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Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20

Nicolau Sevcenko

Fremente: que freme, agitado, vibrante

Orfeu como alegoria da produção do êxtase, da mobilização das massas em festas e rituais
festivos...

1- Contra capa:
- Orfeu, herói da mitologia grega, era louvado como o celebrante da música, da exaltação e do
êxtase coletivo. Neste estudo sobre o impacto das novas tecnologias nos processos de
metropolização, Nicolau Sevcenko usa as imagens dos rituais órficos como um emblema.
- O cenário é a cidade de São Paulo nos anos 20, quando passava pelo boom de crescimento e
urbanização que a transformaria numa metrópole moderna.
- O frêmito das tecnologias mecânicas de aceleração se transpõe para os corpos e as mentes
por meio de celebrações físicas, cívicas e míticas no espaço público.
- O pano de fundo: a Primeira Guerra, as tensões revolucionárias, a explosão da Arte Moderna
e o delírio frenético do jazz.
- Os personagens: a população de um experimento social em escala gigantesca, na busca de
uma identidade utópica.

2-Orelha: Bento Prado Junior


- Recurso à literatura como índice de transformação que a metropolização de São Paulo impôs
às mentes e à vida prática.

METODOLOGIA- Percurso inverso também realizado: recorrendo a arquivos [quais?] mais


largos, o mapeamento do imaginário coletivo, identificando as categorias que o fascinam
(nascidas com as novas técnicas e as novas formas de trabalho e lazer) e que haveriam de se
cristalizar na poesia modernista.
- Antes de se tornar objeto de poesia, a São Paulo metropolitana é objeto de uma espécie de
fabulação anônima e onipresente, indissociável das novas práticas que a constituem como
realidade social e material;
OBJETO- A nova experiência do tempo e do espaço urbanos (ou a aceleração vertiginosa do
tempo e a desmedida ampliação de um espaço tornado abstrato e técnico) se exprime já na
prosa cotidiana, tal como pode ser inferida das diversas rubricas da imprensa.
- Como ler corretamente a literatura da década de 20, sem identificar os fios que a ligam à
forma emergente de vida metropolitana?

3- Prefácio – Hermenêutica e Narrativa – Maria Odila Leite da Silva Dias (Profa. Titular de
História do Brasil no Dep. de História da FFLCH da USP).

- Sevcenko: historiador dos limiares do mundo moderno.


