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Organizações Rurais & Agroindustriais

ISSN: 1517-3879
fic@unaes.com.br
Universidade Federal de Lavras
Brasil

Lourenzani, Wagner Luiz


Capacitação gerencial de agricultores familiares: uma proposta metodológica de extensão rural
Organizações Rurais & Agroindustriais, vol. 8, núm. 3, 2006, pp. 313-322
Universidade Federal de Lavras
Minas Gerais, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87880303

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CAPACITAÇÃO GERENCIAL
Capacitação DE AGRICULTORES
gerencial de agricultores FAMILIARES:
familiares: uma proposta... 313
UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE EXTENSÃO RURAL

Managerial capacitation of family-based farmers: an agricultural extension methodological proposal

Wagner Luiz Lourenzani1

RESUMO
O segmento da agricultura familiar assume papel sócio-econômico de grande importância no agronegócio brasileiro. Seu desenvolvimento
é entendido como uma das pré-condições para uma sociedade economicamente mais eficiente e socialmente mais justa. Existe uma
série de fatores que afetam significativamente o desempenho dos empreendimentos rurais. Muitas dessas variáveis fogem ao controle
da unidade de produção, mas outras, como a gestão da produção, estão mais diretamente vinculadas ao seu controle. Problemas
relacionados à sua sustentabilidade revelam a forte deficiência na administração de estabelecimentos rurais em geral e, em particular,
na produção familiar. Assim, a proposta de um curso de extensão rural, na área gerencial, atua especificamente sobre esta deficiência,
articulando as diversas ferramentas gerenciais de apoio à produção familiar. Neste contexto, este trabalho busca propor uma estrutura
metodológica de capacitação gerencial de agricultores familiares, de forma a contribuir para a sustentabilidade econômica da agricultura
familiar, bem como para a melhoria da qualidade de vida no campo.
Palavras-chaves: extensão rural, capacitação gerencial, agricultura familiar.

ABSTRACT
Family-based agriculture plays an important socio-economical role in Brazilian agribusiness. Its development is considered a pre-
condition for an economically efficient and fair society. There are numerous variables influencing the performance of rural business.
Several variables can not be controlled by the farmers, but, there are some variables which can be controlled, as farm management.
Problems related to farm business sustainability revel inefficiencies in farm management in general, and more specifically in family
based agriculture. Therefore the proposal of a rural extension course in management, acts over this deficiency, providing tools for
family-based agriculture. This paper presents a methodological framework of a managerial capacitation extension course, which
aggregates different tools for family-based agriculture support. It is expected that the knowledge supplied will contribute to the
sustainability of the economical business and improvement of family welfare.
Key words: agricultural extension, managerial capacitation, family-based agriculture.

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA De acordo com o último Censo Agropecuário 95/


Produzindo as matérias-primas de origem animal e 96, cerca de 85% do total das propriedades rurais do país
vegetal, o elo de produção agropecuária constitui o núcleo pertencem a grupos familiares, envolvendo um universo
do sistema agroindustrial. No Brasil, sua importância sócio- de 13,8 milhões de pessoas que são responsáveis por
econômica é evidente. Segundo Gasques et al. (2004), a significativa parcela da produção de alimentos consumidos
atividade agropecuária é responsável direta por 17,4 pela população brasileira, tanto aqueles considerados
milhões de empregos no Brasil, respondendo por 24,2% básicos, como para as grandes cadeias agroindustriais.
da população economicamente ativa. Além disso, ela é o Segundo Lima & Wilkinson (2002), a agricultura
alicerce econômico da maioria das pequenas e médias familiar cria oportunidades de trabalho local, reduz o êxodo
cidades brasileiras. rural, diversifica os sistemas de produção, possibilita uma
Como parte integrante do elo de produção atividade econômica em maior harmonia com o meio
agropecuária, o segmento da agricultura familiar assume ambiente e contribui para o desenvolvimento dos
papel sócio-econômico de grande importância no municípios de pequeno e médio porte.
agronegócio brasileiro. Seu desenvolvimento é entendido De maneira geral, o objetivo da maioria dos negócios
como uma das pré-condições para uma sociedade familiares – incluindo os empreendimentos rurais – é crescer
economicamente mais eficiente e socialmente mais justa. de forma sustentável, aumentando sua viabilidade e

1
Graduação em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa/UFV, mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade
Federal de Viçosa/UFV, e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos/UFSCar, Professor Assistente da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/UNESP – Campus de Tupã – Av. Domingos da Costa Lopes, 780 – Jd. Itaipu – 17602496 –
Tupã, SP – wagner@tupa.unesp.br

