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Editorial O guerrilheiro da
O cultura popular1
Boletim 43 registra com pesar duas grandes perdas
para a cultura popular do nosso Estado: o falecimento
de Nelson Brito, do LABORATE, homenageado pelo Joãozinho Ribeiro
poeta Joãozinho Ribeiro e relembrado por Elizene Matos
e Flavia Andresa Mendes; e o desaparecimento do mun-
do dos vivos do compositor Antonio Vieira, retratado por
Nivia Saraiva em Perfil Popular.
O numero 43 começa com a ladainha de Nossa Se-
nhora, trazida por Zelinda Lima, rezada no mês de maio
em várias instituições católicas e em família e repetida
quase o ano todo nos terreiros de religião afro-brasileira
da capital. Em Janela do Tempo Ruben Almeida, mem-
bro-fundador da CMF, faz também referência a antigos
festejos do Divino Espírito Santo em São Luís que, embo-
ra realizados no dia de Pentecostes, são também organi-
zados nos terreiros em quase todos os meses do ano. Nesse
mesmo número; Carlos Lima, em Reminiscências, fala
sobre a Rua do Sol, uma das mais importantes do centro
de São Luís; e Elisabeth Bittencourt reflete sobre o bum-
ba-meu-boi do Maranhão, destacando na brincadeira a
figura do cazumbá (também conhecido por cazumba). Emudeceram os tambores
Continuando a tratar sobre cultura tradicional e reli- Calaram o cacuriá
gião popular do Maranhão Reinaldo Soares Junior mostra A roda de capoeira
a atualidade da crença em Mãe d´Água na região de Cu- Não consegue mais girar
rurupu; e Thiago Santos relata observações realizadas em Foi-se embora um grande amigo
casas de comercialização de produtos religiosos, mais co- Pai de família exemplar
nhecidas como lojas de umbanda. Dois outros artigos do Nelson Brito guerrilheiro
Boletim 43 giram em torno das relações entre religiões Da cultura popular!
afro-brasileiras, catolicismo e protestantismo. Fabrine Brito
analisa o pertencimento dos mineiros e umbandistas ao O LABORARTE está de luto
catolicismo e Mundicarmo Ferretti trata sobre experiên- Do fofão o ulalá
cias de membros de terreiros afro-brasileiros com o protes- Não se escuta, só se ouve
tantismo e fala de preconceito de evangélicos para com a O seu triste soluçar
cultura popular. Enquanto o choro dos céus
Resumos e Resenhas disponibilizam aos nossos leito- Escorre na terra a clamar:
res resumos de monografias defendidas em 2008, no Cur- Nelson Brito guerrilheiro
so de Especialização em Jornalismo Cultural da UFMA, Da cultura popular!
coordenado por Ester Marques. E em Notícias Roza San-
tos apresenta os novos dirigentes de órgãos de cultura do As águas de março em janeiro
estado e do município e informa sobre os principais even- Parecem anunciar
Um convite irrecusável
tos da área ocorridos no 1º semestre de 2009 incluindo:
Pro guerreiro descansar
congressos, simpósios, lançamento de publicações, expo-
Será Terezinha Jansen?
sições, apresentações musicais e eventos teatrais.
Ou Felipe de Sibá?
Como ocorreu com o numero anterior, o Boletim 43
Nelson Brito guerrilheiro
não foi impresso e distribuído em eventos de cultura po-
Da cultura popular!
pular ou enviados pelo Correio a pessoas cadastradas e só
pode ser encontrado no site da CMF. Essa mudança foi
Vai, meu velho companheiro,
motivada em parte pelo crescimento dos usuários de IN- Teu exemplo ficará
TERNET e em parte porque a CMF deverá publicar ain- Como um grande brasileiro
da em 2009 uma coletânea de artigos divulgados nos bole- Que fostes e sempre serás
tins de número 21 a 41 (de dezembro de 2001 a agosto de A rosa da tua vida
2008), semelhante a organizada em 2003, com o titulo Em nós jamais murchará
Olhar, memória e reflexões sobre a gente do Maranhão, Nelson Brito guerrilheiro
com matérias selecionadas dos boletins de 1 a 20 (de agos- Da cultura popular!
to de 1993 a agosto de 2001). Agradecendo o apoio recebi-
do desejamos a todos boa leitura. 1 Distribuído no velório de Nelson Brito e divulgado na INTERNET
em 13/01/09, por Abmalena Sanches – abmalenass@hotmail.com .
Boletim 43 / junho 2009 3
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Durante todo este período atuou da quatro mestre que contribuíram forte- Meu herói nem sempre foi palhaço, mas
como diretor, ator, dançarino e algumas mente na minha formação: Apolônio Me- tinha o dom de levar alegria aos outros
lônio, Leonardo, Bico de Brasa e Tabaco.
vezes também como escritor de espe- Meu herói não acreditava em Deus, acre-
Como cultura é uma coisa que você está
táculos. Em sua trajetória com o grupo sempre aprendendo eu cito também Mes- ditava que podíamos ir mais longe, ser mais
montaram diversos espetáculos que tre Gonçalino do tambor de crioula e o Meu herói não era tão grande, mas sua
participaram de festivais nacionais e Mestre Zé Carlos, do Pela Porco”. humanidade era descomunal, gigantesca
locais; executaram projetos no prédio
do LABORARTE como o “Tarde no Desta forma atuou como produtor Meu herói não usava máscaras, ou roupas
de Cd’s, dentre eles “Cacuriá de Dona coloridas, nem ocultava sua identidade
casarão” (1993), o “Sexta no Labô” (1997,
Teté”, “Tambor de Crioula de Mestre Meu herói era amor, fraternidade, ami-
1999 a 2006) e o Iê Camará – Encontro
Felipe”, “Te gruda no meu fofão” e tam- zade, companheirismo, simplicidade...
de Capoeira Angola (1993, 1995 a 1997
bém esteve ligado a produção dos 4 CDs Meu herói era meu amado pai, Nelson
e 2002); bem como criaram um calen-
resultados do projeto “Brincando no De sua filha amada, Imira Brito
dário fixo de atividades que abrange o
Arraial”, do qual foi coordenador.
Rompendo o Aleluia, que acontece
Em sua vida pessoal ao lado da sua Desta forma percebe-se que a con-
desde 1984, o Carnaval de 2ª, desde
esposa Rosa Reis sempre levava as dis- tinuidade do trabalho de Nelson foi
1989 e mais recentemente, desde 2005, cussões políticas e conversas sobre a cul- bem encaminhada. Como grande pi-
o Aniversário de Teté e etc. tura para o recinto familiar o que ficou lar do Labô – como é popularmente
Também idealizou uma série de pro- marcado pela participação natural de conhecido o LABORARTE – ao qual
jetos patrocinados mais recentemente por suas filhas nestas conversas e nas ativi- ultimamente dava dedicação exclusi-
grandes e empresas a exemplo da Vale dades do LABORARTE, desta forma va, e membro do Conselho Estadual de
do Rio Doce, como é o caso dos projetos cada uma delas desenvolveu mais forte- Cultura, deixa aos 55 anos uma traje-
“Vale um papo Cultural” (2007 e 2008), mente um traço ligado às artes e a cul- tória de vida que marcou não somente
que segundo Rosa Reis, tinha uma aten- tura, apesar de as três serem dançarinas o teatro maranhense, mas as causas
ção especial do Nelson, pois foi realiza- do cacuriá e de certa forma estarem li- sociais e políticas que envolvem a cul-
do nos municípios, e tem por objetivo gadas ao planejamento e coordenação tura popular deste Estado. Deixa além
uma conversa com as pessoas envolvidas das atividades do grupo. Rosa Reis em de sua família, inúmeros amigos, artis-
com cultura nestas localidades, bem como entrevista destacou bem estas caracte- tas e admiradores.
a oferta de cursos de Empreendedoris- rísticas. Assim, Imira é a mais ligada a Tal destaque teve em conseqüên-
mo cultural e de Elaboração de Projetos produção cultural, sempre esteve ao lado
cia uma despedida, marcada por apre-
para captação de recursos. do pai na administração da casa e na
sentações de grupos de tambor de cri-
Destaca-se ainda o “Caravana La- coordenação de alguns projetos do gru-
oula, rodas de capoeira e apresentação
borarte”, que durante um fim de sema- po, Luana, mais ligada à dança e ao te-
do bloco Fuzileiros da Fuzarca, como
na leva diversas atividades a comuni- atro, destacando-se por sua expressivi-
dade cênica, e Camila, dedicada ao can- a certeza de que este artista foi um dos
dades por onde passam os trilhos da
to, a música e as discussões políticas, e mais representativos homens da cultu-
Vale, como oficinas de teatro, dança
ainda destaca-se a participação de Nel- ra popular do Maranhão.
popular, bijuterias, etc, durante o dia e
shows do grupo durante a noite. Nelson sinho como professor de capoeira no gru-
po. Tal formação familiar é reconheci- BIBLIOGRAFIA
atuava ainda como coordenador do “Pon-
to de Cultura”, projeto patrocinado pelo da pelas filhas e foi expressada por Imi-
ra Brito em um texto de sua autoria: LABORARTE Notícias, São Luís, abril
MINC, aprovado em 2005 e conveniado de 2009 – N- 1
em 2007, que oferece a crianças e ado- LEITE, Aldo de Jesus Muniz. Memó-
lescentes oficinas de dança popular, tea- MEU HERÓI
ria do Teatro Maranhense. – São Luís,
tro, percussão, tambor de crioula e infor- EDFUNC, 2007.
