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I n í c Ai ro g u m e n t o s A A

u t e
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rC el o ósn g t i r c a o - s A pF oi ll oo gs éo tf iiM cai as c e l â n e a
G e r a l N a t u r a l i s m o

S o b r e o
b l o g

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C o n t e s t a n d o o s f i n s d o h o m e m e d a c r i a ç ã o

« Descrença e Esperança – 2. Seria A Apreciação Crítica da Proposição


Descrença Uma Fórmula Para Escolástica “Omne Ens Est Bonum” »
Rebeldia…
878 curtidas
O Desespero?

M e t a f í s i c a e C r i t i c a b i l i d a d e ( 1 9 5 8 )
3 de abril de 2013 por Gilmar Santos Curtir Página

Autor: Karl Popper Seja o primeiro de seus


amigos a curtir isso.
Fonte: Textos Escolhidos, David Miller, org. (Rio de Janeiro: Contraponto/Editora
PUC-Rio, 2010), págs. 207-216.

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Se consideramos que uma teoria é uma proposta para solucionar um conjunto de


problemas, então ela logo se presta ao debate crítico – mesmo que seja não
empírica e irrefutável. Podemos fazer perguntas como: ela resolve o problema?
Resolve-o melhor do que outras teorias? Será que apenas deslocou o problema? A TÓPICOS RECENTES
solução é simples? É fecunda? Contradiz, talvez, outras teorias filosóficas
O papel da Filosofia numa
necessárias para resolver outros problemas?
era cientificista
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Quod Deus Dicitur: Conclusão
Diz o tolo em seu coração:
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não há Deus. Mas quem, ou o
Para evitar desde o início o risco de nos perdermos em generalidades, talvez seja quê, é um tolo?
melhor explicar de uma vez, com o auxílio de cinco exemplos, o que pretendo dizer A Busca Pelo Fundamento
com teoria filosófica ou metafísica. Divino do Ser: Avanços,

Um exemplo típico é a doutrina kantiana do determinismo no mundo da Retrocessos e Obstáculos

experiência. Embora, no fundo, Kant fosse indeterminista, ele escreveu na Crítica Quod Deus Dicitur

da Razão Prática[1] que o conhecimento pleno de nossas condições psicológicas e


fisiológicas e do ambiente tornaria possível prever nosso comportamento futuro
BLOGS ESTRANGEIROS
com a mesma certeza com que sabemos prever um eclipse solar ou lunar.
Debunking Christianity
Em termos mais gerais, poderíamos formular da seguinte maneira a doutrina Richard Carrier
determinista [ver também o texto 20, Indeterminismo e Liberdade Humana (1965) Secular Outpost
seção II, infra]:

O futuro do mundo empírico (ou fenomênico) é completamente predeterminado por


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seu estado atual, até os menores detalhes.

Outra teoria filosófica é o idealismo, a exemplo de Berkeley ou de Schopenhauer;


talvez possamos expressa-lo aqui com a seguinte tese: “o mundo empírico é minha
ideia” ou “o mundo é meu sonho”. [Ver também texto 17, Realismo (1970)
adiante.] Digite seu e-mail para
acompanhar e ser notificado por
Uma terceira teoria filosófica, hoje importantíssima, é o irracionalismo e-mail sobre as atualizações do
epistemológico, que poderíamos explicar assim: Rebeldia Metafísica.

Como sabemos, desde Kant, que a razão humana é incapaz de apreender ou Junte-se a 772 outros
conhecer o mundo das coisas em si, devemos perder a esperança de conhecê-lo ou seguidores
então tentar conhece-lo de outro modo que não seja a razão; já que não podemos Insira seu endereço de email
nem queremos abrir mão dessa esperança, resta-nos usar meios irracionais ou Siga-me!
suprarracionais como o instinto, a inspiração poética, os estados de espírito ou as
emoções.

Segundo os irracionalistas, isso é possível porque, em última análise, nós mesmos Alvin Plantinga
somos coisas em si; por isso, se de algum modo conseguirmos obter conhecimento Antigo Testamento
íntimo e imediato sobre nós mesmos, descobriremos como são as coisas em si. Antropologia Cultural
Esse argumento simples do irracionalismo é característico da maioria dos filósofos Argumento
pós-kantianos do século 19, a exemplo do engenhoso Schopenhauer. Ele descobriu Cosmológico
que, como nós, coisas em si, somos vontade, a vontade deve ser a coisa em si. O Kalam Argumento
mundo como coisa em si é vontade; como fenômeno é ideia. Estranhamente, essa evolutivo contra o naturalismo