Recebido Organizações
em 04/09/06 eRurais & Agroindustriais,
aprovado em 18/10/06 Lavras, v. 8, n. 3, p. 313-322, 2006
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preparando sua transição para a próxima geração. O negócio usuais nos sistemas tradicionais de produção. Além da
familiar deve, portanto, ser gerenciado em busca da utilização de tecnologia e novas formas de organização,
viabilidade no curto prazo e da riqueza no longo prazo. inclusive coletiva, também é imprescindível trabalhar com
O negócio familiar mistura emoção e a gestão do empreendimento.
sentimentalismo com objetividade e racionalidade. A família O principal problema não se encontra nas técnicas
e o negócio são inseparavelmente conectados, apesar da agropecuárias que, dentro da realidade de cada produtor,
relativa incompatibilidade entre os dois componentes. O estão plenamente disponíveis. Ele reside, sobretudo, na
negócio familiar, diferentemente do negócio corporativo, compreensão do funcionamento dos mercados, que impõe
deve tratar as demandas dos relacionamentos familiares articulação com os segmentos a montante e a jusante da
tão bem como com as demandas do mercado consumidor cadeia produtiva, novas formas de negociação e práticas
(ROBBINS & WALLACE, 1992). de gestão do processo produtivo. Além disso, é necessário
Nesse contexto, o desempenho da agricultura encontrar um ponto de equilíbrio entre a articulação com
familiar é determinado por um conjunto grande de variáveis, os agentes da cadeia de produção e a possível perda de
sejam decorrentes das políticas públicas e da conjuntura poder decisório, em troca da maior rentabilidade e
macroeconômica, sejam decorrentes de especificidades estabilidade.
locais e regionais. Muitas dessas variáveis fogem ao Uma parte significativa dos pequenos produtores
controle da unidade de produção, mas outras, como a rurais ignora a evolução do mercado e as alterações nos
gestão da produção, estão mais diretamente vinculadas hábitos de consumo, olhando apenas a sua atividade, como
ao seu controle. se ela estivesse desvinculada dos demais segmentos da
Existe uma série de fatores que afetam cadeia produtiva ou dos próprios hábitos dos
significativamente o desempenho dos empreendimentos consumidores.
rurais. A elaboração de projetos agrícolas para a solicitação A proposta de um curso de extensão rural na área
de crédito, a tomada de decisão sobre o que produzir, a gerencial atua especificamente sobre esta deficiência,
escolha da tecnologia a ser adquirida, o processo de articulando as diversas ferramentas gerenciais de apoio à
compra de insumos e venda de produtos, o acesso aos produção familiar. A qualificação em gestão da agricultura
mercados, entre outros, estão entre eles. De maneira geral, familiar, partindo de uma orientação multidisciplinar, é
lidar com essa complexidade de funções positiva e fundamental. O uso de métodos de gestão nas
concomitantemente exige capacitações gerenciais, unidades familiares favorece melhores condições para a
ausentes na maioria dos produtores rurais, inclusive os sua inserção nos mercados e, conseqüentemente, para a
familiares. Tal deficiência provoca impactos negativos no geração de rendas pelas famílias de agricultores.
desenvolvimento desse segmento e, conseqüentemente, Neste contexto, este trabalho busca propor uma
na sua integração aos mercados mais dinâmicos. Assim, é estrutura metodológica de capacitação gerencial de
possível encontrar produtores familiares em áreas bastante agricultores familiares, de forma a contribuir para a
desenvolvidas do país, onde existem amplo mercado, sustentabilidade econômica da agricultura familiar, bem
disponibilidade de crédito, fornecedores, agroindústrias, como para a melhoria da qualidade de vida no campo.
mas com projetos produtivos fracassados. Não é raro
encontrar projetos de investimento e custeio destinados à 2 REFERENCIAL TEÓRICO
agricultura familiar apoiados por organizações 2.1 Agricultura familiar
governamentais, com crédito e assistência técnica
subsidiados, mas com baixo desempenho. Definir agricultura familiar como conceito de análise
Do ponto de vista técnico, tratam-se, muitas vezes, não é tarefa fácil. Estudo realizado pelo convênio FAO/
de projetos mal concebidos, associados à adoção de INCRA (1996) diferencia os produtores familiares dos
opções produtivas inconsistentes, insuficientemente patronais a partir do emprego de mão-de-obra (isto é, os
testadas e até mesmo descabidas. Este problema, produtores familiares devem ter nenhum empregado
corriqueiro na administração de estabelecimentos rurais permanente e ou menos de cinco trabalhadores temporários
em geral e, em particular, na produção familiar, revela a em algum mês do ano) e de acordo com o nível da renda
forte deficiência em atividades de gestão. agrícola monetária bruta (RAMB). Guanziroli et al. (2001)
É imperativo que os produtores adotem o processo substituem tal definição por uma sistemática menos
de aprendizagem de todo um conjunto de atividades pouco arbitrária, em que a diferenciação entre familiares e patronais