Meu herói enfrentou as adversidades no SALLES, Écio. Perfil: Nelson Brito,
mática e antes do seu falecimento estava
caminho e foi ao meu encontro. mestre das artes, de brincar, interagir,
trabalhando na execução do projeto de Meu herói me carregou no colo e me
“Ação Griô”, que trabalhará junto a Es- criar. Revista Conexões Urbanas.
chamou assim, filhona. LABORARTE, 18 anos de idealismo
cola Modelo com os mestres da cultura Meu herói foi dedicado e passou noites atuante. VAGALUME, Suplemento
popular Gonçalino, Zé Olhinho, Roxa e em claro por minhas enfermidades Cultural do SIOGE. Ano III, nº 12, Nov
Patinho e mais o “Griô Aprendiz” que - Dez 1990.
seria Nelson Brito, o qual foi substituído Meu herói era carinhoso e complacente. ASCOM-SECMA. Cultura de luto:
pela atriz e dançarina Aicram. Meu herói insistiu comigo, me viu lon- Nelson Brito falece em São Luís. In:
Nelson era muito ligado a cultura ge, e por isso eu cheguei até aqui. http://www.cultura.ma.gov.br/2009/
popular, tanto que deve muito de sua Meu herói teve dúvida, mas não hesitou 1/12/Pagina376.htm
formação nesta área a convivência que e recebeu meu filho como seu SANTIAGO, Paulo Rubem. Nelson Bri-
teve com algumas das figuras que tra- to: um maranhense cidadão do mundo.
balham a frente desses grupos, como Meu herói era trabalhador e não tinha In: http://paulorubem.blogspot.com/
lida que ele não desse conta ou que não 2009/01/neso-brito-um-maranhanse-
ele mesmo declarou à revista Conexões
soubesse cidado.html
Urbanas, estes foram: Meu herói era forte como um touro e CULTURA de luto: Nelson Brito falece
(...) referências decisivas para a sua forma-
suportou as calúnias que lhe lançaram em São Luís. In: http://
ção cultural como Mestre Felipe (tambor Meu herói era honesto e seu caráter tem www.jornalpequeno.com.br/2009/1/
de crioula), Dona Teté (cacuriá e Divino o mesmo valor que o de um diamante 12/Pagina96195.htm
Espírito Santo) e Mestre Patinho “tem ain- bruto
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O Olimpo dos gregos abre a cena apre- Efeito do equívoco que o “es-
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imagem, que se beneficiou do caráter tosco Uma coisa seu Abel não pode negar: a sempre concluo que isso é romantismo meu.
e irregular das máscaras africanas, que nos “careta” do Cazumbá vem da arte negra, ber- O Cazumbá, essa figura especial, nasci-
aparece, inusitada, juntando elementos apa- ço de onde ele vem, lá de Lajedo, povoado de do na Baixada Maranhense, serve de supor-
rentemente tão dessemelhantes. Viana, Baixada Maranhense, onde o que não te para dar “forma aos nossos terrores e nos-
A distorção da expressão anatômica e falta é magia e brincadeira, e muita, muita sos desejos”, cumprindo assim o que Picas-
facial da careta do Cazumbá faz com que arte... so dizia ser o sentido próprio da arte (PI-
algo da ordem do estranho se pinte. A brin- Falta pão, não falta magia que ressoa no CASSO apud GOLDING, 1974, p.158).
cadeira passa a ser então o espaço topológi- corpo, efeitos da percussão dos tambores Só que – e isso é importante – ele se faz
co que permite uma passagem para a ordem num corpo que é também brasileiro. de uma matéria-prima em que a troça, a ale-
intermediária: entre os humanos e as forças Como falar de um corpo que é também gria, a provocação, os tambores e a dança, é
desconhecidas que nos rodeiam. brasileiro? Ou seja, um corpo que já nasceu claro, são o seu fermento, presenteando-nos
É isso, essa que é a brincadeira. O Ca- num certo embalo, da mãe que embala e do com aquilo que há de mais ético num artis-
zumbá, por não ser decifrável, tem na estra- ritmo que nossa cultura faz pulsar? E isso ta: seu estilo.
nheza sua potência. Potência de represen- só para lembrar que por lá, é tempo, todo Para terminar, quero revelar que o mai-
tar imagens, de colocar em cena o jogo do ano tem, de pandeirões, tempo do bumba- or gosto que o Cazumbá me dá é a possibili-
enigma da semelhança e do avesso da dife- meu-boi, bumbá. dade de me surpreender. De me lembrar da
rença. Um corpo que nasce nesse caldeirão de infância, tempo em que a surpresa de viver
O nosso eu, que pensa que é o tal, se ritmos se particulariza na cultura universal. constrói o cotidiano. Nós, herdeiros da ido-
assusta. Se assombra. São os fantasmas que Joãozinho Trinta (1985, p.24-25), num en- latria do saber, tentamos tamponar aquilo
habitam o reino do dentro de cada ser. O contro com psicanalistas, disse que os que de que a surpresa se alimenta: a falta de sa-
fantasma de dentro, aquele que cada um de se envolvem de perto com a dança popular ber que nos constitui.
nós criou para traçar sua própria trilha, nes- possuem seu corpo. Ou seja, não são possu- Nós, brasileiros, o que podemos então –
te mundo belo e difícil de se achar, num cer- ídos pelo corpo. Ou melhor, não são despos- além de fazer samba nas limitações – é tecer
to lugar. suídos. uma disponibilidade interna para a surpre-
Mas voltando ao Cazumbá, este, por ser O Cazumbá existe então para presenti- sa. Despossuídos de um certo saber, talvez
arte, produção da cultura afro-maranhense, ficar que nós, os seres humanos, somos fei- possamos conservar aquilo que considero
revela um estilo. Pegada identificatória que tos de uma mestiçagem de substâncias tão uma ética para o próximo milênio, a possibi-
promove circulação no espaço da Brincadei- heterogêneas quanto aquelas que constitu- lidade de se espantar.
ra da nação Brasil. Segundo Hermano Vian- em nosso corpo. Esse corpo que parece não Em um mundo onde a exclusão dos que
na: “Nesse espaço, tudo circula: pedaços de se acomodar bem nele próprio. estão fora do mercado passa a ser uma ne-
melodias, versos, instrumentos musicais, de- Mas o que o Cazumbá quer mesmo pre- cessidade do próprio mercado, que reina
talhes de indumentária; trechos de encena- sentificar é a arte, no sentido da catarse, pura absoluto, nada mais espanta.
ções teatrais”. (VIANA, 2003). descarga, efeito de alegria, meio de produ- Ainda bem que existem os Cazumbás,
Artefatos da arte popular, matéria-prima ção que por aqui e lá é abundante. Às vezes que, rodopiando, nos prometem que no pró-
na produção da Brincadeira. Brincadeira é penso que esta é mais abundante com aque- ximo milênio vão continuar a nos espantar. O
uma nomeação que o povo deu aos “folgue- les que não têm quase nada a perder. Mas espanto é a nossa esperança para o futuro...
dos populares, folias, autos e festas”. Quem
comemora nas praças, ruas e ladeiras da na-
ção Brasil sabe o que é festejar a vida nas ruas, REFERÊNCIAS
se misturando com os vagabundos que vivem CUNNINGHAM, Michael. As horas. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
em torno das cidades (VIANA, 2003). FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
O espaço da Brincadeira, como em Ra- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
belais, dissolve as distâncias, permite a en- FRANÇA, Maria Inês. Psicanálise, Estética e Ética do Desejo. São Paulo: Perspecti-
trada dos excluídos, estica os limites do su- va, 1997.
posto real do cotidiano. Fissura o absoluto, FREUD, Sigmund. “O estranho”. In: FREUD, Sigmund. Obras psicológicas comple-
transgride. tas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 17.
Homens podem ser mulheres, mulhe- GOLDING, John. Picasso y el surrealismo: Picasso 1881-1973. Barcelona: Gustavo Gili,
res brancas podem se sentir negras pela es- 1974.
cravidão do trabalho, gente pode virar ani- LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. In: O Seminário – Livro 07: Trad. Antonio
mal, Cazumbá pode aparecer para assustar e Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
alegrar. É como diz seu Abel: “Quem dá sen- LODY, R. Cazumbá. Máscara e drama no boi do Maranhão. Museu do Folclore
tido é o outro. Eu faço a careta, acho que Edison Carneiro, Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, 1999.
parece com um cachorro, mas não digo nada. NIETZSCHE, Friedrich W. O nascimento da tragédia no espírito da música / O
Aí quando alguém fala: ‘olha, parece um ca- belo autônomo. Organização e seleção de textos. Rodrigo Duarte. Belo Horizonte:
chorro’, aí eu começo a latir”.9 UFMG, 1977.
