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Organizadores:
Maria Cláudia S. L. de Oliveira
Diva Maria Albuquerque Maciel
Jane Farias Chagas
Maristela Rossato
Mônica Neves Pereira
Patrícia C. Campos Ramos
Sylvia Regina Magalhães Senna De 12 a 15
de Novembro
de 2011
C749 Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
(8. : 2011 : Brasília).
Anais do VIIII Congresso Brasileiro de Psicologia do
Desenvolvimento / Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira ...
[et al.], organizadores. – Brasília : Associação Brasileira de
Psicologia do Desenvolvimento, 2011.
1364 p. ; 21 cm.
ISSN 2177-1413
CDU 159.922
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Sumário
Apresentação ..................................................................................... 5
Comissões........................................................................................... 7
Estrutura do evento............................................................................ 8
Programação Científica....................................................................... 9
Domingo, 13/11.................................................................................. 9
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
APRESENTAÇÃO
Prezados Participantes do
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento,
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ESTRUTURA DO EVENTO
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tural para buscar o contato e a proteção mudanças durante a vida, de acordo com
de um adulto, seja ele a mãe ou a figura outras experiências vividas pelo indivíduo.
de um outro cuidador. O tipo de cuida- O desenho tem sido usado há muito tem-
do oferecido pela mãe ou cuidador, ou po pela psicologia como forma de acessar
seja a figura de apego primária, oferece as representações do indivíduo acerca de
um protótipo de relacionamento sobre o si mesmo e do mundo que o cerca. Par-
qual a criança é capaz de construir suas tindo do mesmo pressuposto o desenho
expectativas diante de relacionamen- da família foi estudado por diversos au-
tos outros que surgem ao longo da vida. tores de forma a classificar características
Ainsworth (1978), em seu experimento no mesmo que tivessem correlação com
“Situação Estranha” observou três estilos os estilos de apego (Kaplan, May, 1986;
de apego, que se desenvolviam na crian- Fury, Carlson, Sroufe, 1997; Attili, Ruby,
ça conforme os critérios de sensibilidade 2000; Maddigan, Ladd, Golberg, 2003).
desta figura primária para responder aos Mais recentemente Roazzi, & cols., (2011)
sinais do bebê e a quantidade e a nature- também verificaram a possibilidade de
za da interação entre os mesmos. Assim, acessar as representações acerca das re-
crianças com estilo de apego seguro (B) lações afetivas por meio do desenho da
apresentam um bom equilíbrio entre au- família em crianças de educação infantil e
tonomia e proximidade, sendo capazes de ensino fundamental. Tal pesquisa, já rea-
utilizar a figura de referência como base lizada na Itália, está sendo trazida para o
segura. A qual é percebida pela criança Brasil por meio deste trabalho, tendo em
como positiva, sensível e sempre dispo- vista a necessidade de pesquisas com o
nível às suas requisições de ajuda. Nas tema, contextualizadas nesta realidade
crianças com apego evitante (A) há uma específica. Analisar a correlação entre as
ênfase na autonomia e independência, características do desenho da família e os
mostram-se indiferentes à figura de ape- Modelos Internos de Funcionamento, to-
go, a qual é percebida como impaciente, mando como base os estudos anteroires.
negativa e rígida. As crianças com apego Prover uma base para futura validação
ambivalente (C), por sua vez, apresentam do desenho como uma representação
excessiva ativação do sistema de apego, do apego por meio do uso de um instru-
buscando uma contínua confirmação da mento já conhecido. Avaliação de uma
presença e proteção da figura de apego. amostra composta por 25 alunos do 1º
É interessada, mas não consegue estabe- ano do Ensino Fundamental de uma es-
lecer rotinas sincronizadas, apresentando cola pública do Recife com relação aos
incoerências. Está convencida de não ser estilos de apego por meio de uma versão
amável, enquanto que o outro é percebi- modificada (Attili, 2001) do Separation An-
do como confiável e positivo. Os estilos de xiety Test, de Klagsbrun e Bowlby (1979).
apego discriminados por Ainsworth (op. Aplicação individual do teste do desenho
Cit.) sofreram uma evolução no sentido da família validado para classificação dos
de não serem mais vistos como formas es- estilos de apego por Fury e colaboradores
tanques de relacionamento. Os modelos (1997). A versão italiana do presente estu-
Internos de funcionamento (MIF), como do demonstrou que o desenho da família
agora são denominados, podem sofrer pode ser considerado um método válido
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para assessar os estados atuais de apego A, C; ʤ2 (2)= 2.78 n.s.). Também desenha-
em crianças. Por meio de testes estatísti- ram mães com expressões faciais positivas
cos tradicionais, utilizando o SSA (Smallest (B>A, C; ʤ2 (2)= 8.2 p<0.05). Crianças evi-
Space Analysis - Bloombaum, 1970; Gutt-
tantes desenharam com maior probabili-
man, 1965; Shye, 1985; or Similarity Struc-
dade barreiras entre os representantes da
ture Analysis - Borg & Lingoes, 1987), mui-
família (A > B, C; ʤ2 (2)= 8.7 p<0.05). Assim,
tas características do desenho mostraram
temos fortes evidências que nos embasam
relação com as tipologias de apego. Dados
no sentido de que os resultados do pre-
obtidos por meio de simultâneas inercor-
sente estudo têm contribuições similares,
relações lançaram luz sobre as complexas
porém respaldadas pela singularidade da
estruturas representacionais da criança
cultura brasileira. De forma que se apre-
acerca de seus laços familiares. As seguin-
sente como uma contribuição relevantes
tes variáveis dimensionais mostraram-se
no aprofundamento da temática da Teoria
relevantes: Crianças coma pego ambiva-
do Apego no país.
lente demonstraram maior probabilidade
de situar seu próprio desenho mais pró-
Palavras-chave: desenho da família;
ximo do desenho da mãe que os segura-
representação interna; teoria do apego.
mente apegados (os quais se desenhavam
a uma distância equilibrada da mesma:
C < B, A; ʤ2 (2)= .28 p<0.05), além disso
LT01-1329 - WALLON E BOWLBY:
localizavam o desenho da família a uma
AFETIVIDADE EM DISCUSSÃO
distância maior da borda inferior da folha
que as crianças seguras (C > B; ʤ2 (2)= 5.4 Fabíola Lira Gonçalves - UFPE
p<0,001), seus desenhos cobriam uma fmsgoncalves@ig.com.br
pequena área da folha em comparação Débora Matos - UFPE
comos desenhos das crianças com apego debkrm@gmail.com
seguro (C < B; ʤ2 (2)=2.81 p<0.05).As crian- Financiamento: CNPq
ças seguras se desenharam mais ao centro
da folha que as crianças de apego evitante O ponto de partida deste ensaio deu-se
(B<A; ʤ2 (2)=3.8 p<0.01). Variáveis catego- pela articulação entre teorias psicológicas
riais relevantes: Houve uma tendência por do desenvolvimento humano que tratam
parte das crianças inseguras , em compa- da afetividade. Neste sentido, propõe-se
ração às seguras, de desenharem figuras um diálogo entre as abordagens teóricas,
incompletas (B < A, C; ʤ2 (2)=3.41 p<0.05). a saber: a teoria psicogénetica de Wallon
No desenho de crianças ambivalentes ha- e a teoria do apego de Bowlby, já que es-
via ausência de chão em maior proporção tes autores defendem uma concepção in-
que no desenho das demais (C < A, B; ʤ2 tegrada do ser humano em seus aspectos
(2)= 10.9 p<0.05) e frequentemente suas cognitivos e afetivos. Historicamente, as
figuras estavam flutuando (C > B, A; ʤ2 teorias psicológicas têm gerado uma visão
(2)= 13.3 p<0.001). Crianças seguramen- dicotômica entre cognição e afetividade.
te apegadas mostraram maior probabili- A teoria psicogenética de Piaget (2007)
dade, embora não significativamente, de ressalta o aspecto cognitivo no desenvol-
desenhar figuras com braços abertos (B > vimento do indivíduo. Por outro lado, se
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contempla na psicanálise a ênfase na sin- vas emoções que surgirão durante toda a
gularidade do sujeito, tendo a afetividade existência. Por essa via explicativa, o pres-
um papel central na constituição deste. suposto integrador entre os aspectos bio-
Na teoria walloniana as emoções e o afe- lógicos, cognitivos e afetivos funcionam de
to, tem papel fundamental na constituição modo sincrético, portanto indissociáveis.
da pessoa. A emoção teria primeiramente Wallon ressalta dois mecanismos regula-
a função biológica calcada na concepção dores do desenvolvimento psicogenético,
evolutiva de Darwin, tendo em vista que a a saber: alternância e preponderância,
espécie humana, em geral, tem um único estes se articulam num jogo interacional
filho por gestação, e um longo período de intenso entre os componentes biológicos
dependência deste em relação aos cuida- e sociais do psiquismo humano. À medida
dos do adulto para o seu desenvolvimento que as interações entre os indivíduos vão
pleno. A primeira manifestação de emo- ocorrendo, vão surgindo novas formas de
tividade na vida humana, conforme esta afetividade, por exemplo: o sentimento e
abordagem é o choro, que é concebido a paixão que podem se manifestar tanto
como a garantia de que as necessidades de modo verbal, pois há palavras que a
do bebê serão prontamente atendidas expressam, bem como gestos e atitudes
pela mãe. Daí tem-se uma emoção, car- motoras que podem expressá-las do mes-
regada de sua característica contagiosa mo modo, sem que haja uma hierarquia
e epidêmica, sendo à base da relação na forma escolhida pelo sujeito para ex-
eu-outro. Esta manifestação emotiva se pressar a afetividade. O que demarca a
constitui na relação entre os aspectos escolha da expressão afetiva é o contexto
biológico e social, pois o choro também interacional instaurado entre os sujeitos
é considerado por Wallon como uma ex- envolvidos no ato comunicacional. Para
pressão de linguagem, uma vez que a mãe Bowlby, o vínculo da criança à sua mãe é,
ouve o choro do bebê, é contagiada por também, um comportamento inicialmen-
sua reação emocional de desconforto e te de ordem primária e instintiva, cuja
reage atendendo às suas solicitações. Para função adaptativa seria a preservação da
Dantas (1992), na teoria walloniana, cuja vida. Assim a criança tem uma tendência
orientação filosófica é o materialismo dia- natural para buscar o contato e a proteção
lético, a emoção é simultaneamente bio- de um adulto, seja ele, a mãe ou a figura
lógica e social, circunscrita em um tempo de outro cuidador. Essa busca de contato,
historicamente situado, a premissa básica manifestada primeiramente pelo choro,
é da unicidade do sujeito nas dimensões provoca determinado tipo de reação na
que o integram. Desse modo, a emoção mãe, que a partir de então, se configura
humana, se constitui por meio das mani- como cuidadora. Constitui-se, assim, um
festações de linguagem verbais e não ver- estilo de relacionamento primário entre
bais que só acontecem em função da me- mãe e filho, ou cuidador e criança. O tipo
diação cultural e social entre sujeitos. As de cuidado concedido por este, oferece
etapas do desenvolvimento humano em um protótipo de relacionamento sobre o
Wallon não são estanques. O sujeito não qual a criança é capaz de construir, por
perde, ou substitui totalmente as emo- meio de generalização, suas expectativas
ções primárias, elas coexistirão com as no- diante de relacionamentos que surgem ao
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longo de sua vida. Há, assim, duas condi- indissociável, afetando todas as esferas da
ções que contribuem na formação ou não vida do indivíduo. Assim as duas teorias
do apego a uma figura primária, ou ainda integram a base orgânica e contato com o
ao estilo de apego proveniente desta re- outro, com o social, os quais impulsionam
lação: a) a sensibilidade desta figura para o afeto e a cognição. Este homem comple-
responder aos sinais do bebê; b) a quan- to e total tem todos estes componentes
tidade e a natureza da interação entre os constantemente interagindo entre si. Ele
componentes do par. Conforme estas va- está, ao mesmo tempo, se adaptando ao
riáveis, três padrões básicos de apego po- meio, aprendendo o mundo ao seu redor,
dem se desenvolver (Ainsworth, 1978): a) significando o mesmo e se relacionando
Crianças com estilo de apego seguro apre- com o outro a partir de suas experiências.
sentam um bom equilíbrio entre autono- Todas estas atividades coexistem e se nu-
mia e proximidade, sendo capazes de uti- trem mutuamente.
lizar a figura de referência como base se-
gura, a qual é percebida pela criança como Palavras-chave: Afetividade, Psicogênese da
positiva, sensível e sempre disponível às Pessoa Completa, Teoria do Apego.
suas requisições de ajuda; b) Nas crian-
ças com apego evitante há uma ênfase na
autonomia e independência, mostram- LT01-1373 - O DESENVOLVIMENTO DO
-se indiferentes à figura de apego, a qual OLHAR NO BEBÊ E SUA RELAÇÃO COM
é percebida como impaciente, negativa e O DESENVOLVIMENTO POSTURAL:
rígida; e c) As crianças com apego ambiva- REFLEXÕES SOBRE RELAÇÃO, CULTURA E
lente, por sua vez, apresentam excessiva COMPLEMENTARIDADE
ativação do sistema de apego, buscando Natália Meireles Santos - FFCLRP/USP
uma contínua confirmação da presença e nmeireles@aluno.ffclrp.usp.br
proteção da figura de apego. É interessa- Kátia de Souza Amorim - FFCLRP/USP
da, mas não consegue estabelecer rotinas katiamorim@ffclrp.usp.br
sincronizadas, apresentando incoerên-
cias. Está convencida de não ser amável, O primeiro ano de vida é uma etapa de
enquanto que o outro é percebido como grandes transformações no desenvolvi-
confiável e positivo. Estes estilos de apego mento humano, em que inúmeras habili-
tornam-se relativamente estáveis entre o dades são adquiridas (Pio, 2007). Estudar
primeiro e o segundo ano de vida e se ma- o bebê é uma forma de aprender sobre
nifestam como uma “tendência geral” que quem somos e como somos constituídos
influencia as relações do sujeito consigo, (Bussab, Carvalho & Pedrosa, 2007). O
com o outro e com o meio. Estes estilos, bebê apresenta formas particularizadas de
porém, podem ser alterados a partir de interação, reveladas por episódios “mais
outras experiências significativas ao lon- fugazes, desordenados, pouco estrutura-
go da vida. Autonomia, autoconfiança, dos e pouco intencionais” (Anjos, Amorim,
confiança para explorar e conhecer, são Rossetti-Ferreira & Vasconcelos, 2004).
características intimamente relacionadas Apesar disso, o bebê apresenta formas de
a um apego seguro. Percebe-se uma rela- expressão significativa, (gestos, expres-
ção entre afetividade e cognição, de forma sões faciais, vocalizações, postura corpo-
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21 bebês, em uma creche universitária. gociação do olhar por parte da mãe que
Acredita-se que esses contextos permitam suscita reflexões sobre a inserção desse
evidenciar processos de desenvolvimento recurso em nossa cultura e como o bebê
significados de diferentes maneiras, pelas se apropria deste na interação, inclusive
particularidades de organização dos espa- quando não há pontos de encontro; nem
ços, bem como pelas práticas discursivas sempre Marina retribui o olhar à mãe, mas
do contexto e das pessoas no entorno e antes se volta para seu próprio corpo. Cha-
em interação. As gravações dos bebês es- ma ainda a atenção o contato e manejo
tão sendo vistas e algumas cenas, transcri- corporal do bebê realizado pela mãe em
tas. Nessas são buscadas particularidades uma relação também negociada. Marina
nos processos de olhar e da postura corpo- não é simplesmente subjugada às ações da
ral. As cenas são analisadas microgenetica- mãe , mas esta também reage à comunica-
mente (Goes, 2000), de modo a apreender ção do bebê (choro, movimento corporal,
mudanças ao longo do tempo, através de olhar), numa relação de complementarida-
recortes de episódios de diferentes mo- de (Seidl de Moura & Ribas, 1999).
mentos do desenvolvimento postural e do
olhar no bebê. A partir do mapeamento Palavras-chave: olhar, comunicação,
realizado, foi recortado um episódio inte- desenvolvimento postural
rativo no ambiente domiciliar: Júlia leva
Marina (quatro meses) para o quarto para
dar-lhe banho. Deita-a virada para cima LT01-1435 - A COMPREENSÃO
na cama. Marina começa a choramingar. INTERDISCIPLINAR DA RELAÇÃO
Júlia senta Marina na cama, segurando-a MÃO-BEBÊ: UMA APROXIMAÇÃO DE
de modo que ambas ficam frente a fren- WINNICOTT À NEUROCONCIÊNCIA DO
te (Júlia abaixa-se ao lado). Marina olha e DESENVOLVIMENTO
passa a mexer nos pés. Começa um movi- Célia Regina de Souza Cauduro - USP/SP
mento em que Júlia insistentemente tenta crcauduro@uol.com.br
chamar a atenção de Marina, utilizando-se Vera Silvia Raad Bussab - USP/SP
de vários recursos auditivos e táteis. Nem vsbussab@gmail.com
sempre Marina retribui com o olhar, mas
quando o faz ambas sorriem. Júlia levanta- Na teoria psicanalítica de Donald W. Win-
-se então e pega Marina no colo, e leva-a nicott ((1983; 1988 a, b, c, d; 1990; 1994;
para frente de um espelho, com ambas 1997; 1999 a, b, c, d, e) sobre a constitui-
voltadas para o mesmo. Enquanto isso, a ção do sujeito e nos trabalhos da Neuro-
pesquisadora passa por detrás com a câ- ciência do Desenvolvimento, existem afir-
mera, chegando a aparecer no espelho. O mações sobre a importância da qualidade
olhar de Marina volta-se para a imagem da experiência vincular nas primeiras eta-
da pesquisadora. Marina movimenta-se e pas da vida pós-natal. A correspondência
esforça-se para virar-se para trás. Quando entre estas duas teorias se organiza por
a mãe o percebe, vira seu próprio corpo, meio do conceito winnicottiano de expe-
tornando possível que Marina olhe direta- riência intersubjetiva: “o bebê no colo da
mente para a pesquisadora. No episódio, mãe, que precisa crescer, isto é, consti-
fica evidente a insistente e custosa ne- tuir uma base para continuar existindo e
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integrar-se numa unidade” (Loparic, 2008, tas não verbais dos comportamentos do
p.145). Segundo Loparic (2008), “Winni- bebê, crucial para o estabelecimento de
cott introduziu um novo modelo ontoló- um vínculo seguro (Schachner, Shaver, &
gico do objeto de estudo da psicanálise, Mikulincer, 2005). A autoregulação emo-
centrado no conceito de tendência para cional é a habilidade para controlar esta-
a integração, para o relacionamento com dos internos ou respostas relacionadas
pessoas e coisas e para a parceria psicos- aos pensamentos, emoções, atenção e
somática“ (p.145). Esta afirmação de Lo- desempenho. Os mecanismos neurais que
paric (2008) é apoiada pelas pesquisas sustentam os processos regulatórios po-
neurocientíficas sobre o desenvolvimento dem ser os mesmos que fundamentam os
humano que afirmam que o corpo ma- processos cognitivos superiores. Existem
terno é a principal fonte de provisão das processos complexos pelos quais a emo-
informações ambientais, e funciona como ção relaciona-se à cognição e ao compor-
um regulador externo que organiza os tamento, que, conseqüentemente, inter-
sistemas neurológico, perceptual, emo- ferem no processo de desenvolvimento
cional e relacional pela sua presença físi- (Bell & Wolfe, 2004; Bell & Kirby, 2007).
ca e pelo seu comportamento interativo A autoregulação emocional desempenha
(Feldman, 1996; 1999; 2003; 2006; 2007). um papel central na socialização e no de-
A Neurociência do Desenvolvimento - As senvolvimento do comportamento moral,
conclusões dos estudos da neurociência depende do desenvolvimento do córtex
do desenvolvimento descrevem como as pré-frontal; está associada ao desenvolvi-
experiências vividas na interação entre a mento de diferentes estratégias de adap-
criança e o cuidador primário no período tação durante as etapas subseqüentes do
neonatal, podem alterar o processo de ciclo vital (Levesque, A., 2004; Lewis &
desenvolvimento do sistema nervoso. Os Stieben, 2004). As situações de negligên-
bebês, ao nascerem, apresentam consi- cia e maus tratos, eventos traumáticos
derável individualidade, são sensíveis aos que quando duradouros, representam
estados afetivos do outro e mobilizam res- risco ao desenvolvimento psiconeurobio-
postas em seu meio ambiente. Tal capaci- lógico infantil; estas situações podem es-
dade requer um grau significativo de inter tabelecer uma vulnerabilidade ao estresse
coordenação pré-funcional entre o cére- pós-traumático (PTSD), e uma predisposi-
bro e o corpo. Atualmente, existe grande ção à violência na idade adulta. Situações
evidência que a organização do cérebro de privação ou trauma que promovem
do neonato é altamente dependente da interrupções no processo de formação do
estimulação dos cuidadores, e que estas vínculo, causadas por fatores maternos
interações quando validadas por experi- (ex. depressão pós-parto) e/ou relaciona-
ências adequadas, constituem um regula- das ao bebê (doenças hereditárias, congê-
dor da epigênese social da mente infantil, nitas ou adquiridas), podem desorganizar
isto é, promovem as condições necessária a regulação psicobiológica e neuroquímica
para a autoregulação emocional. Estas ex- no desenvolvimento cerebral, conduzindo
periências adequadas são proporcionadas à neurogênese, sinaptogênese e diferen-
por um cuidador primário (mãe) sensível ciação neuroquímica anormais.Os dados
capaz de decodificar ou entender as pis- da pesquisa de Chelini et al., (2010) inclu-
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ída no Projeto Ipê -Temático FAPESP no. sutis interações emocionais alteram os ní-
06/59192-2, que estuda possíveis efeitos veis da atividade cerebral e exercem um
da Depressão Pós-Parto (DPP) no desen- papel importante no estabelecimento e
volvimento numa população atendida manutenção dos circuitos do sistema lím-
pelo sistema público de saúde apontam bico (Ziabreva, I., Poeggel, P., Reinhild, S.,
que “ a resposta do cortisol a um estres- Braun, K., 2003; Wilkinson,2004; Cirulli,
sor leve foi maior em filhos de mães de- Berry, Alleva, 2003; Bradshaw, Schore,
primidas (análise de medidas repetidas; Brown, Poole, & Moss, 2005; Fonagy &
t = 2,44, 94df, p = 0,0166). Este resultado Target, 2005; Ovstscharoff e Braun, 2001;
indica que aos quatro meses após o parto Balbernie, R.(2001); Graham, et al.,1999;
o eixo HPA pode ter sido afetado pela DPP Schore, 2005). “A “mãe suficientemente
materna, já que filhos de mães deprimidas boa” tambem não existe sem os outros.
não mostraram a esperada supressão da Ela não existe sem um campo sociocul-
resposta do cortisol comumente observa- tural, que lhe dê possibilidades de exer-
da em torno de três meses”. Em concor- cer suas funções” (Safra, 2002).Coerente
dância com Ovstscharoff e Braun (2001), com afirmação de Fonseca, V.R.J.R.M. et
a interação diádica entre o recém-nascido al. (2010) - Projeto Ipê -Temático FAPESP
e a mãe funciona como um regulador do no. 06/59192-2, “A sensibilidade materna
desenvolvimento da homeostase inter- é influenciada por fatores sócio-cognitivos
na infantil. Interferem no funcionamento e afetivos”. As conclusões da pesquisa de
normal do eixo HPA (Hipotálamo-Pituitá- Defelipe, (2009) - Projeto Ipê -Temático
ria-Adrenal) resultando na alteração do FAPESP no. 06/59192-2: “A DPP1 parece
ritmo circadiano, elevando os níveis ba- capaz de perturbar os arranjos interativos
sais e reduzindo o volume cerebral. Os tornando-os menos consistentes. Porém,
efeitos podem ser de longo prazo, con- apesar desta possível limitação, por vezes,
duzindo a uma intensa resposta do eixo mães com DPP podem interagir adequa-
HPA a qualquer situação desafiadora, damente com seus bebês. Por fim, a DPP
atrofia hipocampal e prejuízos no desem- por não se tratar de um fenômeno capaz
penho cognitivo na vida adulta. Winnicott de incidir linearmente sobre a interação
e a Neurociência do Desenvolvimento: a mãe-bebê, e sobre o desenvolvimento
construção de uma hipótese interdiscipli- posterior, deve ser investigada em asso-
nar - A hipótese formulada a partir desta ciação com outros fatores psicossociais
aproximação é que a relação de mutuali- de risco.” Confirmam a compreensao de
dade entre o biológico, o emocional e o Aitken & Trevarthen (2001) que conside-
social (e não o emocional enquanto uma ram o vínculo como resultado de um con-
conseqüência linear da condição biológi- junto complexo de fatores individuais e
ca, ou o biológico como condição direta ambientais que interagem de uma forma
do emocional) apontada pela neurociên- não linear.
cia, no processo de desenvolvimento hu-
mano, é estabelecida por meio de uma Palavras-chave: Psicanálise, Neurogênese,
relação intersubjetiva fundada em uma Vínculo
maternagem que Winnicott (1988) cha-
mou de “mãe suficientemente boa”.Estas 1
DepressãoPós-Parto.
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tação, olhar e ser acalmado pelo contato (19.9 ± 3.3 nmol/L vs 9.3 ± 1.8 nmol/L), aos
com a mãe). Dados dos recém-nascidos 4 meses antes (8.2 ± 2.3 nmol/L vs 2.7 ±
foram obtidos dos prontuários. Análise es- 0.5 nmol/L) e depois do evento estressor
tatística: Utilizamos testes t e chi quadra- (11.1 ± 2.3 nmol/L vs 4.0 ± 0.6 nmol/L).
do entre os grupos com e sem DPP para Discussão: O nível de cortisol dos bebês
identificar possíveis variáveis de confusão. aos 4 meses é semelhante entre os grupos,
Depois, foi formulado e ajustado um mo- contradizendo alguns resultados (Brennan
delo linear misto (LMM), descrevendo a et al., 2008) mas consistente com Azar et
concentração do cortisol dos bebês como al. (2007). Diferentemente de Azar, não
função da condição da mãe (DPP) e do foram encontradas diferenças na variação
tempo (Demidenko, 2004). Foram então do cortisol frente ao estresse, entretanto,
testados efeitos possíveis de variáveis do observou-se maior variação interindividual
recém-nascido e dos escores de relação no grupo filhos de deprimidas, sugerindo
mãe/bebê sobre cada medida de cortisol. reação mais heterogênea ao estresse. A
O nível de significância adotado foi < 0,05. análise mostrou uma explicação possível,
Resultados: Foram consideradas deprimi- evidenciando correlação entre maior res-
das 16 mulheres (23,8%). Não houve dife- posta endócrina ao estresse e menores es-
renças da interação avaliada para mães e cores de interesse materno apenas no gru-
bebês entre grupos, nem para nenhuma po com DPP. A análise inferencial mostrou
variável de confusão. O LMM mostrou efei- também diferença entre os grupos nas
to do tempo no cortisol (F2/71 = 25.52, p < concentrações basais de cortisol. Os níveis
0.0001). Nos dois grupos, a concentração de cortisol estimados depois do controle
de cortisol era maior na alta que na linha de para efeito do interesse materno sugerem
base aos 4 meses e aumentou após o exa- que a qualidade da interação materna de-
me clínico. Não houve efeito da DPP nem pois do parto pode tamponar o efeito da
da interação DPP e tempo sobre os níveis depressão no eixo HPA dos bebês, mesmo
de cortisol. Verificou-se, contudo, um coe- apenas 2 dias após o nascimento, quando
ficiente de variação (CV) maior na resposta a DPP ainda não é detectável. Efeitos si-
endócrina de filhos de mães deprimidas milares foram reportados (Gunnar, 1998;
em resposta ao estressor (CV = 124.54) do Kaplan et al., 2008). Nossos resultados su-
que no outro grupo (CV = 75.47). O modelo gerem que intervenções visando melhorar
mostrou interação no tempo entre escore a qualidade dos cuidados maternos, suge-
de interesse materno e DPP apenas entre ridas em estudos prévios (Gunnar & Don-
filhos de mães deprimidas (F1/51 = 4.18, p = zella, 2002; Wachs et al., 2009) podem ser
0.046). Especialmente, foi evidenciada cor- implantadas desde os primeiros momen-
relação negativa entre escore do interesse tos de vida do bebê.
materno e variação do cortisol do bebê
após o evento estressor apenas no grupo Palavras-chave: Depressão pós-parto; cortisol;
com DPP (Pearson r = -0.904, p = 0.005). interação mãe-bebê.
Com o modelo, foi possível controlar as Contato: Departamento de Psicologia
concentrações de cortisol pelo interesse Experimental, Instituto de Psicologia,
materno, que então se mostraram maio- Universidade de São Paulo, São Paulo
res em filhos de mães deprimidas na alta marodiche@gmail.com
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condição DPP, especialmente no caso dos indivíduo, devido às influências que pode
meninos. De um modo geral, a constata- exercer em seu comportamento. Os pais
ção deste tipo de efeito da DPP no desen- são considerados como a fonte primária
volvimento da criança contribui para uma que o ser humano possui de contato com
compreensão mais ampla do processo. o mundo, e desempenham um papel im-
Além disso, a constatação destes efeitos portante no comportamento e desenvol-
ligados à inserção social da criança confe- vimento da criança e adolescente, como
re importância adicional à prevenção e à mediadores entre eles e a sociedade. Di-
intervenção. versos estudos ressaltam que a convivên-
cia das crianças com mães que apresen-
Palavras-chave: depressão pós-parto, tam transtornos psiquiátricos, incluindo a
cooperação infantil, interação mãe-bebê. depressão, configura-se como um fator de
Contato: Laura Cristina Stobäus risco para o desenvolvimento dos filhos.
e-mail: stobaus@usp.br Nesse sentido, este estudo busca correla-
cionar sintomas depressivos de mães com
problemas de comportamentos internali-
LT01-957 - CORRELAÇÃO ENTRE zantes e externalizantes de seus filhos. Os
SINTOMAS DEPRESSIVOS MATERNOS participantes do estudo foram 21 sujeitos,
E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTOS sendo 42% do sexo feminino e 58% do
EM CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO sexo masculino, com idade média de 8,90
TÍPICO anos (dp=0,91) entre 7 e 11 anos, que fre-
Ana Ribeiro Santana - UFRB/CCS quentam uma escola pública da cidade de
ana.ribeiro_22@hotmail.com Santo Antônio de Jesus-BA. Os instrumen-
Gustavo Marcelino Siquara - UFRB/CCS tos utilizados foram a Escala de Depressão
gustavosiqura@hotmail.com Beck e a Lista de Verificação Comporta-
Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB/CCS mental (Child Behavior Checklist – CBCL),
thiago_gusmao1@hotmail.com versão para pais. O Inventário de Depres-
Mariângela Santos de Jesus - UFRB/CCS são de Beck (IDB) é um instrumento de au-
mariangela.santos@msn.com torrelato constituído por 21 grupos de afir-
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS mações de múltipla escolha em que a pes-
pmfrei@yahoo.com.br soa deve responder qual a opção que esta
Financiamento: FAPESB e CNPq de acordo com o seu estado na naquela
determinada situação. Os itens estão rela-
A família é uma instituição primária, na cionados aos sintomas depressivos como
qual, o indivíduo tem contato com as pri- desesperança, irritabilidade, culpa além
meiras interações sociais. Esse sistema de sintomas físicos como fadiga, perda de
pode ser compreendido como grupo de peso e diminuição da libido. Já o CBCL é
pessoas que interagem a partir de vín- um questionário que avalia a competência
culos afetivos, consanguíneos, políticos social e problemas de comportamento em
e que estabelecem uma rede infinita de crianças e adolescentes em duas versões
comunicação e de mútua influência. A fa- uma de 1 ano e 6 meses até 5 anos e ou-
mília consolida-se como um importante tra de 6 a 18 anos, a partir de informações
nicho para o desenvolvimento global do fornecidas pelos pais. As escalas do CBCL
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durante a gravidez torna-se real e ambos por um bom tempo o lugar onde mãe e fi-
estão agora vulneráveis, inseridos em um lho irão conviver no limiar entre a vida e a
ambiente desconhecido que irá separá- morte. A partir de agora, terão que “tecer
-los ainda muito cedo. O recém-nascido de fios”, criar laços, construir vínculos que po-
risco, também chamado de prematuro ou derão estar fortemente abalados a partir
bebê pré termo, é aquele que nasce com daquele momento. Neste sentido, a pre-
uma idade gestacional menor que 37 se- sente pesquisa tem por objetivo analisar
manas e em casos extremos os que nas- como se dá a qualidade da relação e vín-
cem com menos de 28 semanas de ges- culo entre mães e seus bebês pré-termos
tação. Alguns bebês prematuros podem que estão internados em uma Unidade de
nascer com complicações ou alterações Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), ou seja,
orgânicas, além do baixo peso e respiração conhecer e analisar como a prematuridade
deficitária, necessitando assim de apare- e o ambiente artificial de cuidados iniciais
lhos especializados para a sobrevivência. ao recém-nascido podem trazer dificulda-
Pesquisas revelam que atualmente no des ao estabelecimento deste vínculo ini-
mundo 20 milhões de bebês nascem pre- cial da mãe com o bebê e que recursos e
maturamente, sendo que desses, um ter- estratégias são criados por estas mulheres
ço morre antes de completar um ano de para enfrentar tais adversidades. OBJETI-
idade (Romanoli & Moreira, 2008). A pre- VOS: (1) Identificar e analisar os sentimen-
maturidade traz em seu bojo significativas tos vivenciados pelas mães em relação
consequências emocionais que são marca- ao nascimento prematuro e à internação
das pela perda desse bebê imaginado du- de seus bebês na UTI neonatal; (2) Identi-
rante a gestação. A perda do bebê idealiza- ficar as estratégias de enfrentamento ado-
do, o berço que estará vazio, as roupas que tadas pelas mães em relação à situação de
a princípio não serão usadas, a cobrança hospitalização do bebê e na busca de cria-
da família e do meio social, podem colocar ção de vinculo afetivo com o filho; (3) Ve-
em risco uma relação (mãe-bebê) que ain- rificar que tipo de conhecimentos as mães
da se constrói. A internação de um bebê têm em relação à importância de se man-
em uma Unidade de Tratamento Intensivo ter um vínculo afetivo com o bebê, mesmo
Neonatal (UTIN) contribui para o afasta- que internado na UTI neonatal. MÉTODO:
mento entre a mãe e o bebê, interferindo Trata-se de uma pesquisa qualitativa e
significativamente na relação de vínculo e descritiva, realizada através de entrevistas
apego. A separação, que não poderia ser individuais, com roteiro semiestruturado
de outra forma, traz consigo sentimentos em uma Unidade de Terapia Intensiva Ne-
de culpa, incompetência e luto pelo bebê onatal (UTIN) do Hospital Dr. Alzir Bernadi-
idealizado, o que dificulta ainda mais o no Alves (HIMABA) no município Vila Ve-
estreitamento dos laços parentais (Raad, lha-ES. Fazem parte da pesquisa 10 mães
Cruz & Nascimento, 2006). Assim, pode de bebês prematuros e de baixo peso in-
ocorrer uma ruptura no processo de vincu- ternados na UTIN desde o nascimento e
lação já que muitas mães sentem-se rece- que participam do Grupo Psicoterapêutico
osas de tocar ou conversar com seu filho, de mães da UTIN. Após aceite do convite,
o que pode gerar stress psicológico para as mães serão esclarecidas quanto à sua
ambos (Schumacher, 2002). A UTIN será participação na pesquisa e assinarão o Ter-
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de efeito da ordem de .373 e .622, respec- tenha um impacto maior. Importa salien-
tivamente. Com o objetivo de discriminar tar que os conflitos familiares e conjugais
o efeito da DPP de possíveis efeitos de DA, mostraram-se significativamente associa-
os dados foram analisados separando-se dos à DPP, independentemente da DA,
os casos de DPP associados ou não à DA. o que apóia a compreensão de relações
Esta análise fortaleceu a idéia do efeito es- peculiares da DPP com o conflito. Contu-
pecífico da DPP, pois, na ausência de DA, do, pelo fato de as associações verificadas
houve associação significativa com conflito acima serem encontradas somente na au-
conjugal aos 4 (X²=12.213, p=0.007 e V de sência de DA, é possível que esta atue de
Cramer=.440) e aos 8 meses (X²=12.095, forma diferente na constituição da DPP,
p=0.011 e V de Cramer=.438); e com com outras associações entre as variáveis.
conflito familiar aos 8 meses (X²=12.813, Há outra interação complexa entre apoio
p=0.009 e V de Cramer=.451), no mesmo social (afetado por conflitos) e a DPP a ser
sentido dos resultados gerais. Na presen- considerada: as ligações entre baixo apoio
ça de depressão anterior, não houve as- e DPP sugerem causalidade, mas, ao mes-
sociações significativas em nenhum dos mo tempo, a própria DPP poderia evocar
momentos. As associações entre DPP e apoio social no cuidado com a criança.
conflito corroboram a idéia da importân- Evidentemente, deve-se considerar ainda
cia do contexto conjugal e familiar para uma possível bidirecionalidade de efeitos
a compreensão do quadro. Os valores da entre conflitos conjugais e familiares com
magnitude do efeito relativamente bai- a DPP, pois os conflitos podem propiciar o
xos, como frequentemente acontece nos desenvolvimento da DPP, e esta, por sua
dados da literatura, são compatíveis com vez, intensificar os conflitos. As relações
a interpretação de um fenômeno multide- entre DPP e aspectos gerais de harmonia
terminado: ao que tudo indica, um con- e apoio social têm se revelado importan-
junto de variáveis associa-se à DPP, sendo tes para a compreensão da origem e das
uma parcela destas representada pelo conseqüências da DPP e tem merecido
conflito conjugal e familiar. Considerada atenção especial no presente projeto,
a multideterminação, esta magnitude de tanto pelo interesse teórico quanto pelo
efeito passa a representar participação re- interesse em termos de prevenção e de
levante destes conflitos no quadro da DPP. políticas públicas.
A associação entre os conflitos conjugal e
familiar sugere dependência entre essas Palavras-chave: depressão pós-parto, relação
variáveis, conforme previsto. O maior va- conjugal, família
lor do quiquadrado aos 8 meses sugere Contato: julia.m@itelefonica.com.br
aumento da associação com o passar do
tempo. De forma similar, aos 4 meses, os
valores mais altos do qui-quadrado para a
associação entre a DPP e o conflito con-
jugal do que para o conflito familiar suge-
rem que nos primeiros meses após o parto
(coincidentemente com o pico da DPP aos
3 meses após o parto) o conflito conjugal
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atribuídos pelos idosos da UATI, conside- é a matéria que vai envelhecendo”; “nada
ramos como material de análise as falas me agrada”. Destacamos também algumas
que foram registradas durante a realização falas que marcaram a relevância dos cuida-
das oficinas. Trabalhamos com recortes de dos dispensados ao corpo na velhice que
falas e as possibilidades de sentidos que são importantes tanto para garantir saúde
podem advir. Resultados: Com base nas como também para favorecer uma melhor
falas das idosas, percebemos que o corpo imagem de si na velhice: “é importante cui-
possibilita diferentes formas de olhar o dar do corpo para ter saúde”; “meu cabe-
processo do envelhecimento. Para algumas lo me agrada, quando corto arrumo, fico
idosas, este processo é um evento natural, bem”; “nada como uma tinta para os bran-
decorrente do desenvolvimento humano e quinhos”; “todo dia acordo e passo batom.”
as transformações do corpo é um evento Por fim, uma fala em especial aponta a es-
inevitável, como assinalam as falas a se- treita relação de cuidado entre o corpo e
guir: “eu avalio as mudanças como conse- espírito: “...à medida que você cuida do cor-
quências da vida, é natural, como a morte po físico você está cuidando do corpo espi-
é natural”; “envelhecemos desde o dia que ritual. temos que cuidar do corpo para que
nascemos, todos vamos envelhecer e mor- o espírito esteja bem e temos que cuidar do
rer.” Outras relacionam as mudanças do espírito para que o corpo esteja bem.” Con-
corpo na velhice como aspecto facilitador siderações Finais: Compreendemos que o
ao aparecimento de problemas da ordem corpo é alvo de interesse e investimento
física, tais como exemplificam as seguintes não só pelo valor estético que assume na
falas “quando fica mais velha engorda mais nossa cultura, mas como importante via de
fácil”; “o peso também pode prejudicar a saúde e envelhecimento saudável. Verifica-
saúde, podemos dar colesterol, pressão mos que é recorrente o discurso em torno
alta, prejudica tudo isso”; “a gordura de- da responsabilidade do idoso no cuidado
forma a gente”. Algumas falas apontaram ao corpo físico, especialmente para preve-
para uma imagem do corpo positiva dian- nir ou retardar a ocorrência de adoecimen-
te dos sinais de envelhecimento do corpo: tos que podem advir com a idade. Quanto
“cada ruguinha é uma experiência que a à forma como o idoso vê e pensa seu cor-
gente tem”. Outra fala mostra a satisfação po, a experiência possibilitou reconhecer
com o corpo atual quando comparado com que as transformações do corpo interfe-
o corpo de sua juventude, aspecto que rem negativamente na imagem que têm de
favorece a autoimagem: “quando olho no si mesmo. Contudo, existem, igualmente,
espelho vejo uma pessoa que já foi muito aspectos positivos nessas transformações
gorda, hoje é magra, sarada, gostosa. Hoje que podem favorecer a imagem de si, espe-
mudei muito, sei lidar com minhas dificul- cialmente quando significados como sinal
dades, depois dos 50 melhorou muito.” de experiência e maturidade. Este trabalho
Entretanto, outras falas mostram que as possibilitou compreender que o corpo ain-
mudanças do corpo ainda que inevitáveis da que marcado pelos sinais de envelheci-
não são desejáveis:“claro que não estou mento e limitações pode continuar sendo
melhor agora, as rugas começam a apare- alvo de investimentos suficientemente sig-
cer, esquece as coisas;é normal, mas não nificativos que possibilitam realizações e
ficamos como antes.”; “muda tudo, a pele reconhecimento.
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manejam suas vidas e essas crenças, facili- ças evolutivas e a ressignificação da sub-
tando assim o ajustamento deles às novas jetividade do idoso. A educação para um
condições pessoais e contextuais. envelhecimento saudável é cada vez mais
incentivada e praticada em contextos de
Palavras-chave: Idosos; Autoeficácia; Memória. projetos e programas voltados aos idosos,
ressaltando a importância dos cuidados de
saúde que visem uma longevidade bem
LT01-1344 - ANÁLISE DE UM sucedida em diferentes âmbitos da vida,
CONTEXTO DE EDUCAÇÃO: FOCO NO e da construção do protagonismo dessa
DESENVOLVIMENTO ECOLÓGICO DE população na sociedade atual. Trata-se de
IDOSOS uma educação para a fase da velhice como
Fernanda Rabelo Prazeres - UNITAU possibilidade de aprendizagem continuada,
fernandaballet@gmail.com de participação sócio-política e cultural,
Laina Jacinto Couto - UNITAU de ressignificação de subjetividades, forta-
laina_couto@hotmail.com lecendo o senso de continuidade, enfren-
Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão - UNITAU tamento das mudanças e o engajamento
mgleao08@gmail.com intergeracional (Palácios, 2004). Enquanto
aprendizes, diferentemente de outros gru-
Trata-se de um estudo sobre um contex- pos etários, os idosos trazem consigo expe-
to de educação para idosos, no âmbito riências de vida, motivações, expectativas e
da extensão universitária, considerando condições para envolvimento e desempe-
a educação para a fase da velhice como nho nas atividades a eles ofertadas.Estudar
possibilidade de aprendizagem continua- os ambientes frequentados pelos idosos
da, de participação sócio-política e cultural justifica-se pela crescente demanda de rea-
e de ressignificação de subjetividades. O lização de projetos destinados a esse públi-
objetivo foi investigar a influência de um co, com diferentes finalidades e geralmente
programa sócio-educativo destinado a ido- junto a instituições de naturezas variadas. A
sos, no desenvolvimento ecológico de seus Teoria de Desenvolvimento Bioecológico de
participantes. Foi realizada uma pesquisa UrieBronfenbrenner ressalta a importância
qualitativa, por meio da técnica da inserção dos ambientes no desenvolvimento dos in-
ecológica e entrevistas, junto a dez idosos. divíduos, na medida em que “os processos
Utilizou-se uma análise de conteúdo e a psicológicos passam a ser propriedades de
compreensão pela Teoria de Desenvolvi- sistemas, nas quais a pessoa é apenas um
mento Bioecológico, a partir dos elementos dos elementos, sendo o foco principal os
do modelo PPCT - Processo, Pessoa, Con- processos e as interações”. (Narvaz e Kol-
texto e Tempo. Constatou-se que esse con- ler, 2004,p.56). OBJETIVO GERAL: Investigar
texto indica ser um espaço de acolhimento a influência do contexto de um programa
da heterogeneidade das vivências da velhi- sócio-educativo de extensão universitária,
ce, de encorajamento e da formação de vín- destinado a idosos, no desenvolvimento
culos entre eles, que ultrapassam o espaço ecológico de seus participantes. Trata-se de
da universidade. As interações estimulam uma pesquisa exploratório-descritiva, de
o aprimoramento de capacidades, a opor- abordagem qualitativa,aprovada pelo Co-
tunidade de enfrentamento das mudan- mitê de Ética da Universidade de Taubaté
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sob o no. 533/10. Foi realizada no Progra- sos pessoais, nesse grupo de idosos foram
ma de Atenção Integral ao Envelhecimento observados comportamentos iniciais de
(PAIE) de uma universidade do interior do passividade frente às ações propostas, ge-
Vale do Paraíba Paulista (cursos, ativida- ralmente relacionados às incapacidades do
des físicas e socioculturais, oficinas, even- processo de envelhecimento. Todavia, no
tos e palestras). Utilizou-se uma entrevista transcorrer das atividades a experiência de
semi-estruturada com dez participantes vida favorecia um engajamento e uma con-
e a técnica da Inserção Bioecológica (Cec- dição ativa de participação. Nas demandas,
conello e Koller, 2003), fundamentada na o ambiente organizado e lúdico possibilitou
Teoria Bioecológica(Bronfenbrenner,1996), o surgimento dos atributos pessoais, o con-
que requer a interação do pesquisador no fronto entre as limitações e potencialida-
ambiente estudado, analisando os quatro des, a expressão de apreço e sentimentos
núcleos que integram seu modelo teórico: positivos entre os participantes do grupo.
processo, pessoa, contexto e tempo (PPCT). No elemento Contexto, cada atividade do
O método de análise de conteúdo de Bar- programa atua como um microssistema,
din (1977) foi utilizado para levantamento um espaço em que ocorrem as relações
das principais temáticas das entrevistas e face a face e os processos proximais, ge-
das observações realizadas. RESULTADOS rando vivências de maior intimidade e aco-
E DISCUSSÃO: Durante todo o processo da lhimento entre os pares.O PAIE como um
Inserção Bioecológica foi possível verificar conjunto de atividades (microssistemas)
a integração dos quatro elementos da teo- configura o mesossistema, pois produz a
ria – PPCT.Para que haja desenvolvimento interação entre elas, visto articular muitas
é preciso que a pessoa esteja engajada em instâncias da instituição na operacionaliza-
uma atividade significativa. Em relação ao ção de seu objetivos e fazendo com esses
Processo, observou-se que as interações idosos transitem em espaços variados.Es-
entre a maioria dos participantes são de ses participantes frequentam mais de uma
longa data; as atividades são gradativamen- atividade, influenciando e sendo influen-
te mais complexas no decorrer dos encon- ciados pela natureza de todas elas. Cons-
tros, apresentando objetivos, símbolos e tatou-se ainda, referências ao exossistema
oportunidades que estimulam as funções por meio de comparações feitas entre eles
cognitivas, a manipulação de objetos e sobre ambientes nos quais não participam
informações, e o engajamento em situa- diretamente, mas que deles tem informa-
ções significativas e com pessoas diversas, ções, como outras instituições para idosos.
havendo reciprocidade nas relações inter- As influências do macrossistema também
pessoais. Sobre os aspectos que envolvem se fizeram presentes, na forma de opiniões
a Pessoa, constatou-se que as característi- e críticas sobre as políticas relacionadas ao
cas geradoras de desenvolvimento, como idoso no Brasil, em outros países e certos
curiosidade e determinação são facilitadas momentos sócio-históricos. Os dados mos-
e estimuladas pelos profissionais e estu- tram que as interações entre esses sistemas
dantes que atuam nas atividades e também otimizam a ocupação do tempo livre de for-
pelos pares. Verificou-se, no entanto, como ma produtiva, minimizando a vivência de
características inibidoras, a distração e timi- solidão e assumindo um papel significativo
dez excessiva. Em se tratando dos recur- na vida de cada um, justificando a adesão
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
de grande parte deles há vários anos e fa- surgimento de algumas doenças, muitas
vorecendo as mudanças e as continuidades famílias optam pelo asilamento/institucio-
do desenvolvimento humano na velhice. A nalização de seus idosos, visando, normal-
título de conclusão, é possível afirmar que mente, garantir uma melhor assistência e
esse contexto de educação para idosos atua qualidade de vida aos mesmos. Doenças
como importante rede social de apoio, con- típicas da idade porém, não exclusivas da
tribuindo para a substituição/manutenção mesma, como o Alzheimer, trazem muito
dos vínculos afetivos importantes ao longo sofrimento para os familiares por não sa-
do envelhecimento, possibilitando man- berem lidar com a patologia que o idoso
terem-se ativos e aptos a construir novos possui. Além disso, os casos de compro-
saberes e práticas junto aos pares, ressig- metimento cognitivo não são tão facilmen-
nificando a subjetividade. Essas questões te identificados, deixando as pessoas no
caracterizam o PAIE como contexto de de- entorno do idoso confusas acerca de sua
senvolvimento ecológico de idosos. real condição. Engelhardt, Laks, Rozenthal
e Marinho (1997) destacam que os qua-
Palavras-chave: Teoria Bioecológica, Idosos, dros leves de comprometimento cogniti-
Contexto de Educação. vo são freqüentes, passando muitas vezes
despercebidos, e há uma necessidade de
distinguir (o que muitas vezes é difícil)
LT01-1471 - ENVELHECIMENTO, entre manifestações iniciais de doença e
DESENVOLVIMENTO E modificações associadas com o processo
INSTITUCIONALIZAÇÃO: A EXPERIÊNCIA normal de envelhecimento. As casas de re-
DE ESTÁGIO BÁSICO EM PSICOLOGIA pouso / asilos para idosos acabam sendo
Deyse Salatiel de Moura - UVV entendidos como boa ou única alternativa,
deyse.salatiel@hotmail.com já que, geralmente, acolhem e cuidam de
Pâmella Vitória Moreno dos Santos Rigoni - UVV idosos debilitados fisicamente e/ou psico-
pamellamoreno@yahoo.com.br logicamente. Por outro lado, a internação
Tainá Barreto Silveira - UVV de idosos em asilos ainda é vista com pre-
empresspyriel@hotmail.com conceito, sendo considerada prejudicial
Sabrine Mantuan dos Santos Coutinho - UVV ao seu desenvolvimento, sobretudo por
sabrine.coutinho@uvv.br levar ao isolamento, abandono e exclusão
social. De fato, alguns autores apontam
O envelhecimento consiste em um pro- que o processo de institucionalização é
cesso dinâmico e progressivo, no qual se permeado por dificuldades relacionadas
processam transformações diversas (mor- à adaptação ao novo modelo, à perda
fológicas, fisiológicas, bioquímicas e psi- de identidade e autonomia, o que pode
cológicas) que produzem a perda gradual acarretar problemas físicos e emocionais,
da capacidade de adaptação do indivíduo acelerando e/ou acentuando a velocida-
ao meio ambiente, ocasionando maior de das perdas funcionais dos idosos. Este
vulnerabilidade e maior incidência de pro- trabalho consiste em relato da experiência
cessos patológicos (Papaléo Netto, 1997) de Estágio Básico em Psicologia vivencia-
Diante do quadro de comprometimento da por alunos do curso de Psicologia do
físico e cognitivo decorrente em geral, do Centro Universitário Vila Velha em uma
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Casa de Repouso para idosos situada em tituição sofrem de Alzheimer, doença que
Vitória/ES. Trata-se de instituição privada, traz muitos prejuízos à memória. Entre as
que se dedica ao atendimento ao idoso, várias atividades desenvolvidas ao longo
oferecendo serviços especializados, e para do estágio, pode-se citar: exibição de fi-
tanto conta com uma equipe composta guras/imagens que trouxessem aos idosos
por enfermeiras gerontólogas, técnicos de lembranças de momentos variados de suas
enfermagem, geriatra (acompanhamento vidas para compartilharem com o grupo;
mensal) e fisioterapeuta (acompanhamen- audição de músicas antigas, da época da
to semanal). O estágio, desenvolvido numa juventude e fase adulta dos participantes,
perspectiva psicossocial, teve início em com a descrição do que lhes vinha à me-
Julho de 2010, e contava com uma carga mória; leitura de contos e sua repetição
horária prática semanal de 04 horas, cum- pelo idoso para exercitar a memória; exe-
pridas na casa de repouso por um grupo cução de dinâmicas de grupo que opor-
de três estagiárias do quarto período do tunizassem conhecer um pouco mais da
curso de Psicologia. Nessa época a insti- vida de cada idoso e favorecer a interação
tuição estava atendendo, em média, 35 entre o grupo; realização de entrevistas se-
idosos, de idades variadas. Num primeiro miestruturadas sobre temas relacionados
momento, foi realizado estudo bibliográfi- à história de vida dos idosos; realização
co referente ao tema, e após esse período de trabalhos manuais, como a confecção/
inicial, foi realizada a entrada no campo, ornamentação de um diário pessoal para
que, inicialmente, consistiu em observação cada idoso, buscando o desenvolvimento
participante, visando conhecer a dinâmi- da criatividade e a possibilidade de ex-
ca institucional, levantar as demandas da pressarem suas emoções e sentimentos
instituição, os temas de trabalho a serem diários. Houve situações em que algumas
explorados e o estabelecimento de vínculo atividades programadas acabaram não
com os idosos e funcionários. Posterior- sendo desenvolvidas em virtude do pouco
mente foram organizadas atividades que interesse ou indisposição dos idosos. Na
visavam potencializar a interação social do instituição, os idosos eram divididos pela
grupo de idosos que tinham condições fí- enfermeira responsável para participar das
sicas e cognitivas de participar, bem como atividades grupais, geralmente, de acordo
o estreitamento de vínculo – ressaltando com o nível de comprometimento físico e
que a necessidade de maior interação en- cognitivo. Nem todos os idosos participa-
tre os idosos foi a principal demanda iden- vam sempre de todas as atividades, o que
tificada. Moura, Passos e Camargo (2005) variava de acordo com o estado de saúde
ressaltam que a comunicação é essencial do idoso naquele dia e de sua disposição
para a sobrevivência do homem, em espe- para participar. Além de promover a inte-
cial para o idoso, garantindo a manutenção ração social entre os idosos, o estágio tam-
de suas relações sociais e evitando a ca- bém trouxe a possibilidade de criação de
rência afetiva e emocional. Também foram um espaço para acolhimento das questões
desenvolvidas atividades grupais que tive- individuais que não emergiam nas ativi-
ram como objetivo a reabilitação cognitiva dades grupais, assim como de um espaço
(exercícios para a memória, por exemplo), permanente de contato com a equipe e
já que muitos dos idosos residentes na ins- com os familiares (realização de encontros
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
estrutura (forma e conteúdo) das narrati- vida”. Participantes com altos escores no
vas sobre suas próprias vidas. Estudo qua- estilo ruminativo produziram narrativas
litativo e exploratório com uma etapa de que focalizavam características pesso-
coleta de dados quantitativa. Participaram ais negativas como, por exemplo: “... Sou
do estudo onze idosas com idades entre uma pessoa muito insegura... A ansieda-
sessenta e dois e oitenta e três anos, que de, muitas vezes me impede de viver feliz
apresentaram condições de se expressar e fazer a felicidade dos outros.” Enquanto
verbalmente através da escrita. Para a ob- participantes com altos escores no estilo
tenção dos dados utilizamos o Questioná- reflexivo produziram narrativas com ca-
rio de Ruminação e Reflexão (QRR) e um racterísticas pessoais positivas como, por
protocolo de redação com o tema “Conte exemplo,” Gosto de ser quem eu sou por
sua história”. A aplicação do instrumento ter realizado minhas aspirações...” Esses
foi realizadas individualmente na casa da dados confirmam nossas hipóteses de que
participante. Inicialmente os dados foram pessoas com o estilo reflexivo compreen-
tratados estatisticamente (média e desvio dem sua vida de maneira mais positiva re-
padrão). A partir dos escores fornecidos latando sentirem-se mais felizes. Enquan-
pelo QRR foram definidos os pontos de to as de estilo ruminativo interpretam os
corte: Reflexivo alto= 42; Reflexivo mé- acontecimentos de forma mais negativa.
dio= 39; Reflexivo baixo= 36; Ruminativo Sete participantes apresentaram o estilo
alto= 43; Ruminativo médio= 36 Rumina- reflexivo ruminativo médio ou alto. O es-
tivo baixo= 29. Os idosos apresentaram tilo ruminativo por ter como característica
cinco estilos de reflexividade: 1. Rumina- um tipo de pensamento mais repetitivo,
tivo baixo+Reflexivo médio (duas partici- faz com que a pessoa rememore, e pense
pantes) ; 2. Ruminativo médio+Reflexivo mais freqüentemente em acontecimentos
baixo (duas participantes); 3. Ruminativo do passado. Isto pode estar relacionado
médio+Reflexivo alto (três participan- com o fato de cognitivamente idosos te-
tes); 4.Ruminativo médio+Reflexivo mé- rem uma diminuição na capacidade de
dio (três participantes); 5. Ruminativo armazenamento de informações e memó-
alto+Reflexivo alto (uma participante). rias recentes, aumentando, assim, o uso
As narrativas apresentaram os estilos de da memória de longo prazo é a mais uti-
gênero gramatical descritivo (predomi- lizada. Assim, acredita-se que os escores
nância de substantivos e adjetivos na nar- do estilo ruminativo na população idosa
rativa – ocorrência em cinco narrativas) tenha sido mais alto. A terceira idade, é
quanto dinâmico (predominância de ver- por muitas vezes, associada sociocultu-
bos e advérbios – cinco narrativas). Uma ralmente como um período de sabedoria,
narrativa não teve predominância de ne- formada por uma vida de experiências,
nhum dos dois estilos de gênero grama- esses indivíduos são vistos como pessoas
tical. Os temas abordados nas narrativas sábias pela sua capacidade de lembrar de
foram “breve relato sobre a história de fatos, fazerem análises éticas e morais, e
vida”, “características pessoais”, “família”, oferecerem soluções e alternativas para
“preocupação com os outros”, “religião” problemas cotidianos. Atividades estas,
e a “importância em manter-se ativa”. Na que exigem muita reflexão, análise e ru-
categoria “breve relato sobre história de minação de algumas idéias, colaborando
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
também para um possível desenvolvimen- ro, 2004). Optou-se, então, por trabalhar
to do estilo ruminativo de reflexividade. com as narrativas produzidas por adoles-
centes em interação, mediante a realiza-
Palavras-chave: Idosas; estilos reflexivos; ção de grupos focais em formato virtual,
narrativas. já que a internet vem sendo um dos con-
Contato: Petra Paim Ehrenbrink, UFES, textos de interação privilegiados pelos
petra@intervip.com.br adolescentes (Subrahmanyam, Green-
field, Kraut & Gross, 2001). Os chamados
grupos focais online síncronos são grupos
CO 16 - LT02 em que os participantes interagem via in-
ternet em tempo real (Walston & Lissitz,
Novas tecnologias 2000). Esbarrou-se, contudo, na ausência
de trabalhos científicos nesses moldes, na
área da psicologia. Diante disso, foi neces-
LT02-693 - GRUPOS FOCAIS ONLINE
sário basear-se em alguns procedimen-
SÍNCRONOS EM PESQUISA QUALITATIVA:
tos utilizados por outras áreas da ciência,
ASPECTOS COMUNICACIONAIS
selecionando aquilo que se aplicaria aos
Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS objetivos da pesquisa em questão. Em re-
charlestonbordini@yahoo.com.br lação às entrevistas virtuais, por exemplo,
Tania Mara Sperb - UFRGS Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias e Di Luccio
sperbt@terra.com.br (2009) sublinham que, comumente, as
Financiamento: CNPq conversas online apresentam rupturas.
Isso pode decorrer do intervalo que existe
O grupo focal é uma técnica de coleta de entre o envio de uma mensagem – que é
dados que vem sendo largamente utili- realizado somente quando o participante
zada em pesquisa desde os anos 80, so- terminou de redigi-la e optou por postá-
bretudo como técnica de investigação -la – e o recebimento da resposta relativa
qualitativa (Schneider, Kerwin, Frechtling à mensagem enviada. Dado que, também
& Vivari, 2002). Comumente, essa técnica nos grupos focais online síncronos, as par-
é usada em seu formato tradicional, isto ticipações de cada um dos membros iriam
é, presencialmente. Sua utilização é usu- aparecer na tela de acordo com a ordem
al principalmente entre os pesquisadores em que tivessem sido enviadas, e não se-
que têm interesse pela coleta de dados ria possível interromper a escrita de cada
por meio da interação grupal (De Antoni um, esperava-se que a comunicação nes-
et al., 2001). Este era o caso da pesquisa ses grupos ficasse fragmentada. Provavel-
aqui relatada, cujo objetivo era conhecer mente as discussões seriam descontínuas,
as concepções de adolescentes sobre o intercaladas com outras discussões ou
que é ser homem e o que é ser mulher na com outros assuntos. Por outro lado, Sch-
atualidade. Tinha-se como base, o pressu- neider et al. (2002) explicam que a alta ve-
posto de que os significados atribuídos ao locidade em que se dá a postagem dos co-
masculino e ao feminino são culturalmen- mentários escritos na comunicação virtual
te construídos e transmitidos socialmente permite que a discussão não pare apenas
através da interação (Diamond, 2002; Lou- porque um dos participantes está escre-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
vendo sua mensagem. Por isso, os compo- te que os fizera apareciam na tela de cada
nentes de grupos focais online síncronos, membro, de acordo com a ordem em que
em comparação com aqueles dos grupos tinham sido postados. As interações nos
presenciais, fariam comentários mais cur- grupos focais online síncronos foram dis-
tos, emitindo pequenas frases simples- cutidas com base na literatura já existente
mente para expressar concordância com sobre o tema. A realização online dos gru-
opiniões já apresentadas, propiciando pos focais pareceu ter influenciado a pro-
uma discussão menos elaborada. Diante dução dos componentes. Confirmando os
disso, esperavam-se dificuldades quanto apontamentos de Schneider et al. (2002),
à profundidade das discussões nos grupos em geral, as participações foram curtas
focais online síncronos e em relação à ob- e os comentários, não muito elaborados
tenção de narrativas longas e individuais. e emitidos rapidamente. A comunicação
O presente trabalho visa colaborar com o entre o grupo mostrou depender da velo-
avanço da pesquisa qualitativa em psico- cidade na qual cada componente era ca-
logia no Brasil, por meio do relato e da dis- paz de escrever suas mensagens e acom-
cussão das especificidades comunicacio- panhar as dos outros. Isso tornou difícil a
nais encontradas nos grupos focais online manutenção de uma sequência de intera-
síncronos realizados.Participaram 41 ado- ções por parte do grupo, pois a comunica-
lescentes com idades entre os 14 e os 15 ção não ocorria de maneira linear. Assim,
anos, estudantes de uma escola estadual também se confirmou a hipótese baseada
e de uma escola particular de Porto Alegre em Nicolaci-da-Costa et al. (2009). A in-
(RS), selecionados por conveniência. Com dependência entre as participações dos
os adolescentes devidamente autorizados componentes dos grupos realizados não
pelos responsáveis, foram realizados 6 foi vantajosa à elaboração de narrativas
grupos focais online síncronos, através do longas ou detalhadas. Ocorreu com fre-
programa de bate-papo MSN, que possi- quência que, enquanto um participante
bilita conferências online. Todos os grupos escrevia uma mensagem mais longa ou
tiveram 7 participantes, exceto um que em resposta a alguma mensagem postada
contou com 6. Dois grupos foram compos- anteriormente, outros já escreviam men-
tos por adolescentes do sexo masculino, sagens relacionadas a outros assuntos. As
2 por adolescentes do sexo feminino, e 2 narrativas produzidas ao longo das discus-
eram mistos. Os grupos tiveram lugar na sões foram, na sua maioria, fragmentadas
sala de informática das escolas em que os e entrecortadas por assuntos diversos do
participantes estudavam e foram mode- tópico proposto. Portanto, a utilização
rados pela pesquisadora. Esta e todos os de grupos focais online síncronos não se-
adolescentes tinham um computador à ria aconselhável quando o pesquisador
sua disposição, conectado ao MSN. A dis- pretende obter as tradicionais narrativas
cussão era realizada por escrito e iniciava longas e sequenciadas. Este método seria
com a questão de abertura, proposta pela mais adequado às investigações que têm
moderadora: “Contem histórias que vocês como foco a interação entre os participan-
acham que mostram bem o que é ser ho- tes. A pesquisa realizada mostrou que gru-
mem ou o que é ser mulher hoje.”. Os co- po focal online síncrono não é uma mera
mentários e a identificação do participan- transposição do grupo focal presencial
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plexas e sutis” (p. 219); e como cognição interação com pessoas, objetos, eventos,
implica num sistema representacional, valores, crenças e atitudes culturalmente
a linguagem acaba assumindo um papel desenvolvidas e historicamente constituí-
importante, se observamos o conteú- das (Vigotski, 2001, 2007; Vigotski & Luria,
do representacional, simbólico, de uma 2007). Para Vygotsky (2007) era impor-
produção cultural digital (Costa, 2008). tante “entender o papel comportamental
Fonseca (2007) explica que o desenvolvi- do signo em tudo aquilo que ele tem de
mento cognitivo não se dá somente pela característico” (p. 53). Vigotski (1991) afir-
autoregulação da estrutura, mas também ma que o signo tem um papel importante
pelo envolvimento do indivíduo em “sis- nos processos coletivos, interpsicológicos,
temas de mediatização interindividual sendo meios de comunicação e de influ-
que se co-constroem em contextos sócio- ência. Para Vygotsky (1991), “todo signo,
-históricos” (p. 36). A Cibercultura abarca si tomamos su origen real, es un medio
essa noção e implica situações de inter- de comunicación e podríamos decirlo más
subjetividade. A intersubjetividade tem ampliamente, un medio de conexión de
importante papel nas relações sociais face ciertas funciones psíquicas de carácter
a face (Berger & Luckmann, 2004). Mas, social.” (p. 78). De acordo com Vygotsky
como acima mostrado, na Cibercultura ela (1991a), a função de comunicação do
possui a mesma importância psicológica, signo endossa processos interpsicológi-
dado o caráter transcendente da lingua- cos, direciona a atenção, define papéis na
gem (que independe de tempo e de espa- comunicação e contribui para a internali-
ço), e suas relações cognitivas. No uso de zação do que foi socialmente significado.
computadores, por exemplo, as interfaces A intersubjetividade, na perspectiva vi-
permitem a mediatização tecnológica nas gotskiana, está imbricada nesses fatores.
interações, e ainda afetam nossas formas Wertsch (1995) comenta que a intersub-
de criar e comunicar. Segundo Johnson jetividade é um processo de comunicação
(2001), “os seres humanos pensam atra- humana que transcende o mundo privado
vés de palavras, conceitos, imagens, sons, dos participantes por meio da conduta
associações” (p. 17). O computador lida comunicativa (situações de fala). Wertsch
com representações e sinais, permitindo (1995) coloca que, na teoria vigotskiana,
formas de interação à distância (Johnson, esse é essencialmente um processo semi-
2001). Nas redes sociais, as interações ótico numa dada situação. Entendemos
também assumem um caráter intersub- que em interações sociais produzidas em
jetivo muito importante na medida em ambientes virtuais, tais premissas são
que os indivíduos podem organizar suas válidas, mas, queremos enfatizar suas
ações em rede, em espaços mais infor- possibilidades dialéticas. Nesse sentido,
mais (Marteleto, 2001). A psicologia histó- mencionamos Molón (2010) quando ex-
rico-cultural de Vygotsky traz importantes põem a perspectiva de Smolka e colabo-
contribuições para essas discussões; entre radores sobre intersubjetividade na teo-
elas a importância da mediação simbólica. ria de Vygotsky, ao colocarem ênfase na
Segundo Vygotsky, a mediação simbóli- relação dialética das dimensões intra e
ca tem origem social e assume destaque interpsicológica. Smolka e colaboradores
na formação psicológica e na relação/ comentam que “sendo a palavra e o sig-
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tos. Os signos são representados pela lin- ais de aprendizagens (AVA). Consideramos
guagem oral e gestual, pela escrita, pelos que o uso de tecnologias possibilita o de-
números, não modificando o objeto das senvolvimento das funções psicológicas
operações psicológicas, mas dirigindo-se como também contribui para a formação
para o controle do próprio individuo. Já os da “Inteligência Coletiva”. Nosso objetivo
instrumentos sofrem mudanças humanas foi identificar e descrever os significados
sobre o objeto e são orientados externa- construídos nas narrativas de dois profes-
mente. As relações dialéticas entre as fun- sores da Educação a Distância em relação
ções psicológicas percepção, atenção e as às interações professor-aluno mediadas
operações sensório-motoras são afetadas pelo uso de tecnologias na EAD. Esse tra-
pelo uso de instrumentos quando rela- balho é um recorte de uma pesquisa re-
cionados à fala, auxiliando no desenvolvi- alizada com professores de EAD de uma
mento das funções psicológicas. A partir universidade privada de Aracaju, SE. As
do entendimento do desenvolvimento entrevistas narrativas e de histórias de
das funções psicológicas, vamos tratar do vida foram gravadas, transcritas e realiza-
uso das tecnologias no desenvolvimento das na própria instituição de ensino. Após
psicológico. Lévy (2007) criou o termo “In- as transcrições construímos o mapa de
teligência coletiva”, onde as inteligências significados para cada professor por meio
individuais são somadas e compartilhadas do qual identificamos e descrevemos os
por toda a sociedade a partir do surgimen- significados construídos a partir das en-
to das novas tecnologias possibilitando trevistas sobre as interações entre Pro-
trocas de conhecimento e aprendizagens fessor-aluno na Educação a Distância. Nas
coletivas. "Ela possibilita a partilha da me- entrevistas os professores nos contaram
mória, da percepção, da imaginação. Isso sobre as novas experiências obtidas nas
resulta na aprendizagem coletiva, troca de relações professor-aluno mediadas pelo
conhecimentos". Só existe “Inteligência uso de tecnologias. Para um deles não há
Coletiva” se houver cooperação compe- como falar da Educação a distância sem
titiva (relacionada às relações sociais) ou comparar com o ensino presencial por
competição cooperativa (relacionada à causa do contato físico, visual existente
liberdade). Fazendo uma relação entre os no presencial. Uma forma de esse contato
conceitos de Vigotski e de Levy utilizados ocorrer na EAD é a partir da maior dedi-
neste trabalho, podemos dizer o seguinte: cação do professor ao aluno, dando mais
o desenvolvimento das funções psicoló- atenção para que ele aprenda, identifican-
gicas superiores pode ocorrer a partir da do e re-significando formas de ser e agir
internalização de aprendizagens, da me- no processo dialógico com o aluno. Tam-
diação semiótica nas interações professor- bém foi narrado sobre o desenvolvimen-
-aluno e o uso de tecnologias interfere no to de relações de afetividades a partir do
processo de desenvolvimento da Zona de uso de emails, chats e fóruns, como nos
Desenvolvimento proximal (ZDP) mediado contou um dos professores que recebeu
pelo professor quando abordamos a EAD. emails de agradecimentos pelo aprendi-
O professor propicia a aquisição de novos zado. Para ele, é um reconhecimento que
conhecimentos ao aluno através de ativi- muitas vezes não acontece no ensino pre-
dades desenvolvidas nos ambientes virtu- sencial. Outro ponto refere-se a melhora
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dedicar ao curso e ter disciplina para tal” comportamento e que variáveis contex-
(Behar, 2009, p. 26). Pela faixa etária dos tuais influenciam para que se perceba,
alunos, podemos situá-los na fase inicial em um dado momento, a consecução de
da vida adulta (Papalia e Olds, 2000). A algumas como sendo mais viáveis do que
definição de adulto somente pelo fator outras” (p. 162). Motivação é um compo-
idade é uma questão complexa, porque o nente pedagógico fundamental na EAD.
desenvolvimento depende de diversos fa- Paralelo a isso, a Andragogia (ensino de
tores físicos e psicológicos que variam de adultos) considera que os alunos adultos
indivíduo para indivíduo, e entre contex- apreciam ter certo controle e responsabi-
tos socioculturais (Rogoff, 2005; Feldman, lidade pessoal sobre o que está aconte-
Papalia e Olds, 2009). Mas, o fator idade cendo; preferem definir o que é relevante
ajuda a situar estatisticamente os alunos para suas necessidades; preferem tomar
de EAD num determinado momento do decisões sozinhas ou pelo menos serem
desenvolvimento, cujas características consultados; têm muita vivencia e gostam
gerais permitiriam pensar sobre as ou- de utilizá-la no aprendizado; preferem
tras variáveis do perfil. Assim, uma inter- adquirir informações ou conhecimen-
-relação entre EAD, desenvolvimento hu- to relevantes para resolver problemas
mano e aprendizagem, pode ser notada, no presente; geralmente tem motivação
especialmente se tratarmos a EAD como intrínseca para aprender (Moore e Ke-
meio para formação continuada ou atu- arsley, 2008, p. 173-174). Essas caracte-
alização profissional. Abordando forma- rísticas podem ter impacto no processo
ção continuada com alunos adultos, Al- de aprendizagem na EAD, que valoriza
varado Prada (1997) assinala que “o que muito a autonomia do estudante frente
caracteriza as pessoas adultas são suas ao seu programa de formação. Segun-
experiências, sua história de vida, seus do Moore e Kearsley (2008) autonomia
saberes” (p. 76). Papalia e Olds (2000) do aluno de EAD significa que o mesmo
comentam que o aluno adulto costuma deve tomar decisões a respeito de seu
empregar mais a experiência de vida, en- aprendizado, organizando os recursos dis-
riquecendo com isso sua aprendizagem. ponibilizados. Contudo, toda autonomia
Para o aluno adulto no contexto social é relativa. Assim o sistema também tem
atual, a aprendizagem formal continuada responsabilidades com essa autonomia,
“é uma maneira importante de desenvol- e compreender aspectos relacionados ao
vimento de seu potencial, bem como de desenvolvimento humano e à aprendiza-
acompanhar as mudanças no mundo do gem, contribui nesse sentido. Em termos
trabalho” (Papalia e Olds, 2000, p. 453). de psicologia da aprendizagem, Brans-
Assim, o aluno de EAD, adulto, trabalha- ford, Brown e Cocking (2007) mostram
dor, casado, tem prerrogativas pessoais e que conhecimentos, habilidades, crenças
sociais que podem representar boa parte e conceitos prévios influenciam o modo
de sua motivação para os estudos e o que como se percebe um ambiente educa-
espera deles. Segundo Tapia e Garcia- cional e a organização do conhecimento.
-Celay (1996), a motivação na aprendiza- Essas questões afetam as “capacidades de
gem envolve “que tipo de metas os alunos recordação, raciocínio, solução de proble-
perseguem, de que modo influem em seu mas e aquisição de novo conhecimento”
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social. O modelo que tem evidenciado da história. Para a seleção das perguntas
mais resultados empíricos é o de Dodge mais pertinentes a investigação realizou-
e Crick (1994); por meio do modelo em -se uma análise textual e das ilustrações
questão é possível compreender como a do livro selecionado para o levantamento
informação social se processa. dos indicadores verbais e visuais de pistas
sociais, internas e externas, em cada pá-
Teglasi e Rothman (2001) aplicaram o gina. Com base nessa análise, as pergun-
modelo à exploração do conteúdo de his- tas para a sondagem sociocognitiva foram
tórias infantis, com base em seis passos organizadas em categorias de acordo com
mentais que se expressam nas seguintes os seis componentes propostos por Tegla-
questões: - o que está acontecendo? - o si e Rothman (2001). Sendo assim, tem-se
que os personagens estão pensando e 23 itens investigando o que está aconte-
sentindo? - quais são as intenções e me- cendo; 24 itens investigando o que os per-
tas dos personagens? - o que os persona- sonagens estão pensando e sentindo 12
gens alcançam com suas ações? - como os itens investigando as metas e intenções
personagens executam e monitoram seus dos personagens; 6 itens para o que os
comportamentos? - quais as lições apren- personagens alcançam com suas ações;
didas? No presente estudo, os seis passos 12 itens para como os personagens exe-
do processamento da informação social cutam e monitoram seus comportamen-
propostos por esses autores são empre- tos; e 3 itens para as lições aprendidas.
gados para avaliar o desenvolvimento Para a investigação propriamente dita,
sociocognitivo de crianças. Seu objetivo cada criança era retirada, individualmen-
é verificar se há diferenças desenvolvi- te, da sala de aula e participava da leitura-
mentais na qualidade das respostas de -dialogada da história com base no rotei-
crianças pré-escolares e escolares, ao se- ro de perguntas. A avaliação, com dura-
rem questionadas, com as seis perguntas ção média de 20 minutos, era gravada e
exploratórias, sobre uma história infantil posteriormente transcrita para a análise
rica em pistas sociais. Método – Sujeitos de dados. Após todas as avaliações trans-
- Participaram do estudo 49 crianças, 19 critas, realizou-se uma junção de todas as
crianças de 5-6 anos, pertencentes a uma respostas a cada item, tanto para crianças
escola de educação infantil e 30 crianças de 5-6 anos quanto para crianças de 8-9
de 8-9 anos, pertencentes a uma escola anos. As respostas foram organizadas em
de ensino fundamental. Ambas as esco- níveis de reflexão sócio-cognitiva estabe-
las são de rede pública e situam-se em lecidos por três juízes mediante consen-
uma cidade do interior de Minas Gerais. so. Resultados - Para o componente o que
Materiais e procedimentos - Para a inves- está acontecendo? Em que a investigação
tigação sociocognitiva selecionou-se um direciona-se para a codificação e interpre-
livro de história infantil, rico em pistas tação das pistas sociais, nota-se que as
sociais, pertencente à pesquisa de Rodri- crianças de 8-9 anos captam mais pistas
gues e cols. (2007). A fim de sistematizar se comparadas às crianças de 5-6 anos.
a investigação foi elaborado um roteiro de Estas últimas também são capazes de de-
aplicação, estruturado em 80 perguntas, codificar pistas e algumas delas apresen-
que visa explorar e discutir o conteúdo tam respostas ricas em detalhes, no en-
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ças já tinham previamente e dos indica- tribuir para a articulação entre diferentes
dores de apropriação de conhecimentos eventos, todos relacionados aos “danos
pelas crianças, buscando problematizar a ao solo”, tendo o adulto atuado de forma
identificação de articulação de conceitos a propiciar essa busca de articulação. Os
e descolamento da realidade imediata, episódios analisados permitiram identifi-
na construção de conceitos cotidianos e car exemplos de apropriação de conceitos
científicos. Como parte dos resultados, científicos pelas crianças, muitas vezes,
um dos episódios do estudo é apresenta- enunciados de forma não canônica e rela-
do para exemplificar a análise realizada, o cionados a conceitos cotidianos. A partir
Episódio 3-3, em que o adulto apresenta dos estudos apresentados foram permi-
questões relacionadas a noções já apre- tidas reflexões acerca das competências
sentadas. e capacidades das crianças participan-
Cecília (ad): O que estraga o solo? tes. Observou-se que a apropriação dos
conceitos nem sempre é completa, mas,
Evandro: Produtos químicos, matadores foram evidenciadas construções e apro-
de insetos artificiais. priações por parte das crianças, sendo
Camila explica o perigo dos pesticidas e que cada criança apresentou sua própria
agrotóxicos e continua as perguntas. maneira de demonstrar a apropriação de
um conceito. A participação dos adultos
Camila (ad): Por exemplo, quando chove mostrou-se importante, uma vez que as
muito e não tem planta em cima? O que crianças apoiaram-se, constantemente,
acontece com o solo? nas relações por eles apresentadas entre
Tamara: Entra dentro. (referindo-se ao as experiências cotidianas e os conceitos
deslocamento do solo) apresentados, durante o processo de ela-
boração de conceitos. Desta forma, os da-
Camila (ad): A professora mostrou uma
dos indicaram capacidades e competên-
foto, vocês lembram? O que aconteceu
cias nas crianças participantes, cada uma
com a estrada que estava em cima do
a seu modo. Foi possível, assim, evitar a
solo?
cristalização de incapacidades e queixas,
Tamara: Rachou. possibilitando mudanças significativas
nas formas de lidar com o aprendizado da
Celso: Rachou.
criança e contribuindo para o seu desen-
Nesse episódio, o adulto retoma uma per- volvimento.
gunta apresentada duas aulas antes (1).
Evandro responde com elementos não Palavras-chave: desenvolvimento humano,
apresentados em aula (2). O adulto ex- necessidades especiais, grupos de
pande a resposta e detalha mais a pergun- convivência
ta inicial (3). Tamara inicia a resposta (4) Contato: Cecília Guarnieri Batista, UNICAMP,
e o adulto concorda e completa, fazendo cecigb@fcm.unicamp.br
referência à aula expositiva (5). Então, Ta-
mara (6) e Celso (7) respondem, apropria-
damente. Considera-se que, no episódio,
as crianças participaram de forma a con-
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tos sobre quem cometeu infração, que ria de marginalização dos adolescentes. A
potencializa a exclusão socioeconômica e escolarização pode colaborar na ruptura
cultural e que inibe a ressocialização des- da trajetória infracional, ao passo que se
ses adolescentes. Os próprios professores associa com a redução da severidade das
que trabalham com adolescentes autores infrações, do uso de armas e de drogas
de ato infracional em escolas regulares (Gallo e Williams, 2008). Assim sendo, é
sentem-se excluídos da sua categoria pro- importante que o sistema educacional
fissional bem como sofrem com o contato acolha os adolescentes infratores, ao invés
diário com a exclusão social, com as precá- de expulsá-los. Oliveira (2003) e Baquero
rias condições de trabalho e com abando- e Santos (2008) afirmam a necessidade de
no do ambiente escolar. Sofrem preconcei- “socioeducar a escola”, flexibilizando o for-
tos por atuarem com adolescentes infrato- malismo dos processos educativos susten-
res e seus trabalhos não são reconhecidos tados por preconceitos contra as classes
como pedagogicamente relevantes (Cella, populares da história da educação brasilei-
2007; Cella e Camargo, 2009). No caso das ra; preconceitos que se tornam mais explí-
escolas que ficam dentro das unidades de citos junto aos adolescentes que cumprem
internação, a disciplina dos demais am- medida socioeducativas. Ademais, a es-
bientes é imposta ao ambiente escolar, por colarização é um direito dos adolescentes
exemplo, por meio da alteração repentina que cumprem medidas socioeducativas
de horários e pela não condução de alu- que demanda a articulação do sistema so-
nos da ala/alojamentos à escola, conforme cioeducativo com outros pontos da rede
analisado por Roman (2009) em São Pau- de Garantia de Direitos dos adolescentes,
lo; por Oliveira (2003) e Santos (2006) no por exemplo, entre instituições escolares
Rio de Janeiro; e no Distrito Federal por e profissionalizantes, Conselhos Tutelares,
Silva, Monteiro, Lima e Ferreira (2005) e famílias e as comunidades das quais o ado-
Abramovay (2008). No entanto, algumas lescente participa, segundo os princípios
experiências nas escolas contradizem es- da incompletude institucional e da inter-
sas mesmas concepções negativas sobre setorialidade do ECA. Existe a necessidade
os adolescentes que cumprem medidas de acolher e incluir socialmente, pedago-
socioeducativas (Abramovay, Cunha e Ca- gicamente e afetivamente os adolescentes
laf, 2009). Muitos desses jovens de esfor- que cumprem medidas socioeducativas
çam para aprender e tratam os professo- nas escolas; avançar além da matrícula, da
res com respeito, mesmo quando faltam verificação de freqüência às aulas e da pre-
muito à escola. Muitos adolescentes inter- paração instrumental de mão de obra para
nados, por exemplo, no contexto escolar, o mercado de trabalho. A escola precisa se
pedem contatos de qualidade, afeição e reformular para funcionar como importan-
investimento em sua capacidade de apren- te espaço de desenvolvimento subjetivo,
der (Roman, 2009). Dessa forma, é possí- interpessoal, afetivo, cultural, profissional
vel emergirem severos questionamentos e cidadão dos adolescentes. Ademais, en-
sobre o lugar da escola na inclusão social tendemos que a escola precisa assumir sua
e escolar dos adolescentes autores de ato co-responsabilidade no processo de inclu-
infracional, considerando que ela não tem são escolar e social dos adolescentes que
conseguido promover rupturas da trajetó- cumprem medidas socioeducativas, a fim
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Vermelha, durante o primeiro semestre de o dia e horário em que as aulas foram ofe-
2011. Ele consiste em comparar as ativi- recidas; em relação aos alunos e também
dades desenvolvidas em cada turma com aos mediadores da atividade, os cursos de
alunos de diversos cursos. As aulas cuja origem dos licenciandos e sua relação e
turma foi intitulada Turma A, aconteceram envolvimento com a temática e o tipo de
às quartas-feiras, no horário noturno. As atividade proposta; a faixa etária; o grau
aulas cujo grupo foi intitulado Turma B, de interesse demonstrado; o tipo de dis-
aconteceram às sextas-feiras, de manhã. cussão suscitada a partir das atividades; a
Como recursos, criamos materiais e ativi- receptividade; as transferências de concei-
dades lúdicas variando entre: tabuleiros e tos evidenciando algumas aprendizagens e
jogos de cartas com perguntas e respostas. os imprevistos que surgiram tanto no pla-
Em algumas atividades introduzimos o ele- nejamento quanto na aplicação dos jogos
mento “tempo” como um fator de compe- e a maneira com que foram solucionados.
tição (determinado por uma ampulheta); Como resultado preliminar, consideramos
e o de cooperação, abrindo a participação que suscitamos nos alunos maior interes-
individual ou de pequenos grupos para se pela disciplina e um maior registro dos
consulta do grupo em algumas tarefas. O conceitos centrais de cada tema estudado,
elemento sorte/azar ajudou a dividir gru- favorecendo a articulação da aprendiza-
pos e em alguns jogos trouxe emoção no gem das teorias de psicologia da educa-
desvio arbitrário para avançar ou retro- ção. O processo facilitou a identificação
ceder nos tabuleiros. Algumas atividades de conceitos para transitar o programa
colocavam em relação textos e imagens comparando as propostas dos diferentes
(fotografias e filmes ou trechos de filmes autores, atravessando as teorias. De algu-
– em particular dois: O Garoto Selvagem ma maneira, os jogos promoveram a capa-
e O Senhor das Moscas). À Turma A, avi- cidade de estabelecer relações e geraram
samos sempre com antecedência sobre respostas e propostas criativas, apelando à
a temática, enfatizando a importância sensibilidade dos futuros professores. Não
das leituras sugeridas, oferecendo dicas encontramos referencias teóricos específi-
para a preparação dos alunos, enquanto cos que abordem o uso de jogos no ensi-
à Turma B apenas indicamos a leitura su- no superior. Entendemos que a dimensão
gerida, sem dar ênfases ou oferecer dicas do lúdico não deve ser limitada pela faixa
de qualquer natureza. Pretendemos, com etária, já que a imaginação e criatividade
isso, manter um “grupo-controle” para, são qualidades essenciais em qualquer
em nossas análises, comparar a importân- meio profissional, especialmente nas
cia da preparação prévia na aquisição de áreas de atuação de professores e peda-
resultados satisfatórios na aprendizagem. gogos. Acreditamos que a emoção provo-
Os registros foram realizados em cadernos cada pela experiência lúdica é uma forma
de campo e em algumas sessões com fil- de aprender, incluindo um pouco mais o
magem e fotografias. Das leituras reitera- corpo e seus sentidos no ato de aprender.
das dos registros, conseguimos identificar Para além dos benefícios que os jogos tem
algumas categorias que parecem emergir trazido para a aprendizagem da psicolo-
como indicadores de aprendizagem. Leva- gia da educação, “brincar” como gesto de
mos em consideração, em nossas análises: aprendizagem no Ensino Superior restaura
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este estudo tem como tema central a au- capaz de, interiormente, planejar, dirigir
torregulação, como fenômeno chave para e monitorar seu próprio comportamen-
a compreensão, planejamento e execu- to, adaptando-o, conforme circunstân-
ção de práticas da autoavaliação escolar, cias mutáveis. Díaz et al (1996) destacam
principalmente com crianças de 5/6, que que um ponto central na distinção entre
iniciam o Ensino Fundamental (EF). Com- autocontrole e autorregulação reside na
preender como tal fenômeno se origina e proposição de que nesta última, a criança
se desenvolve é fundamental no sentido não só interiorizou os comandos do adul-
de colaborar para a desmistificação da au- to, mas também assumiu para si o papel
toavaliação como uma prática, possível e regulador (antes desempenhado pelo
necessária, de avaliação da aprendizagem, adulto). Salientam, neste ponto, a emer-
principalmente com crianças que iniciam gência de uma questão central em relação
o EF, de modo a contribuir para uma for- ao desenvolvimento da “capacidade” de
mação humana mais reflexiva e criativa. autorregulação: como acontece essa tran-
Portanto, interessa-nos neste trabalho: 1) sição entre o controle externo, do adulto,
realizar diferenciação entre os conceitos e a assunção dele pela própria criança,
de autorregulação e autocontrole que, mediante a autorregulação? Tal pergunta
equivocadamente, têm sido compreen- implica a compreensão dos aspectos evo-
didos como fenômenos idênticos; 2) de- lutivos da autorregulação, nosso segundo
linear a gênese da autorregulação, à luz objetivo, que é abordado a partir do tra-
do trabalho de Vygotsky; e 3) defender a balho de Kopp (1982), de Díaz et al (1996),
ideia de que a autorregulação é uma “fun- e da teoria de Vygotsky. Kopp (1982), ao
ção psíquica” central, altamente vinculada realizar uma revisão das pesquisas e das
ao desenvolvimento e funcionamento de orientações teóricas acerca da origem e
outros processos mentais superiores, e do desenvolvimento das “capacidades”
ampla, envolvendo componentes da di- autorreguladoras, sugeriu que estas se
mensão afetivo-emocional e volitiva, não desenvolvem ao longo de cinco estágios:
podendo ser reduzida aos de natureza 1) Modulação neurofisiológica; 2) Modu-
cognitiva. Para realizar a diferenciação lação sensório-motora; 3) Controle; 4) Au-
entre os conceitos de autorregulação e tocontrole; e 5) Autorregulação. Mas, de
autocontrole adotamos as definições de acordo com Díaz et al (1996), a concepção
Díaz et al (1996) e Kopp (1982), nas quais do desenvolvimento da autorregulação
a autorregulação e o autocontrole repre- de Kopp, embora mostre-se esclarecedo-
sentam “capacidades” e níveis diferentes ra porque integra aspectos cognitivos e
de “organização comportamental”. Segun- sociais, apresenta limitações: (1) porque
do a última autora citada, autocontrole, a autorregulação não é qualitativamente
na perspectiva de seu desenvolvimento na distinta do autocontrole, como se este
criança, é a “capacidade” para se compor- fosse geneticamente igual à autorregu-
tar, sem a presença de estruturas externas lação, concebida como uma forma mais
de apoio, em conformidade com um co- maleável de autocontrole, o que implica-
mando que fosse, em sua gênese, forne- ria apenas em diferenças em termos de
cido externamente. Já a “capacidade” de graus; e (2) não apresenta indicação de
autorregulação pressupõe que a criança é como o autocontrole se transforma em
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mostraram satisfeitos com suas relações uma condição natural. Pode-se observar,
(89,4%). Ser casado legalmente foi valo- como efeito, uma explicitação da homos-
rizado por 49,5%. A conjugalidade, na sexualidade, um aumento no número dos
maioria da população entrevistada, pos- divórcios e de recasamentos, bem como
sui características contemporâneas, ou o surgimento da não obrigatoriedade da
seja, homens e mulheres estão envolvi- coabitação como regra conjugal. Para es-
dos com o desenvolvimento profissional, tudos prospectivos, pode-se pensar em
a satisfação afetiva na relação com o ou- analisar os resultados do questionário
tro e, no geral, compartilham a preocupa- utilizado sob égide do gênero, pois é fato
ção com a o bem-estar do mútuo. O espa- que teríamos definições e percepções di-
ço familiar é, por conta disso, propiciador ferentes da família e casamento.
de crescimento para todos os envolvidos.
Nessa pesquisa, observou-se que existe Palavras-chave: conjugalidade, família, laços
uma preocupação com a satisfação do conjugais
parceiro e uma tentativa de conciliar in- Contato: Cristiane Cavalcanti, UCSal/FTC,
dividualidade com conjugalidade, apesar cristiane.fisio.ssa@gmail.com
de ser uma tarefa difícil nos dias atuais.
O panorama social contemporâneo apre-
senta múltiplas formas de conjugalidade LT05-768 - TRANSIÇÕES FAMILIARES,
e um crescente aumento de dissoluções MODELO BIOECOLÓGICO E HABILIDADES
conjugais, sucedidas ou não de recasa- SOCIAIS NA ADOLESCÊNCIA
mentos, tornando-se cada vez mais im- Vanessa Barbosa Romera Leme - Ufscar
portante o desenvolvimento de pesquisas vanessaromera@gmail.com
que aprofundem a compreensão sobre Zilda Aparecida Pereira Del Prette - Ufscar
as questões relacionadas ao laço conju- zdprette@ufscar.br
gal, pois atualmente o casamento, não Financiamento: FAPESP
necessariamente envolve um projeto de
filiação e descendência. Podem-se obser- Muitos estudos sobre transições famil-
var, da mesma forma, múltiplas facetas iares indicam que a separação e o re-
do desejo de procriação, representadas casamento dos pais podem prejudicar o
seja pela busca de um filho quando não desenvolvimento sócio-emocional e com-
existem possibilidades biológicas de con- portamental de filhos adolescentes. En-
cepção, seja por seu inverso, a escolha vo- tretanto, algumas pesquisas vêem sinali-
luntária por não ter filhos. Esse cenário de zando que tais eventos podem ser opor-
dissociação, aliado aos avanços da medi- tunidade de crescimento pessoal e de
cina, permitiu, além de uma sexualidade desenvolvimento de habilidades sociais.
sem procriação, seu reverso. Isso ocorre Diante disso, o presente estudo tem por
graças à outra característica da conjuga- objetivo apresentar uma breve discussão
lidade contemporânea, que diz respeito teórica sobre as relações entre as tran-
à busca de satisfação dentro da relação sições familiares e as habilidades sociais
e a garantia do espaço para a individua- na adolescência, a partir do Modelo Bio-
lidade, marcando bem a igualdade dos ecológico do Desenvolvimento Humano.
gêneros, e não mais o casamento como Numa perspectiva bioecológica, a família
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
pode ser considerada como microssis- em que o adolescente não participa ativa-
tema, isto é, um contexto imediato onde mente, mas que o afetam indiretamente.
o adolescente tem experiências diretas e O macrossistema envolve as ideologias,
onde ocorrem os processos proximais. A os valores, as crenças e as formas de gov-
família e a escola são exemplos de micros- ernos compartilhados pelos membros
sistemas que juntos formam um messo- de uma mesma cultura (Bronfenbrenner,
sistema. Deste modo, temos que a família 1996/1979). O macrossistema é muito
e a escola são ambientes propícios para importante quando se investigam as difer-
a ocorrência de processos proximais, pois entes formas de famílias. Alguns autores
possibilitam a formação de vários tipos de (Gamache, 1997) afirmam que o modelo
díades (mãe-filho, pai-filho, irmão-irmão, de família nuclear exerce um poder he-
avó-neto, amigo-amigo, professor-aluno) gemônico sobre os outros tipos de famíl-
que facilitam o processo de socialização ias, constituindo-se como uma forma de
dos adolescentes. Contudo, os processos família “ideal” e “normal”. O Modelo Bio-
proximais que ocorrem nesses ambientes ecológico do Desenvolvimento Humano
podem ser afetados quando a família enfatiza a influência do macrossistema
passa por alguma transição de vida, como através dos papéis socialmente aceitos
por exemplo, a separação conjugal ou o a respeito dos estereótipos de gênero e
recasamento dos pais. Somado a isso, de família nas relações entre pais e filhos
Hetherington e Stanley-Hagan (1999) afir- que ocorrem no microssistema familiar.
mam que os efeitos da ruptura marital e Por último, o Cronossistema é constituí-
do recasamento podem variar em função do por mudanças ou estabilidades que
do momento desenvolvimental em que se ocorrem não apenas nas características
encontram os filhos. Segundo Peck e Man- biopsicológicas da pessoa, mas também
ocherian (2008/1998), a adolescência no seu ambiente imediato e remoto, ao
pode requerer dos pais novas habilidades longo do curso de vida e, também através
relacionadas ao estabelecimento de lim- das gerações (Bronfenbrenner, 1994). A
ites aos filhos, em um momento em que partir dos pressupostos do Modelo Bio-
a família passa por redefinições de papéis ecológico do Desenvolvimento Humano,
de autoridade causados pela ausência de estudos que focam a adolescência devem
um dos cônjuges ou pela presença de um considerar tanto as características biop-
novo parceiro conjugal da mãe ou do pai sicológicas, tais como mudanças físicas e
no ambiente da família. Além do micros- o desenvolvimento de habilidades cogni-
sistema e do mesossistema, Bronfenbren- tivas e sociais, como aspectos dos ambi-
ner (1996/1979) chama a atenção para a entes imediato, tais como relações com
influência de dois outros contextos exter- os pais, pares e professores e remoto, por
nos que podem afetar os processos proxi- exemplo, estereotipo de gênero, valores
mais na família e, consequentemente, e regras socialmente compartilhados a
interferir no desenvolvimento dos filhos, respeito do ser adolescente. Segundo a
a saber, o exossistema e o macrossistema. Organização Mundial da Saúde - OMS
O exossistema contempla ambientes (tais (1965), a adolescência é um fenômeno bi-
como trabalho dos pais, assistência à opsicossocial que corresponde à segunda
saúde e serviços públicos da comunidade) década da vida, isto é, dos 10 aos 20 anos.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Portanto, a adolescência pode ser consid- e filhos podem ficar mais conflituosas
erada como algo plural e não universal durante as transições familiares porque
que transcende mudanças fisiológicas tanto os pais quanto os adolescentes pre-
(puberdade) e que é influenciado por fa- cisam lidar com inquietações a respeito
tores culturais e históricos (Hines, 2007). de sexualidade, independência e rela-
A transição da infância para a vida adulta, cionamentos amorosos. Comparadas aos
isto é, a adolescência, é considerada, na adolescentes cujos pais permaneceram
sociedade ocidental, como um período casados, adolescentes de família mono-
caracterizado por necessidade de inte- parentais e recasadas podem apresentar
gração social, pelo desejo de autonomia, menos habilidades sociais e mais dificul-
de auto-afirmação, de sentimentos con- dades comportamentais (Hetherington;
flitantes e pela consolidação da identi- Stanley-Hagan, 1999). A par dessas con-
dade sexual (Hines, 2007). Todas essas siderações, conclui-se que a adolescência
mudanças podem, por um lado, tornar enquanto uma transição ecológica tanto
esse momento mais vulnerável devido à amplia e diversifica a rede de interlocu-
presença de emoções contraditórias, al- tores dos adolescentes, quanto requer
terações físicas e psicológicas (Nightigale; dos mesmos novos papéis e habilidades
Fischooff, 2002). Mas, por outro, como sociais (Bronfrenbrenner, 1996/1979).
o adolescente ainda não desenvolveu Pais, pares e professores também ten-
por completo algumas habilidades inter- dem a esperar que os comportamen-
pessoais importantes para a vida adulta, tos sociais dos adolescentes sejam mais
essa fase também se torna um momento elaborados (Del Prette; Del Prette, 1999).
propício para a capacitação de um rep- Dessa maneira, tem-se que a expansão
ertório elaborado de habilidades sociais das relações familiares impõe aos adoles-
que podem contribuir para relações inter- centes novos desafios interpessoais (Del
pessoais mais satisfatórias (Del Prette; Del Prette; Del Prette, 2001). Nesse sentido,
Prette, 2009a). De fato, as habilidades so- destaca-se que a criação de programas
ciais representam “[...] diferentes classes baseados no campo teórico e prático do
de comportamentos sociais do repertório Treinamento de Habilidades Sociais para
de um indivíduo, que contribuem para a adolescentes que estejam enfrentando
competência social, favorecendo um rela- dificuldades com as transições familiares
cionamento saudável e produtivo com as podem ajudá-los a otimizarem os recursos
demais pessoas” (Del Prette; Del Prette, disponíveis em seu repertório comporta-
2005, p.31). As habilidades sociais po- mental, prevenindo dificuldades sócio-
dem, portanto, segundo o Modelo Bioec- emocionais.
ológico do Desenvolvimento Humano, ser
consideradas como características desen- Palavras-chave: transições familiares,
volvimentais geradoras que contribuem adolescência, habilidades sociais
para os processos proximais relacionados Contato: Vanessa Barbosa Romera Leme,
ao desenvolvimento de competências UFscar, vanessaromera@gmail.com
e à prevenção de diversos problemas
psicossociais. Conforme Peck e Manoche-
rian (2008/1998), as relações entre pais
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família materna, ela se queixou do tempo fazer referência ao juiz como participante
que passava com a mãe – fins de semana importante naquele momento de sua vida,
quinzenais e quartas-feiras com pernoite – evidenciou que tinha noção de sociedade
considerando-o pouco. Por fim, verbalizou e que dela fazia parte. Ademais, por ser
o desejo de ficar mais tempo com a mãe. leal ao afeto materno, a criança verbali-
Ela não fez referência ao pai nem aos fa- zou o desejo de residir com ela. Parece
miliares desse senhor durante a realização que no entendimento da criança, o sofri-
da pesquisa. A despeito disso, observou-se mento da mãe e da avó diminuiria a partir
boa interação entre ela e o núcleo fami- dessa nova organização familiar. A criança
liar do pai. A análise e a discussão tiveram demonstrou ter noção de tempo ao fazer
como base as expressões da criança e o pa- menção de sua idade quando do início do
drão interacional familiar observado. De- processo judicial e de medida temporal ao
preendeu-se que os pais e os outros mem- dizer que era pouco o tempo que passava
bros da família percebiam o sofrimento da com a mãe. Ela demonstrou também no-
filha. Eles, no entanto, não conseguiam ção de espaço, ao indicar o local em que
evitar que a criança participasse dos de- gostaria de permanecer por mais tempo. A
sentendimentos existentes e, para ame- expressão da criança foi fundamental para
nizar as tensões, delegavam a ela o papel subsidiar o relatório da psicóloga que rea-
decisório. O litígio parental envolveu dele- lizou o estudo. A profissional concluiu pela
gacia de polícia e documentos que busca- sugestão da casa materna como residência
vam comprovar a incompetência de um e principal, modificando a sugestão forneci-
de outro no exercício dos papéis materno da no primeiro estudo psicossocial realiza-
e paterno. Lembranças oriundas do conví- do, que era a casa paterna. Depreendeu-se
vio interrompido geravam desconfianças e que as expressões da criança e as relações
também contribuíam para dificultar a livre existentes foram fundamentais para a su-
prática das funções parentais. A partir das gestão da psicóloga do setor psicossocial
intervenções realizadas pela psicóloga do para subsidiar o processo decisório do jul-
setor psicossocial que acompanhou o es- gador. Entendeu-se que para a criança, o
tudo, a família passou a aguardar a decisão tempo mensurável, isto é, a quantidade de
do juiz, evitando sobrecarregar emocional- tempo que lhe era disponibilizada a passar
mente a criança. Do ponto de vista sistê- com a mãe era considerada reduzida, pre-
mico, depreendeu-se que os conflitos que ferindo aumentá-la. O desejo da mãe e da
permeavam as relações afetavam a todos, avó em acolhê-la por mais tempo no am-
em especial a criança, por ainda depender biente doméstico, poderia ser traduzido
emocional e financeiramente de adultos pela criança como espaço de segurança,
responsáveis. Os resultados mostraram proteção e afeto. A noção de sociedade,
que o tempo de tramitação processual, evidenciada pela criança, foi representada
três anos, era o tempo que a criança lem- em sua fala quando mencionou que o juiz
brava, ao se referir à idade que tinha quan- decidiria sobre sua guarda.
do este teve início. Observou-se que, do
mesmo modo que faziam seus familiares, Palavras-chave: tempo, criança, Justiça
ela passou a transferir para o juiz a decisão Contato: Marcia Regina Ribeiro dos Santos,
de sua residência principal. A criança, ao TJDFT, marciarrsantos@gmail.com
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
desta pesquisa três famílias, todas com a transmissão geracional do uso do crack,
um membro usuário de crack com pelo existente no sistema familiar como uma
menos dois anos de uso da droga e em possibilidade de herdar os “valores” fami-
tratamento de internação numa clínica liares; “Relações violentas: o carinho da
de reabilitação psicossocial no Distrito família é a chibata”, apontada pelos par-
Federal. Esta foi uma pesquisa qualita- ticipantes a violência aparece como uma
tiva na modalidade de Estudo de Caso e das maneiras dos subsistemas se relacio-
foi adotada como aporte teórico a Teoria nar, é também interpretada como uma
Sistêmica. Para coleta dos dados foram forma de comunicação e de transmissão
utilizados três instrumentos considera- de “afetos”; “O filho-pai”, os filhos usu-
dos por autores sistêmicos como funda- ários acabam assumindo o papel de pai
mentais para a compreensão da dinâmica da própria família, invertendo papéis, ao
familiar: entrevista semiestruturada do mesmo tempo, sendo “esposo” da pró-
ciclo de vida familiar, construção do Ge- pria mãe, onde há ausência do genitor
nograma e colagem em família. O conta- e super proteção da genitora. Essa dinâ-
to inicial com os participantes se deu por mica dificulta o processo de desenvolvi-
meio de um convite verbal e pessoal para mento do sistema familiar; “Crack: uma
a participação na pesquisa, obedecendo maldição ou uma salvação?”, uma visão
aos critérios de disponibilidade de toda a contraditória é encontrada quando as
família nuclear em participar da pesquisa famílias atribuem um significado para a
nas duas etapas. O contato inicial possibi- droga. Para uns ela é vista como uma mal-
litou o agendamento dos dois encontros dição que acaba com a harmonia e com a
que ocorreram separadamente e tiveram saúde, para outros ela é considerada uma
uma duração média de uma hora e meia salvação para amenizar os sentimentos
cada. No primeiro encontro os participan- gerados pelos conflitos familiares; “Uma
tes responderam ao questionário semies- vida sem drogas”, apesar de diversos es-
truturado e construíram o Genograma tudos apresentarem a devastação que o
familiar. No segundo encontro foi realiza- crack representa para a saúde do usuário
da uma colagem familiar. Os dados foram e as dificuldades apresentadas pelo adic-
coletados no próprio local de internação, to de manter-se abstinente, as famílias
sendo cada encontro gravado em áudio e preservam otimismo quando o assunto é
seu conteúdo transcrito na íntegra. Para o futuro, acreditam que a droga deixará
compreensão das respostas adotamos de fazer parte de sua realidade ao mesmo
o enfoque da Epistemologia Qualitativa, tempo em que delegam essa responsabi-
numa postura de produção de conheci- lidade apenas para o usuário.
mento construtivo-interpretativo. Foram
construídas Zonas de Sentido que são Palavras-chave: crack, família, dinâmica
categorias representadas aqui por me- familiar
táforas relacionadas ao conteúdo obtido Contato: Heron Flores Nogueira, UCB,
durante a coleta das informações. Como heronfn@uol.com.br
principais resultados apresentamos aqui
algumas categorizações: “O uso do crack:
uma herança familiar”. Onde é discutida
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
LT05-1030 - MEU TEMPO, SEU TEMPO: avós, netos e filhos interagem em diferen-
REFLEXÕES SOBRE O RELACIONAMENTO tes espaços sociais, marcados por dimen-
ENTRE AVÓS E NETOS A PARTIR DO sões socioculturais e históricas próprias.
DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA As relações que se estabelecem entre eles
INTERGERACIONAL NO CONTEXTO são atravessadas por um conjunto de sig-
ESCOLAR nificados e sentidos importantes para a
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF contextualização e entendimento da famí-
jac.marangoni@gmail.com lia transgeracional ou multigeracional. Um
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB aspecto relevante é o processo de trocas
claudia@unb.br intergeracionais no contexto familiar, em
decorrência das dificuldades socioeconô-
A importância da família no desenvolvi- micas de nosso país. Os idosos, ainda consi-
mento humano é inegável. Esta consis- derados em muitos discursos sociais como
te no primeiro espaço de convivência e dependentes, começam a configurar-se
construção de significados do ser humano, como uma geração que oferece suporte
promovendo a transmissão de valores e afetivo e financeiro para as gerações mais
práticas socioculturais por meio dos rela- jovens. Os avós emergem nesse cenário
cionamentos entre as gerações. Ao longo como personagens centrais na vida de suas
da história as famílias mudaram e na con- famílias, participando ativamente da edu-
temporaneidade, não se pode falar em um cação dos netos e proporcionando apoio
modelo familiar único, devido à flagrante afetivo-financeiro aos filhos (Dias, 2004;
heterogeneidade das configurações fa- Dias & Silva, 1999, 2001; Oliveira, 2007).
miliares encontradas no cenário social. Essa realidade complexa demanda estudos
Novos modelos familiares se apresentam, que busquem compreender as transferên-
motivados pelas transformações intensas cias intergeracionais e as possibilidades
que perpassam as relações de gênero, as de interações entre avós e netos nos dife-
atitudes e valores humanos. A crescente rentes contextos familiares. Como espaço
inserção da mulher no mercado de traba- encarregado da promoção de desenvolvi-
lho, a intensa circulação de informações mento, a escola, nesse contexto, assume o
e inovações tecnológicas e o aumento da compromisso de formar cidadãos, pessoas
expectativa de vida, as separações e novos comprometidas com a compreensão, a crí-
casamentos modificam a organização afeti- tica e a transformação da realidade socio-
va e social dos contextos familiares (Barros, cultural, na direção de trocas sociais mais
2006; Biasoli-Alves, 1997, 2000; Dessen & justas e equânimes (Milani, 2003). Entre
Braz, 2005; Rocha-Coutinho, 2006). Temos as possíveis ações com as quais a escola
assim na experiência de diferentes famílias deve estar comprometida, destacamos a
as expressões das mudanças históricas e construção de programas que favoreçam
culturais que podem ou não gerar confli- a interação entre gerações. O presente es-
tos, mas demandam constantes negocia- tudo parte de uma intervenção realizada
ções entre as gerações jovens e as mais em uma escola pública do Distrito Federal
velhas, que tendem a conviver por um (DF). Seu objetivo é identificar e analisar
período maior de tempo (Oliveira, 2007; os sentidos construídos por avós e netos
Rocha-Coutinho, 2006). Tataravós, bisavós, em encontros intergeracionais delineados
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cursos que são produzidos pela própria ins- ras em “homem”. Essas mulheres traves-
tituição. De início, podemos desmistificar a tidas se caracterizavam como homens,
ideia de que tais mulheres se inserem nas assumiam comportamento, vestimentas e
atividades do tráfico exclusivamente como codinomes masculinos. Para elas, o “virar
um meio de sustentabilidade. A atualidade homem” dentro da prisão possibilita uma
se caracteriza pela produção de necessi- maior visibilidade dentro da instituição e
dades que não se referem à sobrevivência também um maior respeito das demais
biológica do corpo, mas, principalmente, internas. Por fim, os resultados obtidos na
à sobrevivência num contexto social em atual pesquisa nos possibilitaram refletir e
que o consumo é altamente valorizado questionar sobre as relações de poder que
e possibilita a inserção em espaços mais perpassam a vida dos indivíduos, principal-
privilegiados. A ditadura de mercado é in- mente em um contexto prisional.
centivada cotidianamente, seja pelo meio
midiático, seja pela própria sociedade, mo- Palavras-chave: gênero, poder, criminalidade,
dificando e produzindo necessidades pes- tráfico de drogas
soais. Os dados coletados nos mostraram Contato: Dayane Martins José dos Santos, UFF,
que a maioria das mulheres entrevistadas day_martinss@hotmail.com
inicia as atividades ilícitas com o propósito
de obter dinheiro para gastar com roupas,
acessórios, carros, etc. Tendo esses objetos LT05-1032 - O PAPEL DAS RELAÇÕES
de consumo, elas acabam por ganhar uma AFETIVAS NA CONSTITUIÇÃO
maior visibilidade e status perante à socie- DA IDENTIDADE DE MULHERES
dade. Num segundo momento, ao analisar- ENCARCERADAS
mos as relações de poder intramuros pri- Carolina Ferreira Barbosa - UFF/PURO
sionais, notamos que há uma continuidade cfbarbosa@id.uff.br
desse status conquistado fora da prisão. As
mulheres que chegaram a ocupar cargos O presente trabalho visa apresentar o pa-
importantes na hierarquia do tráfico, ao pel das relações afetivas no processo cons-
serem presas, continuam a exercer e ocu- titutivo da identidade de mulheres encar-
par um certo lugar de destaque na prisão, ceradas. Diversos autores, em consonância
devido à sua trajetória de vida alcançada com os estudos em Criminologia, atentam
nas atividades de drogas. Outra forma de para o fato de que a criminalidade femini-
poder notada nas entrevistas é atrelada na é, em geral, desprezada ou explicada
ao gênero. Destacamos aqui a relação ho- em virtude dos relacionamentos amorosos
mossexual presente nas instituições, que é com parceiros envolvidos em atividades
bastante comum devido à dificuldade que criminosas (Barcinski, 2009a; Barcinski
se tem para conseguir autorização para a 2009b; Guedes, 2006; Souza, 2009; Zaluar,
visita íntima e ao abandono afetivo e se- 1993). Uma atividade criminosa de extre-
xual experimentado pela maior parte das ma violência e constante risco de morte
mulheres no encarceramento. Porém, o para aquele que exerce tal atividade é, em
que nos instigou e gerou questionamentos geral, relacionada aos homens. Eles são os
é que, em algumas dessas relações, havia “chefes” do negócio, os que são munidos
uma “transformação” de uma das parcei- de armas de fogo e que, fortes e destemi-
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historicamente para a regulação dos cor- aos contextos de trabalho e família, dian-
pos. Sobre isso Saffioti (2010) diz que “o te da fusão de valores que caracterizam
Estado tem ratificado um ordenamento a contemporaneidade. Entendemos que
social de gênero através de um conjunto as relações nesses contextos são perme-
de leis que se pretendem objetivas e neu- adas por relações de poder e de tensão. A
tras, porque parte da errônea premissa de busca das mulheres por visibilidade e po-
que a desigualdade de fato entre homens der é constante, sendo o protagonismo, a
e mulheres não existe na sociedade” (p. intencionalidade das ações das mulheres
445). Narvaz e Nardi (2007), a partir de e a centralidade de gênero, norteadores
Foucault, dizem que não cabe “libertar” de suas relações sociais (Barcinski, 2009).
o indivíduo do Estado, mas dos indivíduos No presente estudo foram entrevista-
estarem liberados quanto às práticas indi- das cinco mulheres encarceradas em um
vidualizantes que as instituições estatais presídio do Rio de Janeiro. As entrevistas
promovem. Em seus estudos, Foucault foram qualitativas, em que as mulheres
não atribuiu devida importância às lutas foram convidadas a contar suas histórias
das mulheres contra aos valores andro- de vida. O interesse maior foi em relação
cêntricos que historicamente pautavam às formas pelas quais elas (re) criavam
as relações humanas. Acreditamos que é suas histórias, considerando os lugares
estratégia estatal a segregação dos gru- que ocupavam nos seus grupos sociais
pos sociais, para despolitizá-los. Um olhar (intramuros e extramuros) e o lugar que
atencioso para as questões de gênero se esse grupo ocupava na sociedade global.
faz urgente para intervir nas práticas e As participantes foram avisadas do cará-
discursos que colocam as mulheres como ter voluntário de sua participação e pude-
“minorias sociais” ou minorias políticas. ram interromper a gravação ou mesmo a
Em relação à prisão, o que se tem visto é a entrevista em qualquer momento. Os da-
reclusão de certos grupos sociais despro- dos foram analisados a partir da Análise
vidos de riqueza econômica e que se per- Institucional do Discurso (Guirado, 2010).
cebem com pouca visibilidade e poder so- Considerando as participantes como “su-
cial (Ciarallo, 2009). O lugar ocupado pela jeitos institucionais” (Galvão e Serrano,
mulher criminosa é traçado nesse contex- 2007), buscamos compreender os lugares
to de estigmas socialmente construídos, que as mulheres ocupavam a partir de
associados à classe e, principalmente, ao regras socialmente construídas e o papel
gênero. As representações sociais acerca que as práticas institucionais possuíam na
do feminino constituem certos modos de construção da subjetividade. O sujeito é
se envolver afetivamente com o outro e objetivado por práticas institucionais, pois
com o trabalho. Essas representações são é regulado e normatizado a partir dos mo-
fortemente impulsionadas pelas práti- dos de funcionamento das instituições. O
cas prisionais, que acabam constituindo processo de subjetivação se refere à for-
formas de se existir pautadas no que se ma pela qual o sujeito apropria tais expe-
espera de uma mulher na sociedade em riências (Foucault, 2009). As entrevistas
geral. Este trabalho objetiva conhecer mostram que os lugares ocupados pelas
os lugares ocupados pelo feminino na mulheres criminosas são construídos a
prisão e fora da prisão no que se refere partir do conflito de conciliar os relacio-
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sexo feminino, por vários fatores, entre eles durante 6 anos, morando na casa de M. V
os fisiológicos, as mulheres supostamente relatou que, durante o relacionamento, M
baseariam suas relações no afeto, respei- a tratava com desdém, utilizado expressões
to, cumplicidade e instinto materno, sendo ofensivas e menosprezando todo esforço
isentadas da violência relacional. Entretan- de desenvolvimento pessoal e/ou profissio-
to, em qualquer relacionamento, hetero nal: você é um resto de preto, não sabe fa-
ou homoafetivo, masculino ou feminino, zer nada direito (sic). À semelhança de J, M
existem casos de violência real, física e/ou afirmava que V não precisava trabalhar ou
simbólica que constituem fatores que de- estudar, pois caberia àquela sustentá-la na
terminam o curso do desenvolvimento da união. Era tratada como inferior e incapaz
subjetividade destes atores (ARIÉS, 1981). de prover suas próprias necessidades. Você
O objeto deste trabalho é apresentar um é burra, pobre, incompetente e incapaz de
estudo de caso sobre violência entre um aprender qualquer coisa [...] ela tem 3 car-
casal homoafetivo do sexo feminino. O fato ros, eu tinha que andar de ônibus porque
das uniões estáveis entre pessoas do mes- ela não me deixava pegar nenhum. Era eu
mo sexo ainda não serem plenamente re- que dirigia sempre, mas só podia dirigir se
conhecidas, ainda que já legalizadas, pode fosse pra sair com ela do lado (sic). A des-
fazer com que casais vivam à margem da peito do cenário de violência, V não tentou
sociedade e com que o preconceito e a fal- estudar ou trabalhar por acreditar-se inca-
ta de informações de parcela da sociedade paz para qualquer atividade exceto as obri-
incitem estes membros a permanecerem gações de casa. Os atos de violência a que
escondidos como casais, muitas vezes, ob- era exposta apareceram como inibidores da
turando violências. O caso em foco é o de construção de seu autoconceito e tornar-
Vitória (V), residente de uma capital brasi- -se sujeito em desenvolvimento constituía
leira, sexo feminino, 38 anos de idade, di- um desafio quase impossível e desneces-
vorciada, desempregada, sem filhos. Caçula sário, desvelando o quanto M subtraia
de três irmãs, aos 18 anos perdeu o pai e qualidades e capacidades de V, mantendo
até seus 23 anos não pode casar-se, pois uma relação de dominação, de provedora
cuidava da mãe. Seis meses depois do fa- e detentora da razão. O relacionamento
lecimento da genitora, após 7 anos de na- ruiu. Com o término da relação, V procurou
moro, casou-se com José (J), negro, 5 anos ajuda psicológica. Encontrava-se em esta-
mais velho que ela, com quem viveu junto do de sofrimento profundo, queixando-se
por 9 anos. Segundo seu relato, nunca pre- de depressão, falta de vontade de viver e
cisou (não lhe foi permitido) trabalhar, pois sensação de culpa, além da preocupação
J era muito ciumento e não me deixava sair do que os outros vão pensar de mim por ter
de casa para trabalhar ou estudar (sic). Ain- terminado com ela (sic). Por ser constituída
da casada, conheceu Maria (M), 63 anos, através das relações sociais, a subjetivida-
funcionária pública aposentada, de alto po- de é entendida como uma realidade do ser
der aquisitivo, integrante de um círculo de humano; como um sistema de significações
amigas homossexuais, todas com elevado e sentidos constituídos nas relações que o
poder sócio-econômico. M incitou V a se- indivíduo estabelece em seus mais variados
parar-se de J e, apesar da diferença de ida- estágios de desenvolvimento (REY, 1999).
de, mantiveram um relacionamento estável Qualquer forma de violência pode modifi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
car, interferir, inibir, prejudicar ou até evitar superação e engendrar papel catalizador no
o processo de desenvolvimento da subjeti- desenvolvimento, como no caso de V., real-
vidade, que está inserida em um contexto çando capacidades e potencialidades.
histórico sócio-cultural único; o sujeito se
torna um ente datado, histórico. V busca a
psicoterapia e inicia a ressignificação de ser LT01-853 - A CRIMINALIDADE
e estar no mundo. No processo, começa a COMO RECURSO PARA A SAÍDA DA
compreender que a construção subjetiva INVISIBILIDADE FEMININA
é um dado social e que cada parceiro tem Mariana Barcinski - PUC/RS
seu objetivo na trama relacional. A desco- mariana.barcinski@pucrs.br
berta de seu valor e papel social tem pos-
sibilitado o enfrentamento da posição au- O ingresso de jovens de camadas mais po-
tocrática e final do outro. Paulatinamente, bres brasileiras na rede do tráfico de drogas
vem superando dificuldades, estigmas e como estratégia de fuga da invisibilidade
infantilização a ela imputados. V terminou social e da falta do sentimento de pertença
seu curso técnico, planeja cursar um curso que marcam suas vidas tem sido discutido
superior e aguarda ser contratada por uma na literatura (Cruz Neto, Moreira, & Sucena,
empresa onde já estagia. A violência pode 2001; Pereira, 2009). Excluídos de um siste-
engendrar formas limitadoras do desenvol- ma social que não reconhece sua existência
vimento subjetivo e da constituição do su- no cotidiano ou em suas necessidades bási-
jeito como pessoa. Quando velada, não dei- cas de proteção, educação e trabalho, esses
xa marcas visíveis no corpo da vítima, mas jovens optariam por atividades criminosas
apresenta severas seqüelas no aparelho para se tornarem visíveis. Causar medo nas
psíquico, podendo agravar-se, descambar- pessoas, através da associação com fac-
-se para somatização de sintomas ou para ções criminosas e da ostentação de armas
o processo de violência física com efeito em ou tornar-se parte das estatísticas acerca
cascata. Por estarem “fora dos padrões so- da violência urbana são formas de adquirir
ciais”, muitos casos de violência em casais visibilidade, mesmo que carregada de co-
homoafetivos não são notificados, pela di- notações e sentimentos negativos que, em
ficuldade de apresentar provas da violência última instância, servem para aprofundar a
simbólica. Nas agressões físicas, a vítima realidade de exclusão social experimentada
passa pelo constrangimento exigido pela por esses jovens. Quando tratamos da par-
burocracia legal de abertura de inquérito ticipação feminina no tráfico de drogas, a
e buscas de provas para as investigações. questão da invisibilidade como motivadora
Mais um golpe de violência é desferido de comportamentos criminosos ganha con-
contra a vítima, que poderá sentir-se en- tornos peculiares. Como o tráfico é, indis-
vergonhada, exposta, humilhada, quando cutivelmente, reconhecido como uma ativi-
almejava proteger-se através dos métodos dade masculina, participar dele dá às mu-
legais. Submeter-se, paradoxalmente, con- lheres traficantes a possibilidade de se dis-
figura ato de proteção. Este estudo mostra tinguir de outras mulheres. Elas se tornam
que a violência e a opressão, embora sir- visíveis (diferentes de outras) ao desempe-
vam de elemento limitador do desenvol- nharem tarefas reconhecidas como mascu-
vimento, dialeticamente podem forjar sua linas. A saída da invisibilidade, no caso das
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lheres a saída (mesmo que temporária) da das pessoas e dos negócios. Quais aspectos
invisibilidade feminina na favela. Os dados deste filme podem contribuir para a análise
analisados no presente trabalho refletirão dos estudos sobre trabalho, poder e gêne-
as especificidades da participação feminina ro, sob a ótica da psicologia do desenvol-
no tráfico de drogas e a forma como as mu- vimento? Primeiro ele revela e desvela as
lheres traficantes constroem esta participa- especificidades da atividade laboral e seus
ção primordialmente em oposição a outras aspectos psicossociais: grupos, organiza-
mulheres ao seu redor. As referências ao ções e comunidades em situações do dia-
poder e ao status adquiridos como trafi- -a-dia, sem separar indivíduo e coletivida-
cantes ganham significado especial quando de, afeto e razão, processos inconscientes
tratadas sob uma perspectiva de gênero, e processos sociais. O seu enredo explicita
se entendermos a violência e a transgres- duas questões centrais para este trabalho:
são como prerrogativas masculinas. O dis- o tácito e o explícito nas relações de poder
curso das participantes, portanto, reflete o dentro de uma organização, que Fávero
investimento das mesmas em constituírem (2010) discute como políticas organiza-
as suas identidades através da marcação cionais e que dizem respeito ao processo
de elementos que distinguem as suas tra- cotidiano por meio do qual as abstrações
jetórias (e o reconhecimento externo desta sobre poder e organização são vividas e
distinção) da história de outras mulheres, ainda os processos mascarados destas po-
em geral. líticas, nas quais estão implicadas os pro-
cessos gendrados e são intimamente rela-
Palavras-chave: gênero, criminalidade, cionadas à masculinidade competitiva que
invisibilidade social. age nos meios de trabalho. Tais questões
inspiraram o presente trabalho que analisa
artigos publicados em periódicos nacionais
LT01-980 – RELAÇÕES DE PODER E sobre as relações de poder e gênero no
GÊNERO NO MUNDO DO TRABALHO: mundo do trabalho. Consultamos as bases
APORTES TEÓRICO-CONCEITUAIS2 de dados do Scientific Electronic Library
Vânia Maria Lopes Venâncio - UnB Online (Scielo) e do Periódicos Eletrônicos
vmvenancio@gmail.com em Psicologia (PePsic). Elegemos os se-
Maria Helena Fávero - UnB guintes critérios: (a) a articulação entre os
faveromh@unb.br descritores trabalho, poder e gênero em
todos os índices e em pares; b) sem demar-
O filme O Diabo veste Prada (2006), da cação de período e de tempo e (c) autoria
obra de Lauren Weisberger (2003), explo- de pesquisador brasileiro. Encontramos 39
ra o mundo do trabalho de uma revista de artigos, publicados em 24 revistas, de 1998
moda liderado por uma mulher autoritária, a 2010, sendo 31 do Scielo e 8 do Pepsic.
ambiciosa e de uma ética singular no trato A pesquisa compreendeu três démarches:
identificação pela internet, leitura e análise
2
Este estudo foi desenvolvido no âmbito da disciplina Psi-
dos artigos. Nesta última sistematizamos a
cologia do Desenvolvimento Adulto, do Programa de Pós- análise em tabelas, como proposto por Fá-
-Graduação em Processo de Desenvolvimento Humano vero e Souza (2001), nas quais a primeira
e Saúde, da Universidade de Brasília, sob a docência da
Profa. Dra. Maria Helena Fávero. coluna fornece um contador relativo às re-
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DIA 13/11 - Domingo ção a ser implantado nos seus locais de atu-
ação, a partir das demandas percebidas no
seu cotidiano. A capacitação foi realizada
10h30-12h com base em aulas expositivas dialogadas,
trabalhos em grupos e discussão de filmes.
Além disso, contou com a realização de um
pré-teste, avaliação de cada módulo (Di-
MR LT06 - Mesa Redonda
reitos Humanos, Violência e Mediação de
Convidada Conflitos) e um pós-teste, ao final dos três
módulos da capacitação. Os trabalhos que
serão apresentados dizem respeito aos da-
MR LT06-973 - DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO dos quantitativos do pré-teste e aos dados
DE UMA CAPACITAÇÃO PARA qualitativos obtidos nos diários de campo
PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO da equipe que participou da primeira edi-
À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO ção do Pronex. A mesa será composta de
INTERIOR DO RS três trabalhos. O primeiro deles buscará
Normanda Araujo de Morais - UFRGS descrever a capacitação que foi realiza-
normandaaraujo@gmail.com da (organização dos temas, cronograma,
caracterização dos participantes), assim
O objetivo desta Mesa Redonda é descre- como apresentar os primeiros dados quali-
ver e avaliar o processo de implantação tativos que resultaram da mesma (impres-
de uma tecnologia social, proposta pelo sões da equipe sobre o envolvimento dos
Programa de Apoio a Núcleos de Excelên- participantes, temas centrais, fragilidades
cia – PRONEX, realizado em um município identificadas na rede, etc). O segundo tra-
do noroeste do RS. Trata-se de um projeto balho buscará descrever os índices de es-
de pesquisa multicêntrica, realizada com gotamento profissional e de bem-estar no
a parceria de 10 Universidades, que tem trabalho, apontados pelos participantes no
como objetivo implementar e avaliar uma momento do pré-teste. Por fim, o terceiro
proposta de capacitação de profissionais trabalho buscará apresentar, também com
das áreas da saúde, da educação e da rede base em dados quantitativos do pré-teste,
de proteção de crianças e adolescentes nas os principais valores que têm embasado a
seguintes temáticas: direitos humanos, vio- prática desses profissionais, bem como a
lência e mediação de conflitos. O processo sua percepção sobre como se sentem des-
de capacitação teve a duração de 30 horas de que começaram a trabalhar com essa
e trabalhou os seguintes temas: direitos população. Os dados aqui avaliados dizem
das crianças e de adolescentes, mulheres e respeito aos 30 participantes que respon-
minorias étnicas e sociais; maus-tratos con- deram ao pré-teste, sendo a maioria do
tra crianças; consequências psicológicas da sexo feminino (n=28; 93,3%) e com média
violência; fatores de risco e de proteção; de idade de 38 anos (DP=10,93). A apre-
resiliência; comportamento infrator; uso sentação do conjunto de trabalhos per-
de drogas na adolescência e mediação de mite estabelecer os pontos centrais dessa
conflitos. Além disso, ao final, os partici- primeira edição do PRONEX, quais sejam:
pantes montaram um projeto de interven- a relevância de propostas de capacitações
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(13,3%; n = 7). O tempo médio de trabalho junto às crianças e suas famílias, a partir
na ocupação atual variava entre 1 mês e 30 de um viés interdisciplinar. Nesse sentido,
anos (M = 7,3 anos) e o tempo médio de de um modo geral, os resultados encontra-
atuação profissional com o fenômeno da dos nesta etapa inicial do PRONEX contem-
violência contra criança era de 4 anos (DP= plam os objetivos da proposta mais ampla
4,0). Em relação aos dados qualitativos, os desta pesquisa. O recorte proposto neste
resultados preliminares desta intervenção trabalho problematiza o trabalho que vem
apontam: (a) a satisfação dos participan- sendo desenvolvido na rede de proteção
tes com os temas abordados, sobretudo, à criança vítima de violência, apontando
com temáticas como resiliência e Psicolo- suas lacunas e possibilidades, num grupo
gia Positiva, vistos pela primeira vez pela de profissionais do interior do RS. Os resul-
maioria deles; (b) a grande participação e tados encontrados podem oferecer subsí-
motivação dos presentes no processo de dios para políticas públicas no atendimento
capacitação; (c) a oportunidade criada na a crianças e suas famílias expostas a situ-
capacitação da rede local de proteção ser ações de violência. Além disso, aponta-se
avaliada e discutida, inclusive, apontando a necessidade de uma maior articulação
suas fragilidades. Dessa forma, ficou visí- entre os serviços da rede de proteção, em
vel a falta de uma rede de proteção arti- prol de uma maior integralidade das ações
culada, ou seja, observou-se a existência e de um atendimento mais humanizado.
de vários serviços da rede de proteção na
cidade, porém, com atuações individualiza- Palavras-chave: rede de proteção, criança e
das; (d) predomínio de encaminhamentos adolescente, capacitação.
da rede para os serviços de assistência so-
cial especializados (por exemplo, CREASs),
como sendo o serviço de referência para NÍVEIS DE BEM-ESTAR E SÍNDROME
as situações de violência contra a criança; DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS
(e) a alta rotatividade dos profissionais nos DA REDE DE PROTEÇÃO A CRIANÇA E
serviços da rede, sendo que os participan- ADOLESCENTE DO INTERIOR DO RIO
tes demonstraram perceber a perda do GRANDE DO SUL
vínculo do usuário com a equipe e com o Juliana das Neves Nóbrega - UFRGS
profissional como sendo uma dificuldade julli.nobrega@gmail.com
no trabalho cotidiano em seus serviços de Clarissa Pinto Pizarro de Freitas - UFRGS
origem; e (f) a necessidade de formação clappdf@gmail.com
permanente para os profissionais que atu- Normanda Araujo de Morais - UFRGS
am na rede de proteção. Os dados aponta- normandaaraujo@gmail.com
ram, ainda, que a capacitação possibilitou Bruno Figueiredo Damásio - UFRGS
um momento para a elaboração de proje- brunofd.psi@gmail.com
tos de intervenção sobre diferentes temas, Silvia Helena Koller - UFRGS
envolvendo infância e adolescência em si- silvia.koller@gmail.com
tuação de vulnerabilidade psicossocial e o
fortalecimento do trabalho em rede. Veri- Este trabalho é um recorte do projeto
ficou-se que tais projetos abordaram tanto “Avaliação de uma tecnologia social apli-
intervenções primárias quanto terciárias cada para a capacitação de profissionais
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mais cansado (M = 2,21; DP = 0,98) e sen- ta por Ana Luiza Bustamante Smolka, uma
tir-se mais frustrado (M = 2,28; DP = 1,03). das pesquisadoras vygotskianas do Brasil
Análises de correlação dos itens dessa de maior proeminência, com destaque
escala com variáveis sociodemográficas nos cenários nacional e internacional; pelo
mostraram apenas uma correlação po- professor Bernd Fichtner, da Universidade
sitiva, a saber: o tempo de trabalho com de Siegen na Alemanha, que repensa a
direitos da criança esteve correlacionado teoria de Vygotsky no contexto da produ-
com o item “sentir-se mais otimista quan- ção das ciências humanas; pela professora
to ao sucesso do trabalho” (r = 0,48; p < Marta Sforni, pesquisadora ativa na área,
0,05). Em síntese, os resultados sugerem com enfoque na Teoria da Atividade; e,
a importância da experiência profissional por fim, Zoia Prestes, tradutora das obras
na prática cotidiana dos participantes. de Vygotsky que levanta questionamentos
Inclusive, eles ressaltam a busca pelo co- atuais acerca da interpretação da teoria
nhecimento na área como um passo que vygotskiana no Brasil.
deram desde que começaram a trabalhar
com a temática de direitos da criança e do
adolescente. Há, ainda, por parte dos par- VYGOTSKY NA CONTEMPORANEIDADE:
ticipantes, uma visão positiva da sua práti- CONTRIBUIÇÕES, INSPIRAÇÕES E
ca, a qual é relacionada a sentimentos de PROVOCAÇÕES
felicidade e realização. Ambos os aspectos Ana Luiza Bustamante Smolka - UNICAMP
(busca de conhecimento técnico, senti-
mento de felicidade e realização) ficaram L. S. Vygotsky nos deixou uma obra ex-
visíveis nos depoimentos e na forma como tensa, densa e inacabada, repleta de in-
se mostraram engajados na capacitação. tuições fecundas. Ao mesmo tempo em
que nos inspira e nos fornece as bases
Palavras-chave: profissionais, rede de de uma consistente sustentação teórico-
proteção, infância e adolescência -metodológica, a obra se abre a múltiplas
Contato: Normanda Araujo de Morais, UFRGS, interpretações. Vygotsky privilegiou em
normandaaraujo@gmail.com seus estudos o desenvolvimento cultural
da criança, chamando a atenção para a
história do desenvolvimento cultural do
MR LT02 - Mesa Redonda ser humano. Apontando insistentemente
Convidada para a importância de se considerar a his-
tória – das funções mentais superiores, da
atividade humana, do desenvolvimento
MR LT02-1503 - VIGOTSKI NA do gesto de apontar, dos signos, da lingua-
ATUALIDADE, UMA DISCUSSÃO gem, da consciência -, ele argumentava
TEÓRICO-METODOLÓGICA sobre a constituição social da personalida-
de individual forjada numa história de re-
A mesa redonda tem por objetivo reunir lações sociais. Vygotsky dizia que a histó-
especialistas em Vygotsky que trazem uma ria do desenvolvimento cultural nos leva,
perspectiva atual na leitura dos textos e de cheio, aos problemas da educação.
na prática de pesquisa. A mesa é compos- Suas preocupações se orientavam, assim,
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ímos sempre conhecimento novo sobre o ”Nenhum vôo é permitido, exceto aquele
nosso presente quer dizer a nossa com- que obedece às regras do que é requerido
preensão da psicologia de desenvolvimen- para a construção de novos enunciados”.
to torna-se quase mais transparente nas Uma polícia discursiva (ou, uma polícia
suas estruturas, seus contornos, suas das ciências disciplinares) está pronta
fronteiras e, sobretudo nos seus aspectos para voltar ao já firmado, ao já previsto,
problemáticos. As ciências humanas se es- ao já estatuído, ainda que estivesse lá por
forçam – com maior ou menor êxito – para ser dito. E há que fazer isso com rigor.” Sa-
conseguir aproximações cada vez mais bemos realmente o que é o desenvolvi-
precisas à realidade pesquisada. Com essa mento de uma criança, de um adolescente
lógica as ciências humanas acreditam que – ou mais geral o que é uma criança, o que
essa realidade na sua essência já é enten- é um adolescente? Nas Arte e Filosofia en-
dida e compreendida. Assim a psicologia contramos que o conhecimento não tem
de desenvolvimento pode-se afirmar o nem uma acumulação linear nem uma
que é desenvolvimento psíquico. A psico- hierarquização desse conhecimento. Alei-
logia de desenvolvimento define também jadinho não é mais avançado do que Ve-
o que é uma criança ou o que é um adoles- lásquez e Cézanne não é mais avançado
cente. As crianças são pesquisadas há do que Aleijadinho. Espinosa não é mais
mais de cem anos. Encontramos uma acu- avançado do que Descartes. Nem Hegel
mulação impressionante de conhecimen- que Descartes. A filosofia e a arte estão
to cientifico. Nessa lógica com certeza sa- indicando que esta ideia de uma “aproxi-
bemos hoje mais sobre crianças do que se mação a realidade” é uma ilusão. Mas, o
sabia na época de Vygotsky. Porém, en- que arte e filosofia realmente têm em co-
contramos aspectos sobre este tema que mum? Na lógica de uma obra de arte ou
ainda não são plenamente compreendi- de um conceito fundamental de filosofia
dos. Como exemplo podemos questionar se encontra “a Perspectiva do Novo/o
o pouco que realmente se sabe sobre os Ponto de Vista do Novo”. Isso significa ver
adolescentes e suas ligações com as novas e olhar um fenômeno, uma realidade
tecnologias de informação e comunica- como se os olhássemos pela primeira vez.
ção, a mudança atual de valores morais e No olhar da filosofia e no olhar da arte, a
éticos destes adolescentes, etc. Na pers- realidade nunca é já totalmente compre-
pectiva linear da lógica da pesquisa cienti- endida. Ao contrário, ela é indeterminada,
fica como aproximação cada vez mais pre- aberta. Nesse sentido uma obra de arte e
cisa à realidade todos os problemas apa- um conceito fundamental de filosofia são
recem resolvíveis. Uma conseqüência dis- sempre pressupostos e tematizam uma
so: a importância dos métodos e da meto- relação formal com a realidade. A relação
dologia (metodologia: a avaliação e a com essa realidade ou com esse fenôme-
análise do sistema dos métodos a respeito no é precisamente e absolutamente de-
da sua “objetividade”, de sua “reliabilida- terminada pela forma enquanto, que a
de” e sua “validade”). Wanderley Geraldi realidade, o fenômeno fica aberto e inde-
(2005) critica esta direção e orientação, terminado. O formal, a representação
mais ou menos técnica, para os métodos e possibilita aqui a escolha de uma perspec-
para a metodologia com estas palavras: tiva: conceitos teóricos e obras de arte
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como modelos de um diálogo com a reali- acaba por introduzir e apontar caminhos
dade mediando uma relação. “A Perspecti- para todas as ciências humanas. Gostaria
va do Novo/o Ponto de Vista do Novo” de mostrar como nas obras de Vygotsky a
exige aceitar o metafórico no processo de lógica geral de arte e de filosofia atua con-
olhar e de ver, o que significa ver algo cretamente nas disciplinas humanas, so-
como algo (isso é isto). A metáfora não re- bretudo na psicologia do desenvolvimen-
flete semelhanças; não apresenta algo to. No centro da metodologia vigotskiana
que seja comum entre objetos, como fe- encontra-se o “Método Histórico” ou tam-
nômenos e processos; algo que está já bém o assim chamado “Método Genéti-
pronto, disponível e preestabelecido. A co” ou “Método Histórico” pelo qual
metáfora cria e constrói fundamentalmen- Vygotsky tematiza o seu pressuposto fun-
te relações. Metáforas são como crianças: damental: entender cada fenômeno vivo
impressionam o seu ambiente de uma exige entendê-lo no seu início e também
maneira específica. Elas portam o novo, o no processo do seu desenvolvimento. A
não previsto. Representam enfoques de este método está incorporado o famoso
relevâncias junto com uma orientação lema de Hegel: "O inteiro é sempre o resul-
para o futuro. Como uma criança é uma tado compreendido junto com o processo
promessa de vida, vida que não é preesta- de seu desenvolvimento". Este lema foi as-
belecida em seus passos. Metáforas não sumido por Vygotsky como um principio
têm só uma função constitutiva na forma- universal metodológico. Este problema
ção cítrica de nossa experiência, mas tam- principal do desenvolvimento foi analisa-
bém para as mudanças, transformações e do e pesquisado através de três perspecti-
reestruturações delas. As fronteiras e limi- vas metodológicas: (1) A abordagem de
tes de uma área preestabelecida de expe- Vygotsky apresenta uma perspectiva mo-
riências podem ser destruídos, quebrados nística, quer dizer, toda separação entre
e alargados. Uma relação estandardizada indivíduo e sociedade, corpo e mente, en-
e automatizada pode ser assim rompida. tre cognição e emoção, entre físico e espí-
Muitas obras de Vygotsky se caracterizam rito, entre ações exteriores e ações inte-
pela confrontação e ruptura com o esta- riores foram rigorosamente negadas. (2) A
belecido, com o sistema estereotipado, abordagem de Vygotsky apresenta uma
fechado e fixado. O seu trânsito por e o perspectiva holística, que se opõe a qual-
interesse pela Arte e Filosofia lhe propor- quer reducionismo, ou seja, processos
cionaram condições de ter uma visão mais complexos não se podem reduzir a pro-
ampla das questões psicológicas, incorpo- cessos elementares. Por exemplo, um pro-
rando contribuições dessas outras áreas cesso psíquico não se pode explicar redu-
de conhecimento. Encontra-se na aborda- zindo-o a processos físicos ou químicos.
gem de Vygotsky uma enorme riqueza e Segundo Vygotsky se deve encontrar ou
diversidade de temas, passando pela neu- construir unidades de análise que permi-
ropsicologia, pela linguagem, pela educa- tam considerar os processos complexos.
ção, nomeadamente quando enfrenta (3) A abordagem histórico-cultural apre-
problemas de deficiências, pelas questões senta uma perspectiva interdisciplinar ou
semióticas do cinema, aliando questões multidisciplinar. A base desta perspectiva
teóricas e metodológicas, de modo que são sempre problemas sociais ou proble-
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páginas. Além de proibidas na URSS por te, em 2001, no Brasil, foi publicada pela
quase 20 anos, as obras de L.S. Vygotsky mesma Martins Fontes a versão completa
nem sempre tiveram um destino digno. Ao de Michlenie e retch, sob o título A cons-
analisarmos detalhadamente o percurso trução do pensamento e da linguagem,
de algumas de suas publicações, pode-se traduzida diretamente do russo por Paulo
afirmar, sem medo, que foram muitas as Bezerra. Na ficha técnica do livro não está
adulterações, os cortes, as censuras que indicada a edição russa da qual foi tradu-
sofreram ao longo da história, tanto em zida para o português, mas, ao comparar
sua pátria como fora dela. Desde a publi- com a edição russa integral de 2001, pode-
cação de seus primeiros livros nos Estados -se afirmar que é o texto completo, pois
Unidos e de traduções para o português a contém todos os trechos suprimidos na
partir das versões norte-americanas, já se edição soviética retalhada de 1956 (Gon-
passaram mais de 30 anos. Sem dúvida, zález, 2007, p. CXXXI). Mas parece que não
essas primeiras iniciativas de trazer para o foi somente a obra de Vygotsky que sofreu
Brasil os estudos de um dos mais impor- adulteração. Sua vida também é cercada
tantes pensadores soviéticos do século XX de mistérios e fatos pouco esclarecidos. As
merecem reconhecimento. No entanto, divergências entre as interpretações de fa-
atualmente, a própria Rússia reconhece tos importantes de sua vida permanecem
que muitos textos do autor, para que fos- ainda como um campo bastante nebuloso
sem publicados ainda no fim dos anos 50, na história da psicologia soviética. Se fo-
foram cortados e alterados pelos editores rem feitas comparações entre textos bio-
(Zaverchneva, 2009, 2010). É desconcer- gráficos publicados na União Soviética (por
tante descobrir, por exemplo, que o livro exemplo, Levitin, 1990), na Argentina (por
Michlenie i retch (traduzido como Pen- exemplo, Blanck, 1984) e nos Estados Uni-
samento e linguagem) teve alguns pará- dos (por exemplo, Kozulin, 1990) é possível
grafos cortados e que, somente em 1996 detectar discrepâncias acerca de fatos im-
(González, 2007, p. CXXXIV), foi publicada portantes da vida e obra do autor. Assim, o
a primeira edição do texto original que se estudioso de Vygotsky vê-se diante de in-
encontra microfilmado na biblioteca da formações, por vezes, até contraditórias e
Universidade Estatal de Moscou. Mais per- a melhor alternativa na busca de um qua-
turbador ainda é o fato de que, no Brasil, dro mais coerente da vida e obra do autor
uma mesma editora publica duas versões é a realização de exames comparativos
(Vygotsky, 1987 e 2001) dessa obra de das diferentes biografias disponíveis. Atu-
Vygotsky como se fossem livros diferentes. almente, além das biografias citadas, há a
Na verdade, até são, já que uma delas, a escrita por sua filha, em colaboração com
edição resumida, não pertence de fato à T. M. Lifanova e encontra-se publicada em
pena do pensador, mas sim aos seus edi- russo e em inglês (1996, 1999 a, b, c), esta
tores que a adulteraram, atribuindo a au- última não totalmente na íntegra (faltam
toria a Vygotsky. Essa edição apareceu em fotos e fac-símiles de alguns documentos).
1987 pela editora Martins Fontes traduzi- A outra biografia é de autoria de Iaroche-
da do inglês por Jefferson Luiz Camargo, vski (2007) e foi publicada somente em
a partir da edição do Instituto Tecnológi- russo. Além disso, em 2011, foi publicada
co de Massachusetts. Mais recentemen- na Rússia mais uma biografia do pensador
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
o que justifica a sua continuidade e pro- dos recursos significativos para enfrentar
põe uma agenda de pesquisa para adap- as vulnerabilidades originadas nessa fase
tação de procedimentos, novas formas de transição. Sugere-se que esse modelo
de avaliação e aprimoramento desse mo- breve de intervenção seja investigado em
delo preventivo. Esse estudo teve como um número maior de sujeitos e em outros
objetivo testar e aprimorar os procedi- ambientes organizacionais.
mentos e estratégias de uma intervenção
breve no planejamento da aposentado- Palavras-chave: envelhecimento bem
ria. Utilizou-se para esse fim uma oficina sucedido, programa de preparação para
breve com técnicas psicoeducativas pré- aposentadoria, intervenção preventiva breve.
-estabelecidas. Participaram da pesquisa
09 trabalhadores, com a idade entre 22 e
63 anos, sendo 03 homens e 06 mulheres.
Para coleta dos dados foram utilizados os
MR LT01 - Mesa Redonda
seguintes instrumentos: Questionário So- Convidada
ciodemográfico para trabalhadores em si-
tuação de pré-aposentadoria e a Escala de
Estágio de Mudança em Comportamento MR LT01-717 - “AS MELHORES COISAS
de Saúde. A intervenção ocorreu em ses- DO MUNDO” COMO ESTÍMULO
são única, em grupo, com aproximada- EVOCATIVO AOS DESAFIOS DA
mente 180 minutos de duração. Consistiu JUVENTUDE NA UNIVERSIDADE
na utilização de estratégias psicoeduca- Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
tivas e teve como base o modelo “FRA- fscavalcantejunior@gmail.com
MES” (Feedback, Responsability, Advice,
Menu de Option, Empathy, Self-eficacy). Utilizando-nos do filme “As melhores coi-
Para tratamento dos dados, utilizou-se a sas do mundo” (BODANSKY, 2010) como
técnica de análise conteúdo de Bardin. O estímulo evocativo, os trabalhos propos-
tratamento dos dados permitiu identificar tos por esta Mesa Redonda apresenta um
que os preditores de uma aposentado- conjunto de autores que se debruçam so-
ria promissora envolvem sentimentos de bre suas experiências docentes em cursos
persistência, iniciativa, suporte familiar, de graduação para refletir sobre os desa-
busca de uma nova carreira e continuar os fios da juventude com a qual convivem em
estudos. Como fatores de risco destacam- suas aulas. Uma análise das condições de
-se as doenças, solidão, diminuição nas valia introjetadas por jovens universitários
relações sociais, pouco dinheiro, condi- que os impedem de seguirem um cami-
ções de trabalho inapropriadas, ausência nho de desenvolvimento autônomo de
de políticas públicas para esse segmento suas trajetórias de vida é o primeiro tema
populacional e falta de apoio da família e abordado. Inovações metodológicas apli-
amigos. A segunda categoria investiga o cadas na disciplina de Psicologia da ado-
que a intervenção breve possibilitou aos lescência, vida adulta e velhice permitem
participantes descobrir, pensar e sentir que professora e estudantes estudem, de
sobre a transição para a aposentadoria. forma autobiográfica, as condições valora-
A terceira categoria abrange a descrição tivas que os impedem de navegarem em
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
fluxo vital pleno pelos estágios da vida. Na do sujeito como pessoa. E, desde muito
sequência, o professor visa compreender pequenina, a criança percebe que espe-
fenômenos das expressões e linguagens ram algo dela. Ao mesmo tempo em que
adolescentes que são expressas no cibe- começa a sentir a necessidade de consi-
respaço, a partir da exibição do filme “As deração positiva de seus pais e de outras
melhores coisas do mundo”, em sala de pessoas significativas. Passa a perceber o
aula, abordando o crescente uso dos ser- comportamento de aprovação ou repro-
viços das novas tecnologias por jovens vação daqueles que aprecia e a necessi-
universitários, assim como os variados dade de aceitação é tão importante que
“novos” fenômenos que se desdobram passa a guiar seu comportamento a partir
a partir desse espaço virtual que passa a dessas experiências. Isso sugere que a ex-
ser amplamente utilizado e propagado. periência poderá não mais estar seguindo
Narrativas adolescentes em redes sociais um fluxo natural de aperfeiçoamento de
são registradas e analisadas neste estudo. nosso organismo, mas caminhando em
Por fim, o desafio da tríade da neurose direção ao valimento do amor de nossos
coletiva que se apresenta na juventude pais e aceitação da sociedade. Essas ex-
atual, ao matar, se matar ou se drogar, pectativas, essas condições para ser aceito
é ampliado, quando a morte passa a ser e amado é o que chamamos de condições
apresentada por adultos jovens na univer- de valia. É uma valoração do amor a ser
sidade como a única liberdade encontra- recebido. E todos nós trazemos condições
da, tema também evocado e densamente de valia assinaladas em nossas vidas, que
trabalhado no filme “As melhores coisas foram passadas por pais, professores, ins-
do mundo”. Orientados por uma perspec- tituições, sociedade e por tudo que impõe
tiva da Abordagem Centrada na Pessoa algo a partir de um apreço condicional,
cuja aprendizagem significativa emerge da que leva a pessoa mudar o curso de nos-
experiência, os professores universitários sas escolhas para podermos ser aceitos ou
aqui reunidos compartilham transforma- amados e que frustra a nossa força moti-
ções que se constroem em suas práticas vadora em direção ao crescimento. Deno-
docentes, de forma espontânea, com uma minei essas condições de rodinhas da bici-
capacidade transformadora de mobiliza- cleta emocional. Neste momento, preten-
ção de todos os envolvidos no processo de do lançar mão dessa metáfora que venho
ensino e aprendizagem do adulto jovem desenvolvendo a partir de uma pesquisa
no contexto da universidade brasileira. realizada com uma jovem em final de ado-
lescência, que buscava irromper com as
condições de valia impostas pelo meio e
PEDALANDO NAS TRILHAS DA VIDA que disparava uma luta pelo seu próprio
Terezinha Teixeira Joca - UNIFOR crescimento, tomando como abordagem,
terezinhajoca@unifor.br para o estudo, a etnográfica centrada
na pessoa, proposta por Harry Wolcott
Desde a concepção, o bebê carrega uma (1999). Ampliei esse estudo através de mi-
bagagem impregnada de expectativas de nhas observações e das impressões apre-
seus pais. Dessa forma, a família e o meio sentadas pelas pessoas ao lerem o texto,
exercem forte influência na constituição utilizado em sala de aula para jovens uni-
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las de aulas, cada uma com uma média de gem do filme remeteu os estudantes (em
quarenta estudantes, que foram convida- sala de aula) a lembranças, pensamentos
dos a escreverem as reações ao filme por e sentimentos (Cavalcante Jr, 2001) acerca
meio de textos-sentidos (Cavalcante Jr, da escrita de si. Pode-se, então, conside-
2001). O filme citado apresenta cenas que rar que as histórias de vidas são carrega-
demonstram situações específicas dos das de particularidades e modos singula-
usos do ciberespaço: um blog em que um res de perceber a existência. Sendo assim,
jovem registra escritos acerca de si e uma podemos verificar momentos em que as
jovem que sofre agressividades e precon- histórias de vidas permitem às pessoas
ceitos por ter imagens íntimas expostas fazerem um processo retrospectivo: olhar
na Internet. “As melhores coisas do mun- a um caminho percorrido, para aconte-
do” foi apresentado a estudantes do En- cimentos, situações, atividades, pessoas
sino Superior da cidade de Fortaleza (CE). significativas que encontraram, destacan-
Destacaram-se, como pontos de reflexão, do que tudo o que é dito é importante,
neste estudo: 1) Manifestação da escrita no sentido de descobrir a riqueza interior
de si – pensamentos e emoções; 2) Ma- da experiência. Entende-se, assim, que se
nifestações da linguagem do preconceito, deve somar novas ferramentas estético-
intolerância e agressividade. Em ambas as -crítico-culturais no exercício pessoal e
manifestações, com características e refle- engajado de tornamo-nos sujeitos em-
xões peculiares, observam-se em comum poderados (Olinda, 2010). Recordações
a exposição da vida privada por meio das evocadas pelas pessoas mostram-se como
novas tecnologias (especificamente blo- ricos materiais para que os sujeitos enten-
gs). Tendo em vista que os serviços tecno- dam o que são (presente), porque são o
lógicos são utilizados de modo crescente, que são (passado) e para onde querem
nota-se também que a interioridade e as direcionar as vidas (futuro). Dessa forma,
vidas íntimas ganham espaço e repercu- os estudantes envolveram-se em uma
tem entre os adolescentes, de modo veloz atitude de reflexividade crítica acerca do
e ágil, propagando informações privadas mundo que nos rodeia, também escreven-
de modo amplo: tanto reflexões diárias do sobre si (Brandao, 2008). Ocorreu uma
acerca da vida e morte, como informações interação propiciada por um grupo reflexi-
da vida íntima e sexual que ganham noto- vo em sala de aula, no qual se contou, ou-
riedade pública na comunidade escolar. viu-se e representou-se imageticamente,
A possibilidade de uma hipervisibilidade conduzindo a aprendizagens biográficas.
(intencional ou não) parece haver em am- Desse modo, verificou-se a relevância de
bos os casos. Também é pertinente pensar compartilhar experiências autobiográfi-
acerca das motivações acerca das histórias cas, proporcionando reflexões e relações
dos outros (a espetacularização da vida em que as pessoas descobrirão nelas a ca-
pública, assim como um modo de anun- pacidade de utilizarem essas relações para
ciar publicamente uma importante deci- crescerem e se transformarem. Conforme
são pessoal). No primeiro ponto discutido, Delory-Momberger (2006), a história de
“1) Manifestação da escrita de si – pensa- vida é a ficção verdadeira do sujeito: é a
mentos e emoções”, percebeu-se que as história que o narrador tem como verda-
experiências de escrita do jovem persona- deira, e ele se constrói como sujeito no
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ato de sua enunciação. O sujeito é objeto teriza-se como uma violência psíquica na
incessante de sua própria construção. Ve- qual se destacam atitudes intimidadoras
rifica-se que o ato de registrar por escrito conscientes com caráter de ridicularizar.
as experiências e percepções, inscreve-se Nesse caso, discutiu-se o quanto pode ser
na dinâmica do projeto de si e concretiza extremamente negativo a publicação de
uma forma particular dele, compreenden- si no ciberespaço. Neste estudo, perce-
do a vida contada como uma construção bemos um movimento que Josso (2004,
de si, sempre aberta e sempre a refazer. p. 171) denomina de uma “estranheza do
Nessa primeira discussão, percebeu-se a outro” e “estranheza de si”, ou seja, diante
publicação de si como algo transformador de relatos de experiências de vida, somos
e útil aos sujeitos. No segundo ponto tra- levados a reflexões acerca de nós mesmos.
balhado, “2) Manifestações da linguagem A partir das descrições das cenas do “As
do preconceito, intolerância e agressivi- melhores coisas do mundo”, compreen-
dade”, verificou-se a relevância de sen- de-se outras situações semelhantes que
sibilizar criativamente os estudantes em ocorrem na vida cotidiana, possibilitando
relação às questões psíquicas relaciona- assim uma significativa reflexão acerca
das ao bullying, fenômeno conhecido vul- desse tema. Espera-se, assim, promover
garmente como assédio moral e físico em reflexões nas quais o saber psicológico
ambientes escolares, que vem crescendo possa contribuir ao entendimento desses
em vários ambientes; desde o doméstico, fenômenos.
empresas , escolas, universidades , peni-
tenciárias, forças armadas e mais recen- Palavras-chave: sala de aula, psicoeducação,
temente nos meios virtuais (ciberespaço), filme brasileiro.
onde a intolerância, discriminação e as
minorias são alvos de ataque a indivíduos
reconhecidos como mais frágeis. O filme QUANDO A MORTE É A ÚNICA
retrata exatamente o “cyber bullying”, LIBERDADE NA JUVENTUDE: “NINGUÉM
quando uma jovem é submetida a vários ESCUTA A MINHA DOR”
constrangimentos públicos. O bullying Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
é um problema social que deixa fissu- fscavalcantejunior@gmail.com
ras, muitas vezes, irreversíveis no sujeito André Feitosa de Sousa - FANOR
(Antunes, 2008; Bandeira, 2010; Zaine, asousa3@fanor.edu.br
2010). Tratando-se de uma pesquisa-ação
qualitativa, convidaram-se os estudantes A tríade da neurose coletiva que se agrava
do Ensino Superior pro que expressarem nos dias atuais é um problema que ocupa
reações ao filme (Cavalcante Jr, 2001), os estudos da Psicologia Humanista há
emergindo as seguintes discussões: a) longo tempo. Em uma trilogia de ações
pensar sobre o assunto, não refletido an- que findam a vida ou subtraem os anos
teriormente; b) atenção para a gravidade de existência, o ser humano mata, se
do problema social; c) mobilizar-se com as mata ou se droga (Frankl, 2010). De todos
situações vividas pela jovem personagem. os tipos de morte, o suicídio é analisado
Considerou-se, no filme, que o (cyber) como o problema mais alarmante da vida
bullying sofrido pela adolescente carac- (Hillman, 2009). Entretanto, em nenhuma
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
caracteriza por articulações que diversi- condição de poder desejar, e é a essa sa-
ficam, integram e ampliam os cuidados tisfação que podemos relacionar uma éti-
oferecidos, tem se expandido abarcando ca, uma vez que a dependência do ser hu-
a mãe e a relação mãe-bebê, bem como a mano de outro ser humano para a satisfa-
relação educador-criança. Contudo, essa ção de suas necessidades é um fato. Isso
rede ordinariamente tão necessária, me- implica uma responsabilidade de atender
rece cuidados ela própria, pois, em alguns ao que o bebê necessita de uma maneira
casos pode alterar-se rapidamente, asse- que favoreça o desenvolvimento de suas
melhando-se mais a outro tipo de rede tendências herdadas, que lhe possibilite a
(de pesca) com uma característica apri- sua pessoalidade. Este estudo pretende,
sionadora, imobilizadora e sufocante, do portanto, discutir a natureza e a qualida-
que a um apoio efetivo que leve em conta de do cuidado ao indivíduo, as caracte-
as reais necessidades dos envolvidos. A rísticas do ambiente cuidador, a relação
ideia de que se pode ter um método, uma deste com a cultura em que se insere e
técnica, ou um saber mais certo e perfeito da qual sofre influências, que são impor-
que outros tende a se implantar com incrí- tantes para o desenvolvimento de suas
vel facilidade. Isso nos faz pensar sobre a tendências herdadas ou geneticamen-
questão ética envolvida nos cuidados que te determinadas. Tem por base a teoria
são oferecidos, pois chama a nossa aten- do amadurecimento de D. W. Winnicott,
ção sobre os equívocos gerados a partir bem como experiências em atividades de
de determinados saberes. A psicanálise, extensão realizadas com profissionais da
em suas várias escolas ou abordagens, educação infantil e familiares de crian-
discute a questão ética relacionada à na- ças na primeira e segunda infância, que
turalização das necessidades humanas e apresentavam alto grau de agressividade.
a proposição de cuidados universalizada e Para tanto, foram realizadas leituras de
utópica, que retira a dimensão subjetiva textos winnicottianos e outros autores,
daqueles que recebem e fornecem cuida- bem como observações dos ambientes
dos. De acordo com Motta (2011), “a éti- da criança, encontros com educadores e
ca do cuidado,” [pensada pela psicanálise, cuidadores, que possibilitaram diálogos
...] é a do cuidado enquanto experiência importantes para a troca de conhecimen-
essencialmente humana, se tiver por di- tos, dúvidas e angústias próprias ao edu-
reção a localização subjetiva”, “não se re- car/cuidar. Sem um reconhecimento das
fere a nenhum código [...] se refere ao su- questões inconscientes envolvidas no cui-
jeito, enquanto sujeito do desejo incons- dado, uma ênfase em instruções técnicas
ciente (p. 149)”. Winnicott (1989/1994), para este é cada vez mais realizada, ob-
entretanto, considerou-se “a figura de jetivando o atendimento às necessidades
proa do movimento no sentido de um da criança para um desenvolvimento inte-
reconhecimento da satisfação da neces- gral saudável. As atividades de extensão
sidade como mais inicial e fundamental realizadas permitiram ver que, se por um
que a realização de desejos” (p. 357), sem lado, a partir do momento que essa no-
deixar de considerar o bebê necessitado ção de cuidado é difundida, mais e mais
como uma pessoa. É essa satisfação que pessoas reconhecem o seu valor e se em-
irá possibilitar ao ser humano chegar à penham em oferecer cuidados adequa-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dos aos bebês e crianças pequenas, como sempre esses ambientes serão possíveis.
também apoio às mães e às famílias; por Correlatamente, podemos entender a im-
outro lado, vê-se crescer a construção de portância de várias políticas públicas, que,
projetos de “escolas de pais”, “educação apesar de não serem ideais, podem aten-
em saúde”, “orientações aos pais”, que der minimamente às necessidades das
passam a exigir condutas adequadas por crianças e de suas famílias, o que é essen-
parte das mães e dos pais, sem considerar cial, mas o que não quer dizer conseguir
seus contextos de vida e seus padrões de que elas alcancem um amadurecimento
defesas individuais. Além disso, a “mãe psicossomático. Para esse alcance, é ne-
suficientemente boa”, pensada por Win- cessária a presença de alguém que esteja
nicott (1988/1990), perde sua condição física e emocionalmente bem, “vivo”, ca-
de adequação às necessidades de seu paz de ver e ouvir este bebê, ou criança,
próprio bebê e se torna uma mãe pa- como uma pessoa que tem necessidades
dronizada, repleta de instruções a serem próprias e preferências, podendo atendê-
seguidas, ignorando individualidades e -las; e não é raro o fato de que esse al-
subjetividades. Esse tipo de vivência, em guém não seja a própria mãe, até porque
graus variados, pode ser frequentemen- a esta pode estar faltando o apoio e a
te encontrada. Crianças rotineiramente sustentação emocional necessários a um
estimuladas e obrigadas a dar conta do cuidador. O cuidado essencial não pode
que não conseguem entender ou que não ser automático ou mecânico e, como bem
conseguem dar um único sentido sequer, disse Winnicott (1988/1990), desde que
fomentando a criação de novos diagnós- seja um cuidado propiciado por um am-
ticos psiquiátricos, que abarquem sua biente humanamente envolvido, pode até
desorganização. Os pais e os educado- ter falhas. O ambiente pré-escolar espe-
res, enquanto crianças que, muitas vezes, cialmente pode complementar bem esse
cresceram sob esse tipo pressão, se vêm papel. Contudo, compreender as ques-
agora pressionados a cuidar/educar, sem tões das relações primárias da criança,
uma base da qual possam se sentir segu- que afetam o seu desenvolvimento e de-
ramente apoiados. As reações de negati- sempenho escolar, não retira a importân-
vidade não são incomuns, e os cuidados cia de se pensar sobre as multidetermina-
que poderiam ser naturalmente intuídos ções dos problemas encontrados tanto no
a partir de uma sustentação emocional cotidiano familiar quanto escolar, ou seja,
adequada, não são realizados por recusa, sobre as características macrossociais e
negligência ou indiferença. E então, os culturais também na constituição desses
profissionais responsáveis pela “educação problemas, para que mudanças sejam
em saúde”, ou “pela educação continua- promovidas.
da”, não entendem, e se perguntam por
que os pais e os educadores não realizam Palavras-chave: ética do cuidado;
as orientações dadas e aprendidas. Por agressividade; ambiente.
mais que tenhamos consciência da im-
portância de ambientes suficientemente
bons para o amadurecimento emocional
de nossas crianças, sabemos que nem
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que cada membro da família tenha seus “à medida que eu aceito melhor ser eu
próprios sentimentos e seja uma pessoa mesmo, descubro que me encontro mais
independente. Em se tratando, especifi- preparado para permitir ao outro ser ele
camente das relações familiares, pode- próprio, com tudo o que isso implica. Isso
mos dizer que a família é um contexto significa que o círculo familiar tende a
único e dinâmico para o desenvolvimento encaminhar-se no sentido de se tornar
do ser humano. Portanto, para se falar em um complexo de pessoas independentes
desenvolvimento é necessário compreen- e únicas, com valores e objetivos indivi-
der o indivíduo nesse contexto. A família dualizados, mas unidas por verdadeiros
é algo singular e complexo, especialmen- sentimentos – positivos e negativos – que
te se for considerado a forma como as existem entre elas, e pela satisfação do
relações acontecem nesse conjunto. Po- laço da compreensão recíproca de, pelo
deríamos dizer: famílias – meio ambien- menos, uma parte do mundo particular
te/cultura - problemas/conflitos - possibi- de cada um dos outros. É desse modo
lidades de soluções. A condição familiar, que as pessoas descobrem maior satisfa-
por mais complexa que seja, nos remete ção nas relações familiares, o que facilita,
ao sentimento de pertencer a um grupo, em cada membro da família, o processo
nos tirando da solidão, que, segundo Ca- de descobrir-se e de vir a ser ele mesmo.”
mon (1993), “na maioria das vezes, é di- (Rogers, 2009). No que se refere às rela-
retamente associada com desespero, so- ções familiares é fundamental discutir so-
frimento e com o suicídio.” Segundo este bre contexto histórico, social e econômico
autor, é como se, suportar a questão de em que as pessoas estão inseridas, enfim,
ser só, fosse dicifil ou desesperador para a analisar a diversidade cultural existente.
maioria das pessoas. Camon, ainda com- Pois as alianças e os conflitos existentes
pleta que a solidão distancia quando se nas relações familiares, influenciam, sig-
mantem um relacionamento estreito ou nificativamente, no comportamento e
íntimo com uma pessoa que se ama, com desenvolvimento das pessoas, especial-
a qual se tem proximiadade e afinidade. mente, crianças e adolescentes. Assim,
E a conclusão inevitável a que se chega pode-se dizer que a família, enquanto um
é “cada um é um”, porém, como parte espaço em que se pode desenvolver uma
de um grupo ou de uma família (Camon, comunicação aberta entre os membros e
1993). De acordo com Rogers (2009), ve- eles podem expressar seus desejos e pre-
rifica-se que um indivíduo pode encontrar ocupações, favorece sobremaneira a coe-
satisfação em exprimir atitudes emocio- são do próprio grupo familiar.
nais fortes no contexto em que surge, no
caso, no contexto familiar. Dessa forma, Palavras-chave: Família. Conflito.
para este autor, a pessoa descobre que Compreensão.
é melhor viver em condição mais real do
que numa relação dissimulada, exprimin-
do mais livremente, renunciando atitudes
defensivas e ouvindo o outro. Compreen-
dem, assim, o que a outra pessoa sente e
porque é que sente. Salienta, ainda que,
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homem como chefe de família e provedor nas se esforçam para aprender, mas “não
–os sujeitos defendem melhores salários, têm o raciocínio matemático desenvolvi-
não pelo magistério em si, mas por serem do”. Levando tais premissas para a discus-
homens e provedores (Fávero & Salgado, são com alunos da 9ª série, entre 14 e 15
2007). Estes dados confirmam a análise anos, obtivemos concepções distintas: “as
de Abramo (2004) e Anzorena (2008). Ou meninas são mais inteligentes na mate-
seja, um sistema de diferenças como o gê- mática”; “elas são mais maduras”; “elas
nero, torna-se um princípio organizador estudam mais”; “aprendem com mais fa-
das relações sociais: como os homens e cilidade”; “a maioria dos meninos só quer
mulheres mantêm intensa interação, seja ‘vadiar’” (Alves & Fávero, 2010). Por outro
no contexto privado, como nos contextos lado, nossas pesquisas de intervenção com
públicos, o gênero difere de outras formas estudantes com dificuldade em matemáti-
de desigualdade; esta interação constrói ca (Fávero, 2007 c) apontam como Dweck
experiências que confirmam, ou poten- (2007) que, ver a competência em mate-
cialmente determinam as crenças sobre mática como um dom fixo e “natural”, leva
as diferenças e desigualdades de gênero os estudantes a questionarem sua própria
(Ridgeway e Smith-Lovin, 1999; Ridgeway capacidade e perderem a motivação quan-
e Correl, 2004). Portanto, defendemos que do encontram dificuldades; ver a compe-
a escolha profissional é uma construção tência como um processo de desenvolvi-
vinculada a uma socialização gendrada. mento leva-os, diante de dificuldades, a
Estas questões nos permitem focar duas procurar procedimentos ativos e efetivos.
questões particulares: 1. A desigualdade Nossos estudos têm nos permitido ampliar
da participação de homens e mulheres nas esta discussão para a questão mais ampla
áreas de ciências e tecnologia; 2. O ensi- da relação entre conhecimento e cidada-
no e a aprendizagem da matemática como nia e de trazer à pauta de discussão, “no
um filtro crítico na manutenção desta de- contexto das diferentes áreas do conheci-
sigualdade, já que está no centro das cren- mento científico, a relação entre ensino, fi-
ças parentais sobre as escolhas ocupacio- losofia e cidadania, com o intuito de tornar
nais tidas como “apropriadas” aos papéis explícita a possibilidade efetiva de conside-
de gênero (Watt e Eccles, 2008). Igualmen- rar a responsabilidade humana e cidadã e
te, os professores e professoras têm ex- pleitear que a instituição escolar assuma,
pectativas diferentes para alunos e alunas por princípio, educar o cidadão e prover
particularmente no caso da matemática e educação para a cidadania” (Fávero, 2009,
isto se inicia muito cedo na escolarização p.16). Por isto mesmo concluímos, parti-
(Mosconi, 2001). Comprovamos isto em lhando os aspectos consensuais dos es-
um estudo sobre as concepções de profes- tudos da linha de pesquisa que focamos
sores e professoras de matemática: para as aqui: 1. Pleitear uma educação que funda-
professoras, as alunas têm bom desempe- mente, por meio de sua prática, uma rela-
nho em matemática porque se esforçam; ção entre igualdade de gênero, pedagogia
os alunos estão prontos para o raciocínio e cidadania (Arnot, 2006; Enslin e Tjiattas,
matemático; para os professores, as alu- 2006); 2. Conquistar justiça social, tanto no
nas tendem naturalmente para as áreas nível doméstico como no nível global (Ho-
humanas e os alunos para as exatas; as alu- well, 2007); 3. Sustentar a tese segundo
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a qual a afirmação dos direitos humanos ofreciendo así, subsidios para la Psicología
universais caminha junto com a decisão de cognitiva y educativa (ver Watson & Mor-
desafiar a distinção entre público e privado ritz, 2001). Presentamos los resultados de
(Kaplan, 2001). estudios en lo que hemos propuesto tare-
as sobre el contenido de dos conjuntos de
Palavras-chave: psicologia critica; socialização cajas de fósforo de diferente marca (X e
gendrada e escolha profissional; cidadania. Y), que involucra en su solución la media
aritmética, la mediana y la moda, a estu-
diantes de ambos sexo, de quinta y octava
LA RESOLUCIÓN DE PROBLEMAS: serie de enseñanza fundamental, de una
INDICIOS ACERCA DE EL PROCESO DE escuela de Brasilia, DF (150 estudiantes) y
CONSTRUCCIÓN DE LA ESCOGENCIA DE de dos escuelas de Popayán, Colombia (85
UNA PROFESIÓN estudiantes). En cada una de las 3 tareas
Yilton Riascos Forero - UNICAUCA/COLÔMBIA se buscaba que los estudiantes determi-
yirifo@gmail.com naran la marca de fósforos que, segundo
Maria Helena Fávero - UnB/DF los datos presentados tendrían más con-
fáveromh@unb.br. tenido en sus cajas: “Las empresas X e Y,
fabrican fósforos que venden en cajitas.
