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Anais

VIII Congresso Brasileiro


de Psicologia do Desenvolvimento
Universidade de Brasília

Organizadores:
Maria Cláudia S. L. de Oliveira
Diva Maria Albuquerque Maciel
Jane Farias Chagas
Maristela Rossato
Mônica Neves Pereira
Patrícia C. Campos Ramos
Sylvia Regina Magalhães Senna De 12 a 15
de Novembro
de 2011
C749 Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento
(8. : 2011 : Brasília).
Anais do VIIII Congresso Brasileiro de Psicologia do
Desenvolvimento / Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira ...
[et al.], organizadores. – Brasília : Associação Brasileira de
Psicologia do Desenvolvimento, 2011.
1364 p. ; 21 cm.

ISSN 2177-1413

1. Psicologia do desenvolvimento – Congressos. I. Oliveira,


Maria Cláudia Santos Lopes de (org.).

CDU 159.922
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Sumário

Apresentação ..................................................................................... 5

Comissões........................................................................................... 7

Estrutura do evento............................................................................ 8

Programação Científica....................................................................... 9

Sábado, 12/11 .................................................................................... 9

Domingo, 13/11.................................................................................. 9

Segunda-feira, 14/11 .......................................................................... 487

Terça-feira, 15/11 ............................................................................... 999

Índice por atividades .......................................................................... 1341

Índice Remissivo ................................................................................. 1345

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

APRESENTAÇÃO

Prezados Participantes do
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento,

É com grande prazer que apresentamos os Anais do VIII CBPD, um evento da


Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento que neste ano tem por tema
A Psicologia do Desenvolvimento para a Transformação da América Latina.
O VIII CBPD traz à capital federal cerca de 600 participantes, entre pesquisa-
dores, profissionais, estudantes de graduação e pós-graduação de Psicologia e áre-
as afins, oriundos de quase todos os estados brasileiros e de países das Américas e
Europa. Este número constitui um recorde e dá testemunho da importância deste
evento, que se consolida no calendário científico da Psicologia brasileira.
São apresentados aqui aproximadamente 500 trabalhos, entre mesas redon-
das, simpósios, comunicações orais e pôsteres, relacionados a sete áreas temáticas.
Constituem eles relatos de pesquisas e abrangem uma pluralidade de contextos,
objetos e metodologias, em torno dos quais se tem construído a Psicologia do De-
senvolvimento. Mas, encontramos também relatos de experiência profissional, tra-
balhos que enfocam o estado da arte da pesquisa da área e ensaios críticos, os quais
expressam a diversidade de leituras do fenômeno do desenvolvimento humano na
linha do tempo, uma pluralidade de perspectivas que temos buscado preservar neste
Congresso!
Este ano, o CBPD apresenta outras novidades. Abraçamos a vocação de pro-
mover e qualificar a interlocução e as redes de colaboração acadêmica com nossos
colegas pesquisadores e profissionais de outros países da América Latina. Contamos
com a presença de congressistas e renomados conferencistas de diferentes países do
continente americano, com destaque para Colombia, Peru, Argentina, Cuba, Estados
Unidos, além da Alemanha. Deste modo, visamos contribuir para dar expressão à
riqueza do pensamento psicológico que se produz nos diferentes países desse conti-
nente, além de debater questões comuns a nossas realidades socioculturais de países
constituídos a partir de relações coloniais.
Desta forma, adotamos intencionalmente uma posição distinta da que marcou
a construção histórico-social da nação brasileira que, ao longo dos cinco séculos de

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

história manteve o olhar direcionado para a Europa e a América do Norte, e as costas


para o continente latinoamericano. Que essa realidade, que já vem se alterando, seja
positivamente afetada pelos debates ocorridos neste Congresso!
Aproveitamos a oportunidade para expressar nosso agradecimento à CAPES,
CNPq, Universidade de Brasília e a todos aqueles participantes, membros das Co-
missões, avaliadores ad hoc, parceiros e patrocinadores, sem os quais não teríamos
chegado até aqui.

Brasília, 15 de novembro de 2011.

Maria Cláudia S. L. de Oliveira


Presidente da ABPD
Comissão Organizadora do VIII CBPD

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

COMISSÕES Maria Helena Vilares Cordeiro


Maria Regina Maciel
Mário Sergio Vasconcellos
Maristela Rossato
Diretoria da ABPD Miriã Alves de Alcântara
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira Mônica Neves-Pereira
Adeiaide Alves Dias Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues
Ana Paula Soares da Silva Patricia Alvarenga
Miriã Alves de Alcântara Rosalia Duarte
Zena Winona Eisenberg Rosangela Francischini
Ruben de Oliveira Nascimento
Comissão Científica Sávio Silveira de Queiroz
Silviane Bonaccorsi Barbato
Vera Maria Ramos de Vasconcellos
Tania Mara Sperb
(Coordenadora)
Vera Maria Ramos de Vasconcellos
Zena Winona Eisemberg
Avaliadores Ad Hoc
Adelaide Alves Dias Comissão Organizadora Local
Alba Cristiane Santanna
Alessandra Oliveira Machado Vieira Diva Maria Albuquerque Maciel
Alexsandra Zanetti Jane Farias Chagas Ferreira
Ana Cecília de Souza Bastos Maristela Rossato
Ana Paula Soares da Silva Mônica Neves-Pereira
Anamelia Lins e Silva Franco Sandra Ferraz Castilho Freire
Angela Donato Oliva Gabriela Souza de Melo Mieto
Angela Maria Uchoa de Abreu Branco Sylvia Magalhães Senna
Bernadete de L. Alexandre Mourão
Carolina Lampreia Comissão Executiva
Cecília Guarnieri Batista Ana Carolina Villares Barral Villas Boas
Cláudia Broetto Rossetti Ana Paula Carlucci
Débora de Hollanda Souza André de Carvalho Barreto
Diva Maria Albuquerque Maciel Francisco Rengifo Herrera
Elaine Pedereira Rabinovich Julia Escalda Mendonça
Eliane Maria Fleury Seidl Julio Cesar dos Santos
Elton Hiroshi Matsushima Manuela Smith
Gabriela Souza de Melo Mieto Marina Kohlsdorf
Ivalina Porto Mônica Rocancio Moreno
Jane Correa Patricia Cristina Campos Ramos
Jane Farias Chagas Ferreira Polllianna Galvão Soares
Julio Rique Neto Rute Morais Nogueira Bicalho
Leila Regina de O. d’ Paula Nunes Sueli de Souza Dias
Leila Sanches de Almeida
Tatiana Yokoy de Souza
Lucia Helena Cavasin Zabotto Pulino
Lucia Vaz de Campos Moreira
Secretaria Executiva
Maria Cláudia S. Lopes de Oliveira
Maria Helena Fávero Cláudia da C. Freire

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ESTRUTURA DO EVENTO

Dia 12/11 - sábado Dia 14/11 - segunda-feira

17h-17h30 – Mesa de abertura 8h30-10h – Programação Científica


17h30-18h30 – Conferência de 10h-10h30 – Coffee Break
abertura 10h30-12h30 – Programação
18h30-19h30 – Apresentação Científica
musical 12h30-14h – ALMOÇO
19h30 – Coquetel 14-15h30 – Programação Científica
15h30-16h – Coffee Break
Dia 13/11 - domingo 16h-18h – Programação Científica
18h-20h – Programação Científica
8h30-10h – Programação Científica 19h30 – Lançamento de Livros
10h-10h30 – Coffee Break
10h30-12h30 – Programação Dia 15/11 - terça-feira
Científica
12h30-14h – ALMOÇO 8h30-10h – Programação Científica
14-15h30 – Programação Científica 10h-10h30 – Coffee Break
15h30-16h – Coffee Break 10h30-12h – Programação
16h-18h – Programação Científica Científica
18h-20h – Programação Científica 12h-14h - Programação Científica

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

DIA 12/11 - Sábado valorização da competição, e até mesmo


da agressão física e verbal como estratégia
de resolução de conflitos, minimizando-se
o sofrimento emocional do aluno humi-
CONFERÊNCIA lhado e discriminado pelos colegas. No
contexto escolar, a mídia noticia com fre-
“La Psicología del desarrollo en la actuali- qüência situações de bullying, onde crian-
dad. Una mira desde lo histórico cultural“, ças e adolescentes vivenciam incontáveis
proferida pelo prof. Dr. Guillermo Arias Be- constrangimentos como apelidos relacio-
aton, da Universidad de La Habana, Cuba. nados à sua aparência e agressões por
parte dos colegas. Observa-se que nesses
contextos de violência gratuita e repeti-
tiva muitas vezes a escola e os professo-
res não encontram alternativas para lidar
DIA 13/11 - Domingo com a situação, uma vez que o bullying é
um fenômeno complexo, sintoma de uma
sociedade onde valores sociais positivos
8h30-10h e a ética são colocados em segundo pla-
no. Dessa forma, é necessário destacar a
importância de se discutir sobre as emo-
CONFERÊNCIA ções, as raízes afetivas e motivacionais do
fenômeno bullying, e promoção da ética
e cooperação entre os alunos, articulando
“Bullying: Prevenção da Violência e Pro-
o tema com a realidade da escola, com as
moção da Cultura da Paz nas Escolas
características e conteúdos das próprias
Angela Uchoa Branco – UnB disciplinas e atividades pedagógicas e com
as interações sociais que se dão no âmbito
educacional. Nesta palestra, irei analisar
Diversos estudos voltados para a investi- e discutir estas questões, trazendo da-
gação de crenças e valores entre crianças, dos empíricos obtidos em pesquisa por
adolescentes e professores têm demons- mim coordenada sobre o tema, onde en-
trado que, na maioria dos contextos esco- trevistas e observações foram feitas com
lares, os professores orientam seus alunos professores e crianças do quinto ano de
a competirem entre si ou a serem individu- escolas públicas e particulares. Tendo em
alistas (e.g. Branco, 2003; Kohn, 1992; Pal- vista a relevância da escola nos processos
mieri, 2003). Essa orientação é geralmen- de socialização e desenvolvimento moral
te implícita nas variadas formas de mani- de crianças e adolescentes, e necessário
festação do “currículo oculto” associado a co-construção de uma Cultura de Paz.
à comunicação e à metacomunicação. O A Paz, porém, não é sinônimo de um es-
currículo oculto se expressa pela canali- tado estático de harmonia, caracterizado
zação, geralmente sutil, das crenças, valo- pela ausência de conflitos, mas sim deve
res e ações dos alunos em certa direção, ser entendida como um permanente pro-
e pode ocorrer, por exemplo, por meio da cesso (Jares, 2007) co-construtivo motiva-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do por valores de justiça, solidariedade e interações humanas saudáveis, éticas e


negociação de conflitos, onde sentimen- respeitosas, promovendo valores relativos
tos de empatia e compreensão mútua à justiça, dignidade humana e responsa-
permeiem os processos de comunicação bilidade social. Quanto mais cedo isto for
e as estratégias de ensino adotadas pe- feito, mais os alunos serão beneficiados
los professores. Para a paz ser promovida em seu desenvolvimento. Daí a necessi-
na escola, é necessário a re-significação dade de prevenção da violência na escola,
subjetiva da violência e da competição especialmente a prevenção do bullying,
por parte da cultura escolar como um por meio da promoção da educação para
todo, no sentido de se promover, diante a paz como eixo transversal presente em
de conflitos, a negociação cooperativa e todas as atividades exercidas no contexto
inteligente. Nosso trabalho em relação à escolar, das matérias estudadas às aulas
questão do bullying tem se inspirado par- de educação física, sempre passando pela
ticularmente na perspectiva sociocultural qualidade atenciosa, respeitosa porém fir-
construtivista (e.g. Branco, 2006; Madu- me dos educadores. Afinal, os alunos pre-
reira & Branco, 2005; Valsiner, 2007). Esta cisam conhecer e compreender o signifi-
abordagem teórica se apresenta bastante cado da convivência pacífica, da mediação
produtiva em abranger a complexidade construtiva de conflitos e da construção
do fenômeno bullying, e promover ações permanente de um contexto democráti-
efetivas em prol de uma cultura de paz co baseado na ética. O certo é que todos,
na escola. Internalizar desde a infância o professores e alunos, são sujeitos ativos
princípio de que o “outro merece ser tra- na transformação de sua própria realida-
tado como eu gostaria de sê-lo”, preve- de, e somente a partir de suas convicções
niria situações de violência e bullying na e motivações algo poderá ser transforma-
escola e, possivelmente, contribuiria para do. A programação e implementação de
a construção da paz em contextos sociais atividades cooperativas entre os profissio-
mais amplos, como a família, o ambien- nais que atuam na instituição educativa e
te de trabalho e outros. Entretanto, para nas salas de aula, bem como atividades
a construção do respeito mútuo e de um cooperativas incluindo as famílias, todas
ambiente de paz na escola, é essencial são relevantes para o sucesso de projetos
que haja o empenho político e local para integrados de prevenção do bullying e de
a formação dos professores, no sentido promoção de uma Cultura de Paz. Somen-
de prepará-los para prevenir o bullying e te com base em um trabalho conjunto de
saber atuar caso este ocorra no ambien- todos os profissionais envolvidos no con-
te escolar, de forma cooperativa e com o texto da escola, um trabalho de equipe no
trabalho conjunto de todos os participan- qual todos—inclusive funcionários como
tes da comunidade escolar. Não é mais porteiros, merendeiras etc—participem
possível desconsiderar a importância da ativamente, é que poderão ser gerados
promoção das interações sociais positivas processos de transformação da cultura
para o desenvolvimento global da criança escolar no sentido da inclusão de todos,
e do adolescente no âmbito das institui- e do trabalho efetivo em relação a promo-
ções educativas. Estas podem e devem ção da paz e da prevenção do bullying nas
atuar no campo da promoção concreta de escolas.

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 01-LT01 relacionada ao desenvolvimento de todo


o primeiro ano de vida. É essa revisão
Emoção/Afetividade que será aqui apresentada. Para o levan-
tamento bibliográfico, realizou-se revisão
nacional e internacional sobre a temática
LT01-951 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
seguindo as etapas: 1ª) escolha das bases
A EMOÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DO
de dados para pesquisa: uma base de da-
BEBÊ NO PRIMEIRO ANO VIDA
dos nacional (BVS-Psi) e uma internacional
Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo Ferreira (PsycINFO); 2ª) traçou-se critérios de in-
- USP/RP clusão (artigos, teses e dissertações; sem
melolud@yahoo.com.br restrição de data na base nacional e restri-
Kátia de Souza Amorim - USP/RP ção dos últimos cinco anos na internacio-
katiamorim@ffclrp.usp.br nal; idiomas inglês, português, espanhol e
Financiamento: FAPESP, CNPq francês; trabalhos com disponibilidade de
resumos) e exclusão (livros, capítulos de
A emoção é tema presente em diversas livro e resenhas; revistas exclusivamente
áreas do conhecimento, dentre eles, a da área médica); 3ª) pesquisa e definição
psicologia do desenvolvimento. Henri das terminologias indexadas (emoções,
Wallon se destaca pelos seus estudos so- desenvolvimento emocional, desenvolvi-
bre a emoção, tornando-se um referencial mento infantil (BVS-Psi e PsycINFO), esta-
para a investigação deste tema. Em sua dos emocionais e bebês (BVS-Psi), e early
teoria, a emoção é elemento central nos childhood development (PsycINFO); e 4ª)
primeiros meses de vida, a qual propicia- busca pelas palavras-chave (bebê, infant
ria a constituição do vínculo entre bebê e e emoção), e os cruzamentos entre elas e
ambiente social; representando, assim, o os descritores. Algumas palavras buscadas
primeiro plano de sociabilidade que con- - como emoções/emotions, bebê/infant,
tribuiria para promover a solidariedade desenvolvimento infantil/infant develop-
de comportamento e de atitudes entre ment - resultaram em expressivos núme-
o bebê e as pessoas no entorno. A par- ros de artigos; por outro lado, a partir dos
tir da leitura deste autor e de alguns de cruzamentos, houve queda considerável
seus estudiosos, no entanto, percebeu-se deste número. Considerando que o obje-
a exploração da emoção mais restrita ao tivo desta revisão foi analisar o que tem
plano teórico e aos primeiros meses de sido produzido sobre emoção especifica-
vida. Buscando aprofundamento dessa mente no desenvolvimento de bebês no
questão, traçou-se o objetivo de desen- primeiro ano de vida, a partir dos resu-
volver um estudo empírico para investigar mos e dos critérios de inclusão/exclusão,
a emoção ao longo do primeiro ano de optou-se por afunilar as buscas aos cruza-
vida, investigando suas manifestações em mentos, chegando-se a 249 trabalhos, 247
processo de transformação ao longo deste artigos e 2 teses. Ao analisar estes traba-
período. Para a realização deste trabalho, lhos, percebe-se a diversidade de estudos
um dos percursos foi verificar o que tem e, ao mesmo tempo, a escassez dos mes-
sido produzido na literatura, em termos mos relacionados à emoção no desenvol-
de estudos empíricos, acerca da emoção vimento de bebês, pois a maior parte dos

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

trabalhos é realizada somente com o pai de/em transformação da emoção no de-


ou com a mãe dos bebês, analisando os senvolvimento do bebê. Sendo assim, os
aspectos emocionais dos pais no proces- estudos encontrados na literatura ofere-
so da maternidade e paternidade. Ainda, cem material empírico para a discussão
encontram-se relatos clínicos enfocando da temática, e também apontam direções
alguma dificuldade ou patologia materna, para estudos prospectivos.
ou até mesmo a relação mãe-bebê de for-
ma teórica ou clínica, predominantemente Palavras-chave: Emoção, bebê,
a partir da psicanálise. No entanto, foram desenvolvimento, revisão bibliográfica.
encontrados trabalhos sobre o desenvol- Contato: Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo
vimento de bebês considerando a emoção Ferreira - melolud@yahoo.com.br
como um dos processos deste desenvolvi-
mento. Estes estudos podem ser divididos
entre teórico, revisão de literatura e em- LT01-1305 - RECONHECENDO EMOÇÕES:
píricos. Os primeiros apontam para a im- UM OLHAR DESENVOLVIMENTAL SOBRE
portância e necessidade de novos estudos O PAPEL DA MÚSICA NA ONTOGÊNESE
na área, principalmente longitudinais e da HUMANA
abordagem sociocultural e evolucionista. Nara Côrtes Andrade - UFBA,
Os segundos são estudos realizados com andrade_nara@yahoo.com.br
bebês entre 0 e 2 anos, principalmente
em laboratório, transversais, com vídeo- A emoção é intrínseca à experiência que
gravação ou observação e focando a díade temos com a música, sendo que diferentes
mãe-bebê. Estes trabalhos têm analisado afetos podem ser expressos através dela, a
e discutido as expressões faciais, voca- exemplo de serenidade, tristeza, angústia,
lizações, resposta ao meio e construção medo, entre outros. Apesar das reflexões
do repertório emocional, propondo, de sobre as relações entre música e emoção
uma forma geral, que as expressões fa- remontarem a pensadores como Platão,
ciais dos bebês estão intimamente e re- pesquisas científicas são recentes e vêm
lacionalmente conectadas ao contexto e apontando que “as respostas emocionais
aos estímulos que lhes são apresentados, para a música dentro de uma cultura apa-
mostrando sintonia e reciprocidade com o rentam ser altamente consistentes dentro
ambiente e também a variabilidade indi- da mesma e entre ouvintes, acurada, ra-
vidual das respostas emocionais. Compre- zoavelmente imediata e precisa” (Viellard
ende-se que estes trabalhos colaboram et al, 2008, p. 721). As emoções são fe-
para a visualização dos aspectos emocio- nômenos complexos e multidimensionais
nais e expressivos dos bebês ao longo do que compreendem desde fenômenos bio-
primeiro ano de vida, e contemplam o ca- lógicos a fenômenos subjetivos e sociais,
ráter biológico e social da emoção. Por ou- sendo, muitas vezes, acompanhada de
tro lado, a análise mostra algumas lacunas uma intensa reação fisiológica e psicológi-
entre esses estudos, como a ausência de ca. Defende-se que as emoções possuem
investigações longitudinais, realizadas no três funções principais: 1) Social - comu-
ambiente do bebê, que não seja em labo- nicar informações sobre estado de ânimo,
ratórios, e que acompanhem o processo além de prováveis comportamentos e in-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tenções; 2) Adaptativa - preparar fisiologi- formações relativas ao estado afetivo dos


camente o indivíduo para a ação, aumen- mesmos. A criança começa a desenvolver
tando suas chances de sobrevivência; Mo- a capacidade de percepção relativa às ex-
tivacional – facilitar os comportamentos pressões vocais e faciais no seu primeiro
motivados (Fernandez-Abascal et al, 2010; ano de vida (Flom et al, 2008), sendo que
Freitas-Magalhães e Castro, 2009). Segun- aos 4 meses de idade, os bebês podem
do Reeze (2006, p. 191), “as emoções são discriminar expressões bimodais (facial e
fenômenos expressivos e propositivos de vocal) de felicidade, tristeza e irritação e
curta duração, que envolvem estados de aos cinco meses diferenciam expressões
sentimento e ativação, e que nos auxiliam unimodais vocais de raiva, felicidade e
na adaptação às oportunidades e aos de- tristeza. As crianças prestam atenção pre-
safios que enfrentamos durante eventos ferencialmente a estímulos auditivos que
importantes da vida”. Pesquisas sobre expressem emoções. No caso da fala, por
emoções básicas expressas por músicas exemplo, as crianças atentam mais a falas
vêm apontando que as respostas emo- emotivas do que a falas neutras (Kitamu-
cionais podem ser bastante consistentes ra & Burnham, 1998; Singh, Morgan &
e coincidentes entre as diferentes idades Best, 2002). Em pesquisa realizada como
(Peretz, 2009). Muitos autores defendem bebês de seis meses de idade, encontrou-
que emoções como alegria, medo e triste- -se que as crianças apresentavam maior
za podem ser induzidas através da música, atenção sustentada a episódios de canto
sendo que estas estão presentes em diver- materno do que a episódios de fala ma-
sos espaços do nosso cotidiano, como, por terna (Nakata & Trehub, 2004). Estes auto-
exemplo, em trilhas sonoras de filmes, es- res salientam que a fala é um importante
pecialmente aqueles dirigidos às crianças. meio de transmitir emoções, entretanto,
Em termos ontogenéticos, as emoções possivelmente a música é uma maneira
dependem do amadurecimento de es- mais eficaz de fazê-lo, especialmente en-
truturas neurais que dêem sustentação a tre crianças em estágio pré-linguístico, as
seu funcionamento. Segundo Férnandez- quais podem as mensagens verbais em
-Abascal e cols. (2010), as emoções primá- sua forma, mas não em seu conteúdo.
rias, a exemplo da alegria, da surpresa, da Segundo Peretz e Sloboda (2005), estes
repugnância (nojo), da tristeza e do medo, achados sugerem que, possivelmente, a
se desenvolvem no início da vida, enquan- música pode ser considerada como mais
to as emoções secundárias ou sociais, tais poderosa que a fala no que diz respeito à
como ciúme, culpa, vergonha, precisam expressão de emoções. Flom et al (2008),
tanto do desenvolvimento de estrutu- em pesquisa realizada com crianças sau-
ras neurais quanto aspectos referentes a dáveis nascidas a termo e sem complica-
aprendizagem e socialização, tais como in- ções neonatais, observaram que crianças
ternalização de algumas normas sociais ou entre 5 e 7 meses foram capazes de dis-
desenvolvimento de identidade pessoal. criminar trechos felizes e tristes quando
Do ponto de vista adaptativo, é essencial habituados a trechos tristes e não quando
que o bebê compartilhe seus estados in- habituados a trechos alegres. Com 9 me-
ternos com seus parceiros sociais (Berga- ses, entretanto, as crianças discriminaram
masco, 1997) e seja capaz de processar in- todos os trechos musicais avaliados como

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

afetivamente diferentes. Kastern e Cro- ças muito pequenas, caracterizadas pelas


wder (1990), em estudos realizado com canções de ninar; socialização e interação
crianças entre 3 e 12 anos, apontam que, entre pares, a exemplo das brincadeiras
mesmo as crianças mais jovens, de 3 anos cantadas (Pinto & Lopes, 2009); entre ou-
de idade, mostram reconhecer a valência tras dimensões. Entretanto, como ressalta
afetiva da música de sua própria cultura - Baruch (2010), as pesquisas em psicologia
negativa, positiva - associando-a aos mo- da música com crianças são relativamen-
dos em que estas são compostas, modo te recentes, sendo ainda mais escassas
menor e maior, respectivamente. Segun- no Brasil. As diversas pesquisas que têm
do Cunningham & Sterling (1988), aos 4 sido realizadas acerca da à discriminação
anos as crianças já são capazes de reco- e ao reconhecimento de emoções em mú-
nhecer explicitamente emoção de alegria sica com diferentes faixas etárias apontam
expressa pela música. Entretanto, o estu- para uma compreensão de como este
do realizado por Dalla Bela e cols. (2001) fenômeno ocorre durante o desenvolvi-
encontrou que crianças de 3 e 4 anos não mento infantil. Entretanto, como pode-
apresentam ainda habilidade no reco- mos notar acima, é importante salientar
nhecimento de emoções alegres e tristes. que estas são, em sua maioria, recentes e
Estes autores destacam que questões me- pouco consensuais, sendo ainda escassas
todológicas, tais como a tarefa apresen- e apontando um campo de estudos em
tada de apontar para faces esquemáticas expansão.
representando as reações emocionais, po-
dem haver interferido no resultado, já que Palavras-chave: música, emoções,
esta pode requerer habilidades ainda pou- desenvolvimento humano.
co desenvolvidas nesta faixa etária. Sendo
que aos 5 anos as crianças são capazes de
reconhecer músicas alegres e tristes (Dalla LT01-1307 - O TESTE DO DESENHO DA
Bella & cols., 2001) e aos medo e ameaça FAMÍLIA COMO UMA REPRESENTAÇÃO
(Dolgin & Adelson, 1990; Terwogt & Van DOS MODELOS INTERNOS DE
Grinsven, citado por Vielard e cols., 2008). FUNCIONAMENTO
É importante salientar que estas pesqui- Débora Matos - UFPE
sas se referem a uma melhor acurácia no debkrm@gmail.com
reconhecimento de emoções alegres e Antônio Roazzi - UFPE
tristes, enquanto as emoções de medo e roazzi@gmail.com
raiva são muitas vezes confundidas entre Financiamento: CNPq
si. A música, historicamente, tem sido um
elemento recorrente em todas as culturas John Bowlby postulou que o comporta-
conhecidas (Schellenberg & cols., 2008) mento de apego no ser humano, assim
com a qual a criança convive, a exemplo como em várias outras espécies é de or-
das canções de ninar, brincadeiras canta- dem primária e instintiva, cuja função
das, etc. A mesma a dimensão emocional adaptativa seria a preservação da vida,
intrínseca à sua experiência é de imenso tendo em vista que o filhote sozinho
valor ao desenvolvimento, a exemplo da não tem a mínima chance de sobreviver.
regulação emocional que exerce em crian- Assim, a criança tem uma tendência na-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tural para buscar o contato e a proteção mudanças durante a vida, de acordo com
de um adulto, seja ele a mãe ou a figura outras experiências vividas pelo indivíduo.
de um outro cuidador. O tipo de cuida- O desenho tem sido usado há muito tem-
do oferecido pela mãe ou cuidador, ou po pela psicologia como forma de acessar
seja a figura de apego primária, oferece as representações do indivíduo acerca de
um protótipo de relacionamento sobre o si mesmo e do mundo que o cerca. Par-
qual a criança é capaz de construir suas tindo do mesmo pressuposto o desenho
expectativas diante de relacionamen- da família foi estudado por diversos au-
tos outros que surgem ao longo da vida. tores de forma a classificar características
Ainsworth (1978), em seu experimento no mesmo que tivessem correlação com
“Situação Estranha” observou três estilos os estilos de apego (Kaplan, May, 1986;
de apego, que se desenvolviam na crian- Fury, Carlson, Sroufe, 1997; Attili, Ruby,
ça conforme os critérios de sensibilidade 2000; Maddigan, Ladd, Golberg, 2003).
desta figura primária para responder aos Mais recentemente Roazzi, & cols., (2011)
sinais do bebê e a quantidade e a nature- também verificaram a possibilidade de
za da interação entre os mesmos. Assim, acessar as representações acerca das re-
crianças com estilo de apego seguro (B) lações afetivas por meio do desenho da
apresentam um bom equilíbrio entre au- família em crianças de educação infantil e
tonomia e proximidade, sendo capazes de ensino fundamental. Tal pesquisa, já rea-
utilizar a figura de referência como base lizada na Itália, está sendo trazida para o
segura. A qual é percebida pela criança Brasil por meio deste trabalho, tendo em
como positiva, sensível e sempre dispo- vista a necessidade de pesquisas com o
nível às suas requisições de ajuda. Nas tema, contextualizadas nesta realidade
crianças com apego evitante (A) há uma específica. Analisar a correlação entre as
ênfase na autonomia e independência, características do desenho da família e os
mostram-se indiferentes à figura de ape- Modelos Internos de Funcionamento, to-
go, a qual é percebida como impaciente, mando como base os estudos anteroires.
negativa e rígida. As crianças com apego Prover uma base para futura validação
ambivalente (C), por sua vez, apresentam do desenho como uma representação
excessiva ativação do sistema de apego, do apego por meio do uso de um instru-
buscando uma contínua confirmação da mento já conhecido. Avaliação de uma
presença e proteção da figura de apego. amostra composta por 25 alunos do 1º
É interessada, mas não consegue estabe- ano do Ensino Fundamental de uma es-
lecer rotinas sincronizadas, apresentando cola pública do Recife com relação aos
incoerências. Está convencida de não ser estilos de apego por meio de uma versão
amável, enquanto que o outro é percebi- modificada (Attili, 2001) do Separation An-
do como confiável e positivo. Os estilos de xiety Test, de Klagsbrun e Bowlby (1979).
apego discriminados por Ainsworth (op. Aplicação individual do teste do desenho
Cit.) sofreram uma evolução no sentido da família validado para classificação dos
de não serem mais vistos como formas es- estilos de apego por Fury e colaboradores
tanques de relacionamento. Os modelos (1997). A versão italiana do presente estu-
Internos de funcionamento (MIF), como do demonstrou que o desenho da família
agora são denominados, podem sofrer pode ser considerado um método válido

15
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para assessar os estados atuais de apego A, C; ʤ2 (2)= 2.78 n.s.). Também desenha-
em crianças. Por meio de testes estatísti- ram mães com expressões faciais positivas
cos tradicionais, utilizando o SSA (Smallest (B>A, C; ʤ2 (2)= 8.2 p<0.05). Crianças evi-
Space Analysis - Bloombaum, 1970; Gutt-
tantes desenharam com maior probabili-
man, 1965; Shye, 1985; or Similarity Struc-
dade barreiras entre os representantes da
ture Analysis - Borg & Lingoes, 1987), mui-
família (A > B, C; ʤ2 (2)= 8.7 p<0.05). Assim,
tas características do desenho mostraram
temos fortes evidências que nos embasam
relação com as tipologias de apego. Dados
no sentido de que os resultados do pre-
obtidos por meio de simultâneas inercor-
sente estudo têm contribuições similares,
relações lançaram luz sobre as complexas
porém respaldadas pela singularidade da
estruturas representacionais da criança
cultura brasileira. De forma que se apre-
acerca de seus laços familiares. As seguin-
sente como uma contribuição relevantes
tes variáveis dimensionais mostraram-se
no aprofundamento da temática da Teoria
relevantes: Crianças coma pego ambiva-
do Apego no país.
lente demonstraram maior probabilidade
de situar seu próprio desenho mais pró-
Palavras-chave: desenho da família;
ximo do desenho da mãe que os segura-
representação interna; teoria do apego.
mente apegados (os quais se desenhavam
a uma distância equilibrada da mesma:
C < B, A; ʤ2 (2)= .28 p<0.05), além disso
LT01-1329 - WALLON E BOWLBY:
localizavam o desenho da família a uma
AFETIVIDADE EM DISCUSSÃO
distância maior da borda inferior da folha
que as crianças seguras (C > B; ʤ2 (2)= 5.4 Fabíola Lira Gonçalves - UFPE
p<0,001), seus desenhos cobriam uma fmsgoncalves@ig.com.br
pequena área da folha em comparação Débora Matos - UFPE
comos desenhos das crianças com apego debkrm@gmail.com
seguro (C < B; ʤ2 (2)=2.81 p<0.05).As crian- Financiamento: CNPq
ças seguras se desenharam mais ao centro
da folha que as crianças de apego evitante O ponto de partida deste ensaio deu-se
(B<A; ʤ2 (2)=3.8 p<0.01). Variáveis catego- pela articulação entre teorias psicológicas
riais relevantes: Houve uma tendência por do desenvolvimento humano que tratam
parte das crianças inseguras , em compa- da afetividade. Neste sentido, propõe-se
ração às seguras, de desenharem figuras um diálogo entre as abordagens teóricas,
incompletas (B < A, C; ʤ2 (2)=3.41 p<0.05). a saber: a teoria psicogénetica de Wallon
No desenho de crianças ambivalentes ha- e a teoria do apego de Bowlby, já que es-
via ausência de chão em maior proporção tes autores defendem uma concepção in-
que no desenho das demais (C < A, B; ʤ2 tegrada do ser humano em seus aspectos
(2)= 10.9 p<0.05) e frequentemente suas cognitivos e afetivos. Historicamente, as
figuras estavam flutuando (C > B, A; ʤ2 teorias psicológicas têm gerado uma visão
(2)= 13.3 p<0.001). Crianças seguramen- dicotômica entre cognição e afetividade.
te apegadas mostraram maior probabili- A teoria psicogenética de Piaget (2007)
dade, embora não significativamente, de ressalta o aspecto cognitivo no desenvol-
desenhar figuras com braços abertos (B > vimento do indivíduo. Por outro lado, se

16
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contempla na psicanálise a ênfase na sin- vas emoções que surgirão durante toda a
gularidade do sujeito, tendo a afetividade existência. Por essa via explicativa, o pres-
um papel central na constituição deste. suposto integrador entre os aspectos bio-
Na teoria walloniana as emoções e o afe- lógicos, cognitivos e afetivos funcionam de
to, tem papel fundamental na constituição modo sincrético, portanto indissociáveis.
da pessoa. A emoção teria primeiramente Wallon ressalta dois mecanismos regula-
a função biológica calcada na concepção dores do desenvolvimento psicogenético,
evolutiva de Darwin, tendo em vista que a a saber: alternância e preponderância,
espécie humana, em geral, tem um único estes se articulam num jogo interacional
filho por gestação, e um longo período de intenso entre os componentes biológicos
dependência deste em relação aos cuida- e sociais do psiquismo humano. À medida
dos do adulto para o seu desenvolvimento que as interações entre os indivíduos vão
pleno. A primeira manifestação de emo- ocorrendo, vão surgindo novas formas de
tividade na vida humana, conforme esta afetividade, por exemplo: o sentimento e
abordagem é o choro, que é concebido a paixão que podem se manifestar tanto
como a garantia de que as necessidades de modo verbal, pois há palavras que a
do bebê serão prontamente atendidas expressam, bem como gestos e atitudes
pela mãe. Daí tem-se uma emoção, car- motoras que podem expressá-las do mes-
regada de sua característica contagiosa mo modo, sem que haja uma hierarquia
e epidêmica, sendo à base da relação na forma escolhida pelo sujeito para ex-
eu-outro. Esta manifestação emotiva se pressar a afetividade. O que demarca a
constitui na relação entre os aspectos escolha da expressão afetiva é o contexto
biológico e social, pois o choro também interacional instaurado entre os sujeitos
é considerado por Wallon como uma ex- envolvidos no ato comunicacional. Para
pressão de linguagem, uma vez que a mãe Bowlby, o vínculo da criança à sua mãe é,
ouve o choro do bebê, é contagiada por também, um comportamento inicialmen-
sua reação emocional de desconforto e te de ordem primária e instintiva, cuja
reage atendendo às suas solicitações. Para função adaptativa seria a preservação da
Dantas (1992), na teoria walloniana, cuja vida. Assim a criança tem uma tendência
orientação filosófica é o materialismo dia- natural para buscar o contato e a proteção
lético, a emoção é simultaneamente bio- de um adulto, seja ele, a mãe ou a figura
lógica e social, circunscrita em um tempo de outro cuidador. Essa busca de contato,
historicamente situado, a premissa básica manifestada primeiramente pelo choro,
é da unicidade do sujeito nas dimensões provoca determinado tipo de reação na
que o integram. Desse modo, a emoção mãe, que a partir de então, se configura
humana, se constitui por meio das mani- como cuidadora. Constitui-se, assim, um
festações de linguagem verbais e não ver- estilo de relacionamento primário entre
bais que só acontecem em função da me- mãe e filho, ou cuidador e criança. O tipo
diação cultural e social entre sujeitos. As de cuidado concedido por este, oferece
etapas do desenvolvimento humano em um protótipo de relacionamento sobre o
Wallon não são estanques. O sujeito não qual a criança é capaz de construir, por
perde, ou substitui totalmente as emo- meio de generalização, suas expectativas
ções primárias, elas coexistirão com as no- diante de relacionamentos que surgem ao

17
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

longo de sua vida. Há, assim, duas condi- indissociável, afetando todas as esferas da
ções que contribuem na formação ou não vida do indivíduo. Assim as duas teorias
do apego a uma figura primária, ou ainda integram a base orgânica e contato com o
ao estilo de apego proveniente desta re- outro, com o social, os quais impulsionam
lação: a) a sensibilidade desta figura para o afeto e a cognição. Este homem comple-
responder aos sinais do bebê; b) a quan- to e total tem todos estes componentes
tidade e a natureza da interação entre os constantemente interagindo entre si. Ele
componentes do par. Conforme estas va- está, ao mesmo tempo, se adaptando ao
riáveis, três padrões básicos de apego po- meio, aprendendo o mundo ao seu redor,
dem se desenvolver (Ainsworth, 1978): a) significando o mesmo e se relacionando
Crianças com estilo de apego seguro apre- com o outro a partir de suas experiências.
sentam um bom equilíbrio entre autono- Todas estas atividades coexistem e se nu-
mia e proximidade, sendo capazes de uti- trem mutuamente.
lizar a figura de referência como base se-
gura, a qual é percebida pela criança como Palavras-chave: Afetividade, Psicogênese da
positiva, sensível e sempre disponível às Pessoa Completa, Teoria do Apego.
suas requisições de ajuda; b) Nas crian-
ças com apego evitante há uma ênfase na
autonomia e independência, mostram- LT01-1373 - O DESENVOLVIMENTO DO
-se indiferentes à figura de apego, a qual OLHAR NO BEBÊ E SUA RELAÇÃO COM
é percebida como impaciente, negativa e O DESENVOLVIMENTO POSTURAL:
rígida; e c) As crianças com apego ambiva- REFLEXÕES SOBRE RELAÇÃO, CULTURA E
lente, por sua vez, apresentam excessiva COMPLEMENTARIDADE
ativação do sistema de apego, buscando Natália Meireles Santos - FFCLRP/USP
uma contínua confirmação da presença e nmeireles@aluno.ffclrp.usp.br
proteção da figura de apego. É interessa- Kátia de Souza Amorim - FFCLRP/USP
da, mas não consegue estabelecer rotinas katiamorim@ffclrp.usp.br
sincronizadas, apresentando incoerên-
cias. Está convencida de não ser amável, O primeiro ano de vida é uma etapa de
enquanto que o outro é percebido como grandes transformações no desenvolvi-
confiável e positivo. Estes estilos de apego mento humano, em que inúmeras habili-
tornam-se relativamente estáveis entre o dades são adquiridas (Pio, 2007). Estudar
primeiro e o segundo ano de vida e se ma- o bebê é uma forma de aprender sobre
nifestam como uma “tendência geral” que quem somos e como somos constituídos
influencia as relações do sujeito consigo, (Bussab, Carvalho & Pedrosa, 2007). O
com o outro e com o meio. Estes estilos, bebê apresenta formas particularizadas de
porém, podem ser alterados a partir de interação, reveladas por episódios “mais
outras experiências significativas ao lon- fugazes, desordenados, pouco estrutura-
go da vida. Autonomia, autoconfiança, dos e pouco intencionais” (Anjos, Amorim,
confiança para explorar e conhecer, são Rossetti-Ferreira & Vasconcelos, 2004).
características intimamente relacionadas Apesar disso, o bebê apresenta formas de
a um apego seguro. Percebe-se uma rela- expressão significativa, (gestos, expres-
ção entre afetividade e cognição, de forma sões faciais, vocalizações, postura corpo-

