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A Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é conside-

rada um dos maiores eventos científicos da América Latina. Conta com a participação de
representantes de sociedades científicas, autoridades e gestores do sistema nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. A Reunião é um importante espaço para a difusão dos
avanços nas diversas áreas do conhecimento e um fórum de debates de políticas públi-
cas. A 67ª Reunião da SBPC foi realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
entre os dias 12 e 18 de julho de 2015.
Esta publicação conta um pouco das histórias que fizeram desta edição um evento tão

LUZ, ciência e muita ação


especial para a UFSCar. São histórias de pessoas que disseram sim a um desafio até
então nunca vivido e que transformou a vida de cada um. Foram sete dias intensos que
para serem concretizados precisaram do apoio e do coração de cerca de 800 pessoas.
São histórias que começaram um ano antes e que, por meio desta publicação, irão durar
uma vida inteira. Mais uma vez afirmamos: “Vamos sentir saudades". As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos

UFSCar UFSCar
Universidade Federal de São Carlos
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Reitor
Targino de Araújo Filho
Vice-Reitor
Adilson J. A. de Oliveira © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte
Diretora Executiva da FAI desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por
Lourdes de Souza Moraes qualquer forma e/ou quaisquer meios ( eletrônicos
Organizadores ou mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou
Adilson J. A. de Oliveira e Lourdes de Souza Moraes arquivada em qualquer sistema de banco de dados
Coordenação Editorial sem permissão escrita do titular do direito autoral.
Fabricio Mazocco e Rogério Gianlorenzo
Texto
Reinaldo José Lopes
Projeto Gráfico e Diagramação
Marcelo Ducatti Universidade Federal de São Carlos
Fotos Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento
Enzo Kuratomi Científico e Tecnológico da Universidade Federal de
Mateus Mazini São Carlos - FAI-UFSCar
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Heber Dutra 13565-905 - São Carlos, SP, Brasil
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Arquivo CCS
Foto de Capa
Mateus Mazini

Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da


Biblioteca Comunitária da UFSCar

Universidade Federal de São Carlos.


U58L Luz, ciência e muita ação : as histórias da 67ª Reunião Anual
da SBPC São Carlos / Universidade Federal de São Carlos. -- São
Carlos : UFSCar, 2016.

ISBN – 978-85-5979-003-0

1. Congressos e convenções. 2. Reunião da Sociedade Brasileira


para o Progresso da Ciência. 3. Universidade Federal de São
Carlos. I. Título.

CDD – 060 (20ª)


CDU – 061.3

2 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Aos alunos, servidores docentes e
técnico-administrativos da UFSCar
e às pessoas que participaram da
67ª Reunião Anual da SBPC

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4 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Um desafio iluminado 7
O mesmo sempre diferente 9
Capítulo 1 Da Amazônia ao interior paulista 12
Capítulo 2 O palco toma forma 16
Capítulo 3 Contagem regressiva 24
Capítulo 4 A maior vitrine da ciência brasileira 28
Capítulo 5 Brilho no olhar 36
Capítulo 6 Os saberes dos primeiros brasileiros 46
Capítulo 7 Viva a diversidade 52
Capítulo 8 Os percalços da bancada às prateleiras 58
Capítulo 9 Vamos sentir saudades 62
Doido de juízo ou loucura coletiva? 67
Números e equipe da 67ª SBPC 69

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6 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Um desafio iluminado

Em agosto de 2013, o Professor Targino de Araújo Filho, Reitor da UFSCar, me chamou ao seu gabinete
para me dizer que iríamos concorrer para receber a 67ª Reunião Anual (RA) da SBPC em 2015. Seria
uma excelente comemoração para os 45 anos da Universidade. Quando em julho de 2014, na 66ª RA
que ocorreu na UFAC, fomos anunciados, foi um momento de grande alegria. O Professor Targino
então me designou para coordenar toda a empreitada, pois não poderia se dedicar integralmente a essa
tarefa. Confesso que fiquei apreensivo naquela hora, pois embora já tivesse organizado alguns congres-
sos nacionais e internacionais, nada se comparava ao tamanho e à importância da RA da SBPC.
Foram inúmeros desafios enfrentados, dentro e fora da UFSCar, para realizarmos este evento que foi de
enorme importância para a cidade de São Carlos e toda sua comunidade acadêmica. A complexidade
de ter mais de 10 mil visitantes diariamente, vindos dos mais diversos locais do Brasil, incluindo cien-
tistas brasileiros e estrangeiros de alto gabarito, foi grande, mas conseguimos com sucesso realizarmos
uma excelente reunião.
Considero que uma das tarefas acadêmicas mais emocionantes e importantes que realizei até este mo-
mento de minha trajetória foi ser coordenador local da RA SBPC em São Carlos. As pessoas que me en-
contravam durante (e depois) do evento sempre me diziam que a RA tinha sido maravilhosa e que tudo
funcionou perfeitamente. Os elogios não eram somente para a programação científica, que foi de primei-
ra qualidade, mas também as propostas feitas pela UFSCar que envolveram a SBPC Indígena e a SBPC
Inovação. Em particular a SBPC-Jovem e a SBPC-Cultural foram marcos para a UFSCar e para toda a
comunidade são-carlense, que nunca tinha tido contato com um evento como foi a RA em São Carlos.
Organizar a RA SBPC em São Carlos foi um grande desafio que somente foi possível com o apoio da
Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FAI•UFSCar e com
a dedicação de estudantes, técnico-administrativos e docentes da UFSCar, totalizando mais de 800
pessoas dedicadas ao evento trabalhando com muito empenho. Neste time de pessoas, que com certeza
amam muito a nossa UFSCar, gostaria de destacar pessoas que foram fundamentais para todo o suces-
so que obtivemos. O nosso Prefeito Universitário, o Engenheiro Rogério Fortunato Júnior, com toda a
sua equipe, representa a dedicação e carinho com os quais os integrantes da comunidade da UFSCar

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receberam cada um dos visitantes durante o evento, pois sempre foi solícito e atencioso em tudo que
foi necessário. Também tenho que destacar a Secretária Executiva da FAI, Roziane Loureiro Barbosa,
que foi apelidada por nós de “0800-Roziane”, pois tudo que precisávamos ela atendia prontamente com
uma extraordinária eficiência.
Contudo, a pessoa mais importante de toda a organização local da RA SBPC em São Carlos foi, sem
dúvida nenhuma, a Professora Lourdes de Souza Moraes, a Diretora Executiva da FAI, que foi a minha
“fiel escudeira” em todos os momentos. Sempre com um sorriso e com uma solução, ela nos ajudou
a resolver tudo que foi necessário, acreditando que faríamos uma das melhores reuniões da SBPC de
todos os tempos na UFSCar.
Tivemos um evento com muita luz, ciência e ação em São Carlos. Eu tive o privilégio de ter comigo
pessoas com mentes e corações iluminados, cientes da importância da Ciência para o nosso país, e
com capacidade de entrar em ação sempre quando foi preciso para deixarmos uma marca importante
dentro dos 45 anos de existência da nossa UFSCar.

Adilson Jesus Aparecido de Oliveira


Coordenador do Comitê Executivo Local da SBPC • São Carlos

8 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
O mesmo
sempre diferente
Como definir as Reuniões Anuais (RA) da SBPC, que já chegaram a 67 edições?
Maior evento científico do Brasil? Verdade.
Participação de pesquisadores, professores e estudantes de vários locais do País? Também verdade.
Programação com os assuntos mais atuais das diversas áreas e subáreas da ciência? Sim.
Conferências, mesas-redondas, pôsteres ...? Sem dúvida.
Programação cultural? Necessariamente.
Atividades de divulgação para crianças e adolescentes? Não podem faltar...
Enfim, as RA da SBPC guardam sempre as mesmas características, no entanto cada uma delas é dife-
rente das demais. São comparáveis umas com as outras, mas somente até certo ponto. Não houve uma
Reunião que tenha sido a melhor de todas, nem qualquer outra que pudesse ser considerada a pior. O
que dá para garantir é que cada Reunião tem o seu jeitão específico – seu “cheiro”, sua “temperatura”,
sua “química”, sua “alma”.
Com a RA da SBPC em São Carlos, a 67ª, portanto não haveria de ser diferente. A UFSCar, por óbvio,
emprestaria um tanto de sua ousadia congênita para o evento. São Carlos, pelo fato de ser a cidade com
maior número de doutores per capita do Brasil, seguramente forneceria um ambiente previamente
aquecido para discussões. Se a Reunião anteriormente realizada no Estado de São Paulo havia sido a
60ª, em 2008, na Unicamp – ou seja, há um bom tempo – também haveria que se colocar na balança
que a SBPC nunca adentrara tanto no interior paulista.
Enfim, a UFSCar fez a sua Reunião Anual, ao mesmo tempo igual e diferente de todas as anteriores e
posteriores – e temos este formidável livro para contar sobre ela.
A propósito, a ideia deste livro, pelo seu formato editorial e pela sua linguagem, já é um ponto de dife-
renciação da RA em São Carlos em relação as demais. O texto leve, ao mesmo tempo literário e jorna-
lístico, de Reinaldo José Lopes, e a organização temática dos capítulos nos oferecem um conjunto tal de
informações, dados e situações que nos possibilita entender a complexidade que é realizar uma RA da
SBPC (independentemente do lugar e por quem será realizada) e, simultaneamente, identificarmos as
características que ficarão marcadas como próprias da Reunião na UFSCar.

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Reinaldo – um jovem jornalista científico em plena maturidade profissional – traçou um painel preciso
das principais etapas que envolveram a organização e a realização da 67ª RA, especialmente a partir da
perspectiva da UFSCar: do reitor Targino de Araújo Filho, do vice-reitor Adilson Jesus Aparecido de
Oliveira, da diretora executiva da FAI, Lourdes de Souza Moraes, e suas equipes, tanto as mais próxi-
mas como as mais distantes, que somaram cerca de 800 pessoas.
Trata-se de um relato cativante e esclarecedor, mesmo – ou principalmente – para quem já é veterano
em Reuniões Anuais da SBPC. Do momento inicial, em 2013, quando manifestávamos nosso interesse
em realizar novamente nosso encontro anual em terras paulistas, até o encerramento das atividades na
UFSCar, em julho de 2015, este livro nos conta como foi a 67ª, dos bastidores aos palcos: seu cheiro, sua
temperatura, sua química, sua alma...

Helena Bonciani Nader


Presidente da SBPC

10 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
11
Capítulo 1

Da
Amazônia
ao interior
paulista
Nossa história começa num dos gabinetes do MCTI (Ministério da Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação), em Brasília, no ano de 2013. Helena Nader,
presidente da SBPC, estava visitando o ministério e se encontrara com o
engenheiro químico Oswaldo Baptista Duarte Filho, o Barba, ex-reitor da
UFSCar, ex-prefeito de São Carlos e, na época, secretário de Ciência e Tec-
nologia para a Inclusão Social do MCTI. Enquanto os dois conversavam,
Helena mencionara a intenção de realizar a última reunião anual da SBPC
daquele seu mandato no Estado de São Paulo.

12 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
“A SBPC tinha passado por uma série de universidades nas regiões Norte e Nordeste e a ideia era voltar
a fazer um evento no Estado de São Paulo”, conta o físico Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, atual
vice-reitor da UFSCar. “De cara o professor Oswaldo sugeriu a UFSCar, ligou para o professor Targino
[de Araújo Filho, reitor da universidade] e ele topou.”
Era um dos maiores desafios já enfrentados pela universidade do interior paulista, que nunca tinha
abrigado uma reunião da SBPC ao longo de mais de 40 anos de existência. O vice-reitor conta que, no
páreo para abrigar o evento em 2015, também estavam Porto Alegre, Brasília e Porto Seguro. “Porto
Alegre, inclusive, aproveitou para exibir o vídeo que promoveu a cidade como sede da Copa do Mun-
do”, diz Oliveira. A analogia com o maior campeonato de seleções de futebol do planeta, aliás, continu-
aria a acompanhar a equipe da UFSCar pelos meses seguintes, pela necessidade de planejar e executar
um sistema de infraestrutura e logística extremamente detalhado, de forma a receber bem uma grande
quantidade de visitantes.
Nesse primeiro momento, representantes da universidade foram até a UFPE, no Recife, para obter as
primeiras impressões sobre como realizar um evento daquele porte, mas o teste decisivo viria em 2014,
quando o evento aconteceria na Universidade Federal do Acre. A ideia era preparar uma delegação da
UFSCar que partisse rumo ao Estado amazônico com o objetivo de montar um estande por lá e enten-
der os detalhes por trás da realização de um encontro nacional da SBPC.
“A gente tinha outro problema, que era a grande probabilidade de que houvesse uma greve de servido-
res em 2015, como de fato aconteceu”, conta o vice-reitor. A solução natural para minimizar esse risco
foi envolver a FAI (Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) da
UFSCar em todos os aspectos da organização da reunião, inclusive na jornada rumo à capital acreana.
A participação fundamental da FAI nesse processo foi coordenada por Lourdes de Souza Moraes, di-
retora executiva da fundação. Por problemas de saúde familiares, Lourdes não pôde ir para o Acre,
e coube ao assessor de comunicação Fabricio Mazocco a tarefa de preparar o estande da UFSCar e
enfrentar cinco horas de viagem de avião, com escalas em Mato Grosso e Rondônia, junto com outros
colegas da FAI e da UFSCar propriamente dita: Diego Doimo, Mariana Pezzo, Tárcio Fabrício, Tuca
Clapis Facundo, Beatriz Maia e Georgia Buainain.
Após esgotar seu estoque de chicletes nos longos voos (sua estratégia tradicional para tentar minimizar
as dores de ouvido nas várias decolagens e pousos), Mazocco e seus companheiros chegaram a uma Rio
Branco que tinha sido totalmente contagiada pelo clima da SBPC.
“A primeira coisa que a gente percebeu é como a comunidade se envolveu com o evento. A segunda é
que era uma loucura – a gente tentava se reunir com o pessoal da coordenação de lá e simplesmente
não conseguia falar com as pessoas, porque eles estavam sendo muito requisitados, o tempo todo. Era
professor correndo de um lado para o outro atrás de um parafuso que tinha faltado – todo mundo es-
tava envolvido naquilo até o pescoço”, conta o jornalista.
Enquanto tentavam entender melhor os desafios ligados à reunião anual, a equipe da universidade pau-
lista aproveitava para fazer uma ofensiva de simpatia com seu estande. “Nosso mote era ‘Venha conhe-

13
“ORGANIZAR
TUDO PARA
ONTEM, OK?”