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ocorre em razão da predominância do trabalho familiar sobre De acordo com Picinatto et al. (2000), o Brasil possui
o assalariado. 75% de seus municípios com menos de 20 mil habitantes,
Mesmo assim, a concepção de unidade de produção nos quais a agricultura é a base da economia. Tal atividade
agrícola, em que a propriedade e o trabalho estão é responsável, direta ou indiretamente, pela maioria dos
intimamente ligados à família, é delimitada por diferentes empregos e, conseqüentemente, da renda rural e urbana.
visões de análise. Guanziroli et al. (2001) afirmam que, Segundo os autores, mesmo considerando que parte da
freqüentemente, este tema é equivocadamente associado população rural dos 25% dos municípios restantes
à “pequena produção”, atribuindo um limite máximo de dependa de atividades não-agrícolas, é o desenvolvimento
área ou de valor de produção à unidade familiar. do conjunto das cadeias produtivas agropecuárias
Wanderley (1999) caracteriza de forma genérica o (produção, industrialização e comercialização) que gera e
conceito de agricultura familiar, em que a família, além de mantém a grande maioria dos empregos na área rural. Assim,
ser proprietária dos meios de produção, assume também o estima-se que entre 35% a 40% da população brasileira
trabalho no estabelecimento produtivo. Esta concepção depende direta ou indiretamente do desenvolvimento da
incorpora desde o campesinato tradicional até o produtor atividade agropecuária.
familiar moderno. No meio rural, os agricultores familiares são os que
Segundo Guanziroli et al. (2001), a agricultura geram mais empregos e fortalecem o desenvolvimento local,
familiar não deve ser definida a partir do tamanho do pois distribuem melhor a renda, são responsáveis por uma
estabelecimento2. Estes autores partem de um conceito parte significativa da produção nacional, respeitam mais o
mais geral, no qual as seguintes condições devem ser meio ambiente e, principalmente, potencializam a economia
simultaneamente atendidas: (a) a direção dos trabalhos nos municípios onde vivem.
deve ser exercida pelo produtor e (b) o trabalho da família De acordo com dados do Censo Agropecuário de
deve ser superior ao trabalho contratado (terceiros). 1995/96, os agricultores familiares somam 4.139.369
Percebe-se que, mesmo aqueles que não são proprietários estabelecimentos rurais, representando 85,2% dos quase
da terra, como os arrendatários, os parceiros e os posseiros, 5 milhões de estabelecimentos existentes no Brasil. Estes
podem ser caracterizados como agricultores familiares. estabelecimentos familiares ocupam 30,5% da área agrícola
De maneira análoga ao modelo proposto pelo total, respondendo por 37,9% do Valor Bruto da Produção
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Agropecuária Nacional (VBP), o que equivale a cerca de
(PRONAF)3, Altmann (2002, p. 7) preconiza o conceito de R$18,5 bilhões. Entretanto, recebem apenas 25,3% do
agricultura familiar de forma mais detalhada, em que: financiamento destinado à agricultura (GUANZIROLI et
al., 2001; PICINATTO et al., 2000).
Agricultor familiar é aquele que explora parcela da terra na Apesar da importância e da representatividade da
condição de proprietário, assentado, posseiro, arrendatário agricultura familiar, problemas estruturais e conjunturais
ou parceiro, e atende simultaneamente aos seguintes vividos pelos agricultores devem ser considerados.
quesitos: utiliza o trabalho direto, seu e de sua família, Segundo Picinatto et al. (2000), parte significativa desses
podendo ter, em caráter complementar, até dois empregados agricultores familiares não tem acesso à terra (são
permanentes e contar com ajuda de terceiros, quando a arrendatários, ocupantes ou parceiros), sendo que 39,8%
natureza sazonal da atividade agropecuária o exigir; não deles possuem, sob qualquer forma, menos de 5ha de área
detenha, a qualquer título, área superior a quatro módulos total (o que, na maioria dos casos, inviabiliza sua
fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; tenha, sustentabilidade econômica por meio da agricultura) e
no mínimo, 80% da renda familiar bruta anual originada da apenas 16,7% têm acesso a algum tipo de assistência
exploração agropecuária, pesqueira e/ou extrativa; resida técnica. Além disso, 44,1% dos estabelecimentos
na propriedade ou em aglomerado rural ou urbano próximo. comercializam menos de 50% do valor da sua produção,
sendo classificados como pouco integrados ao mercado
(GUANZIROLI et al., 2001).
2
Do ponto de vista conceitual, a extensão máxima deve ser Esses dados deixam clara a importância social e
determinada pelo que a família pode explorar com base em seu econômica da agricultura familiar no Brasil, assim como
próprio trabalho, associado à tecnologia de que dispõe suas fragilidades e potencialidades. Por um lado, observa-
(GUANZIROLI et al., 2001). se a capacidade de geração de renda e emprego, além da
3
Ver Picinatto et al. (2000). importante contribuição da agricultura familiar para a

