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Anállse Psicológica (1989)’ 1-2-3 (Vil): 199-208

Formação e Intervenção Psicossociológica


Horizontes de um conceito e limites de uma prática

MÁRIO JORGE CEITIL (*)

«Sans reférent théorique, on ne peut aboutir ? aucune


i représenta-
tion cohérente, donc signifiante, de la réaiité observée, de même, sans
réferent méthodologique, on ne peut pas structurer la relation entre
le consultant et l’organisation et l’intervention devient contingente)).
Michel Raimbault
Jean-Michel Saussois

O ponto de partida destas reflexões situa- grada como tipo de intervenção, defenden-
-se no domínio da teorização sobre as prá- do-se a necessidade de considerar, com rigor,
ticas de intervenção em psicossociologia. O a problemática metodológica associada às
próprio termo de intervenção tem vindo a ser diversas práticas de formação.
utilizado na literatura especializada com
alguma ambiguidade (Dubost, 1987),
havendo a necessidade de o clarificar tanto 1. OS TIPOS DE PRÁTICAS DE INTERVENÇÃO
do ponto de vista conceptual como no que PSICOSSOCIOL~GICA
diz respeito a sua potencialidade heurística,
enquanto ordenador de práticas de interven- O conceito de intervenção psicossocioló-
ção. Procurando sobretudo uma definição gica presta-se, com frequência, a algumas
clarificadora das diferentes práticas, defendo ambiguidades conceptuais, sendo por vezes
aqui a existência de uma linha de continui- utilizado sem uma cuidadosa análise dos
dade entre elas, orientada para a natureza referenciais teóricos e metodológicos que a
dos objectos de mudança subjacentes e para suportam.
a localização dos indivíduos nesse processo Na ausência destes, as práticas de inter-
de mudança. venção podem resvalar para uma praxeolo-
As diferentes localizações das práticas de gia sem uma representação coerente (Raim-
intervenção relativamente a estes dois univer- bault & Saussois, 1983), da realidade onde
sos, delimitam o espaço da sua classificação. intervém, daí resultando opções metodoló-
A Formação enquanto prática orientada gicas por vezes ofuscadas com a produção
para um processo de mudança é, aqui, inte- de efeitos visíveis imediatos, que possam
satisfazer o sistema cliente, onde a interven-
(*) Psicólogo Social. Consultor de Recursos ção toma lugar. Não se pretende, dizendo
Humanos da CEGOC-TEA. Assistente no ISPA. isto, assumir os referenciais teóricos como

