Sei sulla pagina 1di 3

2659

RESENHAS BOOK REVIEWS


Velloso MP, Rouchou J, Oliveira C, organizado- retrato daquele momento histórico, assim como
ras. Corpo: identidades, memórias e subjetivida- das mutações vividas no Modernismo.
des. Rio de Janeiro: Mauad X, Faperj; 2009. Com “Os imageiros do contemporâneo: repre-
sentações e simulações”, Nízia Villaça, professora
Eduardo Costa 1 titular da Escola de Comunicação da Universidade
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ) e eminente
pesquisadora da corporeidade, apresenta um per-
Corpo: identidades, memórias e subjetividades é re- fil do imaginário do corpo na contemporaneidade,
sultado das ideias apresentadas e debatidas no coló- dialogando com as ideias de Bourdieu, Damásio e
quio homônimo realizado pela Fundação Casa de Varela, entre outros, que nos auxiliam na compre-
Rui Barbosa em maio de 2008. O livro, publicado no ensão dos paradigmas vigentes. Fala-nos dos pro-
ano seguinte, e o colóquio fazem parte de pesquisa cessos de hibridização que caracterizam nossos
permanente do setor de história da fundação. tempos, em que as oposições clássicas natureza/
Organizado por três pesquisadoras com sólida cultura e real/virtual perdem delimitações estan-
produção, esta obra nos leva a uma incursão através ques forjadas pela racionalidade cartesiana.
das percepções múltiplas que eclodiram em busca Abrindo o segundo eixo, temos o artigo “Las-
de sentido para o mistério que é nosso corpo, com- cívia e constrição: leituras ocasionadas por um elo-
posto de 100% biologia e 100% cultura, como diria gio fúnebre”, de Márcia Abreu, professora livre-
Edgar Morin1. docente do Departamento de Teoria Literária do
Temos nessa obra a religação de vários olhares Instituto de Estudos da Linguagem da Universi-
que, abordando o tema a partir de cinco eixos prin- dade Estadual de Campinas. Ao trazer à luz o “Elo-
cipais – “Corpo e reflexão histórica”; “Escritas de si e gio da Illustrissima, e Excellentissima Senhora D,
do tempo”; “É com o corpo que também nos lem- Anna Xavier de Assis Mascarenhas, Baroneza de
bramos...”; “Corpo alegórico e corpos no cinema” – Alvito, e Condessa de Oriola”, composto pelo pa-
, descortinam um olhar “poliocular”, sustentado por dre Teodoro de Almeida, a autora nos coloca di-
mestres e doutores de variadas áreas de saber. ante da radical transformação na valorização e no
No prefácio, intitulado “Identidade e mudança: acolhimento desta obra em dois diferentes mo-
o corpo em perspectiva histórica, de Nísia Trindade mentos históricos – no século XVIII e no início do
Lima, encontramos um rico panorama da obra, no XIX – que denunciam as mudanças ocorridas no
qual a autora afirma: “É, em suma, do movimento que se considerava passível de censura na relação
do corpo no tempo e no espaço que trata esta obra”. com o próprio corpo. O elogio do padre ao auto-
Na apresentação, com o sugestivo título de “Cor- flagelo da baronesa, como sinônimo de virtude e
po: uma obra inconclusa”, as organizadoras afirmam fé, muito bem recebido quando de sua primeira
a fugacidade das impressões sobre um “objeto” sem- publicação, sofre críticas veementes, por seu su-
pre atravessado pelo momento histórico e as ques- posto teor erótico e licencioso, no século seguinte,
tões culturais. Demonstram a pertinência de uma pelo mesmo grupo social, na mesma cidade.
coletânea sobre esse tema, apontando para o cres- “Escritas de si e do tempo: a dança como me-
cente interesse da pesquisa histórica com foco nesse táfora”, de Mônica Velloso, uma das organizado-
objeto de estudo, e esclarecem a busca de olhares ras da coletânea, pesquisadora da Casa de Rui
múltiplos para a compreensão de tamanha comple- Barbosa e do Conselho Nacional de Desenvolvi-
xidade. As organizadoras também nos presenteiam mento Científico e Tecnológico (CNPq), discute a
com uma breve apresentação dos autores e sua in- construção da estética moderna, trazendo os apor-
serção no todo. tes de Isadora Duncan e João do Rio, que “discor-
Em “Uma prostituta no limiar do Modernismo”, davam do modelo ocidental canônico que, ligado
artigo que abre o primeiro eixo, Eliane Moraes, pro- ao pensamento racionalista, positivo e laico, elegia
fessora titular de estética e literatura na Pontifícia o discurso médico-higienista como seu porta-voz”.
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), co- Outro ponto de contato entre o pensamento da
locando a figura da prostituta em foco, a distingue “antibailarina” e do escritor era a crença do corpo
como peça-chave na compreensão da sensibilidade como tradutor da alma brasileira, possibilitando
modernista, apontando sua presença constante nas pensar uma corporeidade nacional, que se mani-
manifestações artísticas desse período, como um sím- festaria especialmente pela dança, em ritmos en-
bolo das profundas transformações sociais da épo- carados pela Europa como primitivos.
ca. Ressalta uma obra emblemática, que anteciparia “Quando a visão se faz gesto”, de Vera Lins,
o projeto antropofágico – Madame Pommery, publi- professora adjunta da Faculdade de Letras da
cada em 1919, e através dela nos presenteia com um Universidade Federal do Rio de Janeiro, realiza um
2660
Resenhas Book Reviews