18
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ral) com indícios importantes de intenção, desenvolvimento postural, em dois bebês


desejos, incômodos, capazes de suscitar analisados em situação de interação em
reações no outro, quer seja um adulto ou dois contextos (ambiente domiciliar e cre-
outra criança. No processo, o bebê mostra- che). Para a condução do projeto, o mes-
-se ativo dentro de um sistema cultural mo foi submetido à avaliação do Comitê
ao utilizar-se de capacidades interativas de Ética em Pesquisa (CEP), da Faculdade
empregadas a partir de meios convencio- de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
nais de comunicação direcionados ao ou- Preto (FFCLRP/USP), sendo aprovado, em
tro, como o sorriso e o olhar (Anjos et al., concordância com a Resolução n° 196/96.
2004). O olhar destaca-se como recurso A coleta e análise de dados estão sendo
comunicativo, indo além da visão, atingin- conduzidas fundamentalmente através da
do a esfera relacional e propiciando comu- perspectiva da Rede de Significações (Ros-
nicação (Belini & Fernandes, 2008). Nesse setti-Ferreira, Amorim, Silva & Carvalho,
sentido, Elmôr (2009) aponta o olhar como 2004). Estão sendo realizados dois estudos
uma ferramenta importante para estabe- de caso (Yin, 2005), com acompanhamen-
lecer comunicação entre seres humanos. to longitudinal. Entende-se que o estudo
Fogel e cols. (1999) acrescentam a postu- de caso propicia a observação em ambien-
ra como aspecto influente no desenvolvi- te natural, de forma a apreender a comple-
mento do olhar no bebê, destacando que, xidade em que os processos estão imersos;
nos primeiros meses de vida, o posiciona- e, de maneira a preservar as características
mento corporal do bebê ainda está muito significativas dos acontecimentos, dentro
subjugado ao manejo adulto. Os autores de seus contextos e relações (Freitas & Po-
ressaltam a importância de investigar o pa- zzebon, 1998). Criança em domicílio: Os
pel de fatores motores e sociais envolvidos sujeitos são um bebê (Marina), sua mãe
nessa associação da postura e do olhar. (Júlia) / o pai (Pedro) e a avó (Mirian). O
Amorim (2008) aponta como a mudança material empírico é do Banco de imagens
postural proporciona uma modificação do projeto Processos de (Trans)formação
significativa na percepção e participação da Comunicação e Linguagem, ao Longo
no ambiente por parte do bebê. Bebês do Primeiro Ano de Vida: Um Estudo de
que antes demonstravam certo isolamen- Caso (Rodrigues, 2008). Esse estudo acom-
to em relação às coisas ao redor passam a panhou o bebê, semanalmente, desde seu
ter maior atenção ao ambiente e a buscar nascimento, ao longo de todo seu primei-
ativamente a proximidade com outros. Os ro ano de vida, investigando o desenvol-
processos envolvidos na co-construção do vimento da comunicação e da linguagem
engatinhar estariam ligados à emergência durante esse período. Serão utilizadas ce-
de maior intencionalidade e autonomia no nas da criança a partir do quarto mês de
bebê. Mas, há a necessidade de estudos vida. Criança em creche: O sujeito pivô é
mais sistemáticos a essa questão. Traçou- Nisete, 5m e 6d ao ingresso na creche. Seu
-se assim, o objetivo do estudo. O objetivo estudo se fará a partir do banco de Ima-
tem sido investigar como se dá o processo gens do Projeto Integrado Processos de
de transformação do olhar como recurso Adaptação de Bebês à Creche (Rossetti-
expressivo no bebê; e como se dá a relação -Ferreira, 1994). Este projeto acompanhou
daquele com diferentes momentos de seu os processos de ingresso e frequência de

19
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

21 bebês, em uma creche universitária. gociação do olhar por parte da mãe que
Acredita-se que esses contextos permitam suscita reflexões sobre a inserção desse
evidenciar processos de desenvolvimento recurso em nossa cultura e como o bebê
significados de diferentes maneiras, pelas se apropria deste na interação, inclusive
particularidades de organização dos espa- quando não há pontos de encontro; nem
ços, bem como pelas práticas discursivas sempre Marina retribui o olhar à mãe, mas
do contexto e das pessoas no entorno e antes se volta para seu próprio corpo. Cha-
em interação. As gravações dos bebês es- ma ainda a atenção o contato e manejo
tão sendo vistas e algumas cenas, transcri- corporal do bebê realizado pela mãe em
tas. Nessas são buscadas particularidades uma relação também negociada. Marina
nos processos de olhar e da postura corpo- não é simplesmente subjugada às ações da
ral. As cenas são analisadas microgenetica- mãe , mas esta também reage à comunica-
mente (Goes, 2000), de modo a apreender ção do bebê (choro, movimento corporal,
mudanças ao longo do tempo, através de olhar), numa relação de complementarida-
recortes de episódios de diferentes mo- de (Seidl de Moura & Ribas, 1999).
mentos do desenvolvimento postural e do
olhar no bebê. A partir do mapeamento Palavras-chave: olhar, comunicação,
realizado, foi recortado um episódio inte- desenvolvimento postural
rativo no ambiente domiciliar: Júlia leva
Marina (quatro meses) para o quarto para
dar-lhe banho. Deita-a virada para cima LT01-1435 - A COMPREENSÃO
na cama. Marina começa a choramingar. INTERDISCIPLINAR DA RELAÇÃO
Júlia senta Marina na cama, segurando-a MÃO-BEBÊ: UMA APROXIMAÇÃO DE
de modo que ambas ficam frente a fren- WINNICOTT À NEUROCONCIÊNCIA DO
te (Júlia abaixa-se ao lado). Marina olha e DESENVOLVIMENTO
passa a mexer nos pés. Começa um movi- Célia Regina de Souza Cauduro - USP/SP
mento em que Júlia insistentemente tenta crcauduro@uol.com.br
chamar a atenção de Marina, utilizando-se Vera Silvia Raad Bussab - USP/SP
de vários recursos auditivos e táteis. Nem vsbussab@gmail.com
sempre Marina retribui com o olhar, mas
quando o faz ambas sorriem. Júlia levanta- Na teoria psicanalítica de Donald W. Win-
-se então e pega Marina no colo, e leva-a nicott ((1983; 1988 a, b, c, d; 1990; 1994;
para frente de um espelho, com ambas 1997; 1999 a, b, c, d, e) sobre a constitui-
voltadas para o mesmo. Enquanto isso, a ção do sujeito e nos trabalhos da Neuro-
pesquisadora passa por detrás com a câ- ciência do Desenvolvimento, existem afir-
mera, chegando a aparecer no espelho. O mações sobre a importância da qualidade
olhar de Marina volta-se para a imagem da experiência vincular nas primeiras eta-
da pesquisadora. Marina movimenta-se e pas da vida pós-natal. A correspondência
esforça-se para virar-se para trás. Quando entre estas duas teorias se organiza por
a mãe o percebe, vira seu próprio corpo, meio do conceito winnicottiano de expe-
tornando possível que Marina olhe direta- riência intersubjetiva: “o bebê no colo da
mente para a pesquisadora. No episódio, mãe, que precisa crescer, isto é, consti-
fica evidente a insistente e custosa ne- tuir uma base para continuar existindo e

20
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

integrar-se numa unidade” (Loparic, 2008, tas não verbais dos comportamentos do
p.145). Segundo Loparic (2008), “Winni- bebê, crucial para o estabelecimento de
cott introduziu um novo modelo ontoló- um vínculo seguro (Schachner, Shaver, &
gico do objeto de estudo da psicanálise, Mikulincer, 2005). A autoregulação emo-
centrado no conceito de tendência para cional é a habilidade para controlar esta-
a integração, para o relacionamento com dos internos ou respostas relacionadas
pessoas e coisas e para a parceria psicos- aos pensamentos, emoções, atenção e
somática“ (p.145). Esta afirmação de Lo- desempenho. Os mecanismos neurais que
paric (2008) é apoiada pelas pesquisas sustentam os processos regulatórios po-
neurocientíficas sobre o desenvolvimento dem ser os mesmos que fundamentam os
humano que afirmam que o corpo ma- processos cognitivos superiores. Existem
terno é a principal fonte de provisão das processos complexos pelos quais a emo-
informações ambientais, e funciona como ção relaciona-se à cognição e ao compor-
um regulador externo que organiza os tamento, que, conseqüentemente, inter-
sistemas neurológico, perceptual, emo- ferem no processo de desenvolvimento
cional e relacional pela sua presença físi- (Bell & Wolfe, 2004; Bell & Kirby, 2007).
ca e pelo seu comportamento interativo A autoregulação emocional desempenha
(Feldman, 1996; 1999; 2003; 2006; 2007). um papel central na socialização e no de-
A Neurociência do Desenvolvimento - As senvolvimento do comportamento moral,
conclusões dos estudos da neurociência depende do desenvolvimento do córtex
do desenvolvimento descrevem como as pré-frontal; está associada ao desenvolvi-
experiências vividas na interação entre a mento de diferentes estratégias de adap-
criança e o cuidador primário no período tação durante as etapas subseqüentes do
neonatal, podem alterar o processo de ciclo vital (Levesque, A., 2004; Lewis &
desenvolvimento do sistema nervoso. Os Stieben, 2004). As situações de negligên-
bebês, ao nascerem, apresentam consi- cia e maus tratos, eventos traumáticos
derável individualidade, são sensíveis aos que quando duradouros, representam
estados afetivos do outro e mobilizam res- risco ao desenvolvimento psiconeurobio-
postas em seu meio ambiente. Tal capaci- lógico infantil; estas situações podem es-
dade requer um grau significativo de inter tabelecer uma vulnerabilidade ao estresse
coordenação pré-funcional entre o cére- pós-traumático (PTSD), e uma predisposi-
bro e o corpo. Atualmente, existe grande ção à violência na idade adulta. Situações
evidência que a organização do cérebro de privação ou trauma que promovem
do neonato é altamente dependente da interrupções no processo de formação do
estimulação dos cuidadores, e que estas vínculo, causadas por fatores maternos
interações quando validadas por experi- (ex. depressão pós-parto) e/ou relaciona-
ências adequadas, constituem um regula- das ao bebê (doenças hereditárias, congê-
dor da epigênese social da mente infantil, nitas ou adquiridas), podem desorganizar
isto é, promovem as condições necessária a regulação psicobiológica e neuroquímica
para a autoregulação emocional. Estas ex- no desenvolvimento cerebral, conduzindo
periências adequadas são proporcionadas à neurogênese, sinaptogênese e diferen-
por um cuidador primário (mãe) sensível ciação neuroquímica anormais.Os dados
capaz de decodificar ou entender as pis- da pesquisa de Chelini et al., (2010) inclu-

21
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ída no Projeto Ipê -Temático FAPESP no. sutis interações emocionais alteram os ní-
06/59192-2, que estuda possíveis efeitos veis da atividade cerebral e exercem um
da Depressão Pós-Parto (DPP) no desen- papel importante no estabelecimento e
volvimento numa população atendida manutenção dos circuitos do sistema lím-
pelo sistema público de saúde apontam bico (Ziabreva, I., Poeggel, P., Reinhild, S.,
que “ a resposta do cortisol a um estres- Braun, K., 2003; Wilkinson,2004; Cirulli,
sor leve foi maior em filhos de mães de- Berry, Alleva, 2003; Bradshaw, Schore,
primidas (análise de medidas repetidas; Brown, Poole, & Moss, 2005; Fonagy &
t = 2,44, 94df, p = 0,0166). Este resultado Target, 2005; Ovstscharoff e Braun, 2001;
indica que aos quatro meses após o parto Balbernie, R.(2001); Graham, et al.,1999;
o eixo HPA pode ter sido afetado pela DPP Schore, 2005). “A “mãe suficientemente
materna, já que filhos de mães deprimidas boa” tambem não existe sem os outros.
não mostraram a esperada supressão da Ela não existe sem um campo sociocul-
resposta do cortisol comumente observa- tural, que lhe dê possibilidades de exer-
da em torno de três meses”. Em concor- cer suas funções” (Safra, 2002).Coerente
dância com Ovstscharoff e Braun (2001), com afirmação de Fonseca, V.R.J.R.M. et
a interação diádica entre o recém-nascido al. (2010) - Projeto Ipê -Temático FAPESP
e a mãe funciona como um regulador do no. 06/59192-2, “A sensibilidade materna
desenvolvimento da homeostase inter- é influenciada por fatores sócio-cognitivos
na infantil. Interferem no funcionamento e afetivos”. As conclusões da pesquisa de
normal do eixo HPA (Hipotálamo-Pituitá- Defelipe, (2009) - Projeto Ipê -Temático
ria-Adrenal) resultando na alteração do FAPESP no. 06/59192-2: “A DPP1 parece
ritmo circadiano, elevando os níveis ba- capaz de perturbar os arranjos interativos
sais e reduzindo o volume cerebral. Os tornando-os menos consistentes. Porém,
efeitos podem ser de longo prazo, con- apesar desta possível limitação, por vezes,
duzindo a uma intensa resposta do eixo mães com DPP podem interagir adequa-
HPA a qualquer situação desafiadora, damente com seus bebês. Por fim, a DPP
atrofia hipocampal e prejuízos no desem- por não se tratar de um fenômeno capaz
penho cognitivo na vida adulta. Winnicott de incidir linearmente sobre a interação
e a Neurociência do Desenvolvimento: a mãe-bebê, e sobre o desenvolvimento
construção de uma hipótese interdiscipli- posterior, deve ser investigada em asso-
nar - A hipótese formulada a partir desta ciação com outros fatores psicossociais
aproximação é que a relação de mutuali- de risco.” Confirmam a compreensao de
dade entre o biológico, o emocional e o Aitken & Trevarthen (2001) que conside-
social (e não o emocional enquanto uma ram o vínculo como resultado de um con-
conseqüência linear da condição biológi- junto complexo de fatores individuais e
ca, ou o biológico como condição direta ambientais que interagem de uma forma
do emocional) apontada pela neurociên- não linear.
cia, no processo de desenvolvimento hu-
mano, é estabelecida por meio de uma Palavras-chave: Psicanálise, Neurogênese,
relação intersubjetiva fundada em uma Vínculo
maternagem que Winnicott (1988) cha-
mou de “mãe suficientemente boa”.Estas 1
DepressãoPós-Parto.

22
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 10 - LT01 criança podem antecipar seu diagnóstico.


O presente estudo teve por objetivo inves-
Depressão Pós-parto tigar se os efeitos da DPP sobre a função
adrenal da criança podem ser detectados
no recém-nascido. Também foi avaliada a
LT01-901- DEPRESSÃO PÓS-PARTO:
relação entre a interação mãe/bebê e os
O IMPACTO SOBRE A RESPOSTA AO
níveis de cortisol. Hipotetizamos que: 1)
ESTRESSE DO BEBÊ É MODULADO PELO
recém-nascidos cujas mães desenvolverão
COMPORTAMENTO MATERNO
DPP apresentam concentrações de corti-
Marie-Odile Monier Chelini - IPUSP sol salivar mais altas do que aqueles cujas
marodiche@gmail.com mães não apresentarão DPP, 2) filhos de
Vera Regina J. R. M. Fonseca - IPUSP mães com DPP apresentam aos 4 meses
veraregina.fonseca@gmail.com de idade concentrações basais de cortisol
Vinicius Frayze David - IPUSP mais altas do que filhos de mães sem DPP,
viniciusfdavid@gmail.com 3) filhos de mães deprimidas apresentam
Emma Otta - IPUSP aos 4 meses reação endócrina ao estresse
emmaotta@usp.com mais acentuada do que filhos de mulheres
Financiamento: FAPESP sem DPP, e 4) há correlação negativa entre
concentrações de cortisol dos recém-nas-
A depressão pós-parto (DPP) afeta, mun- cidos e intensidade da interação positiva
dialmente, uma entre cada cinco partu- mãe/bebê. Metodologia: A amostra conti-
rientes (Miller, 2002; Nemeroff, 2008), nha 74 mães e filhos, participantes de um
comprometendo o desenvolvimento e estudo longitudinal sobre DPP. O cortisol
comportamento dos seus filhos (Essex dos bebês foi mensurado em amostras de
et al., 2002; Herrera et al., 2004; Pearls- saliva coletadas dois dias após o nascimen-
tein et al., 2009). Particularmente, uma to (alta) e 4 meses depois do parto, antes
relação significante entre depressão ma- e depois de um exame clínico. As mães fo-
ternal após o parto e disfunções do eixo ram classificadas quanto à DPP três meses
hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) de após o parto, através da escala de depres-
seus filhos foi evidenciada, com níveis de são pós natal de Edimburgo (EPDS) (Cox
cortisol aumentados em bebês, crianças e et al., 1987), validada no Brasil (Santos et
adolescentes (Brennan et al., 2008; Kaplan al, 1999). Foram consideradas deprimidas
et al., 2008). Em geral, os sintomas da DPP mães que receberam escores superiores
ficam evidentes algumas semanas após o a 11. Interação mãe/bebê: Foram anali-
parto (Robertson et al., 2004). Entretanto, sados os 3 primeiros minutos da filma-
uma detecção antecipada dos seus efei- gem do primeiro encontro da mãe com o
tos sobre o bebê permitiria implantar-se bebê. Baseado na escala de Biringen, et al.
cuidados preventivos para limitar sua se- (2000), foi criada uma escala de 4 pontos
veridade. Uma reatividade psicológica e (0 ausência e 3 máximo) para seis catego-
adrenal aumentada ao estresse psicosso- rias de comportamento materno (vivacida-
cial durante a gestação foi associada a um de, falar espontâneo com o bebê e sobre
risco maior de DPP (Nierop et al., 2006), o bebê, sorrir, tocar o bebê e olhar para o
sugerindo que efeitos da DPP sobre a bebê) e quatro do bebê (vivacidade, exci-

23
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tação, olhar e ser acalmado pelo contato (19.9 ± 3.3 nmol/L vs 9.3 ± 1.8 nmol/L), aos
com a mãe). Dados dos recém-nascidos 4 meses antes (8.2 ± 2.3 nmol/L vs 2.7 ±
foram obtidos dos prontuários. Análise es- 0.5 nmol/L) e depois do evento estressor
tatística: Utilizamos testes t e chi quadra- (11.1 ± 2.3 nmol/L vs 4.0 ± 0.6 nmol/L).
do entre os grupos com e sem DPP para Discussão: O nível de cortisol dos bebês
identificar possíveis variáveis de confusão. aos 4 meses é semelhante entre os grupos,
Depois, foi formulado e ajustado um mo- contradizendo alguns resultados (Brennan
delo linear misto (LMM), descrevendo a et al., 2008) mas consistente com Azar et
concentração do cortisol dos bebês como al. (2007). Diferentemente de Azar, não
função da condição da mãe (DPP) e do foram encontradas diferenças na variação
tempo (Demidenko, 2004). Foram então do cortisol frente ao estresse, entretanto,
testados efeitos possíveis de variáveis do observou-se maior variação interindividual
recém-nascido e dos escores de relação no grupo filhos de deprimidas, sugerindo
mãe/bebê sobre cada medida de cortisol. reação mais heterogênea ao estresse. A
O nível de significância adotado foi < 0,05. análise mostrou uma explicação possível,
Resultados: Foram consideradas deprimi- evidenciando correlação entre maior res-
das 16 mulheres (23,8%). Não houve dife- posta endócrina ao estresse e menores es-
renças da interação avaliada para mães e cores de interesse materno apenas no gru-
bebês entre grupos, nem para nenhuma po com DPP. A análise inferencial mostrou
variável de confusão. O LMM mostrou efei- também diferença entre os grupos nas
to do tempo no cortisol (F2/71 = 25.52, p < concentrações basais de cortisol. Os níveis
0.0001). Nos dois grupos, a concentração de cortisol estimados depois do controle
de cortisol era maior na alta que na linha de para efeito do interesse materno sugerem
base aos 4 meses e aumentou após o exa- que a qualidade da interação materna de-
me clínico. Não houve efeito da DPP nem pois do parto pode tamponar o efeito da
da interação DPP e tempo sobre os níveis depressão no eixo HPA dos bebês, mesmo
de cortisol. Verificou-se, contudo, um coe- apenas 2 dias após o nascimento, quando
ficiente de variação (CV) maior na resposta a DPP ainda não é detectável. Efeitos si-
endócrina de filhos de mães deprimidas milares foram reportados (Gunnar, 1998;
em resposta ao estressor (CV = 124.54) do Kaplan et al., 2008). Nossos resultados su-
que no outro grupo (CV = 75.47). O modelo gerem que intervenções visando melhorar
mostrou interação no tempo entre escore a qualidade dos cuidados maternos, suge-
de interesse materno e DPP apenas entre ridas em estudos prévios (Gunnar & Don-
filhos de mães deprimidas (F1/51 = 4.18, p = zella, 2002; Wachs et al., 2009) podem ser
0.046). Especialmente, foi evidenciada cor- implantadas desde os primeiros momen-
relação negativa entre escore do interesse tos de vida do bebê.
materno e variação do cortisol do bebê
após o evento estressor apenas no grupo Palavras-chave: Depressão pós-parto; cortisol;
com DPP (Pearson r = -0.904, p = 0.005). interação mãe-bebê.
Com o modelo, foi possível controlar as Contato: Departamento de Psicologia
concentrações de cortisol pelo interesse Experimental, Instituto de Psicologia,
materno, que então se mostraram maio- Universidade de São Paulo, São Paulo
res em filhos de mães deprimidas na alta marodiche@gmail.com

24
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-937 - RELAÇÃO ENTRE distinguir e preferir um agente cooperati-


DEPRESSÃO PÓS-PARTO MATERNA E vo a um não cooperativo (Hamlim, Wynn,
DESENVOLVIMENTO DA COOPERAÇÃO Bloom, 2007), o que é, em si mesmo, in-
EM CRIANÇAS dicativo da importância deste desenvolvi-
Laura Cristina Stobäus - IP/USP mento precoce. A cooperação entre pares
stobaus@usp.br, Capes parece emergir ao final do segundo ano,
Maria Lucia Seidl de Moura - UERJ através de jogos imitativos. No terceiro
mlseidl@gmail.com ano as crianças se tornam mais compre-
Vera Silvia Raad Bussab - IP/USP ensivas quanto às ações e desejos dos
vsbussab@usp.br outros, podendo entender quando estes
não foram alcançados (Brownell, Rama-
Financiamento: Capes, CNPq, FAPERJ e FAPESP ni, Zerwas, 2006), condição básica para a
potencial oferta de ajuda. As descobertas
Estudos em diferentes ambientes socio- que as crianças fazem a respeito das emo-
culturais têm mostrado uma incidência de ções e de estados mentais dos outros são
depressão pós-parto (DPP) em 10 a 20% centrais para o desenvolvimento de suas
das mulheres. Dentre as decorrências re- relações sociais e vão se aprimorando
levantes do quadro, tem havido um inte- através da experiência comunicativa nas
resse especial nos potenciais comprome- relações familiares (Dunn e Brophy, 2005).
timentos da interação mãe–bebê (Field, Em pesquisas anteriores do presente pro-
2010), no desenvolvimento cognitivo e jeto, microanálises mostraram diferen-
emocional da criança (Murray e Cooper, ças nesta experiência comunicativa: por
1997) que repercute, entre outras dimen- exemplo, arranjos interacionais mãe-bebê
sões, no desenvolvimento do comporta- (4 meses) apresentaram-se menos estru-
mento cooperativo da criança. Este tra- turados na presença de DPP (De Felipe,
balho é parte do Projeto longitudinal “De- 2009), bem como nos padrões gerais des-
pressão Pós-Parto como um fator de risco tas crianças que com 1 ano brincaram me-
para o desenvolvimento do bebê: estudo nos e ficaram mais ansiosas em situações
interdisciplinar dos fatores envolvidos na de separar-se da mãe (Vicente, 2009). O
gênese do quadro e em suas consequên- desenvolvimento da capacidade de “teo-
cias” (temático Fapesp nº 06/59192). Día- ria da mente” na criança está diretamente
des mãe-bebê, usuárias do sistema públi- relacionado a aspectos essenciais desta
co de saúde, têm sido acompanhadas des- experiência interacional, como o da aten-
de a gestação até o terceiro ano da crian- ção compartilhada e da linguagem. Ambas
ça, de modo a investigar fatores ligados à passam por etapas de aquisição e aprimo-
DPP e seus possíveis efeitos no desenvol- ramento (Baron-Cohen e Swettenham,
vimento infantil. A ontogênese da coope- 1997; Carpenter, Nagel e Tomasello, 1998)
ração envolve uma representação interna e propiciam à criança compartilhamento
das próprias intenções e objetivos, base e troca de experiências com as pessoas
para a inferência de que o outro também significativas da sua convivência, em es-
possui desejos e intenções semelhantes, pecial a mãe (Peterson, 2000). Dentre as
isto é uma “Teoria da Mente” (Tomasello, inúmeras influências maternas, ligadas
2009). Com um ano, a criança consegue ao desenvolvimento do apego e da regu-

25
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lação emocional, pode-se destacar a que significativamente mais do que os me-


se inicia no “mamanhês”: as referências ninos (x²=6,04, p=0,02, 71% x 30%). Não
maternas ao classificar objetos presentes houve diferença na ajuda à mãe: a grande
no foco de atenção da criança favorecem maioria das crianças ajudou, independen-
a aquisição da linguagem e o entendimen- temente da DPP (80% das com DPP e 88%
to social (Ensor e Hughes, 2008). Eviden- sem DPP), e do sexo (83% dos meninos e
temente, importa o contexto significativo 86% das meninas). Discussão: Concluímos
da composição familiar: embora a mãe que a DPP materna influenciou algumas
em geral ocupe posição central, também das respostas cooperativas das crianças,
podem estar presentes outros adultos e especificamente quanto à pessoa desco-
outras crianças (Dunn e Brophy, 2005). O nhecida. Evidentemente, a mãe, além de
objetivo do presente estudo foi avaliar, conhecida, ocupa lugar central na cons-
através de tarefas de cooperação infantil, telação afetiva da criança e isto deve ser
se a DPP afeta o desenvolvimento do com- levado em conta na discussão. Ainda as-
portamento de cooperação de crianças, sim a familiaridade parece relevante neste
uma vez que esta condição pode afetar contraste de efeitos da DPP: a menor co-
as experiências interacionais e afetivas laboração com a pessoa estranha pode re-
da díade. MÉTODO. Participantes: Foram presentar dificuldade de estabelecimento
estudadas 50 crianças de três anos (16 inicial de relações no caso das crianças de
meninos, 36 meninas), distribuídas igual- mães com DPP. Também merece destaque
mente quanto a indicadores de depressão a interação com o sexo da criança: como
pós-parto de suas mães (DPP) aos 4 meses as meninas apresentaram mais propen-
pós parto (Escala de Depressão Pós-Parto são à ajuda do desconhecido do que os
de Edimburgo). Procedimento: Foi filma- meninos, precisa-se avaliar, cercando-se
do o desempenho da criança em tarefas de novos dados, se os meninos são mais
de cooperação: 1) ajudar a mãe, pessoa afetados neste aspecto pela DPP materna.
familiar, a guardar brinquedos, depois de Os resultados são compatíveis com a su-
uma sessão de brincadeira e 2) ajudar ex- posição de que a condição de DPP afeta
perimentador, desconhecido, a pegar ob- de modo complexo os processos subja-
jeto que ele deixa cair ao solo (adaptadas centes à interação social com pessoas não
de Warneken et col. 2007). Resultados: conhecidas e com a mãe. Conjugados com
Foram encontradas diferenças significa- resultados anteriores que mostravam al-
tivas (qui-quadrado) na ajuda ao experi- terações interacionais das díades com DPP
mentador na situação geral, agrupando (em DeFelipe, 2009 e Vicente, 2009, acima
ausência de ajuda no conjunto com a não apresentados), compõem um quadro de
ajuda na tarefa específica: crianças do gru- efeitos destas peculiaridades das experi-
po DPP, cooperaram menos que as demais ências comunicativas no desenvolvimento
(x²=6,52,p=0,02; 72%x36%). Embora não subsequente. Não indicam um prejuízo
tenha havido diferença significativa entre generalizado na capacidade de assumir a
os sexos nesta categoria, meninas tende- perspectiva mental do outro, uma vez que
ram a cooperar mais (x²=4,17, p=0,67; 56% a ajuda à mãe se processa da mesma ma-
x 26%). Na categoria específica de ajuda neira nos dois grupos. Mas mostram uma
ao experimentador, meninas cooperaram resistência à ajuda ao desconhecido, na

26
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

condição DPP, especialmente no caso dos indivíduo, devido às influências que pode
meninos. De um modo geral, a constata- exercer em seu comportamento. Os pais
ção deste tipo de efeito da DPP no desen- são considerados como a fonte primária
volvimento da criança contribui para uma que o ser humano possui de contato com
compreensão mais ampla do processo. o mundo, e desempenham um papel im-
Além disso, a constatação destes efeitos portante no comportamento e desenvol-
ligados à inserção social da criança confe- vimento da criança e adolescente, como
re importância adicional à prevenção e à mediadores entre eles e a sociedade. Di-
intervenção. versos estudos ressaltam que a convivên-
cia das crianças com mães que apresen-
Palavras-chave: depressão pós-parto, tam transtornos psiquiátricos, incluindo a
cooperação infantil, interação mãe-bebê. depressão, configura-se como um fator de
Contato: Laura Cristina Stobäus risco para o desenvolvimento dos filhos.
e-mail: stobaus@usp.br Nesse sentido, este estudo busca correla-
cionar sintomas depressivos de mães com
problemas de comportamentos internali-
LT01-957 - CORRELAÇÃO ENTRE zantes e externalizantes de seus filhos. Os
SINTOMAS DEPRESSIVOS MATERNOS participantes do estudo foram 21 sujeitos,
E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTOS sendo 42% do sexo feminino e 58% do
EM CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO sexo masculino, com idade média de 8,90
TÍPICO anos (dp=0,91) entre 7 e 11 anos, que fre-
Ana Ribeiro Santana - UFRB/CCS quentam uma escola pública da cidade de
ana.ribeiro_22@hotmail.com Santo Antônio de Jesus-BA. Os instrumen-
Gustavo Marcelino Siquara - UFRB/CCS tos utilizados foram a Escala de Depressão
gustavosiqura@hotmail.com Beck e a Lista de Verificação Comporta-
Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB/CCS mental (Child Behavior Checklist – CBCL),
thiago_gusmao1@hotmail.com versão para pais. O Inventário de Depres-
Mariângela Santos de Jesus - UFRB/CCS são de Beck (IDB) é um instrumento de au-
mariangela.santos@msn.com torrelato constituído por 21 grupos de afir-
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS mações de múltipla escolha em que a pes-
pmfrei@yahoo.com.br soa deve responder qual a opção que esta
Financiamento: FAPESB e CNPq de acordo com o seu estado na naquela
determinada situação. Os itens estão rela-
A família é uma instituição primária, na cionados aos sintomas depressivos como
qual, o indivíduo tem contato com as pri- desesperança, irritabilidade, culpa além
meiras interações sociais. Esse sistema de sintomas físicos como fadiga, perda de
pode ser compreendido como grupo de peso e diminuição da libido. Já o CBCL é
pessoas que interagem a partir de vín- um questionário que avalia a competência
culos afetivos, consanguíneos, políticos social e problemas de comportamento em
e que estabelecem uma rede infinita de crianças e adolescentes em duas versões
comunicação e de mútua influência. A fa- uma de 1 ano e 6 meses até 5 anos e ou-
mília consolida-se como um importante tra de 6 a 18 anos, a partir de informações
nicho para o desenvolvimento global do fornecidas pelos pais. As escalas do CBCL

27
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

identificam problemas de comportamento quanto externalizante. Diante desse resul-


frequentemente encontrados na infância tado, juntamente com a literatura atual,
e na adolescência. As subescalas são clas- podemos concluir que os problemas de
sificadas como: Ansiedade/Depressão, Re- comportamentos representam déficits ou
traimento, Queixas Somáticas, Problemas excedentes comportamentais que prejudi-
socialização, Problemas Pensamento, Pro- cam o desenvolvimento cognitivo, físico e
blemas Atenção, Comportamento Que- psicossocial. Esses comportamentos atri-
bra-Regra, Comportamento Agressivo. Os bui nas crianças um sentimento de empo-
pais foram convidados para uma reunião brecimento na capacidade pessoal, e incu-
na qual foi apresentado o projeto. Após te o sentimento de incompetência pesso-
esclarecimentos os pais assinavam o Ter- al, que podem se apresentar na forma de
mo de Consentimento Livre e Esclarecido sentimentos de vergonha, dúvidas sobre
(TCLE) e responderam o CBCL e o BDI. Para si mesmas, baixa estima e distanciamento
análise de dados foi utilizado o programa das demandas da aprendizagem. Assim,
estatístico SPSS 18.0. Os dados foram ana- faz-se necessário que o processo desen-
lisados através da correlação de Pearson. volvimental seja bem sucedido para que
As correlações foram às seguintes entre o: as crianças tornem-se adultos saudáveis
BDI e Problemas de socialização (r= 0,507 e competentes para responder de modo
e p=0,04*); Problemas de Pensamento (r= satisfatório às demandas de seu ambiente
0,509 e p=0,04*); comportamento de que- emocional, social, familiar e profissional.
bra de regra ( r=0,483 e p=0,03*); compor-
tamento agressivo ( r=0,50 e p> 0,05); an- Palavras-chave: depressão; comportamento;
siedade e depressão ( r=0,477 e p=0,053); desenvolvimento.
retraimento (r=0,343 e p=0,177); queixa Contato: Ana Ribeiro Santana, Graduanda em
somática (r=0,232 e p=0,370); problemas Psicologia - ana.ribeiro_22@hotmail.com.
de atenção (r=0,370 e p=0,144). Pode-se
verificar nos resultados que houve uma
correlação moderada positiva entre o BDI, LT01-965 - O SUPORTE SOCIAL COMO
respondido pela mãe e as subescalas so- FATOR DE PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO
bre os problemas de comportamentos do EM MÃES DE BEBÊS INTERNADOS EM
filho indicado pelo CBCL nos seguintes cri- UMA UTIN
térios: Problemas de socialização (r= 0,507 Claudia Moura de Sant'Anna C. Oliveira - UVV
e p=0,04*); Problemas de Pensamento claudiamoura@hotmail.com
(r= 0,509 e p=0,04*); comportamento Izabel Lima de Vasconcellos - UVV
de quebra de regra (r=0,483 e p=0,03*); iza_lv@hotmail.com
e comportamento agressivo ( r=0,50 e Luciana Bicalho Reis - UVV
p> 0,05). A proporção de significância foi luciana.reis@uvv.br
igual tanto para comportamentos interna- Marlucia de Souza Thompson - UVV
lizantes e externalizantes. Os resultados marluciathompson@hotmail.com
nos permitem confirmar a pressuposição
de que há correlação entre sinais de de- A internação de um filho, em geral, cons-
pressão materna e problemas de compor- titui-se numa situação geradora de estres-
tamento, tanto para o perfil internalizante se, acompanhada de alterações emocio-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nais e psicológicas para as mães, sendo no transcorrer da vida do indivíduo. Neste


que nem sempre esses sujeitos recebem sentido, Kessler, Price e Wortman (1985,
o apoio social adequado para lidar com ta- citados por Ribeiro, 1999), afirmam que
manha adversidade. A presença de mães o suporte social pode resguardar os indi-
que se encontram em um quadro depres- víduos em risco de possíveis inquietações
sivo se revela comum em Unidades de mentais. Segundo Dessen & Braz, (2000,
Tratamento Intensivo Neonatais (UTIN), citado por Baptista et al., 2006) o amparo
principalmente aquelas que não rece- familiar é o mais importante tipo de su-
bem suporte social adequado (Baptista, porte social para a manutenção da saúde
Batista & Torres, 2006). Mães com bebês mental e o enfrentamento de situações
internados em UTIN podem apresentar estressantes, além de favorecer a ade-
quadros de depressão e outros transtor- quação de comportamentos maternos em
nos, sendo a internação, possivelmente, relação aos filhos. Neste sentido, na situa-
um dos fatores que contribuem para tal ção de internação de um filho, o suporte
episódio. Como nos mostram Linhares et social pode mostrar-se como fator de pre-
al (2006), a prematuridade e a hospitali- venção e proteção da depressão materna.
zação do bebê podem ocasionar às mães Assim, a presente pesquisa propôs veri-
sentimentos conflitantes em relação ao ficar a relação entre depressão e ausên-
bebê real e o imaginado, além de culpa, cia de suporte social em mães de bebês
ansiedade, instabilidade emocional, baixo internados em uma UTIN de um hospital
senso de competência e dificuldade de infantil na região de Vila Velha-ES. OBJE-
contato físico com o bebê, angústia ao ir TIVOS: Delinear o perfil socioeconômico e
à UTIN, medo de apegar-se ao bebê ten- familiar de mães que participam do Grupo
do que encarar a perda devido ao possí- Psicoterapêutico de mães da UTIN; Anali-
vel óbito, luto antecipatório entre outros. sar a percepção que os sujeitos têm acer-
Ainda segundo as mesmas autoras, todos ca do suporte social que recebem (tanto
esses sentimentos podem ser indicativos informal quanto formal) durante o perío-
de estado de depressão. Sarason, Levine, do de internação dos seus filhos; Verificar
Bashan e Sarason (1983, citados por Ri- se a participação das mães no Grupo Psi-
beiro, 1999) definem Suporte Social como coterapêutico constitui-se para os sujeitos
apoio ou auxílio que uma pessoa recebe uma fonte de suporte social; Verificar qual
de outra em quem possa confiar, que a tipo de suporte social é o considerado
valorize e que demonstre que gosta dela. mais importante para as mães no momen-
No entanto, é necessário que o sujeito fa- to da hospitalização de seu filho e correla-
vorecido esteja disposto a ser ajudado e cionar se os sujeitos que têm melhor per-
que perceba o suporte como disponível. cepção do suporte social recebido são os
Existem diversos tipos de suporte social, que apresentam menos sentimentos ne-
dentre eles, o familiar, grupo de amigos, gativos indicativos de depressão durante o
o psicológico e o institucional. Coutinho et período de internação do bebê. MÉTODO.
al. (2000, citado por Baptista et al., 2006) Trata-se de uma pesquisa de caráter quali-
apontam que um apropriado suporte so- tativo e descritivo, realizada em uma UTIN
cial propicia ajuda em diversas ocasiões, de um Hospital Infantil no município de
maior domínio do ambiente e autonomia Vila Velha-ES. Integram a pesquisa mães

