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SANTUÁRIO DE XUCROS – E

SONHANDO NA VANEIRA – E
CAPRICHA GAITEIRO – F
SISTEMA ANTIGO - C
AQUERENCIADO – G
ABRAM CANCHA PRO RIO GRANDE-G
TRANCÃO DE LIVRAMENTO - A
NOSSA VANEIRA – E
LEMBRANÇAS – E
ULTIMA LEMBRANÇA – Am
CHIQUITA – G
BATENDO ÁGUA – G
CHINA VÉIA – G
BAILEZITO – F
RODA MORENA –F
ROMANCE DE UM PEÃO POSTEIRO – Dm
CHINA ATREVIDA – G
PICAÇO VELHO – C
GAUCHO DE PASSO FUNDO – C
SABADO DIA – D
CRIADO TIPO BICHO – D
ALAMBRADOR –
O RIO GRANDE TCHE – G
COMPANHEIRA – G
IGUARIA CAMPEIRA – G
CHASQUE PARA DOM MUNHOZ – G
FLOREANDO A CORDEONA – F#
TORDILHO NEGRO – D
KM 11
BUGIO NOVO – E
FANDANGO NA DORALICE – F#
BARRACA ARMADA – D
BAILE DAS NEGA TOURO – C
MADRUGADA – A
MILONGA PRA TI
BAILONGO DO MATO FUNDO – Am
ADEUS MARIANA – E
BAILE NA SERRA – F
CRIADO EM GALPÃO – D
DO FUNDO DA GROTA – E
NÃO SOU CONVENCIDO – E
BELA E ATREVIDA
TO VOLTANDO PRA FICAR – F#
DE BOTA NOVA
RODA QUE RODA

RESERVAS

MORENAÇA – E
MISSIONEIRO – G
MORENA ROSA – D
CANTADOR DE CAMPANHA – C
TIMBRE DE GALO – G
BAILANTA DO TIBURCIO – G
O QUE TEM A ROSA – A
RECORRENDO OS AGUAPÉ – C
PAU QUE DÁ CAVACO – C
TERTÚLIA –C
BAGUAL CORCOVEADOR – E
CHÃO BATIDO – B
NEGO BETÃO – G
APAISANADO – G
PRA BAILAR DE COLA ATADA - E

MERCEDITAS - Em
BAILE DE FRONTEIRA - A
CHAMAMECEIRO – A

EU RECONHEÇO QUE SOU UM GROSSO

TENTEANDO O BICO DA GANÇA


QUERENCIA AMADA – NÃO ENCOSTE A BARRIGUINHA – DIA A DIA NA FAZENDA – CANCHA RETA – APAISANADO –
PREGO NA BOTA – A PRIMEIRA VEZ – CAMBICHOS – NA BAIXADA DO MANDUCA – A GAITA DO BELIZÁRIO – EU SOU DO
SUL – DIARIO DE UM FRONTEIRIÇO -
SANTUARIO DE XUCROS
Assim começa o surungo mesclando fumaça e poeira
Porta do quarto entupida e a mulherada em fileira
Branca morena e mulata casada viúva e solteira
Loucas pra coçar o garrão num manquejar de vaneira
(E nisso se ouve um grito indiada vocês me ouçam
Dá uma folguita pros velhos e saiam de riba das moça)
Feito de cinza e cupim no chão batido da sala
Piso bom igual aquele granfino nenhum iguala
Santuário da tradição da xucra raça baguala
Parede de pau-a-pique guincha furada de bala
E assim num torcer de queixo se guasqueia um contrapasso
Desses de torrar badana numa tarde de mormaço
E o chinaredo se gruda igual pepino no barasco
Vão empurrando as paletas e retovando os espinhaço
E quando o zóio da lua vem me bombear nesse rancho
Na cordeona duas falas numa vaneira eu remancho
Raiz de cerne pampeano o qual o tronco eu me arrancho
No lombo do verso xucro com capricho eu me esgancho
A meia noite uma polca pra damas pra um arremate
Pra ver quem gosta de quem e o verso faz o combate
Depois vão lá pra cozinha pra descansar o alcatre
Pra comer feijão e mexido e guerrudo com chá de mate
SONHANDO NA VANEIRA
Hoje é dia de surungo lá no rancho da tia Nena
Já passei água de cheiro e glostora nas melenas
Chego a trote bem garboso arrastando minhas esporas
No corcovear da vaneira vou bailar a noite inteira
Até o romper da aurora (refrão)
Morena minha morena dos lábios cor de pitanga
Ai não tem mamãe não deixa ai não tem papai se zanga
Sou vivente da campanha meu mundo não tem assombro
Embora o teu pai não queira no embalo da vaneira
Tu vai sonhar no meu ombro
Gaiteiro velho gaiteiro não deixa a gaita parar
Que a morena no meu ombro já começou a sonhar
Quando a coisa fica boa a noite morre pequena
Juro por toda a minha gente nunca vi poncho mais quente
Que os braços desta morena
O galo cantou mais cedo calou-se a gaita manheira
Acabou-se o mundo bonito sonhado nesta vaneira
Tá na hora vamo embora grita tia lê lá na sala
Saio arrastando a chilena e o perfume da morena
Levo nas franjas do pala
CAPRICHA GAITEIRO
Capricha gaiteiro que o baile vai começar
O fandango tá bonito você não pode parar
Arrumei uma morena brasileira da fronteira
Entrou no baile me convidou pra dançar
Mexe pra lá, mexe pra cá
Que o fandango tá bonito
E hoje eu quero namorar
Mexe pra lá, mexe pra cá
Que o fandango ta gostoso
E não tem hora pra acaba

SISTEMA ANTIGO
Um pouco de saudade lá do meu rincão
Um gesto de carinho da gaúcha amada
Um toque de cordeona e um bom chimarrão
Um quera pacholento pra contar cueradas
Eira eira boi tempo feliz que muito longe vai
Eira eira boi no velho rancho do meu velho pai
Antigamente se carneava um boi
Se convidava toda a vizinhança
Era uma festa de violão e gaita
Lá pelas tantas começava a dança
E gauchada pela noite afora
Faziam farra ate romper a aurora
Eira eira boi tempo feliz que muito longe foi
Eira eira boi tempo feliz que muito longe foi
Quem se criou pelo sistema antigo
Cá na cidade vive inconformado
E quando encontra algum gaúcho amigo
AQUERENCIADO
Embarquei no sonho de mocito
Solfrenei a ânsia de voltar
Parti pela manhã a galopito
Não olhei pra trás pra não chorar.

Cascos e poeira pela estrada


Rumo indefinido onde chegar
Ficou para trás a minha amada
Com vertentes aguas no olhar.

Aquerenciado, não adianta ir embora


Pois o pensamento fica no lugar que a gente mora
Estou voltando porque já chegou a hora
Rever os olhos da chinha com jeito de quem me adora.

O tempo de aventura já se foi


Ilusões se perdem pelo ar
Pela mesma estrada voltarei
Porque ali eu sei que é o meu lugar.

Pé na estrada, mala de garupa


A saudade aperta o coração
Meu cavalo vai no upa-upa
Trilhando caminhos de emoção.
Aquerenciado, não adianta ir embora
Pois o pensamento fica no lugar que a gente mora
Estou voltando porque já chegou a hora
Rever os olhos da china com jeito de quem me adora.
Embarquei no sonho de mocito
Solfrenei a ânsia de voltar
Parti pela manhã a galopito
Não olhei pra trás pra não chorar.

Pé na estrada, mala de garupa


A saudade aperta o coração
Meu cavalo vai no upa-upa
Trilhando caminhos de emoção.