La literatura nacional e internacional en- Todas las cajas presentan una etiqueta que
fatiza la importancia de la relación entre indica 40 fósforos de contenido. Se sabe,
género, ciencia y matemática y la relación por observación y conteo que algunas ca-
entre desarrollo psicológico, conocimiento jas no siempre tienen el mismo número
y género (Fávero, 2010 a). Se trata de una de fósforos. Algunas veces ellas presentan
cuestión de punta que compara la igual- más o menos cantidad de fósforos; otras
dad en el acceso al conocimiento entre los veces, presentan efectivamente la canti-
géneros; sobre todo las áreas de ciencia dad indicada (40)”.Se evidenció diversos
y tecnología y su relación con las creen- comportamientos en el desarrollo de es-
cias culturales sobre género. Defendemos trategia para la resolución, encontrando
como Fávero (2010 b) que las instituciones que las estrategias de mayor complejidad
educativas, lugar donde tales creencias las desarrollaron los estudiantes brasile-
están en juego, deben ser consideradas a ros. De las estrategias identificadas, se en-
través de la articulación entre a psicología contró con más frecuencia la de sumar los
del desarrollo, la psicología del género y la valores; pocos estudiantes utilizan divisi-
psicología del conocimiento. La resolución ón y tablas de frecuencias.Se identificó un
de problemas se presta para esto porque comportamiento diferente entre las alum-
evidencia las interacciones entre regula- nas de 5ª serie y las de 8ª serie, contrario
ciones cognitivas y regulaciones sociales y al de los estudiantes hombres respecto al
expone el papel de la mediación semiótica número de tareas no resueltas. En el caso
en el desarrollo psicológico (Riascos & Fá- de los alumnos brasileiros, todos los de
vero, 2010). En particular, la resolución de sexo femenino de la 5ª serie procuraron
problemas estadísticos evalúa la lectura, desarrollar una estrategia para resolver
análisis e inferencia sobre la distribución el problema, mientras que el 18,42% de
de los datos y los conceptos estadísticos, los de sexo masculino no lo hicieron; este
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nais de diferentes naturezas, vêm sendo Leontiev (s.d./2004) seus maiores expo-
reconhecidos como campos legítimos de entes, concebe o homem como um ser
inserção do psicólogo escolar (Marinho- ativo, social e histórico, e assume que
-Araujo, 2009; Oliveira & Marinho-Araujo, ele se constitui a partir das interações
2009; Soares & Marinho-Araujo, 2010). sociais que são mediadoras da constru-
Alguns destes contextos são as creches, ção de suas características, sentimentos,
orfanatos, abrigos, asilos, organizações pensamentos, crenças, conhecimentos e
não governamentais, cursinhos pré-ves- concepções, enfim, da sua subjetividade.
tibular, Instituições de Educação Superior, Essa perspectiva incita-nos a pensar sobre
entre outros. Nesses diferentes espaços os espaços contemporâneos do trabalho
tem sido recorrente a preocupação e educativo como lócus para a elaboração
compromisso, sobretudo dos psicólogos de processos formativos e de mediação
escolares, com as múltiplas possibilidades de competências que busquem favorecer
de mediação em prol do desenvolvimento o desenvolvimento, tanto individual quan-
humano, particularmente o desenvolvi- to coletivo, sob uma perspectiva sistêmi-
mento humano adulto, o qual é um tema ca, dinâmica e relacional (Araujo, 2003;
lacunar na Psicologia de forma geral (Fá- Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Nessa
vero & Machado, 2003; Marinho-Araujo, perspectiva, a mesa redonda aqui propos-
2009). Por conseguinte, têm crescido as ta apresenta relatos e pesquisas que dis-
discussões em torno das competências cutem contribuições da Psicologia Escolar
dos profissionais que atuam na educa- ao desenvolvimento humano adulto em
ção, cujo trabalho deve comprometer-se diferentes espaços educativos e almeja
com o desenvolvimento e aprendizagem suscitar reflexões sobre os desdobramen-
(Marinho-Araujo & Almeida, 2005; Soa- tos das ações interventivas do psicólogo
res & Marinho-Araujo, 2010). Com base escolar junto aos profissionais desses con-
em ações contextualizadas e ampliadas a textos. Assim, o primeiro trabalho apre-
outros atores e instâncias institucionais, senta e discute uma proposta de atuação
a Psicologia Escolar tem investido no de- para os Serviços de Psicologia Escolar na
senvolvimento humano adulto por meio Educação Superior. O segundo, apresenta
de ações que visem à formação de com- experiências de intervenção do psicólogo
petências profissionais dos agentes da escolar em espaços de trabalho cotidiano
educação, sejam os próprios psicólogos e de formação continuada. Na sequência,
escolares ou outros atores (coordenado- serão abordadas possibilidades de media-
res, professores, pais e alunos) envolvidos ção da Psicologia Escolar junto a educa-
no processo educativo. Como campo de dores sociais em organização não gover-
reflexão teórica, os pressupostos concei- namental, visando o desenvolvimento de
tuais e metodológicos que orientam a competências profissionais.
prática dos psicólogos escolares têm se
alicerçado, especialmente, nas proposi-
ções da abordagem histórico-cultural do
desenvolvimento humano. Essa aborda-
gem, que tem em Vygotsky (s.d./1999,
s.d./2003, s.d./2009), Luria (s.d./2008) e
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constituição do conceito científico: apre- mento de crianças com DI, Vygotsky (2002)
sentação, desenvolvimento e conclusão. analisa que elas apresentam certa dificul-
Foi realizada, também, com cada profes- dade em constituir o pensamento abstra-
sora uma entrevista semiestruturada para to, e que se o conteúdo e as situações de
investigar aspectos da ação pedagógica aprendizagem não forem mediadas, isso
no decurso da apresentação de um con- fica mais difícil. Nesta direção é que a esco-
teúdo novo. Os dados apontam que entre la e professores devem assumir a iniciativa
as estratégias utilizadas pelas professoras e a intervenção no processo de aprendiza-
para introduzir um novo conceito científi- do de forma competente e consciente, na
co estão: contextualização do conteúdo e medida em que os esforços devem se focar
vivências por meio de dinâmicas variadas; para estágios de desenvolvimentos ainda
o processo de aplicar, avaliar, fortalecer e não alcançados. O trabalho educativo deve
reavaliar os conteúdos programados; o uso fomentar novos conhecimentos, habilida-
da leitura pausada do material seleciona- des e competências, reconhecendo o nível
do. Quanto aos recursos acionados, são real de desenvolvimento do aluno. Os pro-
identificados: material concreto, música, cedimentos utilizados pelas professoras e
figura/imagem, poemas, material do tipo o modo como elas os justificam corrobo-
impresso e cartazes. As professoras elabo- ram a perspectiva teórica histórico-cultural
ram materiais diversificados para permitir ao passo que elas buscam introduzir um
e imprimir diferentes modos de abordar conceito paulatinamente, ressaltando sua
o assunto, evidenciando considerar o pro- construção social. Das quatro professoras,
cesso como diferenciado para cada um de três salientaram empregar estratégias di-
seus estudantes, o que possibilita a todas versificadas para atender especificamente
as crianças com ou sem DI a construção as crianças com DI. Ao serem planejadas
de conhecimentos e de modos de funcio- estas atividades levam em consideração
namento para lidar com o desenvolvimen- a necessidade e o direito de adaptação
to dos conceitos. Alternam momentos curricular e isso pressupõe o emprego de
de atendimento individual ao aluno com situações de aprendizagem em pequenos
aprendizagem colaborativa, buscam em- grupos ou duplas, considerando os níveis
pregar atividades lúdicas e de fixação de de aprendizagem e as dificuldades apre-
conteúdos, de forma a motivar os estu- sentadas, frente a um dado conteúdo. As
dantes e levá-los a perceber a vinculação professoras relatam fragilidades variadas
entre certos elementos estruturantes do no decorrer do processo, especialmente
conceito. São promovidas condições para com relação à aprendizagem das crianças
o desenvolvimento de competências e in- com DI, como manter a concentração, tra-
ternalização dos conceitos científicos, por balhar a memória e otimizar o tempo de
intermédio de jogos, reálias, que, para elas a realização das atividades; a não fixação
contribuem para promover as funções psi- dos conceitos e informações; a não com-
cológicas superiores como memória téc- preensão e acompanhamento das ativi-
nica, criatividade, raciocínio, comparação, dades, como acontece com o restante da
discriminação e generalização de idéias, turma. Tal posição corrobora os achados
além do pensamento abstrato. Ao discu- de Bogoyavlensky e Menchisnskaya (1991)
tir o processo de construção do conheci- que sustentam não existir uma relação
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outro moral em mim? Ele é simplesmen- apenas ser uma obrigação. Impor leis e pu-
te ignorado? O profissional da educação, nições para pessoas que não respeitam a
ao tornar-se o detentor da verdade, não faixa pode ser uma medida imediata, mas
dificultaria o desenvolvimento do aluno não a solução quando para o desenvolvi-
enquanto sujeito? Na perspectiva de Gon- mento humano, o que significa não apenas
zález Rey (2006) o desenvolvimento do obedecer às fiscalizações, mas respeitar os
sujeito somente é possível pela aprendiza- direitos do outro.
gem, o que implica em envolvimento do
aluno no processo de educação e, portan- Palavras-chave: desenvolvimento moral,
to, na mudança deste status quo. subjetividade, faixa de pedestres.
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25 crianças de 5-6 anos, matriculadas no dos junto aos professores, antes e depois
Pré III de uma escola de educação infantil da intervenção, de modo a aferir os seus
filantrópica, no interior de São Paulo. Ma- efeitos. Para avaliar as habilidades sociais
teriais e procedimentos - Para implemen- das crianças, foi utilizado o Questionário
tar a intervenção, foram selecionados 25 de Respostas Socialmente Habilidosas -
livros ilustrados de histórias infantis, ricos QRSH-RP (Bolsoni-Silva, Marturano & Lou-
em pistas sociais, com base na pesquisa reiro, 2009), composto por 24 itens agru-
de Rodrigues e cols. (2007). A intervenção pados em três fatores - Sociabilidade e
foi conduzida durante três meses, em 25 Expressividade Emocional, Iniciativa Social
sessões, com cerca de 50 minutos cada, e Busca de Suporte. Para avaliar proble-
em grupos com até 9 crianças. Em cada mas de comportamento, empregou-se o
sessão, a interventora lia um livro de his- Questionário de Capacidades e Dificulda-
tória interativamente, visando explorar e des – SDQ (Fleitlich, Cortázar & Goodman,
discutir o seu conteúdo com as crianças, 2000), composto por 25 itens em cinco
de acordo com o modelo de seis compo- escalas: sintomas emocionais, problemas
nentes do processamento da informação de conduta, hiperatividade, problemas
social. Na exploração do primeiro compo- de relacionamento e comportamentos
nente - o que está acontecendo? - as crian- pró-sociais. Um procedimento de avalia-
ças observam e interpretam as pistas so- ção sócio-cognitiva também foi utilizado,
ciais. No segundo - o que os personagens porém seus resultados ainda não estão
estão pensando e sentindo? - as crianças disponíveis. Os resultados das avaliações
são incentivadas a observar o “mundo pré- e pós-intervenção foram comparados
interno” dos personagens por meio das por meio do teste de Wilcoxon. Resulta-
ilustrações e leitura. No terceiro compo- dos e discussão - Os resultados apontaram
nente - quais são as intenções e metas incrementos significativos (p < 0,05) da
dos personagens? - relacionam-se os sen- pré para a pós-avaliação nos escores to-
timentos e pensamentos, já identificados, tais de dois fatores do QRSH-PR. No fator
com os objetivos e as metas. No quarto sociabilidade e expressividade emocional,
- o que os personagens alcançam com com 14 itens, aumentaram os escores nos
suas ações? - Discute-se com as crianças itens comunica-se positivamente, cumpri-
a relação entre os objetivos e metas dos menta, expressa carinhos, expressa dese-
personagens e os resultados alcançados. jos, expressa frustração e desagrado de
No quinto - como os personagens execu- forma adequada, faz elogios e tem rela-
tam e monitoram seus comportamentos? ções positivas. No fator iniciativa social (6
- as ações dos personagens são avaliadas itens), houve incremento nos itens toma
levando em consideração as consequên- a palavra, participa de temas de discus-
cias do comportamento. O sexto e último são, negocia. Os itens usualmente está de
componente - quais as lições aprendidas? bom humor e toma iniciativas mostraram
- abre para a criança a oportunidade de tendência a aumento (p < 0,10). No SDQ,
estabelecer relações entre as experiências houve melhora da pré para a pós-avalia-
vivenciadas pelos personagens da história ção nas escalas relativas a problemas de
e aquelas vividas por ela própria em seu relacionamento e comportamentos pró-
dia a dia. Dois instrumentos foram aplica- sociais. Os resultados demonstraram uma
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jogos que sejam basicamente pautados na tuição, visando analisar, em nível microge-
cooperação, no envolvimento e na diver- nético, como três educadoras promovem
são (Brotto, 2002). São jogos que aceitam ou inibem a cooperação entre seus alunos
as diversidades e as limitações dos partici- (4 a 6 anos), utilizando como recurso pe-
pantes promovem o exercício da confian- dagógico os jogos cooperativos. O estudo
ça pessoal e interpessoal, cumplicidade, inclui: 1) Registro das atividades diárias re-
solidariedade, respeito mútuo (Correia, alizadas com as crianças (protocolo espe-
2006), uma vez que ganhar e perder são cífico); 2) Entrevistas (inicial e final) com as
apenas referências para um contínuo educadoras (roteiro semiestruturado); 3)
aperfeiçoamento de todos, vislumbrando Planejamento dos jogos para orientar as
um verdadeiro exercício educativo para a professoras a reconstruírem e adaptarem
paz (Brotto, 2002). Neste sentido, o me- jogos a uma concepção não competitiva
lhor momento para introduzir os jogos co- ou cooperativa (categorização de Orlik,
operativos para o exercício da cultura da 1989, apud Correia, 2007); 4) Registro em
cooperação é a educação infantil, consi- vídeo de atividades de jogos cooperativos
derando que a criança ainda foi pouco ex- estruturados pelas educadoras. Como re-
posta a experiências de competição (Soler, sultado parcial, os registros das atividades
2003). Acreditamos que as possibilidades diárias têm revelado um grande volume
e os limites dessa proposta no contexto da de “atividades livres” sendo promovidas
educação infantil contribuirão à análise do às crianças fora da sala de aula, onde pre-
complexo processo construtivo de sociali- domina as instruções das educadoras sem,
zação entre professores e alunos inseridos contudo, considerarem o interesse das
em espaços educacionais que tem por crianças pelas brincadeiras. Quando se
base um contexto heterogêneo e dinâmi- trata de atividades sendo estruturadas no
co, ancorado em diferentes aspectos rela- contexto da sala de aula, as educadoras se
tivos à interdependência humana, aí con- orientam pelo objetivo de obter a atenção
vivendo, em princípio, orientações múlti- das crianças na realização de tarefas indivi-
plas e diversificadas. O presente trabalho duais ou em grupo, com a atenção orienta-
é fruto de estudo anterior sobre o tema lu- da para a professora, desestimulando-as a
dicidade e formação de educadores infan- interagirem entre si. Tais atividades, geral-
tis realizado em um Centro de Educação mente, se reduzem às educadoras contan-
Infantil do município de Londrina-PR. Uma do uma estória para as crianças, repetidas
oficina de Jogos Cooperativos foi promo- vezes por um período determinado e, na
vida a quinze educadoras, as quais reco- seqüência, as instruem para a produção
nheceram a necessária promoção de ati- individual de trabalhinhos (pintura, dese-
vidades verdadeiramente cooperativas na nho, recorte, colagem). Neste caso, não se
educação infantil, e, ao mesmo tempo, re- observa preocupação das professoras com
velaram desconhecer como este tipo de vi- atividades estruturadas para as crianças
vência pode ser promovido nas atividades interagirem cooperativamente que façam
lúdicas que desenvolvem com as crianças com que aprendam novos conceitos e
no dia-a-dia da instituição. Dentro deste experimentem algo novo no contexto da
contexto se insere o presente estudo (em sala de aula. Questiona-se o pouco espaço
fase inicial), desenvolvido na mesma insti- para a criação de um ambiente propício a
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própria literatura. Refletindo sobre os re- de terem idéias e hipóteses originais so-
sultados, é possível dizer que para realizar bre aquilo que buscam desvendar” (Rc-
uma prática pedagógica pautada na lite- nei,1998, p.21) Compreender, conhecer e
ratura, mais especificamente na literatura reconhecer a forma particular das crian-
infantil, é preciso ir além dos fantoches e ças serem e estarem no mundo é um dos
dramatizações e sim viver a leitura da pala- grandes desafios da educação infantil. A
vra com encantamento e prazer. escola é uma instituição social privilegiada
e responsável por promover este encon-
Palavras-chave: Literatura infantil; Educação tro com as mais diversas áreas do conhe-
infantil; Criatividade; Imaginação. cimento, dentre elas, a da cultura corporal
de movimento pela qual a Educação Física
é diretamente responsável. Cultura corpo-
LT04-1422 - O CIRCO: UMA PROPOSTA ral são todas as manifestações corporais
DE AÇÃO INCLUSIVA EM EDUCAÇÃO humanas que são geradas na dinâmica
FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. cultural, são conhecimentos historicamen-
Vivianne Flávia Cardoso - UnB/UAB te acumulados e socialmente transmitidos
vfcardoso@gmail.com (PCN EF, 1992, 1998). Segundo o PCN EF
Juliana Eugênia Caixeta - UnB (1992, p. 27) “É preciso que o aluno en-
eugenia45@hotmail.com tenda que o homem não nasceu pulando,
saltando, arremessando, balançando, jo-
Nesse trabalho, discutimos a inclusão de gando etc. Todas essas atividades corpo-
alunos deficientes nas aulas de educação rais foram construídas em determinadas
física, entendendo que a escola deixa de épocas históricas, como respostas a deter-
ser uma instituição social com forte apelo minados estímulos, desafios ou necessida-
seletivo e passa a ser o lugar em que as des humanas”. Assim, o aluno deficiente
potencialidades devem ser vistas, as difi- deve ser atendido em suas necessidades e
culdades superadas e os resultados apro- desafiado em suas potencialidades como
veitados em prol de uma sociedade me- todas as outras crianças, pois o objetivo
lhor. O processo de aprendizagem aciona das aulas de educação física é a inclusão
vários processos de desenvolvimento do aluno na cultura corporal de movimen-
que sem este estímulo poderiam não vir to por meio da participação e reflexão, de
a acontecer (Vygotsky, 1994). Quando fa- um conjunto de vivencias que contribuam
lamos de inclusão de pessoas deficientes, para seu desenvolvimento global. Descre-
o que temos que fazer é descobrir como ver e analisar o processo de inclusão de
promover zonas de desenvolvimento alunos deficientes nas aulas de Educação
proximal que estimulem estas crianças Física na educação infantil que foram re-
a adquirir e formar o pensamento abs- alizadas em uma escola pública de Vitória
trato. Sabemos que a mediação do mais durante os meses agosto a novembro de
experiente impulsiona o desenvolvimento 2010. Nesse trabalho, realizamos a união
do menos experiente. “No processo de da abordagem qualitativa de pesquisa
construção do conhecimento, as crianças com a pesquisa-ação em um estudo de
se utilizam das mais diferentes linguagens caso. Participaram do estudo 25 crianças
e exercem a capacidade que possuem na faixa etária de 4 anos, incluindo uma
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criança com Síndrome de Down, uma es- se balançar no balanço de pneu. Quanto
tagiária, a professora de Educação Física, a relações mediadas, trabalhamos, além
a professora regente da turma 4A e a pes- da cooperação, soluções de problemas e
quisadora, que também atuou como me- a tomada de decisões, pois assim nossos
diadora das atividades. Como técnicas e alunos poderiam acessar seu repertório
materiais para coleta de dados foram utili- motor, além de ressignificar movimentos
zados observações e composição de diário culturalmente construídos e historica-
de campo, filmagens, fotografias. Como mente acumulados. De acordo com Melo
procedimento foi adotado a implantação (2010, p. 29), “na perspectiva em que o
do planejamento da proposta pedagógica contexto da ação assume papel central
Circo em que cada dia havia uma atividade no processo de desenvolvimento motor, o
diferente. Na medida em que as atividades sujeito é considerado ator do seu próprio
eram avaliadas, o planejamento inicial so- desenvolvimento”. Dentro da temática do
fria ajustes. O tema circo foi escolhido por Circo, realizamos intervenções variadas na
apresentar um universo lúdico muito rico turma, de forma que João tivesse oportu-
para a criança, porque permite o trabalho nidade de ser atendido em suas necessi-
com músicas, com personagens, como: o dades individuais, vindas principalmente
palhaço e o mágico e com diferentes ex- da hipotonia, uma das características da
pressões corporais, como: malabarismo, Síndrome de Down. Esta experiência mos-
acrobacias (como cambalhotas), equili- trou que a Educação Física contribui para
brismo, trapézio, corda bamba, dentre ou- a construção de uma escola inclusiva à
tros. A intervenção foi planejada visando medida que integra saberes e fazeres di-
vivenciar com as crianças práticas corpo- ferentes dentro de um mesmo contexto,
rais atreladas à temática do circo de forma quando tece reflexões sobre os significa-
lúdica e prazerosa. Durante a intervenção dos e sentidos que as ações corporais têm
foi possível observar que todas as crianças dentro da escola e na vida dos indivíduos
participaram ativamente, inclusive João, envolvidos. Acreditamos que intervenções
portador da síndrome da Down. Todos os como as apresentadas nesse estudo evi-
alunos demonstraram parceria e coopera- denciam o papel da educação física como
ção. O processo de mediação professor/ promotora do desenvolvimento integral
aluno foi muito importante para promo- das crianças, integrando o desenvolvimen-
ver um ambiente inclusivo, pois à medida to cognitivo, afetivo e motor. Percebemos
que pensávamos um processo de aprendi- que a intervenção na educação física pode
zagem que incluísse todas as crianças bus- ir além dos “muros” da quadra e integrar
camos também uma prática voltada para ações da escola como um todo. Adultos e
competências dos sujeitos e que contri- crianças, crianças e crianças vivenciaram
buísse para superar as limitações impos- e evidenciaram, neste estudo, as possibi-
tas pela deficiência. Quanto à mediação lidades que se abrem no trabalho coletivo,
aluno/aluno: das relações espontâneas, contextualizado à cultura infantil e, tam-
citamos a cooperação, esta acontecia toda bém, à cultura corporal de movimento.
vez que um colega ajudava o outro a re-
alizar determinada atividade, como: virar Palavras-chave: Inclusão Escolar, Educação
cambalhota, alcançar o trapézio, subir e Física, Cultura Corporal.
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deiras de faz-de-conta e como as mesmas instante (Simão, 2002, 2004). O estudo re-
contribuem para o processo de constitui- velou momentos de tensão presentes nos
ção cultural das crianças que participavam diálogos entre as crianças, que as exigiam
das interações. O estudo faz parte de uma reconstruções afetivas e cognitivas cons-
pesquisa maior realizada durante o ano de tantes. É evidente na análise, que embo-
2005 e teve como participantes dez meni- ra tenha sobressaído o investimento das
nos e seis meninas, com idade entre qua- crianças na negociação de conflitos para
tro e cinco anos e a professora da classe garantir o processo interativo do brincar,
de uma escola localizada na Ilha do Com- longe de ser um ambiente harmônico,
bu, no município de Belém, Pará. O pro- este era um espaço marcado por tensões,
cedimento de coleta constou de gravações desencontros e disputas. Verificou-se res-
em vídeo das brincadeiras que ocorreram significações de princípios de classificação
no cotidiano da classe. As informações fo- dos sujeitos, presentes no contexto socio-
ram coletadas quinzenalmente, perfazen- cultural das crianças, tais como: mais ou
do um total de 16 registros. Os episódios menos competente; mais velho e mais
de faz-de-conta foram transcritos e exami- novo; adulto e criança; homem e mulher
nados do ponto de vista microgenético, de e feio e bonito. Tais ressignificações esta-
acordo com a forma concebida pela psico- vam na origem de diversas experiências
logia histórico cultural. A análise centrou- inquietantes. Na análise ficou evidente
-se na dinâmica do processo de constru- que o processo de constituição cultural
ção de significados pelas crianças. Ficou ocorre da diferenciação de elementos ini-
evidente na análise dos episódios que as cialmente indiferenciados. Tal diferencia-
experiências inquietantes vividas pelas ção só é possível, por intermédio do dis-
crianças, durante as brincadeiras, contri- tanciamento psicológico crescente, pos-
buíam para a tomada de consciência da sibilidade que as crianças encontram no
diferenciação entre o si mesmo e o outro. faz-de-conta, que as exige uma maior des-
Isso pode ser observado pelo uso frequen- centralização do si mesmo e uma menor
te dos pronomes pessoais e possessivos e contextualização. No faz-de-conta, na me-
pela diversidade de formas de ocupação dida em que a criança discorda da outra,
do lugar do outro da cultura, durante a ela instaura um distanciamento entre o si
representação de diversos papeis sociais. mesmo e o outro. Isto a possibilita tomar
Tais achados confirmam a proposição de consciência cada vez mais abrangente de
Góes (2000), de que a brincadeira de faz- seus contextos, de si mesma, dos outros
-de-conta é um excelente campo para e de suas relações com eles e a participar,
investigar os indícios da construção do si de formas cada vez mais diferenciadas do
mesmo e do outro, pelo fato, da criança, processo de construção da sua subjetivi-
nessa atividade, manejar, constantemen- dade e da sua cultura.
te, imagens de si e dos outros da cultura.
A análise mostrou também como as crian- Palavras-chave: Brincadeira de Faz-de-Conta;
ças estavam constantemente significando Educação Infantil; Crianças Ribeirinhas.
e ressignificando a sua relação com os par-
ceiros, figuras cognitivo-afetivas a quem
alimentavam expectativas diversas a todo
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como a aparição de um policial, a prisão, ção da criança cega (ex: permitir o contato
o lobo chegando de carro. Na Interação com os brinquedos utilizados pelos ou-
adulto-criança, observou-se que o adulto tros). Quanto às crianças com baixa visão,
apresentou Sugestão para integração das o adulto orientou à exploração de objetos
atividades e, depois que foi observada na (ex: pistas para aproximação, exploração
Atividade conjunta das crianças, passou tátil e comparação entre objetos). Os re-
a apresentar Comentários e Avaliações sultados trazem subsídios para a interven-
Positivas. Na sessão “Mãe, pai e filho” ção educacional, com um modelo voltado
(Grupo 2), quanto à Interação criança- para a facilitação das aquisições das crian-
-criança,observou-se predomínio de Ação ças; apontam, também, para aspectos es-
conjunta. No que se refere ao Uso de ob- pecíficos, relativos a possíveis obstáculos
jetos, as crianças criaram uma Cena de faz para participação na brincadeira de faz de
de conta entre quatro crianças, de “fazer conta por parte de crianças cegas e com
comidinhas”, com papéis de pai, mãe e baixa visão mais severa; descrevem, ain-
filhos, cada um assumindo um papel com- da, soluções propostas pelo pesquisador,
binado entre eles. E quanto à Interação de forma a propiciar brincadeiras em ní-
adulto-criança, a atuação foi semelhante veis crescentes de elaboração e de supe-
à da sessão já descrita. No final da sessão ração dos obstáculos identificados.
surgiu a necessidade, explicitada pelas
crianças, de registro escrito da brincadeira Palavras-chave: brincar, deficiência visual,
para poderem dar continuidade à mesma Educação Especial
na sessão seguinte. Também foi observa- Contato: Letícia Coelho Ruiz, CEPRE/FCM-
do que, nessa sessão, uma das crianças UNICAMP, letsruiz@yahoo.com.br
pegou algumas caixas de alimento e leu
os registros das caixas. É interessante
destacar esses aspectos, pois, indicaram LT04-986 - A CONDIÇÃO
a compreensão da função da escrita, sen- UNDERACHIEVEMENT NO FENÔMENO
do que a maior queixa de aprendizagem ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO:
desses alunos estava relacionada à leitura DESDOBRAMENTOS EMPÍRICOS
e escrita. A análise das sessões permitiu Fernanda do Carmo Gonçalves - UnB
identificar estratégias das crianças para a fernandajfmg@yahoo.com.br
exploração dos objetos e elaboração de Vanessa Terezinha Alves Tentes - SEDF
faz de conta. Foi possível identificar alguns psivan@terra.com.br
obstáculos na interação com a criança Denise de Souza Fleith - UnB
cega e alguns exemplos em que a inter- fleith@unb.br
venção do adulto pôde promover melhor
interação entre as crianças. No grupo com Conceber o indivíduo superdotado, en-
a criança cega, o adulto descreveu a locali- xergar o seu potencial e ao mesmo tempo
zação dos brinquedos, aproximou objetos reconhecer suas limitações é um exercício
e deu pistas verbais de direcionamento desafiador, presente nos estudos sobre
para que a criança realizasse deslocamen- a condição de baixa performance acadê-
tos. O adulto também orientou as outras mica ou underachievement (McCoach &
crianças para que facilitassem a participa- Siegle, 2003; Montgomery, 2009; Neihart,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
2002; Ourofino, 2005, 2007; Ourofino & tem cerca de dois milhões de estudantes
Fleith, 2005; Reis & McCoach, 2002). A superdotados e a prevalência de undera-
baixa performance acadêmica em indiví- chievers pode chegar a 50% dos alunos
duos superdotados refere-se, portanto, a identificados no contexto educacional.
uma condição concomitante a de super- Mais recentemente, o Davidson Institute
dotação, que interfere no desenvolvimen- for Talent Development (2009) divulgou
to do indivíduo, em consequência da dis- que a população de superdotados abran-
crepância entre o potencial previamente ge 2.392.300 indivíduos, ou seja, 5% dos
revelado e a performance atual exibida. estudantes norte-americanos. Desse total,
A condição antagônica vivenciada pelo mais da metade é considerada underachie-
superdotado o coloca em situação de ris- ver. Esses dados reforçam a preocupação
co, de vulnerabilidade social e emocional, dos estudiosos da área de superdotação e
acentuando ainda mais suas necessida- confirmam a prevalência de underachie-
des educacionais especiais. As Diretrizes vers em vários países, conforme verificado
Nacionais para a Educação Especial na em estudos conduzidos na Espanha por
Educação Básica reconhece o aluno su- Olivarez (2004), na Áustria por Schober
perdotado, como aquele que apresenta (2004), na Alemanha por Sparfeldt (2006)
“grande facilidade de aprendizagem que e mais recentemente por Doeschot-Bults
o leve a dominar rapidamente conceitos, e Hoogeveen (2010), na Turquia por Bas-
procedimentos e atitudes” (Ministério da lanti e McCoach (2006), em Hong Kong
Educação, 2001, Art. 5°, III). A Política Na- por Phillipson (2007), na República Tche-
cional da Educação Especial, no que tange ca por Dvorakova (2008) e Holesovska
às altas habilidades/superdotação, define (2010), na França por Villatte e Leonardis
o superdotado como aquele que demons- (2010) e na Inglaterra por Montgomery
tra “potencial elevado em qualquer uma (2009), além da extensa produção verifi-
das seguintes áreas, isoladas ou combi- cada nos Estados Unidos da América e no
nadas: intelectual, acadêmica, liderança, Canadá. No Brasil, os estudos sobre de-
psicomotricidade e artes, além de apre- sempenho escolar abarcam os alunos de
sentar grande criatividade, envolvimento modo geral (Pinheiro-Cavalcanti, 2009; Li-
na aprendizagem e a realização de tarefas bório, 2009). No que tange especificamen-
em áreas de seu interesse” (Ministério te à performance acadêmica de indivíduos
da Educação, 2008, p.15). Superdotação superdotados, não foram encontrados es-
e insucesso escolar não se complemen- tudos brasileiros que investigassem esse
tam mutuamente, pois se encontram em fenômeno. No entanto, chamam atenção
extremos opostos no espectro do ensino. os dados oficiais apresentados no Censo
No entanto, apesar da dissonância cogni- Escolar 2010 demonstrando que no país
tiva que essa condição suscita, a realidade existem 53.791.142 estudantes matricu-
mostra que muitos superdotados exibem lados na Educação Básica, sendo que des-
baixo rendimento escolar. Ao longo dos te total, 398.155 são alunos da educação
últimos trinta anos a preocupação com especial, 5.186 alunos são considerados
superdotados underachievers tem ganha- superdotados e, entre estes, apenas 465
do força e espaço de investigação. Para estão matriculados no Distrito Federal
Heacox (1991), nos Estados Unidos exis- (Ministério da Educação, 2010). Diante
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
síveis ao sistema de ensino e estão de, al- ciais posteriores. Nessa perspectiva, o
gum modo, excluídos dos processos edu- autismo é caracterizado por prejuízos bio-
cacionais. É imperativo que a sociedade se lógicos primários acarretando déficits nas
mobilize para criar alternativas alinhadas interações sociais. Esta pesquisa aborda o
com o movimento de educação inclusiva, transtorno autista que abrange um espec-
a fim de reverter essa realidade paradoxal. tro heterogêneo de quadros comporta-
mentais envolvendo desvios no desenvol-
Palavras-chave: Educação, Superdotação, vimento desde os primeiros anos de vida
Underachievement nas áreas de interação social, comunica-
Contato: Fernanda do Carmo Gonçalves, UnB, ção e imaginação. Inúmeras pesquisas são
fernandajfmg@yahoo.com.br realizadas e muitos aspectos permanecem
inconcludentes, sobretudo em relação à
etiologia, as possibilidades terapêuticas e
LT04-1036 - INCLUSÃO DE CRIANÇAS inserção em escolas regulares. A inclusão
AUTISTAS: UM ESTUDO SOBRE escolar dessas crianças é questionada por
CONCEPÇÕES E INTERAÇÕES NO alguns educadores devido aos prejuízos
CONTEXTO ESCOLAR inerentes às características da síndrome,
Emellyne Lima de Medeiros Dias Lemos - mas este trabalho se apóia em estudos
UFPB que admitem que embora seja uma prá-
emellyne@gmail.com tica difícil, é também realizável e possível,
Nádia Maria Ribeiro Salomão - UFPB considerando os benefícios das vivências
nmrs@uol.com.br escolares tanto em termos de interações
Financiamento: CNPq sociais quanto do desenvolvimento de
habilidades cognitivas nas crianças do
A interação social é de grande relevância espectro. A falta de clareza quando aos
no processo de desenvolvimento infantil benefícios da inclusão escolar dessas
entendendo que o sujeito, inserido em crianças traz implicações às concepções
um contexto histórico-social, é um ser sobre os indivíduos autistas. Nesse senti-
ativo em suas interações desde a mais do, destaca-se a importância de conhecer
tenra idade. Nesse processo destaca-se as concepções de pais e educadores visto
a importância do ambiente interpessoal que tais idéias apresentam implicações
para a aquisição de habilidades comu- nas práticas e nas interações estabeleci-
nicativas ressaltando a convivência com das com a criança. Dada à importância da
outras crianças, assim como o suporte do interação social e a influência dos contex-
adulto, uma vez que, sensível às necessi- tos situacionais e interacionais o presente
dades conversacionais da criança é capaz estudo tem como objetivos principais ana-
de adequar seu comportamento comu- lisar as interações sociais entre as crianças
nicativo às capacidades desta última. O com espectro autista e as demais crianças
presente estudo adota uma perspectiva nos contextos de escolas regulares con-
desenvolvimentista que concebe o desen- siderando a mediação das professoras,
volvimento típico a partir da articulação assim como, analisar as concepções dos
entre capacidades biológicas iniciais para pais e professores acerca da criança e do
o engajamento social e as interações so- processo de inclusão escolar com ela rea-
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lizado. Participaram deste estudo crianças mo, alguns abordando que as dificuldades
e professoras de duas escolas regulares na interação social diferiam de preferên-
particulares da cidade de João Pessoa - cia ao isolamento; satisfação com o pro-
PB; sendo analisadas duas turmas de uma cesso de inclusão escolar realizado com
escola e três de outra, totalizando cinco seus filhos e reconhecimento da impor-
professoras, como também cinco crianças tância do papel da família nesse processo.
com diagnóstico do espectro autista, com Outro aspecto foi que embora atribuíssem
idades variando entre 3 e 5 anos, de classe expectativas mais voltadas à socialização,
sócio-econômica média e seus respectivos a maioria enfatizou as diferentes habili-
pais. Para a coleta dos dados, foram uti- dades adquiridas pelos seus filhos após a
lizadas entrevistas semiestruturadas com entrada na escola. Quanto às professoras
os pais e professoras registradas através a maioria demonstrou estar reformulando
de um mini-gravador, como também, fo- suas concepções a partir das experiên-
ram realizadas duas filmagens em cada cias estabelecidas com estas crianças no
turma contemplando 20 minutos em cada cotidiano escolar, adotando concepções
uma das situações de pátio e sala de aula, que embora abordem as dificuldades das
dos quais foram transcritos e analisados crianças, partem de aspectos positivos
10 minutos. Com o objetivo de caracte- que envolvem as possibilidades e os re-
rizar as crianças deste estudo também sultados dos esforços dispensados com o
foi utilizada a escala de avaliação CARS trabalho de inclusão. No que diz respeito
(Childhood Autism Rating Scale). Quanto às interações estabelecidas no contexto
à análise dos dados, as entrevistas foram escolar foram observadas categorias de
transcritas e analisadas a partir da técnica comportamentos verbais e não verbais
de análise de conteúdo, as filmagens fo- em três áreas: comportamentos da crian-
ram transcritas e foram analisadas através ça com espectro autista, comportamentos
de categorias pós-formuladas tendo em da professora e comportamentos das de-
vista a bidirecionalidade nas interações mais crianças. Na primeira área emergi-
estabelecidas nos contextos escolares de ram as seguintes categorias e subcatego-
pátio e sala de aula, assim como, a parti- rias: Olhar, sendo este dirigido a pessoas,
cipação dos membros em termos de fre- ações ou objetos; Iniciativa, sendo esta
quência e duração do comportamento. Os dirigida a pessoas, ações ou a objetos;
resultados apresentados neste trabalho Resposta adequada; Interação passiva;
contemplam parte dos resultados da pes- Imitação; Demonstração de afeto; Sorriso;
quisa de dissertação de mestrado. Em re- Esquiva e Isolamento. Já na segunda área
lação à análise das verbalizações dos pais foram observadas as categorias: Mostrar;
das crianças com espectro autista, embo- Gesticular; Apoio físico; Modelo; Demons-
ra considerando apenas 5 participantes tração de afeto; Diretivos, sendo estes de
alguns aspectos foram encontrados, quais atenção, de instrução e de controle de
sejam: percepção dos filhos como crianças comportamento; Informação e Feedback.
carinhosas e afetuosas, atribuindo a difi- Por último, sobre os comportamentos das
culdade em comunicar-se como sendo a demais crianças emergiram as categorias:
principal característica de criança autista; Olhar; Iniciativa; Esquiva e Demonstração
relatos de dificuldades em definir autis- de afeto. Nos contextos de pátio foram
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várias tentativas de suicídio, os fatores de tem três filhos: duas meninas, uma de 14
risco relacionados e a validade do Zulliger e outra de 27 anos de idade e um meni-
nesse contexto. Foram participantes duas no, de 18 anos. A baixa hospitalar deu-se
mulheres, de 41 e 47 anos de idade, di- pelo consumo de 18 comprimidos de dia-
vorciadas, uma auxiliar de serviços gerais zepam, sua quarta tentativa de suicídio,
e outra de indústria, com ensino funda- sendo uma anterior ao tentar atirar-se
mental e médio, respectivamente. Utili- do quarto andar de um prédio. O início
zaram-se como critérios de inclusão: (a) desses episódios foi relacionado com o
tentativas de suicídio anteriores; (b) hos- excesso de trabalho, quando também co-
pitalização em decorrência da tentativa meçou a apresentar sintomas psicóticos.
de suicídio, por um período de no mínimo Dados da família de origem revelaram a
três dias; (c) não fazer uso de medicações presença de irmãos usuários de drogas,
que pudessem interferir na fidedignidade sendo um deles morto por overdose, e
dos achados. Como instrumentos utiliza- de morte por suicídio nos dois avôs, tanto
ram-se a entrevista clínica semiestrutura por parte de pai quanto de mãe. O Caso
e o teste Zulliger no Sistema Compreensi- “B” pensa em se matar porque não tem
vo ZSC. Os dados foram analisados quanti outra opção; além de querer morrer quer
e qualitativamente, trazendo elementos matar seus filhos. A análise comparativa
sobre a leitura da realidade, defesas psi- dos protocolos de entrevista permitiu ve-
cológicas, autopercepção, percepção in- rificar que ambas as pacientes apresen-
terpessoal e história de vida. A entrevista taram cinco tentativas de suicídio cada
semiestruturada revelou que o Caso “A”, uma, sobretudo pela ingestão de medi-
de 41 anos, é divorciada, mas vive, atual- camentos; possuíam, em seu desenvol-
mente, com um companheiro; é mãe de vimento, histórico familiar disfuncional
um menino de 15 anos e de uma menina e de perdas traumáticas; foram diagnos-
de 25 anos. A baixa hospitalar deu-se pela ticadas com transtorno de personalida-
intoxicação por ingestão de 20 comprimi- de borderline e participam de grupos de
dos de carbamazepina e de amitriptilina, atendimento psicoterápico individual em
sendo sua terceira tentativa de suicídio ambulatório de saúde mental. A inter-
por consumo de medicamentos. As duas pretação dos protocolos do ZSC, por sua
tentativas anteriores foram: uma aos 20 vez, possibilitou confirmar a história do
anos de idade, por ingerir veneno, oca- desenvolvimento pessoal por meio dos
sião em que começou a sentir vontade de dados de personalidade e a identificar
se matar e, a outra, quando tentou cortar prejuízos na apreensão da realidade, de si
os pulsos por sua perícia ter sido negada. mesmo, do outro e nas interações sociais,
O início desses episódios foi relacionado por meio de atribuições de aspectos sub-
com a morte de seus dois irmãos, que fo- jetivos, distorcidos e falhos. Os dois casos
ram assassinados com tiro na cabeça. O apresentaram dificuldades de controle
Caso “A” pensa em se matar porque acre- emocional, impulsividade, instabilidade
dita que irá para um lugar melhor, mas, nos relacionamentos e isolamento. Esses
ao mesmo tempo em que quer morrer, resultados podem ser úteis para ampliar
quer melhorar para cuidar de seu neto. a compreensão de pacientes com tenta-
O Caso “B”, de 47 anos, é divorciada e tivas de suicídio, para predizer as possi-
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fim de se compreender como estes inter- maioria, pelo modelo nuclear (65%), em-
ferem na resiliência de adolescentes. Para bora 17,5% vivessem numa família mono-
tanto, foram entrevistados 40 adolescen- parental, chefiada pela figura da mãe. O
tes (52,5% meninos e 47,5% meninas), relacionamento com os pais foi avaliado
com idades entre 11 a 17 anos (M=12,97; de forma positiva (70,7%), sendo que mo-
DP=1,10), residentes na área urbana e nitoramento (63,4%), afeto (56,1%) e es-
periférica de um município gaúcho ca- tabelecimento de regras (61%) foram ava-
racterizado, eminentemente, pela agri- liados pelos adolescentes como aspectos
cultura familiar. Os adolescentes foram importantes na relação pais-filhos. Os
convidados a participarem da pesquisa, relacionamentos com amigos e professo-
tendo sido autorizados por seus pais, que res também foi avaliado de forma positi-
assinaram o Termo de Consentimento Li- va (78,0% e 56,1%, respectivamente). Em
vre e Esclarecido. Foi aplicado um Ques- relação às estratégias de enfrentamento
tionário com 16 questões estruturadas, utilizadas pelos adolescentes frente às
sobre variáveis individuais e do contexto situações adversas, os itens “continuar
familiar e escolar, que pudessem estar tentando resolver o problema” (75,6%),
associadas à resiliência. Este questionário “acreditar em si mesmo frente às dificul-
foi elaborado a partir dos dados de Assis dades que a vida lhe apresenta” (48,8%)
et al. (2006) e aplicado de forma coletiva. e “pedir ajuda a alguém” (46,3%) foram
Os dados foram tabulados e analisados no os mais citados pelos adolescentes en-
programa SPSS versão 13.0. Foram reali- trevistados. Nesse sentido, os resultados
zadas análises estatísticas descritivas e de apontam que, apesar da presença de fa-
frequência simples, bem como cálculo de tores de risco ao desenvolvimento destes
correlação de Spearman. Os resultados adolescentes, sobretudo pela exposição
apontaram que a trajetória de vida des- a eventos estressores, os participantes
tes adolescentes foi caracterizada pela apresentaram boa autoestima e elevada
exposição a eventos estressores (56,1%), satisfação de vida. Observou-se, ainda,
incluindo separação dos pais, morte de um predomínio de estratégias de enfren-
um ente querido, uso de drogas por um tamento adaptativas por parte dos ado-
familiar e violência doméstica. Os parti- lescentes frente a situações adversas. A
cipantes relataram vivenciar algum sofri- presença de fatores de proteção na famí-
mento psíquico frente a estas diferentes lia e no contexto comunitário (grupo de
situações adversas (41,5%). No entanto, pares e escola) pode ser considerada uma
estes adolescentes se percebiam como variável importante para o processo de
tendo uma autoestima alta (58,5%) e uma resiliência. Conclui-se que uma maior in-
elevada satisfação de vida (82,9%), além vestigação da interação de características
de terem planos para o futuro (82,9%). individuais e do contexto de desenvolvi-
Foi encontrada uma correlação positiva mento do adolescente podem dar subsí-
entre alta autoestima e monitoramento dios para os estudos sobre resiliência em
parental (r=.50; p<0,01), bem como entre jovens, na tentativa de potencializar os
satisfação de vida e relacionamento com aspectos saudáveis destes indivíduos e de
os pais (r=.64; p<0,01). A família destes sua capacidade de superação das dificul-
adolescentes caracterizava-se, em sua dades e adversidades da vida.
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tar mais viver e a querer terminar com o tentando, sendo que começou há mais ou
sofrimento de sua família. É usuária de menos 6 anos, quando ela se mudou para
cocaína injetável e de medicações anesté- o interior onde não há vizinhos e ela fica
sicas injetáveis (morfina e dolantina). En- sozinha o dia todo. Hortência relata que
contra-se em tratamento no CAPS AD e já fizeram “mal feito” na casa onde ela mora,
apresenta sintomas psicóticos (paranóia, pra separar ela e seu marido, porque ela
alucinações). Orquídea foi hospitalizada diz que fica “possuída” e faz essas coisas.
em decorrência da ingestão de 18 com- Seu marido trabalha de motorista; já mo-
primidos de diazepan e para ser encami- raram em várias cidades, porque ele troca
nhada para uma clínica psiquiátrica, pois, de emprego seguidas vezes. O resultado
tem diagnóstico de transtorno borderline. do teste HTP apresentou características
Encontra-se em tratamento psiquiátrico comuns, considerando-se a localização
e psicológico há, aproximadamente, dois dos desenhos (esquerda), a linha de solo,
anos. Relata que segue o tratamento cor- os detalhes na casa como na porta (aber-
reto até certo ponto: “é que nem criança ta). Na figura da pessoa, detalhes como a
quando ganha chocolate e dizem pra ela presença de dedos indicaram atuação e
comer um pedacinho por dia e ela segue detalhes no pescoço, impulsividade. Essas
isso, mas, de repente, come tudo de uma características são consonantes com as-
vez só... eu faço a mesma coisa, eu tomo pectos relacionados às características de
certinho um comprimido por dia, mas tem personalidade de indivíduos que cometem
dias que dá vontade e eu tomo um mon- tentativas de suicídio, especialmente, no
te pra testar até aonde eu aguento”. Fre- que diz respeito à incapacidade de tolerar
quentemente, faz ameaças, dizendo que frustrações, impulsividade, intolerância e
vai matar seus filhos. Bromélia foi interna- atuação. Na realização do HTP, as narra-
da devido à intoxicação de medicamentos tivas das participantes sobre os desenhos
(20 comprimidos de carbamazapina e de revelaram idéias de morte, sentimentos
amitriptilina); é sua terceira tentativa de de frustração, carência afetiva e evidencia-
suicídio utilizando medicamentos, sendo ram a utilização de mecanismos de defesa
que teve outra tentativa, quando estava como identificação projetiva, o que é, co-
com 20 anos, ingerindo veneno. Bromé- mumente, empregado por pacientes com
lia relata que desde essa idade pensa em Transtorno Borderline. Apesar da amostra
se matar, acreditando que “lá em outro reduzida do estudo, esses resultados au-
lugar vai ser melhor”. Nessa época esse xiliam na melhor compreensão das carac-
sentimento foi agravado com a morte de terísticas de personalidade de indivíduos
um de seus irmãos, assassinado com um que apresentam risco de suicídio e na ca-
tiro na cabeça e, há mais ou menos 8 anos, pacitação de profissionais que atuam nes-
outro irmão foi assassinado da mesma for- se contexto.
ma. Hortência teve baixa hospitalar por-
que queria tentar se matar de qualquer Palavras-chave: tentativa de suicídio, teste
jeito; tentou enforcar-se, atirar-se da ja- HTP, características de personalidade
nela e cortar-se com facas. A família não Contato: Luana Gasparetto Fontanella,
sabe dizer quantas tentativas Hortência Fundação Hospitalar Santa Terezinha,
já teve, sua filha diz que ela esta sempre Erechim/RS, luluzinhagf@erechim.com.br
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ra (2001), indica a necessidade de pesqui- Único de Saúde (SUS), tem como objetivo
sas interdisciplinares que possam tornar a expansão de estratégias de prevenção e
visíveis os determinantes e impactos do tratamento relacionadas ao consumo de
trabalho precoce. As instituições de ensi- álcool e outras drogas, mediante ações
no superior têm responsabilidade ímpar intersetoriais, ou seja, ações integradas
nessa tarefa. Os artigos aqui apontados de setores como saúde, justiça, assistên-
sinalizam para algumas respostas e fazem cia social, educação, cultura, esporte e la-
emergir a urgência e seriedade necessá- zer, tanto na esfera governamental como
rias no tratamento dessa questão. não-governamental, com prioridade para
os cem maiores municípios brasileiros,
Palavras-chave: Trabalho Infantil, Crianças, abrangendo todas as capitais. Visa a am-
Trabalho Infanto-juvenil. pliação do acesso, qualificação dos profis-
sionais, prevenção, promoção da saúde e
redução de danos relacionados ao consu-
LT03-906 - PROJETO CONSULTÓRIO mo de substâncias psicoativas e, ainda, o
DE RUA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA: resgate dos direitos humanos e de cida-
CONQUISTANDO A CIDADANIA dania da população usuária. Os dispositi-
Elaine da Cunha Fernandes Mesquita - SMSG vos consultórios de rua no SUS tem como
elainefmesquita@yahoo.com.br princípios a garantia dos direitos huma-
Helizett Santos de Lima - SMSG/UnB nos, combate ao preconceito e estigma,
helizettlima@yahoo.com.br inclusão e reinserção social, baseadas em
Marcelo Santos Ribeiro - SMSG ações de redução de danos e integradas
olecramribeiro@hotmail.com a outras políticas públicas de saúde no
Rôzi-Mayry Oliveira Soares Duarte - SMSG campo da saúde mental. É composto de
capsgirassol@gmail.com equipe volante multiprofissional, com téc-
Sheila Alves da Cunha - SMSG nicos da saúde mental, atenção básica,
sheilacunha.mt@gmail.com educadores sociais, oficineiros e reduto-
Roberto Vaz de Abreu - SMSG res de danos que desenvolvem trabalho
robevaz@hotmail.com extramuros nos locais onde se encontram
as pessoas que vivem em situação de rua
O uso de substâncias psicoativas por pes- e fazem uso de substâncias psicoativas,
soas em contexto de vulnerabilidade so- prioritariamente a população jovem. Es-
cial, em situação de rua, tem preocupado ses dispositivos devem integrar a rede de
a sociedade brasileira. No município de saúde mental local, trabalhar com ações
Goiânia esta realidade não é diferente voltadas para a intra e intersetorialidade,
e percebe-se a necessidade de ofertar o para possibilitar aos usuários o acesso aos
acesso aos serviços de saúde existentes diversos serviços de saúde disponíveis e,
para essa parcela da população que se en- ainda, outros serviços como da assistência
contra excluída da sociedade e em condi- social de acordo com as demandas espe-
ções precárias de sobrevivência. O Plano cíficas apontadas pela clientela atendida.
Emergencial de Ampliação do Acesso ao Entre os projetos da rede especializada
Tratamento e Prevenção em Álcool e ou- em saúde mental de Goiânia, que foram
tras Drogas (PEAD 2009-2010), do Sistema aprovados recentemente pelo Ministério
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muitas vezes necessitando de mais trocas o TDAH, a partir de dois eixos principais:
e experiências com o meio. No caso do 1) o estudo do desenvolvimento de crian-
TDAH, a literatura demonstra que crian- ças com este transtorno, com ênfase na
ças com tal diagnóstico apresentam um construção de noções operatórias, em
desempenho em baterias neuropsicoló- especial na noção de tempo; 2) a diferen-
gicas comparável aos resultados de crian- ciação entre aspectos estruturais e proce-
ças mais novas não diagnosticadas. Outra dimentais das ações, suas interrelações e
importante característica é a dificuldade funções no desenvolvimento das noções
em “pensar antes de agir”, entendida no operatórias. Em relação ao desenvolvi-
campo da Neuropsicologia como uma mento das referidas noções, pesquisas
dificuldade em inibir pensamentos ou demonstram que, em provas operatórias,
atitudes impulsivas, justamente por uma crianças hiperativas apresentam uma ten-
dificuldade em antever suas consequên- dência em emitir julgamentos e respostas
cias. Portanto, acreditamos que o próprio típicos do período pré-operatório de de-
campo de pesquisas sobre o TDAH aponta senvolvimento, no qual ainda não estão
a necessidade de uma investigação mais construídos aspectos importantes para o
detalhada a respeito do desenvolvimen- desenvolvimento da inteligência opera-
to das crianças diagnosticadas com este tória, como a conservação, interiorização
transtorno. A partir da teoria de Jean da ação em pensamento, flexibilidade
Piaget, temos um referencial teórico que mental e reversibilidade. Os sintomas de
permite realizar pesquisas sobre o TDAH impulsividade podem ser compreendidos
à luz da Psicologia do Desenvolvimento. de forma mais detalhada diante desses
A teoria piagetiana procura responder a indícios de defasagens no desenvolvi-
questão de como é possível a construção mento. Para que a criança consiga “pen-
de conhecimento. Por meio de um pro- sar antes de agir”, é necessário que ela
cesso dialético de interação e adaptação consiga coordenar os eventos passados,
ao mundo, os indivíduos desenvolvem- à luz dos acontecimentos presentes, para
-se progressivamente, em seus aspectos tomar uma decisão acertada, prevendo
cognitivos, afetivos e morais. Embora Pia- as consequências futuras. Para Piaget, a
get não tenha estudado especificamente construção da noção de tempo é o aspec-
crianças diagnosticadas com algum tipo to necessário para a coordenação desses
de transtorno, suas contribuições podem eventos, e, em consequência, para a pos-
ser aplicáveis a este campo de pesquisa, sibilidade do estabelecimento das rela-
já que, na teoria piagetiana temos como ções causais. Portanto, o tempo, para este
foco o sujeito epistêmico e suas ações autor, é compreendido como uma noção
no mundo. Assim, as particularidades e o cognitiva, estruturante do real e organi-
contexto social não são descartados, mas zadora das experiências do indivíduo. O
procura-se entender as regularidades e tempo pode ser apreendido de maneira
semelhanças dos processos de desenvol- objetiva ou subjetiva, e, a respeito dessa
vimento em diferentes contextos. Com questão, Piaget distingue o tempo físico,
base na teoria piagetiana, temos como que se refere à duração métrica do tem-
objetivo realizar reflexões que contribu- po, e o tempo vivido, que seria a duração
am para uma maior compreensão sobre psicológica do tempo, ou seja, a sensa-
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ção dos sujeitos em relação à passagem esta construção teórica com dados de
do tempo. Serão apresentados dados de pesquisa em andamento, que busca rea-
pesquisa realizada com 62 crianças, que lizar intervenções em crianças com TDAH
investigou as noções temporais em crian- a partir de jogos e situações problema.
ças com TDAH, e os possíveis efeitos das Assim, esperamos que tais pesquisas e
medicações psicoestimulantes utilizadas apontamentos teóricos possam contribuir
para o tratamento do transtorno no de- para um melhor entendimento de crian-
senvolvimento das noções operatórias. ças TDAH, e contribuir para a elaboração
Crianças com TDAH tenderam a apresen- de estratégias de intervenção no campo
tar dificuldades em mensurar intervalos da Psicologia e da Educação.
de tempo, e demonstraram, em suas res-
postas às perguntas feitas na aplicação Palavras-chave: desenvolvimento atípico;
das provas piagetianas, uma noção tem- TDAH; teoria piagetiana.
poral não dissociada da noção de espaço. Contato: Camila Tarif Ferreira Folquitto.
Em relação ao uso do metilfenidato na Instituto de Psicologia da Universidade de São
amostra clínica, não foi observada dife- Paulo
rença entre o desempenho de crianças E-mail: ctarif@usp.br
com TDAH medicadas e não medicadas.
Portanto, por meio destas pesquisas po-
demos pensar que crianças com TDAH LT01-969 – A MEDIAÇÃO AFETIVA NO
possuem sintomas que as impedem de PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO
focar a atenção em estímulos importan- ALUNO COM TRANSTORNO GLOBAL DO
tes; em decorrência disso, as trocas com DESENVOLVIMENTO - TGD – UM ESTUDO
o meio, que possibilitam construções cog- DE CASO
nitivas essenciais, ficariam prejudicadas, Érika Goulart Araújo - UAB/UnB
acarretando um atraso no desenvolvi- erikagoulart@hotmail.com
mento, na apreensão de noções abstra- Geane de Jesus Silva - UAB/UnB
ídas das relações dos objetos do mundo enaeg@hotmail.com
físico. A partir desses resultados, realiza-
remos uma discussão teórica a respeito O estudo levanta uma inquietação cientí-
da interação entre os procedimentos, fico-pedagógica e constitui-se num estu-
isto é, as ações pontuais que os sujeitos do de caso evidenciado no contexto de
realizam para atingir determinado fim, e uma escola pública do Distrito Federal na
as estruturas, que dizem respeito ao con- perspectiva de uma criança do sexo femi-
junto das implicações necessárias para a nino diagnosticada com Transtorno Glo-
realização das ações, que são atemporais bal do Desenvolvimento – TGD portado-
e interiorizadas. Refletir sobre as relações ra de Autismo atípico, matriculada no 2°
entre o par procedimentos/estruturas Ano do Ensino Fundamental. A pesquisa
nos permite pensar a respeito da qualida- teve como principal problemática: enten-
de das ações e procedimentos de crianças der até que ponto a mediação afetiva no
com TDAH, sobre o que “sabem fazer” e contexto escolar pode contribuir com o
o quanto elas “compreendem as razões” processo de inclusão educacional de um
destes procedimentos. Exemplificaremos aluno com TGD. Para isso, como objetivo
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do Programa de Educação Precoce, tam- vel, por que o preconceito ainda não está
bém tendo participado do mesmo Pro- cristalizado, e as crianças que convivem
grama em Centro de Ensino Especial. A com a diferença na escola tendem a ser
condição definida para esta participação mais compreensivas com a diversidade. A
foi que todos estivessem envolvidos com criança em situação de necessidade espe-
o programa, direta ou indiretamente. As cial, inserida na escola desde cedo e que
entrevistas foram realizadas por meio de faz parte do alunado, aos poucos vai con-
procedimentos similares e pautadas por quistando seu espaço, interagindo com
referenciais teóricos e pressupostos me- funcionários e outras crianças, com os
todológicos comuns. Os três instrumen- próprios colegas em sala de aula e partici-
tos foram idealizados para entrevistas pando das atividades coletivas da escola.
semiestruturadas, sendo que o primeiro Outro aspecto trazido nas entrevistas foi
era destinado ao gestor da instituição que o impacto na percepção dos pais ao leva-
já atuava na escola antes do Programa de rem seus filhos para serem atendidos no
Educação Precoce se iniciar lá. O segundo Programa de Educação Precoce e se depa-
instrumento era aplicado em professores rarem com crianças, jovens e adultos nos
e coordenador do Programa. O terceiro, Centros de Ensino Especial que apresen-
destinado à entrevista com a família da tam um desenvolvimento muito aquém
criança. Buscamos, com isto, valorizar o do esperado, podendo comprometer a
ambiente natural, bem como o significa- frequência da criança no Programa de-
do que as pessoas participantes deram vido ao preconceito, o que pode levar a
e dão à inclusão e à educação. O estudo própria criança a não se desenvolver de
foi realizado em uma escola de Educação forma adequada. Outro aspecto trazido
Infantil localizada em uma Região Admi- nas entrevistas foi relativo à dificuldade
nistrativa de Brasília, no Distrito Federal. no processo de inclusão como as barrei-
As entrevistas foram transcritas em sua ras arquitetônicas, falta de monitor, res-
integridade e foram considerados temas peito à estratégia de matrícula, a qualifi-
recorrentes para a definição das catego- cação profissional, a resistência e a acei-
rias utilizadas para análise. Os entrevista- tação do profissional com a criança com
dos trouxeram, em suas verbalizações, a necessidades especiais. Apesar de tudo,
importância do processo de inclusão e as- foi relatado que com o Programa em fun-
pectos que favorecem o desenvolvimento cionamento na escola comum os profes-
infantil dentro da escola comum, além dis- sores estão mais sensíveis ao processo de
to, salientaram a importância da presença inclusão. Também é reconhecida, pelos
de outras crianças no processo de desen- participantes deste estudo, a importân-
volvimento das crianças em situação de cia do Programa para o desenvolvimento
necessidade especial, como referências das crianças com necessidades especiais
uma para as outras. Segundo eles, esse e sua futura inclusão na rede pública de
processo é uma via de mão dupla, pois as ensino regular. Os trabalhos desenvolvi-
crianças (com ou sem necessidades espe- dos nos Programas de Educação Precoce,
ciais) aprendem com as diferenças. Ainda tanto nos Centros quanto em escolas re-
para os participantes, é importante que gulares, objetivam a inclusão. No entanto,
este processo ocorra o mais cedo possí- através dos relatos, foi possível concluir
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dora. Viu-se como essencial proporcionar (1994) postulam que a brincadeira parece
às agentes um momento de reflexão e ser importante para diversos aspectos do
conhecimento sobre as diferenças entre desenvolvimento, e essas vivências lúdi-
a Tradicional e a Integradora, bem como, cas são necessárias para que a criança se
a relevância de se ter clareza dos concei- desenvolva normalmente. Como as agen-
tos de cada abordagem e seguir cons- tes estão constantemente em contato
cientemente uma teoria escolhida. Pois, com as crianças, principalmente nos mo-
segundo Almeida (2002), ao oportunizar- mentos das brincadeiras, é imprescindível
-se uma formação de qualidade aos pro- que elas compreendam a importância do
fissionais de Educação Infantil, estaremos momento lúdico para o desenvolvimen-
subsidiando-lhes na construção de suas to da criança e, com isso, possam pro-
práticas, proporcionando-lhes consciên- porcionar-lhes um ambiente agradável e
cia das opções teórico-práticas que fazem criativo. Na atividade com as professoras
e, assim, podendo oportunizar que se li- foram realizados encontros grupais e in-
bertem das amarras impostas pelas inse- dividuais. O encontro grupal foi realizado
guranças originárias do desconhecimento mensalmente no turno vespertino, com
de seu objeto de trabalho – a infância. grupo fixo, na sala dos professores. Para
No segundo encontro foram trabalha- a realização do primeiro encontro foi
dos os objetivos da Educação Infantil: o abordado as diferenças entre duas abor-
cuidar e educar. O cuidado e a educação dagens em Aprendizagem: a Tradicional e
são indissociáveis, pois a instituição deve a Integradora. Já para os demais encon-
promover práticas de educação e cuida- tros os temas foram definidos tendo-se
dos, que possibilitem a integração entre como base os encontros individuais com
os aspectos físicos, emocionais, afetivos, as professoras. Os encontros individuais
cognitivos/lingüísticos e sociais da crian- foram realizados semanalmente, tanto no
ça, entendendo que ela é um ser com- período da manhã como no da tarde, com
pleto e indivisível. Já no terceiro encon- duração de aproximadamente uma hora,
tro o tema proposto para discussão foi o sendo que os horários dos encontros fo-
desenvolvimento infantil. Darezzo (2004) ram combinados com as próprias profes-
afirma que algumas informações sobre o soras. Tanto com os encontros individuais
desenvolvimento infantil, as fases que ca- e grupais pode-se perceber a abertura
racterizam seu desenvolvimento em ter- das professoras para novos conhecimen-
mos de habilidades, limites e descober- tos e discussão das dificuldades enfrenta-
tas, ajudam muito o adulto nas decisões das em sala de aula, foi discutido sobre
frente a problemas que surgem no dia a a construção de propostas pedagógicas
dia. Portanto, pode-se dizer que o conhe- e curriculares, que espelhe as conquistas
cimento sobre o desenvolvimento infantil e saberes já existentes nestas práticas, e
permite realizar aconselhamento de pais também sejam capaz de vislumbrar en-
e formação de programas educacionais caminhamentos futuros. O trabalho do
mais eficazes. Por último, no quarto en- professor de educação infantil exige a
contro, foram levados para o debate três mobilização de muitos conhecimentos
conceitos da educação infantil: o brincar, para cuidar e educar as crianças, interagir
a brincadeira e o brinquedo. Sylva e Lunt com as famílias e lidar com as exigências
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mento bem abaixo do esperado para seu ao passo que, em situações aversivas, em
nível de desenvolvimento, escolaridade e que consideram não ter capacidade para
capacidade intelectual. O transtorno de desenvolver as atividades, não apresen-
aprendizagem pode ser suspeitado em tam gosto, nem real interesse, apenas re-
um aluno que apresente uma inteligência alizam-nas, pois lhe é solicitado (Dell’agli;
normal, habilidades motoras e sensoriais Caetano; Castanho, 2009). Quando um
de acordo com o esperado, bom ajuste estudante experimenta situações de difi-
emocional e um nível socioeconômico e culdades de aprendizagem, o sentimento
cultural mínimo (Rotta; Ohweiler; Riesgo, é de fracasso, pois, por não obter êxito
2006). As dificuldades de aprendizagem nas atividades escolares, sente-se inca-
são de difícil solução já que são de cau- paz, gerando sentimentos de frustração
sa multifatorial. Dell’Agli, Caetano e Cas- e comportamentos disfuncionais, entre
tanho (2009) sugerem que a chave para outros (Carneiro; Martinelli; Sisto, 2003).
estudarmos uma solução estaria em unir A criança que apresenta dificuldades de
os aspectos cognitivos aos afetivos, pois, aprendizagem, então, encontra-se diante
segundo elas, não podem ser avaliados de um problema de circularidade causal,
separadamente. A afetividade pode ace- quando sua baixa crença de autoeficácia
lerar ou retardar a aprendizagem, pois é a deixa menos motivada e atenta às ati-
considerada o combustível, a motivação vidades acadêmicas, gerando de fato um
para aprender, sendo a inteligência, a mau desempenho e, assim, confirmando
estrutura, a organização. Portanto, para sua ideia de que não é capaz. Há uma for-
aprender o sujeito necessita de uma es- te relação entre o desenvolvimento inte-
trutura de inteligência, mas ainda de lectual e as crenças autorreferenciadas.
um motor que a impulsione, sendo esta Apenas ter habilidades cognitivas, por-
a afetividade (Dell’agli; Caetano; Casta- tanto não explica um sucesso ou fracasso
nho, 2009). Outros estudos também têm escolar. Assim, profissionais da educação
apontado a relação entre afetividade e precisam buscar desenvolver, além dos
inteligência. Alunos que apresentam um conteúdos de cada disciplina, autoper-
alto senso de autoeficácia são capazes de cepções de capacidade positivas (Souza;
realizar atividades utilizando mais estra- Brito, 2008). Este estudo buscou avaliar a
tégias cognitivas e metacognitivas, persis- percepção de autoeficácia de alunos com
tindo por mais tempo do que os alunos dificuldades de aprendizagem e de alunos
com baixa percepção de autoeficácia sem dificuldades de aprendizagem. Para
(Medeiros et al. 2003). Já os alunos que tanto, utilizou-se o Roteiro para a avalia-
apresentam um rendimento escolar fraco ção da autoeficácia (Medeiros; Lourei-
e atribuem isso à incompetência pessoal ro,1999 apud Medeiros et al., 2000) em
distanciam-se das atividades intelectuais, 38 alunos, sendo 19 alunos com dificulda-
demonstrando problemas emocionais e des de aprendizagem e 19 alunos sem di-
comportamentos internalizados (Roeser; ficuldades de aprendizagem. Objetivou-se
Eccles, 2000 apud stevanato et al. 2003). investigar se há relação entre a percepção
Quando os estudantes pensam serem de autoeficácia e dificuldades de apren-
capazes de realizar a tarefa, vivenciam o dizagem, através da comparação entre
momento como prazeroso e interessante, os dois grupos de alunos. Encontrou-se
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considera as crianças como eixo da inves- jeitos que dela participam e o pesquisador
tigação sociológica, com vistas não ape- se definem ao mesmo tempo como obje-
nas à produção de conhecimento sobre a to de investigação, à medida que se tem
infância, mas sobretudo à compreensão como foco a produção discursiva que se
da sociedade em seu conjunto (Sarmen- processa nesse contexto, e como postu-
to, 2005). Nesta pesquisa, constituem- ra metodológica, haja vista a intervenção
-se como parâmetros de análise tanto os que se efetiva na deflagração dessa produ-
discursos dos adultos (professores) sobre ção discursiva. Nessa dupla dimensão da
a infância vivida pelas crianças hoje (seus pesquisa, os sujeitos que dela participam
alunos) quanto os discursos das próprias não são apenas informantes de dados a
crianças sobre as experiências que reve- serem traduzidos pelo texto analítico do
lam e assumem como legítimas de suas in- pesquisador, posto que constroem conhe-
fâncias. Trata-se, portanto, de analisar as cimentos e refletem sobre suas próprias
tensões entre os modos como os adultos concepções, valores e práticas. Para que
atribuem sentidos à infância vivida pelas as relações entre as crianças e os profes-
crianças nos dias atuais e os modos como sores não sejam capturadas pelas amarras
elas próprias definem as experiências que institucionais da escola, o locus da pesqui-
marcam seu tempo de vida. Nesse diálogo sa é o Laboratório Especial de Ludicidade
de temporalidades e valores, destacam-se (Brinquedoteca) do Campus de Rondo-
os discursos que historicamente atraves- nópolis da Universidade Federal de Mato
sam o conceito de infância e se materia- Grosso. Trata-se de um Laboratório que
lizam em valores para os adultos e aque- funciona, desde 2008, como um programa
les que se apresentam como referências de extensão e tem oferecido atendimento
simbólicas às crianças para a constituição a instituições de Educação Infantil da rede
de experiências próprias de seu tempo de pública municipal de Rondonópolis, situ-
vida. Este estudo, em particular, como um adas nas imediações do Campus. Como
dos subprojetos da pesquisa abordada, as turmas de crianças que frequentam a
enfatiza as experiências da infância con- Brinquedoteca estão sempre acompanha-
temporânea sob a ótica dos professores. das por seus professores, é válido afirmar
Seus objetivos consistem em analisar os que esse espaço oferece condições favo-
sentidos que os professores atribuem às ráveis para que ambos os sujeitos possam
suas experiências de infância e àquelas compartilhar suas experiências, tendo
vividas pelas crianças hoje e compreen- como mediação o brincar. Atualmente,
der, nas interlocuções entre professores e a Brinquedoteca tem atendido três ins-
crianças, os contrapontos em relação aos tituições com o perfil acima descrito. Os
sentidos que atribuem à infância. Além sujeitos participantes desta pesquisa são:
disso, busca-se delimitar como eixo teó- as crianças, de 5 a 6 anos, de três turmas
rico-metodológico a alteridade presente do 2º agrupamento da Educação Infantil,
nessa produção discursiva, uma vez que a sendo duas de uma escola e uma de outra;
criança se apresenta como o outro situa- e os professores responsáveis por essas
do no passado do adulto (Bakhtin, 1992). turmas. Como estratégia metodológica,
Trata-se de uma pesquisa-intervenção, em temos a realização de grupos de discus-
que as relações estabelecidas entre os su- são com as crianças e os professores, or-
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imagens e discursos sobre a infância, so- infância; o que uma criança pode ou não
bretudo aqueles que, produzidos no cam- saber/fazer. Busca-se, com esta pesquisa,
po da psicologia do desenvolvimento, vão desconstruir, tanto teoricamente quanto
ganhar corpo no pensamento e na prática metodologicamente, a idéia de uma infân-
pedagógica, sem a confrontação com os cia apartada da vida, das experiências e
modos como as crianças concretas vivem das culturas produzidas pelas crianças, no
e significam suas próprias experiências. A sentido de redimensioná-la como um tem-
pesquisa, em sua abordagem metodoló- po da vida humana cujo valor e significado
gica, define-se como uma pesquisa-inter- não se efetivam prospectivamente, mas se
venção, na qual as relações estabelecidas configuram no próprio exercício de vivê-lo.
com as crianças são, ao mesmo tempo, Assim, objetiva-se identificar nos discur-
foco de análise e uma postura diante da sos das crianças as experiências que elas
realidade investigada, posto que são ins- próprias assumem como legítimas de seu
tauradas situações desencadeadoras dos tempo de vida. Nas oficinas desenvolvidas,
discursos em torno do objeto em questão até então, observou-se que as crianças,
– a infância. Desse modo, as crianças não diante de figuras de objetos e imagens,
são apenas informantes de dados, mas se que, em grande parte, poderiam ser consi-
apresentam como sujeitos que constroem deradas como próprias do universo adulto,
conhecimentos e refletem sobre suas pró- as definem, na maioria das vezes, como
prias concepções, valores e experiências pertencentes tanto à infância quanto à
no processo de pesquisa. O locus da pes- vida adulta, quando instigadas a situá-las
quisa é o Laboratório Especial de Ludicida- como “coisas” de crianças, de adultos ou
de (Brinquedoteca) do Campus de Rondo- dos dois. Estamos diante de um estreita-
nópolis da Universidade Federal de Mato mento das fronteiras entre esses mundos.
Grosso, que tem oferecido, desde 2008, na Cada vez mais, torna-se evidente a parti-
condição de programa de extensão, aten- cipação das crianças em situações sociais
dimento a instituições de Educação Infantil antes não acessíveis a elas, construindo
da rede pública municipal de Rondonópo- experiências e conhecimentos não previ-
lis, Mato Grosso, situadas nas imediações síveis em décadas passadas. Diante disto,
do Campus. Atualmente, participam da perguntamo-nos: que implicações éticas
Brinquedoteca três escolas municipais de e educativas esse novo mapeamento da
Educação Infantil, que atendem crianças infância em sua relação com a vida adulta
na faixa etária de 4 a 6 anos. Entretanto, nos traz? Como estabelecer, no campo da
da pesquisa participam apenas três turmas educação, um diálogo entre as gerações
de 2º agrupamento, com crianças de 5 a marcado pelo reconhecimento do outro,
6 anos, sendo duas de uma escola e uma ao mesmo tempo, como singular e legíti-
de outra. Consistem em estratégias meto- mo? Estas são questões que mobilizam a
dológicas a observação participante das pesquisa que aqui se apresenta.
brincadeiras e das interações das crianças
no contexto da Brinquedoteca e a realiza- Palavras-chave: infância, contemporaneidade,
ção de oficinas, como espaços de discus- relações intergeracionais
são sobre questões como: o que significa Contato: Rayssa Karla Dourado Porto, UFMT/
ser criança; o que é ou não próprio da Rondonópolis, rayssa90@gmail.com
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des vividas pelos mesmos, afim de elaborar não envolvem apenas o professor, mas, a
um planejamento e um programa de inter- família, a criança e toda a comunidade es-
venção acertada. O docente deve, também, colar. Por isso, a interação entre essas par-
saber utilizar a comunicação assertiva; dar tes é de extrema importância, uma vez que
ordens de modo cortês, mas com firmeza e ela reflete diretamente no fracasso ou su-
sempre olhar para a criança antes de emitir cesso escolar do educando.
uma frase ou advertência. Além disso, ele
deve ser democrático, compreensivo, ami- Palavras-chave: Transtorno de Déficit de
go e empático. É importante, portanto, que Atenção e Hiperatividade; Professor; Trabalho
o professor desenvolva recursos de ensino Pedagógico.
para descobrir o estilo de aprendizagem de Contato: Helen Tatiana dos Santos-Lima;
cada sujeito, de modo que possa favorecer FACITEC/ SEEDF; helen.tatiana@hotmail.com
um desempenho escolar mais satisfató-
rio. Sabendo disso, este estudo se propôs
a identificar a forma pela qual o professor LT04-1480 - FOTOGRAFIA E FAZ DE CONTA
trabalha com os alunos que tenham esse Aline do Carmo Oliveira - IESB
transtorno. Para isso, foi realizada uma alinecarmo1@yahoo.com.br
pesquisa qualitativa, por meio de entrevis- Emanuelle Mendes das Chagas - IESB
tas com 3 professoras dos anos iniciais do psicoeste@gmail.com
Ensino Fundamental de uma escola da rede Alice Araujo Costa - IESB
pública de ensino do DF. Os resultados da psicoeste@gmail.com
pesquisa evidenciaram que as professoras Rafael dos Reis Braga - IESB
identificam a necessidade do desenvolvi- psicoeste@gmail.com
mento de estratégias pedagógicas específi- Anaí Haeser Peña - IESB/UnB
cas para com o aluno com TDAH para que anai.hp@gmail.com
haja uma aprendizagem favorecida. Pode-
-se pensar que, na dinâmica pedagógica, Muitas vezes conhecida como uma das
tais concepções são colocadas em prática, formas mais comuns do comportamento
pois elas relatam que sua ação é norteada humano, especialmente durante a infância,
pelo trabalho diversificado, em que usam a brincadeira marca a vida de muitas crian-
recursos diferentes para promover a apren- ças em diferentes sociedades, constituindo
dizagem deste aluno, imagens, movimen- uma prática cultural típica dessas crianças.
tos, histórias, brinquedos lúdicos, músicas Criatividade e espontaneidade casam-se
e jogos. Entretanto, elas denunciam as di- na brincadeira, ao mesmo tempo em que
ficuldades encontradas para trabalhar com regras sociais e morais são exercitadas e
esse aluno, dentre as quais citam a falta de testadas e aprendizagens são construídas.
apoio da instituição escolar, o pouco recur- Segundo Siaulys (2005), a brincadeira per-
so didático disponível e o grande número mite à criança vivenciar o lúdico e desco-
de alunos em sala. Assim, pode-se concluir brir a si própria, pois nessa atividade ela
que ensinar a criança com esse transtorno apreende a realidade ao mesmo tempo em
pode ser uma tarefa difícil se as posturas que se desenvolve. Dito de outra maneira,
e medidas necessárias não forem tomadas. através do brincar a criança se humaniza,
Entretanto, entende-se que estas medidas no sentido de constituir uma forma de
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responda a uma psicologia geral, uma ci- participação ativa de um sujeito concreto
ência de amplitude e reunião dos conhe- que produz. Nessa perspectiva de subje-
cimentos fragmentados. Uma teoria que tividade cultural-histórica a motivação
conjuga a epistemologia e a metodologia não vai estar na atividade, nem na tarefa
necessárias à integração lógica do fazer proposta, muito menos no professor e na
ciência em psicologia. Com González Rey sua simpatia. A motivação está no sujeito
temos uma maneira interessante de en- que aprende e a aprendizagem acontece
tender a aprendizagem, e também o de- quando o conteúdo passa a fazer sentido
senvolvimento, pois ambos passam a ser para o sujeito, implicando nisso também a
concebidos como processos subjetivos. sua emocionalidade. Para a teoria da sub-
Não exclusivamente cognitivo, não uma jetividade existe uma integração complexa
simples interiorização, mas de produção entre o sentir, o pensar e o agir; e existe o
de sentidos subjetivos que reconfiguram a sujeito. Os atos mecânicos de memoriza-
subjetividade da pessoa. Ou seja, o apren- ção não significam aprendizagem, ou seja,
diz irá aprender na medida em que pro- aprender é um processo subjetivo com-
duzir novos sentidos, que são unidades plexo que passa por um sujeito concreto e
subjetivas formadas pela total integração todo e qualquer processo de massificação
entre o simbólico e o emocional. A per- do ensino anularia esse sujeito e sua ca-
sonalidade, entendida como uma confi- pacidade singular de aprender. O próprio
guração de configurações subjetivas, se conceito de desenvolvimento ganha ou-
transforma no processo de aprendizagem tro caráter ao conjugar não só o "andar
e, com isso, aquele que entrou na sala para frente" na aprendizagem e também
de aula será diferente daquele que sair. o "adquirir conhecimentos", mas também
Esse entendimento do humano e de seu as contradições, os processos cíclicos e as
desenvolvimento explica a aprendizagem ambiguidades inerentes ao complexo sen-
como um processo complexo que implica tido da subjetividade humana.
a subjetividade individual da pessoa, seja
criança ou adulto; a sua subjetividade so- Palavras-chave: subjetividade,
cial, pois essa pessoa está subjetivamente desenvolvimento, aprendizagem, sujeito.
imersa no tempo e no espaço e seu con-
texto histórico e social são relevantes;
implica também a tensão entre sua emo- A PRODUÇÃO SUBJETIVA DA VIOLENCIA
cionalidade e sua racionalidade, onde a NAS ESCOLAS
aprendizagem se dá nas contradições e Vannuzia Leal Andrade Peres - PUC/Goiás
não só nas linearidades e nas transmis- vannuzia@terra.com.br
sões diretas de informação; e também na
produção do sujeito, pois, para González Já não é mais novidade que a violência
Rey esse processo acarreta a produção de nas escolas é um fenômeno mundial. Para
sentidos subjetivos e as reconfigurações isso é só observar as notícias veiculadas
subjetivas e não exclusivamente a inte- nos meios de comunicação de massa,
riorização de algo externo e alheio. Para especialmente a televisão. O problema
a teoria da subjetividade não existe de- é que pouco se sabe, de fato, como essa
senvolvimento e aprendizagem sem uma violência tem sido constituída na com-
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de aula. Pode-se dizer que, com base na cas que atendam à diversidade da sala de
Psicologia Histórico-Cultural da subjeti- aula quanto na educação para uma con-
vidade de González Rey buscaram fazer vivência pacífica e respeitosa entre eles.
uma leitura das realidades das escolas
e desenvolver ações compatíveis com a Palavras-chave: subjetividade, escola,
proposta de uma psicologia escolar/edu- violência
cacional que visa à aprendizagem e ao
desenvolvimento humano, considerando
a diversidade desses processos em cada A CRIATIVIDADE INFANTIL NA
sujeito concreto. A realização das ações PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL DA
interativas os ajudaram a compreender: SUBJETIVIDADE
1) que a diversidade não é um empecilho Geisa Nunes de Souza Mozzer - PUC/Goiás
para o desenvolvimento do cenário da geisamozzer@hotmail.com
sala de aula, mas a sua riqueza; 2) que o
diálogo deve ser uma prática cotidiana da Esta pesquisa teve como objetivo central
sala de aula para que alunos e professo- buscar compreender como se expressa a
res desenvolvam uma reflexão sobre suas criatividade nas crianças na Educação In-
histórias e necessidades; 3) que as práti- fantil, privilegiando a atividade de ouvir
cas pedagógicas devem atender à diver- e contar histórias, entre crianças de 3 a 6
sidade do processo de aprendizagem e à anos de idade. Para tanto, é apresentado
necessidade de desenvolvimento da ima- um breve levantamento bibliográfico sobre
ginação criativa e da inventividade, ora o conceito de criatividade e criatividade in-
relegadas a segundo plano na maioria das fantil abordando como esses temas estão
escolas, o que torna invisíveis as crianças sendo discutidos na literatura especializa-
e os adolescentes concretos; 4) que a pro- da. Durante a comunicação da pesquisa,
dução subjetiva, possibilitada pelo exercí- buscou-se responder as seguintes ques-
cio da imaginação criativa, ajuda a supe- tões: Por que estudar criatividade? Como
rar as barreiras das condições objetivas ela se expressa? Como a criatividade é
das relações entre professores e alunos, concebida à luz da teoria Histórico-Cultural
tais como o mau humor, a impaciência, da Subjetividade? Com quais recursos sub-
a falta de atenção e a indiferença. Com- jetivos/personológicos a criatividade das
preenderam, ainda, a necessidade que há crianças está relacionada? Quais as maio-
das crianças e adolescentes poderem ex- res barreiras para o seu desenvolvimento?
pressar a realidade social das escolas, nas Como a criatividade se relaciona com a
suas relações com a realidade social mais Literatura Infantil nesta fase inicial da vida
ampla, mediadas por suas emoções mui- da criança? Buscou-se também analisar os
tas vezes contraditórias. Afinal, pudemos, elementos contextuais que podem interfe-
todos nós, vivenciar o desafio da psico- rir na expressão da criatividade das crian-
logia histórico-cultural da subjetividade, ças na Educação Infantil, sempre privile-
isto é, de buscar ultrapassar o pensamen- giando a atividade de conto, reconto, cria-
to da causalidade clássica e considerar ção e interpretação de histórias, a partir
a subjetividade de alunos e professores, da Teoria Histórico-Cultural da Psicologia,
tanto na realização de práticas pedagógi- inaugurada por Lev Vigotski (1896-1937), e
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ação dos diversos participantes desse pro- mento humano. De acordo com Moreira
cesso. Consideramos que seus resultados (apud Dessen & Weber, 2009), tanto a
representaram uma importante contribui- família como a escola podem trazer situ-
ção para a organização do trabalho peda- ações que incentivem o crescimento da
gógico da escola e da sala de aula, uma vez criança, como também podem contribuir
que possibilitaram um exercício reflexivo para o desencadeamento de situações
sobre a prática educacional inclusiva, tan- adversas que podem prejudicar a crian-
to para os pesquisadores em formação ça no seu desempenho educacional. Esse
como para os contextos educacionais nos trabalho pretendeu, portanto, compre-
quais as pesquisas foram desenvolvidas. ender atitudes positivas para a inclusão
nos dois sentidos, ou seja, da família e da
escola. Na visão de Bronfenbrenner, famí-
A INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS lia e escola são microssistemas, entendi-
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS dos como contextos de maior influência
ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E para o desenvolvimento de uma criança
SUAS FAMÍLIAS (apud Dessen & Silva, 2004). A família é
Albenira Alves Rodrigues Soeira - SEE/DF o primeiro local de convivência de uma
nirasoeira@gmail.com criança e deveria ser o maior incentivador
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB de quebra de preconceitos, em se tra-
rmirian@unb.br tando da criança com necessidades edu-
cacionais especiais. Já o papel da escola
O contexto atual em que vivemos, na é o de incluir e criar estratégias para o
sociedade, incentiva o movimento de in- crescimento dessa criança. Aranha (apud
clusão. Esse movimento parte da idéia de Barbosa, Rosini & Pereira, 2007) ressalta
que gozamos dos mesmos direitos e que que a educação inclusiva é um projeto a
todos os cidadãos têm garantias e direitos ser construído por todos os envolvidos na
primordiais para a sua vida, como: saúde, comunidade escolar, e que só terá êxito
educação, segurança, trabalho, previdên- quando as atitudes em relação à inclusão
cia social e lazer (Brasil, 1988). A inclusão escolar forem positivas. Ao se falar de fa-
deve partir da inserção do indivíduo na mília, escola e pessoa com necessidades
sociedade e da garantia de seus direitos. especiais ou com deficiência, tem-se em
De acordo com Madeira Coelho (apud Kel- mente as palavras diversidade, respeito
man, 2010), a inclusão é um termo inte- e igualdade de oportunidades. De acor-
ressante, e serve de bandeira globalizada do com Glat e Duque (2003), o papel dos
para os grupos ditos minoritários e margi- profissionais é fundamental para mini-
nalizados da sociedade. No tocante a edu- mizar os sentimentos de superproteção
cação, o dever do Estado de proporcionar ou segregação e promover orientações
o direito à educação encontra-se em seu e esclarecimentos sobre as capacidades
artigo 205: "Educação direito de todos e do filho com necessidades especiais, bem
dever do Estado" (Brasil, 1988). Bronfen- como provocar um olhar dos pais sobre si
brenner (1996 apud Kelman, 2010) afirma mesmos. Ainda com Glat (2004) uma vez
que a família e a instituição escolar são orientados e sensibilizados para a nova
ambientes que promovem o desenvolvi- situação, os pais podem influenciar, posi-
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não tivermos mente aberta para aceitar e dizagem; sendo a escola um ambiente
incentivar não somente o aluno NEE, mas que reúne diversidade de conhecimen-
todo o excluído. tos, atividades, regras e valores, permea-
dos por conflitos, problemas e diferenças
Palavras-chave: inclusão, necessidades (Mahoney apud Dessen & Polonia, 2007),
educacionais especiais, relação família-escola ela se transforma em espaço privilegiado
de desenvolvimento. Ressaltando a im-
portância da educação na diversidade,
PROGRAMA DE ATENDIMENTO cabe à escola criar meios que superem
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO as dificuldades, assegurem o desenvolvi-
COMPLEMENTAR mento e promovam ações que conduzam
Ana Ester Soares Oliveira - SEE/DF a atividades que transcendam a educação
anahadassa@hotmail.com informativa. O estímulo a atividades des-
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB portivas, recreativas e culturais aproxima
rmirian@unb.br os diferentes, rompendo com as barreiras
do monoculturalismo (Kelman, 2009). A
Atualmente, o grande desafio da educação Secretaria de Educação Especial, por meio
tem sido o de promover o desenvolvimen- dos seus programas e ações, apresenta
to da aprendizagem, onde a diversidade possibilidades para viabilizar o processo
constitui um traço marcante no contexto inclusivo e apoiar os sistemas de ensino
escolar. Diante desta realidade, diversas com programas de formação continuada
ações são sugeridas, a fim de contemplar de professores na educação especial, pro-
as peculiaridades do processo de aprendi- grama de implantação de salas de recursos
zagem dos alunos com necessidades edu- multifuncionais e demais programas que
cativas especiais. A Secretaria de Estado buscam implementar a educação inclusiva
de Educação do Distrito Federal, a partir e o direito à diversidade. Segundo o De-
das Diretrizes Pedagógicas, disponibiliza creto nº 6571/2008, entende-se por aten-
atendimentos educacionais especializados dimento educacional especializado todo
complementares, aos alunos inclusos em o conjunto de recursos de acessibilidade
escolas regulares, a fim de complementar e pedagógicos organizados institucional-
o processo de desenvolvimento da apren- mente, ofertados de forma complementar
dizagem. Hoje, atendimentos como: Edu- ou suplementar à formação dos alunos no
cação Física adaptada, Artes, Informática ensino regular. Este documento enfatiza,
adaptada, Jardinagem e Argila são reali- ainda, a importância da transversalidade
zados pela SEE-DF, em centros de ensino das ações do ensino especial no ensino re-
especial, com caráter complementar, no gular, no intuito de viabilizar e consolidar
horário contrário ao de aula. O Programa o processo inclusivo. Diante destas con-
de Atendimento Educacional Especializado cepções, as diretrizes pedagógicas do DF
Complementar visa contemplar as particu- contemplam o processo inclusivo, ao apre-
laridades e necessidades dos alunos e au- sentarem orientações para a realização do
xiliar no processo inclusivo. A diversidade atendimento educacional especializado na
de conhecimentos é elemento propulsor perspectiva inclusiva. Dentre os programas
do desenvolvimento humano e da apren- apresentados, o Programa de Atendimen-
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que vivemos construindo uma sociedade A proposta apresentada é parte das dis-
melhor? Ansiamos por educadores que cussões e reflexões realizadas no Núcleo
sejam capazes de desencadear ações que de Estudos da Infância: Pesquisa & Exten-
tornem os seres humanos melhores, que são (NEI:P&E) e na Linha de Pesquisa In-
pensem no outro e no futuro do planeta, e fância, Juventude e Educação do Progra-
que utilizem, para isso, criatividade, dispo- ma de Pós-Graduação em Educação, da
sição e, como falou o diretor, sentimento. Universidade do Estado do Rio de Janei-
Acredita-se que este estudo possa ofere- ro (ProPEd/UERJ). Com foco nas Políticas
cer importantes contribuições quanto à Públicas busca estabelecer um trabalho
inclusão escolar de qualidade e propor- profícuo de parceria com a Secretaria Mu-
cionar, aos professores, oportunidade de nicipal de Educação da Cidade do Rio de
reflexão quanto a sua prática pedagógica, Janeiro (SME/RJ), onde a pesquisa Agente
com um novo olhar e uma nova postura, Auxiliar de Creche: Educadores da Infância
em relação à educação inclusiva. Carioca é desenvolvida. Visa, entre outros
objetivos, apoiar a implementação das
Palavras-chave: inclusão/avaliação/ políticas públicas do governo municipal
adequações curriculares, relação família- na formação em serviço dos agentes au-
escola, formação de professores xiliares de creche, aprovados no concurso
Contato: Mirian Barbosa Tavares Raposo, UnB, público realizado em 2007 (Edital nº1 de
rmirian@unb.br 04/08/2007) e dos Professores de Educa-
ção Infantil (Edital nº 91, de 25 de outu-
bro de 2010). A pesquisa está situada nas
áreas de Educação Infantil e Desenvolvi-
SP LT04 - Simpósio mento Humano e visa influenciar na pro-
dução de discussões sobre as questões de
desenvolvimento e formação de subjetivi-
SP LT04 1293 PSICOLOGIA DO
dade de crianças (0 a 42 meses) e adultos
DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS
(educadores da infância e familiares), num
PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO
ambiente educacional específico (creche).
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Articula temas de pesquisa, valorizan-
Vera Maria Ramos de Vasconcellos - ProPEd/ do a produção nacional da Psicologia do
UERJ Desenvolvimento em interlocução com a
vasconcellos.vera@gmail.com Educação da Infância. Este Simpósio apre-
Fátima Veról Rocha - SME/RJ sentará quatro pesquisas interrelaciona-
fverol@globo.com das, são elas: (i) Formação de Educadores
Maciel Cristiano da Silva - ProPEd/UERJ e de Creche: Compartilhando Experiências;
SEMED/NI (ii) Infância & Inclusão: Olhares sobre as
mcs.pesq@yahoo.it Práticas Pedagógicas e o Desenvolvimento
Flávia Maria Cabral de Almeida - ProPEd/ Humano; (iii) Diálogo entre Família e Edu-
UERJ cadores de Creche; e (iv) De um Concurso
psi.flaviamaria@yahoo.com.br a Outro: a trajetória de um município na
Marcia Gil - ProPEd e SME/RJ Construção de Identidade do Educador
marciagil@globo.com Infantil.
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adotamos como procedimentos metodoló- rais e gestuais não eram consideradas for-
gicos: observações com registro e entrevis- ma de linguagem valida para que houvesse
tas semiestruturadas, com a mãe adotiva13 processo comunicativo. O Dr Itard compre-
do menino e cinco educadores. As entrevis- endia tais manifestações como primitivas
tas aconteceram no decorrer das ativida- e, portanto, um obstáculo ao aprendizado
des de acompanhamento e observação da da verdadeira linguagem: a fala. Sobre essa
criança na creche. Nas análises dos escritos relação Banks-Leite & Souza(2001) escla-
de Itard, percebemos que o médico tinha recem que o fato do jovem Victor usar a
por propósito desenvolver os sentidos de linguagem da ação e através dela ser en-
seu jovem pupilo, dando grande importân- tendido, evidencia que o convívio social
cia aos aspectos sensoriais. A prática desse não lhe era estranho. Como bem é desta-
médico era baseadas na concepção filosó- cado pelas autoras o gesto de apontar só
fica empirista de Condillac (1715-1780), na é entendido como tal, como efeito de um
qual o sujeito era entendido como despro- ato de interpretação por outrem. Passan-
vido de experiência. Dr. Itard intencionava do agora à descrição das observações das
moldar e controlar o comportamento de cenas cotidianas do menino na creche (Es-
seu aprendiz a partir de estímulos senso- tudo de Caso), destacamos a presença de
riais e uso de recompensas e punições. No alguns indícios de interação social que para
que tange ao desenvolvimento de Victor, seus educadores, de forma similar ao mé-
deve-se considerar que enquanto vivera dico-educador Itard, não eram valorizadas.
isolado nas Florestas de Avyeron, não pre- O menino observado mantinha-se, muitas
cisara de nenhum recurso de comunicação vezes, próximo de outras crianças e adul-
humana para satisfazer suas necessidades tos, independente de estar numa atividade
fisiológicas, dependia tão somente de sua de relacionamento com elas. Nos relatos
astúcia física na superação dos obstáculos dos educadores é enfatizado um peculiar
da natureza. Em sua nova fase de vida, Vic- interesse da criança por água, assim como
tor necessitava de da mediação de sujeitos os relatados pelo médico-educador, sobre
sociais para o mundo que lhe era apresen- o menino de Avyeron. No trabalho com
tado. Somente imerso num contexto hu- os educadores buscamos valorizar o que a
mano, poderia atribuir sentido e sentir ne- criança conseguia apresentar. Por exemplo,
cessidade do uso da fala oral. Vale destacar constatamos que seu relacionamento com
que mesmo com um universo interpessoal outros sujeitos ocorria em forma de gestos,
restrito e pela necessidade de comunica- ou seja, a partir do que os outros conse-
ção com os outros sujeitos, Victor desen- guiam perceber na ação dele. Tal fato era
volve o que é chamado de “linguagem da muitas vezes interpretada como agressão.
ação”, constituída de gestos e mímicas Verificamos também que a participação do
(Banks-Leite & Souza, 2001). Tais recursos menino nas atividades da creche era redu-
de comunicação que foram apropriados zida propositalmente pelos educadores,
pelo menino eram ignorados por seu tutor pois solicitavam que o menino chegasse
que só objetivava o desenvolvimento da um pouco mais tarde e saísse sempre antes
fala. Para o médico, as linguagens corpo- das demais crianças. Esta decisão prejudi-
cava a participação da criança em foco nas
13
A biológica faleceu durante o parto. atividades pedagógicas orientadas, ou seja,
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DE UM CONCURSO A OUTRO A 14
No ano de 2005, o poder executivo do município do Rio de
TRAJETÓRIA DE UM MUNICÍPIO NA Janeiro, através da Lei 3985 de 08 de abril, criou a catego-
ria funcional de “Agente Auxiliar de Creche”, que passou
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO a integrar o Quadro de Pessoal de Apoio à Educação. O
EDUCADOR INFANTIL ingresso ao cargo, deu-se através de concurso público re-
alizado em 2007, constituído de provas e provas de títulos,
Márcia de Oliveira Gomes Gil - PROPED/UERJ sendo exigido a formação mínima em nível fundamental
marciagil@globo.com e carga horária de 40 horas semanais. A seleção ocorreu
regionalmente, isto é, pelas Coordenadorias Regionais de
Daniele Vieira de Azevedo - FE/NEIPE/UERJ Educação (CRE).
daniele.vieiraazevedo@ig.com.br 15
Projeto de de lei nº 701/2010, cria no quadro permanente
do poder executivo do Município do Rio de Janeiro a cate-
goria funcional de professor de Educação Infantil.
16
RESUMO Coordenadoria Regional de Educação – a cidade do Rio de
Janeiro está divididas em 10 Coordenadorias
O presente artigo apresenta um breve his- 17
Em desacordo com a LDBEN 9394/96, que no seu artigo 62
tórico da trajetória de organização do cor- define “a formação mínima para o exercício do magistério
na educação infantil [...] é o nível médio, na modalidade
po docente e de apoio que atuam junto à normal”.
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oferta de 1424 vagas regulares e 76 para no; um professor regente articulador, tam-
pessoas com deficiências). A chegada dos bém professor da rede; cozinheiro ou me-
agentes auxiliares de creche às instituições rendeira; lactaristas, para as creches com
buscava substituir o recreador - profissio- berçário; auxiliar de serviços gerais e recre-
nal contratado junto às Organizações da adores. Estes últimos, mesmo depois de
Sociedade Civil (OSC)18. Também trouxe al- 2008, com a chegada dos agentes auxilia-
guns questionamentos pertinentes à nos- res de creche dependendo da localização
sa discussão. Para começar, as funções dos da unidade, permaneceram nas creches
agentes auxiliares de creche são descritas até junho de 2011. A Professor(a) Regente
no edital do concurso e envolvem ações Articulador(a) tem a responsabilidade de
pedagógicas19, tais como: disponibilizar e coordenar o trabalho pedagógico de toda
preparar os materiais pedagógicos a se- a creche.. Assim, os fazeres cotidianos jun-
rem utilizados nas atividades; auxiliar nas to às crianças ficam centrados no recrea-
atividades de recuperação da autoestima, dor/agente auxiliar de creche ou seja, em
dos valores e da afetividade; observar as profissional sem formação específica para
alterações físicas e de comportamento, de- tal função. Enfatizamos a importância de
sestimulando a agressividade; estimular a uma formação anterior àqueles que se
independência, educar e reeducar quanto dedicam ao trabalho educativo, sem des-
aos hábitos alimentares, bem como con- considerar a formação que ocorre no co-
trolar a ingestão de líquidos e alimentos tidiano das ações. Segundo Vasconcellos
variados. Ainda de acordo com o edital e (2001) a formação de professores e outros
pela própria nomeclatura do cargo, estava profissionais para o trabalho nas institui-
descrito com função esse profissional atu- ções de educação infantil só são possíveis
ar em apoio pedagógico a um professor. pela construção coletiva e reconstrução
Participar da execução das rotinas diárias, pessoal de sentidos, significados e valores
de acordo com a orientação técnica do referentes a uma filosofia de educação in-
educador; Colaborar e assistir permanen- fantil para todas as crianças, independente
temente o educador no processo de desen- de raça, religião ou etnia.(p.?) As questões
volvimento das atividades técnico-peda- apontadas acima contrariam diretamente
gógicas; Receber e acatar criteriosamente a legislação, e parecem demonstrar um
a orientação e as recomendações do edu- caráter de precariedade no atendimento
cador no trato e atendimento à clientela. oferecido às crianças. Com a posse de uma
Na realidade, não havia um educador para nova gestão na Cidade, algumas mudanças
cada grupamento. Um olhar mais aten- tiveram curso, e estão sendo analisadas
to ao documento20 que ainda norteava o nesta pesquisa. Dentre elas está a criação
funcionamento dessas instituições, aponta do cargo de Professor de Educação Infan-
que a estrutura técnico-administrativa da til, com realização de concurso público em
creche conta com: um diretor, professor ou 2010. Desta vez, o edital exigiu a formação
especialista de educação da rede de ensi- mínima Normal Médio (na modalidade
normal), Normal Superior ou Pedagogia
18
Resolução SME nº 816/2004
(com Licenciatura Plena, com habilitação
19
Edital conjunto SME/SMA nº8 de 24 de julho de 2007 para docência na Educação Infantil e anos
20
Resolução SME nº 816/2004 iniciais do Ensino Fundamental ou especí-
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membros da família, bem como a respon- & Meireles, 2005). As informações coleta-
sabilidade de gerenciar os cuidados com das na avaliação foram analisadas quanti-
a criança doente em um ambiente hostil, tativa e qualitativamente, de acordo com
no qual a tomada de decisão sobre esses as normas dos instrumentos. Em relação
cuidados está centrada em pessoas até aos comportamentos apresentados pelas
então desconhecidas (Weisz, McCabe crianças durante a hospitalização, obtidos
& Dennig, 1994). Assim, uma vez que o a partir do AEH, verificou-se o predomí-
comportamento da criança pode afetar nio de comportamentos facilitadores (M
o modo como ela lida com a hospitaliza- = 1,93) sobre os comportamentos não-
ção, interferindo no curso da recupera- -facilitadores (M = 0,77). A análise por
ção, e que o contexto adverso associado tipo de comportamento destaca a média
à hospitalização é suficiente para gerar maior dos comportamentos: assistir TV e
reações de stress e sofrimento, exigindo a tomar remédio. Os comportamentos que
necessidade de enfrentamento da situa- apresentaram menor média foram buscar
ção para a eliminação ou minimização do informações e cantar. Entre os compor-
estressor; este estudo buscou investigar tamentos não-facilitadores, verificou-se
as estratégias de enfrentamento de crian- uma pontuação média maior na prancha
ças hospitalizadas e de seus cuidadores, pensar em milagre e desanimar. Escon-
bem como verificar a presença de proble- der não foi referido por nenhuma crian-
mas de comportamento entre as crianças ça como um comportamento emitido no
estudadas. Para tanto, realizou-se um hospital. A pontuação média superior no
estudo descritivo, de corte transversal, comportamento de assistir TV pode ser
com 15 crianças: 7 meninos e 8 meni- justificada pelo fato de ser o único recur-
nas, com idades entre 6 anos e 3 meses so de distração disponível para a criança
a 12 anos e 11 meses (média de 9 anos durante a internação, mostrando a rele-
e 5 meses), internadas em hospital pú- vância de ações institucionais que pro-
blico de Vila Velha/ES, que responderam movam o brincar nesse contexto. Quando
ao Instrumento de Avaliação do Enfren- se analisam as justificativas das crianças
tamento da Hospitalização (AEH) (Motta para suas respostas, a fim de obter a es-
& Enumo, 2004, 2010), que fornece infor- tratégia de enfrentamento que está sen-
mações sobre os comportamentos duran- do relatada, foi verificada uma proporção
te a hospitalização e permite verificar as maior da estratégia de distração (40,5%),
estratégias de enfrentamento da hospi- seguida da estratégia de ruminação
talização, a partir do relato das crianças; (31,1%), busca por suporte (25,7%) e so-
e ao Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 lução do problema (20,3%). A estratégia
anos) (Achenbach & Rescorla, 2004), que que apresentou menor proporção foi re-
avalia a competência social e problemas gulação da emoção (1,3%). A estratégia
de comportamento anteriores à hospita- de distração tem sido predominante em
lização. Para a análise do enfrentamento outros estudos com crianças hospitaliza-
dos familiares, 15 cuidadores - sendo a das por doenças crônicas, como o câncer,
maioria mães - responderam à Escala Mo- mas a freqüência da estratégia de rumi-
dos de Enfrentamento (EMEP) (Faria & nação é um indicador da necessidade da
Seidl, 2006; Seidl, Rossi, Viana, Meneses inclusão do psicólogo na equipe de saúde,
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que levavam sempre a criança para con- interferir (7), bater (3) e não dar atenção
sultas com médico, fisioterapeuta e ou- (2). Observou-se que em G1 houve maior
tras especialidades que fossem necessá- frequência de comportamentos pouco
rias. Costumavam, também, estar muito assertivos, ligados, sobretudo, a ajudar a
presentes na vida dessas crianças, dando criança por achá-la frágil (5), tentar dis-
carinho e apoio, fatores que elas acredita- trair a criança (4) e não interferir, mesmo
vam ser fundamentais para o desenvolvi- nervoso (3). Diante dos resultados obti-
mento de seus filhos. Uma pequena parte dos, é possível concluir que as mães de
das mães (20%) acreditava que a PT-BP crianças PT e BP acreditam que esses fato-
influenciava o desenvolvimento de seus res podem não afetar o desenvolvimento
filhos, mas, todas concordavam que a es- da criança, a partir do momento em que
timulação era essencial. Todas as mães elas se disponibilizam ao cuidado. Sugere-
falaram sobre a importância de sua aju- -se que o sentimento de culpa frente ao
da no desenvolvimento da criança; essa nascimento de risco, porventura, expe-
ajuda foi traduzida, em 72,5% das mães, rimentado pelas mães e demais familia-
em cuidados com a saúde, como acom- res, pode contribuir para a manutenção
panhamento com profissionais de saúde, de repertório comportamental que con-
boa alimentação, uso de remédios e vita- temple a superproteção, como forma de
minas; dar atenção, carinho e cuidar foi compensar a vulnerabilidade apresenta-
relatado por 62,5% das mães; e realiza- da pelos filhos e o desconforto frente aos
ção de atividades lúdicas, por 37,5% das problemas apresentados. G1 apresentou
mães. Foram relatadas outras atividades discurso relacionado à superproteção e
com baixos índices, tais como levar para ao cuidado não assertivo, e teve maior
escola e creche, com 15%, e também pra- frequência de crianças com problemas
ticar natação, com 7,5%. Com relação às comportamentais externalizantes. Os
atividades que realizavam juntos, as mais dados presentes confirmam a literatura
citadas foram: passeio no parque ou pra- quanto à vulnerabilidade de crianças nas-
cinha, visita aos parentes e atividades cidas PT-BP para a manifestação de pro-
realizadas em casa, tais como brincar. Ve- blemas comportamentais, sobretudo, os
rificou-se que, enquanto a frequência de de padrão externalizante, e a presença de
menção às visitas a parentes diminuiu de cuidados familiares pouco assertivos, in-
G1 a G3, a menção de atividades lúdicas dicando a necessidade de apoio aos pais,
e de lazer aumentou. De acordo com as com treinamento de habilidades ligadas à
mães, os pais tiveram um papel secundá- estimulação dos filhos.
rio no cuidado dos filhos, desenvolvendo
atividades voltadas à vigilância e às ativi- Palavras-chave: risco ao desenvolvimento,
dades lúdicas. Na perspectiva das mães, prematuridade, avaliação do
os familiares costumavam lidar com as desenvolvimento
dificuldades externalizantes, demons- Contato: Schwanny Roberta Costa
trando os seguintes comportamentos, em Rambalducci Mofati Vicente, Universidade
ordem decrescente de frequência: tentar Federal do Espírito Santo,
distrair a criança (11), ajudar a criança schwannyv@hotmail.com
por achá-la frágil (9), mesmo irritado, não
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so, a maioria afirmou ter “gostado muito da inteligência dos surdos é uma ativida-
do grupo” (n= 31) e 27 mães também con- de muitas vezes relevante para decidir
sideraram que o grupo “ajudou muito” a quanto ao encaminhamento e/ou planos
enfrentar a internação do bebê na UTIN. de intervenção para a efetividade dos
Os sentimentos e percepções maternas processos inclusivos. As escalas Wechsler
acerca da participação no grupo indicam de inteligência, em suas diversas edições,
uma avaliação positiva da proposta de in- são amplamente utilizadas na avaliação
tervenção psicológica adotada, capaz de de crianças e adolescentes, estimando a
promover estratégias mais adequadas de capacidade intelectual geral em função
enfrentamento da hospitalização do bebê, dos domínios das habilidades verbais e
a partir do conhecimento adquirido, bem não-verbais. Encontram-se vários estudos
como do suporte psicossocial e da troca que utilizam estas escalas também com
de experiências que o grupo proporcionou surdos, administrando, principalmente,
às mães. o conjunto de subtestes não-verbais, os
quais não exigem respostas que envolvam
Palavras-chave: grupo de mães, estratégias de a linguagem oral do examinando. Devido
enfrentamento, prematuridade e baixo peso ao atraso no desenvolvimento da
Contato: Cristiane Tonnensen Rocha, linguagem, os surdos, geralmente, têm
Universidade Federal do Rio de Janeiro, desvantagens nos subtestes verbais. As
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com aplicações costumam ser administradas
de maneira informal (gestualização), oral
(leitura labial) e mesmo, no caso de utili-
zar a Língua de Sinais, não há referências
CO 17 - LT02 de estudos de adaptação. Os resultados
Surdez apontam para escores médios na escala
não-verbal e médios inferiores a limítrofes
na escala verbal. Além de problemas rela-
LT02-1382 - COGNIÇÃO E LINGUAGEM cionados à falta de adaptação do instru-
DOS SURDOS: UM ESTUDO mento, outros fatores podem justificar o
EXPLORATÓRIO COM BASE NO TESTE baixo desempenho dos surdos nos subtes-
WISC-III tes verbais das escalas Wechsler. Segundo
Tharso Meyer - UCPel-RS a literatura, as oportunidades limitadas de
tharso.psico@gmail.com ouvir informações e a falta do reforço au-
Vera Figueiredo - UCPel-RS ditivo prejudicam a aquisição e o aumento
verafig@terra.com.br do vocabulário dos surdos. A limitação em
compreender conceitos científicos pode
Considerando o número cada vez maior estar associada à ausência de algumas
de surdos inseridos na comunidade aca- aprendizagens do cotidiano, previamente
dêmica/escolar, surge uma demanda de adquiridas. A dificuldade ao acesso a uma
profissionais especializados, metodolo- língua que seja oferecida de forma natural
gias e instrumentos adequados para aten- pode levar a criança surda a um tipo de
der às necessidades dessa população com pensamento mais concreto. Os pais de 90
características tão específicas. A avaliação a 95% dos surdos são ouvintes, a maioria
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dois argumentos diferentes nos itens que como uma deficiência que deve ser repa-
exigem duas respostas, sugerindo pensa- rada. Esta perspectiva está referida a um
mento mais concreto e dificuldade para conceito fixo de normalidade. É uma ten-
expressar as ideias. No subteste Dígitos, dência, neste modelo, atribuir-se ao sur-
o examinando deve repetir uma série de do desvantagens maturativas, sejam elas
números, sinalizados pelo examinador. de origem neurológica ou psicológica. Na
Identificou-se dificuldade sequencial vi- psicologia, a concepção clínico-terapêuti-
sual e limitações na memória imediata. ca foi dominante especialmente entre os
No subteste Aritmética que exige cálculos anos 50 e 60, dando origem à Psicologia da
a partir da sinalização do examinador de Surdez, que atribuía ao surdo dificuldades
problemas matemáticos, os participan- de ordens motora, intelectual e compor-
tes evidenciaram dificuldade de executar tamental. (Bisol, Simioni & Sperb, 2008;
cálculo mental, e déficit de atenção. O de- Solé, 2005). Em oposição a esta corrente,
sempenho nos subtestes verbais, que en- surge o modelo socioantropológico, que
volve domínio e aprendizagem da língua e se desenvolve em interface com os Estu-
raciocínio teórico-reflexivo, demonstrou dos Culturais, as antropologias de grupos
pouca qualidade na elaboração das res- minoritários, políticas de educação, polí-
postas. Pode-se concluir que, apesar das ticas identitárias, entre outros. Este con-
limitações em algumas habilidades cogni- junto de estudos é denominado Estudos
tivas dos surdos e restrições na comuni- Surdos. Ele parte de uma compreensão da
cação familiar, a falta de recursos léxicos surdez como diferença, cultural e lingüís-
da própria Língua de Sinais e a estrutura tica, e propõe a construção de saberes e
inapropriada dos subtestes verbais dificul- práticas que considerem as particularida-
tam o processo de avaliação deste grupo des da aquisição da linguagem e constru-
clínico, por meio do teste WISC-III sem um ção do conhecimento pelos surdos como
processo de adaptação. qualitativamente diferentes dos ouvintes.
(Skliar, 2010; Bisol et al, 2008; Solé, 2005).
Um terceiro grupo de trabalhos sobre a
LT02-1448 - OS EFEITOS DO surdez pode ser identificado, ainda que
NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA não se constitua como um modelo. São
SURDA EM UMA FAMÍLIA OUVINTE – os trabalhos que se constroem a partir da
CONSIDERAÇÕES DESDE A PSICANÁLISE teoria psicanalítica. Segundo Solé (2005),
Letícia Silveira Vasconcelos - UFBA só recentemente este tema tem sido es-
www.ufba.br tudado por psicanalistas e ainda há um
Sônia Maria Rocha Sampaio - UFBA número pequeno de artigos publicados.
www.ufba.br Esses estudos devem ser considerados
como um grupo a parte, não se alinhando
Duas correntes principais e opostas sobre com nenhuma das correntes citadas ante-
a surdez são encontradas na psicologia e riormente. Em um artigo no qual analisam
nas demais áreas que se ocupam do tema. a produção da psicologia brasileira sobre
A mais antiga, vinculada a um modelo mé- a surdez, Bisol et al (2008) também situ-
dico, denominada modelo clínico-terapêu- am os estudos de concepção psicanalítica
tico, se alinha a uma concepção da surdez como um terceiro grupo. Dos 34 artigos
273
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
encontrados, seis foram identificados pe- ativando áreas corticais relevantes para a
las autoras como pertencentes ao modelo linguagem. Também Kuhl (2007) mostra
clínico-terapêutico, 24 ao socioantropo- que o uso do manhês por adultos encoraja
lógico e quatro à concepção psicanalítica. a reciprocidade nas crianças e demonstra
Desde a psicanálise, a surdez vai ser toma- que mesmo recém-nascidos preferem as
da a partir da forma como se inscreve na falas dirigidas aos bebês, ainda que não
história do sujeito e daqueles com quem sejam produzidas por suas próprias mães
vai estabelecer seus primeiros laços. Des- e mesmo que não sejam ditas em sua lín-
se modo, como afirma Solé (2005, p.35), gua materna. Os estudos sobre a aquisição
a psicanálise “não se atém à normalização da linguagem ressaltam a importância de
e não busca a cura”, mas vai se perguntar que a criança seja, desde seu nascimento,
sobre as especificidades da estruturação inserida em um ambiente lingüístico natu-
subjetiva de cada sujeito marcada pela ral, em que a língua lhe seja apresentada
surdez. Este trabalho parte da idéia de que cotidianamente. Esta compreensão se sus-
a surdez se apresenta para a teoria psica- tenta no entendimento de que a língua e a
nalítica, de cara, como um desafio, uma linguagem são adquiridas em relação com
vez que vai demandar um repensar sobre o outro e com o meio. De modo geral, os
algumas questões centrais à psicanálise, trabalhos sobre a surdez definem a língua
em especial àqueles que trabalham com de sinais como língua natural, ou língua
a psicanálise e o desenvolvimento infan- materna, dos surdos, justamente por ser
til. Porém, justamente por isso, que é na essa uma língua que o surdo pode apre-
própria psicanálise que se poderá produzir ender naturalmente. No entanto, entre
contribuições importantes sobre o tema. 90 e 95% das crianças surdas nascem em
Entre estes pontos destaca-se a centrali- famílias ouvintes, que não dominam a lín-
dade incontestável da linguagem para esta gua de sinais. Algum tempo se passa até
teoria e sua conseqüente importância para que a família possa se adaptar às neces-
a estruturação subjetiva; a importância sidades lingüísticas deste novo membro e
atribuída pela psicanálise, desde Freud, que possa escolher que caminho vai tomar
às primeiras experiências da criança com no que diz respeito à inserção de seu filho
a linguagem, mediada pelo Outro Primor- na língua. Diante do exposto perguntamos
dial; e o papel fundamental da voz mater- o que pode nos dizer a psicanálise sobre
na, e do manhês, para o enlaçamento do os efeitos do nascimento de uma criança
bebê à linguagem. Neste trabalho, busca- surda em uma família de ouvintes. Três
mos artigos empíricos de outras áreas de grupos de efeitos são analisados: os efei-
pesquisa para verificar essas idéias. Entre tos na entrada do bebê na linguagem, os
outros, Beauchemin, González-Franken- efeitos na alienação e separação entre os
berger, Trembla et al., (2010) ressaltam corpos da mãe e do bebê e os efeitos na
a importância da voz, em detrimento de apresentação do mundo ao bebê. Enten-
outros estímulos sonoros, para o córtex demos que, embora apresentados de for-
auditivo, em especial de vozes familiares. ma separada, estes são eventos essenciais
Este estudo demonstrou que bebês não ao processo de estruturação subjetiva. A
só reagem à voz materna de forma mais análise destes três eixos, a partir de arti-
ativa, como reagem de forma diferente, gos teóricos, relatos de casos e experiência
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
profissional com crianças surdas e suas fa- ser e o modo como se quer viver” (Puig,
mílias, demonstrou que a surdez, enquan- 1998, p. 26). La Taille (2006) diferencia
to ausência de percepção do estímulo moral de ética, sendo moral referente
auditivo, não impede o processo de estru- aos deveres e ética relacionada às refle-
turação subjetiva. No entanto, ela coloca xões acerca da felicidade. Nesse contex-
algumas barreiras, especialmente por con- to, é possível emergirem perguntas como
ta da diferença lingüística entre o bebê e “quem eu quero ser?” (La Taille, 2006, p.
sua família. Não é a lesão real, mas a lesão 46) e “que vida eu quero viver?” (p. 36),
fantasmática (Bergès, 1988b) que pode instigando a investigação sobre projetos
trazer efeitos mais nocivos e permanentes de vida. Para Damon (2009), o projeto de
para o sujeito surdo. Sob todos os aspec- vida, em uma perspectiva ética, é “uma
tos, ficou bastante clara a necessidade de intenção estável e generalizada de al-
um diagnóstico o mais precoce possível da cançar algo que é ao mesmo tempo sig-
surdez. Do lado estrutural, o saber sobre a nificativo para o eu e gera consequências
surdez e o poder elaborar o luto pelo filho no mundo além do eu” (p. 53). Pesquisas
idealizado é que vão dar início à constru- sobre projetos de vida em tal perspecti-
ção de um novo lugar para o bebê. Do lado va destacam a escassez de projetos de
instrumental, um acompanhamento inter- vida em que o outro comparece de forma
disciplinar poderá ajudar a família a lançar central (D'Áurea-Tardeli, 2005; La Taille
mão de diferentes possibilidades lingüísti- & Madeira, 2004; Miranda, 2007). Para
cas, ainda nos primeiros momentos de sua investigar a relação entre moralidade e
entrada na linguagem. legitimação de atos violentos, La Taille e
Madeira (2004) analisaram projetos de
Palavras-chave: surdez, psicanálise, vida de adolescentes e observaram que,
estruturação subjetiva em linhas gerais, o uso da violência não
Contato: Letícia Silveira Vasconcelos – UFBA – foi condenado moralmente pelos partici-
leticiasvasconcelos@gmail.com pantes. Os autores ressaltam que "grande
parte dos adolescentes justificam hipote-
ticamente a violência [...] e, no plano éti-
LT03-1004 - PROJETOS DE VIDA DE co, não inclui outrem como parceiro nos
UNIVERSITÁRIOS SURDOS EM UMA seus projetos de vida." (p. 30). Em sua
PERSPECTIVA ÉTICA pesquisa, D'Áurea-Tardeli (2005) verificou
que somente 29,55% dos participantes
Alline Nunes Andrade - UFES apresentaram aspirações solidárias em
lineandrade@gmail.com seus projetos de vida. Por sua vez, Miran-
Heloisa Moulin de Alencar - UFES da (2007) também considerou as justifica-
heloisamoulin@gmail.com tivas dos projetos de vida de adolescentes
Financiamento: FAPES em conectados, nos quais outras pessoas
eram incluídas como protagonistas e par-
A moral passa por desenvolvimento (Pia- ticipantes, ou desconectados, quando
get, 1932/1994; Kohlberg, 1992) e se ori- outras pessoas eram consideradas, mas
gina da indeterminação, que “obriga o ser de modo instrumentalizador. As princi-
humano a construir o modo como quer pais justificativas (66,7%) caracterizaram
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O ‘cuidado com o outro’ foi mencionado zação dos projetos de vida apresentavam
apenas pelas mulheres, principalmente justificativas do tipo autocentrado, se-
em relação ao cuidado e à educação dos guido por argumentos conectados. Esse
filhos já existentes. As justificativas das dado parece indicar a valorização que os
estratégias foram categorizadas em ‘au- participantes atribuem a si próprios, mas
tocentrado’ (n=103), ‘conectado’ (n=79) que também assinalam o lugar do outro
e ‘desconectado’ (n=45). As referências em suas aspirações, de forma conectada;
às próprias habilidades, necessidades e sendo que esta última forma foi pouco en-
características foram novamente consi- contrada noutros estudos (La Taille & Ma-
deradas pelos participantes, à frente dos deira, 2004; D’Áurea-Tardeli, 2005; Miran-
argumentos que remetem à conexão com da, 2007). Pretendemos contribuir para a
a comunidade surda, com pessoas pró- ampliação das pesquisas sobre projeto de
ximas e com a sociedade. Argumentos vida em Psicologia da Moralidade, tendo
desconectados foram mencionados pelos pessoas surdas como público-alvo, a res-
participantes, em especial a desconexão peito de quem existem poucas pesquisas
de pessoas próximas e a sociedade des- realizadas.
conectada dos surdos. Logo, se parte das
estratégias eram conectadas devido ao Palavras-chave: surdos; expectativas;
desejo de criar oportunidades de desen- estratégias
volvimento aos surdos, de proporcionar Contato: Alline Nunes Andrade, UFES,
o desenvolvimento intelectual e moral lineandrade@gmail.com
dos filhos e de favorecer a inclusão pro-
piciando o relacionamento entre ouvintes
e surdos, as estratégias desconectadas LT07-1429 - SURDEZ E
sugerem o uso de pessoas próximas – HOMOSSEXUALIDADE: ASPECTOS DA
nesse caso, intérpretes e filhos -, como FORMAÇÃO IDENTITÁRIA DE SUJEITOS
meio para a realização dos seus projetos. SURDOS NO ENFRENTAMENTO DO
Outro tipo de desconexão aparece em ar- DUPLO PRECONCEITO
gumentos nos quais a sociedade está des- Fabrício Santos Dias de Abreu - FE/UnB
conectada dos surdos. Logo, o fato de as fabra201@hotmail.com
políticas de inclusão educacional serem Daniele Nunes Henrique Silva - UnB
criadas sem considerar a opinião dos sur- daninunes74@gmail.com
dos, o mercado de trabalho local não pro-
piciar a inclusão de trabalhadores surdos Aqueles considerados deficientes fogem
e os participantes não saberem como será aos padrões normatizados de desenvol-
seu futuro profissional após a formatura vimento e são concebidos culturalmente
exemplificam essa desconexão. Lembra- como sujeitos incapazes de viverem am-
mos que a indefinição do perfil profissio- plamente em sociedade. No que tange às
nal foi apontada por alguns autores (Gon- limitações sociais impostas a essas pes-
dim, 2002; Bardagi, Lassance, Paradiso, soas, a expressão da sexualidade é uma
Menezes, 2006) como aspecto negativo temática não problematizada; um lugar
da expectativa futura. Constatamos que de negação da dimensão erótica. Em ge-
as expectativas e as estratégias para reali- ral, prevalece a ideia de que as pessoas
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a ação do sujeito em favor de outro. Seu relação ao CT. Composta de nove pergun-
sentido se fundamenta em fazer surgir tas transcritas em folha de papel. Os cinco
efeito em outros, planejada, consciente ou temas mencionados anteriormente foram
inconscientemente. O Conselho Tutelar é abordados em questões abertas e os ou-
uma instituição mediadora entre as vidas tros quatro em questões fechadas. Os
da criança e do adolescente e a vida coleti- contatos nas escolas foram feitos através
va, institui, portanto, uma nova prática en- dos diretores ou coordenadores pedagó-
tre outras que podem ser consideradas no gicos. As entrevistas foram respondidas
tratamento das questões da infância. Cabe por escrito por grupos de professores. O
a seguinte pergunta: Em que medida a es- propósito inicial era realizar entrevistas in-
cola receberá a intervenção desta nova dividuais. Contudo, a rotina escolar a que
prática? Este trabalho tem como hipótese: estão submetidos os professores impediu
a cultura solidificada das instituições esco- por falta de tempo de responder individu-
lares torna-se um empecilho para o pleno almente às entrevistas. Como alternativa
desenvolvimento das práticas sociais tute- metodológica, as perguntas foram ofereci-
lares. Professores que lecionam em esco- das transcritas e o registro dos dados foi
las da rede pública estadual e municipal de feito em uma folha de papel onde se en-
ensino fundamental e médio da zona nor- contravam registradas as nove perguntas.
te, subúrbio e periferia da cidade do Rio No primeiro contato com os professores,
de Janeiro Dez participantes são do sexo pedia-se a colaboração voluntária e infor-
masculino, idade: 28 e 52 anos e 48, do mava aos participantes sobre o objetivo e
sexo feminino, idade 23 e 60 anos. Média o tema da pesquisa. Pedia-se também que
de idade, 40 anos (DP=10,16). Exercem o assinassem um termo de consentimento
magistério em média a 15 anos (DP=9,43) informado. O anonimato e a confidenciali-
e residem no subúrbio e da zona norte des- dade dos dados obtidos eram assegurados
ta cidade. A escolaridade varia do segundo a todos. Em cada escola visitada, entrega-
grau à pós-graduação: 4 professores pos- va-se a grupos de professores a entrevista
suem apenas segundo grau, 41, superior que respondiam na presença do psicólogo,
completo e 13, pós-graduação. O nível por escrito, e devolviam a seguir. Conhe-
socioeconômico a partir do grau de esco- cimento do que é Conselho Tutelar- 62%
laridade, embora não homogêneo, pode conhecem; 38% desconhecem o conceito
ser avaliado variando entre o nível mé- de Conselho Celular. Causas de encami-
dio baixo, médio e médio alto. Entrevista nhamentos ao CT- Para 31% da amostra,
visando atender os objetivos subjacentes o CT é uma alternativa para solucionar
considerados pertinentes aos temas cen- problemas de mau comportamento esco-
trais do estudo. O instrumento foi desen- lar, esgotadas todas as possibilidades de a
volvido no sentido de obter informações escola resolver com a família. Para 29%,
dos professores sobre o conceito de con- a causa é o comportamento inadequado
selho tutelar (CT); a relação, dificuldades e na escola provocado por transtornos fa-
barreiras encontradas no relacionamento miliares Relação Conselho Tutelar versus
entre escola e o CT; os encaminhamentos, Escola - Para 28%, o relacionamento com
suas principais causas; credibilidade na o CT é ineficiente, os conselheiros des-
atuação do CT; as atitudes, crenças com preparados, omissos e desinteressados e
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negativos que podem ter. Segundo Caplan brincadeiras ofensivas e demasiadas têm
(apud Casas 1998), a prevenção primária sido protagonistas nas interações escola-
caracteriza-se por ter um enfoque comu- res e relações em geral. Diante disto, em
nitário, por ser interdisciplinar e proativa, 2010, foi iniciado o projeto “Palavras e
interconectar os diferentes aspectos da ações que machucam”, surgido da vonta-
vida (orientação bio-psicossocial), utili- de da Equipe Pedagógica e professores da
zando técnicas educativas e sociais orien- Me Ninar Creche Escola (escola particular
tadas para dotar os indivíduos de recursos situada em Niterói-RJ) de trabalhar com
ambientais e pessoais, e assim enfrenta- as crianças (dos 6 aos 10 anos) questões
rem seus problemas e promoverem con- relacionadas aos valores éticos culturais e
textos sociais justos. A prevenção primária de convivência entre as pessoas. Para to-
dirige-se a grupos que não manifestam si- mar uma ação preventiva junto às crian-
nais evidentes de enfermidade ou proble- ças sobre o tema bullying, escolhemos po-
ma social, onde só existe a consideração tencializar as interações dentro da escola,
que alguns membros possam estar em desta com a família e da criança com a
risco. Partindo da teoria de Brofenbren- comunidade, considerando os diferentes
ner, detentora de uma visão bioecológica níveis ambientais de interação. Neste caso
do desenvolvimento humano, adotamos consideramos a escola como microssis-
uma visão sistêmica onde o desenvolvi- tema para as crianças e, a relação entre
mento se dá através de forças emanadas a escola e a família como mesossistema,
por múltiplos ambientes e das relações contudo não desconsideramos a influên-
entre eles, através da interação sinérgi- cia do mesossistema e do macrossistema
ca de quatro núcleos inter-relacionados: no seu desenvolvimento. Os principal
Processo, Pessoa, Contexto e Tempo (Nar- objetivo deste projeto foi diminuir episó-
raz & Koller). Naquele o destaque é dado dios comportamentais nas crianças que
para o conceito de processos proximais, possam interferir de forma negativa o de-
que são formas particulares de interação senvolvimento e as interações entre pares
entre organismo e ambiente que operam na escola. Para isto foi preciso repensar
ao longo do tempo. Em relação a Pessoa, (equipe e crianças) atitudes e palavras di-
parte-se do princípio que suas caracterís- tas no dia-a-dia, para atingir uma melhor
ticas são tanto produtoras, quanto produ- convivência, trabalhando valores como
tos do desenvolvimento. O conceito de respeito, cooperação, entendimento,
Contexto refere-se à interação recíproca compreensão, tolerância e fraternidade.
de quatro níveis ambientais interdepen- A idéia foi promover junto à comunidade
dentes estruturados de forma concêntri- acadêmica um entendimento de questões
ca: microssistema, mesossistema, exossis- sócio-culturais pertinentes à atualidade,
tema e macrossistema. O Tempo também para que percebam que idosos, portado-
influencia o desenvolvimento humano res de necessidades especiais, diferentes
através de mudanças e continuidades. No- etnias, classes sociais, culturais e credos
tamos uma crescente desvalorização de devem ser respeitados e compreendidos
atitudes gentis e cordiais entre as crian- em suas particularidades,e assim aumen-
ças. A busca pela perfeição, competiti- tar o respeito mútuo no ambiente esco-
vidade, intolerância com as diferenças e lar. A primeira ação foi a apresentação do
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
vídeo “Palavras que machucam” (sessão pais e crianças sobre a importância da vi-
coletiva), em sequência, conversas com sita foi surpreendente, ficando evidencia-
professores e Equipe Pedagógica e ações da no cuidado que tiveram ao oferecerem
pontuais com as crianças (encontro quin- alimentos que condiziam com as limita-
zenal com a psicóloga da escola denomi- ções biofísicas dos idosos. Publicação de
nado “grupo de reflexão) e atividades em textos coletivos no Informativo Interno da
parceria com professores regentes. Outras escola. Por fim, acreditamos que houve
estratégias utilizadas foram: Leitura dos o despertar de um julgamento moral das
livros “A ovelha rosa da Dona Rosa” e “O atitudes e responsabilização em relação
colecionador de segredos”, e desenvolvi- ao respeito ao próximo, às diferenças e
mento de atividades a estes relacionados. aos seus iguais.
-Dinâmicas de grupos voltadas para o
respeito aos pares e aos demais; Elabora- Palavras-chave: prevenção primária, valores
ção de “combinados” (regras particulares sócio-culturais, bullying
para cada turma) referentes aos compor- Contato: Claudilene Francisco Pereira, Creche
tamentos; Autoavaliação individual das Escola Me Ninar, claudilenepereira1@hotmail.com
crianças; Reunião de pais promovendo
parceria no processo de conscientização
das crianças; Reunião junto à Equipe Pe- LT04-1507 - VALORES HUMANOS E
dagógica para discussão de textos sobre ATITUDES FRENTE À ESCOLA: UM
bulliyng e valores éticos e sociais; Visitas ESTUDO CORRELACIONAL
a espaços promotores de auxílio a idosos Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB
e portadores de necessidades especiais. patynfonseca@hotmail.com
É importante ressaltar que este projeto é Rildésia Silva Veloso Gouveia - UNIPÊ
uma ação preventiva que não se caracteri- rildesia.val@gmail.com
za por ter uma temporalidade determina- Deliane Macedo Farias de Sousa - UFPB
da, por isso buscamos atingir seus objeti- delianemfs@gmail.com
vos constantemente na dinâmica cotidia- Kátia Correa Vione - UFPB
na da escola. Entretanto, no seu período katiavione@gmail.com
de maior intensidade de ações, pudemos Larisse Helena Gomes Macedo Barbosa -
notar alguns resultados concretos: Iden- UFPB
tificação das atitudes e comportamentos larissehelena@hotmail.com
a serem repensados pelas crianças; Cons- Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB
cientização da equipe de professores acer- eugenia_gba@hotmail.com
ca dos resultados de suas falas e atitudes
frente às crianças; Exposição de trabalhos As pesquisas sobre as atitudes no con-
realizados pelas crianças sobre a temática texto escolar têm sido bastante diversi-
na mostra de Arte e Expressão da escola; ficadas e demonstram um novo foco de
Aumento da parceria entre as famílias e interesse na área escolar ou da educação.
a equipe pedagógica; Sucesso da visita a Por mais de vinte anos estas estiveram
Casa de Repouso Lar Esperança, onde as voltadas, predominantemente, a abor-
crianças propuseram atividades de leitura dar o desempenho acadêmico dos estu-
e ofereceram lanche. A compreensão de dantes de uma forma mais objetiva (isto
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é, notas nos exames escolares), o que os valores humanos, uma vez que estes
atendia ao interesse imediato de pensar e são entendidos como um construto que
modificar as políticas públicas de educa- influencia as atitudes e as ações humanas
ção. Entretanto, embora este tema ainda e servem como padrões avaliativos do
ocupe espaço importante na agenda da- comportamento (Gouveia, 2003). No pre-
queles que fazem a educação, aspectos sente estudo, parte-se do modelo acerca
mais subjetivos dos estudantes têm rece- dos valores proposto por Gouveia (1998,
bido cada vez mais destaque, a exemplo 2003; Gouveia & cols., 2008) que define
da satisfação do estudante com a escola, os valores como critérios de orientação
das experiências vivenciadas e das atitu- que guiam as ações do homem e expres-
des apresentadas frente ao contexto es- sam as suas necessidades básicas. Ainda
colar (Daly & Defty, 2001). Coerente com de acordo com este autor seria possível
esta linha de interesse, Willms (2003) observar seis subfunções valorativas, a
constatou, em pesquisa realizada pelo saber: interativa, normativa, suprapesso-
Programa Internacional de Assistência ao al, existência, experimentação e realiza-
Estudante, que os jovens que participa- ção. Deste modo, objetivou-se conhecer
vam mais das atividades oferecidas pela se e em que medida os valores humanos
escola parecem ter melhor relação com e as atitudes frente à escola estão relacio-
seus colegas e administradores da escola, nados.Para lograr tal objetivo, contou-se
além de apresentar um bom desempenho com uma amostra de conveniência (não
acadêmico. Por outro lado, aqueles que probabilística) composta de 291 estudan-
apresentam atitudes negativas, de desa- tes do ensino fundamental, sendo a maio-
feto com as pessoas inseridas na escola ria do sexo masculino (53%), de escolas
podem, gradualmente, vir a demonstrar públicas (53,5%) e com idades variando
comportamentos desajustados. Refor- entre 10 e 18 anos (m = 13,2; dp = 1,76).
çando este aspecto, Duarte (2004) indica Estes responderam a um livreto compos-
que a falta de envolvimento, interesse e to pelos seguintes instrumentos: Questio-
vontade por parte dos jovens refletem nário de Valores Básicos (QVB – Gouveia,
seu descompromisso total frente às ativi- 1998; 2003), Escala de Atitudes Frente
dades da escola, atuando como fator de à Escola (Cheng & Chan, 2003; Fonseca,
risco. Por outro lado, algumas pesquisas 2008), e por fim, questões demográficas
têm mostrado que as atitudes positivas (sexo, idade, tipo de escola). Inicialmente,
dos estudantes em relação à escola com- entrou-se em contato com as escolas, pro-
preendem um fator de proteção quanto curando obter a autorização para coletar
à delinqüência e ao uso de substâncias os dados. Em seguida, enviou-se o Termo
proibidas (Cheng & Chan, 2003). Deste de Consentimento Livre e Esclarecido para
modo, cogita-se que as atitudes apresen- os pais ou responsáveis assinarem, permi-
tadas pelos jovens frente à escola podem tindo a participação dos estudantes. Após
influenciar em seu engajamento na esco- essa etapa, os participantes responderam
la, bem como o seu desempenho acadê- ao instrumento individualmente, porém
mico. Mas a que fatores estariam associa- em ambiente coletivo de sala de aula, e
das essas atitudes? Um desses fatores, de em média, 30 minutos foram suficientes
acordo com Fonsêca (2008), poderiam ser para concluírem o preenchimento do
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gra, não se pautam pelo respeito mútuo ver o desenvolvimento moral dos acolhi-
e pelos laços de solidariedade, pelo con- dos. A proposta foi aceita pela instituição
trário, são relações de competição que se e encontra-se em sua etapa final no que
sobrepõem a essas relações. Suas noções diz ao trabalho de intervenção junto aos
de justiça se fundamentam no respeito à funcionários (reuniões que promova a re-
autoridade adulta e não em laços de co- flexão crítica das condutas entre adultos
operação entre iguais, de solidariedade e para com os acolhidos) e em andamen-
e respeito mútuo. Esses dados mostram to no trabalho de intervenção junto aos
que as relações que ocorrem no interior acolhidos. Podemos assim, expor os re-
da instituição (entre adultos e acolhidos sultados preliminares divididos em dois
e entre os próprios acolhidos) não esta- grupos: junto aos funcionários, e, junto
riam promovendo a autonomia moral e/ aos acolhidos. No primeiro grupo alguns
ou não estariam conseguindo alterar os funcionários já fazem reflexões críticas
efeitos das práticas educativas vivencia- a respeito de suas práticas colocando-
das com suas famílias e noutros centros -se no processo de educação moral das
educativos. Se para Piaget (1994) o de- crianças e adolescentes e nos problemas
senvolvimento da noção de justiça de um da instituição. Também apresentam inte-
indivíduo se estabelece, principalmente, resse em adquirirem novas posturas que
em função das relações estabelecidas em auxiliem no bom desempenho de seu
seu meio social, podemos afirmar que é trabalho enquanto educador, no entanto
fundamental o papel da educação moral ainda há os que não se enxergam como
motivada na autonomia e na reciprocida- tal e apresentam resistência em se colo-
de. “O alcance educativo do respeito mú- car nos problemas da instituição. Muito
tuo e dos métodos baseados na organiza- ainda devemos percorrer para a consti-
ção social espontânea das crianças entre tuição de um ambiente favorável ao de-
si é precisamente o de possibilitar-lhes senvolvimento moral, mas julgamos que
que elaborem uma disciplina, cuja neces- o principal que é a visão da necessidade
sidade é descoberta na própria ação, ao desse ambiente já tem alcançado grande
invés de ser recebida inteiramente pron- parte dos funcionários e o interesse de
ta antes que possa ser compreendida” alguns em se orientarem para estabele-
(PIAGET, 1973, p.77). Com isso, propo- cerem com as crianças e adolescentes
mos à instituição uma pesquisa de inter- uma relação de respeito mútuo. No se-
venção com o objetivo de constituir junto gundo grupo o trabalho tem sido bem
aos funcionários da casa e acolhidos um minucioso com o propósito dos acolhidos
ambiente favorável ao desenvolvimento perceberem qual o caráter que a regra
moral das crianças e adolescentes, esta- apresenta em sua convivência na institui-
belecendo em suas relações rotineiras o ção (preservar os princípios de respeito,
respeito mútuo. Assim, podemos refle- justiça, igualdade... e de sua reciprocida-
tir se um ambiente favorável à tomada de) e de perceberem que a regra em si
de consciência das regras, baseado no não é imutável, mas seguindo um princí-
princípio do respeito mútuo e na relação pio moral válido, ela pode ser modificada
de cooperação entre todos os membros e constituída pelo grupo. Para isso, traba-
dessa instituição adultos, possa promo- lhamos com brincadeiras, contos e con-
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-histórica, como bem aponta Ariès (1978), trabalho de extensão realizado em uma
e não contém, per se, todas as condições instituição de abrigamento no entorno do
que viriam a caracterizar um ambiente Distrito Federal. Esse trabalho é um proje-
saudável. As crianças quando retiradas to de extensão do Instituto de Psicologia
do seu seio familiar, ao serem abrigadas, da Universidade de Brasília, denominado
entram em contato com uma nova orga- Pintando e Bordando: desenvolvimento de
nização de espaço e tempo e passam a crianças e adolescentes em abrigos. Tem
conviver com novas pessoas, normas e por objetivo a criação de um espaço dife-
hábitos. Essas mudanças súbitas podem renciado de relações interpessoais, lazer
causar estranhamentos devido às origens, e comunicação. Utiliza-se a brincadeira
histórias, angústias e dificuldades tão di- como instrumento que favorece essas
versas de cada um. Sendo assim, reações relações, possibilitando o desenvolvimen-
vistas como de agressividade, de depres- to de recursos de personalidade como a
são e déficits podem aparecer em situa- criatividade e a autonomia. Por meio do
ções de abrigamento. No entanto, não brincar, as extensionistas criam um meio
são características inerentes das crianças, ativo de desenvolvimento afetivo e cog-
e sim expressões dos conflitos vividos. nitivo, em que transforma a criança e é
Apontamos, portanto, que a visão estáti- por ela transformado. Isso só é possível
ca desse processo apenas estigmatiza as a partir da disposição das extensionistas
crianças, impossibilitando o acolhimento em se colocarem como psicólogas em
e a ressignificação desses fenômenos. O constante atenção à escuta das demandas
presente trabalho não se propõe a quali- das crianças. Dessa forma, a brincadeira
ficar qual o melhor ambiente de desenvol- permite uma aproximação entre adultos
vimento, mas sim de propor uma reflexão e crianças e entre elas mesmas. Nesse es-
crítica dos conceitos de instituição familiar paço, a criança pode tomar a iniciativa e
e de abrigamento. Nesse sentido, visamos propor novas brincadeiras onde lhe é as-
não só descrever a situação da criança em segurado que possa colocar seus desejos,
abrigo, mas, a partir da construção de di- sendo acolhida nos limites constituintes. A
ferentes tipos de relações, oferecer possi- partir das atividades de brincadeira, cons-
bilidades de produzir novos sentidos para truímos com as crianças uma forma de se
seu desenvolvimento. Assim, o trabalho relacionar pautada no respeito, promo-
volta-se para a criança como sujeito de vendo o desenvolvimento de recursos de
direitos que se desenvolve imersa em re- personalidade que os tornem mais capa-
lações interpessoais. Estamos resgatando, zes de fazer suas próprias escolhas, lidar
portanto, uma visão de criança enquanto com contradições do cotidiano, perceber
sujeito ativo, que é construtor e constru- que existem diferentes tipos de relações
ído em um meio único e próprio. Sendo pessoais, elaborar a questão da separa-
assim, a infância é algo indeterminado, ção e do abandono entre outros. Reafir-
relativo e imprevisível (Larrosa, 2004) que mamos, portanto, a imprevisibilidade do
transforma seu meio em um constante vir sujeito que se constitui nas relações de
a ser. As considerações aqui resumidas a abrigamento, sendo impossível determi-
partir das reflexões dialógicas entre a te- nar a forma como irá ocorrer o desenvolvi-
oria e a prática são provenientes de um mento de cada criança. Sendo assim, nos-
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gumentar que o sentido de injustiça emo- crianças. Assim, serão abordadas questões
cional é um componente importante no específicas, relacionadas ao trabalho de in-
entendimento dos atos de fugir de casa. A vestigação com crianças pequenas - bebês
Profª. Normanda Araújo apresentará refle- -, considerando-as, a partir do referencial
xões acerca dos valores atribuídos por jo- da Sociologia da Infância, sujeitos sociais,
vens em situação de vulnerabilidade social portanto, que estabelecem relações com o
acerca de suas famílias a partir da pesquisa outro, grupo geracional ou não e, nessas
realizada com dois grupos de jovens. Um relações, tem um papel ativo na composi-
grupo que ainda mora com suas famílias e ção dos contextos em que estão inseridas.
que frequenta o Trabalho educativo e ou- O contexto eleito para o trabalho empírico
tro grupo que vive em situação de rua. Se- foi uma creche em Braga/Portugal e os re-
melhanças e especificidades dos contextos sultados apontaram para a importância das
familiares para os dois grupos são discuti- ações das crianças/ bebês na condução da
das. A Profª. Júlia Bucher-Maluschke apre- ação do(s) outro(s) e nas transformações
sentará a partir da pesquisa de histórias de de suas próprias ações. Aliando a perspec-
vida de jovens, filhos de pais “fora da lei”, tiva teórico-metodológica da Psicologia
como construíram e vivenciam seus valo- Sócio-Histórica às reflexões sobre as con-
res pessoais num contexto intrafamiliar e dições de exclusão/inclusão dos sujeitos
social contraditório. Esperamos suscitar sociais crianças, considerando, inclusive,
com esta mesa-redonda novos encami- aquelas que vivem em contextos onde a
nhamentos para a investigação nesta área violação de seus direitos se faz presente,
do desenvolvimento humano. a segunda exposição aborda a condição da
criança - e a persistente desconsideração
por essa condição - enquanto sujeito que
produz sentidos e significados aos aconte-
MR LT04 - Mesa Redonda cimentos de seu cotidiano, considerando
Convidada os contextos instituicionais e seus atores.
Assim, afirma a autora: “O reconheci-
mento da criança como sujeito concreto,
MR LT04-979 - REFLEXÕES TEÓRICO- inserido num contexto que ajuda a produ-
METODOLÓGICAS EM PESQUISAS COM zir e que o produz, leva a compreender a
CRIANÇAS posição desse sujeito no contexto social,
Rosângela Francischini - UFRN a situá-lo numa realidade mais ampla e a
rfranci@uol.com.br tentar apreender o processo pelo qual ele
Angela Coutinho - UFSC (sujeito) se forma. Sem esse enfoque, tem-
gi_scalabrin@hotmail.com -se uma análise parcial do problema, uma
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás espécie de ‘psicologismo’, uma abordagem
smgsousa@terra.com.br insuficiente, incapaz de dar conta do pro-
cesso de exclusão–inclusão social a que
O objetivo principal desta Mesa é apre- estão submetidos milhares de seres huma-
sentar trabalhos que se propõem a refletir nos. Portanto, é necessário compreender
sobre questões teórico-metodológicas que a realidade social como uma construção
perpassam a atividade de pesquisa com humana, e não simplesmente como um
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dado natural, pois é no processo de produ- bem como as possibilidades de diálogo en-
ção de sua realidade social que o homem tre diferentes áreas do conhecimento no
produz-se a si mesmo como ser histórico estudo de problemáticas interdisciplina-
e cultural.” A terceira exposição tem por res, como são as relacionadas às crianças
objetivo estabelecer um diálogo entre a e às suas infâncias. Para tanto, toma como
Psicologia Sócio-Histórica e a Sociologia da referência uma pesquisa de doutorado de-
Infância. A partir da constatação de que na senvolvida no âmbito de um programa de
bibliografia especializada em Sociologia da doutorado em Estudos da Criança. Trata-
Infância comparecem críticas recorrentes -se de um estudo com orientação etnográ-
à Psicologia do Desenvolvimento, princi- fica, que foi desenvolvido em um contexto
palmente, de vertente piagetiana, a autora de educação infantil do tipo creche, em
se propõe a sinalizar as possibilidades de Portugal, tendo como objetivo conhecer a
aproximação entre essas duas áreas do ação social dos bebês no contexto da cre-
conhecimento, considerando, no entanto, che e, especificamente, identificar a recor-
a Psicologia Sócio-Histórica representada rência e o modo como ocorrem tais ações
por Vygotsky, cujo desafio é pensar o de- sociais. As perguntas que orientaram o
senvolvimento do sujeito a partir do ma- estudo são: Como ocorre a ação social en-
terialismo dialético, das interinfluências tre os bebês, nas relações cotidianas no
e das transformações recíprocas sujeito- contexto da creche? Quais elementos são
-ambiente. Por seu lado, da Sociologia da constituidores de tal ação? As relações e
Infância é chamada à cena a tese da “re- as ações sociais são ideias e práticas simi-
produção interpretativa”, elaborada por lares? O que caracteriza a ação de bebês
Corsaro, que assume a capacidade e o po- na estruturação das suas experiências, no
der que as crianças têm de transformarem contexto da creche? Há uma ordem so-
os elementos de seu contexto, através das cial diferenciada para adultos e crianças,
interpretações que fazem desses elemen- no interior das instituições? Como elas
tos, sinalizando para a importância das re- são estruturadas? Quais indicativos para
lações intrageracionais. a formação das professoras de educação
infantil emergem do conhecimento da
ação social dos bebês na creche? A base
DESAFIOS METODOLÓGICOS PARA O teórico-metodológica selecionada encon-
ESTUDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DOS tra-se na interface das Ciências Humanas
BEBÊS com as Ciências Sociais, nomeadamente
Angela Coutinho - UFSC a Sociologia da Infância, numa perspec-
gi_scalabrin@hotmail.com tiva que situa a criança como ator social
e a infância como construção histórica e
Financiamento: Alβan – Programa de bolsas cultural (Ariès, 1981; James & Prout, 1990;
de alto nível da União Europeia para América Pinto & Sarmento, 1997). Dentre os pres-
Latina supostos a serem abordados está a ideia
de que a infância deve ser estudada a
Esta comunicação tem por objetivo apre- partir de si própria, considerando que as
sentar algumas reflexões sobre os desafios crianças são as melhores informantes so-
metodológicos na pesquisa com bebês, bre as questões que lhe dizem respeito.
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sua expressividade, seja nas situações de lho, lazer, violência física, sexual e/ou psi-
brincadeira, no revelar das preferências cológica – é uma tentativa de romper com
por determinados pares, assim como da a concepção dominante, que vê a criança
sua condição social enquanto menina ou como o infante, ou seja, ‘aquele que não
menino pertencente a uma determinada tem fala’, para colocá-la num lugar de
classe e estatuto social. Os bebês agem protagonista, em defesa de seu status de
socialmente, determinando a ação de ou- sujeito de direitos. O estudo da infância e
tros, modificando a sua própria ação, as- da criança objetiva, assim, desvelar o real,
sim como atuando sobre a estrutura, que subvertendo a aparente ordem natural das
embora tenha um poder interferente, não coisas, pois, compreende que a criança fala
conforma as suas ações, dada a sua capa- não apenas de seu mundo e de sua ótica
cidade enquanto agente. infantil, mas, também, do mundo adulto
e da sociedade contemporânea (Kramer,
Palavras-chave: pesquisa com bebês, 1996). E, nessa perspectiva, pretende tam-
metodologias de pesquisa, estudos sociais da bém colaborar na elaboração de políticas
infância públicas não excludentes e que vejam a
infância não como risco, mas, fundamen-
talmente, como oportunidade (Rizzini et
O ESTUDO DA INFÂNCIA COMO alii, 2000). A opção por estudar/pesquisar
REVELADOR E DESVELADOR DA a infância parte do pressuposto de que a
DIALÉTICA EXCLUSÃO–INCLUSÃO criança, na vida que vive e nas diversas
SOCIAL formas de subjetivação que produz, reve-
la e desvela o mundo e expressa a história
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás, dos homens. Assim, estuda-se a infância,
smgsousa@terra.com.br buscando captar a criticidade da criança
sobre o mundo e a do pesquisador sobre
A psicologia sócio-histórica, que tem como a relação criança–mundo. Contudo, essa
sujeito principal de investigação a criança perspectiva teórico-metodológica não é
ou o adolescente, têm produzido pesqui- ainda usual, pois, estudar a criança quase
sas que privilegiam aspectos ausentes sempre parece ao adulto interessar-se por
das investigações em outros momentos um ‘objeto’ menor. Uma prova disso é que,
históricos. Desse modo, ao voltar-se para quase sempre, as teorias sobre a infância
temas como a violência contra crianças, o estão profundamente marcadas pela óti-
abandono, a exploração sexual, o trabalho ca do ajustamento da criança à sociedade
infantil etc, essas pesquisas contribuem dos adultos, não apenas esquecendo a sua
para a construção de um campo investiga- forma específica de ver e viver o mundo,
tivo que alcança e focaliza a dimensão da mas, tentando transformá-la em adulto
exclusão–inclusão (Sawaia, 1995 e 1998) idealizado. Geralmente, não se leva em
na vivência infantil. Investigar os sentidos consideração que tal ajustamento deve
e significados que as crianças atribuem a ser o resultado de um processo histórico
diversos fenômenos da sua vivência co- e cultural e que a transmissão/assimilação
tidiana na contemporaneidade – família, cultural não se dá de uma forma comple-
convivência com os pares, escola, traba- ta, nem tampouco passiva e pacífica. Da
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foi a primeira crise enfrentada por ela. A familiar, entendida aqui, como a capaci-
família, na tentativa de adaptar-se a essa dade do grupo familiar de suportar crises
nova realidade, promoveu Eva à condição e adversidades acionando o potencial de
de filha parental. Ela, além de cuidar da reparação e superação. Dessa forma, a
mãe alcoolista, também cuidava dos seus estrutura familiar desligada pode ter difi-
irmãos, apesar de ser a filha mais nova. cultado o manejo da crise iniciada com a
Essa troca de papéis quando temporária morte do irmão e agravada pela doença
constitui a base de identificação da crian- materna, e gerado uma sobrecarga na fa-
ça com os pais e esse arranjo natural não mília nuclear, culminando no surgimento
acarreta, necessariamente, prejuízos para de um novo sintoma, o TCAP. Outras ca-
o funcionamento familiar. Mas se a paren- racterísticas identificadas similares quanto
talização tornar-se um modo habitual e ao funcionamento de sistemas com obe-
prevalente de relação, como no caso de sidade descritos na literatura foram: fron-
Eva, o filho parental é excluído do subsis- teiras internas difusas e externas rígidas;
tema fraterno e inserido no subsistema ênfase à lealdade familiar; forte ligação
parental, assumindo prematuramente entre alimentação, afetividade e pertenci-
uma considerável responsabilidade emo- mento e comunicação marcada por pouca
cional, que o obriga a desenvolver um expressão de sentimentos. Sobre o funcio-
falso-self de autonomia, independência e namento familiar de pessoas com TCAP,
autossuficiência. Esse filho fica triangula- também foi observado características rela-
do e fusionado com figuras parentais in- tadas na literatura, como vulnerabilidade
diferenciadas, transformando esse papel à obesidade e baixa coesão na família de
num aspecto de sua própria identidade. origem. Por outro lado, a pesquisa identi-
Provavelmente, a parentalização de Eva ficou aspectos da dinâmica que não foram
tenha dificultado o seu relacionamento encontrados nos estudos revisados e que
com seus irmãos, referidos por ela como podem estar relacionados com o desen-
“inimigos”, visto que sua permanência no volvimento de obesidade e TCAP: a pa-
papel parental a impediu de desenvolver rentalização do paciente com o sintoma e
uma relação de igualdade no subsistema uma comunicação familiar paradoxal. Com
fraterno. Já na fase adulta, quando Eva já base nesses resultados salientamos que a
era casada e suas filhas eram pequenas, obesidade não se limita ao indivíduo, ela
morre seu irmão mais próximo e em se- está intimamente ligada ao sistema fa-
guida sua mãe adoece gravemente. Nesse miliar e, portanto, precisa ser tratada de
momento de luto e de dificuldades finan- forma sistêmica. Se conseguirmos mudar
ceiras, Eva começa a desenvolver os sinto- o nosso olhar, do indivíduo para o con-
mas de compulsão alimentar. Nos seus re- texto, e incluir a família no tratamento da
latos refere não ter tido apoio dos irmãos obesidade e do TCAP, não como fonte de
para cuidar da mãe, o que demonstra o suporte, mas como agente primordial de
ambiente desligado de sua família de ori- mudança, possivelmente teremos melho-
gem. O desenvolvimento do TCAP parece res resultados ao longo prazo.
estar intimamente ligado a um sistema
familiar desligado. De fato, um baixo nível Palavras-chave: obesidade/TCAP; família,
de coesão familiar enfraquece a resiliência dinâmica familiar.
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cia “rica” e ativa, constatamos que o edu- educação, culminando em uma atuação
cador infantil, diretamente responsável coerente com a perspectiva que compre-
por este universo, se encontra sem espaço ende a criança como produtora de cultura.
para uma interlocução teórica-prática sis- A quarta fala será desenvolvida por uma
tematizada que o ajude a ampliar suas pos- pedagoga que compõe uma equipe de
sibilidades de intervenção neste contexto. apoio pedagógico da Educação Infantil de
Deste modo, a formação em serviço dos uma instituição privada, onde refletirá e
professores da educação infantil coloca-se explicitará as intervenções possíveis neste
em pauta na ordem da urgência, intiman- campo, delineando uma formação de pro-
do os profissionais que atuam na área da fessores que esteja voltada e comprometi-
educação a problematizarem e comparti- da com os processos de desenvolvimento
lharem suas práticas e fundamentações e aprendizagem das crianças.
teóricas. Assim, pretendemos articular
esta temática possibilitando legitimar as Palavras-chave: formação de professor,
diferentes vozes que compõem o cenário educação infantil, infância.
escolar, a saber: professores da educação PARANGOLÉS: Formação em Serviço de
infantil, pedagogo e psicólogo escolar. A Professores da Educação Infantil.
primeira fala abordará a formação em Paula Cristina Medeiros Rezende, UFU,
serviço do educador infantil, destacando lalamedeiros@netsite.com.br
a relevância da arte como ferramenta útil
no processo de ampliação dos sentidos O presente trabalho, desenvolvido a partir
sobre a atuação deste profissional no co- da experiência de uma psicóloga escolar
tidiano da educação infantil. Por meio da com um grupo de formação de educado-
metáfora do Parangolé, proposto pelo ar- res da educação infantil, inspira-se nos Pa-
tista Hélio Oiticica, pretende-se articular rangolés do artista plástico Hélio Oiticica
os recursos e as potências que o educa- quando convida o espectador a assumir
dor da infância pode desenvolver em sua um posicionamento ativo na constituição
prática diária. A segunda apresentação, da atividade criadora, abandonando o lu-
proposta por uma professora da educação gar de mero espectador. Parangolés são
infantil de uma Escola de Educação Básica, capas, estandartes, bandeiras para serem
versará sobre as perspectivas teóricas do vestidas ou carregadas pelo participante
campo da Educação e da Psicologia que de um happening. As capas são constituí-
sustentam as práticas educativas, dando das de tecidos coloridos estampados com
destaque às especificidades deste profis- palavras e imagens que aparecem com o
sional; a formação inicial e em serviço e movimento da pessoa que o carrega. Ao
as possibilidades de diálogos com a pro- vestir o parangolé o participante se consti-
posta educativa de Reggio Emilia. Em se- tui obra de arte e supera a ideia de supor-
guida, por meio das experiências de uma te para a capa. De acordo com Oiticica há
educadora infantil, também de uma Esco- uma “incorporação do corpo na obra e da
la de Educação Básica, pretende-se abor- obra no corpo”. De acordo com Salomão
dar a importância do desenvolvimento de (2003) a “relação artista-propositor com o
habilidades e competências necessárias participante que veste o parangolé não é
para instrumentalizar o profissional da a relação frontal do espectador e do espe-
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táculo, mas como que uma cumplicidade, fio condutor neste trabalho está de acor-
uma relação oblíqua e clandestina, de pei- do com a perspectiva sócio-histórica, que
xes do mesmo cardume”. A intenção do ar- considera o homem como um ser ativo,
tista é provocar o público, convidando-o a social e histórico; e a sociedade, como pro-
abandonar o lugar de espectador em atitu- dução histórica dos homens (Bock; Gon-
de meramente contemplativa e a ocupar o çalvez, Furtado, 2009). Assim, esse sujeito
lugar de participante ativo na constituição se constitui e constrói o mundo dialética
da atividade criadora, experimentado tam- e dialogicamente, não podendo ser com-
bém uma inundação sensorial vibrante no preendido independentemente de suas
corpo inteiro pela cor, tato e movimento relações e vínculos. Deste modo, adulto
rápido e improvisado. Assim, o conceito de e criança se constituem mutuamente du-
exposição de obra de arte para ser aprecia- rante a história e dentro de um contexto
da pelo público passa a ser problematizada, sócio-cultural. Juntos constroem sentidos
inserindo na questão a idéia de invenção e significados do mundo infantil e adulto,
criativa do espectador, agora participante. se opondo, contrapondo e complemen-
O objetivo da participação é oferecer ao tando; demarcando um campo de tensão
homem a possibilidade de experimentar, e confronto presente no cotidiano desses
de se descobrir na criação. A obra, como sujeitos (Prado, 2005). A criança se cons-
objeto de arte em si, não diz nada. Fica à titui e se constrói em relação com adultos,
espera do seu interlocutor para comungar jovens, idosos, não estando para vir a ser
no movimento a experiência artista. De um adulto. É um autor e ator social, um in-
acordo com Favaretto (1992) o interesse terlocutor que se relaciona com o mundo
de Oiticica, ao criar o Parangolé, não foi conversando, brincando, questionando e,
outro senão o de levar o indivíduo ao di- na medida em que realiza esse intercâm-
latamento de suas capacidades artísticas, bio, possibilita a construção de diferentes
para a descoberta de seu centro interior versões de sentido. Para Corsaro (1997),
criativo, de sua espontaneidade expressiva citado por Müller (2006), as crianças são
adormecida, condicionada ao cotidiano. responsáveis pelas suas infâncias, uma vez
A transposição das intenções de Oiticica que contribuem ativamente para a mu-
para a arena da Educação Infantil nos per- dança social e para a construção da cul-
mite refletir sobre como os educadores da tura a partir da interação com seus pares
infância tem se posicionado em relação a e com os adultos. Elas são agentes ativos
práticas educativas que legitimem os di- que constroem suas culturas e colaboram
reitos fundamentais das crianças e colabo- para a produção do mundo adulto, afetam
rem na construção de uma sociedade mais e são afetadas pela sociedade. Dahlberg,
democrática. Quais os espaços que este Moss e Pence (2003) aproximam-se desse
educador tem para dar continuidade ao pensamento à medida que apontam para
seu processo de formação que possibilite o reconhecimento de algumas caracterís-
exercer com autoria uma prática marcada ticas deste novo paradigma da infância, as
por experiências criativas, com sentidos quais são de suma importância para este
voltados para a formação da criança autô- estudo, tais como: a infância como uma
noma, também autora de suas experiên- construção social e sempre contextualiza-
cias? A visão de infância que temos como da; as crianças enquanto atores sociais que
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veria contribuir para uma ação docente professor acumulou na sua vivência pes-
que inclua, dentre outros aspectos: avaliar soal e profissional – o que é importante
cuidado e educação; planejar experiências para que ele também reconheça e valorize
diversificadas, que atendam aos vários as- o conhecimento da criança. Para desem-
pectos do desenvolvimento infantil; esta- penhar bem seu trabalho cotidiano, esse
belecer e manter uma relação cooperativa profissional precisa aprender a refletir
e amistosa com as famílias; aprender a sobre a sua prática, construindo um pro-
ser parceiro do desenvolvimento infantil, jeto educativo que leve em consideração
estimulando-o, mas não o apressando; a utilização de recursos que possam os
abordar as diferentes áreas de conheci- auxiliar na construção de uma educação
mento de maneira integrada; vincular a para a infância de maior qualidade como:
aquisição de novos conhecimentos e ha- a documentação, a avaliação, a pesquisa e
bilidades pelas crianças aos seus reais de- a observação, desde que não seja suprimi-
sejos e necessidades, promovendo uma da a importância de sensibilizar, de brin-
verdadeira aprendizagem significativa; dar car, de ler, dialogar e escutar a infância.
atenção privilegiada aos aspectos emo- Identifica-se em Dahlberg, Moss e Pence
cionais, especialmente durante o período (2003) que os desafios atuais diante da
de inserção a criança a creche ou a pré- formação do educador para a primeira in-
-escola; dar oportunidade e estímulo para fância referem-se em aceitar as limitações
a criança expressar os seus sentimentos, temporais e espaciais, de que não há con-
desenvolver a sua autonomia, ajudando- certos rápidos e nem projetos universais.
-a a desenvolver a sua identidade cultu- Mas há possibilidades de conhecimento
ral, racial e religiosa. Ao que se refere à e ações locais: o indivíduo interessado
formação inicial do educador, de crianças pode ler e refletir sobre temáticas relati-
pequenas, a autora defende que os cur- vas a sua formação e sobre a infância, bem
sos que cuidam dessa etapa da formação como outras que por ventura surgirem
deveriam repensar, sistematizar e enri- necessidades; o grupo, a equipe de uma
quecer dois conjuntos de informações, instituição, podem discutir e explorar di-
intimamente relacionados: as referentes ferentes recursos e possibilidades para o
ao desenvolvimento e a aprendizagem aperfeiçoamento da sua formação, como
infantil, focalizando a criança concreta, exemplo, a documentação pedagógica.
localizada histórica e socioculturalmente. Podendo assim aprofundar o seu entendi-
Aspectos fundamentais para que o profes- mento do trabalho pedagógico e levando
sor possa desenvolver com qualidade seu a refletir sobre as concepções que cons-
trabalho, contextualizá-lo e posicionar-se truímos sobre a criança e a infância, e nes-
diante dos problemas que a área enfren- ta discussões podemos buscar inspirações
ta, dentre eles: a constituição histórica da em trabalhos como o de Reggio Emilia, e
infância; as políticas públicas da Educação assim fortalecer uma formação docente
Infantil; a identidade profissional docente. de qualidade. Edwards, Gandini e Forman
Sobre a formação em serviço do professor (1999), a partir de suas experiências nas
as leituras indicam que a formação preci- escolas de Reggio, recomendam que os
sa ter como referência o saber docente, professores devem ter o hábito de ques-
o reconhecimento e valorização do que o tionar suas certezas, devem possuir uma
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sensibilidade imensa, devem ser conscien- compromisso que a sociedade deve assu-
tes e estar disponíveis, devem assumir um mir em relação à infância. Diante desde
estilo crítico em relação às pesquisas e quadro devemos encontrar novas formas
conhecimento continuamente atualiza- de se trabalhar com crianças, incluindo
do sobre as crianças, devem manter uma entre estas a valorização das múltiplas
avaliação enriquecida do papel dos pais, e linguagens infantis buscando o desenvol-
devem possuir habilidades para falar, ou- vimento integral das mesmas. Também
vir e aprender com. Contudo é fato que a exige um bom entendimento por parte
educação para a primeira infância é um di- do professor sobre este desenvolvimento
reito da criança. A criança não tem direito e aprendizagem das crianças, pois ofere-
apenas ao acesso a creche e/ou a pré-es- cer uma educação de qualidade demanda
cola, mas a uma experiência educativa de conhecimentos profissionais, estratégias
qualidade, que realmente seja prazerosa e cuidado únicos apropriados a infância.
e eficaz na promoção das suas múltiplas E para isso exige-se também uma boa for-
aprendizagens e desenvolvimento. Como mação do professor que atua na educação
o professor é a figura mais importante infantil, pois a qualidade do trabalho com
para a qualidade dessa experiência, é im- a criança é intrinsecamente vinculada à
prescindível que a sua formação inicial e formação e qualificação do profissional da
em serviço seja foco de atenção por parte área. Pensando em dialogar sobre estas
das políticas públicas e dos cursos de for- questões pretendo, a partir da minha ex-
mação desses profissionais. periência como educadora infantil da Es-
cola de Educação Básica da Universidade
Federal de Uberlândia, contribuir com a
DIÁLOGOS SOBRE A INFÂNCIA: reflexão sobre a formação do professor da
EXPERIÊNCIAS DE UMA EDUCADORA educação infantil, destacando a importân-
INFANTIL cia do desenvolvimento de habilidades e
Pâmela Faria Oliveira - UFU, competências necessárias para instrumen-
pamela8oliviera@hotmail.com talizar este profissional da educação para
um trabalho mais rico, prazeroso e efetivo.