29
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de bebês internados há pelo menos 15 nos Grupo Psicoterapêutico de mães da


dias e que participam do Grupo Psicote- UTIN permita a construção de estratégias
rapêutico de mães da UTIN. Na ocasião de de enfrentamento da situação de adoeci-
ingresso na pesquisa, as mães assinarão o mento e internação do filho.
Termo de Consentimento Livre e Esclare-
cido e responderão a uma Entrevista Indi- Palavras-chave: maternidade, depressão,
vidual Semiestruturada, gravada em áudio suporte social.
e posteriormente transcrita para análise.
Os relatos obtidos no grupo também in-
tegrarão os dados. Será utilizada ainda a LT01-974 - TECENDO FIOS: A VIVÊNCIA
Escala de Edimburgo – EPDS que é utiliza- MATERNA E O VÍNCULO ENTRE MÃE E
da para identificar sintomas de depressão BÊBE INTERNADO EM UMA UNIDADE DE
que se manifestam após o parto (Santos, TRATAMENTO INTENSIVO
1995, citado por Ruschi et al 2007). Outro Claudia Moura de Sant'Anna C. Oliveira - UVV
instrumento a ser utilizado será a Escala claudiamoura37@hotmail.com
de Satisfação com o Suporte Social – ESSS Izabel Lima de Vasconcellos - UVV -
(Ribeiro, 1999), que será adaptada ao con- iza_lv@hotmail.com
texto hospitalar. Esta Escala é constituída Luciana Bicalho Reis - UVV -
por 15 itens que se distribuem por quatro lucianabreis@hotmail.com
dimensões, satisfação com amigos (SA), Marlucia de Souza Thompson - UVV
intimidade (IN), satisfação com a família marluciathompson@hotmail.com
(SF) e atividades sociais (AS). Os sujeitos Paula Maria Tonon - UVV
terão assegurados sua identidade e sigi- paulinhamariat@gmail.com
lo das informações fornecidas, que serão
utilizadas somente para fins de produção A maternidade é um acontecimento de
científica e receberão apoio psicológico da muita importância para a mulher. Desde
equipe de pesquisadores. RESULTADOS cedo, ainda menina, nas brincadeiras e na
PARCIAIS. A coleta de dados foi iniciada relação com as mães, a maioria delas co-
como projeto piloto e espera-se verificar meça a “brincar” de ser mãe. Ninam suas
o quanto o suporte social contribui para bonecas, cuidam de sua alimentação, tro-
a prevenção da depressão. Nos dados cam sua fralda, a fim de se preparar para
coletados de forma preliminar, já se per- ter o próprio filho. Durante a vivência da
cebe que as mães entrevistadas relatam maternidade a mulher começa a idealizar
receber pouco suporte social (da família um filho conforme a sua própria imagem
e grupos sociais aos quais pertencem), e e semelhança, esperando o momento de
apresentam sinais indicativos de depres- apresentá-lo à sociedade. Desta forma,
são. Espera-se como benefício da pesqui- a emergência do parto prematuro não
sa uma melhor compreensão das relações está relacionada somente a antecipação
entre a vivência da maternidade na UTIN, do nascimento do bebê, mas também de
a prevalência de sintomas depressivos sua mãe, que despreparada para esse mo-
nestes sujeitos e a relação disso com uma mento, torna-se “prematuramente mãe”,
melhor ou pior rede de apoio social. Para necessitando reajustar-se a essa dura rea-
os sujeitos, espera-se que a participação lidade. Aquilo que muitas vezes foi temido

30
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

durante a gravidez torna-se real e ambos por um bom tempo o lugar onde mãe e fi-
estão agora vulneráveis, inseridos em um lho irão conviver no limiar entre a vida e a
ambiente desconhecido que irá separá- morte. A partir de agora, terão que “tecer
-los ainda muito cedo. O recém-nascido de fios”, criar laços, construir vínculos que po-
risco, também chamado de prematuro ou derão estar fortemente abalados a partir
bebê pré termo, é aquele que nasce com daquele momento. Neste sentido, a pre-
uma idade gestacional menor que 37 se- sente pesquisa tem por objetivo analisar
manas e em casos extremos os que nas- como se dá a qualidade da relação e vín-
cem com menos de 28 semanas de ges- culo entre mães e seus bebês pré-termos
tação. Alguns bebês prematuros podem que estão internados em uma Unidade de
nascer com complicações ou alterações Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), ou seja,
orgânicas, além do baixo peso e respiração conhecer e analisar como a prematuridade
deficitária, necessitando assim de apare- e o ambiente artificial de cuidados iniciais
lhos especializados para a sobrevivência. ao recém-nascido podem trazer dificulda-
Pesquisas revelam que atualmente no des ao estabelecimento deste vínculo ini-
mundo 20 milhões de bebês nascem pre- cial da mãe com o bebê e que recursos e
maturamente, sendo que desses, um ter- estratégias são criados por estas mulheres
ço morre antes de completar um ano de para enfrentar tais adversidades. OBJETI-
idade (Romanoli & Moreira, 2008). A pre- VOS: (1) Identificar e analisar os sentimen-
maturidade traz em seu bojo significativas tos vivenciados pelas mães em relação
consequências emocionais que são marca- ao nascimento prematuro e à internação
das pela perda desse bebê imaginado du- de seus bebês na UTI neonatal; (2) Identi-
rante a gestação. A perda do bebê idealiza- ficar as estratégias de enfrentamento ado-
do, o berço que estará vazio, as roupas que tadas pelas mães em relação à situação de
a princípio não serão usadas, a cobrança hospitalização do bebê e na busca de cria-
da família e do meio social, podem colocar ção de vinculo afetivo com o filho; (3) Ve-
em risco uma relação (mãe-bebê) que ain- rificar que tipo de conhecimentos as mães
da se constrói. A internação de um bebê têm em relação à importância de se man-
em uma Unidade de Tratamento Intensivo ter um vínculo afetivo com o bebê, mesmo
Neonatal (UTIN) contribui para o afasta- que internado na UTI neonatal. MÉTODO:
mento entre a mãe e o bebê, interferindo Trata-se de uma pesquisa qualitativa e
significativamente na relação de vínculo e descritiva, realizada através de entrevistas
apego. A separação, que não poderia ser individuais, com roteiro semiestruturado
de outra forma, traz consigo sentimentos em uma Unidade de Terapia Intensiva Ne-
de culpa, incompetência e luto pelo bebê onatal (UTIN) do Hospital Dr. Alzir Bernadi-
idealizado, o que dificulta ainda mais o no Alves (HIMABA) no município Vila Ve-
estreitamento dos laços parentais (Raad, lha-ES. Fazem parte da pesquisa 10 mães
Cruz & Nascimento, 2006). Assim, pode de bebês prematuros e de baixo peso in-
ocorrer uma ruptura no processo de vincu- ternados na UTIN desde o nascimento e
lação já que muitas mães sentem-se rece- que participam do Grupo Psicoterapêutico
osas de tocar ou conversar com seu filho, de mães da UTIN. Após aceite do convite,
o que pode gerar stress psicológico para as mães serão esclarecidas quanto à sua
ambos (Schumacher, 2002). A UTIN será participação na pesquisa e assinarão o Ter-

31
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mo de Consentimento Livre e Esclarecido LT01-1336 - ANÁLISE DE INDÍCIOS DE


atendendo-se às exigências do Conselho DEPRESSÃO PÓS-PARTO NAS MÃES
Nacional de Saúde. Em seguida, será re- QUE FREQUENTAM UM CENTRO DE
alizada a Entrevista Individual, seguindo- EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PARA
-se ao roteiro pré-estabelecido. Também ATENDIMENTO PUERPERAL EM
serão colhidas as informações oriundas ENFERMAGEM
dos atendimentos psicológicos individu- Vanessa Cavalcanti de Torres - AEB
ais, bem como dos encontros do Grupo vanctorres@hotmail.com.
Psicoterapêutico das mães da UTIN. Tanto Aliny Valéria Bezerra Cavalcante - FAEB
as entrevistas individuais, quanto reuniões alinyvbc@hotmail.com
em grupo serão gravadas em áudio e seu Grasiela Nascimento da Conceição - FAEB
registro transcrito para posterior análi- grasy_nascimento@hotmail.com
se. Os prontuários dos bebês cujas mães
integram a pesquisa servirão para com- A depressão pós-parto (DPP) constitui fa-
plementar as informações fornecidas pe- tor agravante para dificuldade no período
las mães relativas aos dados de saúde do pós-parto, tendo sinais característicos tais
bebê, tais como idade gestacional e peso como: humor deprimido, falta de interes-
ao nascimento, complicações/alterações se pelas atividades diárias, desinteresse
presentes na ocasião do nascimento. RE- pelos cuidados maternos para com seu fi-
SULTADOS PARCIAIS. A coleta de dados já lho, medo de não ser uma boa mãe, choro
foi iniciada por meio de estudo piloto que fácil, entre outros, que podem ser iden-
pretende verificar a adequação do roteiro tificados para possível diagnóstico, atra-
de entrevista. Pelas entrevistas realizadas vés de uma consulta de qualidade onde
até o momento, observou-se que as mães o profissional deve estar atento a esses
passaram o período da gravidez idealizan- sinais para que seja realizado tratamen-
do um bebê perfeito, sem problemas ou to adequado, ou até mesmo a prevenção
qualquer alteração de saúde. Porém, o da instalação desta patologia. Durante o
nascimento prematuro e a internação na puerpério várias alterações ocorrem tanto
UTIN, constituem-se experiências emocio- na mulher como no recém-nascido, pois
nalmente difíceis. Quanto ao vínculo mãe- é um período que permite a troca de ca-
-bebê, observa-se que não houve entre rinho, de segurança para o bebê durante
as mães já entrevistadas dificuldades em os cuidados prestados pela mãe (Guedes-
constituí-lo e mantê-lo, porém o ambiente -Silva et. al., 2003). O puerpério deve ser
hospitalar e as práticas de assistência ao assim, um período prazeroso para a mu-
recém-nascido foram citados pelas mães lher, pois só dessa maneira ela conseguirá
como um dos principais fatores dificulta- transmitir afeto para o seu filho, contri-
dores na interação com seus bebês. buindo para desenvolvimento saudável
do seu bebê (Mattar et. al., 2007). Se a
Palavras-chave: Maternidade-prematuridade- mesma não apresenta condições emocio-
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal nais para cuidar da criança, isto o afetará
Contato: Claudia Moura de Sant’Anna Carvalho diretamente, facilitando o desenvolvi-
de Oliveira - Centro Universitário Vila Velha - mento de patologias (Schwengber & Picci-
claudiamoura37@hotmail.com nini, 2003). Sendo assim, este estudo teve

32
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como objetivo, identificar possíveis indí- t de student que apontou um intervalo de


cios de depressão pós-parto nas mães que 95% de confiança a média da amostra é
freqüentam o CEPAC (Centro de Pesquisa de 0,8; erro padrão de 0,07; mediana igual
e Atenção à Criança), no laboratório da a 1; desvio padrão igual a 0,4 e variância
FAEB (Faculdade de Enfermagem do Belo igual a 0,2. Os resultados apontaram que
Jardim) em Belo Jardim-PE. A atenção à (a) 32% da amostra apresentou indícios de
mulher no puerpério fica facilitada duran- depressão pós-parto suficientes para que
te a consulta quando do encaminhamen- fosse classificada no grupo de risco, (b) o
to de seus filhos para o CEPAC que é um número de mulheres que apresentou re-
Centro de Pesquisa e Atenção à Criança, sultado indicativo foi maior nas de deze-
pois no período em que essas mães levam nove anos, tendo estas como estado civil
seus filhos é o de maior incidência da DPP, respectivamente união estável que repre-
facilitando assim, o diagnóstico inicial des- sentou 32% da amostra, (c) quanto ao grau
sa doença. Portanto, mostra-se a impor- de escolaridade 18% tinha apenas ensino
tância da atenção não só à criança, mas, fundamental incompleto, observando-se
também à mãe que, muitas vezes, deixam desta forma que o número de mulheres
de atentar para a sua saúde, porém seu que possuem pouca escolaridade é sig-
estado físico e mental influenciará na saú- nificativo, estando inclusas neste percen-
de e bem estar de seu filho. Entendemos tual a maioria das mulheres com indícios
que o estado emocional da mãe alterado, de DPP. Diante desses dados, percebe-se
incidirá sobre a qualidade de vida de seu que o profissional de saúde deve estar
filho e como conseqüência, uma dificulda- habilitado para detectar precocemente
de em estabelecer laços afetivos ao longo os indícios de depressão pós-parto, tendo
da vida entre ambos. Nesse estudo foram sensibilidade para entender as mulheres
utilizados um questionário para os dados que apresentem os sinais preditivos nes-
pessoais e a Escala de depressão pós-par- ta fase, podendo intervir no tratamento
to de (EPDS). A EPDS é composta por 10 e encaminhamento para atendimento es-
itens e tem sido amplamente utilizado em pecializado. As consequencias da DPP não
todo o mundo, demonstrando ser um ins- são apenas para a mulher, mais também
trumento útil para detectar mulheres sob para a criança, podendo afetar, inclusive, a
risco de apresentar depressão pós-parto. relação conjugal, pois o comprometimen-
Idealizada por Cox Holder et al. em 1987, to do binômio mãe-filho, pode ser ocasio-
essa escala é de fácil aplicação e pode ser nado por mães menos afetuosas e mais
utilizada por profissionais de saúde de ausentes nas respostas às necessidades
diversas áreas. Quanto à população des- de seus filhos, prejudicando, dessa forma,
se estudo foi composta por 38 puérperas o cuidado com o mesmo.
quando as mesmas levaram seus filhos
para consulta de puericultura no CEPAC. Palavras-chave: Depressão pós-parto; mãe-
A análise utilizou um método estatístico filho; Puerpério.
para o tratamento dos dados, de acordo
com os critérios definidos pelo próprio ins-
trumento empregado para avaliação das
participantes, tendo como base o teste de

33
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-801 - RELACIONAMENTO no desenvolvimento da criança. O obje-


CONJUGAL, CLIMA AFETIVO DA FAMÍLIA tivo da presente pesquisa foi aprofundar
E DEPRESSÃO PÓS PARTO o entendimento das relações entre DPP,
Júlia Scarano de Mendonça - IPUSP avaliada aos 4 e 8 meses da criança, e con-
julia.m@itelefonica.com.br flito conjugal e familiar. Como associações
Vera Silvia Raad Bussab - IPUSP significativas entre a ocorrência de DPP e
vsbussab@gmail.com a de Depressão Anterior independente da
José de Oliveira Siqueira - IPUSP gestação (DA) foram constatadas previa-
siqueira@usp.br mente (Silva, 2008), as relações entre DPP
Financiamento: FAPESP e conflito serão também analisadas à luz
da presença ou não de DA. Método. Cen-
Essa pesquisa está inserida no Projeto Te- to e treze famílias da classe média baixa,
mático FAPESP Depressão pós-parto (DPP) atendidas pelo Hospital Universitário da
como um fator de risco para o desenvol- USP e pelo SUS. Três entrevistas: na gesta-
vimento do bebê: estudo interdisciplinar ção, aos 4 e aos 8 meses da criança foram
dos fatores envolvidos na gênese do qua- realizadas para coletar informações sobre
dro e em suas conseqüências (Processo a família e a criança. Foram analisadas
06/59192-2). A DPP tem sido apontada questões sobre a relação conjugal, o clima
como um distúrbio emocional com po- familiar, a ocorrência de DA e a de DPP (Es-
tenciais implicações para a mãe e o bebê. cala de Depressão Pós-natal de Edinburgh
Chama a atenção a predominância dos - EDPE), de Cox, Holden e Sagovsky (1987),
estudos com foco exclusivo na mãe e na aplicada aos 4 meses da criança. O teste
criança, sendo o pai e outros membros da exato qui-quadrado de Pearson mostrou
família menos estudados. Recentemente, associações significativas entre conflito
estudos têm mostrado associações entre conjugal e DPP aos 4 (X²=23.108; p=0,000)
DPP e inadequações no funcionamento e aos 8 meses (X²=16.848; p=0,000), com
familiar (Burke, 2003; Johnson & Jacob, percepção materna de baixo nível de con-
1997). Cummings e Davies (1994) sugerem flito associada à ausência de DPP, e de
que além da DPP, o “distúrbio psicossocial alto nível de conflito associada à DPP. O
na família” associado à depressão deva tamanho estimado do efeito obtido por
ser considerado como fator de risco para meio do V de Cramer foi de .474 e .413,
o desenvolvimento da criança. A asso- respectivamente. Resultados análogos
ciação entre DPP e problemas na relação foram obtidos para o conflito familiar, in-
conjugal também tem sido apontada na dicando a percepção de baixo conflito na
literatura da área (Burke, 2003; Cummin- ausência de DPP e o aumento da percep-
gs & Davies, 1994; Silva & Piccinini, 2009) ção do conflito na presença de DPP, aos 4
bem como em análises prévias feitas no (X²= 10.389; p=0,006 e V de Cramer=.303)
presente projeto temático (Silva, 2008). e aos 8 meses ( X²=20.008; p=0,000 e V de
O conflito conjugal tem sido identificado Cramer =.423). Verificou-se associação sig-
como relevante para a qualidade da vida nificativa entre conflito conjugal e familiar,
familiar, para a compreensão das origens independentemente da DPP, aos 4 (X²=
da DPP e para prognósticos mais precisos 28.687, p=0,000) e aos 8 meses da crian-
sobre a influência do contexto familiar ça (X²= 76.689; p=0,000), com magnitudes

34
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de efeito da ordem de .373 e .622, respec- tenha um impacto maior. Importa salien-
tivamente. Com o objetivo de discriminar tar que os conflitos familiares e conjugais
o efeito da DPP de possíveis efeitos de DA, mostraram-se significativamente associa-
os dados foram analisados separando-se dos à DPP, independentemente da DA,
os casos de DPP associados ou não à DA. o que apóia a compreensão de relações
Esta análise fortaleceu a idéia do efeito es- peculiares da DPP com o conflito. Contu-
pecífico da DPP, pois, na ausência de DA, do, pelo fato de as associações verificadas
houve associação significativa com conflito acima serem encontradas somente na au-
conjugal aos 4 (X²=12.213, p=0.007 e V de sência de DA, é possível que esta atue de
Cramer=.440) e aos 8 meses (X²=12.095, forma diferente na constituição da DPP,
p=0.011 e V de Cramer=.438); e com com outras associações entre as variáveis.
conflito familiar aos 8 meses (X²=12.813, Há outra interação complexa entre apoio
p=0.009 e V de Cramer=.451), no mesmo social (afetado por conflitos) e a DPP a ser
sentido dos resultados gerais. Na presen- considerada: as ligações entre baixo apoio
ça de depressão anterior, não houve as- e DPP sugerem causalidade, mas, ao mes-
sociações significativas em nenhum dos mo tempo, a própria DPP poderia evocar
momentos. As associações entre DPP e apoio social no cuidado com a criança.
conflito corroboram a idéia da importân- Evidentemente, deve-se considerar ainda
cia do contexto conjugal e familiar para uma possível bidirecionalidade de efeitos
a compreensão do quadro. Os valores da entre conflitos conjugais e familiares com
magnitude do efeito relativamente bai- a DPP, pois os conflitos podem propiciar o
xos, como frequentemente acontece nos desenvolvimento da DPP, e esta, por sua
dados da literatura, são compatíveis com vez, intensificar os conflitos. As relações
a interpretação de um fenômeno multide- entre DPP e aspectos gerais de harmonia
terminado: ao que tudo indica, um con- e apoio social têm se revelado importan-
junto de variáveis associa-se à DPP, sendo tes para a compreensão da origem e das
uma parcela destas representada pelo conseqüências da DPP e tem merecido
conflito conjugal e familiar. Considerada atenção especial no presente projeto,
a multideterminação, esta magnitude de tanto pelo interesse teórico quanto pelo
efeito passa a representar participação re- interesse em termos de prevenção e de
levante destes conflitos no quadro da DPP. políticas públicas.
A associação entre os conflitos conjugal e
familiar sugere dependência entre essas Palavras-chave: depressão pós-parto, relação
variáveis, conforme previsto. O maior va- conjugal, família
lor do quiquadrado aos 8 meses sugere Contato: julia.m@itelefonica.com.br
aumento da associação com o passar do
tempo. De forma similar, aos 4 meses, os
valores mais altos do qui-quadrado para a
associação entre a DPP e o conflito con-
jugal do que para o conflito familiar suge-
rem que nos primeiros meses após o parto
(coincidentemente com o pico da DPP aos
3 meses após o parto) o conflito conjugal

35
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-925 - ESTILO DE APEGO E DEPRES- gitudinalmente, desde a gestação até o 3º


SÃO PÓS-PARTO ano da criança. O estilo de apego da criança
Carla Cristine Vicente - UFRRJ foi avaliado através dos procedimentos da
carlavicent@gmail.com “Situação Estranha”, segundo protocolo de-
Vera Silvia Raad Bussab - USP senvolvido por Ainsworth, Blehar, Waters e
vsbussab@gmail.com Wall (1978) e Main e Solomon (1990). Uma
Financiamento: FAPESP equipe de 04 pessoas treinadas participou
das filmagens, feitas quando os bebês fo-
O estilo de apego que a criança constrói, a ram completando 12 meses. Todas as día-
partir das diferentes interações das quais des foram recebidas pela pesquisadora e
participa, se refere a estratégias ontogené- instruídas para participar dos oito episó-
ticas de desenvolvimento social. O apego dios, (duração de 21 minutos), nos quais
se relaciona ao sentimento de segurança ocorria uma seqüência de interações entre
e proximidade do bebê em relação a suas o bebê, a mãe e uma pessoa desconhecida
figuras significativas, o que integrará o seu do bebê, envolvendo separações e reuniões
desenvolvimento global e construirá um mãe-bebê. Foram analisadas 85 díades, di-
modelo de funcionamento interno para vididas em dois grupos: experimental (com
seus relacionamentos futuros (Bolwby, indicativos de DPP) e controle (sem DPP)
1990). A Depressão Pós-Parto (DPP) é um (“Escala de Depressão Pós-Parto de Edim-
distúrbio com sérias implicações potenciais burgh - EDPE” (Cox, Holden, & Sagovsky,
para a mãe, por propiciar a emergência de 1987). A classificação do padrão de apego
sintomas como humor deprimido, labilida- (seguro; inseguro – evitante, ambivalente
de emocional, sentimentos de incompetên- ou desorganizado) foi feita conforme o pro-
cia para lidar com a criança, distúrbio do tocolo de Ainsworth e cols. (1978), que con-
sono, perda de prazer e ideação suicida, o sidera quatro dimensões: Procura de proxi-
que, por sua vez, pode acarretar prejuízos midade; Manutenção de contato; Evitação
para o bebê, associados a atrasos no desen- de proximidade, e Resistência ao contato e
volvimento físico e cognitivo (Patel, Souza conforto, avaliadas via atribuição de valores
& Rodrigues, 2003). Este estudo objetivou de 1 a 7 pontos, detalhadamente definidos.
avaliar estilos de apego em bebês de mães A classificação foi realizada às cegas, sepa-
com e sem indicativos de DPP, a fim de ava- radamente, por duas observadoras para o
liar se a construção do vínculo de apego era índice de DPP da mãe. A confiabilidade das
influenciada pela depressão materna, de observações medida pelo índice Kappa de
modo a aprofundar a compreensão sobre Cohen apontou concordância de 0,833, va-
o desenvolvimento afetivo e da sua impor- lor confiável para avaliações. Dadas as reco-
tância no desenvolvimento geral da criança. nhecidas ligações entre os estilos de apego
Este estudo esteve associado ao projeto e a regulação da segurança afetiva com
temático “Depressão pós-parto como fator autonomia, exploração e brincadeira, foi
de risco no desenvolvimento: estudo inter- desenvolvido um protocolo adicional de ob-
disciplinar dos fatores envolvidos na gênese servação, para avaliar padrões de explora-
do quadro e em suas conseqüências”, no ção do ambiente, de brincadeira e sinais de
qual mães e bebês atendidos pelo sistema ansiedade, como movimentos repetitivos,
público de saúde foram acompanhados lon- desconcerto emocional e cessação de ativi-

36
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dade e de interação com a pessoa estranha, ambiente, de brincadeira e ansiedade nas


nas episódios de separação e retorno da crianças também apareceram prejudicados
mãe. Segundo os critérios do instrumento no grupo DPP. Nos episódios de separação
da Situação Estranha, predominou a classifi- da mãe, as crianças do grupo controle agi-
cação de apego seguro (82%), para o grupo ram com mais segurança, como se esperas-
como um todo (inseguros evitantes 11% e sem pelo retorno breve de suas mães. Na
resistentes 7%). O mesmo perfil de distri- comparação com os dados observacionais,
buição de estilos foi verificado no subgrupo a classificação de segurança dos bebês es-
com DPP, com predominância de apego se- teve diretamente associada à desenvoltura,
guro em 87% dos casos. Dos bebês (27) de iniciativa, manutenção e retornos à explo-
mães que tinham indicativos de DPP, ape- ração ambiental e dos brinquedos, quanto
nas 4 foram classificados como inseguros, às oportunidades de interação com a figura
contrariando as expectativas. Apesar de não materna. De acordo com a ênfase atual nos
se refletirem na classificação final do estilo comportamentos dos bebês no retorno da
de apego, verificaram-se relações entre DPP mãe (Waters e cols., 1995), como base para
e dimensões do protocolo da Situação Es- a compreensão da natureza do vínculo, o
tranha, por análise de regressão múltipla presente estudo indicou efeitos relevan-
(método stepwise), que indicou duas di- tes: bebês do grupo controle, mesmo após
mensões como preditivas da DPP materna: a angústia pela separação, demonstraram
mais comportamentos resistentes (B=1,76; apoiar-se mais na mãe como base segu-
t=2,66; sig= 0,01); menos busca de conta- ra para a exploração ambiental. Como os
to (B= -3,40; 7= 2,61; sig= 0,01). As análises bebês de mães com indicativo de DPP, de
do protocolo adicional mostraram peculia- modo geral, não retomaram as atividades
ridades significativas nas crianças do grupo após a separação da mãe, podemos presu-
DPP: menos deslocamento exploratório mir uma angústia maior ou falta de habili-
(x2(1)= 4,307 p=0,038), menos manipulação dade da mãe para restabelecer a confiança
de brinquedo (x2(1)= 5,434 p= 0,02), menos de seus bebês, o que é compreensível na
iniciativa na manipulação de brinquedos (X2 situação em que se encontram. O conjun-
(2)= 5,939, p=0,005), mais comportamen- to de resultados aponta a importância de
tos ansiosos nos dois episódios de separa- questões metodológicas, ligadas a um ce-
ção (X2 (1)= 4,400, p= 0,036; e x2(1)= 3,398 nário de complexidade de determinações,
p= 0,028), e menos retomada de exploração bem como à necessidade de consideração
nos retornos da mãe (x2(1)= 3,896 p= 0,040; de ajustamento dos instrumentos de avalia-
e x2(1)= 3,922 p= 0,038). Não houve predo- ção do apego. Reitera, também, efeitos da
minância de estilos de apego inseguros no DPP no desenvolvimento dos padrões liga-
grupo com DPP, conforme esperada pelos dos à vinculação afetiva e a relevância de
indicadores da literatura sobre o desenvol- estudos de acompanhamento para a com-
vimento de vinculação afetiva. Entretanto, preensão do quadro e para a promoção de
foram constatadas ligações significativas programas de intervenção.
da DPP com as dimensões de comporta-
mento resistente e de busca de contato, Palavras-chave: classificação de apego, depres-
compatíveis com aspectos de inseguran- são pós-parto, desenvolvimento social
ça neste grupo. Padrões de exploração do Contato: carlavicent@gmail.com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 07 - LT01 contribuir para melhorar a detecção des-


sas patologias. Diversos estudos mostra-
Envelhecimento ram que a Escala de Depressão Geriátrica
(EDG) oferece medidas válidas e confiáveis
LT01-905 - DETERMINANTES DO RISCO DE para diagnosticar a depressão em idosos,
sendo um dos instrumentos mais frequen-
DEPRESSÃO EM IDOSOS EM UMA EQUIPE
temente utilizados. Os fatores ligados à de-
DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
pressão precisam ser observados de forma
Cristiane Alves da Fonseca do Espírito Santo - cuidadosa e criteriosa pelos profissionais
SMS/Goiânia da saúde, para que se possa realizar a pre-
tinina3@gmail.com venção e o tratamento, a fim de evitar so-
Cristina Ferreira Lemos de Castro Carneiro - frimento ao idoso e dificuldades para seus
S.M.S/Goiânia familiares ou cuidadores, além de conse-
crislaralemos@gmail.com quências negativas para a sua qualidade
Helizett Santos de Lima - UNB de vida. O presente estudo teve como ob-
helizettlima@yahoo.com.br jetivos estimar o risco de depressão em
Lorena Baía de Oliveira Alencar - SMS/Goiânia idosos na equipe 1 da Unidade de Atenção
lorenabaia@hotmail.com Básica de Saúde da Família (UABSF) Leste
Olívia Cândida Pequeno - SMS/Goiânia Universitário e avaliar os determinantes do
oliviacpequeno7@gmail.com risco de depressão em idosos. A pesquisa
Sandro Rogério Rodrigues Batista - UFG foi desenvolvida no município de Goiânia,
sandrorbatista@gmail.com Distrito Sanitário Campinas-Centro, UABSF
Leste Universitário. Foi realizado um estu-
Os transtornos do humor são uma das do quantitativo, transversal, com 92 idosos
desordens psiquiátricas mais comuns em (com idade igual ou superior a 60 anos)
idosos, sendo responsáveis pela perda de de ambos os sexos, no período de maio
autonomia e pelo agravamento de quadros a junho de 2010, que responderam a um
patológicos preexistentes. Dentre eles, a questionário sobre variáveis demográfi-
depressão é a mais frequente e está as- cas, socioeconômicas, comportamentais
sociada ao maior risco de morbidade e e de estado de saúde, além da Escala de
de mortalidade, ao aumento na utilização Depressão Geriátrica (EDG-15). A análise
dos serviços de saúde, à negligência no dos dados utilizou o programa Excel® (Mi-
autocuidado, à adesão reduzida aos regi- crosoft), bem como para a elaboração de
mes terapêuticos e maior risco de suicídio. gráficos e tabelas. Com relação à análise
A presença de comorbidades e o uso de estatística foram adotados o teste exato de
múltiplos medicamentos são habituais na Fisher e o teste estatístico de hipóteses Qui
população idosa, fazendo com que, tanto o Quadrado. Segundo os resultados obtidos
diagnóstico quanto o tratamento dos trans- com a pontuação na Escala de Depressão
tornos do humor se tornem mais comple- Geriátrica, observou-se que 68,5% (n=63)
xos. Diante da importância desses transtor- dos idosos apresentaram risco de depres-
nos e da dificuldade diagnóstica, a avalia- são, pois alcançaram mais de 5 pontos no
ção sistemática dos indivíduos idosos com escore utilizado. Verificou-se também que
queixas de tristeza e/ou anedonia pode na amostra de 92 idosos, houve predomi-

38
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nância do sexo feminino, com 75 mulheres mais precoces e adequadas. É fundamen-


(81,5%). Quanto à idade, a maior frequên- tal, portanto, que os profissionais de saúde
cia dos idosos estava na faixa etária entre tenham familiaridade com as caracterís-
60 e 79 anos (n=78) e que não houve di- ticas desse agravo e estejam capacitados,
ferenças significativas quanto à presença preparados para investigar a presença de
de depressão entre as faixas etárias estu- sintomas depressivos e seus determinan-
dadas. Para o estado civil, a frequência de tes de risco. Nesse sentido, a articulação
sintomatologia depressiva foi maior entre da saúde mental com a atenção básica,
os idosos casados (83%). Em relação à es- principalmente através da ESF, é essencial
colaridade, a maioria dos idosos não tinha para diagnosticar e propor intervenções
escolaridade (n=36) sendo que 83% destes mais precoces e adequadas, valorizando a
apresentaram frequência maior para risco inserção familiar e social deste indivíduo,
de depressão. E ainda, que os idosos com através do trabalho multiprofissional, ba-
curso superior apresentaram sintomatolo- seado na integralidade das ações, colabo-
gia depressiva, demonstrando que o fato rando para a melhora da qualidade de vida
de ter cursado nível superior, demonstrou do idoso.
não ser fator de proteção para sintoma-
tologia depressiva. Em relação à renda fa- Palavras-chave: Saúde Mental, depressão,
miliar mensal, o risco para depressão foi população idosa.
maior entre os idosos com renda familiar Contato: Helizett Santos de Lima, Secretaria
de até um salário mínimo (84,6%) e idosos Municipal de Saúde de Goiânia e Universidade
que não possuíam aposentadoria (66,6%). de Brasília, helizettlima@yahoo.com.br
Em relação à internação, dentre os idosos
que estiveram internados (n=17), houve
risco de depressão alto (83,3%). Para aná- LT01-1206 - CORPO E ENVELHECIMENTO
lise estatística da variável relacionamento EM DEBATE NA UNIVERSIDADE ABERTA À
familiar, as respostas foram dicotomizadas TERCEIRA IDADE
nas categorias ótimo/bom (91,3%) e regu- Vilma Valeria Dias Couto - UFTM
lar/ruim (8,7%). E finalmente pode-se afir- vilmacouto@psicologia.uftm.edu.br
mar que dentre os participantes que consi- Deise Coelho de Souza - UFTM
deraram seu relacionamento familiar como deisecsouza@hotmail.com
ruim, a frequência do risco de depressão Cecília Fernandes Carmona - UFTM
foi de 87,5%. Há que se considerar que o ce.zen@hotmail.com
aumento da população idosa vem sendo Ana Alice da Silva Pereira - UFTM
observado em todo o mundo, mas o reco- ana_alicep@hotmail.com
nhecimento e o tratamento de transtor-
nos depressivos na população idosa, ainda A iniciativa de trazer os idosos para as uni-
permanecem como um desafio. Por isso, versidades começou no Brasil em meados
a identificação dos fatores de risco para da década de 70 e desde então vem sendo
depressão em idosos, associados com sua implantada progressivamente em muitas
incidência pode ajudar os profissionais que universidades (Cachioni & Neri, 2004). Na
atuam na Estratégia de Saúde da Família Universidade Federal do Triângulo Minei-
(ESF), a diagnosticar e propor intervenções ro, a Universidade Aberta à Terceira Idade

39
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(UATI) é um programa de extensão univer- considerando as transformações que acon-


sitária, interdisciplinar, que tem o objetivo tecem no envelhecimento. Metodologia:
de possibilitar aos idosos acesso a uni- O projeto contou com a participação de 15
versidade numa perspectiva de educação idosas. Foram feitos quatro encontros com
continuada e visa o resgate da cidadania, a duração de duas horas cada. As atividades
promoção da saúde e desenvolvimento do foram realizadas por meio de oficinas e di-
idoso. O objetivo da psicologia é promover nâmicas de grupo cujo propósito era refle-
debates sobre o envelhecimento, conside- tir sobre o envelhecimento pela via do cor-
rando os aspectos subjetivos deste proces- po. A metodologia envolve a participação
so e suas implicações no desenvolvimento ativa dos idosos na discussão, buscando
do idoso. Na UATI, elegemos o corpo como incentivar a expressão de ideias e experi-
um dos eixos de reflexão do envelhecimen- ências de cada um. Para a apresentação da
to. O corpo passa por significativas trans- proposta, foi elaborado um vídeo contendo
formações ao longo da vida e na velhice as diferentes imagens de corpos que favore-
perdas que atingem seu funcionamento, ciam o reconhecimento de transformações
anunciam a chegada desta etapa da vida. corporais que advém com a idade e a in-
Para muitos idosos, o corpo é fonte de an- fluência cultural na valorização do corpo
gústia e preocupação, seja porque é foco jovem. Após exposição do vídeo, os idosos
de adoecimento ou devido ao significado eram solicitados a falar das imagens. Nos
que assume na nossa cultura que valoriza encontros posteriores, trabalhamos com
a imagem do corpo jovem. Sobre o corpo oficinas que abrangiam momentos de rea-
humano, o saber da biologia, ao compre- lização de tarefas seguidos de discussões.
endê-lo como uma somatória de órgãos e Na oficina “Espelho, espelho meu” todos
funções, acaba confrontando a pessoa com eram convidamos a se mirarem no espelho.
uma ideia de um corpo interior feito de pe- Buscamos trabalhar a imagem do corpo e o
daços sobre o qual ele nada sabe, pois so- estranhamento que experimentamos dian-
bre ele quem sabe é a medicina. A questão te da imagem do corpo refletida no espe-
do corpo na psicanálise é abordada num lho, especialmente diante da imagem que
outro registro, trata-se de um corpo que traz as marcas e sinais da idade. Nesta ofici-
é mediador que organiza a relação entre na, discutimos ainda o conceito de imagem
a psique e o mundo externo e através do corporal como a representação mental do
qual o sujeito é reconhecido e com o qual nosso corpo. Na oficina “os sentidos do
se identifica. Na UATI a proposta é ampliar corpo”, trabalhamos os sentidos básicos
a ideia do idoso sobre seu próprio corpo do corpo humano por meio de atividades
para além um corpo físico, falamos de um práticas envolvendo a visão e audição que
corpo sobre o qual os afetos, os prazeres confirmaram as restrições advindas com os
e sofrimentos vão deixando marcas, cons- anos de vida, e também permitiu discutir
truindo história, criando uma imagem cor- outras possibilidades de potencializar os
poral que permite reconhecimento, apesar sentidos, incluindo o resgate de lembran-
das mudanças que o tempo ou as circuns- ças relacionadas às sensações já experi-
tâncias impõem (Goldfarb, 1998). O nosso mentadas em outros momentos de vida.
objetivo neste trabalho é compreender os Para atingir o propósito deste trabalho
significados atribuídos ao corpo na velhice, de compreender os significados do corpo

40
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

atribuídos pelos idosos da UATI, conside- é a matéria que vai envelhecendo”; “nada
ramos como material de análise as falas me agrada”. Destacamos também algumas
que foram registradas durante a realização falas que marcaram a relevância dos cuida-
das oficinas. Trabalhamos com recortes de dos dispensados ao corpo na velhice que
falas e as possibilidades de sentidos que são importantes tanto para garantir saúde
podem advir. Resultados: Com base nas como também para favorecer uma melhor
falas das idosas, percebemos que o corpo imagem de si na velhice: “é importante cui-
possibilita diferentes formas de olhar o dar do corpo para ter saúde”; “meu cabe-
processo do envelhecimento. Para algumas lo me agrada, quando corto arrumo, fico
idosas, este processo é um evento natural, bem”; “nada como uma tinta para os bran-
decorrente do desenvolvimento humano e quinhos”; “todo dia acordo e passo batom.”
as transformações do corpo é um evento Por fim, uma fala em especial aponta a es-
inevitável, como assinalam as falas a se- treita relação de cuidado entre o corpo e
guir: “eu avalio as mudanças como conse- espírito: “...à medida que você cuida do cor-
quências da vida, é natural, como a morte po físico você está cuidando do corpo espi-
é natural”; “envelhecemos desde o dia que ritual. temos que cuidar do corpo para que
nascemos, todos vamos envelhecer e mor- o espírito esteja bem e temos que cuidar do
rer.” Outras relacionam as mudanças do espírito para que o corpo esteja bem.” Con-
corpo na velhice como aspecto facilitador siderações Finais: Compreendemos que o
ao aparecimento de problemas da ordem corpo é alvo de interesse e investimento
física, tais como exemplificam as seguintes não só pelo valor estético que assume na
falas “quando fica mais velha engorda mais nossa cultura, mas como importante via de
fácil”; “o peso também pode prejudicar a saúde e envelhecimento saudável. Verifica-
saúde, podemos dar colesterol, pressão mos que é recorrente o discurso em torno
alta, prejudica tudo isso”; “a gordura de- da responsabilidade do idoso no cuidado
forma a gente”. Algumas falas apontaram ao corpo físico, especialmente para preve-
para uma imagem do corpo positiva dian- nir ou retardar a ocorrência de adoecimen-
te dos sinais de envelhecimento do corpo: tos que podem advir com a idade. Quanto
“cada ruguinha é uma experiência que a à forma como o idoso vê e pensa seu cor-
gente tem”. Outra fala mostra a satisfação po, a experiência possibilitou reconhecer
com o corpo atual quando comparado com que as transformações do corpo interfe-
o corpo de sua juventude, aspecto que rem negativamente na imagem que têm de
favorece a autoimagem: “quando olho no si mesmo. Contudo, existem, igualmente,
espelho vejo uma pessoa que já foi muito aspectos positivos nessas transformações
gorda, hoje é magra, sarada, gostosa. Hoje que podem favorecer a imagem de si, espe-
mudei muito, sei lidar com minhas dificul- cialmente quando significados como sinal
dades, depois dos 50 melhorou muito.” de experiência e maturidade. Este trabalho
Entretanto, outras falas mostram que as possibilitou compreender que o corpo ain-
mudanças do corpo ainda que inevitáveis da que marcado pelos sinais de envelheci-
não são desejáveis:“claro que não estou mento e limitações pode continuar sendo
melhor agora, as rugas começam a apare- alvo de investimentos suficientemente sig-
cer, esquece as coisas;é normal, mas não nificativos que possibilitam realizações e
ficamos como antes.”; “muda tudo, a pele reconhecimento.

