Sei sulla pagina 1di 14
ar a ot ee ny Favelas e Movimentos de Favelados ~~ no Estado do Rio de Janeiro Vania Bambirra Hl > = s ia INTRODUGAO Uma Visao de Conjunto surgimento e expansdo das favelas, uma caracter{stica cada vez mais marcan- te das grandes cidades brasileiras, no so um fendmeno novo. Suas origens remontam ao fim do século XIX — os chamados cortigos de negros — como conseqliéncia do @xodo rural (impulsionado pela consolidagao da propriedade monopgilica da terra, 0 la- tifundio, que expulsou para as cidades os escravos libertos pela Aboli¢ao) e dos fluxos migratorios estimulados pelos novos empregos que o débil processo de industrializacao prometia oferecer ‘AS favelas néio devem ser consideradas, portanto, apenas como uma deformagdo urbanfstica dos centros industrials, mas como uma caracterstica t(pica destes, como um resultado necessdrio de desenvolvimento do modo de produsao capitalista. Os novos surtos industriais nas décadas de trinta e quarenta e a expansio dos aglomerados urbanos deles decorrentes, irdo acentuar paulatinamente a diferenciagaio existente entre os espacos de moradia dos cidadaos ricos dos pobres, intermediados pe- 08 extensos e populosos bairros da classe média Assim, 0 perfil morfoldgico, ecologico e demogréfico das maiores cidades bresi- Ieiras, modernizadas pelo incremento das ‘4bricas, dos servicos, dos novos ediffcios exuberantes, das pragas, jardins, igrejas, avenidas e viadutos, projetard um reflexo cris- talino da divisSo das classes sociais urbanas do pats A favelizago passa a ser um processo incontinenti que tende a abarcar no s6 a periferia das grandes cidades mas também seus morros centrais de acesso mais proximo aos locais de trabalho. Nos anos cingiienta, devido ao grande impulso desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, associado as tendéncias permanentes do éxodo rural e ao corro- sivo desenrolar do que vem sendo denominado "'desertificacao do nordeste’”, a faveli- zacéo tende a se acentuar, protegide entdo pelo crescimento de movimentos polftico- sociais urbanos, como 0 movimento operdrio, estudantil, religioso, cultural etc. Nesta época sio criadas muitas das Associagdes de Moradores nas favelas com 0 objetivo de resistir as expulsdes. No comego da década dos sessenta, estimuladas pelo clima democratizante e par- ticipativo que se alastra pelo pals — ¢ atinge seu auge durante 0 efémero governo de JoSo Goulart — tais associagées se expandem e acumulam forgas para a intensa luta contra as remogées que serfio deflagradas logo apés o golpe civil-militar de 1964. Durante este per fodo foram registradas algumas vitérias e muitas derrotas expres- sadas em remogées macigas de favelas. Porém, a favelizagdo como tendéncia urbana irreversivel no capitalismo depen- dente, prosseguiu o seu curso célere e porfiado, conduzindo a que na década dos seten- ta as prOprias autoridades governamentais tenham finalmente que reconhecer a impos- sibilidade de remogéio e a necessidade de coexist8ncia com as mesmas. Por fim, a favela conquistou seu espaco inquestionével, seu direito de pelo menos sonhar em vir a ser um bairro urbanizado. Politica e Administrapéo Rio de Janeiro ~=— 241 Vol.n? 2 pp. 239 a 253 Julho-Setembro 85 PUGRSIBIBLIOTECA CENTRAL COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003 ‘Trataremos agora de aproximarmo-nos das condigées objetivas que serviram de base para a evoluco do movimento de favelados no Estado do Rio de Janeiro tema es- Pecifico deste breve ensaio. . 1 ~.A Populacao Favelada no Estado do Rio de Janeiro A populago do Estado do Rio de Janeiro vem registrando taxas de crescimento acelerado nas Gitimas trés décadas, bem como um impressionante indice de migragao rural-urbana,! Assim, durente a década dos setenta, se 0 increment demografico foi de 25,6%, perfazendo, de acordo com o censo demagrifico de 1980 um total de 12 mithdes de pessoas, 3/4 destas (9,9 milhdes) habitam a Regio Metropolitana. ‘As cifras do éxodo rural so contundentes: em 1940 a popullagdo urbana era 60%; em 1950 @ mesma se eleva para 70% e, em 1980 alcanga a 92%, vale dizer, no co- mego da presente década apenas 8% des pessoas viviam no campo. Na Regizo Metropo- litana este fendmeno se manifestou de maneira radical, pois a partir dos anos setenta a populagio rural desapareceu literalmente. Tal situagdo de aguda desruralizagéio, conseqiiéncia extramads da vigéncia da propriedade monopélica da terra, do desenvolvimento dos complexes agro-industriais, de mecanizagdo das lavouras e das noves ofertas de emprego criadas pelas grandes obras de construco civil € governamental no Municipio do Rio de Janeiro, provocou um crescimento urbano e demografica cabtico, (5,5 milhées de habitantes em 1980) incen- tivando © processo de favelizagao intensivo e extensivo, As estimativas do IPLAN-RIO (Instituto de Planejamento Municipal) baseadas no Censo Demogréfico de 1980 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat(sti- ca), bem como no cadastramento dos domictlios realizados pela Light estimou a popu- lacdo favelada, para o ano-base de 1980 em 722.424 pessoas, distribuidas entre 376 fa- velas. Contudo, hd de se tomar em consideragSo a precariedade dos estudos estat(stico- demograficos destes aglornerados urbanos que, ademais, tendem a ser flufdos e dindmi- cos (calcula-se que nas grandes favelas do Municipio sao construfdos mensalmente cer- ca de 100 novos barracos) e