Aquerenciado, não adianta ir embora


Pois o pensamento fica no lugar que a gente mora
Estou voltando porque já chegou a hora
Rever os olhos da china com jeito de quem me adora.
ABRAM CANCHA PRO RIO GRANDE
Riscando assoalho bombeando pra cumeira
Reponto rimas num bailado a recordar
Fogões chaleiras e um candieiro a meia-vida
Que as duas braças não dava pra se enxergar

(Neste balanço passa o Rio Grande em meus olhos


De sul a norte sinto o calor dos galpões
Braseiro aceso luz divina do campeiro
Rodas de mate que irmanam nossos peões

Neste compasso galponeiro balanço


Reminiscências versos chucros no ar
Galpão meu tento a sarandeios te tranço
E abram cancha pro Rio Grande passar
E abram cancha pro Rio Grande passar
Entreverado retalhando a polvoadeira
Num trote largo a gaita me faz trotear
No figurado remanchando uma vaneira
Nossa cultura que se expressa ao dançar
TRANCÃO DE LIVRAMENTO
Passei o mês em campanha desbocando aporreado
Laçando terneiro pampa ajeitando os alambrado
Penso em até mudar de vida, me acomodar no povoeiro
Pegar uma moça direita pra deixar de ser solteiro
Escutei de relancina falar em de uma potreada
De um bailito à moda antiga, uma junção de gauchada
Esqueci do meu descanso e as canseiras de amontá
Não sei se deixo essa vida ou se ainda dá pra levar

Nas campeiradas e gineteadas eu ando louco pra me enfiá


Num trancão de livramento eu ando louco pra dançar
E eu vou pegar uma morena cinturada que me agrada na vaneira
E num trancão bem fronteiriço eu vou macio sem fazer poeira a noite inteira

Ouvi dizer que na fronteira se dança de pé trocado


E eu preciso de um chacoalho que não seja o do aporreado
Vou deixar o pingo baio palanquiadito lá fora
Vou me enfiar salão a dentro riscando o soalho de espora
Eu não quero nem saber se vão me mandar parar
Vou me agarrar numa morena e ninguém vai me desgrudar
Vou levando tentiadito que na dança eu sou bocão
Vou rodando pros dois lado chacualiando num trancão
NOSSA VANEIRA Esta vaneira
É na vaneira que eu vou pra sala Tem o jeitão dessa terra
De sapateio na madrugada Tem a ginga da morena
Sou da fronteira nasci campeiro Nas manhãs de primavera
Sou bom de dança sou fandangueiro

Esta vaneira LEMBRANÇAS


Tem o jeitão dessa terra Quando as almas perdidas se
Tem a ginga da morena encontram
Nas manhãs de primavera Machucadas pelo desprazer
Um aceno um riso apenas
Eu sou o canto da Siriema Da vontade da gente viver
Nos dias quentes do meu Estado São os velhos mistérios da vida
Eu sou a noite de lua cheia Rebenqueados pelo dia-a-dia
Eu sou o estouro xucro do gado (Já cansados de tanta tristeza
Vão em busca de nova alegria

Esta vaneira E ao morrer nesta tarde morena


Tem o jeitão dessa terra Quando o sol despacito se vai
Tem a ginga da morena As lembranças tranqueiam com as
Nas manhãs de primavera águas
Passageiras do rio Uruguai
Eu sou o berro do boi brasino E as guitarras eternas cigarras
Eu sou o tronco lá da mangueira Entre as flores dos velhos ipês
Eu sou canto do galo índio (Sempre vivas dormidas se
Eu sou gaúcho a vida inteira acordam
Na lembrança da primeira vez)
ULTIMA LEMBRANÇA
Eu hei de amar-te sempre, sempre além da vida
Eu hei de amar-te muito além do nosso adeus
Eu hei de amar-te com a esperança já extinguida
De que meus lábios possam ter os lábios teus

Quando eu morrer permita Deus que nesta hora


Ouças ao longe o cantar da cotovia
Será minh'alma que num canto triste chora
E nessa mágoa o teu nome pronuncia

Eu viverei eternamente nos cantares


Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho
Eu viverei para a glória dos pesares
Aonde quase sucumbi nos teus carinhos

Eu viverei no violão que a noite tomba


Ante a janela da silente madrugada
Eu viverei como uma sombra em tua sombra
Como poesia em teu caminho derramada

Nem mesmo o tempo apagará nossos amores


Que floresceram de uma ilusão febril e mansa
Quando eu morrer eu viverei nas tuas cores
Mas te levando em minha última lembrança
CHIQUITA
Chiquita prepare um mate
Que vamos prozear um pouco
Há quanto tempo Chiquita que vivemos um pro outro
Te lembra Chiquita velha a quanto tempo ja faz
Que construímos esse rancho a uns trinta anos atrás

Chiquita passou-se os anos


Eu sei que não sou mais moço
Me diz se aparento velho, com essas rugas no rosto
Tu sabes chiquita velha, tu és a mesma menina
Embora cabelos brancos, não envelheceste ainda

Chiquita encilha o mate e vamos seguir prozeando


Pouco emporta que la fora o tempo passe troteando
Chiquita chegou uma carta que veio de Quaraí
Vai lendo enquanto mateamos que deve ser dos guri

Chiquita até parece que vejos os piá de retoço


Que algazarra com os cuscos brincando com gado de osso
Aos poucos foram crescendo e nos deixaram solito
E o que restou disso tudo foi nosso amor tão bonito

Chiquita o paiol ta cheio


Colhemos pra todo o ano
Vamos passar esse inverno

Tranquilos se namorando
Chiquita escureceu e a lua num tranco manso
Abençoando nós dois beijando a quincha do rancho

BATENDO AGUA
Meu poncho...
Faz tempo que eu não emalo...
Troco um compasso de orelha

Meu zaino ..
Falta distancia de pago...
NÃO CHORA MINHA CHINA VÉIA

Trabalho a semana inteira numa changa que arrumei


Pra depois gastar na farra tudo o que eu arrecadei
Mas não importa quando gasto sou feliz
E na semana que vem faço de novo o que fiz

Sou meio louco bagaceiro e bebo um pouco


Ninguém vai me segurar
Não quero trago de graça se bobear eu quebro a tasca
E faço o chinedo chorar

'Não chora minha china véia não chora


Me desculpe se eu te esfolei com as minhas esporas
Não chora minha china véia não chora
Encosta a tua cabeça no meu ombro e esse bagual velho te consola'

Fui criado meio xucro e não sei fazer carinho


Se acordar de pé trocado eu boto fogo no ninho
Eu já fiz chover três dias só pra apagar o teu rastro
E se a china for embora eu faço voltar a laço
BAILEZITO
Mas oiga-lê bailezito, de índio de queixo duro
De descascar pirulito e ver estrela no escuro
De descascar pirulito e ver estrela no escuro
Mas oiga-lê bailezito, de índio de queixo duro
Surunguito de fronteira, cinchado barbaridade
De dar cosca nas cadeira, pra estas prendas da cidade
(Bailezito galponeiro, tapado de pega-pega
Assim que acaba o candieiro, oiga-lê todos correm pras macegas)
Int.
É o covil do chinaredo que não tem muitas delongas
E pra não viver sozinho se acolherão nas milongas
E pra não viver sozinho se acolherão nas milongas
É o covil do chinaredo que não tem muitas delongas
Onde o quera doma a china com promessa de casório
E o quebra-quebra termina em casamento ou velório
RODA MORENA
Abra a gaita amigo gaiteiro
Que o povo facero veio pra dançar
O som da gaita vai encher a sala
Grito e sapateio vão se misturar
Venho de longe mas tenho certeza
Que não tem gaiteiro que vai me cansar
Danço de tudo, danço o que vier
Mas é numa vanera que eu vou namorar
Roda morena a noite inteira
Roda morena no balanço da vanera
Sou peão da lida arrisco e desconfiado
Tô acostumado a botar o pé na estrada
A noite chega e a estrela brilha
Iluminando os campos, mata e cerrado
E o pensamento firme na morena
De cabelos longos danaçando faceira
Danço de tudo, danço o que vier
Mas o que eu gosto mesmo é de dançar vanera.
ROMANCE DE UM PEÃO POSTEIRO
Quando volto às casas num final de tarde
Venho assoviando uma coplita mansa
Meio basteriado pela dura lida
Mas meu coração canta de esperança
Sei que me esperam junto da janela
Dois olhos matreiros presos à distância
É a dona do rancho que sai porta a fora
Para os braços rudes desse peão de estância
É um rancho posteiro num fundo de campo
Meu pequeno mundo que eu mesmo fiz
Como por encanto torna-se um palácio
Para a prenda rainha que me faz feliz
Essa prenda linda prendeu meu destino
Não sou mais teatino, veja o que ela fez
Ao olhar seu ventre sei com ansiedade
Que em breve no rancho nós seremos três
Vou aumentar o rancho pois sou prevenido
Já tenho escolhido o pingo pra o piá
Vai ser meu parceiro nas horas de mate
Maior alegria que essa não há
Quem tem o que eu tenho vai me dar razão
De cantar alegre galopeando ao vento
A saudade é um chasque pra mulher amada
Que me invade o peito, coração à dentro.
CHINA ATREVIDA
Cada vez que o sol levanta
Traz consigo uma ansiedade
De uma china onde a saudade
É o poncho da minha vida
Que china mais atrevida
Que sai sem avisar nada
E só vem de madrugada
Neste sonho de ilusão
O meu chucro pensamento
Vai sem rumo estrada a fora
Pressenti chegar a hora
Num palpite quase certo
Meu rancho ficou deserto
Sem achego da morena
Que só vive em meu poema
Num disfarce à solidão
E assim vai passando o tempo
Com seus segredos
E eu no vazio dos meus pelegos
Espero a sorte logo chegar
Pois dentro de cada mate
Uma espera louca
Na bomba o gosto
Daquela boca
E no rosto o pranto, pra consolar
PICAÇO VELHO
Um dia eu saí a camperear sozinho no meu picaço velho de estimação
Ele saiu relinchando como adivinhar que não voltava mais para seu galpão
O meu picaço velho era um cavalo que foi bem ensinado e muito mansinho
Quando eu tinha preguiça de buscar o gado o meu picaço velho trazia sozinho
Sai à galopito pela estrada afora e meu picaço velho ia remoendo o freio
Eu sai com o destino de ir na invernada só para ver meu gado e dar sal no rodeio
Depois que eu dei o sal eu vi um boi brazino e sempre boi brazino bem valente é
Apartei ele do gado e desatei meu laço arrochei o meu picaço só pra ver o tropel
Lacei este brazino lá na beira de um mato e esta estória triste até o animais sentem
O meu picaço velho se perdeu num valo e eu abri a perna a sai lá na frente
E este boi brazino quando me avistou abaixou a cabeça e fez um pegada
Tirei o corpo fora ele passou por mim eu olhei para trás e dei uma risada
E foi nesta rodada que meu pingo amigo ficou estendido na terra vermelha
Mas joguei meu doze braças e argola tiniu peguei as duas guampas e defendi as orelhas
E quando estirou o laço deste boi brazino ele virou de ponta nem pro mato foi
E o meu picaço velho que quebrou o pescoço e morreu gemendo e olhando pro boi
GAUCHO DE PASSO FUNDO
Me perguntaram se eu sou gaúcho
Está na cara repare o meu jeito
Sou do Rio Grande lá de Passo Fundo
Trato todo mundo com muito respeito

