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Bonaparte também impõe uma das mais peculiares biografias. Responsável por
General aos 24 anos, estabilizou sua pátria amada, difundiu tecnologias, reformulou
o Direito e, embora o poder tenha acabado por lhe consumir, forneceu a centelha
libertadora para tantos outros povos que um dia se ergueriam para contestar e
derrubar a tirania.
O extraordinário poder deste mito não pode ser adequadamente explicado nem pelas
vitórias napoleônicas nem pela propaganda napoleônica, ou tampouco pelo próprio gênio
general, não teve igual; como governante, foi um planejador, chefe e executivo
Primeiros anos
Napoleão Bonaparte nasceu no dia 15 de agosto de 1769 em Ajaccio, na ilha mediterrânea
de Córsega, sendo o segundo filho de uma grande família de oito irmãos. Filho de Carlos
Maria Bonaparte e Maria Letícia Bonaparte, de ascendência toscana (italiana), sua família
provinha de uma nobreza baixa e até discriminada na Itália. Seu nascimento se deu pouco
depois da Córsega ser cedida pelos genoveses à França, o que o torna genuinamente
francês.
Aos 10 anos de idade o pequeno Napoleão foi enviado à França para ser educado e aos
15 começou a receber treinamento militar, onde não demoraria a despertar atenção por
sua grande dedicação aos estudos. Napoleão se destacava em matemática e possuía um
senso grandioso de história e geografia — Bonaparte parecia evocar grandes nomes do
passado, como o respeitado Frederico, o Grande, da Prússia (atual Alemanha). Contudo,
sua baixa estatura (1,60m) e desleixo com a aparência o fizeram sofrer bastante o que
atualmente chamam de bullying (algo que sofreria durante toda a juventude).
A Revolução Francesa
Em 1785, aos 16 anos, o jovem Napoleão concluiu seu treinamento militar em tempo
recorde, tornando-se segundo tenente de artilharia. Normalmente, o rigoroso curso de
artilharia levava três anos para ser concluído, Napoleão o concluiu em apenas 10 meses.
Como segundo tenente permaneceu até a fervilhante Revolução Francesa, em 1789.
Adepto das causas revolucionárias, atuou em sua defesa na Córsega durante os anos
seguintes, mostrando-se um entusiasmado militante da causa revolucionária.
Foi ali [Córsega] que ele teve, pela primeira vez, a sensação de provocar acontecimentos,
de fazer a História. Sensação totalmente nova, que o embriagou. (GALLO, apud: NETO,
Interessante abordar que a Revolução Francesa também injetou aos cidadãos franceses
uma grande dose de paixão à pátria. O próprio Napoleão grandemente incentivou o
nacionalismo, acreditando que somente através de soldados dedicados se poderia fazer
uma revolução europeia.
Bonaparte mostrou que Toulon poderia ser reconquistada a partir da captura de uma das
penínsulas ali existentes. As penínsulas se encontravam mal defendidas pela aliança
antifrancesa e a partir de suas colinas as bocas de fogo poderiam ameaçar seriamente os
navios anglo-espanhóis da Coligação no porto. Com os navios sob ameaça constante, a
Coligação não seria capaz de resistir ao cerco francês, pois, além do bombardeio aos
barcos e à própria cidade, as tropas em terra não receberiam mantimentos nem material
para continuar a luta.
Foram exatos três meses de cerco, um baixo número de mortos e feridos e a comprovação
de que a estratégia de Bonaparte estava correta. Pelo brilhantismo, Napoleão foi
novamente promovido em 21 de dezembro: tornou-se general de brigada, simplesmente
pulando duas patentes (de tenente-coronel e coronel, sucessivamente). O jovem corso
ainda contava 24 anos de idade.
Em agosto de 1793, a Marinha Real conquistou o porto de Toulon, que estava então
sitiado pelas forças revolucionárias francesas. Apesar de ter tido que suportar um
ferimento por baioneta, Napoleão assumiu o comando quando seu superior foi colocado
fora de ação. Seu fogo concentrado contra a esquadra inglesa afugentou-a do porto. Foi
A Baforada de Canhão
Em 1795 um governo moderado — o Diretório — assumiu o controle e uma rebelião teve
início em 3 de outubro, quando os pró-monarquia foram excluídos do novo governo.
