, há
PROPRIEDADE
quem chute logo a sauna, os lagos e um frio desgraçado, mas a percentagem de gente
Pessoal do 13 – Publicações, Lda.
que menciona o “hevi”, como é conhecido naquelas paragens, é mesmo muito elevada. Até NIF: 510172342
UYERHS S UYIWXMSREHS RɩS KSWXE RIGIWWEVMEQIRXI HIWWI KɯRIVS IWTIGɳƤGS HI QɽWMGE S
que acaba por dizer tudo em relação à força da “marca”. DIRECTOR
José Miguel Rodrigues
É verdade que, no espectro em que nos movemos, seria inevitavelmente assim, mas [jmr@loudmagazine.net]
ETSWXS UYI WI Ƥ^ɯWWIQSW E TIVKYRXE E KVERHI TEVXI HSW RSWWSW PIMXSVIW TVSZɧZEQSW CHEFE DE REDACÇÃO
sem problema esta teoria. Quantos de vocês aí desse lado não pensaram já em, pelo José Carlos Santos
menos, umas duas ou três bandas desde que começaram a ler este texto? Amorphis. [jcs@loudmagazine.net]
Beherit. Impaled Nazarene. Children Of Bodom. Satanic Warmaster. Nightwish. Horna.
6ETXYVI ,-1 7EVKIMWX *MRRXVSPP &EVEXLVYQ )RƤQ WɩS ESW QMPLEVIW 1EMW UYI QYMXEW COLABORADORES

Pese o facto de ter sido divulgado há uns anos, de acordo com um mapa criado por um Carlos Guimarães, Emanuel Ferreira,
José Almeida Ribeiro, Luís Pires,
usuário do Reddit tendo por base os dados da Encyclopedia Metallum, os países com Luís Rattus, Marta Louro,
mais bandas de heavy metal per capita são todos países nórdicos gelados: Finlândia, Nelson Santos [ns@loudmagazine.net],
Noruega, Suécia, Islândia e, em menor grau, a Dinamarca. Na Finlândia há 53,5 bandas Pedro C. Silva, Pedro Pedra, Ricardo Agostinho,
de metal por cada 100.000 pessoas, na Suécia e Noruega, 27.2, e na Islândia, 22.7. Em Ricardo S. Amorim
comparação, os Estados Unidos e o Reino Unido, os países onde a tendência começou, FOTOGRAFIA
só atingem os 5.5 e 5.2, respectivamente. Catarina Torres, Estefânia Silva, Jorge Botas,
Pedro Almeida, Pedro Roque
É aceite de forma mais ou menos generalizada que a primeira banda de heavy metal criada
DESIGN
no país foram os Sarcofagus, que lançaram «Cycle Of Life», o disco de estreia, em 1980.
Joaquim Pedro
(IWHI IRXɩS S KɯRIVS JSM GVMERHS VEɳ^IW REW QEVKIRW HE MRHɽWXVME JSRSKVɧƤGE I HS KSWXS
QYWMGEP HSW ƤRPERHIWIW I E TEVXMV HSW W GSQIɭSY E EFVMV SW XIRXɧGYPSW TEVE E GSRUYMWXE ILUSTRAÇÕES
QYRHMEP *SM S UYI SW QɽWMGSW PSGEMW Ƥ^IVEQ HYVERXI QEMW HI YQE HɯGEHE E RɳZIP WSFVI- Bela Hilário, Stebba Ósk,
tudo, underground. Em 2006, deu-se o impensável, com a produção de peso daquelas pa- Pedro Silva
ragens a ganhar níveis de popularidade que, até então, ninguém ousava imaginar. Agora, as DEPARTAMENTO FINANCEIRO
opiniões dividem-se em relação ao que isso fez de bem ou mal à “cena” local, mas foi nesse Bernardo Serralha [bernardo.serralha@
ERS UYI E )YVSTE ƤGSY GLSGEHE UYERHS YQE FERHE TSYGS GSRLIGMHE GSQTSWXE TSV YRW loudmagazine.net], Pedro Oliveira
“monstros” estranhos, venceu o Festival Eurovisão da Canção com record de votos... E com [pedro.oliveira@loudmagazine.net]
um tema de heavy metal, num concurso tradicionalmente dominado pelo azeite habitual.
DEPARTAMENTO MULTIMEDIA
%PɯQ HI KEVERXMVIQ E TVMQIMVE ZMXɸVME HE *MRPɨRHME RE )YVSZMWɩS S UYI SW 0SVHM Ƥ^IVEQ JSM
Daniel Marujo
apresentar ao mundo o amor do país por um estilo musical visto como marginal. [daniel.marujo@loudmagazine.net]

Quando a banda vencedora retornou a casa, o primeiro-ministro Matti Vanhanen posou WEBDEVELOPER
com os “monstros” para uma foto e encantou os headbangers exibindo o sinal de “COR- Marco Morais
NOS!”. Nos anos seguintes, as bandas já internacionalmente famosas, estabeleceram [marco.morais@gmail.com]
YQE FEWI WɸPMHE TEVE E VITYXEɭɩS HS LIEZ] QIXEP ƤRPERHɰW I ETSMEHEW RYQE ZEKE HI IMPRESSÃO
QɽWMGSW QEMW RSZSW I IQ EWGIRWɩS XVERWJSVQEVEQ S ŰTIWSű RYQ HSW TVMRGMTEMW TVS- Jorge Fernandes, Lda.
HYXSW HI I\TSVXEɭɩS HE MRHɽWXVME QYWMGEP ƤRPERHIWE 5YIQ XEQFɯQ WEMY E KERLEV RS
QIMS HMWXS XYHS XIVɩS WMHS WIQ HɽZMHE EW RSWWEW IWXVIPEW HI GETE HIWXE IHMɭɩS  DISTRIBUIÇÃO
Não que os Amorphis estivessem a precisar de um empurrão extra naqueles anos, a fase VASP
mais “morna” do seu percurso já estava ultrapassada, mas pelo menos devem ter ganho
A LOU(IWGVIZIHIEGSVHSGSQEERXMKESVXSKVEƤE
alento para continuarem a manter a sua carreira na mó de cima. E com um bom gosto
assinalável, como prova «Queen Of Time».

4 LOUD!
ÍNDICE

#206
FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM 40

DIMMU BORGIR 42

AMORPHIS 4

NOTÍCIAS
POR NELSON SANTOS
O
s CRUZ DE FERRO acabam de
lançar uma edição exclusiva em
vinil, de título «Imortal», encabeça-
da pelo tema retirado do álbum «Morre-
remos De Pé» de 2015. O novo vinil de
12” é um ítem para coleccionadores com
selo da Non Nobis Productions, incluin-
do uma versão de «A Lenda De El-Rei
D. Sebastião», composto por José Cid
e originalmente lançado pelo Quarteto
1111 em 1967. O lado B deste disco com
artwork de Samuel Lucas inclui uma ver-
WɩS WIQMEGɽWXMGE HI m+PɸVME %S 6I]| I
a demo HIm*ɽVME(MZMRE|)RUYER-
XS Nɧ TVITEVE QɽWMGEW TEVE YQ JYXYVS
álbum, o grupo tem alguns festivais já
agendados, como sejam o Laurus Nobi-
lis Music e o XI Milagre Metaleiro.
2
5 anos depois, é lançada uma nova
versão do álbum de estreia dos
LULU BLIND. Esta edição come-
morativa de «Dread» tem a chancela da
Rastilho e surge agora com novo artwork
e os treze temas remasterizados. Foi o
ɽRMGS HMWGS TVSHY^MHS TIPS QEPSKVEHS
Zé Pedro e ressurge agora numa edição
limitada de 500 unidades em vinil colo-
rido. Formados em 1990, os Lulu Blind
IQIVKMVEQ GSQ QɽWMGSW SVMYRHSW HE
cena punk lisboeta, incluindo Pedro Filete
na guitarra e na voz e Tó Trips na guitar-
ra que, de resto, também verá a Rastilho
editar uma nova prensagem do álbum «A
Bunch Of Meninos» dos seus Dead Com-
bo neste mês de Maio.
“C
loser To The Edge» é o título do
novo álbum dos SON OF CAIN,
a sair este mês com edição
partilhada entre a Ragingplanet e a Half
Beast Records. É o segundo trabalho da
proeminente dupla nacional formada
por Alexandre “NH” Mota dos Corpus
Christii, A Tree Of Signs, Morte Incan-
 LOUD!
FOTO: ROBERTO RAPOSO
PLAYLISTS
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES
HENRIK PALM – Many Days
MESSA – Feast For Water
MØL – Jord
SEPTIC TANK – Rotting Civilisation
WRECK AND REFERENCE – Alien Pains
JOSÉ CARLOS SANTOS
FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM – Hóstia
WAX FANG – La La Land
YOB – Our Raw Heart
WEATHERED STATUES – Borderlands
BODY VOID – I Live Inside A Burning House
CARLOS GUIMARÃES
JUDAS PRIEST – Firepower
KAMELOT – The Shadow Theory
ANGRA – Ømni
THERION – Beloved Antichrist
DEATHLESS LEGACY – Rituals Of Black Magic
5101(%#+0
RICARDO AGOSTINHO
WAYFARER – World’s Blood
ANNA VON HAUSSWOLFF – Dead Magic
PRIMORDIAL – Exile Amongst The Ruins
descente e Storm Legion, entre outros, e
por Hugo “Boss” Conim dos Dawnrider, YOB – Clearing The Path To Ascend
AT THE GATES – Slaughter Of The Soul
Dragon’s Kiss, Patrulha Do Purgatório e
Legion Of The Sadists. Foram antecipa-
dos, em escuta online, três temas, dos
PEDRO ROQUE
quais «Hit The Road» dá, desde logo, o GRIEF – Miserably Ever After
mote para o excelente artwork que Ricar- TOTALITÄR – Sin Egen Motståndare
do Reis criou para este sucessor do EP HANK WOOD AND THE HAMMERHEADS
«Low Life 69» de 2016. – Hank Wood And The Hammerheads
DEATH SIDE – Bet On The Possibility
WREKMEISTER HARMONIES – The Alone
Rush
A
Equilibrium Music acaba de lan-
çar o terceiro álbum dos URZE DE
LUÍS RATTUS
LUME, banda dark folk que “repre- SNIFFING GLUE – Red Light District
senta uma homenagem ao passado, ins- THE MEMBERS – Uprhythm, Downbeat
pirada nas tradições ibéricas”. «As Árvores THE DAMNED – Tales From The Damned
Estão Secas E Não Têm Folhas” inclui HÜSKER DÜ – Eight Miles High
doze novas composições guiadas por gui- GATANS LAG – Låt Mig Stanna Tre Dagar
XEVVEEGɽWXMGEIVEFIGEGSQVIGYVWSEKEM- I Himmelen Innan Djävulen Vet Att Jag Är Död
tas e vários instrumentos antigos de cor-
das. Este sucessor do EP do ano passado,
m:S^IW2E2IFPMRE|ɯSWIKYRHSIɽPXMQS OS TOPS DO
capítulo de uma ode ao Outono. Com in-
XVɳRWIGE PMKEɭɩS ɦ REXYVI^E E QɽWMGE HS
quarteto evoca os tempos em que o ho-
mem respeitava a terra, o oculto e as suas
origens. Estão planeadas algumas actua-
ções ao vivo para os próximos meses.
S
ete anos após o álbum de estreia, o 10 MELHORES DISCOS DOS
projecto WISTFUL acaba de lançar
o seu segundo álbum, de título «Me- AMORPHIS
tempsychosis». Falamos de post metal/
blackgaze interpretado por um homem 01. Tales From
só, no caso Alex Clément, actual membro The Thousand Lakes
de entidades como Sonneillon BM, Nefret 02. Elegy
e Ishkur. Neste novo trabalho mantêm- 03. Tuonela
-se as ambiências atmosféricas e quase
04. Eclipse
desaparece a componente vocal. Wistful
tem sido um projecto estritamente de es- 05. Queen Of Time
XɽHMS QEW S QɽWMGS HS 4SVXS TVIXIRHI 06. The Karelian Ishtmus
recrutar elementos para tocar ao vivo. A 07. Am Universum
edição é da chinesa Pest Productions. Os
08. Silent Waters
sete temas deste sucessor do disco ho-
mónimo de 2011 estão indexados de I a 09. Skyforger
VII, em numeração romana. 10. Under The Red Cloud
FESTIVAIS EM 2018

FOTO: PEDRO ALMEIDA

O QUE É NACIONAL (TAMBÉM) É BOM

O
panorama de concertos pesados em Portugal está vivo e
recomenda-se. E nem só de grandes nomes da cena in-
ternacional se fazem os cartazes que levam gente a sair
de casa, um pouco por todo o país. São já muitos os eventos
HI SJIVXE EVXɳWXMGE UYEWI I\GPYWMZEQIRXI TSVXYKYIWE VIƥI\S
da crescente qualidade das nossas bandas e de organizações
GEHEZI^QEMWTVSƤWWMSREMWRSWIMSHSTVɸTVMSYRHIVKVSYRH9Q
desses exemplos é o Casaínhos Fest, que acaba de revelar o
alinhamento para a edição deste ano, a decorrer a 1 de Setembro
no Campo de Futebol daquela freguesia no concelho de Loures.
Bizarra Locomotiva, Ramp, Heavenwood e Hills Have Eyes se-
rão presenças fortes num evento em franco crescimento, a que
WINYRXEQSW6EWKS:MVEPEXE&EGOƥMT%VXMKS-RJVEOXSV'SR-
trasenso e Take Back!. Um mês depois, a 5 e 6 de Outubro, o
Pinhal Novo recebe mais um Festival Bardoada & ACJOI, onde
se destacam os Bizarra Locomotiva, The Parkinsons, Simbiose,
Besta, Serrabulho, Kandia, Grankapo, Dapunksportif, entre mui-
tos outros. Mais cedo, já a 2 de Junho, Lordelo será quase uma
convenção transmontana de rock e tatuagens, no III Ink n’ Roll,
encabeçado pelos Holocausto Canibal, WAKO e R.D.B.. Uma se-
mana depois, no Masmorra Fest II, em Almada, destacam-se os
Filii Nigrantium Infernalium, ao lado dos Perpetratör e Summon.
A 3 de Novembro, a Malveira acolhe o Oeste Underground III
com os Analepsy, Hourswill, Serrabulho e Prayers Of Sanity, ao
lado de muitas outras bandas lusas, bem como dos britânicos
Repulsive Vision e dos gregos Warhammer.
$+<#44#.1%1/16+8#
 STUDIO REPORT

ASIMOV
apenas com uma guitarra e uma bateria, po-
dendo concentrar-nos não só em explorar
mais dos nossos instrumentos, sem que
fosse demasiado evidente que era só uma
guitarra e uma bateria, como também em
nível de composição. Assim, algo que grave-
mos pode ser mais facilmente replicado ao
vivo. Algumas das músicas dos álbuns ante-
Isaac Asimov (1919-1992) foi um escritor e bioquímico riores não são possíveis tocar em duo, pois
em gravação têm os vários elementos que
americano, nascido na Rússia, “apenas” um dos maio- compõem um álbum, baixo inclusive.”
TGUPQOGUFCNKVGTCVWTCFGƓEȖȒQEKGPVȜƓEC1U#5+/18 Estes concertos marcaram uma pausa nas
UȒQWOCDCPFCPCEKQPCNFGUVQPGTŬCRGPCUŭWOCFCU gravações de «Flowers», o tal quarto lon-
ga-duração do colectivo, que a LOUD! pôde
mais interessantes do panorama nacional, a espalhar escutar parcialmente, num momento em
que ainda não é certo que todos os temas
música psicadélica pelo mundo desde 2011 e já com gravados integrem o trabalho. Os mais
VTșUȐNDWPU(QOQU FGUEQDTKT Q RTȡZKOQ EXIRXSW Nɧ XIVɩS SYZMHS m7LEQER 7EGVMƤ-
ce», disponível no Bandcamp dos Asimov,
EMANUEL FERREIRA PEDRO ROQUE mas sob o nome Asimov And The Hidden
Circus, versão quinteto do colectivo em que
se juntam à violoncelista Joana Guerra e ao
“Os Asimov começam como duo porque, dois concertos, interrompendo as grava- guitarrista Pedro Madeira (ou Peter Wood),
em vez de enveredar pelo processo de pas- ções do quarto longa-duração do grupo. que tem também dado concertos a solo
sar por vários elementos até arranjarmos “O formato duo tem as suas limitações e com as suas composições. Esta encarna-
o ‘certo’, decidimos avançar um pouco por cremos que, a seguir ao «Truth», atingimos ɭɩSTVIWIRXIREɽPXMQEIHMɭɩSHS6IZIVIR-
quem estava disponível. Ou seja, eu e o João o nosso limite como duo,” continua o Car- ce, irá actuar a 25 de Maio no Sabotage,
Arsénio, baterista. Sempre tivemos na mira los. “Daí a tocarmos com mais gente, seria IQ 0MWFSE IWXERHS TPERIEHS XSGEV QɽWM-
tocar com mais gente, mas nunca encontra- YQTEWWSPʬKMGSIXMZIQSWSEGEWSHIƼREP- cas do álbum com a banda completa, con-
mos pessoas que nos parecessem ‘certas’.” mente encontrarmos um baixista no Rodrigo JSVQIS'EVPSWRSWGSRƤVQE3HMWGSIWXɧ
É assim que Carlos Ferreira, vocalista e Vaz, que era guitarrista dos The Blue Drones. com edição planeada para Outono/Inverno
guitarrista dos Asimov, nos apresenta esta Com mais músicos, há a possibilidade de HIWXI ERS EMRHE WIQ IHMXSVE GSRƤVQEHE
formação de trio em palco, que em inícios experimentar um pouco mais e de sermos “Estamos contentes com a relação com
de Abril se deslocou até Porto e Viana para mais livres, do que do que quando contamos a editora mas decidimos só pensar nesse

 LOUD!
assunto seriamente quando tivermos o
TVSHYXSƼREPTVSRXSEETVIWIRXEVűEƤVQE
o vocalista.

Voltando à Joana Guerra, violoncelo e

stoner poderá parecer uma combinação
estranha, mas tudo surge de um modo na-
tural, explica-nos o “Sr. Asimov”. “A Joana é
uma amiga nossa de longa data, com dois
álbuns a solo e participações em vários pro-
jectos. Já há alguns anos que falávamos
em tocar juntos e experimentar ver como
soaria, mas ainda não tinha sido possível
alinhar agulhas. Desta vez, tivemos o ma-
terial certo para ‘encaixar’ um violoncelo e
conseguimos arranjar um estratagema em
que seja possível termos horário e calendá-
rio para podermos tocar e gravar com ela.” A
agenda de todos os envolvidos nem sempre
possibilita a versão de quinteto, por isso
quando tal não seja possível, então aí será
Asimov e será só o trio.

Para lá das malhas já disponibilizadas no

YouTube, a celebratória «The Seeker» e a já
VIJIVMHEm7LEQER7EGVMƤGI|E039(EMRHE
escutou outros temas, numa sessão que
arrancou com «Head Phoenix», um belo
instrumental, gravado ao longo do tempo,
QEWIQUYIEFEXIVMEƤGSYGSRGPYɳHERYQ
só take, conforme sublinha o guitarrista. “A
primeira vez que o João ouviu nos headpho-
nes, tocou logo a bateria e depois a Joana
gravou o violoncelo. Só agora estamos a ex-
perimentar com takes directos, mas sempre
gravámos directo, primeiro o baixo, depois
a bateria, guitarra, vozes, overdubs. Como
os nossos meios são um bocado arcaicos,
acabámos por desenvolver a sensibilidade
que hoje temos e acho que resulta. Não es-
XEQSWTVISGYTEHSWIQXIVSWSQQEMWHIƼ-
nido do mundo, mostramos o que somos na
vida, acho eu.” Há em Asimov um misto de
LSRIWXMHEHIIWMQTPMGMHEHIUYIWIVIƥIGXI
no resultado dos temas, não que sejam tão
simples quanto isso, mas pelo menos apa-
rentam ser. Para o novo registo, produção e
mistura levam a assinatura Asimov And The
Hidden Circus, sendo o local de gravação o
IWXɽHMS>EQFME
“Como os nossos meios são um bocado
arcaicos, acabámos por desenvolver
a sensibilidade que hoje temos e acho
que resulta. Não estamos preocupados
em ter o som mais definido do mundo,
mostramos o que somos na vida, acho eu.”
«May Forever Be Today» é algo mais psych
soft rock, inspiração Barrettiana, mais pró-
ximo da estrutura de canção, menos explo-
ratório, como nos explica Carlos: “Quando
começámos a idealizar o álbum, a nossa
ideia era fazer algo mais calmo, com elemen-
tos mais acústicos. Sendo como somos, tal
não aconteceu por enquanto. No entanto,
sempre tivemos a ideia de ‘canção’ como a
«She’s Heading West» nos nossos álbuns.
Creio que o importante é a dinâmica quan-
do se ouve um disco, desse modo há espaço
para ‘canção’ e para ‘exploração’. De momen-
to, o que está gravado é o que nos foi mais
prático de concluir para o tempo que temos
para compor, ensaiar e gravar. Os temas que
ainda falta gravar talvez sejam os mais desa-
ƼERXIWHSTSRXSHIZMWXEHEGETXEʡʝS:MWXS
que prezamos uma estética mais arcaica,
quanto mais alinhado estiver tudo antes de
gravar, melhor.” Já «The Curtain» foi gravado
num só take, um instrumental tão elementar
quanto catchy, e um dos melhores resulta-
dos desta gravação, que aos três minutos
possui um pormenor de guitarra que lhe
confere um colorido exótico e lhe dá um ca-
rácter hipnótico. «The Shallow Man» é mais
um dos temas gravados, com uma ambiên-
GMENYWXMƤGEHETSVXIVWMHSKVEZEHSREKEVE-
gem da banda. O processo de gravação é
sumariamente descrito: “A matéria-prima da
mistura já lá está, depois é só mais graves ou
agudos. Montamos a bateria, depois coloca-
mos os microfones de forma a captar tudo
para as pessoas ouvirem. Usamos um Okta-
va MK-219 de fabrico russo, a jóia da coroa
da captação, um microfone de condensador,
que na nossa opinião é muito versátil. Às ve-
zes, colocamos no meio da sala para gravar,
usamos outros truques, mas não vamos es-
tar a contar tudo… A nossa bateria, o que se
ouve é o som dela a ressoar, não é só a pan-
cada. Se o amp fez feedback antes de tirar
EUYIPIWSPSIEXʣƼGEFIQTEVEUYʤGSVXEV#
Foi assim que saiu.” GSRGPYMSQɽWMGS“Usa-
mos logo o melhor som de captação, se soa
rough, é porque é!”

LOUD! 9

BASALTO
'TCWOCXG\WOXKUGGPUGWOCȖQTKCPQ
GWODTCUKNGKTQ2QFKCEQOGȖCTCUUKOC
JKUVȡTKCFQU$CUCNVQVTKQFG8KUGWSWGVGO
GOk&QGPȖCzQUGWUGIWPFQNQPICFWTCȖȒQ
ormar uma banda em Viseu não é
F fácil, aparentemente, conforme nos
conta António Baptista, guitarrista
dos BASALTO. “Não é mesmo. Mesmo as-
sim, hoje em dia tornou-se um bocadinho
mais fácil, tem aparecido malta nova a tocar
e isso tem feito com que comecem a apa-
recer algumas bandas de diferentes estilos.
Difícil, ainda, é encontrar pessoas para géne-
VSWIWTIGʧƼGSW1EWSTIWWSEPNʛZEMIRGSR-
trando com quem fazer testes e até surgem
daí projectos novos, que tentamos explorar.”
O guitarrista lá encontrou ele próprio as
pessoas certas eventualmente, formando
este trio com o baixista Nuno Mendonça e
João Lugatte na bateria. Juntos lançaram
o álbum homónimo, em Maio de 2016, e já
em Fevereiro deste ano, «Doença», um título
aberto a interpretações. “Quando ouvirem o
álbum, as pessoas vão interpretar de forma
diferente, podem pensar em doença física,
mental, ou da própria forma como a humani-
dade está doente, ou a sociedade e a falta de
 LOUD!
valores, ou então o estado de espírito,” expli-
ca. Produzido em regime DIY, o grupo con-
tou com ajuda de amigos. “Pessoas que nos
ajudam: o meu tatuador fez o artwork, por
exemplo,” enaltece o António. “Há sempre
um amigo que dá dicas, outro que tem con-
tacto sobre onde fazer o CD, malta que tem
“ Mantemos o espírito live, sempre
de procurar e experimentar.“
lojas onde o coloca à venda. Sermos nós a
tratar de tudo não torna o projecto mais fácil,
mas torna-o mais nosso. Dá-nos aquele gos-
tinho, fazer as coisas assim. Também não
vou dizer que vai ser sempre assim, mas até
agora ainda não apareceu alguém que nos
faça mudar este processo.” Este espírito de
colaboração prolonga-se para lá do trio, até
à Fora do Rebanho, associação em que par-
ticipam e que tem dado algumas cartas na
região, pois como nos explica, “é uma Asso-
GMEʡʝS'YPXYVEPWIQƼRWPYGVEXMZSWUYIENYHE
a dinamizar a cidade de Viseu no que toca
a toda a música alternativa, desde a banda
mais pesada de metal até ao rock/blues
mais ligeiro. Existe há cinco anos e temos
eventos mensais que vão variando de estilo
mês após mês. Basicamente temos ajuda-
do o interior a ter mais ‘movimento’ com as
melhores condições possíveis. Somos um
grupo de pessoas que não quer deixar esta
cidade adormecer!”
2S &ERHGEQT SW &EWEPXS HIƤRIQWI
como “stoner with metal and doom over the
edge”, mas questionado, António admite
XIVZɧVMEWMRƥYɰRGMEWŰTemos três pessoas
distintas na banda. O João, por exemplo,
ʣ FVEWMPIMVS XIQ YQE MRƽYʤRGME JSVXI HE
América do Sul, é muito mais aberto em
termos musicais”. O que une o trio, mais
UYISQIWQSKSWXSTIPEQɽWMGEɯEZSR-
tade de fazer algo diferente. Logo no início
perceberam que ia ser difícil ser unânime.
“Mas todos estávamos de acordo em remar
contra a maré, sentimo-nos bem em ser di-
ferentes,ű VIQEXE HIWEƤERXI S KYMXEVVMWXE
Quando se escuta qualquer um dos dois
XVEFEPLSW TIVGIFIWI FIQ UYI E QɽWMGE
é deixada correr livre, sem grandes preo-
cupações em construção de temas, um
certo espírito de jam session, embora com
características diferentes. “Não é uma jam
pura,” explica o António. “Mas mantemos
o espírito live, sempre de procurar e expe-
rimentar. Como somos nós que gravamos,
optámos por gravar por partes. Também
produzimos, era a primeira vez e tivemos
HMƼGYPHEHIWXʣGRMGEWUYIJSVEQHMJʧGIMWHI
ultrapassar. Resolvemos gravar por takes,
mesmo mantendo o sentido live. Ao vivo,
vai soar igual. Por exemplo, onde há leads
de guitarra, não há guitarra ritmo por baixo,
pois somos apenas três.” As faixas são nu-
meradas, em romano, com as do segundo
álbum a retomarem a ordem onde o ante-
rior tinha terminado. “Esta opção partiu dos
ensaios, um pouco por brincadeira. Como
as nossas músicas não têm letra, come-
çámos a numerar cada uma. Este disco é
acompanhado de um texto escrito por um
amigo nosso, Martim Sousa, mas não é
nenhuma letra. As vozes que gravei, nes-
te «Doença», são vozes sem letra, apenas
para criar um layer sobre aquele momento
de música. Sentimos que num dado ponto,
precisava de uma voz gutural e metemos
essas vozes. No primeiro disco, nem isso
existia e começou aquela necessidade de
tocar a um, a dois, e foi assim que surgiu a
numeração e no segundo disco, seguimos
esse conceito. No futuro, iremos ver se há
necessidade de mudar.” ='(?
INVERNO
ETERNO
Uma das melhores bandas de black metal
nacionais vai-se juntar para um último
EQPEGTVQ#PVGUFKUUQVKXGOQUVGORQRCTC
WOCȦNVKOCGPVTGXKUVCVCODȘO
É
já no próximo dia 26 de Maio, no RCA
Club em Lisboa que “a sombra vai aca-
bar sem ser”, para parafrasear o lema
dado ao evento que vai ter lugar. Será o con-
certo de despedida dos INVERNO ETERNO,
FERHE XSXEPQIRXI ɽRMGE RS TERSVEQE HS
black metal português desde o seu apare-
cimento, já inactiva há alguns anos, mas
que decidiu aproveitar a efeméride do déci-
mo aniversário de «Póstumo», o seu disco
HI IWXVIME TEVE WI NYRXEV YQE ɽPXMQE ZI^
em palco. “A ideia foi surgindo não de uma
forma tão palpável, isto é, não no sentido de
‘vamos dar um último concerto’... falando por
mim, foi quase uma necessidade, um achar
que algo estava incompleto, que não tinha
sido enterrado devidamente,” explica-nos o
vocalista Nada em relação ao concerto que
vai ainda ter a companhia dos Black Howling
e dos Gaerea. “Havia algo que em mim não
estava em paz com isto, pela forma abrupta
com que tinha sido ‘encerrada’. Na altura o
desfecho deveu-se ao esgotar de toda a mi-
nha energia, ao facto de Inverno Eterno me
ter drenado por completo. Dei tudo o que ti-
nha, e isso começou a afectar todos de cer-
to modo. Na altura foi como a frase de Neil
Young: ‘it’s better to burn out than to fade
away’. Passados dois anos, a necessidade
de querer encerrar condignamente aquele ca-
pítulo começou a vir novamente ao de cima,
e as ideias foram surgindo, até se chegar à
sugestão deste concerto, tendo o mote do
«Póstumo» fazer dez anos. Falámos e todos
acederam para que isto pudesse acontecer; o
meu obrigado a eles por permitirem que isto
se pudesse realizar e pelo esforço de todos
para que fosse concretizável.” É-nos revela-
do que não será só o «Póstumo» o visado
no concerto, que incorporará um misto dos
HSMWɧPFYRWEMRHEGSQQɽWMGEWUYIRɩSJS-
ram editadas. “Teremos alguns convidados,
iremos transcender os discos e a marca dos
dez anos que atinge. Iremos dar tudo o que
temos nos 75/80 minutos de set, tudo o que
se acumulou nestes anos será expurgado de
vez,” revela ainda o vocalista de forma emo-
cional. O guitarrista P. Teixeira completa a
ideia, em relação ao sentimento que a banda
tem em relação a esta grande noite que se
avizinha: “Tal como disse o Nada, penso que
WINEYQQMWXSHIXYHSƉEƼVQEƈ)RXYWMEWQE-
dos por voltarmos a tocar juntos, e também
preocupados porque, como último concerto,
terá de ser um grande concerto, terá de ser
dos melhores.”
)Q EPXYVE HI HIWTIHMHE ƤREP Lɧ WIQTVI E
tendência para fazer um balanço. Não acha-
VɩS IWXIW QɽWMGSW UYI SW -RZIVRS )XIVRS
teriam merecido um bocadinho mais de
atenção e de preponderância durante o seu
percurso? “Compreendo a tua pergunta, e
falando pela nossa parte, foi assim que as
coisas se foram desenrolando, num pequeno
círculo,ű VIƥIGXI S 2EHE ŰAo início foi uma
opção nossa, mas mesmo quando isso dei-
xou de ser uma questão para nós, e as coisas
JSVEQƽYMRHSTSVWMEGLSUYIRʝSWIJSMQYM-
to mais longe, se calhar seria uma questão
de tempo para que tal acontecesse. O mais
importante, a meu ver, é que havia pessoas
que gostavam do nosso trabalho, que nos
acompanhavam e apoiavam nos vários con-
certos, fossem eles em Faro ou em Braga, em
Beja ou no Porto, em Lisboa ou em Aveiro.
Isso foi de facto algo indescritível, algo que
nós agradecemos de forma imensa, sincera,
e de coração. Sentir que havia pessoas que
WI MHIRXMƼGEZEQ GSQ S UYI JE^ʧEQSW UYI
nos acompanhavam na ‘angústia’ e ‘des-
graça’, essa foi a melhor e mais honesta re-
compensa que poderíamos ter tido.” Apesar
de se darem todos muito bem, conforme
garante o P. Teixeira entre risos, os Inverno
)XIVRSXIVɩSEUYMSWIYTSRXSƤREP(MXSMWXS
há continuidade de outras formas. Todos
os membros da banda estão envolvidos
noutros projectos, nomeadamente Artnis
(que já têm álbum de estreia gravado), os
“Tudo o que
se acumulou
nestes anos será
expurgado de vez.”
regressados Bowelism (“Estamos a compor
músicas novas, a apanhar antigas, a formação
antiga voltou, e agora o J. Vitorino está na ba-
teria,” revela P. Teixeira), e… Foreste, que serão
XEPZI^SWƤPLSWIWTMVMXYEMWHSW-RZIVRS)XIVRS
“A ideia surgiu para ‘fugir’ ao pensamento de se
voltar a Inverno Eterno,” diz o Nada. “Falei com
o J. Vitorino, ele mostrou interesse e come-
çou a fazer umas músicas. Depois falei com o
%RHVʣHSW&PEGO,S[PMRKIEUYMPSƼGSYEMRHE
melhor. [risos]%GLIMUYIEMRHETSHMEƼGEVQEMW
completo com o P. Teixeira e com o J. Teles,
falei com eles, mostraram interesse e aos pou-
cos começaram-se a construir as coisas, aos
poucos e muito lentamente. Para quem quiser
ouvir um esboço de algumas músicas, poderá
visitar o nosso Bandcamp.” =,%5?
LOUD! 
 TOXIKULL
(C\GORCTVGFCGPȘUKOCXCICFGVJTCUJ
PCEKQPCNGQPȦENGQFWTQUȒQFQKUKTOȒQU
.GZ6JWPFGTG/KEJCGN$NCFG
#UUKOOGUOQ
respeito dos nomes, há realmente
A qualquer coisa de comic book hero
nestes rapazes de Cascais que for-
mam a alma dos TOXIKULL. Lex, irmão
mais velho, explica: “Como estou nos Mi-
dnight Priest e lá têm nomes artísticos, re-
solvi trazer a ideia para aqui. Era para ser
Lex Steel mas fui investigar e era também
o nome de um actor negro de gay porn, o
que não dava muito jeito.” Blade, também
“O thrash nunca irá
ter a dimensão de
antigamente, mas
por outro lado, o que
se faz agora é mais
místico.”
guitarrista, completa: “Adaptámos isso
aos Toxikull e também porque temos no-
mes complicados para um estrangeiro pro-
nunciar.” Irmãos no metal não é novidade,
há os Van Halen, o Vinnie e Dimebag dos
Pantera, mas normalmente em pares de
guitarra e bateria. Aqui os dois empunham
 LOUD!
a guitarra, mas para Lex, é algo natural.
“Comecei a tocar guitarra desde cedo e
GSQS WSY QEMW ZIPLS TEVIGI UYI Ƽ^ YQ
bom trabalho e ensinei aqui o pequenote,
que agora é maior que eu,” explica entre
risos. De facto, Lex começou bem novo
REQɽWMGESUYIPLITVSZSGSYHMWWEFSVIW
com uma banda, terminando expulso e a
formar o seu próprio grupo, em gesto de
raiva. “Estava a começar, num grupo cha-
mado All In e a dar os primeiros passos.
Não sabia mesmo cantar, e depois de um
concerto correram comigo, só que a for-
ma de o fazerem foi estranha. Criaram um
grupo no Facebook e convidaram amigos
para escreverem que me queriam fora da
banda. Fiquei revoltado, também era puto,
aí com uns quinze anos, aquela raiva de
quando a namorada acaba contigo. E pron-
to, criei os Toxik Room.” Toxik Room é a
banda anterior, um pouco amadora, onde
tocavam covers. “Fixei a formação com
o Antim, The Viking, e o David, The Lorke,
bem como com o Leandro Sandmaster que
agora não está na banda. Todos quería-
mos trabalhar para aquilo e surgiu a ideia
de lançar um álbum. Já que era algo mais
a sério mudámos de nome, e como gosto
HINSKSWHITEPEZEWƼGSY8S\MOYPPʈtoxic
skull, mas uma só palavra, pois achamos
que as bandas com uma só palavra têm
mais impacto.” Blade complementa: “Vê o
Big Four, todas só de um nome, é o melhor
caminho sem dúvida.” A referência ao Big
Four é natural, sendo eles thrashers, mas
porquê este revivalismo? “Tem a ver com
EW RSWWEW MRƽYʤRGMEW TSMW GSQIʡʛQSW E
ouvir heavy metal por aí. Metallica, depois
cenas mais heavy como Judas Priest,űEƤV-
ma Blade. Lex concorda: “Passa um pou-
co por aquilo que ouvimos, sim. Thrash,
speed, agora estamos mais numa maré
de heavy, Judas Priest… Também vamos a
bandas de hoje em dia como Enforcer, Evil
Invader, por aí fora.”
Há que explicar que na formação original
dos Toxikull, Blade ainda não estava pre-
sente, sendo o lugar, como já referido, ocu-
pado por Sandmaster, hoje nos Okkultist.
Entretanto, Lex ocupa o lugar de vocalista
nos Midnight Priest desde 2013, tendo
gravado «Midnight Steel», o trabalho do
ano seguinte. Quanto a Toxikull, depois da
estreia, em 2016, com «Black Sheep», este
novo título, «The Nightraiser», é “apenas”
um EP. “8IRXʛQSW HIƼRMV YQE IWXVEXʣKME”
explica Lex. “O disco anterior era um pouco
mais hard rock, um heavy mais soft. Este
é um bocado diferente, no tipo de som, na
composição. Não queríamos passar logo
para um álbum diferente do anterior, agora
que temos um som dentro do speed metal.
Por isso vamos tentar habituar as pessoas
com este EP e só depois partimos para o ál-
bum.” A respeito da popularidade do thrash,
Lex acha que não está a esmorecer. “Ainda
há nomes novos a aparecer e a gravar dis-
cos do estilo. O thrash nunca irá ter a dimen-
são de antigamente, mas por outro lado, o
que se faz agora é mais místico, só chega
a essas bandas quem está mesmo no un-
derground, é mais puro. Há muita gente que
gosta de bandas porque é moda e nem co-
nhece as músicas. Hoje em dia é diferente,
tens de gostar para estares presente no un-
HIVKVSYRHʈQEMWFSRMXS” ='(?
VIOLATION
WOUND
/CKUWOOșUOCKUWOFKUECȖQEQO
Q%JTKU4GKHGTV0KPIWȘOHC\WOCGUVȐVWC
ao homem?
D
esde Dezembro de 2017 que são já
três os lançamentos com o dedo do
QɳXMGS QɽWMGS RSVXIEQIVMGERS 'LVMW
Reifert. A fechar o ano passado, um EP es-
trondoso da sua banda de sempre, os Au-
topsy, «Puncturing The Grotesque». Em Fe-
ZIVIMVSJSQSWWYVTVIIRHMHSWTIPEQEKRɳƤGE
estreia dos Painted Doll, duo de homenagem
ao rock psicadélico dos anos 60 e 70, que
Chris partilha com o comediante Dave Hill.
Agora, para voltar a endurecer a questão, o
habitual baterista/vocalista sai de trás do kit
e volta a pegar na guitarra, para dar continui-
dade ao mau gosto evidenciado na estreia
auto-intitulada dos VIOLATION WOUND, de
2014, com o novo «With Man In Charge». São
vinte descargas brutais de crust/punk meta-
lizado em 34 minutos que não vão deixar
nada em pé após a sua passagem. Como é
que há cabeça para isto tudo? “Gosto de vos
ajudar a manterem-se em actividade,” ri-se o
Chris, quando lhe dizemos logo no princípio
da conversa que tem tido piada entrevistá-lo
quase todos os meses. “Sinceramente não
sei como isto tudo aconteceu tão rapida-
mente, mas sim, manter-me ocupado é es-
sencialmente aquilo que tenho feito. Não sou
bom em muito mais coisas que não sejam
castigar a minha voz e vários instrumentos,
TSVMWWSQEMWZEPIETVSZIMXEVRʝSʣ#%ZMHEʣ
curta e não me apetece nada desperdiçá-la
a fazer coisas que não me apetece, e é me-
lhor estar ocupado do que sentado à espera
que as coisas aconteçam. Gotta rocka rolla!”
Realmente, não há como discutir com isso.
Será que, por alturas de 2013, quando os
Violation Wound apareceram, já havia a ideia
de que viriam mais discos e mais concertos
a caminho nos anos seguintes? “Eh pá, ‘por
alturas de 2013’ soa mesmo estranho, parece
que foi noutro dia,” diz o talentoso norte-a-
mericano, também ele já chegado à idade
em que tudo parece que aconteceu noutro
dia. “Mas é verdade, já faz cinco anos que
decidimos começar esta coisa, e continua-
mos fortes. Estamos na Peaceville, vamos
tocar no Maryland Deathfest, é tudo muito
entusiasmante. Nada disto estava escrito
em plano nenhum, escusado será dizer, mas
LSRIWXEQIRXIIWXEZEGSRƼERXIHIUYIʧEQSW
ser uma banda badass, e mantenho-o!”
“A motivação é principalmente deixar
rasgar e criar música punk hardcore
que eu ache que seja altamente.”
Badass é uma boa forma de descrever a
javardeira que se ouve no disco novo, de
facto. A posição da banda também é inte-
ressante, assumindo-se totalmente contra
“a porcaria moderna, plástica e segura que
passa por punk” hoje em dia. “Bom, a moti-
vação é principalmente deixar rasgar e criar
música punk hardcore que eu ache que seja
altamente,űWMQTPMƤGES'LVMWWIQKVERHIW
merdas. “Felizmente conhecia pessoal que
também curtia este tipo de coisa, nomea-
damente o Joe Orterry e o Matt O’Connell,
baixista e baterista respectivamente. Não
começámos a banda como uma rebeldia
contra nenhuma dessas coisas, mas queria
que as pessoas soubessem o que é que não
iríamos ser. E mesmo que quiséssemos ter
penteados marados como essas bandas
modernas, acho que não dava, somos todos
uns sacanas carecas!” Para além do trio de
base, há ainda alguns ilustres convidados
no álbum, como o referido Dave Hill, par-
ceiro de Chris nos Painted Doll, ou Athenar,
dos bem conhecidos Midnight. “O Athenar
é um bom amigo, até tocámos com os Mi-
dnight no nosso primeiro concerto,” expli-
ca o Chris. “Por isso quando estávamos a
KVEZEVSʛPFYQEGLʛQSWUYIIVEƼ\IXVE^ʤ-
-lo, juntamente com o Dave, para fazerem
umas cenas giras. Felizmente ambos esti-
ZIVEQ TEVE MWWS 3 (EZI ʣ YQ EƼGMSREHS
de caos sonoro e está sempre pronto para
o barulho!” Em relação à mudança para a
guitarra, e como habitualmente, o homem
não está propriamente preocupado. “Claro
que é diferente para mim, estou à frente do
palco e não atrás como é costume, mas já
toco guitarra desde 1983, só que nunca o
tinha feito numa banda a sério até ter os
Violation Wound. Tem sido essencialmente
para efeitos de composição nos Autopsy.
Mas gosto de me poder mexer mais em
palco e ver as pessoas do público. Normal-
mente só tenho luzes nos olhos e o resto da
banda à minha frente. Resumindo, tem sido
altamente.” Até parece fácil! =,%5?
LOUD! 
 FIVE FINGER DEATH PUNCH
FAÇA-SE
JUSTIÇA
1UPQTVGCOGTKECPQU(+8'(+0)'4&'#6*270%*
RTGRCTCOUGRCTCGFKVCTQUGWUȘVKOQTGIKUVQFG
QTKIKPCKUk#PF,WUVKEG(QT0QPGz1FKUEQLȐGUVȐ
ITCXCFQJȐSWCUGFQKUCPQUOCUWORTQEGUUQLWFKEKCN
EQOCGFKVQTCHG\EQOSWGQNCPȖCOGPVQHQUUGCFKCFQ
#IQTCSWGGUVȐƓPCNOGPVGRTQPVQRCTCUGTOQUVTCFQ
CQOWPFQHCNȐOQUEQOQDCVGTKUVC,GTGO[5RGPEGT
SWGPQUEQPVQWVWFQUQDTGGUVCPQXKFCFG
JORGE BOTAS
 LOUD!
Como vão as coisas, Jeremy?
Está tudo bem. Estamos a preparar-nos para
uma digressão, por isso estamos a aprender
XIQEWRSZSWIEEƤREVEPKYRWHIXEPLIWIWXɧ
tudo a correr bem!
Em relação ao novo disco «And Justice
For None», como se sentem em relação
a ele?
Este disco já está feito há algum tempo e
IWXEQSW WEXMWJIMXSW TSV ƤREPQIRXI S TSHIV
partilhar com as pessoas. Quando fazes um
novo álbum, isso acaba por ser uma imagem
daquele momento, do que sentes naquela
altura, da tua vida pessoal... e temos muito
SVKYPLS HS UYI Ƥ^IQSW HIWXE ZI^ )WXEQSW
sempre a pensar à frente, sempre a pensar no
que vamos fazer a seguir, e já estamos a viver
com este disco há tanto tempo... é certo que
para a maioria das pessoas é uma novidade,
I IWXEQSW I\GMXEHSW TSV TSHIV ƤREPQIRXI
partilhar este trabalho, mas como disse, já
estamos a pensar no que fazer a seguir.
Quando terminaram as gravações deste
disco?
Inicialmente terminámos em Dezembro de
2016... acho eu! [risos] Depois tivemos o pro-
cesso em tribunal com a editora, que está
documentado online, onde basicamente es-
távamos legalmente sob contrato, e tivemos
de ultrapassar esse processo. Depois de
tudo resolvido, tivemos de gravar mais umas
canções para colocar no disco e por isso ti-
ZIQSWHIZSPXEVEIWXɽHMS1EWNɧIWXEZEXIV-
QMREHS Lɧ EPKYQ XIQTS I ƤREPQIRXI IWXɧ
pronto para sair, depois de ultrapassadas as
questões legais. Acho que ambos os lados
estão satisfeitos, querem seguir em frente e
colocar todo o esforço na promoção deste
novo disco.
2IWXIɧPFYQƤ^IVEQYQEZIVWɩSHIYQHSW
meus temas preferidos fora do universo
do metal. Estou a falar, claro, de «Blue On
Black» do Kenny Wayne Shepherd. Porque
decidiram gravá-la?
Normalmente é o Ivan [Moody, vocalista] que
apresenta os temas que gostava de gravar,
e é também um grande fã do tema. Nós
também sempre gostámos mas pensámos
que, se íamos fazer uma versão desse tema,
tínhamos que lhe dar um toque Death Punch
IXSVRɧPSɽRMGS 7IEGEFɧWWIQSWTSV JE^IV
YQEZIVWɩSMKYEPɦSVMKMREPRYRGEƤGEVMEXɩS
boa, na minha opinião, porque normalmen-
te o artista original é que acerta em cheio!
[risos] Nós queríamos que soasse à nossa
banda e acho que o Ivan fez um excelente
trabalho, e é também uma das minhas prefe-
ridas neste disco.
Por falar no Ivan, sabemos que os últimos
dois anos têm sido bastante complicados
para ele... Como tem sido a reabilitação e
como está a situação neste momento?
O Ivan está actualmente num estado de es-
pírito como talvez nunca o tenha visto. Ele
está cheio de vontade de trabalhar, está em
grande forma e tem treinado todos os dias.
É bom ter o Ivan, a pessoa, de volta, perce-
bes? Por isso, estou muito orgulhoso dos es-
forços dele... todos estamos orgulhosos! Sei
que mentalmente ele está num bom lugar,
está entusiasmado para regressar à estrada
e também está ansioso para que este disco
seja editado, tal como nós. Todos estamos
ansiosos para voltar ao activo.
Neste disco, liricamente, o Ivan vai com
tudo no tema «Sham Pain»... seja a falar so-
bre os media, editoras...
É isso que podemos esperar sempre do Ivan.
)PI HM^ S UYI TIRWE WIQ ƤPXVS ?VMWSWA ɔ YQE
das coisas que mais gosto nele, e todos nós
gostamos, ele diz o que sente. Ele não quer sa-
ber o que tu sentes, é uma forma de libertar o
que está dentro dele. Acho que é uma aborda-
gem honesta. Acho que podes sentir nas letras
e no som o que está a sentir naquele momen-
to. Ele fez um grande trabalho neste disco!
Há também outros temas muito interes-
santes como o «Fake», «I Refuse» ou «Rock
Bottom»... achas que os fãs vão sentir a
mensagem?
%GLSUYIWMQ2YQEQɽWMGEGSQSEm*EOI|
consegues sentir aquela raiva e emoção. Acho
que é uma boa forma de começar o disco, e
dá o mote para o resto que vem a seguir. Acho
que vai ser um tema também muito bom ao
vivo e, eventualmente, também de abertura
nesse contexto, porque é essa a nossa ideia
neste momento. Tem muita energia, muita
raiva, e vai ser divertido!
Com a digressão prestes a começar e com
um disco para promover, vai ser fácil esco-
lher um alinhamento?
Nós tentamos honrar cada álbum. Quere-
mos dar aos fãs um pouco de cada um de-
les e ainda tentamos promover o novo. Não
queremos tocar o álbum novo todo porque
EWTIWWSEWEMRHERɩSSGSRLIGIQWYƤGMIR-
temente. Já vi artistas fazerem isso, mas
desejo sempre que pelo menos toquem al-
guns temas mais conhecidos de quando eu
era novo! [risos] Nós tentamos equilibrar as
coisas, com uma surpresa aqui ou ali, mas
já descobrimos a melhor maneira de fazer
as coisas: tocamos temas que as pessoas
já pediram no passado e pelo meio incluí-
mos alguns temas novos. Mas é um bom
problema ter muitos temas que as pessoas
pedem e ser difícil de escolher quais é que
vão ser incluídos.
ɔ ZIVHEHI UYI ESW HI^EWWIXI ERSW EFVMW-
te um concerto para os Pantera com a tua
banda antiga?
É verdade, com os Cornucopia Of Death! [ri-
sos] Eles eram a minha nova banda favorita
da altura e estavam a começar a dar cartas
IQXSHSPEHS2EZIVHEHIJSMRSɽPXMQSIW-
pectáculo da digressão do «Cowboys From
Hell», no meu estado natal de Indiana, eles
tocaram em Indianapolis num pequeno clu-
be. Lembro-me do soundcheck ao início do
dia e o Dimebag estava de lado no palco a
ver-nos a tocar um tema muito rápido. No
ƤREP IPI Wɸ HM^ME ŰToquem mais rápido! To-
quem mais rápido!“ Foi um momento muito
cool TEVE RɸW 2S ƤREP HE RSMXI HIQSWPLI
uma t-shirt da nossa banda e depois vimos
uma foto dele na revista Metal Maniacs com
ela vestida. Foi um dos momentos altos da
minha adolescência.
Actualmente moras em Las Vegas, onde
lamentavelmente ocorreu aquele ataque no
ano passado. Estavas lá quando o tiroteio
aconteceu?
Felizmente não estava. Estava em digressão
com a banda, e ouvimos as notícias como
todas as pessoas... começámos logo a ligar
à nossa família e aos nossos amigos. Feliz-
mente as pessoas mais próximas de mim
estavam todas bem, mas foi uma coisa hor-
rível e espero que não se repita em mais lado
nenhum, nunca mais!
“É um bom
problema ter
temas que as
pessoas pedem
e ser difícil de
escolher quais
é que vão ser
incluídos nos
concertos.”
Tu que cresceste numa casa de artistas –
TEM IWGVMXSV I QɩI EGXVM^ŷ 'SQS ɯ UYI XI
tornaste num baterista de heavy metal?
Tudo começou por causa dos Kiss. Estava
tão embrenhado nas capas dos discos que
não conseguia parar de olhar para elas, na
altura eram a cena mais cool que alguma
vez tinha visto. A minha avó comprou-me
um kit de bateria muito pequeno na Sears e
que deve ter custado uns 80 dólares. Nes-
se momento, tornei-me um elemento dos
Kiss. Só pensava: “Eu estou nos Kiss e é isto
que vou fazer!”
E sendo grande fã dos Kiss, se tivesses que
escolher um tema, qual seria?
Essa é uma pergunta complicada. Sabes.
Talvez a «Detroit Rock City».
Eu quando era mais novo passava o tempo
em frente ao espelho, com a língua de fora,
a pensar que era o Gene Simmons. [risos]
8SHSW RɸW Ƥ^IQSW MWWS %PMɧW IY EMRHE
faço. [risos]
LOUD! 
 SATANIC SURFERS

