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Aquilo que tece o mundo não pode ser dito nem concebido (p. 223);
Tao – onde, de algum modo, o Vazio se transforma na própria plenitude. Hegel: o
ser puro era, de fato, o não-ser (p. 224);
ORIGEM DO CAOS
Antropologia
Nas lutas ocasionais que as teorias histórico- evolutivas e as teorias estrutural-sistêrnicas
travam entre si, hoje marcadas pela vitória relativa do estrutural, este último, em seu
excesso, traz oculta a chave de sua superação. (p. 246);
De fato, a intuição profunda do estruturalismo é que não há estruturas evolutivas.
Efetivamente, as estruturas são apenas conservadoras, protetoras de invariâncias. Na
verdade, são os acontecimentos internos provenientes das "contradições" dos sistemas
complexos e fracamente estruturados e os acontecimentos externos provenientes dos
encontros fenomenais que fazem os sistemas evoluírem e, finalmente, na dialética sistemo-
eventual, provocam a modificação das estruturas. (p. 246)
Embora obrigada a enfrentar a mudança, visto que quer apreender a sociedade moderna
que está em rápido devir, a sociologia não consegue teorizar a evolução. Para ela, tudo o
que é improvável torna-se aberrante, tudo o que é aberrante toma-se anômico, enquanto a
evolução não passa de uma sucessão de aberrações que atualizam as improbabilidades. (p.
246);
Em Totem e Tabu, Freud encara a hipótese do assassinato do pai pelo filho como
fundação de toda a sociedade humana pela instituição conjunta da lei, a proibição do
incesto e do culto. Justamente, Freud percebe muito bem que existe em toda evolução,
talvez desde a criação do mundo, relação entre o traumatismo e a modificação estruturante
geral
Marx e Freud
Justamente, Freud percebe muito bem que existe em toda evolução, talvez desde a criação
do mundo, relação entre o traumatismo e a modificação estruturante geral de um sistema
(busca de uma teoria das origens da relação social) (p. 249);
Teoria dos indivíduos, isto é, das personalidades em meio a um mundo socializado, vemos
que a formação da personalidade vem do encontro entre um desenvolvimento
autogenerativo e o ambiente. O papel capital dos traumatismos é realçado (p. 249);
Assim, podemos avançar que a personalidade se forma e se modifica em função de três
séries de fatores:
Hereditariedade genética;
Herança cultural (em simbiose e antagonismo com o precedente);
Acontecimentos e aleatoriedades.
Conviria examinar como a associação antagônica ou heterogênea da hereditariedade
genética e da herança cultural, fonte permanente de acontecimentos internos, permite ao
acontecimento-aleatoriedade desempenhar um papel na formação do sistema biocultural
que constitui o indivíduo humano.
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O sistema: paradigma ou/e teoria?
O DOMÍNIO DO CONCEITO DE SISTEMA
Ora, a teoria dos sistemas revelou a generalidade do sistema, não sua "genericidade" (p.
257);
O PARADIGMA SISTEMA
a) O todo não é uma capa
O holismo depende, portanto, do paradigma de simplificação (ou redução do complexo a
um conceito-chave, a uma categoria-chave) (p. 259);
Mais ainda: os sistemas atômicos, biológicos, sociais indicam-nos que um sistema não é só
uma constituição de unidade a partir da diversidade, mas também uma constituição de
diversidade (interna) a partir da unidade (princípio de exclusão de Pauli que cria uma
diversificação eletrônica em volta do núcleo; morfogêneses biológicas em que, a partir de
um ovo indiferenciado, se desenvolve um organismo constituído por células e por órgãos
de extrema diversidade; sociedades que não só dão uma cultura-identidade comum a
indivíduos diversos, mas também permitem por essa cultura o desenvolvimento das
diferenças). Também aqui, há que recorrer a um pensamento que opere a circulação (p.
