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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

JCF
Nº 70074388117 (Nº CNJ: 0202926-67.2017.8.21.7000)
2017/CRIME

APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 261 DO CP.


EXPOR A PERIGO AERONAVE ALHEIA.
PROVAS DA AUTORIA E DA
MATERIALIDADE. CONDENAÇÃO MANTIDA.
1. Não há dúvidas de que o acusado expôs
a perigo aeronave alheia, ao apontar
artefato luminoso denominado Green
Laser Pointer, em direção a duas
aeronaves da Brigada Militar, dificultando
a visão dos pilotos e, assim, expondo a
perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem.
2. Compete ao Juízo da origem definir a
pena adequada ao caso, comportando
alteração, em grau de recurso, apenas em
situações em que a modificação não for
arrazoada, proporcional ou contrariar
disposição legal ou preceito
constitucional. Por conta do entendimento
da Súmula 231 do STJ, fica impossibilitado
o estabelecimento da pena provisória
aquém do mínimo legal, ainda que
reconhecida a atenuante da confissão
espontânea. Pena mantida.
APELAÇÃO DA DEFESA DESPROVIDA

APELAÇÃO CRIME QUARTA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70074388117 (Nº CNJ: 0202926- COMARCA DE PORTO ALEGRE


67.2017.8.21.7000)

DANIEL ANTUNES BALDASSO APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Quarta


Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em
rejeitar a preliminar e negar provimento ao recurso.

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Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os


eminentes Senhores DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE
NETO (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. ROGÉRIO GESTA LEAL.

Porto Alegre, 12 de abril de 2018.

DES. JULIO CESAR FINGER,


Relator.

R E L AT Ó R I O

DES. JULIO CESAR FINGER (RELATOR)

O Ministério Público ofereceu denúncia contra DANIEL


ANTUNES BALDASSO, já qualificado, como incurso nas sanções do art.
261 do Código Penal (duas vezes), praticado na forma do art. 71 do
Código Penal, em razão da prática dos seguintes fatos relatados na
denúncia:

1º Fato.
No dia 17 de abril de 2016, às 20:10 horas, na Rua
General Lima e Silva n.º 89/301, Centro, nesta Capital, o
denunciado expôs a perigo aeronave alheia, consistente em
helicóptero esquilo PP-EHY da Brigada Militar.
Na ocasião, o acusado apontou artefato luminoso
denominado Green Lazer Pointer em direção à referida
aeronave, momentaneamente cegando os tripulantes e
expondo-os a risco grave.
Momento este, ainda que o réu dificultou a visão, o
acesso aos controles da aeronave, colocando em risco a
pilotagem.
2º Fato.
Nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar, o
denunciado praticou delito de idêntica natureza contra a
aeronave PR-RES da Brigada Militar, que prestava auxílio às
vítimas iniciais na identificação do autor do crime.
Graças à ação conjunta dos tripulantes de ambas
as viaturas aéreas, foi possível identificar o denunciado,
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conforme imagem à fl. 48 do IP e DVD à fl. 09 do processo


001/2.16.0042908-2, em apenso.
Em cumprimento de mandado de busca e
apreensão na residência do denunciado, foi encontrado o
artefato utilizado na ação delituosa (fl.47 do IP).

A denúncia foi recebida em 20/07/2016 (fl. 63).


Citado pessoalmente (fl.70), o réu apresentou resposta à
acusação às fls. 72-138, por intermédio de Defensor constituído,
arrolando testemunhas e acostando documentos.
Na instrução, foram inquiridas as testemunhas arroladas
pela acusação/defesa e, ao final, interrogado o réu (fls. 145-54). A defesa
procedeu a juntada de novos documentos (fls.155-62).
O Ministério Público, em memoriais, entendendo provadas a
autoria e a materialidade dos crimes narrados na exordial acusatória,
requereu a procedência da ação penal para condenar o acusado nos
exatos moldes da denúncia (fls. 165-73).
A defesa, por sua vez, preliminarmente, sustentou que o réu
sofre de transtorno depressivo grave, fazendo uso de medicação
contínua, desde 2005, o que o leva a incapacidade de entendimento,
encontrando-se ao abrigo da isenção de pena do art. 26 do Código Penal.
Em sede de mérito, argumentou que não agiu com dolo e que a aeronave
em momento algum esteve colocada em perigo concreto, não
constituindo o fato infração penal. Em caso de condenação, ponderou que
deveriam ser consideradas a confissão espontânea e a primariedade do
acusado (fls.175-83).
Certificados os antecedentes criminais (fl. 164).
Na sentença (fls. 146-49), publicada em 20/04/2017 (184-
90), o réu foi condenado pela prática do crime previsto no art. 261 do
Código Penal, em continuidade delitiva, à pena de 2 anos e 4 meses de
reclusão, em regime aberto. A pena privativa de liberdade foi substituída
por duas penas restritivas de direitos - prestação de serviços à
comunidade e prestação pecuniária no valor de dois salários mínimos.

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A defesa apelou à fl. 195. Em suas razões (fls. 202-10),


requer a Defesa, preliminarmente, o reconhecimento da inimputabilidade
do acusado, pelo uso de remédios para tratamento de doença psíquica,
que causam confusão e perda momentânea da memória e da
consciência, e a consequente absolvição imprópria. No mérito, busca a
absolvição do condenado, sustentando insuficiência de provas para a
condenação. Subsidiariamente, requer o reconhecimento da atenuante da
confissão espontânea e que a pena-base fique aquém do mínimo legal
(fls. 202-10).
O Ministério Público apresentou contrarrazões nas fls. 212-
21.
A Procuradoria de Justiça apresentou parecer nas fls. 225-29,
no sentido de afastar a preliminar aventada pela defesa e que seja
desprovido o recurso.
É o relatório.

