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disso, apresentaremos a representação de um número real em uma base qualquer.
Agradecemos aos colegas e alunos do Departamento de Matemática que, direta
ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Em particular, aos
professores Miriam da Silva Pereira e Nacib André Gurgel e Albuquerque.
Este texto surgiu da experiência do autor quando este ministrou algumas ve-
zes a disciplina para os cursos de Matemática e na Licenciatura em Matemática a
Distância.
O principal objetivo deste texto é levar o leitor a compreender os axiomas da
Teoria dos Conjuntos, segundo “Zermelo-Fraenkel”, a ponto de aplicá-los em dife-
rentes contextos tais como o axioma da escolha, modelagem de situações-problema
envolvendo o princípio do máximo de Hausdorff, Lema de Zorn, conjuntos bem
ordenados, construção dos números naturais e números cardinais.
O texto é dividido em seis capítulos, dos quais o primeiro é responsável pela
introdução do método axiomático e resultados utilizados em todo o texto. Em cada
estudo específico, busca-se a caracterização do objeto por meio de propriedades que
possibilitem ao leitor estabelecer correspondências entre determinadas situações-
problema da vida real e a espécie de função focalizada, objetivando sua utilização
na construção de uma tradução matemática da respectiva situação.
É nossa expectativa que este texto assuma o carater de espinha dorsal de uma
experiência permanentemente renovável, sendo, portanto, bem vindas às críticas
e/ou sugestões apresentadas por todos - professores ou alunos quantos dele fizerem
uso.
Para desenvolver a capacidade do leitor de pensar por si mesmo em termos das
novas definições, incluímos no final de cada seção uma extensa lista de exercícios,
onde a maioria dos exercícios dessas listas foram selecionados dos livros citados no
final do texto. Devemos, porém, alertar aos leitores que os exercícios variam muito
em grau de dificuldade, sendo assim, não é necessário resolver todos numa primeira
iii
leitura.
No capítulo 1 apresentaremos um pouco da história do surgimento do método
axiomático na matemática, que serão necessárias para o entendimento dos próximos
capítulos.
No capítulo 2 apresentaremos, via método axiomático, os elementos básicos da
Teoria dos Conjuntos através dos sete primeiros axiomas. Além disso, definimos
as operações com conjuntos: união, interseção, complementar, diferença, gráficos,
famílias, produto cartesiano e algumas propriedades algébricas.
No capítulo 3 estudaremos os problemas de aplicações ordinárias de matemática
tais como: relação de ordem, conjuntos parcialmente ordenados, elementos maxi-
mais e minimais, maior e menor elemento, supremo e ínfimo de um conjunto. Além
disso, estudaremos reticulados e conjuntos bem ordenados.
No capítulo 4 apresentaremos as formulações clássicas do axioma da escolha
dada por Zermelo e suas principais consequências.
No capítulo 5 construiremos, formalmente, o conjunto dos números naturais, o
qual será munido com todas as propriedades que são associadas com os números
naturais do nosso pensamento. Além disso, com o “axioma da infinidade” comple-
taremos a Teoria Axiomática dos Conjuntos, segundo Zermelo.
Finalmente, no capítulo 6 apresentaremos o conceito de conjuntos equipotentes
e o conceito formal de números cardinais via método axiomático. Também, ve-
remos que o conjunto dos números cardinais possui quase todas as propriedades
algébricas do conjunto dos números naturais.
Agradecemos aos colegas e alunos do Departamento de Matemática que, direta
ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Em particular, aos
professores João Bosco Nogueira e Glauber Dantas Morais.
1 O Método Axiomático 1
1.1 Introdução Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Modelos Axiomáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Caracterização de um Sistema de Axiomas . . . . . . . . . . . . . . 15
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2 Conjuntos 27
2.1 Introdução Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2 Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3 Gráficos e Famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.4 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
v
3.2 Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.3 Elementos Notáveis e Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.4 Conjuntos Bem Ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Bibliografia 259
vii
CAPÍTULO 1
O MÉTODO AXIOMÁTICO
Quando falamos que um objeto pertence a outro objeto, queremos dizer, sim-
plesmente, que o primeiro deles depende do segundo. Situações de pertinência
aparecem frequentemente em nossa vida. Por exemplo, um ponto pertence a uma
reta.
A partir de agora, você está convidado a nos acompanhar neste passeio pelo
mundo dos axiomas e postulados. Juntos analisaremos detalhadamente as caracte-
rizações de um sistema de axiomas e a independência de um axioma.
É importante salientar que alguma familiaridade com conceitos tais como: con-
juntos, conjuntos numéricos, espaço vetorial, grupo, dentre outros. É necessário
para uma boa leitura deste capítulo.
“Se uma linha reta intercepta duas outras linhas retas formando ângulos inte-
riores no mesmo lado menor do que dois ângulos retos, as duas linhas retas, se
prolongadas indefinidamente se interceptarão no lado em que a soma é menor que
dois ângulos retos.”
1
1.1. Introdução Histórica
Um teorema é uma verdade que não se torna evidente senão por meio de uma
prova.
2
Capítulo 1. O Método Axiomático
3
1.1. Introdução Histórica
Um “modelo” para esta geometria é dado pelo o semiplano H, em que as retas são
5
Nikolai Ivanovich Lobachevsky, 1792-1856, matemático russo.
6
Carl Friedrich Gauss 1777-1855, matemático alemão.
7
János Bolyai, 1802-1860, matemático húngaro.
4
Capítulo 1. O Método Axiomático
Um modelo para esta geometria é dado pela esfera S 2 , em que as retas são os cír-
culos máximos, ou seja, as interseções de S 2 com os planos π contendo o centro de
S 2 , confira Figura 1.4.
Com esses postulados temos três tipos de geometrias. Em cada uma dessas
geometrias é claro que precisamos de muitos outros postulados.
Hilbert9 , em 1899, no seu célebre trabalho “Fundamentos da Geometria”, apre-
senta a ideia de que apenas um nome - axiomas - deve ser usado com relação às
proposições fundamentais, e que certos termos básicos como ponto e reta são dei-
xados completamente indefinidos.
Embora esse trabalho de Hilbert seja reconhecido por muitos como sendo o
primeiro a tratar de método axiomático em sua forma moderna, devemos reconhe-
cer que ideias análogas também apareceram em trabalhos de outros estudiosos da
época.
Em 1882 apareceu a primeira edição do livro de Pasch10 “Vorlesungen über
Neuere Geometrie.” Pasch baseou seu tratamento da geometria em um pequeno
número de “conceitos nucleares” e “proposições nucleares” que são introduzidas
respectivamente sem definição e sem demonstrações, mas que ele acredita ter uma
base comum de aceitação pela nossa experiência. Depois que o sistema básico de
8
Georg Friedrich Bernhard Riemann, 1826-1866, matemático alemão.
9
David Hilbert, 1862-1943, matemático alemão.
10
Moritz Pasch, 1843-1930, matemático alemão.
5
1.2. Modelos Axiomáticos
6
Capítulo 1. O Método Axiomático
(x + y)2 = x2 + xy + yx + y 2 ,
7
1.2. Modelos Axiomáticos
S = {123, 456, 789, 147, 258, 369, 159, 267, 348, 357, 249, 168}.
Teorema 1.7 Todo ponto pertence a pelo menos duas retas distintas.
Prova. Seja P um ponto qualquer. Pelo axioma E2 existe um ponto Q distinto de
P . Pelo axioma E3 existe uma e somente uma reta r contendo P e Q. Além disso,
pelo axioma E4 existe um ponto R fora de r. Novamente, pelo axioma E3 existe
uma reta s contendo P e R. Finalmente, pelo axioma E1 temos que r = s, com
r ∩ s = {P }.
8
Capítulo 1. O Método Axiomático
(Q ∈ r e Q ∈
/ s) ou (Q ∈
/ r e Q ∈ s).
Corolário 1.10 Toda reta fica completamente determinada por quaisquer dois de
seus pontos que sejam distintos.
Prova. Seja r uma reta qualquer. Então, pelo Teorema 1.9, a reta r contém dois
pontos distintos P e Q. Portanto, pelo axioma E3 , a reta r é completamente deter-
minada pelos pontos P e Q.
9
1.2. Modelos Axiomáticos
Note, nas provas dos resultados acima, que as Figuras nos ajudam a memorizar
os vários símbolos
(r, s, P, Q, . . .)
bem como, seus significados de maneira mais fácil. Não obstante, nenhum sig-
nificado especial foi dado aos termos “ponto” e “reta”, e, consequentemente, são
válidas se substituirmos pessoas por pontos e duas pessoas por reta. Além disso, é
claro que não provamos acima todos os teoremas possíveis.
10
Capítulo 1. O Método Axiomático
Assim,
n n−1
− + 1 = n ≤ k.
2 2
Portanto,
n(n − 1)
n≤k≤ .
2
Finalizaremos esta seção apresentado mais um exemplo de um sistema de axio-
mas para definirmos um “corpo.”
+ : K × K −→ K · : K × K −→ K
e
(a, b) −→ a + b (a, b) −→ a · b
F2 - a + (b + c) = (a + b) + c, para todos a, b, c ∈ K.
11
1.2. Modelos Axiomáticos
F5 - a + b = b + a, para todos a, b ∈ K.
F7 - a · (b · c) = (a · b) · c, para todos a, b, c ∈ K.
a · (b + c) = a · c + a · b e (a + b) · c = a · c + b · c, ∀ a, b, c ∈ K.
1. Se a + x = a, então x = 0.
2. Se b = 0 e b · x = b, então x = 1.
3. Se a + b = 0, então b = −a.
6. x · 0 = 0 · x = 0.
7. −x = (−1)x.
9. −(−x) = x.
12
Capítulo 1. O Método Axiomático
Prova. Vamos provar apenas os itens (1), (6), (8) e (11): (1) Usando sucessiva-
mente, os axiomas F3 , F4 e F2 , obtemos
Exercícios
1. O sistema de axiomas V = (V, +, ·) formado por um conjunto não vazio V
de “vetores” (espaço vetorial).
+ : V × V −→ V · : K × V −→ V
e
(u, v) −→ u + v (a, u) −→ a · u
13
1.2. Modelos Axiomáticos
u + (−u) = (−u) + u = 0.
V5 - u + v = v + u, para todos u, v ∈ V .
V6 - Sejam a, b ∈ K e u, v ∈ V , em que K é um corpo. Se (a, u) =
(b, v), então a · u = b · v, isto é, a operação · está bem definida.
V7 - a(b · u) = (ab) · u, para todo u ∈ V e a, b ∈ K .
V8 - (a + b) · u = a · u + b · u, para todo u ∈ V e a, b ∈ K.
V9 - a · (u + v) = a · u + a · v, para todos u, v ∈ V e a ∈ K.
V10 - 1 · u = u, para todo u ∈ V e 1 o elemento identidade de K.
C = {a + bi : a, b ∈ R e i2 = −1}
14
Capítulo 1. O Método Axiomático
· : G × G −→ G
(a, b) −→ a · b
15
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
aos propósitos para que foi estabelecido? Se, por exemplo, ele foi estabelecido para
servir de base para os fundamentos da Geometria Plana, então desejaríamos saber
de alguma maneira se de fato os axiomas estabelecidos são suficientes. Outra ques-
tão que poderíamos abordar, é sobre a “independência” dos axiomas; algum dos
axiomas pode ser provado a partir dos outros, e caso isto ocorra, não deveríamos
enunciá-lo como um teorema para ser depois demonstrado?
A experiência tem mostrado, entretanto, que uma questão mais fundamental
é a seguinte: o sistema implica teoremas contraditórios? Se isto ocorre, então é
claro que alguma coisa está errada, e teremos então que eliminar este defeito antes
de abordarmos qualquer outro aspecto. Consideraremos portanto esta questão em
primeiro lugar.
Seja Σ um sistema de axiomas. Diremos que Σ é consistente se ele não implicar
teoremas contraditórios. Caso contrário, diremos que Σ é inconsistente.
Observação 1.15 Como cada axioma é implicado pelo sistema de axiomas temos,
em particular, que um sistema de axiomas consistentes não pode ter axiomas con-
traditórios.
Exemplo 1.18 O conjunto dos números reais R é uma interpretação para o sistema
de axiomas F = (K, +, ·) do Exemplo 1.13.
Seja Σ um sistema de axiomas. Um modelo para Σ é o resultado de uma in-
terpretação. Assim, o conjunto dos números reais R é um modelo do sistema de
axiomas F, e a coleção de quatro pessoas Z é também um modelo para o sistema
E. Em geral, quando fazemos uma interpretação I de um sistema de axiomas Σ, o
modelo resultante da interpretação será representado por M (I).
16
Capítulo 1. O Método Axiomático
Exemplo 1.19 Sejam p a sentença “dois ângulos opostos pelo vértice” e q a sen-
tença “dois ângulos congruentes.” Então comprove intuitivamente a tabela da sen-
tença p → q sendo verdadeira se pudermos desenhar o diagrama dos ângulos, caso
contrário, falsa, confira Figura 1.9 e/ou Tabela de Verdade abaixo.
p q p→q (¬p) ∨ q
V V V V
V F F F
F V V V
F F V V
¬[p ∧ (¬p)].
17
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
18
Capítulo 1. O Método Axiomático
(Σ − Aj ) + (¬Aj )
19
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
Solução. Seja F13 o axioma: “para algum a ∈ K ∗ , não existe a−1 ∈ K tal que
a · a−1 = a−1 · a = 1.”
Afirmação. F13 = ¬F10 e (F −F10 )+F13 é um sistema de axiomas satisfatório.
De fato, o conjunto dos números inteiros (Z, +, ·) é uma interpretação para (F −
F10 ) + F13 . Portanto, (F − F10 ) + F13 é satisfatório e F10 é independente em F.
Uma outra interpretação para (F − F10 ) + F13 é (R2 , +, ·), onde
(a + b)(1 + 1) = (a + b) · 1 + (a + b) · 1 = (a + b) + (a + b)
= a + (b + a) + b.
20
Capítulo 1. O Método Axiomático
Sabemos que com o sistema de axiomas E não podemos provar todos os teore-
mas da Geometria Plana. Na realidade vimos uma interpretação para o sistema E
com apenas um número finito de pontos. É claro que isto não deveria ocorrer se
fosse um sistema adequado para o estudo da Geometria Plana.
Agora, vamos iniciar a noção de completividade de um sistema de axiomas,
com a ideia de serem os axiomas desses sistemas suficientes para provarmos todos
os teoremas, podemos afirmar que se encontrarmos um teorema tal que, tanto ele
como sua negação não podem ser provados no sistema, então esse “teorema” é um
candidato a um novo axioma do sistema.
Seja Σ um sistema de axiomas. Diremos que Σ é independente se todos os
axiomas de Σ o são.
21
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
ϕ : M (I1 ) → M (I2 )
Para finalizarmos esta seção vamos fazer alguns comentários sobre as vantagens
do método axiomático: o primeiro é a “economia” que obtemos quando um sistema
de axiomas Σ possui muitos modelos em diferentes ramos da matemática; pois um
único teorema em Σ fornece um teorema em cada intepretação; sem que seja neces-
sário uma prova especial uma vez que o teorema foi provado no sistema Σ. Outra
grande vantagem do método axiomático que merece especial atenção é o caráter de
definição implícita. Embora a origem e o desenvolvimento matemático pode ocorrer
por linhas inteiramente diversas, uma vez o conceito estabelecido, a sua caracteri-
zação axiomática é extremamente vantajosa. Por exemplo, o desenvolvimento do
sistema de todos os números reais, que forma os fundamentos da moderna Análise,
e evoluiu vagarosamente durante muitos séculos.
Atualmente, como veremos neste texto, podemos dar uma definição axiomática
precisa e estudarmos suas propriedades através de teoremas baseados nos axiomas.
Muitos outros conceitos matemáticos se desenvolveram de modo análogo.
22
Capítulo 1. O Método Axiomático
Exercícios
1. Mostre que o axioma F9 do sistema de axiomas F = (K, +, ·) do Exemplo
1.13 é independente.
(a) Mostre que o conjunto dos números reais não nulos R∗ com a multipli-
cação usual é um modelo para G.
(b) Mostre que o conjunto dos números racionais Q com a soma usual é um
modelo para G.
(c) O sistema de axiomas G é consistente?
(d) O sistema de axiomas G é categórico?
(e) Mostre que cada axioma de G é independente.
+ : A × A −→ A · : A × A −→ A
e
(a, b) −→ a + b (a, b) −→ a · b
23
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
a · (b + c) = a · c + a · b e (a + b) · c = a · c + b · c.
(a) Mostre que o conjunto dos números inteiros Z com a soma e a multipli-
cação usual é um modelo para A.
(b) Mostre que o conjunto das matrizes M2 (R) com a soma e a multiplica-
ção usual é um modelo para A.
(c) Mostre que cada axioma de A é independente.
(d) O sistema de axiomas A é consistente?
(e) O sistema de axiomas A é categórico?
(f) O sistema de axiomas A é completo?
5. Seja X um conjunto não vazio qualquer. Uma relação binária sobre X é uma
função R : X × X −→ {0, 1} definida como
1, se x está relacionado com y
R(x, y) = rxy =
0, se x não está relacionado com y.
24
Capítulo 1. O Método Axiomático
R = {(1, 1), (2, 2), (3, 3), (1, 2), (2, 1), (1, 3), (3, 1), (2, 3), (3, 2)}.
Ou na forma matricial
⎛ ⎞ ⎛ ⎞
r11 r12 r13 1 1 1
R = (rij ) = ⎝ r21 r22 r23 ⎠ = ⎝ 1 1 1 ⎠ .
r31 r32 r33 1 1 1
P1 - xP x, para todo x ∈ X.
P2 - Se xP y e yP x, então x = y, para todos x, y ∈ X.
P3 - Se xP y e yP z, então xP z, para todos x, y, z ∈ X.
25
1.3. Caracterização de um Sistema de Axiomas
7. Seja X um conjunto não vazio qualquer. Uma ordem simples sobre X é uma
par S = (X, ≺), em que ≺ é uma relação binária sobre X, tal que os seguintes
axiomas são satisfeitos:
S1 - Se x, y ∈ X, com x = y, então x ≺ y ou y ≺ x.
S2 - Se x ≺ y, então x = y, para todos x, y ∈ X.
S3 - Se x ≺ y e y ≺ z, então x ≺ z, para todos x, y, z ∈ X.
T1 - ∅, X ∈ T .
T2 - A união de um número qualquer de conjuntos de T pertence a T .
T3 - A interseção de dois conjuntos quaisquer de T pertence a T .
(a) Mostre que o conjunto dos intervalos abertos da reta real R é um modelo
para T .
(b) Sejam
X = {1, 2, 3, 4, 5} e B = {∅, {1}, {3, 4}, {1, 3, 4}, {2, 3, 4, 5}, X}.
26
CAPÍTULO 2
CONJUNTOS
A teoria avançada dos conjuntos foi desenvolvida por volta do ano 1872 por
Cantor1 , quando investigava o problema de unicidade da representação de funções
por séries trigonométricas. Foi aperfeiçoada no início do século XX por outros
matemáticos, entre eles, Zermelo2 , Skolem3 , Fraenkel4 , Gödel5 , von Neumann6 ,
entre outros. O que se estuda deste assunto no ensino fundamental, é tão somente
uma introdução elementar à teoria dos conjuntos, base para o desenvolvimento de
temas futuros, a exemplo de relações, funções, análise combinatória, probabilidades
etc.
Neste capítulo vamos nos dedicar ao estudo dos conjuntos via método axiomá-
tico. É comum na Teoria dos Conjuntos, se ouvirem frases como:
(...) um “conjunto” é qualquer coleção, dentro de um todo de objetos definidos
e distinguíveis, chamados de elementos ou membros, de nossa intuição ou pensa-
mento. G. Cantor (1895).
(...) por “conjunto” nada mais do que um objeto do qual se sabe não mais e
quer-se saber não mais do que aquilo que se segue dos postulados.
J. von Neumann (1928).
1
Georg Cantor, 1845-1918, matemático alemão.
2
Ernst Zermelo, 1871-1956, matemático alemão.
3
Thoralf Albert Skolem, 1887-1963, matemático norueguês.
4
Adolf Fraenkel, 1891-1965, matemático alemão.
5
Kurt Gödel, 1906-1978, matemático austríaco.
6
John von Neumann, 1903-1957, matemático húngaro.
27
2.1. Introdução Histórica
Estas e outras afirmações sobre definições de conjuntos vão ser contornadas via
método axiomático, em que “conjunto” é um termo indefinido.
Pelos fatos acima vimos que um conjunto de objetos é bem definido, desde que seja
sempre possível determinar se ou não um elemento particular pertence ao conjunto.
Vamos apresentar os paradoxos de Russell7 .
Paradoxo Lógico (1902) - Sejam C um conjunto e
R = {A ∈ C : A ∈
/ A}.
Então:
1. R ∈ R.
2. R ∈
/ R.
Solução. Primeiro note que como A pode assumir qualquer objeto da teoria temos,
em particular, que ele pode assumir o “conjunto” R. (1) R ∈ R é impossível, pois
se R ∈ R, então, por definição, R ∈ / R, o que é uma contradição. (2) R ∈ / Ré
7
Bertrand Arthur William Russell, 1872-1970, matemático e filósofo inglês.
28
Capítulo 2. Conjuntos
impossível, pois se R ∈
/ R, então, por definição, R ∈ R, o que é uma contradição.
Portanto,
R∈R⇔R∈ / R,
o que contradiz o princípio do terceiro excluído.
1. x0 ∈
/ T.
2. x0 ∈ T .
Com o surgimento dos paradoxos houve muita controvérsia por parte dos mate-
máticos da época. Mas, com o trabalho de Dedekind8 em 1888 mostrando que os
nossos “números naturais” podem ser construídos por meio da teoria elementar dos
conjuntos:
0 = ∅, 1 = {∅}, 2 = {∅, {∅}} . . .
a teoria passou a ser aceita.
Enunciaram-se, em 1905, várias correntes para contornar os paradoxos, as quais
podemos classificar em três grupos: Axiomático, Logicista e Intuicionista.
8
Julius Wilhelm Richard Dedekind, 1831- 1916, matemático alemão.
29
2.2. Conjuntos
2.2 Conjuntos
Embora a ideia intuitiva de conjunto dada, no curso de Matemática Elementar,
seja suficiente para os nossos propósitos, uma exposição geral da Teoria dos Con-
juntos requer mais precisão, pois a não axiomatização da Teoria dos Conjuntos nos
leva a várias contradições. Sendo assim, nesta seção iniciaremos o estudo formal da
Teoria dos Conjuntos segundo Zermelo-Fraenkel. Neste contexto formal, o termo
indefinido classe é qualquer coleção de objetos (conjuntos) C tal que dado qualquer
objeto X é possível determinar se X ∈ C ou se X ∈ / C, ou seja,
Uma classe que não é um conjunto é chamada de classe própria. Por exemplo,
R = {A : A é um conjunto e A ∈
/ A}.
Portanto, uma classe A é um conjunto se existir uma classe C tal que A ∈ C. Salvo
menção explícita em contrário, os objetos considerados neste texto são conjuntos.
Antes de iniciarmos o estudo formal da Toeria de Conjuntos vamos rever os
sinais (relações indefinidas) em uma Teoria Matemática M:
Os sinais lógicos: ¬, ∼, ∨, ∧ . . .
As letras: a, b, c, d . . .; A, B, C, D . . .
Os sinais específicos: =, ∈, ⊆ . . .
∀ x ∃ y ∀ z : p(x, y, z).
30
Capítulo 2. Conjuntos
Lê-se “para cada x existe um y tal que, para cada z, p(x, y, z) é verdadeira”, sua
negação é
∃ x ∀ y ∃ z : ¬p(x, y, z).
Lê-se “existe um x para cada y tal que, existe z, p(x, y, z) é falsa.” Note que na
negação mantivemos a ordem das variáveis. O principal objetivo de introdução de
símbolos, é facilitar a escrita e a leitura das definições e resultados em Matemática,
ou seja, são imprescindíveis para uma boa compreenção de M.
Finalmente, é pertinente lembrar que a construção de M (vista no Capítulo 1) é
do seguinte modo:
∀ A ∀ B [A = B ⇔ ∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ B e x ∈ B ⇒ x ∈ A]]
ou, simplesmente,
A = B ⇔ ∀ x [x ∈ A ⇔ x ∈ B].
Esta definição implica a seguinte propriedade:
∀ A ∀ B [∀ x [x ∈ A e A = B] ⇒ x ∈ B.
31
2.2. Conjuntos
É importante observar que o axioma ZF1 pode ser visto como uma lei que rela-
ciona o conceito indefinido de pertinência com o conceito indefinido de igualdade.
Além disso, ele garante a unicidade dos conjuntos.
Sejam A e B conjuntos. Diremos que A está contido em B ou A é um subcon-
junto de B ou que B é uma extensão de A se qualquer elemento de A é um elemento
de B, em símbolos,
∀ A ∀ B [A ⊆ B ⇔ ∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ B]]
ou, simplesmente,
A ⊆ B ⇔ ∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ B]
Neste caso, A = B significa que A ⊆ B e B ⊆ A.
Se A ⊆ B e A = B (¬[A = B]), diremos que A está contido propriamente em
B ou A é um subconjunto próprio de B e denotaremos por A ⊂ B.
1. A = A.
2. A = B ⇒ B = A.
3. A = B e B = C ⇒ A = C.
4. A ⊆ A.
5. A ⊆ B e B ⊆ A ⇒ B = A.
6. A ⊆ B e B ⊆ C ⇒ A ⊆ C.
A = B ⇔ ∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ B e x ∈ B ⇒ x ∈ A]
e
B = C ⇔ ∀ x [x ∈ B ⇒ x ∈ C e x ∈ C ⇒ x ∈ B].
Pela primeira e terceira dessas afirmações, obtemos
∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ C] ⇔ A ⊆ C.
32
Capítulo 2. Conjuntos
∀ x [x ∈ C ⇒ x ∈ A] ⇔ C ⊆ A.
Portanto, A = C.
33
2.2. Conjuntos
então
∃ C ∀ x [x ∈ C ⇔ x ∈
/ x].
Em particular, se x = C, então
C∈C⇔C∈
/ C,
5. O axioma ZF2 admite somente as afirmações P (x) que podem ser escritas
inteiramente em forma de símbolos
∀ A ∀ B [∀ x [x ∈ A ∪ B ⇔ x ∈ A ou x ∈ B]]
ou, simplesmente,
A ∪ B = {x : x ∈ A ou x ∈ B} = {x : x ∈ A ∨ x ∈ B}.
∀ A ∀ B [∀ x [x ∈ A ∩ B ⇔ x ∈ A e x ∈ B]]
ou, simplesmente,
A ∩ B = {x : x ∈ A e x ∈ B} = {x : x ∈ A ∧ x ∈ B}.
34
Capítulo 2. Conjuntos
∀ A ∃ U [∀ x [x ∈ U ⇔ x ∈ A e x = x]]
ou, simplesmente,
U = {x : x = x}.
Neste caso, P (x) é a afirmação x = x. É importante lembrar que o conjunto univer-
sal não existe, mas a “classe universal” é a classe de todos os conjuntos. Por isso,
adotamos esta convensão de conjunto universal.
∀ A ∃ ∅ [∀ x [x ∈ ∅ ⇔ x ∈ A e x = x]]
ou, simplesmente,
∅ = {x : x = x}.
Neste caso, P (x) é a afirmação x = x. A existência do conjunto vazio será dada
pelo axioma ZF9 . Note que se existem conjuntos A e B sem elementos, então
A = B. De fato,
∀ A ∀ x [x ∈ A ⇒ x ∈ B],
é uma afirmação verdadeira, pois é uma implicação com um antecedente falso (con-
fira Exemplo 1.19). De modo inteiramente análogo, prova-se a outra inclusão.
A = {x : x ∈
/ A}.
Assim,
∀ A ∀ x [x ∈ A ⇔ x ∈
/ A].
A diferença de A e B é o conjunto de todos os elementos de A que não pertencem
a B. Em símbolos,
A − B = {x : x ∈ A e x ∈ / B}.
35
2.2. Conjuntos
Logo,
∀ A ∀ B [∀ x [x ∈ A − B ⇔ x ∈ A e x ∈
/ B]].
Note que A − B = A ∩ B e, pelo axioma ZF2 , que o conjunto A − B está bem
definido. Além disso, pelo o axioma ZF1 ,
A = B ⇒ ∃ x [x ∈ A − B ou x ∈ B − A] ⇔ (A − B) ∩ (B − A) = ∅.