Ao longo da história da infância percebe- A partir do diálogo rico entre a pedagogia e
mos uma história da marginalização que a psicologia, temos refletido e estruturado
abrange os mais diversos âmbitos, seja novas formas de compreender a infância
social, cultural ou econômico. As crianças e, por conseguinte, temos buscado expe-
precisavam viver sempre em um mundo rimentar em nosso cotidiano escolar uma
que não era o seu, que não estava feito a atuação coerente com esta perspectiva
sua medida, sendo vista como um adulto que se apresenta. Dahlberg, Moss e Pence
em miniatura. Contudo, atualmente, per- (2003) nos colocam que há muitas crianças
cebemos uma ampliação no modo como e muitas infâncias, a primeira infância é a
temos visto e interagido com a infância. base do progresso bem sucedido na vida
Inicia-se uma configuração de um mapa posterior. É o início de uma jornada de re-
de direitos da infância cada vez mais pre- alização da incompletude da infância para
ciso e comprometido com as novas teorias a condição humana plena da idade adulta.
e políticas educacionais, reafirmando o A infância deve ser entendida como uma
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construção social, elaborada para e pelas prático que nos mostra que a possibilidade
crianças, em um conjunto de relações so- de realizar um desenvolvimento e apren-
ciais, e a principal fase onde se constrói a dizagem significativos, valorizando uma
identidade infantil, portanto merece aten- prática pedagógica em sua dimensão li-
ção especial por parte dos educadores bertadora, criativa, participativa, inclusiva
que trabalham com a educação infantil. e democrática, por um processo de inte-
Faria e Mello (2005) nos mostra que hoje ração com o outro, mediado pela cultura,
temos um acervo bem denso de pesqui- uma prática pedagógica que contemple o
sas revelando infâncias diferenciadas, lúdico, a cultura, a formação humana e a
crianças curiosas e inventivas, capazes de construção de conhecimentos pela crian-
estabelecer múltiplas relações e levantar ça, são as escolas de Educação Infantil de
hipóteses de várias naturezas, derruban- Reggio Emillia. Edwards, Gandini e Forman
do por terra, portanto as concepções da (1999) referem que o respeito a coopera-
criança incompleta, incapaz, egoísta por ção, a solidariedade, a autonomia, a inclu-
natureza, assim desafiando o adulto pro- são, o direito de brincar a manifestação e
fissional da educação a trabalhar de acor- valorização da pluralidade cultural, social e
do com as múltiplas linguagens infantis. ética, ou seja a interação da criança com o
Teóricos como Vygotsky, Piaget e Wallon seu meio promove o desenvolvimento in-
também contribuem para os nossos estu- tegral da criança. Nas escolas de Reggio as
dos, trazendo uma melhor compreensão crianças são encorajadas a tomarem suas
do processo de constituição dos sujeitos, próprias decisões e a fazerem suas pró-
de seu desenvolvimento e de sua cons- prias escolhas. Os educadores exploram
trução de conhecimento. O estudo destes as múltiplas linguagens da infância, incen-
autores tem dado sustentação teórica ao tivam os relacionamentos e entendem as
trabalho do educador infantil e auxiliado crianças como promotoras do seu próprio
na compreensão do desenvolvimento in- desenvolvimento, abrindo as portas para
fantil. As contribuições destes teóricos nos as cem linguagens infantis. Charlot (2005)
fazem compreender que a aquisição de coloca que há uma grande diferença entre
conhecimento é um processo construído ensinar e formar, a idéia de ensino impli-
pelo indivíduo durante sua vida. Assim nós ca um saber a transmitir, e a idéia de for-
educadores devemos desenvolver práticas mação implica em dotar o indivíduo de
pedagógicas alinhavadas aos saberes in- competência. Assim formar o professor é
fantis, pois isto leva a situações privilegia- dotá-lo de competência que lhes permi-
das de aprendizagem infantil onde o de- tirão gerir tensões e construir mediações
senvolvimento pode alcançar níveis mais entre a teoria e a prática. Assim o autor
complexos, exatamente pela possibilidade defende uma formação de professores,
de interação entre os pares em uma situa- onde é necessário trabalhar saberes e prá-
ção imaginária e pela negociação de regras ticas em diversos níveis, e articular estas
de convivência e de conteúdos temáticos. com as lógicas de desenvolvimento da
Uma criança nunca pode perder a curiosi- criança na educação infantil. O professor
dade a respeito do mundo que a envolve, deve formar uma identidade profissional
e esse certamente há de ser um grande estruturada na sua relação com o mundo
objetivo da Educação Infantil. Um exemplo e com teorias. Edwards, Gandini e Forman
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de acordo com Del Priore (1999), foi in- um sujeito com características peculiares,
troduzido a conceituação de infância, de- ela tem o brincar como atividade central
nominada por ela puerícia - período en- no seu comportamento social, onde tan-
tre o nascimento e os 14 anos de idade, to pode vivenciar de maneira espontânea
com a qualidade de ser quente e úmida quanto como fazendo parte da rotina de
- que corresponderia à primeira idade do aprendizagem na escola, mas essencial-
homem. A infância seria dividida em três mente ela é o brincar. Essa criança expres-
momentos: 1) entre o nascimento e a ida- sa uma forma de ser que se revela pela
de de 3 a 4 anos - amamentação; 2) entre sua forma de se sentir feliz e de ser alegre
os 4 e 7 anos - a criança acompanharia os quando se relaciona. Não tem medo do
pais durante as atividades diárias; 3) dos mundo, precisa estar nesse mundo para
7 anos em diante, quando a criança ou es- viver todos os momentos o mais intensa-
tudava, ou participava de atividades pró- mente possível e por isso mesmo se re-
prias a sua idade através do aprendizado conhece na possibilidade de dizer o não,
em escolas. É importante enfatizarmos a quando o sim também existe. Então a
participação da sociedade como fator pre- subserviência do início de nossa coloniza-
ponderante para a educação infantil, bem ção tem cada vez menos impacto na vida
como para a manutenção das relações dessas crianças. O aluno da pedagogia
afetivas na e entre famílias. O simbolismo reconhece o poder que a criança tem no
de absolvição ou purificação da alma da ambiente de escola e na vida cotidiana,
criança através do batismo e, ao mesmo sem perder com isso a inocência como
tempo, o apoio da religião católica, anun- inocente que é. Para esses discentes a
ciavam um sentimento de aprovação e/ou criança não tem preocupações, mas como
responsabilidade por parte da sociedade atributo dado pela sociedade é colocado
em ajudar na criação da criança, dividindo os estudos e o aprender que estão sob o
com os pais a responsabilidade educativa seu encargo. Dessa maneira entendemos
(Del Priore, 1999). Na contemporaneida- que o professor em formação se pauta na
de de nossa época podemos conhecer criança que tem muito mais domínio da
como as idéias a respeito do que significa construção de conhecimento e não é in-
ser criança está revelada nas representa- fluenciada de maneira rápida pelo adulto.
ções sociais dos alunos da pedagogia da Existe uma construção na relação criança
Faculdade Anhanguera de Brasília, onde e adulto que interfere significativamente
81 alunos puderam participar e tiveram na aceitação ou não da criança em com-
as suas resposta analisadas pelo software preender o mundo em que ela vive.
EVOCATION 2000 (análise de evocação).
As representações do que é “ser criança” Palavras-chave: Representações Sociais,
estão solidificadas, no núcleo central da Infância, Pedagogia
seguinte maneira: alegre (7), aprender Contato: Luciana Câmara Fernandes Bareicha,
(12), brincar (58), criança (8), estudar Faculdade Anhanguera de Brasília, luciana.
(8), feliz (35), inocente (8), inocência (9), bareicha@gmail.com
medo (12), mundo (11), não (35), poder
(12), ser (89), vida (9), viver (12). A cons-
trução de ser criança é apresentada como
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cia da violência sexual são: rede de apoio obras com o abuso de álcool e outras dro-
(amizades, escola e família); atendimento gas, e o envolvimento em comportamen-
profissional (engajamento na psicotera- tos sexuais de risco. No Brasil, pesquisas
pia) e aspectos individuais (elaborações anteriores demonstraram que esses tra-
sobre a sexualidade, culpa e escolhas). balhadores tendem a apresentar uma des-
Discute-se a relação entre atendimento, valorização da sua condição profissional.
vitimização e culpa, como processo de Essas pesquisas também identificaram
afastamento das vítimas do serviço espe- problemas de autoestima e aceitação de
cializado e uma dificuldade em planejar estereótipos negativos nesta população.
tratamento continuado. Os aspectos inerentes às condições de
trabalho em grandes obras afetam tanto
Palavras-chave: exploração sexual, os trabalhadores como as empresas e as
adolescência, sexualidade comunidades onde as obras se inserem.
Este trabalho teve como objetivo apre-
sentar um levantamento sobre quem são
ASPECTOS DE RESILIÊNCIA NA e como vivem os trabalhadores de gran-
PROFISSÃO DE TRABALHADOR DE des obras em atividade no Brasil, focali-
GRANDES OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL zando aspectos de resiliência desta popu-
Diogo Araújo de Sousa - UFRGS lação frente às adversidades provenientes
diogo.a.sousa@gmail.com das condições de trabalho. Participaram
do estudo 288 trabalhadores de grandes
Trabalhadores da área de construção civil obras civis (todos homens), vivendo alo-
de grandes obras vivenciam condições de jados nas imediações de grandes constru-
trabalho que, muitas vezes, os expõem a ções, em cinco estados brasileiros: Goiás,
amplas situações de risco. Esses profis- Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina
sionais, responsáveis pela edificação e e São Paulo. A média de idade dos parti-
construção de hidrelétricas, barragens, cipantes foi de 32,78 anos (DP = 10,91),
montagens e outras grandes obras, no variando entre 18 e 64 anos. Dos entre-
Brasil, passam por períodos de emprego vistados, 51,9% eram casados ou estavam
e desemprego e levam boa parte de suas em um relacionamento estável, ao passo
vidas em alojamentos, mudando constan- que 42,9% eram solteiros. Quanto à esco-
temente de cidade, de acordo com o fluxo laridade, 37,5% dos trabalhadores cursa-
de construções pelo país, o que acarreta ram apenas o Ensino Fundamental incom-
no afastamento dos seus lares e famílias. pleto, outros 21,2% concluíram o Ensino
A alta mobilidade e os movimentos migra- Fundamental e 20,8% têm Ensino Médio
tórios são características marcantes dessa completo. A média da renda mensal fami-
profissão, bem como a falta de formação liar foi de R$ 1.497,13 (DP = R$ 1.452,59).
de redes sociais de apoio, o que os coloca Para a realização das entrevistas, os pes-
em uma situação diferenciada de vínculos quisadores inseriram-se no ambiente de
frágeis com as diferentes comunidades pesquisa (alojamentos de grandes obras
em que se inserem ao longo da vida. Es- no país), a fim de estabelecer uma relação
tudos internacionais relacionaram o estilo de maior proximidade com os participan-
de trabalho em construções de grandes tes. Os participantes foram entrevistados
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meu. Na C2, durante uma roda de histó- titutivo dos sujeitos, de suas identidades
ria, a menina repete seu ponto de vista (o por meio da preservação e afirmação do
anjinho sobe na serra) e o menino insis- eu. Estes movimentos de preservação e
te no seu (o anjinho sobe nas nuvens). A afirmação vão ocorrendo na medida em
disputa inclui alteração no tom de voz e que as atividades da criança vão se distin-
culmina com insulto. As posições antagô- guindo. As interações com outras crian-
nicas presentes na disputa verbal revelam ças e com o ambiente se tornam fatores
a afirmação de um eu pelas duas crianças. decisivos em seu desenvolvimento, por-
São dois pontos de vista, que se opõem que os conflitos gerados por meio destas
e se excluem um ao outro. Trata-se de interações que fazem com que o sujeito
um conflito constitutivo22, de acordo com reformule suas atividades e objetivos,
Wallon, ou seja, um conflito com uma caminhando rumo ao novo (Corsi, 2010).
função dinâmica no desenvolvimento. A Considerar o conflito constitutivo signi-
professora busca uma adesão à atividade fica reconhecer os diferentes pontos de
desenvolvida, criando uma atmosfera de vista das crianças em relação a tal objeto
curiosidade em relação ao livro, objeto da ou atividade e estabelecer a importância
roda. Tal atmosfera permite que as crian- da constituição de espaços permanentes
ças expressem suas hipóteses e favorece para reflexão sobre a prática pedagógica,
disputas desse tipo, considerando as ca- onde seja possível trocar idéias sobre as
racterísticas de constituição do eu. A dis- dificuldades enfrentadas e buscar apoio
puta é absorvida pela atividade, que se- para encaminhá-las. De acordo com Gal-
gue seu curso. Nas instituições de educa- vão (2001), “para que os conflitos tenham
ção infantil, os interesses das crianças são efetivamente um valor positivo, deve-
delimitados pela organização dos espaços -se assegurar que sejam compreendidos
e tempos e pelos recursos que são ofere- e bem geridos”, ou seja, “para definir o
cidos (brinquedos, livros, tinta etc), que valor de um conflito, se positivo ou nega-
oferecem maior ou menor possibilidade tivo, dever-se-ia levar em conta a forma
de exploração e uso. Segundo Wallon, a pela qual é gerido e menos o fator que o
partir dos deslocamentos possibilitados desencadeia.” (p.139) Por meio da refle-
pelo andar, “o espaço adquire para ela [a xão permanente, parece possível incor-
criança] uma realidade independente dos porar e integrar as ações das crianças aos
objetos que o povoam. É um campo livre- objetivos propostos, valorizando tanto a
mente aberto à sua atividade [...]” (1979, construção de um eu quanto a constru-
p.79). O movimento vai se integrando ao ção do conhecimento sobre o mundo,
pensamento, o que possibilita à crian- reforçando, assim, a função educativa da
ça prever a seqüência dos atos motores, instituição.
cada vez mais complexos. A ampliação da
dimensão cognitiva do movimento torna Palavras-chave: conflito, educação infantil,
a criança cada vez mais autônoma para Wallon
agir sobre o mundo exterior. O conflito
é compreendido como movimento cons-
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PEREIRA (1998) realizou um detalhado estudo sobre o tema.
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bir pela rampa da trilha, sem conseguir. da no objeto à tomada de consciência (da
Fernando abre a porta do armário em bai- criança) de sua próprias e novas habilida-
xo da pia e guarda um brinquedo lá. Fer- des e próprias forças, seja porque ela faz
nando vai para o escorrega (com ajuda de de seu próprio corpo o campo de tentati-
um adulto) A trilha sinuosa também vas de suas possibilidades. A fim de modi-
atuou como local focal, ponto de encon- ficar as relações, antes estabelecidas com
tro, oportunidade para crianças desenvol- o brinquedo ou com os coleguinhas, a
verem e partilharem suas habilidades mo- criança firma suas novas conquistas, con-
toras mais amplas. Objetos grandes com- testando as formas tradicionalmente utili-
portam-se como veículos para brincadei- zadas (transgressão).
ras envolvendo atividades motoras mais
amplas, tema que tem sido bastante dis- Palavras-chave: Interação de crianças,
cutido na literatura relativa à interação de percepção de si e a diferenciação eu-outro
companheiros. Porém, o tom emocional,
que aparece nas atividades de brincadei-
ras nesses espaços, tem sido menos estu-
dado, mas nem por isso são menos im-
CO 02 - LT01
portantes, pelo contrário, marcam e defi- Hospitalização Infantil
nem o uso do brinquedo. A dialética
walloniana esclarece a simultaneidade da
saída de um estado atual e o domínio de LT01-697 - A UNIDADE DE TERAPIA
uma tendência futura, que pode ser aqui INTENSIVA NEONATAL COMO
exemplificada: - muitas foram as situa- CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO E DE
ções em que a mesma criança, inicial- PROMOÇÃO DE SAÚDE
mente dependente do apoio seguro do Aline Melo de Aguiar - UERJ
adulto, vai, por tentantivas e erros, adqui- melodeaguiar@gmail.com
rindo a habilidade que antes não possuía, Deise Maria Leal Fernandes Mendes - UERJ
chegando ao domínio total de si e do ob- -deisefmendes@gmail.com
jeto. O ponto do prazer do brincar está na Maria Lucia Seidl de Moura -UERJ
transgressão à norma. Explicação comple- mlseidl@gmail.com
mentar é dada por Wallon (1942/2008); Talita Maria Nunes de Aguiar - UERJ
para ele a criança e as coisas estão, inicial- talita_aguiar@yahoo.com.br
mente, misturadas e a criança deverá, por
esforço próprio, separar-se delas. Ela as A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
deseja ou evita, é atraída ou rejeita, solici- (UTI-Neo) representa um cenário comple-
ta ou reprova e neste exercício dialético xo em que há o contraponto das moder-
de reconhecer-se diferenciando-se, vai nas tecnologias disponíveis e utilizadas a
compreendendo os objetos e as outras serviço do salvamento e manutenção da
crianças não como distintas dela, mas vida de bebês prematuros e com proble-
como complementares à perda de seu mas de saúde, mas, ao mesmo tempo,
ser/ter – não ser/não ter. A Criança per- apresenta todo tipo de problemas e pri-
manece associada às coisas através de vações que esse mesmo ambiente pro-
seus movimentos, seja porque está inseri- move. Esse ambiente marca uma ruptura
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avaliam o perfil de mediação, sendo que, no item 5 (“M faz uso de voz, gestos e mo-
para cada afirmação sobre o comporta- vimentos para vivenciar a apresentação
mento do mediador, o juiz deve marcar: dos conteúdos da sessão”) M obteve, na
nível 4, se o comportamento de M ocorrer sessão 1: NM= 3,95 e na sessão 2: NM= 4;
sempre; nível 3, se ocorrer muitas vezes; e no item 6 (“M especificamente aponta
nível 2, se ocorrer poucas vezes; ou nível características extras e elementos dos ma-
1, nunca, caso não ocorra na sessão. As- teriais e conteúdos que são importantes
sim, quanto maior a nota dada pelo juiz, de serem notados”) M obteve, na sessão
melhor o perfil de mediação nos critérios 1: NM= 3,71 e na sessão 2: NM= 3,66. O
avaliados. Foram analisados, neste traba- critério de mediação Transcendência teve
lho, oito dos 23 itens do GOTI, relaciona- IC = 61% (variação: 43%-81%), sendo ava-
dos aos três principais critérios citados da liado, no item 7 do GOTI (“M promove
EAM. O desempenho do mediador foi ana- pensamentos que associam o conteúdo
lisado separadamente por sessão, pois, a da sessão com experiências anteriores”),
intervenção era diferenciada em cada dia. na sessão 1: NM= 3,55; na sessão 2: NM=
Efetuou-se o cálculo das médias das notas 3,71; e no item 8 (“M promove pensamen-
atribuídas pelos três juízes aos níveis de tos que associam o conteúdo da sessão
mediação (NM), bem como do índice de com experiências futuras”) M obteve, na
concordância médio (IC) entre os pares de sessão 1: NM= 3,6; na sessão 2: NM= 3,61.
juízes (AB, BC e AC), para cada um dos três Para os oito itens avaliados, M obteve mé-
critérios da EAM, adotando-se IC ≥70% dia acima de 3 (ocorreu muitas vezes), com
(Fagundes, 1999). O critério de mediação menor IC no critério Transcendência, su-
Intencionalidade e Reciprocidade teve IC = gerindo possíveis problemas na definição
79% (variação: 43%-100%), sendo avalia- do comportamento a ser observado ou no
do em três itens do GOTI: no item 1 (“M treinamento dos observadores. Por ser a
produz uma mensagem clara aos partici- primeira adaptação do instrumento para
pantes do grupo, com objetivo de engajá- esse contexto, consideram-se necessárias
-los nas atividades da sessão”), M obteve, novas revisões para seu aprimoramento.
em ambas as sessões, NM= 4; no item 2 A adequação dos itens com menor IC po-
(“M consegue, com sucesso, manter a derá ser feita, posteriormente, baseada
atenção dos participantes ao longo da ses- em trabalhos que utilizaram a EAM em
são”) M obteve, na sessão 1: NM= 3,85; na outros conjuntos de mães (Cunha, Enumo
sessão 2: NM= 3,71; e no item 3 (“Quando & Canal, 2006), professores (Faria, Mara-
os participantes perdem a atenção, M pro- nhão & Cunha, 2008; Vectore, Alvarenga
cura meios eficazes de fazê-los retomar a & Gomide Jr., 2006) e terapeutas (Cunha
concentração nas atividades do grupo”) & Guidoreni, 2009). No geral, o estilo de
M obteve, na sessão 1: NM= 3,70; na ses- atuação do mediador mostrou-se coeren-
são 2: NM= 3,33. O critério de mediação te com os princípios da EAM e o uso da
Significação teve IC = 78% (variação: 52%- escala GOTI, adaptada para o contexto de
100%) registrando-se, no item 4 do GOTI UTIN, mostrou-se viável, fornecendo feed-
(“M produz suporte apropriado, visível e back à atuação do psicólogo na condução
concreto para o alcance dos objetivos da de grupos de mães. A realização desses
sessão”), em ambas as sessões: NM= 3,90; grupos, com base em uma adequada me-
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diação no período em que a mãe acom- Para alcançar esse objetivo torna-se fun-
panha a internação do seu bebê, pode se damental que o professor crie recursos,
constituir como um fator de proteção ao estratégias pedagógicas que considerem
desenvolvimento desses bebês em situa- as diferentes possibilidades de aprendiza-
ção de risco ao desenvolvimento. gem, que solicitem a construção de refle-
xões, posicionamentos críticos, bem como
Palavras-chave: mediação, grupo de mães, a construção de conhecimentos. Torna-se
riscos ao desenvolvimento infantil necessário, então, a consideração da cria-
Contato: Schwanny Roberta Costa tividade no trabalho pedagógico, compre-
Rambalducci Mofati Vicente, UFES, endida não como um fenômeno ou “dom
schwanny.vicente@gmail.com divino”, mas segundo abordagem teórica
de Mitjáns Martínez (2009a, 2008, 2004),
como um processo complexo da subjetivi-
dade humana, na qual participam proces-
CO 08 - LT01 sos e elementos diversos, tanto da subje-
Criatividade tividade individual, como da subjetividade
social. Fundamentando essa definição da
criatividade está a Teoria da Subjetividade
LT01-1055 – A CRIATIVIDADE NO na perspectiva Histórica-Cultural de Gon-
TRABALHO PEDAGÓGICO E O zález Rey. Esta proposta teórica acerca da
DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE criatividade, do ponto de vista da pesqui-
DO PROFESSOR sadora, integra dois aspectos centrais, os
Tatiana Santos Arruda - SEEDF e FE/UnB quais justificam sua escolha para a reali-
arruda.tatiana@gmail.com zação da pesquisa que tem como tema a
Albertina Mitjáns Martínez - FE/UnB criatividade no trabalho pedagógico e o
desenvolvimento da subjetividade do pro-
No contexto contemporâneo a diversida- fessor, que são a consideração do sujeito
de social e cultural marcam o contexto e da subjetividade social nos processos
escolar e as relações construídas nesse criativos. Rompe com as dicotomias pre-
espaço. Solicitam, cada vez mais, investi- sentes em diversas concepções de criati-
mentos na construção de estratégias pe- vidade que ora a definem como processo
dagógicas capazes de oportunizarem situ- individual, ora como processo social. Há
ações educativas que viabilizem a aprendi- a consideração do sujeito, compreendi-
zagem e desenvolvimento dos educandos. do como o indivíduo concreto, portador
As prerrogativas legais quanto à finalidade de personalidade e caracterizado por sua
da educação, expressas na Lei de Diretri- condição de ser atual, interativo, inten-
zes e Bases da Educação Nacional – Lei cional, emocional e consciente (González
8.384/1996, legitimam a necessidade Rey, 1995). É esse sujeito que atua, faz
de tais investimentos, ao afirmar no Art. escolhas, constrói representações da rea-
2º que a educação “tem por finalidade lidade e vivencia diferentes emoções em
o pleno desenvolvimento do educando, seus processos de interação nos contex-
seu preparo para o exercício da cidada- tos dos quais participa, segundo Mitjáns
nia e sua qualificação para o trabalho”. Martínez (2000). É ele que em sua função
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dizagem criativa considerando os proces- cendo para que o aluno posicione-se como
sos de desenvolvimento da subjetividade sujeito autor da própria aprendizagem,
individual, tendo em vista os contextos para que ele não seja passivo nesse pro-
de atuação e inter-relação do indivíduo. cesso e fique apenas repetindo, copiando,
Para contemplar tal objetivo frente a um transcrevendo informações, mas que ele
objeto de estudo tão complexo e pluri- possa se implicar efetiva e afetivamente
determinado, optamos pela perspectiva no processo de aprendizagem. O segun-
histórico-cultural do desenvolvimento da do aspecto nuclear para a constituição
subjetividade proposta por González Rey da aprendizagem criativa foi o desenvol-
(1995, 1999, 2008) e pela compreensão vimento de determinadas configurações
da criatividade como processo da subjeti- subjetivas, dentre elas, a aprendizagem,
vidade de Mitjáns Martínez (2005, 2006a, a leitura, a escrita, a autovalorização e o
2008). Desenvolvemos um percurso me- outro como ensinante. Compreendemos
todológico qualitativo em sintonia com a que tais configurações se constituíram em
Epistemologia Qualitativa (González Rey, função da articulação de uma rede que
2002, 2005) e realizamos três estudos de envolvia: a ação do indivíduo, sentidos
caso utilizando instrumentos como entre- subjetivos sociais, e um conjunto de sen-
vista, redação e análise documental. Além tidos subjetivos individuais que ganharam
desses, construímos novos instrumentos: estabilidade e se constituíram numa tra-
Construção da Linha de Vida Escolar, Baú ma simbólico-emocional favorecedora da
de Lembranças, Fotos e Frases e Túnel do aprendizagem criativa. O terceiro aspecto
Tempo para favorecer aos participantes diz respeito à produção de sentidos sub-
não apenas resgatar lembranças, mas, jetivos situacionais no espaço da aprendi-
principalmente, recordar emoções com o zagem escolar. Concordamos com Mitjáns
objetivo de alcançar as sutilezas do desen- Martínez (2006b) quando ela afirma que a
volvimento subjetivo. A análise integrativa constituição da aprendizagem criativa não
que desenvolvemos dos casos nos permi- diz respeito exclusivamente aos sentidos
tiu fundamentar a tese de que a constitui- subjetivos já constituídos que compõem
ção da aprendizagem criativa está vincula- as configurações subjetivas, mas está atre-
da a quatro aspectos nucleares. Primeiro lada também aos sentidos subjetivos que
o desenvolvimento da condição de sujeito o aluno produz no momento da aprendi-
que ocorre mediante vivências de auto- zagem. Identificamos na pesquisa um im-
nomia, momentos de enfrentamento, a portante sentido subjetivo produzido pe-
conquista paulatina da autoconfiança, o los participantes: a realização pessoal. Em
desenvolvimento da capacidade reflexiva, nossa compreensão tal sentido subjetivo
e o próprio exercício da condição de su- relacionava-se com uma satisfação pró-
jeito. No entanto, concluímos que apenas pria vinculada a uma expressão persona-
o desenvolvimento da condição de sujei- lizada no processo de aprendizagem. Per-
to não é suficiente para a constituição da cebemos que para eles a aprendizagem
aprendizagem criativa. Defendemos a im- não estava somente a serviço do outro,
portância primordial de que essa condição do professor, não era um processo vazio,
psicológica se desenvolva e se expresse no direcionado exclusivamente para o reco-
domínio da aprendizagem escolar favore- nhecimento e aprovação social. Eles im-
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indivíduo. A primeira etapa desta pesqui- homem está destinado a educar-se. Não
sa consistirá uma ampla pesquisa e aná- há saída. É no palco histórico-cultural que
lise bibliográfica nas áreas de educação os processos de aprendizagem e desen-
e aprendizagem em museus, e de criati- volvimento vão executar uma dança dia-
vidade. Em etapas posteriores, a pesqui- lética, promovendo o desenvolvimento
sa buscará, a partir de uma abordagem do sujeito e dotando-o de atributos típi-
metodológica construtivo-interpretativa, cos da condição humana. Também neste
baseada na epistemologia qualitativa de cenário sociocultural surge a escola como
González Rey (1997, 2002, 2005b) definir espaço privilegiado de desenvolvimento e
um grupo de profissionais em museus e aprendizagem e, consequentemente, pro-
analisar seus processos de constituição e moção do potencial criativo. O fenôme-
desenvolvimento de configurações sub- no criativo também será compreendido
jetivas que favoreceram a emergência de como originário na história do comporta-
suas condições de sujeitos de aprendiza- mento do homem, com destaque para as
gem em espaços museais. instâncias sociais e culturais que definem
os processos de subjetivação humana,
Palavras-chave: educação em museus, teoria sempre circunscritos ao tempo histórico e
da subjetividade, criatividade e aprendizagem seus respectivos contextos. Promover um
criativa diálogo sistemático, sistêmico, dialético e
profundo entre criatividade e cultura não
só é necessário como fundamental para o
LT04-1212 – CRIATIVIDADE E entendimento do fenômeno criativo, em
CULTURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE especial na primeira infância. Dentre as
OS FATORES SOCIOCULTURAIS NO etapas de vida do sujeito, a primeira in-
DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE fância revela-se um momento privilegia-
Mônica Souza Neves-Pereira - IP/UnB do para o fomento da criatividade e a es-
monicasouzaneves@yahoo.com.br cola destaca-se como cenário central das
Jonathas Nogueira da Rocha - IP/UnB interações entre as crianças, seus pares,
jonathasnr@gmail.com professores e educadores. O ambiente
escolar reveste-se de múltiplas caracterís-
As abordagens sociogenéticas do de- ticas da maior relevância para o pesquisa-
senvolvimento buscam compreender os dor interessado em investigar criatividade
processos de construção da natureza hu- como uma função psicológica humana.
mana partindo do pressuposto central de Ali estão presentes interações e relações
que a gênese das estruturas psicológicas definidoras de rotas desenvolvimentais,
do homem situa-se na dimensão histó- além dos ricos e imprevisíveis processos
rica, social e cultural onde os sujeitos se de mediação que canalizam as mensa-
inserem. A biologia, por si só, não é sufi- gens culturais, orientando processos de
ciente para definir um estatuto de huma- subjetivação. Na escola observamos a
nidade. Para alcançar as potencialidades criança construindo a si mesma, em toda
específicas da espécie homo sapiens, o a complexidade que este processo en-
ser humano necessita pertencer a grupos cerra. Porém, somente por meio de uma
sociais, precisa apropriar-se da cultura. O leitura complexa e abrangente é possível
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realizados quatro encontros com um gru- tam em sua capacidade e em sua autono-
po de 14 estudantes, entre 16 e 18 anos, mia para resolver problemas e conflitos.
de ambos os sexos, que se voluntariaram Voltando à questão inicial que mobilizou
para a pesquisa. Cada encontro, com du- a presente pesquisa, considero que os
ração aproximada de 60 minutos, foi co- elementos e reflexões apresentados ofe-
ordenado por um integrante da equipe de recem uma contribuição, mesmo que par-
pesquisa e acompanhado por outros pes- cial e provisória, para a compreensão so-
quisadores, que observaram e realizaram bre como os jovens pesquisados pensam
anotações para posterior discussão nas e buscam solucionar dilemas morais re-
reuniões do grupo. As discussões foram lacionados à justiça e às diversidades. Al-
registradas em áudio, transcritas e depois gumas lacunas, entretanto, permanecem
analisadas a partir do referencial teórico em aberto e são limites que estão por ser
que orientou a pesquisa. superados, bem como outras questões
Dentre as conclusões a que chegamos, que surgiram no percurso. Penso ser per-
merecem destaque: (1) os estudantes tinente caracterizar a compreensão que
pesquisados organizam seu raciocínio em os adultos (professores, gestores e de-
diferentes níveis e estágios de desenvolvi- mais profissionais da educação) possuem
mento moral, considerando os critérios de sobre as situações apresentadas pelos di-
Kohlberg (1992), o que não está em con- lemas, ainda que hipotéticos, e como as
tradição com sua teoria, pois os estágios enfrentam. No campo teórico, permanece
não são estáticos e não avaliam o desen- a inquietação sobre como a filosofia mo-
volvimento moral dos indivíduos, mas o ral e a teoria do desenvolvimento podem
modo como constroem seu raciocínio; (2) manter suas pretensões de universalida-
os estudantes vivenciam e têm consciên- de e, ao mesmo tempo, respeitar as di-
cia de que em seu ambiente escolar ocor- ferenças culturas, tomando como ponto
rem situações de injustiça, preconceito e de partida o cotidiano escolar e seus con-
discriminação em função das diferentes flitos. Essas são questões sobre as quais
características das identidades dos mem-
pretendo continuar me debruçando, na
bros comunidade escolar; (3) os jovens
tentativa de aprofundar a compreensão
participantes não hesitam quando desa-
das complexas relações entre os sujeitos
fiados a se posicionarem sobre problemas
envolvidos no cotidiano escolar, partindo
que envolvam suas vidas e crenças, o que
pode ser visto como sinal da pertinência e do pressuposto de que a escola deve cada
da importância que as temáticas aborda- vez mais se tornar um espaço em que as
das pela pesquisa possuíam para eles; (4) gerações mais jovens possam construir
os estudantes pesquisados possuem um suas diferentes identidades, reconhecen-
bom grau de maturidade e capacidade de do como riqueza a pluralidade presente
ouvir e respeitar as diferentes opiniões em seu interior.
de seus pares; (5) em geral os jovens pes-
quisados não confiam na capacidade dos Palavras-chave: educação moral, dilemas
adultos de assumirem sua responsabilida- morais, diversidade.
de na resolução de problemas e conflitos; Contato: Luiz Cláudio da Silva Câmara, PUC-
(6) os participantes da pesquisa acredi- -Rio, luizccamara@hotmail.com
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rando, pois muitos pais não conseguem o pai representa um sustentáculo afeti-
assumir as responsabilidades que esse vo para a mãe interagir com seu bebê, e
papel configura, sobrecarregando a mãe na adolescência ajudando na construção
que terá que assumir os dois papéis. Des- da identidade do filho (Gomes; Resende,
sa forma, pretendemos trazer contribui- 2004). A criança está sempre em busca
ções sobre como vem sendo modificado o do pai, em qualquer figura masculina, na
papel do pai, bem como suas implicações maioria das vezes, no avô. Quando da si-
para o desenvolvimento infantil, dando tuação da mãe encontrar outro parceiro,
ênfase para as conseqüências da ausência o afastamento do mesmo pode acarretar
paterna no desenvolvimento infantil. Luz na criança sentimentos de abandono, e
e Berni (2010) nos chamam a atenção a esta tem mais uma vez um sentimento
respeito da construção social sobre a pa- de culpa, como se ela fosse a responsável
ternidade. Segundo eles, a mesma é um pela separação. A criança tem um desejo
conceito relacional, pois a paternidade só incessante de conhecer seu pai biológico,
é exercida depois do nascimento da crian- o que se fortalece em algumas etapas da
ça, ao contrário da função materna, que é vida, como se fosse uma necessidade de
sentida e exercida desde a vida intra-ute- fechar sua história, saber sua origem (Ei-
rina. Apesar da importância da figura pa- zirik; Bergmann, 2004). Conclui-se que a
terna, o homem, em vias de se tornar pai, vida afetiva, cognitiva, emocional e social
tende a se fragilizar diante da nova res- da criança ou do adolescente pode so-
ponsabilidade. Para Corneau (1995, apud frer muitas transformações diante da au-
Dantas et al., 2004), o pai tem três papéis sência do pai. Já que o mesmo tem peso
a exercer com os filhos. Primeiro é o de significativo durante o desenvolvimento
“separar” a criança de sua mãe e vice- desta. A presente pesquisa trata de uma
-versa. O próximo papel segundo o autor revisão bibliográfica. Foram utilizados
é o de auxiliar na formação da identidade como descritores os termos: pai, paterni-
do seu filho. O terceiro papel do pai seria dade, relação pai-filho e desenvolvimen-
o de transmitir “a capacidade de receber to infantil. Foram excluídos os livros que
e de interiorizar os afetos, de carregá-los constavam dentro destes descritores, uti-
consigo” (Corneau, 1995, p.51, apud Dan- lizando-se apenas os artigos, de qualquer
tas et al., 2004). Essa aproximação entre natureza, qualitativa, quantitativa, estudo
pai e filho ocasionará cumplicidade e uma de caso ou revisão bibliográfica. Para fins
relação cheia de emoções, afetos e inti- de delimitação da pesquisa foram excluí-
midade, ocasionando um relacionamento dos os artigos que estudaram a respeito
simples, porém saudável. Com base em de pais adolescentes, o foco da pesquisa
uma leitura psicanalítica, é possível afir- foi com pais adultos, com filhos de 0 ano
mar que o pai representa a possibilidade até a adolescência. Sendo assim, treze ar-
do equilíbrio pensado como regulador da tigos foram obtidos na íntegra e utilizados
capacidade da criança investir no mundo com fonte para a pesquisa. Diante desses
real. A atuação paterna é decisiva em dois achados, é inegável a importância do pai
momentos do desenvolvimento da crian- no desenvolvimento infantil, seja exer-
ça, dos 6 aos 12 meses de vida na quebra cendo a função de autoridade, ou dando
da relação simbiótica com a mãe já que apoio às mães no cuidado com os filhos.
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relacionados com o modo que desejam conteúdo de Bardin, também está sendo
que seus filhos sejam. Os objetivos esta- aplicado um Inventário de Práticas Paren-
belecidos a longo prazo pelos progenito- tais – IPP, com 29 itens respondidos em
res em relação a seus filhos, influenciam uma escala tipo Likert, que servirá para o
as práticas de cuidados dos pais a partir estabelecimento de uma média global de
do conjunto de concepções e valores que envolvimento parental das mães de filho
são construídos culturalmente. A literatu- único e com mais filhos; e um Questio-
ra aponta que há diferença na criação dos nário Sócio-Demográfico para caracteri-
filhos e que o número da prole influencia zação das mães. 21 entrevistas já foram
tanto na quantidade quanto na qualidade realizadas e estão sendo gravadas e trans-
dos recursos e da atenção recebida por critas literalmente. Os dados obtidos es-
eles. Neste trabalho considera-se então o tão sendo tratados de forma a comparar
desenvolvimento humano como um con- os resultados dos dois grupos de mães. Os
junto de processos por meio dos quais as resultados iniciais têm demonstrado dife-
propriedades do indivíduo e do ambiente renças quanto as expectativas em relação
interagem e produzem contínuas mudan- à vida adulta dos filhos das mães de mais
ças nas características da pessoa durante de um filho para as mães de filho único.
toda sua vida. Portanto, o objetivo geral Os dois grupos de mães têm demonstra-
desta pesquisa é investigar quais são as do preocupação com a educação dos fi-
Metas de Socialização e as Práticas Paren- lhos primordialmente, porém, esse nível
tais Educativas em famílias com filho úni- educacional tem sido apontado de forma
co e famílias com dois a três filhos através diferenciada pelas mães com mais de um
do relato materno. Especificamente, ob- filho, que espera que a educação formal
jetiva-se investigar e comparar as metas, das crianças possa transforma-se em boas
as estratégias de socialização e práticas oportunidades de emprego e sustento na
parentais das famílias com filho único e vida adulta, demonstrando expectativas
com mais filhos, além de conhecer como de independência financeira. Além dis-
pai e mãe decidem a educação de seus fi- so, as qualidades que as mães descrevem
lhos e como o pai participa desse proces- como necessárias para atingir estas ex-
so educativo através do relato das mães. pectativas são a honestidade (mais cita-
Esta pesquisa está sendo realizada atra- da entre os dois grupos de mães), sendo
vés de visitas nas residências de mães de a cidadania e o reconhecimento de seus
nível sócio-econômico médio casadas ou direitos e deveres na sociedade citados
conviventes, com ao menos ensino médio frequentemente pelas mães com nível su-
completo e com 1 a 3 filhos; estes entre perior. A participação do pai tem sido re-
5 a 7 anos da cidade de João Pessoa-PB. latada pelas mães principalmente na área
Os dados serão obtidos através da aplica- do lazer, como brincar e passear com os
ção de instrumentos com 40 mães partici- filhos. Quanto ás práticas parentais edu-
pantes de forma não-probabilística e por cativas ressalta-se dentro das práticas ne-
conveniência. Estão sendo aplicados três gativas que 9% das mães utilizam de pal-
instrumentos: uma entrevista semies- madas para educar as crianças com frequ-
truturada sobre metas de socialização ência e 36,4 % das mães frequentemente
que será analisada através da análise de gritam com as crianças quando elas fazem
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LT05-1281 - FAMÍLIA E CULTURA: tas produções. Para isto são tecidas con-
A PATERNIDADE RETRATADA EM siderações acerca de algumas produções
DESENHOS ANIMADOS populares da mídia, assim como exami-
Zaíra Mendonça - UFAL nadas outras pesquisas sobre o tema. Em
zairalyra@gmail.com uma pesquisa sobre os programas infan-
Heliane Leitão - UFAL tis na televisão, as relações familiares e o
helianeleitao@uol.com.br exercício das funções parentais, Leila Brito
(2005) analisou os comportamentos de
Considerando-se as profundas mudanças personagens consagrados na televisão,
ocorridas nos modos de organização fami- indo dos seriados como “Papai Sabe tudo”
liar, constata-se a necessidade de reflexão aos super-heróis como “Super-Homem” e
acerca dos papéis e funções atribuídos aos “Zorro”. Como resultado, estabeleceu uma
seus membros na atualidade. O exercício relação entre estes personagens e as con-
da paternidade e suas atribuições, assim cepções de feminino e masculino vigentes
como sua relevância no desenvolvimento no momento de maior circulação de tais
das crianças, tem se tornado importante programas. Inês Hennigen (2003), investi-
alvo de investigação, sob a ótica de refe- gando paternidade e mídia, traça um para-
renciais teóricos diversos (Ramires, 1997; lelo entre a paternidade como construção
Lewis & Dessen, 1999; Levandowiski & social e a mídia na construção das posições
Piccinini, 2002; Resende & Gomes, 2004). de pai. A autora questiona que discursos
É evidente a importância da mídia na con- a mídia vem produzindo sobre e para os
temporaneidade enquanto veículo de in- pais, considerando que a forma de retra-
formação e transmissão de valores e ideais tar o pai se modificou profundamente nas
sociais, com grande inserção no cotidiano últimas décadas, como se pode constatar
das pessoas. A indústria cultural tende a através da comparação entre programas
refletir a realidade de uma época, ao tem- como a série “Papai sabe tudo”, nos anos
po em que é formadora de mentalidades 50/60, e “Os Simpsons” nos anos 90. Nes-
e catalizadora de mudanças sociais. O pre- ta mesma direção, Leitão e Stadtler (1998)
sente trabalho pretende estabelecer uma descrevem os modelos de pai presentes
interlocução entre as mudanças observa- em dois filmes de desenhos animados
das no exercício da paternidade e as ideias em momentos históricos distintos: “Bam-
veiculadas acerca do pai pela cultura da bi” (1945) e “O Rei Leão” (1994). Para as
mídia na atualidade. A mídia sendo aqui autoras, cada filme revela um modelo de
representada por programas televisivos paternidade consonante com a época em
e vídeos de desenhos animados dirigidos que foi produzido, considerando-se tanto
ao público infantil que trazem o tema da as condições psicoafetivas, como a identi-
paternidade como um de seus focos. O dade social de pai eleita como ideal para
objetivo principal deste estudo foi refletir aquele momento histórico. O pai dos anos
acerca de modelos de paternidade veicu- 90 se mostra afetuoso e próximo, em con-
lados pela mídia nas últimas décadas, bus- traste com o pai distante e formal dos anos
cando analisar como as efetivas mudanças 40. Na década de 1990 duas séries televi-
observadas no exercício da paternidade sivas obtiveram grande aceitação da popu-
vêm sendo incorporadas e retratadas nes- lação mundial: “Os Simpsons” e “A Família
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3º mês destacou-se a subcategoria depois segundo mês: 8%). Por sua vez, a atenção
de um ano (23%), e no 12º mês também a individualizada foi citada em um número
subcategoria idade indefinida (28%). Além crescente de respostas, aumentando de
disso, houve um aumento no número de 3% na gestação para 11% no 12º mês. Ape-
mães que tiveram suas falas classificadas sar da importância atribuída aos benefí-
na subcategoria não pretende na gestação cios para o bebê, as facilidades para a mãe
(4,5%) e terceiro mês (9%), em compara- também foram apontadas como um im-
ção com o décimo segundo mês (13%). portante motivo para deixar a criança em
Quanto aos motivos declarados pelas casa (32% das respostas na gestação, 26%
mães para colocar o bebê na creche, pre- aos 3 meses e 39% aos 12 meses), sendo
dominou, na gestação, a restrição ou falta que ter pessoas disponíveis para cuidar do
de provedores de apoio (55%), e no ter- bebê foi a facilidade mais citada. Em con-
ceiro e décimo segundo mês os benefícios junto, estes resultados parecem indicar
para o bebê (56% e 60%, respectivamen- que as mães preferem postergar a entrada
te). A restrição de apoio, na gestação, es- do bebê na creche para uma idade superior
teve relacionada principalmente à necessi- ao primeiro ano, e que diferenciam os cui-
dade da mãe trabalhar (37%). No entanto, dados disponibilizados nos diferentes am-
esta necessidade decresceu para 15% das bientes. O ambiente doméstico garantiria
respostas aos três meses, e para 5% aos 12 ao bebê intimidade e segurança, enquanto
meses, sugerindo que o ingresso na creche o ambiente de creche atenderia as neces-
nesta fase não está condicionado necessa- sidades de socialização e contato com es-
riamente ao emprego materno. Já quanto tímulos diversos. Essa distinção pode estar
aos benefícios da creche para o bebê, as relacionada às crenças maternas de que a
subcategorias socialização e estímulo para criança, em cada fase do desenvolvimento,
o desenvolvimento foram sendo gradati- possuiria diferentes necessidades. Mas, o
vamente mais valorizadas pelas mães: a que chama a atenção, é que as mães consi-
socialização, citada por 11% das gestantes, deram que cada cuidador possui um papel
foi para 27% no terceiro mês e para 22% distinto e atende somente algumas dessas
no décimo segundo; e o estímulo para o necessidades. Talvez, como forma de ga-
desenvolvimento, trazido por 11% das ges- rantir seu lugar na vida da criança depois
tantes, evoluiu para 14,5% aos três meses que ela passa a permanecer muitas horas
e 16% aos 12 meses. Por fim, em relação com outras pessoas, as mães deleguem a
aos motivos citados pelas mães para dei- si mesmas tarefas únicas que não pode-
xar o bebê em casa ou com familiar, des- riam ser supridas por outro cuidador. Isso
tacou-se a subcategoria benefícios para as auxiliaria a lidar de uma forma melhor
o bebê em todas as fases (gestação=63%; com as separações constantes do bebê e
3º mês=68%; 12º mês=57%). Dentre estes com eventuais ameaças ao apego ante-
benefícios, o motivo mais citado foi a ida- riormente estabelecido.
de do bebê, tanto na gestação (45%), como
no terceiro mês (34%). Também foi citada Palavras-chave: expectativas maternas,
a importância da família/lar/contexto co- cuidados alternativos, creche
nhecido em todas as fases de coleta (ges- Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS,
tação: 10%; terceiro mês: 9%; e décimo gdalfornomartins@gmail.com
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educativas que utilizavam com seus pró- das na educação recebida pelos próprios
prios filhos. As respostas dos participantes pais (p<0,05), enquanto a combinação
às diferentes questões da entrevista foram de indutivas/coercitivas foi mais mencio-
transcritas e analisadas através da análise nada entre as práticas utilizadas com os
de conteúdo (Bardin, 1977), a partir de ca- filhos (p<0,01). A proporção de práticas
tegorias pré-definidas, baseadas em Hoff- coercitivas manteve-se estável entre as
man (1975, 1994) e adaptadas por autores gerações. A análise qualitativa indicou um
do presente estudo (Alvarenga & Piccinini, padrão mais claro de reprodução das prá-
2001; Marin, Piccinini & Tudge, no prelo): ticas coercitivas, ainda que estas fossem
práticas indutivas (negocia/troca, explica/ relatadas como evitadas, na medida em
fala, explica baseado em convenção/con- que eram relacionados à idéia de vivência
sequencia, organiza o ambiente/forma de sofrimento quando crianças. Por outro
hábito e comanda sem coerção), práticas lado, alguns genitores mencionaram que,
coercitivas (punição, ameaça, coação física mesmo tendo associado memórias desa-
e punição física), práticas de não interfe- gradáveis às práticas coercitivas, faziam
rência (não se intromete, segue o ritmo uso eventual das mesmas por acreditarem
da criança e cede a vontade da criança), e que se não foram nocivas a eles também
combinação de práticas indutivas/coerciti- não seriam para os filhos. A mudança in-
vas. Foram calculadas as frequências e pro- tergeracional das práticas educativas foi
porções totais em cada categoria e compa- associada à aprendizagem de práticas ou
radas as proporções de práticas recebidas habilidades parentais junto a outras figu-
e utilizadas através do teste Z. Além disso, ras que não somente os próprios pais, em
realizou-se uma análise qualitativa visan- especial o cônjuge, à busca pela correção
do avaliar especificidades da transmissão de experiências prévias na relação com os
intergeracional das práticas educativas filhos, e ao temperamento dos pais e/ou
caso a caso. Os resultados indicaram que das crianças. Em conjunto, os resultados
os participantes relataram ter recebido do presente estudo forneceram indícios
de seus próprios pais mais práticas coer- de que houve a semelhança no uso das
citivas (52%) seguidas das indutivas (40%), práticas coercitivas entre gerações e um
e, com menor freqüência, a combinação aumento na utilização com os próprios fi-
de indutivas/coercitivas (3,5%) e não in- lhos de práticas que combinam estratégias
terferência (4,5%). Tendência semelhante indutivas e coercitivas. Todavia, a análise
ocorreu em relação às práticas utilizadas caso a caso revelou que em apenas me-
com os próprios filhos, onde foram mais tade dos casos houve a transmissão dos
relatadas práticas coercitivas (60%) do que padrões interativos, o que fortalece a idéia
indutivas (26%). Já a combinação de práti- de que a forma como os pais educam seus
cas indutivas/coercitivas foi mais mencio- filhos trata-se de um processo complexo
nada (13%) entre as utilizadas. O teste Z e recíproco que envolve características de
indicou diferença significativa entre as ge- ambos (Belsky, 1984; Biasoli-Alves, 1997).
rações na proporção de práticas indutivas, Nesse sentido, é plausível supor que a
de não interferência e da combinação de transmissão intergeracional das práticas
indutivas/coercitivas. As práticas indutivas educativas não envolve somente a repro-
e de não interferência foram mais relata- dução para com os filhos dos padrões re-
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cebidos quando criança, ainda que estes gico, o leitor poderá observar o seguinte
possam levar à construção de modelos so- exemplo na manchete: BOLSA FAMÍLIA
bre o que deve ser seguido ou evitado nas - “Beneficiários usam recurso para com-
relações posteriores (Ângelo, 1995). prar roupas e eletrônicos” Tocadores de
música MP4, celulares, aparelhos de DVD
Palavras-chave: práticas educativas, e brinquedos. Esses são alguns dos arti-
parentalidade, transmissão intergeracional gos adquiridos por famílias em situação
Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS, de pobreza (R$60) ou de extrema pobreza
gdalfornomartins@gmail.com (R$120) beneficiadas pelo maior progra-
ma de transferência de renda direta do
País, o Bolsa Família, em cidades da RMC
LT04-1303 - PSICOLOGIA ECONÔMICA: (Região Metropolitana de Campinas).(
O ESTUDO DO DESEMVOLVIMENTO DO Reportagem jornal Todo Dia, 2008). A re-
COMPORTAMENTO ECONÔMICO portagem traz o fato de famílias que uti-
Maria A. Belintane Fermiano - UNICAMP lizam o benefício na compra de itens que
maria.belintane@gmail.com não são considerados como aqueles que
Sonia Bessa - Unasp/LPG-FE/UNICAMP o programa tem como objetivo. Reynaud
(1967) explicaria que a disponibilidade
O termo Psicologia Econômica ocorreu material (Bolsa-Família enquanto recurso
pela primeira vez em 1881, aplicado por provedor de necessidades) desenvolve
Gabriel Tarde e é pouco conhecido até os possibilidades psicológicas no indivíduo.
dias de hoje. Essa é uma área cujas pes- No exemplo, pressupõe-se que o estímu-
quisas se iniciaram no final do século XIX lo econômico (o recurso do Bolsa-Família)
e, em seu transcurso histórico, houve vá- seja direcionado para o consumo de bens
rios fatores que dificultaram sua constitui- de primeira necessidade, no entanto, não
ção como uma disciplina, bem como seu é utilizado como o esperado, sendo “des-
trânsito entre as áreas da Psicologia e da viado” para a satisfação de outros “dese-
Economia. A Psicologia Econômica busca jos” ou “necessidades”. Observa-se que
identidade e tem a contribuição de psi- tanto a primeira situação, consumo de
cólogos, economistas, neuropsicólogos, bens de primeira necessidade, como a se-
sociólogos, antropólogos e filósofos, que gunda, consumo de eletrônicos e roupas,
procuram explicá-la e localizá-la como fa- contribuem para a movimentação de dife-
zendo parte da vida do homem, desde os rentes setores da economia. Como esses
primórdios da sua história. Compreender objetos figuram na lista de outras tantas
seu conceito implica em estabelecer rela- pessoas, sob a ótica da Psicologia Eco-
ção entre os conhecimentos e peculiarida- nômica é possível elaborar os seguintes
des da Psicologia e da Economia. Reynaud questionamentos: “O que levam pessoas
(1967, p. 9,10) definiu a Psicologia Econô- a valorizarem tais objetos? O que poderia
mica como um “estudo da economia que ser considerado como essencial? Essen-
aborda aspecto subjetivo ou mental e en- cial para quem? Como pode ser avaliado
volve as necessidades, os valores e o bem- o desejo e o poder de compra? Como o
-estar”. Para contextualizar o significado desejo de possuir um determinado obje-
do comportamento econômico e psicoló- to surge e atinge, simultaneamente, pes-
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explicam que o estudo das questões que na infância, com o objetivo de obter pro-
envolvem as crianças na economia de hoje ximidade com a figura materna. Tal com-
é recente. E pressupõem que, se a econo- portamento continua durante toda vida,
mia tem influência no comportamento pois, é indispensável para a vida social,
individual, pode-se esperar que também favorecendo a capacidade de manter
tenha no comportamento econômico das relações. Segundo Barros e Fiamenghi
crianças. Os autores apontam pesquisas (2007), mães insensíveis e negligentes às
que demonstram a influência das crian- necessidades de seus filhos acabam por
ças nas decisões de compra de seus pais gerar insegurança nas crianças, tanto em
e outras pesquisas sobre a influência da relação à própria mãe, quanto em relação
propaganda nas crianças. E destacam a aos outros. Quando as crianças têm suas
importância e o compromisso em teorizar necessidades de afeto, trocas subjetivas
tais dados. As pesquisas nas áreas tiveram e cuidados com higiene e alimentação
grande avanço, a partir de 1982, as quais atendidas, tornam-se confiantes e desen-
descreviam “conceitos infantis sobre uma volvem-se emocional, física e intelectual-
série de fenômenos econômicos, desde o mente de forma saudável. O ECA, criado
de banco, até o de desemprego”. Desse em 1990, prevê a proteção integral da
modo, compreende-se que a Psicologia criança, assegurando o desenvolvimento
Econômica e, em especial, a Educação físico, mental, moral, espiritual e social
Econômica, apresentam grandes possibi- (Brasil, 2002). No entanto, segundo We-
lidades de pesquisas inovadoras. Tais te- ber (1995), a institucionalização - criada
mas fizeram parte do referencial teórico com intuito de proteger a criança - sim-
da pesquisa “Pré-adolescentes (“tweens”) plesmente efetiva, na prática, o afasta-
desde a perspectiva da teoria piagetiana à mento da criança ou adolescente do con-
da Psicologia Econômica”. vívio familiar e social. Mannoni (1995)
observa que crianças abrigadas apresen-
Palavras-chave: Psicologia econômica, tam a carência como marca importante
educação econômica, socialização econômica. em suas vivências afetivas e acrescenta
que, muitas vezes, seus efeitos são irre-
versíveis. Azôr e Vectoré (2008) observam
que, quando abrigadas, as crianças pas-
CO 39 - LT06 sam por um processo de ‘mutilação’ de
Acolhimento Institucional sua identidade, pois, a instituição afasta
o individuo da sociedade. Quando consi-
deramos o Transtorno de Apego Reativo,
LT06-686 - AVALIAÇÃO DE SINAIS DE sua característica principal é uma “liga-
TRANSTORNO DE APEGO REATIVO EM ção social perturbada e inadequada, com
CRIANÇAS ABRIGADAS inicio aos 5 anos de idade e associada ao
Renata Hottum Melani - UPM recebimento de cuidados amplamente
patológicos” (Apa, 1995, p. 384). Ainda
Bowlby (1990) afirma que o vínculo afe- segundo o DSM IV (Apa, 1995), tal trans-
tivo (attachment) se dá na atração vivida torno pode apresentar-se sob duas for-
por dois indivíduos e que se desenvolve mas: tipo inibido e tipo desinibido. Sua
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ambiente que tem outras características uma a uma das categorias comportamen-
físicas e sociais. Tomando como referência tais, percebe-se que o comportamento de
os benefícios da convivência da criança ajudar, quando emitido na escola (n=14;
institucionalizada em outros ambientes e 53.8%), apresentou freqüências maiores
da constatação do baixo número de pes- que no abrigo (n=7; 41,2%). Contudo, o
quisas que investigam a presença destas Teste Binomial indica que esta diferen-
crianças em mais de uma instituição infan- ça não é estatisticamente significativa
til, este estudo teve como objetivo investi- (p>0,05), sendo semelhantes os percen-
gar aspectos do ambiente que concorrem tuais referentes a ações de ajuda em am-
para a manifestação do comportamento bos os ambientes. O mesmo constata-se
de cuidado entre pares, observados em em relação ao comportamento de brincar
suas interações nos pátios da escola e de cuidar que, em termos percentuais,
do abrigo. Participaram do estudo cinco foi mais presente no abrigo (n=4; 23.5%)
crianças, com quatro a seis anos de idade, do que na escola (n= 2;7.7%); entretan-
que moravam há mais de um ano no abri- to, a análise estatística mostrou que não
go e freqüentavam regularmente a escola. houve significância estatística entre os
Para a coleta de dados, cada sujeito focal e ambientes. A descrição da freqüência do
suas interações com outras crianças foram comportamento estabelecer contato afe-
filmados nos dois ambientes, ao longo de tuoso mostra que este se apresenta com
dez sessões com duração de cinqüenta maior ocorrência na escola (n=7; 26.9%)
minutos cada, totalizando 500 minutos de do que no abrigo (n=6 ; 35.3%), porém, o
observação dos participantes da pesqui- teste mostra que não houve diferença es-
sa. Quanto aos resultados derivados da tatística entre ambos os ambientes. E, por
observação dos sujeitos focais, constatou- fim, verificou-se que o comportamento
-se que os cinco participantes manifes- de entreter não teve nenhuma ocorrência
taram comportamentos de cuidado nos no abrigo, tendo sido observado somente
ambientes da pesquisa. Ao todo, foram no ambiente da escola (n=3, 11.5%), não
registrados 43 eventos de comportamen- sendo possível, assim, a aplicação do teste
to de cuidado, organizados em torno das estatístico. A análise estatística dos dados
seguintes subcategorias: estabelecer con- mostrou que nenhuma das subcatego-
tato afetuoso, ajudar, brincar de cuidar e rias do comportamento de cuidado teve
entreter. Ao descrever a freqüência deste predomínio estatístico em ambos os am-
comportamento no pátio da escola (26) bientes (abrigo e escola). Os resultados do
e do abrigo (17), constata-se que os per- estudo revelam que a escola (n=26) teve
centuais que representam esse tipo de a maior ocorrência do comportamento
evento foram mais elevados no primeiro quando comparada ao ambiente de abri-
ambiente quando comparados aos do se- go (n=17), o que está, provavelmente,
gundo. Entretanto, a avaliação intragrupal relacionado às características sociais da
mostrou que não houve diferença estatís- instituição escolar, onde os profissionais
tica na diferença dos percentuais do com- buscam incentivar os alunos ao cuidado
portamento de cuidado observados nos recíproco, através de atividades grupais e
pátios da escola e do abrigo. Quando se da educação inclusiva de inserção de alu-
considera para análise o desempenho de nos com deficiência neste ambiente. Os
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cuidada e não deseja depender por muito para com a adoção. Ressalta-se, ainda, a
tempo de quem possa abandoná-la. A ne- necessidade de uma ampliação da rede de
gação ao desenvolvimento também é uma Grupos de Apoio à Adoção em todo o país,
forma de se defender; essa defesa será com o objetivo de esclarecer, fortalecer e
criada se a criança não tiver se encontra- incentivar as futuras relações parentais
do com seu passado. “A criança é confron- derivadas da adoção.
tada com um medo do futuro, por conta
de um passado ignorado e concebido em Palavras-chave: adoção, família adotante,
sua fantasia como grotesco e ameaçador” desenvolvimento infantil
(Schettini, 2006). Outra defesa a ser con- Contato: Alessandra Themudo Lessa,
siderada diz respeito ao desenvolvimento Psicologia - FMU, dudalessa@uol.com.br
sexual; se há uma certeza que a criança,
agora já na puberdade tem, é de que ela
é resultante de um ato sexual de seus LT06-844 - CRIANÇAS EM ACOLHIMENTO
pais. Muitas vezes essa é a informação INSTITUCIONAL E SUAS DINÂMICAS
de maior relevância que tem de seus pais FAMILIARES
biológicos, e as crianças se apegam a ela Emmanuelle de Oliveira Ferreira - UFRN
gerando dois possíveis comportamentos: emmanuelle_of@yahoo.com.br
precocidade sexual, como identificação Rosângela Francischini - UFRN
do filho com os pais de origem, ou afasta- rfranci@uol.com.br
mento de sua sexualidade, por associá-la Financiamento: CAPES
a pais biológicos não confiáveis e “maus-
-modelos” (Levinzon, 2009). Sendo assim, O acolhimento institucional de crianças e
conclui-se que o desenvolvimento de uma adolescentes, no Brasil, e o (des)amparo
criança adotiva está intimamente ligado à destinado a eles e suas famílias são temas
relação parental e ao ambiente que essa de extrema relevância para a garantia do
criança estará inserida. Além disso, Winni- direito desses sujeitos. O Estado Brasilei-
cott (1953) revela que o grau de perturba- ro tem sua responsabilidade estabelecida
ção ambiental que a criança sofreu antes em lei sobre a proteção à família e, junta-
da adoção também influencia o seu de- mente com ela e com a sociedade, deve
senvolvimento: quando sua história inicial fazer valer os direitos das crianças e dos
não foi suficientemente boa em relação à adolescentes, o que é confirmado pelo
estabilidade ambiental, os pais adotivos discurso da Constituição Federal (Brasil,
têm que saber que, além de pais, serão 1988), do Estatuto da Criança e do Ado-
“terapeutas de uma criança carente”. É lescente (Brasil, 1990), do Plano Nacional
importante que os pais sejam alertados de Promoção, Proteção e Defesa do Direi-
sobre esse fato, pois, o cuidado da criança to de Crianças e Adolescentes à Convivên-
exigirá, deles, mais do que o simples ma- cia Familiar e Comunitária (Brasil, SEDH,
nejo comum. Com isso, ressalta-se ser de 2006), entre outros documentos do país.
fundamental importância o conhecimento Vicente (2005) expõe a dimensão política
prévio da história de vida dessas crianças do vínculo entre a criança e sua família de
pela família adotante, assim como a ve- origem afirmando que, para a proteção e
rificação das reais motivações da mesma desenvolvimento desse vínculo, é neces-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sária a atuação estatal. Um suporte, como prias falas: vivência de rua, mendicância,
pode se pensar a partir de Vasconcelos, violência e uso de drogas por parte de
Yunes e Garcia (2009) e Cavalcante, Ma- familiares. A partir das interações com
galhães e Pontes (2009), que se faz mais as crianças foi possível destacar e anali-
veemente para as famílias que, muitas sar tais fatores, procurando observá-los
vezes, por enfrentarem toda a sorte de integrados a seus ambientes particulares
privações e situações indignas, também e entender como esses ambientes se ar-
expõem crianças e adolescentes a condi- ticulam à conjuntura geral, constituída
ções precárias, presentes desde antes do por problemas socioeconômicos de toda
nascimento desses sujeitos e culminando ordem, enfrentada por diversas famílias
no seu acolhimento institucional. Este es- no Brasil. Magali e Cascão abordam a vio-
tudo apresenta as percepções de suas di- lência de modo frequente, mesmo que de
nâmicas familiares por três crianças, dois formas distintas e, no caso de Cascão, em
meninos e uma menina: Cascão, Magali e situações hipotéticas/imaginadas, não
Cebolinha (os dois últimos irmãos) com, dizendo respeito diretamente ao seu nú-
respectivamente, oito, nove e sete anos, cleo familiar de origem, como na situação
em uma instituição estadual localizada imaginativa do procedimento com figu-
em Natal, Rio Grande do Norte. Nos pro- ras. Além da forte presença da violência
cedimentos realizados individualmente, nos discursos de Magali e Cascão, a vivên-
foram usados materiais de desenho e fi- cia na rua por parte das famílias compa-
guras. Ao todo foram cinco procedimen- rece nos discursos de ambos os sujeitos,
tos, além de uma conversa inicial com as ao criarem uma família (procedimento de
crianças, todos registrados com gravador imaginar e desenhar uma família que não
e no diário de campo. Cada criança fez: um a deles) e contarem um pouco sobre a
autorretrato, acompanhado ou seguido vida dela, o que pode refletir experiências
de conversa com a pesquisadora; o dese- de suas realidades antes do acolhimento
nho delas junto com sujeitos que estavam institucional, já que relatos de situações
na instituição onde se encontravam e com similares constavam em seus relatórios
outros que haviam sido desabrigados; o ou em falas acerca de suas famílias de
desenhado da própria família e o de outra origem. Cebolinha, quando questionado
que não a deles; além do procedimento sobre o porquê de estar em acolhimento
em que tinham imagens de crianças para institucional, responde de forma a con-
dar nomes, características e imaginar firmar discursos de Magali, pelo menos
suas vidas em contextos familiares e em no que se refere ao abuso de substâncias
instituições de acolhimento. O corpus foi químicas da mãe, relatado pela menina
analisado por meio da Rede de Significa- e, ainda, deixando clara a relação que
ções, perspectiva teórico-metodológica faz disso com sua condição atual. Cascão
adotada ao longo de todo o trabalho, e também aponta o uso de drogas por parte
da Análise de Conteúdo Temática. No cor- da sua mãe, fazendo uma relação dessa
pus constituído, destaca-se a presença de situação com a sua condição de abrigo, de
vários fatores de risco nos contextos de modo similar ao de Cebolinha, mas, adi-
suas famílias, constatados em relatórios ciona a circunstância em que se encontra
psicossociais dos sujeitos e em suas pró- seu pai, preso. Referente à temática que
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
emerge das falas das crianças, Vascon- tência aos membros de toda e qualquer
celos et al. (2009), coerentemente com família no Brasil, cabendo-lhe criar meca-
Cavalcante et al. (2009) e Azôr e Vectore nismos para coibir violências nas relações
(2008), afirmam que existe influência, nos entre eles contribuindo, enormemente,
grupos familiares do público de crianças para a garantia do direito à convivência
institucionalizadas, de numerosos fatores familiar e comunitária.
de risco, que são por eles enfrentados e
podem tornar vulneráveis crianças e ado- Palavras-chave: crianças, acolhimento
lescentes a ocorrências de negligência, institucional, famílias
vivência de rua, violência física, psicológi- Contato: Emmanuelle de Oliveira Ferreira,
ca, sexual..., as quais se ligam às dificulda- UFRN, emmanuelle_of@yahoo.com.br ou
des socioeconômicas, culminando com o manumousinho@yahoo.com.br
acolhimento institucional desses sujeitos.
Tais contextos tornam as possibilidades
de vida e desenvolvimento precárias e de- LT06-1012 - CRIANÇAS E ADOLESCENTES
terioradas, contribuintes do não cuidado AFASTADOS DA CONVIVÊNCIA
dos filhos por parte dos pais ou, melhor FAMILIAR: ANÁLISES A PARTIR DE UMA
dizendo, da não garantia dos cuidados INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
mais básicos e essenciais a esses sujeitos. Rita de Cássia de Souza - UFV
Assim, tal conjuntura, que une à pobreza ritasouza@ufv.br
diversos outros problemas sociais, deve
receber mais atenção real do Estado e Esta comunicação propõe uma discussão
dos governos, pois, ao mesmo tempo em sobre os motivos que têm determinado
que os núcleos familiares tratados aqui a retirada de crianças e adolescentes de
não podem ser isentos da responsabili- suas famílias, e o que tem sido feito du-
dade pelas condições de risco impostas rante este período de afastamento. De-
a essas crianças quando sob os seus cui- fendemos que o papel das instituições de
dados, também, são vítimas da falta de acolhimento não se restringe a planejar
suporte social estatal, da ausência de po- o cotidiano das crianças e adolescentes,
líticas públicas eficientes e eficazes para mas, é muito mais complexo e relevan-
o cuidado e o atendimento às famílias te, consistindo em preparar-lhes para, o
que, como um todo (considerando todos quanto antes, realizar a reinserção destes
os seus integrantes), estão mais expostas no ambiente familiar ou a criação de no-
às desigualdades econômicas e a todas as vos vínculos sociais e afetivos. Algumas
dificuldades de sobrevivência que tais de- pesquisas mostram que o estabelecimen-
sigualdades, frequentemente, acarretam. to de vínculos sociais e afetivos é condi-
Para finalizar, é importante refletir, justa- ção fundamental para o desenvolvimento
mente, sobre o que é destinado às famí- humano. René Spitz (1887-1974), psica-
lias violadoras dos direitos dos seus filhos, nalista austríaco, estudou um orfanato e
nos casos apontados, e não ignorar que a um berçário de uma prisão de mulheres
Constituição (Brasil, 1988) - em seu artigo nos EUA e o resultado desta pesquisa foi
226, parágrafo oitavo - estabelece como publicado no livro O primeiro ano de vida
competência do Estado: assegurar assis- do bebê, em 1965. Nesta obra, Spitz rela-
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muitas vezes, se tornam incompatíveis tágio visa propiciar uma reflexão a partir
com as demandas exigidas pelo contexto da descrição das vivências e sentimentos
social. Segundo Bronfenbrenner (1996), sobre a inclusão no mercado de trabalho
a relação entre ambiente e desenvolvi- de aprendizes com DI de uma instituição
mento humano é marcada pelas intera- de educação especial da cidade de Bra-
ções da pessoa com os vários contextos sília. Com um total de quatro aprendizes
de desenvolvimento e em cada um em com DI, o presente relato baseou-se em
particular. De acordo com essa perspec- entrevistas com um roteiro semiestrutu-
tiva, o contexto ocupacional representa rado que objetivaram descrever a respei-
um dos contextos que pode proporcionar to da experiência de inclusão no merca-
à pessoa adulta com DI o desenvolvimen- do de trabalho. Tal roteiro foi adaptado
to de suas habilidades e competências a do estudo de Masson (2009) de acordo
partir das interações estabelecidas neste com as necessidades do presente estudo.
ambiente, bem como fora dele na sua re- Todos os participantes moravam em regi-
lação com outros ambientes, como o fa- ões administrativas do Distrito Federal e
miliar, o educacional e o comunitário. No tinham experiência de trabalho no ramo
caso das pessoas com DI, o contexto edu- do comércio. As idades variavam entre
cacional, tal como os Centros de Educação 19 e 32 anos. Três eram do sexo feminino
Especial são os principais locais de forma- e um do sexo masculino. A entrevista foi
ção profissional. Esta profissionalização é realizada individualmente, na própria ins-
realizada por meio de oficinas que visam tituição de capacitação e de acordo com
estimular a capacidade produtiva e o de- a disponibilidade dos entrevistados, com
senvolvimento de competências voltadas duração média de quarenta e cinco mi-
para o trabalho, tendo, ainda, objetivo nutos. As respostas foram transcritas de
de inclusão no mercado de trabalho ex- acordo com o roteiro de entrevista, sen-
terno, por meio do processo de emprego do analisadas posteriormente. As análi-
competitivo, ou a colocação em serviços ses das entrevistas demonstraram o sa-
internos na própria instituição profissio- lário recebido pelos participantes era de,
nalizante, por meio de emprego apoiado aproximadamente, um salário mínimo
ou trabalho protegido (Sassaki, 2003). A (R$ 465,00). Este valor, para maioria, era
inclusão vem se tornando um tema cada destinado para a compra de objetos pes-
vez mais relevante, especialmente, sob a soais e de interesse próprio, bem como,
perspectiva do desenvolvimento dessas para a ajuda no pagamento das despesas
pessoas (Lancillotti, 2003). Pode se con- domésticas. A administração desse salá-
siderar que investigar e descrever a visão rio, porém, na maioria dos relatos, era
das pessoas com DI, oferecendo dados de responsabilidade da família, principal-
empíricos para melhor compreensão e mente da mãe. Em relação ao sentimento
reflexão de seu processo de inclusão no de satisfação com o emprego, bem como,
mercado de trabalho pode ser um cami- com a realização das atividades que re-
nho promissor para subsidiar o planeja- alizavam no local de trabalho, todos os
mento de atividades na preparação do jo- participantes demonstraram contenta-
vem com DI para o mercado de trabalho. mento no início do emprego, perdendo-o
O presente relato de experiência de es- com o passar do tempo. A dificuldade de
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
engajamento no trabalho por parte das que a literatura já vem apontando sobre
pessoas com DI pode ser refletida nos a importância da inclusão no trabalho
dados dos participantes, pois dos qua- para a pessoa com DI, principalmente no
tro sujeitos, dois foram demitidos por pressuposto de que o trabalho para essas
justa causa e um pediu demissão. Para pessoas serve como uma via de inclusão
justificar esse processo os participantes social, permitindo ao indivíduo demons-
relataram motivos pessoais e dificulda- trar suas potencialidades e competên-
des em estabelecer vínculos de amizade cias, além do reconhecimento como
no ambiente de trabalho. Em relação ao cidadãos. O presente relato, também,
outro participante que se manteve no demonstra a necessidade de os serviços
emprego, o mesmo relatou que gostava profissionalizantes adaptarem seu currí-
de exercer sua atividade de trabalho, o culo no desenvolvimento de habilidades
que fez com que tivesse um bom rendi- sociais se adaptando ao real ambiente
mento na produção e, juntamente, com competitivo das empresas. É importan-
as boas condições socais do ambiente te que as empresas estejam dispostas a
da empresa garantiram sua permanência produzir no local de trabalho a acessibi-
no emprego. Como Jahoda et al (2009) lidade física e social. Além disso, que as
encontraram no seu estudo longitudinal empresas e as instituições profissionali-
que visava examinar a experiência das zantes estabeleçam um vínculo para que
pessoas com DI no trabalho, a carência possam conhecer suas necessidades e se
de oportunidades de relacionamentos adaptarem uma a outra. Ressalta-se, ain-
sociais e a ansiedade para atender às ex- da, a necessidade de estudos nessa área,
pectativas dos empregadores foram os que busquem uma maior compreensão
pontos negativos encontrados pelos seus do processo de inclusão no trabalho con-
participantes inseridos no mercado de siderando este como um contexto pro-
trabalho. Quanto às expectativas dos par- motor de desenvolvimento humano.
ticipantes, do presente estudo, em se in-
serir novamente no mercado de trabalho, Palavras-chave: inclusão no trabalho,
foi constatado que todos demitidos apre- deficiência intelectual, profissionalização.
sentavam expectativas de retornarem ao Contato: Adelaine Vianna Furtado.
mercado de trabalho competitivo. Isso Universidade Federal de Juiz de Fora.
demonstra que as dispensas, até mesmo ane_vf@yahoo.com.br
as voluntárias, não acarretaram implica-
ções danosas aos entrevistados. Como
Meletti (1997) ressaltou em seu estudo
com pessoas com DI com e sem experi-
ência no mercado de trabalho, a conquis-
ta de um emprego representa mais que
uma alternativa ao ócio, mas também
uma via de reconhecimento pessoal e
profissional. Portanto, as reflexões alcan-
çadas, com a análise das entrevistas do
presente relato, nos remetem a questões
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sexo, membros que a compõem, estado mães de bebês com mais de seis meses e
de saúde dos pais e do bebê. As avaliações 57% das mães de bebês com menos de seis
do desenvolvimento dos bebês foram re- meses apresentaram estresse. Os resulta-
alizadas mensalmente, sempre em datas dos apontam para a presença de estresse
próximas ao do aniversário dos mesmos, na amostra estudada, sendo mais presente
utilizando o Inventário Portage Operacio- em mães com menos de 30 anos, com boa
nalizado (Williams; Aiello, 2001). As ava- escolaridade, de família nuclear e com um
liações foram conduzidas na presença das único filho. Quanto às variáveis do bebê
mães, que serviram como mediadores e (sexo e idade), os dados apontam para a
informantes, sendo que o comportamento influência da idade do bebê (mais velhos)
do bebê foi observado a partir da estimu- do que o sexo na presença de estresse. To-
lação ambiental, emissão de comporta- davia, a amostra é reduzida (n=25), o que
mentos espontâneos e, também, obser- dificulta a generalização dos achados.
vações relatadas pelos pais. Entre o sexto
e o décimo terceiro mês, as mães foram Palavras-chave: estresse, mãe de bebê e
convidadas a responderem o Inventário de saúde mental.
Sintomas de Stress de Lipp (ISSL), sendo a Contato: Elisa Rachel Pisani Altafim – altafim.
participação voluntária e conforme dispo- elisa@gmail.com
nibilidade da mesma. O ISSL é um instru-
mento validado por Lipp e Guevara (2004),
que avalia os sintomas físicos e psicológi- LT01-800 - AMIZADE E SUPORTE SOCIAL:
cos vivenciados pelos sujeitos nas últimas DIFERENÇAS DE GÊNERO ENTRE JOVENS
24 horas, na última semana e no último ADULTOS
mês e possibilita realizar um diagnóstico Diogo Araújo de Sousa - UFRGS
da ocorrência do estresse, da fase em que diogo.a.sousa@gmail.com
esse se encontra e também, identificar se Elder Cerqueira Santos - UFS
os sintomas são predominantemente fí- eldercerqueira@yahoo.com.br
sicos ou psicológicos. Os resultados mos-
traram que dezesseis (64%) das 25 mães Na psicologia do desenvolvimento, desta-
apresentaram estresse, sendo que, delas, ca-se a análise de relacionamentos de lon-
12 (75%) apresentarem resistência e qua- ga duração, entre os quais se encontram
tro (25%) exaustão. A presença/ausência as amizades íntimas. A literatura é con-
de estresse foi associada, também, às vari- sensual quanto ao fato de que amizades
áveis sociodemográficas da mãe e do bebê desempenham importante papel ao longo
mais frequentes. Observou-se a presença do ciclo vital; na maior parte do tempo,
de estresse em 76% das mães de bebês para melhorias em habilidades sociais,
com menos de 30 anos, em 62% das mães saúde e qualidade de vida. Estudos apon-
com Ensino Médio completo, em 55% das tam que os relacionamentos de amizade
mães de famílias nucleares e em 69% das constituem entre 60 a 80% da rede social
mães de filhos únicos. Quanto às variáveis de uma pessoa. O suporte social se refe-
do bebê, 69% das mães de meninos e 62% re aos recursos materiais e psicológicos
das mães de meninas mostraram-se es- aos quais as pessoas têm acesso através
tressadas. Considerando a idade, 66% das de suas redes. Assim, relacionamentos de
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
amizade têm grande valia no provimento lidade manter o caráter de rede social pro-
de suporte social. O suporte social facilita movido pelo RDS. Foram percorridas cinco
o enfrentamento de crises e a adaptação ondas na amostra. Foram utilizados dois
a mudanças na vida e pode ser dividido instrumentos: um questionário sobre ami-
em: suporte emocional, incluindo apego, zades e uma escala sobre percepção de
conforto e poder confiar e acreditar em suporte social. Foram realizadas análises
uma pessoa; e suporte instrumental, en- estatísticas descritivas (frequências, mé-
volvendo ajuda direta, como empréstimos dias e desvios-padrão), e inferenciais (qui-
ou presentes, e serviços como cuidar de -quadrado, teste t de student e correlação
alguém que está doente, fazer um tra- de Pearson). Os resultados apontaram
balho para a pessoa, bem como o provi- a existência de uma homogeneidade de
mento de informações, orientações e con- características entre amigos íntimos, prin-
selhos. Este trabalho teve como objetivo cipalmente para o gênero. Dos homens
investigar relações entre características participantes, 74,1% foram indicados por
das amizades nas redes sociais de jovens outros homens, enquanto que 71,4% das
adultos e sua percepção de suporte social, mulheres foram indicadas por outras mu-
focalizando diferenças de gêneros entre lheres (p<0,001). Além disso, homens de-
os jovens, tanto para o gênero da pessoa monstraram possuir mais amizades mas-
quanto para o gênero das suas amizades. culinas do que as mulheres e vice-versa
Participaram 98 jovens adultos (45,9% ho- (p<0,001). Foram encontradas diferenças
mens), com idades entre 18 e 30 anos (M significativas entre as melhores amizades
= 23,01 anos; DP = 6,57). Quanto à escola- de homens e mulheres para as funções de
ridade, a maioria possuía ensino superior segurança emocional e intimidade, sendo
incompleto (75,5%). A amostragem se deu que as mulheres obtiveram maiores mé-
pela técnica do Respondent Driven Sam- dias em ambos os fatores (p<0,01). Em-
pling (RDS). O RDS é uma abordagem de bora as mulheres tenham percebido suas
amostragem que vem alcançando grande melhores amizades como preenchendo
popularidade internacional. Os dados são mais funções do que os homens, isto não
coletados por meio de um mecanismo de implica em uma desvalorização dos ho-
bola de neve que começa com o recruta- mens para tais aspectos. As diferenças
mento de poucas pessoas que se encai- se mostraram mais quantitativas do que
xem no perfil da população-alvo – as se- qualitativas. Aos serem questionados so-
mentes. No presente trabalho, a coleta de bre quais as primeiras palavras que lhes
dados teve início com quatro sementes – vinham à cabeça quando pensavam em
dois homens e duas mulheres. As semen- amizades, não houve diferenças signifi-
tes constituem a 1ª onda da amostra; as cativas entre homens e mulheres, tendo
pessoas recrutadas por elas compõem a 2ª ambos indicado palavras como “compa-
onda, e assim por diante. Neste estudo, as nheirismo”, “confiança”, “sinceridade/ho-
sementes responderam os instrumentos nestidade” e “respeito”. Isso é indicativo
e foram requisitadas a indicar, cada uma, de que a importância é dada por ambos
dois outros nomes para participar entre os sexos aos mesmos fatores, embora em
aqueles que apontaram como amizades graus distintos. Além do gênero do partici-
próximas. Tal procedimento teve por fina- pante, também foi considerado o sexo do
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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de irritação, em que a criança não mais con- artigos incluídos em base de dados (Scielo,
segue suportar o excesso de sensações, ou Pepsic, Lume) a partir das palavras-chave
quando algo lhe incomoda muito, e a mes- relacionadas ao tema; de uma cartilha e de
ma manifesta comportamentos de ferir-se, 4 livros sobre autismo que mencionavam
morder-se, bater com a cabeça nos objetos sobre comportamentos autoagressivos.
próximos, arrancar os cabelos, entre ou- Foi feita uma leitura completa e seletiva
tros. O presente estudo busca então, inves- de todos os materiais encontrados e um
tigar a literatura científica da área, através agrupamento entre as seguintes catego-
da pesquisa bibliográfica, com o objetivo rias: Autismo; Comportamento autoagres-
de identificar quais as estratégias utilizadas sivo apresentados por indivíduos autistas;
pela Abordagem da Análise do Comporta- Formas de tratamento do comportamento
mento na ocorrência dos comportamentos autoagressivo mais difundidas; Formas de
autoagressivos, visando amenizar os riscos manejo apresentadas pela Análise com-
para a criança e buscando também verificar portamental. Em seguida, os dados foram
quais as variáveis que podem estar influen- fichados de modo a ser identificado as
ciando a ocorrência desses fenômenos. No principais idéias. Por fim, os dados foram
entanto, constata-se que há uma carência revisados e interpretados e foi elaborada a
de estudos sobre os comportamentos de síntese dos resultados. Os resultados apon-
autoagressão que podem ser manifesta- tam para várias tentativas terapêuticas
dos em crianças autistas. E, além disso, que foram ou continuam sendo propostas
entende-se que esses comportamentos no contexto dessa problemática como, por
constituem um estressor para a própria exemplo: 1- neurolépticos em altas doses;
criança, pois podem conduzir o indivíduo a 2- Reforço negativo; 3- Baclofeno; 4- Fen-
um processo de exclusão social, e também fluramina; 5- Antagonistas opióides, além
fazê-lo perder a oportunidade de apren- outros medicamentos, como a combinação
der novas habilidades, além de ameaçar vitamina B6-magnésio, carbamazepina,
a sua saúde e segurança. Para sua família ácido valpróico e lítio. Do ponto de vista
porque esses comportamentos exigem analítico-comportamental, o autismo é
cuidados integrais e desgastam a organi- uma síndrome de déficits e excessos que
zação interna desse grupo. E também para [pode ter] uma base neurológica, mas que
a comunidade, visto que a presença dos está, todavia, sujeita a mudança, a partir de
comportamentos autolesivos necessita da interações construtivas, cuidadosamente
utilização de mais recursos por parte das organizadas com o ambiente físico e social.
instituições, intervenções mais intensas e A Análise Aplicada do Comportamento tem
de maior custo. Nesse sentido, entende-se desenvolvido cada vez mais programas de
que estudar sobre este tema é de grande tratamento buscando analisar os aspectos
relevância. No âmbito metodológico, a re- do ambiente que poderiam estar manten-
visão bibliográfica foi elaborada a partir do o comportamento, enfatizando o ensino
de uma análise descritiva e qualitativa de de novas habilidades aos indivíduos diag-
pesquisas já existentes na área a fim de nosticados com autismo, opondo-se desta
estimular uma maior compreensão do pro- forma, ao tratamento medicamentoso tra-
blema pesquisado. A pesquisa foi operacio- dicional e à exclusão social dessas pessoas.
nalizada por meio de busca eletrônica de 6 Os comportamentos autolesivos apresen-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tados pelos indivíduos autistas podem es- autoagressão não tem a ver com nenhum
tar sendo mantidos por diferentes conse- problema fisiológico, e se é apresentado
quências, como por exemplo, necessidade de uma forma repetitiva e compulsiva,
de auxílio ou atenção dos outros, escapar pode representar uma forma de chamar a
de tarefas que são aversivas para o indi- atenção do cuidador, ou indicar que algo
víduo, obter objetos desejados, protestar não ocorreu como esperava, ou ainda
contra eventos não desejados, para comu- ser uma forma de estimulação sensorial.
nicar involuntariamente a ocorrência de Nesse caso, a Abordagem da análise do
alguma dor ou problema fisiológico que comportamento pode ser uma alternativa
causam sofrimento, e obter estimulação. eficaz, para reduzir a ocorrência dessas
O conhecimento das funções desses com- automutilações. Se não for possível
portamentos permite a compreensão de identificar uma causa ambiental para a
que os mesmos não são atos deliberados autoagressividade, primeiramente deve-
de agressão, mas que têm um valor co- -se recorrer a exames clínicos para averi-
municativo importante. De acordo com guar a existência de alguma dor, problema
a abordagem analítico-comportamental, fisiológico, ou para detectar algum pro-
para diminuir a ocorrência desses com- blema neurológico, como epilepsia, por
portamentos deve-se fazer uma análise exemplo. Nesse tipo de situação os medi-
funcional individualizada, avaliando as va- camentos podem ser uma alternativa a se
riáveis as quais o comportamento autoa- recorrer juntamente com a terapia com-
gressivo é função, para assim, ser possível portamental.
uma manipulação dessas variáveis ensi-
nando a criança meios alternativos de co- Palavras-chave: Autismo, comportamentos
municação e visando a aquisição de novos autoagressivos, Análise do Comportamento.
comportamentos adequados que atuem Contato: Larissa Andrade Viriato. Universidade
exercendo uma função semelhante ao an- Federal do Recôncavo da Bahia
terior que era inadequado. Cabe ressaltar lary_andrade15@hotmail.com
que esta análise deve ser realizada prio-
rizando as diferenças individuais e o con-
texto que influenciam o repertório com- LT01-885 – DESENVOLVENDO AS
portamental de cada criança e que não HABILIDADES SOCIAIS, O CORPO E O
esteja restrita à aplicação de procedimen- PSIQUISMO.
tos baseada exclusivamente em formas Jeane de Souza Pontes Viana - FAP/RJ
generalistas de diagnóstico. É importante jeanepontes@ig.com.br
também que a modificação dos comporta-
mentos ocorra de forma gradativa, tendo O pôster apresentado é referente a um
como objetivo principal a diminuição da trabalho de mediação, desenvolvido com
ansiedade e do sofrimento. Com base nos uma criança de cinco anos e meio diag-
resultados encontrados, entende-se que o nosticada como autista. Teve início em
manejo do comportamento autoagressivo dezembro de 2009, com base no Son-
em crianças autistas é bastante complexo. -Rise, que tem como base a atitude de
Porém, no que diz respeito ao tratamen- amor e apreciação, motivando a criança a
to, é possível compreender que quando a partir da motivação que ela já tem e exi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Sobre os pontos negativos, ela destacou te em relação ao seu próprio corpo e seus
que ficou com manchas, alergias, en- conflitos com a mãe para a não aceitação
joos e azia. Essa autoavaliação negativa das mudanças corporais experimentadas
foi tão marcante e forte para a gestante pela gestante. Considerações Finais: A
que uma de suas atitudes foi a retirada partir da entrevista, das leituras realiza-
do espelho (de corpo inteiro) que tinha das e da análise comparativa entre am-
em seu quarto. Para enfrentar as mudan- bos foi possível verificar que as expectati-
ças corporais da gestação ela evitava si- vas da gestante em relação às mudanças
tuações nas quais teria de se confrontar de seu próprio corpo estavam relacio-
com a própria imagem. Por exemplo, no nadas com sua própria imagem e com o
momento em que relatou que ao tirar relacionamento com os seus familiares,
fotos para ter de lembrança da sua ges- especialmente com sua mãe. Destaca-se
tação, não conseguia olhar o resultado. o fato de que apenas um aspecto posi-
“De modo geral, a mulher reagirá de uma tivo foi relatado pela gestante durante a
maneira ou de outra a essas mudanças. entrevista e estava relacionado a fala do
Poderá exaltar o seu corpo com grande marido. Por fim, salienta-se a necessi-
satisfação por tomar formas diferentes, dade de intervenções em saúde mental
mais femininas. Ou odiá-lo pela apa- para esta gestante, que objetivariam a al-
rência física que a desagrada” (Szeijer teração da sua percepção corporal, bem
& Stewart, 2002, p.121). Como um pon- como para promover uma relação mãe-
to positivo, a participante destacou que -bebê favorável.
seu companheiro achava-a bonita. Deve-
-se destacar, que a forma como ela fazia
referência a essa opinião era de modo LT01-893 – A CRIATIVIDADE E O
simples e direto, sem muitos detalhes. O PROFESSOR: UM PROCESSO DE
que poderia evidenciar que essa visão do DESENVOLVIMENTO HUMANO.
companheiro não era muito considerada
Alessandra do N. Pereira Tinoco - UF/RJ
por ela. Em relação a sua própria mãe a
alenptinoco@bol.com.br
gestante relatou que se sentia ressentida,
pois contou que certa vez ela a chamou Financiamento: PIBIC/UFRJ
de feia, também relatou sobre a gravidez
da cunhada, que segundo a gestante, re- A criatividade é algo inerente ao homem
cebeu muito mais atenção e cuidados por e de certa forma, está correlacionada com
parte de sua mãe. “Ela se sentava no sofá o processo de desenvolvimento humano.
e a mãe vinha e alisava a barriga dela, Para desenvolver o potencial criador da
conversava com o nenê. Já comigo a mãe criança, no entanto, se faz necessário que
não faz isso. E eu não esperava isso da esta receba estímulos durante a infância
mãe”. Podemos pensar que a gestante dentro do seu meio social. Os estímulos
tenha internalizado estes aspectos nega- em conjunto aos traços característicos da
tivos contidos na fala da mãe, passando a sua personalidade e da sua capacidade
sentir-se feia. Diante destes dados pode- de correr riscos poderão dar melhores
mos levantar a hipótese de uma relação condições para o seu desenvolvimento
entre as percepções negativas da gestan- evitando desperdício de potencial huma-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
no. Vale ressaltar que esses fatores são do aluno. Então, como podemos pensar a
imprescindíveis ao processo criador, sen- docência de modo a estimular o processo
do possível observar que a criança atra- criador? O professor propõe atividades
vés deles, se relaciona com o ato de criar que favoreçam o processo criador da
sem barreiras ao seu desenvolvimento e criança no cotidiano da sala de aula? O
este pode ser espontâneo dentro de um desenvolvimento do processo criador na
ambiente favorável. O desenvolvimento criança é um objetivo observável na esco-
da criatividade encontra-se intrinseca- la pesquisada? Qual a metodologia mais
mente relacionado à apropriação da cul- apropriada para que o aluno desenvolva
tura. Essa apropriação indica uma partici- características de sua personalidade que
pação ativa da criança no seu meio social, o tornem um aluno criativo, autônomo e
tornando próprios dela mesma os modos com a capacidade de formular soluções
sociais de perceber, sentir, falar, pensar diversas para a complexidade que a vida
e se relacionar com os outros. Assim, ela contemporânea nos exige? Estas são as
se manifesta de diversas formas e não questões que pretendemos discutir nesta
se limita apenas às artes, mas em outros pesquisa. Para reconhecermos a impor-
campos de atuação (Smolka, 2009). Pri- tância que a criatividade exerce sobre o
meiramente, a revisão de literatura nos desenvolvimento cognitivo e emocional
informa que a espontaneidade e a criati- infantil, destacamos o que Alencar (1996)
vidade são inatas ao ser humano e essen- descreve sobre o valor da criatividade,
cial para o desenvolvimento. No Brasil, pois para a autora esta é uma habilidade
observamos que muitos desconhecem necessária e que deve ser incentivada no
que o potencial presente no ser humano ambiente escolar, promovendo o bem es-
é imenso, que tem sido utilizado de for- tar emocional mediante as experiências
ma muito limitada, permanecendo mui- de aprendizagem criativas e que contri-
tas capacidades inibidas e bloqueadas bui para uma melhor qualidade de vida
por falta de estímulo, de encorajamento dos alunos. Também ajuda na formação
e de um ambiente favorável ao seu de- profissional do indivíduo, já que a criati-
senvolvimento (Alencar, 2009). Muitos vidade é uma peça fundamental para o
professores, em enfoque os da rede pú- indivíduo lidar com as adversidades do
blica de ensino, ignoram que suas atitu- mundo contemporâneo (Sartori & Fialho,
des, suas expectativas em relação aos 2009). Mediante essa interação do indiví-
alunos, assim como a metodologia utili- duo com o meio no que tange o ambien-
zada no ensino podem favorecer a apren- te escolar, a criatividade está relacionada
dizagem ou, pelo contrário, podem criar com a produção de conhecimento, con-
barreiras para este desenvolvimento, sequentemente a escola é responsável
concorrendo ainda para tornar a aprendi- por garantir meios que possam favorecer
zagem um processo aversivo e doloroso. condições para que o aluno possa criar.
Nesse aspecto, podemos dizer que o pro- Se a criança estiver inserida em um am-
cesso criador da criança sofre uma influ- biente acolhedor e que facilite e estimu-
ência significativa da escola durante a sua le o seu aprendizado, esta terá grandes
construção e a metodologia do professor chances de se tornar um sujeito criativo.
pode contribuir para a produção criativa Buscando conhecer o contexto da sala de
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hospitalar na vida da criança cobram o no que diz respeito às suas relações com
estudo de seu desenvolvimento nesse as crianças. A elaboração e efetivação da
contexto, a compreensão das vivências sessão com sucatas, embasada em con-
estressoras e protetivas para a criança, ceitos da Psicologia Sócio-Histórica, em
sua família e equipe de cuidados hospi- especial a mediação e os processos de
talares dentro do ambiente do hospital. significação, buscou aproximar a reali-
Esse trabalho apresenta os processos en- dade externa à interna do hospital, além
volvidos em uma sessão de brinquedos de trazer alternativas para a confecção e
e brincadeiras com sucatas realizada na uso de brinquedos. Ao se considerar as
brinquedoteca do Hospital Universitário dimensões nomeadas por Urie Bronfen-
Júlio Müller (HUJM) em Cuiabá/MT. O brenner (1996/1979) no que diz respeito
HUJM tem sua brinquedoteca organizada à sustentação de processos de interação
e mantida pela Faculdade de Enferma- humana com ênfase na saúde, é possível
gem da Universidade Federal de Mato identificar três pilares: afeto, reciprocida-
Grosso, que realiza diversos projetos em de e equilíbrio de poder entre os partici-
seu interior, entre eles o “Cuidar Brin- pantes das ações sociais. Também, foram
cando”, que traz para as crianças hospi- considerados diversos autores que abor-
talizadas e suas famílias a oportunidade dam a temática do brinquedo e do brin-
de utilizar o espaço lúdico, brinquedos car na promoção do desenvolvimento
e computadores para auxiliar na elabo- infantil (Brougerè, 1995 e outros que vou
ração do processo de hospitalização, na citar)Dessa forma, ao se pensar a inter-
adesão aos tratamentos e nas dinâmicas venção com sucata, foram considerados
das terapêuticas necessárias durante a esses pilares, na busca da sustentação e
internação. Em parceria com esse proje- manutenção de aspectos mediacionais
to, o Curso de Psicologia da UFMT/Cuiabá efetivos e construções de redes de signi-
conduz o projeto “Infância, brinquedo e ficação promotoras de saúde. Para tanto,
hospitalização”, através do qual a inter- as estudantes de Psicologia utilizaram os
venção com sucatas foi realizada, sendo dados informais coletados ao longo de
essa também ligada à prática da discipli- cinco meses de presença na brinquedo-
na Estágio Básico em Contextos Educacio- teca, de uma a duas vezes por semana,
nais e Sociais. A presença dos estudantes o que favoreceu a construção de conhe-
de Psicologia nas atividades da brinque- cimentos e vínculos nesse espaço. Esses
doteca tem três objetivos específicos: dados foram obtidos em conversas com
pesquisar junto às crianças suas expec- as crianças, seus cuidadores imediatos
tativas e demandas quanto ao espaço da e equipe técnica, além de coletados nas
brinquedoteca e o uso dos computado- próprias atividades lúdicas, realizadas
res, identificar e intervir em característi- enquanto brinquedo livre nos encontros
cas do desenvolvimento infantil que pos- comas crianças. O aspecto cognitivo tam-
sam ser implementadas ou melhoradas bém foi valorizado, trazendo essa ativi-
enquanto as crianças estão internadas e dade características de desenvolvimento
fazem uso da brinquedoteca e, por fim, psicomotor, raciocínio lógico e processos
identificar e trabalhar demandas especí- de imaginação, memória e linguagem
ficas das famílias e técnicos cuidadores (Stenberg, 2000). O material utilizado foi:
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do curso de Psicologia da UCB. A idéia do de saúde ou escolas. Além disso, foi fei-
projeto surgiu da experiência de profes- ta uma articulação com os PRAIAs - DF
sores e alunos do curso de Psicologia da - Programas de Atenção Integral à Saúde
referida universidade que, nos últimos do Adolescente para identificar casos de
dez anos, tem recebido no seu Centro de transtornos alimentares, via Coordena-
Formação em Psicologia Aplicada, um nú- ção de Saúde do Adolescente da Secre-
mero significativo de encaminhamentos taria de Saúde do DF. O DF tem hoje 15
de crianças e adolescentes com transtor- PRAIAs em 15 regionais de saúde, aten-
nos alimentares, seja de órgãos e profis- dendo adolescentes na perspectiva Biop-
sionais de saúde, escolas ou mesmo pais sicossocial. O referido Programa está en-
que buscam o nosso centro à procura de caminhando os adolescentes e suas famí-
ajuda. Essa imensa demanda deve-se, em lia à UCB para participarem da pesquisa,
parte, à falta de um programa regular e após assinatura de um Termo de consen-
eficaz de atendimento a essa clientela no timento Livre e Esclarecido. As atividades
âmbito do Distrito Federal. A falta de um de pesquisa uis estão sendo realizadas
referencial teórico e prático que oriente no Centro de Formação em Psicologia
o trabalho dos professores, pesquisado- Aplicada da UCB, divididas entre ativida-
res e supervisores de estágio da UCB nos des de pesquisa-ação com as crianças e
motivou a realizar, nos últimos três anos, adolescentes e com as famílias, diagnós-
pesquisas de Mestrado sobre o referido tico com o Método do Rorchach com os
tema, objetivando uma melhor compre- adolescentes, encontros lúdicos em gru-
ensão dos transtornos alimentares e obe- po com as crianças e adolescentes, en-
sidade, buscando ampliar o olhar sobre trevistas e Grupos Multifamiliares com os
o indivíduo que apresenta o transtorno genitores. Os dados parciais da pesquisa
para o seu contexto familiar e social. Por estão em consonância com os trabalhos
outro lado, a gravidade dos transtornos e constantes do levantamento bibliográfico
a falta, ainda, de literatura que embase sobre o tema, ou seja: fatores individu-
o trabalho com essa clientela, exige que ais, familiares e sociais estão na base do
estudos mais aprofundados sejam rea- surgimento e da manutenção dos trans-
lizados. Entendemos que os resultados tornos alimentares e da obesidade em
obtidos com essa pesquisa podem ajudar crianças e adolescentes e precisam ser
a aprimorar os serviços de atendimento levados em consideração quando se pen-
de saúde à comunidade, tanto os do âm- sa em metodologia de atendimento efi-
bito público, como os de âmbito acadê- caz para esses problemas de saúde.
mico dos hospitais e clínicas - escolas das
universidades. O estudo está envolvendo Palavras-chave: transtornos alimentares,
30 famílias de crianças e adolescentes obesidade, dinâmica familiar.
com diagnóstico de transtorno alimen- Contato: Heron Flores Nogueira
tar (anorexia nervosa, bulimia nervosa) heronfn@uol.com.br
e obesidade que procuraram a universi-
dade para atendimento psicológico ou
foram encaminhados por instituições e
profissionais de saúde, hospitais, postos
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
como desafiadora e hostil. Sendo assim, o 1994) com análise de dados qualitativos
presente instrumento pareceu identificar (Bardin, 1977). Participante: Participou
e a avaliar qualitativamente as estratégias do estudo uma gestante multípara no
de enfrentamento de crianças em idade terceiro trimestre de gestação, com 28
pré-escolar, contribuindo para o diagnós- anos de idade que residia com seu com-
tico e intervenção psicológicos nesse con- panheiro. Procedimentos: A coleta de
texto. Entretanto, tal instrumento se en- dados ocorreu em setembro de 2010,
contra em fase de aprimoramento, sujeito na casa da participante, onde foi aplica-
a alterações e análises estatísticas consis- da uma entrevista semiestruturada. Re-
tentes, a fim de ser validado como um ins- sultados: Os resultados revelaram que a
trumento capaz de avaliar as estratégias mãe através da interação, ou seja, com a
de enfrentamento (coping) de crianças conversa e o toque procurava formar um
em pré-escolas. laço afetivo com o bebê ainda no período
pré-natal, através dos movimentos fetais
Palavras-chave: Construção de instrumentos; a mãe acreditava que seu filho estava cor-
Avaliação de Coping; Psicologia Pediátrica. respondendo a suas comunicações com
Contato: Bárbara da Silva Ferrão- Faculdade ela, o incrementou suas expectativas em
Brasileira UNIVIX relação a ele. Já as expectativas atribuídas
edsferrao@folha.com.br ao sexo e nome ofereceram mais identi-
dade ao bebê. Discussão. A entrevista
corrobora com os achados da literatura
LT01-1000 – EXPECTATIVAS DA científica sobre o tema, pois revela que a
GESTANTE E INTERAÇÃO MÃE-BEBÊ relação mãe-bebê estabelecida durante a
Cleonice Aline Dutra - ACPC gestação é um investimento importante à
Evanisa Helena de Maio Brum - UFRGS constituição psíquica do bebê, e ao exer-
cício materno (Brazelton & Cramer, 1992).
A interação da mãe com seu bebê ainda A participante se mostrou muito presta-
na gestação é uma forma indispensável tiva ao responder os questionamentos
de estabelecer um relacionamento obje- feitos a ela. E segundo a gestante a gravi-
tivo, sendo assim a expectativa da gestan- dez estava sendo um marco em sua vida,
te para com o bebê, reforça ainda mais afinal a forma como o bebê correspondia
esta relação e torna esta interação mais as suas expectativas e a intensidade de
frequente e prazerosa. O bebê anuncia, seus movimentos fetais, faziam com que
então, sua existência no interior dos pais a mãe sentisse seu bebê como mais real.
muito antes do nascimento e os projetos Sendo assim, ela demonstrou também,
e expectativas que envolvem a sua che- estar cooperando para que a relação com
gada preparam o lugar, para acolhê-lo seu bebê fosse estável e “perfeita” após
(Piccinini, Tudge, Lopes & Sperb, 1998). o nascimento. Conclusão. A percepção
Objetivo: Investigar a interação através materna dos movimentos fetais é con-
da comunicação entre a díade e as expec- siderada um grande marco na gravidez,
tativas da gestante durante a gestação. pois, faz com que a mãe sinta o feto como
Método: O método empregado neste es- mais real e personificado, e incrementa as
tudo foi um estudo de caso único (Stake, expectativas referentes a ele. É a partir da
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maneira como são percebidos estes mo- cas. Dentro deste contexto, a existência
vimentos que as gestantes vão atribuin- de determinados problemas clínicos da
do características de temperamento ao gestante e do feto podem também elevar
bebê, além de expressarem que a intera- o nível da ansiedade materna diante de
ção passou a ser recíproca, e elas podem uma gestação de risco. O nascimento pré-
até compreender certas mensagens dos -termo do bebê está entre os fatores que
filhos (Maldonado, 1997; Raphael-Leff, mais afetam a experiência da gestação,
1997; Szejer & Stewart, 1997). A gestante podendo trazer dificuldades específicas
deste estudo afirmou que as expectativas para a mulher. Diante de uma gestação de
atribuídas ao bebê durante a gestação es- risco, a mãe poderá ter de fazer um esfor-
timularam ainda mais a comunicação en- ço maior para conseguir atingir a condição
tre eles. E que esta comunicação se fazia descrita por Winnicott (1956/2000) como
cada dia mais intensa, já que segundo a preocupação materna primária (PMP)
mãe, ela era correspondida por seu filho, que envolve um estado psicológico espe-
com mensagens de companheirismo e ca- cial da mãe, que a torna sensível às ne-
rinho através dos movimentos fetais. cessidades básicas de seu filho. Tal estado
tem início ainda na gestação, sendo acen-
tuado no seu final, estendendo-se até as
LT01-1011 – INDICADORES DA primeiras semanas ou meses após o par-
PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA to. Trata-se de uma condição fundamen-
NA GESTAÇÃO DE MÃES QUE TIVERAM tal da mãe para que o bebê tenha suas
PARTO PRÉ-TERMO necessidades atendidas de maneira satis-
Marocco, Carolina - UFRGS fatória desde a gestação, sejam elas quais
caca_mak@hotmail.com forem, e possa, a partir daí, continuar se
Anton, Márcia C. - UFRGS desenvolvendo. Winnicott (1956/2000)
marciacamaratta@gmail.com referiu que esse estado materno é pos-
Piccinini, Cesar A. - UFRGS sível graças a processos identificatórios
piccini@portoweb.com.br maternos que colocam a mãe em uma
Financiamento: CAPES posição de saber o que o bebê precisa.
No que diz respeito aos primeiros conta-
A experiência subjetiva materna frente tos com seu bebê, que começam desde a
à gestação e o nascimento do bebê tem gravidez, a mãe comunica-se com ele es-
sido motivo de inúmeras investigações sencialmente através de gestos e vocali-
nas últimas décadas. Existe um perío- zações. Diante da ameaça do nascimento
do sensível no decorrer da gestação até pré-termo na gestação, a função da PMP
os primeiros dias depois do nascimento, parece ser ainda mais crucial, pois a situ-
dentro do qual as trocas íntimas mãe-re- ação de vida imposta à mãe demandará
cém-nascido são facilitadoras do ajuste dela um esforço maior que o usual para
da díade e da vinculação afetiva posterior. conseguir entrar em sintonia com o bebê
A gravidez, por si só, envolve um intenso e conseguir exercer adequadamente sua
trabalho por parte da mulher, exigindo função. Diante disso, o estudo se propõe
que esta consiga assimilar e enfrentar a investigar indicadores da PMP na ges-
mudanças corporais, sociais e psicológi- tação de mães que tiveram parto pré-
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pidamente e que, com isso, valoriza mais a versos segmentos da sociedade atual com
experiência do que a teorização, alegando base em seus valores abrange também a
que esta não é autêntica e pode não re- psicologia do desenvolvimento.
presentar bem a realidade. Para a geração
baby-boomer a média para o valor poder Palavras-chave: Gerações, Valores, Indivíduos
foi de 4,98 (DP=1,25), para o valor esti- Contato: Stela Maria Santos de Lemos,
mulação foi 3,69 (DP=1,07) e para o valor Universidade de Brasília,
universalismo foi 1,92 (DP=0,80). A impor- stela.de.lemos@gmail.com
tância para o valor estimulação, caracteriza
a excitação e desafio na vida derivados da
necessidade de variedades motivacionais. LT02-1297 - EXPECTATIVAS DE FUTURO
É possível observar que todas as gerações DE ADOLESCENTES DROGADITAS
atribuíram uma importância maior ao va- Karen Lopes das Neves - UFRRJ
lor poder, o que significa uma preocupação karen.lone@hotmail.com
com a manutenção de uma posição social Thais Brasil de Oliveira - UFRRJ
independente da idade. Tamayo e Porto brasil_thaisoliveira@ig.com.br
(2005) afirmam que este valor tem como Carla Cristine Vicente - UFRRJ
objetivo manter um status social e pres- carlavicent@gmail.com
tígio, bem como ter controle ou domínio
sobre pessoas e recursos. Ademais, valores A literatura sugere que a pequena parce-
de poder podem demonstrar necessidades la de adolescentes que se envolvem com
de transformações individuais de domínio problemas relacionados ao uso de drogas
e controle. As gerações X e baby-boomer tende a já apresentar problemas emocion-
apresentaram médias baixas para o valor ais prévios em sua história de vida (Belsky,
universalismo, que é caracterizado pela 2010). Estes adolescentes também costu-
importância e proteção que se dá ao bem- mam apresentar um perfil de má relação
-estar das pessoas e da natureza, algo ne- social, tanto com seus pares quanto com
cessário para a sobrevivência dos grupos os seus familiares (Silva, 2007). Ao provo-
e indivíduos. Entretanto, esta necessidade car uma sensação inicial de euforia e bem-
só é valorizada quando o indivíduo entra estar, a droga gera uma falsa sensação
em contato com outros grupos e com a de efeito benéfico que atrai a atenção
escassez de recursos naturais (Tamayo e dos adolescentes ávidos pela novidade.
Porto, 2005), o que pode ser uma explica- Porém, o seu uso repetido e freqüente
ção para a baixa importância que foi dada acaba conduzindo a um ciclo vicioso, que
por tais gerações. O presente estudo abre causa danos ao sistema nervoso e afeta
uma discussão para seu importante uso o processo de socialização destes ado-
na área de psicologia do consumidor. To- lescentes (Soares, Gonçalves & Werner,
davia há um enfoque importante no uso 2010). Apesar de uma parcela dos jovens
de valores, assunto que vem crescendo que se envolvem com drogas conseguirem
dentro da psicologia, para que seja possí- de alguma forma chegar a instituições que
vel conhecer melhor relações entre cren- ofereçam tratamento para sua drogadição,
ças, atitudes e comportamento. Desta pouco se sabe a respeito de suas expecta-
forma, conhecer o perfil individual de di- tivas durante este processo de reabilitação
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
(Marques & Cruz, 2000). O objetivo da das, foram transcritas e analisadas através
presente pesquisa foi de buscar conhecer do exame de seus conteúdos. Resultado
as expectivas de adolescentes drogaditas e discussão: Todas as adolescentes par-
pertecentes a famílias de baixa renda e/ou ticipantes eram advindas de famílias com
a população de rua, em processo de trata- baixa renda ou população de rua. A maio-
mento em um abrigo especializado na re- ria mostrou possuir uma família desestru-
cuperação da dependência química. Meto- turada com pais ausentes ou completa-
dologia: A pesquisa foi realizada no Centro mente desconhecidos, confirmando o que
de Atendimento à Dependência Química Silva e Guimarães (2007) relataram sobre
(CADQ) Doutor Bezerra de Menezes, lo- um possível maior risco de adolescentes
calizado no subúrbio da cidade do Rio de virem a tornar-se drogaditas quando não
Janeiro. O abrigo é uma Organização Não possuem boas referências familiares como
Governamental conveniado à prefeitura base de valores éticos e morais. A metade
do Rio de Janeiro e que recebe ajuda de delas, já alternava com freqüência entre a
um grupo de empresários. A instituição é permanência e abandono dos abrigos. A
voltada ao atendimento de adolescentes droga relatada como mais utilizada pelas
do sexo feminino dependentes de drogas adolescentes foi o crack, sendo comum
ilícitas. Possui capacidade para vinte in- o uso de múltiplas drogas pelas adoles-
ternas, mas no momento da pesquisa centes. Com relação à expectativa de vida
abrigava somente dezesseis drogaditas após o tratamento, apenas uma das ado-
variando entre as idades de onze a dezoito lescentes relatou não ter perspectiva algu-
anos. Todas vinham de famílias pobres ou ma para si ou para o filho que estava por vir
de população de rua. As adolescentes che- (adolescente estava grávida na época da
gam a esta instituição por determinação entrevista). Todas as outras seis apresenta-
judicial, pelo conselho tutelar ou respon- ram expectativas relacionadas à retomada
sável. Muitas são vítimas de abandono, dos estudos, vir a trabalhar, melhorar suas
negligência parental e abuso sexual. Para a relações familiares e algumas perspectivas
presente pesquisa foi utilizada uma abord- de cunho religioso. Foi observada a ne-
agem qualitativa através de uma entrevista cessidade por parte dessas adolescentes
direcionada por um questionário. Foram de deixarem de viver à margem da socie-
entrevistadas sete adolescentes que se dade e se sentirem incluídas num padrão
voluntariaram a responder questões so- de vida considerado digno com direito à
bre: histórico do uso de drogas, expecta- educação, trabalho, moradia e estrutura
tiva de vida após o tratamento, contexto familiar adequada. O desconhecimento da
familiar, preocupações atuais e seus de- figura paterna ou o descaso da materna
sejos. Algumas perguntas auxiliares foram mostrou-se recorrente em suas falas. A
desenvolvidas previamente, porém, foi retomada aos estudos se mostrou pre-
dada liberdade para que as adolescentes sente como expectativa de quase todas as
falassem de outros temas que as interes- adolescentes, a ponto de ser considerada
sasse. As entrevistas foram gravadas com uma prioridade após o tratamento. Além
a concordância das entrevistadas e foram de estudar, as adolescentes pretendem
realizadas individualmente em um local trabalhar, como um meio para uma mu-
isolado das demais. Depois de concluí- dança de vida e recuperação da dignidade.
443
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da cultura, que passam, então, a orientar se constitui entre Ben e Gwen uma rela-
sua conduta. Ocorre que ao internalizar tais ção de amizade que permita o desenvolvi-
signos, ela também se apropria dos signi- mento psicossocial de ambos. A literatura
ficados da cultura. Por serem construídos descreve que crianças escolares passam
objetivamente no processo histórico, en- grande parte do tempo em grupos segre-
tende-se que esses contêm aspectos ide- gados pelo sexo (Cole, Cole, 2003). Todavia,
ológicos fruto das relações sociais. Os de- essa segregação sexual é forte em alguns
senhos infantis não estão livres de concep- contextos, enquanto em outros, meninos
ções de criança, pelo contrário, carregam e meninas brincam juntos, compartilham
ideias, valores, condutas e, desta forma, descobertas e desenvolvem uma relação
difundem uma forma de ser criança. Com- de amizade. A amizade é um traço típico
preendendo os desenhos animados como das relações entre as crianças em idade es-
um dos elementos da realidade social da colar (Petrovisk, 1985). O que fundamenta
criança é possível supor sua influência, o uma relação de amizade é a reciprocidade
que exige daqueles envolvidos com a edu- e interesses comuns. As amizades entre as
cação, uma postura crítica. O presente tra- crianças são relações sociais que permitem
balho analisa o desenho infantil “Ben 10” o desenvolvimento da solidariedade, co-
25
com objetivo de conhecer a concepção municação, conhecimentos dos outros e
de criança contida nele. Dada a brevidade do mundo, além de propiciarem modelos
do presente texto, apresentamos a análise de relacionamento íntimo caracterizados
da quarta temporada (2007-2008). Todos pela confiança (Cole, Cole, 2003). Uma vez,
os episódios foram assistidos (total de dez) que o desenho se passa no período de fé-
e descritos na forma de sinopses. Nossa rias, a escola não é o cenário principal das
atenção, pelo objetivo de nosso trabalho, aventuras de Ben 10. Entretanto, em dois
focou-se no conteúdo dos episódios. Cons- episódios é possível apreender a relação
truímos para nossa análise três categorias, do personagem central com a escola. Em
a saber: a relação criança-criança; a relação um dos episódios Ben tem um pesadelo
criança-adulto e a relação criança-escola. induzido por um dos vilões da estória. O
Ao sair de viagem de férias com seu avô cenário do pesadelo é a escola e ele foge
Maxwell Tennyson e sua prima Gwendolyn da biblioteca com medo dos livros. No epi-
Tennyson, “Gwen”, Ben encontra um reló- sódio final da temporada, Ben irrita-se com
gio que se fixa em seu braço, o omnitrix. o retorno à escola; na escola ele tem que
O omnitrix carrega uma carga de DNA que se conformar em ser um garoto comum,
permite mudar o código genético de Ben, sem superpoderes e exposto a agressões
dando ao garoto o poder de se transfor- de garotos mais velhos. Somente quando
mar, a sua escolha, em 10 alienígenas com a cidade é atacada por monstros e os ga-
super-poderes. A criança que Ben mais se rotos que o agrediram vêm Ben armado e
relaciona nos episódios é sua prima Gwen. se transformando em alienígena, é que ele
O desenho apresenta a relação entre Ben passa a ser respeitado na escola. A escola
e sua prima Gwen de forma caricaturada, para Ben 10 não se constitui como lugar de
estereotipada e marcada pela disputa; não ampliação das relações sociais, pelo menos
na ampliação de relações que sejam pauta-
25
Animação produzida pelo Cartoon Network Studios das em interesses comuns e na reciproci-
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prazo, apesar de não serem passíveis de e sociais (ex: escola, comunidade, centros
modificação em programas básicos de de saúde, opções de lazer, centros reli-
intervenção. No entanto, a intervenção giosos) podem minimizar ou neutralizar
psicológica pode ajudar a alterar a forma o impacto dos fatores de risco. É impor-
de se enfrentar os eventos estressantes, tante destacar a necessidade de fortale-
diminuir a ansiedade materna e melho- cimento dos fatores de proteção, em seus
rar a qualidade da interação entre mãe diferentes níveis, o mais cedo possível.
e filhos. A rede de suporte social familiar Em estudo de meta-análise, por exemplo,
também pode ser passível de ampliação, Bakermans-Kranenburg, Van Ijzendoonr
com orientações de como e onde buscar e Juffer (2005) concluíram que as inter-
determinados tipos de ajuda. Em função venções psicológicas para se trabalhar o
da situação aflitiva em que se encontram vínculo de apego entre mãe e filho ocor-
as crianças brasileiras, Della Barba, Mar- rem com excelentes resultados quando
tinez e Carrasco (2003) concluem que as este tem seis meses de idade. Outros
políticas públicas devem procurar facili- tipos de intervenção e de estimulação
tar a integração da mãe no mercado de também apresentam resultados excelen-
trabalho, auxiliá-la na conciliação de res- tes nos primeiros anos de vida da crian-
ponsabilidades familiares e profissionais, ça, em função da plasticidade do cérebro
apoiar crianças e famílias em situação de humano nesta época. No entanto, para
risco, favorecer oportunidades de escola- que realmente ocorra o fortalecimento
rização materna e paterna - uma vez que dos fatores de proteção e supressão ou
a escolaridade pode resultar em crenças minimização dos riscos, há necessidade
mais positivas com relação ao ambiente de se ter uma visão o mais abrangente
familiar, aumentando a provisão de mate- possível dessa multiplicidade de influên-
riais e interações afetivas - e auxiliar na cias a que o ser humano está exposto. A
implantação de ambientes que estimu- atuação da forma mais eficaz possível vai
lem o desenvolvimento global da crian- depender de inúmeros agentes, desde os
ça, como creches e escolas de qualidade, proponentes das políticas públicas, cuja
centros esportivos, entre outros. Outro iniciativa em nosso país está começando
ponto que eles destacam é a veiculação a não depender apenas dos órgãos go-
de informações a respeito do desenvolvi- vernamentais, como a atuação de uma
mento infantil para profissionais da saú- equipe multiprofissional, que trabalhe de
de e para a família. Eles concluem que os forma mais organizada e interdependen-
resultados serão satisfatórios quando a te. Trabalhar junto com a família, visando
intervenção envolver a família, a comu- suas necessidades gerais, é condição bási-
nidade e os serviços públicos, uma vez ca para a promoção do desenvolvimento
que saúde, ambiente e desenvolvimen- da criança e do adolescente, em toda sua
to infantil não são conceitos que podem potencialidade.
caminhar sozinhos. Os recursos pessoais
(ex: autoestima, habilidades cognitivas, Palavras-chave: fatores de proteção e de risco,
capacidade de enfrentamento de situa- crianças, adolescentes
ções adversas), familiares (ex: práticas pa- Contato: Lígia Ebner Melchiori, Unesp/Bauru,
rentais, vínculos de apego estabelecidos) lmelch@fc.unesp.br
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dam maior suporte, cuidado, informação, têm uma organização dinâmica, na qual as
acolhimento e orientação. Neste contexto, mudanças que ocorrem em uma determi-
os programas de atendimento familiar são nada relação afetam as demais; (c) a famí-
essenciais, tanto para orientar as famílias lia tende a manter um estado de equilíbrio
no que se referem às tarefas de desenvol- ou homeostase; e (d) o equilíbrio familiar
vimento do seu curso de vida quanto para ocorre através de uma constante readap-
apoiá-las, fortalecê-las e encorajá-las na tação ao seu contexto. Para compreender-
busca de soluções para seus problemas. A mos a família e suas relações extra-fami-
noção de fortalecimento da família como liares, faz-se necessário recorrer a outra
solucionadora de suas próprias dificulda- ferramenta teórica, mais abrangente e que
des deve ser priorizada no planejamento complementa a Teoria Sistêmica da Famí-
dos programas e de projetos de pesquisa. lia: o Modelo Bioecológico, proposto por
Para isto, duas condições são necessárias: Bronfenbrenner. Este modelo, bastante di-
adotar uma fundamentação teórica sistê- vulgado nas últimas três décadas, amplia
mica e modelos de formação profissional o escopo de análise e permite entender o
que sejam compatíveis à complexidade sistema familiar de forma integrada e glo-
das intervenções com as pessoas e as famí- bal, levando em consideração a pessoa,
lias em situação de risco. Assim, a primei- os processos proximais, os contextos eco-
ra parte desta apresentação é dedicada a lógicos e o tempo. Esta complexidade sis-
discutir como a teoria sistêmica da família têmica demanda uma inovação na forma-
e o modelo bioecológico de Bronfenbren- ção atual de uma equipe multidisciplinar.
ner constituem ferramentas apropriadas Assim, apresentamos uma das alternativas
para pesquisar e lidar com a família. Na de formação de profissionais que nos pa-
segunda parte, defendemos a importância rece apropriada: os Modelos Transdiscipli-
de se adotar um modelo de formação pro- nares. A intervenção transdisciplinar é de-
fissional compatível com a necessidade de finida como os papéis compartilhados en-
uma atuação sistêmica – o modelo trans- tre os limites ou fronteiras das disciplinas,
disciplinar. A terceira e última parte é dedi- de modo a otimizar a comunicação, a in-
cada a apresentar algumas reflexões sobre teração e a cooperação entre os membros
a necessidade de parcerias entre todos os da equipe. Portanto, os modelos transdis-
segmentos envolvidos com a qualidade de ciplinares têm como objetivo proporcionar
vida e o desenvolvimento de famílias em serviços mais integrados, coordenados e
situação de risco. Para estudar a família, centrados na família, reduzindo os proble-
frente às mudanças nas sociedades, é pre- mas de comunicação e potencializando a
ciso compreender as transformações ocor- coordenação dos serviços. A elaboração
ridas dentro deste microssistema e, deste, de programas, baseada única e exclusiva-
em relação a outros contextos extrafami- mente na experiência do próprio profissio-
liares. Quatro princípios devem ser consi- nal que executa a intervenção e limitada à
derados em um planejamento de pesqui- sua necessidade de trabalho com a família,
sa sob a perspectiva do desenvolvimento não se mostra mais adequada à complexi-
familiar: (a) a família é caracterizada por dade de um paradigma sistêmico. Um pa-
uma estrutura específica de relações entre radigma sistêmico requer a colaboração de
seus membros; (b) as interações familiares profissionais de diferentes áreas envolven-
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cutor sobre as alterações feitas pelas crian- dos na escrita de textos, de maneira geral,
ças ao revisarem seus textos, examinando e na revisão textual, em particular. Assim,
o papel desempenhado pelo adulto letrado do ponto de vista psicológico, compreender
com o qual a criança interage e que contri- o processo de escrita é essencial para de-
bui com o seu processo de constituição da senvolver habilidades linguísticas, tornan-
representação escrita. Pesquisas desta na- do o indivíduo competente em sua língua
tureza muitas vezes são estudos longitudi- materna. A partir de tal reflexão é possível
nais e estudos de caso. Segundo os dados gerar ainda alternativas educacionais relati-
gerados por essas pesquisas, durante a es- vas ao planejamento de situações em que a
crita, o escritor se coloca no lugar de leitor escrita passa a ser um objeto do ensino pas-
de seu próprio texto, marcando a existência sível de tratamento didático, sem perder de
de um leitor, ou seja, de um destinatário; e vista sua natureza psicológica (aquisição e
que o produtor do texto alterna os papéis desenvolvimento).
de escritor e de leitor. A presença de um in-
terlocutor internalizado, um leitor ao qual Palavras-chave: revisão textual;
o texto se dirige, tende a ser mais saliente crianças; psicologia.
com o aumento da idade e da escolaridade Contato: Renata Nóbrega de Lucena,
(através do domínio da escrita). Um grande renata.nobrega@gmail.com.
número de investigações tem examinado
ainda as diferentes situações de revisão e
interação entre revisores/escritores. Há in- LT02-842 - O CONHECIMENTO DE
vestigações envolvendo diversas situações ALUNOS DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO
de revisão: individual, em dupla e coletiva- FUNDAMENTAL SOBRE OS PORTADORES
mente. De maneira geral, observa-se que DE TEXTO
interações coletivas influenciam a maneira Kaline Jurema Jambeiro Rocha - UNIVASF
dos alunos revisarem. Um dos principais rocha.kaline@yahoo.com
resultados dos estudos em que se compa- Maria Tarciana de Almeida Barros - UNIVASF
ram diferentes situações de revisão é que mariatarciana@yahoo.com.br
a atividade de revisão conjunta provoca
um grande número de alterações sobre o Os estudos sobre Letramento no Brasil são
texto, havendo diferentes categorias de co- recentes, datando de duas ou três décadas
-elaboração dos membros: concordância e seguindo as preocupações com grupos
e discordância quanto a alguma alteração sociais marginalizados que não dominam
proposta e co-construção de maneira que a escrita. Por seu próprio estado de cons-
as alterações se articulavam e se comple- trução, é um conceito que enfrenta dificul-
mentavam. Os dados mostraram que mui- dades em sua definição. De acordo com
tas das ações de revisão ocorriam ao nível Kleiman (1995), tal conceito começou a ser
do planejamento da escrita e que tais alte- utilizado por pesquisadores com o objeti-
rações, no entanto, não se traduziam efeti- vo de diferenciar estudos sobre o impacto
vamente em alterações feitas sobre o texto social da escrita dos estudos em alfabeti-
em construção. Mapear, apresentar e dis- zação, que se ligavam quase que espon-
cutir esses estudos permitem compreender taneamente à escolarização e ao desen-
os diferentes processos cognitivos envolvi- volvimento de competências individuais.
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Diante dessa preocupação com o impacto Gostaria que você me desse o portador X;
social da escrita e das práticas sociais em (2) Como você sabe que este é o portador
que ela é central, os estudos em Letramen- X?; (3) O que você acha que tem escrito no
to desligam-se do individual e centram-se portador X? e (4). Pra que a gente usa o
no social, investigando não apenas quem portador X?. Com isso, obteve-se 2800 res-
é alfabetizado, mas todos os sujeitos que postas para o grupo total de participantes.
de certa forma se engajam em atividades Assim, focalizou-se o conhecimento dos
de escrita, mesmo que dominem ou não alunos sobre a identificação do portador,
as habilidades de leitura e escrita. O con- suas características, seu conteúdo, usos e
ceito de Letramento, portanto, focaliza os funções. Inicialmente, o grupo de pesquisa
aspectos sócio-históricos que são vistos estudou a bibliografia referente à temática
como intrínsecos à aquisição da escrita. da pesquisa. A seguir, o projeto foi subme-
Ao abordar-se a compreensão da criança tido ao Comitê de Ética em Pesquisa com
sobre a funcionalidade da língua escrita, é Seres Humanos. Sendo assinado o TCLE,
ressaltada a importância do texto enquan- realizaram-se entrevistas com os alunos
to unidade mínima de sentido lingüístico. O participantes. A análise dos resultados foi
uso da linguagem escrita em sociedade se realizada por meio de categorizações das
faz prioritariamente pelo texto. Dessa for- repostas em níveis hierárquicos, os quais
ma, foi investigado o nível de Letramento foram posteriormente avaliados estatisti-
dos alunos em relação aos portadores de camente (análise de variância). As análises
texto – objetos para serem lidos ou objetos foram feitas com base em estudo de Mo-
que carreguem um texto impresso (jornal, reira (1992). Quanto à identificação dos
receita de remédio etc.) (Moreira, 1992). O portadores de texto, notou-se uma maior
conhecimento sobre portadores textuais freqüência de respostas concentradas no
será aqui tomado como um indicador de Nível III (47,4%), p<0,001, ou seja, a maior
Letramento. O presente estudo nasceu da parte do alunado em questão consegue
preocupação crescente com a qualidade identificar corretamente os portadores,
do ensino da linguagem escrita no que se tendo como critérios as características ine-
refere ao fenômeno do Letramento. Diante rentes aos mesmos. Já quanto ao conteú-
desse cenário, objetivou-se identificar o ní- do dos portadores, notou-se que a maioria
vel de letramento presente em estudantes dos participantes encontra-se no Nível I
do primeiro ano do ensino fundamental de (50,9 %), p<0,001, ou seja, os alunos erram
escolas públicas do Vale do São Francisco. ou nada dizem em relação às previsões
Participaram do estudo 50 crianças de bai- quanto ao conteúdo dos portadores de
xa renda, de 6 a 7 anos, todas alunas do texto apresentados. Quanto à função do
primeiro ano do Ensino Fundamental I de portador, pode-se dizer que a maioria dos
Escolas Públicas Municipais da região do participantes encontra-se no Nível II (58,3
Vale do São Francisco. Foram aplicadas ta- %), p<0,001, ou seja, as crianças atribuem
refas, em entrevistas individuais, que ava- função ao portador levando em considera-
liaram o conhecimento sobre portadores ção situações particulares de contatos com
de textos dos alunos. Eram apresentados o objeto ou considerando que a função dos
14 portadores de texto separadamente, portadores possui um fim em si mesma,
cada um gerando quatro perguntas: (1) mas não identificam uma função comuni-
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cativo social dos mesmos. Os dados trazi- Já há algum tempo as discussões sobre alfa-
dos revelaram que apesar dos estudantes betização ocupam um significativo espaço
investigados conseguirem fazer a identifi- no meio educacional. Este fato provavel-
cação dos portadores de textos, mostraram mente deve-se à dificuldade que ainda en-
ainda não ter desenvolvido conhecimentos frentamos em alfabetizar os nossos alunos,
sobre a função comunicativo-social da es- o que se torna um grande desafio para to-
crita, assim como sobre o conteúdo que dos os que lidam com este tema. Se antes
os portadores possuem. Portanto, pode-se nos preocupávamos com a grande quanti-
questionar: qual o sentido que tais crian- dade de alunos fora da escola, hoje vivemos
ças estão produzindo sobre portadores de o que alguns pesquisadores têm chamado
texto? Os dados apontam que os mesmos de “exclusão de dentro das escolas”, fenô-
consistem em objetos extrínsecos, porém meno que caracterizaria a incapacidade
não são utilizados de fato como objetos das escolas em alfabetizar uma boa parte
comunicativos no cotidiano das crianças. dos alunos que a procuram. Reconhece-
Sendo assim, destaca-se a importância de mos que, em grande parte, a melhoria da
tornar a experiência com portadores de alfabetização dos alunos depende de polí-
textos mais significativa para as crianças, ticas públicas que efetivem investimentos
o que pode ser realizado em várias agen- nas escolas e na formação de seus profis-
cias de Letramento, inclusive na escola, sionais. Mas sabemos também que muito
considerada como uma das agências de vem sendo realizado por professoras com-
letramento. As dimensões da escrita ultra- prometidas com a sua função de ensinar.
passam as barreiras da relação grafofônica, Concordamos com Bressoux (2003) quando
sendo preciso pensar em outras dimen- afirma que se há professores que elevam
seus alunos a maior nível de sucesso do
sões tais como: a compreensão de textos,
que outros, investigá-los e compartilhar as
as habilidades cognitivas e metacognitivas
suas práticas seria uma possibilidade de
e os conhecimentos sobre textos envolvi-
melhorar o sucesso de muitos alunos, em
dos neste processo, propondo novas estra-
outras escolas. Trabalhamos, desse modo,
tégias de ensino-aprendizagem.
com o conceito de professora-referência28.
Esta seria uma professora reconhecida na
Palavras-chave: alfabetização; letramento;
comunidade escolar por sua capacidade
portadores de textos .
em alfabetizar os seus alunos. Dominaria
Contato: Kaline Jurema Jambeiro Rocha, a metodologia de alfabetização com a qual
UNIVASF, rocha.kaline@yahoo.com se propunha a trabalhar, teria uma boa re-
lação com os seus alunos, conhecendo-os
e respeitando-os, reconhecendo ainda as
LT02-936 - AS PRÁTICAS COTIDIANAS
suas necessidades de aprendizagem. Se-
DE ALFABETIZAÇÃO: O QUE FAZEM AS
ria, enfim, uma professora comprometida
PROFESSORAS-REFERÊNCIA EM DUQUE
com a aprendizagem do código escrito dos
DE CAXIAS?
seus alunos e eficiente na tarefa. Além de
Janete Teixeira de Lyra - PUC/Rio
janetelyra@ig.com.br 28
A escolha do gênero feminino deve-se à constatação de
Zena Eisenberg - PUC/Rio que os professores que alfabetizam são, em sua maioria,
zwe@puc-rio.br mulheres.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
betização, o que corrobora as críticas que Existem relatos de crianças que nas fases
Soares (2004) faz ao ensino da escrita nos iniciais da escrita utilizam estratégias refe-
últimos anos, fenômeno chamado por ela renciais ao invés de estratégias fonológicas
de “desinvenção da alfabetização”. Entre- (Ferreiro & Teberosky, 1982). Por exemplo,
tanto, as professoras foram escolhidas jus- crianças utilizam mais letras para escrever a
tamente por seus resultados satisfatórios. palavra ‘urso’ do que para escrever a pala-
Além disto, as orientadoras pedagógicas vra ‘mosquito’ porque elas acreditam que
compreendem que outros fatores, além do o número de letras deve refletir o tamanho
conhecimento técnico do professor contri- do objeto ao invés da duração da pronúncia
buem para a alfabetização dos alunos, sen- da palavra. Essas estratégias são algumas
do esses: o comprometimento profissional, vezes chamadas de estratégias referenciais
o respeito aos alunos, a abertura a novas ou estratégias semanticas. No entanto, a
aprendizagens, a afetividade e a preocupa- evidência para essas estratégias referen-
ção com a aprendizagem dos alunos. Em re- ciais é baseada em grande parte apenas
lação a estes aspectos acreditamos que se em relatos e essa estratégia ainda não foi
faz necessária uma investigação mais apro- rigorosamente testada. O presente estudo
fundada, no sentido de compreender como investiga o uso destas estratégias nas
se dão as múltiplas relações presentes no primeiras escritas das crianças. Estudamos
dia-a-dia. “É necessário que a sala de aula 106 crianças americanas de escolas particu-
como objeto de pesquisa seja revelada na lares que tinham o inglês como primeira lín-
sua cotidianidade, na interação professor- gua (idade média de 4 anos e 7 meses). As
aluno para que a “caixa-preta” seja aberta” crianças participaram de tarefas individuais
(Bressoux, 2003, p. 48). No momento es- de leitura, conhecimento dos nomes e sons
tamos organizando um protocolo de ob- das letras e de uma tarefa de leitura. Utili-
servação, com base no conjunto proposto zando um quadro magnético e letras mag-
por Albuquerque, Morais e Ferreira (2008). néticas, as crianças escreveram 24 palavras
Esse conjunto está organizado em catego- com comprimentos diferentes que repre-
rias e estas divididas em subcategorias re- sentavam pequenos objetos (por exem-
lacionadas às atividades de alfabetização plo, bug ´mosca`, mosquito ´mosquito´) ou
desenvolvidas pelas professoras. Em nossa grandes objetos (por exemplo, bear ´urso`,
re-elaboração buscaremos identificar quais dinosaur ´dinossauro`). Nós investigamos
atividades são privilegiadas pelas professo- se as crianças que ainda não eram fonoló-
ras-referência e com que frequência apare- gicas escreveriam as palavras que denotam
cem na rotina das mesmas. objetos maiores com mais letras, ignorando
o comprimento das palavras, e se as crian-
ças fonológicas demonstrariam escritas
LT02-1001 - ESTRATÉGIAS INICIAIS DE seguindo o padrão oposto. Utilizamos um
ESCRITA programa chamado AMPR (Treiman & Kes-
Tatiana Cury Pollo - UFSJ sler, 2004), que avalia as escritas de crian-
tpollo@gmail.com ças nas fases iniciais de escrita, bem como
Rebecca Treiman - WUSTL técnicas de Monte Carlo, para identificar
rtreiman@wustl.edu subgrupos que faziam uso significativo de
Financiamento: NIH letras que eram fonologicamente apropria-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
das ou que não utilizavam letras fonologi- não encontramos nenhuma evidência para
camente apropriadas em suas escritas (56 estratégias de escrita referenciais, mesmo
crianças). Esse último grupo é o grupo de no grupo de crianças que ainda não haviam
interesse nesse trabalho. Como esperado, aprendido a utilizar letras para representar
as crianças que utilizam fonologia em suas sons. A estratégia referencial descrita por
escritas utilizaram mais letras para palavras outros pesquisadores pode não ser repre-
mais longas (p < .001), enquanto o grupo sentativa da forma como a maioria das
que não era fonológico não utilizou (p = crianças não fonológicas escrevem em ex-
.808). No entanto, ao contrário do que se- perimentos controlados.
ria esperado se as crianças utilizassesm es-
tratégias referenciais, nenhum dos grupos Palavras-chave: Alfabetização; escrita;
consistentemente utilizou mais letras para estratégias referenciais.
objetos maiores (p = .237; grupo não fono- Contato: Tatiana Cury Pollo, UFSJ,
lógico). Em um segundo estudo, 35 crianças tpollo@gmail.com
americanas de escolas particulares (idade
média de 4 anos, 3 meses) escreveram pala-
vras a mão livre. Palavras que representam LT02-1023 - A UTILIZAÇÃO DA ZONA
objetos pequenos e objetos grandes foram DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL NA
escritas em pares para fazer o contraste de AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA
tamanho mais saliente. As palavras que re- Natalia Duarte - EAPE/SEDF/GDF
presentavam objetos pequenos ou grandes nataliasduarte@gmail.com
eram escritas lado a lado (por exemplo,
“Nós agora vamos falar de coisas do ocea- O presente trabalho destaca o desafio de
no. Nós vamos escrever duas coisas. Escre- assegurar o direito social de aprender a to-
va fish ‘peixe’ aqui. (Esperar a criança termi- dos os alunos e expõe indicadores das difi-
nar). Agora escreva ship ‘navio’ aqui deste culdades na aquisição da linguagem escrita,
lado”. Nem as 18 crianças que ainda não especialmente dos grupos mais vulneráveis
utilizavam fonologia em suas escritas pro- da população. Apresenta referencial teó-
duziram escritas maiores para palavras que rico que analisa as dificuldades da escola
representam objetos maiores. No entando, em socializar a aquisição da língua escrita,
quando pedimos que as crianças fizessem a em especial Mortatti (2006), Soares (2004)
mesma tarefa mas que, ao invés de escre- e Grossi (1995). Registra a presença dessa
ver, elas desenhassem os referentes, elas dificuldade nos últimos 100 anos e apre-
produziram figuras maiores para palavras senta a operacionalização do conceito de
que representavam objetos maiores. Isso Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP
demonstra que as crianças conseguiam sim no trabalho pedagógico para aquisição da
entender as diferenças de tamanho dos linguagem escrita. Destaca a ZDP como
objetos, mas escolheram não as represen- conceito Vygotskiano, apresentado em
tar em suas escritas. Ao final desse estudo Pensamento e Linguagem como aquilo que
nós entrevistamos as crianças e analisamos “a criança é capaz de fazer hoje em coo-
qualitativamente suas respostas e também peração” (Vygotsky, 1993, p.89). Destaca
não obtivemos nenhuma indicação de pos- a ZDP como uma janela para a aprendiza-
síveis estratégias referenciais. Para concluir, gem (FINO, 2001) a ser utilizada na escola e
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e as crianças foi encontrada nas tarefas dos adultos inscritos nesses programas
de consciência fonológica. Além disso, os possa impor alguma restrição à sua alfa-
adultos apresentaram um desempenho betização. Por exemplo, não encontramos
relativamente melhor do que as crianças uma relação entre a idade cronológica, as
nas medidas de nomeação seriada rápida, habilidades acadêmicas e as habilidades
embora apenas as diferenças envolvendo de processamento fonológico dos jovens
as medidas de nomeação de objetos e dí- e adultos que participaram deste estudo.
gitos tenham atingido significância estatís- Nossos resultados sugerem, portanto, que
tica. Os dois grupos tampouco diferiram o fracasso de programas de alfabetização
entre si na tarefa de repetição de dígitos tardia está provavelmente relacionado a
na ordem direta. No subteste de escrita do variáveis exógenas aos participantes. Es-
TDE e na tarefa de repetição de dígitos na tudos adicionais são necessários para es-
ordem inversa, as crianças se sobressaíram clarecer a natureza dessas variáveis.
aos adultos, ao passo que no subteste de
matemática os adultos apresentaram um Palavras-chave: Alfabetização de adultos;
desempenho significativamente superior crianças; processamento fonológico.
ao das crianças. Há evidência de que pro- Contato: Marcela Fulanete Corrêa, UNIVASF,
gramas de alfabetização tardia raramente mfulanete@gmail.com
são bem sucedidos (Abadzi, 1995; Di Pier-
ro, 2010). Semelhantemente ao que tem
sido relatado na literatura especializada,
os jovens e adultos que participaram do
CO 49 - LT03
presente estudo apresentaram pouco pro- Valores
gresso ao longo do programa de alfabeti-
zação. Dos 61 jovens e adultos avaliados
no início do estudo, 33 foram novamente LT03-1277 - COMO AS MÃES DIZEM
submetidos às tarefas de leitura e escrita CONVERSAR COM SEUS FILHOS SOBRE
do TDE no final do programa. Compara- SENTIMENTOS EMPÁTICOS
ções entre o seu desempenho no início Natália Lins Pequeno - UFPB
e no final do ano revelaram um aumento natalia_lins@hotmail.com
significativo, porém muito pequeno, no Cleonice Camino - UFPB
número de palavras lidas corretamente cleocamino@yahoo.com.br
[M=44,79; DP=19,56 para a primeira oca- Pablo Queiroz - UFPB
sião, M=48,21; DP=18,01 para a segunda pablooliver5@gmail.com
ocasião, t(32)=-2,96, p=0,006]. Além dis- Julian Bruno Santos - UFPB
so, nenhum progresso foi encontrado na ledjulian@hotmail.com
tarefa de escrita. A julgar pelos nossos re- Lívia Braga - UFPB
sultados, é pouco provável que o fracasso liviabsc@hotmail.com
de programas de alfabetização tardia no
Brasil possa ser atribuído a dificuldades A empatia é uma das habilidades mais
fonológicas apresentadas pelos seus par- valorizadas por todas as pessoas que cul-
ticipantes. Tampouco encontramos qual- tivam valores humanitários, sendo impor-
quer evidência de que a idade avançada tante para o desenvolvimento do julga-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
à situação que envolvia uma pessoa ne- sofrimentos nelas e principalmente neles
cessitada, destacou-se Ajudar o próximo/ próprios. É difícil compreender como este
Solidariedade (54,21% das respostas). Na último tipo recomendação promoveria
última situação estudada, pessoa pas- uma transformação de afetos – da angús-
sando por um sofrimento não merecido, tia empática para angústia simpática – e,
destacaram-se Ser generoso e Não fazer não acorrendo esta transformação, o indi-
nada errado (21,84% e 20,69% das res- víduo não desenvolveria a sua capacidade
postas, respectivamente). O fato das mães empática. Salienta-se que, segundo Hoff-
terem utilizado mais recomendações man (1975a,1982,1990), sem essa transi-
do que explicações mostra que elas não ção não haveria a possibilidade do desen-
deixaram claro para os seus filho porque volvimento de motivações altruístas.
determinados sentimentos podem ser ex-
perimentados e, neste sentido, não contri-
buem como deveriam para o processo de LT03-1416 - ENSINO DO TEMA
internalização moral. O fato do número de TRANSVERSAL ÉTICA NO ENSINO MÉDIO
explicações ter ultrapassado o das reco-
Nelson Pedro-Silva - UNESP
mendações na situação que envolvia uma
nelsonp1@terra.com.br
pessoa passando por um sofrimento não
Camila Mendes Prado - UNESP
merecido pode ter ocorrido porque essa
camilamprado@hotmail.com
situação suscita muitos sentimentos no
Camila Rippi Moreno - UNESP
observador e maiores descentrações cog-
cah.moreno@gmail.com
nitivas (Hoffman,1990,2003). As recomen-
Fernanda Estevaletto Macedo - UNESP
dações das mães para motivarem os filhos
fernanda.estevaletto@hotmail.com
a ajudar o próximo e a ser solidários com
a vítima demonstraram uma mobilização Financiamento: UNESP
afetiva das participantes para indicar aos
filhos como estes devem aliviar os senti- Nas últimas décadas, aumentou as quei-
mentos experimentados. A fala das mães xas dos docentes no tocante à violência
para os filhos não maltratarem o outro ao escolar. Ao pesquisar 13 mil alunos de
se referirem a uma situação de uma pes- escolas públicas brasileiras, por exemplo,
soa agredindo outra aparentemente de- Abramovay e colaboradores (2006) verifi-
monstra uma preocupação com o outro, caram que cerca de 50% dos docentes já
mas, considera-se que nesta verbalização tinham sido vítimas de violência discente.
há também uma preocupação nas conse- Em outra pesquisa, estudiosos concluíram
qüências em que um ato agressivo pode que 40% dos docentes consideraram as
trazer aos filhos das participantes. Julga- gangues de jovens e as drogas os maiores
-se que a recomendação dada pelas mães problemas escolares; 50% dos alunos têm
aos filhos para serem generosos ao verem o aprendizado prejudicado pela violência
uma pessoa passando por sofrimento escolar e metade dos professores pau-
não merecido incentivaria a expressão da listanos já relatou ameaças de agressão.
angústia, mas a segunda recomendação Para Fante (2005, p.9-10), a violência es-
dada para não fazerem nada errado pre- colar refere-se a “um conjunto de atitu-
veniria o filho para que este não causasse des agressivas, intencionais e repetitivas
478
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que ocorrem sem motivação evidente alunos e sua influência na violência esco-
[...], adotado por um ou mais indivíduos lar; pouca importância é dada à discussão
contra outro(s), causando dor, angústia e da moral brasileira e o trabalho sobre a
sofrimento”. Produziu, na maioria de suas ética é considerado “deficiente”. O obje-
vítimas, estresse, depressão, baixa auto- tivo principal da pesquisa foi desenvolver
estima, reduzida capacidade de autoafir- procedimentos para o ensino da ética.
mação e de autoexpressão, prejudicando Secundários: discutir, tendo como pers-
o processo de ensino-aprendizagem e de pectiva a psicologia moral e ética, temas
socialização. Para Pedro-Silva (2011), tal relacionados ao interesse dos adolescen-
fenômeno é produto de personalidades tes; oferecer espaço de escuta analítica
imaturas (elas só pensam em si mesmas (Kupfer, 2004); contribuir para a reflexão
e buscam a satisfação imediata), passando sobre a moral vigente; auxiliar no desen-
as diferenças a serem vistas como obje- volvimento ético; contribuir para a melho-
tos a serem destruídos. Há outras causas ria do aprendizado escolar e incentivar os
e explicações para o bullying. Entre eles: membros da escola à concretização dos
divulgação distorcida do saber psicológi- valores básicos previstos na Lei. Participa-
co; valorização de uma sociedade centra- ram da pesquisa 26 alunos do Ensino Mé-
da nos desejos infanto-juvenis (La Taille, dio entre 15 e 17 anos, ambos os sexos,
1998a); situação política e econômica do nível sócio-econômico D, matriculados
país (Costa, 1989; Silva, 2004); o fato de a numa escola pública paulistana. Foram
escola não ser mais vista como templo do realizadas 20 oficinas, realizadas sema-
saber (Bruckner, 1997); desvalorização do nalmente (duração de 50’), com dois exe-
conhecimento (La Taille, 2006); ausência cutores e oito alunos. Nestas, abordamos
da vergonha por apresentar condutas inci- vários temas (diversidade, escola, grupos
vilizadas (La Taille, 1996) e dificuldade dos urbanos, beleza, preconceito, sexualidade
docentes em lidarem com as novas políti- e bullying). Tais assuntos foram propostos
cas educacionais. Não se pode desprezar pelo pesquisador e/ou pelos próprios su-
que os alunos estão agindo segundo for- jeitos. Levantamos os temas de interesse
mas de glória (beleza, status social e finan- dos sujeitos e as representações acerca de
ceiro), são consumistas, individualistas e tais assuntos; depois, estabelecemos vín-
hedonistas (La Taille, 2009). Há também culo e apresentamos conteúdo sistemati-
os estudos de Costa (1988, 1989, 1999). zado com o fim de informá-los e, principal-
Estes apontam que, diante da impotência mente, de que tais saberes funcionassem
e a impossibilidade de mudança do mo- como elementos “disparadores” de novas
delo social instituído, além de serem mal- discussões. Exemplo: a “normalidade” era
-socializados e frágeis psiquicamente, os citada e compreendida como sinônimo
jovens ativam mecanismos narcisistas, a de “natural”. Buscamos demonstrar, pelo
ponto de desconsiderarem valores morais conceito de curva normal (Estatística), que
e a serem descrentes quanto à lei na solu- a normalidade é uma construção (propor-
ção de conflitos. Em síntese: não há con- ção matemática). Portanto, o normal esta-
senso sobre os motivos que estimulam a belecido hoje pode ter sido compreendido
produção de tais fatos; há a ausência de e/ou pode vir a sê-lo em outras ocasiões
estudos científicos sobre os valores dos como anormal. Obtidas as informações,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
mas atinentes aos interesses dos alunos, abstração e descentração, totalizando seis
tendo como parâmetro a perspectiva da estágios). Para esses autores, o princípio
psicologia das virtudes e os conteúdos da justiça é o fundamento do juízo moral.
curriculares; funcionaram como espaço Neste ponto, Carol Gilligan (1982) discor-
de escuta analítica; auxiliaram na melho- da, defendendo haver duas orientações
ria das relações escolares e contribuiram para tratar os assuntos morais: a masculi-
para o desenvolvimento da noção de soli- na, centrada nas ideias de justiça, direitos
dariedade e de respeito às diferenças. e deveres (“ética da justiça”); e a femini-
na, centrada nas responsabilidades e cui-
Palavras-chave: ensino médio, psicologia das dados aos outros (“ética do cuidado”). As
virtudes, ética. teorias de Piaget e Kohlberg conduzem à
Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP, ideia de que todas as virtudes estão liga-
nelsonp1@terra.com.br das à justiça. Esta seria, para os filósofos
e estudiosos da moral, a mais importante
das virtudes, e a única necessária. Con-
LT01-699 - VALORES RELIGIOSOS OU tudo, Lima (2000) aponta que, na forma-
VALORES MORAIS: UM ESTUDO SOBRE ção do senso de justiça, estão presentes
A VIRTUDE DA GENEROSIDADE À LUZ DE outras virtudes, inclusive a generosidade.
INTERPRETAÇÕES DE HISTÓRIAS Spinoza, segundo Comte-Sponville (1998),
define a generosidade como dar algo que
Sarah Izbicki - IPUSP
faltará para quem está dando, não sendo
sarahizbicki@yahoo.com.br) a atribuição ao outro o que é seu direito
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - PUSP (como o faz a justiça). Para Comte-Sponvil-
mtdesouza@usp.br) le (1999), a justiça seria mais racional e a
Financiamento: FAPESP generosidade, mais afetiva. Para Gilligan, a
generosidade é um importante elemento
Os escritos de Piaget sobre a construção para a “ética do cuidado”: cuidar do outro
e a qualidade das crenças infantis, as ca- nos convocaria a dar mais do que lhe é de
racterísticas da evolução cognitiva e a cor- direito, portanto, a sermos generosos. Se-
respondência entre aspectos cognitivos e gundo Vázquez (1998), a religião se carac-
afetivos do desenvolvimento, bem como a teriza pelo sentimento de dependência do
entrevista clínica, por ele proposta (Piaget, homem a Deus e pela garantia de salvação
1926), inspiram pesquisas que fazem uso dos males terrenos, entendendo-se Deus
de contos de fada como instrumento para como verdadeiro sujeito e negando-se a
estudar o desenvolvimento infantil. Para autonomia do homem. Vázquez (1998)
compreender as representações infantis defende que se confirma historicamente
da generosidade em sua relação com os que a religião inclui certa moral, pois uma
aspectos morais, deve-se considerar te- moral de inspiração religiosa sempre exis-
orizações de Piaget (1932) sobre a mora- tiu, com a ressalva de que a moral cristã
lidade (passagem da heteronomia para a estava a serviço dos interesses da classe
autonomia) e Kohlberg (1981) (passagem social dominante. Porém, a moral não se-
de estágios mais concretos e egocêntri- ria originada a partir da religião, mesmo
cos, para níveis de maior complexidade, porque é anterior a ela.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Fowler (1992) foi um dos autores que es- as relacionadas com a ideia da recompen-
tudou o desenvolvimento das valorizações sa (apresentadas somente por meninas)
religiosas e crenças, estabelecendo, para apresentam maior ligação com a questão
cada intervalo de idade – considerando da justiça. Quanto à coerência interna, as
as características do pensamento e os meninas tenderam a dar mais respostas
processos imaginativos correspondentes coerentes (julgam boa a atitude generosa
-, aquilo que denomina “estágios da fé” da personagem e afirmam que fariam o
(fé intuitivo-projetiva, fé mítico-literal, fé mesmo) e, os meninos, a dar mais respos-
sintético-convencional, fé individuativo- tas incoerentes (julgam boa, mas negam
-reflexiva, fé conjuntiva e, por fim, fé uni- que fariam o mesmo). Possivelmente, os
versalizante). meninos mostram que não fariam o mes-
No contexto da literatura apresentada, mo, por não apresentarem necessidade
buscou-se investigar relações entre va- de preservar relacionamentos – o que
lores religiosos e morais. Como segundo ocorreria caso agissem generosamente -,
objetivo, foi realizada uma comparação confirmando a ideia de Gilligan de que a
entre os dois sexos, com relação à concep- masculinidade se caracteriza pela separa-
ção de generosidade. Para isso, participa- ção e a feminilidade, pelo apego. Quanto
ram da pesquisa 17 meninas e 13 meninos às relações entre valores religiosos e mo-
de uma escola pública, com idades entre rais, mais crianças defenderam a genero-
oito e 11 anos. Utilizou-se o método clíni- sidade por ser boa para os outros e apre-
co piagetiano para estudar as representa- sentaram respostas com religião explícita,
ções relacionadas à generosidade da per- seguidas das que defenderam a genero-
sonagem do conto “As moedas-estrela”, sidade do mesmo modo e apresentaram
dos Irmãos Grimm, segundo um protocolo respostas com ideia de religião implícita
previamente elaborado, a partir do qual, e das que não souberam justificar porque
conforme o participante respondia, novas a generosidade foi boa e apresentaram
perguntas eram feitas, com o intuito de respostas com ideia de religião explícita.
esclarecer pontos obscuros e acompanhar Como as crianças que trouxeram respos-
seu pensamento. As respostas obtidas fo- tas classificadas como “religião implícita”
ram agrupadas de acordo com as seme- apresentaram valores religiosos mais con-
lhanças dos argumentos, por questão do solidados, seria esperado que mais crian-
protocolo, sexo e idade do participante. ças que defenderam a generosidade por
Os dados foram submetidos a uma análise ser boa para os outros apresentassem res-
estatística. Com relação às diferenças en- postas com ideia de religião implícita, pois
contradas entre os sexos quanto à razão a ideia do “fazer o bem” seria um dos va-
pela qual a atitude generosa da perso- lores implícitos nos conteúdos religiosos
nagem foi vista como positiva, houve, na transmitidos diretamente ao indivíduo.
amostra estudada, uma tendência à in- Entretanto, a referência direta do conto
versão das características salientadas por à generosidade da personagem e à figura
Gilligan, pois as respostas relacionadas de Deus pode ter contribuído para as res-
com a ideia do fazer o bem (apresenta- postas mais frequentes. Com referência
das, na amostra, mais por meninos do que ao cruzamento dos dados relativos aos as-
meninas) se referem mais ao cuidado, e pectos religiosos e à coerência interna, a
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
frequência maior de crianças com respos- com transformações das estruturas de ra-
tas classificadas como incoerentes e com ciocínios que implicam em uma constru-
religião explícita que a de crianças classifi- ção progressiva. Existem cinco estágios
cadas do mesmo modo em relação aos as- do julgamento religioso, que podem ser
pectos morais, mas com religião implícita, divididos em três níveis de pensamento re-
mostrou o quanto os valores religiosos das ligioso, no qual os dois primeiros estágios
crianças com respostas “explícitas” ainda podem ser considerados elementares, o
não são totalmente consolidados por elas, terceiro estágio intermediário e os dois úl-
enquanto que essa consolidação ocorreu timos estágios avançados. As pessoas que
com maior intensidade nas entrevistadas se encontram no primeiro estágio consi-
que trouxeram respostas “implícitas”. A deram que Deus interfere diretamente na
consolidação do valor religioso, que per- vida das pessoas e no mundo. No segundo
mite com que a criança compreenda seus estágio existe uma reciprocidade entre os
valores implícitos, tornaria o indivíduo seres humanos e Deus, na qual as ações
apto a julgar como positiva a ação da per- humanas podem interferir nos desígnios
sonagem e, também, assumir para si sua divinos. O terceiro estágio é a autonomia
atitude. Os dados parecem corroborar a entre os seres humanos e Deus, é a sepa-
relação positiva existente entre os aspec- ração entre as duas esferas. O quarto es-
tos morais e os aspectos religiosos, refe- tágio é um retorno do divino no mundo e
rentes a valores consolidados da religião. na vida das pessoas, existe uma liberdade
de ação concedida por Deus. No quinto e
Palavras-chave: valores religiosos, valores último estágio existe uma total união entre
morais, interpretações de histórias. Deus e os seres humanos. Para investigar
Contato: Sarah Izbicki, Instituto de Psicologia o julgamento religioso, Oser e Gmunder
da USP, sarahizbicki@yahoo.com.br elaboraram uma entrevista semiestrutu-
rada, contendo dilemas hipotéticos, que
foi traduzida e adaptada para a língua
LT01-966 – VALIDAÇÃO DA ESCALA DO portuguesa pela primeira autora deste tra-
JULGAMENTO RELIGIOSO balho. Essa entrevista é extensa e requer
Aurora Camboim - UFPB bastante tempo e atenção dos entrevista-
auroraclal@yahoo.com.br dos. Para facilitar a aplicação e correção
Cleonice Camino - UFPB na investigação do julgamento religioso,
cleocamino@yahoo.com.br acreditou-se ser conveniente, a partir des-
Financiamento: CAPES sa entrevista e das respostas a ela, cons-
truir uma escala com um formato de teste
O Julgamento religioso é definido por Oser objetivo. A construção e validação da Es-
e Gmünder (1991) como a maneira pela cala do Julgamento Religioso (EJR) cons-
qual as pessoas justificam seu relacio- tituem o objetivo da presente pesquisa.
namento com Deus, principalmente, em Essa pesquisa foi realizada em duas fases.
situações difíceis da vida. Esses autores A primeira teve como objetivo a constru-
elaboraram uma sequência de estágios ção e validação de conteúdo da EJR e a se-
referentes à evolução desse tipo de pen- gunda teve como objetivo a validação de
samento, que ocorre de forma organizada construto, para verificar os coeficientes de
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tigación realizada por una cierta vanguar- temas dinámicos no lineales), y que han
dia en Latinoamérica, entiende y asimila permitido abordar los naturaleza cam-
más rápidamente los rápidos cambios que biante de itinerarios y los patrones subya-
la psicología del desarrollo requiere, aun- centes a dichos itinerarios. Una de esas
que lo hace aún de manera bastante silen- técnicas, es la de series temporales de los
ciosa. Esta charla pretende recuperar esos mínimos y máximos (van Dick & van Geert,
planteamientos a la luz de algunos núcleos 2002). Ella gráfica la trayectoria de los de-
conceptuales del desarrollo, y analizar su sempeños de un sujeto, y de esta manera
relación con los abordajes metodológicos. visualiza el tiempo serial a partir de curvas
Desde la revisión de algunas herramien- de los itinerarios del sujeto. La condición
tas metodológicas se podrá mostrar que para su aplicación es un número amplio
la no linealidad del desarrollo de la men- de observaciones sucesivas en situaciones
te resulta ineludible, por ejemplos y por idénticas, establecidas dentro de un lapso
lo tanto esa vieja premisa según la cual, determinado de tiempo. El equipo de van
el desarrollo depende de la manera cómo Geert ha introducido éstas técnicas de se-
lo abordemos sigue presente en la agen- ries temporales en estudios longitudinales
da de trabajo. En primer lugar, se toman (van Dijk & Van Geert, 2007). A partir de
versiones de los métodos microgenéticos esos trabajos, otros estudios usan esas téc-
exitosos que han producido un amplio nú- nicas en períodos más cortos y más centra-
mero de estudios y que provienen muchas dos en funcionamientos a lo largo de tres o
veces de autores con linajes muy diferen- cuatro meses con dos intervenciones men-
ciados (Flynn & Siegler, 2007; Miller & Coy- suales y con cuatro observaciones por re-
le, 1999; Siegler, 2004, 2002; Adolph, Ro- gistro (Guerrero & Puche-Navarro, 2009).
binson, Young, & Gil Alvarez, 2008; Lavelli, En tercer lugar se toma técnicas como el
Pantoja, Hsu, Messinger & Fogel, 2005; state space grid (Hollenstein, & Lewis,
Puche Navarro & Ossa, 2006). Se trata de 2006; Hollenstein, & Lewis, 2009; Lewis,
mostrar como el método micrognenético 2004; 2006). Con esta técnica se trata de
esta unido conceptualmente al cambio y a “rastrear las trayectorias de emergencia
la variabilidad. Definido como la capacidad de patrones de los fenómenos en estu-
abordar minuciosamente la manera como dio (personalidad, emociones, interacción
se manifiesta el cambio cognitivo en una madre-niño) para mostrar las transiciones
secuencia de conductas, el método micro- en los desempeños a través del tiempo
genético implica registrar un gran número (Lewis, Lamey & Douglas, 1999; Lewis,
de conductas en una secuencia corta de 2000a; Lamey, Hollenstein, Lewis & Granic,
tiempo. Se trata de cubrir el mayor núme- 2004; Hollenstein & Lewis 2006)” (De la
ro de acciones que tienen lugar antes, en Rosa, Rodriguez & Ossa. 2009 p.33-34). A
y después de que ocurre el cambio. Si se partir del espacio de estado y atractor, dos
acepta que “la esencia del desarrollo es el principios de los sistemas dinámicos, se
cambio” (Siegler & Crowley, 1991 p. 606), identifican muchos de los posibles estados
entonces la pertinencia de esta técnica de un sistema en momentos específicos.
resulta definitiva. En segundo término se La otra cosa es trata de encontrar que las
revisan otros métodos de naturaleza más tendencias de esas trayectorias correspon-
matemática provenientes de los SDNL (sis- den a un atractor. En la conclusión se hace
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introdução do kit de objetos/brinquedos filme foi elaborado a partir das ações das
promove a Exploração Lúdica e esta se crianças, no ambiente de berçário, com a
constitui em um recurso fundamental de introdução do kit de objetos /brinquedos.
manifestação e desenvolvimento da Afe- Este filme mostra as ações de Exploração
tividade das crianças pequenas. A partir Lúdica e manifestações afetivas das crian-
desta breve apresentação da Tese preten- ças quando lhes foram oferecidos os kit’s
de-se, nessa comunicação oral, apresen- de objetos/brinquedos, compostos de
tar os dois primeiros filmes que mostram bolas, livros, chocalhos, caixas de formas,
as ações das crianças sem e com o Kit de jogo de empilhe, mordedores. A maioria
objetos/brinquedos e os resultados ob- das cenas evidencia crianças explorando
tidos em cada um deles, como também os objetos/brinquedo, primeiramente,
uma análise comparativa das ações das através do olhar, quando os identificam
crianças nessas duas situações. No pri- e os escolhem. Em seguida observam-se
meiro filme, que mostra o que as crianças a intensificação das ações e as manifes-
fazem no ambiente de berçário quando tações afetivas das formas mais distintas:
não estão com os objetos/brinquedos, pegar, morder, chupar, arrancar, dispu-
definidas a partir das ações: mostrar os tar, jogar, balançar, sorrir, apertar, segu-
cuidados básicos das professoras com as rar, agarrar, encaixar, assentar, encontrar
crianças e cenas que retratam a existência orifícios, empilhar, manipular livremen-
de brinquedos nos berçários das creches, te, solicitar ajuda, interagir com o outro,
compatíveis com o desenvolvimento das chorar, balbuciar, falar, irritar-se, criar
crianças, mas que permanecem sem uso, histórias, derrubar, imitar. Não há cenas
seja porque as professoras não os dispo- de crianças isoladas sem exploração dos
nibilizam para as crianças (visível no fato objetos/brinquedos e em todas as cenas
de alguns estarem ainda dentro das em- a Exploração Lúdica está presente nas
balagens, e no caso dos triciclos as rodas ações das crianças, assim como a Afetivi-
lisas e brilhantes demonstram não uso) dade também pode ser observada tanto
seja porque estão guardados em lugares nas formas de Afetos Perceptivos quan-
altos, inacessíveis às crianças. Observa-se to Intencional. Os dados apontam que,
neste filme que a maioria das cenas re- na ausência do kit, em apenas 59% das
trata crianças dispersas pela sala, ou sozi- cenas há Afeto Perceptivo contra 100%
nhas em algum canto, ou em seus berços, com a presença dele. No caso do Afeto
acordadas. Enquanto algumas crianças Intencional a ausência do kit torna-o pre-
exploram objetos do berçário que as colo- sente apenas em 21% das cenas contra
cam em situação de risco, como cadeira, 81% quando de sua presença. Pode-se
porta, portão, saco plástico e até mesmo perceber que há um ganho qualitativo
balões, outras carregam de um lado para no desenvolvimento da afetividade com
outro, bolas, chocalho de garrafa pet e bo- a presença do kit, uma vez que as mani-
neca. Algumas exploram o próprio corpo, festações afetivas das crianças são mais
interagem entre si e com as professoras. intencionais que perceptivas. É impor-
Poucas estão sorrindo e alegres. Dormem, tante ressaltar que no filme com o Kit de
choram e recebem os cuidados básicos objetos/brinquedos, nas primeiras cenas,
(banho, alimentação, higiene). O segundo as crianças emitem poucos sons, durante
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sua exploração. Já do meio para o fim do moral. O campo de pesquisa com jogos
filme, pode-se observar um aumento na comporta, atualmente, temas partidários
variedade de sons emitidos pelas crian- da Antropologia, Filosofia, Sociologia e, é
ças, assim como também produzidos claro, também da Psicologia. Com relação
pelos próprios brinquedos, enquanto as a esta última, vemos importantes con-
crianças os exploram. Outro aspecto a ser tribuições do uso do jogo para o estudo
ressaltado é quanto à frequência dos kit’s de aspectos cognitivos, afetivos, sociais,
no ambiente dos berçários. Isto é, com morais, simbólicos, comportamentais,
frequência maior dos objetos/brinquedos entre outros. Neste contexto, o jogo é
dos kit’s as crianças se interagiam mais geralmente estudado em termos de suas
umas com as outras e com as professoras. influências ou contribuições para diversos
A frequência também mostrou que nas fenômenos, como, por exemplo, a repre-
últimas cenas as crianças disputavam me- sentação mental, a linguagem, a aprendi-
nos os objetos/brinquedos e brincavam zagem, sem contar a vasta gama de no-
mais próximas umas das outras. Diante ções e conceitos aos quais são, geralmen-
do exposto pode-se concluir que a Explo- te, associados. A moralidade, assim como
ração lúdica se coloca como elemento in- o jogo, vem sendo historicamente estuda-
termediário, primordial e fundante, pois da como aspecto inerente à humanidade
com ela a criança se estrutura, edifica-se e é também alvo do interesse de ciências
na sua condição de sujeito e protagonista diversas. Assim, enquanto algumas cor-
do seu desenvolvimento, não apenas in- rentes filosóficas buscam teorizar sobre
telectual, mas afetivo. os valores e princípios morais universais,
os sociólogos, geralmente, enfatizam o
Palavras-chave: afetividade; brincar; criança pensamento moral em caráter coletivo,
pequena. ficando a cargo de algumas vertentes da
Contato: Paula de Souza Birchal - Pontifícia Psicologia uma preocupação maior em re-
Universidade Católica de Minas Gerais; lação ao desenvolvimento da consciência
pbirchal@pucminas.br moral individual. Neste grupo, daremos
destaque a Epistemologia Genética de
Jean Piaget, na qual é possível encon-
LT01-1288 – A REGRA EM JOGO: trar importantes teorizações a respeito
ESTUDANDO AS CONCEPÇÕES INFANTIS do jogo e da moralidade, que nortearão
SOBRE A REGRA DO JOGO E A REGRA o presente trabalho.Acreditando que a
MORAL essência da moral deva ser estudada a
Ana Paula Sthel Caiado - USP partir do respeito que os indivíduos ad-
apcaiado@usp.br quirem pelas regras, e que o jogo possui a
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP peculiaridade de reunir regras estabeleci-
mtdesouza@usp.br das nas relações entre crianças exclusiva-
Financiamento: FAPESP mente, Piaget (1932/1994) buscou inves-
tigar as afirmações e ideias destas sobre
Trata-se de um estudo sobre os julgamen- as regras do jogo de bolinha de gude,
tos emitidos por crianças a respeito das analisando não só como elas as pratica-
regras em contexto de jogo e contexto vam como também suas considerações a
492
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
respeito de sua origem e obrigatorieda- que lhe cabe nesta proposta, o presente
de, ao que denominou consciência das trabalho reúne os resultados referentes à
regras. Com essa pesquisa, demonstrou realização de entrevistas, utilizando-se o
como o jogo muscular e egocêntrico tor- método clínico piagetiano, com 08 crian-
na-se social, defendendo-o como espaço ças, entre 07 e 09 anos, nas quais foram
de discussão e reciprocidade, no qual os investigadas suas concepções relativas
indivíduos, considerando-se como iguais, aosquatro aspectos da moralidade supra-
poderão controlar-se mutuamente e atin- citados. A entrevista consistiu em quatro
gir, assim, o estado cooperativo, condição pares de historias-dilemas nas quais eram
primeira para o desenvolvimento do juízo contrapostas situações de jogo com situ-
moral autônomo. Desta maneira, julga- ações do cotidiano envolvendo preceitos
-se pertinente ressaltar o enfoque dado morais. Esta foi gravada e posteriormen-
ao jogo de regras como espaço de trocas te transcrita pela própria pesquisadora.
interindividuais igualitárias e estas como Foram definidos critérios de análise de
importantes ao desenvolvimento moral, forma a avaliar se as respostas emitidas
sendo a regra um importante ponto de pelas crianças tendiam mais para a auto-
intersecção entre tais aspectos. Concebi- nomia, para a heteronomia, se denota-
da por Piaget (1932/1994) como fator es- vam certa transição ou ainda se apresen-
sencial da moralidade e estudada por ele tavam contradição. Foi também analisado
como uma das estruturas do jogo – em se era mantida coerência de respostas
conjunto com o exercício e o símbolo – a entre a situação de jogo e a situação co-
regra funciona como regulador das trocas tidiana descritas nas estórias-dilema. A
sociais, determinando (ou restabelecen- este respeito cabe uma breve referência
do) seu equilíbrio, encontra-se nela um à forma como o desenvolvimento moral
sentido de obrigatoriedade que denota é tratado na abordagem piagetiana. Nela
a existência de relações sociais (Piaget, são concebidas duas formas possíveis de
1965/1973).As considerações teóricas legitimação das regras e valores morais,
apresentadas, resumidamente até então, uma a partir da referência a figuras de
embasam este trabalho, que teve como autoridade constituindo-se, portanto he-
objetivo avaliar os juízos dos sujeitos com terônoma, e outra baseada na autonomia
relação às regras do jogo e regras morais, da consciência, na qual o sujeito conse-
tomando como referência as noções de gue prescindir de interferências externas.
justiça (distributiva ou retributiva), de de- Sendo a primeira geralmente, prevalente
ver (igualdade ou autoridade), de sanção até os sete anos, momento em que ocor-
(expiatória ou recíproca) e de responsabi- re o deslocamento da postura egocêntri-
lidade (objetiva ou subjetiva). Tal propó- ca para a capacidade de coordenar dife-
sito é parte de um espectro mais amplo rentes pontos de vista, condição inerente
que busca analisar, por meio do jogo de ao exercício cooperativo e à construção
regras, diferentes maneiras das crianças de juízos morais mais autônomos. Os
praticarem, assimilarem e respeitarem a resultados demonstram conformidade
regra, buscando com isso abordar aspec- com a teoria no que diz respeito aos ju-
tos do desenvolvimento moral infantil, ízos morais emitidos, ficando as crianças
segundo a teoria piagetiana. Para a parte mais novas responsáveis, em sua maioria,
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
por aqueles que denotavam concepções vídeo é uma produção da Casa Redonda
heterônomas. Quanto às comparações Centro de Estudos, instituição localizada
entre as situações de jogo e situações em São Paulo, que atende a crianças en-
cotidianas, verificou-se uma supremacia tre dois anos e meio e sete anos. O vídeo
das segundas em relação às primeiras, ou é composto por cenas em que as crianças,
seja, houve diferenças no julgamento de ao longo das diferentes estações do ano
grande parte das crianças, no sentido de e quase sempre ao ar livre, brincam com
tomarem as situações cotidianas que en- os quatro elementos da natureza: terra,
volviam preceitos morais como mais im- água, fogo e ar (Cruz, 2005). Estimulados
portantes ou os erros delas decorrentes a falar sobre o vídeo, os alunos reconhe-
como mais graves quando comparadas às ceram o ambiente retratado como um
situações de jogo. Uma possível ponde- espaço de aprendizagem, propiciador de
ração a este respeito pode ser levantada contato com a natureza e em que, sem a
tomando em conta que as situações coti- intervenção direta de adultos, as crianças
dianas descreviam vez ou outra, a parti- podem explorar livremente os recursos
cipação de um adulto. Desta forma, são que encontram. Segundo eles, Piaget con-
evidenciados alguns fatores presentes sideraria esse espaço “ideal”, já que nele
nas concepções infantis sobre a regra em as crianças dispõem de liberdade para
diferentes contextos, assim como suas agir e é pela ação que a criança organiza
nuances e transformações. seus pensamentos. Alguns alunos identi-
ficaram as ações realizadas pelas crianças
Palavras-chave: jogos de regras; do vídeo como possibilidade de constru-
desenvolvimento moral infantil; ção de novos esquemas e de experiência
epistemologia genética. de reflexão sobre temas abstratos, como
“Deus” e “criação do mundo”. As crianças
visualizadas, segundo os alunos, vivem o
LT01-1310 – A INFLUÊNCIA DA TEORIA estágio pré-operatório, apresentam pen-
PIAGETIANA SOBRE A PERCEPÇÃO DE samento animista e linguagem marcada
ESTUDANTES DO SEGUNDO SEMESTRE por monólogos coletivos. De fato, Piaget
DO CURSO DE PSICOLOGIA A RESPEITO (2006) identifica o estágio pré-operatório,
DO BRINCAR INFANTIL que localiza-se aproximadamente entre o
Juliana Lima de Araújo - UNIFOR terceiro e o oitavo ano de vida, como um
ju_lima_araujo@yahoo.com.br momento de grande evolução, quando a
Cristiane Amorim Martins - UNIFOR linguagem, recém adquirida, expande as
crisamorim@unifor.br possibilidades de socialização e, em uma
forma ainda egocêntrica, favorece a in-
Este trabalho relata a experiência de moni- teriorização da ação e o surgimento do
toria em que se investigou a percepção de pensamento intuitivo. No vídeo vemos
alunos do segundo semestre do curso de crianças em volta da fogueira, controlan-
psicologia a respeito do brincar infantil. A do as chamas ao movimentar o vento,
experiência relatada consiste na exibição manuseando velas, cozinhando em um
do vídeo “Brincando com os Elementos” e fogão improvisado que uma delas chama
posterior discussão sobre o mesmo. Este de “caldeirão de bruxa” (é importante
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ressaltar que todas essas atividades são relativos às capacidades básicas de ler e
supervisionadas por um adulto e que a contar é hoje o principal meio de medir
criança só realiza aquilo que pode e con- a eficácia do ensino escolar. Certamente
segue). Lima (2003) nos fala da “idade do as crianças devem ser capazes de ler, es-
fogo”, comum ao período pré-operatório, crever e contar, mas a maioria das escolas
em que as crianças sentem-se especial- parece deixar em segundo plano o desen-
mente motivadas em explorar o fogo volvimento da sua autonomia intelectual
(com frequência envolvem-se longamen- e moral e a construção de conhecimentos
te em jogar objetos numa fogueira). O relacionados à questões cotidianas. Os
vídeo também nos mostra jogos simbó- estudos de Piaget trazem grande contri-
licos, os chamados faz-de-conta, em que buição à educação. Embora ele não tenha
as crianças agem através de um “como proposto uma metodologia de ensino,
se”. Este “como se” se caracteriza como sua teoria nos exige uma quebra de para-
símbolo lúdico: as crianças, por exemplo, digma na idéia tradicionalmente atribuída
brincam imitando barulhos de carros, api- de como o conhecimento é apreendido.
tos de trem, tiros, e, nesse contexto de É a partir de sua teoria sobre o desenvol-
fantasia, exercitam um pensamento mais vimento da cognição e da aquisição de
flexível do que aquele presente nas situa- conhecimento, que muitas intervenções
ções cotidianas. Essa experiência propicia são realizadas por psicólogos e pedago-
o desenvolvimento da competência para gos. Partindo da idéia de que toda pro-
pensar sobre coisas irreais (Bomtempo, posta educacional deve, inicialmente, se
2000). perguntar que tipo de homem se quer
Discutindo as brincadeiras mostradas no formar, a grande questão a se pensar, em
vídeo, questionamos, junto aos alunos, se uma educação influenciada pela teoria
as escolas costumam dar espaço à ação piagetiana, é como promover o desenvol-
espontânea da criança. Alguns menciona- vimento da autonomia intelectual e moral
ram o fato de muitas escolas, atualmente, das crianças. Deve haver uma mudança
permitirem às crianças a experimentação de paradigma à medida que se considera
através de “feiras de ciências” e uso de o conhecimento construído pelo aluno ao
laboratórios, mas consideraram raras as invés de transmitido pelo professor. Este
práticas pedagógicas que valorizam, real- deixa de ser entendido como o possuidor
mente, a brincadeira livre. Piaget (1990) do saber, passando a ser visto como aque-
ressalta o quanto o brincar é importante le que estimula o processo de aprendiza-
para o desenvolvimento infantil, já que, gem do aluno. É importante que na for-
dispondo de um pensamento marcada- mação do psicólogo, desde os primeiros
mente concreto, é através das suas ações semestres da graduação, se reflita sobre
que a criança pequena elabora uma com- as contribuições da psicologia na supe-
preensão sobre a realidade e também ex- ração dos desafios vividos no campo da
pressa suas idéias. Tem-se alcançado mui- educação.
tos progressos teóricos no campo da edu-
cação, mas infelizmente a prática não tem Palavras-chave: teoria piagetiana, brincadeira,
conseguido acompanhar esses avanços. educação.
