Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Wolfgang Schad
(Tradução não revisada – Juliana Klinko)
A história do termo
Por volta dos séculos XVIII e XIX, Karl Gustav Brinkmann (1764-1847),
conselheiro da embaixada sueca, trabalhou como diplomata em Berlim, Paris e Londres.
Assim como o norueguês Henrik Steffen e o dinamarquês Hans Christian Oersted, ambos
cientistas bem conhecidos na época, era um grande fã dos clássicos alemães. Ele visitou
Schiller em Jena em 18 de fevereiro de 1798 e, dois dias depois, sob sua recomendação,
conheceu Goethe em Weimar. Brinkmann freqüentemente se referiu a isso como um dos
mais iluminados momentos de toda sua vida (Leitzmann 1896, 44). Em uma carta à Goethe
em 4 de outubro de 1803 ele descreveu o cenário cultural de Berlim:
“Entre outras coisas Berlim é interessante por causa de sua infinita flatness, o que
significa que aqui tudo está situado lado a lado. [...] O goetheanismo genuíno cresce
aqui gradualmente como uma igreja invisível, cuja congregação pode somente ser
considerada como o verdadeiro sal na restante massa insípida.”
Embora ao fim de sua carta ele esteja explicitamente se desculpando que agora,
muito provavelmente, passará a ser considerado como um sonhador por Goethe, ele foi
talvez a primeira pessoa a cunhar o termo “goetheanismo”, e então introduzi-lo.
A palavra foi usada uma vez mais em 1884 pelo jovem estudante Rudolf Steiner em
um pequeno artigo que ele escreveu após uma visita a Siebenbürg (agora na Romênia).
Nomeado bibliotecário e, mais tarde, presidente do Deutsche Lesehalle em Viena, ele
publicou o termo no primeiro fascículo deste periódico. Em 1882 Steiner já havia sido
recomendado por Karl Julius Schröer a Joseph Kürschner como editor dos escritos
científicos de Goethe para publicação na série “Literatura nacional alemã”, o que o fez
começar um intensivo estudo de Goethe. No supramencionado artigo Ein freier Blick in die
Gegenwart (Uma clara visão do tempo presente), Steiner focou-se em como a evolução
natural darwiniana foi entendida e preconizou Haeckel como sucessor de Darwin. Ele
observou que isso está associado a uma grande controvérsia: se a moralidade humana é
mais compreensível com darwinismo, ou sem. E, nesta conexão, ele encontrou no modo de
pensamento de Goethe uma ajuda significante:
“As pessoas acham necessário harmonizar as idéias deste grande gênio com teorias
modernas. E não é falar mal dos alemães dizer que eles são tão permeados pelo mundo
ideal que qualquer desarmonia de novas visões com esse mundo é desconfortável para eles.
O esforço dos estudantes para harmonizar os resultados da visão do mundo moderno com o
goetheanismo é a reação da mente alemã à linha científica da moda, o desejo dos alemães
de que apenas o ideal pode ser admitido na vida, por fim, a crença de que o idealismo deve
ser verdadeiro”. (Steiner GA 30,234-5)
Steiner experienciou o goetheanismo de seu tempo como mais vivo na enclave
cultural germânica de Siebenbürg do que em sua terra natal. O que o preocupou sobre esse
assunto é a óbvia discrepância entre a teoria da seleção, que imaginou se estender ao ser
humano, e a moralidade humana, que inclui um preparo para ajudar os outros. Como
podem as características das leis naturais e humanidade serem reconciliadas? Sua resposta
foi: através do goetheanismo – um desafio worth noting e cuja solução ideal revela-se mais
tarde no trabalho antroposófico de Steiner. Assim, o goetheanismo tem um papel mediador
na fronteira entre a compreensão da natureza e a capacidade para a cultura.
No decorrer do século XX, a consciência pública se tornou adversamente sensível a
qualquer tipo de “ismo”. Em termos psicológicos, isso é facilmente compreensível. Assim,
sempre é suscitada a questão: o que se supõe ser o goetheanismo? Isso não torna as
realizações de Goethe um mero “ismo” e, deste modo, as condena involuntariamente a ser
uma espécie de ideologia? Se testarmos essa acusação com o uso positivo do termo por
Steiner, veremos que este não é o caso. Ele o usa para descrever uma linha cultural, assim
como no campo da arte moderna, o impressionismo, expressionismo, cubismo, surrealismo,
verismo, etc. não denotam ideologias, mas linhas artísticas. O “Goetheanismo” surge para
se referir a uma visão de mundo supra-pessoal, e o ser humano pode encontrar seu mais
claro representante apenas em Goethe. Supra-pessoal não significa impessoal (GA 96, 328).
