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Leishmaniasis: General Aspects Related with the Disease, the Parasite Cycle,
Available Drugs, Novel Prototypes and Vaccines
Abstract: Leishmaniasis is a neglected disease that has most part of the registered cases in third world
countries and as well as other neglected diseases, low investment in research and development of new drugs
is observed, especially because this disease affects mainly low-income population. In recent years,
globalization and migration resulted in many demographic changes and the disease has become endemic in
countries where only a handful of cases appeared. The main courses of treatment are extremely effective, but
high prices and side effects made it difficult in some parts of the world to provide a suitable treatment,
causing complications and the disease progress, in some cases leading to death. In this context, several
research groups have been looking for new drug candidates from natural sources or drugs with antiparasitic
effect. In this paper are discussed the main current treatments as well as novel compounds being developed,
searching for alternatives with mild side effects and more effectiveness in comparison with the current
treatments. The parasite cycle and a general understanding of the disease will also be discussed.
Keywords: Leishmaniasis; parasite cycle; bioactive compounds; structure-activity relationships.
Resumo
A leishmaniose é uma doença negligenciada que possui a grande maioria dos casos registrados em países
subdesenvolvidos e assim como outras doenças negligenciadas possui baixos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento de novos fármacos, geralmente por atingir população de baixa renda. Com o passar dos
anos e fatores como a globalização, que proporcionou grande migração de pessoas e animais, a doença se
tornou endêmica em países onde não havia muitos casos confirmados. Os tratamentos atuais contra essa
doença são eficazes, porém os efeitos colaterais e o preço do tratamento completo em algumas partes do
mundo acabam impedindo o tratamento da doença ou não permitindo o tratamento completo, resultando
em evolução para os estágios mais graves da doença, podendo levar o paciente a óbito. Neste contexto,
diversos grupos de pesquisa têm buscado novos candidatos a fármacos a partir de fontes naturais ou de
medicamentos com função antiparasitária. Neste artigo são discutidas as principais formas de tratamento da
doença atualmente, assim como novos compostos bioativos que vem sendo desenvolvidos buscando
alternativas com menores efeitos colaterais e mais efetivas em comparação com os tratamentos atuais, além
do entendimento geral sobre a doença e seu ciclo.
Palavras-chave: Leishmaniose; ciclo do parasita; compostos bioativos; relação estrutura-atividade.
* Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Laboratório de Química Medicinal, Síntese Orgânica e
Modelagem Molecular (LaQMedSOMM), Instituto de Química, Departamento de Química Orgânica, Rua Professor
Francisco Degni, 55, Jardim Quitandinha, CEP 14800-060, Araraquara-SP, Brasil.
nailtonjr@gmail.com
DOI: 10.21577/1984-6835.20170055
Rev. Virtual Quim. |Vol 9| |No. 3| |861-876| 861
Volume 9, Número 3 Maio-Junho 2017
1. Introdução
1.1. Ciclo e sintomas da doença
2. Fármacos e compostos bioativos em fase de desenvolvimento
2.1. Fármacos utilizados no tratamento da Leishmaniose
2.2. Compostos bioativos em fase de desenvolvimento
3. Vacinas
4. Conclusão
mil pessoas anualmente, sendo que 90% dos que mostra o ciclo da doença destacando
casos se concentram no Sudão e no ambas as fases do parasita dentro do vetor
subcontinente indiano.4 No Brasil, a doença transmissor e dentro do hospedeiro, a
tem sido descrita principalmente na região leishmaniose é transmitida através da picada
nordeste, apresentando grandes mudanças da fêmea do flebotomíneo. O parasita, na
no local de transmissão, onde se mantinha forma promastigota é transferido para a
predominantemente no ambiente rural. Com corrente sanguínea, onde é fagocitado por
o aumento da migração para as grandes uma célula saudável, passando para sua fase
cidades, diversos casos têm aparecido nos amastigota. Ao passar para sua segunda
centros urbanos.5 Como a doença afeta forma, sofre divisão binária. Após algum
outros mamíferos há estudos mostrando que tempo o parasita causa a lise da célula e
em países da Europa, onde a doença não começa a se espalhar infectando outras
existia, diversos casos foram identificados células, momento no qual o paciente começa
onde cães portadores da doença a exibir os sintomas. O ciclo então é
transmitiram para seres humanos.6 A completado quando a fêmea do
transmissão da doença não necessariamente flebotomíneo ingere o sangue contaminado.
