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ARQUITETURA AÇO
Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 11 setembro de 2007
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Com a YRFrIDEULFDQWHHXVXiULRGHHVWUXWXUDVPHWiOLFDVUHFHEHSHUÀVPHWiOLFRV
já pré-industrializados conforme seu projeto, reduzindo prazo de fabricação e, conseqüente-
mente, o Ademais, trabalhando com a
sua empresa pode
em equipamentos e pessoal, apenas relocando os recursos atuais da fase de preparação
GH3HUÀV)85$d®2H&257(SDUDDVHWDSDVVXEVHTHQWHVGDIDEULFDomR
3DUDH[HFXomRGHVWHVVHUYLoRVFRPDOWRVQtYHLVGHSURGXWLYLGDGHHTXDOLGDGHD
possui um constituído por modernas linhas automatizadas/integradas de
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sumário
08. 10. 14. 16.
Foto da capa: o equilíbrio entre o
novo e o antigo é o forte da inter-
venção realizada na Pinacoteca
do Estado de São Paulo 04. 20. 24. 27. 30.
04. Aço permite a reconversão de antiga estação ferroviária em centro de entretenimento e negócios, em
08. Implantação de sacadas atualiza edifício residencial, em São Paulo. 10. Antigos galpões
Curitiba.
portuários revitalizados dão origem a complexo cultural e turístico, em Belém do Pará. 14. Após intervenção enge-
nhosa, sobrado da década de 1950 passa a abrigar um centro de cultura popular, em São Paulo. 16. Apartamento
paulistano se transforma com a implantação de um “equipamento multifuncional” em aço, que percorre toda a
extensão do imóvel. 20. Conjunto fabril dos anos 1960 é reciclado e convertido em sede de centro universitário na
capital paulista. 24. O aço é o símbolo da renovação no premiado projeto de revitalização da Pinacoteca do Estado
de São Paulo. 27. Harmonia entre o novo e o antigo é o foco do projeto de restauro que deu origem ao Santander
Cultural, em Porto Alegre. 30. Leveza da estrutura em aço viabiliza implantação de pavilhão em cobertura carioca
EM
Tempos modernos
UM PROJETO VIABILIZADO PELO USO DO AÇO , ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA É TRANSFORMADA
EM CENTRO DE NEGÓCIOS E ENTRETENIMENTO . O RESULTADO É UM DIÁLOGO CONTRASTANTE ,
PORÉM HARMÔNICO , ENTRE O NOVO E O ANTIGO
Marcelo Aniello
RESPEITO AO PASSADO e olhar atento
ao futuro. Seguindo este ideal, o escri-
tório paranaense Dória Lopes Fiuza
Arquitetura comandou o projeto de
intervenção que transformou as anti-
gas instalações da Estação Ferroviária
de Curitiba em um megacomplexo
que reúne shopping center, centro de
convenções e museu.
Com um partido arquitetônico ins-
pirado no estilo neoclássico do final do
século XIX, o empreendimento desta-
ca-se pelos elementos que remetem ao
universo ferroviário, como relógios, tor-
res e plataformas. Segundo o arquiteto
Manuel Dória, uma das fontes de ins-
piração foi o Museu d’Orsay, de Paris,
também construído sobre as instala-
ções de uma antiga estação de trens.
Patrimônio histórico, o edifício em
que funcionava a administração da
rede ferroviária foi recuperado e trans-
formado em Museu Ferroviário. O novo
complexo, que recebeu o nome Espaço
Estação, conta, ainda, com o Shopping
Fotos divulgação
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Convention Center, um dos centros de convenções mais modernos por um software de última geração.