41
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Envelhecimento. Corpo. UATI autoeficácia de memória. Permitem supor


Contato: Vilma Valéria Dias Couto - que a baixa crença desses idosos em rela-
Universidade Federal do Triângulo Mineiro ção ao próprio potencial cognitivo de me-
Departamento de Psicologia Clínica e Sociedade mória deve estar associada a estereótipos
vilmacouto@psicologia.uftm.edu.br negativos sobre a velhice, todavia, os resul-
tados da autoeficácia geral são indicativos
de condições favoráveis ao ajustamento
LT01-1343 - INFLUÊNCIA DA desse público às novas condições pessoais
AUTOEFICÁCIA GERAL E DA MEMÓRIA e contextuais. Com o aumento da expec-
EM IDOSOS QUE BUSCAM CURSOS DE tativa de vida populacional ampliam-se as
INFORMÁTICA possibilidades de um processo de envelhe-
Laina Jacinto Couto - UNITAU cimento ativo e de uma vivência da velhi-
laina_couto@hotmail.com ce como uma fase da vida de autonomia,
Fernanda Rabelo Prazeres independência e qualidade de vida (Neri,
fernandaballet@gmail.com 1995). Frente ao atual progresso tecnoló-
Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão - UNITAU gico, adultos maduros e idosos buscam se
mgleao08@gmail.com ajustar às demandas da vida cotidiana por
meio da educação continuada. A procura
As possibilidades de um processo de en- por cursos de informática, para além de
velhecimento ativo e de uma vivência de uma estratégia educativa de inclusão social
velhice com autonomia, independência e do idoso, exige um equacionamento entre
qualidade de vida tem conduzido idosos a seus potenciais e limites biológicos e psi-
se ajustarem às demandas da vida cotidia- cológicos, que por sua vez, pode gerar de-
na, principalmente aquelas relacionadas ao sequilíbrios em relação às capacidades do
progresso tecnológico atual, como o domí- indivíduo para produzir resultados. Fazer
nio sobre conhecimentos de informática. O esse curso envolve uma avaliação das ha-
enfrentamento de situações novas como bilidades sociais necessárias para o alcance
essa exige um equacionamento entre seus dos resultados. O constructo psicológico
potenciais e limites biológicos, psicológicos da autoeficácia tem sua origem na Teoria
e sociais, mobilizando o senso de autoeficá- Social Cognitiva, a partir de uma visão do
cia do idoso, ou seja, a crença que tem em homem constituído pelos sistemas sociais,
relação às suas capacidades para produzir e que por meio das trocas vão ocorrendo
resultados. Este estudo teve como objeti- adaptações e mudanças no comportamen-
vo investigar a influência da autoeficácia to, sendo essa relação de indivíduo com o
geral e da autoeficácia de memória em meio, denominada reciprocidade triádica
idosos que ingressam em cursos de infor- (Bandura, 2008; Azzi e Polydoro, 2006).
mática. Foi feita uma pesquisa quantitativa Pajares e Olaz (2008) argumentam que a
do tipo correlacional, junto a 23 idosos que autoeficácia é considerada uma percep-
se matricularam em cursos de informática, ção que o indivíduo tem sobre suas capa-
utilizando-se uma escala de autoeficácia cidades, operando como um dos determi-
geral e outra de autoeficácia de memória. nantes que regulam a motivação, o afeto
Os resultados indicam elevado escore de e a ação humana, sofrendo mudanças de
autoeficácia geral e um baixo escore da acordo com a dinâmica de interações desse

42
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

indivíduo com o ambiente. As crenças de Escala de Autoeficácia Geral (Ribeiro, 1995)


autoeficácia são formadas a partir de qua- e uma Escala de Autoeficácia de Memória
tro fontes: experiência de domínio, experi- - MAC-Q (Croock et al, 1992, Mattos et al.,
ência vicária, persuasões sociais e estados 2001), respondidos por eles mesmos, com
somáticos, determinando quanto de esfor- supervisão da pesquisadora. Os resultados
ço a pessoa dedicará em uma atividade e estão sendo submetidos a provas estatísti-
quanto perseverará quando confrontada cas por meio da ferramenta computacional
com obstáculos, ou seja, coloca em evi- SPSS. Os resultados demonstram que nessa
dência seu potencial de resiliência fren- amostra 73,91% são mulheres e 26,8% ho-
te a situações adversas. Para Neri (2006) mens; 40,5% apresentam experiência ante-
o senso de autoeficácia da pessoa idosa rior com computador; sendo os principais
pode ser afetado pelas perdas biológicas indicadores de escolaridade – 21,7% Ensi-
das quais está sujeita, influenciando seu no Superior Completo, 47,8% Médio Com-
autoconceito, suas emoções e metas pes- pleto. Os motivos para busca desses cursos
soais. A crença na plasticidade da memória foram: acompanhar o desenvolvimento
determina a escolha de tarefas e desafios tecnológico, estimular a mente, manter
em idosos, evidenciando uma relação re- contato social e aumentar a disposição ou
cíproca entre o senso de autoeficácia em ânimo de viver. Constatou-se nas escalas
memória e em sua plasticidade. Conside- um índice elevado de autoeficácia geral e
rando esses pressupostos, entende-se que um baixo escore da autoeficácia de me-
a busca do idoso por cursos de informática mória, permitindo confirmar os achados
pode gerar múltiplos benefícios, como a de Neri (2006) de que a presença de uma
experiência de ampliação do contato social crença negativa desses idosos em relação
e da estimulação cognitiva, favorecendo ao próprio potencial cognitivo de memória,
o controle pessoal sobre os domínios que pode estar baseada em estereótipos que
estão preservados, bem como ajudar nas associam velhice com incapacidade, falta
habilidades cujo domínio esteja limitado. de domínio sobre o ambiente e prejuízos de
Investigar a influência da autoeficácia geral naturezas diversas. Todavia, ao buscarem
e da autoeficácia de memória em idosos esses cursos indicam um comportamen-
que ingressam em cursos de informática. to resiliente, uma estratégia de enfrenta-
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, do mento dos obstáculos, corroborado pelos
tipo correlacional, abordando sujeitos com motivos que alegam. Serão ainda aplicadas
60 ou mais anos, que se matricularam em provas estatísticas de correlação entre os
2011 nos cursos de informática de um pro- resultados dessas escalas, e delas com a
jeto socioeducativo destinado a esta popu- variável gênero, escolaridade e experiência
lação, em uma cidade do interior do Vale anterior com computador. Estes resultados
do Paraíba Paulista. Esta pesquisa foi apro- preliminares permitem pensar que a baixa
vada pelo Comitê de Ética da Universidade crença de autoeficácia de memória desses
de Taubaté, sob o nº 497/10. Do total de idosos não está associada a perdas cogni-
48 matriculados, participaram 23. A cole- tivas advindas do envelhecimento bioló-
ta dos dados ocorreu nos dias e horários gico, visto apresentarem uma alta crença
dos cursos, utilizando-se um questionário de autoeficácia geral, portanto, indicativos
de características sociodemográficas, uma de potencial para modificar o modo como

43
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

manejam suas vidas e essas crenças, facili- ças evolutivas e a ressignificação da sub-
tando assim o ajustamento deles às novas jetividade do idoso. A educação para um
condições pessoais e contextuais. envelhecimento saudável é cada vez mais
incentivada e praticada em contextos de
Palavras-chave: Idosos; Autoeficácia; Memória. projetos e programas voltados aos idosos,
ressaltando a importância dos cuidados de
saúde que visem uma longevidade bem
LT01-1344 - ANÁLISE DE UM sucedida em diferentes âmbitos da vida,
CONTEXTO DE EDUCAÇÃO: FOCO NO e da construção do protagonismo dessa
DESENVOLVIMENTO ECOLÓGICO DE população na sociedade atual. Trata-se de
IDOSOS uma educação para a fase da velhice como
Fernanda Rabelo Prazeres - UNITAU possibilidade de aprendizagem continuada,
fernandaballet@gmail.com de participação sócio-política e cultural,
Laina Jacinto Couto - UNITAU de ressignificação de subjetividades, forta-
laina_couto@hotmail.com lecendo o senso de continuidade, enfren-
Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão - UNITAU tamento das mudanças e o engajamento
mgleao08@gmail.com intergeracional (Palácios, 2004). Enquanto
aprendizes, diferentemente de outros gru-
Trata-se de um estudo sobre um contex- pos etários, os idosos trazem consigo expe-
to de educação para idosos, no âmbito riências de vida, motivações, expectativas e
da extensão universitária, considerando condições para envolvimento e desempe-
a educação para a fase da velhice como nho nas atividades a eles ofertadas.Estudar
possibilidade de aprendizagem continua- os ambientes frequentados pelos idosos
da, de participação sócio-política e cultural justifica-se pela crescente demanda de rea-
e de ressignificação de subjetividades. O lização de projetos destinados a esse públi-
objetivo foi investigar a influência de um co, com diferentes finalidades e geralmente
programa sócio-educativo destinado a ido- junto a instituições de naturezas variadas. A
sos, no desenvolvimento ecológico de seus Teoria de Desenvolvimento Bioecológico de
participantes. Foi realizada uma pesquisa UrieBronfenbrenner ressalta a importância
qualitativa, por meio da técnica da inserção dos ambientes no desenvolvimento dos in-
ecológica e entrevistas, junto a dez idosos. divíduos, na medida em que “os processos
Utilizou-se uma análise de conteúdo e a psicológicos passam a ser propriedades de
compreensão pela Teoria de Desenvolvi- sistemas, nas quais a pessoa é apenas um
mento Bioecológico, a partir dos elementos dos elementos, sendo o foco principal os
do modelo PPCT - Processo, Pessoa, Con- processos e as interações”. (Narvaz e Kol-
texto e Tempo. Constatou-se que esse con- ler, 2004,p.56). OBJETIVO GERAL: Investigar
texto indica ser um espaço de acolhimento a influência do contexto de um programa
da heterogeneidade das vivências da velhi- sócio-educativo de extensão universitária,
ce, de encorajamento e da formação de vín- destinado a idosos, no desenvolvimento
culos entre eles, que ultrapassam o espaço ecológico de seus participantes. Trata-se de
da universidade. As interações estimulam uma pesquisa exploratório-descritiva, de
o aprimoramento de capacidades, a opor- abordagem qualitativa,aprovada pelo Co-
tunidade de enfrentamento das mudan- mitê de Ética da Universidade de Taubaté

44
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sob o no. 533/10. Foi realizada no Progra- sos pessoais, nesse grupo de idosos foram
ma de Atenção Integral ao Envelhecimento observados comportamentos iniciais de
(PAIE) de uma universidade do interior do passividade frente às ações propostas, ge-
Vale do Paraíba Paulista (cursos, ativida- ralmente relacionados às incapacidades do
des físicas e socioculturais, oficinas, even- processo de envelhecimento. Todavia, no
tos e palestras). Utilizou-se uma entrevista transcorrer das atividades a experiência de
semi-estruturada com dez participantes vida favorecia um engajamento e uma con-
e a técnica da Inserção Bioecológica (Cec- dição ativa de participação. Nas demandas,
conello e Koller, 2003), fundamentada na o ambiente organizado e lúdico possibilitou
Teoria Bioecológica(Bronfenbrenner,1996), o surgimento dos atributos pessoais, o con-
que requer a interação do pesquisador no fronto entre as limitações e potencialida-
ambiente estudado, analisando os quatro des, a expressão de apreço e sentimentos
núcleos que integram seu modelo teórico: positivos entre os participantes do grupo.
processo, pessoa, contexto e tempo (PPCT). No elemento Contexto, cada atividade do
O método de análise de conteúdo de Bar- programa atua como um microssistema,
din (1977) foi utilizado para levantamento um espaço em que ocorrem as relações
das principais temáticas das entrevistas e face a face e os processos proximais, ge-
das observações realizadas. RESULTADOS rando vivências de maior intimidade e aco-
E DISCUSSÃO: Durante todo o processo da lhimento entre os pares.O PAIE como um
Inserção Bioecológica foi possível verificar conjunto de atividades (microssistemas)
a integração dos quatro elementos da teo- configura o mesossistema, pois produz a
ria – PPCT.Para que haja desenvolvimento interação entre elas, visto articular muitas
é preciso que a pessoa esteja engajada em instâncias da instituição na operacionaliza-
uma atividade significativa. Em relação ao ção de seu objetivos e fazendo com esses
Processo, observou-se que as interações idosos transitem em espaços variados.Es-
entre a maioria dos participantes são de ses participantes frequentam mais de uma
longa data; as atividades são gradativamen- atividade, influenciando e sendo influen-
te mais complexas no decorrer dos encon- ciados pela natureza de todas elas. Cons-
tros, apresentando objetivos, símbolos e tatou-se ainda, referências ao exossistema
oportunidades que estimulam as funções por meio de comparações feitas entre eles
cognitivas, a manipulação de objetos e sobre ambientes nos quais não participam
informações, e o engajamento em situa- diretamente, mas que deles tem informa-
ções significativas e com pessoas diversas, ções, como outras instituições para idosos.
havendo reciprocidade nas relações inter- As influências do macrossistema também
pessoais. Sobre os aspectos que envolvem se fizeram presentes, na forma de opiniões
a Pessoa, constatou-se que as característi- e críticas sobre as políticas relacionadas ao
cas geradoras de desenvolvimento, como idoso no Brasil, em outros países e certos
curiosidade e determinação são facilitadas momentos sócio-históricos. Os dados mos-
e estimuladas pelos profissionais e estu- tram que as interações entre esses sistemas
dantes que atuam nas atividades e também otimizam a ocupação do tempo livre de for-
pelos pares. Verificou-se, no entanto, como ma produtiva, minimizando a vivência de
características inibidoras, a distração e timi- solidão e assumindo um papel significativo
dez excessiva. Em se tratando dos recur- na vida de cada um, justificando a adesão

45
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de grande parte deles há vários anos e fa- surgimento de algumas doenças, muitas
vorecendo as mudanças e as continuidades famílias optam pelo asilamento/institucio-
do desenvolvimento humano na velhice. A nalização de seus idosos, visando, normal-
título de conclusão, é possível afirmar que mente, garantir uma melhor assistência e
esse contexto de educação para idosos atua qualidade de vida aos mesmos. Doenças
como importante rede social de apoio, con- típicas da idade porém, não exclusivas da
tribuindo para a substituição/manutenção mesma, como o Alzheimer, trazem muito
dos vínculos afetivos importantes ao longo sofrimento para os familiares por não sa-
do envelhecimento, possibilitando man- berem lidar com a patologia que o idoso
terem-se ativos e aptos a construir novos possui. Além disso, os casos de compro-
saberes e práticas junto aos pares, ressig- metimento cognitivo não são tão facilmen-
nificando a subjetividade. Essas questões te identificados, deixando as pessoas no
caracterizam o PAIE como contexto de de- entorno do idoso confusas acerca de sua
senvolvimento ecológico de idosos. real condição. Engelhardt, Laks, Rozenthal
e Marinho (1997) destacam que os qua-
Palavras-chave: Teoria Bioecológica, Idosos, dros leves de comprometimento cogniti-
Contexto de Educação. vo são freqüentes, passando muitas vezes
despercebidos, e há uma necessidade de
distinguir (o que muitas vezes é difícil)
LT01-1471 - ENVELHECIMENTO, entre manifestações iniciais de doença e
DESENVOLVIMENTO E modificações associadas com o processo
INSTITUCIONALIZAÇÃO: A EXPERIÊNCIA normal de envelhecimento. As casas de re-
DE ESTÁGIO BÁSICO EM PSICOLOGIA pouso / asilos para idosos acabam sendo
Deyse Salatiel de Moura - UVV entendidos como boa ou única alternativa,
deyse.salatiel@hotmail.com já que, geralmente, acolhem e cuidam de
Pâmella Vitória Moreno dos Santos Rigoni - UVV idosos debilitados fisicamente e/ou psico-
pamellamoreno@yahoo.com.br logicamente. Por outro lado, a internação
Tainá Barreto Silveira - UVV de idosos em asilos ainda é vista com pre-
empresspyriel@hotmail.com conceito, sendo considerada prejudicial
Sabrine Mantuan dos Santos Coutinho - UVV ao seu desenvolvimento, sobretudo por
sabrine.coutinho@uvv.br levar ao isolamento, abandono e exclusão
social. De fato, alguns autores apontam
O envelhecimento consiste em um pro- que o processo de institucionalização é
cesso dinâmico e progressivo, no qual se permeado por dificuldades relacionadas
processam transformações diversas (mor- à adaptação ao novo modelo, à perda
fológicas, fisiológicas, bioquímicas e psi- de identidade e autonomia, o que pode
cológicas) que produzem a perda gradual acarretar problemas físicos e emocionais,
da capacidade de adaptação do indivíduo acelerando e/ou acentuando a velocida-
ao meio ambiente, ocasionando maior de das perdas funcionais dos idosos. Este
vulnerabilidade e maior incidência de pro- trabalho consiste em relato da experiência
cessos patológicos (Papaléo Netto, 1997) de Estágio Básico em Psicologia vivencia-
Diante do quadro de comprometimento da por alunos do curso de Psicologia do
físico e cognitivo decorrente em geral, do Centro Universitário Vila Velha em uma

46
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Casa de Repouso para idosos situada em tituição sofrem de Alzheimer, doença que
Vitória/ES. Trata-se de instituição privada, traz muitos prejuízos à memória. Entre as
que se dedica ao atendimento ao idoso, várias atividades desenvolvidas ao longo
oferecendo serviços especializados, e para do estágio, pode-se citar: exibição de fi-
tanto conta com uma equipe composta guras/imagens que trouxessem aos idosos
por enfermeiras gerontólogas, técnicos de lembranças de momentos variados de suas
enfermagem, geriatra (acompanhamento vidas para compartilharem com o grupo;
mensal) e fisioterapeuta (acompanhamen- audição de músicas antigas, da época da
to semanal). O estágio, desenvolvido numa juventude e fase adulta dos participantes,
perspectiva psicossocial, teve início em com a descrição do que lhes vinha à me-
Julho de 2010, e contava com uma carga mória; leitura de contos e sua repetição
horária prática semanal de 04 horas, cum- pelo idoso para exercitar a memória; exe-
pridas na casa de repouso por um grupo cução de dinâmicas de grupo que opor-
de três estagiárias do quarto período do tunizassem conhecer um pouco mais da
curso de Psicologia. Nessa época a insti- vida de cada idoso e favorecer a interação
tuição estava atendendo, em média, 35 entre o grupo; realização de entrevistas se-
idosos, de idades variadas. Num primeiro miestruturadas sobre temas relacionados
momento, foi realizado estudo bibliográfi- à história de vida dos idosos; realização
co referente ao tema, e após esse período de trabalhos manuais, como a confecção/
inicial, foi realizada a entrada no campo, ornamentação de um diário pessoal para
que, inicialmente, consistiu em observação cada idoso, buscando o desenvolvimento
participante, visando conhecer a dinâmi- da criatividade e a possibilidade de ex-
ca institucional, levantar as demandas da pressarem suas emoções e sentimentos
instituição, os temas de trabalho a serem diários. Houve situações em que algumas
explorados e o estabelecimento de vínculo atividades programadas acabaram não
com os idosos e funcionários. Posterior- sendo desenvolvidas em virtude do pouco
mente foram organizadas atividades que interesse ou indisposição dos idosos. Na
visavam potencializar a interação social do instituição, os idosos eram divididos pela
grupo de idosos que tinham condições fí- enfermeira responsável para participar das
sicas e cognitivas de participar, bem como atividades grupais, geralmente, de acordo
o estreitamento de vínculo – ressaltando com o nível de comprometimento físico e
que a necessidade de maior interação en- cognitivo. Nem todos os idosos participa-
tre os idosos foi a principal demanda iden- vam sempre de todas as atividades, o que
tificada. Moura, Passos e Camargo (2005) variava de acordo com o estado de saúde
ressaltam que a comunicação é essencial do idoso naquele dia e de sua disposição
para a sobrevivência do homem, em espe- para participar. Além de promover a inte-
cial para o idoso, garantindo a manutenção ração social entre os idosos, o estágio tam-
de suas relações sociais e evitando a ca- bém trouxe a possibilidade de criação de
rência afetiva e emocional. Também foram um espaço para acolhimento das questões
desenvolvidas atividades grupais que tive- individuais que não emergiam nas ativi-
ram como objetivo a reabilitação cognitiva dades grupais, assim como de um espaço
(exercícios para a memória, por exemplo), permanente de contato com a equipe e
já que muitos dos idosos residentes na ins- com os familiares (realização de encontros

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

periódicos com a equipe e de reuniões população principalmente em países de-


com os familiares). Mesmo reconhecendo senvolvidos. Estima-se que o Brasil, em
todas as dificuldades relacionadas ao pro- 2025, terá a sétima maior população de
cesso de institucionalização, inclusive as idosos no mundo com cerca de 32 milhões
mencionadas pelos próprios idosos (ficar de pessoas com 60 anos ou mais. O avanço
longe da própria casa e da família e ami- da idade faz com que surjam doenças típi-
gos; seguir uma rotina determinada por cas da população idosa como a depressão,
outros; conviver com pessoas desconhe- que, apesar de não ser uma doença exclu-
cidas, entre outras) crê-se que a mesma siva dessa faixa etária, tem sido aponta-
pode ser vivida de uma forma menos dolo- da como um problema de saúde pública
rosa ao se buscar a criação de um contexto e afeta pelo menos um em cada seis pa-
que favoreça as potencialidades do idoso e cientes idosos que recebem tratamento
seu desenvolvimento. É nesse sentido que na atenção básica de saúde, nos pacien-
o trabalho realizado buscou trazer suas tes depressivos há piora da saúde global,
contribuições, mostrando que a Psicologia aumento de custos com a saúde, aumento
tem muito a colaborar na intervenção com de transtornos cognitivos, e mortalidade
idosos institucionalizados. Como destacam relacionada ao suicídio e a doença física.
Neri, Yassuda e Cachioni (2005), a Psicolo- Por outro lado, estudos sobre os estilos
gia conta com “um conjunto de técnicas de o processo reflexivo da consciência
de diagnóstico, avaliação e intervenção têm sugerido que determinados estilos de
voltadas ao tratamento dos problemas pensamento parecem estar associados a
comportamentais e psicológicos que afe- um funcionamento psicológico mais nega-
tam o funcionamento e o bem-estar sub- tivo, colaborando principalmente para o
jetivo dos idosos” (p. 19), podendo, assim, surgimento da depressão e de outras psi-
oferecer importantes contribuições para a copatologias. Estudos constataram que in-
qualidade de vida de idosos, sobretudo os ternações psiquiátricas estão entre os dez
funcionalmente debilitados. principais motivos de internação em ido-
sos. A ruminação é caracterizada por um
Palavras-chave: institucionalização, idoso, tipo de pensamento repetitivo de caráter
desenvolvimento, Psicologia negativo que tende a exacerbar sintomas
depressivos e ansiogênicos. A reflexão é
um tipo de pensamento mais bem adapta-
LT02-950 - A RELAÇÃO ENTRE ESTILOS do à resolução de problemas e pode ame-
REFLEXIVOS E NARRATIVA EM IDOSAS nizar o impacto negativo da ruminação.
Petra Paim Ehrenbrink - UFES Acredita-se que pessoas do estilo reflexi-
petra@intervip.com.br vo compreendem suas vidas de maneira
M. Lima de Souza - UFES positiva e sentem-se mais felizes. Neste
limadesouza@gmail.com sentido, investigar os estilos reflexivos da
Laís Almeida Ambrósio - UFES população idosa pode colaborar para um
lais.ambrosio@gmail.com melhor entendimento dos processos psi-
copatológicos que acometem os indivídu-
A queda da taxa de mortalidade e natali- os dessa faixa etária. Identificar os estilos
dade colabora para o envelhecimento da reflexivos dos idosos e comparar com a

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estrutura (forma e conteúdo) das narrati- vida”. Participantes com altos escores no
vas sobre suas próprias vidas. Estudo qua- estilo ruminativo produziram narrativas
litativo e exploratório com uma etapa de que focalizavam características pesso-
coleta de dados quantitativa. Participaram ais negativas como, por exemplo: “... Sou
do estudo onze idosas com idades entre uma pessoa muito insegura... A ansieda-
sessenta e dois e oitenta e três anos, que de, muitas vezes me impede de viver feliz
apresentaram condições de se expressar e fazer a felicidade dos outros.” Enquanto
verbalmente através da escrita. Para a ob- participantes com altos escores no estilo
tenção dos dados utilizamos o Questioná- reflexivo produziram narrativas com ca-
rio de Ruminação e Reflexão (QRR) e um racterísticas pessoais positivas como, por
protocolo de redação com o tema “Conte exemplo,” Gosto de ser quem eu sou por
sua história”. A aplicação do instrumento ter realizado minhas aspirações...” Esses
foi realizadas individualmente na casa da dados confirmam nossas hipóteses de que
participante. Inicialmente os dados foram pessoas com o estilo reflexivo compreen-
tratados estatisticamente (média e desvio dem sua vida de maneira mais positiva re-
padrão). A partir dos escores fornecidos latando sentirem-se mais felizes. Enquan-
pelo QRR foram definidos os pontos de to as de estilo ruminativo interpretam os
corte: Reflexivo alto= 42; Reflexivo mé- acontecimentos de forma mais negativa.
dio= 39; Reflexivo baixo= 36; Ruminativo Sete participantes apresentaram o estilo
alto= 43; Ruminativo médio= 36 Rumina- reflexivo ruminativo médio ou alto. O es-
tivo baixo= 29. Os idosos apresentaram tilo ruminativo por ter como característica
cinco estilos de reflexividade: 1. Rumina- um tipo de pensamento mais repetitivo,
tivo baixo+Reflexivo médio (duas partici- faz com que a pessoa rememore, e pense
pantes) ; 2. Ruminativo médio+Reflexivo mais freqüentemente em acontecimentos
baixo (duas participantes); 3. Ruminativo do passado. Isto pode estar relacionado
médio+Reflexivo alto (três participan- com o fato de cognitivamente idosos te-
tes); 4.Ruminativo médio+Reflexivo mé- rem uma diminuição na capacidade de
dio (três participantes); 5. Ruminativo armazenamento de informações e memó-
alto+Reflexivo alto (uma participante). rias recentes, aumentando, assim, o uso
As narrativas apresentaram os estilos de da memória de longo prazo é a mais uti-
gênero gramatical descritivo (predomi- lizada. Assim, acredita-se que os escores
nância de substantivos e adjetivos na nar- do estilo ruminativo na população idosa
rativa – ocorrência em cinco narrativas) tenha sido mais alto. A terceira idade, é
quanto dinâmico (predominância de ver- por muitas vezes, associada sociocultu-
bos e advérbios – cinco narrativas). Uma ralmente como um período de sabedoria,
narrativa não teve predominância de ne- formada por uma vida de experiências,
nhum dos dois estilos de gênero grama- esses indivíduos são vistos como pessoas
tical. Os temas abordados nas narrativas sábias pela sua capacidade de lembrar de
foram “breve relato sobre a história de fatos, fazerem análises éticas e morais, e
vida”, “características pessoais”, “família”, oferecerem soluções e alternativas para
“preocupação com os outros”, “religião” problemas cotidianos. Atividades estas,
e a “importância em manter-se ativa”. Na que exigem muita reflexão, análise e ru-
categoria “breve relato sobre história de minação de algumas idéias, colaborando

49
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

também para um possível desenvolvimen- ro, 2004). Optou-se, então, por trabalhar
to do estilo ruminativo de reflexividade. com as narrativas produzidas por adoles-
centes em interação, mediante a realiza-
Palavras-chave: Idosas; estilos reflexivos; ção de grupos focais em formato virtual,
narrativas. já que a internet vem sendo um dos con-
Contato: Petra Paim Ehrenbrink, UFES, textos de interação privilegiados pelos
petra@intervip.com.br adolescentes (Subrahmanyam, Green-
field, Kraut & Gross, 2001). Os chamados
grupos focais online síncronos são grupos
CO 16 - LT02 em que os participantes interagem via in-
ternet em tempo real (Walston & Lissitz,
Novas tecnologias 2000). Esbarrou-se, contudo, na ausência
de trabalhos científicos nesses moldes, na
área da psicologia. Diante disso, foi neces-
LT02-693 - GRUPOS FOCAIS ONLINE
sário basear-se em alguns procedimen-
SÍNCRONOS EM PESQUISA QUALITATIVA:
tos utilizados por outras áreas da ciência,
ASPECTOS COMUNICACIONAIS
selecionando aquilo que se aplicaria aos
Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS objetivos da pesquisa em questão. Em re-
charlestonbordini@yahoo.com.br lação às entrevistas virtuais, por exemplo,
Tania Mara Sperb - UFRGS Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias e Di Luccio
sperbt@terra.com.br (2009) sublinham que, comumente, as
Financiamento: CNPq conversas online apresentam rupturas.
Isso pode decorrer do intervalo que existe
O grupo focal é uma técnica de coleta de entre o envio de uma mensagem – que é
dados que vem sendo largamente utili- realizado somente quando o participante
zada em pesquisa desde os anos 80, so- terminou de redigi-la e optou por postá-
bretudo como técnica de investigação -la – e o recebimento da resposta relativa
qualitativa (Schneider, Kerwin, Frechtling à mensagem enviada. Dado que, também
& Vivari, 2002). Comumente, essa técnica nos grupos focais online síncronos, as par-
é usada em seu formato tradicional, isto ticipações de cada um dos membros iriam
é, presencialmente. Sua utilização é usu- aparecer na tela de acordo com a ordem
al principalmente entre os pesquisadores em que tivessem sido enviadas, e não se-
que têm interesse pela coleta de dados ria possível interromper a escrita de cada
por meio da interação grupal (De Antoni um, esperava-se que a comunicação nes-
et al., 2001). Este era o caso da pesquisa ses grupos ficasse fragmentada. Provavel-
aqui relatada, cujo objetivo era conhecer mente as discussões seriam descontínuas,
as concepções de adolescentes sobre o intercaladas com outras discussões ou
que é ser homem e o que é ser mulher na com outros assuntos. Por outro lado, Sch-
atualidade. Tinha-se como base, o pressu- neider et al. (2002) explicam que a alta ve-
posto de que os significados atribuídos ao locidade em que se dá a postagem dos co-
masculino e ao feminino são culturalmen- mentários escritos na comunicação virtual
te construídos e transmitidos socialmente permite que a discussão não pare apenas
através da interação (Diamond, 2002; Lou- porque um dos participantes está escre-

50
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vendo sua mensagem. Por isso, os compo- te que os fizera apareciam na tela de cada
nentes de grupos focais online síncronos, membro, de acordo com a ordem em que
em comparação com aqueles dos grupos tinham sido postados. As interações nos
presenciais, fariam comentários mais cur- grupos focais online síncronos foram dis-
tos, emitindo pequenas frases simples- cutidas com base na literatura já existente
mente para expressar concordância com sobre o tema. A realização online dos gru-
opiniões já apresentadas, propiciando pos focais pareceu ter influenciado a pro-
uma discussão menos elaborada. Diante dução dos componentes. Confirmando os
disso, esperavam-se dificuldades quanto apontamentos de Schneider et al. (2002),
à profundidade das discussões nos grupos em geral, as participações foram curtas
focais online síncronos e em relação à ob- e os comentários, não muito elaborados
tenção de narrativas longas e individuais. e emitidos rapidamente. A comunicação
O presente trabalho visa colaborar com o entre o grupo mostrou depender da velo-
avanço da pesquisa qualitativa em psico- cidade na qual cada componente era ca-
logia no Brasil, por meio do relato e da dis- paz de escrever suas mensagens e acom-
cussão das especificidades comunicacio- panhar as dos outros. Isso tornou difícil a
nais encontradas nos grupos focais online manutenção de uma sequência de intera-
síncronos realizados.Participaram 41 ado- ções por parte do grupo, pois a comunica-
lescentes com idades entre os 14 e os 15 ção não ocorria de maneira linear. Assim,
anos, estudantes de uma escola estadual também se confirmou a hipótese baseada
e de uma escola particular de Porto Alegre em Nicolaci-da-Costa et al. (2009). A in-
(RS), selecionados por conveniência. Com dependência entre as participações dos
os adolescentes devidamente autorizados componentes dos grupos realizados não
pelos responsáveis, foram realizados 6 foi vantajosa à elaboração de narrativas
grupos focais online síncronos, através do longas ou detalhadas. Ocorreu com fre-
programa de bate-papo MSN, que possi- quência que, enquanto um participante
bilita conferências online. Todos os grupos escrevia uma mensagem mais longa ou
tiveram 7 participantes, exceto um que em resposta a alguma mensagem postada
contou com 6. Dois grupos foram compos- anteriormente, outros já escreviam men-
tos por adolescentes do sexo masculino, sagens relacionadas a outros assuntos. As
2 por adolescentes do sexo feminino, e 2 narrativas produzidas ao longo das discus-
eram mistos. Os grupos tiveram lugar na sões foram, na sua maioria, fragmentadas
sala de informática das escolas em que os e entrecortadas por assuntos diversos do
participantes estudavam e foram mode- tópico proposto. Portanto, a utilização
rados pela pesquisadora. Esta e todos os de grupos focais online síncronos não se-
adolescentes tinham um computador à ria aconselhável quando o pesquisador
sua disposição, conectado ao MSN. A dis- pretende obter as tradicionais narrativas
cussão era realizada por escrito e iniciava longas e sequenciadas. Este método seria
com a questão de abertura, proposta pela mais adequado às investigações que têm
moderadora: “Contem histórias que vocês como foco a interação entre os participan-
acham que mostram bem o que é ser ho- tes. A pesquisa realizada mostrou que gru-
mem ou o que é ser mulher hoje.”. Os co- po focal online síncrono não é uma mera
mentários e a identificação do participan- transposição do grupo focal presencial

51
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para o ambiente virtual. Chamaram aten- educacional e as relações estabelecidas


ção as especificidades marcantes relativas entre os diversos componentes dos fluxos
à comunicação encontradas nessa técnica. nutridores dos processos de aprendiza-
Mais pesquisas são necessárias para que gem e as trocas materiais e informacionais
se conheçam essas particularidades e para provocam mudanças estruturais de cará-
que se possa esclarecer em que situações ter postural, atitudinal e valorativo. Estas
os grupos focais online síncronos são mais relações precisam ser mais congruentes
ou menos vantajosos, ou mesmo comple- com os princípios organizadores da vida,
mentares aos grupos focais tradicionais. com a natureza dinâmica da matéria e da
construção de conhecimento. Nesse senti-
Palavras-chave: Grupos Focais Online; do, o objetivo deste trabalho é descrever
Pesquisa Qualitativa; Internet. arquitetura de curso online com base no
Contato: Gabriela Sagebin Bordini (UFRGS) Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner,
charlestonbordini@yahoo.com.br considerando os componentes: pessoa,
processo, contexto e tempo (Bronfenbren-
ner, 2005). A adoção desses pressupostos
LT02-958 - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA traz implicações para o planejamento de
ONLINE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: pesquisa, para o desenvolvimento de de-
INTERFACES E PERSPECTIVAS senhos de cursos a distancia ou modelos
Jane Farias Chagas - FTBB/UnB educacionais. Do ponto de vista da pesqui-
janefcha@gmail.com sa, ressignifica a relação entre pesquisador
e pesquisado, requer análise do espaço
Um dos desafios inerentes a crescente de- de vida em termos de atividades, papéis
manda por cursos a distância na modalida- e padrões de interação e a ampliação e
de online consiste em garantir a qualidade triangulação de estratégias para sondar o
de ensino por meio da incorporação de conteúdo do campo psicológico. No âmbi-
tecnologias de informação e comunicação, to educacional, os conhecimentos produ-
de novos processos espaço-temporais de zidos pela psicologia do desenvolvimento,
interações que efetivamente sejam sus- especialmente os vinculados às teorias
tentados por teorias de aprendizagem e sistêmicas, têm contribuído para uma
de desenvolvimento humano (Carvalho, ampla discussão dos sistemas de ensino,
Nevado & Menezes, 2005; Chagas, 2010). os métodos e teorias de aprendizagem e
Nessa direção, Moraes (2002) chama a promovido uma compreensão das particu-
atenção quanto à necessidade de que os laridades dos processos educativos em in-
desenhos educacionais e as novas práticas terseção com o desenvolvimento humano
pedagógicas reconheçam a natureza viva e com a aprendizagem (Polônia & Senna,
e transdisciplinar do processo de constru- 2005). Desta forma, assumir uma postura
ção de conhecimento, a interatividade dos ecossistêmica solicita repensar a relação
processos cognitivos e sejam capazes de professor-aluno, aluno-aluno, aluno-pro-
recuperar a inteireza humana, os valores cesso, entre outras, a partir da: (a) análise
multiculturais e o respeito às diferentes mais detalhada das atividades, papeis e
maneiras de pensar. Ainda segundo Mo- relações em que esses atores se envolvem
raes (2002), a organização e planejamento nos diversos ambientes ecológicos, (b) for-