Mas se alguém me pisar no pala


O meu revolver fala e o bochincho está feito
Mas se alguém me pisar no pala
O meu revolver fala e o bochincho está feito

Não sou nervoso e nem carrego medo


Eu me criei sem conhecer remédio
Eu meto os peitos em qualquer fandango
Mas quando eu me zango até derrubo o prédio

Eu sou gaúcho e se me agride eu tundo


Sou de Passo Fundo do planalto médio
Eu sou gaúcho e se me agride eu tundo
Sou de Passo Fundo do planalto médio

Me perguntaram qual era razão


Eu ter orgulho em ser passo-fundense
Eu respondi sou da terra do trigo
Tem um povo amigo e quando luta vence
É um pedaço do Rio Grande amado
Orgulha o estado e o povo riograndense
É um pedaço do rio grande amado
Orgulha o estado e o povo riograndense

Já respondi a pergunta seu moço


Me dá licença vou encilhar o cavalo
Brasil a fora atravessei os estados
Troteando apressado eu vim tirando o talo

Pra ver as prendas mais lindas do mundo


Cheguei em passo fundo no cantar do galo
Pra ver as prendas mais lindas do mundo
Cheguei em Passo Fundo no cantar do galo
É SABADO O DIA
Essa noite nesse baile eu quero me arrebentar
O balanço que eu danço não canso pode apostar
Pode entrar a madrugada só tocando o vanerão
O gaiteiro morre antes do gauchão

O gauchão aqui tem fama por toda esta região


E as mulheres dançadeiras me disputam pra dançar
Até fiz curso de fandango para me aperfeiçoar
Sou nojento escolho a dedo o meu par

É dança no pé, alegria no rosto


Cabelo ao vento, sempre disposto
Assim é o meu jeito pra uma folia
Final de semana é sábado o dia

Minha mania de dançar ninguém vai me tirar


Eu nasci ouvindo gaita chacoalhando sem parar
Vou ser sempre dançador de prestígio no galpão
Tenho estilo e balaca de montão

Me enterrem quando me for ao lado de um CTG


Pra dançar pelos sábados no meio do salão
Com certeza nessas noites ninguém vai me ver
Mas vão sentir saudades do gauchão
ALAMBRADOR
Mandei fazer um alambrado bem ligeiro
Com um caboclo destorcido, meu amigo
Disse pra ele, tenho pressa companheiro
Quero no sistema antigo numa semana fica pronto, eu já lhe digo
(Ruque ruque tá furado, suque suque tá socado
E gingue gingue tá estirado
Oiga serviço bonito, já tá pronto patrãozito
Vou lhe entregar o alambrado)
Doze ou quinze paus de nobre numa quadra
Quatro tramas de angico em cada vão
Arame ,liso e farpado a meia fio
Nas estampas de um moirão numa semana fica pronto um quarteirão
Um palanque de sapata numa laje
Se cruzar um terreno brabo não faz mal
Um pauzito bem cravado a macete
Quando cruZa o manancial numa semana e já termina o material
CRIADO TIPO BICHO
Violeiro mandando laçassos e dedos
Um ronco de gaita, chinelo a bailar
Tinindo pandeiro apeei do cavalo
Troteando no embalo de quem quer dançar
Cheguei bem louco, guaiaca recheada
Virar madrugada é minha vocação
Vou me espalhando no meio da sala
Com a china mais linda lá do meu rincão

Mas já começo o namoro no bailado da vanera


Aquela noite grongueira mel de amor no coração
Num canto velho um lampião dando brilho pra beleza
E a vanera da certeza de casório no galpão. 2x

Fui criado tipo bicho


Grudado igual carrapicho em china, canha e vanera
Sob o lombo do cavalo
Sou cuiudo e não me calo pra borracho bagaceira
Mas se china da carinho de xucro fico mansinho
Já carrego pro meu rancho
Nos seus braços eu engancho e não vou dormir sozinho. (2x)

Mas já começo o namoro no bailado da vanera


Aquela noite grongueira mel de amor no coração
Num canto velho um lampião dando brilho pra beleza
E a vanera da certeza de casório no galpão. 2x
Fui criado tipo bicho
Grudado igual carrapicho em china, canha e vanera
Sob o lombo do cavalo
Sou cuiudo e não me calo pra borracho bagaceira
Mas se china da carinho de xucro fico mansinho
Já carrego pro meu rancho
Nos meus braços eu engancho e não vou dormir sozinho. (2x)
O RIO GRANDE TCHE
O Rio Grande tchê é uma canção de amor
Que o mundo inteiro vai dançar cantar
E quem entrar na roda do chimarrão amigo
Terá na mão o coração de um povo hospitaleiro
E depois ao sentir rodear o carinho total de um viver singular
Que não há outro igual é o amor de um bem querer
Você vai ver você vai dançar você vai beber
Você vai querer só amar
COMPANHEIRA
Flor gaúcha, alma da querência
Companheira de muitas caminhadas
Fibra de mulher, doce paciência
Das sangas cruzando as canhadas

Companheira, Companheira
Que eu sonhei desde guri
Aroma de flor silverstre
Hyakuã-porã ivoti

No jeito belo de servir o mate


No gesto firme diante as incertezas
Quanto apoio no mais duro embate
Quantos carinhos p'ra matar tristezas

Companheira, Companheira
Que eu sonhei desde guri
Aroma de flor silverstre
Hyakuã-porã ivoti

Vamos mateando nossas alegrias


Veja que lindos filhos que criamos
Aquecendo o nosso amor todos os dias
São seivas puras dos mates que sevamos

Companheira, Companheira
Que eu sonhei desde guri
Aroma de flor silverstre
Hyakuã-porã Ivoti
BAILE DE CANDEEIRO
Camisa branca lenço colorado
E uma bota nova e calça de riscado
Pelos cabelos muita brilhantina
Que tem bate coxa no salão da esquina

E vou chegando meio ressabiado


Pelo lusco-fusco desse candieiro
E no entreveiro busco a tal morena
Por quem me deixei assim enfeitiçado

E já nos tocamos pro meio do baile


E mais uma volta e uma volta e meia
Toca mais um xote mais uma vaneira
Que eu mostro o meu valor

E eu me apeio pelo seu cangote


E o seu perfume me deixando tonto
Mais uma volteada que eu não abro mão
De quem é o meu amor
(Ah, meu candieiro
Se apagas teu lume agora
Eu pego esta flor de morena
Encilho o meu pingo e me vou mundo afora)
IGUARIA CAMPEIRA
Ao lonquear a carne gorda Picando a manta de charque
num churrasco mal passado arroz da panela preta
dou um tombo na farinha é receita à moda antiga
pra enxugar o sangue escaldado no rangido da carreta
oigalê bóia campeira mateando e contando causos
prá um estradeiro estropiado de bailantas e carpetas
no engraxar do bigode no engraxar do bigode
golpeio a guampa de canha golpeio a guampa de canha
dando um tempero especial dando um tempero especial
às refeições da campanha. às refeições da campanha.