VOTOS

DES. JULIO CESAR FINGER (RELATOR)

O recurso preencheu os requisitos para a sua


admissibilidade, devendo ser conhecido.
Passo à análise da preliminar aventada pela defesa relativa à
inimputabilidade do acusado.
Preliminar
O acusado sustenta fazer uso de medicamentos que causam
confusão e perda momentânea da memória e da consciência, e que,
precisamente na ocasião do ocorrido, estaria sob os efeitos de tais
medicamentos.
No entanto, para o acolhimento da tese de inimputabilidade,
sob tal fundamento, necessária a comprovação, nos autos de que o
acusado apresentava severa perturbação mental em virtude do uso de
medicamentos, de tal modo que sua percepção da realidade, ou seu

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comportamento em função dessa percepção, estivesse profundamente


comprometido, no momento do fato, o que não ocorreu no caso em tela.
Ademais, sabe-se que para o reconhecimento da
inimputabilidade ou semi-inimputabilidade, imprescindível a comprovação
através de laudo pericial, a ser realizado nos autos de incidente de
insanidade mental, cuja instauração sequer foi requerida pela Defesa ou
reputada necessária pelo Juízo.
A defesa limitou-se a juntar documentos inaptos a
comprovar o alegado, parte deles referentes aos anos de 2008 e 2009,
sendo os outros (atestados e comprovantes de consulta) posteriores ao
fato, não tendo sido demonstrado que o acusado estava, efetivamente,
acometido de patologia tão severa, de modo que pudesse restar
prejudicado o seu discernimento.
Salienta-se também o fato de que o próprio acusado afirmou
em juízo que nunca foi afastado de seu trabalho junto a EPTC em razão
de sua patologia ou uso de medicação.
Portanto, o apelante não se enquadra na hipótese do artigo
26, caput, do Código Penal.
A preliminar, portanto, resta afastada.
Mérito
No mérito, entendo insuperável a conclusão efetuada na
sentença, razão pela qual a adoto nos fundamentos de decidir do
presente recurso, não sendo verificada qualquer inovação em sede de
apelação em relação aos pontos abaixo discutidos. Diante disso,
transcrevo as razões lançadas na decisão, não só por com elas coadunar,
mas também para evitar a tautologia (fls. 146-49):
A Defesa alega a necessidade de submissão do réu
a exame de sanidade mental. Quanto ao ponto, necessário
explicitar que tal desiderato deveria ter sido requerido em
sede de alegações preliminares ou no decorrer da instrução
processual. Jamais em sede de alegações finais, quando já
encerrada a fase de coleta de provas.
Por outro vértice, afora o fato de o réu
apresentar transtorno depressivo, em momento
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algum foi trazido aos autos qualquer atestado médico


afirmando a sua incapacidade penal, evento que não
se presume.
Pontuo, por oportuno, que a análise do
prontuário de fls. 85/86, atinente ao período de
10.08.2009 a 20.08.2009, em que, a toda evidência, a
doença atingiu um de seus ápices, o que motivou a
internação na Clínica Pinel, não registra qualquer
ocorrência de relevo, que justificasse a submissão a
exame de incapacidade. Com efeito, o que se extrai do
comportamento do réu no nosocômio, em síntese:
reservado, pouco comunicativo, mantendo conduta
adequada, humor estável.
Ora, se nem no momento de maior crise de
sua enfermidade, houve qualquer referência a
incapacidade, não há razão plausível para o
reconhecimento da excludente ao tempo do fato,
quando o réu se encontrava no exercício de suas
atividades ordinárias.
Não há, pois, indicativo de incapacidade
penal, de modo que não subsiste a pretensão arguida
pela Defesa técnica, ora afastada.
Vencida a prefacial, no que toca a
materialidade do fato, está vem consubstanciada pelo
registro de ocorrência (fl. 03), bem como no auto de
apreensão de fls. 36/38, corroborada pela prova oral.
Em relação à autoria, o réu não nega haver
praticado o fato.
Ao ser interrogado, Daniel Antunes Baldasso disse
que:
J: Estas sendo acusado de ter apontado este feixe
de luz. O senhor quer falar alguma coisa acerca disso,
lembra disso? T: Na verdade, eu não lembro. Eu já tive
vários casos de amnésia anterógrada e certamente
mais um deles, eu vim a ter conhecimento do fato
após ter surgido na mídia e não recordo do fato em si,
não lembro porque isso aconteceu as evidências no
fato realmente era eu lá em cima.
J: Tuas testemunhas referiram medicação forte? T:
Eu comecei tratamento para depressão em 2005, eu
troquei medicação algumas vezes, consultei vários
psiquiatras, eu atualmente tomo Venlafaxina 225ml,
Lexotan, ansiolítico, Minoxidil que é uma estimulador
do sono é um remédio para dormir.
J: Isto tudo com tratamento médico regular? T:
Todos eles sempre com acompanhamento médico e
consulta psiquiatra uma vez por mês. De forma
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continua o antidepressivo Venlafaxina 225ml e os


