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Aconselhamento Pastoral

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UNIDADE 13
Aconselhamento Pastoral
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Aconselhamento Pastoral
Direitos Autorais

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Proibida cópia total ou parcial deste material. A Faculdade Teológica Batista do Paraná reserva
todos os direitos, embasada na LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
VI - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou cientí-
fica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento
permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha
a ser desenvolvido.

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UNIDADE 13

Breve Biografia do Autor


EDILSON SOARES DE SOUZA Doutor e Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), vinculado à linha de pesquisa Intersubjetividade e Pluralidade: reflexão e sentimento na história.
Graduado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), com formação em Teoria Relacional
Aconselhamento Pastoral

Sistêmica. Psicólogo Clínico. Graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil
(STBSB), curso convalidado pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (FTBP). Professor de gradu-
ação e pós-graduação na FTBP. Editor Responsável pela Revista Via Teológica, publicada pela FTBP.
Pesquisador vinculado ao Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER) e ao CNPq. Acumula
experiência na área de psicologia, com ênfase em psicoterapia individual, de casal e de família. Desenvolve
estudos contemplando temas nas áreas de: história, psicologia, religião, política e educação.

Avaliação, Instrumentos, Critérios


Avaliação única presencial: espera-se que o aluno leia o conteúdo de cada unidade, preparando-se para a
avaliação presencial que está marcada para o final do semestre.
Quando da avaliação, cada aluno receberá um texto (e o mesmo para todos). Após a leitura do mesmo,
será solicitado que o aluno discorra sobre o conteúdo, propondo uma relação entre o texto sugerido e o
conteúdo das unidades, que foi disponibilizado.
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Apoio e Suporte ao Aluno


Além do apoio do Tutor, do apoio do Coordenador-Tutor do Pólo, o aluno terá à sua disposição o
suporte 0800, o suporte on-line via Internet, bem como a biblioteca na Sede da FTBP, as bibliotecas de
apoio nos pólos e os links selecionadosemnossa biblioteca on-line.

Bibliografia Básica
COLLINS, G. R. Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 1995.
MALDONADO, Jorge. Crises e perdas na família: consolando os que sofrem. Viçosa: Ultimato, 2005.
MARINO JÚNIOR, R. A religião do cérebro: as novas descobertas da neurociência a respeito da
fé humana. São Paulo: Editora Gente, 2005

Bibliografia Complementar
CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. São
Paulo: Paulinas/ São Leopoldo, RS: Sinodal, 1987.
CRABB, Lawrence. Como compreender as pessoas: fundamentos bíblicos e psicológicos para desen-
volver relacionamentos saudáveis. São Paulo: Editora Vida, 1998.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
HURDING, Roger F. A árvore da cura: modelos de aconselhamento e de psicoterapia. São Paulo: Vida
Nova, 1995.
MALDONADO, Jorge. A família nos tempos bíblicos. In: Casamento e família: uma abordagem bíblica
e teológica. Jorge Maldonado (editor). 2.ed. Viçosa, MG: Ultimato, 2003, p. 11-29.

Plano de Ensino
Ementa
Estudar os principais conceitos aplicados ao Aconselhamento Pastoral, buscando compreender as técni-
cas básicas que podem ser utilizadas no processo de acompanhamento das pessoas em aconselhamento,
destacando as crises e algumas manifestações emocionais que são identificadas durante o processo.

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UNIDADE 13
Objetivo Geral
Compreender a importância do Aconselhamento Pastoral no contexto do ministério cristão na atualidade,
despertando nos participantes do curso a motivação para se conhecerem melhor, como também desempen-
harem um acompanhamento marcado pela empatia com relação ao outro.

Aconselhamento Pastoral
Objetivos Específicos
1. Propor algumas breves considerações históricas e conceituais sobre o Aconselhamento Pastoral;
2. Entender a constituição do Aconselhamento Pastoral;
3. Discutir a presença das emoções no processo de Aconselhamento Pastoral;
4. Analisar a atuação dos conselheiros pastorais no contexto social;
5. Compreender as expressões religiosas associadas ao sagrado no aconselhamento pastoral.

Conteúdo Programático
Capítulo 01 - Breves considerações históricas e conceituais

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Capítulo 02 - Entendendo o Aconselhamento Pastoral
Capítulo 03 - O Aconselhamento Pastoral e as emoções
Capítulo 04 - Aconselhamento Pastoral e a sociedade
Capítulo 05 - O sagrado no Aconselhamento Pastoral

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Sumário
Plano de Ensino ...................................................................................................................................... 04
Apresentação geral ao tema .................................................................................................................. 07
Aconselhamento Pastoral

Introdução ............................................................................................................................................... 08
Unidade 01
Breves considerações históricas e conceituais ................................................................................... 09
Unidade 02
Entendendo o Aconselhamento Pastoral ............................................................................................ 19
Unidade 03
O Aconselhamento Pastoral e as emoções ......................................................................................... 27
Unidade 04
Aconselhamento Pastoral e a sociedade .............................................................................................. 37
Unidade 05
6

O sagrado no Aconselhamento Pastoral .............................................................................................. 46


Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 55

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UNIDADE 13
Apresentação Geral ao Tema

O ministério de uma igreja local de confissão cristã procura glorificar a Deus e exaltá-lo em cada
momento de sua trajetória eclesiástica, o que inclui a ministração da Palavra de Deus, as celebrações

Aconselhamento Pastoral
com os cânticos de gratidão e dedicação, o zelo na administração dos bens que o Senhor confiou
aos fiéis e o compromisso com o desenvolvimento saudável daqueles que buscam se tornar mel-
hores discípulos de Jesus Cristo. Para que esta igreja local possa firmar-se ao longo de sua camin-
hada de fé, ela se coloca como instrumento da graça divina, desenvolvendo a sua sensibilidade com
relação às necessidades daqueles que constituem a comunidade de fé, mas também procura perce-
ber as carências daqueles que estão ao redor e prontos a serem influenciados pelo seu ministério,
tanto de orientação quanto de consolação.

Das muitas oportunidades que a igreja local tem para servir aos fiéis, como também aqueles que
ela deseja alcançar com a mensagem da graça transformadora de Jesus Cristo, o ministério de
Aconselhamento Pastoral apresenta-se como um instrumento valioso no fortalecimento dos fiéis
no Senhor. O Aconselhamento Pastoral prioriza o conhecimento e a prática da Palavra de Deus,

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levando os ensinamentos – adequadamente interpretados pelos conselheiros pastorais – àqueles
que necessitam do suporte da igreja local, mesmo que a igreja – que são os seus membros – precise
se deslocar para além das suas dependências físicas, chegando a escolas e universidades, postos de
saúde e hospitais, como também a empresas e corporações militares. Quando a igreja local prepara-
se para ministrar a partir do Aconselhamento Pastoral, ela precisa entender que pode fazê-lo em
suas dependências, mas pode fazê-lo também em outros espaços que oferecem condições adequa-
das para a realização de tais atividades.

No entanto, como analisaremos no desenvolvimento do estudo, o Aconselhamento Pastoral exige


um preparo diferenciado por parte daquele que se dispõe a auxiliar aqueles que buscam nesta área
ministerial o suporte para as suas dificuldades, tanto em nível pessoal quanto conjugal e familiar.
Quando mencionamos um preparo diferencial, não pensamos num preparo melhor ou pior do que
outros que são oferecidos no contexto da igreja. Por diferente, queremos considerar abordagens es-
pecíficas por parte dos conselheiros pastorais, que se colocam ao lado daqueles que estão sofrendo
e precisam do apoio incondicional da igreja, que o faz com a atuação de conselheiros preparados,
técnica e espiritualmente para a tarefa.

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UNIDADE 13

Introdução

Atualmente, existe uma produção literária considerável sobre o ministério de Aconselhamento


Pastoral, o que favorece o estudo dessa temática no contexto acadêmico, mas também permite
Aconselhamento Pastoral

aos conselheiros pastorais uma atualização que se mostra fundamental no desempenho de um


ministério tão relevante no contexto das igrejas cristãs em todo o mundo, inclusive, no contexto de
América Latina e Brasil. Isso significa dizer que há uma variedade de títulos sobre os conceitos, as
áreas de atuação e as técnicas que podem ser utilizadas no processo de Aconselhamento Pastoral
(no desenvolvimento do texto utilizaremos também aconselhamento pastoral, numa referência ao
trabalho de aconselhamento e não a área específica de ministério).

O trabalho e as propostas de aconselhamento são objetos de estudos e aplicações nas mais variadas
áreas de atuação educacional e profissional, mostrando-se pertinente para os estudantes de teolo-
gia. Tais estudantes serão desafiados a entenderem, aproximarem e aplicarem os ensinamentos da
Bíblia às situações e dificuldades comunicadas pelas pessoas que procuram no aconselhamento o
apoio para superarem as suas vicissitudes. Para os estudantes de teologia cristã, mas, sobretudo,
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para aqueles que desejam se aprimorar no ministério de acompanhamento de pessoas, o conheci-


mento dos diversos conceitos nesta área e o entendimento da utilização das técnicas revelam-se
fundamentais.

Assim, a presente disciplina foi montada em cinco capítulos, começando pela discussão dos concei-
tos e encerrando com uma compreensão sobre o sagrado no contexto do aconselhamento cristão.
A estrutura do curso, como também o conteúdo de cada capítulo foi pensada tendo como refer-
ência os seguintes aspectos: a) breves considerações históricas e conceituais, que serão tratadas no
primeiro capítulo, fornecendo apoio para os temas que se seguirão; b) entendendo o Aconselha-
mento Pastoral, que propõe uma compreensão sobre a percepção que temos desta área ministerial
e a sua importância para o ministério da igreja local; c) o Aconselhamento Pastoral e as emoções,
introduzindo uma discussão sobre alguns elementos que constituem esta área da estrutura humana,
entendendo que outras emoções precisam ser conhecidas pelos conselheiros pastorais; d) Aconsel-
hamento Pastoral e a sociedade, procurando compreender como o Aconselhamento Pastoral atua
no contexto social brasileiro, e e) o sagrado no Aconselhamento Pastoral, propondo uma com-
preensão das expressões do sagrado no acompanhamento pastoral.

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UNIDADE 01
Breves considerações históricas e conceituais

Aconselhamento Pastoral
Introdução

Antes de identificarmos alguns elementos que dos problemas humanos, o autor lembrou a
fazem parte do Aconselhamento Pastoral ou condição de Jó, que “era um homem piedoso,
mesmo de conceituarmos esta atividade que conhecido, rico e grandemente respeitado por
se mostra tão relevante no contexto da Igreja seus contemporâneos”, (COLLINS, p. 18). No
Cristã local, cabe entendermos parte da trajetória entanto, acrescenta Collins, que aquele homem
histórica do que nomeamos Aconselhamento. Assim, foi perdendo, gradativamente, bens, família e
um dos objetivos deste primeiro capítulo é propor saúde, ficando à mercê dos comentários de seus
algumas breves considerações históricas sobre o “amigos” mais próximos.
tema de nossa disciplina, procurando entender
Ao considerar as contribuições do Novo
como o aconselhamento se desenvolveu ao longo

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Testamento ao processo de aconselhamento,
dos séculos, partindo dos registros do Antigo e do
Gary Collins afirmou que “Jesus tinha (...) dois
Novo Testamento.
alvos para os indivíduos: vida abundante na
Para Gary Collins, autor do livro Aconselhamento terra e vida eterna no céu”, (COLLINS, p. 19).
Cristão, “a Bíblia contém vários exemplos de Na opinião do autor, os conselheiros que se
necessidades humanas”, pois “através de suas colocam como seguidores dos ensinamentos de
páginas lemos a respeito de solidão, desânimo, Jesus Cristo podem ou devem se esforçar pelos
dúvida, tristeza, inveja, violência, pobreza, doença, mesmos ideais: ajudar as pessoas na busca de uma
tensão interpessoal e diversos outros problemas melhor qualidade de vida terrena, esforçando-
pessoais – algumas vezes manifestados na vida se no sentido de indicar a eternidade ao lado de
dos maiores santos”, (COLLINS, p. 18). Após Cristo como um dos principais objetivos na vida
citar a Bíblia como fonte para a compreensão do aconselhado.

Entrando no universo do Aconselhamento

Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia! Essa é constituindo-se numa fala pensada e ponderada,
uma versão de um ditado popular, conhecido em que pode ser compartilhada com alguém que
muitos lugares. Embora seja bem conhecida, a está próximo, sobretudo, quando esse alguém
expressão usada no senso comum revela uma visão está envolvido emocionalmente em situações
limitada sobre o valor de um bom conselho na complexas e desafiadoras. Assim, desejamos
vida da pessoa que passa por momentos difíceis. na presente disciplina avançar além dos bons
Este “conselho” que se tornou alvo de críticas não conselhos, pois buscamos uma compreensão
se constitui, efetivamente, em conselhos eficazes, mais ampla e profunda da importância que
tratando-se de uma provável referência aos o Aconselhamento Pastoral desempenha no
“conselhos” impensados, que são compartilhados contexto ministerial da Igreja local (doravante
no calor das discussões. Em contrapartida, chamada apenas Igreja), como também diante
temos o processo de Aconselhamento Pastoral, das demandas de uma sociedade contemporânea

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UNIDADE 01
caracterizada por sua complexidade. quando o crescimento das pessoas é seriamente
comprometido ou bloqueado por crises”,
Inicialmente, propomos discutir os seguintes
(CLINEBELL, p. 25).
temas: a) uma breve análise do papel do conselheiro
Aconselhamento Pastoral

pastoral; b) a identificação dos principais requisitos Notamos que a conselheira ou o conselheiro


para que o conselheiro ou a conselheira possa pastoral é a pessoa que se coloca disponível para
desempenhar com habilidade o seu trabalho, e auxiliar aqueles que passam por determinadas
c) a compreensão de alguns recursos técnicos dificuldades, utilizando-se de recursos adequados
disponíveis para o bom êxito no processo de para que sejam superadas as dificuldades.
aconselhamento na atualidade.
Objetivamos com a nossa análise até o momento
Antes de avançarmos em nossas reflexões, é esclarecer que o Aconselhamento Pastoral vai
importante considerar o significado da expressão muito além de dar conselhos ao necessitado,
Aconselhamento Pastoral, entendendo que ela embora isso possa ocorrer em determinadas
remete a alguns sentidos, permitindo a construção circunstâncias. Assim, conhecer os objetivos que
de determinados conceitos, como veremos na devem ser alcançados durante o processo de
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sequência. A palavra Aconselhamento indica uma ação aconselhamento, enquanto o conselheiro ou da


que envolve o ato de aconselhar, ou aconselhar- conselheira busca o devido preparo, apresentam-
se. Pode ser entendido também como uma ação se como fundamentais no trabalho e manejo do
no sentido de solicitar e receber conselhos, como Aconselhamento Pastoral.
também determinadas orientações. Estamos
Pessoalmente, tenho algumas reservas com relação
considerando tão somente o termo Aconselhamento,
ao conceito oferecido por Clinebell, sobretudo,
sem as implicações associadas ao termo Pastoral, já
quando o seu texto reforça a ideia de uma cura
que este último confere outro sentido à primeira
que a pessoa deve experimentar. A ideia de cura
palavra. A partir desta breve conceituação,
remete a outro conceito, que é o de doença. Neste
podemos perceber que um bom processo de
ponto discordo do autor, pois, necessariamente,
aconselhamento exige o devido preparo do
não lidamos com doentes e suas doenças, mas com
conselheiro, como também a percepção da
distúrbios, crises e conflitos que atingem pessoas,
necessidade de um lugar ou espaço adequado e
casais e sistemas familiares.
seguramente preparado para o eficaz desempenho
das funções exercidas pelos conselheiros e pelas Vamos, então, entender outro conceito. Para Roger
conselheiras. Hurding, que escreveu A árvore da cura: modelos de
Aconselhamento e de Psicoterapia, “podemos definir
De acordo com Howard Clinebell, autor de
o aconselhamento como uma atividade com o
Aconselhamento Pastoral, podemos entender que o
objetivo de ajudar aos outros em todo e qualquer
Aconselhamento Pastoral “é a utilização de uma
aspecto da vida, dentro de um relacionamento
variedade de métodos de cura (terapêuticos) para
de cuidado”, (HURDING, p. 36). É o próprio
ajudar as pessoas a lidar com seus problemas
autor que sugere a seguinte divisão explicativa de
e crises de uma forma mais conducente ao
seu conceito, destacando três partes: a) a ajuda
crescimento e, assim, a experimentar a cura de
direcionada ao outro; b) esta ajuda deve ser em todo
seu quebrantamento”, (CLINEBELL, p. 25).
e qualquer momento da vida, e c) a ajuda insere-
Para este mesmo autor, “o aconselhamento
se num determinado relacionamento de cuidado.
pastoral é uma função reparadora, necessária

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Podemos compreender as considerações de p. 37). A ênfase do autor, portanto, recai num
Hurding a partir da constatação de que, “por mais relacionamento entre pessoas; tal relacionamento
que compreendamos a complexidade da natureza é marcado pelo desejo de ajudar o outro, em todo
humana, o aconselhamento, eu diria, pode ajudar e qualquer momento ou aspecto de vida. No

Aconselhamento Pastoral
as pessoas em todo e qualquer aspecto da vida entanto, essa ajuda é um pouco diferente de outras
interior – emocional, volitivo, comportamental, formas de ajuda. É o que buscamos perceber no
racional, psicológico ou espiritual”, (HURDING, desenvolvimento de nossa disciplina.