da eficécia muito relativa de certas fontes, como 0 cadas- tro de domiclios da Light. Sabe-se que 0 registro dos rel6gios de luz oficiais desta Companhia, a chamada “luz de cabine" origina a conhecida “luz de gato” assim intitulada pelos favelados a puxada ilegal, clandestina, da luz para varios domictlios. Na fevela 0 cidaddo que possui um relégio de luz torna-se uma pessoa privilegi de, um comerciante ou um fornecedor de luz e, muitas vezes até, em um Ider locél Nao foi por outra razio que o governo tratou de criar es Comissées de Luz com 0 obje- tivo de controlar 0 abuso do uso ilegal da eletricidade. Se a estas consideragSes agregamos a existéncia de loteamentos néio regulariza- dos, bem como a de zonas decadentes de locago antiga ¢ os calamitosos conjuntos ha: bitacionais semi-destrufdos pelo passar dos anos sem as minimas reparaces, & possivel Fundagao Escola de Servico Puiblico RJ 242 Politica e Administragao PUGRS/BIBLIOTEGA CENTRAL — COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LE! 10.695/2003, estimar, como em geral é feito, que a populacdo favelada e semi-favelada — os chama- dos aglomerados de baixa renda — é da ordem de 2 milhées de habitantes no Muni pio, vale dizer, 1/3 de sua populagao total. 2 — Como Surge ¢ 0 que 6 uma Favela Segundo o IBGE, “setor especial de aglomerado urbano 6 formado por, pelo me- nos 50 domicflios, na sua maioria dotados de infre-estrutura carente e localizados em terrenos no pertencentes aos moradores, geralmente conhecidos por favela, mocambo, palafita, invaso, maloca ete”. ‘A andlise mais profunda e minuciosa do fendmeno conduz @ um desdobramento muito mais amplo da restrita definigdo citada acima, Sendo vejamos: Uma favela é um aglomerado urbano no urbanizado, localizado em terrenos de propriedade estatal ou indefinida, A sua origem pode haver sido através de uma invaséo — ocupagéo simulténea por varios famflis — ou por crescimento continuo devido & chegada de novos contingentes de populacdo provenientes das zonas rurais, migrantes de outros Estados da Federagiio ou ainda por um remanejamento populacional de ou- tras favelas. A partir de um certo ponto, quando a érea dispon vel j4 estd virtual mente ‘ocupada, 0 seu crescimento passa a ser puramente endégeno ou vagetativo, vale dizer, © aumento populacional ocorre apenas devido ao nascimento de criancas nas fam lias dos moradores ou devido a novas unides conjugais a partir das mesmas familias. Os materiais de construgo utilizados so a madeira e a alvenaria. O aumento progressive das construgées de alvenaria na presente década estd diretamente correla- cionado com a maior seguranga por parte de seus moradores de que ndo sero removi- dos, pois 6 esta conviccéio que justifica um maior investimento em uma obra mais per- durdvel. Hoje em dia, nas maiores favelas cariacas, sem dtivida, existe uma tencéncia 20 predomfnio de casas de alvenaria, A favela tipica se caracteriza ainda pela auséncia de uma infra-estrutura urban (s- tica e de servigos piblicos. Assim, ndo existem no seu interior ruas abertas (os becos definem o seu tragado especffico), ndo existem ademais pracas, edificagées pliblicas, meios de transporte coletivo, esgotos pluviais e sanitérios (as valas abertas ou valas ne- gras percorrem os becos impregnando a atmosfera com a odor pestilento das enfermi- dades e mortandade precoce, especialmente das criangas. . .). To pouco existe um Co- mércio, exceto em estado muito rudimentar, os pequenos bares onde so vendidas be- bidas — a cerveja e sobretudo a cachaga — @ alguns poucos produtos alimenticios. Pesquisa realizada em uma tradicional favela no Rio®, Bras de Pina, levantou ados que so paradigméticos das demais favelas do Municfpio. Assim, - a média dos barracos ocupa uma drea de 20m?; - a média de habitantes por barraco é de 4,5 pessoas; - 40% de seus habitantes possuem uma renda mensal de 1 a 1/2 saldrio minimo; = 40% da populagdo tém menos de 15 anos; - 38% so analfabetos ou semi-analfabetos; Fundagao Escola de Servigo Pablico RJ 243 Politica @ Administracao PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695'2003 ~ 23% séio desernpregadios; ~ 70% das mutheras sto donas-de-casa; 70% dos homens trabalham na construedo civil, nos transportes ou na prestagio de servigos; ~ mais de 50% trabalharn perto de casa; ~ quase 30% da populaeao so provenientes do Norte ou Nordeste do pats. Nao foi por um fator aleatorio que as favelas surgiram nos subdrbios (perto das. ‘fébricas) mas sobretudo nos morros (perto das zonas residenciais ricas ou dos demais cantros de prestagdio de servigos) Com 0 crescimento da metrépole ea construgdo dos grandes tineis ¢ avenidias, as egies outrora periféricas so transformaram em regides proximas dos bairros ricos ou de classe média alta e, portanto, valorizaram-se, Este é 0 caso dos locais onde estdo si- tuadas as favalas da Rocinha, do Vidigal, do Cantagalo, do avo, do Pavdozinho, do Catumbi ete. A expansdo de uma ampla canada de novos-ricos no per fodo imediato ao triunfo do golpe militar, precipitou a escalada dos morros pelas mansdes de luxo e intensificou 8 cobiga dos mesmos de outras zonas de alta valorizagiio devido a proximidade do centro ou da zona sul. Estavam definides as razées fundamentais da pol{tica de ramo- ‘ses das favelas. Multas favelas foram arrasadas, desapareceram literalmente @ no seu antigo local surgiram modernos conjuntos habitacionais. Porém, algumas souberam se defender, outras continuaram sou processo de ex- Panso Impulsionado pela incontrolével maré migratoria que langava a cada ano milho- res de habitantes na grande cidade. Desta maneira, a populagdo favelada teve fatalmente de se organizar ou de se grupar em torno de liderangas locais ou foraneas; auténticas ou oportunistas, © fato € que as Associagdies de Moradores tenderam a se estruturar € a se desen- volver como uma forga palftica mais ou menos ofetiva, néo importa, em todos os casos Gomo uma expresso propria do nivel de experiéncia e de amadurecimento alcangado Por esta importante fragdo dos movimentos sociais no Brasil. 