Com isso, seu Abel já me deu a dica de RABELAIS, François. Gargantua. Trad. Aristides Lobo. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
que, na Baixada Maranhense, o de que se TRINTA, Joãozinho. Psicanálise Beija Flor: Joãozinho Trinta e os analistas do colé-
trata é de um estilo que se faz, no qual a troça gio. Rio de Janeiro: Taurus, 1985.
e a provocação dão o tom da brincadeira. A VIANA, Hermano. Ser outra coisa. Disponível em: http://www
mundoaocontrario.com.br Acesso em: 12 fev. 2003.
maneira como cada povo cria a sua arte – e a
WEILL, Alain-Didier. Fim de uma análise, finalidade da Psicanálise. Rio de Janeiro:
geografia importa –, quando se trata de re-
Jorge Zahar, 1987.
cortar territórios culturais da Brincadeira.
10 Retoma trabalho apresentado no Simpósio da ABHR de 2008 integrando contribuições de Camila Portela, que colaborou na coleta de alguns dados e realizou
outras entrevistas.
11 Graduando de História da UFMA; bolsista do PIBIC/FAPEMA orientado por Sergio Ferretti.
12 PRANDI, Reginaldo. Herdeiros do Axé, p. 1-50 (versão disponível na internet)
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míticos e litúrgicos ou gerando novos para- do. Este fato foi levantado por um dos en- donos como dos consumidores que neces-
digmas dessa ordem que assinalem expres- trevistados que diz com convicção que pes- sitam manter contato constante com o
samente outros (que se refiram a outros) seu(s) deus(ses). Objetos como medalhas, ve-
de maneira a ordenar o novo espaço cultu-
soas da Igreja Universal do Reino de Deus
compram aquilo que os pastores utilizam las, essências, defumadores são elos de co-
ral.” (SERRA 1995 p. 197 -198).
no culto e na e nas propagandas televisivas. nexão entre o homem e o sagrado. Esta cons-
O sal está entre um dos principais produ- tante busca uma satisfação espiritual e tam-
Um espaço sincrético necessariamen-
tos procurados além de banhos e outros bém das necessidades materiais de manei-
te não é um espaço em que dois elementos
produtos com a denominação abre cami- ra imediata seja então a raiz do deslocamen-
de culturas diferentes estejam postos lado
nho. Ao ser questionado em que ele se ba- to que muitas pessoas operam quando bus-
a lado, isso poderia ser caracterizado como
seava para emitir tal afirmação ele respon- cam em um terreiro o aconselhamento
um simples posicionamento visual de ele-
deu que “a resposta está na televisão” e tam- Neste contexto cabe aos indivíduos
mentos opostos e em decorrência do hibri-
bém pelo fato do “crente ouvir o pastor fa- escolherem qual credo seguir e na escolha
dismo cultural brasileiro. A presença de uma
lar de abre caminho e ele buscar algo seme- das religiões de matriz africana passará por
casa de artigos religiosos na mesma rua em
lhante na loja”. uma série de experiências novas. Tentando
que uma Igreja Católica pode não signifi-
Não tendo dados para comprovar tal dar conta de algum desses processos esta
car muita coisa em um local marcado pela
fato exponho este argumento assim como pesquisa focaliza para um tipo de comer-
diversidade cultural, mas as relações exis-
me foi passado por um dos entrevistados, cio muito forte em uma sociedade muito
tentes entre estes dois ambientes acaba cri-
mas que não deve ser excluído, pois a pre- religiosa e também muito diversificada nes-
ando este espaço sincrético, ou seja, um
sente situação além de ser atravessada de te ultimo aspecto.
ambiente em que culturas diferentes tro-
questões de cunho individual (questões de Apresentei algumas práticas que são
cam experiências e a linha que as divide ora
fé), neste cenário sincrético novas práticas muito fluidas e que variam a cada loja visi-
é bem definida ora não.
podem surgir e desaparecer com o passar tada. Com a entrevista efetuada seja com o
Esta outra conotação do termo sincre-
do tempo. dono ou com um vendedor cada um destes
tismo pode ser aplicada no ambiente acima
Outra prática relatada por um vende- expõe situações vividas por eles e não de-
relatado onde símbolos de religiões diferen-
dor e constatada pela maioria dos entrevis- vem ser desconsideradas por serem parte
tes e contraditórios não estão somente pró-
tados é a prática da “compra para o vizi- da vivência cultural do país onde algumas
ximos, mas ordenando um espaço com “no- práticas são pouco estáveis outras – como
vos códigos e novas práticas sociais derivadas nho”. Uma vendedora afirma: “o maranhen-
se é uma pessoa muito boa e vive fazendo o preconceito - são quase unânimes em re-
deste” (SERRA 1995 p. 198). Nesse local, cris- lato dos entrevistados.
tãos interagem com umbandistas de modo favor pros outros, muita gente vem aqui a
usando a desculpa de que o vizinho pediu Tratar religião também sucinta dúvi-
nem sempre harmonioso evidenciando cer- das e olhares estranhos e enquanto uns res-
tos casos em que o duplo pertencimento reli- ou ‘que fulano lá da rua está precisando’”.
Esta benevolência expressa na hora da com- ponderam livremente as questões levantan-
gioso ainda é gerador de conflitos. do hipóteses e concluindo pensamentos a
As casas de artigos religiosos estão aber- pra faz parte de outro medo que as pessoas
têm que é o do preconceito que possam partir de suas experiências outros com um
tas a qualquer pessoa, independente da re- simples “não posso responder” sinalizavam
ligião do indivíduo e mesmo que alguns sofrer por estarem comprando artigos reli-
giosos nas lojas em questão ou se assumi- após minha apresentação.
donos e empregados das lojas afirmem que Levando em conta tantas experiências
a maior parte do público situa-se entre um- rem como adeptos de alguma religião afro.
pessoais e tentando relacioná-las e encaixá-
bandistas não podemos excluir a participa- Este preconceito gera conflitos que por
las nesse contexto sincrético torna-se evi-
ção de católicos e até mesmo protestantes sua vez tendem a estarem presentes na vida
dente a necessidade dos símbolos religio-
neste comércio. “Os católicos compram daqueles que se assumem adeptos de algu-
sos na vida das pessoas, independente da
principalmente defumadores e velas, pois é ma religião afro-brasileira. Um caso eviden-
religião que professem. Encerro de manei-
a crendice popular afastar maus espíritos” te disso ocorre com dona Maria que tem
ra propositadamente comercial que nas
e mesmo com todos os dogmas da Igreja “as situado ponto comercial em sua residên- casas de artigos religiosos você encontrará
pessoas não acreditam estar praticando al- cia. Ela afirma ser vítima de preconceito toda sorte de símbolos religiosos para satis-
gum mal ao defumarem sua casa ou acen- no seu dia-a-dia, mas que releva tais fatos, fazer suas necessidades espirituais e por-
der uma vela colorida em frente ao seu san- pois se sente bem no que faz e não se inco- que não, materiais.
to de devoção” afirma um empregado de moda se ainda hoje as pessoas não sentam
uma das lojas pesquisadas. ao seu lado na missa por saberem que pos- REFERENCIAS
Essa afirmação esta relacionada com dois sui além de uma loja de artigos religiosos
fatos, um é o duplo pertencimento religioso um terreiro de umbanda. Afirma também MATTOS, Regiane Augusto de. Histó-
onde o indivíduo não sofre conflitos ao par- que muito do preconceito por ela sofrido ria e Cultura Afro-Brasileira. São Paulo:
ticipar de dois cultos, pois interpretam que, já diminuiu com os 24 anos que está insta- Contexto, 2007.
em essência, a maneira com a qual entram lada naquele local, os xingamentos e expres- COSTA, Wagner Cabral da (org.). Histó-
em contato com o sagrado possui a mesma sões caluniosas que os vizinhos emitiam ria do Maranhão: Novos estudos. São
raiz, esta “questão de fé” está muito presente foram desaparecendo e hoje os mesmo re- Luis: EDUFMA, 2004.
nas pessoas que freqüentam tanto a missa correm a ela em caso de necessidade. MEIRELES, Mario M. Dez Estudos
quanto o terreiro para se sentirem espiritual- Históricos. São Luis: ALUMAR, 1994.
mente realizadas. O outro é o fato de que a PRANDI, Reginaldo. Herdeiros do Axé,
CONCLUSÃO
p. 1-50 (versão disponível na internet)
noção de pecado que acompanha o católico
SERRA, Ordep. Águas do Rei. Petrópo-
serve como limitador de suas ações e caso esta As análises aqui apresentadas não po- lis-RJ: Vozes, 1995.