Requisitos para o desenvolvimento do Aconselhamento Pastoral

Uma passagem bíblica que ajuda a compreender não é capaz de olhar para si e avaliar as mudanças
o papel do conselheiro pastoral está na carta que que ocorreram consigo? Fica claro, portanto, que
Paulo escreveu aos cristãos em Corinto. O texto é necessário que a conselheira ou conselheiro
sagrado não trata especificamente do trabalho de pastoral faça uma análise sincera de sua vida,
aconselhamento, mas lembra um dos principais identificando as mudanças ocorridas e aquelas
objetivos dessa área ministerial: ajudar o próximo que ainda podem acontecer, num movimento de

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em seu processo de amadurecimento. A p ó s constante amadurecimento pessoal.
tratar do amor entre os cristãos da Igreja local
Voltando a Gary Collins, o autor aponta para alguns
em Corinto, o apóstolo Paulo faz uma breve
aspectos que dizem respeito aos que desejam
reflexão de sua vida, dizendo que quando era
desenvolver um saudável ministério pastoral na
criança comportava-se como uma criança, mas
área de aconselhamento. Collins entende que o
quando se tornou um homem – já amadurecido
conselheiro ou a conselheira deve apresentar as
– deixou aquele comportamento infantil e
seguintes qualificações: a) cordialidade, já que o
passou a agir como um adulto. O trabalho do
“termo implica cuidado, respeito ou preocupação
conselheiro ou da conselheira é ajudar a pessoa
sincera, sem excessos, pelo aconselhado – sem levar
a superar as suas dificuldades, favorecendo o
em conta seus atos ou atitudes”; b) sinceridade,
amadurecimento pessoal, permitindo que ela
entendendo que o significado de sinceridade é ser
alcance potencialidades em sua trajetória de vida,
autêntico, ou “uma pessoa aberta, franca, que evita
como também desenvolva bons relacionamentos.
o fingimento ou uma atitude de superioridade”, e
Paulo, então, escreveu aos coríntios: “Quando eu c) empatia, que não pode ser confundida com
era menino, falava como menino, pensava como simpatia, pois a empatia revela a sensibilidade do
menino e raciocinava como menino. Quando conselheiro ou da conselheira para se colocar no
me tornei homem, deixei para trás as coisas de lugar do outro, que está em acompanhamento
menino”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, I Coríntios pastoral, (COLLINS, p. 20-21). Para o autor, tal
13.11, p. 1521). E aqui está um dos pilares do empatia revela-se na capacidade de se colocar
aconselhamento pastoral: a capacidade da pessoa no lugar do outro e procurar sentir algo muito
que trabalha com os outros de olhar para si próximo do que ele está sentindo, numa busca de
mesmo e, em seguida, perceber as mudanças uma compreensão de uma empatia adequada.
que ocorreram primeiramente em seu interior.
Pode-se somar a essas três qualidades indicadas
Afinal, como ajudar alguém no processo de
por Collins aqueles nove elementos tão relevantes
transformação se a pessoa que assume esse papel
que fazem parte do Fruto do Espírito Santo,

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como apresentado por Paulo quando escreveu Vimos dois desafios que são colocados diante
aos cristãos da Galácia. Disse Paulo: “Mas o daqueles que se apresentam para o trabalho de
fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, aconselhamento pastoral: a) o primeiro desafio
amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e focou a importância da pessoa atuante no
Aconselhamento Pastoral

domínio próprio”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, aconselhamento desenvolver o que a Bíblia chama
Gálatas 5.22-23, p. 1545). O desafio colocado de “Fruto do Espírito Santo”, como visto no livro
diante da conselheira pastoral ou do conselheiro de Gálatas, e b) o segundo desafio foi proposto por
é procurar perceber o que vai, primeiramente, Gary Collins, chamando a atenção para a existência
em seu íntimo, para em seguida colocar-se como de certas qualidades que os conselheiros devem
facilitadora no processo de crescimento do desenvolver no desempenho de suas funções.
semelhante.

A Bíblia e algumas técnicas na Aconselhamento Pastoral

Partindo das considerações anteriores, queremos envolvem a sua vida; como também será na Bíblia
agora entender a importância de algumas técnicas que ele identificará as palavras consoladoras do
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disponíveis e que podem ser utilizadas pelos Espírito de Deus para continuar desenvolvendo
que militam no aconselhamento pastoral. Tais o seu ministério pastoral, atendendo pessoas que
técnicas são limitadas se não forem utilizadas passam por problemas semelhantes, com maior ou
sob a orientação de Deus, tendo como referência menor intensidade. Assim, desenvolver o hábito de
os corretos ensinamentos e as adequadas ler e estudar a Bíblia sistematicamente contribuirá
interpretações das Sagradas Escrituras (Bíblia para um bom acompanhamento daqueles que
Sagrada), objetivando alcançar aqueles que estão sofrendo. Tendo o desejo de desenvolver
sofrem em determinados momentos as suas ou fortalecer o hábito de consultar, primeiro para
vicissitudes, experimentando as pressões da vida si mesmo, as Sagradas Escrituras, os conselheiros
contemporânea. Antes, no entanto, é necessário precisam conhecer algumas técnicas que estão
mencionar a importância da Palavra de Deus, à disposição para uma intervenção segura e
revelada nas páginas da Bíblia Sagrada, para o responsável junto às pessoas que procuram por
êxito do trabalho de aconselhamento pastoral. esse ministério.

A pessoa que deseja realizar um efetivo trabalho de Gary Collins, citado anteriormente, pode auxiliar
aconselhamento, cujos resultados serão observados mais uma vez na compreensão dos elementos
no amadurecimento gradativo do outro, precisará básicos inerentes ao processo de aconselhamento
apropriar-se de um hábito de leitura e estudo pastoral. Collins afirma em seu livro que “o
sistemático da Bíblia Sagrada. Tal leitura e estudo aconselhamento é, primariamente, uma relação em
não visam, apenas, ao conhecimento textual para que uma pessoa, o ajudador, busca assistir outro
orientar a pessoa em aconselhamento, mas ao ser humano nos problemas da vida”, (COLLINS,
fortalecimento do conselheiro ou da conselheira p. 21-22). Essa assistência, que passa pela empatia
no desempenho de suas tarefas ao ajudar aqueles e cordialidade, exige um instrumental além da boa
que pedem auxílio em momentos difíceis. vontade daquele que se dispõe, efetivamente, a
ajudar. Os familiares, irmãos em Cristo da Igreja
Será na Bíblia que o conselheiro ou a conselheira
local e amigos, colocam-se à disposição inúmeras
encontrará respostas às situações delicadas que
vezes para ajudar. No entanto, falta-lhes (no que

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UNIDADE 01
pese demonstrarem uma verdadeira motivação) o aconselhamos falando, esta é com freqüência
conhecimento das técnicas adequadas para apoiar uma expressão da própria insegurança do
a pessoa no aconselhamento, principalmente, em conselheiro ou de sua incapacidade para tratar de
momentos de crise. situações ambíguas, ameaçadoras ou emocionais”,

Aconselhamento Pastoral
(COLLINS, p. 22). Ouvir é participar atentamente
O autor, então, sugere as seguintes técnicas:
do relato que o outro está apresentando durante o
1) Atenção atendimento. É perceber a narrativa, mas também
observar os gestos do aconselhado. Somente
Segundo a sua percepção, aqueles que atuam no saberá falar e responder algo que seja pertinente
aconselhamento devem procurar conceder total durante o processo de aconselhamento aquele
atenção ao aconselhado. Esta atenção passa, ou aquela que souber ouvir atentamente o outro,
necessariamente, pelo contato de olhos, quando a percebendo a sua comunicação verbal, como
conselheira ou o conselheiro pastoral demonstra também a mensagem que passa através dos gestos
o seu interesse pelo assunto, olhando diretamente corporais.
para a pessoa, sem, contudo, intimidá-la ou
constrange-la. O exercício da atenção passa, em Jesus Cristo durante o seu ministério terreno deu

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segundo lugar, pela postura corporal demonstrada outro significado a algumas coisas que faziam
pelo conselheiro ou pela conselheira, quanto parte de sua sociedade. Dentre essas coisas que
o corpo passa a mensagem de tranquilidade, foram (re) significadas por Cristo encontram-se
embora o tema da conversa seja tenso. Por fim, os mandamentos do Antigo Testamento, bastante
a atenção é transmitida durante o processo de conhecidos pelos seguidores do Senhor Jesus.
aconselhamento com gestos naturais, cuidando Em determinado momento, após ser questionado
para que não sejam excessivos, desviando a por um perito da Lei de Moisés sobre o maior
atenção para qualquer outra realidade, a não ser o mandamento, o Mestre afirmou: “Ame o Senhor,
processo de aconselhamento. o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a
sua alma e de todo o seu entendimento. Este é
O que se espera do conselheiro pastoral, em seu o primeiro e maior mandamento. E o segundo
trabalho de acompanhamento do outro, é estar é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a
por inteiro com a pessoa que ele está atendendo. si mesmo”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus
Deve evitar ser interrompido durante o processo, 22.37-39, p. 1304).
seja pessoalmente ou por telefone, como deve
evitar iniciar um atendimento preocupado com o Quando se pensa no ministério de aconselhamento
horário, em virtude de ter outros compromissos pastoral, parece natural associar as palavras
em seguida. A pessoa que procura ajuda no proferidas por Jesus Cristo, como citadas
aconselhamento pastoral procura alguém que anteriormente, à aplicação das técnicas no
possa dar-lhe a devida atenção, ajudando-a em manejo de intervenção. A naturalidade reside
suas inquietações. apenas na aparência, pois relacionar um genuíno
amor ao próximo com o manejo de técnicas no
2) Ouvir aconselhamento tem a ver com uma disposição
interior de colocar-se como elemento ajudador
Essa é a segunda técnica sugerida por Collins,
diante das carências humanas. Assim, é necessário
dizendo que “ouvir é um modo de dizer-lhe,
desejar, optar e agir com amor fraternal em
‘Eu me interesso’. Quando não ouvimos, mas
direção ao semelhante, buscando entender o seu

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UNIDADE 01
sofrimento e a dor que experimenta em algum Dos vários elementos que compõe a técnica de
momento de sua trajetória humana. responder eficazmente durante o processo de
ajuda, o autor cita 7 (sete) elementos.
Norman Geisler, autor de Ética Cristã, ao
Aconselhamento Pastoral

considerar as contribuições de Joseph Fletcher, São eles: a) saber orientar; b) ter a capacidade de
sobre o situacionismo no contexto da Ética, analisa refletir; c) saber perguntar; d) estar apto a confrontar;
uma das proposições dessa posição quando diz e) ter o conhecimento para informar; f) desenvolver
que o amor ao próximo não tem a ver com o a habilidade para interpretar, e g) conseguir apoiar
gostar dessa mesma pessoa, pois “amor é uma na hora certa. Todos esses elementos, na visão
atitude e não um sentimento”, (GEISLER, p. 56). de Collins, fazem parte da técnica de responder
Se para alguns que defendem o situacionismo o amor com relevância durante um atendimento ou numa
é uma atitude e não somente um sentimento, o intervenção de aconselhamento pastoral.
mesmo não se pode dizer quando se pensa no
Podemos fazer alguns breves comentários sobre
amor pelo viés das ciências humanas, quando,
estes sete elementos dizendo que a orientação não
em determinados momentos, amar alguém é
se caracteriza, necessariamente, em dizer ao outro
demonstrar um sentimento singular pela pessoa.
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o que ele deve fazer ou deixar de fazer. Assim,


Assim, pode-se dizer que amar o seu próximo é,
orientar não é impor a vontade do conselheiro
além de sentir algo por ele, fazer algo em direção a
ou conselheira sobre a vontade do aconselhado,
ele, mesmo que isso implique não gostar dele ou,
mas auxiliar a pessoa a encontrar as melhores
sobretudo, não concordar com as suas atitudes.
alternativas diante dos conflitos pelos quais está
Cabe, neste caso, lembrar da empatia com relação
passando. Isso remete a capacidade de refletir
ao outro no processo de aconselhamento, visto e
de forma adequada sobre o que se passa com
comentado anteriormente.
a pessoa em aconselhamento e o que está ao
3) Responder redor dela. Deve-se refletir também sobre as
possíveis origens dos problemas enfrentados por
A partir de uma disposição e uma postura que
ela. Quanto à habilidade na formulação de uma
exaltam o amor em direção ao próximo, visando à
perguntar pertinente, que ajude no processo de
realização de benefícios na vida da pessoa, pode-se
aconselhamento, precisamos entender que elas
pensar em outras duas técnicas sugeridas por Gary
(as perguntas) serão mais consistentes à medida
Collins, que complementam as primeiras, como
que o conselheiro ou a conselheira obtiver um
tratadas anteriormente: Responder e Ensinar.
conhecimento mais amplo de cada caso, o que
Na percepção de Collins, a pessoa que trabalha com demanda tempo junto ao aconselhado. Perguntas
aconselhamento precisa desenvolver a capacidade levam a respostas, e algumas colocações feitas
de responder adequadamente, focando o processo pelas pessoas em aconselhamento demandam
de ensinar que está presente no processo de ajuda uma capacidade por parte da conselheira ou do
ao outro. Assim, uma atenção cuidadosa com conselheiro em confrontar as afirmações feitas.
relação à fala do outro permitirá ao conselheiro Cabe, lembrar, no entanto, que confrontar não
ou conselheira responder e/ou ensinar de maneira significa exercer qualquer tipo de julgamento
adequada diante dos anseios e das demandas sobre a vida e o comportamento da pessoa que
daqueles que procuram no aconselhamento solicitou ajuda. Nesse caso, confrontar o outro é
pastoral o apoio diante dos seus problemas. ajudá-lo a pensar em suas decisões, o que demanda
conhecimento para informar. Sobre este elemento

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UNIDADE 01
(o informar), é suficiente dizer que aqueles que ela aprende a enfrentar os problemas da vida”,
ministram na área de aconselhamento pastoral (COLLINS, p. 24). Dessa forma, os conselheiros
precisam, necessariamente, estudar e ler sobre pastorais são aqueles que usam o ensinamento
outras áreas do conhecimento humano, tais como: para facilitar o amadurecimento das pessoas que

Aconselhamento Pastoral
filosofia, antropologia, sociologia e psicologia, se sujeitam ao processo de aconselhamento. Vale
entre outras áreas. A base de seu conhecimento é repetir que é importante destacar que a técnica de
a teologia, fundamentada nas orientações bíblicas, ensinar não deve ser confundida com a ação de dizer
mas isso não representa dizer que não devem ao outro o que ele deve fazer ou deixar de fazer.
ter um bom conhecimento sobre o ser humano, A técnica de ensinar caracteriza-se por auxiliar o
também focado em outras áreas além da teológica. outro a perceber a dimensão de suas dificuldades
Assim, bem preparados, os conselheiros pastorais e buscar soluções saudáveis, utilizando-se dos
saberão interpretar algumas colocações feitas recursos ao seu dispor.
pelos que estão em processo de aconselhamento,
Os conselheiros pastorais podem desenvolver
podendo apoiá-los em sua trajetória de superação
qualidades pessoais que, aliadas às técnicas de
pessoal, conjugal e familiar.
aconselhamento, produzirão bons resultados no

15
4) Ensinar processo de ajuda àqueles que experimentam
dificuldades em algumas circunstâncias da vida.
Quanto à quarta técnica apontada por Collins,
Tais conselheiros colocam-se à disposição de
que considera a habilidade de ensinar durante
Deus, junto ao seu semelhante, para que soluções
o aconselhamento, podemos ler: “Todas essas
adequadas sejam pensadas, discutidas durante o
técnicas são na verdade formas especializadas
aconselhamento e aplicadas na vida daqueles que
de educação psicológica. O conselheiro é um
experimentam momentos delicados em seu viver.
educador, ensinando através da instrução e
orientando o aconselhado à medida que ele ou

Considerações finais

Em nosso primeiro capítulo de estudo, percebemos e profunda por todos aqueles e aquelas que se
e analisamos três aspectos relacionados ao colocam em posição de ajuda do semelhante.
Aconselhamento Pastoral: a) entrando no universo Além da disposição e “boa vontade”, que são
do aconselhamento pastoral; b) requisitos para o importantes, é necessário que os conselheiros
desenvolvimento do aconselhamento pastoral, e desenvolvam requisitos pessoais para auxiliarem
c) a Bíblia e algumas técnicas no Aconselhamento outras pessoas. A “boa vontade” é importante,
Pastoral. No desenvolvimento de nosso estudo mas as demandas do aconselhamento pastoral
sobre tema tão relevante no ministério cristão, exigem um preparo específico dos conselheiros.
teremos a oportunidade de considerar outros Assim, duas coisas são fundamentais para o
aspectos, também muito importantes. desenvolvimento de um bom processo de
aconselhamento: conhecimento e aplicação dos
O importante, nestas considerações finais de
ensinamentos da Bíblia, e o aprimoramento com
nosso capítulo, é entender que o aconselhamento
relação a técnicas básicas para o acompanhamento
pastoral constitui-se num universo complexo, que
dos aconselhados.
precisa ser compreendido de forma mais ampla

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UNIDADE 01

Indicações culturais

Procure identificar num exemplar de jornal, que perguntas: a) qual a postura de um conselheiro ou
Aconselhamento Pastoral

circula diariamente, ou numa revista de circulação conselheira pastoral diante deste quadro familiar
semanal, algum tema que discuta questões que ou relacional? b) que referências bíblicas poderiam
envolvem famílias e relacionamentos. Leia a ser aplicadas ao caso identificado no jornal ou
reportagem ou a matéria, procurando aplicá-la revista?
ao aconselhamento pastoral, respondendo a duas
16

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UNIDADE 01
Atividades

Atividade de Auto-avaliação

Aconselhamento Pastoral
Identifique nas questões a seguir a única resposta correta:

1. De quem é a afirmação: “podemos definir o aconselhamento como uma atividade com o objetivo de ajudar aos outros
em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado”?

a) Howard Clinebell.

b) Gary Collins.

c) Merval Rosa.

d) Roger Hurding.