Napoleão, pela sua reputação obtida em Toulon, ficou encarregado de proteger o recém-
criado governo em Paris, onde ficaria conhecido pela Baforada de Canhão.
Uma coluna de monarquistas marchou contra o Diretório e a Convenção Nacional, mas foi
dispersa por uma única rajada de artilharia — Baforada de Canhão — preparada por
Napoleão. Assim, diz-se que ele o jovem Bonarparte salvou a recém-criada república
francesa.
Em março de 1796 Napoleão se casou com Joséphine de Beauharnais, mas logo partiu
para assumir o comando do Armée d’Italie (exército francês na Itália).
Primeiro comando: a Itália
Recompensado com o comando do Exército Revolucionário Francês na Itália, Napoleão
assumiu o poder em 26 de março de 1796 e deu mostras definitivas do seu gênio militar ao
colecionar importantes vitórias, de modo relâmpago sobre piemonteses e austríacos: Lodi,
Castiglione, Arcola e Rivoli, uma a uma as batalhas foram vencidas por tropas que antes
da chegada de Napoleão se mostravam desmotivadas e com futuro incerto. Os próprios
austríacos se sentiram ameaçados com a possibilidade de uma derrota catastrófica,
quando o orgulhoso exército bonapartista se encontrava em ascensão e apenas 150 km
de distância de sua capital, Viena.
através de uma ponte contra a retaguarda austríaca, o que lhe valeu o apelido carinhoso
6314-RF-271.
Campanha no Egito
Em julho de 1798 os franceses invadiram o Egito em uma tentativa de minar o comércio
britânico com o Oriente. A invasão começou bem e logo os franceses tomaram as cidades
de Alexandria e do Cairo das mãos do império turco-otomano. No dia 21 de Julho 1798
Napoleão venceu de modo arrasador a Batalha das Pirâmides, próximo à Necrópole de
Gizé, onde aproximadamente 25 mil franceses derrotaram um imenso exército otomano
que pode ter alcançado 100 mil soldados.
A Batalha de Marengo
Em 14 de junho de 1800, Napoleão Bonaparte conquistou uma importante vitória sobre os
austríacos em Marengo e mais uma vez obrigou o império austríaco a abandonar a
campanha no norte da Itália.
Batalha de Marengo, de Louis-François Lejeune, 1802. Museu Nacional do Castelo, Palácio de Versalhes,
França.
No momento mais delicado do evento, as forças sob a liderança de Napoleão se
encontravam em desvantagem e, por não disporem de força para atacar, retrocediam
pacientemente enquanto aguardavam reforços. Retrocederam calculadamente e em
ordem por aproximadamente seis longos quilômetros. Apesar do planejamento de
Napoleão, o tão esperado reforço de tropas demorava e a derrota francesa parecia
iminente.
Diante do impasse que se formou nos anos seguintes, franceses e ingleses assinaram o
Tratado de Paz de Amiens em 1802. Os britânicos continuaram soberanos nos mares ao
passo que os franceses em terra firme. O tratado trouxe paz à Europa, mas não era isso
que Bonaparte pretendia.
Em 1805, a Terceira Coligação foi constituída — Áustria, Inglaterra e Rússia — para frear
as possíveis ações de Napoleão, mas falharam terrivelmente. Em outubro, os austríacos
não suportaram o cerco de Napoleão em Ulm. No mês seguinte a capital austríaca, Viena,
caiu. No Entanto, o moral das tropas coligadas melhorou com a contundente vitória do
mestre dos mares — lorde Nelson — na maior batalha naval das Guerras Napoleônicas, a
Batalha de Trafalgar.
A Batalha de Trafalgar
Em outubro de 1805, o jovem imperador francês se aproximava do ápice do seu poder.