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produção agrícola. Por outro lado, fica claro também que a diversas variáveis interdependentes. No âmbito da
agricultura familiar ainda é depositária de um grande unidade produtiva, têm-se como fatores determinantes
contingente, vivendo em condições sociais e de produção para a tomada de decisão os recursos, as tecnologias e
extremamente heterogêneas e, muitas vezes, as informações disponíveis por parte do administrador.
compreendendo bolsões de pobreza rural. Entretanto, essas decisões sofrem também influências
de fatores externos ao estabelecimento, como aquelas
2.2 Administração rural
referentes ao ambiente institucional, as políticas
De acordo com Bateman & Snell (1998), a gestão de governamentais e, principalmente, as condições do
uma empresa é um processo que busca concretizar mercado. Ressalta-se que os fatores recursos, tecnologia
objetivos organizacionais por meio do trabalho com e informação advêm também do meio externo ao
pessoas e recursos. Dentre as suas principais funções a empreendimento.
desempenhar estão o planejamento, a implementação e o Neste contexto, pode-se dizer que a gestão de uma
controle das atividades. O planejamento tem a função de empresa rural é um processo de tomada de decisão que
especificar os objetivos a serem atingidos, bem como avalia a alocação de recursos escassos em diversas
decidir as ações adequadas para alcançar esta finalidade. possibilidades produtivas, dentro de um ambiente de riscos
A implementação trata da execução das ações previamente e incertezas característicos do setor agrícola.
identificadas e planejadas, por meio da coordenação dos Independentemente do seu tamanho, o gerenciamento da
recursos disponíveis. Finalmente, a função controle busca propriedade rural é um dos fatores indispensáveis para
assegurar que os objetivos planejados sejam atingidos, alcançar o desenvolvimento sustentável da propriedade
pelo monitoramento das atividades e execução de ações como um todo. Para tanto, Santos & Marion (1996, p. 16)
corretivas, caso sejam necessárias. definem a missão do administrador rural como sendo “O
Tais princípios básicos da Administração, que são principal papel do administrador rural é planejar, controlar,
aplicados à indústria e ao comércio, em termos gerais, são decidir e avaliar os resultados, visando à maximização dos
válidos também para o setor agropecuário. Entretanto, lucros, à permanente motivação, ao bem-estar social de
deve-se ressaltar que esta última atividade apresenta seus empregados e à satisfação de seus clientes e da
determinadas características que a diferenciam dos demais comunidade”.
segmentos, as quais precisam ser consideradas. A terra, De forma a operacionalizar o papel do administrador
por exemplo, representa, para a indústria, somente a base rural, podem-se caracterizar suas funções a partir de
para a instalação do imóvel, enquanto, para a agricultura, é processos gerenciais. Entre os principais processos
considerada como o principal meio de produção e que gerenciais existentes em estabelecimentos de produção
precisa ser estudado na sua microcomposição, visando à agrícola estão:
exploração do seu potencial máximo. • os processos de definição/identificação dos mercados a
Segundo Santos & Marion (1996), os fatores que serem atendidos, de entrega/distribuição dos produtos e
afetam os resultados econômicos da empresa agrícola podem de atendimento aos clientes;
ser de natureza externa ou interna. Os fatores externos, como • os processos de produção propriamente ditos, como
os preços dos produtos, o clima e as políticas agrícolas, quais os produtos a serem produzidos e em quais
etc., apresentam caráter incontrolável por parte do quantidades; e,
administrador. Mesmo assim, é preciso conhecê-los para • o processo de suprimento da empresa, ou seja, a aquisição
que se possa tomar decisões ajustadas às condições dos recursos necessários (naturais, físicos, financeiros,
favoráveis ou desfavoráveis. Os fatores internos, como tecnológicos e humanos).
aqueles ligados aos recursos humanos, ao planejamento da Dessa maneira, cabe ao administrador rural
produção, aos recursos financeiros e ao planejamento de encontrar meios para responder às questões essenciais
marketing, são diretamente controlados pelo administrador do seu empreendimento, como o que produzir, quanto
por meio de procedimentos gerenciais. Quanto maior o produzir, como produzir, quando produzir e para quem
conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento da produzir. Tais respostas podem ser encontradas adotando-
unidade e os fatores de produção, maiores serão as chances se ferramentas de suporte à gestão que, embora pouco
de melhorar os resultados econômicos. utilizadas em sistemas agropecuários, encontram-se
O funcionamento de um empreendimento rural é amplamente difundidas em sistemas de produção
resultado de uma estrutura complexa, composta por industriais. Dentre essas ferramentas, estão o planejamento