17
2. Gary Collins indicou três qualidades que o conselheiro ou a conselheira pastoral deve desenvolver. Quais são estas
qualidades?

a) cordialidade; simpatia e uma boa técnica.

b) sinceridade, objetividade e assertividade.

c) cordialidade, sinceridade e empatia.

d) todas as opções anteriores.

3. De quem é a frase: “o aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma pessoa, o ajudador, busca assistir
outro ser humano nos problemas da vida”.

a) Norman Geisler.

b) Howard Clinebell.

c) Gary Collins.

d) Larry Crabb.

4. As quatro técnicas que podem ser utilizadas no aconselhamento pastoral, segundo Gary Collins são:

a) atenção; ouvir; responder e ensinar.

b) acolher; ouvir; responder e ensinar.

c) atenção; responder; ensinar e aconselhar.

d) ouvir; responder; ensinar e conversar.

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UNIDADE 01

Questão de Reflexão

Vimos que, para Gary Collins, “a Bíblia contém vários exemplos de necessidades humanas”, pois “através
Aconselhamento Pastoral

de suas páginas lemos a respeito de solidão, desânimo, dúvida, tristeza, inveja, violência, pobreza, doença,
tensão interpessoal e diversos outros problemas pessoais – algumas vezes manifestados na vida dos
maiores santos”, (COLLINS, p. 18).

Para a sua reflexão, procure compreender como Jesus Cristo aproximou-se e tratou de pessoas que
passavam por abatimentos e perdas.

Atividade de Aplicação

Anote em uma ficha, para o seu conhecimento, uma experiência de aconselhamento narrada no Antigo
Testamento e outra registrada no Novo Testamento.
18

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UNIDADE 02
Entendendo o aconselhamento pastoral

Aconselhamento Pastoral
Introdução

O trabalho de aconselhamento pastoral no América Latina, e de forma específica no Brasil.


contexto do cristianismo contemporâneo revela- A sociedade brasileira continua majoritariamente
se desafiador, como observado e analisado de confissão cristã, mas experimenta um trânsito
no primeiro capítulo. Embora os avanços religioso que chama a atenção dos estudiosos
tecnológicos do período chamado moderno, dos fenômenos religiosos na atualidade. Assim, o
e isto nos mais variados segmentos e áreas, as aconselhamento pastoral é desafiado a atuar neste
pessoas nos grandes centros urbanos ou até no contexto multifacetado da religiosidade brasileira.
contexto rural sentem a necessidade de estar ao Percebemos, então, que segmentos da sociedade,
lado de outras pessoas. Por outro lado, os índices de maneira geral, não conseguem dar todas as
sociológicos indicam um crescimento expressivo respostas às questões recorrentes do cotidiano das

19
das Igrejas Protestantes ou Evangélicas, na pessoas, com suas dores e sofrimentos.

Áreas de atuação do Aconselhamento Pastoral

É nesse contexto que o trabalho dos conselheiros seguro para que as pessoas possam falar de suas
pastorais passa a ter um profundo significado, dificuldades, sem o risco de que tais conversas
pois esse ministério propõe estar ao lado das tornem-se de conhecimento público. A segurança
pessoas que experimentam dificuldades pessoais do trabalho do conselheiro pastoral reside também
e sistêmicas, identificadas nas dificuldades que no sigilo das informações compartilhadas pelos
se revelam no contexto das crises conjugais, aconselhados.
familiares, profissionais e sociais. Trata-se de
Podemos apontar algumas áreas de atuação dos
um trabalho delicado, minucioso e algumas vezes
conselheiros pastorais: a) atendimento daqueles
imperceptível aos olhos dos que estão do lado
que frequentam ou são membros das igrejas locais
de fora do processo. Mas para aqueles que são
de confissão cristã; b) acompanhamento daqueles
acompanhados – os aconselhados – os resultados
que desenvolvem atividades de caráter acadêmico,
mostram-se eficazes, gerando uma melhor
nas escolas e universidades; c) apoio àqueles que
qualidade de vida e de relacionamentos sociais.
estão internados em instituições de saúde, em
Trata-se de um trabalho que exige, além função de doenças ou transtornos os mais diversos,
das habilidades e qualidades que podem ser atendendo também os familiares, e d) assistência
desenvolvidas pelos conselheiros ou pelas aos que atuam em instituições civis ou militares,
conselheiras, um ambiente adequado para o como também em determinadas empresas. Destas
bom desempenho do acompanhamento. O que quatro áreas de atuação dos conselheiros pastorais,
desejo dizer é que o processo de aconselhamento provavelmente, a mais conhecida seja o trabalho
pastoral não pode ser realizado de qualquer de aconselhamento pastoral no contexto religioso
forma ou em qualquer lugar, pois se trata de um ou eclesiástico. No entanto, cresce a demanda
acompanhamento que exige um lugar tranquilo e para o exercício do aconselhamento nas outras

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UNIDADE 02
áreas citadas, além de oportunidades que estão se e que também passam por momentos difíceis.
oferecendo, abrindo outros postos de atendimento Eles também devem ser alvos da atenção e do
para aqueles que passam por momentos difíceis cuidado dos conselheiros e conselheiras pastorais,
em sua jornada pessoal e familiar. que atentos, se colocam à disposição para ajudar
Aconselhamento Pastoral

a comunidade social que está ao redor da Igreja


Vamos tecer breves considerações sobre estas
local.
quatro oportunidades ou áreas de atuação
no aconselhamento pastoral. Como citado Aconselhamento pastoral no contexto
anteriormente, destacamos essas quatro áreas de acadêmico. Outra área de atuação dos conselheiros
atuação, embora saibamos que outras podem ser pastorais é o espaço acadêmico, tanto visando às
identificadas. famílias e aos seus filhos no Ensino Fundamental,
quanto aos estudantes que já alcançaram uma
Vamos pensar, objetivamente, no:
vaga numa dada instituição de formação superior,
Aconselhamento pastoral no contexto buscando a sua graduação e capacitação para
eclesiástico. As igrejas cristãs, não importando o desenvolvimento profissional. O trabalho de
o seu nome ou denominação, são caracterizadas aconselhamento pastoral nessa área já conta com
20

pelas especificidades das pessoas que escolhem algum reconhecimento, já que os conselheiros
congregar e frequentar aquela determinada são chamados e convidados para atender famílias,
comunidade religiosa. No contexto brasileiro, cujos filhos estão em processo de transição e
dentre tantas Igrejas Cristãs locais, as pessoas desenvolvimento. Os conselheiros pastorais
fazem escolhas e decidem conhecer, para depois podem ampliar a sua atuação, visando atender
optarem por se inserir naquela comunidade àqueles que estão matriculados numa faculdade ou
religiosa. A beleza e a força de uma igreja cristã universidade. Evidentemente, por serem espaços
local repousam, entre outras coisas, nesta de formação acadêmica e não religiosa, requer-se
diversidade de experiências e trajetórias de vidas, todo o cuidado daqueles que desejam atuar nessa
destacando-se a pluralidade de recursos e talentos esfera, sobretudo, tendo a autorização por escrito
que cada membro agrega à sua igreja local. Nesse dos órgãos gestores da instituição, permitindo a
sentido, as igrejas cristãs devem, recorrentemente, assistência dos conselheiros.
abrir as suas portas para que todas e todos possam
Todos os anos, milhares de jovens ingressam
conhecê-las e, no momento próprio, fazer a
nas faculdades e universidades de todo o Brasil.
escolha de formar, ao lado dos que chegaram
Muitos deixaram as suas cidades e famílias para
antes, as suas fileiras.
perseguirem o sonho da formação superior em
Assim, são para aqueles que já fazem parte da outra localidade, experimentando uma adaptação
igreja local que os conselheiros pastorais devem se cultural e social, que algumas vezes não é simples
voltar, sabendo que as lutas da existência podem e nem tão fácil de ser transposta. Alguns desses
atingir as pessoas em momentos específicos do jovens chegados à cidade, como também os da
ciclo da vida, desde o nascimento até o momento própria localidade, experimentaram variados
de ruptura social, no que chamamos morte. Mas sentidos e se perceberam diante de desafios
os conselheiros pastorais devem ficar atentos que precisam ser superados. Para alguns, a
também àqueles que não são filiados à Igreja possibilidade de conversar com um conselheiro
local, mas frequentam à comunidade religiosa, ou conselheira pastoral pode fazer uma grande
diferença no processo de adaptação e superação

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UNIDADE 02
das primeiras dificuldades enfrentadas no novo institucional e empresarial. As três áreas ou
ambiente estudantil. contextos anteriores são, provavelmente, os
mais conhecidos. Talvez, sejam esses contextos
Aconselhamento pastoral no contexto de
que recebam o maior número de contingente de

Aconselhamento Pastoral
saúde coletiva. Cresce a procura de conselheiros
conselheiros pastorais, pois existe, aparentemente,
pastorais que possam desenvolver suas atividades
uma tradição nessa esfera de atuação. No entanto,
na área de saúde coletiva, dando suporte e apoio
os mesmos recursos e técnicas aplicados ao
ao processo de recuperação daqueles que foram
aconselhamento pastoral em outras áreas podem
vitimados por doenças e acidentes. Aqueles que
ser utilizados também no aconselhamento
passam pelos postos de saúde coletiva ou são
empresarial. Não é incomum observamos a
internados em unidades de tratamento clínico,
presença da influência da psicologia nas empresas;
além dos cuidados dos profissionais da área de
como também podemos observar algumas
saúde, carecem do apoio e acompanhamento dos
empresas utilizando-se de orientações alternativas,
conselheiros pastorais, que podem se colocar ao
de cunho religioso, na busca de soluções para os
lado dessas pessoas no processo de restauração.
seus projetos e desafios.

21
Deve-se ter, no entanto, alguns cuidados: a) ter
A empresa, seja ela de grande ou pequeno
a permissão daqueles que são responsáveis pelo
porte, constitui-se na atualidade em outro
tratamento dos que se recuperam em tais unidades,
contexto de atuação dos conselheiros pastorais.
pois são eles que conhecem mais detalhadamente
O conhecimento que os conselheiros possuem
o quadro da pessoa e o seu estado de saúde; b)
sobre dinâmicas relacionais e pessoais, aliado
respeitar as normas estabelecidas pela instituição
ao conhecimento que possuem também dos
de saúde, não colocando em risco o processo de
ensinamentos da Palavra de Deus, pode ser um
recuperação das pessoas, e c) ter o consentimento
instrumento eficaz no acompanhamento das
da pessoa que recebe a visita do conselheiro ou
pessoas que trabalham em determinada empresa.
da conselheira pastoral para ministrar uma palavra
Muitas dessas pessoas se sentem pressionadas
de esperança e encorajamento, entendendo que
por vários fatores, como também podem chegar
alguns podem não estar dispostos à intervenção.
ao trabalho sobrecarregadas e desmotivadas, em
Aconselhamento pastoral no contexto função dos problemas pessoais e familiares.

Cuidados no processo de Aconselhamento Pastoral

Então, é importante considerar os seguintes do ministério, em qualquer localidade, precisam


elementos no processo de aconselhamento: observar alguns cuidados no desempenho de
a) o local adequado para o desenvolvimento suas atividades, tendo sempre em mente a ética
do processo de aconselhamento pastoral; b) a cristã, como também o zelo no acompanhamento
discussão do tempo durante o aconselhamento, daqueles estão passando por sofrimentos e
tendo em vista o uso das técnicas que já foram dificuldades.
mencionadas, e c) alguns perigos que cercam o
Duas passagens da Bíblia podem motivar os
processo de aconselhamento e os cuidados que o
conselheiros com relação ao local e tempo de
conselheiro ou a conselheira deve desenvolver.
aconselhamento. A primeira referência diz respeito
Aqueles que se propõem trabalhar nessa área a um homem – chamado Nicodemos – que

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UNIDADE 02
procurou conversar com Jesus Cristo no período consciente ou inconscientemente – a aceleração
da noite. O texto está no Evangelho de João, no compartilhamento dos assuntos introduzidos
capítulo 03. Inicialmente, somos levados a pensar pelas pessoas que buscam esse acompanhamento.
que aquele homem, influente em sua comunidade
Aconselhamento Pastoral

Já que o assunto abordado é o tempo, vem em boa


sócio-religiosa, procurou Jesus naquele período
hora a lembrança do sábio no Antigo Testamento:
por temer uma exposição social. Mas, pode-se
“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo
pensar que ele procurou Jesus naquele período
certo para cada propósito debaixo do céu... tempo
para ter maior tranquilidade para expor as suas
de calar e tempo de falar”, (BÍBLIA SAGRADA,
dúvidas. Afinal, no período da noite, Jesus não
NVI, Eclesiastes 3.01 e 07b). Essa orientação
estava cercado por multidões.
bíblica pode ajudar o conselheiro pastoral no uso
A segunda referência bíblica diz respeito ao do tempo, tanto para ouvir quanto para falar e
lugar tranquilo para buscar a Deus em oração, auxiliar a pessoa que é assistida em suas reflexões.
quando orienta: “Mas quando você orar, vá para Assim, também no aconselhamento há tempo para
seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está tudo, inclusive para calar ou falar; e esse tempo é
em secreto”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus trabalhado pelo conselheiro.
22

6.6a.). Algumas coisas devem ser ditas em lugares


Duas considerações finais quanto ao tempo. É
seguros e reservados, preservando a integridade
necessário ter em mente que há um momento
das pessoas que falarão de assuntos tão delicados.
para se iniciar o encontro (se possível marcado
São dois aspectos sob a responsabilidade dos com antecedência), como há um momento para
conselheiros pastorais, pois cabe a eles cuidar se encerrar esse mesmo encontro. Na prática, cada
para que o processo seja realizado em segurança, atendimento pode variar entre 50 ou 60 minutos,
escolhendo um lugar confortável e caracterizado com uma tolerância para mais ou para menos,
pela privacidade. O conteúdo do encontro deve dependendo do desenvolvimento dos assuntos
ser guardado em sigilo absoluto, respeitando a tratados. Não é uma norma ou regra absoluta,
privacidade do aconselhado durante o encontro. mas apenas bom senso no desenvolvimento do
Igualmente, é de responsabilidade da pessoa aconselhamento pastoral.
que conduz o aconselhamento desenvolver uma
Esse tempo de atendimento precisa ser tratado
sensibilidade com relação ao tempo durante a
entre as duas partes envolvidas no processo: o
entrevista.
conselheiro ou a conselheira e o aconselhado.
Nesse último caso, destaca-se o tempo como A segunda consideração é quanto ao tempo
elemento presente em todos os eventos, não adequado para fazer uma interpretação daquilo
somente com relação à duração do encontro em que é dito pela pessoa em aconselhamento: a
si, mas também com relação à percepção que sensibilidade do conselheiro pastoral determinará
os conselheiros pastorais têm para entender que se uma interpretação deve ser feita em dado
algumas coisas serão trabalhadas num período momento, ou reservada para outro momento mais
maior ou menor, dependendo da intensidade adequado à compreensão daquela ou daquele que
e dos significados das questões colocadas, está em acompanhamento.
gradativamente, pelo aconselhado. O que se
Assim, uma pergunta mostra-se pertinente:
quer dizer, basicamente, é que o conselheiro ou
quais os perigos que rondam o processo de
a conselheira deve cuidar para não provocar –