prática for geradora de dúvida a vela não será dem ser tomadas de maneira independen-
acesa nem o defumador queimado. te. A venda de artigos religiosos está relaci- Sites
Outro item observado é a possível parti- onada não só com uma demanda comerci- www.ma.gov.br
cipação dos neo-pentecostais neste merca- al, mas também religiosa, tanto de alguns
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cujo sistema, para dar o exemplo, era ele o versa na calçada; demore-se o tempo que for José Monteiro e, ao lado, o médico Dr. Rai-
primeiro a submeter-se. Onde se situam os dentro de casa, fale-se tudo o que se tem a mundo de Matos Serrão com a irmã Maria José,
consultórios médicos dos Moreira Lima (meus falar, que sempre restará um assunto que há professora de Química. Defronte, o Dr. Urba-
queridos amigos José Henrique, de saudosa de prender as pessoas, à despedida, na porta no Franco, que colecionava diplomas: advo-
memória, e o filho Henrique Augusto), morava da rua. Estávamos, pois, nessa conversinha de gado, farmacêutico, professor, ferreiro, sapa-
o Sr. Arnaldo Júlio Correia, importante sócio última hora, quando ouvimos um chororó so- teiro, alfaiate, etc., etc., etc.
de Joaquim Júlio Correia & Cia. Parece-me vê- noro e forte, quebrando a solidão da hora tar- Colado a ele, o desembargador Henrique
lo à janela, em companhia da esposa, a apreci- dia. Passada a surpresa, todos de uma vez iden- Costa Fernandes, Presidente do Tribunal de
ar o pouco movimento da rua na tarde calma, e tificamos o ruído: Dona Odila satisfazia as exi- Justiça. Era uma figura estranha, caladão, cir-
tenho presente, bem nítida, sua fisionomia bo- gências da natureza... cunspecto, a quem Domingos Américo se refe-
nachona, os óculos de aros de ouro que o torna- Junto do sobrado quedava-se a moradia ria recitando, ferino: “- Costa Fernandes, Costa
vam muito parecido com o primeiro-ministro de José Nunes, comerciante, onde Nely, sobri- Fernandes, Costa Fernandes.... de orelhas gran-
alemão Helmut Koll. Defronte morou, por al- nha do dono da casa, nos prodigalizava (a mim des, de orelhas grandes, de orelhas grandes...”
gum tempo, Osvaldo Soares e, depois, ali este- e aos meus primos) gentilezas e carinhos e até Chegava do Tribunal e entrava direto para a
ve o Instituto Brasil-Estados Unidos. Hoje me se permitia receber-nos em trajes menores, no sala de visitas. Vestia o pijama e sentava-se na
parece que abriga uma repartição pública. En- seu quarto. E foi por causa de uma dessas visi- rede, permanentemente armada, onde almoça-
tão chegamos ao sobrado dos Duailibes - Salim tas que eu me atrasei, chegando tarde em casa, va, lia, recebia os amigos e dormia. Dizia-se que
Nicolau Duailibe e Linda Saddy Duailibe e os no Caminho Grande. Papai me perguntou onde tinha um penico, atrás da estante de livros, onde
filhos Vitória, José, Jorge, Alfredo, Maria de eu estivera e como lhe disse a verdade, levei fazia suas necessidades, e dali só saía de novo
Lourdes, João (meu colega, no Liceu), Zila, Luiz, uns cachações... E embora ele nunca me ti- diretamente para a rua.
Antônio Benedito, Carlos Alberto e Norma, to- vesse explicado o porquê do castigo, dele me Em frente era a mercearia de meu pai e o
dos empenhados em conservar e distribuir a lembrei depois em situações de perigo...! sobradinho de nossa residência, que desmoro-
simpatia e a fraterna bondade do povo libanês. Na esquina morava a família de José Do- nou com as chuvas... cenário de minha bela
Nessa casa Josué Montelo situou a história co- mingues da Silva, Diretor da Estrada de Ferro, mocidade. Na esquina, a “Padaria Vitória”,
movente de seu romance “Os degraus do Para- e irmão do ex-Governador Luís Domingues, também fabricante de beijos-de-moça, e, do
íso”. Mais em frente e do mesmo lado, o “Colé- pai de muitos filhos, entre os quais Maria, es- outro lado, o sobrado de azulejos verdes dos
gio São Luiz Gonzaga”, da insigne professora posa de Paulo Abreu, por sua vez pais de meu Jorge, Domingos e José, casados, respectiva-
D. Zuleide Fernandes Bogéa que, com D. Rosa amigo Paulinho Abreu. mente, com as duas irmãs Odessa e Odila.
Castro e D. Zoé Cerveira, formava o mais bri- Contava o desembargador Domingos Parece-me vê-los, numa noite, tomando o car-
lhante trio de educadoras do Maranhão. Ape- Américo que, certo dia, encontrara-se com o ro para ir ao baile de máscaras, elas de vesti-
gado, o sobradinho do Sr. Delmiro Botelho e, na José Domingues, vindo de palácio, e que se dos longos, faiscantes de pérolas e pedrarias,
esquina, já com entrada pela Rua de São João, felicitava por ter chegado a tempo de, mesmo de máscaras venezianas, eles de smoking e
a residência e o museu de Osvaldo Soares, cujo em último lugar, inscrever seu nome no livro summer-jacket. Junto deles morava meu tio
acervo, vendido ao bispo, constitui 80% do de presença da comemoração do aniversário Antoninho Figueiredo, até a família se trans-
museu de Sobral, no Ceará. de Paulo Ramos, embora a reunião já se tives- ferir para Teresina (PI).
Confrontando D. Zuleide, a bela residên- se desfeito. “- Ora, Zé Domingues - disse-lhe Logo adiante, do outro lado, D. Etelvina
cia, o magnífico, o imponente, o extraordinário Américo - todo mundo sabe que tu és puxa- Domingues da Silva, que foi minha professora
palácio de José Francisco Jorge (pertenceu an- saco, mas tu não precisas fazer propaganda de História, no Colégio de São Luís e, depois, a
tes a Gomes de Souza, o genial matemático dessa fraqueza!” casa ajardinada de Seu Newton e D. Nizeth
maranhense), do qual falo quando aludo às visi- Na casa em frente, com entrada pelo Beco Valente; vizinha, a meia-morada das irmãs Car-
tas que meu avô fazia ao seu patrão Zé Jorge. dos Craveiros (Pereira Rego) residia Totonho doso - Graci e Delci, colegas do Liceu e que,
Dr. Alexandre Costa, engenheiro (que Lajes (Antônio) e de suas irmãs Cotinha (Ma- ainda no ginásio, morreriam tuberculosas.
chegou a Ministro de Estado e Senador da ria) e Canjinha (Arcângela). Antes fora resi- Defronte, o grandioso sobrado de azulejos
República; também meu ex-colega do Liceu), dência dos Cortês: D. Mariana, a matriarca da verdes de Zeca Pereira (pastor da Igreja Batista
morou no sobrado, o primeiro da próxima qua- família, do filho Raimundo Maximiliano Cor- Central Ebenézer, patrimônio da família), aonde
dra (com entrada pela Rua de S. João). Tam- tês e da nora D. Ana Amália Machado (Sinha- fui, menino, com meus pais, à requintada recep-
bém aí foi a sede do IPASE - Instituto de Pen- zinha), tia-avó de minha mulher. Deste Cor- ção que o casal ofereceu à sociedade, para mos-
sões e Aposentadoria dos Servidores do Esta- tês, um mentiroso de truz, rival de Cecílio Lo- trar as preciosidades que trouxera de sua recen-
do, teatro da brilhante conclusão do Delegado pes, conto estórias em Acredite, amigo velho, te viagem ao Egito! Um quarteto de cordas toca-
de Polícia Paulo Pupupu, contada em outro do meu livro “As minhas e as dos outros”. De- va música de câmera e os criados, de libré, tran-
capítulo. Numa morada-inteira, em frente, re- fronte, a primeira casa do próximo quarteirão sitavam pelos ricos salões, oferecendo canapés e
sidia Dr. Tucídides Barbosa e logo após, o Dr. pertencia ao Dr. Hanleto de Godois (“O Chi- bebidas finas às visitas, em grandes bandejas de
Brito Passos, na bela casa que ele mesmo cons- nês”, como era conhecido, por sua fisionomia prata maciça. A seguir, vinha a casa de D. Guio-
truiu, hoje sede do Sindicato dos Bancários. tipicamente oriental), filho do historiador Bar- mar Franco de Sá e, confrontando-a, a residên-
Defronte, na esquina da Rua das Flores (Pe- bosa de Godois, casado com d. Vinólia Pinho cia de Othelo Cavalcante, pai de Haroldo e Ar-
reira Rego), ficava o antigo “Grupo Escolar e tendo por filha de criação uma menina sape- naldo. Chegamos, então, ao último prédio da
Barbosa de Godois”, depois “Tribunal Eleito- ca chamada Éthel. Chegava-se então ao escri- esquina, a morada-inteira de Seu Éder Santos,
ral”, incendiado na época da “depuração” de tório da Imobiliária de D. Vitória Coqueiro, pai de Maria da Graça e José Mário. Da casa
Satu Belo e da famigerada “revolução de Eu- dirigida pelo Sr. Tupinambá, e que enfrentava antiga restam umas quatro paredes e o mirante e
gênio Barros”. Transposta a rua, vinha a “Livra- a porta-e-janela do “Chocolate”, um mulato não há Patrimônio Histórico que consiga obrigar
ria Borges”, dos Borges (que o que tinham de pernóstico, dono das lanchas do porto. Apega- os Gaspar a restaurá-la; estão eles no firme pro-
feios tinham de gentis); a casa dos Carvalhos - do era a residência de outro Cortês (Zezico), pósito de deixá-la cair de todo para então, com a
Antônio Maria, meu companheiro de B.B.), a funcionário dos Correios, casado com uma conivência de um “governo amigo”, erguer ali
dos Lobos (Lobão e Lobinho, também do Li- Neves e pai de Nevinha e Conchinha. De- um espigão. (Oh! Brasil! Oh! Maranhão!)