método- Obra: exercício deinterpretação, evitando conceitualismos categóricos e abrindo
trilhas renovadoras, desimpedidas de cadeias sistêmicas e de explicações causais.
OBRA- Obra sobre os impasses históricos do momento modernista comporta três eixos
narrativos multifacetados, até certo ponto independentes, dos processos históricos de
avassaladoras mudanças, encadeadas sutilmente no tempo:
a) 1° eixo: urbanização acelerada de São Paulo, improvisada como aventura na trilha
da especulação cafeeira, entre 1890 e 1930; o surgimento de identidades nacionais
importadas ou mal inventadas no espaço ambíguo que separava a intelectualidade
paulista das necessidades concretas de sobrevivência dos imigrantes e ex-escravos mal
assimilados na urbanização de São Paulo;
b) 2° eixo: desenraizamento da cultura européia, a revolução da tecnologia, a Primeira
Guerra Mundial e a ruptura com os parâmetros epistemológicos do século XIX; a
difusão desordenada e incongruente das condições materiais da vida urbana e
industrial a partir da Europa pelo mundo afora; as ambigüidades do advento no Brasil
de uma cultura européia de massas e, mais especificamente, o seu choque com o
espírito modernista de experimentação e busca de novas possibilidades culturais.
c) 3° eixo: analisa a cultura européia de massas e o surto do modernismo paulista;
confronta a dialética das mudanças desencadeadas pela urbanização com as
possibilidades de criação cultural num meio colonizado pela presença européia e
exacerbado por novas formas de mobilização tecnológica.
método- Historiador articula uma rede de inter-relações interpretativas dos efeitos da
urbanização sobre a vida cotidiana e cultural;
- construindo pontes a sugerir ligações entre o modernismo e o fortalecimento do Estado
(busca de uma linguagem poética fragmentária e inovadora e o mito fascista; surgimento de
uma nova consciência de brasilidade a prometer rupturas com o passado autoritário e a
OBRA- TEMA; a nova identidade brasileira, essencialmente cosmopolita, vislumbrada pela
experiência urbanizadora e as estreitas ligações de dependência com a vida cultural de Paris e
da Europa em geral).
OBRA-TEMA- Para reviver na sua própria concretude histórica as mudanças de vida aceleradas
pela urbanização, autor estabelece certa ponte de empatia e convívio entre o público leitor e
as duas primeiras gerações de homens desenraizados (que sonharam um mundo novo e
viveram a experiência de massificação da cultura).
Perspectiva - Conceituação do livro: Nietzsche (inquietação demolidora de ideias herdadas e
valores fixos, historicidade dos sujeitos e a temporalidade das verdades tidas como perenes)
OBJETIVO- Em Orfeu extático na metrópole: estudar a urbanização de São Paulo.
Método- Sevcenko: hermenêutica de processos culturais tensos, que o autor interpreta com
recursos dialéticos surpreendentes (contrastes, nuanças, projeções sutis).
Método- Descreve condições novas de vida material e novas formas de representação do
provisório, do contingente e do fragmentário: devir das coletividades, diluição dos valores
comunitários herdados, choque com os pressupostos do individualismo racionalista e da
cultura ilustrada.
Diluição dos valores comunitários: certa proximidade com o que Benjamin apontou sobre a
perda da capacidade narrativa na modernidade?
OBRA-tema- Sevcenko: retoma as especificidades paulistas da experiência de desenraizamento
do homem moderno.
OBRA-tema- Sevcenko topa com a dinâmica de um mundo imprevisível e instável,
possibilidades opostas e em contradição aberta, em movimento histórico acelerado (a
prometer o fortuito, o provisório), construído sobre o estilhaçamento das referências estáveis
e das tradições totalizantes: “Homem-máquina (...), mulher-energia, energia erotizada,
máquina e energia transformando os ritmos e condições de vida e os seres humanos se
metamorfoseando por automatismos sobrepostos, ativando seus impulsos, nervos e músculos,
até romper o cerceamento de valores e preceitos que restringiam as condutas e temperavam
as aspirações, liberando uma crisálida moderna, com gestos ágeis, roupas leves de corte
militar, cigarro no canto da boca e o desejo irrefreável de se fundir numa força colossal, uma
massa devastadora, que em avalanche sepulte o velho mundo e redesenhe um novo à sua
imagem” (pgs. 87-88).
- Nesse alvoroço de mudanças (exigente de inovações e criatividade), esgueiram-se em
contraposição tendências ameaçadoras de mobilização para a ação coletiva e uniformizadora,