O PUNK(ROCK)
NÃO ESTÁ MORTO!
3WCPFQUGIQUVCOGUOQGHGTXKNJCPCUXGKCUȘFKHȜEKNPȒQ
XQNVCT(QKRTQXCXGNOGPVGQSWGUGPVKTCOQU5#6#0+%
574('45PQƓPCNFGSWCPFQUGTGWPKTCOCRȡUQKVQ
Rodrigo &SQ LSRIWXEQIRXI ƤUYIMEXɯWYV-
CPQUFGUKNșPEKQ/CKUWOCUXQNVCURGNQOWPFQSWGLȐ preso pela própria reunião. Isto não estava
EQPJGEKCQUGWGPȘTIKEQRWPMTQEMFGOGNQFKCUXKEKQUCU sequer na minha mente, muito menos um
álbum novo.
GGKUSWGUGITCXCWOPQXQȐNDWOQUȘVKOQk$CEM(TQO Andy: Quando demos as primeiras entrevis-
*GNNzVTC\FGXQNVCQITWRQUWGEQGORNGPCHQTOCGRTQPVQ tas, reparámos que todos os repórteres per-
KYRXEZEQ TSV QɽWMGE RSZE EPKS UYI RIQ
RCTCQSWGFGTGXKGT4C\ȣGURCTCWOCEQPXGTUCEQOQXQ- sequer tínhamos discutido dentro da banda.
ECNKUVC4QFTKIQ#NHCTQGEQOQDCKZKUVC#PF[&CJNUVTȤO Mas o Rodrigo tinha alguns riffs, que se tor-
naram em dezassete temas. [risos]
NELSON SANTOS Rodrigo: Sim, eu até comecei a escrever
algum deste material antes mesmo de
termos decidido fazer a reunião. Mal vol-
Como surgiu a ideia da reunião, há uns Andy: O Magnus [Blixtberg, guitarrista] ligou- XɧQSW E XSGEV ƤUYIM QEMW MRWTMVEHS QEW
anos? Já queriam reactivar os Satanic Sur- -me certo dia, quando estava à espera para a princípio não foi planeado para ser um
fers há mais tempo, ou foi mesmo o convite ensaiar com uma outra banda, a perguntar novo álbum dos Satanic Surfers. Estava só
TEVE YQ JIWXMZEP UYI JI^ E FERHE NYRXEVWI se eu estava interessado em pegar no baixo a fazer uns riffs, a tentar organizar umas
de novo em 2015? outra vez. E aqui estamos. Fiquei empolga- QɽWMGEW I KVEZIM EPKYQEWdemos na minha
Rodrigo: Basicamente, quando recebemos do a partir do momento em que ele me fez cave. Acho que assim que começámos a
a proposta para tocarmos no Montebello a pergunta. XSGEV NYRXSW XSHE E KIRXIƤGSYGSQTMGEI
Rockfest, no Canadá, eu tinha acabado de tudo encaixou.
sair dos Atlas Losing Grip. Uma vez que os Na altura, já tinham a intenção de compor
outros membros estavam numa de nos reu- e gravar material futuro, ou a ideia era sim- O título «Back From Hell» pretende ter algu-
nirmos, pensámos – porque não? Pode ser plesmente reunir a banda para um punhado ma relação com o vosso primeiro EP «Skate
engraçado. de concertos? To Hell»? Passaram por alguma espécie de

 LOUD!

inferno entre 2007 e a reunião? Ou, obvia-
mente, é porque são “satânicos”?!
Rodrigo: É um pouco pela primeira razão,
sim. Um amigo meu, o Mattias Persson, saiu-
-se com o título enquanto íamos a caminho
de um concerto com a nossa banda Ursut.
Estávamos a conversar sobre os anos que
passei nos Atlas Losing Grip, este regresso
com Satanic Surfers e, uma vez que o nosso
primeiro registo de sempre foi o «Skate To
Hell», «Back From Hell» seria o título perfeito.
Até porque, de certa forma, estávamos a ten-
tar captar algum desse feeling e a energia e a
inocência dos primeiros anos.
5YEMW JSVEQ EW VE^ɺIW Nɧ EKSVE TEVE S
TVIQEXYVS ŰƤQű HE FERHE TSYGS XIQTS
após lançarem o álbum anterior, «Taste
The Poison»?
Rodrigo: Toda a gente que estava no gru-
po, nessa altura, andava envolvida com
outras bandas e cenas na vida. E, para ser
brutalmente honesto contigo, não parecia
que alguém estivesse a dar aos Satanic
Surfers alguma prioridade, portanto, decidi
UYIEWGSMWEWƤGEZEQTSVEPM)WXEZEJEVXS
Andy: A energia já lá não morava e não está-
vamos para tocar mais, a não ser que sen-
tíssemos a coisa totalmente. Nessa noite,
HITSMW HI IY HIM\EV E FERHE ƤUYIM QYMXS
sentimental. Bebi demais e parti a louça toda
com os Disrupt com o volume no máximo.
Entretanto, o que é que têm feito musical-
mente, para além de voltarem com os Sa-
tanic Surfers?
Rodrigo: Muita coisa. Tenho estado sem-
pre activo numa carrada de bandas mais
pequenas aqui da zona. Toquei bateria du-
rante alguns anos nos Kontrovers e depois
nos Ursut com alguma da mesma malta.
Cantei e toquei bateria nos Widespread
Bloodshed e numa banda hardcore chama-
da Quick Fix, e também toquei guitarra nos
Necrovation, banda de death metal. Isso
JSM QYMXS Ƥ\I 4IWWSEP I\GIPIRXI I YQ HI-
WEƤS TEVE QMQ %MRHE XSUYIM FEXIVME GSQ
os Venerea durante alguns anos e compus
e gravei um álbum com os Enemy Allian-
ce, ainda por editar. [risos] Estive nos Atlas
Losing Grip, toquei bateria nos Sulphurous,
uma banda dinamarquesa de death metal…
esta lista podia continuar! Mas as minhas
principais bandas, actualmente, são Sata-
nic Surfers e Maligner, uma cena death/
thrash onde também sou baterista.
“Acho que o punk/hardcore melódico
UWGEQLȐVGOFGƓPKVKXCOGPVGWO
capítulo na história do rock.
E é fantástico que muitas das bandas
ainda estejam activas.” – Andy Dahlström
Andy: Eu também tenho feito bastante mas,
sobretudo, baixo nos Satanic Surfers, guitar-
ra nos Sista Sekunden, bateria nos Terrible
Feelings e, ultimamente, embarquei numa
narcisística carreira a solo que dá pelo deli-
cado nome de Andy The Band.
Reparo que já tocaram bastante em Espa-
nha nesta nova reencarnação, desde logo
com o Resurrection Fest em 2015 e acabam
HI JE^IV YQE TIUYIRE HMKVIWWɩS TIPS TEɳW
Fala-nos desses shows e, já agora, não deu
para vir um bocadinho mais para este, até
Portugal?...
Andy: Os concertos em Espanha, incluindo
a Galiza, País Basco e Catalunha, foram
QEKRɳƤGSW 8IQSW ZMRHS E WIV QYMXS FIQ
acolhidos de volta por todos os fãs e es-
tamos muito gratos por isso. Mas sim, de-
víamos ter tocado em Portugal. Qualquer
promotor daí está à vontade para contactar
o nosso agente Mutti – ou o David, em Es-
panha – ofereçam-nos uma proposta que
não possamos recusar. [risos] Lembro-me
que tocámos em Lisboa em 2006 com os
Pennywise e foi selvagem!
Curiosamente, os Pennywise acabam de
lançar um novo disco, tal como vocês.
O punk (rock melódico) não está morto!
Essa banda e os Bad Religion, por exemplo,
continuam a ser algumas das vossas princi-
pais referências?
Rodrigo: Hummm… sempre curti Bad Re-
PMKMSR 1EW GSQS TVMRGMTEP MRƥYɰRGME RɩS
GSRWMKSETSRXEVYQEFERHE7SYMRƥYIRGME-
HSTSVXSHEEQɽWMGEHIUYIKSWXS)MWWS
equivale a um grande espectro de estilos.
Tudo desde cantautores, country fora-da-lei,
rock sulista, rock alternativo, alguma electro,
hard rock, heavy metal, thrash/death/black
metal, grindcore, hardcore, punk rock… Gos-
to do que gosto, independentemente do
género, seja underground ou mainstream.
E tudo me toca, de certa forma. Mas não
vou esconder que a minha maior inspiração
enquanto compunha o «Back From Hell» fo-
ram os RKL. Foram sempre uma inspiração
e um dos meus favoritos no género.
Andy: Os RKL são, indiscutivelmente, a me-
lhor banda de sempre. Já roubei algumas
cenas aos Bad Religion e aos Good Riddance
também, mas quem nunca o fez?
Os Satanic Surfers, os No Fun At All e os
Millencolin, só para nomear alguns, ainda
por cá andam. Acham que o punk-skate-ro-
ck sueco também já deixou a sua marca na
história do rock com tudo o que vocês têm
feito ao longo dos anos?
Andy 7MQ WIQ HɽZMHE 2S SYXVS HME IWXEZE
a ouvir Millencolin no Spotify e reparei que a
QɽWMGE QEMW XSGEHE HIPIW XIQ GIVGE HI 
milhões de plays. Acho que é a «No Cigar».
É de loucos! Poucas bandas do seu calibre
XɰQ IWWIW RɽQIVSWŷ RIQ QIWQS SW 23*<
Mas sim, acho que o punk/hardcore melódi-
GS WYIGS Nɧ XIQ HIƤRMXMZEQIRXI YQ GETɳXYPS
na história do rock. E é fantástico que muitas
das bandas ainda estejam activas hoje. Sin-
to-me orgulhoso por fazer parte disso.
Isto é para continuar? Ou seja, esta reunião
e álbum são para manter os Satanic Surfers
por perto por muito mais anos, ou ainda não
estão totalmente certos disso nesta altura?
Rodrigo: Enquanto estivermos a passar um
bom bocado e a curtirmos a nossa compa-
nhia, tenho a certeza que vamos continuar.
Estamos a manter as coisas num nível que
sirva todos os membros da banda. Não há
pressão sobre ninguém. Não temos de fazer
coisas que não queiramos. E já tenho tone-
ladas de material novo composto, portanto,
espero que façamos mesmo mais edições!
Andy: É para continuar. Vamos fazer mais
QɽWMGE RSZE I ZEQSW XSGEV FEWXERXI Man,
temos tanta cena excitante na forja, que é
melhor nem começar… Fiquem atentos.
LOUD! 
 GODSMACK
#RQKCFQUPWOCGZVGPUCNKUVCFGUWEGUUQUEQOGTEKCKU

IDADE IWKVCTTCUGUOCICFQTCUGTGHTȒGURGPUCFQURCTCUGTGPVQCFQU
em uníssono, os GODSMACK transformaram-se num dos
PQOGUOCKUHCEKNOGPVGTGEQPJGEȜXGKUFCIGTCȖȒQPWOGVCN
&GRQKUFGXȐTKQUCPQUFGFKITGUUȣGUKPKPVGTTWRVCUCDCPFC

DO GPVTQW GO JKCVQ G PC UGSWșPEKCFGWORGTȜQFQSWGUGTXKWPȒQ

Uȡ RCTC FGUECPUCTGO OCUVCODȘORCTCEQNQECTGOCXKFCGO
RGTURGEVKXC XQNVCTCO RQTƓOCQCEVKXQGO3WCVTQCPQU

ROCK FGRQKU GUVȒQ FG TGITGUUQCQUȐNDWPUEQOk9JGP.GIGPFU4KUGz

SWG ť UGIWPFQ Q NȜFGT G frontmanFQITWRQFG$QUVQP5WNN[
Erna – marca o início de um novo capítulo no seu percurso,
FWCU FȘECFCU FGRQKU FGVGTGONCPȖCFQCGUVTGKCJQOȡPKOC
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES

 LOUD!
Achas que o «When Legends Rise» pode cho-
car alguns dos vossos fãs mais acérrimos?
Não sei, mas é possível que isso aconteça,
de facto. Há coisas neste álbum que vão, de
certeza, apelar aos seguidores de longa data
dos Godsmack... O disco tem várias canções
directas, canções que estão cheias de bons
riffs e refrães potentes. No entanto, desta vez
também experimentámos ideias que, pro-
vavelmente, não ousaríamos sequer testar
quando gravámos os primeiros álbuns e isso
poderá, certamente, ser um choque para to-
HSWEUYIPIWUYIIWXEZEQɦIWTIVEUYIƤ^ɯW-
semos mais um disco semelhante a todos os
UYI Ƥ^IQSW RS TEWWEHS 8VEFEPLɧQSW TSV
exemplo, pela primeira vez com alguns com-
positores externos à banda e acho que isso
XVSY\IYQEGIVXEJVIWGYVEɦRSWWEQɽWMGE.ɧ
o tinha feito no «Hometown Life», o meu se-
gundo álbum a solo, mas era algo que nunca
tínhamos feito no contexto dos Godsmack.
)TSVUYIɯUYIHIGMHMVEQJE^ɰPSRIWXEEPXY-
ra da vossa carreira?
Não é que me sinta desinspirado ou algo
desse género, mas basicamente senti – sen-
timos todos, aliás – que estava na altura de
expandir um pouco a nossa sonoridade. Foi
por isso que decidimos colaborar com o John
Feldmann e o Erik Ron – que são dois com-
positores fantásticos – e também com o Clint
Lowery, dos Sevendust, que é um amigo nosso
HIPSRKEHEXEIXIQYQESVIPLEQYMXSEƤREHE
para a melodia. E sim, respondendo ainda à
tua primeira questão, isso pode fazer-nos per-
der alguns fãs pelo caminho. Estes temas são,
WIQHɽZMHEQEMWGSQIVGMEMW2SIRXERXSKSW-
to sempre de pensar que, se perdermos um
fã antigo, podemos ganhar uns vinte novos.
Acho que temos essa capacidade... Daqui a
uns dois ou três anos, podemos fazer as con-
tas e ver se o saldo foi positivo ou não. [risos]
5YIV HM^IV UYI S SFNIGXMZS TEVE S RSZS ɧP-
bum era reinventarem o vosso som?
Esse foi precisamente o objectivo a que nos
propusemos desde o início – antes sequer de
termos escrito uma nota que fosse. Para nós
seria muito fácil, talvez até demasiado, con-
tinuar a escrever o mesmo disco, por assim
dizer, ano após ano. O problema é que vamos
ter sempre os mesmos resultados e isso não
nos interessa, porque vamos estagnar e deixar
de crescer. Isso seria meio caminho andado
TEVESƤQTEVEWIVLSRIWXS2ɩSQIMQEKMRS
a querer continuar a fazer isto se não puder
estabelecer novas metas e novos objectivos.
Portanto, a partir deste ponto vamos tentar
sempre reinventar o nosso som, o visual e o
espectáculo em palco. Se tudo correr bem,
vamos conseguir criar uns novos Godsmack a
GEHEZI^UYIKVEZEVQSWQɽWMGERSZE
Notas que, há semelhança do que aconteceu
contigo, o público também está a mudar?
7IQHɽZMHE(IWHIUYISRSWWSTVMQIMVSHMW-
GS JSM IHMXEHS Lɧ ZMRXI ERSW S TɽFPMGS HSW
Godsmack mudou muito. Felizmente, hoje
em dia há toda uma nova geração que está
a começar a descobrir-nos. Sei que muita
gente vai achar estranho que eu diga isto,
mas de certa forma não foi assim tão posi-
tivo termos lançado o primeiro álbum naque-
la altura. O nu-metal estava em alta e, como
JE^ɳEQSWQɽWMGETIWEHEGSQVIJVɩIWSVIPLY-
dos e melodias, a imprensa colocou-nos logo
aquele rótulo. E, por um lado, isso foi óptimo,
não o nego. Fartámo-nos de vender discos,
tivemos muito sucesso e, provavelmente, não
seríamos a banda que fomos hoje se aquele
álbum não tivesse sido editado naquela al-
tura. Por outro lado, foi uma merda, porque
nós nunca fomos uma banda de nu-metal e
ƤGɧQSWTEVEWIQTVIEWWSGMEHSWEYQVɸXYPS
que acabou por tornar-se pejorativo. É óbvio
que, com o passar dos anos, as pessoas co-
meçaram a perceber que o que fazemos é,
para pôr as coisas nos termos mais simples,
LEVHVSGO)MWWSɯƤ\ITSVUYIIYRYRGEUYMW
ser categorizado de forma estanque e este
novo álbum é mais um passo decisivo para a
nossa emancipação.
“É fantástico pensar que a carreira dos
Godsmack já dura há mais de duas dé-
cadas, mas acho que ainda não estamos
onde queremos realmente estar.”
Como sentes que a tua música tem evoluído
ao longo dos anos?
Acho que a maior diferença é mesmo o facto
de estar mais velho. Já não sou aquele jovem
irritado que costumava ser. Os anos passaram
e, agora, estou muito mais velho... Tenho a mi-
RLEƤPLEILɧYRWERSWƤ^EPKYQEWQYHERɭEW
drásticas na minha vida, afastei-me de tudo o
que era negativo, por isso estou num lugar bas-
tante melhor. Na verdade, se pensar bem nisto,
já não há muita coisa que me deixe realmente
MVVMXEHSTSVMWWSEQɽWMGEUYIJEɭSEKSVEIZS-
luiu também nesse sentido. Apesar de estar
tudo um pouco mais brilhante e um pouco me-
lhor, não vou começar de um dia para o outro a
IWGVIZIVGERɭɺIWWSFVIƥSVIWIEVGSɳVMWQEW
o novo álbum tem uma mensagem mais posi-
tiva e acho que isso vai fazer com que tenha
também mais potencial comercial.
Este ano comemoram-se vinte anos da edi-
ção do vosso álbum de estreia. Têm planos
para assinalar a efeméride?
Sinceramente, não. Não quero, aliás, falar
muito acerca disso. Não sou propriamente
uma pessoa nostálgica e não quero correr se-
quer o risco que isso ofusque o novo álbum.
Este ano e o próximo vão ser passados na es-
trada, a tocar estes temas novos. É nisso que
me quero focar agora. Daqui a uns cinco anos
talvez façamos alguma coisa nesse sentido,
mas os meus planos não passam por perder
muito tempo a revisitar o passado.
Preferes olhar para a frente que para trás,
é isso?
Basicamente é isso, de facto. É fantástico
pensar que a carreira dos Godsmack já
dura há mais de duas décadas, mas acho
que ainda não estamos onde queremos
realmente estar. A minha vida como artista,
GSQSQɽWMGSXIQWMHSYQEPYXEGSRWXER-
te para tentar fazer sempre melhor que no
ɽPXMQS ɧPFYQ TEVE XIRXEV EPGERɭEV RSZSW
níveis e objectivos. Além disso, sinto que
ainda temos muito trabalho a fazer pela
frente, e provavelmente é por isso que não
me faz sentido estar a perder tempo a re-
visitar coisas que já estão feitas. Ainda há,
por exemplo, países onde nunca estivemos
e sinto que precisamos de tocar lá para ex-
pandirmos a nossa base de fãs. A verdade é
que há sempre algo que estamos ansiosos
por fazer, coisas novas que nos vão man-
tendo muito entusiasmados. Estamos, sem
UYEPUYIVHɽZMHERYQETSWMɭɩSGSRJSVXɧZIP
e muitíssimo gratos por tudo o que atingi-
mos, mas também não queremos sentir-
-nos demasiado confortáveis, percebes?
5YERHS YQ QɽWMGS WI WIRXI HIQEWMEHS
GSRJSVXɧZIP ƤGE TVIKYMɭSWS HITSMW UYER-
HS ƤGE TVIKYMɭSWS GSQIɭE E ERHEV TEVE
trás. E se há algo de que tenho a certeza
nesta altura da minha carreira, é que quero
continuar sempre a andar para a frente.
LOUD! 
 
FILIPE
CORREIA
[CONCEALMENT /
WELLS VALLEY]
Assim que a LOUD!
me fez o convite
para compilar
a mixtape fui imediatamente
MRZEHMHSTSVYQEMRƤRMHEHIHITSWWMFMPMHEHIW
– discos, temas e compositores, ocorreram-me os mais
HMZIVWSWIHMZIVKIRXIWIPIQIRXSWQEWWIRHSVIEPMWXEWEFME
UYIRɩSMVMEGSRWIKYMVMRGPYMVXYHS2SQIEHEQIRXIFERHEW
UYIEHSVS7IMUYIIWXEIWGSPLEHIXIQEWIɧPFYRWRɩSZEMWIV
JIMXETEVEXSHSWSWSYZMHSWIKSWXSWQEWEVVMWGSIHIWEƤSEW
vossas mentes a trespassarem para esta dimensão sónica.
LADO A
Voivod
k2U[EJKE 8CEWWOz
[Dimension Hatröss, 1988]
A primeira banda que me ocorre conseguiu provar ao
PSRKS HE WYE GEVVIMVE UYI EƤREP RɩS I\MWXIQ PMQMXIW
TEVE E GVMEXMZMHEHI I UYI S QIXEP XEQFɯQ TSHI WIV YQ
KɯRIVS QYWMGEP EVVSNEHS I ZERKYEVHMWXE 3W :SMZSH
ETSRXEVEQ YQ RSZS GEQMRLS TEVE XSHE YQE ZEKE HI EVXMWXEW UYI HIEQFY-
lava à procura do “je ne sais quoiű UYI WMQTPIWQIRXI RɩS I\MWXME RSW JSVQE-
XSW GSRZIRGMSREMW HS KɯRIVS
Ved Buens Ende
k+ 5CPI (QT 6JG 5YCPUz
[Written In Waters, 1995]
3 TVMQIMVS GSRXEGXS UYI XMZI GSQ SW :IH &YIRW )RHI
HIYWI RS ERS HI  I EGSRXIGIY GSQ E QEUYIXE
m8LSWI ;LS 'EVIWW 8LI 4EPI| (IWHI IRXɩS ƤUYIM WI-
KYMHSV HE WSRSVMHEHI HIWXIW RSVYIKYIWIW I S m;VMXXIR
-R ;EXIVW| ɽRMGS PSRKEHYVEɭɩS UYI KVEZEVEQ ɯ YQ XVEFEPLS VITPIXS HI GE-
QEHEW EXSREMW I TVSKVIWWɺIW VɳXQMGEW UYEWI PMXɽVKMGEW 9Q HMWGS UYI TSWWYM
XERXS HI IXɯVIS GSQS HI WMRMWXVS
Scott Walker
k,QNUQP #PF ,QPGUz
[The Drift, 2006]
%Xɯ SYZMV S m8LI (VMJX| RɩS WEFME UYI IVE TSWWɳZIP XVERW-
JSVQEV YQ TIWEHIPS EXIVVEHSV IQ QɽWMGE QEW S 7GSXX
Napalm Death
k(CUVKPI1P&GEGRVKQPz
[Fear, Emptiness, Despair, 1994]
)WXIHMWGSɯUYEPUYIVGSMWE(EQɽWMGEESGSRGIMXS
PɳVMGSUYIɯGSQSYQKVMXSHIEPIVXEɦMRGSRWIUYɰRGME
GSQTSVXEQIRXEPHSWIVɯYQɧPFYQTSWWYMXSHSWSW
IPIQIRXSWGLEZIHEFERHEHIWHIEI\XVIQMHEHIIPIQIRXEVHSm7GYQ|EXɯɦ
WSPMHI^IWXVYXYVEPHSm,EVQSR]'SVVYTXMSR|EGSTPERHSEZIMEI\TIVMQIRXEPI
MRHYWXVMEPHSI\KYMXEVVMWXE.YWXMR&VSEHVMGO
)QFƔGUJ
k%JTKUVDCKV4KUKPIz
[Streetcleaner, 1989]
)TSVJEPEVRSQIWXVI&VSEHVMGOEUYMWIKYISWIYTVSNIG-
XSQEMWEGPEQEHS)WXIWIRLSVɯMRGERWɧZIPIETVIWIRXE
QYMXEUYEPMHEHIREWWYEWEFSVHEKIRWQYWMGEMWũEWYE
PMRKYEKIQɽRMGEWIVZIHIMRWTMVEɭɩSTEVEQYMXSWEVXMW-
XEWHIRXVSIJSVEHSKɯRIVS4IWWSEPQIRXIXIRLSYQGEVMRLSIWTIGMEPTSVIWXI
HMWGSHIZMHSɦWYEGSQTSWMɭɩSZMWGIVEPITSHIVSWEUYITSVWMREPɯZMGMERXI
LADO B
Swans
k*CNH.KHGz
[Cop, 1984]
4SVQEMWEFWYVHSUYIZSWTEVIɭEWɸGSRLIGMSW7[ERW
IQHYVERXIYQEWIWWɩSHS039((.(ITSMWHMWWS
JYMMRZIWXMKEVEJYRHSIWXEFERHEIEHSVIMSXVEFEPLSHIPIWɔYQHEUYIPIWHMWGSW
UYIRSWJE^XIVEUYIPEWIRWEɭɩSUYIEƤREPIQNɧWIJE^MEQGSMWEWQIWQS
QYMXSTIWEHEW(ITSMWHISYZMV7[ERWREɳRXIKVETIVGIFMUYIIVEQEFEWIHI
QYMXEWFERHEWUYIQIMRƥYIRGMEVEQITEWWIMEKSWXEVEMRHEQEMWHIPIW
Blut Aus Nord
k6JG%JQKT1H6JG&GCFz
[The Work Which Transforms God, 2003]
8EQFɯQGSRLIGMSW&PYX%YW2SVHXEVHMEQIRXIEɳTSV
ZSPXEHI)WXEŰTɯVSPEűJSMQITEVXMPLEHETSVYQ
EQMKSIEWWMQUYISYZMSWTVMQIMVSWWIKYRHSWHEm8LI
'LSMV3J8LI(IEH|ƤUYIMHIMQIHMEXSVIRHMHSɦUYIPE
WSRSVMHEHI&YV^YQmeets+SHƥIWL2EQMRLESTMRMɩSWɩSYQEHEWQIPLS-
VIWFERHEWJVERGIWEWHIFPEGOQIXEPHEEGXYEPMHEHI
Incantation
k#DQNKUJOGPV1H+OOCEWNCVG5GTGPKV[z
[Mortal Throne Of Nazarene, 1994]
ɔYQHEUYIPIWɧPFYRWWYNSWITɽXVMHSWGSQYQETVS-
HYɭɩSHMJYWEQEWXEQFɯQYQEWMRGIVMHEHIɽRMGEI
PIXEP3W-RGERXEXMSRGSRWIKYIQHEVEWIRWEɭɩSUYISW
XIQEWRSWEVVEWXEQWIQHɸRIQTMIHEHITEVEYQTɨR-
XERSFIQRIKVSIGPEVSWIQJYRHS7EPMIRXSEm%FSPMWLQIRX3J-QQEGYPEXI
7IVIRMX]|TIPSWWIYWVMJJWHIZEWXEHSVIWIEWYERIKVMXYHIEFWSPYXE
Laibach
k8CFG4GVTQz
[Nova Akropola,1986]
4EZSVSWSɯSXIVQSUYIYWSTEVEHIWGVIZIVIWXIHMWGS
m2SZE%OVSTSPE|ɯYQHSWQEMSVIWQEVGSWHEQɽWMGE
MRHYWXVMEPMRGSQTVIIRHMHSTSVQYMXSWQEWEHSVEHS
TSVSYXVSW)WXIXVEFEPLSTSWWYMYQEJSVɭEHIWYQERE
IREQMRLELYQMPHISTMRMɩSɯHEUYIPIWɧPFYRWUYIWIXɰQHISYZMVRIQ
UYIWINEYQEZI^REZMHE
Thormenthor
k&KUUQNXGF+P#DUWTFz
[Dissolved In Absurd, 1991]
4EVEEGEFEVGSQGLEZIHISYVSWIKYIQSWŰRSWWSWű
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IPIQIRXSWEZERXKEVHI5YIQWIVIGSVHEWEFIUYIRSMRɳ-
GMSHSWERSWRɩSI\MWXMEREHERIQRMRKYɯQETVEXMGEV
;EPOIV TVSZSY UYI IWWE TSWWMFMPMHEHI EƤREP RɩS ɯ EWWMQ IWXIXMTSHIWSRSVMHEHIJEPSERɳZIPQYRHMEP
)QGSQTVIMIWXIMRJEQI)4
XɩS VIQSXE ɔ HMJɳGMP HIWGVIZIV EW WIRWEɭɺIW PEFMVɳRXMGEW HIWIXITSPIKEHEWIEGEWWIXIUYIGSRXMRLEWSQIRXISQIHSRLSIQEVXMVM^ERXI
UYI IWXI XVEFEPLS GVME I TSV MWWS QIWQS WI KSWXEQ HI IWXMQYPEV EW ZSWWEW XIQEXɳXYPSm(MWWSPZIH-R%FWYVH|(IWXEGSEVIIHMɭɩSHS)4IQUYIMRGPYM
QIRXIW RɩS LIWMXIQ IQ SYZMPS SJIRSQIREPXIQEm%FWSVFIH-R4VMZEP8LSYKLXW3R%4EPI(E[R
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saber mais sobre os quatro de Albacete, que continuam
CCRQUVCTPCCLWFCFGWORTQFWVQTRQTVWIWșU
EMANUEL FERREIRA