filosofia obsoleta, vestida com nova roupagem, tornou-se de novo a última moda, argumento moral
embora – ou talvez porque – sua notável semelhança com as velhas ideias pós- Argumentos
kantianas tenha permanecido oculta (tanto quanto algo pode permanecer oculto Ateológicos
sob a nova roupa do imperador). A filosofia de Schopenhauer passou a ser sugerida Aristóteles Ateísmo
numa linguagem obscura e impressionante. Sua reveladora intuição de que, em Bertrand Russell Big Bang
última análise, o homem como coisa em si é vontade deu lugar à reveladora Ceticismo Ciência
intuição de que o homem pode entediar-se tão completamente que esse tédio Compatibilismo
prova que a coisa em si é nada – é o Nada, o Vazio em si. Não quero negar alguma cosmologia
originalidade a essa variante existencialista da doutrina de Schopenhauer: sua Cosmologia do Big
originalidade aparece no fato de que esse filósofo nunca desvalorizou a tal sua
Bang Cristianismo
própria capacidade de se entreter. O que ele descobriu em si foram vontade,
Criticismo Bíblico Daniel
atividade, tensão e emoção – mais ou menos o inverso do que descobriram alguns
Dennett darwinismo David
existencialistas: o tédio extremo do entediante em si entediado de si mesmo.
Porém, Schopenhauer já não está em voga: a grande moda da nossa época pós-
Hume
kantiana e pós-racionalista é o que Nietzsche (“assombrado por pressentimentos e Debunking
suspeitas sobre seus seguidores”) chamou, com acerto, de “niilismo europeu”.[2] Christianity
Defesa do Livre-Arbítrio
Tudo isso é digressão. Temos agora, diante de nós, uma lista de cinco teorias
Determinismo
filosóficas.
Epistemologia Eric
Primeira, o determinismo: o futuro está contido no presente, é plenamente Voegelin Escolástica
determinado pelo presente. Estudos Bíblicos
Segunda, o idealismo: o mundo é meu sonho. Fatos
Existencialismo

Terceira, o irracionalismo: temos experiências irracionais ou suprarracionais em


Morais Existem
que nos experimentamos como coisas em si; portanto, temos uma espécie de
Naturalmente (E A
conhecimento das coisas em si.
Ciência Pode
Descobri-los) Filosofia
Quarta, o voluntarismo: em nossas volições, conhecemos a nós mesmos como da Consciência Filosofia da
vontade; a coisa em si é vontade. Mente Filosofia da Religião

Quinta, o niilismo: em nosso tédio, conhecemos a nós mesmos como nada; a coisa Fundamentalismo
em si é o nada. Hector Avalos História da
Ciência História Medieval
Nossa lista terminou. Escolhi os exemplos de um modo que, após exame criterioso,
posso dizer que cada uma dessas cinco teorias é falsa. Deixem-me enuncia-lo com Humanismo
mais exatidão: sou, em primeiro lugar, indeterminista, em segundo, realista, em Secular Idade Média
terceiro, racionalista. No que concerne a meu quarto e quinto exemplos, admito de Indeterminismo Jaco
bom grado – com Kant e outros racionalistas críticos – que não podemos alcançar John W.
Gericke
nada que se assemelhe a um conhecimento completo do mundo real, infinitamente
rico e belo. Nem a física nem qualquer outra ciência pode nos ajudar nessa meta.
Loftus Kant Keith
Mas estou certo de que a fórmula voluntarista “o mundo é vontade” também não
Augustine Libertismo
pode nos ajudar. Quanto aos niilistas e existencialistas que se entediam (e talvez Livre-Arbítrio Luiz
entediem os outros), só posso ter piedade deles. Devem ser cegos e surdos, Felipe Pondé Lógica
coitados, pois falam do mundo como um cego falaria das cores de um Perugino ou Materialismo Moral
um surdo, da música de Mozart. moralidade

Por que fiz questão de selecionar teorias filosóficas que creio serem falsas? Porque, naturalismo
dessa maneira, espero enunciar com mais clareza o problema contido no seguinte Neoateísmo
neurociência Niilismo
enunciado, que é importante:
OTF
Ontologia
Embora eu considere falsa cada uma dessas cinco teorias, estou convencido de que
todas são irrefutáveis.
Outsider Test
Of Faith Platão
Quem ouve essa afirmação pode indagar como uma teoria pode ser, ao mesmo
problema do mal
tempo, falsa e irrefutável. Como um racionalista, como eu, pode dizer que uma
Quentin
teoria é falsa e irrefutável? Na condição de racionalista, não sou obrigado a refutar
uma teoria depois de afirmar que ela é falsa? Inversamente, não sou obrigado a
Smith Richard
admitir que uma teoria irrefutável é verdadeira? Carrier Richard
Dawkins Richard
Com essas perguntas, finalmente cheguei ao nosso problema.
Swinburne Sam
A última pergunta pode ser respondida de maneira bem simples. Houve pensadores
Harris Santo
que acreditaram que a verdade de uma teoria podia ser deduzida de sua
Agostinho
irrefutabilidade. É um erro flagrante. É possível haver duas teorias incompatíveis
mas igualmente irrefutáveis – por exemplo, o determinismo e seu oposto, o
Secularismo Teologia
indeterminismo. Como duas teorias incompatíveis não podem ser, ambas,
Teste da Fé do
verdadeiras, percebemos, pelo
irrefutabilidade não implica verdade.
fato de ambas serem irrefutáveis, que a
Infiel The End Of
Christianity Tomás
É inadmissível inferir a verdade de uma teoria a partir de sua irrefutabilidade,
de Aquino Uma Análise da
independentemente da maneira como interpretemos irrefutabilidade. Usa-se essa
Santidade Um Argumento
palavra em dois sentidos.
Cosmológico A Partir Do
O primeiro é puramente lógico: podemos usar “irrefutável” no sentido de Big Bang Para a
“irrefutável por meios puramente lógicos”. Mas isso significa o mesmo que Inexistência de Deus
“coerente”. Ora, é óbvio que uma teoria não pode ser considerada verdadeira por
William
ser coerente.
Lane Craig
O segundo sentido de “irrefutável” refere-se a refutações que usam não apenas ética
suposições lógicas (ou analíticas), mas também suposições empíricas (ou
sintéticas); em outras palavras, aqui se admitem refutações empíricas. Neste
BLOG STATS
segundo sentido, “irrefutável” significa o mesmo que “não empiricamente refutável”
166,144 Acessos
ou, em termos mais exatos, “compatível com qualquer enunciado empírico
possível” ou “compatível com qualquer experiência possível”.