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UNIDADE 02
aconselhamento? Quando se depara com essa que está numa posição superior à posição do
questão, fica evidente que o trabalho realizado aconselhado. Desenvolver esse tipo de sentimento
por homens e mulheres, que abraçam esse é prejudicial no processo de ajuda ao próximo.
tipo de ministério no contexto do cristianismo

Aconselhamento Pastoral
Uma postura de negligência da conselheira
contemporâneo, não está imune aos riscos e
com leituras que ajudam a atualizar-se sobre
tensões que cercam outras atividades profissionais
as questões humanas. Outro risco é negligenciar
ou relacionadas ao ministério da Igreja local.
o constante aprimoramento no trabalho de
Embora existam alguns riscos, que serão aconselhamento cristão, deixando de ler obras
mencionados e comentados brevemente no texto, atualizadas que contribuem para uma maior
deve-se pensar que a dependência com relação a reflexão no aconselhamento pastoral.
Deus, por parte do conselheiro ou da conselheira,
A ausência de sensibilidade com relação
é fundamental para superar tais tensões. Vale
à dor do outro. Com o passar do tempo e
lembrar também que será no exercício desse
com as constantes intervenções por parte da
ministério que a pessoa, que se dispõe a fazer
conselheira, como também do conselheiro, pode-
tal trabalho, buscará habilitar-se constantemente,

23
se experimentar – e isso de forma inconsciente –
preparando-se para identificar e desviar-se desses
uma ausência de sensibilidade com relação à dor
riscos.
daqueles que procuram ajuda no aconselhamento.
Dos muitos riscos que cercam o trabalho de Esse risco existe, pois o conselheiro lida
aconselhamento, podem ser indicados os seguintes: recorrentemente com pessoas em estado de
a) O sentimento de superioridade do conselheiro angústia, tornando-se esse quadro rotineiro em
com relação ao aconselhado; b) a negligência da seu trabalho.
conselheira ou do conselheiro com leituras que
Imaginar que está livre de sofrer com situações
ajudam a atualizar-se sobre as questões humanas;
semelhantes às situações compartilhadas
c) a ausência de sensibilidade com relação à dor
pelas pessoas que buscam ajuda no processo
do outro, e d) o pensamento dos conselheiros
de aconselhamento. O último risco que pode
que acreditam que não vão sofrer com situações
ser identificado tem a ver com o pensamento de
semelhantes às situações compartilhadas pelas
que algo semelhante ao vivido pelo aconselhado
pessoas que buscam ajuda. Assim, alguns breves
nunca vai acontecer com o conselheiro, pois ele
comentários tornam-se importantes para uma
está acima de tais implicações.
melhor compreensão desses riscos.
Dessa forma, permanecendo atento aos riscos que
O sentimento de superioridade do conselheiro
foram mencionados, ao mesmo tempo em que
com relação ao aconselhado. A pessoa que
percebe outras dificuldades, aqueles que trabalham
trabalha no acompanhamento daqueles que
com o aconselhamento pastoral estão aptos para
passam por dificuldades, em algum momento,
atuar com competência e misericórdia junto às
pode – de forma equivocada – desenvolver um
pessoas que buscam esse ministério de apoio.
sentimento de superioridade, pois considera

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UNIDADE 02

Considerações finais

Neste capítulo, consideramos brevemente desenvolvendo-se até o estado de atenção ou alerta,


Aconselhamento Pastoral

algumas áreas ou contextos relacionados ao sobretudo, com relação à sensação de que aquela
aconselhamento pastoral, partindo do contexto situação numa vai atingi-los. Tomar consciência
eclesiástico (Igreja local) até entendermos as do sofrimento que experimentamos e das lutas
oportunidades associadas ao aconselhamento que enfrentamos nos fortalecerá, capacitando-nos
empresarial. nos processo de aconselhamento pastoral junto
àqueles que também estão com dores na alma e
Vimos também que existem alguns equívocos
no corpo.
que os conselheiros pastorais devem evitar,
começando com o sentimento de superioridade,

Indicações culturais
24

Os Alcoólicos Anônimos – AA – realizam um trabalho muito importante no processo de recuperação de


pessoas que enfrentam problemas com a dependência do álcool.

Visite o site dos Alcoólicos Anônimos no Brasil e procure informações sobre o programa desenvolvido
por eles.

Disponível em: <http://www.alcoolicosanonimos.org.br/>.

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UNIDADE 02
Atividades

Atividade de Auto-avaliação

Aconselhamento Pastoral
Identifique nas questões a seguir a única resposta correta:

1. Podemos apontar as seguintes áreas de atuação dos conselheiros pastorais:

a) atendimento aos que frequentam ou são membros das igrejas locais.

b) acompanhamento no contexto acadêmico, nas escolas e universidades.

c) apoio àqueles que estão internados em instituições de saúde.

d) Em todas estas áreas, os conselheiros pastorais podem atuar.

2. Que cuidados os conselheiros pastorais devem ter durante o aconselhamento?

25
a) atender num local adequado e atender as pessoas apenas uma única vez.

b) atender num local adequado e contar com a presença de outro conselheiro durante o atendimento.

c) atender num local adequado e esclarecer sobre o tempo de cada encontro de aconselhamento.

d) esclarecer sobre o tempo de cada encontro no processo de aconselhamento e nunca atender menos
do que cinco vezes uma mesma pessoa.

3. Dos riscos que cercam o trabalho de aconselhamento, podemos indicar os seguintes:

a) não alcançar o sucesso na proposta e resultados do aconselhamento.

b) o sentimento de superioridade e a ausência de sensibilidade com relação ao outro.

c) não obter o reconhecimento público sobre o trabalho realizado.

d) ficar curioso com relação às histórias de vida das pessoas.

4. Que cuidados os conselheiros pastorais precisam ter no contexto de saúde coletiva?

a) permissão daqueles que são responsáveis pelo tratamento dos que se recuperam.

b) respeitar as normas estabelecidas pela instituição de saúde.

c) ter o consentimento da pessoa que recebe a visita do conselheiro ou da conselheira.

d) todas as opções anteriores.

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UNIDADE 02

Questão de Reflexão

Vimos que a oração é muito importante para o amadurecimento humano, como fomos orientados
Aconselhamento Pastoral

pelo texto bíblico: “mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está
em secreto”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 6.6a.). Mas como orientar aquelas pessoas que não
desenvolveram o hábito da oração particular e nem da leitura da Bíblia?

Atividade de Aplicação

Anote em uma ficha, como material de apoio, cinco referências bíblicas, tanto do Antigo Testamento
quanto do Novo Testamento, que indicam a importância da oração para o processo de crescimento
pessoal.
26

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UNIDADE 03
O aconselhamento pastoral e as emoções

Aconselhamento Pastoral
Introdução

Consideramos, anteriormente, os seguintes Cabe dizer que, embora os conselheiros pastorais


aspectos relacionados ao aconselhamento pastoral: realizem o seu trabalho junto às pessoas
a) o papel do conselheiro ou da conselheira arrependidas e perdoadas por Deus, ainda assim
pastoral, considerando os requisitos e algumas tais pessoas podem experimentar alguma forma
técnicas no processo de aconselhamento; b) o de angústia ou algum tipo de crise. Assim,
processo de aconselhamento, focando o local, a inicialmente, podemos afirmar que problemas
duração do encontro e os riscos relacionados a esse vividos no cotidiano não são crises, mas algo que
trabalho ministerial. São esses elementos básicos todos nós experimentamos em algum momento
que nortearão aqueles que se sentem motivados de nossa trajetória de vida. Mas vale lembrar
a trabalhar com pessoas e sistemas conjugais ou também que determinados problemas podem se

27
familiares, apresentando-se como instrumento de transformar em crises.
apoio no processo de ajuda ao próximo.

As crises como temas no Aconselhamento Pastoral

Mas, o que é uma crise? O presente capítulo propõe caracterizado principalmente por: uma
responder essa questão, buscando compreender as incapacidade do indivíduo, família ou grupo
crises na atualidade. Propomos, então, conceituar social para resolver problemas usando métodos e
crises, partindo de uma proposta de tipologia. estratégias costumeiras; e um potencial para gerar
Num segundo momento, propomos analisar as resultados radicalmente positivos ou radicalmente
possibilidades de ajudar as pessoas no sentido negativos”, (MALDONADO, p. 15).
de prevenir algumas crises, sobretudo, aquelas
A partir do conceito apresentado por Maldonado,
que podem ser evitadas. Finalmente, avançamos
podemos chegar a algumas considerações
no sentido de considerar uma crise como
relevantes: a) o conceito de problema não é
oportunidade de crescimento, compartilhando
o mesmo de crise, mas alguns problemas mal
essa visão durante o processo de aconselhamento.
conduzidos ou elaborados podem originar o
Assim, como podemos conceituar crise? Existem aparecimento de determinadas crises, exigindo
vários conceitos que podem ser utilizados, do sistema uma atenção adequada; b) todas as
diferenciando-se a partir da descrição do que pessoas experimentam algum tipo de crise durante
seja uma crise, até considerar as consequências a sua trajetória de vida, mas o que muda é a
da mesma sobre a pessoa. Pensando no intensidade dessas crises; c) o desafio proposto
aprimoramento do processo de aconselhamento, para cada pessoa não é evitar a crise, que algumas
optou-se pelo conceito de Jorge Maldonado. vezes torna-se impossível, mas administrá-las da
melhor forma possível, e d) o crescimento pode
Maldonado afirmou que “crise é um estado
ser a melhor saída para uma crise, dependendo da
temporal de transtorno e desorganização
maneira como as pessoas ou sistemas familiares

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UNIDADE 03
encaram tal situação delicada em suas vidas. É importante que no processo de aconselhamento
pastoral as pessoas se sintam seguras para
Pensando no aconselhamento pastoral em
compartilhar de suas crises pessoais ou conjugais,
momentos de crise, podemos considerar a
como também sobre aquelas que trazem
Aconselhamento Pastoral

importância de dois textos bíblicos, que ajudam


desconfortos no contexto familiar. É igualmente
no processo de intervenção quando de crises
importante que os conselheiros pastorais não
pessoais ou sistêmicas. O primeiro é o texto do
vejam nas crises, necessariamente, um problema
Salmo 139.01-05; 13-16 e 23-24, e o segundo é o
espiritual ou religioso, como se os distúrbios
texto de Provérbios 4.01-04; 20-23.
indicassem a afastamento das pessoas com relação a
Anteriormente lembramos que problemas pessoais Deus e vice-versa. Algumas crises atingem pessoas
não têm o mesmo sentido de crises pessoais. O fiéis e comprometidas com o Reino de Deus,
mesmo se aplica às famílias: um problema familiar não caracterizando falta de fé ou a existência de
não tem o mesmo sentido de crise familiar. Dessa algum pecado não confessado. Lamentavelmente,
forma, problemas não são, necessariamente, alguns “conselhos” pastorais são dados a partir
crises; mas alguns problemas, como enfatizado de uma premissa que não se sustenta: toda crise
28

anteriormente, podem se transformar em crises, é resultado de pecado não confessado! Essa base
inclusive em crises recorrentes. Entender como as de interpretação equivocada, que associa a crise
crises se manifestam e a sua tipologia pode auxiliar a um pecado não confessado, não tem base nas
no trabalho de aconselhamento pastoral. Escrituras Sagradas – a Bíblia.

Uma tipologia sobre as crises

O presente capítulo propõe indicar as quatro acidentes no trabalho, entre outros. Circunstâncias
formas de crise consideradas por Jorge Maldonado, que podem atingir todas as pessoas, independente
apresentadas e discutidas em seu livro Crises e perdas de sua condição religiosa ou espiritual.
na família, ajudando a refletir sobre esse tema no
Crises de desenvolvimento
processo de aconselhamento pastoral. De acordo
com Maldonado, os quatro tipos de crise são: As crises de desenvolvimento atingem as pessoas
e os sistemas em todos os lugares, já que são
Crises circunstanciais
tidas como universais, indicando certa previsão.
Segundo o autor, basicamente as crises Tais crises não podem ser detidas ou produzidas
circunstanciais podem ser tidas como acidentais e prematuramente, mesmo que a pessoa pense que
ocorrendo de forma inesperada. Outro elemento pode se preparar para tal evento. Como exemplos
que pode estar associado às crises circunstanciais de crises do desenvolvimento podem ser indicadas
é o fator contextual ou ambiental. As crises as variações e mudanças durante as etapas do ciclo
circunstanciais, em determinados momentos, da vida, pois as pessoas vão-se transformando à
não podem ser evitadas pelas pessoas e pelos medida que amadurecem e se desenvolvem. Assim,
sistemas conjugal e familiar, gerando transtornos as crises do desenvolvimento estão associadas à
e sofrimentos às pessoas envolvidas. Como evolução humana.
exemplos de crises circunstanciais, podem ser
Crises estruturais
apontados os fenômenos naturais e sociais, como
tempestades, terremotos, perdas de empregos,

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UNIDADE 03
São crises mais difíceis de serem percebidas família com substâncias químicas, podendo gerar
e, por isso mesmo, de serem acompanhadas dependência. Neste último caso, o abuso de tais
no processo de aconselhamento pastoral. Elas substâncias pode prejudicar o desenvolvimento
foram consideradas por Maldonado como crises saudável do indivíduo e comprometer todo o

Aconselhamento Pastoral
recorrentes, revelando a resistência que temos equilíbrio do sistema familiar.
às mudanças que são necessárias ao longo de
Após identificarmos esses quatro tipos de crise,
nossa trajetória de vida. Em determinados
partindo das reflexões e contribuições de Jorge
momentos ou etapas da vida humana, as pessoas
Maldonado, podemos perceber que o importante
desenvolvem formas de se comportar ou de se
é que os conselheiros pastorais podem ter o
relacionar caracterizadas pela rigidez, produzindo
pensamento e o sentimento de esperança, e tal
resistência às mudanças indicadas e orientadas
pensamento pode ser compartilhado com aqueles
durante o processo de aconselhamento pastoral.
que passam por algum tipo de crise em sua vida. O
Embora as crises estruturais apresentem tais
trabalho daqueles que se colocam ao lado dos que
características, como a recorrência e a resistência
sofrem não é questionar a origem ou o motivo da
às mudanças, os conselheiros e conselheiras
crise, mas entendê-la e ajudar a pessoa a superá-la.

29
pastorais devem continuar o seu trabalho com
esperança, acreditando que resultados positivos Igualmente importante é mostrar à pessoa que
podem ser alcançados com o acompanhamento está em aconselhamento que ela pode transformar
do aconselhado. a sua crise em instrumento de superação. A crise,
por ser temporal, não é permanente, embora
Crises de desvalia
se revele como uma força geradora de dor ou
Este tipo de crise exige, além da intervenção sofrimento, marcando a trajetória das pessoas que
do aconselhamento pastoral, a ajuda de outros estão ao nosso redor e, algumas vezes, a nossa
profissionais especializados, pois ocorrem quando própria trajetória de vida. Assim, o conselheiro e
o sistema se percebe diante de familiares com a conselheira pastoral podem entender e trabalhar
características disfuncionais ou dependentes. com as suas situações de crise, encontrando-
Em nossa sociedade contemporânea, nota-se o se habilitados para ajudar aqueles que ainda não
aumento do número de pessoas que dependem superaram as suas dificuldades. Cabe, então, ao
umas das outras, exigindo um tipo de apoio e conselheiro notar a possibilidade de transformar
acompanhamento durante a maturidade. Isso se a sua experiência de crise em ferramenta
dá pela idade avançada, como no caso dos adultos motivacional, colocando-se ao lado do outro que
idosos, ou pelo envolvimento de algum membro da ainda sofre.

