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Análise das Obras Indicadas ao Vestibular

Prof. Marco Antonio Mendonça


Negrinha (Contos) Monteiro Lobato

Pré-Modernismo:
O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma "escola
literária", ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário,
seguindo determinadas características.
Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa uma vasta produção literária
que abrangeria os primeiros 20 anos deste século. Aí vamos encontrar as mais variadas
tendências e estilos literários, desde os romancistas da linha realista; passando pelos poetas
parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a
desenvolver um novo regionalismo, além de outros mais preocupados com uma literatura
política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras.
Para efeitos didáticos, é o período que se inicia em 1902 com a publicação de dois importantes
livros - Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Canaã, de Graça Aranha - e se estende até o ano de
1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.
Politicamente, vivia-se o período de estabilização do regime republicano e a chamada "política do café-com-leite",
com a hegemonia de dois Estados da federação: São Paulo, em razão de seu poder econômico, e Minas Gerais, por
possuir o maior colégio eleitoral do país. Embora não tivesse absorvido toda a mão-de-obra negra disponível desde a
Abolição, o país recebeu nesse período um grande contingente de imigrantes para trabalhar na lavoura do café e na
indústria.

O Autor:
José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 (mas jurava “de pé junto” ter nascido em 1884) na cidade
de Taubaté. Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro Lobato, ele foi,
além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira, um dos personagens mais interessantes da
história recente desse país.
Em 1917, Lobato publicou o contundente artigo “ A Respeito da Exposição de Anita Malfatti: Paranóia ou
Mistificação?”, no qual criticou uma exposição de Anita Malfatti e a influência dos ‘futurismos’ nas obras da artista.
Para ele, cada arte, como as ciências, tem suas leis (proporção, simetria etc.), e Malfatti era excelente artista quando as
cumpria, tinha um “talento vigoroso, fora do comum”, porém, o escritor não gostava quando a artista se deixava
seduzir pelas vanguardas européias, assumindo, segundo ele, “uma atitude estética forçada no sentido das
extravagâncias de Picasso & Cia.”.
Nos anos seguintes, Lobato publicou seus primeiros livros: “Urupês”, “Cidades Mortas” e “Negrinha”. Segundo
Marisa Lajolo, Lobato, nestes livros, traz o melhor de sua literatura, principalmente em “Urupês” e “Negrinha”, nos
quais, segundo ela, "comparecem os diferentes brasis que até hoje, sob diferentes formas, assombram as esquinas da
nossa história. Os contos contam do trabalho do menor, do parasitismo da burocracia, da violência contra negros,
imigrantes e mulheres, da empáfia dos que mandam, do crescimento desordenado das cidades, da degradação
progressiva da vida interiorana; enfim, os contos contam do preço alto do surto de modernidade autofágica que
desemboca na crise de 30." Os dois livros mostram a "aguda sintonia de Lobato com um tempo que reclamava novas
linguagens" e marcam a vigorosa entrada no mundo literário brasileiro de um grande escritor que, segundo ele
mesmo disse, "talento não pede passagem, impõe-se ao mundo".
Logo depois ao glorioso início da carreira literária, Lobato viajou para os Estados Unidos, voltando somente em
1931. Lá enfrentou sérios problemas. Seu livro “O Presidente Negro” e o Choque das Raças” — uma história que
narra a vitória de um candidato negro à Presidência dos EUA — não foi muito aceito e acabou por custar-lhe grandes
desgostos, mas aqui, sempre foi um ardoroso defensor daquele país, chegando a afirmar, em carta enviada a Érico
Veríssimo, que considerava os "Estados Unidos como uma dessas famosas composições musicais que são impostas a
todos os grandes executantes a fim de tirar a prova dos noves fora do seu valor real, a rapsódia húngara de Lizt (sic),
certas fugas de Bach". Nessa mesma carta, ao comentar o novo livro de Érico, Lobato afirmou: "Escrever bem é
mijar. É deixar que o pensamento flua com o à vontade da mijada feliz."

Monteiro Lobato e o Petróleo


Quando regressou ao Brasil, em 1931, Lobato chegou com mais uma crença: acreditava piamente nas riquezas
naturais do país e na sua capacidade de produzir petróleo. Sofreu por isso. Foi um dos maiores defensores de uma
política que entregasse à iniciativa privada a extração do petróleo em solo brasileiro. Chegou a remeter uma carta ao
presidente Getúlio Vargas na qual denunciava o interesse estrangeiro em negar a existência do "ouro negro" no Brasil
e acabou detido no presídio Tiradentes de onde ele enviaria a seus amigos em todo o país cópias da carta que Getúlio
considerara "ofensiva". Monteiro Lobato seria preso novamente pelo mesmo motivo em 1941. Esta luta pelo petróleo
acabaria por deixá-lo pobre, doente e desgostoso.
“Um país de faz com homens e livros”
Grande parte da literatura de Monteiro Lobato sempre foi direcionada aos leitores pequeninos. Produziu durante
toda sua carreira literária 26 títulos destinados ao público infantil. É um dos mais importantes escritores da literatura
infanto-juvenil da América Latina e também do mundo. É considerado o “pai” da Literatura Infantil no Brasil.
Progressista inveterado, Lobato escreveu certa vez a respeito daqueles que são contrários às coisas novas a seguinte
frase: "O grande erro dessa casta de homens é confundir corrupção com evolução. Condenam as formas novas de
vida, que se vão determinando em conseqüência do natural progresso humano, em nome das formas revelhas.
Logicamente, para eles, o homem é a corrupção do macaco; o automóvel é a corrupção do carro de boi; o telefone é
a corrupção do moço de recados".
Monteiro Lobato morreu, vitimado por um derrame, às 4 horas da madrugada do dia 4 de julho de 1948, deixando
um legado de personagens que ficarão para sempre impregnados nas retinas de todos aqueles que tiveram e que terão
contato com as histórias do Jeca Tatu, do Saci, da Cuca, da boneca Emília, do Visconde de Sabugosa, da Narizinho, do
Pedrinho, da Tia Nastácia, da Dona Benta, entre outros tantos que habitam as obras deste que foi conhecido como “O
Furacão da Botucúndia”.

Negrinha
A Obra:
O livro de contos/crônicas Negrinha é composto de 22 contos/crônicas (alguns dos
quais, em uma primeira versão, já publicados em jornais em 1918) escritos e publicados
entre 1921 e 1942.
Este é o período anterior e posterior à viagem de Lobato aos Estados Unidos, e é por
conta disso que podemos encontrar contos tão distintos entre si na linguagem e na
temática. Alguns dos contos mais importantes da literatura adulta de Monteiro Lobato
estão reunidos nesta obra, entre eles o conto que dá nome ao volume: “Negrinha” (um
dos que mais emocionam), além do “O jardineiro Timóteo”, “O Colocador de
Pronomes” e “A Facada Imortal”.
Um fato curioso é que nesta obra, Monteiro deixa transparecer várias passagens de sua
vida como a Campanha pelo Petróleo, em “Quero Ajudar o Brasil”.

O Estilo:
Monteiro Lobato está situado em um período eclético denominado Pré-Modernismo. No entanto, é possível
encontrarmos no autor características realistas (análise psicológica e crítica social); acadêmicas, na linguagem bem
elaborada e “afrancesada” de alguns contos e mesmo anti-acadêmicas (o livro conta com um prefácio intitulado
“Monteiro Lobato e a Academia”, que expõe a relação do autor com a ABL. Teria se candidatado - sem vencer - em
1925, e teria recusado a indicação anos mais tarde, em 1944.