Vamos nos voltar aos trabalhos científicos de Goethe. O que ele alcançou com eles
até sua morte em 1832 é a ciência goetheana. Antes e depois dele, o que foi desenvolvido
tem sua mais sucinta expressão no trabalho de Goethe, é a ciência goetheanística. O termo
goetheano descreve sua própria contribuição biográfica. Goetheanístico se refere à
contribuição supra-pessoal atemporal no mesmo tratamento. Isso também delineia um uso
para a linguagem cotidiana que é tão significativa quanto clara. Mesmo os estudos da
natureza de Albrecht Dürer (lebre jovem, dois esquilos, stag-beetle, columbina, o pequeno e
o grande torrão, etc.) são, vistos como composições, miniaturas goetheanísticas. Seu estudo
sobre a peônia, agora na galeria de arte de Bremen, mostra três espécimes tornando possível
o reconhecimento de toda a metamorfose foliar, das folhas verdes aos carpelos. Ele
observou isto antes de Goethe – como um goetheanista.
O goetheanismo inicial
Mas, em sua opinião, o ‘deixar-se levar para longe’ aconteceu muito freqüentemente
com os românticos. E de fato, a simpatia destes foi dirigida cada vez mais para uma única
direção, isto é, para Goethe. Mas ele se distanciou deles com duras palavras de rejeição:
“A antigüidade aparece somente como uma realidade idealizada, uma realidade
tratada com grandeza (estilo) e gosto; o romantismo é irreal, impossível, dando através da
fantasia somente uma aparência da realidade.
A antigüidade é plástica, verdadeira e real; o romantismo é enganoso como as
figuras de uma lanterna mágica...” (para Riemer, 28.8.1808)
“Ocorreu-me uma nova expressão que descreve essa relação de um modo bom o
bastante: o classicismo eu chamo de saúde e o romantismo, de doença.” (para Eckermann,
2.4.1829)
Isto foi não apenas para os letrados e poetas românticos, mas também para a
posterior geração de cientistas do movimento romântico. Goethe depositou neles suas
maiores esperanças, mas em breve desapontou-se. Somente poucos foram reconhecidos por
ele como Kielmeyer, Humboldt, Howard, Heinroth, Berzelius, Döbereiner, Voigt, Purkinje,
Carus e Runge. Para Goethe, a maioria – com todo seu reconhecido talento – desviou para o
numinous ou como ele colocou, para o lado negro da vida. Quando Schelling, quem ele
havia chamado para a Universidade de Jena em 1798, quis ser renomeado em 1815, foi
recusado por Goethe. Ele não queria ver “aquelas coisas velhas e obsoletas reintroduzidas
em um nova mística-panteística, confusamente filosófica, embora by no means forma
desprezível.” (para Chr. G. von Voigt, 27.2.1816). Ele chamou o botânico Schelver de um
“ultra” (WA II, 6, 189). Mesmo quando Carus, quem ele muito estimou, enviou a ele seu
estudo Psyche, que antecipa a moderna psicologia do inconsciente, Goethe anotou em seu
diário (3.1.1832):
“Profundas reservas a respeito da psicologia de Carus do lado negro. Reação para
escrever uma similar para o lado luminoso; imediatamente apresentado e levado a cabo
durante umas poucas horas de insônia à noite.”
Embora possamos ficar imaginando a respeito dos erros e acertos das reservas de
Goethe, é claro que não podemos equiparar seu tipo de pensamento com dos cientistas do
movimento romântico. Ele se distanciou mesmo de Oken, que foi também chamado por ele
para Jena. Recebendo um manuscrito de Henrik Steffen, ele respondeu: “Eu o apanhei
esperançoso e confiante mas tenho que admitir que lê-lo me deixou de mau humor.”
