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EXMO. SR.

JUIZ TITULAR DA ___ VARA DA COMARCA DE BOM


DESPACHO/MG,

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por seu


Promotor de Justiça que a presente subscreve, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais previstas no art. 127, caput, da CR/88, art. 129, caput, da
CEMG e art. 74, III da lei 10741/03, e com fundamento no art. 5º, LXIX, art. 23, II,
art. 196, art. 198, II e art. 230, caput, todos da CR/88, art. 6º, I, d, da lei 8080/90, art.
3º, caput e art. 15, ambos da lei 10741/03, vem, respeitosamente, perante V. Exa.
impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA, com


pedido de decisão liminar,

contra omissão do Ilmo. Coordenador da Central de Regulação da Macrorregião de


Saúde Oeste de Minas (Macro-Oeste), com endereço na rua Getúlio Vargas, 1420,
sl. 02, Centro, Divinópolis/MG e em favor do idoso em situação de risco J. W. S.,
residente na rua Vereador Jaú, 51, Bom Despacho/MG, atualmente internado na
Santa Casa de Misericórdia de Bom Despacho/MG, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos.
1. DOS FATOS

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, no


exercício das atribuições de defesa da saúde, foi procurado pela sra. M. D. S.,
esposa do idoso J. W. S., de 62 anos de idade, informando que este se encontra
internado na Santa Casa de Bom Despacho, com indicação de transferência urgente
para realização do procedimentos médico de cimeangiocoronariografia, uma vez
que é portador de quadro de angina instável (relatório médico anexo).

Segundo as informações, o usuário está cadastrado na


central de regulação da Macro-Oeste, através do programa SUS-fácil, com o nº
20080450806, desde 01/04/2008.

Nada obstante, até o momento, apesar da gravidade e


urgência do caso, não foi obtida a vaga e viabilizado o acesso do usuário ao serviço
de saúde necessário para a solução de seu caso.

Segundo o médico que atende o idoso, seu quadro


clínico é de altíssimo risco e o mesmo pode evoluir para o óbito.

O Ministério Público oficiou a autoridade coatora, Ilmo.


Coordenador da Central de Regulação da Macro-Oeste (ofício anexo), que se
quedou inerte, nada obstante tenha atribuição legal para garantir o acesso do idoso
ao serviço de saúde.

2. DO DIREITO

Desde o advento do Estado Social, que tem como marco


a promulgação das constituições do México em 1917 e de Weimar em 1919, os
direitos sociais passaram a integrar as declarações de direitos das democracias
ocidentais como resultado de conquistas históricas desses povos.

Nesse contexto, o Estado, frente às pressões populares,


deixou de adotar uma postura abstencionista (Estado polícia) e passou a intervir na
sociedade e na economia buscando condicioná-las em prol dos interesses públicos.

Nesse sentido, as conquistas incorporadas naquela


oportunidade têm em comum o fato de sua implementação necessitar da decisiva
atuação do aparato estatal, promovendo políticas públicas que assegurem o acesso
da população a bens e serviços de sua primeira necessidade.

Como fruto dessa nova realidade, o direito à saúde tem


sua efetividade dependente da atuação eficaz do Poder Público através da
promoção de políticas públicas com enfoque promocional (qualidade de vida),
protetivo (prevenção) e de recuperação (saúde terapêutica ou curativa) 1.

Cumpre salientar que, nos termos da Constituição da


Organização Mundial de Saúde – OMS –, a saúde é “um estado de completo bem-
estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de
enfermidade.”2

Assim, a postura do administrador público brasileiro deve


estar adstrita ao disposto no art. 196 da CR/88. Referida norma faz surgir para o
Estado deveres que lhe são correlatos e sua efetividade depende da adoção de
“políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”. Nota-se, com isso, que a necessidade de implementação
do direito à saúde condiciona a própria política econômica que venha a ser adotada
pelos governantes, por imperativo constitucional.