Contos:
Publicado inicialmente em 1920, hoje o livro tem 22 contos:
 Negrinha (3ª pessoa)  A Facada Imortal (1ª pessoa)
 As Fitas da Vida (1ª pessoa)  A Policitemia de Dona Lindoca (3ª
 O Drama da Geada (1ª pessoa) pessoa)
 Bugio Moqueado (1ª pessoa)  Duas Cavalgaduras (1ª pessoa)
 O jardineiro Timóteo (3ª pessoa)  O Bom Marido (3ª pessoa)
 O Fisco (3ª pessoa)  Marabá (roteiro de cinema)
 Os Negros (1ª pessoa)  Fatia de Vida (3ª pessoa)
 Barba Azul (1ª pessoa)  A Morte do Camicego (3ª pessoa)
 O Colocador de Pronomes (3ª  “Quero ajudar o Brasil” (1ª pessoa)
pessoa)  Sorte Grande (3ª pessoa)
 Uma História de mil anos (3ª  Dona Expedita (3ª pessoa)
pessoa)  Herdeiro de si Mesmo (3ª pessoa)
 Os pequeninos (1ª pessoa)
Análise dos Contos:
Negrinha (3ª pessoa)
Considerado um dos contos mais bonitos e tristes de toda a literatura brasileira, faz parte de várias antologias. O
conto segue a linha iniciada pelo Realismo, criticando a hipocrisia, a falsa moral dominante e a igreja, na postura do
padre que vê o que se faz na fazenda e não critica, pelo contrário, elogia a dona.
Uma menina de sete anos sem nome (Negrinha, órfã aos quatro), é criada pela patroa (Dona Inácia) que não gosta
de crianças e vive a dar “cocres” na menina. Perceba a ironia de Monteiro Lobato ao descrever a dona da fazenda:
“Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e
camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali
bordava, recebia as amigas, o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma –
“dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo.”
Já fora apelidada de tudo pelas outras empregadas: “Que idéia faria de si
essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo,
coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta,
sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo...”(...) até chegar na
“bubônica”, que ela gostou e que logo foi suprimido, pois“Estava escrito que
não teria um gostinho só na vida – nem esse de personalizar a peste...” Um
dia, ao chamar outra empregada de peste, foi obrigada a “esfriar um ovo cozido
na boca” como castigo.
Certo dezembro, duas sobrinhas da sinhá vieram passar férias. Ao perceber
que as sobrinhas não apanhavam Negrinha tentou se aproximar e foi rechaçada.
Chegaram os brinquedos e pela primeira vez na vida a pobre viu uma boneca.
As sobrinhas de Dona Inácia riam dela e foi o seu olhar de felicidade para a
boneca que amoleceu a patroa. Pela primeira vez descobriu-se humana...tinha uma alma. Brincaram as férias, as
meninas partiram, Negrinha começou a definhar e morreu. “Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como
um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas
louras, de olhos azuis. E de anjos....E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-
se agarrada por aquelas mãozinhas de louça – abraçada, rodopiada.(...) Depois, vala comum. A terra papou com
indiferença aquela carnezinha de terceira – uma miséria, trinta quilos mal pesados...”

As Fitas da Vida (1ª pessoa)


Uma narrativa “ruim”, com “quebra de linearidade”, mais crônica do que conto, feita em 1ª pessoa. Começa
seguindo a linha do elogio aos imigrantes que fizeram São Paulo no período do café, a partir da reflexão de uns
amigos sobre a “Hospedaria dos Imigrantes”:“ Era ali a porta do Oeste Paulista, essa Canaã em que o ouro espirra
do solo, era ali a ante-sala da Terra Roxa – essa Califórnia do rubídio, oásis cor de sangue coalhado onde cresce a
árvore do Brasil de amanhã...”
Para chegar a outra história; a que um ex-diretor da Hospedaria teria
contado ao protagonista: em 1906, chegou à casa um cego vindo do
Ceará. O flagelado teria vindo por engano, pois pediu que alguém o
mandasse ao “Asilo dos Inválidos da Pátria”: tinha servido na Guerra
do Paraguai. O cego diz que só um homem no mundo poderia ajudá-lo
naquele ‘imbróglio’: o “seu capitão”. Chamado – então – o diretor, que
veio conversar com ele, descobriu-se que ambos tinham servido no
mesmo batalhão, o 33 de São Paulo, e se lembravam de vários
comandantes.
O diretor, porém, critica-lhe o capitão mencionado e o cego se
revolta: “- Pare aí! Não blasfeme! O capitão Boucault era o mais leal
dos homens, amigo, pai do soldado. Perto de mim ninguém o insulta...”
O diretor continua a insultar o capitão para sentir até que ponto o cego defenderia o homem, pois era ele mesmo.
O Diretor Boucault o interna e paga sua operação de catarata, restituindo-lhe a visão.

O Drama da Geada (1ª pessoa)


Narrado em 1ª pessoa por um “hóspede” que conta uma história de geada (tão comum na época do café, por São
Paulo e Paraná), misturando estilo acadêmico com descrições da roça.
O mês é junho, ou seja, estamos em período de frio – e geada. Após uma descrição da fazenda, Quincas
(Joaquim) diz que tudo é obra sua e conta como tudo foi sendo feito desde a derrubada da mata até o momento em
que nos encontramos: um ano antes da primeira colheita, quando o café ainda é frágil e as esperanças são muitas. O
tempo todo Monteiro Lobato, filho e neto de fazendeiros de café e conhecedor daquela realidade, faz reflexões
sobre o papel do fazendeiro na fazenda e no Brasil: “O fazendeiro paulista é alguma coisa séria no mundo. Cada
fazenda é uma vitória sobre a fereza retrátil dos elementos brutos, coligados na defesa da virgindade agredida Seu
esforço de gigante paciente nunca foi cantado pelos poetas, mas muita epopéia há por aí que não vale a destes
heróis do trabalho silencioso. Tirar uma fazenda do nada é façanha formidável. Alterar a ordem da natureza,
vencê-la, impor-lhe uma vontade, canalizar-lhe as forças de acordo com um plano preestabelecido...”.
No entanto Quincas “entrou” em dívidas com “judeus franceses” para poder abrir a sua fazenda. Ela está
hipotecada.
Vem a geada, percebida na descrição perfeita do autor: “O relento estava de cortar as carnes – mas que
maravilhoso espetáculo! Brancuras por toda parte. Chão, árvores, gramados e pastos eram, de ponta a ponta, um
só atoalhado branco. As árvores imóveis, inteiriçadas de frio, pareciam emersas dum banho de cal. Rebrilhos de
gelo pelo chão. Águas envidradas. As roupas dos varais, tesas, como endurecidas em goma forte.”
Quincas sumiu e foi encontrado às três horas da tarde do dia seguinte no meio do cafezal com uma lata de tinta e
uma brocha nas mãos. “O major não deu conta da nossa chegada. Não interrompeu o serviço: continuou a pintar,
uma a uma, do risonho verde esmeraldino das venezianas, as folhas requeimadas do cafezal morto...”. Havia ficado
louco.
Em 1975, na região norte do estado do Paraná (inclusive Maringá e Londrina. Ver Box abaixo.), muita gente
perdeu tudo com a famigerada “Geada Negra”. Este episódio faz parte na nossa história e deve estar, de alguma
forma, ligado à sua família. Converse em casa. Mostre o conto e faça as inferências.