Dentre seus principais objetivos, encontrava-se a conquista da Grã-Bretanha.
Teoricamente, seria fácil atravessar o Canal da Mancha e desembarcar suas tropas, no
entanto, o estreito canal estava bloqueado pela mais poderosa armada naval da época:
a Royal Navy [Marinha Real].
Batalha de Trafalgar, Clarkson Stanfield Frederick, séc. XIX.
A grande perda inglesa foi a morte do almirante Nelson que salvou toda a Grã-Bretanha do
déspota francês. No auge do combate, um tiro disparado pela gata (máquina de guerra
semelhante à catapulta) do Redoubtable acertou a dragona do ombro esquerdo de Nelson.
O comandante morrera meia hora antes do final da batalha, mas imensamente orgulhoso
de tê-la vencido e servido à pátria inglesa, tornando-se possivelmente o maior herói da
Inglaterra.
Napoleão havia perdido sua frota, mas continuava implacável em chão firme e uma grande
batalha se aproximava.
poder. Impôs uma humilhante derrota às forças combinadas da Áustria e Rússia e, em uma
demonstração de poder, condenou à morte milhares de soldados russos que fugiam em desespero.
Napoleão Bonaparte, exatamente um após sua autoproclamação a imperador, teve seu presente: a
Europa. Pintura: A Batalha de Austerlitz, de François Gérard, 1810. Obra constante no Palácio de
Versalles, França.
Napoleão, ciente de sua situação, mostrou o porquê de estar no pódio dos maiores
generais da história: estudou a região e decidiu que a luta deveria ocorrer em um planalto
20 km a leste de uma vila chamada Austerlitz, marchando com seu exército para lá. Na
noite anterior ao confronto, o general imperador instruiu pessoalmente seus soldados
sobre a linha de defesa, como manobrar durante o combate e quando e onde atirar.
Dividiu-as em norte (flanco esquerdo), centro (vanguarda) e sul (flanco direito). O moral
das tropas estava alto e, enquanto fazia a instrução, alguns de seus homens incendiavam
os colchões para iluminar o caminho do grande general.
Quando o exército inimigo fugia pelo lago congelado de Satschen, Napoleão deu uma de
suas ordens mais cruéis: “atirem no gelo” — e os canhões destroçaram o lago congelado
levando consigo quatro mil soldados para a morte. Napoleão venceu incontestavelmente.
O estandarte que cada batalhão levava era tido como troféu em campo de batalha. Perdê-
lo significava desonra e indicava uma tremenda surra. Em Austerlitz, o exército francês
tomou 50 estandartes dos russos e austríacos, perdendo apenas um.
O Bloqueio Continental
Na tentativa de arruinar a economia inglesa, Napoleão instituiu o Decreto de Berlim em 21
de novembro de 1806, o que deixava terminantemente proibido o comércio dos portos da
Europa Continental com os navios de bandeira britânica. Impossibilitado de transpor a
poderosa marinha inglesa, Bonaparte desejava arruinar sua economia.
Em terra, seus exércitos pareciam invencíveis, mas, enquanto não lograsse desembarcar
na Inglaterra e submeter sua mais determinada inimiga, não conseguiria instaurar, como
desejava, uma nova ordem europeia, sob sua liderança. Faltava-lhe para isso o domínio
do oceano. Com a esquadra esgarçada após a batalha naval de Trafalgar, não tinha como
atravessar o canal da Mancha. Dos mares eram senhores os britânicos. (SILVA, 2014, p.
23)
Os britânicos, por sua vez, responderam, entre outras coisas, com atitudes tipicamente
corsárias, nas quais todo navio de bandeira neutra que navegasse em alto mar seria
tomado e leiloado. Apesar da tentativa, o Bloqueio Continental não surtiu o efeito
esperado. O controle sobre tantos portos demandava grande empenho dos franceses e a
corrupção era um mal que parecia difícil de erradicar.