é feita através do mosquito, podendo Dentro do mosquito, os parasitas na forma
também ser transmitida pelo amastigota são transformados novamente na
compartilhamento de seringas, transfusão de forma promastigota, onde no futuro podem
sangue ou através da placenta.2 infectar outros hospedeiros.8
A manifestação clínica da leishmaniose
ocorre com um espectro muito grande de
1.1. Ciclo e sintomas da doença
sintomas, desde de assintomático à forma
letal. A forma com que é apresentada
A leishmaniose é causada pelo depende de vários fatores como vetor da
protozoário do gênero leishmania. Das 30 doença, sistema imunológico do paciente,
espécies existentes que infectam os idade, estado nutricional e outros fatores
mamíferos, 21 delas afetam o ser humano, genéticos.2 A leishmaniose é considerada
sendo elas: L. donovani com duas espécies (L. uma doença com alta mortalidade, variando
donovani, L. infantum); a L. mexicana com desde apenas infecções de pele, começando
três espécies (L. mexicana, L. amazonensis, e com pápulas no local da inoculação do
L. venezuelensis); L. tropica; L. major; L. protozoário, podendo evoluir para formação
aethiopica; e o subgênero Viannia com de placas ou até mesmo úlceras,10 até a
quatro espécies (L. (V.) braziliensis, L. (V.) forma visceral, onde intensas hemorragias e
guyanensis, L. (V.) panamensis, e L. (V.) severa anemia causam a morte dos
peruviana). As diferentes espécies são pacientes, bem como em crianças podem
morfologicamente indistinguíveis, mas elas causar diminuição do crescimento.5 Com a
podem ser diferenciadas através de análises falta de tratamento e uma reação
enzimáticas ou através dos anticorpos imunológica inapropriada ocorre uma
produzidos pelo sistema imunológico.7 replicação descontrolada do parasita que leva
a formas incuráveis da doença.2
Conforme podemos observar na Figura 1,
Figura 1. Ciclo da doença, destacando ambas as fases do parasita dentro do vetor transmissor
e dentro do hospedeiro9
tratamento necessita de três semanas, onde paromicina (3) é 21 mg/kg que deve ser
o paciente recebe 20 mg/kg por dia, sendo administrada ao longo de 5 dias.16
aplicado por via intramuscular. Os efeitos
A pentamidina (4), outro medicamento
colaterais vão desde dor no local da injeção
que é utilizado como segunda linha de
ao mais grave, cardiotoxicidade.14
tratamento, vem sendo muito aceito por
Um dos principais fármacos utilizados é a países da América do Sul e África para o
Anfotericina B (1) (Figura 2), um antifúngico tratamento contra a leishmaniose, devido ao
com cadeia carbônica cíclica poliidroxilada e seu custo mais baixo do que, por exemplo, a
insaturada, isolado da bactéria Streptomyces anfotericina B (1), e possuindo efeitos
nodosus, que inicialmente foi isolada por sua colaterais menos severos20,21 Outra facilidade
atividade antifúngica.15 Esse fármaco vem se dá pela forma como é administrada, não
sendo utilizado no chamado novo mundo necessitando de internação como a
desde os anos 60 como segunda linha de anfotericina B. (1), sendo em aerossol ou
tratamento.16 Apesar de sua alta taxa de injetável. O mecanismo de ação está
sucesso e ser uma alternativa quando os relacionado com a síntese de ácido nucleico
antimônios pentavalentes não são eficazes, do parasita, além de inibir o funcionamento
sua alta toxicidade pode causar febre com de outras enzimas. O tratamento usualmente
tremores, disfunção renal e até morte, sendo leva 3 semanas com um total de 300 mg do
necessário o acompanhamento do paciente medicamento.22
em um hospital durante o tratamento.17
A paromicina (3) originalmente era um
Formulações onde a anfotericina B (1) é
antibiótico, atuando contra infecções e a
utilizada, por meio da formação de
partir de 2006 foi aprovada para o
complexos lipídicos, se mostraram eficazes e