 LOUD!
Este novo trabalho, é um passo adiante em
relação a «Hidden Evolution»?
Concordo. Naturalmente que à época, «Hid-
den Evolution» nos parecia o nosso melhor
disco até à altura, mas com o tempo olha-
mos para ele e o que vemos é um álbum de
passagem, um ponto para evoluir e chegar
a «Cabaret De La Guillotine», um melhor tra-
balho.
Neste disco optaram por trabalhar no vosso
próprio estúdio e só depois recorreram aos
trabalhos do Daniel Cardoso, não foi?
Sim, foi a primeira vez que pudemos contar
com o nosso home studio, e o Daniel aju-
dou-nos a fazer o set up todo, a escolher
micros e equipamento. Nessa altura ele nem
sabia que ia misturar e masterizar o álbum.
Foi bom poder gravar no nosso próprio es-
XɽHMS TSVUYI TYHIQSW VIKVEZEV GSMWEW UYI
achávamos poderem resultar melhor de
outra forma. Quando estás fora de casa e a
TEKEVƤGEWWIQTVIGSQEPKYQEWWMXYEɭɺIW
em que não estás totalmente contente, pois
sabes que estás a gastar dinheiro se fores
fazer mais tentativas. Desta vez, pudemos
JE^IVXYHSGSQQEMWGEPQEIƤGEVHSMWQI-
ses a gravar. Creio que valeu a pena, e depois
o Daniel fez um trabalho maravilhoso na par-
XI ƤREP KSWXEQSW QYMXS HIPI ɯ YQ KɯRMS I
sabe que já é para nós mais um elemento
dos Angelus Apatrida.
O álbum leva o nome «Cabaret De La Guillo-
tine», mas dentro, nomearam a faixa-título
como «Sharpen The Guillotine».
Era o título que pensávamos dar ao disco,
mas quando estudámos a revolução fran-
cesa e toda a história sobre a guilhotina, en-
contrámos este nome curioso, não porque
seja bonito fazer temas sobre a morte ou de-
capitações, mas porque havia um restauran-
te, numa zona de França, com esse nome,
em que as pessoas iam comer e beber,
enquanto apreciavam as decapitações. Pa-
receu-me mórbido e sarcástico, algo engra-
çado, mas também sério. Escolhemos então
esse título, além de que o tema “guilhotina”
nos parece bastante universal. E, sendo es-
panhóis, pareceu uma boa ideia colocar um
nome francês.
O vosso disco está previsto para ser lan-
çado a quatro de Maio, data da revolta
de Haymarket, sobre a qual fala o vosso
último tema, «Martyrs Of Chicago». É pro-
positado?
[risos] Não, hoje comemora-se no dia 1
de Maio, por isso dia do trabalhador, mas
é apenas uma coincidência. Sabes bem
como trabalham as editoras, lançando os
discos novos às quintas, e caiu no quatro
de Maio, porque na semana anterior a edito-
ra já tinha um lançamento, e na outra tam-
bém. Como tínhamos de avançar para a
HMKVIWWɩSIYVSTIMEƤGSYSUYEXVSHI1EMS
Mera casualidade.
Tinha a impressão que, depois de «Hidden
Evolution», o vosso plano era editar um dis-
co ao vivo e não um de estúdio. O que se
passou?
O live é um projecto que tornámos algo pes-
soal e do qual queríamos ser nós a tratar,
mas prolongou-se demasiado no tempo e
não o podíamos terminar antes de começa-
rem as gravações deste álbum. Esperamos
ter isso à venda por altura do Natal. Será um
pouco estranho, teres à venda um disco ao
vivo, relativo a uma digressão e já estares
noutra, mas também será uma edição muito
limitada, apenas 1.000 cópias para distribuir
em todo o mundo, será mais uma peça de
colecionador que um disco normal, por isso
não será um grande problema.
:SGɰW Nɧ Ƥ^IVEQ HMZIVWEW ZIVWɺIW HI FER-
HEWQEWEQIPLSVUYIZSWZMJE^IVEXɯEKS-
ra, «Be Quick Or Be Dead» dos Iron Maiden,
nunca apareceu gravada. Vai ser esse live
que a vai revelar?
Não. Também é uma das minhas favoritas,
por vezes as circunstâncias levam a que
não se façam as coisas como queremos
SYSWXIQTSWJE^IQGSQUYIƤUYIQYPXVE-
passadas, mas vou contar-te um pequeno
segredo – temos na cabeça, algum dia,
não sei quando, mas espero que dentro de
pouco tempo, podermos fazer um disco
ou uma pequena digressão, fazendo ape-
nas versões. Será Angelus Apatrida como
tribute band, mas não como essas bandas
tributo que há agora, Fake Metallica ou Fake
AC/DC ou Fake Iron Maiden. Tocar os nos-
sos temas favoritos é algo que gostaríamos
muito de fazer e aí voltaria a entrar a «Be
Quick Or Be Dead», «Domination», «Master
Of Puppets» e outros temas que tocámos
no grupo quando éramos mais novos.
“Por seres espanhol, não interessa
quanto vendes ou se és popular,
vais ficar sempre na parte de baixo
do cartaz, enquanto os grupos
estrangeiros ficam em cima.”
Neste disco, usam guitarras acústicas e têm
mesmo uma balada em «Farewell». Como
irão reagir os thrashers mais old school?
Este tipo de canções, que sempre quise-
mos fazer, sempre existiram no thrash,
como «Fade To Black» dos Metallica, ou
«Cemetary Gates» dos Pantera. Canções
com sentimento e também partes mais pe-
WEHEWUYIƤ^IVEQWIQTVITEVXIHERSWWE
cultura. Nunca tinha surgido a oportunidade
até agora de fazer algo assim e creio que é
um dos melhores temas do disco, pelo me-
nos para mim, além de que tem uma men-
sagem muito bonita, pois está dedicada à
memória de um amigo nosso que faleceu
há pouco mais de um ano e a letra fala dos
ɽPXMQSW QSQIRXSW UYI XMZIQSW GSQ IPI
quando o fomos visitar ao hospital, antes
de morrer. Creio que as pessoas irão gostar.
A vossa experiência com um concerto acús-
XMGSLɧYRWXIQTSWXIZIEPKYQEMRƥYɰRGME
no uso de guitarras acústicas em estúdio?
2ɩS ETIREW Ƥ^IQSW YQ EGɽWXMGS RS re-
cord store day do ano passado, 24 de Abril
de 2017, em Madrid. Não concebo este tipo
HIGERɭɺIWGSQSEGɽWXMGEWTEVEQMQWɩS
temas eléctricos que, para pores o som
QEMW FSRMXS GSPSGEW EPKYQE GSMWE EGɽWXM-
ca. Também é mais uma ideia do David, o
outro guitarrista.
(EɽPXMQEZI^UYIXIZMRɩSTEVIGIWXIQYMXS
contente com o tratamento que recebiam
em Espanha. Como está essa situação?
Estamos contentes, não me devo ter expli-
cado bem, mas é verdade que muitos secto-
res não tratam os grupos espanhóis como
eles merecem. Por seres espanhol, não inte-
ressa quanto vendes ou se és popular, vais
ƤGEV WIQTVI RE TEVXI HI FEM\S HS GEVXE^
IRUYERXSSWKVYTSWIWXVERKIMVSWƤGEQIQ
cima. Muitas vezes, grupos que não conse-
guem vir em tour, porque nem 100 bilhetes
iriam vender. Penso que deveria ser disso
que me queixava. Há ainda muito a fazer
para que isso mude, embora este ano algu-
ma coisa já tinha mudado, com o tratamen-
to que recebemos no cartaz do Resurrection
e do Download, em que o nosso nome já
tem destaque e leva o logótipo.
Como reagiste à passagem dos Metallica
TSV)WTERLEEJE^IVZIVWɺIWHSW&EVSR6SNS
e Obus?
[risos] É engraçado que fales disso. Não
pude ir ver porque as entradas eram
muito caras e eu não queria pagar tanto.
%GLIM RSVQEP UYI Ƥ^IWWIQ ZIVWɺIW HIW-
ses grupos, pois gostemos ou não, são as
bandas mais famosas de Espanha. Agora
temos outros que tentam lutar para que
os nomes mais famosos sejam outros e
façam esquecer essas que na sua época
estiveram muito bem, mas que já não
têm muito que mostrar nos dias de hoje.
Para o melhor ou para o pior, essas ban-
das são as que ainda representam Espa-
nha, com todo o meu respeito, Baron Rojo
tem um dos melhores discos do metal
espanhol, «Volumen Brutal». A Espanha
QYHSYQYMXSRSWɽPXMQSWERSWũIQ
Madrid, o cartaz da digressão de Metalli-
ca representava um toureiro com a ban-
deira espanhola. Isso já não representa
a Espanha de hoje, pegam nos tópicos
mais fáceis para fazer essas coisas, e
acabam por representar pouco da popu-
lação. Espero que as pessoas descubram
que Espanha é muito mais que touros ou
Baron Rojo.
LOUD! 
 LOUD! DJ
Um dos porta-estandartes actuais
FQHCOQUQGJKUVȡTKEQOQXKOGPVQ

JCTFEQTGFG.KPFCC8GNJC.8*%
RCTCQUCOKIQUQU/14&#ǻ#LȐ
NGXCOVTG\GCPQUFGGZKUVșPEKC
9QGSRLIɭSEW
a demolir palcos um pouco por
VQFQQRCȜU%JGIQWCCNVWTCFGWO
momento decisivo na sua carreira
ťCRTGUGPȖCPQVGOȜXGN.17&К
&,6GPVCPFQVGTCNIWOCUCHGV[KP
numbersVTQWZGTCOVTșUGNGOGPVQU
QXQECNKUVC(QKVQQDCKZKUVC,QP[
.CXCICPVGUGIWKVCTTKUVC,QȒQ
9Q1EWRɩS
Bruno, aka,C[$%QOQUGORTG
fazem, ultrapassaram mais este
FGUCƓQEQOFKUVKPȖȒQ
 LOUD!
TRINTA & UM
m,SQIQ(I&EVVS|
5YERHSSWQɽWMGSWHIQSRWXVEQ
TVISGYTEɭɩSESWIVIQHIWEƤEHSW
TIPS039((.GSWXYQEQSWXIRXEV
XVERUYMPM^ɧPSWHM^IRHSUYIEXɯZEM
WIVJɧGMP2IWXIGEWSRɩSTSHIVɳE-
QSWQIWQSXIVYQGSQIɭSQEMW
JɧGMPNɧUYIS.SR]XSGEEGXYEP-
QIRXIRSW8VMRXE
VIWMWXMQSW
Jony:?VMWSWA)YRɩSTSWWSJEPEV
WSFVIMWXS
Foito:)YEXɯXVSY\IEt-shirtIXYHS
Querem melhor começo?
Jony:7ɸRɩSWIMHM^IVSERSŷQEWɯ
Em,SQIQ(I&EVVS|
Foito:RɩSɯ#3KVERHI
Marocas na voz.
Geres bem as duas bandas, Jony?
Jony:5YERHSIRXVIMTEVE8VMRXE
9QJSMIWTIGMEPQIRXIGSQTPMGEHS
IYGVIWGMESYZMPSWJSMSTVMQIMVS
GSRGIVXSHILEVHGSVIEUYIJYMWIM
EWPIXVEWHIXVɧWTEVEEJVIRXIHI
XSHSWSWɧPFYRWŷ
Foito:ɔYQEŰHEUYIPEWűFERHEW)Y
GVIWGMGSQ8VMRXE
JSVQEɭɺIWXSHEW
Às vezes o pessoal de fora de
Lisboa não tem bem a noção da
dimensão da importância dos Trinta
& Um, não é?
Foito:7MQIJE^IQTEVXIHEUYIPE
ŰJEQɳPMEűHI0MRHEE:IPLEɯEUYIPE
FERHEGSQEUYEPGVIWGIQSWXSHSW
Lembro-me que a primeira vez que
SWZMEMRHES>ɯ+SFPMRIWXEZERE
FEXIVME)WXɩSRESVMKIQHIXYHS
EUYIPEWQEXMRɯWES(SQMRKSRE
%GEHIQMEIHITSMWXYHSSVIWXS
ZɰQHEɳ
Jony:)QVIPEɭɩSESW1SVHEɭE
GPEVSUYIEMRƥYɰRGMEɯRSXɸVME
QEWIWXERHSREWHYEWFERHEW
XEQFɯQWSYGETE^HIHM^IVUYI
LɧFEWXERXIWHMJIVIRɭEWIRXVIIPEW
ETIWEVHMWWS8ɰQSQIWQSXMTS
HIGEZEPKEHETSVIJIMXSHIXIVQSW
GVIWGMHSIQ0MRHEE:IPLEQEWRɩS
JE^IQEWGSMWEWHEQIWQEJSVQE
(IUYEPUYIVQERIMVEIQ1SVHEɭE
RYRGERSWTVISGYTɧQSWQYMXSGSQ
isso, as coisas saem-nos sempre
REXYVEPQIRXI
Jay:%ZS^TSVI\IQTPSɯ
GSQTPIXEQIRXIHMJIVIRXIIE
EƤREɭɩSHIKYMXEVVEXEQFɯQ
MADBALL
m7IX-X3JJ|
Do álbum «Set It Off» [1994]
)WXEFIPIGMHEEGSRƤERɭEGSQYQE
VIJIVɰRGMETVɸ\MQEHSGSVEɭɩSWEPXI-
QSWS%XPɨRXMGSIQFYWGEHISYXVEW
GIREW,'MQTSVXERXIW:IQPSKSɦ
MHIMES2=,'ITSVXERXSEXIVVIQSW
RSW1EHFEPPIRSTVMQIMVSXIQEHS
WIYTVMQIMVSɧPFYQŰEWɯVMSű
Jony: ?HYVERXIEintroA3^^]3WFSYV-
RI?VMWSWA
Foito:)YGSRLIɭSMWXS3RI0MJI
'VI[#
Jay:)WXEMRXVSHYɭɩSɯQIJEQMPMEV
7YMGMHEP#
Não, mas continuem.
Jony:)WXSYZSWEHM^IVUYIɯ3^^]
3WFSYVRI?VMWSWA
Foito: We don’t fake it, we just take
it. [sincronizado com a voz do disco,
TVSZERHSUYIGSRLIGIA
Jony:ɔ1EHFEPP
Foito:1EHFEPP4VMQIMVSɧPFYQm7IX
-X3JJ|&SQɯSTVMQIMVSɧPFYQ
ŰSƤGMEPűTVSRXS1EWIWXEMRXVSHYɭɩS
ɯQYMXSTEVIGMHEGSQYQEHI3RI
0MJI'VI[3QIYTVMQIMVSGSRGIVXS
HI1EHFEPPJSMRE-RGVɳZIP%PQEHIR-
WIIWXEZEQTEVEEɳZMRXISYXVMRXE
TIWWSEWRSQɧ\MQS9QQɰWHITSMW
IWXEZEQPɧSW7MGO3J-X%PPGSQ
YQEWTIWWSEWTEVEEɳ
Jay:-WWSJSMQMPRSZIGIRXSWIUYER-
XSW#?VMWSWA
Foito:.ɧJSMLɧQYMXSXIQTS?VMWSWA
Mas está bem presente, pelos
vistos. São uma referência impor
tante?
Foito:&SQIYUYERHSGSQIGIME
SYZMVLEVHGSVIGSQIGIMTSVSYZMV
QYMXEFERHEUYINɧXMRLEEGEFEHS
*SMREEPXYVEIQUYIGSQIɭEVEQE
ETEVIGIVSW1EHFEPPSW7MGO3J-X%PP
a nova vaga de Nova Iorque. Mas eu
SYZMEQYMXSQEMW+SVMPPE&MWGYMXW
7IGSRHW&EH&VEMRWŷ,EZMEYQE
PSNEIQ'EVRE\MHIUYIXMRLEQYMXE
GIREERXMKE
Jony:%4SMRX&PERO8ERXSW'(WUYI
GSQTVIMEɳŷ
OZZY OSBOURNE
m'VE^]8VEMR|
(SɧPFYQm&PM^^EVH3J3^^|?A
Mesmo em offETMEHEVIGSVVIRXI
HS3^^]3WFSYVRIIWXEZEEHEVS
QSXIɦGSRZIVWETSVMWWSEGLɧQSW
UYIIVEEPXYVEHIEGEFEVGSQE
FVMRGEHIMVEHEQIPLSVJSVQE3
LSQIQEXɯZIQGɧTIPETVMQIMVE
ZI^IXYHSIQFVIZITSVMWWSXIQSW
essa desculpa.
Foito:%MEMEMŷ?EUYERHSHSŰEMEMEMű
HS3^^]A
Jay:?KIVERHSVMWEHEKIRIVEPM^EHEA
)RXɩSMWXSɯUYIɯ3^^]3WFSYVRI
Tanto falaram nele, que o invoca
ram!
Jay: ɔEm'VE^]8VEMR|GSQS6ERH]
6LSEHW
Jony:4SVMWWSɯUYIIYUYIVMEUYIXY
ZMIWWIW?VMWSWA
Qual era a private joke com o Ozzy,
EƤREP#
Jony:*SMYQEFVMRGEHIMVEUYIXMZI-
QSWRSGEQMRLSTEVEEUYM
Foito:'SQFMRɧQSWUYIWILSYZIWWI
HɽZMHEWIVE3^^]3WFSYVRI?VMWSWA
5YERHSRIRLYQHIRɸWWSYFIVɯ
3^^]QIWQSUYIRɩSXIRLEREHEE
ZIV1EWTVSRXSTIPEZS^GLIKEZEPɧɔ
HEUYIPEWZS^IWUYIQIWQSUYIRɩS
WIGSRLIɭEREHEHEGIREHIPIUYERHS
IPIGSQIɭEEGERXEVMHIRXMƤGEWIPSKS
Jony:)YGSRLIɭSYQFSGEHMRLSHI
&PEGO7EFFEXLWɸ
Mas mais depressa vais ouvir Circle
Jerks do que o Ozzy, imaginamos?
Jony:7MQWIQHɽZMHE?VMWSWA
SLAYER
m&PEGO 1EKMG|
(S ɧPFYQ m7LS[ 2S 1IVG]| ?A
*IMXE E TMEHE GSRXMRYIQSW RS IRXER-
XS RE WIRHE HS QIXEP I MKYEPQIRXI
PIRHɧVMS 7EFI WIQTVI FIQ SYZMV YQ
HSW QIPLSVIW QEPLɺIW EPKYQE ZI^
IWGVMXSW TIPSW 7PE]IV S UYI RɩS ɯ
dizer coisa pouca.
Jay: %GLS UYI ZSY EHMZMRLEV SYXVE
UYI IY GSRLIɭS MWXS
Foito:)\SHYW#
Jay:ɔ7PE]IV
Foito:*I^QIPIQFVEV)\SHYWEPME
GIVXEEPXYVE
E o thrash, é importante para vocês?
Foito:%RXIWHIGSQIɭEVESYZMVLEV-
HGSVISYZMEXLVEWL)\SHYW3ZIVOMPP
%RXLVE\8IWXEQIRXŷ
Tudo menos os Slayer? [risos]
Foito:?VMWSWA2ɩSPIQFVSQIHI
KSWXEVHSm7SYXL3J,IEZIR|ŷ+SWXS
HEEXMXYHIQEWWIQTVIKSWXIMQEMW
HESRHEHSW)\SHYWIEWWMQXLVEWL
TYVSIHYVS8EQFɯQKSWXEZEHE
ZIVXIRXIHIGVSWWSZIVHSW%RXLVE\
WYVKMVEQSW73(XEQFɯQHEɳI
HITSMWETEWWEKIQTEVESLEVHGSVI
IWXɧPMKEHEEIWXIWKSWXSW3W'VS-
1EKWTSVI\IQTPSWɩSYQEFERHE
HILEVHGSVIGSQTPIXEQIRXIthrasha-
da RSMRɳGMS,SYZIYQEJYWɩS
IRXVISXLVEWLISTYRORSMRɳGMSHS
LEVHGSVI%WKYMXEVVEHEWHSXLVEWL
SWXIQEWQEMWGYVXSWIQEMWWMQTPIW
HSTYROŷ
Jay:3XLVEWLXMRLEIVEQYMXSQEMW
WSPSWŷ
Foito:2ɩSIWXEQSWEJEPEVHIWSPSW
.&2ɩSIWXEQSW?VMWSWA
Jony:)PIɯSERXMWSPSW
Foito:-WXSƤGENɧKVEZEHSSTVɸ\MQS
ɧPFYQHI1SVHEɭERɩSZEMXIVWSPSW
Jay::EMZEM
Jony:3UYIZEPIɯUYIWSQSWGMRGS
LɧQEMWEQERHEV?VMWSWA
LAMB OF GOD
m0EMH 8S 6IWX|
(S ɧPFYQ m%WLIW 3J 8LI ;EOI| ?A
1ERXIRHSRSW XIMQSWEQIRXI RS QIXEP
GVIQSW UYI IWXE WIVɧ XEPZI^ YQ TSYGS
QEMW GSRWIRWYEP EXɯ TSVUYI MRGSVTS-
VEQ ZɧVMEW GEVEGXIVɳWXMGEW HS TYRO I HS
LEVHGSVI %PMɧW S TVɸTVMS FEM\MWXE .SLR
'EQTFIPP Nɧ SW HIWGVIZIY GSQS ŰYQE
FERHE TYRO UYI XSGE QIXEPű
Jony: ?VIJIVMRHSWI ɦUYIPEW WɽFMXEW
RSXEW EKYHEWA 3 (IVMW ɯ UYI IWXEZE
WIQTVI E JE^IV MWXS E KS^EV ?VMWSWA
Jay: ɔ 0EQF 3J +SH#
É sim senhor! Está encontrado o
especialista de metal.
Jony: ɋ TEVXMHE IVE TEVE ZMVQSW Wɸ
RɸW SW HSMW QEW IY MRWMWXM UYI IPI
ZMIWWI ETIVXIM GSQ IPI ɦ ɽPXMQE HE
LSVE 3W 1SVHEɭE EGEFEQ WIQTVI
TSV TY\EV TEVE S QIXEP ERXIW HIPI
XɳRLEQSW S (IVMW WIQTVI LSYZI YQE
MRƥYɰRGME HI QIXEP RS RSWWS WSQ TI-
PEW TIWWSEW UYI XɰQ IWXEHS RE FERHE
Foito: 8MZIQSW WIQTVI EUYIPE KYMXEV-
VEHE EUYIPE TMXEHE HIWXI XMTS HI TIWS
Jony: ,ɧ YQE GSMWE E UYI IY HSY
QYMXS ZEPSV IQ 1SVHEɭE UYI ɯ S
JEGXS HI XSHSW I\QIQFVSW MRGPYɳHSW
XIVQSW WIQTVI TEVXMGMTEHS RE GVMEɭɩS
HE QɽWMGE 2ɩS JSM YQ SY HSMW RɩS
JSM XVEFEPLEV IQ GEWE JSM XVEFEPLEV RS
IWXɽHMS PIZEV YQ VMJJ TEVE I\TPSVEV-
QSW NYRXSWŷ HITSMW GEHE YQ EGEFE
TSV XVE^IV GSMWEW HI EGSVHS GSQ E WYE
TIVWSREPMHEHI 9RW QEMW TEVE S QIXEP
IY XEPZI^ QEMW TEVE S TYRO I IWWE
QMWXYVE ɯ UYI ɯ Ƥ\I ɯ MRXIVIWWERXI
Foito: 7SQSW GMRGS IPIQIRXSW I XS-
HSW XɰQ KSWXSW HMJIVIRXIW GEHE YQ
XVE^ S WIY GYRLS TIWWSEP 7IQTVI JSM
EWWMQ HIWHI S MRɳGMS
-WWS VIƥIGXIWI XEQFɯQ RS ZSWWS
público? Há essa mistura?
Jony: 2YRGE XMRLE TIRWEHS RMWWS
HIWWE JSVQE QEW WMQ 7IQ HɽZMHE
RATOS DE PORÃO
m7SJVIV|
(S ɧPFYQ m%REVOSTLSFME| ?A
4EVE XIVQMREV YQE FERHE EFWSPY-
XEQIRXI YRMZIVWEP I XVERWZIVWEP .ɧ
WYWTIMXɧZEQSW UYI S JSWWI QEW XI-
QSW XMHS E GSRƤVQEɭɩS XSXEP RIWXEW
WIWWɺIW HI 039( (. 7INE UYEP JSV
S KɯRIVS HI IPIMɭɩS S background
QYWMGEP SY SYXVSW KSWXSW UYI WI
XIRLEŷ 6EXSW ɯ 6EXSW
Foito: 6EXSW HI 4SVɩS %HSVS ZɰPSW
ao vivo.
Jony: 0IQFVEWXI HS GSRGIVXS ɦ
ɽPXMQE HE LSVE# 2E %GEHIQME
Foito: 4SMW JSM WIKYRHE HEXE HI
VENEHE Ű5YIVIQ ZMV EFVMV#ű )L Tɧ
6EXSW ɯ 6EXSW
Jony: :MQ HMVIGXEQIRXI HS 6IWYVVIG-
XMSR RSZI LSVEW HI ZMEKIQŷ PIQFVS-
QI HI IWXEV IRGSWXEHS ɦ TEVIHI E
XSGEV ?VMWSWA
Foito: 1EW KVERHI GSRGIVXS 6(4
ɯ KVERHI SRHE PIQFVSQI UYERHS
PERɭEVEQ S m6(4 %S :MZS| ZMIVEQ
XSGEV ɦ -RGVɳZIP GSRGIVXS QEMW ZMS-
PIRXS UYI IY Nɧ EWWMWXM
O «Ao Vivo» é um disco que marca
totalmente uma geração.
Foito: 3 GSRGIVXS RE -RGVɳZIP JSM QIW-
QS YQ QɰW HITSMW JSM YQE PSYGYVE
+IRXI E EXMVEVWI Pɧ HI GMQE S +SVHS
ɦ JVIRXI E HM^IV Űcuidado, aguenta aí!”,
MRGVɳZIP 3 GSRGIVXS JSM UYEWI E GɸTME
HS HMWGS ) ɯ YQE FERHE UYI EKVEHE
E XSHE E KIRXI E ŰKVIKSW I XVSMERSWű
Sobretudo nesta fase do
«Anarkophobia», muito crossover.
Jony: ɔ FERHE UYI EHSVS 4SV EGE-
WS S UYI GSRLIɭS QIPLSV EXɯ ɯ S
m,SQIQ -RMQMKS (S ,SQIQ| QEW
KSWXS HI XSHSW.
LOUD! 
 BAD WOLVES
A GUERRA DOS
RENEGADOS
Provavelmente ainda desconhecidos da grande
maioria dos nossos leitores, os norte-americanos
BAD WOLVES prometem transformar-se num caso
de sucesso. Com Zoltan Bathory, dos Five Finger Death
Punch, a actuar como seu manager, a banda inclui na
formação alguns músicos bem conhecidos – a saber,
o vocalista Tommy Vext (ex-Divine Heresy e Snot),
o baterista John Boecklin (ex-Devildriver), o guitarrista
Doc Coyle (ex-God Forbid), o guitarrista Chris Cain (dos
Bury Your Dead) e o baixista Kyle Konkiel (ex-In This
Moment). O lançamento de estreia do quinteto norte-
-americano chama-se «Disobey» e vai agradar aos fãs
dos projectos em que estiveram envolvidos no passado.
No entanto, como nos explicou Vext, os quinze temas
deste primeiro disco também vão muito além disso.
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES
26 LOUD!
Olhas para esta banda como uma espécie
de “novo começo” na tua carreira?
Não sei se poderei dizer que é um novo co-
meço, porque estive envolvido numa série
de bandas ao longo dos anos e já faço isso
há imenso tempo. Portanto, gosto de pen-
sar que a experiência que fui acumulando já
deve contar para alguma coisa. [risos] Não
sei, man... Às vezes acho que sou como um
jogador de futebol. Fui jogando em várias
equipas ao longo da minha carreira, mas ha-
via falhas, por isso andei até agora à procura
de um grupo de “jogadores” sem defeitos e
que tivessem capacidade para competir na
ƤREP4IVGIFIWSUYIUYIVSHM^IV#4EVEQMQ
os Bad Wolves são isso e sinto-me muito
afortunado por estar na banda com estes ti-
pos. Todos trabalhámos no duro para fazer
o melhor álbum possível e, pelo caminho,
ajudámo-nos a crescer como músicos, o
que é óptimo.
Como é que entraste na equipa? Pelo que
sei, o projecto começou com o John...

Correcto! O John começou a escrever os pri-
meiros temas no início de 2016... Acho que
escreveu uns onze ou doze temas e, depois,
decidiu gravar uma maqueta. Na altura eu
estava a trabalhar noutro projecto, o Doc ti-
nha outra banda, o Kyle estava nos Vimic e
o Chris andava em tour como técnico de gui-
tarra de um famoso artista pop... É engraça-
do, porque sou amigo do John há uma série
de anos e, eventualmente, ele pediu-me para
tentar criar as linhas vocais para um tema,
que acabou por transformar-se na «Learn To
Live». Achei logo o resultado fantástico, ele
também, e a ideia de criar uma banda surgiu
nesse momento.
Sentes que a visão mudou de alguma forma
a partir do momento em que tu e os outros
músicos começaram a envolver-se no pro-
cesso de composição?
Sim, sem dúvida. Acho que o plano original
do John passava por fazer algo mais pro-
gressivo e até experimental, mas depois eu
fui com ele para o estúdio, começámos a
trabalhar nos arranjos e a direcção de gran-
HI TEVXI HS QEXIVMEP EPXIVSYWI WMKRMƤGEXM-
vamente. Para eu me sentir confortável a
cantar tivemos de estruturar as canções de
outra forma, menos abstracta, por isso ten-
támos fazer as coisas tendo isso em mente.
O objectivo passava por fazermos um disco
que tivesse elementos com que já trabalhá-
mos no passado, mas não nos queríamos
ƤGEVTSVEɳ4IVGIFIQSWHIWHIPSKSUYISW
Bad Wolves teriam de funcionar como uma
lufada de ar fresco.
Foi fácil encontrarem os outros músicos
para completarem a formação da banda?
Digamos que não foi complicado. O Doc e
o John são amigos há doze anos, e eu sou
amigo do Doc há mais de quinze, por isso
abordámo-lo de imediato. Ouviu um só tema
I ƤGSY PSKS WYTIVIRXYWMEWQEHS GSQ E LM-
pótese de colaborar connosco, por isso de-
cidimos seguir em frente com ele como gui-
tarrista. Pouco tempo depois começámos a
“É muito bom ouvir que somos uma
super-banda, mas não tenho nenhum
trono em casa onde me sento a pensar
que sou um deus do rock.”
ensaiar com o Chris e o Kyle, que foi a última
peça para completar o puzzle. Fechámo-nos
na sala de ensaios, escrevemos mais de vin-
te temas e, depois, escolhemos os melhores
para o álbum. Por isso, diria que sim foi
simples encontrar as pessoas certas para
formar os Bad Wolves.
Pode dizer-se que houve uma boa química
entre os cinco desde o início?
Fez tudo sentido desde o primeiro momen-
to, a nível musical e não só. Acho que o
.SLR WIQTVI JSM QYMXS MRƥYIRGMEHS TIPSW
Faith No More que são uma banda que
todos temos em comum e que adoramos
– e, depois de ter tocado tanto tempo com
os Devildriver, quis fazer música que fosse
um pouco mais melódica e orelhuda. E o
engraçado é que eu, depois de ter estado
nos Divine Heresy e numa série de outras
bandas extremas durante grande parte da
minha carreira, estava numa fase da vida
em que também sentia essa necessidade.
Queria estar envolvido num projecto em
que pudesse cantar mais e os Bad Wolves
transformaram-se no veículo perfeito para
chegarmos aos nossos objectivos.
Hoje em dia, há um líder no grupo?
Na verdade há três líderes nos Bad Wolves.
[risos] Eu sou líder, o John é um líder e o Doc
também mas, apesar de termos todos uma
personalidade predominantemente alfa, as
coisas até funcionam bem. É como se tivés-
semos uma espada e a fossemos passando
uns aos outros, algo assim. Cada um de nós
é especialista, por assim dizer, num assunto
diferente e os três completamo-nos. Acho
que os Bad Wolves soam como soam exac-
tamente por causa disso.
.ɧLɧUYIQWIVIƤVEEZSGɰWGSQSYQEWY-
per-banda.
Isso é estranhíssimo! Quando penso numa
super-banda, penso nos Audioslave, por
exemplo. Ou nos Them Crooked Vultures,
cenas desse género, bastante maiores do
que provavelmente alguma vez seremos.
Quando ouço alguém dizer uma cena dessas
limito-me a encolher os ombros porque, ver-
HEHI WINE HMXE ƤGS WIQ WEFIV S UYI HM^IV
É confuso. É óbvio que, por um lado, é lison-
jeador, é muito bom ouvir isso, mas não te-
nho nenhum trono em casa, onde me sento
a pensar que sou um deus do rock ou o que
quer que seja. [risos] Nós estamos agora a
lançar o nosso álbum de estreia e nenhum
de nós tocou em nenhuma banda extraor-
dinariamente famosa, por isso queremos ir
avançando passo a passo, sem estar a criar
demasiadas expectativas.
A verdade é que os singles de avanço ao
ɧPFYQ XɰQ WMHS FIQ VIGIFMHSW WSFVIXYHS
a versão da «Zombie», dos The Cranber-
ries. Porque é que decidiram revisitar este
tema?
Quando era miúdo adorava os The Cranber-
ries e, para mim, as letras desse tema são
intemporais. A canção é uma mensagem
universal do que podem ser as consequên-
cias dos danos colaterais e, provavelmen-
te, por muito triste que isto seja, nunca
fez tanto sentido como em 2018 esses
danos colaterais, sejam de que natureza
forem, são algo com que somos forçados
a lidar quase diariamente. O terrorismo a
nível global, a brutalidade policial, todos
estes tiroteios em massa aqui nos Estados
Unidos... São tudo situações geradas pelo
ódio e as letras do «Disobey», mais que
um apelo gratuito à rebelião, são uma ten-
tativa de pôr as pessoas a pensar no que
se passa actualmente no mundo, por isso
fez todo o sentido gravarmos a versão da
«Zombie». E, confesso, inicialmente esta-
va inseguro, não tinha a certeza se íamos
conseguir fazer justiça à versão original.
Quer dizer, esse disco vendeu milhões de
cópias... Estávamos a correr um grande
risco ao pegar numa canção que era per-
feita na versão original. Foi exactamente
por isso que entrámos em contacto com a
Dolores [o’Riordan], para termos a bênção
dela. Para nós, foi uma honra perceber que
KSWXSY HS UYI Ƥ^IQSW ES TSRXS HI UYIVIV
colaborar connosco... Infelizmente acabou
por não se concretizar, porque ela faleceu
entretanto, mas foi mesmo muito especial
ter a sua aprovação.
LOUD! 27
 INFRAKTOR

SUPER
MOTIVADOS
PSGEPM^EɭɺIWKISKVɧƤGEWGSQSFEXIVMWXES
Chico, em Santa Maria da Feira, o Ricardo no
Porto e o Miguel em Braga. Há aqui uma sim-
biose e todos têm a mesma garra de levar
Infraktor para a frente; nesse aspecto, sim,
podemos dizer que somos uma super-ban-
da, pois encontrámos um grupo de pessoas
excepcionais que se dão bem e estão todas a
remar para o mesmo lado, cinco amigos que
É uma estreia, e também o regresso aos palcos, de músi- ouvem metal com muita paixão.

cos com nome feito em outros grupos. Chamam-se O parto deste disco foi lento… cerca de dois
anos, com mudanças de formação pelo
INFRAKTOR e o título do primeiro registo de longa-dura- meio.
ção é «Exhaust», uma forte primeiro título é «Exhaust», Demos o nosso primeiro concerto em Janei-
ro de 2017, nas Metal Battles para o Wacken,
uma forte aposta no som mais extremo que se faz por cá. no RCA, e nessa altura já tínhamos termina-
do as gravações no Ultrassound, com o Pete,
O guitarrista Carlos Almeida explicou-nos tudo. que tinham começado em Setembro do ano
anterior. Já tínhamos contactos com a Rasti-
EMANUEL FERREIRA lho e havia prazos que nos levaram a pensar
que o disco estaria terminado por essa altu-
ra. Entretanto houve várias coisas a aconte-
Primeiro disco, mas com o passado dos guitarrista.” Foi assim que as coisas começa- GIVIXYHSEXVEWSYQEWƤGɧQSWGSQZSRXE-
seus elementos, pode falar-se em “super- ram. Fui logo dizendo que teria de ser uma de de nos mostrarmos ao público e, durante
-banda”? GSMWEEWɯVMSIRɩSYQTVSNIGXSTEVEƤGEVRE 2017, demos cerca de um concerto por mês.
Não diria uma super-banda, mas sim, temos garagem; ele alinhou e resolvemos falar com Entretanto, contactámos o Miguel Tereso da
elementos que já estiveram em nomes com uns músicos aqui na Gafanha da Nazaré. O Demigod Recordings e dos Primal Attack, a
alguma dimensão no panorama nacional. Hugo alinhou, mas o resto dos músicos ti- quem entregámos a conclusão do trabalho.
Tenho uma perspectiva humilde, somos ape- nha sempre qualquer coisa prioritária aos Foi a melhor coisa que nos aconteceu, pois
nas um conjunto de amigos e músicos que ensaios da banda e tivemos de começar a ETVSHYɭɩSƤREPHSHMWGSƤGSYI\EGXEQIRXI
se juntaram para fazer uns temas. O Hugo, procurar novos elementos. Pelas mais varia- como pretendíamos.
nosso vocalista, decidiu fazer uma banda, das razões, o pessoal foi entrando e saindo,
e falou comigo. Até foi curioso porque não um emigrou, outro foi pai, coisas por aí. Os O trabalho dele na produção dos Primal At-
nos conhecíamos, tínhamos apenas estado músicos foram saindo e nunca desistimos, tack, pesou na escolha?
juntos com um grupo de amigos, a tocar estivemos ano e meio a tocar apenas eu, o Completamente. Tanto o de Primal Atta-
covers, mas tudo numa garagem, por diver- Hugo e o baterista, até encontrarmos músi- ck como de Analepsy, foram decisivos na
são. Depois disso, víamo-nos em concertos, cos que tivessem o mesmo mindset e esti- nossa escolha. Mais recentemente, escutei
tudo casual. Só mais tarde nos cruzámos e vessem dispostos a alinhar neste tipo de outras coisas que ele produziu e manteve a
ele disse-me: “vou fazer uma banda e tu és o música. Se repararem, somos de diferentes qualidade, trabalhos que estão fabulosos.

