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DEUS, CRISTO E CARIDADE

FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE ANO 136 | N° 2.269 | ABRIL 2018

A GÊNESE
Qual a edição definitiva?

Tristeza excessiva e depressão


9 771413 1740 08
ISSN 1413 - 1749

Nem tudo o que se publica é Espiritismo


Intolerância religiosa
R$ 10,00
Disponível para o Movimento Espírita!

Plano
de
Trabalho
para o
Movimento
Espírita
Brasileiro
2018–2022

Instrumento de abrangência nacional para o planejamento


de ações pelas entidades federativas estaduais, seus
órgãos de unificação e pelos Centros Espíritas.
Expediente Sumário

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
04 Editorial
A gênese e sua edição definitiva
05 Capa
A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo
Fundada em 21 de janeiro de 1883 Edição definitiva
Fundador: Augusto Elias da Silva 09 Coragem e responsabilidade – Vianna de Carvalho (Espírito)
12 Faxina planetária – Mário Frigéri
16 Esflorando o Evangelho
Revista de Espiritismo Cristão Quem és? / Kiu vi estas?
Ano 136 | N° 2.269 | Abril 2018
17 Intolerância religiosa – Orlando Ayrton de Toledo
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da Federação
20 Aura e intercâmbio mediúnico
Espírita Brasileira Waldehir Bezerra de Almeida
Diretor: Jorge Godinho Barreto Nery
Editor: Evandro Noleto Bezerra 23 Em dia com o Espiritismo
Redação: Affonso Borges Gallego Soares, Geraldo Tristeza excessiva e depressão em crianças
Campetti Sobrinho, Hélio Blume, José Carlos da Silva
Marta Antunes Moura
Silveira e Marta Antunes de Oliveira de Moura
Jornalista Responsável: Carlos Roberto Campetti
28 Lei de Destruição – Luiz Julião Ribeiro
- DRT DF 539/83
Coordenadora da Editora: Rosiane Dias Rodrigues
32 Nem tudo o que se ­publica é Espiritismo
Projeto gráfico: Eward Siqueira Bonasser Jr.
Diagramação: Rones Lima – www.bookebooks.com.br Marcus De Mario
Revisão: Mônica dos Santos
Brasil Espírita: Mayara Paz Costa 34 Páginas Escolhidas
Capa: Arte Rones Lima Desaparecimento do corpo de Jesus
Foto: istockphoto.com/sumroeng
36 Manifestações espíritas – Jorge Leite de Oliveira
Registro de publicação n° 121.P.209/73 (DCDP do
Departamento de Polícia Federal do 41 A Sociedade de Pesquisas Psíquicas e as
Ministério da Justiça) correspondências cruzadas
CNPJ: 33.644.857/0002-84
I.E.: 81.600.503
Licurgo Soares de Lacerda Filho

Direção e Redação
45 Campanha Nacional do Estudo Sistematizado da
SGAN 603 Conjunto F — L2 Norte Doutrina Espírita – 35 anos
CEP: 70830-106 — Brasília (DF) Os Espíritos respondem...
redacao.reformador@febnet.org.br
48 Considerações sobre A gênese, os milagres e as
////////////////
www.febnet.org.br predições segundo o espiritismo
feb@febnet.org.br
49 O Filho do carpinteiro – Clara Lila Gonzalez de Araújo
PARA O BRASIL
Assinatura anual: R$ 100,00
53 Refúgio de paz e segurança – Lucy Dias Ramos
Assinatura digital anual R$ 30,00
55 Apreciação da obra sobre a Gênese – São Luís (Espírito)
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual: US$ 100,00
56 Aparições – Ricardo Di Bernardi
59 Convite ao bem – Patrícia Carvalho Saraiva Mendes
Contatos para Assinatura:
Tel.: (61) 2101.6153
www.feblivraria.com.br
www.souleitorespirita.com.br 61 Brasil Espírita
Editorial

A gênese e sua
edição definitiva
///////////////////////////////////////////

E
m face das discussões, ain- sedimentada em bases “adulte- detrimento do ensinamento
da em foco, quanto à ver- radas”, por certo os benfeitores geral. Mais de uma vez, o per-
são definitiva de A ­gênese, espirituais já se teriam pro- sonalismo perturbador esteve
os milagres e as predições segundo nunciado pelas mediunidades ameaçando a unidade dos cris-
o espiritismo, a FEB, por meio de abençoadas, a fim de aponta- tãos primitivos. [...]
seu Conselho Diretor, já esclare- rem os supostos equívocos ou [...]
ceu as razões ou evidências que a solicitarem os devidos ajustes. Dois mil anos depois, frequente-
levaram a optar pela 5ª edição da Este fato, até agora, não acon- mente ressurgem questões pal-
obra como a versão definitiva do teceu, a despeito de já se terem pitantes e graves que ameaçam
derradeiro livro da Codificação passado cento e cinquenta anos! a estrutura do programa espírita
Espírita. Muito ao contrário: quando de implantação na Terra, tor-
E o fizemos pela inexistên- se pronunciam, os benfeitores nando-se necessário que a ins-
cia de provas cabais à pretensa mais não fazem que ratificar a piração do Mestre verta do Alto
falsificação do livro, não ven- solidez da Codificação Espírita asserenando os ânimos exalta-
do nas ilações apontadas por e a preservação de seus valores. dos, estabelecendo a linha bási-
alguns senão probabilidades, A título de exemplo, recorra- ca da verdadeira fraternidade.
até agora jamais confirmadas, mos ao venerando Dr. ­Bezerra Não nos esqueçamos de que
e concluindo, dentro do bom de Menezes, em trechos de uma devemos preservar os valores
senso e da boa lógica, que só ele, de suas belas mensagens, recebi- da Doutrina Espírita acima de
Allan Kardec, e mais ninguém, da durante a Reunião Ordinária quaisquer interesses munda-
poderia ter sido o verdadeiro do Conselho Federativo Nacio- nos de proselitismo, de arrasta-
autor das alterações contidas na nal da FEB, em 2000, e publi- mento, conforme os herdamos
edição revista, corrigida e am- cada na revista ­Reformador de de Allan Kardec e dos Mensa-
pliada, tal qual a conhecemos e janeiro de 2001, intitulada: “Na geiros que o conduziram na
divulgamos hoje. Transição do Milênio”. elaboração da Codificação, a
Além disso, vale considerar herança que deve permanecer
que se a Doutrina Espírita, ali- Recordemo-nos que, desde os inviolável através dos milênios.
cerce de um edifício que resgata primórdios da proposta cristã Tenhamos em mente que o
a pureza do Evangelho de Jesus libertadora, os companheiros Espiritismo cristão, meus ami-
para melhor entendimento das afeiçoados de Jesus optaram gos, é a resposta dos Céus às
verdades ali expostas, estivesse pelas opiniões pessoais em angústias da Terra.

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C a pa

A gênese, os milagres
e as predições
segundo o espiritismo
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Edição definitiva

A
propósito das dúvidas o ano de 1868, só foi publicada ta do seu lançamento: 23 de de-
levantadas ultimamente no primeiro semestre de 1869, zembro de 1872, em sua versão
sobre qual seria a edição já desencarnado o Codificador, revista, corrigida e ampliada.
definitiva de A gênese, os milagres mas guardando as mesmas ca- Como também é do conhe-
e as predições segundo o espiritis- racterísticas das três primeiras cimento de todos, a 5a edição
mo, de Allan Kardec, a Federa- edições, com as quais não se di- francesa, ou as que a ela se se-
ção Espírita Brasileira, por meio ferencia em ponto algum. guiram e que lhe são idênticas
de seu Conselho Diretor, vem A 5a edição de A gênese, os em todos os pontos, é a que
externar oficialmente ao Movi- milagres e as predições segundo o tem servido de espelho para as
mento Espírita nacional o seu espiritismo, diferentemente das traduções nas diversas línguas
entendimento sobre o assunto. quatro primeiras edições, não nacionais dos países do mun-
Como é do conhecimento de contém o ano de seu lançamen- do inteiro, por ter sido a última
todos, a 1a edição da obra veio à to, nem na capa nem na folha de edição revisada. Dela se têm
luz, em Paris, no dia 6 de janeiro rosto, de modo que até recente- utilizado os tradutores febianos
de 1868, seguindo-se, nesse mes- mente não era possível saber-se para o português, inclusive o
mo ano, a publicação da 2a e da com precisão a data em que fora Dr. Guillon Ribeiro, sendo rele-
3a edições, absolutamente idên- publicada. Hoje, e para isso bas- vante observar que a 1a edição
ticas, meras reimpressões da 1a ta que se recorra ao site eletrô- brasileira da obra, publicada
edição. A 4a edição, embora con- nico da Biblioteca Nacional da nos anos oitenta do século XIX
tendo na capa e na folha de rosto França, fica-se a par da data exa- e traduzida por Joaquim Carlos

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Travassos, o Fortúnio, também houve nenhuma alteração depois Além disso, o sucesso ini-
se baseou em edição revista, dessa data. O céu e o inferno, lan- cial de A gênese, que em três
corrigida e ampliada. çado em 1865, só teve como de- meses teve três edições suces-
Não é nova a polêmica de que finitiva a sua 4a edição, publicada sivas (reimpressões), não foi
o derradeiro livro da Codificação em 1869. suficiente para esgotar todos os
Espírita teria sido “adulterado” Mas a questão principal, ale- exemplares antes da morte do
depois da morte de Allan K ­ ardec, gam os que pensam de modo Codificador, ocorrida em 1869,
visto que suprime, modifica diferente, é que a 5a edição de A conforme se depreende de
ou acrescenta palavras, frases e gênese só foi publicada em de- anúncio publicado no feuilleton
­parágrafos inteiros que, no en- zembro de 1872, mais de três do Journal Général de l’Impri-
tender de alguns, não foram redi- anos após a desencarnação de merie et de la Librairie, de 30
gidos pelo seu autor, e isso desde Allan Kardec; além disso, mo- de março de 1872, anunciando
1884, quando, pela primeira vez dificou-se, acrescentou-se ou a promoção da venda de exem-
e sobre o assunto, se manifestou ­suprimiu-se indevidamente pala- plares da 4a edição do livro, ain-
o francês Henri Sausse, autor da vras, frases e parágrafos inteiros, da existentes naquela época!
mais antiga biografia de Allan desfigurando a edição original... Por que, então, publicar nova
Kardec, apontando e discordan- Quanto à primeira obje- edição, em meio a tantas difi-
do das alterações que encontrou ção, cabe observar os seguintes culdades econômicas e sociais,
na 5a edição francesa, ao confron- ­aspectos: e antes de esgotada a anterior?
tá-la com a existente em seu po- A França da época achava-se Analisemos, agora, a segun-
der, publicada em 1868. imersa em dificuldades de toda da objeção, a de que o livro teria
Antes de se entrar no méri- ordem, nos campos político, sido “adulterado”, e com propó-
to da questão, é importante fri- econômico e social, culminando sitos inconfessáveis, pelos con-
sar que nenhuma obra de Allan com as atrocidades cometidas tinuadores do trabalho de Allan
­Kardec teve como definitiva a sua durante a guerra franco-prus- Kardec, porquanto, quem, além
primeira edição, posto que todas siana, declarada pelo regime de deles, teria o poder de fazê-lo? E
sofreram alterações, ao longo de Napoleão III, mas vencida por de publicar a obra sob os auspí-
uma ou de várias edições, com Bismarck, em 1870, a que se se- cios da Livraria Espírita, locali-
vistas ao seu aperfeiçoamento. Só guiram a ocupação de Paris, da zada à rua de Lille e inaugurada
para tomarmos dois exemplos: O Alsácia e da Lorena pelas tropas em 1o de abril de 1869, estabele-
livro dos espíritos, publicado em invasoras, e a guerra civil, que cimento para onde se transferiu,
1857, passou por m ­ odificações resultou da repressão à chama- a partir de então, o escritório de
substanciais em 1860 e, em me- da “Comuna” de Paris. Época de assinaturas e de expedição da
nor escala, nas edições publica- anarquia, verdadeira convulsão Revista Espírita, fundada e diri-
das em 1861, 1862, 1863 e 1864, social; de desemprego, de fome, gida pelo Codificador?
isto é, nas 2a, 4a e 5a, 6a, 10a e 12a de frio, de miséria, enfim. Não De fato, a 5a edição de A
edições, respectivamente, de teria sido um dos motivos pelos ­gênese, os milagres e as predições
modo que, para sermos rigoro- quais a 5a edição, revisada por segundo o espiritismo, de 1872,
samente exatos, a edição defini- Allan Kardec antes da sua de- se comparada com a 1a edição,
tiva do livro não é a 2a, de 1860, sencarnação, teve postergada a de 1868, apresenta alterações
mas a 12a, de 1864, porque não publicação? na redação de muitas palavras e

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frases, além do acréscimo e da sofreu algum tipo de alteração. Assim também sucede com os
supressão de vários parágrafos, Chegou-se à conclusão de que encarnados, não só quanto à
isolados ou sucessivos, sobre- as modificações havidas só po- justeza, moralidade ou impro-
tudo nos seus capítulos II, III, deriam ter sido realizadas pelo priedade dos conceitos emi-
XV e XVIII. Mas o que importa próprio Allan Kardec, no intuito tidos, quanto com relação ao
saber é se tais modificações de- de melhorar e tornar mais claras estilo, não tendo sido outra a
turpam, desfiguram, desnatu- diversas passagens da obra, aí razão que terá levado Buffon,
ram a Doutrina Espírita revela- compreendidas a supressão e a naturalista, matemático e es-
da pelos Espíritos Superiores e inclusão de textos inexistentes critor francês do século XVIII,
codificada por Allan Kardec. nas edições publicadas em 1868. a dizer que “o estilo é o próprio
Atenta ao suposto proble- Tais anotações demonstram, homem”, a manifestar-se de for-
ma, a Federação Espírita Brasi- de maneira cristalina, o cuida- ma pessoal e inconfundível.
leira, ainda na década de 60 do do, o empenho, o compromisso Estilo! Quem não reconhe-
século passado, encarregou ao de Allan Kardec em aperfeiçoar cerá o estilo peculiar de Allan
pesquisador e historiador es- toda sua obra. Erros tipográ- Kardec nas alterações – e não
pírita Zêus Wantuil a tarefa de ficos e de francês foram cor- adulterações! – existentes na 5a
confrontar, palavra por palavra, rigidos, palavras inadequadas edição francesa de A gênese? A
frase por frase, linha por linha, foram substituídas, frases im- clareza, a concisão, a objetivida-
a 3a e a 5a edições francesas de A portantes foram destacadas em de, o encadeamento lógico das
gênese, os milagres e as predições itálico, numerações repetidas ideias, a urbanidade e a elegância
segundo o espiritismo, porque, de parágrafos foram sanadas, na forma de escrever são absolu-
então, a FEB não dispunha da alguns parágrafos foram deslo- tamente os mesmos observados
1a edição da obra. Buscava-se, cados de posição para melhor no conjunto de sua obra, aspec-
já naquela época, descobrir se se adequarem ao encadeamen- tos que até podem ser imitados
as alterações, apresentadas na to das ideias que estavam a ser por outros, mas sem o brilho
5a edição francesa e inexistentes expostas, passagens repetidas da sua mente privilegiada, sem
nas anteriores, fugiam, ou não, ou já desenvolvidas em outras o alcance nem a profundidade
aos princípios fundamentais obras foram suprimidas, inclu- verificados nos demais livros da
exarados nas demais obras da sive algumas de certa extensão, Codificação Espírita.
Codificação Espírita, baseados subtítulos e novos itens foram Não há, pois, na 5a edição
na concordância e na universali- acrescentados, mas tudo sem francesa, até prova definitiva em
dade do ensino dos Espíritos. O ferir a harmonia do conjunto e contrário, nada que contrarie os
exemplar da 3a edição francesa sem atentar contra o conteúdo princípios espíritas, exarados
foi xerocado e transformado em doutrinário dos ensinamentos nas obras precedentes do mes-
dois volumes, cuidadosamente revelados pelos Imortais. mo autor, de modo que as su-
encadernados, os quais se en- Mas isso ainda não é tudo. pressões que ocorreram, assim
contram arquivados na Bibliote- Ensina-nos a Doutrina Es- como os acréscimos a ela junta-
ca de Obras Raras da Federação pírita que os Espíritos desen- dos, estão de pleno acordo com
Espírita Brasileira, em Brasília, carnados são reconhecidos pela o pensamento de Allan Kardec,
com as anotações do Zêus, feitas linguagem de que se utilizam alguns dos quais já haviam sido
à margem de cada página que quando nos dirigem a palavra. publicados antes na Revista

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­ spírita, a exemplo do texto
E estivesse convicta da sua auto- que todos fomos convocados:
“Alma da Terra”, incluído no ria, da sua autenticidade. Nada a da nossa transformação mo-
capítulo VIII dessa edição, em disso aconteceu, o que vem re- ral, dos esforços que devemos
complemento ao estudo acerca forçar as evidências de que tais empreender para domar nossas
da “Teoria da incrustação”. alterações não partiram de ou- paixões inferiores. Busquemos,
Por outro lado, há que se tra pessoa, senão Allan Kardec. antes de tudo, a união, recor-
considerar também o depoi- Por que, então, exumar, por dando, com Jesus, que os seus
mento de Armand Théodore estéril e inoportuno, um assun- discípulos serão reconhecidos
Desliens, médium da Socieda- to que o bom senso há muito por muito se amarem.
de Espírita de Paris e secretário tempo se encarregou de sepul- Assim, e até prova cabal em
particular de Allan Kardec até a tar? Por que denegrir a imagem contrário, que por ora não ­existe,
desencarnação do Codificador, de pessoas respeitáveis, con- a Federação Espírita Brasileira
publicado na Revista Espírita temporâneas de Allan Kardec, a continuará divulgando e con-
de março de 1885, em que ele pretexto de defender teses que, siderando como definitiva a 5a
afirma, com todas as letras, que por muito abundantes sejam os edição, revista, corrigida e am-
somente Allan Kardec, e mais dados documentais apresenta- pliada, de A gênese, os milagres
ninguém, introduziu as modi- dos, não passam de probabili- e as predições segundo o espiritis-
ficações existentes nas edições dades, sem que uma só prova, mo, de Allan Kardec, publicada
posteriores de A gênese, os mi- uma sequer, venha confirmar, em 1872 e utilizada pelos tradu-
lagres e as predições segundo o definitivamente, que as altera- tores dos livros que editamos.
espiritismo. As pequenas falhas ções encontradas no livro não A FEB Editora lançará, em
contidas nesse depoimento, re- foram realizadas pelo próprio novembro do ano em curso,
lativas ao processo técnico de Allan Kardec? De que autorida- durante a Reunião Ordinária
impressão e reimpressão dos de moral nos achamos investi- do Conselho Federativo Na-
livros editados naquela época, dos para criticar os pioneiros do cional, edições bilíngues (por-
em nada desmerecem ou invali- Espiritismo, justamente os que tuguês e francês) da 1a e da 5a
dam o testemunho de Desliens. secundaram Allan Kardec na edições francesas de A gênese,
Finalmente, não nos esque- ingente tarefa de materializar, os milagres e as predições segun-
çamos de que Amélie-Gabrielle entre nós, a promessa de J­esus do o espiritismo, como parte das
Boudet, esposa de Allan Kardec, Cristo de permanecer eterna- homenagens ao seu sesquicen-
sobreviveu mais de dez anos à mente conosco? Temos que ser tenário de publicação.
publicação da 5a edição france- cautelosos até ao externar nosso
sa da obra. Mulher inteligente, entusiasmo com relação à de- Brasília (DF), 29 de janeiro
beletrista, alma profundamen- fesa das ideias que esposamos, de 2018
te sensível e perfeitamente ali- por mais bem-intencionados
nhada com o pensamento e as que estejamos, a fim de que ila-
ações do marido, por certo ha- ções descabidas não nos trans-
veria de notar os acréscimos e formem em instrumentos de
supressões contidos na edição perturbação e de discórdia, con- Jorge Godinho Barreto Nery
de 1872 e, mais ainda, teria se sumindo nossas energias e nos Presidente da Federação
insurgido contra eles caso não desviando da tarefa essencial a Espírita Brasileira

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Coragem e
responsabilidade
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Vianna de Carvalho (Espírito)

Q
uando o ser humano te de um mundo maravilhoso, dos postulados espíritas e neles
descobre o Espiritismo, é rico de bênçãos que pretende reflexionando, detêm-se nas
tomado por especial ale- fruir, deixando-se fascinar pe- exterioridades das informações
gria de viver, passando a com- las propostas iluminativas de que recolhem, nem sempre ver-
preender as razões lógicas da que é objeto. dadeiras, tornando-se apenas
sua existência, os mecanismos Quando o Espiritismo en- beneficiários dos milagres que
que trabalham em favor da fe- contra guarida no indivíduo, esperam lhes aconteçam a par-
licidade, experimentando gran- logo se lhe despertam os concei- tir do momento da sua adesão.
de euforia emocional. tos de responsabilidade, coragem Com o tempo e a frequência
Quando o Espiritismo pene- e fidelidade à nova conquista. às reuniões, acomodam-se ao
tra na mente e no sentimento Nem todos, porém, alteram novo ritualismo da participação
do ser humano, opera-se-lhe a conduta convencional a que se sem realizações edificantes, ou
uma natural transformação in- acostumaram. Ao entusiasmo entregam-se à parte da assistên-
telecto-moral para melhor, pro- exagerado sucede o convencio- cia social, procurando negociar
pondo-lhe radical alteração no nalismo do conhecimento sem com Deus o futuro espiritual
comportamento que enseja a a sua vivência diária, aguar- em razão do bem e da caridade
conquista de metas elevadas e dando recolher conveniências que acreditam estar realizando.
libertadoras. e soluções para os problemas O conhecimento do Es-
Quando o indivíduo man- afligentes, sem maior esforço piritismo de forma natural e
tém os primeiros contatos com pela transformação moral. Não consciente desperta os valores
a Doutrina Espírita, vê-se dian- se afeiçoando ao estudo correto ­enobrecidos da ­responsabilidade

Abril de 2018 | Reformador 9 199


e da coragem indispensáveis à tempo, apresentarem-se decep- lúcida e clara, com destemor e
existência ditosa. cionados e tristes, informando espírito de ação, para remover-
Todo conhecimento nobre que esperavam muito mais do -lhes os obstáculos e alcançar
liberta o ser humano da ig- Espiritismo e que encontraram os patamares mais elevados de
norância, apresentando-lhe a pessoas confusas e perversas, harmonia e de bem-estar.
realidade desvestida dos for- insensatas e desequilibradas no Em muitos, que permane-
malismos e das ilusões, na sua seu Movimento. cem na irresponsabilidade do
face mais bela e significativa, Da alegria exagerada pas- comportamento e na falta de
por ensejar a conquista dos sam à crítica contumaz, à male- coragem para arrostar as con-
valores legítimos que devem dicência, ao azedume. sequências da sua conversão
ser cultivados. Afinal, essa responsabilida- ao Espiritismo, demorando-se
O homem livre da supersti- de não é do Espiritismo, mas na dubiedade, nas incertezas
ção e dos complexos mecanis- daqueles que o visitam levia- que procuram não esclarecer,
mos da tradição da fé imposta namente e não incorporaram à receando os impositivos da fi-
redescobre-se e exulta por com- Vida Espiritual os ensinamen- delidade pessoal à Doutrina,
preender que é o autor de todas tos excepcionais de que se cons- instalam-se as justificativas in-
as ocorrências que lhe suce- titui a sã Doutrina. fantis para prosseguirem sem
dem, exceção ao nascimento e De igual maneira que esses alteração, esperando que os Es-
à desencarnação, e mesmo essa, neófitos não se preocuparam píritos realizem as tarefas que
dependendo muito do seu com- em conseguir a autoilumina- lhes dizem respeito.
portamento durante a vilegia- ção, o mesmo sucedeu em ou- Outros ainda, viciados na
tura física, podendo antecipá-la tros adeptos que o precederam, conduta da inutilidade, es-
ou postergá-la. acostumados que estavam ao peram ter resolvido todos os
Adquire a responsabilidade ócio espiritual, à leviandade problemas de saúde, família,
moral pelos atos, não mais se religiosa, aguardando sempre economia, surpreendendo-se,
apoiando nas bengalas psicoló- receber sem a menor preocupa- quando convocados aos fenô-
gicas de transferir para os ou- ção em contribuir. menos existenciais das enfermi-
tros a razão dos insucessos que O Movimento Espírita não dades, dos desafios domésticos
lhe ocorrem, dando lugar aos é o Espiritismo. O primeiro é e financeiros, sociais e profis-
sofrimentos e suas inevitáveis constituído pelos indivíduos, sionais, que desejavam não lhes
consequências. bons e maus, conhecedores ocorressem em decorrência da
Compreende que uma ex- e ignorantes das verdades do sua adesão ao Espiritismo...
celente filosofia não basta para Mundo Espiritual, ativos ou Só mesmo a mente insen-
proporcionar uma existência ociosos, que se deveriam inte- sata pode elaborar conceito
feliz, mas sim a vivência dos grar de corpo e alma ao serviço dessa magnitude: basta a ade-
seus ensinamentos, que se tor- de renovação interior e à di- são a uma Doutrina feliz para
nam responsáveis pelo que ve- vulgação pelo exemplo. No en- que tudo lhe ocorra a partir de
nha a ocorrer-lhe na área do seu tanto, para esse cometimento é então, de maneira especial e
comportamento moral. necessária a coragem da fé, essa magnífica!
É comum a esses adeptos robustez de ânimo que enfren- O Espiritismo enseja a com-
precipitados, passado algum ta as dificuldades de maneira preensão dos fatores e­ xistenciais,