outros dois é ocasional.
J: Este tratamento médico chegou a ter
afastamento do trabalho alguma vez? T: Não. Eu tive
na época que eu trabalhava na Renner. Fiquei em benefício
do INSS por depressão. No trabalho por este novo nunca tive
afastamento.
J: Na EPTC? T: Não.
J: Nem agora depois do fato? T: Não.
J: Só para a gente ter ideia, o que faz
especificamente na EPTC? T: Eu trabalho na sala do
monitoramento e não diariamente ligado à gerência de
monitoramento, mas trabalho monitoramento de transporte
público. Eu faço controle e fiscalização via sistema interno,
leitura de o passagens, cobrança de tabelas operacionais,
trabalho burocrático administrativo de fiscalização focado a
transporte público.
J: Teu horário de trabalho? T: Atualmente, eu faço
das 13 às 19 horas; no período do fato, eu trabalhava
de manhã das 6 ao meio-dia na jornada das 6 a meio-
dia de outubro ano passado até janeiro deste ano foi
de manhã.
J: A tua mãe e teu pai moram contigo? T: Pai mora
em Rolante onde nasci. A minha mãe é falecida aos 59 anos
e ela tinha esquizofrenia e morreu por conta disso.
J: Tu moras só e isto te dá prejuízo por casa da
patologia? T: Este é um grande prejuízo, acho.
Certamente se eu morasse com alguém não acredito
que teria acontecido.
J: Dada a palavra ao Ministério Público.
MP: Estes lapsos de memórias que alegas são em
decorrência da tua patologia ou em decorrência da
medicação que faz uso? T: Eu acho que em decorrência
da interação entre elas quanto da medicação quanto
do fato estado emocional em si. Acredito que ela tem
muito a ver com ansiedade e pelo próprio sintoma de
depressão. Ele surgem na instabilidade emocional
provavelmente associado ao uso de medicamento.
MP: O senhor disse que não lembra do fato. O
senhor lembra de estar neste local tomando cerveja
como disseram as testemunhas? T: Não. É uma coisa
difícil de acontecer, que primeiro em casa não costumo e
não compro bebida alcoólica e eu bebo socialmente com
amigos; o outro para chegar nesta parte do prédio onde é a
caixa de água, o único acesso por uma escada vertical onde
tem obrigação de usar as duas mãos. Eu não sei como

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poderia levar bebida alcoólica para cima escalando uma


escala vertical.
MP: Senhor não lembra de nada dessa noite?
T: Não.
J: Dada a palavra à Defesa.
D: Na época do fato acontecido tu estavas em
casa de férias ou estavas trabalhando? T: Eu estava
trabalhando, mas era período de trabalhar de manhã
já devia estar em casa toda a tarde, já. Eu tive duas
semanas seguintes do fato que entrei de férias.
O fato, ademais, foi devidamente descrito pelas
vítimas, policiais militares que se encontram nas aeronaves,
como segue:
Ademar Reis Vargas (Capitão):

T: Eu era segundo piloto, que são dois pilotos


cada aeronave primeiro e segundo piloto.
J: O senhor lembra bem disso? T: Sim, o fato nós
estávamos monitorando referente a manifestação no
centro e na cidade baixa e nós estávamos
acompanhando fazendo transmissão com imageador
térmico e com outro helicóptero estávamos com o
farol de busca auxiliando no policiamento e dando
todas as coordenadas para o pessoal do policiamento.
Em certo momento começou um helicóptero nosso ser
atingido por laser; sendo que um na cidade baixa e
nós estávamos no Parcão com o Franck e o sargento
Ezequiel, e esta guarnição nos relatou e a gente foi
para botar farol em cima do local onde estava
apontado o laser até para poder filmar melhor. Nós
ficamos o tempo todo botando farol nele e ele ficou o
tempo todo com laser em nós, mesmo a gente
colocando farol nele não sentiu medo nenhum de
estar sendo identificado ou não. O que facilitou a
identificação, que nosso helicóptero, que é dos novos,
tem farol de busca e outra aeronave tem imageador
térmico e filma HD, é feita toda a filmagem. O todo o
tempo ele apontando laser.
J: Qual prejuízo que dá isto para pessoa que esta
pilotando helicóptero? T: Prejuízo já bem relatado por vários
artigos de aviação e reportes da aeronáutica referente a isto
e realmente acaba prejudicando se pega de imediato da
uma cegueira momentânea se o piloto está
desavisado e lança direto nos olhos do piloto e ele vai
perder momentaneamente a visão até voltar que ele
estava no painel de instrumentos ali e a luminosidade
do laser ilumina toda a cabine e perde a visão
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momentaneamente. Se pega de surpresa acaba