que viriam a gerar o planejamento, a massificação, o corporativismo autoritário. O espaço
aberto para o provisório e as inovações em São Paulo tornava-se perigosamente propício a
forjar identidades através da exploração do ideal de uma raça nova de homens disciplinados.
“Aos anseios de comunidade dos desenraizados no espaço correspondiam os anseios de
continuidade histórica dos desenraizados no tempo” (pg. 40).
DESENVOLVIMENTO- primeira parte do livro (A abertura em acordes heróicos dos anos loucos)
é descrito o processo de urbanização da cidade e a ritualização de movimentos de massa,
como o Carnaval, o esporte, o próprio hábito do flerte, o trânsito, os comícios populares e as
grandes festas de iniciativa estatal. Aos poucos, a cidade se transforma num palco de ação
teatral ampla e abrangente de cada indivíduo que a habita e tornar-se alvo da ação política de
mobilização das grandes massas. O impulso inicial de automatização e excitamento das
energias sensoriais liberadas nascera na Europa, com a experiência da Primeira Guerra
Mundial, e se reproduzia nas atividades esportivas e nas partidas de futebol.
DESENVOLVIMENTO- Sevcenko, crítico da cultura, ponto de referência um momento de
grandes transformações da sociedade (transformações avassaladoras que tinham solapado as
bases de entendimento e os valores comuns – coerências e consensos na cultura ocidental –
que construíram os nexos sociais e comunitários entre os homens, como a Primeira Guerra
Mundial [crise da narrativa-Walter Benjamin?]), com necessidade de parâmetros
epistemológicos novos, a redefinição do político (pois há um deslocamento do campo de
poder das instituições do Estado-nação do século XIX para a esfera do privado e do cotidiano.
- A politização do dia-a-dia transformou o corpo do morador da cidade e a sua forma de
percepção do mundo exterior, os indivíduos passaram a ser colonizados em seus gestos,
sentimentos e na própria maneira de apreender a realidade.
DESENVOLVIMENTO- Nessa época, a tecnologia do relógio [uma alegoria no sentido
benjaminiano?] tornou possível a sincronização da medida do tempo que, desde a Primeira
Guerra, impôs-se uma mudança grande na forma de percepção do tempo, que passou a ser
um dos componentes mais importantes dentre os fatores de mobilização geral dos corpos e
das mentes dos cidadãos do novo mundo urbanizado (pg. 180-81).
OBJETO- “A emergência das grandes metrópoles e seu vórtice [turbilhão] de efeitos
desorientadores, suas múltiplas faces incongruentes, seus ritmos desconexos, sua escala extra-
humana e seu tempo e espaço fragmentários, sua concentração de tensões, dissiparam as
bases de uma cultura de referências estáveis e contínuas” (pg. 32) [metropolização leva à uma
crise das narrativas?]
PERSPECTIVA- No universo dos homens europeu da década de 20, a questão em jogo, na
expressão de Walter Benjamin, era a própria sobrevivência do ser humano, atropelado por
impulsos de mobilização dos sentidos que passavam a falar mais alto do que a cultura herdada.
[crise da narração?]
- estilo do autor, essencialmente narrativo, lança mão de vários recursos [quais?] para
OBJETIVO DO LIVRO interpretar as mudanças de percepção e de circulação na cidade, o
movimentos dos corpos e ação ritualizada da automatização urbana, a sintonia dos poetas
com a fragmentação dos focos visuais e das sensações da vida na metrópole.
obra- livro procura reconstruir diferentes aspectos da ruptura com o mundo da ordem
estabelecida do século passado [XIX] e interpretar (em múltiplas temporalidades e diversos
níveis de experiência) as dimensões do fenômeno da urbanização (através da crítica da vida
cotidiana e da cultura em relação às experiências criativas com a forma na poesia, no cinema,
nas artes plásticas e no modo da publicidade jogar com a febre do novo e do moderno).
- síndrome modernista de destruição dos parâmetros do século XIX (as sobrevivências arcaicas
ou anacrônicas) e a busca de uma linguagem desestruturada e fragmentária (liberar o homem
para a possibilidade de novas formas de expressão) a sugerir sensações e experiências da vida
urbana.
MÉTODO- Representação na historiografia de uma multiplicidade de durações que podiam
conviver entre si: a vida urbana sugeria essa multiplicidade de ritmos e de temporalidades
diferentes a indicar a mobilidade e a temporalidade do conhecimento. Para Sevcenko, as
megalópoles “têm temporalidades e ritmos que lhes são próprios e que estão mais próximos