14 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
cer a nossa casa’ durante a próxima reunião da SBPC. Tínhamos informações sobre todos os centros
da UFSCar no estande. Era julho, mas fazia um calor de rachar. Quando o pessoal do Acre parava para
conversar conosco e mostrava animação com a ideia de vir para São Carlos no ano seguinte, eu fazia
questão de ressaltar: ‘Gente, levem uma blusinha de frio, senão vocês vão estranhar’”, recorda Mazocco.
“Foi muito gratificante ver o respeito com que o pessoal da UFAC via a UFSCar. É uma universidade
que tinha acabado de criar seu primeiro doutorado, e as pessoas que vinham ao nosso estande diziam
‘puxa, que bacana, meu sonho é estudar na UFSCar algum dia’. E a reitoria de lá nos deu um tremendo
apoio”, lembra Oliveira. No ano seguinte, um ônibus com estudantes acreanos faria por terra todo o
caminho até São Carlos.
Apesar do sucesso do evento no Acre, alguns percalços da organização por lá ajudaram a equipe da
UFSCar a se preparar para os problemas mais críticos que poderiam ocorrer. “Eles tinham reformado
um teatro para a cerimônia de abertura, e mesmo assim ficou muita gente para fora, era impressio-
nante”, diz Mazocco. Embora várias redes de hotéis tivessem se programado para inaugurar novas uni-
dades em Rio Branco para absorver o público da SBPC, o mau tempo e as dificuldades de transporte
atrapalharam, e os hotéis não ficaram prontos a tempo. “Por causa disso, teve gente que precisou até
ficar em motéis”, lembra o jornalista. “O pessoal da SBPC foi muito claro com a gente: por favor, não
queremos mais motéis”, ri ele.
Na cerimônia de encerramento do evento no Acre, a vinda da reunião para São Carlos foi anuncia-
da oficialmente, com a presença de Mariana Pezzo, assessora de comunicação da reitoria da UFSCar,
como representante da universidade. “A experiência no Acre foi muito boa para a nossa preparação.
Um detalhe curioso é que os membros da diretoria da SBPC ficaram um pouco surpresos com a ju-
ventude da nossa delegação que foi até lá [com vários membros na casa dos 30 e 40 anos]. ‘Cadê os
professores?’, perguntavam. Mas eles logo perceberam que esses jovens eram muito competentes”, diz
Lourdes, da FAI.
“Quando a gente voltou e se reuniu, a primeira coisa que a gente disse foi: não temos tempo de sobra.
Mesmo com um ano e meio de preparação, o pessoal do Acre ficou bem apertado. Tínhamos de orga-
nizar as coisas para ontem. Para nós, a reunião da SBPC era mais ou menos como a Copa do Mundo:
tudo precisava estar pronto para quando todos chegassem”, brinca Mazocco.

Distribuição de tarefas na reunião SBPC Acre

15
Capítulo 2

O palco
toma forma
Organogramas podem parecer burocracia sem sentido para quem nunca
precisou coordenar uma equipe numerosa durante um evento de grande
porte, mas alterações sutis nesse tipo de esquema ajudaram a comissão exe-
cutiva da UFSCar a transformar a 67ª reunião da SBPC num sucesso. “É
claro que a SBPC tem uma experiência enorme em fazer esses eventos, o
que foi fundamental para nós, que nunca tínhamos feito nada do tipo”, diz
Lourdes Moraes, da FAI. “O que nós fizemos foi adaptar o manual padrão
do evento à nossa realidade.”

16 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Entre esses detalhes importantes estava a questão da infraestrutura do evento. “No manual da SBPC, ‘in-
fraestrutura’ parecia algo imenso, infinito, e a gente achou que era preciso fatiar aquilo, se não ninguém
daria conta”, explica ela. Veio então a ideia de dividir o quesito em Infraestrutura I (basicamente o lado
mais “físico” do evento, incluindo espaços de exposição, transporte, sinalização, limpeza, segurança, in-
formática) e Infraestrutura II (mais logística, envolvendo acolhimento ao público, alojamento, alimenta-
ção e saúde, por exemplo). Outra decisão importante foi a de reformular a estratégia de comunicação do
evento. “No manual, isso estava mais voltado para o design, para a identidade visual da reunião, e a gente
achou que poderia ir além na divulgação do encontro para o público e para a mídia”, conta o jornalista
Fabricio Mazocco, hoje na CCS (Coordenadoria de Comunicação Social) da UFSCar.
Um dos primeiros desafios dessa comissão de comunicação, aliás, foi criar o cartaz-símbolo da 67ª reu-
nião, levando em conta que não havia nenhum elemento muito icônico capaz de “resumir” São Carlos e
sua relação com a ciência brasileira. “No caso do Acre, havia os elementos da biodiversidade da Amazô-
nia, a questão indígena. Em Recife também há elementos arquitetônicos e históricos muito claros. Mas
com São Carlos a gente ia fazer o quê? Colocar uma foto da entrada da UFSCar, da USP, da Embrapa?”,
questiona ele. A bandeira da cidade ostenta uma arau-
cária, espécie que já foi abundante por lá – o que tam-
bém não ajudava muito, na verdade. “Iam achar que a
reunião aconteceria no Paraná”, brinca Mazocco.
O que tirou a equipe desse impasse foi a intenção de
abordar a vocação tecnológica e inovadora de São Car-
los como um dos eixos da reunião, bem como o fato de
que 2015 era o Ano Internacional da Luz, promovido
pelas Nações Unidas. Usando a técnica de light pain-
ting, na qual fontes de luz, clicadas por câmeras que
registram exposições longas, podem formar imagens
sofisticadas, a sigla SBPC foi transcrita em letras lu-
minosas, dando à reunião um ar particularmente high
tech, seguida do lema “Luz, Ciência e Ação”. O letreiro
em luzes coloridas foi um dos atrativos do lançamento
oficial da reunião em dezembro de 2014.

Seleção natural
Um curioso processo de seleção natural (por sorte, sem
nenhum tipo de derramamento de sangue) ajudou a
compor a equipe de 800 pessoas, das quais 400 eram
monitores, que trabalhou em São Carlos durante a

Cartaz criado pelos designers da Coordenadoria de


Comunicação Social Mateus Mazini e Marcelo Ducatti

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18 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
“O TRA-
BALHO
PESO-PE-
SADO”

Área norte pronta para receber as instalações da SBPC São Carlos

SBPC. “Houve professores que estavam na comissão inicialmente e, quando viram o tamanho da tarefa,
disseram que não seria possível ajudar”, explica Lourdes. Também era necessário um cuidado extra ao
examinar o comprometimento dos monitores, todos alunos da universidade. “Você sabe como é aluno:
às vezes o pessoal começa muito empolgado e, quando vê que a tarefa vai ser trabalhosa, acaba dando
no pé”, lembra o vice-reitor Adilson de Oliveira. A seleção de monitores foi capitaneada pela secretária
executiva da FAI e do evento, Roziane Barbosa Loureiro.
“A coisa começou com uma equipe muito grande e foi enxugando, até porque a gente abriu o jogo:
aqui a gente planeja, executa e avalia, do começo ao fim. Só deu certo porque havia metas muito bem
estabelecidas, cada um sabia exatamente o que precisava ser feito”, destaca a diretora executiva da FAI.
Uma dessas primeiras metas envolvia o emprego intensivo de motosserras: era preciso derrubar cerca
de 2.000 eucaliptos na área norte do campus da UFSCar em São Carlos e, de quebra, fazer a terraple-
nagem para acomodar as grandes tendas da reunião anual, um trabalho “peso-pesado” que jamais teria
tido êxito sem a coordenação do prefeito universitário Rogério Fortunato Júnior. Não só isso. Junto
com sua equipe da Prefeitura do Campus e dos engenheiros da FAI, foram os responsáveis por todo o
sucesso da infraestrutura física do evento.
Era preciso ainda pensar na melhor distribuição possível da sinalização do campus, para evitar que os
recém-chegados se sentissem perdidos. “A gente fez dois trajetos diferentes, numa espécie de trabalho
de campo mesmo: um reproduzindo o caminho que você faria de carro para a área da reunião e outro
a pé, numa espécie de trilha ‘por dentro’, que a pessoa poderia fazer caso quisesse conhecer o lago e as
outras áreas bonitas da UFSCar”, lembra Mazocco. A pé ou motorizado, o visitante teria à sua dispo-
sição uma equipe de acolhimento na qual se destacavam funcionários aposentados da universidade,
convidados especialmente para recepcionar os participantes da reunião. E era indispensável que todo

Padrão de sinalização distribuído em todo o Campus

19
A infraestrutura começando a ser montada

o campus tivesse acesso a internet sem fio, algo que até então não existia na universidade (no fim das
contas, foi possível disponibilizar 10 mil acessos wireless simultâneos, criando uma estrutura que ainda
está em funcionamento e é considerada um dos principais legados deixados pela SBPC na UFSCar).
Não havia como fazer um evento daquele tamanho sem parcerias de todo tipo e, principalmente, sem
recursos financeiros. “Gastamos mais ou menos R$ 4 milhões com a reunião, e se eu tentasse tirar esse
dinheiro do orçamento da UFSCar eu acabaria prejudicando a universidade”, diz o vice-reitor. Como o
então ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, já havia sido membro da diretoria da SBPC, espe-
rava-se que ele desse uma atenção especial à liberação de recursos para o evento – no fim das contas,
o dinheiro veio em cima da hora, mas veio. “Ficamos de cabelo em pé, porque tínhamos um limite de
tempo de 30 dias antes do evento para poder contratar a fundação, mas acabou dando certo.” Para a
SBPC Cultural, alguns recursos vieram da lei Rouanet; a prefeitura de São Carlos prometeu apoio, e as
indústrias da região também ofereceram alguma ajuda. “Na Tapetes São Carlos, disseram que não era
possível contribuir com dinheiro, mas perguntaram se nos interessava receber não sei quantos metros
de tapetes e forrações. Eu disse que podia ser útil, lógico. Já a Electrolux nos emprestou um freezer e a
Croma Soluções os carrinhos de golfe”, lembra Oliveira.
Nesse processo de criação de parcerias, um desafio crucial foi vencer o desconhecimento da comu-
nidade local em relação à SBPC, e mesmo o ceticismo dos que poderiam contribuir para um evento
exitoso. “Eu estava falando com o meu irmão sobre a SBPC e ele me perguntou se tinha alguma coisa a
ver com veneno”, lembra Mazocco, rindo (a referência que ele tinha na cabeça, claro, era o célebre inse-
ticida SBP...). Em visitas à Acisc (Associação Comercial e Industrial de São Carlos) e a outros locais, a
comissão executiva buscava ressaltar as oportunidades de negócios trazidas pela reunião – foi graças a

Preparação da Praça da Ciência para receber o


maior evento científico do Brasil

20 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
“DEPOIS DOS
CABELOS EM PÉ
AS OBRAS
INICIAM”

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22 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
reuniões na Acisc, por exemplo, que os taxistas são-carlenses foram informados sobre o público que a
cidade receberia e estamparam o cartaz da 67ª reunião em seus carros, o que ajudou tanto a divulgar o
evento quanto a orientar os visitantes em busca de transporte. Por outro lado, foi mais difícil conseguir
que empresas da área de alimentação apostassem no encontro.
“A gente queria garantir para os visitantes uma refeição completa e relativamente barata, um prato
feito, digamos, que pelo menos matasse a fome com tranquilidade”, lembra Lourdes. “Quando a gente
dizia que estava esperando umas 10 mil pessoas por dia, ninguém acreditava. ‘Mas você garante esse
público? E quantos vocês acham que vão comer todo dia?’, perguntavam. Vai daqui, vai de lá, convi-
da um, convida outro, e nada”, diz ela. Um golpe de sorte acabou resolvendo esse impasse. Certo dia,
enquanto a diretora da FAI estava parada na rua, com a bateria do carro pifada, esperando socorro,
passou por ali uma amiga cujo filho, recém-formado, tinha acabado de inaugurar um restaurante cha-
mado Cheiro de Fome. Os novatos acabaram topando o desafio. “Foi por meio deles que conseguimos
os lanches para os monitores, para as crianças das escolas que visitavam a SBPC Jovem e também as
refeições que serviram de âncora para a nossa praça de alimentação”, conta Lourdes.
Se houve alguma dificuldade na tentativa de empolgar os empresários da região, a tarefa com as escolas
da rede municipal e estadual de ensino foi bem menos penosa. Os prefeitos de São Carlos e Araraquara,
por exemplo, comprometeram-se a divulgar a reunião e suas atrações para o público jovem, e o mesmo
fez o então secretário estadual de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, ex-reitor da Unesp. “Ele
nos colocou em contato com a diretora de ensino da região de São Carlos, Débora Gonzalez Costa
Blanco, e com outras diretorias de ensino das regiões vizinhas, e todos foram muito solícitos”, diz o
vice-reitor da UFSCar. Além dos lanches, a organização disponibilizou ônibus que levavam as crianças
até o campus e propôs um desafio aos alunos: um concurso de fotografias que explorassem a temática
do Ano Internacional da Luz (as fotos seriam exibidas durante a SBPC Jovem).