Ora, as irrefutabilidades lógica e empírica de um enunciado ou de uma teoria COMENTÁRIOS


podem ser facilmente compatíveis com a falsidade delas. No caso da Cícero em O

irrefutabilidade lógica, isso se evidencia pelo fato de que qualquer enunciado Holocausto Judeu: O

empírico e sua negação devem ser logicamente irrefutáveis. Por exemplo, os Mais Trá…

enunciados “hoje é segunda-feira” e “hoje não é segunda-feira” são logicamente Guilherme. em O

irrefutáveis. Logo, existem enunciados falsos que são logicamente irrefutáveis. Holocausto Judeu: O
Mais Trá…
A situação é um pouco diferente quando tratamos da irrefutabilidade empírica. Os
Cícero em O
exemplos mais simples de enunciados empiricamente irrefutáveis são os chamados
Holocausto Judeu: O
enunciados existenciais estritos ou puros. Eis um exemplo: “Existe uma pérola que
Mais Trá…
é dez vezes maior do que a segunda maior pérola”. Se restringirmos a palavra
Guilherme. em O
“existe” a uma região finita do espaço e do tempo, esse enunciado poderá tornar-
Holocausto Judeu: O
se refutável. Por exemplo, o seguinte enunciado é obviamente passível de
Mais Trá…
refutação empírica: “Neste momento e nesta caixa existem pelo menos duas
Cícero em O
pérolas, uma das quais é dez vezes maior do que a segunda maior pérola da
Holocausto Judeu: O
caixa.” Mas tal enunciado já deixou de ser um enunciado existencial estrito ou
Mais Trá…
puro: trata-se, antes, de um enunciado existencial restrito. O enunciado existencial
estrito ou puro aplica-se ao universo inteiro. Ele é irrefutável simplesmente porque Jean Maciel Paz em

nenhum método pode refuta-lo. Mesmo que pudéssemos vasculhar o universo Richard Dawkins

inteiro, o enunciado existencial estrito ou pruo não seria refutado se não explica porque…

encontrássemos a pérola procurada: ela poderia estar escondida num lugar que
não houvéssemos examinado.

Eis alguns exemplos de enunciados existenciais empiricamente irrefutáveis que


apresentam maior interesse:

“Existe um tratamento completamente eficaz para o câncer ou, mais precisamente,


existe um composto químico que pode ser tomado sem efeitos nocivos e que cura o
câncer.” Tal enunciado não diz que tal composto químico já é conhecido, nem que
ele será descoberto em determinado prazo.

Exemplos similares são: “existe cura para qualquer doença infecciosa” e “existe
uma fórmula em latim que, se pronunciada de maneira ritualmente correta, cura
todas as doenças”.

Temos aí um enunciado empiricamente irrefutável que poucos de nós


consideraríamos verdadeiro. Ele é irrefutável porque é impossível experimentar
todas as fórmulas concebíveis em latim, combinadas com todas as maneiras
concebíveis de pronuncia-las. Portanto, sempre resta a possibilidade lógica de que
exista, afinal, uma fórmula mágica em latim com o poder de curar todas as
doenças.

Mesmo assim temos razões para crer que esse enunciado existencial irrefutável é
falso. Não podemos provar sua falsidade, mas tudo o que sabemos sobre doenças
depõe contra sua veracidade. Em outras palavras: embora não possamos
estabelecer sua falsidade, a conjectura de que tal fórmula mágica em latim não
existe é muito mais razoável do que a conjectura de que ela existe.

Ao longo de quase 2 mil anos, homens cultos acreditaram na veracidade de um


enunciado existencial muito semelhante a esse, e por isso persistiram na busca da
pedra filosofal. O fato de não a terem encontrado não prova nada: as proposições
existenciais são irrefutáveis.

Portanto, a irrefutabilidade lógica ou empírica de uma teoria não é razão suficiente


para considera-la verdadeira. Tenho o direito de acreditar que aquelas cinco teorias
filosóficas são irrefutáveis e falsas.

Cerca de vinte anos atrás propus distinguir teorias empíricas ou científicas e as não
empíricas ou não científicas, justamente definindo as empíricas como refutáveis e
as não empíricas como irrefutáveis. Eis as minhas razões para essa proposta.
Qualquer teste sério de uma teoria é uma tentativa de refuta-la. Logo, a
testabilidade é idêntica a refutabilidade ou falseabilidade. Como só devemos
chamar de “empíricas” ou “científicas” as teorias que podemos submeter a testes
empíricos, podemos concluir que a possibilidade de refutação empírica é o que
distingue as teorias empíricas ou científicas. [Ver texto 8, O Problema da
Demarcação (1974), supra.]

Quando esse “critério de refutabilidade” é aceito, logo percebemos que teorias


filosóficas ou metafísicas são irrefutáveis por definição.