199
elementos ((purificadores))das intervenções da formação e o carácter não directivo da
«todo-o-terreno«, contaminados pela «epis- intervenção.
temologia de acção)),mas tão somente assu- Segundo esta perspectiva, A formação
mir que a crítica teórica é um elemento compete directamente influenciar os sujeitos
indispensável para preverter a tendência do relativamente a matérias que configuram
interventor a se tornar naquilo que Manuel opções (de gestão, sobretudo) de mudança
Tavares da Silva (1983) designou por um já formuladas previamente, enqúanto que a
asuper-ego fomentador paranóico-genético)). intervenção é o acto preparatório das opções
O esforço de conceptualização de uma de mudança pressupostas nos actos forma-
ideia ou de um «corpus» teórico é um ele- tivos. Não se exclui, naturalmente, a possi-
mento fundamental para o ordenamento de bilidade de utilizar práticas de formação
uma prática; correlativamente, a ausência de como viabilizadoras de um projecto de inter-
clarificação dos conceitos é igualmente res- venção. Mas, enquanto que na formação, os
ponsável pela imprecisão das práticas. objectivos de mudança são enunciados como
Ao pretender abordar, nesta comunicação, pré-requisitos básicos para que os actos for-
a problemática da formação enquanto prá- mativos se tornem possíveis, na intervenção,
tica psicossociológica ,o primeiro momento contrariamente, os objectivos de mudança
da minha reflexão é justamente tentar brotam directamente da relação dinâmica
enquadrar o conceito de formação numa das forças psicossociais presentes nos dispo-
tipologia possível das práticas de interven- sitivos de intervenção.
ção em psicossociologia. Curiosamente, é no mesmo autor (M.T.S.,
A revisão sobre a literatura variada neste 1983) que encontramos, todavia, um contri-
domínio leva-nos a localizar duas linhas de buto fundamental para a ultrapassagem da
clivagem entre Formação e Intervenção, oposição formação-intervenção.
orientadas em torno de duas dimensões fun- Na sua sistemática da intervenção, referida
damentais das práticas psicossociológicas: como um «ordenamento das acções de inter-
venção)), (M.T.S., 1983) apresenta-nos uma
- A natureza dos objectivos de transfor- definição de intervenção suficientemente
mação (ou mudança) veiculados nes- ampla para cobrir uma imensa diversidade
sas práticas de práticas.
- A localização dos sujeitos da interven- Assim, para o autor, a intervenção é con-
ção no seu contexto social cebida como «qualquer interferência volun-
tária que pode afectar, global ou parcial-
Mais adiante, caracterizaremos melhor mente, o outro ou outros seres humanos))
estas duas dimensões. (MTS,1983).
Retenhamos, por agora, que é referido, Decorre desta definição que a caracteriza-
que enquanto a formação veicula objectos ção das diferentes práticas de intervenção
exteriores aos indivíduos que são considera- depende, sobretudo, dos sistemas que são
dos fora do seu contexto profissional, a afectados e do modo como essa «afectação»
intervenção é um processo que parte do indi- se produz.
víduo e é especificamente orientada para o A partir da leitura que faço da «sistemá-
próprio processo de interacção social. tica de intervenção)) em Manuel %vares da
Esta demarcação nítida entre formação e Silva, considero poder caracterizar a inter-
intervenção aparece também em alguns venção como toda a prática ou conjunto de
momentos dos trabalhos de Manuel %vares práticas que visam a transformação dos indi-
da Silva (1983), designadamente no que con- víduos numa determinada situação, recor-
cerne í l oposição entre o carácter directivo rendo a métodos ou técnicas especificamente

200
psicológicos ou inspirados na psicologia. Assumindo que as práticas de intervenção
Este processo de transformação admite, visam a transformação dos indivíduos den-
como exigência metodológica, um espaço de tro de um determinado contexto social,
interação social, onde um dos pólos assume poderei precisar, dizendo que essa transfor-
o carácter de intencionalidade, manifesta ou mação se exprime em padrões de compor-
oculta, em relação a determinados objecti- tamento social a que chamarei os objectos
vos de transformação. de transformação ou de mudança. São,
Neste contexto, a intervenção é, eminen- então, estes objectos de transformação que
temente, um acto psicossocial, pleno de se constituem como os sistemas que se des-
sentido e enquadra-se num contexto sócio- tinam a ser afectados pelas intervenções.
-institucional determinado. O objectivo da infervencão será, assim,
Esta perspectiva permite identificar os produzir uma transformação expressa ao
dois elementos básicos a partir dos quais é nível dos padrões de comportamento social
sustentável um quadro unificador das dife- pertinentes no contexto sócio-institucional
rentes práticas de intervenção: onde a intervenção se desenvolve.
Sendo o contexto sócio-profissional aquele
- A natureza dos sistemas que são afec- que dominantemente ocupa a minha refle-
tados na intervenção xão, poderei classificar os padrões de com-
I - A localização dos indivíduos no con- portamento social, segundo o modo
texto sócio-institucional apresentado no quadro 1.
QUADRO 1
Padrões de Comportamento Social em Contexto Sócio-Prcfmional

1 - “Saber-Fazer” Técnico 3 - Relações Profissionais


Conhecimentos muito específicos Competência interpessoal fortemente
Adquiridos rapidamente estruturada pelos sistemas de papéis e
Aprendidos tardiamente no processo de de estatutos que regulam as interacções
desenvolvimento dos indivíduos. entre os diferentes actores da organização

2 - Conhecimentos Prcfissionais 4 - Atitudes e Opiniões Profissionais


Conhecimentos mais ou menos abs- Sistemas de valores fundamentais,
tractos em desenvolvimento desde o iní- ultrapassando a esfera das actividades
cio da actividade profissional. profissionais
Conhecimentos de um domínio pro- Sistema de valores com propriedades
fissional estruturais relativamente estáveis e
enraízadas na experiência pessoal.