Reações da estrutura humana: o ciúme

Quando Paulo escreve aos cristãos na Galácia, ele os desafios de uma vida segundo a Palavra de
o faz lembrando o Fruto do Espírito Santo, dizendo Deus. Os desafios dos cristãos no presente são
que tal fruto constitui-se de: “amor, alegria, paz, semelhantes aos desafios dos cristãos no passado,
paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, considerando as diferenças sócio-culturais de
mansidão e domínio próprio”, (BÍBLIA épocas e lugares distintos. No entanto, na vida do
SAGRADA, NVI, Gálatas 5.22-23, p. 1545). cristão não existe apenas amor, alegria e paz, mas
Paulo colocou diante dos cristãos do passado podem ser encontrados, em alguns momentos,

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UNIDADE 03
sentimentos como ciúme e inveja. Os conselheiros a partir das narrativas bíblicas. A Bíblia pode ser
pastorais precisam lidar com tais sentimentos, um instrumento valioso quando se deseja pensar
primeiramente em suas vidas, como também na presença do ciúme entre nós. Temos duas
ajudar os aconselhados a lidar também com tais referências que apontam para comportamentos
Aconselhamento Pastoral

sentimentos quando identificados. que tiveram origem no ciúme: a) Gênesis 37.04; e


b) Lucas 15.28.
Há um pensamento comum, embora equivocado,
que defende que o ciúme só atrapalha o casamento No primeiro texto, que remete a uma situação
ou qualquer outro relacionamento quando é familiar descrita no Antigo Testamento, é possível
muito intenso e doentio, mas se ele for controlado ler sobre os sentimentos dos irmãos de um jovem
pode apimentar a vida conjugal. Essa forma de chamado José, pois perceberam que o pai daquela
pensar é muito comum em nossos dias, sendo numerosa família demonstrava um afeto diferente
compartilhada por muitos casais na atualidade, ou especial com relação a um dos filhos, não
alguns em comunidades religiosas de confissão demonstrando uma afetividade semelhante com
cristã. Sempre que tenho oportunidade, procuro relação aos demais. O segundo texto, que é uma
questionar como alguém consegue medir a parábola do Novo Testamento, coloca no centro da
30

intensidade do ciúme para saber se ele é bom ou narrativa a figura de um pai e os comportamentos
ruim, ou ainda se ele é intenso e doentio, como distintos de seus dois filhos. Em determinado
também se o ciúme pode ser ou não controlado. momento da narrativa, o comportamento do filho
Podemos perceber, em determinadas situações, é mais velho com relação ao caçula fica evidente, já
que algumas pessoas não têm uma compreensão que o relato indica um sentimento de desprezo
muito clara da origem do sentimento que para com aquele que retornara de sua viagem,
chamamos ciúme e nem sabem também como após ausentar-se dos vínculos e compromissos
tratá-lo no contexto de um relacionamento familiares.
conjugal que busca o crescimento.
Embora os textos bíblicos não tragam a expressão
Visando a uma compreensão básica sobre o que traduzimos como ciúme, o sentimento pode
sentimento de ciúme, propomos algumas breves ser identificado na análise do pensamento daqueles
considerações. Cabe lembrar que tais considerações que estão inseridos nos relatos: os irmãos. Além de
visam motivar àqueles e àquelas que desejam outros sentimentos, o ciúme pode estar presente
atuar no ministério de aconselhamento pastoral, também na forma como os irmãos se comportaram
entendendo que outras leituras complementares com relação a outro membro da família, partindo
devem ser buscadas para uma compreensão mais das narrativas sobre os personagens das duas
detalhada dessa reação humana. histórias da Bíblia. É impossível negar a existência
do ciúme nos relacionamentos humanos, seja
Primeira consideração: o ciúme exerce alguma
entre amigos e pessoas próximas ou entre pais e
influência no relacionamento conjugal ou
filhos, como também entre marido e mulher.
familiar.
Assumir a existência do ciúme nos relacionamentos
O ciúme esteve como está presente em vários
humanos não significa aceitá-lo como ele é, ou
episódios da trajetória da humanidade, fazendo
mesmo conformar-se à sua influência sobre os
parte dos relatos históricos e bíblicos, sendo
relacionamentos. Aceitar a presença do ciúme é
percebido nos primeiros registros da humanidade,
procurar elaborar tal sentimento, não permitindo

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UNIDADE 03
que ele cause danos à estrutura emocional competição marcante com os irmãos pela atenção
das pessoas e, por conseqüência, aos sistemas e afeto dos pais; para isso ser considerado como
familiares. anormal, deve estar associado a um grau inusual
de sentimentos negativos. Em casos graves, isso

Aconselhamento Pastoral
Segunda consideração: conhecendo o ciúme e
pode estar acompanhado de franca hostilidade,
aprendendo a lidar com ele.
traumatismos físicos e/ou dolo e sabotagem do
Partimos do pressuposto de que o ciúme está irmão. Em casos mais leves, pode ser mostrado
presente nas relações interpessoais, inclusive no por uma forte relutância em compartilhar, falta
relacionamento conjugal. Assim, é necessário de respeito e escassez de interações amigáveis”,
conhecê-lo para lidar habilmente com ele. O (Classificação de Transtornos Mentais e de
desafio não é um relacionamento conjugal sem Comportamento da CID 10, p. 270).
os sentimentos tidos como negativos, mas um
Em outra vertente, Pierre Weil afirma que “o ciúme
relacionamento que cresce a partir da reflexão do
é baseado na desconfiança e num sentimento de
lugar desses sentimentos na vida dos cônjuges.
inferioridade”, (WEIL, p. 187). Para ele, a pessoa
E aqui cabe uma pergunta: como se origina o que sente ciúme revela uma autoestima reduzida,

31
ciúme no contexto relacional? O ciúme pode não demonstrando segurança suficiente para
surgir – latente ou manifesto – quando a dinâmica manter a pessoa querida e amada ao seu lado e
relacional inclui um terceiro elemento, também temendo perdê-la. Nesse caso, mais uma vez, o
chamado de “objeto”. Podemos voltar à narrativa sentimento de ciúme tem origem na insegurança
de José e seus irmãos. Os irmãos de José podem com relação a uma terceira pessoal ou “objeto”
ter desenvolvido aquele tipo de comportamento que passa a fazer parte do relacionamento.
porque se sentiram menosprezados ou inseguros
Quando pensamos em aconselhamento pastoral
diante do favorecimento do irmão mais jovem,
para os casais inseridos numa comunidade religiosa
visto como um filho predileto. Com relação à
cristã, duas situações podem ser colocadas: a) a
parábola conhecida como do “filho pródigo”, o
primeira é que o ciúme é um sentimento real no
filho mais velho não quis participar da celebração
íntimo de um dos parceiros ou cônjuges, já que
que o pai estava oferecendo ao filho caçula, pois
o outro deu motivos para tal desconfiança, em
pode ter pensando que perdera o seu lugar ao
razão de comportamentos inadequados dentro
lado do pai, com o retorno do outro. Essas são
do vínculo relacional, e b) na segunda situação, o
hipóteses com relação a um provável sentimento
ciúme também é um sentimento real no íntimo de
de ciúme nas narrativas bíblicas mencionadas.
um dos parceiros ou cônjuges, embora o outro não
Nesses dois exemplos, encontramos a inclusão tenha dado qualquer motivo para desconfianças,
de uma terceira pessoa no relacionamento. pois o seu comportamento não foi inadequado
Esse terceiro “objeto” é visto como ameaçador dentro do vínculo relacional.
por algumas pessoas, podendo gerar alguma
Chegamos à conclusão de que o sentimento de
insegurança na convivência entre duas partes. Na
ciúme pode estar presente quando existem motivos
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento
para se produzir alguma insegurança relacional,
da CID 10, podemos ler sobre um dos aspectos
mas ele também pode ser gerado quando não
associados à rivalidade entre irmãos: “Rivalidade
existem motivos aparentes para a sua existência.
e/ou ciúme entre irmãos pode ser mostrada por
Neste último caso, o sentimento de ciúme é real,

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UNIDADE 03
embora produzido a partir de uma desconfiança relacionamento amadurecido, mas a capacidade
infundada. Isto é, o sentimento é real, mas não há de lidar com ele e torná-lo um instrumento de
motivos identificáveis para tal sentimento, a não aproximação. Alguns mitos apontam para um
ser na mente da pessoa. casamento perfeito como um relacionamento
Aconselhamento Pastoral

livre de problemas, dores e sofrimentos. No


Surge, então, a ideia de triangulação, baseado
lugar de casamentos perfeitos podemos falar em
numa estrutura relacional que é objeto de
casamentos saudáveis, que revelam a capacidade
inúmeros estudos na área dos relacionamentos
de superar os problemas e vicissitudes da relação
humanos. A triangulação, que é estudada por vários
conjugal e familiar, inclusive quando o ciúme se
pesquisadores, remete a uma dinâmica relacional
instala.
que envolve três sistemas interdependentes.
No contexto do casamento ou da família, essa b) Identificar a presença do ciúme no
triangulação pode acontecer entre a esposa, o relacionamento, sem se acomodar, não é sinal
esposo e um terceiro elemento que é incluído de fraqueza pessoal ou conjugal. Nem sempre é
no relacionamento. O terceiro elemento nem possível evitar que o sentimento de ciúme se instale
sempre é um homem ou uma mulher, podendo entre os parceiros ou cônjuges, mas é possível
32

até ser um dos filhos, como algum outro “objeto” elaborar tal sentimento para que ele não abale a
tido como ameaçador ao equilíbrio do sistema. É estrutura do relacionamento ou do casamento.
importante lembrar que este “terceiro elemento”
c) O ciúme pode ser responsável por uma crise
na triangulação pode existir somente na mente de
conjugal, mas uma crise não significa rompimento
um dos envolvidos no vínculo relacional.
e sim oportunidade de crescimento relacional.
Otto Kernberg, em seu livro Psicopatologia das Jorge Maldonado comenta sobre três momentos
relações amorosas, argumenta que homens e mulheres que fazem parte do processo de crise: a pré-
temem a presença desse elemento que se inclui na crise, a crise propriamente dita e o período de
relação, inclusive gerando ameaças à qualidade de recuperação, conhecido como pós-crise. O
vida sexual do casal. estímulo ameaçador, que pode se manifestar pelo
ciúme, está no primeiro estágio do processo. A
Terceira consideração: aprendendo a
crise se instala em razão de algumas circunstâncias,
superar a força ou influência do ciúme no
dentre elas um determinado estímulo ameaçador
relacionamento conjugal.
à integridade da relação ou da própria pessoa e,
Outra pergunta que podemos responder é: por ainda, do casal.
que o ciúme é prejudicial ao relacionamento,
A crise não precisa ser vista como o fim de
como também ao casamento? Aqueles que
um relacionamento conjugal, mesmo quando
acompanham casais e famílias em aconselhamento
originada pelo ciúme. Ao contrário, a crise que é
pastoral sabem que existem muitas perguntas, mas
provocada pelo ciúme, pode ser o instrumento que
as respostas nem sempre são simples e objetivas,
permitirá compreender a origem e a força desse
indicando com clareza o caminho a seguir.
sentimento entre os companheiros de jornada
Por isso, para a pergunta anterior, propomos relacional e conjugal.
algumas observações que não são conclusivas:
Gosto de uma palavra que Jesus Cristo
a) Não é a ausência de ciúme que caracteriza um compartilhou durante o seu ministério terreno,

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UNIDADE 03
que se aplica aos sentimentos negativos e positivos, a verdade, e a verdade vos libertará”, (BÍBLIA
na busca do conhecimento pessoal: “Conhecereis SAGRADA, NVI, João 8.32, p. 1415).

Reações humanas: a autoestima

Aconselhamento Pastoral
Com um tema sugestivo – Rembrandt: e a arte da brilhante de artistas como Rembrandt, mas para
gravura – o Museu Oscar Niemeyer – MON –, a estruturação de cada pessoa. A imagem está
instalado na cidade de Curitiba, no Estado do presente em nosso cotidiano, e, a partir dessa
Paraná, fez uma exposição de parte do acervo imagem, elaboramos conclusões e estabelecemos
de gravuras de Rembrandt Harmenszoon van interpretações. Com certeza, guardamos na
Rijn (1606-1669). Naquele ano de 2004, tive memória algumas imagens que marcaram a
oportunidade de usar parte do dia para apreciar as nossa história de vida até o momento. E quando
noventa e três magníficas gravuras e duas matrizes nossa memória não consegue reter todas as
originais; sendo que as últimas eram duas peças lembranças de uma vida, da infância até a vida
em cobre sobre as quais o genial mestre holandês adulta, recorremos às fotos e a alguns objetos de
projetou toda a sua criatividade. valor afetivo, que nos reportam aos momentos

33
significativos de nossa existência.
Na entrada do salão que exibiu parte das obras-
primas de Rembrandt, o visitante recebia uma Então, gostaria de perguntar: qual a imagem que
lupa para poder apreciar – nos mínimos detalhes você tem de si mesmo? Ao olhar-se no espelho,
– os traços firmes e os contrastes entre o claro e além dos traços que dão singularidade à sua
o escuro, revelado em cada uma das gravuras em identidade, o que mais você consegue perceber?
exposição, muitas com temas religiosos. Vivemos uma época marcada pela exigência
de beleza estética, segundo padrões que foram
Lembrei-me do livro de Henri J. M. Nouwen, que
determinados por poucos, mas abraçados por
traz uma interpretação da história bíblica narrada
muitos. Vivemos a cultura da imagem perfeita,
em Lucas 15.11-32, contando da volta de um filho
que valoriza mais a aparência do que o interior
que deixou seu pai e irmão para sair pelo mundo
das pessoas. A imagem que cada pessoa tem de
em busca de aventuras e prazeres imediatos.
si está associada ao grau de autoestima que ela
Nouwen se propõe analisar a história de um retorno
desenvolve ao longo de sua vida.
para casa, a partir de um quadro que foi pintado
por Rembrandt. A obra do artista holandês, que Voltando a Gary Collins, no capítulo que trata
viveu durante o século XVII, tem como título da inferioridade e autoestima, o autor aponta
A volta do Filho Pródigo e está em exposição no para três conceitos que estão interligados:
museu Hermitage, em St. Petersburg, na Rússia. O autoconceito, autoimagem e autoestima. Para ele, o
autor de A volta do filho pródigo construiu toda uma equilíbrio emocional e o bem estar pessoal estão
compreensão do significado do discurso proferido relacionados ao conceito que cada um tem de
por Jesus Cristo, conhecido como parábola do si, a imagem que cada um faz de si e o amor
“Filho Pródigo”, após examinar, cuidadosamente, ou estima que cada um possui. E completa,
os detalhes da pintura de Rembrandt. afirmando que autoestima “refere-se à avaliação
que um indivíduo faz de seu valor, competência e
Fico pensando como a imagem é importante. Não
significado.” (COLLINS, p. 298).
somente para entender o que se passa na mente

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UNIDADE 03
Cabe lembrar que aquele que tem uma formação de si mesmo, ou de se valorizar e se amar. Esse
religiosa de confissão cristã está sempre atento a sentimento, que se transforma em comportamento,
demonstrar o amor que sente com relação a Deus, é percebido quando a pessoa tem um conceito
como também a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, elevado de si, tem uma imagem saudável de si e
Aconselhamento Pastoral

ampliando tal sentimento em direção ao próximo. passa a se gostar como é, embora as limitações
Afinal, essa foi uma das orientações deixadas por inerentes a todo ser humano.
Jesus Cristo, quando disse: “Amarás ao Senhor teu
A ciência avança indicando outras descobertas
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma,
sobre a estrutura e as redes neurológicas,
e de todo o teu entendimento. Este é o grande e
onde alguns agentes atuam como elementos
primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a
estimulantes, ou inibidores, produzindo
este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.”
substâncias que dão uma sensação de bem estar.
(BÍBLIA SAGRADA, NVI, Mateus 22.37-39, p.
Sem nos alongarmos nesta discussão, podemos
1304). Mas pode ser que alguém “se esqueça” de
considerar que as pessoas podem dar a volta por
demonstrar ou expressar esse mesmo amor com
cima quando o assunto é autoestima. Qualquer
relação a si mesmo.
mudança na vida, seja na vida de um jovem ou de
34

De maneira muito simplista é possível dizer um adulto com maturidade, exige certo grau de
que autoestima tem como significado gostar envolvimento e comprometimento.

Considerações finais

Neste capítulo, tivemos a oportunidade de humano. Dentre outras reações que podem ser
considerar o significado de “crise”, como também percebidas no desenvolvimento humano, optamos
a constituição de suas múltiplas formas, partindo por essas duas em razão de sua recorrência no
das reflexões de Jorge Maldonado. Os estudos processo de aconselhamento pastoral.
desenvolvidos pelo autor ajudam os conselheiros
Os conselheiros pastorais podem ficar atentos
pastorais na compreensão das dificuldades que
aos sinais de uma crise que se instala no sistema
os aconselhados enfrentam em determinados
conjugal ou familiar, como também podem
momentos de suas trajetórias de vida.
ficar alertas às múltiplas reações apresentadas
Avançamos, então, para analisar objetivamente pelos aconselhados, colocando-se ao lado de
a existência de duas reações humanas, presentes cada um deles no processo de superação de suas
no cotidiano das pessoas: a reação de ciúme e a dificuldades.
importância da autoestima no desenvolvimento

Indicações culturais

O Amor Exigente é um programa que procura dar apoio aos familiares de dependentes químicos,
procurando (re) organizar a estrutura familiar.