52
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mulação ou reformulação do planejamen- drões de interação entre as pessoas e que


to educacional a partir do mapeamento de fomenta uma gama variada de atividades
características individuais e ambientais. É desenvolvidas em mais de um ambiente
importante ressaltar que as mudanças pro- ao mesmo tempo. Essa simultaneidade
duzidas nas concepções e/ou atividades da pode gerar tanto efeitos positivos quanto
pessoa transferem-se para outros ambien- negativos. Entre os efeitos positivos cita-
tes e outros momentos de vida. Ou seja, -se o aumento da capacidade humana em
sugere considerar as triangulações inter- lidar com um volume crescente de dados
pessoais, a transição e validade ecológicas e como efeito negativo destaca-se o ace-
e as acomodações progressivas e mútuas leramento e sobrecarga de informações.
entre um ser humano ativo, criativo, dinâ- Essa estrutura e funcionalidade alteram
mico e em desenvolvimento e as proprie- as características dos processos distais e
dades mutantes dos ambientes imediatos proximais que afetam o desenvolvimento.
e distais (Chagas, 2008). Advém ainda, do Várias tensões interpessoais e psicológi-
emprego desses princípios, a necessida- cas podem surgir a partir das interações
de de utilizar diferentes instrumentos e promovidas em um ambiente online que
abordagem multimetodológica, currículos podem ser semelhantes ou não aquelas já
estruturados de acordo com as transições conhecidas no mundo não-virtual. Contu-
de desenvolvimento do indivíduo, o enten- do, torna-se relevante apontar que mesmo
dimento das mudanças no papel do aluno nos espaços de interação virtual, os parti-
e do professor ao longo do curso de vida, cipantes constroem um senso simbólico
os avanços tecnológicos e a práxis pedagó- de espaço e lugar. Este cenário desafia as
gica (Polônia & Senna, 2005). Para Stokols formas de organização educacional e os
(1999) diferentes contextos afetam de sistemas de crenças e valores dominantes
forma variada os processos de desenvol- (Stokols, 2005). Por outro lado, o envolvi-
vimento, o que leva também a resultados mento ativo em atividade molar constitui
divergentes. Isto significa que as condições indicador do grau e da natureza do de-
ambientais encontram-se mediadas por senvolvimento. Nesse sentido, a atividade
atributos pessoais, pelas disposições cir- molar pressupõe comportamento continu-
cunstanciais e pelo estágio de curso de vida ado que possui um momento (quantidade
dos indivíduos envolvidos em processos de de movimento, impulso) próprio e percep-
qualquer natureza, inclusive os educacio- tível como portador de significado e inten-
nais. Esses resultados podem ser temporá- ção pelos participantes do ambiente. Isto
rios, de curto ou longo prazo e exercem in- posto, as interações em um ambiente de
fluência direta ou indireta sobre os proces- aprendizagem online, devem ser plane-
sos de desenvolvimento, mesmo quando jados de forma a permitir o engajamento
as condições ambientais transcendem o em atividades significativas, intencional-
espaço geográfico. Sendo assim, a educa- mente elaboradas visando a construção de
ção a distância na modalidade online exi- conhecimentos e o compartilhamento de
ge tanto uma influência mútua ativa com experiências que promovam o desenvolvi-
os recursos tecnológicos e informacionais mento tanto intelectual, como afetivo e so-
como também com eventos, informações cial. Ancorados nesta perspectiva, a apren-
e pessoas. Dinâmica que requer novos pa- dizagem e o desenvolvimento constituem

53
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

processos mediados pela participação interligados favorecidos pela tecnologia.


da pessoa em padrões progressivamente A relação entre sociedade e tecnologia
mais complexos de atividades recíprocas, sempre existiu de diferentes maneiras na
permeada por sentimentos positivos de história da humanidade, causando impac-
mutualidade. Com isso, as propriedades tos no desenvolvimento humano. De uma
da pessoa e do ambiente, as estruturas e perspectiva sociocultural, as novas tecno-
funcionalidades dos cenários ambientais e logias da informação e da comunicação
dos processos que ocorrem dentro e entre são realizações atuais, exemplos contem-
os sistemas devem ser considerados como porâneos do processo de humanização
forma interdependente e analisados em que sempre se apoiou, em cada época, em
rede. Os conteúdos das atividades molares aparatos físicos (ferramentas) e culturais
possuem um alcance ampliado dependen- (símbolos, linguagem) para sua realiza-
do da quantidade de interações entre as ção (Wertsch, 1995; Briggs & Burke, 2004;
pessoas, símbolos e objetos presentes em Cook, 2005; Vigotski, 2007). Nos dias de
cada ambiente. A variedade, a qualidade hoje, a Cibercultura é um exemplo do que
e a quantidade de interações influenciam acima apontamos. Pretto, Riccio e Perei-
na durabilidade dos efeitos das aprendiza- ra (2009) comentam que a Cibercultura é
gens ao longo do curso de vida. uma categoria do momento histórico atu-
al, “que possibilita a associação do univer-
Palavras-chave: Educação a distância; so da cultura com o da comunicação e das
Desenvolvimento Humano; Modelo tecnologias, especialmente as digitais” (p.
Bioecológico; Arquitetura Educacional. 85-86). Para esses autores, “a marca prin-
Contato: Jane Farias Chagas, FTBB/UnB, cipal é a liberação do pólo de emissão na
janefcha@gmail.com comunicação, através da implantação das
redes tecnológicas que potencializam a
autoria e colaboração em rede” (Pretto,
LT02-1208 - ANÁLISE DA RELAÇÃO Riccio & Pereira, 2009, p. 85-86). Para es-
ENTRE LINGUAGEM, COGNIÇÃO E ses autores, a interatividade que as novas
INTERSUBJETIVIDADE NO CONTEXTO DA tecnologias abarcam, dinamiza a difusão
CIBERCULTURA COM BASE NA TEORIA de mensagens, diminui fronteiras e auxi-
DE VIGOTSKI lia na colaboração e atuação conjunta dos
Ruben de Oliveira Nascimento - UFU indivíduos, abrindo novas possibilidades
rubenufu@gmail.com de comunicação, interação, aprendizagem
e práticas sociais. A Cibercultura trata de
Nesse trabalho discutiremos, com base em processamento de informação, o que im-
literatura especializada, a noção de que a plica em processos cognitivos. Segundo
interação social na Cibercultura traz consi- Fonseca (2007), cognição é um “sistema
go uma carga psicológica importante em representacional com capacidade de sen-
nível de intersubjetividade, examinada a tir, integrar, pensar, comunicar e agir a
partir de contribuições da psicologia histó- partir de capacidades de processamento
rico-cultural de Vygotsky. Também analisa de informação” (Fonseca, 2007, p. 30-31).
esse tema a partir da relação entre lingua- Mas, Fischer (2009) assinala que “a língua
gem e processos cognitivos, como fatores dá voz à ação humana, de maneiras com-

54
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

plexas e sutis” (p. 219); e como cognição interação com pessoas, objetos, eventos,
implica num sistema representacional, valores, crenças e atitudes culturalmente
a linguagem acaba assumindo um papel desenvolvidas e historicamente constituí-
importante, se observamos o conteú- das (Vigotski, 2001, 2007; Vigotski & Luria,
do representacional, simbólico, de uma 2007). Para Vygotsky (2007) era impor-
produção cultural digital (Costa, 2008). tante “entender o papel comportamental
Fonseca (2007) explica que o desenvolvi- do signo em tudo aquilo que ele tem de
mento cognitivo não se dá somente pela característico” (p. 53). Vigotski (1991) afir-
autoregulação da estrutura, mas também ma que o signo tem um papel importante
pelo envolvimento do indivíduo em “sis- nos processos coletivos, interpsicológicos,
temas de mediatização interindividual sendo meios de comunicação e de influ-
que se co-constroem em contextos sócio- ência. Para Vygotsky (1991), “todo signo,
-históricos” (p. 36). A Cibercultura abarca si tomamos su origen real, es un medio
essa noção e implica situações de inter- de comunicación e podríamos decirlo más
subjetividade. A intersubjetividade tem ampliamente, un medio de conexión de
importante papel nas relações sociais face ciertas funciones psíquicas de carácter
a face (Berger & Luckmann, 2004). Mas, social.” (p. 78). De acordo com Vygotsky
como acima mostrado, na Cibercultura ela (1991a), a função de comunicação do
possui a mesma importância psicológica, signo endossa processos interpsicológi-
dado o caráter transcendente da lingua- cos, direciona a atenção, define papéis na
gem (que independe de tempo e de espa- comunicação e contribui para a internali-
ço), e suas relações cognitivas. No uso de zação do que foi socialmente significado.
computadores, por exemplo, as interfaces A intersubjetividade, na perspectiva vi-
permitem a mediatização tecnológica nas gotskiana, está imbricada nesses fatores.
interações, e ainda afetam nossas formas Wertsch (1995) comenta que a intersub-
de criar e comunicar. Segundo Johnson jetividade é um processo de comunicação
(2001), “os seres humanos pensam atra- humana que transcende o mundo privado
vés de palavras, conceitos, imagens, sons, dos participantes por meio da conduta
associações” (p. 17). O computador lida comunicativa (situações de fala). Wertsch
com representações e sinais, permitindo (1995) coloca que, na teoria vigotskiana,
formas de interação à distância (Johnson, esse é essencialmente um processo semi-
2001). Nas redes sociais, as interações ótico numa dada situação. Entendemos
também assumem um caráter intersub- que em interações sociais produzidas em
jetivo muito importante na medida em ambientes virtuais, tais premissas são
que os indivíduos podem organizar suas válidas, mas, queremos enfatizar suas
ações em rede, em espaços mais infor- possibilidades dialéticas. Nesse sentido,
mais (Marteleto, 2001). A psicologia histó- mencionamos Molón (2010) quando ex-
rico-cultural de Vygotsky traz importantes põem a perspectiva de Smolka e colabo-
contribuições para essas discussões; entre radores sobre intersubjetividade na teo-
elas a importância da mediação simbólica. ria de Vygotsky, ao colocarem ênfase na
Segundo Vygotsky, a mediação simbóli- relação dialética das dimensões intra e
ca tem origem social e assume destaque interpsicológica. Smolka e colaboradores
na formação psicológica e na relação/ comentam que “sendo a palavra e o sig-

55
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no polissêmicos, a natureza e a gênese do LT02-1408 - AS RELAÇÕES ENTRE


processo de constituição do sujeito im- PROFESSOR-ALUNO NA EAD A PARTIR
plicam, necessariamente, o diferente e o DA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO
semelhante” (Molón, 2010, p. 58). Assim, E DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES
entendemos que intersubjetividade numa PSICOLÓGICAS
perspectiva vigotskiana, envolve uma Angélica de Fátima Piovesan - UNIT
concepção interativa e semiótica de sujei- angelicapiovesan@hotmail.com
to, constituída pelo outro via linguagem, Fabricia Borges - UNIT
como processos dialógicos, dialéticos e de fabricia.borges@gmail.com
significação, que não dicotomizam sujeito Salete Peixoto - UNIT
e social. Nesse sentido, a intersubjetivida- saletepeixotog@hotmail.com.br
de ajudaria a constituir socialmente sujei-
tos e saberes, em atividades simbólica e Neste trabalho iremos discutir as relações
cognitivamente formuladas. Segundo Fon- de interação entre professor-aluno na Edu-
seca (2007), a cognição “transformada na cação a Distância. Para isso, utilizaremos a
sua representação pela linguagem, dotou Psicologia Histórico-Cultural através de Vi-
o ser humano da capacidade de raciocí- gotski. Também, usaremos o conceito de
nio e de resolução de problemas” (p. 34). “Inteligência Coletiva” desenvolvido por
A Cibercultura é um ambiente onde essa Pierre Levy, filósofo da informação que es-
premissa ocorre, utilizando-se as ferra- tuda as interações entre internet e socie-
mentas que ela contém. Concluímos que a dade. Sabemos que a construção destes
intersubjetividade no contexto virtual, na conceitos e seus significados são distintos,
Cibercultura, pode diferir em alguns índi- construídos e estudados em épocas e con-
ces ou esquemas comunicacionais daque- textos diferentes, no entanto, acreditamos
les praticados face a face, porém mantém que podemos relacioná-los para entender
efeitos psicológicos semelhantes, porque a construção de conhecimento e o desen-
se vale do caráter transcendente da lin- volvimento das funções mentais supe-
guagem e de processos cognitivos em co- riores através do uso das tecnologias. Vi-
mum, conseguindo realizar a passagem do gotski desenvolveu sua teoria descreven-
privado para o coletivo, que é um aspec- do como o indivíduo se constrói como ser
to marcante da intersubjetividade. Essas humano a partir das relações sociais, en-
questões têm influência nos processos de tre o Eu-Outro e essas relações permitem
desenvolvimento psicológico e social dos que haja uma reconstrução interna (intra-
sujeitos no contexto tecnológico atual. O pessoal) de uma operação externa (inter-
importante é examinar criticamente como pessoal). Esse processo de internalização
as pessoas estão interagindo no ciberes- das formas culturais de comportamento
paço, que construção social/interpessoal se aplica à atenção voluntária, à memória
vem se formando e como têm sido obje- lógica e formação de conceitos com base
tivadas as percepções sociais dos sujeitos nas operações com os signos. No entanto,
nesse contexto. podemos dizer que as funções psicológi-
cas superiores se originam das relações
Palavras-chave: Cibercultura; sociais e que as atividades cognitivas não
Intersubjetividade; Vygotsky. se limitam ao uso de signos e instrumen-

56
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos. Os signos são representados pela lin- ais de aprendizagens (AVA). Consideramos
guagem oral e gestual, pela escrita, pelos que o uso de tecnologias possibilita o de-
números, não modificando o objeto das senvolvimento das funções psicológicas
operações psicológicas, mas dirigindo-se como também contribui para a formação
para o controle do próprio individuo. Já os da “Inteligência Coletiva”. Nosso objetivo
instrumentos sofrem mudanças humanas foi identificar e descrever os significados
sobre o objeto e são orientados externa- construídos nas narrativas de dois profes-
mente. As relações dialéticas entre as fun- sores da Educação a Distância em relação
ções psicológicas percepção, atenção e as às interações professor-aluno mediadas
operações sensório-motoras são afetadas pelo uso de tecnologias na EAD. Esse tra-
pelo uso de instrumentos quando rela- balho é um recorte de uma pesquisa re-
cionados à fala, auxiliando no desenvolvi- alizada com professores de EAD de uma
mento das funções psicológicas. A partir universidade privada de Aracaju, SE. As
do entendimento do desenvolvimento entrevistas narrativas e de histórias de
das funções psicológicas, vamos tratar do vida foram gravadas, transcritas e realiza-
uso das tecnologias no desenvolvimento das na própria instituição de ensino. Após
psicológico. Lévy (2007) criou o termo “In- as transcrições construímos o mapa de
teligência coletiva”, onde as inteligências significados para cada professor por meio
individuais são somadas e compartilhadas do qual identificamos e descrevemos os
por toda a sociedade a partir do surgimen- significados construídos a partir das en-
to das novas tecnologias possibilitando trevistas sobre as interações entre Pro-
trocas de conhecimento e aprendizagens fessor-aluno na Educação a Distância. Nas
coletivas. "Ela possibilita a partilha da me- entrevistas os professores nos contaram
mória, da percepção, da imaginação. Isso sobre as novas experiências obtidas nas
resulta na aprendizagem coletiva, troca de relações professor-aluno mediadas pelo
conhecimentos". Só existe “Inteligência uso de tecnologias. Para um deles não há
Coletiva” se houver cooperação compe- como falar da Educação a distância sem
titiva (relacionada às relações sociais) ou comparar com o ensino presencial por
competição cooperativa (relacionada à causa do contato físico, visual existente
liberdade). Fazendo uma relação entre os no presencial. Uma forma de esse contato
conceitos de Vigotski e de Levy utilizados ocorrer na EAD é a partir da maior dedi-
neste trabalho, podemos dizer o seguinte: cação do professor ao aluno, dando mais
o desenvolvimento das funções psicoló- atenção para que ele aprenda, identifican-
gicas superiores pode ocorrer a partir da do e re-significando formas de ser e agir
internalização de aprendizagens, da me- no processo dialógico com o aluno. Tam-
diação semiótica nas interações professor- bém foi narrado sobre o desenvolvimen-
-aluno e o uso de tecnologias interfere no to de relações de afetividades a partir do
processo de desenvolvimento da Zona de uso de emails, chats e fóruns, como nos
Desenvolvimento proximal (ZDP) mediado contou um dos professores que recebeu
pelo professor quando abordamos a EAD. emails de agradecimentos pelo aprendi-
O professor propicia a aquisição de novos zado. Para ele, é um reconhecimento que
conhecimentos ao aluno através de ativi- muitas vezes não acontece no ensino pre-
dades desenvolvidas nos ambientes virtu- sencial. Outro ponto refere-se a melhora

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do desempenho profissional na educação A EAD é realizada por meio de tecnologia


presencial. Isso ocorre devido a maior da informação e da comunicação; com
dedicação prestada ao aluno e a necessi- os sujeitos separados temporal, espacial
dade de melhor planejamento das aulas e fisicamente; com destaque em proces-
na EAD. A consideração do Ambiente Vir- samento de informação, interatividade/
tual como um “ambiente frio” também é interação e produção escrita, entre ou-
central nas narrativas, por isso enfatizam tros (Moore e Kearsley, 2008; Dias e Leite,
maior dedicação ao aluno. Esses discursos 2010; Menezes, 2010). Como qualquer
permeiam o imaginário dos professores processo educacional a EAD tem relação
possibilitando transformação no modo de com fatores de desenvolvimento cogniti-
dedicar-se ao aluno como também, propi- vo, afetivo e social de seus sujeitos. Por
ciam maior interação e afetividade, que é isso, nosso objetivo com este estudo é
tema central abordado pelos professores apontar teoricamente que a Psicologia
na melhoria da relação professor-aluno. pode contribuir com a EAD também inves-
Diante destas narrativas percebemos tigando variáveis de desenvolvimento hu-
que a interação professor-aluno na EAD é mano dos sujeitos que ela atende, em seu
marcada pelo desenvolvimento de novas contexto educacional. Um caminho para
formas de relacionamentos tanto para o isso é analisar o perfil do estudante de
professor como para o aluno. EAD. De acordo com o Censo EAD 2009,
a idade dos alunos na EAD, “concentra-se
Palavras-chave: Interação Professor-aluno, na faixa etária de 25 a 39 anos, a maio-
Inteligência Coletiva, Educação a Distância. ria dos estudantes possui renda média de
Contato: Angelica de Fatima Piovesan, 1 a 10 salários, sendo que o grupo mais
representativo (29%) recebe de 1 a 3 sa-
Universidade Tiradentes, UNIT, Mestranda
lários mínimos mensais” (p. 23). Além dis-
em Educação, bolsista PROSUP CAPES.
so, o Censo EAD 2009 aponta que “apesar
Integrante do Grupo de Estudos GPECS.
de um perfil diversificado, os estudantes
angelicapiovesan@hotmail.com
de EAD não são constituídos por uma
maioria de jovens recém-saídos do ensi-
no médio” (p. 23). Ferreira e Mendonça
LT01-859 - INTER-RELAÇÕES ENTRE
(2007) mostram que a maioria dos alunos
DESENVOLVIMENTO HUMANO
de EAD é de profissionais em atividade
E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA
produtiva, casados, e que buscam a EAD
PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM para aumentarem seus conhecimentos.
Ruben de Oliveira Nascimento - UFU Nesse sentido, “os cursos a distância são
rubenufu@gmail.com uma maneira que as pessoas encontram
de ficarem informadas e ainda assim dis-
A Educação a Distância (EAD) é uma mo- por de tempo para a família, visto que po-
dalidade educacional recente no Brasil, dem acessar os cursos até mesmo de suas
que vem crescendo bastante nos últimos residências” (Ferreira e Mendonça, 2007,
anos. Esse crescimento deve vir acompa- p. 7). O aluno de EAD também precisa “se
nhado de muita pesquisa e discussão so- empenhar em definir horários fixos de
bre seu processo ensino-aprendizagem. estudo em casa e/ou no trabalho para se

58
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dedicar ao curso e ter disciplina para tal” comportamento e que variáveis contex-
(Behar, 2009, p. 26). Pela faixa etária dos tuais influenciam para que se perceba,
alunos, podemos situá-los na fase inicial em um dado momento, a consecução de
da vida adulta (Papalia e Olds, 2000). A algumas como sendo mais viáveis do que
definição de adulto somente pelo fator outras” (p. 162). Motivação é um compo-
idade é uma questão complexa, porque o nente pedagógico fundamental na EAD.
desenvolvimento depende de diversos fa- Paralelo a isso, a Andragogia (ensino de
tores físicos e psicológicos que variam de adultos) considera que os alunos adultos
indivíduo para indivíduo, e entre contex- apreciam ter certo controle e responsabi-
tos socioculturais (Rogoff, 2005; Feldman, lidade pessoal sobre o que está aconte-
Papalia e Olds, 2009). Mas, o fator idade cendo; preferem definir o que é relevante
ajuda a situar estatisticamente os alunos para suas necessidades; preferem tomar
de EAD num determinado momento do decisões sozinhas ou pelo menos serem
desenvolvimento, cujas características consultados; têm muita vivencia e gostam
gerais permitiriam pensar sobre as ou- de utilizá-la no aprendizado; preferem
tras variáveis do perfil. Assim, uma inter- adquirir informações ou conhecimen-
-relação entre EAD, desenvolvimento hu- to relevantes para resolver problemas
mano e aprendizagem, pode ser notada, no presente; geralmente tem motivação
especialmente se tratarmos a EAD como intrínseca para aprender (Moore e Ke-
meio para formação continuada ou atu- arsley, 2008, p. 173-174). Essas caracte-
alização profissional. Abordando forma- rísticas podem ter impacto no processo
ção continuada com alunos adultos, Al- de aprendizagem na EAD, que valoriza
varado Prada (1997) assinala que “o que muito a autonomia do estudante frente
caracteriza as pessoas adultas são suas ao seu programa de formação. Segun-
experiências, sua história de vida, seus do Moore e Kearsley (2008) autonomia
saberes” (p. 76). Papalia e Olds (2000) do aluno de EAD significa que o mesmo
comentam que o aluno adulto costuma deve tomar decisões a respeito de seu
empregar mais a experiência de vida, en- aprendizado, organizando os recursos dis-
riquecendo com isso sua aprendizagem. ponibilizados. Contudo, toda autonomia
Para o aluno adulto no contexto social é relativa. Assim o sistema também tem
atual, a aprendizagem formal continuada responsabilidades com essa autonomia,
“é uma maneira importante de desenvol- e compreender aspectos relacionados ao
vimento de seu potencial, bem como de desenvolvimento humano e à aprendiza-
acompanhar as mudanças no mundo do gem, contribui nesse sentido. Em termos
trabalho” (Papalia e Olds, 2000, p. 453). de psicologia da aprendizagem, Brans-
Assim, o aluno de EAD, adulto, trabalha- ford, Brown e Cocking (2007) mostram
dor, casado, tem prerrogativas pessoais e que conhecimentos, habilidades, crenças
sociais que podem representar boa parte e conceitos prévios influenciam o modo
de sua motivação para os estudos e o que como se percebe um ambiente educa-
espera deles. Segundo Tapia e Garcia- cional e a organização do conhecimento.
-Celay (1996), a motivação na aprendiza- Essas questões afetam as “capacidades de
gem envolve “que tipo de metas os alunos recordação, raciocínio, solução de proble-
perseguem, de que modo influem em seu mas e aquisição de novo conhecimento”

59
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(Bransford, Brown e Cocking, 2007, p. 27), CO 31 - LT4


de modo que aprender é mudar. Carvalho
(1996) também mostra que desenvolver é
Cognição e Aprendizagem
mudar. O adulto continua seu processo de
desenvolvimento, aprendendo, vivendo LT04-723 - INVESTIGANDO O
mudanças e estabelecendo metas e possi- DESENVOLVIMENTO SOCIOCOGNITIVO
bilidades. A EAD deve assimilar essas dis- INFANTIL
cussões ao seu contexto educacional, mas
Jaqueline Pereira Dias - USP
não para simplesmente adequar o aluno
jaquepdias@gmail.com
ao seu processo pedagógico. Segundo
Edna Maria Marturano - USP
Vigotski (2003) a educação não deve so-
emmartur@fmrp.usp.br
mente comunicar hábitos e conhecimen-
tos, mas promover a “formação de vários Financiamento: CAPES
vínculos novos dentro de um sistema de
comportamento previamente forma- O desenvolvimento sociocognitivo com-
do” (Vigotski, 2003, p. 82). Para Vigotski preende o conhecimento sobre o mundo
(2003), “deve-se considerar como carac- social; o pensar sobre as pessoas, o que
terística da educação o momento de não- elas fazem ou deveriam fazer e como elas
-consolidação, de fluidez do crescimento se sentem. (Rodrigues & Tavares, 2009) De
e de mudanças originais no indivíduo” acordo com Bee (2003) tais conhecimen-
(p. 82). Assim, defendemos que na EAD tos envolvem processos e mecanismos da
deve-se promover uma “aprendizagem cognição social. A referida autora ressalta
que passa à frente do desenvolvimento que a compreensão da criança em relação
e o conduz” (Vigotski, 2001, p. 332). Essa a ela mesma, as pessoas e os seus rela-
perspectiva pode ajudar na discussão cionamentos sociais reflete ou baseia-se
dos modelos de formação em EAD. Neste em seu desenvolvimento cognitivo geral.
trabalho consideramos alguns aspectos Para tanto, aponta que a criança mais jo-
gerais da vida adulta que não esgotam a vem direciona-se sua atenção a caracte-
discussão colocada, porém, indicam que rísticas externas das situações, enquanto
o processo de aprendizagem na EAD tem, as crianças com mais idade buscam as
em especial, uma inter-relação com fa- causas (princípios internos); as crianças
tores do desenvolvimento humano a ser pequenas tiram conclusões por meio de
considerada pedagogicamente em seu suas observações, enquanto as crianças
contexto educacional. mais velhas já são capazes de realizar
inferências. Tais dimensões de mudança
Palavras-chave: Aprendizagem, caracterizam, também, um desenvolvi-
Desenvolvimento, Educação a Distância. mento natural da cognição social (Bee,
2003). Segundo Fenning, Bake e Juvonen
(2011) para se investigar a cognição social
teóricos da área recorrem ao modelo do
processamento da informação social, que
esclarece como as informações são pro-
cessadas e organizadas em uma situação

60
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

social. O modelo que tem evidenciado da história. Para a seleção das perguntas
mais resultados empíricos é o de Dodge mais pertinentes a investigação realizou-
e Crick (1994); por meio do modelo em -se uma análise textual e das ilustrações
questão é possível compreender como a do livro selecionado para o levantamento
informação social se processa. dos indicadores verbais e visuais de pistas
sociais, internas e externas, em cada pá-
Teglasi e Rothman (2001) aplicaram o gina. Com base nessa análise, as pergun-
modelo à exploração do conteúdo de his- tas para a sondagem sociocognitiva foram
tórias infantis, com base em seis passos organizadas em categorias de acordo com
mentais que se expressam nas seguintes os seis componentes propostos por Tegla-
questões: - o que está acontecendo? - o si e Rothman (2001). Sendo assim, tem-se
que os personagens estão pensando e 23 itens investigando o que está aconte-
sentindo? - quais são as intenções e me- cendo; 24 itens investigando o que os per-
tas dos personagens? - o que os persona- sonagens estão pensando e sentindo 12
gens alcançam com suas ações? - como os itens investigando as metas e intenções
personagens executam e monitoram seus dos personagens; 6 itens para o que os
comportamentos? - quais as lições apren- personagens alcançam com suas ações;
didas? No presente estudo, os seis passos 12 itens para como os personagens exe-
do processamento da informação social cutam e monitoram seus comportamen-
propostos por esses autores são empre- tos; e 3 itens para as lições aprendidas.
gados para avaliar o desenvolvimento Para a investigação propriamente dita,
sociocognitivo de crianças. Seu objetivo cada criança era retirada, individualmen-
é verificar se há diferenças desenvolvi- te, da sala de aula e participava da leitura-
mentais na qualidade das respostas de -dialogada da história com base no rotei-
crianças pré-escolares e escolares, ao se- ro de perguntas. A avaliação, com dura-
rem questionadas, com as seis perguntas ção média de 20 minutos, era gravada e
exploratórias, sobre uma história infantil posteriormente transcrita para a análise
rica em pistas sociais. Método – Sujeitos de dados. Após todas as avaliações trans-
- Participaram do estudo 49 crianças, 19 critas, realizou-se uma junção de todas as
crianças de 5-6 anos, pertencentes a uma respostas a cada item, tanto para crianças
escola de educação infantil e 30 crianças de 5-6 anos quanto para crianças de 8-9
de 8-9 anos, pertencentes a uma escola anos. As respostas foram organizadas em
de ensino fundamental. Ambas as esco- níveis de reflexão sócio-cognitiva estabe-
las são de rede pública e situam-se em lecidos por três juízes mediante consen-
uma cidade do interior de Minas Gerais. so. Resultados - Para o componente o que
Materiais e procedimentos - Para a inves- está acontecendo? Em que a investigação
tigação sociocognitiva selecionou-se um direciona-se para a codificação e interpre-
livro de história infantil, rico em pistas tação das pistas sociais, nota-se que as
sociais, pertencente à pesquisa de Rodri- crianças de 8-9 anos captam mais pistas
gues e cols. (2007). A fim de sistematizar se comparadas às crianças de 5-6 anos.
a investigação foi elaborado um roteiro de Estas últimas também são capazes de de-
aplicação, estruturado em 80 perguntas, codificar pistas e algumas delas apresen-
que visa explorar e discutir o conteúdo tam respostas ricas em detalhes, no en-

61
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tanto as crianças de 8-9 anos destacam- corrobora a afirmação de Bee (2003) de


-se na qualidade da respostas. A referida que crianças pequenas se prendem a ob-
observação vai ao encontro das informa- servações e crianças mais velhas já estão
ções apontadas por Bee (2003) em que o aptas a realizarem inferências.
pensar na infância altera-se com o desen-
O roteiro de investigação se mostrou sen-
volvimento. Em relação ao componente
sível para a avaliação sociocognitiva. As
o que os personagens estão pensando e
crianças mostraram-se interessadas pela
sentindo? Nota-se que as crianças peque-
história e os resultados encontrados são
nas apresentam um vocabulário restrito
corroborados pela literatura do desenvol-
de nomeação de sentimentos. Além disso,
vimento infantil.
em algumas situações tais crianças fazem
referência a uma situação e não a um sen-
Palavras-chave: desenvolvimento
timento; já as crianças mais velhas, de um
sociocognitivo; infância, história infantis.
modo geral, são capazes de nomear senti-
mentos e discriminá-los coerentemente a
historia. Ao investigar metas e intenções,
terceiro componente, observa-se que as LT04-970 - GRUPOS DE CONVIVÊNCIA:
crianças mais velhas apresentam respos- RELAÇÃO ENTRE CONCEITOS
tas mais completas, no entanto as crian- COTIDIANOS E CIENTÍFICOS
ças pequenas são capazes de identificar Camila Lima Nascimento - UNICAMP
corretamente a meta/intenção presente camifono@fcm.unicamp.br
na cena. Ao se explorar a elaboração de Cecília Guarnieri Batista - UNICAMP
alternativas de resolução de problemas cecigb@fcm.unicamp.br
para o personagem, as crianças mais ve-
lhas apresentam soluções mais conse- O processo de desenvolvimento infantil,
quenciadas. Para a investigação de resul- mais especificamente, referente a crian-
tados alcançados, quarto componente, e ças com queixas de alterações no desen-
monitoramento e execução de compor- volvimento e/ou dificuldades escolares,
tamentos, quinto componente, muitas pode sofrer influências negativas, advin-
das crianças, incluindo ambas as idades, das dos efeitos das repetidas histórias de
compreendiam o que estava sendo ques- fracasso nas tarefas educacionais. Uma
tionado, porém as crianças mais velhas das possibilidades de redução desses
apresentaram respostas mais detalha- problemas é a participação da criança
das, apontando maior compreensão. Em em projetos de educação não formal, em
relação ao último componente, quais as grupos de convivência. Essa participação
lições aprendidas, observa-se que a maio- pode favorecer interações em que predo-
ria das crianças mais velhas foi capaz de minem momentos de aquisição e troca
compreender a história como um todo, de experiências entre os participantes,
extraindo lições pertinentes do livro. Já as permitindo a exploração de capacidades
crianças mais novas, geralmente, ficaram e o desenvolvimento de competências
presas aos acontecimentos da história, com diferentes propostas, como projetos
não sendo capazes de extrair as lições e voltados para a formação de conceitos.
transpô-las para a vida cotidiana. Tal fato Cavalcanti (2005) destaca a formação de

62
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conceitos como sendo um processo cria- sobre formação de conceitos, realizado


tivo, que se orienta para a solução de pro- com crianças que apresentam dificulda-
blemas e que depende, fundamentalmen- des escolares em grupos de educação
te, da experiência, na qual a apropriação não formal, buscando identificar exem-
de significados depende do contexto, da plos de apropriação de conceitos científi-
atividade e da participação do indivíduo. cos, com base na análise da dinâmica das
Oliveira, Chaves e Alves (2006) afirmam interações entre adultos e crianças. Os
que a formação de conceitos depende de dados apresentados foram selecionados
um movimento coletivo, trazendo a im- do conjunto de filmagens das atividades
portância do contexto grupal, com flexibi- desenvolvidas em grupos de convivência,
lidade nas atividades propostas, baseada constituídos por crianças com queixas de
na percepção dos comportamentos e co- dificuldades escolares e, a maioria, com
nhecimentos trazidos pelos participantes. diagnósticos de alterações orgânicas no
Vygotsky diferencia os conceitos aprendi- desenvolvimento. Os encontros eram se-
dos nas interações cotidianas (cotidianos) manais, realizados em um serviço de saú-
daqueles adquiridos no contexto escolar de de uma universidade pública, com du-
(científicos) e os relaciona, afirmando que ração de 60 minutos, sendo coordenados
os cotidianos conferem sentido aos cientí- por uma equipe envolvendo docentes e
ficos, por terem significados emocionais e estudantes de pós-graduação. A atividade
pessoais (Van der Veer & Valsiner, 2001). dos grupos era fundamentada em propos-
Dessa forma, fundamenta as afirmações ta de educação não-formal, envolvendo o
segundo as quais a formação de concei- desenvolvimento de projetos temáticos
tos pode ser facilitada por um contexto de (Batista & Laplane, 2007). Participaram do
grupo em que adultos encorajem o esta- estudo quatro crianças com faixa etária
belecimento de relações entre vivências entre doze e catorze anos, matriculadas
do cotidiano e conhecimentos formais. em escolas regulares. O projeto foi apro-
Gerhardt (2010) destaca dois aspectos vado por Comitê de Ética, e os pais assi-
relacionados ao processo de formação de naram um Termo de Consentimento Livre
conceitos: o descolamento da realidade e Esclarecido. A coleta de dados consistiu
imediata e a articulação entre conceitos. na transcrição das sessões do estudo dos
Para a autora, o aprendizado consiste na Solos, que foi parte do projeto temático
formação de um espaço emergente, re- “Geografia do Brasil”, das quais foram re-
sultante do encontro dos processos in- cortados episódios significativos (Pedrosa
dividuais e ambientais em um momento & Carvalho, 2005). As sessões envolveram
único. O processo de aprendizado deve demonstrações práticas, aula teórica com
ser apresentado como uma realidade especialistas, estudo de campo, jogos de
a ser construída (envolvendo conceitos tabuleiro com tarefas relacionadas aos
científicos), baseada nas realidades já conteúdos apresentados, atividades de
conhecidas (conceito cotidianos), permi- leitura e escrita permeadas por diálogos,
tindo que ambas as realidades sejam per- incentivando os relatos das crianças par-
cebidas e conceptualizadas pelo sujeito ticipantes, cujos nomes apresentados são
em desenvolvimento. O objetivo do pre- fictícios. A análise consistiu no levanta-
sente trabalho é apresentar um estudo mento dos conhecimentos que as crian-

63
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ças já tinham previamente e dos indica- tribuir para a articulação entre diferentes
dores de apropriação de conhecimentos eventos, todos relacionados aos “danos
pelas crianças, buscando problematizar a ao solo”, tendo o adulto atuado de forma
identificação de articulação de conceitos a propiciar essa busca de articulação. Os
e descolamento da realidade imediata, episódios analisados permitiram identifi-
na construção de conceitos cotidianos e car exemplos de apropriação de conceitos
científicos. Como parte dos resultados, científicos pelas crianças, muitas vezes,
um dos episódios do estudo é apresenta- enunciados de forma não canônica e rela-
do para exemplificar a análise realizada, o cionados a conceitos cotidianos. A partir
Episódio 3-3, em que o adulto apresenta dos estudos apresentados foram permi-
questões relacionadas a noções já apre- tidas reflexões acerca das competências
sentadas. e capacidades das crianças participan-
Cecília (ad): O que estraga o solo? tes. Observou-se que a apropriação dos
conceitos nem sempre é completa, mas,
Evandro: Produtos químicos, matadores foram evidenciadas construções e apro-
de insetos artificiais. priações por parte das crianças, sendo
Camila explica o perigo dos pesticidas e que cada criança apresentou sua própria
agrotóxicos e continua as perguntas. maneira de demonstrar a apropriação de
um conceito. A participação dos adultos
Camila (ad): Por exemplo, quando chove mostrou-se importante, uma vez que as
muito e não tem planta em cima? O que crianças apoiaram-se, constantemente,
acontece com o solo? nas relações por eles apresentadas entre
Tamara: Entra dentro. (referindo-se ao as experiências cotidianas e os conceitos
deslocamento do solo) apresentados, durante o processo de ela-
boração de conceitos. Desta forma, os da-
Camila (ad): A professora mostrou uma
dos indicaram capacidades e competên-
foto, vocês lembram? O que aconteceu
cias nas crianças participantes, cada uma
com a estrada que estava em cima do
a seu modo. Foi possível, assim, evitar a
solo?
cristalização de incapacidades e queixas,
Tamara: Rachou. possibilitando mudanças significativas
nas formas de lidar com o aprendizado da
Celso: Rachou.
criança e contribuindo para o seu desen-
Nesse episódio, o adulto retoma uma per- volvimento.
gunta apresentada duas aulas antes (1).
Evandro responde com elementos não Palavras-chave: desenvolvimento humano,
apresentados em aula (2). O adulto ex- necessidades especiais, grupos de
pande a resposta e detalha mais a pergun- convivência
ta inicial (3). Tamara inicia a resposta (4) Contato: Cecília Guarnieri Batista, UNICAMP,
e o adulto concorda e completa, fazendo cecigb@fcm.unicamp.br
referência à aula expositiva (5). Então, Ta-
mara (6) e Celso (7) respondem, apropria-
damente. Considera-se que, no episódio,
as crianças participaram de forma a con-