Reunidos estes elementos, podemos final- 2. Localização dos indivíduos no contexto


mente enunciar, do seguinte modo, as duas sócio-profissional
dimensões caracterizadoras dos tipos de
intervenção psicossociológica. 21. Sujeitos individuais ou em grupo
fora do seu contexto sócio-profis-
1. Natureza dos objectos a transformar sional
(conhecimento, atitudes, normas, valo- 22. Sujeitos individuais ou em grupo
res, técnicas) considerados no seu contexto
Podem ser de dois tipos: sócio-profissional
11. Exteriores ao sujeito
12. Elaborados com a participação do Cruzando as duas dimensões, encontra-
sujeito mos quatro tipos de PRÁTICAS DE IN-

201
TERVENÇÃO OU PRÁTICASPSICOSSO- * 3 - INTERVENÇÃO PROPRIA-
CIOL~GICAS. MENTE DITA - onde os objec-
tos são elaborados pelos indiví-
* 1 - FORMAÇÃO INTER - Acto psi- duos ou grupos reais dentro do seu
cossociológico onde os objectos a contexto organizacional.
transformar são exteriores aos indi-
víduos e veiculados fora do seu * 4 - ACONSELHAMENTO/TERA-
contexto profissional. PIA - Acto psicossociológico
onde os objectos são elaborados
* 2 - FORMAÇÃO INTM - ~ c t psi-
o pelos sujeitos, individualmente ou
cossociológico em que os objectos em grupo, fora do seu contexto
são exteriores aos indivíduos, mas sócio-profissional.
veiculados para grupos reais no
quadro do seu contexto sócio- No Quadro 2 estão referidos os quatro
-profissional. tipos de práticas psicossociológicas.

9
‘UT
2 4 - Aconselhamento/Terapia
- Objectos elaborados pelos
3 - “Zntervençáo”
- Objectos elaborados pelos
õ
32.- indivíduos fora do seu contexto indivíduos no interior do seu
34 sócio-profissional contexto sócio-profissional
O 8
E
:. 3 1 - Formação hter 2 - Formação Intra
‘0
- Objectos exteriores aos - Objectos exteriores aos
3 .E indivíduos e fora do seu contexto indivíduos, dentro do seu contexto
gs
0.A sócio-profissional sócio-profissional
O
~~ ~

Sujeitos individuais e em grupo Indivíduos ou grupos “Reais”


fora do seu contexto sócio- dentro do seu contexto sócio-
-profissional -profissional

2. OS PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO tos desse tipo de comportamento.


E MUDANÇA A partir do modelo multidimensional do
comportamento humano de Athos & Cof-
Qualquer acto de intervenção em psicos- fey, poderemos conceber o indivíduo como
sociologia visa o processo de transformação sendo portador de um sistema pessoal,
do comportamento organizacional. Para vivendo num ou mais sistemas requeridos e
analisarmos os diferentes tipos de interven- em um ou mais sistemas emergentes, como
ção é indispensável identificar alguns aspec- nos mostra o Quadro 3.

202
QUADRO 3
Modelo tridimensional do comportamento humano

SISTEMA PESSOAL SISTEMA REQUERIDO

Características físicas Actividades, interacções e sentimentos


Valores requeridos pelo grupo ou organização
Crenças ao qual pertencem as pessoas
Conhecimentos
Modos de pensar
Sentimentos em função das suas
vivências anteriores

\
SISTEMA EMERGENTE
Comportamento que emerge das
necessidades individuais dentro dos
limites e das oportunidades propiciadas
pelo sistema requerido

A vivência nos 3 tipos de sistemas é, duo se insere e, a partir deles, analisar os