200 10 Reformador | Abril de 2018


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O espírita sincero, que se redescobre por meio do conhecimento


doutrinário, transforma-se em verdadeiro cristão, conforme os
padrões estabelecidos pelo Mestre galileu.

dos compromissos que a cada companheiro de todos os mo- conchavos com a indignidade,
qual dizem respeito, do esforço mentos, ensinando sempre pelo a traição e o furto legalizado.
que deve ser envidado em favor exemplo de que as suas palavras Torna-se alguém intitulado
da construção do próprio futuro. se revestem. como portador de comporta-
Elucida as situações dolorosas, O espírita sincero, que se mento excêntrico, porque tem
explicando as suas causas e ofe- redescobre por meio do conhe- a coragem de manter a vida
recendo os instrumentos para a cimento doutrinário, transfor- saudável, mostrando-se digno
sua erradicação, com a conse- ma-se em verdadeiro cristão, em todas as circunstâncias,
quente construção dos dias feli- conforme os padrões estabele- responsável pelos pensamen-
zes do porvir. cidos pelo Mestre galileu. tos, palavras e atos, incom-
Eis por que se impõe, logo Não se permite justificati- preendido e, não poucas vezes,
após a adesão aos seus postula- vas infantis após os insucessos, perseguido, mesmo nos locais
dos, de par com a responsabi- levanta-se dos erros e recome- em que labora doutrinaria-
lidade da conduta, a coragem ça as atividades tantas vezes mente, em face da conduta
para as mudanças interiores quantas ocorram, tem a cora- doentia dos acostumados à
que devem acontecer ao lar- gem para o autoenfrentamento, ­leviandade e ao ócio.
go do tempo, com a vigilância libertando-se dos inimigos de Sem qualquer dúvida, a
indispensável à produção de fora para vencer aqueles de na- adesão ao Espiritismo impõe a
fatores elevados para o desen- tureza interna, sempre disposto consciência de responsabilida-
volvimento intelecto-moral a servir e a amar. de e de coragem, para tornar-se
que aguarda o candidato às Evocando os mártires do verdadeiramente e­ spírita todo
suas fileiras. Cristianismo primitivo, en- aquele que lhe sinta a s­ ublime
Tomando como modelar a frenta hoje valores decadentes atração.
conduta de Jesus, o Espiritismo da ética e da moral, graves pro-
trá-lo de volta, desmistificado blemas sociais e morais, que //////////////////
(Página psicografada pelo médium
das fábulas com que o envolve- lhe exigem sacrifício para uma ­Divaldo Pereira Franco, no dia 10 de agos-
ram através dos tempos, real e existência honorável sem os to de 2009, na cidade do Rio de Janeiro.)

Abril de 2018 | Reformador 11 201


Faxina planetária
“O Espiritismo, com o espectro lirial de seus ensinamentos, é o único
arsenal divino que o Cristo permitiu descer ao homem para encouraçá-
-lo de luz e preveni-lo contra as arremetidas do mal. [...]”1

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Mário Frigéri
mariofrigeri@uol.com.br

N
osso planeta é conven- te forma, a começar pela mais porcionalmente, habita essas
cionalmente dividido em evoluída, situada na periferia quatro primeiras esferas inferio-
sete esferas, conforme magnética do planeta, à mais res, podemos dizer que no Abis-
aprofundado estudo que fize- inferior, enquistada em seu cen- mo e nas Trevas só existe joio
mos nas obras da Codificação tro planetário: 7. Diretrizes do entre seus habitantes residentes;
Espírita, na Série André Luiz e planeta; 6. Amor fraterno uni- na Crosta, o joio se mescla ao
em outros trabalhos espiritis- versal; 5. Arte, cultura e ciência; trigo na proporção de dois por
tas e espiritualistas de autores 4. Umbral; 3. Crosta terrestre um (dois de joio por um de tri-
altamente conceituados. O re- (esfera que habitamos); 2. Tre- go); e, no Umbral, a mescla se
sultado dessa grave pesquisa, vas; e 1. Abismo. perfaz inversamente, na propor-
acrescido agora de poderosos As três esferas inferiores ção de um por dois (um de joio
subsídios doutrinários, foi re- do planeta e a parte inferior do por dois de trigo). Onde está a
gistrado em nosso livro As sete ­Umbral são constituídas, majori- prova ou os indícios dessas infe-
esferas da Terra, recentemente tariamente, de joio, e as outras três rências? Nas profecias.
disponibilizado em primorosa esferas superiores e a parte supe- Em relação às regiões sub-
edição pela FEB Editora. rior do Umbral, somente de trigo. crostais (isto é, Trevas e Abismo,
As mencionadas esferas Particularizando ainda mais situadas abaixo da crosta terres-
estão escalonadas da seguin- a quantidade de joio que, pro- tre), as profecias sinalizam que o

202 12 Reformador | Abril de 2018


dragão ou Satanás foi preso nos e lógica a progressiva amplifi- do em feixes para ser queimado
subterrâneos do planeta, sem cação do bem no orbe terrestre (Mateus, 13:30). E acrescentou,
qualquer menção à existência à medida que se sobe na esca- no Apocalipse, que, nessa época,
de trigo nessas profundezas te- la das esferas: somente joio no ao joio da Crosta serão agregados
nebrosas (Apocalipse, 20:1 a 3). Abismo e nas Trevas; dois ter- os joios do Umbral e das esferas
Em relação à Crosta, os vaticí- ços de joio e um de trigo na subcrostais, para serem excluí-
nios dizem que dois terços dela Crosta; um terço de joio e dois dos em bloco do nosso planeta.
serão eliminados por ocasião da de trigo no Umbral; e exclusi- Se aproximarmos as profecias do
seleção final a ser levada a efei- vamente trigo nas três últimas Evangelho e do Apocalipse, vere-
to pelo Cristo, e que um terço se esferas seguintes. mos com clareza o quadro deli-
salvará (Zacarias, 13:8). E em neado pelo Divino Mestre.
relação ao Umbral – que é cha- Expurgo total De acordo com Jesus, virá
mado céu em Apocalipse, 12:7 –, Na exposição e explicação da a hora em que o Umbral será
as profecias revelam que o dra- Parábola do Joio (Mateus, 13:24 expurgado do joio que o habi-
gão arrastará “um terço das es- a 30; 36 a 43), Jesus revela que, ta, e esse expurgo, executado
trelas do céu e as lançará para a em época futura, o planeta che- pelo arcanjo Miguel e seus an-
terra [Crosta]”, quando chegar gará à maturação simultânea jos (Apocalipse, 12:7 a 9), terá
a hora derradeira da persegui- tanto do joio quanto do trigo. por consequência a expulsão
ção aos seguidores do Cordeiro Nessa época, o joio terá de ser definitiva do dragão e seus an-
(Apocalipse, 12:3 e 4). excluído de seu meio para que jos para a Crosta planetária.
Não nos equivoquemos o orbe – só habitado por trigo a Ao realizar-se esse evento, as
quanto à bela e ilusiva expressão partir daí – passe a usufruir do almas redimidas que permane-
“estrelas do céu”: são os seguido- nível superior a que fará jus no cerem no Umbral, agora purifi-
res do dragão, também chamado concerto do Universo. cado, ouvirão esta clarinada do
Satanás em Apocalipse, 12:9. No- De pouco adiantará ao pla- Alto: “Por isso, festejai, ó céus,
temos que Satanás é sinônimo neta, porém, ser expurgado do e vós, os que neles habitais. Ai
de Lúcifer, o anjo decaído. Ori- joio que habita a Crosta, se a da terra [Crosta] e do mar, pois
ginalmente, Lúcifer significava erva daninha das outras esferas o diabo desceu até vós, cheio de
anjo de luz, estrela da manhã, e (voluntariamente daninha, fri- grande cólera, sabendo que lhe
depois de sua queda, Satanás, de se-se) continuar a infeccionar resta pouco tempo” (Apocalip-
acordo com a evolução do termo a casa planetária. O expurgo, se, 12:12). Dessa forma, o Um-
através dos tempos. Quando Sa- assim, terá que ser completo, bral ficou definitivamente livre
tanás, portanto, for expulso do abrangendo todas as esferas que do joio, e por isso devia festejar,
Umbral, ele arrastará consigo hoje acolhem o joio, para que a e a Crosta foi sobrecarregada
para a Crosta um terço dos habi- Terra possa integrar finalmente a com a presença dele, e por isso,
tantes umbralinos, ou seja, todos comunidade dos mundos felizes previamente advertida (“Ai da
os seus “anjos”, “estrelas” ou hos- que revoluteiam na Casa do Pai. terra etc.”), devia prevenir-se.
tes infernais. Quem disse que as coisas se Virá também a hora (certa-
Notemos também a sabe- darão desta maneira foi Jesus. mente sincronizada com a do
doria da previsão profética ao Ele revelou no Evangelho que, evento umbralino) em que os ha-
estabelecer de forma racional na época da ceifa, o joio será ata- bitantes do Abismo (Apocalipse,

Abril de 2018 | Reformador 13 203


20:1) – Espíritos profundamente do planeta há muito tempo, 2. Disse também Jesus que
vinculados ao mal sob a emble- completamente isolado da es- quem ouve a sua palavra e crê
mática figura de Satanás – serão fera carnal, deixando prever o naquele que o enviou, já passou
libertados de sua prisão por or- tumulto que causará quando for da morte para a vida, e que já
dem superior, com permissão autorizado a subir à Crosta. chegara a hora em que os mor-
para subir à Crosta e “seduzir as tos ouvirão a voz do Filho de
nações que há nos quatro cantos Cadáveres e abutres Deus, e os que a ouvirem vive-
da terra [...], a fim de reuni-las E agora a pergunta que não rão: “Não vos maravilheis disto,
para a grande peleja” (Apocalip- quer calar: Por que a Crosta foi porque vem a hora em que to-
se, 20:8). Dessa forma, as esferas escolhida para esse tremendo dos os que se acham nos túmulos
subcrostais também ficarão li- embate de forças cósmicas? ouvirão a sua voz e sairão; os
vres do joio, que, por curto lapso Porque, como sentenciou Jesus, que tiverem feito o bem, para
de tempo, emergirá “à tona do “[...] onde estiver o cadáver, aí se a ressurreição da vida; e os que
lago maravilhoso da vida”. ajuntarão os abutres” (Mateus, tiverem praticado o mal, para
Do entrechoque resultante 24:28). O que o Divino Mestre a ressurreição do juízo” (João,
dessa refrega de hordas anti- quis dizer com isso? Essa frase 5:24 a 29). Ao dizer “os que se
crísticas a ocorrer na Crosta, a enigmática do Evangelho nos acham nos túmulos”, o Cristo
humanidade terrena verá ferir- tem induzido a sérias medita- se referia aos Espíritos encarna-
-se a batalha do Armagedon, ções desde a juventude. E aven- dos nos túmulos vivos dos cor-
que envolverá, no plano físico, tamos aqui uma interpretação pos físicos, porque nos túmulos
todas as nações da Terra, devi- possível para o enigma: do cemitério ninguém ouvirá
do a seus pesados débitos cár- nada, visto que lá só existem
micos contraídos perante a Lei Cadáver é sinônimo de mor- corpos em putrefação.
(Apocalipse, 16:12 a 16). Dessa to. Que os encarnados são os E o que são abutres? São,
batalha apocalíptica resultará a “mortos” (aqueles cujo foco é segundo a classificação huma-
expulsão definitiva do joio para exclusivamente a matéria, sem na, aves de hábitos necrófagos,
mundos inferiores, liberando a nenhum interesse em sua ilu- também conhecidos como “co-
Terra para sempre de sua pre- minação espiritual), a palavra veiros da Natureza”. No sentido
sença. Nesses mundos primiti- do Senhor não deixa dúvida: profético são os obsessores que
vos o joio receberá nova opor- atuam sobre os “mortos” na
tunidade de reeducação. 1. Quando Jesus disse a um carne, atraídos por sua incons-
Note-se que o joio umbra- de seus ouvintes que o seguisse, ciência e vinculação ao mal. De
lino tem débitos cármicos se- ele pediu que lhe fosse permiti- acordo com o instrutor espiri-
melhantes aos dos habitantes do ir primeiro sepultar seu pai. tual Gúbio,2 esses “mortos” são
da Crosta, podendo mesclar-se “Deixa aos mortos o sepultar os como um “rebanho bovino”, a
com estes sem prejuízos fatais seus próprios mortos” – respon- cujas expensas sobrevivem es-
para ambos. O mesmo não de-lhe o Cristo. “Tu, porém, vai sas colônias de criminosos in-
ocorre com o joio das Trevas e e prega o reino de Deus” (Lucas, visíveis do Umbral (Libertação,
do Abismo, que, devido às suas 9:59 e 60). Jesus designou por cap. 2 – A palestra do instrutor).
profundas transgressões à Lei, “mortos” os parentes “vivos” do Ainda segundo Gúbio, esses ob-
se encontra preso nos socavões futuro discípulo. sessores agem como “lampreias

204 14 Reformador | Abril de 2018


O Espiritismo, com o espectro lirial de seus ensinamentos, é o único
arsenal divino que o Cristo permitiu descer ao homem para encouraçá-lo
de luz e preveni-lo contra as armadilhas e arremetidas do mal.
istockphoto.com/pkanchana

insaciáveis” sobre as criaturas as fascina e enceguece. Quando, É claro que nenhum de nós
desprevenidas, vampirizando- portanto, todos os abutres espi- fica feliz com essa batalha cós-
-lhes as energias e trabalhando rituais das esferas circunjacentes mica e trágica esboçada pelas
por mantê-las na inércia, num estiverem congregados em cima profecias, pois gostaríamos que
estado bovinamente apático, dessa parcela da Humanidade houvesse uma solução mais
avessas a qualquer esforço de cadaverizada e invigilante, um suave e misericordiosa para re-
progresso espiritual (cap. 4 – Poder Maior promoverá (na solver o problema. Gostaríamos
Numa cidade estranha). consumação do século, segundo que a transição da fase de provas
A imagem utilizada por o Cristo) a expulsão definitiva e expiações para a fase de rege-
Gúbio não poderia ser melhor. para orbes inferiores tanto do neração transcorresse na mais
Lampreia é uma espécie de pei- cadáver quanto de seus banque- absoluta regularidade, sob um
xe com forma de enguia, cuja teadores fúnebres. céu de brigadeiro, sem nos tirar
boca é formada por uma enor- o sono nem nos incomodar em
me ventosa circular do mesmo A bênção do Espiritismo nossos negócios terrenos. En-
diâmetro do corpo, reforçada O Espiritismo, com o espec- tretanto, as profecias proferidas
por um anel de cartilagem e tro lirial de seus ensinamentos, pelo Cristo e por seus profetas
armada com uma língua ras- é o único arsenal divino que o às vezes apontam numa direção
padora. A lampreia, quando Cristo permitiu descer ao ho- em que a Misericórdia Divina
ataca suas vítimas, crava-lhes mem para encouraçá-lo de luz e nem sempre se apresenta ao ho-
os dentes para fixar-se, acopla- preveni-lo contra as armadilhas mem sem a escolta armada da
-lhes a ventosa, arranha-lhes a e arremetidas do mal. E por que Justiça, lembrando-nos a con-
pele com a língua raspadora e o homem ainda não se revestiu tundência da admoestação do
chupa-lhes o sangue como uma dessa luz? A resposta, se dada salmista: “Se o homem não se
bomba de sucção. Tal a atuação com honestidade, seria mui- converter, afiará Deus a sua es-
dos vampiros do Umbral sobre to embaraçosa, e nos remete a pada [...]” (Salmos, 7:12).
os “cadáveres” humanos. uma nova pergunta: Dos sete
E as entidades bárbaras das bilhões de Espíritos encarnados
Trevas e do Abismo, por sua vez, atualmente na Crosta, quantos REFERÊNCIAS:
anseiam por “subir ao lago ma- estão dispostos ao esforço her- 1
FRIGÉRI, Mário R. As sete esferas da
ravilhoso da vida”, não para re- cúleo de aprofundar-se na ciên- Terra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2016.
cap. 13 – Trigo e joio.
verenciá-lo, mas para esmagá-lo, cia espírita e revestir-se dessa
2
XAVIER, Francisco C. Libertação.
se necessário for, a fim de sub- armadura para se tornar um Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. 8. imp.
metê-lo ao império do mal que vencedor com Jesus? Brasília: FEB, 2017.

Abril de 2018 | Reformador 15 205


Esflorando o E va n g e l h o
Pelo Espírito Emmanuel

Quem és? Kiu vi estas?


“Há só um Legislador e um Juiz que “Unu estas la leĝdonisto kaj juĝisto, Tiu,
pode salvar e destruir. Tu, porém, kiu povas savi kaj pereigi; kiu vi estas,
quem és, que julgas a outrem?” – juĝanta vian proksimulon?” –
(Tiago, 4:12) (Jakobo, 4:12)

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D P
everia existir, por parte do homem, grande cau- lej singarde homo devus agi ĉe esprimado de
tela em emitir opiniões relativamente à incorre- opinio pri aliula eraro.
ção alheia. Senpripensa aŭ facilanima juĝo povas estigi
Um parecer inconsciente ou leviano pode gerar de- pli grandajn damaĝojn, ol aliula misfaro submetata
sastres muito maiores que o erro dos outros, converti- al ekzameno.
do em objeto de exame. Memkompreneble ekzistas certaj devoj, kiuj
Naturalmente existem determinadas responsabi- postulas rigoran kaj paciencan observadon de tiuj,
lidades que exigem observações acuradas e pacientes al kiuj ili estis komisiitaj. Administranto bezonas
daqueles a quem foram conferidas. Um administrador analizi la homajn elementojn, kiuj konsistigas lian
necessita analisar os elementos de composição huma- laborskipon. Juĝisto, kies salajro fontas el la popolaj
na que lhe integram a máquina de serviços. Um ma- monrimedoj, estas devigata ekzameni la problemojn
gistrado, pago pelas economias do povo, é obrigado de la paco aŭ la sano de la socio, serene kaj juste
a examinar os problemas da paz ou da saúde sociais, decidante por defendo de la kolektiva bono. Necesas
­deliberando com serenidade e justiça na defesa do tamen kompreni, ke tiaj homoj, taksante la amplek-
bem coletivo. Entretanto, importa compreender que son kaj la delikatecon de siaj spiritaj komisioj, multe
homens, como esses, entendendo a extensão e a de- suferas, kiam al ili trudiĝas la devo regeneri la rasojn
licadeza dos seus encargos espirituais, muito sofrem, vivajn, devojiĝintajn aŭ malsanecajn, kondukitajn al
quando compelidos ao serviço de regeneração das ilia respondeco.
raças vivas, desviadas ou enfermiças, encaminhadas à Montriĝas tamen, sur la komuna vojo, troo da
sua responsabilidade. personoj kutimiĝintaj al senpripenso kaj frivoleco.
Na estrada comum, no entanto, verifica-se grande ex- Ni kredas utila al ĉiu disĉiplo, kiam lin sieĝas
cesso de pessoas viciadas na precipitação e na leviandade. malprudentaj konsideroj, memori la ĝustan rolon,
Cremos seja útil a cada discípulo, quando assediado kiun li ludas en la kampo de la estanteco, kaj deman-
pelas considerações insensatas, lembrar o papel exato que di al si mem, antaŭ ol respondi tentajn demandojn:
está representando no campo da vida presente, interro- “Cu tiu temo interesas min? Kiu mi estas? Ĉu mi
gando a si próprio, antes de responder às indagações ten- vere estas kapabla por iun juĝi?”
tadoras: “Será este assunto de meu interesse? Quem sou?
Estarei, de fato, em condições de julgar alguém?”.

/ / / / / / / / / / / / / / ////
Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 11. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 46.

206 16 Reformador | Abril de 2018


Intolerância
religiosa
Por que as religiões ainda não se unem?