260);
Não basta conceber como problema central o da manutenção das relações todo/partes,
uno/diverso, há que ver também o caráter complexo destas relações, que vou formular
aqui lapidarmente (para mais desenvolvimentos, cf. Morin, 1977, pp. 105-128). Assim:
a) O todo é mais do que a soma das partes (princípio bem explícito e, aliás,
intuitivamente reconhecido em todos os níveis macroscópicos), visto que em seu
nível surgem não só uma macrounidade, mas também emergências, que são
qualidades/propriedades novas.
b) O todo é menos do que a soma das partes (porque elas, sob o efeito das coações
resultantes da organização do todo, perdem ou vêem inibirem-se algumas das suas
qualidades ou propriedades).
c) O todo é mais do que o todo, porque o todo enquanto todo retroage sobre as
partes, que, por sua vez, reatroagem sobre o todo (por outras palavras, o todo é
mais do que uma realidade global, é um dinamismo organizacional) (p. 261);
É nesse contexto que temos de compreender o ser, a existência, a vida como qualidades
emergentes globais; essas noções-chave não são qualidades primárias, de raiz ou de
essência, mas realidades de emergência. O ser e a existência são, de fato, emergências de
todo o processo anelando-se sobre si mesmo (Morin, 1977, sobretudo pp. 210-216). A vida
é um feixe de qualidades emergentes resultantes do processo de interações e de organização
entre as partes e o todo; esse feixe emergente retroage sobre as partes, interações,
processos, parciais e globais que o produziram. Donde este princípio explicativo complexo:
não se deve reduzir o fenomenal ao generativo, a "superestrutura" à "infra-estrutura", mas a
explicação deve procurar compreender o processo cujos produtos ou efeitos finais geraram
seu próprio recomeço: processo que será designado aqui como recorrente,
t _____________I t ______________I
O todo é menos do que o todo. Há, dentro do todo, zonas de sombra, ignorâncias mútuas
e até cisões, falhas, entre o reprimido e o exprimido, o imerso e o emergente, o generativo e
o fenomenal. Há buracos negros em toda totalidade biológica e, sobretudo, antropossocial.
Não é apenas o indivíduo parcelar que ignora e é inconsciente da totalidade social, é
também a totalidade social que é ignorante-insconsciente dos sonhos, aspirações,
pensamentos, amores, ódios dos indivíduos, e os milhares de milhões de células que
constituem esses indivíduos ignoram esses sonhos, aspirações, pensamentos, desejos,
amores, ódios... Se colocamos essa concepção dos buracos negros e das zonas de sombra,
das cisões e ignorâncias mútuas, no paradigma sistêmico, ele se abre para as teorias
modernas do inconsciente antropológico (Freud) e do inconsciente sociológico (Marx) (p.
263);
Assim, devemos apoiar a idéia de sistema num conceito não totalitário e não hierárquico do
todo, mas, pelo contrário, num conceito complexo da unitas multiplex, aberto às
politotalidades. Esse preliminar paradigmático é, de fato, de importância prática e política
capital. O paradigma de simplificação holística conduz a um funcionamento neototalitário e
integra-se adequadamente em todas as formas modernas de totalitarismo. Conduz, em todo
o caso, à manipulação das unidades em nome do todo. Pelo contrário, a lógica do
paradigma de complexidade não só vai no sentido de um conhecimento mais "verdadeiro",
mas também incita à procura de uma prática e de uma política complexas; adiante voltarei a
esse ponto. (p. 264);
O macroconceito
Sistema Organização
Interações
A problemática do sistema não se resolve na relação todo-partes, e o paradigma holista
esquece dois termos capitais: interações e organização.