Como
(A ∪ A) − A = A ∪ (A − A)
temos que a localização dos parênteses na diferença de conjuntos é importante.
É instrutivo observar que o relacionamento entre os conjuntos pode ser repre-
sentado graficamente por meio de uma linha fechada e não entrelaçada, quando a
linha fechada for um círculo, chama-se diagrama de Venn10 .
1. ∅ ⊆ A e A ⊆ U .
2. A ⊆ A ∪ B e B ⊆ A ∪ B.
3. A ∩ B ⊆ A e A ∩ B ⊆ B.
5. A ∪ (A ∩ B) = A e A ∩ (A ∪ B) = A.
7. A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C e A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C.
8. A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C) e A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C).
∀ x [x ∈ (A ∪ B) ⇔ x ∈
/ A∪B ⇔x∈ /A e x∈
/B
⇔ x ∈ A e x ∈ B ⇔ x ∈ A ∩ B ],
36
Capítulo 2. Conjuntos
Exercícios
1. Sejam A, B subconjuntos de U e X um subconjunto de U com as seguintes
propriedades:
(a) A ⊆ X e B ⊆ X.
(b) Se A ⊆ Y e B ⊆ Y , então X ⊆ Y , para todo Y ⊆ U .
Mostre que X = A ∪ B.
3. Sejam A, B, C e D conjuntos.
(a) A − A = ∅.
(b) A − B = A − (A ∩ B) = (A ∪ B) − B.
(c) (A − B) ∩ (B − A) = ∅.
(d) A − B = B − A .
(e) A = (A ∩ B) ∪ (A − B).
(f) A ∪ B = (A ∩ B) ∪ (A − B) ∪ (B − A).
(g) (A − B) − C = A − (B ∪ C).
(h) A − (B − C) = (A − B) ∪ (A ∩ C).
(i) A ∪ (B − C) = (A ∪ B) − (C − A).
(j) A ∩ (B − C) = (A ∩ B) − (C ∩ A).
5. Sejam A e B conjuntos.
37
2.2. Conjuntos
A + B = (A ∩ B ) ∪ (A ∩ B) = (A − B) ∪ (B − A).
Mostre que:
(a) A + ∅ = A.
(b) A + B = ∅ ⇔ A = B.
(c) A + B = (A ∪ B) − (B ∩ A).
(d) A + B = B + A.
(e) A + B = A + C ⇒ B = C.
(f) (A + B) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ B ).
(g) A + (B + C) = (A + B) + C.
(h) A ∩ (B + C) = (A ∩ B) + (A ∩ C).
(i) A ∪ C = B ∪ C ⇔ A + B ⊆ C.
(j) (A ∪ C) + (B ∪ C) = (A + B) − C.
R = {x ∈ A : x ∈
/ x}.
38
Capítulo 2. Conjuntos
{a} = {x : x = a}
Note que {a, b} = {b, a}. De modo inteiramente análogo, obtemos os conjuntos
∀ a ∀ b ∃ c [c = {a, b}]
∀ x [x ∈ C ⇔ x ∈ A ou x ∈ B],
ou seja,
∀ A ∀ B ∃ C [∀ x [x ∈ C ⇔ x ∈ A ou x ∈ B]].
39
2.3. Gráficos e Famílias
4. Se A é um conjunto, então
{x ∈ A : x = x} = {x : x ∈ A} = A.
[x = u e y = v] ou [x = v e y = u],
Sejam a e b elementos. Então, aplicando o axioma ZF3 três vezes, temos que
40
Capítulo 2. Conjuntos
A × B = {(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}
= {x : x = (a, b), para algum a ∈ A e b ∈ B}.
1. A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C).
2. A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C).
3. (A × B) ∩ (C × D) = (A ∩ C) × (B ∩ D).
∀ (x, y) [(x, y) ∈ (A × B) ∩ (C × D)
⇔ (x, y) ∈ A × B e (x, y) ∈ C × D
⇔ (x ∈ A e y ∈ B) e (x ∈ C e y ∈ D)
⇔ (x ∈ A e x ∈ C) e (y ∈ B e y ∈ D)
⇔ x∈A∩C e y ∈B∩D
⇔ (x, y) ∈ (A ∩ C) × (B ∩ D)],
Um gráfico é qualquer conjunto de pares ordenados (x, y), isto é, qualquer sub-
41
2.3. Gráficos e Famílias
∃ G ∀ z [z ∈ G ⇒ z = (x, y)].
Note que a relação (x, y) ∈ G significa que y está relacionado com x sob G, ou
seja,
G = {(x, y) : (x, y) ∈ G}.
Portanto,
G ⊆ Dom(G) × Im(G).
Neste caso, se Dom(G) = ∅ ou Im(G) = ∅, então G = ∅.
Note que se A e B são conjuntos, então A × B é um gráfico, pois qualquer
elemento de A está relacionado com qualquer elemento de B.
O gráfico identidade ou gráfico diagonal sobre A é definido como
IA = {(x, y) ∈ A × A : y = x}.
42
Capítulo 2. Conjuntos
1. G ◦ (H ◦ J) = (G ◦ H) ◦ J.
−1
2. (G−1 ) = G.
3. (G ◦ H)−1 = H −1 ◦ G−1 .
43
2.3. Gráficos e Famílias
pode ser considerada como uma família de conjuntos indexada pelo conjunto dos
números naturais N, em que An = {2n − 1, 2n}, para todo n ∈ N. Portanto,
Neste caso, diremos que a família {An }n∈N é uma sequência e An o n-ésimo con-
junto da sequência. É importante ressaltar que uma família é diferente de um con-
junto de conjuntos, pois os elementos da família podem ser todos iguais, enquanto
em um conjunto não. Por exemplo, se An = R, para todo n ∈ N, então {An }n∈N é
uma família, mas como um conjunto possui apenas um elemento.
{Ai }i∈I = G = {(1, a), (1, b), (2, c), (2, d)}.
Rb = {(x, y) ∈ R × R : y = x + b}
Então {Rb }b∈R é uma família de retas paralelas do plano R × R. Note que a família
{Rb }b∈R é uma “partição” de R × R, ou seja,
·
R= Rb .
b∈R
44
Capítulo 2. Conjuntos
ou ainda,
Ai = {x ∈ U : x ∈ Ai , para algum i ∈ I}
i∈I
Ai = {x ∈ U : ∀ i ∈ I, x ∈ Ai },
i∈I
ou ainda,
45
2.3. Gráficos e Famílias
A ∩ C = {x : x ∈ A ∧ (x é um conjunto) ∧ P (x)}
é um conjunto. Formalmente,
∀ C [C = ∅ ⇒ ∃ D [D = ∪C]].
Por exemplo,
∪∅ = ∅ e ∪ {x} = x.
46
Capítulo 2. Conjuntos
P(A) = {B : B ⊆ A}.
B = {X : X ⊆ A e Q(X)}
é um conjunto. Em particular,
são conjuntos.
47
2.3. Gráficos e Famílias
(a) Se A ∈ U , então A ⊆ U .
(b) Se A ∈ U , então P(A) ⊆ U .
Exemplo 2.15 Se A = {1, 2}, então P(A) = {∅, {1}, {2}, A} é um conjunto. Note
que X ⊆ A significa que X ∈ P(A) e x ∈ A significa que {x} ∈ P(A).
Solução. Como {a}, {a, b} ⊆ {a, b} temos que {a}, {a, b} ∈ P({a, b}). Portanto,
{{a}, {a, b}} ⊆ P({a, b}) ⇒ (a, b) = {{a}, {a, b}} ∈ P(P({a, b})).
Note que como a ∈ {a} e b ∈ {a, b} temos que a, b ∈ (a, b). Logo,
48
Capítulo 2. Conjuntos
Prova. Note, pelos axiomas ZF5 e ZF6 , que P(A ∪ B) é um conjunto. Novamente,
pelo axioma ZF6 , P(P(A ∪ B)) é um conjunto.
Afirmação. A × B ⊆ P(P(A ∪ B)).
De fato, seja (x, y) ∈ A × B. Então x ∈ A ∪ B e y ∈ A ∪ B. Logo, {x} ⊆ A ∪ B
e {x, y} ⊆ A ∪ B. Assim, {x}, {x, y} ∈ P(A ∪ B). Portanto,
{{x}, {x, y}} ⊆ P(A ∪ B) ⇒ (x, y) = {{x}, {x, y}} ∈ P(P(A ∪ B)),
Observação 2.19 Se A e B são conjuntos, então, pelo axioma ZF4 , qualquer grá-
fico G de A × B é um conjunto e
Exercícios
1. Mostre que os conjuntos ∅, {∅}, {∅, {∅}} . . . são todos distintos.
3. Sejam G e H gráficos.
49
2.3. Gráficos e Famílias
50
Capítulo 2. Conjuntos
11. Sejam {Ai }i∈I e {Bj }j∈J famílias de subconjuntos de U . Mostre que:
2.4 Funções
O conceito de função é um dos mais básicos em toda a Matemática. Assim,
nesta seção, vamos apresentar formalmente o conceito de função via gráfico. Mas,
antes de iniciarmos o estudo funções, vamos fazer alguns comentários históricos.
51
2.4. Funções
Em símbolos,
52
Capítulo 2. Conjuntos
∀ x ∈ A ∃! y ∈ B [(x, y) ∈ f ].
2. Dom(f ) = A.
3. Im(f ) ⊆ B.
Prova. Suponhamos que f seja uma função. Então, por definição, F2 está satisfeita.
Além disso,
Assim, Im(f ) ⊆ B.
Reciprocamente,
53
2.4. Funções
f : A→B
(f (x) : x ∈ A), (fx : x ∈ A) ou (fx )x∈A .
x → f (x),
A notação f (x) foi introduzida por Euler12 . A imagem de f pode ser denotada por
{fx : x ∈ A} ou {fx }x∈A . Como (x, y) ∈ f significa que y = f (x) ou x −→ y,
diremos que f (x) é o valor que f assume no elemento x. Neste caso, diremos que
{fx }x∈A é uma família de elementos de B.
É importante lembrar que duas funções são iguais se elas possuem o mesmo
domínio, o mesmo contradomínio e o mesmo gráfico, ou seja, se f : A → B e
g : A → B são funções, então f = g se, e somente se f (x) = g(x), para todo
x ∈ A. Como uma ilustração, se f = g, então
54
Capítulo 2. Conjuntos
1. F : P(A) → P(B) definida como F (X) = f (X) é uma função induzida por
f , com
e f −1 (y) = f −1 ({y}).
(X, Y1 ) ∈ F e (X, Y2 ) ∈ F ⇒ Y1 = Y2 ,
pois
Note que
Logo, Dom(F ) = P(A). É fácil verificar que Im(F ) ⊆ P(B). Portanto, F é uma
função.
55
2.4. Funções
∀ y [y ∈ f (X) − f (Y ) ⇒ y ∈ f (X) e y ∈
/ f (Y )
⇒ ∃ x ∈ X tal que y = f (x) e y = f (z), ∀ z ∈ Y,
⇒ ∃ x ∈ X − Y tal que y = f (x) ⇒ y ∈ f (X − Y )].
X = {(x, y) ∈ R2 : y = x} e Y = {(x, y) ∈ R2 : y = x + 1}
56
Capítulo 2. Conjuntos
que é um subconjunto de A.
Observação 2.26 Se Aj = ∅, para algum j ∈ I, então P = i∈I Ai = ∅, pois não
existe uma função f : I → A tal que f (j) ∈ Aj . Se I = ∅, então P = {∅}.
f ⊆ I × (A1 ∪ A2 ).
57
2.4. Funções
σ : (A1 ∪ A2 )I → A1 × A2
pj (f ) = E(f, j).
Teorema 2.29 Seja {Ai }i∈I uma família de conjuntos. Então existe um conjunto P
e uma família de funções {pi : P → Ai }i∈I com a seguinte propriedade universal:
dado qualquer conjunto C e qualquer família de funções {gi : C → Ai }i∈I , existe
uma única função f : C → P tal que pi ◦ f = gi , para todo i ∈ I. Além disso, P é
unicamente determinado, a menos, de bijeção.
Prova. (Existência) Sejam P = i∈I Ai e pi as projeções canônicas sobre as i-
ésimas componentes. Então dado C e a função gi : C → Ai , definimos f : C → P
como f (c) = gc , em que f (c)(i) = gc (i) = gi (c), para todo i ∈ I. Assim,
58
Capítulo 2. Conjuntos
Observação 2.30 Sejam {Ai }i∈I uma família de conjuntos, P = i∈I Ai e B um
conjunto não vazio qualquer. Pondo
F = {ϕ : B → P : ϕ é uma função}
um conjunto de funções e
59
2.4. Funções
G = {(x, f (x)) : x ∈ A} ⊆ A × B.
Teorema 2.31 Se A é um conjunto não vazio qualquer, então existe uma correspon-
dência biunívoca entre 2A e P(A). Portanto, 2A é um conjunto, confira o axioma
ZF7 a seguir.
60
Capítulo 2. Conjuntos
F (B) = χB : A → 2.
B = C ⇒ χB = χC ⇒ F (B) = F (C).
Mas, não existe um modo de provarmos dos axiomas acima que existe um conjunto
com esses elementos. Neste caso, a inadequação dos axiomas, vista por Fraenkel em
1922 e outros, foi porque eles não permitiram construir conjuntos com a seguinte
propriedade: se B é um conjunto qualquer e todo elemento de B for substituído
por um objeto de um domínio qualquer A, então B continua sendo um conjunto ou,
equivalentemente, se alguma regra f , quando aplicada ao conjunto A, tem a “cara”
61
2.4. Funções
de uma função, então existe um conjunto f (x). Mais precisamente temos o seguinte
axioma.
Observação 2.33 O axioma ZF7 completa a parte essencial e básica para o estudo
da teoria dos conjuntos e da matemática em geral.
definida como f (i) = Ai é sobrejetora. Logo, pelo axioma ZF7 , {Ai }i∈I é
um conjunto. Portanto, pelo axioma ZF5 , ∪i∈I Ai é um conjunto.
Prova. Note, pelo item (3) da Observação 2.33, que f : I → ∪i∈I Ai é um conjunto.
Como i∈I Ai ⊆ P (I × ∪i∈I A) temos, pelos axiomas ZF6 e ZF4 , que i∈I Ai é
um conjunto.
62
Capítulo 2. Conjuntos
Teorema 2.35 Sejam {Ai }i∈I uma família de conjuntos, A = ∪i∈I Ai e {fi : Ai →
B}i∈I uma família de funções tais que
Então existe uma única função f : A → B tal que f |Ai = fi , para todo i ∈ I.
Neste caso, diremos que {fi : Ai → B}i∈I é uma família compatível de funções.
1. A = ∪i∈I Ai .
2. Ai ∩ Aj = ∅ ou Ai = Aj , para todos i, j ∈ I.
63
2.4. Funções
Exercícios
1. Sejam A, B conjuntos, f : A → B uma função, {Ci }i∈I uma família de
subconjuntos de A e {Di }i∈I uma família de subconjuntos de B.
3. Sejam {Ai }i∈I e {Bi }i∈I duas famílias tais que Bi ⊆ Ai , para todo i ∈ I.
Mostre que i∈I Bi ⊆ i∈I Ai .
4. Sejam {Ai }i∈I e {Bi }i∈I duas famílias tais que Ai ⊆ Bi , para todo i ∈ I.
Mostre que i∈I Ai = ∩i∈I p−1i (Ai ), em que pi é a i-ésima projeção de B =
i∈I Bi sobre Bi .
5. Seja A um conjunto. Diremos que uma família {Ai }i∈I é uma cobertura de
A se A ⊆ ∪i∈I Ai . Sejam {Ai }i∈I e {Bj }j∈J duas coberturas distintas de A.
Mostre que a família {Ai ∩ Bj }(i,j)∈I×J é uma cobertura de A.
64
Capítulo 2. Conjuntos
10. Mostre que o axioma ZF3 é uma consequência do axioma ZF7 . Assim, o
axioma ZF3 pode ser agora eliminado.
f ∼ g ⇔ S = {n ∈ N : f (n) = g(n)}
17. Seja {Ri }i∈I uma família de relações de equivalência sobre A. Mostre que
∩i∈I Ri é uma relação de equivalência sobre A.
65
2.4. Funções
18. Seja A ⊆ B fixado. Dados X, Y ∈ P(B), definimos XRY se, e somente se,
A ∩ X = A ∩ Y . Mostre que R é uma relação de equivalência sobre P(B).
20. Sejam {Ai }i∈I uma família, com I = ∅, e f : J → I uma função sobrejetora.
21. Seja f : A → B uma função, com A um conjunto não vazio. Mostre que:
f : A → B é injetora se, e somente se, existir uma função g : B → A tal que
g ◦ f = IA . A função g chama-se retração de f .
66
Capítulo 2. Conjuntos
(a) f : A → B é sobrejetora;
(b) Para todas as funções g, h : B → C, g ◦ f = h ◦ f implica que g = h;
(c) Para qualquer subconjunto X ⊆ A, B − f (X) ⊆ f (A − X).
(a) f : A → B é injetora;
(b) Para todas as funções g, h : C → A, f ◦ g = f ◦ h implica que g = h;
(c) Para qualquer subconjunto X ⊆ A, f (A − X) ⊆ B − f (X).
67
2.4. Funções
33. Seja f : Z → Z uma função que preserva as operações Z, ou seja, tal que:
Mostre que f = IZ ou f = 0.
34. Seja f : Q → Q uma função que preserva as operações Q, ou seja, tal que:
Mostre que f = IQ ou f = 0.
36. Seja f : A → A uma função injetora, com A um conjunto finito. Mostre que
f é sobrejetora.
68
CAPÍTULO 3
Archimedes de Syracuse, 287 a.C.-212 a.C., matemático, físico, engenheiro, inventor e astrô-
1
nomo grego.
69
3.1. Conjuntos Ordenados
5. Diremos que uma ordem ≤ sobre A é uma ordem densa se, e somente se,
dados x, z ∈ A, x ≤ z implica que x ≤ y e y ≤ z, para algum y ∈ A.
• y ≥ x significa que x ≤ y.
70
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
n = sm = s(rk) = (rs)k,
∀ x, y ∈ B [x ≤ y ⇔ x ≤ y sobre A].
é uma ordem sobre B. Neste caso, diremos que R0 é a ordem induzida por R.
Sejam A um poset e B um subconjunto de A. Diremos que B é um subconjunto
totalmente ordenado ou uma cadeia de A se a ordem induzida por A for total. Em
71
3.1. Conjuntos Ordenados
{20 , 21 , 22 , . . . , 2n−1 , . . .}
Exemplo 3.5 Sejam A um conjunto qualquer com pelo menos dois elementos e
P(A) o conjunto das potências de A. Dados X, Y ∈ P(A), definimos X ≤ Y se, e
somente se, X ⊆ Y . Mostre que ≤ é uma ordem sobre P(A) e chama-se ordenação
pela inclusão. Note que esta ordem não é total. No entanto, se C é uma cadeia de
P(A), digamos
C = {X1 , X1 ∪ X2 , . . . , X1 ∪ · · · ∪ Xn , . . .},
Solução. Para provar que ≤ é uma ordem, confira o Teorema 2.1. Finalmente,
se X = {x} ∈ P(A) e Y = {y} ∈ P(A), com x = y, então X e Y não são
comparáveis. Portanto, ≤ não é uma ordem total sobre P(A).
72
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Sa = {x ∈ A : x < a}.
S a = {x ∈ A : a < x}.
[a, b] = {x ∈ A : a ≤ x ≤ b}.
73
3.1. Conjuntos Ordenados
1. E ∩ D = ∅ e E ∪ D = A.
2. Se a ∈ E e x ≤ a, então x ∈ E.
3. Se a ∈ D e a ≤ x, então x ∈ D.
Exemplo 3.9 Seja Q munido com a ordem usual. Mostre que o par
74
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Exemplo 3.11 (Poset Coroa) Seja A = {1, 2, 3, . . . , 2n}, com n > 1, um con-
junto. Dado a ∈ A, definimos
Note que A é um poset, mas não é totalmente ordenado. Confira diagrama de Hasse
dado pela Figura 3.2 (b), com n = 5.
75
3.1. Conjuntos Ordenados
Exercícios
1. Seja A um conjunto. Mostre que se R é uma relação de ordem sobre A, então
a relação de ordem simples E sobre A, isto é, (x, x) ∈
/ E, para todo x ∈ A,
(irreflexiva) possui as seguintes propriedades:
6. Seja {Ri }i∈I uma família de ordens sobre A. Mostre que ∩i∈I Ri é uma
ordem sobre A.
76
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
12. Sejam A um conjunto não vazio e P(A) o conjunto das potências de A. Dados
X, Y ∈ P(A), definimos X ≤ Y se, e somente se, Y ⊆ X. Mostre que ≤ é
uma ordem sobre P(A) e chama-se de ordem inversa.
14. Seja {Ai }i∈I uma família de posets. Dados f = (ai ), g = (bi ) ∈ P =
i∈I Ai , definimos f g se, e somente se, ai ≤ bi , para todo i ∈ I. Mostre
que é uma ordem cartesiana sobre P .
15. Sejam I um conjunto totalmente ordenado, {Ai }i∈I uma família de conjuntos
totalmente ordenados disjuntos aos pares. Neste caso, diremos que {Ai }i∈I é
uma família totalmente ordenada. Seja A = ∪i∈I Ai . Dados a, b ∈ A, existem
únicos i, j ∈ I tais que a ∈ Ai e b ∈ Aj , definimos [a b, se i < j] e [a ≤ b
sobre Ai , se i = j]. Mostre que é uma ordem total sobre A.
77
3.2. Isomorfismos
3.2 Isomorfismos
É importante lembrar que todos os resultados sobre funções vistos no curso de
Matemática Elementar podem ser usados em tudo que segue.
Sejam A, B dois posets e f : A → B uma função. Diremos que f é crescente
ou preserva ordem se
∀ x, y ∈ A [x ≤ y ⇒ f (x) ≤ f (y)],
∀ x, y ∈ A [x ≤ y ⇒ f (x) ≥ f (y)].
λA (X) = A − X
inverte ordem e λA ◦ λA = IA .
Sejam A, B dois poset e f : A → B uma função. Diremos que f é estritamente
crescente se
∀ x, y ∈ A [x < y ⇒ f (x) < f (y)].
e f é um isomorfismo se f é bijetora e
∀ x, y ∈ A [x ≤ y ⇔ f (x) ≤ f (y)].
78
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
∀ x, y ∈ R [x ≤ y ⇔ ax ≤ ay ⇔ ax + b ≤ ay + b ⇔ f (x) ≤ f (y)],
∀ x, y ∈ R [x ≤ y ⇔ ax ≥ ay ⇔ ax + b ≥ ay + b ⇔ f (x) ≥ f (y)],
∀ x, y ∈ A [x ≤ y ⇔ f (x) ≤ f (y)].
79
3.2. Isomorfismos
Portanto, f (x) < f (y), pois se f (x) = f (y), então, pela injetividade de f , x = y, o
que é impossível.
Reciprocamente, se f (x) < f (y), então f (x) ≤ f (y). Logo, por hipótese, x ≤
y. Portanto, x < y, pois se x = y, então, pela definição de função, f (x) = f (y), o
que é impossível.
Portanto, f −1 é crescente.
Reciprocamente, como f é crescente temos que
∀ x, y ∈ A [x ≤ y ⇒ f (x) ≤ f (y)].
Portanto, f é um isomorfismo.
1. IA : A → A é um isomorfismo.
80
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Prova. Vamos provar apenas o item (3). É claro que g ◦ f é uma função bijetora.
Note, para quaisquer x, y ∈ A, que
Portanto, g ◦ f é um isomorfismo.
Afirmação. f é um isomorfismo.
De fato, dados x, y ∈ I, se f (x) = f (y), então
x y
= .
1 − |x| 1 − |y|
81
3.2. Isomorfismos
Note que
lim f (x) = −∞ e lim− f (x) = +∞.
x→−1+ x→1
y(1 + x) − x(1 − y)
f (y) − f (x) = ≥ 0.
(1 + x)(1 − y)
Exercícios
1. Sejam A e B dois posets. Mostre que se f : A → B é uma função crescente
e injetora, então f é estritamente crescente. Neste caso, diremos que f é uma
imersão crescente.
82
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
∀ x ∈ D ∀ a, b ∈ C [a ≤ x ≤ b ⇒ x ∈ C].
83
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
∀ x ∈ A [M ≤ x ⇒ M = x].
∀ x ∈ A [x ≤ m ⇒ m = x].
84
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Exemplo 3.19 Seja A = {2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 12, 15, 16, 24} um conjunto ordenado
pelo diagrama de Hasse, confira Figura 3.3. Então 7, 9, 15, 16 e 24 são elementos
maximais, enquanto 2, 3, 5 e 7 são elementos minimais.
Exemplo 3.21 Seja I = ]0, 1[ o intervalo aberto com a ordem induzida por R.
Mostre que I não possui elemento maximal e nem minimal.
Solução. Se M e m são elementos maximal e minimal de I, então pelos itens (a) e
(b) do Exercício (1) abaixo, obtemos
M +1 m
0<M < <1 e 0< < m < 1,
2 2
o que é impossível. Enquanto, o intervalo fechado [0, 1] com a ordem induzida por
R possui elemento maximal 1 e elemento minimal 0.
∀ x ∈ A [x ≤ M ].
85
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
∀ x ∈ A [m ≤ x].
Observe que se o maior ou o menor elemento, existir, ele é único. Além disso,
qualquer menor (maior) elemento é um elemento minimal (maximal), mas não reci-
procamente. É muito importante o seguinte: se m ∈ A, então m é o menor elemento
de A − Sm .
Exemplo 3.22 O conjunto Z+ , com a ordenação dada pelo Exemplo 3.3, possui 1
como menor elemento e 0 como maior elemento,
Exemplo 3.23 O conjunto A do Exemplo 3.19 não possui maior e nem menor ele-
mento. Não obstante, possui elementos maximais e minimais.
∀ x ∈ B [a ≤ x].
86
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Denotaremos por
e
s(B) = {a ∈ A : a é uma cota inferior de B}
= {a ∈ A : a ≤ x, ∀ x ∈ B}.
Exemplo 3.27 Seja I = ]0, 1[ o intervalo aberto com a ordem induzida por R.
Então s(I) = {x ∈ R : x ≤ 0} e S(I) = {x ∈ R : x ≥ 1}. No entanto, 0, 1 ∈
/ I.
Neste caso, I é um conjunto limitado.
87
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
Solução. É claro que ∪X∈B X ∈ S(B), pois cada X ⊆ ∪X∈B X. Por outro lado, se
C é qualquer elemento de S(B), então X ⊆ C, para todo X ∈ B. Logo, ∪X∈B X ⊆
C. Assim, ∪X∈B X é a menor das cotas superiores. Portanto, sup(B) = ∪X∈B X.
88
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Exemplo 3.31 Sejam R munido com a ordem usual e B um subconjunto não vazio
de R. Mostre que a ∈ S(B) é o supremo de B se, e somente se, para qualquer
∈ R, com > 0, existir um b = b() ∈ B tal que a − < b ≤ a < a + .
Solução. Suponhamos que a = sup(B) e > 0. Então a − < a. Assim,
a−∈ / S(B). Portanto, existe um b = b() ∈ B tal que a − < b ≤ a < a + .
Reciprocamente, suponhamos que a ∈ S(B) e para qualquer ∈ R, com > 0,
exista um b = b() ∈ B tal que a − < b ≤ a < a + . Dado x ∈ R, se x < a,
então = a − x > 0. Assim, existe um b = b() ∈ B tal que x = a − < b ≤ a.
Logo, x ∈/ S(B). Portanto, a = sup(B), pois x foi escolhido arbitrariamente.
Exemplo 3.32 Seja A um poset. Mostre que s(∅) = A e S(∅) = A. Conclua que
A possui um maior elemento a ∈ A se, e somente se, sup(A) = a = inf(∅).
Solução. É claro que s(∅) ⊆ A. Por outro lado, já vimos que um elemento a ∈ A
não é uma cota inferior de B se existir um b0 ∈ B tal que b0 < a. Se B = ∅, então
não existe um elemento b0 ∈ B que satisfaça esta condição, ou seja, se a ∈ A, então
∀ x [x ∈ ∅ ⇒ a ≤ x],
Seja A um poset. Se R é uma ordem sobre A, então é fácil verificar que R−1
também é uma ordem sobre A, a qual é chamada de ordem inversa ou ordem dual.
