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“They were lovely, your eyes, but you didn't know where to look.”
(George Seferis)
Na senda cronológica de 500 anos, atenda-se aos cerca de 105 autores que, no tempo
presente, quanto nas 3 décadas anteriores, desenvolvem atividade artística onde se
reflete ou acontece, de um ou outro modo, a presença do desenho.
Os 1º e 2º Núcleos foram apresentados no Museu das Belas Artes (FBAUP), encerrada
a mostra em finais de Abril.
O 3º Núcleo da Exposição resulta do trabalho curatorial de Ana Paula Machado, Laura
Castro e meu, estando patente no Museu Nacional de Soares dos Reis até 24 de Junho.
O presente texto aborda casos de obras e artistas – situados entre finais de 1970 e a
atualidade, contextualizando novos paradigmas para o entendimento do que seja o
desenho hoje.
O acervo da FBAUP passa a abranger autores que, generosamente, doaram obras
pessoais, tornando visíveis novas conceções e produtos artísticos, através de seus
desenhos multiformes e pluridisciplinarizados.
O desenho, na contemporaneidade e no presente, assumiu uma autonomia, à
semelhança do sucedido com disciplinas científicas, como foi caso, da estética
relativamente à filosofia. O desenho deixou de ser considerado como fase intermedial
ou preparatória para concretizar uma expressão artística finalizadora. Os artistas, ao
longo do século XX, “descobriram” o desenho, muito em particular – e na perspetiva
emancipatória, depois dos anos 50. Até à atualidade, tal posicionamento e convição
vieram a consolidar-se através de algo tão simples quanto a decisão assegurada,
fundada na intencionalidade que a move. Não importa tanto o que é o desenho (o que
nele se reconhece, o que representa) mas como é. É relevante o “como” do
desenhado, mais do “que é” desenhado. Constata-se uma lógica, uma coerência, um
plano implícitos, que lhe estão subjacentes, determinando a sua essência enquanto
desenho para uma atualidade (na sequência do desenho dito contemporâneo).
Envolve escolhas e deliberações lúcidas por parte dos artistas (como assinalei antes). 1
1Margaret Davidson, Contemporary Drawing – key concepts an techniques, N.Y., Watson-Guptill, 2011.
2 Ian Berry and Jack Shear, « Introduction », Twice Drawn – Moderna and contemporary Drawings in
context, The Francis Young Tang Teaching Museum and Art Gallery at Skidmore College and Prestel
Verlag, Munich, London, N.Y., 2011, p.9.
distanciamento e perspetiva. O desenho implica, assim, uma ação por parte do
espetador, tornando-o protagonista de um ato de conhecimento singularizado. O
desenho constrói, por assim dizer, identidades diferenciadas perante uma mesma
proposta gráfica. Ou seja, o desenho rege a constituição de uma linha de movimento
do corpo do espetador, sua cativação e sequencialidade no ato de ver. [« J’ai
découvert que dessiner n’était pas seulement/regarder, mais aussi toucher. » Jan
Fabre] Neste sentido, “ver” um desenho será efetivamente “desenhar”, pelo
movimento do corpo próprio (do espetador), um ato único de perceção visual.
3 John Berger, Twice Drawn – Modern and contemporary Drawings in context, The Francis Young Tang
Teaching Museum and Art Gallery at Skidmore College and Prestel Verlag, Munich, London, N.Y., 2011,
p. 182.
4 John Berger, Op. Cit, p. 182.
enquanto “denominadores comuns” para uma reflexão de cariz antropológico e
estético, no tocante à concetualização do desenho.
5 Steve Garner (ed), Writing on Drawing – essays on practice and research, Bristol, Intellect Ltd., 2008,
p.9
6 Dante, Vida Nova, Cap. XXXIV, (1-3) in http://www.consciencia.org/dante-alighieri-vida-nova
(Consultado a 3 fevereiro 2012)
1. desenhos vazios / desenhos conceito subsumados à linha - considerada em
distintas aceções:
1.1. abstrato-geométrica no plano;
1.2. dinâmica e informalizada;
1.3. objetualizando-se;
2. desenhos figurais / paisagens configuradas:
2.1. corpo:
2.1.1. academias;
2.1.2. auto-retratos;
2.1.3. transfigurações;
2.1.4. figuras na paisagem;
2.2. paisagem e objeto assentando:
2.2.1. morfologias vegetais
2.2.2. morfologias objetuais
3. desenhos cartográficos/poéticas implantados:
3.1. arquiteturas e projetos
3.2. roteiros do imaginário
3.3. poéticas:
3.3.1. sinais e símbolos
3.3.2.caligrafias
3.3.3. referenciais literários
Sob esta designação, inscrevo aqueles desenhos onde a superfície é expandida pela e
através da linha, quer bidimensional, quer tridimensional. Assim, a fluidez desenrola-se
de acordo com uma noção de ausência: afirma-se a precisão gráfica em composições
dominadas por uma mínima, ainda que detalhada presença de elementos.
Curiosamente, a imediaticidade que frequente se associam à execução, do desenho
implica a consciência da duração enquanto acto e não cronologia (pura): There is only one
type of duration: the act. (Lygia Pape).
Nalguns casos, tratar-se-á de entender os sinais visuais, exigindo descodificação para
quem não se canse ou satisfaça com primeiras leituras. Não existem vazios, assim
como sabemos que não existem silêncios. Adoptei o termo desenhos vazios, numa
analogia designativa que os chame de desenhos silenciosos, pois que na visualidade
das coisas, o isentar de fições ou representações, ocorrem esses intervalos e
residências. Acontecem, permitindo a respiração e propagação do pensamento visual,
quando os autores e os recetores assim decidem. O que não corresponde, repita-se, a
inexistência, antes a “justeza, austeridade e imprescindibilidade”…
Aplicando às obras nesta exposição, reunindo autores com atividade nas 3 décadas
anteriores e na atualidade, destaquem-se os desenhos concebidos a partir da linha
enquanto radicação e conteúdo:
9 CF. Lambert, Mª de Fátima, texto para a mostra individual “Híbrido” de Rui Horta Pereira, Quase
Galeria, Porto, Abril 2010.
10 Pascal Quignard, Histórias de Amor de outros tempos, Lisboa, Cotovia, 2002, pp. 12-13
1.1. linhas abstrato-geométricas: Tânia Bandeira Duarte, Pedro Maia, Jorge Marques, José
Maia, Pedro Calapez, Nuno Sousa Vieira, Fátima Santos
1.2. linhas de vazio: Cristina Mateus, Fernando José Pereira, Joana Pimentel, Dalila
Gonçalves, Rita Carreiro, Tiago Cruz
1.3. linhas silenciosas: Francisco Laranjo, Pedro Tudela, João Gigante, António Fernando
Silva, Teresa Almeida,
1.4. linhas dinamizantes: Teresa Carrington, Sílvia Simões, Fernanda Maio, Susana
Marques Nogueira
1.5. linhas centriptas: Cláudia Amandi, Cláudia Ulisses,
1.6. linhas pontuadas: Rui Mendonça, Emílio Remelhe,
1.7. linhas objetualizadas: Cláudia Melo, Rute Rosas
11Steve Garner (ed), Writing on Drawing – essays on practice and research, Op.Cit, p.14
12Paulo Reis, “O Contracto do Desenhista”, texto para a exposição coletiva in Plataforma Revolver,
2008.