do que qualquer outra parte dos impulsos mecânicos e automáticos dos equipamentos
modernos” (pg. 310). Associação ritmos e temporalidades das megalópoles com impulsos
mecânicos e automáticos dos equipamentos modernos (Chaplin dentro da máquina como
alegoria?)
- contribuição inovador de Sevcenko para a historiografia contemporânea de São Paulo e do
MÉTODO: Brasil: multiplicidade de níveis de análise, capacidade de interpretação crítica numa
diversidade de manifestações (automatização do trânsito e da vida cotidiana nas cidades, as
obras dos poetas modernistas como Mário de Andrade ou Manuel Bandeira, a pintura de
Picasso, Gauguin, Tarsila do Amaral ou Rego Monteiro (pg. 287).
OBRA- Obra: crítica da politização do cotidiano e do advento da cultura de massas.
- Obra: minuciosamente documentada, com testemunhos da época.
METODOLOGIA- Referencial metodológico [?]: perspectivismo (forma de interpretação
inerente à historicidade do próprio conhecimento do historiador: documentar o ponto de vista
dos testemunhos da época de modo a entabular com eles um diálogo, no qual a posição do
historiador enquanto intérprete se vê sempre ressaltada.)
METODO- Obra: sucessão de focos narrativos descontínuos a fim de nuançar e sugerir
processos sutis e complexos que se interseccionam, sem relações de causalidade ou de
necessidade, sem linearidade no tempo.
MÉTODO- crítica da noção de modernidade como progresso [WB?] subentende a quebra da
linearidade das periodizações e a multiplicidade de sujeitos históricos.
MÉTODO- nessa obra: tempo linear é substituído por uma multiplicidade de durações (que se
sucedem nos capítulos, com assuntos específicos, enredados entre si na movimentação do
tema central da crítica da modernidade e d vida urbana). Cada conjuntura, seu próprio centro
de significados;
PERSPECTIVA- interpretação crítica do processo peculiar de urbanização de São Paulo inspirou-
se em estudos afins de análise da urbanização de Paris tal como esboçada no estudo de Walter
Benjamin sobre as arcadas da rua de Rivoli.
- primeira parte do livro: descreve e interpreta o processo de urbanização de São Paulo, em
perspectiva intensamente positivista (documentação da experiência de desenraizamento
[haveria alguma relação entre desenraizamento e perda da capacidade de narração de WB?]
de cronistas, jornalistas anônimos ou não, com quem o autor estabelece uma sintonia para
apreender ao vivo um fenômeno de quebra de identidade). Cada um do temas muito
específicos dos primeiros capítulos: citações de trechos de jornalistas contemporâneos dos
fatos narrados. Através deles, o historiador capta a perda da identidade individual face ao
superestranhamento que se impôs como estado visceral da crise de crescimento da cidade.
MÉTODO- Perspectivismo: encadear de citações, vida dos testemunhos do surgimento dos
rituais comunitários nos quais os homens, enquanto indivíduos, se transformam em sensações
encadeadas por impulsos mais amplos que vem de fora: o futebol, as corridas de carro, o
Carnaval, as enchentes, o espetáculo dos vôos pioneiros rasantes sobre a multidões delirantes.
MÉTODO- diálogo, pontes de comunicação entre o escritor e seus testemunhos, que provêm
dos problemas e dúvidas colocados pelo historiador a partir de sua inserção no mundo atual.
OBRA-TEMA- Tema: surgimento de nova identidade automatizada da cidade (o processo:
antes, durante e depois?). O momento de ruptura da herança do individualismo racional com a
nova experiência da vida urbana desenraizadora de sentidos e das possibilidades de sintonia
[por exemplo, com experiência do cinema] entre valores díspares de épocas que se afastavam
e se tornavam intraduzíveis uma para a outra.
RESULTADOS/CONCLUSÃO- Cidade moderna: pluralidade desconcertante e metamórfica.
MÉTODO- muitas citações e freqüentes as referências aos jornalistas, com os quais partilha a
experiência única de testemunhar (EM UM LAMPEJO?) um momento de ruptura histórica.
FONTES- Momento preciso, documentado nas fontes da imprensa da época: a experiência da
perda de identidade dos cidadãos da cidade de São Paulo e de automatização dos sentidos dos
indivíduos.
OBJETO- Objeto: a tarefa de mobilização dos sentidos e de imposição de rituais de ação
coletiva “tendia a ficar obscurecida e pouco visível, escondida dos próprios homens à qual se
viam expostos”. [nova sociabilidade mobilizada e imposta com a urbanização?]
MÉTODO- Sevcenko: Hermenêutica da cidade e do moderno (e seu trabalho sinistro de