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Orlando Ayrton de Toledo


ayrtontoledo@gmail.com

P
rincipiemos por entender terrestres para o despertar de naturalmente, sua origem en-
o que significa “intolerân- um mundo novo. É natural que tre os povos primitivos do
cia”. Em Medicina, a pala- nesta fase de transição de nos- Oriente, aos quais enviava
vra é empregada para designar so planeta nos preocupemos ­Jesus, periodicamente, os seus
a impossibilidade que um orga- com a origem das religiões, do mensageiros e missionários.2
nismo apresenta de tolerar cer- passado e do presente, e re-
tas substâncias. Muitas vezes conheçamos que a realidade Foi um erro julgar como
é utilizada como sinônimo de espiritual está acima de todos bárbaros e pagãos os povos ter-
violência ou intransigência. os fenômenos transitórios da restres que não conheceram,
Na Introdução ao livro A matéria. É natural também que diretamente, as lições sublimes
caminho da luz, Emmanuel1 nos preocupemos com todos os do seu Evangelho de redenção,
nos fala, pela mediunidade de desvios do fanatismo, da fé cega porquanto a sua desvelada assis-
Francisco Cândido Xavier, so- e da separação que têm carac- tência acompanhou, como ainda
bre as transições dos séculos terizado a conduta humana na acompanha, a evolução das cria-
XX e XXI, quando as forças es- liderança dos grupos religiosos, turas em todas as latitudes do
pirituais estariam se reunindo tanto daqueles extintos quan- orbe. Todos os livros e tradições
para as grandes reconstruções to dos oriundos das religiões religiosas da antiguidade guar-
do porvir. Encarnados ou de- ­contemporâneas. dam, entre si, a mais estreita uni-
sencarnados, estamos vivendo dade substancial. As revelações
esse momento em que se efetua As primeiras organizações evolucionam numa esfera gra-
a aferição de todos os valores religiosas da Terra tiveram, dativa de conhecimento. Todas

Abril de 2018 | Reformador 17 207


se referem ao Deus impersonifi- passaram a impedir, ferozmen- no Novo Testamento e no en-
cável, que é a essência da vida de te, a peregrinação dos europeus, sino dos Espíritos, traz-nos o
todo o Universo e, no tradiciona- utilizando-se, para tanto, da cap- ­Espiritismo definido como
lismo de todas, palpita a visão su- tura e do assassinato de muitos
blimada do Cristo, esperado em peregrinos que buscavam a re- [...] a ciência nova que vem
todos os pontos do globo. gião unicamente pela fé. revelar aos homens [...] a exis-
As Cruzadas aumentaram as tência e a natureza do Mundo
É por esse motivo que numero- tensões e as hostilidades entre Espiritual e as suas relações
sas coletividades asiáticas não co- cristãos e muçulmanos na Ida- com o mundo corpóreo [...].7
nhecem a lição direta do Mestre, de Média.
mas sabem do conteúdo da sua No estudo das religiões em A lei do Antigo Testamento
palavra, em virtude das próprias nosso planeta não é possível ig- está personificada em Moisés;
revelações do seu ambiente [...].3 norar as considerações reunidas a do Novo Testamento está
por Allan Kardec no capítulo personificada no Cristo. O Es-
Esses fatos permitem que 1 de O evangelho segundo o es- piritismo é a Terceira Revela-
recordemos as denominadas piritismo,4 bem como as infor- ção das Leis de Deus e não tem
“Cruzadas”, isto é, arregimenta- mações trazidas por Emmanuel a personificá-la nenhuma in-
ções de tropas que foram envia- sobre as revelações conhecidas dividualidade, porque é fruto
das à Palestina para recuperar a como Judaísmo e Cristianis- do ensino dado [...] pelos Es-
liberdade de acesso dos cristãos mo.5 Com Moisés, recebemos a píritos [...].8
a Jerusalém. A guerra pela “Ter- “Lei de Deus formulada nos dez
ra Santa”, que durou do século XI mandamentos”,6 lei que pode ser Entretanto, a supervisão de
ao século XIV, foi iniciada logo condensada no amor a Deus so- Jesus sobre a evolução espiritual
após o domínio dos turcos sobre bre todas as coisas e ao próximo do nosso mundo é uma presen-
essa região considerada sagrada como a nós mesmos. ça constante, confirmada por
pelos cristãos. Após o domínio Allan Kardec, indiscutível fatos de maior ou menor reper-
da área geográfica, os turcos missionário de Jesus, apoiado cussão. Exemplifiquemos:

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“O Espiritismo não pode guardar a pretensão de exterminar as outras


crenças, parcelas da verdade que a sua Doutrina representa, mas, sim,
trabalhar por transformá-las, elevando-lhes as concepções antigas
para o clarão da verdade imortalista.” - Emmanuel

208 18 Reformador | Abril de 2018


Em meados da década de pos, nos quais a religiosidade se a­ rtigo. Os Espíritos que povoam o
1960, realizava-se na cidade de confunde ainda com interesses nosso planeta situam-se em dife-
Araçatuba (SP) a Concentração culturais e econômicos, distan- rentes níveis de evolução. Muitos
de Mocidades Espíritas do B ­ rasil ciando-se mesmo dos inspira- deles ainda estão influenciados
Central e Estado de São Paulo. dos ensinos de seus fundadores. por costumes e lideranças religio-
Simultaneamente, no mesmo Mais uma vez Emmanuel sas que os acompanharam na mi-
período e localidade, realizava-se nos esclarece que gração planetária que os conduziu
um evento da Juventude Evangé- para este mundo. Outros, embora
lica. O movimento de Mocidades [...] na direção de todos os fe- originários da T ­erra, permane-
Espíritas enviara uma comissão nômenos de nosso sistema, cem na infância da Humanidade
para saudar os evangélicos e, existe uma comunidade de e estão situados em planos menos
na noite seguinte, o movimento Espíritos puros [...] em cujas graduados da escala evolutiva.
evangélico enviou, como retri- mãos se conservam as rédeas Todos, entretanto, evoluirão em
buição, o trio “Melodia” para diretoras da vida de todas as direção aos valores pertinentes à
executar um número musical coletividades planetárias.9 mais pura fraternidade, identifi-
como mensagem de fraternidade cando-se com a paz e o entendi-
entre os diferentes grupos adep- Lembremo-nos sempre de mento universais.
tos do Cristianismo. Foi indiscu- que Deus é único, onisciente
tível a emoção que tomou conta e onipotente, e que a verdade REFERÊNCIAS:
1
XAVIER, Francisco C. A caminho da
da plateia, antecedendo a palavra também é única, uma vez que é
luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 5.
de Divaldo Franco, com a qual a expressão da Lei Divina. Por imp. Brasília: FEB, 2016.
a Concentração de Mocidades mais que se confrontem e se con- 2
______. ______. cap. 9 – As grandes
­Espíritas seria encerrada. fundam ainda os pensamentos e religiões do passado, it. As primeiras
Em fevereiro de 2016, a im- sentimentos religiosos dos Espí- organizações religiosas.

prensa de todo o planeta divul- ritos, a tendência incontestável é 3


______. ______. it. As revelações
gradativas.
gou imagem do encontro histó- de convergência das forças vivas
4
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
rico entre o papa Francisco, da da vida. Conduzidos pela fé em
o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
Igreja Católica Romana, com Deus e pela mensagem superior ­Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016.
o patriarca da Igreja Católica trazida por Jesus, não duvidemos, 5
XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.
Ortodoxa sediada na Rússia. A em momento algum, do advento Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 5. imp.
reunião foi realizada no México da unidade religiosa na Terra e da Brasília: FEB, 2016. cap. 7 – O povo de
Israel, it. O Judaísmo e o Cristianismo.
e teve, como objetivo central, inutilidade futura da palavra “in- 6
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
a aproximação dos adeptos do tolerância” no reconhecimento o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
Cristianismo em nosso mundo. da paternidade Divina. Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB,
Parece-nos que a aproxima- Reportando-nos à pergunta 2016. cap. 1, it. 2.

ção entre as correntes religiosas “Por que as religiões ainda não 7


______. ______. it. 5.
que se estruturam sob a influên- se unem?” cremos que a resposta 8
______. ______. it. 6.
cia de Jesus, conhecidas como está implícita nas considerações 9
XAVIER, Francisco C. A caminho da
cristãs, antecederá aquela que apoiadas pelas entidades espiri- luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed.
5. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 1 – A
deverá ocorrer também com tuais que nos orientaram na ela- ­Gênese Planetária, it. A comunidade
a participação de outros gru- boração deste despretensioso dos Espíritos puros.

Abril de 2018 | Reformador 19 209


Aura e intercâmbio
mediúnico
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Waldehir Bezerra de Almeida


waldehir.almeida@gmail.com

P
ara melhor se compreen- sos pensamentos e sentimentos. em torno dos corpos que as
der o complexo meca- Por essa razão, a composição da exteriorizam.
nismo do intercâmbio aura varia de pessoa para pes- Todos os seres vivos, por isso, dos
mediúnico é imprescindível con- soa e de momento a momento. mais rudimentares aos mais com-
siderar que tal fenômeno se rea- Acompanhemos o que nos plexos se revestem de um “halo
liza sob o condicionamento de ensina o Espírito André Luiz a energético” que lhes corresponde
fulcros energéticos existentes em respeito da natureza da aura: à natureza.1 (Grifo nosso).
nós, estando entre eles a mente,
o pensamento, os centros vitais Considerando-se toda célula Esse halo energético é conhe-
(chacras) e a aura. Nosso obje- em ação por unidade viva, cido, na linguagem espírita, pelo
tivo neste espaço é o de estudar, qual motor microscópico, em nome de aura, e sua apresenta-
simplificadamente, a importân- conexão com a usina mental, ção será alterada, a cada instante,
cia desse último fulcro no pro- é claramente compreensível na cor e luminosidade, mudan-
cesso do intercâmbio mediúnico. que todas as agregações celu- ça essa provocada pelo teor dos
A aura é vista pelos médiuns lares emitam radiações e que pensamentos, dos sentimentos
videntes na forma de uma cara- essas radiações se articulem, preservados e das emoções que
paça em torno do corpo físico por meio de sinergias fun- identificam as nossas tendências,
em formato ovoide. Ela é resul- cionais, a se constituírem de servindo, portanto, de instru-
tante das forças físico-químicas recursos que podemos no- mento de identidade aos seres
e mentais resultantes dos nos- mear por “tecidos de força”, espirituais que nos circundam.

210 20 Reformador | Abril de 2018


Estudiosos que se aprofun- desencarnadas, em deplorável névoa fumarenta, exibia telas
dam na origem, constituição e situação, espalhavam-se em mentais complexas, a lhe relam-
função da aura humana, infor- todos os recantos, nas mesmas paguearem na aura imprecisa.4
mam que as cores nela vistas características.3 (Grifo nosso). (Grifo nosso).
pelos clarividentes têm signifi-
cados próprios, ­diagnosticando Ainda, sobre a realidade da Como vimos a emoção de
as condições morais, espiri- aura na identificação de quem contragosto, o pensamento vol-
tuais e físicas do indivíduo. somos e como estamos a cada tado para a agitação da noite
Exemplos: azul = sublimação instante, destacamos do livro anterior, a bebida alcoólica que
de ­Espírito; branco-azulado = Sexo e destino o momento em tomara na véspera eram fato-
pureza, amor e caridade; ala- que o médico de Nosso Lar se res que contribuíam para que a
ranjado = ambição e orgulho; aproxima de Marina, jovem que aura de Marina se apresentasse
vermelho = paixões violentas, vivia momentos de contradição de forma irregular, alterando-
raiva, sensualidade; preto = amorosa com seu patrão, espo- -se incessantemente, revelando
ódio, vingança e ação maléfica; so de quem ela era enfermeira: quem era ela naquele momento.
cinzento = depressão, tristeza e Aprendemos até aqui que
egoísmo.2 Essa relação das co- Aproximei-me reverentemente nem sempre os nossos gestos
res da aura com o nosso estado da jovem, no propósito de son- e palavras estão consonantes
mental encontramos no livro dá-la em silêncio e colher-lhe com o nosso íntimo, podendo
Libertação, quando seu autor as vibrações mais íntimas; con- iludir os seres encarnados inex-
observa o comportamento dos tudo, recuei assustado. perientes, mas não fugimos à
humanos em uma missa: Estranhas formas-pensamento, identificação segura dos Espíri-
retratando-lhe os hábitos e an- tos esclarecidos e, também, dos
Ante ligeira pausa, alonguei o seios, em contradição com os nossos credores, aos quais cha-
olhar pela multidão bem v­ estida. nossos propósitos de socorrer mamos de obsessores.
Quase todas as pessoas, ainda a doente [patroa de Marina], fi- É pela aura, portanto, que
aquelas que ostentavam nas zeram-me para logo sentir que atraímos para nosso convívio
mãos delicados objetos de cul- Marina se achava ali, a contragos- seres espirituais que se nos as-
to, revelavam-se mentalmente to. A sua mente vagueava longe... semelham pelo teor vibratório,
muito distantes da verdadeira Quadros vivos de esfuziante logo, é oportuno lembrarmo-nos
adoração à Divindade. O halo agitação ressumavam-lhe na da importância e função que ela
vital [aura] de que se cerca- cabeça... De olhar parado, es- tem para o médium no processo
vam definia pelas cores o bai- cutava, adentro de si própria, a de intercâmbio com os Espíritos
xo padrão vibratório a que se música brejeira da noite festiva em qualquer situação e, em espe-
acolhiam. Em grande parte, que atravessara na véspera e cial, numa reunião mediúnica.
dominavam o pardo-escuro e experimentava ainda na gar- A aura do médium, quando
o ­cinzento-carregado. Em al- ganta a impressão do gim que equilibrada e fortalecida pelas
gumas, os raios rubro-negros sorvera abundante. suas virtudes e elevados pen-
denunciavam cólera vingativa Apesar de surgir-nos, superfi- samentos e sentimentos, exer-
que, a nossos olhos, não con- cialmente, à guisa de menina ce forte atração na ­ entidade
seguiriam disfarçar. Entidades crescida, sob o turbilhão de ­conturbada que será ­assistida

Abril de 2018 | Reformador 21 211


por seu intermédio, sendo somos vistos e examinados
aquela envolvida de forma a pelas Inteligências superiores,
não resistir ao magnetismo de sentidos e reconhecidos pelos
amor que lhe apazigua o íntimo nossos afins, e temidos e hosti-
e refrigera suas dores. Acompa- lizados ou amados e auxiliados
nhemos o que nos relata o Es- pelos irmãos que caminham
pírito Philomeno de Miranda, em posição inferior à nossa.
ressaltando a importância da Isso porque exteriorizamos, de
aura do médium no momento maneira invariável, o reflexo
do acoplamento mediúnico: de nós mesmos, nos contatos
de pensamento a pensamento,
[...] Observamos que o indito- sem necessidade das palavras
so vingador, atraído pelo mag- para as simpatias ou repulsões
netismo do Guia, dulcificado fundamentais.6 (Grifo nosso).
por primeira vez, acercou-se do
médium em profundo transe
inconsciente e, envolvido pela REFERÊNCIAS:
aura e fluídos que se exteriori- 1
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
Evolução em dois mundos. Pelo Espíri-
zavam do sensitivo, incorpo- to André Luiz. 27. ed. 5. imp. Brasília:
rou-o.5 (Grifo nosso). FEB, 2016. Pt. 1, cap. 17 – Mediunidade
e corpo espiritual, it. Aura humana.
Podemos concluir enfatizan- 2
TOLEDO, Wenefledo. Passes e curas
espirituais. 25. ed. São Paulo: Editora
do a importância do equilíbrio
Pensamento, 1993. cap. Aura humana
mental e emocional daquele reflexiva dos pensamentos, it. Raios
companheiro que tem na mediu- de influenciações, subit. Coloração da
aura.
nidade a tarefa de contribuir com
o Mundo Espiritual superior
3
XAVIER, Francisco C. Libertação.
Pelo Espírito André Luiz. 33. ed. 8. imp.
para a implantação do Evange- Brasília: FEB, 2017. cap. 9 – Persegui-
lho de Jesus em nossos corações. dores invisíveis, p. 123.
Essa estabilidade será condição 4
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
ideal para o acoplamento mediú- Sexo e destino. Pelo Espírito André
Luiz. 34. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2017.
nico, conforme nos faz entender Pt. 1, cap. 2, p. 22 e 23.
o Espírito André Luiz: 5
FRANCO, Divaldo P. Grilhões parti-
dos. Pelo Espírito Manoel P
­ hilomeno
A aura é, portanto, a nossa de Miranda. 6. ed. Salvador: LEAL,
1989. cap. 18 – Novos esclarecimen-
plataforma onipresente em tos, p. 162.
istockphoto.com/DeoSum

toda comunicação com as rotas 6


XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
alheias, antecâmara do Espírito, Evolução em dois mundos. Pelo Espíri-
em todas as nossas atividades to André Luiz. 27. ed. 5. imp. Brasília:
FEB, 2016. Pt. 1, cap. 17 – Mediunida-
de intercâmbio com a vida que de e corpo espiritual, it. Mediunidade
nos rodeia, por meio da qual inicial.

212 22 Reformador | Abril de 2018


Em dia com o Espiritismo

Tristeza excessiva e
depressão em crianças
///////////////////////////////////////////

Marta Antunes Moura


martaantunes@febnet.org.br

E
m simples e instrutiva resultar em depressão e ideias doras ou não de tristeza ex-
reportagem denominada de suicídio, foi relatada em Re- cessiva, depressão e de ideias
Desalento como amigo, formador de fevereiro do ano suicidas: as ocorridas antes ou
de autoria de Jorge Olavo e pu- em pauta (coluna “Em Dia durante a reencarnação. Em
blicada pela revista VivaSaú- com o Espiritismo”), opor- qualquer possibilidade, é bom
de, da Editora Escala, edição tunidade em que analisamos recordar que
de dezembro de 2017, cons- os resultados preliminares do
tam informações relacionadas levantamento estatístico rea- “O homem sofre sempre a con-
à tristeza excessiva em crian- lizado junto às Federativas sequência de suas faltas; não há
ças, uma situação delicada que Estaduais do Movimento Es- uma só infração à Lei de Deus
pode conduzi-las a dificulda- pírita brasileiro, cujo intuito que não acarrete a sua punição.
des maiores, como depressão e inicial era apenas sondar se o [...]
outros males daí decorrentes, número de crianças médiuns Assim, o homem é constan-
pois, “assim como nos adul- estaria aumentando na atuali- temente o árbitro da sua pró-
tos, a depressão que acomete dade. Surpreendentemente, os pria sorte; pode abreviar ou
uma criança não deve ser en- resultados apontaram para o prolongar indefinidamente o
carada como má vontade, pre- expressivo número de crian- seu suplício; a sua felicidade
guiça ou algo do gênero. Uma ças, algumas muito pequenas, ou a sua desventura depen-
atitude empática, acolhedora que são portadoras de tristeza dem da vontade que tenha de
e precisa está na base do trata- excessiva. praticar o bem.”.2
mento de sucesso”.1 Várias são as causas re-
A questão da tristeza ex- lacionadas às aflições ou às Da mesma forma, todas
cessiva em crianças, que pode vicissitudes da vida, provoca- as aflições que produzem

Abril de 2018 | Reformador 23 213


d­ esarmonias, leves ou severas, A aflição do relaxamento da Universidade Federal do
estão relacionadas às disposi- ­chama-se evasiva. Ceará, realizada em conjun-
ções íntimas de cada pessoa: há A aflição da indiferença to com a mestranda Luanna
indivíduos que revelam gran- ­chama-se desânimo. Cavalcante. Esta publicação
de resistência ao sofrimento, A aflição da inutilidade chama- científica apresenta consisten-
não se subjugando a eles. Ou- -se queixa. tes ideias para o entendimento
tros, já se desestruturam pe- A aflição do ciúme chama-se básico da tristeza em crianças:
rante as m
­ enores dificuldades. desespero.
O Espírito ­Emmanuel esclare- A aflição da impaciência Apesar de inexistir uma de-
ce a respeito: ­chama-se intemperança. finição consensual acerca da
A aflição da sovinice chama-se depressão infantil, pode-se
Examina a própria aflição miséria. afirmar que se trata de uma
para que não se converta a A aflição da injustiça chama-se perturbação orgânica que
tua inquietude em arrasadora crueldade. envolve variáveis biológicas,
­tempestade emotiva. Cada criatura tem a aflição que psicológicas e sociais [...].
Todas as aflições se caracteri- lhe é própria.3 Do ponto de vista biológico,
zam por tipos e nomes especiais. a depressão é encarada como
A aflição do egoísmo chama-se Existem inúmeros estudos uma possível disfunção dos
egolatria. e publicações a respeito do neurotransmissores devido
A aflição do vício chama-se assunto, no Brasil e no Exte- à herança genética, a anor-
­delinquência. rior. Embora Sigmund Freud malidades e/ou falhas em
A aflição da agressividade (1856–1939) tenha publicado áreas cerebrais específicas.
­chama-se cólera. algo a respeito no artigo Luto ­Trata-se da depressão classifi-
A aflição do crime chama-se e Melancolia, as crianças não cada como endógena, ou seja,
remorso. foram incluídas no seu texto. aquela geneticamente trans-
A aflição do fanatismo chama- Assim, considera-se como o mitida. Desde a perspectiva
-se intolerância. primeiro trabalho consistente psicológica, a depressão pode
A aflição da fuga chama-se o da autoria de Melanie Klein estar associada a algum as-
­covardia. (1882–1960), psiquiatra aus- pecto comprometido da per-
A aflição da inveja chama-se tríaca que, em 1930, publicou sonalidade, baixa autoestima
despeito. o livro A psicanálise de crian- e autoconfiança. No âmbito
A aflição da leviandade chama- ças, hoje considerado um clás- social, a depressão pode ser
-se insensatez. sico, de leitura obrigatória para vista como uma inadapta-
A aflição da indisciplina quem se interessa pelo tema. ção ou um apelo ao socorro,
­chama-se desordem. No Brasil, há boas produções. bem como uma possível con-
A aflição da brutalidade Pela relevância da faixa etária, sequência da violentação de
­chama-se violência. destacamos a pesquisa Avalia- mecanismos culturais, fami-
A aflição da preguiça chama-se ção da depressão infantil em liares, escolares etc. [...] As
rebeldia. alunos da pré-escola, do profes- variáveis psicológicas e so-
A aflição da vaidade chama-se sor Wagner Bandeira Andrio- ciais caracterizam a depressão
loucura. la, da Faculdade de Educação classificada como exógena,

214 24 Reformador | Abril de 2018


ou seja, a que é resultante de e educação etc.). Lamentavel- qual iremos reencarnar, bem
problemas psicológicos e/ou mente, não é incomum a ne- como o papel a ser desempe-
ambientais [...].4 gligência estar associada ao nhado no grupo consanguíneo.
abuso (agressão física, abuso No Mundo Espiritual, tudo está
Ainda que se pesem as cau- sexual, abuso emocional etc.). enquadrado na lei de Méritos.
sas das aflições anteriores à Enquanto a negligência é um Quando o Espírito possui um
atual reencarnação, as quais tipo de maus-tratos por omis- número relativamente extenso
predispõem crianças à tris- são, o abuso é uma forma de de créditos, ele pode permitir-
teza excessiva desde o berço maus-tratos em que há uma -se a programação de determi-
(culpa, remorso, amargura
­ ação que atinge diretamente a nadas experiências que s­ejam
precoces), as causas atuais de- criança, colocando-a em situa- do seu interesse, inclusive
sempenham, porém, papel re- ção de risco. Embora o abuso reencarnar no grupo familiar
levante. Tal constatação agrava e a negligência sejam formas com o qual se identifica, embo-
o quadro geral da tristeza, vis- distintas de maus-tratos, am- ra isto não represente a maioria
to que, atualmente, é comum bas causam prejuízos graves das situações, antes, constitui
crianças passarem por alguma à criança, de natureza física e uma exceção à regra.”.6 Ora,
forma de negligência por parte emocional, e são diariamen- como a família representa o pa-
dos pais ou cuidadores (maus- te causa de morte de algumas pel mais importante da socie-
-tratos, abandono, descuido crianças em todo o mundo.5 dade, a educação e a proteção
quanto à alimentação, higie- Divaldo Pereira Franco es- dos filhos, consanguíneos ou
ne, vestuário, cuidados médi- clarece que, em geral, “[...] nós não, devem merecer cuidados e
cos, afeto, atenção, vigilância não escolhemos a família na ações de relevo. Neste sentido,
istockphoto.com/KatarzynaBialasiewicz

Abril de 2018 | Reformador 25 215


a família precisa ser mais es- interesse sensivelmente dimi- apatia; i) falta de iniciativa); j)
clarecida, moral e intelectual- nuído na maioria ou em todas dificuldade para se enturmar
mente, pois é verdadeiramente as atividades e três ou mais dos com outras crianças; k) redu-
grande a influência que os pais sinais que se seguem.10 ção ou aumento do apetite;
exercem na construção do ca- 1. Pouco apetite ou perda l) choro excessivo; m) medo
ráter dos filhos, como consta de peso significativa; ou, ao exagerado; n) predisposição
em O livro dos espíritos: contrário, aumento no ganho para o adoecimento; o) alte-
de peso. 2. Insônia e hiper- rações do sono; p) redução
“[...] os Espíritos devem con- sonia. 3. Agitação ou retardo da autoestima; q) sentimento
tribuir para o progresso uns psicomotor. 4. Sentimento de culpa; r) dificuldade de se
dos outros. Pois bem, os Espí- de desesperança. 5. Perda de concentrar nas atividades do
ritos dos pais têm por missão energia ou fadiga. 6. Sensações dia a dia.13
desenvolver os de seus filhos de “não valer nada” (inutili-
pela educação. Isto constitui dade), autorreprovação ou de A psicanalista e psicóloga
para eles uma tarefa: se falha- uma culpa excessiva ou inade- brasileira, Renata Bento, mem-
rem serão culpados.”.7 quada. 7. Queixas ou evidência bro da International Psychoa-
de uma redução da capacidade nalytical Association do R­ eino
Para a Medicina, a depres- de pensar ou concentrar-se. 8. Unido e da Federação Psica-
são psíquica ou mental, em Pensamentos recorrentes de nalítica da América Latina
geral decorrente do estado de morte, ideação suicida, desejo (­FEPAL), afirma: “Trata-se de
tristeza e angústia, é “[...] ca- de estar morto ou tentativas de um adoecimento carregado
racterizada por uma alteração suicídio.11 de enorme prejuízo para o de-
do humor. Estima-se que 3 a A depressão infantil, tam- senvolvimento emocional das
5% da população mundial so- bém decorrente da tristeza crianças e adolescentes [...].”.14
fre de depressão em qualquer excessiva, não segue o padrão E conclui:
data considerada. É enfermi- que se observa nos adultos, os
dade que atinge mais de 300 quais apresentam queixas mais A depressão na criança, em-
milhões de pessoas, e todas as consistentes. A grande dificul- bora muitas vezes desconhe-
faixas etárias, segundo a Or- dade é que a criança ainda não cida por muitos, também pode
ganização Mundial da Saúde possui a necessária habilidade ser notada em tenra infância,
(OMS).8 Em geral, na depres- de expressar suas emoções com em bebês. Os sintomas mais
são, ocorre perda de interesse clareza.12 Pode-se, porém, elen- observados nessa faixa etária
em todas as vias de escapismos car como principais sintomas podem ser choro constante e
prazerosas, como a comida, o da depressão infantil: posterior apatia, distúrbios de
sexo, trabalho, amigos, pas- alimentação e sono.15
satempos ou diversões.”.9 Os a) pouco interesse por ativi-
critérios diagnósticos exigem dades que gostava; b) irrita- Além do mais, há outro
atenta observação, e podem ser bilidade; c) agressividade; d) ponto que não deve ser descu-
assim resumidos: presença de diminuição da atividade; e) rado: a obsessão na infância.
um humor deprimido pratica- tristeza; f) isolamento; g) pio- Às vezes, a criança é assediada
mente todos os dias, prazer ou ra no rendimento escolar; h) por Espíritos, a ela v­ inculados