Nessa orientação já se manifestou o STF:

“O direito à saúde – além de qualificar-se como direito fundamental


que assiste a todas as pessoas – representa conseqüência
constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público,
qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da
organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao
problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por
censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional.”
(STF – AGRG. 271.286-8/RS. DJU, 24/11/2000)

De outro lado, cumpre frisar que, em virtude da adoção


do modelo do Estado Democrático de Direito, como prevê o texto da Constituição
Cidadã (art. 1º, caput, da CR/88), o direito à saúde assume dimensão ainda mais
ampla e democrática, o que aumenta sua relevância para os cidadãos.

Verdadeiramente, a consagração do Estado Democrático


de Direito acarreta a necessidade de amplificar os canais de participação popular na
gestão da coisa pública, bem como a de conferir eficácia social às normas
constitucionais, especialmente àquelas que asseguram direitos e garantias
fundamentais.

Nesse diapasão, ao tratar dos direitos sociais – capítulo


em que consta o direito à saúde (art. 6º, caput) –, o constituinte inseriu-os no título

1
SCHWARTZ, Germano A. GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. A Tutela Antecipada no Direito à
Saúde: aplicabilidade da teoria sistêmica. Porto Alegre: SAFE, 2003. p. 55.
2
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Constituição da Organização Mundial da Saúde
(OMS/WHO). Conferência Internacional da Saúde: Nova Iorque, 19 a 22 de julho de 1946.
em que trata dos direitos e garantias fundamentais, circunstância esta que torna
aplicável o regime jurídico destes últimos.

Destarte, tem-se que o exercício do direito à saúde pelo


indivíduo não se encontra condicionado à regulamentação infraconstitucional, a teor
do que prescreve o art. 5º, § 1º, da CR/88: “As normas definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata.”

Dessa forma, como têm decidido os tribunais superiores,


não há que se falar em discricionariedade administrativa na promoção das políticas
públicas ou implementação de normas programáticas quando se trata de viabilizar o
acesso da população a direitos fundamentais.

Isso porque, especialmente em tema de direitos


fundamentais, o que se impõe é conferir força normativa à Constituição e buscar a
ótima concretização da norma3.

Assim, embora a adoção das políticas necessárias para


se garantir o acesso à saúde esteja inicialmente a cargo dos poderes executivo e
legislativo, incumbe ao Poder Judiciário assegurar ao jurisdicionado o direito violado
pela omissão do Poder Público, impedindo que a norma constitucional se torne
promessa constitucional inconseqüente4:

“Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da „reserva do


possível‟ - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente
aferível - não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de
exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais,
notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder
resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos
constitucionais impregnados de um sentido de essencial
fundamentalidade.” (STF – ADPF nº 45 – Relator: Min. Celso de
Mello. Informativo do STF 345. Disponível na internet:
http://www.stf.gov.br/noticias/informativos/anteriores/info345.asp)

“o Judiciário não desconhece o rigorismo da Constituição ao vedar a


realização de despesas pelos órgãos públicos além daqueles em que
há previsão orçamentária; este Poder, todavia, sempre consciente de
sua importância como integrante de um dos Poderes do Estado,
como pacificador dos conflitos sociais e defensor da Justiça e do
bem comum, tem agido com maior justeza optando pela defesa do
bem maior, veementemente defendido pela Constituição – A VIDA –

3
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: SAFE, 1991, pág. 22.
4
Expressão utilizada pelo Min. Celso de Melo no seguinte aresto: PACIENTE COM HIV/AIDS -
PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE -
FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER
PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF) - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO. O DIREITO À SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL
INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA (RE 271286 AgR/RS, Relator Min. Celso de Mello, Segunda Turma,
DJ de 24.11.2000)
interpretando a lei de acordo com as necessidades sociais imediatas
que ela se propõe a satisfazer” (Apel. Cível nº 98.006204-7, Santa
Catarina, Rel. Nilton Macedo Machado, 08/09/98).

A necessidade de promoção de políticas públicas que


assegurem o acesso integral aos serviços públicos de saúde é ainda maior quando
estão em jogo os interesses de idosos.