BOX: Memória

Foto: Arquivo - Museu Histórico de Londrina

A madrugada do dia 18 de julho foi de perplexidade. Nas horas mais frias os termômetros despencaram e de repente nada mais restou
Geada negra fez surgir um novo cenário agrícola no Norte do PR
16/04/2008

“Um verdadeiro cataclisma”. Assim noticiaram os jornais da época a respeito da geada negra que se abateu sobre o Norte do Paraná,
dizimando cerca de 850 milhões de pés de café e mudando definitivamente as configurações econômicas de Londrina e região.
Era dia 16 de julho de 1975. A geada chegou sinistra, disfarçada de chuva. No dia seguinte, em Curitiba, a neve caiu e o vento gelado cortou
todo o Paraná. Sem aviso, a geada queimou o “ouro verde” do Norte do Estado, esteio da cafeicultura brasileira.
No final da tarde o céu azul ficou marcado por manchas vermelhas que anunciavam a tragédia que ninguém queria aceitar. A madrugada do
dia 18, sexta-feira, foi de perplexidade. Nas horas mais frias os termômetros despencaram e de repente nada mais restou.
Diferente da geada normal, que em anos anteriores atingiu somente algumas áreas e permitiu que os pés de café rebrotassem, a geada
negra foi destruidora e torrou o pé de café das folhas até a raiz, sem chance de recuperação.
O Norte do Estado amanheceu, literalmente, coberto por uma mancha negra, que rapidamente se decompôs sob os raios do sol. Tudo o que
era verde morreu – não apenas o café, mas toda a vegetação que recobria a região.
No meio desse cenário, o então governador Jayme Canet Júnior desembarcou pesaroso no aeroporto de Londrina. Ele já havia sobrevoado –
durante cinco horas – toda a região do Norte do Estado e se dirigiu à sede imponente do Instituto Brasileiro do Café (IBC) para trazer a
confirmação daquilo que ninguém queria aceitar.
Londrina, que já ostentara com orgulho o título de “capital mundial do café”, depois da terrível geada era pura desolação.
No entanto, não demorou para a Cidade começar a se reorganizar dentro de uma nova realidade. Os agricultores substituíram o café pela
soja e o trigo, preferindo as lavouras mecanizadas, e dispensaram toda a mão-de-obra necessária que antes cultivava o café.
Logo no segundo semestre de 1975, a Transparaná, uma das principais revendedoras de maquinário agrícola, bateu recorde nas vendas de
tratores – não tinha nem como atender todos os pedidos.
Do dia para a noite, trabalhadores do campo ficaram sem trabalho.
Segundo especialistas, a geada de 1975 foi a responsável pela mecanização da agricultura no Paraná e também um dos motivos do rápido
crescimento de Londrina, que se transformaria nas décadas seguintes num dos mais importantes municípios do Sul do Brasil.

Fonte de pesquisa: Biblioteca Municipal de Londrina

Bugio Moqueado (1ª pessoa)


Começa com um jogo de “pelota em cancha pública”. A partir daí o narrador se desinteressa por seu jogo e passa
a ouvir uma história de dois sujeitos que conversavam à sua esquerda. Um deles disse ter sido testemunha de um
“causo”: “Vi a mártir, branca que nem morta, diante do horrendo prato...”
Em uma fazenda no Mato Grosso, um dos dois tinha ido ver uma boiada. O fazendeiro, coronel Teotônio, do
Tremendal, era um homem impressionante: “Barbudo, olhinhos de cobra muito duros e vivos, testa entiotada de
rugas, ar de carrasco...”
Após a “aparta”o fazendeiro convidou o “hóspede” para o jantar. Mesmo com repulsa, ele aceitou. Na mesa
havia “...feijão, arroz, e lombo, além dum misterioso prato coberto em que não se buliu.”
Após três pancadas na mesa entrou na sala de jantar uma mulher pálida como morta: esposa do fazendeiro. Ele
mesmo lhe serve do prato coberto, um petisco preto...que diz ser bugio moqueado, “Aqui a patroa pela-se por um
naco de bugio moqueado.”
Um dia, em Três Corações, o narrador empregou um preto de nome Zé Esteves. Perguntado se teria um irmão
para trabalhar, Zé Esteves disse que seu irmão tinha sido morto a rabo de tatu e comido. Leandro (o nome do irmão)
fora delatado como amante da mulher do coronel Teotônio, no Tremendal, acabou no tronco e foi morto em uma
surra de rabo de tatu. Sua carne fora moqueada e “todos os dias vinha à mesa um pedacinho para a patroa
comer...”

O Jardineiro Timóteo (3ª pessoa)


Outro dos contos mais líricos e poéticos do autor, considerado um dos mais bonitos da Literatura Brasileira.
Timóteo, “um preto branco por dentro”, cuida do jardim de uma fazenda há quarenta anos. Conhece as flores
“caipiras” como ninguém e as trata como seres humanos (chegando a conversar com elas). Cada canteiro, ou cada
grupo de flores ia sendo plantado conforme a vida ia transcorrendo
na fazenda, uma espécie de registro botânico da vida da família:
“Timóteo compunha os anais vivos da família, anotando nos
canteiros, um por um, todos os fatos dalgumas significações. Depois,
exagerando, fez do jardim um canhenho de notas, o verdadeiro
diário da fazenda. Registrava tudo. Incidentes corriqueiros,
pequenas rusgas de cozinha, um lembrete azedo dos patrões, um
namoro de mucama, um hóspede, uma geada mais forte, um cavalo
de estimação que morria – tudo memorava ele, com hieróglifos
vegetais, em seu jardim maravilhoso.”
A fazenda foi vendida, “certa manhã viu Timóteo arrumarem-se
no trole os antigos patrões, as mucamas, tudo o que constituía a
alma do velho patrimônio.” (...) “Os novos proprietários eram gente
da moda, amigos do luxo e das novidades. Entraram na casa com franzimentos de nariz para tudo.
– Velharias, velharias...
E tudo reformaram.”
Mandaram vir um jardineiro (Ambrogi) para traçar um plano novo para o jardim, imitando os modelos ingleses e
plantando as ultimas criações da floricultura alemã. O novo patrão mandou que o próprio Timóteo destruísse o
jardim, para ganhar tempo. Timóteo tem um acesso de raiva, diz que não destrói e roga uma praga na fazenda. Vai
embora e morre ao pé da porteira.
“Lá morre. E lá o encontrará a manhã enrijecido pelo relento, de borco na grama orvalhada, com a mão
estendida para a fazenda num derradeiro gesto de ameaça.”

O Fisco
Conto que tem início mostrando um São Paulo em transformação (início do século XX). Nele há registro da
chegada dos imigrantes e o surgimento dos bairros operários: “O Brás trabalha de dia e à noite gesta. Aos
domingos fandanga ao som do bandolim. Nos dias de festa nacional (destes tem predileção pelo 21 de abril:
vagamente o Brás desconfia que o barbeiro da Inconfidência, porque barbeiro, havia de ser um patrício), nos dias
feriados o Brás vem a São Paulo. Entope os bondes no travessio da Várzea e cá ensardinha-se nos autos: o pai, a
mãe, a sogra, o genro e a filha casada no banco de trás; o tio, a cunhada, o sobrino e o Pepino escoteiro no da
frente; filhos miúdos por entremeio; filhos mais taludos ao lado do motorista; filhos engatinhantes debaixo dos
bancos; filhos em estado fetal no ventre bojudo das matronas. Vergado de molas, o carro geme sob a carga e
arrasta-se a meia velocidade, exibindo a Paulicéia aos olhos arregalados daquele exuberante cacho humano.”
Descrições sobre as transformações na arte e no processo de
urbanização, além da influência cientificista.
Passando por uma avenida o narrador vê uma cena e faz a relação
biológica:“Fagocitose, pensei. A rua é a artéria; os passantes, o
sangue. O desordeiro, o bêbado, o gatuna são os micróbios maléficos,
perturbadores do ritmos circulatório.” Tratava-se de um menino
maltrapilho com uma caixa de engraxate feita com as própria mãos,
com os olhos cheios de lágrimas e desesperado. Não tinha licença para
trabalhar. Note que o conto começa pela prisão do menino e volta ao momento em que o pequeno nasce, após
reflexões sobre a cidade.
Usando a linguagem em “flash”, a mesma técnica que posteriormente seria usada por Oswald de Andrade em
Memórias Sentimentais de João Miramar, o autor descreve os motivos do nascimento de Pedrinho:
“Viram-se ele e ela. Namoraram-se. Casaram.Casados, proliferaram. Eram dois. O amor transformou-se em três.
Depois em quatro, em cinco, em seis... Chamava-se Pedrinho o filho mais velho.”
Pois é esse Pedrinho que vai preso por não ter licença para trabalhar como engraxate. Ele, ao nove anos, após
tentar comprar pão, percebe a pobreza dos pais e resolve ajudar. O pai se chama José, “perdeu aos poucos a
coragem, o gosto de viver, a alegria. Vegetava, recorrendo ao álcool para alívio de uma situação sem remédio.” E a
mãe, Mariana, tem 27 anos, mas aparenta o dobro. “A labuta permanente, os partos sucessivos, a chiadeira da
filharada, a canseira sem fim, o serviço emendado com o serviço, sem folga outra além da que o sono força,
fizeram da bonita moça que fora a escanzelada besta de carga que era”.
Pedrinho constrói uma tosca caixa de engraxate e sai pelas ruas disposto a ganhar dinheiro. É preso sem licença
por um fiscal que cobra multa de vinte mil réis. A mãe só tem dezoito, guardados para uma emergência. Dá o
dinheiro todo com lágrimas nos olhos. O fiscal – corrupto – vai beber toda reserva da pobre família em cerveja na
venda mais próxima.
“ Enquanto isso, no fundo do quintal, o pai batia furiosamente no menino.”