Surgem a Quarta e a Quinta Coalização
Não demorou para que a Quarta Coalizão fosse criada, sendo constituída em 1806 e
dessa vez integrada pela Inglaterra e Rússia em comum acordo com a poderosa Prússia,
que trouxe a Saxônia e a Suécia. Os inimigos mudaram, mas as vitórias continuaram
francesas. Em meados de 1806, os prussianos e saxônicos foram derrotados em Jena. No
início de 1807 as agressões cessaram após a inconclusiva Batalha de Eylau, quando uma
forte nevasca atrapalhou ambos os lados.
Mal o verão despontou em 1807 e Napoleão se lançou novamente contra os russos, que
novamente foram derrotados na Batalha de Friedland em 14 de junho. A Quarta
Coalização se desintegrou e o Tratado de Tilsit foi assinado. Neste tratado ficou estipulado
que o Império da Rússia pactuaria com o Bloqueio Continental.
O principal trunfo da vitória russa consistiu na aplicação da técnica terra seca (arrasada ou
queimada), que consiste em destruir por inteiras cidades, vilas, lavouras e qualquer outra
coisa que pudesse aquecer e alimentar os soldados invasores, deixando estes à mercê
dos seus próprios suprimentos e logística.
A ideia, vinda de militares prussianos, destacando-se Karl Von Clausewitz, causou o efeito
esperado e Napoleão, dentre outros motivos, viu-se obrigado a retroceder a Paris. Neste
momento, o inverno se tornou mais rigoroso, os suprimentos escassos e os cavaleiros
cossacos passaram a fustigar o exército francês com táticas de guerrilha.
Na primavera de 1813, os franceses haviam sido forçados a recuar para o leste do Rio
Elba, e estavam se reorganizando para a ofensiva vindoura. Pela primeira vez em 20 anos
exército consistisse em recrutas imaturos, Napoleão decidiu atacar antes que o inimigo
No decorrer de 1813, uma série de confrontos exaustivos foi travada e marcada por
vitórias francesas: Napoleão venceu as batalhas de Lützen, em 2 de maio; de Bautzen, em
20-21 de maio; e a de Dresden, em 26-27 de agosto, na qual venceu a Coligação que
dispunha de quase 100 mil soldados a mais que o exército francês. Todavia, nenhuma das
batalhas foi a grande e destruidora que Napoleão ansiava, nenhuma lhe trouxe a
capitulação da Sexta Coligação.
Doravante, Napoleão sofreu uma derrota na Batalha de Kulm e uma trégua temporária foi
acordada. E os motivos eram vários: todos os envolvidos se encontravam exaustos
humana e materialmente após décadas de conflitos, onde milhões já haviam perecido. As
Guerras Napoleônicas haviam consumido intensamente recursos de toda ordem, destruído
parte da infraestrutura europeia e arruinado a vida de milhões de europeus. Só os russos
já haviam perdido quase tantos soldados quanto a malfadada campanha de Napoleão de
1812. O exército do Czar ainda se encontrava grandemente disperso, desmotivado e
vulnerável nas proximidades da França.
A trégua não durou e entre os dias 16 e 19 de outubro, a maior das batalhas da era
napoleônica ocorreu em Liepzig, na Alemanha. Também chamada de Batalha das Nações,
190 mil franceses enfrentaram 365 mil soldados da Coligação. Por algum momento, a luta
deu mostras de que os franceses a venceriam. Lutaram com grande determinação e
destreza, mas a superioridade quantitativa da Coligação (175 mil soldados a mais) pesou e
os franceses foram derrotados.
140)
Não tendo outra saída, assim como não desejando mal à sua amada França, o imperador
Napoleão I abdicou em favor do seu filho em dia 6 de abril de 1814, quando assinou o
Tratado de Fontainebleau. No entanto, seu título de imperador continuou mantido
virtualmente.
Antoine Alphonse Montfort, que retrata o melancólico 20 de abril de 1814 francês, quando ocorreu a triste
Durante a despedida, pôde-se perceber a forte emoção dos velhos guerreiros. Em meio ao
discurso de adeus, diz-se ter sido possível escutar soluços advindos fileiras. A
camaradagem entre Napoleão e seus soldados foi reconhecidamente fraterna — ao ponto
de arrancar lágrimas daqueles homens já tão endurecidos pela guerra.