ocasionando risco e a gente tem que fazer manobras
evasivas, em pouso e decolagem prejudica muito que
o piloto não tem tempo hábil de fazer manobra, ele
não tem tempo de fazer manobra evasiva que ele está
indo ao pouso. Por isto é muito batido em cima do
risco que causa o laser.
J: Este tipo de conduta é comum e já aconteceu
outras vezes? T: Sim, já aconteceu.
J: O que estava havendo no dia manifestação? T:
Se não me engano era manifestação referente a questão de
'Fora Dilma' na época o Fora Dilma no Parcão e outro Pro
Dilma na Cidade Baixa.
Cristiano Gluck Resler, policial militar:
J: És o piloto do helicóptero? T: Na ocorrência
estava como Comandante de operações e ficava atrás
da barca do helicóptero, tripulante, são pilotos na
frente e os tripulantes atrás para policiamento e
resgate. Trabalhamos no banco de trás do
helicóptero.
J: A questão que aconteceu que apontaram laser
para vocês? T: Nós estávamos cobrindo e fazendo cobertura
das manifestações no dia tanto na área central, que foi a
ocorrência, quanto na área do Parcão. Nós estávamos
nesse translado um cuidando um e outra cuidando o
outro e num dos translado em direção ao Parcão
avistamos o fecho de luz diretamente no helicóptero.
O comandante que foi primeiro atingido pela luz
ofuscante nos avisou para tentar achar a origem do
foco e que nós estávamos com câmara fria dentro da
aeronave. O helicóptero aproximou da origem e o
mesmo continuou apontando para nós. Como nós
estávamos numa missão um pouco atípica do que
geralmente operamos, nós estávamos baixo para
captar as imagens e durante uma das intervenções
deste laser acabou ofuscando os pilotos que no caso o
helicóptero acabou baixando muito a altitude dela, e
eu estava atrás auxiliando tive de intervir com o
piloto para evitar que o helicóptero batesse nos
prédios ou em antenas que tem muitas. A gente
acabou auxiliando os pilotos nesta questão.
J: Quem eram os pilotos da aeronave? T: Era o
Major Ives e o capitão Robson.
Giórgio Leandro Palma Camargo, policial
militar:
J: Tu estava em que helicóptero?T: No Esquilo.

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J: Quem estava contigo no Esquilo? T: Comandante


Major Ives, Capitão Robinson, eu e o Resler. Eu era
operador da câmara que a aeronave tem.
J: Qual o objetivo da missão de vocês? T: Nós
estávamos voando para as manifestações do Impeachment.
J: Que aconteceu com este negócio do laser? T:
Estávamos voando e daqui a pouco identificamos
feixe verde que a gente seguidamente é alvo desses
feixes, só que a gente nunca teve o êxito de localizar
o foco e desta vez conseguimos, eu com a câmara
foquei nele o início do laser e vi que era em cima do
prédio, a minha câmara que eu usando é de longo
alcance, ela tem 3 lentes e uma delas é que detecta
pelo calor e eu troquei para a térmica e consigo ver a
silhueta da pessoa e na mão dele saindo um feixe
verde e comecei a gravar e fiquei todo tempo com a
câmara gravando ele, eu via que ele mexia assim, vi
que ele estava tomando uma lata, uma coisa na mão,
tipo um copo, parecia uma lata. Depois, ele tomou e
jogou a lata lá de cima. Nós pedimos apoio para o
outro helicóptero que tem o farol de busca e
conseguiu localizar a origem do feixe e iluminou ele e
eu troquei de lente com a lente de baixa luminosidade
com a luz do farol consegui pegar toda a fisionomia
dele.
Hamilton Fernandes Ezequiel Pilla, policial
militar, lotado batalhão de aviação.
J: Que helicóptero estava nesse dia? T: Sou
coordenador operacional do Coala que era a aeronave que
estava com farol de busca.
J: Seus pilotos? T: Coronel Franck e capitão
Ademar eram os pilotos do Coala.
J: Como foi esta ocorrência? T: Nós
estávamos em cima do Parcão fazendo policiamento
na manifesto e a gente foi solicitado pela outra
aeronave que estava sendo colocado laser nela e eles
estavam sobre ele e ele continuou insistindo com o
laser e em nenhum momento tirou o laser dela e ele
pediu ajuda para identificar ele e fomos até o local
com o helicóptero para iluminar e para ele filmar.
J: Um dos seus colegas depôs antes do senhor
comentou que direcionar até uma coisa comum que o
pessoal para em seguida e neste caso? T: Ele insistiu muito.
A gente com a aeronave próxima e botou farol em
cima dele. Ele estava com lata, não sei que lata, e
jogou para baixo a lata, tem no começo da filmagem,
em nenhum momento ele desistiu, a gente foi embora
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ele continuou botando laser. Não era a primeira vez,


já tinha saído laser deste local na outra vez que
voamos ali. Nesta vez nós estávamos com a duas
aeronaves e conseguimos identificar.
J: Qual prejuízo que isto tem? T: Nossa aeronave
ocorreu vários riscos, se aproximou de vários prédios
e se aproximou da outra aeronave, que ao piloto
perde a referência que fica toda verde a cabine e tu
tem que orientar aeronave para esquerda, para
direita. Duas vezes eu tirei ele do local que se
aproximou da outra aeronave e do prédio. Que a gente
voa em local restrito.
Ives Cláudio Pacheco, major da Brigada
Militar:
J: O senhor era piloto do helicóptero Esquilo que
fazia a filmagem? T: Sim.
J: Como foi a questão do laser? T: Nós estávamos
fazendo operação de acompanhamento das
manifestações pró e contra o governo e em dado
momento eu percebi um feixe de luz verde na cabine
que clareia tudo dentro e é de fácil percepção. De
imediato, eu informei do laser e passamos a buscar a
origem. Identificada a origem, eu tive de direcionar
para outra aeronave para onde vinha o feixe e neste
momento foi quando passou a atingir diretamente a
mim. Eu tive de fazer manobra evasiva que eu perdi a
referência total da altura dos prédios e da iluminação
da cidade que me permite manter altitude em
segurança, eu tive de fazer manobras evasivas e
solicitei ao operador da câmara que focasse a origem
do feixe de luz por que simplesmente ele não
cessava. Que em geral é comum ser alvo disso, mas
bem rápido quando a gente vai tentar identificar
cessa a ação e não tem como chegar perto e ter maior
detalhamento. Nós ficamos em torno de 15 a 20
minutos em voo sendo alvo do feixe de luz. Nós
conseguimos captar bastante a ação e imagens. Que
acho que deve ter no processo a gravação do que foi
feita a partir do meu helicóptero.
J: A gente acompanha esta questão do feixe de luz
a laser nos estádio de futebol, pois direcionam no goleiro
para prejudicar a imagem em falta e escanteio. É o mesmo
tipo de equipamento? T: Exatamente igual. A mesma coisa.
São equipamentos que estão a disposição no camelô por
25,00 a 30,00 reais.
J: Chega a causar dano? T: Se ficar exposto
por um tempo contínuo pode. Eu dei aula na PUC a
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respeito disso, que tem alguns que dependendo da