Os Negros (1ª pessoa)


Mais um “causo” que um conto, pois tem elementos da superstição cabocla. O narrador é um tropeiro que viajava
com outro pela região do café: “Viajamos certa vez pelas regiões estéreis por onde, há um século, puxado pelo
Negro, o carro triunfal de Sua Majestade o Café passou, quando grossas nuvens reunidas no céu entraram a
desmanchar-se.”Chegam a uma fazenda abandonada e mal assombrada de um tal de Capitão Aleixo. Lá encontram
um homem, o preto Bento, que morava em uma tapera, longe da casa grande.
Por causa da chuva,os dois têm que passar a noite ali. O companheiro do narrador (Jonas) começa a cismar e
“encarna” o espírito de Fernão, um jovem português que havia se apaixonado pela filha de Aleixo, Isabel. É esse
“espírito” que conta a história de sua paixão pela filha do patrão, ajudado
pela mulata Liduína, que convenceu a sinhazinha. Assim, o amor entre os
dois floresceu: “Tio Adão diz que o amor é doença. Que a gente tem
sarampo, catapora, tosse comprida, caxumba e amor – cada doença no
seu tempo.”
Quando o Capitão Aleixo soube, entrou no quarto de Fernão, amarrou-
o e sepultou-o vivo na parede. Quando o “espírito” termina a história, já
é dia e o preto Bento diz que Liduína morreu no chicote aos 19 anos. E
Isabel foi levada para a Corte e acabou num hospício. Jonas “acorda” do
transe, mas não se recorda de nada. Na viagem de volta ele conta o que
havia ocorrido a Jonas que: “riu-se á larga e disse, estendendo-me o dedo minguinho: - Morde aqui!...”

Barba Azul (1ª pessoa)


O narrador tem um amigo chamado Lucas, que sabe algumas histórias. Um dia, quando os dois estavam jantando
no Hotel d’Oeste, Lucas percebe uma pessoa no fundo do salão e se põe a falar dele. Seu nome é Pânfilo Novais e é
um homem de dinheiro que teve muitas mulheres. No entanto, segundo Lucas, é um homem de dinheiro, porque
teve muitas mulheres. Casava-se somente com as mais fracas e debilitadas, as que menos têm condições de terem
filhos para engravidá-las e ficar com a herança. Sua primeira esposa, por quem se casou apaixonado, chamava-se
Pequetita. Após este relacionamento, segundo Lucas, “o desastre do primeiro casamento criou-lhe no cérebro um
pensamento sinistro”: casa-se para “matar” as esposas sem ser condenado por crime algum.
No fim do conto, o narrador afirma ter visto novamente o sr. Pânfilo Novais na mesma mesa. Quando algumas
moças passaram por ali, “pela força do hábito o seu olhar mortiço mediu num relance as ancas de cada uma. Bem
feitas de corpo que eram, nenhuma o interessou – e seu olhar desceu calmamente para o jornal que lia.”

O Colocador de Pronomes (3ª pessoa)


Conta a história de Aldrovando Cantagalo, morador de Itaoca, estudioso de gramática: “...veio ao mundo em
virtude dum erro de gramática. Durante sessenta anos de vida terrena, pererecou como um peru em cima da
gramática. E morreu, afinal, vítima dum novo erro de gramática”.
Filho de um escrevente que ousou namorar (Laurinha) a filha mais moça do coronel Tiburtino de Mendonça, mas
que cometeu um erro de colocação pronominal ao escrever-lhe um bilhete e acabou casado com a mais velha (do
Carmo): “...encalhe da família, vesga, madurota, histérica, manca da perna esquerda e um tanto aluada.”
Do nascimento aos 40 anos nada aconteceu de importante ao professor Aldrovando. Aos 40 anos já conhece os
clássicos como ninguém. Briga pela pureza da língua, indo ao Congresso, para que os congressistas defendam o
idioma com leis repressivas. Foi também à imprensa, mas também não conseguiu permanecer com sua coluna.
Chegou a montar uma “Agência de Colocação de Pronomes e Reparos Estilísticos”, para consertar textos diversos.
Implica até com um ferreiro por conta de uma tabuleta onde se lia: “Ferra-se cavalos”.
Finalmente resolveu escrever “um vastíssimo programa de estudos filológicos” (...) “...três tomos de 500
páginas cada um, corpo miúdo.” Terminada a obra, nenhum editor quis publicá-la. O próprio Aldrovando pagou –
com dificuldade – a edição, dedicada a Fr, Luís de Sousa: “Á memória daquele que me sabe as dores, o Autor”. No
entanto o tipógrafo recompôs a frase a seu modo e a dedicatória saiu: “Á memória daquele que sabe-me as dores, o
Autor”. Quando Aldrovando recebeu os livros e sentou-se “...à velha mesinha de trabalho...” para fazer as
dedicatórias, leu a dedicatória modificada.
“Aldrovando não murmurou palavra. De olhos muito abertos, no rosto uma estranha marca de dor – dor
gramatical inda não descrita nos livros de patologia -, permaneceu imóvel uns momentos.
Depois, empalideceu. Levou as mãos ao abdome e estorceu-se nas garras de repentina e violentíssima ânsia.(...)
E morreu.”
Uma história de mil anos (3ª pessoa)
O conto é cheio de comparações com a natureza, bem ao gosto do romantismo, apesar de enveredar por uma
análise crítica realista.
Conta a história de Vidinha (comparada com a juriti: “a juriti, pombinha eternamente magoada. É toda us. Não
canta, geme em u – geme um gemido aveludado, lilás, sonorização dolente da saudade”; e com a begônia sensível
dos grotões.)
“Vidinha é a manhã da casa. Vive entre duas estações: a mãe – um outono, e o pai – inverno em começos. Ali
nasceu e cresceu. Ali morrerá. Inocente e ingênua, do mundo só conhece o centímetro quadrado de mundo que é o
pequeno sítio paterno. Imagina as coisas – não as sabe. O homem: seu pai. Quantos homens haja, todos serão
assim: bons e pais. A mulher: sua mãe – um tudo.”
Seduzida por um moço da cidade, é abandonada e morre. “Bonito moço da cidade. Bem falante, maneiroso –
uma sedução!”
O conto é cheio de comparações com a natureza, bem ao gosto do romantismo, apesar de enveredar por uma
análise realista.
Os pequeninos (1ª pessoa)
O narrador conta uma história de quando se encontrava no porto esperando um amigo que estava vindo de Londres
no navio Arlanza. O nevoeiro atrasou o navio em uma hora e o narrador saiu andando pelo porto e acabou ouvindo
duas histórias de três carregadores portugueses que ali estavam.
(Primeira) Um dos portugueses diz que tinha sido rico e que tinha vontade de ter uma ema. Um dia no campo viu
uma ema dando voltas em torno de si mesma, em frenesi. Como ela não fugiu, o português encontrou um pequeno
gavião (periperi) sob sua asa, comendo-lhe as carnes e chupando-lhe o sangue. Tratou da ema e teve a ave por alguns
meses.
(Segunda) Um outro diz que as formigas “...comeram-me a alma. Destruíram-me moralmente...”. Era responsável
pelo armazém da firma “Toledo & Cia”. Um dia contou a entrada de 32 sacos de arroz, mas tempos depois só havia 31
sacos para a saída. Foi injustiçado e, quando perguntado sobre o que deveria ser feito, respondeu: demissão.” Dois
anos depois foi chamado ao escritório e o caso, esclarecido: as formigas haviam esvaziado o saco, que se encontrava
vazio. As desculpas foram pedidas, mas o português não aceitou voltar: “O desastre matou-me por dentro. Um rato
roubou-me todo o arroz que havia dentro de mim. Deixou-me o que sou: carregador do porto, saco vazio.”
Quando o amigo (Marinho) chegou o narrador conta que ele estava magro, corcovado, dando-lhe uma péssima
impressão: “Hum! Sempre a mesma coisa – o pequenininho a derrear o grande. Periperi, saúva, bacilo de Koch...”.