ceu) e o sobrado de Pedro Vasconcelos, várias pois, era a antiga morada de meu tio Nava “... as casas, como os homens, têm seu desti-
vezes citado nestas memórias. Rodrigues, onde jogávamos as “peladas” das no, com as suas exaltações e as suas humilha-
Defronte, a “Farmácia Pedrosa” e o belo quais falo em outro lugar. Em frente, ficava o ções. A barbearia modesta pode ser, amanhã,
palacete de Manoel João de Moraes Rego, imponente sobrado de Miguel Nicolau Duaili- elegante loja de modas. Na sala em que funcio-
depois, de Jorge Nahuz e finalmente de Harol- be (irmão do Salim), pai de Nicolau, José, Hen- nou a livraria pode estabelecer-se, dentro de um
do Cavalcante, pai de Célia, Lígia (ex-noiva do ry, Herbert, Maria Lúcia, Tereza e Ivete; e na ano, o seleiro, que vende arreios, ou o armeiro,
meu filho Álvaro), Heloísa e Junior. Na meia- esquina, na morada inteira de mirante, que foi que vende punhais.” Humberto de Campos.
morada junto, D. Odila Pinho, professora, que de Aluísio Azevedo, residiu o desembargador Os restos da casa de Éder Santos agora
já conheci velha, mas que caprichava na ma- Domingos Américo de Carvalho, de quem já está convertido em um estacionamento de au-
quilagem, vestia-se na última moda, e que, fa- falamos tanto, (personagem do conto “O de- tomóveis!
lando alto, acompanhava-se de largos gestos sembargador, o sofá e Gutemberg”, de meu E aqui encerraríamos este nosso passeio
que faziam tilintar suas muitas pulseiras e por citado livro). Anos mais tarde, a família do pelo tempo, pela memória e pelo coração, se
em evidência seus anéis de brilhantes. Lem- General Alexandre Colares Moreira ocupou o meu amigo Arlindo Carvalho não me cobrasse
bro-me de uma noite em que se formou um prédio. Em frente, a residência do Dr. José de insistentemente uma idêntica caminhada pela
grupinho à porta do sobrado de meu tio. É Ribamar Ferreira, pai de Fernando, José e Rua dos Afogados. Para satisfazê-lo comece-
praxe antiga no Maranhão a derradeira con- Antônio. Xis com eles, a família de meu amigo mos partindo da Rua dos Remédios.
Boletim 43 / junho 2009 11
Mãe d´agua
Reinaldo Freitas Soares Junior15
Ferretti
olhos azuis e roupa branca apresentando, caram, se um adulto ou cri-
portanto, diferença em relação ao relato do ança não cumprisse aquela
Foto: Mundicarmo
senhor Marcos no cabelo e na forma de se regra, ou se as crianças to-
vestir. Segundo o mesmo informante, massem banho já passando
quem quisesse vê-la deveria ir à fonte ou ao do meio dia ficariam doen-
rio ao meio dia, que é o horário que ela tes. Na grande maioria dos
costuma está assentada na tábua onde as relatos os sintomas apresentados seriam
mulheres lavam roupa na beira dos rios. assobiava e seu assobio possuía um poder
febre e moleza no corpo, um dos sinais que
Na descrição da forma física de Mãe hipnótico sobre aquele que escutava, e tam-
de que teriam sido flechados.
d´Água, o senhor Marcos nos informou bém nos disse que ela ia até a janela da casa
O senhor Marcos nos disse também que
também que ela possui guelras como as de de determinadas pessoas para assobiar, como
não tem informações convincentes sobre a
peixe, no pescoço, e acrescentou que, se um uma forma de “atuação” sob elas. Segundo
existência de Mãe d´Água, como tem do Cur-
homem quisesse tê-la como companheira esta informante, há dois casos que levam à
rupira. Ele nos afirmou que deste, de fato, sua “atuação” sobre uma pessoa: se alguém
deveria agir da seguinte maneira: quando ouviu muita coisa. Em seguida falou que
ela estivesse tomando banho na fonte, sen- pegasse um de seus peixinhos, de sua fonte,
ele era um demônio e que, por causa dele, ela ia até a residência daquele que pegou o
tada na tábua de lavar, molhando os seus pessoas ficaram cegas literalmente. Na ex-
cabelos, a pessoa interessada deveria correr peixe e se ele não ficasse doente “fisicamen-
plicação de nosso informante, as pessoas te” poderia ficar mentalmente, devido ao tipo
e golpeá-la nas costas com bastante força, quando estavam na mata perdiam-se e, quan-
para que ela vomitasse as guelras e o indiví- de ação que ela exerceria sobre a pessoa. O
do estavam na “boca” da saída, voltavam para outro caso é o de pessoas que, segundo ela,
duo pudesse levá-la para a sua casa, para
o centro da mata por conta de Currupira. possuem uma espécie de influencia, desde o
torná-la companheira. No entanto, não
Segundo o senhor Marcos, esta entidade seu nascimento, desse tipo de entidade, no
poderia deixá-la comer peixe, caso contrá-
possuía uma capacidade de influenciar as caso os hundinos (termo que indica um per-
rio ela voltaria a ter guelras e desapareceria
da casa daquele que a levou. pessoas dentro da mata e que a única forma tencimento, uma predisposição de um de-
Um detalhe interessante no relato do de sair da floresta era o individuo vestir sua terminado grupo de pessoas, sem explicação
senhor Marcos foi a comparação por ele re- camisa do avesso, quando ficaria livre, ou lógica para quem não pertence ao grupo so-
alizada dela com Iemanjá. Ele não nos disse melhor, poderia encontrar a saída, e que o cial que dele se utiliza).
que são a mesma entidade ou pessoa, pois virar a camisa do avesso tem a ver com os pés É evidente que nestes relatos encon-
enfatizou uma diferença entre elas: uma é do Currupira, que são voltados para trás. tramos algumas divergências, no entanto,
do mar enquanto a outra é dona das fontes, Ainda sobre Mãe d´Água, uma senho- isto não pode nos causar espanto ou des-
onde houver uma nascente lá estará ela. É ra nos relatou que antes da cidade de Cu- confiança em relação à veracidade destes
interessante que uma senhora com quem rurupu ter luz, iluminação elétrica, havia relatos, porque cada um deles esta mediado
conversamos em Cururupu se referia a ela períodos da noite, principalmente das dez pela experiência própria de cada indivíduo,
(Mãe d´Água) sempre como Mãe da Fonte. horas em diante, que os indivíduos deveri- com sua própria cultura e realidade, e não
O senhor Marcos nos relatou que as am ter cuidado ao sair porque, segundo al- podemos esquecer que cada pessoa tem
mães costumavam proibir as crianças de ir guns, poderiam ser flechados ou ate mortos uma forma de interpretar os fenômenos
às fontes ao meio dia e que também, inde- por aquela. Ela nos disse que a Mãe d´Água com os quais se depara.
LADAINHA DE N. SENHORA
Mater Creatoris, Zelinda Lima*
Mater Salvatoris,
Virgo prudentíssima,
Virgo veneranda,
Virgo praedicanda,
Virgo potens,
Virgo clemens,
Virgo fidelis,
Speculum justitiae,
Sedes sapientiae,
Causa nostrae laetitiae,
Vas spirituale,
Vas honorabile,
Vas insigne devotionis,
Rosa mystica,
Turris Davidica,
Turris ebúrnea,
Domus áurea,
Foederis arca,
Janua caeli,
Stella matutina,
Salus infirmorum,
Refugium peccatorum,
Consolatrix afflictorum,
Auxilio chistianorum,
Regina angelorum,
Regina patriarcharum,
Regina prophetarum,
Kirie, eleison. Regina apostolorum,
Chiste, eleison. Regina martyrum,
Kirie, eleison. Regina confessorum,
Chiste, audi nos. Regina virginum,
Chiste, exaudi nos. Regina sanctorum omnium,
Pater de caelis, Deus, miserere nobis. Regina sine labe originali concepta,
Fili, Redemptor mundi, Deus, Regina sacratissimi rosarii,
Spíritus Sancte, Deus, Regina pacis.
Santa Trinitas, unus Deus,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – parce nobis, Domine.
Sancta Maria – ora pro nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – exaudi nos, Domine.
Sancta Dei Génitrix,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – miserere nobis.
