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b) Há, no entanto, e essa ressalva deve ser muito bem apreciada, um tema
moral no filme que, mesmo dentro da visão esboçada anteriormente, deve ser
considerado. Nas concepções mais antigas da vida se fazia a distinção entre (1)
mera vivência, a existência fundada na satisfação das necessidades práticas
(casa, comida, etc.) e (2) uma mais elevada ou melhor forma de existência que
podemos atingir se compreendermos o nosso objetivo correto na vida. A Profa
Vivian (e todos os personagens do filme), desde os princípios de sua carreira,
manifestam a preocupação pela pergunta acerca do tipo de características que
uma vida boa deve ser capaz de incorporar. A maioria delas responde essa
pergunta na direção da excelência nas suas diferentes áreas de trabalho. No
entanto, é possível reconhecer que a personagem passa por uma transformação
que significou colocar, dentro desse modelo de uma vida perfeita ou da melhor
vida para o homem, os temas do amor, da presença, do afeto e da atenção. É
irônico, nesse sentido, notar que o alvo dessa descoberta seja alguém que sempre
esteve próxima da morte e da temática da perda, dos temas humanos, mas
sempre procurou tratar desses temas como um cirurgião que disseca um cadáver.
Assim, o descobrimento e a transformação vivida pela personagem acaba por
oferecer uma imagem (contrariamente à imagem científica, instrumentalista da
vida traçada acima) muito mais encorpada do humano, um sentido onde o
homem não se reduz a uma rede de relações técnico-cognitivas e num espaço de
manipulação de resultados. O que a transformação mostra é, nesse sentido, que o
homem estabelece relações existenciais-afetivas e fruitivas com o mundo. Nós
não apreendemos e experimentamos o mundo apenas como alguém que o
conhece e calcula estrategicamente seus passos sobre ele. Nós também
sofremos ou sentimos alegria com a vida e com o fato de termos ser, existência.
Essa presença humorada no mundo mostra que ele não é, para nós, apenas o
lugar onde estamos, um lugar que conhecemos, examinamos friamente e
vencemos como um desafio. Estar no mundo tem, como dizia o filósofo
Heidegger, não o sentido de “estar” como a água está no copo, mas de morar,
estar junto, no sentido de ser algo que vivenciamos como alguém que tem de
tomar conta de si mesmo, com todo o sentido da afetividade que essa noção
pode ter.
É no interior da imagem do humano esboçada em (b), que o tema da morte
adquire seu significado mais profundo. Paradoxalmente, assim como representa o
fim das possibilidades, como um horizonte onde o homem não pode mais escolher
ou a anulação da necessidade de tomar conta de seu ser, a morte aparece,
especialmente pelo recurso ao soneto de John Donne, como uma benção, pois se,
por um lado, a morte representa um enigma para quem vive, morrendo, a morte não
mais conviverá conosco. “Morte morrerás”, é um tema que atravessa todo o filme.