216 26 Reformador | Abril de 2018


por efeito de ações ocorri- Voltemo-nos para a infância e a Alegre, 1999. 419. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
das em existências passadas, juventude e leguemos-lhes se-
79721999000200011&script=sci_
agindo por vingança ou por gurança moral e amor, median- abstract - The assessment of depression
cumplicidade. A obsessão in- te os exemplos de equilíbrio e de in preschool children
fantil, somada à negligência paz, indispensáveis à felicidade 5
NEGLIGÊNCIA INFANTIL. Disponível em:
http://usfmarginal.com/negligencia-
no lar, pode gerar perturba- deles e de todos nós, herdeiros
infantil/ Acesso em: 26 dez. 2017.
ções orgânicas e/ou neuro- que somos das próprias ações.17 6
FRANCO, Divaldo P. Vivências do amor
lógicas; imperfeições morais em família. (Org. Luiz Fernando Lo-
significativas; alterações na A família necessita ser ur- pes). 1. ed. Salvador: LEAL, 2016. cap.
estrutura psicológica e cogni- gentemente reconstruída com 2, p. 49.

tiva; dificuldades emocionais base no amor. A solução é o 7


KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 3.
e afetivas. Daí a relevância da amor, declara enfaticamente, imp. Brasília: FEB, 2016. q. 208.
atuação familiar que, somada Joanna de Ângelis: 8
OLAVO, Jorge. Desalento como ami-
ao atendimento especializado, go. In: VivaSaúde. ano 14, edição 174,
torna possível, sim, reverter Tens compromisso com o amor p. 87. São Paulo: Editora Escala, 2017.
Disponível em: revistavivasaude.uol.
o quadro de enfermidade psí- desde o momento em que abra-
com.br/
quica ou obsessiva. çaste a doutrina de Jesus, pouco 9
THOMAS, Clayton (Coord.). Dicionário
A benfeitora Joanna de importando sob qual denomi- médico enciclopédico. Trad. Fernando
­Ângelis destaca o papel funda- nação se te apresente. Gomes do Nascimento. 1. ed. São Paulo:
Manole, 2000. p. 472.
mental da família neste e em O amor é o veículo de sustenta-
outros processos. ção da caridade sem cujo com-
10
______. ______.

bustível não poderia exercer o 11


______. ______.
O grupo familial é conquista seu ministério socorrista. 12
BENTO, Renata. Depressão infantil.
nobre do processo antropoló- O amor é a luz que esparze cla- In: Psique. ano 12, edição 1.490, p. 26.
São Paulo: Editora Escala.
gico-sociológico no qual o ser ridade onde se apresente. [...].18
13
OLAVO, Jorge. Desalento como ami-
humano cresce. go. In: VivaSaúde. ano 14, edição 174,
[...] REFERÊNCIAS: p. 87. São Paulo: Editora Escala, 2017.
A família [...] tornou-se célu-
1
OLAVO, Jorge. Desalento como ami- Disponível em: revistavivasaude.uol.
go. In: VivaSaúde. ano 14, edição 174, com.br/
la-máter do organismo social p. 87. São Paulo: Editora Escala, 2017. 14
BENTO, Renata. Depressão infantil.
onde se desenvolvem os sen- Disponível em: revistavivasaude.uol.
In: Psique. ano 12, edição 1.490, p. 26.
timentos, a inteligência, e o com.br/
São Paulo: Editora Escala.
­Espírito desperta para as reali- 2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo 15
______. ______. p. 26.
o espiritismo. Trad. Evandro Noleto
zações da vida. Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 16
FRANCO, Divaldo P. S.O.S. ­família.
Por isso, toda vez que a famí- 2016. cap. 27, it. 21. Ditado por Joanna de Ângelis e Di-
lia se desestrutura a sociedade versos Espíritos. 2. ed. Salvador:
3
XAVIER, Francisco C. Religião dos
Leal, 1994. Prefácio (Joanna de
cambaleia, a cultura degenera, espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 22.
­Ângelis). p. 9.
ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 10
a civilização se corrompe...16 – Examina a própria aflição. 17
______. ______. cap. 20 – Alienação
Infantojuvenil e Educação.
4
ANDRIOLA, Wagner B.; CAVALCANTE,
O Espírito Benedita Fernan- Luanna R. Avaliação da depressão infantil 18
______. Nascente de bênçãos. Pelo
des, por sua vez, lança-nos este em alunos da pré-escola. In: Revista Espírito Joanna de Ângelis. 1. ed.
PsicologiaReflexãoeCríticav.12n. 2.Porto ­Salvador: LEAL, 2001. cap. 17, p. 111.
apelo:

Abril de 2018 | Reformador 27 217


Lei de Destruição
///////////////////////////////////////////

Luiz Julião Ribeiro


luizjuliaoribeiro@gmail.com

E
sse relevante tema o Co- Com essa surpreendente re- evolução dos seres espirituais
dificador, Allan Kardec, velação de consequências fan- e os elementos materiais são
disseca no Livro terceiro, tásticas para a segurança e a paz naturalmente consumidos para
capítulo 6, de O livro dos espí- do ser humano, fica abolida a que possam contribuir para os
ritos e começa fazendo uma equivocada ideia de destruição, fins a que são destinados.
distinção importante para ­naquele sentido de demolir, ar- Na questão 728-a, Allan
a compreensão do assunto, ruinar, fazer desaparecer, extin- Kardec conclui o raciocínio e o
classificando a destruição em guir, acabar, exterminar e matar, alcance da questão antecedente,
­necessária e abusiva. sem um fim útil, como se houves- formulando nova indagação:
Ele inicia o interrogatório se erros ou não existisse propósi-
sobre a matéria com a questão to e governo na Obra universal. O instinto de destruição teria
728, dirigida ao Espírito de Ver- De acordo com esse ensina- sido dado aos seres vivos com
dade, com a seguinte indagação: mento, portanto, essa aparente fins providenciais?
destruição dos elementos quími- “As criaturas de Deus são ins-
A destruição é uma Lei da cos não passa de processo n­ atural trumentos de que Ele se serve
­Natureza? de renascimento e regeneração, para alcançar os seus objetivos.
“É preciso que tudo se des- com um objetivo superior, que Para se alimentarem, os seres
trua para renascer e se é a promoção da renovação e vivos se destroem entre si, com
regenerar, pois isso a que
­ melhoria dos seres vivos, em sua o duplo objetivo de manter o
chamais destruição não pas- marcha progressiva e gradual na equilíbrio na reprodução, que
sa de uma transformação, conquista da perfeição. poderia tornar-se excessiva, e
que tem por fim a renovação Isso acontece porque a ma- de utilizar os despojos do en-
e a melhoria dos seres vivos.” téria constitui simples material voltório exterior. Esse envoltó-
(KARDEC, 2016). didático e terapêutico para a rio é simples acessório, e não a

218 28 Reformador | Abril de 2018


parte essencial do ser pensan- É evidente que essa des- ainda pode fazer alguma coisa
te; só ele sofre a destruição. A truição é absolutamente sábia, pelo seu progresso. O perigo
parte essencial é o princípio in- precisa, equilibrada e absoluta- que o ameaça é uma advertência
teligente, que não se pode des- mente harmônica com os fins para que aproveite o tempo que
truir e se elabora nas diversas e os demais princípios gerais Deus lhe concede, mas, ingra-
metamorfoses por que passa.” do Universo, voltada sempre to, o homem rende graças mais
(KARDEC, 2016). para o bem e, mais do que isso, vezes à sua estrela do que ao seu
­profundamente amorosa. Criador.” (KARDEC, 2016).
Extrai-se dessa resposta que Assim, a destruição que o
nada é inútil na Obra de Deus ser humano deve evitar, utili- Na Natureza tudo tem seu
e que tudo contribui e converge zando para isso da sua inteli- tempo próprio. Morrer antes da
para a consecução do objetivo gência e, principalmente do seu hora é o mesmo que abandonar
geral do Universo. Além disso, sentimento, é a destruição abu- um curso antes de concluí-lo ou
revela que existe um princípio siva, isto é, sem sustentação na fugir do hospital antes de receber
que não está sujeito a essa des- necessidade, no bem geral e em alta, não sendo necessário descre-
truição, que é por sua natureza descompasso com as demais ver os prejuízos que disso decor-
indestrutível, o princípio inteli- Leis Naturais. rem. De outro modo, postergar
gente, que se elabora intelectual Dando sequência ao tema, sem necessidade é o mesmo que
e moralmente, individualizado, Allan Kardec toca num dos as- continuar frequentando as aulas
na suprema e fatal conquista do suntos que mais incomodam o após o término do curso ou con-
seu destino: a perfeição. ser humano, posto que cercado tinuar internado no nosocômio
Agora, na questão 729, o de muito temor e incerteza: a depois de exaurido o tratamento
Codificador busca elucidar morte, exarada na questão 730: e receber a competente alta.
a respeito de uma aparente Sentir necessidade de viver é
contradição entre o destruir Já que a morte nos leva a uma semelhante a sentir necessida-
e o conservar, formulando a vida melhor e nos livra dos ma- de de dormir, de se alimentar,
­seguinte inquirição: les deste mundo, seria mais de de saciar a sede, de amar e ser
desejar do que de temer. Por que, amado, tudo porque são ca-
Se a destruição é necessária para então, o homem sente instintivo rências naturais impostas pelas
a regeneração dos seres, por que horror por ela, a ponto de estar Leis Divinas ao ser humano.
a Natureza os cerca de meios de sempre apreensivo por sua causa? Prosseguindo na colheita de
preservação e conservação? “Já dissemos que o homem mais esclarecimento, Allan Kar-
“A fim de evitar que a destrui- deve procurar prolongar sua dec indaga ao Espírito de Verdade
ção ocorra antes do tempo vida, para cumprir a sua tarefa. acerca dos flagelos destruidores,
necessário. Toda destruição Foi por isso que Deus lhe deu o que assolam, muitas vezes, as co-
antecipada entrava o desen- ­instinto de conservação, e esse letividades, conforme questiona-
volvimento do princípio inte- instinto o sustenta nas provas. mento proposto na questão 737:
ligente. Foi por isso que Deus Se não fosse assim, muito fre-
concedeu a cada ser a neces- quentemente ele se entregaria Com que fim Deus fere a Hu-
sidade de viver e reproduzir.” ao desânimo. A voz secreta que manidade por meio de flagelos
(KARDEC, 2016). o faz repelir a morte lhe diz que destruidores?

Abril de 2018 | Reformador 29 219


“Para fazê-la progredir mais transitoriamente, se reveste nos expomos aos arrastamentos
depressa. Já não dissemos que para habitar o planeta em que viciosos, afastamo-nos cons-
a destruição é necessária para esteja vivendo e que, ao final do cientemente do cumprimento
a regeneração moral dos Es- seu ciclo de vida, qualquer que dessas leis e, consequentemen-
píritos, que em cada existên- seja o gênero de sua morte, sai te, geramos para nós mesmos a
cia sobem mais um degrau na intacto e leva consigo todo o necessidade de passarmos pelos
escala da perfeição? É preciso progresso resultante das expe- chamados flagelos, que podem
que se veja o objetivo, para se riências vividas. ser individuais ou coletivos,
poder apreciar os resultados. Na questão subsequente, mas que atingem somente o
Como os julgais somente do 738, o Codificador faz uma in- corpo físico, com reflexos mo-
vosso ponto de vista pessoal, dagação extremamente impor- rais altamente positivos para o
dai-lhes o nome de flagelos, tante, visto que observa uma ser espiritual.
em virtude do prejuízo que significativa lacuna se ficasse A propósito, na questão 740,
vos causam. No entanto, mui- apenas com a resposta recebida Allan Kardec, obtém a resposta
tas vezes esses transtornos são e procura aprofundar o assunto, que termina de aclarar o assunto:
necessários para que mais de- para não deixar dúvidas:
pressa se chegue a uma ordem Para o homem, os flagelos não
melhor de coisas e para que se Para melhorar a Humanidade, seriam também provações mo-
realize em alguns anos o que Deus não poderia empregar rais, ao fazerem que ele se de-
teria exigido muitos séculos.” outros meios além dos flagelos fronte com as mais aflitivas
(KARDEC, 2016). destruidores? ­necessidades?
“Sim, e diariamente os em- “Os flagelos são provas que dão
Nunca é demais repetir que a prega, pois deu a cada um os ao homem oportunidade de
Obra de Deus é sábia, justa, amo- meios de progredir pelo co- exercitar a sua inteligência, de
rosa e sempre para o bem. As nhecimento do bem e do mal. demonstrar paciência e resig-
calamidades provocadas pelas É o homem que não se aprovei- nação ante a vontade de Deus,
intempéries da Natureza como ta desses meios. É preciso, pois, permitindo-lhe manifestar seus
enchentes, estiagens, furacões, que seja castigado no seu orgu- sentimentos de abnegação, de
vulcões, tsunamis constituem lho e sinta a própria fraqueza.” desinteresse e de amor ao pró-
movimentações dos elementos (KARDEC, 2016). ximo, caso o egoísmo não o
da Natureza que promovem as ­domine.” (KARDEC, 2016).
metamorfoses físicas e o pro- Com essa resposta, se faz
gresso moral desses seres espiri- necessário compreender que Infere-se desse ensinamen-
tuais, acelerando o progresso. o método natural da evolução to do Espírito de Verdade que
Para os nossos limitados do ser espiritual é o do amor e o objetivo principal das lutas
sentidos, esses flagelos tão so- da sabedoria, por meio do qual humanas é o desenvolvimen-
mente provocam destruições, compreendemos e aplicamos to do sentimento do amor, es-
mas é importante deixar abso- as Leis de Deus. Mas, como a sência real de todo o Universo
lutamente claro que os corpos aprendizagem pressupõe liber- e que deve unir todos os seres,
físicos são apenas a vestimen- dade de ação, expressa no exer- quando esse divino sentimento
ta com a qual o ser espiritual, cício do livre-arbítrio, quando estiver desenvolvido em nossos

220 30 Reformador | Abril de 2018


corações, regendo as nossas ati- sa, passa a conhecer suas cau- esses são os mais difíceis de
tudes, o que ocorrerá quando sas e é capaz de evitar suas ser erradicados.
nos livrarmos do domínio do consequências. Importante, Por fim, vamos à questão
egoísmo. porém, ressaltar que flagelos 746, assim formulada:
Na questão 741, o Codifica- são consequências e não cau-
dor deseja saber se os flagelos sas. Eles ocorrem exatamente O assassínio é um crime aos
são uma fatalidade inevitável porque a causa já existe. As- olhos de Deus?
ou se pode o ser humano evitá- sim, os flagelos que estão nos “Sim, um grande crime, pois
-los de algum modo, pergunta domínios de Deus e que o ser aquele que tira a vida ao seu se-
vazada nos seguintes termos: humano é incapaz de interferir melhante corta uma existência
são aqueles necessários para a de expiação ou de missão. Aí
É permitido ao homem afastar consecução da Justiça Divina, é que está o mal.” (KARDEC,
os flagelos que o torturam? ocorrem para o bem daque- 2016).
“Em parte, sim; não, porém, les que são atingidos, embora
como geralmente o enten- sob a forma de flagelo, com o Revela essa resposta que,
dem. Muitos flagelos resultam objetivo de erradicar suas cau- diferentemente do que comu-
da imprevidência do homem. sas. Importantíssimo lembrar mente se pensa, o mal real do
À medida que adquire conhe- que Deus não é caprichoso, homicídio não está na mor-
cimentos e experiência, ele os não é vingativo, nem injusto; te em si mesma, isso porque
pode afastar, isto é, prevenir, de modo que tudo que ocorre ela nos colherá a todos, natu-
se souber pesquisar suas cau- segundo a sua soberana von- ralmente, no momento apra-
sas. Contudo, entre os males tade é para o nosso bem. Não zado. A grande violação está
que afligem a Humanidade, é por outra razão que Jesus, na na antecipação do fato e nos
há os de caráter geral, que oração do Pai-Nosso afirma: graves prejuízos causados ao
estão nos desígnios da Pro- “[...] seja feita a vossa vontade, ser espiritual que fica, com a
vidência e dos quais cada in- assim na terra como no céu.” morte, impedido de usufruir
divíduo recebe, em maior ou (Mateus, 6:10). das inestimáveis experiências
menor grau, o contragolpe. O Não obstante, aproveita- que a vida no corpo físico pro-
homem nada pode opor a esse mos o ensejo para lembrar que porciona por ter sido corta-
tipo de flagelo, a não ser sub- os piores de todos os flagelos do o fio da existência, que foi
meter-se à vontade de Deus. são aqueles de natureza mo- meticulosamente programada
Além disso, muitas vezes es- ral, que acontecem por força nas dimensões da Espirituali-
ses males são agravados pela do afastamento do ser huma- dade Maior, constituindo, por
negligência do próprio ho- no do cumprimento das Leis isso, destruição abusiva. Esse
mem.” (KARDEC, 2016). Divinas, produzindo os des- princípio se aplica também ao
vios da alma, sob a forma dos ­suicídio e ao aborto.
À medida que o ser h­ umano mais variados vícios, entre os
avança, adquire conhecimen- quais se destacam o orgulho,
REFERÊNCIA:
tos que lhe permitem intervir o egoísmo, a ambição, a pre-
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
na Natureza e evitar os flagelos. potência, a inveja, a maldade, Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 3.
Isso ocorre quando ele pesqui- o ódio e o desejo de vingança; imp. Brasília: FEB, 2016.

Abril de 2018 | Reformador 31 221


Nem tudo o que se
­publica é Espiritismo
///////////////////////////////////////////

Marcus De Mario
marcusdemario@gmail.com

V
ivemos um período de É um assunto muito sério, pois Codificador nos apresenta esses
grandes facilidades de quando divulgamos algo que até critérios nas chamadas obras da
comunicação, como a in- mesmo se opõe aos princípios Codificação Espírita, e que são
ternet, as redes sociais e diversas que formam a Doutrina Espíri- os seguintes: 1. Bom senso; 2.
ferramentas proporcionadas pela ta, estamos prestando um des- Lógica; 3. Razão e 4. Universa-
tecnologia da informação, propi- serviço, estamos propagando lidade do ensino dos Espíritos.
ciando que se publiquem men- uma mentira que depois será Temos recebido livros ditos
sagens, textos diversos e mesmo difícil corrigir pela divulgação espíritas que estão mal escri-
livros com relativa tranquilidade. da verdade. tos, ou seja, são literariamente
Diante disso, que caracteriza os Temos observado, por par- ­pobres, assim como outros com
tempos atuais, temos assistido à te de muitos autores desen- erros doutrinários flagrantes.
publicação e divulgação de mui- carnados, médiuns, autores Tanto num como noutro caso, se
to material com o rótulo espírita, ­encarnados e editores, um dis- os critérios kardequianos tives-
mas que diante de uma análise tanciamento dos critérios pro- sem sido exercidos, por certo tais
mais séria, mais criteriosa, tanto postos por Allan Kardec para livros não seriam publicados.
do ponto de vista literário, quan- análise de toda e qualquer men- A questão vai ainda mais
to do ponto de vista doutrinário, sagem de origem espiritual, as- longe, pois não se refere apenas
não pode, de fato, ser considera- sim como de todo e qualquer aos livros, sejam eles impressos
do como espírita, como legítimo texto de origem humana, que ou digitais, pois abrange a in-
representante do Espiritismo. se intitulem como espírita. O ternet com as redes sociais, em

222 32 Reformador | Abril de 2018


que muitos espíritas e simpati- últimas públicas ou internas nos inclusive os de origem espiritual,
zantes do Espiritismo publicam centros espíritas. Tudo o que é via mediúnica, pois o fato de ser
à vontade o que bem entendem, publicado, distribuído e coloca- um Espírito não é garantia de
igualmente sem a utilização dos do à disposição do público, por conhecimento moral nem de
critérios tão sabiamente propos- meios físicos ou digitais, receben- moralidade. Médiuns incautos,
tos por Kardec. Naturalmente re- do o rótulo espírita, passa para o deixando-se levar pelo orgulho,
conhecemos o direito que todos consumidor final a certeza de pela vaidade ou por uma fé in-
temos da livre expressão, mas se ser um material que representa gênua, não estão filtrando como
aquilo que escrevemos e publica- o Espiritismo, pois se foi publi- deveriam as mensagens dos de-
mos é em nome do Espiritismo, cado por editora espírita e está à sencarnados, e os que as publi-
os princípios da Doutrina devem disposição numa livraria espírita, cam estão esquecidos de colocar
ser observados criteriosamente, só pode ser legitimamente espíri- em prática o critério da univer-
sob pena de estarmos passando, ta. Entretanto, assim não sucede, salidade do ensino dos Espíritos,
em nome do Espiritismo, infor- pois entre o trigo há muito joio, pois se somente um único Espí-
mações que não estão de acordo ou seja, no meio dos bons livros rito, servindo-se de apenas um
com a própria Doutrina. espíritas, encontramos muitos médium, está dando aquela in-
Para evitar ao máximo essa livros antidoutrinários, de autoa- formação, sem correspondência
confusão literária que anda se juda e outros, causando confusão com a comunicação de outros
estabelecendo, o primeiro passo entre aqueles que querem saber, Espíritos por meio de outros
para todo aquele que abraça o afinal, o que é o Espiritismo. médiuns, o que ele está dizendo
Espiritismo é estudar a Doutrina Portanto, os critérios de análise deve ser colocado de quarentena,
com seriedade e profundidade, ofertados por Kardec devem ser pois é preferível rejeitar dez ver-
o que deve ser feito por meio da exercidos com toda ênfase pelas dades a aceitar uma única men-
leitura, reflexão e estudo metódi- editoras, distribuidoras e livrarias tira, como nos adverte o Espírito
co das obras de Allan Kardec, ou espíritas, pois o livro é ferramen- Erasto, em O livro dos médiuns.
seja, O livro dos espíritos, O livro ta poderosa de divulgação, é refe- Estudemos o E ­spiritismo
dos médiuns, O evangelho segun- rência quando se trata de estudar com Kardec, sempre com
do o espiritismo, O céu e o inferno qualquer assunto, como o Espi- ­Kardec, pois esse é o remédio efi-
e A gênese, que são as obras prin- ritismo, que ao mesmo tempo é caz para não publicarmos o que
cipais, e em seguida também a filosofia, ciência e religião com se opõe aos princípios da própria
leitura e estudo dos volumes que suas consequências morais. Doutrina que abraçamos. Que
formam a Revista Espírita. Neste Nem todo aquele que se diz os centros espíritas priorizem o
ponto, permitimo-nos parafra- espírita é um verdadeiro espíri- estudo da Doutrina Espírita e a
sear Kardec, quando nos deu o ta. Muitos ainda mantêm raízes evangelização da família, abran-
lema importantíssimo: “Fora da em outras doutrinas, estão com gendo da criança ao adulto, e
caridade não há salvação”, para pensamentos envolvidos em ou- assim teremos menos problemas
dizer que “Fora de Kardec não tras concepções, e acabam detur- nas publicações que se fazem em
há Espiritismo”. pando o ensino espírita. ­Kardec nome do Espiritismo, Doutrina
Cabe uma reflexão com re- sabia desses inconvenientes, surgida no mundo para alavan-
lação às editoras, distribuidoras motivo pelo qual estabeleceu os car a moralização e espiritualiza-
e livrarias espíritas, sejam estas critérios para análise dos textos, ção da Humanidade.