A facada imortal (1ª pessoa)


O narrador começa narrando uma famosa partida de Xadrez realizada no século XVIII por Philidor André Danican,
conhecida pelo nome de “a pardida imortal”, para contar um “caso” ocorrido com um amigo falecido chamado
Indalício Ararigbóia, ex-professor de meninos que vivia de pequenos golpes. Indalício havia se especializado na “arte”
de tirar dinheiro dos outros (dar ‘facadas’, como se dizia à época para os golpes). Era um exímio “faquista”, segundo
o próprio narrador: “Indalício racionalizara a ‘mordedura’ ao ponto da sublimação. Citava filósofos gregos.
Mobilizava músicos de fama.” O próprio Indalício dizia: “Quando lanço a minha
facada, sempre depois de sérios estudos, a vítima não me dá o seu dinheiro,
apenas paga a finíssima demonstração técnica com que o tonteio.”
Um dia, porém, o narrador encontrou Indalício chateado. Havia errado a facada
contra Macedo, pois pedira dois contos e ele atendera prontamente. O faquista
percebeu que poderia ter tirado cinco contos e ficou deprimido com sua ‘atuação’:
“Estarei por acaso decaindo? Nada mais grotesco do que ferir em oitenta ao
otário cujo máximo é de cem. O bom atirador não gosta de acertar perto...” Só
havia uma solução para restaurar a confiança de Indalício, dar o golpe em Raul, o
mais pão duro dos amigos. Segundo a observação do faquista, Raul era difícil,
mas poderia render cinco mil réis. No dia combinado, Indalício entra no Bar Baron e exibe uma nota de cinqüenta mil
réis... a “facada imortal”, segundo o narrador.
Raul chega cabisbaixo e emite um “Pois é...” para o golpe, que faz todos rirem.

A Policitemia de dona Lindoca (3ª pessoa)


Dona Lindoca está para lá dos quarenta, apesar de se declarar com trinta e sete. Os filhos casaram e foram embora
de casa deixando-a sozinha com o marido (Fernando), que não é o mais atencioso dos homens. Como nunca tivera
tempo para prestar atenção, não notara que o marido tinha amantes até o dia em que flagrou um lenço perfumado no
bolso do paletó: “Coeur de Jeannette”.
Inquerido, Fernando jogou a culpa em uma ‘brincadeira’ do amigo Lopes. Em um momento de metalinguagem ele
dialoga com o leitor: “Há coisas inexplicáveis, por mais lépida que seja a presença de espírito de um homem
traquejado. Lenço cheiroso no bolso de marido que jamais usou perfume, eis uma. Põe em ti o caso, leitor, e vai
estudando desde já uma saída honrosa para a hipótese de te suceder o mesmo.”
O fato é que D. Lindoca era deixada de lado. Nem seu aniversário é lembrado. Neste dia diz que está sentindo-se
mal e que logo deixará Fernando livre para viver as “Jeannettes”. Não quer ir ao médico da família Dr. Lanson, pois
este tivera um caso com uma corista; prefere ir ao Lorena um “homem limpo, decente, um puro.”
No dia seguinte D. Lindoca vai ao médico e volta “radiante”, está com “policitemia”, uma doença de “fidalgos”,
rainhas, grã-duquesas... O médico quer conversar com o marido e diz que ela precisa de cuidados e mimos. A vida de
D. Lindoca mudou: os filhos passaram a visitá-la com freqüência e o marido passou a cuidar dela com desvelos de
namorado. Ela tinha até orgulho da doença e passou a exibi-la para todos: “ - Como me sinto feliz agora! – dizia. –
Mas para que nada haja de perfeito, tenho a policitemia. Verdade é que esta doença não me incomoda em nada. Não
a sinto absolutamente.”
Um dia o Dr Lorena fugiu para Buenos Aires com uma cliente, moça da alta sociedade. D. Lindoca fica indignada e
não aceita médico algum com vida duvidosa. Chamam o velho Manuel Brandão, professor da faculdade que atesta ser
a policitemia uma doença falsa: “- É o quarto caso de doença imaginária que o meu colega Lorena (aqui entre nós,
um refinadíssimo patife) leva a explorar durante meses.”
Tudo volta ao normal e “a infelicidade de dona Lindoca voltou com armas e bagagens, fazendo-a suspirar suspiros
ainda mais profundos que os de outrora. Suspiros de saudade. Saudade da policitemia.”

Duas cavalgaduras (1ª pessoa)


O narrador faz um resumo do conto “O Crime do Estudante Batista” de Ribeiro Couto. No conto um estudante vai
até um ‘sebo’ de um livreiro judeu e tenta vender a única coisa que tem para comprar comida: os livros. Como o judeu
mulato oferece somente quarenta mil réis (o estudante imaginava conseguir pelo menos duzentos!), ele estrangula o
judeu.
Após a leitura do conto o narrador sai à procura da loja, em frente ao Catete, onde encontra o ‘sebo’. Na vitrine, um
coelhinho de lã (do tamanho de um punho fechado) faz com que o narrador imagine o menino de quem o judeu tirara
o brinquedo. Em um exercício de imaginação vê Luisinho, a criança que leva tudo o que há em casa para vender, após
o desaparecimento do pai e a doença da mãe. A última coisa era o coelhinho. Em um momento extremamente delicado
ele descreve o momento de decisão: “O que chorou nessa manhã!
Como apertava contra o peito o amiguinho, sem ânimo de
notificá-lo da tragédia iminente. Resolveu mentir. - Sabe? – disse ao
coelho. – Vou por você numa casa que tem vitrina para a rua. Fica lá
sentadinho, a ver quem passa, os bondes, os automóveis tão
bonitos! E eu vou todos os dias espiar você através do vidro.”
O narrador entra na loja e quer comprar o coelhinho. Para a sua
surpresa ele não está à venda. O judeu havia colocado o brinquedo na
vitrine para tomar sol. Pertencera a um menino (Antoninho) criado
por sete anos pelo dono da loja, até o dia em que morrera de gripe
(espanhola). O narrador saiu da loja, foi ao correi e expediu um
telegrama ao autor do conto, onde escrevia: “Couto, somos duas
cavalgaduras!”