Antes de invadir o Império Russo, em 1812, não havia dúvida da força ímpar que o
exército francês representava — a família real portuguesa e imensa parte de sua corte
fugiram para o Brasil em 1808 apenas com o vulto de jovens recrutas franceses —. Além
de disciplinarmente treinado e bem estruturado, o exército francês era comandado por
aquele já reputado como lenda militar, o próprio Bonaparte.
vinte anos a fio, muitas e muitas vezes, deparei-me convosco, palmilhando o caminho da
honra e da glória. Nos dias que correm, como também, nos dias de nossos sucessos,
Com homens de vossa estirpe, nossa causa não estaria perdida. Mas a guerra parecia
tornar-se-ia ainda mais infeliz. Eis por que sacrifiquei todos os meus interesses em prol
Quanto a vós, meus amigos, continuastes servindo à França. Para ela estiveram voltados
todos os meus pensamentos. Para ela convergirão sempre meus melhores anelos. Não
deploreis meu infortúnio. Se aceito sobreviver-me é, ainda, para servir vossa glória.
Pretendo escrever sobre os grandes feitos que empreendemos juntos. Adeus, filhos meus.
Gostaria de estreitar-vos a todos junto ao meu coração. Que eu beije, pelo menos, a vossa
bandeira!
Adeus, mais uma vez, meus velhos camaradas! Que este último ósculo perpasse vossos
corações!.
Quando finalmente encontrado por tropas francesas, Napoleão, sozinho, encarando a linha
de tiro, teria se dirigido aos soldados e vociferado:
E mais uma vez, em marcha, o imperador e suas tropas se dirigiram à capital francesa,
Paris. Conta-se que Napoleão foi saudado e que as tropas que o encontravam no caminho
aumentaram o número de soldados a segui-lo. Assim, Luís XVIII e sua corte, que haviam
retornado ao poder, fugiram temendo a morte.
A Batalha de Waterloo
Restabelecido o poder, nova Coligação foi constituída e todos partiram para uma série de
confrontos marcados por vitórias de ambos os lados, tendo Napoleão, mesmo com a
saúde debilitada, vencido os embates que pessoalmente comandou.
Napoleão sabia que o exército francês não conseguiria vencer a batalha se ingleses e
prussianos lutassem juntos. Com o declínio do exército francês após a Campanha da
Rússia, o exército prussiano voltou a ser o mais bem preparado e disciplinado da Europa.
Os aliados também possuíam dois competentes comandantes: o irlandês Arthur Wellesley,
o famoso duque de Wellington, e o não menos competente marechal prussiano Gebhard
Leberecht Von Blücher.
Sir Arthur Wellesley, o duque de Wellington, e Gebhard Leberecht Von Blucher. Pinturas: 1ª Thomas
Iniciado o confronto, uma série de erros bizarros dos comandantes franceses acabou por
solapar os planos de Napoleão. Napoleão e o duque de Wellington se encontravam
equilibrados. Este contava com 68 mil soldados ao passo que aquele com 72 mil.
Napoleão imprimiu grande pressão sobre o britânico ao ponto deste ter que se
entrincheirar. O duque de Wellington, esperando pela participação do marechal Blücher,
recuou até uma cadeia de montanhas próxima a Waterloo.
A esta altura, Napoleão já havia despachado o marechal Grouchy, com 33 mil soldados,
para atacar os prussianos de Blücher, mas Grouchy não só se dirigiu na direção errada
como marchou lentamente. O comando do marechal francês teria sido tão bizarro que ele
e seus 33 mil soldados nem chegaram a participar da batalha.
Blücher chegou ao campo de batalha — com seus 28 mil soldados — acertando em cheio
o flanco direito dos franceses, como esperava o duque de Wellington. Contudo, os
franceses se seguravam eficientemente. Outro problema aturdiu Napoleão, quando uma
sucessão de erros dos seus comandantes, como o marechal Michel Ney, ocasionou o
desperdício de tropas. O próprio Ney, muitas vezes tido como um dos melhores do império
francês, desferiu ataques ineficientes que foram bloqueados por Wellington.