O desempenho em testes padronizados
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pode ser suficiente desejá-lo ou pedir a de que as funções vitais findam com a
Deus e a função do pai aparece restringida morte e a universalidade, significa dizer
aos cuidados da mãe e do bebê. A respei- que a morte serve para todos e que uma
to do nascimento, a crença predominante hora ou outra irá ocorrer (Torres, 1999).
é a do médico que corta a barriga e tira o Determinado esse conceitos, é possível
bebê, omitindo o nascimento pela vagina. compreender o fato de que informar à
Com os resultados da pesquisa espera-se criança que algum ente querido faleceu
aprofundar a compreensão sobre a cons- não é uma tarefa nada fácil. O adulto
trução do conhecimento das crianças so- tende a adiar esse momento por algum
bre a fecundação e o nascimento, e avaliar tempo, acreditando que desta forma es-
a pertinência do diálogo entre conceitos tará protegendo-a da dor do luto e ameni-
piagetianos e freudianos para estudar as zando seu sofrimento, além de que, falar
particularidades afetivas e cognitivas do sobre isso fará com que apareçam senti-
desenvolvimento infantil. mentos difíceis de lidar e que confirmam
a realidade vivida (Bolwby, 1985; Kovács,
Palavras-chave: nascimento e fecundação; 1999). São várias as explicações que pos-
psicogênese piagetiana; psicanálise. sivelmente são dadas aos pequenos: “a
Contato: Mariana Inés Garbarino (IP/USP) de que o pai ou a mãe foi viajar, ou talvez
marianagarbarino@usp.br que foi transferido para outro hospital”
(Bolwby, 1985, p. 283); a de que o ente
querido foi levado para o céu, o que leva o
LT01 – 1025 – LUTO NA INFÂNCIA: UMA menor a ficar confuso, achando que o céu
VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM é apenas um lugar distante e que a vol-
Camilla Ramos Medalane Cravinho - UVV ta irá acontecer mais cedo ou mais tarde.
camillamedalane@yahoo.com.br Também há algumas explicações relacio-
Claudia Patrocinio Pedroza Canal - UVV nadas a pessoas mais velhas, como, dizer
claudia.canal@uvv.br que estas foram dormir; porém, a criança
não entende de forma conotativa e acaba
Compreender a maneira como a crian- acreditando que o simples fato de ador-
ça hospitalizada vivencia o luto de outra mecer pode ser algo arriscado (Bolwby,
criança no hospital é de grande relevân- 1985). Segundo Brazelton (1994), é im-
cia, pois a partir disso é possível descobrir portante que os pais compartilhem seus
estratégias que fundamentem o programa sentimentos relacionados ao luto com
de intervenção do profissional da psicolo- os filhos. Apesar destes terem uma ideia
gia. Para entender como a criança desen- primitiva da morte, são capazes de iden-
volve o conceito de morte, foram identi- tificar os sentimentos de tristeza a partir
ficados três componentes fundamentais das expressões faciais (Harris, 1996). En-
que a caracterizam: irreversibilidade, não tão, com a transmissão do sofrimento do
funcionalidade e universalidade. Sendo adulto, a própria criança também será ca-
que a irreversibilidade refere-se ao fato paz de dividir suas emoções e se sentirá
de que algo com vida, se morrer não há mais segura e aliviada em relação a essa
a possibilidade voltar a viver; a não fun- questão que é inerente à vida (Brazel-
cionalidade diz respeito à compreensão ton, 1994; Kovács, 1999). Bolwby (1982)
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afirma também que, assim como para os esclarecido. A identidade dos participan-
adultos, as crianças necessitam do supor- tes será mantida em sigilo e a divulgação
te de alguém próximo para superar uma dos dados será feita somente por meio
perda. Dessa forma, será capaz de se reor- de nomes fictícios. Os participantes tam-
ganizar internamente e conseguirá aceitar bém poderão retirar seu consentimento
a morte como algo permanente, universal para participação na pesquisa a qualquer
e irreversível. Além do que foi citado, pes- momento de realização da mesma, sem
quisas realizadas por Almeida (2005), re- prejuízo para os mesmo. A entrevista não
velam que o brincar terapêutico também será realizada com as crianças devido à
pode ser uma forma de enfrentar a morte questão ética, prevista nessa mesma re-
e o luto, pois através dele a criança é ca- solução, de que o risco de prejuízo para
paz de representar simbolicamente essa a criança de falar sobre conteúdos rela-
situação dolorosa. Sendo assim, sabendo- tivos ao luto estando numa situação de
-se da dificuldade de se perder um ente hospitalização poder ser maior do que os
querido, a pesquisa tem como objetivo benefícios previstos para o campo cientí-
identificar o enfrentamento da morte por fico. Finalmente, em relação aos resulta-
crianças hospitalizadas, a partir da visão dos, pretende-se identificar, por meio da
da equipe de enfermagem de um hospi- equipe da enfermagem, a maneira como
tal da rede pública da Grande Vitória/ES. as crianças vivenciam o luto. Dessa forma
A pesquisa contará com 10 profissionais será possível descobrir estratégias que
da equipe de enfermagem (enfermeiros, fundamentem o programa de intervenção
auxiliares e técnicos de enfermagem), de do profissional da psicologia e obter res-
ambos os sexos. Será realizada uma en- postas que agreguem conhecimento para
trevista com duração aproximada de 20 a área científica.
minutos. Para ser incluído na pesquisa, o
participante terá que ter vivenciado algu- Palavras- chave: criança hospitalizada, equipe
ma situação de morte na pediatria. Esta de enfermagem, luto.
pesquisa será do tipo descritiva, pois visa Contato : Camilla Ramos Medalane Cravinho -
a descrever a visão dos profissionais da Centro Universitário Vila Velha
enfermagem sobre a vivência de luto por camillamedalane@yahoo.com.br
crianças hospitalizadas. Os dados coleta-
dos ao longo do estágio serão analisados
de modo qualitativo. As categorias serão LT01-1066 – ABORDAGEM CENTRADA
criadas após a realização das entrevistas, NA PESSOA: PROMOÇÃO AO
das transcrições e da leitura das mesmas, DESENVOLVIMENTO
a fim de retratarem com fidedignidade os Lydia Maria Sena e Santos
conteúdos das entrevistas. Essa pesquisa Daniela Ribeiro Barros
atenderá à resolução 196 de 1996, do Con- José Andrade Costa Silva - UEPB
selho Nacional de Saúde sobre as normas www.uepb.edu.br
éticas para pesquisa com seres humanos.
Assim, participarão da pesquisa aqueles Este trabalho objetiva apresentar o estu-
profissionais que concordarem após lei- do de um caso clínico embasado na Abor-
tura do termo de consentimento livre e dagem Centrada na Pessoa e no método
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
deiras. Durante essas sessões uma frase ler. Segundo a professora, João não con-
permeou os atendimentos: “É muito difí- segue ler, interpretar e expor sua opinião,
cil”, principalmente quando as brincadei- embora tenha uma ótima participação
ras lhe exigiam concentração e habilida- nas atividades lúdicas. Acrescentaram
des específicas, assim como o medo de que todas as suas atividades eram reali-
ficar sozinho. Para finalizar o ano e iniciar zadas sob sua mediação ou de um colega,
o recesso na universidade, foi necessária e que se perdia na ordem do alfabeto e
uma nova sessão com os pais. Nesta, fala- dos números. Durante as sessões seguin-
ram dos avanços no desenvolvimento de tes João conseguiu desenvolver habilida-
João: na aprendizagem, passou de ano e já des na escrita, conhecimento em relação
conseguia escrever e, na interação social, aos números, dinheiro, valores, somas e
já que conseguia participar da roda de respeito às regras dos jogos e demais re-
conversa na escola e aceitava bem a mu- gras, autonomia, segurança na escrita e
dança de psicoterapeuta. Dessa forma, foi ordenação numérica, segurança na late-
acordado para o ano seguinte, com o iní- ralidade da escrita, clareza dos seus sen-
cio das atividades da Clínica de Psicologia timentos e indícios para alta. Nas sessões
da UEPB, um novo contato para conhecer de preparação para alta, o mesmo pôde
os interesses na continuação dos atendi- resgatar momentos importantes, como a
mentos psicoterápicos. Com a retomada pipa que confeccionara com Luiza e nossa
das atividades da clínica no início do ano, primeira sessão juntos, bem como nossos
firmou-se novamente o contrato terapêu- jogos de futebol. Vale salientar que João
tico objetivando trabalhar os sentimentos recebeu calmo e tranquilo a notícia da
de João envolvidos em suas dificuldades alta, embora expressasse preocupação
de aprendizagem, atenção, insegurança, por não compreender o real espaço de
dependência, e como lidar com as separa- tempo das sessões quinzenais. Durante
ções e mudanças afetivas. Nos primeiros estas, João tomou consciência de que iría-
contatos, percebeu-se uma notável evo- mos terminar; continuou o seu progresso,
lução em João. Quanto às mudanças, não não regrediu, pelo contrário, começou a
expressou insatisfação na troca de sala expressar seus sentimentos com clareza,
de atendimento; apresentou paciência, expor suas idéias e lembrar fatos passa-
concentração e persistência; no entan- dos. Hoje João continua com dificuldades
to, continuou manipulando as regras dos na aprendizagem, no entanto, todas as
jogos em seu favor. Com a continuação outras queixas que o fizeram procurar o
do processo, João passou a respeitar as processo psicoterápico cessaram. Portan-
regras estabelecidas e delimitar o espa- to, é com sentimento de muita satisfação
ço, bem como criar suas próprias regras. que este caso é concluído, tomando como
Também se pôde perceber sua dificulda- avaliação as visíveis mudanças de João.
de numérica, por meio da qual houve a
autorização de João para que se visitasse Palavras-chave: Psicoterapia Infantil;
sua escola. Na escola tanto a professo- Abordagem Centrada na Pessoa, Dificuldade
ra como a coordenadora pedagógica de de aprendizagem.
João relataram que o percebiam inquieto,
disperso e angustiado por não conseguir
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o quanto antes para que se possa inter- aspectos será percebida de acordo com
vir evitando prejuízos futuros (Brêtas et o tipo de desenho ou do comando que é
al., 2005; Mora, 2007; Rosa et al., 2008; dado para executá-lo. No tônus muscu-
Silva, et al., 2011). Neste sentido, o estu- lar se verifica as variações hipertônicas
do do grafismo (desenho e escrita) infan- e hipotônicas, quando o desenho apre-
til surge como uma ferramenta passível senta traços muito grossos quase rasgan-
para este fim, pois sua observação não do o papel observa-se a ocorrência de
exige grandes habilidades do observa- hipertonia (Oliveira, 2008), já quando o
dor e é possível que se faça a detecção grafismo apresenta riscos claro demais,
do indício de atraso no desenvolvimento quase apagados pode ser sinal de hipoto-
motor. Como a evolução motora segue nia (Mora, 2007). A coordenação motora
uma maturação coordenada, também o ampla é necessária para ter uma postura
desenvolvimento da expressão gráfica na corporal adequada diante dos elementos
criança acontece em estágios sucessivos, usados no ato de desenhar. Já a coorde-
o que reflete o grau de seu amadureci- nação motora fina é necessária para se-
mento nervoso (Sistema Nervoso) e mo- gurar o lápis e manuseá-lo corretamente
tor (Mora, 2007). A escolha pelo desenho e quando ao desenhar um círculo e se fi-
se faz pela sua facilidade na execução por zer outro menor dentro dele e um pingo
parte da criança. E pelas inúmeras possi- dentro do segundo círculo (uma cabaça
bilidades que ele representa, porque há com os olhos, por exemplo), aqui tam-
quem considere o ato de desenhar como bém é fundamental a presença de um
processo no qual se expressa experiên- adequando desenvolvimento óculo-mo-
cias vividas, organiza informações e reve- tor. Outros aspectos da evolução psico-
la o aprendizado (Goldberg; Yunes; Frei- motora podem ser evidenciados na análi-
tas, 2005), ou o desenho como forma de se do desenho infantil, como o esquema
representação do espaço (Padilha, 1990), corporal, a lateralização, a senso-per-
o desenho como expressão da linguagem cepção e a percepção espaço-temporal
simbólica (Hammer, 1981; Di Leo, 1985), (Viana, 2011). No entanto, estas evidên-
o desenhar como mediador e facilita- cias têm sido observadas empiricamen-
dor de interações sociais (Dias; Almeida, te, sem rigor científico, o que necessita
2009), ainda o desenho como expressão de estudos que comprovem ou refutem
de sentimento e promotor da comunica- esta hipótese. Como foi referido acima,
ção terapeuta-cliente (Silva, 2010), ape- paralelamente ao desenvolvimento mo-
nas para citar alguns. Além disso, é pos- tor, a expressão gráfica no infante deve
sível, a partir do grafismo infantil, avaliar evoluir continuamente, assim os traços e
e/ou perceber o desenvolvimento de cer- rabiscos dos primeiros anos vão se apri-
tos aspectos da motricidade da criança. morando para circunferências, bolinhas e
Os elementos da evolução motora que até o desenho perfeito da figura humana
a expressão gráfica do infante relaciona- (Oliveira, 2008). Assim, em torno dos três
-se diretamente são: o tônus muscular, anos a criança pode combinar formas re-
coordenação motora ampla e fina e co- tas e circulares, passa a relacionar suas
ordenação óculo-motor (Palácios et al., produções com objetos e pessoas (Pa-
2004; Mora, 2007). A observação destes lácios et al., 2004). Por volta dos quatro
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
anos faz figuras geométricas fechadas, algo simples. E uma vez que ele é funda-
pode deixar de desenhar ações pre- mental para desencadear uma série de
sentes e passar a registras situações de aquisições no sujeito humano como, por
motivação afetiva, aqui a figura humana exemplo, a linguagem e a escrita que são
ainda apresenta grandes desproporções fundamentais para a pessoa entrar em
(Mora, 2007). Aos cinco anos surgem os contato com o mundo exterior e assim
primeiros desenhos de pessoas com ob- adquirir os resultados conquistados pela
jetos nas mãos e a ideia de movimento cultura humana. Com isso, a pessoa pode
é representado nas gravuras. Já por volta tornar-se conhecedora e modificadora da
dos seis anos as ilustrações representam realidade que a cerca. No processo edu-
mais claramente a realidade, a noção de cacional, faz-se necessário que todo edu-
chão e céu está presente, o desenho da cando tenha acesso aos conhecimentos
figura humana dever ser o mais perfeito e produzidos, mas o bloqueio ou retardo
completo (para crianças com motricidade na evolução motor pode interferir nesta
e inteligência normal) possível (Palácios aquisição. Por isso, análise do desenho
et al., 2004; Mora, 2007) o que demons- infantil é uma possibilidade de verifica-
tra o adequado desenvolvimento motor. ção do estágio da motricidade da criança,
Do ponto de vista das funções motoras a permitindo que se intervenha em tem-
partir dos seis/sete anos a pessoa já deve po hábil evitando prejuízos futuros na
ter adquirido as habilidades necessárias aprendizagem. Como isso, o profissional
para possibilitar as demais aquisições poderá estabelecer um plano de inter-
advindas com a aprendizagem (escolar venção junto ao infante a fim de superar
ou não) e das demais interações sociais a dificuldade encontrada, ou deverá en-
que o meio em que vive a proporcionar. caminhá-lo para profissionais que atuem
A evolução do grafismo infantil refere-se na reabilitação destes aspectos.
à elaboração dos desenhos e o desenvol-
vimento da escrita manual. A este respei- Palavras-chave: Grafismo infantil.
to Condemarín e Chadwick (1990 apud Desenvolvimento motor. Avaliação motora.
Palácios et al., 2004) dividem a aquisição
da escrita em três fases: pré-caligráfica,
caligráfica e pós-caligráfica. A fase pré-ca- LT01-1479 - ACOMPANHAMENTO
ligráfica situa-se entre dois e cinco anos PSICOLÓGICO AO PORTADOR DE
aproximadamente e caracteriza-se pelo MUCOPOLISSACARIDOSE
início dos primeiros rabiscos até a elabo- Petruska Oliveira Baptista - UFPA
ração das primeiras letras. Na caligráfica petruska@ufpa.br
que ocorre depois dos cinco anos há o Ana Paula de Andrade Rodrigues
desenvolvimento propriamente dito da
escrita, ela vai até por volta de doze anos. A Mucopolissacaridose (MPS) é uma do-
E na fase pós-caligráfica a pessoas irá es- ença genética rara com manifestações
colher que tipo de letra usará, comple- patológicas progressivas na maioria dos
tando, assim o desenvolvimento do seu sistemas de órgãos. A complexidade das
grafismo. O desenvolvimento psicomotor características clínicas associadas a MPS
é um processo complexo, embora pareça dificulta aos profissionais da saúde uma
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formar um escore de inteligência que re- Pessoal estavam na gama normais. Estes
presenta a habilidade do paciente relati- resultados foram confirmados pelas per-
vo à sua idade. Atividades desenvolvidas: cepções de suas responsáveis e profes-
Análise de prontuários e levantamento sores. A partir do mencionado podemos
de dados de identificação para estabe- dizer que a melhora da qualidade de vida
lecer contato com os responsáveis; Pri- dos pacientes após as sessões de repo-
meiro contato com os responsáveis para sição enzimática e do acompanhamento
esclarecem os objetivos do acompanha- especializado é significativa. Quanto às
mento e quais os procedimentos que avaliações das Competências Sociais e os
serão adotados; Aplicação da anamnese Problemas de Comportamento, os resul-
psicológica; Aplicação do Questionário tados variaram em razão das vivencia que
de Qualidade de Vida; Aplicação do teste cada individuo, pois esta está intrinseca-
SON; Aplicação do CBCL; Elaboração do mente relacionada com as habilidades
laudo; Apresentação de relatório psico- sociais. E, que, apesar do auxílio físico e
lógico à Equipe multidisciplinar. Entrevis- psicológico que o acompanhamento no
ta devolutiva do diagnóstico e possíveis hospital proporciona as dificuldades so-
encaminhamentos à família. Dos 10 pa- ciais, comportamentais e escolares ain-
cientes inscritos, apenas quatro compa- da se encontram presentes, por serem
receram desde o início ao acompanha- uma constante na vida destes pacientes
mento psicológico. O teste SON foi apli- desde o momento da descoberta desta
cado em quatro, sendo duas meninas e doença em suas vidas. Isto se dá por ser
dois meninos. Os resultados da avaliação uma doença sistêmica e atingir todos os
apontaram diferentes graus de Déficit sentidos. Por ser uma doença sistêmica
Cognitivo, ambas as meninas apontaram que altera diversas capacidades, acredi-
grau médio, um dos meninos teve como tamos que esta característica altera os re-
resultado grau abaixo da média, e o últi- sultados apontado para alguns pacientes
mo Dificuldades no Aprendizado. Foram Déficit Cognitivo, pois não visualizamos
aplicados os Questionários de Qualidade dificuldade elaborativa ou ideativa. Os
de Vida em cinco pacientes, duas meni- assuntos relacionados aos atendimentos
nas e três meninos. O resultado para os a pacientes com MPS exige amplo co-
quatro pacientes apontou uma melhora nhecimento de diversos aspectos sobre
na qualidade de vida, ou seja, melhora a psique do paciente, e devem guardar
na saúde e no bem-estar. Foi aplicado o relações específicas com os níveis de de-
CBCL em três pacientes, sendo duas me- senvolvimento e com os sintomas apre-
ninas e um menino, as avaliações para o sentados por cada paciente, respeitando
paciente do sexo masculino nas escalas a premissa da diversidade, da idiossincra-
de Competência Social, Interação Social, sia e individualidade.
Amizades e Família resultou na escala
normal para os responsáveis, enquanto Palavras-chave: mucopolissacaridose;
que na autoavaliação resultou na escala psicopediatria; neurogenética.
limítrofe. Para ambas as meninas, a con-
tagem de Competência Social Interação
Social, Amizades, Família e Adaptação
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dentre outras, as quais oferecem poucas necessárias como competências para in-
vagas de empregos. É fundamental que serção e manutenção das pessoas com DI
ocorra o ajustamento ao trabalho com a no trabalho, visto que esse tipo de compe-
criação de oportunidades para as pesso- tência é de suma importância para o ade-
as com DI desenvolverem e mostrarem quado ‘funcionamento’ do indivíduo não
suas competências dentro de uma ótica somente no local de trabalho, mas tam-
de mercado mais real. Não basta, apenas, bém na comunidade, na família, dentre
treinar algumas habilidades básicas para outros sistemas sociais (Tanaka & Manzini,
que ocorra a efetiva inclusão das pessoas 2005). Considerando o papel do contexto
com DI no trabalho. Por outro lado, não do trabalho para a promoção ou não do
é necessária somente a preparação da desenvolvimento do indivíduo, bem como
pessoa com DI (escolaridade, qualificação da escassez de estudos com a população
profissional etc.), mas também é preciso brasileira é que se faz necessária a imple-
que as empresas tenham condições físi- mentação de estudos que visem uma re-
cas e sociais para promoverem a inclusão, flexão do processo de inclusão, de forma,
além do apoio para efetivar a acessibili- a contribuir para a geração de dados que
dade e estreitar os vínculos entre as insti- possam subsidiar políticas de atenção às
tuições profissionalizantes e as empresas. pessoas com deficiências em nosso país.
Independentemente da maneira com que
ocorre a inclusão no trabalho, este tema Palavras-chave: deficiência intelectual;
vem se tornando cada vez mais relevante inclusão no trabalho; desenvolvimento
por sua importância na perspectiva do de- humano.
senvolvimento dessas pessoas, podendo Contato: Adelaine Vianna Furtado.
subsidiar dados empíricos que fomentem Universidade Federal de Juiz de Fora.
programas de preparação do jovem com ane_vf@yahoo.com.br
DI ao mercado de trabalho. A produção
científica nesta área ainda é escassa, prin-
cipalmente, no Brasil. É preciso envidar LT01-1261 – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
esforços no sentido de planejar estudos NA VIDA ADULTA: PRODUÇÃO CIENTÍFICA
que busquem um melhor entendimento NACIONAL
do processo de inclusão, bem como do im- Sueli de Souza Dias - UnB/SEEDF
pacto desse processo no desenvolvimento suelidiass@gmail.com
das pessoas com DI. Não há dúvidas quan- Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB
to à importância da inclusão no trabalho, mcsloliveira@gmail.com
destacando esta como via de inserção das
pessoas com deficiências nas relações de Transição para a vida adulta é uma circuns-
produção e consumo, portanto, de inclu- tância significativa para o desenvolvimen-
são social também. Além disso, trata-se to do ser humano, pois um conjunto de
da continuidade do atendimento educa- mudanças se processa, tendo o indivíduo
cional, podendo proporcionar aquisição que se reorganizar tanto do ponto de vista
de boa conduta e reconhecimento pessoal da própria subjetividade, quanto no rela-
e profissional. Dessa forma as habilidades cionamento com o seu mundo circundan-
sociais vêm sendo consideradas as mais te. Trata-se de um momento de escolhas
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compete a este ator as funções de articula- na teoria walloniana contribui para a am-
dor, formador e transformador no cenário pliação do entendimento sobre o processo
da unidade escolar. Como articulador, ofe- de constituição do coordenador pedagógi-
recendo condições aos professores para co. Assim, pessoa é o conceito empregado
que trabalhem coletivamente suas pro- por Wallon (2007) para definir e nomear o
postas curriculares; como formador, ofere- domínio ou conjunto funcional resultante
cendo condições aos professores para que de outros três: afetividade, ato motor e
se aprofundem em suas áreas específicas e conhecimento. A integração das funções
para que transformem seu conhecimento dos domínios funcionais não é estática, é
em ensino de qualidade; como transfor- mutante, a partir de oposições, conflitos,
mador, propiciando condições para que forças convergentes e divergentes nas re-
o professor seja reflexivo e crítico em sua lações com o meio social, pois pessoa é a
prática (Almeida & Placco, 2009). Sem des- síntese entre um organismo com potencial
considerar as demais vias que promovem genético para se tornar um representante
o desenvolvimento dos conhecimentos típico da espécie e o meio, predominan-
pedagógicos, curriculares e também das temente social. A integração das funções
habilidades de relacionamento interpes- desses domínios pode levar a configura-
soal, vamos nos deter nas situações de ções diferenciadas, variáveis de indivíduo
trabalho, por concordar com Dubar (1997, para indivíduo, conferindo, portanto, sin-
p.48) que o “trabalho está no processo de gularidade e caracterizando uma forma de
construção, destruição e reconstrução das ser e estar no mundo. Entretanto, de um
formas identitárias...”. Esse mesmo autor modo geral, é a afetividade que dá direção
(Dubar, 2005) lembra que há um jogo de às ações, orienta as escolhas, com base
forças constante entre atos de atribuição nos desejos da pessoa, nos significados e
e atos e sentimentos de pertença. No caso sentidos atribuídos às suas experiências
do coordenador pedagógico, os atos de anteriores, em suas necessidades fisioló-
atribuição chegam da estrutura oficial (o gicas e sócio-afetivas. Esses significados
que vem do instituído, do Sistema) e da e sentidos são constituídos no meio so-
estrutura funcional da escola (a tradução cial, portanto, na relação eu-outro. Zazzo
do instituído e as exigências da escola para (1978) observa que em Wallon pode-se
o trabalho de coordenação). Já os atos e apreender três tipos de Outro: o outro, os
sentimentos de pertença referem-se ao outros e o outro íntimo. Outro refere-se
que o coordenador aceita desses dois con- a um conceito geral; os outros referem-
textos, e o que acrescenta a eles, definin- -se àqueles com os quais o indivíduo se
do seu papel profissional, numa constante relaciona concretamente; o outro íntimo,
tensão eu-outro. Ao abordar a questão também chamado de socius (conceito
da identidade, Wallon (1975) a denomina emprestado de Pierre Janet) é o parceiro
como personalidade e a descreve como permanente na vida psíquica do indivíduo,
uma percepção e si mesmo adquirida por decorrente da articulação de elementos
afirmação constante de autonomia em re- antigos e novos da experiência do indiví-
lação aos demais, construída nos proces- duo, em suas relações com os diferentes
sos de identificação e diferenciação com o meios sociais. Para a produção de informa-
outro. A compreensão do conceito pessoa ções foram empregados questionários e
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entrevistas biográfico-narrativas com coor- papel exercido pelo Outro Íntimo. A valori-
denadoras atuando em duas Diretorias Re- zação que todos os coordenadores dão às
gionais de Ensino do Estado de São Paulo, relações interpessoais, seja nos momen-
uma na capital, outra no interior. Nesta co- tos de início da função (apoio, aceitação),
municação serão discutidos os resultados seja nos momentos formativos (aceitação,
de uma das Diretorias Regionais. O que é rejeição de propostas) é outro indicativo
recorrente no cotidiano dos coordenado- de forte influência das relações eu-outro.
res é a resposta aos atos de atribuição do Alguns coordenadores referem-se ao pa-
sistema e da organização da escola: mul- pel das políticas públicas, acentuando que
tiplicidade de tarefas: materialidade bem o coordenador precisa ver sentido nelas,
explicitada por uma mesa “cheia de coisas: para trabalhar de forma competente. Esse
rádios, revistas, livros perdidos, bilhetes de sentido foi sendo constituído por eles nas
professores, cadernos, os próprios papéis, e pelas relações sociais de sua trajetória. A
cadernos, atas...”; atendimento a situa- função formativa é recorrente, como ato/
ções imprevistas, que impedem a execu- sentimento de pertença. Afirma um coor-
ção do planejamento feito; tempo escasso denador: “Nós, coordenadores antigos, tí-
para dar conta de tantas atribuições: “a nhamos uma função que nos honrava: de-
mesa cheia de coisas migra para a casa, e o senvolver um projeto, articular o coletivo,
trabalho continua...”; atendimento a pais, formar o professor.”
professores, alunos, pessoas que procu-
ram informações; elaboração da agenda e Palavras-chave: coordenador pedagógico,
execução de Horas de Trabalho Pedagógi- identidade, relações sociais.
co Coletivo; resolver conflitos: de profes- Contato: Laurinda Ramalho de Almeida, PUC-
sores, pais, alunos. Esta situação provoca SP, laurinda@pucsp.br
manifestações de mal-estar nos coordena-
dores ao final do período de trabalho: ex-
tremados, cansados, com sensação de “fiz LT04-1327 - BUSCANDO COMPREENDER
tanto, e não fiz nada”. As atividades são A RELAÇÃO TUTOR E CURSISTA EM
feitas porque os outros exigem dele uma UM AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO A
atuação desse tipo. Algumas dessas ativi- DISTÂNCIA
dades, no entanto, caracterizam-se como Daniel Röhe Salomon da Rosa Rodrigues -
suas (sentimento de pertença), principal- UnB
mente a elaboração de agenda de traba- rohe.daniel.1986@gmail.com
lho e planejamento e execução de horas Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB
de trabalho coletivo. Os atos de pertença Maria Fátima Olivier Sudbrack - UnB
são, também, decorrentes das relações Financiamento: PRONASCI
eu-outro, principalmente com pares (coor-
denadores de outras escolas), com profes- A educação possui a função de habilitar in-
sores, gestores, comunidade escolar que divíduos para o manejo do conhecimento.
lhes solicitam atendimento às suas neces- Paulo Freire propõe a reflexão no sentido
sidades. Ao aceitar/recusar as atribuições do reconhecimento de objetos: o si-mes-
que lhes são dadas, entra, na tomada de mo, o outro e os conteúdos disciplinares.
decisão para este ou aquele caminho, o Ele incentiva ainda o exercício de criativi-
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dade que vai além do simples reconhecer, o acréscimo de 60 horas aula pela neces-
mas que alcança a reflexão epistemológica sidade de integrar teoria e prática. A meta
do conteúdo. Educar então não significa fundamental é, pois, a socialização e im-
impor um conhecimento ao outro, mas plementação dos projetos elaborados nos
sim propor a reflexão sobre o conheci- módulos anteriores. Assim, esse módulo
mento que se almeja partilhar. É preciso estimulou a equipe da coordenação do
reconhecer o mecanismo fundamental na curso a refletir e a criar espaços para aten-
aprendizagem, destarte é necessário que der aos desafios apresentados pelos cur-
o sujeito que está aprendendo enxergue sistas. Nesse curso ocorre uma relação en-
a si mesmo. Ensinar é então a criação de tre conteudistas, supervisores de tutores,
possibilidades para a autocondução e a tutores e cursistas no sentido de garantir a
produção de diálogos que promovam a eficácia do curso. Os conteudistas além de
construção do conhecimento. O ensino a elaborarem o conteúdo participam da for-
distância é uma modalidade educacional mação dos tutores e seus supervisores. Os
que será utilizada como principal forma tutores, por serem aqueles que estão em
de ensino no futuro, pois possibilita que contato direto com os cursistas, são os res-
grandes populações tenham acesso à ponsáveis pela construção do conhecimen-
educação escolar. Isto porque proporcio- to e ações deles. Por isso faz-se necessário
na flexibilização de espaço e tempo para uma reflexão sobre a formação daqueles
os estudos. Pesquisas apontam relatos de para que atuem de forma dialógica privile-
estudantes indicando uma preferência por giando os aspectos da aprendizagem como
esse tipo de ensino porque adquirem mais um todo e não apenas as práticas tecno-
informações. O Curso de Prevenção ao Uso cráticas das ferramentas contemporâneas.
de Drogas é uma parceria entre o Progra- Deve-se garantir que os tutores favoreçam
ma de Estudos e Atenção às Dependências o potencial criativo dos educadores para
Químicas do Departamento de Psicologia que atuem na área de prevenção e saúde
Clínica do Instituto de Psicologia da Uni- pública. Este trabalho tem como objetivo
versidade de Brasília (PRODEQUI/PCL/IP/ geral refletir sobre a formação do tutor em
UnB) - em articulação com a Secretaria Na- ensino a distância e especificamente inda-
cional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e gar sobre o papel de supervisão dos tuto-
MEC. Este é um curso à distância voltado res analisando a interação tutor-cursista
para formação de educadores de escolas no ensino a distância. Os participantes da
públicas e tem como objetivo habilitá-los pesquisa foram 45 Tutores de 45 turmas
a atuar na área da prevenção ao uso de do Módulo V e um supervisor de conteú-
drogas de forma integrada às atividades de do. Foi analisada a relação entre esses tu-
ensino em sala de aula. O curso é compos- tores e os cursistas na plataforma moodle.
to de quatro módulos de conteúdos que Os materiais de análise foram: relatórios
envolvem as temáticas sobre adolescente, padronizados para análise com ALCESTE
família, conceitos e informações básicas a partir de um banco de dados contendo
sobre drogas, a prevenção e estratégias de os fóruns de socialização de 50% do total
prevenção na escola. Na edição 2010-2011 de turmas do Módulo V; análise de conte-
do curso, foi acrescentado o Módulo V que údo das falas dos tutores em supervisão.
consiste na ampliação do curso mediante No primeiro material de análise foram
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ligadas à ciência e tecnologia não são ade- nas, como, por exemplo, passar a mão na
quadas ao seu gênero e a matemática é a cabeça delas durante alguma dificuldade
porta de entrada para o ingresso nessas encontrada nas atividades de matemática,
carreiras. Para o entendimento mais am- demonstrando mais paciência - repetindo
plo dessas questões, este trabalho analisa várias vezes as instruções, por exemplo -
a maneira como o conhecimento mate- ao explicar-lhes o conteúdo; em ocasiões
mático é mediado em sala de aula, ten- como essas as alunas, nessas aulas, eram
do como fundamento teórico-conceitual desqualificadas, como se elas não pudes-
e metodológico a abordagem de Fávero sem aprender satisfatoriamente, sendo
(2009b; 2010a) que propõe a articulação suas dificuldades tidas como naturais e,
entre a Psicologia do Desenvolvimento e a portanto, esperadas para seu gênero. Es-
Psicologia do Gênero. Assim, procedemos sas atitudes do professor revelam que as
a coleta de dados em aulas de matemática expectativas docentes em relação à apren-
de duas salas do 3º ano do Ensino Médio dizagem das alunas acerca dos conceitos e
de uma escola da Rede Pública de Ensino das regras matemáticas são menores do
do DF, uma ministrada por uma professora que os resultados esperados das alunas.
de matemática e outra por um professor Numa dessas situações, por exemplo, o
de matemática, ambos licenciados nessa professor disse que iria “utilizar o giz ro-
disciplina, ambos numa faixa etária de 35 sinha em homenagem às meninas”, numa
anos. As salas tinham em média 35 alunos clara referência à dicotomia presente na
cada, com alunos entre 17 e 19 anos. Com escola entre a feminilidade das meninas
a anuência dos professores e da direção da (associada à delicadeza da cor escolhida) e
escola, registramos em vídeo três aulas em a rigidez e objetividade do conhecimento
cada turma, sendo 30 minutos em média, matemático. Concluímos, como já assina-
com o intervalo de três dias entre cada lado por Fávero (2010 a), que as meninas
registro. As transcrições dos vídeos foram são distanciadas da matemática ao longo
submetidas à proposta de Fávero (2005), a de sua vida escolar. Tais atitudes, ao lon-
qual toma os atos da fala como unidades go do ciclo escolar, também as distanciam
de análise. Os resultados apontam que: a das carreiras científico-tecnológicas que,
mediação dos professores associa a mate- como sabemos, têm a matemática como
mática à objetividade científica e à racio- filtro de acesso e permanência. Tais dados
nalidade; as regras sobre as operações são podem explicar porque ainda hoje as alu-
transmitidas no lugar de conceitos mate- nas são distanciadas dessas carreiras, as
máticos; os alunos são mais solicitados a quais gozam de alto prestígio social (Fer-
participar durante as aulas, perguntando nandes & Healy, 2007). Nossos estudos
e procurando soluções para problemas, continuam dentro dessa linha para apro-
enquanto as vozes das alunas são menos fundar dados tais como o fato de que as
ouvidas durante as participações nas aulas dificuldades das alunas, nas mediações
de matemática. Evidenciou-se: a diferença observadas, são desqualificadas em várias
de comportamento entre professores e situações, quando, por exemplo, o profes-
alunos e professores e alunas; no segundo sor diz que “não estão aprendendo ma-
caso, os professores tendem a demonstrar temática porque estão preocupadas com
comportamento complacente com as alu- flerte com os meninos”.
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maneira pela qual o conteúdo é enfocado. como o diagnóstico de TDAH tem sido fei-
Não aparece a possibilidade de questiona- to no Sistema de Saúde Pública no Brasil.
mento frente ao método de ensino ado- Verificamos que há um grande número de
tado, as estratégias utilizadas nem se isso crianças sendo diagnosticadas como TDAH
poderia interferir no desempenho acadê- por médicos do setor de Saúde Pública,
mico dos alunos. Nesse sentido, a aprendi- mas que, de fato, não apresentam esse
zagem parece ser um processo individual e transtorno, quando avaliadas segundo os
não social. Nossos dados também revelam critérios do DSM-IV. A pesquisa nos per-
uma visão tradicional de ensino, em que a mitiu identificar três pontos básicos envol-
aprendizagem é concebida como um refle- vendo a criança diagnosticada como TDAH
xo da conduta do aluno e de sua família, pelo Sistema de Saúde Pública de Divinó-
desconsiderando o papel do professor e a polis, o qual reflete o que acontece em ou-
influência de sua prática para o desenvol- tros locais no Brasil (Gomes & cols, 2007).
vimento do estudante. O primeiro ponto refere-se à forma como
o diagnóstico tem sido realizado na Saúde
Palavras-chave: representações, Pública de Divinópolis, segundo ponto, a
aprendizagem, desempenho acadêmico. importância das narrativas das mães e es-
colas sobre a criança para que o profissio-
nal da área de saúde estabeleça o diagnós-
LT04-837 - O DIAGNÓSTICO DA CRIANÇA tico de TDAH e terceiro, a inadequação da
COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE medicação fornecida a essa criança, diag-
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA SAÚDE nosticada de forma inadequada. A partir
PÚBLICA dos resultados aqui encontrados, mesmo
Cláudia Lúcia Carazza - Bolsista PAEx/UEMG que parciais hipotetizamos que a criança
(FUNEDI/UEMG) usuária do Sistema de Saúde Pública de
Lúcia Maria Silva Arruda - FUNEDI/UEM Divinópolis recebe o diagnóstico médico
Marcos Paulo Alves de Oliveira - Bolsista de TDAH a partir das narrativas que a mãe
PAPq/UEMG (FUNEDI/UEMG) ou o cuidador dessa criança fornece sobre
Marilene Tavares Cortez - FUNEDI/UEMG/ ela. O principal objetivo dessa pesquisa foi
UFMG refazer o diagnóstico de TDAH recebido
por muitas crianças, já que observávamos
A pesquisa aqui relatada reavaliou o diag- que havia um número excessivo de crian-
nóstico de Transtorno de Déficit de Aten- ças com esse diagnóstico, crianças com as
ção e Hiperatividade (TDAH) dado às crian- quais tínhamos contato. Sabíamos que se-
ças usuárias do Sistema de Saúde Pública guindo as indicações das pesquisas sobre
da cidade de Divinópolis (MG). A meto- o TDAH e a indicação do DSM-IV sobre o
dologia de pesquisa envolveu analisar as número de crianças TDAH, em idade esco-
fichas das crianças com o diagnóstico ou lar, deve ficar entre 3 a 7%. O número de
indicação de TDAH de alguns Centros de crianças com diagnóstico de TDAH vincula-
Saúde de Divinópolis e refazer o diagnós- das ao nosso trabalho ultrapassava muito
tico. Os dados e resultados aqui descritos essa estatística. Em um primeiro momento
e analisados, mesmo sendo parciais, são da pesquisa foi realizado um levantamento
extremamente relevantes para se pensar de dados das crianças TDAH usuárias da
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lização que vem ocorrendo em relação ao cio do estudo, os sujeitos pouco se relacio-
diagnóstico do TDAH. Hiperatividade não navam entre si e, com o decorrer das ses-
é o TDAH. Ampliar a consciência sobre o sões, a interação foi favorecida pela maior
uso de psicoestimulantes, como o metilfe- freqüência de brincadeiras de faz-de-con-
nidato, que pode causar dano nos sistema ta. As autoras concluíram destacando a
nervoso das crianças. Ter consciência dos importância do brincar para melhorar re-
reais critérios usados para se fazer um lações sociais e promover desenvolvimen-
diagnóstico correto do TDAH. Encontrar to. O brincar também pode ser utilizado
formas alternativas de tratamento para es- para identificar habilidades em crianças
sas crianças. A Terapia Cognitiva (TC), por que apresentam alterações no seu de-
exemplo, tem propostas diferentes para senvolvimento. Esse uso é enfatizado na
abordar essa criança. Isto é, ela pretende proposta de grupo para intervenção fono-
trabalhar precisamente aspectos o proces- audiológica descrito por Laplane, Batista e
samento cognitivo da criança que, efetiva- Botega (2007), em que crianças com quei-
mente, apresente o TDAH. xas de atraso de linguagem podem mos-
trar competências através da observação
Palavras-chave: TDAH; Discussão diagnóstica; de situações que se caracterizem como as
DSM-IV. mais naturais possíveis como, por exem-
plo, o brincar. Diante da perspectiva do
brincar como contexto passível de iden-
LT04-984 - O MANUSEIO DE tificação de competências, o objetivo do
OBJETOS COMO INDICADOR DE presente projeto foi o de descrever situa-
DESENVOLVIMENTO EM CRIANÇAS ções de brincadeiras, nas quais ocorresse
COM ALTERAÇÕES DE LINGUAGEM E DE o uso de objetos por crianças com alte-
DESENVOLVIMENTO rações no desenvolvimento e linguagem,
Amanda Brait Zerbeto - UNICAMP e assim, evidenciar as competências que
amandabrait@gmail.com elas apresentam. Em relação à metodolo-
Cecília Guarnieri Batista - UNICAMP gia, trata-se de uma pesquisa qualitativa
cecigb@gmail.com observacional. Os participantes da pesqui-
Financiamento: CNPq sa foram quatro crianças com idades entre
2 e 5 anos, com queixas de alterações de
Crianças com alterações de linguagem e linguagem e no desenvolvimento global.
no desenvolvimento global são, frequen- Foram observados em contexto de um
temente, descritas por suas incapacidades grupo de Avaliação de Linguagem, super-
e limitações, mais do que por suas habi- visionado por Fonoaudióloga, Psicóloga
lidades, muitas vezes, de difícil identifica- e Pedagoga. O projeto foi aprovado pelo
ção. O brincar influi no desenvolvimento Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição
infantil, contribuindo para o desenvolvi- em que foi realizado. Os pais assinaram o
mento social, cognitivo, linguístico e mo- Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
tor (Vygotsky, 1998). Pinto e Góes (2006) do e os nomes das crianças, quando cita-
estudaram o brincar de faz-de-conta em dos no estudo, foram substituídos por no-
crianças com diagnóstico de deficiência mes fictícios. Doze sessões foram video-
mental, entre 4 e 6 anos de idade. No iní- gravadas, com duração de uma hora cada,
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tação por meio de três anéis (Modelo dos que trazem impacto no capital intelectual
Três Aneís) que interagem: habilidade aci- e econômico, mas os fatores co-cognitivos
ma da média, envolvimento com a tarefa e merecem ser melhor refletidos e desenvol-
criatividade. Na representação gráfica des- vidos pois esses estimulam o capital social.
se modelo, Renzulli apresenta essas três ca- Observa-se ainda que os capitais intelec-
racterísticas contextualizadas em um fundo tual e financeiro tem sido o foco principal
que representa os fatores personológicos dos países para o seu desenvolvimento, o
e ambientais que são necessários para a capital social ainda precisa ser estimulado.
emergência e o desenvolvimento dos três Embora não haja uma definição clara des-
anéis. Segundo Renzulli esses fatores estão se termo, considerado intangível, o capital
inter-relacionados e seriam: (a) otimismo, social é compreendido como importante
que diz respeito à esperança e aos senti- e determinante na qualidade de vida de
mentos positivos decorrentes da dedicação pessoas e nas relações sociais diárias. Ren-
a uma tarefa; (b) coragem, que se refere à zulli indica que o capital social beneficia a
independência psicológica e intelectual e sociedade como um todo, pois promove a
à coragem para correr riscos; (c) romance criação de valores, normas e redes de con-
em um tópico ou disciplina, representado fiança social que facilitam a coordenação
pela paixão por uma determinada área de e cooperação voltada para bem coletivo. A
interesse; (d) sensibilidade às inquietações promoção desses fatores devem ocorrem
humanas, que diz respeito à empatia e ao em uma bordagem sistemática por meio
altruísmo e são impulsos para a motivação de análise de capacidades individuais, in-
do estudo e para o desejo de compreender teresses e estilos de aprendizagem do indi-
o ser humano e o mundo; (e) energia física víduo superdotado, proporcionando-lhes
e mental, expressa pela curiosidade e pelo oportunidades, recursos e incentivo de in-
investimento em um determinado obje- vestigação ou criação de experiências den-
tivo; e (f) senso de destino, caracterizado tro de suas áreas de interesse escolhida.
pela necessidade de promover mudanças Todo o aprendizado e crescimento pessoal
e buscar seus objetivos. Esses seis compo- resultante dessas experiências, tanto cog-
nentes são chamados por Renzulli de fato- nitivos como co-cognitivos, tomam lugar
res co-cognitivos, pois interagem com os fa- no contexto onde convivem. Dessa manei-
tores cognitivos (fatores associados ao su- ra, faz-se pertinente refletir a importância
cesso escolar e a habilidades humanas). O do desenvolvimento dos fatores cognitivos
autor expandiu a concepção de superdota- e co-cognitivos dos indivíduos superdota-
ção com os fatores co-cognitivos, pois con- dos, bem como os contextos da família, da
sidera que as características dos indivíduos escola e dos programas para superdotados
superdotados não se restringem apenas no estímulo desses fatores para a promo-
a fatores cognitivos. Além disso, Renzulli ção de saúde desses indivíduos e do capi-
busca compreender, por meio desses fato- tal social.
res, condições que estimulem os indivíduos
superdotados a utilizarem seus potenciais Palavras-chave: Superdotação, Educação,
em prol da sociedade. Houve um grande Desenvolvimento
avanço no programa para superdotados no Contato: Fernanda do Carmo Gonçalves, UnB,
desenvolvimento dos fatores cognitivos, fernandajfmg@yahoo.com.br
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2002, 2008; Gonçalves, 1990, 1996). O nú- de Conteúdo (Bardin, 1977/2008; Laville
mero reduzido de estudos sobre este tema & Dionne, 2007). Os resultados mostra-
pode dever-se aos desafios metodológicos ram que as cinco grandes categorias mais
envolvidos em pesquisas realizadas com frequentes nas concepções das crianças
crianças pequenas. Embora o brincar seja, sobre a pré-escola foram: Brincar, Ativida-
atualmente, reconhecido como um lugar des, Espaço Físico, Professores e Regras.
“ecologicamente relevante” para o estu- Em cada uma delas, foram identificadas
do sobre a criança (Pedrosa, 2005), ainda subcategorias que especificam o conte-
são poucas as pesquisas que empregam údo trazido pelas crianças. A categoria
esse recurso ao investigar as concepções Brincar foi a mais frequente, o que suge-
das crianças sobre a escola (Gonçalves, re que, para essas crianças, a pré-escola
1990; Morassutti, 2005; Sager, 2002). Em é, principalmente, um lugar para brincar.
decorrência, o objetivo deste estudo foi Dentre as subcategorias identificadas den-
compreender as concepções das crianças tro da categoria Brincar, a mais frequente
participantes acerca da escola de edu- foi Brincadeiras de pátio, que inclui brin-
cação infantil, através da análise de epi- car em equipamentos como escorregador
sódios ocorridos no contexto do brincar. e balanço, brincar com bola, balde, rolar
Participaram do estudo 5 díades de crian- pneu, jogar futebol, etc.. Em seguida apa-
ças de 5 anos de idade, das quais 3 eram rece a subcategoria Brincadeiras de sala,
compostas por meninos e 2 por meninas. que se refere a jogos (memória, damas,
As crianças frequentavam uma pré-escola bingo), brincar com fantasias, colar figu-
que atende aos filhos e dependentes le- rinha, etc. Já a categoria Atividades, se-
gais dos funcionários de uma instituição gunda mais frequente, mostra que para as
pública. Foi realizado um estudo observa- crianças a escola é um lugar em que são
cional de tipo focal, com a pesquisadora desenvolvidas certas atividades típicas.
ocupando a posição de observadora na As atividades mais frequentemente iden-
qualidade de participante (Gold, 1958 in tificadas foram Alimentação e Acadêmi-
Flick, 2007). Cenas e instruções previa- cas, seguidas por Contação de histórias/
mente organizadas em três sessões de rodinha e Enfermagem. Educação Física,
brincar objetivaram eliciar episódios que Dormir/descansar, Passeio e Vídeo foram
permitissem acessar as concepções das atividades menos frequentes. Na catego-
crianças sobre a pré-escola. Os dados fo- ria Espaço Físico observou-se o predomí-
ram coletados na própria escola e as três nio das referências ao pátio, seguido pela
sessões de brincar foram filmadas. A partir sala, espaço externo à escola, berçário,
dos vídeos das sessões de brincar, dois ob- biblioteca, reunião e vídeo.
servadores identificaram, separadamente, Já na categoria Professores, as crianças
os episódios em que se evidenciavam as identificaram o educador predominan-
concepções das crianças sobre a escola temente como Determinador. Esta sub-
(Pedrosa e Carvalho, 2005). Em cada epi- categoria aplica-se a episódios em que o
sódio foram transcritas as sequências de professor aparece anunciando rotinas, de-
ações, uso de objetos e verbalizações das terminando o início e o final das ativida-
crianças e da pesquisadora. Os episódios des, dizendo o que fazer. O papel do pro-
foram analisados pelo método da Análise fessor como Mediador foi o segundo mais
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no país. Afinadas com os documentos ofi- possibilidades de sua atuação para o fa-
ciais (BRASIL, 2002; 2009), Silva e Pasuch vorecimento da aprendizagem infantil em
(2010) afirmam que a educação infantil sincronia com a comunidade, visando seu
no/do campo deve ser, portanto, constru- fortalecimento. Nesse campo de investi-
ída a partir dos modos próprios de vida, gação, o objetivo do presente trabalho é
valorizando e reconhecendo as práticas tentar compreender as significações da
culturais locais e as necessidades de fle- equipe escolar de um assentamento ru-
xibilização de calendário, rotina e ativida- ral sobre a criança pré-escolar assentada
des. Segundo Araújo (2010), muitos pro- e a educação infantil do campo. Trata-se
fissionais da educação cultivam modelos de uma análise inserida no contexto da
de educação tradicionais, que têm como pesquisa de mestrado Educação infantil
base a hierarquização Estado-município- no campo: significações de professores,
-professores-alunos. Além disso, quando pais e crianças da pré-escola, cujo obje-
se trata de um contexto diferente como tivo geral é investigar as significações de
o campo, apóiam-se em modelos urbano- educação infantil no/do campo presentes
cêntricos nos quais impera a concepção nas práticas sociais de famílias, crianças
de rural como centro agroindustrial, difi- de cinco anos, comunidade, professores e
cultando possibilidades de atuação junto demais profissionais da educação em dois
à comunidade. A partir do pressuposto assentamentos rurais. Método - A pes-
teórico histórico-cultural, segundo o qual quisa como um todo envolve a vivência
os processos de aprendizagem são media- pelo período de um mês continuamente
dos semioticamente pelo outro (Vygotsky, no cotidiano das instituições escolares
1998) e situados em contextos históricos, em duas comunidades rurais e entrevistas
políticos e culturais, os profissionais da semiestruturadas com os principais ato-
educação do campo são compreendidos res sociais envolvidos. Para este trabalho,
aqui como agentes potencializadores des- foram analisadas as entrevistas com as
sa mediação simbólica criança-mundo. profissionais da educação que trabalham
Assim, a equipe escolar constitui-se como diretamente com a pré-escola da esco-
significativamente importante na constru- la municipal de um assentamento rural
ção de espaços e atividades que permitam do interior do estado de São Paulo, que
às crianças ampliar as potencialidades de possui turmas de pré-escola e das séries
seu desenvolvimento. Para as crianças iniciais do ensino fundamental. As profis-
do campo, a escola pode se configurar sionais que participaram das entrevistas
por diversos matizes, desde um espaço foram: a diretora/coordenadora, a moni-
de descobertas sobre seu próprio mun- tora do ônibus, a professora da pré-escola
do atreladas ao conhecimento produzido e a professora de educação física, que
pela humanidade e sua comunidade até ministrava aulas para eles diariamente.
como um lugar externo à realidade rural, As entrevistas foram trabalhadas a partir
negando-a enquanto espaço de vida. A da perspectiva teórico-metodológica da
atuação da equipe escolar nos contextos Rede de Significações (RedSig) (Rossetti-
rurais, a partir dessa problemática, deve -Ferreira; Amorim; Silva; Carvalho, 2004),
ser analisada na perspectiva de compre- cujas concepções baseiam-se no mate-
ender quem são esses sujeitos e quais rialismo histórico-dialético de Vygotsky e
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Wallon, propondo uma abordagem semi- a interpretação dos discursos das profes-
ótica e considerando a complexidade do soras/diretora foram significações sobre
desenvolvimento humano. Assim, foram as crianças como “briguentas”, tanto no
construídas categorias de significações sentido de mau comportamento como de
que permitiram a compreensão dos sabe- luta pelos direitos. Esse duplo sentido foi
res que constituíam as práticas educativas demonstrado como intrinsecamente rela-
das participantes e que compunham a or- cionado e complicador do trabalho peda-
ganização e o cotidiano escolar. As profes- gógico que a equipe tentava desenvolver.
soras entrevistadas, ambas de uma cidade Percebeu-se um desconhecimento com
vizinha tida como referência por ser maior relação aos materiais publicados pelo
e sede da diretoria regional de ensino, ha- governo sobre educação do campo. Tais
viam iniciado seu trabalho na escola seis materiais não têm sido valorizados na re-
meses antes da realização das entrevis- gião em que se encontra a escola, sendo
tas. A diretora, também coordenadora tanto uma dificuldade da própria equipe
pedagógica, é moradora da região urbana em buscá-los independentemente, como
do município do assentamento, com po- também uma falta de articulação entre os
pulação estimada em 5.000 habitantes e poderes públicos local, estadual e nacio-
localizada a 14 km do assentamento. Por nal para viabilização desses materiais na
fim, a monitora do ônibus é assentada há formação continuada da equipe. A escola
cinco anos, possui dois filhos matricula- do assentamento investigada é vinculada
dos na escola, sendo um na pré-escola. a uma escola da cidade do município ao
Considerações - A partir das entrevistas, qual pertence o assentamento. Esse fato
foi possível analisar algumas divergências demonstrou ser um elemento dificultoso
e/ou convergências entre os discursos das na realização de propostas pedagógicas
participantes. Os discursos das professo- específicas para a educação no campo.
ras/diretora divergiram destacadamente Evidenciou-se essa questão na conver-
do apresentado pela monitora do ônibus sa com as professoras/diretora sobre o
em relação à visão de criança assentada projeto político pedagógico da escola,
no que tange às possibilidades de viven- submetido às determinações da escola
ciar brincadeiras e experiências de apren- urbana. Pode-se dizer que, no contexto
dizagem no contexto rural. Na visão das investigado, a educação infantil do campo
professoras/diretora, as crianças assen- é submetida a uma proposta pedagógica
tadas são “carentes” e possuem poucos tradicional, autoritária, que não agrega
estímulos para aprendizagem e desenvol- novos conhecimentos inclusive legitima-
vimento. Por outro lado, a monitora entra dos pelo poder público, o que prejudica a
em consonância com as demais quando construção de projetos originais e autên-
se trata dos modos de lidar e interpretar ticos que visam estimular e enriquecer as
os problemas de comportamento, sempre possibilidades de desenvolvimento infan-
solucionados pelo uso de ameaças de re- til nos e para os contextos rurais específi-
preensão dos familiares/responsáveis e cos onde ele ocorre.
raramente relacionados às interações com
a equipe ou à organização da rotina/am- Palavras-chave: educação infantil,
biente. Outros aspectos que compuseram assentamento, pré-escolar.
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LT04-1519 - O CUIDAR NOS PEDE nais que são deslocados da sala de aula da
MAESTRIA: REFLEXÕES SOBRE O alfabetização para tomar conta das crian-
TRABALHO DO PROFESSOR NO CAMPO ças entendem a importância de seu papel
DA PRIMEIRA INFÂNCIA ou sabem o que fazer? Hoje já temos uma
Maria Vitória Campos Mamede Maia - UFRJ cultura da educação infantil, mas o cuidar
mariavitoriamaia@gmail.br que essa faixa etária nos pede é um cuidar
Isadora Garcia - UFRJ diferente, um cuidar de sustentação e con-
Shelle Cristine Goldemberg de Araújo - UFRJ tinência para além do trabalho pedagógi-
co que lhes é solicitado. Um bebê e uma
Cuidar de crianças na primeira infância criança muito pequena só pode se cons-
nos coloca questões diante do fato de es- tituir e construir para si uma história nar-
tas nos solicitarem, mais do que crianças rativa se houver, com ela, nesse percurso,
maiores, cuidado: como não assumirmos um adulto que exerça a função de nomear
transferencialmente o lugar materno ou o mundo, identificá-lo e interpretá-lo des-
paterno|? Como não nos penalizarmos de as funções corporais até o mundo das
pelo que vemos, sem proferirmos julga- coisas que rodeiam essa criança e os sen-
mentos de valor? De que lugar falamos e timentos que emergem em determinadas
que lugar ocupamos quando trabalhamos situações. Há regras que ainda precisam
com a primeira infância ? O cuidar nos ser aprendidas e estas só assim serão se
pede maestria. Quando lidamos a pri- houver alguém que exerça essa função. O
meira infância, igualmente lidamos com que é pedido aos professores, mais do que
suas famílias e estas possuem uma forma uma demanda pedagógica, é sustentação
peculiar e única de funcionamento. Pre- e continência (Winnicott, 2000). Como
cisamos, como profissionais, sermos ma- articular o que se pede como trabalho a
estros de uma orquestra que possui sons ser feito dentro de uma faixa etária e a
próprios e tons próprios. Dentro desse questão primordial, ao nosso ver, de cons-
contexto qual seria a função do educador tituição de um sujeito psíquico, qual seja,
no espaço da educação infantil? Será que sustentar e conter no tempo e no espaço
essas pessoas têm noção plena do impac- uma criança pequena nas suas angustias
to que causam no desenvolvimento da e desejos? Relata-nos Zornic (2010) que
criança desta faixa etária? Como lidar com em um estudo feito pela Fundação Carlos
essas crianças se elas nos mobilizam exa- Chagas, em parceria com o Ministério da
tamente a parte que muitas vezes esque- Educação e o BID, que 49,5% das creches
cemos como era quando fôramos peque- no Brasil tem qualidade inadequada, com
nos? Se retomarmos o histórico de como nota entre 1 e 3 numa escala que vai até
a educação infantil passou a fazer parte da 10. A pesquisa foi realizada em 147 insti-
Educação veremos que antes de a infância tuições municipais, mas também incluiu
habitar o espaço educacional ela era des- escolas conveniadas e particulares. Os
tinada e cuidada por profissionais sociais. resultados enfatizaram a necessidade de
Depois que o cuidar ganha outros sentidos melhorar a formação dos profissionais
para além de manter vivo aquele ser pe- que cuidam desta faixa etária” (Zornic,
queno e passa a escola a ser o palco deste 2010, p. 4). Segundo a autora, esta e ou-
trabalho. Perguntamo-nos se os profissio- tras pesquisas marcam a “falta de práticas
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tem sido ofertado e efetuado com equi- pública, direitos trabalhistas e questões
dade. Diferenças etárias, étnico-raciais, econômicas, abordando particularmen-
de classe e territoriais são evidenciadas te o benefício do auxílio-creche e seus
nos índices nacionais sobre a cobertura impactos na qualidade diferenciada de
do atendimento. Dados sobre as condi- atendimento ofertado às crianças peque-
ções estruturais dos estabelecimentos nas. Ana Paula Soares da Silva, a partir
educacionais e sobre os profissionais da das reflexões derivadas das investigações
educação infantil demonstram ainda que de seu grupo de pesquisa Subjetividade,
a qualidade é bastante diferenciada, a Educação e Infância nos Territórios Rurais
depender da população atendida. Es- e da Reforma Agrária (SEITERRA), vincula-
ses fatores afetam a plena cidadania das do ao CINDEDI, explorará a particularida-
crianças de 0 a 6 anos de idade e, como de relativa aos desafios para a efetivação
queremos discutir nessa mesa, de modo do direito à educação infantil dos bebês e
particular afetam os bebês e as crianças crianças de até 3 anos de idade do campo.
de até 3 anos de idade. Representam di-
ficuldades e desafios que necessitam ser
vencidos no processo de construção da DISCURSOS SOBRE BEBÊ E A CRECHE
sociedade democrática, estipulado pela Fúlvia Rosemberg - FCC/PUC-SP
Constituição Federal de 1988, e na conso- frosemberg@fcc.org.br
lidação de um Estado de Direito. A invisi-
bilidade dos bebês nas políticas públicas A apresentação pretende trazer reflexões
e, por que não dizer, também em parte na derivadas das várias pesquisas desenvol-
ciência, é ingrediente adicional nesse pro- vidas na trajetória de investigação do Nú-
cesso. A mesa pretende aprofundar essas cleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade
questões, explicitando e esmiuçando as (NEGRI) da PUC-SP. O NEGRI, nos últimos
desigualdades no direito à educação in- anos, vem desenvolvendo uma linha de
fantil vividas e vivenciadas pelos bebês pesquisas denominada Discursos sobre o
e crianças de até 3 aos de idade. Aspec- bebê, sua educação e cuidado, com espe-
tos do desenvolvimento infantil, parti- cial atenção à creche. A linha de pesqui-
cularmente das condições ofertadas às sa parte de uma reflexão sobre o espaço
crianças pequenas, serão abordados na auferido ao bebê nas políticas educacio-
relação complexa que esse possui com a nais. Se pais e mães brasileiros amamos
política pública, com determinações eco- nossos filhos, enquanto cidadãos adultos
nômicas e culturais. A professora Fúlvia nem sempre reconhecemos a criança pe-
Rosemberg, que vem problematizando quena como cidadã, pois apreende-se um
há algum tempo o lugar do bebê nas po- descompromisso histórico quando suas
líticas públicas, abordará os discursos do necessidades e seus direitos são trazidos
bebê e da creche a partir do trabalho de para o espaço público. A insuficiência de
investigação empreendido por seu grupo recursos disponibilizados para a EI pode
de pesquisa Núcleo de Estudos de Gêne- explicar, em parte, o quadro de insuficiên-
ro, Raça e Idade (NEGRI) da PUC-SP. Ana cias que vem sendo apontado: as crianças
Maria Mello, por sua vez, discutirá aspec- de 0 a 3 anos são as pessoas que menos
tos relacionados à relação entre política frequentam instituições educacionais, dé-
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de classe. Uma dessas políticas de finan- papéis na educação das crianças peque-
ciamento, justificadas para atender mais nas. Dados de pesquisa sobre oferta nas
rapidamente um maior número de crian- creches ao longo do tempo oferecem
ças, consiste no auxílio-creche, oferecido indicadores do movimento de influên-
a trabalhadoras e trabalhadores. O auxí- cia do auxílio-creche na demanda pelo
lio-creche, como benefício pecuniário, atendimento à criança pequena. A fim de
precisa ser compreendido a partir da aná- complementar a renda familiar, o auxílio
lise dos limites de organização do Estado se torna muitas vezes mais atraente do
enquanto promotor de políticas sociais que um atendimento à criança em insti-
no âmbito de uma sociedade capitalista. tuição de qualidade, oferecendo à família
Ele se fortalece no com forte influência possibilidades de deslocar o recurso para
de recomendações de agências multilate- outras despesas ou para o pagamento de
rais, no bojo das reformas do Estado que atendimento em instituições precárias.
precisam assim ser consideradas como Esse quadro reforça situações de desi-
determinadas por crises estruturais. Nes- gualdade no atendimento ao direito da
se cenário, rico em concepções e orien- criança pequena à educação infantil, uma
tações neoliberais, as conquistas dos tra- vez que incide principalmente sobre as fa-
balhadores, os acordos e convenções co- mílias de menor renda. Aponta-se dessa
letivas, quando relacionados à educação forma para o risco de que o auxílio-creche
e cuidado dos filhos dos trabalhadores, determine que sejam oferecidas diferen-
facilmente derivam para financiamentos tes qualidades de cuidado infantil, tendo
e programas ditos alternativos, o que se ainda como conseqüência a restrição do
convencionou denominar atendimento investimento público em instituições e
à infância incompleto. Esses programas sistemas de qualidade e a ampliação dos
expressam contradições sociais e resul- modelos alternativos de educação e cui-
tam em reformas restritivas de direitos dado infantil. Afirma-se a ideia de que
das crianças bem pequenas. Assim, ape- programas como o auxílio-creche para a
sar da grande ampliação do atendimento infância desresponsabilizam o Estado e
a partir dos anos 1980, persistiu no país acentuam as diferenças sociais, pois pro-
a oferta de padrões distintos conforme movem a expansão do atendimento das
o perfil social dos usuários. Às reflexões crianças de camadas pobres sem a qua-
teóricas e políticas sobre esse benefício, lidade preconizada pela legislação, pelas
serão acrescentados exemplos concre- pesquisas referentes à infância pequena
tos como o caso do auxílio-creche, con- e pelos princípios e critérios de qualidade
quistado pelos servidores com filhos de defendidos pelos movimentos sociais.
menos de sete anos de idade e que não
freqüentam as creches da Universidade Palavras-chave: educação infantil, creche,
de São Paulo – USP. Depoimentos de sin- auxílio-creche
dicalistas, de equipe de direção do serviço Contato: Ana Maria Mello, USP,
social da Universidade e de creches, as- melloa@uol.com.br
sim como de pais e familiares, dão vida
às relações entre o auxílio e o cotidiano
desses atores que assumem diferentes
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direito à creche e que povos do campo ne- ças, como meio de garantir atendimento
cessitam do atendimento a seus filhos em com qualidade e equidade, as formas de
creche são ainda questões não pautadas implantação necessitam de adequação
pelo país em sua agenda política e cien- à realidade e à dinâmica da vida dos po-
tífica. Quando pautadas, são atravessadas vos do campo. Enfrentar esta questão no
pelos discursos e práticas historicamente âmbito do sistema de educação formal é
construídos que apelam para programas questão necessária, urgente e estratégi-
não formais, alternativos e de baixo cus- ca para colaborar na construção da iden-
to para a população pobre do campo que, tidade da educação infantil do campo e
como apontam vários estudos em educa- para evitar que políticas de flexibilização
ção, recebe as “sobras” da cidade e é sub- produzam, na educação infantil do cam-
metida a políticas que desconsideram e po, processos de exclusão já bastante co-
desvalorizam a cultura, os modos de vida nhecidos na educação infantil ofertada às
e os saberes desses povos. Se essas ques- crianças dos territórios urbanos.
tões são desafiadoras para as ciências de
modo geral, são de modo peculiar para Palavras-chave: bebês, rural, educação infantil
a psicologia, dado o impacto na constru- Contato: Ana Paula Soares da Silva, CINDEDI/
ção das subjetividades desses povos e de FFCLRP-USP, apsoares.silva@gmail.com
suas crianças. Na apresentação, pretende-
-se explorar esses aspectos, a partir de
reflexões provenientes de pesquisas do
MR LT01
grupo Subjetividade, Educação e Infân-
cia nos Territórios Rurais e da Reforma Mesa Redonda Convidada
Agrária (SEITERRA), vinculado ao Centro
de Investigações sobre Desenvolvimento
Humano e Educação Infantil (CINDEDI/ MR LT01-1223 - QUE INFÂNCIA(S)? QUE
FFCLRP-USP). Derivam também da vivên- CRIANÇA(S)
cia recente desse grupo na consultoria a Rosângela Francischini - UFRN
iniciativas, do governo federal, de cria- rfranci@uol.com.br
ção de um diálogo entre duas áreas cujos Romilson Martins Siqueira - PUC/Goiás
avanços vêm se dando pela pressão dos romilson@pucgoias.edu.br
movimentos sociais: a educação infantil Silvia Helena Vieira Cruz - UFC
e a educação do campo. Afirma-se que silviavc@uol.com.br
será necessária uma síntese dos acúmulos Financiamento: CAPES
construídos por essas duas áreas a fim de
superar concepções de campo sem crian- O objetivo desta Mesa é apresentar e dis-
ça e concepções de criança hegemoniza- cutir sobre os conceitos Infância – Crian-
das por um ideário urbano. ça, considerando os espaços que esses
Defende-se que o grande desafio na ga- conceitos vêm comparecendo nas produ-
rantia do direito à educação infantil dos ções acadêmicas, principalmente a partir
bebês do campo é harmonizar os princí- da década de 80. Os significados e senti-
pios e as formas do atendimento. Se os dos atribuídos a esses conceitos resultam
princípios são os mesmos a todas as crian- em ações/intervenções específicas. Em
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tos da Criança de que elas têm o direito plo, diz que “a infância, em sua aparente
de exprimir livremente as suas opiniões fragilidade, pode revelar ao adulto verda-
sobre questões que as afetam e de ver es- des que ele não consegue mais ouvir ou
sas opiniões tomadas em consideração. enxergar”. Trata-se, portanto de reconhe-
Portanto, ser ouvida acerca de temas que cer uma contribuição insubstituível, já
lhes dizem respeito não é uma concessão que, como reforça Rocha (2008), a escuta
que fazemos às crianças, mas um direito das crianças torna possível conhecer e
delas. Entre as justificativas apontadas confrontar um ponto de vista diferente
para que as crianças sejam envolvidas nas daquele que nós seríamos capazes de ver
discussões dos adultos sobre como me- e analisar no âmbito do mundo social de
lhorar as suas vidas está a constatação de pertença dos adultos. No Brasil, esse mo-
que assegurar que aqueles que direta- vimento iniciou-se lentamente, sendo di-
mente vivenciam a situação focada te- fícil identificar pesquisas focadas na escu-
nham as suas vozes ouvidas aumenta a ta da criança antes dos anos 90. É a partir
possibilidade de que as decisões sejam de então que alguns trabalhos principia-
relevantes e apropriadas (Save the Chil- ram a busca por conhecer a criança con-
dren, 2003). A compreensão de que o co- creta, contextualizada social e cultural-
nhecimento da perspectiva das crianças mente (Rocha, 1999). Nos últimos anos
traz ganhos aos adultos é inovadora, pois tem crescido a produção de estudos que
se coloca na contramão do desdém domi- ampliam e aprimoram o nosso conheci-
nante acerca da opinião das crianças na mento acerca do ponto de vista da crian-
nossa sociedade. O pediatra e pedagogo ça, não apenas nas áreas da educação e
polonês Janusz Korczac (1986, p.71), em da psicologia, mas também na da saúde e
meados da década de 20, já alertava que outras têm sido buscadas formas de apre-
os políticos e legisladores deliberam e de- ender o ponto de vista das crianças. Para
cidem sobre o destino das crianças, “mas tanto, além de recorrerem às estratégias
a ninguém ocorreria perguntar à própria tradicionalmente disponíveis, vários pes-
criança o que ela acha, se está de acordo. quisadores têm procurado novas formas
Afinal, o que ela teria a dizer?” Vale desta- de explorar as diferentes linguagens da
car, portanto, que as crianças passam a criança. Buscam criar recursos metodoló-
ser vistas, ao mesmo tempo, tanto como gicos diferentes, como entrevistas de
indivíduos que precisam ser protegidos, crianças em pequenos grupos; criação de
em decorrência da sua vulnerabilidade (o histórias acerca de desenhos feitos por
que já estava presente na “Declaração elas; complementação de pequenas his-
dos Direitos das Crianças”, de 1959), mas tórias relativas ao tema enfocado; realiza-
também como sujeitos potentes devido a ção de jogos simbólicos; utilização de ví-
suas competências e sujeitos com direitos deos e fotografias feitas pelas crianças
assegurados, inclusive o direito à partici- etc. É preciso considerar, no entanto, que
pação. Na atualidade, vários autores têm nesse tipo de pesquisa é estabelecida
destacado que as crianças podem acres- uma relação entre sujeitos com posição
centar informações novas e importantes, desigual na nossa sociedade: enquanto
que ampliam o nosso conhecimento so- ao adulto é conferido o poder de realizar
bre a realidade. Novaes (2000), por exem- ações que afetam diretamente a criança,
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ela usualmente precisa submeter-se a ele. considerar aspectos éticos relativos ao in-
No caso das pesquisas realizadas com gresso da criança na situação de pesquisa
crianças pertencentes às camadas mais e ao seu bem estar durante a sua partici-
empobrecidas da população (o que tem pação no processo, é preciso também
sido bastante comum), soma-se a assime- atentar para as conseqüências decorren-
tria de poder derivada do pouco prestígio tes da expressão das suas percepções,
dos pobres ante as camadas dominantes. opiniões, sentimentos etc. Isto porque,
Em muitos casos, são agregadas ainda as dependendo do uso que se faz delas e das
desigualdades de poder originadas na reações dos adultos, as crianças podem
raça e no gênero das crianças envolvidas vir a ser penalizadas. Recentemente, por
na situação de pesquisa. Alguns cuidados ocasião do projeto Indicadores da Quali-
adicionais, portanto, precisam ser toma- dade na Educação Infantil, tivemos uma
dos ao se realizar a escuta de crianças, experiência muito marcante nesse senti-
dando especial atenção à questão ética. É do. Esse projeto, realizado sob a coorde-
necessário, por exemplo, tratar com rigor nação da Ação Educativa, tinha como ob-
o consentimento e a manutenção da par- jetivo a avaliação conjunta de todos os
ticipação das crianças: após obter a auto- segmentos que integram a instituição de
rização dos seus responsáveis, agir de Educação Infantil acerca do trabalho que
modo que elas não se sintam constrangi- está sendo realizado. Assim, foi elaborado
das a participar da pesquisa, deixando um instrumento para a escuta das crian-
bastante clara a possibilidade de elas ças, utilizado de forma experimental em
aceitarem ou não o convite que lhes é fei- quatro instituições que partilharam da
to. Ao mesmo tempo, o pesquisador deve aplicação piloto na cidade de Fortaleza.
ficar muito atento para perceber se as Participaram desse processo meninos e
crianças estão confortáveis e interessadas meninas de 4 a 5 anos que freqüentam
nessa participação ao longo de todo o uma creche municipal e outra convenia-
processo da pesquisa, mesmo que a de- da, uma instituição filantrópica e uma es-
sistência de alguém não seja conveniente cola particular. Em cada uma dessas insti-
para os seus objetivos (vale lembrar que o tuições foi ouvido um grupo de crianças.
interesse para a realização da pesquisa Elas trouxeram informações muito impor-
não parte da criança e, ao contrário do tantes sobre o seu quotidiano nessas ins-
pesquisador, para ela é uma proposta tituições, mas várias dessas informações
nova e nem sempre muito clara). Uma das eram contraditória com as fornecidas pe-
formas de diminuir os possíveis constran- los adultos e algumas desvelavam práti-
gimentos decorrentes das desigualdades cas totalmente inadequadas. Nessa expe-
entre pesquisador e crianças tem sido a riência, concluímos que, apesar de ser
realização de atividades em grupos, pois, muito importante para o sucesso dessa
estando entre os seus pares, a criança iniciativa que as crianças fossem ouvidas,
possivelmente se sente mais à vontade e seria preciso preservá-la de possíveis re-
mais fortalecida frente ao adulto (Andra- taliações provocadas pela exposição do
de, 2007; Cruz, 2002, 2004 e 2007; Cam- que pensam e sentem sobre a sua experi-
pos e Cruz, 2006; Martins, 2009; ência educativa. Para minimizar esse ris-
Schramm, 2009, Souza, 2006). Além de co, seria necessário uma série de medi-
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Como afirma Moraes (2002), a música, so- Menores de 1979, qual seja, sujeito “em
bretudo a popular, pode ser compreendi- condição irregular”, retratada em duas
da como parte de uma trama povoada por composições musicais brasileiras, partin-
contradições e tensões em que os sujeitos do do pressuposto de que a construção,
sociais (re) constroem partes da realida- a profusão e significação de elementos
de social e cultural, por meio dos sons. culturais e formas simbólicas comparti-
Nessa perspectiva, a produção artística, lhados em uma dada sociedade, em de-
especialmente a musical, tem represen- terminado momento histórico, refletem
tado, a partir da década de 70, material e refratam as condições dessa sociedade.
documental de interesse em pesquisas de No Brasil, teóricos que se ocupam da dis-
enfoque histórico, antropológico, semio- cussão sobre as políticas de atendimento
lógico, sociológico e literário, para citar os à Infância (Pilotti & Rizzini, 1995, Rizzini,
mais representativos. As formas através 1997, 1998; Kramer, 2001; Faleiros, 1995;
das quais a música foi se expandindo na Neves, 1999) vêm apontando que a con-
sociedade, enquanto veículo de informa- cepção de infância que orienta essas po-
ção ou de massificação, ganha contornos líticas passa por um percurso inaugurado
diferenciados, decorrentes dos momentos pela Doutrina do Direito do Menor (em
históricos no desenvolvimento das socie- oposição à criança), substituída posterior-
dades. Assim, além de podermos observar mente, pela Doutrina da ‘Situação Irre-
manifestações específicas predominantes gular’ que, decorrente de ampla mobili-
em determinadas épocas, convivem, em zação popular, foi abandonada e em seu
um mesmo momento histórico, diferen- lugar adotou-se, com o Estatuto da Crian-
tes possibilidades de expressão musical e ça e do Adolescente (Lei 8.690, 1990), a
ideológica. Isso porque, seguindo Bakhtin Doutrina da Proteção Integral. Não é ob-
(1979), enquanto manifestação simbólica jetivo, neste trabalho, aprofundarmo-nos
a música é perpassada pelo diálogo entre na discussão a respeito dessas doutrinas.
diversas vozes culturais, caracterizado ora Nossa intenção, ao chamá-las ao cenário,
por oposição/confronto, ora por comple- sinaliza para uma direção/proposta de
mentaridade ou ainda por concordância. análise das letras das músicas, que, de al-
Desta forma, a música pode carregar ma- guma forma, trazem o protagonista “Me-
nifestações da cultura dominante, erudi- nor em situação irregular”. Essa catego-
ta/formal, bem como da cultura popular ria, presente no imaginário da população
em suas formas folclóricas, urbanas e/ou por um longo período de nossa história,
massificadas. Essas possibilidades que a persiste no sentido de que configura uma
música nos apresenta, de trazer conteú- concepção de infância “delinqüente”,
dos do contexto de sua produção, podem “abandonada”, que vive nas ruas e/ou em
ser observadas também nas letras de can- ambientes familiares “desestruturados”,
ções brasileiras cujo tema é a infância. As- na mendicância, e/ou praticando atos in-
sim como a música, a infância é uma cons- fracionais. Foram selecionadas as músicas
trução social. A partir das observações aci- Pivete, de Chico Buarque e Francis Hime
ma, estabelecemos, como objetivo deste (1978) e Relampiano, de Paulinho Moska
trabalho, apresentar e discutir a concep- e Lenine (1997). A análise das letras obe-
ção de infância que norteou o Código de deceu aos seguintes elementos constitu-
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tivos, que aqui são apenas sinalizados: a.) crição, em terceira pessoa, em podemos
a condição do protagonista; b.) o teor do identificar a expressão do sofrimento que
discurso sobre o protagonista; c.) quem comparece no relato da situação de vida,
“fala” desse protagonista. O discurso na de família e da condição de pobreza do
composição Pivete pode ser entendido Neném. A aparente resignação frente a
como uma narrativa do cotidiano de um essa condição, presente em “tudo é tão
sujeito em situação de rua, no Rio, em normal, tudo tal e qual” marca o não dis-
atividades de trabalho: vendedor no se- tanciamento dos autores da música em
máforo, flanelinha; em atividade ilegal: relação à condição do Neném.
“aponta o canivete”, “arromba uma por-
ta Faz ligação direta”; “agita numa boca,
descola uma mutuca”, e perambulando MR LT04
e mendigando: “zanza na sarjeta, fatura Mesa Redonda
uma besteira”. Assim, o protagonista é o
retrato do sujeito em ‘situação irregular’.
No entanto, considerando o autor da com- MR LT04-1407 - CONSTRUCIONISMO
posição, Chico Buarque, cujas canções SOCIAL: DESCOBRINDO CRIANÇAS QUE
são marcadas pela oposição ao regime FORMAM PESQUISADORES
autoritário, Pivete é mais um registro da-
quilo que contraria o discurso dominante, Paula Cristina Medeiros Rezende - UFU
na época, sobre crianças e adolescentes. lalamedeiros@netsite.com.br
Nas palavras de Meneses, Chico “privile- Marcella Oliveira Araújo - USP
gia o marginal como protagonista, pondo moa.psic@gmail.com
a nu, assim, a negatividade da sociedade. Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo Ferreira - USP
Desde o primeiro disco (...) os despossuí- melolud@yahoo.com.br
dos têm voz e vez. Malandros, sambistas,
pedreiros, pivetes, prostitutas, pequenos Esta mesa pretende refletir, a partir das
funcionários, sem terra, mulheres aban- contribuições do construcionismo social,
donadas”. (Meneses, 2003: 58). Sobre Re- sobre a pesquisa com crianças e a cons-
lampiano o personagem central, Neném, tituição do pesquisador da infância. Esta
é retratado na condição de trabalho nas reflexão apresenta-se profícua quando
ruas e pelo contexto de moradia em um nos posicionamos como pesquisadores-
barraco junto à mãe, aos irmãos e de um -adultos interessados em investigar a in-
“pai de agora”. Assim, igualmente, crian- fância por ela mesma. Esta empreitada
ça em ‘situação irregular’. A descrição não nos permite pensar em uma criança
das atividades de Neném não pode ser como um ser universal, isolado e imper-
localizada em um narrador determinado, meável às categorias culturais e sociais,
ao contrário do que ocorre com Pivete. mas sim nos convidam à interlocução
O refrão da canção evidencia a presença com sujeitos ativos, produtores de cul-
da mãe: “Tá relapiano, cadê Neném?”, e tura que emergem em um movimento
uma resposta, que não se sabe por quem ativo de negociação social. A primeira
é emitida: “Tá vendendo drops ...” Os de- fala versará sobre a apresentação de al-
mais segmentos demonstram uma des- guns conceitos do construcionismo so-
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articulá-los ao processo de pesquisar a in- modos de lidar com crianças. Deste modo,
fância. Utilizar esse repertório conceitual a perspectiva teórica do construcionismo
que sustenta e inspira a atuação de pesqui- social, ao distanciar-se da coleta e quanti-
sadores construcionistas pode se configu- ficação dos dados, permite compreender
rar em um desafio para aqueles que estão os discursos a partir do lugar onde são pro-
introduzindo este conhecimento no campo duzidos, procurando revelar o processo, o
da educação, especialmente a que se en- movimento e o sentido. A aproximação da
carrega das questões da infância. Neste teoria do construcionismo social ao territó-
processo emergem inquietantes indaga- rio da educação infantil tem gerado otimis-
ções: Como ser um pesquisador da infância mo em relação às produções futuras neste
coerente com os pressupostos teóricos do campo de conhecimento.
construcionismo social? Como colaborar
na transformação social da narrativa sobre Contato: Paula Cristina Medeiros Rezende,
a infância? O que poderia ser útil nesse Universidade Federal de Uberlândia – Instituto
processo? Como se constroem perguntas de Psicologia, lalamedeiros@netsite.com.br
que acionam, no encontro com as crianças,
recursos para compreender e constituir a
infância que queremos? A partir do movi- DIÁRIO DE CAMPO: QUE INFÂNCIAS,
mento que tais questões geram, propomos CRIANÇAS E PESQUISADORES
uma análise que foca a relevância de se uti- ESCREVEMOS?
lizar tais conceitos como ferramentas con- Marcella Oliveira Araújo - USP
versacionais na ação do pesquisador que moa.psic@gmail.com
entrevista crianças. Como instrumento de
pesquisa a entrevista apresenta-se como O construcionismo social, enquanto uma
extremamente interessante quando obje- perspectiva teórica e metodológica, res-
tiva, em primeira instância, identificar prá- salta que as descrições do mundo são re-
ticas interpretativas. Ao estar com as crian- sultado dos significados construídos em
ças, acreditamos que as interrogações são relacionamentos. Ao descrever o mundo,
alternativas que abrem caminho para en- sentidos e significados são produzidos e
tender as relações, situando-as histórica e negociados dialógica e relacionalmente.
culturalmente; convivendo com a surpresa, A linguagem, dessa forma, é considerada
na qual não se tem uma receita pré-deter- em seus aspectos performáticos como
minada e uma verdade absoluta que guie ação no mundo, ou seja, uma construção
o pesquisador, mas sim uma abertura para ativa no mundo. Se ao falarmos marcamos
o desconhecido no qual o pesquisador re- posicionamentos e sustentamos alguns
flete sobre o óbvio e entende o ‘pesquisa- sentidos, na escrita isso não é diferente.
do’ por ele mesmo, não por uma verdade Nesse sentido, esta apresentação busca
histórica e exata. Destaca-se, deste modo, dar visibilidade à utilização do diário de
que o posicionamento de ouvir a criança campo, entendido como registros escri-
e construir uma relação que a possibilite tos construídos a partir da experiência de
ser interlocutora, explorando suas narra- pesquisar crianças, como uma ferramenta
tivas são movimentos interessantes que útil no processo de constituição do pes-
nos ajudam a problematizar os diferentes quisador da infância. Quando construímos
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dizer que pode atingir certos indivíduos ocorrência de eventos traumáticos em pe-
mais intensamente do que outros devido ríodos que antecedem o desenvolvimento
às circunstancias, ao período do desenvol- da habilidade da criança em diferenciar o
vimento, e/ou a multiplicidade formas sob que é real e o que é fantasia, em que o
as quais elas ocorrem. Assim sendo, cer- pensamento concreto predomina, faz com
tas variáveis que influenciam na resposta que seus mais assustadores pensamentos
ao trauma residem no estressor externo. pareçam realidade. Como consequência,
Isso inclui a magnitude e a severidade do a capacidade de pensar, de investigar e
trauma bem como seu fator de imprevisi- de simbolizar torna-se precária e a com-
bilidade e duração. Um trauma repetitivo preensão e o ajustamento ao mundo pre-
e altamente violento tem mais efeitos psi- judicados. São frequentes os danos no
cológicos severos do que incidentes rela- desenvolvimento do pensamento e na
tivamente não violentos e únicos. Outras aprendizagem, que, nesse contexto estão
variáveis moderadoras residem no sujeito, relacionados a uma inibição sintomática,
por exemplo, indivíduos com vivências utilizada como tentativa de remover uma
traumáticas anteriores não elaboradas situação de perigo geradora de ansieda-
tendem a responder de forma mais mal- de para o ego, que é conhecer a própria
-adaptativa a uma nova situação traumá- história. As consequências traumáticas do
tica, assim como os que possuem história abuso sexual são múltiplas e necessitam,
de desordem psicológica estão mais pre- além de procedimentos de observação e
dispostos a resposta patológica ao trau- de entrevistas, de instrumentos eficien-
ma. Aliado a isso, o estágio de desenvolvi- tes e hábeis para responder a avaliação
mento da vítima na ocorrência do trauma deste construto. Entre eles, os pesquisa-
é uma variável moderadora interna pode- dores destacam o Método de Rorschach
rosa. A pesquisa sobre o trauma repetitivo como mais amplamente usado, aceito
em crianças indica que tais experiências e indicado para essa finalidade. Os pri-
estão propensas a ter um efeito pervasi- meiros estudos com o uso do Rorschach
vo no desenvolvimento da personalidade. nesse contexto foram desenvolvidos com
Outras variáveis moderadoras refletem a sobreviventes de guerra e constataram o
interação entre o indivíduo e o contexto aumento no movimento inanimado m. O
da vitimização. Se, por uma lado, uma si- mestá relacionado, portanto, com forças
tuação traumática causada por uma outra ou impulsos fora do controle do sujeito,
pessoa tende a levar a uma reação psicoló- como também com pensamentos e impul-
gica mais séria do que a experiência de um sos inadequadamente integrados em sua
trauma impessoal, como um desastre na- estrutura cognitiva. São forças que podem
tural, por outro, no trauma do incesto, os provir tanto do interior, como os impulsos
laços de proximidade entre o perpetrador que ameaçam a autoimagem ou o sistema
e a vítima tornam mais propensos o de- de valores ,quanto do o exterior, como
senvolvimento do Transtorno de Estresse forças ambientais, incontroláveis e frus-
Pós-Traumático TEPT com profundo dano trantes. Um dos aspectos centrais das res-
ao ego. Talvez, esse seja um dos aspectos postas de m é revelar o significado a como
mais dolorosos da experiência traumáti- o sujeito vivenciou suas experiências de
ca, a perda de um sentido de si mesmo. A vida, como elas estão representadas em
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Como ato comunicativo uma enunciação mílias cujos membros da primeira geração
muda, uma vez que sua posição e função foram torturados durante o período de Di-
nas cadeias comunicativas mudam, sendo tadura brasileira. A narrativa de história de
moldada por elementos outros que ape- vida é aqui interpretada como instrumen-
sar de se relacionarem com os constituin- to de recordação desde o que é relevante
tes lingUísticos - pois os utilizam como no presente e na construção de futuro,
um meio - são considerados, também, sendo, portanto situada e mediada his-
aspectos dialógicos e, portanto, extralin- tórica e culturalmente. Em seguida, apre-
guísticos (elementos que reverberam a sentaremos estudo em que se utilizam as
partir do encontro polifônico das vozes), narrativas para se entender o impacto de
que se constituem socialmente e pesso- ferramentas mediacionais na emergência
almente, nas cadeias semânticas e semi- da identidade profissional docente de es-
óticas. Nesta sessão vamos enfocar expe- tudantes de um curso de Licenciatura em
riências em esferas comuns, mediadas por Letras a distância. Em um terceiro estudo,
ferramentas culturais físicas e simbólicas enfocamos os reposicionamentos de pro-
diferenciadas que impactam nas formas fessores do ensino superior quando tran-
de os interlocutores interpretarem e atu- sitam do ensino presencial para a EaD.
arem no mundo, desencadeando proces-
sos de transição com novas apropriações
de fazeres e significados, direcionando A MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA
os processos de convencionalização que CIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO:
ocorrem no jogo polifônico entre histó- ASPECTOS TEÓRICO-HISTÓRICOS
ria pessoal e coletiva. A identidade, como André de Carvalho-Barreto - UnB,
uma referência de si mesmo no mundo andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br
cultural, implica nos posicionamentos do Silviane Bonaccorsi Barbato - UnB
self dos interlocutores em uma narrativa. silviane@gmail.com
Neste sentido, o uso inicial de ferramenta, Financiamento: CAPES
técnica, costume até certo momento des-
conhecidos que passam a ser utilizados Nessa sessão pretendo discutir o conceito
em novas práticas culturais desencadeia o de memória autobiográfica no contexto
processo de convencionalziação, cabendo da ciência do desenvolvimento, partindo
ao pesquisador buscar compreender as do aspecto histórico. Por memória auto-
dinâmicas que ocorrem e identificar quais biográfica compreende-se a história de
formas sofrem mudanças, quais perma- vida, que a pessoa constitui ao longo do
necem, antes que o processo se estabili- tempo, promovida pelos processos de in-
ze. Iniciamos com uma reflexão histórica teração da pessoa em desenvolvimento
sobre o conceito de memória histórica e com as outras pessoas, objetos e símbolos
de história de vida destacando aspectos existentes em seu contexto. A linguagem é
relevantes que distinguem a memória da a mediadora na interação e desencadeia a
recordação, e abordando os pontos de construção de significados. Na última dé-
referências como componentes para a cada, a ciência do desenvolvimento huma-
construção narrativa de si para propor um no do Brasil tem retomado seus estudos
estudo da narrativa de três gerações de fa- sobre a memória autobiográfica pela re-
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sita estar incluído na relação com ele, ain- foi observado que a mediação pela tecno-
da que seja uma relação não presencial. logia impactava diretamente sua constru-
É na relação com o aluno que o professor ção identitária por alguns motivos: 1) pela
consegue se perceber em sua atividade, “ausência” do contato direto com o aluno,
regulando suas ações e, consequente- modificando a relação professor-aluno e
mente, orientando e negociando seus o processo de comunicação, 2) pela ênfa-
significados nas trocas intersubjetivas. Em se em outras atividades que não o de dar
relação ao ser professor, vários elementos aulas para identificá-lo como professor
participam desta construção da experiên- (função administrativa e função técnica),
cia em salas de aula presencial ou virtual: 3) por uma mediação hipermidiática na
o tipo de atividade desenvolvida, a relação construção do conhecimento, 4) por um
professor-aluno, a didática e a metodolo- vivência da temporalidade diferenciada
gia e outros mediadores utilizados. O pro- do ensino presencial. Utilizamos as narra-
fessor é a partir de seus alunos, e, é como tivas de história de vida com professores
é por suas relações específicas com as por entendermos que as histórias de suas
ideologias vivenciadas e pelas tensões no vidas profissionais desencadeiam nego-
impacto destas interações. Nesta relação ciações de significados entre as diversas
está envolvida a atividade de “dar aulas’, vozes presentes, como o eu-professor-
que se caracteriza, no ensino presencial, -presencial e o eu-professor-ead, propi-
como o momento privilegiado do encon- ciando uma reflexão sobre sua construção
tro com o aluno. Quando transitamos nos identitária em uma e outra atividade. Ao
diversos níveis do ser professor através do contarem sobre suas carreiras docentes,
processo de escolarização, percebemos na presença do outro-pesquisador, há
alguns significados que participam espe- uma reorganização e a consciência de si
cificamente, de cada fase, e das constru- propiciadas por estas reflexões. Percebe-
ções identitárias de docentes. No ensino mos a repetição dos significados, como
superior, por exemplo, novos significados vozes que circulam nos textos e nas for-
são negociados na relação professor – alu- mações de professores para a Ead, como:
no. Inicialmente, há uma tensão na nego- “temos que planejar mais na ead que no
ciação destes novos significados, pois os presencial”, “temos que ter domínio das
posicionamentos vivenciados entre um tecnologias”. Mas é quando estas vozes
e outro começam a diferir do professor nos remetem às dificuldade do ser pro-
de ensino médio. A perspectiva de uma fessor de ead, como: “nós não temos con-
maior autonomia do aluno e do professor tato com o aluno”, “as relações com os
gera um reposicionamento nesta intera- alunos são diferentes, são mais afetivas”,
ção. Em alguns momentos o impacto da “no presencial dá para improvisar, na ead
entrada na universidade para os jovens, não” ou “no EAD a gente tem que ter uma
vem principalmente, por um contexto que visão diferente, tem que ter uma paciência
novas ideologias são apresentadas como maior, tem que ter uma qualificação tam-
forma de inseri-los em um novo posicio- bém muito maior do profissional para com
namento de ser alunos. Então a partir de o aluno”; que percebemos o momento de
um estudo com professores que atuavam reposicionamento do professor. Nestas
tanto no ensino presencial como na EaD falas, podemos apreender o movimento
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dados coletados, os mesmos foram anali- como boa e a percebem como importante
sados por meio do software desenvolvido local de aprendizagem para o desenvolvi-
por Vergès, denominado EVOC (Ensemble mento da pessoa como um todo.
de programmes permettant l’analyse des
evocations) – versão 2003, que permite Palavras-chave: Representações Sociais,
a organização das evocações produzidas Escola, Crianças
de acordo com as suas freqüências e com Contato: Teresa Cristina Siqueira Cerqueira,
a ordem de evocação ou, como se adota UnB, teresacristina@unb.br
no presente estudo, de importância, pos-
sibilitada pela hierarquização dos termos
enunciados pelos sujeitos. É um instru- REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SUJEITOS
mento facilitador para a análise da estru- NA FASE ADULTA SOBRE A ESCOLA
tura e organização de uma representação André Felipe Costa Santos -UnB
social. O instrumento contém ainda as se- andrefelipecostasantos@gmail.com
guintes informações: dados de identifica- Teresa Cristina Siqueira Cerqueira -UnB
ção: sexo, série e idade. Os participantes teresacristina@unb.br
da pesquisa foram 112 alunos, sendo 54
do gênero feminino e 58 do gênero mas- A Psicologia do Desenvolvimento Humano
culino. 51 alunos cursam o 4º ano e 61 tem por seu objetivo o estudo sobre a evo-
alunos o 5º ano do ensino fundamental. A lução da capacidade percentual e motora,
idade variou entre a mínima de 9 e a má- das funções intelectuais, da sociabilidade
xima de 14 anos de idade. Todos estudam e da afetividade do ser humano (Oliveira,
em escolas da rede pública de ensino do 1994). Apoiado nesta premissa e embasa-
Governo do Distrito Federal. Os resulta- do na relevante contribuição que estudos
dos apontam que a representação social em psicologia do desenvolvimento huma-
mais evocada pelos alunos do 4º e 5º ano no pode oferecer para melhor compreen-
foi que a escola é boa (evocada 58 vezes e dermos o espaço educacional, constitui o
com freqüência de 2,27%), em seguida foi objetivo desta pesquisa apresentar dados
a palavra importante com 31 evocações e e contribuições sobre as representações
com freqüência de 2,21 e por último lugar sociais de sujeitos da fase adulta sobre
de aprendizagem, com 28 evocações e a escola. Rodrigues (2003) aponta que o
freqüência de 2,125. Tais representações grande marco e característica fundamen-
devem primar por trabalhar a criatividade tal da etapa adulta são: vida a dois e o
e ampliar o nível de satisfação dos alunos trabalho. Com respaldo nestas conside-
e que os ajudem a reconhecer, cada vez rações é que me proponho explicitar de
mais, a escola como um espaço de apren- forma breve essas duas características
dizagem e de lazer. A inserção prazerosa fundamentais da fase adulta. Pautando,
do aluno na escola certamente é uma ex- todavia, no aspecto social. É mui-
periência positiva em sua trajetória esco- to recorrente encontrarmos na literatura
lar estendendo-se até a vida adulta. Pode- acadêmica, que aborde a psicologia do
-se concluir com essas análises que os alu- desenvolvimento humano, que a principal
nos do 4º e 5º anos do ensino fundamen- característica da fase adulta seja a vida a
tal possuem uma representação da escola dois, ou intimidade. Para Lane (1994) so-
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mos seres sociais, muito antes mesmo do volvimento social dos sujeitos e das suas
nosso nascimento. Logo após o nosso nas- representações sociais, em todas as eta-
cimento e durante todo o transcorrer da pas do desenvolvimento humano, desde
nossa vida há um desenvolvimento social a sua infância até a sua velhice. Trazemos
como aborda Zimbardo (2005). A vida a para a discussão deste trabalho conceitu-
dois e o relacionamento matrimonial por ações da Psicologia Social, com o intuito
serem construções sociais são carregados de melhor auxiliar na nossa compreensão
de representações que trazemos e desen- sobre a fase adulta e mais especificamen-
volvemos ao longo da nossa história de te da relação adulto/ escola. Partindo da
vida. A segunda característica marcante linha materialista- histórica da Psicologia
da fase adulta é a relação de trabalho e Social trazemos à baila a Teoria das Re-
profissionalização. Rodrigues (2003) ex- presentações Sociais, desenvolvida por
plana que a escolha profissional é marca- Serge Moscovici em 1961, que conforme
da por dois enfoques: satisfação e prazer Almeida (2003) tem oferecido um impor-
por meio de ganhar a vida. Tais enfoques tante aporte teórico aos pesquisadores
então abalizados e influenciados pelo que buscam compreender os significados,
meio social no qual aquele sujeito está e os processos neles imbricados, criados
inserido. Tendo em vista estas duas carac- pelos homens para explicar o mundo e
terísticas basilares da vida adulta, vida a sua inserção dentro dele. Para Jodelet as
dois e trabalho, constata-se o forte eixo representações sociais são “uma forma de
que o aspecto social tem na relação dos conhecimento, socialmente elaborada e
indivíduos e da construção do ser. Dentro partilhada, que tem um objetivo prático e
desse cenário verificamos o quanto algu- concorre para a construção de uma reali-
mas instituições como: Família; Escola; dade comum a um conjunto social” (Jode-
Religião; são fundamentais e relevantes let, 1989). É nesse cenário que esta pes-
na formação do sujeito e no desenvolvi- quisa analisa como sujeitos na fase adulta
mento social, uma vez que estas institui- percebem o ambiente escolar. Outro re-
ções exercem forte influência na constru- levante objetivo deste trabalho é inferir,
ção e concepção das representações dos de acordo com as representações sócias
sujeitos. Tendo em vista a força destas ins- evocadas pelo grupo pesquisado, melho-
tituições, destacamos o ambiente escolar rias no espaço escolar. A matriz epistemo-
como um das principais entidades gerado- lógica escolhida para realização desta pes-
ras de representações. Segundo Mazzotti quisa foi a pesquisa qualitativa que segun-
(2008) o ambiente escolar exerce função do Gonsalves (2007), tem como baliza as
primordial na internalização de represen- preocupações com a compreensão, com a
tações sociais nos indivíduos, por meio interpretação do fenômeno, considerando
das praticas sociais estabelecidas durante o significado que se dá a sua prática. Os
a formação e o processo de aprendizado. participantes deste estudo foram dez (10)
Mediante a isto a Escola é uma instituição sujeitos na fase adulta no Distrito Federal,
de grande valia de estudo, uma vez que Brasília. Os participantes eram 6 do gêne-
esta gera algumas representações sociais ro feminino e 4 do gênero masculino, sen-
que influenciam grande parte da vida do do que se encontravam na faixa etária de
ser. Em função da importância do desen- 26 a 36 anos. Para a obtenção dos dados,
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ultrapasse as fronteiras dos diversos do- mentos coletivos importantes tais como:
mínios das Ciências Sociais. O tema tem a recepção do nome, a “iniciação”, o nas-
sido estudado por antropólogos, mas cimento do primeiro filho, a morte de um
pouco contemplado por estudos peda- parente ou de um membro da comunida-
gógicos e psicológicos na abordagem dos de são marcados por ações ritualísticas
estudos sócios-culturais. A aproximação e pedagógicas, das quais a comunidade
dos psicólogos à questão indígena ocor- participa ativamente, a subjetividade se
re nesta década. Atualmente, há uma expressa de forma individual e ao mes-
inserção dos psicólogos junto às aldeias mo tempo é social. A educação indígena,
especialmente na área da saúde e uma em sua alteridade possibilitou estraté-
maior adesão de psicólogos sociais nas gias para continuar sendo eles próprios,
discussões da temática indígena. O tem- conforme é explicitado por Meliá (1999):
po indígena para um ser humano desen- “Os povos indígenas sustentaram sua al-
volver-se imita a natureza, cada pessoa, teridade graças a estratégias próprias,
tem seu próprio ritmo de aprendizagem, das quais uma foi precisamente a ação
o que proporciona a educação é a cultura, pedagógica. Em outros termos, continua
a corporalidade, o próprio ciclo de vida havendo nesses povos uma educação in-
do indivíduo, apoiando-se na cosmologia, dígena que permite que o modo de ser
nas tradições e no modo de vida da sua e a cultura venham a se reproduzir nas
comunidade. “A família e a comunidade novas gerações, mas também que essas
(ou povo) são os responsáveis pela educa- sociedades encarem com relativo sucesso
ção dos filhos. É na família que se aprende situações novas”. A escola enquanto insti-
a viver bem: ser um bom caçador, um bom tuição foi historicamente imposta aos in-
pescador, um bom marido, uma boa espo- dígenas pelos jesuítas, por volta de 1549,
sa, um bom filho, um membro solidário com o objetivo de domesticá-los e cate-
e hospitaleiro da comunidade; aprende- quizá-los, serviu desde o início para vestir
-se a fazer roça, a plantar, fazer farinha; suas vergonhas, adestrar-lhes e reprimir-
aprende-se a fazer cestarias; aprende-se -lhes duramente os comportamentos
a cuidar da saúde, benzer, curar doenças, considerados inadequados. Impôs-lhes a
conhecer plantas medicinais; aprende-se proibição e a vergonha de falar suas lín-
a geografia das matas, dos rios, das ser- guas, de cultuar seus ritos de aprender
ras; a matemática e a geometria para fa- com suas memórias. Este tipo de escola
zer canoas, remos, roças, cacuri, etc; não foi seguida por outras ordens religiosas:
existe sistema de reprovação ou seleção; salesianos, capuchinhos e outros missio-
os conhecimentos específicos (como o dos nários. Entre os séculos XVI a XVIII o papel
pajés) estão a serviço e ao alcance de to- da escola era indissociável do projeto de
dos; aprende-se a viver e combater qual- catequese, crianças indígenas foram reti-
quer mal social, para que não tenha na radas de suas famílias e levadas para inter-
comunidade crianças órfãs e abandona- natos missionários. No Império, o Estado
das, pessoas passando fome, mendigos, laico preocupou-se com a domesticação
velhos esquecidos, roubos, violência, etc. indígena, criando escolas que visavam
Todos são professores e alunos ao mesmo a assimilação à “civilização”. Em 1834, a
tempo”(Gersem Luciano-Baniwa). Os mo- competência da oferta da educação esco-
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também, que o sol é muito forte e, por realidade demonstra a falta de perspecti-
isso, sentem muita dor de cabeça, sinto- va de vida de alguns dos jovens, que pro-
ma possivelmente agravado em decor- jetam o seu futuro a partir da realidade
rência da desidratação e da desnutrição. presente, sem analisar a possibilidade da
Ao serem perguntados sobre o que mais alteração de um ciclo de vida. Acredita-se
gostavam no trabalho, eles indicaram que que esse trabalho pode contribuir para
gostavam de voltar montados nos jegues, um melhor entendimento da realidade
após as plantas terem sido descarregadas. de crianças e adolescentes que trabalham
Eles afirmam, ainda, que gostam de poder com o motor do sisal. Para pesquisas fu-
ajudar os seus pais, pois, quando toda a turas, sugere-se a necessidade de realizar
família trabalha, eles conseguem uma estudos transversais, com indivíduos de
maior margem de lucro; isso significa 90 diferentes idades, que trabalharam ou
a 100 reais por mês. Nesse sentido, há o ainda trabalham no motor do sisal, a fim
incentivo dos pais, aos seus filhos, para de se entender melhor a cultura local. Há,
que as crianças ajudem no trabalho com ainda, a necessidade de aprimorar a efe-
o sisal. Para os pais, é um absurdo que os tivação das políticas públicas, elaboradas
seus filhos não possam exercer essa tare- com o objetivo de melhorar as condições
fa, pois, a bolsa família ainda é insuficiente sociais, econômicas, educacionais e cultu-
e, desde crianças, eles trabalharam com o rais das crianças e dos adolescentes que
sisal e afirmam: Os meus pais trabalharam vivenciam na região.
desde pequenos, eu também trabalhei,
por que os meus filhos não podem tra- Palavras-chave: crianças, situação de risco,
balhar? Nesse sentido, é possível afirmar vulnerabilidade social
que o trabalho no sisal faz parte da cultura Contato: Mariana Leonesy da S. Barreto,
da região; é um conhecimento transmiti- UFBA, maribarreto@gmail.com
do de geração em geração e, infelizmente,
de difícil mudança. As precárias condi-
ções são reverberadas no dia-a-dia dessas MR LT01
crianças, que sofrem com a insuficiência
alimentar, o excesso de atividade física e Mesa Redonda
acabam por faltar às aulas. Como conse-
quência, constantemente, as essas crian-
MR LT01 1491 POSSÍVEIS
ças trocam as fardas escolares pelo motor
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO
do sisal. Desde cedo, elas se expõem a si-
DESENVOLVIMENTO EM DIVERSOS
tuações de risco, mas, apesar da situação
CONTEXTOS DE AVALIAÇÃO
adversa que vivenciam, ainda possuem
PSICOLÓGICA INFANTIL
sonhos. Ao serem perguntadas sobre a es-
cola e a necessidade de estudar, elas indi- Clara Maria M. Santos - UFRN
cam a importância do estudo, cultivam os clarasantos@yahoo.com
sonhos de ser policial militar, advogado,
professor e médico. Entretanto, ainda há A presente atividade tem como objetivo
aqueles que afirmam: Estudar para quê? apontar como conhecimentos associados
Eu sempre viverei pela roça, mesmo. Tal à psicologia do desenvolvimento trazem
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ciais. Todas as apresentações usarão como ríamos ainda supor que aquele mesmo
ilustrações estudos de caso, evidenciando menino sertanejo poderia diferir bastan-
assim não apenas uma articulação entre o te de seu irmão gêmeo que, porventura,
estudo do desenvolvimento humano e ou- houvesse sido adotado por uma família
tras áreas da psicologia, mas também uma na “cidade grande” e vivido em contex-
estreita interação entre teorias e práticas tos diferentes dos de seu irmão sertane-
psicológicas. jo. Assume-se, portanto, que o indivíduo
desenvolve-se sempre em contextos que
Palavras-chave: Psicologia do o influencia e o constitui enquanto sujei-
desenvolvimento, avaliação psicológica, to. Assim, no desenvolvimento humano
práticas psicológicas há espaço para o “previsível” e universal,
bem como para o “imprevisível” e para
diferenças individuais (Tourinho & Neno,
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA 2006). O desenvolvimento humano en-
DO DESENVOLVIMENTO PARA A volve dimensões biológicas, cognitivas,
COMPREENSÃO DE EXPRESSÕES afetivas e sociais. Essas dimensões inte-
INFANTIS EM DIFERENTES CONTEXTOS gram-se e se influenciam mutuamente,
DE PRÁTICAS PSICOLÓGICAS. sem limites claros entre elas. Mudanças
Clara Maria M. Santos - UFRN ocorrem ao longo da vida em todas as
clarasantos@yahoo.com dimensões do desenvolvimento, sendo
observadas mais marcadamente no que
Biaggio (1978) denomina de períodos de
O objetivo deste trabalho é demonstrar transição rápida, ou seja, a infância, ado-
como conhecimentos relativos à psicolo- lescência e envelhecimento (Mota, 2005).
gia do desenvolvimento contribuem para Em se tratando especificamente da infân-
uma melhor compreensão de expressões cia, chama-se à atenção neste trabalho
e comportamentos infantis. É consenso para o fato de que a não observância de
que a criança difere do adulto. É igual- características típicas de crianças em di-
mente notório que crianças diferem entre ferentes fases e contextos de desenvol-
si. Essas diferenças podem ser atribuídas vimento pode levar a equívocos na com-
a fatores que ora tendem para aspectos preensão do comportamento infantil com
biológicos, ora para aspectos sócio-cultu- conseqüências para práticas profissionais
rais. Observa-se também que crianças de voltadas para a infância. Considerando o
uma mesma faixa etária assemelham-se desenvolvimento inicial pode-se afirmar
em vários aspectos. Tais semelhanças po- que as potencialidades e limitações de-
dem, por vezes, tornar um menino hipo- monstradas no comportamento infantil
tético do sertão nordestino mais parecido são consequências diretas dos diferentes
com um garoto sueco da mesma idade, ritmos de crescimento neuronal, mieli-
do que com seu irmão adolescente (Cole nização e maturação seqüencial de regi-
& Cole, 2004). Esta afirmação implica as- ões cerebrais distintas (Pappalia, Olds &
sumir que pelo menos alguns aspectos do Feldman, 2009). Nesse sentido, a psico-
desenvolvimento humano são previsíveis logia do desenvolvimento se aproxima
e universais. Ao mesmo tempo, pode- da neuropsicologia e compartilham con-
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amplos que também precisam ser trans- porque o lugar da creche vem sendo sig-
formados. Assim, o desafio é: romper com nificado a partir de outros elementos que
culturas historicamente instituídas, na bus- divergem daquele significado em tempos
ca por uma transformação que promova a passados, qual seja: apenas um mal neces-
emancipação. Para isso a reflexão embasa sário. A metodologia utilizada para alcan-
todas as partes integrantes do processo çar o objetivo deste trabalho consiste em
crítico-colaborativo - todos os integrantes, sessões reflexivas, que está alicerçada na
sobretudo e principalmente os pesquisado- pesquisa crítico-colaborativa como espa-
res, exigindo revisão de caminhos, abertu- ço de formação. Esta perspectiva tem por
ra ao novo, construção de outras travessias base o materialismo-histórico-dialético e
embasadas pela solidariedade e coletivida- as ações como práxis. Isso nos leva a crer
de entre sujeitos, instituições e as subjetivi- que a pesquisa é uma atividade coletiva e
dades que os atravessam. que os envolvidos no processo são colabo-
radores críticos. As sessões foram filmadas,
Palavras-chave: creche, crianças, autonomia transcritas e estão sendo analisadas. Esco-
lhemos dialogar com Wallon, interlocutor
inscrito na perspectiva sócio-histórico-
PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA- -cultural para auxiliar na discussão sobre
CULTURAL: WALLON E O CHORO DE as concepções de choro e desenvolvimen-
CRIANÇAS NO CONTEXTO DA CRECHE to infantil. Lidar com o choro das crianças
Núbia Santos - UERJ/FAPERJ evoca a concepção de infância, educação
nubiapsi@ig.com.br e aprendizagem que se revelam nas ações
Maritza Dessupoio de Abreu - UFJF dos profissionais no cotidiano nas creches.
maritzaabreu@gmail.com Pressupomos, então, que o choro faz parte
Marília Dejanira B. Almeida - PIBIC/CNPq/UFJF daquilo que convencionamos chamar de
mariliaberberick@yahoo.com.br rotina e que deve ser problematizado para
além do momento de inserção das crianças
Neste trabalho apresentaremos parte de pequenas nas instituições que as recebem.
uma pesquisa mais ampla em andamento Para Wallon (2007), é no movimento do
no Programa de Pós-Graduação em Educa- outro que a criança, ainda sem condições
ção da Universidade do Estado do Rio de da consciência de si e de efetuar algo por si,
Janeiro – PROPED/UERJ juntamente com que o outro, por sua ação, desencadeará a
o grupo de pesquisa Linguagem, Educa- ação dela. Se a emoção tem como possibili-
ção, Formação de Professores e Infância dade a ativação do outro no processo de in-
– LEFoPI da Universidade Federal de Juiz teração humana, não é difícil supor a rele-
Fora/MG. A inquietação tem nos movido a vância do tema para o cotidiano da creche
compreender os sentidos e os significados e das relações nela estabelecidas. É no mo-
que o pensar sobre as atividades educati- vimento do outro que a criança, ainda sem
vas têm para o desenvolvimento infantil e condições da consciência de si e de efetuar
para a (re)construção das ações desenvol- algo por si, que o outro, por sua ação, de-
vidas em vinte e três creches públicas do sencadeará a ação dela. Se a emoção tem
referido município. Isto torna-se relevan- como possibilidade a ativação do outro no
te porque na sociedade contemporânea processo de interação humana, não é difícil
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supor a relevância do tema para o cotidia- Nesse movimento dialético entre ouvinte/
no da creche e das relações nela estabeleci- locutor que o enunciado, no contexto de
das. Para Wallon, há diferenças conceituais produção da investigação, ganha novas
entre emoção e afetividade. As emoções, formas de expressão e novas construções
os sentimentos e os desejos são manifes- coletivas. A descrição das sessões reflexivas
tações da vida afetiva. A afetividade é um demonstra o embate, o encontro e o de-
conceito mais abrangente no qual se in- sencontro desta maneira de fazer pesquisa.
serem várias manifestações. As emoções O conflito teoria-empiria permeia o diálogo
são constituídas de características mais entre pesquisadoras e coordenadoras/dire-
específicas que as diferenciam das demais toras. Isso porque está arraigada em nós a
manifestações afetivas. Sendo uma ativida- histórica cisão entre os dois campos e por-
de social, provoca, por exemplo, algumas que a representação do conhecimento aca-
alterações orgânicas, como aceleração dos dêmico e do conhecimento da experiência
batimentos cardíacos, alterações no ritmo se manifesta continuamente nas sessões
da respiração, secura na boca, dificuldades reflexivas. A questão do olhar do outro foi
na digestão, além de alterações expressi- uma expressão recorrente, utilizada pelas
vas, como mudança na expressão facial, coordenadoras/diretoras. Na trama das in-
na postura e nas gesticulações. Nisso se terações o olhar do outro é em parte o nos-
diferencia o sentimento, que não obriga- so olhar em um jogo que reflete e refrata.
toriamente resulta em alterações visíveis. O olhar do outro representa não somente
Neste sentido, que lugar ocupa na creche? a comunidade do entorno da creche, mas
Existe possibilidade de sua expressão como dos pesquisadores, que, de tão fora que se
linguagem? Como é considerado e como li- encontram, desconhecem também a mate-
damos com ele? Que concepções ele pode rialidade das ações que tentam conhecer.
revelar nesse contexto? Estas perguntas Como dizer para as coordenadoras que o
são fundamentais porque entendemos choro, a agressividade ou outras expres-
que a formação dos profissionais da creche sões da criança estão inseridos em um con-
deve contemplar não somente os saberes texto e que, mais interessante que focalizar
produzidos e sistematizados pela acade- a reação da criança é ler o entorno no qual
mia, mas também o permanente diálogo estas manifestações se expressam? Esta é a
com outros espaços, entre eles, o contexto inversão do olhar e o redirecionamento ne-
das próprias creches. As primeiras análises cessário que pode produzir mudanças nas
revelaram a importância de pensar a prá- ações com as crianças. Não há, portanto,
tica a partir de referenciais teóricos. Nos- possibilidade de mudanças em nossas prá-
sa tentativa no movimento das sessões ticas se não compreendemos os mecanis-
reflexivas foi desdobrar os nossos olhares mos/estratégias que utilizamos nas ações
porque somente assim é possível “que se diárias, dentro de um contexto específico.
veja do sujeito algo que o próprio sujeito A opção por este modelo de investigação
nunca pode ver” (Amorim, 2004, p. 14). deve-se à premissa de que a formação
Neste processo de construir conhecimento, profissional não pode mais se reduzir aos
que é dialético, os participantes se revezam espaços formais e escolarizados, organiza-
nos posicionamentos ora de ouvinte ora de dos com esse fim. Ela precisa ser concebida
locutor, num fluxo dialógico da linguagem. como algo que pode acontecer antes, du-
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uma das estratégias mais atuais que pode cluindo as ações com relação ao estado de
auxiliar na abordagem dos conceitos que saúde são manifestações de crenças cul-
permeiam o processo saúde-doença e na turais e experiências de vida individual. Os
redução das disparidades em saúde. É um achados apontam que é necessário consi-
modelo com indicadores para o processo derar o contexto cultural onde os progra-
da comunicação profissional de saúde- mas de educação em saúde e promoção
-paciente que possibilita a quem trabalha da saúde são prestados, contemplando a
em saúde intervir, exercitando o conheci- importância de fatores psicossociais não
mento e buscando o diálogo interdiscipli- somente com relação a comportamentos
nar, para melhorar a qualidade da atenção de saúde, mas também as atitudes diante
integral à saúde, refletindo a jornada do do processo de saúde e adoecimento, as-
ciclo de vida. Nesse sentido, o presente sim como o impacto que a cultura, as co-
ensaio objetivou apontar a necessidade ortes e o gênero exercem sobre as ações
de inclusão do tema competência cultural das pessoas ao longo de todo o curso de
nas políticas públicas de educação em saú- suas vidas. Quando as diferenças multi-
de, para o treinamento em comunicação culturais são ignoradas, existe um vão no
em saúde, visando a relação profissional processo de educação em saúde. Nesta
de saúde-paciente, de forma a favorecer a reflexão, uma questão central é que aque-
atuação norteada pelo modelo biopsicos- les que fornecem produtos, serviços ou
social, em equipes comprometidas com o educação em saúde, efetivamente pre-
reconhecimento da diversidade popula- cisam se adequar para conversar e asse-
cional e as atuais disparidades em assis- melhar-se com quem recebe a educação,
tência à saúde. Para tanto, realizou-se um e entende-se que a competência cultural
levantamento do que tem sido utilizado pode servir como uma estratégia para
pelas estratégias de educação em saúde, traduzir estas necessidades. A partir de
fazendo uso da competência cultural para uma perspectiva universal, as dimensões
a formação profissional e implementação da competência cultural vão bem além
de treinamentos de competência cultural de uma lista de elementos que auxiliam o
com profissionais de saúde já inseridos sistema de saúde. A competência cultural
nos serviços de saúde, através de uma representa um arcabouço organizacional,
revisão da literatura, utilizando o descri- estrutural e clínico que envolve e requer
tor competência cultural, indexado pelos uma compreensão da importância de in-
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) fluências sociais e culturais como marca-
da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), des- dores básicos que delineiam o ciclo de
de 1989, ano em que o termo competên- vida, os comportamentos e as crenças em
cia cultural, foi definido, especificamente saúde e a integração da interação destes
em saúde, como um conjunto de com- fatores, por aqueles responsáveis por pro-
portamentos, atitudes e políticas que se por, moldar e educar em saúde.
unem em um sistema, agência ou entre
profissionais que possibilitam ao sistema, Palavras-chave: competência cultural;
agência ou profissionais a efetivamente educação em saúde; formação profissional
trabalharem juntos em contextos onde as
culturas se cruzam. As práticas sociais, in-
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tribuído para que práticas sociais também o grupo inclui adolescentes de ambos os
se beneficiem, tornando-se mais próximas sexos, moradores na comunidade da área
das diferentes realidades. Dentre estas prá- de abrangência da unidade de saúde. Tem
ticas destacam-se as relativas ao cuidado por objetivos: propiciar espaço de orienta-
junto aos diferentes ciclos de vida, que his- ção interdisciplinar a adolescentes; favore-
toricamente tem sido objeto das políticas cer a compreensão das demandas desse
públicas que reconhecem o caráter multi- ciclo de vida e como elas são constituídas;
dimensional do desenvolvimento humano contribuir para a formação profissional de
propondo programas e ações interdiscipli- acadêmicos dos cursos de Medicina, Psico-
nares para a efetivação da assistência e do logia e Educação Física, numa perspectiva
cuidado. Dentre os ciclos de vida, a adoles- interdisciplinar e fortalecedora das políti-
cência tem sido foco, nos últimos tempos, cas públicas de saúde do SUS. O grupo, de
de propostas de educação e promoção de natureza aberta, sob a coordenação da mé-
saúde e de prevenção de danos. Porém, dica hebiatra da unidade e co-coordenação
no que diz respeito à Saúde, o adolescente do médico pediatra-hebiatra preceptor, é
tem sido um grande ausente, por conta da conduzido por estagiários dos três cursos
ausência de ações que atendam suas ne- acima. Conta ainda com sistema de super-
cessidades e que estejam em sintonia com visão realizada por professores dos res-
sua realidade sócio-cultural. Os serviços pectivos cursos para a o aperfeiçoamento
públicos de Atenção Primária à Saúde, por técnico específico e suas interfaces com a
exemplo, não tinham claro a quem perten- construção da interdisciplinaridade. São re-
cia o cuidado dos adolescentes, nem pedia- alizados encontros semanais com duração
tra, nem clínico. Não é por acaso que atu- de duas horas, ocasião em que são aborda-
almente há uma especialidade, a hebiatria, dos os temas escolhidos pelos integrantes,
que inclui na formação do médico conheci- de forma participativa e por meio de meto-
mentos sobre o crescimento e o desenvol- dologia e técnicas da Dinâmica de Grupo,
vimento do adolescente. Esse campo, rela- de expressão, dramatização, entre outras.
tivamente novo e pouco conhecido fora do Os temas centrais escolhidos referem-se à
circuito da Saúde, tem aberto espaço para sexualidade, uso de drogas lícitas e ilícitas,
o surgimento de trabalhos interdisciplina- relacionamento amoroso, projeto de vida.
res de acolhimento e cuidado com ações Os estagiários participam de forma ativa e
de promoção de saúde, como é o caso do de acordo com o plano de estágio traçado
objeto deste resumo. O presente trabalho pelo Projeto Pedagógico de cada curso no
trata das atividades de promoção de saúde que se refere ao tipo de vínculo do aluno
realizadas junto a adolescentes, entre 11 e com a atividade. Os alunos do curso de Psi-
14 anos, na Unidade de Atenção Básica à cologia permanecem três semestres letivos
Saúde do Município de Uberaba, MG, de- na atividade o que favorece a vinculação
nominada George Chirré Jardim, localizada estreita com a proposta e seus atores. Os
no bairro Alfredo Freire I, II e II mantida em alunos do curso de Educação Física perma-
parceria pela Universidade de Uberaba – necem um semestre e os alunos do curso
UNIUBE – e Secretaria Municipal da Saúde de Medicina participam dois meses em
– SMS. Formado a partir da clínica de he- sistema de rodízio. O planejamento dos en-
biatria da referida unidade, há 18 meses, contros acontece em reunião semanal, em
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construto do coping. Esta permite sistema- o seu bem-estar (Almeida & Albinati, 2009;
tizar o processo de enfrentamento, com Sandroni, 2008). O objetivo deste estudo
base em 13 categorias: solução do proble- foi analisar as estratégias de enfrentamen-
ma, busca por suporte, esquiva, distração, to das crianças com câncer para lidar com
reestruturação cognitiva, ruminação, de- a hospitalização e o tratamento da doen-
samparo, afastamento social, regulação da ça, considerando o diferencial da criança
emoção, busca por informação, negação, frequentar a CH como possível mediador
oposição e delegação. Nessa perspectiva do coping da hospitalização. Participaram
desenvolvimentista, o coping passa a ter do estudo 18 crianças (14 meninos e 4 me-
um papel central e diferenciado, passando ninas), com idade entre 6 e 12 anos (mé-
a entender os processos emocionais, com- dia: 9,4 anos), diagnosticadas com câncer,
portamentais, motivacionais, cognitivos e internadas por 47 dias, em média, para
sociais; mostrando como esses múltiplos tratamento no Serviço de Oncologia, e ins-
subsistemas regulatórios funcionam jun- critas na classe hospitalar de um hospital
tos para enfrentar o estresse. Motta (2007) infantil público em Vitória, ES. Para iden-
adaptou essas categorias para analisar as tificar as EE foi utilizado o Instrumento In-
estratégias de enfrentamento (EE) da hos- formatizado de Avaliação do Enfrentamen-
pitalização em crianças com câncer; sendo to da Hospitalização - AEHcomp (Motta &
também utilizadas por Moraes e Enumo Enumo, 2004; 2010), composto por um
(2008) para crianças hospitalizadas com software com 20 cenas sobre situações co-
doenças diversas. Essa análise considera tidianas no ambiente hospitalar, para iden-
que a criança usa EE acessando seus recur- tificar o que as crianças fazem, pensam e
sos cognitivos, ambientais, afetivos, emo- sentem sobre a sua condição de hospita-
cionais e sociais. Além de estar afastada lização (comportamentos ou instâncias de
de sua família, sua casa e seus amigos, a coping), permitindo analisar suas estraté-
criança deixa de freqüentar a escola, por gias de enfrentamento a partir das justifi-
conta da longa internação e do tratamen- cativas dadas às escolhas da cenas. Quanto
to, podendo ter atraso escolar e prejuízo aos resultados, as informações coletadas
no desempenho acadêmico. Contudo, a na avaliação foram analisadas quantitati-
criança hospitalizada possui o direito legal va e qualitativamente, de acordo com as
de acompanhar seus estudos e não perder normas do AEHcomp, sendo que os com-
o ano letivo, conseguindo assim continuar portamentos brincar, conversar, assistir
no processo escolar. Assim, a educação TV, tomar remédio, estudar e sentir raiva
especial em enfermarias pediátricas tem foram escolhidas por todas as crianças,
o objetivo de prevenir o fracasso escolar, e apenas uma não escolheu a cena fazer
bem como atender às necessidades peda- chantagem. As cenas menos escolhidas fo-
gógico-educacionais do desenvolvimento ram: pensar em fugir (3) e sentir culpa (5).
infantil (Fonseca, 2003; Sandroni, 2008). A partir da classificação de Motta (2007),
Além do aprendizado, a classe hospitalar a estratégia de enfrentamento mais iden-
(CH) contribui na evolução do quadro clí- tificada foi a distração (27,77%), seguido
nico da criança, sendo uma das formas de pela ruminação (24,44%) e solução de pro-
humanização da hospitalização, que acele- blemas (10,55%). A família ou estratégia
ra a melhora do paciente e contribui para de coping menos identificada foi o desam-
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paro (0,55%), seguida pela reestruturação mento psicológico e assistência social para
cognitiva (2,22%). As estratégias de afas- criança neste ambiente, favorecendo seu
tamento social, oposição e delegação não processo adaptativo e seu enfrentamento
foram escolhidas pelas crianças. Estudar as dessa situação adversa. Como os resulta-
EE de crianças com câncer torna possível dos do AEHcomp mostraram que todas
saber quais os fatores que causam prejuízo as crianças escolheram comportamentos
no contexto hospitalar e se o fato de ser favoráveis ao processo de hospitalização
atendida por professores da CH e dar con- (brincar, conversar, assistir TV, tomar re-
tinuidade aos estudos no hospital ajuda a médio e estudar), isto sugere uma possível
minimizar esse sofrimento. Com essa pers- relação favorável ao fato de freqüentar a
pectiva, este estudo identificou, usando o CH, auxiliando as crianças a utilizar essas
AEHcomp comportamentos e estratégias estratégias durante situações estressan-
de coping como diretamente ligados ao tes. Os estudos da área têm mostrado que
enfrentamento das situações estressantes a classe hospitalar favorece uma melhora
no hospital, sendo os principais compor- mais rápida no quadro clínico do paciente,
tamentos: brincar, conversar, assistir TV, o que pode-se observar pela estratégia de
tomar remédio, estudar e sentir raiva. Os coping mais identificada - a distração (San-
cinco primeiros comportamentos ou ins- droni, 2008; Almeida & Albinati, 2009).
tâncias de coping podem ser entendidos
como favoráveis ao processo de adaptação Palavras-chave: Estratégias de Enfrentamento;
ao contexto hospitalar. Esses resultados Hospitalização Infantil; Classe Hospitalar.
corroboram com dados de outros estudos Contato: Paula Coimbra da Costa Pereira
realizados com crianças hospitalizadas: por Hostert, UFES, paulahostert@gmail.com
doenças diversas, Moraes e Enumo (2008)
e por Motta e Enumo (2010) com crian-
ças hospitalizadas com câncer; sendo os LT04-1447 – O BRINCAR NO HOSPITAL E
comportamentos mais escolhidos: tomar PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS EM
remédio, conversar, rezar, chorar e ficar CRIANÇAS COM CÂNCER, NA CLASSE
triste. Diante disso, entende-se que o com- HOSPITALAR
portamento de conversar sugere a busca Paula Coimbra da Costa Pereira Hostert - UFES
de apoio; e o comportamento de tomar paulahostert@gmail.com
remédio demonstra a colaboração direta Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES
da criança para ser curada e voltar ao seu soniaenumo@terra.com.br
ambiente familiar. Entre as famílias de co- Alessandra Brunoro Motta - UFES
ping ou EE mais frequentes nesta amostra, alessandrabmotta@yahoo.com.br
estão a distração e a ruminação, seguidas Financiamento: CNPq; CAPES
das estratégias de solução de problemas e
busca de suporte. Esses resultados apoiam A criança com câncer é exposta a hos-
os dados das pesquisas referidas anterior- pitalizações prolongadas e frequentes,
mente, pois encontraram a ruminação e cujos motivos variam entre o diagnóstico
distração como as principais estratégias inicial, a medicação e a necessidade de
de crianças hospitalizadas. A estratégia tratar uma recidiva da doença. Uma vez
ruminação indica necessidade de atendi- hospitalizada, ela se depara com diversos
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estressores, tais como o afastamento fa- no Hospital (ABHcomp) (Motta & Enumo,
miliar, o contato com pessoas estranhas, 2010) – composto por um software com
a restrição de atividades lúdicas, o aban- 20 cenas de brinquedos e brincadeiras,
dono da escola e a submissão a proce- que identifica o que as crianças fazem,
dimentos médicos invasivos (Ferreira, pensam e sentem sobre o brincar no hos-
2006). Para lidar com essa situação, estra- pital, permitindo avaliar suas brincadeiras
tégias de enfrentamento que minimizem preferidas e mais realizadas no ambien-
os prejuízos ao seu desenvolvimento são te hospitalar. Já o perfil comportamental
necessárias. Dentro dessa perspectiva, o dessas crianças foi avaliado por meio da
brincar tem sido inserido no hospital, por Escala Comportamental Infantil A2 de
meio do trabalho de recreadores e como Rutter (ECI) (Graminha, 1994) – utilizada
recurso para a intervenção psicológica para a avaliação de problemas compor-
junto à criança (Moraes & Enumo, 2009; tamentais e emocionais das crianças.
Motta & Enumo, 2010). O brincar pode Contém 36 itens distribuídos em três tó-
ter efeitos positivos para crianças que picos: problemas de saúde (oito), hábitos
vivenciam situações de estresse, medo e (sete) e comportamento (21). Através do
ansiedade associadas a doenças (Motta comportamento infantil, a escala identi-
& Enumo, 2004, 2010; Brown, 2001; Mi- fica casos que necessitam de ajuda psi-
tre, 2004). Assim, estudos sugerem que cológica. Classificando essas atividades
os brinquedos no hospital representem em cinco tipos de brincadeiras de acordo
a vida cotidiana, tais como brinquedos com Garon (1996), tem-se a seguinte hie-
para dramatização, para construção, para rarquia de respostas: 1) atividades recre-
expressão artística e jogos, desde que se- ativas diversas (assistir TV, ler gibi, ouvir
jam seguros, acessíveis e funcionais. Des- histórias, cantar e dançar): 63 (33,7%);
tacam ainda o uso do videogame, por sua 2) jogos simbólicos (fantoches, palhaço,
característica de incentivar a participa- desenhar e médico): 39 (20,9%); 3) jogos
ção da criança, evitando seu isolamento de regras (baralho, minigame, dominó e
e favorecendo a sensação de realização bingo): 39 (20,9%); 4) jogos de acoplagem
(Motta & Enumo, 2004; Mitre & Gomes, (montagem, modelagem, recorte/cola-
2004). Através da promoção do brincar gem e quebra-cabeça) (26 = 13,9%); e 5)
no espaço hospitalar é possível modificar jogos de exercício (jogar bola, tocar ins-
e melhorar o modelo tradicional de in- trumentos, boliche e jogar pedrinhas): 20
tervenção e o cuidado (Mitre & Gomes, (10,7%). As preferências lúdicas apresen-
2004). Procurando verificar se o interes- tadas por essas crianças corroboram com
se da criança em brincar no hospital te- dados de outros estudos. (Motta & Enu-
ria relações com possíveis problemas de mo, 2004, 2010; Furtado, 1999) As brinca-
comportamento e emocionais, este estu- deiras mais escolhidas no ABHcomp - as-
do identificou as preferências lúdicas de sistir TV (88,9%), desenhar (77,8%), ouvir
crianças com câncer, freqüentando uma histórias (72,2%) e tocar instrumentos
classe hospitalar, e os problemas de com- (72,2%) - foram aquelas disponibilizadas
portamento infantis relatados pelos cui- no ambiente hospitalar, levados pelos vo-
dadores. Foram utilizados o Instrumento luntários ou pelos professores da CH. Em
Computadorizado de Avaliação do Brincar geral, estas são também atividades que
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grama e até maio de 2011, foram realiza- sua dinâmica. No decorrer de sua obra,
dos 226 atendimentos. Freud alicerçou uma possível aproxima-
ção entre Psicanálise e Educação - mesmo
Palavras-chave: atendimento psicopedagógico, não tendo desenvolvido, extensivamente,
ensino público, educação básica. uma explanação sobre o tema - e ofere-
ceu alguns elementos muito importan-
tes. Em seu texto, O interesse Científico
LT04-876 – PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: da Psicanálise (1913), Freud afirma que
UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL PARA A “a psicanálise trouxe à luz os desejos, as
CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS estruturas de pensamento e os processos
Anamaria Silva Neves - UFU de desenvolvimento da infância” (p.224).
anamaria@umuarama.ufu.br Pensando as crianças de maneira diferen-
Lorena Candelori Vidal - UFU te, considerando suas disposições para
lorenacvidal@gmail.com perversões, a curiosidade sexual, o com-
Taísa Resende Sousa - UFU plexo de Édipo, o erotismo anal, o amor
taisa.r.s@hotmail.com a si próprio (ou “o narcisismo”), entre
Financiamento: FAPEMIG outros, Freud inaugurou uma nova forma
de se entender a infância. Na Conferência
O presente trabalho tem como objetivo XIII: Aspectos arcaicos e Infantilismo dos
central a discussão teórica que sustenta sonhos (1916), Freud aponta que nenhu-
a díade Psicanálise e Educação, como ar- ma barreira existe desde o início da vida
gumentação possível sobre as estruturas dos indivíduos. Tais censuras vão sendo
afetivas e o desenvolvimento do sujei- gradualmente estabelecidas, durante o
to. Trata-se do recorte de uma pesquisa processo de desenvolvimento e educação.
financiada pela Fapemig, cujo objetivo “Todas as manifestações sexuais de uma
geral é compreender as representações criança são prontamente, energicamen-
tecidas por educadoras da educação in- te suprimidas pela educação” (p.251).
fantil sobre a violência sexual incestuosa, Em Algumas reflexões sobre a Psicologia
com especial interesse sobre os sentimen- Escolar (1914), Freud narra sobre o seu
tos emergidos e as iniciativas assumidas percurso escolar e expressa uma gratidão
diante da suspeita da violência vivencia- aos seus educadores, apontando que, na
da pelos alunos. A eclosão da Segunda fase escolar, os professores se tornam pais
Guerra Mundial (1939-1945) propagou e substitutos. As crianças transferem, para
difundiu a Psicanálise pelo mundo. A te- estas figuras, sentimentos que remetem à
oria freudiana foi sendo conhecida por di- imago parental e à infância; e, depois, co-
versas pessoas, de diferentes segmentos, meçam a tratá-los como tratavam os pais,
e os seus conceitos sendo apropriados em confrontando o que já adquirira com am-
cenários ampliados. Para se pensar a Psi- bivalência. “Estávamos, desde o princípio,
canálise, é fundamental que se retome as igualmente inclinados a amá-los e a odiá-
suas origens: Freud, o pai da Psicanálise, -los, a criticá-los e a respeitá-los” (p.286).
que se dedicou aos estudos dos sentidos Na Conferência XXXIV: Explicações, Aplica-
ocultos dos fenômenos, eclodindo na sus- ções e Orientações (1933), Freud lamenta
tentação fundamental do inconsciente e por não ter contribuído muito para o tema
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um sujeito, abandona técnicas de adestra- lidar com outras pessoas de forma ade-
mento e adaptação” (p.19). É importante o quada às necessidades de cada uma e às
refinamento da escuta junto a esses sujei- exigências da situação. Perceber de forma
tos, assim como uma aproximação genuí- acurada uma situação e suas variáveis per-
na entre Psicanálise e Educação. A escola, mite que o sujeito desempenhe melhor o
neste sentido, pode configurar um lócus seu trabalho, tanto na dimensão técnica
que, para além da transmissão de conhe- requerida pela natureza dessa atividade
cimentos, corrobore para a construção de quanto na de ser capaz de se posicionar
novos espaços afetivos, com as (re)edições de forma habilidosa na rede de relações
das relações vinculativas e com a constitui- interpessoais, interna e externa, no local
ção novos sujeitos. de trabalho. A competência interpessoal
é revelada nas relações estabelecidas en-
Palavras-chave: Psicanálise, Educação, sujeito tre indivíduo-indivíduo e indivíduo-grupo,
Contato: Taísa Resende Sousa, UFU englobando assim atitudes individuais e
taisa.r.s@hotmail.com coletivas, sendo estas jamais indissociá-
veis. Desse modo, para avaliar o desen-
volvimento e a aquisição da competência
LT04-1049 – VALIDADE DO ZULLIGER interpessoal é necessário a utilização de
NA AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA instrumentos válidos, que reúnam um
INTERPESSOAL conjunto de evidências que assegurem a
Jucelaine Bier Di Domenico Grazziotin - sua relevância, a sua utilidade nos usos
Comercial Di Domênico Ltda., propostos e nas interpretações geradas.
jucelainegraz@terra.com.br É nesse contexto, que o teste Zulliger no
Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS Sistema Compreensivo ZSC se insere, es-
silvanalba@upf.br pecialmente por integrar diversos aspec-
tos da personalidade, com base tanto nos
A avaliação psicológica é uma prática fre- preceitos da psicometria, como nos da
quente no contexto organizacional, pois projeção e por possibilitar uma investiga-
possibilita melhor compreensão das habi- ção mais completa do universo psíquico
lidades do indivíduo, do seu funcionamen- do examinando, tão solicitada no campo
to psicológico e, ainda, dos aspectos predi- empresarial. Assim sendo, o objetivo des-
tivos do desenvolvimento de seu compor- te estudo foi verificar as evidências de vali-
tamento. Atualmente, as habilidades de dade do Zulliger no Sistema Compreensivo
competência interpessoal nesse âmbito, ZSC, focalizando a variável relacionamen-
passaram a ser um requisito imprescindí- to, a saber: SumT (sombreado textura); Fd
vel em todos os níveis ocupacionais, desde (comida ou ação de comer); H (humano
aquele que atende à comunidade externa inteiro), Hd (detalhe humano),(H) (para-
à empresa como aos clientes e ao público -humano inteiro), (Hd) (detalhe para-hu-
em geral, até aqueles que convivem diaria- mano); GHR (boa representação humana)
mente com o público interno, no mesmo e PHR (representação humana pobre); a
setor e intersetores. Assim, a competência (movimento ativo) e p (movimento passi-
interpessoal é a habilidade de lidar eficaz- vo); (isolamento); PER (resposta persona-
mente com as relações interpessoais, de lizada); AG (movimento agressivo); COP
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são “paixão de formar” para caracterizar a DE VIDA, onde apareceu que a identifica-
prática daqueles professores que se dedi- ção com figuras da infância é de grande va-
cam com entusiasmo, que se identificaram lor teórico para entender a paixão no exer-
com a profissão e são bem-sucedidos na cício profissional. A história de vida como
transmissão de conhecimento, o presente um ponto determinante para uma escolha
trabalho buscou olhar mais de perto para e inserção nesse campo de trabalho apa-
os psicólogos que escolheram se inserir receu em duas entrevistadas. Quando se
no ambiente escolar, que seguem nesta remete à escolha de algo, as MOTIVAÇÕES
área e que são reconhecidos como bem- INCONSCIENTES estão presentes, portanto
-sucedidos em suas práticas, ou seja, con- esta é a segunda categoria. É neste cam-
forme a autora, que sejam profissionais po (do inconsciente) que se encontram
“apaixonados” pelo que fazem. Portanto, as identificações, tratadas também na
o problema central da pesquisa que re- categoria anterior já que a identificação
sultou no Trabalho de Conclusão de Curso com outro é o que faz a história de vida
da autora, pode ser traduzido na seguinte ser determinante para algumas entrevista-
pergunta: como se constitui a paixão pelo das. Também apareceu a transferência da
exercício da Psicologia no ambiente esco- paixão pela área através de um supervisor
lar? Para respondê-la foram realizadas en- local de estágio. Essa transferência pode
trevistas com cinco psicólogas que foram ser entendida como uma transferência de
tratadas por análise de conteúdo por ca- aprendizagem positiva, onde os processos
tegorização. Para discutir a questão teori- de aprendizagem adicionaram algo à sua
camente, foi levantado um breve histórico prática (Laplanche; Pontalis, 1967). Na ter-
da atuação do psicólogo na área escolar, ceira categoria, FORMAÇÃO ACADÊMICA,
assim como as questões que levam a uma apareceu mais especificamente os Está-
escolha profissional, a partir de Bohosla- gios em Psicologia Escolar como de grande
visky (1977). Também foram trabalhadas importância. Todas identificaram a partir
considerações sobre o conceito de paixão, de seus estágios o interesse em continuar
buscando na psicanálise um suporte teóri- na área e mais que isso: o surgimento da
co para seu entendimento. Em seguida, a paixão por este lugar. A CONFORMAÇÃO
partir de articulações teórico/práticas com DA PAIXÃO é a quarta categoria discutida.
as falas das entrevistadas, pode-se chegar Com a análise desta categoria podemos vi-
a algumas formulações finais sobre o que sualizar o “processo de apaixonamento” e
leva essas profissionais a se “apaixona- o desejo e a necessidade como questões
rem” pelo trabalho no campo da educa- importantes para essa conformação e
ção, mais especificamente dentro da esco- confirmação da existência da paixão. Por
la. Partindo de uma análise inicial das falas fim fala-se do exercício “viciante” da Psi-
das psicólogas entrevistadas foram criadas cologia dentro da escola. A conformação
quatro categorias a fim de orientar a aná- da paixão traz mais um ponto interessante
lise e discussão dos achados. As categorias a ser refletido: as psicólogas entrevistadas
foram formadas a partir da importância são conscientes da paixão que possuem
teórica da questão em análise e da recor- pelo exercício da Psicologia no ambiente
rência nas respostas das entrevistadas. A escolar. Quando perguntado como as en-
primeira categoria foi intitulada HISTÓRIA trevistadas definem o seu apaixonamento
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LT04-1500 – ONGs, PSICOLOGIA ESCOLAR décadas como novo arranjo social que
E COMPROMISSO SOCIAL: DESAFIOS E viabiliza legitimamente a aproximação
POSSIBILIDADES entre os cidadãos e a esfera pública em
Pollianna Galvão Soares - UnB prol da garantia do atendimento aos di-
polliannagalvao@yahoo.com.br reitos sociais básicos (Gohn, 2009, 2010;
Claisy Maria Marinho Araújo - UnB Montaño, 2002; Souza, 2009). São diver-
claisy@unb.br sas as designações institucionais dessa
Financiamento: CNPq esfera social: associações, fundações,
cooperativas e outras do terceiro setor,
A partir da globalização e da pós-mo- sendo culturalmente reconhecidas como
dernidade, a sociedade hodierna tem organizações não governamentais (ONGs)
fomentado o surgimento de distintas ins- e definidas como agências colaboradoras
tituições pelas quais o homem organiza para a avaliação das demandas sociais e
sua vida em coletividade ante as deman- mobilização dos sujeitos locais para a luta
das contemporâneas. O panorama das e garantia dos direitos civis (Gohn, 2010,
organizações sociais, especialmente no Souza, 2009). Apesar de se reconhecer o
cenário brasileiro, vem configurando con- crescimento das ONGs educativas relacio-
textos emergentes férteis à ações volta- nado à mobilização pela democratização
das para o apaziguamento do quadro de da educação, paralelamente, muitas críti-
exclusão social. Dentre esses contextos, cas têm sido engendradas a partir de uma
as instituições educativas não formais reflexão crítica acerca do seu papel, fun-
de terceiro setor vêm trazendo peculia- ção e relevância social que podem, ainda,
ridades às suas organizações e atividades ocultar a predominância de uma ideolo-
pedagógicas (Gohn, 2009).O surgimento gia burguesa e elitista própria do sistema
dos espaços educativos não formais tem econômico capitalista (Aoyama, 2005;
se elevando em função, principalmente, Deluiz, Gonzalez & Pinheiro, 2003). Ge-
do aumento dos problemas sociais para ralmente, essas críticas são endereçadas
os quais o Estado não tem cumprido de- à forma assistencialista com as quais as
vidamente seu dever em “construir uma ONGs desenvolvem suas atividades e que
sociedade livre, justa e solidária; garantir corroboram com uma espécie de disfarce
o desenvolvimento nacional; erradicar a político-ideológico acerca dos problemas
pobreza e a marginalização e reduzir as sociais sob a égide do compromisso com
desigualdades sociais e regionais” (Cons- a transformação social. Uma vez que o
tituição Federal, 1988, Art. 3) e nem em Estado não cumpre e nem garante ade-
garantir a educação como “direito de quadamente os direitos sociais, tal como
todos e dever do Estado (...) visando ao preconiza legalmente, distribui seu poder
pleno desenvolvimento da pessoa, seu para amenizar o impacto de políticas vol-
preparo para o exercício da cidadania e tadas para um suposto ajuste econômico
sua qualificação para o trabalho” (Cons- que atingem a população mais empobre-
tituição Federal, 1988, Art. 205). Nessa cida. Para se desenvolver ações voltadas
direção, as organizações da sociedade em prol da reversibilidade do quadro de
civil (OSC’s) têm se expandido entre os injustiça social, é necessário que os ato-
setores públicos e privado nas últimas res dessas instituições reconheçam criti-
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Andrade (1998) salienta que a criança não diversas culturas e valores (Rogoff, 2005).
deve ser subestimada, infantilizada, nem Esta convivência muitas vezes pode ser
vista como um objeto. Ela não deve ser difícil e desafiadora para a criança, prin-
vista como alguém que ainda não é um cipalmente quando os hábitos diferentes
adulto, mas como alguém que constitui entram em conflito, mas também pode
e é constituído, construindo, de forma ser vivida de forma criativa, através de
dialética, sua subjetividade. É necessário combinações e negociações pessoais e
reconhecer e valorizar a criatividade e as coletivas. Dessa forma, é de extrema im-
potencialidades da criança, estimulan- portância a realização de pesquisas com
do sua participação, enxergando-a como crianças. A criança tem estado presente
um sujeito que possui direitos e deveres. nas pesquisas científicas há muito tempo,
A criança não é incompleta, um vir-a-ser sendo estudada como objeto a ser des-
que apenas se constituirá no futuro. Além crito, medido, analisado. O que é preciso
de estar num processo de desenvolvimen- ser discutido e modificado é a forma que
to em direção à idade adulta, ela é; existe, a criança tem sido estudada na comuni-
em sua totalidade, em sua singularidade, dade científica. Pesquisas que deem voz
no tempo presente. A criança traz o novo, a crianças, de modo a não só possibilitar
pode surpreender, transgredir e modifi- o conhecimento da maneira como elas
car o mundo, não apenas sendo modifi- lidam com os ensinamentos, regras, cren-
cada por ele. Ela participa da construção ças que os adultos lhe apresentam, mas
da cultura, da história e da sociedade também para permitir repensar as formas
em que vive, transformando-as (Andra- como os adultos estão se relacionando
de, 1998; Pulino, 2001; Vigotski, 2007). com elas são necessárias (Campos, 2008).
Assim, a criança, desde pequena, já está É preciso compreender a singularidade de
imersa em um contexto, em uma determi- cada criança, que cada resposta da crian-
nada cultura, no seio de uma família, de ça está relacionada ao ambiente em que
comunidades e da sociedade, desenvolve elas vivem. É interessante observar que a
a linguagem, constrói concepções, ações, mesma criança age de forma diferente de
atitudes, valores e crenças, típicos dessa acordo com o ambiente, como a família, a
cultura. Porém, ela não internaliza pas- escola, as brincadeiras na rua e, por isso,
sivamente esses conceitos, mas negocia buscar ouvi-las nesses diferentes contex-
seus significados, atuando e co-construin- tos (Campos, 2008). As crianças precisam
do essas concepções (Vigotski, 2007). As ser ouvidas no plural, através da valoriza-
constantes transformações culturais têm ção das diferenças, da multiplicidade de
ocorrido na atualidade por diversos fato- vivências da infância e da heterogenei-
res, como o surgimento da televisão, da dade dos contextos em que as crianças
internet, do telefone, o que possibilitou vivem. A entrevista com uma criança de
maior velocidade de comunicação entre um determinado país pode ser totalmen-
diversas culturas mundiais. A frequente te diferente de uma com uma criança de
imigração em todo o mundo e o casamen- outro país. A classe social, a cultura, a so-
to entre indivíduos de nacionalidades e ciedade em que ela vive podem constituir
raças diferentes também contribui para indicadores empíricos muito diferentes. É
essas mudanças e para a convivência com interessante, também, o cruzamento de
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primeiro tema de sua obra marca abertu- práxis, deu origem ao acervo histórico-
ra de um projeto que vai perdurar duran- -cultural humano. Como seres animais,
te toda a sua vida: a psicologia infantil e estamos apoiados no biológico; como in-
psicologia genética. Contextualizando os divíduo dotados de pensamento, no psi-
principais estudiosos sobre o desenvol- cológico; e como homens, isto é, seres ca-
vimento infantil, visualizamos algumas pazes de assimilar e de converter os pro-
diferenças de conceitos e fundamentos. dutos da atividade interpessoal, no social.
Para Piaget a psicologia genética e a psi- Seja qual for a importância que se queira
cologia infantil se distinguem da seguinte conceder a cada um destes elementos,
maneira: a psicologia genética é o estudo nas sucessivas fases que desembocaram
da psicologia geral que abrange a forma- no estado atual da humanidade, resulta
ção dos processos mentais, enquanto a inegável que o indivíduo contemporâneo
psicologia infantil é um instrumento da representa o equilíbrio harmônico destes
psicologia genética. Para Wallon, a psi- três elementos.” (Merani, 1972, p.68) To-
cologia genética estuda o psiquismo em mando por base as ideias de Merani fica
sua formação e transformações em três evidente que o desenvolvimento humano
níveis: o nível do mundo, da espécie e do reflete continuamente a associação, a in-
individuo. Portanto, a psicologia infantil é teração, a influência de diferentes fatores,
apenas um dos métodos. Merani, seguin- sendo, portanto, um produto tanto do
do Wallon, organiza a psicologia genética biológico quanto do meio social. Quando
como uma psicologia comparada. Opõe- afirma Merani, a “essência” do homem,
-se assim a psicologia geral da psicologia ou, em outros termos, suas funções psí-
genética, que tem o objetivo de explicar quicas, repousa sob o conjunto das rela-
a função mental pela a história do desen- ções sociais. Entendemos que não temos
volvimento através das idades. As etapas como obter a compreensão desse proces-
do homem são estudadas em três pontos so por isolamento, querendo entender as
de vistas: a infância sobre a óptica da psi- singularidades, pois para Merani o que
cologia infantil; a infância, a puberdade existe de mais íntimo e peculiar ao indi-
e adolescência pela psicologia da idade víduo pode ser superado, descamuflado,
evolutiva; o processo completo, isto é, quando considerarmos o meio social que
infância, puberdade, adolescência, juven- o envolve. A interpretação mais evidente
tude, maturidade e velhice pela visão da é que ele coloca a sociedade na condi-
psicologia genética. No pensamento de ção de um fenômeno que tanto contribui
Merani aparece à necessidade de proble- para o surgimento das significações que
matizar, acerca das relações entre a psico- emergem a partir das funções de origem
logia, ciência e a filosofia, e os problemas genéticas que são inatas aos indivíduos,
relacionados com estas, como a classifi- porém essas funções só passam a desen-
cação do método materialista dialético, volverem-se quando estimuladas pelos
a unidade do objetivo e do subjetivo. Um fatores presentes na sociedade. É, mister,
ponto de partida ou um ponto de chega- portanto que haja a integração entre o
da? “Somos conscientes de que o único critério genético e o social. A partir des-
grupo de indivíduos caracterizados como sas considerações, Merani faz uma crítica
homo sapiens é aquele que, mediante a muito sutil aos autores que generalizam
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41 adolescentes, estudantes de uma escola mulher, o pai fica brabo e a mãe assustada,
estadual e de uma escola particular de Por- irritada, nervosa e preocupada. Somente
to Alegre, divididos em 2 grupos de ado- uma dessas narrativas sugere que, frente
lescentes homens, 2 de adolescentes mu- à notícia da perda da virgindade da filha,
lheres e 2 mistos. Os grupos tiveram lugar a mãe a apoia, conversando com ela e de-
na sala de informática das escolas em que monstrando interesse pelo relato da situa-
eles estudavam e foram moderados pela ção. A categoria Hipersexualização do ho-
pesquisadora. Esta e todos os adolescentes mem reuniu as narrativas que associavam
tinham um computador à sua disposição, ser homem com ter uma heterossexualida-
conectado ao MSN. A discussão era realiza- de exacerbada. Essas narrativas abordaram
da por escrito e iniciava com a questão de a aceitação e até o estímulo à sexualidade
abertura proposta pela moderadora: “Con- do adolescente homem por parte do seu
tem histórias que vocês acham que mos- pai e da sua mãe. Nas situações relatadas
tram bem o que é ser homem ou o que é ser no grupo focal, a vida sexual ativa do fi-
mulher hoje.”. As narrativas obtidas foram lho é aceita pela mãe e motivo de orgulho
submetidas à Análise de Conteúdo (Bardin, para o pai. A categoria Homossexualidade
2008). Foram identificados 4 temas entre incluiu uma narrativa em que se explicava
as narrativas dos adolescentes, sendo Se- por que um adolescente da escola tinha
xualidade o tema que contou com o maior aparência de homossexual, graças às suas
número de produções. Resultados: No pre- características consideradas femininas. Es-
sente trabalho, são apresentados somente sas características foram atribuídas à sua
os resultados do grupo focal realizado com pouca convivência com o pai concomitan-
7 adolescentes homens da escola particu- te à sua criação por mulheres. Conclusão:
lar. Tal recorte decorre da presença maciça, Tais narrativas foram ao encontro da afir-
nesse grupo, de narrativas que tratavam mação de Oliveira (2007) acerca do papel
da socialização de gênero nas famílias com fundamental da família como agente de
filhos adolescentes. Das 13 narrativas ela- socialização de gênero para os jovens. As
boradas nesse grupo, 10 referiam-se ao reações dos familiares à expressão da sexu-
tema Sexualidade e foram classificadas nas alidade feminina parecem promover uma
seguintes categorias: Hipossexualização socialização de gênero padronizada para
da mulher (07 narrativas), Hipersexualiza- as adolescentes, fixando características e
çao do homem (02), e Homossexualidade atitudes que associam a mulher a um ser
(01). As outras 3 narrativas não continham heterossexual, pouco sexualizado e passi-
referências à socialização de gênero e não vo. A família também se sobressaiu como
são, portanto, apresentadas aqui. A cate- agente de socialização de gênero para os
goria Hipossexualização da mulher englo- adolescentes homens, promovendo uma
bou narrativas que associavam ser mulher socialização de gênero padronizada, fixan-
com ser heterossexual e pouco sexualizada. do características e atitudes que associam
Nessas narrativas apareceram a censura e o homem à heterossexualidade ativa. Essa
a repressão por parte do pai e da mãe da socialização pareceu ser tomada de modo
adolescente mulher quando esta expressa fatalista pelos próprios participantes da
sua sexualidade. Segundo os membros do pesquisa, que consideraram que a criação
grupo focal, diante da sexualidade da filha oferecida pelos pais pode levar um adoles-
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tência com falta de delimitações internas cuidado como uma maneira de poupá-la
que se refletem no mundo externo. Du- de frustrações: “Mesmo quando a pes-
rante a entrevista, três crianças passaram soa está certa eu não gosto que chamem
próximas à sala. Vendo-as, a participante atenção da minha filha”. A criança parece
começou a chamá-las e a provocá-las: “pe- representar um objeto narcísico, e há um
quenininhos”; “Oi pequenininho, cara de grande medo da perda do amor. Na segun-
boboca”. Ela se mostrou desinteressada da díade, a criança, também de 04 anos,
em contar histórias sobre as pranchas; a apresenta-se de maneira bastante tímida e
todo momento, pedia para que a pesqui- retraída, fala pouco. A mãe aparece como
sadora fosse com ela até sua sala e, em uma figura de autoridade proibitiva, cas-
um momento diz “eu estou brava, vamos tradora: “eu queria um cachorrinho, mas
logo!”. Ao chegar em sua sala, ela abre a minha mãe não deixa... não deixa eu fa-
porta de maneira brusca e diz gritando zer piquenique”. O seu vínculo mais forte
que viu um Leão sentado em uma cadei- é com o pai: “faço muitas coisas com meu
ra. Antes disso, entra em uma sala que não pai”, mas ela parece senti-lo como alguém
é a sua e tem a mesma atitude. O pai da que a impulsiona ora para o refúgio, ora a
primeira díade tem 32 anos, é vendedor. autonomia: “meu pai segura atrás da mi-
Inicia a entrevista de uma maneira mais nha bicicleta, mas tem hora que ele solta”.
formal e intelectualizada, postura que Assim, parece que os pais não são capazes
se dissolve ao longo do encontro. Inicia de dar holding suficiente, de maneira que
se descrevendo como um pai autoritário a menina não se sinta segura e protegida.
que exerce poder e domínio: “Sou a refe- Mostra-se frágil diante do mundo. O pai
rência da criança, sou eu quem mando, tem 41 anos, inicia o encontro afirmando
quem sabe o que é certo, basta um olhar”. que é muito prazerosa a experiência de ser
Porém, no decorrer da entrevista relata pai, mas, em seguida, aponta dificuldades
vivências que revelam uma ausência de com a filha “ela é muito insegura, muito
autoridade diante da filha que consegue tímida, alguns aspectos me preocupam
manipulá-lo e dominá-lo, a única maneira nela, como o contato com outras crian-
de controle, de imposição de limites, se dá ças”, mas na seqüência atribui que todos
de forma distorcida através do uso da ma- os problemas com a filha são, na verdade,
nipulação: “ela não gosta de colocar cinto problemáticas da esposa: “o pediatra disse
de segurança, então temos que falar que a que não deveria levar a garota em um psi-
polícia vai pegá-la para ela colocar”. Afirma cólogo, mas minha mulher procurar um”.
que a chantagem é uma maneira mais van- A esposa parece impedir que o pai tenha
tajosa e fácil de educá-la, “assim ela esque- acesso à filha, e ela é citada na maior parte
ce o que quer e faz o que eu quero”. Além da entrevista, tirando, assim, o espaço da
disso, quando impõe a autoridade o faz de garota. O pai se mostrou ambivalente dian-
maneira inconsistente “quando sou bravo te de seu papel e seus valores, fica dividido
com ela bate o maior arrependimento, daí entre uma imagem ideal de pai e a que a
eu pego ela no colo, peço desculpas, digo esposa exige: “às vezes eu preciso sair da
que não vou fazer mais; ela geralmente me minha cama para dar lugar para ela para
manda sair de perto”. Afirma ser um gran- elas dormirem confortáveis, eu acho isso
de protetor da criança e parece exercer tal horrível”. Parece não encontrar seu espaço
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mães, 12 pais, 10 irmãos e 16 crianças) e riências (n=9). Quanto aos aspectos nega-
26 profissionais (16 especialistas de equi- tivos, os especialistas das equipes técnicas
pes técnicas, 5 coordenadores de equipes disseram, principalmente, que os serviços
técnicas e 5 diretores de instituições de e atendimentos familiares não eram prio-
atendimento às crianças com deficiên- ritários no cronograma de trabalho das
cia), de duas localidades brasileiras: uma instituições (n=3), e as famílias avaliaram
capital (Distrito Federal) e uma cidade do que eles eram insuficientes (n=10), pois as
interior do Estado de São Paulo. Dessas mães ficavam ociosas e não eram atendi-
famílias, 7 tinham filhos entre 4 e 6 anos das em suas necessidades (n=3). As famí-
de idade, com diferentes deficiências: lias desejavam que os diferentes tipos de
auditiva (n=3), múltipla (n=2), intelectual intervenções já oferecidos pelas institui-
(n=1) e física (n=1); e 9 tinham filhos com ções fossem sistematizados/regulares, em
idades acima de 6 anos, com diferentes horários flexíveis, com melhores profissio-
deficiências: auditiva (n=1), intelectual nais, e que envolvessem, inclusive, pais e
(n=3), física (n=3) e visual (n=2). Para a co- irmãos da criança. As crianças, por sua vez,
leta de dados foram realizadas entrevistas manifestaram o desejo de que seus pais
semiestruturadas (individuais) com todos pudessem participar mais dos seus aten-
os participantes e seu roteiro incluía ques- dimentos. Os resultados indicaram que,
tões relativas à caracterização, avaliação mesmo sendo diversificados, os serviços e
e experiências com os serviços e atendi- atendimentos familiares ainda eram cen-
mentos familiares. A análise qualitativa trados na promoção do desenvolvimento
das entrevistas foi realizada com base em da criança e não da família. Portanto, os
um sistema de categorias desenvolvido de serviços e atendimentos oferecidos às fa-
acordo com os procedimentos propostos mílias NE ainda estão embasados muito
para gerar sistemas integrados de cate- mais em um modelo centrado nos profis-
gorias, possibilitando a quantificação das sionais do que em um modelo centrado
categorias. Os resultados mostraram que na família. Apesar das contribuições que
os atendimentos oferecidos às famílias essas intervenções têm tido para os fami-
eram, na sua grande maioria, esporádicos liares, nota-se que o desconhecimento da
e informais (orientações sem uma regu- literatura que subsidia esses trabalhos in-
laridade para acontecer), principalmente cide em prejuízos para as instituições, os
individuais (basicamente psicoterapia de familiares e suas crianças. Considerando
apoio) ou em grupo (restritos às reuniões as lacunas identificadas faz-se necessá-
de pais). Já os serviços oferecidos refe- rio envidar esforços para a melhoria da
riam-se às atividades educativas e profis- qualidade das intervenções familiares, de
sionais (n=30), às confraternizações (n=9) modo que programas centrados nas famí-
e às atividades físicas (n=7). As avaliações lias possam ser, de fato, implementados
dos profissionais e dos familiares apon- na realidade brasileira.
taram alguns aspectos positivos como as
orientações/informações sobre as rela- Palavras-chave: família, crianças com
ções parentais, a deficiência e o desenvol- deficiência, intervenção familiar
vimento da criança (n=22), bem como o Contato: Simone Cerqueira da Silva, IESB,
apoio emocional (n=11), e a troca de expe- simone.cerqueira@iesb.br
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evitação. Contudo, o suporte social pode mães durante os anos de adolescência dos
ser uma dessas estratégias que auxiliam na filhos com DI? As estratégias de enfrenta-
adaptação às circunstâncias estressantes. A mento são diferentes para pais e mães de
rede de apoio e os serviços disponibilizados adolescentes? Quais são as características
para tratamento e acompanhamento de da rede social de apoio dessas famílias com
pessoas com deficiência parecem favore- adolescentes? Essas são algumas das lacu-
cer a adaptação da família, a qual necessita nas que podem ser discutidas e aprofunda-
ser atendida com recursos e profissionais das em planejamentos de pesquisa, contri-
adequados. Estudos apontam que essas buindo para a geração de dados empíricos
famílias possuem um menor número de que subsidiem o planejamento de progra-
pessoas suportivas, existindo uma relação mas dirigidos a essas famílias.
negativa entre estresse e suporte social,
isto é, quanto maior se apresenta o nível Palavras-chave: estresse, deficiência
de estresse, menor é o número de pesso- intelectual, família
as suportivas na rede social das famílias. O Contato: Larissa Dias de Oliveira, UFJF, larissa.
estresse, as estratégias de enfrentamento dias83@yahoo.com.br
e a rede social de apoio são variáveis que
estão inter-relacionadas e, devido a isso,
há necessidade de se ampliar os estudos LT05-852 - CONTINUIDADES E
para que se possa aprofundar o conheci- DESCONTINUIDADES NAS RELAÇÕES
mento sobre o funcionamento de famílias FAMÍLIA-ESCOLA NA TRANSIÇÃO
com pessoas com deficiência intelectual, DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O
utilizando uma metodologia adequada que ENSINO FUNDAMENTAL: CONCEPÇÕES
possa captar a complexidade do fenôme- DOCENTES
no. É importante que as pesquisas envol- Keila Hellen Barbato Marcondes - UNESP
vam outros membros do sistema familiar, keilamarcondes@yahoo.com.br
como os pais, já que homens e mulheres Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo - UNESP
reagem de maneiras diferentes ao estresse, sigolo@yahoo.com.br
além dos níveis de estresse paterno e ma- Financiamento: CNPq
terno estar associado a fatores diferentes
relacionados aos filhos. A escassez de estu- O presente estudo é parte integrante da
dos com a população adolescente e adulta, tese de doutoramento denominado “Tran-
sobretudo com síndrome de Down, espe- sição da educação infantil para o ensino
cificamente, no Brasil, é outra dificuldade fundamental de nove anos: trajetórias de
encontrada. Não há como negar os efeitos escolarização”. A transição entre esse dois
de se ter um adolescente com DI na família níveis de ensino mostra-se um momen-
e os desafios a que esta enfrenta (Bastos & to de grande importância na trajetória de
Deslandes, 2008, 2009; Cunningham, 1996; escolarização das crianças, por se tratar de
Douma, Dekker & Koot, 2006). Quais são as uma situação na qual podem ocorrer conti-
tarefas de desenvolvimento típicas dessa nuidades e/ou descontinuidades, especial-
fase do ciclo vital, para essas famílias? Ao mente quando há uma alteração de políti-
longo do tempo, o estresse tende a aumen- cas educacionais, como a implementação
tar? Quais os níveis de estresse de pais e do ensino fundamental de nove anos. Essa
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ampliação prevê a entrada das crianças fessoras das últimas etapas da educação
com seis anos no primeiro ano desse nível infantil de duas escolas e seis docentes dos
de ensino, o qual passa a ter duração de primeiros anos do ensino fundamental de
nove anos. Com essa ampliação novas con- outras duas escolas. A coleta de dados foi
figurações passam a existir, mudanças de realizada por meio de entrevistas semies-
práticas pedagógicas, de tempos, espaços e truturadas, observações das reuniões de
de relações interpessoais. Para a realização pais e situações cotidianas de contato en-
dessa pesquisa adotou-se como respaldo tre famílias e docentes. Com as professoras
teórico-metodológico a perspectiva bioe- da educação infantil a coleta foi realizada
cológica de Bronfenbrenner (1997, 1999), em 2009 e com as professoras do ensino
a qual possibilita a realização de estudos fundamental no ano de 2010. Para a aná-
que visam analisar fenômenos do desen- lise de dados, foram realizadas leituras das
volvimento humano em sua complexidade transcrições das entrevistas e das notas de
analisando as trajetórias individuais, mas diário de campo, em seguida o levanta-
sem deixar de compreender os contextos mento dos temas abordados pelas docen-
macros onde os indivíduos estão inseridos. tes, finalizando com a redação das análises
O desenvolvimento, nessa perspectiva, é (BIASOLI-ALVES, 1998; BOGDAN; BIKLEN,
concebido como o produtor e o produto 1991). Os dados preliminares foram dividi-
dos processos de interação - que devem ser dos em quatro categorias definidas como:
recíprocos - entre o ser humano biopsicolo- Comunicação na educação infantil, Envol-
gicamente ativo e os múltiplos contextos, vimento familiar na educação infantil, Co-
sendo necessário que esse desenvolvimen- municação no ensino fundamental e envol-
to ocorra através do tempo. Destaca-se vimento familiar no ensino fundamental.
para esse estudo, a afirmação que Bronfen- As categorias foram construídas baseadas
brenner (1997) faz sobre a importância do nos estudos de Bhering e Siraj-Blachtford
estabelecimento de comunicação entre os (1999), Bhering e De Nez (2002) e Bhering
contextos em que o indivíduo em desenvol- (2003). Os dados advindos da educação in-
vimento é ativo, destacando a importância fantil e do ensino fundamental foram trian-
dos sujeitos (responsáveis e docentes) se gulados, ou seja, buscaram-se as continui-
envolverem em ambos os contextos, de- dades e descontinuidades referentes às
senvolvendo a confiança mútua e o con- categorias desenvolvidas. A análise inicial
senso de objetivos. O que esta afirmação permite-nos somente apresentar resulta-
salienta é a importância da interação en- dos preliminares da pesquisa. Em relação
tre família-escola, que se apresenta como à comunicação, pode-se afirmar que há
um fator positivo para o desenvolvimento diferenças nas formas destas ocorrerem
infantil. Diante desse cenário, o presente nas duas instituições educacionais. Nas ins-
estudo tem como objetivo analisar as con- tituições de educação infantil, os contatos
tinuidades e descontinuidades das relações dos responsáveis ocorrem diariamente no
estabelecidas entre a escola e a família em momento de entrada e saída das crianças.
uma situação de transição da educação Estes entram na instituição para buscar as
infantil para o ensino fundamental. A pes- crianças, momento em que há troca de in-
quisa ocorre em uma cidade do interior de formações sobre os acontecimentos do dia.