As relações todo-partes devem ser necessariamente mediadas pelo termo interações. Esse
termo é tão importante quanto a maioria dos sistemas é constituída não de "partes" ou
"constituintes", mas de ações entre unidades complexas, constituídas, por sua vez, de
interações (p. 264);
Fez-se justamente constatar que um organismo não é constituído pelas células, mas pelas
ações que se estabelecem entre as células. Ora, o conjunto dessas interações constitui a
organização do sistema. A organização é o conceito que dá coerência construtiva, regra,
regulação, estrutura etc. às interações. De fato, com o conceito de sistema, tratamos com
um conceito de três faces:
— Sistema (que exprime a unidade complexa e o caráter fenomenal do todo, assim como o
complexo das relações entre o todo e as partes);
— Interação (que exprime o conjunto das relações, ações e retroações que se efetuam e se
tecem num sistema);
— Organização (que exprime o caráter constitutivo dessas interações — aquilo que forma,
mantém, protege, regula, rege, regenera-se — e que dá à idéia de sistema a sua coluna
vertebral) (p. 265);
Esses três termos são indissolúveis; remetem uns aos outros; a ausência de um mutila
gravemente o conceito: o sistema sem conceito de organização é tão mutilado como a
organização sem conceito de sistema. Trata-se de um macroconceito. Ora, percebemos que
o entendimento simplificador que nos formou só pôs à nossa disposição conceitos
atômicos e não moleculares; conceitos químicos isolados e estáticos, e não conceitos
organísmicos que se co-produzem na relação recorrente de sua interdependência.
A ideia de organização emergiu nas ciências sob o nome de estrutura. Mas a estrutura é um
conceito atrofiado, que remete mais à ideia de ordem (regras de invariância) do que à de
organização; a visão "estruturalista'' depende da simplificação (tende a reduzir a
fenomenalidade do sistema à estrutura que a gera; desconhece o papel retroativo das
emergências e do todo na organização).
Vemos, portanto, que o problema da organização não se reduz a algumas regras estruturais.
Desde o começo, o conceito de organização biológico e, afortiori, sociológico, é um
supermacroconceito integrante do macroconceito sistema-interações-organização.
Organização
Desordem Ordem
O caráter psicofísico do paradigma sistêmico
Resulta da indissociabilidade do caráter psicofísico do sistema a indissociabilidade da
relação sujeito observador/objeto observado, donde a necessidade de incluir, não de
excluir, o observador na observação. (p. 270);
Ao mesmo tempo, a dissociação radical entre ciência da physis e ciências do espírito, entre
ciências da natureza e ciências da cultura, entre ciências biofísicas e ciências antro-
possociais aparece-nos como uma mutilação prévia e um obstáculo a todo conhecimento
sério. Se a ambição de articular essas ciências distintas continua a parecer grotesca, então a
aceitação dessa separação torna-se ainda mais grotesca (p. 270);
Essa operação que se inscreve numa dada cultura (que fornece os paradigmas que
permitem a distinção e a ela incitam) apresenta, portanto, entre seus caracteres, o caráter
ideológico. Se não se pode reduzir a ciência à ideologia (isto é, vê-la somente como
produto ideológico de uma sociedade dada), é, contudo, necessário notar que em todo
conhecimento científico entra um componente ideológico. Não se pode omitir o exame
ideológico do conhecimento científico — portanto, do seu próprio conhecimento —, e
isso é válido também para os que se julgam possuidores da verdadeira ciência e denunciam
a ideologia dos outros (p. 271);
O paradigma de complexidade
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Pode-se conceber uma ciência da autonomia? (p. 277)
Vou partir do paradoxo que encontra tanto o sociólogo como o ator político ou social. O
paradoxo é que, se aplicarmos a visão científica "clássica" à sociedade, só vemos
determinismos. Esse tipo de conhecimento exclui toda a idéia de autonomia nos indivíduos
e nos grupos, exclui a individualidade, exclui a finalidade, exclui o sujeito.
Na realidade, há duas sociologias em uma. Há a sociologia que se pretende científica e a
que resiste a essa cientificação. (p. 278)
Precisamos de um método que respeite o caráter multidimensional da realidade
antropossocial, isto é, que não escamoteie nem sua dimensão biológica, nem a dimensão do
social, nem a do individual, isto é, que possa enfrentar as questões do sujeito e da
autonomia.