No clímax do embate, Napoleão então lançou a elite do exército francês para decidir de
uma vez por todas a batalha: a Velha Guarda Imperial marchou, mas teve seu avanço
dificultado pelo fogo concentrado da artilharia britânica que dedicou especial atenção à
elite francesa.
Napoleão decidiu utilizar a sua última e preciosa reserva — a sua famosa [Velha] Guarda
Imperial, a elite dos seus veteranos. Enviou dois batalhões contra os prussianos e, mais
uma vez, eles fizeram valer a sua reputação. Quando a Guarda Imperial entrava em
campo, os inimigos tremiam. Até então, ela nunca havia conhecido derrota em batalha. Os
Contudo, em meio ao grande poder de fogo propagado pela artilharia aliada e do ataque
geral liderado pelo próprio Wellington, a Guarda Imperial, pela primeira vez em sua
história, recuou. Isso fez com que o ânimo dos demais franceses ficasse aos frangalhos. A
derrota seria questão de tempo.
Mas os velhos soldados da Guarda ainda deram uma última demonstração de grandeza e
lealdade, ao possibilitar a fuga do imperador: Guarda se sacrificou de tal modo que
originou uma frase de efeito que hoje em dia estampa muros, fachadas e lemas de tropas
do mundo inteiro, inclusive do Brasil: “A Guarda morre, mas não se rende”. E, assim,
tombaram rugindo os mais ferozes leões de seu tempo.
A queda da Guarda Imperial é um dos pontos mais marcantes deste evento e suscita
diversas questões, pois muitas nações a reclamam como sendo proeza sua. Nas últimas
décadas historiadores têm atenuado o tal recuo da Guarda, indicando que ela teria mais se
reorganizado para dar fuga segura ao imperador Napoleão I, que propriamente recuado
em seu último ato nos campos da morte.
Ainda, outros fatores como os erros grosseiros orquestrados pelos marechais Grouchy e
Ney, além da decadente saúde de Napoleão, têm reacendido o debate sobre a Batalha de
Waterloo.
De acordo com o diário de comando do próprio duque de Wellington:
A Batalha de Waterloo foi a coisa mais próxima de dar errado que alguém jamais viu na
O fim
Quatro dias após Waterloo, em 22 de junho de 1815, o imperador da França Napoleão I
abdicou para ser definitivamente exilado na remota ilha de Santa Helena, uma ilha ao sul
do continente africano, no Atlântico Sul.
Eu me ofereço em sacrifício ao ódio dos inimigos da França. Esperamos que eles sejam
sinceros em suas declarações e que não vos odeiem mais do que a mim.
Minha vida política está terminada e proclamo meu filho, sob o nome de Napoleão II,
tenho por meu filho me leva a solicitar das Câmaras que organizem, sem demora, a
nacional.
Pois o mito napoleônico baseia-se menos nos méritos de Napoleão do que nos fatos,
então sem paralelo, de sua carreira. Os homens que se tornaram conhecidos por terem
abalado o mundo de forma decisiva no passado tinham começado como reis, como
Alexandre, ou patrícios, como Júlio César, mas Napoleão foi o ‘pequeno cabo’ que galgou
o comando de um continente pelo seu puro talento pessoal. […] Todos os homens comuns
ficavam excitados pela visão, então sem paralelo, de um homem comum que se tornou
maior do que aqueles que tinham nascido para usar coroas. Napoleão deu à ambição um
nome pessoal no momento em que a dupla revolução tinha aberto o mundo aos homens
de vontade. E ele foi ainda mais. Foi um homem civilizado do século XVIII, racionalista,
curioso, iluminado, mas também discípulo de Rousseau o suficiente para ser ainda o
homem romântico do século XIX. Foi o homem da Revolução, e o homem que trouxe
estabilidade. Em síntese, foi a figura com que todo homem que partisse os laços com a