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e o controle da produção, a gestão financeira e de custos, ser realizado um diagnóstico da agricultura familiar
a gestão da qualidade, o planejamento de marketing e o n a r e g iã o . N e s ta e t a p a , s ã o i d e n tif ic a d o s e
gerenciamento da comercialização. caracterizados os produtores familiares da região
(número, área da propriedade, principais atividades
3 PROPOSTA METODOLÓGICA
a gr o p ec u á ria s ), b em co mo o inte r es s e d e s se s
A proposição metodológica deste trabalho está produtores pela capacitação gerencial. Essa última
baseada em um projeto de extensão rural, de caráter gerencial, informação pode ser obtida por meio dos técnicos/
o qual foi aprovado e financiado pelo Conselho Nacional de extensionistas que atuam na região e de lideranças de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)4. grupos de produtores, como associações e ou
A estrutura da proposta metodológica para a cooperativas, já que tais profissionais e líderes
capacitação gerencial de agricultores familiares está conhecem a demanda dos produtores locais.
apresentada na Figura 1. A seguir, está descrita, de forma Para tanto, são importantes, nesta etapa, a
mais detalhada, cada etapa desta estrutura.
elaboração de questionários e a realização de entrevistas
a) Diagnóstico dos produtores familiares da região semi-estruturadas com os agentes-chaves (produtores,
técnicos, líderes de grupo). Os seguintes itens devem ser
A partir do levantamento de dados secundários
e do apoio de instituições colaboradoras locais, deve analisados: a) principais culturas, b) área média das
propriedades, c) renda, d) estrutura familiar, e) estrutura
patrimonial, f) acesso a recursos (assistência técnica,
4
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico crédito, etc.); g) acesso a canais de comercialização e
– CNPq, entidade governamental brasileira promotora do compras e suprimentos e h) inserção nos mercados locais
desenvolvimento científico e tecnológico. e regionais.

FIGURA 1 – Estrutura metodológica do curso capacitação gerencial de agricultores familiares.


Fonte: elaborado pelo autor.

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b) Seleção e classificação de grupos homogêneos de módulos (data, horário, local, grupo de produtores e o
agricultores familiares capacitador). A definição e a alocação da equipe
responsável pela aplicação dos módulos de gestão devem
Identificados e caracterizados, os produtores podem
ser feitas com base nas características dos produtores
ser classificados e organizados em função das culturas e
locais (por exemplo, o maior conhecimento do pesquisador
demais características anteriormente mencionadas. Sugere-
relativo a certas culturas), bem como na disponibilidade
se que o curso de capacitação deve ser realizado por meio
de dias e horários da equipe.
de grupos entre 15 e 20 produtores. Acredita-se que este
número não seja tão pequeno que inviabilizaria a organização f) Aplicação dos módulos de gestão
do evento, nem tão grande que impossibilitaria a interação
Nessa etapa é realizado o curso gerencial de
dos produtores e a troca de experiências. Entretanto,
capacitação rural propriamente dito. Sugere-se que o curso
experiências em atividades extensão rural mostram que, para
de capacitação seja composto por módulos de gestão
alcançar um número desejado de participantes, um número
customizados em função das características dos produtores
bem maior de convites deve ser feito.
familiares locais.
c) Desenvolvimento de um curso gerencial de extensão De acordo com esta proposta metodológica, o
rural – módulos integrados curso de capacitação gerencial deve ser realizado e aplicado
A partir do conhecimento gerado no diagnóstico por meio de cinco módulos subdivididos nos seguintes
realizado e das demandas gerenciais percebidas pelos tópicos: a) planejamento da produção b) gestão da
técnicos e líderes, devem ser desenvolvidos e estruturados qualidade c) gestão de custos d) comercialização e e)
o curso de capacitação gerencial e seus respectivos módulos. captação de recursos financeiros. Tais módulos
Com base nas características da produção familiar contemplarão, ao final, o modelo de gestão integrada para
da região em estudo, os módulos de gestão são delineados agricultura familiar.
de forma a atender às demandas locais e regionais. O Cada módulo deve ter, no máximo, quatro horas de
delineamento pode ser feito, principalmente, em função do duração, sendo realizado em dias e horários adequados às
tipo de produção local (culturas), estrutura familiar, canais atividades dos produtores selecionados. A apresentação
de comercialização, compras e suprimentos. dos módulos deve ser feita por meio de aulas expositivas,
participativas e dinâmicas, para que haja troca de
d) Elaboração de material de apoio didático (cartilha e experiências e melhor absorção dos conhecimentos.
caderno de registros) Sugere-se que a primeira metade do módulo seja para a
Com o objetivo de melhorar o aproveitamento e a apresentação de conceitos e informações técnicas, e a
absorção dos conceitos e práticas apresentadas aos segunda, para a aplicação de exercícios e dinâmicas que
produtores durante os módulos de gestão, devem ser favoreçam a assimilação do conhecimento.
elaborados materiais de apoio didáticos. Esta proposta sugere que cada módulo seja
Sugere-se desenvolver uma cartilha de Boas realizado em meses diferentes. Assim, o produtor
Práticas Gerenciais (BPG), que ressalte as atividades necessitará disponibilizar apenas 4 horas por mês para
gerenciais básicas e fundamentais para o adequado participar do curso de capacitação. Ao final de cinco meses,
gerenciamento da propriedade rural. Tal cartilha serve como o produtor terá cumprido um total de vinte horas de
um guia para a consulta dos conceitos apresentados nos treinamento, recebendo o certificado de capacitação
módulos de capacitação. gerencial pela instituição executora.
Um Caderno de Registro também deve ser As justificativas e os objetivos de cada um dos
elaborado e disponibilizado para os produtores. Esse módulos propostos estão descritos a seguir:
material serve como instrumento para o acompanhamento
• Módulo 1 – Planejamento da produção
das atividades práticas a serem realizadas nas propriedades
agrícolas, em busca da gestão integrada. Para que o produtor familiar se desenvolva e
acompanhe a evolução do setor rural, é de fundamental
e) Organização do curso de extensão - definição da equipe
importância que sua propriedade seja administrada como
e cronograma de atividades
uma empresa, adotando técnicas e procedimentos
Nessa etapa são planejados o cronograma de gerenciais adequados à realidade da agricultura familiar.
atividades do curso de extensão e seus respectivos Entre estes procedimentos, destacam-se o planejamento