Visite o site do programa e procure conhecer as propostas apresentadas pelo Amor Exigente.

Disponível em: <http://www.amorexigente.org.br/>.

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UNIDADE 03
Atividades

Atividade de Auto-avaliação

Aconselhamento Pastoral
Identifique nas questões a seguir a única resposta correta:

1. Quem formulou o conceito de crise que se segue: “crise é um estado temporal de transtorno e desorganização caracterizado
principalmente por: uma incapacidade do indivíduo, família ou grupo social para resolver problemas usando métodos e
estratégias costumeiras; e um potencial para gerar resultados radicalmente positivos ou radicalmente negativos”?

a) Gary Collins.

b) Henri Nouwen.

c) Otto Kernberg.

35
d) Jorge Maldonado.

2. Jorge Maldonado indica quatro tipos de crise, que são:

a) da infância, da adolescência, da vida adulta e da vida de idoso.

b) econômica, material, existencial e espiritual.

c) circunstancial, de desenvolvimento, estrutural e de desvalia.

d) de desenvolvimento, de desvalia, relacional e familiar.

3. Para Pierre Weil, o ciúme...

a) é um sinal de confiança, que está presente em todos os relacionamentos.

b) é baseado na desconfiança e num sentimento de inferioridade.

c) é uma fantasia da mente humana, não exercendo qualquer influência sobre as pessoas.

d) é baseado na crise de desenvolvimento e nos traumas da infância.

4. Podemos dizer com relação às crises:

a) os cristãos sinceros nunca passam por crises.

b) os membros novos das igrejas estão mais vulneráveis às crises que os antigos.

c) os conselheiros pastorais precisam se preparar para ajudar as pessoas em crise.

d) os conselheiros pastorais nunca entram em qualquer tipo de crise.

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UNIDADE 03

Questão de reflexão

Na parábola bíblica de Lucas 15.11-32, podemos identificar três figuras principais: o pai, o filho mais
Aconselhamento Pastoral

velho e o filho mais jovem. Este último pede a sua parte dos bens e deixa a sua família, para viver uma
vida de acordo com a sua percepção. Faça uma reflexão sobre as dinâmicas relacionais numa família,
considerando a atitude de cada um destes três membros: o pai, o filho mais velho e o filho mais jovem.

Atividade de aplicação

Anote em uma ficha, como exercício de memória, os quatro tipos de crise indicados por Jorge Maldonado,
identificando as principais características de cada uma delas.
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UNIDADE 04
Aconselhamento pastoral e a sociedade

Aconselhamento Pastoral
Introdução

Quando se pensa na sociedade atual e nos durante o seu ministério terreno, quando orou
desdobramentos das escolhas que são feitas por em favor de seus discípulos: “Dei-lhes a tua
todos, percebemos as implicações e consequências palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são
de uma sociedade que vive uma modernidade do mundo, como eu também não sou. Não rogo
bastante dinâmica. que os tires do mundo, mas que os protejas do
Maligno”, (BÍBLIA SAGRADA, NVI, João 17.14-
É nesse contexto multifacetado e de profundas
15, p. 1430). Assim, é nesse contexto complexo
transformações sócio-políticas que os conselheiros
que o processo de ajuda se instala e se desenvolve,
pastorais desenvolverão o seu ministério. Cabe
favorecendo o amadurecimento do aconselhado.
lembrar as palavras proferidas por Jesus Cristo,

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O ciclo vital

Os desafios dessa sociedade caracterizada por aproximadamente, nove meses de uma gestação
inúmeras identidades, que não são rígidas, mas segura, numa íntima relação com a mãe, o bebê
flexíveis, manifestam-se durante o Ciclo Vital ou experimenta os primeiros momentos relacionais
o ciclo da vida. Esse ciclo começa no processo após o seu nascimento. Esse bebê também poderá
de constituição de outro ser, avançando para o encontrar uma família já organizada e constituída,
momento do nascimento, que caracteriza outra necessitando ser integrado e incluso no sistema.
forma de relacionamento do sujeito com o mundo, O nascimento marca uma etapa fundamental no
desenvolvendo-se pela infância, adolescência e desenvolvimento humano, pois exige do sistema
vida adulta, encerrando-se com a vivência da familiar uma adaptação necessária para que todos
morte, outra ruptura na trajetória da vida. Assim, os integrantes da família continuem em seu
do nascimento até a morte os dramas, as crises processo de desenvolvimento.
e as angústias são geradas no ambiente familiar,
Algumas crises do desenvolvimento podem surgir
podendo influenciar os comportamentos das
com a chegada de uma criança ao contexto familiar.
pessoas no contexto social.
Cabe dizer que essa criança não é um problema para
Dessa forma, o conselheiro ou a conselheira a família, mas como o sistema familiar percebe a
pastoral precisa conhecer as etapas básicas que chegada de um outro integrante será fundamental
fazem parte do Ciclo Vital, como também as suas para o processo de organização do grupo familiar.
principais características: O casal que está bem organizado no contexto
da vida conjugal precisa se preparar para uma
1ª Etapa – O nascimento
mudança na dinâmica relacional, pois um filho
Esse momento no ciclo da vida marca o ingresso ou uma filha constitui-se em mais um elemento
do ser humano no contexto de uma sociedade ou membro da família, que está crescendo. Tal
já adaptada, ou em estado de adaptação. Após, crescimento exige adaptações e ajustes para que

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UNIDADE 04
o filho ou a filha seja bem recebido como o mais como mais uma etapa no processo constituinte da
novo integrante daquele sistema familiar. organização familiar, mas é visto também como
um momento de ajustes importantes, sobretudo,
2ª Etapa – A infância
em razão do momento pelo qual passam os filhos
Aconselhamento Pastoral

Alguns teóricos dividem a infância em etapas e e filhas da família. Parte da complexidade dessa
vivências relacionais, permitindo uma compreensão etapa fundamenta-se no desejo de conhecimento
mais objetiva de cada característica que marca este que os adolescentes demonstram nesse período
ciclo do desenvolvimento humano. Em nossa de crescimento. As perguntas, nem sempre
disciplina, tomamos a infância como um período fáceis de responder, fazem parte do processo
de socialização para além do convívio familiar, pois estruturador do sistema familiar. As perguntas
caracteriza os múltiplos relacionamentos da criança devem ser percebidas como algo natural no
com outras instituições, como escola, clubes, desenvolvimento humano, pois indicam o desejo
associações recreativas e comunidades religiosas, de conhecimento. As respostas devem ser claras e
entre outras. Esse momento é marcado também sinceras, procurando atender às expectativas e aos
por relações impulsivas, permitindo a criança anseios dos filhos e das filhas que demonstram um
38

descobrir-se, como também compreender o outro crescimento vigoroso.


ao seu redor.
É importante lembrar também que a complexidade
Durante o período de infância, as descobertas desse período de desenvolvimento tem a ver com o
fazem parte do processo de amadurecimento, pois a processo de afirmação do adolescente com relação
criança perceberá quem ela é e quem é o outro. Trata- ao seu “eu” e aos outros que estão ao redor. É um
se de um processo que auxiliará na constituição da momento de rupturas e apropriações por parte do
identidade pessoal, podendo, em determinadas adolescente, que já experimenta maior autonomia
circunstâncias, gerar conflitos relacionais. Nesse e liberdade para pensar e agir. Tal liberdade e
período, a família consegue perceber as diferenças autonomia permitirão ao adolescente a percepção
entre cada membro, sobretudo, as diferenças das possíveis incoerências que existem entre o
com relação aos filhos desse sistema e como eles que se pensa e aquilo que se faz. Lidar com as
interagem como irmãos. É importante lembrar possíveis incoerências que fazem parte do nosso
que as diferenças entre os irmãos e a busca de desenvolvimento humano nos ajuda no processo
autonomia tendem a produzir conflitos, que devem de organização pessoal, conjugal e familiar.
ser bem administrados pela família.
4ª Etapa – O adulto jovem, maduro e idoso
Os conflitos relacionais e também entre gerações
Como acontece no período da infância, alguns
não precisam ser vistos como ameaçadores, mas
estudiosos dividem a fase adulta em três
precisam ser considerados e elaborados. Os pais,
momentos ou subdivisão: a) adulto jovem; b)
então, têm uma função relevante neste processo
adulto maduro, e c) adulto idoso. No primeiro
de ajustes relacionais no contexto familiar,
momento, geralmente, esse adulto jovem pode
constituindo-se em facilitadores para o crescimento
deixar a sua família de origem, que podemos
de todos os membros do sistema.
nomear de “família educacional”, para formar
3ª Etapa – A adolescência outra família, que podemos chamar de “família
gestacional”, produzindo outro sistema familiar.
Esse período é considerado por alguns estudiosos As funções educativas e de gestação podem ser

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UNIDADE 04
entendidas num sentido mais amplo, para além das ninguém pode escapar. Esse período é difícil
implicações de caráter formal ou biológico. para as pessoas e famílias, pois elas nem sempre
pensam e se preparam para tal realidade, revelando
Num segundo momento, partindo de uma visão
a dor e a saudade daqueles que partiram, sendo,

Aconselhamento Pastoral
generalizante, o adulto maduro pode experimentar
no entanto, inevitável no que chamamos de ciclo
a sua afirmação profissional e um considerável
da vida.
crescimento econômico, permitindo a ampliação
de sua influência no contexto social, revelando um Como foi considerado anteriormente, a
período de produtividade profissional. conselheira ou o conselheiro pastoral ministra
às pessoas em constante desenvolvimento. Tal
No último momento deste ciclo que caracteriza a
desenvolvimento pode ser entendido pelo viés das
vida adulta, o adulto maduro ou chamado idoso,
transformações psicológicas experimentadas pela
ainda dentro dessa proposta generalizante, pode
pessoa, desde o nascimento até a morte, ou ainda,
vivenciar a experiência de sua aposentadoria, mas
a partir das mudanças que ocorrem no contexto
também as vivências marcadas pelos desligamentos
da sociedade contemporânea. Cabe lembrar que,
e rupturas dos vínculos relacionais, deixando para
enquanto o conselheiro pastoral realiza o seu

39
trás atividades que fizeram parte de sua trajetória
trabalho, considerando as mudanças pelas quais
durante décadas. Tais rupturas podem gerar algum
a pessoa que ele atende experimenta, ele próprio
desconforto nos adultos idosos ou maduros,
está em constante mudança. Assim, como a
exigindo deles outras adaptações, como também
aconselhado não será o mesmo após o processo
dos sistemas familiares que estão ao redor.
de aconselhamento, a conselheira pastoral também
5ª Etapa – A morte não será a mesma, após colocar-se ao lado da
pessoa que solicitou a sua ajuda.
A última fase do ciclo da vida é a morte, da qual

Aconselhamento e personalidade

Outro aspecto importante que o conselheiro ou a “personalidade refere-se ao modo relativamente


conselheira pastoral precisa tomar conhecimento constante e peculiar de perceber, pensar, sentir
tem a ver com a constituição da personalidade. e agir do indivíduo”, (BOCK, p. 100). Nesse
Nesse sentido, a discussão que se segue procura conceito, é possível observar quatro elementos
identificar uma das muitas teorias relacionadas à fundamentais relacionados à personalidade, de
formação da personalidade, entendendo que todos acordo com os autores: o perceber, o pensar, o
que atuam na área humana podem empreender sentir e o agir.
uma busca mais profunda sobre a constituição
Quanto à percepção, pode-se dizer que está
da estrutura mental humana. Dois aspectos são
relacionada à pessoa e ao seu interior, como
relevantes quanto à teoria da personalidade: a)
também a percepção que ela tem do mundo ao
conhecer um conceito sobre a personalidade,
redor. Quanto ao pensar, talvez seja interessante
e b) conhecer uma teoria da personalidade, no
considerar a pertinência de desenvolver um
contexto de várias propostas.
pensamento positivo e construtivo, mostrando ao
Sobre o primeiro aspecto, pode-se ler no livro aconselhado os benefícios de tal postura. Já o sentir,
Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia: podemos dizer que ele está relacionado à instância

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UNIDADE 04
das emoções, já que as emoções constituem parte Cabe destacar que esta proposta de constituição
da estrutura mental de cada pessoa. E por último, da personalidade foi formulada por um teórico,
tem-se o agir, que pode ser associado à coerência dentre outros teóricos, que também refletiram
entre a relação dos elementos anteriores e um sobre a estrutura mental dos seres humanos. Para
Aconselhamento Pastoral

comportamento adequado nas inter-relações. um aprofundamento sobre as várias teorias da


personalidade, outros autores e teóricos precisam
O segundo aspecto relevante quanto à
ser estudados e compreendidos. Voltando a Erich
personalidade está relacionado ao conhecimento
Fromm, que viveu e desenvolveu os seus estudos
de uma teoria que ajude a conselheira pastoral ou o
durante todo o século XX, um século marcado
conselheiro no entendimento da estrutura mental
por profundas transformações sociais, podemos
da pessoa. Dessa forma, a Teoria da Personalidade
pensar objetivamente em algumas mudanças do
proposta por Erich Fromm revela-se pertinente
século passado.
para a nossa disciplina, focando o aconselhamento
pastoral. Para o historiador Eric Hobsbawm, autor
de Era dos extremos: o breve século XX, um dos
Mais uma vez, são os autores de Psicologia:
eventos marcantes do século passado foi a
40

uma introdução ao estudo da psicologia que podem


primeira guerra mundial, envolvendo países e
oferecer uma compreensão da personalidade,
populações, impactando a civilização ocidental
como se poder ler: “Natural da Alemanha,
daquele período e produzindo desdobramentos
Erich Fromm (1900-1980) concluiu os estudos
nas décadas seguintes. Para Hobsbawm, aquela
de Psicologia, Sociologia e Filosofia em seu
era uma “civilização capitalista na economia;
país, tendo-se radicado nos Estados Unidos, em
liberal na estrutura legal e constitucional;
1933. Sua formação teórica foi em Psicanálise e é
burguesa na imagem de sua classe hegemônica
considerado um culturalista, isso porque defendia
característica; exultante com o avanço da ciência,
enfaticamente que os aspectos culturais, sociais e
do conhecimento e da educação e também com
políticos são determinantes das possibilidades de
o progresso material e moral; e profundamente
realização humana e, portanto, da estruturação da
convencida da centralidade da Europa, berço das
personalidade. Este autor postula a existência de
revoluções da ciência, das artes, da política e da
cinco necessidades específicas que se originam das
indústria e cuja economia prevaleceu na maior
condições da existência humana”, (BOCK, p. 104-
parte do mundo, que seus soldados haviam
105).
conquistado e subjugado”, (HOBSBAWM, p. 16).
As cinco necessidades indicadas por Erich
Em sua síntese, Hobsbawm indica os principais
Fromm são as seguintes: a) a necessidade
elementos que vão nortear os rumos das
de relacionamento; b) a necessidade de
sociedades na primeira parte do século XX, não
transcendência; c) a necessidade de segurança; d)
apenas na Europa, como também de outros
a necessidade de identidade, e e) a necessidade
continentes. Após os impactos de uma primeira
de orientação. Aplicando essa proposta de teoria
guerra que envolveu vários países, o mundo assistiu
da personalidade ao trabalho de aconselhamento
e participou de uma segunda guerra mundial,
pastoral, podemos considerar a importância dos
cujas consequências puderam ser percebidas no
conselheiros sondarem, junto aos aconselhados,
processo de reconstrução de vários países e na (re)
como esses elementos foram percebidos ao
organização de outras tantas sociedades. Foram
longo da trajetória de vida de cada um deles.
dois eventos que impactaram o mundo, além de

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UNIDADE 04
outros que trouxeram mudanças significativas por Erich Fromm, podemos dizer que todas elas
na ordem social e na forma como as pessoas estão bem próximas de todos nós, como também
concebiam a sua maneira de viver. trazem parte da reflexão sobre as mudanças do
século XX.

Aconselhamento Pastoral
O século XX foi marcado por profundas crises,
mas também foi percebido como um século de Assim, podemos interpretar e propor algumas
oportunidades para o desenvolvimento humano, considerações sobre:
como acentuou Eric Hobsbawm. As religiões,
A necessidade de relacionamento. Houve um
inclusive o cristianismo ocidental, viram-se diante
crescimento populacional considerável ao longo
de desafios e questionamentos para os quais
do século XX. De acordo com Hobsbawm, “como
deveriam apresentar respostas adequadas, enquanto
comparar o mundo da década de 1990 ao mundo
proclamavam uma mensagem de esperança
de 1914? Nele viviam 5 ou 6 bilhões de seres
aos povos. As instituições religiosas viram-se
humanos, talvez três vezes mais que na eclosão da
diante do dilema de uma adaptação aos novos
Primeira Guerra Mundial, e isso embora no Breve
tempos, procurando entender e ao mesmo tempo
Século XX mais homens tivessem sido mortos
acompanhar os fiéis em suas mudanças pessoais.