O bom marido ( 3ª pessoa)


O conto tem uma ambientação histórica, já que na farmácia os “amigos” discutem fatos do início do século XX,
como a Revolução Russa, A Primeira Guerra Mundial, os governos de Hermes da Fonseca e Venceslau Brás...
Teofrasto (Pereira da Silva Bermudes, “Magro, alto, arcado, feio. Bigodeira, orelhas cabanas, pastinha na testa.”)
é casado com Dona Belinha (Isabel), contra a vontade dos pais desta. “Marido de professora”, apesar de fazer o papel
de romântico e carinhoso, é pobre e pior...não quer trabalhar. Diz que procura emprego exaustivamente, mas nunca
encontra; apesar de ficar muito tempo fora de casa...na farmácia, discutindo política com os “amigos”. Com oito filhos
pequenos e “mais o nono, de bigodes”, Dona Belinha se põe a costurar à noite para aumentar a renda familiar, que já
não chega.
Um dia Dona Belinha se vê doente e sem condições de continuar a trabalhar. Escreve à família: “Fiz o que pude,
mas estou vencida. Não me queixo. Sou feliz, imensamente feliz. Teo me adora e faz o possível para colocar-se. Não
tem sorte. Persegue-o a mais cruel das fatalidades. Venham olhar por essas crianças, que o meu fim está próximo”
Após a morte da mulher, Teofrasto é expulso pelos pais de Belinha...encontra outra esposa, uma mulata doceira cuja
quitanda ia próspera...e reaparece na farmácia para discutir política, já esquecido da mulher e dos filhos.

Marabá (em linguagem cinematográfica)


A partir de uma explicação entre as diferenças de estilo entre o romantismo e o realismo, o narrador diz que tem um
romance (em estilo romântico) que pode ser transformado em filme. Não se pode esquecer que o cinema era uma
coqueluche na época; símbolo de modernidade e progresso, lotava as salas de projeção e gerava discussões acaloradas.
No roteiro do filme, o narrador-Monteiro Lobato começa descrevendo as cenas em que aparece uma índia Aimoré
(Iná) que se apaixona por um jovem guerreiro português prisioneiro e lhe facilita a fuga. Os dois se relacionam, a
jovem engravida e a criança nascida dessa mestiçagem é Marabá. (Lembre-se que há um poema de Gonçalves Dias
com esse mesmo nome e temática).
Um guerreiro (Ipojuca, filho do cacique Anhembira e seu sucessor) se apaixona por Marabá, que é loira. Moema, a
índia destinada a Ipojuca, desconfia do comportamento dele e o segue, denunciando à tribo onde se escondia Marabá.
Surpreendidos os amantes fogem e são perseguidos até um forte português. Os índios retornam. Ipojuca é ferido e o
casal é aprisionado. Para surpresa de todos o capitão do forte é pai de Marabá e a reconhece. Quando o pai a abraça,
Ipojuca de longe acha que o português quer roubar seu amor e lança uma flecha com as últimas forças. A flecha crava-
se no peito de Marabá ao mesmo tempo que o guerreiro morre na praia.
Esta linguagem cinematográfica é um recurso modernista que já havia sido usado na obra Memórias Sentimentais
de João Miramar, de Oswald de Andrade. É um recurso modernista, apesar da temática romântica.

Fatia de vida (3ª pessoa)


Uma análise sobre o senso comum da sociedade e a relação com aquelas pessoas que pensam livremente, como é o
caso do Dr. Bonifácio Torres, chamado por todos de esquisitão.
Enquanto todos acham que a caridade é a maior das virtudes,
Bonifácio se coloca contrário a esse pensamento. Contrariando o
que pensa um cônego, ele explica seu posicionamento usando
como exemplo uma lavadeira chamada Isaura, que teve 2 dos
seus 4 filhos mortos pela “caridade” de uma vizinha.
O caso se deu da seguinte forma: Isaura trabalhava para o
narrador lavando roupa para sustentar os quatro filhos. Porém
um dia ela não apareceu. Três semanas depois ela reaparece
(envelhecida 20 anos) e conta que todos os filhos pegaram gripe
(espanhola -1918); uma vizinha de Isaura, “caridosa”, telefonou
para um posto médico solicitando assistência. Quando a
ambulância veio, Isaura não estava e os filhos foram levados
para o Hospital da Imigração. Isaura correu ao hospital. Não deixaram que ela visse os filhos, mas ficou sabendo que a
de dezesseis anos estava com tifo.
Após conseguir uma carta de apresentação ela descobre que a filha havia morrido (sequer lhe dizem qual). No outro
dia a mesma coisa: corre ao hospital para saber que seus dois filhos tinham sido transferidos ao Hospital do
Isolamento...(dois?), pois a netinha também tinha morrido. Após a gripe os filhos voltaram cadavérico...tudo por causa
de uma vizinha que quis fazer o bem.

Para saber mais:


A Gripe Espanhola (1918 - 1919) matou 50 a 100 milhões de pessoas em menos de 2 anos. Entre 1918 e 1919 a
epidemia de Gripe Espanhola matou mais pessoas do que Hitler, armas nucleares e todos os terroristas da história
somados. No Rio de Janeiro, morreram 17 mil pessoas em dois meses. Os familiares, desesperados, jogavam seus
mortos na rua com medo de contrair a doença.
A influenza espanhola era mais severa que a gripe comum, mas tinha os mesmos sintomas iniciais como garganta
dolorida, dor de cabeça e febre. Mas comumente em muitos pacientes a doença progredia para algo muito pior do que
espirros. Calafrios intensos e fatiga vinham acompanhados de fluido nos pulmões. Se a gripe passava do estágio de
pequena inconveniência geralmente a pessoa já estava pré-destinada a morrer. Fonte: http://hypescience.com/como-
foi-a-gripe-espanhola-de-1918/

A morte do Camicego (3ª pessoa)


Um conto/crônica de fundo moral revelando que nossos “monstros” e “medos” são muitas vezes criados por nós
mesmos: “Os homens, crianças grandes, não procedem de outra maneira. Os seus mais
temerosos Camicegos saem-lhes morcegos relíssimos, sempre que uma boa vassourada da
crítica os pespega para cima da mesa anatômica...”
As personagens do conto são os filhos de Monteiro Lobato. Edgard tinha inventado um
“monstro devorador de gente” na fazenda e dado a ele o nome de Camicego...do tamanho
do morro que se avistava do casarão. A irmã, Marta, cinco anos, ficava assombrada quando,
todas as noites, na rede da sala de jantar, Edgard contava os feitos do monstro.
Monteiro usa este pretexto para descrever os brinquedos e a imaginação das crianças:
“sabugos de milho representando grandes personagens da fazenda – Anastácia, a
cozinheira; Esaú, o preto tirador de leite; Leôncio, o domador. Quando comparecia à mesa
este herói, não deixava de figurar também, solidamente amarrado a um pé de cadeira, o
último animal que ele amansara. Este último animal era o mesmo chuchu com quatro
palitos à guisa de pernas, uma pena de galinha como cauda e três caroços de feijão
figurando boca e olhos...” Não se deve esquecer que Monteiro Lobato é o “pai” da Literatura Infantil no Brasil, e
autor do conjunto de novelas intitulado Reinações da Menina do Narizinho Arrebitado, inspirado na infância de seus
próprios filhos e dele no Sítio do Pica-Pau Amarelo, de propriedade familiar.
Um dia um morcego aparece na casa e leva uma vassourada. Estando para morrer no quintal, Edgard reconhece
nele o seu Camicego; pega o “monstro” e o leva para dentro de casa. Um adulto chega, espanta as crianças e joga o
bicho por cima do muro. As crianças acham o bicho e tentam abri-lo. É Anastácia, a cozinheira (imortalizada em sua
obra infantil) que dispersa as crianças e joga o “monstro” em cima do telhado, onde não assustará mais ninguém.