Neste caso, existe um isomorfismo dual entre o conjunto de todas as ordens sobre
A e o conjunto de todas as ordens inversas sobre A.
Exemplo 3.33 Sejam R munido com a ordem usual e a, b ∈ R, com a < 0. Mostre
que a função f : (R, ≤) → (R, ≥) definida como f (x) = ax + b é um isomorfismo.
Solução. Já vimos que f é bijetora. Como a < 0 temos que
∀ x, y ∈ R [x ≤ y ⇔ ax ≥ ay ⇔ ax + b ≥ ay + b ⇔ f (x) ≥ f (y)].
89
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
90
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
Observação 3.38 Quando A = [0, 1], com a ordem induzida por R, o Teorema
3.37, afirma que qualquer funçõa f : A → A crescente possui pelo menos um
ponto fixo, ou seja, o gráfico de f intercepta a diagonal
D = {(x, x) : 0 ≤ x ≤ 1}.
em pelo menos um ponto. Note, também, que o Teorema 3.37 afirma que f possui
um maior e um menor ponto fixo.
91
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
Exemplo 3.40 Seja Q munido com a ordem usual. Mostre que o conjunto
E = {x ∈ Q : xleq0 ou x2 < 2}
não possui elemento maximal. Neste caso, diremos que E é um corte de Dedekind
à esquerda e o par (E, D) é um corte de Dedekind, em que D = Q − E.
Solução. Já vimos, pelo Exemplo 3.9, que o par (E, D) é um corte de Q. Assim,
resta provar que para cada M ∈ E, existe um x0 ∈ E tal que M < x0 . Se M < 0,
então existe, por exemplo, um x0 = 1 ∈ E tal que M < x0 . Se M ≥ 0, então
√
2 − M > 0. Logo, pela Princípio de Arquimedes, existe um n0 ∈ N tal que
√ √
n0 ( 2 − M ) > 1 ou n−1
0 +M < 2 ⇒ (n−1 2
0 + M ) < 2.
sup{a, b} = a ∨ b e inf{a, b} = a ∧ b,
Por outro lado, A = Z × Z ordenado como (a, b) (c, d) se, e somente se, a = c e
b ≤ d, não é um reticulado, pois se a = x, então os pontos P = (a, b) e Q = (x, y),
para todos b, y ∈ Z, não possui cota superior e nem inferior (prove isto!).
Seja A um reticulado. Diremos que A é um reticulado distributivo se as seguin-
tes condições são satisfeita:
92
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
1. a ≤ a ∨ b e b ≤ a ∨ b.
2. a ∧ b ≤ a e a ∧ b ≤ b.
3. Se a ≤ c e b ≤ c, então a ∨ b ≤ c.
4. Se c ≤ a e c ≤ b, então c ≤ a ∧ b.
1. a ∨ a = a e a ∧ a = a. (Idempotência)
2. a ∨ b = b ∨ a e a ∧ b = b ∧ a. (comutatividade)
3. (a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c) e (a ∧ b) ∧ c = a ∧ (b ∧ c). (associatividade)
4. (a ∨ b) ∧ a = a e (a ∧ b) ∨ a = a. (absorção)
a ∨ b ≤ a ∨ (b ∨ c) e c ≤ b ∨ c ≤ a ∨ (b ∨ c).
93
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
a = a ∨ b ≤ (a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c) = a ∨ c ⇒ a ≤ c.
a ∨ (a ∨ b) = (a ∨ a) ∨ b = a ∨ b
temos, por definição, que a ≤ a∨b. Por um argumento simétrico, obtemos b ≤ a∨b,
ou seja, a ∨ b ∈ U . Por outro lado, se c ∈ U , então a ≤ c e b ≤ c. Assim, por
definição, a ∨ c = a e b ∨ c = b. Logo, pelo item (3),
(a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c) = a ∨ b.
1. Se b ≤ c, então a ∧ b ≤ a ∧ c e a ∨ b ≤ a ∨ c.
2. a ∧ (b ∨ c) ≥ (a ∧ b) ∨ (a ∧ c) e a ∨ (b ∧ c) ≤ (a ∨ b) ∧ (a ∨ c).
3. Se b ≤ c, então a ∨ (b ∧ c) ≤ (a ∨ b) ∧ c.
94
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
a ∧ b = (a ∧ a) ∧ (b ∧ c) = (a ∧ b) ∧ (a ∧ c).
1. a ∨ b ∈ I, para todos a, b ∈ I.
1. a ∧ b ∈ I, para todos a, b ∈ F .
Observe que filtro é a afirmação dual de ideal. Note que se A contém um menor
elemento m, então m ∈ I, para todo ideal I de A. Além disso, dados a, b ∈ I,
a∧b ≤ b implica que a∧b ∈ I. Portanto, qualquer ideal é ele próprio um reticulado.
Para qualquer reticulado distributivo A e a ∈ A fixado, é faácil verificar que
Ia = {x ∈ A : x ≤ a} = Sa ∪ {a}
Ix = {B ⊆ X : x ∈
/ B},
95
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
Note que se
x = {y ∈ A : xRy} = {y ∈ A : (x, y) ∈ R}
96
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
clara. Por outro lado, seja {Ai }i∈I uma partição de A. Então é fácil verificar que
R = ∪i∈I Ai × Ai é uma relação de equivalência sobre A.
Vamos finalizarmos esta seção com o seguinte teorema sobre reticulado com-
pleto devido a Tarski4 .
97
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
F (X) ⊆ F (Y ) ⇒ λB (F (Y )) ⊆ λB (F (X))
⇒ G(λB (F (Y ))) ⊆ G(λB (F (X)))
⇒ λA (G(λB (F (X)))) ⊆ λA (G(λB (F (Y ))))
⇒ ϕ(X) ⊆ ϕ(Y ).
Assim, pelo Teorema 3.49, existe um Z ∈ P(A) tal que ϕ(Z) = Z. Portanto,
Esses resultados podem ser representados pela Figura 3.4. Neste caso, g −1 é uma
função bijetora de A − Z sobre B − f (Z) e f uma função bijetora de Z sobre f (Z).
Vamos definir a função h : A → B como
f (x), se x ∈ Z
h(x) =
g −1 (x), se x ∈
/ Z.
Exercícios
1. Sejam R munido com a ordem usual e a, b ∈ R.
98
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
A = {{2n, 2n + 4} ∈ F : n ∈ N}.
B = {{n, n + 2} ∈ F : n ∈ N}.
5. Sejam A e B dois posets. Mostre cada uma das afirmações abaixo e enuncie
a dual.
99
3.3. Elementos Notáveis e Dualidade
11. Seja A um reticulado. Mostre que se [a, b] e [c, d] são intervalos fechados de
A, então
[a, b] ∩ [c, d] = [sup{a, c}, inf{b, d}].
14. Mostre que qualquer conjunto parcialmente ordenado finito possui um ele-
mento maximal (minimal).
100
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
F = {W ⊆ V : W é um subespaço de V }.
18. Seja F uma família de conjuntos ordenado pela inclusão com a seguinte pro-
priedade: A ∪ B ∈ F e A ∩ B ∈ F, para todos A, B ∈ F. Mostre que F é
um reticulado distributivo, chamado de um reticulado de conjuntos.
101
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
a b ⇔ (a, b ∈ A e a ≤ b) ou (a ∈ A e ∞ = b),
Note, para provar, que um elemento c ∈ A não possui predecessor imediato, de-
vemos, para cada x ∈ A, com x < c, encontrar um d ∈ A, com d = x, tal que
x < d < c. Neste caso, adjuntando a c o maior elemento ∞, temos que ∞ não
possui predecessor imediato. Portanto, nem todo elemento necessita ter um prede-
cessor imediato. É muito importante o seguinte: dados x, y ∈ A, se x < y, então
existem x1 , x2 , . . . , xn ∈ A tais que x = x1 < x2 < · · · < xn = y e cada xi+1 é um
sucessor imediato de xi . Reciprocamente, se uma tal sequência existir, então x < y.
Exemplo 3.52 Seja Q munido com a ordem usual. Mostre que nenhum elemento
de Q possui sucessor imediato.
Solução. Se a, b ∈ Q, digamos a < b, então a < 2−1 ·(a+b) < b. Portanto, nenhum
elemento de Q possui sucessor imediato. Não obstante, o conjunto Z, munido com
a ordem usual, cada elemento n possui um sucessor imediato n + 1.
102
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
é um CBO.
Solução. É fácil verificar que é uma ordem sobre Q∗+ e que
1 1 2 1 3 1 2 3 4 1 5
Q∗+ = , , , , , , , , , , ,... .
1 2 1 3 1 4 3 2 1 5 1
103
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
Consequentemente,
1 1 1 1 2 2 1 1
Q= 0, , − , , − , , − , , − , . . .
1 1 2 2 1 1 3 3
é um CBO.
Solução. Como A é uma união de três sequências crescentes temos que qualquer
subconjunto não vazio de A possui um menor elemento em uma das três. Portanto,
A é um CBO. É fácil verificar que os elementos m + 2−n (2n − 1), com n > 0,
são os sucessores imediatos de A. Note que 0, 1 e 2 não possuem predecessores
imediatos.
Exemplo 3.57 Seja R munido com a ordem usual. Mostre que dados a, b ∈ R,
com a < b, existe um r ∈ Q tal que a < r < b. Neste caso, diremos que Q é um
subconjunto denso em R.
S = {k ∈ N : n0 a < k}
pois m0 − 1 ∈
/ S. Portanto,
m0 1 m0 − 1
r= = + < (b − a) + a = b,
n0 n0 n0
104
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
∀ x ∈ A [y ∈ B e x ≤ y ⇒ x ∈ B]
Exemplo 3.59 Seja R munido com a ordem usual. Mostre, para um a ∈ R fixado,
que B = {x ∈ R : x < a} é uma seção de R.
ou seja, existe uma função f : N → A tal que f (n + 1) < f (n), para todo n ∈ N.
Assim, o segmento inicial Sx1 não é um CBO, o que é uma contradição.
105
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
∀ x ∈ N [x ≤ f (x)].
∀ x ∈ A [x ≤ f (x)].
106
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
A = {1, 3, 5, . . . ; 2, 4, 6, . . .}
= {2n − 1 : n ∈ N} ∪ {2n : n ∈ N}
Prova. Como a = b temos, por hipótese, que a < b ou b < a. Assim, basta
considerar o caso a < b. Logo, Sa é uma seção de Sb , pois para um x ∈ Sb fixado,
y ∈ Sa e x ≤ y implica que x ≤ a e x ∈ Sa . Logo, pelo Teorema 3.60, Sa é um
segmento inicial de Sb e, pelo Corolário 3.66, Sa não é isomorfo com Sb .
107
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
1. A B;
108
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
109
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
2. Se a ∈ A e Sa ⊆ S, então a ∈ S (P IT ).
Então S = A.
Solução. Suponhamos, por absurdo, que S = A. Então T = A − S = ∅. Logo,
por hipótese, T contém um menor elemento, digamos t0 ∈ T . Assim, x < t0 , para
todo x ∈ St0 , isto implica que x ∈
/ T , ou seja, St0 ⊆ S. Logo, pela propriedade (2),
t0 ∈ S. Portanto, t0 ∈ S ∩ T = ∅, o que é uma contradição. Neste caso, S = A.
110
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
X n = X × X × · · · × X = {(x1 , x2 , . . . , xn ) : xi ∈ X}.
111
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
f= B,
B∈C
é fácil verificar que f ∈ C. Assim, basta provar que f é a função desejada. Para
isto, seja S o conjunto de todos os elementos c ∈ A tais que (c, x1 ) ∈ f e (c, x2 ) ∈ f
implicam que x1 = x2 ou, equivalentemente, S é o conjunto de todos os elementos
c ∈ A tal que existe no máximo um x ∈ X, com (c, x) ∈ f . Logo, devemos provar
que se Sa ⊆ S, então a ∈ S (P IT ). Note que Sa ⊆ S significa que se c ∈ Sa , então
existe um único elemento x ∈ X tal que (c, x) ∈ f , de modo que a correspondência
c → x define uma função fa : Sa → X tal que fa ⊆ f . Suponhamos, por absurdo,
que a ∈ / S. Então (a, y) ∈ f , para algum y ∈ X, com y = g(fa ).
Afirmação. f − {(a, y)} ∈ C ou, equivalentemente, se b ∈ A e fb ⊆ f −
{(a, y)}, então (b, g(fb )) ∈ f − {(a, y)}.
De fato, se a = b, então fa = fb . Assim, (b, g(fb )) ∈ f −{(a, y)}, pois y = g(fa ) =
g(fb ). Logo, f − {(a, y)} ∈ C e f ⊆ f − {(a, y)}, o que é uma contradição. Se
a = b, então (b, g(fb )) ∈ f −{(a, y)}, pois f ∈ C e a = b. Assim, f −{(a, y)} ∈ C
e f ⊆ f − {(a, y)}, o que é uma contradição. Portanto, S = A.
(Unicidade) Seja h : A → X outra função tal que
112
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
∀ n ∈ A [f (n + 1) = g(fn )].
Exemplo 3.84 Seja {xn }n∈N uma sequância em R (uma função de N em R). Mos-
tre que existe uma única função f : N → R tal que
113
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
para todo n ∈ N.
Exercícios
√
1. Mostre que 2 é um número irracional.
2. Seja R munido com a ordem usual. Mostre que dados a, b ∈ R, com a < b,
existe um número irracional x tal que a < x < b.
114
Capítulo 3. Conjuntos Parcialmente Ordenados
(a) Mostre que R munido com a ordem usual, qualquer elemento é um ele-
mento limite.
(b) Mostre que q é um elemento limite de A se, e somente se, a < q se, e
somente se, a+ < q, em que a+ representa o sucessor imediato de a.
(c) Mostre que q é um elemento limite de A se, e somente se, q = sup(Sq ).
15. Seja A um poset. Mostre que se B é uma seção de A se, e somente se,
(B, A − B) é um corte de A.
115
3.4. Conjuntos Bem Ordenados
116
CAPÍTULO 4
117
4.1. Axioma da Escolha
ZF8 - Axioma da escolha (Forma Multiplicativa). Seja {Ai }i∈I uma família
não vazia de conjuntos não vazios. Então
P = Ai = ∅.
i∈I
Equivalentemente, seja F uma função, com Dom(F ) = I, tal que F (i) = ∅, para
todo i ∈ I. Então existe uma função f : I → ∪i∈I F (i) tal que f (i) ∈ F (i), para
todo i ∈ I.
Observação 4.1 Sejam {Ai }i∈I uma família não vazia de conjuntos não vazios e
P = i∈I Ai .
118
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
indução sobre n, com I = {1, 2, . . . , n}. Neste caso, a cada função escolha
f : I → ∪ni=1 Ai corresponde a uma única n-upla
f → (x1 , . . . , xn ),
(x1 , . . . , xn ),
n
ϕ: Ai → A1 × · · · × An
i=1
A1 × · · · × An
119
4.1. Axioma da Escolha
Mostre que p ∈ R é um ponto limite de A se, e somente se, existir uma sequência
{xn }n∈N em A, com xn = p, para todo n ∈ N, tal que limn→∞ xn = p. Conclua
que cada p ∈ R é um ponto limite de Q.
1
An = In ∩ A, com In = {x ∈ R : 0 < |x − p| < },
n
não vazia de conjuntos não vazios. Assim, pelo axioma ZF8 , P = n∈N An = ∅,
ou seja, existe uma função escolha f : N → ∪n∈N An tal que f (n) ∈ An , para todo
n ∈ N. Portanto, obtemos uma sequência {xn = f (n)}n∈N em A, com xn = p,
para todo n ∈ N, tal que limn→∞ xn = p.
Reciprocamente, seja {xn }n∈N uma sequência em A tal que limn→∞ xn = p.
Então dado > 0, existe um n0 ∈ N tal que
120
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
1
An = {x ∈ R : |x − a| < e |f (x) − f (a)| ≥ } =
∅,
n
Logo, pelo axioma ZF8 , P = n∈N An = ∅. Portanto, existe uma sequência
{xn }n∈N em P ⊆ R tal que xn ∈ An , para todo n ∈ N, ou seja, limn→∞ xn = a,
mas limn→∞ f (xn ) = f (a), o que é uma contradição.
Exemplo 4.5 Seja f : A → B uma função sobrejetora. Mostre que existe uma
função g : B → A tal que f ◦ g = IB . Esta afirmação é equivalente ao axioma
ZF8 .
121
4.1. Axioma da Escolha
g : F → ∪F tal que f ◦ g = IF . Portanto, g ∈ P = i∈I Ai e P = i∈I Ai = ∅,
ou seja, o axioma ZF8 está satisfeito.
Exemplo 4.6 Seja A = {a, b, c}. Então uma função escolha para A é definida pela
tabela. Note que existem 24 tais funções.
Exemplo 4.7 Seja A um CBO. Então uma função escolha r : P(A)∗ → A para A
é definida como r(B) = min(B) ∈ B.
é claramente uma função escolha para A, pois qualquer subconjunto de A que con-
tém a é da forma X ∪ {a}, com X ⊆ B.
122
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
123
4.1. Axioma da Escolha
C = {m ∈ A : m = min(Ab )}
Prova. Sejam F um conjunto cujos elementos são conjuntos não vazios, disjuntos
aos pares e X = ∪F = ∪A∈A A. Então F ⊆ P(X)∗ . Assim, por hipótese, existe
uma função escolha r : P(X)∗ → X para X tal que r(A) ∈ A, para todo A ∈
P(X)∗ . Logo, o conjunto C = r(F) = {r(A) : A ∈ F} tem as propriedades
desejadas, pois C ∩ A = {a}, para cada A ∈ F.
Reciprocamente, sejam A um conjunto não vazio, B ⊆ A não vazio e XB =
{(B, x) : x ∈ B} ou XB = {B} × B. Então se B, C são não vazios e B ∩
C = ∅, então XB ∩ XC = ∅. Assim, F = {XB }B∈P(A)∗ é uma família não
vazia de conjuntos não vazios disjuntos aos pares, pois XB ⊆ P(A) × A implica
que F ⊆ P(P(A) × A) e pelos axiomas ZF3 , ZF6 e o Teorema 2.18, a família
F é um conjunto. Logo, existe um conjunto escolha C para A, isto é, para cada
B ∈ P(A)∗ existe um único x ∈ B tal que (B, x) ∈ C ∩ XB . Portanto, a função
r : P(A)∗ → A definida como r(B) = x é uma função escolha para A. Mais
precisamente, r(B) = p2 (B, x) = x, com p2 : P(A) × A → A.
124
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Exemplo 4.15 Seja A um conjunto infinito. Mostre que existe uma função inje-
tora f : N → A. Em particular, A contém um subconjunto enumerável (contável
infinito).
125
4.1. Axioma da Escolha
Exemplo 4.17 Dados conjuntos quaisquer A e B. Mostre que existe uma função
sobrejetora f : A → B se, e somente se, existir uma função g : B → A tal que
f ◦ g = IB . Em particular, f é sobrejetora se, e somente se, g é injetora.
126
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Solução. Seja f : A → AA uma função qualquer. Vamos provar que f não pode
ser sobrejetora. Caso contrário, dado h ∈ AA , existe um a ∈ A tal que h = f (a)
e denotamos por fa o valor de f em a. Assim, fa (x) ∈ A, para todo x ∈ A.
Consideremos os conjuntos
Note que Xa = ∅, para todo a ∈ A, pois A contém pelo menos dois elementos.
Então F = {Xa }a∈A é uma família não vazia de conjuntos não vazios. Logo, existe
uma função escolha r para F tal que r(Xa ) ∈ Xa , para todo a ∈ A. Em particular,
r(Xa ) = fa (a), para todo a ∈ A. Vamos definir uma função g : A → A como
g(x) = r(Xx ), para todo x ∈ A.
Afirmação. g ∈ AA e g = fa , para todo a ∈ A.
De fato, suponhamos, por absurdo, que exista um a ∈ A tal que g = fa . Então para
cada x ∈ A, g(x) = r(Xx ) = fa (x), Em particular, r(Xa ) = g(a) = fa (a), o que é
uma contradição. Portanto, f não é sobrejetora.
127
4.1. Axioma da Escolha
Exercícios
1. Sejam A e B dois CBO. Mostre que a ordem lexicográfica sobre A × B é
bem ordenada.
2. Sejam {Ai }i∈I uma família não vazia de conjuntos não vazios e P = i∈I Ai .
Mostre que a j-ésima projeção pj : P → Aj é uma função sobrejetora.
128
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
4.2 Aplicações
Nesta seção provaremos, como consequência do axioma da escolha, os princí-
pios maximais. Além disso, provaremos que eles são equivalentes ao axioma da
escolha.
Com o objetivo de provarmos o Lema de Zorn primeiro provaremos o teorema
4.21 devido Bourbaki. Nicolas Bourbaki é o pseudônimo coletivo sob o qual um
grupo de matemáticos, na sua maioria franceses, escreveram uma série de livros que
expunham a matemática avançada moderna, que começaram a ser editados em 1935.
Com o objetivo de fundamentar toda a matemática na Teoria dos Conjuntos, o grupo
lutou por mais rigor e simplicidade, criando uma nova terminologia e conceitos ao
longo dos tempos.
Seja A um poset. Diremos que A é indutivamente ordenado se qualquer cadeia
de A possui uma cota superior em A. Diremos que A é estritamente indutivamente
ordenado se qualquer cadeia de A possui um supremo em A.
Exemplo 4.20 Sejam A um conjunto não vazio qualquer e P(A) ordenado pela
inclusão. Se F é um subconjunto de P(A) tal que B = ∪X∈C X ∈ F, para qualquer
cadeia C de F, então F é um conjunto estritamente indutivamente ordenado, pois
B = sup(C).
Daqui em diante lidaremos fortemente com um poset não vazio e estritamente
indutivamente ordenado A e uma função qualquer f : A → A tal que
∀ x ∈ A [x ≤ f (x)].
129
4.2. Aplicações
1. p ∈ B.
Tx = {y ∈ A : y é um sucessor imediato de x} =
∅,
Asim, pelo axioma da escolha, existe uma função escolha r para A tal que r(Tx ) ∈
Tx , para todo x ∈ A. Vamos definir f : A → A como f (x) = r(Tx ). Então é claro
que f (x) é um sucessor de x, isto é, x < f (x).
130
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
∀ y ∈ P [x ≤ y ou y ≤ x],
Bx = {y ∈ P : y ≤ x ou y ≥ f (x)} ⊆ P.
131
4.2. Aplicações
Prova. Seja
B = {x ∈ P : x é um elemento normal} ⊆ P.
Então p ∈ B, pois p ≤ y, para todo y ∈ A, em particular, para todo y ∈ P .
Se x ∈ B, então, pelo Corolário 4.25, y ≤ x ou y ≥ f (x), para todo y ∈ P .
Assim, y ≤ f (x) ou y ≥ f (x). Portanto, f (x) ∈ B. Sejam C uma cadeia de B e
m = sup(C). Então, para cada y ∈ P , se existir um x ∈ C tal que y ≤ x, então
y ≤ m, pois x ≤ m. Caso contrário, x ≤ y, para todo x ∈ C. Logo, m ≤ y.
Portanto, m ∈ B.
B = {x ∈ P : x é um elemento normal} ⊆ P
(x, y) (z, w) ⇔ x ≤ z e y = w.
Então é fácil verificar que é uma ordem parcial e para cada a ∈ R fixado, o
conjunto Ca = {(x, a) : x ∈ R} é uma cadeia maximal de R2 . De fato, dado
(x, y) ∈ R2 , com y = a, então Ca ∪ {(x, y)} não é uma cadeia de R2 , pois os
elementos (x, a) e (x, y) não são comparáveis. Portanto, Ca é uma cadeia maximal
de R2 . Isto motiva o seguinte resultado:
2
Teorema 4.28 (Princípio Maximal de Hausdorff) Qualquer poset possui pelo
menos uma cadeia maximal.
Prova. Sejam A um poset não vazio qualquer e
132
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Solução. Seja
133
4.2. Aplicações
No que segue vamos admitir que o leitor esteja familiarizado com a noção de
um espaço vetorial sobre um corpo, por exemplo, o corpo R.
[α] = {x1 u1 + · · · + xn un : n ∈ N, xi ∈ K e ui ∈ α}
134
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Teorema 4.32 (Existência de Base) Qualquer espaço vetorial possui uma base.
Mais geralmente, qualquer subconjunto de vetores LI de um espaço vetorial é parte
de uma base.
F = {β : β é um subconjunto LI em V }
Observação 4.33 Note que a existência de uma base para um espaço vetorial não
decorre da Teoria dos Conjuntos de Zermelo-Fraenkel sem o uso do Lema de Zorn.
x = r1 x 1 + · · · + r n x n ,
135
4.2. Aplicações
T (x + y) = T (x) + T (y), ∀ x, y ∈ R,
2. Mostre que existe uma função aditiva T tal que T = Ta , para todo a ∈ R.
implica que T (n−1 x) = n−1 T (x). Portanto, T (rx) = rT (x), para todo r ∈ Q.
(2) Seja S uma base de Hamel de R e escolhendo x0 ∈ S. Então vamos definir
T : R → R como
ri , se x = r1 x1 + · · · + ri xi + · · · + rn xn e xi = x0
T (x) =
0, caso contrário.
1 = T (x0 ) = ax0 ⇒ a = 0.
136
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
satisfaz o axioma da homogeneidade T (ax, ay) = aT (x, y), mas não o axioma
da linearidade. Portanto, o axioma da linearidade de uma transformação linear é
independente. É importante ressaltar o seguinte: como T (r) = T (1)r, para todo
r ∈ Q, temos, quando T é contínua, que T (x) = T (1)x, para todo x ∈ R, ou seja,
T é uma transformação linear.
Seja X um conjunto não vazio. Já vimos que (P(X), ∪, ∩), ordenado pela
inclusão, era um reticulado distributivo. Além disso, P(X) possui menor elemento
∅ e maior elemento X, e a seguinte propriedade: para cada A ∈ P(X), existe um
único A ∈ P(X) tal que A∩A = ∅ e A∪A = X. Isto motiva a seguinte definição.
Seja (A, ≤, ∨, ∧) um reticulado distributivo. Diremos que A é uma álgebra
Booliano se os seguintes axiomas são satisfeitos:
137
4.2. Aplicações
2. Mostre que P é um ideal primo se, e somente se, ele é um ideal maximal.
Solução. (1) Suponhamos que P seja um ideal maximal e que a ∈
/ P . Então o
conjunto
J = {b ∨ x ∈ A : b ≤ a e x ∈ P }
é um ideal de A, com P ⊂ J (prove isto!). Assim, J = A. Logo, existe um x ∈ P
e b ∈ A, com b ≤ a, tal que b ∨ x = 1. Portanto,
a ∨ x = (a ∨ b) ∨ x = a ∨ (b ∨ x) = a ∨ 1 = 1,
de modo que
É muito importante ressaltar que existem reticulados sem ideais primos e nem
maximais. Por exemplo, seja
138
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
139
4.2. Aplicações
Solução. Seja
6
Hans Hahn, 1879-1954, matemático australiano; Stefan Banach, 1892-1945, matemático polo-
nês.
140
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
de modo que c ≤ −f (z) + p(z + v), para todo z = a−1 u ∈ Dom(f ) e a > 0. Se
a < 0, então
de modo que c ≥ f (w) − p(w − v), para todo w = −a−1 u ∈ Dom(f ) e a < 0.
Mas, para todos z, w ∈ Dom(f ),
Observação 4.38 Note que se {ui }i∈I é uma base de Hamel de U , então, pelo
Teorema 4.32, ela pode ser estendida a uma base de Hamel {ui }i∈I ∪ {vj }j∈J de
V . Assim, a função f : V → R definido como
m
n
m
n
f( xi ui + yj v j ) = f 0 ( x i ui ) + yj v j
i=1 j=1 i=1 j=1
é claramente um funcional linear tal que f |U = f0 . Mas, nada garante que f seja
dominado por p. Portanto, a existência de um funcional linear f não decorre da
Teoria dos Conjuntos de Zermelo-Fraenkel sem o uso do Lema de Zorn.
Seja μ : P(R) → R+ ∪ {∞} uma função. Diremos que μ é uma medida sobre
141
4.2. Aplicações
2. μ(∅) = 0 e μ(R) = ∞.
Exemplo 4.39 (Não Existência de Medida) Existe pelo menos uma função μ de
P(R) em R+ ∪ {∞} que não satisfaz os axiomas de 1 à 6.