obviamente, bastante diferente. mecanismos de influência que exercem sobre
A Psicologia Social e, mais especifica- o comportamento dos indivíduos.
mente, a Psicologia Organizacional tornaram Por outro lado, o indivíduo, considerado
claros os mecanismos psicossociológicos que como sistema pessoal, não é uma realidade
conduzem A interiorizaçãohdentificaçãodo estática, ele próprio interagindo numa rela-
indivíduo com os valores de organização ção dinâmica como meio onde se insere.
onde se insere, assumindo aqui a organiza- Nesta relação dinâmica, o espaço de intera-
ção um papel de relevo no processo de socia- ção entre o sistema pessoal e o sistema
lização do indivíduo. requerido é potenciador de uma nova reali-
Por outro lado, a delimitação do organi- dade, instituída pelo momento mesmo do
zacional como objecto teórico específico cruzamento ou de confiitualidade entre o sis-
torna possível assumir a existência de siste- tema pessoal e o sistema requerido. Desta
mas requeridos, cujas características decor- intersecção resulta o sistema emergente ou
rem de leis que lhes são específicas, não se os vários sistemas emergentes, que poderia
confundindo, portanto, com o somatório das definir como as expressões fenomenológicas
características dos elementos componentes. das vivências dos indivúdos nos diferentes
A Teoria Geral dos Sistemas, em particular, contextos socializados. É esta fenomenolo-
fornece uma contribuição decisiva para a gia que, em meu entender, configura o
compreensão deste processo. objecto teórico da Psicologia Social, em sen-
Através de uma abordagem especifica- tido amplo, e de Psicologia Organizacional,
mente organizacional, podemos então en- enquanto domínio teórico do estudo da
contrar os elementos caracterizadores dos fenomenologia do comportamento humano
diversos sistemas requeridos, onde o indiví- em contexto organizacional.

203
Ao referir anteriormente que um dos ele- é ((qualquer coisa imposta do exterior, que
mentos caracterizadores das práticas de o obriga a modificar a sua maneira de tra-
intervenção é a natureza dos sistemas que balhar, de se comportar ou as suas represen-
são afectados e ao localizar, nesta base, os tações sobre as suas relações com a
quatro tipos fundamentais de intervenção organização))(Raimbault e Saussois, 1983).
psicossociológica, poderei agora analisar jus- Nesta acepção, a mudança tem justamente
tamente a expressão dos diferentes tipos de expressão relativamente aos objectos de
intervenção, relativamente aos 3 sistemas de transformação que anteriormente loca-
comportamento humano. lizei.
A intervenção psicossociológica visa a Reunidos estes elementos, lançarei como
mudança, já o disse. Não sendo possível, hipótese que cada um dos tipos de interven-
nesta comunicação, deter-me alongadamente ção assume, como seu objectivo imediato, a
sobre o conceito de mudança, retenho, a par- transformação de determinados padrões de
tir de Raimbault e Saussois (1983) que, para comportamento, conforme é mostrado no
uma pessoa ou para um grupo, a mudança Quadro 4.

QUADRO 4
Relações entre as práticas Psicossocioldgicas e os padrões de comportamento a transformar

4 - Aconselhamento/Tempia 3 - Intervenção
«Insight» de atitudes e valores Relações profissionais
profissionais Reelaboraçáo de novas estxatégias de
Auto-análise relacionamento
Reconhecimento das fantasma
tizações associadas ao
exercício dos papéis

1 - Formação Inter 2 - Formação Intra


Saberes técnicos Conhecimentos profissionais
Aquisição de saberes novos Aprendizagem de atitudes reque-
Auto-formação ridas

Resta-me, agora, para completar este no, classificarei os objectivos de transfor-


quadro unificador das práticas de inter- mação visados pelas diferentes práticas
venção em psicossociologia, identificar a em função da sua incidência sobre os três
expressão das diferentes práticas, relativa- sistemas referidos.
mente í l sua potencialidade de transfor- Obtemos, assim, o seguinte quadro
mação sobre os indivíduos. identificador das potencialidades de trans-
Invocando o que anteriormente referi formação nas diferentes práticas psicos-
relativamente ao comportamento huma- sociológicas (Quadro 5).

204
QUADRO 5
Objectivos de tmmformação Transformação
nas práticas psicossociológicas do sistema
emergente
- 1

Forte 4 - Forte 'Itansformação sistema individual


e franca transformação
sistema requerido
Forte transfor-
mação sistema
-
1 - Fraca transformação 2 - Fraca transformação
do sistema individual
e forte transformação
do sistema requerido
Fraca trans-
formação do
-
Fraca sistema requerido

Fraca Forte
Transformações ao nível do sistema requerido

A delimitação dos objectos de transforma- determinada transformação se produza e ao