Vamo encostando a carreta Vamo encostando a carreta


talhando espeto em taquara talhando espeto em taquara
campeio a lenha pro fogo campeio a lenha pro fogo
espeta o chibo nas varas espeta o chibo nas varas
apruma a trempe pro mate apruma o trempe pro mate
aquento o arroz carreteiro aquenta o arroz carreteiro
depois de bucho xinxado depois de bucho xinxado
seguimos estrada parceiro. seguimos estrada parceiro.
(BIS).
CHASQUE PRA DOM MUNHOZ
Amigo Élbio Munhoz
Meu chasque não tem floreio
Eu uso bombacha larga
E chapéu de metro e meio
Botas de garrão de potro
Laço, pealo e gineteio
E me sustento pachola
Da serventia do arreio.

Por volta que avida faz


Para açoitar um cristão
Ando cortado dos trocos
Freio e pelego nas mãos
Sem um cavalo de lei
Pra visitar meu rincão
O nosso caiboaté grande
Que trago no coração.
A tia Maria me disse
Que tua tropilha é de lei
E o José Rodrigues Ramos
Confirmou quando eu pensei
Em te pedir um cavalo
Nestes versos que criei
Pra cantar em são gabriel
Querência que sempre amei...
Entrega pro tio Adir
Lá costa do lageado
E diz pra Inilda e a Sivinha
Que eu chegarei afogado
Num borrachão de saudade
Do tamanho do meu pago
E a nega Juce me espere
Com um chimarrão bem cevado
Dom Élbio guarde consigo
Que um dia arranco do peito
E pago esta obrigação
Que me deixa satisfeito
E o pêlo é da tua conta
Baio ou rosilho eu aceito
Que o velho Moacir Cabral
Me fez assim por direito
A tia maria me disse...
FLOREANDO A CORDEONA
Num tranco campeiro bem à moda antiga
Floreando cantigas de alma judiada
Eu trago essa sina de andar gauderiando
Por viver cantando não tenho morada
Tocando em bailantas na noite campeira
Floreio e vaneira num jeitão largado
Pois o meu destino é de ser cantador
Na querência flor onde eu fui criado

Floreando a cordeona num verso me acampo


Sou a voz do campo quando a alma canta
Sistema gaúcho que tem por ofício
Esse xucro vício de animar bailantas

Cruzando caminhos encurto distâncias


Galopeando as âncias da sina estradeira
A vida no campo moldurou minha raça
Herança machaça gaúcha bandeira
Nesses horizontes vou de pago em pago
O canto que trago ao mundo ofereço
Canto a liberdade num viver teatino
E no meu destino ninguém bota preço
TORDILHO NEGRO
Correu notícias de um gaúcho
Lá da estância do paredão
Tinha um cavalo tordilho negro
Foi mal domado ficou redomão

Este gaúcho dono do pingo


Desafiava qualquer peão
Dava o tordilho negro de presente
Prá quem montasse sem cair no chão

Eu fui criado na lida de campo


Não acredito em assombração
Fui na estância topar o desafio
Correu boato na população

Era um domingo clareava o dia


Puxei o pingo e o povo reuniu
Joguei os trastes no lombo do taura
Murchou a orelha teve um arrepio
Botei a ponta da bota no estribo
Algum gaiato por perto sorriu
Ainda disseram comigo eram oito
Que boleou a perna montou e caiu

Saltei do lombo e gritei pro povo


Este será o último desafio
Tordilho negro berrava na espora
Por vinte horas ninguém mais nos viu

Mais de uma légua o pingo corcoveou


Manchou de sangue a espora prateada
Anoiteceu o povo pelo campo
Procurando um morto pela invernada

Compraram vela fizeram um caixão


A minha alma estava encomendada
A meia noite mais de mil pessoas
Deixaram da busca desacorçoadas

Daqui a pouco ouviram um tropel


Olharam o campo noite enluarada
Eu vinha vindo no tordilho negro
Feliz saboreando uma marcha troteada

Boleei a perna na frente do povo


Deixei as rédeas arrastar no capim
Banhado em suor o tordilho negro
Ficou pastando ao redor de mim

Tinha uma prenda no meio do povo


Muito gaúcha eu falei assim
Venha provar a marcha do tordilho
Faça o favor monte no selim

Andou no pingo mais de meia hora


Deu-me uma rosa lá do seu jardim
Levei prá casa o meu tordilho negro
Mais uma história que chega no fim.
BUGIO NOVO
Dos bugios que cantamos ao povo surgiu um novo contando lorotas
E trazendo na mala de viagem a bagagem de mil anedotas
Diz que veio de um pago distante onde o diabo perdeu suas botas
Dos bugios que cantamos ao povo surgiu um novo contando lorotas

(No lugar onde pousa o bugio lobisomem se manda a la cria


Vaga-lume apaga o candieiro e o sol chega mais tarde no dia)
Int.

O bugio é medonho e tinhoso, mentiroso, malandro e sapeca


É capenga, banguela e beiçudo, orelhudo, caolho e careca
É pitoco e do rabo caçoa, bicho a toa e levado da breca
O bugio é medonho e tinhoso, mentiroso, malandro e sapeca
( )Int.
O bugio quando vai num churrasco faz fiasco criando alvoroço
SaPateia e vira o prato e de fato ele ronca bem grosso
Se embucha se estica e se volta mas não solta o seu beiço do osso
O bugio quando vai num churrasco faz fiasco criando alvoroço

O bugio quando dança baileco é tareco e faz confusão


Dá de mão numa guampa de canha se assanha e se para gritão
É borracho daqueles sem rumo masca fumo e cospe no chão
O bugio quando dança baileco é tareco e faz confusão
CASAMENTO DA DORALICE
Eu vou, dançar
Fandango de galpão
Coisa melhor que tem
Pra alegrar o coração.
Fandango só fica animado
Quando sai a Doralice
Vai todo mundo pra sala
Parado ninguém resiste
Vou convidar uma morena faceira
Dessas dançadeiras
Que a gente nota
Para dançar comigo a noite inteira
Pra tirar a poeira da sola da bota
Esse é o fandango bom
Vai até de madrugada
Só pra fazer as chinocas
Ficar meio apaixonadas
E nóis saimos cantando
Levantando o pó da estrada.
BARRACA ARMADA
Tiro de laço gineteada, companheirada, bom chimarrão
No sarandeio belas chinocas no entremeio , uma canção
Trovas, repentes, bons violeiros, canções nativas e o carreteiro
Entrelaçados em harmonia, ao pé do fogo neste rodeio

É no acampamento, lugar da pousada, onde se descansa


Mas sempre de barraca armada

E a gauchada toda animada, dança com as prendas de barraca armada


Tem gaita ponto entreverada com a pianada em desafio
Mas nunca falta o piá campeiro, todo pilchado no correntio
Fica bombeando o que se passa e apavorado conta o que viu

Sobre os pelegos papo pro ar, lindo lembrar belos salseiros


Cama de arreios a campo fora, tinir de esporas no pastoreio
No fim de tarde marcas de estacas, sinal de pata da gineteada
Resta lembrança de belos feitos e sem tardança finda o rodeio
BAILE DAS NEGA TOURO
Quem conhece não esquece daqueles bailes de estouro
Que dava fim de semana no rancho das negra touro
A negra grande a mais forte arisca que nem coatiara
Cuidava a porta do rancho com um pedaço de taquara
O gaiteiro virocai já tocava com preguiça
E a negrada se acrocava que nem corvo na carniça
E lá pela madrugada um loco gritava rindo
Vamos se acordar negrada porque a policia vem vindo
REFRÃO

E quem chegasse de fora naquele preto de bruto


Ia pensar que as morenas tavam bailando de luto
Tinha umas neguinhas nova outras pretas temporonas
Cada mais preta e retinta do que cabo de cambona