da América Latina. Além da função estrutural, o aço
Como o terreno não oferecia espaço para uma expansão horizon- também foi utilizado na identidade
tal, a opção foi verticalizar o prédio de quatro andares no qual fun- visual do complexo. Nos pilares exter-
cionavam os cinemas do shopping, erguendo, a partir da laje de sua nos da fachada, revestimentos de
cobertura, mais sete pavimentos: quatro deles destinados às áreas escadas rolantes, hall de elevadores e
de estacionamentos e três exclusivos para o centro de eventos. guarda-corpos, a escolha recaiu sobre
O maior desafio do projeto foi realizar a obra com o shopping o aço inox que, segundo Manoel Dória,
em funcionamento, o que exigia uma interferência mínima no “trouxe plasticidade e valorização dos
prédio preexistente. Segundo o engenheiro Marino Garofani, pre- ambientes do prédio”.
sidente da Brafer, empresa responsável pela estrutura, isso só foi Para completar, o Espaço Estação
possível devido ao uso do aço. “Nenhum outro sistema estrutural ganhou o maior telhado de vidro do
permitiria executar uma obra como esta”, afirma Garofani. Brasil – com 11 mil m2 –, que engloba
O esqueleto da construção foi realizado a partir de treliças e a cúpula do novo edifício, a cobertu-
vigas metálicas, totalizando mais de duas mil toneladas de aço. A ra do shopping, a marquise do centro
nova carga foi transferida para pilares de concreto armado, cons- de eventos e a cobertura do boulevard
truídos em volta do edifício. Para alcançar a precisão milimétrica – espaço que tem como função ligar o
que o sistema exigia, todas as peças estruturais foram produzidas novo complexo à antiga área de pre-
eletronicamente, a partir de um processo de fabricação comandado servação histórica. (C.P.) M
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Marcelo Aniello
Fotos divulgação
Na página ao lado, a combinação entre aço inox e vidro
confere uma linguagem contemporânea ao projeto.
Nesta página, detalhes que fazem toda a diferença:
colunas de concreto revestidas com chapas de aço inox
acentuam a plasticidade do complexo (acima); estrutura
metálica torna possível a construção de um prédio sobre
o outro (acima, à direita); auditórios multiuso conferem
ao conjunto status de megaempreendimento (à direita);
e soluções de alta tecnologia permitem a criação do
maior telhado de vidro do Brasil
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Renovação em
curvas
AO INCORPORAR SACADAS COM ESTRU-
TURA EM AÇO, EDIFÍCIO RESIDENCIAL
VALORIZA NÃO APENAS SUA ARQUITE-
TURA, COMO SEU VALOR IMOBILIÁRIO
O edifício Marambaia (acima) tornou-se referência em retrofit no Brasil – além de modernizar a fachada e ampliar a área dos apartamentos, a inter-
venção gerou uma valorização imobiliária acima das expectativas. Nas fotos abaixo, é possível observar como a escolha do material e o planejamento
foram determinantes para o sucesso da obra; executadas em estrutura metálica, as sacadas puderam ser construídas com precisão e rapidez
8 ARQUITETURA&AÇO
hidráulico e elétrico necessitavam de tipo tubulão, o que inviabilizaria o aumento expressivo de cargas nas
reparos. A decisão pela reforma não fachadas. Então, a opção pela estrutura em aço foi a alternativa mais
foi simples, mas depois de diversas viável e eficaz para atender aos objetivos funcionais e estéticos.
assembléias, os proprietários dos imó- Assim, para comportar tal estrutura, foram executadas novas
veis resolveram, finalmente, inves- fundações, também do tipo tubulão, e levantados dois pilares em
tir na recuperação do patrimônio. E concreto da fundação ao térreo; a partir daí, os pilares incorporaram
o escalado para a tarefa foi um dos a estrutura metálica. Este sistema (pilares e sacadas) foi, pratica-
moradores do Marambaia: o arquiteto mente, todo apoiado na própria fundação, o que resultou em uma
Roberto Candusso. transferência mínima de carga para a edificação. Dessa maneira,
Candusso conta que, depois de equilibradas entre os dois pilares, as sacadas ganharam leveza e
pedir autorização ao arquiteto respon- modernidade, mesmo não estando totalmente em balanço.
