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Não obstante, pensamos que não constitui nenhum exagero afirmar que,
decerto, cada um de nós, ao menos uma vez na vida, experimentou a
sensação de dor, de sofrimento, de vulnerabilidade ou de verdadeira tristeza.
Isto sucede particularmente em momentos mais críticos, quando somos
assaltados por uma doença, por um problema pessoal, pela morte
(desencarne) de algum ente querido; também, quando observamos os horrores
do mundo que nos cerca, especialmente no século que findou (e que também
já se indiciam no recém-iniciado), em que a humanidade vem realizando
grandes conquistas científicas e tecnológicas mas em que, com isso, construiu
meios de destruição autenticamente assombrosos, e em que, aqui e ali, se
cometeram iniquidades que nos fazem quase desfalecer de horror ao delas
tomarmos conhecimento; quando constatamos o oceano de dor e de loucura
em que a humanidade em geral está imersa; quando, enfim, “apenas” sentimos
aquela angústia, aquela insatisfação, aquele vazio fundamental que tantas
vezes nos acompanha no dia a dia…
O problema do mal
Mais ainda, aliás: quando vemos que não apenas a nós, humanos, nos toca a
dor e a miséria, mas que o sofrimento pode ser tão cruento e brutal entre os
animais, na sua luta pela sobrevivência e não só; quando vemos que até no
reino vegetal há destruição; quando observamos que, na Natureza, há
tentativas falhadas, insucessos ou mesmo (aparentes?) aberrações; quando
constatamos que todo e qualquer ser que conheçamos é limitado e, portanto,
imperfeito; quando, enfim, nos confrontamos com o problema do mal (1) - da
existência evidente do mal no Universo, verificamos como têm plena razão de
ser as poéticas palavras do Buddha Gautama: “Não te iludas, Ananda, toda a
existência está plena de dor. Assim, chora a criança desde que nasce.”. E
acrescentava Ele, face a tudo o que tentámos aludir: “Se Deus permite tais
coisas, não pode ser bom; ou então, não tem o poder de evitá-las, e não pode
ser Deus” (2).
Respostas incoerentes
A teologia das Igrejas Cristãs ufana-se, literalmente! (4) de ter uma resposta
para esse problema. Sintetizando, a sua posição é esta: Deus é uma Pessoa -
que é também três pessoas (5) distinta do mundo, que criou do nada
(concepção teísta), da mesma forma como cria as almas humanas (porque os
animais, por exemplo, não teriam alma) cada vez que é concebido um corpo a
que se vão associar. Deus criou o homem para ser feliz neste mundo, embora
sempre numa limitada condição. Demoniacamente tentados a serem idênticos
a Deus, para tanto comendo da Árvore do Conhecimento do bem e do mal,
remotos antepassados nossos teriam cometido o pecado original, motivo pelo
qual temos de sofrer, e muito! neste mundo (assim interpreta o primeiro livro da
Bíblia). Alguns milhões de anos depois, Deus enviou o seu Filho (que é Ele
mesmo?!) para redimir (os que não nele crerem) do pecado que assim entrou
no mundo e para os “conduzir à vida eterna”.
Muitas vezes nos interrogamos como é que tais “explicações” podem ser
concebidas e aceites, e só encontramos duas razões: o fanatismo retorcido e
mal informado de alguns (os inventores de tal história) e a indiferença real do
cidadão comum perante qualquer espiritualidade profunda, que de fato não
leva a sério e que por isso não questiona - como o faria se estivessem em
causa, por exemplo, valores monetários que o afetassem. Aí, e porque a
questão lhe importaria, logo vislumbrava a imensidão da injustiça…
O segundo Deus
O fato é que existe dor, limitação e falhanços no Universo. Por alguma boa
razão, os gnósticos cristãos de há cerca de dois milênios atrás - infelizmente
considerados como hereges pelo Cristianismo deturpado que depois triunfou -
consideravam Jeová como demiurgo de um mundo inferior, imperfeito,
recusando a sua identificação com o Pai Celestial referido por Jesus e, menos
ainda, com o Absoluto. Pretendiam, esses gnósticos - como Simão, Marcion,
Valentino, Basílides e, de algum modo, o próprio S. Paulo, cortar a ligação com
o Jeová ciumento e vingativo que aparece em tantas páginas do Antigo
Testamento. (Alguns gnósticos referiam-se a Ialdaboath como o criador do
nosso globo físico, e., a Terra, como se poder ver no Codex Nazareus - o
Evangelho dos Nazarenos e Ebionitas, e identificavam-no com Jeová. Ilda-
Baoth é o “filho das Trevas”, num péssimo sentido. Para mais
desenvolvimentos, (cfr. “Ísis sem Véu” e “Glossário Teosófico”, de Helena
Blavatsky). Por herético que este conceito hoje possa parecer, é difícil negar
que ele encontra acolhimento no Evangelho segundo S. João. Lembremos
partes do seu 1o Capítulo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de
Deus… Ele estava no princípio junto de Deus… Ninguém jamais viu a Deus”.