Sequência da montagem da entrada do


estande do MCTI

23
Capítulo 3

Contagem
regressiva
Como seria de esperar, os últimos meses e semanas antes da cerimônia de
abertura foram caracterizados por um ritmo intenso de trabalho. Com o
objetivo de oferecer uma maior variedade de opções aos visitantes que iriam
comer na praça de alimentação, por exemplo, a organização decidiu convi-
dar um conjunto de food trucks, novidade gastronômica que, até então, não
havia chegado a São Carlos. Isso, porém, levou à necessidade de reformatar
ligeiramente o espaço da praça de alimentação, de modo a oferecer pon-
tos de energia elétrica, água, esgoto e internet aos restaurantes sobre rodas.
Essa trabalheira quase foi em vão, conta o vice-reitor da UFSCar: “Até pra-
ticamente a véspera do início da reunião, a gente não tinha um alvará para
a atuação dos food trucks porque não havia legislação municipal específica
sobre eles”. Na última hora, a prefeitura conseguiu resolver o problema.

24 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Reunião da SBPC São Carlos vira notícia e agita a
comunicação da cidade e da universidade

Para o caso de emergências de saúde, também foi preciso or-


ganizar uma estrutura considerável, que ficou a cargo de Samir
Celso Cesaretti, da FAI. “Essa era outra coisa que ninguém em
São Carlos tinha noção exata de como fazer”, conta Lourdes
Moraes. Após um levantamento minucioso da legislação sobre
o tema, foi montada uma equipe de bombeiros civis, médicos,
enfermeiros e até dentistas para atender o público da reunião,
com ambulância e camas de hospital à disposição no próprio
campus, bem como planos para levar rapidamente possíveis
pacientes para os hospitais de São Carlos e Araraquara, se e
quando fosse necessário. Ainda bem que não foi.
Nesse meio tempo, a comissão de comunicação planejava como
dar mais visibilidade à reunião. “O fato é que, até o começo
de junho, embora o pessoal da cidade soubesse que a SBPC ia
acontecer aqui, era como se a ficha ainda não tivesse caído”,
conta o jornalista Fabricio Mazocco. Essa lacuna foi sanada na
primeira semana do mês que antecedia a reunião, com a visi-
ta de Helena Nader e do vice-reitor aos principais órgãos de
imprensa da região. A EPTV (afiliada da Rede Globo em São
Carlos) exibiu um vídeo sobre a reunião anual produzido pela
própria equipe da UFSCar e a rádio Intersom FM promoveu
uma série de entrevistas, além de outras mídias e orgãos de im-
prensa que ajudaram a divulgar o evento.
Jornalistas de todo o Brasil começaram a se cadastrar para a
cobertura do evento, e os diferentes órgãos de comunicação da
UFSCar se articularam para montar uma espécie de redação
multimídia própria, capaz de divulgar o que acontecia na reu-
nião por meio de releases, programas de rádio e TV e interven-
ções constantes no Twitter e no Facebook. No total, a universi-
dade mobilizou cerca de 50 pessoas para a tarefa, que incluiu
até a produção de imagens aéreas com o auxílio de drones.
Um resultado espontâneo dessa articulação foi que o prédio da
Rádio UFSCar, colocado à disposição dos membros da impren-
sa que cobririam a SBPC, acabou sendo rebatizado informal-
mente como Centro de Mídia. A coisa ficaria por isso mesmo
se não fosse pela visita da comitiva do então ministro de Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, que preparava a vinda

25
“O PLANO B”
E UMA PLATEIA
CHEIA!

26 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
O mercado
sem peixe
Nem o cuidado quase
obsessivo com os detalhes
foi suficiente para evitar
alguns imprevistos quando a
dele e de todo o seu gabinete para a cerimônia de abertura. Em dado momento, reunião finalmente começou.
um dos assessores de Aldo disse: “Fabricio, estamos quase terminando aqui e O mais inusitado deles talvez
possa ser descrito como a
depois vamos para o Centro de Mídia”. Nisso, o reitor Targino, que estava por invasão de “ambulantes” na
perto, questionou espantado: “Centro de Mídia? Que diabos é isso?” – e caiu na segunda-feira.
gargalhada, já que nem havia sido informado a respeito. “Às 8h da manhã, a nossa
Praça da Ciência, tão linda,
Na reta final da organização, outro problema que precisou ser resolvido foi o do tão bem pensada, estava
local para a cerimônia de abertura da reunião. Em tese, estava tudo certo para repleta de barraquinhas
que a UFSCar ganhasse um novíssimo centro de convenções, com capacidade sem que ninguém tivesse
para 3.600 pessoas. “O pessoal andava brincando que esse era o famoso lance pedido autorização”, conta
Lourdes, para quem esse foi
da SBPC”, conta o vice-reitor Adilson de Oliveira, lembrando que outros locais o momento mais estressante
que sediaram o evento no passado recente, como as universidades federais de do evento. “Algumas coisas
Goiás e do Maranhão, aproveitaram a reunião anual para requisitar recursos eram de artesanato, a gente
até podia pensar em aceitar,
usados para construir prédios com a mesma finalidade. mas o mais comum eram
“O projeto do nosso centro de convenções, inclusive, tinha como base o de Goi- esses produtos ‘importados’
ânia. Só que havia um detalhe: em São Carlos venta muito mais do que em Goi- – bom, para ser sincera, era
muamba mesmo”, diz ela. Os
ânia, o que levou o engenheiro responsável a ficar preocupado com os riscos à ambulantes suspeitos alega-
estrutura do teto e a recalcular toda essa parte da obra”, recorda Oliveira. Além ram que a SBPC autorizava a
disso, as chuvas atrapalharam o progresso dos trabalhos, sem falar na liberação presença deles em todas as
reuniões anuais, mas a dire-
relativamente lenta de verbas. Resultado: não foi possível entregar o centro de tora da FAI não deu o braço
convenções a tempo – o vice-reitor espera que isso aconteça até o final de 2016, a torcer e conseguiu que
concluindo a atual gestão da reitoria. eles se retirassem dali até o
O plano B para a abertura foi o Bazuah Centro de Eventos, que acabou recebendo fim do dia, com a ajuda dos
vigilantes do campus. “Eu
quase 2.000 pessoas na noite de domingo. “Recordo que a organização pediu uma não podia deixar que aquilo
cerimônia rápida e que eu falasse só três minutos, mas eu respondi: ‘Olha, vocês virasse um mercado de pei-
me desculpem, mas com o tanto que eu trabalhei para realizar essa reunião, acho xe”, esbraveja Lourdes. Outra
ameaça à tranquilidade (e ao
que mereço falar mais do que três minutos’”, conta o vice-reitor. bolso) dos participantes foi
Em um momento raro na história de São Carlos, dois ministros de Estado, se- um grupo de vendedores de
cretários estaduais, presidentes de orgãos de fomento à pesquisa e de associações terno preto, saídos sabe-se lá
de onde, que seguiam o tra-
científicas, entre outros, compuseram a mesa de abertura. dicional esquema de “brinde
Os discursos de praxe das autoridades estiveram longe de ser as únicas atrações de revistas” comum em aero-
do evento. Numa bem-vinda mistura de ciência e arte, a professora Yara Gal- portos e rodoviárias – aquele
no qual o vendedor sai
vão Gobato, do Departamento de Física da UFSCar, apresentou ao piano uma dizendo “Senhor, já pegou
obra do compositor brasileiro Edmundo Villani-Côrtes intitulada “Luz” – em seu brinde?” e depois tenta
homenagem, é claro, ao Ano Internacional da Luz, e também como referência ao empurrar uma assinatura de
revista para os incautos.
próprio trabalho acadêmico de Yara, que versa sobre as propriedades ópticas de Esse incômodo, por sorte,
diferentes materiais. Enquanto o piano soava, um texto de divulgação científica também durou pouco. Pelo
com forte carga poética, escrito por Adilson de Oliveira, era lido para a plateia. resto da semana, crianças,
jovens e adultos puderam
acompanhar uma das progra-
mações científicas e culturais
Abertura oficial do evento mais ricas do país, como vere-
mos nas próximas páginas.

27
Capítulo 4

A maior
vitrine da
ciência
brasileira
Os pesquisadores reunidos no maior evento científico da América Latina
iniciaram os trabalhos na segunda-feira de manhã, dia 13 de julho de 2015,
recebendo uma espécie de choque de realidade, capaz tanto de ressaltar as
possibilidades de sua área no país quanto de deixar claro o tamanho hercú-
leo dos desafios diante deles – ou quão embaixo é o buraco, para usar uma
linguagem um pouco menos rarefeita.

28 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
De fato, a apresentação feita às 10h daquele dia pelo então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Aldo Rebelo, poderia muito bem ser enquadrada naquele velho dilema: você quer primeiro a boa ou
a má notícia? Começando com a parte boa dos dados apresentados pelo ministro: a edição de 2015 da
pesquisa sobre percepção pública da ciência no Brasil, coordenada pelo CGEE (Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos), confirmou o aparente interesse elevado dos brasileiros pelo tema, que já vinha
aparecendo nas versões anteriores do levantamento. Mais de 60% das quase 2.000 pessoas entrevistadas
em todas as regiões do país se disseram interessadas em ciência, um número que, ao menos no papel,
supera o dos que se declaram interessados em política, esporte ou arte. Cerca de 80% dos que parti-
ciparam da pesquisa declararam que a área científica deveria receber mais verbas; quase três quartos
dos entrevistados disseram que a ciência é uma atividade que só traz benefícios ou, pelo menos, mais
benefícios do que malefícios, num nível de otimismo que supera o existente nos Estados Unidos ou em
países europeus.
Há, porém, o lado desanimador da equação: embora os brasileiros digam adorar a ciência, a esmaga-
dora maioria deles não sabe quase nada sobre o trabalho científico realizado em seu país. Só 13% deles
conseguem citar o nome de uma instituição científica nacional, e meros 6% se lembram do nome de
um cientista do Brasil (em geral, gente do começo do século XX, como o indefectível Santos Dumont).
“O fato é que infelizmente não temos celebridades da ciência – nem pessoa física, nem pessoa jurídica”,
lamentou Rebelo ao comentar os resultados do levantamento.
A apresentação contou com a presença de Helena Nader, presidente da SBPC, e Jacob Palis, que à época
presidia a Academia Brasileira de Ciências. Helena classificou os dados como “emocionantes”. “Mos-
tram que eu preciso trabalhar mais”, brincou ela.
Trabalho, de fato, não faltou ao longo da reunião, e o próprio Rebelo chegou a São Carlos aparentemen-
te disposto a mostrar serviço – o ministro trouxe todo o seu ministério à cidade e passou alguns dias
participando da SBPC. Apesar de ter chegado ao MCTI marcado por algumas opiniões polêmicas e por
uma aparente falta de familiaridade com a área – antes de ser ministro, Rebelo declarou várias vezes
que desconfiava do papel da ação humana nas mudanças climáticas globais, por exemplo –, o político
causou uma impressão positiva na UFSCar, diz o vice-reitor Adilson de Oliveira. “Descobri que o Aldo
era um cara que te ouvia – e não apenas te ouvia como fazia a pergunta certa na sequência”, conta ele.
Justamente por congregar a maior e mais tradicional sociedade científica do país, o encontro anual da
SBPC se caracteriza pela enorme diversidade de temas e pela interdisciplinaridade. Quem passou pelo
evento pôde ter acesso a debates e conferências sobre o estado da arte de áreas tão variadas quanto a
biologia sintética (que busca construir genomas “sob medida” para as mais variadas funções), a des-
criminalização do aborto ou as diversas facetas (físicas, médicas ou culturais) do fenômeno da luz, um
“gancho” adotado pela reunião como parte das comemorações do Ano Internacional da Luz, estabele-
cido pela Unesco.
Além da interação entre as diferentes áreas do conhecimento, a programação também dedicava espe-
cial atenção às implicações econômicas, sociais e políticas da pesquisa científica. Um aspecto óbvio