sável pela obra original, sugeriu não Concluídas as intervenções, os apartamentos sofreram uma valo-
só recuperar a fachada, como também rização imobiliária fantástica: o preço de cada unidade praticamente
acrescentar terraços em cada unidade. triplicou. Além disso, o Marambaia virou referência no que se refere
Para o arquiteto, as sacadas trariam a obras de retrofit e o escritório de Candusso passou a atender a cada
um frescor arquitetônico, conferindo vez mais clientes em busca de trabalhos semelhantes. (I.G.) M
mais “movimento”, além de aumentar
em 40 m2 a área útil de cada apar-
Fotos divulgação
tamento. A sugestão foi amplamente
aceita pelos moradores.
Para executar tal projeto, que previa
um terraço grande que se comunicaria
com a sala e outra sacada menor ane-
xada à suíte principal de cada aparta-
mento, o arquiteto precisou levar em
conta o fato de o prédio ter estrutura
em concreto armado e fundações do
Em cada apartamento, o peitoril da sala foi quebrado para agregar o terraço (acima) formado por vigas e pilares metálicos; no forro desse
novo ambiente, optou-se por gesso acartonado, o que reafirma a opção pela agilidade e limpeza da obra. Abaixo, o edifício antes da inter-
venção: o retrofit, além de trazer mais conforto aos moradores, atualizou a fachada do prédio, construído em 1976
ARQUITETURA& AÇO
Patrimônio reconstituído
CRIADO A PARTIR DA RECICLAGEM DE ANTIGOS GALPÕES PORTUÁRIOS , COMPLEXO
TURÍSTICO - CULTURAL REVITALIZA A PAISAGEM E RESGATA A MEMÓRIA DE BELÉM
Octávio Cardoso
Paula Sampaio
Octávio Cardoso
Rosário Lima
10 ARQUITETURA&AÇO
A HISTÓRIA DE BELÉM do Pará teve iní- Os anos passaram e, ainda hoje, a área das docas de Belém se
cio às margens da Baía do Guajará. Foi mantém em atividade. Alguns galpões, no entanto, foram desati-
lá que, no século XVII, os portugueses vados. Abandonados durante décadas, os espaços começaram a se
construíram um porto fortificado a fim deteriorar, sem que a cidade se desse conta de que estava perdendo
de garantir a soberania na região Norte um pouco de sua memória e de sua paisagem.
do Brasil, logo após a expulsão dos por- Quando o Governo do Estado decidiu dar um novo destino para
tugueses de São Luís do Maranhão. parte destas instalações, os arquitetos Paulo Chaves Fernandes e
Com o ciclo da borracha, entre os sécu- Rosário Lima, engajados na luta pela preservação do patrimônio
los XIX e XX, o local ganhou importân- histórico de Belém, resolveram apresentar uma proposta de revi-
cia comercial e, ao seu redor, a cidade talização para a área. Três anos e muitas batalhas políticas depois,
nasceu, cresceu e ganhou força. conseguiram tirar o projeto do papel e deram vida à Estação das
Recuperados por Paulo Chaves e Rosário Lima, os antigos galpões portuários de Belém se transformaram em boulevards e deram ori-
gem a um dos mais importantes centros turísticos da cidade. Na página ao lado, destaque para os túneis em aço, vidro e policarbonato,
que fazem a conexão entre os boulevards. Nas imagens menores, da esquerda para a direita: Armazém 3, destinado a feiras e exposi-
ções; vista área do megacomplexo; detalhe interno de um dos galpões antes da reforma. Nesta página, fachada principal às margens
do Guajará. Segundo o arquiteto, a proposta do projeto foi “abrir uma janela para as águas da baía”
Octávio Cardoso
ARQUITETURA&AÇO 11
Docas, um complexo turístico-cultural que retomou a conexão das Artes e abriga, além de um museu,
entre a cidade e o rio que a fez nascer. espaço para lojas e serviços em geral.