“Quero ajudar o Brasil” (1ª pessoa)


Outro conto mais com jeito de crônica, retratando o período em que Monteiro Lobato gastava sonhos, tempo e
dinheiro na busca de petróleo, pela então “Companhia de Petróleos do Brasil”. Vindo dos Estados Unidos o
autor/narrador viu a possibilidade do crescimento do Brasil a partir da matriz energética do petróleo. Juntou alguns
amigos (Oliveira Filho e Pereira Queiroz), vendeu algumas propriedades e fundou a companhia. Compraram uma
perfuratriz e...faliram. Mesmo assim, a visão de futuro do autor antecipou aquilo que viria ser uma das maiores
empresas brasileiras: a Petrobrás; e lhe valeu o apelido de “Furacão na Botucúndia”
O conto/crônica relata um acontecimento desta época. Como todos iam contra a empreitada (Governo, bancos,
empresários...), os fundadores resolveram abrir ações da empresa sem garantia: se ela desse certo, todos ganhavam; se
não desse, todos perdiam. Por incrível que pareça, a franqueza trouxe muitos investidores que eram alertados sobre o
risco de perder todo o dinheiro empenhado. Tudo ia bem quando:
“Certo dia entrou-nos pela sala um preto modestamente vestido, de ar humilde. Recado de alguém, certamente.
– Que deseja?
- Quero comprar umas ações.
- Para quem?
- Para mim mesmo.
Oh! O fato surpreendeu-nos. Aquele homem tão humilde a querer comprar
ações. E logo no plural. Queria duas, com certeza, uma para si e outra para
a mulher. Isso importaria em duzentos mil réis, quantia que já pesa num
orçamento de pobre...(...)
- Quantas ações quer? Duas?
- Quero trinta.”
O negro havia juntado o dinheiro de toda a vida na Caixa Econômica: três
contos de réis. Monteiro e os sócios se empenham em fazer o negro desistir
do negócio, pois sabiam do risco. O homem, no entanto, é irremovível. Não
quer ficar rico, mas quer... “ajudar o Brasil...”
Monteiro faz uma reflexão crítica (racista, é verdade, mas) que cabe aos
nossos dias: “Ficamos a olhar uns para os outros, sem palavras. Que
palavras comentariam aquilo? Essa coisa chamada Brasil, que é de vender,
que até os ministros vendem, ele queria ajudar... De que brancura
deslumbrante nos saíra aquele negro! E como são negros certos ministros
brancos!”
Coram essas palavras que moveram os amigos a continuarem na busca do petróleo. Monteiro chega a dizer que um
dia o nome dele seria revelado, pois o primeiro poço de petróleo em São Paulo teria o nome dele. Como sabemos a
empreitada não deu certo, a companhia faliu e Monteiro foi preso. O negro....

Sorte grande (3ª pessoa)


Mais um conto em que a doença de alguém, vista como algo ruim, é, na verdade, algo de que se pode tirar proveito
(como na policitemia de Dona Lindoca).
Maricota, filha mais velha de Dona Teodora (viúva de um ex-arrecadador de tributos municipais chamado Moura e
mãe de sete filhos), desenvolve uma rara anomalia (cresce-lhe o nariz). Sem muitos recursos para tratar-se, é
ridicularizada na pequena cidade em que vive com a família (“numa quieta cidadezinha entrevada, dessas que se
alheiam do mundo com a descrição humilde dos musgos”(...) chamada “Santa Fé”). Para desgraça de Maricota, os
mais galhofeiros chegam, inclusive, a inserir o nariz de “rabanete” entre os pontos a serem vistos na cidade.
Um dia, porém, Maricota viaja para uma cidade próxima para ser consultada por um médico, o doutor Clarimundo.
Foi sozinha, pelo rio São Francisco, pois a viagem e o tratamento eram caros. No “gaiola” foi vista por um jovem que
se apresentou como médico (Dr. Cadaval Lopeira) e disse estar profundamente interessado no caso: por ser uma
doença rara o médico viu a possibilidade de ficar famoso com a doença de Maricota, segundo ele, um “rinofima”.
Maricota explica-lhe que é pobre, mas o médico diz que tudo correrá por sua conta. Tal é o entusiasmo do moço que
ela até fica orgulhosa de sua doença. Os outros passageiros até começam a invejar uma moça que teve o destino tão
radicalmente transformado por um doença: iria para a Capital, o Rio de Janeiro!
Maricota passa a fazer exigências ao doutor Cadaval: tem dois irmãos e quatro irmãs e precisa “colocá-las” no Rio.
O doutor “dá um jeito” para “arranjar” a vida de todos. Antes de se entregar ao tratamento e exibir na Academia de
Medicina o seu rinoma, impôs as condições prometidas ... e ainda se lembrou de dois primos. Acertadas as vidas de
todos (menos dos dois primos!), o sucesso de Cadaval foi estrondoso, apareceu em várias revistas médicas e jornais.
Maricota ainda tenta atrasar a operação para ver se consegue mais alguns benefícios, mas é convencida pela mãe.

Dona Expedita (3ª pessoa)


A história é de Dona Expedita, uma senhora que já beira os sessenta anos, mas insiste em dizer que tem trinta e seis.
Não teve estudo, por culpa de seu pai e é solteira. Para viver, emprega-se como criada ou dama de companhia pelo
preço que varia de 80 a 120 mil réis... e não gosta de ser explorada. Faz uma série de exigências toda vez que vai à
procura de uma colocação e muitas vezes nem se presta ao papel de começar a trabalhar, quando sente que algo pode
dar errado. “O hábito de lidar com patroas manhosas levou-a a lançar mão de vários recursos estratégicos; um
deles: só ‘tratar’ por telefone e não dar-se como ela mesma. ‘Estou falando em nome duma amiga que procura
emprego’. Desse modo tinha mais liberdade e jeito de sondar a ‘bisca’”
Um dia ela telefona para uma agência colocando-se à disposição para trabalhar por 200 mil réis “em casa de gente
arranjada, fina, e se for possível, em fazenda. Serviços leves, bom quarto, banho.” Horas depois a campainha tocava e
uma senhora alemã entrava na casa. Conversam animadamente e a senhora concorda com tudo que Expedita quer.
Chega, inclusive a fazer algumas considerações: “..afinal de contas uma criada é gente – não é burro de carroça.”
(...) “...Nunca pude conformar-me com isso das patroas meterem as criadas em desvãos escuros, sem ar, como se
fossem malas.” (...) “...Como pode haver asseio numa casa onde nem banheiro há para criadas?”
Ledo engano, ao final do conto as duas (e o leitor) descobrem que houve um erro na agência, que mandou uma
empregada para a casa de outra. “O cômico da situação fé-las rirem-se e gostosamente...” Depois que a alemã foi
embora Dona Expedita diz:
“ – Que pena, meu Deus! Que pena não existirem no mundo patroas que pensem como as criadas...”

Herdeiro de si mesmo (3ª pessoa)


O “Coronel” Luércio Moura enriqueceu a partir dos 36 anos, impulsionado por uma “força”. Bêbado e enganado
por um corretor, comprou um casco de navio naufragado e encalhado (por sorte às vésperas da guerra), investiu o
dinheiro conseguido com a venda em Marcos alemães e os vendeu na “a alta”.
Aos 60 anos, Lupércio é um homem muito rico, mas foi tomado de pavor: “pavor de ter de largar a maravilhosa
fortuna reunida. Tão integrado estava no dinheiro, que a idéia de separar-se dos milhões lhe parecia uma aberração da
natureza. Morrer! Teria então de morrer, ele que era diferente dos outros homens? Ele que viera ao mundo com a
missão de chamar a si quanto dinheiro houvesse?”
Lupércio começou a se espiritualizar...começou a estudar o espiritismo e a doutrina da reencarnação. Lia tudo o que
lhe caía nas mãos. Já estava ficando um sábio. O que Lupércio queria saber era se : “a alma de um vivo pode, antes de
morrer, marcar a mulher que vai ter um filho em que essa alma se encarne.”
Doente, Lupércio pretendia fazer-se herdeiro de si mesmo, encarregando o Dr. Dunga, diretor do Centro Espírita, de
encontrar a mulher em que seu espírito iria se reencarnar.