ofuscação da consciência e da memória)
- “os homens se estiolam [enfraquecem, debilitam] na reprodução massiva da identidade” (pg.
17-174).
- busca da documentação do outro, da marcação da diferença, consiste justamente na
MÉTODO multiplicação de uma pluralidade de sujeitos.
MÉTODO- Sevcenko e hermenêutica: historiador do presente, interpretativo, que se esforça
por interpretar o texto de um testemunho do passado, perspectiva do intérprete que se põe
no ponto de vista do outro. A hermenêutica pressupõe certa empatia, certa forma de sintonia
entre o historiador e o objeto do estudo que constrói. Captar vivências críticas nas fontes,
documentos e referências e documentá-las ao vivo.
- Última parte do livro (Da história ao mito e vice-versa duas vezes): maneira de captar a
urbanização de São Paulo como “uma situação surrealista transformada em experimento
social: a cidade era em si mesma uma audaciosa obra de arte modernista” (pg. 294).
- Historiador, pela empatia, discerne o ponto crítico de intersecção capaz de transmitir o
momento preciso de ruptura de um mundo para o outro. Ele (Sevcenko), o historiador, e o
poeta-soldado, Blaise Cendrars, faze ambos parte de um mundo estilhaçado. Momento de
ruptura: todos se viram arrastados no turbilhão dos novos tempos em que testemunhos e
observadores, modernistas e fascistas, já não se distinguem mais com clareza uns dos outros.
Também se identifica com Manuel Bandeira, o poeta do contingente, da alienação do
indivíduo, da solidão e do fortuito.
- Livro reavalia, num crescendo pessimista de fim do século [XIX, época do objeto, ou XX,
época do historiador], os custos irredimíveis da modernidade. O autor debate e opõe, sempre
em tensão dialética, as possibilidades da consciência e da memória, da nova percepção do
homem moderno face às ameaças da ação ritualizada, coletiva, anuladora das resistências do
indivíduo e da sua possibilidade de crítica.
- Ao abordar o modernismo, ressalta o evento da Semana de Arte Moderna.
- No último capítulo, ao estudar os modernistas paulistas e seu enquadramento ambíguo na
sociedade urbana, procura uma redefinição profunda da política no âmbito da cultura
moderna, que tinha superado de certa forma as dualidades tradicionais do século XIX, já sem
expressão no mundo urbanizado. Politização do privado e a privatização do público são
dimensões novas.
- A transição inexorável da modernidade para o mito da ação automatizada e para a magia dos
rituais políticos de massa tinha, de certa forma, transcendido as categorias antiquadas das
oligarquias no poder, já minadas pela força das transformações da cidade de São Paulo,
embora pudesse não ser aparente para os contemporâneos dos acontecimentos.
- A dualidade do público e do privado já não se sustentava mais ante o processo gigantesco da
metrópole e da cultura de massas.
- Entretanto, o aparato hegemônico das oligarquias paulistas transformava-se num ritmo um
pouco mais lento do que a imaginação dos modernistas.
DESENVOLVIMENTO- Autor busca documentar as especificidades do meio urbano
particularmente vulneráveis a impulsos coletivistas xenófobos ou a mobilizações nacionalistas.
Descreve os vôos rasantes com que Washington Luís comemora sua posse no governo paulista
(pg. 79). Revive os frêmitos do culto ao herói da aviação Edu Chaves, os grandes ajuntamentos
de multidões compassadas, assim como a construção de monumentos históricos à
Independência, às Bandeiras, a Olavo Bilac propiciando grandes festas cívicas (pg. 98). Analisa
a transformação do Carnaval numa grande festa animada pela toxina amarga do agravamento
das tensões sociais e da pauperização (pg. 105).
OBJETIVOS- trabalho de história da cultura e da urbanização, documentar as mediações
concretas sociais mais concretas do surgimento do cosmopolitismo urbano da cidade de São
Paulo.
- Na perspectiva do processo mais global da modernidade e da urbanização, o autor procura
transcender as dimensões da política conjuntural da época (a seu ver, enquadrada em
símbolos e instituições do século passado).
- O autor acena com tendências da arte moderna, de certa formas incorporadas no processo
de urbanização e de populismo autoritário, na direção das ideologias totalitárias e orgânicas.
- Ao traçar a hermenêutica do moderno, Sevcenko cuidou de desmistificar o sentido
arregimentador da arte moderna.
- Na conclusão de seu livro: crítica da abrangência do mito da ação coletiva e da faina
nacionalista de brasilidade tropical.