41
ou abandonados à morte por decisão humana
Assim, novas tecnologias passaram a fazer parte da
que jamais antes na história”, (HOBSBAWM,
estrutura institucional, introduzindo-se também
p. 21). Uma das queixas comuns durante os
nas celebrações ritualísticas do cristianismo.
aconselhamentos pastorais é o da solidão. As
Ontem como hoje, a religião cristã é chamada a
cidades estão cada vez mais populosas, enquanto
se posicionar diante das transformações sociais, e
as pessoas estão mais solitárias. Fromm defendia
os conselheiros e conselheiras pastorais enfrentam
a ideia da necessidade de relacionamento para o
tal desafio na ministração de sua comunicação.
desenvolvimento da personalidade.
Nesse sentido, os conselheiros pastorais precisam
ouvir com sensibilidade, como também responder Um das dificuldades das pessoas em
às inquietações dos aconselhados com sabedoria, aconselhamento pastoral fundamenta-
tendo como base uma interpretação segura e se na quantidade e na qualidade dos seus
coerente dos ensinamentos bíblicos. relacionamentos pessoais, que se revelam no
contexto dos sistemas familiares. Vivemos dias
Foi neste contexto de transformações sócio-
modernos, caracterizados pela agitação da procura
políticas que Erich Fromm desenvolveu a sua teoria
de algo que nos esgota, não permitindo que coisas
da personalidade. Quando procuramos entender a
simples, como o conversar em família, sejam
proposta de Fromm, e o fazemos estudando os
vivenciadas. Precisamos nos relacionar uns com
acontecimentos que fazem parte da história do
os outros, como precisamos nos relacionar com
século XX, como indicados por Eric Hobsbawm
um Ser Superior, que chamamos Deus.
e outros historiadores, começamos a entender
a ênfase nas cinco necessidades apontadas por A necessidade de transcendência. Talvez, a
Fromm: a) a necessidade de relacionamento; b) a nossa existência neste mundo em transformação
necessidade de transcendência; c) a necessidade de seja uma das maiores demonstrações do potencial
segurança; d) a necessidade de identidade, e e) a que cada ser humano traz dentro de si. A superação
necessidade de orientação. que todos nós enfrentamos, a partir do nascimento,
e como vencemos diversos desafios nas primeiras
Sobre estas cinco necessidades básicas apontadas

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UNIDADE 04
semanas e meses de adaptação social. Em cada nascimento de cada ser humano, ele ainda precisa
etapa do ciclo da vida, vamos confirmando a desenvolver-se num contexto de segurança. A
nossa capacidade de superação ou transcendência, criança precisa sentir-se segura, embora não tenha
surpreendendo-nos e surpreendendo aqueles que consciência do significado da palavra segurança.
Aconselhamento Pastoral

nos cercam. Dentro deste viés, o depoimento do A segurança que é oferecida a ela ajudará em seu
Apóstolo Paulo é bem oportuno: “quando eu era desenvolvimento pleno, embora ela não saiba que
menino falava com menino, pensava como menino tais cuidados favoreçam o seu amadurecimento.
e raciocinava como menino. Quando me tornei Assim, a busca pela segurança interna nos mobiliza
homem, deixei para trás as coisas de menino”, durante toda a nossa vida, sobretudo, quando
(BÍBLIA SAGRADA, NVI, I Coríntios 13.11, p. somos ameaçados pelas expressões de uma
1521). A ênfase do autor da carta aos coríntios está violência social, que nos vem do mundo externo.
no processo de crescimento: ele deixou claro que,
A necessidade de identidade. Quando a criança
enquanto menino, pensou e agiu como menino,
nasce, dizem os especialistas em psicologia, ela não
mas evoluiu até tornar-se um homem.
sabe quem ela é e nem quem são os outros que
Podemos pensar que Fromm aponta para a estão ao seu redor. Para a criança, existe apenas ela
42

necessidade de desenvolvermos processos no universo. Com o passar dos primeiros meses


evolutivos, vivenciando bem cada etapa do de vida, essa criança começa a perceber os objetos
ciclo da vida, mas avançando para realizarmos que estão ao seu redor, inclusive as pessoas que
coisas mais complexas e desafiadoras. Nesse lhe cercam. Ela ainda é o centro do universo, mas
sentido, os conselheiros pastorais também são tal condição e percepção vão-se transformando
importantes, pois podem auxiliar as pessoas a com os passar dos meses e anos de existência.
compreenderem quem elas são e como podem Provavelmente, uma das primeiras marcas de
desenvolver com maior aptidão as suas qualidades identidade é o nome que a criança recebe, inserido
ou potencialidades. num documento que afirma a sua existência para a
sociedade. Esses e outros registros farão parte do
A necessidade de segurança. Geralmente, o
processo de construção da identidade da pessoa.
ventre materno é tido com um lugar seguro, no
qual o ser em formação pode desenvolver-se plena Embora tais registros civis, como uma certidão
e saudavelmente, acompanhado pelos cuidados e de nascimento, a construção da identidade
ternura de uma mãe zelosa. No entanto, aquele passa por outros processos simbólicos, como a
ser que se constitui não pode ficar além do tempo percepção de quem a pessoa é e o significado de
estipulado pela natureza, usufruindo daqueles sua existência na sociedade, indicando, de alguma
cuidados e segurança. E ele precisa romper com forma, a importância daqueles que estão ao redor.
aquela condição favorável e segura, passando a Para Fromm, o desenvolvimento da personalidade
enfrentar o desconhecido, e ingressando em outra passa pelo suprimento da necessidade de
dinâmica relacional. Se pensarmos dessa forma, identidade. No entanto, as mudanças rápidas
as primeiras impressões e registros que temos que acontecem na sociedade, gerando perdas e
remetem a uma sensação e a um lugar de segurança: prejuízos pessoais, podem levar algumas pessoas a
o ventre materno e os primeiros cuidados de uma questionarem quem elas de fato são. Um processo
mãe amorosa. de aconselhamento pastoral bem conduzido pode
ajudar, também, nesse sentido.
Embora a dinâmica relacional mude com o

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UNIDADE 04
A necessidade de orientação. Se há uma sociais que experimentará no longo de sua vida.
discussão sobre as formas de educação e disciplina
Que fique claro que orientar não é punir ou
infantil na atualidade, colocando em dúvida e no
castigar, mas colocar-se ao lado daquele que não
centro dos debates as formas punitivas que as

Aconselhamento Pastoral
tem o pleno conhecimento e a experiência para
gerações passadas utilizaram, pode-se pensar
superar determinadas circunstâncias ao longo
que há certa concordância quando se fala sobre
do desenvolvimento humano. Em determinados
a necessidade de orientação. Para Fromm,
momentos, os conselheiros pastorais serão
orientação é algo que o ser humano necessita;
desafiados a auxiliar as pessoas neste processo de
ao suprir tal necessidade, contribui-se para o
(re) orientação de suas práticas de vida.
desenvolvimento da personalidade, permitindo
à pessoa ajustar-se aos movimentos familiares e

Considerações finais

Conselheiros e conselheiras pastorais são processo que objetiva o amadurecimento em


pessoas com uma personalidade que interagem todos os aspectos da vida.

43
com pessoas com personalidades distintas num

Indicações culturais

O Lar Batista Esperança é uma instituição dirigida pelo pastor batista Nathaniel M. Brandão Jr., que procura
dar acolhida aos menores que passam por dificuldades em suas famílias nucleares.

Visite o site do LBE e procure conhecer outros programas dirigidos por organizações religiosas que
buscam dar apoio à família em momentos de dificuldades.

Disponível em: <http://www.lbe.org.br/site/o-lbe/>.

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UNIDADE 04

Atividades

Atividade de Auto-avaliação
Aconselhamento Pastoral

Identifique nas questões a seguir a única resposta correta:

1. Quais as etapas do ciclo da vida

a) adulto jovem; adulto maduro e adulto idoso.

b) infância; adolescência e juventude.

c) adolescência; juventude e adulto jovem.

d) nascimento; infância; adolescência; adulto jovem, maduro e idoso; morte.

2. De acordo com o livro Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia, o conceito de personalidade refere-se:
44

a) a uma infância e adolescência marcada pela felicidade.

b) a um ciclo de vida que vai da infância até a morte.

c) ao modo relativamente constante e peculiar de perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo.

d) a uma estrutura mental que não conhecemos.

3. Erich Fromm formulou cinco necessidades humanas, que são as necessidades de:

a) relacionamento; transcendência; afeto materno; identidade e orientação.

b) relacionamento; transcendência; segurança; identidade e orientação.

c) relacionamento; espiritualidade; afeto materno; identidade e orientação.

d) relacionamento; transcendência; segurança; identidade e punição.

4. Podemos dizer que os conselheiros pastorais são pessoas com uma personalidade, e que interagem com pessoas...

a) com problemas totalmente diferentes dos seus.

b) que apresentam apenas transtornos associados aos relacionamentos afetivos.

c) com personalidades distintas, buscando o amadurecimento em todos os aspectos.

d) que não conseguem alcançar uma vida de vitórias e conquistas.

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UNIDADE 04
Questão de reflexão

Neste capítulo, lembramos uma das passagens bíblicas atribuídas ao Apóstolo Paulo, que fez menção

Aconselhamento Pastoral
de sua infância, quando disse: “quando eu era menino falava como menino, pensava como menino e
raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”, (BÍBLIA
SAGRADA, NVI, I Coríntios 13.11, p. 1521). Partindo desta passagem de I Coríntios 13, faça uma breve
reflexão de sua trajetória de vida e das mudanças pelas quais já passou.

Atividade de aplicação

Escreva numa ficha as cinco necessidades indicadas por Erich Fromm, destacando uma característica em
cada uma delas.

45

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UNIDADE 05

O Sagrado no Aconselhamento Pastoral


Aconselhamento Pastoral

Introdução

Para Mircea Eliade, “um fato espiritual pressupõe o religiosas, compartilharão de suas experiências
ser humano integral, ou seja, a entidade fisiológica, espirituais. Nesse sentido, cabe aos conselheiros
o homem social, o homem econômico, e assim por pastorais perceberem e trabalharem com os
diante. Todavia, todos esses condicionamentos não discursos que remetem ao sagrado na vida dos
conseguem esgotar, por si sós, a vida espiritual”, aconselhados.
(ELIADE, 1991, p. 28).
Neste último capítulo de nosso estudo sobre o
Partindo dessa afirmação de Eliade, podemos aconselhamento pastoral, queremos discutir a
pensar que o sagrado está presente no processo de presença do sagrado no processo de acolhimento
formação do ser humano. As pessoas que buscam e acompanhamento das pessoas que procuram nos
46

o aconselhamento pastoral, mais do que produzir conselheiros pastorais o apoio para a superação de
uma fala sobre as suas atividades e realizações suas dificuldades.

Compreensão do sagrado

Numa definição muito objetiva sobre o sagrado, artificiais, a animais, ou a homens, ou às objetivações
Mircea Eliade escreveu que “a primeira definição da cultura humana”, (BERGER, p. 38). Como
que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe exemplo da presença do sagrado no processo
ao profano”, (ELIADE, p. 17). Não é justo de constituição da humanidade, observa-se que
afirmarmos que Eliade não está correto em sua “há rochedos sagrados, instrumentos sagrados,
compreensão sobre o sagrado. Mas podemos vacas sagradas. O chefe pode ser sagrado, como o
considerar que, tomando apenas tal afirmação, a poder ser um costume ou instituição particular”,
qualidade e os significados atribuídos ao sagrado (BERGER, p. 38-39). Dessa forma, para o autor,
ficam encobertos, já que ele existe em oposição ao “pode-se atribuir a mesma qualidade ao espaço e
profano. A afirmação do teórico permite algumas ao tempo, como nos lugares e tempos sagrados.
considerações, sobretudo, quando focamos o A qualidade pode finalmente encarnar-se em seres
sagrado em relação ao profano. sagrados, desde os espíritos eminentemente locais
às grandes divindades cósmicas”, (BERGER, p. 39).
Por outro lado, Peter Berger propõe outra
compreensão com relação ao sagrado, afirmando Ao desenvolver a sua compreensão sobre o sagrado,
que, “por sagrado entende-se (...) uma qualidade de discutida no livro O dossel sagrado: elementos para uma
poder misterioso e temeroso, distinto do homem e, teoria sociológica da religião, Peter Berger entende
todavia, relacionado com ele, que se acredita residir que “o sagrado é apreendido como algo que ‘salta
em certos objetos da experiência”, (BERGER, para fora’ das rotinas normais do dia a dia, como
p. 38). Ele acrescenta, complementando a sua algo de extraordinário e potencialmente perigoso,
compreensão do sagrado, dizendo que “essa embora seus perigos possam ser domesticados
qualidade pode ser atribuída a objetos naturais e e sua força aproveitada para as necessidades

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UNIDADE 05
cotidianas”, (BERGER, p. 39). Em certo sentido, de aconselhamento pastoral pode remeter às
Berger concorda com Eliade, pois “num certo questões associadas ao sagrado. Identificá-las e
nível, o antônimo do sagrado é o profano, que se compreendê-las no contexto existencial daqueles
define simplesmente como a ausência do caráter que buscam no aconselhamento pastoral a

Aconselhamento Pastoral
sagrado”, (BERGER, p. 39). ferramenta para a sua superação é tarefa dos
conselheiros pastorais. Por esse motivo, além
As considerações de Peter Berger ajudam a
de compreendermos o significado do sagrado, a
compreender as especificidades relacionadas
partir de dois teóricos (Eliade e Berger), podemos
ao sagrado. Assim, tendo esse conhecimento,
avançar para entendermos as discussões em torno
podemos observar que parte daquilo que os
do sagrado.
aconselhados introduzem durante o processo

Discussões em torno do sagrado

Dentre os vários temas que ocupam o Embora consideremos, na presente discussão, o


aconselhamento pastoral, observamos que a fala sagrado no processo de formação discursiva, a

47
em torno do sagrado também está presente. Cabe proposta de uma compreensão sobre a construção
lembrar que a abordagem do assunto que envolve teórico-metodológica da Análise do Discurso deve
o sagrado é pertinente ao aconselhamento cristão, ficar para outro momento. O mesmo aplica-se a
sendo que tal assunto, geralmente, é introduzido uma leitura ou uma releitura das técnicas alusivas
por iniciativa das pessoas, que justificaram algumas à Análise do Discurso, que podem ser percebidas,
de suas escolhas e as suas consequências ao longo em diferentes momentos, no estudo dessas três
da vida. abordagens mencionadas anteriormente.