142
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Exercícios
1. Seja A = I × J, com a ordem cartesiana induzida por R2 , em que I = [0, 1]
e J = [0, 1] ∩ Q.
143
4.2. Aplicações
11. Mostre que qualquer grupo não abeliano contém um subgrupo abeliano ma-
ximal.
12. (Teorema de Krull)7 Mostre que qualquer ideal próprio I de um anel comu-
tativo com identidade R está contido em um ideal maximal.
144
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
16. Mostre que existem reticulados com ideais primos, mas sem ideais maximais
e vice versa.
18. Mostre que qualquer reticulado com um maior elemento e pelo menos um
outro elemento contém um ideal maximal.
a < b < c, b < c < a, c < a < b, b < a < c, a < c < b e c < b < a
145
4.3. Princípio da Boa Ordenação
e x
2
, se x é um número par
g(x) = 1−x
2
, se x é um número ímpar
são inversas. Neste caso, uma boa ordenação para Z é dada por
Por exemplo, 1 < 2 implica que 0 = g(1) < g(2) = 1 etc. Neste caso, qualquer
elemento Z possui um sucessor imediato.
Exemplo 4.42 O intervalo fechado I = [0, 1], com a ordem induzida por R, não é
bem ordenado.
Solução. Note que (0, 1] é um subconjunto não vazio de I sem menor elemento,
pois dado x ∈ (0, 1], obtemos 0 < 2−1 · x < x. Portanto, I não é bem ordenado.
No entanto, I é totalmente ordenado.
1. B1 ⊆ B2 .
146
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
Lema 4.44 Sejam C, B e R definidos no Lema 4.43. Então (B, R) é uma cota
superior de C.
Prova. Seja (Bi , Ri ) ∈ C. Então Bi ⊆ B e Ri ⊆ R. Se x ∈ Bi e y ∈ B − Bi , então
existe um j ∈ I tal que y ∈ Bj . Assim, Bj ⊂ Bi (Bj , Rj ) < (Bi , Ri ). Logo, por
hipótese, (Bi , Ri ) (Bj , Rj ). Como x ∈ Bi e y ∈ Bj − Bi temos, pelo item (3),
que (x, y) ∈ Rj e (x, y) ∈ R. Portanto, (Bi , Ri ) (B, R).
Teorema 4.45 (Princípio da Boa Ordenação) Qualquer conjunto pode ser bem or-
denado.
147
4.3. Princípio da Boa Ordenação
Observação 4.46 O Teorema de Zermelo assegura que qualquer conjunto pose ser
bem ordenado. Não obstante, não especifica nenhuma construção de uma boa or-
denação de qualquer conjunto não contável.
Teorema 4.47 Seja A um conjunto não vazio qualquer. Então as seguintes condi-
ções são equivalentes:
1. O oxioma da escolha;
3. O Lema de Zorn;
Prova. Resta provar que (4 ⇒ 1). Suponhamos que A seja bem ordenado. Então a
função r : P(A)∗ → A definida como r(B) = min(B) ∈ B é uma função escolha
para A.
Exercícios
1. Sejam I = [0, 1[ um intervalo com a ordem induzida por R e N com a ordem
usual. Mostre que N × I com a ordem lexicográfica é isomorfo a R+ , mas
I × N com a ordem lexicográfica não.
148
Capítulo 4. Axioma da Escolha e Aplicações
2. Mostre que qualquer poset não vazio possui um subconjunto bem ordenado
maximal.
3. Seja A um poset não vazio tal que qualquer subconjunto bem ordenado possui
uma cota superior. Mostre que A possui pelo menos um elemento maximal.
5. Mostre que se A pode ser bem ordenado, então P(A) pode ser totalmente
ordenado.
(a) Se X, Y ∈ F, então X ∩ Y ∈ F.
(b) Se X ∈ F e X ⊆ Y , então Y ∈ F.
(c) ∅ ∈
/ F.
(i) Mostre que se B é um subconjunto não vazio de A, então
F = {X ⊆ A : B ⊆ X}
F = {X ⊆ A : A − X = X é finito}
(a) Se X, Y ∈ I, então X ∪ Y ∈ I.
149
4.3. Princípio da Boa Ordenação
(b) Se Y ∈ I e X ⊆ Y , então X ∈ I.
(c) ∅ ∈ I e A ∈
/ I.
150
CAPÍTULO 5
OS NÚMEROS NATURAIS
∀ A [∃ x ∈ A ⇒ ∃ u [u ∈ A e u ∩ A = ∅]].
Este axioma nos garante que nenhum conjunto não vazio é membro de si próprio,
ou seja, A ∩ {A} = ∅. Por exemplo, se o conjunto A = {xn : n ∈ N} possui a
propriedade: xn+1 ∈ xn , para todo n ∈ N, então, pelo axioma, existe um elemento
u ∈ A tal que u ∩ A = ∅. Como u ∈ A temos que u = xk , para algum k ∈ N.
Por outro lado, xk+1 ∈ xk e xk+1 ∈ A implicam que xk+1 ∈ u ∩ A, o que contradiz
a conclusão do axioma. Portanto, um tal conjunto não existe. Consequentemente,
a impossibilidade A ∈ A. Não obstante, o conjunto A = {An : n ∈ N}, com
An = {k + n − 1 : k ∈ N}, possui a propriedade: An+1 ⊂ An , para todo n ∈ N.
A importância da construção dos números “conjuntos infinitos” é refletida por
frases como:
151
5.1. Os Números Naturais
A+ = A ∪ {A}.
Note que A+ é obtido por adjuntar a A um novo elemento, a saber, A, e pelo axioma
da fundação A+ = A. Assim, um conjunto B é um sucessor se B = A ∪ {A}, para
algum conjunto A. Definimos
0 = ∅
1 = ∅ ∪ {∅} = {∅} = {0}
2 = {∅} ∪ {{∅}} = {∅, {∅}} = {0, 1}
3 = {∅, {∅}} ∪ {{∅, {∅}}} = {∅, {∅}, {∅, {∅}}} = {0, 1, 2}
.. ..
. = .
0 ∈ 1 ∈ 2 ∈ 3 ∈ ··· e 0 ⊂ 1 ⊂ 2 ⊂ 3 ⊂ ···
Por isso, vamos obter uma definição mais precisa, devida a von Neumann.
1
Giuseppe Peano, 1858-1932, matemático italiano.
2
Leobold Kronecker, 1823-1891, matemático alemão.
152
Capítulo 5. Os Números Naturais
1. ∅ ∈ A.
2. Se x ∈ A, então x+ ∈ A.
∃ A [∅ ∈ A e ∀ x [x ∈ A ⇒ x+ ∈ A]].
n+ = n ∪ {n} = {0, 1, 2, . . . , n − 1, n}
(n+ )+ = n+ ∪ {n+ } = {0, 1, 2, . . . , n − 1, n, n+ }
..
.
são conjuntos. Além disso, é claro que qualquer conjunto indutivo contém os nossos
números naturais, os quais são construídos a partir do conjunto vazio.
Seja {Ai }i∈I uma família de conjuntos indutivos. Então
A= Ai
i∈I
B= A
A∈F
153
5.1. Os Números Naturais
n = {0, 1, 2, . . . , n − 1}.
Além disso, pelo axioma ZF9 , existe um conjunto indutivo A e, por definição,
ω ⊆ A. Assim, pelo axioma ZF4 , ω é um conjunto. Portanto, qualquer
número natural é um conjunto.
1. 0 ∈ S. (base de indução)
2. Se n ∈ S, então n+ ∈ S. (P IF )
Então S = ω.
Prova. As condições (1) e (2) implicam que S é um conjunto indutivo. Logo, por
definição, ω ⊆ S. Portanto, S = ω.
154
Capítulo 5. Os Números Naturais
Solução. Seja
Então, por definição, 0 ∈ S. Suponhamos que o resultado seja válido para algum n,
isto é, n ∈ S. Então
n+ = n ∪ {n} = k + ∪ {k + } = (k + )+ ,
∀ X [X ∈ A ⇒ X ⊆ A].
4 ⊆ 5 e 5 ⊆ A, mas 4 A.
155
5.1. Os Números Naturais
P1 - 0 ∈ ω.
P2 - Se n ∈ ω, então n+ ∈ ω.
P3 - n+ = 0, para todo n ∈ ω.
P4 - Se S ⊆ ω é tal que
Então S = ω.
156
Capítulo 5. Os Números Naturais
P5 - Se m, n ∈ ω e m+ = n+ , então m = n.
3. (0, c) ∈ f .
f= G.
G∈F
Então é fácil verificar que f ∈ F. Por construção f satisfaz (3) e (4). Assim, resta
provar que f satisfaz (1) e (2).
(1) Pela propriedade (3), (0, c) ∈ f . Assim, 0 ∈ Dom(f ). Suponhamos que
n ∈ Dom(f ). Então existe um x ∈ A tal que (n, x) ∈ f . Logo, pela propriedade
(4), (n+ , g(x)) ∈ f , isto é, n+ ∈ Dom(f ). Portanto, pelo PIF, Dom(f ) = ω.
(2) Seja S o conjunto de todos os n ∈ ω tal que (n, x1 ) ∈ f e (n, x2 ) ∈ f
implicam que x1 = x2 ou, equivalentemente, S é o conjunto de todos os n ∈ ω tal
157
5.1. Os Números Naturais
S = {n ∈ ω : ∃! x ∈ A, com (n, x) ∈ f }
f = f − {(0, d)} ⊆ ω × A
f 0 = f − {(n+ , y)} ⊆ ω × X
158
Capítulo 5. Os Números Naturais
a qual é um elemento de Aω .
Um modo alternativo da Fórmula de Recorrência é: sejam A um conjunto qual-
quer, c ∈ A fixado e g : ω × A → A uma função qualquer. Então existe uma única
sequência f : ω → A tal que as seguintes condições são satisfeitas:
159
5.1. Os Números Naturais
a. f (0) = a.
1. a0 = 1.
1. f (0) = 1.
160
Capítulo 5. Os Números Naturais
1. f (0) = c = 2.
Solução. Como g é injetora temos, pelo Corolário 5.12, que existe uma única função
injetora f : ω → A. Pondo D = f (A), obtemos a função h : ω → D definida como
h(n) = f (n), com as propriedades desejadas.
Exercícios
1. Mostre que A é um conjunto transitivo se, e somente se, B ∈ C e C ∈ A
implica que B ∈ A.
4. Mostre que n ∈
/ n, para todo n ∈ ω.
5. Dados m, n, p ∈ ω.
161
5.2. Aritmética dos Números Naturais
12. Seja A um poset não vazio. Mostre que se A não possui elemento maximal,
então A possui uma sequência estritamente crescente.
m + n = fm (n).
162
Capítulo 5. Os Números Naturais
k + (m + n+ ) = k + (m + n)+ = (k + (m + n))+
= ((k + m) + n)+ = (k + m) + n+ .
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
163
5.2. Aritmética dos Números Naturais
m + n+ = (m + n)+ = (n + m)+ = 1 + (n + m) = (1 + n) + m = n+ + m.
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
k + n+ = m + n+ ⇒ (k + n)+ = (m + n)+
⇒ k + n = m + n ⇒ k = m.
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
Seja m ∈ ω fixado. Então, pelo Teorema 5.11, existe uma única função fm :
ω → ω tal que
1. fm (0) = 0.
m · n = fm (n).
1. m · 0 = 0.
2. m · n+ = m + m · n, para todo n ∈ ω.
164
Capítulo 5. Os Números Naturais
1. k(m + n) = km + kn.
2. (k + m)n = kn + mn.
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
165
5.2. Aritmética dos Números Naturais
válido para algum n, isto é, n ∈ S. Então, pela condição (2) e o Lema 5.22,
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
mn+ = m + mn = mn + m = nm + 1m = (n + 1)m = n+ m.
Portanto, n+ ∈ S e S = ω.
1. m ∈ m + n+ .
m + (n+ )+ = (m + n+ )+ = (m + n+ ) ∪ {m + n+ },
Vamos introduziremos uma das mais importantes relações sobre o conjunto dos
números naturais ω, a saber, à ordem usual. As notações e terminologias que serão
166
Capítulo 5. Os Números Naturais
S = {n ∈ ω : ∀ m ∈ ω [m ⊆ n ⇒ m ≤ n]}.
167
5.2. Aritmética dos Números Naturais
Prova. Vamos provar apenas o item (2). É claro que se m+ ≤ n, então m < n.
Reciprocamente, para m fixado, seja S = {n ∈ ω : m < n ⇒ m+ ≤ n}. Então
0 ∈ S, pois 0 é o menor elemento de ω. Suponhamos que o resultado seja válido
para algum n, isto é, n ∈ S. Se m < n+ , então m ∈ n+ . Logo, pelo Lema 5.6,
m ∈ n ou m = n. Se m = n, então m+ = n+ e n+ ∈ S. Se m ∈ n, então m < n.
Logo, n+ ∈ S, pois m+ ≤ n < n+ . Portanto, S = ω.
S = {n ∈ ω : n ≤ m, ∀ m ∈ A}.
Então, pelo Lema 5.27, 0 ∈ S. Suponhamos que o resultado seja válido para algum
n, isto é, n ∈ S. Se n = k, para algum k ∈ A, então k seria o menor elemento de
A, o que é impossível. Assim, n < m, para todo m ∈ A. Logo, pelo Lema 5.27,
n+ ≤ m, para todo m ∈ A, ou seja, n+ ∈ S. Portanto, S = ω. Como S ∩ A = ∅,
pois A não contém menor elemento, temos que A = ∅, o que é uma contradição.
Corolário 5.30 Não existe função f : ω → ω tal que f (n+ ) ∈ f (n), para todo
n ∈ ω.
Prova. Se uma tal função existisse, então f (ω) seria um conjunto não vazio sem
menor elemento, o que contradiz a boa ordenação de ω.
168
Capítulo 5. Os Números Naturais
Solução. Sejam
Exemplo 5.32 Sejam a, b ∈ ω, com b > 0. Mostre que existe n ∈ ω tal que nb > a.
c − b ≤ (a − mb) − b = a − (m + 1)b, ∀ m ∈ ω,
o que é uma contradição, pois c − b ∈ S, com c − b < c. Este exemplo pode ser
provado usando o Exemplo 5.31.
Teorema 5.33 (Segundo Princípio de Indução Finita) Seja P (n) uma sentença,
para cada n ∈ ω, que goza das seguintes propriedades:
169
5.2. Aritmética dos Números Naturais
2. O princípio maximal;
Seja m ∈ ω fixado. Então, pelo Teorema 5.11, existe uma única função fm :
ω → ω tal que
1. fm (0) = 1.
170
Capítulo 5. Os Números Naturais
mn = fm (n).
2. (m · n)p = mp · np .
3. (mn )p = mnp .
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Para m e n fixados, seja
S = {p ∈ ω : mn mp = mn+p }.
Portanto, p+ ∈ S e S = ω.
171
5.2. Aritmética dos Números Naturais
Assim, r = m + 1 e r = p + 1, s = n − 1 e s = q − 1, ou seja, m = p e n = q.
Portanto, em qualquer caso, (m, n) = (p, q). Consequentemente, pelo Corolário
5.12, existe uma única função injetora f : ω → ω × ω tal que
Assim, pela hipótese de indução, existe um m ∈ ω tal que f (m) = (q − 1, 0). Logo,
2.o Caso.Se p > 0, então, pela segunda sentença da definição, obtemos (p, q) =
g(p − 1, q + 1). Assim, pela hipótese de indução, existe um n ∈ ω tal que f (n) =
(p + q − 1, 0). Logo,
172
Capítulo 5. Os Números Naturais
∀ m, n ∈ ω [m ≤ n ⇔ f (m) ≤ f (n)].
{(0, 0), (0, 1), (1, 0), (0, 2), (1, 1), (2, 0), (0, 3), . . .}.
Por exemplo, 0 ≤ 1 implica que (0, 0) = f (0) ≤ f (1) = g(f (0)) = (0, 1). É
importante ressaltar que o método geral de provar afirmações P (m, n) é a dupla in-
dução ou ordenação lexicográfica, a saber, primeiro prova que P (0, 0) é verdadeira.
Então prova P (m, n), supondo que P (j, k) é verdadeira, para todos j, k ∈ ω tais
que j < m ou (j = m e k < n).
Observe, pelo Exemplo 4.41, que a função f : Z → ω definida como
2n − 1, n > 0
f (n) =
−2n, n ≤ 0
é bijetora. Portanto, pelo axioma ZF7 , Z é um conjunto. Note que qualquer número
racional r ∈ Q pode ser escrito sob a forma
m
r= , onde m, n ∈ Z, com n = 0.
n
Então a função f : Z × Z∗ → Q definida como f (m, n) = m · n−1 é claramente
sobrejetora. Portanto, pelo axioma ZF7 , Q é um conjunto. No próximo capítulo
provaremos que existe uma correspondência biunívoca entre 2ω e R. Portanto, pelos
axiomas ZF6 e ZF7 , os números reais R é um conjunto. Neste caso, os números
complexos C é um conjunto, pois R × R é um conjunto.
Finalizaremos esta seção apresentando uma segunda prova do celebre teorema
de Cantor-Schröder-Bernstein usando o conjunto dos números naturais ω, cuja exis-
tência é garantida pelo axioma da infinidade ZF9 .
173
5.2. Aritmética dos Números Naturais
X = {x ∈ A : h−1
n (x) ∈
/ Im(g), para algum n ∈ ω}
Logo, h−1
n−1 (f
−1
/ Im(g). Portanto, f −1 (y) ∈ X. Agora, vamos provar que a
(y)) ∈
função h : A → B definida como
f (x), se x ∈ X
h(x) = −1
g (x), se x ∈
/X
possui as propriedades desejadas. Note que h está bem definida, pois g é injetora e
se x ∈
/ X, então x ∈ Im(g). Dados x, y ∈ A, temos as seguintes possibilidades:
174
Capítulo 5. Os Números Naturais
Exercícios
1. Dados m, n, p ∈ ω.
2. Dado n ∈ ω.
3. Dados m, n, p ∈ ω.
4. Dados m, n, p ∈ ω.
m < n ou m = n ou m > n.
7. Dados m, n, p ∈ ω.
175
5.2. Aritmética dos Números Naturais
a = qb + r, com 0 ≤ r < b.
9. Um número natural chama-se par se ele for da forma 2k, para algum k ∈ ω,
e chama-se ímpar se ele for da forma 2m + 1, para algum m ∈ ω. Mostre que
qualquer número natural é par ou ímpar, mas não ambos.
1
f (m, n) = [1 + 2 + · · · + (m + n)] + m = (m + n)(m + n + 1) + m.
2
é bijetora.
176
CAPÍTULO 6
NÚMEROS CARDINAIS
177
6.1. Conjuntos Equipotentes
Exemplo 6.1 Os conjuntos [0, 1] e [a, b], com a = b, são equipotentes. Em particu-
lar, os conjuntos I = ]0, 1[ e J = ] − 1, 1[ são equipotentes.
Solução. Vamos provar que a função f : [0, 1] → [a, b] definida como
f (x) = a + (b − a)x
y−a
a≤y ≤b⇒0≤y−a≤b−a⇒0≤ ≤ 1,
b−a
a+b b−a
f (x) = + x
2 2
é bijetora.
178
Capítulo 6. Números Cardinais
é bijetora. Dados (x, y), (s, t) ∈ B1 (O), se f (x, y) = f (s, t), então
179
6.1. Conjuntos Equipotentes
é a inversa de g.
m = {0, 1, . . . , m − 1} = {0, 1, . . . , n} = n+ ,
ou seja, n+ ∈ S. Portanto, S = ω.
180
Capítulo 6. Números Cardinais
Prova. Note que a função j : A → P(A) definida como j(x) = {x} injetora.
Portanto, A P(A). Suponhamos, por absurdo, que exista uma função f : A →
P(A) sobrejetora. Então f (x) ⊆ A, para cada x ∈ A. Assim, x ∈ f (x) ou
x∈/ f (x). Consideremos o conjunto S = {x ∈ A : x ∈ / f (x)}. Então S ∈ P(A).
Logo, por hipótese, existe um y ∈ A tal que f (y) = S. Como S ⊆ A temos que
y ∈ S ou y ∈ / S. Se y ∈ S, então y ∈ / f (y) = S, o que é uma contradição. Se
y∈/ S, então y ∈ f (y) = S, o que é uma contradição. Portanto,
S = {x ∈ A : x ∈ f (x), ∀ x ∈ A,
/ f (x)} =
e A ≺ P(A). Uma outra prova. Suponhamos, por absurdo, que exista uma função
f : A → P(A) sobrejetora. Sabemos, pelo Teorema 2.31, que existe uma função
bijetora ϕ : P(A) → 2A . Portanto, a função ϕ ◦ f : A → 2A seria sobrejetora, o
que contradiz o Exemplo 4.18.
S = {x ∈ A : x ∈
/ f (x)} = p1 (D − T ) = f (x), ∀ x ∈ A,
181
6.1. Conjuntos Equipotentes
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Como B é um conjunto infinito temos que
existe uma função injetora f : B → B tal que f (B) = B. Seja a função g : A → A
definida como
f (x), se x ∈ B
g(x) =
x, se x ∈/ B.
Então g é claramente injetora e g(A) = A, pois A = B ∪(A
˙ − B). Portanto, A é um
conjunto infinito.
Solução. Como A é um conjunto infinito temos que existe uma função injetora
g : A → A tal que g(A) = A. Então a função h : B → B definida como
h(y) = (f ◦ g ◦ f −1 )(y),
182
Capítulo 6. Números Cardinais
Prova. Como A é um conjunto infinito temos que existe uma função injetora f :
A → A tal que f (A) = A. Assim, há dois casos a serem considerados:
1.o Caso. Se a0 ∈ f (A), então existe um único a1 ∈ A tal que f (a1 ) = a0 .
Neste caso, a função g : A − {a0 } → A − {a0 } definida como
f (x), se x = a1
g(x) =
b, se x = a1 ∈ A − {a0 },
2.o Caso. Se a0 ∈
/ f (A), então a função g : A−{a0 } → A−{a0 } definida como
g(x) = f (x) tem as propriedades desejadas. Portanto, em qualquer caso, A − {a0 }
é um conjunto infinito.
Solução. Vamos usar indução sobre n. Se n = 0, nada há para ser provado. Su-
ponhamos que o resultado seja válido para algum n. Consideremos o conjunto
In+1 = In ∪ {n + 1}. Então In+1 é um conjunto finito. Caso contrário, pelo Te-
orema 6.13, In+1 − {n + 1} = In seria um conjunto infinito, o que contradiz a
hipótese de indução. Portanto, In é um conjunto finito, para todo n ∈ ω.
183
6.1. Conjuntos Equipotentes
dq = a1 + r1 , com 0 ≤ r1 < 1.
Logo,
a1 a1 + 1 a1 r 1 a1 r1
≤q< ⇔q= + ⇒ x = a0 + + .
d d d d d d
Repetindo este processo com dr1 , teremos dr1 = a2 + r2 , com 0 ≤ r2 < 1, e
a1 a 2 r 2
x = a0 + + 2 + 2.
d d d
Prosseguindo com este processo, possivelmente indefinidamente, obtemos
a1 a2 an
x = a0 + + 2 + ··· + n + ···
d d d
a representação na base d de x. Pode ser provado que existe um n0 ∈ ω tal que
an = 0 ou an+1 = an , para todo n ∈ ω, com n > n0 se, e somente se, x ∈ Q.
Portanto, qualquer representação infinita (sequência) representa um número real
positivo e vice versa. A notação usual é: x = a0 , a1 a2 a3 · · · . Sejam f = (am )m∈ω
e g = (bn )n∈ω sequências. Diremos que f e g representa o mesmo número real se,
e somente se, existir um n0 ∈ ω tal que
1. an0 = b+
n0 .
184
Capítulo 6. Números Cardinais
14 3
2q = = 1 + = a1 + r1 , com 0 ≤ r1 < 1.
8 4
Logo,
1
2r1 = 1 + = a2 + r2 , com 0 ≤ r2 < 1.
2
Donde, 2r2 = 1 + 0 = a3 + r3 , com r3 = 0. Portanto, rk = 0, para todo k ≥ 3 e
x = 0, 111000 · · · = 0, 110111 · · · .
∞
an ∞
bn 1 ∞
an ∞
bn
0= n
− n
= n0 (an0 − bn0 ) + n
− n
> 0,
n=n
d n=n
d d n=n +1
d n=n +1
d
0 0 0 0
1 ∞
an ∞
bn 1 1
n
(an0 − bn0 ) + n
− n
> n0 + 0 − n0 = 0,
d 0
n=n +1
d n=n +1
d d d
0 0
185
6.1. Conjuntos Equipotentes
Solução. Pela Observação 6.3, basta provar que os conjuntos 2ω e I = ]0, 1[ são
equipotentes. Pelo Lema 6.15, cada x ∈ I pode ser escrito de modo único sob a
forma
a1 a2 a3
x= + 2 + 3 + · · · = 0, a1 a2 a3 . . .
2 2 2
onde ak ∈ {0, 1}. Assim, para cada x ∈ I fixado, temos uma função (sequência)
χx : ω → {0, 1} definida como
0
ak , se k =
χx (k) =
0, se k = 0.
Solução. Seja I = ]0, 1[. Então basta provar que a função f : I × I → I definida
como
f (0, x1 x2 x3 . . . , 0, y1 y2 y3 . . .) = (0, x1 y1 x2 y2 x3 y3 . . .)
é bijetora.
A1 = ω, A2 = P(A1 ), A3 = P(A2 ), . . .
A1 ≺ A2 ≺ A3 ≺ · · ·
Ai+1 ≺ B1 , ∀ i ∈ ω.
186
Capítulo 6. Números Cardinais
Se fizermos
B2 = P(B1 ), B3 = P(B2 ), B4 = P(B3 ), . . . ,
então obtemos uma sequência estritamente crescente de conjuntos infinitos
A 1 ≺ A 2 ≺ A3 ≺ · · · ≺ B 1 ≺ B 2 ≺ B 3 ≺ · · · .
Exercícios
1. Mostre que equipotência é uma relação de equivalência.
10. Sejam {Bi }i∈I e {Ci }i∈I famílias de conjuntos não vazios disjuntas aos pares.
Mostre que se Bi ≈ Ci , para todo i ∈ I, então ∪i∈I Bi ≈ ∪i∈I Ci .
187
6.2. Números Cardinais
11. Sejam {Bi }i∈I e {Ci }i∈I famílias de conjuntos não vazios. Mostre que se
Bi ≈ Ci , para todo i ∈ I, então i∈I Bi ≈ i∈I Ci .
(a) Mostre que Pf (A) é o menor subconjunto de P(A) tal que (i) ∅ ∈
Pf (A) e (ii) Se X ∈ Pf (A) e x ∈ A, então X ∪ {x} ∈ Pf (A).
(b) Mostre que se X, Y ∈ Pf (A), então X ∪ Y ∈ Pf (A).
(c) Mostre que se A é finito, então P(A) é finito.
188
Capítulo 6. Números Cardinais
Solução. Pelo item (1) do axioma ZF10 , existem números cardinais α e β tais que
α ≈ A e β ≈ B. Como A ≈ B temos que α ≈ β. Assim, pelo item (2) do axioma
ZF10 , α = β. Portanto, |A| = |B|.
0 = |∅|
1 = |{0}|
2 = |{0, 1}|
..
.
ℵ0 = |ω|
ℵ1 = |P(ω)|
ℵ2 = |P(P(ω))|
..
.
189
6.2. Números Cardinais
pois f é injetora. Logo, x ∈ Im(f n−m ) ⊆ B, o que é impossível, uma vez que
B ∩ (A − B) = ∅. Vamos definir a função g : A → B como
f (x), se x ∈ C
g(x) =
x, se x ∈
/ C.
1
Ralph H. Fox, 1913-1973, matemático americano.
190
Capítulo 6. Números Cardinais
g(A) = (A − C) ∪ f (C)
= (A − ∪n∈ω f n (A − B)) ∪ f (∪n∈ω f n (A − B))
= (A − ∪n∈ω f n (A − B)) ∪ (∪n∈ω f n+1 (A − B))
= (A ∪ (∪n∈ω f n+1 (A − B)))−
(∪n∈ω f n (A − B) − (∪n∈ω f n+1 (A − B)))
= A − (A − B) = B.
Estamos prontos para apresentar uma terceira prova via números cardinais do
celebre teorema de Cantor-Schröder-Bernstein.
Observação 6.24 Já vimos que era uma pré-ordem sobre C. Portanto, pelo Co-
rolário 6.23, é uma ordem sobre C.