São Paulo, tendo como sujeitos quatro pro- Já no ensino fundamental, nesses momen-
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imunológicas cutâneas que causam infla- ponto importante a ser destacado é a re-
mação. Ocorre com mais freqüência em lação entre suporte social e níveis de es-
famílias em que há rinite alérgica, asma tresse, na qual este também atua como
e alergia alimentar, e em países indus- fator protetivo nas situações estressoras
trializados (Alvarenga & Caldeira, 2009; “quando as medidas de suporte estão
Ricci et al., 2009; Myssior et al., 2008). relacionadas com a disponibilidade per-
Quando um membro do sistema familiar cebida de recursos interpessoais que res-
está acometido por DA é comum que esta pondem às necessidades presentes nos
instituição passe por uma reorganização, eventos estressantes” (Matsukura, et al.,
especialmente por se tratar de uma do- 2002). As configurações familiares que,
ença crônica cuja etiopatogenia não é além da mãe, contam com a presença
conhecida, mas entende-se que alguns e auxílio de outros adultos favorecem a
fatores, tais como mudanças climáticas, maternidade e o desenvolvimento infan-
alimentação e situações emocionais po- til, especialmente quando o pai é a figura
dem desencadear novas crises que ten- presente, pois este também compartilha
tam ser evitadas pela família (Ferreira, et com a esposa a responsabilidade da cria-
al., 2006). Os cuidadores de crianças com ção, incluindo êxitos e fracassos. Estudos
alguma enfermidade são expostos a uma realizados constataram a existência de
grande quantidade de eventos estresso- uma relação positiva entre a presença do
res. O impacto da doença pode alterar re- pai e o cuidado maior da mãe pelo filho,
lações conjugais, reduzir a capacidade de favorecendo o desenvolvimento infantil
os pais manterem um adequado suporte saudável (Piccinini et al., 2007; Motta et
social à criança e aos demais membros da al., 2005). Outro fator relevante para o de-
família (Kohlsdorf & Costa Júnior, 2008). senvolvimento adequado da criança diz
O apoio social serve como moderador respeito ao apego. Para Montagu (1988)
da relação entre problemas de compor- o contato físico é fundamental para o
tamento e o estresse parental. Não obs- crescimento do bebê, evidenciando a re-
tante, observa-se que quanto maior é o lação entre pele e apego. Anzieu (1989)
apoio social percebido, menor é o estres- afirma que a pele e o toque são bastan-
se relacionado a sobrecarga emocional te importantes para o desenvolvimento
pelas mães. Também constatou-se que os do aparelho psíquico do infante. Assim,
cuidados da mãe consigo, a autoconfian- Piccinini et al. (2007) referem sobre a im-
ça, a busca de lazer e realização pessoal portância de que os pais respondam com
atenuam o estresse materno relacionado afeto e sensibilidade ao comportamento
a doença do filho (Bellé et al., 2009), pro- do filho, a fim de favorecer a formação
piciando uma melhor qualidade de vida. do apego e seu desenvolvimento sócio-
A existência ou não de suporte social -emocional. O apego representa a pro-
está diretamente relacionado a presen- pensão de os seres humanos construírem
ça ou ausência de diversas doenças. O “fortes vínculos afetivos com outros e de
prognóstico de quem está doente é me- explicarem as diferentes formas de cons-
lhor quanto maior for seu suporte social. ternação emocional que ocorrem quan-
Assim, pode-se conceber o suporte social do da separação ou perda involuntárias
como um fator protetor à saúde. Outro do outro, é construído a partir do proces-
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família a função de cuidar necessita de ças que vem a influenciar novas fases da
clareza sobre a estrutura familiar, o tipo vida de um individuo, e por sua vez, em
de cuidado a ser executado, o tempo ne- toda a família. Os modelos de planeja-
cessário, as características da doença e o mento familiar típicos deixam de conside-
acompanhamento profissional, o que ra- rar os efeitos significativos da etnicidade,
tifica a necessidade de pesquisas que ob- da religião, das classes sociais, em todos
jetivem levantar as características desses os aspectos de quando e de que manei-
cuidadores de modo a subsidiar a elabora- ra uma família faz suas transições de uma
ção de políticas públicas de saúde. fase para outra. O planejamento familiar
realizado pelo programa de saúde pública
Palavras-chave: cuidadores, demência de é voltado para a questão do controle da
Alzheimer, sobrecarga do cuidado natalidade, a redução do aborto, a saú-
Contato: Sara Salsa Papaleo, UFRN, de da mulher, a redução da pobreza etc,
sara_papaleo@hotmail.com não realizando avaliações das potenciali-
dades e dos recursos do núcleo familiar.
Entretanto, o planejamento familiar, na
LT05-953 - O EFEITO DE INTERVENÇÃO perspectiva do desenvolvimento, acres-
EM PLANEJAMENTO FAMILIAR NA centa variáveis organizadoras do sistema,
PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO permitindo um planejamento baseado na
NAS RELAÇÕES AFETIVAS sustentabilidade e no ciclo de vida da fa-
Marianna Santos Rodrigues - UFRB/CCS mília. O objetivo deste estudo é avaliar, na
marianna-sr@hotmail.com perspetiva do desenvolvimento, o efeito
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS da intervenção em planejamento familiar
pmfrei@gmail.com realizado com adolescentes sobre o clima
Financiamento: FAPESB familiar: relações de conflito e afetividade
de suas famílias, comparando os resulta-
O sistema familiar, definido como um gru- dos de teste e re-teste. Esse estudo teve
po de pessoas que compartilham o seu como base o Projeto de Planejamento Fa-
dia-a-dia, desempenha uma importante miliar na Perspectiva do Desenvolvimento,
função no desenvolvimento e na promo- desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saú-
ção da qualidade de vida e do bem-estar de, Educação e Desenvolvimento - SAED,
de seus membros. Para estudar a família da Universidade Federal do Recôncavo
na contemporaneidade é preciso atentar da Bahia. A metodologia do estudo é de
para a estrutura familiar, a qual está inti- caráter quase experimental. A coleta de
mamente vinculada com o momento his- dados foi realizada com 150 adolescentes,
tórico que atravessa a sociedade da qual entre 12 e 19 anos, estudantes de escolas
ela faz parte, visto que, um conjunto de públicas. Os adolescentes foram convida-
variáveis sociais, econômicas, históricas e dos através do contato com as instituições
culturais vem a moldar e a influenciar na de ensino. A realização da pesquisa ocor-
conjectura da construção familiar atual. reu mediante a assinatura do termo de
Considerando o desenvolvimento como consentimento livre e esclarecido (TCLE)
período de transições em que em todas pelos responsáveis dos participantes. O
as fases do ciclo de vida ocorrem mudan- procedimento do projeto foi constituído
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inicialmente da aplicação dos instrumen- 5,6% vivem juntos e 1,0% são divorcia-
tos de avaliação, em seguida, intervenção dos. No pré-teste, o ICF apresentou o fa-
com orientações sócio-educativa e, por tor coesão familiar (M= 17,25 e DP=5,27)
fim, a re-avaliação com os mesmos ins- maior que o fator de conflitos (M=10,82 e
trumentos iniciais. Todo processo foi re- DP=5,48); os fatores hierarquia (M=11,67
alizado nas escolas, em 12 encontros de e DP=4,68) e apoio (M=16.27 e DP=4,81)
60 minutos. As sessões abordaram temas estão estatisticamente semelhantes. Com
como: educação, saúde, orçamento do- base no Familiograma, as famílias foram
méstico, sexualidade, relações afetivas, classificadas com alta afetividade e baixo
lazer, habitação. Os participantes foram conflito. Apresentou-se maior afetividade
orientados para a análise dos problemas, na relação díade mãe/filho (M=41,05 e
das potencialidades e das conseqüências DP=10,55) e maior conflito na relação fi-
definindo as possíveis soluções. O produto lho com outro individuo, em geral irmão
de cada etapa é o planejamento familiar (M=21,38 e DP=9,44) e na relação filho/
que responde aos diferentes problemas pai (M=20,30 e DP=9,09). No pós-teste, ao
presentes no sistema. A análise dos dados fazer uma comparção com o pré-teste, o
de avaliação (teste e re-teste) foi realizada resultado do Familiograma descreve alta
através do programa estatístico Statistical afetividade e baixo conflito, com uma dife-
Package for the Social Sciences (SPSS). Os rença estatística significativa no aumento
instrumentos utilizados foram o Familio- do nível de afetividade na díade filho/mãe
grama e o Inventário do Clima Familiar (M=42,68 DP=10,38 p=0,05) e na dídade
– ICF. O Familiograma é um instrumento filho/pai (M=37,43 DP=12,64 p=0,05).
desenvolvido para avaliar a percepção da Quanto à relação de conflitos, houve um
afetividade e o conflito familiar nas díades aumento não significativo estatísticamen-
familiares, a partir de 22 adjetivos, confi- te nas relações de conflitos na díade filho/
gurado com a escala Lickert. O Inventário outro indivíduo, em geral irmãos, e na dí-
de Clima Familiar é um instrumento que ade filho/pai. Quanto à comparação entre
avalia a percepção do clima familiar e as os escores médios no pré e pós-teste do
dinâmicas existentes nos relacionamentos Inventário de Clima Familiar e seus res-
intra e extrafamiliares. Essa avaliação é re- pectivos fatores: Conflito (M=10 DP=5,03
alizada através de quatro fatores diferen- p=0,39); Hierarquia (M=10,67 DP=3,84
tes: apoio, coesão, conflito e hierarquia, p=0,74); Apoio (M=16,27 DP=3,84 p=1,0);
contendo um total de 32 itens. Os resulta- Coesão (M=18,05 DP=5,07 p=0,25), os
dos sócio-demográficos apresentam 150 resultados não apresentaram diferenças
adolescentes entre 12 e 19 anos (M=16,03 estatisticamente significativas. Os fato-
e DP = 2,03). A maioria dos participantes res coesão e hierarquia são fatores fortes
era do sexo feminino (73,4%). A distribui- para compreensão do clima familiar que
ção da escolaridade mostra maior concen- se contrapõe, mas não estão dissociados:
tração para o ensino fundamental incom- a coesão representa o vínculo emocio-
pleto (43,4%) e ensino médio incompleto nal entre os membros da família, o que
(46,5%). Os dados sobre estado civil de- evidencia um fator positivo nas relações
monstram que a maioria dos adolescen- familiares. Por sua vez, a hierarquia está
tes é solteira (81,6%); 10,7% são casados; associada à autoridade. Desta forma,
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le sobre sua parceira. Segundo a Organi- duz reverberações e contribui para o esta-
zação Mundial da Saúde, uma em cada belecimento do ciclo da violência transge-
seis mulheres no mundo sofre violência racional (Algeri & Souza, 2006; Carrasco,
doméstica, sendo que em 60% dos casos, 2003; Muskat, 2002). Para investigar esse
a violência foi perpetrada por marido ou fenômeno, foi realizado um estudo quali-
companheiro (OMS, 2005). A violência tativo, de cunho exploratório, a partir da
provoca uma situação de intenso estres- metodologia de estudos de caso proposta
se na família, que comumente resulta em por Yin (2005). Foram estudados os casos
marcas físicas e psicológicas. Quando a de duas mulheres vítimas de violência
violência ocorre entre o casal o assunto conjugal que procuraram uma delegacia
torna-se ainda mais complicado, devido especializada para registro de ocorrência.
aos efeitos que frequentemente se esten- Como critérios de inclusão foram consi-
dem em forma de transgeracionalidade derados: presença de histórico de violên-
(Takano, 2006). Na literatura especializada cia perpetrada por parceiro, anterior ou
diferentes termos podem ser encontrados atual, com convívio pelo período mínimo
para descrever esse processo de trans- de um ano; e estar em atendimento psi-
missão dos legados familiares entre as cológico por pelo menos há dois meses
gerações. Entre eles, destacam-se “trans- com um estagiário ou profissional na de-
geracionalidade”, “intergeracionalidade legacia onde os dados foram coletados.
”e “multigeracionalidade” (Falcke & Wag- A coleta ocorreu em um encontro com
ner, 2005). Neste trabalho será utilizado o cada participante, através de entrevista
termo transgeracionalidade para descre- semiestruturada individual, com duração
ver a transmissão do legado da violência de uma hora e meia, aproximadamente.
doméstica de uma geração para outra. As entrevistas foram realizadas na pró-
Os crimes praticados em família não têm pria delegacia, após assinatura do Termo
testemunhas e são encobertos pelo silên- de Consentimento Livre e Esclarecido, e
cio das próprias vítimas (Ribeiro, Ferriani foram gravadas para posterior transcrição
& Reis, 2004). Quando uma criança rece- e análise de conteúdo. As entrevistas ti-
be punição física, passa a perceber a si nham por objetivo investigar a percepção
mesma como merecedora desse castigo, das mulheres vítimas quanto à violência
acreditando que fez algo errado. Ao lon- sofrida, as estratégias de enfrentamento
go do tempo essa crença é internalizada e e a transgeracionalidade do fenômeno.
poderá se repetir na geração seguinte. A As unidades de análise foram definidas a
criança exposta à violência tenderá a ter posteriori, a partir da análise qualitativa
problemas relacionados à agressão em das respostas das participantes, efetuan-
suas relações futuras (Carrasco, 2003). O do-se recortes dos conteúdos das falas,
ciclo da violência, segundo Muskat (2002) tais como palavras, expressões ou frases
começa quando as crianças sofrem negli- que se referiam a temas específicos e que
gência ou abuso em suas casas e quando foram apreciados com o objetivo de es-
aprendem, a partir da relação agressiva da clarecer as semelhanças e as diferenças
díade parental, que é através da violência entre os casos (Laville & Dionne, 1999;
que se resolvem os conflitos. A exposição Yin, 2005). A partir disso, foram definidas
das crianças à violência intrafamiliar pro- duas unidades de análise para direcionar
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o material das sessões semanais de dura- estar “gorda”. A sua primeira crise anoré-
ção de 50 minutos, que eram transcritas xica ocorreu aos 15 anos, juntamente com
literalmente após atendimento. Além dis- um grave episódio depressivo. Chegou a
so, solicitou-se a paciente um “diário de ser internada e pesar 46 kilos. A paciente
comunicação”, no qual eram relatados os iniciou então acompanhamento psiqui-
sentimentos vividos durante a semana. A átrico. Apresentava também episódios
análise dos dados da descrição das ses- de compras compulsivas. Preocupação
sões (24 sessões ao todo) ocorreu através excessiva com a imagem, e compulsão
da análise de conteúdo temática de Bar- por cosméticos e produtos de beleza que
din. Este método “consiste em descobrir comprava, mas não usava. A observação
os núcleos de sentido que compõem a co- da dinâmica mãe e filha ocorreu desde a
municação e cuja presença, ou freqüên- primeira sessão. Desvelou-se um compor-
cia de aparição podem significar alguma tamento simbiótico da díade mãe-filha e
coisa para o objetivo analítico escolhido” um sentimento, por parte da paciente, de
(Bardin, 1979). A apresentação dos resul- ser controlada, de impotência diante até
tados foi organizada segundo categorias da própria fala. A mãe entra no consultó-
de modo a descrever para o leitor o re- rio “arrastando” a filha. Fala por ela, que
lacionamento familiar vivenciado entre permanece inexpressiva. Peço-lhe para
mãe filha través de narrativas. O sigilo e permanecer a sós com a paciente. Ao fi-
o anonimato da paciente foram garanti- nalizar o atendimento, novamente a mãe
dos. Assim, o nome citado é fictício. Foi adentra o consultório. Acusa a filha, cha-
assinado o Termo de Consentimento Livre mando-a de mentirosa, afirmando que
e Esclarecido, de acordo com Resolução lhe rouba dinheiro para comprar de forma
nº. 196/96 do CNS/Ministério da Saúde, desmedida e que ela está sem estudar e
Brasil. Resultado e Discussão: Ana, uma trabalhar. Além desse comportamento, si-
jovem de 26 anos, natural de Fortaleza. tuações como ligar minutos antecedentes
É a filha caçula e tem um irmão de 31 ao horário da sessão para confirmar se a
anos. Fala baixa, pausada, quase inau- paciente estava lá e tentar obter informa-
dível. Traços delicados. Vive com a mãe ções da filha com a terapeuta desvelava
e perdeu o pai há um ano e seis meses. uma situação de controle excessivo. Iden-
Residiu durante 3 anos e meio em Curiti- tificam-se fatores familiares, psicológicos
ba, onde cursava jornalismo. Pouco após e socioculturais que interagem entre si
a morte do pai, teve a sua segunda crise de forma complexa de modo a predispor,
de anorexia, chegando a apresentar IMC a precipitar e/ou a manter o transtorno.
18. Foi quando retornou a conviver com Ana afirmou, em diversos momentos da
a mãe. Recusava-se a comer, fazia uso de terapia: “Passei a vida tentando ser uma
laxantes, além de apresentar distúrbio de boa filha, uma boa namorada, só queria
imagem corporal grave, consoante o ins- amor e aceitação...”. Destaca-se a nega-
trumental de avaliação de imagem corpo- ção inconsciente da figura feminina adul-
ral BSQ (Body Shape Questionnaire) utili- ta e o temor da anoréxica de assumir pa-
zado. O BSQ mede as preocupações com péis concernentes a esta, como não apre-
a forma do corpo, autodepreciação, em sentar contornos arredondas do corpo,
razão da aparência física e da sensação de permanecendo como um ser assexuado.
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dor ou de uma cuidadora que as ofereça Reis, 1999), bem como a formação de me-
estímulos, atenção, carinho, compreen- canismos de defesa, tais como a negação,
são e proteção. Especificamente no que relatadas por Brunhara e Petean (1999)
diz respeito à recepção do diagnóstico de como um dos mecanismos mais freqüen-
deficiência em um recém-nascido em uma tes, provavelmente como meio de dimi-
família pode gerar situações complexas, nuir ou encobrir a problemática do filho,
muitas vezes resultantes da falta de pre- para ganhar tempo para a elaboração do
paro e informação adequada, bem como choque inicial. O papel dos profissionais
de uma rede de apoio que auxilie a lidar de saúde, tanto no momento de atendi-
com os sentimentos experienciados nesse mento pré-natal em geral, como meio de
momento. A Síndrome de Down, um dis- informação e conscientização, assim como
túrbio genético também chamado de Tris- na ocasião do diagnóstico e informação à
somia do Cromossoma 21, por ser resulta- família, é de extrema importância. A es-
do da existência de um cromossomo 21 a ses profissionais cabe maior empenho no
mais, é conhecida como uma das causas sentido de envolver e, ao mesmo tempo,
mais comuns de deficiência mental, além voltar suas ações para a unidade familiar,
de afetar outros sistemas do corpo provo- tendo como objetivo apoiá-la, fortalecê-la
cando mal formações de alguns órgãos. É e instrumentalizá-la ao desempenho efi-
um dos distúrbios genéticos mais comuns caz de suas funções junto a todos os seus
entre recém nascidos vivos. Atualmente membros e, de maneira particular, junto
o diagnóstico dessa síndrome é possível àqueles dependentes de cuidados. Muitas
ainda no período gestacional, e mesmo vezes o diagnóstico da Síndrome de Down
após o nascimento sua identificação é re- não é realizado de maneira adequada,
lativamente simples, especialmente devi- acarretando maior sofrimento e, como
do a características fenotípicas peculiares consequência, trazendo mais dificuldades
aos portadores dessa síndrome. Contudo, para a aceitação do bebê e o estabeleci-
as pessoas ouvem falar pouco sobre a mento de um vínculo adequado entre pais
síndrome e diante de um caso na famí- e recém-nascido. A maneira profissional e
lia sentem-se desamparadas e inseguras. objetiva da comunicação feita comumen-
Embora os pais muitas vezes conheçam te por médicos pode causar indignação
a possibilidade de seu bebê nascer com aos pais. Justamente por esse motivo é
uma má formação, o filho esperado e ima- importante que o bebê seja apresentado
ginado é sempre saudável e lindo. Quan- à família de tal maneira que seus atribu-
do o bebê esperado ou nascido difere tos e aspectos normais sejam ressaltados.
daquele imaginado, haverá um período Também é de suma importância conside-
de luto, no qual as respostas de negação rar o período de desorganização que os
ou aceitação refletir-se-ão no vínculo es- pais experimentam durante os estágios de
tabelecido entre pais e bebê. A possível choque e negação, de tal forma que infor-
predominância de sentimentos negativos mações sobre as condições e a evolução
expressos por mães de crianças com esta da criança terão que ser repetidas várias
síndrome sobre seus filhos pode acarrer- vezes. O presente trabalho apresenta in-
tar sentimentos ambivalentes e compor- formações construídas a partir de um es-
tamentos de superproteção (Sigaud & tudo piloto, que é parte de uma pesquisa
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dos. Com relação à religiosidade, enquanto importante para torná-lo mais satisfatório.
que Wolfinger e Wilcox (2008) referiram Assim, a coabitação refere-se a uma possi-
não haver diferença quanto ao “status” bilidade ainda em construção, na qual os
conjugal, Stanley et al. (2004) relataram casais que optam por esta forma de convi-
maior religiosidade entre os casados do vência parecem enfrentar desafios maiores
que entre coabitantes. Pessoas coabitantes do que aqueles casados formalmente. Isto
também apresentaram valores menos con- é, além de vivenciarem os questionamen-
vencionais associados a maiores índices de tos pessoais rotineiros da construção da
inserção da mulher no mercado de traba- vida conjugal, ainda precisam, algumas ve-
lho (Wydick, 2007) e menor discrepância zes, enfrentar a falta de credibilidade com
entre os cônjuges no número de parceiros que a sociedade percebe a coabitação.
sexuais prévios ao relacionamento (Garcia
& Markey, 2007). Neste mesmo sentido, Palavras-chave: coabitação, satisfação
Kaufman (2000) indicou que homens sol- conjugal, status conjugal
teiros que possuíam atitudes mais iguali- Contato: Caroline Rubin Rossato Pereira,
tárias tinham duas vezes mais chances de UFSM/ULBRA, carolinerrp@gmail.com
coabitar do que homens tradicionais (19%
versus 9%). Em contrapartida, um estudo
indicou não haver diferenças de valores LT05-1371 - INDICADORES DE CIÚMES DE
convencionais entre casados e coabitan- PRIMOGÊNITOS PRÉ-ESCOLARES
tes (Treas & Giesen, 2000). (b5) Separação COM OS IRMÃOS MENORES
conjugal: As pesquisas demonstraram que Caroline Rubin Rossato Pereira - UFSM/ULBRA
coabitantes possuem uma tendência mais carolinerrp@gmail.com
elevada a terminar a união do que casados, Rita de Cássia Sobreira Lopes - UFRGS
chegando a índices maiores que o dobro sobreiralopes@portoweb.com.br
(Amato et al., 2003; Hohmann-Marriott,
2006; Kurdek, 2006; Shortt, Capaldi, Kim Com a chegada do segundo filho à família,
& Owen, 2006). A partir destes resultados, surge um novo desafio ao primogênito, o
pode-se indicar que, somado a caracterís- de dividir e compartilhar com o irmão o es-
ticas de personalidade dos indivíduos que paço físico da casa, suas posses, brinquedos
ingressam em uma coabitação, foram iden- e, mais do que isto, a atenção, a admiração
tificados índices mais elevados de conflito e o afeto dos progenitores. Neste contexto,
entre coabitantes, o que estaria associado o ciúme poderia ser pensado como uma
a menores índices de satisfação conjugal. experiência normal e talvez diária para es-
Além disso, a satisfação conjugal estaria tas crianças. Diferentemente das emoções
vinculada à menor segurança e o menor básicas de raiva, tristeza e alegria, o ciúme
senso de indissolubilidade experienciada refere-se a uma emoção social complexa.
nas relações de coabitação. Neste panora- Os indivíduos em situação de ciúme ex-
ma, estes casais estariam mais propensos pressam uma gama de emoções incluindo
a uma separação conjugal do que pessoas raiva, ansiedade e tristeza, as quais podem
casadas formalmente. Destaca-se ainda estar associadas a comportamentos de
que o apoio social e institucional para o conflito com os progenitores e o irmão e
casamento formal constitui-se em parte busca da atenção dos progenitores para si
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
(Hill & Davis, 2000; Miller, Volling & McE- visam a distrair o progenitor ou o irmão, in-
lwain, 2000). Assim como o ciúme em adul- terrompendo a interação deles e retoman-
tos, as crianças enciumadas agem, pensam do para si a atenção parental (Masciuch &
e sentem de variadas formas que não são Kienapple, 1993; Miller et al., 2000; Volling,
necessariamente agressivas ou abertamen- McElwain & Miller, 2002). Mais especifica-
te competitivas (White & Mullen, 1989). mente, o ciúme tem sido considerado basi-
Além disso, considera-se haver ainda uma camente através de dois comportamentos
falta de clareza na literatura científica acer- - agressões ou comportamentos de distra-
ca dos conceitos referentes a esta temática. ção aos progenitores ou aos irmãos – e três
Objetivo. O presente estudo teve como ob- expressões emocionais básicas - raiva, tris-
jetivo investigar, a partir da perspectiva dos teza e ansiedade (Miller et al., 2000; Volling
progenitores, as manifestações do ciúme et al., 2002). Frente a este panorama, com
de primogênitos pré-escolares com seus base no presente estudo, além de conside-
irmãos menores nos anos iniciais da rela- rar os comportamentos de distração e as
ção fraterna. Metodologia. Participaram do expressões de agressividade e de tristeza
estudo quatro casais de progenitores de fa- do primogênito, propõe-se a ampliação do
mílias com dois filhos residentes na cidade conceito de ciúme, a fim de incluir também
de Porto Alegre (RS). O filho primogênito a expressão de temores, desejos e insegu-
possuía idade pré-escolar e a mãe estava ranças das crianças, considerados como
grávida do segundo filho no momento da emoções e cognições complexas. Com isso,
primeira etapa de coleta de dados. Atra- corrobora-se a ideia de que o ciúme refere-
vés de um estudo de caso coletivo (Stake, -se a um complexo de emoções, compor-
1994), os progenitores responderam se- tamentos e pensamentos (White & Mu-
paradamente a entrevistas semidirigidas len, 1989), devendo ser considerado mais
em quatro momentos de coleta de dados como uma experiência emocional comple-
(3º. trimestre de gestação, aos 6, 12 e 24 xa do que como uma emoção em si ou uma
meses de vida do segundo filho). Os dados expressão comportamental (Volling et al.,
foram examinados através da análise de 2002). Deste modo, apenas podemos aces-
conteúdo qualitativa (Bardin, 1977; Laville sar os indicadores do ciúme, e não o ciúme
& Dionne, 1999). Discussão de resultados. em si. A partir dos relatos de ciúmes, perce-
Ao analisar conjuntamente o ciúme do beu-se, através do sentimento de perda do
primogênito em relação aos progenitores amor dos progenitores, que a redução do
com o irmão nos quatro casos investiga- envolvimento parental fora sentida pelos
dos, cinco formas básicas de manifestações primogênitos como relacionada ao risco de
de ciúme emergiram, sendo consideradas perda da relação parental como um todo
como indicadores de ciúme: 1) busca da e da perda de seu lugar de filho e de de-
atenção/afeto dos progenitores; 2) senti- positário do amor parental na família. Nes-
mento de perda do amor dos progenitores; te contexto, a fim de evitar tal perda, e já
3) desejo de estar no lugar do bebê; 4) ex- percebendo perder parte do envolvimento
pressões de agressividade; 5) expressões de dos progenitores consigo com a chegada
tristeza/desconforto. Segundo a literatura, do irmão, os primogênitos apresentariam
considera-se como indicadores de ciúme uma busca por resgatar a relação desfru-
os comportamentos do primogênito que tada até então. Percebe-se, com isso, a re-
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A primeira infância é caracterizada do nas- tudo 48 mães com idade média de 35 anos
cimento até os três anos, é marcado pelo (DP = 10,7), sendo 68,8% casadas, 43%
acelerado crescimento físico e motor, e a com ensino superior e 39,5% tinham até
compreensão e linguagem se desenvolvem dois filhos. A maioria (31,9%) apresentava
rapidamente. A segunda infância ocorre de uma renda familiar entre R$ 546,00 a R$
três a seis anos, é um período que possi- 1.635,00. A amostra foi por conveniência,
bilita o aprimoramento das habilidades não probabilística. O único critério de inclu-
motoras finas e amplas, o pensamento são era ela ter filho independente da idade
apresenta-se egocêntrico, as emoções e o da criança e do estado civil em que a mãe
autoconceito tornam-se mais complexos, se encontrava no momento. Elas responde-
a independência evolui e desenvolve-se ram a um questionário em que se pergun-
a identidade de gênero. A terceira infân- tava sobre o comportamento da criança
cia caracteriza-se pela ampliação da força (na área física, cognitiva, lingüística, emo-
física e as habilidades atléticas, o egocen- cional, social, moral) e a fase do desenvol-
trismo diminui, é marcada por um pensa- vimento (1ª, 2ª, 3ª infâncias e adolescên-
mento lógico, desde que o mesmo seja de cia) correspondente. Foi feito uma análise
forma concreta, as amizades exercem uma qualitativa. Os resultados revelaram que
maior importância. A adolescência por sua as mães apontaram para primeira infância
vez vai dos 11 anos a aproximadamente 20 (0-3 anos) os seguintes comportamentos:
anos e é fundamentada pela maturidade na área física (engatinhar, andar, descer
reprodutiva, o pensamento abstrato vem à escada, pular e dançar); na cognitiva (inte-
tona, no entanto o pensamento imaturo é ligência, curiosidade, compreensão e ego-
persistente em algumas momentos, a edu- centrismo); lingüística (início da pronúncia
cação está direcionada para a preparação das palavras); na área emocional (desobe-
profissional, há uma incessante busca pela dientes, birrentas, porém gostam de rece-
identidade, principalmente a sexual, e um ber carinho); na social (relacionam-se bem
amadurecimento no relacionamento com com a família e estão prontas para novas
os pais. Todavia, frente à sociedade global descobertas, são independentes, atrevi-
e tecnologia, muitos pais comentam sobre das); moral (já sabem o que é certo e er-
o desenvolvimento de seus filhos, alegando rado). Com relação à segunda infância (3-6
que muitos deles são precoces em algumas anos), as mães indicaram com relação à
atitudes e comportamentos, especialmen- área física (possui coordenação para come-
te no que se refere ao desenvolvimento rem sozinhas); emocionais (são agressivas);
cognitivo. Também afirmam que os filhos cognitiva (são esclarecidas, sabem manu-
são precoces para as questões sexuais, sear computadores, inventam estórias, imi-
principalmente em virtude da exposição da tam, são criativas, egocêntricas, brincam
mídia de filmes, comerciais, novelas e mú- de faz de conta e aprendem facilmente);
sicas que estimulam a área sexual. Frente psicossexual (gostam de usar roupas, sapa-
a estas questões, buscou-se, através deste tos e maquiagem da mãe); na linguagem (já
trabalho, identificar a percepção das mães têm o maior acervo de palavras e já sabem
acerca do comportamento das crianças e a nomear alguns objetos); na área moral (pe-
fase do desenvolvimento em que ele deve- dem desculpas e são exigentes), na social
ria ou é apresentado. Participaram do es- (tem a percepção de si mesmo e sabem o
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que querem; brincam com os colegas, são Palavras-chave: gênero, estórias infantis,
espontâneos e desinibidos). Para a tercei- educação infantil
ra infância, que compreendem de 6 a 12 Contato: Jaciara de Lira Almeida Dantas,
anos, as mães mostraram que as crianças UFPB, jaciaraadantas@hotmail.com
apresentam na área física (não gostam de
tomar banho, usam talheres com facilida-
des e são independentes); na psicossexual
(já tem conhecimento sobre namoro, sexo
e romance); na linguagem (são comunicati- DIA 14/11 - Segunda-feira
vas e falam muito); na emocional (são ego-
ístas, rebeldes, tímidas, preocupadas), na 14h-15h30
área social (fazem amizades, são extrover-
tidas e desenvolvem o companheirismo),
na cognitiva (gostam de brincar, imitam,
são curiosas, vaidosas, conseguem fazer CONFERÊNCIA:
duas coisas ao mesmo tempo, gostam de
desenhar); na área moral (gostam de dar
opiniões e algumas vezes apresentam-se EL GIRO LINGÜÍSTICO Y EL GIRO CORPORAL
atitudes de desrespeito). No que se refere a EN LA PSICOLOGÍA DEL DESARROLLO
adolescência, as mães apresentaram como Silvia Español - UBA
características da área física (altos, fortes
e gostam muito de esportes), na cognitiva
(são inteligentes e tem grande interesse MR LT04
pelas tecnologias); na social (apresentam-
-se como solitários), na área psicossexual Mesa Redonda
(tem grande interesse com assuntos rela-
cionados ao namoro e sexo); na emocional
(são desobedientes, donos de si e muitas MR LT04-1276 - PSICOLOGIA ESCOLAR
vezes rebeldes). Conclui-se que, de forma NO MARANHÃO: HISTÓRIA, FORMAÇÃO
geral, as mães apresentaram uma percep- E ATUAÇÃO
ção condizente com a literatura, especial- Januária Aires - UFMA,
mente no que diz respeito à faixa etária e cefape2001@yahoo.com.br
o comportamento correspondente. Não Pollianna Galvão Soares - UnB,
é de surpreender o resultado, quando se polliannagalvao@yahoo.com.br
leva em consideração que a mãe é a pes- Tatiana Oliveira de Carvalho - IG/MA,
soa mais próxima da criança e dedica aten- tatiana@institutogeist.com.br
ção ao desenvolvimento desta, a ponto de
buscar ajuda profissional quando constata A chegada da Psicologia no país se deu
algum atraso no desenvolvimento. Aspec- na passagem dos séculos XIX-XX, acom-
to que não se observa na maioria dos pais, panhada por estudos desenvolvidos prin-
o que seria interessante desenvolver um cipalmente nas áreas da Medicina e da
novo estudo, só que tendo os pais como os Pedagogia (Marinho-Araujo & Almeida,
respondentes. 2005; Maluf & Cruces, 2008). Mais es-
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tivo não formal. É oportuno refletir, qual com o cuidador na família para a educa-
seja a sua ação, que há de se ter devido ção infantil e da educação infantil para o
cuidado com mediações profissionais de Ensino Fundamental. Para tanto, inicia-
maneira acrítica, apolítica e descontextu- mos com a análise de dados de desenvol-
alizada do panorama histórico e sociocul- vimento semiótico na emergência do ins-
tural do qual as instituições educativas de trumento na relação criança-cuidador em
terceiro setor nascem e se desenvolvem. que se busca compreender as complexas
organizações de signos, ações, afetos e in-
Palavras-chave: Psicologia Escolar, atuação, ONG. tenções tecidas em situação de resolução
de problemas. Em seguida, abordamos a
participação de crianças em pesquisa na
SP LT04 - Simpósio transição da educação infantil para o en-
sino fundamental, cujas dinâmicas são
pouco conhecidas quando se considera o
SP LT04-1383 - A CONSTRUÇÃO DO sistema educacional brasileiro e a inclusão
CONHECIMENTO NA PRIMEIRA recente de crianças de seis anos no pri-
INFANCIA EM DIFERENTES CONTEXTOS meiro ano do EF e envolve fatores como:
DE DESENVOLVIMENTO cuidado e educação da criança pequena,
Silviane Barbato - IP/UnB família e professores dos dois níveis de en-
barbato.silviane@gmail.com sino. O terceiro trabalho também conside-
ra essa transição, no entanto, enfocando
Nesta sessão apresentaremos e discutire- a mediação da música no desenvolvimen-
mos a utilização de diferentes ferramentas to da consciência fonológica em que são
mediacionais físicas e simbólicas na cons- construídas suposições sobre a relação
trução de conhecimento da criança pe- entre desenvolvimento do ouvido musical
quena em interação com um adulto e/ou e a habilidade de ouvir fonemas no ensi-
seus pares. Enquanto grupo, nos interessa no-aprendizagem da leitura e da escrita,
entender como a criança constrói conheci- considerando-se a recente introdução da
mento e significados em contextos de prá- educação musical nas escolas brasileiras.
ticas e interlocuções formais e informais No quarto momento, avançamos em dire-
no cotidiano da família e da escola quando ção a discussão da mediação dos modos
ela passa a frenquentá-la. A fim de alcan- comunicativos visuais, orais e escritos
çarmos nosso objetivo geral, enfocaremos nesta transição, enfocando a mediação do
diferentes momentos do desenvolvimento desenho na aprendizagem de linguagem
na primeira infância, considerando o seu gráfica na construção inicial dos conceitos
desenvolvimento simbólico mediado na fa- de espaço e do sistema de símbolos que
mília, na educação infantil e nos primeiros envolve construção do conceito de pro-
anos do ensino fundamental, entenden- porção e o uso de signos ordenados e téc-
do que estamos diante de dois períodos nicas de projeção necessários para a lei-
de transição que implicam em diferentes tura de linguagem gráfica e representação
configurações das redes interacionais nas do espaço geográfico. Finalizamos nosso
diferentes atividades das quais a criança simpósio com a discussão de dados de fala
participa: da construção de conhecimento egocêntrica mediando a construção de
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criação de camadas semióticas nas crian- estudos que as investigam focalizam, ape-
ças, o papel dos cuidadores no desenvol- nas, as opiniões dos adultos, revelando a
vimento de ferramentas semióticas e na prevalência de uma visão adultocêntrica
construção e reelaboração das ações das da infância. Por isso consideramos, em
díades e na apropriação das crianças nos nossas pesquisas, de fundamental impor-
usos dos objetos. Finalmente, se pode tância investigar a compreensão e a ex-
concluir que nos processos de desenvolvi- pressão que a criança tem seu desenvolvi-
mento participam de maneira importante mento e aprendizagem. Algumas técnicas
a semiosis, os usos convencionais e simbó- mostram-se mais apropriadas a estas
licos e a canalização dos usos dos objetos, explorações, como as narrativas associa-
mas se deve sublinhar o papel do cuidador das a histórias com bonecos/fantoches;
no desenvolvimento psicológico da crian- figuras representando conceitos; e, entre
ça. Compreender os usos dos objetos à luz outras, os desenhos, ainda que criticados
dos processos de construção de semiosis e pela possibilidade de ambigüidades de in-
significação são um dos principais aportes terpretação, pois, propiciam descobertas
da pesquisa. interessantes e são utilizados na prática
clínica com crianças desde início/meados
Palavras-chave: semiose, díade criança- do século XX, de modo livre ou com temas
cuidador, mediação. como, por exemplo, o desenho de família.
Estas atividades estão entre as preferên-
cias das crianças, dando indicadores simi-
PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM lares aos dos adultos nos diálogos; por-
PESQUISAS DURANTE A EDUCAÇÃO tanto, podem complementar a entrevista
INFANTIL E O INÍCIO DO ENSINO com crianças, visando captar mais ampla-
FUNDAMENTAL mente suas concepções e torná-la mais lú-
Patrícia C. Campos-Ramos - UnB dica e atrativa. Como em todas as técnicas
pcamposramos@uol.com.br de pesquisa, deve haver alguns cuidados
Silviane B. Barbato - UnB ao adotá-las, como o preparo do pesqui-
barbato.silviane@gmail.com sador para saber ouvir e interpretar o que
dizem as crianças. Sua participação vem
Ao relacionarmos processos de desenvol- sendo considerada em nossos estudos,
vimento humano e educação, notamos por exemplo, a respeito das representa-
a existência de diálogos entre crianças, ções de família, relacionadas à (dificulda-
adultos de variados contextos e o conhe- de de) aprendizagem3; participaram do re-
cimento. Eles são oportunizados, nas so- ferido estudo crianças de sete a dez anos,
ciedades letradas contemporâneas, pri- com e sem dificuldades de aprendizagem,
meiramente pela família e a escola, com cursando do segundo ao quinto ano do
implicações para o desenvolvimento e Ensino Fundamental; elas desenharam e
mediação na aprendizagem da criança, via
diferentes atividades. Nestes contextos,
as crianças compreendem, interpretam e 3
Trabalho desenvolvido durante o curso de especialização
em Psicopedagogia pela primeira autora, orientada pela
atuam; porém, ainda são pouco incluídas Profa. Ms. Anete Maria Busin Fernandes, na perspectiva
como informantes nas pesquisas e muitos do atendimento clínico.
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tudos contemporâneos (Berk, 1994, 2006; terações continuadas por qualquer um dos
Berk & Spuhl, 1995; Montero, Dios & Huer- interlocutores. Os resultados indicaram o
tas, 2001; Winsler, Diaz & Montero, 1997; uso da fala egocêntrica com a função or-
Ramírez, 1991; Winsler & Naglieri, 2003) ganizadora do desenho, a criança anuncia-
que sugerem as funções vigotskianas da va o que ia desenhar, contava a narrativa
fala egocêntrica nas crianças que falam da história, os personagens; na escrita, o
para si mesmas na realização de atividades uso com a função de soletração da rela-
cotidianas e escolares. Com o objetivo de ção fonema/grafema, a fim de descobrir
analisar os usos e as funções da fala ego- qual letra empregar na palavra que estava
cêntrica nas produções gráficas livres – o escrevendo. Encontramos o uso das falas
desenho e as escritas iniciais – gravamos egocêntricas com as seguintes funções ge-
em áudio e vídeo quatro sessões de ses- radoras de construção de conhecimento
senta minutos no contexto da sala de aula na intersubjetividade: a) comentário de
do BIA I, focando em quatro crianças de outro social: a fala egocêntrica do falante,
seis anos: Clara, Daniel, Felipe e Renato em gerando questões no interlocutor ouvinte,
quatro tipos de atividades de letramento, que pede esclarecimento ao falante. Feli-
sendo três de reconto de história infantil pe narrou sua história, em que, a cada ele-
e uma de escrita livre propostas pela pro- mento inusitado que apresentou falando,
fessora. Utilizamos a abordagem da meto- o colega quis ver e saber do que se tratava;
dologia qualitativa (Creswell, 1998; Mey, b) comentário do próprio falante dirigido
2000) por nos propiciar estudar processos a outros sociais: a fala egocêntrica do fa-
educativos considerando a psicologia do lante como geradora da fala comunicativa.
desenvolvimento da pessoa em sua sin- Clara anunciou para si que ia desenhar o
gularidade, para tal, utilizamos o episódio castelo e o cabelo da princesa, serviu de
como unidade de análise (Lacasa, 2001; Le- interlocutor para chamar o coletivo, as
mke, 1990; Linell, 1998; Wells, 2005; Wers- outras meninas desenharam também o
ch & Sammarco, 1985). Para analisar as fa- castelo e a princesa; c) falas egocêntricas
las egocêntricas aplicamos três categorias em outros sociais: as falas egocêntricas de
descritas por Montero e cols. (2001) e cria- um falante, gerando várias falas egocêntri-
mos uma quarta categoria para a situação cas de falantes diferentes, levando a uma
específica encontrada em nossa pesquisa: adição coletiva de conhecimento. Renato
1. Fala Egocêntrica Irrelevante: a criança e seus colegas da mesa, um dos meninos
fala consigo mesma não estabelecendo começou a nomear seus desenhos perti-
relação com a atividade que está desem- nentes à história e gerou a nomeação de
penhando; 2. Fala Egocêntrica Externali- outros elementos pelos demais meninos,
zada e Relevante: inclui comentários para ampliando cada vez mais as falas; d) co-
guiar, regular e organizar a própria tarefa; mentário de avaliação: a fala egocêntrica
3. Manifestações Externalizadas de Fala gerando avaliação, quando algum interlo-
Interna: relevantes para a tarefa, incluem cutor ouvinte identifica um fato errôneo.
murmúrios e movimentos de lábios quase Quando Renato e os meninos começaram
imperceptíveis; 4. Fala Egocêntrica Gera- a dizer elementos errados da história, ge-
dora de Fala Comunicativa: quando a fala rou a avaliação e correção do erro pelos
da criança para si mesma desencadeia in- outros.; e) falas egocêntricas de soletra-
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sultantes na história de desenvolvimento lise das trocas com seu bebê. Discutire-
da fala da mãe em duas díades mãe-bebê, mos também a possibilidade de que, em
ao longo dos oito primeiros meses de vida se tratando de um sistema extremamen-
do bebê. Os resultados encontrados su- te fluído como aquele que investigamos,
gerem a existência de um movimento em as trocas mãe-bebê, novos desafios se
espiral que pode ser descrito como “co- colocam ao analisar as trajetórias de de-
nhecimento-distanciamento-elaboração” senvolvimento, no presente caso aquelas
em relação a dois tipos de conteúdos de- assumidas pelo desenvolvimento da fala
preendidos das manifestações/ações do da mãe. Por exemplo, trajetórias que pa-
bebê: os estados involuntários do bebê recem persistir sem bifurcações que, mais
e as ações do bebê que operam sobre o adiante, desaparecem, coexistem com ou-
mundo exterior. É nossa compreensão que tras que, claramente, sofrem bifurcações.
este movimento em espiral representa um Poderiam as primeiras ser interpretadas
padrão desenvolvimentista que é projeta- como resultantes da manutenção de sig-
do como possibilidades futuras aplicado, nificados necessários ao próprio sistema
então, a novas manifestações/ações do em estudo? Esta interpretação é coeren-
bebê. Assim, o padrão encontrado guia as te com o modelo de trajetórias de equi-
possibilidades de novas trajetórias a serem finalidade (TEM). Discutiremos, assim, as
vividas no futuro. O modelo de trajetórias contribuições e desafios enfrentados ao
de equifinalidade (TEM, proposto e desen- aplicar este modelo para o estudo da mi-
volvido por Sato, Valsiner e colaboradores) crogênese das trocas mãe-bebê.
se propõe a integrar tanto o domínio do
real-imaginado como aquele do passado- Palavras-chave: self dialógico; fala da mãe;
-presente-futuro, coexistindo em dado modelo de trajetórias de equifinalidade (TEM)
momento do tempo. Na análise efetuada
separamos três tipos de significado da fala
da mãe que correspondem ao movimento
de identificação e de diferenciação dela
SP LT02 - Simpósio
em relação ao parceiro bebê: (a) a neces-
sidade de penetrar o mundo do bebê para
compreendê-lo; (b) a necessidade da mãe SP LT02-1298 -INTERAÇÕES SOCIAIS E
de se distanciar do bebê e se diferenciar PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO NO
como parceira e (c) a necessidade de se ver CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
(ela mesma) pelos “olhos do bebê”. Estes
três tipos de significação correspondem A Educação a Distância (EaD) é uma mo-
ao movimento necessário à constituição dalidade de ensino em expansão que vem
de um agente na e das trocas dialógicas. consolidando-se como “importante fer-
Faremos referência em especial ao que Gil- ramenta de inclusão social e de melhoria
lespie chama de perspectivas na primeira e da qualidade da educação”, especialmente
terceira pessoa necessárias à agentividade no âmbito do ensino superior brasileiro
no diálogo. Discutiremos, nesta apresen- (ABED, 2011, p. 41). Em função disso, di-
tação, como o imaginado se torna real na versos campos teóricos e metodológicos
perspectiva da mãe, a partir da microaná- têm se interessado pela temática EaD. No
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a um patamar meramente intelectual” (p. tos hace que éstos varíen, ya que guardan
80), envolvendo sujeitos únicos, com expe- cierta relación com nuestros pensamien-
riências próprias em relação ao mundo e tos” (p. 86-87). Bauman (2003) comenta
a outras pessoas. Segundo Oliveira (1992), que “as palavras têm significado: algumas
para Vygotsky, o significado da palavra (or- delas, porém, guardam sensações [...] Os
ganização conceitual) pertence ao cogniti- significados e sensações que as palavras
vo, e o sentido da palavra (o que ela signi- carregam não são, é claro, independen-
fica para cada indivíduo em particular), de- tes” (p. 7). Essas concepções fortalecem
pende do contexto de uso e das vivências a afirmação de Berger e Luckmann (2004)
afetivas dos sujeitos, mostrando como se de que a intersubjetividade inclui índices
dão as relações entre linguagem, cognição de comunicação que se valem do caráter
e afeto. Defendemos que essa relação en- transcendente da linguagem, permitindo a
tre significado e sentido, influencia a inter- expressão de intenções e expectativas, in-
pretação e a resposta afetiva dos sujeitos dependente da presença física dos sujeitos
em interação, num ambiente virtual em em interação. Com base na discussão que
que o discurso escrito predomina. Para- levantamos, consideramos necessário na
lelo a isso, na Educação a Distância, Serra Educação a Distância, examinar como os
(2005) mostra que indícios de intenções fatores que abordamos se entrelaçam em
e estados afetivos trocados no ambiente momentos de intersubjetividade, e como
virtual, podem ser percebidos no uso de podem facilitar ou dificultar um ambiente
emoticons, de formas linguísticas que su- de cooperação na construção de conheci-
gerem emoções e sentimentos, etc. Essas mentos. Concluímos que é importante não
questões são próprias do desenvolvimento dissociar linguagem, cognição e emoção
humano. Vygotsky (2003), em seus estu- no estudo da construção intersubjetiva de
dos sobre desenvolvimento, comenta que conhecimento na Educação a Distância e
as emoções não devem ser “consideradas na análise dos processos de interação em
de modo isolado, separadas do conjunto ambientes virtuais de aprendizagem.
global, de todo o resto da vida psíquica do
homem” (Vygotsky, 2003, p. 86). Vygotsky Palavras-chave: Cognição; Emoção; Linguagem.
(2003) sustenta que todas as emoções, to-
das as sensações emocionais, estão “dire-
tamente entrelaçadas em nossos proces- INTERCOGNIÇÃO: PARA UMA
sos de pensamento e que são parte inalie- CONSTRUÇÃO DIALÓGICA DO
nável do processo integral dos raciocínios” CONHECIMENTO NO CONTEXTO DA
(p. 85). Nesse sentido, Vygotsky concebe as EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
emoções ligadas ao processo intelectual, à Rute Nogueira de Morais Bicalho - UnB
conscientização das situações que nos cer- arutebicalho@gmail.com
cam e ao nosso comportamento. Vygotsky
(1991) defende a noção de que “no senti- Neste trabalho pretendemos apresentar
mos simplesmente: el sentimiento lo per- o conceito de intercognição para compre-
cibimos en forma de celos, cólera, ultraje, endermos a construção coletiva e dialó-
ofensa. Si decimos que despreciamos a al- gica do conhecimento empreendida no
guien, el hecho de nombrar los sentimien- contexto da Educação a Distância (EAD). A
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-se da estimativa realizada pelo francês tados nas práticas interativas em fóruns
Jacques Vallée, Wickert (1999, citado em de discussão no contexto da Educação a
Jacobini s/d) afirma que o conhecimen- Distância. A competência do pensamento
to dobra a cada 18 meses. Dentro desse crítico, alçada ao status de objetivo edu-
contexto, o problema já não é, na maioria cacional, pode ser alcançada através de
das áreas de conhecimento, a escassez de diferentes estratégias de ensino-aprendi-
informações, mas justamente o contrário, zagem, como o estímulo a autorreflexão e
o excesso. Tal condição tem repercussões a análise crítica de um livro, filme ou qual-
diretas sobre o desenvolvimento huma- quer outra obra. Devido à multiplicidade
no, sobretudo nos aspectos cognitivos. de possibilidades didáticas a delimitação
Segundo Terneiro-Vieira (1997, p. 9), “a da pesquisa considerou os seguintes crité-
superabundância de conhecimentos, o rios: 1. Interação – dentre tais caminhos,
crescimento da complexidade e o ritmo da se destacam as metodologias interativas
mudança impendem o domínio de todo o e colaborativas, pois a interação com ou-
conhecimento necessário para dar respos- tro permite comparar e avaliar a própria
tas às exigências sociais e econômicas”. As- forma de pensar; 2. Debate – segundo
sim, qualquer cidadão necessita estar apto Walton (2006, p. 12), do ponto de vista da
para lidar com informações, compreendê- argumentação crítica, o diálogo crítico é
-las, selecioná-las e, sobretudo, avaliá-las. o mais significativo, pois “representa um
É preciso saber discernir as informações modelo ideal, ou normativo, de bom diá-
válidas, confiáveis e verdadeiras daquelas logo porque tem regras normativas que,
inconsistentes, imprecisas e falsas. Para tomadas em conjunto, estabelecem um
isso é convocado o pensamento crítico, padrão que define como deve ser um bom
cujo conceito refere-se à habilidade cogni- diálogo persuasivo”. Optou-se pelo deba-
tiva de decidir racionalmente sobre quais te; 3. EaD – face à presença cada vez maior
ideias, informações ou argumentos devam da EsD nos processos educativos em nível
ser admitidos, rejeitados ou não julgáveis. mundial, impulsionada pela internet, op-
Johnson (citado em Boisvert, 2004, p. 31), tou-se por essa modalidade; 4. Fóruns –
a partir da análise crítica dos conceitos segundo Bicalho (2010, p. 45), o fórum de
de 5 autores de referência no tema, iden- discussão é um contexto propenso à cons-
tificou 3 pontos de convergência sobre a trução intersubjetiva do conhecimento.
constituição do pensamento crítico: 1. Por ser uma atividade de comunicação as-
Envolve múltiplas habilidades cognitivas; síncrona, permitindo uma interatividade
2. Envolve informações e conhecimentos intensa ao tempo de cada um, os fóruns
e; 3. Envolve uma dimensão afetiva. Com permitem aos envolvidos na comunicação
base nestes três elementos constituintes um nível de reflexão maior. Diante desta
surgiu o interesse em saber, no processo delimitação a presente pesquisa visou res-
de ensino-aprendizagem desta competên- ponder o seguinte problema: quais fatores
cia, quais fatores influenciam o exercício de ordem subjetiva e interativa, presentes
pleno do pensamento crítico. O presente nas práticas interativas estabelecidas a
trabalho buscou descrever os fenômenos distância, influenciam o desenvolvimento
subjetivos e interativos no desenvolvi- do pensamento crítico em fóruns de dis-
mento do pensamento crítico manifes- cussão? A pesquisa é relevante devido à
727
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
possibilidade de revelar fatores influen- e por ele envolver valores, de início algu-
ciadores do pensamento crítico de alunos, mas participantes ficaram hesitantes em
contribuindo assim para a elaboração de definir uma posição, algo natural, inferido
estratégias de aprimoramento através de a partir de respostas um pouco ambíguas;
didáticas mais adequadas e efetivas. Cum- 3. Entusiasmo – momentos de entusiasmo
pre lembrar que a investigação foi de na- inferidos a partir da frequência, tempo de
tureza descritiva e exploratória devido aos resposta e argumentos fundamentados a
estudos relacionados ao pensamento crí- partir de pesquisas em referências exter-
tico no ensino a distância ainda serem in- nas; 4. Frustração – chegou o ponto em
cipientes. Os sujeitos selecionados foram que os argumentos começaram a se esgo-
alunos de uma turma do curso Didática do tar, fato identificável quando começaram
Pensamento Crítico 2 – Habilidades Espe- a se repetir em diversas mensagens, além
cíficas, ocorrida no primeiro semestre de da manifestação da dúvida de se chegar a
2011, cujo perfil era de professores uni- um consenso; 5. Reanimação – diante de
versitários (mestres, doutores), treinado- uma queda no ritmo da discussão alguns
res organizacionais, pedagogos, psicólo- tomaram a iniciativa e convocaram o gru-
gos e outros profissionais envolvidos com po para focar em um posicionamento; 6.
a educação de maneira geral, perfazendo Exacerbação – ao longo de certo debate a
um total de 19 participantes. Para analisar exacerbação de emoções identificadas na
as práticas interativas, foram utilizados os progressão da posição moderada para a
pressupostos da Análise de Conteúdo apli- extremada. III. Fenômenos Grupais: 1. Pa-
cada às mensagens postadas nos fóruns péis – a assunção de papéis dentro do gru-
de discussão. A seguir, são apresentados po, onde foi possível observar quem assu-
alguns dos resultados encontrados: I. Fe- miu o papel de motivador, estimulando
nômenos cognitivos: 1. Preconceitos – a o colega, e também o de líder propondo
manifestação de preconceitos a partir da formas de trabalhar ao grupo; 2. Conflitos
assunção de suposições arbitrárias, sem – alguns participantes sentiram-se leve-
fundamentos; 2. Distorções cognitivas – mente desrespeitados a partir da forma
erros sobre os posicionamentos alheios, de refutação e cobrança efetivadas pelos
afirmando que a posição do colega era colegas. A partir dos achados, hipóteses
uma quando ele disse o contrário; 3. Resis- podem ser elaboradas servindo de norte-
tência – recusa declarada de analisar argu- adoras de futuros estudos sobre quais são
mentos por serem contrários às próprias os fatores etiológicos destes fenômenos,
opiniões; 4. Procedimentais – falhas pro- quais métodos didáticos melhor desenvol-
cedimentais no exercício das 3 habilida- vem o pensamento crítico, dentre outros.
des de argumentar, análise argumentativa Conforme os resultados obtidos, a pesqui-
e avaliação argumentativa. II. Fenômenos sa demonstrou que os fóruns de discussão
afetivos: 1. Surpresa – algumas pessoas oferecem oportunidades profícuas para o
manifestaram certa surpresa diante de exercício do pensamento crítico e do de-
uma questão inusitada para a maioria, senvolvimento humano.
pois fugia dos problemas comuns do co-
tidiano; 2. Titubeio – dado o caráter inco- Palavras-chave: Pensamento crítico; EaD;
mum de determinado problema discutido fóruns de discussão.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dio ao nascer foi de 1.646g e a idade ges- biopsicossociais, podem aumentar o de-
tacional média em torno de 32,6 semanas. sempenho em atividades cognitivas com o
O tempo médio de internação na UTIN foi passar da idade. Analisando a significância
25,9 dias (DP= 19). A maioria das crianças dos escores entre os grupos, foi possível
(90%) apresentou problemas respiratórios observar que não houve diferença signifi-
ao nascer, sendo a Doença da Membrana cativa entre G3 e G4 para a escala cogni-
Hialina a disfunção mais frequente, repre- tiva. O desempenho cognitivo apresentou
sentando 50% dos problemas respirató- correlação significativa positiva com as va-
rios. A partir do questionário sobre riscos riáveis: peso ao nascer, idade gestacional,
psicossociais, observou-se que a maioria frequência na creche e escolaridade pater-
das crianças (47,5%) apresentava baixo na; e correlação negativa com hemorragia
risco, 40% apresentou risco psicossocial intracraniana. Não foi identificada associa-
moderado e 12,5% da amostra apresen- ção significativa entre indicadores de risco
tou risco psicossocial severo. Houve maior psicossocial e indicadores de risco para
média na pontuação de variáveis relacio- atraso cognitivo (Qui-quadrado, teste V
nadas a problemas conjugais, seguidas da de Cramer). Os resultados obtidos permi-
maternidade/paternidade precoces, ha- tem observar que o desempenho bruto e
bitação superlotada e do baixo nível edu- a classificação tenderam à progressão, res-
cacional dos pais. Verificou-se que o G4 saltando a hipótese de que, a longo prazo,
acumulou maior quantidade de variáveis algumas dificuldades no desenvolvimento
de risco biológico e psicossocial. Houve infantil podem diminuir a partir do enfra-
baixo desempenho cognitivo em 50% das quecimento do efeito de algumas variáveis
crianças, sendo que 45% foram conside- relacionadas ao nascimento. As análises
radas Emergentes, com risco médio de ter provenientes do teste de Qui-Quadrado
algum comprometimento no desenvolvi- reforçaram a noção de que não é possível
mento cognitivo, e 5% foram consideradas generalizar a possibilidade de interferência
Em Risco, com alta probabilidade de apre- negativa de riscos relacionados a atrasos
sentar algum atraso. Houve, em média, no desenvolvimento. Os dados confirmam
67,1% de acerto aos itens da escala, com os resultados indicados na literatura no
progressão da pontuação média e percen- que tange ao contingente de crianças com
tual de acerto do G1 ao G4. A quantidade problemas cognitivos em PT/BP, indicando
de crianças classificadas como Competen- a necessidade de programas de estimula-
tes aumentou com o passar da idade, com ção precoce, e estudos sobre a correlação
maior concentração dessa classificação entre fatores biopsicossociais e indicado-
no G4. Foi realizada, também, uma Análi- res de desenvolvimento cognitivo. Quan-
se de Variância para o resultado bruto da do o foco de análise é o desenvolvimento
BSID-III, objetivando identificar diferenças infantil torna-se difícil afirmar relações de
significativas entre os resultados dos dife- causa-efeito, em que uma variável inde-
rentes grupos. Observou-se que, em re- pendente de interesse produz um efeito
lação aos escores brutos, de modo geral, em outra variável dependente. Ao longo
houve diferença significativa entre os gru- da trajetória de desenvolvimento, os pro-
pos de idade. Isso sugere que as crianças, cessos maturacionais e a própria interação
ainda que sujeitas aos efeitos de variáveis do indivíduo com o mundo são permeados
731
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
por inúmeras condições orgânicas, psicoló- um processo importante para subsidiar es-
gicas, sociais e econômicas que se somam tratégias psicoeducacionais voltadas para
em seus efeitos negativos, ou que, contra- a promoção do potencial de aprendiza-
riamente, adquirem o poder de proteger a gem. Historicamente, entretanto, práticas
criança contra atrasos no desenvolvimen- de avaliação com enfoque estritamente
to. É possível que processos de resiliência comparativo com grupos normativos in-
estejam atuando nos casos em que há crementou a produção de estigmas em
diminuição do efeito da ação de variáveis crianças com deficiência, gerando ações
biopsicossociais comprovadamente per- de segregação e preconceito. Em contra-
turbadoras para o desenvolvimento infan- partida, medidas que consideram a varia-
til. Sendo assim, é de extrema importância ção intragrupo e aquelas que destacam
a prática da intervenção precoce, a partir muito mais o processo de aprendizagem
de grupos de orientação com os pais, e de e as ferramentas metacognitivas do que
estimulação especializada e individualiza- os conteúdos aprendidos trouxeram dife-
da para os casos de maior vulnerabilidade rentes perspectivas ao campo da avaliação
a diferentes fatores de risco. de pessoas com deficiência. Essa nova mo-
dalidade, denominada Avaliação Assistida
Palavras-chave: Prematuridade e baixo peso; (Dynamic Assessment), abre um horizonte
2) Desenvolvimento cognitivo; 3) Avaliação do de possibilidades que colaboram na orga-
desenvolvimento. nização de propostas de intervenção mais
Contato: Kelly Ambrosio Silveira. Mestre e dirigidas às potencialidades do ser huma-
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação no, o que, em tempo, pode auxiliar no pro-
em Psicologia/UFES. cesso de inclusão social e educacional de
Kellysilveira.psicologia@gmail.com crianças com déficits no desenvolvimento.
A Experiência de Aprendizagem Mediada
e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL COGNITIVO Estrutural, conceitos desenvolvidos pelo
DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA NA psicólogo israelense Reuven Feuerstein,
PERSPECTIVA ASSISTIDA norteiam essa abordagem de avaliação, e
Jucineide Della Valentina de Oliveira - FPL resultam na organização de ambientes es-
jucineidedella@yahoo.com.br pecíficos de aprendizagem que auxiliam na
Kely Maria Pereira de Paula - UFES promoção do desenvolvimento cognitivo1,
kelydepaula@yahoo.com.br 2
. Nesse contexto, a avaliação assistida é
Financiamento: FAPES (bolsa de mestrado) e uma metodologia que atende às diferen-
FACITEC (bolsa de iniciação científica) ças individuais3 e que também permite
às crianças utilizarem diferentes recursos
Vislumbrar as práticas de avaliação psico- cognitivos no processo de aprendizagem4.
lógica numa perspectiva de acessibilidade, Quando a criança recebe uma intervenção
potencialidade e modificabilidade cogniti- individualizada, com o objetivo de otimizar
va, principalmente, em crianças com defi- sua capacidade de processar informações,
ciência, é um grande desafio. Sabe-se que a cria-se uma situação favorável para a mo-
identificação e a avaliação de crianças com dificabilidade cognitiva3 , proporcionando
deficiência configuram-se como etapas de a capacidade de planejar, controlar o pro-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
733
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
exemplo). No que se refere aos indicado- de processos afetivos na expressão das ha-
res afetivo-motivacionais, em todas as bilidades cognitivas.
provas a proporção de fatores facilitadores
ficou acima de 90%. A despeito das dificul- Palavras-chave: Avaliação Assistida; Avaliação
dades cognitivas, o grupo apresentou com- psicológica computadorizada; Crianças com
portamento acessíveis à mediação do exa- deficiência.
minador e facilitadores à tarefa, tais como Contato: Jucineide Della Valentina de
prazer na atividade, níveis adequados de Oliveira - Faculdade Pitágoras de Linhares,
tolerância à frustração, além de vitalidade jucineidedella@yahoo.com.br
e sentido de alerta. Os dados do compor-
tamento da criança avaliados pela mãe
indicou, por meio do CBCL, que a maioria AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
(n= 7) foi classificada no perfil “clínico” na COGNITIVO DE CRIANÇAS COM ANEMIA
“Escala de Problemas Totais”, o mesmo na FALCIFORME EM PROVA ASSISTIDA
subescala de “Distúrbios Internalizantes”; Grace Rangel Felizardo - UFES
já para os “Distúrbios Externalizantes”, só gracerangelf@gmail.com
1 criança se enquadrou no perfil “clínico”. Kely Maria Pereira de Paula - UFES
Contudo, problemas comportamentais si- kelydepaula@yahoo.com.br
nalizados pelo CBCL não se apresentaram Financiamento: CAPES
como dificultadores à realização dos testes
na condição de avaliação estruturada. Na A doença crônica apresenta um forte im-
análise geral, o grupo apresentou níveis pacto sobre a capacidade funcional do su-
de dificuldade na realização dos testes in- jeito, pois altera de forma significativa a
formatizados assistidos, que variaram em forma como o sujeito se relaciona no dia a
função da prova (maior ou menor com- dia. Mesmo com o avanço nos tratamen-
plexidade). Contudo, quando incluímos na tos, em muitos casos, essas doenças não
análise do desempenho, outros indicado- podem ser curadas, trazendo para o indivi-
res (como os afetivos e comportamentais), duo várias e extensivas hospitalizações,
além do perfil cognitivo, o resultado se dor aguda e/ou contínua e prejuízos cogni-
apresenta melhor, evidenciando que o gru- tivos, além do comprometimento sócio
po se beneficiou da mediação implemen- emocional (Dias, Baptista & Baptista,
tada na fase de assistência para melhorar 2003). Nesse grupo, podemos citar a Ane-
as habilidades dirigidas à resolução de mia Falciforme – AF que chega a afetar de
tarefas. Além disso, a apresentação infor- 6 a 10% da população afrodescendente
matizada dos testes se configurou em fator brasileira. A doença é definida por uma
motivador que contribuiu para a realização mutação genética que compromete as
e persistência na situação de avaliação. Os funções das hemácias, responsáveis por
resultados desta pesquisa poderão auxiliar distribuir o oxigênio às demais células do
na elaboração de estratégias no campo da corpo. Tal mutação leva ao encurtamento
Psicologia, fomentando uma avaliação que da vida média dessas células, causando,
valorize mais as potencialidades do que as então, a anemia hemolítica, a oclusão dos
limitações impostas pela condição de de- vasos e infartos teciduais, resultando em
ficiência, também destacando a influência lesões e crises dolorosas constantes (Anvi-
734
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sa, 2002). Por ser uma doença crônica, a 2001). A Avaliação Assistida vai além da
mesma constitui um risco para o funciona- medição do conhecimento atual da crian-
mento da criança, pois impõe uma rotina ça, buscando compreender como a mesma
de consultas médicas, internações hospita- percebe, identifica e analisa os estímulos
lares, baixa frequência escolar, agravamen- apresentados numa situação de resolução
to da condição física, além de problemas de problemas. Nesse processo de avalia-
psicológicos e comportamentais (Castro & ção se configura uma situação de aprendi-
Piccinini, 2002). A AF é vista como um sério zagem em que o examinador, através do
risco para o desempenho cognitivo e para fornecimento de pistas procura oferecer
a aprendizagem (Bonner, Gustafson, Schu- um suporte instrucional, o qual se ajusta
macher & Thompson, 1999) devido a ao desempenho da criança. Ao final da
maior suscetibilidade a acidentes vascula- prova, além de identificar como a criança
res e outras alterações neuronais, princi- realiza a tarefa, e quais são as melhores e
palmente em crianças. Considerando que mais adequadas estratégias de mediação e
há poucos estudos no campo da Psicologia a sensibilidade da mesma às instruções
que avaliam o impacto da doença falcifor- oferecidas. Assim, o objetivo principal não
me nas funções cognitivas, novas investi- é avaliar o desempenho e sim avaliar a mu-
gações e mais detalhadas são necessárias, dança do padrão de desempenho, a partir
dada a multiplicidade de fatores que po- da assistência do mediador, a fim de reve-
dem afetar o desempenho em situações lar o potencial de aprendizagem, permitin-
de aprendizagem. Este trabalho considera do a construção de estratégias mais ade-
que a proposta da Avaliação Assistida (Dy- quadas para cada aprendiz. O presente es-
namic Assessment) poderá ser útil na iden- tudo teve como objetivo avaliar os indica-
tificação do potencial cognitivo de crianças dores de potencial cognitivo em crianças
com anemia falciforme. Na literatura, a portadoras da anemia falciforme, utilizan-
avaliação cognitiva dessa população foi, do o procedimento combinado de avalia-
sobretudo realizada mediante uma abor- ção psicométrica e avaliação assistida. Uti-
dagem psicométrica (BROWN et al, 1993), lizou-se como instrumentos de avaliação
destacando o desempenho inferior do gru- as Matrizes Progressivas Coloridas de Ra-
po com doença falciforme em relação à ven – Escala especial (Angelini, Alves, Cus-
população normal. Assim, com base nes- tódio, Duarte & Duarte 1999), a prova as-
ses dados, optou-se por utilizar a Avaliação sistida Jogo de Perguntas de Busca com Fi-
Assistida, visto que esta se fundamenta, guras Diversas - PBFD (Gera & Linhares,
teórica e metodologicamente, em uma vi- 1998), na versão computadorizada (Olivei-
são mais otimista acerca do desenvolvi- ra, 2009), além de protocolos específicos
mento humano e dos processos de apren- para avaliação de operações cognitivas e
dizagem em situação de adversidade (Feu- comportamentos envolvidos na resolução
erstein, Rand, Jensen, Kaniel & Tzuriel, da tarefa. Anamnese realizada com as
1987), considerando os indivíduos que mães e análise de prontuários médicos
apresentam uma sobreposição de riscos, completaram o procedimento. Em um mo-
como os de natureza biológica e psicosso- delo estruturado para o contexto de pes-
cial, além de integrar à análise de variáveis quisa, o PBFD apresenta quatro fases (Sem
não estritamente intelectuais (Tzuriel, ajuda – SAJ, Assistência – ASS, Manuten-
735
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ção – MAN e Transferência – TRF). Consi- ratura apontar que as crianças portadoras
dera-se a fase SAJ como linha de base, sen- de anemia falciforme tendem a apresentar
do a ASS a única fase com ajuda do media- um baixo desempenho cognitivo, os resul-
dor. Após, suspende-se qualquer procedi- tados indicaram uma situação inversa
mento de auxílio e verifica-se se a criança onde este grupo, de uma maneira geral,
melhorou seu desempenho nas etapas apresentou um bom desempenho, tanto
subsequentes da avaliação, a saber, MAN e na avaliação psicométrica quanto na assis-
TRA. No procedimento assistido avaliam- tida. Na avaliação assistida, mesmo a
-se, além do perfil de desempenho, as ope- criança que apresentou um desempenho
rações cognitivas e o comportamento du- inferior nas primeiras fases, conseguiu ge-
rante a realização da prova. Participaram neralizar a aprendizagem e ter um bom
do estudo 11 crianças com idade entre 8 e desempenho (maior número de perguntas
10 anos, que realizavam tratamento no relevantes e acertos) na fase de transfe-
ambulatório de pediatria de um hospital rência. Ainda, a avaliação assistida permi-
público de Vitória, ES. Em relação à avalia- tiu discriminar o quanto esse grupo se be-
ção psicométrica realizada com o Raven neficiou dos níveis de assistência, pois,
80% da amostra foi classificada como ten- apesar de ter um desempenho médio me-
do nível intelectual médio. Quanto aos in- lhor, se comparado aos resultados de ou-
dicadores de desempenho na resolução de tros grupos com anemia falciforme, em
problemas os resultados mostraram que baterias psicométricas, descritos na litera-
houve um aumento do numero de pergun- tura, a competência na tarefa de “pergun-
tas relevantes e acertos nas fases ASS, ta de busca com restrição de alternativas”,
MAN e TRF quando comparada à SAJ. So- que envolve, por exemplo, outras habilida-
bre os perfis de desempenho verificou-se des cognitivas, como as de análise e classi-
que 27% da amostra foi classificada como ficação de estímulos, se tornou mais efeti-
alto escore (não requer nenhum tipo de va ao longo da prova. Esses resultados po-
assistência para realizar a prova) e 64% dem estar relacionados ao método de
como ganhador mantenedor; apenas uma avaliação mais compreensivo na organiza-
criança foi classificada como ganhador de- ção de uma situação de aprendizagem, de-
pendente de assistência, indicando que a monstrando que essas crianças foram sen-
maioria da amostra obteve melhora na síveis à mediação oferecida. É possível que
fase de assistência e manteve o bom de- o desempenho cognitivo do grupo tenha
sempenho na fase de manutenção. No que sido influenciado por outros fatores, tais
se refere a transferência da aprendizagem como as variáveis clínicas, afetivas e so-
100% da amostra recebeu classificação de ciais. Embora não seja possível medir pre-
transferidor, o que demonstra alto índice cisamente a direção de tais variáveis, dado
de perguntas relevantes e de acertos nessa o delineamento do estudo, entre os fato-
fase. Houve também um aumento das res que podem ter contribuído para o de-
operações cognitivas positivas durante as sempenho nos testes e sensibilidade à ins-
fases ASS, MAN e TRF se comparadas com trução, destacam-se: o diagnóstico defini-
a fase SAJ (sem ajuda). Os comportamen- do até o primeiro ano de vida, o atendi-
tos positivos ocorreram numa média de mento pela mesma equipe médica há vá-
89% entre as quatro fases. Apesar de a lite- rios anos, com acesso mais facilitado a ou-
736
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tras especialidades, participação em grupo ções familiares, influenciando uns aos ou-
de apoio à família do portador de anemia tros, direta e indiretamente. Dependendo
falciforme, elevado envolvimento dos pais do modo como a família se estrutura e
no conhecimento e manejo da doença, o se relaciona, ela pode favorecer ou difi-
uso de medição específica para dor (hidro- cultar os processos de desenvolvimento
xiuréia) levando a menor número de crises humano. Considerando que a família está
álgicas seguidas de internação prolongada em constante processo de adaptação e
e maior frequência escolar. Esses fatores readaptação em função da ocorrência
podem se constituir em mecanismos de de eventos normativos e não normativos
proteção que incidem sobre a criança, mi- próprios de seu desenvolvimento, conhe-
nimizando os efeitos deletérios de fatores cer estes processos, sobretudo, quando
biológicos, como a doença crônica e a dor um de seus membros apresenta algum
recorrente. São necessários novos estudos tipo de deficiência, torna-se prioritário.
no país com amostra mais ampla que con- Assim, este simpósio tem por finalidade
siderem o interjogo entre diferentes variá- discutir as contribuições de diferentes
veis e sua influência no desempenho cog- membros da família (mãe, pai, irmãos)
nitivo de crianças e jovens com anemia para o desenvolvimento de pessoas com
falciforme. deficiência, com ênfase no papel do pai.
A primeira apresentação compara várias
Palavras-chave: Avaliação assistida; Avaliação dimensões das relações entre famílias
psicológica; Anemia Falciforme; Doença de crianças pré-escolares com e sem de-
Crônica. ficiência, com destaque para as relações
Contato: Grace Rangel Felizardo – Mestranda conjugais, parentais e fraternas, demons-
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/ trando que o pai é mais participativo nas
UFES - gracerangelf@gmail.com famílias de crianças com síndrome de
Down que nas famílias de crianças com
desenvolvimento típico. Dando continui-
SP LT05 - Simpósio dade, a segunda apresentação enfoca as
principais descobertas dos estudos em-
píricos a respeito das contribuições do
SP LT05-826 - CONTRIBUIÇÕES DA pai da pessoa deficiente, ilustrando com
FAMÍLIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA dados de uma pesquisa sobre os efei-
PESSOA COM DEFICIÊNCIA tos de uma intervenção domiciliar com
Maria Auxiliadora Dessen - UnB envolvimento paterno em famílias de
dessen@unb.br crianças com síndrome de Down. Den-
tre os principais resultados encontrados,
Estudar o desenvolvimento do indivíduo merece destaque o fato de que, embo-
requer, sobretudo, compreender os pro- ra a maioria dos pais tivesse o papel de
cessos de comunicação existentes dentro provedor principal, eles estavam bastante
da família e suas inter-relações com os envolvidos com seus filhos, colaborando
demais contextos em que ela se insere. de forma eficiente com o desenvolvimen-
Tanto a criança como os seus genitores e to das crianças. A terceira apresentação
irmãos são participantes ativos nas rela- analisa as contribuições da família nos
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
DI, independentemente das idades das foi realizado com 10 famílias residentes
crianças (6, 7 e 8 anos). Isto significa que à em Brasília, das quais 5 tinham um filho
medida que a criança se desenvolve, não com síndrome de Down (SD) e 5 tinham fi-
demanda, necessariamente, mais estres- lhos com desenvolvimento típico. A cole-
sores à unidade conjugal. Quanto às rela- ta de dados foi efetuada na residência das
ções parentais em famílias com pessoas famílias, durante dois anos, com visitas
com DI, a literatura tem priorizado os es- semestrais. As relações parentais e frater-
tudos sobre interações mãe-bebê e crian- nas foram investigadas por meio de ob-
ças pequenas, em detrimento daquelas servação direta do comportamento, usan-
com adolescentes e adultos. No entanto, do os recursos da tecnologia de vídeo. As
as últimas décadas têm registrado um observações tiveram duração de, aproxi-
aumento crescente de interesse pela in- madamente, 10 minutos cada, nas situa-
vestigação de interações pai-criança com ções de atividades livres em que a criança
DI e de interações entre irmãos, em día- (C) encontrava-se com um dos genitores
des em que um dos irmãos apresenta DI. (C-M, C-P), com ambos (C-M-P), com os
A relação entre irmãos é vista como um genitores e o irmão (C-M-P-I) ou somen-
aspecto essencial do desenvolvimento te com o irmão (C-I). As interações fami-
humano, ao longo do curso de vida, uma liares caracterizaram-se pela ‘Sincronia’,
vez que se trata da relação potencialmen- ‘Supervisão’, ‘Amistosidade’ e ‘Liderança’.
te mais duradoura dentro da família. A Esse mesmo padrão foi encontrado em
convivência com os irmãos facilita a aqui- díades, tríades e tétrades, em ambos os
sição e o desenvolvimento de diversas tipos de família, tanto nas relações paren-
habilidades, dentre as quais as sociais e tais quanto nas relações entre os irmãos.
as de solução de problemas. Além disso, As atividades foram desenvolvidas, ge-
os irmãos passam a constituir uma fonte ralmente, em ‘Grupo’, havendo predomi-
importante de apoio da rede social da fa- nância da participação ‘Conjunta’, com a
mília, sobretudo quando há pessoas com mãe sendo a maior responsável pela ‘Su-
deficiência intelectual, que requerem cui- pervisão’ e ‘Liderança’ nas interações, em
dados extras. Assim, dada a importância ambos os tipos de famílias. Mães e pais,
das relações familiares para o desenvolvi- em famílias de crianças com síndrome de
mento de seus membros, e tendo como Down, iniciaram igualmente as interações
premissa básica que as famílias com filhos com sua criança, enquanto em famílias de
com necessidades especiais não têm um crianças com desenvolvimento típico, a
funcionamento patológico, mas apenas responsabilidade maior foi da mãe. O pai
enfrentam desafios diferentes daqueles mostrou-se mais participativo nas famílias
enfrentados pelas famílias com filhos sem de crianças com síndrome de Down que
deficiência, o objetivo desta apresenta- nas famílias de crianças com desenvolvi-
ção é discutir os principais resultados de mento típico. Alguns padrões de comuni-
dois estudos empíricos a respeito das re- cação familiar apresentaram continuida-
lações conjugais, parentais e fraternas em des e outros apresentaram descontinui-
famílias com crianças com DI. O primeiro, dades ao longo do tempo. O outro estudo
com o objetivo de descrever as relações contou com a participação de 21 pais e 21
parentais e as fraternas nestas famílias, mães de crianças de 1 a 13 anos de idade
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
comum, defendendo a tese de que estes estrutura da escola atual não permitiam
teriam muito a se beneficiar deste proces- melhores oportunidades de aprendiza-
so. Embora haja uma tendência crescente gem e desenvolvimento para estes alu-
de ingresso de jovens e adultos com de- nos, uma vez que os conteúdos eram
ficiência nos programas de educação de apresentados de forma fragmentada em
jovens e adultos, ainda são raras as pes- função do tempo limitado das aulas, au-
quisas que investigam os contextos de de- sência de oportunidades de adaptação à
senvolvimento para esta população. Estes nova realidade escolar, ou mesmo, de uti-
alunos estão vivenciando dupla situação lização de recursos especializados. A tran-
de exclusão, a de ser um aluno com defi- sição para o contexto escolar foi avaliada
ciência no ensino regular e a de pertencer positivamente como princípio, contudo
ao segundo segmento da EJA, revelando apresentaram criticas sobre a sua estru-
as faces de uma inclusão perversa. Alguns tura, o distanciamento entre professor e
estudos apontam como obstáculos a au- aluno e as dificuldades de relacionamen-
sência de informação sobre o processo to entre os alunos em função da hetero-
de inclusão, diferenças na estrutura e geneidade da turma. No contexto escolar
organização das escolas e na formação atual, para alguns jovens, a convivência
profissional distinta dada pela escola es- com um grupo heterogêneo significou
pecializada e a regular. Baseados nestas estabelecer projetos como a continuida-
reflexões, o objetivo desta apresentação de aos estudos, ser inserido no mercado
é discutir os principais resultados dos es- de trabalho ou mesmo constituir famí-
tudos empíricos a respeito das trajetórias lia. Para outros, as interações entre os
escolares e perspectivas de futuro de jo- colegas significou ainda que, de maneira
vens / adultos com deficiência a partir de dissimulada, situações de discriminação.
sua própria percepção e as contribuições Com a freqüência no ensino comum, as
dos familiares para a configuração de um perspectivas de futuro se ampliaram para
quadro compreensivo das condições edu- alguns, que vislumbravam estudar para se
cacionais e sociais destas pessoas. Ênfa- engajar em empregos melhores do que o
se será dada ao estudo dos processos de de atividades manuais. No entanto, estas
transição de jovens/ adultos com deficiên- expectativas parecem não estar pauta-
cia intelectual entre contextos escolares das nas condições reais de progressos na
especializados e regulares, na perspec- aprendizagem escolar e as dificuldades
tiva destes jovens e de seus familiares. no processo de escolarização são visíveis,
Tal estudo revela que o ambiente das além do fato de que o processo de tran-
instituições, de acordo com as relações sição trouxe situações novas e de difícil
estabelecidas e a rotina das atividades, adaptação. Para os familiares, a transição
oferecia maiores oportunidades de socia- significou a perda de alguns benefícios,
lização, enquanto que as escolas regula- como acesso facilitado aos profissionais
res trabalhavam preferencialmente com a da saúde, a oportunidade de ser inseri-
transmissão de conteúdos escolares, não do no mercado de trabalho; para alguns
proporcionando espaços adequados para deles, a escola regular deveria oferecer as
a ampliação da rede de relações até então mesmas atividades e oportunidades que
construída. Os modelos de organização e anteriormente os alunos recebiam nas
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
da DPP, propicia reflexões teóricas e meto- feita no terceiro trabalho (Morais, Lucci
dológicas sobre estas questões e congrega & Otta) mostrou resultados indicativos
pesquisadores de diferentes formações e de que variações na gravidade, cronicida-
inserções institucionais em torno de um de e ocasião da DPP, assim como diversos
projeto temático, voltado para população fatores de risco potencializadores, como
atendida pelo sistema público de saúde. adversidade familiar, falta de apoio social
Reúne pesquisas sobre a ontogênese de e estresse financeiro, contribuem para ge-
aspectos essenciais do desenvolvimento rar diferentes consequências no desenvol-
humano, representativos da integração de vimento das crianças. A composição dos
processos afetivos e cognitivos. Dois dos diferentes resultados em função da DPP
trabalhos referem-se ao desenvolvimento aponta, por um lado, fatores de proteção e
do apego. Um deles analisa a constelação de compensação associados, mas também
familiar em geral, valendo-se da experiên- indica aspectos peculiares que merecem
cia em um centro canadense voltado para ser alvo de entendimento e de aplicação a
este tipo de análise (Mendonça & Cosset- políticas de intervenção e suporte.
te): vale destacar que análises separadas
dos pais e das mães produziram resultados
contraditórios, com dados significativos REPRESENTAÇÃO MATERNA E PATERNA
apenas no caso da análise conjunta de DA RELAÇÃO DE APEGO MÃE-CRIANÇA
perfis de apego considerando-se ambos E PAI-CRIANÇA: RELAÇÃO COM A
os pais. Na outra pesquisa, analisou-se o HARMONIA FAMILIAR
desenvolvimento da vinculação afetiva na Júlia Scarano de Mendonça - IPUSP
criança em condição de DPP (Vicente & julia.m@itelefonica.com.br
Bussab). Não foram constatadas diferenças Louise Cossette - UQAM
em estilo de apego nos grupos com DPP, cossettelouise@hotmail.com
mas apareceram efeitos em padrões asso-
ciados à segurança do vínculo, como os de A presente pesquisa enquadra-se no refe-
ansiedade, exploração e brincadeira, de- rencial teórico da teoria do apego (Bowlby,
monstrando complexidade e conjugação 1969; Ainsworth, 1973) e na abordagem sis-
de fatores familiares e sociais, e a ligação têmica do desenvolvimento humano (Bron-
deste desenvolvimento afetivo com aspec- fenbrenner, 1969; Belsky, 1999, 2006) e da
tos cognitivos de exploração do ambiente. família (McHale, 1995; Fivaz-Depeursinge,
O terceiro trabalho (Prado & Bussab) inves- 1999), a qual considera a influência do
tigou aspectos específicos do desenvolvi- contexto social e cultural no qual a criança
mento cognitivo, ligados à compreensão está inserida para o seu desenvolvimen-
de intencionalidade, que têm merecido to, assim como as influências recíprocas
atenção especial na literatura. Esta com- de todos os elementos pertencentes aos
preensão mostrou-se afetada pela DPP múltiplos contextos sociais do indivíduo. A
quanto à adesão geral à tarefa e a aspec- teoria do apego tem sido amplamente in-
tos específicos, além de mostrar interação vestigada: inúmeras pesquisas sobre as re-
interessante com o gênero da criança. Por lações entre a sensibilidade materna refle-
fim, a investigação ampla do desenvolvi- tida nas interações com o bebê e a forma-
mento de aspectos neuropsicomotores ção do vínculo afetivo tem sido realizadas.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Apesar disso, apenas recentemente tem nal para cada uma das categorias: distância
havido uma ampliação de enfoque para in- física, orientação visual e corporal e nível
cluir características do contexto de criação. de envolvimento diádico. A média de cada
O presente trabalho tem como objetivo uma das categorias foi considerada para a
investigar o impacto da harmonia familiar, análise. Os dados do Q.sort foram analisa-
por meio da análise da sincronia interacio- dos segundo um procedimento desenvol-
nal entre os membros da família, na repre- vido por Strayer et al. (1995). Os itens do
sentação dos pais sobre a relação de apego Q.sort foram agrupados nas sete escalas
com os seus filhos. Essa pesquisa é parte sugeridas por Strayer. Análises de Cronba-
do doutorado do primeiro autor, realizado ch alphas foram realizadas para verificar a
no Laboratoire d’Ethologie Humaine, na consistência interna de para cada uma das
Université du Québéc à Montréal, Canadá, escalas. Seis escalas foram mantidas com
dirigido pelo Dr. F. F. Strayer. Baseado em níveis acima de.50, considerados aceitá-
uma perspectiva sistêmica do desenvolvi- veis segundo a literatura. Análises clusters
mento humano, o presente trabalho enfa- foram realizadas nas escalas das mães e
tiza a relevância do contexto sócio afetivo dos pais separadamente com o objetivo
da família para a percepção dos pais da de identificar perfis de apego. Quatro per-
relação do apego com os seus filhos. A in- fis de apego foram obtidos tanto para as
clusão desse trabalho nesse simpósio com mães como para os pais: inseguro-asocial,
ênfase na compreensão dos efeitos da DPP inseguro-dependente, seguro e seguro-au-
no desenvolvimento da criança justifica-se tônomo. Análises da variância não indica-
por ilustrar o impacto do contexto familiar ram nenhuma associação entre os padrões
nas trajetórias de desenvolvimento. Trinta de sincronia interacional segundo o perfil
famílias franco-canadense da classe média de apego mãe-criança e pai-criança. Qua-
(mãe, pai e criança). A idade média das tro grupos foram criados juntando as clas-
crianças foi de 25 meses (DP=3.3). A qua- sificações dos perfis de apego das mães
lidade da relação do apego foi avaliada por e dos pais: seguro com mãe e pai, seguro
meio da tradução francesa do questionário com mãe e inseguro com pai, inseguro com
Q.sort (Waters & Deane, 1985). A sincronia mãe e seguro com pai e inseguro com mãe
interacional foi avaliada a partir da obser- e pai. Quando levamos em consideração a
vação da interação da criança com os seus qualidade do apego da criança com a sua
pais em dois momentos: diádico (mãe- mãe e o seu pai conjuntamente, diferenças
-criança e pai-criança) e triádico (mãe-pai significativas apareceram nas análises. Na
e criança). Os pais responderam ao Q.sort situação triádica, as crianças que têm um
em visitas domiciliares. Para a avaliação da apego seguro ou inseguro com a sua mãe
sincronia interacional, a família participou e com o seu pai diferenciam-se das outras:
de sessões de observação no laboratório. elas apresentam um nível de sincronia in-
Oito minutos de interação foram codifica- teracional parecido e positivo com a mãe
das em cada uma das situações por obser- e com o pai nas categorias envolvimento
vadores treinados (Kappa=80%) a partir do diádico e orientação visual, enquanto que
procedimento “time-sampling”. Os obser- as crianças que apresentam um apego
vadores deveriam anotar, numa escala de 1 seguro com um dos seus pais e inseguro
a 4, a maior ou menor sincronia interacio- com o outro demonstram maior sincronia
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
interacional com a mãe do que com o pai ciente que lhe permite explorar o mundo
nessas mesmas variáveis: orientação visual e desenvolver-se. Da mesma forma, outros
(interação apego mãe-criança x apego pai- trabalhos inspirados na abordagem sistê-
-criança x interação pais, F(1, 25) = 6.45, mica, salientam a importância de se con-
p=0.019) e envolvimento diádico (intera- siderar a influência de outras variáveis no
ção apego mãe-criança x apego pai-criança desenvolvimento das relações de apego
x interação pais, F(1, 25) = 5.57, p=0.026). pais-criança, tais como: qualidade da rela-
Conforme esperado, observou-se relação ção conjugal, apoio social, práticas paren-
entre a harmonia familiar e a representa- tais etc (Belsky, 1999, 2006; Martin, 2001;
ção dos pais da relação de apego com os Mendonça et al., 2008) reforçando a idéia
seus filhos. Em análise anterior dos dados da multideterminação na formação dos
sobre a sincronia interacional, Mendonça vínculos afetivos.
et al. (2011) demonstraram que quando
a criança, a mãe e o pai interagem entre Palavras-chave: apego, família, interação mãe-
si, as díades mãe-criança tendem a formar pai-criança
uma “unidade principal” da interação so- Contato: Júlia Scarano de Mendonça, IPUSP,
cial enquanto os pais mantém-se distantes julia.m@itelefonica.com.br
delas. Uma explicação possível é que a si-
tuação triádica reforce os papéis parentais
tradicionais: as mães como principais cui- ESTILO DE APEGO E DEPRESSÃO
dadoras enquanto os pais desempenham PÓS-PARTO
um papel secundário. O que a presente Carla Cristine Vicente - UFRRJ
pesquisa mostra, especificamente, é que carlavicent@gmail.com
esse padrão interacional é diferente, com Vera Silvia Raad Bussab - IPUSP
o pai integrado a essa “unidade principal”, vsbussab@gmail.com
quando ambos os pais têm a mesma per-
cepção da relação do apego com a criança, O estilo de apego que a criança constrói a
seja ela positiva ou negativa. Nesses casos, partir das diferentes interações que partici-
observa-se maior harmonia na interação pa se refere a estratégias ontogenéticas de
social da família. Esses resultados curiosos desenvolvimento social. O apego se rela-
reforçam a relevância da relação marido- ciona ao sentimento de segurança e proxi-
-mulher para a qualidade da vida familiar midade do bebê em relação a suas figuras
(Phares, Duhig & Watkins, 2002) e a impor- significativas, o que integrará todo o seu de-
tância de pensar a formação dos laços afe- senvolvimento global e construirá um mo-
tivos da criança como uma rede complexa delo de funcionamento interno para seus
de influências mútuas entre os membros relacionamentos futuros (Bolwby, 1990). A
da família, em consonância com as teorias Depressão Pós-Parto (DPP) é um distúrbio
sistêmicas (Stafford & Bayer, 1993; Gol- com sérias implicações potenciais para a
dbeter, 2005; Minuchin, 1985). Segundo mãe, por propiciar a emergência de sin-
Byng-Hall (1999), sucessor de Bowlby na tomas como humor deprimido, labilidade
clínica Tavistock, em Londres, é a família emocional, sentimentos de incompetência
e não uma única figura de apego que dá a para lidar com a criança, distúrbio do sono,
criança um sentimento de segurança sufi- perda de prazer e ideação suicida, o que
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
por sua vez pode acarretar prejuízos para via atribuição de valores de 1 a 7 pontos,
o bebê, associados a atrasos no desenvol- detalhadamente definidos. A classificação
vimento físico e cognitivo (Patel, Souza & foi realizada separadamente por duas ob-
Rodrigues, 2003). Este estudo objetivou servadoras cegas para o índice de DPP da
avaliar estilos de apego em bebês de mães mãe. A confiabilidade das observações me-
com e sem indicativos de DPP, de modo a dida pelo índice Kappa de Cohen apontou
aprofundar a compreensão sobre o desen- concordância de 0,833, valor confiável para
volvimento afetivo e a sua influência no avaliações. Dadas as reconhecidas ligações
desenvolvimento geral da criança. Este es- entre os estilos de apego e a regulação da
tudo esteve associado ao projeto temático segurança afetiva com autonomia, explora-
“Depressão pós-parto como fator de risco ção e brincadeira (como Grossmann et al.,
no desenvolvimento: estudo interdiscipli- 1999), foi desenvolvido um protocolo adi-
nar dos fatores envolvidos na gênese do cional de observação, para avaliar padrões
quadro e em suas conseqüências”, no qual de exploração do ambiente, de brincadei-
mães e bebês atendidos pelo sistema públi- ra, e sinais de ansiedade, como movimen-
co de saúde foram acompanhados longitu- tos repetitivos, desconcerto emocional e
dinalmente, desde a gestação até o 3º ano cessação de atividade e de interação com a
da criança. Metodologia. O estilo de apego pessoa estranha, nas episódios de separa-
da criança foi avaliado através dos proce- ção e retorno da mãe. Resultados. Segun-
dimentos da “Situação Estranha”, segundo do os critérios do instrumento da Situação
protocolo desenvolvido por Ainsworth, Estranha, predominou a classificação de
Blehar, Waters e Wall (1978) e Main e So- apego seguro (82%), para o grupo como
lomon (1990). Uma equipe de 04 pessoas um todo (inseguros evitadores 11% e resis-
treinadas participou das filmagens, feitas tentes 7%). O mesmo perfil de distribuição
quando os bebês foram completando 12 de estilos foi verificado no subgrupo com
meses. Todas as díades foram recebidas DPP, com predominância de apego seguro
pela pesquisadora e instruídas para par- em 87% dos casos. Dos bebês (27) de mães
ticipar dos oito episódios (duração de 21 que tinham indicativos de DPP, apenas 4
minutos), nos quais ocorre uma seqüência foram classificados como inseguros, con-
de interações entre o bebê, a mãe e uma trariando as expectativas. Apesar de não
pessoa desconhecida do bebê, envolvendo se refletirem na classificação final do esti-
separações e reuniões mãe-bebê. Foram lo de apego, verificaram-se relações entre
analisadas 85 díades, que foram divididas DPP e dimensões do protocolo da Situação
em dois grupos: experimental (com indica- Estranha, por análise de regressão múlti-
tivos de DPP) e controle (sem DPP), Esca- pla (método stepwise), que indicou duas
la de Depressão Pós-Parto de Edimburgh destas dimensões como preditivas da DPP
– EDPE (Cox, Holden & Sagovsky, 1987). A materna: mais comportamentos resistente
classificação do padrão de apego foi feita (B= 1,76; t= 2,66; sig=0,01); menos busca
conforme o protocolo de Ainsworth et al. de contato (B= -3,40; 7= 2,61; sig= 0,01). As
(1978), que considera quatro dimensões: análises do protocolo adicional mostraram
Procura de proximidade; Manutenção de peculiaridades significativas nas crianças
contato; Evitação de proximidade, e Re- do grupo DPP: menos deslocamento ex-
sistência ao contato e conforto, avaliadas ploratório (X²(1)= 4,307, p=0,038), menos
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ça não compreendeu o teste, errando a dos resultados dos dois testes apontarem
maioria dos questionamentos. A falta de para uma capacidade subjacente comum,
adesão inicial relacionou-se à DPP: nas alguns aspectos dos resultados também
crianças em que a aplicação do teste teve mostram peculiaridades dos testes quan-
que ser interrompida, por falta de coo- to à adesão e ou à dificuldade relativa,
peração e interação com a pesquisadora, que merecem ser mais bem discutidas e
o escore de DPP foi em média significa- avaliadas. O desempenho diferenciado
tivamente mais alto do que nos demais das meninas em ambos os testes condiz
grupos (F2,68=3,006, p<0,05). No teste de com dados da literatura quanto ao ritmo
Compreensão de Direção do Olhar não de desenvolvimento da “teoria da mente”
foi verificado tal efeito. Constatou-se, em função do sexo (Baron-Cohen, 2004).
porém, adesão ainda menor das crianças Ainda assim, possíveis interações entre
de modo geral: apenas 30 completaram o o sexo da criança e o efeito da DPP de-
teste e em 28 casos este foi interrompido. verão ser mais bem investigadas com o
Não foi identificada diferença significativa aumento da amostra, pois há indicadores
entre os grupos com e sem DPP quanto de os meninos poderem ser mais afeta-
à porcentagem de acerto, embora esta dos (Tronick & Weinberg, 1997). Mere-
fosse mais alta para o grupo sem DPP no ce ainda destaque e aprofundamento a
teste compreensão de intencionalidade compreensão do duplo efeito da DPP so-
(Sem=37,0% e Com=35%) e no teste de bre a disposição geral para a interação e/
Direção do Olhar (Sem=41% e Com=31%). ou sobre o desenvolvimento cognitivo da
Avaliando aspectos particulares de cada criança refletido na dificuldade da tarefa.
teste, foi identificada tendência de as O conjunto de resultados é compatível
crianças do grupo Sem DPP apresentarem com a hipótese de efeito das condições
significativamente mais acerto na tarefa sócio-afetivas de criação, via presença da
“apontando para” (t=1,737, p=0,08). Veri- DPP, no desenvolvimento de capacidades
ficou-se diferença significativa entre me- cognitivas básicas das crianças e indica a
ninas e meninos no teste direção do olhar importância de estudos longitudinais na
(t=-2,208, p=0,031), e uma tendência no população em geral e nas amostras de
teste de compreensão de intencionalida- risco em particular, para a promoção de
de (t=-1,775, p=0,08), com desempenho condições de prevenção e de intervenção.
superior das meninas. Houve correlação
significativa no desempenho entre os dois Palavras-chave: desenvolvimento cognitivo,
testes (r=0,469; p=0,000), ou seja, a crian- compreensão de intencionalidade, depressão
ça que teve um bom desempenho em um pós-parto
dos testes manteve-o no outro. A depres- Contato: Alessandra Bonassoli Prado, IPUSP,
são pós-parto afetou mais a adesão geral sanaprado@hotmail.com
ao teste de intencionalidade, do que o de-
sempenho final das crianças. Entretanto,
constatou-se melhor desempenho em as-
pectos específicos das tarefas nos grupos
sem DPP, além de uma tendência geral
de superioridade. Apesar de a correlação
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mais por terem menor escolaridade, fato elementos que o leite em pó não incorpo-
que poderia indicar maiores dificuldades ra, tais como anticorpos e glóbulos bran-
sócio-econômicas. Para enfrentar tais difi- cos. É por isso que o leite materno protege
culdades, estas mães mesclariam elemen- o bebê de doenças e infecções (World He-
tos relacionais idealizados e autônomos alth Organization, 2000; 2001). Venâncio
realizados a fim de se “ajustar” ao cenário e Monteiro (1998) observaram, na década
de risco em que vivem. Os resultados além passada, um aumento na freqüência e du-
de sugerir relação entre a DPP e o modelo ração da amamentação no Brasil (de 2,5
cultural autônomo-relacional, justificam para 5,5 meses) em todos os estratos da
a importância da análise sistêmica de fa- população. Porém, estudos atuais apon-
tores bio-culturais (crenças e práticas), tam para a diminuição do índice ao longo
ecológicos (escolaridade e renda) e psico- dos meses, sendo que apenas 3% mantém
lógicos (DPP) para uma compreensão mais essa prática até os seis meses de idade e
global das diferentes trajetórias de desen- 70% introduzem o leite industrializado an-
volvimento infantil. tes do sexto mês (Bernardi; Jordao; Barros
Filho, 2009; Almeida; Novak, 2004). Barros
Palavras-chave: depressão pós-parto; metas e e cols. (2008) afirmam que a alimentação
práticas; ambiente de risco. oferecida ao bebê exerce papel funda-
mental no que diz respeito tanto ao seu
desenvolvimento físico, quanto cogniti-
LT04-782 - A INFLUÊNCIA DO TIPO DE vo e emocional. A interação mãe-bebê é
ALIMENTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO importante não só na promoção da saúde
DE BEBÊS DE TRÊS MESES DE IDADE física, mas também na criação das condi-
Jussara do Amaral Leopaci - UNESP/Bauru ções necessárias para que a criança, ao
jussara_leopaci@yahoo.com.br sentir-se amada, desenvolva, ao máximo,
Renata Ajub Tirelli - UNESP/Bauru o seu potencial psicomotor e social (Al-
renata_ajub@hotmail.com faya; Schermann, 2005). Todavia, a iden-
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues – tificação precisa do desenvolvimento in-
UNESP/Bauru fantil depende de instrumentos confiáveis
olgarolim@uol.com.br que fornecerão resultados para subsidiar
procedimentos pontuais de intervenção.
O desenvolvimento no primeiro ano de Vieira, Ribeiro e Formiga, (2009) em uma
vida é um complexo processo afetado por revisão de literatura sobre instrumentos
múltiplos fatores, como os socioeconômi- de avaliação do desenvolvimento de crian-
cos, condições de saúde ao nascer e tipo ças de zero a dois anos de idade, identifi-
de alimentação oferecida. A recomen- caram 15 instrumentos e, entre eles, cita
dação da OMS é de que os bebês até os o Inventário Portage Operacionalizado.
seis meses de idade sejam alimentados Avaliar o desenvolvimento de bebês de
somente com leite materno, a não ser em três meses de idade considerando o tipo
casos de orientação médica. O leite ma- de alimentação oferecida. Participaram da
terno contém todas as proteínas, açúcar, pesquisa 150 (cento e cinquenta) díades
gordura, vitaminas e água que o bebê ne- mães-bebês de três meses, do projeto de
cessita. Além disso, contém determinados extensão universitária “Acompanhamento
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crianças até seis anos de idade, previstos de papéis desempenhados no meio sócio
para faixas etárias anuais. É composto por – familiar da jovem mãe que, precisando
580 comportamentos divididos nas cinco continuar seus estudos ou ir para o mer-
áreas de desenvolvimento (Linguagem, cado de trabalho, deixam seus bebês aos
Autocuidados, Cognição, Socialização e cuidados de outros familiares/cuidado-
Desenvolvimento – Motor) além do proto- res. Quanto ao melhor desempenho na
colo de Estimulação Infantil, composto por área de Cognição pelo Grupo 2, fatores
45 comportamentos previstos para ava- como organização do ambiente, expec-
liação do comportamento de bebês até 4 tativas e práticas parentais, experiências
meses de idade. Para o presente estudo os com materiais para estimulação cognitiva
itens do protocolo de Estimulação Infantil e variação da estimulação diária estariam
foram distribuídos nas áreas previstas no mais presentes em mães mais velhas que
IPO, resultando em 154 itens para avalia- proporcionariam um desenvolvimento in-
ção de bebês no primeiro ano de vida. O fantil adequado (Bradley; Corwyn, 2002).
desenvolvimento das crianças de cada um Andrade e cols (2005), em um estudo ana-
dos grupos foi avaliado em cada uma das lisando estimulação ambiental e cognição,
áreas de desenvolvimento e comparados apontaram que mães orientadas a esti-
utilizando-se o teste estatístico t de Stu- mularem seus bebês por meio de uma va-
dent. Não foram encontradas diferenças riedade de experiências perceptivas com
significativas nas áreas de Linguagem (t= pessoas, objetos e símbolos, contribuem
1,07; p =0,14), Socialização (t = 0,61; p = significativamente para o desenvolvimen-
0,27) e Desenvolvimento Motor (t = 0,60; to cognitivo das crianças, observando-se,
p = 0,27). Já nas áreas de Autocuidados, os ainda, conseqüências positivas em longo
bebês do Grupo 1 apresentaram melhor prazo. Entretanto, são necessários estu-
desempenho (t = 2,22; p = 0,01) e na área dos que investiguem o impacto do grau
de Cognição, foram os bebês do Grupo 2 de instrução das mães mais velhas, o que
(t = 1,81; p = 0,03) que apresentaram de- pode, também, providenciar ambientes
sempenho superior. Uma hipótese para o mais estimuladores para seus filhos, assim
melhor desempenho do Grupo 1 na área como o papel do tipo de família da mãe
de Autocuidados pode estar relacionada adolescente para referendar os resultados
ao fato de que estes bebês podem ter sido obtidos. Concluindo, o presente estudo,
expostos a diferentes situações de alimen- parece apontar para a influência da idade
tação e cuidados por cuidadores variados materna em alguns aspectos do desenvol-
o que resultou na necessidade de adapta- vimento infantil em especial autocuidado
ção a outras situações de independência e cognição, reconhecendo, todavia a im-
da mãe. Coslovsky e Geller (1996) suge- portância de ampliação de estudos des-
rem que a gravidez na adolescência tem te tipo para a análise de outras variáveis
um grande impacto na vida da família de associadas como escolaridade materna e
origem da jovem mãe podendo resultar tipo de família.
em múltiplos cuidadores do bebê. Silva
e Salomão (2003) também alertam para Palavras-chave: Idade Materna;
o fato de que o exercício da maternida- Desenvolvimento Infantil; Inventário Portage
de irá requerer reajustes e até mudanças Operacionalizado
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momentos, as atividades tenham sido também, neste campo. Autores dos cam-
realizadas juntamente com crianças de pos da Educação Infantil e da Psicologia
outras faixas etárias e as demais extensio- do Desenvolvimento também foram uti-
nistas envolvidas. Os relatos das reuniões lizados para acrescentar a discussão que
com a coordenadora pedagógica também vem sendo realizada nos últimos anos, a
foram utilizados, pois, permitiram a ob- respeito das políticas e práticas de aten-
servação de momentos de planejamento dimento às crianças e seus reflexos no
e reflexão das atividades executadas com desenvolvimento dos bebês. Foi possível
crianças e professoras. Algumas dessas observar que os educadores da Educação
reuniões contaram com a presença das Infantil, muitas vezes, não conseguem
professoras, o que proporcionou uma reconhecer as potencialidades das crian-
aproximação das concepções das mes- ças e adaptar os conhecimentos teóricos
mas em relação à sua atuação. Outro à prática profissional, construindo seu
ponto importante para a escolha da análi- próprio saber a partir de suas vivências.
se das atividades realizadas com a turma Promover a apropriação da teoria, pro-
do Maternal I é o fato de que o atendi- porcionando uma visão ampla em relação
mento à faixa creche – 0 a 3 anos – tem ao repertório de recursos, à flexibilização
se apresentado como um desafio para as dos espaços, à disponibilidade dos ma-
profissionais, por estas não conhecerem teriais, bem como sensibilidade para in-
bem as ações pedagógicas voltadas para teragir com as crianças e perceber suas
a referida faixa, pautando sua atuação, necessidades e demandas contribuiu,
majoritariamente, no campo dos cuida- significativamente, para a melhoria do
dos aos bebês. Além dos relatórios escri- atendimento oferecido. As ações lúdicas
tos, foram analisadas as fotos de algumas propostas proporcionaram maior intera-
atividades desenvolvidas com as crianças, ção entre as crianças e professoras da ins-
também, com foco principal na turma de tituição, favorecendo o desenvolvimento
Maternal I. A partir do estudo bibliográfi- integral das crianças e o aprimoramento
co de autores do campo da Psicossocio- profissional das docentes. Observou-se,
logia, fez-se uma releitura da experiência ainda, maior comprometimento das pro-
extensionista e análise das contribuições fessoras com as atividades planejadas e
da intervenção psicossocial para a qualifi- executadas, a partir do momento em que
cação profissional do atendimento educa- o planejamento pedagógico englobou as
cional de crianças de 1 a 2 anos. Buscou- concepções de educar e cuidar, de forma
-se traçar, também, possíveis estratégias indissociada.
de formação continuada para professores
da Educação Infantil, a partir dos concei- Palavras-chave: desenvolvimento infantil,
tos estudados. A pesquisa também teve qualificação profissional, creche
como referência a legislação brasileira Contato: Bárbara Couto Preisser Marçal, PUC
relacionada à esta etapa da educação, Minas, barbaracpmarcal@gmail.com
principalmente, no que se refere às po-
líticas de formação inicial e continuada,
além de outras publicações dos órgãos
públicos federais, estaduais e municipais,
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que implica entender também os elemen- ças e significados que afetam sua natureza
tos físicos de um espaço, sua composição, e qualidade”. Nesse sentido, o espaço de
organização e simbolização que, numa educação de crianças pequenas não é um
abordagem semiótica, funcionam tanto cenário onde ocorre a atividade educativa,
como signos quanto como instrumentos. mas é parte integrante de sua própria na-
Na intenção de refletir sobre as questões tureza. Nas palavras de Lima (1989, p. 5),
até aqui abordadas, o Grupo de Estudo e “o espaço físico isolado do ambiente só
Pesquisa da Infância (GEPINFÂNCIA) do existe na cabeça dos adultos para medi-lo,
Instituto Superior de Educação de Três Rios para vendê-lo, para guardá-lo. Para a crian-
busca compreender como a construção de ça existe o espaço-alegria, o espaço-prote-
um espaço físico para a criança pequena ção, o espaço-medo, o espaço-mistério, o
é utilizado e simbolizado por educadores espaço-descoberta, enfim, os espaços da
infantis e crianças. Nossa pesquisa (em liberdade ou da opressão”.
andamento) se desenvolve numa Escola
Municipal de Educação Infantil em Três Palavras-chave: infância, lugar, educação
Rios que neste ano completa 50 anos. Contato: Claudia da Costa Guimarães Santana.
Considerada por muitos como uma esco- Instituto Superior de Educação de Três Rios/
la modelo em educação infantil, não só FAETEC, ccgsantana@yahoo.com.br
pela sua localização, mas sobretudo, pela
sua arquitetura projetada com amplos es-
paços de movimento e uma área externa LT04-1391 - LUGAR DO CUIDADO
repleta de árvores e brinquedos próprios INSTITUCIONAL NA REDE DE
para esta faixa etária, nosso objetivo é re- CUIDADORES ENVOLVIDOS NO
fletir sobre as concepções e práticas des- CUIDADO COTIDIANO DE CRIANÇAS
ses educadores neste espaço educacional. PEQUENAS
A pesquisa tem sido desenvolvida dentro Ana Maria de Almeida Carvalho - USP
de uma abordagem qualitativa, com ob- amacarva@uol.com.br
servações semanais em diário de campo, Anamélia Lins e Silva Franco - UFBA
fotografias e entrevistas semiestruturadas anameliafranco@uol.com.br
com os educadores do turno da manhã da Lívia da Costa Fialho - UCSAL
referida escola. Como elemento concreto livia.fialho@yahoo.com.br
através do qual a criança experimenta suas
primeiras sensações, queremos analisar As transformações da família, em especial
como este espaço é qualificado significati- as decorrentes do ingresso crescente de
vamente por esses educadores na sua prá- mulheres no mercado de trabalho, intro-
tica cotidiana com suas crianças. Entende- duziram novos desafios para o comparti-
mos como Tuan (1980), Lima (1989), Lopes lhamento do cuidado de crianças peque-
(1999) e Santana (2000, p. 19) que “um nas. A literatura evidencia que o cuidado
mesmo espaço pode constituir ambientes parental humano sempre envolve algum
diferentes da mesma forma que ambientes grau de compartilhamento, mais tipica-
semelhantes não correspondem a espaços mente entre a mãe e outras mulheres dis-
iguais, visto que concretamente os espa- poníveis, familiares (avós, tias, irmãs) ou
ços físicos estão prenhes de valores, cren- não (vizinhas, amigas, babás). Poortinga
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& Georgas (2006) apontam que nas so- mico médio-alto têm na sua maioria ativi-
ciedades urbanas contemporâneas, onde dade profissional formal com carga-horária
predominam famílias nucleares e as dis- de pelo menos 40 horas chegando até 80
tâncias físicas entre familiares tendem a horas. As mães do grupo sócio-econômico
ser maiores, reduzindo a disponibilidade baixo, várias não são “donas de casa” e
de familiares para o compartilhamento aquelas que exercem atividade laboral for-
do cuidado, este ocorre principalmente mal têm uma carga-horária mais variada
com auxiliares domésticas e com cuidado entre 15 até 72 horas semanais, estes da-
institucional. Este estudo consiste de um dos possibilitam considerar que o motivo
recorte realizado a partir de um trabalho das famílias de nível médio-alto optarem
sobre cuidado de crianças em diferentes por cuidados institucionais para seus filhos
níveis socioeconômicos, aspectos de gêne- está relacionado às rotinas de trabalho dos
ro e geração. Neste trabalho, analisamos o pais o que não necessariamente segue o
lugar do cuidado institucional na rede de mesmo padrão para as famílias de nível
cuidadores de crianças pequenas em uma socioeconômico baixo e médio. Outra re-
amostra de 150 famílias de Nível Socioeco- lação construída foi a condição socioeco-
nômico (NSE) médio-alto e baixo, residen- nômica e a presença de avós morando na
tes em Salvador, a partir de informações mesma cidade: os dados demonstram que
oferecidas por pais e mães em entrevistas todas as famílias de nível socioeconômico
estruturadas. Encontramos uma incidência baixo tem familiares morando na mesma
bastante reduzida de cuidado institucional cidade o que não acontece com as famílias
(14%), maior no NSE médio-alto quando de nível sócio econômico médio-alto que
se tratava de freqüência em tempo parcial, pelo menos a metade não tem nenhum
enquanto no NSE baixo ocorreram os pou- familiar de geração anterior morando em
cos casos de freqüência em tempo integral. Salvador. Finalmente, de forma a abrir
Estas famílias pertencem tanto ao nível só- novas possibilidades de interpretação, os
cio econômico baixo como ao médio-alto, dados quantitativos foram complemen-
aquelas do nível sócio-econômico baixo de tados com entrevistas em profundidade
modo previsível residem em bairros perifé- a respeito de atitudes em relação ao cui-
ricos e as de nível socioeconômico médio- dado institucional com duas mães de NSE
-alto em bairros centrais. Com relação a médio-alto e duas de NSE baixo, sendo, em
faixa-etária dos pais observamos que as fa- cada caso, uma mãe que recorre ao cuida-
mílias de nível socioeconômico alto recor- do institucional e uma que não o utiliza. Os
rem a creches há mais tempo já que o gru- resultados sugerem que o recurso ao cui-
po é composto de pais de todas as faixas dado institucional para crianças pequenas
etárias e o grupo de nível sócio-econômico é modulado por um conjunto complexo de
baixo na sua maioria encontra-se na faixa fatores que também podem ser analisados
etária produtiva entre 30 e 44 anos. Para com utilização do conceito de rede.
explorar possíveis fatores relacionados ao
recurso à creche, examinamos algumas Palavras-chave: cuidado parental, cuidado
relações: nível socioeconômico e horas de institucional, rede de cuidadores
trabalho da mãe – esta relação possibilita Contato: Anamélia Lins, UFBA,
afirmar que as mães do nível socioeconô- anameliafranco@uol.com.br
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ção sobre as alternativas de intervenção verso da escola, não promove, por si só,
educativa direcionada aos alunos com impactos diferenciados, na subjetividade
desenvolvimento atípico. Essa produ- individual do professor. O que desenca-
ção articulou-se, dialeticamente, com o deia impactos na subjetividade, capazes
aprofundamento do status conflituoso de inscrever o outro em uma condição
da configuração subjetiva da sua condi- significativa, depende da qualidade de
ção de professor e das relações estabe- sentidos subjetivos produzidos na relação
lecidas na escola, criando contradições que se constituiu mutuamente (González
que causaram danos, interrompendo Rey, 2004b). Existem processos organiza-
a produção subjetiva em curso. Os no- tivos da subjetividade, com capacidade
vos elementos subjetivos, integrados na generativa e outros que congregam pelo
configuração subjetiva da condição de menos, em situações específicas, como
professor não geraram repertórios de ex- a estudada, qualidades não-generativas,
pressão subjetiva duradoura e consisten- interrompendo ou impedindo o fluxo de
te emocionalmente, apesar das expres- novas produções subjetivas (González
sões pertinentes à condição de sujeito Rey, 1995, 2004a, 2007). Os vínculos emo-
de Teo, interrompendo a reorganização e cionais do professor com a atividade pro-
ruptura de sentidos subjetivos dominan- fissional atuam como recursos subjetivos
tes na configuração em tela. A mudança relevantes às mudanças, na subjetividade
não-significativa, no caso da professora individual dos professores. Na produção
Amália, incidiu na emergência de relativo subjetiva em que houve sensível expres-
interesse pela tarefa de ensinar os alunos são da condição de sujeito, no processo
com desenvolvimento atípico, na negação de subjetivação da experiência com as
da condição de sujeito e no agravamento alunas que têm desenvolvimento atípico,
da insatisfação com o magistério, pois a mais a mudança tornou-se significativa.
experiência com esses alunos mostrou- O movimento tenso e contraditório da
-se problemática, intensificando as difi- relação estabelecida entre a realidade e
culdades da sua prática educativa. Essa a condição pessoal do sujeito requer con-
movimentação foi coerente com os arran- gruência (González Rey, 2005b, 2004a),
jos subjetivos existentes na configuração para que essa condição expresse-se e
subjetiva implicada, expressa por um pro- aprimore-se. Assim, compreendemos
cesso de consolidação dos sentidos subje- que as mudanças na subjetividade dos
tivos dominantes, que gerou novo reper- professores concentraram-se em configu-
tório emocional, contudo, não produziu rações subjetivas associadas à atividade
uma organização subjetiva alternativa. em foco; a produção de novos sentidos
As mudanças configuraram-se a partir de subjetivos firmou-se como marco central
uma tessitura de implicações geradas a das mudanças; os descompassos entre a
partir dos seguintes aspectos: a relação condição de sujeito e a organização sub-
estabelecida com os alunos; a organiza- jetiva favorecem danos na produção de
ção subjetiva, incluindo o envolvimento novos sentidos subjetivos; a organização
emocional com a docência; a expressão subjetiva produzida com as mudanças so-
da condição de sujeito. A inserção de alu- freu implicações relevantes da integração
nos com desenvolvimento atípico no uni- entre processualidade e temporalidade; a
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mudança tornou-se mais intensa, quando para reproduzir tal qual lhe foi ensinado,
as relações entre os envolvidos expressa- caracterizando uma aprendizagem pas-
ram-se com riqueza subjetiva. sivo-reprodutiva (González Rey, 2003b,
2006). Entender como o sujeito pode
Palavras-chave: subjetividade do professor; aprender criativamente e se desenvolver
mudanças; alunos com desenvolvimento como sujeito criativo no contexto educa-
atípico. cional é essencial. Acreditamos que as
Contato: Geandra Cláudia Silva Santos; UECE; características subjetivas que participam
geandracss@yahoo.com.br da expressão criativa do sujeito são cons-
tituídas no decorrer da sua história de
vida e a partir dos diferentes contextos
A CRIATIVIDADE NA APRENDIZAGEM DA sociais de que o sujeito participa. Num
LEITURA E ESCRITA E SEUS IMPACTOS NO movimento dialético, a história individual
DESENVOLVIMENTO INFANTIL e os momentos que vivenciam os sujeitos
Luciana Soares Muniz - UFU/Eseba concretos nos trazem a possibilidade de
lucianasoares.muniz@gmail.com analisar a leitura e a escrita em contexto,
Albertina Mitjáns Martínez - UnB/FE como um processo singular dos sujeitos
amitjans@terra.com.br envolvidos. Apreendemos como Gonzá-
lez Rey (1995, 2003, 2007) que o desen-
O presente trabalho permeia uma pesqui- volvimento da subjetividade consiste em
sa em andamento vinculada ao Programa um processo que ocorre vinculado aos
de Doutorado da Faculdade de Educação sentidos subjetivos que o sujeito produz.
da Universidade de Brasília. Partimos do Como um movimento singular, o desen-
pressuposto de que a escola e a sala de volvimento da subjetividade ocorre na
aula são espaços singulares de aprendi- confluência da subjetividade individual
zagem e desenvolvimento, e convidam a e da subjetividade social. Nessa aborda-
várias reflexões (Muniz, 2006). Tendo em gem, procuramos analisar o impacto da
vista que a função que move a escola é o criatividade no desenvolvimento a partir
próprio processo de ensinar e aprender das complexas relações sujeito-contexto,
torna-se fundamental, no contexto atu- em que o sujeito é ativo e atua conforme
al da sociedade que demanda cada vez os recursos subjetivos de que dispõe no
mais uma postura criativa das pessoas momento da ação, bem como da repre-
frente aos desafios e à complexidade do sentação que concretiza em decorrência
cenário mundial, a expressão criativa dos da situação vivida. Enfatizamos a falta
sujeitos envolvidos nesse processo. Mes- de pesquisas que revelem a expressão
mo convalidando a relevância da criativi- criativa da criança no processo de aqui-
dade na educação, as práticas e os sabe- sição da leitura e da escrita, processo
res organizados no cotidiano escolar nem essencial para todo o desenvolvimento
sempre contribuem para a formação de educacional posterior, e os impactos des-
sujeitos criativos. As salas de aula consti- sa aprendizagem no desenvolvimento
tuem espaços em que o professor ainda integral dela. Consideramos como funda-
é o único detentor do conhecimento e ao mental para a investigação aqui exposta,
aluno cabe a tarefa de ouvir e observar compreender os recursos personológicos
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historicamente datadas, elas não excluem categoria na estrutura social que manifes-
uma a outra, mas, ao contrário, muitas ta variações históricas e interculturais; (2)
vezes se mesclam entre si e justificam alterações na sociedade afetam as crian-
algumas das práticas sociais dos adultos ças tanto quanto os adultos; (3) as crian-
até nossos dias. Os sociólogos apresen- ças contribuem ativamente na sociedade,
tam também as imagens sociológicas da embora a natureza de sua contribuição
infância, organizadas em quatro aborda- seja diferente em distintas culturas. A
gens: a infância construída socialmente, passagem de um tipo de abordagem, que
que se opõe à visão positivista e à crença focalizava a criança, para outro, que vai
em significados pré-estabelecidos, isto é, estudar a infância e as crianças como uma
sendo uma construção social, depende categoria social, vai modificar as práticas
dos contextos social, político, histórico sociais e as relações intergeracionais. Na
e moral, o que revela que os grupos de primeira, as crianças, avaliadas por sua
crianças que compõem a infância são va- imaturidade física e mental, são, sobretu-
riáveis; a tribal, que estuda as relações do, controladas tanto nas famílias quanto
sociais das crianças entre pares e as in- nas escolas e creches, tendo reduzidas
terações destes grupos de pares com os suas possibilidades de utilizar as próprias
adultos próximos; a infância como grupo capacidades e de opinar sobre suas vidas.
minoritário, que focaliza as relações de Nesse caso, as instituições dão voz prin-
poder entre adultos e crianças; e a infân- cipalmente aos adultos que delas partici-
cia como estrutura social, que pesquisa a pam, contrariando o princípio que susten-
infância na estrutura social, com ênfase ta que crianças e adultos têm o direito de
na interdependência entre as gerações. serem ouvidos individual e coletivamente
Parece interessante pensar que as qua- sobre as questões que os afetam e têm o
tro abordagens sociológicas trazem em direito de terem suas inquietações leva-
comum um novo paradigma da infância, das a sério pela sociedade (Moss e Petrie,
que deixa de ser vista como um tempo de 2004). Na segunda, são coconstrutoras
passagem para constituir-se como uma da sociedade, conforme a quinta tese
categoria na estrutura social. De acordo de Qvortrup (2011), são agentes sociais.
com os pesquisadores Dahlberg, Moss e A agência é o compromisso construído
Pence (2003), significa que a infância dei- temporalmente por atores de diferentes
xa de ser vista como estágio preparatório contextos estruturais – os quais, através
para ser entendida como um componente da interação de hábito, imaginação e jul-
da estrutura da sociedade, “importante gamento, reproduzem e transformam as
em seu próprio direito como um estágio estruturas em respostas interativas aos
no curso da vida, nem mais nem me- problemas postos por situações históricas
nos importante do que outros estágios” em mudança (EMIRBAYER e MISHE, 1988,
(p.70). Importante notar que a perspec- p.970). Corsaro (2005/2007) destaca que
tiva estrutural da infância, defendida por a utilização desse conceito em casos con-
Qvortrup (1993, 1995, 1999, 2002, 2005, cretos permite romper com abordagens
2009, 2010) fundamenta-se em três as- individualísticas: “a natureza relacional e
serções principais: (1) a infância não é coletiva da agência, tende a suplantar o
exatamente uma fase da vida, mas uma foco no ator individual” (p.3). Argumen-
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cial teórico da Sociologia da Infância e da todos os seus membros. Ainda que exis-
Psicologia do Desenvolvimento, tomando ta um conjunto de experiências, iniciati-
como campo empírico de análise as prá- vas e lutas “por/com/das crianças”, o que
ticas nas Conferências Nacionais e Locais contribui para a progressiva inclusão das
dos Direitos da Criança e do Adolescente. crianças na agenda sociopolítica mun-
A partir das legislações CDC (ONU, 1989) dial, sua efetiva participação como pro-
e ECA (Brasil, 1990) a questão deixa de ser tagonistas acontece ainda a passos lentos
se as crianças devem participar, e passa (Sarmento et al., 2007). Para responder a
a ser o como e a finalidade dessa parti- questão proposta, inicialmente, serão ex-
cipação (Hinton, 2008). Assim como no postos importantes conceitos da Sociolo-
artigo de Souza, Finkler, Dell’Aglio e Kol- gia da Infância relacionados ao direito de
ler (2010) a questão geradora é o quanto participação, e definidos os conceitos e
as conferências são espaço que expressa práticas de participação e protagonismo,
avanço nas condições de participação in- conforme problematizados pelo referen-
fanto-juvenil no Brasil. Nesta mesa, a dis- cial da Psicologia do Desenvolvimento. O
cussão será ampliada para a participação referencial da teoria Bioecológica do De-
em nível local e municipal, a partir da ex- senvolvimento Humano (Bronfrenbren-
periência das pré-conferências de Porto ner, 2005) é tomado como parâmetro
Alegre/RS no ano de 2011. Considera-se para o olhar sobre os contextos de partici-
essa reflexão pertinente, tendo em vista pação infanto-juvenil. Após um breve his-
que o direito de participação está pre- tórico acerca das Conferências Nacionais
sente nas legislações sendo, entretanto, dos Direitos da Criança e do Adolescente
menos enfatizado e colocado em prática no Brasil, será discutida a participação de
do que os direitos de proteção e provisão crianças e adolescentes nas conferências
(Hinton, 2008; Murray & Hallet, 2000). A nacionais e municipais. Tal discussão será
participação corresponde ao direito da subsidiada a) pela consulta e análise de
criança ser ativa nas tomadas de decisão documentos – programas e anais das con-
que afetam sua vida (Verhellen, 2000), e ferências disponíveis em sites do Governo
é um tema amplamente problematizado Federal Brasileiro e registros das confe-
pela Sociologia da Infância e de interes- rências municipais de Porto Alegre, e b)
se para a Psicologia do Desenvolvimento. pelo acompanhamento direto do proces-
Ainda que a literatura aponte o cresci- so de participação nas pré-conferências
mento global nas atividades de partici- e conferência municipal no ano de 2011.
pação infanto-juvenil, e um significativo Entre os resultados encontrados no estu-
ambiente político para sustentação de do de Souza et al. (2010), o espaço das
tais espaços (Hinton, 2008), as crianças conferências nacionais parece ser visto
permanecem sendo o único grupo social como do outro, o saber sobre os conteú-
verdadeiramente excluído de direitos po- dos em discussão parece estar com a ge-
líticos expressos (Bühler-Niederberger, ração dos adultos, que as expressa a seu
2010a). A concretização de tal direito re- próprio modo e linguagem. A existência
produz um desafio compartilhado entre de uma linguagem dominante, adulta,
as diversas sociedades: a efetivação de que predomina nos espaços de decisões
formas de participação democrática de políticas, é apontada como uma barreira
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
para uma mudança sistêmica nos modos e adolescentes, quanto numa perspectiva
de participação (Hinton, 2008). As regras de acompanhamento e monitoramento
fixas e procedimentos que reforçam as re- das ações políticas implantadas. O con-
lações de poder a partir dos adultos, com- junto das discussões a serem apresenta-
petem com um modo mais fluido e lúdico das neste trabalho aponta que a constru-
que caracteriza a infância. Por outro lado, ção de relações democráticas nos espaços
essas prerrogativas de participação num de vida das crianças pode contribuir para
âmbito de conferência implicam em certo a transformação não apenas dos sujeitos/
treinamento anterior em modalidades de atores/crianças no seu momento de vida
participação nos demais espaços de con- presente, mas também para a emancipa-
vívio da criança e adolescente ao longo do ção social e transformação da sociedade.
seu desenvolvimento/socialização (Rogo-
ff, 2005). Entende-se que o direito à parti- Palavras-chave: participação; sociologia da
cipação deve ser estimulado o ano inteiro infância; psicologia do desenvolvimento.
nos diversos microssistemas nos quais Contato: Lirene Finkler, UFRGS/FASC,
crianças e adolescentes se desenvolvem – lirenefinkler@yahoo.com.br
família, escola, comunidade. As pré-con-
ferências proporcionam justamente ex-
periências de participação em ambientes AS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RUA:
comunitários conhecidos das crianças e DIÁLOGOS ENTRE PSICOLOGIA DO
adolescentes, mas que constituem-se em DESENVOLVIMENTO E SOCIOLOGIA DA
contextos mais amplos. São necessários INFÂNCIA
procedimentos flexíveis para possibilitar Juliana Prates Santana - IP/UFBA
a escuta da opinião das crianças e adoles- julianapsantana@gmail.com
centes, assim como proporcionar contro-
le pelas crianças quanto ao destino dado O presente trabalho pretende discutir a
às suas propostas e reivindicações. Essas importância de um diálogo freqüente e
estratégias não devem simplesmente re- próximo entre a Psicologia do Desenvolvi-
plicar as instituições adultas de participa- mento e a Sociologia da Infância na com-
ção política, como os parlamentos locais preensão do fenômeno das crianças em
ou as comissões consultivas, “mas desco- situação de rua. O interesse social e cien-
brir, através do recurso à imaginação in- tífico sobre esta tema teve o seu apogeu
terventora, modalidades de participação no final dos anos oitenta, havendo mais
compatíveis com as culturas infantis, for- de duas décadas de pesquisas, que bus-
mas de comunicação atentas aos modos cavam entre outras questões, caracterizar
de expressão das crianças” (Sarmento et essas crianças, suas famílias e principais
al., 2007, p. 196). Faz-se necessária a utili- atividades desenvolvidas na rua (Rizzini &
zação do lúdico, dos desenhos, de formas Butler, 2003). Inicialmente eram estudos
alternativas de diálogo com o poder cons- que, no âmbito da Psicologia do Desen-
tituído, que deve, por sua vez, estar pron- volvimento e de outras disciplinas, bus-
to a receber e interpretar formas alterna- cavam assinalar os déficts destas crianças
tivas de participação. Isso é relevante tan- quando comparadas com aquelas que vi-
to nos níveis de reivindicação das crianças viam em um contexto “normal” de desen-
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volvimento. Esta perspectiva foi bastante giarem a escuta das vozes das crianças, já
criticada, sendo que muitos estudos fo- que como afirma Vasconcellos (2007, p.
ram realizados no sentido de compreen- 10), “as crianças são, sim, sujeitos plenos
der a rua como um contexto que promove de direito e informantes competentes de
desenvolvimento, sendo que as crianças suas histórias singulares, que com espe-
ali inseridas possuíam muitas caracterís- cificidades próprias expressam variadas
ticas comuns a todas as outras crianças, dimensões culturais, presentes em toda
como por exemplo, o fato de brincarem, ação/atividade humana”. Privilegiar as vo-
de terem um desenvolvimento moral ou zes das crianças, especificamente aquelas
mesmo expectativas de futuro. No entan- em situação de risco ou vulnerabilidade,
to, muitos estudos acabaram por roman- como é o caso das crianças em situação
tizar a vida nas ruas, desconsiderando os de rua, implica em alguns desafios éticos
constrangimentos e perigos presentes e metodológicos, sendo que as metodolo-
neste espaço, e os fatores sociais, histó- gias participativas parecem ser uma valio-
ricos e econômicos que influenciam esta sa contribuição no processo de visibiliza-
condição. A compreensão da realidade ção das vozes dessas crianças (Santana &
das crianças em situação de rua exige a Fernandes, 2011). Além disso, a pesquisa
superação dessas perspectivas antagô- com crianças em situação de rua exige
nicas, que ora demonizam ora romanti- do pesquisador uma postura de reflexi-
zam a realidade dessas crianças. Tal su- vidade constante já que se trata de uma
peração é facilitada no diálogo estreito dupla alteridade (Marchi, 2007), uma vez
entre a Psicologia do Desenvolvimento e que as crianças em situação de rua não
a Sociologia da Infância, na medida em são adultos, mas também não são crian-
que ambas fornecem elementos que au- ças como as outras crianças. Outro ele-
xiliam na compreensão da realidade des- mento que tem aproximado as duas áreas
tas crianças, ao mesmo tempo, que pro- de conhecimento é a investigação sobre
vê subsídios para uma intervenção mais as produções culturais das crianças ou as
qualificada. Para ilustrar esta questão, chamadas culturas de pares. De fato, este
será descrita uma investigação participa- parece ser um tópico de bastante con-
tiva realizada com crianças em situação fluência no contexto brasileiro, tanto em
de rua inseridas em uma instituição de termos teóricos, como metodológicos,
atendimento na cidade de Salvador. Esta sendo o conceito de reprodução interpre-
investigação teve por objetivos investigar tativa o principal elo de ligação (Müller &
a trajetória de vida e o cotidiano institu- Carvalho, 2009). Por fim, um elemento
cional das crianças, assim como as suas crucial na área dos estudos sociais da in-
produções culturais (Santana, 2008). Ao fância parece ser a interdisciplinaridade,
assumir as crianças enquanto atores so- também explicitada na pesquisa e de-
ciais competentes e produtores culturais, fendida por vários pesquisadores como
esta pesquisa explicita elementos que pa- crucial no desenvolvimento da pesquisa
recem ser importantes na convergência sobre a infância e crianças (Prout, 2005;
entre a Psicologia do Desenvolvimento e Carvalho, Müller & Sampaio, 2009). Não
a Sociologia da Infância. Um deles refere- se trata de uma tarefa simples, mas in-
-se à necessidade das pesquisas privile- dispensável. Prout (2005) argumenta a
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abaixo da linha da pobreza; b) grupo de dos dados foi dividida em três etapas: es-
famílias cujos adolescentes estavam nas tudo de caso; efeito da intervenção intra-
escolas públicas c) grupo de famílias que -grupo e inter-grupo. Entre as questões de
utilizaram o salário maternidade. O nú- pesquisa estão: O planejamento familiar é
mero de famílias participantes por grupo uma política de saúde que não atinge as
foi definido a partir dos alunos - adoles- populações da baixa renda? Nestes des-
centes de escolas públicas estaduais que níveis educacionais o que ocorre com o
consentiram na participação da pesquisas. processo cultural? Desta forma, num am-
Para garantir um poder estatístico de 80% biente onde o relacionamento entre os
a amostra foi de 150 famílias em média di- membros se dá de forma harmoniosa é
vididas nos grupos. O estudo foi iniciado possível que adolescentes o tenha como
com a realização de um estudo piloto. A o ideal para suportar as transformações
avaliação do sistema familiar foi realizada que ocorrem neste período de transição
por um questionário com itens demográfi- da fase de criança para o início da vida
cos e econômicos da população envolvida. adulta. A qualidade da relação com a fa-
Dados primários: a avaliação do sistema mília tem um impacto importante em
familiar foi realizada por um questioná- vários aspectos da vida do adolescente
rio com questões demográficas e sócio- como, por exemplo, na formação do au-
-econômicas da população como idade toconceito que, segundo Peixoto (2004), é
reprodutiva, número de filhos, urbano/ desenvolvido por influência das avaliações
rural. Os instrumentos de pesquisa foi in- feitas por diferentes membros da família
ventário do clima familiar (ICF – Teodoro, relacionadas com as representações que
2008). Para a intervenção foi desenvolvido os adolescentes fazem de si mesmo. As re-
um programa baseado na terapia familiar lações familiares foram o foco dos proce-
consistindo de orientações sócio-educati- dimentos de intervenção. Durante a apli-
vas seguida de tarefas para que os parti- cação dos procedimentos de intervenção,
cipantes percebam o efeito da mudança. realizada prioritáriamente nas escolas, foi
Através de sessões realizadas com a famí- possível perceber a dificuldades que os
lia serão focalizados os seguintes temas: adolescentes tinham de falar sobre os con-
educação, lazer, habitação, relação fami- flitos familiares. A principal preocupação
liar, valores, orçamento doméstico, saúde, era se os pais teriam acesso as informa-
sexualidade e afetividade. Este momento ções coletadas. Essa dificuldade demons-
é de discussões com o grupo familiar nas trou que os problemas familiares eram
conclusões em que chegaram cada mem- ciclicos e que romper com os mesmos não
bro da família sobre as situações de con- dependeria apenas das ações da interven-
flito, os fatores externos e internos que ção, mas sim da capacidade de cada estu-
interferem no seu desenvolvimento e na dante de aplicar as orientações recebidas.
unidade familiar. Diante disto, será reali- O Programa de Planejamento familiar na
zada dinâmica de grupo que promovam a Perspectiva do Desenvolvimento tem o
conscientização sobre os processos espe- formato de passo a passo, constituído de
cíficos e amplos abordados nestas ações. atividades realizadas pelos participantes,
As sessões de orientação social educativa sendo os mesmos a gente de sua própria
tiveram duração de 60 minutos. A análise transformação. Esse modelo aborda as
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marcados. Do ponto de vista jurídico, o foque das ações torna-se, deste modo, es-
Brasil fez avanços, ao compreender esse tritamente verticalizado e limitado (Burt,
período como aquele que ocorre dos 12 1998). Reconhecendo a diversidade de
aos 18 anos e conceber crianças e adoles- experiências, condições de vida, carac-
centes como sujeitos em condição pecu- terísticas raciais, étnicas, econômicas e
liar de desenvolvimento, por isso, inimpu- culturais, dentre outras, o Ministério da
táveis nos âmbitos civil e criminal (Brasil, Saúde adotou a expressão “adolescências
1990). Diversas áreas do conhecimento e juventudes”, com o objetivo de compre-
procuram então inscrever essa adoles- ender essa multiplicidade de fatores, num
cência num fenômeno explicável, e vão continuum, que implica em experiências
se instituindo assim, a normativa jurídica, diferenciadas com significados específi-
pedagógica e médica, que visam oferecer cos (Brasil, 2010, p. 46). Nessa perspecti-
os contornos para esse conceito. Embora va, para além de extirpar os “males” que
haja uma multiplicidade de olhares, é con- acometem essa população, sugere-se que
senso que se trata de um momento dis- as ações considerem três dimensões: a
tinto no processo de desenvolvimento hu- macrossocial, relacionada às questões de
mano, entre a infância e a vida adulta. Fato classe, desigualdades, gênero e etnia; a
é que a temática da adolescência mobiliza institucional, que diz respeito aos disposi-
as sociedades. Na atualidade, comumente tivos de ensino, às relações produtivas e
encontramos definições para os adoles- de mercado e a biográfica, inscrita na tra-
centes como incompreensíveis, inacessí- jetória pessoal do adolescente. Assim, ao
veis ou difíceis, presentes no cotidiano, se desenvolver ações voltadas para esses
por meio do discurso de pais, profissionais sujeitos é necessário colocar em questão
da saúde e educação e nos veículos de co- imagens estigmatizadas que atravessam o
municação. Para Rios (2002), vigora nos conceito de adolescência. Compreendê-la
dias atuais o caráter adultocêntrico, que a partir de modelos socialmente desfa-
concebe uma adolescência irresponsável, voráveis, alude a uma forma equivocada
instável, rebelde e imatura. A concepção de abordagem, pois reafirma um modelo
de adolescência subjacente a qualquer estereotipado de ser adolescente (Toneli,
serviço oferecido a essa população traz, 2004). No estudo em questão, pretende-
pois, implicações para as atividades que -se propor a concepção de adolescência
vão ser realizadas. No campo das políti- como uma categoria situada no contexto,
cas de saúde, por exemplo, a Organização o que possibilita sua despatologização. A
Pan-americana de Saúde, observa que as perspectiva da teoria histórico-cultural,
ações voltadas para os adolescentes limi- desenvolvida por Vygotsky (1996) con-
tam-se à educação pela informação em cebe esse “momento”, no processo do
relação a comportamentos problemáticos desenvolvimento humano como uma ca-
específicos, tardiamente, quando estes já tegoria gerada pela interação das pessoas
comparecem como uma questão de saú- com o seu meio. Durante a adolescência,
de pública, evidenciados em dados epide- transformações significativas ocorrem. Ao
miológicos. É o caso das ações que visam à longo do desenvolvimento humano as for-
prevenção de doenças sexualmente trans- ças motrizes é que vão pôr em movimento
missíveis, uso de drogas e violência. O en- os comportamentos. Em cada nova ida-
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referência a estes aspectos ocorre mais suas narrativas também contribuem para
frequentemente durante a leitura de uma a elaboração de narrativas mais coerentes
história, do que em outros tipos de intera- por parte de seus filhos, nas quais existe
ção social. Ouvir histórias, portanto, é um maior habilidade de levar em conta a pers-
importante ato de passagem ao longo do pectiva do ouvinte. Quanto mais as mães
caminho para a comunidade de mentes, utilizam termos mentais, mais favorecem
metáfora utilizada por Nelson (2005) para a ampliação do conhecimento, reflexão
explicar o ingresso da criança no mundo e utilização destes pelas crianças, o que
social e cultural. Apesar de muitos estu- também contribuiria com sua teoria da
dos estrangeiros indicarem que há fortes mente. A atividade materna de contação
relações entre linguagem materna e dis- de histórias mostra-se uma ferramenta
curso narrativo infantil, no Brasil, ainda há efetiva tanto no desenvolvimento lingüís-
poucas pesquisas na área. Neste estudo, tico infantil quanto cognitivo e social.
comparam-se as narrativas das mães e
das crianças quanto ao nível de coerência Palavras-chave: Contação de Histórias;
e de alusão aos estados mentais. Utilizou- Coerência Narrativa; Teoria da Mente.
-se um delineamento transversal correla-
cional para avaliar a associação entre as
variáveis do estudo: narrativas maternas ANÁLISE DA COERÊNCIA NAS
e discurso narrativo da criança. Partici- NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS DE
param 27 díades mãe-criança, tendo as PRÉ-ADOLESCENTES
crianças idade entre 4 e 5 anos, de ambos Lídia Suzana Rocha de Macedo - UFRGS
os sexos, matriculadas em uma escola pri- lidiasrmacedo@gmail.com
vada de Porto Alegre. As mães foram con-
vidadas a contar aos filhos uma história de Ao longo de seu desenvolvimento a crian-
um livro de gravuras, fornecido pela pes- ça é auxiliada a re-constituir e avaliar suas
quisadora, nas dependências da escola. experiências pessoais durante as conver-
Após a narrativa da mãe, estas solicitavam sações com seus pais. A construção de
que as crianças narrassem a história para uma narrativa autobiográfica depende da
a mãe do seu jeito. As narrativas das mães interação de vários desenvolvimentos que
e das crianças foram analisadas quanto a se beneficiaram dessas conversações, em
indicadores de estados mentais e quanto especial: do desenvolvimento cognitivo,
aos índices de coerência narrativa. Cons- da memória autobiográfica, da habilidade
tatou-se que avaliar a habilidade narra- narrativa e do self. A narrativa autobiográ-
tiva infantil é uma forma de acessar seu fica prescinde do desenvolvimento de dis-
desenvolvimento sociocognitivo e tam- positivos cognitivos, pois o modo narrativo
bém de estabelecer relações com o estilo é um modo de funcionamento cognitivo
narrativo materno. Resultados prévios do que tem implicações imaginativas no que
estudo indicaram que as crianças cujas tange às ações e intenções humanas (Bru-
mães produziram histórias com maior ní- ner, 1997). A aquisição do pensamento
vel de coerência também apresentaram formal constitui-se como pré-requisito bá-
narrativas mais coerentes. Mães que utili- sico para construção da narrativa autobio-
zam mais referência a estados mentais em gráfica. Já o desenvolvimento da memória
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qualidade, pelo nível de detalhe e relevân- resultados mostraram que o uso desses
cia dos eventos para o self (Baron & Bluck, dispositivos permitiu comparar os grupos
2009). Esse resultado confirma a literatu- em relação ao desenvolvimento cognitivo
ra, pois o nível de detalhe e a coerência (raciocínio autobiográfico e capacidade de
na narrativa de uma experiência pessoal compreender a experiência), da memória
é resultado das conversações precoces autobiográfica, da habilidade narrativa e
mãe-criança, em especial, do estilo mater- da compreensão sobre o próprio self.
no de relembrar (Cleveland, Reese & Grol-
nick, 2007; Fivush, Haden & Reese, 2006; Palavras-chave: Pré-adolescência; Narrativa;
Peterson & McCabe, 1994; Reese, Haden Comunicação Familiar.