Seguindo o lema “antes adaptar a intervir”, os profissionais reci- O Armazém 2 ficou conhecido como
claram três armazéns de estrutura metálica pré-fabricada inglesa, Boulevard da Gastronomia e é compos-
do início do século XX, e um terminal de passageiros, também to por cinco restaurantes. O Armazém
metálico, fabricado em Belém na década de 1950. As instalações 3 passou a ser o Boulevard da Cultura e
ganharam novos usos e funções, mas, como ressaltam os arquite- conta com auditórios, teatros e espaço
tos, tiveram seu caráter portuário e valor histórico preservados. para feiras e exposições.
Segundo Chaves, um dos maiores desafios foi a recuperação da O antigo terminal de passageiros
estrutura nos pontos em que a corrosão começava a comprometer também foi recuperado e manteve seu
sua estabilidade. No entanto, chamou a atenção o fato de o metal uso original como terminal hidroviário
ter resistido, com tão poucas avarias, há praticamente um século, fluvial. Agora, está pronto para receber,
apesar de seu intenso uso industrial e posterior abandono. Para os de braços abertos, turistas e visitantes
novos elementos, como mezaninos, túneis, escadas e marquises em busca das histórias e belezas de
externas, a escolha natural foi privilegiar o emprego do aço, man- Belém do Pará. (C.P.) M
tendo o espírito construtivo original.
Para valorizar o entorno, a proposta foi transformar a Estação
Octávio Cardoso
em uma “janela para as águas”. As telhas metálicas das fachadas
foram substituídas por panos de vidro, garantindo um diálogo
constante com o rio. Até mesmo os túneis metálicos, que fazem a
comunicação entre os galpões, receberam coberturas de policarbo-
nato e painéis de vidro no fechamento, aproveitando ao máximo a
vista e a proximidade com a baía.
Destinadas ao uso público, cada uma das instalações ganhou
uma função temática. O Armazém 1 foi rebatizado de Boulevard
Fotos Sidnei Palatnik
12 ARQUITETURA&AÇO
> Projeto arquitetônico: Paulo
Chaves Fernandes e Rosário
Lima
> Área construída: 9 mil m²
> Aço empregado: ASTM A36 e
SAE1020
> Cálculo estrutural: eng.
Arquimino Athayde Neto
> Fornecimento da estrutura
metálica: Emasa Industrial
Ltda. e Oyamota do Brasil
> Execução da obra: Marko
Engenharia
> Local: Belém, PA
> Data do projeto: 1992
> Conclusão da obra: 2000
ARQUITETURA&AÇO 13
Um elogio à arte popular
O PROJETO DA SEDE DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL CACHUERA! CARACTERIZA-SE POR ENGENHOSAS SOLUÇÕES
CONSTRUTIVAS APLICADAS À VALORIZAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS BRASILEIRAS
Fotos Fernando Perelmutter
14 ARQUITETURA&AÇO
AO SOM DE TAMBORES e atabaques,
é recebido o visitante na Associação
Cultural Cachuera!. Criado para preser-
var e valorizar a cultura de raiz brasi-
leira, em especial as músicas e danças
populares, o espaço conta com audi-
tórios, arena de espetáculos e estúdio,
além de um vasto acervo multimídia
com gravações em áudio, vídeos, foto-
grafias e livros raros.
A criação arquitetônica ficou por
Corte
conta de Erica Yoshioka, que recebeu transversal
a missão de recuperar e adaptar um
sobrado residencial da década de 1950,
localizado no bairro de Perdizes, em O programa proposto pela profissional levou a uma interven-
São Paulo, a fim de ajustá-lo às neces- ção profunda no antigo casarão. Do programa original, foram
sidades da associação. preservadas apenas paredes perimetrais, uma vez que, de acordo
Mais do que a busca por uma lin- com a atual legislação de zoneamento da região, modificá-las
guagem arquitetônica que refletisse implicaria em ter de aumentar consideravelmente os recuos fron-
a atmosfera vernacular do Espaço tais e laterais do imóvel.