3 — As Politicas Pablicas e as Associagées de Moradores Até 0 final da década dos cingiienta a situacdo das favalas do Estado do Rio de Jangiro (como também nas maiores cidades do pats como Sao Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife etc.) era de um total abandono.* As favelas se formavam e se expandiam sem a minima assisténcia do poder pibli- co. Eram consideradas como antros de marginais e a presenga governamental s6 se ma- nifestava através das “hatidas” policiais na caga de bandidos, ocasido em que os domi- Ctlios miserdveis eram desrespeitados e vasculhados sem nenhum constrangimento, Em vésperas de eleigéos seus habitantes eram visitados por pol ticos, candidatos 8 cargos eletivos 4 caga de votos, Entdo surgiam as promessas e as “realizages”: a ins- Fundagao Escola de Servigo Pliblico RJ 244 Politica © Administragao PUCRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/200s. talagdo da bica de 4gua, o trator para aplanar o terreno do campo de futebol, o subst- dio para a Escola de Samba, e 0 emprego para agradar a um ou outro indivfduo que se havia destacado com alguma lideranca e que se prestasse para a fungdo de “‘cabo-eleito- ral" Qualquer destas pequenas doagdes assegurava ao pol/tico um razodvel “curral eleitoral’ pois este se transformava no “protetor” da tavela.® Ademais do politico, as favelas possuem outros protetores: O padre, figura tipica em praticamente todas elas, exerce 0 papel de mediador, nao somente entre os figis e a Igreja como sobretudo entre a populagdo e o Estado nos momentos de conflito. “’bicheiro”, o contraventor que utiliza setores da populagdo favelada como uma de suas bases para a manipulagdo da contravencdo, pois esta é sem duvida uma fonte adicional de empregos, Devido 3 sua vinculagao com a favela, 0 “‘bicheiro”’ con- solida lagos de fidelidade com os moradores (sobretudo quando existia a represso po- licial a0 Jogo do Bicho), os bicheiros se transformaram nos grandes patrocinadores das Escolas de Samba e dos blocos carnavalescos — as entidades mais queridas da popula- 0 pobre do Rio de Janeiro —e portanto, muitas vezes, em controladores dos "currais eleitorais”. O bandido, ou contraventor-menor (nos diltimos anos vem adquirindo uma im- portancia bem maior devido ao trafico de drogas) — em geral, ¢ um individuo que se estaca por um alto coeficiente intelectual e por qualidades inatas de lideranga, que em uma sociedade mais justa poderia haver sido um cientista ou um I{der pol{tico — utiliza miltiplas formas de contravengdio, forma uma “equipe"’, 2 quadrilha, acumula um oer- to “capital” e, seja por uma questao sentimental, seja para adquirir a “cobertura do morro”, presta servigos 4 populaciio favelada (muitas vezes chega até a se expor por ola} @ recebe, em troca, o abrigo diante da persequigo da policia, seja porque a mesma 6 considerada um inimigo comum, seja pelo temor das represélias de quadritha. Os estudantes ¢ intelectuais da esquerda que, a partir do final dos anos cinqiienta @ no comego dos sessenta, comegam a subir os morros, dando vazdo as suas inquieta- ges diante dos “problemas sociais” para os quais foram despertados pelo avango do movimento popular — especialmente operério e camponés — no Brasil e na América Latina e que se alastra depois do triunfo e consolidagéo da Revolugéio Cubana. Esta forma de “protegtio’’ se exercia através da conscientizagdo e da “ajuda” pa- ra que 0s favelados se organizassem, fosse no interior da favela, fosse no nivel do in- gresso de suas liderangas aos pequenos partidos de esquerda, Tal trabalho de conscientizacao praticamente ndo obteve resultados a curto pra- 20, porém, representou de certa forma um estimulo para o desenvolvimento de uma li- deranga mais auténtica nas Associagées de Moradores e, sobretudo, ajudou a colocar na ordem do dia do cenério polftico nacional a questo das populagdes urbanas de baixa renda, sensibilizando a opinido piiblica para a sua situaco espectfica,® Diz (amos acima que o poder piblico — embora 0 Rio de Janeiro fosse até 1960 a Capital Federal — néo se preocupou seriamente até quase a metade dos anos sessenta com a defiriigo de uma pol ftica espectfica que buscasse equacionar a questo das Fa- velas. Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 245 Politica e Administragao PUCRSIBIBLIOTEGA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9610/1998 E LE! 10.696/2003 PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9,610/19 Foi a Igreja Catélica, sob a lideranga do entdo Bispo do Rio de Janeiro, D. Hé der Camara, que organizou, ainda nos anos cinglienta, a chamada Cruzada So Sebasti- 8 — 0 padroeiro da cidade — visando a organizar as favelas em torno de suas reivindi- cages fundamentais de casa propria e servigos bésicos. Tal campanha tratou de levan- tar, pela primeira vez, a questo crucial da urbanizag3o destes aglomerados urbanos Seus éxitos materiais foram limitados, apesar de que D. Hélder conseguiu recursos in ternacionais para a construcdo de alguns conjuntos habitacionais proximos ou vinoule- dos a algumas favelas (¢ 0 caso, por exemplo, da favela do Morro Azul).7 Quando a Capital Federal foi transferida para Brasilia ¢ 0 Rio de Janeiro se con- verteu em Governo Estadual, este teve de enfrentar a realidade da favelizagéio de am- los espacos geograficos do Municipio e de definir entZo uma concepeda especifica em relagdo & mesma. resultado foi a politica de remogo das favelas que passou a ser implementada a partir do governo de Carlos Lacerda, especialmente a partir do golpe de 1964. Foram atingidas durante os governos de Lacerda, Negro de Lima e Chagas Freitas 80 fave- las®. Tal politica tinha como objetivo a recuperagio de terrenos valiosos, como jé foi destacado antes, e como pretexto a limpeza da urbe dos indesejados 'focos de mar. ginais". Para isso, Lacerda dispds de uma ampla ajuda do governo norte-americano para a construgdo de conjuntos habitacionais localizados na periferia da cidade, tais como Vi- la Alianga e Vila Kennedy (Sic). Tal ajuda se situava muito bem no contexto des pro- fundos lagos de amizade entre ambos governos que se haviam estreitado definitivamen- te como do golpe militar de 1964, para o qual a contribuig&o dos EUA hevia si definitiva. ..? A politica de remocéo foi implementada, utilizando de todos os recursos cabi- veis: desde as tentativas de convencimento de que as novas casas eram "modernas” & “definitivas até o uso exacerbado da violéncia policial ou do’ terrorismo, como o in CSndio na favela do Pasmado. Contudo, tal pol ftica foi implementada epenas parcialmente. Algumas favelas re- sistiram a sua remo¢do, como foi o caso do Vidigal e de Brés de Pina (onde foi efetua- da a remogo de apenas 1/3 dos habitantes e onde posteriormente se tentou efetuar uma experiéncia-piloto de urbanizagdo em um terreno contiguo). Outras ndo chegaram a ser tocadas pela auséncia de op¢ao habitacional para sous moradores e, finalmente, muitas novas favelas continuaram a broiar como cogumelos depois das chuvas. Ao invés de destinar os amplos recursos que foram postos na época a disposi¢ao do governo do Estado do Rio de Janeiro (através de vultosos empréstimos que a médio a longo prazo comprometiam a soberania do pa(s), na melhoria das condigées de vida das populagGes carentes, os sucessivos governos comandados por empresdrios e opera- cionalizados por burocratas civis ¢ militares, formularam projetos faradnicos para bono- ficiar as classes médias e altas e sobretudo para criar fontes adicionais de acumulagao de capital para as grandes indiistrias e empreiteiras, As grandes obras de construcSo — tais como o aterro do Flamengo, a ponte Rio- Niteréi, 0 complexo habitacional da Barra da Tijuca ¢ suas vias de acesso, os novos via- dutos, elevados etc., — atrafam a mdo-de-obra barata do interior do Estado e de outras Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 246 Politica © Administragao 8 E LEI 10.695/2003. regides do pais, acentuando mais ainda o problema da habitago popular. Neste contexto era natural que as Associagdes de Moradores se desenvolvessom ‘como um instrumento de organizago para a auto-defesa da populagdo favelada. Assim, elas tendem @ se agrupar em torno da FAFEG — a Federagdo das Favolas do Estado da Guanabara — que havia sido criada por inspiragdo principalmente do go- verno ¢ dos padres, mas também de estudantes e intelectuais. Até 0 final dos anos setenta a atuagao das Associagées de Moradores soré marca- da por uma tOnica defensiva, ou seja, a de impedir as remagdes ¢ orientadas por uma concepeSo paternalista de que sua sobrevivéncia dependia de protetores, sejam eles 05 padres, 0s politicos, os bicheiros ou os bandidos. . A partir de 1979, com a abertura politica e 0 processo de democratizaciio que comeca a tomar curso no pals @, tendo em vista os embates eleitorais que se avizinhe- vam através das eleicdes diretas para 0 governo do Estado, a segunda administragao de Chagas Freitas no Rio de Janeiro resolve reorientar a atuacdo do poder pliblico diante das favelas e passa a reconhecé-las como uma realidade de fato (Sic!) ‘Admite-se entio que as favelas no sariam mais removidas, porém, ndo se toma nenhuma providéncia no sentido de legalizar a propriedade dos lotes, Apenas se imple- mentam algumas obras nas periferias das grandes favelas — as que possuem maior con- centragéio de eleitores — como pavimentaciio das vias principais de acesso, escadarias, algumas “‘creches” e “‘escolas"’ para criangas de até 6 anos de idade, extensdo da rede de égua potével e da rede elétrica Para coordenar ¢ implementar ostas atividades, junto a um eleitorado de potenci- al demasiado significativo, 0 prefeito do Munie(pio indicado por Chagas Freitas, Israel Klabin, cria ainda no ano de 1979 a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que tem por finalidade “promover 0 bem-estar social, através de iniciativas proprias & da articulapio de programas e agdes vineuladas a0 Poder Piblico @ iniiative priva- da’ Diante dessa nova situagdo, quais sero as tendéncias de evolucao do movimento social dos favelados, liderados por suas Associagies de Moradores? 