28 LOUD!
Portugal é pequenino, quase uma aldeia, e é
fácil ver quem anda por aí e o seu trabalho.
Foi também assim que chegámos ao Pete,
hoje estamos bem entregues ao Miguel, mas
ele ajudou-nos bastante na pré-produção. O
Miguel, apesar de jovem, foi extremamente
TVSƤWWMSREP RSW TVE^SW VIWTSRHIRHS WIQ-
pre rapidamente, algo muito raro nos dias de
hoje, mesmo noutros campos. Lembro-me
que na primeira revisão ao disco que nos en-
viou, deixou-nos logo impressionados.
Um disco que se intitula «Exhaust»…
4SHIXIVHSMWWMKRMƤGEHSWXERXSTSHIEPYHMV
à exaustão, de cansaço, como no sentido de
IWGETIɔIWXIɽPXMQSWMKRMƤGEHSUYITVIXIR-
demos referir, «Exhaust» como escape. Isto
surgiu um bocadinho por sugestão do Chi-
co, nosso baterista, que disse ser um nome
Ƥ\ITEVEYQEFERHEIIYVIWTSRHMUYIIVE
o título para o nosso álbum, pois tinha tudo
EZIVUYIVGSQEQɽWMGEUYIƤ^IQSWEUYM
quer com o sentimento que nos percorria.
Estivemos todos parados, antes de come-
çar este grupo. Eu estive quatro anos sem
fazer nada na música, antes de começar,
completamente mergulhado em trabalho. O
Hugo já não tinha banda há mais anos ainda,
e o Ricardo e o Chico já tinham saído dos
Pitch Black há mais de quatro anos. Curio-
samente, todos recusaram o convite, à pri-
meira vez, para vir tocar em Infraktor. Penso
que todos acabaram por vir, porque tinham
energia acumulada e a paixão pelo metal
nunca morreu. O bichinho estava lá sempre
a morder, quase como uma droga; quem
pisa o palco, acaba por querer sempre voltar
e sente-se nostálgico quando está do outro
PEHS)JSMYQƥY\SHIIRIVKMEUYIIVERIGIW-
sário libertar, até mesmo a própria capa com
YQEƤKYVEHIQSRɳEGEEZEVVIVETEMWEKIQ
É o escape, como um vulcão que tem um dia
de rebentar. Não é um disco conceptual, não
há aqui um tema em particular, é mesmo um
catalisador.
Já falámos na editora, e penso que sin-
tam a responsabilidade de se estrearem
logo num selo já com pergaminhos, em
lugar de apostarem apenas na edição de
autor.
“Portugal é pequenino, quase
uma aldeia, e é fácil ver quem
anda por aí e o seu trabalho”
Sim, temos plena consciência disso e traba-
lhamos todos os dias para isso, abdicando
HI ZMHE TIWWSEP I EXɯ TVSƤWWMSREP 7IRXM S
peso dessa responsabilidade. Chegou a
estar em cima da mesa a possibilidade de
uma edição de autor, caso a Rastilho não
pegasse no trabalho, pois queríamos andar
com isto para a frente. Claro que ter o selo
da maior editora independente em Portugal,
traz outra responsabilidade, o que acaba por
ser bom, servindo para impulsionar o nosso
trabalho e faz-nos querer dar o nosso me-
lhor. Sentimos que não é só mais um lan-
çamento e tivemos noção disso desde que
fomos para estúdio gravar e entregámos
uma pré-produção ao Pete. Ele disse logo
que tinha potencial para ser mais do que
“apenas” um primeiro lançamento. A uma
dada altura duvidámos disso, pois ouvimos
tantas vezes a música que gravámos, que
HYZMHɧQSWHSMQTEGXSVIEPHSUYIƤ^IQSW
mas hoje acredito que construímos aqui o
início de algo consistente.
Como convidado, o Raça, vocalista dos Re-
volution Within.
Surgiu da forma mais natural possível, já to-
dos o conhecíamos e eu vi um dos primei-
ros concertos com os Revolution Within, no
Colinas Bar, onde aconteceu tanta coisa a
nível de metal. Hoje ambos os grupos divi-
dem a sala de ensaios, e partilhamos um
espaço comum, em que nos cruzamos mui-
tas vezes. O convite não vem só daí, pois
também estive cerca de ano e meio como
baixista da banda, por isso surgiu tudo de
forma natural. Desde uma fase inicial, que
achei que se houvesse uma música para
ter um convidado, ela seria a «Ferocious
Intent», imaginei logo o Raça a fazer uma
desgarrada com o Hugo. Ele tem sido uma
pessoa que nos ajuda imenso e peço desde
já desculpa por ter metido todos os Revolu-
tion Within nos agradecimentos e não ter-
mos citado o Raça em particular.
LOUD! 29
 KATAKLYSM
ETERNOS
INTRUSOS
Dentro do espectro do death metal, os KATAKLYSM
sempre foram uma banda à parte. Demasiado me-
lódicos para os fãs da onda mais brutal, demasiado
pesados para os adeptos da vertente mais melódi-
ca, relevantes para quem gosta dessa mistura a que
juntam groove e peso em doses massivas. O voca-
lista Maurízio Iacono ligou-nos de Chicago, onde
reside, para nos explicar porque razão considera o
novo «Meditations» como um passo decisivo para
se afastarem ainda mais dos seus pares.
JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO
30 LOUD!
Passaram 25 anos desde o lançamento do
vosso primeiro EP, «The Mystical Gate Of
Reincarnation». Como tem sido esta jorna-
da para os Kataklysm?
Tem sido surreal, para ser honesto. Quando
começámos, tínhamos o sonho de fazer isto
para sempre, de fazer coisas grandes, mas
a realidade é algo muito diferente, e a maior
parte das bandas sonham com o mesmo,
porém não chegam aos 25 anos de carreira.
Tem sido uma longa jornada, com muitos al-
tos e baixos, em que temos aprendido muito
e temos vindo a adaptar-nos às mudanças
desta indústria. O mais importante é que nos
XIQSW QERXMHS ƤɯMW E RɸW QIWQSW EUYMPS
em que acreditamos e julgo que tanto tem-
po depois ainda conseguimos ser relevantes.
Fico feliz por termos começado tão novos,
quando andávamos na secundária, porque
assim ainda nos sobra mais algum tempo
para fazermos o que mais gostamos.
:SGɰW WIQTVI WIKYMVEQ S ZSWWS TVɸTVMS
caminho dentro do death metal, nunca se
MRXIKVEVEQ RYQE GIRE SY KɯRIVS IWTIGɳƤ-
co. Desta vez queriam fazer algo ainda mais
único e especial?
É precisamente isso, daí haver um tema no
disco que se chama «Outsider». Por alguma
razão, é muito bom para nós sermos dife-

rentes. Nunca soámos como nenhuma outra
banda. Carregas no play e não vais dizer que
parece Cannibal Corpse ou In Flames ou Chil-
dren Of Bodom. Sempre fomos um híbrido de
várias ideias e estilos, mas sempre soámos a
Kataklysm, mesmo tendo passado por fases
diferentes. É difícil descrever-nos comparan-
HSRSW GSQ SYXVEW FERHEW 1IWQS WI Ƥ^IV-
mos uma versão de Slayer, por exemplo, soa
a Kataklsym! [risos] A questão é: para fazer
uma banda que soa a Cannibal Corpse ou Su-
ffocation ou qualquer coisa do género, não é
QIPLSV ƤGEV GSQ SW SVMKMREMW# )WXEQSW GSR-
tentes com o nosso papel de outsiders, de lí-
deres daquilo que fazemos, e acho que neste
álbum também demos um passo para essa
diferenciação com a escolha de um produtor
que usualmente não trabalha neste subgéne-
ro em particular. Todas as bandas usam os
mesmos cinco ou seis produtores – e, não
me interpretes mal, a nossa experiência com
o Andy Sneap no último álbum foi incrível, um
dos melhores produtores que há por aí, sem
dúvida –, mas quando acabámos de compor
o disco, decidimos que queríamos uma abor-
dagem fora da caixa, queríamos experimentar.
%GEFɧQSWTSVIRXVIKEVEQMWXYVEƤREPES.E]
Ruston, que trabalhou com os Anthrax e com
os Stone Sour, ou seja, com um background
mais rock e menos death metal. Ele já conhe-
cia a banda, mas para ele também foi um de-
WEƤSTSVUYIEWWMQUYISYZMYSQEXIVMEPHMWWI
logo: “Porra, isto é muito pesado!” O resultado
ƤREP ƤGSY MRGVɳZIP EGLS UYI XIQSW YQ HMWGS
com um som muito moderno e que não soa a
mais ninguém, neste momento. É único!
1EWIPIXIZIEPKYQEMRƥYɰRGMEREGSQTSWM-
ɭɩSHSWXIQEW#4EVXMGMTSYRIWWEJEWISYWɸ
foi incluído depois, para tentar atingir esse
som que pretendiam?
Quando terminámos o disco queríamos
alguém que fosse capaz de traduzir correc-
tamente em termos sonoros, aquilo que tí-
nhamos feito em termos de composição. Em
EPKYRWHMWGSWEGSRXIGIYRSWSTVSHYXSƤREP
não soar exactamente ao que escrevemos,
porque, por exemplo, algumas melodias não
se evidenciavam como nós queríamos. Desta
vez pretendíamos um grande foco no ritmo e
uma bateria gigantesca, e quando ouvimos o
que ele fez com os Anthrax e com os Stone
Sour, não tivemos dúvidas de que seria a pes-
soa certa para conseguir tudo isso com um
toque orgânico. Corresponde à forma muito
orgânica como foi composto também. Foi o
primeiro disco em dez anos que escrevemos
juntos, na mesma sala. Não fazíamos isso
desde o «In The Arms Of Devastation», que
já é de 2006, porque vivemos todos em cida-
des diferentes e nos últimos discos usámos
muito a tecnologia para juntarmos as peças.
“Sempre adorei a parte perigosa
do metal. Quando os Deicide
apareceram, tive medo!”
E isso também nos torna mais preguiçosos,
IWWE TEVXMPLE HI ƤGLIMVSW 2ɩS UYI MWWS XIRLE
algum mal, mas queríamos mesmo voltar
aos velhos tempos, quatro tipos numa sala
de ensaios, a atirar ideias uns aos outros en-
quanto bebemos umas cervejas.
Achas que é por isso que o disco saiu tão
diverso?
Acho que sim, porque fomos para este tem-
po juntos de mente muito aberta às ideias
uns dos outros. Queríamos respeitar os nos-
sos fãs mais antigos e as nossas raízes e ao
mesmo tempo tentar coisas novas.
Como foi voltar a ter toda a banda unida a
GSQTSV# %PKYQ ITMWɸHMS QEVGERXI#
Primeiro que tudo, para conseguirmos fazer
isso, ainda temos de desfrutar da companhia
YRW HSW SYXVSW ) ES ƤQ HI  ERSW ɯ UYE-
se como um casamento, não é fácil quando
passas mais tempo na estrada com os outros
tipos do que estás em casa com a tua famí-
lia. Felizmente, ainda temos essa ligação de
irmandade no seio da banda, sobretudo nos
últimos três anos, com a entrada do Oli Beau-
doin [baterista], que se tornou um de nós, a
UYɳQMGE IWXɧ HIƤRMXMZEQIRXI Pɧ ɔ IRKVEɭEHS
porque grande parte do disco foi criado na
minha casa em Chicago. Acordávamos, tomá-
vamos o pequeno-almoço e começávamos
em jam RE GEZI I HI VITIRXI ƤGɧZEQSW E
olhar uns para os outros porque não tínhamos
ideias. Chegávamos às 13h00 e não tínhamos
nada que se aproveitasse e então abríamos
umas cervejas e decidíamos que o dia de tra-
balho tinha acabado, porque se não há inspi-
ração, não podemos forçá-la. Além disso, se
fosse preciso, no dia seguinte escrevíamos
duas canções em 24 horas. Havia dias em que
estávamos simplesmente SR ƼVI. Há temas
emblemáticos dos Kataklysm que foram es-
critos em duas ou três horas. A «In Shadows
& Dust», por exemplo. Neste disco isso acon-
teceu com a «Narcissist», porque percebemos
que tinha de ser bem directa, era aquilo, não
precisávamos de acrescentar mais nada.
Tendo em conta o som muito moderno do
álbum, sentes que é um passo arriscado
que vos pode custar alguns fãs mais tradi-
cionalistas?
Acho que o som é muito moderno, de facto,
no entanto a música mantém tudo o que
sempre fomos. É verdade que isso pode
acontecer, mas ao mesmo tempo a arte não
tem piada nenhuma sem um mínimo de ris-
co. É importante arriscarmos, sem isso não
há evolução, e os Kataklysm estão agora
no 12.º álbum e precisam de encontrar for-
mas de se sentirem relevantes e não anda-
VIQ E VITIXMV S UYI Ƥ^IVEQ RS TEWWEHS 7I
por um lado respeitámos a nossa história,
por outro encontrámos uma forma de fazer
algo diferente. Temos várias canções bem
acima das 200 batidas por minuto, rápidas,
extremas. Uma canção como a «Guillotine»
é completamente in your face, e a «In Limbic
Resonance» é quase como se recuássemos
quinze anos. As palavras-chave deste disco
são diversidade e honestidade.
Sentes que o espírito rebelde do metal
mudou muito desde os tempos em que
eras um fã?
Sinto. Eu sempre adorei a parte perigosa do
metal, quando era novo, adorava a autentici-
dade das bandas. Acho que agora há muita
falsidade em muitas das bandas que vão
surgindo, é tudo muito plástico. Toda a cena
satânica para mim sempre foi uma espécie
de fantasia a que achava piada, mas quando
os Deicide apareceram, tive medo! A sério...
[risos] Quando o «Legion» foi lançado, ver
aquele tipo com a cruz invertida queimada
na testa era impressionante, havia mesmo
um elemento de perigo. Agora é chover no
molhado, ninguém quer saber de mais um
tema sobre religião. Para mim é redundante!
O metal tem de recuperar um pouco da lou-
cura e da dureza que tinha nos anos 80 e 90.
Mas isso é só a minha opinião.
LOUD! 31
 Corria o ano de 1994 quando os membros dos
Cathedral decidiram criar um side project de
crust punk para se divertirem. Dezanove anos
depois, os Cathedral terminaram, e Lee Dorrian,
Gaz Jennings, Scott Carlson e o produtor de
«The Last Spire», Jaime Gomez Arellano, lá
ITCXCTCOƓPCNOGPVGWO'2\KVQPWOCVCTFG
Só 24 anos depois, ou seja, agora, os SEPTIC
6#0-VșOƓPCNOGPVGWOFKUEQCUȘTKQk4QVVKPI
Civilisation». Dorrian, o lendário vocalista, fala-
nos de todo este estranho percurso.
JOSÉ CARLOS SANTOS

32 LOUD!
É esquisito teres agora um disco dos Septic
Tank, tantos anos depois de terem formado
esta banda?
É um bocado. Especialmente agora que nos
perguntam coisas sobre isso em entrevistas.
Porque obriga-nos a pensar nisso, e isto sem-
TVI JSM EPKS UYI Ƥ^IQSW WIQ TIRWEV QYMXS
Nunca foi algo de sério ou com alguma
continuidade, até porque nunca houve essa
oportunidade. Suponho que agora, não tendo
os Cathedral – e não é que de repente tenha
ƤGEHS GSQ MQIRWS XIQTS PMZVI TSVUYI RɩS
ƤUYIM QIWQS ?VMWSWA ũ  ENYHE E UYI XIRLE-
QSWJIMXSEPKSƤREPQIRXIQEWTEVEWIVWMR-
cero, os Septic Tank não são uma banda que
nos tome muito tempo. Bem sei que há um
buraco de quase 25 anos entre o primeiro en-
saio e o primeiro disco, mas tudo foi escrito e
gravado muito rapidamente. Metade dos te-
mas foram escritos durante a gravação, aliás.
Todo o processo demorou cinco dias.
.ɧɯYQEZERɭSIQVIPEɭɩSES)4HI
que foi numa tarde, não foi?
Sim, escrito, gravado e misturado numa tarde.
Parece-me que… bom, se conseguimos fazer
as coisas desta forma, e se resulta, porquê
JE^IV HI SYXVE QERIMVE# )WXI XMTS HI QɽWMGE
sai-nos muito naturalmente. Não que tenha-
mos passado anos a tocá-la, mas é algo que
está dentro de nós. Tudo aquilo de que gos-
távamos quando éramos mais jovens, todas
as bandas que se pode dizer que este álbum
VIJIVIRGMEWMKRMƤGEZEQQYMXSTEVERɸWUYER-
do tínhamos catorze ou quinze anos. Pode-se
argumentar que é um álbum que tenta estar
num determinado local, numa determinada
época, e que ignora tudo aquilo que aconteceu
na música desde então, e… se calhar é verda-
de. Mas who fucking cares# ?VMWSWA 2ɩS SYɭS
hardcore moderno, não tenho qualquer inte-
resse nisso. A única maneira que tínhamos de
JE^IVYQɧPFYQEWWMQɯGSQSSƤ^IQSWRɩS
poderia soar de outra forma. Instintivamente,
a nossa tentativa de fazer um álbum deste es-
tilo ia sempre soar a isto.
O que nos leva a uma questão interessante
ũ ƤGE E WIRWEɭɩS HI UYI WI XMZIWWIQ PSKS
gravado um disco quando formaram os Sep-
XMG8ERORSWERSWRɩSWIVMEEWWMQXɩSHMJI-
rente do que é o «Rotting Civilisation». Achas?
Pois não, aliás, acho que teria sido exacta-
QIRXI MKYEP %W MRƥYɰRGMEW WɩS EW QIWQEW
que já tínhamos nessa altura. Desde bandas
como Slaughter ou Celtic Frost, e Repulsion
como é natural, até outras referências in-
teiramente óbvias como Discharge, muito
hardcore europeu, punk californiano, bandas
GSQS*MREP'SRƥMGXSY%XXMXYHI%HNYWXQIRXE
mentalidade é essa. Dito isto, não nos esque-
çamos que este é o nosso primeiro álbum. Se
Ƥ^IVQSW SYXVS I IWTIVS UYI MWWS EGSRXIɭE
isto é apenas um ponto de partida musical.
Achas que é possível evoluir, dentro dos
QIWQSWTEVɨQIXVSWIMRƥYɰRGMEW#
Acho que sim, e de várias formas. Espero, no
entanto, que a coisa que não seja derivativa
neste disco sejam as letras. O conteúdo temá-
tico foi a única coisa que não modelei em mais
ninguém, nem tentei copiar nenhuma tendên-
GME)WXMPSZSGEPWMQZɧVMEWMRƥYɰRGMEWGPEVEW
ninguém está a negar isso, mas liricamente,
não tentei escrever como outra pessoa escre-
veria. E também surgiram espontaneamen-
te – para aí 80% destas letras ocorreram-me
numa tarde, sentei-me e escrevi. Quando tens
QYMXEWGSMWEWUYIXIMVVMXEQƤGEQEJYRHEHEW
PɧHIRXVSRɩSɯ#1EMWGIHSSYQEMWXEVHIXɰQ
que sair. E ter uma banda deste género é uma
boa ideia para as libertar.
É algo de que sentias falta? Ou sempre
consideraste as tuas letras como algo com
essa função?
&SQ XEQFɯQ RɩS ɯ UYI WINE EPXE ƤPSWSƤE
São só observações básicas das coisas que
vejo à minha volta. Diria que com os With The
Dead acontece algo parecido, mas são escri-
tas de forma mais cínica. Ou mais niilista, é
o termo mais correcto. Mas escrevo mais ou
menos da mesma maneira nessa banda, ape-
sar de a aproximação ser diferente de muitas
formas. Acho acima de tudo que, quando se
chega a este ponto, com esta idade e expe-
riência, com tudo o que já passei, começa-se
a perceber algumas coisas que eram obstá-
culos à criatividade. Passei imenso tempo a
pensar sobre o que fazia, preocupado como
ia ser recebido, se o disco que estávamos a
fazer fazia sentido a seguir ao anterior, toda
IWWE QIVHE %S ƤQ HI QYMXSW ERSW E JE^IV
isso, a ansiedade diminui, e deixa-se de tentar
forçar que tudo aquilo que se faz seja incrível,
RɩSWIVZITEVEREHE7ɩSGSMWEWUYIWMKRMƤ-
cam muito quando se é jovem, mas a partir “Se a tua vida
de uma certa idade percebe-se que muito
daquilo que considerávamos importante é
na realidade bastante trivial, quando olhamos
é ditada pelo
para a bigger picture.
número de likes
Mesmo assim, continuas a ter muitas coisas
que te irritam. Não na banda, mas à tua volta. que tens num post,
As letras não são “bonitas”, de facto. Con-
tinuas, de certa forma, a incitar à rebelião? então, desculpa lá,
A questão é diferente – é mais se nos per-
QMXMQSWƤGEV^ERKEHSWSYWIHIM\EQSWUYI
as coisas nos passem por cima. Ou então
mas a tua vida
tolerar algo, mas ter um ponto de vista ob-
jectivo sobre essa questão, e isso já é im- é muito triste.”
portante. Não é fácil, muitas vezes, para as
pessoas resistirem às situações em que se
encontram, revoltarem-se com as injustiças Às vezes parece que nada muda. Em aspec-
que acontecem, e é preciso compreender to nenhum. Mesmo politicamente, substitui
isso. Muita gente ou não tem energia para Reagan/Thatcher por Trump/May em muitas
isso, ou está demasiado ocupada só a tentar PIXVEWHIWWEEPXYVEIƤGEQ EGXYEMWŷ
sobreviver. Pessoalmente, uma das piores Há muita raiva nas pessoas, e há muitos miú-
coisas que vejo hoje em dia nas pessoas dos a lutar contra. É fácil tornarmo-nos cí-
é o narcisismo. Vejo muita coisa boa que nicos, mas mesmo assim na altura tudo me
o Facebook e demais redes sociais trouxe- parecia diferente. Havia muita acção directa,
ram, mas infelizmente acho que o negativo muito confronto físico com a polícia. Bandas
supera largamente o positivo. As pessoas GSQSSW'SRƥMGXIWXMZIVEQREPMRLEHEJVIRXI
tornaram-se obcecadas consigo próprias, dessa mentalidade, e para o bem e para o mal,
e escrevi mesmo um par de canções sobre funcionou. Encorajou muita gente, eu incluí-
isso no álbum. Temos um cenário de guerra do, a sair de casa e a fazer alguma coisa. Só
e dor à nossa volta, e as pessoas só querem que não durou. Imagino que haja música por
tirar fotos a elas próprias a fazer beicinho, aí hoje em dia a ter efeitos parecidos, mas eu
é doentio. Todas as ansiedades, falta de não a vejo. Mas também tenho quase 50 anos,
GSRƤERɭERIGIWWMHEHIHIWIVIQEHSVEHEW já não tenho dezassete. Já não tenho energia
tudo isso foi trazido para a superfície pela para ir ser preso por algo em que acredito –
mentalidade imposta pelas redes sociais. E S UYI RɩS UYIV HM^IV UYI RɩS S Ƥ^IWWI 1EW
se a tua vida é ditada pelo número de likes não tenho essa vitalidade, apesar de manter
que tens num post, então, desculpa lá, mas a os meus ideais. Quando estás todos os dias a
tua vida é muito triste. Dito isto, eu costuma- encontrar coisas que estão erradas e a tentar
va sair muito à noite e sentar-me a observar corrigi-las, constantemente, isso não é bom.
as pessoas, e a vaidade já nessa altura era Se tudo o que vês, todos os dias, são as coisas
ridícula. E já escrevia canções sobre isso, so- erradas do mundo… Claro que não podemos
bre a esterilidade social. Acho é que agora é MKRSVEVMWWSQEWƤGEVSFGIGEHSXSVREXIYQE
tudo mais visível. vítima de ti próprio. Não é saudável.
LOUD! 33
 AMORPHIS
TEMPOS DE GLÓRIA

Os AMORPHIS estão a viver uma boa fase. «Under The

Red Cloud» marcou os 25 anos de carreira da banda
ƓPNCPFGUCGHQKFGWOCHQTOCIGTCNEQPUKFGTCFQEQOQ
um dos melhores discos que já lançaram, elevando a
fasquia em termos de expectativas dos fãs para o 14.º
NQPICFWTCȖȒQ0WOCPQKVGFGƓPCNFG(GXGTGKTQGEQO
uns gélidos -18º no exterior, em Helsínquia, a LOUD! teve
uma amena conversa com o baterista Jan Rechberger
e com o guitarrista Tomi Koivusaari, ambos membros
fundadores, sobre o muito aguardado «Queen Of Time».
Ficámos a saber que é uma versão 2.0 do disco anterior,
que o produtor Jens Bogren já se tornou quase um
sétimo elemento da banda e muito, muito mais.
JOSÉ ALMEIDA RIBEIRO

34 LOUD!
O
«Under The Red Cloud» foi um disco
HIKVERHIWYGIWWSTEVEZSGɰW'SQS
foi lidar com a pressão de terem de
fazer algo tão bom ou melhor?
Jan Rechberger: Como sabes essa é uma
questão típica, sobretudo quando vimos de
um disco que, como disseste, teve tão boas
críticas da imprensa e foi tão bem recebido
pelos fãs. Diria que não pensamos dessa
maneira, de que temos de superar o disco
anterior.
Tomi Koivusaari: Na verdade pensamos, mas
é subconscientemente...
Jan: Pois, talvez. Sabemos que temos de
escrever um disco e a música surge natu-
ralmente. Queremos fazer as melhores can-
ções possíveis, mas ao compormos não va-
mos estar a comparar o que estamos a criar
GSQSUYIƤ^IQSWRSTEWWEHS
Tomi: Desta vez foi diferente, porque foi a
segunda ocasião em que trabalhámos com
o Jens [Bogren, produtor] e se da primeira
ainda estávamos a aprender os métodos
dele, desta vez já sabíamos com o que po-
díamos contar.
Jan(ESYXVEZI^ƤGɧQSWGLSGEHSWHIWXE
vez foi fácil. [risos] Quer dizer, fácil não foi
porque trabalhar com ele nunca é fácil, ele é
um produtor mesmo muito exigente e isso
é bom, aliás foi por isso que o contratámos.
Ou seja, ele também serve como controlo
de qualidade, o que retira parte dessa pres-
são. Acabou por ser mais relaxado, apesar
de tudo.
Tomi: O mais stressante foi acabarmos uma
digressão de quase dois anos seguidos num
Sábado e começarmos a trabalhar em estú-
dio numa segunda-feira. Não tivemos tempo
sequer para respirar.

Como é que conseguiram ter material tão

rápido se passaram tanto tempo na estra-
HE# :SGɰW WɩS YQE FERHE IQ UYI UYEWI
toda a gente contribui em termos de com-
posição, certo? E o regresso do Olli-Pekka
Laine [baixista] ainda reforçou o número de
gente a escrever...
Tomi: Fomos compondo entre digressões
ao longo de dois anos, no pouco tempo que
tivemos livre, e fomos gravando demos, por-
tanto quando nos juntámos ao Jens já não
vínhamos do zero.
Jan: Está mais ou menos estabelecido que
a maioria das canções são escritas pelo
Santeri [Kallio, teclista] e pelo Esa [Holopai-
nen, guitarrista], mas aqui o Tomi também
contribuiu e o Olli também escreveu uma
das canções, o que me parece fantástico

LOUD! 35
 porque acaba por haver muita diversidade
na composição.
Para o disco anterior compuseram vinte
temas e depois escolheram os melhores
dez. Como foi com o «Queen Of Time»?
Aproveitaram material que sobrou do disco
anterior?
Tomi: Acho que tínhamos dezoito no início e
acabámos com treze e depois escolhemos
as melhores dez.
Jan: O que não é aproveitado é lixo. Não ser-
viu, não é usado.
E nunca se arrependem?
Jan: É uma boa questão, mas sinceramente
não.
Tomi: Faz parte do processo pensar muito
nisso, não faria sentido depois de excluirmos
um tema, irmos aproveitá-lo. Foi excluído por
alguma razão.
Jan: Provavelmente, cada um de nós tem os
seus temas preferidos e muitas vezes não
WɩSSWQIWQSW1EWRSƤREPHSHMELɧYQE
razão para não serem eleitos. E agora tam-
bém temos o Jens. Se tivermos dúvidas, ele
toma essa decisão por nós.
*SMHMJɳGMPHIƤRMVSEPMRLEQIRXSHSHMWGS#
Jan: Havia várias opiniões sobre esse
tema, já depois de o Jens ter escolhido o
alinhamento. Cada um ditava sua senten-
ça e expusemos essas dúvidas ao Jens.
Passado uns dias recebemos um e-mail
dele a dizer: “(ITSMWHIYQEWʣVMEVIƽI\ʝS
S EPMRLEQIRXS GSRXMRYE I\EGXEQIRXI S
mesmo.” [risos]
Tomi: Há seis opiniões diferentes sobre
quase todos os temas e por isso gosta-
mos de ter alguém externo a aconselhar-
-nos. Não entregamos esse papel a qual-
quer pessoa, a uma pessoa que se esteja
a marimbar e escolha aleatoriamente. Sa-
bemos que o Jens pensa mesmo no que
é melhor para o disco e para nós. E se ele
decidiu assim é porque, muito provavel-
mente, era mesmo o melhor alinhamento
possível.
Jan: Nada é circunstancial com ele, não toma
decisões com base em palpites aleatórios.
Tudo tem uma razão de ser e ele consegue
fundamentar todas as opções que toma,
mesmo que nós por vezes nem lhe pergun-
temos o porquê.
Tomi: Todos concordámos qual seria o tema
de abertura, por exemplo. Era o que tinha em
mente e foi o mesmo que o Jens escolheu.
Jan: Sim, também era o meu. Assim que
SYZMEQMWXYVEƤREPISTSHIVHIWWEGERɭɩS
não tive dúvidas de que tinha de ser a pri-
meira do álbum. Já sobre o resto do disco
estava bastante confuso, para mim havia
várias hipóteses.
O álbum tem muita variedade e é fácil iden-
XMƤGEV XIQEW IQ JYRɭɩS HI GEVEGXIVɳWXMGEW
IWTIGɳƤGEWHIGEHEYQ:SGɰWWIQTVIUYM-
seram ter todos esses elementos distintos
ou foi mais o Jens que pintou o quadro des-
sa forma?
Jan: Algumas coisas fomos nós, mas para
ser sincero diria que a maior parte dessas
ideias mais fora da caixa vieram da cabeça
do Jens. Lembro-me de lhe mostrarmos a
demo de uma canção e ele dizer logo: “aqui
36 LOUD!
vou pôr um quarteto de cordas árabe”. E nós
olhámos uns para os outros e pensámos:
pois, está bem. Nem ligámos ao que disse,
mas a verdade é que ele colocou lá esses
elementos adicionais que enriquecem muito
S HMWGS I UYERHS SYZMQSW S VIWYPXEHS ƤREP
ƤGɧQSWGLSGEHSW)IPIVIWTSRHIYŰEu dis-
WIZSWQEPXE” [risos]
Tomi: Muitas dessas coisas estavam criadas
por nós nos teclados, ele só construiu por
cima das melodias que já tínhamos, dando
mais vida ao que estava criado.
O Jens tem fama de ser muito rígido, como
ZSGɰWQIWQSWNɧVIJIVMVEQɔTVIGMWSQYM-
XETEGMɰRGMETEVEPMHEVGSQEPKYɯQXɩSI\M-
gente?
Jan: Para mim, sim e não. Há uma razão pela
qual escolhemos produtores. Porque eles
vão ter uma visão que nós que criámos os
temas não conseguimos ter. Ele ouve coi-
sas que nós não ouvimos, porque temos o
ouvido e a mente viciada. Portanto, não me
importo de ter alguém com esse grau de exi-
gência a puxar por mim.
Tomi: Quando trabalhamos sem produ-
tor, instala-se o caos, porque perdemos o
“Há muito mais
guturais do que
inicialmente
planeámos e
o Jens é o grande
responsável por
isso” – Tomi
rumo, não sabemos quem é responsável
pelo quê, às vezes até nos esquecíamos
de colocar partes das músicas que já tí-
nhamos composto. Tê-lo connosco facilita
muito mais o processo do que complica e
alivia-nos muito.
Jan: Reduz o nosso stress e aumenta o dele,
porque é um perfeccionista!
Este é um disco muito forte como um
todo, mas também pelas prestações indi-
viduais das guitarras, da bateria e da voz.
Como encontram o equilíbrio para evoluir
enquanto banda e conseguirem assinar
prestações tão inspiradas também a um
nível individual?
Jan: Para mim a performance tem sempre
de honrar a composição. É importante nun-
ca nos esquecermos que fazemos parte de
um grupo, não estamos ali a tocar para nós
mesmos.
Tomi: Por vezes, menos é mais...
Jan: Na maior parte das vezes, aliás.
Tomi: É uma questão de sensibilidade. Per-
ceber os timings para poderes acrescentar
um pormenor ou fazer algo mais técnico,
desde que respeite a atmosfera do todo.
Jan: O Jens gosta de levar o seu tempo para
ter o melhor de nós, mas por outro lado tam-
bém gosta de ser rápido a decidir. Às vezes
tenho dez ideias diferentes para uma batida
e não sei qual é a melhor e aí é óptimo ter-
QSWYQTVSHYXSVUYIXIHM^PSKSŰƤGEGSQ
esta, esquece as outras”.
Imaginam-se a trabalhar sem produtor ou
mesmo sem o Jens no futuro, depois de
ele assumir um papel tão relevante neste
disco?
Tomi: Podíamos pensar em trabalhar sozi-
RLSW TSVUYI WIQTVI S Ƥ^IQSW % TVMQIMVE
vez que tivemos um produtor foi mesmo o
Jens. No «Circle», o Peter Tägtgren foi um
engenheiro de som...
Jan: Também tivemos um tipo no «Am Uni-
versum».
Tomi: Sim, mas foi só a produzir vozes... No
entanto, respondendo à tua questão, se con-
tinuarmos a fazer este tipo de som será mui-
to difícil que não continuemos com o Jens.
Nunca se sabe. Se o próximo disco for punk,
acho que conseguimos tratar de tudo sozi-
nhos. [risos]
Jan: Ele subiu muito os nossos padrões de
exigência. Há uma diferença enorme entre
trabalhar com um produtor e com um enge-
nheiro de som, entre alguém que intervém
e tem voz activa na tua música e alguém
que se limita a captá-la. E há muitos enge-
nheiros de som que se auto-intitulam pro-
dutores, mas estão muito longe de o ser. O
melhor do Jens é que teve uma contribuição
enorme para o disco, sem desvirtuar mini-
mamente o que somos, sem beliscar a alma
dos Amorphis.
5YɩS EFVERKIRXIW WɩS EW ZSWWEW MRƥYɰR-
cias musicais nesta altura e de que forma
WIVIƥIGXIQRIWXIHMWGS#
Tomi: Toda a boa música que ouvimos, seja
ela de que estilo for, nos inspira. E tudo o
que nos inspira pode determinar o que va-
mos criar.
Jan: Diria que nunca fomos tão abrangentes
nos nossos gostos musicais e nunca fomos
tão diversos na nossa música. Não nos
preocupamos com estilos, porque sabemos
adaptar o que nos inspira ao nosso contexto
e àquilo que são os Amorphis. Daí teres tan-
tas melodias e harmonias étnicas, muito folk,
death metal, por aí fora.
Desde o «Silent Waters» que as vossas le-
tras são escritas por alguém que não per-
tence à banda, o escritor Pekka Kainulainen.
Sentem sempre uma ligação com o que eles
vos apresenta?
Jan: Na minha opinião, temos uma liga-
ção invisível com o Pekka. É algo muito
difícil de explicar e percebo que também
seja difícil de entender para quem está de
fora. A verdade é que funciona sempre.
Óbvio que é um processo muito compli-
GEHS TSVUYI IPI IWGVIZI IQ ƤRPERHɰW I
depois temos de traduzir para inglês e há
muitos arranjos e muitas mudanças de
palavras que se repetem ou são retiradas,
mas sempre com a preocupação de não
mudar o sentido do que foi escrito por ele.
O Tomi [Joutsen] também faz um trabalho
excelente a esse nível.
LOUD! 37
 Tomi: Quando começámos a trabalhar com
o Pekka ele limitava-se a fazer traduções do
«Kalevala». Depois pedimos-lhe para come-
çar a escrever coisas dentro desse estilo,
HIRXVS HS QIWQS IWTɳVMXS I ƤGEQSW WIQ-
pre deslumbrados com o que nos apresen-
ta. Por vezes há palavras que não podemos
colocar na música e temos de arranjar uma
substituição.
Jan: Sim, havia uma letra que tinha a palavra
cafetaria. E dissemos, “dude RʬW RʝS TSHI-
QSWXIVETEPEZVEGEJIXEVMERYQEPIXVERSWWEƉ
[risos] São meros pormenores, no geral, a for-
ma como escreve é fascinante.
(IWHI S m8LI &IKMRRMRK 3J 8MQIW| ZSGɰW
XɰQZMRHSEƤGEVQEMWTIWEHSW%RHEVIQE
8 LOUD
tocar o «Tales From The Thousand Lakes»
RE ɳRXIKVE IQ  XEQFɯQ GSRXVMFYMY
para esse reforço de peso?
Tomi: Não, porque sempre tocámos temas
desse disco ao longo de todas as fases
da nossa carreira. Tocá-lo na íntegra não
fez diferença. Houve sempre seis canções
desse disco que faziam parte do nosso
EPMRLEQIRXS %GLS WMRGIVEQIRXI UYI ƤGɧ-
mos mais pesados com a entrada do Tomi
[Joutsen] em 2004. Mas não posso negar
que tocar esses temas ao vivo ajudou-nos
a relembrar como é divertido termos esse
peso na nossa música.
Jan: Diria que não foi decisivo, mas certa-
mente foi mais um passo nessa direcção,
de termos mais contrastes e mais extre-
mos opostos na nossa música. Acho que o
«Circle» marcou uma diferença em termos
de peso e agora com o Jens esse peso saiu
reforçado. A nossa ideia inicial era fazer
algo mais leve e não tão extremo, porém
com o toque do Jens e depois de ele ouvir
as canções acabámos por ir por caminhos
mais selvagens.
Tomi: Sobretudo a nível vocal. Há muito mais
guturais do que inicialmente planeámos e o
Jens é o grande responsável por isso. E ain-
HEFIQƤGSYXYHSI\GIPIRXIEIWWIRɳZIP
Quem teve a ideia de convidar a Anneke
van Giersbergen para cantar na «Amongst
Stars»?
Tomi3ERSTEWWEHSRS:IVɩSƤ^IQSWYQ
concerto especial e a Anneke participou.
%GLSUYIHIWHIEɳƤGSYEMHIMEHIIPETSHIV
cantar num disco nosso. Já a conhecemos
há muitos anos e só nos cruzamos de vez
em quando...
Jan: Sim, agora tínhamos uma grande can-
ção que estava mesmo a pedir uma voz
feminina e por isso nem houve hesitações.
Ligamos-lhe e ela aceitou logo.
Nesta altura, qual é a vossa canção preferi-
HEHSHMWGSITSVUYɰ#
Jan: Foda-se, essa pergunta é tão difícil. [ri-
sos] Para mim ainda está tudo muito fresco
e vou precisar de conviver e tocar mais es-
XIWXIQEWTEVEHIƤRMVSQIYJEZSVMXSQEW
a escolher um agora diria que é o «Heart Of
The Giant», que para mim tem tudo.
Tomi: Essa seria a minha segunda escolha,
mas diria que é a «The Bee», porque repre-
senta o que é o disco e tem praticamente
todos os elementos que depois estão es-
palhados ao longo do álbum, mas também
algumas coisas que nunca tínhamos feito
ERXIVMSVQIRXI %GLS UYI ɯ YQ IWTIPLS ƤIP
deste disco e também por isso é o tema de
abertura e aquele que mostrámos primeiro
ao mundo.
Os Amorphis ainda vos fazem sonhar
muito?
Tomi: Não sonhamos com grandes suces-
sos. Tentamos fazer sempre melhores ál-
buns e acho que sonhamos fazer sempre o
melhor disco possível, porque é isso que nos
dá satisfação.
Jan: Acho que sonhamos de uma forma
realista. Não vivemos à sombra dos louros
e não damos nada por garantido. Não esta-
mos propriamente a dormir numa cama de
rosas. [risos] Nunca estou totalmente satis-
feito com nada do que fazemos e acho que
somos ávidos. Gosto de pensar em mim
como um músico ambicioso numa banda
ambiciosa. Isso é algo que nunca muda. O
novo disco representa uma melhoria em
“Nunca estou totalmente satisfeito
com nada do que fazemos e acho
que somos ávidos. Gosto de pensar
em mim como um músico ambicioso
numa banda ambiciosa. Isso é algo
que nunca muda.” – Jan
relação ao anterior e espero que o próximo
represente o mesmo em relação a este. É
um processo que nunca acaba.
Com o que é que não estás satisfeito,
Jan?
Jan: Precisávamos de mais uma semana
de conversa para falar sobre isso… [risos]
Como músico no que toca à minha perfor-
mance, aos arranjos da música, às opções
UYI Ƥ^ Lɧ WIQTVI EPKS TEVE GSVVMKMV WIQ-
pre algo para melhorar...
Tomi: Acho que o que o Jan está a tentar
dizer é que nunca podemos chegar ao ponto
em que dizemos: ƈ4VSRXS ʣ MWXS 2ʝS TSHME
WIV QIPLSV HS UYI MWXSƉ Pode ser sempre
melhor.
Jan: Sim, temos de olhar sempre para o
futuro, acreditar que há novas coisas para
explorar, novos detalhes para experimentar
e, claro, sermos críticos com o nosso pró-
prio trabalho.
Sim, mas achar que podes fazer melhor
RɩS WMKRMƤGE UYI RɩS TSWWEW ƤGEV WEXMW-
feito e desfrutar com aquilo que já criaste,
certo?
Jan: Sim, claro, só acho que podemos fazer
ainda melhor. Eu sei que isto pode parecer
excessivo, até porque o disco ainda nem
sequer saiu, mas é como me sinto. Todas
as bandas dizem que o seu último disco é
incrível. E eu não estou a dizer que não é!
Só que já penso que no próximo ainda fa-
remos melhor.
Tomi: Eu percebo o Jan porque estou
satisfeito com o disco, mas assim que o
temos pronto, desligo dele. Talvez daqui
a dez anos já consiga desfrutar sem es-
tar a pensar que podemos fazer melhor
a seguir.
Que álbuns vossos vos provocaram uma
sensação de desilusão uns anos depois?
Há algum que achavam incrível quando o
gravaram e depois passados uns anos per-
GIFIVEQUYIEƤREPŷRɩSIVEEWWMQXɩSFVM-
lhante? [risos]
Jan: Para ser honesto nunca ouço os nos-
sos discos. Claro que toco algumas can-
ções ao vivo, mas nunca os ouço. Acho
que é uma boa questão, porque cada
HMWGSVIƥIGXISIWXEHSHIEPQEHEFERHE
nos tempos em que o criou. E raramente
é igual ou sequer parecido. Acho que nem
nunca tinha pensado nisto nesses termos.
Parece-me impossível comparar certos ál-
buns e até algo injusto, porque muitos são
totalmente diferentes.
Tomi: Acho importante que quando aca-
bas de escrever um disco estejas real-
mente convencido de que é o teu melhor,
mesmo que não seja e mesmo que pas-
sado uns tempos venhas a perceber isso.
Tens tempo para perceber e para apren-
der o que podes fazer diferente para me-
lhorar. Respondendo à tua questão, diria
que no «Am Universum» não estivemos
tão focados como deveríamos, o «Far
*VSQ 8LI 7YR| ƤGE YRW JYVSW EFEM\S TSV
causa das vozes e acho que o «The Be-
ginning Of Times» talvez seja demasiado
pesado e longo.
Jan: Sim, concordo, é demasiado para di-
gerir. Tem alguns temas muito bons, mas
como um todo podia funcionar melhor. No
entanto, para algumas pessoas é o melhor
disco de sempre e eu não lhes quero tirar
isso. [risos]
LOUD! 39
 FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM

CO GLOM A O
TIC-A
ǽUGIWTQCƓTOCTSWGPȒQJȐPGPJWOCDCPFCPQOWPFQRCTGEKFCUGSWGT
L
com os FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM. Nem musicalmente, nem
de outra maneira qualquer. Enchemo-nos de coragem, engolimos uma
«Hóstia», e fomo-nos meter no meio do tiroteio verbal necro-católico que
é uma conversa com o Monsenhor Belathauzer, o Helregni aka Rick Thor
e, excepcionalmente, porque a LOUD! consegue coisas que mais ninguém
consegue, o misterioso e reclusivo baterista Arrno Maalm. Preparem-se.
JOSÉ CARLOS SANTOS ESTEFÂNIA SILVA

Então…
Belathauzer: Então vá, começa! Ou queres que
RɸW TVɸTVMSW RSW IRXVIZMWXIQSW# 6MGO )RXVI-
vista-me. Ou não, eu entrevisto. Helregni! É
uma honra estar convosco, hoje, neste dia.
Helregni: É natural.
Belathauzer: É a primeira vez que entrevisto
uma lenda viva do metal nacional. Como é que
ɯ S ɽPXMQS HI 6EZIRWMVI ɯ QIPLSV UYI S HI *MPMM#
5YEP ɯ UYI TVIJIVIW# :IRSQ % SY :IRSQ &#
Helregni: Não sei, porque o último de Raven-
sire ainda está a ser composto.
Acho que ele prefere Perpetratör.
Belathauzer: Ah! Muito boa resposta de saída!
[entretanto chega o baterista Arrno Maalm,
apropriadamente munido de um… pão de
deus] Mas olha, agora já podemos começar
a sério. Estávamos só a fazer tempo para a
chegada do presidente. Chegou o senhor do
pão de deus!
%MRHE WI ZIRHIWWIQ EUYM LɸWXMEW 3PLE TSV
falar nisso… [nisto, o Belathauzer coloca
uma bíblia em cima da mesa]
Arrno: Olha que eu tenho uma igualzinha,
mas está escrita de lado.
Belathauzer (SMVEHE XEQFɯQ GSQS E QMRLE#
E com mapas. Isto é uma edição muito boa.
Helregni 8SHSW SW FSRW PMZVSW HI ƤGɭɩS XɰQ
QETEW RS ƤQ
Belathauzer: Olha aqui, Abadom, Apoliom…
é o Apocalipse 9:11. Vamos começar a en-
trevista com esta citação: “E tinham caudas
WIQIPLERXIW ʚW HSW IWGSVTMʮIW I EKYMPLʮIW
nas suas caudas…”
Helregni 'SPLɺIW REW WYEW GEPɭEW#
Belathauzer: “…e o seu poder era para da-
RMƼGEV SW LSQIRW TSV GMRGS QIWIW” Isto é
genial, é literatura hilariante.
Arrno: Tens noção que isto vai correr muito
QEP RɩS XIRW#
Até agora, tudo perfeito, por mim. Mas isto
ɯ WIQTVI EWWMQ GSQ ZSGɰW#
Arrno: É, é.
Helregni: Tendencialmente.
4SV MWWS ɯ UYI ZSGɰW HIQSVEQXIQTSEXIV
discos prontos, não é?
Helregni: É um caos. Às vezes a ordem sai do
caos. Às vezes é o caos que sai da ordem.
Belathauzer: Não, nós demoramos porque…
a arte precisa de tempo. A arte boa precisa
de tempo. E a arte má, precisa ainda de mais
tempo. A arte péssima, que é o nosso caso,
precisa pelo menos de cinco a seis anos.