percurso pelas novas concepções de corpo, arte e crevem e comprovam, nos afirmando que “A
cotidiano urbano no Rio de Janeiro, na virada Memória não está nos suportes materiais con-
do século XIX para o XX, a partir dos relatos no vencionais – ela está no corpo”.
diário do crítico de arte Gonzaga Dutra. No bojo Paola Jacques, professora da Faculdade de
dessas idéias, a percepção de que “como obra de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Fede-
arte, ética e estética se juntam na forma urbana ral da Bahia (FAUFBA) e pesquisadora do CNPq,
vivida pela comunidade” e que a valorização des- apresenta seu artigo explicitamente deleuziano:
se fenômeno seria o que de verdadeiramente novo “Corpografias urbanas: a memória da cidade no
poderia surgir, libertando a arte dos espaços des- corpo. Dialogando com premissas de Deleuze e
tinados às classes abastadas. Guattari e aportes de Foucault e com o conceito
Iniciando o terceiro eixo, temos o trabalho de de Sociedade do Espetáculo, preconizado por
Viviane Matesco, pesquisadora e curadora do Debord, a autora propõe uma reforma no urba-
Acervo Banerj/Museu do Ingá/Secretaria de Cultu- nismo hegemônico, utilizando a “errância urba-
ra do Estado do Rio de Janeiro: “Corpo e subjetivi- na” – a capacidade de incorporar a cidade – como
dade na arte contemporânea brasileira”. Nele en- instrumento de melhor compreender as tensões
contramos, a partir da análise das obras dos artis- corpo/cidade e ordenar espaços a partir dessas
tas plásticos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Clark vivências sensório-motoras. Isso traria, em sua
e Barrio, um mergulho no modelo fenomenoló- opinião, a “desespetacularização” da cidade e res-
gico de corporeidade, subversão do corpo literal, pectivamente de seus cidadãos. O conceito de
que profana a noção/imagem de um corpo idea- corpografia fala, portanto, da “incorporação do
lizado. Na proposta desses três artistas, há a reve- corpo na cidade e da cidade no corpo”, que para
lação do que Merleau-Ponty denomina de “olhar Jacques deveria ser a meta do urbanismo e tam-
corporificado”, em que o corpo ativo na interação bém da historiografia das cidades.
com o mundo produz a percepção e, na dialógica Chegamos, então, ao quarto eixo, que se abre
com os objetos e espaços propostos pelos três com o artigo da terceira organizadora deste livro,
artistas, faz surgir a obra de arte. Cláudia de Oliveira, professora do Instituto de
Em “Corpos negros em zonas de contato in- Humanidades da Universidade Candido Mendes
terculturais”, Maria Antonieta Antonacci, profes- (Ucam) e pesquisadora associada (Fundação de
sora do Departamento de História da PUC-SP e Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro/
coordenadora do Centro de Estudos Culturais Faperj) do setor de História da Fundação Casa
Africanos e da Diáspora da PUC-SP, parte da de Rui Barbosa. Em “A Carioca de Pedro Améri-
análise de “folhetos de cordel” do Nordeste bra- co: o corpo pulsante”, a autora analisa as reações
sileiro como reveladores das tradições orais afri- acerca da tela de 1882, identificando interfaces arte/
canas no Brasil. Nesses relatos, a autora eviden- sociedade e investigando seus sentidos na produ-
cia as marcas corporificadas pela “desmoraliza- ção de valores. Aponta que a reação negativa à
ção e racialização de povos e culturas africanas”, tela não teria sido em relação à representação des-
que traziam o corpo como “arquivo vivo” nas nuda, mas sim em relação a atributos não canô-
culturas orais e que puderam ser eternizados no nicos, ruptura com as exigências imperiais de ima-
cordel. Evoca os estudos de Freyre e Meireles gens “evocadoras de virtudes que exaltassem o
como fontes de sustentação de suas reflexões, patriotismo e a moral”. A mestiçagem presente na
revelando os “ares de tensão racial vivenciados opulência das formas erotizadas faz aparecer um
em zonas de confrontos interculturais”. “corpo pulsante” insuportável à mordomia im-
“Memória do olfato: o cheiro de jasmim”, de perial, talvez por ser metáfora de uma nação “rica,
Joëlle Rouchou, também organizadora do livro, exuberante e mestiça”.
pesquisadora da Casa de Rui Barbosa e profes- Segue-se “Das formas e cores – Fayga Ostro-
sora de jornalismo na UniverCidade, narra, a wer – do corpo operante”, de Maria Luísa Távo-
partir de entrevistas com exilados do Egito, que ra, professora de história da arte da Escola de
chegaram no Rio de Janeiro em 1956 e 1957, a Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de
reconstrução de suas identidades, após o trauma Janeiro. Neste texto, Távora busca “abordar a
da expulsão, ao chegar num país estranho. Tam- obra de Fayga Ostrower (1920-2001) como ce-
bém nos mostra, através de seus relatos de me- nário para reflexões sobre o corpo, corpo que
mórias olfativas, gustativas e sonoras, como pre- constitui o mundo a partir da experiência”. A
servaram sua terra natal. A autora dialoga com partir de suas gravuras e escritos, a autora mos-
esses discursos e com a presença dessas memóri- tra as afinidades de Ostrower com as bases do
as na literatura e estudos científicos que as des- pensamento de Merleau-Ponty, o que norteia o
2661