& Fivush, 1993). As relações entre even-
tos e personalidade foram estabelecidas
apenas nos dois grupos que costumam ANÁLISE ESTRUTURAL E
conversar em casa, o que mostra maior CONVERSACIONAL DAS NARRATIVAS
capacidade desses pré-adolescentes para PESSOAIS CONSTRUÍDAS NA HORA DO
refletir sobre a experiência e sobre o self. CONTO
Esse resultado também confirma a litera- Luciane De Conti - UFPE
tura, pois é no contexto das conversações ludeconti@gmail.com
precoces em que a mãe relembra em con- Financiamento: CNPq
junto com a criança de suas experiências
que se desenvolve um modelo para ava- A perspectiva narrativista em Psicologia
liar a própria experiência (Fivush, 1991). toma a linguagem como aspecto nuclear
Os dois grupos que costumam conversar da constituição subjetiva humana à medi-
em casa estabeleceram mais compara- da que estabelece o elo entre a ordem do
ções entre o passado e o presente. Esses psicológico e a da cultura, por meio dos
resultados mostram que esses pré-ado- significados. É pelo trabalho de narração
lescentes puderam compreender melhor que o sujeito interpreta os fatos vivencia-
as experiências vividas, sendo capazes de dos, construindo uma significação pessoal
identificar continuidades e descontinuida- sobre eles (Bruner, 1997). O sentido do
des em suas linhas de vida. Compreender tempo vivido é resultado de uma inter-
melhor o próprio self, implica no funcio- pretação, nunca um dado imediato. A lin-
namento da memória autobiográfica, guagem constitui-se, então, em uma fer-
que define o self no tempo e em relação ramenta privilegiada de mediação entre
aos outros (Nelson & Fivush, 2004). Já o o sujeito e o seu meio, sendo a interação
uso de elementos biográficos complexos, social a base desse processo. Esta intera-
como nas referências ao background bio- ção é condição inevitável e necessária de
gráfico, ilustrações e generalizações, reve- inserção social do indivíduo enquanto par-
lam ainda a agilidade do funcionamento ticipante de um processo histórico e cultu-
da memória autobiográfica. Isso porque, ral que o produz e é, dialeticamente, por
é através da memória autobiográfica, ele produzido (Colaço, 2004). A habilidade
que a pessoa mantém um senso de con- da criança em narrar suas experiências
tinuidade no tempo (Bauer, 2007; Nelson pessoais é uma das primeiras modalida-
& Fivush, 2004). De um modo geral, os des narrativas a se desenvolver e depende
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apesar das características em comum que textos que os professores passam; 6-Eu
os grupos de alunos de cada curso apresen- queria psicologia, mas tem que ler muito;
tam, a constituição individual de cada um é 7-Psicologia é meu sonho, mas não tem por
muito importante na formação dos grupos, aqui.” A partir daí identificamos a necessi-
planejamos nosso trabalho. O presente dade de um trabalho de desenvolvimento
estudo discute o percurso de uma turma de habilidades e competências diversas
de pedagogia durante as disciplinas minis- dentre elas:1-o conhecimento sobre o cur-
tradas pela autora. O percurso serviu para so escolhido e consciência da co-constru-
nortear grande parte de nosso trabalho em ção das habilidades durante o curso; 2-a ca-
sala de aula, após compreendermos que a pacidade de trabalhar cooperativamente;
base das necessidades dos alunos era pro- 3-a valorização do curso e o enfrentamento
veniente da leitura e da escrita. Construí- em situações que envolvem exposição de
mos estratégias no sentido de promover o idéias;4- a compreensão e elaboração das
aprendizado e desenvolvimento de proces- idéias no processo de leitura e escrita e
sos de pensamento complexo, por conside- 5-o incentivo à pesquisa. Através de ativi-
rarmos a importância desses processos na dades que envolviam leituras individuais e
formação de professores. O relato foi reti- conjuntas, relatamos uma experiência com
rado de trabalho com disciplinas de psico- leitura conjunta de um texto científico. Du-
logia de desenvolvimento e aprendizagem, rante o episódio, que exibe o trabalho com
acompanhada durante o período de um a turma, o nome da autora do texto era
ano, disciplinas obrigatórias do primeiro nomeado pela leitora como “mulherzinha.”
e segundo períodos do curso. Tomamos Nossa proposta é, portanto, discutir a ne-
como base os indicadores anteriores ob- cessidade de formação de na formação de
servados em todos os grupos de alunos do pedagogos, partindo da compreensão da
mesmo curso de pedagogia, de três anos situação social de desenvolvimento como
anteriores: 1-as turmas apresentavam a uma das bases para o planejamento das
falta de interesse e motivação para ativida- atividades de sala de aula.
des que envolviam leitura e escrita, ainda
Palavras-chave: pedagogia; situação social de
que possa parecer estranho e incoerente
desenvolvimento
para um curso de formação de educadores;
2-apresentavam desvalorização da profis-
são em contradição à supervalorização do
psicólogo; 3-havia de modo geral muita di- MR LT04
ficuldade de entrar em contato com o erro. Mesa Redonda
Após uma conversa informal com a turma
que ingressava havia pouco tempo, no pri-
meiro período, chegamos a algumas das MR LT04-1460 - DESENVOLVIMENTO
respostas que nos levaram aos indicadores HUMANO E SUBJETIVIDADE UM
sobre o curso de Pedagogia: 1-“Vim porque DIÁLOGO ENTRE SAÚDE E EDUCAÇÃO
não passei em outra. 2- Eu não gosto mui-
to do curso, não quero ser professora, mas O objetivo da mesa é discutir as ideias e
só podia fazer esse curso. 3-É mais barato; socializar conhecimento na perspectiva
4-Detesto ler; 5-Não entendo nada desses do desenvolvimento humano como um
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conforme apresentado pela Teoria da Sub- pendência absoluta. De acordo com Morin
jetividade de González Rey, entre outros (1999) autonomia e independência não se
autores contemporâneos, contribui signi- separam, ao contrário, na medida em que
ficativamente para o avanço no conheci- nos tornamos autônomos, ficamos cada
mento da Psicologia e áreas afins. Gonzá- vez mais dependentes de inúmeras condi-
lez Rey (2004) define o desenvolvimento ções necessárias à emergência da autono-
como um processo integral do sujeito que mia. Neste sentido, apresenta-se a subver-
influencia simultaneamente diferentes as- são como alternativa para tornar-se sujei-
pectos da personalidade em configurações to. A subversão é aqui entendida como a
subjetivas que acarretam no crescimento atitude de subverter uma ordem reinante
do indivíduo em diversas esferas de sua adotando-se uma posição diferente e
vida. Este crescimento não significa acu- muitas vezes contrária a anteriormente
mulo de informações, mas produção de estabelecida ou proposta (Santos, 2008).
sentidos subjetivos que afetam sua per- Representa uma modificação configuracio-
sonalidade como um todo. Neste sentido, nal que pode se dar em diferentes níveis,
torna-se imperioso falar da categoria Su- ou seja, pode ter seu epicentro no âmbito
jeito. Segundo Gonzalez Rey, o sujeito se religioso, científico, político entre outros.
forma na atuação consciente e intencional Porém, como um verdadeiro terremoto,
em seus diversos espaços de convivência e esta modificação configuracional pode al-
relacionamento (Rey, 2004a). Está engaja- cançar as mais longínquas estâncias que
do em seu cenário atual e produz sentidos se ramificam a partir do epicentro e abalar
subjetivos a este relacionados, possibili- até as estruturas mais sólidas. Daí abre-
tando sua reconstituição e reconfiguração. -se o espaço para o novo. A ordem que se
O sujeito é gerador de alternativas frente subverte está na interface relacional entre
aos contextos de tensão, e emerge das a subjetividade social e a individual, sen-
rupturas provenientes de experiências que do assim, abrange o compartilhamento
se apresentam impositivas. Touraine apre- de significados e o sentido subjetivo do
senta interessantes apontamentos sobre sujeito. O sujeito subversivo enquanto
este tema. Para ele, o indivíduo torna-se constituinte e constituído da subjetivida-
sujeito quando se reencontra na vida e de social, participa e compartilha dos ele-
desta toma posse (2004). Reconhece-se o mentos subjetivos de seu grupo, cultura e
sujeito em seu engajamento a serviço de sociedade, porém, em algum momento a
sua própria imagem, que constitua sua práxis deste grupo deixa de lhe apresentar
razão de ser, em seu retorno a si mesmo sentido e ele busca novas formas de pen-
e àquilo que confere sentido a sua vida, sar e agir em que possa encontrar subsí-
àquilo que cria sua liberdade, sua respon- dios que sustentem essas novas produções
sabilidade e sua esperança (2007). Neste de sentido. Cabe ressaltar que a noção de
sentido, o sujeito aparece na resistência subversão apresentada, não agrega ne-
às forças modeladoras e alienantes e na nhum tipo de valor em si. Não se trata de
diferença. Ele surge na vontade e compro- uma ideia qualificante, que esteja associa-
misso consigo de afirmar-se em sua sin- da a um valor (a pessoa subversiva é boa
gularidade. Estas definições não implicam ou má), muito menos, representa uma vál-
em dizer que o sujeito é portador de inde- vula entre dois polos: negativo ou positivo,
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visto que o conceito adotado fundamenta- da instabilidade gerada por tal conflito. A
-se na perspectiva da complexidade, supe- partir destas considerações, propõe-se a
rando o pensamento dicotômico. Também subversão como uma alternativa para a
não representa a passagem de um estado emergência do sujeito. A abordagem de
estático para outro, contrário ou diferente, Touraine (2007) sobre sujeito caracteriza
uma vez que a constituição do sujeito e da o sujeito subversivo quando o apresenta
subjetividade acontece de forma dinâmi- dotado de rebeldia, emergindo na vonta-
ca, processual e sistêmica. Trata-se de um de de escapar às forças, regras e poderes
tema que consolida-se pela atribuição de que o impedem de exercer a autenticida-
sentido, sendo assim, a subversão deve ser de. “Não há sujeito senão rebelde, dividido
entendida dentro de um contexto, e na re- entre raiva e esperança.” (p. 119). O tema
ferência a um sujeito ou grupo específico. da subversão está diretamente relaciona-
A subversão representa uma produção de do ao desenvolvimento, uma vez que a
sentidos que constitui um modus operandi produção de sentidos subjetivos é central
diferenciado. González Rey (2005) diz que para ambos os processos e a emergência
“o sentido subjetivo está na base da sub- do sujeito tem papel fundamental para o
versão de qualquer ordem que se queira desenvolvimento humano.
impor ao sujeito e à sociedade desde fora”
(p. 22). Mas a subversão difere do sentido Palavras-chave: Sujeito; Subversão;
subjetivo, pois este não produz, necessa- Desenvolvimento.
riamente, uma ação contraposta. O sujeito
pode produzir sentidos subjetivos em con-
sonância com uma ordem estabelecida ou EQUOTERAPIA, EDUCAÇÃO E
proposta de acordo com sua configuração PROMOÇÃO DE SAÚDE
subjetiva. Sendo assim, a principal rela- Vanessa Martins Rubim - SEEDF/UnB
ção entre a categoria sentido subjetivo e a nessarubim@gmail.com
subversão é que ambos representam uma
produção simbólico-emocional que consti- Pensar na tríade equoterapia, educação e
tui a práxis do sujeito. Porém, a diferença promoção de saúde, talvez não seja algo
entre estas categorias é que a práxis do tão simples como pareça, principalmente
sujeito subversivo apresenta-se como dis- quando buscamos como apoio para essa
sonante da ordem estabelecida e da con- discussão categorias sistêmicas, comple-
figuração de sentidos subjetivos vigente xas e processuais ancoradas na Teoria da
na constituição do sujeito. A subversão é Subjetividade de caráter histórico-cultural
uma produção de sentidos que entra em desenvolvida por González Rey (2003) e
conflito com aqueles que configuram sub- os estudos acerca do Tratado de Defec-
jetivamente o sujeito proporcionando uma tologia de Vygotsky (1997). Faz-se mister
reconfiguração que vai além dos sentidos salientar a princípio que a equoterapia
produzidos até o momento, que se confi- enquanto método terapêutico (Ande-Bra-
gura com essas novas produções, e que o sil,1989) possui ação terapêutica por meio
faz avançar os limites de seu escopo bus- do cavalo como possibilitador de novas
cando em novos arcabouços aquilo que experiências propiciadas pela cinestesia
se lhe apresente como alternativa diante de seus movimentos. O que pode gerar a
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Aids está disseminada em todo o país e de otimismo exagerado têm como base
no mundo, infectando milhares de pes- uma avaliação comparativa, mostrando
soas nos diferentes ciclos da vida. Deste claramente a força da referência social.
modo, estratégias de prevenção, tanto in- Pode-se perceber que, se a percepção
dividuais quanto coletivas, permanecem da própria vulnerabilidade leva, no caso
imprescindíveis para reduzir e controlar das outras doenças a um comportamen-
as taxas de transmissão, além das estra- to preventivo, a ligação entre estas duas
tégias, há necessidade de pesquisas para variáveis não se aplica no caso da Aids.
identificar os fatores psicológicos e situa- Os modelos mais conhecidos de compor-
cionais que possam levar a uma mudança tamento de saúde foram elaborados para
neste comportamento. Entre as dificulda- lidar com doenças não fatais e até, ocasio-
des de desenvolver e manter um compor- nalmente, reversíveis e no caso da Aids os
tamento preventivo nas pessoas destaca- comportamentos de risco a serem evita-
-se a dificuldade, da maioria delas, em ter dos estão, em geral, ligados à vida sexual
uma noção clara do próprio nível de risco. o que os torna eminentemente sociais,
Vários vieses psicológicos influem sobre afetando outras pessoas e dependendo
esta dificuldade de percepção. Do ponto de sua colaboração. Os autores Fisher e
de vista cognitivo há uma tendência ge- Fisher (1992), discutem uma conceitu-
neralizada para a baixa avaliação do risco ação e um conjunto de operações dela
acumulado, segundo Linville, Fisher e Fis- derivada que possa fornecer uma base
chhoff, estudiosos da década de noventa. mais sólida às intervenções visando a re-
Outra distorção comum da percepção é a dução do risco Aids. A informação acerca
de se acreditar mais seguro que os ami- dos métodos de transmissão da Aids e de
gos e estes mais seguros que os demais. modos específicos de prevenir a infecção
Este otimismo parece ter origem na per- são elementos indispensáveis à obtenção
cepção de controle. Segundo Thompson, de um comportamento preventivo. A mo-
Nanni e Levine (1994) o controle pode ser tivação para mudar o comportamento de
definido como primário, isto é, a crença risco é o segundo determinante da dispo-
de que pode influenciar a realidade, ou sição à prevenção. Finalmente as habili-
secundário, obtido por meio da aceitação dades comportamentais necessárias para
da realidade. Fatores motivacionais como executar os atos preventivos completam
os estereótipos acerca das características os três elementos do modelo. O modelo
dos grupos de pessoas atingidas são con- é chamado pelos autores de (IMB) vindo
siderados como provocando um otimismo de: Information – Motivation – Behavior.
irrealista, de quem se considera diferente (Fisher e Fisher, 1993). A partir do modelo
dos demais. Este tipo de reação foi en- geral (IMB) as informações, a motivação
corajada muito tempo pela mídia, que já e as habilidades a serem utilizadas serão
deixou de associar a Aids a drogados e ho- específicas ao grupo que o pesquisador
mossexuais. Outro fator motivacional que visa atingir, seja este de homossexuais,
leva ao otimismo irracional é o mecanis- drogados, donas de casa ou estudantes
mo de negação defensiva, que ajuda a re- universitários. O modelo proposto pelos
duzir a ansiedade, pela redução na avalia- autores já foi amplamente aplicado em di-
ção dos riscos. Finalmente todos os tipos versos países, em especial no Brasil, como
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pessoas, alargando o universo de inter- passa a garantir aos surdos que Libras seja
locutores; tornaram-se mais ousados em a sua língua de instrução (Decreto Presi-
abordar e manter contato com pessoas dencial 5.626/2005). Espera-se que a es-
estranhas; e passaram a ter maior con- cola se adapte às necessidades educacio-
trole sobre as próprias vidas, realizando nais desses alunos, mas o que por vezes
atividades simples como escolher roupas, ainda se observa é o fenômeno denomi-
administrar dinheiro, expor vontades e nado “copismo”, onde os alunos surdos
modificar hábitos. A última autora con- dentro das classes regulares fazem uma
tribui com proposta interdisciplinar no cópia mecânica, desprovida de significado
atendimento à adolescentes em conflito e que não conduz à aprendizagem. Tam-
com a lei, revelando a mudança da abor- bém apresentam uma produção textual
dagem interinstitucional governamental, rudimentar, muitas vezes incompreensí-
que transfere o atendimento da Secre- vel, por não dominarem a gramática, o lé-
taria de Justiça para a de Educação. Para xico e a semântica da língua portuguesa.
melhor incluir socialmente esses jovens, Tradicionalmente, dentro do âmbito esco-
os profissionais propõem a criação de um lar, as metodologias e práticas educativas
projeto individualizado para cada adoles- empregadas são apoiadas em aspectos fo-
cente, o PIA. Relata o acompanhamento e néticos da nossa língua. Em decorrência,
o destino de nove adolescentes em cum- os alunos surdos do ensino fundamental
primento de medida socioeducativa e em vivenciam grandes dificuldades para aqui-
situação de vulnerabilidade social, em um sição da língua portuguesa, o que pode
projeto que agrega a atividade esportiva à eventualmente ser entendido como in-
formação profissional, com o objetivo de capacidade cognitiva. Por serem filhos de
inserção no mercado de trabalho. pais ouvintes, são prejudicados na forma-
ção inicial de conceitos e mecanismos que
desenvolvem o pensamento, uma vez que
INCLUSÃO E AUTOESTIMA ANDAM língua e pensamento caminham juntos,
JUNTAS? DECORRÊNCIAS DA PEDAGOGIA um influenciando o outro. Os problemas
VISUAL relacionados à educação de alunos surdos
Celeste Azulay Kelman - UFRJ vão desde a estrutura e funcionamento
cel.azul@superig.com.br da escola, passando pelo acesso ao currí-
Financiamento: FAPERJ culo até as pessoas que respondem dire-
tamente pela inclusão escolar no ensino
A história escolar dos surdos foi marca- fundamental: seus professores e gestores
da por movimentos de fracasso escolar (Kelman; BRANCO; 2003; 2004). Para veri-
e evasão, produzindo sentimentos de ficar o estágio atual de desenvolvimento
frustração e baixa-estima. Nas primeiras escolar de alunos surdos na rede pública
décadas do século XXI, entretanto, têm municipal, procuramos identificar se a
sido observadas no Brasil transformações escola está se transformando para assu-
com a política de inclusão e o reconheci- mir uma posição de respeito à construção
mento da Libras como a língua oficial da identitária desses alunos, tornando-se
comunidade surda (Lei 10.436/2002). Em uma escola “bi-bi”: bicultural, que englo-
decorrência, o governo cria legislação que be a cultura ouvinte e a cultura surda, e
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possível concluir que existe uma respon- de 80, transfere o foco do assistencialismo
sabilidade passada de uma geração para para a possibilidade de promoção do de-
outra quanto ao cuidado com o surdo. A senvolvimento, sendo a criança conside-
conquista da língua representou um mar- rada “sujeito de direito”. Com base no Es-
co no desenvolvimento destes adultos tatuto da Criança e do Adolescente, na Lei
surdos. Na medida em que aprenderam 8.0669/90, e em diálogo com o Sistema de
a usar uma língua como meio de comuni- Atendimento Socioeducativo – SINASE –,
cação, mesmo não sendo fluentes, estes o DEGASE vem promovendo mudanças a
alunos passaram a interagir com outras partir de reformulações sobre as Ações So-
pessoas, alargando o universo de seus in- cioeducativas. Entre elas, os antigos CRIA-
terlocutores. Pelos relatos dos familiares, MS passaram a se constituir como unida-
eles se tornaram mais ousados em abordar des vinculadas aos Municípios, responsá-
e manter contato com pessoas estranhas veis pela medida de “liberdade assistida”.
e passaram a ter maior controle sobre as Em contrapartida, o governo do Estado do
próprias vidas, realizando atividades sim- Rio de Janeiro instituiu o Departamento
ples como escolher roupas, administrar di- de Ações Socioeducativas, desvinculando
nheiro, expor vontades, modificar hábitos o DEGASE da Secretaria de Justiça. Através
da vida diária. Ganharam certa autonomia do decreto de nº 18.493/93, ele foi trans-
nas atividades da vida social. As famílias ferido para a Secretaria Estadual de Educa-
são muito resilientes quanto ao novo meio ção como órgão estadual responsável pela
de comunicação e não demonstraram in- execução das medidas socioeducativas: “de
teresse com seu aprendizado, relatando infrator à adolescente em conflito com a
que os gestos satisfazem as necessidades lei”. O trabalho passou a ser realizado por
de comunicação. Percebe-se que, para as uma equipe de profissionais previamente
famílias, a surdez é uma condição limitan- capacitados através de um curso com du-
te se suas expectativas ainda são baixas ração de 40 horas, ministrado por equipes
quanto ao desenvolvimento do surdo. do DEGASE. Nesse contexto, o pedagogo
é basicamente responsável pelo acompa-
Palavras-chave: surdez, língua de sinais, nhamento do processo de escolarização;
interação familiar os agentes educativos, pelo acompanha-
mento das atividades dos adolescentes no
CRIAAD; o assistente social, pelo acompa-
AS NOVE VELAS: UM OLHAR SOBRE O nhamento do adolescente na relação com
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE as famílias; o psicólogo, pelo acompanha-
ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO mento psicológico do adolescente, volta-
DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO do para o aspecto do desenvolvimento. O
ESTADO DO RIO DE JANEIRO trabalho do psicólogo possui uma proposta
Mercedes Villa Cupolillo - FAP/São Gonçalo-RJ interdisciplinar e, em nossa experiência,
mercedes.cupolillo@gmail.com deparamos-nos com situações freqüen-
tes de conflitos e troca de papéis entre os
A ruptura com os velhos costumes da crian- profissionais. Na direção do desenvolvi-
ça “em situação de risco”, a partir das con- mento, uma das propostas sinalizadas pelo
quistas de políticas de direito na década SINASE é a do projeto individualizado para
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leme que levou alguns deles até o fim da 9394/1996 passa-se a discutir essa relação
jornada. A ausência dele, à deriva do barco. de modo mais ampliado, inclusive no que
Após a análise dos casos, observamos que toca a educação dos jovens aos adultos.
alguns fatores foram determinantes para Sendo assim, nesta perspectiva, apresen-
que cada vela pudesse se coloca ao vento: tamos uma provocação como proposta
a aceitação/credibilidade do adolescente deste Simpósio “A Formação Docente deve
pelo grupo de profissionais e pela família; Considerar a Psicologia do Desenvolvimen-
as formas de vínculo estabelecidas com os to para a Educação Inclusiva do Jovem ao
profissionais e grupos do CRIAAD e do PRO- Adulto?” com trabalhos de grupos envolvi-
JETO GRAEL; as estratégias desenvolvidas dos com a Educação Básica que, de alguma
pelo adolescente na relação com os demais forma, procuram se aproximar. O primeiro
durante o seu percurso no CRIAAD; e, final- deles, apresentado por Robson Camara,
mente, “a ingenuidade”. De vez em quan- Kattia Amin, Andréia Tavares e Simão de
do, acordo desolada com a maré. Lembro- Miranda sintetiza a experiência do Grupo
-me daqueles barquinhos desnorteados. de Estudo e Pesquisa em Educação de Jo-
Quando ficam assim, logo me preocupo, vens e Adultos (GEPEJA) frente aos cursos
temendo que as velas se deteriorem e já de formação continuada da SEE-DF/EAPE.
não possam continuar a velejar. As velas Nele, analisam o processo sócio-histórico
ainda não têm rumos muito claros. Além de aprendizagem considerando o desen-
disso, freqüentemente não sabem se dei- volvimento proximal na educação de jo-
xar levar pelos bons ventos, resistindo ao vens e adultos. O segundo apresenta ainda
encontro de si mesmos. que resumidamente, alguns resultados de
investigações as quais tive a oportunidade
Palavras-chave: desenvolvimento, medida de orientar, realizadas por Marina Lopes e
socioeducativa, inclusão laboral Igor Menezes. Eles representam a partici-
pação da Universidade Estadual de Goiás/
Unidade Universitária de Formosa/ Depar-
SP LT04 - Simpósio tamento de Química. Nele revelam como
transpor obstáculos pedagógicos ao desa-
fiar preconceitos e propor as adaptações
SP LT04-1496 - A FORMAÇÃO DOCENTE metodológicas necessárias para efetivar a
DEVE CONSIDERAR A PSICOLOGIA DO educação inclusiva no que tange o desen-
DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO volvimento da educação científica, com o
INCLUSIVA DO JOVEM AO ADULTO? caso específico do ensino de Química para
Juliana Alves de Araújo Bottechia - UEG/UnU estudantes com deficiência visual. O tercei-
- Formosa ro trabalho é apresentado por Renato San-
juliana.bottechia@gmail.com tos, Ana Marques, Alexandra Pereira e Vâ-
nia Bacellar, todos colegas de profissão que
Houve um tempo que a Psicologia do De- atuando na Secretaria de Estado de Educa-
senvolvimento em relação à Educação res- ção do Distrito Federal estiveram à frente
tringia, em certa medida, suas ocupações da experiência de construir o módulo res-
ao ensino na infância. No entanto, com ponsável por relacionar Diversidade, Edu-
o percurso desenvolvido após a LDB nº. cação e Trabalho nos cursos “Construindo
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das bancadas e dos equipamentos onde nas mudar nossos métodos de ensino. Em
o professor deve ensinar os principais consequência, teremos benefícios para
procedimentos de segurança para todos toda a turma, pois os alunos compre-
os alunos. Com base nos dados apresen- enderão melhor os conteúdos se forem
tados, conclui-se que houve uma evolu- apresentados a eles métodos diferentes
ção sensível no tratamento destinado às do que os de costume. Facilitar a vida do
pessoas com deficiência. Ao mesmo tem- aluno com deficiência visual é excluí-los,
po, houve um resgate aos direitos dessas eles precisam apenas de ferramentas
pessoas e uma atenção maior foi dada à para concorrer em condições similares
Educação Especial, onde o professor tem aos alunos videntes, ao invés de recebe-
o papel mais importante no processo de rem privilégios que acabarão prejudican-
ensino aprendizagem; porém; ele preci- do o seu desenvolvimento.
sa de apoio total do governo como a sua
profissionalização de eficácia que deveria Palavras-chave: Química para Cegos; Escola
ser obrigatória em todos os cursos de gra- Inclusiva; Adaptação de Materiais.
duação a fim de estarem preparados para Contato: Juliana Alves de Araújo Bottechia,
lidar com os alunos especiais. As conse- UEG/ UnU-Formosa,
quências psicológicas da perda da visão juliana.bottechia@gmail.com
variam de indivíduo para indivíduo, sendo
ela congênita ou adquirida, necessitando
assim, de acompanhamento especializa- A EDUCAÇÃO E O TRABALHO NA
do. Estes impactos acontecem de acordo CONSTRUÇÃO DA DIVERSIDADE
com a idade em que a pessoa adquire a HUMANA
deficiência visual, o grau da deficiência Renato Ferreira dos Santos - SEE-DF
entre outros fatores, mas o principal é reneja.12@gmail.com
a personalidade da pessoa. Além disso, Ana José Marques - SEE-DF
as famílias das pessoas que sofrem com marques.ana67@gmail.com
este tipo de trauma também precisam de Vânia Elisabeth Bacelar - SEE-DF
um acompanhamento para aprender a li- vania.elisabeth@yahoo.com.br
dar com a situação sem que tragam mais Alexandra Pereira da Silva - SEE-DF
problemas psicológicos ao afetado. A uti- alexalina@bol.com.br
lização das técnicas e adaptações apre-
sentadas no decorrer do trabalho visa No decurso da história da sociedade hu-
uma melhor compreensão da matéria mana a educação e o trabalho têm sido
por parte de todos os alunos. Adaptações atividades fundamentais na afirmação da
feitas com materiais de baixo custo são condição humana e servido de marco di-
estratégias essenciais para tornar o ensi- ferenciador dos humanos em relação aos
no de Química um modelo a ser seguido demais animais. Embora sejam atividades
para construir uma educação democráti- humanas de dimensões diferentes, a in-
ca e acessível a todos. As iniciativas apre- terligação entre ambas está na base da
sentadas em nosso trabalho mostram aos constituição humana, pois o trabalho no
professores que não é impossível lecionar sentido ontológico é uma atividade em
Química para alunos cegos, devemos ape- que o ser humano, também um ser da na-
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tureza, mobiliza seus recursos corporais de, conhecer e reconhecer os grupos so-
para, em relação social necessária, trans- cialmente excluídos torna-se necessário.
formar a natureza e produzir os meios Além disso, existe a necessidade de iden-
necessários à sua subsistência. Esses tificar os fatores geradores de tais exclu-
meios necessários são materiais e sim- sões, pois as estratégias de conhecimento
bólicos. Ao proceder conscientemente geram o entendimento e a possibilidade
na transformação da natureza, o ser hu- de se pensar ações concretas que impe-
mano também transforma a sua natureza çam a reprodução da exclusão. No que
tornando-a cultural. Ele produz cultura e tange ao gênero, pretende-se abordar, de
projeta a sua existência através das gera- forma breve, o histórico que demonstra a
ções futuras e, ao longo da sua existência, construção do processo de dependência
vem ampliando progressivamente a pro- em que a mulher foi submetida e de lu-
dutividade do trabalho. Para tal, recorre tas pelas mudanças, que paulatinamente,
à educação para transmitir a experiência vem conseguindo alcançar, bem como as
social acumulada e ao fazê-lo proporcio- transformações ocorridas na sociedade,
na o desenvolvimento humano que, na no que se refere às escolhas sexuais pra-
concepção histórico-cultural de desen- ticadas por homens e mulheres. Quanto
volvimento humano, não pode prescin- à temática étnico-racial, a abordagem
dir do desenvolvimento da sociedade. O será no campo conceitual de raça, etnia,
trabalho em tela tem por objetivo apre- de como se processa o racismo no mun-
sentar conceitos básicos da diversidade, do capitalista e os estabelecimentos das
em geral, e das diversidades étnico-racial, diferenças entre racismo, preconceito e
de gênero, e da língua utilizados na cons- discriminação. Em relação à diversidade
trução de um módulo sobre diversidade, linguística, serão apontados três campos
educação e trabalho. Vale salientar que, importantes: várias línguas nativas do
desde a metade do século XX, ocorre uma Brasil; línguas estrangeiras incorporadas
série de discussões sobre a dimensão da ao nosso sistema escolar e as variantes
liberdade, a essas discussões associa-se a linguísticas dos grupos socioculturais.
noção de cidadania, “que implica a con- Evidencia-se que o público da Educação
quista de um amplo leque de direitos ci- de Jovens e Adultos está inserido em con-
vis, políticos, sociais e, mais recentemen- texto de diversidade e que este público
te, os direitos culturais” (Silvério, 2006, p. busca educação e trabalho. Segundo a
7). O sentido original da ideia de liberda- concepção histórico-cultural, o ser huma-
de transformou-se, deixando de ser uma no se constitui humano através do outro
ideia abstrata e vazia, passando a ser um (pedagógico) nas relações intersubjetivas
desejo dos indivíduos poderem controlar e pela linguagem. O desenvolvimento hu-
suas autorrealizações. Essa evolução leva mano é intersubjetivo e discursivo. Assim,
os grupos de excluídos a formarem mo- a educação adquire contornos basilares
vimentos sociais (de mulheres, negros, no desenvolvimento humano cuja relação
índios, homossexuais), que visam a sua com a sociedade humana do seu tempo é
melhor qualidade de vida: inserção na dialética e histórica. Isto é, o ser humano
sociedade, aquisição de direitos, acesso se desenvolve com a sociedade e, esta se
a bens e serviços. Diante dessa realida- desenvolve com o ser humano. Além dis-
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so, a atualidade de uma sociedade reflete vra interna do interlocutor para que haja
a sua história. Então, o ser humano cons- o diálogo. E o diálogo entre dois sujeitos,
tituído também concentra os conheci- o sujeito aprendente/ensinante e o su-
mentos e valores de gerações anteriores, jeito ensinante/aprendente, deve neces-
isto é, a história da própria humanidade. sariamente ocorrer para que haja ensino
O trabalho assim concebido, ou seja, no aprendizagem e, portanto, desenvolvi-
sentido ontológico tem se caracterizado mento humano. Ter a compreensão des-
enquanto eixo norteador da educação se processo é essencial para a formação
desde os primórdios da humanidade e continuada do professor que trabalha na
tem sido fundante na promoção do de- Educação de Jovens e Adultos (EJA). Por
senvolvimento humano. De acordo com a isso, no curso de formação docente reali-
concepção sócio-histórica, é nas relações zado pela Escola de Aperfeiçoamento de
sociais estabelecidas para a produção dos Profissionais de Educação (EAPE), abor-
meios necessários à sua sobrevivência- o damos esses fundamentos educacionais.
trabalho- que os seres humanos se pro- Esse trabalho analisa e discute o processo
duzem enquanto humanos. Nas relações de ensino-aprendizagem de indivíduos
intersubjetivas mediadas pela lingua- nas escolas de EJA do Distrito Federal em
gem, os processos e as funções do seu que indivíduos situados em contextos de
grupo social são internalizados e passam diversidade podem ter acesso a conhe-
para o controle do indivíduo quando há cimentos que possam ser utilizados para
a construção das funções psicológicas além da escola.
superiores e o desenvolvimento huma-
no. Nesse momento o indivíduo adquire Palavras-chave: Diversidade, Trabalho e
autonomia para transformar os valores Educação de Jovens e Adultos.
e conhecimentos recebidos socialmente. Contato: Renato Ferreira dos Santos, SEE-DF,
Fica configurado o espaço educacional, reneja.12@gmail.com
mesmo nos ambientes de pouco domí-
nio sobre a natureza das sociedades e
comunidades comunitárias que caracte- A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
rizaram os primórdios da sociedade hu- PARA ATENDIMENTO EDUCACIONAL
mana. Para a concepção sócio-histórica ESPECIALIZADO CONTRIBUI NA
o desenvolvimento das funções psicoló- PROMOÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR?
gicas superiores passa necessariamente Susana Silva Carvalho - SEE-DF/EAPE – GPEE
pela mediação do outro e da linguagem. susanaxedas@gmail.com
O desenvolvimento humano é intersubje- Leda Regina da Bitencourt Silva - SEE-DF/
tivo e discursivo. A conceitualização está EAPE – GPEE
entre essas funções psicológicas supe- ledaregina@yahoo.com.br
riores. No entanto, o contexto social em
que os indivíduos estão inseridos é fun- O presente texto parte de algumas refle-
damental para que esse desenvolvimento xões originadas de professores que atuam
aconteça. Bakhtin acrescenta que não há nos cursos de formação docente na Esco-
locução sem interlocução, ou seja, a pa- la de Aperfeiçoamento dos Profissionais
lavra do locutor deve ser dirigida à pala- da Educação – EAPE. Preocupados com
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seus espaços, incluindo as escolas. O tra- professores, alunos e outros sujeitos e re-
balho de pesquisa tem se dado por meio latos sobre relações de cooperação e/ou
de observação participante na escola e conflito na instituição escolar e na histó-
no bairro, entrevistas a antigos mora- ria do bairro e da escola. Especificamente
dores, representantes de associações, com relação à construção e manutenção
alunos, participação em reuniões ordi- do memorial, pretendemos estender o
nárias e eventos da escola, em reuniões trabalho com os docentes a alunos e à
do movimento por melhorias no bairro, comunidade, visando à criação de uma
e por meio de conversas com membros cultura de preservação. Este trabalho en-
da equipe escolar. A observação segue volve a busca de material - documentos
os princípios da etnografia (Geertz, 1978; textuais, registro fotográfico, cadernos, li-
Hymes, 1982), e parte dela foi realizada vros e outros objetos escolares -, ativida-
como um trabalho de Iniciação Científica des de organização das fontes e oficinas
(Faria, 2010). Das conversas e entrevistas, para preservação e acondicionamento de
podemos apreender alguns aspectos que documentos, para o que contaremos com
caracterizam esta instituição, envolvendo o apoio do Centro de Memória da Educa-
tensões e conflitos no cotidiano escolar. ção (Faculdade de Educação - USP). A arti-
A observação da dinâmica do funciona- culação entre as atividades de pesquisa e
mento da escola foi complementada pela extensão tem proporcionado aprofunda-
análise do Projeto Político-pedagógico. mento teórico e metodológico por parte
No bairro, esta se deu a partir de visitas dos professores, e as etapas que frequen-
acompanhadas por moradores do bairro, temente ficam nas mãos dos pesquisado-
bem como com professores e gestores. As res responsáveis são compartilhadas com
entrevistas têm fornecido indícios sobre membros dos grupos. Conforme aponta-
a realidade e a história do bairro e da es- do na avaliação do projeto, as atividades
cola. Os entrevistados têm falado de suas têm contribuído para uma maior integra-
trajetórias como alunos ou funcionários, ção com a comunidade, para a constru-
de sua relação com a escola e com pes- ção de um “outro olhar sobre a escola e
soas que ocuparam esse espaço no pas- o bairro”, um maior conhecimento das
sado. Os trabalhos referentes ao projeto condições de vida dos alunos e o reco-
de extensão concentram-se em torno de nhecimento da necessidade de levá-las
quatro eixos - memória do bairro, memó- em consideração ao propor atividades
ria da escola, memória dos sujeitos que pedagógicas. Há também a referência a
ocupam o espaço escolar e história do pa- problemas e dificuldades no percurso.
trono da escola - e envolvem atividades Acreditamos que os projetos contribuam
de reflexão (sobre os temas da memória não só para transformações na relação
e subjetividade), visitas de observação, escola/comunidade, mas também para
elaboração de roteiros, realização de o fortalecimento da identidade da esco-
entrevistas e busca de documentos para la e o repensar de práticas e relações, na
compor um memorial escolar dinâmico e medida em que cria espaços de emergên-
aberto à comunidade escolar e local. As cia de memórias e narrativas de vida e
entrevistas têm produzido depoimentos experiências. Tomando como referencial
sobre trajetórias de vida e escolares de teórico elaborações de autores que nos
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curso de vida. No entanto, estas rupturas que precisa ser privilegiado por pesqui-
tornam-se fatos integrantes de uma nova sas sistemáticas voltadas para a constru-
reconfiguração de sua identidade (do ser ção de políticas públicas adequadas para
jovem de origem popular a ser estudante este segmento. Além disso, reitera-se a
universitário cotista). Além disso, constro- necessidade de novos estudos na área de
em outro sentido subjetivo para seu proje- psicologia do desenvolvimento, buscando
to de vida, através da experiência vivida e o aprofundamento dos aspectos identi-
de suas reconfigurações (do ser estudante tários deste grupo de jovens, tais como
cotista a “ser sujeito” no mundo competi- organização política, diversidade cultural,
tivo). Apesar das diferenças de condições além do reconhecimento social e afetivo.
econômicas e culturais com as quais se Assim, o tema da juventude no contex-
deparam para permanecer na universida- to da diversidade mostra-se campo fértil
de e das discriminações sofridas para al- de investigação da Psicologia do Desen-
cançar a sua mobilidade social, declaram- volvimento comprometida com o reco-
-se mais confiantes em sua competência nhecimento das diferenças e respeito às
e valor pessoal. Observou-se, ainda, que identidades, especialmente no contexto
os episódios vividos por estes jovens no brasileiro, contribuindo com indicadores
cotidiano possibilitam sua afiliação afetiva teóricos para problematização da condi-
à universidade, não de forma passiva às ção juvenil na universidade e para a cons-
normas institucionais e hegemônicas, mas trução de políticas públicas voltadas para
eles transformam-se frente às pressões e este público.
dificuldades enfrentadas, elaboram etno-
métodos (Coulon, 2008) e (re)constroem Palavras-chave: processos identitários,
seus referenciais identitários, adquirindo desenvolvimento afetivo, universitários de
novos contornos e valores. Como afirma origem popular
González Rey (2006), diante das mudanças Contato: Sueli Barros da Ressurreição, UNEB,
ocorridas na trajetória de vida, a pessoa é suelibarros13@gmail.com
capaz de gerar novos sentidos que levam
a configurações subjetivas alternativas,
facilitadoras do desenvolvimento pesso- LT07-761 - A DIVERSIDADE COMO
al. Conclui-se que a universidade, espaço PRESSUPOSTO BÁSICO NOS PROCESSOS
onde ocorrem importantes transições, é DE INCLUSÃO ESCOLAR
também palco onde uma nova juventu- Izete Santos do Nascimento - SEEDF
de enfrenta grandes desafios relativos à izesantos@uol.com.br
afirmação da diversidade e à exigência de Rute Nogueira de Morais Bicalho - UAB
lutar pelo direito à diferença, pela recusa arutebicalho@gmail.com
de uma educação excludente, exercendo
uma política voltada para a convivência Diversidade e Inclusão Escolar são temas
democrática. Á guisa de considerações recorrentes e amplamente discutidos em
preliminares, é possível afirmar que a ex- livros, revistas, periódicos e artigos edu-
periência dos jovens de origem popular na cativos em geral. A diversidade do público
universidade revela uma nova identidade existente no ambiente escolar tem sido
de estudante e de cidadão, fenômeno investigada prioritariamente focando as
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Gonçalves, 2011; Oliveira, 2011). Contudo, luta, assumida e travada pelos sem terra,
não encontramos referências de estudos também é deixada muito evidente. A or-
que tratem especificamente das significa- ganização interna do Movimento é apre-
ções atribuídas à infância e ao ser criança sentada, através de texto bem escrito e
em assentamentos e acampamentos. Fi- adaptado à linguagem infantil. Chama-nos
caremos também atentas, durante nossa a atenção a apresentação que é feita dos
investigação, a como a presença (ou não) Sem Terrinha, através de características:
do trabalho infantil tem implicações nas “Mas os Sem Terrinha são muito corajo-
significações de infância e do ser criança sos”; “E como Sem Terrinha não tinham
em assentamentos do Ceará. Um recorte nada de bobo, gritaram bem alto para os
neste trabalho diz respeito a concepções soldados: nós não queremos balas, quere-
de criança/infância que atravessem a es- mos terra para os nossos pais” (Sem Ter-
trutura dos textos que compõem revistas rinha, 2009); “nós sem terrinha fazemos
produzidas pelo MST, destinadas a serem parte desde o início da luta pela terra”
trabalhadas com as crianças. Para o MST, (Sem Terrinha, 2010). Fica-nos a pergunta
“desde cedo as crianças aprendem através a ser refletida: como esses conteúdos de
da participação na luta, que as coisas não significação identitária são (re)construídos
nascem prontas, que o mundo está para pelos próprios sem terrinha? Nossa inves-
ser feito. Sendo assim, a realidade não é tigação há de abordá-la, com a profundi-
algo imutável, mas para transformá-la é dade possível.
importante tratar a terra como lugar de
morar, de trabalhar, de produzir, de viver, Palavras-chave: criança, MST, infância
de morrer e de cultuar os mortos” (Mon-
teiro, 2005, p. 16). Segundo Caldart (2004,
apud Silva, 2008), o ser sem terrinha apre- LT07-1271 - EDUCAÇÃO ESCOLAR
senta uma condição infantil ou jeito de ser QUILOMBOLA: MEMÓRIA E VIVENCIAS
criança peculiar, assim como sua condição DE SABERES NAS COMUNIDADES
de estudante. Sua participação se liga à QUILOMBOLAS DO SAPÊ DO NORTE: ES
história do MST, dando um matiz diferen- INTERFACES NA ESCOLA
te à sua infância. Nem todas as crianças Olindina Serafim Nascimento - UFES
acampadas e/ou assentadas são de fato
sem terrinha, embora tal condição se faça O presente trabalho é um recorte de uma
possível, a partir da formação política. Tal pesquisa em andamento no curso de Pós-
perspectiva corrobora com afirmação de -Graduação no PPGE-UFES que vem retra-
uma educadora do MST: “a primeira idéia tar a necessidade de considerar a memó-
que me vem, quando se fala de criança, ria e o saber acumulado dos mais velhos
é a necessidade de formação política”. do território do Sapê do Norte, úteis nos
Essa realidade é percebida claramente no conteúdos das escolas nas comunidades
conteúdo encontrado em Revistas SEM quilombolas, visando criar caminhos me-
TERRINHA. A importância da compreen- todológicos-pedagógicos para o desenvol-
são do significado dos símbolos do MST, vimento do processo educativo. O territó-
assim como do princípio sagrado que eles rio do Sapê do Norte-ES inclui as comuni-
representam, é muito clara. A história da dades quilombolas de toda a região norte
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do Estado do Espírito Santo, os municípios dia e sustento, bem como o seu modo tra-
de São Mateus e Conceição da Barra. De dicional de viver, o livre exercício de suas
acordo com (Silva, 2005), há no território práticas, crenças e valores culturais consi-
quilombola do Sapê do Norte, 39 comuni- derados em sua especificidade. A história
dades, cujo grande desafio atualmente é da educação escolar quilombola tem sido
ter reconhecidos os seus direitos de pos- marcada pela instabilidade e pelo descaso.
se e titularidade das terras. Apresentare- Da conquista da escolaridade à existên-
mos dados das escolas das comunidades cia dos estabelecimentos de ensino nas
quilombolas, articulando reflexões sobre comunidades, passaram-se muitas lutas
as experiências pedagógicas ali realizadas travadas com os poderes constituídos res-
com ideias centrais de Vygotsky (1991), ponsáveis pelas políticas publicas. A pre-
tais como a mediação do outro na cons- sença de escolas, muitas vezes, parece ser
trução de significados que nos permitem mais uma concessão governamental do
pensar o mundo que nos cerca e o papel que uma obrigação em assegurar direitos
da afetividade e das relações intra e extra- (GT Educação quilombola, 2008). Entre as
-escolares no desenvolvimento do sujeito reivindicações das Associações Quilombo-
que aprende. Do final do século XIX até las estão o direito à educação e a efetivi-
quase o final da segunda metade do sé- dade da Lei 10.639/2003 de 09/01/2003,
culo XX, os quilombos foram tratados na que estabelece as diretrizes e bases da
historiografia e na educação brasileira educação nacional, para incluir no currí-
como se restringindo aos “redutos de es- culo oficial da Rede de Ensino a obriga-
cravos fugidos” e a experiências do perío- toriedade da temática “História e Cultura
do escravista. No entanto, por todo o país, Afro-Brasileira”. A população quilombola
agrupamentos negros rurais suburbanos busca não apenas o direito ao estudo, mas
e urbanos se constituíram não somente lutam também para que suas tradições e
como fuga ou resistência direta ao siste- pertencimento sejam temas constantes
ma vigente, mas como uma “busca espa- no currículo escolar. Atualmente, pela via
cial” (NASCIMENTO, 1989), na construção dos movimentos sociais, temos consegui-
de território que é social e histórico, atra- do avanços em relação à incorporação da
vés da manutenção e reprodução de um cultura afro-descendente nos currículos
modo de vida culturalmente próprio. Após escolares, mas a diversidade do povo bra-
mobilizações regionais em que estiveram sileiro enquanto alvo do processo educa-
envolvidos militantes e parlamentares ne- cional ainda permanece como desafio nas
gros e entidades de apoio, a abordagem escolas. A educação constitui-se um dos
do tema assumiu outra direção com a principais mecanismos de transforma-
publicação do artigo 216 na Constituição ção de um povo. De acordo com (Nunes,
Federal que se refere diretamente aos 2006), uma concepção de educação que
quilombos. Nos últimos vinte anos, os ne- vá ao encontro dos interesses emancipa-
gros rurais, em todo o território nacional, tórios que as comunidades quilombolas
organizados em Associações Quilombolas, vêm construindo requer a promoção de
reivindicam o direito à permanência e ao uma leitura de mundo que dê ênfase à sua
reconhecimento legal da posse das terras trajetória histórica, como lembrança viva
ocupadas e cultivadas por eles para mora- de que o tempo não esvaece a disposição
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famílias carentes passam por necessidades as formas de viver esse lúdico constituem
básicas; as crianças permanecem na escola uma das possibilidades das crianças vive-
em turno integral. Com fundamentação te- rem suas infâncias. Quando a criança está
órica na Psicologia e na Educação, a investi- com a palavra, ela produz mudanças e se
gação busca compreender as diversas pos- configura como agente histórico e social.
sibilidades de viver a infância. Utilizamos A Psicologia estuda a importância do de-
como instrumento de pesquisa o desenho senvolvimento psíquico. As brincadeiras
representando episódios de uma criança e são primordiais nesta etapa da vida, na
suas falas sobre um dia livre (Schmid-Kitsi- atenção, memória, concentração, compre-
kis, 1994). A partir das falas das crianças, ensão de regras e papéis sociais, autoesti-
foram organizadas categorias a posterio- ma e criatividade. O trabalho desenvolvido
ri e sobre estas foi realizada uma análise na escola reflete junto aos profissionais
quantitativa e qualitativa, cruzando a fre- a importância que eles exercem junto às
quência e porcentagem do aparecimento crianças nesse processo humano, frente
das categorias a partir do conteúdo reve- às suas necessidades e possibilidades de
lado pelas mesmas. O grupo de crianças desenvolvimento físico, mental e social e o
pesquisado, na faixa etária ente 5 e 6 anos, quanto a escola tem contribuído para esti-
expressa suas idéias por meio de falas e mular as aprendizagens infantis através do
desenhos. Os episódios foram desenha- lúdico. A forma que estas crianças se de-
dos em seis momentos, desde o acordar senvolvem refletirá na aprendizagem. En-
até a hora de dormir, detalhes da forma tendemos que a interação é fundamental
que preenchem seu dia e as brincadeiras para se constituírem novos olhares sobre
que vivenciam tornando-se informantes a infância, proporcionando novas formas
privilegiados. O pesquisador entrevista de se vivê-la hoje. Podemos entender o
o participante de forma que este relate espaço da escola como um espaço de tro-
as intenções que teve no seu desenho e, cas, de afetos, de grandes interações e
conjuntamente, manifestam sentimentos que, por abrir essas brechas de convivên-
e emoções ao decodificar seus traços re- cia, passa a ser um espaço de formação
gistrados no papel. Os desenhos e falas re- de identidades, de diferentes infâncias. As
velam que é pelas interações nos espaços crianças mostram suas compreensões de
da casa, da rua e da escola que elas vivem mundo na contemporaneidade e compre-
as suas diferentes atividades, explicitando endem sua participação neste mundo de
distintas possibilidades de infância. Os re- uma forma bastante lógica e criativa. Elas
sultados indicam o quanto as culturas de acompanham as transformações históricas
infância dependem das interações e dos e sociais e também produzem mudanças,
significados dos lugares reconhecidos pe- configurando-se, assim, como agentes
las crianças. A dinâmica das interações em ou atores históricos e sociais. As crianças
cada um desses espaços é própria. A esco- dispõem de um conhecimento, fazem di-
la é mais um lugar para crianças viverem versas relações, são capazes de avaliar e
suas infâncias. Elas não são passivas nas vivenciar vários papéis e inventam suas es-
situações de entretenimento; elas são ati- tratégias. Transgridem as regras atribuindo
vas protagonistas. Elas têm presente que a outros significados para suas atividades.
não-ludicidade faz parte da vida. O lúdico e Pesquisando com as crianças, precisamos
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contexto histórico social mais amplo. dade. Neste trabalho, têm-se como obje-
Sendo assim, é de se supor que o (re) co- tivos: analisar as representações sociais
nhecimento das representações sociais de infância dos acadêmicos de licenciatu-
construídas pelos indivíduos pertencen- ra em química, física e matemática de
tes a um determinado grupo social deve uma instituição pública de Joinville; dis-
passar, necessariamente, pelo conheci- cutir as representações sociais dos aca-
mento da história de construção desse dêmicos dos referidos cursos quanto à
conceito pela comunidade científica, adolescência, e relacionar as representa-
uma vez que é a partir daí que os mes- ções sociais apresentadas pelos acadêmi-
mos são difundidos e propagados para cos destes cursos de formação de profes-
outras instâncias sociais. Segundo Mos- sores e a educação. A EDUCAÇÃO VOLTA-
covici (1984) representação social é algo DA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
um tanto complexo para ser compreendi- A formação docente tem suas problemá-
do. Isto se deve ao fato de que deste con- ticas enraizadas na história, partindo daí
ceito confluem noções de origem socio- os desafios da contemporaneidade. A
lógica, como a cultura, a ideologia e no- exigência ao professor é demasiada, a ele
ções de procedência psicológica, tais são dadas inúmeras responsabilidades.
como a imagem e pensamento. Por este Será que a educação oferecida aos pro-
motivo representação social pode ser fessores em suas formações é suficiente
chamada de um conceito psicossociológi- para eles encararem todas as dificulda-
co. Este autor considera que as represen- des, desafios e principalmente responder
tações sociais constituem uma organiza- de forma positiva a maioria das exigên-
ção psicológica, uma forma de conheci- cias feitas? Não. Para o professor conse-
mento específico da sociedade e que não guir administrar as facetas existentes é
se reduz a nenhuma outra forma de co- necessário ir além dos muros de uma ins-
nhecimento. Desta forma, ele diferencia tituição. Gradativa e historicamente vem-
as representações sociais de outras for- -se focalizando a importância na forma-
mas como os mitos, a ideologia, a ciência ção de professores, em passos miúdos,
ou as visões de mundo, embora conside- mas que proporcionam em longo prazo
re que elas compartilham aspectos co- grandes mudanças. É ampla a responsa-
muns com cada uma. As representações bilidade das Universidades e Faculdades
sociais são constituídas, em grande par- na formação profissional de docentes. A
te, através da cultura acumulada na so- ela cabe além de simplesmente passar-
ciedade ao longo da história. O caldo cul- -lhes a teoria, instigar, deixar claras as di-
tural circula pela sociedade por meio das ficuldades e desafios, sua importância na
crenças compartilhadas, dos valores, das formação de cidadãos, descentralizando
referências históricas e culturais que for- do sujeito a culpa pelas dificuldades e fo-
mam a memória coletiva e constroem a calizando o contexto social. Segundo Pe-
identidade da própria sociedade. Estas se nin (2001, p. 9) um dos princípios citados
encontram, na maioria das vezes, no con- para formação de professores é que ele:
junto de condições sociais, econômicas e “... deve partir da noção de que a docên-
históricas, bem como no sistema de cren- cia não se realiza num quadro abstrato de
ças e valores existentes na referida socie- relações individualizadas de ensino e
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Tudo é mais disponível, mais liberado, cebe-se que eles veem a infância e a ado-
descartável. As facilidades e soluções que lescência nos dias atuais como complica-
os jovens encontram para resolver seus das, afirmando que tem uma tendência
problemas são muito mais rápidas que há inclusive da infância ir desaparecendo
algum tempo atrás. A falta de espaço aos poucos. Mencionaram que não exis-
para o amadurecimento tem preocupado tem mais crianças como antigamente. A
os educadores, inclusive quanto ao com- adolescência está se antecipando e as
portamento dos alunos e suas perspecti- crianças param de brincar cada vez mais
vas em relação à educação. Muitas vezes cedo. Consideram que os adolescentes
os adolescentes sabem tudo do mundo vivem em uma sociedade violenta, ex-
virtual, mas estão com os pés longe do postos a marginalidade e as drogas. A se-
chão, sonhando com uma realidade que xualidade também é vivenciada precoce-
não existe. Por este motivo, conhecer as mente. Acreditam que as crianças e ado-
representações sociais dos futuros pro- lescentes estão muito presos a tecnolo-
fessores sobre a adolescência é um passo gia, e deixam de lado brincadeiras que
fundamental, pois oportuniza a eles envolvem o grupo. Isso afeta o desenvol-
maior conhecimento da realidade. ME- vimento social. Apresentaram como pro-
TODOLOGIA. Foi aplicado aos alunos da blemática a falta de tempo dos pais para
disciplina de Psicologia da Educação de darem atenção aos filhos, o que conduz,
uma instituição pública de Joinville um segundo eles a insegurança, a falta de ob-
questionário com perguntas abertas a jetivos e limites. Afirmam que os adoles-
fim de verificar a percepção dos acadêmi- centes estão cada vez mais sedentários e
cos quanto à infância e a adolescência. que os jovens vão a festas, se drogam,
Os questionários foram aplicados entre bebem, sem pensar nas consequências, e
os meses de março e abril de 2011. A ta- deixam os estudos de lado. Além disso,
bulação dos dados foi realizada através estabelecem uma análise baseada no
da técnica da análise de conteúdo pro- contexto em que vivem, algumas preci-
posta por Bardin (2002). Esta técnica me- sam trabalhar desde jovens, outros se
todológica consiste em que o pesquisa- sentem mais solitários. Os acadêmicos
dor construa conhecimentos através da relatam sobre travessuras, acontecimen-
análise do discurso e da organização das tos trágicos, contam fatos relacionados
palavras utilizadas pelo entrevistado. As com a vida escolar, sobre a dedicação pa-
questões apresentadas para os acadêmi- terna e outros sobre brigas com amigos
cos foram: como é a infância e a adoles- da mesma idade durante estes períodos.
cência hoje; conte uma história da sua Quando questionados sobre os momen-
infância ou adolescência; o que é ines- tos inesquecíveis destas fases menciona-
quecível para você nestes dois períodos e ram como pontos positivos: as férias em
o que se poderia fazer para mudar a rea- casa de parentes, a reunião familiar, o
lidade atual em relação a infância e a primeiro beijo, andar de bicicleta, as
adolescência. RESULTADOS E DISCUS- brincadeiras de boneca e liberdade para
SÕES. Através de questionário respondi- brincar nas ruas, ir à escola, mudança de
do pelos alunos dos cursos de licenciatu- cidade e de amigos. Suas únicas respon-
ra em química, física e matemática, per- sabilidades eram estudar. Relatam tam-
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bém sobre a vida em família, mencionan- sária também uma preocupação maior
do a relação com os avós. Afirmam que com a educação dos adolescentes. É im-
gostavam de tomar banho de rio e viajar portante, segundo mencionaram, escu-
com os pais. Um deles mencionou que tar mais os jovens, seus problemas, e dar
gostava de ver, por horas, a mãe dese- oportunidades para que possam crescer
nhando e que deixavam a imaginação e progredir. Concordam que seria impor-
guiar a brincadeira. Outros pontos elen- tante que os pais tivessem consciência de
cados foram: os primeiros contatos com a seu papel e não jogassem toda a respon-
vida noturna, o amadurecimento pesso- sabilidade em cima dos professores, par-
al, as afinidades, o primeiro namorado, ticipando da vida dos filhos. E por último
amizades da época e o aprendizado com que as escolas deveriam proporcionar
os professores, pais e o com experiência palestras aos pais, com temas ligados a
de vida deles. O carinho dos pais, que relacionamentos, e também a diferença
sempre observavam tudo que faziam, em da educação de uma criança que vive no
fim todas as descobertas feitas neste pe- mundo tecnológico e uma de antigamen-
ríodo foram apontados como aspectos te. CONCLUSÕES. Os acadêmicos dos cur-
positivos. Arrumar toda a bagunça, cair sos de licenciatura irão ministrar aulas
de bicicleta, a morte do padrinho na in- para crianças e adolescentes e identificar
fância, o fato de ter passado tanto tempo suas representações sociais é primordial
sozinho na adolescência, a questão dos para uma formação profissional sólida e
conflitos no casamento dos pais, as ami- voltada para o desenvolvimento de cida-
zades deixadas para trás, as mudanças dãos conscientes e engajados na luta
repentinas no corpo, as brigas como os pela transformação social. Verificou-se
pais ou a super proteção por parte deles, que os alunos separaram em algumas ca-
o jeito antigo deles pensarem, preconcei- tegorias as suas percepções, entre elas
tuosos em alguns casos, a distância da citam-se: comportamento dos jovens,
mãe que morava em outra cidade e uma questões familiares, educação, aspectos
desilusão amorosa são os pontos negati- sociais, alargamento da adolescência em
vos da fase. Um dos entrevistados disse contraponto com a diminuição da infân-
que não tinha nenhuma história a ser cia, as brincadeiras e amizades. Essas re-
contada, pois tinha uma realidade triste presentações estão em conformidade
na adolescência e outro menciona ainda com as características dessas faixas etá-
a questão do bullying sofrido na escola. A rias descritas na literatura. Um contexto
pergunta que se referia ao que poderia muito comum na realidade da família
ser mudado em relação a realidade atual atual está na permanência cada vez
na infância e na adolescência, afirmaram maior das crianças nas escolas, da expan-
que depende como as pessoas agem, dos são da mídia e o surgimento das novas
valores que transmitem e ensinam. Tam- configurações da família e da sociedade,
bém disseram que depende do contexto tornando cada vez mais tênue a linha que
onde estão inseridos, que é necessário separa a infância de outros grupos gera-
maior imposição de limites, dar mais cionais (adolescência, adulto), levando
atenção as crianças e mostrar que tudo alguns a questionar se a infância não está
tem seu tempo para acontecer. É neces- em processo de extinção.
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estudos (10%) retratam sobre a capacita- pesquisa foram: Brasil; Estados Unidos;
ção de profissionais e a relação médico- Índia; Quênia; Canadá; Israel; Egito; Iê-
-paciente; 11 estudos (8%) abordam os men; China; Itália; Uganda; Irlanda; Gré-
impactos de programas governamentais; cia; Peru; Bolívia; Indonésia e Líbano. A
8 estudos (6%) apresentam como foco partir dos 210 estudos encontrados, fo-
a maternidade e/ou paternidade – suas ram selecionados 109 artigos que faziam
práticas, suas relações e seus cuidados; referência direta ou indiretamente as
8 estudos (6%) apresentam como temá- práticas entre as crianças e suas famílias
tica a natalidade; e, por último, 3 estudos a fim de compreender como a literatura
(2%) focalizam políticas públicas para as vem abordando as relações entre famí-
áreas rurais. Encontrou-se 41 estudos na lia e criança de até 3 anos de idade do
área de Psicologia, sendo: 16 artigos so- campo. A análise mostra algumas lacunas
bre maternidade e/ou paternidade: práti- entre esses estudos, como a ausência de
cas, relações e cuidados (39%); 8 artigos investigações longitudinais, realizadas
na temática saúde materna e neonatal no contexto familiar e no dia a dia da
(19,5%); 8 artigos sobre processos de de- criança do campo. Quando se trata da
senvolvimento (19,5%); 6 artigos sobre in- educação e cuidado da criança de 0 a 3
teração cuidador-criança (14,6%); e 3 ar- anos do campo, os estudos focalizam as
tigos sobre organização social e ambiente metas e práticas de saúde idealizadas por
físico (7,4%). Os 39 estudos restantes se profissionais e significam o campo como
dividiram nas seguintes áreas do conhe- um lugar de escassez e privação de aten-
cimento e temáticas: Serviço Social (5 ar- dimento. Outra lacuna é a ausência da
tigos sobre natalidade); Antropologia (5 explicitação do povo do campo investi-
artigos sobre natalidade e saúde materna gado; quando especificada a população,
e neonatal); História (3 artigos sobre pro- a cultura da mesma é valorizada dicoto-
cessos de desenvolvimento); Agronomia micamente, se boa ou não para o seus
(3 artigos sobre políticas públicas para membros. Sendo assim, o levantamento
áreas rurais); Economia (11 artigos sobre bibliográfico contribui para a discussão
políticas públicas e impactos de progra- da temática e coloca como desafio a re-
mas governamentais); e Educação (12 alização de estudos prospectivos sobre a
artigos sobre maternidade, paternidade criança de 0 a 3 anos, suas famílias e as
e processos de desenvolvimento). Do to- comunidades rurais enquanto contextos
tal de 210 estudos, 182 apresentam da- específicos de desenvolvimento.
dos empíricos que utilizam os seguintes
recursos metodológicos: dados demográ- Palavras-chave: criança, família, territórios
ficos, entrevista, vídeo gravação, escalas, rurais
inventários, questionários, observação Contato: Marcella Oliveira Araújo, USP,
participante, transversal, longitudinal, moa.psic@yahoo.com.br
estudo de caso, prospectivo, testes bio-
lógicos, grupo focal e manchetes. Os 24
restantes se dividem da seguinte manei-
ra: 11 teóricos, 5 relatos de experiência,
5 históricos e 3 narrativas. Os locais de
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Procuramos contornar tal carência de dis- não era o caso dos 13 programas/proje-
positivos de acompanhamento utilizando- tos/atividades do nosso primeiro foco de
-nos da ferramenta de busca do programa análise, cuja média ficou aquém dessa
Adobe Reader 9.0 no arquivo eletrônico da liquidação, variando em torno dos 45%
LOA/2008 em formato Portable Document do orçamento previsto até o mês de ou-
Format (Estado de São Paulo, 2007b). Os tubro. O atraso na execução não se devia
termos que mais surgiram (ao longo de aos repasses federais, pois os programas/
toda a lei) foram justamente “criança” e projetos ou atividades recebiam, predo-
“adolescente”. Procuraram-se, também, minantemente, um aporte de recursos do
com resultado nulo, as palavras “infância”, Tesouro do Estado. Sobressaem-se outros
“adolescência”, “recém-nado”, “recém- três aspectos: o baixo índice de investi-
-nascido”, “materno-infantil”. O termo mentos, a baixa participação de gastos
“pré-natal” foi localizado apenas uma vez, com pessoal e o acúmulo da despesa no
servindo na composição das tabelas de grupo “Outras despesas correntes”, em
acompanhamento orçamentário. Nosso detrimento de investimentos e gastos com
primeiro foco de análise do orçamento ex- pessoal. Pela natureza dos programas/
cluiu as dotações orçamentárias dirigidas projetos ou atividades, podemos apontar
à educação básica, principal política diri- uma tendência a lidar com as crianças e
gida a crianças e adolescentes (e na qual adolescentes das classes populares ou a
as crianças e adolescentes identificam-se partir do assistencialismo, ou do encarce-
fundamentalmente como “alunos”), dis- ramento (como se constata no relatório do
secadas em um segundo foco da pesquisa, Sistema Conselhos e Ordem dos Advoga-
impossível de ser relatado no limitado es- dos do Brasil, 2006), pois a internação via
paço do presente trabalho. Selecionaram- Fundação Casa contém os programas mais
-se para análise 13 programas/projetos ou dispendiosos do primeiro foco de análise.
atividades governamentais, os quais infor- Notou-se, ainda, uma acentuada carência
mam sobre: 1) os gastos de acordo com de políticas dirigidas especificamente ao
o grupo de despesa8; 3) a relação entre a lazer/cultura na infância e adolescência.
dotação orçamentária inicial e o liquidado Existiam apenas as “Fábricas de Cultura”,
até 15/02/2009. Após o levantamento dos mantidas majoritariamente com recursos
dados de dotação orçamentária, a execu- federais e baixíssimo orçamento liquidado
ção das despesas foi acompanhada pela até fevereiro de 2009 (11%). Concluindo,
autora no site da Secretaria da Fazenda: é possível apontarmos que existiu tanto
http://www.fazenda.sp.gov.br/contas. Os insuficiência na dotação orçamentária
resultados indicam que o ritmo da execu- quanto na execução do orçamento diri-
ção orçamentária foi regular no conjunto gido a crianças e adolescentes no Estado
do orçamento: até outubro, 92% da recei- de São Paulo em 2008. Mas a proteção
ta arrecadada havia sido liquidada. Esse social especial (que agrega a proteção de
crianças e adolescentes em situação de
rua, contra a violência doméstica etc), por
8
A categoria “grupo de despesa” refere-se à classificação dos exemplo, demanda investimentos cons-
gastos como: pessoal e encargos sociais, juros e encargos tantes e de larga escala, pois requer não
da dívida, outras despesas correntes, investimentos,
inversões financeiras, amortização da dívida. só infra-estrutura e pessoal qualificado,
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tos que desejassem abordar. A análise foi surgiram respostas como: “Regras vão te
feita de forma qualitativa de acordo com ajudar na sociedade” e “Dar satisfação
as interpretações das pesquisadoras com não é bom, mas é uma coisa necessária
base no referencial teórico. Os resultados que você tem que aprender desde cedo
revelaram que o conceito de família para porque vão te cobrar isso lá fora”. Essas
esses jovens não se restringia ao modelo idéias apóiam a teoria da família como
padrão de família como necessariamente fornecedora de uma base ao indivíduo
boa e composta por pai, mãe e filhos. As no que diz respeito às regras e normas
falas “Pode ser pai com filho, mãe com essenciais para o convívio em sociedade
filho”, “Família a gente não escolhe. Tem (Biasoli-Alves, 2001). Quanto à questão
gente boa e tem gente ruim” e “Às ve- da rebeldia na adolescência, não houve
zes tem gente que está muito próxima e um consenso de opiniões, enquanto um
acaba virando uma família” reforçam a afirmou que a família estaria diretamente
idéia da flexibilidade desse conceito. No relacionada a este fato, outros discorda-
entanto, houve consenso na visão da fa- ram dizendo que dependeria do “gênio”
mília como um modelo a ser seguido pelo da pessoa, “a pessoa faz o que quer, ela
jovem, fornecendo uma base de valores e sabe o que está fazendo”. Outro partici-
orientando suas atitudes. A comunicação pante levantou a idéia de que o jovem
familiar foi vista como algo importante que não se ocupa com atividades acaba
por todos, mas que ocorre com limitação tornando-se rebelde, no entanto foi co-
de assuntos e é colocada como variando locada também a visão na qual a rebeldia
de acordo com os pais, como podemos se deve à necessidade de chamar a aten-
observar nas falas: “É difícil um adoles- ção dos pais ou de pertencer a um gru-
cente se aproximar da mãe e contar de- po. Dessa forma, podemos ver a rebeldia
terminadas coisas, porque tem vergonha, como uma característica não apenas da
aí conta pros amigos”, “A gente conversa adolescência, mas do ser humano em ge-
sobre assuntos que passam na televisão ral como parte de um processo de auto-
(...) mas nunca eu comecei o assunto. Se nomia, de construção da personalidade,
eles puxarem o assunto, eu converso” e assim, como colocado por Paulo Freire
“Se os pais dão abertura, o adolescente (2001) não é possível “ser” sem rebeldia.
vai perguntar qualquer coisa”. De acor- Ao contrário do que apresentaram em
do com a literatura há uma maior busca suas relações familiares, todos os parti-
de diálogo com a mãe (Carmona, 2000), cipantes relataram que gostariam de ter
sendo esta considerada uma pessoa mui- um contato mais próximo com seus filhos
to coerente e com grande capacidade de e demonstraram a incorporação de valo-
entendimento, responsável pelo cuidado res passados por seus pais, como a ne-
e pela mediação das relações familiares. cessidade de regras e a visão hierárquica
Já os participantes chegaram à conclusão entre pais e filhos. Assim, a despeito das
de que a busca por um membro especí- dificuldades enfrentadas, a família conti-
fico da família varia conforme o assunto nua atuando nessa etapa da vida como
e o grau de afinidade. Quando questio- um referencial importante para o adoles-
nados sobre a necessidade de regras, en- cente, o que se reflete nas avaliações que
tendida por alguns como dar satisfação, os jovens fizeram sobre o que gostam e
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o que não gostam em suas famílias, bem causam grande impacto no contexto fa-
como nos planos e escolhas que os mes- miliar. Neste sentido, entende-se que em
mos apresentaram para o futuro. todas as fases do ciclo de vida ocorrem
mudanças os quais vem a marcar as tran-
Palavras-chave: adolescentes, família, sições para novas fases da vida de um in-
relacionamento dividuo, e por sua vez, em toda a família.
Contato: Rafaela Marcolino El Corab Moreira, Neste estudo foca-se a fase da adolescên-
UnB, rafaela.mecm@gmail.com cia. A entrada da adolescência de um dos
membros modifica o relacionamento e o
funcionamento da família como um todo.
LT05-949 - RELAÇÕES FAMILIARES: O Estudos apontam a adolescência, como
CLIMA FAMILIAR NA PERCEPÇÃO DE uma fase com tendências para a presen-
ADOLESCENTES ça de uma série de problemas e confli-
Marianna Santos Rodrigues - UFRB tos dentro do contexto familiar, além de
marianna-sr@hotmail.com enfatizar que há um aumento das brigas
Patrícia Martins de Freitas - UFRB e disputas entre pais e filhos durante os
pmfrei@gmail.com anos da adolescência. O objetivo desse
estudo foi investigar o perfil das relações
A família constitui-se como uma institui- familiares, considerando conflito e afeti-
ção fundamental da sociedade, na qual vidade, sobre o clima familiar e as dinâ-
os seus membros dividem o dia-a-dia micas existentes nos relacionamentos
e possuem um relacionamento íntimo das díades familiares, a partir da percep-
que promove o seu desenvolvimento. ção de adolescentes, de escola pública da
Na perspectiva sistêmica a família é vis- cidade de Santo Antônio de Jesus / BA.
ta como um sistema complexo compos- Essa pesquisa teve como base o Projeto
to por vários subsistemas, por exemplo, de Planejamento Familiar na Perspectiva
mãe-filho, pai-filho, mãe-pai, mãe-pai- do Desenvolvimento, desenvolvido pelo
-filho, os quais estabelecem relações úni- Grupo de Pesquisa Saúde, Educação e
cas, sendo que cada um destes influencia Desenvolvimento - SAED, da Universida-
e é influenciado pelos outros subsistemas de Federal do Recôncavo da Bahia. A me-
existentes. Para estudar a família na con- todologia do estudo é de caráter quase
temporaneidade é preciso atentar para a experimental. A coleta de dados foi rea-
estrutura familiar, a qual está intimamen- lizada com 203 adolescentes, entre 12 e
te vinculada com o momento histórico 19 anos, como critério de escolha os par-
que atravessa a sociedade da qual ela faz ticipantes são estudantes de escolas pú-
parte, visto que, um conjunto de variáveis blicas. Os adolescentes foram convidados
sociais, econômicas, histórico e cultural, através do contato com as instituições de
vem a moldar e a influenciar na conjectu- ensino. A realização da pesquisa ocorreu
ra da construção familiar atual. As novas mediante a assinatura pelos responsáveis
configurações reafirmam que o sistema dos participantes, ao termo de consenti-
familiar é dinâmico, sendo marcado tanto mento livre e esclarecido (TCLE). O pro-
por eventos normativos previsíveis quan- cedimento do projeto foi constituído da
to por eventos idiossincráticos os quais aplicação dos instrumentos de avaliação,
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ciados pelo sujeito criança, revestem-se cia, com que frequência, etc. –, portanto,
de novos contornos quando retornam ao se inclui entre essas dificuldades. Estas
sujeito adolescente, visto que seu corpo questões se encontram na pauta do Pro-
púbere já estaria, ao menos fisicamen- adolescer – Programa Ambulatorial para
te, preparado para realizar os desejos Adolescentes de Risco –, que há cerca de
proibidos de matar o pai e copular com vinte anos realiza atendimentos ambula-
a mãe. Diante deste panorama, impõe- toriais a adolescentes em grave sofrimen-
-se ao sujeito a necessidade de remane- to psíquico, no Serviço Infanto-Juvenil do
jar suas identificações infantis, o que se Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Embora
torna claro nas escolhas de adolescen- se oriente por pressupostos psicanalíti-
tes pela identificação aos pares – grupos cos, o programa desenvolve um trabalho
de outros que, como ele, buscam novas interdisciplinar, por acreditar que a com-
formas de ser e estar no mundo –, assim plexidade das questões graves na adoles-
como na violência como tantos jovens se cência demanda a mobilização de uma
voltam, nesta fase, contra os pais, a so- equipe multiprofissional. Assim, psicana-
ciedade, o “sistema”, ou qualquer repre- listas, psiquiatras e terapeutas de família
sentante dos obstáculos deste processo compõem uma mesma equipe, planejan-
árduo que ele é obrigado a atravessar. É do e revendo projetos terapêuticos para
a necessidade de separação dos pais que cada caso atendido, que pode envolver as
leva muitos adolescentes a não suportar três vertentes de trabalho – psicanálise,
a ideia de que eles sejam atendidos por psiquiatria e terapia de família –, ou duas,
seu analista. Nesses casos, a escolha de ou apenas uma delas. No contexto do
atender os pais pode, amiúde, ser sen- Proadolescer, em que grande parte dos
tida pelo adolescente como uma trai- casos, por sua gravidade, demanda um
ção, impondo dificuldades significativas atendimento aos pais, é possível que este
ao manejo da transferência. Entretanto, atendimento seja levado a cabo por uma
tampouco são raros aqueles que chegam terapeuta de família, preservando assim
a endereçar ao analista um pedido de a relação entre adolescente e psicanalis-
que receba em atendimento um de seus ta. Há outros casos, também, em que os
pais, ou ambos. Ademais, casos consi- pais comparecem apenas às consultas
derados especialmente graves – como a psiquiátricas, resguardando-se o espaço
eclosão de transtornos alimentares ou a de análise do adolescente. Por promover
manifestação de um quadro psicótico, o estratégias integradas de tratamento, o
que tantas vezes ocorre justamente na programa apresenta uma solução viável
adolescência, como resposta do sujeito – e que tem se mostrado eficaz – para as
para as injunções impostas pela tarefa de dificuldades impostas ao analista de ado-
adolescer – parecem exigir um trabalho lescentes com relação à inclusão de seus
junto à família. A chamada crise da ado- pais no tratamento.
lescência é passível de suscitar situações
clínicas que revestem de dificuldades o Palavras-chave: atendimento aos pais; clínica
campo da psicanálise com adolescentes. com adolescentes; proadolescer.
O atendimento aos pais – recorrer ou não
a ele, de que modo, em que circunstân-
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servar as razões porque a compreensão e to infantil. Para ele toda forma de brinca-
uso de regras sejam conteúdos necessários deira infantil é regida por regras. Ao invés
no contexto dos processos educacionais. A do enfoque na moralidade, ele discutiu a
compreensão e uso das regras envolvem relação entre a imaginação e as regras nas
processos cognitivos. Abordar o desenvol- brincadeiras infantis comentando que não
vimento cognitivo no contexto da sala de existe brinquedo sem regras e a situação
aula implica no posicionamento teórico e imaginária de qualquer forma de brinque-
metodológico frente à forma como os alu- do já contem regras de comportamento.
nos constroem, concebem e operam com Por exemplo, a criança imagina-se como a
as regras. Em diferentes estudos, pesquisa- mãe e sua boneca como uma filha. Dessa
dores têm destacado que subjacente à ope- forma, a criança deve obedecer às regras
ração com regras está a natureza social da do comportamento maternal. Sempre que
condição humana. As regras pressupõe a há uma situação imaginária no brinquedo
comunicação entre individualidades; pres- há regras que têm origem na própria si-
supõe intersubjetividade e historicidade. tuação imaginária. Vigotski (1934/2010)
Piaget (1932/1977) tem sido referência fre- observou ainda que o mais simples jogo
quente para pesquisadores que estudam a com regras transforma-se imediatamente
dimensão social da operação com regras. numa situação imaginária, pois na medida
Na caracterização de diferentes estágios do em que o jogo regulamenta determinadas
conhecimento de regras pela criança, ele regras, outras possibilidades de ação são
destacou um momento que denominou de eliminadas. Então, nesse raciocínio, toda
cooperação nascente, quando as crianças situação imaginária contém regras de uma
voltam-se para um controle e construção forma oculta; e todo jogo com regras con-
de regras coletivas. Nesse estágio a regra tém, de forma oculta, uma situação imagi-
é considerada como uma lei imposta pelo nária. Refletindo-se esse cenário de inves-
sentimento mútuo. Piaget observou tam- tigação voltado para explicações de como
bém que a criança pode perceber que a crianças concebem e lidam com regras e
regra pode ser alterada de acordo com a como essa concepção e uso são refletidos
vontade dos participantes. Como próximo no funcionamento cognitivo e desenvolvi-
estágio, ele caracterizou a codificação das mento de valores sociais, foi realizado um
regras e, subjacente à codificação, ele ob- estudo, pretendendo-se atualizar algumas
servou a emergência da consciência autô- questões que, sugere-se, continuam ainda
noma relacionada com uma atitude de am- pouco exploradas nas pesquisas afins. O
plo convencimento quanto à necessidade objetivo do estudo que se apresenta aqui
das regras serem obedecidas. De acordo foi analisar as atribuições de sentidos para
com Piaget (1932/1977) essa consciência regras do jogo e do funcionamento da es-
indiciava a atribuição de valores pelas crian- cola por crianças da educação infantil. A
ças ás convenções sociais. Essa observação atualização que se esperou com este es-
levou-o a declarar que a base do desenvol- tudo foi poder desenvolver uma interpre-
vimento da moralidade na criança é funcio- tação da compreensão e uso de regras por
namento das regras. Vigotski (1934/2010) crianças da educação infantil fundamen-
também discutiu a relação entre a compre- tada em pressupostos da psicologia sócio
ensão e uso de regras e o desenvolvimen- histórica. Considera-se esta perspectiva
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& Henderson, 1995) e (c) A narrativa como (lixo) e falta da água, uma vez que, no ví-
expressão do desenvolvimento humano e deo, constou um momento em que seres
instrumento metodológico (Bruner, 1987; no desenho animado mergulharam em um
1997; Flick, 2007). Confrontaram-se duas rio poluído com objetos e a água despare-
perspectivas na análise da produção de ceu. Na perspectiva do contexto histórico-
sentidos: o contexto verbal e o contexto -cultural, a pobreza sintática (contexto ver-
histórico-cultural. Os aspectos que nortea- bal) deu lugar ao sentido proposicional, lixo
ram a reflexão acerca do contexto históri- e poluição provocam falta d’agua. Em um
co-cultural foram (a) A dinâmica de vozes segundo caso, uma criança do ensino fun-
sociais ativadas nos atos de fala (Bakhtin, damental apresentou o seu desenho para a
1999) e (b) A relação entre tendências so- pesquisadora dizendo que “O cara bebeu a
ciais estáveis (significado) e características metade da água do copo, depois derramou
da apreensão ativa do discurso do outro, em outro copo a água, a água saiu voando
manifestas no uso de linguagem (Brait, e disse adeus mundo cruel antes de morrer
2005).Os dados de uma criança da educa- e caiu na pia”. Ao ser solicitado pela pes-
ção infantil ilustram como se operou com quisadora que falasse um pouco mais de-
esses parâmetros na análise dos casos aqui vagar, pois ela gostaria de compreendê-lo
estudados. Nesses dados configuraram-se melhor, a criança complementou “Isso tem
rabiscos predominantemente circulares, a ver que o cara tá desperdiçando água, ó
coloridos, nomeados pela criança como aqui o copo! É a única coisa que eu vi que
bola, chuveiro, balde, tubarão, abelha. Es- tem a ver... Eu vi que simplesmente você
ses elementos estavam presentes no filme pode morrer se desperdiçar muita água!”.
de curta duração. A criança nomeou ainda Um tio da criança que ouvia perto intro-
quatro dos rabiscos por barata. A análise da duziu-se no diálogo e questionou “Super
produção de sentidos dessa criança a partir Câmera é?”, referindo-se a um dos super
desses dados, se apoiada na definição de heróis de desenho animado que a criança
contexto verbal, pressupõe a justaposição conhece, que, entretanto, não estava pre-
de elementos (rabiscos). Nessa justaposi- sente no filme de curta duração. A criança
ção concebeu-se uma sintaxe empobrecida então responde “É, tirei da Super Câme-
pela ausência de funções coesivas que indi- ra!”. Informa-se ainda, que o desenho que
cassem a formulação de proposições pela propiciou essa fala, tinha aspectos gráficos
criança. Quando analisada na perspectiva definidos, constituindo-se como uma com-
do contexto histórico-cultural, destacou-se posição pela presença de funções coesivas,
a apreensão ativa dos significados apresen- reforçadas na fala da criança sobre o dese-
tados no filme pela criança, refletida no nho. Essa criança compôs uma estória so-
seu destaque para “a barata”. Uma questão bre o resto da água de um copo que uma
que se colocou foi: Por que “a barata” foi pessoa desperdiçou, por não toma-la toda.
um elemento tão frequente no desenho A diversidade, se comparada com o caso
(rabiscos) e na fala dessa criança acerca do anterior diz respeito às diferentes formas
seu desenho? Vale salientar que a imagem de apropriação das vozes sociais. Esgotar
da barata não esteve presente no filme. uma análise da diversidade é praticamente
Foi interpretado aqui que, a barata figurou impossível. Características da história dos
como sentido da relação entre poluição autores dos diferentes desenhos leva-os
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Nova trouxe características de uma me- professores em sala de aula. Essas práti-
todologia vivencial, enfatizando no en- cas pedagógicas, aliadas a outros fatores,
sino fundamental os “cantinhos na sala como o desprestígio social da carreira do
de aula”- onde os alunos encontravam magistério, demonstrado, por exemplo,
material diversificado para sua consulta e nos baixos salários e na péssima formação
experimentação, como em atividades de profissional, são grandes problemas a se-
leitura, ciências, jogos matemáticos, arte, rem enfrentados no contemporâneo. Por
música e outros, que proporcionavam a outro lado, a interdependência dos povos,
diversificação nas experiências pedagó- que vem transformando o cenário de po-
gicas. Era uma pedagogia do fazer e da der e as relações comerciais, vem exigin-
alegria, aplicada nas escolas públicas da do cada vez mais um preparo diferenciado
época. Mas, era uma escola para poucos, e amplo para o mercado de trabalho. Es-
não atingindo a totalidade da população. ses dados aliados à rapidez das transfor-
Foi ocorrendo, então, a democratização mações proporcionadas pelas conquistas
da educação, com a ampliação das redes tecnológicas e que abalaram as certezas
públicas, porém, sem a correspondência científicas exigem ruptura de paradigmas
na qualidade. As políticas públicas ado- nos objetivos educacionais. É necessário o
tadas a partir daí “resolveram” as defici- desenvolvimento do humano numa visão
ências na formação educacional da socie- de totalidade que favoreça um pensamen-
dade brasileira, favorecendo a cisão entre to complexo capaz de encontrar soluções
os que podem pagar e aqueles que são para os grandes problemas encontrados
obrigados pelos parcos recursos a submis- no mundo contemporâneo; inclusive de
são do oferecido pelo governo. Acirrou- sobrevivência no Planeta. Hoje, o conhe-
-se deste modo o afastamento entre as cimento deve vir aliado à capacidade de
classes sociais e o despreparo das novas tomar decisões onde um processo criativo
gerações para lidarem com as diferenças. de pensamento é valorizado. Pode-se pen-
Os diplomas começam a ser exigidos no sar que a partir dessa demanda são feitas
mercado de trabalho sem a devida cor- as avaliações de aprendizagem escolar em
respondência à competência profissional. diferentes níveis nacionais e internacio-
Hoje, o diploma não corresponde ao va- nais, onde o Brasil aparece de forma la-
lor do conhecimento. O construtivismo mentável. A inquietação provocada pelos
piagetiano faz-se hegemônico a partir baixos índices de aprendizagem escolar
da década de 1980 e é entendido como obtido em todos os níveis avaliados, inspi-
uma esperança de rompimento com a rou a elaboração de uma pesquisa em que
mesmice. Isto é, o aluno é que constrói o se buscou conhecer o sentido de aprendi-
seu conhecimento sendo o professor um zagem e de como se aprende, tendo como
facilitador e observador deste fenôme- sujeitos 70 professores e 89 alunos da
no. Porém, aplicado de forma equivocada rede pública do Rio de Janeiro. O referen-
numa sociedade de experiências culturais cial teórico que embasou a pesquisa foi
tão heterogêneas, parece ter criado no o estudo do Imaginário Social a partir da
imaginário social da docência característi- elaboração feita por Castoriadis (1991),
cas que perduram até hoje, manifestadas a teoria do desenvolvimento humano de
na atitude passiva de grande parte dos Wallon (1995) e Vygotsky (1988). A análi-
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seqüências desta realidade e de suas impli- outro ensine esses conceitos. Já no segun-
cações para o desenvolvimento infantil. O do caso, os conceitos são aprendidos no
fato de a pesquisa trazer à tona a necessi- dia-a-dia da criança através de mediações
dade de um trabalho específico no campo implícitas. Para que a aprendizagem acon-
da Gestalt-terapia, requer que, as institui- teça, os conceitos devem ser trabalhados
ções de apoio a este segmento concen- dentro da zona de desenvolvimento pro-
trem seus esforços em ações direcionadas ximal da criança, garantindo assim que
à ludicidade como uma ferramenta capaz ela estabeleça um diálogo entre o conhe-
de favorecer a interação e ressignificação cimento novo e os já internalizados, sejam
de experiências. estes conhecimentos científicos ou cotidia-
nos. Este processo todo se dá pela media-
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil. ção da linguagem e dos instrumentos cul-
Gestalt-terapia. Mapas Sinápticos. turais. As educadoras seguem estragégias
sem uma metodologia específica
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
codificada buscando identificar estratégias (55%) seguido de SQO com 27,5% (11/40).
didáticas no ensino dos conteúdos tempo- Com relação à análise por disciplina, os
rais. Selecionamos para discutir aqui aque- resultados demonstraram que em mate-
les que apareceram com maior frequência. mática os códigos mais utilizados foram
São eles: Evento Temporal (ET) - datas co- ET com 26 de 64 ocorrências (41%), LT com
memorativas ou evento temporal para fa- 31% (20/64) e SQO com 25% (16/64); em
zer marcações do tempo; Linha do Tempo História o destaque é o código XAA com
(LT) - quando a página do livro apresentava 105 marcações de 187 (56%), seguido de
uma imagem ou um gráfico representando LT com apenas 20% (37/187); em Ciências
uma linha temporal; Passagem do Tempo o código SQO é o mais usado 37 de 75 mar-
(PT) - Usado em momentos de comparação cações (49%), seguido de PT com 41% dos
de imagens de objetos ou lugares novos casos (31/75); em Geografia, verificamos
com antigos; Sequenciamento (SQO) - Atri- como mais presentes os códigos PT, com
buído a imagens que passam a concepção 15 casos entre 35 (43%), e SQO com 28,5%
de sequência, seja com ações ou mudan- (10/35). Podemos notar que a estratégia
ças da imagem; xxx anos atrás (XAA) - re- mais usual é aquela referente aos anos
ferência a anos passados no formato da passados que explicam com exatidão o
expressão. Este último foi observado ape- tempo do evento ocorrido, XAA, mas este
nas no livro de História, que foi analisado aparece apenas na disciplina de História
de forma diferente dos outros por tratar com maior frequência no terceiro e quarto
de eventos no tempo e tornando-se assim ano. A segunda estratégia mais frequente
redundante tratar de estratégias que fo- está associada à esquematização visual das
cassem nesses eventos. Percebemos que, mudanças de uma determinada figura ou
de forma geral, o código XAA foi o mais em uma ação, SQO, comumente presente
frequente com 105 ocorrências seguidas em matemática, ciências e geografia, além
pelo código SQO com 81 casos e o PT com de ter destaque em todos os anos. Já a es-
75. Já os menos frequentes são os códigos tratégia PT, que demonstra visualmente
ET com apenas 38 e LT com 62 marcações, as mudanças de objetos ou locais é mais
sendo no total 361 marcações em todos os utilizada nas disciplinas de ciências e geo-
livros. Assim, os livros em geral lançam mão grafia e no terceiro ano. O código LT, que
de falar do passado utilizando marcadores está relacionado aos conceitos cotidianos
temporais convencionais – como número representando aqueles aprendidos no dia-
de anos. A análise por ano demonstrou -a-dia das crianças, aparece em destaque
que no segundo ano SQO foi o código mais nas matérias de matemática e história,
presente com 16 de 49 marcações (33%) mas apenas no quinto ano. Notamos como
seguido de PT com 24% das marcações a estratégia ET é pouco utilizada em todos
(12/49); no terceiro ano, há destaque para os anos, seu uso só se torna mais evidente
XAA com 46 casos entre 160 (29%), PT com na disciplina de Matemática. As estratégias
28% (44/160) e SQO com 21% (33/160); no mais usadas nos livros são as que exigem
quarto ano XAA tem 51 marcações de 112 uma noção prévia de tempo, pois a crian-
(45,5%) sendo mais presente também SQO ça precisa saber se “100 anos” faz muito
com 19% (21/112); no quinto ano o código ou pouco tempo, assim como saber se 5
mais presente é LT com 22 casos entre 40 anos é muito tempo. As duas estratégias
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
seguintes são mais visuais, desta forma e sutil, exalta o corriqueiro da vida, escre-
as crianças assimilam melhor o conteúdo. vendo sobre amores, tempo, memória,
As estratégias menos usuais são aquelas infância e velhice. Seus poemas revelam
que envolvem conhecimentos adquiridos tanto a noção cristã de tempo, linear e
formalmente, ou de maneira explícita e determinada pela cronologia nascimento,
consciente, como aquelas que situam os vida e morte, quanto a filosofia epicuris-
eventos em uma data histórica. Notamos ta, que privilegia a busca incessante do
que nem sempre a linguagem do livro está prazer. Com a ajuda desses quintanares,
de acordo com a Zona de Desenvolvimento procuramos, neste ensaio, refletir sobre
Proximal das crianças como, por exemplo, o tempo – sem, no entanto, ousar defini-
em História, que necessita de apoio para -lo – e suas repercussões na vida e no pro-
ensinar os conceitos temporais abstratos cesso educativo, pondo em discussão a
pretendidos. Já matérias consideradas sua dimensão mensurável e previsível que
mais difíceis, como Matemática, há um su- acaba por se apropriar de nossos encon-
porte maior das estratégias para exempli- tros com o outro e de nossas travessias ao
ficar o que pode ser mais complicado para longo da vida. Conjugamos a sensibilidade
as crianças. do poeta às reflexões de Agamben (2005)
sobre khronos e kairos, às de Elias (1998)
sobre o tempo em sua dimensão simbólica
LT04-1430 - REPENSANDO O TEMPO: e de Lloret (1998), sobre as idades da vida
ENCONTROS E TRAVESSIAS e como estas atravessam a constituição
Anabela Rute Kohlmann Ferrarini - UFMT de nossa identidade. A concepção greco-
anabelaferrarini@hotmail.com -romana de tempo como um continuum
Raquel Gonçalves Salgado - UFMT lança os fundamentos da noção ocidental
ramidan@terra.com.br quanto à incapacidade humana de domi-
ná-lo. É o tempo como eterno duelo entre
O tempo tem sido celebrado em verso e kairos e khronos, entre o tempo existen-
prosa há séculos, e também tem desperta- cial e divino, que se apropria do instante,
do angústias, debates filosóficos e estudos e o tempo quantificado, humano, deli-
científicos. Nossas vidas são uma travessia mitado e delimitador. Kairos nos convida
no tempo, permeada de instantes e lem- a viver o prazer, enquanto khronos nos
branças, construídas e reconstruídas na obriga a postergá-lo. Quintana (1988) la-
memória, pessoal e coletiva, e atravessa- menta que não possamos viver sem outra
das por encontros entre pessoas e gera- pretensão que não seja viver: “A vida não
ções, entre inexperiências e experiências, dá tempo para a Vida.” Esse pensamento
cada vez mais raras, nessa época em que perdura até o início da era cristã, quando
tudo acontece velozmente. Construir co- surge a representação do tempo como
nexões significativas em meio a estímulos uma linha reta, com princípio, meio e fim.
efêmeros requer que tomemos para nós O Gênese é o marco inicial do universo
nosso próprio tempo, que sejamos capa- criado por Deus, enquanto o Apocalipse
zes de, mesmo imersos nesse mundo de é seu destino final e inescapável. Durante
vivências pontuais e rasas, criar memórias muito tempo, as teses de Newton e Kant,
e afetos. Quintana, com seu olhar poético fundamentalmente opostas, dominaram
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
as reflexões sobre o tempo. Newton sus- mesma idade. Ser uma pessoa de 30 ou de
tentava uma ideia objetivista, segundo a 5 anos. Esse ser de indica que somos todos
qual o tempo era propriedade da natureza propriedade de alguns anos e que, vamos,
e, portanto, está fora do sujeito e sempre ao longo da vida, sendo inscritos a grupos
existiu. Já Kant, subjetivista, compreendia determinados de idade (Lloret, 1998). Po-
o tempo como imanente à razão humana. rém, assim como existe a normalidade,
Na Modernidade, encontramos o antes e existe o desvio. Tornou-se comum encon-
o depois, conceitos que forjam uma noção trarmos pessoas que não estão em confor-
de tempo histórico entendido como pro- midade com seus anos de vida. É possível
cesso, contrária à noção do tempo cristão, construir uma identidade flexível e diver-
retilíneo e irreversível. O homem criou os sificada, desenhada pelas experiências vi-
relógios e os calendários, que cumprem vidas, pois uma idade não elimina a outra
as mesmas funções dos fenômenos natu- e, sim, a contém (Lloret, 1998). Sob a pers-
rais: orientar a humanidade na sucessão e pectiva do desvio à normalidade, é justo
ordenação de processos sociais e físicos, pensar que a sociedade contemporânea
representando a passagem irreversível vive um período de instabilidade quanto a
do tempo (Elias, 1998). Enquanto cresce, situar as pessoas em determinados grupos
a criança sofre uma espécie de coerção etários e papéis sociais. Infância e idade
social, disciplinadora, que lhe ensina os adulta são tempos de vida distintos, mas
habitus sociais, inserindo-a no processo cujas fronteiras se tocam em determina-
civilizatório e capacitando-a a integrar dos momentos, quando as experiências da
uma comunidade humana e interpretar infância no mundo globalizado e midiático
os símbolos temporais socialmente usa- a aproximam do que seria próprio da ida-
dos, guiando-se em função deles. Dentre de adulta. Nosso ideário projeta sobre as
as instituições sociais, a escola está inti- crianças determinados comportamentos e
mamente ligada à ideia de tempo como linguagens que entram em confronto com
processo – e progresso-, sendo organizada a infância que aí está, transitando entre
em função dele: a gestão se preocupa em o que se espera de um adulto ou de uma
cumprir a tempo as obrigações junto ao criança. Confrontos intergeracionais sem-
Estado. Os professores, em vencer os con- pre existiram, e, na contemporaneidade,
teúdos. Os alunos correm rumo a dois des- tem se mostrado ainda mais intensamen-
tinos possíveis: aprovação ou reprovação, te, atravessados que são pelas mensagens
determinados pela aprendizagem ou não- da mídia, pelas tecnologias e pelo consu-
-aprendizagem no tempo pré-determina- mo que seduz. A pedagogia é desafiada a
do como tempo certo de aprender. Assim perceber a dinâmica da sociedade onde as
como apreendemos o tempo como even- imagens da infância se constroem e des-
tos que ordenam nossas vidas, também constroem, e, assim, reconhecer as expe-
aprendemos sobre nossos tempos de vida. riências formadoras da infância e da ado-
Aprendemos que além de sermos homens lescência. O tempo nos intriga e confunde.
ou mulheres, jovens ou velhos, somos/per- Vivemos nele e ele vive em nós. Desde o
tencemos a uma determinada idade, que berço recebemos lições sobre a passagem
não é somente nossa, é também do outro do tempo, a organização social e cultural
que, assim como nós, é/pertence a essa da vida, a trajetória humana – individu-
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do a função desta junto aos envolvidos, nas salas e no pátio da instituição, bem
identificando os sintomas bloqueadores como aplicado atividades pedagógicas
do processo ensino-aprendizagem. Con- com as crianças direcionadas a leitura
seqüentemente, a partir desta investiga- e escrita. Ainda foram utilizadas entre-
ção pode-se formular as hipóteses sobre vistas semiestruturas, as quais foram
as causas da queixa que lhe foi trazida aplicadas aos educadores sociais sobre
para, então intervir no sentido de melho- as crianças e sobre os aspectos psicope-
rar este processo. O diagnóstico psicope- dagógicos da instituição, aos pais ou res-
dagógico institucional explica Bassedas ponsáveis e as crianças selecionadas. Nas
(1996) busca conhecer, olhar e escutar a observações pode-se notar a resistência
relação do sujeito com o conhecimento das crianças a atividades pedagógicas,
objetivando a melhoria do ensino e da as quais eram semelhantes com as que
aprendizagem, ou seja, para ajudar a fa- realizam na escola. Nas entrevistas com
mília, a escola (em todos os níveis – ad- os educadores sociais sobre as crianças
ministrativo, docente, técnico, discente) pode-se perceber que algumas crianças
a cumprir o seu papel, atuando como necessitavam de mais atenção, e demo-
um articulador do ensino e da aprendi- ravam mais para terminar as atividades,
zagem. (p.24) Dessa forma, esta pesquisa além de presenciarem estas copiando
foi realizada em uma instituição não-go- as atividades do colega. Nas atividades
vernamental, na área da educação, que pedagógicas observou-se que as maio-
observou através das atividades peda- res dificuldades eram quanto a troca e
gógicas desenvolvidas, que um número omissão de letras na escrita das palavras,
significativo de crianças apresenta difi- e em casos mais extremos a não compre-
culdades para aprender. Partindo destas ensão do que a criança havia escrito. Em
considerações, este estudo buscou rea- relação às entrevistas com os educadores
lizar o diagnóstico psicopedagógico ins- sociais sobre os aspectos psicopedagógi-
titucional para identificar quais as crian- cos na concepção dos educadores sobre
ças que apresentam estas dificuldades, dificuldade de aprendizagem, estes as re-
bem como, propiciar uma reflexão sobre lacionam à dificuldade na família, a con-
possíveis intervenções que os educado- dição social, como ao próprio aluno assim
res sociais poderiam desenvolver junto como a escola também. Quanto ao mo-
às crianças. Participaram da pesquisa 50 delo de aprendizagem da instituição para
crianças que tem entre 7 à 9 anos, estão os educadores sociais não é esclarecido
na 2ª e 3ª série do ensino fundamental, o referencial teórico a seguirem, relatam
freqüentam escolas públicas de um mu- que o ensino vai desde aprendizagem de
nicípio do interior do Paraná, e também letras e números até aprender um ofício,
a instituição no contra-turno. Além dis- costurar, bordar ou pintar. Assim, foram
so, participaram 5 educadores sociais selecionadas 15 crianças e a partir disto,
e 15 pais ou responsáveis. Também foi foram chamados os pais e as crianças se-
necessário realizar uma caracterização lecionadas para entrevistas. Nas entre-
da Instituição Social, sendo utilizado o vistas com os pais, ficou evidente que
Projeto Político Pedagógico. Para a coleta todos já haviam percebido a dificuldade
de dados foram realizadas observações de aprendizagem que seu filho apresen-
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tava. Quanto à tarefa, muitos relataram testar hipóteses, explorar toda a sua es-
que ajudam o filho a fazer, e quando pontaneidade criativa. O jogo cria uma
este tinha dificuldade com algo, muitas situação de regras que proporcionam
vezes chorava, ficava agitado, nervoso, uma zona de desenvolvimento proximal
demonstrava insegurança, com medo no aluno. Assim comporta-se de forma
de errar. Nas entrevistas com as crianças mais avançada do que nas atividades da
percebeu-se que quase metade delas já vida real e também aprende a separar
havia reprovado na escola. Além disso, a objeto e significado. (Oliveira, 1999). Para
maioria relatou que a atividade que não Bock (1999) “a preocupação do ensino
gostavam de realizar na escola era escre- tem sido a de criar condições tais, que o
ver texto, pois consideravam muito difícil. aluno fique “a fim” de aprender” (p. 121).
Dessa forma, com o diagnóstico psicope- Diante desse contexto percebe-se que
dagógico institucional, constatou-se que a motivação deve ser considerada pelos
neste momento que estas 15 crianças professores de forma cuidadosa, procu-
necessitavam de uma complementação rando mobilizar as capacidades e poten-
do processo de alfabetização, sendo que cialidades dos alunos a este nível. Para
em seguida, foi realizada uma reflexão a leitura, os textos selecionados pelo
sobre alfabetização e possíveis interven- educador devem estar de acordo com a
ções que os educadores sociais poderiam realidade dos alunos, pois serão de fácil
realizar junto à criança. Para Paulo Freire compreensão; levar em conta também o
(1991), “a alfabetização enquanto práti- nível intelectual, os interesses e os gos-
ca discursiva possibilita uma leitura crí- tos. Quanto aos tipos de leitura, devem
tica da realidade, constitui-se como um ser variados: parlendas, receitas, notí-
importante instrumento de resgate da cias de jornais, listas de mercado, letra
cidadania e reforça o engajamento do ci- de músicas, poesias, gibis, revistas, entre
dadão nos movimentos sociais que lutam outros. Portanto determinadas dificul-
pela melhoria da qualidade de vida e pela dades de leitura e escrita apresentadas
transformação social” (p.68). Enquanto pelas crianças podem ser minimizadas e
que para Soares (2003) a alfabetização seu aprendizado pode ser potencializado,
requer um novo termo, mais abrangen- principalmente quando pais e professo-
te ou equivalente, sendo este denomi- res se unem neste mesmo objetivo. Um
nado Letramento. Para ela, alfabetizar e ambiente estimulante e encorajador que
letrar são duas ações distintas, mas não ofereça oportunidades apropriadas á
inseparáveis, ao contrario: o ideal seria aprendizagem produz crianças dispostas
alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a a aprender (Smith, 2001).
ler e a escrever no contexto das práticas
sociais da leitura e da escrita. Para pos- Palavras-chave: diagnóstico psicopedagógico;
síveis intervenções educacionais sugere- dificuldade de aprendizagem; intervenção.
-se: jogos, brincadeiras, dinâmicas de
motivação, para proporcionar as crianças
um trabalho rico e prazeroso na aquisição
da escrita e da leitura. Através dos jogos
o indivíduo pode brincar naturalmente,
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tribuir para que os professores assumam Xavier, 2005; Freitas, 2002; Libâneo, 2001)
uma posição ativa na produção de novos e a legislação educacional em vigência de-
significados acerca de sua profissão, os fine e orienta que essa articulação deve ser
quais possam gerar a construção de prá- um dos fundamentos das licenciaturas. O
ticas intencionais e críticas que promovam artigo 61 da LDB/1996 enfatiza a necessi-
transformações efetivas no contexto edu- dade de “associação entre teorias e práti-
cacional, mas, para alcançar tais objetivos, cas” (Brasil, 1996); e o artigo 3° das Diretri-
é necessário haver investimentos no pro- zes Curriculares Nacionais para a Formação
cesso formativo de tais profissionais. dos Professores da Educação Básica res-
salta a importância da “coerência entre a
Palavras-chave: práticas pedagógicas, formação oferecida e a prática esperada do
formação de professor, desenvolvimento futuro professor” (Brasil, 2002). Essa não
profissional é uma proposta de fácil desenvolvimento
Contato: Joana Dark Leite, UFG visto que, historicamente, teoria e prática
joanadarkl@yahoo.com.br têm sido objeto de diferentes interpreta-
ções, resultando na elaboração de diver-
sas abordagens. Gamboa (2003) apresenta
LT04-914 - TEORIA E PRÁTICA EM três abordagens que conceituam a relação
UM CURSO DE LICENCIATURA: entre teoria e prática, de formas distintas:
ESTUDO SOBRE AS SIGNIFICAÇÕES NA (a) as que privilegiam o papel da teoria, po-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES dendo ser classificadas como ideal-raciona-
Pedro Henrique Andrade de Faria - UFG listas; (b) por outro lado, as que enfatizam a
pedrohandradef@hotmail.com prática como critério para validação da teo-
Joana Dark Leite - UFG ria, a partir de uma concepção pragmático-
joanadarkl@yahoo.com.br -utilitarista; (c) e, também, a abordagem
Alba Cristhiane Santana - UFG dialética, a qual não considera a relação
albapsico@gmail.com entre teoria e prática em termos de ade-
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB quação de uma a outra, mas, de comple-
claudia@unb.br mentação e de conflito, considerando que
Financiamento: PROLICEN/UFG “é a própria relação entre elas que possibi-
lita sua existência” (p.125). Na perspectiva
Este trabalho refere-se a uma pesquisa que dialética, a relação entre teoria e prática é
está sendo realizada sobre um curso de li- mais complexa que uma relação de impli-
cenciatura e tem como proposta o estudo cação causal, na qual os saberes científicos
das significações e das concepções rela- mantêm uma relação constitutiva com os
cionadas à articulação entre as dimensões saberes da experiência. E partindo dessa
da teoria e da prática, nesse contexto for- discussão, é relevante desenvolver estudos
mativo, e como tal articulação favorece o que busquem compreender as concepções
processo de desenvolvimento profissional assumidas na tarefa de articular teoria e
dos discentes. A proposta de articular as di- prática nos cursos de formação docente.
mensões da teoria e da prática na formação Acreditamos que os contextos sócio-cul-
docente é um tema recorrente nas discus- turais sejam constituídos por um conjunto
sões nessa área (Brzezinski, 2008; Canen & de regras, concepções, crenças e valores
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péis que são atribuídos à família e à creche seu território. A partir da entrevista, foram
por um dos casais de pais investigados na selecionados trechos que contribuiriam
pesquisa de iniciação científica: “Famílias para a compreensão de como esses pais
moradoras em assentamento rural: signifi- vêem a creche e a família com relação ao
cações de creche e escolhas dessa modali- cuidado e educação de crianças pequenas.
dade de educação para seus filhos de 0 a A principal idéia que aparece é a de que a
3 anos de idade”. O referencial teórico que inserção da criança na instituição está vin-
norteia o trabalho é a perspectiva da Rede culada à necessidade da família. A creche
de Significações (RedSig) que, por conce- assumiria papel importante no processo de
ber o homem a partir de sua materialida- aprendizagem dos pais no cuidado de seus
de, compreende que ele se constitui nas e filhos, particularmente, para aqueles que
pelas relações estabelecidas dentro de um apresentam dificuldades. Outra concepção
contexto histórico-cultural, que delimita presente é a da creche como um recurso
possibilidades de interação, favorecendo para aqueles que não têm condições de fi-
determinados sentidos e significados. Des- car com seus filhos em casa, pois, precisam
sa forma, entende-se o meio tanto como trabalhar fora. A família recebe o status de
campo de aplicação de condutas, quanto principal responsável pelo cuidado e a edu-
condição e recurso de desenvolvimento. O cação da criança de 0 a 3 anos, sendo este
instrumento utilizado para a construção do modelo considerado o ideal pelos entrevis-
material empírico foi a entrevista; a partir tados. As falas sugerem uma visão de ins-
dela, foi possível acessar os recortes que tituição que se baseia no direito social do
cada pessoa, baseada nas suas histórias, trabalhador, que precisa do emprego e não
fez da relação com a família e com a cre- tem com quem “deixar” o filho, e no direi-
che. A entrevista foi realizada com um ca- to da criança no que concerne ao cuidado
sal de moradores do assentamento há sete desta, para que tenha assistência durante
anos. Ambos trabalham no lote, sendo que a jornada de trabalho dos pais. A creche
o pai atua como monitor do ônibus escolar assume, assim, um caráter de compartilha-
que conduz as crianças do assentamento mento social, exercendo a mesma função
até as instituições escolares localizadas na da família quando esta não pode exercê-la.
cidade. Eles têm cinco filhos, com idades Quando questionados sobre uma possível
entre 3 e 20 anos; quatro deles moram na escolha pela creche caso ela existisse no
casa e uma reside na cidade. Nenhum dos próprio assentamento, o casal modifica seu
filhos frequentou creche. A entrevista foi discurso sobre essa instituição no diálogo
realizada na casa da família, localizada em com uma creche imaginária que atenda as
um assentamento rural no interior de São necessidades das famílias do campo. Na-
Paulo. A área onde se situa o assentamen- quela concepção de creche, está ausente a
to foi ocupada em 2003, sendo oficializada complementariedade pedagógica e educa-
pelo Incra em 2007. O assentamento é vin- tiva, o que tem efeito nos sentidos sobre a
culado a um movimento social de luta pela própria identidade da creche enquanto ins-
terra e é constituído por, aproximadamen- tituição educacional legítima, que promova
te, 260 famílias, que utilizam os serviços de contextos de interação e desenvolvimento
educação da área urbana, já que o assen- distintos do núcleo familiar e que se consti-
tamento não possui escolas e creches em tua, portanto, como um direito da criança.
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Nessa concepção, está presente o direito a ambiente esse responsável em formar in-
uma especificidade no cuidado e na educa- divíduos aptos a se comportarem no meio
ção da criança dos territórios rurais. Esses social. Entretanto essa situação não é mui-
sentidos sobre a creche e a família falam to dimensionada, já que o objetivo primor-
sobre as expectativas de aprendizagens e dial é passar o conteúdo escolar sem se
desenvolvimentos desse casal, construídas preocupar com as relações interpessoais;
na relação entre suas histórias e experi- porém, o desempenho positivo dos alunos
ências, suas condições atuais concretas e só se torna possível quando há o mínimo
na cultura de seus grupos. Compreender de aparato. Visto a magnitude dessa pro-
como concebem a criança parece ser um blemática, decidiu-se desenvolver o tra-
passo importante nessa rede de significa- balho com escolares, pais e professores,
ções que delimita e promove condições aplicando-se questionários para visualizar
peculiares de desenvolvimento e, também, e relacionar à problemática. Tem-se como
que ajudariam a dar visibilidade às necessi- objetivo abrangente do estudo identificar
dades e demandas das famílias do campo. o conhecimento de praticantes e/ou agre-
didos sobre o bullying, além de evidenciar
Palavras-chave: educação infantil, pais e professores, a fim de dimensionar
assentamento rural, creche a situação. Esse trabalho foi desenvolvi-
Contato: Letícia Verardi Madlum, FFCLRP-USP, do em duas escolas de Brasília-DF – uma
leticiaverardi@terra.com.br de iniciativa pública e outra privada, pois
se conjecturou que a prática do bullying
independe da classe social – de junho de
LT04-922 - BULLYING E SUA 2010 até o início de agosto do mesmo ano,
INTERFERÊNCIA NO PROCESSO com intuito de conhecer a realidade atual
EDUCACIONAL das duas escolas. O estudo foi baseado na
Tamara Correia Alves Campos - UnB abordagem quanti-qualitativa. Nas esco-
tamara.cac@hotmail.com las, foram anexados cartazes e distribuídos
folders de caráter informativo, para pais,
O bullying é definido como uma agressão definindo o que é bullying, as formas de
física ou psicológica, intencional e repeti- ocorrência da prática do ato e as possí-
tiva que acontece, principalmente, no am- veis conseqüências e intervenções. Foram
biente escolar. Essa agressão é perpetuada aplicados questionários para alunos com
por pessoas que impõem um nível de po- idades de 10 a 15 anos, pais e professores,
der maior do que o do agredido e, muitas além de realizada uma roda de conversa
vezes, o bullyng é confundido como uma com os docentes, a fim de planejar ações
brincadeira inocente. Verificam-se casos educativas. Responderam aos questioná-
de bullying em indivíduos que fogem de rios 104 alunos, 20 professores e 20 pais.
padrões ditados pela sociedade. O proble- Como parte dos resultados verificou-se
ma que se confere desse ato violento é a que, realmente, em escolas públicas e
questão da estigmatização do acometido privadas, a prática de bullying independe
que, muitas vezes, se sente impossibilitado da classe social, já que 59,61% e 61,53%,
de reagir às provocações e de superá-las, respectivamente, afirmaram terem sido
tornando o ambiente escolar ameaçador, alvo da prática de bullying. A partir desse
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volvido um folheto que informava, aos pais, profissional e cidadã, ao conectar a univer-
sobre o que é bullying, como é praticado, sidade com as necessidades da população
suas consequências e soluções. Obtiveram- (Ribeiro, 2009). Uma das características da
-se resultados que confirmam que a prática extensão é o fato de proporcionar uma du-
de bullying é algo que já faz parte do coti- pla formação, ou seja, além da formação
diano escolar e, diversas vezes, o problema dos membros da comunidade a quem se
não é dimensionado por um conhecimen- dirige o trabalho do projeto, há também a
to superficial ou, até mesmo, a falta dele. formação dos próprios extensionistas (Ar-
Entretanto uma diminuição significativa royo & Rocha, 2010). Além disso, a exten-
disto pode ser possível com a realização de são possibilita a troca de conhecimentos
ações educativas, incluindo dinâmicas, a entre a comunidade acadêmica e a popu-
fim de interagir pais, professores e alunos lação, e também a divulgação dos conhe-
para o alcance de uma verdadeira educa- cimentos obtidos durante a execução do
ção de qualidade, por conseguinte, uma projeto em eventos científicos (Fernandes;
melhor inserção social. Alves & Nitschke, 2008; Ponte; Torres; Ma-
chado & Manfrói, 2009). Os jovens adultos,
Palavras-chave: bullying, alunos, inserção ao ingressarem na universidade, cada vez
social mais se vêem diante da necessidade de in-
Contato: Tamara Correia Alves Campos, UnB, tegrar e discutir conteúdos teóricos a partir
tamara.cac@hotmail.com de práticas reais ou simulações da vida pro-
fissional, visando o “aprender a fazer”, não
aceitando passivamente a teoria que lhes
LT04-1014 - A IMPORTÂNCIA DA é apresentada. Esse contexto tem promovi-
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO do uma formação crítica, reflexiva e atenta
DESENVOLVIMENTO DO JOVEM para as necessidades sociais. Esta última
PROFISSIONAL: UMA EXPERIÊNCIA diz respeito não somente ao profissional,
JUNTO A PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO mas também ao desenvolvimento do aluno
INFANTIL como pessoa, como cidadão, ou seja, uma
Fernanda Pavão Corrêa - UFTM formação mais ampla. O presente trabalho
fernandinha_pavao@hotmail.com tem como objetivo destacar as percepções
Caroline M. P. Alves - UFTM e reflexões de graduandos em Psicologia
carolmartins4@gmail.com de uma universidade pública da região do
Letícia B. Elias - UFTM Triângulo Mineiro (MG) envolvidos dire-
le_billiejoe@hotmail.com tamente na execução de um projeto de
Nayara Fileni Prodócimo - UFTM extensão com educadores, sobre a impor-
nah_prodocimo@hotmail.com tância dessa experiência para o desenvol-
Conceição Aparecida Serralha - UFTM vimento profissional e pessoal destes. O
serralhac@hotmail.com projeto, executado por esses graduandos
Jéssica Bezerra Soares - UFTM, MEC/SESu/DIFES – discentes do terceiro ao quinto período
jessicabsoares@hotmail.com – e uma docente do curso de Psicologia,
discutiu a temática da agressividade na
A extensão universitária tem se apresenta- primeira e na segunda infância com grupos
do como uma possibilidade de constituição de profissionais da educação infantil. Para
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proporciona aos estudantes uma forma- consigo, procedimentos que invadem o es-
ção diferenciada, complementando seu paço social, conduzindo o paciente à sen-
desenvolvimento acadêmico e proporcio- sação de insegurança e isolamento. Tais
nando uma formação também pessoal questões podem, ainda, contribuir para
que os tornem mais preparados para atuar um não ajustamento da criança ao am-
como profissionais no futuro (Alves, Ser- biente escolar. A hospitalização de crianças
ralha, Scorsoloni-Comin, Pavão, Soares & em processo de escolarização e a atuação
Miareli, no prelo). Assim, a experiência de do pedagogo no ambiente hospitalar são
extensão permite que os discentes, desde temas que tomam proporções significa-
os períodos iniciais da graduação, se habi- tivas na literatura, por tratarem de uma
litem a atuar diante de uma comunidade temática discutida no âmbito da inclusão
marcada por singularidades e ao mesmo escolar. Percebe-se, no entanto, a neces-
tempo por problemas comuns à socie- sidade de maior divulgação de estudos
dade como um todo. Na execução deste relacionados à permanência da criança no
projeto, em particular, tanto os educado- ambiente hospitalar, bem como sua ruptu-
res das instituições atendidas quanto os ra no processo escolar, que são de suma
futuros profissionais de Psicologia pude- importância, pois, almejam proporcionar
ram discutir sobre os aspectos da agressi- uma adequada inclusão educacional de
vidade que dificultam o desenvolvimento crianças e adolescentes hospitalizados.
da criança e pensar meios de facilitarem Considerando a dialógica saúde/educação
esse desenvolvimento, levando em conta e os desafios de interação destas áreas, o
a diversidade cultural. presente estudo parte do interesse pelo
tema classe hospitalar, tendo por base a
Palavras-chave: Agressividade, percepção de crianças hospitalizadas e de
Desenvolvimento da criança, Escola. seus cuidadores, em relação à intervenção
Contato: Nayara Fileni Prodócimo, UFTM, do pedagogo neste ambiente, prioritaria-
nah_prodocimo@hotmail.com mente marcado pela presença de profis-
sionais de saúde. Neste sentido, a presente
pesquisa teve por objetivo geral identificar
LT04-1065 - OUTRAS QUESTÕES QUE efeitos da hospitalização na vida escolar
PODERÍAMOS SABER SOBRE CLASSE das crianças, da perspectiva dos seus cui-
HOSPITALAR dadores e da própria criança, e por obje-
Kathelem de oliveira dos Santos França - UnB tivos específicos: conhecer percepções
kathelemf@yahoo.com.br dos cuidadores e das próprias crianças, a
Patrícia C. Campos-Ramos - UnB respeito da dialógica educação e saúde e
como a educação tem se preparado para
Fazem parte de nossas rotinas diárias, as- atender a criança em momentos de hos-
pectos físicos, sociais e afetivos. Quando pitalização. O estudo foi realizado a partir
estas rotinas são quebradas, levando-se da reavaliação e releitura de informações
em consideração a hospitalização, princi- obtidas para um trabalho de estágio reali-
palmente, durante a infância, gera-se uma zado no ano de 2003, como exigência par-
ruptura inesperada de vínculos sociais e cial para conclusão do curso de Pedagogia
afetivos. Juntamente, o fator doença traz, na habilitação Ensino Especial. Tendo, no
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foram realizados na própria sala de aula aqui obtidos e aponta para a necessida-
com duração média de 50min cada, apli- de de mais estudos acerca da avaliação
cados ao longo de 4 semanas. Após o tér- de programas de intervenção para esti-
mino da intervenção realizou-se a pós- mulação do autoconceito no contexto
-avaliação com os dois grupos de alunos, educativo. O resultado positivo obtido
observando-se que houve a perda de um no presente trabalho justifica a realiza-
participante do grupo controle que, por ção de novos estudos para a aplicação
faltas sistemáticas, não respondeu ao do programa em outros grupos. É válido
pós-teste. Ressalta-se que, para atender destacar que o baixo número de sujeitos
aos critérios éticos, o mesmo programa dessa pesquisa dificulta a generalização
de intervenção foi realizado posterior- dos dados a outros contextos, sugerindo-
mente com o grupo de comparação. A -se a ampliação da amostra em interven-
fim de se efetuar comparações entre as ções futuras.
pontuações das crianças antes e após a
aplicação do programa de intervenção foi Palavras-chave: autoconceito, ensino
empregada na análise estatística a pro- fundamental, promoção
va de Wilcoxon, o nível de significância Contato: Bianca Cristine Gomide Costa,
adotado foi de p<0,05.A média da pon- Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista
tuação do grupo comparação na primei- do Programa de Educação Tutorial PET-
ra aplicação foi de 104,14 (dp=12,83) e Psicologia/MEC-SESu, biacgc@gmail.com
na segunda avaliação 109,3 (dp= 11,75),
não se obtendo significância estatística
(p=0,059). Quanto ao grupo interven- LT04-1259 - VIVÊNCIA ACADÊMICA:
ção obteve-se, na fase de pré-avaliação, SIGNIFICADOS E MOTIVAÇÕES
a média de 109,52 (dp=9,99) e na fase Elen Alves Santos - Projeção
posterior à implementação do progra- elenpsi@gmail.com
ma, a média de 115,23 (dp=9,39), sendo Elaine Ribeiro Santos - Projeção
tal diferença significativa ( p=0,017). Ou elaine.santos@projecao.br
seja, comparativamente, houve um incre- Danielle Sousa Silva - Projeção
mento de componentes relacionados ao dssfatima@gmail.com
autoconceito na fase de pós-avaliação do
programa, sugerindo que a intervenção O ingresso no ensino superior é permeado
implementada teve um impacto positivo por diferentes significados e motivações.
sobre o autoconceito do grupo de crian- Jovens e adultos, seja qual for a idade,
ças. O resultado converge com os dados apresentam razões diversas na escolha
obtidos por Gonçalves e Murta (2008), do curso, como a busca pela identificação
que também evidenciaram um efeito fa- pessoal, a correspondência de expectati-
vorável de um programa de treinamento vas pessoais e dos familiares, assim como
de Habilidades Sociais, focalizando, de o desejo pelo retorno dos aspectos finan-
maneira indireta, o autoconceito infantil. ceiro e temporal que foi empregado du-
A escassez de pesquisas com intervenção rante o processo acadêmico. O ingresso
focalizando o autoconceito no contexto é marcado pela euforia e idealização de
nacional limita a comparação dos dados que o novo ambiente educacional, que
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foi tão desejado, satisfaça suas necessi- mas também, de conhecer a si próprio.
dades, promova mudanças pessoais e o Reportando a psicologia sócio-histórica
transforme em um profissional capacita- percebe-se que os fatores impostos no
do (Almeida & Soares, 2003). No entanto, âmbito social e cultural compreendem
a entrada no ensino superior não corres- um aspecto de relevante valor no mo-
ponde apenas em realizar os sonhos e de- mento da escolha profissional. Contudo,
sejos pessoais, familiares e sociais, mas a escolha restrita aos aspectos sociais e
também requer do estudante coeficien- culturais acomete várias intercorrências
tes de resiliência capazes de possibilitar no processo de escolarização no ensino
ao estudante mediar os estados da subje- superior que contemplam desde dificul-
tividade com as expectativas e situações dades de aprendizagem, de relações in-
cotidianas, uma vez que, este período de terpessoais, processos de somatização,
estudo é permeado de incertezas e dúvi- além do possível desenvolvimento de
das, podendo vir a desencadear quadros transtornos de ansiedade e depressão
de sofrimento psíquico como ansiedade, tendo em vista, a obrigatoriedade que o
compulsão, fobias, estados depressivos, sujeito impõe a si próprio de realizar um
ao mesmo tempo em que se busca pela curso, não por vontade e identificação,
ascensão profissional, sendo o último mas para atingir um ideal social e cultu-
fator o mais verbalizado entre os gradu- ral. Desta forma, justifica-se a necessida-
andos. Marinho-Araújo (2009) salienta de de um serviço de apoio ao estudante
que o ensino superior não está atrelado no âmbito das instituições de ensino su-
apenas a ascensão social, mas vincula- perior, a fim de, atuar em uma perspecti-
-se ao processo do desenvolvimento hu- va preventiva, dando subsídio aos estu-
mano adulto, em uma dimensão crítica dantes a ressignificar as suas decisões e
e complexa. A motivação e o significado escolhas profissionais, bem como o res-
da vivência acadêmica que trazem os es- significar do desenvolvimento pessoal da
tudantes calouros em seu primeiro ano carreira profissional, conforme as vivên-
no ensino superior estão estritamente cias e expectativas intrínsecas e extrínse-
relacionadas ao desenvolvimento do ci- cas. A experiência prática em um núcleo
clo vital particular de cada indivíduo. A de apoio psicopedagógico aos estudan-
depender da fase do desenvolvimento tes do ensino superior interage na busca
em que se encontra o sujeito, percebe-se pela compreensão dos aspectos sociais e
uma dissonância entre o ideal construído subjetivos que contemplam os estudan-
sobre o que é a vivência acadêmica no tes, sendo um ambiente de identificação
ensino superior e as relações psicosso- dos conflitos pessoais vivenciados pelos
ciais; com a vivência real e concreta das acadêmicos que tangenciam o processo
relações que se estabelecem neste con- de ensino e aprendizagem. Neste servi-
texto. A distância entre o ideal e o real é ço é possível verificar que a experiência
visto como uma luta interna que impeli de ser universitário apresenta-se cada
o sujeito a questionar-se sobre a escolha vez mais introduzida em um processo de
do curso e da faculdade, desencadeando falta de organização social a nível macro,
outras indagações que visam não apenas no sentido de direcionar o sujeito a uma
o ressignificar da escolha profissional, realização pessoal com possibilidades de
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por que se inicia este processo (Bertolucci, a pessoa cada vez mais dependente dos
1996). No início da doença, esta perda das familiares e cuidadores. Nesse momento
células cerebrais não acontece de forma precisa de ajuda para se locomover, tem
homogênea, ocorrendo, principalmente, dificuldade para se comunicar e passa
nas áreas responsáveis pela memória e a necessitar de supervisão integral para
funções executivas. Segundo Izquierdo suas atividades comuns de vida diária,
(2006) esta doença envolve um fator ge- até mesmo as mais elementares, como
nético, portanto, quem tem um familiar alimentar-se ou vestir-se, precisando
próximo, como pai ou mãe com a doença, de acompanhamento, progressivamen-
tem maior chance de desenvolvê-la, mas te intenso, causando desgaste em seus
também deve haver outros fatores, como cuidadores. Borges (2010) previne que a
o ambiental, porque mesmo em gêmeos doença de Alzheimer não afeta apenas o
idênticos um pode desenvolver a doença e paciente, mas também as pessoas que o
o outro não. O fato é que as pessoas porta- cercam. A família deve preparar-se para
doras de Alzheimer podem ter problemas uma sobrecarga tanto em termos emocio-
de memória, perdas de habilidades moto- nais, pois a evolução da doença acarreta
ras, problemas de comportamento e con- em idas frequentes a médicos, limpeza
fusão mental. Izquierdo (2006) refere que do ambiente, horários de remédios, troca
existem três fases na evolução da doença: de fraldas, roupas de cama e pessoal do
a fase inicial caracteriza-se por distração, paciente e também financeiros através da
dificuldades de lembrar-se de nomes e/ou compra de medicamentos, produtos de
para aprender novas informações; deso- higiene e limpeza pessoal e pagamento
rientação em ambientes familiares e redu- de cuidadores ou clínicas. Este trabalho
ção das atividades sociais dentro e fora de objetivou investigar as dificuldades, sofri-
casa. Na fase intermediária ocorre a perda mentos e privações enfrentadas pelos cui-
marcante da memória e da atividade cog- dadores de pacientes com Alzheimer, bem
nitiva, além da deterioração das atividades como apontar possíveis alternativas para
verbais, diminuição do conteúdo e da va- abrandar estas dificuldades. Muitas vezes,
riação da fala. Frequentemente o paciente o cuidador não dispõe de tempo para si
apresenta, nesse estágio mais alterações próprio, não recebe ajuda de familiares,
de comportamento, como exemplo tem- não dispõe de tempo para atividades de
-se: frustração, impaciência, inquietação, lazer, sente-se frustrado, triste, culpado,
agressão verbal e física. Na fase avançada, entra em conflito com o paciente, não
a fala pode tornar-se monossilábica e até dorme bem, não se alimenta adequada-
desaparecer. Podem estar presentes delí- mente, então começa a apresentar pro-
rios, transtornos emocionais e de compor- blemas de saúde. Realizou-se um estudo
tamento, perda do controle da bexiga e do de caso único, com análise de conteúdo
intestino, tendência a ficar mais no leito, qualitativa. Participou deste estudo uma
enrijecimento das articulações, dificulda- mulher de 50 anos de idade, que respon-
de para engolir alimentos, evoluindo para deu a uma entrevista semi estruturada,
morte. A evolução da doença comprome- contendo 14 questões. Os resultados re-
te três áreas: a cognição, as atividades do velaram que a participante já cuidou de
dia-a-dia e o comportamento, deixando três pacientes com esta doença e que
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pelo fato de não ser parente conseguia horários de medicação e alimentação. As-
tempo para desenvolver suas atividades, sim, o trabalho seria menos áspero e mais
principalmente quando a doença ainda se fácil de suportar (Borges, 2010). Este tem
encontrava numa fase intermediária. Ela sido o papel do grupo de suporte ou de
se abalava muito, emocionalmente, pelas autoajuda da ABRAZ (Associação Brasilei-
dificuldades dos pacientes e pelo descaso ra de Alzheimer, que existe para servir de
de familiares que continuavam suas roti- cooperação no trabalho dos cuidadores/
nas normalmente, limitando-se apenas a familiares).
visitá-los. Também relatou que muitas ve-
zes tinha o sono interrompido como, por Palavras-chave: Alzheimer, cuidador, demência.
exemplo, pelo fato de uma das pacientes Contato: Paula Grazziotin Silveira Rava,
levantar de madrugada e começar a fazer CESUCA/ Faculdade Inedi,
almoço e esperar os filhos como se fosse paulagraz@yahoo.com
meio dia ou acompanhá-la quando saía à
rua, pois aconteceu de a paciente sair e se
perder, só voltando com ajuda de um co- LT04-1282 - UM ESTUDO SOBRE A
nhecido. Sofria quando a doença chegava ESCOLHA PROFISSIONAL ENTRE
numa fase mais adiantada e os pacientes ESTUDANTES DO SISTEMA DE ENSINO
necessitavam ir para clínicas e, principal- PÚBLICO E PRIVADO
mente, quando, pela convivência que tive- Liliane Ferreira Neves Inglez de Souza - UNIP
ra, percebia a proximidade da morte. Es- lfneves@terra.com.br
tas questões instigam a continuidade dos André Bethiol Victoria - UNIP
estudos sobre o desgaste dos cuidadores andre_victoria@hotmail.com
de doentes com Alzheimer. Como se tem Andreia Ap. Alves Feitoza da Costa - UNIP
ainda um tratamento curativo, nem vaci- andréia.fcosta@yahoo.com.br
nas ou qualquer outro tipo de terapêutica Audrey Vanessa Barbosa - UNIP
preventiva, o que se pode fazer é utilizar audreyvanessa@hotmail.com
medicamentos que amenizem os sinto- Fabiana de Souza - UNIP
mas, o que auxilia o doente e facilita a fazinhasz@gmail.com
vida do cuidador. É importante o apoio da
família ao doente e ao cuidador, ajudando O processo de escolha profissional é afe-
em outras tarefas como compras, limpeza, tado por modificações observáveis que
idas ao médico, bem como ouvir o cuida- estão ocorrendo, como: introdução de no-
dor para que não se sinta sozinho. Seria vas tecnologias, flexibilidade de produção,
recomendado que eles tivessem acesso expansão de emprego etc. (Silva & Jacque-
às orientações e dicas de como cuidar do min, 2001). Alguns jovens levam em con-
idoso com Alzheimer e também de como sideração ao fazer a escolha profissional
se cuidar. Para que o cuidador facilite sua o “desejo de independência”, a “vontade
tarefa é importante não tratar o idoso de sair de casa”, o “consultório existente
como doente, mas manter uma rotina di- do pai”, a “importância atribuída pelos
ária, organizar a casa de maneira simples pais para se cursar um nível superior”, o
e segura, procurar manter o bom humor. “incentivo da família na realização do so-
Isto ajuda a diminuir o estresse, organizar nho”, etc. (Santos, 2005). Coincide com
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Segundo três professores, o talento é algo zagem musical, julgamos ter sido possível
que vai surgir com o tempo e que pode ser aprofundar o conhecimento e a compre-
desenvolvido. Com efeito, os professores ensão de alguns elementos envolvidos na
constroem suas concepções e, em função problemática da implementação do ensi-
delas, executam suas práticas e as impõem no de música como obrigatório nas esco-
aos alunos. Isso é claramente apresentado las brasileiras, bem como a sinalização de
nos resultados dessa pesquisa. Com isso, alguns entraves para que o referido pro-
torna-se essencial que o professor, além cesso de fato possa ocorrer. Como pesqui-
de construir conhecimentos acerca de sua sa sobre a educação musical escolar, es-
prática pedagógica, tenha a oportunidade pera-se poder contribuir para a ampliação
de repensá-la sempre, adaptando-a para o dos conhecimentos disponíveis na área,
contexto de seus alunos. Em nossa pesqui- visando, em última instância, uma melhor
sa, foram identificadas as percepções de compreensão dos processos de ensino/
“talento musical” que nos levaram a dois aprendizagem envolvidos na construção
campos: o campo do inato e o campo do do conhecimento musical.
social (aprendido). Em suas falas, os pro-
fessores definem a música como algo que Palavras-chave: ensino/aprendizagem,
provoca emoção, como algo que envolve professores, talento musical
a dedicação, como uma forma de lingua- Contato: Claudia Broetto Rossetti,
gem, ou até mesmo algo que está direta- Universidade Federal do Espírito Santo,
mente ligado a elementos musicais, como cbroetto.ufes@gmail.com
o violão, por exemplo. De acordo com
os resultados, os professores parecem
acreditar que o desenvolvimento musical LT04-1406 - AS RELAÇÕES AFETIVAS
envolve a existência de um componente ENTRE DISCENTES DA PEDAGOGIA
hereditário e que, portanto os alunos já E SUAS INFLUÊNCIAS NA CONSTRUÇÃO
possuem algumas habilidades musicais DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
inatas. No entanto, as respostas apontam Fabianna Antunes Gadelha - Anhanguera
também que, segundo as concepções dos fabianna.gadelha2@gmail.com
professores, o que é inato não determina, Luciana Câmara Fernandes Bareicha -
mas apenas facilita o processo de aprendi- Anhanguera
zagem musical. Além disso, para a apren- luciana.bareicha@gmail.com
dizagem em música ser significativa e para
que o interesse em buscar além do que A presente pesquisa teve como propósito
está sendo ensinado em sala de aula apa- investigar a respeito da influência da afe-
reça, o aluno precisa vivenciar a realidade tividade para o desenvolvimento psico-
musical, segundo o discurso dos professo- lógico e como contribuinte na formação
res. Com isso, os alunos se empenhariam educacional na medida em que se consti-
em buscar sempre mais, tirando dúvidas tui como componente das relações entre
que vêm diretamente de sua prática fora os discentes do curso de pedagogia. Foi
de sala. Ao investigar o que professores verificado como os alunos da pedagogia
de música pensam sobre o talento/dom percebem os tipos de afetividades nega-
musical e o processo de ensino/aprendi- tivas e positivas estabelecidas entre seus
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pares de sala de aula durante a formação pela mãe, pai, irmãos, tios, avós e etc. Nes-
universitária. Nossa pesquisa teve como sa matriz de identidade, que para More-
objetivos específicos (i) verificar que tipos no (2009, p. 114) é caracterizado como a
de sentimentos os alunos manifestam na “placenta social”, a criança vai percebendo
construção do desenvolvimento humano a sua semelhança com as pessoas que es-
a respeito de suas relações afetivas entre tão ao seu redor. Com o passar do tempo,
discentes; (ii) analisar a percepção do dis- a criança é inserida numa etapa que surge
cente de pedagogia a respeito de como após o ambiente familial, o ambiente es-
as dificuldades vinculadas às relações so- colar. Nesse novo ambiente, a criança vai
ciais no contexto educacional podem in- adquirindo uma relação que à princípio é
terferir na aprendizagem. Sabe-se que no harmoniosa, mas com o passar do tem-
processo de assimilação da aprendizagem po a relação pode acarretar em conflitos.
o indivíduo participa de maneira ativa no Pode também ocorrer problemas à níveis
desenvolvimento do conhecimento, assim didáticos ou relacional onde será preciso
como na aprendizagem cooperativa um um profissional para auxiliá-los. Entra em
grupo de alunos fazem essa construção de ação o próprio educador como profissio-
forma coletiva, constante e ininterrupta nal de formação superior com capacidade,
no desenvolver ou resolver alguma tare- espera-se, para auxiliar nos desgastes dos
fa. Freire (1996) fez uma indagação do por vínculos constituídos no processo educa-
que não estabelecer uma relação entre cional e que afeta também o desenvol-
os saberes curriculares fundamentais e as vimento dos sujeitos envolvidos. Nesse
experiências que eles levam como indiví- processo de conflitos durante o período
duos. Por isso é importante essa parceria de aprendizagem os alunos considerados
entre docente e discente. Ao chegar numa colegas de sala de aula atuam como faci-
sala de aula, todo educador faz as seguin- litadores ou opositores para facilitar ou
tes indagações: O que vai ensinar? Para dificultar as superações nas dificuldades
que ensinar? Como vai ensinar? O que de relacionamentos durante a formação
também chega como desafio para o edu- educacional. Para Vygotsky (apud Carrara,
cador é estar preparado para as possíveis 2004) o termo atividade não é qualquer
dificuldades de relacionamento entre os coisa feita e sim algo que tem um significa-
alunos. Sabe-se que cada indivíduo carre- do para quem dela usufrui. Com isso uma
ga consigo uma identidade própria que, ao tarefa, por exemplo, possui um objetivo e
entrar em contato com outras identidades um motivo onde um representa a meta a
pode ocorrer harmonia assim como con- ser alcançada e o outro, respectivamente,
flitos e divergências. Ao nascer, a criança é a necessidade que a pessoa sente no agir.
tem seu primeiro contato com o mundo Vygotsky (apud Carrara, 2004) enfatiza que
denominado “matriz de identidade” onde há um sentido quando existe relação en-
para Moreno (2009, p. 114) “proporciona tre objetivo e motivo. Sendo assim, no que
ao bebê humano segurança, orientação e concerne ao motivo a pessoa atua porque
guia”. Sendo assim ela proporciona à crian- há um interesse, uma necessidade ou mo-
ça um amparo quanto à suas necessidades tivação pelo resultado para atingir o obje-
de ordem fisiológicas, afetivas e relacio- tivo, por isso a atividade ou tarefa têm um
nais. A matriz de identidade é composta sentido para o sujeito. Dessa forma, o su-
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de práticas que considerem seu direito de princípios, gera a construção das inter-
participação na vida social e nos processos venções de forma coletiva e contextuali-
de decisão em questões que afetam suas zada e de acordo com as demandas das
vidas. Busca assim promover práticas que crianças e dos cirandeiros, objetivando
apontam para novas sociabilidades e que principalmente a melhoria e promoção do
rompam os processos de dominação etá- desenvolvimento de adultos e crianças en-
ria, promovendo assim espaços de ativida- volvidos no projeto. O trabalho contínuo
des onde as crianças de diferentes idades realizado diretamente com as crianças e
possam estar junto a sua comunidade. educadores do movimento na Ciranda In-
Dentre as novas sociabilidades desejadas fantil vem permitindo ao acompanhamen-
pelo movimento social, são incluídas de- to do desenvolvimento dos cirandeiros e
mandas de desenvolvimento de projetos das crianças, assim como dos estagiários
junto às crianças para a promoção da rela- e profissionais envolvidos no projeto. Essa
ção com o ambiente natural. O modelo de intervenção tem se mostrado formativa
assentamento baseado no sistema agro- para o trabalho do psicólogo do desen-
florestal, escolhido pela comunidade para volvimento em educação não formal, em
ser implantado no assentamento, compõe contextos rurais e, principalmente, em
assim parte das temáticas abordadas com situações que desafiam modelos de atua-
as crianças. A construção da autonomia ção pautados em recortes geracionais.
dos educadores que trabalham com as
demandas da infância do assentamento Palavras-chave: Infância; Formação de
é extremamente relevante no trabalho de Educadores; Assentamento Rural.
intervenção desse projeto, assim como a
instrumentalização da própria comunida-
de para atuar frente às demandas e pro- LT04-1465 - A INFLUÊNCIA DA
blemas que ocorram em seu espaço de AUTOESTIMA NO PROCESSO DE
vivência e no espaço social mais amplo. APRENDIZAGEM
Os encontros com os educadores e com Juliana Nunes da Silva - FACITEC
as crianças não se restringem apenas aos jully-gospel@hotmail.com
momentos de realização de uma ativida- Helen Tatiana dos Santos Lima - FACITEC/
de, uma vez que há acompanhamento de SEEDF
atividades fora do assentamento, como helen.tatiana@hotmail.com
por exemplo, atividades nas escolas em
que as crianças estudam, no trajeto do A autoestima é um aspecto participante e
ônibus escolar e em reuniões do setor importante no processo de aprendizagem.
de educação onde atuam também os ci- Pode-se notar que a maioria das crianças
randeiros. Com esse acompanhamento, o com problemas de interação e dificuldade
grupo pode compreender mais apurada- na sala de aula passaram ou passam por
mente os saberes e a cultura local, suas problemas em sua comunidade, em sua
dificuldades, problemas, potencialidades família ou na própria escola, causando a
e especificidades individuais e coletivas. dificuldades em se manter bem e ter uma
O trabalho realizado junto à comunida- autoimagem positiva. Acredita-se que
de assentada, construído a partir desses a autoestima favorece à criança o sen-
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timento de prazer pela descoberta, em que uma criança que é alimentada afeti-
ser persistente e em superar obstáculos, vamente e recebe incentivo do seu edu-
assim alcançando um ótimo rendimento cador, tende a explorar com expectativas
escolar, interação e companheirismo, em positivas o seu percurso escolar, assim
que o aprendizado fluirá com maior faci- podendo adquirir novos conhecimentos.
lidade. Maia (2005) corrobora à discussão Desta maneira, o aprender se torna mais
afirmando que a autoestima da criança interessante e o aluno se sente confian-
é essencial para o seu desenvolvimento te e competente pelas atitudes tomadas
educacional. A partir desse entendimen- em sala de aula. Partindo desses pres-
to, acredita-se que a escola deve propiciar supostos, propôs-se uma pesquisa cujo
condições adequadas para o bem estar objetivo foi saber se, de fato, a autoesti-
comum e para uma aprendizagem eficaz. ma influencia sobre a interação social do
Nesse contexto, o professor se torna um aluno e sobre seu rendimento escolar. O
referencial que poderá contribuir de for- direcionamento do trabalho se firmou
ma positiva ao estimular adequadamen- por meio de uma abordagem qualitati-
te a autoestima da criança no cotidiano va. Foram realizadas entrevistas com três
escolar. De acordo com Melo (2004), o docentes que atuam nos anos iniciais do
aluno que tem suas características valori- Ensino Fundamental de uma escola públi-
zadas pelo professor tende a desenvolvê- ca do DF. Todas as participantes eram do
-las cada vez mais, enquanto aquele que sexo feminino e graduadas em Pedagogia.
se sente rejeitado tende a se afastar-se, Os resultados mostraram que a influência
acabando por ver as expectativas nega- da autoestima é marcante no processo de
tivas do professor confirmadas. Gadotti aprendizagem. Com base nas respostas
(1999) acrescenta afirmando que o edu- apresentadas, os professores consideram
cador deve promover o diálogo, não se que crianças com a autoestima elevada
colocando na posição de detentor do sa- desenvolvem uma boa abstração do con-
ber, mas sim, se colocado na posição de teúdo, se sentem confiantes para realizar
quem não sabe de tudo, reconhecendo qualquer atividade ou desafio proposto e
que mesmo um indivíduo que não sabe ler se apresentam mais participantes. Contra-
nem escrever possui o conhecimento mais riamente, aquela com uma baixa autoes-
importante: o da vida. Por outro lado, o tima evita a interação social e apresenta
professor, por ser reconhecido como um dificuldade em se expressar e manter con-
exemplo de ideal de comportamento, se tato social. As docentes acreditam que as
torna um uma figura de reflexo na forma- condições que favorecem a autoestima no
ção da identidade da criança. Por isso, é contexto escolar estão basicamente orien-
importante que o docente esteja sempre tadas por suas ações, que devem estar
se autoavaliando para que sua postura voltadas ao oferecimento de elogios para
seja vista e observada pelos alunos de for- motivação aos alunos, para a criação de
ma positiva. Por fim, Brigs (1990) aponta uma relação afetiva com o aluno e para o
que, neste espaço relacional, a criança desenvolvimento de uma metodologia de
deve ser tratada com respeito e se sentir ensino adequada para o desenvolvimento
livre para expressar sua ideias, sem medo da autoestima, ou seja, que valorize as ca-
de ser censurada. Isso porque entende-se pacidades do aprendiz. No tocante ao pa-
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Distrito Federal. Desde os nove meses de ter uma perspectiva negativa quanto à
idade foi verificado um déficit na visão e utilização de uma prótese ocular, porém
o desvio do olho direito. A mãe procurou a adaptação à primeira prótese com dois
um serviço privado, e a criança ficou um anos e quatro meses foi considerada
período em avaliação, incluindo ecogra- boa, caracterizando o auxílio como uma
fia. Com um ano e 11 meses a criança estratégia compensatória, capaz de tirar
foi atendida pelo Hospital Universitário o foco da deficiência. Nessa condição, o
de Brasília, com relato da mãe de que o desenvolvimento da criança pode seguir
olho direito não acompanhava objetos e um curso guiado por suas possibilidades
luz. Após tomografia computadorizada e não pela falta. Em função da idade do
foi formulada a hipótese diagnóstica de diagnóstico, atenção primeira foi dada à
retinoblastoma. A mãe foi encaminhada mãe no processo de lidar com a prótese e
para um serviço de referência em cirur- assimilar a perda do olho. A criança sem-
gia oncológica, e através da Secretaria de pre apresentou desenvolvimento físico,
Saúde do Distrito Federal marcou uma cognitivo e emocional compatíveis com
avaliação no Hospital AC Camargo – São sua idade. Não foram relatadas altera-
Paulo. A cirurgia para remoção do glo- ções na alimentação durante a primeira
bo ocular foi realizada em abril de 2007 infância. Apresentou somente doenças
e a paciente retornou para Brasília para comuns à faixa etária. Não ocorreu dé-
acompanhamento oftalmológico no HUB. ficit no desenvolvimento motor e da lin-
Foi encaminhada para confecção de pró- guagem, quanto aos quesitos de firmar
tese ocular externa 30 dias após a cirur- a cabeça, sentar com apoio, sentar sem
gia. Esta é uma modalidade de prótese apoio, engatinhar, desenvolver o movi-
maxilofacial, que tem o objetivo de recu- mento de pinça, andar, balbuciar, falar,
perar a estética facial, prevenir o colapso primeiras palavras, primeiras frases, ca-
e a deformidade palpebral, restaurar a pacidade motora e linguagem atual. A
direção da secreção lacrimal e proteger mãe considera o desenvolvimento da
a cavidade anoftálmica contra agressões filha semelhante ao dos irmãos, haven-
de elementos externos. A prótese atua do inclusive boa interação entre eles. A
como elemento estimulador do desen- menina frequenta a escola desde os três
volvimento da órbita durante o período anos, com comportamento colaborador
de crescimento para os indivíduos que e entusiasmo. A perda ocular e o fato
perderam parte ou todo globo ocular. No de usar prótese não são associados à
caso apresentado a primeira prótese foi mudança na rotina de vida e no relacio-
adaptada em junho de 2007 e a atual em namento interpessoal. Os sentimentos
maio de 2011. Neste período, oito próte- maternos relacionados ao momento do
ses foram confeccionadas de forma a ga- diagnóstico foram tristeza, inseguran-
rantir os objetivos acima descritos, o que ça e medo e já não estão presentes no
equivale a mais de uma por ano, respei- momento atual. A mãe relata não ter
tando o desenvolvimento físico particular recebido atendimento psicológico em
de sua idade. A possibilidade de reparo qualquer momento do processo de per-
protético foi informada pelo médico pou- da e reabilitação, o suporte foi dado pelo
cos dias antes da cirurgia. A mãe relatou pai o que reforça a importância do apoio
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dadores. Os trabalhos acima relacionados família ou, no caso disso mostrar-se invi-
dão relevo às diferentes dimensões da ável, seu encaminhamento a uma família
qualidade que deveria ser a marca de abri- substituta. Buscando superar essa situ-
gos institucionais que se constituíssem, de ação, planos, leis e orientações técnicas
fato, como contextos de desenvolvimento (Eca, 1990; Conanda & Cnas, 2006; 2009;
para as crianças acolhidas. Para atingir esta Lei nº 12010, 2009) foram formulados
qualidade há uma urgente necessidade de e entraram em vigor, nos últimos anos,
pesquisas na área e de trabalhos de capa- introduzindo sérias mudanças no acolhi-
citação e de apoio para os profissionais mento a crianças/adolescentes privados
envolvidos nesse importante momento da de cuidados parentais. Neste momento,
vida das crianças. Cabe, ainda, acrescentar os abrigos institucionais se defrontam com
que as novas leis e normativas nacionais exigências de adequação às novas normas,
responsabilizam o abrigo, prioritariamen- que seus dirigentes raramente tiveram
te, pelo trabalho de reintegração familiar. oportunidade de conhecer ou enfrentam
Para isso faz-se necessário capacitar seus dificuldades para atendê-las e pô-las em
profissionais e mobilizar um rede integra- prática. Desta forma, o desafio e os esfor-
da de serviços que os apoie nessa bela e ços atuais são para que estas instituições
difícil tarefa. se constituam, realmente, como espaços
coletivos de cuidado e educação de crian-
ças e adolescentes conquistando, assim, a
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL legitimidade de um serviço capaz de pro-
ENQUANTO CONTEXTO DE mover seu desenvolvimento, mesmo que
DESENVOLVIMENTO: O MOMENTO DO em caráter excepcional e provisório. Histo-
INGRESSO E A INTEGRAÇAO ABRIGO – ricamente, também as instituições de Edu-
FAMILIA cação Infantil, em especial a creche, foram
Maria Clotilde Rossetti-Ferreira - USP e com freqüência ainda são vistas como
mcrferre@usp.br “mal necessário”. Muitos estudos e esfor-
Ivy Gonçalves de Almeida - USP ços foram necessários para tirá-las desse
ivy.almeida@uol.com.br status e inseri-las no sistema de ensino,
Financiamento: CNPq/CAPES com um conjunto de leis e normativas, aos
quais se acrescentou, recentemente, um
Estudos têm mostrado (AASPTJ-SP, 2004; sistema de avaliação com o objetivo de
IPEA, 2005) que muitas crianças e adoles- promover um atendimento de qualidade
centes permanecem por longos períodos (Soares-Silva, Mello, Pantoni & Rossetti-
em abrigos de má qualidade, tendo seus -Ferreira, 2009; Souza, Mello & Rossetti-
direitos novamente violados, frequente- -Ferreira, 2009). Quanto esse saber e essa
mente, por problemas derivados da falta experiência podem nos ser úteis e contri-
ou deficiência de políticas públicas que buir para a promoção da qualidade dos
auxiliem suas famílias a enfrentarem suas abrigos institucionais? Quais as semelhan-
dificuldades. Nota-se, também, falta de ças e diferenças entre esses dois contex-
trabalhos efetivos com a criança, a família tos? Nesta apresentação, dada a restrição
e sua rede de apoio durante o acolhimento de tempo, decidimos abordar dois pontos
institucional, que permitam seu retorno à interrelacionados: a inserção da criança na
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ração, atue como mediadora em seu pro- promissor para um bom desenvolvimento
cesso de integração no abrigo. Ademais, físico, cognitivo e emocional infantil. A le-
embora o objetivo maior do acolhimento gislação brasileira defende a família como
institucional seja a reintegração familiar, espaço ideal e privilegiado para o desen-
predomina certo preconceito para com volvimento integral (Brasil, 2006). Todavia,
as famílias das crianças. As visitas dos fa- nos casos em que a convivência familiar
miliares não são favorecidas, sendo mar- ameaça ou viola os direitos de crianças e
cadas em horários restritos que impedem adolescentes, a instituição será a respon-
pais trabalhadores de irem visitar os filhos, sável pelo acolhimento provisório, com a
embora a freqüência de visitas seja toma- responsabilidade de suprir as demandas e
da como índice do vínculo existente entre oferecer condições a um desenvolvimento
eles. Conforme as novas leis e normativas, saudável (ECA, citado em Lamarão e Ama-
a responsabilidade pelo trabalho de rein- ral, 2007). Apesar de se propor como uma
tegração familiar cabe, prioritariamente, medida de proteção, várias são as pesqui-
ao abrigo. É necessário, porém, capacitar sas que demonstram que esta medida tem
seus profissionais para isso e mobilizar potencial tanto para ser um fator de risco
uma rede integrada de serviços que os quanto de proteção. O que definirá a natu-
apoie nessa bela e difícil tarefa. reza da influência que terá sobre a expe-
riência de vida da pessoa institucionaliza-
Palavras-chave: acolhimento institucional, da será o conjunto das características nas
integração abrigo-família, educação infantil quais acontece (Cavalcante, Magalhães e
Contato: Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, Pontes, 2007; Salinas-Brandão e Willians,
CINDEDI/FFCLRP-USP, mcrferre@usp.br 2009; Siqueira e Dell´aglio, 2006). Reco-
nhecendo que a falta de qualidade pode
ter repercussões negativas sobre o proces-
AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE UMA so de desenvolvimento, o Governo Fede-
INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO ral, recentemente, estabeleceu critérios
PROVISÓRIO INFANTIL de qualidade para regulamentar os servi-
Camila Lima Filocreão - UFPA ços de institucionalização (Brasil, 2009).
milafilocreao@hotmail.com Entretanto, ainda não foram estabelecidos
Celina Maria Colino Magalhães - UFPA instrumentos capazes de realizar essa ava-
celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br liação de forma padronizada. Na ausência
Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA de instrumentos formulados para este fim,
liliaccavalcante@gmail.com.br Cavalcante (2008) e a presente pesquisa
Financiamento: CNPq pensaram a Escala Infant Toddler Environ-
ment Rating Scales (ITERS) como uma pos-
O desenvolvimento humano acontece em sibilidade real de se ter, ao mesmo tempo,
todos os momentos da vida das pessoas, critérios e meios de se avaliar, acompanhar
através de uma constante interrelação do e melhorar a qualidade de ambientes de
organismo humano e de seu ambiente, institucionalização. Apesar da grande par-
em diversos níveis de complexidade.(Bron- te dos estudos que utilizaram a ITERS te-
fenbrenner, 1996). Muitos pesquisadores rem sido realizados em ambientes de cre-
questionam qual seria o ambiente mais ches, o uso desse instrumento em abrigos
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dos estágios e afirmou que nem todas as lescentes acolhidos. A referida Unidade
pessoas atingem os estágios mais eleva- teve início no ano de 1971, sob a égide
dos. No primeiro nível, denominado pré- da Política Nacional do Bem-Estar do Me-
-convencional, estão os estágios 1 e 2. É aí nor, atendendo, na ocasião, as disposições
que estão incluídos a maioria das crianças do Código de Menores. Tinha como fun-
menores de 9 anos, alguns adolescentes ção o abrigamento e a triagem de crian-
e muitos adolescentes autores de ato in- ças e adolescentes de 0 a 18 anos, do
fracional e adultos. As normas morais e sexo feminino, e de 0 a 12 anos, do sexo
expectativas não são entendidas e com- masculino, privados do convívio familiar
partilhadas, ficando externas a essas pes- por maus-tratos, abandono, negligência,
soas. Já no segundo nível, o convencional, exploração sexual, mendicância, perma-
estão os estágios 3 e 4, onde se encontra nência nas ruas, dentre outros problemas.
a maioria dos adolescentes e adultos da Recebia, do então Juizado de Menores e
sociedade ocidental. Os indivíduos inter- da Delegacia de Menor, crianças e adoles-
nalizaram as regras sociais, especialmente centes em “situação irregular”, decretada
quando estas provêm de uma autoridade. pelo Juiz de Menores. Em 1999, inicia-se o
No terceiro nível, o pós-convencional (es- reordenamento da Unidade e em 2005 a
tágios 5 e 6), alcançado por uma minoria construção das primeiras casas lares, com
dos adultos, as regras da sociedade são a presença de mães sociais para o cuida-
aceitas, desde que princípios morais gerais do das crianças e adolescentes acolhidos.
sustentem essas regras. Caso contrário, as No ano de 2007, aumenta-se o número de
normas apresentadas são questionadas e casas lares e substitui-se a figura da mãe
nem sempre seguidas à risca, daí seu ca- social (que residia no local) por cuidadores
ráter autônomo. Um ponto importante é sociais, trabalhando em regime de escala.
que o desenvolvimento moral do sujeito é Sobre o público acolhido, vale ressaltar a
propiciado a partir das interações sociais, presença, atualmente, de grande número
nos mais variados contextos; com o pas- de adolescentes, muitos com vivência de
sar do tempo, diminuem-se as relações de rua, usuários de drogas e/ou autores de
coação e aumentam-se as de cooperação. ato infracional. Estes precisam de prote-
Kohlberg afirma que existe uma atmosfe- ção do Estado, mas possuem dificuldade
ra moral nos ambientes que oferecem as de adaptação em outras instituições, o que
condições para esse crescimento. Essas os leva a serem encaminhados à Unidade
condições são: discussão aberta com o de Acolhimento em questão. Buscando-se
foco na justiça e na moralidade; estimu- facilitar o desenvolvimento da autono-
lação de conflitos cognitivos estimulados mia dos adolescentes acolhidos, a partir
pela exposição de diferentes pontos de da idéia de proteção integral da criança e
vista e raciocínio num estágio superior, do adolescente, preconizada pelo ECA, e
participação na construção de regras e o levando-se em consideração as condições
exercício da autoridade e responsabilida- de contexto que são favoráveis ao desen-
de. A partir da proposta apresentada por volvimento moral dos sujeitos, foram or-
Kohlberg, procurou-se implantar algu- ganizadas ações junto aos adolescentes,
mas ações na Unidade de Acolhimento, visando promover maior participação
visando promover a autonomia dos ado- destes na rotina da Unidade. Para cada
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casa lar, foi eleito um representante e um dade. Ações de vigilância e punição ainda
vice-representante, sendo em seguida estavam bem presentes no discurso e na
realizadas assembleias para discussão e prática dos profissionais, com grande pre-
deliberação dos assuntos de interesse dos sença de relações de coação e pouca de
acolhidos. Eles tinham um caderno para cooperação. Diante desse cenário, cabe a
anotar as reivindicações, reclamações e seguinte reflexão: para que as crianças e
sugestões das crianças e adolescentes da os adolescentes acolhidos possam se de-
casa e as levavam às reuniões. Represen- senvolver em direção à autonomia, pre-
tantes dos setores da equipe que atuava cisam ser escutados e reconhecidos pela
no local também estavam presentes nas equipe da Unidade de Acolhimento como
assembleias, que era mediada pela coor- sujeitos que têm o direito de discutir e to-
denadora da Unidade. Um dos objetivos mar decisões sobre problemas e dilemas
da realização das assembleias era a busca morais que os afetam, aprendendo a au-
de alternativas frente às situações de con- torregular suas próprias ações. Rever con-
flito que surgiam no cotidiano da Unidade. cepções e práticas sociais, por parte dos
Na maioria das vezes, buscava-se um limite profissionais da Equipe, de modo a res-
e uma autoridade externas à equipe, com significá-las em consonância com o ECA,
o encaminhamento do adolescente à De- faz-se absolutamente necessário, para
legacia da Criança e do Adolescente - DCA, que as intervenções propostas promovam
e consequente enquadramento em algum o desenvolvimento e o julgamento moral
ato infracional, conforme previsto no ECA. dos adolescentes acolhidos, em direção à
Na primeira reunião, surgiu o tema “dano autonomia pretendida.
ao patrimônio em decorrência de briga
ou agressividade de algum acolhido”. Os Palavras-chave: autonomia, acolhimento,
adolescentes elaboraram alternativas de adolescência
reparação do dano, na própria Unidade, Contato: Juliana Castro Benício de Carvalho,
mas os profissionais presentes alegaram SEDEST, castrojuli28@yahoo.com.br
que tal ação era ato infracional por dano
ao patrimônio público, sendo, na visão de-
les, necessário o encaminhamento à DCA. LT03-877 - AS ADMIRAÇÕES DE
Com isso, qualquer negociação junto aos ADOLESCENTES EM MEDIDA
adolescentes ficava comprometida. A par- SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: UM
tir desse momento, pensou-se em uma se- ESTUDO NA ÁREA DA MORALIDADE
gunda alternativa: reunião somente com a Marcelo Menezes Salgado - PPGP/Ufes
equipe, a fim de alinhar a concepção de marcelomsalgado@gmail.com
proteção, segundo o ECA, com o objetivo Heloisa Moulin de Alencar - PPGP/Ufes
da unidade de acolhimento. Percebeu-se, heloisamoulin@gmail.com
nesse segundo momento, grande dificul- Financiamento: CAPES
dade de muitos profissionais da equipe
em compreender os pressupostos do Es- A presente pesquisa consiste em um estu-
tatuto, ficando presos à concepção do Có- do sobre as admirações de adolescentes
digo de Menores, que orientava a prática que cumprem medidas socioeducativas
da equipe na época da fundação da Uni- de internação. Entendemos ser interes-
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jovens que cometeram infrações. Tal fator se o envolvimento com os DH sofre influ-
evidencia a importância de trabalhos que ência de algumas características dos parti-
investiguem os valores morais de adoles- cipantes como idade, sexo, tipo de escola,
centes envolvidos pelo crime e violência, e gerações dos direitos. A perspectiva de
problematizando, inclusive, os ditames direitos de diferentes gerações é compre-
presentes nos planos moral e ético (La Tail- endida, nesta pesquisa, a partir de Lafer
le, 2006) de tais jovens. (2009): 1ª geração: direitos individuais
(autonomia); 2ª geração: direitos sociais;
Palavras-chave: adolescentes, medida 3ª geração: direitos de grupos minoritá-
socioeducativa de internação, moral e ética rios (não ser discriminado) e 4ª geração:
Contato: Marcelo Menezes Salgado, UFES, direitos relativos ao meio ambiente. Os
marcelomsalgado@gmail.com DH são definidos como princípios basea-
dos na justiça social, que são elaborados e
institucionalizados com a finalidade de re-
LT03-1064 - ENVOLVIMENTO DE gularem as relações sociais gerando bem-
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM OS -estar coletivo. Os DH têm sido estudados,
DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO no âmbito da psicologia social, sobretudo
COM A EMPATIA por Willem Doise que, a partir de uma vi-
Cleonice Camino - UFPB, são psicossociológica, realizou, juntamen-
cleocamino@yahoo.com.br - CNPq te com seus colaboradores, várias pesqui-
Anderson Mathias - UFPB, sas (Doise, Staerklé, Clémence & Savory,
anderson.mathias@yahoo.com.br 1998; Spini e Doise, 1998; Doise, Spini e
Julian Santos - UFPB, Clémence, 1999; Staerklé e Clémence,
ledjulian@hotmail.com 2004). No Brasil, Camino, Camino, Perei-
Lívia Braga - UFPB, ra e Paz (2004); Camino, Galvão, Rique &
liviabsc@yahoo.com.br Camboim (2005) e Camino, Galvão, Quiri-
Philomena Couras - UFPB, no, Moraes, Roazzi & Martin (2007) têm
menacouras@hotmail.com também estudado os DH nessa perspecti-
Nilton Formiga - Maurício de Nassau/PB va. O conjunto desses trabalhos tem con-
nsformiga@yahoo.com.br tribuído para esclarecer várias dimensões
Pablo Queiroz - UFPB, referentes aos DH, como: representações,
pabloqueiroz@live.co.uk conhecimento, envolvimento, princípios
Lilian Galvão - UFCG, organizadores, e a relação dessas dimen-
liliangalvao@yahoo.com.br sões com variáveis sócio-demográficas e
Leonardo Sampaio - UNIVASF psicossociais (idéias de força, valores, tipos
leorsampaio@yahoo.com.br de justiça que os afetam, etc.). Diante da
Financiamento: CNPQ extensão dos aspectos já estudados sobre
os DH, cabe destacar que a contribuição
Este estudo investiga o quanto crianças e do presente estudo refere-se: a conside-
adolescentes julgam que irão se envolver ração dos DH relativos ao meio-ambiente
com a implementação dos Direitos Huma- e a não-discriminação, dentre os direitos
nos – DH – e qual a relação desse envolvi- de outras gerações, como pólos de atração
mento com a empatia. Investiga, também, para um maior ou menor envolvimento
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dos participantes com os DH; e a relação elevado (M=4,21), que foi seguido dos
dos DH com a empatia. A empatia é defi- escores médios dos direitos à autonomia
nida neste trabalho como a capacidade do (M=3,91), dos direitos ao meio ambiente
indivíduo de se colocar no lugar do outro e (M=3,53) e dos direitos a não ser discri-
sentir algo compatível com o que o outro minado (M=3,49); (2) os escores médios
sente. Julga-se que a introdução desses as- dos participantes em relação aos DH não
pectos no estudo sobre os DH possibilita, se diferenciaram em função do sexo; (3) os
além de um maior conhecimento teórico escores médios dos participantes diferen-
sobre o tema, um melhor planejamento ciaram-se significativamente (p<.05) em
de estratégias relativas à educação sobre função da escola que freqüentavam, tendo
os DH. Participaram da pesquisa 282 es- os alunos de escola pública obtido escores
tudantes, 144 do sexo feminino e 138 do médios mais elevados do que os alunos da
sexo masculino divididos em dois grupos escola particular em relação aos direitos
de idade: o grupo I constituído por estu- ao meio ambiente (M=3,72 e M=3,19), as
dantes de 11, 12 e 13 anos e o grupo II conquistas sociais (M=4,38 e M=3,95) e à
por adolescentes de 14, 15 e 16 anos, que autonomia (M=3,97 e M=3,81); (4) os es-
freqüentavam escolas públicas (N=174) tudantes de 11 a 13 anos obtiveram, em
e particulares (N=108). Todos os partici- relação à todas as gerações de direitos,
pantes responderam individualmente, em escores médios mais elevados do que os
ambiente de sala de aula, a perguntas so- estudantes de 14 a 17 anos, sendo que os
bre aspectos sócio-demográficos e a dois escores médios obtidos pelos estudantes
questionários; um contendo uma lista de mais novos e mais velhos foram, respec-
25 direitos que avalia o nível de envol- tivamente, M=3,90 e M=3,39, em relação
vimento dos participantes com os DH, o aos direitos ao meio ambiente, M=4,47 e
outro, contendo uma lista de 24 itens, que M=4,14, em relação aos direitos sociais,
avaliava a capacidade empática dos partici- M=4,10 e M=3,85, em relação aos direitos
pantes. As respostas para os itens dos dois para a autonomia e M=3,85 e M=3,43, em
questionários foram dadas em uma escala relação aos direitos à não discriminação;
tipo Likert, de cinco pontos, indicando o (5) ocorreu uma correlação positiva signi-
quanto o respondente faria alguma coisa, ficativa (r=.416; p<.05) entre a empatia e
quando ficasse mais velho, para que todos todos os direitos estudados. Diante desses
tivessem os direitos citados, ou o quanto resultados, pode-se concluir que o fato dos
experimentava um certo sentimento. As direitos de primeira e segunda geração
possibilidades de respostas variaram de 1 apresentarem escores médios mais eleva-
(nada) a 5 (muitíssimo). Os dados foram dos deve-se ao fato desses direitos terem
analisados com: o teste “t” para medidas sido os primeiros a serem institucionaliza-
independentes e medidas repetidas; uma dos. Quanto aos direitos relativos ao meio
ANOVA; e a correlação de Pearson. Nos ambiente terem apresentado um escore
resultados, observa-se que: (1) os parti- médio superior aos direitos de não ser dis-
cipantes apresentaram escores médios criminado, acredita-se que se deva a uma
significativamente diferentes (p<.05) em maior presença de movimentos ecológicos
função das gerações de direitos: os direi- nas escolas do que de movimentos relati-
tos sociais obtiveram o escore médio mais vos a não discriminação. A não diferencia-
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do pela justiça com uma concessão assis- condizentes com seu meio, localizando
tida baseada na inclusão escolar, o que le- assim, esse aluno na sociedade. Constata-
vou ao questionamento e a problemática -se que é considerável investir em futuras
dessa pesquisa. Como ocorre a inclusão pesquisas que trabalhem diretamente
do menor infrator em condição de liber- com as famílias dos menores infratores,
dade assistida na vida escolar? Baseado discutindo sobre o respeito, às origens,
neste contexto de uma vivência profis- cultura e todos os aspectos sociais que
sional e social surgiu a proposta da aná- possam intervir na conduta do adoles-
lise do tema, tendo como norteamento o cente com o meio. Através de uma abor-
letramento, que seria a forma funcional dagem mais específica das realidades
da alfabetização. Os resultados obtidos existentes, fatores norteadores para uma
concluíram que a medida sócio-educativa melhor qualidade do ensino público para
de inclusão escolar por si só não garante menores infratores, neste caso específico,
ao adolescente infrator uma reintegração do Distrito Federal.
social, já que além dos fatores de estrutu-
ra familiar a ser considerado, temos o fa- Palavras-chave: inclusão, menor infrator,
tor social que não garante programas de letramento escolar.
apoio em parceria com a escola a esses Contato: Amanda Correia Lima, Universidade de
jovens e consequentemente a suas famí- Brasília – UNB, amandajmorrisson@gmail.com
lias que vem de uma realidade dura de so-
brevivência e marginalização. O trabalho
trouxe informações práticas de observa- CO 43 - LT06
ções a respeito da preparação dos profes-
sores que trabalham com menores infra- Saúde
tores e que não recebem treinamentos
e desconhecem essa forma de inclusão,
LT06-712 - TRIAGEM DO
trabalham com medo e inseguros, envol-
DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA SAÚDE
vidos pela realidade sofrida do aluno de
PÚBLICA
periferia que chegam às salas de aula sem
motivação. E a inclusão do menor infrator Ana Regina Lucato Sigolo - UFSCar
através do trabalho pedagógico escolar ginasigolo@yahoo.com.br
é minimizada tanto pelo despreparo dos Ana Lúcia Rossito Aiello - UFSCar
professores, quanto pela falta de envol- ana.aiello@terra.com.br
vimento da família no processo inclusivo Financiamento: FAPESP
de aprendizagem, não existe um coopera-
ção mútua de responsabilidades. A parte Amorin et al. (2009) ressalta que uma
positiva que pode ser observada nessa avaliação regular do desenvolvimento in-
pesquisa, baseia-se na funcionailidade do fantil é importante para que problemas
letramento, fator significativo nas discus- do desenvolvimento sejam identificados
sões em sala. Através dessa maneira de precocemente e as crianças diagnostica-
vivenciar com o aluno os vários gêneros das sejam encaminhadas para programas
textuais baseado em sua realidade é que específicos, para que as conseqüências
se pode despertar para algumas questões do seu atraso sejam nulas ou mínimas.
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O objetivo do presente estudo foi avaliar de apenas 2,6%. Não foram encontradas
a adequação do modelo psicométrico de diferenças entre as amostras quanto à
cinco fatores previsto por Sherbourne e paridade e ao número de filhos. Testes t
Stewart (1991) a partir das respostas à para amostras independentes indicaram
EAS de duas amostras de mães da cidade que as médias de apoio percebido foram
de São Paulo: gestantes atendidas pelo significativamente maiores para as puér-
SUS (N=392); e parturientes atendidas peras do hospital privado do que para as
por um hospital privado de alto padrão gestantes do SUS, em todos os itens da
(N=269). Foram critérios de exclusão EAS (p<0,001).
apresentar gestação múltipla e deixar de O modelo psicométrico simultâneo para
responder um ou mais itens da escala. As os grupos HU e Einstein foi construído
participantes responderam a versão vali- usando os cinco fatores previstos e sujei-
dada em português da EAS (Griep, Chor, to às restrições das cargas fatoriais serem
Faerstein, Werneck, Lopes, 2005) e entre- iguais nos grupos concebidos por Sher-
vistas estruturadas para obter informa- bourne e Stewart (1991), como variáveis
ções sociodemográficas. latentes correlacionadas entre si (mode-
Análises exploratórias univariadas foram lo não ortogonal). A análise foi realizada
conduzidas para comparar os perfis das no software Amos 16. Os índices usados
participantes do SUS e do hospital priva- como critério para decidir sobre a ade-
do, usando teste t para variáveis contínu- quação do modelo basearam-se em Byrne
as e teste de qui-quadrado para variáveis (2010): PCLOSE>0,5, PGFI>0,5, CFI>0,9,
categóricas. As puérperas do hospital pri- TLI>0,9. Foram encontradas evidências de
vado tinham, em média, 33,1 anos, sendo boa qualidade de ajustamento do modelo
mais velhas que as gestantes do SUS, que de cinco fatores, de acordo com os crité-
tinham, em média=25,3 anos (t650,685=- rios de Byrne (2010): PCLOSE = 0,85, PGFI
20,205, p<0,001). Além disso, puérperas = 0,69, CFI = 0,95, TLI = 0,94.
do hospital privado moravam em residên- Os resultados indicaram que o modelo
cias com média de 2,5 pessoas, valor mais psicométrico de cinco fatores, tal como
baixo que a média das gestantes do SUS, havia sido previsto por Sherbourne e
de 3,9 pessoas (t500,371=12,689, p<0,001). Stewart (1991), foi adequado para medir
Testes de qui-quadrado indicaram que o apoio social percebido por gestantes
entre as puérperas do hospital privado, e puérperas, em suas diferentes dimen-
havia maior proporção que trabalhava sões. O modelo mostrou ter boa qualida-
(77,0%, contra 39,3% das gestantes do de em ambos os grupos estudados, ape-
SUS) e que morava com o companhei- sar das diferenças de perfil observadas
ro (98,9%, contra 75,3% das gestantes nas análises univariadas.
do SUS). Também se observou diferen-
ça quanto à escolaridade (X21=534,535, Palavras-chave: Apoio social, Gestantes,
p<0,001): entre as puérperas do hospital Estudos de validação
particular, 97,4% tinham nível superior Contato: Gabriela Andrade da Silva
(completo ou incompleto), enquanto en- Universidade de São Paulo (USP)
tre as gestantes do SUS, a proporção foi gabiasilva@usp.br
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cos como no transtorno bipolar (Reinares Porto Alegre. Como instrumentos, foram
et al, 2008), diminuição dos prejuízos so- utilizados: o questionário de dados sócio-
ciais em pacientes com depressão maior -demográficos e da situação clínica, a Es-
(Pinquart, Duberstein & Lyness, 2008) e cala de Ansiedade de Beck (BAI) (Beck et
em câncer (revisado por Gundel, Humm- al., 1988), a Escala de Depressão de Beck
ler & Lordick, 2007). Outros exemplos de (BDI2) (Beck et al., 1996), o Inventário de
estudos, no Brasil, demonstram a eficá- Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
cia da terapia cognitivo-comportamental (ISSL) (Lipp, 2000), um exame clínico PASI
grupal em pacientes com estresse ocupa- (Psoriasis Area and Severity Index), além
cional (Murta & Tróccoli, 2004) e hiper- de 10 sessões estruturadas de interven-
tensão arterial (Cade, 2001), e individual ção individual, na modalidade cognitivo-
em pacientes com fibromialgia (Brasio et -comportamental. Quanto aos procedi-
al, 2003). Observa-se a necessidade de mentos, os pacientes com psoríase vulgar
um tratamento para pacientes com pso- foram recrutados por conveniência em
ríase, no intuito de prevenir doenças mais ambulatório especializado. Os instrumen-
graves no futuro, bem como propiciar tos foram aplicados, individualmente,
uma melhor qualidade de vida para os uma semana antes do início da interven-
acometidos por esta dermatose. Assim, ção (tempo 1) e uma semana após o fim
este trabalho objetiva avaliar o impacto da psicoterapia (tempo 2). A intervenção
da intervenção cognitivo-comportamen- consistiu de 10 sessões estruturadas na
tal, por meio de variáveis clínicas e psicos- modalidade cognitivo-comportamental.
sociais, em pessoas com psoríase de pla- Os resultados obtidos no BAI apontaram
cas. Em relação ao método adotado para uma diminuição não significativa da an-
este estudo, a amostra foi composta por siedade (p=0,500 para distribuição dupla;
5 participantes portadores de psoríase de p=0,250 para distribuição simples) nos
placas em atendimento dermatológico, momentos pré e pós intervenção. O mes-
sendo 3 pessoas do sexo masculino e 2 mo resultado foi encontrado nos níveis
do feminino, com idade média de 49 anos de depressão (p=0,125 para distribuição
(DP=12,94), tendo entre 18 e 65 anos e dupla; p=0,063 para distribuição sim-
escolaridade mínima de 5ª série do Ensi- ples). Em relação ao exame clínico PASI,
no Fundamental. Dois participantes eram a análise comparativa dos dois tempos
casados, 2 solteiros e 1 viúvo, todos com da pesquisa evidenciou uma diminuição
escolaridade de ensino médio completo. que beirou a significância no teste para
No tocante à situação de trabalho, 40% distribuição dupla (p=0,063) e revelou
dos participantes estavam empregados uma diferença significativa na distribuição
(n=2), 40% eram autônomos (n=2) e um simples (p=0,031). Os resultados obtidos
estava aposentado (20%). Em relação ao neste piloto apontam que a intervenção
tempo com a doença, a variação foi entre cognitivo-comportamental alterou uma
18 e 120 meses (média 70,8, DP=37,08). série de variáveis no sentido esperado.
A pesquisa, de delineamento transver- Sendo assim, espera-se que um número
sal, quantitativa e quase-experimental, maior de participantes venha a confirmar
foi realizada no Ambulatório de Derma- relações de efeito mais consistentes e sig-
tologia da Santa Casa de Misericórdia de nificativas na segunda etapa da pesquisa.
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que o desenvolvimento siga seu curso nas pliação da autonomia entre a população
suas diversas formas de expressão huma- de terceira idade, contribuindo ainda com
na de envelhecer, de ser e de se fazer cada quebra de preconceito intergeracional e
vez mais vida e que a longevidade seja com a desmistificação do processo de en-
uma real possibilidade e uma perspectiva velhecimento. Tal projeto se dá eminen-
de vivermos mais e melhor. Concebemos temente no laboratório de informática do
que a longevidade não deve ser pensada campus e no curso de psicologia, onde
apenas numa relação com o envelheci- acontece a inusitada variação de idades se
mento e seus aspectos multimensionais encontrando no cotidiano da universidade.
em si, mas também com a complexidade As aulas de informática são dadas pelos
das diferentes relações e tecituras da vida estudantes que se propõem como voluntá-
humana que se desenvolve e cada vez rios do projeto, chamados “estudantes fa-
mais se alonga na linha do tempo (Olivei- cilitadores”, de uma forma individualizada
ra, 2003). O Laboratório de Estudos sobre e em horários flexíveis combinados entre o
a Longevidade, do Curso de Psicologia da estudante e a pessoa idosa. Além de facili-
UFC-Sobral se propõe a contribuir com re- tar a inclusão digital, realizamos encontros
flexões e ações acerca do desenvolvimento periódicos de todo o grupo de estudantes
humano sob a perspectiva da longevidade facilitadores e estudantes do projeto para
implicando-a durante toda a Vida, de for- integração, celebração de datas comemo-
ma a favorecer a promoção da saúde, a rativas e rituais de iniciação e finalização do
participação social, a cidadania e o enve- curso anual. A produção do material didáti-
lhecimento ativo, através do tripé ensino, co é dinâmica, coletiva e continuada onde
pesquisa e cooperação/ extensao. Tem participam todas as pessoas do projeto, in-
como bases epistemológicas as Teorias do clusive os próprios idosos. Há ainda a pre-
Ciclo Vital -Life Span (Baltes, 1993); Teoria ocupação com a formação dos estudantes
Histórico Cultural de Vigotsky (1924-1934); facilitadores, quanto as questões próprias
Psicologia Comunitária (Góis, 2003); Edu- do processo de envelhecimento e temas
caçao Biocêntrica (2007). Atuamos através relacionados a pedagogia e gerontologia.
de ações comunitárias, com diferentes fai- Além de um acompanhamento emocional
xas etárias, mediante o método reflexivo e afetivo de todas as pessoas envolvidas
dialógico vivencial, trabalhamos com arte- com o projeto, visando questões vivenciais
-identidade, círculos de cultura, filmes, da- e existenciais relacionadas ao tema da lon-
tas comemorativas como o “dia do índio”, gevidade. O segundo projeto do Laelon é
“dia da mulher”, “dia do Idoso” e outros. chamado “Vida longa e Feliz para todos”,
Em 2011 seguimos com dois projetos: o In- que tem uma gama de atuações e varia-
clusao Digital para o Envelhecimento ativo ções de tempos em tempos. Podemos citar
e o Vida Longa e Feliz para Todos. No pri- como exemplos de ações do Vida Longa:
meiro Buscamos proporcionar uma aproxi- A utilização de datas comemorativas, tais
mação de gerações, facilitando a troca de como dia do idoso, dia das mães, dia da
conhecimentos, habilidades, experiências, criança, dia do índio, dentre outras para
possibilitando a criação de laços afetivos trabalharmos a temática da longevidade
entre estudantes e idosos, favorecendo tanto no ambiente universitário quanto na
ao estimulo cognitivo, preservação e am- comunidade sobralense; Ações de promo-
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comumente utilizadas como fonte de in- sua percepção sobre o TDAH, e como con-
formação para auxiliar o seu diagnóstico. cebem o papel da escola no cotidiano dos
Entretanto, autores apontam um déficit no alunos que apresentam indícios do referi-
conhecimento científico desses profissio- do transtorno; e o (II) Questionário para
nais, que sem uma bagagem teórica condi- Gestores, contendo 18 questões que ob-
zente, acabam atribuindo prioritariamente jetivaram levantar dados sobre a organiza-
características pejorativas aos indivíduos ção da escola e a atuação da mesma no co-
com o referido transtorno. Essa questão tidiano do aluno com TDAH, se a escola na
suscita preocupações, já que o professor qual eles trabalham mantém algum tipo de
tem um papel importante na forma como registro sobre a incidência de alunos com
os alunos se percebem e constroem suas este transtorno, e quais são as propostas
relações dentro da escola. Assim, tais es- oferecidas pela instituição de ensino para
tigmas, aumentam o risco destes alunos auxiliar esses alunos e suas famílias. Todos
desenvolverem sentimentos de baixa au- os participantes alegaram que suas escolas
toestima e de apresentarem queda do de- contam com uma equipe multidisciplinar
sempenho escolar, acentuando possíveis de atuação, sendo que o psicólogo não
consequências decorrentes do referido está incluído neste grupo, o que também
transtorno. Considerando a importância parece ser a realidade dos demais mu-
da instituição escolar, em especial do pro- nicípios que compõem a Grande Vitória,
fessor, no processo de desenvolvimento e incluindo Vitória, o que foi demonstrado
a escassez de trabalhos que contemplem por um estudo realizado nesta capital. As
a sua compreensão sobre o TDAH, esse escolas investigadas mantêm registro de
estudo teve por objetivo investigar a con- alunos com indícios de TDAH, sendo que
cepção de professores e gestores escolares tais registros indicam uma prevalência do
sobre o TDAH e sua participação no coti- sexo masculino. Em geral, quem primeiro
diano de alunos com indícios desse trans- comunica à instituição de ensino sobre os
torno. Participaram desta investigação 19 possíveis alunos com TDAH são os próprios
professores e sete gestores da área educa- professores. Quanto às características atri-
cional de duas escolas do município de Vila buídas pelos gestores a estes alunos foram
Velha – ES. Dos professores participantes, encontradas prioritariamente as seguintes
oito atuam em uma escola particular e 11 opiniões: desatento, hiperativo/inquieto,
em uma escola pública; dos gestores par- impulsivo e com problemas de aprendiza-
ticipantes, três são de uma escola priva- gem. Dentre as poucas menções às carac-
da, enquanto os outros quatro atuam em terísticas positivas apareceu prestativo e
uma instituição pública. Entre os gestores inteligente. De acordo com os gestores, a
participantes estão incluídos pedagogos, instituição de ensino em que estão aloca-
diretores e coordenadores das referidas dos não proporciona nenhum tipo de for-
escolas. Como instrumentos da coleta de mação para os professores a respeito do
dados foram utilizados dois modelos de TDAH ou outros transtornos. Apesar disso,
questionário: (I) Questionário para Profes- os gestores entendem que a escola exerce
sores, contendo 29 questões que preten- um papel importante no cotidiano desses
deram levantar dados sobre a formação alunos com TDAH, educando e auxiliando
do professor, sua experiência profissional, no aprendizado, de modo a atuar em con-
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grunhidos que elas emitem? Cavalcanti e que pelo que elas informam”. Comparti-
Rocha (2007) retomam que na década de lhando desse sentimento, acredita-se que,
40, período da Segunda Guerra Mundial, dependendo da entonação com que são
Leo Kanner cria o termo autismo, a par- emitidos, os grunhidos podem significar
tir de sua observação de crianças, visan- sim ou não, desaprovação ou aprovação,
do distingui-lo de outros quadros, como acordo ou discordância. Diante desse po-
a oligofrenia, a esquizofrenia infantil e a sicionamento, a expressão de linguagem
demência precoce. Kanner (1943) conside- das pessoas com aspectos autísticos ad-
rava que o autista não possuía linguagem, quire um valor muito importante. Seria
contudo, em 1946, na medida em que vai isto, então, um vislumbre do nascimento
desenvolvendo seus estudos, passa a afir- de um pequeno espaço mental, para um
mar que há sim uma forma de comunica- existir, mesmo que momentâneo? Seria
ção destas crianças, definindo-a como uma isto, a possibilidade de uma pessoa com
linguagem metafórica. Assim como uma tal aspecto autístico emergir como sujeito?
metáfora de linguagem precisa ser analisa- Sujeito do desejo? Os grunhidos particula-
da e contextualizada para poder ser enten- res, diferenciados, somados aos olhares,
dida, as pessoas com barreiras autísticas sorrisos e gargalhadas parecem sugerir
também precisam dessa análise e do en- uma forma de linguagem, uma marca pró-
tendimento de seu contexto. É fundamen- pria, podendo indicar algo único. Porque
tal conhecer como eles se comunicam e o ninguém tem um grunhido igual ao do ou-
que algumas expressões reverberam. Mas, tro, é como se fosse uma digital sonora,
diferentemente da metáfora de linguagem uma forma particular de linguagem. Rocha
tradicional, no caso da linguagem no fenô- (2010) afirma que Freud (1911) considera
meno autístico, conjectura-se que essas o encontro do “bebê com o mundo exter-
pessoas podem ser entendidas de forma no como fundamental para o acontecer
muito particular, compartilhando da ideia psíquico” (p.169). E, retoma Winnicott
de que os sons emitidos por elas, inarti- (1978) que propõe que “o meio ambiente
culados e aparentemente sem sentido, apresenta o mundo para o bebê” (p. 169).
podem apresentar algum sentido singular, Sendo assim, é fundamental o investimen-
uma forma de linguagem específica. Acre- to no outro para a constituição do sujeito.
dita-se que é preciso muita dedicação e es- De acordo com a teoria psicanalítica, só é
forço daqueles que convivem e trabalham possível um indivíduo se constituir como
com pessoas com barreiras autísticas. Bion sujeito, a partir do olhar, do investimento,
(1991a, 1991b, citado em Oliveira, 2003, p. do gozo necessário do Outro. Lew (2004,
32) afirma que “conhece-se e aprende-se citado em Laznik, 2010) aponta o “gozo do
em um vínculo emocional”. É fundamen- Outro como um elemento constitutivo do
tal o estabelecimento de um bom vínculo, aparelho psíquico do filhote de homem”
para que essas pessoas possam se comu- (p. 143). E, discorre que no caso das pes-
nicar de maneira própria, possibilitando soas com autismo, o que acontece é essa
que elas sejam ouvidas e compreendidas não-relação de gozo, de investimento, uma
em suas expressões de linguagem. Manoel vez que “o autista estaria preso a um gozo
de Barros afirma que aprendeu a “gostar fálico de seu próprio corpo” (p. 143). Pode
mais das palavras pelo que elas entoam do parecer impossível compreender a lingua-
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gem de alguém com barrreiras autísticas e por intervenções psicológicas” (p. 251).
mais difícil ainda relacionar-se com eles. Então, a comunicação com as pessoas com
Winnicott (1978, citado em Laznik, 2010) autismo pode ser possível, os grunhidos
pressupõe que um bebê que não respon- podem ser considerados como uma forma
de de maneira convencional, coloca o ou- de expressão da linguagem, na medida em
tro à prova, constantemente, e acredita que um vínculo é estabelecido com elas.
ser fundamental uma “loucura necessária Assim, o psicoterapeuta e as pessoas que
das mães” (p. 142), que talvez seja possível convivem com estes sujeitos, poderiam
apenas em condições em que haja uma ca- buscar acolher seus grunhidos, essa forma
pacidade materna e condições de seguran- única e muito particular de se expressarem
ça, para poder se relacionar (se vincular) no mundo.
com esses sujeitos. Expandindo o conceito,
Alvarez (1994) assevera que é necessário Palavras-chave: Autismo; Linguagem; Psicanálise.
oferecer uma companhia viva a esses su- Contato: Taísa Resende Sousa,UFU,
jeitos. É preciso oferecer um “colo” para taisa.r.s@hotmail.com
as formas de linguagem, as expressões
corporais, sons, gestos e olhares. Oferecer
atenção, vivacidade e alegria podem ser LT05-997 - COMPREENDENDO A
primordiais para a entrada nessa relação, VIVÊNCIA DE SER-MÃE DE UMA
para se comunicar com tais pessoas , mes- CRIANÇA AUTISTA: UMA PERSPECTIVA
mo que essa linguagem possa parecer algo FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
de outra dimensão, inacessível e intocável. Luana Cristina F. de L. Andrade - UFRN,
Todavia, indaga-se, como se comunicar luana.cris@globo.com
com uma pessoa que não se comunica da Symone Fernandes de Melo - UFRN,
maneira convencional? Como estabelecer symelo@gmail.com
um diálogo articulado por meio de grunhi-
dos inarticulados? Os grunhidos emitidos Os estudos sobre o autismo têm se amplia-
pelas pessoas com barreiras autísticas po- do ao longo do tempo, apresentando uma
dem ser considerados como uma forma visível evolução no que diz respeito aos
específica de linguagem? Tustin (1990) conceitos atribuídos e formas de compre-
alega que para lidar com pacientes com ensão, sendo possível apontar diferentes
autismo é necessário “empatizar com eles hipóteses etiológicas, graus de severidade
em suas angústias [...] encontrar pontos de e características específicas ou não usu-
contato com eles” (p. 231). A autora (1990) ais (Schmidt, Dell’Aglio & Bosa, 2007). A
aponta que essa comunicação pode ser descoberta de um filho com autismo gera
desenvolvida através de conversas, com uma grande sobrecarga emocional para a
sentimento, de forma que os mesmos se família da criança (Schmidt, Dell’Aglio &
sintam entendidos. Assim, eles vão gradu- Bosa, 2007; Monteiro et al, 2008), bem
almente, se sentindo encorajados a “baixar como suscita muitas dúvidas e frustra
as barreiras de suas reações autistas mais expectativas em relação a um filho ideali-
extremas” (p. 231). Rhode (2000) assegura zado, sendo um momento peculiarmente
que pesquisas recentes mostram que “as delicado. Este diagnóstico trás também a
funções cerebrais podem ser modificadas necessidade de que alguns cuidados es-
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peciais sejam prestados à criança. Estudos nas ideias de Martin Heidegger Trata-se
têm mostrado que as figuras parentais são de uma pesquisa de caráter qualitativo
as mais afetadas pelo estresse em casos que teve como objetivo geral compreen-
de desenvolvimento atípico de um filho, der a vivência de ser-mãe de uma criança
sendo, porém, a mãe mais atingida por sua autista, considerando as características
condição de “cuidadora direta” (Hamlett, do espectro autista e suas implicações no
et al., 1992; Ong et al., 1998, citado por tocante a maternidade. A pesquisa teve
Cherubini, Bosa & Bandeira, 2008). Outros como participantes três mães de crianças
estudos também mostram que a dedica- com autismo, que frequentam a Associa-
ção ao cuidado do filho com autismo leva ção de Pais e Amigos dos Autistas do Rio
estas mães a vivenciarem considerável Grande do Norte (APAARN), estando seus
sofrimento, em virtude da emergência de filhos com idades entre 5 e 8 anos. Foram
sentimentos ambivalentes. É comum o la- realizadas entrevistas individuais, semies-
mento pelo filho, pelas limitações frente a truturadas, tendo como referência o mo-
vida que ele permanentemente apresen- delo de entrevista fenomenológica pro-
tará, as expectativas frustradas em decor- posto por Szymanski (2002) – a Entrevista
rência da idealização de um filho perfeito Reflexiva. As narrativas foram registradas
(Monteiro, 2008), para o qual são feitos em áudio com o uso de gravador, bem
planos e construídos sonhos. O cuidado como transcritas na íntegra. As mães e
diferenciado e dedicação que uma criança seus filhos receberam nomes fictícios para
autista demanda, leva o cuidador a, mui- que o sigilo de sua identidade fosse man-
tas vezes, abdicar muito de si, e de seus tido. Utilizou-se, inicialmente, a seguinte
próprios planos de vida. Alguns autores pergunta disparadora: “Como é para você
afirmam que apesar dos mecanismos do ser mãe de uma criança com autismo?”,
impacto do estresse na saúde ainda serem com a intenção de suscitar, a princípio, um
subjetivos da vivência de cada sujeito e, discurso livre. Contudo, algumas questões
portanto, não determinados, o excesso de norteadoras direcionaram a investigação,
tarefas atribuídas que uma pessoa absorve a fim de atender aos objetivos propostos
no papel de cuidador gera consequências pela pesquisa. Para a análise dos dados,
em sua saúde física e psicológica (Bauer et foi utilizado o método fenomenológico
al., 2000; Epel et al., 2004; Bandeira et al., baseado no modelo de Giorgi (1985). Mo-
2007; Bandeira, Gonçalves & Pawlowski, reira (2002) aborda o método afirmando
2006, citado por Cherubini, Bosa & Ban- que ele se configura em quatro passos: a)
deira, 2008). Carrion, Córdoba e Collado leitura geral da descrição; b) releitura da
(2003) verificaram que as mulheres são descrição discriminando as “unidades de
mais sensíveis e responsáveis diante da sentido” presentes, focando sempre no
necessidade de outras pessoas e se envol- fenômeno; c) expressão de forma direta
vem emocionalmente mais intensamente do que cada unidade de sentido contém;
principalmente quando o cuidado se refe- d) elaboração da “estrutura da experiên-
re ao filho. Este estudo tem por temática cia” do sujeito, formada pela síntese de
a maternidade no contexto do autismo. A todas as unidades de sentido. A partir da
investigação fundamenta-se na fenome- análise foram discriminadas sete unidades
nologia existencial, mais especificamente de sentido que auxiliaram na compreen-
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vida que ocorrem no curso do desenvol- quisas longitudinais de longo prazo (De
vimento da pessoa (Baltes & Nesselrode, Felice, 2006; Oliveira-Monteiro, 2008; Sá
1979; Bronfenbrenner, 1988, 1989). São e cols., 2009) e também três utilizaram o
dois os tipos de delineamentos cronos- delineamento de estudo de caso (Beltrão
sistêmicos longitudinais: curto prazo e & Carvalho, 2008; Diaz, 2007; De Felice,
longo prazo, a diferença essencial entre 2006). Os outros estudos foram longitu-
estes estudos é que, no primeiro, o inter- dinais de curto prazo e/ou utilizaram o
valo de tempo é maior, pelo menos, mais delineamento empírico. Finalmente, nos
de dois anos. No segundo, a obtenção estudos longitudinais investigados, qua-
das informações é realizada em interva- tro efetuaram sua coleta em somente
los menores de tempo, como dias, sema- dois períodos distintos de tempo (Krob,
nas e meses (Baltes & Nesselrode, 1979; Piccinini & Silva, 2009; Linhares, Carva-
Bronfenbrenner, 1988, 1989). No Brasil, lho, Machado & Martinez; Oliveira-Mon-
os estudos usando os delineamentos teiro, 2008; Sá, Curto, Bordin & Paula,
cronossistêmicos longitudinais ainda são 2009), e nenhum realizou análises que
poucos. Isto é o que revela um levanta- considerassem mais de dois níveis de
mento realizado sobre a produção nacio- interferência sobre o desenvolvimento.
nal nos últimos 10 anos (2000 até 2009) Todas as análises destas pesquisas fo-
nos dois principais indexadores nacionais caram somente no nível individual dos
de periódicos online de Psicologia: Index- aspectos de continuidades e mudanças
-Psi e PePSIC. Neste levantamento foi que ocorreram ao longo do tempo das
utilizado como verbete apenas a palavra pessoas investigadas. Até o ano de 2006
“longitudinal”, que possui tradução ho- eram mínimos os estudos longitudinais
mônima nas línguas inglesa e espanhola. brasileiros indexados que se preocupa-
Não foram incluídos nesta revisão teses, vam em compreender os fenômenos do
livros e capítulos, trabalhos de conclusão desenvolvimento humano, indicando que
de curso, revistas de divulgação científi- este tipo de delineamento cronossistêmi-
ca, estudos estrangeiros e produções que co tem ganhado gradualmente interesse
se repetissem nas duas bases de dados. recentemente pelos cientistas do desen-
Ao todo esta revisão localizou 44 artigos: volvimento. Este aumento nacional indi-
16 do Index-Psi e 28 do PePSIC. Muitas ca uma tendência mundial, expressa pelo
destes estudos, todavia, não atendiam a levantamento de Singer e Willett (2005)
Definição 1 de ciência do desenvolvimen- e indicada por Chen e Miller (2005), que
to e aspectos de continuidade e mudan- vem constatando no delineamento cro-
ça; outro refinamento, portanto, foi reali- nossistêmico longitudinal propriedades
zado na leitura dos objetivos, métodos e que melhor definem as trajetórias do de-
resultados dos artigos. O resultado final senvolvimento.
identificou nove investigações (Beltrão
& Carvalho, 2008; De Felice, 2006; Diaz, Palavras-chave: desenvolvimento humano;
2007; Krob e cols., 2009; Linhares e cols., métodos de pesquisa; estudo longitudinal
2003; Nobre e cols., 2009; Oliveira-Mon-
teiro, 2008; Pérez-Ramos e Maia, 2002;
Sá e cols., 2009), dessas três foram pes-
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dos dados sobre professores (não mais número de projetos de extensão realiza-
que três) com pesquisa em Psicologia do dos pelas universidades, o que demons-
Desenvolvimento, porém as informações tra uma importante preocupação com
sobre linhas de pesquisa ou publicações a realidade sócio-cultural local, que se
se revelaram demasiadamente escassas. reflete também nos temas de interesse
Já a Costa Rica, Cuba e México destaca- de pesquisa. A partir desse quadro, salta
ram-se, dentre os países investigados, aos olhos a necessidade e a importância
pelo número de professores atuantes em de que universidades e pesquisadores se
pós-graduações na área, pelo número de mobilizem para sistematizar e disponibi-
publicações, pela diversidade de temas lizar online suas atividades e produções
de interesse em pesquisa e pelas redes em documentos como: organização da
de cooperação internacional na qual es- graduação e da pós-graduação, suas li-
tão envolvidos, permitindo-nos colocá- nhas de pesquisa, seu histórico e objeti-
-los no patamar de grupos de status e vos, seu quadro docente, bem como os
impacto internacional, ao menos poten- currículos completos e atualizados des-
cialmente. No entanto, também esses ses pesquisadores. Observou-se que, nos
pesquisadores raramente apresentavam, países em foco no presente estudo, há
disponível na internet, uma sistematiza- trabalhos, pesquisas, publicações e pro-
ção abrangente de seu trabalho, exigindo jetos de extensão de enorme interesse
assim um esforço de busca em páginas e relevância para o campo da Psicologia
diversas de universidades, congressos e do Desenvolvimento, mas que frequen-
revistas eletrônicas. Com base nos resul- temente não estão ao alcance de pesqui-
tados que foram encontrados, a presente sadores que não vivem naquela mesma
pesquisa indicou algumas considerações realidade nacional ou local. Apesar das
sobre o contexto investigado. Em pri- dificuldades financeiras e técnicas que
meiro lugar, é notável a falta de acesso certamente existem, é importante que
e de sistematização de informações dos os pesquisadores dessas universidades
pesquisadores (como currículos, grupos se mobilizem, pois o compartilhamento
de pesquisa, produção acadêmica, pro- de seu trabalho certamente contribuirá
jetos atuais e orientações de mestrado e sobremaneira para o enriquecimento da
doutorado). Por outro lado, no entanto, Psicologia do Desenvolvimento na Amé-
observa-se sim uma produção de relevo rica Latina e no mundo.
no ramo da ciência em questão aqui –
sobretudo na Costa Rica, em Cuba e no Palavras-chave: América Latina, Psicologia
México –, com predominância da pesqui- do Desenvolvimento, compartilhamento de
sa em Psicologia do Desenvolvimento no experiência.
contexto escolar, chamada de Psicologia Contato: Cândida Beatriz Alves, UnB,
Educativa, Escolar ou Educacional (o que candida.alves@gmail.com
mostra a necessidade de uma investi-
gação mais aprofundada sobre que tipo
de pesquisa e objetos de estudos se en-
contram abarcados por essas denomi-
nações). Destacou-se também o grande
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artigos, livros, capítulos de livros e, depois, (24,5%), questionários e fichas (15,1%), re-
dissertações e teses. Com relação às abor- gistro das observações / diários de campo
dagens utilizadas nas produções investi- (11,3%), vídeogravação / filmagem (7,5%)
gadas, 25 trabalhos (55,5%) continham a e outros (5,7%). Com relação às técnicas
informação da abordagem empregada e de coletas de dados mais utilizadas com
20 trabalhos (44,5%) não mencionaram, crianças foram: escalas, protocolos, testes,
diretamente, a abordagem escolhida. Em inventários e baterias (30,4%); entrevistas
geral, as abordagens mais utilizadas foram (21,7%), registros das observações / diário
o modelo bioecológico do desenvolvimen- de campo (21,7%), filmagens (13,1%) e
to e a abordagem sócio-histórica, históri- outros (13,1%). Quando analisadas as téc-
co-cultural ou sociocultural. Com relação nicas utilizadas com os familiares, profis-
ao tipo de pesquisa, teórica ou empírica, sionais e professores foi constatado o uso
dos 45 artigos, 32 correspondiam a estu- de: entrevistas (42,9%), questionários e
dos empíricos (71,1%) e 13, a estudos te- fichas (25%), escalas / inventários (21,4%),
óricos (28,9%). Nas pesquisas empíricas filmagens (7,1%) e outros (3,6%). Ao inves-
verificou-se o cenário de pesquisa, a técni- tigar o tipo de procedimento de análise
ca de coleta de dados, a análise dos dados dos dados, foi possível verificar que em 18
e os participantes. A respeito do cenário trabalhos (56%) foi empregado algum tipo
de pesquisa ou o local onde foi realizada de quantificação e em 14 trabalhos (44%),
a pesquisa, nos 32 artigos empíricos, 17 empregada a análise qualitativa. Com re-
pesquisas desenvolveram-se dentro de lação aos participantes das pesquisas, 17
uma escola; quatro, em um posto de saúde trabalhos (53,1%) contaram com crianças
ou hospital; duas, dentro de um bairro ou e ou adolescentes e 15 trabalhos (46,9%)
uma comunidade; em outras duas, os par- com os familiares, profissionais e professo-
ticipantes foram entrevistados na institui- res como participantes. É importante con-
ção de ensino superior em que os autores siderar a continuidade deste levantamento
atuavam; e, por último, uma pesquisa foi preliminar, bem como questionamentos a
realizada em um centro de atendimento à seu respeito, a partir da realização de no-
criança. Ressalta-se que em seis estudos vas pesquisas. Acredita-se que a investiga-
não foi possível identificar o cenário da ção realizada possa contribuir para uma
pesquisa, porque os autores não mencio- breve descrição de como vem se consoli-
naram como chegaram aos participantes dando a Psicologia do Desenvolvimento
escolhidos e onde foi realizada a pesquisa. Infantil no país e futuras pesquisas dire-
No que se refere à quantidade de técnicas cionadas a mapear a situação da Psicolo-
empregadas na coleta de dados, dos 32 gia do Desenvolvimento Infantil tornam-se
artigos analisados, 15 trabalhos (28,4%) essenciais para a construção da história da
utilizaram uma técnica; 13 artigos (49%) pesquisa científica na área.
utilizaram duas técnicas; e quatro traba-
lhos (22,6%), três técnicas. Em geral, os Palavras-chave: Psicologia do
dados demonstram que a opção pelo uso Desenvolvimento Infantil; produções
de entrevistas (35,9%) é bastante comum. científicas; Psicologia no Brasil
Na sequência, aparecem o uso de escalas, Contato: Adinete Sousa da Costa Mezzalira,
protocolos, testes, inventários e baterias PUC-Campinas, adinetecosta@hotmail.com
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de vida), os vídeos indicam que os bebês né?”, na qual fica clara a preferência do
utilizam determinados recursos comuni- bebê (Lucas) por uma funcionária-moni-
cativos (como o andar em direção, seguir, tora específica (Elaine). Bussab (2000) nos
se aproximar ou permanecer ao redor de alerta sobre a armadilha metodológica em
determinada pessoa; o olhar, o balbucio, o que podemos cair ao atribuir, de modo
choro e o sorriso direcionado; o estender simplista, relação causal entre o desenvol-
os bracinhos; entre outros recursos) na vimento do apego com o comportamento
interação. Esta se dá com pessoas espe- de cuidado para satisfação de necessida-
cíficas, as mesmas ocorrendo, prioritaria- des básicas (alimentação, cuidados com
mente, com funcionários do abrigo, ain- a saúde e higienização). No entanto, no
da que haja outros adultos e voluntários contexto do abrigo, a condição dependen-
presentes. Tais comportamentos indicam te do bebê faz com que a proximidade dos
preferências e especificidades, revelando adultos, exigida nos cuidados básicos, po-
comportamento possível de seletividade tencialize a construção de relação e pos-
na escolha dos parceiros de interação. O síveis vínculos. Em outras palavras, nos
mesmo acontece nas interações com as momentos de interação, subjacentes aos
outras crianças. Para discutir esses modos cuidados básicos, novos elementos po-
de relações, foi selecionada uma cena. No dem surgir na relação, como brincadeiras,
episódio, Lucas estava no berço, interagin- sorrisos, entre outras trocas afetivas que
do de longe com um bebê de outro berço, envolvem o adulto na história de desen-
por meio de olhares e balbucios. Quando volvimento, com conquistas e descober-
Elaine (funcionária) passa pelo berçário tas do bebê, viabilizando a construção de
e segue em direção à cozinha, ele a vê e vínculos. Embora a cena seja apenas um
começa a chorar, olhando para o corredor recorte da história relacional, ao longo dos
onde ela entrou. Seu choro dura alguns vídeos, é possível observar esse tipo de
minutos, atraindo a atenção de uma vo- troca afetiva entre Lucas e Elaine e entre
luntária. Esta tira o bebê do berço e o co- outros bebês e funcionários. Ela evidencia
loca no chão, oferecendo um brinquedo. que, ao contrário do que é previsto, mes-
Mesmo assim, Lucas continua chorando, mo em situação considerada por princípio
agora com mais intensidade (“berrando”). adversa, as interações entre as crianças
A diretora do abrigo aproxima-se e o pega e adultos e entre as próprias crianças es-
no colo, dizendo “pronto, pronto, pronto”. tão carregadas de afeto, com intensas
Embora o choro diminua, não é suficiente reações emocionais e evidente conforto
para que ele pare de chorar. Nesse mo- proveniente desses contatos. Ainda que
mento, Elaine volta ao berçário, mas sai estes vínculos não tenham as característi-
rapidamente. E ele, novamente, começa a cas que Bowlby (1990) compreende como
chorar gritando e olhando na direção dela. pré-requisitos para um apego seguro, é
Por fim, a funcionária reaparece e o pega claramente observável que as crianças
no colo, após ele inclinar o corpo em sua têm figuras de referências nesses contex-
direção. No colo, imediatamente, Lucas tos. E é na relação com essas figuras de
para de chorar. Ela o leva para a cozinha e referência que surgem as possibilidades
a diretora do abrigo diz: “olha aí o remédio de construção de vínculos e apego no con-
dele (...) oh! Meu amor, tá acostumado, texto de acolhimento institucional.
