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EXPLORANDO A ESTRUTURA DA LÍNGUA

THOMAS E. PAYNE
CAP. 1, PG. 11-23

TRÊS TIPOS DE EXPRESSÃO COMPARADAS

Vamos comparar os diferentes tipos de expressão utilizadas pelas línguas para permitir que
seus falantes expressem variações de significados.
Tais expressões são:

1. Expressão lexical
2. Processos morfológicos
3. Padrões sintáticos (ou analíticos)
Expressão lexical: é aquele que requer que o falante consulte o seu inventário léxico mental para
expressar uma nuance particular de significado. Normalmente envolve a substituição de um item
lexical por outro.
Processos morfológicos: são aqueles que expressam variações no significado ao alterar as formas da
palavras de uma maneira predizível.
Padrões sintáticos: Expressam variações regulares no significado ao combinar ou rearranjar itens
lexicais relacionados uns aos outros .
Exemplos:
Em inglês, a diferença entre as formas CALL 'telefonar' e CALLED 'telefonou' segue um
padrão regular. Podemos dizer que os falantes derivam a forma called da forma call ao acrescentar
um -ed no final. Este mesmo padrão é aplicado a muitos outros verbos no inglês e sua função é
permitir que os falantes do inglês expressem o tempo passado. Assim, não há a necessidade de
memorizar ambas as formas call e called (assim como as formas stall/stalled, walk/walked, etc.)
como membros de uma longa lista de palavras que não estariam relacionadas necessariamente umas
com as outras. Ao contrário, o que se precisa é de uma lista menor de verbos individuais, além de
uma regra, ou padrão morfológico que estabelece que se deve “adicionar -ed ao verbo para formar o
tempo passado”. Esse padrão (ou regra) está previsto no léxico, o que resulta em um léxico menor
do que o que ele seria se tivesse que conter em sua lista palavras como walked, called, etc. Estas não
precisam estar listadas no lexico porque podem ser derivadas (ou geradas) a partir de walk e call,
respectivamente.
Por outro lado, as formas GO 'ir' e WENT 'foi', do inglês, não são derivadas uma da outra,
por nenhum padrão regular. Neste caso, os falantes têm de memorizar essas duas formas, assim
como também têm de memorizar as formas EAT 'comer' e ATE 'comeu', BUY 'comprar' e BOUGHT
'comprou', THINK 'pensar' e THOUGHT 'pensou' e muitas outras. Os significados desses pares de
formas estão relacionados um ao outro, mas as formas não estão. A forma WENT 'foi' inclui a ideia
de “tempo passado” no seu significado básico porque não se pode separar uma parte que signifique
“passado” de outra que signifique “ir”. Então, dizemos que a entrada lexical para went inclui a noção
de tempo passado. Assim, para expressar a noção de passado do verbo go 'ir' em inglês, não usamos
o padrão regular de expressão do passado. Se usássemos, a forma seria GOED, o que não existe. O
que temos que fazer neste caso é consultar nossa lista mental – o nosso léxico – para recuperar a
forma correta do tempo passado desse verbo. As pessoas que estão aprendendo o inglês nunca
poderiam adivinhar que o passado de go é went, caso não tivessem escutado antes. Por outro lado, os
aprendizes podem rapidamente adivinhar que o passado de um verbo qualquer, mesmo que não
exista, como BLINK, deve ser BLINKED, mesmo não tendo escutado essa forma anteriormente. A
relação entre go e went está baseada nos seus significados relacionados, e não na sua forma. Por
isso, afirmamos que esta diferença é lexical e não morfológica ou sintática. Assim, podemos
entender uma afirmação como:
“O passado do verbo go 'ir' é expresso lexicalmente”
Finalmente, um padrão sintático envolve o arranjo de itens lexicais em um sintagma ou
oração, ou a combinação de itens lexicais separados. Por exemplo, o tempo futuro em inglês é
expresso sintaticamente. Se eu quero expressar a ideia de CALL 'telefonar' no futuro eu digo I WILL
CALL 'eu vou telefonar/eu telefonarei'. A forma do verbo não muda. O que ocorre é a adição de uma
outra palavra, separada, para expressar a noção gramatical de “tempo futuro”. Assim, podemos
entender agora outra afirmação como:
“O tempo futuro é um padrão sintático no inglês”
ou
“O tempo futuro é expresso sintaticamente em inglês”

Outros termos são usados para esse tipo de expressão: padrão “analítico” ou “perifrástico”.