Santa Virgo virginum,
Mater Chisti, Ora pro nobis, sancta Dei Genitrix.
Mater divinae gratiae, Ut digni efficiamur promissionibus Chhrisri.
Mater puríssima,
Mater castissima, Oremos
Mater inviolata, Concede nos fâmulos tuos, quaesumus, Domine Deus, per-
Mater intemerata, petua mentis ET corporis sanitate gaudere: ET gloriosa
Mater amabilis, Beatae Mariae semper Virgonis intercessione a praesenti li-
Mater admirabilis, berari tristitia, ET aeterna perfrui laetitia. Per Christum
Mater boni consilii, Dominum nostrum. Amem.
16 O conteúdo desse artigo é parte integrante da Monografia de conclusão do Curso de Ciências Sociais da UFMA, com modificações.
17 Graduada em Ciências Sociais – UFMA; ex-bolsista de Iniciação Cientifica (PIBIC/CNPq 2005-2007) e membro do GPMINA/UFMA sob orientação de
Sergio Ferretti; ex-estagiaria do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho.
14 Boletim 43 / junho 2009
JANELA DO TEMPO
Mulata de estatura regular, gorda, es- lhe ofereciam os velhos portugueses comer- ra com a figura do Espírito Santo.
padaúda, de cara larga, valia a pena se assis- ciantes da cidade, Rosa Guardamor, torna- Como já disse, era também assombran-
tir aos festejos em honra do Divino. va-se uma das mulatas mais atraentes da- te a festança na residência do velho Caeta-
Rosa Guardamor tinha esse sobreno- queles tempos. no, à Rua da Palha. Era ele um festeiro,
me por haver vivido com um guardamor do As suas saias eram bem feitas e geral- empregado da Alfândega de São Luís, e, na
Estado. mente costuradas a mão, davam a impres- época dos festejos tornava-se incansável.
Tinha belos cordões de ouro portugu- são de serem as fazendas estampadas. Dava sempre aos festejos de sua casa um
ês com crucifixo bem trabalhado, pulseiras Por causa das grandes festas do Divino brilho descomunal, tanto que de “cana-ca-
de chapas estampadas, grossas escravas e de Espírito Santo que realizava, se tornou pim” a cerveja e de muitas outras bebidas
grandes argolas de ouro polido que lhe ba- mais conhecida ainda. eram encontradas a fartar.
louçavam nas orelhas. Nas Ruas do Passeio, do Norte e Santa João Francisco, morador à Rua do
Acostumara-se a usar camisas partidas Rita, onde morou, deixou recordações agra- Marajá, também fazia grandes festas. De-
de renda e de labirintos, pondo à mostra dáveis. pois de muitos anos mudara-se esse festei-
parte do colo, de saias ramalhudas e cheias As caixeiras que podiam, envergavam ro dessa rua para a de Santa Amélia.
de folhos largos, Rosa andava diariamente, bonitas saias ramalhudas e casaco de ren- Mãe Severa – velha mineira residente
pelas ruas da Praia Grande, o Centro Co- das e bordados, sandálias de veludo encar- no Apeadouro que fazia festança em ho-
mercial de São Luís. nado, belos cordões de ouro com crucifixo, menagem ao Espírito Santo, com invulgar
No seu grosso pescoço, nos dias de fes- pulseira, broches e linda figa de azeviche encantamento, desde o dia do levantamen-
tas, quando não apresentava as suas jóias eram usadas. to do mastro em todos os terreiros, as ceri-
de ouro, punha belas voltas de coral e ou- Na casa de Antônia Passo Largo, como mônias se estendiam até alta madrugada.
tras contas multicolores. era conhecida essa festeira e na da velha Na casa de Raimunda Conceição (co-
Em cada conta brilhante, que usava Libânea, à Rua do Outeiro, lugar mais co- nhecida por Maria Porca), bem em frente
refletia um valor. nhecido por “Palhoça”, o fuzuê era também ao portão do largo do Matadouro, a festan-
Quando metida em saias feitas de reta- espantoso, pois, enfeitando o mastro viam- ça sempre fora de espantar. Tanto as indu-
lhos ou amostras de chitas, que adquiria se galhos de murta, de fruteiras agitados mentárias dos festeiros como as caixeiras
nos grandes armazéns da Praia Grande, ou pelo vento e no alto balançava uma bandei- causavam admiração geral.
RESUMOS E RESENHAS*
MONOGRAFIA adaptado ao suporte digital e até que pon- am as argumentações da economia da cul-
2008 to a utilização do ciberespaço é favorável tura como elemento para superação da po-
ABREU, Poliana Marta Ribeiro de. A ou prejudicial à formatação dos textos crí- breza e de geração de trabalho e renda.
crítica cinematográfica e suas adaptações ticos. Para tanto, será analisado o site
ao suporte digital: breve análise do site criticos.com.br, que reúne um vasto con- DIOGO AZOUBEL, Diogo. Fotogra-
críticos.com.br. MONOGRAFIA. Curso teúdo elaborado por profissionais de reno- fia no Maranhão: perspectiva histórica e
de Especialização em Jornalismo Cultural. me na área. percurso de Dreyfus Nabor Azoubel. MO-
São Luís, UFMA, 2008. Professora orien- NOGRAFIA. Curso de Especialização em
tadora: Ester Marques. BARBOSA, Andréia da Silva. Econo- Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA,
RESUMO: mia da cultura em perspectiva: desafios para 2008. Professora orientadora: Ester Mar-
Sabe-se que a web oferece espaço ilimi- o estado do Maranhão. MONOGRAFIA. ques.
tado para todos os tipos de conteúdo, com Curso de Especialização em Jornalismo RESUMO:
as mais variadas intenções, desde a pura Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Profes- O texto indica o fazer fotográfico em
diversão até a divulgação de notícias e estu- sora orientadora: Ester Marques São Luís - MA, desde o início da carreira de
dos científicos. Em virtude do espaço cada RESUMO: Dreyfus Nabor Azoubel como fotojorna-
vez mais reduzido nos jornais impressos Este trabalho discorre sobre o tema da lista e artista que, com suas imagens estáti-
para o trabalho da crítica cultural – especi- economia da cultura e suas implicações cas, revelou o espírito de uma época. Além
almente a cinematográfica, objeto deste para o Maranhão. Ao analisar a combina- de tratar das peculiaridades de algumas
trabalho -, muitos críticos têm utilizado a ção entre economia e cultura, discute a re- imagens dele que servem de elo entre a atu-
internet como meio de veiculação de seus percussão na agenda pública e no cotidia- alidade e o passado em uma cidade arraiga-
textos, que têm como foco a análise de pro- no, as possibilidades e variações do consu- da de sentidos e significados, por vezes, dis-
duções cinematográficas. O presente arti- mo cultural e a relação com os indicadores tantes. Trata-se de uma abordagem históri-
go pretende verificar como a crítica tem se sociais, políticos e econômicos que permei- ca que levou em consideração o contexto
19 Transcrito de Prosa, poesia e iconografia/Ruben Almeida. Coordenada por Alberico Carneiro Filho e Chagas Val. São Luís: SECMA, 1982. p.248-249. (Col.
Série Inéditos 2).
20 Maranhense de ascendência portuguesa, falecido em 1979; catedrático de Língua Portuguesa do Liceu Maranhense e da Faculdade de Filosofia do Maranhão
e professor de Direito Civil da Faculdade de Direito do Maranhão; estudioso e grande apreciador da cultura popular; e membro fundador da Comissão
Maranhense de Folclore.
* Colaboração de Ester Marques - CMF; Professora UFMA;
16 Boletim 43 / junho 2009
RESUMOS E RESENHAS
sócio-econômico e político de São Luís lização em Jornalismo Cultural. São Luís, MENEZES, Giselle Adrianne Jansen
durante parte do século passado, nas esfe- UFMA, 2008. Professora orientadora: Es- Ferreira de. A indústria cultural da Capoei-
ras fotojornalística e artística. ter Marques. ra Angola de São Luís, Maranhão. MONO-
RESUMO: GRAFIA. Curso de Especialização em Jor-
ESTEVANIM, Mayanna. A cachaça O reggae em São Luís é um fenômeno nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008.
como produto da cultura maranhense. de massa. Popularizando-se entre as classes Professor orientador: Francisco Gonçalves
MONOGRAFIA. Curso de Especialização sociais mais pobres, antes mesmo de se tor- RESUMO:
em Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA, nar midiático, o ritmo, importado da Ja- O presente artigo analisa a formação
2008. Professora orientadora: Ester Mar- maica, conquistou espaço na Ilha através do campo da capoeira angola na cidade de
ques. de um processo de identificação, que não São Luís (MA), apresenta o processo de
RESUMO: compreendeu, necessariamente, uma im- comodificação da capoeira angola a partir
Como uma bebida se insere no cotidi- posição cultural. da experiência dos grupos organizados no
ano de uma sociedade? Será por prazer, para Com a ampliação do público do reggae, Centro Histórico, esboça uma análise crí-
“afogar” as mágoas, para melhorar a saúde, no entanto, o estilo musical ganha novas tica da inserção da capoeira angola na in-
para ser admirada e degustada ou para aca- proporções, inclusive, na mídia hegemôni- dústria cultural e, ao mesmo tempo, desse
bar com a timidez? Este artigo se propõe a ca do Maranhão. A partir de então, verifi- mercado cultural.