(rascunho de carta, outono de 1806). Em conversas com Sulpiz Boisserée e, provavelmente
em conexão com o trabalho Ahnungen einer allgemeinen Geschichte des Lebens
(Pensamentos preliminares sobre uma história geral da vida, 1806), ele disse o seguinte
acerca do médico Gotthlif Schubert, um dos românticos posteriores/tardios que cresceu em
Weimar e estudou sob a orientação de Herder na escola ginasial local: 'Então, G.H. von
Schubert, o lamentável homem, com seu grande talento, sua grande presença de espírito,
etc., está agora brincando com a morte; tentando colocar sua saúde em
deterioração.”[...](4.8.1815). Goethe provavelmente não apreciava mesmo o Hymnen na die
Nacht de Novalis porque os hinos se referem à noite. E de sua parte, Novalis, que tinha
feito um treinamento fundamental em ciência na Freiberg Bergakademie, se distanciou de
Goethe. Entre 1798 e 1800 sua grande admiração pelo romance Meister – Goethe que era
para ele “o verdadeiro mestre do pensamento poético na Terra” [Polle, No. 106] – de
repente deixou de existir. Goethe não era mais romântico o suficiente para ele:
“O aprendizado de Wilhelm Meister é totalmente prosaico – e moderno. O
romântico perece – e assim também a poesia da natureza, a beleza – ele lida meramente
com as coisas humanas cotidianas – a natureza e o misticismo são completamente
esquecidos. É um bourgeois poetizado e história doméstica. Nenhum mistério nele é
expressamente tratado como poesia e arrebatamento. O livro é feito no espírito de um
ateísmo artístico.” (Das philosophische Werk III, 638f.)
I) Steiner nunca se cansava de enfatizar que, por goetheanismo não era tanto o
Goethe histórico que estava sendo referenciado, mas tudo mais que surgiu do espírito de
Goethe imediatamente após sua morte (GA 181, 423; GA 200, 65; GA 272, 143). Não se
deveria jurar por Goethe, ou imitá-lo; o culto a Goethe, típico em seu tempo, fez um
espectro fora dele: “A coisa mais importante acerca do goetheanismo não pode ser
encontrada em Goethe” (GA 188, 128-144). O goetheanismo não é velho (GA 202, 260),
porque o espírito de Goethe nele vive e ainda está se revelando (GA 333, 143), é diferente
de ano para ano (GA 277, 132); ele é a mais moderna pessoa (GA 188, 103), de fato, o
goetheanismo é a voz do século XX (GA 1777, 213; GA 333, 143).
Mas suas indicações vão além disso quando ele caracteriza o goetheanismo como
um elemento do desenvolvimento espiritual total da humanidade (GA 277, 132); como um
dos fantásticos impulsos espirituais da humanidade (GA 192, 11), e de fato como as
maiores pulsações espirituais da humanidade (GA 190, 170). É a tônica da 5a época pós-
atlântica (GA 296, 98) e será revelado somente no milênio que se aproxima (GA 181, 423).
De fato, Rudolf Steiner confirma as palavras de Hermann Grimm de que Goethe será
totalmente compreendido somente após um período de 1000 anos (GA 272, 138).
II) Steiner também usa o termo goetheanismo para se referir ao efeito histórico de
Goethe em seus contemporâneos (GA 220, 55; GA 258, 140; GA 330, 330), como a vida
espiritual livre na virada dos séculos XVIII e XIX (GA 338, 36). Herder, Lessing, Wieland,
Schiller, Schelling, Hegel, Tiek, G.H. Schubert, Troxler, Carus e Novalis foram
mencionados em uma variedade de palestras ligadas ao goetheanismo. Elas alcançaram de
Leibniz (GA 196, 237) a Haeckel (GA 196, 135). De fato, nessas pessoas o goetheanismo,
que tinha seguido dos cavaleiros templários e Walther von der Vogelweide na idade média
até Goethe, terminou em cultura de classe média (GA 171, 116; GA 190, 173-188). Esse
goetheanismo viveu primeiramente nas artes e então em uma manifestação despolitizada, e
não produziu implicações para que a sociedade delas se ocupasse (GA 186, 111; GA 190,
173).
VI) Steiner então reconhece um outro aspecto do goetheanismo que, claro, consiste
no fato deste ser uma precondição para vir a existir a antroposofia – e ainda é. Ela surgiu de
uma continuação do goetheanismo (GA 84, 7), e deve sua origem diretamente a Goethe.
Por essa razão, o prédio na colina de Dornach, na Suíça, se chama “Goetheanum”, como
um lugar de homenagem a Goethe (GA 259, 113). E, nos dias de hoje, a mais segura
maneira de entrar na antroposofia é via goetheanismo (GA 185, 170). É a mais reta estrada
levando diretamente à antroposofia (GA 201, 178; GA 211, 78; GA 218, 308). O tomismo
combinado com goetheanismo resulta na antroposofia (GA 74, 73); o cistercian Wilhelm
Neumann atraiu a atenção de Steiner para essa conexão em 1888 (GA 74, 93-4).