distância acende um palito de fósforo, se ligar perto.
Este feixe de luz diretamente na vista, não a uma
distância muito grande, mas distância reduzida pode
causar dano.
J: Isto lhe daria cegueira momentânea? T: Eu
posso fazer relação bem fácil de compreender: Se o
senhor estiver no escuro e alguém tirar uma foto do
senhor com flash e em seguida acender a luz do
ambiente não vai enxergar nada por algum tempo, é
exatamente isto, por algum tempo a gente fica sem
enxergar nada, por alguns segundos. Numa operação
aérea voando a baixa altura uma aeronave que não
tem piloto automático, é tudo na mão isto causa um
risco bastante grande.
Robson Emanuel Leite Camargo, policial
militar:
J: Sua função é co-piloto da aeronave do
major Ives? T: Sim.
J: Aeronave? T: O Esquilo.
J: Que tinha a filmagem? T: Que tinha o Flyer que
faz a filmagem.
J: Quem estava com o senhor na barca de trás? T:
Estava o Camargo e o Resler eram os três tripulantes.
J: O que pode nos relatar sobre o laser? T: Nós
estávamos na manifestação de 17 de abril da
admissibilidade do impeachment nosso helicóptero
estava cobrindo a área central da Praça da Matriz e
outro helicóptero lá na Goethe e nós perceber que
determinado momento da operação de noite alguém
focava laser no nosso helicóptero na cabine e isto
gera incomodo e acaba ofuscando a nossa visão.
Direcionamos o helicóptero para localizar da onde
vem este feixe que na verdade é comum em Porto
Alegre, porém quando direciona a nave ao local cessa
e neste caso não cessou e continuou e com mais
precisão colocava na nossa visão na cabine e nos
prejudicando. Nós tentamos identificar e com uso do
Flyer identificado da onde vinha e solicitamos apoio
do helicóptero que estava na Goethe, que tem farol
de busca poderia luminar o local com mais precisão,
ele aproximou e iluminou o local e neste momento
através do Flyer foi possível identificar bem quem que
apontava o laser. O farol deixa como se fosse dia que
iluminou ele e dava para identificar bem. Na minha
frente na função de co-piloto tem tela joga toda a
imagem do flyer tanto para o Camargo lá atrás como
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para mim na frente e consegui identificar a pessoa


jogando que ele insistia e uma hora parou de colocar
para nós e colocava no helicóptero Coala que tinha o
farol. Ele bebia algo, jogou latinha, puxou celular,
filmou, mas nunca cessava a ação de continuar o laser
e até filmava e isto nos prejudicou a nossa atividade.
J: A navegação de vocês prejudicou? T: Com
certeza que nosso voo policial e razoavelmente baixo
para ter eficácia e passa perto de antenas e prédio e
isto prejudicou muito de subir. Com a ofuscação da
visão perde referência momento e perde altitude fica
titubeante e fica muito perigoso. O laser as campanha
são para a aviação comercial que o avião pousa e
decola em aeroporto e já é perigoso, mas para a
aviação policial é muito mais que nosso voo é baixo e
mais lento e buscando coisas em baixo. Prejudicou
muito.
Além desta farta prova testemunhal, a
conduta do réu restou filmada pelas próprias vítimas,
que se encontravam em aeronave com equipamento
próprio, como pode ser assistido no DVD de fl. 09 do
processo em apenso. Da análise desta filmagem,
constatam-se as condutas descritas, bem como pode
ser verificado o prejuízo a condução das aeronaves,
pois o feixe de laser tem um poderoso poder
ofuscante, o que prejudica de modo relevante a
condução do helicóptero ao qual direcionado, em
ambiente urbano e com vários prédios circundantes.
Consta-se, pois, a conduta típica, como
descrita por uma das testemunhas inquiridas ao
ensejo da instrução: nosso voo policial é
razoavelmente baixo para ter eficácia e passa perto
de antenas e prédios e isto prejudicou muito de subir.
Com a ofuscação da visão perde referência momento
e perde altitude fica titubeante e fica muito perigoso.
O laser as campanha são para a aviação comercial
que o avião pousa e decola em aeroporto e já é
perigoso, mas para a aviação policial é muito mais
que nosso voo é baixo e mais lento e buscando coisas
em baixo. Prejudicou muito.
Portanto, pelos fundamentos acima, tenho
como suficientemente comprovada a prática do delito
pelo acusado.
Quanto a tese defensiva de ausência de dolo,
esta não merece prosperar. Com efeito, muito embora
não se apresente desarrazoada a tese de que o
acusado não pretendia causar dano aos ocupantes da
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aeronave, tese esta esposada pelo agente ministerial