SUBTIPOS DE EXPRESSÕES LEXICAIS

A substituição de um item lexical por outro para expressar um variação normal de


significado (como ocorre com o par go/went discutido acima) é um tipo de expressão lexical. Esse
tipo específico de expressão lexical é, algumas vezes, denominado (supleção da raiz), ou, como
veremos abaixo, (supleção forte da raiz).
Existem pelo menos dois outros tipos de expressão que fazem uma referência às
propriedades memorizadas, ao invés de se referirem a padrões previsíveis. Os três subtipos de
expressão lexical são:

- Supleção (forte) da raiz – usa uma raiz completamente diferente (go→went)


- Supleção fraca da raiz – usa uma raiz um pouco diferente (buy→bought)
- Isomorfismo – usa a mesma raiz (hit→hit)

A supleção fraca da raiz pode ser entendida como uma posição intermediária aos outros
dois tipos de expressão lexical. Essa é a substituição de uma raiz por outra vagamente semelhante à
primeira, mas que não pode ser derivada por nenhuma regra. Por exemplo, as formas das palavras
inglesas buy e bought “parecem” estar relacionadas – pois ambas iniciam com b. Entretanto, não
existe um padrão regular (ou regra gramatical) que derive uma dessas formas da outra, na forma
como a regra do tempo passado descrito anteriormente deriva called de call. Como podemos saber
que não existe uma regra que relaciona essas formas? Existem duas maneiras: primeiro, não existem
outros pares que possam ser relacionados exatamente da mesma forma. Sim, existem formas de
verbos no passado que soam como bought (brought, thought, e outros), mas os tempos desses verbos
no presente são bring e think, não ∗bruy e ∗thuy,4, como deveriam ser se estivessem sujeitos à
mesma regra (inexistente) que deriva bought de buy. A segunda maneira pela qual sabemos que não
existe uma regra que relacione buy e bought é que outros verbos que soam como buy não passam
pela lógica da regra (inexistente). Assim, ela não é apenas agramatical, mas também não é nem
mesmo lógico pensar no passado de cry como ∗crought, ou die como ∗dought, etc.5
Observe que os padrões gramaticais “irregulares” (tais como buy/bought) nem sempre são
exemplos de expressão lexical. Às vezes eles podem estar relacionados a regras. Por exemplo, a
alternância entre sing e sang segue uma regra, e, portanto, não é, rigorosamente, um exemplo de
expressão lexical. Por que? Porque (1) existem pelo menos alguns pares análogos – sink/sank,
ring/rang, drink/drank, e talvez alguns outros. (2) Tem uma lógica até mesmo para aplicações
agramaticais desta regra. A maioria de nós já ouviu crianças dizerem coisas como I brang my new
toy. Esse tipo de exemplo prova que as crianças têm um padrão mental que diz “troque –ing por
-ang para formar o passado.” Portanto, esse é um processo morfológico. Entretanto, não existe tal
lógica para uma regra que diga “troque -uy por -ought.”
Resumindo, a variação formal idiossincrática (aparentemente aleatória) usada para
expressar o passado deve ser registrada na entrada lexical do verbo buy. Não se pode adivinhá-la a
partir da forma do próprio verbo. Portanto, envolve expressão lexical.
Finalmente, o último subtipo de expressão lexical é denominado isomorfismo. É onde se