64
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1319 - INFLUÊNCIAS DO AMBIENTE Ambiental o campo da ciência psicológica


NA PERCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM cujo foco de estudo é a influência do am-
NUMA SALA DE AULA DE IDIOMAS: biente na subjetividade e comportamento
BREVES CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE humanos (Moser, 1998; Sager, Sperb, Roa-
UMA INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA zzi & Martins; 2003), compreende-se que
AMBIENTAL ela surge enquanto possibilidade de com-
Rodolfo Luís Leite Batista - UFSJ preensão da realidade de ensino-aprendi-
rodolfo_rllb@hotmail.com zagem nas salas de aula de LE. Compreen-
Aliene Cássia Carvalho Gonçalves - UFSJ dendo que cada ambiente pode oferecer
alienecassia@hotmail.com variados aspectos de influências ao com-
Tatiane Rose Oliveira de Mendonça - UFSJ portamento humano (iluminação, tempe-
tatianerose@yahoo.com.br ratura, ruídos, sensação de aglomeração e
Larissa Marinho Medeiros dos Santos - apinhamento, por exemplo), optou-se por
DPSIC/UFSJ investigar a percepção dos alunos sobre a
larissa@ufsj.edu.br influência do ambiente em sua aprendiza-
gem de uma língua estrangeira. Segundo
É apresentado o estudo de caso acerca da Tuan (1980), o estudo da percepção per-
influência causada pelo ambiente na per- mite compreender a ambiência, uma vez
cepção de aprendizagem de uma língua que elas envolvem características individu-
estrangeira – LE – entre os alunos de um ais – que variam conforme a idade, sexo,
projeto de extensão do Departamento de gênero e história de vida – e relacionadas
Letras, Artes e Cultura da Universidade Fe- à situação investigada. O processo de co-
deral de São João del-Rei (DELAC/UFSJ). Os leta de dados foi dividido em três grandes
trabalhos foram conduzidos pelos autores etapas: assinatura do Termo de Consen-
durante o primeiro semestre de 2011 e timento Livre e Esclarecido, uma série de
apontam novas possibilidades de compre- observações e aplicação de um questioná-
ensão acerca de uma sala de ensino de LE rio semiestruturado. As aulas observadas
a partir dos conhecimentos provenientes classificadas da seguinte maneira: a) aulas
da Psicologia Ambiental. Tal estudo objeti- expositivas e com carteiras dispostas em
vou investigar a influência do ambiente em fila (consideradas como de situação na-
uma sala de ensino de idiomas mediante tural e utilizadas como base para compa-
a realização de modificações acarretadas rações); b) aula com atividades realizadas
pelo uso de multimídias e modificações na em duplas; c) aula com utilização de mídia
disposição física da sala, principalmente, o auditiva na língua estrangeira; d) aula com
posicionamento do professor e a disposi- audição de música; e) aula com atividade
ção das cadeiras. Assim, buscou-se iden- realizada em círculo sem uso de multimí-
tificar a importância de diferentes meios dia; f) aula em semicírculo, e g) aula com
didáticos para aprendizagem de uma lín- uso de vídeos. As observações foram reali-
gua estrangeira na percepção dos próprios zadas com foco na participação dos alunos,
alunos. Foi realizada breve revisão de lite- sendo contabilizadas as interações entre
ratura que pudesse amparar as modifica- aluno-aluno, aluno-professor e professor-
ções realizadas e subsidiar teoricamente o -aluno com utilização da LE. Cada sessão
trabalho desenvolvido. Sendo a Psicologia durou noventa minutos, período de dura-

65
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção da aula. A aplicação do questionário tecnológicos na sala de idiomas, criando


se fez após a realização da série de oito a possibilidade da interação em situação
observações, sendo ele construído ten- real de comunicação (Tondelli et al., 2005).
do em vista que o ambiente é vivenciado Portanto, hoje o ensino-aprendizagem não
como campo unitário que se dá abaixo do é um evento que dá primazia à figura do
nível de consciência, isto é, nem sempre é professor ou dos livros do mestre (Miccoli,
experienciado de modo que o percebamos. 2010). No entanto, o uso de multimídias
O questionário foi composto de doze itens, ou modificações no ambiente da sala de
aos quais os voluntários deveriam pontuar aula não pode ser utilizado de modo arbi-
em uma escala crescente de um a doze, in- trário. Desta forma, Miccoli (2010) afirma
dicando as alterações que mais afetaram que para que o professor atue como facili-
seu processo de ensino-aprendizagem. tador no processo de aprendizagem é ne-
Ao serem retomadas as discussões acerca cessário que ele conheça seus alunos e os
do processo de ensino-aprendizagem de diferentes métodos para definir o melhor
LE, deve ser ressaltado que tal processo caminho a ser trilhado. O domínio da lín-
se constitui como uma relação dinâmica gua estrangeira se fará de modo gradual,
e dialógica, ou seja, um acontecimento passando por um processo de refinamento
inédito a cada instante, que se modifica até a obtenção da fluência ambicionada.
constantemente e é marcado pela intera- Ao final do trabalho empreendido, aponta-
ção de duas vias. Professores e alunos en- -se que, de maneira geral, os alunos consi-
tram em contato ao abordarem o conhe- deraram a audição de mídias na língua es-
cimento. Enquanto relação, o processo de trangeira e conversação como os aspectos
ensino-aprendizagem se revela como um mais influentes na aprendizagem; aspectos
processo de natureza complexa, marcado referentes ao ambiente físico não foram
pela afetividade e pela motivação, que mencionados como influências importan-
precisa ser compreendido uma vez que tes na sala de aula; mudanças na ocupação
repercute no desenvolvimento dos indiví- do espaço físico da sala não influenciaram
duos (Miccoli, 2010). Já quanto ao uso de na interação nas categorias consideradas.
multimídias nas salas de idiomas, Tondelli, Considera-se que a fim de otimizar o pro-
Francisco, Reis e Sousa (2005) afirmam cesso, cabe ao professor oferecer diferen-
que seu uso é recente. Desta forma, gra- tes oportunidades de aprendizagem aos
dativamente, a utilização de recursos didá- seus alunos. Portanto, é importante que
ticos que não a tríade lousa-livro-giz vem haja uma integração dos meios disponí-
sendo substituída: os exercícios orais de veis, com atividades que sejam do interes-
repetição foram abandonados em função se dos alunos e que se aliem às técnicas
de uma abordagem comunicativa, pautada pedagógicas, para a obtenção de um am-
pelo ensino de quatro habilidades – escu- biente propício ao ensino-aprendizagem.
ta, fala, leitura e escrita – e com foco na
interação entre professor e alunos na sala Palavras-chave: Psicologia Ambiental, Ensino
de aula através de trabalhos em duplas ou de Língua Estrangeira, Sala de aula.
em grupos e situações simuladas com uso Contato: Rodolfo Luís Leite Batista,
da LE. Esse avanço culminou com o uso do Universidade Federal de São João Del Rei,
computador e da internet como recursos rodolfo_rllb@hotmail.com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1326 - A ESCOLARIZAÇÃO sucessivas, desistências e transferências e


NO CONTEXTO DAS MEDIDAS pelo analfabetismo funcional (Lopes, 2006;
SOCIOEDUCATIVAS: POTENCIALIDADE DE Baquero e Santos, 2008; Rodrigues, 2008;
PROMOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Yokoy de Souza, 2008). O cenário atual exi-
Tatiana Yokoy de Souza - UnB ge mudanças relativas aos valores que cir-
tatiana.yokoy@gmail.com culam nas escolas sobre adolescência, vio-
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB lência, cultura e vulnerabilidades; valores
claudia@unb.br longa e fortemente arraigados na cultura
escolar brasileira; valores que expressam
O Estatuto da Criança e do Adolescen- uma visão depreciativa da adolescência e
te (ECA), acompanhando a Constituição preconceituosa em relação à população
Federal do Brasil no que tange ao direito que mora na periferia. Estes adolescentes
universal de crianças e adolescentes à edu- sofrem discriminações de diversas fontes
cação, determina o oferecimento de esco- no ambiente escolar, seja por parte dos
larização aos jovens que cumprem medi- professores, dos demais estudantes e/ou
das socioeducativas. No entanto, a conju- por funcionários, por conta do sentimento
gação entre reparação do dano, promoção de insegurança que geram na escola (Bran-
de desenvolvimento, educação escolar e calhão, 2003; Martins, Catozzi, Sayegh e
profissionalização, objetivos que estão no Bariani, 2005; Abramovay, Cunha e Calaf,
cerne do atendimento aos jovens autores 2009). Esse estereótipo negativo reduz o
de ato infracional, envolve uma relação adolescente à infração anteriormente co-
complexa. O objetivo desse ensaio é susci- metida, coisificando-o a uma essência ma-
tar reflexões sobre o processo de inclusão léfica, agressiva e imoral. A escola também
escolar de adolescentes em cumprimento não se mostra preparada para abordar
de medidas socioeducativas, marcado por algumas das questões que são específicas
inúmeras contradições. Por um lado, exis- do universo adolescente, tratando-as, por
tem diversas iniciativas pedagógicas orien- vezes, com grande inadequação. Temas
tadas para a inclusão escolar desses ado- como sexualidade, drogas, grupos e cul-
lescentes, pautadas em parâmetros afilia- tura juvenil pouco se convertem em tópi-
dos à cultura da paz, como a pluralidade; cos da cultura escolar. Segundo Rodrigues
a solidariedade; a negociação para tomar (2008), os adolescentes em conflito com a
decisões; o acolhimento; o diálogo; a jus- lei se encontram excluídos DA e NA escola.
tiça social; a autonomia; a reflexividade; e Excluídos DA escola, quando os diretores
a troca de experiências, por exemplo. Por e professores buscam a expulsão clara e
outro lado, ainda predominam ações esco- aberta dos adolescentes da instituição. Ex-
lares que reproduzem valores excludentes, cluídos NA escola, quando a exclusão se di-
repressores e totalizantes. A concretização lui ao longo do tempo, dando a impressão
do direito à escolarização compulsória no de que os adolescentes estariam incluídos
contexto das medidas socioeducativas es- na escola, mas apenas permanecem ma-
barra em fatores presentes nas experiên- triculados, reprovando e sem encontrar
cias escolares prévias. Estas costumam ser ali sentido. A escola funcionaria como uma
marcadas pela frustração, pela repetição, instituição de exclusão (Santos, 2006) para
pela descontinuidade, por reprovações esses adolescentes, que nutre preconcei-

67
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos sobre quem cometeu infração, que ria de marginalização dos adolescentes. A
potencializa a exclusão socioeconômica e escolarização pode colaborar na ruptura
cultural e que inibe a ressocialização des- da trajetória infracional, ao passo que se
ses adolescentes. Os próprios professores associa com a redução da severidade das
que trabalham com adolescentes autores infrações, do uso de armas e de drogas
de ato infracional em escolas regulares (Gallo e Williams, 2008). Assim sendo, é
sentem-se excluídos da sua categoria pro- importante que o sistema educacional
fissional bem como sofrem com o contato acolha os adolescentes infratores, ao invés
diário com a exclusão social, com as precá- de expulsá-los. Oliveira (2003) e Baquero
rias condições de trabalho e com abando- e Santos (2008) afirmam a necessidade de
no do ambiente escolar. Sofrem preconcei- “socioeducar a escola”, flexibilizando o for-
tos por atuarem com adolescentes infrato- malismo dos processos educativos susten-
res e seus trabalhos não são reconhecidos tados por preconceitos contra as classes
como pedagogicamente relevantes (Cella, populares da história da educação brasilei-
2007; Cella e Camargo, 2009). No caso das ra; preconceitos que se tornam mais explí-
escolas que ficam dentro das unidades de citos junto aos adolescentes que cumprem
internação, a disciplina dos demais am- medida socioeducativas. Ademais, a es-
bientes é imposta ao ambiente escolar, por colarização é um direito dos adolescentes
exemplo, por meio da alteração repentina que cumprem medidas socioeducativas
de horários e pela não condução de alu- que demanda a articulação do sistema so-
nos da ala/alojamentos à escola, conforme cioeducativo com outros pontos da rede
analisado por Roman (2009) em São Pau- de Garantia de Direitos dos adolescentes,
lo; por Oliveira (2003) e Santos (2006) no por exemplo, entre instituições escolares
Rio de Janeiro; e no Distrito Federal por e profissionalizantes, Conselhos Tutelares,
Silva, Monteiro, Lima e Ferreira (2005) e famílias e as comunidades das quais o ado-
Abramovay (2008). No entanto, algumas lescente participa, segundo os princípios
experiências nas escolas contradizem es- da incompletude institucional e da inter-
sas mesmas concepções negativas sobre setorialidade do ECA. Existe a necessidade
os adolescentes que cumprem medidas de acolher e incluir socialmente, pedago-
socioeducativas (Abramovay, Cunha e Ca- gicamente e afetivamente os adolescentes
laf, 2009). Muitos desses jovens de esfor- que cumprem medidas socioeducativas
çam para aprender e tratam os professo- nas escolas; avançar além da matrícula, da
res com respeito, mesmo quando faltam verificação de freqüência às aulas e da pre-
muito à escola. Muitos adolescentes inter- paração instrumental de mão de obra para
nados, por exemplo, no contexto escolar, o mercado de trabalho. A escola precisa se
pedem contatos de qualidade, afeição e reformular para funcionar como importan-
investimento em sua capacidade de apren- te espaço de desenvolvimento subjetivo,
der (Roman, 2009). Dessa forma, é possí- interpessoal, afetivo, cultural, profissional
vel emergirem severos questionamentos e cidadão dos adolescentes. Ademais, en-
sobre o lugar da escola na inclusão social tendemos que a escola precisa assumir sua
e escolar dos adolescentes autores de ato co-responsabilidade no processo de inclu-
infracional, considerando que ela não tem são escolar e social dos adolescentes que
conseguido promover rupturas da trajetó- cumprem medidas socioeducativas, a fim

68
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de favorecer a construção de novas traje- suporte para uma aprendizagem motiva-


tórias de vida desvinculadas da infração e dora, que integra no ato de aprender cog-
colaborar na construção de um projeto de nição, afetos e sentidos. Consideraremos
sociedade inclusiva e na garantia dos direi- “jogo” toda e qualquer atividade lúdica, já
tos dos adolescentes. que, segundo Piaget (1965), uma ação não
é necessariamente lúdica ou adaptativa
Palavras-chave: medidas socioeducativas, em sua origem, mas qualquer ação pode
desenvolvimento humano, inclusão escolar. transformar-se em jogo. Por outra parte,
as exercitações fortes ou repetidas deixam
“pegadas” no funcionamento cerebral que
LT04-1341 - EXPERIÊNCIAS DE facilitam a conservação dessas experiên-
APRENDIZAGEM EM PSICOLOGIA DO cias e facilitam sua reiteração (Vigotski,
DESENVOLVIMENTO 2000). Nesse sentido, as práticas lúdicas
Adriana Mabel Fresquet - UFRJ no ensino superior não apenas ativam efe-
adrifres@uol.com.br tivamente a memória, mas a imaginação,
Sabryna Raychtock - UFRJ propiciando o estabelecimento de rela-
sabrynar@gmail.com ções e transferências. Segundo Macedo
Denise Lopes Polonio - UFRJ (2009), os jogos podem favorecer obser-
de.polonio@yahoo.com.br vações e possibilitar análises, promoven-
Monique Maiques Rezende - UFRJ do processos favoráveis ao desenvolvi-
moniquemaiques@yahoo.com.br mento e aprendizagem de competências
Bruno José de Pontes - UFRJ e habilidades diante novos conteúdos que
brunojpontes@hotmail.com venham aprender. Para ele o jogo é uma
experiência vivida que pode ser refletida,
O presente trabalho tem por objetivo já que envolve uma lógica (jogar bem) e
apresentar e analisar experiências produ- uma ética (proceder bem). Na brincadeira,
zidas da utilização de jogos e atividades o prazer de construir e o de destruir são
lúdicas no Ensino Superior, criadas na dis- idênticos, permitindo que o sujeito recons-
ciplina “Psicologia da Educação” presente trua o aprendizado à sua maneira, já que o
nos currículos dos cursos de licenciatura, insight ocorre de maneiras diferentes para
com o objetivo de ampliar informações, cada um (Lacombe e Lacombe, 2002), o
dinamizar a didática e favorecer a apro- que nos remete à possibilidade de o alu-
priação e transferência dos conteúdos no encontrar no jogo em sala de aula, um
estudados. A origem do termo “lúdico” lugar do aprender e desaprender, abrindo
está associada às brincadeiras, aos jogos espaço para que possa reaprender com
de regras, à recreação, teatro, competi- esta experiência. Tratou-se de uma aposta:
ções, etc. A "educação lúdica" se dá quan- os jogos permitiriam momentos de trânsi-
do as práticas pedagógicas desafiam com to pelos textos estabelecendo relações
criatividade a curiosidade e o desejo de entre conceitos, facilitando a ponte entre
conhecer propiciando certa fruição na ex- textos de iniciação e as fontes dos autores
periência de aprender. Justificamos o uso estudados. O presente trabalho pesquisa
de brinquedos, jogos e materiais didáticos duas turmas de Psicologia de Educação da
que valorizam a cultura audiovisual, como Licenciatura da UFRJ, no campus da Praia

69
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Vermelha, durante o primeiro semestre de o dia e horário em que as aulas foram ofe-
2011. Ele consiste em comparar as ativi- recidas; em relação aos alunos e também
dades desenvolvidas em cada turma com aos mediadores da atividade, os cursos de
alunos de diversos cursos. As aulas cuja origem dos licenciandos e sua relação e
turma foi intitulada Turma A, aconteceram envolvimento com a temática e o tipo de
às quartas-feiras, no horário noturno. As atividade proposta; a faixa etária; o grau
aulas cujo grupo foi intitulado Turma B, de interesse demonstrado; o tipo de dis-
aconteceram às sextas-feiras, de manhã. cussão suscitada a partir das atividades; a
Como recursos, criamos materiais e ativi- receptividade; as transferências de concei-
dades lúdicas variando entre: tabuleiros e tos evidenciando algumas aprendizagens e
jogos de cartas com perguntas e respostas. os imprevistos que surgiram tanto no pla-
Em algumas atividades introduzimos o ele- nejamento quanto na aplicação dos jogos
mento “tempo” como um fator de compe- e a maneira com que foram solucionados.
tição (determinado por uma ampulheta); Como resultado preliminar, consideramos
e o de cooperação, abrindo a participação que suscitamos nos alunos maior interes-
individual ou de pequenos grupos para se pela disciplina e um maior registro dos
consulta do grupo em algumas tarefas. O conceitos centrais de cada tema estudado,
elemento sorte/azar ajudou a dividir gru- favorecendo a articulação da aprendiza-
pos e em alguns jogos trouxe emoção no gem das teorias de psicologia da educa-
desvio arbitrário para avançar ou retro- ção. O processo facilitou a identificação
ceder nos tabuleiros. Algumas atividades de conceitos para transitar o programa
colocavam em relação textos e imagens comparando as propostas dos diferentes
(fotografias e filmes ou trechos de filmes autores, atravessando as teorias. De algu-
– em particular dois: O Garoto Selvagem ma maneira, os jogos promoveram a capa-
e O Senhor das Moscas). À Turma A, avi- cidade de estabelecer relações e geraram
samos sempre com antecedência sobre respostas e propostas criativas, apelando à
a temática, enfatizando a importância sensibilidade dos futuros professores. Não
das leituras sugeridas, oferecendo dicas encontramos referencias teóricos específi-
para a preparação dos alunos, enquanto cos que abordem o uso de jogos no ensi-
à Turma B apenas indicamos a leitura su- no superior. Entendemos que a dimensão
gerida, sem dar ênfases ou oferecer dicas do lúdico não deve ser limitada pela faixa
de qualquer natureza. Pretendemos, com etária, já que a imaginação e criatividade
isso, manter um “grupo-controle” para, são qualidades essenciais em qualquer
em nossas análises, comparar a importân- meio profissional, especialmente nas
cia da preparação prévia na aquisição de áreas de atuação de professores e peda-
resultados satisfatórios na aprendizagem. gogos. Acreditamos que a emoção provo-
Os registros foram realizados em cadernos cada pela experiência lúdica é uma forma
de campo e em algumas sessões com fil- de aprender, incluindo um pouco mais o
magem e fotografias. Das leituras reitera- corpo e seus sentidos no ato de aprender.
das dos registros, conseguimos identificar Para além dos benefícios que os jogos tem
algumas categorias que parecem emergir trazido para a aprendizagem da psicolo-
como indicadores de aprendizagem. Leva- gia da educação, “brincar” como gesto de
mos em consideração, em nossas análises: aprendizagem no Ensino Superior restaura

70
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

algo da infância dos alunos e professores. vezes positiva ou negativa, relacionando-


Com isso, estimamos seja possível ativar -se com a noção de civilização. O conceito
algumas sensações próprias da memó- de civilização remetia ao que era civil com-
ria e da imaginação infantil adormecidas. posto de uma ordem social com homens
Segundo Walter Benjamin (2005), a lei su- educados e polidos, e consequentemente
prema do jogo é a repetição e aprender é adotou em sua definição aspectos do de-
repetir sempre, de novo!, de novo! Como senvolvimento histórico ocidental equiva-
dizem as crianças. Ao mesmo tempo é um lente a progresso. Desde então, a noção de
repetir, repetir, até fazer diferente – como cultura e civilização aparecem mesclando-
acredita Manoel de Barros, o poeta. Para -se e significando aspectos do desenvol-
Benjamim as crianças inventaram o pri- vimento material da sociedade moderna
meiro brinquedo ao tratar de modo irre- ocidental. Nesse contexto, ocorre uma
verente o objeto sagrado de proteção dos distinção entre matéria e espírito contrária
maus espíritos, e assim surgiu o chocalho. ao pensamento greco-romano, que busca-
São elas, também as que quebram os brin- va uma harmonia cósmica com o mundo. A
quedos ao procurar sua alma. cultura, portanto, em sentido amplo, car-
rega uma relação perceptível com a educa-
Palavras-chave: lúdico, aprendizagem, ção como formação do indivíduo. O com-
psicologia do desenvolvimento plexo sistema cultural a que os indivíduos
Contato: Adriana Mabel Fresquet, estão inseridos, como na educação, requer
Universidade Federal do Rio de Janeiro, regras de sociabilidade e comportamen-
adrifres@uol.com.br to na vida social, além de uma complexa
rede de relações sociais. A cultura existe
como um sistema de códigos que comu-
LT04 1417 CULTURA E EDUCAÇÃO: nicam o sentido das regras que orientam
REFLEXÃO PARA POLÍTICAS as relações sociais entre os homens e as
EDUCACIONAIS E FORMAÇÃO DE coisas. Além disso, pode ser definida como
PROFESSORES a totalidade das reações mentais e físicas
Marcella Furtado - UnB que caracterizam a conduta dos indivíduos
marcellabrasil@gmail.com componentes de um grupo social, coletiva
e individualmente, em relação ao seu am-
A história etimológica do conceito de biente natural, a outros grupos, aos mem-
cultura remete-se ao pensamento greco- bros do mesmo grupo e de cada indivíduo
-latino clássico. Para os romanos, cultura consigo mesmo. Embora sejam feitas inú-
significava o ato de cultivar o espírito. As- meras reflexões na atualidade, é notória
sim, o cuidado com as plantas, o cultivo da a ameaça produzida pela civilização oci-
terra, com os deuses e o sagrado (culto), dental a outras formas de culturas não
era estendido também às crianças, no sen- hegemônicas, que diferem da organização
tido geral de educação (Paideia). O perío- social ocidental capitalista. Em contraparti-
do medieval imbuiu a presença da religião da a práticas culturais homogeneizadoras,
à noção de cultura, como processo de for- cresce o desejo de afirmação de singulari-
mação das almas. A partir do século XVI, dades de cada região, língua, etnia, crença,
tal conceito recebeu uma conotação, por geração, gênero, religião, entre outros ele-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mentos. Desse modo, a análise consistente texto sócio-histórico e cultural na constru-


da cultura pode ser estendida à educação ção da subjetividade. Pensar em políticas
e formação de professores, no sentido de educacionais na atualidade é pensar em
enfocar a questão das diferenças culturais diversidade cultural e reconhecimento de
na escola como uma realidade cambiante singularidades, em que os espaços esco-
que permeia os saberes e fazeres. A defesa lares sejam educativos no sentido de pro-
da alteridade se faz necessária ao se pen- moverem experiências e interações sociais
sar em um modelo ocidental de pedagogia capazes de dialogar com a diferença e o di-
que desconhece a diferença e leva, fatal- reito à diferença como marcas das políticas
mente, a uma pedagogia da violência. A de identidade do tempo presente: tempos
instituição escola é, em geral, persistente- de multiculturalismo.
mente pouco preocupada em desenvolver
mecanismos efetivamente democráticos Palavras-chaves: Cultura; Educação;
de participação diante da diversidade cul- Diversidade Cultural.
tural por ela historicamente negada, em
favor de uma pretensa homogeneização
de suas estruturas em todos os aspectos, LT03-1362 - AUTORREGULAÇÃO
desde suas edificações ao conteúdo a ser PSICOLÓGICA E AUTOAVALIAÇÃO
ministrado. Pensar a diferença se faz fun- ESCOLAR – UMA LEITURA VYGOTSKYANA
damental e a concepção do relativismo CONTEMPORÂNEA
cultural parece bastante cabível em tal Neyre Correia da Silva - UTP/UFPR
contexto, pois é uma tentativa de escapar neyre.silva@utp.br
de qualquer etnocentrismo no estudo de Helga Loos - UFPR
um contexto particular, sem compará-lo helgaloos@yahoo.com.br
prematuramente a outras realidades. Cada
cultura é, portanto, dotada de um “estilo” O trabalho contempla a autoavaliação
particular que exprime através de crenças, como categoria conceitual-instrumental,
dos costumes, da arte, sua singularidade. imprescindível e constituinte de um mo-
O culturalismo confere o primado da ex- delo teórico-prático de avaliação mais
plicação da diversidade humana à cultu- abrangente (indissociável do processo
ra, pois denuncia práticas ideológicas que ensino-aprendizagem). Ressalta-se que
a sustentam centradas na liberdade, mas a autoavaliação tem sido compreendida
que, contraditoriamente, apresenta práti- como: 1) regulação da ação de aprendiza-
cas educativas conformistas, coercitivas, gem, autorregulação, e 2) metacognição
com o objetivo de criar sujeitos para o sis- (HADJI, 2001). Observa-se nas conceitua-
tema produtivo de acordo com um modelo ções de autoavaliação, o reconhecimen-
ideologizado de cidadão. Essa marca liber- to da prevalência de processos psíquicos
tária contraria a escola centrada no aluno fundamentais, tais como autocontrole e
modelo, desconsiderando a diversidade tomada de consciência, estabelecendo-
e sua subjetividade que para controlá-lo -se, no entanto, certas dificuldades de
atua de forma autoritária. Sendo assim, a identificar e de discernir que processos
relação entre desenvolvimento e cultura psicológicos exatamente estariam envolvi-
se deflagra ao considerar o sujeito, o con- dos e como se interrelacionariam. Assim,

72
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

este estudo tem como tema central a au- capaz de, interiormente, planejar, dirigir
torregulação, como fenômeno chave para e monitorar seu próprio comportamen-
a compreensão, planejamento e execu- to, adaptando-o, conforme circunstân-
ção de práticas da autoavaliação escolar, cias mutáveis. Díaz et al (1996) destacam
principalmente com crianças de 5/6, que que um ponto central na distinção entre
iniciam o Ensino Fundamental (EF). Com- autocontrole e autorregulação reside na
preender como tal fenômeno se origina e proposição de que nesta última, a criança
se desenvolve é fundamental no sentido não só interiorizou os comandos do adul-
de colaborar para a desmistificação da au- to, mas também assumiu para si o papel
toavaliação como uma prática, possível e regulador (antes desempenhado pelo
necessária, de avaliação da aprendizagem, adulto). Salientam, neste ponto, a emer-
principalmente com crianças que iniciam gência de uma questão central em relação
o EF, de modo a contribuir para uma for- ao desenvolvimento da “capacidade” de
mação humana mais reflexiva e criativa. autorregulação: como acontece essa tran-
Portanto, interessa-nos neste trabalho: 1) sição entre o controle externo, do adulto,
realizar diferenciação entre os conceitos e a assunção dele pela própria criança,
de autorregulação e autocontrole que, mediante a autorregulação? Tal pergunta
equivocadamente, têm sido compreen- implica a compreensão dos aspectos evo-
didos como fenômenos idênticos; 2) de- lutivos da autorregulação, nosso segundo
linear a gênese da autorregulação, à luz objetivo, que é abordado a partir do tra-
do trabalho de Vygotsky; e 3) defender a balho de Kopp (1982), de Díaz et al (1996),
ideia de que a autorregulação é uma “fun- e da teoria de Vygotsky. Kopp (1982), ao
ção psíquica” central, altamente vinculada realizar uma revisão das pesquisas e das
ao desenvolvimento e funcionamento de orientações teóricas acerca da origem e
outros processos mentais superiores, e do desenvolvimento das “capacidades”
ampla, envolvendo componentes da di- autorreguladoras, sugeriu que estas se
mensão afetivo-emocional e volitiva, não desenvolvem ao longo de cinco estágios:
podendo ser reduzida aos de natureza 1) Modulação neurofisiológica; 2) Modu-
cognitiva. Para realizar a diferenciação lação sensório-motora; 3) Controle; 4) Au-
entre os conceitos de autorregulação e tocontrole; e 5) Autorregulação. Mas, de
autocontrole adotamos as definições de acordo com Díaz et al (1996), a concepção
Díaz et al (1996) e Kopp (1982), nas quais do desenvolvimento da autorregulação
a autorregulação e o autocontrole repre- de Kopp, embora mostre-se esclarecedo-
sentam “capacidades” e níveis diferentes ra porque integra aspectos cognitivos e
de “organização comportamental”. Segun- sociais, apresenta limitações: (1) porque
do a última autora citada, autocontrole, a autorregulação não é qualitativamente
na perspectiva de seu desenvolvimento na distinta do autocontrole, como se este
criança, é a “capacidade” para se compor- fosse geneticamente igual à autorregu-
tar, sem a presença de estruturas externas lação, concebida como uma forma mais
de apoio, em conformidade com um co- maleável de autocontrole, o que implica-
mando que fosse, em sua gênese, forne- ria apenas em diferenças em termos de
cido externamente. Já a “capacidade” de graus; e (2) não apresenta indicação de
autorregulação pressupõe que a criança é como o autocontrole se transforma em

73
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

autorregulação. Defende-se que a teoria citados e o desenvolvido por Díaz et al.


vygotskiana apresenta importante contri- (1996), que acabam por não responder de
buição no sentido de avançarmos em rela- forma satisfatória as questões formuladas
ção ao entendimento do desenvolvimento acerca de tal temática. Tais estudos consi-
das “capacidades” autorreguladoras ou, deram a autorregulação como uma “capa-
de forma mais apropriada, da autorregu- cidade” e como uma “capacidade cogniti-
lação crescente das funções mentais supe- va”, que poderia ser desenvolvida, ensina-
riores. Resumidamente conclui-se, a partir da, expandida, principalmente mediante a
de Vygotsky (1984, 1989, 2000), que a au- promoção de estratégias eminentemente
torregulação das funções cognitivas: tem cognitivas (comportamentais), porque
origem social; passa por um longo e irre- tem como base o discurso privado ou a lin-
gular processo de transformação, em que guagem interior (pensamento verbal). Pa-
estruturas externas (culturais/simbólicas) rece-nos equivocada tal interpretação na
de apoio se convertem em estruturas in- medida em que, possivelmente, tome o
ternas de funcionamento psicológico; todo como sendo uma parte. Compreen-
os instrumentos culturais/simbólicos se demos a autorregulação como o próprio
convertem em operações intrapsicológi- processo de incorporação dos sistemas
cas complexas, mediante sua orientação simbólicos, assumindo neste processo de
invertida, se comparados aos instrumen- incorporação (internalização) a função de
tos físicos, pois se orientam em direção à organização das relações do indivíduo com
própria consciência humana, produzindo a realidade objetiva (material ou ideal), e a
e reinventando-a; a linguagem, portan- função de organizar, estruturar, o próprio
to, como conjunto de signos construídos self – função de auto-organização. Corral
socialmente, adquire papel central no Ruso (2010) acaba por identificar a subje-
desenvolvimento das capacidades autor- tividade com os processos de autorregula-
reguladoras; as mudanças dependem de ção, o que, por suposto, nos é bem apro-
um processo de desenvolvimento pro- priado. A compreensão da autorregulação
fundamente enraizado nas relações entre como função instrumental e, ao mesmo
história individual e história social; e, por tempo, global, integradora e participante
fim, existem estratégias que possivelmen- de todos os processos mentais superiores,
te contribuam para o desenvolvimento identificada com a própria subjetividade,
da “capacidade” de autorregulação, que tem um impacto de proporções inestimá-
talvez devam ser mais investigadas e que veis para o estudo da autorregulação e so-
possam auxiliar na educação escolar. Por bre o desenvolvimento de práticas sociais
fim, apresentam-se as hipóteses: de que que a pressupõe por excelência, como é o
a autorregulação é uma função psíquica caso da autoavaliação escolar.
global, participante e organizadora das
funções mentais superiores; e a de que ela Palavras-chave: auto-regulação, auto-avaliação,
envolve componentes afetivo-emocionais desenvolvimento
e motivacionais. Ousamos afirmar que tal-
vez seja de natureza conceitual o erro que
estaria implícito na condução dos estudos
sobre autorregulação, principalmente os

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 35 - LT05 conjugalidade aponta para um crescente


interesse nesta linha de pesquisa, estan-
Relações Familiares 1 do a maioria dos trabalhos concentrados
nos últimos cinco anos. Tópicos como
LT05-762 - CONJUGALIDADE E OS adoecimento, infidelidade, parentalida-
DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE de, migração, gênero, violência e relações
de trabalho são os mais diretamente rela-
Camila Ferrari - UCSAL cionados com o grande tema. Neste tra-
milaferrari@terra.com.br balho, visou-se analisar as relações conju-
Cristiane Cavalcanti - UCSAL gais, levando em consideração domínios
cristiane.fisio.ssa@gmail.com como satisfação, investimento do casal
Juliana Orrico - UCSAL na relação e processos adaptativos. Trata-
juorrico@gmail.com -se de um estudo de natureza explorató-
ria e multicêntrica, de caráter qualitativo
Encontrar alguém para compartilhar a e quantitativo. Utilizou-se um roteiro de
vida e ter filhos parece ser uma busca in- pesquisa com itens acerca do casamento
cessante, já que esta passagem configura- e do significado de família, no qual incluiu
-se como um rito significativo em muitas duas questões abertas (“o que é família
sociedades. Tal união é bastante cultivada pra você” e “quem faz parte da sua famí-
em nossa cultura, seja pela profundidade lia”). Foi realizada em Salvador-BA com
e intimidade proporcionadas, seja pela uma população de 102 participantes. A
companhia e autoafirmação advinda da população foi composta basicamente
relação estabelecida com o parceiro. O pelo sexo feminino em 78%, casada pela
casamento é considerado o mais forte primeira vez (63,7%), com idade entre
prognóstico de felicidade e bem-estar 30-35 anos (36,3%), funcionárias do setor
pessoal. Por outro lado, o casal contem- privado (60%), com dois filhos (33,4%) e
porâneo é confrontado por duas forças oriundas da classe média-alta. O conceito
paradoxais - a individualidade e a conju- de família recebeu conotações positivas,
galidade - que se tencionam constante- associadas à base da pessoa (12%). Cha-
mente. Encontrar o equilíbrio entre essas ma atenção a não valorização da relação
energias tem sido um grande desafio dos entre família e sustento (0,7%), mas sim
cônjuges na atualidade. A relevância em ao suporte incondicional (6,7%) e cuida-
estudar conjugalidade envolve o fato de do ʤ proteção (4%). A família extensa foi
que, em algum momento da vida, as pes- considerada pela maioria dos participan-
soas irão experimentar a convivência com tes como fazendo parte do seu sistema
o outro, apresentando-se sob as mais va- (41%), embora os agrupamentos mono-
riadas formas possíveis de organização. parentais e reconstituídos já aparecerem
Muitos estudos sobre amor, casamento, com relativa frequência na pesquisa. Em
família e divórcio, assinalam que a con- relação à conjugalidade, a amostra acredi-
cepção do amor romântico ainda ocupa o ta ser importante a estabilidade conjugal
papel central no imaginário amoroso das (93%), a gratificação pessoal dos cônjuges
relações conjugais na cultura ocidental. na relação (90%) e a geração e educação
O levantamento bibliográfico do tema da dos filhos (86,9%), na medida em que se

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mostraram satisfeitos com suas relações uma condição natural. Pode-se observar,
(89,4%). Ser casado legalmente foi valo- como efeito, uma explicitação da homos-
rizado por 49,5%. A conjugalidade, na sexualidade, um aumento no número dos
maioria da população entrevistada, pos- divórcios e de recasamentos, bem como
sui características contemporâneas, ou o surgimento da não obrigatoriedade da
seja, homens e mulheres estão envolvi- coabitação como regra conjugal. Para es-
dos com o desenvolvimento profissional, tudos prospectivos, pode-se pensar em
a satisfação afetiva na relação com o ou- analisar os resultados do questionário
tro e, no geral, compartilham a preocupa- utilizado sob égide do gênero, pois é fato
ção com a o bem-estar do mútuo. O espa- que teríamos definições e percepções di-
ço familiar é, por conta disso, propiciador ferentes da família e casamento.
de crescimento para todos os envolvidos.
Nessa pesquisa, observou-se que existe Palavras-chave: conjugalidade, família, laços
uma preocupação com a satisfação do conjugais
parceiro e uma tentativa de conciliar in- Contato: Cristiane Cavalcanti, UCSal/FTC,
dividualidade com conjugalidade, apesar cristiane.fisio.ssa@gmail.com
de ser uma tarefa difícil nos dias atuais.
O panorama social contemporâneo apre-
senta múltiplas formas de conjugalidade LT05-768 - TRANSIÇÕES FAMILIARES,
e um crescente aumento de dissoluções MODELO BIOECOLÓGICO E HABILIDADES
conjugais, sucedidas ou não de recasa- SOCIAIS NA ADOLESCÊNCIA
mentos, tornando-se cada vez mais im- Vanessa Barbosa Romera Leme - Ufscar
portante o desenvolvimento de pesquisas vanessaromera@gmail.com
que aprofundem a compreensão sobre Zilda Aparecida Pereira Del Prette - Ufscar
as questões relacionadas ao laço conju- zdprette@ufscar.br
gal, pois atualmente o casamento, não Financiamento: FAPESP
necessariamente envolve um projeto de
filiação e descendência. Podem-se obser- Muitos estudos sobre transições famil-
var, da mesma forma, múltiplas facetas iares indicam que a separação e o re-
do desejo de procriação, representadas casamento dos pais podem prejudicar o
seja pela busca de um filho quando não desenvolvimento sócio-emocional e com-
existem possibilidades biológicas de con- portamental de filhos adolescentes. En-
cepção, seja por seu inverso, a escolha vo- tretanto, algumas pesquisas vêem sinali-
luntária por não ter filhos. Esse cenário de zando que tais eventos podem ser opor-
dissociação, aliado aos avanços da medi- tunidade de crescimento pessoal e de
cina, permitiu, além de uma sexualidade desenvolvimento de habilidades sociais.
sem procriação, seu reverso. Isso ocorre Diante disso, o presente estudo tem por
graças à outra característica da conjuga- objetivo apresentar uma breve discussão
lidade contemporânea, que diz respeito teórica sobre as relações entre as tran-
à busca de satisfação dentro da relação sições familiares e as habilidades sociais
e a garantia do espaço para a individua- na adolescência, a partir do Modelo Bio-
lidade, marcando bem a igualdade dos ecológico do Desenvolvimento Humano.
gêneros, e não mais o casamento como Numa perspectiva bioecológica, a família

76
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pode ser considerada como microssis- em que o adolescente não participa ativa-
tema, isto é, um contexto imediato onde mente, mas que o afetam indiretamente.
o adolescente tem experiências diretas e O macrossistema envolve as ideologias,
onde ocorrem os processos proximais. A os valores, as crenças e as formas de gov-
família e a escola são exemplos de micros- ernos compartilhados pelos membros
sistemas que juntos formam um messo- de uma mesma cultura (Bronfenbrenner,
sistema. Deste modo, temos que a família 1996/1979). O macrossistema é muito
e a escola são ambientes propícios para importante quando se investigam as difer-
a ocorrência de processos proximais, pois entes formas de famílias. Alguns autores
possibilitam a formação de vários tipos de (Gamache, 1997) afirmam que o modelo
díades (mãe-filho, pai-filho, irmão-irmão, de família nuclear exerce um poder he-
avó-neto, amigo-amigo, professor-aluno) gemônico sobre os outros tipos de famíl-
que facilitam o processo de socialização ias, constituindo-se como uma forma de
dos adolescentes. Contudo, os processos família “ideal” e “normal”. O Modelo Bio-
proximais que ocorrem nesses ambientes ecológico do Desenvolvimento Humano
podem ser afetados quando a família enfatiza a influência do macrossistema
passa por alguma transição de vida, como através dos papéis socialmente aceitos
por exemplo, a separação conjugal ou o a respeito dos estereótipos de gênero e
recasamento dos pais. Somado a isso, de família nas relações entre pais e filhos
Hetherington e Stanley-Hagan (1999) afir- que ocorrem no microssistema familiar.
mam que os efeitos da ruptura marital e Por último, o Cronossistema é constituí-
do recasamento podem variar em função do por mudanças ou estabilidades que
do momento desenvolvimental em que se ocorrem não apenas nas características
encontram os filhos. Segundo Peck e Man- biopsicológicas da pessoa, mas também
ocherian (2008/1998), a adolescência no seu ambiente imediato e remoto, ao
pode requerer dos pais novas habilidades longo do curso de vida e, também através
relacionadas ao estabelecimento de lim- das gerações (Bronfenbrenner, 1994). A
ites aos filhos, em um momento em que partir dos pressupostos do Modelo Bio-
a família passa por redefinições de papéis ecológico do Desenvolvimento Humano,
de autoridade causados pela ausência de estudos que focam a adolescência devem
um dos cônjuges ou pela presença de um considerar tanto as características biop-
novo parceiro conjugal da mãe ou do pai sicológicas, tais como mudanças físicas e
no ambiente da família. Além do micros- o desenvolvimento de habilidades cogni-
sistema e do mesossistema, Bronfenbren- tivas e sociais, como aspectos dos ambi-
ner (1996/1979) chama a atenção para a entes imediato, tais como relações com
influência de dois outros contextos exter- os pais, pares e professores e remoto, por
nos que podem afetar os processos proxi- exemplo, estereotipo de gênero, valores
mais na família e, consequentemente, e regras socialmente compartilhados a
interferir no desenvolvimento dos filhos, respeito do ser adolescente. Segundo a
a saber, o exossistema e o macrossistema. Organização Mundial da Saúde - OMS
O exossistema contempla ambientes (tais (1965), a adolescência é um fenômeno bi-
como trabalho dos pais, assistência à opsicossocial que corresponde à segunda
saúde e serviços públicos da comunidade) década da vida, isto é, dos 10 aos 20 anos.