4 — Evolugio Politica Recente das Associagées de Moradores Segundo Eli Diniz, as “Associagdes foram criadas e regulamentadas, ao longo dos anos sessenta, expressando uma iniciativa da administragdo estadual com o objetivo de institucionalizar um canal de comunicagdo entre as comunidades faveladas e os orgéos estaduais competentes. As formas de vinculagdo das Associagdes de Favelas as agéncles governamentais sofreram algumas modificagSes através do tempo, prevalecendo, a par tir de 1967, a tendéncia a subordind-las & supervisdo de determinados érados, que deve- riam aprovar seus estatutos e relatérios financeiros”’. As associages passam a ser, Se- gundo a mesma autora, “canals privilegiados de acesso dessa populagdo ao poder pu- blico, em suas insténcias estadual e sobretudo municipal” Porém, as Associages de Moradores em suas origens estavam também em geral « vinculadas as iniciativas promovidas pela Ags Catélica. Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 247 Politica e Administracao BLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1991 8 E LE! 10.698/2008. PUCRSIBIBLIO” Se bem que hoje em dia é possivel encontrar nas favelas uma multiplicidade de pequenos templos que atestam uma ampla variedade de crengas e cultos —e que coe- xistem com os terreiros de macumba e outras praticas religiosas de origem africana — tal diversificago jamais chegou a questionar a hegemonia indiscutivel da Igreja Catéli- ca no campo da 16, apesar da existéncia de um amplo sincretismo religioso entre os se- tores populares. Tal influéncia desta Igreja junto a0 movimento social dos favelados fez com que @ evolugo do mesmo acompanhasse, de certa forma, a evolugéo da propria Igreja no Brasil. Esta evoluiu — pelo menos em seus setores mais significativos, justamente com aqueles que mantinham um contato mais permanente com as populagdes carentes — de uma posigdo conservadora, e mesmo reaciondria, quando nos anos sessenta apoiou © golpe de 1984, para uma posigéo orftica ao sistema capitalista expressada na sua “opgo pelos pobres”. Tal “op¢ao" naturalmente refletia a preocupagdo da Igreja por manter a sua lide- Tanga junto aos setores carentes, no seio dos quais o regime implantado em 1964 agu- ou espontaneamente o descontentamento e a critica (esta nem sempre manifesta de- vido ao “'terrorismo do:Estado” ostensivo ou latente).. As varias “Pastorais de Favelas’' langadas pelo clero, nos anos setenta, buscam fa- zer reverdecer a sua influéncia no movimento favelado, protegé-lo da influéncia dos “pelegos’’, através da intensificago da formagéio das ‘comunidades de base”. Tais co- munidades, organizadas pelos padres, tém como objetivo a conscientizagao polftica dos figis através da discusséo dos problemas locais e nacionais, Estas comunidades de base ajudaram @ conformar todo um clima politico demo- Cratizante e foram uma das pontas de langa da luta pela anistia, Sua evolugiio ldgica foi © engajamento de setores significativos, no final da década de setenta e in{cio da de oi- tenta, numa opgdo partidéria de cunho eclesidstico: 0 Partido dos Trabalhadores. ! Contudo, no Rio de Janeiro, tal peo foi limitada devido ao reaparecimento no cendrio estadual do fendmeno do brizolismo. > Todavia, j4 nos anos setenta, @ Ireja ndo dispunha mais de um controle domi- ante sobre as liderangas das favelas. Quando se forma a FAFERJ (Federagao de Fave- las do Estado do Rio de Janeiro) que ¢ a evolugéio da FAFEG depois da fusdo do anti- go Estado da Guanabara, so outras as influéncias que irdo predominar sobre as Associ- ages de Moradores, Entre estas se destaca a corrente chaguista, (que controla a FAFERJ !) aquela vinculada ao entdo governador Chagas Freitas e que, embora tenha feito apenas peque- ‘nas obras de beneficiamento das grandes favelas, logrou cooptar uma quantidade bas- tante significativa de Ideres locais através de concessSes e favores pessoais, chaguismo controlava a maior parte das AssociagSes, porém o candidato opo- sitor a0 governo do Estado, Leonel Brizola, ganhou as eleigdes com ampla maioria em todas as favelas e regides pobres, Havia, também, por certo, o controle das Associagées por parte dos partidos de esquerda atuantes dentro do PMDB. Contudo, como estes partidos se confundiram com 0 chaguismo por estarem todos reunidos sob 0 amplo manto de PMDB, os mora- Fundago Escola de Servigo Publico RJ 248 Palttica @ Administrapéo PIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.695/2003 dores no acompanharam as instrugdes eleitorais dos dirigentes das Associagées por eles controladas, optaram pelo PDT de Brizolae, apés seu triunfo, aqueles ficaram des- providos de sua base de atuagao, a maquina governamental. ‘A politica implementada pelo governo Brizola tem outorgado prioridace as po- pulagées de baixa renda e as favelas em particular, de forma sem precedentes na hist6- ria dos sucessivos governos do Rio.?