Ciência & Saúde Coletiva, 16(5):2659-2661, 2011


surgimento de um “corpo operante como ins- co. Denunciando o tratamento do corpo cada
tância originária a partir da qual todo pensar, vez mais como espetáculo, a autora nos indaga
todo dizer, todo significar, obtém sentido”. sobre os destinos desse “corpo pós-humano” que
Em “Corpos estranhos: Frankenstein e o ob- surge na contemporaneidade.
jeto eclético”, de Marize Malta, também profes- O artigo que encerra o livro é de Alcides Frei-
sora da Escola de Belas-Artes da UFRJ, encon- re Ramos, estudioso das interfaces cinema e his-
tramos a obra de Mary Shelley, publicada em tória. Em “Corpo, identidades, memória e sensi-
1816, como metáfora para pensar o surgimento bilidades em Lição de amor (1976, Eduardo Es-
do Ecletismo e seu papel na revisão dos conceitos corel)”, Ramos, acreditando que “o cinema pode
da tradição, perpetuados pelas Escolas de Belas- se apresentar como veículo privilegiado das sen-
Artes. Tal fenômeno revela o surgimento de um sibilidades partilhadas”, utiliza o filme de Escorel
“gosto diferente, antes impedido de tornar-se vi- como símbolo da crítica ao modo de vida das
sível e que no século XIX pôde aflorar e se expan- famílias burguesas no momento histórico da di-
dir – o gosto de uma classe média urbana”. tadura. O autor reflete sobre a obra literária que
Abrindo o último eixo, o artigo de Ivana Bentes, deu origem ao filme, o livro Amar, verbo intran-
diretora, professora e pesquisadora da ECO-UFRJ, sitivo, de Mário de Andrade sustentando que sua
com vasta obra sobre as interfaces arte/sociedade, nos tradução cinematográfica, a despeito da opinião
convida, desde o título, a uma reflexão embasada em de alguns críticos, foi de extrema relevância e fi-
Nietzsche, Deleuze e Guattari na dialógica com o cine- delidade à ideia original.
ma. “O que pode um corpo? Cinema, biopoder e cor- Acreditamos que a ampliação e a diversifica-
pos-imagens que resistem” narra as transmutações nas ção de focos sobre o corpo, proporcionadas pela
estratégias de dominação e controle dos corpos – mar- coletânea, serão de grande valia aos profissio-
cas de um corpo sempre em construção e atravessado nais da Saúde Pública e Educação, possibilitando
pela cultura. Especialmente através da obra de David a compreensão mais abrangente das singulari-
Cronenberg, Bentes nos desvela a passagem da visão dades e comunhões entre os humanos, a partir
disciplinar ao biopoder, “onde o que é investido é a de nossa realidade hipercomplexa. As interfaces
própria vida em todas as suas potencialidades”. Con- propostas auxiliam no fomento à religação dos
tudo, também reflete sobre as possíveis resistências – saberes, de forma transdisciplinar, em que o eixo
estados de exceção – em que localiza, apesar do risco de de qualquer intervenção clínica ou educacional é
se tornarem novas mercadorias, a produção/visibili- o Sujeito ao qual se destina. Portanto, o livro
dade de “novos sujeitos de discursos” que surgem das contribui para uma abordagem mais ética e com-
favelas e comunidades, especialmente no Rio de Janei- preensiva dos Sujeitos/Corpos e de nossa res-
ro, “Periferias capazes de ascender à cultura de massas”. ponsabilidade sobre nossos destinos, como pro-
“O corpo transparente: o imaginário biotec- dutos, produtores e reprodutores dos processos
nológico na ficção cinematográfica”, de Ieda Tu- em saúde em nossa sociedade.
cherman, professora associada de Pós-Gradua-
ção da ECO-UFRJ e pesquisadora do CNPq, trata
da nova relação de visibilidade dos sujeitos/cor-
Referência
pos a partir da intermediação da fotografia poli-
cial, do cinema, em especial dos filmes de investi- 1. Morin E. O Método 5: a humanidade da humanida-
gação, e dos instrumentos de diagnóstico médi- de. Porto Alegre: Sulina; 2002.

Potrebbero piacerti anche