levantar uma discussão sobre a presença da ca-se um movimento de segmentação do
aguardente inserida na experiência do reggae, dos espaços, dos públicos e mesmo MORAIS, Maria do Carmo Lima. A
Mercado da Praia Grande – se a presença das formas de publicização do ritmo. invenção da expressão “Jamaica brasileira”.
desta bebida se constitui como um produ- MONOGRAFIA. Curso de Especialização
to da cultura e de que forma isto acontece. LISBOA, Conceição de Maria Caldas. em Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA,
Uma etnografia interpretativa dos blocos 2008. Professor orientador: Francisco
EWERTON NETO, José de Ribamar. tradicionais de São Luís. MONOGRAFIA. Gonçalves
A invenção de nomes próprios: algo mais Curso de Especialização em Jornalismo RESUMO: Atualmente São Luís é
do que um costume. Será Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Profes- conhecida como a “Jamaica Brasileira” pela
arte?MONOGRAFIA. Curso de Especia- sora orientadora: Ester Marques. presença e consolidação do reggae na capi-
lização em Jornalismo Cultural. São Luís, RESUMO: tal há quase 40 anos. Essa constatação fun-
UFMA, 2008. Professor orientador: José de Os Blocos Tradicionais compõem uma damenta-se no processo de criação e apro-
Ribamar Ferreira Júnior. categoria específica no conjunto de mani- priação da expressão, bem como nas rela-
RESUMO: festações culturais dentro do Carnaval de ções de interação simbólica estabelecidas
Dentro do universo das palavras inven- São Luís (Maranhão), e estão particular- durante todos esses anos. A mídia, especi-
tadas, a criação de nomes próprios tem sido mente situados num cenário que inclui almente, produtora e divulgadora do nome,
vista, com freqüência, como um costume outras expressões como as Tribos de Índi- sustenta esse discurso pondo em questão o
ou mania de baixa densidade cultural. O os, os Blocos Organizados, os Corsos, a jogo das sucessivas imagens construídas ao
autor sugere que a carga de simbolismo e Casinha da Roça, as Charangas, os Blocos longo da história da cidade, descritas num
de busca de identidade inerentes a esse pro- Alternativos e as Escolas de Samba. Estes breve percurso simbólico.
cesso fazem com que este atinja muitas grupos carnavalescos carecem de pesquisas
vezes, as complexidades peculiares às do que desvendem sua origem, registrem sua NOGUEIRA, Gislleyne de Lourdes
fenômeno artístico. trajetória histórica, seus sentidos e as prá- Costa. EMOCORE – Grupo como leitura
ticas sociais no contexto em que estão in- social. MONOGRAFIA. Curso de Especi-
FERREIRA, Bruno Soares. Abdução seridos. Neste aspecto, o intuito deste tra- alização em Jornalismo Cultural. São Luís,
semiótica na Capoeira e São Luís. MONO- balho é pesquisar os Blocos Tradicionais UFMA, 2008. Professora orientadora: Es-
GRAFIA. Curso de Especialização em Jor- que, ainda, não possuem registros escritos ter Marques.
nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. e documentais que abranjam algumas di- RESUMO:
Professor orientador: Arão Paranaguá de nâmicas aqui apresentadas. Após a Segunda Guerra Mundial
Santana (1939-1945), várias reações foram desenca-
RESUMO: LOBO, Juliana Campos. A mídia e o tam- deadas ao redor do mundo, em que grupos
O presente artigo tem por objetivo abor- bor: reconhecimento publicizado?. MONO- de caráter rebelde manifestaram-se de for-
dar o método da Consciência pelo Movi- GRAFIA. Curso de Especialização em Jor- ma agressiva contra o sistema político e
mento, desenvolvido na Capoeiragem por nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. toda a situação que alastrava o mundo. Es-
Mestre Patinho em São Luís – MA, e cons- Professora orientadora: Ester Marques. ses movimentos fizeram nascer dezenas de
truir pela semiótica, através da Abdução, RESUMO: grupos “subalternos” ou simplesmente sub-
imagens sobre as formas culturais de assi- Este artigo tem a intenção de suscitar culturas, que, tendo como suporte a músi-
milação da Capoeira nesse tipo de aprendi- reflexões sobre o Tambor de Crioula no que ca, expunham letras politizadas, em virtu-
zado. Para isso, serão utilizados os concei- tange a sua publicização enquanto Patri- de das conseqüências da Grande Guerra.
tos da Comunicação da Experiência e de mônio Imaterial da Humanidade. No perí- Punks aparecerem, dando origem ao Hard-
Interacionismo Simbólico sob a perspecti- odo de um ano, foram analisadas as matéri- core Punk – gênero musical enraizado do
va dos estudos culturais que vêm sendo as da editoria de cultura veiculadas sobre a rock e grande influenciador para a forma-
desenvolvidos na contemporaneidade. manifestação, em dois jornais de grande ção do Emocore. No primeiro momento,
circulação no Estado: O Imparcial e o Esta- este artigo tentará definir e fazer alguns
FREIRE, Karla Cristina Ferro. O reg- do do Maranhão. A análise baseou-se nos apontamentos sobre a estética da moda do
gae em São Luís na contemporaneidade: critérios de noticiabilidade apresentados grupo Emocore traduzida pelo estilo de vida
identificação cultural, segmentação e mer- por Mauro Wolf, um dos grandes teóricos que levam e suas características comporta-
cado. MONOGRAFIA. Curso de Especia- da Comunicação Social. mentais.
Boletim 43 / junho 2009 17
RESUMOS E RESENHAS
PELLEGRINI, Paulo Augusto Emery tos inusitados e verificar o kitsch em dife- cultural maranhense. Nesse contexto trata-
Sachse. A atuação das fontes na constru- rentes pontos de extravagância. remos de demonstrar a construção simbólica
ção do discurso jornalístico. MONOGRA- que todo aspecto de cultura contemporânea
FIA. Curso de Especialização em Jornalis- RODRIGUES, Wanderson Ney Lima. representa, utilizando a referida manifesta-
mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- O Mercado da Praia Grande na contempo- ção e os aspectos de transformações mais re-
fessor orientador: Francisco Gonçalves raneidade. MONOGRAFIA. Curso de Es- centes observados neste grupo folclórico.
RESUMO: Aborda-se o jornalismo Buscaremos fomentar, de alguma maneira,
pecialização em Jornalismo Cultural. São
questões referentes ao debate sobre identi-
como forma de conhecimento, constituí- Luís, UFMA, 2008. Professora orientado-
dade cultural na contemporaneidade.
da e constituinte da realidade. Apresentam- ra: Ester Marques.
se os principais fatores de construção do RESUMO: SILVA, Thatianny Cristina Soares e. O
discurso jornalístico. Analisa-se o jornalis- Analisa-se a história do mercado mais Mecenato no Premio Universidade: demo-
mo como campo social capaz de conferir antigo do Maranhão, a Feira da Praia Gran- cratização ou alienação da cultura? MONO-
visibilidade aos fenômenos e aos demais de. Seu surgimento, o posterior declínio e a GRAFIA. Curso de Especialização em Jor-
campos. Examina-se como se dá a atuação recente revitalização são abordados. Consi- nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008.
das fontes na construção deste discurso. dera-se a série de transformações culturais Professora orientadora: Ester Marques.
Compreende-se o processo de promoção de que influenciaram na maneira pela qual os RESUMO:
acontecimentos que se transformam em visitantes e feirantes se relacionam uns com Processo de utilização da cultura como
pautas jornalísticas, através de determina- os outros. Para compreensão deste fenôme- ferramenta de mercado baseado na oferta.
das estratégias institucionais. no, trabalhou-se com os conceitos de tradi- Analisa-se o Prêmio Universidade FM e a
ção de Eric Hobsbawn, identidade de Stuart relação de mecenato com sua principal pa-
PEREIRA JÚNIOR, José Antonio. Hall e cultura de Clifford Geertz. A feira, trocinadora Vale - maior produtora mundi-
You Tube: recriação ou descaracterização antes tida como um espaço para a aquisição al de minério de ferro - em termos de recur-
da linguagem do videoclipe? MONOGRA- de produtos de primeira necessidade, passa a sos destinados ao evento, observando seus
FIA. Curso de Especialização em Jornalis- ser encarada, contemporaneamente, como usos e efeitos dentro da complexificação
mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- um local de trocas culturais, de apresentações das sociedades globais.
fessora orientadora: Ester Marques. folclóricas e de manifestações religiosas.