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das atividades produtivas, cujo objetivo é tornar a empresa necessidades dos clientes, padrões de qualidade dos
mais eficiente e competitiva, e as necessárias tomadas de produtos e legislação em vigor (LIMA & TOLEDO, 2003).
decisão envolvidas nessa atividade (VILCKAS, 2005). Dessa forma, questiona-se se a qualidade dos
Em toda atividade produtiva, o planejamento das produtos agrícolas ofertados realmente está garantida, em
atividades representa um ponto chave, pois as falhas ou a termos de segurança do alimento. Do ponto de vista do
ausência do planejamento influenciarão decisivamente no gerenciamento formal da atividade, a maior parte dos
desempenho da empresa e na sua sobrevivência no produtores familiares não tem a postura de registrar dados
mercado. no dia-a-dia, muito menos de convertê-los em informações
No processo de planejamento, uma das primeiras e para análises futuras, que seriam essenciais para formalizar
principais decisões a serem tomadas pelo produtor refere- o controle da atividade como um todo.
se aos produtos a serem oferecidos pela empresa. No De acordo com Lima & Toledo (2003), a falta de
entanto, a tomada de decisão é, em geral, feita de maneira postura para melhoria é evidenciada pelos seguintes
não estruturada, de acordo com a perspectiva, a lógica, o fatores: a) ausência de indicadores de desempenho; b) falta
bom senso e a capacidade cognitiva limitada de cada de sistemática para avaliar a satisfação dos clientes; c)
produtor, uma vez que o ser humano tem limitação para ausência de ações preventivas; d) não identificação de
compreender todos os sistemas a seu redor e ou processar problemas potenciais que poderiam ser evitados e e) falta
todas as informações que recebe (GOMES et al., 2002). de atuação nas causas dos problemas, acabando por
Dessa forma, destaca-se a importância de se ter um modelo permitir, eventualmente, a recorrência dos mesmos.
que ajude o produtor a estruturar sua tomada de decisão. Exposto esse cenário, fica evidente a complexidade
Dessa forma, a justificativa para a realização deste que é gerenciar uma propriedade rural e o quão difícil é a
módulo está baseada na grande carência de ferramentas produção agrícola com qualidade garantida. Assim, reforça-
de gestão adaptadas à realidade destes produtores, ou se o fundamental papel que pode ser exercido pela atividade
seja, técnicas simplificadas de gerenciamento adequadas de gestão da qualidade numa propriedade rural familiar, a
a empreendimentos de pequeno porte, que possuam uma fim de garantir e melhorar a qualidade de produtos tão
linguagem simples e de fácil operação. suscetíveis a perdas.
O módulo de planejamento da produção tem como Nesse sentido, existe a necessidade de desenvolver
finalidade maior auxiliar o produtor rural à tomada de um modelo de Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ)
decisões relativas ao planejamento da atividade agrícola. específico para a realidade das propriedades familiares
Ou seja, busca-se a maximização do controle dos fatores rurais, com a finalidade básica de garantir a qualidade de
internos à unidade de produção rural, tais como a escolha seus produtos e também melhorar os processos produtivos
da cultura a ser produzida (o que produzir), considerando e gerenciais. Este sistema buscaria promover a redução do
não somente características internas à unidade de índice de perdas e retrabalhos no estabelecimento familiar,
produção rural, mas também externas a esta (VILCKAS, bem como uma maior satisfação do consumidor final, em
2005). Pretende-se que, decorrido o curso de capacitação termos de qualidade e segurança do alimento (LIMA &
proposto, o produtor familiar seja capaz de tomar decisões TOLEDO, 2003).
mais adequadas em relação às atividade de planejamento Por fim, tem-se a expectativa de que a difusão deste
de sua produção agrícola familiar, incorrendo, assim, em modelo e de sua aplicação, por meio dos trabalhos de
menores riscos. extensão, contribuia para a efetiva profissionalização dos
agricultores familiares, conferindo-lhes um suporte
• Módulo 2 – Gestão da qualidade
gerencial do qual se mostram extremamente carentes, capaz
Em se tratando das atividades agrícolas familiares, de proporcionar à agricultura familiar, a médio e longo prazo,
sabe-se que, apesar de grande parte dos produtores rurais maior sustentabilidade na produção, inserção em novos
ser dotada de considerável conhecimento tácito, percebe- mercados e competitividade para a cadeia produtiva como
se uma grande carência de suporte gerencial. um todo.
Especificamente em relação à gestão da qualidade, pode-
se concluir que os mesmos se encontram bastante • Módulo 3 – Gestão de custos
defasados em relação ao mínimo esperado. A administração da empresa rural, independentemente
Destaca-se, entre a grande maioria dos agricultores do seu porte, não pode mais ser feita de maneira amadora.
familiares, a falta de informações precisas sobre Assim sendo, é fundamental que os agricultores possam