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30 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
As tendas
gigantes
Quase dois meses antes do
início do evento, várias equipes,
vindas de várias partes do país,
chegaram à UFSCar para “cons-
truir” nada mais, nada menos,
que seis mil metros quadrados
de tendas. É a ExpoT&C, uma
das principais atrações das
reuniões da SBPC.
Imagina uma área imensa, in-
teira forrada de carpete, com ar
condicionado e iluminação per-
sonalizada. Em cada espaço, ou
estande, uma surpresa. Ao todo
foram 37 expositores, dentre
eles a própria UFSCar; os minis-
térios da Ciência, Tecnologia e
Inovação e da Defesa Nacional;
editoras acadêmicas, dentre
as quais a EdUFSCar; agências
de fomento, como a Capes
e a Fapesp; universidades; o
Serviço Alemão de Intercâmbio
Acadêmico; empresas de base
tecnológica, Senai, Sebrae, e
tantas outras instituições.
No estande do MCTI, por exem-
plo, as mãos acionavam uma luz
que atravessava todo o ambien-
te. Nas laterais, a história da luz
era contada por holografia. A
Finep, como sempre, inovou
e trouxe uma sala de cinema,
com direito a sessões durante o
evento, pipoca e muita ciência
na tela. Também foi montado,
pela UFSCar, o museu interati-
vo a céu aberto “Caminhos do
Conhecimento”, um museu que
conta a história das diversas
áreas do conhecimento.
Já no estande da Fapesp, o
visitante conferiu os principais
resultados científicos obtidos
pelos 17 Centros de Pesquisa,
Inovação e Difusão e suas ações
para transferir, compartilhar e
difundir o conhecimento gerado
em benefício da sociedade.
No estande da Marinha, o
visitante participava de uma
batalha naval. E dá-lhe bombas
para todos os lados, o que atraiu
adultos, mas principalmente
os pequenos navegadores, que
mergulharam no infinito mar de
ciência.

31
O MUNDO
ENCANTADO
DA CIÊNCIA

32 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
dessa visão é como fazer com que as descobertas da ciência cheguem ao público e contribuam para
que os cidadãos tomem decisões bem informadas. A reunião foi palco, por exemplo, do lançamento de
dois grandes guias sobre museus de ciência – um de toda a América Latina e Caribe, em sua primeira
edição, e a terceira edição da versão brasileira do guia. O trabalho, realizado pela RedPOP (Rede de
Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe), em parceria com o Museu
da Vida da Fiocruz e com o Escritório Regional da Ciência da Unesco, mostra que a falta de acesso e
as desigualdades regionais ainda dificultam o acesso de muita gente a esses museus: no Brasil, de 268
instituições do tipo, 155 ficam no Sudeste.
As imensas possibilidades da biodiversidade brasileira foram outro foco das apresentações durante a
reunião. Carlos Alfredo Joly, professor da Unicamp e coordenador do programa Biota, um ambicioso
projeto de levantamento da biodiversidade paulista financiado pela Fapesp, apresentou ao público do
evento o Ipbes (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), ou
“IPCC da Biodiversidade”, como tem sido chamado. A ideia é que a plataforma internacional consiga
sintetizar informações relevantes sobre a biodiversidade planetária numa escala semelhante ao que o
IPCC tem feito com as mudanças climáticas. A expectativa é que o primeiro relatório global do Ipbes
seja divulgado em 2019.
Enquanto essa data não chega, pesquisadores coordenados pelo Instituto de Física da USP de São Car-
los (IFSC-USP), e incluindo também cientistas de outros campi da USP, da Unesp e da Unicamp, uni-
ram-se para dar um impulso maior à produção de novos medicamentos baseados na biodiversidade
vegetal do Brasil. O projeto, apresentado por Glaucius Oliva, do IFSC-USP, tem tido avanços conside-
ráveis, e um de seus objetivos é trazer ao mercado o chamado “Prozac fitoterápico”, com base numa
planta da mata atlântica cujo extrato tem propriedades ansiolíticas.
As reuniões da SBPC também costumam funcionar como uma espécie de encontro marcado com a
história da ciência no Brasil, quando grandes nomes que ajudaram a construir a pesquisa no país se
encontram com a futura geração de cientistas. Em São Carlos, um desses momentos marcantes, afirma
Oliveira, foi a palestra sobre bioética do médico William Saad Hossne, professor emérito da Unesp de
Botucatu e ex-reitor da UFSCar entre 1979 e 1983. Hossne, que faleceria em 13 de maio de 2016, aos
89 anos, foi uma figura central para o estabelecimento dos comitês de ética em pesquisa com seres hu-
manos Brasil afora e ainda era presidente do Conselho de Curadores da UFSCar. “Era impressionante
ver aquele professor com quase 90 anos de vida, sem Powerpoint, sem um papelzinho na mão, dar uma
aula fantástica sobre bioética”, conta o vice-reitor.

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34 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
60 conferências, 74 mesas-redondas e 52 mini-cursos

A sombra do futuro
As apresentações durante a reunião deixaram claro como o conhecimento cien-
tífico será crucial para enfrentar as transformações de grande escala causadas
na biosfera pela ação humana nas últimas décadas. Ainda sob o impacto da seca
de verão que ameaçara o abastecimento de água das regiões mais populosas do
Sudeste brasileiro em 2014 e 2015, o público do evento ouviu com apreensão
a conferência do meteorologista Paulo Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais).
Entre os dados apresentados por Nobre, muitos dos quais ainda inéditos à
época, o mais impressionante talvez tenha sido o de que, nas últimas décadas, a
“conta corrente hídrica” da maioria das regiões do Brasil tem ficado no “cheque
especial” – em resumo, temos usado mais água do que as chuvas foram capazes
de repor. Não é coincidência o fato de que, no sistema Cantareira, o mais ame-
açado pela recente crise hídrica paulista, houve também uma redução da média
de chuva nos meses de verão, de 1.000 mm para 800 mm na última década.
Outro conferencista, José Galiza Tundisi, do IEE (Instituto Internacional de
Ecologia), defendeu que o desastre de 2014-2015 deveria ajudar os brasileiros a
repensar a maneira como enxergam os recursos naturais. “Antes aprendíamos
que as cores da nossa bandeira significavam abundância do ouro, das riquezas,
dos recursos naturais. Tínhamos a cultura da abundância. Agora, temos de mu-
dar para a cultura da escassez”, afirmou Tundisi, destacando ainda que só 30%
do esgoto brasileiro é tratado. Não vai ser possível sair dessa enrascada, que é ao
mesmo tempo global e local, sem mais e melhor ciência – a qual, de preferência,
seja ouvida por quem tem o poder nas mãos.

35
Capítulo 5

Brilho
no olhar
“Gente, vocês têm de entender que o robozinho está indo para Marte”, ex-
plicava o monitor do estande da AEB (Agência Espacial Brasileira) a uma
plateia incrivelmente atenta. “Vai demorar alguns minutos para que a gente
consiga mandar instruções para ele, uma de cada vez. Então, a gente tem
de planejar muito bem os movimentos do robô. Se a gente quer que ele saia
daqui e vá até lá, de quantos comandos ele vai precisar?”

36 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Quase dava para escutar os impulsos elétricos disparando de um neurônio para o outro da meninada,
tentando resolver o enigma proposto pelo monitor (e, mais tarde, programando elas mesmas os mo-
vimentos simples do pequeno rover, uma versão rudimentar dos jipes robóticos que têm explorado
o Planeta Vermelho nas últimas décadas). O estande da AEB é apenas um exemplo do universo de
possibilidades que podia ser explorado pelos estudantes e pelas famílias que puderam visitar a SBPC
Jovem e os espaços adjacentes durante a reunião anual da sociedade em São Carlos. Num país em que
raras escolas, sejam elas públicas ou particulares, possuem bons laboratórios ou mesmo bibliotecas, era
palpável a empolgação das crianças diante da possibilidade de ver e ouvir de perto as peças do quebra-
cabeças fascinante que é a ciência moderna (e muitas vezes até tocar nelas, dependendo do estande).

Tradição em divulgar ciência


Reunir atrações para a SBPC Jovem não foi uma tarefa especialmente complicada numa região como
a de São Carlos, onde já existem há bastante tempo instituições e grupos que se dedicam a trazer o
conhecimento científico para mais perto do público jovem. Algumas iniciativas com tradição na área
são as do CDCC (Centro de Divulgação Científica e Cultural), da USP de São Carlos, e o Núcleo Ou-
roboros de Divulgação Científica, ligado ao Departamento de Química da UFSCar. O Ouroboros usa
a linguagem do teatro para abordar diferentes facetas da ciência, e a diretora do núcleo, Karina Omuro
Lupetti, química de formação, coordenou a SBPC Jovem em São Carlos.
“Além dos grupos ligados à área aqui na cidade, há caravanas de outros que sempre acompanham as
reuniões da SBPC, como os que estão ligados à Associação Brasileira dos Museus de Ciência e vêm do
Rio de Janeiro, de Belo Horizonte ou do Amazonas, por exemplo”, conta Karina, que também nunca
tinha ajudado a organizar um evento com a magnitude da reunião da SBPC. A estimativa é de que, no
ápice e último dia do evento, o chamado Dia da Família na Ciência, que ocorreu no sábado, dia 18 de
julho de 2015, cerca de 20 mil pessoas tenham passado pelas mostras.
Lidar com tanta gente não é brincadeira, e a coisa só deu certo graças ao comprometimento das cente-
nas de monitores, todos selecionados entre os alunos da UFSCar. “O pessoal que chegou na minha mão
era extremamente comprometido. Era gente que precisava disponibilizar oito horas e no fim disponibi-
lizava 20, foi incrível”, diz Karina. O trabalho do batalhão de colaboradores ajudou, entre outras coisas,
a evitar filas muito longas nas atrações mais procuradas e a direcionar os visitantes aos estandes que
desejavam visitar. “Nesse ponto, a divulgação da mídia acabou atraindo muita gente para alguns luga-
res – todo mundo queria ver o dinossauro de realidade virtual, por exemplo”, recorda a coordenadora.
No conjunto de atrações, apesar do peso dado à temática do Ano Internacional da Luz, a diversidade
imperava. Havia experiências clássicas de física, estandes sobre educação ambiental e energias renová-
veis, viagens ao universo da astronomia, da nanotecnologia e da paleontologia. Houve até a presença
de uma jiboia amazonense vivinha da silva, que as crianças e os pais podiam acariciar sem maiores
sobressaltos. “Ainda bem que a cobrinha era tranquila, porque foi uma semana intensa”, brinca Karina.