Exercícios:

01. (UEL) Nas duas primeiras décadas de nosso século, as obras de Euclides da Cunha, de Monteiro Lobato e de Lima
Barreto, tão diferentes entre si, têm como elemento comum:

a) A intenção de retratar o Brasil de modo otimista e idealizante.


b) A adoção da linguagem coloquial das camadas populares do sertão.
c) A expressão de aspectos até então negligenciados da realidade brasileira.
d) A prática de um experimentalismo lingüístico radical.
e) O estilo conservador do antigo regionalismo romântico.

02. Sobre o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, pode-se assinalar como correta:

a) Considerado um dos contos mais bonitos e tristes de toda a literatura brasileira, faz parte de várias antologias. O
conto segue a linha iniciada pelo Realismo, criticando a hipocrisia, a falsa moral dominante e a igreja, na postura do
padre que vê o que se faz na fazenda e não critica, pelo contrário, elogia a dona.
b) Uma menina de sete anos sem nome (Negrinha, órfã aos quatro), é criada pela patroa (Dona Inácia) que não gosta
de crianças e vive a dar “cocres” na menina
c) Há uma postura irônica que lembra o realismo em:“Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo,
amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono
(uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas, o vigário, dando audiências, discutindo o
tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo.”
d) O narrador faz várias interferências no correr do conto, como em: “Que idéia faria de si essa criança que nunca
ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-
morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo...”(...) até chegar na “bubônica”, que ela gostou e que logo
foi suprimido, pois “Estava escrito que não teria um gostinho só na vida – nem esse de personalizar a peste...”
e) Certo dezembro, duas sobrinhas da sinhá vieram passar férias. Ao perceber que as sobrinhas não apanhavam
Negrinha tentou se aproximar e foi rechaçada pelas meninas. Não agüentando o preconceito, começou a definhar e
morreu. “Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém
morreu com maior beleza.”

03. Hábil contista, Monteiro Lobato prossegue, em Negrinha, a linha iniciada com Urupês, acentuando sua verve de
“contador de causos”. Sobre Negrinha e seus contos, pode-se afirmar que:
(01) o conto que dá nome ao livro de Monteiro Lobato é extremamente lírico, triste e conta a história de uma menina
que nunca teve a felicidade de brincar. Morre após ter passado um “dezembro” em companhia de duas sobrinhas da
dona da fazenda e de uma boneca.
(02) no conto O Jardineiro Timóteo, o velho jardineiro faz do jardim uma espécie de história botânica dos
acontecimentos da fazenda. Após a propriedade ser vendida ele aceita placidamente a transformação do jardim de
flores “caipiras” em um jardim mais vistoso.
(04) no conto O Colocador de Pronomes, Aldrovando Cantagalo é um fanático pelo uso da gramática da língua
portuguesa. Sofre muito com isso, pois é desprezado e ridicularizado, mas faz publicar um livro.com um erro de
colocação pronominal que custa sua vida.
(08) em Herdeiro de si mesmo, o Coronel Lupércio Moura enriqueceu após os 36 anos, impulsionado por uma “força”
(comprou um casco da navio e vendeu o ferro durante a guerra). Após os 60 anos passou a estudar o espiritismo, pois
queria entender a reencarnação, para deixar a herança para si mesmo.
(16) No conto Dona Expedita, uma empregada de quase 60 anos insiste em dizer que tem 36 e quer um emprego com
ótimas acomodações e salário. Uma moça aparece para falar sobre o trabalho e as duas se entendem perfeitamente
bem...pela primeira vez uma patroa respeitava as empregadas. Ledo engano, a moça viera enganada, era uma criada
também.

04) O conto O Drama da Geada, de Monteiro Lobato

(01) é narrado em 1ª pessoa por um “hóspede” que conta uma história de geada (tão comum na época do café, por São
Paulo e Paraná), misturando estilo acadêmico com descrições da roça.
(02) após uma descrição da fazenda, Quincas (Joaquim) diz que tudo é obra sua e conta como tudo foi sendo feito
desde a derrubada da mata até o momento em que nos encontramos: um ano antes da primeira colheita, quando o café
ainda é frágil e as esperanças são muitas.
(04) Monteiro Lobato, filho e neto de fazendeiros de café e conhecedor daquela realidade, faz reflexões sobre o papel
do fazendeiro na fazenda e no Brasil: “O fazendeiro paulista é alguma coisa séria no mundo. Cada fazenda é uma
vitória sobre a fereza retrátil dos elementos brutos, coligados na defesa da virgindade agredida Seu esforço de gigante
paciente nunca foi cantado pelos poetas, mas muita epopéia há por aí que não vale a destes heróis do trabalho
silencioso. Tirar uma fazenda do nada é façanha formidável. Alterar a ordem da natureza, vencê-la, impor-lhe uma
vontade, canalizar-lhe as forças de acordo com um plano preestabelecido...”
(08) a geada é percebida na descrição perfeita do autor: “O relento estava de cortar as carnes – mas que maravilhoso
espetáculo! Brancuras por toda parte. Chão, árvores, gramados e pastos eram, de ponta a ponta, um só atoalhado
branco. As árvores imóveis, inteiriçadas de frio, pareciam emersas dum banho de cal. Rebrilhos de gelo pelo chão.
Águas envidradas. As roupas dos varais, tesas, como endurecidas em goma forte.”
(16) Quincas consegue se recuperar e vence as adversidades impostas pelos judeus que hipotecaram a fazenda, afinal a
geada nunca foi páreo para o fazendeiro, comparado a um herói desbravador.

05. Sobre os contos “Bugio moqueado” e “O colocador de pronomes”, integrantes da coletânea Negrinha, de
Monteiro Lobato, assinale o que for correto.
Moquear: assar ou tostar em uma espécie de grelha de paus apropriada para preparar carne ou peixe.
(01) O conto “O colocador de pronomes”, ambientado na segunda metade do século XIX, ocupa-se da história de
Aldrovando Cantagalo, um professor de gramática, obcecado por detectar erros de colocação pronominal nos jornais
da época.
(02) No que diz respeito à linguagem, o narrador do conto “O colocador de pronomes” utiliza, em uma espécie de
estratégia narrativa, dois estilos diferentes. Um, bem ao gosto de alguns escritores pré-modernistas, como Lima
Barreto, apresenta-se próximo ao falar culto urbano, coloquial e desafetado; o outro, grandiloqüente, é marcado pelo
rebuscamento e pelo purismo da língua e se aproxima do modo de falar do protagonista Aldrovando Cantagalo.
(04) Dentre as funções assumidas pelo narrador do conto “O colocador de pronomes” está a de contar, ou de
documentar, a história de vida de Aldrovando Cantagalo, a fim de que ele possa, um dia, ser canonizado como o
primeiro santo da gramática, o mártir da colocação pronominal.
(08) O conto “Bugio moqueado” é construído a partir da estratégia da narrativa enquadrada, ou seja, a da história
dentro de outra história. A primeira história focaliza um jogo de pelota em que o narrador do conto se interessa pela
conversa de dois outros torcedores, tendo em vista a admiração e o espanto demonstrado por um deles em relação ao
que o outro contava. A segunda história é a principal e gira em torno da morte de um rapaz, a rabo de tatu, depois
moqueado e comido por uma mulher.
(16) O conto “Bugio moqueado” é narrado em primeira pessoa por um narrador testemunha que confere ao texto um
tom de brincadeira e de descontração, visivelmente contrastante com a matéria narrada. O leitor, em determinada
altura da narrativa, é levado a crer que se trata de uma espécie de brincadeira ou de piada, quando, na verdade, trata-se
de uma história de violência e de sadismo.

Gabarito:

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