Cachuera!, o projeto foi norteado por Para não perder esta importante área útil e, ainda assim, poder
exigências técnicas, como o aprovei- reformular os espaços com liberdade, a solução encontrada por
tamento máximo do espaço existente, Erica foi dar à edificação um novo sistema estrutural. A estratégia
a reconstrução da estrutura, a preocu- tornou possível a demolição, de cima para baixo, dos planos de
pação com a acústica e a elaboração alvenaria preexistentes e a posterior criação de um programa sob
de ambientes adequados à manifes- medida para a associação.
tação artística. Por conta do espaço reduzido, a arquiteta optou pela estrutura
metálica. A escolha, além de conferir rapidez e precisão à monta-
gem, trouxe benefícios plásticos: aparente e pintada de vermelho,
a estrutura deu ao projeto uma marcante identidade visual.
> Projeto arquitetônico: Erica Yukiko Para o novo programa, funcionalidade foi a palavra-chave. No
Yoshioka
térreo localizam-se a recepção, as áreas de pesquisa e as salas admi-
> Área construída: 572 m²
nistrativas. No segundo pavimento, um terraço com vista pano-
> Aço empregado: ASTM A36
râmica e um auditório multiuso. No quintal, ao fundo, uma arena
> Cálculo estrutural: A36 Projetos
Industriais para espetáculos e exposições, considerada o ponto alto do projeto.
> Fornecimento da estrutura “O plano inicial era mantê-la ao ar livre, mas isso não foi possí-
metálica: Engemetal vel devido às reclamações dos vizinhos quanto ao barulho”, conta
> Execução da obra: DJ Construção
a arquiteta. Para resolver a questão, a arena foi fechada, coberta e
Civil e Engemetal
isolada acusticamente. Em contrapartida, ganhou pé-direito triplo
> Local: São Paulo, SP
e grandes panos de vidro, que garantem a entrada de luz natural.
> Data do projeto: julho de 1998
> Conclusão da obra: março de 2000 Tudo para manter o clima de terreiro popular, exatamente como
sonhavam os idealizadores do espaço. (C.P.) M
ARQUITETURA&AÇO 15
Fotos Nelson Kon
Fotos Nelson Kon
Pequena intervenção,
grande mudança
EQUIPAMENTO METÁLICO MULTIFUNCIONAL ESTABELECE DIÁLOGO CONTEMPORÂNEO EM OBRA DA DÉCADA DE 1940
16 ARQUITETURA&AÇO
da planta, com uma separação nítida Assim, depois de minucioso levantamento das características
entre a área servida e a área que serve, do imóvel e do edifício como um todo, a proposta de reforma dos
bem característica da época, tornou- arquitetos partiu de duas premissas básicas: respeito ao proje-
se, com o tempo, incompatível com to original e uma intervenção clara e marcante. “Pretendíamos
as necessidades da moradia moderna, manter a integridade das duas arquiteturas: a de Rino Levi e a
em que os ambientes são mais fluidos contemporânea”, explicam os arquitetos.
e interconectados. Além deste aspec- Para solucionar tal questão, a idéia foi criar um grande equipa-
to, as instalações prediais precisavam mento metálico no corredor de ligação, o que transformou com-
de reparos para comportar mais pon- pletamente as possibilidades da planta – a racionalidade setorial
tos de energia elétrica e cabos para do imóvel deu lugar à fluidez cambiante dos espaços.
transferência de dados. Formado por chapas de aço dobradas e pintadas, com pintura
eletrostática branca, e perfis em I, que se penduram em chumba-
dores fixos diretamente na estrutura de concreto do prédio, sem
se apoiar na laje, o equipamento foi cuidadosamente elaborado.
Os arquitetos desenvolveram desenhos de produção para todos
os componentes, que depois foram montados e parafusados como
um quebra-cabeça dentro do apartamento.