alcança um ajuste regular esperado no significado por não fazer nenhuma alteração. Por exemplo,
qual é o passado do verbo hit em inglês? É hit. O mesmo radical é usado, e não se adiciona o -ed ao
final. É uma característica do verbo hit que deve ser simplesmente memorizada. Isso não pode ser
adivinhado (ou “predito”) aplicando-se uma regra, portanto envolve expressão lexical. A entrada
lexical para o verbo hit precisa especificar, entre muitas outras coisas, que o passado é simplesmente
hit.
Por que diríamos que o passado do verbo hit é de alguma forma “expresso” quando não
existe uma parte da palavra que “signifique” o tempo passado? Por que não dizemos apenas que o
passado não é expresso para este verbo? Não existem muitos outros componentes significativos que
não têm uma expressão explícita (óbvia)? Por exemplo, uma sentença como Nicolino is working
deixa muita informação de fora, algumas das quais podem ser expressas gramaticalmente em outras
línguas. Ele pode estar trabalhando rio acima ou rio abaixo, durante o dia ou à noite, com um
machado ou com as mãos etc. Se dissermos que hit expressa lexicalmente o passado, estaríamos
querendo dizer que todas essas noções (e muitas outras) também são expressas lexicalmente em
inglês?
O que expressa o passado do verbo hit em inglês é nossa expectativa de que todos os verbos
em inglês devem ter uma forma no passado. O fato de hit não mudar da mesma forma como outros
verbos mudam é significativo. Pode-se dizer que há uma “ausência conspícua” de algo que significa
o passado para a classe de verbos aos quais pertence o hit. Não existe uma expectativa análoga de
que os verbos em inglês devam expressar independente da ação ocorrer rio acima ou rio abaixo, à
noite ou durante o dia, com as mãos ou com um machado.
Em suma, os três subtipos de expressão lexical que consideraremos neste livro são (1)
supleção (forte) da raiz (substituindo uma raiz por uma outra completamente diferente), (2) supleção
fraca da raiz (substitui uma raiz por uma similar aleatória), e (3) isomorfismo (expressão de um
ajuste comum e esperado de significado sem uma mudança estrutural explícita).
A tríade de expressão lexical, processos morfológicos e padrões sintáticos é relevante para
inúmeras tarefas funcionais diferentes na língua. Algumas tarefas normalmente alcançadas por um
tipo de expressão em uma língua, podem ser atingidas por uma das outras na outra língua. Por
exemplo, como vimos, o passado é, normalmente, expresso morfologicamente em inglês por uma
regra que adiciona uma terminação verbal. Em outras línguas o tempo de uma situação é expresso
sintaticamente por frases como two days ago etc. Além disso, como também já vimos, as línguas, em
geral, permitem que determinadas tarefas sejam atingidas em mais de uma forma. Por fim,
frequentemente as línguas combinam os tipos de expressão. She did go é um exemplo de uma
combinação de tipos de expressão. Ele envolve um padrão sintático no qual dois itens distintos são
usados para combinar as noções de go e past, mas também é lexical pois a parte de passado emprega
a palavra did, que é uma forma supletiva fraca do verbo do.