VII) Em palestras, tanto para o público geral como para audiências convidadas,
Steiner foi ainda mais longe. O goetheanismo não é apenas uma ante-sala, o átrio para a
antroposofia, mas a antroposofia quer ser goetheanismo, nela se desenvolve o
goetheanismo compreensivo; de fato, é a manifestação do goetheanismo hoje (GA 333,
143). Em ao menos dez palestras, Steiner identificou a antroposofia diretamente com o
goetheanismo (GA 65, 61; GA 72, 13, 64, 107, 150, 187; GA 177, 198; GA 178, 9; GA
259, 437 etc).
‘Portanto [...] eu gosto de chamar a visão de mundo que represento
como ciência espiritual antroposoficamente orientada de visão de mundo
goetheana completamente desenvolvida’(GA 73, 133).’E eu estava ciente de
que minhas palestras eram nada mais que goetheanismo quando falei da
ciência espiritual do modo que é possível em nosso tempo.’(GA 65, 86)
‘Eu gostaria de denominar essa visão de mundo que surgiu
cientificamente do modo que descrevi – se eu não for mal-compreendido,
gostaria de chamá-la assim todas as vezes – fora das origens de onde isso
veio a mim; eu gostaria mais que tudo denominar essa visão de mundo de
goetheanismo, assim como [...] gostaria de chamar o prédio dedicado a esta
visão de mundo em Dornach de Goetheanum’ (GA 72, 50; também GA 72,
105, 147, 227)
Rudolf Steiner disse que a razão pela qual ele nem sempre chamava a antroposofia
de goetheanismo é que isto geraria facilmente um mal-entendido. É claro onde o mal-
entendido pode ocorrer: confundir antroposofia com goetheanismo histórico, quando se
refere ao goetheanismo presente.
VIII) Mas na palestra de 12 de março de 1922 na Haia, Rudolf Steiner tomou uma
posição totalmente oposta: O fenomenalismo de Goethe é destituído de qualquer
conhecimento como o pragmatismo de William James (1842-1910), o filósofo americano.
Precisamente neste sentido o fenomenalismo termina em agnosticismo se não nos
envolvermos com a investigação do aspecto supra-sensível do mundo, a antroposofia (GA
82, 207ff.). Pode-se imaginar um grande contraste entre as caracterizações apresentadas nas
seções V, VI e VII acima.
Falando sobre nosso tempo, Hermann Poppelbaum disse que de um dia para outro
Rudolf Steiner parou uma série de publicações que ele havia instigado, a saber, a
republicação da literatura enterrada dos goetheanistas iniciais. Naquele tempo ele próprio
tinha se comprometido a preparar para reedição a obra ‘Zwölf Briefe über des Erdleben’
(Doze cartas sobre a vida da Terra) de Carus de 1841, porém mais tarde abandonou a tarefa.
Somente em 1986 a obra reapareceu, tendo sido publicada por Ekkehard Meffert (Verlag
Freies Geistesleben, Stuttgart).
E, analisando o ser humano, Steiner conclui que o caráter dos povos da Europa
central consiste em não ter fortes ligações étnicas como indivíduos de povos de algum
lugar, mas no desenvolvimento da natureza de seu eu superior, sua individualidade (GA
157, 265-6).
Poderia-se dizer que os alemães são um “eu-povo” [I-people], mesmo sendo esta
designação contraditória em si mesma, pois, ou somos “povo’, ou “eu”. O paradoxo real é
que os alemães são somente um povo normal como outros quando a pessoa sozinha
manifesta-se não tanto como povo mas como uma individualidade. Muito tristemente,
quem não sabe lidar com isso apenas imita outros (até 1989 os alemães ocidentais eram os
mais fiéis ligados ao ocidente, os alemães orientais, ao oriente), ou começa o neo-
nacionalismo, e dá uma impressão ainda mais deplorável, mesmo perigosa. O “eu” superior
de cada pessoa consiste em sua habilidade de se abrir para uma total otherness. Somente
assim podemos entender o saudável conselho de Steiner: ‘Se é centro-europeu somente
quando se toma interesse pelos outros povos’.