ao apresentar denúncia com pedido de arquivamento
pelo delito em que sobreveio o indiciamento, não se
pode afastar a intenção, censurável, de ofuscar a
visão dos policiais militares, o que, nas condições de
pilotagem em ambiente urbano, como alhures
esgrimido, os expôs a perigo concreto.
Por derradeiro, no que pertine a tese
pessoal, de que não recordava do fato, em
consequência da medicação que lhe é ministrada, de
igual modo, não restou evidenciada.
Como já apreciado em sede preliminar, ao
tempo em que esteve internado, período em que
ordinariamente ocorre a utilização da maior dosagem
medicamentosa, para rápido recrudescimento da
crise, não há qualquer registro de lapsos de memória
ou perda de consciência.
Se neste momento, nada vem referido, não
se constata razão para que tal desiderato viesse a
ocorrer em período ordinário, no qual o acusado
trabalhava normalmente.
Refiro, outrossim, que não há qualquer
elemento de convicção nos autos que ateste
tratamento no período imediatamente anterior ao
evento, pois a internação em nosocômio refere-se ao
período de 2008/2009, como atestam os documentos
de fls. 77,80/102.
Os atestados das fls. 78/79, bem como os
comprovantes de consulta de fls. 103/112, 155/162
são todos posteriores ao fato.
Não há qualquer evidência de que o acusado
estivesse em tratamento medicamentoso no período
anterior.
De outra banda, a defesa cingiu-se a acostar
bulas de medicamentos, sem sequer indicar qual a
intercorrência poderiam eles ocasionarem em nível de
consciência.
Por derradeiro, nenhum médico ou experto
veio a ser ouvido acerca da tese suscitada, de modo
que resta inviável a sua acolhida, nos termos do art.
156 do Código de Processo Penal.
Não é demais referir, ainda, que a lanterna
feixe de laser utilizada pelo acusado, consoante
imagem da fl. 48, momento em que filma com
aparelho celular o que ocorria, sequer foi encontrada
(vide auto de apreensão de fl. 36, que menciona a
localização de caixa cinza), o que denota de que
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ciente da possibilidade de consequências ao ato


perpetrado buscou-se livrar do artefato, conduta que
se coaduna com o relato da apreensão, em que o
morador se negou a abrir a porta, inclusive após
ligações ao seu telefone celular, sendo encontrado, ao
final, no quarto do apartamento.
Quanto a prova testemunhal produzida pela
defesa.
Alexandre Gaspary Haupt (fl.153) mencionou que
teria conversado com o acusado no dia seguinte ao fato,
quando este teria lhe mencionado “eu quase consegui”,
“quase consegui me matar, me jogar de cima do prédio”. Em
verdade, se está diante de um depoimento indireto, que se
limita a mencionar o que outra pessoa disse, no caso o réu.
O que se estranha, por um aspecto, é o teor da declaração,
na medida em que a filmagem apresenta uma pessoa
tranquila, que se movimenta com segurança no terraço, sem
qualquer indício de que corresse qualquer risco. Por outro
aspecto, o réu que diz não se lembrar do fato, agora o relata
a um terceiro.
Daniel Denardi (fl. 152v) que menciona um
comportamento diverso do réu quando do vendaval que
atingiu a cidade, em 29.01.2016, não refere qualquer lapso
de memória. Ademais, o comportamento afoito e passível de
se colocar em situação de risco é próprio das pessoas que
trabalham em gabinete, não em serviço de rua, como o réu
descreveu seu labor: trabalho na sala de monitoramento, eu
faço controle e fiscalização via sistema interno, trabalho
burocrático administrativo.
Daniel Silveira Costa (fl. 152) além de abonar a
conduta do réu cinge-se a afirmar que adquiriu-lhe um
medicamento, não trazendo qualquer informação relevante
ao processo.
Deste modo, por qualquer aspecto que se as
aprecie, não prosperam as teses defensivas, de modo que a
condenação se apresenta imperativa.
De rigor, pois, um juízo de reprovação a conduta
do agente.
Diante o exposto, julgo PROCEDENTE a ação penal
para condenar DANIEL ANTUNES BALDASSO, como incurso
nas sanções do artigo 261, por duas vezes, na forma do art.
71, todos do Código Penal (grifei).

Os depoimentos de ADEMAR REIS VARGAS, CRISTIANO


GLUCK RESLER, GIÓRGIO LEANDRO PALMA CAMARGO, HAMILTON

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FERNANDES EZEQUIEL PILA, IVES CLÁUDIO PACHECO E ROBSON


EMANUEL LEITE CAMARGO foram firmes e uníssonos no sentido do
cometimento pelo acusado da prática do crime previsto no art. 261 do CP.
Afirmaram que estão envolvidos nos fatos dois helicópteros da Brigada
Militar, um (esquilo) que estava monitorando as manifestações Pro Dilma,
nas proximidades do Centro e da cidade Baixa, equipado com câmera e
outro (Koala) que monitorava as manifestações Contra Dilma, na área do
parcão, moinhos de vento, equipado com farol de luz de busca.
Declararam que no dia do fato começou o helicóptero Esquilo a ser
atingido por feixe de luz de laser verde, momento em que foi solicitado o
auxílio do helicóptero Koala para iluminar, colocar farol em cima do local
onde estava apontado o laser a fim de poder identificar o autor e poder
filmar. Relataram que mesmo colocando farol no acusado, este
permaneceu apontando o laser durante todo o tempo para os dois
helicópteros. Afirmaram que o vôo ocorre razoavelmente baixo e lento
para ter eficácia e passa perto de antenas e prédios e que a luz do laser
prejudicou muito o subir, ressaltando que com a ofuscação da visão, a
cabine fica toda verde, perde-se a referência no momento e perde-se
altitude. Disseram que neste tipo de aeronave não há piloto automático,
que a sua pilotagem depende única e exclusivamente das habilidades dos
pilotos, e que uma tragédia maior foi evitada, devido a instruções
recebidas de um dos tripulantes acerca das manobras a serem realizadas
para não colidir com a outra aeronave, antenas ou prédios. Destacaram
que o feixe de luz prejudica a visibilidade dos pilotos e da tripulação,
ocasionando grandes dificuldades na pilotagem, pondo em risco real a
vida e segurança dos tripulantes e pessoas no solo. Afirmaram que nesse
meio tempo o acusado também bebeu algo, jogou latinha, puxou celular
e filmou. Afirmaram que a câmera do helicóptero Koala filmou toda a
ação do acusado.
As testemunhas de Defesa pouco contribuíram para a
apuração dos fatos. DANIEL DENARDI e DANIEL SILVEIRA COSTA, colegas