CLASSES NO LÉXICO

Nesta seção discutiremos brevemente a estrutura interna do léxico de uma língua, conforme
entendido por linguistas. Dentro do léxico, existem sempre várias “classes” diferentes de entradas.
Uma classe de entradas lexicais é simplesmente um grupo de entradas que se comportam igualmente
de determinada forma. No capítulo 4 discutiremos como identificar as classes de palavras, tais
como substantivos, verbos, preposições etc. Aqui precisamos discutir outra divisão mais básica no
léxico: a distinção entre palavras lexicais plenas e morfemas gramaticais.

Palavras lexicais plenas (mudança histórica) Morfemas gramaticais


-------------------------------------------------------
nomes, verbos, advérbios, Pronomes,afixos, preposições,
etc. etc.

Figura 1.2 Continuum entre palavras lexicais plenas e morfemas gramaticais


Como veremos ao progredir no estudo da linguística, muitas distinções que os linguistas
fazem não são absolutas, mas descrevem os fins de um continuum, com muitas possibilidades
intermediárias. Esse é o caso com a distinção entre palavras lexicais plenas e morfemas gramaticais.
Temos exemplos muito bons de palavras lexicais plenas, e outros igualmente bons de morfemas
gramaticais, mas também existem muitos exemplos de itens com propriedades de palavras lexicais
plenas e algumas propriedades de morfemas gramaticais. Isso porque todas as línguas estão no
processo de mudança. À medida que os itens do léxico de uma língua passam por mudanças
normais ao longo do tempo, normalmente começam como palavras lexicais plenas e tornam-se
morfemas gramaticais (raramente ocorre o inverso). Uma vez que em determinado estágio de uma
língua, existem unidades em vários pontos desse caminho, essas unidades podem não ser facilmente
classificadas como pertencentes a uma classe ou a outra.
Entretanto, é útil tentar classificar as entradas lexicais de uma língua entre as palavras
lexicais plenas por um lado e entre os morfemas gramaticais por outro. Isso ajuda muito na análise
de línguas específicas e na contextualização de como as estruturas gramaticais funcionam e mudam
ao longo do tempo. Primeiramente apresentarei alguns exemplos de palavras lexicais plenas e
morfemas gramaticais, e darei listas de traços de ambos os grupos.
Os morfemas gramaticais incluem elementos que ocorrem em séries (ou paradigmas)
relativamente pequenas, tais como os pronomes (I, me, you, we, us, she etc.), preposições (in, on, of,
under etc.) e afixos, tais como o passado com -ed, e o plural com –s em inglês. Eles também tendem
a ser menores do que as palavras lexicais plenas, tanto em número de segmentos fonéticos, quanto
em número de componentes de significado que expressam. As palavras lexicais plenas, por outro
lado, tendem a ser, de qualquer forma, muito maiores. Primeiro, elas pertencem a classes maiores,
p.ex. existem mais substantivos em qualquer língua do que pronomes. Segundo, é muito mais fácil
adicionar uma palavra lexical plena ao vocabulário de uma língua do que adicionar um morfema
gramatical. Alguns exemplos de palavras lexicais plenas são rabbit, Alice, fall, e ramification. Às
vezes, diz-se que palavras lexicais plenas têm um certo grau de conteúdo semântico ou conteúdo
lexical, se comparado aos morfemas gramaticais. Por exemplo, uma palavra como rabbit (coelho)
evoca uma imagem bastante complexa com diversas características semânticas: mamífero, orelhas
longas, pele macia, nariz enrugado, se move pulando, e muito mais. Um pronome como she (ela),
por outro lado, evoca exatamente três características semânticas, ou seja, terceira pessoa, singular e
feminino.
Algumas características dessas duas classes gerais de itens são listadas na tabela 1.1.

Tabela 1.1 Comparação entre palavras lexicais plenas e morfemas gramaticais


Palavras lexicais plenas Morfemas gramaticais

 Tendem a ser maiores na sua forma.  Tendem a ser menores na sua forma.

 Ocorrem em classes relativamente  Ocorrem em classes relativamente


abertas. É razoavelmente fácil fechadas. É difícil adicionar novos
adicionar novos membros a uma membros a classes de morfemas
classe de palavras lexicais, por meio gramaticais.
de empréstimo de outras línguas,
inovação de novos termos etc.

 Ocorrem em classes relativamente  Ocorrem em classes relativamente


grandes. pequenas. Existem apenas poucos itens
em uma classe de morfemas gramaticais.
 Tendem a ter significados ricos, tais
como “Alice”, “frumious” ou  Tendem a ter significados limitados, tais
“evaluate”. Palavras lexicais como “feminino, singular” ou “passado”.
expressam muitas características
semânticas.
 Tendem a ligar-se a outros itens, i.e.
 Tendem a se sustentar sozinhas como
tendem a ser clíticos ou afixos (veja
morfemas livres.
abaixo).
Ao trabalhar nos exercícios ao final deste capítulo, poderá ser útil ficar atento às diferenças
entre palavras lexicais plenas e morfemas gramaticais. Isso será essencial ao analisar uma língua
real.

ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS DE MORFOLOGIA

Morfemas
Um morfema é uma forma mínima. Na linguística, a definição clássica de morfema é uma
forma ou pedaço estrutural mínimo que expressa significado. Por exemplo, a palavra inglesa dogs
contém dois morfemas: dog que expressa o significado principal de uma palavra e -s que expressa o
significado de plural (mais de um). A forma dog não pode ser dividida em pedações significativos
menores (p.ex., o d- no início não expressa um significado por si só). Portanto, dog é um morfema –
uma forma mínima. Na maioria das situações, essa definição funciona bem. Entretanto, teorias
linguísticas recentes reconhecem o fato de significados particulares não serem necessariamente
diretamente ligados a pedaços de forma. Falaremos mais sobre isso mais adiante.
Outros problemas com a definição tradicional de um morfema incluem fatos como (1) o
significado com o qual um morfema contribui pode variar dependendo de outros morfemas em uma
palavra, e (2) a mensagem como um todo pode ser maior, menor ou simplesmente diferente da soma
dos “significados” de todos os morfemas da mensagem. Por essas razões, é adequado pensar a
morfologia como um sistema estabelecido nas formas das palavras, ao invés de simples fios de
pedaços significativos.