E isso resolve a aparente contradição acima. O goetheanismo surge na Europa
central a partir dessas forças que reconhecem a humanidade, mesmo o homem universal,
em cada pessoa em que a dignidade de cada individualidade vem antes de qualquer coisa
que tenha a ver com pertencer a um povo. Isso era mais claramente aparente no tempo de
caos depois da primeira guerra mundial, como Steiner esclareceu em uma de suas palestras
sobre a questão social em 30 de dezembro de 1919:
‘No momento quando o prospecto da vitória começou a se tornar desfavorável a
nós, o Goetheanum foi erigido em frente das nações do mundo como uma testemunha da
vida espiritual internacional, sem se envergonhar do fato de que o que é hoje o
desenvolvimento do goetheanismo se originou das raízes da vida espiritual alemã. Assim a
ciência espiritual antroposoficamente orientada lutará por seu reconhecimento como um
conteúdo mundial que se tornou uma convicção contra todos os obstáculos.’(GA 333, 163-
164)
XII) Assim, Steiner vê como a futura tarefa da antroposofia encontrar seu caminho
para Goethe. É uma preparação para o futuro goetheanismo e o cristianismo que virá. Então
o goetheanismo não será mais a preparação para a antroposofia – o que foi o goetheanismo
até aqui – mas a meta da antroposofia. A antroposofia é a mais substancial corrente de
sabedoria do tempo presente, isto é, a sabedoria humana na ciência espiritual tomada
literalmente. Sua futura preocupação é para que a sabedoria cósmica se torne amor cósmico
(GA 13, 414f.). O conhecimento se transforma em amor, a antroposofia do presente no
sentido de Rudolf Steiner se tornará no futuro o goetheanismo revivificado que ainda está
enterrado.
As piores guerras são as guerras religiosas. Ambos os lados acreditam que Deus está
a seu lado e acusam-se primeiro mentalmente e então fisicamente com cortes de gargantas
ou terrorismo aéreo como em 11 de setembro de 2001. Mas o que Deus deve fazer com
todos esses grupos de seguidores que o reverenciam tão variadamente? Um dos mais
esotéricos poemas de Goethe é Die Geheimisse (Os segredos), escrito na idade média.
Restou-nos um fragmento. Foi uma tentativa de combinar em doze representantes todas as
religiões da humanidade ao redor da figura de Humanus. Ele desistiu do intento. Para essa
tarefa Herder e a senhora von Stein foram seus confidentes, porém o produto final teria sido
implausível. Não estamos tão longe. O goetheanismo é ainda um estado de expectativa.
Uma vez um estudante visitou o grande Hegel e arriscou exprimir suas reservas em
relação ao aspecto experimental do mundo não concordar sempre com as construções ideais
da filosofia. ‘Então, muito pior para a experiência’, retrucou Hegel. Esta certamente não
teria sido a resposta de Goethe. Este, ao contrário, uma vez enviou a Hegel (em 13.4.1821)
um objeto físico, um vidro boêmio polido no qual o vidraceiro havia posto uma serpente
enrolada bastante translúcida para demonstrar a origem da cor. Com ele, Goethe incluiu sua
dedicatória com as seguintes palavras, que não são sem uma intencional difference:
O fenômeno primordial
encomenda-se
o mais belamente
ao Absoluto
para amigável aceitação
Esta pista com um vidro foi a broad one. Não estamos aqui defendendo Goethe por
mera simpatia, mas deixando claro que mesmo os grandes gênios ‘vêm de planetas muito
diferentes’ e, fazendo isto, indicamos o que é carcaterístico da individualidade Goethe.
O contraste entre essas pessoas também é revelado no uso extraordinariamente
diferente das palavras ‘fenômeno’, fenomenologia e ‘fenomenológico’. Para Goethe,
phenomenon era literalmente o que surgia no sentido da percepção no sentido tecnicamente
unenhanced. Assim, de acordo com seu conceito de fenômeno, o que é dado tanto
sensorialmente quanto supersensivelmente é único – um dom especial que é mais que o
realismo ingênuo:
‘Não posso dividir a vida
nem interior, nem exterior...’ (Zahme Zenien)
‘Somente não se deixe procurar por algo atrás dos fenômenos,
Os próprios fenômenos são a teoria.’(MuR)
Perspectivas
Então, o que é goetheanismo? Como vemos, isto se torna algo muito diversamente
entendido e expressado, não apenas no trabalho de Steiner, mas também depois dele no
campo da ciência antroposoficamente orientada. E assim será igualmente no futuro.