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vam sua saída, sendo que algumas vezes o do a criança escolhia permanecer brincan-
mais novo até chorava. Em casa e na brin- do no parquinho, na companhia de outras
quedoteca, os primeiros encontros com crianças, em vez de ir logo para casa ao en-
Bela foram marcados por muito silêncio e contro dos irmãos. O acompanhamento do
recatamento de sua parte. E assim que o desenvolvimento e a convivência com Bela
grupo acabava, Bela logo voltava para per- mostraram a importância da postura dos
to dos irmãos, sempre cuidando dos dois. extensionistas de suporte para as crianças
No transcorrer dos dias e das brincadeiras, do grupo poderem se expressar e agir de
o relacionamento com a criança foi se tor- forma espontânea, como sujeitos de seus
nando cada vez mais pessoal, sem tantas desejos, a partir do vínculo de confiança e
resistências dela e dos irmãos para as sa- respeito estabelecido com elas. Além dis-
ídas de casa e com maior comunicação so, observou-se que a atividade em grupo
visual e corporal. Já a comunicação verbal auxiliou o desenvolvimento da individua-
demorou um pouco mais de tempo para ção da criança, por possibilitar posiciona-
ser compreensível. No início, Bela apon- mentos e escolhas pessoais, e que foi pos-
tava seus desejos e sentimentos com sons sível desenvolver uma escuta terapêutica
de impaciência e grunhidos, revelando na por meio de uma prática clínica reflexiva e
maioria das vezes apenas os momentos de transformadora.
descontentamento. Apesar dessas expres-
sões terem perdurado por grande período, Palavras-chave: desenvolvimento, brincadeira,
nos últimos encontros do grupo, era possí- abrigamento.
vel perceber que Bela expressava com pa- Contato: Priscila Fernandes do Prado –
lavras sua tristeza e suas contrariedades. Universidade de Brasília – pprifp@gmail.com
Além de ter sido ouvida e entendida, o gru-
po analisou o falar da criança importante
por ter proporcionado a ela a melhor per- LT01-1258 - ADOÇÃO NACIONAL E
cepção das suas sensações e a organização INTERNACIONAL: PROCESSOS PROXIMAIS
de possíveis soluções. Outras mudanças de NO PERÍODO DE CONVIVÊNCIA
Bela foram em relação à vivência de mo- Elisa Avellar Merçon-Vargas - UFES
mentos felizes, os quais, no início, parecia elisa.amv@gmail.com
evitar ao se isolar do grupo, permanecen- Edinete Maria Rosa - UFES
do calada e quieta. Tal distanciamento foi edineter@gmail.com
diminuindo ao longo dos encontros e, ao Débora Dalbosco Dell’Aglio - UFRGS
final, a criança brincava todo o período dalbosco@cpovo.net
com os outros componentes do grupo e Financiamento: CAPES
expressava contentamento com risos, can-
tos e interações animadas. Ademais, Bela O Estatuto da Criança e do Adolescente
em vários momentos chamava as outras (ECRIAD; Brasil, 1990) assegura o direi-
meninas de amigas ou deixava evidente o to à convivência familiar e comunitária a
seu carinho por elas. Também foi possível toda criança e adolescente. Nos casos em
perceber diferenças nos comportamentos que estes direitos estão sendo violados, a
de Bela nos outros contextos do abrigo, criança ou adolescente deve ser acolhida e
como nas saídas na brinquedoteca, quan- deverá ser reinserida na sua família de ori-
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gem o mais breve possível. Caso isso não se interinfluenciando, possui quatro níveis
possa ocorrer, deve ser procurada uma de interação: 1) microssistema - ambien-
família adotiva. A adoção deve ser prece- tes frequentados pela pessoa, e nos quais
dida de um estágio de convivência com a estabelece relações face a face; 2) mesos-
família adotante (Brasil, 1990; 2009), com sistema - inter-relações entre os micros-
o objetivo de facilitar uma adaptação à sistemas; 3) exossistema - ambientes em
nova situação familiar, tanto nos casos de que a pessoa não frequenta como partici-
adoção nacional como internacional, nes- pante ativo, mas que possui influência no
te último caso devendo ocorrer no país de seu desenvolvimento; e 4) macrossistema
origem das crianças, por um período de no - composto pelo padrão global de ideolo-
mínimo um mês. Apesar dos avanços nos gias, crenças, valores, religiões, formas de
estudos sobre adoção, permanecem ain- governo, culturas e subculturas. O tempo
da muitas lacunas a serem preenchidas, permite examinar a influência para o de-
principalmente com relação às dinâmicas senvolvimento de mudanças e continuida-
e estratégias de interação que propiciam des que acontecem no decorrer da vida.
um ambiente familiar saudável. Palacios A partir destas considerações, realizou-se
(2007) afirma que os estudos têm enfo- um estudo de caso múltiplo com dois ca-
cado mais os resultados da adoção e as sais em processo de adoção, um nacional e
características dos envolvidos, mas pouco outro internacional, e as respectivas crian-
tem sido estudado sobre os processos que ças/adolescentes adotadas (nos dois casos
envolvem a adoção. Assim, neste estudo adoção múltipla - dois irmãos). Para coleta
utilizou-se como aporte teórico e meto- de dados utilizou-se a estratégia da inser-
dológico a Teoria bioecológica do desen- ção ecológica (Cecconello & Koller, 2003).
volvimento (Bronfenbrenner & Morris, Assim, as famílias foram acompanhadas
1998), para investigar de forma qualitativa por um período de cerca de quatro meses,
os processos proximais entre adotantes e tendo sido realizados cinco encontros em
adotados durante o período de convivên- cada caso. Foram realizadas entrevistas
cia anterior à adoção. Para compreender semiestruturadas com os adotantes e os
o desenvolvimento nesta perspectiva de- adotados. Foram feitas visitas às duas ins-
vem ser considerados quatro níveis que se tituições de acolhimento onde as crianças
relacionam entre si: o processo, a pessoa, encontravam-se antes da adoção e um
o contexto e o tempo (PPCT). Os proces- encontro informal no país de acolhida, no
sos proximais são o primeiro mecanismo caso da adoção internacional, três meses
produtor de desenvolvimento, são formas após a ida das crianças. As observações du-
duradouras de interação entre um indiví- rante os encontros foram anotadas em diá-
duo ativo e outras pessoas, objetos e sím- rio de campo. Houve autorização prévia do
bolos. Podem ter efeitos de competência juiz da Vara de Infância e Juventude, o pro-
ou disfunção dependendo dos ambien- jeto foi aprovado por Comitê de Ética e os
tes em que acontecem. As características participantes assinaram o Termo de Con-
da pessoa são vistas como produtoras e sentimento Livre e Esclarecido. Foi realiza-
produto do desenvolvimento. O contexto da uma análise qualitativa dos dados por
considera a relação entre pessoa e am- meio de agrupamentos de sentidos emer-
biente como multidirecional, com ambos gidos, sendo organizados em eixos temáti-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cos (Yin, 2005) previamente construídos a de lidar com a nova situação, tanto em
partir da Teoria bioecológica (Bronfenbren- relação à realidade social em que vivem,
ner & Morris, 1998). Os dados indicaram como na forma como a questão é tratada
uma diferença entre os processos proxi- nos dois países, Brasil e Itália. No que diz
mais competentes e disfuncionais nos dois respeito ao tempo, houve uma adaptação
casos estudados. Na adoção nacional os à situação adotiva nas duas famílias, tan-
processos proximais competentes se de- to na estrutura e dinâmica familiar, como
ram pela convivência anterior que os ado- nas relações entre pais e filhos. Assim, foi
tantes tinham com as adotadas, e na inter- possível observar que estas as relações se
nacional pela percepção dos pais adotivos constituem com o tempo, sendo importan-
de que as crianças estavam engajadas no te que os processos proximais sejam cons-
processo de adoção, percebendo os víncu- truídos de maneira que assegurem certa
los como contínuos e duradouros, além da estabilidade, propiciando engajamento,
capacidade de comunicação das crianças. laços duradouros e recíprocos. Observou-
Já os processos disfuncionais na adoção -se ainda que tanto as características dos
nacional estavam ligados a uma mudança adotantes como dos adotados influenciam
de comportamento da criança mais nova neste processo. Ademais, por essa relação
e na adoção internacional ao fato de esta- se constituir num processo de construção
rem hospedados em um apart-hotel, em diária, o período de convivência torna-se
um país diferente, fora do seu cotidiano. importante, devendo, no entanto, ser re-
Com relação às características pessoais, alizado com maior suporte através de um
nos dois casos destacou-se a questão da acompanhamento de uma equipe prepa-
afetividade nos processos proximais, que rada e considerando as particularidades
se mostraram competentes. Em ambos os de cada caso.
casos nas características pessoais de recur-
so foram apontadas questões relativas ao Palavras-chave: adoção nacional, adoção
diálogo, estabelecimento de regras e limi- internacional, Teoria bioecológica do
tes. Os microssistemas frequentados no desenvolvimento.
caso da adoção nacional eram próximos da
realidade da família, enquanto que na ado-
ção internacional, estes microssistemas es- LT01-1338 - SIGNIFICADOS SOBRE
ADOÇÃO NUMA PERSPECTIVA
tavam limitados, uma vez que não estavam
SOCIOCULTURAL CONSTRUTIVISTA:
em sua casa e cotidiano onde iriam morar
ANÁLISE DE DOIS CASOS
com as crianças de fato e falavam línguas
diferentes. No caso de adoção nacional, Maria C.D.P. Lyra - UFPE
o fato da adotante trabalhar com ques- marialyra2007@gmail.com
tões ligadas ao acolhimento institucional Tatiana Alves de M. Valério - IFPE - Campus
influenciou na maneira como lidava com Belo Jardim
as questões da adoção. Foi possível verifi- tatiana.valerio@belojardim.ifpe.edu.br
car, ainda, com relação ao macrossistema, Fiananciamento: CNPq
que as vivências e contatos com a temá-
tica da adoção por parte dos adotantes, A temática da adoção de crianças e ado-
nos dois casos, influenciavam na forma lescentes e sua discussão no contexto da
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ponde: “... ele já sabe que ele não é. Ape- LT01-1441 - FAMÍLIA SOB A PERSPECTIVA
sar de que ele sabe que não é... que é ado- DE CRIANÇAS EM ACOLHIMENTO
tado.” Esse excerto revela a “intolerância INSTITUCIONAL
eliminativa” que é quando se busca trans- Pedro Paulo Bezerra de Lira - UFPE
formar aquilo que está em conflito em alvo pedropaulo_v@yahoo.com.br
de eliminação. A palavra filho não tem es- Maria Isabel Pedrosa - UFPE
paço no discurso de “X”. Essa mesma es- icpedrosa@uol.com.br
tratégia é identificada na entrevista de “Y”, Financiamento: FACEPE
aluno do Curso Técnico de Informática, 21
anos, solteiro, mora com os pais e possui Este trabalho compreende a criança como
história de adoção na família. Ele elimina a construtora ativa de significações sobre
condição de adotivo do primo: “Todo mun- objetos sociais diversos, na medida em
do trata ele como se ele... é, esse fato (a que sua participação na sociedade instiga
adoção) não existisse.” Assim, elimina-se a a apropriação e reelaboração de informa-
condição de ser do outro (adotivo) e colo- ções do mundo adulto de forma a aten-
ca-o na mesma e desejável condição dos der, entretanto, aos interesses próprios
entes nascidos desta família. Identificamos de sua idade (Carvalho & Pedrosa, 2002;
também a “Intolerância Assimilativa” que Corsaro, 2002, 2009). Tomar o objeto fa-
é transformar algo desfavorável (condição mília para investigação implica deparar-se
adotiva) em algo favorável. Para tanto o com um fenômeno multifacetado, que as-
entrevistado lança mão de elementos que sume ao longo da história, em diferentes
descrevem a filiação/perfilhação bio-gené- sociedades e culturas, uma diversidade
tica – parto, DNA: “Como se fosse nascido de configurações (Nascimento, 2009).
da minha tia normalmente, é como se ti- Entretanto, investigar significações que
vesse tido parto”.“Como se ele realmente crianças atribuem a família pode revelar
fosse do sangue da família e tivesse o mes- como elas apreendem esse objeto social
mo DNA”. Desta forma ele traz o ente ado- e salientar os aspectos de maior visibili-
tivo à condição de “normalidade” familiar, dade, de acordo com suas perspectivas,
como ele mesmo se refere. Dessa forma, ainda que a família implique um processo
por meio dessa análise, foi possível identi- de contínuas transformações de valores
ficar, em ambos os entrevistados, as estra- e normas culturais. Pensando na criança
tégias de ação utilizadas face à tensão que em acolhimento institucional, torna-se
a adoção desperta, uma vez que elaborar sobressalente a importância de elevá-la a
significados sobre adoção implica trazer uma posição de sujeito ativo e de direitos
para o discurso pessoal um significado co- dentro do processo de institucionaliza-
letivo que é valorado como positivo, mas ção (Rossetti-Ferreira, Solon, & Almeida,
que, ao mesmo tempo, implica em adição 2009), escutando-a atentamente em suas
de valores negativos advindos, neste caso, próprias percepções, especialmente dian-
da história da adoção que no passado era te de um contexto sociocultural em que
carregada de mitos e preconceitos. documentos legais prezam pela preserva-
ção do direito infanto-juvenil à convivên-
Palavras-chave: adoção; construção de cia familiar e comunitária (Brasil, 2006; Lei
significados; socioculturalismo; nº. 8.069, de 13 de julho de 1990; Lei nº.
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sendo uma condição necessária, mas não instrumentos utilizados foram: uma tarefa
suficiente para as crianças evoluírem de para avaliar a capacidade de Role-taking
um nível de julgamento moral pré-conven- desenvolvida por Flavell (1968), o Index
cional para um convencional, segundo a ti- of Empathy for Children and Adolescents
pologia de Kohlberg (1992). Neste sentido, (Bryant, 1982) e um dilema distributivo
pode-se supor que outras variáveis, além hipotético. Este dilema envolvia a distri-
do role-taking, poderiam estar relaciona- buição de lanche em uma situação de
das à evolução dos julgamentos morais e, piquenique, na qual os personagens ti-
mais especificamente, às concepções de nham diferentes características: um era
justiça distributiva. Recentemente, Sam- mais produtivo, o outro era mais pobre,
paio, Monte, Camino e Roazzi (2008) e o terceiro era a professora e o último era
Sampaio, Camino e Roazzi (2007) desen- o próprio participante. De uma maneira
volveram estudos com adolescentes brasi- geral, os resultados preliminares indicam
leiros objetivando testar alguns dos pres- que o nível de empatia dos participantes
supostos de Hoffman (2000) a respeito das variou significativamente em função do
relações entre empatia e a justiça distribu- seu sexo (as meninas pontuaram mais alto
tiva. Em linhas gerais, os resultados destas na escala de empatia que os meninos) e
pesquisas demonstraram que indivíduos que houve uma tendência desta aumentar
com níveis mais elevados de empatia são com o avanço na idade. Além disso, que
mais propensos a aderir ao princípio da os participantes de escolas públicas pon-
necessidade e a comportar-se em confor- tuaram mais que os de escola particular
midade com ele, enquanto que indivíduos na tarefa de role-taking. Os resultados das
menos empáticos tendem a considerar MANOVAS indicaram que o personagem
como mais justo o princípio da equidade, pobre recebeu mais que os outros e que a
favorecendo pessoas que se esforçam ou professora recebeu menos que os demais.
que contribuem mais. Apesar de evidên- As quantidades distribuídas não foram
cias anteriores apontarem para uma rela- influenciadas pelo sexo ou tipo de escola
ção entre empatia e os julgamentos distri- dos participantes. Por outro lado, houve
butivos, não se tem notícias de trabalhos diferença significativa na quantidade dada
que tenham objetivado avaliar como estas a si mesmo, em função da idade: crianças
variáveis estão relacionadas durante a in- com 11 e 12 anos deram uma quantidade
fância. Ademais, há uma lacuna empírico- média de lanches significativamente infe-
-teórica no que diz respeito à compreen- rior aquela dada por crianças com 7 e 8
são sobre as relações entre o desenvol- anos para si mesmas. Houve interações
vimento do role-taking e da empatia e a significativas entre o nível de empatia e
maneira como as crianças raciocinam com a idade dos participantes sobre a quanti-
respeito à justiça distributiva. Neste senti- dade dada para o personagem mais pro-
do, o presente trabalho objetivou abordar dutivo: entre os participantes com nível
esta questão a partir de uma pesquisa na mais alto de empatia, a quantidade dada
qual participaram 98 meninos e meninas, ao mais produtivo diminuiu à medida que
com idades variando entre sete e doze a idade dos participantes aumentou. Além
anos de idade, estudantes de escolas pú- disso, constatou-se uma interação signifi-
blicas e particulares de Petrolina (PE). Os cativa entre a idade e o nível de role-taking
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atividade, surge liberada, livre, gratuita e em relação aos animais reside no modo
depois vai se aperfeiçoando, se estrutu- de brincar, pois os brinquedos, como ins-
rando em regras e em cadeias mais com- trumentos significativos, registram a vida
plexas.” (Wallon, 1986, p. 86). No brincar, psíquica e cultural como um testemunho.
a ação está subordinada ao significado, os Deste modo, o caráter coletivo do traba-
objetos são deslocados de uma posição lho e do lúdico sugere um vínculo, con-
dominante para uma posição subordina- creto ou abstrato, e é sempre mediado
da e, com isto, a atividade lúdica atua na por outro sujeito. Este vínculo se nutre
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), da afetividade, como organizadora e re-
permitindo que a criança atue além do guladora da mais simples ação humana.
habitual de sua idade. (Vygotsky, 1988).
Segundo Brougère (1998), Elkonin (1988) Palavras-chave: ludicidade, afetividade,
e Manson (2002) a origem histórica do desenvolvimento humano.
jogo está no trabalho dos adultos e seu Contato: Sueli Baros da Ressureição.
conteúdo está relacionado com a vida, o Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
trabalho e a atividade dos membros adul- suelibarros13@gmail.com.
tos da sociedade. O jogo nasce das condi-
ções de vida da criança na sociedade no
decorrer do seu desenvolvimento históri- LT01-1045 – A COMPREENSÃO DE
co. Portanto é um elemento cultural, tem GÊNERO EM CRIANÇAS EM DUAS
origem e natureza social, sendo assim SITUAÇÕES DE BRINCADEIRA
decorrente do lugar ocupado pela criança Melina de Carvalho Pereira - UFPE
nas diversas formas de produção de tra- melinacpereira@yahoo.com.br
balho. Nos estudos focados na ludicidade Pedro Paulo Bezerra de Lira - UFPE
e no desenvolvimento pessoal do adulto pedropaulo_v@yahoo.com.br
(Luckesi, 2002; Negrine, 2001; Oliveira, Maria Isabel Pedrosa - UFPE
2002; Pereira, 2005; Ressurreição, 2005) icpedrosa@uol.com.br
observou-se que as atividades lúdicas Financiamento: PIBIC/UFPE/CNPq - PIBIC/
atuam nas tensões corporais, favorecem FACEPE/CNPq
a ampliação da consciência e reconfigu-
ram as emoções, assumindo um papel Corsaro (2009) denomina reprodução in-
interativo e cultural para o processo de terpretativa o processo pelo qual a crian-
evolução humana. Mostram-se também ça ativamente se apropria, com seus pa-
como uma forma de autoconhecimento e res de idade, de informações do mundo
aprendizagem, sua vivência proporciona adulto, reconstruindo-as, com potencial
a ressignificação de valores, autoestima de alterações e mudanças culturais, que
e inclusão social. Baseando-se nos estu- atendem aos seus interesses enquanto
dos revisados é possível concluir que a criança. Na opinião de Rocha (2007), é
ludicidade tem papel muito importante comum e ‘natural’ ensinar às crianças a
no processo evolutivo do ser humano, preferirem brincadeiras determinadas
apresentando-se como elemento cultural socialmente para seu gênero e evitar
mediador das relações humanas. Assim, aquelas vistas como inadequadas. Estu-
o salto ontológico do lúdico do homem dos como o de Lira e Pedrosa (2007) re-
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velam que crianças de 3-4 anos reconhe- vez que as oficinas eram formadas ou
cem objetos marcados socialmente pelo somente por meninos ou somente por
gênero. Além disso, elas transgridem meninas. Esse planejamento foi feito no
regras sociais, em situações protegidas intuito de promover uma situação que
de brincadeiras, pois o lúdico permite de- instigasse a discussão e o posicionamen-
sempenhar papéis que não são ‘de ver- to do grupo em relação às questões de
dade’. Ainda assim, resultados discutidos gênero, pois, concebendo a criança como
por Rocha (2007) apontam que meninos intrinsecamente motivada para o brincar
transgridem menos as regras sociais em (Pedrosa, 2005), tinha-se a expectativa de
atividades lúdicas do que meninas. Há, que ela iria enfrentar e negociar conflitos
portanto, evidências de apropriação des- para participar de uma atividade lúdica.
sas regras na construção da microcultu- Para incitar a brincadeira de faz de con-
ra de pares e na tensão provocada pelo ta e a caracterização dos ‘personagens’,
desafio dessa construção. Este trabalho estavam à disposição dos participantes
buscou investigar em duas situações de roupas e outros objetos relacionados ao
brincadeira a compreensão e a apropria- tema casinha. Um dos pesquisadores es-
ção cultural de papéis e valores relaciona- teve encarregado de instigar as crianças a
dos ao gênero em crianças de 3-4 anos. participarem da brincadeira, escolherem
Ambas foram realizadas em um Centro os ‘personagens’, solucionarem possíveis
Municipal de Educação Infantil (CMEI) conflitos gerados, etc. A análise de ambas
do Recife, que atende prioritariamente as situações teve um caráter microgené-
a famílias de camada de renda baixa e tico e partiu da seleção de episódios, ou
média. Na primeira situação, as crianças seja, segmentos de videogravação em
compuseram trios que foram videogra- que foram recortadas interações cons-
vados em brincadeira livre, perfazendo pícuas com a temática de gênero. Nas
um total de 22 sessões. A sala foi pre- duas situações observou-se expressivo
viamente organizada com brinquedos e envolvimento das crianças em brincadei-
sucatas, constando, entre outros, obje- ras e discussões relacionadas ao gênero
tos socialmente marcados pelo gênero e foram evidenciadas compreensões de
(bonecas, carrinhos, pulseiras, gravata, elementos da macrocultura no grupo de
etc.). A outra situação consistiu em ofici- brinquedo (Carvalho & Pedrosa, 2002)
nas de brincadeira com grupos de quatro no que diz respeito, por exemplo, ao re-
ou cinco crianças, sendo quatro oficinas conhecimento de papéis e objetos social-
de meninos e quatro de meninas. A cada mente marcados como masculinos ou fe-
grupo sugeriu-se brincar de casinha com mininos. Realça-se, entretanto, que cada
os seguintes ‘personagens’ previamente procedimento de coleta permitiu ganhos
definidos: pai, filho, mãe e filha. Não foi circunscritos ao seu escopo de realização.
indicado pelos pesquisadores que papel Nessa direção, os distintos procedimen-
cada criança deveria desempenhar, tam- tos permitiram alçar informações dife-
pouco qual seria o quinto ‘personagem’. renciadas, por vezes, complementares.
Chama-se atenção, entretanto, que exis- Nas oficinas se partia, desde o seu início,
tiam papéis de gênero diferente do da do convite do pesquisador a uma entrada
criança a serem desempenhados, uma numa situação de faz de conta de casi-
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bientes distintos: escola, casa e rua. Seus que consistia em solicitar que as crianças
achados levam a crer que existem “luga- fotografassem seus lugares preferidos
res para crianças” (places for childrens) e para brincar em casa, na escola e fora de
“lugares das crianças” (children´s places). casa e da escola. Para tal, lhes era forneci-
Assim, os espaços mais apropriados (lu- da uma máquina fotográfica descartável,
gares das crianças) para as brincadeiras instruções sobre o manuseio e objetivos
nem sempre são os formais, planejados da pesquisa. Após essa etapa, o filme era
por adultos (espaços para crianças), em- revelado e se retornava a criança para
bora estes possam coincidir em deter- que esta fornecesse esclarecimentos so-
minadas situações. Os estudos sobre a bre os locais fotografados, as brincadeiras
utilização de espaços para brincadeiras, efetivamente brincadas neles com quem
principalmente em ambientes abertos, brincavam, entre outras informações que
geralmente estão mais voltados para os ela julgasse relevante. A amostra foi com-
arranjos que pais e professores podem posta por 25 participantes (13 meninos
fazer para facilitar que as crianças brin- e 12 meninas) com idade média de 8,04
quem ou para incentivar alguns tipos de anos. As crianças residiam nas cidades
brincadeiras. No entanto, o presente es- de Barreiras, Vitória da Conquista e Feira
tudo investe em uma perspectiva diferen- de Santana. Os achados principais desta
ciada baseando-se nos pressupostos de pesquisa corroboram o que é apontado
Rasmussem (2004) de dar voz à criança. pela literatura: i) em casa, meninas pre-
Investigar como as crianças apropriam e ferem brincar em locais mais reservados
ressignificam espaços diversos (tanto os e meninos em locais mais amplos; ii) me-
privados como sua casa ou escola, quan- ninos utilizam mais do que meninas as
ruas como cenários para brincadeiras, iii)
to àqueles públicos como ruas, parques e
na escola, meninos preferem locais mais
praças) se constituiu como um interessan-
abertos e as meninas preferem locais
te meio de obter conhecimento sobre a
menos movimentados. As crianças do in-
relação da criança com o espaço. Associa-
terior demonstraram imensa capacidade
do a isto, a literatura específica relaciona
criativa esboçada na transformação dos
faixa etária, gênero e status socioeconô-
espaços com a finalidade de realizar suas
mico como sendo variáveis definidoras de
atividades lúdicas. Esses achados se jun-
diferenças associadas á usos dos espaços tam a outros obtidos pelo mesmo grupo
em brincadeiras, assim, meninos preferi- de pesquisa na cidade de Salvador que
riam espaços amplos e brincadeiras com indicam resultados semelhantes.
muita movimentação, enquanto meninas
prefeririam espaços mais restritos e brin- Palavras-chave: espaços de brincadeira,
cadeiras com grandes cenários e enredos preferências, ressignificação.
mais longos. O objetivo do presente tra-
balho de pesquisa foi investigar a relação
de crianças de 4 a 10 anos, residente em
cidades do interior da Bahia, com seu es-
paço de brincadeiras sob o olhar dela pró-
pria. Para tanto se utilizou a mesma me-
todologia adotada por Rasmussen (2004)
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crianças em até três sessões. A pesquisa- Tâmara “mai (mas) eu não tenho pente”,
dora esteve presente realizando as video- quando Lica pega uma de suas bonecas.
gravações. A análise partiu da observação Tâmara parece querer propor uma nego-
repetida desses registros para identificar ciação: ela não se importaria em ceder
possíveis episódios, ou seja, segmentos uma das bonecas se Lica cedesse seu pen-
que apresentavam situações de conflitos te – seria uma troca. No último momen-
por disputas de objetos. Com esses recor- to do episódio, Tâmara consegue pegar
tes, tinha-se a expectativa de se observar o pente aproveitando-se da distração da
negociações e estratégias para a resolução parceira e quando esta tenta reaver o ob-
desses impasses. Em seguida, a transcri- jeto, Tâmara lhe dá o batom – como ‘moe-
ção e análise microgenética desses episó- da de troca’. Essa estratégia parece eficaz,
dios foram realizadas. Um exemplo desses pois Lica tenta negociar a futura posse do
procedimentos pode ser aqui relatado de pente (“depois tu me dá, o pente?”). Há
modo a ilustrar o trabalho empreendido. outras formas de negociação: quando Lica
O episódio foi denominado de Tentativas percebe o interesse de Tâmara em seu
de negociação. Lica (menina de 3 anos e10 pente, ele já apresenta uma solução e pro-
meses) pega uma das bonecas que está põe a utilização do barbeador como pin-
próxima a Tâmara (menina de 3 anos e cel. Tâmara, mais adiante, retoma as ne-
9 meses), enquanto esta está distraída, e gociações (“Me dá aí Lica, depois eu te dou
começa a penteá-la. Logo depois, Tâmara esse pente aí”). As duas parceiras também
pede: “me dá a minha boneca, Lica. Me utilizam a estratégia de apelo à autoridade
dáá”. “Tiooo, ela quer ficar com duas bo- e Lica traz a noção de justificativa de pos-
necas” Lica diz e olha para o pesquisador. se (“Eu peguei primeiro”). Esse episódio,
“Mai (mas) eu não tenho pente” Tâmara entre vários outros analisados, apresenta
replica. “Oa um pente aqui que eu achei”, a criança como um parceiro competente
Lica pega o pincel de barbear e demons- socialmente para ajustar suas estratégias
tra como usá-lo; depois o põe perto de Tâ- em função do outro, tentando resolver ou
mara, oferecendo-o. Tâmara não o aceita. “prevenir” situações de conflitos. Notam-
Tâmara insiste, Lica responde: “Eu peguei -se estratégias de negociação, justificati-
primeiro”. Adiante, Tâmara diz: “Me dá aí vas, incluindo ajustes no enredo da brin-
Lica, depois eu te dou esse pente aí”. Lica cadeira, imposição pela alteração de voz,
diz: “Não”. Tâmara apela à autoridade do apelo à autoridade do adulto, distração do
pesquisador, “ô tio, ela não quer me dá” parceiro entre outras, a fim de conseguir o
Quando Lica deixa o pente sobre a mesa, objeto de interesse. O uso dessas estraté-
imediatamente, Tâmara o pega. Lica per- gias por crianças já foi indicado em vários
cebe e tenta reavê-lo, mas Tâmara deixa, trabalhos do desenvolvimento infantil (cf.,
em troca, o batom. Lica o pega, manipula- por exemplo, LEAL, 2004).
-o, e fala: “depois tu me dá, o pente?”. Tâ-
mara diz baixinho: “Dou”. Tâmara começa Palavras-chave: brincadeira infantil;
a pentear a boneca. Vê-se que a noção de estratégias comportamentais; disputa de
troca de objeto aparece em dois momen- objetos.
tos no episódio. A primeira situação não é Contato: Mayara Lacerda de Mello (UFPE) -
tão explícita, para isso, destaca-se a fala de mayara__mello@hotmail.com
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aprendizagens próprias, torna-se referen- se refere aos estudos que têm estas como
cial constituinte na formação do sujeito. seu objeto, especialmente dentro da psi-
(Côrtes, 2001). Cada contexto cultural pos- cologia, e, em específico da psicologia do
sui imagens consideradas expressivas com desenvolvimento. Um levantamento bi-
as quais a criança se relaciona, manifesta e bliográfico na base de dados virtual Scielo,
recria. Entre os povos tradicionais, as brin- efetuado pelas autoras, constatou-se que
cadeiras e jogos são formas de socializar e dos 61 artigos que tiveram como palavra
inserir a criança e ou adolescente em um chave de pesquisa “brincadeira”, apenas
contexto no qual aprenderá a respeitar 09 abordavam alguma dimensão da rela-
regras traçadas pelo grupo, estabelecer ção entre música e brincadeira. Destes,
vínculos e relações para o reconhecimen- dois referiam-se à presença de canto du-
to do outro e possibilitam a participação rante a brincadeira de faz-de-conta; cinco
na vida comunitária. Consideramos, como apenas citavam brincadeiras cantadas,
pontuam os autores citados, que o univer- entretanto estas brincadeiras não eram
so lúdico dos cantos, brincadeiras, entre descritas e a sua dimensão musical não era
outras expressões, são de fundamental im- ressaltada ou discutida. Apenas um, dos
portância para desenvolvimento humano 61 artigos, debruça-se um pouco sobre o
e, sobretudo, na infância. O ser humano é tema, descrevendo-as, sendo desenvolvi-
um ser brincante e a brincadeira é a mais do por Pinto e Lopes (2009). Ressalta-se,
concreta forma de expressão da infância. entretanto que nenhum dos artigos teve
A música, assim como a brincadeira, é um as brincadeiras cantadas ou a relação en-
fenômeno universal, sendo um elemento tre música e brincadeira como objeto de
recorrente em todas as culturas conhe- estudo. Concluímos, portanto que, apesar
cidas (Schellenberg, Peretz & Vieillard, da presença significante e diversificada das
2008) com a qual a criança interage com brincadeiras cantadas entre crianças brasi-
os diversos outros e consigo mesma. Ilari leiras, especialmente no que se refere às
(2007) salienta que este é um saber/fazer brincadeiras tradicionais, pouquíssimas
cultural muito antigo e rico, sendo perme- são as investigações na área da Psicologia
ado por canções, danças, brincadeiras e que têm voltado seu olhar para questões
práticas musicais de temáticas, gêneros, como: quais são as brincadeiras cantadas
períodos e origens diversas que formam presentes entre crianças e quais as suas
parte do patrimônio imaterial da cultura variações em contextos culturais diversos?
humana. Muitas das brincadeiras observa- Quais as relações entre música e brincadei-
das entre crianças são permeadas por mú- ra na infância? Como as crianças, através
sicas e cantos, a exemplo da brincadeira de das brincadeiras cantadas, mantém (re)
corda, brincadeiras de roda, amarelinha, significam, criam e transmitem cultura?
parlendas, jogo de bater palma, entre ou- Quais as dimensões de gênero presentes
tras. Entretanto, apesar da riqueza cultural nas brincadeiras cantadas? Como as brin-
do nosso país e da diversidade de brinca- cadeiras cantadas expressam diversidade
deiras cantadas (aqui consideradas como cultural brasileira?
brincadeiras que têm na música um dos
seus elementos estruturais), uma grande Palavras-chave – Brincadeiras cantadas;
lacuna é verificada na literatura no que contexto cultural; desenvolvimento infantil.
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pertença à classe social desfavorecida, de quisadas, destacamos uma delas para esta
maiores opressões sociais, de um poder discussão. Trata-se de uma escola pública
menor de reivindicação e de constantes da rede municipal do Rio de Janeiro. O
catástrofes ambientais. Quantos aos estu- objeto da pesquisa é o ensino/aprendiza-
dantes mais novos terem obtido um esco- gem de Ética por meio da modalidade de
re médio de envolvimento mais elevado Tema Transversal, conforme orientação dos
em relação a todas as gerações de direi- Parâmetros Curriculares Nacionais. Consi-
tos, acredita-se que tem a ver com o fato deramos como hipótese que é possível se
de, por serem mais jovens, não pensarem ensinar e se aprender ética. Deste modo,
nas dificuldades de participarem de lutas partimos do pressuposto de que os pro-
e pelo fato de terem uma postura, em ge- fessores podem contribuir na construção
ral, mais afastada da realidade social. A da cidadania dos alunos visando a apren-
correlação positiva encontrada entre os dizagem de Ética em suas práticas pedagó-
DH e a empatia, pode ser explicada pela gicas. O processo ensino /aprendizagem da
função motivadora da empatia em relação Ética representa um constante desafio para
aos princípios de justiça (Hoffman, 2003; os educadores. A observação de violência
Sampaio, 2007). presente nas escolas é um fator que nos
leva a refletir sobre o ensino/aprendiza-
Palavras-chave: direitos humanos, empatia, gem de ética. Há uma “desordem moral”
jovens. (Macintyre, 2001) na sociedade de tal or-
Contato: Cleonice Pereira dos Santos Camino, dem que se faz necessária uma ação para
UFPB, cleocamino@yahoo.com.br que este quadro seja revertido. O ensino/
aprendizagem de ética por meio de virtu-
des é proposto (idem) para que a cidadania
LT03 – 1245 - EDUCAÇÃO MORAL: seja possível. Ao inserir a prática das virtu-
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO des no cotidiano escolar, o professor pode
ÂMBITO ESCOLAR contribuir para a formação de cidadãos que
Ana Lidia Felippe Guimarães - UFRJ modifiquem este estado da sociedade. Os
alfelippe@gmail.com objetivos desta pesquisa são os seguintes:
Maria Judith Sucupira da Costa Lins - UFRJ observar como se organiza o processo de
mariasucupiralins@terra.com.br ensino/aprendizagem da ética; e identi-
Monique Maiques de Souza Alves Rezende - ficar a aprendizagem da ética nos alunos
UFRJ do terceiro ano do Ensino Fundamental.
moniquemaiques@yahoo.com.br Trata-se de uma pesquisa qualitativa com
base na metodologia da “Escuta Sensível”
Esta apresentação deriva de uma pesqui- desenvolvida na por René Barbier (1997).
sa com interesse pelas diferentes formas A Escuta Sensível promove uma prática de
possíveis de ensino e aprendizagem de Éti- compreensão e de explicação da práxis dos
ca em escolas nacionais e internacionais, grupos sociais de uma instituição de for-
cuja motivação estava não só na literatura ma que permite o conhecimento de cada
específica, mas em observações continua- participante. Desta forma, a observação
mente realizadas em diferentes instituições participante, permite ao pesquisador se
neste mesmo foco. Dentre as escolas pes- torne parte da situação observada, intera-
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gindo por longos períodos com os sujeitos, momento se refere à atividade de desenho
em que partilha do cotidiano destes para sobre a história contada. No final da sema-
sentir o que significa estar naquela situa- na (sextas-feiras) os alunos montavam um
ção (Alves-Mazzotti, 1998). Esta pesquisa mural com as suas produções. No segundo
se fundamenta na filosofia de Alasdair Ma- semestre estas histórias eram re-significa-
cIntyre, considerado “um dos autores que das e a professora regente indagava se já
tem escrito, de forma mais inteligente so- haviam vivenciado algumas das histórias
bre ética, constituído uma das vozes mais contadas, isto é, com questionamentos e
autorizadas e singulares neste domínio” reflexões diante das situações morais co-
(Marques, 2006, p. 38). A obra do Filósofo tidianas que surgiram no decorrer da sua
Alasdair MacIntyre se destaca pelo exercí- prática. Esta pedagogia permite que além
cio da virtude na exigência de uma defini- do desenho, os alunos passem a escrever
ção clara em relação a questões sociais e suas próprias histórias. A partir de nossas
políticas. A Desordem Moral existente na observações, ressaltamos que a profes-
sociedade está especialmente ligada a um sora regente, por seu agir com os alunos
estado de emotivismo no plano da vida éti- demonstrou ter um compromisso social
ca. O emotivismo é uma doutrina de juízos e político. Como exemplo, destacamos o
morais pessoais de sentimento ou atitudes fato de um de seus alunos ter comparecido
de prazer individual e de caráter valorativo à escola com marcas de agressão, por ter
(Macintyre, 2001). Em se tratando de edu- sofrido violência doméstica pelo padrasto.
cação e Ética a obra de Jean Piaget (1973) A professora chamou da mãe e da avó que
continua contribuindo, especificamente negaram relatando o fato de forma con-
quanto à compreensão do desenvolvimen- traditória. Diante da situação, a professora
to do juízo moral da criança e do jovem. Se- escreveu um relatório relatando o estado
gundo relato da professora regente da tur- físico do aluno e a baixa freqüência nas au-
ma foi utilizado o livro “Histórias de Crian- las. Em seguida, encaminhou o relatório ao
ças”, cujo autor é Vinayak Krishna Gokak. conselho tutelar com apoio da direção, que
As histórias apresentadas neste livro propi- inicialmente havia resistido a este procedi-
ciam o trabalho sobre valores humanos e mento. A professora, no entanto, argumen-
permite a construção da virtude, levando tou que havia ocorrido fundamentalmen-
deste modo o aluno à aprendizagem de Éti- te a violação dos direitos da criança. Com
ca. Partindo de uma técnica de meditação esta atitude de perseverança e coragem, a
e apresentação oral das cenas positivas das professora fortaleceu a dimensão Ética de
histórias, nas quais os valores humanos são seus alunos que culminou em um trabalho
ressaltados, a professora conseguiu uma sobre Estatuto da Criança e do Adolescen-
dinâmica nas aulas favorável ao ensino da te. Nesta prática pedagógica, a inserção
Ética. A partir desta dinâmica, observamos da Ética teve como objetivo conhecer e
que os alunos conseguiam se concentrar, reconhecer as atitudes pautadas por prin-
mostrando um comportamento contrário cípios de solidariedade, respeito, e respon-
ao inicial, no qual a turma se apresenta agi- sabilidade contribuindo para a construção
tada. No segundo momento há leitura de da virtude da justiça e perseverança. “Ao
textos que apresentam mensagens de vida ancorar a Educação Moral na vivência so-
baseada na prática das virtudes. O terceiro cial, reatam-se os laços entre pensar, falar e
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agir” (Brasil, 1998, p. 89). Concluímos que tos humanos e, consequentemente, para a
a dimensão pedagógica nessa sala de aula redução dos altos índices de violação aos
nos ofereceu condições de compreender a direitos humanos no país, nesse sentido, o
prática escolar e nos mostrou a realização estudo ora apresentado se propõe a inves-
do processo de aprendizagem da Ética que tigar as práticas de ensino e aprendizagem
apontaram a vivência prática das virtudes em três escolas públicas do Distrito Federal
como orientação curricular. Considera-se voltadas para a educação dos direitos hu-
que os objetivos inicialmente propostos manos. A pesquisa também prevê a realiza-
foram alcançados, entretanto, destacamos ção de ações integradas entre as escolas e
que a formação Ética e Moral deve ser con- a universidade para intensificar as práticas
tinuada na prática escolar. Com a continui- pedagógicas capazes de promover a educa-
dade de nossas observações, apresentare- ção para os direitos humanos. Este estudo
mos um quadro mais completo. Entretan- envolve três grandes temas, que têm a vio-
to, é possível desde já afirmar que a pre- lência como pano de fundo: direitos huma-
sença da Ética na prática pedagógica desta nos, direitos das crianças e adolescente e
professora tem surtido efeitos positivos na cidadania. Cada um desses temas abran-
vida dos alunos. ge distintas questões teórico-conceituais,
tornando-se necessário selecionar aque-
Palavras-chave: Ética, Educação Moral, Ensino/ las cujos debates se aproximaram mais da
Aprendizagem discussão educacional e psicossociológica
Contato: Monique Maiques de Souza A. que se pretende aqui erigir. Nesta direção,
Rezende, UFRJ, moniquemaiques@yahoo.com.br entre as discussões teóricas procedidas
tratamos de elaborar uma reflexão acer-
ca da história jurídica brasileira e da efi-
LT03 – 1388 - A EDUCAÇÃO PARA OS cácia das políticas de proteção à infância
DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE DA e adolescência implantadas no Brasil, de
PRÁTICA EDUCATIVA EM TRÊS ESCOLAS modo a promover a “lei e a ordem”, bem
PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL como garantir os direitos fundamentais
Divaneide Lira Lima Paixão - UCB da pessoa humana. Também mostrou-se
divaneide@ucb.br importante proceder com uma discussão
Tatiana da Silva Portella - UCB sobre infância, adolescência e violência no
tatiana@ucb.br cenário brasileiro, já que cotidianamente
Nina Cláudia de Assunção Mello - UCB esse tripé tem sido foco de reportagens
nclaudia@ucb.br e debates públicos, sendo extremamen-
Rosana Márcia Rolando Aguiar - UCB te importante para compor discussões no
zanaguiar@gmial.com cotidiano das escolas, uma vez que a re-
presentação acerca desses fenômenos in-
Acredita-se que a escola, enquanto institui- terfere, sobremaneira, no trabalho voltado
ção representante do Estado é reconheci- para as temáticas acima descritas. No con-
da, consensualmente, como um lugar so- texto da sociedade brasileira, mostram-se
cial privilegiado para o desenvolvimento de crescentes as taxas de violência nas suas
estratégias capazes de contribuir a médio mais distintas modalidades: crime comum,
e longo prazo para a valorização dos direi- violência fatal conectada com o crime orga-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
nizado, explosão de conflitos nas relações não precisassem ser respeitados, já que o
pessoais e intersubjetivas e, em especial, imaginário popular elege os jovens e ado-
graves violações de direitos humanos. Em lescentes como responsáveis pelo incre-
meio ao sentimento de insegurança, frente mento da violência urbana (Paixão, 2008).
a uma violência difusa, o cidadão comum é Ser jovem em um mundo violento não é
colocado cotidianamente diante de estatís- tarefa fácil e se a vida lhes tiver reservado
ticas assustadoras que retratam a violência espaços de pobreza, de desigualdades e de
entre jovens brasileiros. Uma pesquisa re- repressão, a dificuldade só aumenta. Ao
alizada por Waiselfisz (2004) revela ainda examinar as políticas públicas voltadas para
que, em 2002, mais de 75% dos homicídios o adolescente e para a juventude como um
foram causados por arma de fogo. Homicí- todo, Castro e Abramovay (2002) atestam
dios, suicídios e acidentes automobilísticos mudanças positivas, com alguns avanços
são as causas das mortes de 59,9% dos jo- na área da juventude, ainda que existam
vens do país. No ranking internacional de ações sendo implementadas sem levar em
homicídios de jovens, o Brasil fica em 5º consideração a diversidade de direitos dos
lugar entre os 67 países em que há levan- adolescentes, o que é lamentável, já que
tamentos semelhantes, atrás da Colômbia, essa parcela da população vai ter que es-
Ilhas Virgens, El Salvador e Venezuela. Con- perar ainda mais para ter seus direitos res-
siderando a taxa de assassinatos cometidos peitados e a sociedade inteira continuará
contra a população em geral, o Brasil fica pagando por isso. As violações aos direitos
em 4º lugar, atrás apenas de Colômbia, El humanos, apesar de serem freqüentes e
Salvador e Rússia. Diante deste cenário, a amplamente divulgadas pelos meios de
família, a sociedade e o Estado têm papel comunicação, como observa Cardia (1995),
fundamental de orientar e educar para a não têm alcançado um debate mais amplo.
cooperação, à solidariedade, à tolerância, Assim, diante do exposto, cabe evidenciar
para o respeito às diferenças e aos direitos a importância e necessidade de trabalhos
adquiridos pelos cidadãos na história jurídi- voltados para a educação dos direitos hu-
ca brasileira. A escola, enquanto instituição manos, especialmente nas escolas, cujo
representante do Estado é reconhecida, espaço e práticas devem ser favorecedores
consensualmente, como um lugar social do desenvolvimento da cidadania e das
privilegiado para o desenvolvimento de ações promotoras de desenvolvimento
estratégias capazes de contribuir a médio e pessoal, intelectual e social. O estudo da
longo prazo para a valorização dos direitos DUDH, bem como do Estatuto da Criança e
humanos e, consequentemente, para a re- do Adolescente (ECA) deve estar presente
dução dos altos índices de violação aos di- nas escolas brasileiras para despertar o in-
reitos humanos no país. Seja enquanto fru- teresse de crianças e adolescentes pela te-
to de uma construção histórica, seja como mática, contribuindo para que, desde cedo,
reação a uma conjuntura socioeconômica, eles aprendam a respeitar os direitos das
tem-se, de fato, assistido ainda com mui- pessoas com as quais convivem e a exigir
ta freqüência atos de violação dos direitos o respeito que lhes cabe. A pesquisa utiliza
humanos, em especial dos direitos desti- a uma abordagem qualitativa de estudo de
nados às crianças e adolescentes, como se caso. Os dados estão sendo coletados com
estes não fossem cidadãos, cujos direitos professores, alunos e orientadores educa-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cionais, por meio da aplicação de questio- versal dos Direitos humanos (DUDH), de
nários de livre associação e entrevistas de 1948, coloca a condição de pessoa como
grupo focal, bem como se utilizando dos requisito único para a titularidade de di-
recursos da observação. As análises par- reitos, considerando o ser humano como,
cialmente engendradas apontam que as essencialmente moral, dotado de unicida-
estratégias e recursos utilizados pelos ato- de existencial e dignidade. Tal Declaração
res do cenário educativo, por vezes, não foi criada com o propósito de atingir o ho-
favorecem uma educação para valorização mem todo e todos os homens e defende
dos direitos humanos de um modo geral, e sua felicidade e bem-estar, tal como ob-
dos direitos das crianças e adolescentes de serva Piovesan (2005). Os direitos huma-
modo particular, uma vez que a própria ins- nos compõem uma racionalidade de resis-
tituição escola é palco de violações aos di- tência, na medida em que revelam artifí-
reitos humanos, o que se percebe fruto de cios que abrem e estabilizam espaços de
posturas autoritárias e baixa qualificação luta pela dignidade humana, ideia central
da adolescência como uma fase positiva. para a compreensão dos direitos huma-
Isto é, o modo como os atores do cenário nos. Para Doise (2002), a DUDH, logo após
educativo concebem a adolescência e seus a Segunda Guerra, evidenciou em seu
direitos parecem influenciar nas relações corpo alguns princípios que não se res-
sociais que ocupam o ambiente escolar e tringem apenas à garantia de direitos dos
nas praticas educativas ai desenvolvidas. cidadãos, eles geram como conseqüência
uma responsabilização do Estado diante
Palavras-chave: educação para os direitos desses mesmos cidadãos. Esta Declara-
humanos, infância e adolescência, prática ção não defende apenas as liberdades
educativa nas escolas públicas. individuais como pensam alguns críticos.
Na verdade, ela revela a necessidade de
os Estados cuidarem para que se concreti-
LT03 – 1389 - DIREITOS DOS zem condições adequadas para o bom de-
ADOLESCENTES: POSICIONAMENTOS senvolvimento da igualdade social e a re-
INDIVIDUAIS E GRUPAIS distribuição de recursos para garantir mi-
Divaneide Lira Lima Paixão - UCB nimamente a satisfação das necessidades
divaneide@ucb.br básicas dos cidadãos. O século XX deixou
Angela Maria de Oliveira Almeida - UCB uma trágica marca nos direitos humanos,
aalmeida@unb.br conforme postula Trindade (1997). Nunca
Financiamento: CAPES/CNPq se verificou tanto progresso na ciência e
tecnologia, acompanhado paradoxalmen-
Os direitos humanos se constituem em te de tanta destruição e crueldade. Persis-
uma produção histórica, submetida aos tiram violações graves e maciças dos direi-
interesses das instituições que os definem tos humanos mesmo com todos os avan-
e cuja aplicação depende também dos Es- ços registrados na proteção internacional
tados. Os direitos humanos são os direitos destes. Continuam a ocorrer violações de
fundamentais de todas as pessoas, sem direitos civis e políticos, como as liberda-
nenhuma distinção. Essa ótica, instituída des de pensamento, expressão e informa-
quando da elaboração da Declaração Uni- ção; ocorrem ainda graves discriminações
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posicionamentos dos policiais diante dos Tal mudança decorreu de sua intenção em
direitos dos adolescentes ficam prejudica- se constituir como nova ciência, preocupa-
dos em função da sua pertença sociopro- da em estudar e em solucionar problemas
fissional, uma vez que são autorizados a de aprendizagem. Apesar destas defini-
fazer uso da violência (“legítima”) pelo Es- ções, entendemos Psicopedagogia como a
tado, ao passo que são chamados a prote- área responsável pela formação de clínicos
ger os adolescentes. Já o posicionamento gerais das escolas; auxiliar do aluno na su-
dos jovens ancora-se na forma como eles peração da fobia escolar e na construção
constroem a própria identidade a partir do desejo de saber, além de organizador
do discurso presente na sociedade. da vida escolar do aprendiz, auxiliar na
aquisição dos conteúdos escolares tradi-
Palavras-chave: direitos dos adolescentes, cionais e no desenvolvimento psicológico.
posicionamentos individuais e grupais, Por clínico geral, o psicopedagogo deve au-
policiais militares e jovens estudantes. xiliar o docente e a escola a diagnosticar,
intervir e encaminhar sujeitos que fracas-
sam na escola. Tal procedimento se justifi-
LT03 – 1415 - INTERVENÇÃO ca em razão de os docentes não estarem
PSICOPEDAGÓGICA E PSICOLOGIA DOS conseguindo realizar tal trabalho, por vá-
VALORES rios motivos: falta de formação adequada;
Nelson Pedro-Silva - UNESP número excessivo de alunos por sala de
nelsonp1@terra.com.br aula; infra-estrutura material precária; re-
Anne Caroline Lima Pereira - UNESP muneração aquém do necessário e desva-
annecarolinelp@hotmail.com lorização do trabalho docente. Em nossa
Bruna Gomes Garcia - UNESP prática, inclusive, observamos que vários
bruna.gomes.garcia@gmail.com pacientes apresentavam problemas auditi-
Isis Bagnhatori Valsecchi - UNESP vos, oftalmológicos, fonoaudiológicos, de
isis_valsecchi@hotmail.com coordenação motora, além dos afetivos,
cognitivos e morais. Em razão disso, o psi-
Várias políticas educacionais foram im- copedagogo pode realizar um primeiro
plantadas, com a intenção de melhorar o diagnóstico e, em decorrência, solicitar aos
rendimento escolar, como a do Ciclo Bási- pais e/ou as instituições o encaminhamen-
co. Apesar disso, o fracasso escolar (indis- to para especialistas. Quanto à fobia esco-
ciplina, desinteresse, problemas de apren- lar, frequentemente as crianças acabam
dizagem e violência) continua a ser o fenô- desenvolvendo um medo desmedido em
meno mais grave a preocupar o sistema relação ao aprendizado escolar. Acredita-
educacional brasileiro. Por esse motivo, mos que esse temor decorra de algum fra-
indagamos se uma intervenção psicopeda- casso que o escolar tenha apresentado,
gógica contribuiria para a superação desse uma ou reiteradas vezes, na própria insti-
quadro. Segundo Ferreira (1986), a psico- tuição. Ao malograr no seu intento, acaba
pedagogia, é definida como a “aplicação internalizando-o como algo pessoal. Em
da psicologia experimental à pedagogia”. A decorrência, afasta-se ou mostra-se, a par-
partir da década de 1980, ela passou a as- tir daquele momento, extremamente te-
sumir novo significado e status no Brasil. merário diante do referido aprendizado.
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e oficinas de leitura, escrita, ciências físicas leitura e a escrita, quase 90% se desenvol-
e humanas. Quanto ao procedimento, 1º veram significativamente. Alguns chega-
realizamos triagem; 2º buscamos estabele- ram a passar do estágio pré-silábico para o
cer vínculo com os sujeitos que estão em alfabético. Outros até já tinham construído
atendimento; 3º concomitantemente, rea- estruturas alfabéticas, todavia ainda apre-
lizamos atividades com o fito de observar sentavam problemas relacionados à orto-
as suas condutas; 4º aplicamos as provas grafia e durante a intervenção tiveram
psicológicas; 5º oferecemos devolutiva aos uma visível melhora em seu desempenho,
pais e/ou responsáveis; 6º realizamos ses- enriquecendo seu léxico. Concluímos que
sões de intervenção, cujo teor é o de auxi- a intervenção realizada tem contribuído
liar às crianças a superarem seus proble- para auxiliar no desenvolvimento cogniti-
mas de aprendizagem, construir estruturas vo, afetivo-moral e da leitura e da escrita.
e valores que pautem pela vida boa; 7º Além disso, tem propiciado condições para
reaplicamos as provas psicológicas, com o que as crianças superem a fobia escolar e
fim de verificar se a intervenção levou ao construam o desejo de saber. Tendo em
desenvolvimento e/ou a superação das di- vista que o trabalho ainda está em anda-
ficuldades escolares e dos problemas de mento, os resultados são preliminares.
conduta. Para a análise dos dados, eles fo-
ram transcritos para ficha padrão e, em Palavras-chave: psicopedagogia, psicologia
seguida, foram montadas categorias exclu- moral e ética, psicologia das virtudes
sivas. Por fim, as analisamos segunda a Psi- Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP,
cologia moral de Piaget (1932/1994) e a nelsonp1@terra.com.br
dos valores, sistematizada por La Taille
(2002). No que se refere à cognição, foi
possível verificar que, dos 21 sujeitos diag-
nosticados, 60% se desenvolveram cogniti-
CO 51 - LT04
vamente. No início, alguns dos sujeitos não Infância 2
conservavam quantidades, indicando que
ainda não tinham construído estruturas
operatórias (mostravam-se egocêntricas e LT04 – 1218 - RELAÇÕES ENTRE
com raciocínio transdutivo). Já no tocante CRIANÇAS E ADULTOS E ROTINAS NA
ao afetivo/moral, mais de 80% dos partici- EDUCAÇÃO INFANTIL
pantes se desenvolveram, sobretudo, no Iza Rodrigues da Luz - UFMG/NEPEI
que concerne ao respeito às regras, ao au- izaluz@bol.com.br
mento da resistência à frustração e da coo-
peração entre os membros do grupo, além Este trabalho teve como objetivo conhe-
do desenvolvimento de virtudes (generosi- cer o comportamento de uma turma de
dade, justiça e prudência). Isso não signifi- crianças de três durante as atividades
ca que eles são autônomos, no sentido previstas na rotina de uma instituição de
piagetiano. Apenas indicia que construí- educação infantil pública. Como referen-
ram valores necessários a auto determina- cial teórico utilizou-se os estudos sobre
ção e, por conseqüência, acabaram se Educação Infantil (Barreto, 1998; Oliveira,
mostrando menos heterônomos. Quanto à 2002), a teoria de desenvolvimento psico-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
lógico de Henri Wallon (1975) e os recen- des repetitivas (concepção de rotina para
tes estudos da sociologia da infância (Oli- o senso comum) aborreciam as crianças e
veira, 2004; Vilarinho, 2004). A instituição desgastavam a relação delas com os adul-
que fica na região metropolitana de Belo tos. Oliveira (2002) ressalta a importância
Horizonte atendia em período integral da regularidade de atividades na educa-
126 crianças de 02 (dois) a 06 (seis) anos, ção infantil, reiterando o entendimento de
divididas em cinco turmas conforme a fai- que essa “rotinização” tem também sua
xa etária. Durante a pesquisa realizou-se função de garantir um sentimento de se-
uma entrevista com a coordenadora e ob- gurança para as crianças, fruto do desem-
servações participantes durante três me- penho de atividades conhecidas. Pensan-
ses (Haguette, 1992) na turma escolhida. do na faixa etária das crianças atendidas
Essa turma era composta de 12 meninas e pela Educação Infantil e na importância de
14 meninos. Como as demais era atendida lhes auxiliar a desenvolver os movimentos
por quatro educadoras, uma professora e a linguagem (Wallon, 1975) entende-
e uma auxiliar no turno da manhã e uma -e que a rotina referente à seqüência em
professora e uma auxiliar no turno da tar- que se desenvolvem as atividades não
de. Como resultados e discussão apresen- deveria engessar o modo como essas
tamos a seqüência das atividades constan- atividades são feitas. Durante a pesquisa
tes da rotina da instituição que era a mes- constatamos um dos problemas comuns
ma para todas as turmas, seguida de uma da educação infantil brasileira conforme
análise dos comportamentos das crianças, apontado por Campos (2006) que é jus-
professoras e auxiliares da Turma 2. Entra- tamente a pouca preocupação por parte
da e café da manhã; Chamada, roda para das instituições com a programação de
contar novidades e atividades diversas: atividades com as crianças, avaliada como
desenho, pintura, montagem, colagem, pouco diversificada, rígida e presa a ro-
brincadeira com carrinhos ou na casinha tinas empobrecidas, levando-as à ocio-
de bonecas de conjunto; Brincadeiras no sidade e representando pouco estímulo
pátio interno ou no parque; Arrumação ao desenvolvimento motor, cognitivo,
dos colchões para o descanso; Almoço; afetivo, cultural e social delas. Ao obser-
Repouso com duração de uma hora e trin- var que a freqüência de comportamentos
ta minutos a duas horas; Lanche; Banho; indesejados pelas professoras aumentava
Estória; Brincadeiras no pátio interno ou durante os intervalos entre as atividades
no parque; Sopa/Jantar; e Saída. A análise ratificamos as impressões de que essa
da seqüência das atividades constantes da postura estava relacionada ao modo de
rotina sem os registros do diário de cam- organização das atividades na institui-
po poderia induzir a avaliação de que a ção. Essa ratificação reforça a importância
rotina estava bem organizada compreen- dos fatores situacionais, na manifestação
dendo cuidados corporais, alimentação, dos comportamentos infantis, implican-
atividades de pintura, desenho, colagem, do assim todos os atores presentes no
brincadeiras e estórias. Entretanto, com- contexto. O modo como as professoras
partilhando das experiências das crianças agiam demonstrava um maior interesse
e adultos da instituição, verificou-se que pela manutenção da “disciplina” do que
em muitos momentos do dia as ativida- pela promoção de interações educativas.
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ao papel dos brinquedos e brincadeiras coerente em sua busca por maior rigor
na educação pré-escolar”. Percebe-se que conceitual ao campo de estudos e pesqui-
após apresentar um conceito geral ao cam- sas sobre jogos, brinquedos e brincadei-
po, e sob o nome de jogo, estranhamente ras, tal quadro será desafiado se tiver que
a mesma Kishimoto (op.cit.35-40) ao res- considerar a inclusão de outros termos
saltar algumas modalidades presentes na - ou quem sabe conceitos- tais como brin-
educação infantil, as apresenta agrupadas quedo pedagógico, brincadeiras escolares
sob outras denominações, “brinquedo e jogos educativos, peculiares ao campo
educativo (jogo educativo)”, “brincadeiras da Psicologia do Desenvolvimento e da
tradicionais infantis”, “brincadeiras de faz Educação. A estes serão agregados o que
de conta” e “brincadeiras de construção” mais recentemente vem sendo chamado
(grifos nossos). O primeiro grupo “remete- de games, que já se fazem presentes por
-nos para a relevância deste instrumento exemplo, no Portal do Professor, oficial-
para situações de ensino-aprendizagem mente disponibilizados pelo MEC/Brasil
e de desenvolvimento infantil”, ou seja, em parceria com o MCT/Brasil ( “Game da
“quando as situações lúdicas são intencio- reforma ortográfica”, “Amino Acids Game”
nalmente criadas pelo adulto com vistas a etc.). Talvez se contraponham a estes,
estimular certos tipos de aprendizagem, os brinquedos e jogos terapêuticos bem
surge a dimensão educativa”. Já o segundo como os de lazer, recreação e/ou entre-
grupo responde pela ”brincadeira tradicio- tenimento, entre outros, que em sentido
nal infantil, filiada ao folclore” expressan- amplo, todos eles, também são consi-
do-se, sobretudo, pela oralidade e é con- derados recursos de “ludicidade”, termo
siderada como parte da cultura popular. apreciado particularmente pelos falantes
A terceira abordagem a das “brincadeiras de língua espanhola e francesa. A fim de
de faz de conta” que é “também conheci- contribuir para este quadro de discussões
da como simbólica, de representação de pretende-se apresentar pesquisa explora-
papéis ou sócio-dramática é a que deixa tória e descritiva, em andamento, acerca
mais evidente a dimensão imaginária (...) da presença e do significado de todos es-
o conteúdo das representações simbólicas tes termos nas publicações da primeira dé-
recebe, geralmente, grande influência do cada, deste século, das associações nacio-
currículo e dos professores [de educação nais de pesquisa e pós-graduação ANPEPP
infantil]”. Por fim, as brincadeiras de cons- (Psicologia) e ANPED (Educação), bem
trução, também consideradas pela autora como da ABPD. Para efeito de análise, dar-
jogos de construção possibilitam a cons- -se-á atenção, em princípio, aos resumos
trução de cidades e bairros que estimulam e quando possível, aos textos completos
a imaginação infantil, pois “construindo, ou artigos, dos GT32 (Os jogos e sua im-
transformando ou destruindo a criança ex- portância em Psicologia e Educação) e GT9
pressa seu imaginário (...) suas representa- (Brinquedo, aprendizagem e saúde) da
ções mentais além de manipular objetos.” ANPEPP e aos GT 07 (Educação de Crianças
Para qualquer destas perspectivas, vale de 0 a 6 anos) e GT20 (Psicologia da Educa-
lembrar, é necessário considerar tanto a ção), da ANPED. Já a análise do material da
fala como a ação da criança, que revelam ABPD, terá como recorte inicial, os títulos.
complexas relações. Embora a autora seja Pretende-se promover melhor compreen-
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são dos campos simbólicos - no sentido de tre os anos de 2007 e 2009. A primeira au-
P. Bourdieu- ligados ao tema e assim evitar tora, enquanto orientadora da pesquisa e
sua banalização, em busca de maior rigor mentora/ coordenadora de uma das brin-
conceitual no âmbito da Psicologia do De- quedotecas analisadas, a brinquedoteca
senvolvimento e da Educação. do tipo comunitária, e a segunda na condi-
ção de estudante de Pedagogia e bolsista
Palavras-chave: Psicologia da Educação; PIBEX. Através de observação participante,
Lúdico; Educação da infância. portanto enquanto pesquisa qualitativa
(Ludke & André, 1986), as duas brinquedo-
tecas observadas foram dos tipos: 1. Brin-
LT04 – 1487 - INTERVENÇÃO LÚDICA quedoteca comunitária. Situada na Vila
NAS PRÁTICAS CULTURAIS DE Residencial da UFRJ era parte integrante
CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE ESTRESSE do Projeto Brincar e Aprender, projeto de
EDUCACIONAL E HOSPITALAR: extensão da FE/UFRJ; 2. Brinquedoteca
ESTUDO COMPARATIVO PRELIMINAR hospitalar. Localizada na enfermaria infan-
DE DUAS BRINQUEDOTECAS til de um hospital público federal de alta
M. G. B. Botelho - UFRJ complexidade. A primeira foi implantada
gloriab.ufrj@gmail.com pelo Projeto Brincar e Aprender em um
Katiline Carneiro Silva - UFRJ galpão de aproximadamente duzentos me-
katilinecarneiro@gmail.com tros quadrados (200 m²), posse da Asso-
ciação de Moradores daquela localidade.
A importância do brincar para o desen- A equipe que compunha o Projeto contava
volvimento infantil indicada por diversos com duas moradoras e cinco (5) estudan-
autores tais como L. S. Vygotsky, J. Piaget, tes da UFRJ, inicialmente todos do curso
seguidores e outros, foi tão intensamente de Pedagogia e mais tarde com alunos dos
publicada e debatida no âmbito da Psico- cursos de Psicologia e Educação Física e a
logia que chega a dar a impressão de que professora-orientadora - tendo, portanto,
pouco resta (Silva & Botelho, 2009) para uma equipe multidisciplinar. Já a segunda
se falar, pesquisar e acrescentar a respei- preexistia à nossa chegada e era situada
to, em termos acadêmicos. No entanto, em uma pequena sala de cerca de 25m²
no âmbito da formação de professores, as do andar da enfermaria infantil. Quando
contribuições do conhecimento a respeito lá chegamos, havia um ambiente favorável
das diversas práticas culturais do brincar, à assimilação da presença de estagiários
em espaços de educação não-formal (brin- (as) e já contava com uma profissional de
quedotecas hospitalares, comunitárias, Terapia Ocupacional atuando integralmen-
em museus etc.) para a educação formal te na brinquedoteca, a qual participou da
e da infância (em creches e pré-escolas), sua implantação. Quanto às crianças usuá-
ainda estão por serem sabidas ou aprimo- rias, a primeira recebia cerca de trinta (30)
radas. É dentro deste quadro que se pre- crianças todos os dias no espaço, com o
tende apresentar um estudo exploratório objetivo de (re)significar a relação com a
e comparativo entre duas brinquedotecas escola e com a aprendizagem, contribuin-
situadas na cidade do Rio de Janeiro as do assim para o processo de otimização da
quais foram observadas pelas autoras en- escolarização dos participantes do Proje-
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como representação de elementos men- L7. C:É pra subir assim. [ Ficando em pé
tais. Relata-se aqui um estudo de caso de sob a mesa.]
uma criança de três anos. Os dados foram
L8. P:E é ? [Olhando para a criança e se-
produzidos na residência da criança após
gurando sua mão.]
obtenção do Termo de Consentimento Li-
vre e Esclarecido (TCLE). Para situação de L9. C: aaalcança (\her) (...) o negócio lá
registro dos dados criança e pesquisadora em cima. [Ainda em cima da mesa
se envolveram na atividade de desenhar. fica na ponta dos pés. Desce da
Depois que a criança desenhou a pesqui- mesa e senta-se no chão.]
sadora a questionou sobre seu desenho
L 10. P:Tem o que lá em cima? [Olhando
com fazendo-a compor narrativas sobre
para a criança.]
sua produção. Estes dados foram video-
grafados. Apresentamos a análise de um L 11. C:Escada aqui. [Olha para cima,
episódio de interação entre esta criança, aponta, se levanta e vai em direção
seu irmão (7 anos) e a pesquisadora, o a uma parede alta onde um sino
qual foi denominado como Construindo de vento estava pendurado. Fica na
desenho sobre uma escada. A transcrição ponta dos pés e levanta os braços na
abaixo apresenta o momento. Episódio: tentativa de alcançar o objeto.]
Construindo desenho sobre uma escada9
L 12. P: O que é isso que tem lá em cima?
[Olhando para o sino de vento pen-
L 1. P: E isso daqui é o que? [Olhando
durado na parede.]
para a criança e apontando para o
desenho que ela fez.] L13. C:Pega, pega, (\her) pe... [Ainda na
ponta dos pés e com os braços le-
L2. C: (\her) é uma (...) [Olhando para
vantados fica dando saltos na tenta-
o papel e subindo na mesa que es-
tiva de pegar o objeto. Pára e volta
tava sendo usada como apoio para
para sentar-se no chão novamente.]
desenhar.]
L 14. P:Há( \! ) Você sobe para pegar uma
L3. P:É uma escada ou é uma casa?
coisa que ta lá em cima, né? [Olhan-
[Olhando para a criança.]
do para a criança.]
L4. C: É(\her) para é (...\) [Ficando em
pé sob a mesa.] L 15. C:É, Assim ó. [Olha para cima, come-
ça a subir na mesa novamente.]
L5. I: Não suba (\imp) [Olhando para a
irmã.] Neste episódio observou-se fala elabora-
L6. P:Cuidado! [Olhando para criança e da unida com gestos e ações constituindo
segurando sua mão.] o desenho infantil. Sugere-se que a re-
gulação entre fala e ação manifesta pela
criança está relacionada com a pergunta
9
Legenda: (L)-Refere-se ao número da linha. (P)-Pesquisa- da pesquisadora “É uma casa ou é uma
dora. (C)-Criança. (I)-Irmão da criança. (\her)- Hesitação/ escada?”, frente ao desenho da criança.
repetição. (\!)-Enunciado exclamativo. (...)-Fala incompre-
ensível. (...\)-Fala incompleta. Entre colchetes descrições
Isto é, observam-se inter-constituição
dos elementos não-verbais. entre a indagação da pesquisadora, as
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cognitivamente. Ao nascer, o primeiro nú- jeitos, sendo 42% (9) do sexo feminino,
cleo de socialização que o bebê mantém com idade média de 8,90 anos (dp=0,91)
contato é a família. Esta por sua vez irá e entre 7 e 11 anos, que freqüentam uma
influenciar significativamente no desen- escola pública da cidade de Santo Antônio
volvimento saudável da criança. Assim, a de Jesus-BA. O projeto teve a aprovação
família consolida-se como um importante no Comitê de Ética. Os dados foram obti-
nicho para o desenvolvimento global do dos em uma reunião na escola na qual o
indivíduo, devido às influências que exer- filho da participante estuda. Foi explicado
cer para o seu desenvolvimento (Baptista, as participantes todos os procedimentos
Baptista & Dias, 2001; Conte, 2001; For- do projeto e aquelas que aceitaram parti-
man & Forman, 1981). Cada membro da cipar assinaram o Termo de Consentimen-
família tem uma função essencial para o to Livre e Esclarecido (TCLE). Os instru-
desenvolvimento psicossocial da criança, mentos utilizados foram o Inventário Beck
no entanto, quando existe a presença de de Depressão (Beck Depression Inventory-
algum transtorno mental podem alterar -BDI) e o Familiograma. O BDI é um ins-
o desenvolvimento infantil. A depressão, trumento originalmente desenvolvido por
por exemplo, influencia o funcionamen- Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh
to familiar, principalmente quando esse (1961), que tem como propósito fazer um
transtorno acomete a figura materna. Al- levantamento da intensidade dos sinto-
guns estudos mostram que quadros de mas depressivos através de uma escala
depressão materna têm grande influência de autorrelato composta de 21 itens cada
em todos os ambientes familiares, com o um com quatro alternativas com esco-
aumento das chances de desenvolver pro- res de zero a três os quais subentendem
blemas de comportamento infantil confli- graus crescentes de depressão. Esses
tos familiares ou outro transtorno psiqui- 21 itens fazem referência a 19 fatores, a
átrico devido à depressão da mãe. As re- saber, tristeza, sentimento de fracasso,
lações familiares funcionam em sistemas pessimismo, punição, insatisfação, autoa-
de díades (relação entre dois membros da versão, idéias suicidas, retraimento social,
família) e tríades (relação entre três mem- irritabilidade, choro, indecisão, mudança
bros da família), do bom funcionamen- na autoimagem, dificuldade de trabalhar,
to dessas relações decorre o equilíbrio fatigabilidade, insônia, perda de apetite
no ambiente familiar. Em famílias onde e peso, preocupações somáticas e perda
um dos membros, especialmente a mãe, da libido. Trata-se de um inventário ini-
tem sintomas depressivos as interações cialmente pensado para uso em pacientes
tendem a ficar instáveis. Tendo em vista psiquiátricos, mas que, no entanto vem
estes dados e entendendo que a família sendo amplamente utilizado em pesqui-
desempenha um papel essencial tanto no sas com pacientes não psiquiátricos. O
desenvolvimento psicológico quanto na outro instrumento utilizado, neste estudo
promoção da qualidade de vida de seus foi o Familiograma, este se constitui como
membros, o presente trabalho objetiva um instrumento capaz de avaliar díades
demonstrar a correlação existente entre familiares com base em duas idéias prin-
depressão materna e conflitos familiares. cipais: a terapia sistêmica estrutural e a
Os participantes do estudo foram 21 su- Teoria dos Gráficos. O Familiograma ana-
1039
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
lisa inicialmente as relações entre as día- vida de todos os membros da família tanto
des (pai-mãe, filho-mãe, filho-pai e filho- de forma positiva quanto de forma nega-
-irmão) procurando com isso obter uma tiva, e as relações conflituosas estão cor-
visão geral da família. O relacionamento relacionadas à sintomatologia depressiva
existente entre cada díade é descrito em da mãe mostrando que quando este tipo
termos adjetivos, dados em uma escala Li- de transtorno se faz presente as relações
kert que vai desde “não corresponde” até entre as díades se tornam inadequadas.
“corresponde totalmente”, representan-
tes de duas dimensões mais amplas, sen- Palavras-chave: relações familiares, Inventário
do eles afetividade e conflito. Para análise Beck de Depressão, Familiograma
de dados foi utilizado o programa estatís- Contato: Mariângela Santos de Jesus, UFRB,
tico SPSS 18.0. Os dados foram analisados mariângela.santos@msn.com
através da correlação de Pearson. Os re-
sultados do estudo apontaram as seguin-
tes correlações: afetividade pai-mãe (r= -, LT05-1332 - PRATICAS EDUCATIVAS
765 e p=, 000), afetividade filho-mãe (r=,- PARENTAIS: UM PROJETO DO
630 e p= ,003), conflito filho-mãe (r= ,307 PROGRAMA ESCOLA PROMOTORA
e p= ,188), afetividade filho-pai (r= -,742 DA SAÚDE
e p= ,000), conflito filho-pai (r= ,536 e p= Andréia Arruda Guidetti - UNICAMP
,018), afetividade filho-irmão (r= -,600 e Prefeitura Municipal de Itatiba
p= ,023), conflito filho-irmão (r= ,626 e deia.arruda@ig.com.br
p= ,017). Os dados sugerem que há uma
carga de correlação positiva significativa O presente trabalho pretende demons-
entre os sintomas de depressão identifica- trar o funcionamento de uma prática de
dos pelo BDI os conflitos existentes entre intervenção que acontece dentro de um
as díades familiares filho-mãe, filho-pai e Programa da Secretaria de Educação do
filho-irmão, e uma carga de correlação ne- município de Itatiba, estado de São Paulo,
gativa entre os mesmos sintomas e a afe- chamado “Escola Promotora da Saúde”. O
tividade. Esses dados sugerem que existe objetivo principal do programa é promo-
uma relação importante entre os níveis de ver a mudança do paradigma tradicional
conflito e afetividade nas díades familiares para enfoques integrais de saúde escolar,
e que influenciam os níveis de depressão proporcionando discussões sobre educa-
materna. Essas alterações no funciona- ção e promoção da saúde que possibili-
mento familiar podem gerar conseqüên- tem o aumento da qualidade de vida dos
cias como problemas de comportamento seus participantes. Além disso, tem uma
infantil ou psicopatologias como o au- visão global do ser humano e considera as
mento dos níveis de ansiedade. Um ponto pessoas dentro de seu ambiente familiar,
importante a ser ressaltado é a limitação comunitário e social (Sociedade Brasileira
do estudo para investigar outras variáveis de Pediatria, 2005). Segundo o Programa
que possam influenciar na percepção ma- Nacional de Saúde Escolar (Brasil, 2006),
terna acerca do seu funcionamento fami- uma escola que se proponha a promover
liar. O fato a ser ressaltado é que as rela- a saúde, deve mobilizar a participação di-
ções familiares podem influenciar muito a reta e o envolvimento da escola, dos ser-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dente assume o papel de transmitir à sua acontecem basicamente por motivos coti-
sucessora seus valores, crenças e modos dianos e não por uma disparidade de va-
de agir. E, nesse processo de transmissão, lores. Para Teykal (2007) estamos presen-
as concepções passadas de uma geração ciando uma mudança brusca no processo
a outra nesta cadeia geracional abrem de transmissão, já que pela primeira vez
sempre uma brecha para se acrescentar se assiste uma inversão no sentido trans-
algumas variações, que seriam marcas missional – este aspecto por si só repre-
próprias de cada geração. Segundo Pais sentaria uma ruptura nunca antes vista – o
(1998) de uma geração a outra há saberes que propicia não só a imposição dos va-
e posições que se herdam e transmitem, lores da cultura jovem sobre as gerações
garantindo certa continuidade geracional. mais velhas, como torna possível a esco-
Mas há lugar para a transformação dos lha do que seria importante receber das
valores sem que estes tenham que estar gerações anteriores. Podemos pensar que
necessariamente polarizados em torno de cada pessoa traz consigo crenças que são
gerações distintas. Visto desta forma, as passadas através de gerações, sobre como
gerações que se seguem nunca são exa- devem ser os cuidados parentais e como
tamente iguais às anteriores, até porque o homem deve desempenhar o seu pa-
os indivíduos que compõem uma geração pel na paternidade. Porém, percebemos
têm em comum sua posição no processo que essas crenças sofrem mutações, isto
histórico e social devido à experimentação é, não há apenas uma influência geracio-
dos mesmos acontecimentos, o que acaba nal, as próprias crenças perpassadas pelas
por delimitar suas possibilidades de esco- gerações estão sujeitas às modificações
lha e, logo, seus modos de atuação. Hoje devidas transformações históricas, sociais
vivemos um momento em que, devido ao e ambientais, o microssistema familiar é
aumento da expectativa de vida da popu- submetido ao macrossistema social, um
lação, pode-se observar a convivência de exemplo disto é o fato de na atualidade,
três ou até quatro gerações de uma mes- com a rápida disseminação das informa-
ma família. Esse fenômeno não pode ser ções resultante do processo de globaliza-
confundido com a antiga família extensa, ção, essa idéia de que se pode escolher o
já que, os mais velhos eram autoridade que deve ser transmitido é reforçada, na
maior dentro de casa e todas as gerações medida em que viabiliza a ilusão de que
abaixo lhes deviam respeito. Ao longo do o saber está logo ali disponível para todos
processo de globalização, que traz consigo e basta ter acesso a ele para adquiri-lo.
uma extrema velocidade no trânsito das Desta forma, o indivíduo capta saberes
informações e transformações que estão que não necessariamente foram passados
ocorrendo no núcleo familiar, e sob a in- por seus ascendentes e sente-se livre para
fluência de uma ideologia democrática e fazer suas escolhas individuais acerca do
igualitária, a geração mais velha perdeu que seria relevante para ele. Essa situa-
sua posição hierárquica dentro da famí- ção é, ao mesmo tempo, uma liberação
lia, aumentando-se as trocas intergera- da cadeia transmissional e uma exaltação
cionais. De acordo com Pais (1998) hoje do individualismo, que pode trazer como
as relações intergeracionais são mais pa- conseqüência a desvalorização daquilo
cíficas do que outrora e que os conflitos que é passado de geração em geração. So-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
bre alguns aspectos relacionados à pater- cionamentos acerca das práticas parentais
nidade contemporânea, pode-se dizer de paternas, elas foram se adaptando às mo-
uma forma geral, que quando se recorre dificações da sociedade e incorporando
à literatura nacional e internacional sobre novos valores a respeito dos papéis de-
crenças a respeito dos cuidados parentais sempenhados pela tríade pai-mãe-filho.
paternos algumas indagações e lacunas
ficam em aberto. E em relação à trans- Palavras-chave: psicologia evolucionista,
missão intergeracional, a predominância transmissão geracional, cuidados parentais
é também de pesquisas relacionadas às paternos
mães e avós ou pesquisas que privilegiam Contato: Jôse Peixoto da Rocha Souza da
os resultados dessa transmissão. Por es- Cunha, UERJ, joseprsouza@ig.com.br
sas razões, este estudo visou atender,
em parte, essas lacunas, ao investigar as
crenças sobre práticas de cuidados pa- LT05-1501 - EPISTEMOLOGIA EM
rentais paternos que são privilegiadas na METODOLOGIA QUALITATIVA
atualidade. Além de relacionarmos como DESENVOLVIMENTO FAMILIAR
são percebidas as práticas de cuidados Júlio César dos Santos - UFRB
parentais paterno entre duas gerações economiadasaude@ufrb.edu.br
distintas. Participaram desta pesquisa 100 Financiamento: CAPES
pessoas residentes na cidade de Magé
(estado do Rio de Janeiro), divididas em Considerando a metodologia e epistemo-
dois grupos: 50 (homens e mulheres) de logia processo cíclico e estudo da constru-
25 a 35 anos e 50 (homens e mulheres) ção de conhecimento respectivamente,
de 55 a 65 anos. O estudo incluiu ques- buscou–se, neste resumo, as proximida-
tionário sociodemográfico, questionário des da pesquisa qualitativa em desenvol-
sobre Função Paterna, aplicação da Escala vimento familiar. O estudo foi de revisão
sobre Crenças e Práticas Paterna (ECPP) e teórica sobre a expressão planejamento
Escala sobre Crenças e Práticas Paterna – familiar. A hipótese é que dependendo
Pretéritas (ECPP-P). As análises dos dados do construto epistemológico e do método
foram realizadas por meio do software que eu seleciono para investigar o fenô-
SPSS. Foram realizadas análises descritivas meno familiar, o pesquisador observará a
(média, desvio-padrão, valores mínimo e realidade de uma determinada maneira;
máximo), bem como análise de compara- o método vai influenciar na análise do fe-
ção de médias (Teste t de Student e Anova nômeno, de acordo com a teoria que eu
Oneway) e correlações r de Pearson. Após escolhi dentro de um paradigma episte-
análise de variância ANOVA, foi utilizado o mológico. Para o mainstream em Ciências
teste post hoc de Scheffé (Dancey & Rei- Humanas a maioria da pesquisa conside-
dy, 2006). Observamos durante a pesqui- rada científica advém de ênfase quantita-
sa que as crenças geracionais estão em tiva. Lendo os textos de Mesquista (2008),
uma via de mão dupla, interferindo em Berquó e Rocha (2005), Cipriano (2002) e
novas gerações e sofrendo influências da Lima (2010), o planejamento familiar no
mesma, isto reflete que embora gerações Brasil tem relação com os aspectos macro-
mais velhas tenham determinados posi- econômicos, como as influências do setor
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(n=4) Estilo Parental Regular e 20% (n=4) tal ótimo ou bom, e para as participantes
apresentaram Estilo parental Ruim. Os re- que melhoraram seus estilos para ótimo
sultados demonstram que 65% (n=13) das ou bom. No grupo das mães adolescentes
participantes mantiveram o mesmo esti- o programa foi efetivo para 12 participan-
lo, sendo cinco o estilo parental ótimo, tes que mantiveram o estilo parental óti-
três o estilo bom, duas o estilo regular, e mo ou bom e para cinco participantes que
três o estilo ruim; 20% (n=4) pioraram de melhoraram de estilo para bom ou ótimo,
estilo parental uma de ótimo para bom, totalizando 85% das participantes (n=17).
uma de ótimo para regular, uma de bom No grupo das mães adultas o programa foi
para regular, e uma de regular para ruim; efetivo para 8 participantes que mantive-
e 15% (n=3) melhoraram de estilo, uma ram o estilo parental ótimo ou bom e para
do estilo bom para o ótimo, uma do estilo 3 participantes que melhoraram de estilo
regular para ótimo, e uma do regular para para bom ou ótimo, totalizando 55% das
o bom. A partir do teste de Wilcoxon foi participantes (n=11). O programa não foi
verificado que não existe diferença signi- efetivo para aquelas participantes que
ficativa, em ambos os grupos, nos estilos pioraram seus estilos parentais ou man-
parentais antes e após a participação no tiveram os estilos regular e ruim. Nesses
grupo de intervenção, Grupo 1 (T=79, p casos seria interessante realizar uma in-
= 0,332) e Grupo 2 ( T= 30, p = 0,456). vestigação de outras variáveis.
Também foi realizada uma comparação
entre os grupos e foi verificado que existe Palavras-chave: estilos parentais, mãe de
diferença significativa, entre os grupos de bebê e intervenção.
mães adolescentes e adultas, nos estilos Contato: Elisa Rachel Pisani Altafim – altafim.
parentais na primeira e na segunda apli- elisa@gmail.com
cação do inventário, conforme o teste de
Mann Whitney, 1ª aplicação (U=127, p =
0,048) e 2ª aplicação ( U= 122, p = 0,035). LT04- 934 - RECICLAGEM
Os resultados revelam que as mães adul- SOCIOCULTURAL NUMA DINÂMICA
tas apresentam estilos parentais piores INTERGERACIONAL
do que as mães adolescentes na primei- Maria Helena Novaes - PUC-Rio
ra e na segunda aplicação do Inventário. suelesp@uol.com.br
Nota-se que antes e após a participação Suely de Almeida Batista Dessandre - PUC/Rio
no programa de intervenção as mães ado- suelesp@uol.com.br
lescentes apresentam estilos parentais
mais adequados que os estilos parentais Esta proposta teve como meta promover
apresentados pelas mães adultas. Para a integração de grupos intergeracionais
a maioria das participantes o programa reunindo, na Pontifícia Universidade Ca-
de intervenção foi eficaz, promovendo a tólica – PUC-Rio, idosos participantes do
aquisição e/ou manutenção das práticas Programa Sistêmico Integrado Global –
parentais positivas e a diminuição das PSIG e adolescentes do NEAM – Núcleo
práticas negativas. Considera-se que o de Estudo e Ação sobre o Menor, Vice-Rei-
programa foi efetivo para aquelas parti- toria para Assuntos Comunitários, coor-
cipantes que mantiveram o estilo paren- denados pela Professora Marina Lemette
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Moreira, que neste ano completa 30 anos livro importante, também, para ajudar a
de atividades, dentre as quais, aulas de descobrir quem somos nós: “...quem é
artes, educação ambiental, computação, cada um de nós senão uma combinatória
apoio espiritual, através de dinâmicas e de experiências, de informações, de leitu-
oficinas. O programa foi organizado no 1º. ras, de imaginações? Cada vida é uma en-
Semestre de 2011, no intuito de oportu- ciclopédia, uma biblioteca, um inventário
nizar uma visão mais ampla e abrangen- de objetos, uma amostragem de estilos,
te do mundo contemporâneo através da onde tudo pode ser continuamente reme-
observação, reflexão e análise dos fenô- xido e reordenado de todas as maneiras
menos e eventos pontuais e significativos possíveis” (Calvino, 2005, p. 138). Esse
nas diversas atividades humanas, visando programa desenvolveu, sobretudo, cria-
mudanças e transformações psicossocio- tividade dos participantes, troca entre as
culturais, levando em conta as caracte- diversas gerações, socialização e resgate
rísticas que modelam a sociedade atual, da capacidade de refletir e de fazer traba-
como relacionamento casual, postura lhos práticos pessoais a respeito do tema
transcendental, linguagem digital, poder escolhido: “Como Vivemos Agora: Eu e A
minutal, realidade virtual, predomínio es- Sustentabilidade do Planeta Terra”. Foram
piritual. O tema que norteou esses encon- propostos três eixos de ações norteado-
tros foi a Sustentabilidade, possibilitando ras relacionadas: A Natureza, O Homem
discussões e trocas em função de desco- e A Cultura, no sentido de interligá-las e
bertas simples para problemas complexos configurar situações positivas no relacio-
do cotidiano na atualidade. Muitas des- namento humano, no aproveitamento
sas soluções passam por um resgate de dos materiais e resíduos produzidos pelo
hábitos antigos, que se mostram passíveis homem e na transformação ambiental e
de revisões como, por exemplo, o uso de cultural. No programa, os temas foram
sacolas não-descartáveis. O grupo dos desenvolvidos pelos palestrantes convi-
idosos se adapta de um modo mais fácil dados, dentre eles: (a) A Intergeraciona-
nesse quesito, tendo em vista um hábito lidade na Vivência Humana – Professora
que já fez parte da sua formação. Experi- Maria Helena Novaes (Pós- Doutorado
ências intergeracionais como essas, con- Psicologia); (b) Empreendedorismo Social
gregando pessoas idosas, adultos, jovens e a Construção de um Mundo Moderno
e crianças facilitam a troca de lembran- – Paulo P. Ferraz (MBA pela Universida-
ças, depoimentos, tradições, favorecem a de Harvard); (c) Arte Diálogo Eterno do
escuta mútua e a utilização da memória Imaginário – Audir Bastos Filho (Pós - Gra-
como ação social (Novaes, 2003). Den- duação em Arte Educação – Mestre em
tre diversos autores que desenvolvem o Pedagogia); (d) O Poder da Comunicação
tema da contemporaneidade, destaca-se e a Responsabilidade Social – Professor
Italo Calvino, a partir de seis propostas Miguel Pereira; (e) O Humor e o Riso sua
para o 3º. Milênio – a leveza, a rapidez, a influência no Bem Estar Social – Professor
exatidão, a visibilidade, a multiplicidade, a Bernardo Jablonski (Doutor Psicologia De-
consistência – virtudes a nortear não ape- partamento de Psicologia); (f) A Historia
nas a atividade dos escritores, mas, cada ao Alcance de Todos – Prof. Ilmar Rohloff
um dos gestos de nossa existência. É um de Mattos (Departamento de Historia –
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
trabalho tem como objetivo discutir e in- mudam são os caminhos para alcançar
vestigar questões inerentes a comporta- esse desenvolvimento. Pode-se analisar
mentos agressivos, na escola, que foram que os caminhos propostos por Vygotski
abordadas através do método qualitativo estão relacionados aos estímulos ofere-
de pesquisa, utilizando a técnica de es- cidos no ambiente escolar, familiar ou
tudo de caso. Este estudo de caso teve nos demais universos frequentados pelo
como sujeito um aluno de 14 anos, que adolescente. Assim, se ele tem uma inte-
apresentava comportamento agressivo ligência “normal” e apresenta certa de-
no universo escolar, passando durante ficiência em conteúdo, e isto ocorre em
este estudo por duas escolas, devido a função dos estímulos oferecidos a ele,
problemas de agressividade. O sujeito e isto sugere a necessidade de um maior e
sua família receberam, durante este pe- melhor acompanhamento escolar, tanto
ríodo, acompanhamento multidisciplinar por parte da escola quanto por parte da
da equipe do Centro de Referência de família. No quesito relacionamento inter-
Assistência Social (CREAS), de um médico pessoal, constatou-se que a dificuldade
psiquiatra e da equipe do Conselho Tute- de relacionamento e o comportamento
lar. Foram realizados entrevistas e testes agressivo foram detectados por todos os
psicológicos, que permitiram organizar as entrevistados e, também, evidenciados
seguintes categorias: (a) como o adoles- tanto no teste de inteligência quanto no
cente é percebido; (b) como o adolescente teste de personalidade. Analisando-se o
se apresenta no quesito relacionamento comportamento relacional do aluno pe-
interpessoal; e (c) intervenções feitas em los relatos da família, em primeiro lugar,
relação ao comportamento agressivo do pode-se constatar que o adolescente foi
adolescente. Verificou-se, a partir dos re- vítima de violência por parte da mãe e
sultados, que a percepção do adolescente que havia, ainda, um componente com-
pelos entrevistados e pelos testes feitos portamental hereditário relatado tanto
com ele confirma a literatura citada, pois, pelo pai quanto pela mãe. Conforme Me-
ele reagiu diferentemente a cada ambien- neghel (1998), crianças vítimas de vio-
te e, desta maneira, foi percebido. No lência doméstica demonstram ser mais
universo escolar, no quesito rendimento, agressivas que as outras, menos empá-
o adolescente foi avaliado como media- ticas em comparação aos seus colegas
no, fato confirmado pelo teste de inteli- e apresentam dificuldade em expressar
gência, no qual ele apresentou um ren- emoções e identificar as emoções dos co-
dimento médio inferior. Trazendo, ainda, legas. O ambiente escolar foi o local onde
o resultado do teste de inteligência, este mais se evidenciou os comportamentos
informou a respeito de sua deficiência, descritos acima, com atitudes agressivas
em regras gramaticais e lentidão no seu do adolescente para com certos colegas
processamento intelectual; além disso, e, ao mesmo tempo, atitudes de esquiva
na fala da coordenadora, ele possui de- e de respeito para com os professores.
fasagem em ortografia. Sobre isto, utiliza- Segundo Lisboa (2005), alunos que vive-
-se a afirmação de Vygotski (1994), para ram experiências de violência familiar po-
quem as leis do desenvolvimento são as dem levar para a escola o mesmo padrão,
mesmas para todas as crianças: o que utilizando de condutas agressivas para
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
com os colegas e atitudes evitativas para isto, tanto o adolescente quanto a famí-
com os professores, sendo interessante lia foram encaminhados para um acom-
analisar sistêmica e ecologicamente este panhamento, coincide com a informação
fenômeno, pois, o ambiente onde o alu- do médico psiquiatra, que afirma que a
no vive colabora para que se sinta vítima; melhora da conduta do adolescente, sem
em primeiro lugar dentro de casa, depois prescindir do uso adequado das medi-
na escola, quando recebe gozações dos cações psiquiátricas, acontecerá a partir
colegas e não consegue expressar o que da mudança de postura da família. Esta
realmente sente para os professores e, proposta de intervenção vem de encon-
posteriormente, pode se transformar no tro com a sugestão de Salmivalli (1996,
abusador, agressor, repetindo ou repro- 2004), já citada acima. Os dados investi-
duzindo o que aprendeu e viveu nas ex- gados e analisados a partir da pesquisa
periências anteriores. Verifica-se que o realizada ampliam o entendimento sobre
comportamento do referido adolescente as questões referentes ao comportamen-
tem componentes tanto biológicos quan- to agressivo em contexto escolar.
to emocionais e relacionais, conforme
já citados anteriormente, demandando, Palavras-chave: contexto escolar,
portanto, ações conjuntas em todas essas relacionamento interpessoal, comportamento
áreas. Por esta razão buscou-se analisar, a agressivo
seguir, o tipo de intervenção oferecido ao Contato: Maria Elisa Rezende Queiroz
adolescente em questão. Verifica-se que, Takahashi, UAB/UNB, despertar@terra.com.br
no universo escolar, não existe uma pre-
ocupação em realizar alguma intervenção
específica com o aluno, pois, nele acredi- LT06-1034 - A IDENTIFICAÇÃO E O
tam que a atuação deva ser pontual, isto é, MANEJO DOS MAUS-TRATOS INFANTIS
se intervém quando o problema do com- NA EDUCAÇÃO: O QUE SABEM E O QUE
portamento agressivo acontece. Segundo FAZEM OS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA?
Olweus (1993), apesar da sua dimensão e Marina Rezende Bazon - FFCLRP-USP
das suas consequências, a agressividade mbazon@ffclrp.usp.br
escolar e o bullying, enquanto fenôme- Daniela Zayat Lopes - FFCLRP-USP
nos, têm sido negligenciados socialmente danizayat@gmail.com
e não têm sido alvo de prioridades nas Paola Gonzales Valladão - FFCLRP-USP
políticas públicas, fato este confirmado paola_gonzales16@hotmail.com
nos relatos apresentados. Segundo Salmi-
valli (1996, 2004), no contexto escolar, os A violência contra crianças e adolescen-
comportamentos devem ser encarados tes, praticada pelos cuidadores prin-
como fenômenos de grupo e, desta ma- cipais em âmbito doméstico, constitui
neira, merecem ser analisados dentro de o fenômeno denominado maus-tratos
uma perspectiva sistêmica e ecológica. A infantis (OMS/ISPCAN). Este fenômeno
informação da conselheira tutelar, de que tem merecido atenção científica e social
as ações comprometidas do adolescente de modo crescente, e sendo considera-
em questão devem receber intervenção do como uma problemática importante
a partir do foco na família e que, para em termos de conseqüências negativas
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estavam realizando estágios na área da dos, qual seria a ação ideal a empreender
educação. Os resultados obtidos indica- frente a casos suspeitos de maus-tratos.
ram que, para a maioria dos estudantes Vale dizer que a grande maioria dos estu-
(94,37%), a principal fonte de informação dantes (92%) afirmou desconhecer o con-
sobre a temática dos maus-tratos é a “mí- teúdo da Lei estadual SP nº 10.498/00.
dia”, seguida pelas “conversas informais” Em síntese, pode-se dizer que os estudan-
(68,31%). Quando, todavia, indagados so- tes de Pedagogia tendem a lidar com a
bre o fato de terem recebido informações temática dos maus-tratos de forma seme-
sobre o tema em âmbito acadêmico, 60% lhante aos profissionais da educação: em-
do total de participantes responderam bora já entrem em contato com situações
negativamente. Em torno de 40% dos es- relacionadas aos maus-tratos infantis,
tudantes indicaram terem tido aulas, 25% baseando suas suspeitas em indicadores
palestras, 13% disseram terem efetuado comportamentais e na própria expressão
leituras e 5% afirmaram que tiveram in- da criança, consideram que a ação mais
formações sobre maus-tratos infantis no apropriada fosse encaminhar o caso à di-
contexto de congressos científicos. É im- reção e deixar a seu critério a tomada de
portante revelar que 91% dos responden- decisão. Embora ainda estejam freqüen-
tes afirmaram que a temática devia ser tando o ambiente acadêmico, eles pare-
integrada à sua formação como um dos cem não estar tendo acesso ou integração
conteúdos desta formação. Com relação com a produção de conhecimento cientí-
à detecção de possíveis casos de maus- fico sobre o tema ou, tão pouco, assimi-
-tratos, 27% referiram ter contato com lando uma postura crítica quanto ao pa-
crianças de quem suspeitavam sofrerem pel da educação com relação à proteção
maus-tratos domésticos. Levando-se em infantil estando, como a maior parte da
conta somente o subgrupo que referiu população leiga, à guisa da influência de
exercer atividade remunerada (trabalho informações de senso comum. Frente a
na área da educação), a proporção foi su- esse quadro, parece fundamental uma re-
perior, 60%, sendo que em meio aos que visão do projeto político-pedagógico, de
estagiavam a proporção foi de 51%. De modo a fomentar ações consistentes, no
acordo com os participantes do estudo, sentido de implementar transformações
os indicadores considerados para levantar na mentalidade e na atitudes dos futuros
a suspeita de maus-tratos eram, na maior educadores/professores.
parte das vezes, comportamentais (74%),
seguidos pela expressão verbal da criança Palavras-chave: maus-tratos infantis,
(72%) e por evidências como marcas no desenvolvimento humano, educação
corpo da criança (44%). Quando indaga- Contato: Marina Rezende Bazon, FFCLRP-USP,
dos sobre como lidaram com a “suspei- mbazon@ffclrp.usp.br
ção”, 38% referiram encaminhar o caso
à direção, 26% disseram ter notificado o
caso ao Conselho Tutelar e 21% afirma-
ram ter decidido não se envolver com a
situação. Proporções semelhantes foram
encontradas quando se perguntou, a to-
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prova da violência sexual, também um forense, este estudo possui como objeti-
dano psíquico, identificado numa perícia vo analisar a sintomatologia encontrada
psíquica, poderia vir a se constituir em um em crianças e adolescentes, supostamen-
meio de prova do fato delituoso. Contudo, te vítimas de abuso sexual, submetidas à
este tipo de raciocínio, que parece ter sen- perícia psicológica por solicitação de auto-
tido quando se considera a série de preju- ridade jurídica. Para tanto, foram analisa-
ízos psíquicos associados à ocorrência do dos 162 laudos do Departamento Médico-
abuso sexual, é problemático do ponto de -Legal do Rio Grande do Sul, resultantes
vista da produção da prova pericial, po- de perícias psiquiátricas e psicológicas re-
dendo prejudicar ou mesmo deturpar os alizadas em supostas vítimas entre 7 a 17
resultados da avaliação. Em primeiro lu- anos (M=10,92; DP=2,61), sendo 20,4% de
gar, este raciocínio é problemático porque meninos e 79,6% de meninas, com 64,8%
enquanto algumas vítimas desenvolvem de abuso do tipo intrafamiliar e 26,5%, ex-
severos problemas emocionais ou psiqui- trafamiliar. Estes laudos foram decorrentes
átricos, outras apresentam conseqüências de avaliações solicitadas por delegados
mínimas ou nenhuma conseqüência apa- de polícia, promotores de Justiça e juízes
rente. Se pode acontecer de uma criança de todo o Estado do Rio Grande do Sul. O
ou adolescente ser vítima de abuso sexual projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
e não apresentar nenhuma consequência em Pesquisa do Instituto de Psicologia da
aparente, então, uma avaliação que possui Universidade Federal do Rio Grande do Sul
como foco principal a identificação de sin- e pelo Conselho Técnico-Científico do De-
tomas, certamente, não será capaz de ava- partamento Médico-Legal. Os dados foram
liar consistentemente a situação em foco. digitados em planilha eletrônica para aná-
Além disso, a concepção de que a presen- lises estatísticas descritivas e inferenciais.
ça de um sintoma pode se constituir num Verificou-se que, nos laudos em que foi
meio de prova do crime é falha no contex- possível afirmar a probabilidade de ocor-
to pericial, em segundo lugar, porque não rência do abuso (n=119), prevaleceram as
há um único quadro sintomatológico que seguintes alterações emocionais e com-
caracterize a maioria das vítimas abusa- portamentais: medo ou pânico (47,3%),
das sexualmente, sendo extremamente ansiedade (38,7%), sintomas depressivos
variada a gama de possibilidades de al- (46,2%), prejuízo no desempenho escolar
terações emocionais e comportamentais (28,6%), alterações do sono (21%) e iso-
apresentada. Por fim, não se pode concluir lamento social (20,2%). Também foram
a ocorrência do abuso sexual a partir da observadas reações patológicas relacio-
identificação de sintomas na realização de nadas ao estresse, em 18,5% dos casos.
uma perícia, uma vez que estes, quando Não foram encontradas diferenças signifi-
presentes, não são específicos, isto é, po- cativas entre os sexos e por tipo de abu-
dem ser decorrentes, também, de outra so. Conclui-se que, embora não exista um
situação que não a sexualmente abusiva. quadro único sintomatológico em vítimas
Considerando as peculiaridades da iden- de abuso sexual, alguns sintomas apresen-
tificação das consequências do abuso se- tam maior prevalência e, por isso, devem
xual para o desenvolvimento da criança e ser observados na avaliação destes casos.
do adolescente, em relação ao contexto No entanto, é importante considerar que
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
a avaliação deve incluir outros aspectos, por parte da vítima (Berger, 2007). Alguns
além do levantamento dos sintomas, prin- autores (Olweus, 1993; Smith & Brain,
cipalmente, no que se referem às caracte- 2000) consideram o bullying como sendo
rísticas contextuais e do relato da suposta um poderoso processo de controle social
vítima sobre o evento abusivo. e entendem o agressor como um indiví-
duo que procura poder e liderança dentro
Palavras-chave: sintomatologia, violência do grupo de iguais. O agressor tem sido
sexual, perícia psicológica apontado como aquele aluno que, apesar
Contato: Lara Gava, UFRGS e DML/RS, de popular e bem aceito pelos colegas, se
laralagesgava@gmail.com envolve em comportamentos antissociais
(Lopes, 2005); sente prazer e satisfação
em dominar, controlar e causar dano aos
LT06-1394 - PERFIL DOS AGRESSORES DE outros e, geralmente, é mais forte que a
BULLYING vítima e apresenta uma tendência maior
Cláudia de Moraes Bandeira - UFRGS para comportamentos de risco, como
consumir tabaco, álcool ou outras drogas
kkbandeira@hotmail.com
e porte de armas; vê sua agressividade
Claudia Giacomoni - UFRGS
como qualidade, tem opiniões positivas
giacomon@uol.com.br
sobre si mesmo e possui boa autoestima.
Cláudio Simon Hutz - UFRGS
Autoestima é uma avaliação que o indiví-
claudio_hutz@terra.com.br
duo efetua e, comumente, mantém, em
Financiamento: CAPES relação a si mesmo (Rosenberg, 1989).
Algumas crianças se posicionam tanto
Bullying é uma subcategoria do compor- como vítimas quanto como agressores,
tamento agressivo, que ocorre entre os sendo denominados de vítima/agressor.
pares (Olweus, 1993) e, comumente, é um Conforme Lopes (2005), estas crianças
problema enfrentado por crianças e ado- apresentam uma combinação de baixa au-
lescentes, nas escolas ao redor do mun- toestima, atitudes agressivas e provoca-
do. Caracteriza-se por ser uma crueldade tivas e prováveis alterações psicológicas,
sistemática, voltada diretamente para al- merecendo atenção especial. Podem ser
guém, por parte de uma ou mais pessoas, depressivos, ansiosos, inseguros e inopor-
com a intenção de obter poder sobre o ou- tunos, procurando humilhar os colegas
tro ao lhe infligir, regularmente, sofrimen- para encobrir suas limitações. Juntamen-
to psicológico ou físico. O bullying pode te com o grupo de agressores, as vítimas/
ser definido como uma agressão persis- agressores estão mais suscetíveis ao uso
tente e prolongada de um aluno ou mais, excessivo de cigarros, álcool e outras subs-
denominado(s) agressor(es), sobre outro tâncias. Este grupo apresenta risco mais
que se apresenta mais fraco e vulnerável, elevado para apresentar severas ideações
denominado vítima (Bandeira, 2009). O suicidas, além de vários tipos de compor-
agressor é aquela criança que age de for- tamento de risco, anti-social e de violên-
ma agressiva contra outra, supostamente cia, quando comparadas a crianças que
mais fraca, com o intuito de machucar, não estão envolvidas em bullying (Liang,
prejudicar, sem ter havido provocação Flisher & Lombard, 2007). Em se tratando
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cionados com problemas que são comuns uma maneira de produzir conhecimento e
às famílias participantes, tais como: rela- viabilizar as mudanças necessárias. Além
cionamento pais/filhos, relacionamento disso, uma estratégia de intervenção pos-
conjugal, ciclo de vida familiar, o cuidado sível dentro da perspectiva da pesquisa-
e a proteção da criança e do adolescente, -ação é a visita domiciliar. A violência
formas de educação dos filhos, construção é um fenômeno interacional (Brandão,
da história da família, padrões transgera- 2001), que apresenta implicitamente a
cionais de comportamento violento, co- noção de controle, numa demonstração
municação e expressão de afetividade, au- de poder na relação estabelecida (Guerra,
toestima, perspectiva de futuro da família. 1985; Faleiros & Faleiros, 2007), por meio
do uso da força, objetivando excluir, abu-
Palavras-chave: família, violência, violência sar e aniquilar (Minayo, 2002). A violência
intrafamiliar. contra crianças e adolescentes implica
Contato: Maria Alexina Ribeiro uma transgressão no poder/dever de pro-
alexina@solar.com.br teção do adulto e da sociedade em geral
e numa coisificação da infância. Ou seja, a
negação do direito que crianças e adoles-
LT05-1401 - PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA centes têm de serem tratados como sujei-
FÍSICA INTRAFAMILIAR CONTRA tos e pessoas em condições especiais de
CRIANÇAS: A VISITA DOMICILIAR NA crescimento e desenvolvimento (Minayo,
PESQUISA-AÇÃO 2002). As alternativas encontradas para
Alciane Barbosa Macedo Pereira - UEG/UnB tal fenômeno estão relacionadas à ade-
barbosaalciane@gmail.com quação do poder sob a criança e o adoles-
Maria Inês Gandolfo Conceição - UnB cente para a proteção dos mesmos e não
inesgandolfo@gmail.com a reprodução da coisificação da infância a
Financiamento: CAPES partir de um olhar adultocêntrico. Outro
ponto importante é diferenciar a autori-
A prevenção da violência contra crianças dade da violência. E, além disso, partir do
se torna necessária tendo em vista que princípio de que crianças e adolescentes
atos violentos são praticados contra aque- são sujeitos de direito e por isso, portado-
les que deveriam ser protegidos em seu res de cidadania. O estudo é um recorte
desenvolvimento, com base na exigência da dissertação de mestrado denominada
legal da proteção integral preconizada de “Desligamento entre participantes e
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pesquisadores de uma pesquisa-ação so-
de 1990. Essa prevenção pode dar-se de bre violência física intrafamiliar” e objeti-
diferentes maneiras e nos mais diferentes vou discutir a utilização da visita domici-
espaços. Na família, onde ocorre a prática liar como estratégia metodológica e prá-
da violência contra crianças, particular- tica educativa na pesquisa em questão. O
mente a de cunho físico, justificada pela trabalho realizado se deu a partir da análi-
necessidade de “educar”, intervenções se das informações construídas, gravadas
a fim de promover saúde e prevenir vio- e transcritas em uma pesquisa-ação sobre
lência se tornam extremamente neces- prevenção da violência física intrafamiliar,
sárias. Nesse contexto, a pesquisa-ação é desenvolvida junto a famílias de crian-
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do, nas relações interpessoais, corpos in- o olhar do outro e se apropria desta experi-
teragem afetando o outro e se afetando. ência com o outro. Por esse prisma do sig-
Vigarello (1978, p.09) afirma que o corpo no, do significado, da significação, do corpo
“[...] é o emblema onde a cultura escreve marcado pelo olhar do outro, da recíproca
seus signos tanto como um brasão”. Detrez constituição entre subjetivo/coletivo, nos
(2002) assume que o corpo é o lugar de indagamos sobre imagens e conceitos que
todos os paradoxos. Marzano (2007), por vão sendo veiculados sobre ser um corpo/
meio dos diversos olhares, nos aponta que sujeito: Como são lidas/interpretadas algu-
o corpo é a evidência da existência huma- mas marcas no corpo – da cabeça aos pés?
na. O corpo é polissêmico, é uma realidade O que se torna significativo nas relações
histórica, mutável e multifacetada. Bakhtin entre colegas? Do lugar que Luciana ocu-
(2003, 1993) ainda nos instiga a pensar em pa nas relações, o que – imagens, afetos,
como o olhar do outro, possível nas rela- conhecimentos - se mostra por ela incor-
ções sociais vivenciadas, nos afeta. Neste porado?
ato est(ético) de acabamento do lugar de
onde o outro não pode se ver, é produzido Palavras-chave: constituição do corpo/sujeito,
um conhecimento sobre o sujeito observa- estética, ética
do. Vigotski (2001, 2009) também nos traz Contato: Flavia Faissal de Souza, Faculdade de
elementos para pensarmos a atividade/ Educação/UNICAMP, ffaissal@unicamp.br
experiência estética. Ao levantar questões
sobre as possibilidades de conhecer este-
ticamente uma obra de arte, o autor nos LT07-1359 - ABORDAGEM HISTÓRICO-
coloca frente a questões da constituição do CULTURAL E O PROCESSO EDUCACIONAL
psiquismo humano: a atividade construtiva DE ESTUDANTES COM NECESSIDADES
complexa, na qual o contemplador constrói ESPECIAIS
e cria o objeto estético. Para se entender Ricardo Alain Leyva-Nápoles - UnB
o que está representado, requer-se reunir confie.fisio@gmail.com
e sintetizar os elementos dispersos da sua Sílvia Ester Orrú - UnB
totalidade; os sentimentos não estão conti- seorru@hotmail.com
dos na obra em si, mas em como quem per-
cebe é afetado pela obra. O ato de produzir A abordagem histórico-cultural como refe-
um conhecimento sobre o outro o qual eu rencial teórico para o trabalho junto a es-
contemplo é um ato intermitente de cria- tudantes com necessidades especiais nos
ção e recriação do outro. Ato no qual este incita a compreender que o processo de
conhecimento se torna matéria/condição ensino e aprendizagem deve contemplar
de vida, se torna uma experiência vivida. uma criteriosa relação entre mediação pe-
As múltiplas experiências vivenciadas pelo dagógica, cotidiano e formação de concei-
corpo/sujeito nas relações com os outros tos, possibilitando o encontro/confronto
vão constituindo o seu desenvolvimento. A das experiências diárias no contexto em
experiência vivida vai sendo significada e o que ocorrem para a formação de concei-
que se torna incorporado pelo sujeito não tos numa internalização consciente do que
é simplesmente o “como o outro me vê”, é vivenciado e concebido. O educador no
mas sim o “como o corpo/sujeito” significa processo de mediação deve explorar sua
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para que essa inclusão não seja precária, Ao contrário, deve frisar a flexibilidade e a
marginal e pouco visível (Amaral, 1995). mediação da aprendizagem, valorizando o
Não basta o estudante ser aceito na escola; que realmente foi aprendido e construin-
isto não significa que ele está incluído. Ele do novas formas de aprender. Entende-
precisa ter acesso a condições adequadas mos que ela deve respeitar as diferenças
oferecidas pela escola para ali permanecer tendo como meta um ensino de qualidade
e, de fato, se desenvolver, buscando-se o para todos.
seu êxito e respeitando-se seus limites. Ele
tem potencial e habilidades, mas também Palavras-chave: abordagem histórico-cultural,
tem especificidades a serem atendidas. É necessidades educacionais especiais, ensino e
esperado que a escola tenha uma proposta aprendizagem
educacional genuinamente inclusiva nesse Contato: Ricardo Alain Leyva Nápoles, UnB,
mesmo contexto. Os processos de ensino e confie.fisio@gmail.com
de aprendizagem precisam estar centrados
no estudante. As avaliações necessitam ser
adaptadas e compreendidas dentro de seu LT01-1436 - CONSCIÊNCIA REFLEXIVA E
contexto, de potencial de cada estudante, AUTORREGULAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE
mas também de seus limites. Uma avalia- CRIANÇAS COM BAIXO RENDIMENTO
ção que atente àquilo que o estudante re- ESCOLAR
almente aprendeu e que retome as demais Mônica Dorrenbach Luna - Faculdade Dom
questões de uma forma e em uma lingua- Bosco/PR
gem que ele possa rever e aprender. Perce- monicaluna@uol.com.br
bemos que a interação social, nas escolas,
tende a ser maior na hora dos intervalos; O seguinte estudo teve como objetivo
nos momentos destinados às atividades es- diagnosticar as condições da atividade
colares, junto aos demais, ela praticamente reflexiva e da regulação de conduta em
não ocorre, pois o estudante com necessi- crianças com baixo rendimento escolar e
dades especiais, em muitos momentos, se compará-las com as condições de crianças
encontra à parte, certas vezes sozinho, sem com alto rendimento escolar. Os processos
ter real atenção do educador no tocante às psicológicos centrais nessa investigação fo-
suas singularidades referentes ao aprendi- ram consciência reflexiva e autoregulação,
zado de conhecimentos escolares.É preci- formulados pela Psicologia Escola Soviéti-
so que a escola desenvolva uma postura de ca (Vigotsky, Leontiev, Luria) e de seus in-
valorização à diversidade. A escola é para térpretes (Díaz et al., 1993). A consciência
todos não porque somos todos iguais, mas reflexiva foi considerada como a função
porque temos os mesmos direitos, mesmo psicológica que se ocupa da autopercep-
sendo diferentes, e temos experiências di- ção das diferentes atividades da mente,
versas de nossos lares, diversos costumes, permitindo sua classificação, seu isolamen-
valores, princípios e preferências pessoais. to e controle. É consolidada no processo de
Portanto, a escola não deve se ater apenas intelectualização (significação, abstração e
à educação do comportamento e à verifi- generalização) que se dá durante a forma-
cação de conhecimentos aprendidos a par- ção dos conceitos científicos, apresentados
tir de avaliações homogêneas e inflexíveis. pela escola. A intelectualização e a consci-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ência dos processos mentais, por sua vez, rendimento escolar. Observou-se que o
engendram um crescente domínio volun- processo de autorregulação, avaliado pelo
tário sobre o próprio psiquismo (Vigotsky, nível de regulação da fala e por subcatego-
1987). Outro processo enfocado foi o de rias ligadas à regulação da conduta, encon-
autorregulação. Trata-se do processo psico- trava-se igualmente heterogêneo em am-
lógico de regulação deliberada da conduta. bos os grupos, não se caracterizando como
Inclui planejamento, monitoração e avalia- um processo correlacionado ao rendimen-
ção dos resultados da conduta pelo próprio to escolar. De outro lado está a consciência
sujeito (Luria, 1987; Díaz et al., 1993). Tem reflexiva, avaliada em sua capacidade de
sua gênese nas interações sociais, sendo a ativação, em sua ação sobre o próprio in-
linguagem o instrumento que media a in- telecto e em sua ação sobre os conceitos
ternalização dos comandos da conduta vo- científicos. Apresentou, na dimensão de
luntária. Sua consolidação se dá com o uso ação sobre os conceitos científicos, uma
da percepção generalizante, gerada pela diferença intergrupal significativa para dis-
consciência reflexiva na elaboração con- cussão: o prejuízo da capacidade voluntária
ceitual. Para a investigação foram selecio- dos alunos com baixo rendimento escolar
nados doze alunos do ensino fundamental, de formular explicações genéricas acerca
regular, de uma escola municipal de Curiti- de conhecimentos científicos que circulam
ba. Seis alunos apresentavam baixo rendi- no cotidiano escolar. As condições da ativi-
mento escolar, entre os quais havia cinco dade reflexiva e da regulação da conduta
meninos e uma menina com, ao menos, avaliadas apontaram, antes de tudo, dife-
dois anos de atraso escolar. Dos seis alunos renças interindividuais que, provavelmen-
com alto rendimento escolar, quatro eram te, compõem as dinâmicas particulares de
meninas e dois eram meninos com notas cada criança. A combinação diversificada
iguais ou acima de 80,0 (oitenta) em todas de condutas nas várias categorias exami-
as matérias, durante o ano letivo em curso. nadas sugere estilos de funcionamento
Todos cursavam a terceira série, três com diferentes de cada sujeito com baixo ren-
oito anos e três com nove anos de idade. dimento escolar, os quais, supostamente,
Os procedimentos de coleta e registro de engendram os avanços, os retrocessos ou
dados foram aplicados em um encontro in- a estabilidade psicológicos. Apesar disso,
dividual de, em média, uma hora e meia: regularidades puderam ser observadas e
uma entrevista semiaberta com treze ques- encontraram, no quadro teórico deste es-
tões, um problema lógico para resolver es- tudo, ressonância para discussão. Apenas a
crevendo, um quebra-cabeça com palitos categoria atividade reflexiva sobre os con-
de fósforo (para reconfiguração espacial), ceitos científicos apresentou regularidade
uma tarefa que reproduzia uma prova pe- significativa em todos os sujeitos exami-
dagógica com oito questões envolvendo as nados com baixo rendimento. No entanto,
cinco disciplinas escolares. A suposição de as seguintes características, apesar de não
partida era de que as crianças com baixo terem sido identificadas em todos os estu-
rendimento escolar apresentariam dificul- dantes em foco, também marcaram pre-
dades de atividade reflexiva e de autore- sença no grupo de baixo rendimento, por
gulação em situações de aprendizagem, exclusividade ou por maior freqüência do
quando comparadas às crianças com alto que no outro grupo. Na ativação da cons-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
ciência reflexiva houve presença, em todas dos conceitos científicos e é a esta nature-
as crianças estudadas, de ativação da cons- za de construção intelectual que se refere
ciência reflexiva, quaisquer que sejam as a diferença entre grupos encontrada nesta
condições desta atividade. Significa dizer investigação. Uma vez prejudicada a for-
que todos os alunos de baixo rendimento mação de conceitos científicos, o processo
escolar foram capazes de mobilizar ativi- de intelectualização encontra-se também
dade mental para providenciar resposta às implicado, segundo trabalho de Vigotsky
perguntas autorreflexivas, mesmo que as (1987) já mencionado. Segue-se a limita-
respostas não fossem avançadas. Na ati- ção da atividade reflexiva e do movimento
vidade reflexiva sobre o próprio intelecto de autoregulação que qualificam o pensa-
houve freqüente restrição do conceito de mento e a personalidade.
atividade intelectual aos elementos da vida
escolar; freqüente ausência de consciência Palavras-chave: rendimento escolar –
da própria atividade mental; presença da autoregulação – atividade reflexiva
noção de intelecto invariável apesar da
concepção de aprendizagem controlável,
como se fossem aspectos distintos; presen- LT02-1475 - PSICODIAGNÓSTICO DE
ça da noção de controle da aprendizagem CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH E
por insistência, por repetição e freqüente SEUS RESPONSÁVEIS
atribuição de competência de avaliação da Petruska Oliveira Baptista - UFPA
aprendizagem a outrem, que não o próprio petruska@ufpa.br
sujeito. Na atividade reflexiva sobre con- Cindy Magrinelli
ceitos científicos observou-se dificuldade
de abstração para elaboração de conceitos As primeiras referências ao Transtorno de
em todos os sujeitos do grupo e na regu- Déficit de Atenção e Hiperatividade, citado
lação da conduta, freqüente dificuldade pela literatura médica como Transtornos
de antecipar verbalmente as ações a se- Hipercinéticos, surgiram em meados do sé-
rem encaminhadas em uma determinada culo XIX. Na década de 1940, surgiu a deno-
atividade. A diferença mais significativa minação lesão cerebral mínima, substituída
intergrupos, no processo de formação de em 1962 por disfunção cerebral mínima,
conceitos científicos, certamente não en- quando passaram a reconhecer que as alte-
cerra a idéia de que as crianças de baixo rações características da doença relaciona-
rendimento estejam desprovidas de pro- vam-se mais a disfunções em vias nervosas
cessos intelectuais, mas sim que estes se do que propriamente a lesões nas mesmas
encontram qualitativamente diferencia- (Rohde et. al, 2000). Embora com nomen-
dos dos de outras crianças. Ao chegarem claturas diferentes, os principais sistemas
à escola, as crianças apresentam conceitos classificatórios de doenças mentais atuais
de outra natureza (cotidianos – Vigotsky, – DSM-IV denomina a doença em questão
1987) e são capazes de promover ativida- de Transtorno de Déficit de Atenção e Hipe-
de reflexiva sobre este tipo de conceito e ratividade – TDAH, enquanto que o Sistema
sobre o próprio intelecto. A hierarquia e de Classificação Internacional de Doenças
a subordinação de classes de significados, (CID-10) a nomeia como Transtornos Hi-
entretanto, é uma característica particular percinéticos – eles convergem em grande
1071
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
parte no que diz respeito às diretrizes diag- tos extensivos também aos seus familiares,
nósticas para este transtorno (Rohde et. caso necessário. Participaram do estudo
al, 2000). Ainda segundo Rohde e colabo- crianças e adolescentes com diagnóstico
radores (2000), estudos nacionais e inter- confirmado de TDAH segundo os critérios
nacionais realizados majoritariamente com do DSM-IV, encaminhadas pelo serviço de
crianças em idade escolar, apontam uma neuropediatria do HUBFS, com ou sem
prevalência do TDAH entre 3 e 6%. Essas prescrição medicamentosa. Duas salas
crianças apresentam grande possibilidade destinadas ao atendimento psicológico. Fo-
de apresentar co-morbidades, cujo curso ram utilizados como instrumentos roteiro
chega a estender-se à adolescência e, por de entrevista de anamnese psicológica; o
vezes, à vida adulta (Rohde et. al, 2000; Achenbach Child Behavior Checklist (CBCL)
Pinna et. al, 2007). Ora, se as dificuldades e o Teacher’s Report From Ages 6-18 (TRF);
escolares constituem a principal queixa Escala de Maturidade Mental (Columbia) e
apontada pelos pais e portadores de TDAH o Teste das Matrizes Progressivas de Raven.
(Pastura et. al, 2005), fazendo com que es- A maior parte dos pacientes apresentou
tes procurem atendimento especializado, a um quadro clínico limítrofe para o diagnós-
importância de se fornecer um bom psico- tico de TDAH, não satisfazendo, portanto,
diagnóstico é de que possamos oferecer a os critérios para este diagnóstico, embora
esta demanda a possibilidade de conhecer alguns tenham apresentado muitos dos
melhor o problema e tratá-lo adequada- sintomas que caracterizam o transtorno
mente, buscando auxiliar o paciente, a fa- em questão. Desta forma, vale salientar o
mília e a escola. O aspecto da desinforma- que dizem Cypel (2000 citado em Brogio &
ção da população sobre o assunto, fazendo Corredato, 2003) e Rohde et. al (2000), no
com que acreditem, por vezes – e errone- que diz respeito ao cuidado que se deve ter
amente –, que os pacientes não consegui- ao diagnosticar uma criança como porta-
rão ter uma vida normal, pode também dora de TDAH, pois a desatenção, a hipe-
traduzir a importância do diagnóstico. Há ratividade ou impulsividade como sinto-
um desconhecimento acerca do TDAH na mas isolados podem indicar a presença de
própria esfera da saúde, assim, diagnosti- tantos outros problemas no ambiente ao
cando, ampliaremos o conhecimento da qual a criança está circunscrita. Observou-
doença aos demais profissionais da equipe -se que os pacientes apresentavam muitos
(Ballone, 2002). Respaldados, os profissio- sintomas, mas não preenchiam os critérios
nais da saúde poderão expandir seus co- diagnósticos para o TDAH em si. Logo estes
nhecimentos em direção ao atendimento pacientes e familiares foram encaminhados
especializado e às demandas da comuni- para redes de serviço, com objetivo de dar
dade, proporcionando a troca de saberes, continuidade ao psicodiagnóstico, ofere-
atendendo, desta maneira, os objetivos da cendo os encaminhamentos necessários
extensão que se dá na medida em que es- para a melhor assistência ao alcance desta
tendemos o conhecimento produzido na população.
academia à população. O objetivo deste es-
tudo foi realizar psicodiagnóstico de crian- Palavras-chave: Transtorno de Déficit
ças com diagnóstico de TDAH, encaminha- de Atenção e Hiperatividade (TDAH);
das pelo Caminhar, sendo estes atendimen- Psicodiagnóstico; Psicopediatria.
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
não apenas as queixas) com códigos que in- não as tornam, necessariamente, vulne-
dicam suas ‘doenças’ ou classificá-las como ráveis, mas, que sugerem a oportunidade
portadoras de problemas de aprendizagem de articulação dos elementos de prote-
que, por sua vez, atestam sua incapacida- ção, os quais, felizmente, muitas vezes são
de para aprender e, portanto, para serem ofertados pelos profissionais de educação
dignas da escola. O peso desta realidade especial e pelos próprios psicólogos. Estes
surpreende ao indicar que a Psicologia não profissionais, que se envolvem mais com as
se desvencilhou, completamente, das tris- crianças do que as queixas devem, por con-
tes características que a introduziram no seqüência, assumir a tarefa de lutar para
universo escolar como uma disciplina nor- que este seja um horizonte para a escola e
matizadora e remediativa. No contexto do para todos aqueles que a constroem.
surgimento da figura do psicólogo escolar,
ele foi convocado à escola para resolver os Palavras-chave: psicologia escolar, educação
problemas que emergissem neste cená- especial, situação-limite
rio, a fim de ajustar as crianças que, por- Contato: Ana Paula Gomes Moreira, PUC-
ventura, não se adequassem aos padrões Campinas, aana.moreira@yahoo.com.br
de aprendizagem definidos pelo sistema.
Assim, a sociedade estaria isenta de suas
responsabilidades educativas enquanto a LT06-1009 - A INCLUSÃO DA PESSOA COM
Psicologia se constituiria como ciência que NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
referendava, por meio de seus recursos, os NO ENSINO PROFISSIONAL
traços da perspectiva liberal e positivista. A Alice Maria de Oliveira Souza - CEPA
reprodução desta configuração nos dias de alice.souza@cepeduc.com
hoje, todavia, se adéqua aos novos dispo- Ana Claudia Rodrigues Fernandes - UNB
sitivos, legais e práticos, como é o caso das anacrf@ibest.com.br
políticas de educação especial. Os desafios
da prática têm nos mostrado as facetas de Este trabalho surgiu das reflexões que fo-
um processo de inclusão que serve à exclu- ram realizadas durante o trabalho de uma
são, ao agregar as crianças que incomodam das autoras, enquanto coordenadora peda-
sob o rótulo de portadoras de necessida- gógica em uma instituição de ensino profis-
des especiais. Não estamos promovendo a sional, com pouquíssimos atendimentos a
desconsideração de possíveis dificuldades alunos com deficiência. Tem como objetivo
e limitações; ao contrário, estamos en- identificar as dificuldades encontradas no
fatizando que toda e qualquer educação processo de inclusão de alunos com ne-
deva ser especial, no sentido de garantir o cessidades educacionais especiais, possi-
desenvolvimento saudável de toda e qual- bilitando reflexão e socialização de idéias
quer criança. Assim, por outro lado, a cons- inclusivas com outros profissionais. Com a
tatação de que as crianças que inquietam, evolução da Humanidade, as pessoas com
desconsertam e incomodam são excluídas necessidades especiais foram deixando de
sob a proteção do termo especial, revela ser excluídas para fazerem parte da socie-
a possibilidade de ação. Do ponto de vista dade, mas, ainda encontram muitos empe-
psicológico, evidencia-se que estas crianças cilhos para verem seus direitos garantidos
estejam vivenciando situações-limite e que no seu dia a dia; a tendência inclusiva está
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
contida nos documentos oficiais, mas, na cia em educação na rede regular de ensino,
prática, não é o que acontece no interior buscaram se informar sobre a inclusão por
das escolas. Desde 1991, a Lei 8213 vem conta própria, já que a instituição não tem
garantindo uma participação mais efetiva promovido discussões acerca deste proces-
no mercado de trabalho, pois, garante ao so. Dos profissionais entrevistados, 13 ou
portador de necessidades especiais uma 65% deles, relataram acreditar que para
cota de vagas em empresas, variando de que o aluno com necessidades especiais
2% a 5% do quadro de funcionários, de- tenha acesso e permaneça na instituição
pendendo do total de empregados que a de ensino profissional, precisa que os pro-
mesma possuir. Entretanto, ainda existem fissionais sejam capacitados, sendo que 18
alguns obstáculos para que essa lei seja deles ou 80% não tiveram acesso à forma-
cumprida, que são as barreiras físicas e psi- ção docente voltada para o atendimento a
cológicas. A primeira diz respeito à falta de alunos com necessidades especiais. Com
rampas, corredores e portas com mais de relação ao conhecimento de instituição de
80 centímetros, banheiros próprios, dentre educação profissional que trabalhe com
outras. As barreiras psicológicas são ainda inclusão, 11 ou 55% dos entrevistados dis-
mais difíceis de serem ultrapassadas, pois, seram não conhecer nenhuma instituição
durante muito tempo, os portadores de ne- que atendesse a este público, enquanto os
cessidades especiais foram tratados como outros 09 ou 45% já tinham ouvido falar
incapazes, sendo-lhes negado o direito ao de instituição de ensino profissional que
desenvolvimento de suas potencialidades. trabalhasse com Inclusão da pessoa com
Para a realização deste trabalho, foi esco- Necessidades Especiais no Ensino Profis-
lhida a abordagem qualitativa de pesquisa, sional. Dos 20 entrevistados, 18 ou 90%
buscando uma compreensão da Inclusão não tiveram acesso a cursos de formação
da Pessoa com Necessidades Educacionais docente para atendimento a alunos com
Especiais no Ensino Profissional, além de Necessidades Especiais voltados para Edu-
buscar compreender como os profissionais cação Profissional e, apenas 02 ou 10%
que atuam em um instituto de educação dos entrevistados, já tinham tido acesso a
profissional de Anápolis/GO vêm lidan- esse tipo de formação. Sobre a questão da
do com a possibilidade de atender a esse oferta de apoio pedagógico especializado,
alunado. O instrumento utilizado para a por parte da instituição, para atendimento
coleta de dados foi a entrevista semi–es- aos casos de pessoas com necessidades
truturada, constando de 09 questões ob- especiais, 75% dos entrevistados (15) res-
jetivas e 04 subjetivas, que foi aplicada a ponderam que sim, enquanto 05, ou seja,
20 profissionais, entre eles professores e 25% responderam que não, que a institui-
funcionários técnico-administrativos. Na ção não oferecia apoio pedagógico. Com
entrevista, era solicitado ao participante relação à legislação que versa sobre a inclu-
demonstrar sua opinião sobre a inclusão são da pessoa com necessidades especiais
do aluno com Necessidades Educacionais na educação Profissional e no mercado de
Especiais no Ensino Profissional e Mercado trabalho, 85% disseram conhecê-la e 15%
de Trabalho Formal. Percebemos, durante afirmaram não conhecer tal legislação. A
as entrevistas, que embora a maioria dos maior parte dos entrevistados demons-
profissionais possuísse bastante experiên- trou ter conhecimento acerca da inclusão,
1075
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
respondendo ser esta “o direito do ser hu- e no mercado de trabalho, vemos grande
mano de aprender junto com todos sem divergência nas respostas, já que enquanto
discriminação”; outros responderam ser temos 01 entrevistado que acredita ser a
de suma importância para a participação escola especial ainda a mais adequada para
social das pessoas com necessidades es- promover a profissionalização do aluno
peciais. Somente 01 dos entrevistados res- com necessidade especial, enquanto outro
pondeu ser totalmente contra a inclusão: acredita que as escolas profissionais não fa-
“sou totalmente contra, pois o professor zem a verdadeira inclusão, fazendo “arran-
não está preparado para tal, nem o aluno jos” quando recebem alunos com necessi-
acompanha os demais colegas”. Outra en- dades especiais. Se quisermos, realmente,
trevistada relatou acreditar que da forma fazer a inclusão verdadeira, precisamos nos
como vem acontecendo nas escolas regu- preparar para recebermos os alunos com
lares, a inclusão não está sendo efetiva. necessidades especiais e capacitá-los para
Quando perguntados acerca do currículo, serem inseridos no mercado de trabalho,
13 dos entrevistados ou 65% respondeu em igual condição com os demais alunos.
que deve ser flexibilizado de forma a aten- Com este estudo concluímos que o insti-
der a todas as diferenças; 04 pessoas ou tuto de educação profissional em questão
20% responderam que deve ser diferente não se encontra preparado para realizar o
e outros 02 ou 10% responderam que deve atendimento a alunos com necessidades
ser diferente do que é oferecido aos de- especiais precisando, ainda, de uma dis-
mais alunos, além de flexibilizado; apenas cussão mais aprofundada sobre o assunto,
01 participante respondeu que “não deve capacitação dos profissionais envolvidos,
ser flexibilizado, pois, o aluno com neces- além de uma política voltada para a forma-
sidades especiais tem as mesmas habilida- ção integral da pessoa.
des racionais”. A maioria dos entrevistados
acredita ser importante para a pessoa com Palavras-chave: inclusão, educação
necessidades especiais ser incluída, tanto profissional, mercado de trabalho
no ensino profissional como no mercado de Contato: Alice Maria de Oliveira Souza, CEPA,
trabalho, para que se sinta útil e integrada alice.souza@cepeduc.com
à sociedade; 01 participante relatou acredi-
tar “que falta interesse dos profissionais da
educação para ofertar essa modalidade de LT06-1470 - LEIS PARA PESSOAS COM
educação e, também no mercado de tra- (D)EFICIÊNCIA: UMA PROTEÇÃO
balho em promover essa inclusão”; outro, NECESSÁRIA?
que acreditava que “é uma realidade ainda Sara Marques Bringel - Universidade de
distante, pois as pessoas com deficiência Salamanca/Espanha
adentram, as empresas na maioria das ve- sara.marques.10@hotmail.com
zes sem um curso profissionalizante”. Como
podemos perceber, em toda a pesquisa, fi- Este ensaio reflete sobre a realidade das
cou evidenciado que a instituição não está pessoas com (d)eficiência, pois, embora
promovendo discussões acerca da inclusão tenha aumentado a quantidade de leis
para os profissionais que ali atuam. Com direcionadas a esse coletivo, nosso país
relação à inclusão no ensino profissional continua, consideravelmente, ainda mui-
1076
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
to longe de tornar-se inclusivo. Ao longo começa nos EUA como a primeira lei eugê-
do século XX, especialmente nos últimos nica de “esterilização dos deficientes men-
sessenta anos, foram firmados e ratifica- tais” (termo utilizado até os dias atuais e,
dos mais de dez tratados internacionais geralmente, confundido com o que deveria
oriundos, essencialmente, do pós-guerra ser utilizado, que é “deficiência intelectual)
europeu, quando foram assassinadas mi- passa a ser concebido, na Alemanha, como
lhões de pessoas, entre judeus, negros e uma lei de esterilização para qualquer pes-
deficientes. Nesse contexto, o papel da Psi- soa com deficiência. Mas, o que é deficiên-
cologia, enquanto uma ciência que ainda cia? A palavra deficiência está longe de ser
se estabelecia, foi o de legitimar o proces- o termo ideal para tratar esse coletivo; o
so de exclusão social. Assim, autores con- “d” entre parêntesis reflete um jogo de lin-
sagrados, tais como Galton e McDougall, guagem e uma posição ideológica de per-
chegaram a publicar obras em que defen- ceber as pessoas como competentes (em
diam, abertamente, a eugenia. A eugenia oposição às características negativas que,
era necessária, pois, favorecia a criação de historicamente, foram construídas e asso-
uma sociedade em que predominassem os ciadas a esse coletivo, tais como: inválidos,
indivíduos mais fortes. Para Galton, a euge- incompetentes, incompletos, imperfeitos,
nia deveria ser considerada como uma te- defeituosos...). Pode ser entendida como
oria científica; já McDougall afirmava que “perda ou anormalidade de uma estrutura
a Psicologia deveria proporcionar os instru- ou função psicológica, fisiológica ou ana-
mentos necessários para o desenvolvimen- tômica do individuo que restrinja limite ou
to da eugenia. Assim, o estabelecimento impossibilite a capacidade do individuo de
da eugenia, enquanto ciência, contempla- realizar uma atividade considerada como
va diversas ações por parte do governo. normal. Essa deficiência pode, em alguns
Criaram-se, nos Estados Unidos da Améri- casos, atuar como desvantagem social, li-
ca (EUA), comitês em prol do “movimen- mitando ou impedindo que esse indivíduo
to eugenista”, tais como o comitê sobre a desenvolva um rol social. Essa desvanta-
hereditariedade da deficiência intelectual gem social será maior ou menor em fun-
e da surdo-mudez, e o comitê de esteriliza- ção dos fatores ambientais e do contexto
ção de pessoas com deficiência. Em 1907 em que essa pessoa está inserida” (OMS,
chegou-se a aprovar, no estado da Indiana- 1980). Se a desvantagem é social, é através
-EUA, uma lei que permitia a esterilização da adaptação do meio que conseguiremos
de pessoas com deficiência intelectual, minimizar os defeitos decorrentes da defi-
sem qualquer tipo de consulta prévia ao ciência de cunho biológico. Assim, podere-
que corresponderia ao desejo real dessas mos inserir esse coletivo ao adotarmos – e
pessoas. Essa lei foi aprovada, posterior- concretizarmos – medidas políticas especí-
mente, na Suécia em 1922, na Noruega em ficas. Entre elas, podemos destacar o que
1923, na Suíça em 1928 e na Dinamarca foi explicitado pela Constituição de 1988,
em 1929. Ironicamente, mesmo com a as- que reconhece a pessoa com deficiência
censão do nazismo, essa lei só foi aprova- como um ser em condição de igualdade
da na Alemanha em 1933 (Ovejero, 2003). de direitos (Honora, 2008). Essa igualdade
Logicamente, essas leis eram alteradas em também vai se refletir no mercado de tra-
função do país de aprovação. Assim, o que balho por meio de leis, tais como a Lei Fe-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1078
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
que é desenvolvida a partir da interação so- oito mães e crianças de três anos, partici-
cial e, por sua vez, se torna um instrumento pantes do projeto que acompanha díades
poderoso de interação e de inserção social, atendidas pelo sistema público de saúde,
podendo, portanto, ser entendida como no distrito do Butantã, São Paulo, a partir
produto e instrumento das trocas sociais. da gestação. Das participantes, 14 apresen-
O diálogo é a expressão viva desse jogo de taram indicativos de DPP, avaliada pela Es-
papéis, delimita e organiza o processo de cala de Depressão Pós-parto de Edinburgh,
enunciação. A palavra é sempre dialógica, (Cox, Holden & Sagovsky, 1987); validada
evoca significações que a antecedem, ao por Santos, Martins e Pasquali, 1999). Foi
mesmo tempo em que desencadeia rea- realizada uma avaliação do aspecto prag-
ções subsequentes. Desta forma, a ativida- mático do desenvolvimento de linguagem
de discursiva em um processo de interação das crianças (Fernandes, 2000), em filma-
é a condição de subjetivação e essência da gens de quinze minutos de brincadeira livre
vida social humana (Colaço, 2004). Neste com a mãe, em função de informações co-
contexto da ontogênese da linguagem, a lhidas desde o nascimento. O resultado do
interação com as figuras de apego, em es- teste foi avaliado em função do esperado
pecial com a mãe, também ocupa posição para a idade, quanto ao número de atos
central, pois o diálogo mãe-filho tem se comunicativos por minuto de interação.
revelado elemento fundamental deste pro- De acordo com a autora do teste, crianças
cesso. A mãe é considerada coautora no na faixa de 3 anos devem apresentar en-
desenvolvimento comunicativo-linguístico tre 6 e 8 atos comunicativos por minuto.
do filho, uma vez que a criança vivencia, a No teste de pragmática, mais da metade
partir do discurso da mãe, as mais variadas das 28 crianças, (64,3%) apresentaram de-
construções gramaticais, enriquecendo seu sempenho abaixo do esperado, enquanto
repertório verbal. O entrosamento linguís- que 10 (35,7%) apresentaram resultado
tico favorece o desempenho desejado em esperado para a idade. Na presença de
níveis de emissão e apreensão semântica. DPP, constatou-se que a maior parte das
Esta interação diádica mãe-criança pode crianças (71,4%) estavam abaixo do espe-
ser prejudicada quando a mãe apresenta rado para a idade, e apenas quatro (28,6%)
DPP, associada à tristeza intensa e a outros obtiveram desempenho esperado. Na au-
incapacitantes (Schwengberger & Piccinini, sência de DPP, 57,1% estiveram abaixo do
2003). A falta de habilidade da mãe depri- esperado, enquanto que menos da metade
mida em lidar com os próprios problemas (42,9%) esteve dentro do esperado. Apesar
e a falta de persistência necessária para do desempenho abaixo do esperado apre-
estabelecer uma interação sensível com sentar-se para o grupo como um todo, de
a criança são fatores que comprometem um modo geral as crianças do grupo sem
a disponibilidade desta para o filho, com DPP mostraram melhores resultados (60%)
potenciais conseqüências para o seu de- do que as demais e o número de crian-
senvolvimento cognitivo e afetivo (Frizzo ças abaixo do esperado para a idade foi
& Piccinini, 2005). Objetivo: Analisar a in- maior nas mães depressivas (55,6% versus
fluência da depressão pós-parto no desen- 44,4%). O teste do qui-quadrado não mos-
volvimento da linguagem de crianças de 36 trou diferença significativa. Apesar de não
meses. Método: Foram analisadas vinte e ter sido constatada diferença significativa
1079
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1080
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
cimento que são acompanhadas pelo Am- observado em função da idade dos sujeitos
bulatório de Alto Risco de um Hospital no da pesquisa. Na fonologia, foi observado se
interior do Estado de São Paulo. Realizou- os sujeitos apresentaram trocas fonêmicas
-se, primeiramente, uma anamnese com durante os testes de nomeação e repeti-
a mãe a fim de conhecer a constelação ção e se estas estão dentro do esperado
familiar, o histórico materno, histórico da para o desenvolvimento da criança. Para
criança e a interação diádica desde o nas- avaliação do discurso oral, foram transcri-
cimento. Posteriormente, aplicou-se uma tas as histórias realizadas pelas crianças e
avaliação da linguagem oral das crianças, posteriormente analisadas de acordo com
utilizando um teste fonoaudiológico cha- o estudo de Spinillo e Martins (1997) que
mado ABFW, verificando os aspectos de observaram os elementos do discurso, per-
vocabulário, fonologia, pragmática, fluên- sonagens, manutenção do tópico, trama/
cia e uma sequência lógica e de ação para evento principal e desfecho. Observou-se
avaliar o desenvolvimento discursivo. Para que a maioria das crianças nasceu abai-
o teste de pragmática e fluência, foram re- xo de 1.500g. (65%) e quase metade com
alizadas filmagens de 15 minutos de brin- idade gestacional (IG) de 27 a 30 semanas
cadeira livre entre a avaliadora e a criança (55%), caracterizando recém-nascidos pre-
com brinquedos diversos (casinha, bola, maturos extremos e de muito baixo peso
brinquedos de encaixe, bonecos). O teste ao nascimento. A maioria das mães (85%)
de vocabulário foi verificado através da no- informou ter recebido orientações durante
meação de figuras de diferentes campos o período de internação de médicos (40%),
semânticos (vestuário, alimentos, meios enfermeiros (40%) e conversado com ou-
de transporte, formas e cores, brinquedos tras mães (55%). Quinze mães (75%) in-
e instrumentos musicais, animais) e o de formaram sentimentos de tristeza, medo
fonologia de acordo com a nomeação de fi- e até desespero durante a estadia do bebê
guras e repetição de palavras com fonemas na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
balanceados. O teste de pragmática foi (UTIN), havendo uma expectativa pessi-
analisado em função do esperado para a mista com relação à melhora da criança.
idade, quanto ao número de atos comuni- Apesar da maioria das mães relatarem
cativos por minuto de interação. A fluência que as crianças não apresentaram com-
verificou a tipologia das disfluências (co- prometimento no desenvolvimento e a
muns e gagas), velocidade de fala (fluxo de metade destas considerarem-se as princi-
sílabas e palavras por minuto) e frequência pais cuidadoras, observou-se que as crian-
de rupturas (porcentagem de descontinui- ças apresentaram desempenho abaixo do
dade de fala e de disfluências gagas), sen- esperado para os testes de fonologia, vo-
do esperado para a idade ou não. Todos cabulário, pragmática e fluência e desem-
os testes foram transcritos em protocolos penho esperado para o discurso oral. Estes
específicos. A prova de vocabulário foi clas- resultados podem ser explicados pelo fato
sificada de acordo com o tipo de nomeação de que quase a metade das entrevistadas
realizada pela criança: designação por vo- considerou mais importante na educação
cábulo usual (nomeação correta), não de- seguir regras (10%) e ser obediente (30%).
signação ou processo de substituição por Apesar de estar bem desenvolvido para a
outro vocábulo. Este resultado também foi idade ser um fator considerado importante
1081
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1082
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
sons que compõem as palavras que ouvi- ação seriada rápida – NSR – de figuras de
mos e falamos; 2) a habilidade de codificar, objetos e de dígitos), e dois componentes
armazenar e processar códigos fonológicos da memória verbal de trabalho: a memória
na memória de trabalho; e, finalmente, 3) fonológica (Repetição de dígitos: ordem di-
a velocidade de acesso a códigos fonológi- reta) e o executivo central (Repetição de dí-
cos na memória de longo prazo. Há ampla gitos: ordem inversa). Na segunda ocasião,
evidência de que variações em todas essas avaliou-se a habilidade de ler e escrever
habilidades correlacionam-se estreitamen- palavras e a habilidade matemática através
te com variações na aprendizagem da lei- dos subtestes do Teste de Desempenho Es-
tura e da escrita (Durand et al., 2005). Por colar (Stein, 1994). Finalmente, em ambas
outro lado, a evidência de uma relação as ocasiões, avaliamos a inteligência verbal
entre as habilidades de processamento (Subteste de Vocabulário da Escala de In-
fonológico e a habilidade de resolver ope- teligência Wechsler para crianças- WISC-
rações matemáticas é mais controvertida. -III) e não-verbal (Subteste de Cubos da
Por exemplo, ao contrário de Hetch et al. Escala de Inteligência Wechsler para crian-
(2001), Durand et al. (2005) não encon- ças- WISC-III) das crianças. A Tabela 1 apre-
traram uma associação significativa entre senta os resultados das correlações entre
a consciência fonológica e a habilidade de as medidas de processamento fonológico,
resolver operações matemáticas em um de inteligência e de habilidade de leitura,
estudo que envolveu crianças inglesas de 7 escrita e matemática. Todos os processos
a 10 anos de idade. Resultados discrepan- fonológicos contribuíram significativamen-
tes têm também sido encontrados para as te para a habilidade de leitura e escrita de
outras habilidades fonológicas (Fuchs et palavras. Com exceção da memória fono-
al.., 2006). No presente estudo avaliamos lógica, o mesmo ocorreu para a habilidade
a contribuição do processamento fonoló- de matemática. Contudo, é possível que
gico na pré-escola para a habilidade de a esses resultados tenham sido mediados
criança resolver operações matemáticas por diferenças individuais na inteligência.
no final do 2º. ano do ensino fundamen- Conforme ilustrado na Tabela 1, a medida
tal. Ao que tudo indica, este é o primeiro de inteligência verbal correlacionou-se em
estudo a investigar essa questão em uma geral com as medidas de processamento
amostra de crianças brasileiras. A amostra fonológico e com as medidas de leitura,
foi constituída de 60 crianças (24 meninos, escrita e matemática. A medida de inteli-
36 meninas), as quais foram avaliadas em gência não-verbal, por outro lado, correla-
várias ocasiões diferentes. Neste relato cionou-se apenas com as medidas de ma-
descrevemos os resultados das avaliações temática e do executivo central. Em vista
que ocorreram quando as crianças tinham, desses resultados, uma série de regressões
em média, 5 (Idade média em meses = hierárquicas foi realizada com o intuito de
62,53; DP = 0,08) e 7 anos de idade (Idade controlar o efeito de variações na inteligên-
média em meses = 92,95; DP = 3,86). Na cia verbal e/ou não verbal das crianças. Os
primeira ocasião, as crianças foram subme- resultados dessas análises mostraram que,
tidas a testes que avaliavam a consciência após esse controle, a consciência fonológi-
fonológica (Detecção de rima), a velocida- ca, a memória fonológica e a velocidade de
de de acesso a códigos fonológicos (Nome- acesso a códigos fonológicos na memória
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Inteli- Inteli- Consciên- Memó- Execu- NSR: NSR: TDE: TDE: TDE:
gência gência cia ria tivo Dígitos Objetos Leitura Escrita Mate-
Verbal Não Fonoló- Fonoló- Central mática
verbal gica gica
Inteligência
1 0,19 0,49** 0,34** 0,30* -0,22 -0,40** 0,29* 0,26* 0,28*
Verbal
Inteligência
1 0,13 0,21 0,31* -0,00 -0,15 0,11 0,25 0,37**
Não verbal
Consciência
1 0,44 0,55** -0,32 -0,39** 0,48** 0,58** 0,31*
Fonológica
Memória
1 0,41** -0,14 -0,24 0,40** 0,43** 0,09
Fonológica
Executivo
1 0,10 -0,27* 0,29* 0,40** 0,36**
Central
TDE
1
Matemática
1084
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
1085
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
também a estes 4 subgrupos problemas mais ricos e equilibrados que dêem su-
de probabilidade que continham conteú- porte a estas operações mentais. O teste
dos depreciativos em relação à naciona- estatístico qui-quadrado foi utilizado para
lidade brasileira ou a outra nacionalidade comparar a frequência de respostas apre-
não-brasileira, bem como problemas de sentadas pelos subgrupos. Alguns achados
probabilidade que continham conteúdos apontam para efeitos dos conteúdos va-
depreciativos em relação a uma faixa etá- lorativos dos enunciados especialmente
ria próxima ou distante da idade média no raciocínio probabilístico envolvido em
dos participantes da pesquisa. No que se tarefas que demandavam o julgamento
refere aos procedimentos éticos de pes- da habilidade técnica para mexer em apa-
quisa, houve, inicialmente, a aprovação da relhos eletrônicos, ou seja, a maioria dos
pesquisa pela Comissão de Ética em Pes- participantes concordou com os enuncia-
quisa da Universidade do Estado do Rio de dos que apresentavam conteúdos valora-
Janeiro. Foi apresentado o Termo de Com- tivos depreciativos e estereotipados em
promisso Livre e Esclarecido aos pais dos relação à habilidade técnica de indivíduos
alunos participantes, bem como também mais idosos. Em outras palavras, em uma
houve a autorização da direção da escola tarefa que envolvia o julgamento da habili-
para a realização da testagem em sala de dade técnica de indivíduos de faixas etárias
aula. No que diz respeito ao perfil sócio- diferentes (idosos e crianças), houve o jul-
-demográfico dos participantes, foi obser- gamento desfavorável ao indivíduo idoso
vada uma equivalência na distribuição dos do ponto de vista probabilístico. De modo
participantes nas classes baixa (49,9%) e complementar, os meninos, em contrapo-
média (50,06%), tendo em vista os crité- sição às meninas, demonstraram maior
rios sócio-demográficos utilizados. A maio- sensibilidade aos conteúdos depreciativos
ria dos indivíduos demonstrou praticar em relação ao seu próprio gênero em uma
esporte (83,3%), especialmente os meni- tarefa que envolvia o julgamento da habili-
nos, sendo que esta prática contrasta com dade matemática em homens e mulheres.
a pouca atividade de leitura extraclasse No que se diz respeito aos conteúdos de-
(40,6%). De modo complementar à prática preciativos relativos a nacionalidade brasi-
esportiva, as atividades de lazer também leira e a outra nacionalidade não-brasileira
foram destacadas pela maioria dos parti- apresentados em alguns problemas, não
cipantes (77,6%). Em relação ao acesso à foram encontrados resultados significati-
internet, a quase totalidade das crianças vos, como também aconteceu nas tarefas
(92,2%) menciona este acesso. Já no que que envolviam conteúdos depreciativos
se refere ao contato com outro idioma, em relação ao comportamento de mulhe-
apenas 39,5% dos participantes destaca- res e de homens no trânsito. Por fim, acre-
ram esta opção. Os principais resultados ditamos que os resultados dessa pesquisa
encontrados sugerem que os alunos par- possam ter particular relevância para o
ticipantes não adquiriram ainda um racio- contexto escolar, na medida em que as
cínio probabilístico proficiente e que, tal- situações-problema vivenciadas pelos alu-
vez, as estruturas cognitivas subjacentes a nos em sala de aula podem, muitas vezes,
este tipo de raciocínio possam estar ainda revestir-se de valores desfavoráveis ou não
demandando a construção de esquemas ao seu gênero, nacionalidade, faixa etária
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
de escolas públicas na cidade de Santo An- volvimento da linguagem, pois foi possível
tônio de Jesus-Ba. A avaliação iniciou-se a notar que em concordância com estudos
partir da assinatura do Termo de consen- sobre maturação do sistema nervoso as
timento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos crianças avaliadas apresentaram estabili-
pais. Para a avaliação foi utilizada a Bateria dade do desenvolvimento da linguagem a
de Avaliação Neuropsicológica do Proces- partir dos 6 anos. Estudos com esse cará-
samento Lexical (BANPLE) (Freitas, 2009). ter podem contribuir para o processo de
Com a BANPLE foram avaliados aspectos escolarização formal, uma vez que oferece
dos componentes Fonológico, Lexical e Se- elementos relevantes no que diz respei-
mântico da compreensão e produção oral to o desenvolvimento da linguagem em
da linguagem (Freitas et al., 2010). Portan- crianças. Compreender as diferenças de-
to, as Tarefas da Produção Oral do compo- senvolvimentais da linguagem nas crianças
nente Fonológico foram Discriminação de permite saber o que se deve esperar em
Fonemas (DF) e Detecção de Rimas (DR), nível de aprendizado em cada faixa etária,
do Componente Lexical foi a Tarefa de De- considerando também os aspectos gerais
cisão Lexical (DL) e do Semântico foram As- do desenvolvimento individual.
sociação Semântica Palavra-Figura (ASPF)
e Associação Semântica Figura-Figura Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
(ASFF). As Tarefas da Compreensão Oral do Psicolinguística; Diferenças Desenvolvimentais.
componente Fonológico foi Julgamento de
Rimas (JR), do Lexical foi a Tarefa de Repe-
tição de Palavras e Pseudopalavras (RPP) e LT02 – 1192 -IDENTIFICAÇÃO DE DÉFICITS
do componente Semântico foram Nomea- PSICOLINGUISTICOS CARACTERIZADORES
ção de Figura (NF) e Fluência Verbal (FV). DE DISLEXIA EM CRIANÇAS DE 4 A 8 ANOS
A análise de dados foi feita por meio do Zelma Freitas Soares - UFRB
software SPSS (Statistical Pachkage for So- soareszelma@gmail.com
cial Sciences) versão 18.0. Através da ANO- Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB
VA, com o scheffe tests buscou observar a thiago_gusmao1@hotmail.com
existência de diferenças desenvolvimen- Társis Cajado Chaves da Silva - UFRB
tais da linguagem nas crianças, conforme tcajado@hotmail.com
cada idade (4, 5 , 6, 7 e 8 anos). A partir Jacqueline Miranda Pereira - UFRB
dos resultados da ANOVA, com o scheffe acquedja@yahoo.com.br
foi possível identificar diferenças desen- Patrícia Martins de Freitas - UFRB
volvimentais significativas no desempe- pmfrei@gmail.com
nho das crianças em tarefas da função psi- Financiamento: PIBEX/PIBIC/CNPq/FAPESB/CNPq
colinguística de acordo com suas idades. A
ANOVA apontou diferenças significativas A Avaliação neuropsicológica busca inves-
(p= 0,000) entre os grupos formados. Com tigar quais são as funções cognitivas que
o scheffe foi possível notar a formação de estão comprometidas e conservadas. Os
dois grupos: grupo 1 (4 e 5anos) e o gru- principais eixos de atuação da neuropsico-
po 2 (6, 7 e 8 anos). O presente estudo logia são: a avaliação e a reabilitação (Am-
mostra que a BANPLE é sensível para de- brózio, et al 2009). Dessa forma, o presen-
monstrar aspectos relevantes do desen- te trabalho se restringe a discussões de
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dois tipos clássicos de dislexia, a dislexia ram do estudo e foram avaliadas em dife-
fonológica e a lexical, demonstrando que rentes tarefas de teoria da mente, em um
a BANPLE apresenta sensibilidade no em teste de vocabulário receptivo e em uma
identificar funções comprometidas na tarefa de compreensão de ironia traduzida
dislexia, diferenciando os dois subtipos e adaptada para o presente estudo. A tare-
clássicos. Além disso, embora a BANPLE fa de compreensão de ironia consistiu na
não tenha a função de avaliar para um apresentação de oito histórias que repre-
diagnóstico, ela permite identificar défi- sentavam situações familiares para a crian-
cits precoces do desenvolvimento e dessa ça e envolviam sempre conversas com
forma, contribui, para evitar que a criança pais, irmãos ou amigos. Em todas elas,
apresente futuras conseqüênciasdesfavo- um dos personagens fazia um comentá-
ráveis no seu contexto escolar e social. rio irônico dirigido a outro personagem. A
tarefa avaliou quatro componentes socio-
Palavras-chave: neuropsicologia cognitiva, cognitivos para a compreensão de ironia:
linguagem oral, dislexia. significado da sentença, crença, intenção e
motivação do falante. Além disso, a tarefa
avaliou um componente sociocomunica-
LT02 – 1220 - COMPREENSÃO DE IRONIA tivo por meio do julgamento feito pelos
E TEORIA DA MENTE: UM ESTUDO COM participantes sobre o quão gentil, maldoso
CRIANÇAS BRASILEIRAS ou engraçado havia sido o comentário do
Nadia Villa - UFSCar personagem. A ironia presente em cada
nadinhav@hotmail.com história podia variar quanto ao tipo (con-
Débora de Hollanda Souza - UFSCar trafactual x hiperbólica) e quanto à valên-
debhsouza@uol.com.br cia (crítica x elogio). Essas quatro variações
Financiamento: FAPESP foram, portanto, cruzadas de forma a criar
quatro diferentes categorias de ironia: elo-
A teoria da mente é a habilidade de prever gio hiperbólico (EH), elogio contrafactu-
e explicar o comportamento humano por al (EC), crítica contrafactual (CC) e crítica
meio da compreensão dos próprios esta- hiperbólica (CH). Todos os participantes,
dos mentais e dos outros (e.g., intenções, portanto, ouviram duas histórias repre-
crenças e emoções). Estudos recentes têm sentando cada uma dessas categorias. Os
demonstrado uma relação clara entre o resultados do presente estudo mostraram
desenvolvimento da teoria da mente e a que, como esperado, há uma correlação
linguagem. Em especial, há um interesse positiva entre o desempenho dos partici-
crescente em investigações sobre a relação pantes nas tarefas de teoria da mente e
entre teoria da mente e compreensão de de compreensão de ironia (r = 0.454, p <
ironia em crianças de idade escolar. O pre- 0.05), bem como um efeito de idade no
sente estudo foi uma replicação do estudo desempenho em todas as tarefas (F(2,19)
conduzido por Filippova e Astington e tem = 12.43, p < 0.05). Em relação ao escore
como objetivo principal investigar a rela- total na tarefa de compreensão de ironia,
ção entre compreensão de ironia e teoria uma diferença significativa foi encontrada
da mente em crianças brasileiras. Quaren- entre as crianças de 7 anos (M = 27.75) e
ta e três crianças de 7, 8 e 9 anos participa- 8 anos (M = 37.58) e entre as crianças de
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7 anos e 9 anos (M = 37.73). Uma ANOVA mais da metade dos participantes não jul-
de medidas repetidas foi realizada, com gou a ironia como engraçada (65% na cate-
tipo de ironia (contrafactual x hiperbólica) goria elogio contrafactual, 74% para crítica
e valência (crítica x elogio) como variáveis contrafactual e 69% na crítica hiperbólica).
intra sujeitos e idade como varíavel en- Mais uma vez, os dados das crianças brasi-
tre sujeitos. Os resultados não revelaram leiras foram muito semelhantes aos dados
um efeito significativo de valência (crítica obtidos com crianças canadenses. Consi-
x elogio), F(1, 40) = 0.38, p > 0.05), mas derando a escassez de estudos brasileiros
sim um efeito significativo de tipo de iro- sobre o tema, espera-se que o presente
nia (contrafactual x hiperbólica), F(1, 40) estudo possa contribuir para o campo de
= 13.73, p = 0.05, além de uma interação estudos sobre teoria da mente no Brasil e,
entre valência e tipo, F(1, 40) = 23.43, p < de maneira mais abrangente, que ele pos-
0.05). ANOVAs de medidas repetidas fo- sa avançar o conhecimento atual sobre a
ram também realizadas para cada um dos relação entre essa habilidade sociocogniti-
quatro componentes sociocognitivos da va e o desenvolvimento da linguagem.
compreensão de ironia. Os resultados in-
dicaram uma interação entre as variáveis Palavras-chave: Teoria da Mente; Ironia;
tipo de ironia e valência (elogio x crítica) Crianças Escolares.
em dois dos quatro componentes (crença Contato: Nadia Villa, UFSCar,
e intenção), ps < 0.05. Os dados obtidos nadinhav@hotmail.com
corroboram os resultados de Filippova e
Astington obtidos com crianças canaden-
ses. Assim como as crianças canadenses, LT02-1333 - ERA UMA VEZ: OS CONTOS DE
as crianças brasileiras apresentaram uma FADAS E A INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA
facilidade maior para entender a ironia Iollanda Freire Costa Belchior - UFC
contrafactual, ou seja, quando o falante iollanda3fcbelchior@yahoo.com.br
diz o contrário daquilo que pretende dizer, Juliana Moita Leão - UFC
do que para entender a ironia hiperbólica, Juliana_moita@hotmail.com
quando o falante exagera aquilo que pre- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
tende dizer. Em relação ao julgamento do naradiogo@hotmail.com
conteúdo pragmático da ironia (quão gen- Maria Sandra Braz Marques - UFC
til, maldoso, engraçado foi o comentário), msbmarques@hotmail.com
as análises revelaram uma interação entre Raíza Ribeiro de Souza - UFC
tipo de sentença e valência nas três condi- raiza.psicologia@yahoo.com.br
ções analisadas (gentil, p < 0.001, maldoso,
p < 0.001, engraçado, p = 0.04). A categoria O presente trabalho tem como objetivo
elogio hiperbólico foi considerada como a discutir o conto de fadas como forma de
mais gentil pelos participantes e a crítica problematizar a infância contemporânea,
hiperbólica como a menos gentil. Na mes- apresentando as considerações de uma
ma direção, a crítica hiperbólica foi julga- pesquisa em andamento. As reflexões são
da como a ironia mais maldosa e o elogio suscitadas a partir de discussões ocorridas
hiperbólico como a ironia menos maldosa. nos encontros do projeto de extensão
Finalmente, em três das quatro categorias, “Brincadeiras: ações em Psicologia do De-
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responsáveis pela educação destes jovens (identidade) e aos jogos infantis. Todo
atletas estejam atentos a esses sinais para ser humano possui características físicas
que medidas preventivas sejam tomadas determinadas por genes provenientes da
para evitar problemas psicológicos em mãe e do pai. Os indivíduos portadores
sua fase adulta. Sugerimos outros estudos de síndrome de Down possuem um cro-
mais detalhados a respeito do desenvol- mossomo adicional no par 21; por conta
vimento dos jovens atletas das categorias disso, suas características físicas se asse-
de base, comparando os resultados com melham mais entre si do que com os seus
outras populações de jovens atletas. pais. Essa semelhança pode interferir no
desenvolvimento da representação de sua
Palavras-chave: futebol, avaliação individualidade (PUESCHEL, 1998). Ana-
comportamental, categorias de base lisamos os aspectos sociais e cognitivos
em duas crianças do sexo feminino, cujos
nomes fictícios são Maria e Clara, com
LT07-855 - FORMAÇÃO DO EGO EM onze anos de idade, residentes da cidade
CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME de Itaitinga, na região metropolitana de
DE DOWN Fortaleza. São alunas de escola pública,
Isadora Leite Ribeiro Alves - UFC cursando o segundo ano do Ensino Funda-
isadora_alves@hotmail.com mental em salas de inclusão, sem, todavia,
Natália Araújo da Silva - UFC a assistência de uma equipe multidiscipli-
nads_araujo@hotmail.com nar de suporte para o desenvolvimento de
Rachel Xavier de Faria Vecchio - UFC suas potencialidades. Tais crianças podem
ra_vecchio@hotmail.com ser consideradas um grupo de estudo di-
Rebeca Barros de Lima - UFC ferenciado por se inserirem em grupos
rebecabdl@hotmail.com sociais restritos às suas famílias e esco-
la. Um fator determinante na escolha da
O presente resumo é resultado de uma amostra parece ser a sua condição bioló-
pesquisa desenvolvida como prática na gica comum. Porém, podemos considerar
disciplina de Psicologia do Desenvolvimen- que o incentivo de suas potencialidades
to I, ministrada no curso de Psicologia da ao desenvolvimento implicará em respos-
Universidade Federal do Ceará pela pro- tas particulares. Tal condição as aproxima
fessora Susana Kramer, com a colaboração do estudo de Erik Erikson, em que o de-
do monitor Eduardo Alverne. A pesquisa senvolvimento humano se dá de forma
(em andamento) tem como objetivo iden- contínua, dinâmica e criativa, organizado
tificar, em situação de brincadeira coleti- a partir de três dimensões centrais: bioló-
va, o desenvolvimento do ego em crianças gica, individual e social (ERIKSON, 1976).
portadoras de Síndrome de Down, a partir A identidade é construída nas experiên-
da ideia de conflitos nucleares propostos cias vividas nessas três dimensões, sendo
por Erik Erikson. Abordamos fatores so- o ego uma síntese desse processo, o qual
ciais (família e escola) e fatores biológicos pode ser observado através de jogos in-
(síndrome de Down) relacionando-os ao fantis (brincadeira coletiva), adentrando-
modelo teórico-prático de Erikson, que -se ao universo lúdico dessas crianças. Nos
se refere à formação da personalidade estudos sobre a Teoria Psicossocial do De-
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senvolvimento de Erik Erikson, vimos que ximidade a ele, o que não foi percebido
há uma transferência por parte da crian- em relação à figura materna. Também se
ça em suas brincadeiras, pois, através do destaca na brincadeira coletiva sua busca
lúdico, representará suas relações sociais. de comando sobre a situação proposta, o
Este é o modo como consegue expressar que não se deu na vivência interpessoal,
a realidade e se libertar das censuras con- na qual Clara revelou ter medo de Maria.
solidadas na sociedade, o que implica em A pesquisa permitiu a observação da for-
uma representação do ego. Realizamos mação do ego em crianças portadoras de
jogos com as duas meninas, no espaço da síndrome de Down, destacando-se alguns
brinquedoteca da escola. Foram disponibi- conflitos durante a brincadeira coletiva.
lizados jogos de montagem, bonecas, casi- O primeiro desses foi o de “autonomia x
nha de boneca e fantoches, permitindo a vergonha e dúvida”, superado por Clara ao
livre escolha da dupla participante, diante demonstrar independência e extroversão,
da presença das pesquisadoras. De um enquanto Maria assumiu uma posição de
modo geral, observamos que Maria orga- dependência ficando sempre à espera de
nizava seu espaço, enquanto brincava. No autorização para brincar, evidenciada em
início, não queria brincar; porém, ao inte- sua postura física (cabeça baixa com ges-
grarmos o lanche dela à brincadeira, suge- tos que demonstravam vergonha). Outro
rindo que também oferecesse comida às conflito interpretado é o da “iniciativa x
bonecas, ficou menos retraída. Durante culpa”, em que observamos a iniciativa de
toda a brincadeira, não ouvimos a voz de Clara durante a brincadeira, aproximan-
Maria, que apenas gesticulava e apontava do os bonecos que representavam o pai
para o que queria fazer. Na brincadeira e ela própria, afastando a que represen-
com os fantoches, Maria colocou-os para tava a sua mãe, remetendo ao Complexo
beijarem na boca constantemente, rindo de Édipo. Maria demonstra retraimento,
de sua própria ação. Quando propusemos na brincadeira, o que pode ser resultado
que desenhasse sua família, rabiscou um de relações em que lhe faltaram tempo
bonequinho triste, recusando-se a conti- e espaço que permitissem o desenvolvi-
nuar o desenho. Depois, quando solicita- mento de suas atividades com autonomia.
da a representar o seu pai, continuou o Ela não tomou a iniciativa em nenhum
desenho apresentando um bonequinho dos jogos propostos, imitando, inclusive,
feliz. Não quis desenhar a mãe, reagindo certas atividades executadas por uma das
com batidas na mesa e gestos de negação pesquisadoras. Foi observada também, no
com as mãos, sugerindo um contexto de conflito da “identidade x confusão de pa-
reprimendas. Clara, por sua vez, apresen- péis”, uma identificação por parte de Clara
tou-se de forma alegre e comunicativa. com o pai, devido à sua incapacidade de
Durante a brincadeira de casinha, despiu fixar uma identidade própria. Já em Ma-
as bonecas, diversas vezes, sugerindo in- ria, embora isso não tenha emergido cla-
terações sexuais entre elas. Também apre- ramente no contexto da brincadeira, o seu
sentou a ação de aproximar o boneco-pai papel na família ou na escola é problema-
da boneca-filha e afastar a boneca-mãe. tizado, ao se observar seu sentimento de
Verbalmente, também mencionou o pai inadequação e inferioridade na dinâmica
de forma carinhosa, demonstrando pro- proposta, o que pode constituir, segundo
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Erikson (1976), empecilho à sua identifi- pois inclusão não se reduz ao aluno se en-
cação nos contextos sociais em geral. O quadrar no espaço escolar, mas a escola
contexto social das duas meninas parece estar preparada para acolher as diferen-
corroborar tal situação, diante de relato ças. Assim, impulsionado por tais inquie-
das professoras das meninas sobre a evi- tações, o estudo teve como objetivo geral
tação dos demais alunos na interação com compreender como a escola inclusiva atua
as crianças das salas de inclusão. Além frente à necessidade de atender e ofere-
disso, notamos que, em Clara, a resolu- cer uma prática educativa que respeite as
ção dos conflitos é mais evidente do que diferenças, no intuito de favorecer o de-
em Maria. Neste sentido, segundo Erikson senvolvimento e aprendizagem dos seus
(apud Steiner, 2008), “o desenvolvimento alunos com necessidades educacionais
humano impõe conflitos nucleares que especiais – ANEE’s. Partindo dessa meta,
desencadeiam crises... [com] duas saídas os objetivos específicos propuseram: a) in-
possíveis: se o conflito é resolvido de ma- vestigar práticas educativas que procuram
neira satisfatória, a qualidade positiva é padronizar os processos de aprendizagem
construída no ego e o desenvolvimento é no espaço escolar e que comprometem o
sadio, se o conflito é resolvido de manei- desenvolvimento e aprendizagem do alu-
ra insatisfatória, a qualidade negativa se no; b) identificar tratamentos especiais es-
incorpora ao ego e o desenvolvimento é tigmatizados e preconceituosos para com
prejudicado” (p. 55). os alunos com necessidades educativas
especiais; c) registrar práticas e concep-
Palavras-chave: síndrome de Down, ções realizadas no espaço educativo que
brincadeira coletiva, ego não tenham preconceitos com as diferen-
Contato: Rebeca Barros de Lima, UFC, ças e otimizem uma aprendizagem signi-
rebecabdl@hotmail.com ficativa; e d) identificar as principais dife-
renças entre práticas educativas inclusivas
e não-inclusivas, verificando a relevância
LT07-1309 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA OU dessas diferenças para a efetivação e qua-
EXCLUSIVA: REFLEXÕES SOBRE UMA lidade da política da inclusão escolar. Pes-
PRÁTICA EDUCATIVA QUE RESPEITE ÀS quisadores na área de desenvolvimento
DIFERENÇAS humano e educação vêm constantemente
Franciene Soares Barbosa de Andrade - UnB salientando a necessidade de uma educa-
Geane de Jesus Silva - UnB/UAB ção de qualidade para todos, no sentido
de respeitar as diferenças, sejam elas, cog-
No contexto educacional, verificou-se nitivas, culturais, afetivas e outras. Portan-
certa dificuldade da equipe escolar em to, como pressupostos teóricos, a pesqui-
compreender e aceitar as diferenças, pois, sa baseia-se em autores como: Vygotsky,
na maioria das vezes, são vistas como um Taylor, Mendes, Kelman, além da legisla-
problema que precisa ser melhorado e ção brasileira referente à educação e edu-
ajustado diante do processo de ensino- cação inclusiva. Para tanto, a construção
-aprendizagem homogêneo. Essa proble- empírica teve como suporte metodológico
mática revela que, no âmbito escolar, a de pesquisa a abordagem qualitativa, por
educação inclusiva requer um novo olhar, meio da análise documental, entrevista
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social, realidade essa que também pro- preciso problematizar os dados etnográ-
duz, em certa medida, a própria socieda- ficos, de modo a permitir transitar entre
de” (Pinto, 1997, p.34). O conceito de in- universos culturais diversos – o nosso e
fância na perspectiva histórica nos indica o do nosso sujeitos” (1996, p.67). O mé-
que não podemos compreender a criança todo utilizado foi o quanti-qualitativo.
fora de suas relações com a sociedade na Neste momento, considero fundamental
qual está vivendo e desvinculada de suas reafirmar minha convicção de que infân-
interações com os sujeitos e com a cultu- cia não pode ser entendida como uma
ra do grupo social no qual está inserida. categoria natural, mas histórica e cultu-
As crianças, através de suas narrativas, ral, ainda que não determinada de modo
não expressam uma representação única absoluto pelo social. E que, por isso, há
de infância, mas seus distintos olhares. É diversos modos de “ser” criança e “viver”
importante nos darmos conta de que a a infância, não se podendo falar dessas
cumplicidade entre sociedade, educação categorias no singular ou se entender
e infância faz surgir discursos e saberes que exista um lugar específico, distintivo
que produziram e produzem o “ser infan- de infância e de criança. Este trabalho
til” de hoje, do presente. Buscando re- procurou compreender e destacar valo-
flexões com as crianças e entrecruzando res e significados das vozes infantis, obje-
diferentes saberes disciplinares, psicoló- tivando conhecer a criança e suas carac-
gicos, pedagógicos, sociológicos, filosófi- terísticas atuais. Procurou ver a criança
cos, pediátricos, e com o uso de um ins- enquanto sujeito histórico, que produz
trumento conhecido como “teste de epi- cultura. “O olhar das crianças permite re-
sódios” utilizado por Elsa Schmid-Kitsikis velar fenômenos sociais que o olhar dos
em suas pesquisas em Genebra, procurei adultos deixa na penumbra ou obscure-
conhecer e ampliar a compreensão de ce totalmente” (Sarmento, 1997, p.25).
suas relações com o conhecimento, a cul- As pesquisas com as crianças vêm sendo
tura e os modos de subjetivação da crian- realizadas de modo especial pelos pes-
ça e com quem ela estabelece relações quisadores representantes da sociologia
na contemporaneidade. Ao se produzir da infância. Estes consideram a criança
conhecimento, cada nó, cada ponto al- como ator social e buscam ultrapassar a
cançado, acaba por sugerir um caminho e dicotomia das outras abordagens. Acre-
que vai se transformando. De uma forma ditam que as crianças como seres sociais
séria e sem abrir mão do rigor e da busca representam certos papeis sociais que
de uma explicação como uma forma de estão internalizados na sua subjetivida-
conhecer essa infância que se torna um de. As crianças dispõem de um conheci-
dos fios desta tapeçaria, tomo a criança mento, fazem várias relações, são capa-
com um ator social, a partir do olhar da zes de avaliar e vivenciar vários papéis e
sociologia da infância. Muito são os ris- inventam suas estratégias. Transgridem
cos de ver, ouvir, descrever, registrar e in- as regras atribuindo outros significados
terpretar as falas das crianças sem o de- para suas atividades. Pesquisando com as
vido rigor teórico-metodológico, salienta crianças, precisamos reconhecê-las como
Gusmão, ressaltando ainda que devemos sujeitos de cidadania. Seus conhecimen-
ir além das aparências dos fenômenos. “É tos são válidos, elas elaboram juízos acer-
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preender que o meio não é estático e é e as habilidades sociais para um bom con-
múltiplo e que o desenvolvimento infantil vívio, potencializando um ambiente sadio
está diretamente ligado ao meio em que para as crianças e para os adultos. Para a
a criança está inserida. Logo, é necessá- finalização do projeto, foi feita uma dinâ-
rio compreender o processo de aprender mica de grupo que consistia em reunir um
como um processo contínuo e intermiten- pequeno grupo no meio do grande grupo.
te, em que o individuo é capaz de recons- Os integrantes do pequeno grupo que es-
truir novas realidades. Existem diversos tavam no centro deveriam realizar ativida-
sistemas que têm capacidade de intervir des propostas pelos demais (como fechar
no ambiente infantil e no aprendizado das a porta da sala, segurar um participante
crianças. Ao iniciarmos as observações, foi no colo) com um único cordão amarrado
possível compreender que todos os pro- na cintura de cada um dos participantes,
fissionais que ali trabalham interferem no unindo-os em um círculo. A realização da
ambiente das crianças. O objetivo inicial dinâmica possibilitou a compreensão de
da proposta de intervenção foi resgatar as que, para funcionar de forma eficiente,
capacidades de cada um dos profissionais o grupo deve ter a participação de todos
que atuam na escola, visando fortalecer e que cada um tem um papel definido e
as suas relações sociais e as suas habilida- insubstituível. A proposta de intervenção
des sociais para que, desta forma, todos possui fundamentação teórica na psicolo-
possam se sentir melhor na instituição em gia de grupos e nas práticas em grupo de
que convivem e em que passam uma boa Pichon Rivière. Foi possível analisar e re-
parte de sua vida diária. Foram realizadas fletir junto com todos os profissionais da
entrevistas individuais com cada um dos instituição observada sobre como é amplo
profissionais que atuam na escola, anali- o número de microssistemas que interfe-
sadas de forma qualitativa. Aplicou-se um rem no processo de conhecimento e de
questionário com perguntas semiabertas relacionamento entre todos os participan-
e as entrevistas foram realizadas dentro tes da educação infantil. Os participantes
da instituição de ensino infantil, com re- se deram conta que, em uma sala de aula,
gistro de imagem e som. A entrevista foi o professor, as crianças, os faxineiros, os
composta por três perguntas-chave: a) há pais, os serventes, a direção e até mesmo
quanto tempo trabalha na instituição; b) a estrutura física podem ser estímulos ca-
qual é a função que exerce atualmente no pazes de interferir no ambiente social e
local (falar um pouco sobre a sua rotina); psicológico de todos os integrantes. Como
e c) quais as principais lembranças que se articulam, se estabelecem e se constro-
possuem da escola durante o período que em as relações entre as crianças e os pro-
trabalham ali. Em um segundo momen- fissionais da educação infantil dessa Esco-
to da pesquisa, foi feita uma montagem la Municipal de Educação Infantil é alvo a
áudio-visual com os dados já coletados. ser trabalhado em conjunto com o projeto
Esse material foi trabalhado em uma reu- de pesquisa chamado “Possibilidades de
nião feita trimestralmente no próprio lo- Viver as Infâncias na Contemporaneida-
cal, visando trabalhar as particularidades de”, orientado pela professora Márcia
de cada profissão, a interdependência de Elisabette Wilke Franco. O problema de
cada um dos indivíduos dentro da escola pesquisa desse projeto é compreender
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como aparecem, na perspectiva das crian- de forma mais produtiva aos desafios em
ças, as possibilidades de infância. Faremos sua vida pessoal e profissional. Não obs-
um trabalho onde as crianças irão mostrar tante o reconhecimento do valor de se
como percebem os profissionais que con- cultivar a criatividade discente e a criati-
vivem com elas neste espaço educacional. vidade almejada por educadores e gesto-
res, nem sempre essa meta se reflete nas
práticas pedagógicas. A escassez de infor-
mação sobre criatividade e as lacunas na
formação do professor explicam esse qua-
DIA 15/11 - Terça-feira dro. Reconhece-se a necessidade de mu-
danças substantivas na educação de modo
10h30-12h a garantir uma cultura de ensino e apren-
dizagem voltada para a criatividade. Cabe
ao docente assumir o papel de catalisador
do potencial de seus estudantes e a estes
LT04 - Mesa Redonda incorporar novos hábitos de produção, ex-
Convidada pressão e implementação de novas ideias.