191
6.2. Números Cardinais
γ ≈ Sϕ(γ) → Sϕ(β) ≈ β,
α ≺ β ou α = β ou α β.
(k + l)2 + k = (m + n)2 + m.
192
Capítulo 6. Números Cardinais
193
6.2. Números Cardinais
u = c1 v j1 + · · · + c n v j n ,
w = d1 ui1 + · · · + dm uim ,
Finalizaremos esta seção com mais alguns resultados e comentários. Pelo Exem-
plo 4.40, qualquer conjunto finito é equipotente a um número natural. Isto motiva
a seguinte definição. Seja α ∈ C. Diremos que α é um cardinal finito se existir
um n ∈ ω tal que α ≈ n. Caso contrário, diremos que α é um cardinal transfinito.
Note que ℵ0 é o menor cardinal transfinito, pois se α é um cardinal transfinito, então
existe um único conjunto infinito A tal que α = |A|. Assim, pelo Exemplo 4.15, A
contém um subconjunto enumerável. Portanto, α ℵ0 .
ℵ0 ≺ α ≺ ℵ1 = 2ℵ0 .
Já vimos, segundo Cohen, que a hipótese do contínuo, não pode ser provada a partir
dos axiomas da Teoria dos Conjuntos. Portanto, o status da hipótese do contínuo, na
Teoria dos Conjuntos, é análogo ao do axioma das paralelas de Euclides (o quinto
194
Capítulo 6. Números Cardinais
Exercícios
1. Mostre que os conjuntos [0, 1[ e [0, +∞[ possuem a mesma cardinalidade.
4. Mostre que α < 2α , para qualquer cardinal α, ou seja, para qualquer cardinal
existe um cardinal maior.
12. Seja C(R, R) o conjunto das funções contínuas. Mostre que |C(R, R)| = |R|.
13. Seja U a classe universal. Mostre que existe um conjunto B ∈ U tal que
|B| |X|, para todo X ∈ U .
195
6.3. Aritmética dos Números Cardinais
14. Use o Teorema de Cantor para provar que o “conjunto de todos os conjuntos”
não existe.
Se x ∈ B, então
α + β = |A ∪ B|.
196
Capítulo 6. Números Cardinais
1. α + (β + γ) = (α + β) + γ.
2. 0 + α = α.
3. α + β = β + α.
4. α α + β.
5. Se α β e γ δ, então α + γ β + δ.
Prova. Vamos provar apenas os itens (1) e (5): (1) Basta observar que
A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C,
α + γ = |A ∪ C| |B ∪ D| = β + δ,
197
6.3. Aritmética dos Números Cardinais
ℵ0 + ℵ0 = |ωp ∪ ωi | = |ω| = ℵ0 .
β = |B| = |f (A)∪(B
˙ − f (A))| = α + γ.
α · β = |A × B|.
198
Capítulo 6. Números Cardinais
3 · 3 = |A × B| = |{(a, 1), (a, 2), (a, 3), . . . , (c, 1), (c, 2), (c, 3)}| = 9.
1. α(βγ) = (αβ)γ.
2. 1 · α = α.
3. αβ = βα.
4. (α + β)γ = αγ + βγ.
5. α αβ, se α 0.
6. Se α β e γ δ, então αγ βδ.
8. α + α α · α, se α 1.
Prova. Vamos provar apenas os itens (1), (4) e (7): (1) A função
f : A × (B × C) → (A × B) × C
A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C),
199
6.3. Aritmética dos Números Cardinais
ℵ0 · ℵ0 = |ω × ω| = |ω| = ℵ0 = ℵ0 · 1, mas ℵ0 = 1,
Portanto, a lei do cancelamento vale no conjunto dos números naturais, mas não
nos números cardinais.
200
Capítulo 6. Números Cardinais
β α = |B A |.
Note que ˆ : C × C → C é oma operação binária sobre C. Além disso, pelo Teorema
6.43, esta operação está bem definida. Convencionaremos 0α = 0 e β 0 = 1.
1. αβ αγ = αβ+γ .
2. (αβ )γ = αβγ .
3. (αβ)γ = αγ β γ .
4. α αβ , se β 0.
5. β αβ , se α 1.
6. Se α β e γ δ, então αγ β δ .
Prova. Vamos provar apenas os itens (1), (2) e (6): (1) Sejam A, B e C conjuntos
tais que α = |A|, β = |B| e γ = |C|, com B ∩ C = ∅. Note que se f : B → A
e g : C → A são funções quaisquer, então, pelo o diagrama 6.3, é fácil verificar
que existe uma única função h tal que f = f1 ◦ h e g = g1 ◦ h. Então a função
F : AB∪C → AB × AC definida como F (h) = (f1 ◦ h, g1 ◦ h) tem as propriedades
desejadas. Portanto, AB∪C ≈ AB × AC e αβ αγ = αβ+γ .
(2) Sejam f : B × C → A uma função qualquer e y ∈ C fixado. Então
fy : B → A definida como fy (x) = f (x, y) é claramente uma função. Neste caso,
201
6.3. Aritmética dos Números Cardinais
αγ = αγ · 1 β γ β δ1 = β γ+δ1
temos que αγ β δ .
Exercícios
1. Sejam A, B conjuntos e α, β números cardinais tais que α = |A, β = |B|.
Mostre que α + β = |A ∪ B| + |A ∩ B|.
202
Capítulo 6. Números Cardinais
(a) 0 + α = α.
(b) α + β = β + α.
(c) α α + β.
(d) Se α + 1 = β + 1, então α = β.
(e) Se α + n = β + n, para todo n ∈ ω, então α = β.
(a) 1 · α = α.
(b) 0 · α = α.
(c) αβ = βα.
(d) α αβ, se α 0.
(e) Se α β e γ δ, então αγ βδ.
(f) nα = α + · · · + α, n parcelas, para todo n ∈ ω.
(g) α + α α · α, se α 1.
(a) (αβ)γ = αγ β γ .
(b) α αβ , se β 0.
(c) β αβ , se α 1.
(d) αn = α · · · · · α, n fatores, para todo n ∈ ω.
(a) se α · β = 0, então α = 0 ou β = 0.
(b) se α · β = 1, então α = 1 e β = 1.
203
6.3. Aritmética dos Números Cardinais
14. Sejam A um conjunto infinito e B um conjunto não vazio tal que |B| ≤ |A|.
Mostre que |A ∪ B| = |A|.
16. Seja A um conjunto infinito. Mostre que |An | = |A|, para todo n ∈ ω, com
n = 0.
17. Sejam A1 , . . . , An conjuntos não vazios tais que |Ai | ≤ |An |, para cada i =
1, . . . , n. Mostre que
|A1 × · · · × An | = |An |.
204
CAPÍTULO 7
NÚMEROS ORDINAIS
ω = {0, 1, 2, . . . , n, . . .},
em que
0 = ∅
1 = ∅ ∪ {∅} = {0}
2 = {∅} ∪ {{∅}} = {0, 1}
3 = {∅, {∅}} ∪ {{∅, {∅}}} = {0, 1, 2}
..
.
n + 1 = n ∪ {n}
..
.
e
n + 1 = {0, 1, 2, . . . , n − 1, n} = {k ∈ ω : k < n + 1}
é o sucessor de n, isto é, n+ = Sn+1 é o segmento inicial determinado por n + 1, de
modo que as relações < e ∈ coincide em ω, ou seja,
m < n ⇔ m ∈ n, ∀ m, n ∈ ω.
205
Consequentemente, ω é um conjunto transitivo e bem ordenado por ∈. Além disso,
0 ∈ 1 ∈ 2 ∈ 3 ∈ ··· e 0 ⊆ 1 ⊆ 2 ⊆ 3 ⊆ ···
1. f (0) = ω.
ω + 1 = ω ∪ {ω}
ω + 2 = (ω + 1) ∪ {ω + 1}
..
.
ω + ω = ω ∪ {ω + n : n ∈ ω} = {0, 1, 2, . . . , ω, ω + 1, ω + 2, . . .}
..
.
206
Capítulo 7. Números Ordinais
α < β ⇔ α ∈ β e α = {β : β < α} = Sα .
A = {1 − (n + 1)−1 : n ∈ ω},
207
7.1. Números Ordinais
2. x ∈
/ A x, para todo x ∈ A. (irreflexiva)
Notações e terminologias:
2. α é ∈-bem ordenado.
Note, pelo Lema 5.8, que cada elemento n de ω é um conjunto transitivo e, pelo
Teorema 5.29, cada elemento n de ω é ∈-bem ordenado, pois n é um subconjunto
de ω. Portanto, cada elemento n de ω é um ordinal “finito”. Em particular, ω é um
ordinal “transfinito.”
1. ∅ = 0 é um ordinal.
208
Capítulo 7. Números Ordinais
α = {x : x ∈ α} = {x : x é um ordinal e x ∈ α} = Sα .
1. 0 ∈ S (base de indução).
2. Se β ∈ α e β = Sβ ⊆ S, então β ∈ S (P IT ).
Então S = α.
209
7.1. Números Ordinais
Afirmação. α = A.
De fato, suponhamos, por absurdo, que S = α − A = ∅. Então S contém um menor
elemento, digamos m ∈ S. Assim, f (m) = m e f (x) = x, para todo x ∈ m. Logo,
se x ∈ m, então f (x) ∈ f (m) implica que x ∈ f (m). Portanto, m ⊆ f (m). Por
outro lado, se x ∈ f (m), então x ∈ β, pois β é transitivo e f (m) ∈ β. Assim,
existe um y ∈ α tal que x = f (y). Logo, f (y) ∈ f (m), pois x ∈ f (m). Neste caso,
y ∈ m, pois f é um isomorfismo. Portanto, f (y) = y e x ∈ m, ou seja, f (m) ⊆ m.
Consequentemente, f (m) = m, o que é uma contradição. Observe que α = A
implica que
β = {f (x) : x ∈ α} = {x : x ∈ α} = α.
Portanto, α = β.
α < β ou α = β ou α > β.
Prova. Por hipótese, α e β são ∈-bem ordenados. Então, pelo Teorema 3.74. uma e
apenas uma das seguintes condições ocorre: (a) α é isomorfo a um segmento inicial
de β. (b) α ∼
= β. (c) β é isomorfo a um segmento inicial de α. Se α é isomorfo
a um segmento inicial de β, então, pelo item (2) do Lema 7.3 e pelo Lema 7.6,
α∼= Sγ = γ, para algum γ ∈ β. Assim, pelo Teorema 7.5, α = γ ∈ β. Portanto,
α < β. De modo análogo, prova-se os outros casos. Resta provar que ocorre apenas
uma das condições. Se α < β e α = β, então α ∈ α, o que é impossível. De modo
análogo, prova-se os outros casos.
210
Capítulo 7. Números Ordinais
211
7.1. Números Ordinais
Prova. Dado α ∈ λ = ∪C. Então α ∈ β, para algum β ∈ C. Assim, pelo item (4)
do Lema 7.3, α é um ordinal. Logo, λ é um subconjunto de ordinais de O. Portanto,
λ é ∈-bem ordenado. Dado α ∈ λ, devemos provar que α ⊆ λ. Como α ∈ λ temos
que α ∈ β, para algum β ∈ C. Se x ∈ α, então x ∈ β, pois β é transitivo. Assim,
x ∈ λ. Portanto, λ é um conjunto transitivo. Consequentemente, λ é um ordinal.
Dado α ∈ C, obtemos α ⊆ λ. Logo, pelo Exemplo 7.10, α ≤ λ, ou seja, λ é
uma cota superior de C. Por outro lado, seja β qualquer cota superior de C. Então
α ≤ β, para todo α ∈ C. Se x ∈ λ, então x ∈ γ, para algum γ ∈ C. Assim, pelo
Exemplo 7.10, x ∈ γ ⊆ β, ou seja, x ∈ β. Logo, λ ⊆ β. Portanto, λ é a menor das
cotas superiores de C.
λ = ∪{α : α ∈ O e α ∈ S}.
Note que ω é o menor número limite diferente de zero e que ω é infinito, pois ω
com a ∈-ordenação não possui elemento maximal e ω = ∪n∈ω {n} = limn∈ω n.
212
Capítulo 7. Números Ordinais
213
7.1. Números Ordinais
Prova. Já vimos que qualquer número natural é um ordinal e, pelo Exemplo 4.40,
um ordinal finito. Por outro lado, seja α ∈ O tal que α = ω. Então, pelo Corolário
7.7, α ≥ ω. Assim, ω ⊆ α, pois α é transitivo. Portanto, pelo item (1) do Teorema
6.11, α é um conjunto infinito.
Observe que o Teorema 7.16 garante que a classe dos ordinais O é uma extensão
do conjunto dos números naturais ω e que os ordinais finitos são:
0, 1, 2, . . . ,
214
Capítulo 7. Números Ordinais
ω + 1 = {0, 1, 2, . . . , ω}
ω + 2 = {0, 1, 2, . . . , ω, ω + 1}
..
.
ω + ω = ω ∪ {ω + n : n ∈ ω}
..
.
Note, pelo Princípio da Boa Ordenação, que qualquer conjunto A pode ser bem
ordenado. Assim, pelo Teorema 7.14, existe um único α ∈ O tal que A ∼
= α. Logo,
a classe
C = {α ∈ O : A ≈ α}
é não vazia. Portanto, pelo Teorema 7.8, C contém um menor elemento, o qual
chama-se ordinal inicial equipotente a A. É fácil verificar que a classe de todos os
ordinais iniciais satisfaz as condições (1) e (2) do axioma ZF10 . Assim, um número
cardinal significa um ordinal inicial. Consequentemente, a classe dos números car-
dinais C é classe dos ordinais iniciais. Portanto, produzimos conjuntos que serve
como números cardinais tão bem como números ordinais, ou seja, para qualquer
conjunto A, obtemos |A| = κ, em que κ é o menor ordinal em O tal que existe uma
função bijetora f : A → κ ou, equivalentemente, não existe uma função bijetora
f : A → α, para todo α ∈ C, com α < κ
Observe que qualquer número natural é um ordinal inicial, pois para cada con-
junto finito A existe, pelo Exemplo 4.40, um n ∈ ω tal que A ≈ n. Portanto, os
números naturais coincide com os ordinais finitos bem como os cardinais finitos.
Note que ω é um ordinal inicial, pois não existe menor ordinal α tal que α ≈ ω.
Portanto, ω possui três significados. No entanto, ω + 1 não é um ordinal inicial, pois
a função f : ω → ω + 1 definida como
ω, se x = 0
f (x) =
x − 1, se x ≥ 1
é bijetora, ou seja, |ω| = |ω + 1|. Então ω + 1 não é o menor ordinal em sua classe.
215
7.1. Números Ordinais
definida como ⎧
⎨ 0, se x = α
f (x) = x + 1, se x < ω
⎩
x se ω ≤ x < α
é bijetora, ou seja, |α| = |κ|. Portanto, κ não é o menor ordinal em sua classe, o
que é uma contradição.
A B ⇔ α ∈ β,
A∼
= Sb = {y ∈ B : y < b}.
Note que esta relação está bem definida. De fato, sejam C e D conjuntos bem
ordenados tais que α = (C) e β = (D). Então A ≈ C e B ≈ D. Assim,
existem funções bijetoras f : A → C e g : B → D. Logo, se existir uma função
injetora e crescente h : A → B, então k = g ◦ h ◦ f −1 : C → D é uma função
injetora e crescente.
Prova. Vamos provar apenas que bem ordena A. Seja S um subconjunto não
vazio de A. Então T = f (S) é um subconjunto não vazio de B, pois f é injetora.
Como B é bem ordenado temos que T contém um menor elemento, digamos t0 ∈ T .
Assim, existe um único elemento s0 ∈ S tal que t0 = f (s0 ).
Afirmação. s0 é o menor elemento de S.
De fato, dado s ∈ S, obtemos f (s) ∈ T . Então f (s0 ) ≤ f (s). Logo, s0 ≤ s.
Portanto, A é bem ordenado.
216
Capítulo 7. Números Ordinais
Exercícios
1. Mostre que semelhança é uma relação de equivalência.
3. Mostre que se um conjunto A é bem ordenado por R e R−1 , então ele é finito.
5. Seja α ∈ O. Mostre que não existe ordinal β tal que α < β < α+ , ou seja,
α+ é o menor ordinal maior do que (sucessor imediato) α.
C = {μ ∈ O : μ ≤ α e μ um número limite}.
217
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
13. Mostre que não existe uma função f : ω → O tal que f (n+ ) ≤ f (n), para
todo n ∈ ω. Conclua que se uma tal função existisse ela seria estacionária
isto é, existe um n0 ∈ ω tal que f (n) = f (n0 ), para todo n ∈ ω, com n ≥ n0 .
14. (Princípio de Indução Transfinita) Seja P (α) uma afirmação que é verda-
deira ou falsa, para cada α ∈ O. Suponhamos que as seguintes propriedades
sejam satisfeitas:
218
Capítulo 7. Números Ordinais
|A×A = ≤A , |B×B = ≤B e x y, ∀ x ∈ A e y ∈ B,
ou ainda,
=≤A ∪ ≤B ∪(A × B).
Vamos provar que (A∪B, ) é bem ordenado. Por exemplo, dados x, y, z ∈ A∪B,
x x, pois x ∈ A ou x ∈ B, mas (x, x) ∈
/ A × B. Se x y e y z, então [x ≤A y
ou x ≤B y ou (x ∈ A e y ∈ B)] e [y ≤A z ou y ≤B z ou (y ∈ A e z ∈ B)]. Assim,
[x ≤A y e y ≤A z] ou [x ≤B y e y ≤B z], pois as outras possibilidades não podem
ocorrer. Portanto, x z e é uma ordenação para A ∪ B. Seja S um subconjunto
não vazio de A ∪ B. Então S1 = S ∩ A = ∅ ou S ⊆ B, por exemplo, S1 contém
um menor elemento, digamos a0 ∈ S1 . Portanto, é fácil verificar que a0 é o menor
elemento de S. Consequentemente, é uma boa ordenação para A ∪ B.
Sejam A e B são conjuntos bem ordenados disjuntos. A soma ordinal de A e
B, em símbolos,
A⊕B
é o par ordenado (A ∪ B, ). Observe que se A e B são conjuntos bem ordenados
quaisquer. Então A é semelhante a A × {0} e B é semelhante a B × {1}, com
(A × {0}) ∩ (B × {1}) = ∅,
mesmo que A e B não sejam disjuntos. Portanto, a soma ordinal de A e B pode ser
substituída pelo o par ordenado ((A × {0}) ∪ (B × {1}), ), onde
⎧ ⎧
⎨ (x, 0) (y, 0) ou ⎨ x, y ∈ A e x ≤A y ou
(x, 1) (y, 1) ou ⇔ x, y ∈ B e x ≤B y ou
⎩ ⎩
(x, 0) (y, 1) x ∈ A e y ∈ B.
α+β = (A ⊕ B).
Note, pelo Teorema 6.32, que essa operação está bem definida.
219
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
1. 0 + α = α + 0 = α.
2. α + (β + γ) = (α + β) + γ.
4. β ≤ α + β.
5. α < β se, e somente se, existir um único ordinal τ > 0 tal que α + τ = β.
7. Se γ + α = γ + β, então α = β.
α + (β + γ) = (α + β) + γ.
β = α + υ = α + (τ + δ) = (α + τ ) + δ = β + δ > β,
220
Capítulo 7. Números Ordinais
γ + β = γ + (α + τ ) = (γ + α) + τ > γ + α.
Portanto, γ + α < γ + β.
Sejam I um conjunto bem ordenado e {Ai }i∈I uma família de conjuntos bem
ordenados disjuntos aos pares. Neste caso, diremos que {Ai }i∈I é uma família bem
ordenada. Seja F = ∪i∈I Ai . Dados x, y ∈ F , existem únicos i, j ∈ I tais que
x ∈ Ai e y ∈ Aj , definimos
221
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
Portanto, é uma boa ordenação para F . Neste caso, a soma ordinal de qualquer
família bem ordenada {Ai }i∈I , em símbolos, ⊕i∈I Ai , é o par ordenado (∪i∈I Ai , ).
Sejam {αi }i∈I uma família bem ordenada em O e {Ai }i∈I uma família bem
ordenada tal que αi = (Ai ), para todo i ∈ I . Definimos a adição da família bem
ordenada {αi }i∈I como sendo
αi = ( Ai ).
i∈I i∈I
Em particular, se I = N e cada αn = 0 é finito, então n∈N αn = ω.
Sejam A e B conjuntos bem ordenados quaisquer. Dados (a, b), (c, d) ∈ A × B,
definimos
(a, b) (c, d) ⇔ b <B d ou b = d e a ≤A c.
Então bem ordena A × B. De fato, seja S um subconjunto não vazio de A × B.
Então S = {(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}. Assim,
S1 = {a ∈ A : (a, b0 ) ∈ S} =
∅ e S1 ⊆ A,
temos que existe um a0 ∈ S1 tal que a0 ≤ a, para todo a ∈ S1 . É fácil verificar que
(a0 , b0 ) é o menor elemento de S. Portanto, (A × B, ) é bem ordenado. Observe
que A × B = ∪b∈B (A × {b}). Assim, pondo Ab = A × {b}, teremos uma família
bem ordenada {Ab }b∈B . Portanto,
A × B = ⊕b∈B Ab ,
222
Capítulo 7. Números Ordinais
lexicográfica sobre A × B.
Sejam α, β ∈ O e A, B conjuntos bem ordenados tais que α = (A) e β =
(B). Definimos a multiplicação sobre os números ordinais como sendo
Note, pelo Teorema 6.38, que essa operação está bem definida.
1. 0 · α = α · 0 = α.
2. 1 · α = α · 1 = α.
3. α(βγ) = (αβ)γ.
4. α(β + γ) = αβ + αγ.
Prova. Vamos provar apenas os itens (3), (4), (5) e (6): Sejam A, B e C conjuntos
bem ordenados tais que α = (A), β = (B) e γ = (C). (3) A função f :
A × (B × C) → (A × B) × C definida como f (x, (y, z)) = ((x, y), z) é claramente
bijetora. Assim, resta provar que
(a, (b, c)) (x, (y, z)) ⇔ ((a, b), c) ((x, y), z),
223
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
2 " ω = {(0, 0), (1, 0), (0, 1), (1, 1), (0, 2), (1, 2), . . .}.
1 · ω + 1 · ω = ω + ω = ω(1 + 1) = ω · 2
224
Capítulo 7. Números Ordinais
βδ + τ = βδ1 + τ1 = β(δ + η) + τ1 = βδ + βη + τ1 .
Note, pelo item (2) doTeorema 7.23, que existem únicos ordinais π1 e ρ1 tais
que
α = βπ1 + ρ1 , com 0 ≤ ρ1 < β.
Se ρ1 = 0, então α = βπ1 . Se, ao contrário, ρ1 > 0, então existem únicos ordinais
π2 e ρ2 tais que
β = ρ1 π2 + ρ2 , com 0 ≤ ρ2 < ρ1 ,
e assim por diante até que algum dos restos seja igual a zero, digamos ρn+1 = 0,
pois a sequência
β > ρ1 > ρ2 > · · · > ρn > 0
225
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
não pode ser infinita pela boa ordenação de β. Portanto, obtemos as seguintes rela-
ções:
a = βπ1 + ρ1 , com 0 < ρ1 < β
β = ρ1 π2 + ρ2 , com 0 < ρ2 < ρ1
..
.
ρn−2 = ρn−1 πn + ρn , com 0 < ρn < ρn−1
ρn−1 = ρn πn+1 .
Com o objetivo de completude finalizaremos esta seção com alguns comentários
sobre exponenciação de números ordinais. Sejam A e B conjuntos bem ordenados
e A(B) o conjunto de todas as funções f : B → A definidas como f (b) = min(A),
para todos exceto um número finito b ∈ B. Mais precisamente, se a0 = min(A) e
Sf = {x ∈ B : f (x) = a0 }, então A(B) = {f ∈ AB : |Sf | < ∞}. Então A(B) é um
conjunto bem ordenado com a seguinte ordenação . Dados f, g ∈ A(B) , definimos
onde b ∈ B é o maior elemento tal que f (b) = g(b), ou seja, f (x) = g(x), para todo
x ∈ B, com x > b. Note que está bem definida, pois {b ∈ B : f (b) = g(b)} é um
conjunto finito. Além disso, é a ordem lexicográfica. Portanto, (A(B) , ) é bem
ordenado. Sejam α, β ∈ O e A, B conjuntos bem ordenados tais que α = (A) e
β = (B). Definimos a exponenciação sobre os números ordinais como sendo
αβ = (A(B) ).
226
Capítulo 7. Números Ordinais
Exercícios
1. Seja α ∈ O. Mostre que 1 + α = α se, e somente se, α é transfinito (α ≥ ω).
Neste caso, n + α = α e (1 + α)n = αn + 1, para todo n ∈ ω.
C = {ρ ∈ O : ρ é irredutível e ρ ≤ α}
5. Sejam α, β ∈ O − {0}.
227
7.2. Aritmética dos Números Ordinais
228
CAPÍTULO 8
229
8.1. Os Números Inteiros
(k, m) ∼ (n, p) ⇔ k + p = m + n.
k + r + p = k + p + r = m + n + r = m + p + q = m + q + p.
Por exemplo, como veremos a classe de equivalência (0, 1) será identificada com o
número inteiro −1. Portanto, de um ponto de vista intuitivo, podemos ver a classe
(k, m) como um número inteiro sob a forma k − n, ou seja, os inteiros são “retas”
com inclinações iguais a 1 em ω × ω.
Note que o inteiro (k, m) é um conjunto. Assim, devemos descrever as opera-
ções binárias de adição, de multiplicação e de ordem, de modo que o novo conjunto
dos némeros inteiros contenha o conjunto dos némeros naturais ω.
Dados k, m, n, p ∈ ω, vamos definir a adição e a multiplicação de números
inteiros como:
230
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
p + s. Assim,
kn + mp + qt + rs + nr = (k + r)n + mp + qt + rs
= (m + q)n + mp + qt + rs
= q(n + t) + mn + mp + rs
= q(p + s) + mn + mp + rs
= qs + (q + m)p + mn + rs
= qs + (k + r)p + mn + rs
= kp + mn + qs + (p + s)r
= kp + mn + qs + (n + t)r
= kp + mn + qs + rt + nr.
1. (k + n, m + n) = (k, m).
7. Existe um único (0, 0) tal que (k, m) + (0, 0) = (k, m) e existe um único
(1, 0) tal que (k, m) · (1, 0) = (k, m).
8. Existe um único (m, k) tal que (k, m) + (m, k) = (0, 0), o inverso de (k, m)
é denotado por (m, k) = −(k, m).
10. A equação (k, m) + (x, y) = (n, p) possui apenas a solução (n, p) − (k, m).
11. (k, m) · (n, p) = (0, 0) implica que (k, m) = (0, 0) ou (n, p) = (0, 0).
12. Se (k, m) · (n, p) = (k, m) · (q, r) e (k, m) = (0, 0), então (n, p) = (q, r).
231
8.1. Os Números Inteiros
Prova. Vamos provar apenas o item (11). Pelo item (1), (k, m) · (n, p) = (0, 0)
implica que kn + mp = kp + mn. Suponhamos que (n, p) = (0, 0). Então, pelo
item (1), n = p, digamos n < p. Assim, pelo Teorema 5.26, existe um t ∈ ω, com
t = 0, tal que p = n + t. Logo,
kn + mp = kp + mn ⇒ kn + m(n + t) = k(n + t) + mn
⇒ kn + mn + mt = kn + kt + mn
⇒ kt = mt.
Vamos denotar por Z o conjunto dos números inteiros. Note que (Z, +) é um
grupo abeliano e (Z, +, ·) é um anel comutativo com unidade e sem divisores de
zeros, o qual chama-se domínio de integridade. O próximo resultado é muito útil
para simplificar as provas.
Conclua que qualquer inteiro pode ser representado de modo único como (0, 0) ou
(p, 0) ou (0, p), para algum p ∈ ω, com p = 0.
Prova. Vamos provar apenas o item (1). Se k > m, então, pelo Teorema 5.26,
existe um p ∈ ω, com p = 0, tal que k = m + p. Assim, k + 0 = m + p implica
que (k, m) = (p, 0). Seja q ∈ ω tal que (k, m) = (q, 0). Logo, (p, 0) = (q, 0), de
modo que p = p + 0 = 0 + q = q.