Quando apontamos as posições contrastantes de Steiner, a discrepância é, em maior parte,
resolvida se mantermos em mente qual audiência Steiner tinha diante dele em um
determinado momento. Em palestras públicas ele nunca se cansou de falar sobre o espírito
vivo de Goethe no goetheanismo moderno e até de equipará-lo ao centro do movimento
antroposófico. Em encontros internos dos membros da sociedade antroposófica, que
freqüentemente tinham uma conexão passada com a Teosofia, ele costumava ressaltar o
valor do goetheanismo científico. Por outro lado, no começo dos anos 20, pessoas com
treinamento e ambições acadêmicas começaram a trabalhar no movimento antroposófico, e
queriam fazer a nova ciência espiritual mais vívida que os métodos das disciplinas baseadas
no sensorial. Steiner recomendou enfaticamente que eles não deveriam contar muito com as
abordagens de Goethe mas, finalmente, tomar de modo sério as abordagens supra-sensíveis
da antroposofia (GA 82, 207 ff). Steiner sempre procedeu de acordo com métodos
educacionais apropriados para um particular povo e cultura. Ele não estava preocupado
com ‘a verdade em si’ (GA 94, 217) mas com o que, para dada constelação de pessoas, era
o verdadeiro. Steiner nunca quis construir um sistema pronto como freqüentemente se
pensa com boas ou más intenções por todas as muitas pessoas que não o conhecem – mas
ajudar a fortalecer as pessoas para que elas pudessem ser mais frutíferas. Portanto, é
possível que o que é creto hoje seja errado amanhã. O individualismo ético é uma ética da
situação. Em 1958 Ernst Lehrs recontou verbalmente como, na frente dos estudantes
daquele tempo, três semanas depois da publicação de seu Kernpunkte der sozialen Frage
(Basic Issues da questão social), Steiner disse que ele já estava desatualizado.
Assim, neste ensaio – muito provavelmente para o desapontamento de grande parte
dos leitores – não se pretendeu estabelecer de modo final o que o goetheanismo é agora e é
sempre, mas uma tentativa foi feita para apresentar os atributos do que é hoje. Deveríamos
gostar de ver isso claro em todas suas manifestações culturais baseadas no sensorial que são
todas as artes e as ciências baseadas no sensorial. Por outro lado, autoctonamente, a
antroposofia significa pesquisa supersensível, e é entendida literalmente como ciência
espiritual, no sentido de uma ciência do espírito. O goetheanismo compreende toda a
pesquisa baseada no sensorial, mesmo se a respeito de sua produção cognitiva é um
trabalho espiritual. A antroposofia é toda pesquisa livre dos sentidos, mesmo se em bases
empíricas é puramente espiritual e, contudo, no fim, sempre se torna prática para a
realidade terrena da vida.
Portanto, uma grande parte da pesquisa que é referida hoje como sendo
antroposófica, certamente não é antroposofia, mas antes, - contanto que seja frutiferamnete
produtiva – é goetheanismo. O que principalmente toma parte nas seções da Freien
Hochschule für Geiseswissenschaft am Goetheanum (Escola livre de Ciência Espiritual no
Goetheanum) são projetos baseados no sensorial, e em seu verdadeiro sentido, é
goetheanismo empreendido por antropósofos. O fundo de pesquisa ou comissão de
pesquisa da Sociedade Antroposófica na Alemanha, fundada a 12 anos, mostrou-se
preocupada principalmente com projetos de pesquisa envolvendo mediação sensorial, isto
é, nos melhores casos, goetheanismo, mesmo quando eles foram motivados pelo estudo da
antroposofia. Por razões compreensíveis, fazer comunicação com alta relevância pessoal
sobre o reino da experiência supra-sensível, que é no melhor sentido científica, é bem mais
raro e ao mesmo tempo envolve mais auto-decepção que a pesquisa baseada no mundo
sensorial (GA 17, 41). Mas, é claro, o trabalho em grupo ou individual no suprasensível é
certamente possível, tanto hoje como sempre.
Portanto, para o presente, as duas orientações de pesquisa não devem ser misturadas
uma à outra indiscriminadamente, mas praticadas necessariamente de acordo com métodos
que são independentes um do outro. Isto é especialmente assim a fim de ter melhor controle
de erro em ambos os lados. É precisamente aqui que a abordagem de Rudolf Steiner vem
em nossa ajuda. Na conferência de filósofos na Bolonha, em 8 de abril de 1911,
recomendou o seguinte (GA 35, 140-142):
..., mas teria-se que ver que um conteúdo empírico ordinário da consciência está
relacionado ao que é verdadeiramente experienciado na vida interna do ser essesncial do
homem, como a imagem especular está relacionada ao ser real da pessoa que está se
mirando.