* Diante de tal postura, a mobilizag3o comunitéria das populagées de baixe renda tende a desenvolver-se de forma independente em torno das questBes concretas e de relevancia fundamental para as mesmas. Assim, as expectativas dos favelados se concentram nas resolugdes das questes de habitagSo, qualidade de vida, sabde, educaggo, seguranca e transporte, elevando 0 seu nivel de consciéneia politica e social. ** A antiga lideranca chaguista ndo resta seno a op¢ao entre ser superada ou supe- rar 0 seu comportamento anterior. Nas condigées do restrito desenvolvimento pol/tico de uma sociedade como a brasileira, recém saindo de duas décadas de autoritarismo, o Ifder popular é o indivi duo pragmético, Sobretudo o Ider de favela que encabega uma luta pelos direitos mais elomentares de existéncia e que, contudo, haviam sido sistematicamente sonegados. Es- te homem sabe que 0 pouc que se consegue é algo to substantivo quanto @ dgua, a luz, a escola, 0 posto médico, o esgoto, a legalizagiio da posse da terra, o meio de trans- porte, a contengdo das encostas para o terreno no desabar sobre as casas. Essas séo rei- vindicagdes minimas dos favelados, mas sdo para eles as questées cruciais. 0 favelado, portanto, néo quer ser um opositor como os pol ticos que perdem as eleigdes ou como os indivfduos conscientes que se guiam por princ{pios. O favelado quer resolver os seus problemas imediatos, porque deles depende a sua sobrevivencia e a de seus filhos. Por isso, as Associagées de Moradores do Rio de Janeiro enquanto tais, tenderd0 a apoiar este governo ¢ apoiardo a qualquer futuro governo que trate de encaminhar a resolugdo de seus problemas mais essenciais. Ontem foram chaguistas, quando Chagas Freitas resolveu, em seu segundo governo, pelo menos respeitar a existéncia das favelas. Hoje, so brizolistas quando Brizola executa seu ambicioso programa de urbanizagao das favelas. Antes, ndo haviam conseguido quase nada, hoje esto conseguindo bastante mais. Amanhé, por certo, no se conformaro jamais que se volte aos métodos do pas- sado e que 0 poder piiblico desconhega os seus problemas ou trate de desapropriar 0 que foi conquistado. E nesta linha de racioc{nio que é poss{vel visualizer um grande avango, uma enor- me acumulago de forcas por parte do movimento social das favelas, que é prenuncio ‘de uma nova postura pol/tica, que jamais poderd ser enquadrada dentro de posturas de- magégicas e que tende para o fortalecimento da consciéncia social, através da percep ‘cdo dos seus direitos bésicos de cidadania. Esta percepgiio esté calcada sobre uma comprovep3o de que qualquer governo pode e deve realizar uma pol tica prioritariamente voltada para a atengdo das necessi- Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 249 Palltica @ Administracao PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL = COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. dades fundamentais das amplas maiorias das populagées carentes, ainda que tal politica secrifique, a curto prazo, outras nevessidades, com aquelas vinculadas ao processo de modernizagéio urbana. 5 — Conelusées Atualmente existem registradas na FAFERJ mais de 300 Associagdes de Morado- res com situagaio plenamente legalizada segundo registrou seu dltimo congresso, Deve- se destacar que em vérias favelas existem mais de um agrupamento representative de Parcelas da comunidade (mais de uma associag&o, Igrejas, Escolas de Samba, Partidos, liderangas informais que capitalizam & sua volta grupos de pessoas tais como "bichei- ros", cabo-eleitorais, “‘contraventores”* etc.) @ que j4 existem mais de 400 favelas no Rio de Janeiro, Tal situagdo reflete bem a multiplicidade de posigées de seus moradores, bem co- mo as influéncias que se exercem informalmente sobre a populacdo favelada e que ten- dem a orientar a sua postura em relagdo 3 problemética interna e externa a propria fa- vela, A favela, como uma micro-sociedade, abriga em seu seio diferenciagées mais 0U menos agudas que se expressam em torno de seitas, religiées, partidos pol ticos, clu- bes, relagdes pessoais etc. Por isso, é dificil encontrar uma lideranga hegemdnica @ consensual como a da Associagdo de Moradores da tradicional favela do Boral. Em geral, as Associagbes S40 Pouco representativas, inclusive pelo fato de que foram reprimidas durante o perfodo do autoritarismo @ apenas comegou o seu proceso de reestruturacdo no segundo gover- no de Chagas Freitas, a partir de 1979, no contexto da abertura politica. Ora, as Associagdes apoiadas polo aparato administrativo e eleitoreiro do chaguis- mo dificilmente teriam as melhores condig&es de se afirmarem como uma lideranga au- téntica da comunidade, Da mesma forma, as liderangas identificadas com a, |greja Catolica ou outras igre- 128, por mais unificadoras que sejam, ndo deixam de refletir uma divisdo entre 05 mora- Gores que passa pela crenga religiosa mas que termina na prépria postura politica dos administradores da fé. A questo da representatividade na comunidade favelada 6, pois, particularmente complexa e essa complexidade se deve, em tiltima instancia, ao nfvel ainda rudimentar do desenvolvimento da consciéncia demosrética e participativa na sociedade brasileira E ilustrative desta consideraciio 0 fato de que ainda 6 baixa a porcentagem de Moradores inscritos nas Associagdes, raramente estas so representativas da maioria da populacao local ¢ a participagao da mesma nas assembléias e eleigdes da diretoria 6 bas- tante restrita na maioria das favelas cariocas.'® Contudo, os favelados, mais do que qualquer outra comunidade, tm problemas comuns, problemas que sdo de todos e que, portanto, s6 podem ser resolvidos coletiva- mente. Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 250 Politica e Administragéo PUGRS/BIBLIOTEGA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9,610/1998 E LEI 10.695/2003, A experiéncia tem mostrado que nos ultimos anos e, particularmente no Gover- no Brizola, as comunidades faveladas que maiores benef{cios tm recebido so aquelas que retinem duas caracter{sticas: a) uma grande concentrag3o de populacao; b) um razodvel nfvel de orgenizagao e, portanto, uma maior capacidade de reivindica- Jo e combatividade. Nao 6 aleatério que grandes e organizadas favelas, como as da Rocinha, Borel, Pavao, Pavdozinho e Cantagalo, entre outras, tém recebido uma atenedo privilegiada do atual governo do Estado. Tal constatagao conduz a uma conclusdo fundamental ; O efeito de demonstracdo das conquistas obtides pelas grandes e organizadas fa- volas tender a irradiar-se pelo ampla universo das favelas cariocas e serd um forte est/- mulo para a organizagao e a combatividade da sua populagao. Assim, possfvel prever, para curto ou médio prazo: 1) 0 surgimento de novas Associagées de Moradores representativas dos anseios coleti- vos de melhoria das condigSes basicas da existéncia nas favel 2) uma reestruturapsio de muitas das atuais Associagdes, devido a pressdo dos morado- ras no sentido de apoiar liderangas mais auténticas e comprometidas com as reivindica- Bes da comunidade enquanto tal; 3) devido as conquistas obtidas no curso do atual Governo, produtos da organizagao & mobilizago popular, 6 bastante viével um maior desenvolvimento da consciéncia poli~ tica e social da populagao favelada, junto a evolucao de sua capacidade critica em rela- co as influéncias foraneas instrumentalizadoras das caréncias da miséria destes setores populares. ; Notas 1 0 Estado do Rio do Janeiro possui uma érea de 43.305km”. A densidade demogréfica 6 de 268 h/km? no Estado; 1.536 h/km? na Regido Metropolitana e de 4.697 h/km? no Municipio do Rio. 2. IPLAN-RIO, Contribuiego aos Dados de Populagio das Favolas do Municipio do Rio de Jeneiro = Julho de 1984. 3. Veja-se Carlos Nelson Ferreira dos Santos, Trés Movimentos Sociais Urbanos no Rio de Janeiro, dissertagdo de Mestrado aprosentada ao Programa de Pos-Graduaco em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1979. , 4 Assim nos diz. Licia do Prado Valladares om seu livro Passa-se uma Casa, Zahor Editores, 1978: "38 0 Codigo do Obras, de 1936, previa sua eliminagéo e interditava a construgso de novas fave- as, bem como a introducéo de quaisquer melhorias nas jé existentes (artigos 347 @ 349). Em 1941-1943, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (. . .) elaborou um projeto de higieniza¢ao dat favolas. © objetivo era transferir suas populagées para alojamentos temporérios, enquanto se construiam nos locais das favelas as casas definitivas, de elvenaria. Foram onto destruidas quatro favelas, sendo 8,000 pessoas transteridas para os Parquas Proletarios em niamero de trés (da Gavea, Fundagao Escola de Servigo Publico RU 251 Politica e Administragao PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - COPIA NOS TERMOS DA LEI 9.610/1998 E LE! 10.6 ‘do Coju @ da Praia do Pinto)’. Segundo a mesmo autora, em 1956 foi criado o SERFHA [Servico Especial de Recuperacdo des Favelas e Habitacdes Anti-Higiénices) que “tornou-sa o primeiro orgo- rnismo oficial voltado pracisamente para a urbenizog5o das favelas”, 0 foi quem criou, em 1961, ex Associagbes de Moradores. pp. 22 ¢ 23. 5. Em pesquisa reslizada junto ® 103 prasidantes das Associacdes de Moradores de favelas do Rio de Joneiro, Eli Diniz destaca o jufzo predominante @ severo da lideranga favelada em relaclo 20s politicos, especificamente om relago aos deputados @ vereadores: ". . . na percepsio da maioria dos entrevistados, a polftiea aparece como ume atividade vazia 8 estéril, incapaz de conduzir a al- uma mudanga substancial nas condigdes dé vide de populagéo favolada. Dois foram os pontos mais, acantuadlos. Em primeiro lugar, a associe¢So da politica com a demagogia, paternalismo, manipula- Géo da confianga dos eleitoros, irresponsebilidade face & promessas foitas, falta de compromisso Com as palavres @ com es expectativas criedas no perfodo eleitoral. Em segundo lugar, foi também, -onfatizada a imagom do pol(tico como essencialmente interessei i mente 0 apoic eleitoral, ou ainda como carreirista, preocupado apenas com seus intaresses pessoais, ligados & asconsio e permanéncia no poder. Em tois respostes, transparece a falta de compromisso com 0 bem publico como um trago caracteristico da atuacso do politico. Além disso, a desonosti- dade e a corrupgio foram também apontados”, —- ) Portanto — prostogue 2 pesquisadora — 0 papel do politico ¢ pouco valorizedo @ percebida asicamenta através de sou impacto negativo"”. Contudo, os entrevistadés admitemn que "6 possivel ‘aproveitar as brechas, através das relacBes pastoais de lealdads, através de contatos informais com {um determinado pol(tico’para obter ume pequena melhoria para a comunidade ou mesmo uma aju. da individual. Assim, a rade cliontelfstica 6 aceita por uma parte dos presidentes entrevistados coma uma forma de sobroviver num meio indiferente @ até adverso”. Favela; Associativismo @ Participa. ‘pao Social, Rio, setembro de 1981, mimeo. 6 No comego da década dos sessenta a UNE (Unido Nacional dos Estudantes), através do seu CPC (Contro Popular de Cultura) abordou de diversos angulosa questo das favelas, Muito impacto ‘causou na 6poca 0 documentirlo realizado por este, Cinco Vezes Favela, onde a sua problemética foi tratada com toda propriedade, Tal documentério sa transformou, nfo s6 pelos sous valores in. ‘teinsecos, mas sobretudo pela forma como abordou @ questi social, em uma obre cléssica de cing. ma brasileiro. 