Abril de 2018 | Reformador 33 223


P ág i n a s E s co l h i da s
Allan Kardec

Desaparecimento
do corpo de Jesus
///////////////////////////////////////////

O
desaparecimento do cor- Sem dúvida, semelhante fato visto que se explicam pelas pro-
po de Jesus após sua não é radicalmente impossível, priedades do perispírito e se dão,
morte tem sido objeto de dentro do que hoje se sabe so- em graus diferentes, noutros in-
­inúmeros comentários. É atesta- bre as propriedades dos fluidos; divíduos. Depois de sua morte,
do pelos quatro evangelistas, ba- mas seria, pelo menos, inteira- ao contrário, tudo nele revela o
seados nos relatos das mulheres mente excepcional e em formal ser fluídico. A diferença entre os
que foram ao sepulcro no tercei- oposição ao caráter dos agêne- dois estados é tão marcante que
ro dia depois da crucificação e res. Trata-se, pois, de saber se não podem ser assimilados.
lá não o encontraram. Algumas tal hipótese é admissível, ou se O corpo carnal tem as pro-
pessoas viram nesse desapa- é confirmada ou contraditada priedades inerentes à matéria pro-
recimento um fato milagroso, pelos fatos. priamente dita, propriedades que
enquanto outras o atribuíram a A estada de Jesus na Terra diferem essencialmente das dos
uma subtração clandestina. apresenta dois períodos: o que fluidos etéreos; naquela, a desor-
Segundo outra opinião, precedeu e o que se seguiu à ganização se opera pela ruptura
Jesus não teria revestido um sua morte. No primeiro, desde da coesão molecular. Ao penetrar
corpo carnal, mas apenas um o momento da concepção até o no corpo material, um instru-
corpo fluídico; não teria sido, nascimento, tudo se passa, pelo mento cortante lhe divide os teci-
em toda a sua vida, mais do que que respeita à sua mãe, como dos; se os órgãos essenciais à vida
uma aparição tangível, uma es- nas condições ordinárias da forem atacados, cessa-lhes o fun-
pécie de agênere, em suma. Seu vida. Desde o seu nascimento cionamento e sobrevém a morte
nascimento, sua morte e todos até a sua morte, tudo, em seus do corpo. Não existindo nos cor-
os atos de sua vida teriam sido atos, na sua linguagem e nas pos fluídicos essa coesão, a vida já
apenas aparentes. Foi assim diversas circunstâncias da sua não depende aí da ação de órgãos
que, dizem, seu corpo, voltado vida, revela características ine- especiais, de modo que não se
ao estado fluídico, pôde desapa- quívocas da corporeidade. Os podem produzir desordens aná-
recer do sepulcro e foi com esse fenômenos de ordem psíquica logas àquelas. Um i­nstrumento
mesmo corpo que Ele se teria que nele se produzem são aci- cortante ou outro qualquer pene-
mostrado depois de sua morte. dentais e nada têm de anômalos, tra num corpo fluídico como se

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penetrasse numa massa de vapor, orgânicos. Num corpo privado a Deus para que lhe afastasse o
sem lhe ocasionar qualquer lesão. de Espírito, a sensação é absolu- cálice dos lábios, sua paixão, sua
É por isso que não podem morrer tamente nula. Pela mesma razão, agonia, tudo, até o último brado,
os corpos dessa natureza e por o Espírito, que não tem corpo no momento de entregar o Es-
que os seres fluídicos, designados material, não pode experimen- pírito, não teria passado de vão
pelo nome de agêneres, não po- tar os sofrimentos que resultam simulacro para enganar com re-
dem ser mortos. da alteração da matéria, deven- lação à sua natureza e fazer crer
Após o suplício de Jesus, seu do-se igualmente concluir que, num sacrifício ilusório de sua
corpo se conservou inerte e sem se Jesus sofreu materialmente, vida, numa comédia indigna de
vida. Foi sepultado como o são como ninguém pode duvidar, é um homem simplesmente ho-
comumente os corpos, e todos o que Ele tinha um corpo material nesto e, com mais forte razão,
puderam ver e tocar. Após a sua de natureza semelhante ao de indigna de um ser tão superior.
ressurreição, quando quer deixar ­todas as pessoas. Numa palavra, Ele teria abusa-
a Terra, Ele não morre de novo; Aos fatos materiais vêm jun- do da boa-fé dos seus contem-
seu corpo se eleva, desvanece e tar-se fortíssimas considera- porâneos e da posteridade. Tais
desaparece sem deixar qualquer ções morais. as consequências lógicas desse
vestígio, prova evidente de que Se as condições de Jesus, du- ­sistema, consequências inadmis-
aquele corpo era de natureza di- rante a sua vida, fossem as dos síveis, porque o rebaixariam mo-
versa da do que pereceu na cruz. seres fluídicos, Ele não teria ex- ralmente, em vez de o elevarem.
Deve-se, pois, concluir que, se perimentado nem a dor, nem Como todo homem, Jesus
foi possível que Jesus morresse, qualquer das necessidades do teve, pois, um corpo carnal e
é que Ele tinha um corpo carnal. corpo. Supor que assim haja sido um corpo fluídico, o que é ates-
Em virtude de suas proprie- é tirar-lhe o mérito da vida de tado pelos fenômenos materiais
dades materiais, o corpo carnal é privações e de sofrimentos que e pelos fenômenos psíquicos
a sede das sensações e das dores escolhera, como exemplo de re- que lhe assinalaram a existência.
físicas, que repercutem no cen- signação. Se tudo nele não pas-
tro sensitivo ou Espírito. Não é o sasse de aparência, todos os atos //////////////////
corpo quem sofre, mas o Espíri- de sua vida, a reiterada predição Fonte: KARDEC, Allan. A gênese: os mila-
gres e as predições segundo o espiritismo.
to, que recebe o contragolpe das de sua morte, a cena dolorosa do Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
lesões ou alterações dos tecidos Jardim das Oliveiras, sua prece Brasília: FEB, 2013. cap. 15, its. 64 a 66.

Abril de 2018 | Reformador 35 225


Manifestações
espíritas
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Jorge Leite de Oliveira


jojorgeleite@gmail.com

O
livro dos médiuns, de Há duas categorias de mé- guntado se fenômenos como
Allan Kardec, desen- diuns: a) de efeitos físicos; b) de esses não contrariariam as Leis
volve o aspecto científi- efeitos intelectuais (KARDEC, Naturais, o Espírito São Luís
co do Espiritismo. O conteúdo 2016a, cap. 16, it. 187). responde ao Codificador que só
dessa obra abrange duas partes. Tendo em vista que os “efei- os Espíritos Superiores estão em
A primeira intitula-se Noções tos físicos” foram pesquisados, condições de conhecer todas
Preliminares; a segunda chama- observados, analisados e, por as Leis da Natureza (KARDEC,
-se Manifestações Espíritas. É fim, confirmados, em sua au- 2016a, cap. 4, it. 74, perg. 25).
sobre isto que trataremos. tenticidade, por diversos sá- Kardec explica, em seguida,
Kardec informa-nos sobre bios, enfocaremos abaixo al- que o fluido universal, agente
as aptidões especiais de alguns guns desses fenômenos. São básico das manifestações, por
médiuns: eles: a) translações e suspensões; conter o “princípio da vida”, res-
b) aparições; e c) transportes. ponsável pelo fenômeno de sus-
[...] ao lado da aptidão do Espí- A translação aérea e a sus- pensão de corpos no espaço ou
rito, existe a do médium, que é, pensão de corpos no espaço, de translação aérea, recebe a im-
para o primeiro, instrumento neste último caso incluindo os pulsão fluídica do perispírito do
mais ou menos cômodo [...] e do próprio médium, são fenô- Espírito ou do médium. A ema-
no qual ele descobre qualida- menos mediúnicos bastante nação do “fluido animalizado”
des particulares [...]” (KAR- raros, informa Kardec (2016a, pode ser mais ou menos farta e
DEC, 2016a, cap. 16, it. 185). cap. 16, it. 189). Ao lhe ser per- sua combinação, além de nem

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sempre ser fácil, é intermiten- Home jamais aceitou pagamen- horizontalmente, no ar”. Dr.
te. Por isso, nem sempre ocorre to pelos fenômenos provocados Gully, de Malvern, médico
o fenômeno, que também não por sua mediunidade. Nunca muito conhecido, e ­ Robert
depende apenas da vontade do fez de sua mediunidade meio Chambers, autor e editor, eram
médium para se realizar. profissional, ciente de que as outras testemunhas. [...]
Ao ser movimentado, ergui- (DOYLE, 2013, cap. 9 – A car-
do ou atirado ao ar um objeto, [...] Não há um só médium reira de Daniel Dunglas Home).
“[...] O Espírito o satura, por no mundo que possa garantir
assim dizer, com o seu fluido, a produção de um fenômeno Home foi o médium mais
combinado com o fluido do espírita num dado momento, completo de translações e sus-
médium, e o objeto, momen- donde forçoso é concluir que pensões de corpos no espaço,
taneamente vivificado desta a pretensão contrária dá pro- durante o século XIX. Adilton
maneira [...]”, por não possuir va de absoluta ignorância dos Pugliese (2013) organizou obra
“[...] vontade própria, segue o mais elementares princípios da sobre a importância desse mé-
impulso que lhe dá a vontade ciência [...] (KARDEC, 2009b, dium, que teve o reconhecimen-
do Espírito” (KARDEC, 2016a, O Sr. Home em Roma). to, não apenas de Kardec, mas
cap. 4, it. 77). de muitos outros pesquisadores
As propriedades do perispí- Um dos estudiosos sobre a dos fenômenos espíritas. Em sua
rito é que permitem ao agente vida e mediunidade de Home apresentação, Pugliese sintetiza
desencarnado, como ao encar- foi Arthur Conan Doyle. Diz a grandeza de Home com as se-
nado, esse fenômeno. Kardec este que em mais de uma cen- guintes palavras do Sr. Webster:
cita, como exemplo, o “pode- tena de ocasiões, com claridade
roso médium de efeitos físicos”, boa e ante respeitáveis testemu- Ele é o mais maravilhoso mis-
muito conhecido em sua época, nhas, Dunglas Home levitou. sionário dos tempos modernos
Daniel Dunglas Home, e con- E prossegue dizendo: e da maior de todas as causas,
clui que, se o Espírito pode “[...] e o bem que ele tem feito não
levantar uma poltrona, também Em 1857, num castelo próxi- pode ser avaliado. Quando Mr.
é capaz, se tiver força suficiente, mo de Bordeaux, Home foi le- Home passa, derrama em seu
de levantá-la com uma pessoa vantado até o teto de uma sala redor a maior de todas as bên-
sentada nela. Aí está a expli- alta, em presença de Madame çãos – a certeza da vida futura
cação do fenômeno que o Sr. Ducos – viúva do ministro da (2013, p. 22).
Home produziu inúmeras vezes Marinha –, do conde e da con-
consigo mesmo e com outras dessa de Beaumont. A mediunidade de aparições
pessoas [...]” (KARDEC, 2016a, Em 1860, Robert Bell escreveu, é a que pode “[...] provocar
cap. 4, it. 80). no Cornhill, um artigo intitu- aparições fluídicas ou tangí-
Em defesa do médium lado “Mais estranho do que a veis, visíveis para os assistentes.
­Dunglas Home, que foi, por ve- ficção”. “Ele elevou-se de sua Excepcionais [...]”, diz Kardec
zes, criticado em sua época, sem cadeira [diz Bell] quatro a 5 (2016a, cap. 16, it. 189). É quase
que jamais encontrassem prova pés do solo. Vimo-lo passar de sempre espontânea e necessita
concreta de fraude provocada um lado a outro da janela, com de uma faculdade especial, para
por ele, esclarece Kardec que os pés para frente, deitado, que o Espírito se manifeste a

Abril de 2018 | Reformador 37 227


a­ lguém (KARDEC, 2016a, cap. Em defesa do caráter não F­ederação Espírita Brasileira,
6, it. 100, perg. 27). alucinatório da materialização na Av. Passos (RJ).
Allan Kardec esclarece que, de um Espírito, Aksakof uti- Outra mediunidade excep-
nesse caso, quando o Espírito liza quatro argumentos: 1º) o cional é a de transporte, varie-
deseja mostrar-se com a apa- “testemunho visual simultâneo dade de médiuns motores e
rência física, em certos casos, de muitas pessoas”, entre as de translações, segundo Allan
pode tornar-se tão real que é quais sábios como ele, E ­ rnesto Kardec. Esses médiuns podem
possível tocá-lo, apalpá-lo, sen- ­Bozzano, William ­Crookes, servir como auxiliares dos Espí-
ti-lo com a mesma resistência Charles Richet etc.; 2º) o “tes- ritos que desejam transportar, de
que possui um corpo humano temunho visual e tátil, simul- locais fora do ambiente em que
normal. Isso, porém, não impe- tâneo, de muitas pessoas”, em estão, objetos materiais diversos.
de seu desaparecimento com a geral sob rigorosas condições Explica Kardec (2016a, cap. 5,
mesma rapidez que o seu surgi- preestabelecidas pelos sábios it. 96) que o Espírito que p­ roduz
mento. Desse modo, tanto a vi- presentes. Por vezes, até mes- tal fenômeno é de boa índole. O
são, como o tato são utilizados mo com sacrifícios físicos pro- Espírito traz, espontaneamente
por quem o Espírito deseja se porcionados ao médium, para ou a pedido, objetos que não se
manifestar. Ainda que se pu- evitar sua fraude, como amar- encontram no local onde são ob-
desse “[...] atribuir à ilusão ou rá-lo a uma cadeira, colocá-lo servados, tais como “flores”, “fru-
a uma espécie de fascinação a dentro de cabines rigorosamen- tos”, “doces”, “joias” etc.
aparição simplesmente visual, te fechadas etc., como fizeram, Esse tipo de mediunidade
a dúvida já não seria possível no Pará, com a médium Anna precisa ser muito bem compro-
quando conseguimos segurá-la, Prado; 3º) a “produção de efei- vado, para evitarem-se fraudes.
palpá-la, e quando ela mesma tos físicos”. Refutando a teoria Para a produção do fenômeno, é
nos segura e abraça” (­KARDEC, de Hartmann sobre ser esse um necessário haver perfeita com-
2016a, cap. 6, it. 104). fenômeno meramente aluci- binação entre o fluido fornecido
Alexandre Aksakof (2002) natório, Aksakof informa que pelo perispírito do médium e o
demonstra à saciedade a in- “o deslocamento de objetos, do Espírito (­KARDEC, 2016a,
consistência das teorias ma- verificado após a sessão, pode cap. 5, it. 99). Aksakof cita o
terialistas para contestar tal ­servir de prova de que esse des- caso do transporte de uma fo-
manifestação do Espírito, cujo locamento foi real, objetivo”; tografia de Londres a Lowestoft,
objetivo principal foi compro- 4º) “produção de efeitos físicos cidades inglesas distantes 175
var-nos sua sobrevivência após duradouros”, como o dos mol- km uma da outra (AKSAKOF,
a morte do corpo físico. A ex- des em gesso de mãos fechadas 2002, p. 211).
celente obra de Aksakof refuta que só poderiam ser retiradas O século XIX, especialmen-
as teorias do filósofo alemão, do molde, sem lhe provocar te a partir de sua quarta década,
Dr. Eduard von Hartmann, dano algum, se as mãos se des- foi destinado por Jesus Cristo
que atribuiu os fenômenos de materializassem, qual ocorria. a combater o materialismo e
aparições e materializações à Alguns desses moldes, até os trazer ao mundo as provas da
alucinação e criou a teoria do dias atuais, se encontram intac- imortalidade espiritual e das
animismo para explicar todas tos, como os que vimos, há al- consequências boas ou más
as manifestações mediúnicas. guns anos, na sede histórica da do uso que fizermos do nosso

228 38 Reformador | Abril de 2018


livre-arbítrio. São muitas, as questão 372-a, recebe este es- O Espiritismo, diz Carlos
obras de pesquisadores sérios, clarecimento fundamental para Imbassahy (2008, p. 385), tem
além de Allan Kardec, que rela- que não tenhamos dúvida algu- o objetivo de proporcionar o
tam os fenômenos mediúnicos ma sobre a interdependência “aperfeiçoamento da Huma-
de efeitos físicos, com provas espírito-matéria: “Nunca dis- nidade”, com a demonstra-
baseadas na observação e expe- semos que os órgãos não têm ção cabal da sobrevivência de
rimentação, que são os méto- influência. Têm-na muito gran- nossa alma, após a existência
dos científicos propostos pelo de sobre a manifestação das física, pelos Espíritos. Todo
Codificador do Espiritismo faculdades, mas não são eles esse t­rabalho, que vem aper-
para comprovar a sobrevivên- a origem destas. [...]”. Ao que feiçoando-se, atualmente, é
cia da alma e sua comunicação ­Kardec comenta, logo abaixo: presidido pelo Espírito de Ver-
após a vida física. dade, representante de Jesus
Atualmente, algumas cor- Importa se distinga o estado Cristo entre nós.
rentes científicas e filosóficas normal do estado patológico. Kardec (2009a, Período de
materialistas tentam negar o No primeiro, o moral vence os luta) prevê seis períodos para
domínio da vontade indivi- obstáculos que a matéria lhe o Espiritismo: o primeiro foi o
dual sobre as manifestações opõe. Há, porém, casos em que da curiosidade, em que as ma-
físicas, baseados em desorga- a matéria oferece tal resistência nifestações físicas se propaga-
nização cerebral provocada por que as manifestações anímicas ram em toda parte; o segundo,
doenças. Entretanto, se lessem ficam obstadas ou desnatura- com o surgimento de O livro
com atenção as respostas dos das, como nos de idiotismo e de dos espíritos, foi o filosófico, que
­Espíritos a Allan Kardec sobre loucura. São casos patológicos deu origem ao terceiro, o de
o assunto, veriam que estão to- e, não gozando nesse estado a luta, justamente com o ataque
mando o efeito pela causa. alma de toda a sua liberdade, a às manifestações mediúnicas.
Quando Kardec refere-se à própria lei humana a isenta da Esse período originou o religio-
questão da influência dos ór- responsabilidade de seus atos. so, e ainda dois outros períodos
gãos sobre as faculdades men- (KARDEC, 2016b, comentário foram previstos: o intermediá-
tais, em O livro dos espíritos, de Kardec à q. 372-a). rio e o da regeneração social.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mesas_girantes

Abril de 2018 | Reformador 39 229


Tais períodos, entretanto, Espiritismo um papel a desem- das manifestações materiais e
misturam-se, como ocorreu com penhar, e um papel de prima- que, portanto, obstando-se a
o das manifestações físicas, ne- zia, que hoje experimentam tais manifestações, se lhe terá
cessário à satisfação, não somen- mais de uma desilusão em sua minado a base. Sua força está
te da curiosidade, como também ambição. Prometer-lhes-ão de na sua filosofia, no apelo que
da investigação e das consequên- um lado o que não puderem dirige à razão, ao bom senso.
cias filosóficas e morais. Ainda achar no outro. Depois, enfim, [...]” (KARDEC, 2016b, it. VI).
hoje, porém, o Espiritismo tra- com dinheiro, tão poderoso
va uma “guerra surda”, como foi em vosso século atrasado, não Confiemos em Deus, em
anunciada pelo Espírito Erasto, poderão encontrar compar- J­esus e façamos como nos reco-
em que a tortura será moral, com sas para representar indignas menda o Espírito Erasto, na bela
armação de ciladas, comédias, visando a lançar o mensagem transcrita acima: ore-
descrédito e o ridículo sobre a mos e vigiemos, pois Jesus segue
[...] tanto mais perigosas quan- Doutrina? à frente, e a vitória é do Bem.
to usarão mãos amigas; agirão [...]
na sombra; recebereis golpes, Coragem e perseverança, meus
sem que saibais de onde par- filhos! pensai que Deus vos olha REFERÊNCIAS:
tem, e sereis feridos em pleno e vos julga; lembrai-vos tam- AKSAKOF, Alexandre. Animismo e espi-
peito pelas setas envenenadas bém de que os vossos guias es- ritismo. v. 2. Trad. Dr. C. S. 6. ed. Brasí-
pirituais não vos abandonarão lia: FEB, 2002.
da calúnia. Nada faltará às
vossas dores; suscitarão de- enquanto vos acharem no cami- DOYLE, Arthur C. A história do espiri-
tualismo. Trad. José Carlos da Silva
fecções em vossas fileiras e os nho certo. Aliás, toda esta guer- Silveira 1. ed. 1. imp. Brasília: FEB,
pretensos espíritas, perdidos ra só terá um tempo e se voltará 2013.
pelo orgulho e pela vaidade, se contra os que julgavam criar IMBASSAHY, Carlos. O espiritismo à
prevalecerão de sua indepen- armas contra a Doutrina. O luz dos fatos. 6. ed. Brasília: FEB, 2008.
dência, exclamando: “Somos triunfo, e não mais o holocausto KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal
sangrento, irradiará do Gólgota de estudos psicológicos. ano 6, n. 12,
nós que estamos no reto cami-
dez. 1863. Trad. Evandro Noleto Bezer-
nho!”, a fim de que os vossos espírita. – ERASTO (KARDEC, ra. 3. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2009a.
adversários natos possam di- 2009a, Instrução dos Espíritos, ______. ______. ano 7, n. 2, fev. 1864.
zer: “Vede como são unidos!”. it. A guerra surda). Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 1.
Tentarão semear o joio entre reimp. Brasília: FEB, 2009b.

os grupos, provocando a for- Já se antecipando a esse pe- ______. O livro dos médiuns. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
mação de grupos dissidentes; ríodo de lutas, que não ocorre- Brasília: FEB, 2016a.
cooptarão os vossos médiuns ria somente em sua época, mas
______. O livro dos espíritos. Trad.
para fazê-los entrar no mau ca- ainda nos tempos atuais, diz Guillon Ribeiro. 93. ed. 2. imp. (Edição
minho ou para os desviar dos Kardec, na Conclusão de O livro Histórica). Brasília: FEB, 2016b.
grupos sérios; empregarão a dos espíritos: MAGALHÃES, Samuel N. Anna Prado: a
intimidação para uns, a capta- mulher que falava com os mortos. 1.
ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2012.
ção para os outros; explorarão “Falsíssima ideia formaria do
PUGLIESE, Adilton. Daniel Dunglas
todas as fraquezas. Depois, não Espiritismo quem julgasse que
Home, o médium voador. Santo André,
esqueçais que alguns viram no a sua força lhe vem da prática SP: EBM, 2013.