40 LOUD!

Foram mesmo estes anos todos de volta da
m,ɸWXME|#
Belathauzer: A «Hóstia» sempre esteve den-
tro de nós. Dentro do nosso sangue, e tam-
FɯQHISYXVSWƥYɳHSWGSVTSVEMWGYNEI\TVIW-
são será pouco recomendável para leitores e
leitorinhas mais jovens.
Helregni: A «Hóstia» surgiu como uma ejacu-
lação por parte do Belathauzer. Houve uma
altura em que, tal como se se tivessem ali-
nhado os planetas de Satanás, ele nos con-
tactou e disse, “vamos para estúdio e vamos
compor um álbum!” E rapidamente, aliás,
mais rapidamente do que em qualquer outra
altura na história dos Filii…
Belathauzer: Esse dia foi o 11 de Setembro de
2016. Tive uma revelação do Espírito Santo.
Lembro-me, liguei-vos e disse isso. E em dois
meses e meio compusémos isto tudo por re-
velação do Espírito.
ArrnoɔMRGVɳZIPƤ^IQSWYQɧPFYQHSW^IVS
aos 100% em dois meses e meio.
Belathauzer: Sim, mas um zero que tinha
muito substracto prévio. Depois, foi neces-
sário eu ir até ao Vaticano e benzer o meu
caderno de letras e apontamentos musicais,
o tipo de acordes, a musicalidade… nós gos-
tamos muito de música.
Helregni: Até houve uma ou outra letra que
IWGVIZIWXIPɧIQ6SQERɩSJSM#
Belathauzer: Foi, na igreja de Sant’Agostino.
O próximo disco será provavelmente integral-
mente escrito em italiano.
A Osmose não vos pediu para mudar o
idioma do disco, imagino? E aproveitem a
dica para falar da importância de estarem
nessa editora.
Belathauzer: Não, de maneira nenhuma. A Os-
mose é a editora dos nossos pesadelos mais
húmidos! Aliás, a Osmose já lançou quatro dis-
cos nossos, mas foram tão underground, que
nem a própria Osmose chegou a perceber.
Belathauzer: A Osmose é uma editora que
qualquer pessoa com dois dedos de testa
percebe que… Eh pá, eu comprei o primei-
ro lançamento da Osmose quando saiu, o
«Worship Him» dos Samael.
Helregni: É uma editora que nos diz muito
porque lançou muita coisa boa que é uma
referência incontornável para os Filii. A van-
tagem é que poderemos através deles ter um
tipo de exposição lá fora que não temos des-
de há muitos anos. Desde a demo.
Belathauzer 3W *MPMM ZɩS WIV ƤREPQIRXI YQE
banda ecuménica, espalhada pelos cinco
continentes. Vamos ter cada vez mais fãs, e
acima de tudo, mais pessoas que nos odeiem.
Helregni: Há anos, houve um concerto em
que ele diz – “TEVE S ERS UYI ZIQ ʛPFYQ
novo na Osmose!” Para aí em 2010. Eu pen-
sei, este gajo diz esta merda e o pessoal vai
pensar que é verdade. A verdade é que se
cumpriu a profecia!
Arrno: Nostradamus não falhou!
Helregni: Nós-tardamos, mas não falhamos!
Belathauzer, quanto tempo demoras a es-
crever as letras de um disco? Quem conver-
WEYQFSGEHSGSRXMKSƤGEGSQEWIRWEɭɩS
que és capaz de escrever um álbum inteiro
de letras em cinco minutos.
Belathauzer: Se tomo algum tipo de calman-
XI#4SVI\IQTPSLɧFSGEHSIWXMZIEPMWIRXE-
do e escrevi várias ideias para letras. Escrevo
um verso acoli, outro acolá, um ano tem 365
dias e portanto eu devo escrever uns 365 ver-
sos por ano. Daí, aproveitam-se uns dez, ou
66,6, ou pior, e depois vão-se fazendo. Mas
WɩSWIQTVIQSHMƤGɧZIMW%WPIXVEWWɸWIHI-
ƤRIQRSQSQIRXSHEKVEZEɭɩS
Helregni: E nem assim. As letras que vêm
no álbum são as letras que eram na altura
em que fomos para estúdio gravar. Depois
continuam a mudar. Aliás, a nova versão do
«Fellatrix» tem algumas letras que entretanto
sofreram alterações.
&SE *EPIQSW HS m*IPPEXVM\| 2ɩS Wɸ Lɧ E
m,ɸWXME| RSZE E WEMV ZME 3WQSWI GSQS
também uma reedição do «Pornokrates:
Deo Gratias», e sim, essa regravação do
«Fellatrix», que me parece particularmente
relevante.
Belathauzer: O «Pornokrates» é só uma ree-
dição, porque estava bom como estava na
altura. O Hervé, da Osmose, quis reeditar
porque é um gajo com pés e cabeça, que
adora o nosso som. O «Fellatrix» não é uma
regravação.
Helregni: É a gravação original, feita a poste-
riori.
Belathauzer: É a gravação que deveria ter
acontecido naquela época, que por razões
que não vale a pena rever, que seria peno-
so, não foi devidamente feita na altura. Gra-
vou-se uma demo, que tem um título que
se pode resumir em «F.D.P.», siglas do que a
gente quiser. A vida é o que nós quisermos.
Agora isto, é o «Fellatrix». Grande vantagem:
não há merdinhas bonitinhas de cabeleirei-
ros, não há aquelas melopeias meio pirosas.
É um álbum de metal, com tomates, com
“Esta banda somos
nós, nós somos
esta banda, e o
mundo algum dia
será esta banda
também.”
WSPSW E WɯVMS I GSQ EW PIXVEW HIƤRMXMZEQIR-
te fechadas… até à próxima gravação. E as
JSXSKVEƤEW WɩS SFZMEQIRXI QYMXS QIPLSVIW
Por exemplo, eu tenho o cabelo comprido! E
o resto é bom!
É quase como termos dois discos novos de
uma assentada, então?
Belathauzer: Eu devo dizer uma coisa: o
«F.D.P.» pode-se ouvir, mas só a partir do
«Hóstia» e do «Fellatrix», e em parte do «Por-
nokrates», é que me comecei a sentir 100%
satisfeito com a minha voz. Consigo ser um
TWMGSTEXE WIQ TIVHIV E ZS^ ES ƤQ HI ZMR-
te minutos. Consigo fazer uma variedade
ZSGEP WYƤGMIRXIQIRXI PYRɧXMGE I S XVEFEPLS
do Fernando Matias ajudou muito também.
O Matias vê-se mesmo que tem aquela alma
milagrosa. Ele não inventa pães, ele pega na
massa original e multiplica-os.
E agora? Mais não-sei-quantos anos até ao
TVɸ\MQS HMWGS#
Belathauzer: Sim! Nós não editamos almôn-
degas, não editamos supositórios. Demorará
o tempo que tiver a demorar.
Helregni: Só deus sabe. E se calhar nem ele.
Belathauzer: Esta banda somos nós, nós so-
mos esta banda, e o mundo algum dia será
esta banda também. Nós vamos chegar aos
patamares mais extremos da estupidez e do
metalismo profundo.
:SGɰW MVVMXEQ YQ FSGEHS ɦW ZI^IW WI QI
permitem. Dá a sensação que, se esta ban-
da fosse menos “ocasional”, poderia chegar
muito mais longe. Com a qualidade que tem.
Helregni: Percebo o que queres dizer. Mas as
coisas são como são. É indissociável desta
banda esse caos… tudo é imprevisível, tudo é
impossível de determinar. Nada é certo. Se ca-
lhar, se pensarmos nisso, isto da Osmose po-
dia ter acontecido antes. Mas não aconteceu
porque a banda é uma espécie de massa dis-
JSVQI UYI HMƤGMPQIRXI GSRWIKYI IWXEV XIQTS
WYƤGMIRXI RYQE JSVQE QMRMQEQIRXI WɸPMHE
Belathauzer: Ao contrário das fezes. Nós, na
verdade, somos…
Helregni 9QE IWTɯGMI HI HMEVVIME MEW HM^IV#
Belathauzer: Não, nós somos uma espécie de
plasma. Um necro-plasma, uma substância
ZIVVMRSWE ƥYɳHE ZMWGSWE UYI ZEM EWWYQMRHS
formas de várias pessoas humanas, e agora
GLIKɧQSW ɦ JSVQE ƤREP
Helregni: Ao conglomerado!
Belathauzer: Exacto! Fomos plasma, demo
tape, cadáver, e… sei lá! Que se foda! Estou a
tentar fechar bem isto, mas não consigo. Eu
só sei abrir!
LOUD! 41
 DIMMU BORGIR
Há sombras misteriosas à espreita nos cantos mais re-
cônditos e obscuros desta fria Primavera de 2018; uma
força capaz de distorcer a nossa própria concepção do
espaço e do tempo. Ao longo de sete anos, um ensurde-
cedor silêncio sepulcral encheu os corredores de uma
das maiores forjas de metal extremo do universo, mas
os DIMMU BORGIR renasceram das cinzas mesmo a
tempo de celebrarem – com pompa e circunstância,
como é seu apanágio – os primeiros 25 anos de uma
carreira sempre em crescendo. O guitarrista e compo-
sitor Sven Atle Kopperud, mais conhecido por Silenoz,
ajudou-nos a fazer um ponto de situação em relação à
que é hoje uma das mais infames bandas norueguesas
e ainda arranjou tempo para dissecar o muito aguar-
dado retorno aos discos de originais, uma obra de arte
viciosa e intemporal chamada «Eonian».
JOSÉ MIGUEL RODRIGUES
DIABOLUS
IN MUSICA
42 LOUD!
Finalmente um novo álbum de originais.
É verdade! Temos andado numa tour de
promoção, a dar entrevistas todos os
dias, e ainda não me cansei de falar sobre
o disco. E não consigo esconder o meu
entusiasmo, confesso. [risos] Sei que to-
dos os músicos dizem isto, que estão en-
tusiasmados, que querem tocar os temas
ao vivo, isso tudo... No meu caso, é exac-
tamente o que se passa. Pode até soar a
cliché, mas é o que sinto no meu âmago.
Sinto-me muito satisfeito por termos feito
este disco totalmente nos nossos termos
e por termos tido todo o tempo necessá-
rio para garantir que fazíamos um gran-
de álbum. Não ter um deadline concreto
pode ser um problema, mas para nós,
desta vez, teve mesmo de ser assim. Isso
deu-nos oportunidade de analisar tudo
EXɯESQEMWɳRƤQSTSVQIRSVũIRɩSIW-
tou a exagerar se disser que analisámos
tudo ao detalhe. Para quem está de fora
EXɯ TSHI TEVIGIV UYI RɩS Ƥ^IQSW REHE
nos últimos sete anos, mas quisemos
manter um PS[TVSƼPI para nos podermos
concentrar totalmente na composição e
gravação deste registo.
Acho que já havia, inclusivamente, quem
achasse que estavam sem inspiração.
Bem, nós, como quaisquer outros artistas,
temos períodos em que estamos mais ins-
pirados e outros em que estamos menos
inspirados, mas neste caso nem sequer
se tratou disso... Não é que tenhamos tido
de enfrentar uma crise de writer’s block ou
algo do género. Acho, inclusivamente, que
aproveitámos bem os períodos de maior
inspiração nestes anos que conduziram às
gravações do «Eonian». Para além disso, an-
dámos a tocar regularmente ao vivo até 2014
e, sempre que terminamos uma tour, temos
um período de descanso, em que voltamos
a casa e reagrupamos. Serve, basicamente,
para nos afastarmos durante umas semanas
de tudo e todos. [risos] Desta vez aconteceu
que um desses períodos se esticou mais um
bocado. Entretanto três membros do grupo
foram pais e estivemos a trabalhar no DVD
[NR: «Forces Of The Northern Night»], que foi
ƤREPQIRXIIHMXEHSRSERSTEWWEHS%GVIHMXS
que os nossos fãs, depois de terem convivi-
do com este disco durante uns tempos e de
já o terem entranhado na pele, nos vão per-
doar por todo o tempo que estivemos afas-
tados. E, caso tudo corra bem, vão dar esta
espera como compensada.
Tiveram, basicamente, de passar todo o
tempo necessário a trabalhar estes temas?
Isso mesmo. E posso dizer sem grande
exagero que, se não estivéssemos 100%
WEXMWJIMXSWGSQSVIWYPXEHSƤREPEMRHEIWXE-
ríamos a trabalhar no álbum. Estaríamos a
dar o melhor de nós para o aperfeiçoarmos,
para o melhorarmos... para o aproximarmos
da perfeição.
2ɩSIVEHSHSQɳRMSTɽFPMGSUYIXVɰWHIZS-
GɰWXMRLEQWMHSTEMWIRXVIXERXS
Não, não é algo que tenhamos o hábito de
mencionar na imprensa. [risos]
-WWS TIVGIFIWI QEW ɦ QIHMHE UYI ZEMW Ƥ-
cando mais velho, as responsabilidades vão-
-se alterando e, às vezes, as prioridades tam-
bém. De que maneira é que as vossas vidas
TIWWSEMWXɰQMQTEGXSRSW(MQQY&SVKMV#
A vida vai acontecendo, de facto; e acaba-
mos por ser confrontados com alguns de-
WEƤSWGSQSɯɸFZMS2SIRXERXSEGLSUYI
IWWIWHIWEƤSWEGEFEQTSVWIVQYMXSTSWM-
tivos porque nos obrigam a sair da nossa
zona de conforto – e é aí que a melhor arte
é feita. O facto de ser pai alterou muita coisa
na banda. Sinto que, de certa forma, tenho
mais energia que nunca. Às vezes pode ser
desgastante, porque ter uma criança é qual-
quer coisa – elas não param! Pelo que me
toca, no entanto, tento canalizar essa fonte
de energia da forma mais positiva possível,
transferindo-a para a minha faceta criativa.
Sinto que a mudança me tem feito muito
bem. Passei anos a pensar que colocar uma
criança neste mundo era um acto incrivel-
mente egoísta, mas no momento em que
QIXSVRIMTEMTIVGIFMUYIEƤREPIVEI\EGXE-
mente ao contrário.
Mudaste, portanto, de opinião.
Sim, é a coisa menos egoísta que podes fa-
^IV 8IV YQ ƤPLS ɯ GSQIɭEVIW E TIRWEV IQ
mais alguém que não apenas em ti próprio.
Para algumas pessoas, pode ser um proces-
so de adaptação bem complicado, mas eu,
felizmente, decidi tomar este passo e... só
me fez bem, acredita.
A tua criação mais recente chama-se, no
entanto, «Eonian» – e demorou sete anos a
germinar. É caso para te sentires aliviado?
Claro, sinto um profundo entusiasmo e, por
outro lado, também estou muito aliviado. Co-
meçámos a desenvolver as primeiras ideias
para o disco em 2012 e escrevemos várias
canções em 2013, mas fomos sempre me-
xendo nelas ao longo dos últimos anos. A
estrutura principal não mudou assim tanto,
manteve-se mais ou menos a mesma na
maioria dos casos, mas trabalhámos muito
os arranjos e tudo o mais. Foi um processo
laborioso e, às tantas, pensávamos que não
o íamos conseguir acabar, mas nunca desis-
timos e aqui estamos. Por isso sim, por um
lado é um alívio. No entanto, também tenho
a certeza que estas músicas só soam como
WSEQTSVUYIƤ^IQSWEUYIPETEYWEKVERHI
e nunca estabelecemos um deadline a não
WIVNɧREVIGXEƤREPHSTVSGIWWS'SQSHMW-
se, não ter um deadline pode ser um proble-
ma para muitas bandas, mas felizmente nós
até conseguimos concentrar-nos no que fa-
^IQSW QIPLSV I Ƥ^IQSW GLIKEV S FEVGS E
bom porto.
Tens estado atento às reacções que os sin-
glesHIEZERɭSXɰQKIVEHS#
Vai sempre haver quem se queixe de qual-
quer coisa, isso é inevitável. E, na verdade,
tento, tanto quanto possível, manter-me
afastado do que se escreve sobre os Dim-
mu Borgir nas redes sociais. É algo com
enorme potencial para se tornar tóxico... Se
nos deixarmos afectar pelo que dizem de
nós, estamos lixados. Nestes últimos anos,
acumulámos milhares de novos seguidores
nas nossas plataformas digitais e, cada um
à sua maneira, todos são especialistas em
relação a esta banda, por isso se começa-
mos a prestar atenção ao que dizem, esta-
mos perdidos. Sinto que as pessoas já nem
sequer se dão ao trabalho de ouvir um disco
HS MRɳGMS ES ƤQ ERXIW HI S GVMXMGEV TIVGI-
FIW# 3YZIQ QIXEHI HS single e, sem que
IWWIXIQEWIUYIVXIRLEGLIKEHSESƤQNɧ
estão a criticar o álbum tendo por base um
“Sinto que as
pessoas já nem
sequer se dão ao
trabalho de ouvir
um disco do início
CQƓOCPVGUFG
o criticar.”
pedaço de uma canção. Não faz sentido –
e, pelo que me dá a parecer, também não há
mesmo volta a dar a isto.
Até há... Basta que não leias o que se escre-
ZIRS*EGIFSSORS=SY8YFIIEƤRW
É exactamente o que faço. [risos] Para nós,
que somos quem mais interessa, este ál-
bum já é uma enorme vitória. Nem que seja
só pelo facto de termos conseguido atingir
o objectivo a que nos propusemos, que era
fazer o melhor álbum possível dos Dimmu
Borgir neste momento. Também é um cliché
dizer isto, mas é a mais pura das verdades...
Tudo o que acontecer a partir da data de
edição vai ser um bónus, porque nós já es-
tamos mesmo muito satisfeitos com o que
conseguimos atingir.
Sabemos que é impossível agradar a toda
EKIRXIIESPSRKSHSWERSWZSGɰWRYRGE
TEVIGIVEQWIUYIVETSWXEHSWIQJE^ɰPS
Nem um pouco, não. [risos]
Foi por isso que, desta vez, decidiram não
trabalhar com uma orquestra?
De certa forma, sim – foi uma decisão
bem consciente da nossa parte. Conti-
nuamos a usar sons, samples e arranjos
LOUD! 43
 orquestrais, mas as bibliotecas de som
actuais são incrivelmente reais e não
achámos que fosse necessário estarmos
a trabalhar outra vez com uma orquestra
completa. Além disso, o «Forces Of The
Northern Night» serviu como um fechar
de capítulo para nós. Fizemos tudo o que
queríamos fazer com uma orquestra a sé-
rio e, às tantas, percebemos que o disco
novo tinha de ser mais um trabalho de
banda. Ainda assim, colaborámos com
um coro... Os coros sempre foram uma
parte importante da nossa música e de-
cidimos apostar nesse elemento. Pela pri-
meira vez temos um coro a cantar mais do
que apenas melodias. No «Eonian» o coro
canta algumas letras e considero que isso
fez uma diferença abismal no resultado.
Se calhar há quem vá dizer que o coro tem
um papel muito dominante neste disco –
e têm razão, porque tem mesmo. Foi, no
entanto, assim que decidimos escrever o
«Eonian». O objectivo era esse, portanto.
Na altura em que lançaram o álbum ao vivo,
HMWWIWXI UYI S TVɸ\MQS HMWGS HI SVMKMREMW
seria mais cru. Foi essa a visão que estabe-
44 LOUD!
leceram para estes temas desde o início?
É difícil explicar isto, mas nós tentamos
sempre que a música venha até nós, por
assim dizer, em vez de irmos nós ao en-
contro da música. Nunca nos sentamos
a decidir que tipo de canção vamos fazer,
“Nunca quisemos
estabelecer
limites para
o que fazemos.”
que tipo de som os álbuns devem ter ou
algo desse género. A verdade é que nós
nunca estabelecemos uma fórmula e isso
é o melhor, porque nos permite enveredar
pelas mais variadas direcções dentro do
contexto do que são os Dimmu Borgir. Se
decidíssemos que tipo de som um disco
devia ter logo de antemão já estávamos
a falhar, porque íamos ter de operar den-
tro de certos limites e isso não é algo que
nos agrade. Nunca quisemos estabelecer
limites para o que fazemos. Aliás, por mui-
to paradoxal que isto possa soar, a regra
sempre foi não seguir quaisquer regras,
para ser sincero. [risos] Desde que come-
ɭɧQSWEFERHEUYMWIQSWMVRSWHIWEƤER-
do a nós próprios a cada passo – é por isso
que estamos constantemente a atirar-nos
para “fora de pé”. O novo álbum não é, ob-
viamente, uma excepção a essa regra.
Para ti, é fácil teres uma visão objectiva da
música que fazem?
Acho que nenhum músico tem facilidade
IQ EJEWXEVWI S WYƤGMIRXI TEVE GSRWIKYMV
ver as coisas de forma totalmente objecti-
va, mas nós, como produzimos os nossos
discos, somos forçados a isso. Passa tudo
por libertarmo-nos do ego, para depois ter-
mos uma perspectiva externa do que são
as canções em que estamos a trabalhar.
Geralmente as bandas têm um produtor
que lhes diz quando os temas estão termi-
nados, mas no nosso caso temos de ser
RɸWEJE^IVMWWS)WMQɯWIQTVIYQHIWEƤS
curioso, mas depois destes anos todos já
o fazemos de uma forma muito natural. O
Jens [Bogren, engenheiro de som] foi uma
ajuda crucial nesse aspecto; empurrou-nos
aos nossos limites físicos e mentais, mas
conseguiu captar na perfeição a visão que
tínhamos para o material.
O press release que acompanha este disco
descreve-o como uma espécie de regresso
às raízes e um passo em frente para a vossa
sonoridade. Concordas?
Lá está, não nos sentámos a planear deta-
lhadamente um regresso ao passado ou o
que quer que fosse, mas o facto de termos
mantido o espírito aberto durante todo
o processo de composição permitiu-nos
criar espaço para fazermos a ligação entre
o presente e o passado. E de uma forma
muito saudável, deixa-me que te diga. Hou-
ve uma fase da nossa carreira em que só
queríamos olhar em frente, mas 25 anos de
banda depois, estamos 100% confortáveis
com o passado. No «Eonian» há canções
em que adoptámos uma aproximação
mesmo muito old school, numas de forma
mais óbvia e noutras de forma um pouco
QEMWGEQYƥEHE1EWIWWITMWGEVHISPLS
está lá. Basicamente é mais uma home-
nagem ao fundo de catálogo dos Dimmu
Borgir que uma tentativa desesperada de
VIGVMEVEPKSUYINɧƤ^IQSWGEWSGSRXVɧVMS
acho que não o teríamos feito porque não
nos interessa estarmos a repetir-nos.
Acaba também por essa uma oportunidade
para honrarem as vossas raízes, não?
Sem dúvida! Acho que é uma excelente
forma de prestar “tributo” ao género que
nos viu nascer no início dos 90s – usámos
muitas guitarras e cordas dissonantes,
que eram algo muito comum em algumas
das bandas norueguesas de black metal
naquela altura. Se há uma coisa de que
tenho a certeza é que, digam o que disse-
rem, nunca iremos esquecer aquelas que
são as nossas raízes.
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 AURA NOIR

O CORAÇÃO
DA BESTA
Regressam os AURA NOIR após uma ausência longa
demais para o nosso gosto – o (quase) auto-intitulado
«Aura Noire» é o primeiro disco em mais de seis anos,
mas de facto valeu a pena a espera. Uma obra que
é descrita pelos seus autores como perfeitamente
representativa da essência da banda, e inevitavelmente
um dos melhores discos de black/thrash do ano,
RQFGOQUCƓTOCTFGUFGLȐ%QPXGTUȐOQUEQOQLȐOGKQ
português Rune “Blasphemer” Eriksen sobre isto tudo.
JOSÉ CARLOS SANTOS

46 LOUD!
Ainda há pouco tempo te tivemos nestas
páginas a falar dos “teus” Earth Electric, e
já aqui estás outra vez, num registo um bo-
cado diferente. É complicado, gerir pelo me-
nos duas bandas com bastante actividade?
A única coisa que eu quero mesmo fazer é
espalhar o meu trabalho pelo maior número
de pessoas possível, por isso nunca é uma
coisa má. Ainda por cima adoro viajar, só
posso mesmo ver tudo isto como algo bom.
Claro que por vezes requer alguma gestão
cuidadosa, é preciso muito equilíbrio para
tudo funcionar, mas faz-se. E também, de
certa forma – e talvez haja quem discorde do
que vou dizer –, não acho que haja uma dis-
tância tão grande entre as duas bandas. Es-
tilos diferentes, sim, mas o espírito é seme-
lhante. Tocar dois concertos seguidos, por
exemplo, não me faz diferença com qual das
bandas estou a tocar. Essa diferença só se
sente quando o trabalho criativo está envolvi-
do. Se estou em casa a trabalhar em música
nova e de repente tenho que saltar para um
palco no dia seguinte com outra banda, aí
sim, é complicado gerir mentalmente.
Falando então em processo criativo, como é
que foi o do «Aura Noire»?
Começou em Portugal, curiosamente – fo-
mos os três para Albufeira passar algum
tempo, para começar a trabalhar em mate-
rial novo, e foi aí que o “trabalho pesado” ver-
dadeiramente começou. Foi no ano em que
tocámos no Extreme Metal Attack, no Side B,
por isso… 2015. Já há quase três anos. Houve
muitos concertos, muitas tours que se foram
metendo pelo caminho ao longo dos anos, e
as coisas acabam por demorar sempre mais
tempo do que imaginamos. E também outra
coisa que concordámos logo desde o início –
de que este disco ia ser feito inteiramente por
nós. Ao contrário do anterior, o «Out To Die»,
por exemplo, onde tudo foi muito apressado
e feito em cima da hora. De repente a editora
disse-nos que tinha marcado voos para um
monte de jornalistas irem ouvir o disco numa
determinada data, e tivemos que marcar a
mistura e masterização à pressa por causa
disso. A certa altura sentimos que não tínha-
mos controlo de nada, com esse disco, e por
causa dessa experiência, acordámos os três
de que desta vez ia ser diferente. Continuo
satisfeito com o «Out To Die», atenção, mas
quando as coisas acontecem dessa forma,
ƤGEWIQTVIEUYIPIWIRXMQIRXSHIUYITSHɳE-
mos ter feito ainda melhor. Para este álbum,
demorámos o tempo que achámos necessá-
rio em todos os aspectos – não só em ter-
mos composicionais, mas também na mis-
tura, no processo de gravação. Trabalhámos
imenso em arranjos, por exemplo… A maioria
das partes, incluindo guitarra, bateria e voz,
foram regravadas algumas vezes, para atin-
girmos o som que realmente queríamos.
Era esse o único objectivo que tinham para
este disco, ou havia mais coisas combina-
das previamente?
Não, mais nada, pelo menos pessoalmente…
ou, dito de outra forma, para mim o objectivo
é sempre o mesmo, que é escrever um mon-
te de grandes canções memoráveis, que real-
mente representem a banda na altura da sua
edição. Para mim, este álbum soa aos Aura
Noir em 2018. Aparte disso, queremos sem-
pre fazer os riffs mais feios e as batidas
mais sujas de sempre, claro! [risos]
Há que dizer que os métodos seguidos re-
sultaram em pleno. O disco é refrescante-
mente… “simples”, e isto dito no melhor dos
sentidos. Não há excessos desnecessá-
rios, nem em termos de som nem de com-
posição. Isto, para alguém que já escreveu
alguns dos temas mais complexos que a
música extrema já conheceu, é curioso.
Tenho várias aproximações à composição,
e a que acho mais fácil é realmente a que
tenho com os Aura Noir. É mais baseada
numa certa energia do que outra coisa
qualquer. Lembro-me de tempos passados,
quando estava a escrever o « Grand Decla-
ration Of War» e outros discos assim, era
de facto muito complicado. Eu tornava tudo
muito complicado. Construir coisas em cima
HI SYXVEW GSMWEW MRƤRHEZIPQIRXIŷ %UYM S
objectivo é mesmo apanhar a vibe do riff. E
falando por mim, é um processo que cresce
mais e mais dentro de mim à medida que o
tempo passa. Tenho cada vez menos tempo
para o bullshit extra – é deixar a música ser
música, deixá-la falar da forma como sai cá
de dentro. Não analisar demais, não pensar
demais, não tentar deturpar algo que já soa
bem quando se faz pela primeira vez, só para
tentar “encaixar” noutro sítio qualquer. Por
exemplo, no «Aura Noire» não há overdubs.
O que se ouve é uma guitarra do princípio ao
ƤQ HI GEHE XIQE 2ɩS Lɧ ŰGSQTSWMɭɩS IW-
GSRHMHEűRɩSɯWMRJɸRMGSRɩSLɧYQWIQƤQ
“Queremos
de horas gastas a tentar construir uma coisa
esperta. E é um sentimento bestial, fazer as sempre fazer
coisas assim. Talvez hoje em dia estejamos
a assistir a mais música deste género a rea-
parecer, mas ainda tenho a sensação que a
os riffs mais feios
maior parte do que ouvimos não é assim.
e as batidas mais
8IQ EPKYQ WMKRMƤGEHS TEVXMGYPEV UYI S
álbum tenha aquele título? Tem a ver com sujas de sempre!”
essa simplicidade também?
Há riffs de nós os três por todo o disco, mui-
ta coisa que escrevemos em casa. Lembro-
-me de escrever alguns dos riffs da «Mor- Que já aconteceu há 22 anos…
dant Winds», o Aggressor fez alguns para a Não quero pensar nisso! [risos] O tempo voa,
«Grave Dweller», o Apollyon fez boa parte da man. Lembro-me como se tivesse sido on-
«Hell’s Lost Chambers» e também da «Sha- tem. Foi um período de enorme inspiração.
des Ablaze»… só alguns exemplos de como Tinha acabado de me juntar aos Mayhem
todos contribuímos com algo nosso para o também, e o «Black Thrash Attack» foi feito
todo, e é realmente parte da razão porque imediatamente depois. Eram dias de muito
decidimos dar esse título ao disco. Auto-in- poucas preocupações. Tem sido uma gran-
titulado, mas “bem escrito” desta vez, com o de viagem! Ainda não estou propriamente na
ŰIű RS ƤQ ?VMWSWA ɔ QIWQS YQ TVSHYXS HI altura em que me sento e abro uma garra-
nós os três, e não poderia ter saído desta for- JEHIZMRLSHS4SVXSTEVEƤGEVEVIQSIVSW
ma sem qualquer um de nós. A certa altura, dias passados, e espero que ainda passem
sentimos que estávamos a tocar em algo muitos anos até esse momento, mas o que
que era mesmo a essência dos Aura Noir, e quero é continuar a cavalgar esta onda. Mes-
foi daí que surgiu o título, ideia do Aggressor. mo com os Aura Noir, sinto que ainda temos
imenso por dizer, e isso é um sentimento
É nesse sentido que surgiram algumas com- muito bom.
parações com o «Black Thrash Attack»?
Éramos muito jovens e tínhamos pouca ex- Não vai ser difícil, então, arranjar sucessor
TIVMɰRGME UYERHS Ƥ^IQSW S RSWWS TVMQIMVS para um disco que já parece marcante na
álbum, mas o «Aura Noire» deu-nos uma es- carreira da banda?
pécie de alegria, se é que posso usar essa Não, para mim é só mais um capítulo. Estou
palavra, em tudo semelhante à que o «Black GSRƤERXI UYI ZEQSW GSRWIKYMV GVMEV QEXI-
Thrash Attack» proporcionou nessa altura. rial tão bom ou melhor. Sei o que posso fa-
Quando tínhamos as nossas sessões a to- zer, e sei o que os outros tipos podem fazer
car juntos na preparação deste novo disco, também. E isto vale tanto para os Aura Noir
senti-me sempre a regressar aos mid-90s, e como para as minhas outras bandas, e estou
para essa gravação em particular. ansioso por tudo o que está para vir!
LOUD! 47
 DISCO
O
FILII NIGRANTIUM
INFERNALIUM
N
ão seria muito complicado passar este pa-
rágrafo introdutório a tentar perceber o que
seria hoje o underground nacional se, nos
idos de 90, o bom do Hervé tivesse oferecido um
contracto aos Filii. Com os Moonspell na Adipoce-
re e os Filii (e os Decayed, já agora, que receberam
uma proposta na altura) na Osmose, a “cena” nacio-
nal seria certamente vista com outros olhos cá den-
XVSIPɧJSVE%L8EQFɯQTSHɳEQSWTSRHIVEVEGIV-
«Hóstia»
[Osmose Productions]
Uma coisa é certa, no entanto nunca valeu a
pena chorar sobre o leite derramado e, além dis-
so, todos estes raciocínios revisionistas que nos
assaltam fazem pouco sentido quando a altura é,
sem dúvida, digna de celebração. Mais de duas dé-
cadas, uma demo, três EPs, três splits e três álbuns
depois de se terem mostrado ao mundo em todo o
seu esplendor necro GLIKEQ TSV ƤQ ES PYKEV SRHI
sempre deviam ter estado. Esta blasfema «Hóstia»
GEVSWɯHM^IVQYMXS%ƤREPUYERXSWKVYTSWLɧTSV
aí em relação aos quais possamos dizer isto? Não
estranhamente, porque é do que se trata aqui, es-
tes onze temas novos são um testemunho dessa
atitude. Uma órgia de metal verdadeiro, com umas
pitadas de punk... e ainda mais.
Mantendo inalterado o ADN que há muito lhes corre
nas veias, aquele espírito selvático que parece estar
ca do que teria acontecido se, ao longo das últimas
décadas, esta gente tivesse mantido uma carreira
mais constante. O que seria agora deles se, em vez
das paragens, dos hiatos, do pára/arranca, tives-
sem estado a malhar no aço ininterruptamente?
Nós, como tantos outros, não fomos abençoados
com esse desejado poder da adivinhação que
tantos julgam ter, por isso provavelmente nunca
vamos chegar a uma resposta para qualquer uma
destas perguntas, mas – por muito que achemos
que Belathauzer e companhia já mereciam estar
num plateau diferente em termos de exposição –
primeiro de três lançamentos planeados pelo
selo francês para os próximos tempos, entre os
quais se contam a regravação de «Fellatrix» e a
reedição do «Pornokrates: Deo Gratias» em vários
formatos funciona como o proverbial chuto no
rabo de uma cena vergada a rótulos, a modas e à
arte da imitação barata.
Não pretendemos pintar os Filii Nigrantium Infer-
nalium como uma banda extremamente original e
inovadora, eles próprios sabem que não o são e
fazem questão de apregoar as suas referências a
alto e bom som, mas a verdade é que nunca hou-
WIQTVI TVIWXIW E HIWGEVVMPEV SYɭEWI E VIGXE ƤREP
da «Santa Misericórdia»), a «Hóstia» faz-se de thrash
em esteróides nesse tema (com solo javardo incluí-
do), puro heavy metal na «A Morte É Real (Para Já)»
e sempre de black metal nas cordas vocais. Essas
são, no entanto, só três das óbvias pontas deste de-
gredo. Durante os 38 minutos que dura, o quarto ál-
FYQHSW*MPMMGSRHIRWEXYHSSUYIHIQIPLSVƤ^IVEQ
ao longo dos anos e ainda os mostra a pisar solo
UYI RYRGE XMRLEQ GEPGEHS GSQ XERXE IƤGɧGME RS
passado. Ouçam-se o tremolo picking da «Lactância
Pentecostal», a estranheza satânica da «SMRT», o
dedilhado acústico da «Autos De Fé» ou o compasso
não há como dar-lhes todo o valor que merecem
ũ
por nunca terem vergado “a mola”. Acima de tudo,
LɧUYIETPEYHMPSWTSVWIXIVIQQERXMHSƤɯMWESW
seus princípios e continuarem a criar a partir do
caos e da desordem; sobretudo numa altura em
que o metal parece ter perdido muito do perigo
que o caracterizava na génese.
48 LOUD!
ve, não há e, provavelmente, nunca vai haver no
mundo uma banda igual a esta. Trata-se de gente
que anda nestas lides há décadas, que tem uma
personalidade vincada e que sabe exactamente
GSQS TIKEV RSW IPIQIRXSW UYI HIPIW Ƥ^IVEQ SW
metalheads que são, atirá-los para o caldeirão ne-
gro e sacarem de lá uma poção muito sua. E isso,
EVVEWXEHSRSƤREPHSXIQEXɳXYPSUYIɯYQQMQS
os Filii gravaram o seu álbum mais equilibrado. Se a
vossa “cena” é a fusão de heavy, thrash e black metal
enxertado de punk, solos a preceito, secção rítmica
sólida, um twist e ainda uma das vozes mais cortan-
tes cultivadas em solo nacional, então... Atirem-se a
ele, porque “não há futuro!”. [9] J.M.R.
PEDRO SILVA
‘77
«Bright Gloom»
[Century Media]
Os ‘77 já cá andam há uns
anos e, apesar da relativa
proximidade (são de Barce-
lona), nunca tiveram grande
impacto por cá, talvez por culpa dos seus primeiros
três álbuns serem uma cópia quase descarada dos
AC/DC. No anterior «Nothing’s Gonna Stop Us», de
NɧGSQIɭEVEQEMRGSVTSVEVSYXVEWMRƥYɰRGMEW
na sua sonoridade, sendo um ponto obrigatório
de passagem para este «Bright Gloom». Gravado
à moda antiga (banda ao vivo em estúdio e com
material analógico), neste disco nota-se bem o
corpo sonoro típico das edições dos anos 70. Se
EMWXSEPMEVQSWEQMWXYVEHIMRƥYɰRGMEWUYIZEMHI
Black Sabbath (a começar pela voz), The Who, Thin
Lizzy aos The Stooges, temos em 2018 um álbum
que nos transporta de forma mais do que credível
para o ano celebrado no nome da banda. Os ma-
nos Armand (voz e guitarra ritmo) e LG (guitarra
solo) Valeta são responsáveis por momentos como
os rasgos de rockalhada em «It’s Near» ou «Fooled
By Love», pelos andamentos mais sabbathianos de
m;LSŭW*MKLXMRK;LS|SYm&I'VYGMƤIH|SYTIPSW
devaneios rock’n’roll de «Make Up Your Mind». Sim,
em 1977 já se fazia boa música. [7.5] C.G.
ALKALOID
«Liquid Anatomy»
[Season Of Mist]
Editada pela própria banda
em 2015, a estreia «The
Malkuth Grimoire» apresen-
tou o arrojo necessário para
convencer a reputada Season Of Mist a recrutar
os Alkaloid para o seu catálogo, sendo «Liquid
Anatomy» o primeiro resultado dessa união. Dis-
secados os longos e ambiciosos 64 minutos des-
ta cacofonia sonora servida por gente relacionada
com os Obscura, Necrophagist, Dark Fortress,
God Dethroned ou Blotted Science, percebemos
o interesse gerado. «Liquid Anatomy» representa
o antagonismo da música imediata e de que hoje
gostamos e amanhã já esquecemos. Aqui a aten-
ção e a dedicação do ouvinte é colocada constan-
temente à prova, quer pela duração dos temas,
que alcança o cúmulo nos dezanove minutos de
«Rise Of The Cephalopods», quer pela profundida-
de do conceito inerente à música, quer pela com-
plexidade de texturas musicais concentradas num
só tema, ora palmilhando terrenos nos quais o
death metal mais agressivo reina, até à envolvên-
cia de momentos de progressiva delicadeza que
RɩSƤGEVMEQHIWPSGEHSWHIRYQUYEPUYIVHMWGS
HSW']RMG3VIWYPXEHSɯEFVERKIRXIIHIWEƤERXI
SWYƤGMIRXITEVERSWHIM\EVɦTVSGYVEHIQEMW
qualquer coisa nova a cada audição, num álbum
que cresce de forma desmesurada se lhe dermos
o espaço e a atenção necessárias. [8] R.A.
ANCST
«Ghosts Of The Timeless Void»
[Lifeforce]
Quiçá um dos nomes mais
trabalhadores e produtivos
da sua geração, os Ancst têm
vindo a traçar a sua rota as-
cendente de forma incrivelmente consistente desde
que, há cerca de seis anos, se juntaram na cidade
de Berlim sob a designação Angst. O colectivo fez,
no entanto, muito mais do que apenas mudar de
nome e, apoiado em seis lançamentos partilhados,
sete EPs e um excelente álbum de estreia (o explo-
sivo «Moloch», de há dois anos), estabeleceu um
nome e uma reputação. Ago-
ra, este «Ghosts Of The Time-
less Void» vem provar que o
quinteto composto por Tom,
Mirko, Robert, Stefan e Mihai
continua a crescer exponen-
cialmente – tanto em termos
de presença como de poder.
Ao longo de onze temas, os
músicos fazem tudo o que
está ao seu alcance para
aproximar da perfeição um
som que, apesar de conter
elementos bem conhecidos,
não é propriamente fácil de
rotular de forma estanque.
Isto porque, apesar das
raízes vincadas no punk e
no hardcore (como atestam
as melodias neo-crust em
«Concrete Veins» e «Quick-
sand»), a banda alemã nunca
se furtou a aventurar-se por
outros territórios, como são
os casos do death e do black
metal. É, de resto, o que lhes
permite criar verdadeiras
bombas refractárias, que tan-
to alternam viciosos d-beats
com blastbeats demolidores
(em «Revelation Of Deformi-
ty») como misturar gélidas
descargas de tremolo picking
EƤEHSGSQbreakdowns que
não soariam deslocados num
qualquer disco de deathcore
(«Republic Of Hatred»). No
ƤREPSUYIƤGEɯQIWQS
um petardo de extremismo
hiper-dinâmico, que encap-
sula em 42 minutos algumas
das mais interessantes
abordagens ao género feitas
durante as últimas décadas.
[7.5] J.M.R.
ANGELUS APATRIDA
«Cabaret De La Guillotine» e o torna um dos melhores trabalhos dos cerca de
[Century Media] dezoito anos de carreira do grupo. [8.5] E.F.
Este é, talvez, o disco que se esperaria já há
algum tempo destes espanhóis. «Cabaret De La ASTRODOME
Guillotine» revela-se um trabalho maduro, onde «II»
o colectivo faz a ponte entre o thrash clássico [HeviSike]
e uma faceta mais melódica, mais negra até, Gravado e misturado por
deixando-se de temas directos e quadrados. Marco Lima (Sulfur Giant,
Desta vez, com o “nosso” Daniel Cardoso apenas 10000 Russos) e masteriza-
a misturar e masterizar, o grupo resolveu tratar da do por Jonas Munk (Causa
própria produção e aplicar mais tempo na compo- Sui, El Paraiso Records), este segundo longa-dura-
sição, melhorando assim a qualidade e variedade ção dos portuenses Astrodome aprofunda ainda
dos temas. Soando como uma mistura entre Krea- mais a veia space rock já seguida no anterior disco.
tor e Testament, este «Cabaret…» acaba por resul- Referir Pink Floyd ou King Crimson não passa disso
tar mais variado e evita a monotonia do último par mesmo, meras referências, para orientar quem não
de trabalhos do quarteto liderado por Guillermo conhece o trabalho deste quarteto. «II» é um álbum
Izquierdo. Isso é bom, porque se traduz num salto que explora paisagens sonoras, umas vezes numa
qualitativo, como no caso de «Witching Hour». toada mais psych, como em «Dawn Gardens», ou-
Apesar da entrada acústica do disco, ou da pre- tras mais dentro do já referido space rock, como na
sença de um tema calmo como «Farewell», há ain- abertura, com «Mirage». No momento em que lerem
da thrash acelerado e duro, como é o caso de «The isto, o grupo já terá terminado a sua segunda di-
Die Is Cast», o que dá várias dimensões ao álbum gressão europeia, sem que seja dada grande conta
LOUD! 49
 do seu trabalho nos media nacionais. Algo de que tentou matar, está a servir dezassete anos por e outras tantas modas, o que dá hoje, a músicos
muitos dos recentes nomes sofrem, numa geração isso e escrevem uma canção chamada «Remem- desses tempos, um know how acumulado e mais
desconhecida, que habita no lado oculto da música ber When». Ou fazem a vossa versão de «Zom- YQEWɯVMIHIMRƥYɰRGMEWWEYHɧZIMW2SWUYMR^I