37
CIÊNCIA &
OÃSREVID
38 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
DIVERSÃO
& AICNÊIC
39
Entre as inúmeras atrações da SBPC-Jovem havia uma que despertava a atenção das crianças. A possi-
bilidade de realizar uma viagem pelo tempo e pelo espaço na busca de um átomo de carbono. Memó-
rias de um carbono era uma instalação interativa na qual os visitantes por meio de uma experiência
sensorial pilotavam uma espaçonave que partia da praça central de São Carlos para alcançar o espaço e
também podia voltar no tempo dos dinossauros na busca de um átomo de carbono. A surpresa era que
no final a imagem das próprias pessoas se transformavam em átomos de carbono.
Na interface com a SBPC Cultural, o Ouroboros, em parceria com o grupo Olhares, emocionou os
visitantes com o espetáculo Lucis est vita, cuja intenção era mostrar aspectos da luz retratados por
pessoas que não enxergam – todo o elenco é formado por pessoas com deficiência visual, num espectro
que vai de atores cegos desde o nascimento, passando por participantes que perderam a capacidade
de enxergar ao longo da vida, até pessoas com baixa visão. “Temos gente fantástica nesse grupo, como
um músico autodidata que toca seja o lá que você colocar nas mãos dele, como taças de vidro – é uma
habilidade inata que ele tem”, conta Karina.
O trabalho do Ouroboros usou referências históricas – como a vida do cangaceiro Lampião, que per-
deu a visão em combate – e locais, como a Rádio UFSCar (já que as ondas de rádio, como as da luz
visível, são parte de um único espectro eletromagnético), para mostrar as múltiplas possibilidades do
tema. Já a mais famosa equação de Einstein, a indefectível E = mc2, junto com algumas das descober-
tas de Isaac Newton e Galileu Galilei, foram metamorfoseadas em performances circenses pelo grupo
Estação do Circo.
A tradicional ExpoT&C, além de ser uma das maiores - foram duas tendas que totalizavam uma área
de 6 mil metros quadrados – e mais importantes mostras de Ciência, Tecnologia e Inovação do país,
encantava os visitantes ao apresentar o fantástico mundo da ciência. Na edição de São Carlos, sob o
tema “Luz, Ciência e Ação”, a ExpoT&C arrancou suspiros das crianças com idade de zero a 100 anos!
Expositores, como institutos de pesquisa, universidades, agências de fomento, entidades governamen-
tais e outras organizações divulgaram novas tecnologias, produtos e serviços e os Ministérios da Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação, da Defesa Nacional e da Educação trouxeram o que havia de mais moderno
e atual nas políticas públicas do setor.
Outra atração que buscou o diálogo com o Ano Internacional da Luz foi produzida pelos próprios
alunos que estavam visitando a SBPC Jovem: uma exposição de fotografias sobre o tema da luz, que
surpreendeu a todos pela qualidade das propostas, diz Karina. “A gente acabou nem precisando fazer
uma seleção de algumas das fotos. Exibimos todas nas telas, porque tinha muita coisa boa. Como eu
conheço pessoalmente alguns dos professores da rede pública que participaram, cheguei até a per-
guntar se os alunos tinham mesmo feito tudo aquilo”, recorda ela. Colocada numa área estratégica das
tendas, permitindo que as pessoas descansassem depois de tanto bater perna pelos estandes, a beleza
das fotos acabou atraindo um público cativo, que passava alguns minutos apreciando o slideshow com
as imagens.

Outra novidade criativa da SBPC São Carlos foi o painel


#SBPCelfie montado na entrada da Tenda Jovem

40 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
SBPC SÃO
CARLOS
#EUFUI

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UM MUNDO

42 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
A SER DESCOBERTO

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44 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Livros: recompensa pela colaboração

Contrapartida
A coordenação do evento desejava oferecer às escolas que alo-
jaram alunos visitantes de todo o país uma contrapartida pela
colaboração. “Fomos falar com as direções das escolas e algu-
mas chegaram a nos pedir até doação de papel higiênico”, conta
o vice-reitor da UFSCar. “Mas, como eu sou um sujeito que
gosta de livros, e como a Lourdes [Moraes, da FAI, uma das
coordenadoras da reunião] é bibliotecária, a gente achou que
seria interessante doar uma coleção de livros para a biblioteca
das escolas. No começo eu até pensei: bacana, vamos doar os
livros da editora da universidade, a EdUFSCar. Mas é claro que
o nosso catálogo é muito técnico, quase ninguém ia se interes-
sar”, lembra Adilson de Oliveira. A solução foi deixar a escolha
dos títulos a cargo dos próprios alunos. “A gente achou que ia
ter Machado de Assis na lista, mas o que eles pediram foi O
Senhor dos Anéis, Harry Potter, a série Divergente – na verdade
são livros bonitos, muitas vezes caros, aos quais eles dificilmen-
te teriam acesso de outra forma. A dirigente regional de ensino
achou bom até reforçar: olha, é para deixar os alunos mexerem
nesses livros, não vão deixar tudo isso encaixotado, hein?”, re-
corda Oliveira.
“O que fica muito para mim, o que me marca, é a imagem do
brilho no olho das crianças. De repente você via os monitores
– um pessoal que é doutorando, por exemplo – sentados no
chão com as crianças, batendo papo, trocando figurinha sobre
o que é ciência”, diz Karina. “Experimentos que para a gente
são triviais, demonstrações que a gente já fez tantas vezes, de
repente viram uma coisa mágica para elas. Conforme o tem-
po vai passando, elas crescem e chegam à universidade, isso
muitas vezes se perde, a percepção vira aquela coisa cascuda
– enquanto na infância elas olham para um lápis dentro de um
copo d’água e ficam maravilhadas: ‘Ué, como o lápis quebrou
desse jeito? Peraí, não quebrou’ e começam a levantar hipóte-
ses, que é justamente uma das coisas que a gente tenta estimu-
lar.” No mínimo, foi uma semana que contribuiu decisivamente
para o surgimento de uma geração de adultos menos cascudos
daqui a alguns anos.

45
Capítulo 6

Os
saberes dos
primeiros
brasileiros
A primeira SBPC Indígena aconteceu em 2014, na UFAC, o que certamente
não surpreenderá quem está acostumado a associar os habitantes originais
do atual território brasileiro à sua presença mais marcante na região ama-
zônica de hoje.

46 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
A reunião voltada para o público indígena, porém, ganhou contornos muito mais fortes em São Carlos,
a milhares de quilômetros da Amazônia – o que, na verdade, faz muito sentido, considerando a relação
estreita entre a UFSCar e a grande diversidade de universitários indígenas do país.
“Hoje nós temos mais de 400 alunos indígenas, de quase 30 etnias”, lembra o vice-reitor Adilson de
Oliveira. A presença extremamente significativa de universitários vindos desses grupos étnicos em São
Carlos possui ligação estreita com o papel que a UFSCar tem desempenhado no debate sobre o papel
dos indígenas no ensino superior brasileiro e pela forte política de ações afirmativas da universidade,
afirma a antropóloga Clarice Cohn, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar e co-
ordenadora do Observatório da Educação Escolar Indígena da universidade.

“A UFSCar de fato se destaca nessas políticas, embora não seja a única universidade a receber indíge-
nas em seu corpo discente, por ser uma das primeiras a propor uma política nesse sentido, apoiando
o ingresso e a permanência de indígenas antes da Lei de Cotas”, afirma Clarice. Outro ponto crucial é
que a UFSCar se dispõe a receber estudantes de qualquer etnia ameríndia, de qualquer região do Brasil,
enquanto outras instituições costumavam limitar o acesso desses possíveis universitários aos perten-
centes a certos grupos étnicos, ou oriundos de determinadas regiões.
A universidade também organiza um vestibular indígena específico; destina sempre uma vaga suple-
mentar anual por curso para esses alunos, em todos os campi; tem equipes de apoio pedagógico e
comunitário voltados para eles; mantém uma variedade considerável de grupos de pesquisa com par-
ticipação direta indígena; e favorece a criação de entidades representativas próprias desses estudantes,
o que levou ao surgimento do Centro de Culturas Indígenas na UFSCar.
“Eles são muito organizados”, resume Oliveira. “O desempenho desses alunos muitas vezes é fantástico.
Tivemos um rapaz que chegou aqui mal falando português – dois anos depois, tinha se tornado bolsista
da Fapesp. Ou seja, não há o que discutir, o cara é bom mesmo.” Com tal capacidade de organização,
não admira que os universitários ameríndios da UFSCar já tivessem participado da gestão de eventos

47
CONHECIMENTO
DOS POVOS
TRADICIONAIS
DO BRASIL
TAMBÉM É
CIÊNCIA

48 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
de grande porte anos antes da 67ª reunião da SBPC.
Além de eventos ligados ao Dia do Índio, eles já realizaram o 1º Workshop de Saúde Indígena e o 1º
Encontro Nacional de Estudantes Indígenas – agora em sua terceira edição, esse último evento agora é
itinerante. “Temos de apontar o contínuo apoio da reitoria e de suas pró-reitorias em todos esses even-
tos, em especial na organização da SBPC Indígena”, afirma Clarice, que coordenou o evento em São
Carlos. Apesar da grande diversidade de etnias representadas no corpo discente da UFSCar, a pesqui-
sadora aponta que grupos como os Terena de Mato Grosso do Sul, os Umutina e os Xavante de Mato
Grosso e os Xukuru de Ororubá, de Pernambuco, estão entre as nações indígenas com presença mais
significativa na universidade, além de povos do sistema multiétnico do Alto Rio Negro, na Amazônia.
“Durante a reunião do Acre, nós tínhamos ficado com a sensação de que a SBPC Indígena estava meio
de lado. Havia uma tenda por lá com esse nome, mas não havia uma integração mais forte e clara com
o resto da reunião da SBPC”, conta o vice-reitor da UFSCar. “Queríamos fazer algo diferente aqui, mas
o importante foi sabermos combinar com os alunos indígenas e pedir a ajuda deles”, explica Oliveira.
“Quando conversamos, eu disse o seguinte: vocês sempre lutam para garantir o território que é direito
de vocês. Bem, está na hora de lutar por outro território, que é o da ciência e do diálogo do conheci-
mento indígena com a ciência.” Na comissão do evento estavam, além de professores e funcionários,
diversos estudantes indígenas que participaram ativamente da organização.
No início, a iniciativa era resultado de entendimentos pontuais entre a UFSCar e a SBPC. “Durante

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50 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
a reunião, nos encontros realizados entre os estudantes, foi elaborada uma carta para ser lida na as-
sembleia final, que resumia o sucesso da reunião e propunha que o evento indígena fosse realizado
anualmente pela SBPC”, recorda Clarice. A leitura, feita por Edinaldo Rodrigues, egresso da graduação
em psicologia da UFSCar e membro da etnia Xukuru do Ororubá, levou à aprovação da proposta. A
próxima reunião, em Porto Seguro, vai contar com estudantes da universidade paulista no comitê or-
ganizador. “É uma proposta de continuidade que deverá valer para todas as reuniões”, afirma Clarice.
É claro que receber a enorme diversidade de grupos étnicos nativos de um país continental como o Bra-
sil trouxe desafios logísticos específicos. O primeiro deles envolveu a seleção de monitores indígenas,
que não só participaram da montagem de equipamentos como também auxiliaram na hospedagem dos
participantes que vinham de fora de São Carlos, os quais receberam tanto alojamento quanto alimenta-
ção, o que exigiu da organização um planejamento especial para atender as especifidades solicitadas, o
que incluiu a reforma do espaço onde os estudantes indígenas ficaram hospedados. “Tivemos também
o cuidado de levar em conta questões como o atendimento específico à saúde, de acordo com o direito in-
dígena à atenção diferenciada nesse tema – por sorte não houve nenhuma ocorrência”, afirma a professora.
Embora todos os participantes indígenas falassem português, o que dispensou a necessidade da pre-
sença de intérpretes ou de sistemas de tradução simultânea, foi ainda necessário pensar no transporte
de visitantes que vinham de regiões remotas, cujo único meio de transporte era fluvial, e também na
disponibilização de materiais específicos para determinadas oficinas, como as de pintura corporal in-
dígena (no programa, constavam dois workshops desse tipo, ministrados por Ubiraci Silva Matos, de
etnia Pataxó, e Muniz, dos Xavante). “Esses desafios foram sendo respondidos ao longo da organização,
mas seria melhor que já fossem previstos desde o início de seu planejamento”, pondera Clarice.
Para a antropóloga da UFSCar, o primeiro ponto a diferenciar a SBPC Indígena de São Carlos de outros
eventos semelhantes foi a participação de estudantes das diversas etnias em todo o processo de organi-
zação. Outro ponto-chave, segundo ela, foi o esforço constante para que houvesse um diálogo entre os
saberes tradicionais indígenas e a ciência ocidental – todas as mesas foram compostas deliberadamente
por uma mistura de indígenas e não indígenas, seguindo temas que tivessem relação com o restantes
da reunião da SBPC. “As oficinas também foram ocasião de diálogos interculturais, com ampla parti-
cipação de não indígenas, tanto entre os outros participantes da reunião quanto entre a população de
São Carlos”, conta.
Com esse ponto de partida, os temas escolhidos para a reunião incluíram um amplo espectro de visões,
das questões que interessam diretamente à população indígena, como a educação voltadas especifica-
mente para ela, o embate político e de direitos humanos no atual cenário brasileiro e as ações afirma-
tivas, até as conexões diretas com o pensamento científico e cultural do Ocidente: como a astronomia
indígena vê a luz, por exemplo? O que há de específico na musicalidade das diferentes etnias? Assim
como ocorre de modo geral com a ciência ocidental, tais diálogos contribuíram para uma visão mais
ampla e multifacetada da realidade.

Arte indígena na SBPC São Carlos

51
Capítulo 7

Viva a
diversidade
A música dos anos 1960 combinava perfeitamente com o gramado, a tarde
ensolarada e o clima da festa para criar um cenário ao mesmo tempo nostál-
gico e divertido: pais e filhos, estudantes, meninas e meninos de todas as ida-
des brincavam e dançavam ao som de She Loves You, Help!, Here Comes the
Sun e outras canções atemporais durante o show Beatles Para Crianças, do
Grupo Passarinho. Era o gran finale da SBPC Cultural e do Dia da Família
na Ciência. “Pode apostar que aquele foi o primeiro show de rock de muita
gente ali, e o melhor é que ninguém precisou apelar para a Galinha Pinta-
dinha ou para a Peppa Pig para prender a atenção da criançada, a música
sozinha já deu conta do recado”, brinca Diego Mussarra Doimo, gerente da
Rádio UFSCar.