230 40 Reformador | Abril de 2018


A Sociedade de
Pesquisas Psíquicas e as
correspondências cruzadas
///////////////////////////////////////////

Licurgo Soares de Lacerda Filho


licurgo@netsite.com.br

F
inal do século XIX. Di- vida dos habitantes daquele Em busca de respostas para
versas mudanças sociais que foi considerado o século do os fenômenos mediúnicos, o
se estabeleciam por todo Neocolonialismo Europeu. A naturalista galês Alfred Russel
o ­ planeta. A escravidão esta- locomotiva, a fotografia, a lâm- ­Wallace (1823–1913) investiga-
va sendo substituída por novas pada incandescente, o telefone, va a mediunidade da inglesa Ag-
formas de trabalho. Ao mesmo o automóvel, estabeleceram as nes Nichol Guppy (1850–1917).
tempo, as ideias comunistas do bases para os desdobramentos O filósofo e diplomata russo
filósofo nascido no extinto Reino da Revolução Industrial. Alexandre Aksakof (1832–1903)
da Prússia, Karl Heinrich Marx Contudo, não era apenas no analisava as capacidades mediú-
(1818–1883) granjeavam simpa- plano social e tecnológico que nicas da inglesa Florence Cook
tizantes e ferozes adversários. as mudanças se acentuavam, (1856–1904); que também foi
Os defensores da Teoria da assombrando os mais céticos. investigada pelo químico e físi-
Evolução, de autoria do natura- Embora tenha desencarnado co inglês William Crookes (1832
lista britânico Charles Darwin em 1869, as análises e estudos de –1919). O astrofísico alemão
(1809–1882), encontravam for- Allan Kardec acerca da mediuni- Johann Karl Friedrich Zöllner
te oposição entre aqueles que dade e da sobrevivência da alma (1834–1882) realizava expe-
defendiam uma visão mais or- à morte do corpo físico tinham riências notáveis com o contro-
todoxa para explicar a evolução causado forte impressão, tanto vertido médium inglês Henry
da vida na Terra. na população, quanto na comu- Slade (1835–1905). A extraor-
Várias invenções mudavam nidade científica europeia da dinária médium italiana E
­ usapia
e ainda mudariam o estilo de ­segunda metade do século XIX. Palladino (1854–1918) tinha
­

Abril de 2018 | Reformador 41 231


suas capacidades analisadas pelo Sidgwick, passando a se chamar a Sociedade atestava o que o Es-
médico e criminologista italiano Eleanor Mildred Sidgwick. piritismo afirma, que algumas
Cesare Lombroso (1835–1909). No quadro de colaboradores pessoas possuem c­apacidades
A lista de investigadores e in- e investigadores daquela socie- às quais no Espiritismo da-
vestigados é extensa. Cientistas dade figuraram, em diferentes mos o nome de Fenômenos de
e acadêmicos se misturavam a épocas, personalidades conhe- Emancipação da Alma.
curiosos populares em busca de cidas, tais como: o psicólogo e Porém, quando os pesquisa-
respostas sobre o fenômeno me- filósofo estadunidense William dores da SPR foram investigar
diúnico. As observações obtidas James (1842–1910), o já men- os fenômenos especificamente
durante as experiências satisfa- cionado William Crookes, o físi- mediúnicos, tão amplamente
ziam alguns, mas também inco- co e escritor inglês Oliver ­Joseph difundidos naquele período, al-
modavam outros, ávidos por uma Lodge (1851–1940), o médi- gumas de suas conclusões não
explicação que se adequasse ao co fisiologista francês Charles foram tão satisfatórias assim.
conhecimento científico de então. ­Robert Richet (1850–1935). Suas conclusões não econo-
Foi esse anseio por expli- Encontraram-se, também, mizaram críticas aos fenôme-
cações objetivas para os fenô- nomes conhecidos no meio es- nos produzidos por intermédio
menos mediúnicos que levou pírita, tais como o astrônomo da famosa médium estaduni-
ao surgimento da Society for francês Camille Flammarion dense Katherine “Kate” Fox
Psychical Research – Socieda- (1842–1925) e, mais recente- (1837–1892) – a mais nova
de de Pesquisas Psíquicas ou, mente, o psiquiatra canadense das irmãs Fox –, do médium
­simplesmente, SPR. Ian Pretyman Stevenson (1918– ­Henry Slade (1835–1905) e do
A Sociedade foi organiza- 2007), que, embora não fosse famoso médium inglês William
da em fevereiro de 1882, em espírita, realizou uma série de ­Eglinton (1857–1933), famoso
­Londres, Inglaterra. O primei- investigações sobre a reencar- pelas mensagens que recebia
ro presidente daquela socieda- nação que mereceram destaque, por meio de lousas de ardósia.
de foi o filósofo inglês Henry incluindo a publicação do pri- Tal desfecho provocou a
Sidgwick (1838–1900). Em
­ meiro livro de sua autoria, que ­reação dos espíritas daquele pe-
torno do filósofo se reuniram no Brasil recebeu o título: Reen- ríodo, que contestaram os resul-
nomes muito conhecidos do carnação: vinte casos. Enfim, a tados obtidos. Por sua vez, a SPR
círculo intelectual inglês de en- lista de colaboradores e inves- se defendeu afirmando que suas
tão. Frederic William Henry tigadores daquela Sociedade é pesquisas não procuravam com-
Myers (1843–1901), ensaísta e longa e digna de respeito... provar se aqueles fenômenos ti-
poeta inglês. O psicólogo inglês Primeiramente, aquela so- nham como causa um Espírito;
Edmund Gurney (1847–1888). ciedade se dedicou a estudar os mas sim, comprovar se, de fato,
Também se fizeram presentes fenômenos de transmissão de tais fenômenos ocorriam.
representantes das Ciências pensamento, aos quais Henry Contudo, quando se reuni-
Exatas, como o físico jamaicano Myers chamava de telepatia. As ram o psicólogo William James, o
William Fletcher Barrett (1844– conclusões dos investigadores doutor em Direito, o australiano
1925); a matemática e feminista foram satisfatórias, tendo consi- Richard Hodgson (1855–1905) e
Eleanor Mildred Balfour (1845– derado como autênticos alguns o psicólogo estadunidense James
1936), que se casou com Henry fenômenos dessa ordem. Até aí Hervey Hyslop (1854–1920),

232 42 Reformador | Abril de 2018


para investigar a médium nor- não foram c­onclusivas. Mas é Kipling (1865–1936), autor do
te-americana Leonora Piper necessário considerar a preva- famoso The Jungle book (O li-
(1859–1950), os resultados fo- lência da prática empirista quan- vro da selva). Margaret Verral,
ram tão regulares que provoca- do da aplicação de pesquisas por professora de literatura clássica
ram alguns debates acalorados aquela sociedade, afinal, a SPR e sua filha Helen Verral. A já
entre os pesquisadores da SPR. era constituída por intelectuais mencionada Leonora Piper. A
Diferentemente dos inúme- acadêmicos. britânica defensora dos direitos
ros médiuns daquele período Porém, foi após o desencarne das mulheres Winifred Margaret
histórico, Leonora Piper não de alguns membros da SPR que a Coombe Tennant (1874–1956).
movimentava objetos, não pro- questão da existência e da comuni- Para ilustrarmos as tais cor-
vocava ruídos, não transpor- cabilidade dos Espíritos se tornou respondências, vamos acom-
tava peças do mobiliário. Sua mais relevante. E isso ocorreu por panhar o relato do escritor e
mediunidade não era de efeitos meio das c­ross-correspondences médico escocês Arthur Conan
físicos. Piper propiciava fenô- (correspondências cruzadas). Doyle (1859–1930), que se refe-
menos de psicografia e psico- Esse nome, correspondências re a um dos casos mais simples.
fonia, tão comuns nos dias de cruzadas, faz referência ao estilo As médiuns envolvidas nesse
hoje, mas não tão conhecidos em que a comunicação dos Es- relato foram Leonora Piper e
naquela época, os quais atual- píritos era realizada. Tratava-se Margaret Verral.
mente classificamos como de de mensagens psicografadas por
efeitos inteligentes. médiuns diferentes, muitas ve- À uma hora da madrugada do
Além da capacidade mediú- zes desconhecidos entre si, algu- dia 11 de março de 1907, a Sra.
nica de Piper, há de se salientar mas vezes residindo em regiões Piper despertou, dizendo:
seu caráter. Ela era, no dizer do distantes, as quais se completa- “Violetas”.
psicólogo James Hyslop, “sim- vam por terem a mesma autoria No mesmo dia, às onze da ma-
ples e honesta”. espiritual nhã, a Sra. Verall recebeu, pela
Enfim, a médium conse- Isoladamente, as mensagens, escrita automática, o seguinte:
guiu convencer os três pesqui- a princípio, eram indecifráveis. “Suas cabeças foram coroadas
sadores de que as mensagens Porém, quando combinadas – com botões de violetas”.
tinham como autores Espíritos “cruzadas” – com mensagens re- “Violace odores” (cheiro de
desencarnados, mas não conse- cebidas por outras médiuns, elas violetas).
guiu convencer o conjunto dos incorporavam o significado que “Folhas de oliveira e violeta, de
pesquisadores da SPR. No final lhes faltava ao serem ­analisadas cor púrpura e branca”.
da pesquisa, a mediunidade de em separado. Assemelhavam-se, “A cidade das violetas...”
Leonora Piper deixou todos os portanto, a um quebra-cabeças a (DOYLE, 2013, p. 356).
componentes daquela Socieda- ser decodificado.
de bastante intrigados. É interessante conhecer as Em outros casos de corres-
De fato, as contribuições da principais médiuns envolvidas pondências cruzadas, a com-
SPR em relação à sobrevivência nesse processo. Foram elas: a preensão do conteúdo não era
do Espírito à morte do corpo físico britânica Alice Kipling Fleming tão evidente como no caso
e sua capacidade de se comunicar (1868–1948), irmã do célebre mencionado. Acompanhemos,
com os e­ncarnados, c­ertamente escritor indiano Joseph Rudyard mais uma vez, Conan Doyle.

Abril de 2018 | Reformador 43 233


As ­ médiuns envolvidas são as les. Empregando tais recursos, ­ ontudo, muitos resultados são
C
mesmas do caso anterior. Mrs. o Espírito que fora Myers utili- acanhados e, quando não o são,
Sidgwick, citada no texto, era
­ zava sua proverbial argúcia para a divulgação é bastante limitada.
Eleanor Mildred Sidgwick, já ­provar sua sobrevivência à de- Os Espíritos teriam desis-
mencionada. Além disto, é possí- composição do corpo físico e sua tido de provar sua existência e
vel observar que o autor do texto capacidade de comunicar-se. capacidade de comunicação?
foi Frederic William Henry M
­ yers, De fato, a intrincada trama Certamente que não!
um dos fundadores da SPR, que montada pelo Espírito Myers Já no início do século XX o
havia desencarnado em 1901. exigia extremada atenção e foco da mediunidade havia sido
razoável conhecimento literá- radicalmente alterado e, certa-
Em 8 de abril de 1907, o suposto rio. Talvez por isso as corres- mente, essa alteração foi efetua-
Espírito de Myers, por intermé- pondências cruzadas, embora da por Espíritos interessados
dio da Sra. Piper, à Sra. Sidgwick: ­tenham despertado algum in- no desenvolvimento espiritual
teresse na época em que foram da Humanidade. Essa mudança
“Lembra-se da palavra Eu- escritas, não conseguiram com- decorria do fato de que a mediu-
rípides? Lembra-se daquelas petir com outros eventos me- nidade não deve ser apenas um
outras Espírito e Anjo? Fui eu diúnicos mais impactantes aos simples objeto de pesquisas para
quem as transmitiu. Quase to- sentidos, como as materializa- investigadores insatisfeitos com
das as palavras que escrevi hoje ções e transportes de objetos. os resultados obtidos, afinal o
são relativas a mensagens que Como se vê, por mais que objeto principal da mediunidade
estou tentando transmitir por analisassem e pesquisassem, é o de consolar e iluminar cons-
intermédio da Sra. V.” muitos dos investigadores per- ciências, e não o de servir apenas
maneciam insatisfeitos com os para entretenimento e satisfazer
No dia 7 de março, a Sra. Ver- resultados obtidos. Acrescente- curiosidades. Por essa razão, o
rall recebeu, no curso de uma -se a isso o fato de que alguns centro dos acontecimentos liga-
escrita automática, as palavras falsos médiuns, interessados na dos à fenomenologia mediúnica
“Hércules Furens” e “Eurípides”, fama e na obtenção de renda deixou de ser o hemisfério norte,
e, em 25 de março, escreveu: “Aí com demonstrações “mediúni- passando a se concentrar mais
está a peça teatral Hércules e a cas”, maculavam o conceito dos especificamente no Brasil, onde,
pista encontra-se na peça Eurí- médiuns sérios envolvidos nas enfim, poderia cumprir seu des-
pides; se você ao menos pudesse pesquisas. A soma desses fatores tino. Mas essa é outra história...
vê-la...” (DOYLE, 2013, p. 356). desencorajou muitos pesquisa-
dores a examinar o tema. REFERÊNCIAS:
DOYLE, Arthur C. A história do es-
Nessas mensagens, Henry Atualmente a Society for
piritualismo. Trad. José Carlos da
Myers, usando seus conheci- Psychical Research continua Silva Silveira. 1. ed. 1. imp. Brasília:
mentos literários, se referia a atuando, embora sem a visibi- FEB, 2013.
Hércules, o semideus da mito- lidade daquele final do sécu- LOUREIRO, Carlos B. Os investigado-
logia grega, e a Eurípides (480 lo XIX, início do século XX. res da alma e do espírito. 1. ed. Salva-
dor: ICECBL, 2008.
a.C.–406 a.C.), poeta e drama- Sociedades diversas, algumas
­
Disponível em: https://www.spr.ac.uk/
turgo grego que, entre suas peças dedicadas a pesquisas parap- about/our-history Acesso em: 24 mar.
teatrais, escreveu sobre Hércu- sicológicas, estão na ativa. 2017.

234 44 Reformador | Abril de 2018


C a m pa n h a N a c i o n a l
do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – 35 anos

Os Espíritos
respondem...
///////////////////////////////////////////

N
as comemorações dos 35 Bezerra – Graças ao tra- lhe aderiram, o endereço de Deus.
anos do Estudo Sistema- balho profícuo do ESDE, a di- Na atualidade, além dessa, o ser
tizado da Doutrina Es- vulgação correta e acessível da humano perdeu o endereço de si
pírita (ESDE), a coordenação Doutrina Espírita vem encon- mesmo e encontra-se aturdido,
nacional da Área de Estudo do trando maior ressonância nas sem saber para onde ir e como
Espiritismo do Conselho Fede- mentes e nos sentimentos. comportar-se. A ética do sentido
rativo Nacional da FEB consul- A metodologia aplicada fa- existencial desapareceu no jogo
tou o médium Divaldo Pereira cilita a compreensão dos no- das paixões primárias e o imedia-
Franco sobre a possibilidade de bres postulados doutrinários, tismo do prazer, especialmente
entrevistar os Espíritos Bezerra ao mesmo tempo que os amplia, sensual, vem-se tornando exces-
de Menezes, Angel Aguarod, utilizando-se da contribuição de sivo e desintegrador dos objetivos
Francisco Thiesen e Cecília Ro- dedicados pesquisadores e estu- básicos da existência, enquan-
cha, para que dessem algumas diosos fiéis, que oferecem escla- to faculta o comprometimento
orientações e diretrizes relati- recimentos bem fundamenta- com as obsessões espirituais e os
vas, particularmente, ao ESDE dos para a sua fixação mental e comportamentos extravagantes,
e, de forma geral, ao estudo do ­comportamental. quando não criminosos...
Espiritismo promovido pelo Tem sido um excelente ins- Estes dias fazem-nos recordar
Movimento Espírita. Eis o que, trumento pedagógico para a aqueles quando o Senhor Jesus
sobre o assunto, nos responde- ­divulgação do Espiritismo. veio ter conosco na Terra, a fim
ram os benfeitores espirituais: AEE – Como o senhor ava- de oferecer-nos as diretrizes in-
lia o momento e as possibilida- comparáveis para uma existên-
Entrevista com des do estudo do Espiritismo no cia feliz, conforme se encontram
Bezerra de Menezes: ­Brasil e no mundo? exaradas em o Novo Testamento.
AEE – Como a Espirituali- Bezerra – Este é um momento Desse modo, multipli-
dade Superior analisa o ESDE grave na história da Humanidade. cam-se as possibilidades do
no momento em que completa Anteriormente, a filosofia mate- estudo do Espiritismo em
os seus 35 anos de ação? rialista retirou das mentes, que se toda parte, especialmente no

Abril de 2018 | Reformador 45 235


Brasil, considerando-se a sua nos anos de 1970 estão sendo Aguarod – O êxito de
missão histórica. atendidas pelo Movimento Espí- todo empreendimento decor-
A dor que aturde, o deses- rita? O que falta? re da maneira como é execu-
pero que aflige e a angústia que Aguarod – Não padece tado. Diremos aos queridos
consome, necessitam de urgen- dúvida que os trabalhado- irmãos que laboram nessa
te orientação, de esperança, de res de boa vontade estão se área grandiosa de libertação
equilíbrio, baseados nos postu- esforçando para atender às
­ de consciências e de vivên-
lados do amor e na ação da cari- necessidades de iluminação e cia espírita-cristã, que per-
dade, mediante a transformação progresso que o Espiritismo maneçam com entusiasmo,
moral de cada um para melhor oferece. Multiplicaram-se os demonstrando a excelência
e a constante luta contra as suas dedicados divulgadores desde dos postulados divulgados na
más inclinações. aquela época; foram realizados própria conduta, conforme a
Todos nós, espíritas, cursos eficientes, atendimentos viveram o insigne Codifica-
­encarnados ou não, deveremos a sociedades espíritas despro- dor e os fiéis seguidores de
esforçar-nos para divulgar a vidas de facilidade para a apli- todas as horas.
Mensagem de libertação, viven- cação do ESDE, informações O exemplo do divulgador
do-a integralmente. seguras e vivência doutrinária. do Espiritismo é portador de
AEE – Como proceder para O que sugeriríamos diz grande poder, porque arrasta
que sigamos como trabalhadores respeito a maior exposição do as pessoas atraídas pelas pa-
fiéis ao compromisso assumido nosso programa, elucidando lavras à vivência do que lhes é
com o Cristo? os presidentes dos centros es- transmitido.
Bezerra – O incomparável píritas a adotarem o método
Mestre ensinou-nos a regra bá- facilitador, mediante conferên- Entrevista com
sica: “Todos saberão que sois cias especializadas e comen- Francisco Thiesen:
meus discípulos por muitos vos tários frequentes sobre a sua AEE – Podemos considerar
amardes.”. eficiência. a organização da Área de Es-
O amor é o selo de mansi- Ainda existem aqueles que tudo do Espiritismo como uma
dão que identifica o discípulo reagem ao compromisso im- evolução de todo um processo
de ­Jesus e a caridade é a auréola portante de preparar as novas que exigiu amadurecimento
que o envolve. gerações, a respeito do porvir do Movimento Espírita por
Desse modo, a união de to- da Humanidade, lembrando-se meio das experiências realiza-
dos e a unificação das institui- que o “Espiritismo será o futuro das com os programas voltados
ções devem constituir metas a das religiões”, como assevera- para a infância, juventude e
serem alcançadas de imediato ram os Espíritos ao Codifica- adulto, neste último caso, em
no serviço do Bem. dor, e para que assim aconteça, especial com o ESDE?
é indispensável educar e ins- Thiesen – Somente quan-
Entrevista com truir a todos. do o Movimento Espírita se
Angel Aguarod: AEE – O que o senhor tem a encontrava consolidado, gra-
AEE – As orientações ofere- dizer aos trabalhadores da Área ças à seriedade dos centros e
cidas em suas mensagens pela de Estudo do Espiritismo na instituições espíritas, é que se
mediunidade de Cecília Rocha atualidade? tornou possível o surgimento

236 46 Reformador | Abril de 2018


do ESDE, considerando-se a Cristianizando-se, mais fa- relação ao ESDE e à organiza-
qualidade do seu programa e cilmente o indivíduo se tornará ção da Área de Estudo do Es-
a revelação espiritual trans- espiritista legítimo e dedicado. piritismo pelo CFN, com a pos-
mitida por médiuns sérios e AEE – Que diretrizes nos sibilidade da multiplicação de
devotados, escritores e confe- podem ser oferecidas no mo- programas de estudo voltados
rencistas fiéis à Codificação, mento em que as opções de para o público adulto?
confirmando na atualidade a estudo se ampliam com a orga- Cecília – Sempre me preo-
obra incomparável de Allan nização da Área de Estudo do cupei com uma programação
Kardec. Espiritismo pelo Conselho Fe- que facilitasse ao público adulto
Tornaram-se paradigmas derativo Nacional? estudar o Espiritismo. Quan-
esses laboriosos instrumen- Thiesen – A unificação dos do residente em Porto Alegre,
tos do Alto, para a ampla di- espíritas e suas instituições é com um grupo de educadores,
vulgação do Espiritismo, ora um dos passos mais valiosos pensamos em uma programa-
reunidos em um programa da compreensão e da fraterni- ção específica para crianças, na
abrangente e disciplinado, que dade entre todos. Deveremos Federação Espírita do Estado
facilita o estudo e a vivência da lutar sem cessar para manter e, ante os resultados excelentes
Doutrina. esse liame que demonstra a que foram colhidos, dediquei-
Desse modo, foram be- grandeza da Doutrina em nos- -me ao estudo de um outro,
neficiados crianças, jovens e sas existências, de um ou do voltado para os adultos.
adultos, após superados pela outro lado da Vida. Havia e ainda existe alguma
psicopedagogia os antigos Podemos e devemos dis- dificuldade em muitas pessoas
programas, que tiveram uti- crepar de propostas apresenta- para penetrarem com seguran-
lidade na sua época, havendo das, quando necessário, pois o ça a codificação kardequiana.
servido de base para o novo nosso é o regime democrático. Posteriormente, em Brasí-
investimento, em constante Nunca, porém, dissentir, se- lia, vinculada à Federação Es-
evolução. parar-nos ou deixar que o ca- pírita Brasileira, pensei haver
AEE – É acertada a estraté- lor das expressões nos levem à chegado o momento de pro-
gia de focar o Espiritismo como ­desconsideração pessoal. por, com um grupo de educa-
Consolador Prometido nas A ampliação da Área de Es- dores, psicólogos e servidores
ações de preparação de traba- tudo do Espiritismo pelo CFN sociais, o ESDE. Apesar de al-
lhadores para a Área de Estudo facultará o desenvolvimento guma resistência encontrada,
do Espiritismo? da aplicação do programa em como é natural, viajando pelo
Thiesen – Inegavelmente, todo o país, passo avançado país e Exterior, pude constatar
sendo o Espiritismo o Con- para ser utilizado por outros a acertada decisão, agora segu-
solador que Jesus prometeu, é países da Terra, conforme já ra de que procedera do Mundo
indispensável que nesse fato vem acontecendo. Espiritual.
legítimo sejam preparados os O ESDE facilita o entendi-
trabalhadores para a Área de Entrevista com mento da Doutrina Espírita,
Estudos do Espiritismo, vincu- Cecília Rocha: contribuindo seguramente
lando-os irrevogavelmente ao AEE – Qual a sua visão, com os textos que complemen-
insigne Mestre de Nazaré. desde o Plano Espiritual, em tam as diretrizes estabelecidas,

Abril de 2018 | Reformador 47 237


não somente elas, mas tam-
bém a ampliação do conhe-
Considerações sobre A gênese,
cimento humano defluente os milagres e as predições
do estudo sério e bem amplo
apresentado.
segundo o espiritismo1
Hoje acompanho a sua
/////////////////////////////////////
­divulgação e exulto com os re-
sultados conseguidos na expec-
tativa de frutos opimos para o
futuro, por meio da cooperação
C omparada às demais obras de Allan Kardec, A ­gênese se re-
vela, de certo modo, diferente das anteriores, ­abordando,
sucessivamente, assuntos que em aparência são inconciliá-
eficiente do CFN.
veis, como os milagres, as predições e a gênese propriamente
AEE – Como a senhora ob-
dita, analisados em profundidade sob a lógica cristalina da fé
serva, do Plano Espiritual, as
raciocinada.
mudanças ocorridas nestes 35
Interessante destacar que nenhuma outra obra da Codifi-
anos, nas estratégias de estu-
cação Espírita evidencia, de modo tão patente, o gênio incon-
do do Espiritismo? Há algu-
testável de Allan Kardec. Embora se possa dizê-la, como as
ma orientação mais específica
precedentes, segundo o Espiritismo, por conta de sua confor-
para a atual Área de Estudo do
midade com o ensino geral dos Espíritos, não há como negar
­Espiritismo?
o papel preponderante do Codificador no desenvolvimento
Cecília – As mudanças
das matérias ali expostas, auxiliando-nos o entendimento na
ocorreram por necessidade de
interpretação dos postulados espíritas, na aplicação de suas
adaptação psicopedagógica,
práticas, de suas orientações filosóficas e de suas consequên-
havendo sido muito valiosas,
cias morais. É, dentre todas as obras do pentateuco espírita,
porque acompanharam o de-
se assim nos podemos expressar, a que mais recebeu a con-
senvolvimento intelecto-moral,
tribuição pessoal de Allan Kardec, comparativamente à dos
abrindo-se a novos campos do
Espíritos reveladores, muito mais evidente nas produções an-
conhecimento e mantendo-se
teriores, sobretudo na edição original de O livro dos espíritos,
perfeitamente atuais.
de 1857. Aqui, Kardec alcançou o grau de mestre, as entida-
AEE – O que a senhora
des venerandas já não o tutelam tão de perto, como antes... de
orientaria aos facilitadores de
aprendiz assume a condição de professor catedrático!
grupos de estudo da atualidade?
A despeito de tudo isso, e em que pese toda a sua impor-
Cecília – Eu solicitaria a
tância, A gênese é um dos livros de Allan Kardec menos lidos
esses admiráveis e dedicados
e estudados pelos espíritas do Brasil. Esperamos que as pales-
trabalhadores da Doutrina
tras, seminários, conferências e congressos que as comemora-
de Jesus que se entreguem a
ções de seu sesquicentenário, em 2018, por certo suscitarão,
esse mister com amor, estan-
possam despertar a atenção de nossos irmãos de ideal para a
do vigilantes para as necessi-
obra que veio coroar a missão do Codificador do Espiritismo.
dades que os tempos vierem
a apresentar, tornando cada
vez mais eficiente o programa //////////////////
­iluminativo. 1
N.R.: Redação de Reformador.