portuguesa. E é pena, pois ouve-se «Sunrite» e bie», enviam-na para a Dolores O’Riordan e, no dia temas de «Disobey», com produção de alto cali-
percebe-se o muito que estes Astrodome têm para que era suposto a vocalista dos The Cranberries FVIXERXSSYZMQSWYRW7XSRI7SYVGSQEƤREɭɩS
HEVƤGERHSETIREWSWIRɩSHIESZMZSEMRHEWIVIQ gravar a sua parte… ela morre. Isso e mais uma Meshuggah, como recebemos espasmos de djent
melhores que em disco. [8] E.F. boa porção de metal moderno emocional, mas ou melodia para passar numa rádio rock. Lobos
adulto, está disponível em «Disobey», a estreia bons. [7.5] N.S.
BAD WOLVES da “nova” banda californiana Bad Wolves. Na
«Disobey» verdade, falamos de gente com provas dadas em BEHEMOTH
[Eleven Seven] grupos como Snot, DevilDriver ou God Forbid. O «Messe Noire»
Há bandas que dizem ter baterista John Boecklin e o vocalista Tommy Vext [Nuclear Blast]
temas “muito pessoais”. são as principais mentes por trás do quinteto, Não estranhem se reconhe-
Agora, imaginem que o algo que, se surgisse no apogeu do nu-metal, cerem o título deste registo
vosso irmão gémeo vos seria revolucionário. Já passaram muitos anos ao vivo como o nome da
terceira faixa do último
disco de originais da banda, «The Satanist», já de
%ƤREPm1IWWI2SMVI|RɩSɯREHEQEMWHS

AT THE GATES que a gravação dum concerto – perdão, duma

missa negra – celebrado em Varsóvia, Polónia, em
2016. Percebe-se a carga simbólica que tem tocar
«To Drink From The Night o referido álbum na íntegra, ainda mais no país
natal, uma vez que fora um marco representativo
Itself» da vitória de Nergal, membro fundador da banda,
na luta contra uma doença tão destrutiva como
[Century Media] um cancro. No entanto, e por muito que não se
negue a excelente qualidade tanto da gravação

N
ós não pedimos assim tanto, vendo bem. Assim que o tema-tí- como da prestação de uma banda da qual já não
tulo dispara, depois de uma curta intro, a referência a um tema restam dúvidas, não deixa de ser simplesmente
que todos vão reconhecer imediatamente é clara. Mais do que isso, é desavergonhada. Quase que isso. Talvez o formato vídeo deste lançamento
imaginamos o Tompa a piscar-nos o olho, com aquele ar tranquilamente bem-disposto, numa de “é isto, valha mais a pena, porque para ouvir essas nove
não é?” É mesmo isto, é, amigo Tomas. Podem desenvolver à vontade a teoria de que foi o brilhantismo músicas basta pegar no original. Além disso,
HSW%X8LI+EXIWUYISVMKMRSYYQEWɯVMIHIWPEZEHEHIƤPLSWFEWXEVHSWIWTMVMXYEMWUYIWɸGSTMEVEQSW mesmo sem este alinhamento em concreto, nada
riffs mas que se esqueceram da alma, podem questionar na boa a relevância do regresso da banda à pro- substitui a verdadeira experiência de sentir o
HYɭɩSHMWGSKVɧƤGEHITSMWHIERSWHIEYWɰRGMETEVXMGYPEVQIRXIHITSMWHSEWWMQEWWMQUYIJSMSɧPFYQ impacto dos Behemoth ao vivo. Sempre é um item
de regresso (o «At War With Reality» ainda hoje divide boa parte da redacção da LOUD!, confessamos), de colecção para os fãs mais acérrimos. [6] P.C.S.
QEWRSƤREPHIGSRXEWŷHɰIQRSWYQEGEZEPKEHEHIWXEWYQEm7PEYKLXIV3J8LI7SYP|^EHE com uns
ajustes para 2018, aquela gritaria do Tompa sempre a debitar coisas inteligentes e de inspiração literá- BLESSTHEFALL
ria, e nós derretemo-nos logo. É como uma mantinha quente a envolver-nos numa tarde de Inverno, é «Hard Feelings»
instantaneamente confortável, e não queremos saber mais de evoluções ou de vanguardismos ou de [Rise]
merdas que, neste contexto, são indiferentes. Os At The Gates são bons é nisto, e vão ser sempre, e nós Apesar de serem muitas
ZEQSWKSWXEVWIQTVIIRUYERXSSƤ^IVIQ%XɯTSVUYIIWWIfeeling dado logo a abrir pelo tema-título se vezes alvo de chacota por
mantém, essa urgência e essa aura tão típica dos At The Gates que adorávamos nos anos 90. Mesmo parte dos ferrenhos do
GSQYQSYHSMWXIQEWRSQIMSHSWHS^IUYITSHMEQTIVJIMXEQIRXIXIVWMHSHIM\EHSWREKEZIXES género, a verdade é que os
FEPERɭSƤREPɯXVIQIRHEQIRXITSWMXMZS(ITSMWHEɦEPXYVETVISGYTERXIWEɳHEHIYQHSWKɯQISW norte-americanos Blessthefall construíram car-
o guitarrista Anders Björler, o restante núcleo duro – conforme Tompa himselfRSWGSRƤHIRGMSYRE reira e reputação como uma das propostas mais
passada edição – dos suecos parece ter recuperado fogo, foco e paixão, voltando aqui a um ponto alto acessíveis saídas do movimento metalcore – ao
UYINɧWITIHMEHIWHISWIYVIKVIWWS7IQUYIVIVFEXIVQYMXSRSWIRWEFSVɩSIQEWXMKEHSm%X;EV;MXL ponto de, durante a audição deste disco, levan-
6IEPMX]|INɧFEXIRHS GSRWXEXEWIUYIm8S(VMROŷ|XIQI\EGXEQIRXIQEMWWIKYRHSWHIHYVEɭɩS tarmos o sobrolho mais que uma vez quando nos
do que o seu antecessor, mas pelo entusiasmo com que é entregue e que provoca no ouvinte, parece é lembramos que as bandas que estiveram na géne-
UYIEGEFETEVEEɳZMRXIQMRYXSWQEMWGIHSɔWIQTVITIVMKSWSJE^IVIWXIXMTSHIGSQTEVEɭɺIWQEWSW se deste tipo de coisa, como os Killswitch Engage,
melhores momentos deste disco, como o referido tema-título, «Palace Of Lepers», «Daggers Of Black IVEQMRƥYIRGMEHEWTIPSW%X8LI+EXIW4SMWFIQ
,E^I|SYm%0EF]VMRXL3J8SQFW|GEHEYQEGSQSWIYIWXMPSQYMXSTVɸTVMSHIRXVSHSYRMZIVWS%X8LI se esses são os nomes em que pensas quando se
+EXIWJEGMPQIRXIXIVMEQIRXVEHEHMVIGXERSm7PEYKLXIV3J8LI7SYP|SYTEVXMGYPEVQIRXIRSm8IVQMREP fala em metalcore, o mais certo é que os Bless-
7TMVMX(MWIEWI|2ɩSRSWSGSVVIQIPLSVVIGSQIRHEɭɩSUYIIWWE [8.5] J.C.S. thefall nunca tenham sido, nem nunca venham a
ser, a tua banda favorita. «Hard Feelings», o sexto
álbum de estúdio para os músicos do Arizona,
move-se em terrenos familiares e, à excepção de
uma costela electrónica mais vincada, raramente
chega sequer a empurrar os limites do que fazem
para novo território, apoiando-se no registo meló-
dico do vocalista e teclista Beau Bokan para fazer
passar a mensagem e embelezar uma sucessão
de riffs sincopados. Sim, é impossível não sentir
uma pontinha de vergonha alheia ao ouvir o bom
do Beau a berrar “You can’t say shit ya little pale
bastard, and fuck all y’all, suck my dick!” na «Cut-
throat» – e, claro, é por estas e por outras que
os cépticos nunca vão baixar a guarda –, mas a
mistura de versos marcantes, gang vocals, linhas
de guitarra produzidas na perfeição e melodias
orelhudas garantem que temas como «Sleepless
In Phoenix» e «Feeling Low» estejam destinados
a ser entoados em uníssono ao vivo. O resultado
é previsível, mas conserva o charme necessário
para se manter interessante. [6.5] J.M.R.

50 LOUD!
BLOOD TSUNAMI
«Grave Condition»
[Soulseller]
«Grave Condition» é o quar-
to lançamento dos norue-
gueses Blood Tsunami, que
contam com Faust (ex-Em-
peror) na bateria. «Poison Tongue», primeiro tema,
transporta-nos logo para o universo mais genérico
do thrash, em que facilmente podemos reconhe-
GIVEMRƥYɰRGMERSXɸVMEHIFERHEWGSQS7PE]IVI
Whiplash. Ao longo do álbum, os músicos mantém
essa sonoridade clássica mas polida, onde a pro-
dução acaba por tirar alguma piada, especialmente
para quem procura algo mais “raw”. A destacar-se
exactamente pela diferença está o tema «For Faen
M,†PZIXI|ũUYEWIGSQSWIEPKYɯQXMZIWWIXVSGE-
do de CD sem que reparássemos, de repente esta-
mos perante um tema de crust punk bem conse-
guido, se bem que ainda com o selo de “genérico”.
2SƤREPHIGSRXEWm+VEZI'SRHMXMSR|IWXɧPSRKIHI
ser um álbum terrível, mas também não está perto
de ser excelente. É bem conseguido, com riffs e
solos interessantes, um baterista de topo, onde o
ponto fraco será a voz, já para não mencionar uma
escrita um tanto infantil, não querendo repetir a
palavra “genérica”, no que toca às letras. [5] M.L.
THE BODY
«I Have Fought Against It, But I
Can’t Any Longer.»
[Thrill Jockey]
Continua a ser fascinante
testemunhar as constantes
mutações dos The Body.
Mesmo quem se perdeu de amores pelo «All The
Waters Of The Earth Turn To Blood», que terá sido
a mais predominante porta de entrada para boa
parte do número considerável de fãs que o duo
norte-americano carrega consigo hoje em dia,
reconhecendo que havia aqui qualquer coisa de
muito diferente e de muito fora da caixa já nessa
altura, teria sido difícil prever que em menos de
uma década o Chip King e o Lee Buford se iriam
transformar em… tudo o que já se transformaram,
sempre na vanguarda do que de melhor se faz no
experimentalismo extremo. A título de referência,
podem-se traçar alguns paralelos com a carreira
do Mories, dos Gnaw Their Tongues (em cujo
último disco o Chip lá atira uns guinchos bestiais,
curiosamente). Mas os The Body são mais expan-
sivos. Fazem mais colaborações que parece que
deixam, cada uma delas, a sua marca profunda,
IXɰQYQETEPIXEHIMRƥYɰRGMEWQEMWZEWXEEMRHE
(é conhecido o amor de King pela pop açucarada,
que continua a misturar como ninguém no meio
da lama e da angústia), mas a vontade de explorar
Majesty» dos Gnaw Their
Tongues, o som toma
conta de nós mesmo que
não saibamos exactamente
MHIRXMƤGEVUYIQSYSUYIɯ
que está a fazer esse som.
Só que, com os The Body,
não é só desgosto e dor
que se sente, é a euforia
quase doentia da beleza
passageira que dá o toque
ƤREPHIFVMPLERXMWQSES
disco. Mais um desses,
portanto. Onde vai parar
esta gente? [9] J.C.S.
BONFIRE
«Temple Of Lies»
[AFM]
(SW&SRƤVIUYIJSVEQYQHSWRSQIWQEMSVIW CONJURER
HSQIXEPKIVQɨRMGSRSƤREPHEHɯGEHEHI «The Mire»
só resta o fundador e guitarrista Hans Ziller, [Holy Roar]
mas ao ouvir este «Temple Of Lies» percebemos Há uns anos o movimento
que esta formação actual (enriquecida com o de peso britânico não tinha
portento vocal que é Alexx Stahl) tem a capaci- muito do que se orgulhar,
dade de ombrear em termos musicais com esse mas a situação tem vindo a
período áureo. Após a introdução surge o te- inverter-se. Com bandas como Employed To Serve e
ma-título com uma pujança que nos conquista, Venom Prison a captarem a imaginação de toda uma
tal a sua intensidade. Em «On The Wings Of An nova geração de fãs de música extrema, actualmente
Angel» já temos a sonoridade típica do grupo, a “cena” no Reino Unido acaba por ser tão diversa
com a melodia a impor-se, seguindo-se depois e inspiradora como qualquer outra. De formação
do compassado «Feed The Fire», um impressio- relativamente recente, os Conjurer são outro nome a
nante «Stand Or Fall». As baladas também estão juntar a uma cada vez mais extensa lista de bandas
aqui, bem representadas por «Coming Home» e a manter debaixo de olho e, tomando este álbum
«I’ll Never Be Loved By You», antes de uma «Fly de estreia a título de exemplo, é fácil prever um
Away» que é um verdadeiro hino ao hard rock. «I futuro risonho para estes jovens músicos oriundos
Help You Hate Me» e a power ballad «Crazy Over de Rugby. «The Mire» apresenta sete temas que
You» encerram um disco que se torna imperdí- combinam de forma muito inteligente djent, doom,
vel para os fãs de hard’n’heavy. [9] C.G. sludge, black, post metal e até grindcore, ao longo
de 44 minutos em que o quarteto saltita entre com-
BONG passos arrastados e monolíticos («Hadal»), texturas
«Thought And Existence» melancólicas («Hollow», «Thankless») e blastbeats
[Ritual] furiosos («Choke», «Retch») com uma facilidade
Ao oitavo longa-duração, impressionante. Por esta descrição não deve ser
os Bong desenvolveram difícil adivinhar que o som dos Conjurer está pejado
uma classe raramente de referências a outras bandas, mas esse patchwork
vislumbrada nestas encru- – que, nas mãos de músicos menos habilidosos,
zilhadas do doom, drone e psicadélico. Revela- soaria certamente a bagunça – surge aqui alicerçado
dora disso mesmo, é a introdução ao primeiro por uma cortina de metal progressivo que, apesar de
dos dois temas de «Thought And Existence», em tresandar a uma versão mais pesada dos The Ocean,
novas formas de criação a cada passo é seme-
lhante. «I Have Fought Against It…» (um título que é
uma frase retirada da carta de suicídio de Virginia
Woolf) baralha tudo aquilo que achávamos que
sabíamos acerca dos The Body, outra vez. Com
uma distância aparentemente ainda maior entre
os extremos utilizados – as vozes e as melodias
açucaradas (lá está) das convidadas Chrissy Wol-
pert e Kristin Hayter convivem com noise agreste
e frequentemente com os guinchos desesperados
do Chip, que parece que cada vez viaja um bocado
mais longe nas profundezas do seu estômago, ou
alma, ou ambos, para os ir buscar. A própria cons-
trução dos temas é desconcertante, atingindo-se
por vezes harmonias sublimes através de pouco
mais que samples, electrónica solta ou instrumen-
UYIEWMRSWIEƤRWEVEYXSWWIWIKYIYQEIXɯVIE
voz a informar que tudo se passou como num
sonho em que lá se vão as leis do pensamento
e da existência e nos debruçamos naquilo que
o coração realmente anseia. Só então entra a
distorção, o envolvente riff de glacial mutação,
o apelo ao consciente e ao inconsciente. Da
percussão esparsa de «The Golden Fields»,
passamos ao subtil mas constante embalo de
«Tlön, Uqbar, Orbis Tertius», título da história de
1940 de Jorge Luis Borges. Nela, o argentino
crítica, através da parábola, a doutrina subjecti-
vista de onde eventualmente surgiu a praga do
pós-modernismo. O excelente álbum do quar-
XIXSFVMXɨRMGSWYVKMYGSQSYQEVIƥI\ɩSWSFVI
os mesmos temas, tendo assim o mérito de se
JE^IQGSQUYIm8LI1MVI|ƥYEHIJSVQEREXYVEPSY-
ça-se «Of Flesh Weaker Than Ash», onde conseguem
resumir num só tema tudo o que fazem melhor) e
soe minimamente individual para não os descartar-
mos como clones. Portanto, agora é só esperarmos
que se libertem um pouco mais das suas referências
para lhes darmos mais que um... [7] J.M.R.
THE DAMNED
«Evil Spirits»
[Spinefarm]
Uma década passada após
o último disco de estúdio
dos lendários The Damned
e eis que Captain Sensible,
Dave Vanian e companhia
XEɭɩSTSVZI^IWHMJɳGMPHIMHIRXMƤGEVSYZIQWI sublimar não só ao nível da construção estética resolvem brindar-nos com mais uma soberba
instrumentos de sopro, a certas alturas, por exem- em si mesma mas da subjacente discussão TVSZEHIZMXEPMHEHIIWSFVIXYHSHIƤHIPMHEHI
plo). Mais uma vez, um pouco como no «Genocidal conceptual. [8] L.P. para com o seu legado e a sua devota base de

LOUD! 51

LUÍS RATTUS
SYSTEMIK VIØLENCE
ete anos depois de «Cambia Il Vento», os italia-
S nos BOMBER 80 lançam o seu segundo álbum
«Contro Il Tempo», através da Hellnation. A ban-
da de Florença teve tempo para preparar com calma
e primor a edição, que sendo num vinil com uma cui-
dada apresentação, inclui também a versão em CD. O
som segue a linha streetpunk que sempre praticaram,
com temas simples, directos, com coros cheios e re-
frães sing-along. Ideal para fãs de bandas como Los
Fastidios ou Bull Brigade. Palavras de ordem cantadas
com o orgulho de uma contra-cultura que teima em não
abandonar as ruas. Como os próprios dizem: l’amore
mio non muore!
Quem não demorou tanto tempo para lançar novo
material foram os ARMS RACE. «The Beast E.P.» é o
novo trabalho dos auto proclamados reis do New Wave
Of British Hardcore, com edição através da fantástica
La Vida Es Un Mus (uma das melhores editoras punk
da actualidade, sem qualquer dúvida). Quatro temas
que mantêm os Arms Race no campeonato de bandas
como Violent Reaction ou The Flex, hardcore punk ar-
rasador com uma voz gutural e um feeling a lembrarem
as velhas bandas hardcore vindas de Boston nos anos
80. In your face!
Com a produção de Rafael Rodrigues, Wilson Soares
e Maria João Frade, MANIFESTO SUBURBANO é um
novo canal YouTube onde mensalmente se vão dando e
promovendo notícias do nosso underground. O projec-
to visa não só dar exposição a velhas e novas bandas,
mas também a salas, promotores, editoras, fanzines e
tudo o que seja relevante no circuito alternativo. O pri-
meiro programa já está no ar com a promessa de que
os próximos irão elevar a fasquia a nível de qualidade
técnica e editorial.
«Make Punk Raw Again» dá nome ao split 7” que ainda
se encontra fresco nas ruas, editado pela Raw’N’Roll,
entre os tripeiros DOKUGA e os alfacinhas SYSTE-
MIK VIØLENCE. Do lado dos Dokuga encontramos
a entrega de sempre, com os berros inconformados
de Kisto e uma muralha sonora com referências às
guitarras samurai de bandas como Death Side a pis-
car o olho ao punk escandinavo. Os Dokuga são já
a referência do punk do Porto, dignos herdeiros da
bandeira passada pelos Renegados De Boliqueime.
Da parte dos Systemik Viølence é-nos entregue mui-
ta sujidade e violência gratuita. Quatro camafeus que
se comprometem a ser os Kuro da Picheleira ou os
+-71 HE 'SZE HS :ETSV 4YRO HIWEƤEHSV GSQ EXMXY-
de rude e som cru. No total são três temas para cada
banda, para ouvir alto e com a certeza de que se vão
chatear muitos vizinhos.
52 LOUD!
fãs. Dizer que «Evil Spirits» não belisca em nada
esse legado e que apresenta uns The Damned
iguais a si próprios será o melhor elogio que lhe
podemos deixar. Igual elogio será pensar que um
fenómeno global como os Ghost jamais existiria
na forma como o conhecemos se estes veteranos
não tivessem criado aquilo que de uma forma
imaculada voltam a recriar com dez canções do
QEMWVIƤREHSIWEVGɧWXMGSTYROVSGOI\IGYXEHS
por um dos poucos pioneiros do género ainda no
activo. O piscar de olho aos primeiros discos é
assumido e palpável, potenciado por uma produ-
ção a cargo de Tony Visconti que encontra o equi-
líbrio perfeito entre o lado orgânico de um disco
captado ao vivo em estúdio sem grandes artifícios
e o brilhantismo de pormenores e melodias que
o adornam e lhe conferem o desconcertante
requinte que constitui a identidade de uma banda
incontornável. [7.5] R.A.
DEATH. VOID. TERROR.
«To The Great Monolith»
[Iron Bonehead]
A estreia dos Death. Void.
Terror., parte do Helvetic
Underground Committee,
é agradavelmente inaces-
sível. O disco consiste em dois temas nos quais
riffs de black e death metal são encharcados em
delay e feedback, e se vão sucedendo sem aparen-
te estrutura – objectivo a que a banda se propõe e
para cujo sucesso contribui o afundar na mistura
de uma percussão entre o blastbeat e o arrítmico.
O problema é que o disco também se propõe a
ultrapassar o conceito de canção, a transcender
convenções de composição e performance, e a
ultrapassar ainda as noções do que é aceitável
IQŰGPEWWMƤGEɭɺIWLYQERMWXEWHIKɯRIVSű)RƤQ
uma parvoíce entre a hipérbole e o pretensiosis-
mo desenfreado. É uma aproximação gira mas
muito limitada à fronteira com o noise e o drone
PSƼ, tanto na forma como no conteúdo. Ainda por
cima é uma fronteira já mais que explorada por
discos mais perturbadores e interessantes, bas-
tando para tal conclusão olhar para as carreiras
do Mories e do Evil, entre muitos outros. [5.5] L.P.
DIMMU BORGIR
«Eonian»
[Nuclear Blast]
Após quase oito anos de
espera, os Dimmu Borgir
HɩSRSWƤREPQIRXIYQ
novo álbum. A julgar pelo
single de avanço, «Interdimensional Summit»,
parecem existir já muitos fãs descontentes com
a direcção tomada pelos noruegueses e, embora
WIXVEXIETIREWHIYQXIQEƤGEHIWHINɧEGSR-
ƤVQEɭɩSHIUYIEQEMSVMEHSQEXIVMEPGSRXMHSIQ
«Eonian» alinha mais por esse lado de orques-
trações catchy, do que propriamente pelo gene
black metal do grupo que, na verdade, tem vindo
a sofrer forte erosão ao longo dos anos. Resu-
mindo, bem mais sinfónico que cru/evil, mas bem
feito. O problema é que, a dado momento, parece
que estamos a ouvir uma banda e uma orquestra
em simultâneo… e a orquestra sobrepõe-se à
banda, algo que não devia acontecer. Este tipo de
metal costumava equivaler a guitarras fortes, uma
bateria orgânica, voz cavernosa… Neste décimo
álbum dos Dimmu Borgir, as cordas de Silenoz e
Galder estão algo ofuscadas pelas cordas eru-
ditas sintetizadas, e a voz de Shagrath soa por
vezes até obliterada por tanto coro. Aliás, vários
são os momentos em que o Schola Cantrum Choir
nos remete para um arranjo vocal semelhante ao
que escutamos em «1755» dos Moonspell, sendo
que muito do material dos portugueses acaba por
soar mais pesado que o dos noruegueses. Claro
que o black metal não está erradicado do som e
do conceito dos Dimmu Borgir, basta ouvir os riffs
e os tempos “rápidos” de músicas como «Æthe-
ric» e «Lightbringer», mas até parece que Daray
foi aconselhado a não dar asas ao seu talento,
em detrimento de umas teclas “cósmicas” que se
ouvem mais que qualquer outra coisa e remetem
para Covenant (ou The Kovenant, onde até tocou
Geir Bratland). «Eonian» pode até impressionar
produtores de Hollywood interessados numa
ousada banda-sonora para uma trama sobre o
lado negro do cosmos, mas não vai abanar tantos
pescoços como esta banda já fez abanar. [7] N.S.
DYLAN CARLSON
«Conquistador»
[Sargent House]
Conhecido como membro
fundador dos Earth – pio-
neiros do drone, a início,
com uma eventual expan-
são mais psicadélica –, é num registo ligeiramente
diferente que o músico edita o seu quarto álbum
de originais – primeiro somente com o seu nome
próprio. Gravado já há dois anos com a produção
de Kurt Ballou, guitarrista dos Converge, conta
ainda com a contribuição de Emma Ruth Rundle
e até de Holly Carlson, sua esposa, que inclusiva-
mente surge na capa. A semelhança a trabalhos
anteriores estende-se apenas pelo trabalho de gui-
tarra, cunho pessoal do próprio, que se deixa soar
entre feedbacks e notas prolongadas, aos quais
se junta uma imagética algo western, até mesmo
xamânica, onde a procura por novos horizontes
entre desertos permanece inalcançável e distante,
como uma viagem que teima em não acabar. Não
ɯEWWMQHIIWXVERLEVUYIEMRƥYɰRGMEHSJSPGPSVI
americano – palpável até, por um lado, pelo nome
«Conquistador» e, por outro, pelas subtilezas folk
entre um Neil Young e um Townes Van Zandt –
TVSZIRLEIQTEVXIHEƤGɭɩSHIWERKYIMRHɳKIRE
em «Meridiano De Sangue», obra literária de Cor-
mac McCarthy. Deixem-se levar pelo minimalismo
sónico destas paisagens áridas. [7] P.C.S.
FIVE FINGER DEATH
PUNCH
«And Justice For None»
[Eleven Seven]
Já todos viram acontecer:
uma máquina de inúmeros
cavalos atravessa-se no ca-
minho, faz meia dúzia de manobras ilegais e quando
em pleno asfalto, com uma recta pela frente, desa-
celera e resolve apreciar a paisagem, cruise control
mode. É um pouco isso que se passa com este «And
Justice For None», que até arranca bem, com dois
malhões daqueles que colocam milhares aos saltos,
«Fake» e «Top Of The World», mas ao quarto tema,
já desacelera e entra pelo território das baladas,
como «Sham-pain», o primeiro single, só porque tem
que ser. Com vários discos de platina, é compreen-
sível que se imponha ir a todo o mercado, mas que
tira a pica ao álbum, isso nem se duvida. E ao sexto
tema já estamos na segunda balada, «I Refuse»,
pelo meio com uma «Fire In The Hole» que rouba
o ritmo a temas de Manson, e a voz grave de Ivan
Moody, toda embrulhadinha em piano e guitarras
acústicas. Muito lindo, um daqueles momentos para
acender o isqueiro ou ligar a câmara do telemóvel,
TEVEYQHEUYIPIWZɳHISWQEPƤPQEHSWUYIRMRKYɯQ
vai ver. E é esta a máquina oleada dos Five Finger
Death Punch, que, ao sétimo disco, continuam
a levantar a bandeira do rock, com alguma legitimi-
dade, diga-se, mas sem a garra in your face de ou-
tros nomes. Para além dos ƼPPIVW habituais, há ainda
a repetição da versão dos Offspring, «Gone Away»,
já inserida na colectânea «A Decade Of Destruction»,
bem como o piscar de olho ao mercado country
com «Blue On Black», um original de Kenny Wayne
Shepherd. Bem produzido, com música catchy e
alguns temas fortes e interessantes, «And Justice
*SV2SRI|ƤGERSIRXERXSɦWSQFVEHSWXVEFEPLSW
da banda do início desta década. [7.5] E.F.
GOD IS AN ASTRONAUT
«Epitaph»
[Napalm]
Não será de estranhar ver
uma banda de post rock
como God Is An Astronaut
num catálogo como o da
Napalm Records. Até porque o álbum anterior
«Helios | Erebus» denotava já um acréscimo de
peso no som da banda irlandesa. Porém, nem é
exactamente por esses caminhos que vagueia a
novidade «Epitaph». Neste entretanto, a tragédia
assomou à família dos irmãos Torsten e Niels
Kinsella e a criatividade resultante é marcadamen-
te melancólica. O artwork de capa idealizado pelo
artista francês Fursy Teyssier (dos Les Discrets)
indicia, desde logo, que algo menos uplifting está
para acontecer nas melodias deste nono disco.
)SXIQEXɳXYPSHIEFIVXYVEGSRƤVQES)WXIɯ
o tempo do luto para os manos Kinsella, que já
nos deram muitos cortes de respiração em modo
êxtase (ouvide «All Is Violent, All Is Bright»). «Epi-
taph» é um álbum de progressão, de rearranjo
GVMEXMZSIMRƥI\ɩSTEVEQIERHVSWQEMWSFWGYVSW
mas estes não deixam de ser os God Is An Astro-
naut das atmosferas cativantes e dos crescendos
emocionais. «Oisín», o tema de fecho, encerra
uma parábola de dor e fragilidade quando se
perde um primo com apenas sete anos de idade,
mas deixa uma porta aberta ao pensamento – há
algo do outro lado? Deste, há uma banda madura
e respeitada pelo que é; uma das principais enti-
dades instrumentais. [7.5] N.S.
GODSMACK
«When Legends Rise»
[Spinefarm]
Nova editora, quatro anos
de espera e o resultado é
um disco bem orelhudo,
«When Legends Rise», que
bem se poderia intitular «Bulletproof», represen-
tando o estado actual do colectivo. Essa é no
entanto “apenas” mais uma das grandes malhas
destes Godsmack, num disco variado, que sabe
ir a vários campos e capaz de ser catchy sem se
comprometer com um determinado estilo. Após
o abandono da Universal, e quando se esperavam
as habituais saídas, dramas e tudo o mais, o
quarteto liderado por Sully Erna concebeu um
XVEFEPLS GSIVIRXI I TVSƤWWMSREP EPKYVIW IRXVI
Trivium e Avenged Sevenfold, num som reju-
venescido, próprio para grandes espaços, com
refrães fáceis, que transformam cada malha num
potencial hit, explicando os vinte milhões de dis-
cos já vendidos pelos anteriores títulos. Aqui tudo
funciona bem, até na balada «Under Your Scars»,
em que vão à cartilha de outro famoso grupo de
Boston e roubam o crescendo de «Dream On».
Em «When Legends Rise», os Godsmack não
pretendem inventar a roda – optam antes por
KYMEV YQ *IVVEVM [9] E.F.
GRAYCEON
«IV»
[Translation Loss]
As duas bandas não são,
objectivamente, tão pare-
cidas assim, mas não há
como não emparelhar os
Grayceon com os SubRosa, pelos semelhantes
espaços que habitam na nossa cabeça assim
que os seus expansivos temas se começam a
desenvolver. «No Help For The Mighty Ones», dos
SubRosa, e «All We Destroy», destes Grayceon,
saíram próximo um do outro em 2011, e entraram
instantaneamente para o coração de quem teve
a sorte de os ouvir na altura – e se os primeiros
já editaram mais dois discos deste então e se
tornaram gigantes, dos Grayceon apenas um EP
pequenito e um silêncio preocupante durante sete
anos. Percebemos que a vocalista/violoncelista
Jackie Perez Gratz, que já tocou com os Neurosis,
tem mais que fazer com os Giant Squid, acima de
tudo, e outros projectos onde se tem metido, mas
é muito bom saber que os Grayceon continuam
a existir. E de boa saúde, também – «IV» é um
sucessor perfeito para «All We Destroy», e apesar
de não ter um malhão surreal como foi «Shell-
mounds», pelo menos à primeira vista, até é mais
coeso e vai mais fundo na exploração musical de
um estilo muito próprio. Tal como nesse álbum
anterior, é o violoncelo o principal veículo de con-
dução da melodia, mas aqui usado de forma mais
diversa e frequentemente mais intensa. É possível
que nunca tenhamos usado a expressão “riffs
de violoncelo” nesta revista antes, mas é uma
adequada estreia neste caso. Também as vozes
apresentam maior dinâmica que anteriormente,
e acima de tudo, aquele ambiente meio poético,
 PEDRO PEDRA
BELA HILÁRIO
GRAVEHILL
valanches de riffs, montanhas coroadas de
A criaturas desviantes e veneradoras do mal per-
petuam ritos aos cadáveres e prezam o mestre
chifrudo para obterem a sua salvação. Esta descrição
ɯ GEXEPMWEHE TSV YQE EVXI KVɧƤGE MVVITVIIRWɳZIP UYI RSW
explode nos ouvidos em tons de death, thrash e black
metal que só os GRAVEHILL nos conseguem retratar
no mais recente «The Unchaste, The Profane & The
Wicked». Uma banda ávida de saltar da campa directa-
QIRXI TEVE E ZSWWE NYKYPEV 3W ISRATHOUM, por sua
vez, baralham-nos os sentidos com o seu «Channeling
Death And Devil». Rudeza abrilhantada com ambiên-
cias frias e cortantes, bem como ritualísticas muito
regadas com agressividade sanguinária. Uma dádiva
de coração à adoração infernal.
Os CONVOCATION assombram-nos com o disco de
estreia intitulado «Scars Across». Um hino divino ao
doom metal pesadão e lento, com ambiências me-
lancólicas, mas daquelas capazes de nos arrancar as
lágrimas dos olhos e de as cristalizar no tempo e es-
paço. Não esperem nada mais do que ruína e angústia
pois aqui a esperança morreu antes mesmo de ter tido
oportunidade de nascer. Também os SHEIDIM pro-
põem-nos «Infamata», o sucessor do seu primeiro lon-
ga-duração. Quatro temas novos muito bem produzi-
dos mais uma intro servem perfeitamente para garantir
que a banda continua no bom caminho do black metal
cheio de melodias negras e pujança obscura.
Os BEORN’S HALL encantam com o seu segundo
registo. Este fascínio pela mitologia nórdica encontra
aqui uma das melhores propostas nos últimos tempos.
O facto de parecer fácil fazê-lo é em última instância
ultrapassado pela imagem que a música nos transmi-
te. «Estuary» remete-nos para o primitivismo barbárico
necessário, mas mais que isso transborda de tradição
folclórica e da importante atmosfera que credibiliza a
essência da banda e da sua música.
Uma bomba caiu-nos, sem aviso prévio, quando escu-
támos o lançamento seminal dos MENDACIUM. É que
«Decimating Titans» trespassa-nos com a sua violên-
cia absurda apresentando-nos um black death metal
tenebroso e gigantesco criado pela mente do único
Vanus Mendax. Sem dúvida, um projecto a seguir com
mais atenção. Finalmente, já é do ano passado, mas
os TEMPLE OF VOID têm que ser do vosso conheci-
mento dado que «Lords Of Death» tem muito potencial
para agradar. Num género só, death metal demolidor.
Já muitas vezes expressei que a velocidade não é tudo,
pelo que caso pretendam ser esmagados por uma
overdose de peso descomunal encontram nesta edição
muitos motivos para tal. Horns up for metal!
54 LOUD!
meio etéreo, que no entanto nunca perde o contra-
ponto do peso e da suave opressividade (passe o
paradoxo), tão característico dos Grayceon, está
MRXEGXS I EXɯ VIƤREHS ɔ TSɯXMGS WIQ WIV PEQI-
chas, é neoclássico e sonhador mas também é
doom. É genial, é o que é. [8.5] J.C.S.
GROUPER
«Grid Of Points»
[Kranky]
Liz Harris está de regresso,
depois de quatro anos vol-
vidos sobre «Ruins». Esse
registo anterior marcou um
abandono das paisagens mais ambientais do shoe-
gaze, pulverizadas até por algum experimentalismo
a roçar o drone, que tinham vindo a ser exploradas
em diversos lançamentos já desde 2005. Em con-
trapartida, revelou uma faceta muito mais despida
da autora, com delicadas composições ao piano
a serem acompanhadas por suaves harmonias
ZSGEMW GSQS UYI RYQE WMQTPMƤGEɭɩS HE JɸVQYPE
até então usada em prol de um som mais orgânico.
É nessa toada que se segue este novo «Grid Of
Points» ao longo de pouco mais de vinte minutos,
mantendo a instrumentação ao mínimo através do
dedilhar solto e espaçado das teclas, só de si car-
regadas de melancolia, para serem acompanhadas
por sussurros angelicais, por vezes sobrepostos
como coros, dos quais nem é preciso acompanhar
as letras para sentir um turbilhão de emoções.
Não é necessariamente triste, embora possa ser
solitário, reconhecer que há uma certa leveza no
conceito de ausência sentida, de vazio presenciado
que permanece à deriva a cada escuta. E quando
tudo termina, até o silêncio é esmagador. [8] P.C.S.
GUS G.
«Fearless»
[AFM]
1YMXSW ƤGEVEQ E GSRLIGIV
este guitarrista grego aquan-
do da sua passagem pela
banda de Ozzy Osbourne,
mas o seu currículo com bandas como Firewind,
Dream Evil ou Nightrage, só para citar algumas,
tornam-no num dos mais importantes guitarristas
do metal actual. «Fearless» é o seu quarto álbum
em nome próprio e tem como novidade manter a
mesma voz ao longo do disco, gravado pelo power
trio formado por Gus G., Will Hunt (Evanescence,
ex-BLS) na bateria e Dennis Ward (Pink Cream 69 e
Unisonic) que assume aqui, para além das habituais
funções de baixista, o papel de vocalista. Temas
como «Mr. Manson», «Don’t Tread On Me» ou «Chan-
ces» (esta última uma grande malha) trazem-nos
um metal pesado e com groove onde os dedos de
Gus G fervilham constantemente nos solos e peque-
nos apontamentos que vão surgindo. Os instrumen-
tais («Fearless» e «Thrill Of The Chase») são outro
momento à parte mas a surpresa do disco vai para
a versão de «Money For Nothing» dos Dire Straits.
Um disco que prova que Gus G, apesar de tudo, tem
motivos para não ter receio do futuro. [7.5] C.G.
KAMELOT
«The Shadow Theory»
[Napalm Records]
Na passagem do milénio, os
Kamelot editaram uma série
de discos que cimentaram
uma sonoridade muito
própria, um power metal melódico, progressivo
e maduro, onde os arranjos se tornam parte im-
prescindível do esqueleto de cada música. Desses
tempos só restou na banda o guitarrista Thomas
Youngblood, que sempre soube rodear-se de bons
músicos e manter intocável a identidade musical
dos Kamelot. A chegada de Tommy Karevik há seis
anos atrás foi disso exemplo, pois este vocalista
sueco consegue cantar com a mesma elegância
e suavidade de Roy Khan, e acrescenta ainda uma
força vocal que não existia previamente. «The
Shadow Theory» é a prova de tudo o que se referiu
acima, um disco à Kamelot, com tudo o que de po-
sitivo isso representa. Oiça-se «Ravenlight», «Kevlar
Skin» ou «The Proud And The Broken», e será difícil
RɩSƤGEVIQIRVIHEHSWTIPEMRXVMRGEHEXIMEQYWMGEP
da música dos Kamelot. Ou se preferirem algo
mais ligeiramente directo têm uma «Amnesiac»,
a «Static» ou mesmo a «Verpertine», e para além
disso temos ainda a presença feminina de Lauren
Hart (Once Human), com os seus grunhidos em
«Phantom Divine» e «Mindfall Remedy», e de Jenni-
fer Haben (Beyond The Black) potenciando ainda
mais a graciosidade de «In Twilight Hours». É o
melhor disco de sempre dos Kamelot? Quase de
certeza que não, mas este «The Shadow Theory»
mantém bem alto o nível a que o grupo de Thomas
Youngblood nos tem habituado. [9] C.G.
KNELT ROTE
«Alterity»
[Nuclear War Now!]
Parece que nem no espec-
tro da música extrema os
STSWXSWGSRWIKYIQƤGEV
desavindos muito tempo. A
fusão de géneros semelhantes na essência, mas
totalmente diferentes na abordagem e execução,
tem vindo a tornar-se cada vez mais comum – e
não há como combater isso. Os puristas podem
enfurecer-se tanto quanto quiserem, mas o caldei-
VɩSIWXɧEƤGEVGEHEZI^QEMSVIGSQETEWWEKIQ
dos anos, as ténues linhas que separam os sub-
KɯRIVSWIWXɩSEƤGEVGEHEZI^QEMWHMJɳGIMWHI
discernir. Criados originalmente como um projecto
de power electronics, os Knelt Rote acabaram por
tornar-se uma besta mais complexa com o passar
dos anos. Incorporando elementos de black, death,
war metal e grindcore no seu som, com registos
GSQSm-RWMKRMƤGERGI|Im8VIWTEWW|SXVMSHI
4SVXPERHEƤVQSYWIGSQSYQETVSTSWXEI\XVIQE-
QIRXIHIWEƤEHSVEIEGMQEHIXYHSHIZEWXEHSVE
Seis anos depois de nos terem furado pela última
vez os tímpanos sem misericórdia, os músicos
norte-americanos voltam à carga com «Alterity»
e nem precisam de meia-hora para nos deixar o
cérebro em papa. Ao longo de sete temas, quase
todos de duração abaixo dos três minutos, criam
um remoinho de violência sónica intensa, e capaz
de tirar o fôlego ao mais calejado dos fanáticos de
música extrema. Apoiado numa atitude feroz e em
rugidos uivantes, alicerçados por arpeggios disso-
nantes e uma dose de groove punitivo, o grupo cria
mais um monstro de vários tentáculos. [8] J.M.R.
LECHEROUS NOCTURNE
«Occultaclysmic»
[Willotip]
«Occultaclysmic», o quar-
to álbum dos Lecherous
Nocturne, primeiro desde
há cinco anos, é blackened
death metal à la Angelcorpse, embora um pouco
menos caótico. A banda da Carolina do Sul gosta
de velocidade, por vezes a níveis alucinantes, como
acontece na estonteante chacina que é «Quantum
Mysticism», mas consegue juntar de forma compe-
tente técnica, agressão pura e melodia. As presta-
ções individuais são tremendas e, como banda, há
uma enorme coesão. No entanto, a falta de foco da
 maioria destes temas, que disparam em demasiadas
HMVIGɭɺIWEGEFETSVHMƤGYPXEVEQIQSVM^EɭɩSIJE^
GSQUYIm3GGYPXEGP]WQMG|HMƤGMPQIRXIWIGSRWMKE
distinguir da concorrência. Se cada uma das múlti-
plas secções de cada tema fossem mais distintas
entre si, talvez o contraste entre elas ajudasse o
ouvinte a reter algo, só que como esse não é o caso,
ainda nos estamos a afeiçoar a um riff e já levámos
com outro diferente, mas quase igual. Conclusão:
GLIKEQSWESƤQHSHMWGSITSYGSSYREHEƤGSY
Não querendo ser injusto nem redutor em relação ao
trabalho dos Lecherous Nocturne, que é sem dúvida
extremamente sólido e a espaços impressionante no
que toca à habilidade dos instrumentistas, só isso
não basta para fazer um disco de destaque num
subgénero tão saturado como este. [6] J.A.R.
LIK
«Carnage»
[Metal Blade]
Alguém pediu death metal
à moda de Estocolmo com
aquele HM-2 a soar híper
genuíno em 2018, velha
guarda, the good old way#%ɳSXIRW0MOɯIWWEFER-
da. E, pasme-se, são mesmo de Estocolmo. Trio de
gente crescida e sabida em várias áreas do metal
e que, aqui, está como peixe na água. «Carnage»
é o segundo álbum de um grupo criado há apenas
três anos com o propósito de fazer algo de que se
gosta muito, sendo-se plenamente sucedido nesse
objectivo e deixando mais uns quantos felizes pelo
meio. Falamos de Christofer Barkensjö, requisitado
baterista que já passou pelos Grave e está hoje nos
Witchery, Niklas Sandin, baixista dos Katatonia,
aqui guitarrista, e Tomas Akvik, actualmente nos
Bloodbath ao vivo. LikWMKRMƤGEGEHɧZIVIQWYIGS
portanto, esperem aquela podridão do início dos
90s, mas com uma clareza lancinante, mais uma
gravação de belo efeito no estúdio Dugout, na
sequência dos bons resultados obtidos nos dois úl-
timos trabalhos dos Witchery. Lento, rápido ou em
TEWWEHEHFIEXm'EVREKI|ɯEHIPMGMSWEGEVRMƤGMRE
nostálgica que desejam… e um pouco mais. [8] N.S.
LYCHGATE
«The Contagion In Nine Steps»
[Blood Music]
(IƤRMVSWSQHSW0]GLKEXI
sem cair num simplista black
metal atmosférico ou num
famigerado black metal avan-
t-garde – até porque é muito mais do que ambos
–, pode ser por si só uma aventura. Com membros
que, sem mencionar projectos anteriores, fazem
parte de bandas como Esoteric, The One, Macabre
Omen, Omega Centauri, Acherontas e Ancient As-
cendant, talvez já dê para vislumbrar um pouco a
HMWTEVMHEHIHIMRƥYɰRGMEWUYIEPɯQHETERɸTPMEHI
black metal, ainda alcançam o death metal e até o
doom – tudo atado por um ADN bem progressivo.
Ainda assim, e mesmo que conheçam a gradação
de sonoridade entre os dois discos antecessores,
somente através de um exercício de comparação
será possível deixar-vos uma descrição mais certei-
ra. Ora vejam lá se me acompanham. Imaginem que
os Blut Aus Nord, cansados daquelas descargas
explosivas, decidiam ir buscar um órgão de tubos
aos séculos passados, incorporar aqueles cânticos
à The Ruins Of Beverast, aprender estruturas com
os Cynic ou os Atheist, prestar homenagem aos
Virus/Ved Buens Ende e misturar tudo como os
1EYHPMR3J8LI;IPP2ɩSƤGEVEQGYVMSWSW#7IVɩS
no mínimo, surpreendidos. Primeiro estranha-se,
depois entranha-se. [7.5] P.C.S.
NAPALM DEATH
«Coded Smears And More
Uncommon Slurs»
[Century Media]
%SƤQHIERSWHIZMHESW