A estrutura em aço atravessa toda a extensão do imóvel e
desempenha múltiplas funções – estante e forro com iluminação
Acima, o edifício Prudência, projeto de Rino para a iluminação indireta. Abaixo, à esquerda, vista da sala de jantar: ao fundo,
Levi construído na década de 1940. Na página a porta de entrada, e, à frente, o elemento metálico que congrega múltiplas
ao lado, destaque para o grande elemento em funções: suporte de instalações elétricas e de luminárias, estante e divisória de
aço que, fixado na alvenaria e na estrutura de ambientes. Na seqüência, vista parcial da cozinha e da galeria: para reforçar a
concreto do prédio e solto da laje, funciona sensação de fluidez entre os espaços, o piso de ambos foi substituído por granilite
como estante e também suporta os anteparos branca com aspecto monolítico
1. hall
2. vestíbulo
3. sala de estar
4. sala de jantar
5. galeria
6. sala de som e TV
7. dormitório
8. dormitório
9. dormitório
10. varanda
11. copa e cozinha
12. área de serviços
13. dormitório de empregados
14. dormitório de hóspedes
15. banho
16. banho
17. banho
indireta na sala; aparador na sala de jantar; biombo entre a circu- A planta e a maquete eletrônica explicitam
como foi feita a intervenção – pequenos
lação e o banheiro; fechamento de painel móvel entre a galeria de
ambientes foram demolidos para dar lugar
circulação e a cozinha; estante de livro e armário na cozinha; além a um único elemento metálico que percorre
de comportar as instalações hidráulicas do banheiro e pontos de toda a extensão do apartamento, unificando os
ambientes. O aço, segundo os arquitetos, foi a
iluminação e telefonia. solução exata para atender todas as especifici-
Não resta dúvidas que o objetivo inicial foi plenamente alcançado dades do projeto
18 ARQUITETURA&AÇO
Fábrica
de conhecimentos
INSTALAÇÃO FABRIL DA DÉCADA DE 1960 É TRANSFORMADA EM
CAMPUS UNIVERSITÁRIO NA CAPITAL PAULISTA
20 ARQUITETURA&AÇO
LOCALIZADO EM UMA ÁREA de 120
mil m2, no bairro de Santo Amaro,
região sul da cidade de São Paulo, o
Centro Universitário Senac é resulta-
do de uma reciclagem arquitetônica
completa. Os antigos edifícios indus-
triais que abrigavam uma fábrica de
eletrodomésticos foram totalmente
reformulados pelos arquitetos Gian
Carlo Gasperini, Roberto Aflalo Filho
e Luiz Felipe Aflalo Herman, do escri-
tório paulistano Aflalo & Gasperini. O Nas duas páginas, vistas do bloco acadêmico. A horizontalidade e a linguagem
fabril foram mantidas, e a iluminação zenital que existia nos galpões também
resultado foi tão bem-sucedido que, foi preservada, garantindo luz natural e ventilação cruzada às salas de aula. Os
apesar de manter a linguagem fabril mezaninos metálicos instalados neste bloco dividiram o pé-direito industrial em
dois e aumentaram a área útil do campus em mais de 10 mil m2
e a distribuição espacial do conjunto,
o campus parece ter sido concebido do
Fotos Nelson Kon
ARQUITETURA&AÇO 21
implantação de dois novos andares com estrutura em aço. “A idéia
de estrutura metálica para os grandes mezaninos se impôs quase > Projeto arquitetônico: Gian Carlo
Gasperini, Roberto Aflalo Filho e
que naturalmente”, explica Ferreira. Para o arquiteto, o fato de
Luiz Felipe Aflalo Herman (Aflalo
poder projetar com exatidão as construções nos grandes espaços & Gasperini)
também só foi possível graças à estrutura metálica. “Além disso, > Colaboradores: Eduardo Martins
poderíamos ter grandes vãos com vigas de pouca altura”, completa. Ferreira, Fátima Machado Moreira,
Mirella Rezze (coordenação);
“No caso da biblioteca, a estrutura em aço era a única condição pos- Ricardo Aranha, Oliver Grham,
sível para se construir sobre o edifício existente com pouco peso. Cátia Portela, Leticia Lindemberg,
Sua adoção permitiu, junto com os painéis de concreto da fachada, Neiva Saito, André Bezerra,
Ricardo de Almeida (equipe)
uma obra rápida e muito precisa”, ressalta o arquiteto.