238 48 Reformador | Abril de 2018


O Filho
do carpinteiro
“E assim faziam dele objeto de escândalo. Mas, Jesus lhes disse: Um
profeta só não é honrado em sua terra e na sua casa. E não fez lá mui-
tos milagres devido à incredulidade deles”. (Mateus, 13:57 e 58)

///////////////////////////////////////////

Clara Lila Gonzalez de Araújo


claralilazez@gmail.com

E
ssa passagem, também re- Na linguagem usual, essa má- reflexão. Destaca o hábito ad-
gistrada em Marcos (6:4 e xima se aplica ao crédito de quirido pelas criaturas, por es-
5), faz parte dos enuncia- que alguém goza entre os seus tarem juntas constantemente,
dos de Jesus, de uma verdade que e entre aqueles em cujo seio sem reconhecerem que certos
se tornou provérbio, utilizada por vive, à confiança que lhes ins- familiares e amigos podem
Allan Kardec em seus escritos pira pela superioridade do ser diferentes, por adquirirem
sobre A gênese, capítulo 17, com ­saber e da inteligência. Se ela superioridade moral, mesmo
o qual deu ele maior amplitude sofre exceções, são raras estas pertencendo ao meio onde
à afirmação do Mestre, dizendo e, em nenhum caso, absolutas. cresceram e viveram próxi-
que ninguém é profeta em vida. O princípio de tal verdade resi- mos. Assevera que é natural
Interessante análise é feita de numa consequência natural isso acontecer com aqueles
pela Doutrina Espírita ao discor- da fraqueza humana [...].1 cujas primeiras fraquezas to-
rer sobre as razões que levaram dos testemunharam. O orgu-
Jesus a pronunciar esta sentença, A interpretação que K
­ ardec lho, porém, é sentido quando
para todos os que o acompanha- faz deste axioma traz ricas percebem a ascendência do
vam em sua pregação pela Terra: contribuições para a nossa outro, deixando-se atacar por

Abril de 2018 | Reformador 49 239


sentimentos inferiores, sem religiões, considera-se Jesus vel, pois, que possamos avaliar
conseguir controlá-los: o tipo mais perfeito para “[...] essa situação como exemplo
servir aos homens de guia e para cada um de nós. Há dois
[...] Quem quer que se eleve modelo [...]”,3 conforme afir- aspectos que nos levam a pen-
acima do nível comum está mação dos Espíritos revelado- sar sobre essa máxima, e o que
sempre em luta com o ciúme res, denominando-o de Mestre ela significa na nossa existên-
e a inveja. [...] Tal foi e será a incomparável, o Guia e Gover- cia: o primeiro é saber estar no
História da Humanidade, en- nador Espiritual deste mundo mundo de acordo com o que
quanto os homens não hou- de expiações e provas. ele nos propicia, sem esquecer
verem compreendido a sua Sua doutrina é a expressão que precisamos viver como os
natureza espiritual e alargado mais pura das Leis de Deus, homens da nossa época, mes-
seu horizonte moral. Por aí se trazendo mudanças de prin- mo considerando as aquisições
vê que semelhante preconceito cípios das Leis Divinas, no adquiridas no trabalho espíri-
é próprio dos espíritos acanha- todo ou em parte, a ponto de ta-cristão. Não precisamos vi-
dos e vulgares, que tomam suas transformar usos e costumes ver uma vida mística que nos
personalidades por ponto de de povos e civilizações. Infeliz- conserve fora das leis da socie-
aferição de tudo.2 mente, o homem terreno tem dade; sabemos da importân-
avançado muito lentamente cia de evocarmos pela prece a
Se lembrarmos a Morte e a em seu adiantamento moral. Deus e a Jesus, para conforto e
Paixão do Cristo, poderíamos Não consegue compreender, serenidade nos momentos de
perguntar: que fizera Ele por com sua inteligência, os ensi- provações e dores, contudo,
merecer tão amargas penas? namentos que o converteriam, sem chocarmos a ninguém,
Foi maltratado de forma cruel, envidando esforços na busca pois estaremos em contato
sofrendo agonias com cora- de vivências e experiências em com pessoas diversas, de ca-
gem e resignação. Realmente, benefício do próximo. racteres opostos. O evangelho
os homens não conheciam a A autêntica Doutrina cris- segundo o espiritismo nos con-
sua natureza divina. Eram, e tã é a que resulta dos ensina- vida a sermos joviais, ditosos
ainda são, criaturas imper- mentos e exemplificações de e simpáticos, mas que essa jo-
feitas, vivendo em um mun- Jesus, o humilde filho do car- vialidade venha de uma cons-
do atrasado como é o planeta pinteiro, como era chamado ciência sincera, tendo como
em que habitamos; a maioria por aqueles que moravam no direção a prática do amor e da
não conseguia apreender as mesmo lugarejo onde Ele re- caridade. Sobre a questão, Um
verdadeiras lições da vida, sidia com seus familiares, em Espírito protetor observa:
nem i­nterpretar corretamen- Nazaré, na Galileia, antes de
te os ensinamentos morais do iniciar a sua pregação. A perfeição está toda, como
­Cristo. Ele é padrão de perfei- O Espiritismo revive o disse o Cristo, na prática da ca-
ção moral a que toda a Huma- Cristianismo; não o das igre- ridade absoluta; os deveres da
nidade pode aspirar na Terra. jas e seitas que se formaram à caridade alcançam todas as po-
Por mais que tenha sido vi- sombra dos ensinos de Jesus, sições sociais, desde o menor
toriosa a missão de certas pes- mas que dele se desviaram, até o maior. Nenhuma caridade
soas, ao longo da história das infelizmente. É compreensí- teria a praticar o homem que

240 50 Reformador | Abril de 2018


vivesse insulado. Unicamente não faz, fá-lo outro. Assim, é

istockphoto.com/traveler1116
no contato com os seus seme- que cada qual tem seu papel
lhantes, nas lutas mais árduas útil a desempenhar. Ademais,
é que ele encontra o ensejo de sendo solidários entre si todos
praticá-la. Aquele, pois, que se os mundos, necessário se torna
isola priva-se voluntariamen- que os habitantes dos mundos
te do mais poderoso meio de superiores, que, na sua maio-
aperfeiçoar-se; não tendo de ria, foram criados antes do
pensar senão em si, sua vida é vosso, venham habitá-lo, para
a de um egoísta.4 vos dar o exemplo.5

O segundo aspecto, que con- Kardec, no comentário à


sideramos consequência do questão 805, examina a dife-
primeiro, chama nossa atenção rença das aptidões, que se deve
­sobre a Lei de Igualdade. Perante ao grau de aperfeiçoamento
Deus todos os homens são iguais, de cada um. Os mais prepara-
pois tiveram o mesmo princípio dos necessitam “[...] auxiliar o
e se destinam ao mesmo fim, de progresso dos mais atrasados e
progresso e evolução. Entretan- também para que os homens,
to, cada um deles vive mais ou necessitando uns dos outros,
menos tempo, conseguindo, al- compreendam a Lei de Carida-
guns, maior ou menor soma de de que os deve unir”.6
conquistas intelectuais e morais. Dessa forma, é essencial
Sobre as aptidões, os Espíritos que possamos aceitar todas as
­reveladores, asseguram que: criaturas, mesmo que elas não
percebam que vivemos apoia-
[...] A diferença entre eles está dos pela Mensagem do Cristo;
na diversidade dos graus de mensagem que haverá de ser
experiência alcançada e da inteligível para todo mundo,
vontade com que obram, von- de acordo com os Espíritos
tade que é o livre-arbítrio. Daí Superiores:
o se aperfeiçoarem uns mais
rapidamente do que outros, [...] consiste em abrir os olhos
o que lhes dá aptidões diver- e os ouvidos a todos, con-
sas. Necessária é a varieda- fundindo orgulhosos e des-
de das aptidões, a fim de que mascarando os hipócritas: os
cada um possa concorrer para que vestem a capa da virtude
a execução dos desígnios da e da religião, a fim de oculta-
­Providência, no limite do de- rem suas torpezas. O ensino
senvolvimento de suas forças dos Espíritos tem que ser cla-
físicas e intelectuais. O que um ro e sem equívocos, para que

Abril de 2018 | Reformador 51 241


ninguém possa pretextar ig- pode ser a base da benevolência respeitando-se, acima de tudo,
norância e para que todos o objetiva que nos permite com- com amor e caridade, especial-
possam julgar e apreciar com a preender o outro sem julgá-lo”.9 mente nos momentos atuais
razão. Estamos incumbidos de O respeito é um dever moral e por que estamos passando, de
preparar o reino do bem que todos necessitam tratar-se hu- transformações e de mudanças
Jesus anunciou. Daí a neces- manamente. Reconhecer, to- morais do globo terreno, para
sidade de que a ninguém seja davia, que alguns indivíduos atingirmos a condição de mun-
possível interpretar a Lei de são mais preparados do que do regenerado.
Deus ao sabor de suas paixões, outros, agindo de acordo com
nem falsear o sentido de uma a sua condição espiritual, ine- REFERÊNCIAS:
lei toda de amor e de caridade.7 rente às suas conquistas morais 1
KARDEC, Allan. A gênese: os milagres
e as predições segundo o espiritismo.
(Grifo nosso). e intelectuais obtidas em outras Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 4. imp.
existências e na encarnação (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2016.
Vivemos num mundo atra- atual. Lamentavelmente, Jesus cap. 17 – Predições do Evangelho, it. 2.
sado, cheio de incoerências e não conseguiu ser aceito por 2
______. ______.
preconceitos, e não há outra seus compatriotas, que apenas 3
______. O livro dos espíritos. Trad.
forma para a regeneração da o viam como uma pessoa co- Guillon Ribeiro. 93. ed. 2. imp. (Edição
Histórica). Brasília: FEB, 2016, q. 625.
Terra, senão com a transfor- mum. Seus próprios irmãos se
4
______. O evangelho segundo o es-
mação moral de seus habi- insurgiam contra Ele e o acu- piritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131.
tantes. As palavras do Cristo savam de “[...] homem que ed. 6. imp. (Edição Histórica). Brasília:
são as únicas que haverão de perdera o juízo”! (Marcos, 3:20 FEB, 2017. cap. 17, it. 10.
consolá-los, e o ensinamento e 21; 31 a 35). É possível ima- 5
______. O livro dos espíritos. Trad.
transmitido pelo Espiritismo, Guillon Ribeiro. 93. ed. 2. imp. (Edição
ginar que tipo de sentimentos
Histórica). Brasília: FEB, 2016, q. 804.
que é o Consolador Prometido seus parentes nutriam por Ele, 6
______. ______. q. 805.
por Jesus, haverá de esclare- com exceção de seus pais Maria
7
______. ______. q. 627.
cê-los, com a incumbência de e José. O Mestre, sabendo que a
colocar devidamente as coisas sua palavra teria menos autori-
8
Immanuel Kant: um dos maiores
pensadores da Humanidade. Nasci-
em seus lugares, retificando dade junto aos seus familiares e do numa pequena cidade da Prússia,
as deturpações de seus ensi- vizinhos, preferiu pregar para ­Königsberg, em 22 de abril de 1724.
nos, pela ignorância e pela in- Kant era filho de um artesão humilde
os que o escutavam e aos quais
que trabalhava com artigos de couro.
transigência dos homens, que inspirava simpatia. Estudou no Colégio Fridericianum e na
permanecem cegos, mudos e Nesse ponto, em A gênese, Universidade de Königsberg e tornou-
-se professor catedrático, depois de
­surdos para tudo isso. capitulo 17, Allan Kardec faz alguns anos preceptor de filhos de fa-
A que conclusão chegamos, referência aos espíritas para que mílias ricas. Kant não casou e não teve
na interpretação dessa máxima não se queixem de situações filhos. Faleceu em 12 de fevereiro de
1804, sem jamais ter saído da cidade
de Jesus? Precisamos ter respei- análogas, seguindo o exemplo em que nascera. Um filósofo extraor-
to uns pelos outros. Segundo o de Jesus, caso necessitem tomar dinário que passou a vida investigando
filósofo Kant (1724–1804),8 “o decisões a esse respeito. Apro- o universo espiritual do homem.

respeito define a norma de qual- veitamos essa alusão para rogar 9


KANT, Immanuel. Crítica da razão
pura. Trad. Valério Rohden; Udo Moos-
quer relação entre os homens, aos tarefeiros de nossa cren- burger. 2. ed, São Paulo: Abril Cultu-
bem mais que a simpatia, só ele ça que se mantenham unidos, ral, 1983. Introdução.

242 52 Reformador | Abril de 2018


Refúgio de paz
e segurança
///////////////////////////////////////////

Lucy Dias Ramos


eledias35@gmail.com

N
a contemplação da Natu- espiritualmente nos momen- Portanto, procuremos viver
reza encontramos motiva- tos de alegria e tranquilidade, com responsabilidade e apreço
ções e exemplos ­edificantes louvando a vida e as bênçãos aos deveres familiares, profissio-
para seguir nosso caminho com ­hauridas por meio da excelsa nais e sociais de cada dia, sem,
equilíbrio e coragem, aceitando bondade de Deus. no entanto, descuidarmos das
as dificuldades e os desafios como Adverte-nos Emmanuel: coisas espirituais, do que é per-
mudanças benéficas ao nosso manente e enriquecedor como
crescimento espiritual. Quantas almas apenas se re- os valores morais, as virtudes
Em momentos assim, a ora- cordam da necessidade do en- e de todo o bem que possamos
ção flui com espontaneidade contro com os emissários do realizar em favor do próximo.
e podemos manter esse inter- Divino Mestre por ocasião do O benfeitor espiritual, em
câmbio, louvando e agradecen- inverno rigoroso do sofrimen- seus comentários elucidativos,
do a Deus as benesses da vida. to? Quantas se lembram do recomenda-nos cuidar sempre
Em sua maioria, as pessoas Salvador somente em hora de de nossas aquisições morais e
buscam a ajuda dos benfeitores neblina espessa, de tempestade buscar a ajuda espiritual dos que
espirituais por meio da prece, ameaçadora, de gelo pesado e nos protegem e a nós se ligam pe-
apenas em momentos crucian- compacto sobre o coração? los laços de afetividade em todos
tes da existência. Em momentos assim, o barco os momentos de nossa existência.
Agindo assim, não teremos da esperança costuma navegar E assim, que a eles possamos
o hábito saudável de recorrer à sem rumo, ao sabor das ondas recorrer, também, nas horas de
fonte divina que nos alimenta revoltas.1 testemunhos e resgates ­dolorosos,

Abril de 2018 | Reformador 53 243


“[...] para que nos instalemos em já não possuem o vigor nem as riam nos estimular a vivência ple-
refúgios de paz e segurança”.2 facilidades dos outros ciclos da na de amor e compaixão!?
Muito importante compreen- vida física, quedando-se amar- Sucumbimos ante a dor
der a necessidade da busca da es- gurados e infelizes, d­ esanimados em sua função educativa, que
piritualidade, sem formalismo ou e com o coração enrijecido pela nos convida às mais íntimas
fanatismo, ao longo da vida, en- indiferença com que lidaram ­reflexões, alterando nosso com-
quanto o “inverno” não chega... com os bens espirituais. portamento para melhor, edu-
Compreender que estamos Nessa carta a Timóteo, ­Paulo, cando nossos sentimentos e
em processo de crescimento espi- já preso em Roma, solicita que levando-nos a uma sensibilida-
ritual, sujeitos às privações e so- ele venha antes do inverno, por- de maior diante do irmão que
frimentos que dilaceram nossos que sabia que a viagem teria que sofre, daquele que tantas vezes
sonhos e dificultam nossa cami- ser feita por mar, atravessando cruzou nosso caminho e lhe fo-
nhada, contudo escorados na fé o Mediterrâneo, enfrentando mos indiferentes. Todavia, hoje
e na confiança em Deus teremos tempestades e outras tormentas já compreendemos seus pade-
a sustentação e a temperança ne- mais graves. cimentos e lamentamos nossa
cessárias para superar os tormen- Certamente, tinha pressa, conduta diante de sua dor.
tosos dias de dores acerbas. sentindo-se sozinho, precisan- Como filhos de Deus, inse-
A comparação lúcida que do repassar instruções para os ridos na Lei do Progresso, reco-
Emmanuel dá à palavra “inver- amigos distantes. nhecemos que a misericórdia de
no”, sinalizando dificuldades e Como assevera Emmanuel, seu amor por nós oferece, a cada
impedimentos, ao comentar as o inverno é importante no ciclo um de seus filhos, mesmo no in-
palavras do Apóstolo Paulo em das estações terrestres. verno, o amparo e a assistência
2 Timóteo (4:21), leva-nos a re- Igualmente o sofrimento, lapi- espiritual de que necessitamos.
flexões mais profundas em tor- dando nossas almas, realizando as Mas é imprescindível manter
no da vida terrena e do descaso mudanças importantes para nossa acesas, em nosso coração, as lu-
que muitos dão ao sentido exis- evolução. Adverte-nos, porém, a zes da esperança e da fé, seguindo
tencial, deixando-se enveredar buscar Jesus e o trabalho no bem, com humildade no cumprimento
pelos atalhos da acomodação, edificando nosso futuro espiritual, de nossos deveres e na aceitação
da perda de tempo, da busca antes de o inverno chegar. serena das dores que nos apro-
dos prazeres materiais em detri- A decisão é nossa... Seguir ximaram de seu amor e de sua
mento dos valores morais... Jesus agora, antes que o inverno magnânima bondade, para reco-
Enquanto supostamente feli- da vida enrijeça nosso coração meçar nossa trajetória evolutiva.
zes, não cogitam da importante e a indiferença apague a luz da E estaremos, finalmente,
ligação com os dons e as bênçãos esperança. construindo nosso refúgio de
da vida, louvando e agradecendo Quantos de nós já perdemos paz e segurança!
a Deus o que realmente enriquece em vidas que se sucedem as opor-
seus dias e de forma perene chega tunidades valiosas de enriqueci-
REFERÊNCIAS:
de diferentes maneiras para seu mento espiritual por meio de seu 1
XAVIER, Francisco C. Vinha de luz.
sustento físico e espiritual. Evangelho, amando e perdoando, Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp.
Despertam, tardiamente, no valorizando a vida e suas bênçãos, Brasília: FEB, 2017. cap. 66 – Inverno.
inverno da existência, quando lapidando os valores que pode- 2
______. ______. p. 146.

244 54 Reformador | Abril de 2018


Apreciação da obra
sobre a Gênese 1

///////////////////////////////////////////

São Luís (Espírito)

E
sta obra vem na hora certa, às inteligências viris que se dirige. abris horizontes que ela supunha
à medida que a Doutrina Materialistas, positivistas, todos intransponíveis. Tal será o efeito
está hoje bem estabelecida os que, por um motivo qualquer, desta obra; não poderá senão as-
do ponto de vista moral e reli- se afastaram de uma espirituali- segurar mais ainda os fundamen-
gioso. Seja qual for a direção que dade cujas imperfeições suas in- tos da crença espírita nos corações
tome de agora em diante, tem teligências lhes assinalavam, nele que já a possuem, e fará dar um
precedentes muito arraigados no vão encontrar novos alimentos passo à frente para a unidade a
coração dos adeptos, para que para a sua insaciabilidade. A todos os dissidentes, sem exceção.
ninguém possa temer que ela se Ciência é sua senhora, mas uma A questão de origem que se
desvie do seu caminho. descoberta chama outra, e o ho- prende à Gênese é para todos uma
O que importava satisfazer an- mem avança sem cessar com ela, questão apaixonante. Um livro es-
tes de tudo, eram as aspirações da de desejo em desejo, sem encon- crito sobre esta matéria deve, em
alma; era suprir o vazio deixado trar completa satisfação. É que o consequência, interessar a todos
pela dúvida nas almas vacilantes Espírito também tem suas neces- os espíritos sérios. Por este livro,
em sua fé. Esta primeira missão sidades; é que a alma mais ateísta como já vos disse, o Espiritismo
hoje está cumprida. O Espiritis- tem aspirações secretas, incon- entra numa nova fase, e essa pre-
mo entra atualmente em uma fessadas, e que essas aspirações parará as vias da fase que mais
nova fase; ao atributo de consola- reclamam seu alimento. tarde se abrirá, porque cada coisa
dor, alia o de instrutor e diretor do A religião, antagonista da deve vir a seu tempo. Antecipar o
espírito, em ciência e em filosofia, Ciência, respondia pelo mistério a momento propício é tão prejudi-
como em moralidade. A carida- todas as questões da filosofia céti- cial quanto deixá-lo escapar.
de, sua base inabalável, dele fez o ca. Ela violava as Leis da N
­ atureza
laço das almas ternas; a Ciência, a e as adaptava à sua fantasia, para
solidariedade, a progressão, o es- daí extrair uma explicação in- //////////////////
1
N.R.: KARDEC, Allan. Revista Espírita:
pírito liberal dele farão o traço de coerente de seus ensinamentos. jornal de estudos psicológicos. ano 11,
união das almas fortes. Conquis- Vós, ao contrário, vos sacrificais n. 2, fev. 1868. “Apreciação da obra so-
bre a Gênese”, p. 90 a 92. Trad. E­ vandro
tou os corações que amam com à Ciência; aceitais todos os seus Noleto Bezerra. 2. ed. B ­ rasília: FEB,
as armas da doçura; hoje viril, é ensinamentos sem exceção e lhe 2006. (Transcrição parcial.)