(n, p) − (k, m) = (n + m, p + k)
a diferença ou a subtração entre (n, p) e (k, m). Observe, pelo item (10) do Teo-
rema 8.1, que esta operação está bem definida.
Dados (k, m), (n, p) ∈ Z, definimos
232
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
Esta operação está bem definida. Suponhamos que (k, m) = (q, r) e (n, p) = (s, t).
Então k + r = m + q e n + t = p + s. Assim, em ω,
k+p<m+n ⇔ k + p + (r + t) < m + n + (r + t)
⇔ k + r + (p + t) < n + t + (m + r)
⇔ m + q + (p + t) < p + s + (m + r)
⇔ q + t + (m + p) < r + s + (m + p)
⇔ q + t < r + s.
A notação (k, m) (n, p) significa que (k, m) ≺ (n, p) ou (k, m) = (n, p).
Teorema 8.3 (Lei da Tricotomia) Dados (k, m), (n, p) ∈ Z, exatamente uma e
apenas uma das condições pode ocorrer:
Prova. Basta observar, em ω, que exatamente uma e apenas uma das condições
pode ocorrer: k + p < m + n ou k + p = m + n ou k + p > m + n.
Teorema 8.4 Seja f : ω → Z uma função definida como f (n) = (n, 0). Então f é
injetora e
1. f (0) = (0, 0) e f (1) = (1, 0).
O Teorema 8.4 nos permite identificar ω com Im(f ) = {(n, 0) : n ∈ ω}, ou seja,
identificar cada n ∈ ω com sua imagem f (n) = (n, 0) ∈ Z. Assim, denotaremos,
com um abuso de notação, n = (n, 0) e −n = (0, n). Além disso,
233
8.1. Os Números Inteiros
1. a + b, ab ∈ P, para todos a, b ∈ P.
Por exemplo, se a = (a, 0) > 0 e b = (b, 0) > 0, então ab = (ab, 0) > (0, 0), pois
ab = ab + 0 > 0 + 0 = 0 em ω. Portanto, ab ∈ P, para todos a, b ∈ P.
Sejam a, b ∈ Z. Diremos que b é maior do que a, em símbolos b > a, se, e
somente se, b − a ∈ P. Note que a < b se, e somente se b > a. A notação a ≤ b,
significa que a = b ou a < b. Neste caso, o par (Z, ≤) é um poset. Pelo exposto
acima, podemos concluir a nossa motivação: dados a, b ∈ ω, a equação a + x = b,
possui uma única solução x = b − a em Z.
É pertinente identificar graficamente os números inteiros. Para isto, conside-
remos a função diferença d : ω × ω → Z definida como d(m, m + p) = −p e
d(n + p, n) = p. Então os pares P = (m, n) ∈ ω × ω sâo pontos de coordenadas
inteiras no primeiro quadrante de R2 = {(x, y) : x, y ∈ R}, enquanto d projeta
todos os pontos da reta x − y = p sobre p ∈ Z (faça um esboço). O conjunto
234
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
são as operações induzidas por d sobre Z, as quais são as mesma de ω. Neste caso,
se (s ◦ d)(P ) + D = P e (s ◦ d)(Q) + E = Q, então
Por exemplo,
2. Se a = 0, então a2 ∈ P.
235
8.1. Os Números Inteiros
Exercícios
1. Mostre que R = {(a, b) ∈ Z × Z : b − a ≥ 0} é um relação de ordem total
sobre Z.
2. Sejam a, b ∈ Z. Então:
3. Sejam a, b, c ∈ Z. Então:
236
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
Por exemplo, como veremos a classe de equivalência (0, 1) será identificada com o
número racional 0. Portanto, de um ponto de vista intuitivo, podemos ver a classe
237
8.2. Os Números Racionais
(a, b) como um número racional sob à forma de “fração ordinária” b−1 · a, ou seja,
os racionais são “retas” não horizontais em Z × Z.
Note que o racional (a, b) é um conjunto. Assim, devemos descrever as opera-
ções binárias de adição, de multiplicação, de divisão e de ordem, de modo que o
novo conjunto dos números racionais contenha o conjunto dos números inteiros Z.
Dados a, b, c, d ∈ Z, vamos definir a adição e a multiplicação de números raci-
onais como:
a c ad + bc a c ac
+ = e · = .
b d bd b d bd
238
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
7. Existe um único (0, 1) tal que (a, b) + (0, 1) = (a, b) e existe um único (1, 1)
tal que (a, b) · (1, 1) = (a, b).
8. Existe um único (−a, b) tal que (a, b) + (−a, b) = (0, 1), o inverso aditivo de
(a, b) é denotado por (−a, b) = −(a, b).
9. Existe um único (b, a) = (0, 1) tal que (a, b) · (b, a) = (1, 1), o inverso multi-
plicativo de (a, b) é denotado por (b, a) = ((a, b))−1 .
11. A equação (a, b) + (x, y) = (c, d) possui apenas a solução (c, d) + (−a, b).
12. (a, b) · (c, d) = (0, 1) implica que (a, b) = (0, 1) ou (c, d) = (0, 1).
13. Se (a, b) · (c, d) = (a, b) · (e, f ) e (a, b) = (0, 1), então (c, d) = (e, f ).
14. A equação (a, b)·(x, y) = (c, d), com (a, b) = (0, 1), possui apenas a solução
(b, a) · (c, d).
Prova. Vamos provar apenas o item (14). É claro que (x, y) = (b, a) · (c, d) é uma
solução. Por outro lado, se (e, f ) é outra solução, então (a, b) · (e, f ) = (c, d) e
Vamos denotar por Q o conjunto dos números racionais. Note que (Q, +) e
(Q, ·) são grupos abelianos, enquanto, (Q, +, ·) é um corpo. O próximo resultado é
muito útil para simplificar as provas.
Lema 8.7 Qualquer (p, q) ∈ Q pode ser escrito de modo único sob a forma (a, b),
com b > 0 e mdc(a, b) = 1.
Prova. Como (p, q) = (−p, −q), podemos supor que q > 0. Assim, pelo Exercício
(7) da Seção 8.1, d = mdc(p, q) existe. Logo, existem a, b ∈ Z, com b > 0, tais
que q = ad e q = bd. Portanto, (p, q) = (ad, bd) = (a, b), com mdc(a, b) = 1, pois
d = xp + yq = (xa + yb)d ⇒ xa + yb = 1.
239
8.2. Os Números Racionais
Se (p, q) = (c, d), com mdc(c, d) = 1, então ad = bc. Assim, pelo Lema de
Euclides, b divide d e d divide b, pois mdc(a, b) = 1 = mdc(c, d). de modo que
b = d. Logo, a = c. Portanto, (a, b) = (c, d).
a divisão entre (a, b) e (c, d). Observe, pelo item (14) do Teorema 8.6, que esta
operação está bem definida. É importante observar que
representa a diferença ou a subtração entre (c, d) e (a, b) a qual, pelo item (11) do
Teorema 8.6, está bem definida.
Dados (a, b), (c, d) ∈ Q, com b > 0 e d > 0, definimos
Esta operação está bem definida. Suponhamos que (a, b) = (e, f ) e (c, d) = (g, h),
com f > 0 e h > 0. Então af = be e ch = dg. Como bd > 0 e f h > 0 temos que
A notação (k, m) (n, p) significa que (k, m) ≺ (n, p) ou (k, m) = (n, p).
Teorema 8.8 (Lei da Tricotomia) Dados (a, b), (c, d) ∈ Q, exatamente uma e ape-
nas uma das condições pode ocorrer:
Prova. Basta observar, em Z, que exatamente uma e apenas uma das condições
pode ocorrer: ad < bc ou ad = bc ou ad > bc.
240
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
Teorema 8.9 Seja f : Z → Q uma função definida como f (a) = (a, 1). Então f é
injetora e
O Teorema 8.9 nos permite identificar Z com Im(f ) = {(a, 1) : a ∈ Z}, ou seja,
identificar cada a ∈ Z com sua imagem f (a) = (a, 1) ∈ Q. Assim, denotaremos,
com um abuso de notação, a = (a, 1) e a−1 = (1, a). Além disso,
a
(a, b) = (a, 1) ÷ (1, b) = b−1 a = = a/b
b
é o quociente entre a e b. O conjunto P1 = {b−1 a ∈ Q : ab > 0} chama-se cone
positivo de Q. Neste caso, Q+ = P1 ∪ {0} = {b−1 a ∈ Q : ab ∈ Z+ } é o conjunto
dos números racionais positivos. Pondo −P1 = {−r ∈ Q : r ∈ P1 }, obtemos
Q = −P1 ∪ {0} ∪ P1 uma união disjunta e
2. r + s, rs ∈ P1 , para todos s, s ∈ P1 .
Por exemplo, se b−1 a ∈ Q, então b−1 a = (b−1 )2 ab. Assim, b−1 a ∈ P1 se, e somente
se, ab ∈ P.
Sejam r, s ∈ Q. Diremos que s é maior do que r, em símbolos s > r, se, e
somente se, s − r ∈ P1 . Note que r < s se, e somente se s > r. A notação
241
8.2. Os Números Racionais
A imagem |x| chama-se valor absoluto de x ou, equivalentemente, |x| = max{x, −x}
a qual, pela Lei da Tricotomia, está bem definida.
2. |xy| = |x||y|.
d(a, x) = |x − a|.
242
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
Exercícios
1. Mostre que R = {(a, b) ∈ Q × Q : b − a ≥ 0} é um relação de ordem total
sobre Q.
2. Sejam r, s ∈ Q. Então:
8. Mostre que a relação de ordem < sobre Q pode ser caracterizada como:
E = {x ∈ Q : x < 0 ou x2 < 2}
243
8.3. Os Números Reais
1. E = ∅ e E ⊂ Q.
2. Se a ∈ E e x ≤ a, então x ∈ E.
1. E = ∅ e E ⊂ Q.
O item (2) significa se a ∈ E , então x < a, para todo x ∈ E. Note, pelo item (3),
que se sup(E) existir, então sup(E) ∈ E. Um corte de Dedekind em Q é um par
ordenado (E, D) de subconjuntos não vazios de Q com as seguintes propriedades:
1. E ∩ D = ∅ e E ∪ D = Q.
2. Se a ∈ E e x ≤ a, então x ∈ E.
3. Se a ∈ D e a ≤ x, então x ∈ D.
r = Sr = {x ∈ Q : x < r}
244
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
r ≤ s ⇔ r ⊆ s.
1. Se p ∈ r e q ∈
/ r, então p < q e se x ∈
/ r e x < y, então y ∈
/ r.
245
8.3. Os Números Reais
r + s = {p + q : p ∈ r e q ∈ s}.
Observe, intuitivamente, que esta operação binária faz sentido, pois ela coincide
sobre Q. Vamos provar que a operação está bem definida, ou seja, é um corte. De
fato, como r = ∅ e s = ∅ temos que existem p ∈ r e q ∈ s tais que p + q − 1 < p + q
implica que p + q − 1 ∈ r + s e r + s = ∅. Note que r + s ⊂ Q, pois a ∈ r e
b ∈ s implicam que x < a, para todo x ∈ r, e y < b, para todo y ∈ s. Assim,
x+y < a+bea+b ∈ / r + s. Dado r ∈ r + s e x ≤ r, obtemos r = p + q,
onde p ∈ r e q ∈ s. Como x ≤ r temos que x − q ≤ p implica que x − q ∈ r e
x = (x − q) + q ∈ r + s. Se s ∈ r + s, então existem p ∈ r e q ∈ s tais que s = p + q.
Como p ∈ r temos que p < t, para algum t ∈ r, de modo que p + q < t + q. Assim,
s < t + q, para algum t + q ∈ r + s. Portanto, r + s não possui maior elemento.
1. p + (q + r) = (p + q) + r.
2. p + q = q + p.
Prova. Vamos provar apenas os itens (3), (4) e (5): (3) Se x ∈ p + 0, então existem
p ∈ r e q ∈ 0 tais que x = p + q. Como q < 0 temos que x = p + q < p + 0 = p.
Assim, x ∈ p. Por outro lado, se x ∈ p, então x < y, para algum y ∈ p. Logo,
246
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
q = −p + (p + q) = −p + (p + r) = r.
Portanto, p + q < p + r.
1. Se p + q = p + r, então q = r.
3. −(−p) = p.
5. −(p + q) = −p − q.
247
8.3. Os Números Reais
p + q + (−p − q) = (p − p) + (q − q) = 0 + 0 = 0
p = q − (q − p).
Portanto, R ⊆ R+ + (−R+ ).
Observe, intuitivamente, que esta operação binária faz sentido, pois ela coincide
sobre Q. Vamos provar que a operação está bem definida, ou seja, é um corte. De
fato, como r = ∅ e s = ∅ temos que existem 0 < p ∈ r e 0 < q ∈ s tais que
pq − 1 < pq implica que pq − 1 ∈ r · s e r · s = ∅. Note que r · s ⊂ Q, pois a ∈ r
e b ∈ s implicam que x < a, para todo 0 < x ∈ r, e y < b, para todo 0 < y ∈ s.
Assim, xy < ab e ab ∈ / r · s. Dado r ∈ r · s e x ≤ r, obtemos r = pq, onde
0 < p ∈ r e 0 < q ∈ s. Como x ≤ r temos que q −1 x ≤ p implica que q −1 x ∈ r
e x = (q −1 x)q ∈ r · s. Se s ∈ r · s, então existem 0 < p ∈ r e 0 < q ∈ s tais que
s = pq. Como p ∈ r temos que p < t, para algum 0 < t ∈ r, de modo que pq < tq.
Assim, s < tq, para algum 0 < tq ∈ r · s. Portanto, r · s não possui maior elemento
e é claro que r · s > 0. Vamos denotar r · s como a justaposição rs.
248
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
1. p(qr) = (pq)r.
2. pq = qp.
3. p(q + r) = pq + pr.
Prova. Vamos provar apenas os itens (3), (4) e (5): (3) Se x ∈ p(q + r), então
existem 0 < a ∈ p e 0 < b ∈ q + r tais que x = ab. Como b ∈ q + r temos que
existem 0 < c ∈ q e 0 < d ∈ r tais que b = c + d. Assim, 0 < ac, 0 < ad e
x = a(c + d) = ac + ad ∈ pq + pr. Por outro lado, se x ∈ pq + pr, então existem
0 < y ∈ pq e 0 < z ∈ pr tais que x = y + z. Como y ∈ pq e z ∈ pr temos que
existem a, b ∈ p, c ∈ q e d ∈ r tais que y = ac e z = bd. Assim,
pois 0 < a−1 b ≤ 1 ou 0 < b−1 a ≤ 1 implica que (a−1 b)d ≤ d ou (b−1 a)c ≤ c, de
modo que (a−1 b)d ∈ r ou (b−1 a)c ∈ q.
(4) Note que 0 ∈ 1, mas 0 ∈
/ 0. Se x ∈ p·1, então existem 0 < a ∈ p e 0 < b ∈ 1
tais que x = ab. Como b ∈ 1 temos que 0 < b < 1. Assim, x = ab < a, de modo
que x ∈ p. Por outro lado, se x ∈ p, então existe um 0 < a ∈ p tal que x < a.
Assim, x < 2−1 (a + x) < a implica que (2a)−1 (a + x) < 1 e (2a)−1 (a + x) ∈ 1.
Como x < a(2a)−1 (a + x) temos que x ∈ p · 1.
(5) Seja x = {r ∈ Q : ∃ a, b ∈ Q, com a > 0, 0 < b ∈ p, ab < 1 e r < a}.
É importante notar que x = {q −1 ∈ Q : 0 < q ∈ p , com q = min(p )}. Então
x ∈ R e p · x = 1. De fato, p > 0 implica que existe um 0 < b ∈ p. Como
0 · s = 0 < 1, para todo s ∈ Q, temos que 0 ∈ x e x = ∅. Note que x ⊂ Q, pois
existe um 0 < b ∈ p, de modo que b−1 · b = 1 e b−1 ∈ / x. Dado r ∈ x e t ≤ r,
existem a, b ∈ Q tais que 0 < b ∈ p, ab < 1 e r < a. Assim, b < a−1 < r−1 ≤ t−1 ,
de modo que tb < 1 e t ∈ x. Se t ∈ x, então t < a. Logo, t < 2−1 (a + t) < a
249
8.3. Os Números Reais
u · v = pr + qs − ps − qr.
Pode ser provado que esta operação depende somente de u e v e não da particular
diferença. Uma definição alternativa e mais comum é:
⎧
⎪
⎪ 0, se p = 0 ou q = 0
⎪
⎨
(−p)(−q), se p < 0 ou q < 0
p·q=
⎪
⎪ −((−p)q), se p < 0 ou q > 0
⎪
⎩ −(p(−q)), se p > 0 ou q < 0.
Esta operação está bem definida, pois o lado direito é, em qualquer caso, um corte.
Todas as propriedades do Teorema 8.17 podem ser provadas usando o Lema 8.16.
Em particular, a identidade p = −(−p). Por exemplo. para provar o item (3). (a)
Se p < 0 e q + r > 0, então q > 0 ou r > 0. Assim, q > 0 e r > 0 implica que
Os casos (c) p > 0 e q + r > 0; (d) p < 0 e q + r < 0; (e) p = 0, são análogos.
250
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
1. f (0) = 0 e f (1) = 1.
Prova. Vamos provar apenas o item (2). Se x ∈ f (p) + f (q), então existem r ∈ p
e s ∈ q tais que x = r + s, de modo que x = r + s < p + q. Assim, x ∈ f (p + q).
Por outro lado, se x ∈ f (p + q), então x < p + q. Observe que
x−q+p x−p+q
x= + .
2 2
Como 2−1 (x − q + p) < 2−1 (p + p) = p e 2−1 (x − p + q) < 2−1 (q + q) = q temos
que 2−1 (x − q + p) ∈ f (p) e 2−1 (x − p + q) ∈ f (q). Portanto, x ∈ f (p) + f (q).
251
8.3. Os Números Reais
2. E ∩ D = ∅ e E ∪ D = R.
252
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
Exercícios
1. Sejam r, s ∈ R. Mostre que r + s = {x ∈ Q : x < p + q, p ∈ r e q ∈ s}.
1 ∞
= rn = 1 + r + r2 + · · ·
1 − r n=0
253
8.4. Representação de Números Reais
∞
ak rk = a0 + a1 r + a2 r2 + · · ·
k=0
n ≤ x < n + 1 e x − 1 < n ≤ x.
254
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
dq = a1 + r1 , com 0 ≤ r1 < 1.
Logo,
a1 a1 + 1 a1 r 1
≤q< ⇔q= + .
d d d d
Repetindo este processo com dr1 , teremos dr1 = a2 + r2 , com 0 ≤ r2 < 1, e
a1 a2 a 1 a2 + 1 a1 a2 r2
+ 2 ≤q< + 2
⇔q= + 2 + 2.
d d d d d d d
Prosseguindo com este processo, obtemos
a1 a2 ak a 1 a2 ak + 1
+ 2 + ··· + k ≤ q < + 2 + ··· + .
d d d d d dk
Geometricamente, o processo significa: qualquer número real não inteiro x sobre
a reta está entre dois inteiros consecutivos a0 e a0 + 1. Em seguida dividimos o
intervalo de extremos a0 e a0 + 1 em d partes iguais. Se x não for um dos pontos da
subdivisão, então x deve está entre dois pontos consecutivos da subdivisão, ou seja,
a1 a1 + 1
a0 + < x < a0 + ,
d d
e assim sucessivamente.
∞
ak a1 a 2 an
x= = a0 + + 2 + ··· + n + ···
k=0
dk d d d
x = a0 , a1 a2 · · · ak ou x = a0 , a1 a2 · · · ak · · ·
255
8.4. Representação de Números Reais
Observe que cada x ∈ R pode ser representado de modo único na base d como
∞
ak
x = ±a0 + ,
k=1
dk
256
Capítulo 8. Construção dos Números Reais
em que y indica a parte que repete-se indefinidamente. Observe que podemos es-
colher k, p ∈ ω mínimos. A representação é simples se p = 1 e é composta se
p > 1.
z dp
ak+1 · · · ak+p = , a k+1 · · · a k+p ⇒ a k+1 · · · a k+p = z.
dp dp − 1
257
8.4. Representação de Números Reais
x == a0 , a1 · · · ak ak+1 · · · an .
Sendo n > k, existe um único p ∈ ω, com p > 0, tal que n = k + p. Neste caso, p
é o período e p ≤ |b|.
10 · 1 = 1 · 7 + 3, com a1 = 1 e r1 =3
10 · 3 = 4 · 7 + 2, com a2 = 4 e r2 =2
10 · 2 = 2 · 7 + 6, com a3 = 2 e r3 =6
10 · 6 = 8 · 7 + 4, com a4 = 8 e r4 =4
10 · 4 = 5 · 7 + 5, com a5 = 5 e r5 =5
10 · 5 = 7 · 7 + 1, com a6 = 7 e r6 =1
10 · 1 = 1 · 7 + 3, com a7 = 1 = a1 e r7 = 3 = r 1
..
.
Portanto,
1
= 0, 142857142857 · · · = 0, 142857.
7
258
BIBLIOGRAFIA
[4] Halmos, P. R. - Naive Set Theory, Princeton, N. J., Van Nostrand, 1960.
[6] Hrbacek, K. and Jech, T. - Introduction to Set Theory, 3rd ed., Marcel Dek-
ker, 1999.
[9] Mac Lane, S. and Birkhoff, G. Algebra, 3th ed., Macmillan Company, New
York, 1968.
259
B IBLIOGRAFIA
[12] Suppes, P. - Axiomatic Set Theory, Dover Publications, Inc, New York, 1972.
260
RESPOSTAS E SUGESTÕES
Capítulo 1
É importante observar que os exercícios deste Capítulo constam de dois objetos:
Um conjunto de “pontos” P , um conjunto de “retas” R formado de subconjuntos
de P e uma ou mais “operações” sobre P .
Seção 1.2
1. (a) Suponhamos que exista outro vetor 0 ∈ V tal que u + 0 = u, para todo
u ∈ V . Então, pelo axioma V3 , obtemos 0 = 0 + 0 = 0 . (e) Pelo axioma V3 ,
u + 0 = u, para todo u ∈ V . Em particular, 0 + 0 = 0. Logo, pelos axiomas V6
e V9 , obtemos a0 = a(0 + 0) = a0 + a0. Portanto, pelo item (a), a0 = 0. (g) Se
a = 0, nada há para ser provado. Se a = 0, então, pelos axiomas V7 , V10 , F10 e pelo
item (e), obtemos
+ : C × C −→ C · : R × C −→ C
e
(z, w) −→ z + w (a, z) −→ a · z
261
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
a · x0 = a · (a−1 · b) = (a · a−1 ) · b = e · b = b.
Seção 1.3
1. Seja F13 o axioma: “K possui no máximo dois elementos.” Então F13 = ¬F9
e (F − F9 ) + F13 é um sistema de axiomas satisfatório. De fato, o conjunto K =
Z2 = {0, 1}, com as operações binárias definidas via tabelas:
⊕ 0 1 " 0 1
0 0 1 e 0 0 0
1 1 1 1 0 1
262
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
é independente em F. Note que para provar que Z2 satisfaz a maioria dos axiomas
de F = (K, ⊕, "), basta verificar que a função f : Z → Z2 definida como
0, se n par
f (n) =
1, se n ímpar
· : R∗ × R∗ −→ R∗ + : Q × Q −→ Q
e
(a, b) −→ a · b (a, b) −→ a + b
satisfaz o sistema de axiomas G = (G, ·). (b) Novamente, é fácil verificar que Q
munido com a operação binária + satisfaz o sistema de axiomas G = (G, +). (c)
O sistema de axiomas G é consistente, pois o item (a) e/ou (b) serve como uma
263
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
interpretação para G. (d) Não, os modelos M (R∗ ) e M (Q) não são isomorfos.
(e) Vamos provar apenas que os axiomas G2 e G4 são independentes. Seja G5 o
axioma: “existem a, b, c ∈ G tais que a · (b · c) = (a · b) · c.” Então G5 = ¬G2 e
(G − G2 ) + G5 é um sistema de axiomas satisfatório, pois o conjunto
· 1 i j k l il jl kl
1 1 i j k l il jl kl
i i −1 k −j il −l −kl jl
j j −k −1 i jl kl −l il
k k j −i −1 kl −jl il −l
l l −il −jl −kl −1 i j k
il il l −kl jl −i −1 −k j
jl jl kl l −il −j k −1 −i
kl kl −jl il l −k −j i −1
264
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
x ∈ (x − , x + ) ⊆ J.
265
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
x ∈ (x − 1 , x + 1 ) ⊆ I1 e x ∈ (x − 2 , x + 2 ) ⊆ I2 .
x ∈ (x − , x + ) ⊆ I1 ∩ I2 .
Capítulo 2
Seção 2.2
1. Pelo item (a), obtemos A ∪ B ⊆ X. Por outro lado, pondo Y = A ∪ B, temos,
pelo item (2) do Teorema 2.3, que A ⊆ Y e B ⊆ Y . Assim, pelo item (b), teremos
X ⊆ Y = A ∪ B. Portanto, X = A ∪ B. 2. Sejam A, B subconjuntos de U e X
um subconjunto de U com as seguintes propriedades: (a) X ⊆ A e X ⊆ B. (b) Se
Y ⊆ A e Y ⊆ B, então Y ⊆ X, para todo Y ⊆ U . Mostre que X = A ∩ B. Agora,
faça a prova. 3. Vamos provar apenas o item (a).
∀ x [x ∈ A ∪ C ⇒ x ∈ A ou x ∈ C
⇒ x ∈ B ou x ∈ D ⇒ x ∈ B ∪ D].
∀ x [x ∈ A ∩ (B − C) ⇔ x ∈ A e x ∈ (B − C)
⇔ x∈A e x∈B e x∈ /C
⇔ x∈A∩B e x∈ / A∩C
⇔ x ∈ (A ∩ B) − (C ∩ A)].
Portanto, A ∩ (B − C) = (A ∩ B) − (C ∩ A). 5. Vamos provar apenas o item (a).
∀ x [x ∈ A ∪ B ⇔ x ∈ A ou x ∈ B
⇔ x ∈ A ou x ∈ (B − A)
⇔ x ∈ A ∪ (B − A)].
266
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
∀ x [x ∈ A ∩ (B − A) ⇒ x ∈ A e x ∈ B − A
⇒ x∈A e x∈ / A],
(g) Novamente, pelos itens (7) e (8) do Teorema 2.3 e o item (f ), teremos
Como esta expressão é simétrica em relação A, B e C temos, pelo item (d), que
A + (B + C) = C + (A + B) = (A + B) + C.
Uma solução gráfica do item (g), confira Figura 8.1. Note que A = {1, 2, 4, 5},
267
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
∀ A ∀ x [x ∈ ∅ ⇒ x ∈ A],
Seção 2.3
∀ (x, y) [(x, y) ∈ (B × A) ∩ (C × A )
⇒ (x, y) ∈ B × A e (x, y) ∈ C × A
⇒ y∈A e y∈ / A],
Assim, G−1 ⊆ Im(G) × Dom(G). Portanto, pelo axioma ZF4 , G−1 é um conjunto.
6. Observe que A − B = A ∩ B ⊆ A. Portanto, pelo axioma ZF4 , A − B é um
268
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
∀ x [x ∈ (∩i∈I Ai ) ⇔ x ∈
/ ∩i∈I Ai ⇔ ∃ i ∈ I tal que x ∈
/ Ai
⇔ ∃ i ∈ I tal que x ∈ Ai ⇔ x ∈ ∪i∈I Ai ].
Note que se A1 = {1} e A2 = {a, b}, então P(A1 ) ∪ P(A2 ) ⊂ P(A1 ∪ A2 ). 13.
Vamos provar apenas o item (c).
∀ x [x ∈ A ∩ B ⇒ x ∈ A e x ∈ B ⇒ {x} ⊆ A e {x} ⊆ B
⇒ {x} ∈ P(A) ∩ P(B) = {∅}],
269
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 2.4
1. Vamos provar apenas o item (d). Como ∩i∈I Ci ⊆ Ci , para todo i ∈ I, temos
que f (∩i∈I Ci ) ⊆ f (Ci ), para todo i ∈ I. Portanto, f (∩i∈I Ci ) ⊆ ∩i∈I f (Ci ).
Como f é injetora temos que f = i ◦ g, em que i : f (A) → B é a função inclusão e
g : A → f (A) é uma função bijetora. Seja h a inversa de g. Então f (X) = h−1 (X),
para todo X ⊆ A. Portanto, pelo item (b), obtemos
f −1 (Bj ) = {x ∈ A : f (x) ∈ Bj } =
∅, ∀ j ∈ J.