AURA NOIR Napalm Death continuam a

elevar cada vez mais a fas-
quia no que toca à música extrema. «Apex Predator
– Easy Meat» mostrou isso mesmo, e caso sobrem
«Aura Noire» dúvidas, basta apanhar um concerto do grupo
[Indie Recordings] inglês para que todas elas sejam suprimidas. Em
«Coded Smears And More Uncommon Slurs» temos
uma colectânea de material nunca antes lançado

I
maginem que os Aura Noir recuavam aos tempos de «Black
e algumas covers gravadas entre 2004 e 2016. No
Thrash Attack» para compor nessa era, com a maturidade que
que toca aos Napalm Death, já todos sabemos com
têm agora. O resultado deveria ser o que se ouve aqui: maior
o que contar: crítica social embutida em sarcasmo
diversidade entre temas e um aumento da atmosfera, com algumas canções a mostrarem uma
e desdém é injectada no ouvinte da mesma forma
TVSJYRHMHEHIIYQEWSƤWXMGEɭɩSUYIRYRGEERXIWXMZIVEQESRɳZIPHEGSQTSWMɭɩS)QFSVEWEM-
a que nos habituaram. Riffs rápidos e agressivos,
FEQEIWTEɭSWQERXIVEIRIVKMETYROUYIWIQTVISWGEVEGXIVM^SYƤGEGPEVSUYIm%YVE2SMVI|ɯ
complementados com a furiosa voz de Barney, que
um disco menos primitivo e muito mais pensado e trabalhado do que o anterior «Out To Die». Uma
parece conter em si toda a raiva do mundo. No
GERɭɩSGSQSm,IPPŭW0SWX'LEQFIVW|TSVI\IQTPSɯHSQEMWWMRMWXVSITVSKVIWWMZSUYINɧƤ^IVEQ
entanto, se já estamos a contar com certos aspec-
não em termos técnicos, mas pela história que parece contar e pela capacidade de nos mergulhar
tos no que toca à sonoridade da banda, é em temas
IQEFWSPYXEIWGYVMHɩS7SFVIXYHSRSWTVMQIMVSWXVɰWXIQEWSYZIQWIVMJJWUYITSHMEQIWXEVRYQ
GSQSm4LSRIXMGW*SV8LI7XYTIƤIH|Im'PSYHW3J
trabalho recente dos Darkthrone (entre o «Circle The Wagons» e o «Arctic Thunder»), caso dos que
Cancer/Victims Of Ignorance» que nos surpreende-
povoam a primeira metade da excelente «Grave Dweller», onde juntam ao seu black/thrash carac-
mos. Desde intros thrashy a fugir à sonoridade da
XIVɳWXMGSYQŰLIEZ]HSSQűHEUYIPIUYIS*IRVM^KSWXEEKSVEHIGVMEV2ɩSVIWXIQHɽZMHEWRSIR-
banda a piano clássico, esta compilação oferece o
tanto, acerca da identidade bem vincada dos Aura Noir, que apesar do incremento de passagens a
aquecimento ideal até ao próximo longa-duração, e
meio-tempo, continuam a saber ser tão ou mais selvagens do que eram antes. «The Obscuration» é
só demonstra que os Napalm Death estão longe de
FPEGOIRIHXLVEWLQIXEPJVIRɯXMGSIHMVIGXEQIRXIɦNYKYPEVm7LEHIW%FPE^I|EYQIRXEEMRHEQEMWE
se tornarem obsoletos. [8] M.L.
fasquia em termos de intensidade, e a tresloucada «Mordant Wind», a malha mais intrincada e me-
nos ortodoxa de todo o disco, deve ter deixado o Blasphemer com os dedos em sangue. De resto,
NECROS CHRISTOS
SKYMXEVVMWXEɯQIWQSEƤKYVEQEMSVTIPEHMZIVWMHEHIHIIWXMPSWUYIMQTVMQIREGVMEɭɩSVɳXQMGEI
«Domedon Doxomedon»
pela qualidade superior dos solos. Junte-se a essa inspirada prestação das seis cordas, a corrosiva
[Sepulchral Voice]
ZS^HI%TSPP]SRQEMWI\TVIWWMZEHSUYIRYRGEISTVEKQɧXMGSFEM\SHI%KKVIWWSVIIWXɩSVIYRM-
O terceiro álbum dos Necros
dos os condimentos para um dos momentos mais altos da carreira do trio noruguês. [8.5] J.A.R.
Christos encerra a carreira
HMWGSKVɧƤGEHEFERHE
levando ao extremo as carac-
terísticas que desenvolveram ao longo da mesma.
Como sempre, são nove canções de death metal,
desta feita com o carácter progressivo mais vincado
(perfazem hora e meia), intercaladas por interlúdios
«Gate Of …» e «Temple …», nove de cada para ênfase
WMQFɸPMGS%PMKEɭɩSIRXVIXIQEWɯQEMWƥYMHEHS
que nunca, como se vê na passagem do quarto
«Temple» para a fantástica «Seven Altars Burn In
Sin», e a presença de elementos clássicos persas
e indianos é transversal ao álbum, tanto nos apon-
tamentos acústicos (veja-se o sétimo «Temple»),
como no death metal propriamente dito, seja pelos
ritmos presentes em diversos temas como por pas-
WEKIRWGSQSEFVMPLERXIIRXVEHETEVESWSPSƤREPHI
«The Heart Of King Solomon In Sorcery». Acima de

56 LOUD!
tudo, é um disco de uma riqueza de arranjos excep-
cional e que concilia o melhor dos dois lados da
FERHERYQƤREPHIGEVVIMVEEWWSQFVSWS7ɸQIWQS
ao alcance da elite do género. [9] L.P.
NINE O NINE
«The Time Is Now»
[Raising Legends]
Tó Pica é daqueles músicos
motivados por fazerem
sempre algo diferente e
a diversidade dos grupos
por onde tem passado fala por si. Nine O Nine, o
mais recente projecto do guitarrista português, é
distinto de tudo o que fez até hoje e, se há alguma
proximidade sonora, é com o álbum a solo lançado
em 2016. Mesmo assim, «The Time Is Now» é
outra coisa. Falamos de rock/metal que tanto pode
derivar para caminhos mais alternativos, como em
cambiantes mais experimentais num «Big Event»
de belo efeito. Ou seja, o próprio álbum é amplo e
variado em géneros. Naturalmente, como banda
que é, Nine O Nine arquitecta-se também a partir
dos pilares criativos dos outros dois músicos ex-
perientes aqui em acção – Sérgio Duarte na voz e
Arlindo Cardoso na bateria. Talvez porque o registo
de Sérgio não é assim tão distante do irmão Rui, e
por Pica ter passado uns bons anos nos Ramp, há
momentos como «The Way Back Home» que aca-
bam para nos evocar a banda do Seixal. Bem con-
seguida está também a versão de «Never Let Me
Down Again», original dos Depeche Mode e, quiçá
 I EGMQE HI XYHS EUYIPIW QEPLɺIW
por sugestão subconsciente, o riff do tema seguin-
te, «Aquilam», remete-nos para Paradise Lost light.
Em Nine O Nine, Tó Pica relembra-nos que boas
guitarras não se resumem a bons solos (até nem
LɧQYMXSWEUYM
I7ɯVKMS(YEVXIGSRƤVQEUYIWIVME
um desperdício não o termos a cantar em inglês
neste género. Estamos convictos que um segundo
trabalho será ainda mais sólido, mas só um trio de
músicos astutos consegue pôr cá fora um trabalho
destes, apenas um ano após a formação. [7] N.S.
um caminho longo e difícil para chegarem onde
estão hoje. No seu lugar, muitas bandas teriam
certamente desistido depois de terem de lidar
com a morte de um dos elementos fundadores
ainda antes do seu primeiro álbum ser editado,
mas estes músicos provaram ser feitos de
YQE ƤFVE MRZYPKEVQIRXI JSVXI ES STXEVIQ TSV
continuar em frente apesar dos trágicos obstá-
culos com que foram sendo confrontados. Dois
anos depois de ter sido editada, a estreia «The
Embodiment Of Hate» continua a soar como
um autêntico testemunho do que é transformar
sentimentos negativos em catarse, um monu-
mento selvagem de dor transformada em força
bruta, numa visão própria do que é hoje o bla-
ckened death metal. Apesar dos 24 meses que
passaram entretanto, pouco parece ter mudado
no universo de Eric e Tim, os dois estrategas
desta obscura entidade. Pese a produção mais
equilibrada e um pouco menos lamacenta, «With
Inexorable Suffering» parte do ponto em que
nos tinham deixado em 2016, com temas como
m%VXMƤGMEP 4YVKEXSV]| m0EF]VMRXL (MWSVMIRXEXMSR|
I m8LI (IGE] 1E\MQ| E EƤVQEVIQRSW GSQS
mestres intocáveis na arte de fazer death metal
dissonante e cavernoso de qualidade superior.
Misturando riffs serpenteantes que podiam ter
sido arrancados aos piores pesadelos dos In-
cantation e vocalizações guturais que deixariam
o H.P. Lovecraft orgulhoso, os músicos de Los
Angeles cospem meia-hora de peso monolítico,
equilibrado na ténue linha que separa o OSDM
HS KVMRH I HS FPEGO QIXEP 2S ƤREP m;MXL -RI\S-
rable Suffering» alcança um equilíbrio perfeito
entre brutalidade e atmosfera, entre punição
visceral e intensidade emocional. [8] J.M.R.
não há lugar para novidades radicais, mas se
a fórmula resulta, então termos o 25.º aniver-
sário do «Horrorscope» e o 30.º do «Feel The
Fire» reunidos num só espectáculo pode ser
uma mais-valia. Motivos de peso que fazem
a diferença nesta dupla captação e edição
replicando toda a maturidade, experiência e
produção de um dos maiores ícones do thrash
metal mundial. [7] P.P.
ROSS THE BOSS
«By Blood Sworn»
[AFM]
Custa um bocado atirar
críticas menos positivas
para cima de uma “banda”
chamada Ross The Boss
quando o antigo guitarrista dos Manowar é
precisamente a única coisa imaculada no meio
disto tudo, mas a realidade é o que é. Para não
ir mais atrás, já quando nos visitaram há pouco
mais de um ano, se percebeu que Ross The
Boss, a banda, não é grande coisa. Dessa noite,
aproveitou-se, lá está, a presença do lendário
guitarrista, que apesar de mais envelhecido do
que seria de esperar e com um ar meio deso-
rientado, lá se conseguiu manter totalmente
“na batata”, uma performance interessante do
baterista também ex-Manowar Rhino (entretan-
to substituído por Lance Barnewold, que gravou
este «By Blood Sworn» e já foi substituído
XEQFɯQ
imortais dos Manowar, esses sim a verdadeira
estrela da noite. O habitualmente talentoso
baixista Mike LePond revelou-se um erro de
casting um bocado triste, e especialmente o

NOCTURNAL GRAVES T O DR I N K F ROM T H E N IG H T I T S E L F

«Titan» OVERKILL
[SOM – Underground Activists] «Live In Overhausen» Out on May 18 th!
Entre riffs ferozes e blastbea- [Nuclear Blast]
ts constantes, os veteranos Ter 38 anos de
australianos abrem caminho idade como banda
para pequenos solos e linhas é obra. Se a essa
melódicas que se distribuem equilibradamente um efeméride somar-
pouco por todo o disco. Essas melodias são quase mos dezoito álbuns
totalmente silenciadas a partir do momento que a de estúdio e mais
cavernosa voz entra. «Resistance» é uma mistura quatro ao vivo,
implacável de death e black metal, enquanto que sem contar com
«Ecdysis, Shedding Weak Flesh» foge um pouco inúmeros EPs pelo
ao padrão geral – apesar da parafernália de gui- meio, este sim-
tarras e batida igualmente intensa, esta é a faixa ples exercício de
mais melódica de todo o álbum. E é mau? Não, a aritmética assume
banda soube perfeitamente como utilizar a melo- proporções épicas.
dia sem se dispersar do objetivo. Também «And Os Overkill têm uma
Hell Followed Them» se destaca, sendo o perfeito vida inteira susten-
exemplo da combinação de black, death e thrash tada nesta carreira
à semelhança de uns Bestial Warlust. Em «Titan» musical e como
temos talvez o trabalho mais bem conseguido tal é de prever que
até agora pelos Nocturnal Graves, rejeitando uma ao gosto pelo que
The new studio album by the
certa tendência que existe para o uso descabido de fazem se associem pioneers of melodic Death Metal.
melodia, ou até mesmo do contrário. [7] M.L. calendários edito-
riais. O que é que DARK, DYNAMIC AND ALL-PERVASIVE!
OUR PLACE OF WORSHIP este disco ao vivo
IS SILENCE tem que os restan- Available as limited Mediabook 2CD, Jewelcase CD,
«With Inexorable Suffering» tes não tenham é a Gatefold LP, Deluxe Boxset and as Digital Album.
[Translation Loss] pergunta que os fãs
Oriundos do Sul da Califór- do grupo preten-
nia, os Our Place Of Wor- dem ver respondi-
ship Is Silence percorreram da. Certamente que

w w w.CE N TURYMEDI A .com

 espalhafatoso vocalista Marc Lopes mostrou
estar muito longe dos requisitos mínimos para
a função. Ninguém pedia um novo Eric Adams,
mas caramba, escusava de estar tão longe. E
isto pode parecer que não tem nada a ver com
o disco que é suposto estarmos a analisar, mas
infelizmente tem tudo, porque é só transferir
todas essas opiniões para «By Blood Sworn»
e tudo se mantém. As composições são com-
petentes, sem serem nada de especial, longe
de uns Manowar (é chato estar sempre a bater
nesta tecla, mas tem que ser essa a fasquia),
mesmo da fase pós-«The Triumph Of Steel»
quando a coisa começou a descambar um
bocado, e quando há alguns assomos daquele
heavy metal a sério de punho no ar, quando o
bom do Ross lá saca um riff ou uma melodia
“daquelas” que nos voltam a remeter até a 30
e tal anos atrás, lá vem a vozinha paper thin
do Lopes a estragar tudo, já para não falar da
produção manifestamente infeliz. Dá-se as duas
SYXVɰWZSPXMRLEWHETVE\IIƤGEWIGSQTSYGE
vontade de voltar a ouvir isto, ainda por cima
com tantos discos bons dos Manowar que es-
tão mesmo aqui ao lado na prateleira. Desculpa
lá Ross, a culpa não é tua. [4] J.C.S.
SPACE ELEVATOR
«II»
[Steamhammer/SPV]
Com o álbum de estreia a
datar de 2014, esta banda
surgiu da mente do guitar-
rista David Young (conheci-
do pela sua participação no musical «We Will Rock
You») ao qual se juntou essa personagem chama-
da The Duchess, uma vocalista que soa a tudo me-
nos a uma vocalista de rock. Isto não é uma críti-
ca, pois a tonalidade soul e clássica da voz de The
Duchess é um dos principais motivos que tornam
estes Space Elevator minimamente interessantes.
O disco começa bem com um «Take The Pain» que
nos remonta aquele rock grandioso de uns Queen,
passando depois para os ritmos funk mas cheio
de pormenores estilísticos de «Talk Talk». «World
Of Possibilities» e «The One That Got Away» são
dois temas que, se um leitor mais “conservador”
QYWMGEPQIRXIHE039(SYZMWWIEWWMQEWIGS
sentir-se-ia indisposto e a questionar o porquê de
estar a ler uma crítica a este disco nestas páginas.
E se dúvidas houvesse, o melhor é não escutarem
os seguintes «Crazies», «We Can Fly» e «All This
Time» (neste podem passar logo para os 3:45).
%XɯESƤQHSHMWGSWEJEQWIYQm*EV%[E]&S]|
ou um «W.Y.T.A.T.» mas acreditem que têm que ter
uma abertura musical enorme para conseguirem
SYZMVIWXIHMWGSHSTVMRGɳTMSESƤQ4SVHIWGEVKS
de consciência, atribui-se aqui uma nota tendo em
conta apenas os atributos musicais e não o estilo
da banda. [7] C.G.
SUMMON
«Parazv Il Zilittv»
[Iron Bonehead]
A música tem destas coisas,
a beleza de nos arrastar,
perfeitamente vendados,
para as paisagens mais
variadas no meio da escuridão total. Os Summon
fazem-se valer disso e tudo indicava que, após a
estreia com «Aesthetics Of Demise», o monstro
fosse crescer para domínios ainda mais profundos.
É por isso que «Parazv Il Zilittv» não é surpreen-
HIRXIIGSRƤVQESUYIERXIVMSVQIRXIWITVIZME
Uma banda com ideias estruturadas e orientadas
para a negritude transformam os Summon numa
poderosa proposta, ocultamente perigosa e bes-
tial. Ao ritmo deste trabalho somos engolidos na
matéria negra do abismo, onde a escuridão habita
em todos os caminhos e variantes até à sua saída,
IQFSVEIWXEɽPXMQEWINEETIREWYQEƤKYVEHI
estilo pois, na verdade, não existem alternativas
para escapar às tormentas e punições eternas aqui
reservadas. Em conclusão e num impuro momento
de graça conspurcada, é de saudar a contínua
EƤVQEɭɩSMRXIVREGMSREPHI4SVXYKEPRSWXIVVIRSW
mais obscuros do metal extremo. [8] P.P.
VARATHRON
«Patriarchs Of Evil»
[Agonia]
Apresentar os Varathron
ao grande público é redun-
dante. Não é um chavão,
simplesmente é assim.
Uma banda que já existe desde 1988 está isen-
ta de uma formalidade como esta, ainda mais
fazendo parte do núcleo duro da vaga iniciática
do black metal grego ao lado dos Rotting Christ,
Necromantia, Thou Art Lord, Zemial e Agatus,
entre outros. Detentores de uma identidade muito
própria e muito provavelmente criadores da ac-
tual estética sonora helénica, ao sexto disco de
originais continuam a demonstrar o que sabem
fazer de melhor. Esta capacidade de misturar

VRASUBATLAT agressividade com melodia e, ao mesmo tempo,

evocar ambientes épicos, mas sempre com uma
aura oculta bastante vincada e muito distantes de
serem melosos representa a marca dos Varathron.

E
m 2015, um murmúrio surgiu no underground norte-americano: a )WXERSZETVSTSWXEEƤVQEWIGSQSQEMWYQTEW-
secção rítmica dos Ash Borer tinha criado uma editora para lançar WSTEVEEGSRƤVQEɭɩSHSWIYPIKEHSQYWMGEPIɯ
uma série de projectos mais extremos, a Vrasubatlat. Os quatro tão pertinente como os seus anteriores registos
lançamentos desse ano, dois de black metal (Uškumgallu), um de black porque transporta a essência da sua musicalidade
death (Serum Dreg), e um split de power electronics (Mróz) e black punk mística para as artes negras do presente. [8] P.P.
(Utzalu), deixavam claro que esta malta estava a transbordar criatividade
e que não seria surpreendente que a banda original se tornasse numa WAYFARER
mera curiosidade de menor relevância artística, como aliás veio a acon- «World’s Blood»
XIGIV8VɰW TVSPɳƤGSW ERSW HITSMW GLIKEQ ESW ZMRXI PERɭEQIRXSW GSQ [Profound Lore]
três discos fantásticos que têm em comum uma excelente produção, não Para além de partilharem
no sentido de ser limpa – que não o é – mas no sentido de conciliar a mesma cidade, Denver, e
uma sonoridade francamente suja com uma notável clareza na captação o mesmo estado, Colora-
de cada instrumento. O primeiro, «Lustful Vengeance», marca o regresso do, com os seminais Wo-
dos SERUM DREG, em silêncio desde a demo acima referida. São seis venhand, os Wayfarer partilham ou devemos
XIQEWHIWIPZɧXMGEKPSVMƤGEɭɩSESLIHSRMWQSVITPIXSWHIVMJJWZMGMERXIW HM^IVEWWMQMPEQ#ũXSHEYQEMRƥYɰRGMEIWTMVM-
que não são nem puramente black nem death metal, antes um misto que tual e sonora que ligam inevitavelmente esses
remete para os primórdios de ambos os géneros. «Lustful Vengeance» é dois nomes situados em ambientes sonoros
também motivo de destaque por ter a malha mais catchy do reportório extremados. «World’s Blood» tem o black metal
da editora, «Death Ritual», que é daquelas canções a que inevitavelmen- a correr-lhe nas veias, embora cada vez mais
te voltamos repetidamente depois do disco terminar. [8] Já os DAGGER dissimulado e injectado de uma aura fantasma-
LUST, chafurdam sem misericórdia nas decadentes consequências do górica e de um peso intimidante que tem nos
hedonismo desenfreado em «Siege Bondage Adverse To The Godhead». Neurosis ou nos Panopticon faróis a conside-
O álbum destaca-se pela inclusão de elementos de power electronics no VEV1EMWHSUYIEMQTVIWWMSRERXIƥYMHI^GSQ
caldeirão de death/grind e black metal que tinham desenvolvido nas duas que são ultrapassados os mais de dez minutos
demos anteriores. Tal inclusão conspurcou o som do trio, tendo ainda de três dos cinco temas que compõem este
permitido um reduzir de adesão a estruturas rítmicas nas composições. terceiro disco de originais, impressiona verda-
Por sua vez, isso permite à música transmitir uma sensação de deprava- deiramente a alma que é deixada nas melodias,
ção descontrolada que há muito pretendiam. [8.5] Finalmente, há «Into nas ambiências criadas, na profundidade das
Vermilion Mirrors» de ADZALAAN, o projecto a solo do principal compo- vozes e no peso demolidor, quer nos momentos
sitor da editora, R.. O ano passado, a banda estreara-se com uma demo nos quais as guitarras e a bateria estremecem
homónima de black metal sinuoso. Desta feita, o R. incluiu uma boa dose de death metal e o resultado é o chão, quer nos momentos em que estas
um dos melhores discos do colectivo, perto do nível de «Rotten Limbs In Dreams Of Blood». Nele, há como estão em silêncio. «World’s Blood» transmite
que um canalizar dos diversos estados de espírito explorados ao longo destes anos para um processo de solenidade, inspiração e uma profunda devoção
VIƥI\ɩSIUYIRɩSEFHMGERHSHERIKVMXYHIUYIIWTIVEQSWHIWXEQEPXEEWWYQIEWWMQYQGEVɧGXIVXVMYRJEP pelos espíritos que evoca. Quando assim é, a
(e.g. «Vermilion In Absentia») pouco habitual até aqui. [9] Que venham mais vinte. [L.P.] magia acontece. [8.5] R.A.

58 LOUD!
 EMANUEL FERREIRA STEBBA ÓSK
NECROPHAGIA
«Season Of The Dead»
[New Renaissance Records, 1987]
Vê-se a capa e espera-se algo brutal, mas durante dois minutos escu-
XEWIYQEKYMXEVVEEGɽWXMGEHIHMPLEHEPIRXEQIRXI3XIQEm7IEWSR3J
The Dead» termina os seus três minutos com um misto de invocação
IWSRWQMWXIVMSWSWUYIRSWVIQIXIQTEVEYQMQEKMRɧVMSHIƤPQIHI
XIVVSV)VKYIWIm*SVFMHHIR4PIEWYVI|ITIVGIFIWIUYISWQɽWMGSW
HSW2IGVSTLEKMEIVEQWɯVMSWJɩWHIm,IPP%[EMXW|HSW7PE]IVQYMXEW
ZI^IWHIGEPGEHSREGSRWXVYɭɩSHIXIQEWETEVHSWXVEFEPLSWHSW
'IPXMG*VSWXm7IEWSR3J8LI(IEH|ɯSHMWGSHIIWXVIMEHIWXEFERHE
HI;IPPWZMPPI3LMSGSQWIMWQEUYIXEWIRXVIIWIQTVIRS
GEQTSQEMWI\XVIQSHSXLVEWLQIXEPLSNIJEGMPQIRXIGPEWWMƤGEHE
como um dos primeiros nomes do death metal. Na realidade é mais
a temática das letras e o visual da capa que ajudam a essa inscrição,
embora «Reincarnation» ou «Terminal Vision» facilmente se possam
descrever como death, um termo quase desconhecido à época.
Inscritos na New Renaissance Records, os Necrophagia acabaram a
JE^IVYQXVEFEPLSQEMWthrashy que o revelado nas maquetas, mais
TVɸ\MQEWHSUYIHITSMWWIHIƤRMVMEGSQSHIEXLQIXEP2SIRXERXS
tal como nas maquetas, há toda uma referência ao gore e a zombies
UYIIVEUYEWIMRɯHMXEIETIREWIRGSRXVEZETEVEPIPSIQ7PE]IV'SQ
a vaga inicial de death metal, rapidamente surgiria «Ready For Dea-
XL|IQKVEZEHSERXIWHIWXIm7IEWSRŷ|QEWTVIXIVMHSTSVWIV
demasiado extremo à época. Quer pela temática das letras, quer pela
trilha sonora, os Necrophagia sempre estiveram à frente do seu tempo,
a par de uns Holy Terror, por exemplo. Porém, em 1987 o grupo viria a
terminar, curiosamente quando outros nomes como Possessed, Death
ou Obituary ajudavam a consolidar o estilo em que estes tinham sido
TIVGYVWSVIW8EPZI^TSVMWWSSWXIQEWTSVIPIWKVEZEHSWXSVREVEQWI
muito populares no underground, tornando a banda mítica.
)Q4LMP%RWIPQSIWXEFIPIGIVME
EQM^EHIGSQ/MPPNS]IHIWIRZSPZIVMEQ
uma parceria que passou não só por
uma segunda vida dos Necrophagia,
mas também pela edição de vários
títulos e fundação de uma editora,
a Housecore/Baphomet Records.
Anselmo tocaria mesmo guitarra, em
estúdio, com o pseudónimo Anton
'VS[PI])QETEVGIVMEEGEFEZE
HMWWSPZMHEQEW/MPPNS]ETVSZIMXSYS
empurrão para se manter activo, com
YQEJSVQEɭɩSIQUYIZMVMEQEƤKY-
VEV-WGEVMELI\-QQSVXEPI1MVEM/E[EWLMQEQIRXSVHSWNETSRIWIW
7MKLSUYIENYHEETIVGIFIVSMQTEGXSUYI2IGVSTLEKMEXIZIRS
YRHIVKVSYRHQYRHMEP7IVMEIWXEJSVQEɭɩSVIJIVMHEGSQSEFredia-
blo EraUYIZMVMEE4SVXYKEPEHI1EMSHIRYQGEVXE^UYI
MRXIKVSYEMRHE)\QSVXIQ2IGVSWIISWMRIZMXɧZIMW,SPSGEYWXS'ERM-
bal. Zé Pedro, baixista destes últimos, recordou-nos recentemente a
relação com os Necrophagia: “Éramos correspondentes, e foi bas-
XERXIKVEXMƼGERXIWIRXMVUYISIRXYWMEWQSRIWXEGSRZIVKʤRGMEIQ
TEPGSJSMREZIVHEHIVIGʧTVSGSIXEQFʣQFEWXERXIIZMHIRXITSV
TEVXIHS/MPPNS]UYIIRHIVIʡSYEPKYQEWHIHMGEXʬVMEWHYVERXISset.
Falámos do decorrer da tourEXʣʚHEXEQEWEWYEMRGSRXSVRʛZIP
QYWE.IRRE.EQIWSRQSRSTSPM^SYSWXʬTMGSWHIGSRZIVWEWI-
KYMRXIWXIRHSTEVXMPLEHSEPKYRWEWTIGXSWHIIPIZEHSVSQERXMWQS
HEVIPEʡʝSUYIIRXʝSHIGSVVME1YMXSWHIWGSRLIGIQXSHSSGEVM^
TMSRIMVSUYISW2IGVSTLEKMEXMZIVEQTIPEMQEKʣXMGEgore, pela
MRGSVTSVEʡʝSHIsamplesHIƼPQIWHIXIVVSVIQIWQSTIPEWSRSVM-
HEHIIQWMXIRHSWMHSTIVGYVWSVIWHISYXVSWRSQIW”
0SRKIHIWIVYQHMWGSHEXEHSESPSRKSHSWWIYWQMRYXSWHI
HYVEɭɩSm7IEWSR3J8LI(IEH|GSRWIKYIVIZIPEVWIHMZIVWMƤGEHSI
terminar em grande com «Painful Discharge», tema complexo, com
HMZIVWEWVIJIVɰRGMEWQYWMGEMWITEWWɳZIPHIZɧVMEWGPEWWMƤGEɭɺIW
6IKYPEVQIRXIVIIHMXEHSTSWWYMTIPSQIRSWSR^IIHMɭɺIWIQZɧVMSW
formatos, incluindo um duplo-CD de 2007. Dos seis títulos que se se-
KYMVMEQSɽPXMQSHIɯm7IEWSRŷ|IWXIɯSXɳXYPSUYITIVQERI-
ce como um clássico, não só pelo seu conteúdo, mas também pelo
que ele representa, incluindo a sua célebre lista de agradecimentos,
IQUYIYRWHIWGSRLIGMHSWɦɯTSGEWɩSVIJIVMHSW)YVSR]QSYWI
Necrobutcher, ou Necrocutcher como erradamente aparece.
Além do referido vocalista, a for-
QEɭɩSUYIKVEZSYm7IEWSRŷ|IVE
constituída por Bill James, baixista,
.SI&PE^IVFEXIVME0EVV]1EHMWSR
KYMXEVVMWXE/MPPNS]JSMSɽRMGSIPIQIR-
to que seguiu carreira e participaria
nas restantes formações, além de
integrar outros projectos, alguns com
Anselmo, ou músicos próximos do
WIYGɳVGYPS/MPPNS]HIWIYRSQI*VERO
Pucci, viria a falecer a 18 de Março
deste ano, aos 51 anos de idade. Fica
a nossa homenagem.
LOUD! 59
 METALHEAD
theDEADstore
Quem já entrou num festival
ou concerto do underground,
de certeza que já deu com
a sua cara, normalmente
numa banca de venda de
merchandise da Metalhead.
Jó é já um “velho” persona-
gem da cena underground,
umas vezes no palco com
os seus Theriomorphic, ou-
tras fora dele. Agora, com
a abertura da theDEADstore,
há mais um motivo para
ser ele o convidado deste
mês na LOUD!.
EMANUEL FERREIRA

ntegras aquele grupo de fãs que rodeou tura era um género que começava a aparecer das, Incarnated, Filii Nigrantium Infernalium,

I o Quorthon quando ele veio cá, registado

num célebre vídeo que está no YouTube…
7MQ IQ  IWXMZI REW HYEW WIWWɺIW UYI
nos topsGSQ&SR.SZM)YVSTIŷ(ITSMWYQ
amigo mostrou-me uma cassete dos Iron Mai-
den e, no dia seguinte, estava a pedir para me
(IGE]IH 7EGVIH 7MR 3 6YM (MEW HSW 2IGVS-
philiac, dava-me umas aulas em casa dele.