RESUMO: VIEIRA, Raimundo Nonato de Araú-
O videoclipe conjuga, em uma só lin- SANTOS, Amarilis Cardoso. Projeto jo. Banca de revistas: um espaço democrá-
guagem, imagem e som. Em meados dos tico, heterogêneo e de convivência cultu-
Editoria do Suplemento Cultural e Literá-
ral. MONOGRAFIA. Curso de Especiali-
anos 80, este jeito de se produzir música rio “GUESA ERRANTE”: Entre a teoria e
zação em Jornalismo Cultural. São Luís,
tomou conta dos veículos de comunicação, a prática. MONOGRAFIA. Curso de Es-
UFMA, 2008. Professor orientador: Silva-
especialmente após o surgimento da MTV. pecialização em Jornalismo Cultural. São no Bezerra
Concebe-se, assim, videoclipe como produ- Luís, UFMA, 2008. Professora orientado- RESUMO: Este estudo discute a ban-
to da indústria cultural contemporânea. ra: Ester Marques ca de revistas como o espaço de produção e
Com o avanço das novas tecnologias, surgi- RESUMO: disseminação de sentido. A banca de revis-
ram diferentes espaços, como o site Youtu- A finalidade deste estudo é analisar os tas é entendida como uma espécie de en-
be, para divulgação de videoclipes. Nesse Anuários do Suplemento Cultural e Lite- troncamento de informações, o que vem
contexto, discute-se até que ponto esse rário “Guesa Errante”, publicados há cin- caracterizá-la como específico na paisagem
novo espaço recria ou descaracteriza a lin- co anos no Jornal Pequeno, como um exem- da cidade. Busca-se avaliar os diferentes si-
guagem videoclíptica. plo de Jornalismo Cultural. A idéia é verifi- nais presentes na banca de revistas, na con-
car se os objetivos propostos por seu Edito- dição de portadores de significados e que
RAMOS, Januária Oliveira. Vitrines rial estão sendo cumpridos. A partir do pri- indicam modos de convivência social.
da periferia: um breve olhar sobre o híbri- meiro editorial do Guesa Errante, a inten-
do e o kitsch expostos na feira da Cidade ção é analisar os indícios textuais das pu- WADA, Mieko Damasceno. O reggae
Operária. MONOGRAFIA. Curso de Es- blicações dos Anuários, tentando observar como instrumento político na cultura ma-
pecialização em Jornalismo Cultural. São se ele obtêm os efeitos desejados, tanto para ranhense. MONOGRAFIA. Curso de Es-
Luís, UFMA, 2008. Professor orientador: os editores, quanto para o público leitor, pecialização em Jornalismo Cultural. São
José de Ribamar Ferreira Júnior. Luís, UFMA, 2008. Professora orientado-
proposto pelo editorial.
ra: Ester Marques.
RESUMO: Este trabalho tem a inten-
RESUMO: A pretensão é entender o
ção de mapear, dentro da periferia da cida- SAUAIA, Anuar Sadat. O Boi da Mai-
reggae como um fenômeno político de
de de São Luís, alguns aspectos do hibri- oba e a contemporaneidade. MONOGRA- massa, tendo em vista sua predominância
dismo cultural do kitsch que podem ser vi- FIA. Curso de Especialização em Jornalis- tradicional nos bairros periféricos de São
sualizados em pequenos produtos vendidos mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- Luís, onde o nível de instrução de grande
em mercados populares. Para esta pesqui- fessor orientador: Francisco Gonçalves parcela da população é limitado. A idéia é
sa, o corpus escolhido é a feira da Cidade RESUMO: perceber como esta manifestação cultural
Operária, que é um dos bairros mais popu- Este trabalho propõe a discussão sobre pode influenciar os seus adeptos na hora
losos da capital maranhense. Notamos que alguns conceitos como cultura popular na de escolher os seus representantes nos car-
o hibridismo está presente neste ambiente contemporaneidade, transformações cultu- gos em que concorrem, tendo como ban-
por meio de objetos - muitos importados rais, tipologias culturais e tradição, a partir deira de luta o movimento regueiro, no
de outros países como mercadoria piratea- de uma perspectiva paradigmática que não Maranhão. A adesão de simpatizantes é
da, e das criações que simulam realidades, negligencia o caráter dinâmico da cultura e resultante de vários artifícios de marketing,
recriam contextos e promovem encontros sua contextualização histórica. Como pano como a realização de eventos e festas, nos
inusitados na concepção visual dos produ- de fundo, elegemos o Boi da Maioba em vir- quais os representantes são simbolizados
tos expostos. Vamos examinar esses aspec- tude de sua representatividade no campo como heróis.
18 Boletim 43 / junho 2009
PERFIL POPULAR
Mestre Antonio Vieira Nívea Saraiva20
Antônio Vieira, a escolha do nome pa- conjunto vocal Anjos do Samba, a partir
rece ter sido premeditada, fruto de um amor daí Antonio Vieira despontaria para uma
tropical entre Seu Wilson Vieira e Dona trajetória musical que o levaria ao reconhe-
Itamar Farias, nasceu na Rua de São João, cimento e sucesso a partir da gravação do
centro de São Luís, aos 09 dias do mês de compacto Velhos Moleques participando
maio do ano de 1920. de diversos conjuntos musicais: JB Trio,
Nascido em família humilde, Mestre Tira-Teima, Bambaê, Urubu Malandro, ci-
Vieira como ficou eterna e carinhosamen- tando os mais conhecidos.
te conhecido, dividia com mais 03 irmãos A primeira composição gravada em sua
os cômodos apertados de sua casa. O pri- voz foi “Na cabecinha da Dora”, no vinil
mogênito da família Vieira logo cedo seria Velhos Moleques, em 1986. Parcerias com
apadrinhado pela família Lomba (descen- grandes amigos enriqueceram seu acer-
dente de portugueses) que lhe proporcio- vo: Nascimento de Moraes Filho, Lago
Burnett, Pedro Giusti, Oton Santos,
nou novas possibilidades oportunamente
Lopes Bogéa com quem, inclusive,
aproveitadas. Sua adolescência rotineira e
lançou o livro e vinil Pregões de
disciplinada, o transportaria para um “mun-
São Luís.
do paralelo”, imaginário e proibido: o mun-
Seu primeiro trabalho
do da música. O retorno para a casa dos solo, CD-O Samba é bom,
pais biológicos, devido o falecimento do pa- foi lançado somente em
drinho João Batista, foi marcante em sua 2001, a partir daí ma-
vida, realidades diferentes despertaram em ranhenses se ren-
Vieira reflexões em torno da sociedade, pre- deriam ao talento
sentes em suas composições. dessa pérola negra. Seu cancio-
Concluído o curso de Contador pela neiro foi várias vezes premiado: II Festival gio Miranda, Agostinho Reis, Messias, Pe-
Escola Superior de Comércio Centro Cai- Música Nova no Maranhão Novo, Festival dro Giusti, Sidney Maciel... Assim como
xeiral transitou em várias áreas profissio- A Voz de Ouro do ABC (SP), indicação no Noel, Ary Barroso, Lupicínio...
nais: milícia de guerra, mecânico, comerci- Prêmio Sharp, Personalidade Cultural do As composições do Mestre Antônio Viei-
ante, motorista, diretor administrativo Maranhão, Prêmio Universidade FM, Fes- ra refletiam uma visão particular de mundo,
hospitalar... Até se dedicar exclusivamente tival de Música Carnavalesca... poemáticas-reflexivas, não retratavam um Ma-
ao mundo mágico da música. Sua primeira ranhão ilusório e sim o real, vitimado pelas
Antônio Vieira, compositor, intérpre-
composição, Mulata Bonita, ocorrida aos mazelas humanas. Sua música sempre o reju-
te, percussionista e arranjador, tornou-se
16 anos, retratou sua visão apaixonada pela venesceu, ele sempre dizia que não sentia a
um dos mais completos representantes do velhice chegar porque se refugiava nesse mun-
vida e claro pela mulher maranhense: “Isso universo musical maranhense, alcançando do atemporal acompanhado de seu inesquecí-
não é mais do que uma ode elogiando a be- também sucesso nacional, fez da música vel violão. Falecido a sete de abril de 2009, An-
leza da mulata, eu acho que as mulatas são sua razão de ser, é dono de um estilo ímpar tônio Vieira foi coroado “anjo do samba”.
perfeitas de corpo, são mais bonitas que as de compor e interpretar o Maranhão, suas Finalizo com uma frase de nosso eter-
brancas, a música foi para todas as mara- quase 400 composições entre sambas, val- no Mestre que sempre foi motivo de nos-
nhenses”, segundo ele (2004). sas, canções, marchas, toadas e boleros fo- sas inúmeras discussões, a valorização de
Freqüentador de programas de rádio, ram inspiradas no cotidiano popular com nossa cultura: “Meu maior desejo é que o
se dizia “macaco de auditório” da Rádio temas regionais e influenciadas pelo talen- povo brasileiro escute a minha música; não
Timbira, sua primeira apresentação profis- to de grandes referências artísticas locais: há glória maior para o compositor”.
sional nos idos de 1942, foi realizada no Armando Cavalcanti, Nilton Vieira, Ser- Que seja feita a sua vontade!
21 Nivia Saraiva dos Santos - Especialista em História do Maranhão (UFMA); Professora do Ensino Público e pesquisadora da vida e obra de Antonio Vieira.