4- Introdução

- Orfismo, sua lenda, cheia de meandros misteriosos, persiste como uma das mais fascinantes
tradições da Grécia Antiga. No seu núcleo, ela narra como Orfeu, filho de Apolo e sacerdote de
Dionísio, era um músico tão prodigioso que, quando ele cantava e tocava a sua lira, todas as
mulheres e homens, todos os animais, árvore, plantas e até as pedras acorriam
irresistivelmente atraídos, compondo um círculo ao seu redor para ouvi-lo. Ele seduzia mesmo
deuses, monstros e criaturas infernais com sua música, socorrendo assim os Argonautas nos
piores apuros de sua peregrinação, chegando inclusive a tentar resgatar sua mulher do reino
dos mortos. No que falhou somente porque, tendo sido proibido de vê-la até que ela seguisse
às portas de saída do Hades, num impulso incontido voltou-se para olhá-la no instante final,
podendo apenas contemplá-la desaparecendo para sempre nas trevas do além. Pg. 17
- (...) um dos mais caros temas literários da cultura ocidental, sendo sucessivamente retomado
pelo Renascimento, romantismo, simbolismo e surrealismo. Pg. 17
- Para este estudo, a referência a Orfeu e ao orfismo (...) em que se concebeu que o homem
era dotado de duas almas. Para os órficos (...) cada pessoa ao nascer adquire uma alma, que
caracteriza sua personalidade e suas idiossincrasias e que desaparece com ela quando a sua
morte. Essa alma era chamada psyche. A outra, a “alma invisível”, era eterna, migrava por um
ciclo de sucessivas reencarnações e era uma manifestação da própria energia cósmica que
estava na essên- [pg. 17] cia dos deuses e de todos os seres e elementos. Essa alma oculta só
se manifesta através dos rituais de catarse e êxtase coletivos. Os gregos a denominavam
daemon. Era com ela que Orfeu se comunicava por meio de sua voz e sua lira. Ele era um
oficiante do êxtase. Pg. 18
obra- Essa figura literária nos serve apenas como uma imagem sugestiva, a fim de sondar o
papel desempenhado pelas projeções culturais numa sociedade passando por um processo de
exacerbação de tensões, em curso de se tornar uma megalópole moderna. Anos 20 (...) etapa
decisiva desse processo (...) particular significação pelas iniciativas de definição de um padrão
cultural de identidades que caracterizam o período. (...) iniciativas, em parte deliberadas, em
partes reativas e em parte surpreendentes (...) se destinavam (...) a mediar os confrontos
sociais que atingem ápices críticos nesse momento e (...) reorganizar os sistemas simbólicos e
perceptivos das coletividades em função das demandas do ritmo, da escala e da intensidade
da vida metropolitana moderna. O recondicionamento dos corpos e a invasão do imaginário
social pelas novas tecnologias adquirem, portanto, um papel central nessa experiência de
reordenamento dos quadros e repertórios culturais herdados, composta sob a presença
dominante da máquina no cenário da cidade (...). A cidade viraria ela mesma a fonte e o foco
da criação cultural, se tornando um tema dominante, explícita ou tacitamente, para as várias
artes (...) pg. 18
- Muito mais do que o próprio paradigma da ordem, como era concebida a polis grega, ou o
modelo perfeito da comunidade civil, como a Roma eterna, capital e centro do mundo, a
PRINCIPAIS IDEIAS DESENVOLVIDASmetrópole moderna recebe uma representação
ambivalente como o local de origem de um caos avassalador e a matriz de uma nova vitalidade
emancipadora. [Metrópolis, de 1923, de Citröen, os cenários do Gabinete do dr. Caligari, 1919,
de Robert Wiene] tons apocalípticos [filmes como Berlim, sinfonia de uma metrópole, de 1927,
de Walter Ruttmann] a cidade como um vórtice de potencialidades revolucionárias, ainda em
latência, mal conhecidas e mal-exploradas, mas já indicativas do mais ousado experimento
social que jamais houve. Pg. 18 [túrbida Paris do filme Rien que les heures (1926), do paulista
Alberto Cavalcanti] ambiguidade de um cenário perturbador na sua monumentalidade, (...)
misterioso e ameaçador nos perigos que oculta. [Metrópole] esfinge moderna, também
amaldiçoa os que não são capazes de decifrá-la, muito embora a sua pluralidade
desconcertante e metamórfica resista à fixidez de quaisquer fórmulas explicativas ou mesmo à
opacidade das linguagens codificadas. Pg. 19
MÉTODO: ESTILO DE ESCRITA[parece ter uma questão em Sevcenko: é possível captar a cidade
no que ela tem de fragmentária, polifônica em uma linguagem já dada, historicizada, ou o
fenômeno da metrópole inteiramente novo, que uma linguagem que servia para descrever um
castelo não daria conta de descrever a metrópole?]
METODO ESTILO-(...) para poder pronunciar o ineditismo dessa experiência crucial
representada pelas metrópoles tecnológicas, era preciso forjar outra dicção: fluida, pontual,
plástica, descontinua, multifária[que tem muitos aspectos]. (...) A multiplicação ciclópica das
escalas do ambiente urbano tinha como contrapartida o encolhimento da figura humana e a
projeção da coletividade como um personagem em si mesmo. O que era um choque tanto
OBRA-TEMA para orgulhos individuais malferidos, quanto para liames comunitários esgarçados
por escalas de padronização que não respeitavam quaisquer níveis de vínculos consangüíneos,
grupais, compatrícios ou culturais, impondo uma produção avassaladora de mercadorias,
mensagens, normas, símbolos e rotinas, cujo limiar de alcance pretendia abranger não menos
do que a extensão da superfície terrestre. Pg. 19
- [poema] “Rhapsody on a windy night” de T. S. Eliot, escrita em Paris em 1911 (...) poeta
verifica como a conjunção da velocidade do carro em que move, com o compasso ritmado das
lâmpadas de rua, (...) as silhuetas noturnas e o deslocamento constante de outros veículos
iluminados, criando assim um contexto artificial de estranha irrealidade, com efeitos
dissolventes sobe a sua memória [pg. 19], (...) fragmentos e circunstâncias contingentes que
estampam uma rotina e uma via esvaziada de significações. Pg. 20

5- Conclusão – “CAI A NOITE”

- [depoimento autobiográfico de Rubens Borba de Morais]: “origens dos modernistas (...)