Lavavam roupa pra fora benziam a alma do povo


Num dia faziam baile noutro faziam de novo
O Rio Grande negra touro se apeava no teu portão
Pra tomar um passe com canha e se aloitá num vanerão
MILONGA PRA TI
Quando te vejo guria meu coração emudece
Sinto a sensação radiante da lua, quando aparece
A luz que vem dos teus olhos embriaga o meu olhar
Me faz buscar a tua mão e sair por aí passear

(Tua voz, som que fascina, como o cantar da araponga


Que busco em vários acordes, num dedilhar de milonga)

O mundo é do teu tamanho quando caminho ao teu lado


Satisfazes plenamente meus sonhos de namorado
Cada um de teus sorrisos me banha de tanto encanto
Inspiração permanente desta milonga que canto

Perto de ti sou ventura, longe de ti pensamento


Sorvendo a tua saudade, pelo tiritar do vento
Quero me casar contigo trazei-la pra meu jardim
E ter sempre esta milonga vibrando dentro de mim

BAILONGO DO MATO FUNDO


Um par se vem. Outro se vai, outro que fica
A gaita louca, se desmancha no salseiro
Salta faísca, com fumaça de candeeiro
E reverbera no cabelo da marica

A gaita velha muitas vezes é culpada


Do diz-que-diz-que nos bochinchos e segredos
Mas o gaiteiro, faz de conta e não diz nada
Porque ele sabe que os culpados são os dedos

(De cada china cada olhar é uma aripuca


Promessa linda que tonteia quando chama
Na vaneirita que se adoça e que derrama
Um céu de estrela nas pupilas da maruca)
Um galo canta, um cusco acoa, um touro berra
E na penumbra, a parceria se abaguala
O chinaredo farejou cheiro de terra

E há uma neblina galopeando pela sala


E a gaita xucra se aveluda se alonjura
Depois se amansa num soluço de ansiedade
E anda nos ares gaguejando uma saudade
Não há quem saiba de onde vem tanta ternura
ADEUS MARIANA
Nasci lá na cidade, me casei na serra
Com a minha Mariana: moça lá de fora
Um dia estranhei o carinho dela
Disse: - adeus Mariana, que eu já vou embora

É gaúcha de verdade de quatro costados


Só usa chapéu grande de bombacha e espora
E eu que estava vendo o caso complicado
Disse: - Adeus Mariana, que eu já vou embora

Nem bem "rompemo" o dia, me tirou da cama


Celou o meu tordilho e saiu campo a fora
E eu fiquei danado e saí dizendo:
- adeus Mariana, que eu já vou embora

Ela não disse nada, mas ficou sismando


Se era desta vez que eu daria o fora
Segurou a açoiteira e veio contra mim
Eu disse: - larga Mariana que eu não vou embora

E ela de zangada foi quebrando tudo


Pegou a minha roupa e jogou porta a fora
Agarrei, fiz uma trouxa e saí dizendo:
- Adeus, Mariana que eu já vou embora.
BAILE NA SERRA
Pego na gaita e canto essa melodia
Me lembrando de um baile que eu fui a poucos dias
Foi lá na serra em casa do Mané Romão
E eu tinha um companheiro que era o meu irmão

E o gaiteiro um gaúcho resolvido


Na gaita deu um tinido e já começou a tocar
Tocou um xote pra dançar afigurado
E dos seus versinho rimado já começou a cantar

E uma morena do corpo enfeitiçado


Deu uma olhada pro meu lado e já com ela eu fui dançar
E o meu irmão com uma moça de encarnado
Saiu dançando apertado, coisa de se invejar

Com a morena sai falando baixinho


Devagar e bonitinho e o namoro se arrumou
Mas meu irmão com a moça de encarnado saiu muito apertado
e o pai dela não gostou

E a meia-noite deu uma briga lá num canto


Quebraram uns três, quatro bancos por causa do meu irmão
De madrugada se acharam novamente
Fedeu a pau e porrete, e a revolver e a facão

Eu sou um qüera que gosto de reboliço


Já me meti no enguiço só pra vê o que ia dar
Me apertaram, me cercaram em cinco ou seis
Dei uns tombo nuns dois, três e não puderam me cortar

O meu irmão índio mal de pensamento


Arranco das ferramenta e muita gente ele cortou
E assim foi até clariar o dia
Pois ninguém mais se entendia até que o baile se acabou
CRIADO EM GALPÃO
Nasci na pampa azulada e da minha terra eu sou peão
Estampa de índio campeiro que foi criado em galpão
Gosto do cheiro do campo e do sabor do chimarrão
E de dobrar boi brabo a pealo nos dias de marcação

Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena


Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena

Meu sistema de gaúcho é mais ou menos assim


Uso um tirador de pardo arrastando no capim
Uso uma bombacha larga com feitio do melhor pano
E um trinta ao correr da perna com palmo e meio de cano

Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena


Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena

Crinudo que sacode arreio engancho só na paleta


Pois as esporas que eu uso tem veneno na roseta
Tenho um preparo de doma trançado com perfeição
Pra fazer qualquer ventena saber que é este peão

Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena


Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena

O dia em que eu não puder aguentar mais o repuxo


Talvez o rio grande diga lá se foi mais um gaúcho
Mas enquanto eu tiver força laço domo e tranço ferro
E na invernada do mundo mais um rodeio eu encerro

Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena


Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena
DO FUNDO DA GROTA
Fui criado na campanha Aquento a chaleira Pra enticar com a
Em rancho de barro e Já quase no clariá o dia cachorrada
capim Meu pingo de arreio
Por isso é que eu canto Relincha na estrebaria Lá no centro do capão
assim Enquanto uma saracura Ouço o piar de um nambú
Pra relembrar meu Vai cantando empulerada Numa trincheira o jacú
passado Grita o sabiá nas pitanga
Eu me criei arremedado Escuto o grito do sorro E bem na costa da sanga
Dormindo pelos galpão E lá no piquete Berra a vaca e o bezerro
Perto de um fogo de chão Relincha o potro tordilho No barulho dos cincerro
Com os cabelo Na boca da noite Eu encontro os bois de
enfumaçado Me aparece um zorrilho canga
Vem mijá perto de casa
Quando rompe a estrela Pra enticar com a Quando rompe a estrela
D'alva guapecada D'alva
Aquento a chaleira Aquento a chaleira
Já quase no clariá o dia Reformando um Já quase no clariá o dia
Meu pingo de arreio alambrado Meu pingo de arreio
Relincha na estrebaria Na beira de um corredor Relincha na estrebaria
Enquanto uma saracura No cabo de um socador Enquanto uma saracura
Vai cantando empulerada Com as mão brotiada de Vai cantando empulerada
calo
Escuto o grito do sorro No meu mango eu dou Escuto o grito do sorro
E lá no piquete estalo E lá no piquete
Relincha o potro tordilho E sigo a minha campeirada Relincha o potro tordilho
Na boca da noite E uma perdiz ressabiada Na boca da noite
Me aparece um zorrilho Voa e me espanta o cavalo Me aparece um zorrilho
Vem mijá perto de casa Vem mijá perto de casa
Pra enticar com a Quando rompe a estrela Pra enticar com a
cachorrada D'alva cachorrada
Aquento a chaleira
Numa cama de pelego Já quase no clariá o dia
Me acordo de madrugada Meu pingo de arreio
Escuto uma mão-pelada Relincha na estrebaria
Acuando no banhadal Enquanto uma saracura
Eu me criei xucro e bagual Vai cantando empulerada
Honrando o sistema
antigo Escuto o grito do sorro
Comendo feijão mexido E lá no piquete
Com pouca graxa e sem Relincha o potro tordilho
sal Na boca da noite
Me aparece um zorrilho
Quando rompe a estrela Vem mijá perto de casa
D'alva
NÃO SOU CONVENCIDO
Esse negócio de dizer que tu me ama
E a minha ausência te causa desespero
Não é a minha boniteza quem tem chama
E com certeza deve ser o meu dinheiro

Vamô acabá com esse apaixonamento


por que eu sou um gaúcho viajado
Eu estou velho mas tenho fibra e talento
não aprendi a amar sem ser amado
"ah, é tão bonito a gente amar e ser amado"

Eu reconheço que sou um homem feioso


E que a feiúra caiu por cima de mim
Tenho no peito um coração amoroso
E a bonitona que me quiser é assim

Se eu descobrir que me amas com firmeza


Talvez uns tempo nós possa viver juntinho
Daí sou eu quem desfruta essa beleza
E tu desfruta essa feiúra e meu carinho
"ha há, daí é pouco pra ti"

Toda mulher é preciso ter beleza


Para deixar muitos corações aflitos
Porém o homem é feio por natureza
E para amar não é preciso ser bonito

Vamô acabá com esse apaixonamento


por que eu sou um gaúcho viajado
Eu estou velho mas tenho fibra e talento
não aprendi a amar sem ser amado
"vamô fechá a porteira e ta dado meu recadinho malvada"
TO VOLTANDO PRA FICAR
Esta noite encilho o pingo
E eu sei que vou chegar
Pra beijar minha mãe velha,
Minha prenda e meus piás
Com meu pai vou jogar truco
Na sombra de uma figueira
Tô distante da campanha,
Não posso mais agüentar
Vou rever os meus amigos
Tomar um trago lá na venda,
Mandar a saudade embora,
Eu tô voltando pra ficar.