Abril de 2018 | Reformador 55 245


Aparições
///////////////////////////////////////////

Ricardo Di Bernardi
rhdb11@gmail.com

U
ma indagação que se do, de fato, com uma pessoa demonstra a inocência do acu-
ouve muitas vezes no encarnada, semelhante a nós. sado. Comprovou-se, naquele
meio espírita é o que O termo agênere vem do instante, que Santo A ­ntônio
significa o termo agênere. Tra- grego, significando “que não pregava na Itália, na cidade de
ta-se do fenômeno em que um foi gerado”. Trata-se de um Padova (Pádua). O fato de-
Espírito é visto em aparição fenômeno temporário e não monstra que tanto o Espíri-
pública por pessoas comuns, permanente, ou seja, não po- to de um vivo, como o de um
mesmo que não dotadas de deria um Espírito manter-se “morto”, pode mostrar-se com
vidência mediúnica. Além de durante toda a sua vida terre- todas as aparências da realida-
poder ser visto, pode ser to- na como um agênere. Sua per- de, adquirindo momentânea
cado por qualquer pessoa pre- manência cessa ao esvair-se tangibilidade. Foi tal fenômeno
sente no local. Diz-se, então, o ectoplasma que captou dos que deu origem às histórias de
que é uma modalidade de apa- médiuns que o doaram. homens duplos, de indivíduos
rição tangível. Não se trata de Outro fenômeno interessan- cuja presença simultânea em
algo sobrenatural, uma vez que te é a chamada bicorporeidade. dois lugares diferentes se che-
é perfeitamente explicável pelo Tomemos um exemplo clássico, gou a comprovar.
estudo da fenomenologia me- reconhecido inclusive pela Igre- As entidades espirituais que
diúnica. Allan Kardec o define ja Católica: Santo Antônio de se tornam visíveis nem sempre
como o estado de certos Espí- Pádua estava pregando na Itália são Espíritos Superiores. Não
ritos que podem apresentar- quando seu pai, em Lisboa, ia há relação direta entre o grau de
-se, momentaneamente, sob as ser executado sob a acusação de evolução e a possibilidade de se
formas de uma pessoa viva, a haver cometido assassinato. No tornarem visíveis. Esse fato tem
ponto de causar completa ilu- momento da execução, o santo ocorrido tanto com Espíritos de
são de que estamos interagin- aparece no local do suplício e grande luminosidade quanto

246 56 Reformador | Abril de 2018


com Espíritos de menor grau de ­unca os enxergaram, admi-
n ou cuide de questões materiais
evolução. Os fatores propicia- tem perfeitamente a existência e superficiais, é nosso dever
tórios estão mais relacionados do Mundo Espiritual. orientá-la a aproximar-se de
ao potencial de doação de ec- Em orbes mais adiantados seres enobrecidos, que a con-
toplasma dos médiuns, à deter- do que a Terra, os Espíritos são duzirão a um dentre os muitos
minação e força de vontade do vistos mais frequentemente postos de socorro existentes
Espírito, além de características do que em nosso planeta, por- no Mundo Espiritual.
de densidade do corpo espiri- que seu perispírito é mais sutil, Se entabularmos conversa-
tual do desencarnado, ou seja, mais próximo da densidade do ção com uma “aparição”, é pos-
dependerá, sempre, da natureza Mundo Espiritual, o que facilita sível que ela nos responda. Há
do Espírito. Quando se trata de a sua percepção. Espíritos que nos responderão
um ser evoluído, em geral a in- Não nos devemos assus- pela voz articulada, outros
tenção é demonstrar que a mor- tar ao ver um Espírito. Nin- pela linguagem do pensamen-
te não existe. Se, ao contrário, guém se torna mais perigoso to. Dependerá da quantidade
é uma entidade espiritual em simplesmente por sua condi- de ectoplasma disponível, da
desequilíbrio que se manifesta, ção de Espírito: ao contrário, sensibilidade da pessoa que
sua aparição traz propósitos no- quando encarnado, sua ação presencia a “aparição” e do seu
civos, desequilibrantes, influen- seria mais expressiva, direta e nível evolutivo.
ciando apenas os que estejam contundente. Podemos con- Como explicar que certas
sintonizados na mesma faixa versar com um Espírito que pessoas veem Espíritos com
vibratória inferior. nos apareça, em vez de assu- asas? Asas, os Espíritos não as
Não deveriam ser mais mirmos uma posição pueril têm, pois não precisam delas
frequentes as aparições, de- de temeridade. Conforme para se deslocar. Se às vezes
monstrando de forma cabal a nos recomenda Kardec em O aparecem com esta forma é
realidade do Mundo Espiri-
­ livro dos médiuns, capítulo 6 pelo efeito impressionável que
tual? Segundo O livro dos mé- – Manifestações visuais,1 é re- apresentam, ligado a crenças
diuns, não seria assim, pois tal comendável estabelecermos que trazemos de vidas passa-
fenômeno não demoveria os uma conversação com o ser das ou da nossa infância. Além
incrédulos. Quando uma pes- espiritual que se nos apresen- disso, é possível que a intensa
soa julga estar só, age com mais te. Se for possível dialogarmos vibração que pode existir em
naturalidade e livremente, en- com uma “aparição”, a maneira torno de seu corpo espiritual
quanto a presença constante correta de travarmos um diá- nos dê a sensação, a ilusão de
e perceptível dos Espíritos di- logo seria perguntar ao Espí- asas em movimento.
ficultaria qualquer iniciativa rito: quem ele é, o que deseja Espíritos zombeteiros po-
autêntica. Além disso, pertur- e em que podemos ajudá-lo? dem tomar a forma de outros,
baria a muitos, embaraçando Caso se trate de um Espírito para nos enganarem. Há apa-
seus atos. Outro fator a con- bondoso, esclarecido e equili- rições que são visíveis apenas
siderar é que muitos dos que brado, dar-nos-á boas orien- para algumas pessoas ou até
viram Espíritos continuam a tações; tratando-se, porém, de exclusivamente para uma só
não acreditar na existência de- entidade que nos faça pedidos em particular. As demais pes-
les, ao passo que outros, que inadequados, inconvenientes soas, mesmo presentes ao local

Abril de 2018 | Reformador 57 247


no momento da aparição, não São mais descritas à noite em lendas, ingenuidade, ficção,
veem absolutamente nada. Nes- as aparições, o que tem con- imaginação fértil ou, simples-
te caso, não seria um agênere? tribuído para torná-las ainda mente, invencionices e má-fé.
Não! Seria uma percepção pela mais atraentes e extravagan- Os Espíritos que nos apare-
vidência mediúnica. O ecto- tes pelo imaginário popular. cem em sonhos são, de modo
plasma implicado no processo Aparições à luz do Sol atraem geral, aqueles a quem busca-
não foi suficiente, do ponto de menos a criatura que dese- mos pelo pensamento, pelas
vista quantitativo, para tornar ja apenas emocionar-se com atitudes e tendências que ain-
tangível a aparição. contos, lendas ou histórias da nos caracterizam. São por
Aparições durante o sono fantásticas. Segundo pesqui- nós atraídos de forma cons-
são mais comuns do que no sadores sérios, as aparições ciente ou inconsciente, pelo
­estado de vigília; isto sucede visuais também se dão com desejo ardente que temos de
porque, durante o sono, fre- bastante frequência durante revê-los, pela sintonia que
quentemente estamos desdo- o dia. Com relação aos agêne- com eles estabelecemos.
brados ou desprendidos do res, embora ocorram também A vidência mediúnica,
corpo biológico, projetados em à luz do dia, há maior facilida- como as demais modalidades
corpo espiritual. Estaríamos, de de o fenômeno verificar-se de mediunidade, é um dom
então, situados na mesma di- durante a noite, pela maior ne- inerente a certas disposições
mensão das entidades que vi- cessidade de ectoplasma, subs- que trazemos impressas no
vem no Mundo Espiritual. tância muito sensível à luz. corpo físico; portanto, não é
As aparições são percebidas Em certos povos se dão com algo que se possa adquirir de
com mais frequência quando mais frequência os relatos de um momento para outro. O seu
estamos doentes. Não seria um aparições, enquanto que em desabrochar deve ser natural,
fenômeno de ordem puramen- determinadas culturas há inex- sendo muito importante que
te psicológica ou ilusória? Em- pressivo registro de tal fenôme- eduquemos e orientemos as
bora ilusões existam, e devam no. Na maioria delas, a ideia de nossas percepções.
sempre ser consideradas, sabe- visões de “almas do outro mun- Finalmente, a forma de
mos que, ao adoecer, é comum do” equivale a algo proibido, aparição mais comumente ob-
entrarmos em contato com a demonstração de ignorância servada é a que apresentava a
espiritualidade, seja pela ação ou de desequilíbrio emocio- ­entidade espiritual na sua última
da prece, por pedidos de auxílio nal. Esta concepção acabou por encarnação. Já a causa principal
ou outras formas de relaciona- determinar duas possibilida- que leva um Espírito a aparecer
mento que estabelecemos com des de posturas mentais: ou se aos encarnados é a simpatia que
o Mundo Espiritual, sem contar bloqueia toda e qualquer per- por eles nutria no mundo físico;
a própria fragilidade do cor- cepção, atribuindo-a a ilusões, em outras palavras, a saudade, a
po físico, condição que facilita ou, quando admitida, evita-se afeição que os unia.
bastante o intercâmbio entre os comentá-la, por temor de expo-
dois planos da vida, por serem sição ao ridículo. Naturalmen-
menos fortes, em tal situação, te, nem todo relato de aparição //////////////////
1
N.R.: KARDEC, Allan. O livro dos mé-
os laços que prendem o nosso é real; há que se excluir as su- diuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
Espírito à matéria densa. perstições, fixação psicológica 81. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

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Convite ao bem
///////////////////////////////////////////

Patrícia Carvalho Saraiva Mendes


patrícia@adpeople.com.br

À
frente da expressão “anos moral veem-se sós, absolutamen- num tabuleiro simples, de alimen-
de chumbo”, o imaginário te incompreendidos, em suas pro- to aos animais, e caminha, san-
popular costuma remeter- postas de intimidade reformada. grando os pés, em meio do denso
-nos a este ou àquele cenário so- No entanto, para além das cipoal das angústias mesquinhas
cial ou político, pelo qual passam sombras que pairam no hori- e das querelas egoístas das almas
povos e sociedades no palco tran- zonte planetário conturbado, é humanas, ainda tão incipientes
sitório das vidas que se sucedem. preciso perseverar. em sua jornada evolutiva.
Reflexionando, contudo, Ainda que aturdidos, se bem E, no entanto, vem!
acerca da vida que nos tem pensarmos, veremos que tam- Eis que vem Jesus a nos lecio-
sido possível experimentar na bém naqueles dias inolvidáveis nar o amor, imarcescível amor
Terra, nesses dias trevosos de do Mestre entre todos, na Terra, divino, irradiado cotidianamen-
transição planetária, diante das naqueles tempos da Roma dos te por nós; expresso para nós;
intempéries morais que desa- Césares, entre Tibérios, Neros e superveniente, apesar de nós...
bam sobre nossas frontes de tantos Narcisos, também Nosso Vem o Mestre, em sua desci-
momento a momento, sem dar Senhor andou em verdadeiros da inesquecível à Terra, morada
trégua, e diante das reiteradas dias de chumbo, em meio aos planetária transformada, por nós
notícias que nos alcançam, na torvelinhos da perfídia e aos tur- mesmos, seus cruentos habitantes,
propalada aldeia global em que bilhões das desgraças humanas, em espinheiro de dor e desolação,
se transmutou o orbe, sempre grassando, no entanto, peremp- a fim de nos convidar ao bem!
angustiosas, as mais das vezes toriamente, as verdades eternas, E, espíritas, agora, que o
apavorantes, quais lúgubres cin- em sublime consolação, divina relógio do tempo assinala-nos
zas que saíssem da torre de uma compreensão e imorredouras vinte séculos passados, aten-
fábrica de produção infesta e in- lições derramadas sobre os cora- damos, mesmo que em nítido
feliz, pensamos que, sim, esses é ções sedentos de amor e de paz. descompasso temporal com o
que são dias de chumbo... Sem que enviasse, àqueles dias convite, a Jesus.
São dias obscuros esses, em terrenos, alguém em seu lugar, o Intentemos seguir-lhe os
que, por vezes, os candidatos que próprio Messias desce, gloriosa- passos, não obstante o nevoei-
se aprumam no rumo certo da mente, ao planeta, renascendo ro de provas e expiações em

Abril de 2018 | Reformador 59 249


que tateamos, reações a que nós sada em que nossa moralidade tas-cristãos não mais nos entrega-
mesmos demos causa, em recal- ainda se estertora; mas, antes, remos às flores de um só dia, cujo
citrantes desvios encarnatórios. busquemos o esforço valoroso; temporal a abrasá-las anuncia-se
Ouçamos Jesus! a oportunidade ímpar de servir; logo ali, na esquina das horas.
Especialmente os espiritis- a contribuição anônima, toda- Ainda quando outros se de-
tas encarnados na hora expia- via importante, com que nos sesperem, anunciando o final
tória derradeira, cujos joelhos presenteia o Senhor da Vinha. apocalíptico de todas as coisas,
desconjuntados denotam o fra- Aceitemos o chamado a arar- desesperançados de si mesmos e
casso repetido em encarnações mos, especialmente em terra do que tem sido feito do jardim
sucessivas, especialmente nós, árida, na certeza de que, sendo planetário onde Deus espera que
ergamo-nos, da falência de nós verdadeiramente quem ainda floresçamos, os espíritas since-
mesmos, para aceitarmos Jesus somos, por ora está mais que ros perseveraremos na atenção
como Modelo e Guia de ação, dispensada nossa cooperação ao convite imorredouro de Jesus.
de conduta, de vida na Terra. nos paraísos celestiais, sendo
É Jesus, o Divino Amigo, indiscutível, porém, a realidade Por mais se desenfreie a tor-
quem nos convida. de que, no momento, nosso “[...] menta, Cristo pacifica.
Aceitemos o convite honro- lugar de servir e aprender, ajudar Por mais negreje a sombra,
so que nos incentiva ao bem. e amar é na Terra mesmo.”.1 Cristo ilumina.
E, se já nos sentimos mais O convite com que Jesus nos Por mais se desmande a força,
confiantes, se já permitimos que brinda é ao bem incansável. Cristo reina.3
o ­bafejo das verdades eternas nos Para aceitá-lo, em Espírito
alicerce o agir no mundo, se, quais e Verdade, lembrando Pascal, E, quem sabe agora, enfim,
pacientes outrora terminais, já nos mister é que nos livremos dessa possamos perseverar no bem,
achamos capacitados para o labor couraça que nos “[...] cobre os insistir no bem, sabendo que,
na seara evangélica, conquanto o corações, a fim de se tornarem para além das grossas nuvens de
entardecer provacional da Terra, eles mais sensíveis aos sofri- desgosto e mágoa que pairam
se já, no imo da alma, sentimo-nos mentos alheios [...]”.2 sobre todos nós, há Jesus! Reina
fortalecidos, aceitemos a mó e a O convite de Jesus, a nós, é Jesus! Aguarda-nos Jesus...
charrua que Jesus nos entrega para convite a amar sem condições. Que Jesus seja, em dias tenebro-
o trabalho edificante, por mais pe- Na certeza do atendimen- sos ou não, nossa bandeira de luz.
sadas se mostrem. O ferramental to ao chamado impostergável,
evolutivo apresenta-se assim por- ainda quando outros, na Terra, REFERÊNCIAS:
que o merecemos assim... distendem em contendas inú- 1
XAVIER, Francisco C. Agenda cristã.
Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. 6. imp.
Na aquiescência ao invite teis, acerca do poder temporal,
Brasília: FEB, 2016. cap. 46 – Aprovei-
sublime, não aspiremos, no en- sempre corredio, os verdadeiros te o ensejo.
tanto, a ser astros, quando ain- espíritas não mais nos entre- 2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
da, em verdade, não dispomos garemos a essas infantilidades o espiritismo. Trad. Guillon ­Ribeiro.
de luz própria que nos alumie a evolutivas, que logo passam. 131. ed. 8. imp. (Edição Histórica).
­Brasília: FEB, 2017. cap. 11, it. 12.
estrada; não disputemos cargos, Ainda quando outros se refes- 3
XAVIER, Francisco C. Ave, Cristo!.
nem visibilidade, propósito que telem, no festejo fugaz das coisas Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. 8. imp.
somente denuncia a terra arra- fáceis, da alegria fugidia, os espíri- Brasília: FEB, 2016. cap. Ave, Cristo!.

250 60 Reformador | Abril de 2018


B r as il Esp í r i ta Federação Espírita Brasileira | Conselho Federativo Nacional | Brasília

ENCONTROS MICRORREGIONAIS ­ arcel Mariano e o presidente da FEB, Jorge Godi-


M
nho. O evento é promovido pela Federação Espírita do

DE COMUNICAÇÃO DO NORDESTE Estado de Alagoas (FEEAL) e será realizado no Centro


de Convenções (AL). Informações: www.feeal.org.br

3o ENCONTRO DE
EVANGELIZADORES E EDUCADORES

Ao longo de 2018 serão realizados os Encontros Nos dias 3 e 4 de março a União das Socie-
Microrregionais de Comunicação do Nordeste – dades Espíritas do Estado de São Paulo (USE)
Em foco a Comunicação Social Espírita. O primei- promoveu o 3o Encontro Paulista de Evangeliza-
ro encontro ocorreu de 30 a 1o de abril, em ­Maceió. dores e Educadores Espíritas. O tema trabalhado
Nos dias 5 e 6 de maio a programação será em foi “A Importância da Reflexão na Evangelização”.
João Pessoa e de 15 a 17 de junho, em ­Fortaleza. ­Informações: www.usesp.org.br
­Informações: www.federacaoespiritape.org

CONFERÊNCIA ESTADUAL ESPÍRITA


CONGRESSO ESPÍRITA ALAGOANO A Federação Espírita do Paraná (FEP) pro-
“Os construtores do amanhã” será o tema central moveu a 20a Conferência Estadual Espírita nos
do 4o Congresso Espírita Alagoano que será reali- dias 16, 17 e 18 de março, com palestras de
zado de 6 a 8 de junho e receberá, como palestran- ­Sandra Borba Pereira, Sandra Della Póla, ­Divaldo
tes, ­Marluce Ferreira, Haroldo Dutra, Simão Pedro, Franco, Alberto Almeida e Haroldo Dutra.
­

252 62 B r as i l E s p í r i ta | Abril de 2018


O tema ­central foi “Construindo o mundo do F­ amília, nos dias 24 e 25 de março, realizado na
amanhã”, com homenagens aos 150 anos de A gê- ­Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis (SC).
nese. Informações: www.feparana.org.br ­Informações: www.fec.org.br

CONGRESSO ESPÍRITA DO SEMINÁRIO ENIGMAS


DISTRITO FEDERAL DA DESOBSESSÃO

Nos dias 17 e 18 de março ocorreu o Seminário


Enigmas da Desobsessão promovido pela Federa-
ção Espírita do Estado da Bahia (FEEB). O encon-
tro contou com a participação do palestrante Jaider
Rodrigues de Paulo. Informações: www.feeb.org.br

JESUS E A TRANSIÇÃO PLANETÁRIA


A 8a edição do Congresso Espírita do Piauí
A 4a edição do Congresso Espírita do Distrito ocorre entre os dias 27, 28 e 29 de abril, abordan-
Federal, promovido pela Federação Espírita do do o tema “Jesus e a transição planetária”, com
Distrito Federal ocorre nos dias 20 a 22 de abril, homenagem aos 150 anos de publicação do livro
no Centro Internacional de Convenções do B ­ rasil A gênese, uma das obras basilares do Espiritis-
(SCES Trecho 2, conjunto 2, lote 50, Brasília – mo codificadas por Allan Kardec. Informações:
DF). Informações: www.fedf.org.br www.fepiaui.org.br

ENCONTRO ESTADUAL CONGRESSO ESPÍRITA


DA ÁREA DA FAMÍLIA DO AMAZONAS
A Federação Espírita Catarinense (FEC) A Federação Espírita Amazonense (FEA) pro-
promoveu o Encontro Estadual da Área da move o 8o Congresso Espírita do Amazonas e o 2o

Abril de 2018 | Brasil Espírita 63 253


Congresso Espírita Jovem. Os eventos ocorrerão
entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018, 5o CONGRESSO ESPÍRITA DO
no Centro de Convenções do Amazonas Vasco
Vasques, abordando o tema “São chegados os
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
tempos?”. Haverá livraria, área gourmet, lounges
e feira de artesanato. Informações: congresso.
feamazonas.org.br

SEMINÁRIO VENCENDO
SEUS CONFLITOS

Está marcado para os dias 12, 13 e 14 de ou-


tubro de 2018 o 5o Congresso Espírita do Esta-
do do Rio de Janeiro. Promovido pelo Conselho
Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ),
o tema abordado será “150 anos de A ­gênese:
iluminando novos tempos”. Haroldo Dutra,
­André T ­ rigueiro, Alberto Almeida, Ivana Raisky,
­Rossandro Klinjey, Cezar Said, Sandra Borba,
Henrique ­Fernandes e o presidente da FEB, ­Jorge
A Federação Espírita do Estado do Ceará Godinho, serão os expositores no encontro.
(FEEC) realiza nos dias 7 e 8 de abril o 14o Se- ­Informações: www.ceerj.org.br
minário Vencendo seus Conflitos, abordando o
tema “Por que as pessoas procuram tanto a infeli-
cidade?”. Alberto Almeida, Tom Trajano e Anete 5a SEMANA ESPÍRITA RORAIMENSE
Guimarães são nomes já confirmados no evento. No período de 12 a 19 de outubro será reali-
Informações: www.feec.org.br zada a 5a edição da Semana Espírita Roraimense

254 64 B r as i l E s p í r i ta | Abril de 2018


(SER). O evento tem como objetivo esclarecer so-
bre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíri- 2o ENCONTRO FRATERNIDADE
tos e suas relações com os homens, as Leis Morais,
a vida presente e futura, além de difundir a men-
SEM FRONTEIRAS
Entre os dias 20 a 22 de abril acontece o 2o En-
sagem consoladora do Evangelho de Jesus à luz do
contro Fraternidade Sem Fronteiras, com o tema
Espiritismo. Este evento é promovido pela Fede-
“Seja você a mudança que quer ver no mundo”.
ração Espírita Roraimense (FER). Informações:
O evento tem como objetivo fortalecer a corrente
www.fer.org.br
fraternal no mundo, fazendo de um só povo, um
só coração. Informações: www.sympla.com.br/ii-

ACAMPAMENTO DE -encontro-fraternidade-sem-fronteiras__129245

JUVENTUDE ESPÍRITA DEPRESSÃO, DEPENDÊNCIA


E SUICÍDIO

A Federação Espírita de Pernambuco (FEP)


promove o Acampamento de Juventude Espírita
(AJE-PE) no período de 7 a 9 de setembro, que A Federação Espírita Amazonense (FEA) rea-
abordará o tema “Mereça ser Feliz”. O acampa- lizou o Seminário com o tema “Depressão, depen-
mento será realizado no Acamp – Recanto do Sol dência química e suicídio” no dia 4 de março. Os
Paudalho (PE). Informações: www.ajepe.com.br palestrantes convidados foram Vânia Moura Reis

Abril de 2018 | Brasil Espírita 65 255


e Rener Leite da Cunha, que abordaram ideias Sul. O tema deste seminário será “Conhecimento,
centrais e conceitos-chave dessas problemáticas. amor e trabalho”. Informações: www.fergs.org.br
Informações: www.feamazonas.org.br

EVANGELIZADORES ESPÍRITAS
MEDNESP 2019
DE INFÂNCIA E JUVENTUDE
Nos dias 14 a 16 de setembro acontecerá o 1o
Encontro Nacional de Evangelizadores Espíritas,
promovido pelo Conselho Federativo Nacional
da Federação Espírita Brasileira (CFN/FEB),
organizado pela Área Nacional de Infância e Ju-
ventude do CFN/FEB e sediado pela Federação
Espírita do Estado do Espírito Santo (FEEES).
­Informações: www.facebook.com/feetins

DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
À LUZ DO ESPIRITISMO
No dia 9 de março iniciaram-se os estudos
na Federação Espírita Amazonense (FEA). O
grupo de estudos, intitulado Desafios Con-
temporâneos à luz do Espiritismo, tem como
objetivo o estudo dos fatos e temas da atuali-
dade à luz da Doutrina Espírita. Informações:
Entre os dias 19 e 22 de junho de 2019 será www.feamazonas.org.br
realizado o MEDNESP, abordando o tema “A
evolução da espiritualidade na prática médica”.
O evento é uma promoção da Associação Médi- CONHECIMENTO QUE ACOLHE,
co-Espírita do Brasil (AME-Brasil) e ocorrerá na
cidade de Teresina (PI). Informações: www.med- VALORES QUE TRANSFORMAM
nesp2019.com.br Área de Estudos do Espiritismo da Fede-
ração Espírita Amazonense trabalha a campa-
nha “Espiritismo: conhecimento que acolhe,
ENCONTRO ESTADUAL DE valores que transformam”. Entre os objetivos
da campanha está: promover cursos, seminá-
EVANGELIZADORES DO RS rios e oficinas para qualificação de monitores
No dia 6 de maio acontecerá o Encontro Esta- de grupos de estudos espíritas. Informações:
dual de Evangelizadores Espíritas do Rio Grande do www.feamazonas.org.br

256 66 B r as i l E s p í r i ta | Abril de 2018


LANÇAMENTO
VIDA SAUDÁVEL E FELIZ
O QUE FAZER PARA TER UMA VIDA SAUDÁVEL E FELIZ?
Neste livro de Leonardo Machado, a leitura leve e ao mesmo
tempo profunda propicia reflexões e disposição para definir novos
rumos na caminhada evolutiva.
Aprendemos que os ensinos do
Cristo podem contribuir para a
nossa felicidade.

EBOOK DISPONÍVEL NAS LOJAS


Orientação à Assistência e
Promoção Social Espírita
Sede bons e caridosos: essa a chave que tendes em vossas
mãos. Toda a eterna felicidade se contém nesse preceito:
“Amai-vos uns aos outros”.
O evangelho segundo o espiritismo

Documento que oferece


orientação à Área de
Assistência e Promoção
Social Espírita, tanto no que
diz respeito ao conteúdo
doutrinário espírita quanto em
relação ao método de ação e
às atividades a serem
realizadas nesse trabalho
pelos centros espíritas em
todo o território nacional.

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