52 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Doimo foi um dos representantes da universidade na épica viagem ao Acre que ajudou a moldar os ru-
mos da reunião da SBPC em São Carlos, mas ele e seus colegas já estavam trabalhando para planejar as
atrações da SBPC Cultural bem antes da ida para a Amazônia. “Era preciso rascunhar um projeto com
bastante antecedência para tentar buscar apoio financeiro por meio da lei Rouanet, de âmbito federal,
e também do governo do Estado de São Paulo”, explica ele. “Além disso, a SBPC Cultural é de total res-
ponsabilidade da sede organizadora da reunião, a própria SBPC pouco interfere na programação, então
tínhamos de dar atenção especial a essa tarefa.”
Um dos primeiros passos foi organizar uma espécie de chamada pública para propostas das mais dife-
rentes linguagens artísticas – cada artista ou grupo podia mandar seus projetos por e-mail. “Chegaram
cerca de 200 propostas, que iam desde o circo até a música e o cinema. No fim, ficamos com cerca de
25 atrações, que podiam ser encaixadas em duas faixas de horário, a do almoço e a do fim de tarde”,
conta Doimo. Algumas das atrações propunham um diálogo mais direto entre as ciências naturais e a
arte, mas isso não foi usado como filtro na seleção, já que a ideia era enxergar as atividades artísticas,
de forma ampla, como parte das ciências humanas.
O ponto mais importante para a organização do evento, porém, foi criar um bom panorama da diver-
sidade cultural típica do Estado de São Paulo, afirma o gerente da rádio. “No Acre, a temática toda era
muito acreana, com esse perfil regional. A nossa ideia não era ficar preso apenas à questão caipira do
interior de São Paulo, embora esse lado também tenha sido contemplado. Queríamos também mostrar
a mistura e a união de povos, com a presença tanto de artistas da região de São Carlos quanto de outros
lugares”, explica.
Para atingir esse objetivo, a SBPC Cultural contou com a parceria do SESC e com o apoio do Banco do
Brasil. Segundo Lourdes Moraes, da FAI, considerando os recursos relativamente modestos, foi preciso
negociar com os artistas incluídos na programação pagamentos relativamente modestos. “Por sorte,
todos acabaram topando”, conta.
Além dos eventos no campus da UFSCar, também houve apresentações no SESC São Carlos (destacan-
do-se o espetáculo teatral multimídia Nise da Silveira – Guerreira da Paz, sobre a psiquiatra brasileira
que humanizou o tratamento de pacientes com problemas mentais por meio da arte nos 1940) e no
Teatro Municipal, com apoio da EPTV, outra parceria importante para dar projeção ao encontro.
A presença das equipes de TV, aliás, acabou alterando um pouco a dinâmica das apresentações, diz
Doimo. “A gente estimava atender uma plateia de 10 mil pessoas, que era mais ou menos o público que
estava presente na reunião todos os dias, mas o pessoal sempre estava espalhado pelas tendas, pela pra-
ça de alimentação, em vários lugares, e não ali do lado do palco, em geral”, conta ele. Quando um grupo
de flamenco estava prestes a se apresentar no palco, os integrantes estranharam a situação e sugeriram
que era melhor fazer o show no nível do chão, em meio ao público. A equipe da EPTV, no entanto,
estava pronta para transmitir cenas da dança ao vivo para centenas de milhares de pessoas na região de
São Carlos. “Tive de ir lá e conversar com o pessoal do flamenco: pessoal, pode parecer que tem pouca
gente aqui agora, mas está cheio de gente assistindo em casa, então vamos lá, para o palco”, relata ele.

53
ARTE,
CIÊNCIA
E MUITA
AÇÃO
54 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Família
reunida
Durate a semana, as atrações
culturais aconteciam nos
intervalos das demais atividades
científicas. Já no sábado, o Dia
da Família na Ciência, rolou cul-
tura, música, dança e arte por
mais de 10 horas sem parar.
O Dia da Família aconteceu pela
primeira vez na reunião do Acre,
com o objetivo de estimular o
aluno, que visitou os estandes
com as escolas, voltasse nesse
dia com toda a família. Em São
Carlos não foi diferente. Aliás,
no sábado, cerca de 20 mil
pessoas estiveram no evento, o
dobro estimado por dia, durante
a semana.
Além de curtir as atrações cultu-
rais, as famílias também conhe-
ceram os ônibus e caminhões
da ciência, levaram choque no
experimento de eletricidade da
SBPC Jovem, pinturam o corpo
com a arte indígena, assistiram
as explanações do estandes da
ExpoT&C e se deliciaram com as
opções dos food trucks.

55
A cultura caipira local foi representada por artis-
tas como Rodrigo Zanc, com o show Viola, raízes e
frutos, e com a orquestra de viola Amigos Violeiros.
Outros ritmos, como o hip hop (com Sara Donato),
o reggae (com o grupo Ganja Groove) e, claro, o rock
(com o show do The Dead Rocks), também marca-
ram presença, assim como o maracatu. Mas uma
apresentação em especial foi a que mais mexeu com
a memória afetiva de professores, funcionários e
pós-graduandos da UFSCar: o do Premê (conhecido
anteriormente como Premeditando o Breque), que
está na estrada desde os anos 1970 e visita São Car-
los há décadas. “Eles inclusive costumam dizer que
São Carlos é a Liverpool do Brasil”, conta o gerente
da Rádio UFSCar. “Têm um público muito dedicado
por aqui, um pessoal que canta todas as músicas de-
les, e de fato foi um grande show.”
Intervenções artísticas mais sutis também chama-
ram a atenção do público ao longo do evento. Uma
das mais simpáticas, trazida pelo SESC, era a do
Banho de Leitura com Mudas Práticas Educativas –
nada mais que uma banheira na qual a pessoa podia
se “lavar” com livros, lendo tranquilamente lá den-
tro. Carriolas com música e sessões do CineUFSCar
completavam as atrações – e, antes que os Beatles
encerrassem a diversão, a festa oficial da SBPC no
Beatniks Road Bar também parece ter sido um bo-
cado animada. “Dizem que foi bombástica, gente na
fila para entrar até as 3h da manhã. Eu, infelizmen-
te, nem fui”, diz Doimo. Quem disse que ciência não
combina com balada?

Programação diversificada atendeu crianças e adultos

56 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
57
Capítulo 8

Os percalços
da bancada
às prateleiras
Quem visitasse o estande da UFSCar na ExpoT&C da 67ª reunião anual da
SBPC talvez ficasse surpreso com a aparente simplicidade de uma das ativi-
dades disponíveis no local: uma busca em bases de dados. Não se tratava, po-
rém, de uma mera “googlada”, como se diz: a equipe da Agência de Inovação
da UFSCar estava ensinando os interessados a fazer as chamadas buscas de
anterioridade – basicamente uma maneira de determinar se uma ideia cien-
tífica aparentemente nova, com potencial para ser protegida por uma patente
e se transformar em um produto, já passou por esse processo anteriormente.

58 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
“A nossa ideia era desmistificar o tema, mostrar que a busca de
anterioridades não é um bicho de sete cabeças, que a agência faz
isso e pode orientar os pesquisadores sobre como proceder”, ex-
plica Ana Lúcia Vitale Torkomian, diretora da Agência de Inova-
ção da universidade. Ela coordenou a SBPC Inovação, outra das
novidades (sem trocadilho) do evento em São Carlos, com uma
programação que combinou tanto atividades eminentemente prá- A primeira edição da SBPC
Inovação reuniu as principais
ticas, como a descrita acima, quanto debates de peso sobre a ne- autoridades científicas do país
cessidade de intensificar a interação entre cientistas e empresas no
país, bem como as perspectivas de combinação da formação de
pesquisador com a de empreendedor.
Ana Lúcia conta que a SBPC, em suas reuniões anuais, tem a pre-
ocupação de promover atividades que tenham uma ligação pró-
xima com as características da região que receberá cada evento.
“Numa cidade como São Carlos, o que a gente poderia fazer de
diferente? A inovação era um tema lógico”, argumenta. De fato,
o município se destaca pela presença das duas mais antigas incu-
badoras de empresas da América Latina e pela existência de dois
parques tecnológicos, cada um com perfil distinto. “Reservamos
ônibus e vans para que as pessoas visitassem os parques tecnológi-
cos e conhecessem seu funcionamento.”
Outro objetivo importante da programação foi mostrar ao públi-
co que não existe uma oposição entre ciência básica e inovação
tecnológica com impacto econômico. “A fronteira entre as duas
coisas está cada vez mais tênue. A inovação só se torna viável com
uma ciência básica forte”, diz Ana Lúcia. Além de seu impacto na
criação de novas patentes, a busca de anterioridades também pode
ter um papel tão importante quanto os levantamentos bibliográfi-
cos tradicionais no início de uma pesquisa, explica ela, pois tam-
bém ajuda um cientista a ter uma noção mais clara do estado da
arte do conhecimento em determinada área.
A organização da SBPC Inovação conseguiu ainda um feito iné-
dito: reunir os chefes das quatro maiores agências de fomento à
pesquisa no Brasil – o CNPq, a Capes, a Finep e a Fapesp – numa
única mesa-redonda. “Foi um negócio inacreditável”, brinca a
coordenadora. Esses e outros debates ajudaram os presentes a se
situar de forma mais segura na complexidade de temas que envol-

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60 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
vem a interação entre a pesquisa acadêmica e o setor produtivo no
Brasil, uma área que ainda é repleta de dificuldades e incertezas.
Uma dessas principais “zonas cinzentas” tem a ver com a legisla-
ção sobre acesso à biodiversidade brasileira para fins de pesquisa e
inovação, tema que, embora regulamentado recentemente, ainda
deixou muitas dúvidas – e que foi contemplado na programação,
com a presença de representantes do Ministério do Meio Ambien-
te. Também houve debates importantes e dúvidas sobre a mecâni-
ca da cooperação entre universidades públicas e a criação de em-
presas por professores, por exemplo.
“Uma tendência que discutimos é a dos chamados spin-offs acadê-
micos. Nesses casos, em vez de você licenciar uma patente da uni-
versidade para uma empresa que já existe, a ideia é incentivar alu-
nos, em especial pós-graduandos, a se tornarem empreendedores
e colocarem aquele produto no mercado”, diz ela. Para Ana Lúcia,
a questão é estratégica para o futuro da economia do país. “A gen-
te não pode formar alunos das universidades para simplesmente
ocuparem vagas de emprego. Eles precisam é criar empregos, e
empregos com qualidade, em empresas inovadoras que tenham
alta capacidade de competição no mercado”, defende ela.
Embora tenha sido a primeira, a SBPC Inovação de São Carlos
certamente não será a última. “Estava dando uma olhada no pro-
grama da 68ª reunião da SBPC, que acontecerá em Porto Seguro,
porque fui convidada para participar, e a programação falava em
dar continuidade ao movimento sobre inovação que tinha come-
çado na reunião de São Carlos”, conta Ana Lúcia. “Isso mostra que
a gente abriu um caminho que vai ser pavimentado e fortalecido.
O fato de a SBPC, que é uma sociedade científica muito forte e
tradicional, abrir esse espaço nobre para a inovação é um enorme
avanço.”

Ciência, tecnologia e inovação

61
Capítulo 9

Vamos
sentir
saudades
À primeira vista, alguém poderia imaginar que a equipe da UFSCar padece
de masoquismo. Afinal, depois de meses de tensão e de preparativos inten-
sos, e depois de uma semana pesada envolvendo 12, 16 ou até 20 horas por
dia de trabalho, a palavra que quase todos usam para descrever a sensação de
ajudar a construir uma reunião da SBPC é “saudade”.