Tipos de morfemas
Um morfema preso é aquele que precisa estar unido a algum outro morfema para poder ser
usado naturalmente no discurso. Morfemas confinados podem ser afixos, raízes, ou clíticos. O -s em
dogs é um exemplo de um morfema confinado, pois não tem um significado de plural quando
pronunciado isoladamente. A raiz, dog, por outro lado, é um morfema livre, pois não precisa se unir
a outra forma. Em diversas línguas, as raízes são ligadas a morfemas porque não podem ser usadas
no discurso sem algo anexado a elas, p.ex. a raiz espanhola habl- ‘fal’ deve ter uma terminação
adicionada a ela para que possa ser usada na conversação.
Em geral, um morfema gramatical estará associado a mais de um significado ao mesmo
tempo. Considere o seguinte paradigma parcial para o verbo espanhol hablar ‘falar’:

(11) a. hablo ‘falo’ d. habla ‘fala’


b. hablé ‘falei’ e. habló ‘falou’
c. hablaré ‘falarei’ f. hablará ‘falará’

A única parte dessas palavras espanholas que não muda é habl-, portanto, levantamos a
hipótese de que essa é a raiz (veja abaixo). Assim, a diferença no significado, como expresso na
tradução livre em português, deve ser expressa por meio dos sufixos verbais. No exemplo 11a, o que
significa o -o final? Significa “Eu” (primeira pessoa)? Bem, os exemplos 11b e c têm a primeira
pessoa como parte do seu significado e não apresentam o sufixo -o. Portanto, -o significa mais do
que simplesmente a primeira pessoa. Significa a primeira pessoa do presente. Se alterar o tempo do
verbo, terá que alterar o sufixo. Da mesma forma, se alterar o ator da primeira pessoa para a terceira
pessoa, (ele ou ela), novamente terá que alterar o sufixo. Assim, esses sufixos em espanhol
expressam tanto a pessoa do sujeito quanto o tempo (presente, passado ou futuro). O termo
linguístico comum para os morfemas gramaticais que expressam mais de um significado são os
morfemas valise. A palavra inglesa portmanteau (valise) refere-se a um tipo de mala. 6 Penso que
sua aplicação a morfemas que expressam mais de um significado seja uma extensão da ideia de que
se leva um monte de coisas diferentes em uma mala – ela “carrega” muitas coisas. Morfemas valise
“carregam” muitos significados.
Afixo é um termo abrangente para prefixo, sufixo, e infixo. Os prefixos são morfemas
presos que ocorrem no início de uma raiz. Por exemplo, a forma un- em unable é um prefixo. Os
sufixos são morfemas presos que ocorrem no final de uma raiz. Por exemplo, o -s em walks é um
sufixo. Os infixos não ocorrem no inglês padrão, 7 mas são morfemas presos que ocorrem dentro de
uma raiz. Os infixos e outros tipos de afixos são exemplificados e discutidos em detalhes no capítulo
2. Além disso, as palavras podem ter múltiplas “camadas” de afixos. Isso também será discutido no
capítulo 2.
Os termos raiz e radical são à vezes usados um pelo outro. Entretanto, há uma sutil
diferença entre eles: uma raiz é um morfema que expressa o significado básico de uma palavra e
não pode ser subdividida em morfemas menores. No entanto, uma raiz não necessariamente
constitui uma palavra completamente inteligível em si mesma. Outro morfema pode ser necessário.
Por exemplo, a forma struct em inglês é uma raiz porque não pode ser dividida em partes menores
significativas, todavia, também não pode ser usada no discurso sem um prefixo ou um sufixo
adicionado a ela (construct, structural, destruction etc.).
Um radical pode consistir-se de uma raiz apenas. Entretanto, também pode ser analisado
como uma raiz mais morfemas derivacionais (discutido no capítulo 2). Como uma raiz, um radical
pode ou não ser uma palavra completamente inteligível. Por exemplo, em inglês, as formas reduce e
deduce são radicais pois agem como qualquer outro verbo regular podem adotar o sufixo de passado.
Entretanto, não são raízes, pois podem ser analisados em duas partes, -duce, mais um prefixo
derivacional re- ou de-.
A forma habl- ‘fal’ em espanhol é uma raiz e um radical. É uma raiz porque expressa o
significado principal da palavra da qual faz parte, entretanto, não é divisível em partes menores. É
um radical pois pode ser integrado no discurso como qualquer outro verbo. Os únicos morfemas que
precisam ser adicionados para tonar habl- uma palavra pronunciável são morfemas flexionais.
Assim, algumas raízes são radicais e alguns radicais são raízes (dog, habl-), mas raiz e
radical não são a mesma coisa. Existem raízes que não são radicais (-duce) e radicais que não são
raízes (reduce). Na verdade, essa distinção um tanto sutil não é muito importante conceitualmente, e
algumas teorias podem eliminá-la completamente. Elas podem falar apenas sobre radicais simples
(“raízes” como definido aqui) e sobre radicais derivados ou complexos (“radicais”). Além disso, a
distinção é complicada por camadas de mudanças históricas, que incluem raízes, radicais, e formas
de palavras plenas emprestadas de outras línguas. Isso fica especialmente aparente em relação às
camadas da influência grega, latina e francesa pelas quais o inglês passou no seu caminho até o
estado atual. Entretanto, os termos raiz e radical são tradicionais, e ainda são comuns na literatura,
portanto, estudantes de linguística devem ficar atentos a eles. A figura 1.3 é um “diagrama de Venn”
que pode ou não ajudar a conceitualizar esta relação de sobreposição.