7. A Igreja tradicionalmente sempre se preocupou em desenvolver uma atitude assistencialista junto & populago de baixa renda. No Estado, a antecessora da Cruzada foi a Fundaggo Leo XIN, criada em 1947 pelo Cardoal D. Jaime de Barros Cémara com o objetivo de, através da iniciativas de promogio social ~ como organizagéo de creches, distribuigo de alimento etc. — combater a cha- mada penetragio subversiva. Tal fundagdo foi, postariorments, incorporada ao Estado, 8 Vejase Licia do Prado Valladares, Passa-se uma Casa, op. cit., p. 39. Os dados registrados pola COHAB-GB e citados pela autora so 0¢ soguintes: Durante 0 Govorno de Carlos Lacerda, foram vvitimes de remogo 27 favolas, com um total de 8.078 berracos removidos e 41.958 habitantes. Ne ‘gosto de Negro de Lima foram atingidas 33 favales, removidos 12.782 barracos ¢ 63.910 habitan tes. No perfodo de Chagas Freitas foram atingidot 20 favelas, removidos 6.333 barracos 0 26.665 habitantes. No seu conjunto as remogées afetom a 80 favelas, 26.193 barracos e 139.218 habitantes, 9 Voja-te a este respeito o livro de René A. Dreifuss, 1964: O Assalto ao Estado, ed. Vores, Rio de Janeiro, 1982. 10 Decreto nimero 2.290, publicado no Diério Oficial de 20 de setembro de 1979. 11 Op. cit, p.1 12 Voja-so nossa anélise Os Programas dos Partidos Politicos do Brasil, Assombldia Legislativa do Rio Grande do Sul, 1981. Fundagao Escola de Servigo Pilblico RJ 252 Politica e Administracéo P CRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NOS TERMOS DA LE! 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. 13. Brizola reascendeu a esperanga do povo ao resgatar a memoria histrica das lutas nacionalistas, democraticas e pela defesa intransigente da legalidade que derrotou o golpe militar de 1961. ‘Ademais, Brizola era 0 inimigo principal de Lacerda, o removedor de favelas. . .e era a antitese do chaguismo, a sintese da corrupeao com a desesperanca, 14 Estd sondo desenvolvido 0 plano de legalizagio da posse dos terrenos urbanos contemplando ‘entrego de “a coda familia um loto", que ¢ uma das reivindicagdes mais relevantes dos setores popu: lares. Ademais, se estd implementando o projeto de urbanizaéo das tavelas através da construgdo de vias de acesso, seneamento bético, extensdo da rede de Sgua potivel ¢ eletricidade, contengio de fencostas etc, A atencio 4 salide através dos postos médicos; sequranca publica, por meio da reorien- tagiio essencial do comportamento da policia. Pordm, a énfase especial é posta no terreno da educaedo através da expansdo da rede escolar @ 2 eli- ‘minagéo do tereairo turno, criando uma jornada escolar de no minimo & horas diérias. Por outra parte, se esto integrando ao sistema educativo as criangat de § a 6 anos, permitindo 0 a tendimento de mais de 500 mil, um aumento portanto de 150%. O governo estadual jé implantou a Fabrice de Escoles para produzir pegas pré-moldadas quo reprasantam um investimento de cerca de 120 bilhdee de cruzeiros ou 40 milhdes de délares ao cambio atu Esta fabrica tera como meta produzir, num periodo de 4 meses, 150 CIEPs (Centro Integrado de Educagdo Publica) para atondor a 150 mil criancas em jornacia completa [nos CIEPs ademais as cri- angas receberdo assisténcia médico-odontologice, cursos espacials de tormacdo arristica etc.); 150 Casas da Crianga com uma capacidade de aten¢io de 1500 criancas do pré-escolar e 150 Escolas Isoladas para a substituigao do terctiro turno. ‘Adomais, a Avenida dos Desfiles ou Sambédromo, jé est4 funcionando como escola ¢ terd uma ca- pacidade de atendimento da ordem de 15.000 alunos. Tambdm jd estdo em funcionamento outros CIEPs, como 0 de S80 Cristovdo e breve estard em plena atividade o enorme complexo educacional de Ipanema (este é 0 resultado da deeapropriagio de um edificic em construgfo, cujas obras haviam sido paralisadas, e que deveria posteriormente transformar-se num luxuoso hotel localizado em uma regido onde 0 prego do metro quadrado é dos meis caros do mundo), Todzs estas realizagdes ostio voltadas fundamentalmente para o atendimento das criangas dos seto- res populares e carentes, indicagdes prioritérias 15. Ainda segundo a pesquisa realizada por Eli Diniz, s80 as sequintes as, das Associagdes de Moradores: Canalizagao de valas @ esgotos ~ 70% = Abastecimento de dgua — 57% Legalizacdo da posse da terra ~ 52% = Luz elétrica — 40% - Escolas, postos da satide ~ 29% -Policiamento ~ 17% = Coleta de lixo e limpeza — 16% + Transportes ~ 4% op. cit., p. 58. 16 Eli Dini 1 OP. cit. ABSTRACT Slums should not be considered only as an urban deformity of industrial centers but ‘as 2 typical characteristic of thom, as a necessary result to the development of the capitalist mode of production. In this essay, objective conditions that served as a basis to the evolution of slurn-dwellers’ movements in Rio de Janeiro State are cussed. The Dwellers Associatons deserve a special attention of the author, and the work reaches a fundamental conclusion; the effect of demonstration of conquests obtained by large and organized slums will tend to irradiate through the greater Universe of Rio's slums and will be a strong stimulus to the organization and combati- ty of their population. Fundagao Escola de Servigo Publico RJ 253 Politica @ Administragéo ERMOS DA LEI 9.610/1998 LEI 10.695/200: PUGRSIBIBLIOTECA CENTRAL ~ COPIA NC

Potrebbero piacerti anche