Agora, minha afirmação de que nossas cinco teorias filosóficas são irrefutáveis
talvez pareça quase trivial. Por isso, embora eu seja racionalista, não sou obrigado
a refutar essas teorias para ter o direito de considerá-las falsas. Isso nos traz ao
centro doproblema:

Se todas as teorias filosóficas são irrefutáveis, como é possível distinguir entre


teorias verdadeiras e falsas?

Eis o sério problema que emerge da irrefutabilidade das teorias filosóficas.

Para enunciar o problema com mais clareza, vou reformula-lo da seguinte maneira:

Podemos distinguir aqui três tipos de teoria.

Primeiro, teorias lógicas e matemáticas.

Segundo, teorias empíricas e científicas.

Terceiro, teorias filosóficas ou metafísicas.

Como é possível, em cada um desses grupos, distinguir teorias verdadeiras e


falsas?

Com respeito ao primeiro grupo, a resposta é óbvia. Sempre que encontramos uma
teoria matemática que não sabemos se é falsa ou verdadeira, nós a testamos,
primeiro superficialmente, depois com mais rigor, tentando refuta-la. Quando não
logramos êxito, tentamos prova-la ou refutar sua negação. Se falhamos de novo, é
possível que tornem a surgir dúvidas sobre a veracidade da teoria. Voltamos a
tentar refuta-la e assim sucessivamente, até que chegamos a uma decisão ou
deixamos o problema em suspenso por considera-lo difícil demais.

Essa situação também pode ser descrita da seguinte maneira. Nossa tarefa é a
testagem, o exame crítico de duas ou mais teorias rivais. Nós a executamos
procurando refuta-las, até chegarmos a uma decisão. Na matemática, e somente
nela, tais decisões costumam ser definitivas: são raras as provas inválidas que
escapam à detecção.

Nas ciências empíricas, em geral seguimos fundamentalmente o mesmo


procedimento. Também nelas testamos nossas teorias: as examinamos
criticamente e tentamos refuta-las. A única diferença importante é que, agora,
nosso exame crítico também pode usar argumentos empíricos. Tais argumentos,
porém, exigem outras considerações críticas. O pensamento crítico continua a ser o
principal instrumento. Só usamos observações quando elas se encaixam em nosso
debate crítico.

Se aplicarmos tais considerações às teorias filosóficas, nosso problema pode ser


reformulado da seguinte maneira:

Será possível examinar criticamente teorias filosóficas irrefutáveis? Em caso


afirmativo, em que pode consistir o debate crítico de uma teoria, se não em
tentativas de refuta-la? Que argumentos razoáveis podemos apresentar a favor e
contra uma teoria que sabemos não ser demonstrável nem refutável?

Para ilustrar com exemplos essas diversas formulações de nosso problema,


retornemos ao problema do determinismo. Kant sabia que somos incapazes de
prever atos futuros de um ser humano com a exatidão com que sabemos prever um
eclipse. Explicou essa diferença com a suposição de que sabemos muito menos
sobre as condições atuais do homem – seus desejos e medos, seus sentimentos e
motivações – do que sobre o estado atual do sistema solar. Essa suposição contém,
implicitamente, a seguinte hipótese:

“Existe uma descrição verdadeira do estado atual deste homem que (juntamente
com leis naturais verdadeiras) poderia permitir a previsão de seus atos futuros.”

Mais uma vez, é claro, trata-se de um enunciado puramente existencial e, por


conseguinte, irrefutável. Mesmo assim, será que podemos debater de maneira
racional e crítica o argumento de Kant?

Como segundo exemplo, podemos considerar a tese de que “o mundo é meu


sonho”. Embora se trate de uma tese claramente irrefutável, poucos acreditarão
que seja verdadeira. Podemos debate-la de modo racional e crítico? Não será sua
irrefutabilidade um obstáculo instransponível para qualquer debate crítico?

Talvez se pense que o debate crítico da doutrina kantiana do determinismo possa


começar da seguinte maneira: “Meu prezado Kant, não basta afirmar que existe
uma descrição verdadeira suficientemente detalhada para nos habilitar a prever o
futuro. Você precisa nos dizer exatamente em que consistiria essa descrição, para
que possamos testar sua teoria empiricamente.” Esse discurso, contudo, equivale a
supor que as teorias filosóficas – isto é, irrefutáveis – não podem ser debatidas e
que um pensador responsável está fadado a substituí-las por teorias empiricamente
testáveis, a fim de possibilitar um debate racional.

Espero que nosso problema tenha ficado suficientemente claro. Passarei a propor
uma solução.

Minha solução é esta: se uma teoria filosófica fosse uma afirmação isolada sobre o
mundo, lançada sobre cada um de nós, implicitamente, com um “pegar” ou
“largar”, sem ligação com mais nada, seria impossível debatê-la. Porém, o mesmo
se pode dizer de uma teoria empírica. Se alguém nos presenteasse as equações de
Newton, ou mesmo suas teses, sem primeiro nos explicar quais eram os problemas
que essa teoria pretende resolver, não seríamos capazes de debater racionalmente
a sua veracidade – não mais do que a veracidade do livro do Apocalipse. Sem
nenhum conhecimento dos resultados de Galileu e de Kepler, dos problemas que
eles resolveram e do problema de Newton – explicar as soluções de Galileu e de
Kepler por meio de uma teoria unificada –, consideraríamos impossível debater a
teoria newtoniana, tanto quanto qualquer teoria metafísica. Em outras palavras,
toda teoria racional, seja científica ou filosófica, é racional à medida que tenta
solucionar determinados problemas. Uma teoria só é abrangente e sensata quando
relacionada a uma dada situação problemática e só pode ser racionalmente
debatida mediante o debate dessa relação.