62 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
“É uma pena, porque depois a gente volta à rotina e
perde um pouco aquela vontade de fazer e acontecer,
independentemente de horário, de ter comido ou
dormido”, resume Lourdes Moraes, da FAI. “Mais de
uma pessoa veio dizer para a gente ‘Nossa, como foi
legal. Tem gente que fica querendo trazer rodeio para
São Carlos, mas vocês trouxeram uma coisa muito
melhor. Ano que vem tem de novo?’”, lembra, rindo,
vice-reitor Adilson de Oliveira.
Para Oliveira, embora o evento tenha trazido legados
concretos importantes para a UFSCar – do sistema
de internet sem fio em todo o campus ao centro de
convenções (que acabou não ficando pronto a tem-
po) –, a grande herança do encontro é “imaterial”.
“De novo, a gente faz a brincadeira sobre os legados
da Copa. Uma coisa bacana foi ver que, embora São
Carlos pareça meio fora do eixo, por estar numa ci-
dade pequena e não numa capital, como as outras
universidades federais, nós temos uma universida-
de reconhecida por sua excelência e que se mostrou
competente para realizar um evento como a reunião
da SBPC. A gente alcançou um novo patamar em or-
ganização e profissionalismo.” E a própria comuni-
dade no entorno da UFSCar parece ter se aproxima-
do do campus de uma maneira inédita.
“A Lourdes conta que, quando era secretária munici-
pal de educação, um aluno de escola pública pergun-
tou: ‘Mas quanto custa para estudar aí?’ É um lugar
muito bonito, deve custar muito caro para estudar lá,
esse era o raciocínio da criança”, explica o vice-reitor.
“Com a SBPC, esses alunos de periferia puderam en-
tender melhor a universidade e o que é a ciência. Se
uma só daquelas crianças tiver a chance de se tornar
cientista, já terá valido a pena.”
Durante os últimos dias da reunião, um banner gi-
gantesco criado pela equipe de comunicação ajudou
a encapsular o sentimento de quase todos e virou

63
uma espécie de ícone da 67ª reunião. “A gente já estava contaminado com aquele sentimento de feli-
cidade, porque já estava claro que a reunião da SBPC aqui era um grande sucesso”, conta o jornalista
Fabricio Mazocco. “As pessoas tinham começado a falar: pô, já estou com saudade da SBPC, imagina
como vai ser a semana que vem sem essa loucura?”, diz ele. Com um acervo de mais de 5.000 fotos das
pessoas que estavam participando do evento, e graças à criatividade do designer Marcelo Ducatti, a
equipe fez uma montagem com os rostos dos participantes, combinou a impressão do material com a
gráfica e, de um dia para o outro, transformou em realidade o banner com a frase “Vamos sentir sau-

64 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
dades” em letras garrafais, o qual foi colocado na Praça da Ciência. “Ninguém resistia à tentação de
procurar sua própria foto ali”, diz Mazocco.
“O banner representa exatamente o que a gente conseguiu com a reunião: aquela equipe ágil, criativa,
da qual o evento precisava. Foi uma surpresa linda”, afirma Lourdes, que só ficou sabendo da iniciativa
quando o material já estava impresso. “Tenho ele até hoje aqui comigo. Estou tentando achar um lugar
bom para colocá-lo, claro que não tive coragem de jogar aquilo fora.”

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66 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Doido de juízo
ou loucura coletiva?
Disquisição na insônia
Que é loucura; ser cavaleiro andante
Ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
Vê o real e segue o sonho
De um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
E me sabendo tal, sem grão de siso,
Sou – que doideira – um louco de juízo.

Dom Quixote, Carlos Drummond de Andrade

Muitos de vocês devem estar perguntando o porquê do poema de Carlos Drummond de Andrade que
fala sobre a loucura de Dom Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes. Eu respondo: tem muito
sentido. Em muitos momentos da nossa vida precisamos ser um Dom Quixote, ter a coragem de fazer
uma loucura, sonhar acordado e perseguir o sonho. Assim foi a SBPC São Carlos.
O professor Adilson de Oliveira teve essa loucura, loucura boa, e eu acreditei no sonho e fui sua fiel
escudeira, talvez o Sancho Pança. Preciso dizer ainda que foi uma das mais belas loucuras que cometi
ao longo da minha vida profissional e olha que fiz muitas. Mas também muitos outros acreditaram e o
sonho se realizou em um misto de realidade e loucura. Fomos em frente, tendo como comandante um
cavaleiro andante – doido de juízo!
Obrigada professor Adilson pela liderança serena, porém segura, e pela confiança que depositou em
todos nós, sua equipe de mais ou menos 800 pessoas, que decoraram a lição para a realização da SBPC.

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Decoraram no mais sublime sentido que tem o verbo decorar – o saber que se guarda no coração.
Obrigada professora Helena Nader e professor Targino de Araújo Filho pelo grande prazer e apren-
dizado que a SBPC nos proporcionou. Sempre quis participar de uma Reunião Anual da SBPC, mas
nunca imaginei tão intensamente. Bem que alguém me disse: cuidado com os sonhos, eles se realizam...
Obrigada a todos que também acreditaram nessa loucura boa e fizeram acontecer o sonho da SBPC
São Carlos.

Lourdes de Souza Moraes


Coordenadora do Comitê Executivo Local da SBPC • São Carlos

Texto lido na cerimônia de encerramento da 67ª Reunão Anual da SBPC em São Carlos, no dia 17 de julho de 2015.

68 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
A SBPC São Carlos
em números
10 mil pessoas por dia visitaram o evento
20 mil visitantes somente no sábado – Dia da Família na Ciência
800 pessoas envolvidas na organização em 13 Comissões
6.378 pessoas inscritas para apresentar trabalhos
53 inscritos do exterior
186 atividades
60 conferências
74 mesas-redondas
52 minicursos
2902 pôsteres
500 matérias publicadas em jornais, portais, rádios e TV’s
800 postagens nas redes sociais, alcance de 250 mil pessoas
70 pessoas entrevistadas
140 jornalistas externos credenciados
30 mil metros quadrados de edificações e instalações disponibilizadas
500 trabalhadores entre artistas, músicos e staff
80 horas de programação cultural
15 mil atendimentos ao público em atividades culturais
79 escolas participaram da Mostra Photographia na Escola com 600 fotografias
30 profissionais de saúde mobilizados
2 ambulâncias, 2 postos de saúde móveis e 1 ambulatório

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70 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
A equipe da
SBPC São Carlos
Abel Gustavo Garay González Amanda dos Reis Hermann
Adilson Jesus Aparecido de Oliveira Ana Angélica Lima Dias
Adriana Arruda Ana Beatriz Santos da Silva
Adriana Lino Casale Ana Beatriz Toledo Cunha
Adriana Fernandes Machado de Oliveira Ana Candida Martins Rodrigues
Adriana Sanches Castilho Ana Carolina Caetano Nunes
Adriano Barbosa Silva Ana Carolina Coelho
Adriano Bottaro Ana Carolina Contini Pietscher
Adriele da Silva Braga Ana Carolina Nilo
Afonso Assalin Zorgetto Ana Carolina Rocha
Agnes Arato Ana Carolina Silva de Almeida
Alana Pereira Ana Cláudia Lessinger
Albecy Peter Cavalari Dos Santos Ana Claudia Paviani Casalli
Aleandro Rogério Evaristo Ana dos Santos da Silva
Alessandro Anselmo Pereira Ana Laura Ferreira
Alessandra de Moraes Souza Ana Letícia Lopes Tito
Alessandra Oliveira Ana Lúcia Vitale Torkomian
Alex Avancini Ana Luiza Ribeiro de Moraes
Alexandre Bueno Anaile Mariane Chiarelli Duarte
Alexandre Souza Ernest Anali Furlan Benetti
Alexei David Antonio Ananda Fernanda de Jesus
Alice Helena Campos Pierson André Da Silva Ferreira
Aline Alves Ataides André Luiz da Silva
Aline Doria de Santi Andrea de Souza Navarro Carvalho
Aline Fioranelli de Sá Andressa Cindel Nogueira Nowasyk
Aline Gambaro Balieiro Andressa de Oliveira Martins
Allis Thuany Botelho de Freitas Andressa Paula Santos
Amanda Araujo Cavalcante Andressa Silva Costa
Amanda de Mello Tavares Angélica Lima Dias

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Angelina Sofia Orlandi Bruno Martins Ferreira
Anne Caroline Lodi Bruno Stein Barbosa Menechino
Antonio Carlos Henrique Marques Camila Cassia Vilani Passos
Antonio Carlos Manucci Pereira Júnior Camila Cristina Ribeiro
Antonio Carlos Maranghetti Filho Camila Fernanda Botega
Antonio Francisco do Prado Camila Francisco Gonçalves
Antonio Frederico Comin Camila Grazieli Ferrari
Antonio Joaquim Dos Santos Camila Luchesi Silveira Angelo
Antonio Lucas Dias Camila Machado
Antonio Marcos Fernandes Camila Martins de Oliveira
Ariane Di Tullio Candara Keocheguerian
Ariane Garcia Ferreira Carina Diniz de Castro
Ariane Porto Ruiz Carla Granato
Ariane Rico Gomes Carla Regina Silva
Arquiminio Bomfim da Silva Neto Carla Roberta Sola
Artur Garcia Gonçalves Carlos Araújo Macedo
Bárbara Bussi Carlos Henrique Santos
Barbara Hass Miguel Carlos Vitor Da Silva
Bárbara Junqueira da Silva Caroline de Morais Ferracioli
Beatriz Arioli de Sá Teles Caroline do Rio
Beatriz Caires Felice Caroline Pardi Vicente
Beatriz Chinen Caroline Silva felix
Beatriz Demartini Celia Maria Rosa
Beatriz Maia Guimarães da Silva Celina Gabriela de Souza
Beatriz Trevisan Waideman César Bosquetti
Belinda Talarico Franceschini Cibely Cristina Hermes Fratucci
Belinha Abondância Rodi Cintia Akie Nakano
Bernardino Da Silva Cíntia Aparecida Tavares Necchi
Bianca Carvalho Clarice Cohn
Boanerges Luiz Pinheiro Claudia Maria de Serrão Pereira
Breno Almeida Cláudia Rejane Zangotti Da Costa
Bruna Biachi Cláudio Norquezo
Bruna Carolina Dorm Cristiane Cinat
Bruna do Nascimento Cristiano Amaral
Bruna Marques Tobal Cristina Camargo de Oliveira
Bruna Renata de Melo Dino Cristine Diniz Santiago
Brunela Vieira Fcamidu Daniel Gobato Röhn

72 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Daniel Monteiro Eike Matheus Campanini
Daniela Dalpubel Elaine Pinatti
Daniela de Oliveira Klebis Elaise Cagnin
Daniela Modna Elder Silva Albuquerque
Daniela Rossetto de Menezes Eliane Colepicolo
Daniele Carareto da Silva Elisa Gramacho de Oliveira
Daniele Toyama Ellen Camila Cardias dos Santos
Danielle Silva Tavares Ellen Costa
Danilo Silva Correia Elvineide Máximo Alves da Silva
Dante Alberti Barreira Elvis de Morais Inacio
David dos Santos Calheiros Emerson Baré
Dayane Teixeira Almeida Emilene Da Silva Ribeiro
Débora Burini Emilene Frazão Capoia
Debora Cristina dos Santos Enzo Kuratomi
Denise Aparecida da Silva Erica Zanardo Oliveira
Denise Balestrero Menezes Erick Mateus Barros
Denise Britto Erika Sayuri Kanashiro
Deusilene Calomezoré Teodoro Erinilson Severino de Souza Manchinery
Diane Damaris Dorst Eunice Maria Fernandes Personini
Diego Musarra Doimo Eva Maria de Souza Iniesta
Diego Profiti Moretti Evelyn Talita Silveira Levy
Diego Sanchez Bragagnolo Ewerton Custódio da Conceição
Dorai Periotto Zandonai Fábio Fernandes Neves
Douglas Araujo Pedrolongo Fabio Leandro da Silva
Douglas Barreto Fabíola de Oliveira
Duino Tsawata Fabrício José Mazocco
Dulce Sugawara Felipe Andrade Rodrigues
Ed Angel França Almeida Felipe Pianta Reis de Camargo
Eder Aparecido Brambilla Felipe Soares Nascimento
Éder José Franco Felizardo Delgado
Edgar De Oliveira Vicente Fernanda Beatriz Silva
Edson Luis Lazarini Fernanda Callegari
Edson Volante Fernanda Costa Pinheiro
Eduardo de Freitas Barboza Fernanda de Carvalho
Eduardo Henrique Jordao Teixeira Fernanda de Oliveira Furino
Eduardo Martins Fernanda Maria de Miranda
Eduardo Sotto Mayor Fernanda Parolo de Mattos Nogueira