Como fundamento de tal assertiva encontra-se,


inicialmente, o art. 230, caput, da CR/88, que estabelece como dever da família, da
sociedade e do Estado amparar as pessoas idosas, defender sua dignidade e bem-
estar e garantir-lhes o direito à vida.

Regulando o preceito constitucional, a lei 10741/03,


estatuto do idoso, estabelece um conjunto de direitos e políticas públicas destinadas
a efetivar o gozo de tais prerrogativas, bem como as vias que devem ser utilizadas
para concretizar tais direitos.

Inicialmente, nos moldes previstos na lei 9069/90 para as


crianças e adolescentes, o art. 3º da lei 10741/03 estabelece o princípio da
prioridade absoluta na efetivação dos direitos fundamentais dos idosos.

No tocante à saúde, o legislador não deixou margem a


qualquer dúvida sobre o dever do Estado em garantir o acesso integral do idoso às
ações e serviços necessários à prevenção, promoção e recuperação da saúde (art.
6º, I, d, da Lei 8080/90).

Saliente-se que a obrigação de efetivar o direito à saúde,


seja do idoso ou de outros grupos populacionais é responsabilidade comum dos
entes federados nos termos do art. 23, II da CR/88.

No caso em apreço, o idoso está internado na Santa


Casa de Bom Despacho, que se trata de instituição com o dever de assegurar a
assistência à saúde, com resolutividade, para procedimentos de até média
complexidade. Esgotada sua capacidade técnica, impõe-se a transferência do
usuário do SUS para unidade de saúde capacitada para responder à demanda.

A fim de viabilizar o acesso, o Estado de Minas Gerais


definiu como política pública de saúde a criação de centrais de regulação em âmbito
regional, cujo objetivo é receber as solicitações de internação e localizar
estabelecimento de saúde que possa atender à demanda apresentada.

Para tanto, atribuiu autoridade sanitária para os


profissionais que trabalham nas atividades de regulação (como a central macro-
oeste), a fim de responderem de forma técnica às demandas por vagas de
internação no SUS para realização de procedimentos em caráter de
urgência/emergência (art. 12 da lei estadual 15.474/2005).
Para conferir resolutividade às centrais de regulação, foi
concedida às autoridades sanitárias no exercício das atividades de regulação da
assistência à saúde a possibilidade de “requisitar recursos públicos e privados
em situações excepcionais e de calamidade pública, com pagamento ou
contrapartida a posteriori, conforme pactuação a ser realizada com as
autoridades competentes” (art. 4º, IV, “d” do decreto estadual nº 44.099/2005).

Com efeito, esgotada a capacidade do sistema, incumbe


à autoridade sanitária, no caso o Coordenador da Central de Regulação Macro-
Oeste, requisitar os recursos privados para atendimento da demanda.

Em uma frase: não pode o usuário sucumbir ao óbito


por ter se esgotado a capacidade do sistema!

No entanto, no presente caso, o idoso está há mais de


08 (oito) dias aguardando sua transferência para hospital capacitado para
realizar o procedimento de que necessita, correndo sério risco de sucumbir ao
óbito, conforme consta do relatório anexo.

Percebe-se, pois, a omissão ilegal da autoridade


coatora, que dispõe de possibilidade de efetivar o direito do idoso. Com tal postura,
está ferindo o direito à saúde do idoso, garantido pelas normas constitucionais e
legais acima expostas. Dessa forma, impõe-se a concessão do mandado de
segurança, conforme prevê o art. 5º, LXIX da CR/88.

Isso porque a omissão está ferindo direito líquido e certo


do idoso, que é garantido na Constituição e demais leis acima citadas.

Mister salientar que a medida ora pleiteada busca realizar


no plano da faticidade os direitos e garantias constitucionalmente previstos para os
idosos. Mais do que concretizar o acesso à saúde, a presente demanda é
imprescindível para assegurar a vida e a dignidade da idosa. Dessa forma, constata-
se a absoluta indisponibilidade do interesse defendido, que impõe o dever do
Ministério Público em promover as medidas necessárias para assegurá-lo, por meio
de legitimação extraordinária.