Ora, se consideramos que uma teoria é uma proposta para solucionar um conjunto
de problemas, então ela logo se presta ao debate crítico – mesmo que seja não
empírica e irrefutável. Podemos fazer perguntas como: ela resolve o problema?
Resolve-o melhor do que outras teorias? Será que apenas deslocou o problema? A
solução é simples? É fecunda? Contradiz, talvez, outras teorias filosóficas
necessárias para resolver outros problemas?

Perguntas assim mostram que o debate crítico de teorias irrefutáveis pode revelar-
se viável.

Mais uma vez, permitam-me dar um exemplo: o idealismo de Berkeley ou Hume


(que substituí pela fórmula simplificada “o mundo é meu sonho”). Esses autores
não desejavam defender uma teoria tão extravagante, o que se percebe pela
insistência reiterada de Berkeley em que suas teorias estavam de acordo com o
sólido senso comum.[3] Pois bem: se tentarmos compreender a situação
problemática que os induziu a propor essa teoria, veremos que Berkeley e Hume
acreditavam que todo conhecimento humano é redutível a impressões sensoriais e
a associações entre imagens mnêmicas. Essa suposição levou os dois filósofos a
adotarem o idealismo a contragosto, particularmente no caso de Hume. Este só se
tornou idealista por ter fracassado na tentativa de reduzir o realismo a impressões
sensoriais.

É perfeitamente sensato criticar o idealismo de Hume, assinalando que sua teoria


sensorial do conhecimento e da aprendizagem era insatisfatória. Teorias menos
insatisfatórias da aprendizagem não tem consequências idealistas indesejáveis.

De modo semelhante, agora podemos debater de maneira racional e crítica o


determinismo kantiano. A intenção fundamental de Kant era indeterminista:
embora acreditasse que o determinismo do mundo fenomênico fosse uma
consequência inevitável da teoria de Newton, ele nunca duvidou que o ser humano,
como ser moral, era indeterminado. Kant jamais conseguiu solucionar o conflito
entre sua filosofia teórica e sua filosofia prática de um modo que o satisfizesse
completamente, e perdeu a esperança de um dia encontrar uma solução real.

No contexto dessa situação problemática torna-se possível criticar o determinismo


de Kant. Podemos indagar, por exemplo, se a teoria newtoniana resulta, de fato,
nesse determinismo. Conjecturemos por um momento que não. [Ver texto 20,
Indeterminismo e Liberdade Humana (1965), seção III, adiante.] Não duvido que
uma demonstração clara da veracidade dessa conjectura convencesse Kant a
renunciar à sua doutrina do determinismo – apesar de essa doutrina ser irrefutável
(ele não seria logicamente obrigado a abandona-la).

Ocorre algo semelhante com o irracionalismo. Ele entrou na filosofia racional, pela
primeira vez, com Hume. Quem leu Hume, aquele analista calmo, sabe que não era
isso que ele pretendia. O irracionalismo foi a consequência não intencional da
convicção humiana de que realmente aprendemos por indução baconiana, aliada à
demonstração lógica humiana de que é impossível justificar racionalmente a
indução. “Pior para a justificação racional” – eis a conclusão de Hume, diante dessa
situação. Ele aceitou tal conclusão irracional com a integridade característica do
verdadeiro racionalista, que não recua de uma conclusão desagradável quando lhe
parece impossível evitá-la.

Nesse caso, porém, ela não era inevitável, mesmo que assim parecesse a Hume.
Ao contrário do que ele acreditava, não somos máquinas baconianas de indução. No
processo de aprendizagem, o hábito ou costume não desempenha o papel que
Hume lhe atribuiu. Assim, o problema humiano se desfaz e, com ele, sua conclusão
irracionalista.

A situação do irracionalismo pós-kantiano é um pouco parecida. Schopenhauer, em


particular, opôs-se sinceramente ao irracionalismo. Escreveu com um único desejo:
ser compreendido. Escreveu de maneira mais lúcida que qualquer outro filósofo
alemão. Seu empenho em se fazer compreender transformou-o num dos grandes
mestres da língua alemã.

Mas os problemas de Schopenhauer eram os da metafísica de Kant – o problema


do determinismo no mundo fenomênico, o problema da coisa em si e o problema
de estarmos em um mundo de coisas em si. Ele solucionou esses problemas – que
transcendem qualquer experiência possível – à sua maneira, tipicamente racional.
Mas era fatal que a solução fosse irracional. Schopenhauer era kantiano e, como
tal, acreditava nos limites kantianos da razão: acreditava que os limites da razão
humana coincidiam com os limites da experiência possível.

Também aí há outras soluções possíveis. Os problemas de Kant podem e devem


ser revistos, e a direção que essa revisão deve tomar é indicada por sua ideia
fundamental de racionalismo crítico ou autocrítico.

A descoberta de um problema filosófico pode ser algo definitivo, feito de uma vez
por todas. Mas sua solução nunca é definitiva. Não pode basear-se numa
demonstração final ou numa refutação final, uma decorrência da irrefutabilidade
das teorias filosóficas. A solução tampouco pode basear-se nas fórmulas mágicas
dos profetas filosóficos inspirados (ou entediados). Mas pode basear-se no exame
consciencioso e crítico de uma situação problemática e das suposições subjacentes
a ela, bem como das várias maneiras possíveis de resolvê-la.