(Tô voltando pra ficar,


É aqui a minha terra,
É aqui a minha vida,
É aqui o meu lugar.)

As coisas simples da vida


Um gaúcho nunca esquece
Quando estou longe do campo
Esse meu peito padece.
Hoje volto pra Querência,
Minha terra abençoada
Só assim a alegria
Emudece as minhas mágoas.
Quando chegar na porteira,
E a família me avistar,
Quero então gritar bem alto:
"- Eu tô voltando pra ficar".

(Tô voltando pra ficar,


É aqui a minha terra,
É aqui a minha vida,
É aqui o meu lugar.)
DE BOTA NOVA
De bota nova tô chegando pro baile companheiro
que o tranco fandangueiro me chamou para bailar
na sala bem lisinha quero fazer um estrago
depois de toma uns trago me vou pra lá e pra cá

Não quero nem noticia da lida de mangueira


quando escuto vaneira tristeza não me agrada
eu venho descontado judiado do seviço
findei os compromissos agora eu quero farra (2x)

(Capricha seu gaiteiro que eu danço e me garanto


já vi que lá no canto tem uma que me quer
preciso de um cambicho e a minha bota nova
precisa de uma sova pra não me aperta o pé)

De bota nova to chegando vou firme num embalo,


nem me lembro do calo que essa bota me fez.
Pior é não ter tempo só pra alegrar a vida
e eu não largava a lida fazia mais de um mês

por isso gaiteiro capricha numa bem boa


que um beliscão atoa não tá me encomodando
um calo não é nada tudo que é ruim tem fim
que um baile bom assim so lá de vez enquando
RODA QUE RODA
Sou cria da Bossoroca lindeira ali de São Luiz
Não saio da minha toca se ali me sinto feliz
Pode não ser para os outros mas pra mim sempre será
Terra de livres e potros que alguém jamais tomará
(Roda que roda e não anda
Rodando de mão em mão
A cuia é um mundo em ciranda na seiva do coração)
Gosto da lida campeira nessa escola me criei
O laço e a boleadeira são lições que eu decorei
Achei o rumo seguro meu abc de campanha
E ao quebrar um queixo duro tirando-lhe balda e manha
Minha mestra foi a vida meu mundo meu professor
A lição mais bem sabida foi esta de cantador
Depois da lida de campo junto ao fogo do galpão
Tempero a guitarra e canto na roda de chimarrão
MORENAÇA
Quando sai a primeira cantiga, a morena começa agitar
Manda o santo pro qüera largado, se embrulhando no sol de xará
E não fica nem preocupada, sai dançando num ritmo só
E a cordeona suspira empolgada afogada no meio do pó
Olha o tranco da morena rebocada de batom
Olha o tranco da morena rebocada de batom
Essa é a mais bonita que agita o fandango de galpão
Essa é a mais bonita que agita o fandango de galpão
Lá pela quinta cantiga sem espaço pra ela dançar
Vem pra frente do velho gaiteiro inticando no seu requebrado
Morenaça tão cheia de graça luz bendita do velho lampião
Eu queria morena eu queria um naquinho do teu coração
MORENA ROSA
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
Na penumbra do rancho costeiro
Polvadeira à meia costela
O gaiteiro entonado, floreava o teclado
E bombeava prá ela
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
O perfume da morena rosa
Dá vontade da gente pegar
Apesar de gaviona, escuta a cordeona
E começa a se espiar
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
O semblante da morena rosa
Lua cheia de felicidade
Quanto mais sarandeia o corpo incendeia
De tanta vontade
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
CANTADOR DE CAMPANHA
Meu trabalho é de peão campeiro E um zumbido igual gafanhoto
Conforme diz meus documentos No pandeiro do negro Bujão
Sigo sem afrouxar nenhum tento
De campanha, crioulo e fronteiro Duas moças vem do Parador
E uma prima de São Gabriel
Mas eu trago outro ofício no Pode ser que a menina Isabel
mundo Faça uns olhos de graça pra este
Que esses fundos já sabem qual é cantador
Cantar baile nos ranchos de campo
Bom Retiro, Azevedo Sodré Se clareia agarremo a estrada
Que a pegada é só segunda-feira
Bendição que eu carrego comigo Vou cantando mais duas vaneiras
Ser um peão cantador de Dessas de iluminar madrugada
campanha
Com o gaiteiro eu me entendo por
sanha
Pra pobreza eu até já nem ligo

Me chamaram pra sábado agora


Cantar um baile na costa do Areal
Eu não tenho no bolso um Real
Mas eu sou o cantador dessa gente
de fora

Chão batido de saibro vermelho


Meia água de quatro por cinco
Vou mirando os buracos do zinco
E cantando ao clarão do cruzeiro

Que faz ano a guria mais nova


Lá do rancho do seu Gumercindo
E eu não sei qual o semblante mais
lindo
Das três filhas da comadre Mosa

A Isabel, a Canducha e a Rosa


Nem te digo qual a mais bonita
Todas três com vestido de chita
Com pregueado de fita mimosa

O Amadeus na gaita de botão


E o Condonga no violão canhoto
TIMBRE DE GALO Rio Grande, berro de touro,
Rio Grande, berro de touro, quatro patas de cavalo !
quatro patas de cavalo. Quem não viveu esse tempo
Quem não viveu este tempo, vive esse tempo ao cantá-lo,
vive esse tempo a cantá-lo e eu canto porque me agrada
e eu canto porque me agrada neste meu timbre de galo...
neste meu timbre de galo.

É verdade que alguns dizem


que os tempos de hoje são outros,
que o campo é quase a cidade
e os chiripás estão rotos,
que as esporas silenciaram
na carne morta dos potros...

Cada um diz o que pensa -


isso aprendi de infância,
mas nunca esqueça o herege
que as cidades de importância
se ergueram nos alicerces
dos fortins e das estâncias.

Não esqueça, de outra parte,


para honrar a descendência,
que tudo aquilo que muda,
muda só nas aparências
e até num bronze de praça
vive a raiz da querência.

Eu nasci no tempo errado


ou andei muito depressa,
dei ó de casa em tapera,
fiquei devendo promessa
mas se pudesse eu voltava
pra onde o Rio Grande começa.

E se me chamam de grosso,
nem me bate a passarinha.
A argila do mundo novo não
tem a mescla da minha,
sovada a cascos de touro,
com águas de carquejinha...
BAILANTA DO TIBURCIO É lá no velho pontão linda terra de
Vou contar de uma bailanta que fartura
existiu no meu pontão Queijo, ambrosia e melado bolo
Indiada do queixo roxo que nunca frito e rapadura
froxou o garrão Batata deste tamanho e mandioca
Vinho curtido em barril e cachaça desta grossura
de borrachão
Mas que tempo aquele tempo que
Os gaiteiros que eram buenos se vivia feliz
davam a mostra do pano Só a saudade restou lá no garrão do
O Carlito e o Dezidério o Felicio e o país
Bibiano Da bailanta do tibúrcio vertente,
Cambiando com o Juvenal num cerne e raiz
velho estilo pampeano

Dona china passou ruge ajeitou


bem o cocó
Cruzou o jaguapassô lavou os pés
no jaguassengó
Na bailanta do tibúrcio balanceava
o mocotó

Lembranças que são relíquias dos


meus tempos de guri
Os pares todos bailando coisa mais
linda eu não vi
Um agarrado no outro pra mode de
não cair

E lá pela madrugada bem na hora


do café
Dom Tibúrcio mestre sala gritava
batendo o pé
Agora levanta os home para comer
as muié