73
Fernanda Rocha Chiuzuli Guilherme Cirino Picchi Salgado
Fernanda Rodrigues de Albuquerque Guilherme Fiorentini
Fernanda Soares Cardoso Guilherme López Barros
Fernando Augusto De Oliveira Guilherme Matheus de Almeida Ramos
Fernando Barbosa Alexandre Gustavo Branco de Almeida
Fernando Bernardo de Sousa Gustavo Henrique Murari
Fernando de Almeida Pinto Gustavo Targino Valente
Flávia Bernardo Hamilton Vinícius Duque De Sousa
Flávia Bueno Mendes Heber Dutra Macedo Jr.
Flávia Gabriele Sacchi Heitor Ribeiro De Carvalho
Flávia Vieira de Lima Helena Bonciani Nader
Flávio Henrique Trostdorf Heliny de Carvalho Maximo
Flávio Yukio Watanabe Hellen Cristina Xavier da Silva
Franciane Marcela Bertacini Henrique Ferreira De Almeida
Francis Brasil Gardino Iglesias Henrique Gentil
Francis de Morais Franco Nunes Henrique Nishihara
Francis Massashi Kakuda Herbherth Kauê Novaes
Frederico Rossetto Bianchini Hugo Safatle
Gabriel Buzatto de Souza Iasha Nur Oliveira Salerno
Gabriel Roberto Campesan Igor da Fonseca
Gabriel Toshiaki Tayama Igor de Souza Santiago
Gabriela Bordinassi Teixeira Igor Gabriel Leal
Gabriela Cometa Aissa Igor Silva
Gabriela Conti Ilza Zenker Leme Joly
Gabriela Da Cruz Evangelista Isabel Cristina Nunes de Sousa
Gabriela Van Der Zwaan Broekman Castro Isabela de Carvalho Martins
Gabriele Periotto Lopes Isabeli Cristina Cezarino
Gabriele Rodrigues Pereira Ivan Paulo Braga
Gabriella Oliveira Hernandez Ivani Marcolina Gouvea
Geisy Candido da Silva Izabela dos Santos
Geórgia Maria Dotto Buainain Jakelline Prado
Giovani F. Gozzi Jamile de Jesus Gomes
Grace Regina Ferreira Cirineu Janssen Ayna Silva Ribeiro
Graciliana Garcia Leite Jaqueline Liberato
Graziela De Oliveira Souza Jasiel Josias Lima Macagnan
Graziéle Fernanda Deriggi Pisani Jeane Renata Rossi do Nascimento
Guilherme Augusto Andrade Freire Jéssica Akemi Hitaka Soares

74 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Jéssica Hilario Bonomo Juliana Maria Del Nero Pugliesi
Jéssica Norberto Rocha Juliana Virginio da Silva
João César Bosquetti Juliana Visioli Canto
João Eduardo Justi Juliane Manzine
João Geraldo da Silva Júnior Julio Cesar Gomes de Sousa Filho
João Vitor Medula Kalinka Bacaccici
Jocimara Braz de Araújo Karen Carolina da Silva
Johnny Soares de Carvalho Karina Omuro Lupetti
Joice Lee Otsuka Karizi Cristina da Silva
Jomar Cardinali Palo Kauê Caires Capellaro
Jorge Cardoso Kelly Cristina dos Santos Lima
Jorge Luis Santilli Kevin de Mello Santamaría
Jorge Luis Simonsen Garcia Parrelli Lais da Silva
Jorge Pereira da Silva Laís Matos
Josana Carla Gomes da Silva Larissa Anunciato de Oliveira
José Antonio Lisboa dos Santos Larissa Pernacova
José Aparecido Augusto Lázaro Dalla Costa
José Carlos César Junior Léa Gomes de Oliveira
José Cláudio Ferreira Leandro César Micheloti
José De Carvalho Assumpção Neto Leandro Ferrari
José Eduardo Simões Martinez Leila Bonfanti
José Érico de Oliveira Leila Maria Beltramini
José Lotúmolo Junior Leila Regina de Freitas
José Ribamar Ferreira Leonardo Bruno da Silva
José Roberto Ferreira Leonardo José Dalla Costa
Josenildo Moreira Leonardo Regis Orlandini
Josiane Beltrame Milanesi Leonice Aparecida Zago Pierin
Josiane da Cruz Almeida Leonilia Cabó Chaves Queiroz
Josiane Pereira Torres Leticia Ambrosio
Joviro Adalberto Junior Letícia Carolina Spinelli Calabreze
Joyce Etsuko Arakaki Letícia de Paula Sacco
Joyce Ribeiro Pessoa Leticia Dutra Redivo
Júlia de Oliveira Kapp Carvalho Leticia Fernanda Pedro
Julia Johannsem Branco Fidalgo Leticia Poltroniere
Julia Richley Lima Santos Lia Tavares Teixeira
Júlia Wilmers Liane Biehl Printes
Juliana Jeronimo Moreno Lidia Moura

75
Lidiana Morais Brasil Marcelo Shinyu Mekaro
Lidiane Volpi Márcia Niituma Ogata
Ligia Maria Silva e Souza Marcondy Maurício
Livia Martucci Marcos Afonso da Rocha
Lívia Munhoz Rodrigues Maria Aparecida Mello
Lívia Pavini Zeviani Maria Aparecida Teófilo Campos
Lourdes Bertolote Tagliadelo Maria Brazão Lopes Baré
Lourdes de Souza Moraes Maria Caroline Lima de Souza
Luan Ariel de Oliveira Maria Das Graças Pereira Parravano
Luana Lima de Jesus Maria de Fátima Oliveira Lima
Lucas Alves Borges Maria Emília Marchesin
Lucas da Silva Basso Maria Estela Antonioli Pisani Canevarolo
Lucas Hidalgo Pitaluga Maria Gabriela Correa da Silva
Lucas Marcelino Eder dos Santos Maria Gabriela Pereira Miranda
Lucas Pelegrini Nogueira de Carvalho Maria Lígia Triques
Lucas Sales Fidelis Maria Lúcia Clapis Facundo
Lucelina Rosseti Rosa Maria Regina Valle dos Santos Andrade
Luciana Kuraba Buoso Mariana Assunção Guerreiro
Luciana Maria dos Santos Mariana Cristina Dessi
Luciane Cristina do Amaral Mariana Lazari Kawashima
Luciano Ariabo Quezo Mariana Luciano de Almeida
Luciele Carla Zorzin Mariana Moitinho Fonzar
Luis Fernando de Abreu Pestana Mariana Rodrigues Pezzo
Luís Filipe Vasconcelos Peres Mariana Trovão de Queiroz
Luís Paulo de Carvalho Piassi Mariane Camargo Soares
Luisa Foppa Bergo Mariane Franchetti
Luisa Leoncio Monti Marília Gabriela Branquinho Baldoino
Luiz Roberto Pereira Dionísio Marina Aoki Basaglia
Luiza de Souza Monterossi Marina Azzi Nogueira
Luiza Maíra Ribeiro da Silva Marina Penteado De Freitas
Luiza Veltrone Maristela Schiabel Adler
Lynne Lourenço Marizete Aparecida Rodrigues da Silva
Manoel Claudionor Quezo Marlon Albuquerque Basilio
Marcela Parolo de Mattos Nogueira Marta Cristina Marjotta
Marcela Passucci Fernandes Marta Maria Troiano Cury
Marcelo Ducatti Mateus Cogo Araújo
Marcelo José Araújo Mateus Henrique Nunes Barros

76 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Matheus da Silva Souza Pedro Manoel Galetti Júnior
Matheus Mazini Ramos Pedro Paulo Kropf Abib Ladeira
Mattheus Silva Phelipe Eduardo Silva
Maximiliano Correa de Menezes Priscila Luiza Cardoso
Mayara Aparecida Soares Amaral Diogo Rafael Domingues Bernardo
Mayara Suni Oliveira Rafael Fernando da Silva
Meliza Cristina da Silva Rafael Gomes da Silva
Milena Maria Pinto Rafael Hideki Hanazumi Mazzoca
Milton Borges Campos Filho Rafael Luis Bressani Lino
Mirella Cassia da Silva Rafael Miguel Marques
Miriam Rodrigues Anunciato Rafael Pim Baptista
Mirna Januária Leal Godinho Rafael Simões
Monalisa Nanaina da Silva Rafaela Felix Munhoz de Oliveira
Monica Alessandra Barbalho Rafaela Ferraz Majaron
Murilo Vinicius Alves Raphael Manzini
Nara Venancio Rossi Raphaela Cristina da Silva
Natália Cristina Estevão Raquel Baes
Natalia de Aguiar Santos Raquel Cardoso Machado
Natália de Freitas Lins Raquel Paulini Miranda
Natália dos Santos Andrade Raul Ribeiro
Natália Leite Cavalaro Rebeca Cordellini Emidio
Natália Lopes Zamarioli Regimar Carla Machado
Oneide Quispe Regina Pekelmann Markus
Ornaldo Baltazar Sena Reginaldo Kirisawa Baldan
Pablo José Martinelli Guerreiro Renan Aparecido da Silva Reis
Paola Thais Spolaôr Falcão Renan Augusto Ferreira Bolognin
Patricia Villar Martins Renan Vasconcelos Ribeiro
Paula Penedo Renan Vilela Bertolin
Paulo Cesar Donizate Paris Renata dos Reis
Paulo Henrique Marques De Andrade Renato Augusto G. Rodrigues
Paulo Pratta Ricardo de Almeida Junior
Paulo Hofmann Ricardo Luiz Canato
Paulo Sérgio de Oliveira Ricardo Rizzo Correia
Paulo Sergio Guzzi Roberto Santos Inoue
Pedro Cesar Zavitoski Rodolfo Loureiro Escudeiro
Pedro Henrique da Silva Vieira Rodolfo Santos Ventura
Pedro Jesus Rodrigues De Moraes Rodrigo Antonio La Scalea

77
Rogério Fortunato Júnior Tatiane Aizza
Rogério Gianlorenzo Tatiane Liberato
Rosana Gama Soares de Mello Tayná Barros Mazer Lucatti
Rosangela dos Santos Teresa Luzia Bessi Lopes
Roseane Pereira Silva Thaigo Bertolotti
Roseli Mello Thaís Aparecida Avelino Canova
Roseli Rodrigues de Mello Thais Ariane Amorim Correia
Rosimeire Ávila Guimarães de Paula Thaís Christina Moreira Elias
Roziane Loureiro Barbosa Thais da Silva Fabricio dos Santos
Samanta do Prado Thais Fomm
Samelyn da Costa Martins Silva Thais Gianotti Caromano
Samir Celso Cesaretti Thais Helena Peixoto dos Santos
Samira Chedid Thaís Palomino
Samuel Lucas Fragelli Ramos dos Santos Thálita Juliana Boni de Mendonça
Sarah Reis Thamy Palo Bortolani
Selma Aparecida de Abreu Inácio Tiago Vintém
Sérgio Loureiro Valderez De Fátima Onofre Neves
Sérgio Luiz Brasileiro Lopes Valeria Marchi Cavalheiro
Sheila Castro Valtencir Zucolotto
Silas Rodrigues Ramos Valter Luiz Líbero
Simone Bezerra Vanessa Ayumi Kuana
Sônia Maria Arantes De Almeida Vanessa de Oliveira Furino
Sonia Maria Chacaliaza Cruz Vanessa Di Genova
Stefani Marinelli Victor Casé
Stefanie de Brito Braz Victor Henrique Carvalho
Stefany Gabrielly Pereira de Souza Victor Leandro Fernandes Lima
Stella Maris Firmino Victor Marques Grilli
Stephanie Oliveira Rodrigues Mazzini Victor Prado
Suzana Ferreira Liskaukas Victória Barbosa Dell Agostinho
Taís Francine de Rezende Victoria Ignatz Gomes
Talita Daniele Braz Fernandes de Oliveira Vilma Martins De Ataide
Tânia Margarida Lima Costa Vinicius Fresca da Costa
Tarcila Santos de Souza Mascarenhas Vinicius Maragno
Tárcio Minto Fabrício Vinicius Wellington dos Santos de Souza
Targino de Araújo Filho Vítor Rinaldi
Tássia Gaspar Mendes Vitória da Silva Augusti
Tathiane Ferroni Passos Vitória Parente

78 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
Vitória Pistori Guimarães
Vivian Costa Araújo
Viviane dos Santos Silva
Viviane Monteiro
Viviani Marchi
Wagner Quezo
Walison Aparecido de Oliveira
Walter Colli
Walter Jacobelis Neto
Walter Jose Botta Filho
Wania Maria Recchia
Wellington José da Silva
Wesley Denilson Algarve
Weverton Souza Teixeira
William Marcondes Facchinatto
Willian Lico
Wilson Polli Junior
Yasmin Mansur Salman
Yuri Augusto Russignoli
Yuri Nakau Fuzissaki

79
Gráfica Compacta - São Carlos - SP
1ª Edição - Tiragem 500 exemplares
Junho/2016

80 LUZ, CIÊNCIA E MUITA AÇÃO As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos
A Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é conside-
rada um dos maiores eventos científicos da América Latina. Conta com a participação de
representantes de sociedades científicas, autoridades e gestores do sistema nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação. A Reunião é um importante espaço para a difusão dos
avanços nas diversas áreas do conhecimento e um fórum de debates de políticas públi-
cas. A 67ª Reunião da SBPC foi realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
entre os dias 12 e 18 de julho de 2015.
Esta publicação conta um pouco das histórias que fizeram desta edição um evento tão

LUZ, ciência e muita ação


especial para a UFSCar. São histórias de pessoas que disseram sim a um desafio até
então nunca vivido e que transformou a vida de cada um. Foram sete dias intensos que
para serem concretizados precisaram do apoio e do coração de cerca de 800 pessoas.
São histórias que começaram um ano antes e que, por meio desta publicação, irão durar
uma vida inteira. Mais uma vez afirmamos: “Vamos sentir saudades". As histórias da 67ª Reunião Anual da SBPC São Carlos

UFSCar UFSCar
Universidade Federal de São Carlos

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