ção e a localização das suas expressões ao grau de dificuldade subjacente.
nível do comportamento dos indivíduos é Nesta base, poderei apresentar como hipó-
um momento indispensável para o ordena- tese que os padrões de comportamento mais
mento das opções metodológicas a assumir. arcaicos e que apresentam propriedades
Assim, é obviamente falacioso localizar estruturais mais estáveis s&oaqueles que exi-
como objectivo de uma acção de interven- girão mais tempo e que apresentam um
ção, a alteração de um padrão de compor- maior grau de dificuldade de mudança.
tamento com expressão numa forte trans- Inversamente, teremos maiores probabilida-
formação do sistema requerido e realizar des de uma transformação a curto prazo
opções metodológicas que apenas poderão para os padrões de comportamento adqui-
viabilizar pequenas transformações no sis- ridos mais tardiamente no processo de
tema pessoal. desenvolvimento dos indivíduos.
Por exemplo, não se pode modificar toda O Quadro 6 apresenta-nos as relações
uma estrutura de comunicação existente entre o tempo e a dificuldade na transfor-
numa organização apenas enviando um qua- mação dos padrões de comportamento
dro superior a um Seminário inter de comu- social.
nicação ou comportamento organizacional. Com base nestes referenciais, poderei
Na escolha dos modosde-fazer a interven- agora caracterizar globalmente os quatro
ção, um elemento fundamental é a delimi- tipos fundamentais de intervenção. Decor-
tação dos «designs» de intervenção no rente desta caracterização, alguns aspectos
tocante ao tempo necessário para que uma metodológicos pertinentes na sua prática.

205
+ Atitudes e opiniões profissionais

Relações profissionais

j Conhecimentos profissionais

Saberes técnicos

-
- Dificuldade +

Tipo I: Formação Inter ponto, uma intervenção deste tipo corre o


risco de se tornar inoperante seja porque o
Caracterizam-se neste tipo, intervenções indivíduo não consegue repensar os seus
realizadas fora do contexto sócio-profissio- papéis profissionais, perspectivando-os num
na1 dos sujeitos e onde os objectos de trans- horizonte estratégico, onde a sua acção
formação são definidos previamente, sendo, potencial pode ser decisiva, seja porque a
portanto, exteriores aos mesmos. Nestas con- organização tende a não se envolver e a não
dições, a sua potencialidade de transforma- se empenhar numa acção de intervenção
ção é relativamente fraca tanto no que diz localizada no tempo, pontual e, na maior
respeito ao sistema pessoal como ao sistema parte dos casos, de expressão meramente
requerido. individual.
I? assim um tipo de intervenção destinado
aos padrões de comportamento menos está-
veis e mais superficiais nos indivíduos. Por Tipo 2: Formação Intra
essa razão, a formação inter é particular-
mente adequada para a aquisição de sabe- Caracterizam-se neste tipo as intervenções
res novos, novas técnicas, actualização de realizadas no interior dos contextos sócio-
conhecimentos, não exigindo, para tal, gran- -profissionais dos indivíduos. Na maior
des alterações nas componentes estrutural- parte dos casos, os objectos de transforma-
mente mais estáveis do comportamento. No ção são exteriores aos indivíduos, sendo as
que diz respeito ao sistema emergente, a for- intervenções negociadas entre o represen-
mação inter é particularmente adequada tante da organização-clientee o interventor.
para a preparação do terreno de uma inter- A legitimidade da intervenção reside no
venção mais profunda, já que por via dela facto de o representante da organização-
poderão ser fornecidos aos indivíduos ins- -cliente estar investido de poder organizacio-
trumentos que lhe permitam um repensar na1 suficiente para formular o pedido. Os
dos papéis possíveis que poderão vir a objectivos de transformação, uma vez assu-
desempenhar na Organização. Em contra midos pelo representante do poder organi-