Em 1910, Steiner já tinha tentado caracterizarr essa diferença quando tentou
escrever um livro com o título Antroposofia. Contudo, sabe-se que ele nunca o deixou
pronto para publicação e então restou apenas um fragmento (GA 45). Mas isso tem a
vantagem de que ainda hoje podemos ter um vislumbre de seu trabalho interior. No
rascunho para o segundo capítulo ele tentou apresentar tão completa quanto possível uma
teoria dos sentidos, com o objetivo geral de determinar tão bem quanto pôde, que as
percepções que não pertencem aos 12 sentidos baseados no corpo, podem todas o mais
certamente serem aceitas como experiências suprasensíveis. Ele estava preocupado aqui
com uma segura definição metodológica.
Em 1917, Steiner uma vez mais distinguiu claramente as pesquisas supersensíveis e
baseadas nos sentidos, em que chamou uma de ‘antropologia’ e a outra ‘antroposofia’.
Ambas são corretamente exercidas se independentes uma da outra. Quando ambas se
mantêm honestamente em seus respectivos métodos então, em um determinado momento,
eles se complementam como o positivo e o negativo:
‘Se os dois caminhos, antroposófico e antropológico, são seguidos da maneira
apropriada, então chegarão ao mesmo ponto’.(GA 21, 32)
Ele usou uma vez a imagem de que ambos métodos de pesquisa eram túneis na
montanha da realidade que vinham de lados opostos e se encontravam no meio (GA 72,
130). Desse modo, a ciência não precisa almejar uma confirmação espiritual, e o conteúdo
da ciência espiritual não precisa de evidência da ciência. Ao invés disso, eles serão mais
tarde suplementares entre si – não provas recíprocas – quando ambos vão sinceramente por
seus próprios caminhos. Falar de ciência goetheanística antroposófica é, quando muito, uma
quimera geradora de obstáculos porque pode se tornar uma desculpa para não entrar no
trabalho puramente espiritual. Então, o múltiplo perigo e o vício surgem de empreender
pesquisa baseada nos sentidos como um substituto da experiência supersensível. Muitas
pessoas o fariam com muito prazer, por que a pesquisa sensorial lhes dá a segurança da
experiência mediada pelo corpo. Mas a pesquisa espiritual requer o máximo de
envolvimento pessoal para deixar cair todas as máscaras. Mas deixá-las também inclui
deixar todas as idéias brain-bound e bases para o conhecimento, ou melhor, entrar em uma
‘sábia ignorância’ (Meffert 2001), isto é, dissolver padrões de pensamento estabelecidos.
Quando os pensamentos se tornam espirituais, então tomam vida. Isto faz com que nossa
mente rodopie (´Drehkater’)(GA 177, 139), nos choca, e mesmo assusta, como se
tateássemos em um armário escuro e colocássemos a mão em um rato (GA 164, 15.9.1915).
Assim, a perseverança é necessária e o drama de nossa própria alma começa (GA 72, 197).
Experiencia-se uma catarse que requisitou o choque inicial. Se isso não acontece, pode-se
empreeender uma pesquisa baseada nos sentidos intelectualmente estimulante, mas não
antroposofia. Ao fim da primeira cena do primeiro Drama de Mistérios de Rudolf Steiner,
Helena fala a respeito da felicidade espiritual que flui da fonte da verdade, já Johannes vê
claramente isso como loucura.
Goethe conhecia essa esfera íntima do encontro espiritual e colocou-o no relato
poético da dor nos olhos ao olhar o sol, no monólogo de Fausto na cena de Ariel:
‘A mistura de alegria e tristeza que nos confunde
Nos envia à Terra: para velar nosso preocupado estado
Pelo benefício da primavera suplicamos.
E então eu me volto, o sol sobre meus ombros,
Para ver a queda d’água, com o coração exaltado,
A catarata torrencial, despencando das pedras,’
(Fausto II, Ii)
Imediatamente depois disso vem um pouco de puro goetheanismo na descrição do
‘arco-íris surgindo desse furor’, isto é, vida terrena como uma reflexão colorida. Tudo se
torna uma parábola, um símbolo – mas agora em uma forma puramente sensorial.
