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Joana a contragosto
1ª Edição
POD
Petrópolis
KBR
2011
Edição e revisão KBR
Editoração APED
Capa Caco Galhardo
ISBN: 978-85-64046-54-2
E-mail: marcelomirisola@yahoo.com.br
Para minha ilha desaparecida.
Um agradecimento
A Patrícia Cornils,
que teve o mesmo pesadelo que eu tive.
“Eis aí: somos escravos do desejo da fêmea, ou então não
somos nada. Meu velho pai já dizia: ‘Se te sentires surdo ao cla-
mor do belo sexo, melhor farás fechando-te no claustro. Todas
elas são umas vacas’... E eu, que nessa ocasião estava com uns 11
anos, acrescentei: ‘Graças a Deus!’”
Joana a contragosto 15
Uma noite carioca antiga 23
Quero tentar entender por que cheguei até aqui 27
Vila Madalena, há seis meses 31
Aqui estou, portanto 39
Eu só queria me livrar da noite 43
Cemitério São João Batista, meu melhor cartão postal 45
Borges, Poe, Vinicius. Um estupro. Um sonho. 49
Dois dias após a noite de chimpanzés 55
O pé na bunda 63
Antes 67
Faltavam quatro dias para o nosso encontro 75
Joana me amou muito mais do que eu poderia imaginar 81
Não foi pela foda que arranjamos 83
Ah, minha mulherzinha 85
E dói. E dói demais. 87
São Paulo, apesar de mim 91
A falta 99
A falta, ainda 105
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Eu gostaria de encerrar a questão nas loucurinhas,
biscatices e vaivéns de Joana 113
Óbvio que não sou o mesmo cara de antes 119
Sou a favor da queda livre 121
Rio de Janeiro, São Paulo 123
Depois de ouvir a última mensagem de Joana,
imaginei ela comigo aqui em São Paulo 125
Rio de Janeiro, uma semana depois do pé na bunda 127
Ponte aérea 135
Joana a contragosto
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Marcelo Mirisola
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Marcelo Mirisola
contra o gigante e ser maior que meus fogos, dividida apenas en-
tre nós dois chimpanzés, eu e Joana; uma realidade apartada do
talento e maior que a maldição — por que não? Será que Joana
teve ciência das desgraças e da grandeza que nossa foda poderia
suscitar?... minha suspeita é a de que ela talvez preferisse igno-
rar o que eu resolvi chamar de “os dados da maldição que con-
tém todo o milagre”... ou talvez não fosse o tempo dela ou talvez
tivesse uma percepção dissipada quando fugia do beijo... como
se adivinhasse abismos e se defendesse de si mesma e da minha
invenção — tanto faz — era tudo espiral, tesão e beijos fugidos e
Rio de Janeiro, e Joana não tinha nada a ver com isso! Ora, eu é
que havia incluído ela nessa história e havia me esporrado todo
e absolutamente sozinho (e da maneira mais patética, sertaneja e
previsível) dentro do seu útero... qual a parte dela? Bem, creio que
ela fez o que tinha que ser feito. Nada mais nada menos do que
me excluir junto com a indiazinha, minha ilha meia-boca que ela
matou com o comprimido do dia seguinte.
— Se eu fosse Joana, faria o mesmo, ainda que por instinto.
Daí que compartilhamos tacitamente invenção, aborto
e um amor que não sobreviveria à tesão, nem ao dia seguinte:
morreria antes mesmo de a carne ser apodrecida ou fecundada,
dava no mesmo. A culpa e a porra — todavia — eram minhas.
Não quero, agora, tripudiar de Joana mesmo porque ela já é uma
tripudiada por si mesma, porra-louca, ilha do abismo, tão ulu-
lante como a morte no dia seguinte, não, não vou fazer isso (por
enquanto o inferno é todo meu): merda! Fui eu quem a inventei,
fui eu quem lhe deu o abismo, a falta é minha: a enchi com minha
porra para me salvar (a mim, meu Deus! E não a ela...) da maldi-
ção que é sobrevoar os abismos e ser a não-língua, ir embora, não
dar telefone nem endereço... Como é que Joana pôde ter agido
dessa maneira?
À minha maneira, pois.
Eu não devia me espantar: ela cumpriu o itinerário que de-
via cumprir e que eu, em última análise, estabeleci para mim, que
é o itinerário do amor, cuja última estocada leva ao aniquilamen-
to... simples, o itinerário que elimina uns para inventar outros:
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