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do acusado, limitaram-se a abonar a conduta do acusado, afirmando que


o acusado possui depressão e faz uso de medicamentos para controle de
seu quadro de saúde. Já ALEXANDRE GASPARY HAUPT, amigo do acusado,
afirmou que na data do fato manteve contato telefônico com o réu, e que
ele falava “coisas muito desconexas”, dizendo, inclusive, “quase consegui
me matar, me jogar de cima do prédio”.
O acusado em seu interrogatório declara não se recordar dos
fatos, afirmando que já sofreu amnésia anterógrada em oportunidades
anteriores à data do fato, tendo tomado conhecimento deste por meio da
mídia. Relatou que iniciou tratamento para depressão em 2005 e trocou
de medicação algumas vezes, sempre com acompanhamento médico, e
que nunca foi necessário se afastar do trabalho.
A versão do acusado, em consonância com os depoimentos
das testemunhas de defesa, foi no sentido de que em razão de seu
quadro de saúde e uso de medicamentos teve seu discernimento
prejudicado em relação à conduta praticada. Registra-se que, como antes
dito, nada há nos autos a corroborar a alegação de inimputabilidade do
acusado na data dos fatos, pois os documentos juntados aos autos pela
Defesa comprovam a internação do acusado, em nosocômio, em período
muito anterior, entre os anos de 2008 e 2009 (fls. 77 e 80-102), e os
atestados acostados (fls. 78-79), bem como os comprovantes de consulta
(fls. 103-12 e 155-62) se referem a datas posteriores aos fatos.
O apelante em nenhum momento deixou de apontou o laser
às aeronaves, ainda que iluminado pelo farol identificador. Permaneceu
mudando a direção do feixe de luz, seguindo o vôo das aeronaves, com o
intuito evidente de prejudicar a pilotagem, já que não é esperado
qualquer outro resultado da conduta praticada. Diante disso, restou
demonstrado o dolo do acusado, representado pela vontade consciente
de expor a perigo aeronave alheia, por meio da conduta de apontar feixe
de laser às aeronaves, ofuscando a visão dos tripulantes.

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Não há dúvidas de que o acusado expôs a perigo aeronave


alheia, ao apontar artefato luminoso denominado Green Laser Pointer, em
direção a duas aeronaves da Brigada Militar, dificultando a visão dos
pilotos e, assim, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem.
Diante da suficiência de provas, vai mantida a condenação
do acusado pelo delito previsto no art. 261 do CP.
Passo à análise do pleito alternativo da defesa.
Muito embora se lhe seja imposto, efetivamente, o dever de
motivação1, “O Código Penal não estabelece rígidos esquemas
matemáticos ou regras absolutamente objetivas para a fixação da pena” 2,
determinando ao juízo, entretanto, com base nos vetores, estabelecê-la
conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do
crime3. Ainda assim, esse dever de motivação é temperado pela
possibilidade de readequação, em grau de recurso, com base na análise
do caso concreto4. Nessa linha, segundo o Supremo Tribunal Federal 5,
“Não há ilegalidade na fixação da pena-base acima do mínimo legal

1
STF, HC 122152/AL, Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julgamento em
07/10/2014.
2
STF HC 125197 AgR/PR, Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento
14/04/2015.
3
STJ, HC 259355/SP, Ministro Ericson Maranho, 6ª Turma, DJe 12/12/2014: “É
certo que o Magistrado deve dosar a sanção penal sempre se pautando pelos
critérios da proporcionalidade e razoabilidade, estabelecendo, de forma
fundamentada, o quantum da reprimenda suficiente para a reprovação e
prevenção do delito.”
4
STJ, HC 307365/PR - Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME - 5ª Turma - DJe
19/12/2014: Esta Corte Superior de Justiça já decidiu no sentido de que o
Tribunal de origem não está adstrito aos fundamentos da sentença de 1º grau,
uma vez que a apelação criminal tem efeito devolutivo amplo, possibilitando ao
Juízo ad quem a ponderação, segundo seu prudente arbítrio, acerca da
dosimetria da pena ou do regime inicialmente imposto, ainda que com novos
argumentos, desde que respeitados os limites da pena estabelecida no juízo de
origem.
5
STF, HC 126797 AgR/PR, Ministra Cármen Lúcia, Segunda Turma, Julgamento
07/04/2015.
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quando identificadas circunstâncias judiciais desfavoráveis e