Notas.

1. Ver I. Kant, Crítica da Razão Prática, trad., introdução e notas de Valério


Rohden, São Paulo: Martins Fontes, 2002.

2. Ver Julius Kraft, Von Husserl zu Heidegger, 2ª ed., 1957, págs. 103s, 136s e, em
especial, pág. 130, onde Kraft escreve: “Assim, é difícil compreender como o
existencialismo pode ter sido considerado algo novo na filosofia, do ponto de vista
epistemológico.” Ver também o instigante artigo de H. Tint, Heidegger and the
‘Irrational'”, Proceedings of the Aristotelian Society LVII, 1956-1957, pág. 253-268.

3. Isso também pode ser visto pela franca admissão de Hume de que, “seja qual
for a opinião do leitor neste momento, […] daqui a uma hora estará convencido de
que tanto existe um mundo externo quanto um mundo interno”, ver D. Hume, A
Treatise of Human Nature, Livro I, Parte IV, Seção II; edição de L. Selby-Bigge,
pág. 218. [Para um comentário, ver a nota 4 do texto 7, O Problema da Indução
(1953, 1974), supra.]

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Kant, Karl Popper, Metafísica, Niilismo, Racionalismo Crítico, Realismo, Schopenhauer,
Situação Problemática | 4 Comentários

4 Respostas
Mensalão em 9 de abril de 2013 às 00:13 | Responder

Eu fiquei, desculpe a gíria gay rs, passado com a hipocrisia de Popper


nesse texto. To bege aki. Sempre soube que seu pensamento sobre o
Problema da Demarcação não fosse nada comparado à Justificativa do
Conhecimento e à Solução do Problema da Indução, mas não sabia que o problema
era tão grave.

Veja bem, Popper era um emergencialista interacionista, ou seja, para ele mente é
algo diferente de cérebro/corpo. Popper rejeitava o materialismo na questão da
mente. Segundo ele, a mente era uma propriedade emergente do cérebro, e
especulava (desculpe, não há palavra melhor) que essa mente emergente poderia
tomar decisões livres e não-determinísticas, usando como argumento analogias
duvidosas com a evolução e com o indeterminismo quântico.

Ao cair em um conceito de mente não-física (e isso foi depois que o materialismo


reducionista da mente entrou com tudo, no início da década de 60), Popper
mandou sua filosofia da mente lá para os bandos da… metafísica! A ideia que
Popper tinha da mente não passaria em seu próprio critério de Falseabilidade!

Um detalhe importante é que a Falseabilidade não garante o status científico de


nenhum tipo de estudo ou de candidato a área do conhecimento. A homeopatia,
por exemplo, é falseável. Eu posso testar a hipótese “Compostos homeopáticos
resolvem problemas de saúde” tranquilamente. Contudo, sabemos muito bem que
de científico a homeopatia não tem nada, e por esse motivo já perceberam há
muito tempo que o Critério de Demarcação do Popper não é bom.

Os critérios de demarcação devem levar em consideração o uso da metodologia


correta e o conhecimento e a consideração dos paradigmas modernos, além da
falseabilidade. Sendo assim, um estudo que parte de elocubrações obscuras ou de
tagarelices usando jargões técnicos da moda são considerados fora do limite da
ciência, mesmo fazendo asserções verficáveis e falseáveis. Veja os pseudocientistas
de algumas décadas atrás que colocavam teoria da evolução em tudo é buraco para
impressionar todo mundo. Hoje em dia, o chique é falar de coisas quânticas:
tratamentos quânticos, medicina quântica etc. Popper conseguiu argumentar pelo
indeterminismo apelando para os dois símbolos maiores da pseudociência…
completamente fora dos limites da ciência.

E não pára por aí! Aqui ele apresenta outra defesa, tão fraca quanto. Após fazer
uma excelente exposição sobre a diferença entre dizer que algo existe em algum
canto do universo e dizer que existe algo em tal local durante determinado tempo,
Popper reescreve a alegação determinista da seguinte forma:

“Existe uma descrição verdadeira do estado atual deste homem que (juntamente
com leis naturais verdadeiras) poderia permitir a previsão de seus atos futuros.”

Ora, mas veja que isso não passa de construção linguística conveniente! Ele
reescreve uma alegação como algo do tipo “existe tal coisa” e depois lembra que
alegações assim são infalseáveis e, portanto, devem ser tratadas como falsas até
que se tenha algo melhor. Mas qualquer coisa pode ser reescrita nesses termos!

“Existe uma descrição verdadeira da relação entre a resultante de forças exercida


sobre um corpo e a aceleração que este adquire que (juntamente com leis naturais
verdadeiras) poderia permitir a previsão de suas posições no futuro.”

Logo, a segunda lei de Newton é falsa.

A solução para o Problema da Indução de Popper é excelente, mas textos como


este possuem mais valor histórico do que, por assim dizer, prático. Tudo bem que
você queria colocar a demonstração de que a metafísica deve ser rejeitada por não
ser falseável, nessa parte ele realmente foi bem, mas lembremos que 1) a
falseabilidade sozinha não é um bom critério e que 2) o próprio Popper não tem
para onde correr senão a metafísica quando defende mentes que não são materiais.