encaixar a produção nacional no panorama mundial de uma época e nos grandes movimentos
internacionais de ideias.” [é um pouco isso o que Svecenko pretende fazer?]. (...) “a renovação
da literatura e da arte brasileiras sob o modelo de Paris não levou anos para nos atingir dessa
vez [como o romantismo, em que as defasagens do Brasil com a relação ao contexto
internacional eram um dado patente e indiscutível], pela simples razão que em 1921-22 as
comunicações eram mais rápidas que na época de Gonçalves Dias. O tempo encurtou depois
da guerra de 1914. Está encurtando cada vez mais”. Pg. 309.
conclusões- (...) transformação do aparato tecnológico de alcance mundial, cristalizada de
modo mais concentrado e ostensivo no surgimento das megalópoles modernas. Elas têm
temporalidades e ritmos que lhes são próprios e que estão mais próximos do que qualquer
outra parte dos impulsos mecânicos e automáticos dos equipamentos modernos. (...)
tecnologias emergentes operam em função mesmo das formas desiguais da sua distribuição.
Pg. 310
conclusões- (...) nas grandes cidades, é a desestabilização rápida de sistemas de crenças e
símbolos, secular ou milenarmente aderidos a um mundo de base técnica relativamente
estável, e que se reformulam ao sabor das contingências precipitadas de uma “nova ordem”,
cuja gestão, por sua própria natureza, embora se funde no planejamento, não comporta a
previsibilidade. O deslocamento para o primeiro plano, reformuladas e ampliadas,
padronizadas e intensificadas, de tradições cediças [estagnadas, paradas] como o jogo, o
esporte a arte aberta ao casual e aleatório, é indicativo do curso que tomaram tanto as novas
sensibilidades, quanto a reação dos responsáveis pela implantação de estados de ordem
nesses caldeirões ebulientes. (...) [novos homens das metrópoles] essas criaturas exasperadas
por anseios de raízes, fixidez, amparo e comunidade tinham ao mes-(pg. 310)mo tempo as
suas fantasias galvanizadas pela mais volátil e imprevisível das formas de vida
social[metrópole] que jamais se vira. A tendência à abolição do tempo e do espaço pela
mediação crescente da velocidade (...). O quadro todo como se vê, pelo que implicava de
dissipação de balizas, liberação de impulsos, incorporação estrutural da incerteza e do fortuito,
ênfase na mobilização física, muscular, reflexiva, inconsciente, era particularmente propício
para a repotencialização dessa outra entidade arcaica e regressiva, o mito. Pg. 311
- Os lugares onde ele vai emergir serão as ruas e praças das grandes cidades, os jornais, os
cinemas, as praças de esportes, as artes renovadas e as universidades, por exemplo. Pg. 311.
- [para Sevcenko] a confusão não só é fecunda, como é libertadora, ao colocar mentes em
estado de desprendimento, propiciando a reavaliação crítica permanente do fluxo erradio das
circunstâncias. É por isso que, segundo Sérgio Buarque, “só à noite enxergamos claro”. Pg. 312

Resenha: Cultura modernista em São Paulo. Elias Thomé Saliba

- Músico prodigioso e sedutor, Orfeu, na mitologia grega, era louvado como celebrante
nos rituais de exaltação e de êxtase coletivo. (...)o orfismo transformou-se quase que
numa tradição na cultura ocidental.(..) o orfismo concebia duas almas para os homens, a
psyche, espécie de alma visível que desaparecia com a morte, e a alma invisível,
eternizada em sucessivas migrações. Era com esta última que Orfeu se comunicava com
os homens através da catarse e do êxtase coletivos.
- Neste livro de Nicolau Sevcenko, o orfismo serve com emblema e inspiração para
traçar um vigoroso painel da história de São Paulo nos anos 20. (...) mais na sondagem
das coisas invisíveis do que das visíveis.
objetivo- reconstruir os impasses da modernidade cultural brasileira, tendo como
epicentro a urbanização acelerada de São Paulo nos frementes anos 20. Reconstrução
pouco ortodoxa.
mÉTODO- narrativa densa, complexa, extremamente ciosa dos ritmos infinitamente
variados da história humana;
- narrativa articulada na construção de temporalidades múltiplas
- a tarefa do historiador é tanto mais difícil por empenhar-se em duas coisas
simultaneamente, nadou – com a corrente dos acontecimentos e analisar esses
acontecimentos da posição de um observador posterior mais bem informado.
- a narrativa de Orfeu extático inicia-se em janeiro de 1919, um ano de fortes
expectativas para os paulistanos, já que o período anterior foi profundamente marcado
pelo flagelo dos "cinco gês" que atingiram a cidade: a gripe, a geada, os gafanhotos, as
FONTES OU UNIDADES DE ANÁLISEgreves e a guerra. Através de cronistas
anônimos e de uma leitura original dos jornais da época, o