Sendo f −1 (Bj ) ⊆ A, para todo j ∈ J, obtemos ∪j∈J f −1 (Bj ) ⊆ A. Por outro lado,
270
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
F (x, y) := P (x) ∧ x = y
D = {y : ∃ x ∈ A ∧ F (x, y)}
é sobrejetora. Portanto, pelo axioma ZF7 , {A, B} é um conjunto. 11. Para qual-
quer a ∈ A fixado, a função fa : B → Ba definida como fa (y) = (a, y), em
que
Ba = {(a, y) : y ∈ B} = {a} × B,
é claramente bijetora. Assim, pelo axioma ZF7 , Ba é um conjunto, para todo a ∈ A.
Como A × B = ∪a∈A Ba temos, pelo axioma ZF5 , que A × B é um conjunto. O
conjunto Ba chama-se faixa vertical. 12. Sejam A e B conjuntos. Então, pelo
Exercício (11), A × B é um conjunto. Assim, pelo axioma ZF6 , P(A × B) é um
conjunto. Como B A é uma subclasse de P(A×B) temos, pelo axioma ZF4 , que B A
é um conjunto. 13. Vamos provar apenas o item (a). Para qualquer f ∈ AC ∪ B C ,
obtemos f ∈ AC ou f ∈ B C , ou seja, f é uma função de C em A ou f é uma função
271
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
f −1 (b) = {x ∈ A : b = f (x)} =
∅, ∀ b ∈ B,
são finitos. Neste caso, se f (n) = h(n), então f (n) = g(n) ou f (n) = g(n) e
g(n) = h(n). Logo,
S = {n ∈ N : f (n) = h(n)} ⊆ S1 ∪ S2
272
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Portanto, pelo item (a), χB∪C = χB +χC −χB ·χC . 20. Vamos provar apenas o item
(a). Se x ∈ ∪i∈I Ai , então existe um i ∈ I tal que x ∈ Ai . Como f (J) = I temos
que existe um j ∈ J tal que i = f (j). Assim, x ∈ Af (j) . Logo, x ∈ ∪j∈J Af (j) .
Por outro lado, se x ∈ ∪j∈J Af (j) , então existe um j ∈ J tal que x ∈ Af (j) . Como
f (j) ∈ I temos que x ∈ ∪i∈I Ai . Portanto, ∪j∈J Af (j) = ∪i∈I Ai . 21. Suponhamos
que f : A → B seja injetora. Então, pelo Corolário 2.22, f : A → C é uma função
bijetora, em que C = Im(f ) ⊆ B. Assim, f −1 : C → A é uma função. Seja a ∈ A
fixado e B = C ∪(B˙ − C). Então a função g : B → A definida como
f −1 (y), se y ∈ C
g(y) =
a, se y ∈ B − C
273
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
24. Pelo Exercício (23) temos que {f −1 (n)}n∈N = {2n − 1, 2n}n∈N é uma partição
de N. Assim, para cada k ∈ N, basta considerar a função gk : N → N definida
como gk (n) = 2n − 1 se 1 ≤ n < k e gk (n) = 2n se n ≥ k. Se existissem inversa
à esquerda, então f seria injetora, o que é impossível. 25. Vamos provar apenas o
item (c). Dados x, y ∈ R, se f (x) = f (y), então
x y
√ = .
1 + x2 1 + y2
274
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Então
275
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
e seja g = IA . Então
276
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
h1 = IB ◦ h1 = (g −1 ◦ g) ◦ h1 = g −1 ◦ (g ◦ h1 )
= g −1 ◦ f = g −1 ◦ (g ◦ h) = (g −1 ◦ g) ◦ h = IB ◦ h = h.
33. Primeiro note que f (0) = f (0 + 0) = f (0) + f (0) implica que f (0) = 0 e
0 = f (0) = f (1 + (−1)) = f (1) + f (−1) implica que f (−1) = −f (1). Segundo
f (1) = f (1·1) = f (1)·f (1) implica que f (1)·(f (1)−1) = 0, ou seja, f (1) = 0 ou
f (1) = 1. Se f (1) = 0, então f (x) = f (x · 1) = f (x) · f (1) = 0, para todo x ∈ Z,
isto é, f = 0. Se f (1) = 1, então, pela Lei da Tricotomia, dado x ∈ Z, x < 0 ou
x = 0 ou x > 0. Assim, x > 0 implica que f (x) = f (1 + · · · + 1) = xf (1) = x e
x < 0 implica que −x > 0 e f (x) = f (−1 · (−x)) = x. Portanto, f (x) = x, para
todo x ∈ Z, isto é, f = IZ . 34. Pelo Exercício (33), obtemos f = 0 ou f (x) = x,
para todo x ∈ Z. Dado y ∈ Z, com y = 0, obtemos
1 = f (1) = f (y · y −1 ) = f (y) · f (y −1 ) = y · f (y −1 ).
são mutualmente disjuntos. 36. Se f (A) = A, então, pelo Exercício (35), A seria
um conjunto infinito.
277
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Capítulo 3
Seção 3.1
1. (a) Se xEy e yEz, então xRy e yRz. Assim, xRz. Se x = z, então xRy e yRx
implica que x = y, o que é impossível, pois xEy. Portanto, x < z. (b) Se xEy
e x = y, então xEx, o que é impossível. Se xEy e yEx, então, pelo o item (a),
xEx, o que é impossível. Portanto, no máximo uma das condições ocorre: xEy
ou x = y ou yEx. A recíproca é clara. 2. Dados X, Y, Z ⊆ A. É claro que
(X, f ) ≤ (X, f ). Se (X, f ) ≤ (Y, g) e (Y, g) ≤ (X, f ), então X = Y e f = g.
Logo, (X, f ) = (Y, g). Se (X, f ) ≤ (Y, g) e (Y, g) ≤ (Z, h), então X ⊆ Y e
f (x) = g(x), para todo x ∈ X, e Y ⊆ Z e g(y) = h(y), para todo y ∈ Y . Em
particular, X ⊆ Z e f (x) = h(x), para todo x ∈ X. Assim, (X, f ) ≤ (Z, h).
Portanto, ≤ é uma ordem sobre C. 3. Dados (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ A × B, obtemos
(a, b) (a, b), pois a = a e b ≤ b. Se (a, b) (c, d) e (c, d) (a, b), então
a < c ou a = c e b ≤ d e c < a c = a e d ≤ b. Note que a possibilidade a < c
e c < a não pode ocorrer. Assim, a = c, b ≤ d e d ≤ b, isto é, (a, b) = (c, d).
Se (a, b) (c, d) e (c, d) (e, f ), então a < c ou a = c e b ≤ d e c < e ou
c = e e d ≤ f . Observe que se a < c e c < e, então a < e e (a, b) (e, f ). Se
a = c = e, b ≤ d e d ≤ f , então a = e, b ≤ f e (a, b) (e, f ). Portanto, é uma
ordem sobre A × B. 4. Dados (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ A, obtemos (a, b) (a, b),
pois a = a e b ≤ b. Se (a, b) (c, d) e (c, d) (a, b), então a = c e b ≤ d e a = c
e d ≤ b. Assim, a = c, b ≤ d e d ≤ b, isto é, (a, b) = (c, d). Se (a, b) (c, d) e
(c, d) (e, f ), então a = c e b ≤ d e c = e e d ≤ f . Logo, a = c = e, b ≤ d
e d ≤ f , ou seja, (a, b) (e, f ). Portanto, é uma ordem sobre A. 5. Dados
(a, b), (c, d), (e, f ) ∈ N × N, obtemos (a, b) (a, b), pois f (a, b) = f (a, b). Se
(a, b) (c, d) e (c, d) (a, b), então f (a, b) ≤ f (c, d) e f (c, d) ≤ f (a, b). Assim,
f (a, b) = f (c, d) implica que (a, b) = (c, d), pois f é injetora. Se (a, b) (c, d) e
(c, d) (e, f ), então f (a, b) ≤ f (c, d) e f (c, d) ≤ f (e, f ). Logo, f (a, b) ≤ f (e, f )
implica que (a, b) (e, f ). Portanto, é uma ordem sobre N × N. 6. Pondo
R = ∩i∈I Ri . Para quaisquer x, y, z ∈ A, obtemos xRi x, para todo i ∈ I. Assim,
xRx. Se (x, y) ∈ R e (y, x) ∈ R, então xRi y e yRi x, para todo i ∈ I. Logo,
x = y. Se (x, y) ∈ R e (y, z) ∈ R, então xRi y e yRi z, para todo i ∈ I. Portanto,
xRi z, para todo i ∈ I. Consequentemente, xRz, isto é, R é uma ordem sobre A.
7. Dados f, g, h ∈ F, obtemos f f , pois f (x) ≤ f (x), para todo x ∈ A. Se
f g e g f , então f (x) ≤ g(x) e g(x) ≤ f (x) , para todo x ∈ A. Assim,
f (x) = g(x), para todo x ∈ A, ou seja, f = g. Se f g e g h, então
278
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
f (x) ≤ g(x) e g(x) ≤ h(x), para todo x ∈ A. Logo, f (x) ≤ h(x), para todo
x ∈ A, ou seja, f h. Portanto, é uma ordem sobre F que não é total, pois se
b, c ∈ B não são comparáveis, então as funções constantes f (x) = b e g(x) = c,
para todo x ∈ A, não são comparáveis. 8. Confira o exercício (7). 9. Dados
(a, b), (c, d), (e, f ) ∈ A × B, obtemos (a, b) (a, b), pois b = b e a ≤ a. Se
(a, b) (c, d) e (c, d) (a, b), então b < d ou b = d e a ≤ c e d < b ou
d = b e c ≤ a. Note que a possibilidade b < d e d < b não pode ocorrer. Assim,
b = d, a ≤ c e c ≤ a, isto é, (a, b) = (c, d). Se (a, b) (c, d) e (c, d) (e, f ),
então b < d ou b = d e a ≤ c e d < f ou d = f e c ≤ e. Note que se b < d
e d < f , então b < f e (a, b) (e, f ). Se b = d = f, a ≤ c e c ≤ e, então
b = f , a ≤ e e (a, b) (e, f ). Portanto, é uma ordem sobre A × B. 10.
Dados (a, b), (c, d) ∈ C × D, teremos a, c ∈ C e b, d ∈ D. Assim, por hipótese,
[a < c ou a = c ou c < a] e [b < d ou b = d ou d < b]. Logo, se a < c, então
(a, b) (c, d). Se a = c, então b < d e (a, b) (c, d) ou b = d e (a, b) = (c, d) ou
d < b e (c, d) (a, b). De modo inteiramente análogo faz o caso c < a. Portanto,
(a, b) (c, d) ou (a, b) = (c, d) ou (c, d) (a, b), ou seja, C × D é uma cadeia de
A × B. 11. Como E ∩ D = ∅ e E ∪ D = B temos que
(A × E) ∩ (A × D) = A × (E ∩ D) = A × ∅ = ∅
e
(A × E) ∪ (A × D) = A × (E ∪ D) = A × B.
Se (a, b) ∈ A × E e (x, y) (a, b), então y < b ou y = b e x ≤ a. Se y < b,
então y ∈ E, pois b ∈ E. Se y = b, então y ∈ E. Portanto, em qualquer caso,
(x, y) ∈ A × E. Se (c, d) ∈ A × D e (c, d) (z, w), então y < b ou y = b e x ≤ a.
Se y < b, então y ∈ E, pois b ∈ E. Se y = b, então y ∈ E. Portanto, em qualquer
caso, (x, y) ∈ A × E. 12. Confira as definições. 13. Observe que para qualquer
r ∈ Q, multiplicando o numerador e o denominador de r por −1, se necessário,
podemos escrever r sob a forma r = a · b−1 , onde a, b ∈ Z, com b > 0. Dados
r = a · b−1 , s = c · d−1 ∈ Q, onde b, d ∈ N. Então, pela Lei da Tricotomia em Z,
ad < bc ou ad = bc ou ad > bc. Assim, r s ou r = s ou s r. Portanto, Q é
totalmente ordenado. Uma outra prova, dado r = a · b−1 ∈ Q, com a = 0 e b ∈ N.
Se a > 0, então r 0. Se −a > 0, então −r 0. Note que r 0 e −r 0 não
pode ocorrer. Caso contrário, r = a · b−1 e −r = c · d−1 , com a > 0, b > 0, c > 0 e
d > 0, implica que −ad = bc, o que é impossível, pois ad > 0 e bc > 0. Portanto,
279
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 3.2
1. Dados x, y ∈ A, se x < y e x = y, então f (x) < f (y), pois f (x) = f (y) e f é
crescente. 2. Note que as funções I, f, g : N → Z definidas como
1, se n = 1
I(n) = n, f (n) = n − 10 e g(n) =
n + 2, se n ≥ 2
1
f (n) = 1 −
n+1
280
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 3.3
1. Vamos provar apenas os itens (a) e (c): (a) Note que a < b ⇒ 2a = a + a <
a + b ⇒ a < 2−1 (a + b). Por outro lado, a < b ⇒ a + b < b + b = 2b ⇒
2−1 (a + b) < b. Portanto, a < 2−1 (a + b) < b. (c) Suponhamos, por absurdo,
que a > 0. Então existe um 0 = a − > 0 tal que 0 < 0 < a, o que é uma
contradição. Portanto, a = 0. 2. Basta provar que inf(B) = mdc(a1 , a2 , . . . , an )
e sup(B) = mmc(a1 , a2 , . . . , an ). 3. (b) Note que A não possui maior elemento,
281
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
282
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
x1 ≤ x 2 ≤ · · · ≤ x n ≤ · · ·
Como A possui um número finito de elementos temos que essa cadeia para, digamos
em xk . Portanto, a = xk é um elemento maximal de A. 14. Seja m ∈ A um
elemento minimal de A. Dado x ∈ A, obtemos x ≤ m ou m ≤ x, pois A é
totalmente ordenado. Assim, m = x ou m ≤ x, para todo x ∈ A. Portanto, m é um
menor elemento de A. 15. Falso. confira o Exemplo 3.24 ou considere o conjunto
A = N ∪ {∞}, com a ordenação usual de N e 1 < ∞ (faça o Diagrama de Hasse).
Então M = ∞ é o único elemento maximal de A, mas não é o maior elemento
de A. 16. (a) É claro que W ⊆ W , para todo W ∈ F. Dados U, W ∈ F, se
U ⊆ W e W ⊆ U , então U = W . Dados U, W, Z ∈ F, se U ⊆ W e W ⊆ Z,
então é claro que U ⊆ Z. Portanto, ⊆ é uma relação de ordem sobre F. (b) É
claro que {0} ⊆ W , para todo W ∈ F. Assim, {0} é o menor elemento de F.
Mais fácil ainda é que W ⊆ V , para todo W ∈ F. Portanto, V é o maior elemento
de F. (c) Confira o Exemplo 3.41. (d) Segue do item (c). 17. Basta observar
que a ∧ b = min{a, b} e a ∨ b = max a, b. 18. Confira o Teorema 2.3. 19. É
verificar que a ∧ b = mmc(a, b) e a ∨ b = mdc(a, b) e que Z+ é distributivo. Para
cada d ∈ Z+ , Id = {dk : k ∈ Z+ } é um ideal de Z+ . De fato, dados a, b ∈ Id ,
existem k, m ∈ Z+ tais que a = dk e b = dm, de modo que d divide a ∨ b. Assim,
a ∨ b ∈ Id . Para cada m ∈ Z+ , se m a, então m = an, para algum n ∈ Z+ .
Logo, m = (dk)r = d(kn), ou seja, m ∈ Id . Seja p ∈ Z+ um número primo. Então
P = Ip é um ideal primo de Z+ . Com efeito, dados a, b ∈∈ Z+ , se a ∧ b ∈ P ,
então a ∧ b = pk, para algum k ∈ Z+ . Agora, use que ab = mdc(a, b) mmc(a, b).
Reciprocamente, se P = Id é um ideal primo, então d é um número primo (prove
isto!). 20. Seja (A, ) um reticulado distributivo qualquer. Para cada a ∈ A fixado,
vamos admitir Pa o conjunto de todos os ideais primos P de A tal que a ∈ / P exista
(isto pode ser provado usando o Lema de Zorn!). Então a família F = {Pa : a ∈ A}
ordenada pela inclusão é um reticulado de conjuntos. Assim, a funcção f : A → F
definida como f (a) = Pa é oum isomorfismo.
283
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 3.4
√
1. Suponhamos, por absurdo, que 2 seja um número racional, digamos existem
√ √ √
a, b ∈ N tal que 2 = b−1 · a. Seja S = {n 2 : n ∈ N e n 2 ∈ N}. Então
S = ∅, pois b ∈ S. Assim, existe um s0 ∈ S tal que s0 ≤ s, para todo s ∈ S. Pondo
√ √
s0 = k 2 e 2 > 1, obtemos
√ √ √ √ √
s0 ( 2 − 1) = s0 2 − k 2 = (s0 − k) 2 > 0 ⇒ (s0 − k) 2 ∈ S,
√ √
o que é uma contradição. De fato, s0 2 = 2k e 2 < 2 2 implicam que 2 −
√ √ √
2 < 2, de modo que (s0 − k) 2 < s0 . 2. Considerando os números reais
1 1
2− 2 a < 2− 2 b temos, pelo Exemplo 3.57, que existe um r ∈ Q tal que
a b √
√ < r < √ ⇔ a < r 2 < b.
2 2
√
Portanto, existe um número irracional x = r 2 tal que a < x < b. 3. Vamos
provar apenas o item (c). Dado b ∈ R temos, pela Princípio Arquimedes, que existe
um m ∈ Z tal que ma > b. Assim, o conjunto S = {k ∈ N : (k + 1)a > b}
é não vazio. Logo, S contém um menor elemento, digamos n ∈ S. Portanto,
na ≤ b < (n + 1)a se, e somente se b ∈ [na, (n + 1)a[, pois n − 1 ∈
/ S, ou seja,
284
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
claro que q não é menor elemento de A. Por outro lado, para cada a ∈ Sq , existe um
a+ ∈ A tal que a < a+ < q, ou seja, q não possui predecessor imediato. Portanto,
q é um elemento limite de A. (c) Suponhamos que q seja um elemento limite de A
e que p = sup(Sq ). Então p ≤ q, pois x < q, para todo x ∈ Sq . Se p < q, então,
pelo item (b), p < p+ < q, o que é impossível. Portanto, p = q. Reciprocamente, é
claro que q não é o menor elemento de A. Por outro lado, para cada a ∈ Sq , existe,
pelo item (b), um a+ ∈ A tal que a < a+ < q, ou seja, q não possui predecessor
imediato. Portanto, q é um elemento limite de A. 7. Note que A é um CBO, pois
se S é qualquer subconjunto não vazio de A, então
S2 = {n ∈ Z+ : m0 + (n + 1)−1 · n ∈ S} =
∅
285
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Portanto, pelo Exercício (9), A∪B é um CBO. 11. Seja F = {Sa }a∈A uma família
de segmentos iniciais de A. Consideremos a função f : A → F definida como
f (a) = Sa . Então f é o isomorfismo desejado, por exemplo, dados a, b ∈ A, se
a = b, digamos a < b, então a ∈ Sb . Como a ∈ / Sa temos que Sa = Sb , ou seja, f é
injetora. 12. Confira o Exercício (11). 13. Dados x, y ∈ A, se f (x) = f (y), então
x = y, pois se x = y, então x < y ou x > y. Logo, f (x) < f (y) ou f (x) > f (y),
pois f é estritamente crescente, o que é impossível. Portanto, f é injetora. A
recíproca é clara. 14. Suponhamos que (E, D) seja um corte de A. Dado x ∈ E
e y ∈ D, obtemos x < y ou x > y, pois {E, D} é uma partição de A. Se y < x,
então x ∈ E ∩ D = ∅, o que é impossível. Portanto, x ≤ y. Reciprocamente, como
{E, D} é uma partição de A temos que E ∩ D = ∅ e E ∪ D = A. Agora, se a ∈ E
e x ≤ a, então x ∈ E, pois a ∈ / D. Finalmente, se b ∈ D e b ≤ y, então y ∈ D, pois
b∈ / E. Portanto, (E, D) é um corte de A. 15. Suponhamos que B seja uma seção
de A. Então é claro que B ∩ (A − B) = ∅ e A = B ∪ (A − B). Se a ∈ B e x ≤ a,
então x ∈ B, pois B é uma seção de A. Se b ∈ A − B e b ≤ y, então y ∈ A − B,
pois se y ∈/ A − B, então y ∈ B. Assim, b ∈ B ∩ (A − B) = ∅, o que é impossível.
Portanto, (B, A − B) é um corte de A. A recíproca é clara. 16. Dado a ∈ f −1 (C)
e x ∈ A, com x ≤ a. Como f é crescente temos que f (x) ≤ f (a). Por outro
lado, sendo a ∈ f −1 (C), obtemos f (a) ∈ C e, por hipótese, f (x) ∈ C. Assim,
x ∈ f −1 (C). Portanto, f −1 (C) é uma seção de A. Reciprocamente, primeiro note,
para qualquer a ∈ A, que a ∈ f −1 (Cf (a) ), com Cf (a) = {y ∈ B : y ≤ f (a)} uma
seção de B. Assim, por hipótese, f −1 (Cf (a) ) é uma seção de A. Dados x, y ∈ A, se
x ≤ y, então x ∈ f −1 (Cf (y) ). Portanto, f (x) ≤ f (y). Consequentemente, f é uma
função crescente. 17. Suponhamos que B possua um menor elemento, digamos
m ∈ B. Então m ≤ x, para todo x ∈ B. Em particular, m ≤ b. Dado y ∈ Sb ∩ B,
obtemos y < b e m ≤ y. Assim, m < b, ou seja, m ∈ Sb ∩ B. Portanto, m é o
menor elemento de Sb ∩ B. Reciprocamente, suponhamos que Sb ∩ B possua um
menor elemento, digamos n ∈ Sb ∩ B. Dado y ∈ B, obtemos b ≤ y ou b > y, pois
A é totalmente ordenado. Se b ≤ y, então n < y. Se b > y, então y ∈ Sb ∩ B.
Logo, n ≤ y, para todo x ∈ B. Portanto, B possui um menor elemento. 18.
Confira o Exercício (17). 19. Suponhamos, por absurdo, que exista uma família
S = {xn : n ∈ Z+ }, com xn > xn+1 , para todo n ∈ Z+ . Então S = ∅ e não
possui menor elemento, o que é uma contradição. Reciprocamente, se A não é um
CBO, então existe um subconjunto não vazio S de A sem menor elemento. Pondo
x0 ∈ S, obtemos um x1 ∈ S tal que x1 < x0 , pois S não possui menor elemento.
286
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Como x1 não é um menor elemento temos que existe um x2 ∈ S tal que x1 < x2 .
Prosseguindo assim, obtemos elementos x0 , x1 , x2 . . . em S tais que
Portanto, existe uma família T = {xn : n ∈ Z+ }, com xn > xn+1 , para todo
n ∈ Z+ . Note que {(n + 1)−1 : n ∈ Z+ } é uma cadeia infinita descendente
de [0, 1]. Portanto, [0, 1] não é um CBO. 20. Confira o Lema 3.63. 21. Seja
f : A → A um isomorfismo qualquer. Então x ≤ f (x), para todo x ∈ A, pois
A é um CBO. Por outro lado, como f −1 : A → A é um isomorfismo temos que
x ≤ f −1 (x), para todo x ∈ A. Neste caso, f (x) ≤ f (f −1 (x)) = x, para todo
x ∈ A. Portanto, x ≤ f (x) ≤ x implica que f (x) = x, ou seja, f = IA . 22. Como
g ◦ f : A → A é um isomorfismo temos, pelo Exercício (21), que g ◦ f = IA . De
modo inteiramente análogo, f ◦ g = IB . Portanto, g = f −1 . 23. Seja g : A → B
outro isomorfismo. Então g −1 : B → A é um isomorfismo. Assim, pelo Exercício
(22), g = f . 24. Sejam C ⊆ A e D ⊆ B tais que A D e B C. Então,
pelo Corolário 3.75, C A ou C Sa , para algum a ∈ A, e D B ou D Sb ,
para algum b ∈ B. Se C Sa , para algum a ∈ A, então B Sa , para algum
a ∈ A. Asim, pelo Lema 3.67, A não é isomorfo a D, o que é impossível. Logo,
C A. De modo inteiramente análogo, prova-se que a possibilidade D Sb não
pode ocorrer. Assim, D B. Portanto, A D B. 25. Confira o Exercício
(24). 26. Note que g injetora e c ∈ A − Im(g) implicam que A não pode ser finito.
Assim, basta provar que c, g(c), g(g(c)) . . . são mutualmente distintos.
Capítulo 4
Seção 4.1
1. Seja S um subconjunto não vazio de A × B. Então
S2 = {b ∈ B : (a1 , b) ∈ S} =
∅ e S2 ⊆ B,
287
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
de conjuntos não vazios. Assim, pelo axioma da escolha, Q = i∈I Bi = ∅ e
Q ⊆ P . Portanto, para cada g ∈ Q, temos que pj (g) = xj . Consequentemente, pj é
sobrejetora, para todo j ∈ I. 3. Vamos prova apenas o item (a). Dado f ∈ A × A,
obtemos
ϕ∗ (f )(j) = (f ◦ ϕ)(j) = f (ϕ(j)) ∈ A.
Portanto,
Então F = {Ax }x∈A é uma família de conjuntos não vazios disjuntos aos pares.
Assim, existe um conjunto escolha C para F tal que C ∩ Ax = {(x, y)}. Logo,
existe uma função f : A → B definida como y = f (x), onde (x, y) ∈ C ∩ A, para
todo x ∈ A, é tal que f ⊆ G. Reciprocamente, seja F uma família de conjuntos
288
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
y = f (Y ) = f (X) e C ∩ X = {f (X)}.
G = {(x, y) : x ∈ A e y ∈ F (x)}
Seção 4.2
1. Vamos provar apenas o item (a). Dado (x, y) ∈ A, com x = y, então, pelo
Exemplo 3.57, existe um r ∈ Q tal que x ≤ r ≤ y. Logo, D ∪ {(x, y)} não é uma
cadeia de A, pois os elementos (r, r) e (x, y) não são comparáveis. Portanto, D é
uma cadeia maximal de A. 2. Note que o conjunto D = {(x, x) ∈ R2 : x ∈ R} é
289
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
uma cadeia maximal de R2 que contém C. 3. Sejam A um poset não vazio qualquer
e
F = {C ⊆ A : C é uma cadeia de A}.
Então F = ∅, pois {x} ∈ F, para todo x ∈ A. Dados C1 , C2 ∈ F, definimos
C1 ≤ C2 se, e somente se, C1 ⊆ C2 . Assim, F é um poset. Sejam C uma cadeia
qualquer de F e M = ∪C∈C C. Então vamos provar que M ∈ F e M = sup(C).
De fato, dados x, y ∈ M , existem C1 , C2 ∈ C tais que x ∈ C1 e y ∈ C2 . Como C é
uma cadeia temos que C1 ⊆ C2 ou C2 ⊆ C1 , digamos C1 ⊆ C2 . Logo, x, y ∈ C2
e x ≤ y ou y ≤ x, pois C2 é uma cadeia. Portanto, M é uma cadeia. É fácil
verificar que M = sup(C). Assim, pelo Lema de Zorn, F contém pelo menos um
elemento maximal, C ∈ F. Portanto, C é uma cadeia maximal de A. 4. Seja
Sa = {x ∈ A : a ≤ x}. Então Sa , com a ordem induzida por A, é um conjunto
indutivamente ordenado. Assim, pelo Lema de Zorn, Sa possui pelo menos um
elemento maximal, digamos b ∈ Sa . Vamos provar que b é o elemento maximal de
A. De fato, seja m ∈ A tal que b ≤ m. Então a ≤ m, pois a ≤ b. Logo, m ∈ Sa .
Portanto, m ≤ b, isto é, m = b. Neste caso, A possui pelo menos um elemento
maximal b tal que b ≥ a. 5. Seja
ou seja, (B, C) ∈ F significa que B = ∪i∈I Bi , em que C = {Bi }i∈I é uma família
de conjuntos contáveis infinitos disjuntos aos pares de A. Então, pelo Exemplo
4.15, F = ∅, pois (E, {E}) ∈ F, com E um subconjunto contável infinito de A.