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Gilmar Santos em 9 de abril de 2013 às 20:39 | Responder

Marco, ao contrário do que você escreveu no final do comentário, a


razão pela qual publiquei aqui este texto do Popper não foi algum
suposto viés antimetafísico. Quem tá passado e bege aqui sou eu com
sua leitura completamente equivocada e que retrata o Popper como um
positivista lógico desvairado, coisa que certamente ele não era. Fazer filosofia
da ciência não implica em comprometer-se com uma filosofia científica. E olha
que eu ainda coloquei em destaque logo no início o trecho que a meu ver
resume a tese do artigo, por sinal bastante atual, dado o modo como os
filósofos teístas respondem aos argumentos probabilísticos contra a existência
de Deus. Bom, eu só posso te pedir que você releia o artigo e reveja a maior
parte do seu comentário. Como não li quase nada do Popper (esse semestre
vou ter que ler uns dois ou três artigos dele para a disciplina filosofia das
Ciências, entre eles a solução do problema da indução) nem tenho muito o que
dizer sobre o resto. Só quero observar que, até onde sei, sua rejeição do
determinismo baseia-se no argumento de que se um sujeito conhecesse uma
descrição exaustiva dos aspectos de sua mente e do mundo relevantes para seu
comportamento, este conhecimento também faria parte da descrição, e o
conhecimento de que se conhece conhecendo a descrição dos aspectos
relevantes por sua vez também faria parte da descrição, e assim por diante, ad
infinitum, o que exclui a possibilidade de qualquer previsão em primeira pessoa
dos próprios atos. Mas não sei qual é o alcance do argumento, nem qual o
papel desempenhado pelas teorias quânticas nisso.

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Mensalão em 9 de abril de 2013 às 22:17 | Responder

Ah não, agora eu não vou reler tudo novamente não. Fim de


semana eu revejo alguns trechos que agora me deixaram em
dúvida.

Popper, apesar de ser de Viena, de fato se afastou do Círculo de Viena. Ele


usou as teses de Hume contra a indução contra os neopositivistas. Eu
jamais o tratei como um positivista lógico, no pior dos casos alguém pode
dizer que eu o condenei por eu mesmo ser um.

Sobre isso, o que me surpreende aqui é ele tratar uma questão científica
como a mente fora do ponto de vista da ciência. Postular propriedades da
mente que independem das propriedades físicas do cérebro e do mundo
material é tratar um problema científico como uma não-científico e não
precisa ser nenhum membro do Círculo de Viana para achar isso errado.

Um trecho que resume até o parágrafo que você destacou é: “Perguntas


assim mostram que o debate crítico de teorias irrefutáveis pode revelar-se
viável.” Eu responderia que é viável desde que não tenhamos teorias
refutáveis e verificáveis à disposição.

Pensando bem, talvez eu tenha sido um pouco duro com o Popper. Mas não
posso deixar de expressar minha surpresa e meu espanto com um cara que
se esforça para resolver o problema da indução para fundamentar a ciência,
que faz uma bonita exposição de como sua solução harmoniza com a
história da ciência – especialmente a história de Newton – mas que na hora
H, na hora de tratar um dos principais temas de seu tempo, preferiu as
escorregadias teorias irrefutáveis às evidências que se delineavam e ao
materialismo que se consolidava.

Smart em 1959, defende o materialismo na questão da mente:


http://henry.laycock.googlepages.com/sensations.pdf Nas duas últimas
páginas, ele trata a questão do epifenomenalismo (a posição de Popper).
Como não dá para copiar desse arquivo, trago aqui um trecho de outro
artigo (http://host.uniroma3.it/progetti/kant/field/mbit.htm) que resume
esse:

“Smart (1959) argued that this contention “is partly right and partly wrong.
If the issue is between (say) a brain-process and a heart thesis, or a liver
thesis, or a kidney thesis. The right sort of things don’t go on in the heart,
liver or kidney nor do these organs possess the right sort of complexity of
structure. On the other hand, if the issue is between a brain-or-heart-or-
liver-or-kidney thesis (that is, some form of materialism) on the one hand
and epiphenomenalism on the other hand, then the issue is not an empirical
one. For there is no conceivable experiment which could decide between
materialism and epiphenomenalism.” (p.155). Smart then goes on to
suggest that the only way to settle the issue as between materialism and
epiphenomenalism is by appealing, as Boring (1933) had done before him,
to “the principles of parsimony and simplicity”, in other words, to Ockham’s
razor, by which principle needless to say, materialism wins hands down,
since it not only reduces the number of separate entities which have to be
postulated in order to account for the mind-brain relationship by half, it also
removes the necessity of having to postulate a unique set of entities
existing outside the three dimensionally extended spatial universe of
science and commonsense, standing in a highly problematical causal
relationship with events in that universe.”

Contudo, outro acadêmico da área que também é considerado um dos pais


do materialismo da mente discorda. Para ele, o epifenomenalismo é
refutável:

“An additional point to add to this part of the argument is that just as there
must be logical criteria for deciding whether we are dealing with two sets of
observations of one and the same process or event or with two sets of
observations of two separate but correlated events, so also there must be
logical criteria for deciding in the second case whether the two independent
but correlated processes and events are causally connected and if so, in
which direction the causal relationship operates. Given that we can agree as
to what these criteria are or should be, it would seem to follow that
empirical evidence is relevant not only in deciding the issue as between
materialism and dualism, but also assuming that the materialist solution
can be excluded in deciding the issue as between interactionism,
epiphenomenalism and psycho-physical parallelism.”