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dispor de ferramentas gerenciais adequadas às industrializados) para garantir a qualidade e o baixo custo
especificidades dos seus sistemas produtivos e de suas dos produtos adquiridos pelo produtor, para que ele atenda
culturas empresariais. Entre estas ferramentas gerenciais às necessidades da produção agrícola (MACHADO &
destacam-se os indicadores de desempenho e os sistemas SILVA, 2004).
de custeio. Observa-se uma nova demanda do setor
De acordo com Queiroz & Batalha (2003), em distribuidor e dos próprios consumidores finais. Nesse
ambientes agrícolas, a estrutura de alocação de custos sentido, para atender adequadamente aos agentes do canal
modelada deve levar em conta algumas características de distribuição, os produtores familiares necessitam
particulares da gestão desses ambientes. A sazonalidade é promover modificações significativas no sistema de
uma característica particular da produção, como as produção e comercialização de seus produtos (FAULIN &
pulverizações, fertilizações, roçagens e outras atividades, AZEVEDO, 2003; MACHADO & SILVA, 2004). Para tanto,
que são executadas em função de algumas variáveis, como necessitam ter informações sobre os pontos que envolvem
as infestações de pragas e os índices pluviométricos. a comercialização, como canais disponíveis, preços
Conclui-se, por este fator, que um sistema de gestão de praticados, condições de mercado, consumo, tendências,
custos para a área agrícola não pode ser o mesmo que é conjuntura, qualidade, classificação, padronização,
utilizado nos ambientes industriais, nos quais os embalagem. Porém, não é esta a realidade da grande maioria
processos de fabricação se repetem nos vários meses do dos produtores que, além de conviver com os problemas
ano. da produção, conhece pouco ou mesmo desconhece o
Tais peculiaridades não são abordadas pelos mercado final para seus produtos.
sistemas de custeio e indicadores de desempenho, nem Para adequar os produtores familiares às novas
mesmo os mais modernos. Além desses pontos, não seria realidades do mercado consumidor e às exigências do
possível aos agricultores familiares contratarem um mercado intermediário, é necessário que informações sejam
profissional somente para atuar nesta função dentro de disponibilizadas, de forma a facilitar as decisões acerca de
sua empresa. Portanto, é necessário e urgente a elaboração o quê, como, quando e para quem produzir (FAULIN &
de ferramenta de fácil aplicação e manuseio que atenda às AZEVEDO, 2003).
necessidades dos agricultores familiares (QUEIROZ & Este módulo tem como objetivos principais: tratar
BATALHA, 2003). da gestão de uma cadeia de suprimentos, ou seja, da gestão
Portanto, este módulo tem como objetivos de compras e apresentar as peculiaridades dos atuais canais
principais apresentar e discutir as necessidades gerenciais de distribuição utilizados pelos produtores familiares, as
referentes aos sistemas de coleta, controle e análise de principais exigências, considerando o ponto de vista dos
custos e dos indicadores financeiros em propriedades agentes atacadistas, varejistas e do ramo de refeições
agrícolas familiares, bem como as peculiaridades e as coletivas e as alternativas existentes para que o produtor
implicações no uso destes sistemas. alcance um posicionamento mais competitivo no mercado.
• Módulo 4 – Comercialização • Módulo 5 – Recursos financeiros
No contexto de negócios atual, cada vez mais Para implementar uma determinada estratégia de
imprevisível e turbulento, em que a demanda é variável e desenvolvimento, as unidades familiares necessitam de
os custos financeiros e das matérias-primas são altos, recursos financeiros. Esses recursos são consumidos em
acabou o mito do produtor independente que produz atividades produtivas (custeio), em subprojetos de
qualquer mercadoria, sem saber para qual mercado. O investimentos, em atividades de comercialização da
produtor agrícola deve entender que está inserido em uma produção e no suprimento das necessidades familiares
ou várias cadeias de abastecimento e de negócios, que durante os ciclos produtivos.
envolvem desde os fornecedores até os consumidores, De acordo com Mundo Neto & Souza Filho (2003),
passando pela produção, compra, gestão de materiais, os gastos incorridos durante o ciclo de produção e as
vendas, etc., e que a maneira como esta cadeia é planejada receitas provenientes das vendas dos produtos
determinará o desempenho de todos os agentes apresentam uma defasagem que precisa ser equacionada
pertencentes a ela. com recursos financeiros próprios ou captados
Dessa forma, é necessária a correta gestão da cadeia externamente. Em uma situação de pouca capitalização,
de suprimentos (insumos industrializados e não como a que ocorre entre a maioria dos agricultores familiares,