tratamento da leishmaniose.23 As vantagens
com menor toxicidade, mas o alto custo
desse fármaco se encontram no baixo custo,
impossibilita seu uso por populações de baixa
eficácia no tratamento, não sendo menos
renda, visto que enquanto o preço do
eficaz do que o tratamento com anfotericina
tratamento com anfotericina B (1) custa 250
B (1)24 e compostos de antimônio. Além da
dólares e o tratamento utilizando a
grande possibilidade de combinações com
paromicina (3) custa apenas 10 dólares .15 O
outros tratamentos.25 A aplicação consiste
mecanismo pelo qual a paromicina (3) atua é
em 11 mg/kg por 21 dias,25 podendo ser
se ligando a um esterol, uma cadeia lipídica
estendida, desde que com acompanhamento
que possui atividade biológica como em
médico. Como efeitos colaterais, podemos
hormônios e em sais biliares18 do parasita,
destacar náuseas, dor abdominal e
consequentemente, causando o rompimento
hepatotoxicidade, sendo necessária a
da sua membrana plasmática.19 A dose
realização de exames para verificar as
recomendada para o tratamento utilizando
enzimas hepáticas após o tratamento.23
substituí-la por uma carboxila em 12, a partir Esses compostos são subdivididos em 9
da estrutura mais ativa da série 8, há perda subgrupos incluindo os flavonoides e as
da atividade demonstrando que um grupo chalconas.32 Chalconas são flavonoides de
mais polar se mostra desfavorável nesta cadeia aberta com duas subunidades
posição. fenólicas ligadas através de uma cetona ,-
Substâncias polifenólicas estão presentes insaturada. Essa classe de compostos se
em plantas e são conhecidas há muito tempo mostrou promissora pela facilidade de
por suas propriedades medicinais: síntese e versatilidade quanto à possibilidade
antibacteriana, antifúngica e antidiabética. de modificações na estrutura química.33
A partir da estrutura geral 13, foram subunidade 3-clorofenila não ter sido
construídos derivados por meio de promissora para os derivados 2,4,5-
modificações em ambos os anéis aromáticos trimetoxissubstituídos, como podemos
(Ar1 e Ar2) (Figura 4). Na subunidade observar em 14, ela resultou no derivado
destacada em azul (Ar1), foram exploradas as mais potente da série dentre os 2,4,6-
subunidades 2,4,5-trimetoxifenila e 2,4,6- trimetoxissubstituídos 15. Os derivados
trimetoxifenila. Já na subunidade destacada contendo as subunidades 2-clorofenila 18 e
em vermelho (Ar2), houve modificações 2,6-diclorofenila 20 também mostraram
explorando anéis aromáticos clorados, valores de potência próximos ao mais
nitrados e a subunidade naftila. Dentre as potente. Em comparação com o derivado 15,
moléculas contendo a subunidade 2,4,5- podemos destacar que a substituição do
trimetoxifenila, podemos observar que a átomo de cloro pelo grupo nitro em 19
presença da 3-clorofenila em 14, resulta em resulta em diminuição da potência. Dentre os
perda de potência, enquanto seu derivados 2,4,6-trimetoxissubstituídos,
regioisômero, contendo a 4-clorofenila 16, podemos observar que a introdução da
apresenta potência de 29,7 M. Já o derivado subunidade naftila (em vermelho) resulta em
17 contendo a subunidade 3,4-diclorofenila é perda de potência, possivelmente por fatores
menos potente que 16. estéricos ou de solubilidade.
O derivado 15 mostra que apesar da
Tabela 1. Vacinas em fase de testes. Os antígenos mostrados são conhecidos por serem
essenciais à sobrevivência do parasita11
Antígeno Fonte do antígeno Animal modelo Resultado
P36 LACK L. Infantum Ratos Proteção
P36 LACK L. Infantum Cães Proteção
A2 L. Donovani Cães Proteção parcial
Leish-111f L. Donovani Cães Proteção
HASPB1 L. Donovani Ratos Proteção parcial
Gp36 L. Major Ratos Proteção parcial
CPA e CPB L. Infantum Ratos Proteção
4. Conclusão
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