Mas até onde sei, Popper nunca propôs nenhum teste que nos permitisse
escolher entre o epifenomenalismo e o materialismo, algo que é – e você
não pode negar – surpreendente para quem defende que esse tipo de teste
que move a ciência. De toda forma, a hipótese clássica do dualismo da
propiredade coloca que as propriedades da mente são irredutíveis às
propriedades do cérebro, algo que vejo colo uma violação clara ao
pensamento dele.

Isso sem contar que um dos maiores argumentos a favor do


epifenomenalismo é justamente o testemunho interno da mente. Aquele
que você adora quando o Craig conta! rs

Se você não colocou esse texto aqui pelos motivo que supus, pode-me dizer
porque então?

Bom, depois do uma nova olhada aqui (prometo)… mas só por curiosidade,
você espera que eu acabe por rever minha crítica ao indeterminismo dele
ou isso não estava na sua lista de coisas que devo rever? Pois não creio que
voltarei atrás quanto a isso. Dificilmente, também, voltarei atrás na
afirmação de que a verificabilidade não pode ser o único critério de
demarcação. As previsões da Mãe Dinah são altamente verificáveis e nem
por isso são sequer minimamente científicas. E tirando essas duas ideias,
sobra quase nada para eu voltar atrás ali….

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Gilmar Santos em 11 de abril de 2013 às 18:23 | Responder

Eu coloquei esse texto aqui para emprestar a credibilidade do


Popper a uma acusação que o Loftus (não só ele, claro) faz
contra os intelectuais teístas em geral (e a seus papagaios
semianalfabetos, entre eles vc-sabe-quem; procure lá no blog dele pelo
comentário que ele fez a um texto do Helio Schwartsmen sobre o mais
recente livro do Plantinga), a de que eles se recusam a considerar o
quanto o cristianismo é improvável antes que alguém lhes mostre que
ele é impossível. Observe que a tese “Existe um ser pessoal imaterial,
onipotente, onisciente, onibenevolente, responsável pela criação e
manutenção do universo físico e desejoso de manter uma relação
paternal amistosa com cada ser humano sobre o planeta” poderia
tranquilamente constar na lista de teorias metafísicas que o Popper
considera falsas, mesmo sendo irrefutável. E por que ela pode ser
considerada falsa? Porque em geral resolve muito mal os problemas a
que se propõe resolver (um exemplo, o problema da objetividade dos
valores morais; de que adianta o caráter de Deus ser o padrão objetivo
da moralidade se não temos acesso a ele?), ou desloca os problemas (o
problema da objetividade da moral ainda é bom, mas pra variar
consideremos o da causa primeira do universo, que desloca o
pseudoproblema do regresso infinito de eventos do âmbito físico para o
espiritual), não é simples, é estéril (a ciência entraria em colapso se
fosse empreendida sob pressupostos teleológicos sobrenaturalistas) e
está em franca contradição não só com teorias filosóficas bem
consolidadas como também com teorias científicas bem confirmadas.
Não é tanto uma questão do debate ser viável (algo que os apologistas
reconhecem pelo menos a princípio) como da racionalidade de continuar
se apegando à uma doutrina após sua implausibilidade, mas não sua
impossibilidade, ter sido exposta ao longo de um debate.

Agora, no comentário anterior, falei que você tratou o Popper como um


positivista lógico desvairado porque pareceu-me que você o criticou
porque sua filosofia da mente, não sendo falseável, não é científica!
Como eu já disse antes, não sei praticamente nada da filosofia da
mente do Popper, mas mesmo que ele tenha recuado para posições
problemáticas após o advento das teorias materialistas/fisicalistas, isso
não necessariamente o torna incoerente (afinal, a falseabilidade é uma
propriedade das teorias científicas, não filosóficas/metafísicas); eu não
sei porque ele fez isso, mas a esta altura vc já deve estar ciente de
que, por mais fecundas e bem-sucedidas que aquelas teorias tenha sido
à epoca (e suas herdeiras sejam atualmente), elas ainda são teorias
filosóficas cientificamente informadas, e estão sujeitas a contundentes
críticas filosóficas (eu li o Dennett reconhecendo isso há poucos meses
não me lembro onde); pra ficar apenas no único exemplo que conheço,
o problema do conhecimento inferencial/dedutivo é um grande
obstáculo no caminho da naturalização, que propõe teorias causais do
conhecimento.

Por fim, acho que você se afobou na hora de parodiar o enunciado


sobre a descrição dos estados internos de uma pessoa que permitiria a
previsão de sua conduta futura. O problema com a tese determinista da
ação humana é que, se a previsão falha, sempre é possível invocar a
complexidade do estado interno do indivíduo e a possibilidade de que
algum fator relevante tenha ficado de fora dos cômputos. Os libertistas,
por sua vez, podem apelar para a inacessibilidade, o caráter privado dos
estados internos do indivíduo. Agora, no caso do enunciado da segunda
lei de Newton, delimitando-se espaçotemporalmente a descrição das
grandezas físicas presentes no e atuando sobre o corpo, ela parece-me
perfeitamente refutável, certo (descontando-se, claro, as imprecisões
inerentes a todas as mensurações). Pelo menos isto está em perfeita
concordância com nossas intuições ordinárias (por exemplo, considere o
domínio intuitivo dos jogadores de futebol sobre a bola).

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