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O lócus escolhido para a pesquisa é uma escola pública,
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Pesquisa realizada pelo NETTE, Núcleo de Estudo e Pes- localizada num distrito rural distante cerca de 12 quilô-
quisa Trabalho, Trajetórias e Educação, da Universidade metros da sede da cidade de Feira de Santana. A localida-
Estadual de Feira de Santana (UEFS), com financiamento de vive basicamente da agricultura familiar ou comercial
da FAPESB no período de 2008-2009. de pequena escala.
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se estudar o crescimento humano, e sim sempre são o mesmo. Para nós, profes-
as mudanças vividas pelo humano, no seu sores da área, coloca-se uma indagação:
tempo de vida. As fases de desenvolvi- quando damos aula, de qual psicologia
mento, suas conceituações e caracteriza- falamos? A clareza dos paradigmas das
ções, as diversas teorias que se detém a teorias adotadas por nós, na nossa práxis
compreendê-las e analisá-las, têm em si a acadêmica, é disparadora da escolha de li-
“leveza da falsidade”, são somente “sinto- vros que norteiam nossos estudos, da me-
mas do homem”, pois que representações todologia adotada nas aulas, das formas
sociais e, portanto, sempre precárias e em de avaliação e dos conteúdos a serem dis-
transformação (Frota, 2007). A descrição cutidos com nossos alunos. Porém, mui-
do desenvolvimento humano em fases ou tas vezes esta clareza não existe, e nos
estágios parece perder-se na sua aparente flagramos trabalhando com manuais de
concretude e naturalidade, deixando de Psicologia do desenvolvimento Humano
lado a busca de entender realmente como que apresentam estudos e resultados a
se processa o desenvolvimento humano. partir de uma visada maturacional e bio-
Cabe-nos refletir: o que, especificamente, logicista, como os Manuais de Helen Bee
cabe à Psicologia do Desenvolvimento? O (2003), Papalia (2008), e outros, enquanto
que a ela, importa estudar? Como estudá- defendemos uma perspectiva, por exem-
-la com nossos alunos? Biaggio (2009) plo, dita “interacionista”. A ausência de
aponta 3 fases históricas dentro da evolu- livros-texto construídos dentro da nossa
ção do campo da Psicologia do Desenvol- realidade brasileira também é outro pro-
vimento: (a) a primeira, dos anos 20 a 40 blema encontrado por docentes da área.
do século passado, caracterizada por um Finalmente, é importante ressaltar a ca-
saber centrado na maturação biológica; rência de uma teoria do desenvolvimento
(b) a segunda, que contempla os anos 40 humano organizada, acompanhada de es-
a final dos anos 50, afirma uma psicologia tudos, discussões e aplicação prática, das
mais preocupada com a correlação dos di- novas tendências apontadas por Biaggio
versos saberes, mas ainda sem conseguir (2009), tais como as teorias da psicolo-
correlacioná-los; e (c) a última fase, dos gia sócio-histórica, referidas acima. Par-
anos 60 até a atualidade, centra-se no in- tindo de uma perspectiva crítica, Kramer
teresse em explicação das causas das mu- (1997) assinala a ruptura da Psicologia do
danças do comportamento, mais que na Desenvolvimento com a vertente mecani-
sua descrição ou associação de variáveis. cista da ciência positivista, enfatizando a
Aponta, ainda, para novas tendências da crítica à visão naturalizante, biologizante,
Psicologia do Desenvolvimento, trazidas universalista e abstrata da concepção de
pela Teoria de Processamento de Infor- criança e de infância, que atravessam as
mações, pela Psicologia Dialética, pela teorias de desenvolvimento divulgadas
Sociobiologia e pelo Enfoque Ecológico de até os anos setenta do século passado.
comportamento. Falamos, assim, não de Apresenta, como contraposição, a criança
Psicologia do Desenvolvimento, mas de como sujeito da própria história, produ-
PsicologiaS do Desenvolvimento, configu- zida e produtora de cultura. Dentro des-
radas com pressupostos distintos, meto- ta perspectiva Vasconcellos (2007), por
dologias diferentes, conteúdos que nem exemplo, se nega a ver a criança como
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dramatizações, fantoches, uso de provas tas. Ao tentar saber quem eram as crian-
piagetianas, etc. Toda semana, após as ças e não exatamente quais seus diagnós-
tarefas realizadas e seu detalhado relató- ticos, produziram estratégias de interven-
rio parcial, reservávamos um tempo das ção ancoradas no exercício do que chamei
aulas para discussão em grupo e partilha aqui de sensibilidade. A maior conquista
de experiências, promovendo calorosos desta experiência parece ter sido ressal-
debates em como e o que avaliar/anali- tar os indicadores de desenvolvimento,
sar. Ao final do trabalho foram elabora- considerando quadros clínicos muito es-
dos relatórios, e um deles era destinado pecíficos, garantindo às crianças a valori-
às crianças e seus familiares. O direcio- zação de seu potencial criativo. Por outro
namento desta etapa foi promover um lado, para os estudantes, foi estruturante
encontro para indicar o desempenho das poder aprender a teoria e exercitá-la sem
crianças nas diversas atividades, conside- rigidez, com delicadeza e seriedade. Por
rando os indicadores estudados do de- fim, esta experiência revelou uma manei-
senvolvimento infantil, relacionando-os ra (ou pelo menos uma tentativa) de aliar
aos quadros apresentados pelas crianças. conhecimento, desejo de saber e relações
Nestas ocasiões, os estudantes também sensíveis, produzindo muitas mais inter-
sugeriram aos pais atividades que estimu- rogações do que respostas. Sem dúvida,
lavam o desenvolvimento, a partir das ob- esta proposta de trabalho sugere que de-
servações e do desempenho nas tarefas e sejar saber pode ser uma linha que con-
brincadeiras realizadas pelas crianças. Os duza a formas de acessar um mundo com
Planos de Trabalho de cada grupo foram diferentes linguagens.
apresentados em seminários em sala. Os
ouvintes, também motivados pelas suas Palavras-chave: relato de experiência,
próprias experiências, se tornaram per- desenvolvimento infantil, intervenção.
guntadores incansáveis. Todos desejavam
saber como foi a interação com as crian-
ças, quais as dificuldades, que conceitos e EM BUSCA DO LIVRO IDEAL PARA
preconceitos estavam presentes, que situ- O ENSINO DE PSICOLOGIA DO
ações inusitadas enfrentaram, que adap- DESENVOLVIMENTO
tações precisaram fazer, que sentimentos Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
vivenciaram, o que aprenderam, o que se fscavalcantejunior@gmail.com
tornou belo, o que continuou difícil, que
critérios de avaliação usaram, quais dife- Esta comunicação emerge da necessidade
renças identificaram, quais suas conclu- de se refletir sobre a utilização de livros no
sões, etc. Ao final da disciplina foi possível ensino da Psicologia do Desenvolvimento
identificar que os estudantes manejaram em cursos de graduação de universidades
de forma criativa seu conhecimento pré- brasileiras. Identificamos a dificuldade en-
vio, acrescido dos novos conhecimentos, contrada por muitos professores na esco-
transformando-os em saberes. A partir de lha de uma bibliografia que seja capaz de
interrogações sobre os quadros “clínicos” apresentar os estágios do desenvolvimen-
das crianças observadas, tornaram sua to humano ao mesmo tempo em que des-
aprendizagem um contínuo de descober- perta no leitor o prazer de ler e de apren-
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desenvolvimento se voltou para as temáti- Não há mais espaço para visões que frag-
cas relacionadas à vida adulta e à velhice, mentam o desenvolvimento humano em
sendo esta uma época marcada pela pri- períodos pré-estabelecidos, sucessivos e
mazia dos estudos da Psicologia da Infân- universais (infância, adolescência, maturi-
cia (Rosseti-Ferreira, 2006). Pode-se dizer dade e velhice), nem para abordagens que
que avanços teóricos significativos sobre tomem os grupos de idades segundo uma
o processo de envelhecimento ocorreram, lógica sequencial e linear. Tal movimento
sobretudo a partir da segunda metade do reflexivo emergente oferece espaço para
século XX, quando a Gerontologia começa uma concepção diferenciada acerca do de-
a marcar seu espaço no campo científico. senvolvimento humano no curso de vida
Outro aspecto relevante refere-se ao en- (Castro & Souza, 1995; Rosseti-Ferreira,
tendimento de que o desenvolvimento 2006). Atualmente, a velhice não pode ser
humano é entendido como um processo mais associada a características negativas,
dinâmico que se constitui a partir de uma isto é, esse momento do curso de vida não
rede sistêmica de interações, na qual as está necessariamente vinculado a doenças
dimensões sociais, históricas e culturais e incapacidade. A velhice bem sucedida
estão imbricadas dialeticamente. Compre- consiste em uma realidade concreta e que
ender a gênese social do desenvolvimento transforma a imagem das pessoas idosas
humano implica em considerar que as rela- no século XXI (Neri, 1995, 2002, 2004;
ções sociais constituem “arena e motor do Freire, 2000; Rocha-Coutinho, 2006). Esta
processo de desenvolvimento” (Rosseti- nova imagem sobre o envelhecimento
-Ferreira, Amorim & Silva, 2004, p. 24). A configura-se tanto na literatura específica
partir dessa compreensão, o processo de quanto na rede de significações que atra-
envelhecimento é visto como também de vessa o cotidiano popular, e é divulgada
desenvolvimento. Nesse contexto, Erikson principalmente na mídia e nos mercados
(1976) é um autor de extrema relevân- econômico e estético. Portanto, para se
cia na compreensão de como a velhice entender o processo de envelhecimento e
tornou-se alvo de investigações em Psico- a velhice é fundamental considerar esses
logia. Sua teoria foi inovadora ao integrar fenômenos em associação com o contex-
a experiência do envelhecimento como to sociocultural e histórico no qual estão
parte do processo de desenvolvimento inseridos e entender que a velhice supera
humano, insistindo que este não cessa atribuições cronológicas. Cada pessoa ex-
após a adolescência, como preconizavam perimenta o meio social de forma singular,
as pesquisas tradicionais. Neste novo mi- do qual participa de forma mais ou menos
lênio, novos processos de construção de ativa, conforme os condicionantes históri-
significados sobre a velhice se constituem co-culturais para as oportunidades de par-
na prática científica e no senso comum. A ticipação. É preciso levar em conta toda
nova concepção de desenvolvimento hu- uma realidade imaginária dependente de
mano que respeita as idiossincrasias e o juízos de valor, crenças, atitudes, ações, re-
contexto no qual o indivíduo está inserido presentações sociais relacionadas a épocas
exige um “olhar” interdisciplinar e contex- históricas, enfim, um leque de situações
tualizado sobre os fenômenos humanos em que o pensar, o sentir e o agir afetam
investigados ao longo do curso de vida. e são afetados por múltiplos fatores. Um
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dos elementos de grande expressão desse inserção social e status atribuído ao cargo
cenário relaciona-se aos preconceitos dire- e função exercida pelo trabalhador. Além
cionados à população idosa. Entre os mais de ser fonte de sobrevivência é também
marcantes, tem-se a percepção de que a organizador da vida diária e instrumento
experiência de envelhecer está associada de realização. Existe, portanto, valorização
à dependência e à perda de autonomia, pela sociedade das pessoas inseridas em
bem como da capacidade produtiva. Em uma vida produtiva. O fato é que o ser hu-
uma sociedade em que o fenômeno do mano prescinde do trabalho para se inserir
aumento da longevidade é significativo, no mundo contemporâneo, permitindo-
torna-se indispensável rever valores, cren- -lhe a expressão de si mesmo, o desen-
ças e atitudes frente ao processo de desen- volvimento de competências, assim como
volvimento humano e de envelhecimento, favorece a concretização de projetos de
identificando seus desafios para esse novo vida e realizações pessoais e profissionais.
século, sobretudo, em razão das distintas Borges e Tamayo (2001, p. 13) afirmam
experiências de envelhecer. Assim, é pre- que o trabalho “é meio de produção da
ciso que os contextos relacionais e edu- vida de cada um, promovendo a subsistên-
cativos assumam a temática em questão cia, criando sentidos existenciais ou contri-
como prioridade, na tentativa de se cons- buindo na formação da personalidade e da
truir uma sociedade que trate as pessoas identidade”. A identidade de uma pessoa
ao longo de todo o curso de vida a partir é a constituição psíquica que a distingue
de princípios éticos, de cidadania e justiça. das outras e está fortemente relacionada
às relações sociais que cada um estabelece
Palavras-chave: curso de vida; com o mundo. Um sistema de habilidades
desenvolvimento; envelhecimento; desenvolvidas ao longo da vida, que define
e a faz ser o que é. O trabalho e as rela-
ções interpessoais são aspectos que estão
TRABALHO, IDENTIDADE PROFISSIONAL vinculados ao processo de construção da
E PROJETOS DE VIDA NA SOCIEDADE identidade. Desta maneira, a pessoa cos-
CONTEMPORÂNEA. tuma perceber seu valor ligado àquilo que
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF produz. Assim, a ocupação profissional é
jac.marangoni@gmail.com parte da autoimagem, da autoestima e do
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto sentimento de pertencimento. Vale con-
Agilitá siderar que o aumento da expectativa de
eugeniaagilita@gmail.com vida na sociedade contemporânea promo-
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá ve diferentes desafios qualitativos, entre
anamaria.agilita@gmail.com eles a aposentadoria. Uma situação a ser
José Eustáquio Moreira de Carvalho - CEFIBRA confrontada: aposentadoria X mais tem-
jeustaquio@cefibra.com.br po no mercado de trabalho. O fenômeno
do aumento da longevidade faz com que
O trabalho configura-se como questão as pessoas vivenciem o papel profissional
central para o desenvolvimento da socie- por um período maior de tempo, exigin-
dade e do indivíduo. Ocupa um papel im- do novas posturas das organizações de
portante na vida das pessoas, é razão de trabalho e dos trabalhadores. O desliga-
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eram feitas avaliações junto ao grupo. En- realidade profissional pode ocasionar
fim, o trabalho terapêutico e em grupo processos de sofrimento, sobretudo para
possibilitou o enfrentamento das dificul- as pessoas que não se prepararam para a
dades apresentadas pelos participantes. aposentadoria. A criação de espaços de
fala e reflexão no ambiente de trabalho
Palavras-chave: idosos, grupo, aposentadoria. pode propiciar a oportunidade para a pre-
paração para o período de pós-carreira,
especificamente, no que se refere ao estí-
PROGRAMAS DE PREPARAÇÃO PARA O mulo e apoio quanto a elaboração de um
PERÍODO PÓS-CARREIRA projeto de vida consistente e responsável.
Neste sentido, o Estatuto do Idoso, no ar-
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
tigo 28 declara que o poder público criará
jac.marangoni@gmail.com
e estimulará o desenvolvimento de pro-
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto
gramas de preparação para a aposenta-
Agilitá
doria: “II - Preparação dos trabalhadores
eugeniaagilita@gmail.com
para a aposentadoria, com antecedência
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá
mínima de 1 (um) ano, por meio de es-
anamaria.agilita@gmail.com
tímulo a novos projetos sociais, confor-
José Eustáquio Moreira de Carvalho - me seus interesses, e de esclarecimento
CEFIBRA sobre os direitos sociais e de cidadania”.
jeustaquio@cefibra.com.br Os Programas de Preparação para a Apo-
sentadoria possuem caráter educativo e
O período que antecede a aposentadoria ainda configuram-se como ferramenta
é um momento a ser considerado como importante na política de Gestão de Pes-
uma fase importante no ciclo de vida dos soas das organizações de trabalho con-
trabalhadores. Ocorre no período em que temporâneas. O desenvolvimento destes
o envelhecimento se expressa com mu- programas traz benefícios importantes
danças marcantes e significativas. Princi- para a organização, tais como: clima or-
palmente, para aqueles que tiveram o tra- ganizacional favorável; contribuição para
balho como uma das importantes fontes a Gestão do Conhecimento, sem ruptura
de realização. Aspectos psicossociais refe- entre as gerações e perdas de valores tec-
rentes ao processo de envelhecer estarão nológicos e culturais da organização; fa-
presentes, questões relacionadas à dinâ- cilita o processo de sucessão, além de se
mica familiar: o reencontro do casal, os fi- constituir em uma prática de Responsabi-
lhos que ainda permanecem em casa, ou lidade Social Interna. Entre os benefícios
que começam a sair de casa, a divisão dos para o trabalhador tem-se visualização da
espaços emocionais e físicos, a retoma- pós-carreira como um conjunto de novas
da de projetos, sonhos, o redimensiona- possibilidades e de autorrealização; ofe-
mento das finanças pessoais, os aspectos rece subsídios para a tomada de decisão,
legais envolvidos fazem parte do proces- manutenção da autoestima e ampliação
so de tomada de decisão. Diante de um dos horizontes pessoais e funcionais;
processo que permeia a noção de perda motivação para substituir a satisfação de-
de status e poder, uma ruptura com uma rivada do trabalho para a elaboração de
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lizados por meio da exposição a processos figuração total de genes é transmitida (Si-
proximais ou oportunidades ambientais monton, 2001, 2002; Winner, 1998, 2000).
que promovam estabilidade e recursos Podemos destacar, ainda, uma crescente
que tornem tais processos e potenciais valorização das bases biológicas para o
maximamente efetivos. Na mesma dire- desempenho cognitivo superior associada
ção, as análises genéticas multivariadas de forma complexa a variáveis ambientais
relacionadas às habilidades cognitivas de contextos compartilhados e não-com-
específicas têm indicado que os mesmos partilhados (Simonton, 2002). A combina-
fatores genéticos influenciam um grande ção entre uma configuração de interesses,
número de habilidades diferentes e que, capacidades e valores em permanente
por outro lado, qualquer que seja a ha- evolução e os nichos familiares, educacio-
bilidade, ela não pode ser atribuída ao nais e ocupacionais, em constante trans-
efeito principal de um único gene, mas à formação, produzem múltiplos efeitos
associação de múltiplos genes (Palácios, e conjugam aspectos subjetivos e mul-
2004; Simonton, 2001). Essas descober- tidimensionais tanto para forjarem uma
tas trazem algumas implicações ao estu- trajetória de vida única, quanto certos
do do desenvolvimento do talento: (a) o tipos de talento (Papierno, Ceci, Makel &
domínio de algumas habilidades especí- Williams, 2005; Simonton, 2002, 2005b).
ficas depende da configuração de vários Dentro de uma concepção bioecológica
componentes genéticos; (b) um mesmo do desenvolvimento, segundo Papierno,
traço pode contribuir para o desenvolvi- Ceci, Makel e Williams (2005), o talento
mento de mais de um tipo de talento; (c) ou a ontogenia das competências excep-
dois indivíduos com o mesmo talento não cionais estariam fundamentadas em dois
possuem no mesmo nível ou ordem os princípios: (a) a ação de efeitos múltiplos
mesmos traços genéticos; (d) a distribui- sobre as interações recíprocas entre os
ção do talento na população não segue, indivíduos e os ambientes que pavimen-
necessariamente, a curva normal, uma tam os padrões de desenvolvimento de
vez que não se trata de adição linear de habilidades superiores e (b) as condições
traços, mas de uma configuração múltipla; iniciais que são derivadas da combinação
(e) um componente que pode desencade- entre traços inatos e aprendidos que cons-
ar o processo de desenvolvimento do ta- tituem o potencial máximo a ser realizado
lento em uma pessoa pode ser irrelevante ou atualizado. Nessa direção, os proces-
para o desenvolvimento do mesmo talen- sos proximais assumem papel de extre-
to em outra pessoa; (f) a capacidade inata ma relevância, uma vez podem facilitar e
para uma performance excepcional pode ampliar as possibilidades de aquisição de
mudar, desaparecer ou estabilizar ao lon- habilidades relevantes para um domínio
go do tempo; (g) a mediação ou interven- específico e prover diversidade de condi-
ção educativa precoce é necessária para o ções iniciais, endógenas e exógenas, para
desenvolvimento do talento; (h) a posição o desenvolvimento dessas habilidades. É
na família, ordem biológica ou funcional, possível que a falta de consenso entre os
precisa ser investigada à luz da dinâmica pesquisadores sobre a qualidade e quan-
familiar e (i) alguns traços ou tipos de ta- tidade da influência dos fatores genéticos
lento emergem apenas quando uma con- e ambientais para a realização máxima
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dependente, muitas vezes em processos nam-se com o encontro das linhas de de-
cooperativos ou concomitantes, outros senvolvimento da imaginação com a linha
em processos competitivos ou desencon- do pensamento, que são distintas em suas
trados. Porém, quando a imaginação e a trajetórias. A fala interna é que funciona-
criatividade se encontram em certa etapa rá como mecanismo de elevação da ima-
do desenvolvimento infantil e se unem, ginação ao status de função superior no
geram um sistema denominado Imagina- psiquismo humano. Do mesmo modo que
ção Criativa que vai, por sua vez, trilhar regula as funções mentais humanas, a fala
seus caminhos desenvolvimentais até interna vai regular a expressão da imagi-
encontrar as linhas do pensamento e da nação, colaborando nas interações que
linguagem e, aí sim,alcançar o status de ocorrerão entre imaginação e pensamen-
Função Psicológica Superior. Neste mo- to conceitual, lógico e formal. As relações
mento, segundo Vygotsky, o sujeito está estabelecidas por Vygotsky entre a fala, o
pronto para intercambiar com a cultura os brincar e a imaginação pressupõem a ori-
sentidos, significados e mensagens recebi- gem sociogenética da imaginação criativa.
das, de uma direção interpsicológica para Sendo assim, torna-se difícil compreender
a internalização intrapsicológica, prepa- os processos de imaginação desvincula-
rando o cenário para a geração do novo. dos da realidade. No senso comum, e para
Vygotsky compreende a imaginação como grande parte de pesquisadores e cientis-
atividade mental totalmente compatível tas de diversas áreas, os processos imagi-
com a realidade. Os conteúdos que cons- nativos correspondem a delírios oníricos,
tituem a imaginação são retirados da re- oriundos de necessidades emocionais in-
alidade e, posteriormente, transformados dividuais, sem correspondência com a re-
e/ou recombinados pela função imagina- alidade e com os processos de pensamen-
tiva, construindo novas realidades. Sendo to formal. Para Vygotsky, a imaginação só
assim, a atividade criativa, originária da é possível se alimentada pelos elementos
função da imaginação, é uma ação relacio- da cultura, pelo conhecimento, saberes,
nada com a interpretação da realidade fei- informações, conceitos, sentidos e sig-
ta pelos sujeitos e depende, diretamente, nificados. Desta forma, todo e qualquer
das experiências do homem em contato produto novo não passa de fruto concreti-
com sua vida cultural objetiva e subjetiva. zado de um processo imaginativo, porém
A imaginação está ligada à emoção. Ela re- construído a partir de leituras da realida-
tira fragmentos da realidade e, por meio de, seja lá como ela for compreendida por
de novas significações destes fragmen- cada cultura. Finalizando, os caminhos de-
tos, devolve à cultura leituras renovadas senvolvimentais que orientam a imagina-
desta mesma realidade. Esta é a essên- ção criativa se alteram, invertendo-se, ora
cia do processo criativo na concepção de indo da dimensão interpsicológica para
Vygotsky. A imaginação é, ao mesmo tem- a dimensão intrapsicológica, ora percor-
po, intelectual e emocional e é este fato rendo o caminho oposto. O sujeito que é
que favorece a emergência dacriatividade. criado pela e na cultura passa a criar cul-
Os processos que permitem à imaginação tura também, em um processo dialético
galgar novos patamares, constituindo-se e sistêmico.A criatividade não representa
como função psicológica superior, relacio- mera ação adaptativa, pois tal ação está
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va os estudos sobre atenção foram inten- menos eficiente dos estímulos em outras
sificados. Defini-se Atenção Visual como a posições que não àquela selecionada pre-
capacidade neural de selecionar determi- viamente. Uma medida clássica e muito
nada área do campo visual em detrimento utilizada em estudos psicofísicos para ava-
das demais. A atenção pode distribuir-se liação de mecanismos atencionais envol-
pelo campo visual tanto de forma locali- ve Tempo de Reação (TR). É uma medida
zada ou focalizada como de forma difusa. que possibilita ao pesquisador observar
A primeira seria a habilidade de proces- a latência e a acurácia de respostas a es-
sar de forma mais seletiva determina- tímulos apresentados ao observador. Em
da região, enquanto na segunda o foco psicofísica visual, medidas obtidas por
atencional estaria representado de forma meio de TR a estímulos luminosos, podem
aproximadamente igual por todo campo auxiliar na compreensão do processo de
visual (Eriksen & St James, 1986; Posner, seleção de informações relevantes para
1980). A atenção desempenha um papel o sistema visual, priorizando o processa-
de seleção de determinados estímulos mento de alguns atributos de um dado es-
proporcionando o melhor processamento tímulo em detrimento de outros (Posner
destes. Para que informações importan- & Raichle, 1997). Conhecer o desenvol-
tes sejam reconhecidas prioritariamente, vimento de habilidades mentais, desde a
é necessário que haja esta seleção. Este infância até a vida adulta, é fundamental
processo de seleção denomina-se Aten- para compreender a organização e função
ção Seletiva (Desimone & Duncan, 1995). cerebral, visto que o ser humano sofre
Pode-se dividir a atenção em duas formas, mudanças significativas ao longo do seu
diferentes em suas propriedades e seus desenvolvimento, em especial mudanças
mecanismos neurais, são elas: atenção vo- relacionadas à cognição. Durante mui-
luntária e atenção automática (Gazzaniga, tos anos, desde o nascimento até a vida
Ivry & Mangun, 2006). Defini-se atenção adulta, ocorre o desenvolvimento cogniti-
voluntária ou “atenção endógena” como vo, porém algumas funções cognitivas se
sendo a habilidade ou intencionalidade tornam maduras em tempos diferentes,
em prestar atenção em algo. Já a atenção i. e., diferentes regiões cerebrais amadu-
automática ou “atenção exógena” por sua recem mais cedo do que outras, conceito
vez, é descrita como o fenômeno no qual denominado Heterocronicidade. Métodos
alguma coisa capta nossa atenção, sendo que correlacionam a maturação destas
esta de ordem sensorial. A capacidade de funções cognitivas a um estágio específi-
dirigir a atenção voluntariamente para um co do desenvolvimento neural são usados
determinado local do espaço enquanto em humanos. Assim, analisar o desenvol-
se ignora outros é chamada de atenção vimento nos fornece informações sobre
espacial. Essa capacidade propicia uma a circuitaria cerebral, suas estruturas e
melhora no desempenho do observador sistemas, bem como processos cognitivos
quando ele tem o conhecimento prévio que ela mantém, possibilitando também
da posição em que irá aparecer um alvo estudos sobre a origem e o desenvolvi-
para o qual ele deve emitir uma resposta. mento de diversos fenômenos cognitivos.
Esta concentração de recursos atencio- Um exemplo é o conhecimento de que a
nais também conduz a um processamento atenção automática se desenvolve antes
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
da atenção voluntária, o que nos traz in- Os autores realizaram o mapeamento es-
formações preciosas a respeito das formas pacial da atenção visual em voluntários de
distintas de comportamentos atencionais 18 a 30 anos por meio de testes avaliando
(Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2006). Com a atenção explícita (foco atencional coinci-
relação ao desenvolvimento cognitivo, dente ao ponto de fixação) e dividida (foco
Surnina e Lebedeva (2001) realizaram um atencional dividido à esquerda e à direita
estudo com 296 sujeitos na faixa etária de do ponto de fixação, simultaneamente. Os
3 a 28 anos, divididos em 5 grupos (3 - 4 autores demostraram que tanto a atenção
anos, 5 - 6 anos, 7 - 8 anos, 10 - 12 anos e explícita como a atenção dividida estavam
16 - 28 anos) utilizando medidas de tem- presentes no grupo estudado. Reis (2010)
po de reação. Os resultados mostraram utilizou o mesmo protocolo para mape-
que há uma tendência de diminuição, sem ar a atenção visual de crianças de 8 a 15
contudo clara significância, dos tempos anos. Os resultados demonstraram que há
de reação com o aumento da idade. Es- melhora no desempenho em função da
sas autoras também observaram que os idade, sendo que na situação de atenção
tempos de reação de meninos apresen- explícita todos os voluntários apresenta-
tam uma tendência a serem menores do ram menores TR na área atendida, como
que das meninas, mas novamente sem esperado. Na situação de atenção dividida
significância estatística. Kolb e Whishaw apenas a maior faixa etária estudada (15
(2002) sugerem que o desenvolvimento anos) apresentou divisão atencional, tare-
das habilidades motoras mais complexas fa esta mais demandante cognitivamente.
ocorre na faixa etária de 6 a 10 anos pelo Estes dados suportam a hipótese de que
aprendizado motor proporcionado pela diferentes estruturas cerebrais amadu-
maturação da área pré-frontal associado recem em diferentes idades, compreen-
às experiências da criança. Nesta faixa dendo de forma mais detalhada de como
etária ocorreria uma maturação progres- ocorre o desenvolvimento neuromatura-
siva da região pré-frontal permitindo um cional destes voluntários.
melhor planejamento do movimento e
conseqüentemente permitiria associar Palavras-chave: Atenção visual; Crianças;
de forma mais elaborada dois ou mais Escolares.
movimentos, associação esta que se tor-
na com o passar do tempo mais refinada,
possibilitando uma aprendizagem motora PERCEPÇÃO AUDITIVA E
mais eficiente. Esses autores relatam que RECONHECIMENTO DE FALA
na idade de 10 a 20 anos o comportamen- EM CRIANÇAS EM IDADE DE
to caracteriza-se pela fase de habilidades ESCOLARIZAÇÃO
motoras especializadas. Ocorreriam mu- Keila Jacob da Silva - UnB
danças nessa faixa etária não relacionadas keilajacob.s@gmail.com
ao padrão motor, porém na precisão, exa-
tidão e no controle motor. Canto-Pereira A percepção auditiva é um aspecto fun-
e Ranvaud (2004) desenvolveram um pro- damental na interpretação e compreen-
tocolo para mapear a atenção utilizando são dos estímulos sonoros do ambiente.
uma série de experimentos psicofísicos. Crianças com desenvolvimento típico
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
dos, que identificam alterações focais ou Stuart, 2002) que afirmam que o processa-
sistêmicas do sistema nervoso. A aquisição mento fonológico é a principal função neu-
da leitura é um processo neuropsicológico ropsicológica preditora da leitura. As outras
complexo que exige o amadurecimento de funções também preditoras são memória
diversas funções preditivas básicas para semântica e articulação da fala. Sexo, QI e
a sua habilitação, além de sofrer interfe- idade não são fatores que apresentaram
rência de diversas varáveis como sócio- correlação com a aquisição da leitura.
-cultural, biológica, ambiental, educacional
e afetivo-emocional, por exemplo (Silver, Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
Ruff, Iverson, Barth, Broshek & Bush et al., Leitura; Processamento Auditivo.
2008). Para avaliar e analisar a prontidão Contato: Valéria Reis do Canto Pereira, UnB,
da criança para a aquisição da leitura, foi vrcantopereira@unb.br
construída uma bateria neuropsicológica
para avaliar as funções preditoras da leitura
(BANLER), com vistas a identificar a pron- MR LT04
tidão para aprendizagem e subsidiar ações
preventivas, e um teste para avaliação da Mesa Redonda
aquisição da leitura (ALER). Ficou eviden-
te que, após estimulação para habilitação
da função da linguagem escrita, enquanto MR LT04-1317 - EXCELÊNCIA,
leitura, outras funções neuropsicológicas EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
foram habilitadas, que, em contrapartida, HUMANO
aqueles que se submeteram a mesma es- Mônica Souza Neves-Pereira - UnB
timulação, mas não adquiriram a leitura, monicasouzaneves@yahoo.com.br
também não desenvolveram as outras fun-
ções neuropsicológicas. A bateria neuropsi- O presente trabalho objetiva discutir as
cológica é constituída de 18 subtestes, den- relações, interfaces e interferências entre
tre eles, cinco avaliam funções preditoras, os fenômenos da Excelência, Educação e
12 avaliam funções que foram adquiridas Desenvolvimento Humano compreendidos
intrinsecamente ao processo da aquisição como processos socioculturais originados
da leitura e apenas um não apresentou da mediação, aqui compreendida como
correlação com o processo de aquisição da ação inerente à experiência humana. As
leitura (memória visual). Os resultados da abordagens sociogenéticas do desenvol-
avaliação neuropsicológica através destes vimento buscam compreender os proces-
instrumentos corroboram os estudos teó- sos de construção da natureza humana
ricos (Lyytinem, Erskine, Kujala, Ojanem & partindo do pressuposto central de que a
Richardson, 2009; Tunmer, 2008; Shaywitz, gênese das estruturas psicológicas do ho-
Shaywitz, Fullbright, Mencl, Constable & mem situa-se na dimensão histórica, so-
Skudlarski et al., 2001; Termine, Stella, Cap- cial e cultural onde os sujeitos se inserem.
soni, Rosso, Binda & Pirola et al 2007; Ca- A biologia, por si só, não é suficiente para
povilla, Gütschow & Capovilla, 2004; Ger- definir um estatuto de humanidade. Para
rits & Bree, 2009; Spugevica & Hoien, 2003; alcançar as potencialidades específicas da
Hulme, Hatcher, Nation, Brown, Adams & espécie homo sapiens, o ser humano ne-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
políticas públicas não há dúvidas de que a cas, econômicas, sociais e ideológicas que
escola venha cumprindo sua função, mes- permutam trocas e negociações contínuas
mo que precariamente (em muitos mo- com o sujeito em desenvolvimento; e (b)
mentos). Mas, e quanto aos outros aspec- em uma perspectiva micro, olhar esta cul-
tos constituintes do “ser integral” que ela tura como palco onde sujeitos se movem,
inscreve em seus objetivos educacionais? se posicionam e são afetados por todos os
Como a escola tem tratado a afetividade, componentes de um sistema cultural que
as emoções, a imaginação, a criatividade e toca, mobiliza, transforma, muda o ho-
a busca da excelência de seus alunos? Na mem, não importa em qual direção. Neste
escola nos tornamos pessoas, para o bem caldo relacional os seres humanos constro-
ou para o mal. É neste cenário, onde passa- em leituras da “realidade”, posicionando-
mos grande parte de nossas vidas, que va- -se como sujeitos agentes e receptores dos
mos aprender a ler, escrever, pensar, com- significados culturais, em uma dança dialé-
preender o mundo e a nós mesmos, além tica que revela a complexidade investida no
de nos tornarmos sujeitos de uma cultura, desenvolvimento humano e na construção
sujeitos de valores, crenças, premissas mo- da cultura. A escola, como agência social de
rais e princípios estéticos e éticos. Ensinar extrema relevância, faz parte desta dinâmi-
e aprender são processos que exigem se- ca. Passar por ela traz consequências aos
riedade, retidão e excelência. Não só por- homens, consequências que podem ser
que estas dimensões são constitutivas do transformadas em recursos que habilitam
humano, mas, especialmente, porque me- para a vida e que interferem em nossas es-
recemos qualificar nossa existência e a dos colhas, dando-nos instrumentos para nossa
nossos semelhantes. Ao experimentarmos sobrevivência. Na escola ocorre o encontro
a vida escolar somos profundamente trans- entre a cultura formalizada por meio de
formados por suas práticas, pelas media- currículos e o sujeito que necessita (dese-
ções presentes, pelas mensagens culturais ja?) “ser educado”. Na realidade, ocorre o
recebidas, internalizadas e ressignificadas. encontro entre os cânones culturais, que
A escola é lugar de desenvolvimento hu- são frutos de uma cultura coletivamen-
mano, espaço onde nos transformamos te construída, com a individualidade em
em sujeitos de uma cultura, onde ascen- busca de expressão e compreensão, tanto
demos à nossa condição de humanidade, destes legados e mensagens, como de si
por meio do desenvolvimento de nossas mesma. De acordo com Bruner, nada está
funções psicológicas, nossa consciência, isento de cultura, porém, os indivíduos não
nossa subjetividade. Apropriar-se de uma são meros espelhos das mensagens cultu-
leitura sociogenética de desenvolvimento rais. Viver em cultura exige este equilíbrio,
humano e por meio dela buscar compre- esta negociação entre o que é da ordem
ender o fenômeno educativo e a busca da individual e o que é da ordem coletiva. E
excelência implica na consideração de dois exige mais: demanda preparo do sujeito
aspectos básicos de uma visão culturalista, não só para internalizar estas mensagens,
que são: (a) em uma perspectiva macro, como para mantê-las posteriormente,
compreender a cultura como um sistema transformadas e readaptadas a outro mo-
de valores e significados em permanente mento histórico. A escola se insere nesta
transformação, com suas instâncias políti- missão, a de promover capacidades, esti-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
los de pensar, de sentir, de falar e de viver novar a existência, sempre orientados por
que, posteriormente, serão transacionados princípios humanos e éticos, com vistas ao
pelo sujeito em formas de trabalho, de pro- bem-comum e ao cultivo de um espírito de
dução, de criação, de renovação cultural. solidariedade, cooperação e fraternidade
Como agência sociocultural, a escola en- entre os povos.
frenta desafios gigantescos, muitos, talvez,
impossível de serem alcançados. Ela se pro- Palavras-chave: Desenvolvimento, Educação e
põe a formar pessoas em sua integralidade, Excelência.
transmitindo-lhes o legado cultural da hu- Contato: Mônica Souza Neves Pereira, IP/UnB,
manidade e construindo hábitos que, pos- monicasouzaneves@yahoo.com.br
teriormente, gerarão resultados cognitivos,
intelectuais e mentais. Se a educação ofer-
tada for eficiente, estes resultados passam CULTURA ESCOLAR E OS PROCESSOS DE
a caracterizar “zona de perigo”. O saber de SIGNIFICAÇÃO DE SI: RECUPERANDO O
qualidade modifica o mundo, os valores, os ELO PERDIDO
princípios, as nações. Este tipo de interfe- Sandra Ferraz de C. D. Freire - FE/UnB
rência no tecido sociocultural é, de modo sandra.ferraz@gmail.com
geral, mal visto. Uma escola excelente é Angela Cristina Uchoa Branco - IP/UnB
desejo de todos, mas causa medo e inquie- ambranco@terra.com.br
tação. Somos este paradoxo: buscamos a
manutenção do nosso status e desejamos O presente trabalho aborda os processos
modificações em nossas vidas, ao mesmo de desenvolvimento na escola enfatizando
tempo, mobilizando forças antagônicas que a interface entre práticas pedagógicas e a
terminam por ceder ao lado mais forte, em constituição de si. Tem por objetivo identi-
geral representado pelos setores dominan- ficar aspectos relacionados ao processo de
tes em uma sociedade. Talvez por esta ra- mudança no desenvolvimento das significa-
zão básica e por outras tantas periféricas, a ções de si no contexto das experiências es-
excelência não se constitua como um valor colares por meio da caracterização de Con-
no cenário educacional, especialmente em cepções Dinâmicas de Si. Fundamenta-se
países com atrasos em seu desenvolvimen- na abordagem sociocultural construtivista,
to. Por excelência compreendemos a cons- de base sistêmica, que considera o sujeito
trução de padrões intelectuais, cognitivos, ativo em seu processo de desenvolvimento
estéticos, éticos e emocionais diferencia- por meio das interações com o outro social
dos da média e que fornece instrumentos e significativo em contexto e em constante
recursos para que o sujeito se expresse de mudança. As demandas complexas postas
modo destacado em uma sociedade, pro- pela pesquisa psicoeducacional revelam a
movendo mudanças profundas e de qua- necessidade de estudar as categorias dinâ-
lidade em suas estruturas. Necessitamos micas dos processos de desenvolvimento
e temos o direito de lutar por uma escola de si no contexto escolar. As instituições e
onde possamos nos tornar excelentes pes- os grupos sociais são agentes de canaliza-
soas com padrões de excelência em nossos ção cultural e lançam mão de sofisticadas
estilos de pensar, agir, vivenciar, compre- estratégias de discriminação e exclusão,
ender, contestar, criticar, criar, inovar e re- na maioria das vezes veladas e silenciosas,
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go mesmo, com outros e com o mundo. outros resultados, expressão escrita criati-
Se fossem utilizados de forma produtiva va e bem organizada, em alunos de diferen-
como pilares fundamentais do ensino e do tes séries; do mesmo modo e em propor-
aprendizado, com certeza a excelência se- ção maior, redações “padronizadas” e com
ria uma condição sine qua non na vida das informações incorretas. Na semana seguin-
crianças e adolescentes. te foram realizados sociodramas em cada
uma das turmas. As narrativas propostas
Palavras-chave: prolepse, escola, foram lidas pelos autores, escolhidas dez
desenvolvimento, novidade, currículo. pela turma e dramatizadas por atores es-
pontâneos. Cada autor pode retornar ao
seu texto e modificá-lo apreendendo o sen-
MR LT04 tido e criando novas possibilidades de ex-
pressão de suas ideias. No segundo traba-
Mesa Redonda lho é apresentada experiência com jovens
de 15 a 19 anos, alunos do ensino médio.
No contexto da formação de multiplicado-
MR LT04-1464 - PSICODRAMA E O res na prevenção das DST/AIDS, o tema dos
ALUNO EM DESENVOLVIMENTO líquidos corporais (sêmen, sangue, suor) é
trabalhado através do teatro e do sociodra-
O psicodrama constitui abordagem teóri- ma. Nessa fase do desenvolvimento a “irre-
co-metodológica com ampla utilização na verência” e a “transgressão”, compartilha-
educação. Proposto por J. L. Moreno, no dos na linguagem teatral se transformaram
início do século XX, foi utilizado nos últi- em um discurso articulado e compromis-
mos cem anos em diferentes ambientes sado com a prevenção e a atenção à saú-
de aprendizagem, formais e informais. O de. Como consequência, por iniciativa dos
objetivo desta mesa redonda é apresentar próprios alunos, ações de cidadania foram
três experiências educativas, em diferentes propostas e executadas, como a distribui-
níveis de ensino, que utilizam esta referên- ção de mais de 40 mil camisinhas durante
cia, além de discutir sua importância no o carnaval e formação do laço simbólico no
âmbito da psicologia do desenvolvimento. dia dos namorados e no dia da luta contra a
No primeiro trabalho, um modelo de ação AIDS. Finalmente, o terceiro trabalho obje-
foi empregado para se ensinar conteú- tiva discutir, refletir e apresentar o empre-
dos relacionados à água a alunos do ensi- go da metodologia educacional psicodra-
no fundamental. Cerca de 400 alunos de mática, como alicerçada em Moreno e na
seis aos 14 anos foram levados ao teatro, proposta educacional de Romaña, no curso
onde apreciaram uma peça didática infan- de pedagogia, na disciplina Socionomia,
til. De maneira interdisciplinar, na mesma Psicodrama e Educação. Enfoca o emprego
semana, realizaram redações livres sobre dos recursos de ação, envolvendo desde a
o tema nas aulas de português. Nas aulas dramatização e recursos multissensoriais,
de ciências o conteúdo ainda foi reforçado como jogos, textos, música, dança, etc, Os
apresentando-se cartilha com os persona- temas que emergiram, em sala de aula fo-
gens da peça. As redações foram analisadas ram os seguintes: bullying, inclusão, assé-
quanto ao conteúdo, verificando-se, entre dio moral no local de trabalho, sexualidade
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do texto de Nicolai Gogol, por Paulo Barei- bém utilizou método baseado na Pedago-
cha e direção de Clarice Costa, da peça “o gia do Drama. Desenvolve uma divertida
Nariz”, com o objetivo de trabalhar os “lí- comédia em que aspectos da sexualidade
quidos corporais”: sangue, suor e sêmen. humana são abordados incluindo-se bri-
A peça retratava, de forma bem humorada gas de casal, assédio, moralismo, abuso
em críticas sociais, o dia de um egocêntri- de poder e outras vicissitudes da vida se-
co Major que, inexplicavelmente, acordou xual cotidiana, onde a platéia entende
sem o seu nariz. A peça esta dentro da pro- como quiser as metáforas “do nariz” e se
posta ecopedagógica, que provoca uma identifica com os personagens durante o
série de inquietações, reflexões, relações espetáculo. Foram desenvolvidas, ainda,
com seu interior, seus papéis e relações so- ações durante o carnaval, dada a neces-
ciais. O tema da água perpassava de modo sidade de um trabalho de prevenção em
transversal, por todo o trabalho, enfatizan- espaços de maior vulnerabilidade frente à
do os fluídos corporais. O trabalho contou gravidez não planejada, a infecção por DST/
com a participação de estudantes e profes- HIV/Aids, ao uso abusivo de álcool e outras
sores no elenco e foi apresentada diversas drogas, dentre outros problemas. Momen-
vezes. Dentre as diversas ações que com- tos de diversão por vezes fazem com que
punham a preparação, o grupo teve aulas as pessoas tenham comportamentos que
de maquiagem. Essa preparação, num for- podem contribuir para uma maior propen-
mato completo, foi extremamente relevan- são a atitudes vulneráveis. O projeto Teatro
te, porquanto nem todos que participavam Ecopedagógico, desde 2004, desenvolve
dos trabalhos eram alunos de artes cêni- ações no campo da educação e promoção
cas. Havia, no entanto, a necessidade, não da saúde, com atividades diversas. Duran-
só de “uniformizar” conceitos, métodos e te o carnaval os estudantes de Projetos 3
técnicas, mas, acima de tudo, aprimorar de e 4 coordenaram ações de prevenção. No
modo holístico toda a produção do traba- ano de 2005 houve a primeira inserção do
lho. Os exercícios corporais trabalhavam a grupo nos trabalhos, onde se desenvolveu
expressão, o improviso, o foco e a atenção. ações que variaram entre palestras, ofici-
Essa parte do projeto foi importante para nas, cursos e até a disponibilização de in-
a formação individual e coletiva, refletindo sumos de prevenção (preservativo mascu-
na própria execução das apresentações, lino, feminino, gel lubrificante) durantes os
que exigiam bastante performance de dias de intervenção. Essas ações demanda-
improviso. Exercícios de improviso eram vam planejamento e preparação por meio
muito utilizados nos encontros, uma vez de revisão de literatura, discussão de técni-
que, durante as técnicas de sociodrama e cas e estratégias de intervenção educativa,
teatro-fórum realizadas após as apresenta- preparação do ambiente (cenário), dentre
ções se faziam necessárias para os traba- outras questões que são necessárias para
lhos, onde, após as apresentações havia a realização dos trabalhos. Garantir a partici-
coordenação do sociodrama, momento em pação juvenil nos espaços democráticos de
que a plateia podia, não só sugerir altera- planejamento, avaliação, implementação
ção de determinadas cenas, como também e compartilhamento de experiências no
participar delas, nesse caso com foco em tocante as políticas de educação e saúde é
DST e Aids. O teatro ecopedagógico tam- imprescindível.
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(1986 citado em Nascimento, 2004) postu- vezes, estagnados nas pessoas. A meto-
la que além dos conteúdos, a escola deve dologia psicodramática é um instrumento
trabalhar para formação integral do ser fundamental para aprendizagem, seja ela
humano e, com isso, os aspectos ligados formal ou informal. Tanto nas organiza-
à cidadania, à personalidade, à expressão ções, na saúde, na escola e na comunidade,
da subjetividade e, o interjogo entre o in- o sujeito e o seu grupo estão em constante
dividual e o coletivo. Ele ainda amplia esta aprendizagem. Enfim, a metodologia psi-
discussão apontando que os campos fun- codramática fomenta a ação, o potencial
cionais: afetividade, movimento e cognição ativo e, assim está focalizado no interesse
estão interligados para promover o desen- do aluno e de suas experiências, aliada a
volvimento e aprendizagem. Ainda, sobre o uma situação viva, que permite ao profes-
processo de aprendizagem, Romanã (1992) sor empregar os mais variados recursos
ressalta a sua preocupação quanto à artifi- para construir o conhecimento. A espon-
cialidade dos conteúdos educacionais, isto taneidade e a criatividade como aspectos
é, a distância do que é aprendido no espaço inerentes ao psicodrama e o trabalho num
educativo formal e a vida dos alunos. E as- campo relaxado facilita a apreensão de
sim, ela enfatiza algumas características da uma dada experiência e conteúdo. E o que
utilização pedagógica dos conhecimentos se recomenda que ela esteja aliada com
do psicodrama: como método no proces- outras, por exemplo, meios audiovisuais,
so de construção de conhecimento, o role filmes, textos, com qualquer técnica gru-
playing ou jogo dramático de papéis em- pal e de ensino programado entre outras.
pregados na estruturação daqueles papéis Romanã (2004) amplia a perspectiva do
ligados ao espaço educativo, os sociodra- psicodrama pedagógico por meio da ‘peda-
mas para focalizar e interferir em situações gogia do drama’, que emprega a proposta
de conflito, o jornal vivo para dar tratamen- socionômica de Moreno aplicada à educa-
to diferenciado às notícias veiculadas pela ção, buscando a transformação pela ação
mídia e refletir sobre elas, e por último, o torna-se uma ação pedagógica estruturada
teatro espontâneo para a percepção dos sobre três pilares: a teoria sócio-histórica
conteúdos ocultos na compreensão da re- de Vygotsky, a ética presente na Pedagogia
alidade. O psicodrama, além de garantir a da Autonomia de Paulo Freire e a didática
aquisição do conhecimento em nível intui- sociopsicodramática inspirada na sociono-
tivo e intelectual, ainda possibilita a parti- mia de Moreno. Consiste, então, em uma
cipação ativa e ressalta-se de forma pro- abordagem educacional que aglutina ao sa-
ativa ao aluno, em um contexto grupal. O ber adquirido na aprendizagem formal com
método educacional psicodramático, uma a experiência vivida. Em resumo, articula os
proposta com fins pedagógicos, apresenta saberes ditos formais com as experiências
as etapas (aquecimento, ação dramática afetivas e culturais dos estudantes, visando
e comentários), resgatando os contextos o desenvolvimento de uma postura crítico-
(social, grupal e dramático) e por meio dos -reflexiva para compreender o mundo e as
instrumentos (diretor, ego-auxiliar, pro- relações interpessoais, ressaltando o com-
tagonistas, cenário e platéia), propostos promisso e autonomia nos indivíduos. Ain-
por Moreno, como retomado por Romanã da, possibilitando alternativas didáticas e
(1992), aciona os recursos criativos, por criativas com a participação ativa de todos
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
os atores no espaço educacional, por meio nância com essa interpretação, há evidên-
de diálogos e projetos que visem trabalhar cia de que comportamentos de atenção
valores e a ética, além das mediações cul- compartilhada aos 18-30 meses de idade
turais e sociais. predizem o desempenho em tarefas de te-
oria da mente aos 4 anos de idade (Char-
man et. al, 2000; Nelson, Adamson & Bake-
man, 2008). O presente estudo avalia se o
CO 53 - LT02 mesmo é verdade para as primeiras mani-
Cognição festações da atenção compartilhada. Meto-
dologia: Vinte e oito crianças (22 meninas
e 6 meninos), provenientes de famílias de
LT02-824 - A RELAÇÃO ENTRE classe sócio-econômica média e média-alta
A HABILIDADE DE ATENÇÃO da região metropolitana de Belo Horizonte,
COMPARTILHADA E O participaram do estudo. As crianças foram
DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DA submetidas a uma série de avaliações ao
MENTE longo de um período de aproximadamente
Camila Soares de Abreu - UFMG quatro anos. Todas as avaliações ocorre-
casoares.abreu@yahoo.com.br ram na casa da criança, em horários pré-
Cláudia Cardoso-Martins - UFMG -determinados pelas mães. No presente
cardosomartins.c@gmail.com estudo, relatamos os resultados de análises
que investigaram a relação entre a atenção
A partir dos 9 meses de idade, os bebês co- compartilhada aos 9 meses de idade e o de-
meçam a coordenar deliberadamente sua senvolvimento da teoria da 4 anos e 2 me-
atenção com a atenção de outras pessoas. ses de idade. A atenção compartilhada foi
Por exemplo, olham na direção do olhar avaliada através da Escala de Comunicação
ou do gesto de apontar de um adulto pro- Social Inicial (Early Social Communication
curando, ao que tudo indica, identificar o Scales - ESCS), uma medida desenvolvida
objeto ou evento de sua atenção. Também por Mundy et. al (2003). Além da habilida-
chamam a atenção das pessoas para obje- de de atenção compartilhada (e.g., como
tos e eventos ao seu redor, aparentemente quando a criança segue o gesto de apon-
com o único propósito de compartilhar sua tar do examinador, ou quando ela alterna
experiência ou interesse (Carpenter, Na- seu olhar entre um objeto e os olhos do
gell, & Tomasello, 1998; Tomasello & Car- examinador), a ESCS avalia a habilidade de
penter, 2007). Esses comportamentos têm solicitação/demanda (e.g., quando a crian-
sido denominados de comportamentos de ça olha para o examinador ao tentar pegar
atenção compartilhada. De acordo com um um objeto fora de seu alcance ou quando
ponto de vista proeminente na literatura entrega um objeto ao experimentador em
(Tomasello, 1995), a atenção compartilhada resposta à sua solicitação) e de interação
revela a compreensão nascente na criança social (e.g., quando a criança bate palmas
de que as pessoas são seres psicológicos enquanto o examinador canta uma música
que possuem intenções e desejos próprios ou quando a criança inicia a brincadeira de
e, como tal, prenuncia o desenvolvimento rolar uma bola ou um carrinho para o exa-
posterior da teoria da mente. Em conso- minador). Como os exemplos acima ilus-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tram, para cada habilidade, a ESCS distin- Palavras-chave: atenção compartilhada, teoria
gue entre comportamentos iniciados pela da mente, compreensão de intencionalidade
criança e comportamentos de resposta da Contato: Camila Soares de Abreu, UFMG,
criança a interações iniciadas pelo examina- casoares.abreu@yahoo.com.br.
dor. A administração da escala foi filmada
para posterior codificação dos compor-
tamentos da criança. O desenvolvimento LT02-902 - COGNIÇÃO, BILINGUISMO E
da teoria da mente foi avaliado através de PESQUISA NO BRASIL
cinco tarefas que avaliam a compreensão Ana Catharina Lima
de crenças falsas. Finalmente, utilizamos anaclc@yahoo.com.br
a Escala de Maturidade Mental Colúmbia Luciana Hodges - UFPE
(Alves, Duarte & Faria, 2001) para avaliar lucianahodges@gmail.com
a inteligência não-verbal das crianças. Esse Alena Nobre - UFPE
teste, administrado quando as crianças alenacabral@gmail.com
completaram 3 anos e 7 meses, avalia a ha- Antônio Roazzi - UFPE
bilidade de o examinando identificar, entre roazzi@gmail.com
figuras apresentadas em um cartão (e.g.,
uma cama, uma escrivaninha, um armário O Brasil é tradicionalmente considerado
e uma janela), aquela que é “diferente” ou um país monolíngue; entretanto, é um país
“não combina” com as demais. Resultados. multicultural formado a partir da coloniza-
Tanto a habilidade de responder à atenção ção e imigração de vários povos, que trou-
compartilhada quanto a habilidade de res- xeram consigo suas línguas e culturas. Des-
ponder a solicitações comportamentais aos ta forma, como afirma Moura (2009), com-
9 meses correlacionaram-se significativa- preender a identidade nacional brasileira,
mente com a teoria da mente aos 4 anos e a despeito desta formação multifacetada,
2 meses de idade. Ou seja, as crianças que, como uma nação uniforme, de convivência
durante a administração da ESCS, exibiram pacifica e monolíngue, trata-se de ilusão.
maior frequência de comportamentos de O Brasil, portanto, pode ser considerado
responder à atenção compartilhada e de um pais multilíngue. Isso é reforçado pela
comportamentos de responder a solicita- presença crescente das escolas bilíngues,
ções comportamentais apresentaram um escolas internacionais, e escolas localiza-
melhor desempenho nas tarefas de teoria das em fronteiras de países com o Brasil.
da mente. Entretanto, apenas a habilida- Há também que se levar em consideração
de de responder à atenção compartilhada a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, as
continuou a contribuir significativamente 170 línguas ainda presentes nas comuni-
para o desenvolvimento da teoria da men- dades indígenas (ainda que minoritárias),
te após o controle do efeito de diferenças bem como uma variedade de dialetos exis-
individuais na inteligência das crianças. tentes (Moura, 2009). Se por um lado há
Conclusões. Esses resultados corroboram a argumentos apontando o Brasil enquanto
hipótese de Tomasello (1995) de que, des- pais multilíngue, é difícil discutir a relevân-
de o início, as crianças interpretam o com- cia dada a isso no país. Nobre, Hodges e
portamento de seguir o olhar ou o gesto de Roazzi (2011) realizaram um levantamento
apontar do adulto como atos intencionais. de estudos publicados em português nas
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se ancora esta pesquisa são duplos. Por mento para um plano reflexivo, no qual o
um lado, o estudo se fundamenta em próprio indivíduo se volta sobre os funda-
Fuentes (2009), que considera que a mentos e limites de seu próprio discurso
participação e prática em atividades de (Leitão, 2007b). Das acepções aqui abor-
“debate crítico” mobilizam operações es- dadas sobejassem três princípios teóricos
pecíficas de raciocínio que possibilitam o que são assumidos dentro desta pesqui-
desenvolvimento do pensamento crítico. sa: a) A cognição vista como um sistema
Por outra parte, o estudo se ancora no complexo de funcionamentos psicoló-
consenso encontrado entre teóricos e gicos construídos a partir da relação de
pesquisadores sobre o papel mediador interdependência entre o sujeito e o am-
da argumentação no desenvolvimento biente histórico-cultural que possibilita
cognitivo dos indivíduos. Tal mediação a interpretação e compreensão da reali-
é observada na medida em que o enga- dade circundante (Vigotsky, 1934/2001;
jamento do indivíduo na argumentação Bruner, 1997); b) Desde uma perspecti-
incrementa a tomada de consciência e a va histórico-cultural (de base dialógica),
reflexão sobre seu próprio discurso, assim se ressalta o papel da linguagem como
como do de outros, propiciando um cená- fundamental na constituição da cognição
rio favorável para a construção de novas humana e como parte relevante na cons-
concepções e pontos de vista relativos ao trução e transformação do pensamento
tema em questão (Ascione, 2000; Saíz & (Leitão, 2010), e c) A natureza metacogni-
Rivas, 2008; Fuentes, 2009; Leitão, 2010). tiva da argumentação como o mecanismo
Reconhecer o “debate crítico” como uma que instaura a reflexão sobre o próprio
atividade discursiva, caracterizada pela pensamento (Leitão, 2007b). Portanto, a
oposição dialógica em que se enfrentam natureza eminentemente metacognitiva
distintos usuários da linguagem que sus- que caracteriza o pensamento reflexivo
tentam diferentes pontos de vista em define-o como um “processo autorregu-
relação a um conflito de opinião (Fuen- lador do pensamento constituído quando
tes, 2009, Plantin, 2004), leva a pensá-lo um indivíduo toma suas próprias con-
como processo particular de negociação cepções sobre os fenômenos do mundo
discursiva que privilegia o pensamento. (conhecimento), como objeto de pensa-
As trocas contínuas que acontecem du- mento e considera as bases em que estas
rante a negociação de um conflito de opi- se apoiam e os limites que as restringem”
nião e exigem do indivíduo que se volte (Leitão, 2003, pp. 455). O presente es-
sobre seu próprio pensamento e o tome tudo se caracteriza como uma pesquisa
como objeto de reflexão (Ascione, 2000; qualitativa de tipo longitudinal de serie
Ascione & Rolando, 2002; Fuentes, 2009; de casos (Stake, 2000; Yin, 2001, Flick,
Leitão, 2007b). A ideia anteriormente 2009) cujos participantes eram estudan-
citada permite destacar o caráter de au- tes de primeiro período da graduação em
torreferencialidade da linguagem –o dis- psicologia de uma universidade publica,
curso em si mesmo– como possibilitador matriculados em uma disciplina que teve
do movimento autorregulador do pen- como proposta pedagógica central a utili-
samento, ou seja, o papel regulador do zação do Modelo do Debate Crítico (Fuen-
discurso favorece a mudança do pensa- tes, 2009) como recurso para discussão
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
do conteúdo da disciplina. Os dados uti- autora pela estrutura e a avaliação dos ar-
lizados para a análise foram construídos a gumentos levá-a a propor como critérios
partir dos registros videográficos e o ma- de valoração qualitativa, tanto na cons-
terial pré-existente pertencentes ao ban- trução quanto na produção do argumen-
co de dados gerado no contexto do pro- to, as condiciones ARS – aceitabilidade,
jeto “O Debate Crítico como contexto de relevância e suficiência –, que permitem
desenvolvimento do pensamento reflexi- avaliar o grau de apoio que as premissas
vo”, desenvolvido pelo Núcleo de Pesqui- oferecem para a conclusão; portanto, um
sa da Argumentação da UFPE (NupArg/ argumento racional seria aquele que ofe-
Diretório de Grupos de Pesquisa-CNPq). rece como apoio boas razões para a con-
Atendendo aos critérios de participação clusão. Na segunda fase da macroanálise,
no papel de avaliador e participação ativa procurou-se observar possíveis trajetó-
nos debates, foram escolhidos de forma rias de desenvolvimento do pensamento
intencional (Morse, 1991) dentre os es- reflexivo de cada participante através da
tudantes matriculados naquela discipli- análise de se e como se transforma a qua-
na oito (8) participantes. Neste trabalho lidade de seus argumentos. Dado que na
serão apresentados dois casos como um atualidade não se conhecem resultados
recorte da analise dos dados construídos, de pesquisas voltadas a indagar o impac-
no qual se busco observar a emergência to do programa de intervenção baseado
de variações tanto na qualidade dos argu- no “Modelo de Debate Crítico” (Fuentes,
mentos de cada sujeito (trajetória indivi- 2009), nem medições sistemáticas que
dual), como nas trajetórias de desenvolvi- mostrem o impacto no funcionamento
mento de diferentes sujeitos. Este estudo psicológico dos sujeitos engajados neste
privilegia a análise qualitativa, visto que tipo de atividades no contexto de sala de
seu objetivo é estudar possíveis trans- aula. Apresenta-se uma pré-análise que
formações que acontecem na qualidade mostra uma descrição exploratória sobre
de argumentos produzidos por estudan- o desenvolvimento e aquisição do pen-
tes inseridos numa experiência pedagó- samento reflexivo a partir das possíveis
gica intensiva de reflexão e exercício de transformações que acontecem na qua-
argumentação sobre temas curriculares lidade dos argumentos. Por outra parte,
(debate crítico). Devido às características com o intuito de contribuir no entendi-
discursivas próprias do debate critico e mento do funcionamento psicológico dos
ao objetivo antes mencionado, a análi- sujeitos que participam em experiências
se qualitativa se deu em dois níveis: Na pedagógicas intensivas de reflexão e exer-
primeira fase da microanálise, se avaliou cício argumentativo caracterizou-se como
a qualidade dos argumentos produzidos acontecem tais mudanças.
pelos participantes durante a realização
de debates como em outras situações Palavras-chave:Desenvolvimento;
de argumentação que aconteceram em pensamento reflexivo; qualidade dos
sala de aula ao longo do semestre aca- argumentos.
dêmico, tomando-se como referencia as Contato: Nancy Lizeth Ramírez Roncancio,
concepções de força e solidez definidas UFPE, nalyrra@hotmail.com.
por Govier (2010). A preocupação desta
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três subtestes: escrita – escrita do nome critérios de inclusão (i.e. referência bi-
próprio e de palavras isoladas apresen- bliográfica completa). Entre as publica-
tadas sob a forma de ditado; aritmética ções analisadas: 55% foram provenientes
– solução oral de problemas e cálculo de do Google Acadêmico, 22% do banco de
operações aritméticas por escrito; e lei- Testes CAPES, 13% do Scielo, 8% Lilacs e
tura – reconhecimento de palavras isola- 2% Pepsic. Ao verificar-se o número de
das do contexto (Stein, 1994). Cada um publicações do TDE por tipo de referên-
dos subtestes apresenta uma escala de cia foram obtidos 111 artigos em revistas
itens em ordem crescente de dificuldade qualis A, B e C, 49 dissertações, 21 teses
que são apresentados à criança indepen- de doutorado, 18 resumos em anais e
dentemente de sua série, uma vez que a duas referências de outro tipo. Foi ana-
criança interrompe o subteste assim que lisado o número de publicações por ano,
os itens apresentados em determinado ao longo de treze anos, e observou-se
nível da escala forem muito difíceis de um aumento gradativo do número de
serem resolvidos. Para a construção de publicações, com especial destaque para
cada um dos subtestes do TDE processos o biênio 2008-9 com um total de 74 pu-
distintos foram desenvolvidos. O pro- blicações científicas. Observou-se o uso
cesso de normatização foi realizado com do instrumento por diversas áreas, além
uma amostra estratificada em três tipos da psicologia. Dentre algumas das críti-
de escolas de Porto alegre: estaduais, cas apontadas nos estudos destaca-se
municipais e particulares. Os dados nor- a necessidade de renormatizar o teste
mativos do TDE derivam-se das médias para a nova realidade do ensino funda-
dos Escores Brutos (EB) e Desvio Padrão mental brasileiro de nove anos, fazendo-
(DP) que foram calculados com base no -se necessária a realização de uma re-
desempenho das crianças para cada um construção, validação e normatização do
dos extratos da amostra por série e para TDE. Outras variáveis foram analisadas e
a idade cronológica. Deste modo, o obje- contribuíram para a constatação de que,
tivo do presente trabalho foi realizar uma mesmo após dezesseis anos, e sem sofrer
revisão sistemática da literatura científica nenhuma atualização, o TDE continua
buscando estudos publicados que utiliza- sendo bastante utilizado, mostrando-se
ram o TDE. A metodologia empregada foi ainda muito relevante.
um levantamento da literatura nacional
em bases de dados nas áreas de psico- Palavras-chave: TDE; desempenho escolar;
logia, pedagogia e medicina. Foram con- revisão sistemática.
sultadas cinco ferramentas de busca de Contato: Lilian Milnitsky Stein, PUCRS, lilian@
referências científicas: Google Acadêmi- pucrs.br
co, Scielo, Lilacs, Pepsic e Banco de Teses
CAPES. As palavras chave “Teste de De-
sempenho Escolar” e “TDE” foram utiliza-
das em todos os anos disponíveis desde
1994. Foram analisados os dados de 201
publicações, entre artigos, dissertações,
teses, resumos em anais, após adotados
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nos não conseguirem ler e escrever. A lhos, caso eles manifestassem o desejo
educação especial: avaliação. Pais e alu- de frequentar a escola regular. Concep-
nos disseram gostar do ambiente em que ções acerca do desempenho escolar. So-
os filhos estudavam, em especial nos bre o sentimento que nutriam frente às
centros de ensino, devido à ausência de sucessivas reprovações e a permanência
preconceitos. Porém, se queixaram de no ensino especial, alguns alunos disse-
pouco investimento na aprendizagem ram sentir-se bem e outros com “raiva”.
formal dos alunos (notadamente leitura e Algumas mães relataram sofrer de forma
escrita). Inclusão escolar: de direito, mas isolada frente às dificuldades encontra-
não de fato. Este núcleo remete a duas das pelos filhos e outras alegaram indife-
questões importantes: o desconheci- rença, pela certeza de que seu desenvol-
mento acerca do que consistia a inclusão vimento seria sempre lento e limitado.
escolar e a ausência de empoderamento Expectativas presentes e futuras. A maio-
dos alunos em relação à sua escolariza- ria dos alunos projetava grandes realiza-
ção. Nenhum dos entrevistados tinha cla- ções de cunho profissional e pessoal para
reza acerca do que consistia a inclusão seu futuro. A maioria dos pais, por sua
escolar. Os pais a concebiam como sendo vez, esperava que executassem tarefas
a inserção dos alunos nas classes espe- braçais, manuais, angustiando-se a res-
ciais, sendo que alguns acreditavam que peito do “que aconteceria com os filhos,
os filhos já haviam sido incluídos ou esta- ao fim da escolarização especial”. Os re-
vam em classes inclusivas. Mesmo que sultados da pesquisa indicam que, de
fossem insultados pelos colegas e não fato, os alunos encontravam-se na educa-
estarem alfabetizados, a maioria dos alu- ção especial por “decisão” de outrem.
nos disse querer participar da escola re- Esta imposição suposta demanda uma
gular e apenas dois afirmaram temer os série de questões e sugestões. Com rela-
maus tratos por parte de colegas e pro- ção às equivocadas concepções acerca da
fessores. Alguns alunos e responsáveis D.I. e aos direitos e deveres referentes à
relataram ter solicitado à direção de Cen- inclusão escolar, sugerimos que as auto-
tros de Ensino a transferência para o regi- ridades competentes utilizem os meios
me de integração, mas isto lhes foi nega- de comunicação para divulgar junto à co-
do pelos profissionais que avaliavam os munidade informações corretas e conhe-
estudantes. Esclarecidos acerca da inclu- cimento científico acerca da D.I. e no que
são escolar, a metade dos pais afirmou consiste o direito à inclusão escolar; que
que não deixaria seus filhos estudar na investigações sejam feitas com profissio-
educação regular, a despeito do desejo nais da área de saúde sobre suas concep-
dos mesmos, por temor dos maus tratos ções e atuação, no que se refere à D.I..
e pela não alfabetização. Outros relata- Com relação às queixas dos pais sobre o
ram que gostariam que os filhos estives- não investimento na aprendizagem for-
sem na inclusão, mas que não poderiam mal dos filhos, se considerados os estu-
atender ao desejo dos mesmos porque a dos de Vigotsky sobre a escolarização, o
decisão não dependia deles e sim da di- desenvolvimento e o aprendizado desses
reção da escola. Apenas duas mães afir- alunos, somos forçadas a reconhecer que
maram que lutariam pelo direito dos fi- o sistema educacional vigente pode não
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cola que seja cada vez mais aberta à diver- que é uma prática comum nas escolas res-
sidade e que tenha melhores condições ponsabilizar pelo seu próprio insucesso o
de atender aos alunos, oferecendo-lhes aluno que represente um maior desafio
intervenções pedagógicas diferenciadas, àqueles que respondem por sua aprendi-
passa pela necessidade de se identificar zagem e desenvolvimento. Na segunda ca-
e refletir sobre esses obstáculos. O pre- tegoria - Instrucionismo e Preleção como
sente estudo teve por objetivo investigar práticas pedagógicas predominantes em
essas barreiras no contexto específico de sala de aula, observa-se na unidade de en-
uma unidade pública de ensino funda- sino pesquisada a predominância de um
mental, series finais, localizada no Distrito modelo pedagógico muito mais centrado
Federal. Para a realização da pesquisa foi no professor e no ensino do que no aluno
adotada a metodologia qualitativa com a e na aprendizagem. As falas dos professo-
participação de vinte e duas pessoas, sen- res entrevistados evidenciam que dadas
do treze professores, três mães, um pai, as circunstâncias enfrentadas em sala de
três alunas ANEEs e duas profissionais da aula, a construção de ações pedagógicas
Sala de Recursos. Empregou-se como ins- compatíveis a uma escola que respeita
trumento o questionário aberto, a entre- a diversidade, se torna algo muito difícil
vista semiestruturada e a observação. As de ser concretizado. Para Demo (2006) o
informações apreendidas a partir de tais modelo educacional pautado no Instrucio-
instrumentos foram analisadas buscando nismo mostra-se ineficiente na promoção
evidenciar a construção de significados de aprendizagens significativas porque
dos participantes sobre as barreiras que não fomenta a autonomia do aluno e não
dificultam a efetivação da Educação Inclu- o coloca como protagonista do processo
siva. Os resultados alcançados apontaram pedagógico. Na perspectiva do Instru-
para a existência de várias barreiras à in- cionismo as diferenças e especificidades
clusão dos ANEEs no contexto escolar. Es- dos alunos são muitas vezes ignoradas. A
sas barreiras foram organizadas em cinco terceira categoria diz respeito à Violência
categorias. Ilustrando a primeira barreira simbólica imposta ao professor. Segundo
– A falta de apoio às famílias dos ANEEs, os professores, as salas de aula superlota-
uma das mães entrevistadas menciona o das, as cargas horárias exaustivas, a falta
seu trabalho de acompanhamento da vida de recursos materiais e humanos se cons-
escolar da filha, referindo-se a esse pro- tituem em fatores que desestimulam o
cesso como “minha batalha”. É recorrente professor, o submetem a violência e, por-
nas falas de todas as entrevistadas desse tanto, o impedem de fazer um trabalho a
segmento, um sentimento de abandono contento, dentro dos princípios de uma
e de resignação frente aos desafios que Escola Inclusiva. Segundo Nóvoa (2001),
precisam enfrentar para assegurar que o o fato de a sociedade hoje não conseguir
direito que os seus filhos têm à escolarida- estabelecer com clareza o que espera da
de seja respeitado. Elas mencionam ainda escola, faz com que os professores sintam-
a tendência da escola de tentar se eximir -se confusos e cobrados de forma des-
da responsabilidade de atender aos alu- proporcional às condições que lhes são
nos considerados difíceis. Dubet, (2003), dadas para desenvolver o seu trabalho. A
Ribeiro, Mieto e Silva (2010) esclarecem quarta categoria versa sobre A formação
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de envolvimento com os sujeitos e os pro- Para José, [...] opor é uma boa e agradável
cessos educativos. Para José: O estranho ação, mas que também traz complicações.
não deixa o familiar fixar-se. O estranho Você fica mais aguerrido e tenso. Por isso
é o não-familiar. O estranho não deixa falo que eu fico aberto aos meus modos
quieto a normalização, as regras preten- de ser de oposição no mundo junto ao ou-
samente sólidas como rochas. Talvez por tro. Ao narrar sobre a sua vida e os sen-
isso eu produza tanta crítica à Psicopato- tidos construídos ao longo da trajetória
logia tradicional quando presentes nas pessoal-profissional-formativa, José nos
práticas escolares: a classificação como instiga a refletir sobre o saber e a educa-
regra única e válida universalmente. O ção inclusiva, associando a uma atuação
nominalismo como perversão – nomeio como oposição a tudo que é conformati-
o outro de algo que acabo diminuindo-o vo. A sua história de vida contribui para o
– o outro é disléxico, é deficiente mental, desenvolvimento de uma modalidade de
tem problemas familiares, é gênio etc. As “investigação-ação” (Goodson, 2007), ou
narrativas nos possibilitaram refletir sobre seja, sendo investigador e nos fornecendo
os atos e os modos cotidianos de educar, dados e conhecimentos sobre o que é e
as concepções pessoais, valores e ideais, como é ser oposição. Nesse processo de
e os modos como José produziu sentidos reflexão sobre o sentido de ser opositor ao
na própria existência e no desenrolar das estabelecido José revela que o ato de edu-
atividades que propiciam uma educação car e praticar a educação inclusiva na sua
inclusiva. A nosso ver, a formação docente trajetória requer coragem para se erguer
requer a apropriação dos saberes e mo- ou reerguer das quedas. Concluímos que
dos de agir intencionais, produtores de “a maneira como cada um de nós ensina
processos sociais-políticos-educacionais- está diretamente dependente daquilo que
-éticos, que considerem a presença do ou- somos como pessoa quando exercemos
tro, que tem uma visão diferenciada e nos o ensino” (Nóvoa, 2007, p. 17). Diante
ensina quando não sabemos, objetivando das resistências e rigidez dos professo-
autonomia nos processos de criação e res, esse autor propõe que os docentes
prática de uma escola inclusiva. Para José, se apropriem dos seus próprios saberes,
a inclusão tem [...] muitos sentidos, mas como também trabalhem as perspectivas
sempre comovidos ou conduzidos por teóricas e conceituais. Nas narrativas per-
posturas de diálogo, respeito, tolerância, cebemos a forte ligação com os contextos
permissão do outro ser, perseverança no sociais, culturais, político e econômico re-
sentido também de persistir [...]. As expe- lativo ao tempo-espaço de suas vivências.
riências de vida e o ambiente sociocultural José tornou públicas as suas experiências
são fundamentais na formação pessoal- e abriu possibilidades de diálogo com elas,
-profissional, conforme “o ‘quanto’ inves- mostrando os sentidos construídos em re-
timos o nosso ‘eu’ no nosso ensino, na lação aos processos profissionais-formati-
nossa experiência e no nosso ambiente vos em educação inclusiva.
sociocultural, assim como concebemos a
nossa prática” (Goodson, 2007, p. 72). II Palavras-chave: História de Vida; Educação
- Outro sentido forte revelado nas narrati- Inclusiva; Processos Formativos.
vas do José é o de se opor ao estabelecido.
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variáveis que estão relacionadas ao ajusta- que o docente, pessoa privilegiada na fun-
mento escolar. Isso é relevante, sobretudo ção de mediador do conhecimento, tem a
na atual realidade escolar, em que os ín- respeito da afetividade. Vale ressaltar que
dices de violência e de indisciplina nas es- as concepções são determinantes da ação
colas brasileiras têm sido ascendentes. As- e preditoras de comportamento; em virtu-
sim, saber que promover o bem-estar sub- de disso, estudar as concepções docentes
jetivo e oferecer uma escola que desperte sobre afetividade esclarece muitos aconte-
nos jovens o sentimento de pertencimento cimentos que têm a sala de aula como lo-
pode ser útil à medida que auxilia os dire- cus. A afetividade, não raro, é compreendi-
tores educacionais a prevenir comporta- da, no contexto educacional, de forma con-
mentos desajustados na escola, a exemplo traditória. Por vezes, acredita-se que seja
do bullyng, das condutas antissociais e do somente emoções (expressões plásticas),
uso potencial de drogas (Chaves, 2006). ou somente sentimentos (representação
psicologizada); não se percebe que emoção
Palavras-chave: Ajustamento Escolar; Estilos e sentimento são, em conjunto com as pai-
Parentais; Bem-Estar Subjetivo. xões, as bases da afetividade, não poden-
Contato: Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira, do ser, sozinhas, afetividade em si. Partin-
UFPB, geninha-gba@yahoo.com.br do dessa ideia diretriz, esta pesquisa teve
como objetivo geral investigar as concep-
ções de professores do 6º Ano do Ensino
Fundamental a respeito da afetividade e do
CO 34 - LT04 papel que atribuem aos aspectos afetivos
Afeto em sua prática pedagógica e na aprendiza-
gem dos alunos. De forma mais específica,
a pesquisa pretendeu: identificar o papel
LT04-720 - O PROFESSOR DO 6º ANO E que os professores atribuem ao aspecto
SUAS CONCEPÇÕES SOBRE AFETIVIDADE: afetivo na relação professor-aluno; analisar
EFEITOS NA PRÁTICA DOCENTE E NA de que modo professores do 6º Ano do En-
APRENDIZAGEM sino Fundamental compreendem os efeitos
Leandro Batista da Silva - UCB da dimensão afetiva em sua prática peda-
leandroletras@gmail.com gógica e na aquisição do conhecimento
Sandra Francesca Conte de Almeida - UCB pelos alunos; e verificar se o tempo de atu-
sandraf@pos.ucb.br ação docente e a área de formação inter-
ferem nas concepções que os professores
Estudar o processo ensino-aprendizagem têm a respeito da afetividade. Os sujeitos
é refletir sobre os aspectos que interferem do estudo foram professores do 6º Ano do
na constituição das principais pessoas en- Ensino Fundamental de uma escola militar.
volvidas no processo: professor e aluno. A base teórica são os pressupostos de Hen-
Durante o processo de aprendizagem, pro- ri Wallon e pesquisas recentes, decorrentes
fessor e aluno desenvolvem trocas relacio- da aplicação de sua teoria, relacionadas à
nais, profundamente influenciadas pelas constituição da pessoa concreta e à inter-
questões da afetividade. É essencial, pois, face pedagogia-psicologia. Tendo em vista
que se busque conhecer as concepções o contexto histórico-social a que Wallon es-
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teve vinculado e às suas convicções ideoló- disso, a afetividade ainda é percebida, pe-
gicas, buscou-se compreender a pertinên- los professores, de maneira contraditória:
cia do materialismo histórico-dialético, em ora como emoção, ora como sentimento, o
virtude do método e suas implicações na que vai ao encontro da visão dialética da te-
análise e construção dos dados da pesqui- oria walloniana. No entanto, os núcleos de
sa, que visava à apreensão das concepções significação obtidos demonstraram que es-
docentes, a partir da elaboração de núcle- ses profissionais ainda não conseguem ex-
os de significação e sentido. Após contato pressar, de forma clara e concreta, como se
com a escola e com os professores que dá a influência da afetividade em sua prá-
aceitaram participar do estudo, realizaram- xis. Mostra-se presente, portanto, também
-se entrevistas semiestruturadas, individu- uma visão dicotômica entre afetividade e
ais, com vistas a identificar as concepções cognição (ainda que mudanças nesse para-
desses professores a respeito da afetivida- digma já se prenunciem, como se verificou
de e seus desdobramentos na prática peda- no estudo). Em se tratando do locus da sala
gógica e na aprendizagem dos seus alunos,. de aula, afetividade e cognição seriam dois
Após as entrevistas, procedeu-se à análise constructos independentes, com espaços e
e discussão dos dados, estabelecendo-se, momentos próprios de expressão. Quanto
inicialmente, pré-indicadores discursivos aos efeitos da afetividade na relação que os
das concepções dos docentes entrevista- alunos estabelecem com os objetos de co-
dos. A análise dos pré-indicadores possibili- nhecimento, verificou-se que os professo-
tou a construção de indicadores que emba- res concebem que a aprendizagem do alu-
saram a constituição dos seguintes núcleos no será tanto melhor quanto sua relação
de significação e sentido: “Os interesses e com o docente for calcada na afetividade.
motivações do docente em trabalhar no 6º No entanto, essa relação com os objetos de
Ano do Ensino Fundamental”, “ ‘Meu alu- conhecimento sinalizou, com uma exceção,
no’: a pessoa que está no 6º Ano do Ensino que os docentes não trazem em suas con-
Fundamental”, “O lugar da afetividade na cepções a noção de que o professor deve
formação dos professores do 6º Ano do En- apresentar-se como uma via que conduz
sino Fundamental”, “O professor do 6º Ano o aluno ao conhecimento e que este deve
do Ensino Fundamental e suas concepções ser o principal objetivo do educador e do
sobre afetividade”, “Manifestações de afe- educando. Quanto à formação, no tocante
tividade na escola”, “Afetividade, aprendi- à área da Psicologia do Desenvolvimento e
zagem e relação professor-aluno” e “Afeti- Aprendizagem, pouca alteração significa-
vidade e a prática do docente do 6º Ano do tiva se produziu na formação docente ao
Ensino Fundamental”. A partir dessa análi- longo das últimas décadas, haja vista o fato
se, apreenderam-se, no discurso docente, de professores com grandes diferenças de
suas concepções acerca da afetividade e tempo de formação apresentarem respos-
seus efeitos no processo ensino-aprendi- tas muito semelhantes a respeito do lugar
zagem. A investigação das concepções dos da afetividade em sua formação. Infere-se
docentes mostrou que os professores do 6º que, ao adentrarem na escola, os docentes
Ano do Ensino Fundamental acreditam ser acabam tendo suas concepções moldadas
a afetividade um dos elementos que pode pelas interações com o meio e, portan-
influenciar sua prática pedagógica. Apesar to, com as concepções recorrentes nesse
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meio, que exercem mais influências em Por compreender a afetividade como uma
sua prática do que a sua própria formação. dimensão tão importante quanto a di-
Confirmou-se, nos relatos, que o profes- mensão cognitiva na constituição do ser
sor, por vezes, ainda percebe seu aluno de humano e, portanto, acreditar que ambas
forma contraditória: ora ele é uma criança, devam ser igualmente valorizadas no pro-
ora um adolescente; já é positiva, contudo, cesso ensino-aprendizagem do aluno no
a ênfase dada ao fato de considerarem esse contexto escolar, o estudo de que trata
discente como uma pessoa em transição. este texto, denominado estado do conhe-
Também mostrou-se muito forte a associa- cimento, identificou a produção de teses
ção entre afetividade e os anos iniciais da e dissertações que priorizaram questões
escolarização. Ainda se observou, ao longo relativas à afetividade no contexto escolar,
da fala dos professores, uma grande pre- defendidas no Programa de Estudos Pós-
ocupação em não se perder a autoridade -Graduados em Educação: Psicologia da
e o status de educador perante os alunos. Educação da Pontifícia Universidade Cató-
Por fim, foi muito presente nas concepções lica de São Paulo – PED-PUCSP, no perío-
desses professores a noção de que o edu- do de 1969 a 2009. Este estudo teve por
cador deve respeitar o seu aluno e estar objetivo mapear pesquisas sobre a temáti-
atento às suas demandas. ca “afetividade” para, a partir de análises,
oferecer possíveis encaminhamentos, para
Palavras–chave: Afetividade. Concepções potencializar a prática educativa docente.
docentes. Aprendizagem. Para sua realização, foram estabelecidos
critérios para nortear a seleção dos traba-
lhos que comporiam o corpus do estudo: o
LT04-911 - AFETIVIDADE E primeiro deles foi a definição de descrito-
APRENDIZAGEM: PRODUÇÃO DE TESES E res relacionados à afetividade no contexto
DISSERTAÇÕES NO PED-PUCSP escolar, abrangendo diferentes aborda-
Laurinda Ramalho de Almeida - PUC/SP gens teóricas; o segundo critério referiu-se
laurinda@pucsp.br à seleção dos trabalhos, a partir de títulos,
Andrea Jamil Paiva Mollica - PUC/SP palavras-chave, resumos e, em caso de dú-
ajmollica@uol.com.br vida, leitura das pesquisas na íntegra; o ter-
Priscilla Andrea Glaser - PUC/SP ceiro critério foi quanto à fonte que seria
priglaser@yahoo.com.br utilizada, o catálogo “30 anos de Produção
Fátima B. M. Cintra - PUC/SP em Psicologia da Educação – Dissertações
fbissoto@gmail.com e Teses” (Moroz, 1999); Biblioteca Digital
Glaucia C. R. Medrado - PUC/SP da PUC-SP – Sapientia ou visitas à biblio-
glaucia.medrado@yahoo.com.br teca da PUC-SP. Estes critérios possibilita-
Lilian Corrêia Pessôa - PUC/P ram a identificação de 71 pesquisas, sendo
lilipessoa@hotmail.com 17 teses e 54 dissertações. Em relação aos
Márcia T. C. Necyk - PUC/SP resultados, a primeira evidência do estudo
mnecyk@uol.com.br foi que a temática “afetividade” foi pesqui-
Yuska N. B. Felicio-Garcia - PUC/SP sada em toda a trajetória do PED-PUCSP:
yuskinha@hotmail.com na década de 1970 (o PED foi criado em
Financiamento: CNPq/CAPES 1969), com a predominância da aborda-
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gem rogeriana, introduzida por uma das interpessoais entre os vários agentes edu-
primeiras professoras do programa, Abigail cativos, provoca avanços no desenvolvi-
Alvarenga Mahoney. Outros referenciais mento do aluno e de todos os que estão
foram empregados nas décadas seguintes, implicados no processo educativo.
mas, a teoria que fundamenta o maior nú-
mero de pesquisas sobre afetividade é a Palavras-chave: afetividade, estado do
psicogenética walloniana, também intro- conhecimento, contexto escolar
duzida no PED pela mesma professora, na Contato: Laurinda Ramalho de Almeida, PUC/
década de 1980. Outra constatação propi- SP, laurinda@pucsp.br
ciada pelo estudo foi que a temática “afe-
tividade” tem despertado o interesse dos
pesquisadores, intensificando-se a partir LT04-977 - MAPAS AFETIVOS DA
de 1995, especialmente, nas pesquisas de JUVENTUDE SOBRALENSE
mestrado. Os resultados obtidos neste es- Verônica Salgueiro do Nascimento - UFC
tado do conhecimento evidenciam o quan- vesalgueiro@gmail.com
to a dimensão afetiva precisa ser levada Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
em conta, da creche à universidade, pois, naradiogo@hotmail.com
em todos os níveis de ensino, professores Alexsandra Maria Sousa Silva - UFC
e alunos se referiram à importância da alelexsandra@yahoo.com.br
relação afetividade-aprendizagem. Cabe
ressaltar que apenas quatro pesquisas in- O presente trabalho visou investigar os sen-
cidem na educação infantil e que o maior timentos dos jovens participantes do Pró-
número de pesquisas está centrado no en- -Jovem Adolescente em Sobral, sobre esta
sino superior. Nota-se, ainda, um pequeno cidade. Juventude e adolescência, apesar
número de pesquisas (nove) sobre outros de serem termos, muitas vezes, utilizados
atores que atuam na escola, ao lado de de forma intercambiável, têm sido referên-
alunos e professores: diretores, coordena- cia de grupos populacionais distintos. Na
dores pedagógicos e orientadores educa- década de 1980 emergiram políticas volta-
cionais. O estudo evidenciou, pelo número das para a garantia de direitos de crianças
expressivo de pesquisas que tratam da te- e adolescentes, sendo a adolescência legal-
mática afetividade, a importância da mes- mente posta entre 12 e 18 anos. No Bra-
ma e o interesse que vem despertando nos sil, as políticas de juventude têm avançado
pesquisadores. Dele também emerge a desde a década de 1990 devido, principal-
compreensão de que as diferentes manei- mente, à visibilidade que este segmento
ras pelas quais o professor expressa afeti- populacional tem conseguido focalizando,
vidade repercutem diretamente no aluno, sobretudo, aqueles depois dos 18 anos e
tanto no que se refere à dimensão cogniti- suas questões, relativas à construção da au-
va, como no que tange à forma de relação tonomia na vida adulta. Em 2005, o governo
que estabelece com a disciplina curricular federal lançou a Política Nacional de Juven-
e com a escola. As pesquisas chamam, tude, da qual faz parte o Programa Nacio-
ainda, atenção para o fato de que um cli- nal de Inclusão de Jovens: Educação, Qua-
ma favorável à expressão de sentimentos, lificação e Ação Comunitária – ProJovem.
bem como ao aprimoramento das relações O presente trabalho de pesquisa abordou,
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pela FASM, que coordena os encontros e é nistas de ações inclusivas e solidárias; para
responsável por cada coletivo, além de um tanto, faz-se necessária a inclusão destes
facilitador, responsável por trabalhar temá- atores na reflexão e construção de referen-
ticas ligadas à Saúde, Educação, Cultura, ciais para intervenções públicas e privadas,
Meio Ambiente, dentre outras, definidas interessadas no aumento da qualidade de
pelo Ministério do Desenvolvimento Social. vida nas regiões urbanas.
Como se trata de uma pesquisa de nature-
za qualitativa, em que a construção dos da- Palavras-chave: juventude, mapas afetivos,
dos se estabelece no diálogo entre partici- protagonismo
pante e pesquisador (Gonzalez-Rey, 2002), Contato: Verônica Salgueiro do Nascimento,
o critério de escolha dos participantes é Universidade Federal do Ceará – Campus de
fazer parte do Pro-Jovem Adolescente, em Sobral, vesalgueiro@gmail.com
Sobral, e desejar produzir o mapa afetivo.
Os mapas afetivos, de acordo com Bomfim
(2010), constituem uma metodologia que LT04-1380 - O CORPO APRENDIZ: A VISÃO
visa, a partir da captura de imagens e pa- SOBRE O CORPO NO PROCESSO DE
lavras, utilizar as representações para com- EDUCAÇÃO INFANTIL
preender as relações entre os sentimentos Isabelle Borges Siqueira - Unb
e o espaço. Foi entregue a cada participan- ibs.siqueira@gmail.com
te uma folha de papel A4, e pedido que eles Regina Lúcia Sucupira Pedroza - Unb
representassem, através de um desenho, a rpedroza@unb.br
cidade onde moram. Foram disponibiliza-
dos materiais como lápis de cor e canetas Na atual sociedade capitalista, a escola é
hidrocor e, no verso desta folha, encontra- apresentada como um ambiente impor-
vam-se algumas questões visando explorar tante para a socialização e educação da in-
o sentido do desenho. Os mapas foram fância. Nesse espaço a criança amplia suas
analisados mediante o quadro de análise relações sociais e se apropria e manifesta
apresentada por Bonfim (2010, p. 151). conteúdos vivenciados em sua realidade.
Como resultados, identificou-se a relação Diante disso, quando surge o interesse em
entre subjetividade e espaço construído, estudar a infância e o processo de desen-
enfatizando o afeto como grande agrega- volvimento humano é necessário compre-
dor da percepção e do conhecimento sobre ender sobre o papel histórico e social da
a cidade. As imagens apresentadas pelos escola na sociedade. Considerando que a
participantes, em sua maioria, revelam o escola deve ser um espaço privilegiado na
sentimento de agradabilidade pela cidade, infância, Pinto (2007) busca compreender
indicando satisfação em viver nesse lugar. a condição da criança nesse âmbito e na
Outro sentimento revelado pelos mapas sociedade em geral. Em seu estudo a au-
indica a presença de contrastes, ou seja, tora discorre sobre o fenômeno do confi-
o jovem afirma gostar de sua cidade, mas, namento da infância, no qual a criança é
também, apresenta preocupações com a confinada em instituições especializadas
degradação ambiental, ausência de paz e voltadas à educação e que se baseiam em
aumento do vandalismo. Entendemos que uma estrutura autoritária, burocrática e
os jovens podem assumir papel de protago- hierárquica, onde as crianças perdem seu
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1997; González Rey, 1997; Kindermam & truída em suas relações com o co-gêmeo
Valsiner, 1989; Madureira & Branco, 2001), e outros sociais, e depende da qualidade
vários procedimentos foram utilizados e da mediação semiótica em cada contexto;
criados, a saber: (a) abordagem etnográ- (4) na gênese sociocultural da gemelarida-
fica e observações diretas no contexto da de (Vieira, 2011), os sistemas psicológicos
escola; (b) quatro sessões estruturadas, (que envolvem crenças, afetos e emoções)
com cada par e diferentes participantes são metacomunicados intersubjetivamen-
nessas sessões (professora, mãe, colegas te, regulam e transformam as práticas
e pesquisadora), onde se buscou analisar educativas e os padrões de interação so-
as dinâmicas socioafetivas, comunicativas cial, tendo em jogo, sobretudo, a dialogi-
e metacomunicativas em contextos de cidade constituída através da co-existência
brincadeiras e desenhos; e (c) entrevistas de diferentes versões narrativas sobre o
semiestruturadas com mães e professoras. desenvolvimento de crianças gêmeas, nas
As informações foram analisadas de acor- vozes dos adultos e das próprias crianças;
do com os parâmetros de estudos micro- (5) as práticas educativas das professoras e
genéticos (Lavelli & cols., 2005), a partir sua ação mediadora podem ser potencial-
dos quais três níveis de análise foram cons- mente significativas para a conscientização
truídos para comparar as interações e nar- sobre a importância de se promover expe-
rativas das mães e professoras em relação riências e trajetórias distintas para cada
às duas duplas de crianças. Desse modo, o criança, capazes de favorecer o desenvol-
sistema de significação dos adultos, sobre vimento pleno e integrado da criança gê-
a gemelaridade e o desenvolvimento das mea, desconstruindo mitos e ressignifican-
crianças, construídos a partir de tais níveis do concepções equivocadas sobre o fenô-
de análise compõe o foco de nossa apre- meno da gemelaridade. O presente estudo
sentação nesse trabalho. Os resultados e contribui com uma apresentação teórico-
discussões indicam que: (1) os contrastes e -metodológica de investigação sobre a
inconsistências de objetivos e dos sistemas gemelaridade, destacando a importância
de crenças entre o contexto da família, da de abordagens qualitativas e idiográficas
escola e seus diversos atores, em relação na psicologia (Molenaar & Valsiner, 2008),
às expectativas para o comportamento, que considera a variação interindividual e
desempenho e relacionamentos de crian- intraindividual do fenômeno psicológico,
ças gêmeas comprovam a importância e permitindo revelar continuidades e ruptu-
o valor da relação de interdependência ras de padrões na micro e ontogenênese
entre escola e família, podendo tais con- das interações sociais. Como contribuições
textos de tensão permitir trajetórias flexí- sociais, o estudo promove a autoreflexão
veis de desenvolvimento e possibilitarem dos pais e mobiliza a construção de novas
mudanças orientadas à não sameness; (2) perspectivas para a socialização, orienta-
o clima emocional das interações legitima ção e educação dos filhos(as). À escola, um
o fenômeno afetivo como tendo posição conhecimento sobre possíveis circunstân-
central nos processos de transformação cias e ações mediadoras que dificultam às
semiótica das experiências; (3) same- crianças gêmeas experimentarem posicio-
ness não é uma característica imposta ou namentos de si e suas identidades. À cul-
transmitida à criança gêmea, mas cocons- tura, a desconstrução de mitos e estigmas,
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moralidade, apesar das suas diferenças, rais. Foram considerados apenas os arti-
a psicanálise e o comportamentalismo gos publicados em revistas específicas de
têm em comum, a desvalorização da psicologia e disponíveis online na íntegra.
consciência (Freitas, 2003). Ambas as No levantamento realizado, foram iden-
abordagens entendem a consciência mo- tificados 62 artigos cujos temas estavam
ral como uma interiorização por parte da relacionados ao desenvolvimento moral.
criança dos valores morais dos adultos, Através de uma primeira análise, os ar-
seja por meio de identificações, seja por tigos foram divididos entre empíricos e
meio de prêmios e castigos. A formação teóricos. Foram identificados 32 artigos
moral seria, então, um processo no qual empíricos e 30 teóricos (51,6% e 48,4%,
o indivíduo tem pouca participação ativa. respectivamente). Neste trabalho, são
Para o construtivismo, por outro lado, a apresentados resultados referentes aos
formação da consciência moral é enten- artigos empíricos. A unidade de análise
dida como uma construção do sujeito foram os artigos, os quais foram lidos na
em interação com seu meio e não como íntegra. Inicialmente, analisaram-se os
mero produto das influências do ambien- artigos em função do foco de interesse
te (Freitas, 2007). Diante dessa variedade dos pesquisadores, identificando-se o
de abordagens teóricas no campo do de- aspecto central da investigação empírica
senvolvimento moral, acredita-se haver, relatada em cada artigo. Encontraram-se
também, diversidade de focos de inte- os seguintes focos de interesse: juízo mo-
resse e dos métodos utilizados nas pes- ral, comportamento moral, concepções
quisas sobre esse tema. O objetivo deste sobre aspectos do desenvolvimento mo-
trabalho é traçar um panorama das con- ral e avaliação de instrumentos que exa-
tribuições da psicologia brasileira para minam o desenvolvimento moral. O juízo
o estudo do desenvolvimento moral, na moral foi o foco de interesse de 71,9%
primeira década do século XXI, investi- dos artigos. Estes examinavam como o
gando-se o foco de interesse dos pesqui- participante julgaria uma determinada si-
sadores e os tipos de estudo. Realizou-se tuação, a partir de uma história ou de um
um levantamento dos artigos científicos dilema. Os demais focos de interesse fo-
sobre desenvolvimento moral, produ- ram: (a) comportamento moral (12,5%),
zidos no Brasil, desde o ano 2000 até o que relatavam o estudo das atitudes dos
primeiro semestre do ano 2010. A busca participantes, como, por exemplo, práti-
dos artigos foi realizada na Biblioteca Vir- cas parentais; (b) concepções dos parti-
tual de Saúde (BVS) através das seguintes cipantes a respeito de algum aspecto do
bases de dados: (a) Index Psi Periódicos desenvolvimento moral (9,4%), como,
Técnico-Científicos, (b) Periódicos Eletrô- por exemplo, regras no contexto escolar;
nicos em Psicologia (PePSIC), e c) Scienti- e (c) avaliação de instrumentos de medi-
fic Eletronic Librery Online (Scielo). Para da de julgamento moral para o uso em
tal, utilizaram-se os seguintes descrito- contextos específicos (6,2%). A seguir, os
res: desenvolvimento moral, psicologia artigos foram classificados conforme o
moral, moralidade, juízo moral, justiça tipo de estudo: (a) qualitativo, (b) quan-
distributiva, justiça retributiva, sentimen- titativo ou (c) qualitativo-quantitativo.
tos morais, valores morais e virtudes mo- Foram encontrados 18 (56,2%) artigos
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e teve que funcionar em outro prédio, tas inacessíveis, entre outros aspectos
bastante danificado. Além disso, alguns que auxiliam no adoecimento dos traba-
docentes, mais conservadores, apresen- lhadores e de suas relações no trabalho.
taram resistência em executar o projeto, O assédio moral é um tema que abrange
alegando que este era sinônimo de perda o entendimento e a ação interdisciplinar,
de tempo. Essas dificuldades foram tra- pois, por se tratar de um problema que
balhadas pelos alunos juntamente com ocorre no âmbito ocupacional, deve ser
os professores, alcançando um resulta- percebido e trabalhado preventivamente
do satisfatório. Isto posto, consideramos pela gestão organizacional. E por gerar
que a referida experiência contribuiu conseqüências de desgaste emocional e
para a formação moral e ética dos alunos. sofrimento psíquico deve ser diagnosti-
cado e tratado por profissionais da saú-
Palavras-chave: educação em valores morais, de, e por configurar prejuízo da vítima,
valores morais, moral e escola. deve ser apurado pelos atores do direito.
Contato: Barbara Frigini De Marchi, UFES, O assédio destrói a capacidade de traba-
barbara.fdm@hotmail.com lho e a resistência psicológica das víti-
mas, numa tentativa do agressor de “in-
timidar, diminuir, humilhar, amedrontar e
LT03-1072 - ASSÉDIO MORAL: A consumir emocional e intelectualmente
QUESTÃO DA VULNERABILIDADE DE a vítima, com o objetivo de eliminá-la
GÊNERO da organização (Piñuel & Zabala, 2003,
Helena Diefenthaeler Christ - PUCRS p.32). Guedes (2004) explicita as condu-
helenachrist@hotmail.com tas de assédio moral tais como: recusar a
Tatiana Helena José Facchin - PUCRS comunicação, desqualificar, destruir a au-
tatyhelena@yahoo.com.br toestima, cortar as relações sociais, vexar
Deise Fonseca Fernandes - PUCRS e constranger. Mas nem sempre é fácil
deise.ff@hotmail.com aferir estas situações bem como averi-
Bruna Ferreira Fernandes - PUCRS guar as conseqüências na vítima, mesmo
brufernandes1@hotmail.com que também conhecidas como sintomas
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS de estresse, de ansiedade, de depressão,
ggauer@pq.cnpq.br confusão, síndrome de burnout, entre
Financiamento: CNPq /CAPES outros. Quanto às conseqüências para a
vítima, segundo Piñuel & Zabala, (2003),
As relações no trabalho e com o trabalho elas vão desde alterações mais super-
têm sido alvo crescente de estudos, so- ficiais e imediatas, tais como: confusão
bretudo em função da importância que mental, confusão que gera estresse re-
o labor exerce na vida das pessoas, seja forçado pela dúvida e pelo medo, levan-
na formação da identidade, status social, do esta a isolar-se socialmente. Com o
satisfação pessoal, realização profissional passar do tempo, tais alterações chegam,
e/ou financeira. Juntamente com isso, as- muitas vezes, a modificações psíquicas
pectos negativos também encontram um mais intensas: desvitalização, levando a
campo fértil nas organizações, tais como um estado depressivo crônico; uma “ri-
alta competitividade, estipulação de me- gidificação” da personalidade com o sur-
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gimento de traços paranóides, podendo cem atividade laboral, nos cursos de Ad-
chegar a uma autêntica patologia deliran- ministração de Empresas e Ciências Con-
te, dentro de uma atmosfera de mania e tábeis da Pontifícia Universidade Católica
perseguição, chamada de psicose aluci- do Rio Grande do Sul e 200 estudantes do
natória crônica. Hirigoyen (2005, p.100) EJA. São homens e mulheres com idades
afirma que “as mulheres não somente entre 18 a 59 anos, que estão no mesmo
são frequentemente vítimas, como tam- emprego há no mínimo 1 ano, ou que
bém são assediadas de formas diferentes no último emprego permaneceram pelo
dos homens: as conotações machistas ou período mínimo de 1 ano. A pesquisa
sexistas estão muitas vezes presentes”. foi realizada por meio de delineamento
Segundo a Organização Internacional transversal, quantitativo de correlação
do Trabalho – OIT, o número de vítimas entre o resultado do instrumento e a va-
de assédio moral varia de 5 a 8%, den- riável sócio-demográfica sexo. Foram uti-
tre estes, 70% são mulheres (Jacques e lizados como instrumentos questionário
Amazarray, 2006). Estudo realizado por de dados sócio-demográficos e Negative
Barreto (2006) com 2072 trabalhadores Act Questionnaire (NAQ-R), o qual está
constatou que 870 (42%) foram assedia- sendo validado para o português. Após
dos no ambiente de trabalho, sendo que leitura e assinatura do Termo de Con-
deste total, 65% foram mulheres. Por- sentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
tanto, estudos têm demonstrado que o os questionários foram entregues aos
gênero feminino apresenta uma maior participantes, na sala de aula, para que
vulnerabilidade ao assédio moral. Para estes respondessem de forma individual
Barreto (2000, p. 242) “quando o homem e autoaplicável. Todos os dados foram di-
prefere a morte à perda da dignidade, se gitados no programa SPSS 17.0, para as
percebe muito bem como a saúde, traba- análises estatísticas de freqüência, mé-
lho, emoções, ética e significado social se dias e desvios padrões por meio do Qui-
configuram num mesmo ato, revelando a -quadrado e da correlação de Spearman.
patogenicidade da humilhação”. Embora Este estudo está aprovado pelo Comitê
não sejam encontradas muitas pesquisas de Ética em Pesquisa da PUCRS sob o nú-
com este tema no nosso país, as já rea- mero CEP 10/05295. Como análise dos
lizadas apontam uma alta incidência de resultados, identificou-se que a literatura
casos de assédio moral, ao mesmo tem- aponta que mulheres são frequentemen-
po em que esse assunto ainda seja pouco te mais assediadas no ambiente de traba-
esclarecido para a maioria da população lho do que os homens, sendo que o tipo
e, portanto mais difícil de ser detecta- de assédio varia conforme o gênero. Os
do, tratado e evitado. Assim, o presente fatores de assédio moral possivelmente
projeto visa verificar se estes achados mais praticados contra mulheres sejam o
correspondem à população geral pesqui- isolamento social e as medidas relaciona-
sada em Porto Alegre. Tais pesquisas se das com o trabalho, tais como: retenção
tornam importantes para que haja dados de informações relevantes ao desempe-
relevantes para a criação de programas nho profissional, realização de atividades
preventivos. A amostra é composta por em nível inferior a sua competência, ex-
200 estudantes universitários que exer- clusão do grupo, opinião ignorada, entre
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cer e idade gestacional, tendo por base to “Pequeno para a Idade Gestacional”
a curva de crescimento intra-uterino, (PIG) apresentariam, na idade escolar,
como parâmetro de adequação do peso mais indicadores de depressão infantil.
ao nascer à idade gestacional. Diversas Objetivou-se comparar os indicadores de
curvas têm sido propostas e, dentre es- depressão infantil avaliados em uma co-
sas, inclui-se a curva de Alexander, Himes, orte de crianças em idade escolar, estrati-
Kaufman, Mor e Kogan (1996), em que as ficada pela adequação do peso ao nascer
crianças são classificadas, de acordo com à idade gestacional. Foram avaliados 665
os ajustes do peso ao nascer em relação escolares, com 10 e 11 anos de idade, de
à idade gestacional, da seguinte forma: ambos os sexos, nascidos em 1994 em
“Pequena para a Idade Gestacional” (PIG) Ribeirão Preto-SP. Os participantes foram
- abaixo do percentil 10; “Adequadas para classificados conforme a curva de peso ao
a Idade Gestacional” (AIG) - entre os per- nascer em relação à idade gestacional de
centis 10 e 90; e “Grandes para a Idade Alexander et al (1996), sendo distribuídos
Gestacional” (GIG) - acima do percentil em três grupos: PIG- 136 crianças nasci-
90. Estudos evidenciam que crianças nas- das pequenas para a idade gestacional,
cidas pequenas para a idade gestacional AIG- 485 crianças nascidas adequadas
(PIG) apresentam maior risco de déficit para a idade gestacional e GIG- 44 crian-
cognitivo e problemas comportamentais ças nascidas grandes para a idade gesta-
ao longo da infância e adolescência (Bear, cional. O estudo foi aprovado pelo Comi-
2004; O’Keeffe et al, 2003; Pryor, Silva, tê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP
Brooke, 1995). Porém, o risco para o de- e as participações ocorreram mediante
senvolvimento de problemas emocionais, assinatura do Termo de Consentimento
como a depressão infantil, ainda é pou- Livre e Esclarecido pelos pais ou respon-
co pesquisado. Ademais, no Brasil, pes- sáveis. Procedeu-se a avaliação dos indi-
quisas voltadas para a identificação dos cadores de depressão infantil por meio
efeitos psicológicos de vulnerabilidade do Inventário de Depressão Infantil-CDI,
biológica ao nascer, especialmente, aque- respondido pelas crianças. Tal instrumen-
les relacionados ao seguimento a médio to, elaborado por Kóvacs (1983), foi adap-
e longo prazo, são escassos (Linhares et tado e normatizado para o contexto brasi-
al, 2005). Ressalta-se que investigações leiro por Gouveia et al. (1995) e validado
realizadas com crianças em período esco- para Ribeirão Preto por Hallak (2001).
lar são consideradas relevantes, uma vez Para obtenção de informações referentes
que este consiste em um período de gran- às condições clínicas, à idade gestacional
des demandas e desafios para a criança, e o peso ao nascer, utilizou-se dos dados
com exigências de produtividade e rea- dos prontuários das crianças por ocasião
lizações que se expressam pelo desem- do nascimento e os pais responderam a
penho acadêmico e pela socialização em um questionário sobre as condições só-
contexto social diverso ao ambiente fa- cio-econômicas da família. Os dados re-
miliar (Linhares, Bordin, Carvalho, 2004). ferentes aos indicadores emocionais ob-
Nesse contexto, definiu-se como hipó- tidos pelo CDI foram codificados confor-
tese norteadora do estudo que crianças me as proposições técnicas, adotando-se
expostas ao risco biológico do nascimen- como nota de corte do escore total a pon-
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2007) resultam em dados alarmantes que rada como imprescindível aos estudos
estimam, para as próximas duas décadas, psicanalíticos acerca da depressão, assim
um aumento considerável para o número como a posição depressiva teorizada por
de novos deprimidos. Em 2020, por exem- Klein contribui para a compreensão do
plo, a depressão representará a segunda funcionamento psíquico do depressivo.
afecção que mais perpassará os anos de Teóricos mais atuais, que buscam enten-
vida útil da população mundial, poden- der as correlações entre a depressão e o
do ultrapassar o número de afetados por adolescente contemporâneo, entre eles,
doenças cardiovasculares. Atualmente, é o psiquiatra e psicanalista de crianças e
relacionada como a quarta causa mundial adolescentes, Guillermo Carvajal (1998),
de deficiência e o segundo lugar na faixa também foram abordados neste traba-
etária compreendida entre 15 a 44 anos, lho. É interessante definir depressão, a
podendo se tornar um problema crônico fim de esclarecer a complexidade diag-
ou recorrente que venha a impossibilitar nóstica, já que se assiste, na atualidade,
o sujeito de cuidar de si mesmo e de suas certa confusão entre sofrimento psíquico,
atividades diárias. Dessa forma, este tra- luto e depressão, levando a diagnósticos
balho tem como objetivo correlacionar o precipitados de um quadro depressivo.
período da adolescência e a depressão, Carvajal (2001) tece distinções importan-
avaliando as causas e as repercussões da tes entre mudança, perda e luto patoló-
depressão na adolescência, além de le- gico; este último, segundo o autor pode,
vantar algumas contribuições de teóricos de fato, levar ao estado depressivo. As
da Psicanálise sobre o tema. A metodolo- mudanças no púbere são, muitas vezes,
gia utilizada nesta pesquisa foi de levanta- intencionais e saudáveis, desmistificando
mento bibliográfico e o referencial teórico a ideia de que todo adolescente sofre um
que dá corpo a este trabalho constitui-se luto doloroso na passagem da infância
de autores da Psicologia do Desenvolvi- para a adolescência. O que pode ocor-
mento, autores consagrados da Psicaná- rer, em termos de patologia, segundo o
lise e da Psiquiatria, além de estudos atu- autor, seriam lutos mal elaborados: (a)
ais difundidos em sites como o do Scielo. “luto por identificação” devido à identi-
Partindo do entrecruzamento entre os ficação inconsciente com o luto dos pais
clássicos da Psicanálise (Freud; Klein), a que não aceitam “a perda de seu bebê”;
interface entre a Psicanálise e a Psiquia- (b) “luto patológico por regressão”, quan-
tria (Zimerman; Carvajal) e autores da do o adolescente tem dificuldade de lidar
Psicologia do Desenvolvimento (Berger; com as mudanças de seus esquemas cor-
Papalia & Olds), este trabalho procurou porais; (c) “lutos infantis mal elaborados
conceituar Depressão e Adolescência, a da infância” que são caracterizados por
fim de compreender as repercussões do conflitos infantis que emergem na adoles-
quadro clínico da Depressão na Adoles- cência; (d) “luto parental”, que consiste
cência. Recorreu-se a autores clássicos em identificações negativas dos pais, que
como Freud (1917) e Klein (1921-1945). vêem no filho o espelho de seu envelhe-
A frase conhecida de Freud acerca dos cimento e a possibilidade de morte, le-
estados melancólicos, “a sombra do ob- vando à inveja do corpo do adolescente,
jeto recai sobre o ego”, ainda é conside- negação do crescimento deste, ocupação
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Dessa forma, ressalta-se que nem todas as sócio-demográficos; e (d) Entrevista com
crianças que convivem com mães depres- Roteiro Semiestruturado, elaborado para
sivas apresentam, necessariamente, pro- as finalidades do estudo e relativo à per-
blemas de adaptação, observando-se uma cepção sobre os estressores e a rede de
grande variedade de trajetórias desenvol- apoio social. As crianças responderam aos
vimentais. Contudo, estudos indicam que testes: (a) Matrizes Progressivas Coloridas
desfechos negativos podem estar associa- de Raven, para avaliação do nível intelec-
dos à presença de um maior número de tual e (b) Teste do Desempenho Escolar,
estressores associados à depressão ma- para a avaliação do desempenho acadêmi-
terna e de maior cronicidade de tais even- co. Procedeu-se às avaliações em sessões
tos. Neste estudo, objetivou-se caracteri- individuais, face a face; os dados foram
zar as condições contextuais do ambiente quantificados e os grupos, comparados
de famílias que convivem com a depres- (p<0,05), em relação aos estressores do
são materna recorrente, identificando os ambiente familiar de crianças com e sem
principais estressores atuais e crônicos, dificuldades de socialização. Os instru-
segundo a percepção das mães. Foram mentos psicométricos foram codificados
avaliadas 40 díades mãe-criança, distribu- conforme as normas. As entrevistas foram
ídas em dois grupos, a saber, G1 (25 crian- transcritas, categorizadas e submetidas à
ças com dificuldades de socialização) e G2 concordância quanto à classificação. Fo-
(15 crianças com indicadores positivos de ram pontuadas quanto à presença ou au-
socialização). Incluíram-se crianças de am- sência de estressores e eventos adversos,
bos os sexos, na faixa etária de sete a 12 relativos a: (a) o contexto geral do ambien-
anos, cujas mães biológicas apresentavam te familiar; (b) doenças, perdas e organi-
diagnóstico psiquiátrico confirmado de zação familiar; (c) interações familiares e
Depressão Recorrente, com episódios mo- práticas educativas; e (d) problemas de
derados ou graves nos últimos dois anos saúde e de comportamento das crianças.
e sem sintomas nos seis meses anteriores Com relação ao perfil sócio-demográfico,
à coleta de dados. As mães responderam não foram observadas diferenças estatisti-
aos seguintes instrumentos: (a) Entrevista camente significativas quanto às variáveis:
Clínica Estruturada para o DMS-IV - visa a ocupação, estado civil, número de filhos e
confirmação do diagnóstico de Depressão; classificação socioeconômica, idade e es-
(b) Questionário de Capacidades e Dificul- colaridade das crianças. Considerando-se
dades (SDQ) - relativo ao comportamento a amostra total, evidenciou-se como perfil
da criança; (c) Escala de Eventos Adversos predominante de mães casadas, com até
e Escala de Adversidade Crônica que vi- três filhos, trabalhadoras assalariadas e
sam, respectivamente, identificar eventos da Classe C, de acordo com os critérios
adversos que podem ter ocorrido na vida de classificação econômica e crianças na
da criança, abrangendo três domínios: faixa entre 10 e 12 anos, 55% cursando
vida escolar, vida familiar e vida pessoal e os primeiros quatro anos do Ensino Fun-
eventos adversos que podem ter ocorrido damental. Os indicadores de socialização,
na vida da criança, com duração ou ocor- avaliados por técnicas específicas, aponta-
rência repetida por um ano ou mais; (c) ram 64% das crianças com dificuldades es-
Questionário Geral – relativo aos aspectos colares e 72% com problemas de compor-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
tamento. A análise dos eventos estresso- estas crianças e famílias; neste sentido,
res sinalizou, com diferença significativa, a são necessários mais estudos. Tais dados
presença de maior número de estressores evidenciam a necessidade de práticas de
em G1 em comparação ao G2, expresso saúde mental que levem em conta a multi-
por: (a) um número total de eventos es- plicidade de estressores, os quais concor-
tressores (G1=69,2%; G2=30,8%); (b) pre- rem para os desfechos comportamentais
sença de maior número de estressores das crianças expostas a condições adver-
relativos ao contexto geral do ambiente sas, como a depressão materna.
familiar, caracterizados por dificuldades fi-
nanceiras, inclusão de membros estranhos Palavras-chave: depressão, estressores,
no lar e mudanças de cidade, residência, comportamento.
bairro ou escola (G1=66,3%; G2=33,7%); Contato: Isabela Mendes Vilanova e
(c) doenças, perdas e organização fami- Silva, Universidade de São Paulo – USP,
liar (G1=66,2%; G2=33,8%); (d) interações isabelamendesesilva@hotmail.com
familiares e práticas educativas expressas
por conflitos conjugais e familiares, sepa-
ração e recasamento, práticas educativas LT06-993 - TECENDO HISTÓRIAS DE
negativas e violência no lar (G1=69,9%; VIDA: VIVÊNCIA COM MULHERES
G1=30,1%); e (e) problemas de saúde e de ARTESÃS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA
comportamento das crianças (G1=74,0%; ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)
26,0%). Na comparação dos estressores Roxane Mangueira Sales - UNIFOR
crônicos, verificou-se a presença, com roxane_mangueira@hotmail.com
significância estatística, de mais adversi- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
dades crônicas no ambiente familiar das naradiogo@hotmail.com
crianças de G1 em relação às de G2. Cons- Márcio Silva Gondim - FANOR
tatou-se que, além da depressão mater- mgondim@fanor.edu.br
na - adversidade reconhecida e condição
de inclusão no estudo - as famílias estão O Centro de Referência da Assistência So-
expostas a um extenso número de estres- cial (CRAS) é um serviço público de prote-
sores; alguns, inclusive, de gravidade com- ção social básica, cuja atuação ocorre na
parável à psicopatologia materna, o que, perspectiva da prevenção de situações
possivelmente, concorre para as dificul- de risco. Localiza-se em territórios onde
dades observadas. A presença de mais es- há presença de vulnerabilidades sociais,
tressores no ambiente familiar de crianças enfocando a família e os vínculos comuni-
com dificuldades de socialização chama a tários (Ministério do Desenvolvimento So-
atenção para o efeito potencializador dos cial e Combate à Fome, 2006). Portanto,
riscos, concorrendo para tal desfecho ne- seu objetivo concerne à responsabilidade
gativo. Por outro lado, a presença de um pela execução de serviços, programas e
menor número de estressores no ambien- projetos que potencializem a família como
te familiar das crianças sem dificuldade de unidade de referência, reconhecendo a
socialização chama a atenção para a pre- diversidade sócio-cultural e referendando
sença de fatores protetores, que podem particularidades do grupo social em que
estar funcionando como suporte para está inserido. Sua ação fortalece os víncu-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
los entre a população e o seu contexto co- extrema pobreza. Os encontros ocorriam
munitário, articulando-os. O objetivo des- duas vezes por semana; no primeiro deles,
te estudo é o de relatar uma experiência as mulheres recebiam um kit com linhas
com arte-terapia, realizada com um “Gru- e agulhas de crochê e, no outro dia, rea-
po de mulheres artesãs” do CRAS, para lizavam-se rodas de conversa e vivências
compreender a “eficácia percebida” pela arte-terapêuticas. Para a coleta de dados,
população participante. De janeiro a de- utilizaram-se as descrições semanais dos
zembro de 2006, esta pesquisa qualitativa grupos, que eram transcritas após sua
e antropológica foi realizada no contexto realização. Além disso, foi feita uma en-
do CRAS do município de Itarema/Ceará, trevista aberta, com o objetivo de avaliar
cidade de origem indígena com 37462 mil como as participantes percebiam o efeito
habitantes e localizada a 220 km da cidade do grupo na sua situação de vida. A aná-
de Fortaleza. O nome Itarema vem do tupi lise dos dados ocorreu através da análise
guarani e significa “pedra de cheiro agra- de conteúdo temática de Bardin, método
dável” ou “pedra cheirosa” e associa-se que consiste em descobrir os núcleos de
ao nome dado à localidade pelos índios, sentido que compõem a comunicação, e
por causa de uma pedra com forma de cuja presença ou freqüência de aparição
obelisco em alto mar e que só era visível pode significar algo para o objetivo analí-
em maré baixa. Entre os procedimentos tico escolhido (Bardin, 1979). A interpre-
adotados para a formação do grupo, re- tação transcorreu à luz da antropologia
alizou-se uma “cartografia” da população interpretativa. O sigilo e o anonimato dos
de Itarema em parceria com a Secretaria informantes foram garantidos - portanto,
de Ação Social (SAS) do Município (carto- os nomes citados são fictícios - tendo sido
grafar é conhecer paisagens e capturar in- assinado o Termo de Consentimento Livre
tensidades em que se registram os encon- e Esclarecido, de acordo com Resolução
tros). Identificou-se, com isto, um grande nº. 196/96 do CNS/Ministério da Saúde,
índice de desemprego e alto percentual Brasil. Como parte dos resultados, com a
de mulheres donas de casa, em situação intenção de conhecer as singularidades
de risco, que utilizavam o artesanato (cro- e o cotidiano do CRAS, foram encontra-
chê) como fonte de renda e “passatempo”, das especificidades e semelhanças nos
enquanto muitos homens viviam da pes- discursos dessas mulheres; tais discursos
ca. Foram abertas inscrições para àquelas foram divididos nas seguintes categorias,
mulheres que estivessem interessadas as quais serão ilustradas com falas das
em participar do grupo de artesãs, que participantes: 1. Soltando o novelo de lã:
funcionaria em parceria com a SAS, com proseando entre amigas: “aqui nós fala de
o número máximo de 30 participantes, tudo um pouco, dos menino, dá risada a
que tivessem entre 15 e 65 anos de idade. baita, fala dos homens, de tudinho... pa-
O grupo foi conduzido por três profissio- rece até que nós se conhece mais aqui do
nais: assistente social, educadora física e que antes de todo mundo se juntar”; 2.
psicóloga e composto por 30 mulheres de Melhorando habilidades: desenvolvendo
diversas faixas etárias, com idades entre a arte com as linhas e com a vida: Ruth,
17 a 65 anos; a maioria, com baixo grau 42 anos, revela que se sentia insegura com
de escolaridade e vivendo em situação de suas habilidades e pôde compartilhar que
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
em uma instituição de abrigo, localizada -las sob os seus cuidados. No que se refe-
na Região Metropolitana de Belém, atra- re à pessoa de referência na família, em
vés de estudo comparativo entre os anos 63,46% do universo pesquisado, havia a
de 2004 e 2009, ressaltando as principais presença do pai ou da mãe ou de ambos;
mudanças ocorridas após cinco anos do em 38,56% dos casos, a criança estava sob
primeiro levantamento. Os dados foram o convívio dos pais, ora sob os cuidados
coletados utilizando o instrumento adap- da mãe (23,3%) ora do pai (1,6%). Ao se
tado por Cavalcante (2008), retirando as comparar com a pesquisa precedente,
informações dos prontuários das crianças observou-se que houve um acréscimo sig-
e das fichas de atendimento médico. As nificativo na variável que mostrou o per-
respostas aos formulários foram analisa- centual de convívio com os pais, passando
das com base nas categorias de caracteri- de 13,24% em 2004 para 38,56% em 2009,
zação das crianças, criadas por Cavalcante, o que pode estar ligado ao maior número
referentes ao ano de 2009, comparando- de casamentos civis realizados nos últi-
-os com outros 287 já analisados em 2004, mos anos em todo o país. Outra discussão
sendo utilizado o mesmo formulário em relevante é o reconhecimento da paterni-
ambas as pesquisas. No período de 2009- dade no registro civil, sendo que na atual
2010 foram preenchidos 249 formulários. pesquisa esse percentual foi de 46,58%,
Os principais resultados indicam uma di- havendo um ligeiro aumento nesse reco-
minuição no número de ingressos, quando nhecimento, ao se tomar por base a aná-
comparados os anos 2004 e 2009 com 287 lise anterior (43,91%). Contudo, houve
e 249, respectivamente. Na atual pesqui- um acréscimo no número de crianças que
sa, constatou-se que há um predomínio não possuíam a paternidade reconhecida,
da população de sexo masculino (54,62%) passando de 28,57% para 34,94%. Já em
sobre o feminino (45,38%), diferentemen- relação à idade, notou-se que a maioria
te da pesquisa realizada em 2004, na qual das mães possuía idades entre dezenove
havia uma ligeira prevalência do sexo fe- e trinta anos (58,24%), mesma faixa etária
minino (51,22%). Observou-se, ainda, que na qual se encontrava a maioria dos pais
a maioria das crianças que deu entrada (15,26%). Ao se referir à escolaridade dos
nesse espaço de acolhimento encontrava- pais, percebeu-se que, em mais da meta-
-se no segundo ano de vida (18,88%). Ao de dos casos (51,81%), a mãe possuía o
se tomar como base as faixas etárias de ensino fundamental incompleto, nível de
dois a quatro anos, percebeu-se um acrés- escolaridade no qual também prevaleceu
cimo nesse percentual, o qual passou a o percentual entre os pais (12,86%), de-
ser de 53,83%. Dado este que se distan- monstrando a baixa escolaridade na qual
cia do estudo anterior, o qual demonstrou os pais dessas crianças se encontravam,
que 34,84% das crianças se encontravam o que, muitas vezes, estaria dificultando
no primeiro ano de vida, no momento o acesso a bons empregos, para que os
em que foram acolhidas. Isto pode estar mesmos pudessem garantir o sustento
associado a um maior cuidado que as fa- dos filhos, o que poderia estar associado
mílias estariam despendendo às crianças a própria condição de pobreza na qual se
nas primeiras etapas do desenvolvimento, situavam a maioria das famílias dos aco-
assim como uma maior busca para mantê- lhidos. Ressaltando, ainda, que as mães
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2003; Frick & Marsee, 2006; Salekin, Ro- duração, envolvendo diferentes etapas e
senbaum, Lee, & Lester, 2009). A com- amostras populacionais. Dessa forma, é
preensão e pesquisa empírica da PP com recomendável que instrumentos que se
jovens representa um grande desafio aos propõem a avaliar a PP, como o PCL:YV,
pesquisadores e clínicos (Hare & Neu- passem por sucessivas etapas de valida-
mann, 2008; Salekin & Lochman, 2008) ção, afim de serem produzidas evidências
e diversas pesquisas demonstram-se co- psicométricas substanciais. Considerando
erentes com sua compreensão na pers- que qualquer medida psicométrica é em
pectiva do desenvolvimento (Forth et al., algum grau falível, sofrendo influências
2003; Frick, 2002). A partir de princípios tanto das variáveis latentes quanto do
consistentes com essa recomendação, foi erro das mensurações, a análise fatorial
desenvolvido o Inventário de Psicopatia (AF) representa uma técnica estatística
de Hare: Versão Jovens (PCL:YV; Forth et muito importante para a compreensão
al., 2003), baseado nos mesmos 20 itens de um construto psicopatológico. A AF
do PCL-R (Hare, 2003). Os títulos e as des- contribui para explicitar a relação das
crições dos itens, as fontes de informação múltiplas variáveis latentes que formam
e os critérios de pontuação foram modifi- o construto e que, juntas, influenciam a
cados, visando refletir os diferentes con- classificação dos itens (Cooke, Michie, &
textos adolescentes e garantir atenção Skeem, 2007). Esta pesquisa, desenvolvi-
adequada às normas de desenvolvimento. da no Programa de Pós Graduação da Fa-
O PCL:YV avalia características interpesso- culdade de Psicologia (FAPSI) da PUCRS,
ais, afetivas, comportamentais e antisso- objetiva obter evidências psicométricas
ciais da psicopatia, utilizando o formato do Inventário de Psicopatia de Hare: Ver-
de pontuação por perito, valendo-se de são Jovens em adolescentes brasileiros, a
informações de diversas fontes e con- partir das análises fatoriais exploratórias
textos e sendo pontuado de zero a dois, (AFEs) e confirmatórias (AFCs). A amos-
por meio de entrevistas. Ao contrário das tra será composta por 217 adolescentes
versões adultas, não utiliza ponto de cor- masculinos, que cumprem medida socio-
te considerando, especialmente, caracte- educativa de restrição de liberdade na Re-
rísticas intrínsecas do construto, quando gião Metropolitana de Porto Alegre, com
associado à adolescência (Forth et al., idade média entre 16 e 17 anos. Os dados
2003). O PCL:YV está traduzido/adaptado são provenientes de estudos prévios, que
para o português do Brasil (Gauer, Vas- embasaram outras etapas do processo
concellos, & Werlang, 2006) e há alguns de validação e pesquisas com traços de
resultados psicométricos com amostras psicopatia em amostras jovens, desen-
adolescentes brasileiras já disponíveis volvidos no Programa de Pós Graduação
(Ronchetti, 2009; Ronchetti, Davoglio, Sal- da FAPSI/PUCRS, atendendo aos proto-
vador-Silva, Vasconcellos, & Gauer, 2010) colos éticos e institucionais recomenda-
que, embora incipientes, mostram-se sig- dos à pesquisa científica. As AFEs serão
nificativos e similares aos internacionais realizadas utilizando-se o pacote estatís-
(Forth et al., 2003). No entanto, estudos tico SPSS, versão 18.0, rotação promax e
de validação de instrumentos psicométri- técnica de eixo principal. As AFCs serão
cos representam um processo de longa rodadas no programa de modelagem
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
Mplus, 5.0, a partir das AFEs e dos mo- (a) estimulem a aprender mais sobre as
delos teóricos já consolidados. Segundo características do construto em popula-
a literatura atual, a estrutura fatorial das ções jovens; (b) aumentem a compreen-
Escalas Hare pode ser testada nos mode- são e o debate relativos aos múltiplos fa-
los de três e quatro fatores (Cooke e Mi- tores que se associam ao construto e suas
chie, 2001; Forth et al., 2003; Hare, 2003), implicações, e (c) promovam subsídios à
desenvolvidos a partir dos anos oitenta, pesquisa sistemática, visando o desenvol-
com a maior parte das análises realizada vimento de programas de prevenção e in-
com amostras masculinas adultas e presi- tervenção precoce. É válido ressaltar que
diárias, tornando recomendável a cautela os pesquisadores consideram legítima a
nas generalizações dos resultados para preocupação com a potencial má utiliza-
outros grupos. Cooke & Michie (2001), ção de instrumentos desta natureza, em
usando a AFC e a teoria de resposta ao especial, quanto à rotulação e/ou exclu-
item, em 13 dos 20 itens PCL-R, encontra- são à atenção integral ou terapêutica. O
ram uma solução denominada Modelo de PCL:YV não se propõe a ser um critério
Três Fatores: estilo de vida interpessoal único para a tomada de decisões acerca
arrogante e enganoso; experiência afeti- de um jovem em desenvolvimento ou de
va deficitária; comportamento impulsivo qualquer prescrição relativa ao sistema de
e irresponsável. Esta estrutura reflete um saúde ou justiça, sendo que o próprio ma-
modelo em que os traços do geral para nual técnico contra-indica esta utilização.
o mais específico são estruturados de A integração de informações originárias
maneira hierárquica, porém, exige que de fontes variadas, e não apenas de uma
os fatores investigados sejam realmen- ferramenta, proporciona um quadro mais
te componentes do construto. Por isso, compreensivo e ecologicamente válido a
cinco itens que refletem, principalmente, respeito do jovem (Forth et al., 2003).
o comportamento anti-social, devem ser
excluídos para a análise deste modelo. Palavras-chave: adolescentes brasileiros,
Os argumentos divergentes ao modelo PCL:YV, estrutura fatorial
anterior levaram ao desenvolvimento do Contato: Tárcia Rita Davoglio, PUCRS,
Modelo de Quatro Fatores (Hare, 2003; tarciad@gmail.com
Hare & Neumann, 2005; Neumann et al.,
2007). Os fatores identificados por Cooke
e Michie (2001) permanecem idênticos,
sendo acrescentado um quarto fator,
composto por cinco itens que avaliam o
comportamento antissocial e o fraco con-
trole comportamental, excluídos no mo-
delo precedente. São propostas, então,
quatro dimensões latentes: Interpessoal,
Afetiva, Estilo de Vida e Comportamento
Antissocial. Os resultados deste estudo
ainda se encontram em fase de elabora-
ção. Espera-se que pesquisas como esta:
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
para o desenvolvimento do bebê e, por isto, do, além de dados sociodemográficos e pe-
continua merecendo atenção especial (Pic- nais, temas referentes às rotinas intrínsecas
cinini et al, 2001). Inúmeros autores, psica- à relação mãe-filho, envolvendo aspectos
nalistas ou não, têm trazido contribuições tais como: sono, alimentação, linguagem,
relevantes para uma leitura aprofundada hábitos de higiene, interação social, vincu-
dos elementos que entram em cena nes- lação afetiva, lazer e problemas de saúde
ta construção. Esta pesquisa se insere no da criança. Quanto aos procedimentos,
projeto de integração interdisciplinar BPA/ este estudo foi aprovado pela Comissão
PRAIA- 07/2011, da Pontifícia Universidade Científica da Faculdade de Direito e pelo o
Católica do Rio Grande do SUL, envolvendo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS e
os Programas de Pós Graduação em Ciên- pela Direção da Instituição onde será rea-
cias Criminais da Faculdade de Direito e Pós lizado o estudo. Segue, portanto, todos os
Graduação em Psicologia da Faculdade de procedimentos éticos recomendados pela
Psicologia. A temática geral do estudo cen- comunidade científica, quanto à confiden-
tra-se sobre a relação da mãe apenada com cialidade das informações e ao consenti-
o filho que vive, conjuntamente, no cárcere. mento expresso, livre e esclarecido de cada
Por se tratar de um estudo interdisciplinar, participante. A participação é voluntária e
há tanto o interesse no debate das questões não implica em nenhum ganho direto ao
jurídicas e penais quanto das psicológicas e participante. As entrevistas e observações
sociais envolvidas, sendo uma pesquisa que serão realizadas nas dependências da insti-
se complementa a partir do vértice do Di- tuição prisional, por graduados ou acadêmi-
reito e da Psicologia. Portanto, sob o foco cos de Psicologia, seguindo todos os proce-
da Psicologia, este estudo tem por objetivo dimentos protocolares estabelecidos pelo
conhecer os padrões de manejo e enfrenta- local para o acesso dos pesquisadores. Os
mento de situações cotidianas e intrínsecas dados qualitativos serão analisados através
à relação mãe-bebê nas díades mãe-filho da análise categorial de acordo com Bardin,
encarceradas, a partir do relato materno o qual consiste em operações de desmem-
e, se possível, da observação da interação bramento do texto em unidades, com o
com o bebê, a fim de analisar suas implica- intuito de descobrir os diferentes núcleos
ções no desenvolvimento psicossocial à luz de sentido que constituem a comunicação
da literatura. Em relação ao método, esta e, posteriormente, realizar o seu agrupa-
pesquisa transversal terá delineamento mento em classes ou categorias. Os dados
misto e será realizada na Unidade Materno quantitativos serão analisados por meio de
Infantil da Penitenciária Feminina Madre técnicas estatísticas variadas, descritivas e
Pelletier, localizada em Porto Alegre/RS. inferenciais, através do SPSS, versão 18.0.
Serão incluídas no estudo todas as díades Quanto aos resultados esperados, este pro-
mães-bebês reclusas no convívio do cárce- jeto, que no momento encontra-se em fase
re durante o período da coleta, de março a de coletas preliminares, reveste-se de gran-
setembro de 2011, envolvendo a capacida- de relevância, por abordar temática pouco
de máxima de lotação do local (cerca de 25 estudada, podendo gerar subsídios empíri-
mulheres). Serão realizadas entrevistas com cos e teóricos que fomentem o debate e as
as mães, durante as quais será preenchido políticas públicas dirigidas à realidade das
um questionário semiestruturado abordan- crianças de mães apenadas.
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já que a noção do bem, segundo ele, diz de Piaget, para que os jovens tenham a
respeito ao bem estar comum: “constitui oportunidade de evoluir da heteronomia
talvez a última tomada de consciência para autonomia, as relações sociais re-
do que é condição primeira da vida mo- presentam um fator importante, embora
ral: a necessidade de afeição recíproca” não único. “Para que o meio social atue
(p.141). Portanto, para Piaget a própria realmente sobre os cérebros individuais,
tomada de consciência de si é estimulada é preciso que estes estejam em condi-
pela cooperação, na medida em que, é ções de assimilar as contribuições desse
fruto da conduta social e não da psicolo- meio”. (Inhelder e Piaget, 1970/1976,
gia individual, pois as próprias opiniões, p.251). Portanto, a convivência com a
sentimentos e vontades, se constituem, família tem uma influência importantís-
modificam-se e se constroem na opo- sima no desenrolar do desenvolvimento
sição, nos conflitos e na compreensão do adolescente, seja no aspecto cognitivo
mútua. Para Piaget (1948/2000, p.48), os (quando suas intervenções permitem ao
dois problemas essenciais da educação jovem pensar e refletir), no aspecto afeti-
moral são: (1) assegurar a descentraliza- vo (que respeita e interage sem humilha-
ção: a pessoa ser capaz de situar o seu ções ou depreciações), e no aspecto so-
eu na verdadeira perspectiva em relação cial (relações de cooperação). Portanto, o
aos outros; (2) estabelecer a disciplina interesse dessa investigação foi elaborar
autônoma: inserida num sistema de re- um mapeamento das concepções de edu-
ciprocidades; (3) Os pais para educarem cação dos pais, especialmente, no que
bem moralmente, necessitam ter clareza diz respeito aos quatro construtos: obe-
a respeito de quais valores querem que diência, respeito, justiça e autonomia,
os seus filhos construam e, mais que apresentados por essa pesquisa como fa-
isso, quais são as boas intervenções, ou, tores responsáveis pela possibilidade da
conforme a teoria piagetiana, como esta- construção da moral autônoma. Trata-se
belecer com os filhos relações de coope- de uma investigação com uma amostra
ração que, de fato, lhes permitam tomar de 860 pais e mães oriundos das cinco
consciência das regras, refletir sobre elas regiões brasileiras. A análise dos concei-
e incorporar os seus princípios como va- tos e intervenções dos pais em relação
lores que os constituirão como pessoa. A às suas atitudes educativas, procurando
autonomia moral é produto das relações apontar quais foram as facilidades, as di-
de cooperação que propiciam a descen- ficuldades, as tendências, os encontros
tração e a troca de pontos de vista. Sendo e desencontros dos adultos nas relações
a cooperação fonte de personalidade, na com seus filhos adolescentes, permitiu
mesma ocasião as regras deixam de ser o conhecimento das atitudes educativas
exteriores. Tornam-se, ao mesmo tempo, dos pais e mães brasileiros. Os pontos de
fatores e produtos da personalidade, se- partida dessa investigação foram os cons-
gundo um processo circular tão frequente trutos piagetianos: obediência, respeito,
no decorrer do desenvolvimento mental. justiça e autonomia, fatores para os quais
A autonomia sucede assim à heterono- foram criados itens que puderam avaliar
mia. (Piaget, 1932/1994, p. 82). Confor- as concepções educativas dos participan-
me se pode constatar segundo a teoria tes. Entretanto nesse trabalho, fazemos
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tão complexo, mas são insuficientes para afetividade e ‘como’ fazer seria definido
sua compreensão integral, promovendo prioritariamente pela inteligência. Quanto
somente uma apreensão e entendimen- às ações de cunho moral, estas também
to ilusórios. No âmbito das perspectivas seriam reguladas por sentimentos e julga-
denominadas psicogenéticas quanto às mentos, pela razão e pela afetividade, não
relações entre afetividade e inteligência, podendo haver nenhuma ação somente
observamos diferentes ‘equações’ en- afetiva ou apenas cognitiva. Para compre-
tre estes elementos. Poderíamos dizer ender as concepções piagetianas sobre
que, segundo a abordagem de Wallon, a afetividade, devemos retomar a ideia de
equação proposta para as relações entre ‘valor’, como a expansão da atividade do
julgar e sentir seria: ‘Sentir para julgar’, já eu na conquista do universo; como o in-
que a gênese da cognição está, para ele, tercâmbio afetivo com o exterior (objeto
nas primeiras emoções, as quais, por sua ou pessoa); como o aspecto qualitativo do
vez, estão diretamente ligadas ao desen- interesse; e, sobretudo como o ponto de
volvimento do tônus (aspecto orgânico). partida para os sentimentos (no caso dos
O desenvolvimento é concebido como a valores atribuídos às pessoas). Piaget insis-
passagem do eu orgânico ao eu psíquico, tiu em afirmar que a vida afetiva, tal como
pela via das primeiras emoções que são, a vida intelectual seria adaptação contínua
em essência, o instrumento para a inte- e que as duas adaptações são interdepen-
ração com o outro, antes que a cognição dentes, já que os sentimentos expressam
seja construída. Se tomarmos a teoria de os interesses e os valores das ações, das
Vygotsky, a equação parece se inverter, quais a inteligência constitui a estrutura.
podendo ser assim definida: ‘Julgar para Assim sendo, toda conduta possui um ele-
sentir’. A razão teria a capacidade de con- mento energético (afetivo) e um elemento
trolar as emoções mais primitivas, graças estrutural (intelectual) que se relacionam
ao domínio dos instrumentos culturais, em mutuamente e que possuem naturezas di-
especial a linguagem. Este autor diferencia ferentes. Buscando estabelecer uma cor-
emoções primitivas originais, tais como respondência entre as evoluções afetiva e
alegria, medo e raiva, das emoções ditas cognitiva, Piaget afirmou que à evolução
‘superiores’, complexas, como, por exem- cognitiva do período sensório-motor, cor-
plo, a melancolia e o respeito, apontando responderiam os afetos perceptivos com
também que a qualidade das emoções vistas a enfrentar as necessidades fisio-
sofreria mudanças à medida que o conhe- lógicas e as novidades trazidas pela per-
cimento conceitual e os processos cogniti- cepção. São basicamente sentimentos de
vos se desenvolvem. Considerando as teo- agrado e desagrado, êxito e sucesso, de-
rizações de Piaget, a equação tomaria uma correntes das ações no mundo. Às repre-
terceira forma, assim apresentada por ele sentações pré-operatórias, rígidas e infle-
próprio: ‘Julgar e sentir para agir’. Sua tese xíveis, corresponderiam sentimentos tam-
é a de que haveria correspondência entre bém rígidos e inflexíveis (simpatias e anti-
afetividade e inteligência durante todo patias), bem como sentimentos ligados às
o desenvolvimento, desde o nascimento pessoas como objetos privilegiados (o que
até a vida adulta. Em todas as condutas, não ocorria antes). Esta configuração afeti-
‘o que’ fazer seria diretamente ligado à va e cognitiva será a base para a moral da
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Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós
teste teste teste teste teste teste teste teste teste teste
Estudantes 7.7 13.6 2.4 1.9 8.0 14.0 2.0 8.0 12.0 17.0 <0.0001
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
os processos de desenvolvimento adulto ck, 1999; Oliveira, Sadalla & Azzi, 2002). O
que podem ocorrer em diferentes contex- papel da Psicologia na formação inicial e
tos de formação docente. continuada dos professores tem sido tema
recorrente entre os profissionais que lidam
com a formação docente, uma vez que re-
A PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO conhecem as contribuições dos conheci-
CONTINUADA: CONTRIBUIÇÕES mentos relativos aos processos de desen-
PARA A QUALIFICAÇÃO DO DOCENTE volvimento humano e de aprendizagem
UNIVERSITÁRIO para o fazer pedagógico (Cunha, 2008; Ma-
Alba Cristhiane Santana - UEG luf & Cruces, 2008). Porém, desde os anos
albapsico@gmail.com oitenta são realizadas críticas contunden-
tes sobre as limitações do ensino de Psi-
O presente trabalho tem como objetivo cologia nesses espaços, sendo destacada a
discutir os estudos e as experiências de- distância entre o seu conteúdo e a prática
senvolvidas em uma disciplina de Psicolo- escolar, levando a uma contribuição insufi-
gia da aprendizagem, inserida em um curso ciente na formação docente, restringindo-
de especialização lato sensu em docência -se ao contexto psicológico, sem alcançar o
universitária. Pretendo ainda refletir sobre pedagógico e muito menos o social (Gatti,
as contribuições dos conhecimentos psico- 2003; Patto, 2005; Sadalla, Bacchiegga,
lógicos em contextos de formação de pro- Pina & Wisnivesky, 2002). Larocca (2000)
fessores, destacando as possibilidades de assinala que em muitos casos a Psicologia
mediação que as disciplinas relacionadas na formação docente é trabalhada em seu
à Psicologia podem gerar aos processos aspecto estritamente teórico, de forma iso-
de desenvolvimento docente. O ensino de lada da complexidade dos contextos sócio-
Psicologia passou a fazer parte dos cursos -culturais e históricos e, principalmente,
de formação de professores na criação das desvinculada das experiências concretas
Escolas Normais, em 1830. Antunes (2007) no contexto escolar. Uma Psicologia teóri-
aponta que tais instituições propiciaram as ca e abstrata não chega aos espaços edu-
condições para a inserção dessa disciplina cativos, essa disciplina só poderá contribuir
nos primeiros cursos de pedagogia das Fa- efetivamente com a formação dos profes-
culdades de Filosofia, Ciências e Letras, na sores a partir de uma imersão na realida-
década de 1930. E por volta de 1960 a dis- de, dialogando com a prática vivenciada no
ciplina Psicologia da Educação, junto com cotidiano educacional. Algumas discussões
outras disciplinas da área pedagógica, pas- (Larocca, 2002; Sadalla et al., 2002) apon-
sou a ser obrigatória nos cursos de licen- tam para a necessidade de desenvolver
ciatura no Brasil (Guedes, 2002). Nessa tra- disciplinas de Psicologia a partir de uma
jetória, o ensino de psicologia foi se trans- perspectiva dialética de ação e reflexão,
formando, a concepção inicial de oferecer a qual ultrapassa a noção de fundamento
fundamentos para a prática docente tem teórico na formação docente, pois se am-
sido discutida e ressignificada em função pliam as possibilidades de compreensão e
da busca por uma formação que contribua de contribuição com a Educação, já que se
efetivamente com a realidade concreta traduz na interlocução entre teorias e prá-
dos variados contextos educativos (Bzune- ticas. Nessa perspectiva, a ação e a reflexão
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de metodologias em sala de aula que fa- propor disciplinas voltadas para a compre-
voreçam o ensino de pessoas com n.e.e. ensão do processo inclusivo nas escolas e
No curso de Letras da Universidade Fede- para o desenvolvimento de metodologias
ral de Goiás, há uma disciplina semestral de ensino aos alunos.
- Prática como Componente Curricular
(PCC), com carga horária de 50 horas, em Palavras-chave: inclusão escolar, formação
que cada professor oferece uma proposta docente, necessidades educacionais especiais
de pesquisa aos alunos. Na tentativa de Contato: Candice Marques de Lima, UFG,
possibilitar uma melhor compreensão do candicemarques1@gmail.com
processo de inclusão escolar, tenho ofere-
cido essas disciplinas dirigidas ao tema da
inclusão. No semestre de 2010/2, alunos EDUCAÇÃO INCLUSIVA, A FORMAÇÃO
inscritos na pesquisa entrevistaram pro- CONTINUADA E A PRÁTICA DOCENTE:
fessores e produziram relatório sobre In- UM DESAFIO PARA A ESCOLA.
clusão Escolar e Formação Docente. Nes- Ádria Assunção Santos de Paula - UFG/CESJ
sas entrevistas os professores expuseram adriapsi1@yahoo.com.br
a necessidade de uma formação que pos-
sibilite sua atuação em sala de aula com O contexto educacional brasileiro atraves-
a diversidade. No semestre de 2011/1, sa grandes mudanças após a criação da úl-
alunos fizeram entrevistas com pessoas tima Lei de Diretrizes e Bases da Educação
com necessidades educacionais especiais Nacional (LDB 9394/96). Esse documento
que desde o início de sua vida escolar es- reafirma o direito de todos os cidadãos
tudaram em escolas comuns de ensino e brasileiros à educação na rede regular de
que atualmente estão em cursos superio- ensino, tenham eles deficiências, neces-
res ou já terminaram a graduação. O tema sidades educacionais especiais (n.e.e.) ou
da pesquisa era Histórias de Sucesso em não. A escola regular precisa atender a
Inclusão Escolar, entendendo-se como todos os alunos, desde que eles possam
sucesso o fato de pessoas com n.e.e. te- aprender e beneficiar-se da convivência
rem acesso a cursos de graduação. As em um ambiente social comum como é a
análises das entrevistas apontaram como escola. Esse atendimento está previsto na
indicadores que as pessoas estão satisfei- Constituição Federal de 1988, art. 208: “o
tas com os cursos de graduação; um dos dever do estado com a educação será efeti-
entrevistados, com deficiência visual, já vado mediante a garantia de (...) III- atendi-
concluiu o curso em Direito e é concur- mento educacional especializado aos por-
sado no Tribunal de Justiça de Goiânia, e tadores de deficiência, preferencialmente
todos os dez entrevistados disseram ser na rede regular de ensino”. De acordo com
pessoas felizes. Uma das entrevistadas, a LDB 9394/96, no artigo 58, “entende-se
que era surda, disse ser “a pessoa mais por educação especial, para efeitos dessa
feliz do mundo”. Nossa tentativa é possi- lei, a modalidade de educação escolar ofe-
bilitar que os alunos de licenciatura em recida preferencialmente na rede regular
Letras possam ter acesso a informações de ensino para educandos portadores de
básicas sobre inclusão escolar. Entretanto necessidades especiais”. São consideradas
seria necessário que a instituição pudesse necessidades educacionais especiais: defi-
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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
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