Ora, este Deus Supremo, que “ninguém jamais viu”, não pode ser o Jeová visto
e descrito no Velho Testamento.
“Pronunciou Jesus, alguma vez, o nome de Jeová? Alguma vez pôs ele em
confronto o seu Pai com esse Juiz severo e cruel; o seu Deus de misericórdia,
amor e justiça, com o gênio judeu da retaliação? Jamais! Desde o memorável
dia em que pregou o seu Sermão da Montanha, um imensurável vazio se abriu
entre o seu Deus e aquela outra divindade que fulminava os seus
mandamentos de uma outra montanha - o Sinai” (8) (9).
Em qualquer caso, sempre os filósofos mais ilustrados se recusaram a
identificar o Demiurgo com a Divindade Suprema, tendo ficado célebre a
denominação que lhe foi dada por Filon : o segundo Deus.
O Demiurgo e a Substância
(I) A duração. (II) A matéria. (III) O movimento, porque este é a vida imperecível
(consciente ou inconsciente, conforme o caso) da matéria, mesmo durante o
Pralaya (24) (25). Deve salientar-se, pois, que, para o Ocultismo, não existe tal
coisa como Matéria morta. A Vida Una e Onipresente “… não só penetra mas é
a essência de cada átomo da Matéria; e, portanto, ela não apenas tem
correspondência com a Matéria mas possui também todas as suas
propriedades…” (Um no todo e todo no um) (25). Como também já referimos
inúmeras vezes, na concepção Esotérica, a Matéria não é apenas a Substância
física que os nossos sentidos apreendem e que as ciências experimentais
estudam, visto que existem níveis de substancialidade imensamente mais sutis,
numa hierarquia septenária de Planos. Existe, por exemplo, substância ou
matéria do Plano Mental… e de outros ainda mais elevados, habitualmente
ditos Espirituais (em todos os Planos existem os dois pólos, Espírito e Matéria,
inter-relacionados, embora em diferentes condições e peso relativo). O que,
afinal, a Ciência Oculta afirma é que nada é destituído de substância; que tudo
tem, necessariamente, um substratum ontológico; e que o Ser, no nível
primevo do Cosmos, é a Essência Una tanto do pólo Espírito, como do pólo
Matéria.
Embora, haja quem possa entender árido e inútil abordar as questões mais
sutis e profundas da Cosmogênese, a sua compreensão tem implicações
incontornáveis nos paradigmas culturais, científicos, religiosos vigentes e que
condicionam o mundo.
(8) In “Ísis sem Véu”, de Helena Blavatsky (Ed. Pensamento, S. Paulo, 1990).
(9) Nem a autora destas palavras nem nós deixamos, entretanto, de ter
profundo respeito pelo conhecimento oculto - cabalístico - existente no seio do
Judaísmo.
(12) Tratámos também desta temática, mais amplamente do que neste artigo,
no nosso livro “Transcendência e Imanência de Deus” (Centro Lusitano de
Unificação Cultural, Lisboa, 2001).
(15) Nível ou momento por vezes identificado com o 2o Logos. Cfr. “The Divine
Plan”, de Geoffrey Barborka (Theosophical Publishing House, Adyar, 1964) e
“Transactions of the Blavatsky Lodge” (The Theosophy Company, Los Angeles,
1987).
(25) “Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett” (Ed. Teosófica, Brasília, 2001)
(26) Sobre esta questão, cfr. o que escrevemos nos o 10 - artigo “Ordem e
Inteligência do Cosmos” - e 15 - artigo “A Matéria na Perspectiva do Ocultismo”
- da Biosofia.