77
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Portanto, a adolescência pode ser consid- e filhos podem ficar mais conflituosas
erada como algo plural e não universal durante as transições familiares porque
que transcende mudanças fisiológicas tanto os pais quanto os adolescentes pre-
(puberdade) e que é influenciado por fa- cisam lidar com inquietações a respeito
tores culturais e históricos (Hines, 2007). de sexualidade, independência e rela-
A transição da infância para a vida adulta, cionamentos amorosos. Comparadas aos
isto é, a adolescência, é considerada, na adolescentes cujos pais permaneceram
sociedade ocidental, como um período casados, adolescentes de família mono-
caracterizado por necessidade de inte- parentais e recasadas podem apresentar
gração social, pelo desejo de autonomia, menos habilidades sociais e mais dificul-
de auto-afirmação, de sentimentos con- dades comportamentais (Hetherington;
flitantes e pela consolidação da identi- Stanley-Hagan, 1999). A par dessas con-
dade sexual (Hines, 2007). Todas essas siderações, conclui-se que a adolescência
mudanças podem, por um lado, tornar enquanto uma transição ecológica tanto
esse momento mais vulnerável devido à amplia e diversifica a rede de interlocu-
presença de emoções contraditórias, al- tores dos adolescentes, quanto requer
terações físicas e psicológicas (Nightigale; dos mesmos novos papéis e habilidades
Fischooff, 2002). Mas, por outro, como sociais (Bronfrenbrenner, 1996/1979).
o adolescente ainda não desenvolveu Pais, pares e professores também ten-
por completo algumas habilidades inter- dem a esperar que os comportamen-
pessoais importantes para a vida adulta, tos sociais dos adolescentes sejam mais
essa fase também se torna um momento elaborados (Del Prette; Del Prette, 1999).
propício para a capacitação de um rep- Dessa maneira, tem-se que a expansão
ertório elaborado de habilidades sociais das relações familiares impõe aos adoles-
que podem contribuir para relações inter- centes novos desafios interpessoais (Del
pessoais mais satisfatórias (Del Prette; Del Prette; Del Prette, 2001). Nesse sentido,
Prette, 2009a). De fato, as habilidades so- destaca-se que a criação de programas
ciais representam “[...] diferentes classes baseados no campo teórico e prático do
de comportamentos sociais do repertório Treinamento de Habilidades Sociais para
de um indivíduo, que contribuem para a adolescentes que estejam enfrentando
competência social, favorecendo um rela- dificuldades com as transições familiares
cionamento saudável e produtivo com as podem ajudá-los a otimizarem os recursos
demais pessoas” (Del Prette; Del Prette, disponíveis em seu repertório comporta-
2005, p.31). As habilidades sociais po- mental, prevenindo dificuldades sócio-
dem, portanto, segundo o Modelo Bioec- emocionais.
ológico do Desenvolvimento Humano, ser
consideradas como características desen- Palavras-chave: transições familiares,
volvimentais geradoras que contribuem adolescência, habilidades sociais
para os processos proximais relacionados Contato: Vanessa Barbosa Romera Leme,
ao desenvolvimento de competências UFscar, vanessaromera@gmail.com
e à prevenção de diversos problemas
psicossociais. Conforme Peck e Manoche-
rian (2008/1998), as relações entre pais

78
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-811 - GÊNERO E GERAÇÃO: prevalece um modelo tradicional de famí-


DESCONTINUIDADES NAS INFÂNCIAS lia com uma rígida divisão de papéis entre
EM FAMÍLIAS DE UMA COMUNIDADE homens e mulheres. O homem é conside-
LITORÂNEA rado o detentor da autoridade, estando
Angelina Nunes de Vasconcelos - UFPE este poder sustentado principalmente no
vasconcelos.angelina@gmail.com seu papel de principal provedor da família,
Heliane de Almeida Lins Leitão - UFAL o que lhe garante, ainda, uma privilegiada
helianeleitao@uol.com.br relação com o mundo social e do trabalho.
Gabriel Fortes Cavalcanti de Macêdo - UFAL O presente trabalho apresenta uma discus-
fortes-gabriel@hotmail.com são dos resultados obtidos numa pesquisa
Financiamento: CNPq, FAPEAL sobre gênero com famílias nucleares de
uma comunidade litorânea do Nordeste.
A família se apresenta como cenário privi- A comunidade estudada caracteriza-se
legiado para a investigação dos processos como sendo de baixa renda, localizada
de constituição da subjetividade em sua numa área litorânea de forte potencial tu-
indissociabilidade do contexto relacional rístico, sendo sua história recente marcada
e sociocultural. O estudo de questões de por grandes transformações ambientais e
gênero no contexto familiar é de grande culturais decorrentes da chegada do turis-
importância, pois é na família que ocorrem mo de massa. O estudo buscou conhecer
as primeiras experiências de relações de a infância nestas famílias, focalizando os
gênero e da transmissão intergeracional de indicadores de transmissão intergeracio-
atribuições e papéis de gênero na cultura. nal de gênero. Os participantes do estudo
Além disto, é na família que se estabelecem foram seis famílias de uma comunidade li-
as relações afetivas primárias, a partir das torânea, constituídas por pai, mãe e, pelo
quais se constroem importantes processos menos, duas crianças com idades entre 06
de identificação que formam o núcleo da e 11 anos. As famílias apresentaram nível
identidade de gênero. As transformações sócio-econômico baixo e, em sua maioria,
observadas na família contemporânea eram nativas da comunidade. Os instru-
têm levado a uma crescente necessidade mentos utilizados foram: entrevistas se-
de pesquisa acerca das relações familiares miestruturadas; histórias semiprojetivas;
na atualidade, considerando-se particular- produção de “Retratos de família” através
mente as mudanças no comportamento da realização de fotografias e desenhos;
feminino e o enfraquecimento dos valores e estudo observacional nas casas de duas
tradicionais e suas repercussões nos papéis das famílias participantes e no espaço co-
e relações de gênero. Entretanto, as mu- munitário. Foram observadas importantes
danças observadas na família não afetam descontinuidades intergeracionais entre a
todos os grupos sociais da mesma maneira, infância vivida pelas crianças desta comu-
sendo necessário investigar os diferentes nidade e aquela vivida por seus pais. As di-
contextos comunitários em que ocorrem. versas influências e informações apreendi-
A organização familiar nas camadas popu- das pelas crianças na rua, na escola e atra-
lares apresenta especificidades, tornando- vés da mídia, geram descontinuidades de
-se necessário compreender questões de gênero entre as gerações, principalmente
gênero neste contexto. Com freqüência por produzir novas expectativas de futu-

79
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ro. A centralidade da escolaridade na vida maior permissão para explorar o espaço


destas crianças marca a principal diferença da rua, enquanto as meninas sofrem res-
intergeracional na família e na comunida- trições, devendo permanecer no espaço
de. Em relação à nova geração, a oportu- da casa, geralmente cuidando das tarefas
nidade da escolarização formal equipara domésticas. Verifica-se aí a manutenção
as experiências de gênero, na medida em da tradição e das desigualdades que carac-
que são oferecidas igualmente a meninos terizam os espaços aos quais se vinculam
e meninas. Em relação aos meninos, a homens e mulheres adultos. Entretanto,
escolarização aponta para a aquisição de contrariando a expectativa de que mais
conhecimentos não acessíveis aos pais, liberdade geraria maior autonomia dos
o abandono de profissões tradicionais e meninos, sugere-se sua maior dependên-
novas possibilidades de inserção no mer- cia emocional. Os homens, em suas res-
cado de trabalho. No caso das meninas, a postas às histórias semiprojetivas retratam
escolaridade cria a expectativa de prepa- os filhos como menos autônomos do que
ração para o mercado de trabalho, priori- as filhas, recorrendo muito mais aos pais,
zando o desenvolvimento profissional e a principalmente à mãe, para a solução dos
autonomia financeira, em detrimento do problemas emocionais apresentados. Esta
casamento e da maternidade precoce vi- diferença se confirma nas respostas dos
venciadas por suas mães. Além disto, com próprios meninos às histórias em compa-
a proibição do trabalho infantil, as crianças ração com as das meninas. Uma possibi-
já não acompanham seus pais na rotina do lidade de compreensão dessa diferença
trabalho adulto, enfraquecendo-se expec- estaria baseada numa concepção estere-
tativas de transmissão de saberes e habi- otipada destes pais de que sentimentos
lidades relacionadas a ocupações tradicio- de tristeza, medo, fracasso e culpa sejam
nais, tais como a pesca para os homens e o mais aceitáveis e “apropriados” à expe-
artesanato para as mulheres. Estas experi- riência feminina, sendo esperado que as
ências promovem profundas modificações meninas estejam mais familiarizadas com
na vida familiar, causando estranhamento estas situações e apresentem um repertó-
nos adultos. As mães relatam que acompa- rio mais amplo de estratégias de soluções
nhavam suas mães nas atividades domés- aos dilemas fictícios apresentados. Expec-
ticas, assumindo-as como suas principais tativas diferenciadas de quais emoções
responsabilidades. Constatam, entretanto, são apropriadas para cada gênero podem,
que as meninas de hoje vivenciam roti- de fato, produzir diferentes níveis de acei-
nas diferentes daquelas vividas por elas, tação, enfrentamento e integração de de-
priorizando a experiência na escola e as terminadas experiências emocionais. Ob-
decorrentes expectativas com relação ao servamos que nestas famílias predominam
futuro. As falas das meninas corroboram papéis, funções e atitudes ligadas a um
esta realidade, revelando que a escola se modelo tradicional de organização fami-
constitui em importante ambiente de refe- liar, os quais são transmitidos através das
rência e pertencimento no seu cotidiano. conversas, das práticas disciplinares e da
Por outro lado, numa clara reprodução dos organização do ambiente doméstico e co-
estereótipos de gênero, observou-se que munitário. Como resultado, as crianças exi-
os meninos são mais “livres”, gozando de bem comportamentos consistentes com

80
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os estereótipos de gênero. Por outro lado, e todos os participantes tiveram acesso ao


constata-se a valorização da escolarização Termo de Compromisso Livre e Esclareci-
das crianças que, gerando rupturas com a do-TCLE. Para identificar o significado do
tradição, tende a igualar as experiências de tempo para cada participante das decisões
meninos e meninas quanto ao acesso a no- ao longo da tramitação processual, foram
vos conhecimentos, experiências sociais e realizadas entrevistas semiestruturadas
expectativas para o futuro. direcionadas a cada um dos membros par-
ticipantes da família envolvida. Além des-
Palavras-chave: família, gênero, ses, realizou-se entrevista com o juiz que
intergeracionalidade encaminhou os autos para o setor psicos-
Contato: Angelina Nunes de Vasconcelos, social, com o promotor que se manifestou
UFPE, vasconcelos.angelina@gmail.com no decorrer do processo, com os advoga-
dos da requerente e do requerido e com o
psicólogo que efetuou o estudo no referi-
LT05-820 - TEMPO DA CRIANÇA do setor. Apesar de a criança participante
NO LITÍGIO PARENTAL NA JUSTIÇA: (sexo feminino, nove anos de idade) estar
REFLEXÕES SISTÊMICAS incluída durante a realização da entrevista
Marcia Regina Ribeiro dos Santos - TJDFT com os componentes da família presentes
marciarrsantos@gmail.com – pai, mãe, avó materna e companheira do
Liana Fortunato Costa - UnB pai – não foi elaborada entrevista exclusi-
lianaf@terra.com.br va para ela. A criança tinha estabelecido
vínculo de confiança com a psicóloga e
Trata-se do recorte de uma pesquisa qua- com a pesquisadora, demonstrando estar
litativa realizada em mestrado acadêmico à vontade no ambiente oferecido para a
cujos dados foram coletados em um Tri- realização da pesquisa. Ela teve espaço
bunal de Justiça. O estudo versou sobre as lúdico junto aos seus familiares durante
significações do tempo entre as decisões o período da entrevista. O espaço utiliza-
em ações que envolvem litígio em Varas do foi uma das salas do setor psicossocial
de Família, na perspectiva dos vários par- que estava equipada com os seguintes
ticipantes envolvidos durante a execução recursos: brinquedos, papéis, lápis colori-
do processo judicial: família, advogado, dos, mesinha e cadeirinhas, dentre outros.
juiz de direito, promotor público e psicó- Depois que todos os componentes da fa-
logo – profissional do setor psicossocial mília responderam às indagações formu-
da Justiça. Tendo como objetivo discutir o ladas, a pesquisadora se dirigiu à criança
significado do tempo dado pela criança, foi e lhe fez perguntas que são apresentadas
selecionada uma dada família cujo proces- nos resultados. A primeira pergunta feita
so retornou para estudo psicossocial pela a criança foi se ela se lembrava a idade
segunda vez. O primeiro havia sido reali- que tinha quando o processo teve início.
zado há um ano. O processo era referente Ela respondeu que tinha seis ou sete anos.
à disputa de guarda da filha em comum, Foi perguntado como ela esperava que o
em que a mãe era a requerente e o pai, o processo terminasse e ela disse que não
requerido. Para a realização da pesquisa, sabia. E, tal como seus familiares, aguar-
obteve-se aprovação do Conselho de Ética dava a decisão judicial. A exemplo de sua

81
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

família materna, ela se queixou do tempo fazer referência ao juiz como participante
que passava com a mãe – fins de semana importante naquele momento de sua vida,
quinzenais e quartas-feiras com pernoite – evidenciou que tinha noção de sociedade
considerando-o pouco. Por fim, verbalizou e que dela fazia parte. Ademais, por ser
o desejo de ficar mais tempo com a mãe. leal ao afeto materno, a criança verbali-
Ela não fez referência ao pai nem aos fa- zou o desejo de residir com ela. Parece
miliares desse senhor durante a realização que no entendimento da criança, o sofri-
da pesquisa. A despeito disso, observou-se mento da mãe e da avó diminuiria a partir
boa interação entre ela e o núcleo fami- dessa nova organização familiar. A criança
liar do pai. A análise e a discussão tiveram demonstrou ter noção de tempo ao fazer
como base as expressões da criança e o pa- menção de sua idade quando do início do
drão interacional familiar observado. De- processo judicial e de medida temporal ao
preendeu-se que os pais e os outros mem- dizer que era pouco o tempo que passava
bros da família percebiam o sofrimento da com a mãe. Ela demonstrou também no-
filha. Eles, no entanto, não conseguiam ção de espaço, ao indicar o local em que
evitar que a criança participasse dos de- gostaria de permanecer por mais tempo. A
sentendimentos existentes e, para ame- expressão da criança foi fundamental para
nizar as tensões, delegavam a ela o papel subsidiar o relatório da psicóloga que rea-
decisório. O litígio parental envolveu dele- lizou o estudo. A profissional concluiu pela
gacia de polícia e documentos que busca- sugestão da casa materna como residência
vam comprovar a incompetência de um e principal, modificando a sugestão forneci-
de outro no exercício dos papéis materno da no primeiro estudo psicossocial realiza-
e paterno. Lembranças oriundas do conví- do, que era a casa paterna. Depreendeu-se
vio interrompido geravam desconfianças e que as expressões da criança e as relações
também contribuíam para dificultar a livre existentes foram fundamentais para a su-
prática das funções parentais. A partir das gestão da psicóloga do setor psicossocial
intervenções realizadas pela psicóloga do para subsidiar o processo decisório do jul-
setor psicossocial que acompanhou o es- gador. Entendeu-se que para a criança, o
tudo, a família passou a aguardar a decisão tempo mensurável, isto é, a quantidade de
do juiz, evitando sobrecarregar emocional- tempo que lhe era disponibilizada a passar
mente a criança. Do ponto de vista sistê- com a mãe era considerada reduzida, pre-
mico, depreendeu-se que os conflitos que ferindo aumentá-la. O desejo da mãe e da
permeavam as relações afetavam a todos, avó em acolhê-la por mais tempo no am-
em especial a criança, por ainda depender biente doméstico, poderia ser traduzido
emocional e financeiramente de adultos pela criança como espaço de segurança,
responsáveis. Os resultados mostraram proteção e afeto. A noção de sociedade,
que o tempo de tramitação processual, evidenciada pela criança, foi representada
três anos, era o tempo que a criança lem- em sua fala quando mencionou que o juiz
brava, ao se referir à idade que tinha quan- decidiria sobre sua guarda.
do este teve início. Observou-se que, do
mesmo modo que faziam seus familiares, Palavras-chave: tempo, criança, Justiça
ela passou a transferir para o juiz a decisão Contato: Marcia Regina Ribeiro dos Santos,
de sua residência principal. A criança, ao TJDFT, marciarrsantos@gmail.com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-945 - O CRACK E A FAMÍLIA: UM que, de um grupo de 131 pacientes inter-


ESTUDO SOBRE A DINÂMICA FAMILIAR nados como dependentes de crack, 18%
DO USUÁRIO VICIADO morreram nos cinco anos que sucederam
Heron Flores Nogueira - UCB a alta, sendo homicídio a causa mais fre-
heronfn@uol.com.br quente. Tanto em São Paulo quanto em
Maria Alexina Ribeiro - UCB Belo Horizonte, onde foram feitas pesqui-
alexina@solar.com.br sas, o resultado apontou a mesma relação
intrínseca entre homicídios e crack, corre-
A droga sempre existiu e é normatizada lacionado ao tráfico de drogas. De acor-
de acordo com compreensão legal de do com Penso et. al. (2004) nos últimos
cada país, tornando a lícita e/ou ilícita. anos foram realizados estudos que obje-
Pesquisando a temática droga verifica-se tivavam compreender como as famílias
que ela e o seu consumo são assuntos his- de dependentes químicos se estruturam
toricamente antigos na discussão política, e como as relações se constituem. Estas
social e cultural, além disso, sabe-se que autoras ressaltam que a compreensão
a motivação para o uso de drogas sofreu era focada na tríade família - pai, mãe e
modificações no decorrer do tempo, pois o filho dependente de droga. O pai foi a
antigamente, as drogas eram utilizadas figura vista como desatento e distante e
em situações e ocasiões específicas e a mãe como super protetora e envolvida
com grupos determinados. Autores como com a vida do filho. No entanto, recen-
Ribeiro e Laranjeira (2010) dizem que a temente, estudiosos como Penso, Costa
característica comum das drogas com po- e Sudbrack (2008), Trindade e Bucher
tencial para induzir adicção é o fato de (2008) e Ferreira (2004), se propuseram
terem a capacidade de alterar o compor- a ampliar o olhar para a problemática das
tamento ao aliviarem sintomas desagra- drogas no ambiente familiar buscando
dáveis como dor, ansiedade, ou estresse uma compreensão transgeracional dessa
ou, no pólo oposto, ao promoverem sen- temática e automaticamente retirando o
sações de extremo prazer e bem-estar. foco da relação linear descrita acima da
Com relação a estudos envolvendo o cra- tríade. Nesse sentido, objetivou-se com
ck no Brasil não há dados precisos sobre esta pesquisa compreender numa pers-
quando e como essa droga chegou ao país pectiva transgeracional a dinâmica fa-
e tomando os dados epidemiológicos fei- miliar de usuários de crack. Os objetivos
tos com a população em situação de rua, específicos deste estudo foram: investigar
eles demonstram não são apontados uso como ocorriam as relações intrafamiliares
do crack até o ano de 1989. O primeiro entre membros nos diferentes subsis-
estudo sobre o consumo de crack no Bra- temas; identificar possíveis padrões de
sil aconteceu em São Paulo com um gru- heranças transgeracionais; descrever os
po de 25 usuários. O perfil descrito pelos principais aspectos da dinâmica e estru-
autores sobre esse grupo estudado: ho- tura familiar como papéis, fronteiras, limi-
mens desempregados, com menos de 30 tes, autoridade, afetividade; investigar o
anos de idade, baixa escolaridade e poder significado atribuído pela família à droga;
aquisitivo, provenientes de famílias con- descrever a expectativa dos membros so-
flituosas. Os primeiros estudos mostram bre o futuro da vida familiar. Participaram

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desta pesquisa três famílias, todas com a transmissão geracional do uso do crack,
um membro usuário de crack com pelo existente no sistema familiar como uma
menos dois anos de uso da droga e em possibilidade de herdar os “valores” fami-
tratamento de internação numa clínica liares; “Relações violentas: o carinho da
de reabilitação psicossocial no Distrito família é a chibata”, apontada pelos par-
Federal. Esta foi uma pesquisa qualita- ticipantes a violência aparece como uma
tiva na modalidade de Estudo de Caso e das maneiras dos subsistemas se relacio-
foi adotada como aporte teórico a Teoria nar, é também interpretada como uma
Sistêmica. Para coleta dos dados foram forma de comunicação e de transmissão
utilizados três instrumentos considera- de “afetos”; “O filho-pai”, os filhos usu-
dos por autores sistêmicos como funda- ários acabam assumindo o papel de pai
mentais para a compreensão da dinâmica da própria família, invertendo papéis, ao
familiar: entrevista semiestruturada do mesmo tempo, sendo “esposo” da pró-
ciclo de vida familiar, construção do Ge- pria mãe, onde há ausência do genitor
nograma e colagem em família. O conta- e super proteção da genitora. Essa dinâ-
to inicial com os participantes se deu por mica dificulta o processo de desenvolvi-
meio de um convite verbal e pessoal para mento do sistema familiar; “Crack: uma
a participação na pesquisa, obedecendo maldição ou uma salvação?”, uma visão
aos critérios de disponibilidade de toda a contraditória é encontrada quando as
família nuclear em participar da pesquisa famílias atribuem um significado para a
nas duas etapas. O contato inicial possibi- droga. Para uns ela é vista como uma mal-
litou o agendamento dos dois encontros dição que acaba com a harmonia e com a
que ocorreram separadamente e tiveram saúde, para outros ela é considerada uma
uma duração média de uma hora e meia salvação para amenizar os sentimentos
cada. No primeiro encontro os participan- gerados pelos conflitos familiares; “Uma
tes responderam ao questionário semies- vida sem drogas”, apesar de diversos es-
truturado e construíram o Genograma tudos apresentarem a devastação que o
familiar. No segundo encontro foi realiza- crack representa para a saúde do usuário
da uma colagem familiar. Os dados foram e as dificuldades apresentadas pelo adic-
coletados no próprio local de internação, to de manter-se abstinente, as famílias
sendo cada encontro gravado em áudio e preservam otimismo quando o assunto é
seu conteúdo transcrito na íntegra. Para o futuro, acreditam que a droga deixará
compreensão das respostas adotamos de fazer parte de sua realidade ao mesmo
o enfoque da Epistemologia Qualitativa, tempo em que delegam essa responsabi-
numa postura de produção de conheci- lidade apenas para o usuário.
mento construtivo-interpretativo. Foram
construídas Zonas de Sentido que são Palavras-chave: crack, família, dinâmica
categorias representadas aqui por me- familiar
táforas relacionadas ao conteúdo obtido Contato: Heron Flores Nogueira, UCB,
durante a coleta das informações. Como heronfn@uol.com.br
principais resultados apresentamos aqui
algumas categorizações: “O uso do crack:
uma herança familiar”. Onde é discutida

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-1030 - MEU TEMPO, SEU TEMPO: avós, netos e filhos interagem em diferen-
REFLEXÕES SOBRE O RELACIONAMENTO tes espaços sociais, marcados por dimen-
ENTRE AVÓS E NETOS A PARTIR DO sões socioculturais e históricas próprias.
DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA As relações que se estabelecem entre eles
INTERGERACIONAL NO CONTEXTO são atravessadas por um conjunto de sig-
ESCOLAR nificados e sentidos importantes para a
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF contextualização e entendimento da famí-
jac.marangoni@gmail.com lia transgeracional ou multigeracional. Um
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB aspecto relevante é o processo de trocas
claudia@unb.br intergeracionais no contexto familiar, em
decorrência das dificuldades socioeconô-
A importância da família no desenvolvi- micas de nosso país. Os idosos, ainda consi-
mento humano é inegável. Esta consis- derados em muitos discursos sociais como
te no primeiro espaço de convivência e dependentes, começam a configurar-se
construção de significados do ser humano, como uma geração que oferece suporte
promovendo a transmissão de valores e afetivo e financeiro para as gerações mais
práticas socioculturais por meio dos rela- jovens. Os avós emergem nesse cenário
cionamentos entre as gerações. Ao longo como personagens centrais na vida de suas
da história as famílias mudaram e na con- famílias, participando ativamente da edu-
temporaneidade, não se pode falar em um cação dos netos e proporcionando apoio
modelo familiar único, devido à flagrante afetivo-financeiro aos filhos (Dias, 2004;
heterogeneidade das configurações fa- Dias & Silva, 1999, 2001; Oliveira, 2007).
miliares encontradas no cenário social. Essa realidade complexa demanda estudos
Novos modelos familiares se apresentam, que busquem compreender as transferên-
motivados pelas transformações intensas cias intergeracionais e as possibilidades
que perpassam as relações de gênero, as de interações entre avós e netos nos dife-
atitudes e valores humanos. A crescente rentes contextos familiares. Como espaço
inserção da mulher no mercado de traba- encarregado da promoção de desenvolvi-
lho, a intensa circulação de informações mento, a escola, nesse contexto, assume o
e inovações tecnológicas e o aumento da compromisso de formar cidadãos, pessoas
expectativa de vida, as separações e novos comprometidas com a compreensão, a crí-
casamentos modificam a organização afeti- tica e a transformação da realidade socio-
va e social dos contextos familiares (Barros, cultural, na direção de trocas sociais mais
2006; Biasoli-Alves, 1997, 2000; Dessen & justas e equânimes (Milani, 2003). Entre
Braz, 2005; Rocha-Coutinho, 2006). Temos as possíveis ações com as quais a escola
assim na experiência de diferentes famílias deve estar comprometida, destacamos a
as expressões das mudanças históricas e construção de programas que favoreçam
culturais que podem ou não gerar confli- a interação entre gerações. O presente es-
tos, mas demandam constantes negocia- tudo parte de uma intervenção realizada
ções entre as gerações jovens e as mais em uma escola pública do Distrito Federal
velhas, que tendem a conviver por um (DF). Seu objetivo é identificar e analisar
período maior de tempo (Oliveira, 2007; os sentidos construídos por avós e netos
Rocha-Coutinho, 2006). Tataravós, bisavós, em encontros intergeracionais delineados

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pela técnica do grupo focal. A metodolo- narrativas coerentemente com a cultura


gia está baseada na epistemologia quali- do medo que marca a atualidade, de modo
tativa e desenvolvida como um processo a alterar a vida dos participantes, restrin-
construtivo-interpretativo. Participaram gindo a convivência nos espaços sociais e
do estudo, oito avós, com idades que va- tornando-se alvo recorrente das preocupa-
riaram de 50 a 69 anos. Entre os netos ções dos avós na educação de seus netos;
adolescentes, foram nove participantes, 4) realidade sociofamiliar dos avós mar-
com idades que variaram de 13 a 18 anos. cada por dificuldades - A experiência em
Dois moravam com os seus avós e eram grupo suscitou uma série de recordações
criados por estes; os outros relataram já por parte dos avós que remeteram às suas
terem vivido a experiência de coabitar com relações com os seus próprios avós, na in-
os avós, em algum momento da infância. fância, assim como trouxeram a experiên-
A análise dos dados foi realizada por meio cia do começo de suas vidas conjugais e do
da Epistemologia Qualitativa proposta nascimento de seus filhos e de seus netos.
por González-Rey (1997). Para o autor, As narrativas dos avós contextualizaram
pesquisador e pesquisados estabelecem situações e condições sociais, econômicas,
uma relação dialógica e dinâmica em que históricas e culturais marcadas por dificul-
as informações são coconstruídas. A aná- dades e sofrimento que influenciam a re-
lise das informações permitiu identificar lação que estabelecem com seus netos. A
quatro “zonas de sentido”: 1) avós como análise das narrativas de avós e netos per-
cuidadores principais ou corresponsáveis mite pensar que os valores da sociedade
na educação dos netos - As narrativas ofer- atual se mostram, intimamente, relacio-
tadas pelos participantes permitiram re- nados às representações que uma geração
conhecer os avós como pessoas ativas no atribui à outra, assim como influenciam os
processo de desenvolvimento dos netos e relacionamentos entre elas. Ficou eviden-
esteio emocional e financeiro da família; 2) te também que para entender as relações
conflitos intergeracionais - Foi possível per- intergeracionais é preciso atentar-se para
ceber que o relacionamento entre avós e temas como a violência no contexto ur-
netos se dá em um movimento dinâmico, bano, a relação de codependência afetiva
marcado por atritos, confrontos e confli- e financeira entre as gerações de no con-
tos que tendem, em alguns momentos, a texto familiar, as dificuldades socioeconô-
distanciá-los. Os netos apontaram as lacu- micas e educativas na relação avós-netos,
nas históricas que estabelecem diferenças a negociação entre valores tradicionais e
de gerações (“meu tempo, seu tempo”) e a modernos, as representações sobre ve-
insistência dos avós em tratar de questões lhice e adolescência na perspectiva dos
atuais a partir de valores coerentes com a envolvidos e aquelas presentes no imagi-
lógica sociomoral de sua época como fato- nário social mais amplo. Por fim, o estudo
res que dificultam a relação com os avós; indica a necessidade de pesquisas sobre
3) realidade sociocultural contemporânea os relacionamentos intergeracionais, em
marcada pelo medo - O sentimento de especial, a relação avós-netos, no mundo
medo foi sustentado discursivamente por contemporâneo e reitera a importância da
avós e também por netos. O temor e a escola como contexto para a realização de
sensação de insegurança atravessaram as programas de integração entre gerações.