OBJETIVO:autor busca captar uma sutil atitude de difuso estranhamento na população


em relação à própria identidade de São Paulo, que vivia naquele momento o auge do seu
processo de metropolização. Afinal, qual era a identidade de São Paulo? "Não era uma
cidade nem de negros, nem de brancos e nem de mestiços; nem de estrangeiros e nem
de brasileiros; nem americana, nem européia, nem nativa; nem era industrial, apesar do
volume crescente das fábricas, nem entreposto agrícola, apesar da importância crucial
do café; não era tropical nem subtropical; não era ainda moderna, mas já não tinha
passado" (p.31).
- Naquele ano de 1919, a cidade, como um enigma para os seus próprios habitantes.
Lapso de consciência na memória social que dura muito pouco,

repontando em alguns dos cronistas mais sensíveis do cotidiano, porque depois, apenas
as metáforas e mitos é que terão força para captar a formação daquele caos urbano.
milhares de seres dezenraizados, submetidos a um aviltamento em progressão
geométrica no caos da metropolização de São Paulo.
DESENVOLVIMENTO- começava um novo tipo de mobilização coletiva, a
ritualização dos movimentos de massa - nos esportes, especialmente no futebol e nas
corridas de automóvel, no carnaval, em hábitos urbanos como o flerte, no trânsito, nos
comícios com grandes concentrações populares e, já nos anos seguintes, nas grandes
festas de iniciativa estatal.
- Nas fímbrias invisíveis do acelerado processo de metropolização de São Paulo, a
mobilização é quase que permanente.
- nova predisposição mental, espécie curiosa de cidadania fundada na emoção.
- a cultura européia também atravessava os impasses do período pós-guerra,
mergulhando numa atmosfera turva de desenraizamento e fragmentação social, pelos
efeitos ambíguos e combinados da revolução tecnológica, da própria guerra e das novas
perspectivas do conhecimento.
MÉTODO- livro incorpora na narrativa as tensas reflexões de Nietzsche, calcadas no
perspectivismo, cujo escopo básico era "demolir qualquer concepção estável ou fechada,
mantendo a mente sempre despreendida, em movimento", única forma de manter o
inconformismo num mundo que deixava de ser a esfera da palavra para transformar-
se, rapidamente, na esfera da ação.
- Do balé ao jazz, do cubismo ao futurismo, dos mitos fascistas, o autor consegue
captar, a forma como os registros literários e artísticos sintonizavam essa
OBJETO:fragmentação e esse desenraizamento generalizado.
- o cenário para o surto de modernismo na São Paulo dos anos 20 era o de uma autêntica
DESENVOLVIMENTO DO CAPÍTULO"exposição universal bizarra": a polifonia
arquitetônica e urbanística produzida na esteira da especulação cafeeira, contrastando
como cenário dos cortiços e bairros pobres, sujeitos às enchentes periódicas, à repressão
policial e à violência constante.
- o livro é uma releitura original do modernismo paulista, através do seu enquadramento
ambíguo neste cenário de desenraizamento e fragmentação que converge, rapidamente,
para repotencializar atitudes nacionalistas e mitos de mobilização coletiva. [semana de
1922 tornaria-se um desses mitos?]
- a urbanização acelerada e a velocidade tecnológica conjugavam-se com símbolos
regressivos e arcaicos, próprios de uma geração que não tinha mais passado, e partia
numa busca sôfrega pelas raízes tradicionais paulistas de bandeirantes, sertanejos e
"caipiras estilizados", forjando todo um imaginário de mitos tradicionais.
- procura-se desmistificar a aura de ilusão presente no gesto pretensamente inovador dos
nossos modernistas, mostrando-se que por trás da forma, do vocabulário e do repertório
de imagens, subsistia a mesma tônica idealista, nativista, nacionalista e militante.
- Orfeu extático realiza uma extensa análise da principal produção modernista, na
melhor linhagem da historiografia cultural, pois ao invés de sentidos absolutos,
imanentes e com chaves próprias, a criação artística é vista com um conjunto vivo de
práticas e eventos, síntese antitética de todo aquele imaginário, de ritualização de
fantasias coletivas, forjado na São Paulo dos anos 20.
- a narrativa retorna à cena urbana, desdobrada em três atos nos quais se exercitaram
aquela mobilização e ritualização coletivas: 1922, a cena dos 18 mártires na Revolta do
Forte de Copacabana; 1924,quando São Paulo, a bela capital cosmopolita, é
bombardeada após a invasão das tropas federais; e 1930, quando Getúlio Vargas vem a
São Paulo e é (surpreendentemente para o próprio Getúlio) saudado por uma imensa
multidão. Os atos, quase todos de timbre órfico, criavam um clima psicológico e social
altamente propício para o surgimento de mitos e messianismos.
- Por afinidades eletivas, Sevcenko discerne na participação de Sérgio Buarque de
Holanda no modernismo um caminho radical, independente das mobilizações e da
política tradicional.
-Orfeu extático na metrópole percorre o caminho notável de uma reviravolta
historiográfica: de uma história social da cultura passamos para uma história cultural da
sociedade, sendo o social, em si mesmo, também uma representação dos homens.
Talvez aqui se altere também a missão do historiador: não mais aquela espécie de
genealogista do passado, mas o desmistificador de todas as representações fantasmáticas
dos homens...

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