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Capacitação gerencial de agricultores familiares: uma proposta... 321

o desenvolvimento depende de recursos captados de cada módulo para que as críticas e sugestões possam
externamente. Uma vez que o crédito rural continua sendo ser prontamente incorporadas.
o principal instrumento da política agrícola, inclusive para Por fim, o valor financiado do projeto de extensão
a agricultura familiar, a explicitação das principais fontes (quando existir) deve ser dividido pelo número de
de recursos disponíveis e a análise dos problemas e dos produtores capacitados, de forma a revelar o custo da
limitantes da política de crédito no processo de capacitação gerencial de um produtor familiar.
desenvolvimento são de extrema importância.
Sob esta perspectiva, entre os principais problemas 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
relacionados ao crédito rural estão: a) desconhecimento Como resultados gerais da aplicação de projetos
sobre as oportunidades de crédito (assimetria de de extensão rural voltados à capacitação gerencial de
informação); b) dificuldades para avaliação das agricultores familiares, esperam-se os seguintes impactos:
possibilidades, considerando os riscos e as condições de • capacitação de produtores familiares e de
pagamento dadas as contingências da unidade produtiva disseminadores de conhecimento nas práticas relacionadas
(racionalidade limitada); c) atender às exigências ou à gestão integrada da propriedade rural;
restrições vinculadas a cada uma das possibilidades • maior integração dos produtores rurais nos
disponíveis; d) nenhum ou pouco relacionamento com os mercados locais e regionais;
agentes financeiros governamentais ou instituições • promoção da troca de informações entre
correlatas ao crédito rural, a exemplo das organizações que pesquisadores, extensionistas e produtores rurais;
fornecem serviços públicos de extensão rural; e) enorme • promoção do desenvolvimento, sustentabilidade
aversão aos riscos; f) indisponibilidade ou elevados custos e melhoria da qualidade de vida no campo.
relacionados ao seguro agrícola; g) incompatibilidade entre É importante ressaltar que a estrutura metodológica
as instituições de crédito rural e os agricultores; h) custos de capacitação gerencial de agricultores familiares proposta
relacionados ao tempo e deslocamento para obter neste trabalho tem a aspiração de promover a valorização
informações e formalizar os contratos de crédito (MUNDO dos conhecimentos locais, insumos endógenos e
NETO & SOUZA FILHO, 2003). exploração das potencialidades regionais. O modelo do
Diante do exposto, este módulo pretende tratar curso de gestão apresentado deve estar adaptado às
empiricamente da exposição das diferentes possibilidades condições locais, considerando as peculiaridades do
de captação de recursos, bem como dos entraves e público alvo e da sua região.
facilidades peculiares às diversas fontes de financiamento O enfoque metodológico participativo, preconizado
disponíveis para esse grupo de produtores. Portanto, o por meio da troca de experiências e atividades em grupo,
objetivo central deste módulo é capacitar o agricultor permite que o curso tenha uma abordagem multidisciplinar
familiar para o entendimento e a avaliação dos principais envolvendo conhecimentos técnicos e gerenciais durante
mecanismos de financiamento e apoio à tomada de decisão a aplicação dos módulos de gestão propostos.
relativa ao crédito. É fundamental que este tipo de projeto de extensão
envolva parcerias entre instituições de ensino,
g) Avaliação do curso e dos módulos de capacitação
cooperativas, associações e instituições de assistência
Para a avaliação do curso e dos módulos de técnica desde a sua concepção até sua finalização. Trata-
capacitação devem ser utilizados indicadores quantitativos se de um condicionante na viabilização da captação de
e qualitativos, tais como o número de produtores familiares recursos por meio de instituições financiadoras de projetos
que concluírem o curso de capacitação e o desempenho de extensão no país.
destes. O desempenho dos produtores familiares será
avaliado por meio da presença e dos exercícios realizados 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em sala de aula, bem como da participação e interesse nos ALTMANN, R. (Coord.). Perspectivas para a agricultura
módulos de gestão. familiar: horizonte 2010. Florianópolis: Instituto Cepa/SC,
Adicionalmente, devem ser preenchidos, pelos 2002. 112 p.
produtores que participaram do curso, questionários de
avaliação dos módulos (qualidade do professor e BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração:
relevância do módulo), com espaço para críticas e construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.
sugestões. Esses questionários serão empregados ao final 539 p.

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