radicais raizes

reduce dog -duce

Figura 1.3 Diagrama de Venn mostrando os signficados interrelacionados dos termos “radical” e “raiz,” com
exemplos do inglês

Um clítico é um morfema preso que desempenha uma tarefa em uma unidade estrutural
maior do que uma palavra, mas ainda precisa se ligar fonologicamente a alguma outra palavra. Uma
palavra à qual um clítico se liga é conhecida como um hospedeiro. Os clíticos geralmente se anexam
à primeira ou à última palavra de uma frase sintática, seja ela um substantivo, um verbo, um
advérbio, um auxiliar, ou qualquer outra classe de palavra (veja o capítulo 4 sobre classes de
palavras).
As palavras a e the em inglês são clíticos, pois (a) não podem ser usadas no discurso padrão
sem ser anexadas a alguma outra forma, e (b) seu hospedeiro pode ser qualquer uma das diversas
partes de uma frase nominal:

(12) the dog the cliticizado a um nome


the big dog the cliticizado a um modificador
the two big dogs the cliticizado a um numeral
Não devemos nos confundir com o fato de o sistema de escrita inglês tratar a e the como
palavras separadas. Existem evidências linguísticas muito boas de que essas formas sejam ligadas à
palavra seguinte. Essa evidência inclui o fato de, na maioria das variedades faladas de inglês, as
regras dos sons afetarem as fronteiras. Essas mesmas regras não afetam as palavras separadas que
por acaso aparecem juntas no discurso. Essas regras são:

1. A vogal do the é totalmente pronunciada quando aparece antes de uma palavra que inicia
com uma vogal e reduzida quando aparece antes de uma palavra que inicia com uma consoante:8

(13) [ði'æpl] ‘the apple’


[ðə'dɔg] ‘the dog’

2. O artigo a é seguido por [n] quando aparece antes de uma vogal, mas não quando aparece
antes de uma consoante. Ele também é reduzido a ə (o som “uh”, como o último som de vogal na
palavra sofa ou o primeiro som de vogal na palavra terrain) antes de uma consoante:

(14) [æn'æpl] ‘an apple’


[ə'dɔg] ‘a dog’

Essas regras não são aplicadas entre palavras separadas, conforme ilustrado nos seguintes exemplos:

(15) ['geilə 'æpl] ‘Gala apple’ Not: *['geilən 'æpl] ‘galan apple’
['sili 'dɔg] ‘silly dog’ Not: *[sílə'dɔg] ‘silla dog’

Uma vez que a e the mudam suas formas dependendo da palavra que as segue, enquanto as
palavras plenas (tais como “Gala” e “silly”) não mudam, a e the não devem ser palavras plenas.
Portanto, elas devem ser morfemas presos. Por serem morfemas presos que se unem (juntam-se) a
uma variedade de hospedeiros possíveis (veja o exemplo 12 acima), devem ser clíticos.