Especialmente após o advento da lei 10741/03 a


jurisprudência não vacila em reconhecer a legitimidade do Parquet para ajuizar
ações que buscam concretizar direitos individuais indisponíveis de idosos:

“O art. 129, III, CR/88, traz, entre as funções institucionais do órgão


ministerial, a promoção do inquérito civil e da ação civil pública Além
disto, o Estatuto do Idoso (art.74, I, da lei 10.741/2003) trouxe a
possibilidade de ajuizamento de ação civil pública para direito
individual indisponível, (...), como já existia no Estatuto da Criança e
do Adolescente, havendo, no caso, interesse de agir.(...)” (TJMG -
Agravo N° 1.0702.05.220137-4/001 – rel. Des. Nilson Reis, julgado
em 22/11/2005)
PACIENTE IDOSO QUE SOFREU A.V.C. E DESTITUÍDO DE
RECURSOS FINANCEIROS - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA AJUIZAR A AÇÃO - ESTATUTO DO IDOSO -
DIREITO À VIDA E À SAUDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE
MEDICAMENTOS EM FAVOR DE PESSOA CARENTE - DEVER
CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) -
PRECEDENTES DO STF. (TJMG – Agravo nº 1.0702.04.190131-
6/002 – rel. Des. Wander Marota, julgado em 02/08/2005)

Além disso, inquestionável que o usuário se encontra em


situação de risco, tendo em vista a doença de que padece.

3. DOS PEDIDOS

3.1 Conforme exposto acima, o idoso J W S padece de


patologia grave. Seu tratamento, a ser disponibilizado em instituição própria, revela-
se urgente, sob pena dano grave e irreparável para sua saúde e até sua vida.

Diante disso, mostra-se necessária a tempestiva atuação


da Justiça, objetivando assegurar ao idoso o devido acesso ao serviço de saúde.
Certo é que prestação jurisdicional tardia não é Justiça, mas injustiça manifesta,
como atestou R. B. ainda no princípio do século passado.

Dessa forma, a demora fisiológica do processo é


suficiente para que, ao final do longo iter processual, ainda que seja julgado
procedente o pedido, o mesmo não tenha qualquer utilidade prática, caracterizando,
assim, verdadeira denegação do acesso à Justiça, com prejuízo do disposto no art.
5º, XXXV da CR/88.

Assim, mostra-se patente o periculum in mora, devendo o


provimento jurisdicional ser deferido imediatamente, a fim de assegurar os
interesses do idoso.

De outro lado, o fumus boni iuris está demonstrado pelos


documentos acostados à presente inicial, sendo inquestionável o direito do idoso de
acesso ao serviço de saúde que disponha de condições para realizar o
procedimento médico de que necessita.

Destarte, pugna o Ministério Público pela concessão de


liminar determinando à autoridade coatora que providencie, imediatamente, a
transferência do idoso favorecido para hospital que disponha de capacidade técnica
para a realização do procedimento de cineangiocoronariografia, se necessário
em unidade de saúde particular, sob as penas da lei.

3.2 Por fim, requer o Parquet:


3.2.1 a juntada aos autos dos documentos que
acompanham a presente inicial;

3.2.2 o deferimento do pedido de liminar nos termos


acima propostos;

3.2.3 seja, ao final, confirmada a limiar e concedida a


segurança.

3.2.4 a prioridade na tramitação do processo, nos


termos do art. 71 da lei 10741/03, posto que o Ministério Público atua no presente
caso por legitimação extraordinária, sendo inquestionável que o direito ora pleiteado
é de titularidade de pessoa idosa.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), embora


seu objeto seja de valor inestimável.

Bom Despacho, 09 de abril de 2008.

_____________________________
LUCIANO MOREIRA DE OLIVEIRA
PROMOTOR DE JUSTIÇA

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