O que vou tentar desenvolver para vocês é que é possível considerar a autonomia, o
indivíduo, o sujeito não como noções metafísicas, mas como noções que podem encontrar
seu enraizamento e suas condições físicas, biológicas e sociológicas.
MANDAMENTOS DA COMPLEXIDADE
01) Validade, mas insuficiência do princípio de universalidade. Princípio complementar
e inseparável de inteligibilidade a partir do local e do singular.
02) Princípio de reconhecimento e de integração da irreversibilidade do tempo na física
(segundo princípio da termodinâmica, termodinâmica dos fenômenos irreversíveis),
na biologia (ontogênese, filogênese, evolução) e em toda problemática
organizacional ("só se pode compreender um sistema complexo referindo à sua
história e ao seu percurso" — Prigogine). Necessidade inelutável de fazer
intervirem a história e o acontecimento em todas as descrições e explicações.
03) Reconhecimento da impossibilidade de isolar unidades elementares simples na base
do universo físico. Princípio que une a necessidade de ligar o conhecimento dos
elementos ou partes ao dos conjuntos ou sistemas que elas constituem. "Julgo
impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, como conhecer o todo sem
conhecer particularmente as partes" (Pascal).
04) Princípio da incontornabüidade da problemática da organização e — no que diz
respeito a certos seres físicos (astros), os seres biológicos e as entidades
antropossociais — da auto-organização.
05) Princípio de causalidade complexa, comportando causalidade mútua inter-
relacionada (Maruyama), inter-retroações, atrasos, interferências, sinergias, desvios,
reorientações. Princípio da endo-exocausalidade para os fenômenos de auto-
organização.
06) Princípios de consideração dos fenômenos segundo uma dialógica ordem -*•
desordem -• interações * organização. Integração, por conseguinte, não só da
problemáticada organização, mas também dos acontecimentos aleatorios na busca
da inteligibilidade.
07) Princípio de distinção, mas não de separação, entre o objeto ou o ser e seu
ambiente. O conhecimento de toda organização física exige o conhecimento de
suas interações com seu ambiente. O conhecimento de toda organização biológica
exige o conhecimento de suas interações com seu ecossistema
08) Princípio de relação entre o observador/concebedor e o objeto
observado/concebido. Princípio de introdução do dispositivo de observação ou de
experimentação — aparelho, recorte, grade — (Mugur-Tachter) e, por isso, do
observador/concebedor em toda observação ou experimentação física Necessidade
de introduzir o sujeito humano — situado e datado cultural, sociológica,
historicamente — em estudo antropológico ou sociológico.
09) Possibilidade e necessidade de uma teoria científica do sujeito.
10) Possibilidade, a partir de uma teoria da autoprodu-ção e da auto-organização, de
introduzir e de reconhecer física e biologicamente (e sobretudo
antropológicamente) as categorias do ser e da existência
11) Possibilidade, a partir de uma teoria da autoprodu-ção e da auto-organização, de
reconhecer cientificamente a noção de autonomia
12) Problemática das limitações da lógica. Reconhecimento dos limites da
demonstração lógica nos sistemas formais complexos (Gõdel, Tarski).
Consideração eventual das contradições ou aporias impostas pela
observação/experimentação como indícios de domínio desconhecido ou
profundo1 da realidade
Essa idéia de complexidade não pretende, segundo Morin (2000), substituir conceitos de
clareza, certeza, determinação e coerência pelos de ambiguidade, incerteza e contradição,
mas fundamenta-se na necessidade de convivência, interação e trabalho mútuo entre tais
princípios.
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Considerações:
O título se contrapõe à “inteligência cega” das ciências que não conseguem ter
consciência dos seus aspectos opostos, mas complementares que lhe foram disjungidos
e reduzidos. Assim as ciências humanas não compreendem os aspectos físicos e
biológicos dos fenômenos humanos, assim como as ciências naturais não têm
consciência de seu papel numa cultura, numa sociedade, numa história. Em fim, elas
não têm consciência de sua inconsciência.