TIPOS DE PALAVRAS, PROTÓTIPOS E PINGUINS

Uma palavra é um conceito difícil de definir. Nossa definição de trabalho é “a menor


unidade estrutural que pode ocorrer entre as pausas.” Entretanto, estudos empíricos são
inconclusivos quanto a essa definição de fato corresponder a qualquer categoria linguística universal.
As palavras podem conter um ou mais morfemas. Morfemas livres podem ser palavras (dog), mas
nem todas as palavras são morfemas livres – podem ser morfologicamente complexos (dogs).
Um protótipo é o melhor exemplo de uma categoria (veja, p. ex., Coleman e Kay, 1981).
Por exemplo, para a maioria dos anglófonos um pardal está provavelmente próximo ao protótipo da
categoria de “pássaro”. Os pinguins, perus e galinhas também são pássaros, mas não são os melhores
exemplos da categoria. Normalmente, eles não são a primeira coisa que vem à mente de um
anglófono quando alguém menciona a palavra pássaro. Na linguística, a maioria das definições
baseia-se em protótipos. Por exemplo, as definições dadas abaixo para “nome” e “verbo” são
prototípicas. O melhor exemplo de nome são palavras que se referem a coisas que não mudam
significativamente com o passar do tempo. No entanto, há muitos nomes que se referem a coisas que
mudam significativamente através do tempo como sincerity (sinceridade), fist (punho) ou explosion
(explosão). Sabemos que são substantivos porque têm muitas das propriedades gramaticais dos
substantivos prototípicos, e poucas características gramaticais dos verbos prototípicos. O conceito
de prototipicidade é importante em diversos níveis de análise linguística e será discutido em
detalhes no capítulo 4.
Um pinguim não é um protótipo de pássaro

INTRODUÇÃO AOS EXERCÍCIOS

Os seguintes exercícios irão te dar alguma prática em lidar com diferentes línguas em
termos de sua morfossintaxe. Todo os exercícios deste livro são de línguas reais. Algumas delas são
muito bem conhecidas, embora algumas outras não. Mas todas são ferramentas usadas por pessoas
reais para ajudá-las a comunicarem-se umas com as outras no seu dia-a-dia.
Pode ser desafiador e fascinante tentar "adentrar" as mentes dos falantes dessas outras
línguas para externalizar a lógica de como as ideias são expressadas. Um outro sentido no qual estes
exercícios podem ser úteis é que eles fornecem uma oportunidade de começar a compreender a vasta
complexidade e diversidade das línguas do mundo.
Muitos dos exercícios incluem perguntas sobre "onde esta linguagem é falada"? Ou
"quantos falantes esta língua possui"? Na maioria dos casos, estas perguntas exigirão que você faça
alguma pesquisa na biblioteca ou na internet.
A melhor fonte de informações para estas perguntas é provavelmente The Ethnologue
(Grimes 2004, http://www.ethnologue.com), embora sejam possíveis outras fontes relevantes
também.Tenha cuidado, no entanto, porque às vezes duas línguas bastante distintas podem ter o
mesmo nome, ou nomes muito semelhantes.
Alguns dos exercícios que seguem são "quebra-cabeças lógicos" que exigem que você use
suas habilidades criativas de resolução de problemas, além dos métodos analíticos você está
aprendendo em sala de aula.
Não importa quantos cursos de linguística você faça, ou quantos graus acadêmicos você
receba, você ainda terá que usar sua imaginação e criatividade para inferir as soluções para muitos
dos problemas que irá enfrentar na análise de uma língua.
Análise linguística é, por vezes, mais uma arte do que uma ciência.

COMO GLOSAR DADOS LINGUÍSTICOS

Muitos dos exercícios deste livro vão solicitar que você “glose” as unidades linguísticas. Uma glosa
é simplesmente uma breve caracterização do significado de uma forma linguística, normalmente em
outra língua. Por exemplo, uma boa glosa em inglês para a palavra em espanhol comer seria 'eat'.
Uma vez que comer é uma palavra lexical plena (pertencente à classe dos verbos), a glosa é dada em
ingês em letras minúsculas. Quando você glosa um morfema gramatical, no entanto, há uma tradição
linguística de usar letras maiúsculas, e um tipo de abreviação do significado. Por exemplo, uma
glosa para o sufixo -ed em inglês poderia ser PAST, ou PT (para Past Tense), ou algo assim. Segue o
exemplo de um dado linguístico completamente glosado que te dará uma ideia de como os linguistas
tendem a glosar exemplos:

(16) Y-apoon e-n ke j i'yaka-e y-uw-e j-pu'ma-sa'


3-chegar-NESPEC.I AN.PROX 3.familia-POS 3-I-DTRNS-bater-PPART
‘Alguns membros da família daquele que foi batido chegaram’

Este é um exemplo do Panare, uma língua Caribe falada na Venezuela Central. Não se
preocupe com o que são todas as glosas e morfemas neste momento. Eu quero apenas ilustrar o que é
glosar um exemplo, e alertar você para algumas convenções usadas pelos linguistas. O princípio
mais importante que deve ser lembrado ao glosar um exemplo é o de que a glosa deve ser
consistente.
A primeira linha de dados no exemplo 16 é a língua Panare escrita da maneira como ela é
oficialmente escrita. Nesta linha, as palavras são divididas em morfemas por hífens. A segunda linha
de dados consiste na glosa de todos os morfemas da primeira linha. Note que há tantos hífens na
linha da glosa quantos há na linha da língua. Isso porque cada morfema tem uma glosa. Palavras
individuais são alinhadas com suas glosas, mas morfemas não necessariamente ficam alinhados com
suas respectivas glosas. A maneira de saber que morfema está associado a que glosa é contando os
hífens.

Apesar de haver apenas uma glosa por morfema, algumas delas são complexas. Por
exemplo, o terceiro morfema do exemplo é glosado como NESPEC.I. Esta é uma abreviação para os
dois componentes do significado que é expresso por este morfema. Neste caso, os dois componentes
são “aspecto não-específico” e “intransitivo”. Os dois componentes são separados por um ponto. Há
muitas variações no método de glosar exemplos, mas todas elas precisam conseguir associar
explicitamente as glosas com os elementos formais. Todas as abreviações, também, precisam ser
explicitamente listadas em algum lugar no artigo ou no livro em que o dado linguístico se encontra.
A última linha de dados no exemplo 16 é uma “tradução livre”. As traduções são muito
diferentes das glosas. Elas devem soar naturais nas línguas para as quais são traduzidas. Se não for
possível apresentar uma tradução livre natural e razoável, então, às vezes, uma tradução “literal” é
dada. Traduções literais não soam naturais na língua utilizada para a tradução, mas apresentam um
“insight” sobre qual o significado real da expressão na língua que está sendo descrita.
Por exemplo, uma tradução literal do exemplo 16 seria: “Eles chegaram a família daquele
que foi batido”. Usa-se uma tradução literal adicionalmente à tradução livre quando se sente que esta
última não captou uma ideia significativa sobre a forma ou o significado do exemplo traduzido.
Caso você fosse solicitado a “listar e glosar” os morfemas do exemplo 16, você devria
apresentar a seguinte lista:

Y- 3
apoon e ' chegar'
-n NESPEC.I
ke j AN.PROX
i'yaka 3.familia
-e POS
uw- I
e j- DTRNS
pu'ma ' bater'
-sa' PPART

Observe que os prefixos são escritos com um hífen inserido após o morfema. Os sufixos são
escritos com um hífen inserido antes do morfema. Raízes são normalmente escritas sem hífens, no
entanto, algumas raízes são escritas com hífens para indicar que outro morfema é necessário para
transformá-la em palavras plenas, pronunciáveis, como a raiz habl- do espanhol que significa 'falar'.
Observe também que os morfemas gramaticais são apresentados em letras maiúsculas
pequenas (versalete), sem aspas. As glosas da palavras lexiacis plenas são apresentadas em letras
minúsculas, entre aspas simples, quando aparecem em uma lista deste tipo.
As glosas não devem expressar os significados dos morfemas de maneira exaustiva, isto é,
elas nãpo são feitas para substituir um dicionário. As glosas simplesmente permitem que os leitores
compreendam mostras breves de línguas com as quais eles não são familiares.
Parte do trabalho de um linguista descritivista é tornar disponíveis para o mundo
informações sobre línguas pouco conhecidas. Para isso, os exemplos linguísticos devem ser
apresentados clara e acuradamente.

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