Milho assado era o catete plantado


de saraqüá
Feijão preto debulhado a bordoada
de manguá
Bóia melhor do essa lhes garanto
que nao há
O QUE TEM A ROSA E quando sobra um sorriso
O que tem a rosa companheiro
Tão desfolhada Para um tropeiro que campeia
Foi o sereno onde cestiar
Da madrugada O mundo véio se derrete num
abraço
Sinto saudade E a gente sente uma vontade de
Suspiro também ficar (bis)
Mandei recado
Rosa não vem Semana nova de Guaiaca quase
seca
Chorei e choro Mas não me importo que é bom
Nesta viola nos apaixona
Só ela mesma No mês que vem volto de novo
Quem me consola Deus me livre
Matar a ânsia escutando uma
Adeus, adeus cordeona
Coração mimoso
Delicadeza
Rosto formoso

O que tem a rosa


Tão desfolhada
Foi o sereno
Da madrugada
RECORRENDO OS AGUAPÉ
Amanhã de manhãzita eu vou pro
povo
Eu vou de novo recorrer os aguapé
Terminar umas esquilas a martelo
Eu vou campear algum chinelo pro
meu pé

De quando em vez uma cruzada


pela vila
Onde cochila as pinguanchas
querendonas
Não é demais pra quem vive numa
estancia
Matar a ânsia escutando uma
cordeona
PAU QUE DA CAVACO Me vou de bico, viro a mico e a
Xica manica, fia do véio vadico macaco
Morena retaca dessas de peito de E vou mostrar prá xica véia
bico Qual é o pau que dá cavaco.
Mandou dizer que quer bater um
papo comigo Me vou de bico, viro a mico e a
E eu que conheço o artigo me deu macaco
um crique no caco E vou mostrar prá xica véia
Tomei um banho, resquetei bem as Qual é o pau que dá cavaco.
melenas
Vou mostrar prá esta morena quem No fim das contas, nós os dois
tem mais força no taco amarrotados
Tomei um banho, resquetei bem as E o taréquinho domado amanheceu
melenas bem delgadinho
Vou mostrar prá esta morena quem Perdi o rabicho e me arrebentou a
tem mais força no taco. barrigueira
E o bichinho bagaceira acordou de
Me vou de bico, viro a mico e a madrugadinha
macaco Coisa daninha como a xica se boleia
E vou mostrar prá xica véia Me mordendo as oreia, eu na dela
Qual é o pau que dá cavaco. e ela na minha
Coisa daninha como a xica se boleia
Me vou de bico, viro a mico e a Me mordendo as oreia, eu na dela
macaco e ela na minha.
E vou mostrar prá xica véia
Qual é o pau que dá cavaco. Me vou de bico, viro a mico e a
macaco
Agarrei ela e saimo saracoteando E vou mostrar prá xica véia
E a marvada me apertando, Qual é o pau que dá cavaco.
roncando que nem tatua
Eu agarrado, mordendo e rangindo Me vou de bico, viro a mico e a
os dente macaco
Fiquei sem modo de gente nos E vou mostrar prá xica véia
braços dessa xirua Qual é o pau que dá cavaco.
Ficou nervosa e ferveu a
chocolateira
Me deu uma tremedeira e chamei a
xica na pua
Ficou nervosa e ferveu a
chocolateira
Me deu uma tremedeira e chamei a
xica na pua.
TERTÚLIA Saiu sacudindo o toso e cravou o
Uma chamarra uma fogueira focinho no chão
Uma chinoca uma chaleira
Uma saudade, um mate amargo Tentei levantar no freio mas era
E a peonada repassando o trago tarde demais
Noite cheirando a querência Eu vi uma poeira fina formando
Nas tertúlias do meu pago. nuvens pra trás

Tertúlia é o eco das vozes perdidas Berrando se foi a cerca e cruzou


no campo afora pro lado de lá
Cantiga brotando livre novo Parecia uma tormenta cruzando em
prenúncio de aurora massambará)
É rima sem compromisso
julgamento ou castração Se enganchava nas esporas sobre a
Onde se marca o compasso no volta do pescoço
bater do coração. Cortando couro em pêlo e tirando
lascas de osso
É o batismo dos sem nome
Rodeio dos desgarrados Naquele inferno danado bombiei
Grito de alerta do pampa pra meu cebolão
Tribuna de injustiçados Regulava quatro e pico numa tarde
Tertúlia é o campo sonoro de verão
Sem fronteira ou aramados
Onde o violão e o poeta podem Senti a força do vento me
chorar abraçados. arrancando dos arreios
UM BAGUAL CORCOVEADOR E aquele bicho parecia que ia se
A tropa vinha estendida pastando rasgar no meio
no corredor
Eu empurrava culatra e também Deixei manso e de confiança
fazia fiador montaria de patrão
Pois honro o nome que carrego me
Num bagual gordo e delgado arisco orgulho de ser peão
e corcoveador
Que se assustava da estaca e da
sombra do maneador

É brabo a vida de um taura que só


trabalha de peão
Nisso uma lebre dispara debaixo de
um macegão

Meu pingo só deu um coice


escondendo a cara nas mãos
DE CHÃO BATIDO
Em xucras bailantas de fundo de campo
O fole e tranco vão acolherados
O índio bombeia pro taco da bota
E o destino galopa num sonho aporreado
Polvadeira levanta entre o sarandeio
E é lindo o rodeio de chinas bonitas
Quem tem lida dura e a ideia madura
Com trago de pura a alma palpita

Atávico surungo de chão batido


Xucrismo curtido na tarca do tempo
Refaz invernadas de ânsias perdidas
E encilha a vida no lombo do vento

Faz parte do mundo do homem campeiro


Dançar altaneiro no fim de semana
O gaúcho se arrima nos braços da china
E cutuca a sina com um trago de cana
Basta estar num fandango do nosso Rio Grande
Pra ver que se expande esse elo gaúcho
Esta pura verdade que não tem idade
É a nossa identidade aguentando o repuxo

Atávico surungo de chão batido


Xucrismo curtido na tarca do tempo
Refaz invernadas de ânsias perdidas
E encilha a vida no lombo do vento
NEGO BETÃO
La vai o nego betão
com aperos de couro cru
mais gallo que o tiarajú
num gateado marchador...
pois já nasceu campeador
e é daqueles meu irmão
que sai dando co'as duas mão
num bicho corcoveador

Gauchão da velha templa


que o tempo não engoliu
uma bugra lhe pariu
bem na costa de um lenheiro...
guarda o feitiço galponeiro
de centauro deste chão
que envelheceu na amplidão
lidando com caborteiro

Lá vem o nego betão


que china e bala não popa
mais taura que um rei no trono
chapéu tapeado na copa
abrindo o peito estrada afora
bem na culatra da tropa

Profeta xucro dos galpões


que sempre tem argumento
proseia com o próprio vento
e passa por louco talvez
o que ele tem em campo e rês
nunca foi dele amigaço
e se um dia sobrar um pedaço
reparte com uns dois ou tres

No lugar que esse índio laça


fica um buraco no chão
dos pealos de paletão
serrando só nos dois cascos
nasceu pegado no basto
e quando o maula sai berrando
o mango véio vai cruzando
arrancando terra com pasto
BAILE DE FRONTEIRA
É num baile de fronteira O gaiteiro era buerana
Que a gente pode aprender Não deixou o baile morrer
Esse balanço safado Parou um valseado de seco
De se dançar chamamé E sapecou um chamamé
Tem que ter manha no corpo Ficou só um casal dançando
Pra sapatear tem que ter Gritando "oiga-le-tê
Tranco de sapo baleado Que por quatro ou cinco tiros
E jeitão de jaguaretê Não vamos se aborrecer"

Tudo começou em Corrientes Dançar na ponta da adaga


Num baile, veja você Não é tomar tererê
Também se orelhava um truco Tem que cordear pros dois lados
Que é um modo de se entreter Fazendo o poncho esconder
Um ás que sobrou na mesa Daí surgiu esse tranco
Bastou pra coisa ferver Que foi até o amanhecer
E a cachaça brasileira Quanto mais corria bala
Alguma culpa há de ter Melhor ficava pra ver

Se foi tiro ou cimbronaço Se foi tiro ou cimbronaço


Pago pra ver Pago pra ver
Deixa que venha no braço Deixa que venha no braço
Pra se entender Pra se entender
Se o facão marca o compasso Se o facão marca o compasso
Deixa correr Deixa correr
Enquanto sobrar um pedaço Enquanto sobrar um pedaço
Vamo metê Vamo metê
CHAMAMECERO
Como se a escuridão trouxesse luz
Como se o coração fosse explodir
Mastiguei a fala, negaceei a mágoa
Só pra ver a lágrima feliz

Quis amansar a dor, me vi pela vida


Quis conhecer o amor, fiz um chamamé
Cheio de carinho, louco de faceiro
Mas que chamameceiro me senti

Coisa de bom menino abraçando o pai


Coisa de mãe saudosa mimando o filho
Fui me emocionando a mando do gaiteiro
Mas que chamameceiro, repeti

A mão vem me dando um soco,


E eu prendo-lhe um sapucay,
O pé pisoteia a marca,
Que a alma arrepia em pêlo
E quase arrebenta o fole,
Que torce, pra vida melhorar...
EU RECONHEÇO QUE SOU UM GROSSO
Me chamam de grosso, eu não tiro a razão;
Eu reconheço a minha grossura;
Mas, sei tratar a qualquer cidadão,
Até representa que eu tenho cultura;
Eu aprendi na escola do mundo,
Não foi falquejado em bancos colegiais;
Eu não teve tempo de ser vagabundo,
Porque quem trabalha vergonha não faz.

Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárarará


Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárararaaaa

Eu trabalhava, ajudava meus pais,


Sempre levei a vida de peão;
Porque no tempo que eu era rapaz...
Qualquer serviço era uma diversão;
Lidava no campo cantando pros bichos,
Porque pra cantar eu trouxe vocação;
Por isso até hoje eu tenho por capricho...
De conservar a minha tradição.

Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárarará


Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárararaaaa

Eu aprendi a dançar aos domingos...


Sentindo o cheiro do pó do galpão;
Pedia licença apeava do pingo...
E dizia adeus assim de mão em mão;
E quem conhece o sistema antigo,
Reclame por carta se eu estou mentindo;
São documentos que eu trago comigo,
Porque o respeito eu acho muito lindo.

Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárarará


Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárararaaaa

Minha sociedade é o meu CTG,


Porque nela enxergo toda a antiguidade;
E não se confunda eu explico por que...
Os trajes das moças não são à vontade;
E se, por acaso, um perverso sujeito,
Querer fazer uso e abusos de agora...
Já entra o machismo impondo respeito...
E arranca o perverso em seguida pra fora.

Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárarará


Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárararaaaa

Ô mocidade associem com a gente,


Vá no CTG e leve um documento;
Vão ver de perto o que dança os decente,
E que sociedade de bons casamentos;
Vá ver a pureza, vá ver alegria,
Vá ver o respeito dessa sociedade;
Vá ver o encanto das belas gurias,
Que possam lhe dar uma felicidade.

Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárarará


Lalará, rarará, Lalará, rarará, Lararárararárararárararaaaa
TENTEANDO O BICO DA GANSA
Menina, preste atenção,
que eu vou dar uma pedrada,
quem no mundo não arrisca,
não ganha nem perde nada.

Menina, casa comigo,


pede licença ao teu pai
de vereda eu te garanto que ele diz:
menina, vai !

Menina, casa comigo,


que trabalhador eu sou
com sol eu não vou no campo,
com chuva também não vou...

Menina, casa comigo,


e tu tem a vida arrumada
Eu devo pra todo mundo,
e pra mim ninguém deve nada.

Menina, casa comigo,


que eu não te engano mais
Dançador e guitarreiro,
borracho cada vez mais!
Menina, casa comigo,
tu não vai te arrepender
apanha quando merece e,
às vezes, sem merecer.
Um dia tu passa fome,
e quatro ou cinco sem comê.

Menina, casa comigo,


que eu sou bem bom de trabaio
Já criei calo nos dedos
de tanto "jogá" baralho.

Menina, casa comigo,


que eu já tenho três oveia
uma manca... outra renga
e uma troncha das oreia!

Menina, casa comigo,


que tu não vai passar fome
de dia, tu come a cobra
de noite, a cobra te come.
QUERENCIA AMADA
Quem quiser saber quem sou
Olha para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul

O lenço me identifica
Qual a minha procedência
Da província de São Pedro
Padroeiro da querência

Oh, meu Rio Grande


De encantos mil
Disposto a tudo pelo Brasil
Querência amada dos parreirais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais

Berço de Flores da Cunha


E de Borges de Medeiros
Terra de Getúlio Vargas
Presidente brasileiro

Eu sou da mesma vertente


Que Deus saúde me mande
Que eu possa ver muitos anos
O céu azul do Rio Grande

Te quero tanto, torrão gaúcho


Morrer por ti me dou o luxo
Querência amada
Planície e serra
Dos braços que me puxa
Da linda mulher gaúcha
Beleza da minha terra

Meu coração é pequeno


Porque Deus me fez assim
O Rio Grande é bem maior
Mas cabe dentro de mim

Sou da geração mais nova


Poeta bem macho e guapo
Nas minhas veias escorre
O sangue herói de farrapo

Deus é gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil
NÃO ENCOSTE A BARRIGUINHA
Antigamente era assim
Numa bailanta de galpão
A xiruzada entreverada
Entortava no salão

A xiruzada entreverada
Entortava no salão
Antigamente era assim
Numa bailanta de galpão

(Refrão)
E a comadre lá num canto
Diz pra moça no salão
Não encosta a barriguinha
Na fivela do peão

No repicar de uma vanera


Dança a prenda e o peão
Tem quem dance a noite inteira
Até descascar o garrão

Tem quem dance a noite inteira


Até descascar o garrão
No repicar de uma vanera
Dança a prenda e o peão

(Refrão)

Redemunhando pela sala


Tia Marica bate o pé
Dança comadre Maria
Com o compadre José

Dança a comadre Maria


Com o compadre José
Redemunhando pela sala
Tia Marica bate o pé.
DIA A DIA NA FAZENDA

Guasqueava o vento nas minhas barbas tordilhas


Bem no topo da coxilha eu contemplo a criação
Entusiasmado com a idéia preparada
Vou vender minha boiada na chegada do verão
Estala o reio e o cusco me auxilia
Prega os dentes na novilha pra embocar no manguerão
Depois faceiro vem pra mim se balançando
E a peonada assoviando coisa linda é ser peão

Lá na fazenda tudo é muito mais bonito


As estrelas no infinito acorbertando o galpão
2x
Na madrugada ronca uma gaita chorona
E a peonada se emociona junto ao fogo de chão

Estala o reio e o cusco me auxilia


Prega os dentes na novilha pra embocar no manguerão
Depois faceiro vem pra mim se balançando
E a peonada assoviando coisa linda é ser peão

Lá na fazenda tudo é muito mais bonito


As estrelas no infinito acorbertando o galpão
2x
Na madrugada ronca uma gaita chorona
E a peonada se emociona junto ao fogo de chão
CANCHA RETA

(Êh, êh, êh se vieram Ah, ah, ah, se agarraram


Ah, ah, ah, se agarraram Pra chegar nas quatro quadras
Pra chegar nas quatro quadras Carreira de cancha reta
Carreira de cancha reta Que é muito divertida
Que é muito divertida E tradição da gauchada) x2
E tradição da gauchada) x2
E foi dada a largada
Já são quinze pras duas que carreira embatucada
sessenta em cada lombo até as três quadras e meia.
chegando no partidor O povo invadiu a cancha
nos trilhos só ficou mancha
E o juíz com a bandeirinha credo que coisa tão feia.
tá mandando pra chegada O tordilho tastaviou
os seus dois julgador o tostado destrilhou
Os cavalos emparelhados e um xirú se quebrou.
os xirús apreparados O juiz determinou
pra correr a cancha reta que não teve vencedor
Se a carreira embatucou e carreira terminou.
chamem o terceiro homem que é o
desempatador (Êh, êh, êh se vieram
Ah, ah, ah, se agarraram
Êh, êh, êh se vieram Pra chegar nas quatro quadras
Ah, ah, ah, se agarraram Carreira de cancha reta
Pra chegar nas quatro quadras Que é muito divertida
Carreira de cancha reta E tradição da gauchada) x2
Que é muito divertida
E tradição da gauchada

O tordilho e o tostado
dois animais respeitados
pra correr esta carreira.
Jogo dinheiro a dobrar
do pescoço se empatar
só quero ver a poeira.
Os cavalos estão partindo
um ficando outro saindo
largue de qualquer maneira.
E o juíz torna a falar
se vocês não se acertar
eu encepo esta porqueira
(Êh, êh, êh se vieram

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