Nesse sentido, visando a uma compreensão Porém, é importante enfatizarmos que as pessoas
mais objetiva do tema, podemos considerar três podem apoiar-se no sagrado como mais um
abordagens teóricas que ajudam no entendimento expediente que ajude no processo regulador da
do sagrado no processo discursivo do sujeito em ansiedade. Ela – a ansiedade – apresenta-se como
aconselhamento pastoral: a) a Teoria Sistêmica; uma sensação associada à aflição, ao receio ou
b) a proposta da Psicanálise, e c) as formulações ainda à angústia, estando presente na vida de todas
da Logoterapia. As duas últimas, através de as pessoas, em maior ou menor intensidade. Assim,
seus principais interlocutores (respectivamente as pessoas podem afirmar que suas escolhas não
Sigmund Freud e Viktor E. Frankl), apresentam traduzem apenas as suas vontades e desejos, já
contribuições e questionamentos significativos que foram “orientadas” por um “outro”, visto
ao estudo da constituição humana, abordando e constituído como um Ser Superior ou uma
as questões de saúde e também da influência da divindade, remetendo ao sagrado numa tentativa
religião na vida das pessoas. Quanto à Teoria de transferência de responsabilidades.
Sistêmica, considerando as suas múltiplas
Conquanto o discurso sobre o sagrado esteja
indicações e propostas de abordagens, parece que
presente no processo de aconselhamento pastoral,
lhe falta uma reflexão mais pertinente sobre o
vale lembrar alguns cuidados que os conselheiros
sagrado nas questões que envolvem os sistemas,
pastorais devem ter ao tratarem dessa área.
sobretudo, quando trata do casamento e dos
sistemas familiares. Um primeiro cuidado é não generalizar as

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UNIDADE 05
experiências ligadas à religião, ao espiritual e ao Voltando às questões que envolvem o sagrado
sagrado, apresentando “fórmulas mágicas” que e a ansiedade no processo de aconselhamento,
visam recuperar as pessoas em acompanhamento podemos fazer duas considerações: a) em primeiro
pastoral. Com fórmulas mágicas me refiro aos lugar, não propomos trabalhar ou discutir o
Aconselhamento Pastoral

tratamentos enlatados ou empacotados, que significado de sagrado; mas partimos, no entanto,


influenciam no aconselhamento pastoral, como das duas contribuições anteriormente citadas:
se algumas ações realizadas pelos aconselhados a de Mircea Eliade e as considerações de Peter
fossem suficientes para a resolução de seus Berger, e b) em segundo lugar, o termo ansiedade
conflitos e crises. neste texto não tem o mesmo significado que
pode ser encontrado no CID 10, que apresenta
O segundo cuidado é não se impressionar com
a classificação da OMS – Organização Mundial
um aparente discurso religioso ou espiritual,
de Saúde, quando se refere aos transtornos de
que objetiva revelar ou indicar alguém que
ansiedade (CID 10, p. 137).
tem um acesso exclusivo ao sagrado, estando
acima de qualquer questionamento por parte Para uma melhor compreensão sobre a ansiedade,
do conselheiro ou da conselheira pastoral. Cabe podemos nos basear no conceito formulado por
48

lembrar que a experiência religiosa ou espiritual Lawrence Kolb, quando diz que “a ansiedade pode
de alguém não é exatamente igual à experiência ser descrita como uma dolorosa dificuldade mental,
dos conselheiros, mesmo que todos façam parte um estado de muito alta tensão, acompanhado
da mesma confissão religiosa, como por exemplo, de um inexprimível temor, um sentimento de
no caso o cristianismo. Mesmo confessando a fé expectativa apreensiva”, (KOLB, p. 385). Para
em Jesus Cristo, podemos dizer que a experiência ele, tais reações ansiosas podem se revelar em
de conversão do Apóstolo Paulo foi diferente qualquer situação “que constitua uma ameaça à
da experiência do Apóstolo Pedro. Ambos eram personalidade”, (KOLB, p. 385).
cristãos, convertidos a Cristo e confiantes no
Quando consideramos temas como sagrado,
Messias de Deus, mas tiveram trajetórias singulares
religião, ansiedade ou saúde mental, somos levados
e experiências distintas com o sagrado.
a pensar se as experiências religiosas podem
O terceiro cuidado é procurar compreender o produzir um estado de alienação ou estagnação
sentido de sagrado ou de religioso, ou ainda o diante dos desafios da existência humana, que se
significado espiritual, apresentado pela pessoa manifesta no comprometimento com a vida em
que está em processo de aconselhamento sociedade.
pastoral. Tal cuidado ajudará o conselheiro ou a
Partimos do princípio de que as estruturas
conselheira pastoral na compreensão das múltiplas
religiosas foram constituídas para auxiliar as
experiências que a pessoa teve ou tem com o
pessoas em sua trajetória de vida neste mundo,
sagrado, inclusive, facilitando o entendimento
produzindo esperança com relação às aflições que
sobre o processo de educação religiosa no qual
podem ocorrer no futuro, inclusive, com relação
ela esteve submetida, tanto pelo contexto familiar
à vida após a morte física. Visto por esse ângulo,
quanto pelo social. Assim, um cuidado importante
não podemos entender as vivências religiosas
deve ser dado às palavras que são colocadas
como influências que levam à alienação. O que
durante o aconselhamento, sobretudo, quando há
não significa dizer que não existam religiosos que
relatos sobre experiências com o sagrado.
optam pelo estado e pela condição de alienação,

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UNIDADE 05
diante dos problemas e sofrimentos inerentes à determinada escolha.
existência humana. Nesse sentido, não podemos
Ao vincular um tema específico ao sagrado, é
responsabilizar a religião pelas escolhas de
razoável afirmar que existem traços de memória
determinados religiosos.

Aconselhamento Pastoral
coletiva de um determinado grupo religioso,
Nesse caso, podemos pensar na pessoa que se que também se apropria do sagrado em seu
utiliza do sagrado, a partir de uma construção conjunto de dogmas e doutrinas e constrói várias
discursiva, visando manter as suas resistências modalidades discursivas. Ao aceitar a influência do
intactas com relação a não revelação de conteúdos grupo religioso na vivência da pessoa, a partir de
ocultos e dolorosos, presentes em sua estrutura elementos ou conteúdos desta mesma memória
emocional e que revelam as disfunções sistêmicas coletiva, observamos que a pessoa passa a
que fazem parte de sua vida. É possível dizer que internalizar e a tomar como seu o discurso de uma
o risco de estagnação dessa pessoa existe, mas não dada comunidade, permitindo uma legitimação de
se pode responsabilizar a religião ou a experiência escolha.
com o sagrado.
Nesse sentido, quando o conselheiro ou a

49
No processo de aconselhamento pastoral, conselheira pastoral acolhe um determinado
desqualificar ou supervalorizar o discurso sobre discurso sobre o sagrado, é relevante procurar
o sagrado que a pessoa apresenta, indicando compreender que influências religiosas a pessoa
que ele (o sagrado) mostra-se o legitimador de recebeu, pois, talvez, parte do que esteja afirmando
suas escolhas, significa não acolher o ser – em (o discurso pessoal) venha a se constituir em
toda a sua dimensão – de forma empática e parte de um pensamento coletivo vinculado a
incondicional. Ao contrário, quando o conselheiro uma determinada instituição religiosa (o discurso
pastoral acolhe a pessoa, como também o seu da instituição). Dessa forma, o discurso do
discurso sobre o sagrado, ele se coloca como aconselhado pode ser uma espécie de eco da
um facilitador no processo de (re) organização instituição religiosa, na qual se está inserido ou
sistêmica, respeitando eticamente a experiência se esteve inserido. Conquanto aquela fala sobre
religiosa do outro que está em acompanhamento. o sagrado seja uma aparente reprodução da
formação discursiva do grupo religioso, no qual a
Outra questão que pode ser levantada é sobre os
pessoa está inserida, aquela fala específica se torna
temas que são compartilhados no aconselhamento
a expressão do aconselhado ou da aconselhada,
e que remetem às experiências com o sagrado.
já que ele internalizou o conteúdo do grupo, mas
Podemos propor algumas aproximações entre o
escolheu apresentar somente aquela parte do
sagrado e os seguintes temas, que são recorrentes
discurso da instituição religiosa.
no desenvolvimento do aconselhamento pastoral:
a) questões de ordem afetiva, incluindo vínculos De acordo com Raul Marino Júnior, autor de A
relacionais entre cônjuges, vínculos relacionais religião do cérebro: as novas descobertas da neurociência a
entre amigos e vínculos relacionais entre e pais respeito da fé humana, William James entendeu que
e filhos; b) questões de ordem profissional, “para alcançar uma ciência crítica sobre as religiões,
questionando os resultados de algumas decisões o material básico deve proceder de fatos da
e seus desdobramentos práticos, e c) questões experiência pessoal”, (MARINO JÚNIOR, p. 15).
de ordem espacial e temporal, sobre ser aquele o Assim, os conselheiros pastorais, que trabalham
melhor momento ou o melhor lugar para se fazer mais especificamente com os fenômenos

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UNIDADE 05
religiosos, podem identificar os fragmentos que Reforma na essência nada mais é do que uma análise
aproximam ciência e religião, estabelecendo uma da repressão sexual católica, lamentavelmente uma
relação de diálogo entre o sagrado e as demais análise muito insuficiente, por isso a neurose de
disciplinas. angústia da ortodoxia eclesiástica e seus sintomas
Aconselhamento Pastoral

correlatos, os processos de bruxaria, o absolutismo


Num livro intitulado Cartas entre Freud e Pfister
político, a sujeição social nas corporações, etc.”,
(1909-1939): um diálogo entre psicanálise e fé cristã,
(PFISTER, p. 27).
podemos encontrar registros significativos de
um relacionamento entre dois homens que se Ao citar as contribuições teóricas de Sigmund
interessaram pela mente e pelo comportamento Freud e Oscar Pfister, que contemplam o tema
humano. O primeiro, Sigmund Freud, foi um religioso no contexto europeu, objetivamos
médico austríaco que trocou correspondências compreender, mesmo que de forma superficial,
pessoais com Oskar Pfister, durante trinta anos. O uma discussão desenvolvida no início do século
segundo, Oskar Pfiste foi pastor protestante, com XX, quando os transtornos da estrutura psíquica
doutorado em Filosofia, demonstrando ser um foram observados por teóricos, como Freud, e
persistente inquiridor das questões que afligiam a por estudiosos dos fenômenos religiosos, como
50

estrutura humana de seu tempo. Pfister, um pastor de formação protestante.

Parte dos diálogos entre Freud e Pfister ficou Embora os diálogos entre teóricos do
registrada no livro citado anteriormente, comportamento humano e estudiosos dos
constituindo-se numa referência bibliográfica fenômenos religiosos tenham avançado
pertinente aos que desejam atuar no campo significativamente nas últimas décadas, ainda existe
do aconselhamento pastoral, já que religião e um longo caminho a ser percorrido, aproximando
psicanálise aproximam-se nessas cartas analisadas. e fazendo convergir ciência e religião. Somente
aqueles que se despirem de qualquer preconceito
Freud, então, escreveu ao pastor protestante, a
– seja com relação ao lugar da ciência na sociedade
quem chamou de cura de almas espiritual, agradecendo
moderna, ou com relação ao lugar do sagrado
pelo envio de um trabalho intitulado Representações
na experiência individual de cada ser poderão
delirantes e suicídio de alunos, considerando a diferença
desenvolver uma sensibilidade capaz de ouvir o
do trabalho de um religioso e de um especialista.
outro em suas angústias. Cabe lembrar que algumas
Para Freud, a “psicanálise em si não é religiosa nem
dessas angústias foram articuladas a partir dos
antirreligiosa, mas um instrumento apartidário do
discursos, que trazem o sagrado como tema dos
qual tanto o religioso como o laico poderão servir-
processos de ajuda e apoio ao próximo. Partindo
se, desde que aconteça tão somente a serviço da
dos diálogos entre Freud e Pfister, podemos
libertação dos sofredores. Estou muito admirado
considerar que as expressões que remetem ao
de que eu mesmo não tenha me lembrado de
sagrado não precisam ser desqualificadas como
quão grande auxílio o método psicanalítico pode
manifestações das disfunções e dos transtornos
fornecer à cura de almas”, (FREUD, p. 25).
da alma humana. Ao contrário, essas expressões
Após receber a carta de Freud, datada de 09 de religiosas que remetem ao sagrado podem ser
fevereiro de 1909, Pfister escreveu imediatamente percebidas como elementos integradores numa
de Zurique, em 18 de fevereiro de 1909, fazendo busca de (re) conciliação da pessoa consigo
uma análise da Reforma. De acordo com Pfiste, “a mesma, mas também com o outro, que pode ser o
Deus do cristianismo, ou um semelhante próximo.

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UNIDADE 05
Além de Freud e Pfister, outros teóricos e estudiosos uma análise do sagrado no processo de formação
focaram o sagrado na estrutura emocional do discursiva e sua relação com o comportamento de
sujeito. Viktor Emil Frankl, em A presença ignorada pacientes psicóticos, que passaram pelo processo
de Deus, abordou o diálogo entre a psicoterapia e a de internação em instituições psiquiátricas. Foi no

Aconselhamento Pastoral
religião, chamando a atenção para o interesse dos contexto de confinação que ele percebeu como os
profissionais que atuam na saúde para os elementos gestos, as falas e os objetos revelavam o sagrado
constitutivos da religiosidade do paciente. Viktor no interior de homens e mulheres, que buscavam
Frankl, então, afirmou: “não esqueçamos, porém, a reorganização emocional e relacional.
que seu interesse não é somente pela religiosidade
Hernández afirmou: “Se como terapeuta não
do outro, mas pela espontaneidade desta
ignoro o corpo de meu paciente, já estou fazendo
religiosidade. Em outras palavras, ele deve ter o
algo, da mesma forma que não ignoro o aspecto
máximo interesse para que esta religiosidade possa
sagrado dele e o meu”, (HERNÁNDEZ, p.
se manifestar espontaneamente, devendo aguardar
13). Em outro momento de suas reflexões, ele
com paciência que esta manifestação ocorra”,
afirmou que “a pessoa sempre tem um espaço
(FRANKL, p. 55).
sagrado e, por conseguinte, misterioso e cheio de

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Ao fazer a devida distinção dos objetivos da significado”, (HERNÁNDEZ, p. 18). Embora
religião, da psicoterapia e do campo ético de o autor considere a presença do sagrado no
atuação do sacerdote e do psicoterapeuta, Frankl contexto da psicoterapia, podemos nos apropriar
entendeu que “a religião dá ao homem mais do de suas contribuições, aplicando-as ao processo de
que a psicoterapia, mas também dele exige mais. aconselhamento pastoral, o que nos interessa na
Deve ser evitada com todo o rigor qualquer presente discussão. Quando se considera o sagrado
contaminação entre esses dois campos, que no processo de formação discursiva da pessoa,
podem até coincidir quanto a seus efeitos, mas apontando para a relação complementar entre
são diferentes quanto à sua intencionalidade”, religião e saúde, as considerações de Hernández
(FRANKL, p. 57). ganham outra relevância. Ele situa o seu leitor,
informando que: “estou usando como critério de
Outro teórico que discute a presença do sagrado
saúde o desenvolvimento de condutas criadoras”,
no discurso humano é Carlos Hernández, autor
(HERNÁNDEZ, p. 42).
de O lugar do sagrado na terapia. Hernández propõe

Considerações finais

O que aprendemos com as pessoas que estão em processo de elaboração dos conflitos e das tensões
aconselhamento pastoral é que o sagrado, que se da estrutura emocional de cada pessoa.
manifesta nas múltiplas formas de discursividade
O que vimos neste último capítulo é que o sagrado
e nas expressões comportamentais, precisa ser
está presente no processo de constituição da
compreendido na totalidade do ser humano. Mais
estrutura humana, manifestando-se nas expressões
do que isso, o sagrado, quando visto e acolhido
religiosas das pessoas, que falam de suas vivências
pelos conselheiros pastorais, diante das angústias
no contexto de aconselhamento pastoral. Cabe
da alma humana, pode ser percebido como
ao conselheiro ou a conselheira pastoral perceber
pertencente à história de cada pessoa, merecendo
nos temas que são apresentados durante o
ser entendido como elemento capaz de auxiliar no

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UNIDADE 05
aconselhamento a compreensão que se tem do rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se
sagrado, associado aos objetos e às vivências ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável
humanas. Este sagrado deve ser entendido a a Deus; este é o culto racional de vocês. Não
partir do discurso de cada aconselhado, pois os se amoldem ao padrão deste mundo, mas
Aconselhamento Pastoral

significados associados a ele são diferentes dos transformem-se pela renovação da sua mente, para
significados que outros podem dar aos fenômenos que sejam capazes de experimentar e comprovar
religiosos. a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”,
(BÍBLIA SAGRADA, NVI, Romanos 12.01-02,
Podemos concluir nossas considerações com o
p. 1501).
desafio proposto por Paulo: “portanto, irmãos,

Indicações culturais

O Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos – CPPC – nasceu em 1976, procurando discutir as aproximações
entre psicologia e teologia. Desde a década de 1970, o CPPC tem promovido encontros e publicado
literatura com enfoque psicoteológico. Procure conhecer o trabalho de cristãos que integram o CPPC,
52

visitando o site do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos.

Disponível em: <http://www.cppc.org.br/>.

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UNIDADE 05
Atividades

Atividade de Auto-avaliação

Aconselhamento Pastoral
Identifique nas questões a seguir a única resposta correta:

1. Quem formulou este conceito de sagrado: “por sagrado entende-se (...) uma qualidade de poder misterioso e temeroso,
distinto do homem e, todavia, relacionado com ele, que se acredita residir em certos objetos da experiência”?

a) Erich Fromm.

b) Sigmund Freud.

c) Peter Berger.

d) Mircea Eliade.

53
2. Para Mircea Eliade, o sagrado opõe-se ao:

a) religioso.

b) profano.

c) transcendente.

d) natural.

3. Sigmund Freud, a partir deste capítulo, relacionou-se com que pastor protestante?

a) Carlos Hernández.

b) Viktor Emil Frankl.

c) Oscar Pfister.

d) Billy Graham.

4. Como o sagrado deve ser percebido pelos conselheiros pastorais?

a) pelos objetos que os aconselhados guardam em casa.

b) a partir do discurso de cada aconselhado.

c) a partir das múltiplas atividades religiosas dos aconselhados.

d) pelo nível de liderança dos aconselhados no contexto eclesiástico.

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UNIDADE 05

Questão de reflexão

A partir do desafio proposto por Paulo em Romanos 12.01-02, faça uma reflexão sobre a importância do
Aconselhamento Pastoral

aconselhamento pastoral no crescimento daqueles que confiam em Jesus Cristo.

Atividade de aplicação

Observe ao seu redor e anote em uma ficha algumas expressões relacionadas ao sagrado na cidade em que
você mora (ex.: templos, objetos religiosos, etc.).
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