> Área construída: 60 mil m²
Além do edifício acadêmico, da reitoria e da biblioteca, outra cons- > Aço empregado: ASTM A572 GR42
trução que merece destaque no campus é o centro esportivo, constru- (perfis soldados) e ASTM A572
ído no local que antes abrigava o almoxarifado da fábrica. Para que o GR50 (perfis laminados)
Abaixo, à esquerda, o conjunto de piscinas é destaque no centro esportivo do campus; um mezanino metálico emoldura este complexo e
abriga as salas de ginástica. Na seqüência, a fachada do prédio que reúne o centro de convenções e o centro esportivo: estrutura metá-
lica e painéis pré-moldados deram agilidade à obra. No alto da página ao lado, vista da biblioteca: a estrutura em aço foi determinante
para a ampliação da área (de 2 para 6 mil m2) e para a definição de uma linguagem contemporânea. Na página ao lado, embaixo, átrio
central do centro de convenções: pé-direito generoso e teto com lâminas curvas de alumínio conferem amplitude e leveza ao conjunto
22 ARQUITETURA&AÇO
ARQUITETURA&AÇO 23
As novas passarelas metálicas interli-
gam os pátios nos andares superiores
e interagem de forma harmônica com
a arquitetura original
Identificação imediata
AO PERMITIR A CLARA DISTINÇÃO ENTRE O NOVO E O ANTIGO, O AÇO CONSTITUI UM ELEMENTO PRIMORDIAL
NA REFORMA DA PINACOTECA DE SÃO PAULO, PROJETO PREMIADO E DE REPERCUSSÃO INTERNACIONAL
A REFORMA da Pinacoteca do Estado “Todas as intervenções que resultaram em algum novo elemento
de São Paulo entre 1993 e 1998, pro- foram realizadas com o emprego do aço como material construtivo”,
jetada por Paulo Mendes da Rocha, explica o arquiteto Eduardo Colonelli. Segundo ele, tanto nos elemen-
Eduardo Colonelli e Weliton Torres, é tos estruturais (perfis das clarabóias que cobrem os vãos internos,
uma referência no uso do aço como passarelas de interligação e pisos), como nas escadas, esquadrias, for-
solução construtiva e estética. ros e no mobiliário integrado com a arquitetura (vitrines, bilheteria
Projetado por Ramos de Azevedo e
Fotos Nelson Kon
ARQUITETURA&AÇO 25
Associação Brasileira da
Construção Metálica
Informações
www.abcem.org.br www.construmetal.com.br
MODERNIDADE E
MEMÓRIA
NO SANTANDER CULTURAL, A ARQUITETURA ORIGINAL DO EDIFÍCIO, PROJETADO NA DÉCADA DE 1920,
CONVIVE EM HARMONIA COM A CONTEMPORANEIDADE, REPRESENTADA POR UM ÁTRIO DE AÇO E VIDRO
Ary Diesendruck
ARQUITETURA&AÇO 27
em um tapete luminoso e colorido aos
pés de quem percorre o piso transpa-
rente. “O aço estabelece a ligação entre
o passado e o presente da construção”,
explica Loeb, referindo-se especifica-
mente à grelha metálica do piso e às
chapas brancas de tela perfurada que
revestem lateralmente o ambiente. O
átrio hoje ocupa um espaço que, no
passado, correspondia ao antigo poço
de ventilação e iluminação do prédio.
O revestimento metálico e a vedação
de vidro estão fixados em uma estru-
tura composta por perfis e montantes
metálicos brancos, presos às paredes
originais do edifício.