IPIJI^YQEIQ%PQEHESYXVEIQ0MWFSE*SM KVEZEVIQXYHSUYIXMZIWWIQHIPIW)Q Theriomorphic é a tua referência, enquanto

também o dia em que conheci o Fernando
dos Moonspell, acho que ainda na fase Mor-
bid God. Ia um grupo com eles, seguimos para
Almada e depois para a seguinte em Alvala-
de. Dessa sessão saíram vários músicos que
viriam a ter protagonismo no meio nacional.
Quando começas na música, e como músico?
'SQIGIMESYZMVLIEZ]QIXEPIQREEP-
já conhecia malta que tinha bandas e em
sequência da sessão de autógrafos do Quor-
thon, comprei uma guitarra, que não sabia
XSGEV9QEQMKSGSRZMHSYQITEVEJE^IVYQE
banda, só para dar uns toques, e começou por
aí. Aquilo era no quarto de um, o outro tocava
baixo, e como ele não aparecia, passei para a
ZS^ (IQSW QIMEHɽ^ME HI GSRGIVXSW RYQE
altura em que estavam a aparecer várias ban-
músico – quando começou a experiência?
)QHIMSɽPXMQSGSRGIVXSGSQ2IGVSXI-
VMYQTSVUYIWIRXMEUYIIWXEZEEUYIVIVJE^IV
algo em que não era acompanhado. Já tinha
letras e músicas que usei em Theriomorphic,
TSVUYI Nɧ WEFME S UYI UYIVME JE^IV TSV MWWS
acabou por ser uma continuação para mim.
Desenhei o logótipo da banda, fui compondo
e procurando pessoas que depois também

“Em 1986, um amigo

mostrou-me uma
cassete dos Iron
Maiden e, no dia
seguinte, estava
a pedir para me
gravarem tudo que
tivessem deles.”
60 LOUD!
QIENYHEVEQ7ɸIQXMZIQSWEJSVQE- criança, gostam de ver as peças e perceber Outra vertente do passado, que estás a reto-
ção completa e local de ensaio, e começá- WIWIVZIQIGSQSVIWYPXEQ7IGEPLEVESW mar, passa pelas excursões.
mos a dar os primeiros concertos. A partir TSYGSWMVIQSWJE^IVGSMWEWUYINɧEGSRXI- As excursões começaram em 2003 com a
daí tudo se começou a encaminhar. ciam nas lojas anteriores. 9RHIV)ŭ:IRXSWIETVMQIMVEZMEKIQES;E-
cken. O Joaquim Pedro estava a reactivar a
Um processo que foi sempre longo, lembro- A roupa para criança, em que por cá foram 9RHIV[SVPH ũ )RXYPLS -RJSVQEXMZS RE WYE
-me de uma altura em que o álbum estava percursores, funciona? encarnação como revista a cores, e a excur-
gravado e demorou a sair. 7MQ 2ɩS HMKS UYI XIRLEQSW WMHS TIVGYV- são em que eu habitualmente viajava já não
Um bocadinho, a maqueta foi gravada em sores; mas através das excursões ao es- WI VIEPM^EVME IRXɩS IPI HIWEƤSYQI TEVE E
1999/2000, depois com trabalho e condi- trangeiro e locais como o Hellfest, fomos JE^IVQSW RɸW TEVE ENYHEV E ƤRERGMEV S EV-
ɭɺIWƤRERGIMVEWIQKVEZɧQSWXIQEW percebendo que isso existia. No Hellfest há VERUYI HE VIZMWXE *M^IQSW WIXI ZMEKIRW ES
para o álbum, mas com o orçamento não YQEQEVGEE1IXEP/MHWHEUYEPXɳRLEQSW Wacken e a alguns concertos e festivais fora
GSRWIKYMQSWJE^IVPSKSEIHMɭɩS)WXMZIIR- GSQTVEHSGSMWEWTEVESRSWWSƤPLS5YERHS I HIRXVS HS TEɳW EPɯQ HS 7;6 EXɯ 
volvido numa editora para lançar isso, mas XMZI E TVMQIMVE PSNE IQ  Nɧ LEZME Nessa altura, o JP estava a viver em Aveiro e
TIKɧQSWRSHMRLIMVSTEVEJE^IVYQJIWXMZEP quem perguntasse por artigos para criança, decidimos que seria o nosso último Wacken.
UYIRɩSGSVVIYQYMXSFIQIƤGɧQSWWIQHM- pois quem procurava algo mais temático ti- Com a distância, já não funcionávamos tão
nheiro para a gravação e editora. Depois, ao RLEHMƤGYPHEHIWIQEVVERNEV5YERHSEVVER- bem como equipa. Nasceu então a Meta-
ouvir as gravações, mudámos de ideia quan- cámos, tivemos de pôr os artigos para adulto PLIEH )ZIRXW UYI WI estreou na última edi-
to à qualidade e, com outro guitarrista, ga- um bocado de parte, para investir nos artigos ɭɩSHS'ESW)QIVKIRXI3VKERM^IMEMRHESMXS
nhámos outra qualidade e regravámos tudo, de criança. Começámos com uns cinco de- viagens ao Hellfest, até 2017, tendo como o
com arranjos e solos superiores. Isto já em senhos e quando aumentámos a variedade, QSQIRXSQEMWEPXSEIHMɭɩSHIIQUYI
GSQSɧPFYQEWEMVETIREWIQ percebemos que tinha bastante saída, diria levámos três autocarros, com 150 pessoas a
mesmo que, nos festivais, metade das ven- bordo. Para este ano, estamos a tentar levar
Pelo meio começas a aparecer nos festi- das são artigos para criança, até porque YQ KVYTS ES 6SGO *IWX IQ &EVGIPSREɄ %
vais, não como visita, mas com uma banca há mais bancas com artigos de adulto. Foi MetalLIEH )ZIRXW EGEFSY TSV WIV XEQFɯQ
de merchandise. Como surge isso? também uma questão de oportunidade, se E ŰEKɰRGMEű WSF E UYEP SVKERM^S GSRGIVXSW
Foi um bocado por acaso, quando saiu o pri- tivéssemos começado antes, se calhar não IWTSVɧHMGSWIUYIJE^EHMZYPKEɭɩSHEWRSW-
meiro disco, trabalhava em design e paginação teríamos tido tanto sucesso. sas actividades, da loja, dos Theriomorphic e
de revistas. A empresa foi comprada por outra também de outros eventos.
e o meu lugar estava ocupado, acabando por
WEMVIQ7YVKMYETSWWMFMPMHEHIHIEFVMV
E7LST&M^EVVIYQETIUYIREPSNEIQ0MWFSE
REVYEHI7&IRXSIJSMTSVEɳUYIGSQIɭSY
EJE^IVEWTVMQIMVEWt-shirts da Metalwear, ao
princípio Metalhead – metal wear. Como esta
QEVGE IWXEZE MRHMWTSRɳZIP TEVE VIKMWXS ƤGSY
depois Metalwear, embora continuemos a fa-
^IVQSHIPSWGSQETEPEZVE1IXEPLIEHMRWTM-
VEHSWRSWTVMQIMVSWUYIƤ^IQSW3MRɳGMSJSM
com uma edição de Theriomorphic e em 2007
YQEIHMɭɩSIWTIGMEPTEVES7;6%TEVXMVHEɳ
foi a questão não só de ter a loja aberta, mas
XEQFɯQ JE^IV JIWXMZEMW TSMW Wɸ XIV E TSVXE
EFIVXERɩSIVEWYƤGMIRXI*SMIWWERIGIWWMHE-
de de chegar mais aos clientes que ainda hoje
RSW PIZE ESW JIWXMZEMW )WWE PSNE IVE E QIMEW
com outra pessoa, em que cada um investia
na sua área, depois passei para a Cave com a
sala de ensaios e com o Nocturnus Horrendus
HSW 'SVTYW 'LVMWXMM )VEQ WIQTVI IWTEɭSW
partilhados com outras pessoas e empresas.
Com a crise, tivemos de fechar a loja e só os
festivais sustentaram a coisa.

Mas hoje abriste uma nova loja, a the-

DEADstore?
7MQRIQGSQIɭSYTSVWIVYQEPSNEJSMEXɯ
uma coisa repentina. A Ana, minha esposa,
estava sem trabalhar e criámos a marca
Little Headbanger, com peças para criança,
RE EPXYVE YQE I\XIRWɩS HS UYI JE^ME GSQ
E 1IXEP[EVI (ITSMW GSQIɭɧQSW E JE^IV
desenhos mais abrangentes no campo do
rock e chegámos a uma altura em que fa-
^ME WIRXMHS GVMEV YQE QEVGE MRHITIRHIRXI
A loja surge mais como necessidade de ter
um espaço para trabalhar e onde guardar
material. Acaba por ser mais fácil ter as coi-
sas expostas, para procurar e encontrar. A
MHIMERYRGEJSMJE^IVYQEPSNEQEWEGEFSY
EZMVTSVEVVEWXS5YIPY^SRHIZMZSRɩSɯS
local ideal para ter uma loja comercialmen-
te viável, embora algumas pessoas pos-
sam passar aqui para não pagarem portes
de correio. Apesar de termos a loja online,
as pessoas, principalmente nas peças de

LOUD! 61
 LIVE&LOUD!

MOITA VADER

METAL FEST
18.04.06-07 – Largo do Pavilhão Municipal BIZARRA
LOCOMOTIVA
de Exposições, Moita FOTOS: SÓNIA FERREIRA

DIA 1
Quinze anos de Moita Metal Fest, com um crescimento conquistado com muito esforço e dedica-
ção. Não basta apenas pedir que se apoie a cena nacional, é preciso apresentar razões de valor
EGVIWGIRXEHSUYINYWXMƤUYIQSGVIWGMQIRXS)WXIERSRɩSJSMI\GITɭɩS2STVMQIMVSHMEETIWEV
de tocarem menos bandas e das actuações começarem mais tarde, o público compareceu em
peso. A noite teve um bom início com os Dark Oath e com o seu death metal melódico que convi-
da mais à contemplação do que propriamente ao movimento entre o público. Todavia a reacção
foi positiva. Aliás, esse é um dos pontos que devemos já deixar bem claro. Não houve uma banda
que tivesse, em ambos os dias, uma má reacção. Nem sequer uma reacção mais morna. É o
espírito do Moita. Um espírito onde podemos ter os Sacred Sin a tocar antes dos Viralata. Se os
primeiros mostraram estar uma temível máquina de debitar death metal clássico cada vez mais
EƤREHESWWIKYRHSWQSWXVEQUYIWɩSQIWXVIWIQWEFIVPMHEVGSQSTɽFPMGSIIQTY\EVTSVIPI SUICIDAL ANGELS
Uma autêntica festa. Nem com a entrada dos defensores da fé negra, Filii Nigrantium Inferna-
lium, o ambiente mudou. Apesar do azar de ter partido uma corda, Belathauzer e companheiros
espalharam a fé e até houve um momento solene em que o vocalista atirou o corpo de Cristo
(pão) para o público. As primeiras bandas internacionais seriam também as últimas da noite.
Suicidal Angels, a banda grega de thrash metal, foi uma autêntica máquina debulhadora provo-
cadora de circle pits e stage dives, embora nesse aspecto tenham levado uma abada por parte
dos The ExploitedGSQYQ;EXXMI&YGLEREGXMZSSWYƤGMIRXITEVERSWJE^IVIWUYIGIVSEXEUYI
cardíaco que sofreu há três anos atrás em Portugal. Foi um festival de clássicos punk/hardcore, e
YQGSVVSTMSHIJɩWEIRXVEVIEWEMVHSTEPGSEXɯUYIRSƤREPHSGSRGIVXSIWXEZEQQEMWTIWWSEW
em cima do palco do que aquelas a apreciar o concerto. Épico, Moita style.

DIA 2
Seria difícil superar o dia anterior, mas havia ainda muita boa música reservada para a autêntica
maratona do segundo dia, começando com o heavy/thrash metal dos Toxikull que teve um
bom número de espectadores. A sua música certamente merece isso. Algo bastante diferente
foram os Wells Valley com o seu som angular e dissonante, que mesmo assim não deixaram
de dar uma boa actuação e de recolher boas reacções. Os Low Torque mostraram também
estar em forma com o seu stoner metal musculado, enquanto os Dead Meat deram a sova de
death metal que esperávamos. Os Equaleft intercalaram temas do seu álbum de 2014 com
temas novos do álbum que deverá sair ainda este ano e os Terror Empire deram mais uma lição
de thrash metal. Os Malevolence foram a primeira banda estrangeira do segundo dia,e embora
tenham sido competentes e provocado animação, não nos convenceram por completo. Para os
For The Glory seria uma actuação especial, já que foi o seu último concerto. As emoções es-
XEZEQɦƥSVHETIPIIMWWSWɸJI^GSQUYIQɽWMGEWGSQSm0MWFSR&PYIW|WSEWWIQEMRHEQEMW
fortes. Por falar em forte, Switchtense. Com uma actuação cheia de estaleca e poder, a banda
“da casa” teve um grande impacto no público. As mudanças estilísticas eram uma constante
e os Iberia seriam tão bem recebidos como os Benighted, embora tenhamos que admitir que
os segundos provocaram mais animação em frente ao palco. O death/grind da banda francesa
MQTVIWWMSRSYTIPEIƤGɧGMEITIPETIVJIMɭɩS)TIVJIMɭɩSɯSUYITSHIQSWEXVMFYMVESGSRGIVXS
dos Bizarra Locomotiva que tiveram honras de cabeça de cartaz. Apesar de Rui Sidónio não ter
ƤGEHSWEXMWJIMXSGSQSWSQHITEPGSRɩSXMZIQSWVE^ɩSHIUYIM\E)GSQSRERSMXIERXIVMSVS
palco foi envolvido por uma multidão enquanto se cantava «O Anjo Exilado» e «O Escaravelho».
Um atraso descomunal para o início do concerto dos VaderJSMNYWXMƤGEHSTIPSI\GIPIRXIWSQ THE EXPLOITED
UYIXMZIVEQESVIZMWMXEVSGPɧWWMGSm8LI9PXMQEXI-RGERXEXMSR|IGSQQEMWEPKYRWI\XVEW9QƤ-
nal adequado para uma excelente edição, talvez a melhor de sempre, do Moita Metal Fest. [F.F.]

62 LOUD!
FIELDS OF
THE NEPHILIM
+ BAL ONIRIQUE
18.03.31 – Hard Club, Porto

A
um sábado véspera de Páscoa, vários milhares, num Coli-
seu praticamente esgotado, recebiam Machine Head, mas
umas centenas de metros mais abaixo, já quase no rio de
ouro, celebrava-se uma cerimónia mais singela, despida de cha-
vões, adrenalina e testosterona, mas em que a música falava por
si, perante um público, porventura mais envelhecido, muito dele
deslocado centenas de quilómetros, mas que não se importou de
ir até ao Mercado Ferreira Borges, reverenciar os quatro vultos que
em pouco mais de uma hora, recriaram a história do gothic rock,
soando tão actuais como há décadas atrás. Os portuenses Bal
Onirique estiveram na abertura e deram mais em palco do que re-
ceberam do público, num concerto que começou cedo. O arranque
dos Fields Of The Nephilim deu-se com «Dawnrazor», mostrando
como o quinteto liderado por Carl McCoy sabe bem do revivalismo
daqueles que os procuram, «Elizium» foi visitado através de «For
Her Light», e ao terceiro tema, chegava-se ao clássico «Nephilim»,
através de «Love Under Will», antecedendo «Moonchild», primeiro
grande momento da noite, com o seu ritmo a mover todos os cor-
pos. A luz ia providenciando todo o movimento de palco, enquan-
to os vultos dos músicos, quase estáticos, iam criando tapetes
sonoros, onde as melodias originais eram servidas com alguma
electrónica que as tornava actuais, como se «Zoon» abençoasse
a cerimónia. «Mourning Sun» encerrou os primeiros 60 minutos e
seguiram-se dois temas para encore, «Vet For The Insane» e «Last
Exit For The Lost», encerrando a segunda de duas datas desta
Black Easter Tour, que também comtemplou a cidade de Madrid.
7SYFIETSYGSQEWJSMFSQQYMXSFSQ [E.F.]
FOTO: EMANUEL FERREIRA

O
s Avelion foram responsáveis pelos primeiros acordes da noite,
com o seu metal progressivo a mostrar alguma originalidade.
Infelizmente a qualidade técnica do guitarrista Leonardo Freg-
gi não teve na voz de William Verderi o melhor contraponto, motivado
TIPEHMƤGYPHEHIUYIEFERHEXMRLEIQWISYZMVIQTEPGS(ITSMWHSW
italianos surgiram os mais experientes Halcyon Way, com um power
metal americano muito permeável a outros estilos como o progres-
sivo e até mesmo ao uso de guturais. Ouvimos temas dos seus três
álbuns bem como «10000 Ways» que fará parte do próximo lança-
mento. A experiência pessoal em ver Geoff Tate ao vivo nunca foi
das melhores e as expectativas para ouvi-lo a interpretar na íntegra o
icónico «Operation: Mindcrime» eram realmente baixas. Mas música
após música tornou-se evidente que a voz de Tate está melhor do
que nunca, com uma perfeição e limpidez inatacáveis. «Revolution
'EPPMRK|SYm7YMXI7MWXIV1EV]|GSQEƤPLE)QMP]EEGSQTERLEVS
vocalista) deixaram todos de queixo caído. E ouvir «The Needle Lies»
ou «I Don’t Believe In Love» tornaram-se momentos que só foram
suplantados pelo fenomenal «Eyes Of A Stranger». Os Angra traziam

ANGRA
na bagagem o novo «Ømni» e «Travelers Of Time» foi a primeira
amostra. Com o simpático Fabio Lione a comunicar quase sempre
em português foi evidente que, apesar de ser um tremendo vocalis-
ta, quando tentou cantar «Nothing To Say» lhe faltaram os agudos

+ GEOFF TATE’S do André Matos. Tirando este pormenor (que se repetiria em «Carry
On»), a actuação dos Angra conseguiu cativar os presentes com no-
vas malhas como «War Horns» e «Insania», ou com a inevitável «Lis-
OPERATION: MINDCRIME bon» (cuja letra foi mudada para “here in Porto”). Para o encore ƤGSY
reservado o momento do discurso e actuação de Rafael Bittencourt
+ HALCYON WAY + AVELION com «Lullaby For Lucifer», bem como «Rebirth» e a dupla «Carry On»
Im2SZE)VE|1YMXSWHSWUYITVIJIVMVEQƤGEVIQGEWEXɰQFSRWQS-
18.03.29 – Hard Club, Porto tivos para se arrependerem da decisão. [C.G.]

FOTO: DARYA LYUTA LOUD! 63

 C
FOTO: ESTEFÂNIA SILVA

hega-se a uma certa (antigu)idade, e já tre-
memos quando vemos um cartaz com 500
bandas (ou duas, é praticamente a mesma
coisa em efeitos práticos) a tocar antes daquelas
que efectivamente lá estamos para ver, em claro re-
gime de buy-on com controlo de qualidade nulo. E
depois aparecem uns suíços (com um brasileiro no
baixo, perfeito para a comunicação com o público
nacional) chamados Omophagia a contrariar todo
o nosso cinismo, e essas são as alturas boas. Fa-
tiotas cagadas de sangue, death metal brutal mas
nunca aborrecido, foram mais do que competentes
e mereciam uma casa melhor a assistir, apesar da
hora agradavelmente pontual a que tocaram. Os
fácil. Não há uma batidazinha de referência para ir
abanando a cabeça para quem não conhece. Terem
conseguido agarrar o público pelo pescoço mesmo
assim diz tudo sobre o impacto que têm neste mo-
mento. “We’re very glad to be here, this club is real-
ly cool. Oh, and this song is about rejecting christ,”
dispara o vocalista Dylan Walker em deadpan total
ERXIWHIQEMWYQQEPLɩSI\IQTPMƤGERHSTIVJIMXE-
mente a atitude despreocupada mas de intensidade
máxima dos Full Of Hell. Para superar isto, só mes-
QS YQE QɧUYMRE HI KYIVVE EƤREHE RE TIVJIMɭɩS
e calha bem que os Immolation são mesmo isso.
Pessoalmente, iria a um concerto da banda de Nova
Iorque e adorava na mesma se só aparecesse o Ro-

IMMOLATION Monument Of Misanthropy foram um longo bocejo,

IYQEHEUYIPEWUYIGSRƤVQEQSGMRMWQSHEMHEHI
por isso passemos à frente para quem verdadeira-
mente interessa – os Full Of Hell, que parecem cres-
+ FULL OF HELL cer a cada vez que nos visitam. É normal, se calhar
até cresceram mesmo literalmente, já que são quase
+ MONUMENT OF MISAN- todos de idade irritantemente tenra ainda, mas neste
momento atingem uma dimensão em palco impres-
THROPY + OMOPHAGIA sionante. Alternando as descargas de raiva descon-
trolada, expelidas através de fragmentos de death e
18.03.24 – RCA Club, Lisboa grind oblíquos, com os já esperados momentos de
ruído abrasivo, não são uma banda propriamente
bert Vigna em palco, tocando guitarra como quem
tenta manejar a cana de pesca ao apanhar um qual-
quer peixe demoníaco de oito toneladas. É de longe
um dos melhores guitarristas da história do metal
extremo e não cansa vê-lo tocar. Felizmente, não
só o resto da banda acompanha-o em talento e em
dedicação, mas também o seu catálogo. Podia-se
atirar dois ou três títulos como pontos altos, mas é
irrelevante. Desde «The Distorting Light» até «Immo-
lation», que é como quem diz da primeira à última,
foi tudo gigantesco, do melhor que o death metal
tem para oferecer. Podem voltar já amanhã. [J.C.S.]

BELL WITCH
+ LÖBO
18.03.23 – Centro Cultural, Cartaxo

A
impossibilidade de permanecermos para sempre imó-
veis, dormentes perante o luto, impele-nos para os inexo-
VɧZIMWVMXQSWHEREXYVI^E3MQTMIHSWSƥSVIWGIVHE4VM-
mavera surge, então, como uma dolorosa imposição a que nin-
guém poderá escapar, nem mesmo os estilhaços da memória

AUGUST BURNS
que de alguma forma nos parecem confortar no lento torpor.
A beleza da profunda elegia que os Bell Witch nos entregaram
em palco brota da violência das mesmas cinzas, no mesmo
movimento implacável e belo, da escuridão para a luz. Um

RED + THE VOYNICH CODE

parto das ruínas. Espectros negros cerimoniais preenchem
a sala, a cada dedilhar de Dylan Desmond, por entre pesa-
HSWWMPɰRGMSWUYIRSWTSWWMFMPMXEQEYWGYPXEVYQEMRƤRHɧZIP
desolação que jaz inaudita. Nas imagens projectadas persis-
+ BORDERLANDS tem olhos cortantes que nos parecem olhar directamente no
meio da escuridão, convocando-nos para um abismal mergu-
18.04.04 – RCA Club, Lisboa FOTO: MARTA LOURO lho de alma. Uma vela negra indicia a derradeira homenagem
a Adrian Guerra, opaca em «Mirror Reaper». Solenes coros li-
XɽVKMGSWEƥSVEQWIWYPGSWMQTIXYSWSWHI.IWWI7LVIMFQER

A
té parece mentira pensar que já foi há dez anos que os August Burns Red se estrea-
ram com duas datas em Portugal e que precisariam de editar mais cinco discos de
originais até voltarem a pisar palcos nacionais. A noite antecipava-se numa mistura
IRXVIEZSRXEHIHIQEXEVWEYHEHIWIEHIPLIWQSWXVEVEVKYQIRXSWWYƤGMIRXIWTEVEUYI
tamanha teimosia em regressar não se repita. Na abertura estiveram duas bandas lisboe-
tas de metalcore progressivo: os Borderlands, focados na apresentação do seu «Voice
Of The Voiceless», exibiram um admirável equilíbrio das cadências mais pesadas com
apontamentos mais melódicos, e os The Voynich Code, com «Aqua Vitae» ainda fresco,
fustigaram a plateia com o seu deathcore repleto de pormenores técnicos, chamando
Jake Luhrs para a sua participação em «Delusion». Chegado o momento para o metalcore
singular dos norte-americanos, foi principalmente no mais recente «Panthom Anthem»
que recaiu a atenção, com tiro de partida para os ritmos gingões de «King Of Sorrow»,
passando pela expansão melódica de «The Frost», o frenesim matemático de «Invisible
Enemy», a emoção post hardcore de «Float» e, já em encore, a esmagadora «Dangerous»,
confessada favorita do já referido líder da banda. Mesmo assim ainda houve margem para
revisitar todos os álbuns anteriores até «Messengers» e até uma reentrada em palco com
um assombroso solo de bateria por parte de Matt Greiner. Que eram excelentes músicos
NɧRɩSLEZMEQHɽZMHEWQEWEIJIVZIWGIRXIVIEGɭɩSHSTɽFPMGSGSRƤVQSYS[P.C.S.]
MRXIRWMƤGEQWIMRHY^MRHSYQEETEVIRXITYVMƤGEɭɩS&IVVSW
dilacerantes perscrutam as trevas, reclamando uma absolvi-
ção. A beleza que testemunhamos brota justamente da au-
sência, da falta. Este avassalador ecoar parece ferir-nos com
a iminente ideia de renovação da vida. Surgem imagens de
edifícios destruídos, mineiros cobertos de sujidade e imersos
na luta pela sobrevivência, locomotivas que colidem no fervor
industrial, casas em chamas, sonhos desfeitos que agravam
EGEHɰRGMESEFWYVHSHEGMZMPM^EɭɩSEWSPMHɩSRSƤQ2YQ
arrastado lamento dolente, os Bell Witch ofereceram-nos
uma devoção de coração aberto, uma passagem pela fen-
da de destroços, deixando-nos suspensos, atentos ao nosso
próprio pulsar. Antes, os LÖBO apresentaram pujantes riffs
de ímpeto galopante e atmosferas vertiginosas que escala-
ram com elegância montanhas boreais longínquas. Somos
acalentados por uma intensa submersão num sonho laten-
te, mas em vigília, pois cada passo que seguimos parece
carregar o peso do mundo. [Pedro Coragem]

64 LOUD!
MACHINE HEAD
18.03.30 – Coliseu dos Recreios, Lisboa

A
VIEGɭɩSESm'EXLEVWMW|JSMXYHSQIRSWGSRWIRWYEPQEWXEPJEGXSRɩSWIVIƥIGXMYRE
adesão de público ao Coliseu dos Recreios, que não estando a rebentar pelas costuras
como acontecera nas últimas visitas da banda norte-americana, não deve ter andado
muito longe de esgotar. Com um cenário a lembrar o que se vê no vídeo-clip do tema que dá
nome ao mais recente álbum, Robb Flynn e companhia escolheram a excelente «Imperium»
para abrir hostilidades, seguida de «Volatile», o primeiro de seis temas que tocaram do disco
que vieram a Lisboa promover. Nesse primeiro teste à capacidade do «Catharsis» para se
aguentar entre clássicos da banda, «Volatile» defraudou expectativas. Não que o público pa-
recesse queixar-se, mas logo a seguir, a reacção a «Now We Die», primeiro momento de can-
XSVMEKIRIVEPM^EHEJSMFIQQEMWIJYWMZE4SVIWXEEPXYVESWSQNɧWIXMRLEIUYMPMFVEHSIƤGEVE
claro que os Machine Head continuam a ser uma máquina muito bem oleada, estejam a tocar
malhões como «Beautiful Morning» ou a apelar ao adolescente que persiste em cada um dos
seus fãs (mesmo os mais velhos), com «The Blood, The Sweat, The Tears» e «Kaleidoscope»,
dois temas com o seu quê de nu-metal, e nem por isso menos poderosos. Resultado: plateia
toda aos saltos. As épicas «Clenching The Fists Of Dissent» e «Darkness Within» trouxeram
mais profundidade e emoção ao concerto, com todo o público a entoar a plenos pulmões o
refrão desta última. Por falar em refrão, o de «Catharsis» também foi cantado como se já fos-
se clássico, antes de um dos momentos mais pesados da noite, a sempre devastadora «Ten
Ton Hammer». Os Machine Head já pareciam embalados para uma actuação irrepreensível
EXɯHIGMHMVIQXSGEVm-W8LIVI%R]FSH]3YX8LIVI#|UYIGSRƤVQEESZMZSWIVYQEHEWTMSVIW
canções que alguma vez compuseram, ganhando, a par de «Behind The Mask», o destaque
como pior momento da noite. Um curto solo de bateria de Dave McClain antecedeu a sequên-
cia «Bulldozer», «Killers & Kings» – com direito ao maior circle pit da noite – e «Davidian», que
terminou com desenfreado headbanging ao som daquele breakdown ƤREP QSRWXVYSWS HS
emblemático tema de 1994. Veio uma pausa mais prolongada e, no regresso para o encore,
os Machine Head brindaram o público com a enfadonha «Behind The Mask», em contraste
absoluto com o se seguiu, talvez a melhor sequência de todo o concerto: «Heavy Lies The
Crown» fez em Lisboa a estreia mundial ao vivo, causando impacto imediato, «Aesthetics Of
Hate» teve groove a rodos, «Game Over» comprovou que é dos melhores temas que gravaram
REɽPXMQEHɯGEHEƤGERHSTEVEEZIPLMRLEm3PH|ITEVEEIQFPIQɧXMGEm,EPS|SGSRHɩSHI
fecharem com chave de ouro uma prestação impecável em termos técnicos. Foram quase
três horas de concerto e, talvez por isso, Robb Flynn esteve menos falador entre temas do
que costuma ser habitual. Mera constatação de facto, sem interferência no espectáculo, que FOTO: CATARINA TORRES
WɸƤGSYŰQERGLEHSűTIPEMRGPYWɩSHIXIQEWEFWSPYXEQIRXIHMWTIRWɧZIMWIQHIXVMQIRXSHI
tantos outros tão mais relevantes. Voltem sempre. [J.A.R.]

A
bertura perfeita para a dupla infernal que se seguiria, os “novos” Ne-
FOTO: ESTEFÂNIA SILVA crobode – entre aspas porque, de novo, só mesmo a banda, já que os
seus elementos são bem conhecidos de outras lides. Não interessa
quem, ainda que eles não se escondam. É mais uma ausência de imagem,
sem Facebook nem entrevistas nem merdas, mas também sem fatinhos
nem máscaras nem merdas. Sem merdas, concluindo. A música debitada
TIPSXVMSɯSVIƥI\STIVJIMXSHEEXMXYHIYQEGVYI^EFIQWYNEETMWEVXIV-
ritórios calcinados pelos Von ou Beherit, cujo clássico «Gate Of Nanna»
foi (des)agradavelmente recriado. O ponto alto da noite veio logo a seguir,
talvez para surpresa de alguns, mas certamente só os que não ouviram o
incrível «The Blade Philosophical», dos canadianos Rites Of Thy Degrin-
golade. Liderados pelo seu estrondoso baterista (característica, de resto,
partilhada com o headliner) Paulus Kressman, também dos Amphisbaena
II\;IETSRIRXVISYXVEWGSRWIKYIQVITVSHY^MVƤIPQIRXIEUYIPETEVIHI
densa de negritude e toada ameaçadora que criam em disco. Com a parti-
cularidade de os quatro integrantes da banda (R.R. dos Dire Omen junta-se
ao trio de base ao vivo) serem vocalistas, a dinâmica gerada é impressio-
nante, sem confusões, tudo no seu sítio, e tudo optimizado para máximo
impacto. Nos momentos de maior turbilhão, chegam a dar ares aos Absu,
mas num registo menos espalhafatoso, apesar de sempre expansivo pela
gritaria desenfreada de Kressman por trás do kit. Um concerto explosivo,

PROFANATICA
que deixou os Profanatica um bocado “esvaziados”, apesar do cariz mítico
já granjeado pela banda de Paul Ledney. Ainda assim, conseguiram ser uns
dignos sucessores do grande momento que se tinha vivido com os cana-
HMERSWETIWEVHEGYVXEHYVEɭɩSHETVIWXEɭɩSIHEWIRWEɭɩSUYIƤGSYRS
ar de que esperavam mais do público português. Não sabemos bem o quê,
+ RITES OF THY DEGRINGOLADE diga-se – não ia desatar tudo à porrada perante a mostra de frieza gélida e
GEPGYPMWQSIQSGMSREPHSWHSMWQIQFVSWUYIƥERUYIEVEQSJEQSWSFEXI-

+ NECROBODE rista, que bem podiam ir ganhar uns trocos para a baixa a fazer de homem-
-estátua. Isto é um elogio, diga-se – a prestação dos Profanatica ganhou,
e muito, com a postura rígida que a banda demonstrou, cabendo o espaço
18.03.21 – Le Baron Rouge, Barcarena todo para os malhões que todos conhecemos e que foram furiosamente
VITVSHY^MHSWɔTIREUYIXIRLEQƤGEHSXERXSWHIJSVE[J.C.S.]

LOUD! 65
 AGENDA
05.10 – BULLET
MAIO
05 – Basement Torture Killings [Ing] / Foetal Juice [Ing]
/ Analepsy / Black Alley Lobotomy
– Metalpoint, Porto Clash Of The Slashers
05 – Childrain [Esp] / Primal Attack / Blame Zeus / Inner
Blast / Impera – RCA Club, Lisboa
05 – Saturnia – Music Box, Lisboa
10 – Bullet [Sue] / Screamer [Sue] / Rexoria [Sue]
– RCA Club, Lisboa
12 – Annihilation / Grog / Burn Damage
– Stairway Club, Cascais
13 – Graham Bonnet Band [Ing] – RCA Club, Lisboa
19 – Tank [Ing] / Killer [Bel] / Witchtower [Esp] /
Attick Demons / Alkateya / Wanderer
– Another Place, Almada Metal Keeper Fest II
19 – WAKO / Terror Empire / Destroyers Of All / Booby
Trap / The Blood Of Tyrants – Hard Bar, Bustos,
Oliveira do Bairro
19 – Annihilation / Grog / Burn Damage
– A9 Bar, Santarém
19 – Wrath Sins / Sotz’ – Stairway Club, Cascais
25 – Mata-Ratos / Taberna – A9 Bar, Santarém
25 – Capitão Fantasma – Mercado Negro, Aveiro
26 – Dokuga / Systemik Viølence / Dr. Bifes
& Os Psicopatas / Bad! – Disgraça, Lisboa
26 – Inverno Eterno / Black Howling / Gaerea
– RCA Club, Lisboa
29 – Sekhmet [R.C.] / Kraake [R.C.] / Capela Mortuária
– RockStar Pub, Braga Thrash In Black
30 – Sekhmet [R.C.] / Sonneillon BM / Kraake [R.C.] /
Ascetic – Metalpoint, Porto Porto Black Metal
JUNHO
01 – Corpus Christii / Flagellum Dei – Metalpoint, Porto
02 – Corpus Christii / Flagellum Dei – RCA Club, Lisboa
02 – Holocausto Canibal / WAKO / R.D.B. / Strikeback /
In Vein / OAK – C.C. Lordelense, Lordelo, Vila Real
III Ink n’ Roll
02 – Annihilation / Grog / Burn Damage – Cabra Negra,
Marinha Grande
02 – Terror Empire / Primal Attack / Infraktor – DRAC,
Figueira da Foz
02 – Capitão Fantasma – Stairway Club, Cascais
05 – Nine Eleven [Fra] / Løvve [Fra] – A9 Bar, Santarém
07-09 – Grave [Sue] / Caliban [Ale] / Slapshot [E.U.A.]
/ No Turning Back [Hol] / Gama Bomb [Irl] /
Knuckledust [Ing] / (…) – RCA Club, Lisboa
Hell Of A Weekend
GRAVEYARD CRAFT THE BODY
YOB NECROS CHRISTOS MADBALL
66 LOUD!
CANDLEMASS ORANGE GOBLIN GRUESOME
sp] /
Marthyrium [Esp] / Perpetratör / Summon / Archaic
Tomb – Another Place, Almada Masmorra Fest II
09 – Wrath Sins / Sotz’ – Hard Bar, Bustos, Aveiro
16 – Cruz de Ferro / Coldsteel Device / Scarmind –
A062, Caldas da Rainha
16 – Teenage Bottlerocket [E.U.A.] / Viralata / Suspeitos
do Costume – Titanic Sur Mer, Lisboa
27 – Marilyn Manson [E.U.A.] – Campo Pequeno, Lisboa
27 – Baroness [E.U.A.] / (…) – Lisboa Ao Vivo, Lisboa
30 – Pain Of Salvation [Sue] / Forgotten Suns – RCA
Club, Lisboa
30 – Wrath Sins / Sotz’ – Texas Bar, Leiria
JULHO
02 – Ozzy Osbourne [Ing] / Judas Priest [Ing] – Altice
Arena, Lisboa
07 – Vizir / Dead Meat / Congruity / Grievance /
Dawn Of Ruin – A.C.D.R. Brunheiras, Vila Nova de
Milfontes
10 – Kiss [E.U.A.] / Megadeth [E.U.A.] – Estádio
Municipal, Oeiras
11 – Scorpions [Ale] / The Dead Daisies [E.U.A.] –
Estádio Municipal, Oeiras
13 – Iron Maiden [Ing] / Tremonti [E.U.A.] / The Raven
Age [Ing] – Altice Arena, Lisboa
13 – Queens Of The Stone Age [E.U.A.] / (…) – Passeio
Marítimo, Algés NOS Alive 2018
14 – Pearl Jam [E.U.A.] / At The Drive-In [E.U.A.] / (…) –
Passeio Marítimo, Algés NOS Alive 2018
14 – Moonspell / Ledderplain – Peso da Régua 5ª
Concentração Motard do Douro
17 – Wrath Sins / Sotz’ – DRAC, Figueira da Foz
26 – Infraktor / Cruz de Ferro / Booby Trap / Atreides –
Famalicão Laurus Nobilis Music 2018
27 – 7ITXMGƥIWL [Gre] / Equaleft / Crisix [Esp] / Hills
Have Eyes / Web / Nine O Nine / In Vein / Sotz –
Famalicão Laurus Nobilis Music 2018
27 – Moonspell / Blame Zeus / Daniel’s Dead Bird –
Campo do Gerês, Gerês Rock Fest
28 – Dark Tranquillity [Sue] / Tarantula / Mata-Ratos /
The Temple / Revolution Within / Low Torque / The
Godiva / Legacy Of Cynthia – Famalicão Laurus
Nobilis Music 2018
AGOSTO
09 – Orphaned Land [Isr] / Dust Bolt [Ale] /
Theriomorphic / Analepsy / (…) – Quinta do Ega,
Vagos Vagos Metal Fest
06.01/02 – CORPUS CHRISTII
PRÓXIMA LOUD! #207
06.27 – BARONESS
10 – Cradle Of Filth [Ing] / Converge [E.U.A.] / Moonspell
/ Masterplan [Ale] / Attic [Ale] / Serrabulho / Dollar
Llama / Invoke / Blame Zeus / In Vein / (…) –
Quinta do Ega, Vagos Vagos Metal Fest
10/11 – Kadavar [Ale] / Nebula [E.U.A.] / Conan [Ing]
/ Earthless [E.U.A.] / Ufomammut [Ita] / Mantar
[Ale] / Naxatras [Gre] / Purple Hill Witch [Nor] /
Atavismo [Esp] / Ruff Majik! [A.S.] / (…) – Moledo,
Caminha SonicBlast ‘18
11 – Kamelot [E.U.A.] / Sonata Arctica [Fin] / Enslaved
[Nor] / Carach Angren [Hol] / Dagoba [Fra] / Bölzer
[Sui] / Holocausto Canibal / Simbiose / Gwydion /
Wicked Inc. [Esp] / Lost In Pain [Lux] – Quinta do
Ega, Vagos Vagos Metal Fest 2018
12 – Suicidal Tendencies [E.U.A.] / Ensiferum [Fin] /
Municipal Waste [E.U.A.] / Ross The Boss [E.U.A.] /
Integrity [E.U.A.] / Sinister [Hol] / Memoriam [Ing] /
Feed The Rhino [Ing] / Rasgo / Dark Embrace [Esp]
/ Stonerust – Quinta do Ega, Vagos Vagos Metal
Fest 2018
24 – Ulver [Nor] – Teatro José Lúcio da Silva, Leiria
Extramuralhas
SETEMBRO
01 – Bizarra Locomotiva / Ramp / Heavenwood / Hills
Have Eyes / Rasgo / Viralata / &PEGOƥMT / Artigo 21
/ Infraktor / Contrasenso / Take Back! – Campo
Futebol S.C. Casaínhos, Loures Casaínhos Fest
24 – Batushka [Pol] / (…) – RCA Club, Lisboa
25 – Batushka [Pol] / (…) – Hard Club, Porto
29 – Fleshcrawl [Ale] / (…) – Stairway Club, Cascais
30 – Fleshcrawl [Ale] / (…) – Metalpoint, Porto
OUTUBRO
05/06 – Simbiose / Serrabulho / Besta / Kandia /
Grankapo / Reality Slap / Tales For The Unspoken
/ Since Today / Dapunksportif / The Year / (…) –
Pinhal Novo Festival Bardoada & AJCOI
13 – Desalmado [Bra] / Besta / Surra [Bra] – Sabotage
Club, Lisboa
20 – Annihilation / Grog / Burn Damage – Cave Avenida,
Viana do Castelo
21 – Annihilation / Grog / Burn Damage – Metalpoint,
Porto
NOVEMBRO
03 – Repulsive Vision [Ing] / Serrabulho / Analepsy /
Hourswill / Warhammer [Gre] / Prayers Of Sanity
/ Undersave / Gaerea / Oppidum Mortuum / Fear
The Lord / (…) – Pavilhão Multiusos, Malveira Oeste
Underground III
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PROUDLY PRESENTS
FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM DECAYED
“INMUNDITIA ODII PLENA” “LIVE MMXVII”
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150 COPIES (DIE HARD EDITION) LIMITED EDITION CD - 333 NUMBERED COPIES
12” SPLATTER VINYL GATEFOLD DELUXE w/ A4 BOOKLET + POSTER + LIVE TAPE Celebrating the new line-up as a power trio, this unholy trinity delivers it’s massive
350 COPIES (REGULAR EDITION) old school black metal with the intensity of the end of the world!!!
12” BLACK VINYL GATEFOLD DELUXE w/ A4 BOOKLET + POSTER
The return to The Kult Series with the long-awaited release of “Os Métodos Do Pentagrama”
demo-tape from 1993, remastered for vinyl, with the Bactherion (pre-FNI) “The Miracle Of Death”
demo-tape from 1991 as bonus!!!

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Before it was autumn and fall,

it was harvest!
SYSTEMIK VIOLENCE MIDNIGHT PRIEST DISAFFECTED A TREE OF SIGNS
“SATANARKIST ATTACK” “RAINHA DA MAGIA NEGRA” “THE TRINITY THRESHOLD” “INITIATION OF LIGHT”
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