Assim, faz sentido diferenciar cuidadosamente desde o princípio entre os métodos
do goetheanismo como ciência, e antroposofia como ciência espiritual. Quem quer que
tenha experiência longa o suficiente em ambos sabe que – especialmente quando eles não
se emprestam à corroboração mútua – quando maduros o suficiente se encontrarão e se
confirmarão. Então o goetheanismo será antroposofia e a antroposofia atingirá sua meta no
goetheanismo como o cristianismo do futuro.
Se a antroposofia como pesquisa real no supersensível for distinguida do
goetheanismo por tempo suficiente, como toda pesquisa espiritual que também está
intimamente conectada com a realidade, e ambos os caminhos sejam muitas e muitas vezes
exercidos mutualmente em alternação, então algo estranho acontece. Quanto mais se está
ativamente envolvido com a antroposofia, mais se sentirá uma urgência irresistível de fazê-
la frutífera na prática no aqui e agora, em seu trabalho e interação social. Isto faz as pessoas
quererem ser ativas na vida. Quanto mais se faz uma boa ciência goetheanística, mais se
notará suas experiências de ligação ao supersensível e se procurará as fontes do puro
espírito. Em melhor exame, ambos aspectos não estão divididos entre diferentes pessoas.
Como já foi mencionado, existe um Steiner, o goetheanista e um Goethe, o antropósofo.
Ambas as correntes podem existir em qualquer pessoa mesmo se diferentes orientações
também são envolvidas. Todavia, Goethe e Steiner viram suas mais caraterísticas
preocupações muito diferentemente. A missão de Goethe era imbuir a cultura uma vez mais
com contemplação sensorial que é aberta ao espírito. A de Steiner era habilitar qualquer
pessoa a entrar no supersensível livre do corpo e guiado pelo pensar – não foi sua pesquisa
sobre Goethe – que teria sido realmente a tarefa de Karl Julius Schröer – que era sua tarefa
de vida, mas pesquisa espiritual pura (veja Stein 1922). Goethe, por outro lado, procurou
omitir o aspecto esotérico de suas experiências supersensíveis, tanto que mesmo hoje eles
não são detectados pela pesquisa corrente sobre Goethe (Schad 2000a)
Ambos podem, de fato, existir em qualquer pessoa. É uma inalação e exalação
biográfica. Como goetheanistas, podemos inalar o mundo, nós o tomamos e aprendemos
como espiritualizá-lo. In however small a way at first, um antropósofo vive pelo espírito e
pode se devotar ativamente à Terra. Isto estende os limitados conceitos de goetheanismo e
antroposofia apresentados acima, e agora eles se tornam capazes de crescer. Se dissermos a
princípio que a antroposofia é a vida no supersensível e o goetheanismo a forma mais
humana de envolvimento no mundo ligado aos sentidos, então agora o goetheanismo se
torna uma transformação do ‘júbilo amorosa por todas as coisas do mundo sensorial’ para
consciência do espírito, e a antroposofia se torna, sendo familiar com o espírito, prática no
melhor sentido na vida terrena. Para a questão ‘como reconhecemos um iniciado?’ diz-se
que Steiner uma vez respondeu: ‘É a pessoa mais prática’.
Agora na esfera total da vida, a inalação e exalação biográfica são completamente
inseparáveis uma da outra, mesmo se como correntes complementares elas sempre
permanecem como opostos polares. E não importa se as chamamos combinadas,
antroposofia ou goetheanismo. Mas em algum momento nós ficamos cientes que relação
temos com o mundo e o quanto temos de agradecer a outra por qualquer complementação.
Pois as duas não estão somente presentes em um único indivíduo mas ainda mais na
complementação recíproca que ocorre entre as pessoas. Assim o goetheanismo é
indispensável à antroposofia. E o goetheanismo não será capaz de se desenvolver no
próximo milênio sem o envolvimento eficiente da antroposofia.
Agradecimentos: sou grato às seguintes pessoas pela leitura do manuscrito e por seu
criticismo construtivo: G. Dellbrüggrt, Th. Göbel, V. Harlan, A. Husemann, M. Krüger, J.
Kühl, E. Meffert, B. Rosslenbroich, P. Selg e A. Suchantke. Agradecimentos especiais à
Rudolf Saake por sua busca nos trabalhos collected de Rudolf Steiner por seus comentários
sobre goetheanismo.