A cobertura metálica do átrio cen-
tral é constituída por arcos em aço e
chapas de vidro plano transparente,
garantindo a plena insolação do espa-
ço e, conseqüentemente, a luminosi-
dade dos vitrais originais.
Ary Diesendruck
28 ARQUITETURA&AÇO
a engenheira Heloísa Maringoni, res-
ponsável pelo cálculo estrutural.
Ao acessar o subsolo, o visitante se
surpreende com as antigas caixas-for-
tes do edifício, hoje ocupadas por um
cinema, biblioteca, museu e restauran-
te do centro cultural. Os espaços expo-
sitivos foram implantados no térreo e a
sede administrativa, por sua vez, ocupa
o primeiro e segundo pavimentos. Já o
Corte longitudinal
átrio central criou uma área adicional
de 700 m2, onde acontecem atividades
como exposições, palestras, peças tea-
trais e apresentações musicais. (V.F.) M
Luiz Carlos Felizardo
Corte transversal
ARQUITETURA&AÇO 29
Paisagem
redescoberta
IMPLANTAÇÃO DE TERRAÇO-JARDIM EM EDIFÍCIO ÍCONE DA
ARQUITETURA MODERNISTA CARIOCA É VIABILIZADA PELA
ESTRUTURA EM AÇO
AS ENCOSTAS DO CORCOVADO ganharam novos contornos para cobertura final em lajotas cerâmicas.
os moradores e visitantes do apartamento 702 do edifício Antônio Na implantação deste anexo, todo
Ceppas, no Rio de Janeiro, depois da reforma-ampliação elaborada estruturado em aço, o arquiteto teve o
pelo arquiteto Francisco Hue. Hoje, quem adentra o imóvel projetado cuidado de não interferir na volume-
em 1952 pelo arquiteto Jorge Machado Moreira, é convidado não só a tria do prédio e não ultrapassar o gaba-
admirar os traços característicos da escola modernista deste período, rito da caixa d’água de seção oblonga,
como a avistar a deslumbrante paisagem carioca na nova cobertura. tão característica dos projetos de Jorge
O arquiteto conta que os proprietários do imóvel tinham o Machado Moreira. Hue explica, ainda,
direito legal de ocupação da laje e que a idéia inicial era criar que, para a criação do jardim, teve de
um acesso privado para um terraço-jardim. “Porém, o gabarito e levar em conta a platibanda original
os afastamentos impostos permitiram uma ocupação central da do prédio com 2,10 m de altura e as
área de cobertura, que além da caixa de escada absorveu em seu vigas invertidas, que o obrigaram a
programa um pavilhão de 80 m2, com um quarto, uma pequena projetar uma segunda laje, com um
copa e um banheiro”, relata Hue. Assim, além do terraço com 270 entrepiso de 90 cm de altura, possibi-
m2, a cobertura ganhou uma nova construção que se distingue por litando a drenagem do novo jardim.
seu telhado formado por um arco abatido de laje pré-moldada com Dessa maneira, com a laje rebaixada
30 ARQUITETURA&AÇO
em alguns pontos, a cobertura pôde
Fotos Francisco Hue
ARQUITETURA&AÇO 31
expediente
Revista Arquitetura & Aço
Uma publicação trimestral da Quadrifoglio Editora
para o CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço)
Apoio: CBCA: Av. Rio Branco, 181 – 28º andar
20040-007 – Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 2141-0001
cbca@ibs.org.br
www.cbca-ibs.org.br
Conselho Editorial
Alcino Santos – ArcelorMittal Tubarão
Catia Mac Cord Simões Coelho – CBCA/IBS
Marcelo Micali – CSN
Paulo Cesar Arcoverde Lellis – Usiminas
Roberto Inaba – Cosipa
NÚMEROS ANTERIORES: Ronaldo do Carmo Soares – Gerdau Açominas
&
32 ARQUITETURA AÇO