206
zacional, tornam-se, presumivelmente, per- nismos de relacionamento dos sujeitos com
tença dos sujeitos da intervenção. o espaço e as dinâmicas das organizações,
Neste tipo de intervenção, a acentuação 6 mediatizada pela reflexão crítica e activa dos
feita no sistema requerido. As intervenções próprios sujeitos relativamente ii significa-
intra, sendo realizadas com grupos homogé- ção dos modos de relacionamento reificados
neos de uma mesma empresa, optimizam as nas diversas manifestações do comporta-
potencialidades dos efeitos da dinâmica de mento organizacional.
grupo através de uma acção incitativa 2i Neste tipo de intervenção, as pessoas e as
mudança onde os objectos de transformação estruturas estão presentes enquanto reflexão
são dominantemente constituídos por atitu- sobre os processos da sua intersecção.
des e comportamentos requeridos. Conforme é referido por Jean Claude
O desenvolvimento da cumplicidade no Rouchy (1987), sempre que o termo de inter-
grupo pode facilitar o processo de progres- venção é referido, estamos em presença de
siva homogeneização, naturalmente poten-
uma acção que implica a evolução das pes-
ciando uma boa integração no intra-grupo,
feita na base dos valores fundamentais que soas e das estruturas. Neste contexto, refere
terão estado subjacentes li negociação do ainda J. C. Rouchy que «elle sera conduite
objectivo de intervenção. Por esta razão, a dans une perspective ou le changement ne
potencialidade de mudança é relativamente s’elabore pas seulement par un ajustement
forte neste tipo de intervenção, sobretudo des personnes h des situations nouvelles, ou
numa acentuação do sistema requerido sobre par un changement interne, mais aussi par
o sistema pessoal. leur agencement reciproque, dans leur com-
As questões metodológicas são, neste tipo plementarité en rapport aux fonctions, aux
de intervenção, particularmente relevantes: finalités, du groupe et non plus seulement de
uma metodologia de tipo incitativo (Lesne, celle des individus dans le groupe» (Rouchy,
1977) facilita a produção dos mecanismos de 1987).
vinculação afectiva, fazendo sobretudo apelo Pelo atrás exposto, o domínio especifico
a vivência imediata do «elan» grupal. Esta do tipo 3 de intervenção é o sistema emer-
vivência associada a objectivos de interven- gente.
ção formulados a partir de uma forte acen-
tuação do sistema requerido, pode conduzir
a uma associação apriorística e acrítica, por
parte das populações participantes nas Tipo 4: AconselhamentoRerapia
acções, do estar-ali vivido como a imanação
directa da moralidade organizacional, faci- É o tipo de intervenções orientado espe-
litando a aderência aos valores e às normas cificamente para o sistema pessoal, onde os
do sistema requerido por mecanismos mani- objectos de transformação se situam ao nível
pulatórios. do «insight», das vivências pessoais, resul-
Uma metodologia de tipo apropriativo tantes da interiorização dos valores e da
(Lesne, 1977), parece, assim, ser aquela que,
no contexto deste tipo de intervenção poderá fenomenologia das vivências dos papéis
potenciar a dinamização de um sistema sociais.
emergente tendencialmente a apontar para Tendo a pessoa como centro e a sua auto-
as intervenções do tipo 3. -percepção como objectivo de acção, este
tipo de intervenção assume o contexto como
pano de fundo, onde, como as sombras chi-
Tipo 3: Intervenção propriamente dita
nesas, os contornos imprecisos delimitam
Estão incluídas neste tipo de intervenções apenas as fronteiras das fantasmatizações
orientadas para uma reorientação dos meca- sociais projectadas pelos indivíduos.

207
CONCLUSÃO dos objectivos a atingir e da natureza dos
objectos de transformação em presença.
Com esta tipologia de intervenção, apenas Ao interventor compete a formulação de
esboçado nesta comunicação, pretendo uma visão coerente e integrada do pedido de
salientar os elementos diferenciadores das intervenção, estruturante de uma relação
diferentes práticas de intervenção psicosso- com o sistema-clientedemarcado das ambi-
ciológica e as fronteiras no interior das quais valências do ((quase-desejo))das ((quase-mu-
as reflexões se revelam pertinentes. Por esta danças)), de qualquer das partes considera-
leitura, podemos inferir o carácter não uni- das, individualmente, antes orientas para a
versal e absoluto de qualquer das quatro prá- clarificação tão precisa quanto possível das
ticas consideradas, mas, pelo contrário, a estratégias do conjunto dos interlocutores
necessidade de as articular numa perspectiva envolvidos e dos elementos de significação
metodológica integrada onde justamente as que brotam na sua intersecção, como ele-
opções de construção dos dispositivos de mentos expressivos da fenomenologia psicos-
intervenção sejam orientados pela definição sociológica.

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