6
específicas”.
A partir disso, o Supremo tem reiterado que, por se tratar de
matéria sujeita a certa discricionariedade judicial, “Cabe às instâncias
ordinárias, mais próximas dos fatos e das provas, fixar as penas e às
Cortes Superiores, em grau recursal, o controle da legalidade e da
constitucionalidade dos critérios empregados, bem como a correção de
eventuais discrepâncias, se gritantes ou arbitrárias”7. Embora não tão
restritivamente como no caso das Cortes Superiores 8, entendo que, em
espaços de discricionariedade, deve ser prestigiada a avaliação efetuada
pelo Juízo da origem, mais próximo à realidade dos fatos, só merecendo
ser alterada a pena aplicada na origem quando a reprimenda não for
arrazoada, proporcional ou contrariar disposição legal ou preceito
constitucional.
No presente caso, a pena foi fixada da seguinte forma (fl.
189):

A culpabilidade está bem determinada, visto que


imputável, consciente da ilicitude de sua conduta, sendo-lhe
exigível comportamento diverso, em conformidade com o
direito. A personalidade não evidencia anormalidade.
Conduta social sem elementos para aferição. Os
antecedentes são positivos. O motivo, as circunstâncias e as
consequências do delito não apresentam particularidades.
Não há, na espécie, influência de comportamento de vítima.
Diante das circunstâncias do art. 59 do Código
Penal, fixo a pena-base em 02 (dois) anos de reclusão, neste

6
Também o STJ no AgRg no HC 270.368/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 10/06/2014, DJe 20/06/2014: “A existência de
circunstância judicial sopesada, fundamentadamente, de forma
negativa a paciente, serve como justificativa para afastar a sanção-
básica do mínimo legal”.
7
STF, HC 125197 AgR/PR, Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento
14/04/2015.
8
STF, RHC 121774 AgR/PE, Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, Julgamento
18/11/2014: “A dosimetria da pena é questão relativa ao mérito da ação penal,
estando necessariamente vinculada ao conjunto fático probatório, não sendo
possível às instâncias extraordinárias a análise de dados fáticos da causa para
redimensionar a pena finalmente aplicada.”
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quantum restando definitiva considerando que já fixada no


mínimo legal (Súmula 231, STJ).
Tendo presente que se está diante de dois fatos,
idênticos, cometidos nas mesmas circunstâncias de tempo e
lugar, por força da regra do art. 71 do Código Penal, acresço
a reprimenda em 1/6, restando fixada em 2 (dois) anos e 4
(quatro) meses de reclusão, em regime aberto (art. 33, § 2º,
'c', do Código Penal).

Com relação ao pleito da defesa, deve-se destacar que ainda


que aplicada a atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III,
“d”, do CP, a pena-base já fora estabelecida no mínimo legal. Logo,
inviável a redução para aquém do mínimo legal, por inteligência da
Súmula 231 do STJ.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal:

AÇÃO PENAL. Sentença. Condenação. Pena privativa de


liberdade. Fixação abaixo do mínimo legal.
Inadmissibilidade. Existência apenas de atenuante ou
atenuantes genéricas, não de causa especial de
redução. Aplicação da pena mínima. Jurisprudência
reafirmada, repercussão geral reconhecida e recurso
extraordinário improvido. Aplicação do art. 543-B, §
3º, do CPC. Circunstância atenuante genérica não
pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo
legal. (RE 597270 QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO,
julgado em 26/03/2009) (grifo nosso)

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ROUBO


MAJORADO (ART. 157, § 2º, I e II, do CÓDIGO PENAL).
ATENUANTE GENÉRICA. ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL.
IMPOSSIBILIDADE. REGIME INICIAL FECHADO.
FUNDAMENTOS IDÔNEOS. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 1. A
atenuante genérica não pode conduzir à redução da pena
abaixo do mínimo legal (RE 597.270-QO-RG, Relator Min.
CEZAR PELUSO, DJe 5/6/2009). 2. A fixação do regime inicial
de cumprimento da pena não está atrelada, de modo
absoluto, ao quantum da sanção corporal aplicada. Desde
que o faça em decisão lastreada nas particularidades do
caso, o magistrado sentenciante está autorizado a impor ao
condenado regime mais gravoso do que o recomendado nas
alíneas do § 2º do art. 33 do Código Penal. Inteligência da
Súmula 719/STF. 3. Agravo regimental a que se nega
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provimento. (HC 144805 AgR/SP, Relator: Min. ALEXANDRE


DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 22/09/2017)

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EFEITOS INFRINGENTES.
CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. CONSTITUCIONAL E
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO NO QUAL NÃO SE INFIRMAM
TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO ART. 5º, INC. LV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA: AUSÊNCIA DE OFENSA
CONSTITUCIONAL DIRETA. IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DA
PENA ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL PELA APLICAÇÃO DE
ATENUANTE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL
SE NEGA PROVIMENTO. (ARE 971458 ED/SC, Relator(a): Min.
CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 21/06/2016).

Não há o que reparar na aplicação da pena.


Sendo assim, resta mantida a pena definitiva do acusado no
patamar fixado em sentença.
Ante o exposto, rejeito a preliminar e nego provimento ao
recurso da defesa, mantendo todas as disposições da sentença.

DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO (PRESIDENTE


E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ROGÉRIO GESTA LEAL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO - Presidente -


Apelação Crime nº 70074388117, Comarca de Porto Alegre: "À
UNANIMIDADE, REJEITARAM A PRELIMINAR E NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO."

Julgador(a) de 1º Grau: EDUARDO ERNESTO LUCAS ALMADA

21

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