Dados (B1 , C1 ), (B2 , C2 ) ∈ F, definimos (B1 , C1 ) (B2 , C2 ) se, e somente se,
B1 ⊆ B2 e C1 ⊆ C2 . Assim, F é um poset. Sejam C uma cadeia qualquer de F,
digamos C = {(Bi , Ci )}i∈I , para algum conjunto de índice I, e M = (D, U ), com
D = ∪i∈I Bi e U = ∪i∈I Ci . Então vamos provar que M ∈ F e M = sup(C).
De fato, se D1 , D2 ∈ U , com D1 = D2 , então existem i, j ∈ I tais que D1 ∈ Ci
e D2 ∈ Cj . Como C é uma cadeia temos que Ci ⊆ Cj ou Cj ⊆ Ci , digamos
Ci ⊆ Cj . Logo, D1 , D2 ∈ Cj e D1 ∩ D2 = ∅. Por outro lado, se x ∈ D, então
existe i ∈ I tal que x ∈ Bi . Assim, existe um C ∈ Ci tal que x ∈ C, ou seja,
290
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
A = D∪D
˙ 0 = [(D − E)∪E]
˙ ∪D˙ 0 = (D − E)∪F
˙
é uma união disjunta de conjuntos que são cada contável infinito. 7. (a) Sejam C
uma cadeia qualquer de A e M = ∪C∈C C. Então vamos provar que M ∈ A e que
M é uma cota superior de C. De fato, seja B um subconjunto finito qualquer de M .
Então existe um C ∈ C tal que M ⊆ C, pois existem C1 , . . . , Cn ∈ C tais que
C ⊆ C1 ∪ · · · ∪ Cn .
Logo, pelo Exemplo 4.19, existe um Cj , com 1 ≤ j ≤ n, tal que Ci ≤ Cj , para todo
i = 1, . . . n. Portanto, C ⊆ Cj , ou seja, M ∈ A e claramente M é uma cota superior
de C. (b) Consequência direta do Lema de Zorn. 8. Seja A um conjunto não vazio
indutivamente ordenado. Então existe uma função escolha r : P(A)∗ → A para
A. Vamos construir, indutivamente, uma sequência crescente f : Z+ → A como
f (0) = a0 e
f (n) = r ({a0 , . . . , an−1 })
a cota superior do conjunto {a0 , . . . , an−1 }. Assim, f está bem definida e é cres-
cente. Então obtemos a cadeia {an }n∈Z+ , a qual possui uma cota superior. Portanto,
A possui um elemento maximal, pois qualquer cadeia possui uma cota superior.
9. Já vimos que se f : A → A é uma função, então x ∼ y se, e somente se,
f (x) = f (y), para todos x, y ∈ A, define uma relação de equivalência sobre A
tal que Ax = f −1 (x) é a classe de equivalência determinada por x. Neste caso,
{Ax : x ∈ A} é uma a família não vazia de conjuntos não vazios. Assim, existe
uma função escolha g : A → ∪x∈A Ax = A definida como g(x) ∈ Ax = f −1 (x),
291
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
292
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
tem as propriedades desejadas. Por exemplo, como T (xj ui ) = xj temos que ela
leva base em base. Assim, T é bijetora. 15. Se x ∧ a = 0, então
x = x ∧ 1 = x ∧ (a ∨ a ) = (x ∧ a) ∨ (x ∧ a ) = 0 ∨ (x ∧ a ) = x ∧ a .
293
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
J = {x ∈ Z : x ≤ m + 1}
Seção 4.3
1. Basta provar que a função f : N × I → R+ definida como f (n, x) = n + x − 1
tem as propriedades desejadas. Note que qualquer elemento de I × N possui um
sucessor imediato, enquanto R+ não. 2. Sejam A um poset não vazio qualquer e
F = {B ⊆ A : B é bem ordenado}.
294
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Capítulo 5
Seção 5.1
1. Suponhamos que A seja um conjunto transitivo. Então C ⊆ A, para todo C ∈ A.
Como B ∈ C e C ⊆ A temos que B ∈ A. Reciprocamente, dado X ∈ A, se
a ∈ X, então a ∈ A. Logo, X ⊆ A. Portanto, A é um conjunto transitivo. 2.
Sejam X ∈ Y e Y ∈ A ∪ B. Então [X ∈ Y e Y ∈ A] ou [X ∈ Y e Y ∈ B].
Assim, por hipótese, X ∈ A ou X ∈ B. Logo, X ∈ A ∪ B. Portanto, pelo
Exercício (1), A ∪ B é um conjunto transitivo. 3. Como A = B temos que A+ =
A ∪ {A} = B ∪ {B} = B + . 4. Seja S = {n ∈ ω : n ∈ / n}. Então 0 ∈ S, pois
0∈ / 0 = ∅. Suponhamos que o resultado seja válido para algum n, isto é, n ∈ S.
Então n+ ∈ / n+ , pois se n+ ∈ n+ , então n+ ∈ n ou n+ = n implica que n ∈ n, o
que é impossível. Portanto, n+ ∈ S. Assim, pelo P IF , S = ω. 5. (a) Se n = n+ ,
então n ∈ n, o que, pelo Exercício (4), é impossível. Portanto, n = n+ , para todo
n ∈ ω. (b) Se m ∈ n, então m ∈ n+ = n. Logo, n ∈ / m. (c) Pelo Lema 5.8, p
é um conjunto transitivo. Assim, pelo Exercício (1), m ∈ p. (d) Se m ∈ n, então
m ⊆ n, pois n é um conjunto transitivo. Portanto, m+ = m ∪ {m} ⊆ n. 6. Seja
S = {n ∈ ω : A ∈ n ⇒ A ∈ ω}. Então 0 ∈ S, pois A ∈ ∅ ∈ ω implica que A ∈ ω,
desde que A ∈ ∅ é impossível. Suponhamos que o resultado seja válido para algum
n, isto é, n ∈ S. Então A ∈ n+ = n ∪ {n}. Assim, A ∈ n ou A = n implica
que A ∈ ω. Portanto, n+ ∈ S. Logo, pelo P IF , S = ω. Consequentemente, ω
é um conjunto transitivo. 7. Como A ∈ A+ e A+ ∈ ω temos, pelo Exercício (6),
que A ∈ ω. 8. Suponhamos, por absurdo, que n ∈ ω seja um conjunto indutivo.
295
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
são tais que f (0) = 0 e f (n + 1) = g(f (n)), para todo n ∈ Z. Em particular, para
cada a ∈ Z fixado, com a ≤ 1, consideremos
n + a, se n < a
fa (n) =
0, se n ≥ a
Isto ocorre pois Z não é um conjunto bem ordenado com a ordem usual. 12. Pri-
meiro lembramos que uma sequência estritamente crescente sobre A é uma função
f : ω → A tal que
Vamos denotar f (n) = xn e usar indução sobre n. Como A = ∅ temos que ele
contém um elemento, digamos x0 ∈ A. Suponhamos que o resultado seja válido
para algum n, ou seja,
x 0 < x 1 < x2 < · · · < x n .
Consideremos o conjunto An = {x ∈ A : x > xn }. Então An = ∅, pois caso
contrário xn seria o elemento maximal de A, o que é uma contradição. Assim, An
contém um elemento, digamos xn+1 ∈ An , e
296
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 5.2
1. Vamos provar apenas o item (a). Para m e n fixados, seja S = {p ∈ ω : m =
n ⇒ m + p = n + p}. Então 0 ∈ S. Suponhamos que o resultado seja válido para
algum p, isto é, p ∈ S. Então
m + p+ = m + (p + 1) = (m + p) + 1 = (n + p) + 1 = n + (p + 1) = n + p+ .
Logo, P (p+ ) é verdadeira. Portanto, P (p) é verdadeira, para todo p ∈ ω. Note que
podemos usar este resultado para provar que o conjunto S = {n ∈ ω : 0 < n < 1} é
vazio. De fato, se S = ∅, então, pelo Teorema 5.29, S contém um menor elemento,
digamos n0 ∈ S. Assim, 0 < n0 < 1 implica que 0 < n20 < n0 < 1. Logo, n20 ∈ S,
o que contradiz a minimalidade de n0 . Portanto, S = ∅. 5. Seja m ∈ n. Então
m ∈ ω, pois ω é transitivo. Logo, m < n e m ∈ Sn , ou seja, n ⊆ Sn . Por outro
lado, se m ∈ Sn , então m < n. Assim, m ∈ n, ou seja, Sn ⊆ n. Portanto, n = Sn .
6. Para m fixado, seja S o conjunto dos elementos n em ω tais que pelo menos uma
das condições
m < n ou m = n ou m > n
seja verdadeira. Então 0 ∈ S, pois 0 é o menor elemento de ω. Suponhamos que
o resultado seja válido para algum n, isto é, n ∈ S. Então m ≤ n ou m > n.
Se m ≤ n, então m < n+ . Se m > n, então, pelo item (2) do Lema 5.28,
n+ ≤ m. Assim, em qualquer caso, n+ ∈ S. Portanto, S = ω. Vamos provar
que ocorre exatamente uma das três condições. Se m < n e m = n, então m ∈ n
e m = n. Logo, n ∈ n, o que é impossível. De modo análogo, prova-se as outras
possibilidades. 7. Vamos provar apenas o item (b). Suponhamos, por absurdo, que
297
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
0 ≤ r = a − qb < (q + 1)b − qb = b.
Para provar que q e r são únicos. Sejam q , r ∈ ω outro par. Suponhamos, por
absurdo, que r = r , digamos r < r . Como
a = qb + r e a = q b + r
temos que 0 < r − r = (q − q )b. Observe que q ≥ q , pois b > 0. Se q > q , então
b ≤ (q − q )b. Logo,
b ≤ (q − q )b = r − r < b − r ≤ b,
p(p + 1) (p + 1)(p + 2)
≤q< .
2 2
Neste caso,
p(p + 1) (p + 1)(p + 2)
m=q− ∈ω e n= − (q + 1) ∈ ω.
2 2
Assim, dado q ∈ N, existe um (m, n) ∈ ω × ω tal que f (m, n) = q, pois m + n = p
e m + n + 1 = p + 1. Logo, f é sobrejetora. Para provar que f é injetora. Dados
(k, l), (m, n) ∈ ω × ω, se (k, l) = (m, n), então há três casos a serem considerados:
298
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Se k+l = m+n e k < m, então f (k, l) < f (m, n). Se k+l < m+n (k+l > m+n
inteiramente análogo), então existe um único r ∈ ω, r > 0, tal que m+n = k+l+r.
Observe, pelo primeiro caso, que
f (0, m + n) = 21 (m + n)(m + n + 1)
= 12 (k + l + r)(k + l + r + 1)
= 12 [(k + l)2 + (k + l)(2r + 1) + r(r + 1)]
> 12 [(k + l)2 + 3(k + l)]
= (k + l) + 12 (k + l)(k + l + 1)
= f (k + l, 0).
Capítulo 6
Seção 6.1
1. Como a função identidade IA : A → A é bijetora temos que A ≈ A. Se A ≈ B,
então existe uma função bijetora f : A → B. Assim, f −1 : B → A é bijetora
e B ≈ A. Se A ≈ B e B ≈ C, então existem funções bijetoras f : A → B e
g : B → C. Logo, g ◦ f : A → C é bijetora. Portanto, A ≈ C. 2. Confira o
Exemplo 6.17. 3. Como A não vazio temos que existe um x0 ∈ A. Se A B,
então existe uma função injetora f : A → B. Assim, a função g : B → A definida
como −1
f (y), se y ∈ f (A)
g(y) =
x0 , se y ∈ B − f (A)
é sobrejetora. Reciprocamente, suponhamos que exista uma função g : B → A
sobrejetora. Além disso, pelo Princípio da Boa Ordenação, podemos supor que B
seja bem ordenado. Então a função f : A → B definida como f (x) = min{y ∈
B : g(y) = x} é injetora. Portanto, A B. 4. Como A ≈ B temos que existe
uma função bijetora f : A → B. Então a função g : A ∪ C → B ∪ C definida como
f (x), se x ∈ A
g(x) =
x, se x ∈ C
299
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
A ∪ X = C ∪ E ∪ X ≈ C ∪ E = A.
300
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 6.2
1. Basta observar que a função f : [0, +∞[ → [0, 1[ definida como
x
f (x) = √
1− x
301
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 6.3
1. Como A ∪ B = A∪(B
˙ − A) e B = (A ∩ B)∪(B
˙ − A) temos que
302
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
provar apenas os itens (c) e (d): (c) Sejam A e B conjuntos tais que α = |A| e
β = |B|. Como a função f : A × B → B × A definida como f (x, y) = (y, x)
é claramente bijetora temos que α + β = β + α. (d) Seja A um conjunto tal que
α + 1 = |A| = β + 1. Então existem subconjuntos B e C de A tais que α = |B|,
β = |C| e A − B, A − C possuem um elemento cada. Sejam A − B = {x} e
A − C = {y}. Então
A − (B ∩ C) = A ∩ (B ∩ C) = A ∩ (B ∪ C )
= (A − B) ∪ (A − C) = {x, y}.
B = (B ∩ C) ∪ (B − C) = (B ∩ C) ∪ {y} e C = (B ∩ C) ∪ {x},
de modo que
βδ = (α + β1 )(γ + δ1 ) = α(γ + δ1 ) + β1 (γ + δ1 )
= αγ + (αδ1 + β1 γ + β1 δ1 ).
Portanto, pela Proposição 6.37, βδ αγ. (f ) Como 2 α temos, pelo item (d),
que 2 · α α · α. Portanto, α + α α · α, pois α + α = 2 · α. 5. Vamos provar
apenas os itens (a) e (d): (a) Sejam A, B e C conjuntos tais que α = |A|, β = |B|
e γ = |C|, com B ∩ C = ∅. Seja F : AC × B C → (A × B)C definida como
F (f, g) = h, com h(z) = (f (z), g(z)), para todo z ∈ C. Note que F está bem
definida. Dados (f, g), (f1 , g1 ) ∈ AC × B C , se h = F (f, g) = F (f1 , g1 ) = h1 ,
então
(f (z), g(z)) = h(z) = h1 (z) = (f1 (z), g1 (z)), ∀ z ∈ C.
Assim, f (z) = f1 (z) e g(z) = g1 (z), para todo z ∈ C. Logo, f = f1 e g =
g1 . Portanto, (f, g) = (f1 , g1 ) e F é injetora. Dado h ∈ (A × B)C , digamos
h(z) = (xz , yz ) ∈ A × B, para todo z ∈ C. Então existem funções f : C → A
303
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
8. Seja A = ω∪ ]0, 1[. Então |A| = ℵ0 + c, pois ω e ]0, 1[ são conjuntos disjuntos.
Por outro lado, como R ≈ ]0, 1[ ⊆ A e A ≈ A ⊆ R temos, pelo Corolário 6.23,
que A ≈ R. Portanto, ℵ0 + c = c. 9. Vamos provar apenas o item (a). Sejam A e
B conjuntos tais que α = |A| e β = |B|. Então |A × B| = α · β = 0 = |∅|, ou seja,
A × B ≈ ∅. Logo, A ≈ ∅ ou B ≈ ∅. Portanto, α = 0 ou β = 0. 10. Já vimos,
pelo Exemplo 4.15, que existe uma função injetora f : ω → A. Portanto, |ω ≤ |A|.
11. É fácil verificar que a função f : A → ω definida como
i, se x = xi ∈ F
f (x) =
x + n + 1, se x ∈ ω
é bijetora (prove isto!). Portanto, |A| = |ω|. 12. Pelo Exercício (9) existe um
subconjunto enumerável E de A tal que |E| = |ω|. Assim, A = E ∪(A˙ − E). Logo,
B = F ∪E˙ ∪(A
˙ − E). Pelo Exercício (10), existe uma função bijetora g : F ∪E
˙ →
E. A função f : B → A definida como
g(x), se x ∈ F ∪E
˙
f (x) =
x, se x ∈ A − E
é bijetora (prove isto!). Portanto, |A| = |B|. 13. Como A é um conjunto infinito
temos, pelo Exercício (6) da Seção 4.2, que A = ∪i∈I Ei é uma união disjunta de
conjuntos enumeráveis. Assim, A × E = ∪i∈I (Ei × E). Sendo Ei × E um conjunto
enumerável temos que existe uma bijeção fi : Ei × E → Ei , para cada i ∈ I.
Logo, pelo Teorema 2.35, existe uma única função bijetora f : A × E → A tal que
f |(Ei ×E) = fi , para todo i ∈ I, pois (Ei × E) ∩ (Ej × E) = ∅, quando i = j.
304
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
|A∪C|
˙ ≤ |A × {1, 2}| = |A|.
(M ∪ C1 ) × (M ∪ C1 ) = (M × M ) ∪ (C1 × M ) ∪ (M × C1 ) ∪ (C1 × C1 )
305
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
|C1 × M | = |M × C1 | = |C1 × C1 | = |M |.
Portanto, pelo Corolário 6.23, |A1 × · · · × An | = |An |. 18. Para cada n ∈ ω, com
n = 0, consideremos o conjunto
Então Pf (A) = ∪∞ n=1 Pn (A) é uma união disjunta. Como |Pn (A)| ≤ |A| temos que
existe uma função injetora fn : Pn (A) → A, para cada n ∈ ω. Assim, pelo Teorema
2.35, existe uma única função injetora g : Pf (A) → A tal que g|Pn (A) = fn , para
todo n ∈ ω. Logo, |Pf (A)| ≤ |A|. Por outro lado, dado F ∈ Pn (A), digamos F =
{x1 , . . . , xn }. Então é fácil verificar que a função f : Pn (A) → An definida como
f (F ) = (x1 , . . . , xn ) é injetora. Assim, pelo Exercício (15), Pn (A)| ≤ |An | = |A|.
Como |P1 (A)| = |A| temos que |A| ≤ |Pf (A)|. Portanto, pelo Corolário 6.23,
Pf (A)| = |A|.
306
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Capítulo 7
Seção 7.1
1. Como a função identidade IA : A → A é um isomorfismo temos que A ∼ = A.
∼
Se A = B, então existe um isomorfismo f : A → B. Assim, f −1
: B → A
∼ ∼ ∼
é um isomorfismo e B = A. Se A = B e B = C, então existem isomorfismos
f : A → B e g : B → C. Logo, g ◦ f : A → C é um isomorfismo. Portanto,
A ∼= C. 2. Se (A, ≤) = {x1 }, . . . , xn e (A, ) = {y1 }, . . . , yn , então a função
f : (A, ≤) → (A, ) definida como yi = f (xi ) é um isomorfismo. 3. Pelo
Teorema 3.74, (A, R) ∼ = (A, R−1 ). Assim, A possui menor e maior elemento.
Portanto, A é finito. 4. Basta notar que α = ∪α+ = ∪β + = β. 5. O conjunto
S = {β ∈ O : α < β} é não vazio, pois α+ ∈ S, de modo que S contém um menor
elemento, digamos β0 ∈ S. Assim, β0 ≤ α+ . Se β0 < α+ , então β0 = α, o que é
impossível. Portanto, α+ é o menor ordinal maior do que α. 6. Pondo α = C ∩ O,
temos, pelo axioma ZF4 , que α é um conjunto. Como α é um ordinal temos que
β = ∪α é um ordinal. Portanto, se γ > β, então γ ∈ / α, de modo que α ⊆ β + . 7.
Seja α ∈ λ. Então α < λ. Assim, α ∈ / S(C) e existe um β ∈ C tal que α < β.
Como λ = sup(C) temos que γ ≤ λ, para todo γ ∈ C. Logo, β = λ, pois λ ∈ / C.
+
Portanto, α < β < λ (α < α < λ) e λ é um ordinal limite. 8. Para cada α ∈ O,
λ = ∪α ∈ O e λ ≤ α. Então λ < α ou λ = α. Se λ < α, então, pelo Exercício
(3), α = λ+ , pois x ≤ λ, para todo x ∈ α. Se α = 0 e λ = α, então α é um número
limite. 9. Se α é um número natural, então ele é um sucessor ordinal. Assim, α
possui um maior elemento e qualquer subconjunto não vazio de α possui um maior
elemento. A recíproca é clara. 10. Dado α ∈ ∩C, então α ∈ β, para todo β ∈ C.
Se x ∈ α, então x ∈ β, pois β é transitivo. Logo, x ∈ ∩C e ∩C é transitivo. É
claro que ∩C ∈-bem ordenado. Portanto, ∩C é um ordinal. Note que ∩C ⊆ C.
Se ∩C = C, então C = {α} e α é o menor elemento. Se ∩C < C, então é fácil
verificar que ∩C = inf(C). 11. Como C ⊆ α+ temos que C é um conjunto de
ordinais e não vazio, pois ω ∈ C. Se λ ∈ C, nada há para ser provado. Se λ ∈ / C,
então, pelo Exercício (5), λ é um número limite. 12. Suponhamos, por absurdo,
que C seja um conjunto. Então
B = {{X} : X é um conjunto}
307
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 7.2
1. Se α < ω, então α = 1 + α = α+ , que é impossível. Portanto, α ≥ ω e α
é transfinito. Reciprocamente, seja A um conjunto bem ordenado infinito tal que
α = (A). Então, tomando m ∈ / A e B = {m} ∪ A ordenado, de modo que
m = min(B), temos que a função f : B → A definida como f (m) = min(A)
e f (x) = x, para todo x ∈ A, é claramente bijetora. Portanto, 1 + α = α. 2.
Como β + > β temos que β + > α, α+ . Assim, pelo Exercício (3) da Seção 7.1,
β + é o menor ordinal maior do que α ∈ C. Portanto, β + ≥ α+ . 3. (a) Para todo
α ∈ O, com α < ρ, existe, pelo item (5) do Teorema 7.19, um único τ ∈ O − {0}
tal que ρ = α + τ . Como τ ≤ α + τ = ρ temos que τ = ρ, pois ρ é irredutível.
Portanto, α + ρ = ρ, para todo α ∈ O, com α < ρ. Reciprocamente, se existissem
α, β ∈ O tais que 0 < α, β < ρ e ρ = α + β, então, pelo item (6) do Teorema 7.19,
ρ = α + β < α + ρ implica que ρ = α + ρ. Portanto, ρ é irredutível. (b) Como
α < αρ temos, pelo item (a), que αρ = α + αρ = α(1 + ρ). Assim, pelo item (6)
do Teorema 7.19, ρ = 1 + ρ, com 1 < ρ. Portanto, ρ é irredutível. (c) Pelo item (2)
do Teorema 7.23, existem únicos π, τ ∈ O tais que ρ = απ + τ , com 0 ≤ τ < α.
Se τ > 0, então ρ < απ + ρ, o que contradiz o item (a). Assim, ρ = απ. Se π
não fosse é irredutível, então π = β + π, para algum β ∈ O, com β < π. Logo,
απ = α(β + π) = αβ + απ, ou seja, ρ = αβ + ρ, com αβ < ρ, o que contradiz a
308
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
βλ = βγ + = βγ + β > βγ + α ≥ αγ + α = αγ + = αλ.
Portanto, αλ < βλ. 9. Basta observar que se α ≥ λ, então, pelo item (2) do
Teorema 7.23, existem únicos π, ρ ∈ O tais que α = λπ + ρ, com ρ < λ. Assim,
= λπ + ρ, se π ≥ ω
λ + α = λ + λπ + ρ = λ(1 + π) + ρ
> λπ + ρ, se π < ω.
10. (a) Dado n ∈ ω, pelo item (2) do Teorema 7.23, existem únicos α, γ ∈ O
309
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Capítulo 8
Seção 8.1
1. Direto da definição. 2. (c) Note que a = (a, 0), b = (b, 0), −a = (0, a) e
−b = (0, b) implicam que
310
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 8.2
1. e 2. Similar aos da Seção 8.1. 3. Já sabemos que r = b−1 a e s = d−1 c, com
b > 0 e d > 0. Assim, existem k = ad, m = bc, n = bd ∈ Z, com n > 0, tais
que r = n−1 k e s = n−1 m. 4. Dados r, s ∈ Q, existe um t = 2−1 (t + s) ∈ Q
tal que r < t e t < s. Portanto, a ordenação natural de Q é densa. Além disso,
r − 1 < r < r + 1 implica que Q é não limitado. 5. Dados r, s ∈ Q, com
0 < r < s. Assim, pelo Exercício (3), existem a, b, c ∈ ω tais que r = c−1 a e
s = c−1 b. Logo,
r · cb = c−1 a · cb = ab > b ≥ c−1 b = s.
Portanto, existe um n = bc ∈ Z tal que nr > s. 6. Seja r = b−1 a ∈ Q, com
b > 0. Se a ≥ 0, então a ≤ ab e r = b−1 a ≤ b−1 (ab) ≤ a ∈ Z. Assim,
311
R ESPOSTAS E S UGESTÕES
Seção 8.3
1. É claro que r + s ⊆ {x ∈ Q : x < p + q, p ∈ r e q ∈ s}. Por outro lado, se
x < p + q, onde p ∈ r e q ∈ s, então x − p < q, de modo que x − p ∈ s. Assim,
x = p + (x − p) ∈ r + s. Portanto, r + s ⊆ {x ∈ Q : x < p + q, p ∈ r e q ∈ s}.
2. Existem a ∈ r e b ∈ r tais que a < b ou b − a > 0. Assim, pelo Princípio de
Arquimedes, existe um n ∈ ω tal que b − a < nt, de modo que b + n(−t) < a e
b + n(−t) ∈ r. Logo, S = {m ∈ ω : b + (−m)t ∈ r} = ∅ e, pelo P BO, existe um
menor n0 ∈ S tal que b+n0 (−t) ∈ r e b+(n0 −1)(−t) ∈ r . Pondo p = b+n0 (−t)
e q = b + (n0 − 1)(−t), obtemos q − p = t, com q = min(r). 3. Já vimos que
existe um b ∈ r tal que b − 1 ∈ r , de modo que −(−(b − 1)) < b e −(b − 1) ∈ s,
ou seja, s = ∅. Dado a ∈ r, obtemos −(−a) ∈ / r . Assim, existe um b ∈ r tal que
−(−a) > b. Logo, −a ∈ / s e s ⊂ Q. Se p ∈ s e p ≤ x, então existe um b ∈ r tal
que −p < b e −x ≤ −p < b implica que x ∈ s. Dado b ∈ s, existe um c ∈ r tal
que −b < c ou −c < b. Como −c < 2−1 (b − c) < b temos que −2−1 (b − c) < c
e 2−1 (b − c) ∈ s. Portanto, s não possui menor elemento. 4. Confira o Exercício
(1). 5. Se r = 0, então s = r−1 (rs) = r−1 0 = 0. 6. rs + (−r)s = (r + (−r))s =
0s = 0 implica que (−r)s = −rs. 7. Confira o caso racional. 8. Seja S um
subconjunto não vazio e limitado inferiormente de R. Então T = {−x : x ∈ S}
é um subconjunto não vazio e limitado superiormente de R. Assim, sup(T ) existe.
Prove que inf(S) = − sup(T ). 9. Seja S um subconjunto não vazio e limitado
superiormente de R. Então E = {x ∈ R : x < r, para algum r ∈ S} e D = R−E
satisfazem as condições do Teorema de Dedekind. Portanto, sup(S) = min(D)
existe, pois max(E) não existe.
312
ÍNDICE REMISSIVO
313
Í NDICE R EMISSIVO
314
Í NDICE R EMISSIVO
315
Í NDICE R EMISSIVO
316
Í NDICE R EMISSIVO
317
Í NDICE R EMISSIVO
não limitado, 87
próprio, 32
Sucessor, 152
imediato, 102
ordinal, 212
Supremo, 87
Teorema, 2
da comparbilidade, 108
da Completividade, 251
da contagem, 213
de Bourbaki, 130
de Cantor, 181
de Cantor-Schröder-Bernstein, 97, 173,
191
de Dedekind, 252
de Pitágoras, 3
do Ponto Fixo de Knaster, 91
do Ponto Fixo de Tarski, 97
Topologia, 26
Valor
absoluto, 242
von Neumann, 27
Zermelo, 27
318
Nasceu em Coremas, alto sertão paraibano, em 26 de
janeiro de 1954. Veio para João Pessoa em 1974, onde
permanece até hoje. Ingressou em 1977 na Univer-
sidade Federal da Paraíba (UFPB), onde concluiu o
bacharelado em matemática. Obteve o grau de mes-
tre em matemática (1989) na Universidade Federal
do Ceará (UFC) e de doutor em engenharia elétrica
(1996) na Universidade Estadual de Campinas (UNI-
CAMP). É professor titular aposentado da Universi-
dade Federal da Paraíba.