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Corpo e Memoria PDF
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percurso pelas novas concepções de corpo, arte e crevem e comprovam, nos afirmando que “A
cotidiano urbano no Rio de Janeiro, na virada Memória não está nos suportes materiais con-
do século XIX para o XX, a partir dos relatos no vencionais – ela está no corpo”.
diário do crítico de arte Gonzaga Dutra. No bojo Paola Jacques, professora da Faculdade de
dessas idéias, a percepção de que “como obra de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Fede-
arte, ética e estética se juntam na forma urbana ral da Bahia (FAUFBA) e pesquisadora do CNPq,
vivida pela comunidade” e que a valorização des- apresenta seu artigo explicitamente deleuziano:
se fenômeno seria o que de verdadeiramente novo “Corpografias urbanas: a memória da cidade no
poderia surgir, libertando a arte dos espaços des- corpo. Dialogando com premissas de Deleuze e
tinados às classes abastadas. Guattari e aportes de Foucault e com o conceito
Iniciando o terceiro eixo, temos o trabalho de de Sociedade do Espetáculo, preconizado por
Viviane Matesco, pesquisadora e curadora do Debord, a autora propõe uma reforma no urba-
Acervo Banerj/Museu do Ingá/Secretaria de Cultu- nismo hegemônico, utilizando a “errância urba-
ra do Estado do Rio de Janeiro: “Corpo e subjetivi- na” – a capacidade de incorporar a cidade – como
dade na arte contemporânea brasileira”. Nele en- instrumento de melhor compreender as tensões
contramos, a partir da análise das obras dos artis- corpo/cidade e ordenar espaços a partir dessas
tas plásticos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Clark vivências sensório-motoras. Isso traria, em sua
e Barrio, um mergulho no modelo fenomenoló- opinião, a “desespetacularização” da cidade e res-
gico de corporeidade, subversão do corpo literal, pectivamente de seus cidadãos. O conceito de
que profana a noção/imagem de um corpo idea- corpografia fala, portanto, da “incorporação do
lizado. Na proposta desses três artistas, há a reve- corpo na cidade e da cidade no corpo”, que para
lação do que Merleau-Ponty denomina de “olhar Jacques deveria ser a meta do urbanismo e tam-
corporificado”, em que o corpo ativo na interação bém da historiografia das cidades.
com o mundo produz a percepção e, na dialógica Chegamos, então, ao quarto eixo, que se abre
com os objetos e espaços propostos pelos três com o artigo da terceira organizadora deste livro,
artistas, faz surgir a obra de arte. Cláudia de Oliveira, professora do Instituto de
Em “Corpos negros em zonas de contato in- Humanidades da Universidade Candido Mendes
terculturais”, Maria Antonieta Antonacci, profes- (Ucam) e pesquisadora associada (Fundação de
sora do Departamento de História da PUC-SP e Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro/
coordenadora do Centro de Estudos Culturais Faperj) do setor de História da Fundação Casa
Africanos e da Diáspora da PUC-SP, parte da de Rui Barbosa. Em “A Carioca de Pedro Améri-
análise de “folhetos de cordel” do Nordeste bra- co: o corpo pulsante”, a autora analisa as reações
sileiro como reveladores das tradições orais afri- acerca da tela de 1882, identificando interfaces arte/
canas no Brasil. Nesses relatos, a autora eviden- sociedade e investigando seus sentidos na produ-
cia as marcas corporificadas pela “desmoraliza- ção de valores. Aponta que a reação negativa à
ção e racialização de povos e culturas africanas”, tela não teria sido em relação à representação des-
que traziam o corpo como “arquivo vivo” nas nuda, mas sim em relação a atributos não canô-
culturas orais e que puderam ser eternizados no nicos, ruptura com as exigências imperiais de ima-
cordel. Evoca os estudos de Freyre e Meireles gens “evocadoras de virtudes que exaltassem o
como fontes de sustentação de suas reflexões, patriotismo e a moral”. A mestiçagem presente na
revelando os “ares de tensão racial vivenciados opulência das formas erotizadas faz aparecer um
em zonas de confrontos interculturais”. “corpo pulsante” insuportável à mordomia im-
“Memória do olfato: o cheiro de jasmim”, de perial, talvez por ser metáfora de uma nação “rica,
Joëlle Rouchou, também organizadora do livro, exuberante e mestiça”.
pesquisadora da Casa de Rui Barbosa e profes- Segue-se “Das formas e cores – Fayga Ostro-
sora de jornalismo na UniverCidade, narra, a wer – do corpo operante”, de Maria Luísa Távo-
partir de entrevistas com exilados do Egito, que ra, professora de história da arte da Escola de
chegaram no Rio de Janeiro em 1956 e 1957, a Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de
reconstrução de suas identidades, após o trauma Janeiro. Neste texto, Távora busca “abordar a
da expulsão, ao chegar num país estranho. Tam- obra de Fayga Ostrower (1920-2001) como ce-
bém nos mostra, através de seus relatos de me- nário para reflexões sobre o corpo, corpo que
mórias olfativas, gustativas e sonoras, como pre- constitui o mundo a partir da experiência”. A
servaram sua terra natal. A autora dialoga com partir de suas gravuras e escritos, a autora mos-
esses discursos e com a presença dessas memóri- tra as afinidades de Ostrower com as bases do
as na literatura e estudos científicos que as des- pensamento de Merleau-Ponty, o que norteia o
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