86
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: relação avós-netos, sas por essas mulheres para o ingresso no


programas intergeracionais, escola tráfico de drogas. Tais mulheres almejam
Contato: Jacqueline Ferraz da Costa a obtenção de dinheiro a fim de satisfazer
Marangoni, GDF, jac.marangoni@gmail.com seus desejos de consumo de bens mate-
riais, fomentados pela mídia e pela própria
sociedade, além de almejarem o poder de
CO 41 - LT07 ser bandida, que é um poder reconhecido
socialmente como um poder masculino.
Violência/Gênero Nosso objetivo no presente trabalho é dis-
cutir as relações de poder estabelecidas
pelas internas em contextos intra e extra-
LT07-895 - VIOLÊNCIA E GÊNERO: O
muros de um presídio. Em um primeiro
PODER DAS MULHERES NA REDE DO
momento, abordaremos o contexto extra-
TRÁFICO DE DROGAS
muros prisional, analisando como as rela-
Dayane Martins José dos Santos - UFF ções de poder influenciam na inserção des-
day_martinss@hotmail.com sas mulheres no tráfico de drogas. Poste-
Financiamento: FAPERJ riormente, iremos problematizar a mesma
questão em contexto prisional. O trabalho
O presente trabalho tem por objetivo dis- de campo está sendo conduzido no Presí-
cutir as relações de poder estabelecidas dio Feminino Carlos Tinoco da Fonseca, na
pelas internas em um presídio feminino. região norte fluminense do estado do Rio
A pesquisa é realizada com mulheres que de Janeiro. Essa instituição abrange a maio-
cumprem penas por envolvimento com ria maciça de mulheres sentenciadas pelo
o tráfico de drogas em um presídio na re- envolvimento com a atividade do tráfico
gião norte fluminense, no Rio de Janeiro. de drogas. Outros dados analisados na pes-
Na pesquisa, a literatura foucaultiana é quisa foram coletados no Presídio Nelson
tomada a fim de conceituar o poder nos Hungria, localizado no município do Rio de
dias atuais e diferenciá-lo da concepção de Janeiro. Esses dados fazem parte do grupo
poder tanto do Estado absolutista quanto de pesquisa “Violência e Gênero”, que ini-
da teoria marxista. Foucault (1979) vai di- ciou suas atividades no ano de 2007. Os da-
zer que o poder é disperso e é encontra- dos a serem analisados são as entrevistas
do em todas as relações e campos sociais. abertas em profundidade realizadas com
Tais relações de poder assumem formas as internas do presídio citado acima. Todas
distintas nos contextos intra e extramu- as mulheres entrevistadas foram condena-
ros em um presídio. No encarceramento, das por tráfico de drogas. A metodologia
por exemplo, o poder pode ser refletido utilizada para analisar os dados é a Análise
no comportamento de algumas mulheres do Discurso Crítica (Fairclough, 1992), que
que se “transformam” em homens e assu- prima pela centralidade das relações do
mem o papel tradicional masculino numa poder evidenciadas pelos relatos das par-
relação homossexual. O poder é visto aqui ticipantes. A análise do discurso possibilita
como atrelado ao gênero. Fora do encarce- analisar as falas que atravessam a constitui-
ramento, a menção ao poder é recorrente ção subjetiva de tais mulheres, emergindo
quando analisamos as motivações expres- assim sua contradição, submissão e os dis-

87
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cursos que são produzidos pela própria ins- ras em “homem”. Essas mulheres traves-
tituição. De início, podemos desmistificar a tidas se caracterizavam como homens,
ideia de que tais mulheres se inserem nas assumiam comportamento, vestimentas e
atividades do tráfico exclusivamente como codinomes masculinos. Para elas, o “virar
um meio de sustentabilidade. A atualidade homem” dentro da prisão possibilita uma
se caracteriza pela produção de necessi- maior visibilidade dentro da instituição e
dades que não se referem à sobrevivência também um maior respeito das demais
biológica do corpo, mas, principalmente, internas. Por fim, os resultados obtidos na
à sobrevivência num contexto social em atual pesquisa nos possibilitaram refletir e
que o consumo é altamente valorizado questionar sobre as relações de poder que
e possibilita a inserção em espaços mais perpassam a vida dos indivíduos, principal-
privilegiados. A ditadura de mercado é in- mente em um contexto prisional.
centivada cotidianamente, seja pelo meio
midiático, seja pela própria sociedade, mo- Palavras-chave: gênero, poder, criminalidade,
dificando e produzindo necessidades pes- tráfico de drogas
soais. Os dados coletados nos mostraram Contato: Dayane Martins José dos Santos, UFF,
que a maioria das mulheres entrevistadas day_martinss@hotmail.com
inicia as atividades ilícitas com o propósito
de obter dinheiro para gastar com roupas,
acessórios, carros, etc. Tendo esses objetos LT05-1032 - O PAPEL DAS RELAÇÕES
de consumo, elas acabam por ganhar uma AFETIVAS NA CONSTITUIÇÃO
maior visibilidade e status perante à socie- DA IDENTIDADE DE MULHERES
dade. Num segundo momento, ao analisar- ENCARCERADAS
mos as relações de poder intramuros pri- Carolina Ferreira Barbosa - UFF/PURO
sionais, notamos que há uma continuidade cfbarbosa@id.uff.br
desse status conquistado fora da prisão. As
mulheres que chegaram a ocupar cargos O presente trabalho visa apresentar o pa-
importantes na hierarquia do tráfico, ao pel das relações afetivas no processo cons-
serem presas, continuam a exercer e ocu- titutivo da identidade de mulheres encar-
par um certo lugar de destaque na prisão, ceradas. Diversos autores, em consonância
devido à sua trajetória de vida alcançada com os estudos em Criminologia, atentam
nas atividades de drogas. Outra forma de para o fato de que a criminalidade femini-
poder notada nas entrevistas é atrelada na é, em geral, desprezada ou explicada
ao gênero. Destacamos aqui a relação ho- em virtude dos relacionamentos amorosos
mossexual presente nas instituições, que é com parceiros envolvidos em atividades
bastante comum devido à dificuldade que criminosas (Barcinski, 2009a; Barcinski
se tem para conseguir autorização para a 2009b; Guedes, 2006; Souza, 2009; Zaluar,
visita íntima e ao abandono afetivo e se- 1993). Uma atividade criminosa de extre-
xual experimentado pela maior parte das ma violência e constante risco de morte
mulheres no encarceramento. Porém, o para aquele que exerce tal atividade é, em
que nos instigou e gerou questionamentos geral, relacionada aos homens. Eles são os
é que, em algumas dessas relações, havia “chefes” do negócio, os que são munidos
uma “transformação” de uma das parcei- de armas de fogo e que, fortes e destemi-

88
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos, assumem a frente de combate (Zaluar, cere, a homossexualidade e o fenômeno


1993). Por demandar uma série de carac- do “travestismo”, por exemplo, contri-
terísticas físicas e psicológicas particula- buem para o enfrentamento do sofrimento
res, podemos dizer que o mundo do crime advindo do abandono familiar na condição
faz parte do domínio masculino e, desse de encarceramento. Não excluindo o pro-
modo, a inserção masculina em atividades tagonismo e a iniciativa pessoal das mulhe-
transgressoras é mais facilmente esperada. res como motivadores para um percurso
As mulheres, portanto, têm assumido um criminoso feminino (Barcinski, 2009a), o
papel secundário no cenário do crime, vin- objetivo deste trabalho é investigar o lugar
culando-se em atividades menos violentas das relações afetivas e as peculiaridades
como roubo a lojas e supermercados ou, desse processo num contexto intra e extra
no caso específico do tráfico de drogas, por muros prisional, bem como sua influência
amor a um bandido ou pelo vício (Zaluar, no percurso de construção da identida-
1993). Assim, como a inserção feminina de de mulheres encarceradas. Em outras
em atividades criminosas é menos eviden- palavras, o foco está na análise do papel
te e como a figura feminina desperta me- dessas relações afetivas para a constitui-
nos desconfiança neste meio, as mulheres ção da identidade nesses dois contextos:
são tidas, tradicionalmente, como coadju- a inserção e permanência das mulheres no
vantes neste cenário e os homens, como tráfico de drogas e o período de encarce-
protagonistas. Para entendermos o papel ramento. O estudo se baseia em reflexões
dos homens/parceiros na iniciação crimi- realizadas a partir de entrevistas qualitati-
nosa de mulheres, podemos pensar que as vas, em profundidade, com cinco mulheres
relações afetivas estão no centro da cons- encarceradas com histórico de envolvi-
tituição da identidade feminina, tal como mento no tráfico de drogas no Rio de Ja-
afirma Miller (1987). Assim, o envolvimen- neiro. A partir da análise crítica de discurso
to das mulheres em atividades criminosas (Fairclough, 2008), a análise versa sobre as
estaria intimamente relacionado à figura tensões entre os discursos hegemônicos e
do homem como bandido e à proteção, por os discursos de resistência constitutivos da
parte das mulheres, da relação estabeleci- identidade das participantes. Portanto, im-
da com seus parceiros criminosos e à pro- porta para a compreensão deste processo
teção/criação dos filhos. A partir da ênfase a fluidez dos significados produzidos pelo
no papel preponderante do afeto na cons- discurso no contexto sócio-histórico e cul-
tituição da subjetividade feminina, pode- tural no qual as participantes estão inse-
mos entender que as relações afetivas es- ridas e o modo como deles se apropriam.
tabelecidas no contexto prisional feminino As entrevistas evidenciam o papel prepon-
evidenciam sua importância enquanto es- derante que as relações afetivas têm na
tratégia de sobrevivência emocional neste constituição da identidade das mulheres,
espaço e, consequentemente, contribuem tanto no contexto intra muros, como no
para a constituição da identidade destas extra muros. Os dados demonstram que a
mulheres. Assim, as vinculações amistosas vinculação amorosa dessas mulheres com
e amorosas entre as mulheres encarcera- traficantes contribui para a inserção delas
das, o “casamento” que reproduz papéis no tráfico de drogas, e esta participação,
hegemônicos de marido e mulher no cár- em relação à inserção masculina em tal ati-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vidade, acontece de modo muito particu- LT07-1231 - CRIMINALIDADES E


lar. Após o encarceramento, estereótipos MULHERES: OS DESAFIOS DO EXISTIR NA
afetivos passam a ser supervalorizados, CONTEMPORANEIDADE
como a idealização da figura materna e da Carolina Ferreira Barbosa - UFF/PURO
maternidade em si. As relações amorosas cfbarbosa@id.uff.br
entre as mulheres, que se estabelecem na Milena Rezende de Moraes - UFF/PURO
prisão, são marcadas pelos referenciais he- milena.psi@hotmail.com
terossexuais tradicionalmente conhecidos,
ou seja, há entre elas a exigência de uma fi- A atualidade possui configurações sociais
gura masculina de atividade e uma femini- dos tempos anteriores, o que possibilita
na de passividade. No caso das “sapatões” dizer que hoje há fusão de valores mo-
(mulheres que se travestem de homens e dernos e contemporâneos convivendo na
adotam nomes masculinos), embora haja sociedade. A Modernidade se caracteri-
uma recusa ao relacionamento afetivo zou pela criação de dispositivos que cap-
com homens, essas mulheres acabam por turavam as potencialidades políticas dos
se aproximar deles no modo como se com- corpos, a fim de explorá-los como riqueza
portam e exercem um poder diferenciado econômica. Os saberes se articularam ao
sobre as outras mulheres, poder este que Estado, produzindo modos de conceber a
está atrelado à figura masculina. Diante realidade, revestidos de veracidade. Essa
do exposto, percebemos que a inserção articulação produziu efeitos significativos
de mulheres em atividades criminosas no modo de compreender os sujeitos,
evidencia uma ruptura com os discursos inserindo-os numa norma considerada
hegemônicos sobre o tipo de comporta- ideal para experimentar a vida (Foucault,
mento próprio do feminino, em especial 2009). O exercício da disciplina apropria-
no que se refere à capacidade de cometer va das forças sociais suas habilidades. O
crimes tidos como de dominância mascu- objetivo principal era docilizar os corpos
lina, como a inserção no tráfico de drogas aos dispositivos. O poder sobre a vida,
e o protagonismo dessas mulheres diante através dos saberes, tinha como alvo criar
de seus atos – apesar de haver uma nego- mecanismos reguladores que afetassem
ciação deste lugar com o da vitimização. a população e os indivíduos, de maneira
Sendo a prisão e a favela espaços marca- que se autorregulassem (Foucault, 2009).
dos pela violência, as mulheres encontram As instituições, como família e prisão, as-
meios para existir e até mesmo sobreviver sumiram funções pedagógicas. Na primei-
nesses contextos, na tentativa de conciliar ra, cabia ao homem disciplinar sua casa e,
as marcas constitutivas que determinada na segunda, cabia ao Estado assumir esta
cultura convenciona como ser mulher e o função, já que a família não conseguia
envolvimento em atividades criminosas ti- exercer com êxito seu processo de cons-
picamente masculinas. tituir-se como nuclear. Isso porque nem
todas as famílias conseguiram se organi-
Palavras-chave: gênero, discurso, zar segundo os padrões de heterossexua-
criminalidade, relações afetivas, identidade lidade e papéis bem delimitados dos seus
Contato: Carolina Ferreira Barbosa, membros. As determinações de gênero
cfbarbosa@id.uff.br / caroldoicm@gmail.com são produções de verdades construídas

90
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

historicamente para a regulação dos cor- aos contextos de trabalho e família, dian-
pos. Sobre isso Saffioti (2010) diz que “o te da fusão de valores que caracterizam
Estado tem ratificado um ordenamento a contemporaneidade. Entendemos que
social de gênero através de um conjunto as relações nesses contextos são perme-
de leis que se pretendem objetivas e neu- adas por relações de poder e de tensão. A
tras, porque parte da errônea premissa de busca das mulheres por visibilidade e po-
que a desigualdade de fato entre homens der é constante, sendo o protagonismo, a
e mulheres não existe na sociedade” (p. intencionalidade das ações das mulheres
445). Narvaz e Nardi (2007), a partir de e a centralidade de gênero, norteadores
Foucault, dizem que não cabe “libertar” de suas relações sociais (Barcinski, 2009).
o indivíduo do Estado, mas dos indivíduos No presente estudo foram entrevista-
estarem liberados quanto às práticas indi- das cinco mulheres encarceradas em um
vidualizantes que as instituições estatais presídio do Rio de Janeiro. As entrevistas
promovem. Em seus estudos, Foucault foram qualitativas, em que as mulheres
não atribuiu devida importância às lutas foram convidadas a contar suas histórias
das mulheres contra aos valores andro- de vida. O interesse maior foi em relação
cêntricos que historicamente pautavam às formas pelas quais elas (re) criavam
as relações humanas. Acreditamos que é suas histórias, considerando os lugares
estratégia estatal a segregação dos gru- que ocupavam nos seus grupos sociais
pos sociais, para despolitizá-los. Um olhar (intramuros e extramuros) e o lugar que
atencioso para as questões de gênero se esse grupo ocupava na sociedade global.
faz urgente para intervir nas práticas e As participantes foram avisadas do cará-
discursos que colocam as mulheres como ter voluntário de sua participação e pude-
“minorias sociais” ou minorias políticas. ram interromper a gravação ou mesmo a
Em relação à prisão, o que se tem visto é a entrevista em qualquer momento. Os da-
reclusão de certos grupos sociais despro- dos foram analisados a partir da Análise
vidos de riqueza econômica e que se per- Institucional do Discurso (Guirado, 2010).
cebem com pouca visibilidade e poder so- Considerando as participantes como “su-
cial (Ciarallo, 2009). O lugar ocupado pela jeitos institucionais” (Galvão e Serrano,
mulher criminosa é traçado nesse contex- 2007), buscamos compreender os lugares
to de estigmas socialmente construídos, que as mulheres ocupavam a partir de
associados à classe e, principalmente, ao regras socialmente construídas e o papel
gênero. As representações sociais acerca que as práticas institucionais possuíam na
do feminino constituem certos modos de construção da subjetividade. O sujeito é
se envolver afetivamente com o outro e objetivado por práticas institucionais, pois
com o trabalho. Essas representações são é regulado e normatizado a partir dos mo-
fortemente impulsionadas pelas práti- dos de funcionamento das instituições. O
cas prisionais, que acabam constituindo processo de subjetivação se refere à for-
formas de se existir pautadas no que se ma pela qual o sujeito apropria tais expe-
espera de uma mulher na sociedade em riências (Foucault, 2009). As entrevistas
geral. Este trabalho objetiva conhecer mostram que os lugares ocupados pelas
os lugares ocupados pelo feminino na mulheres criminosas são construídos a
prisão e fora da prisão no que se refere partir do conflito de conciliar os relacio-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

namentos amorosos, familiares e o traba- LT07-1414 - VIOLÊNCIA E


lho. Fora dos muros prisionais, os lugares DESENVOLVIMENTO SUBJETIVO EM
ocupados não se restringem ao espaço RELAÇÃO HOMOAFETIVA FEMININA
privado do lar, mas são lugares marcados Carlos Felipe de Freitas Rossi - UNICESP
por estigmas sociais de gênero. Na prisão,
elas ocupam o lugar máximo de privação, O conceito de família tem sido utilizado
abandono, exclusão e humilhação social. para dar referência à unidade de reprodu-
Sobre as perspectivas para a vida pós- ção biológica e social, criada por laços con-
-encarceramento, algumas mulheres não sangüíneos ou de aliança, instituído pelo
vêem possibilidade de construir seu lu- casamento e/ou pelas uniões consensuais,
gar no mundo fora da ilegalidade. Outras por vínculo de descendência entre pais e fi-
cogitam a possibilidade de “sair da vida lhos – biológicos ou não, incluindo, os ado-
do crime”, mesmo que isto signifique o tivos – e por laços de consangüinidade en-
exercício de menos poder social. Dentro tre irmãos. (DURHAM, 1983; LÉVI-STRAUSS,
da prisão, alguns fenômenos conferem 1986 apud ROMANELLI, 2003, p. 249). Nos
mais poder como a homossexualidade, o dias atuais, é inegável que as constituições
trabalho devido ao bom comportamento familiares estão em crise. Um desequilíbrio
e o tipo de crime cometido. Fora da pri- que não pode ser considerado patológi-
são, “ser mulher de traficante”, estar en- co, mas sim um rearranjo frente às novas
volvida no tráfico de drogas e exercer a proposições e atuais condições históricas
maternidade são posições de prestígio no e sócio-econômicas (ROMANELLI, 2000). A
grupo social das encarceradas. O papel da conhecida família nuclear, composta por
instituição prisional é de promover ativi- pai, mãe e filhos, deixa de ser o modelo
dades em que a mulher esteja adequada comum e vigente no arcabouço social para
aos papéis domésticos. Dentre as ativi- dar lugar a instituições familiares de diver-
dades e medidas tomadas, encontramos sas constituições e dinâmicas de funciona-
atividades de artesanato, dinâmicas feitas mento (NEVES, 2006), como famílias consti-
por religiosos que incentivam a afetivida- tuídas por marido, esposa e filhos; aquelas
de e impedimentos para visitas íntimas constituídas por uniões estáveis, onde o
com os parceiros, por exemplo. Por fim, enlace matrimonial jurídico não existe; fa-
as mulheres entrevistadas, marginaliza- mílias matrifocais chefiadas por mulheres,
das economicamente, constroem seus lu- compostas por mães e filhos; famílias am-
gares ora se colocando como vítimas, ora pliadas agregando parentes do lado mater-
como protagonistas das relações sociais, no e/ou paterno; famílias recompostas, as
buscando sempre maior exercício do po- quais um parceiro ou ambos já possui ou
der. Esse poder pode ser exercido de for- possuem filhos de união anterior e também
ma explícita, pela violência ou de maneira famílias compostas por casais homoafeti-
implícita, camuflada, constrangida. vas. No âmbito das relações homoafetivas,
de acordo com o senso comum, os casais
Palavras-chave: criminalidade, mulheres, formados por homens possuiriam um gran-
lugares sociais de número de parceiros e seriam infiéis ou
Contato: Carolina Ferreira Barbosa, UFF, inconstantes, não raro com histórico de vio-
cfbarbosa@id.uff.br / caroldoicm@gmail.com lência entre os parceiros. Já nos casais do

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sexo feminino, por vários fatores, entre eles durante 6 anos, morando na casa de M. V
os fisiológicos, as mulheres supostamente relatou que, durante o relacionamento, M
baseariam suas relações no afeto, respei- a tratava com desdém, utilizado expressões
to, cumplicidade e instinto materno, sendo ofensivas e menosprezando todo esforço
isentadas da violência relacional. Entretan- de desenvolvimento pessoal e/ou profissio-
to, em qualquer relacionamento, hetero nal: você é um resto de preto, não sabe fa-
ou homoafetivo, masculino ou feminino, zer nada direito (sic). À semelhança de J, M
existem casos de violência real, física e/ou afirmava que V não precisava trabalhar ou
simbólica que constituem fatores que de- estudar, pois caberia àquela sustentá-la na
terminam o curso do desenvolvimento da união. Era tratada como inferior e incapaz
subjetividade destes atores (ARIÉS, 1981). de prover suas próprias necessidades. Você
O objeto deste trabalho é apresentar um é burra, pobre, incompetente e incapaz de
estudo de caso sobre violência entre um aprender qualquer coisa [...] ela tem 3 car-
casal homoafetivo do sexo feminino. O fato ros, eu tinha que andar de ônibus porque
das uniões estáveis entre pessoas do mes- ela não me deixava pegar nenhum. Era eu
mo sexo ainda não serem plenamente re- que dirigia sempre, mas só podia dirigir se
conhecidas, ainda que já legalizadas, pode fosse pra sair com ela do lado (sic). A des-
fazer com que casais vivam à margem da peito do cenário de violência, V não tentou
sociedade e com que o preconceito e a fal- estudar ou trabalhar por acreditar-se inca-
ta de informações de parcela da sociedade paz para qualquer atividade exceto as obri-
incitem estes membros a permanecerem gações de casa. Os atos de violência a que
escondidos como casais, muitas vezes, ob- era exposta apareceram como inibidores da
turando violências. O caso em foco é o de construção de seu autoconceito e tornar-
Vitória (V), residente de uma capital brasi- -se sujeito em desenvolvimento constituía
leira, sexo feminino, 38 anos de idade, di- um desafio quase impossível e desneces-
vorciada, desempregada, sem filhos. Caçula sário, desvelando o quanto M subtraia
de três irmãs, aos 18 anos perdeu o pai e qualidades e capacidades de V, mantendo
até seus 23 anos não pode casar-se, pois uma relação de dominação, de provedora
cuidava da mãe. Seis meses depois do fa- e detentora da razão. O relacionamento
lecimento da genitora, após 7 anos de na- ruiu. Com o término da relação, V procurou
moro, casou-se com José (J), negro, 5 anos ajuda psicológica. Encontrava-se em esta-
mais velho que ela, com quem viveu junto do de sofrimento profundo, queixando-se
por 9 anos. Segundo seu relato, nunca pre- de depressão, falta de vontade de viver e
cisou (não lhe foi permitido) trabalhar, pois sensação de culpa, além da preocupação
J era muito ciumento e não me deixava sair do que os outros vão pensar de mim por ter
de casa para trabalhar ou estudar (sic). Ain- terminado com ela (sic). Por ser constituída
da casada, conheceu Maria (M), 63 anos, através das relações sociais, a subjetivida-
funcionária pública aposentada, de alto po- de é entendida como uma realidade do ser
der aquisitivo, integrante de um círculo de humano; como um sistema de significações
amigas homossexuais, todas com elevado e sentidos constituídos nas relações que o
poder sócio-econômico. M incitou V a se- indivíduo estabelece em seus mais variados
parar-se de J e, apesar da diferença de ida- estágios de desenvolvimento (REY, 1999).
de, mantiveram um relacionamento estável Qualquer forma de violência pode modifi-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

car, interferir, inibir, prejudicar ou até evitar superação e engendrar papel catalizador no
o processo de desenvolvimento da subjeti- desenvolvimento, como no caso de V., real-
vidade, que está inserida em um contexto çando capacidades e potencialidades.
histórico sócio-cultural único; o sujeito se
torna um ente datado, histórico. V busca a
psicoterapia e inicia a ressignificação de ser LT01-853 - A CRIMINALIDADE
e estar no mundo. No processo, começa a COMO RECURSO PARA A SAÍDA DA
compreender que a construção subjetiva INVISIBILIDADE FEMININA
é um dado social e que cada parceiro tem Mariana Barcinski - PUC/RS
seu objetivo na trama relacional. A desco- mariana.barcinski@pucrs.br
berta de seu valor e papel social tem pos-
sibilitado o enfrentamento da posição au- O ingresso de jovens de camadas mais po-
tocrática e final do outro. Paulatinamente, bres brasileiras na rede do tráfico de drogas
vem superando dificuldades, estigmas e como estratégia de fuga da invisibilidade
infantilização a ela imputados. V terminou social e da falta do sentimento de pertença
seu curso técnico, planeja cursar um curso que marcam suas vidas tem sido discutido
superior e aguarda ser contratada por uma na literatura (Cruz Neto, Moreira, & Sucena,
empresa onde já estagia. A violência pode 2001; Pereira, 2009). Excluídos de um siste-
engendrar formas limitadoras do desenvol- ma social que não reconhece sua existência
vimento subjetivo e da constituição do su- no cotidiano ou em suas necessidades bási-
jeito como pessoa. Quando velada, não dei- cas de proteção, educação e trabalho, esses
xa marcas visíveis no corpo da vítima, mas jovens optariam por atividades criminosas
apresenta severas seqüelas no aparelho para se tornarem visíveis. Causar medo nas
psíquico, podendo agravar-se, descambar- pessoas, através da associação com fac-
-se para somatização de sintomas ou para ções criminosas e da ostentação de armas
o processo de violência física com efeito em ou tornar-se parte das estatísticas acerca
cascata. Por estarem “fora dos padrões so- da violência urbana são formas de adquirir
ciais”, muitos casos de violência em casais visibilidade, mesmo que carregada de co-
homoafetivos não são notificados, pela di- notações e sentimentos negativos que, em
ficuldade de apresentar provas da violência última instância, servem para aprofundar a
simbólica. Nas agressões físicas, a vítima realidade de exclusão social experimentada
passa pelo constrangimento exigido pela por esses jovens. Quando tratamos da par-
burocracia legal de abertura de inquérito ticipação feminina no tráfico de drogas, a
e buscas de provas para as investigações. questão da invisibilidade como motivadora
Mais um golpe de violência é desferido de comportamentos criminosos ganha con-
contra a vítima, que poderá sentir-se en- tornos peculiares. Como o tráfico é, indis-
vergonhada, exposta, humilhada, quando cutivelmente, reconhecido como uma ativi-
almejava proteger-se através dos métodos dade masculina, participar dele dá às mu-
legais. Submeter-se, paradoxalmente, con- lheres traficantes a possibilidade de se dis-
figura ato de proteção. Este estudo mostra tinguir de outras mulheres. Elas se tornam
que a violência e a opressão, embora sir- visíveis (diferentes de outras) ao desempe-
vam de elemento limitador do desenvol- nharem tarefas reconhecidas como mascu-
vimento, dialeticamente podem forjar sua linas. A saída da invisibilidade, no caso das

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mulheres envolvidas no tráfico, portanto, culina baseiam-se na imagem da mulher


se dá primordialmente pela diferenciação, como naturalmente dócil, passiva e menos
pela afirmação de um poder antes exclusivo suscetível à prática de comportamentos
dos homens e pelo reconhecimento exter- violentos (Walker, 2003). Sob esta mesma
no deste poder. O objetivo deste trabalho, perspectiva, Goetting (1988) sugere que a
portanto, é compreender como mulheres falta de atenção em relação aos crimes fe-
traficantes definem a sua participação na mininos se deve, em grande parte, ao fato
rede do tráfico de drogas e de que forma de as expectativas sociais sobre os papéis
a descrição desta participação – desde a desempenhados pelas mulheres legitima-
motivação para a entrada até os papéis de- rem a posição das mesmas como vítimas,
sempenhados na atividade – está permea- mas nunca como perpetradoras de vio-
da pela tentativa de saída da invisibilidade lência. Além das características associadas
que marca determinado grupo socialmente ao feminino servirem teoricamente como
marginalizado, especialmente as mulheres elementos protetivos à prática criminosa,
que o compõem. O engajamento de mulhe- a socialização feminina, com sua ênfase no
res em atividades criminosas, notadamente espaço privado como domínio privilegiado
no tráfico de drogas, é descrito de maneira de atuação das mulheres, seria a origem da
geral na literatura como subordinado à par- participação subalterna das mulheres em
ticipação dos homens nessas mesmas ativi- atividades ilícitas e da característica não
dades. Sem ignorar o fato de que parecem, violenta dos crimes femininos. A invisibi-
de fato, ser os homens os maiores motiva- lidade das mulheres nas teorias acerca da
dores para a entrada das mulheres na rede criminalidade seria, então, justificada pelo
do tráfico de drogas (Zaluar, 1993), a ênfase caráter atípico dos crimes por elas cometi-
quase que exclusiva na criminalidade fe- dos. Através da análise discursiva sistêmica
minina como decorrente de suas relações (Falmagne, 2004) de entrevistas com duas
afetivas retira o protagonismo e reforça a mulheres com uma história passada de
invisibilidade feminina na prática de crimes envolvimento no tráfico de drogas, o pre-
violentos e atividades ilícitas. Ao ignorar as sente trabalho discute a forma como o en-
especificidades dos crimes cometidos por volvimento das participantes na atividade
mulheres, a própria literatura atesta ou representou uma estratégia de saída da in-
reforça a invisibilidade feminina no que se visibilidade que marca a existência de mu-
refere aos fenômenos sociais da violência e lheres nas favelas. Através do desempenho
da transgressão. A partir de uma perspecti- de tarefas reconhecidamente masculinas,
va de gênero podemos compreender que, como carregar armas, entrar em confrontos
para além da reduzida relevância social atri- armados com a polícia e com facções cri-
buída à criminalidade feminina, a ausência minosas rivais e gerenciar pontos de venda
de estudos sobre mulheres envolvidas em de drogas em suas comunidades, tais mu-
atividades criminosas se deve também ao lheres marcaram uma distância significa-
fato de a violência, da agressividade e da tiva em relação a outras mulheres ao seu
transgressão não estarem previstas nos redor. Tal diferenciação, e especialmente
discursos acerca do feminino. As explica- o reconhecimento social do caráter atípico
ções tradicionais para a diferença entre de suas atividades como traficantes, repre-
as taxas de criminalidade feminina e mas- sentou na história de vida dessas duas mu-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lheres a saída (mesmo que temporária) da das pessoas e dos negócios. Quais aspectos
invisibilidade feminina na favela. Os dados deste filme podem contribuir para a análise
analisados no presente trabalho refletirão dos estudos sobre trabalho, poder e gêne-
as especificidades da participação feminina ro, sob a ótica da psicologia do desenvol-
no tráfico de drogas e a forma como as mu- vimento? Primeiro ele revela e desvela as
lheres traficantes constroem esta participa- especificidades da atividade laboral e seus
ção primordialmente em oposição a outras aspectos psicossociais: grupos, organiza-
mulheres ao seu redor. As referências ao ções e comunidades em situações do dia-
poder e ao status adquiridos como trafi- -a-dia, sem separar indivíduo e coletivida-
cantes ganham significado especial quando de, afeto e razão, processos inconscientes
tratadas sob uma perspectiva de gênero, e processos sociais. O seu enredo explicita
se entendermos a violência e a transgres- duas questões centrais para este trabalho:
são como prerrogativas masculinas. O dis- o tácito e o explícito nas relações de poder
curso das participantes, portanto, reflete o dentro de uma organização, que Fávero
investimento das mesmas em constituírem (2010) discute como políticas organiza-
as suas identidades através da marcação cionais e que dizem respeito ao processo
de elementos que distinguem as suas tra- cotidiano por meio do qual as abstrações
jetórias (e o reconhecimento externo desta sobre poder e organização são vividas e
distinção) da história de outras mulheres, ainda os processos mascarados destas po-
em geral. líticas, nas quais estão implicadas os pro-
cessos gendrados e são intimamente rela-
Palavras-chave: gênero, criminalidade, cionadas à masculinidade competitiva que
invisibilidade social. age nos meios de trabalho. Tais questões
inspiraram o presente trabalho que analisa
artigos publicados em periódicos nacionais
LT01-980 – RELAÇÕES DE PODER E sobre as relações de poder e gênero no
GÊNERO NO MUNDO DO TRABALHO: mundo do trabalho. Consultamos as bases
APORTES TEÓRICO-CONCEITUAIS2 de dados do Scientific Electronic Library
Vânia Maria Lopes Venâncio - UnB Online (Scielo) e do Periódicos Eletrônicos
vmvenancio@gmail.com em Psicologia (PePsic). Elegemos os se-
Maria Helena Fávero - UnB guintes critérios: (a) a articulação entre os
faveromh@unb.br descritores trabalho, poder e gênero em
todos os índices e em pares; b) sem demar-
O filme O Diabo veste Prada (2006), da cação de período e de tempo e (c) autoria
obra de Lauren Weisberger (2003), explo- de pesquisador brasileiro. Encontramos 39
ra o mundo do trabalho de uma revista de artigos, publicados em 24 revistas, de 1998
moda liderado por uma mulher autoritária, a 2010, sendo 31 do Scielo e 8 do Pepsic.
ambiciosa e de uma ética singular no trato A pesquisa compreendeu três démarches:
identificação pela internet, leitura e análise
2
Este estudo foi desenvolvido no âmbito da disciplina Psi-
dos artigos. Nesta última sistematizamos a
cologia do Desenvolvimento Adulto, do Programa de Pós- análise em tabelas, como proposto por Fá-
-Graduação em Processo de Desenvolvimento Humano vero e Souza (2001), nas quais a primeira
e Saúde, da Universidade de Brasília, sob a docência da
Profa. Dra. Maria Helena Fávero. coluna fornece um contador relativo às re-

96
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ferências; a segunda apresenta a referência justificadoras da discriminação e desigual-


completa do estudo; a terceira, o país de dade entre mulheres e homens, agravados
origem do estudo; a quarta identifica o re- quando entram os fatores de classe social,
ferencial teórico; a quinta identifica os obje- etnia e raça; a práxis nas organizações e nas
tivos do estudo; a sexta, o método e a séti- relações privadas e públicas apresentam
ma, os principais resultados. Identificamos aspectos que corroboram a tese da situa-
diferentes abordagens em diferentes áreas ção desigual da mulher nas esferas sociais,
do conhecimento: da Psicologia, da Socio- econômicas, políticas e filosóficas; algumas
logia, da Educação, da Administração e da categorias profissionais foram ressaltadas
Saúde. Entendemos que tal fato ressalta a com base nessa questão, como os profis-
necessidade de uma visão multidisciplinar sionais da área de enfermagem; grupos so-
na análise da complexa teia de significados ciais informais foram sujeitos de vários es-
que a articulação dos temas trabalho, po- tudos de casos como mulheres indígenas,
der e gênero suscita, assim como revela a mulheres em situação prisional e travestis.
necessidade de se intensificar a produção Temas particulares também foram eviden-
científica sobre esta articulação, amplian- ciados: as políticas públicas aparecem no
do o escopo de grupos sociais, incluindo questionamento do Programa Bolsa Esco-
diferentes categorias profissionais, consi- la, no aparato legal à questão da violência
derando a Psicologia do Desenvolvimen- doméstica, na revisão dos programas de
to do Adulto, que, como ressalta Fávero saúde coletiva e na adequação da legisla-
(2007), “permaneceu muito tempo como ção trabalhista. Em suma, os resultados
um espaço vazio entre o desenvolvimento dessa pesquisa bibliográfica apresentam
do adolescente e o do idoso” (p.194). Nos- importantes questões para reflexão: 1. A
sa análise bibliográfica evidenciou que: a necessidade de incremento teórico-meto-
produção científica nacional apresenta pu- dológico que fundamente os estudos para
blicações a partir de 1998 e se intensifica a que se considerem efetivamente os temas
partir de 2007; em sua maioria, os artigos trabalho, gênero e poder, tomados articu-
discutem a tríade trabalho-poder-gênero, ladamente; 2. Tal incremento deve consi-
articulando os três descritores, mas pre- derar o aporte da psicologia do desenvolvi-
valecendo a relevância em um dos temas, mento e em particular da psicologia da vida
com o predomínio do tema trabalho, segui- adulta, considerando os temas em questão
do de gênero e em menor monta a questão do ponto de vista do ciclo de vida; 3. Que
do poder; a complexidade do mundo do se assuma o desafio da Psicologia crítica e
trabalho se revela e se desvela em relações reflexiva na consideração do referido apor-
de poder gendradas que contribuem para te, isto é, se considere os chamados vieses
condições desiguais entre trabalhadores e culturais e políticos não como um proble-
trabalhadoras, como nos revela a análise ma metodológico, mas sim, por meio dos
de Anzorena (2008); trabalho, poder e gê- quais se considere as dinâmicas do gênero
nero também estão configurados de acor- (Jill Morawiski, 1997, 2005). Esta é a nossa
do com algumas abordagens de referência; pretensão em futuros estudos.
nas abordagens que tratam da liderança
e gestão, em sentido lato, as condições Palavras-chave: trabalho; poder; relações de
materiais da produção aparecem como gênero.

97
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1190 - "OS MENINOS ESTÃO universitários, como nas concepções de


PRONTOS PARA A MATEMÁTICA"; professores e pais de alunos. Os dados
"OS MENINOS SÃO INTELIGENTES POR destes estudos foram confirmados em ou-
CAUSA DA GENÉTICA? O EMBATE ENTRE tro estudo desenvolvido em duas fases: 1/
AS ADOLESCENTES, OS ADOLESCENTES E entrevista com professores de matemáti-
OS PROFESSORES DE MATEMÁTICA.” ca que atuam do 6º ao 9º ano do Ensino
Francisca Zuita Alves Paiva - FAJESU/DF Fundamental, todos de uma mesma es-
zu.alves@gmail.com cola da Rede Particular de Ensino de uma
Maria Helena Fávero - UnB cidade satélite do DF. As entrevistas foram
faveromh@unb.br. semiestruturadas em 4 eixos – o desem-
penho de alunas e alunos em matemática;
Embora tenha havido nas últimas décadas as possíveis explicações para as possíveis
um aumento significativa no número de diferenças de desempenho; gênero e área
mulheres na Educação Básica e no Ensino do conhecimento. 2/ participaram 8 alu-
Superior, as pesquisa apontam que as mu- nos do sexo masculino, entre 14 e 15 anos
lheres superaram os homens em escolari- de idade, do 9º ano do Ensino Fundamen-
dade, estão em maior número nas áreas tal, todos de uma mesma escola da Rede
de humanas e biológicas e os homens es- Particular de Ensino de uma cidade satéli-
tão em maior número nas áreas de exa- te do DF, a quem propusemos a discussão:
tas. Evidencia-se ainda que esta tendência “na opinião de vocês quem se sai melhor
se mantém nos cursos de pós-graduação em matemática, os meninos ou as meni-
(Godinho, 2005; Ristoff, 2006; Chamom, nas?” A análise da discussão evidenciou
2005). Por isto mesmo, Fávero (2010 a) dados contraditórios com os das professo-
enfatiza uma das linhas de pesquisa sobre ras e professores. Segundo os estudantes:
a relação entre gênero e socialização, fo- as meninas são mais inteligentes na mate-
cando a diferença que persiste nos dados mática; elas são mais maduras; elas estu-
dos estudos nacionais e internacionais dam mais; aprendem com mais facilidade;
sobre a entrada de mulheres na área de a maioria dos meninos só quer “vadiar”;
ciências e de tecnologias em comparação os meninos têm ter alguém “empurran-
à entrada e permanência dos homens. Um do”, senão “a gente não aprende não”.
dos aspectos ressaltados por esta autora Para comprovar sua posição o grupo for-
diz respeito ao ensino de matemática e neceu dados: na sua classe de 35 alunos,
a natureza da mediação do conhecimen- 15 do sexo feminino e 20 do sexo masculi-
to na instituição escolar. Fávero (2010 b) no, 8 alunas se destacam em matemática
defende a tese segundo a qual, a institui- contra 2 alunos. O estudo apontou indícios
ção educacional mantém a ideologia do sobre o chamado “currículo oculto das es-
patriarcado na sua forma contemporânea, colas”, em referência aos valores sociais
por meio da mediação significados so- gendrados que permeiam as informações,
bre papéis de gênero em articulação aos os procedimentos e as próprias atividades
significados sobre as diferentes áreas do escolares e que se constituem em peças
conhecimento. Assim, Fávero & Salgado fundamentais da socialização. Ficou evi-
(2006; 2007) evidenciaram tal articula- denciado que os professores e professoras
ção tanto nas concepções de estudantes têm expectativas diferentes para meninos

98
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e meninas e isso ainda permanece como as alunas discordaram dos professores;


um dado particularmente presente no acordaram que os alunos do sexo mascu-
caso do ensino da matemática (Paiva e Fá- lino não são melhores em matemática; ar-
vero, 2010). E as meninas o que será que gumentaram que a sociedade é machista e
pensam sobre estas expectativas? Para desqualificam a inteligência feminina. Ex:
responder a esta questão desenvolvemos “então eles querem dizer que os meninos
o presente estudo, que se focou nesta são inteligentes por causa da genética? A
questão por meio da discussão entre ado- inteligência dos meninos está no DNA?”.
lescentes do sexo feminino. Constituímos Os resultados da segunda discussão evi-
quatro grupos focais: dois de seis alunas denciaram que: as alunas acordaram que
de sexto ano cada (um de uma escola da os alunos não são bons em matemática
Rede de Ensino Público do DF e outro de porque eles só pensam em “curtir a vida
uma escola da Rede Particular de Ensino e deixam os estudos para depois; os me-
do DF); e dois grupos de seis alunas do 3º ninos só pensam em som”; alegaram que
ano do ensino médio cada (um de uma apesar disto, os homens ocupam melho-
escola da Rede de Ensino Público do DF e res posições no mercado de trabalho com
outro de uma escola da Rede Particular de melhores salários: “às vezes as mulheres
Ensino do DF). A todos os grupos foi pro- fazem o mesmo trabalho do homem, mas
posto para discussão duas frases obtidas recebem um salário menor”. Quanto as
de estudo anterior prescrito acima. A pri- suas escolhas profissionais evidenciou-se
meira foi obtida junto a professores e pro- a opção prioritária por áreas de humanas
fessoras de matemática da Rede Particu- tais como: Nutrição, Educação, Medicina,
lar de Ensino do DF: “As meninas vão bem Biologia, Arquitetura e outras. Podemos
em matemática porque se esforçam; os dizer que nossos dados apresentam uma
meninos estão prontos para o raciocínio questão particular que necessita de novos
matemático”. A segunda foi obtida junto estudos: apesar de partilharem a concep-
a estudantes do sexo feminino do 9º ano ção de que os alunos do sexo masculino
do Ensino Fundamental de uma escola da não são melhores em matemática, as ado-
Rede Particular de Ensino do DF: “As me- lescentes declaram opções profissionais
ninas são mais inteligentes em matemáti- por áreas tidas como próprias aos papéis
ca; elas são mais maduras; elas estudam femininos. Assim concluímos sobre a ne-
mais; os meninos só querem vadiar”. Cada cessidade, como outras autoras já salien-
frase foi apresentada separadamente, se- taram (Abramo, 2004; Anzorena, 2008;
guida do convite a sua discussão. Após o Arnot, 2006; Fávero, 2010 a; 2010 b). de
término da discussão da primeira frase foi se desenvolver pesquisas que fundamen-
apresentado a segunda e feito um novo tem ações para promover a mudança nas
convite a discussão. Ao término da discus- concepções sobre a relação entre gênero
são foi proposto as alunas que relatassem e capacidade intelectual e a relação entre
suas escolhas profissionais. As discussões gênero e escolha profissional.
nos grupos foram registradas em vídeo e
os atos da fala foram tomados como uni- Palavras-chave: gênero, ciência e matemática;
dades de análise. Quanto a primeira dis- concepções sobre a matemática; escolarização
cussão, os resultados evidenciaram que: e socialização gendradas.

99
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

DIA 13/11 - Domingo ção a ser implantado nos seus locais de atu-
ação, a partir das demandas percebidas no
seu cotidiano. A capacitação foi realizada
10h30-12h com base em aulas expositivas dialogadas,
trabalhos em grupos e discussão de filmes.
Além disso, contou com a realização de um
pré-teste, avaliação de cada módulo (Di-
MR LT06 - Mesa Redonda
reitos Humanos, Violência e Mediação de
Convidada Conflitos) e um pós-teste, ao final dos três
módulos da capacitação. Os trabalhos que
serão apresentados dizem respeito aos da-
MR LT06-973 - DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO dos quantitativos do pré-teste e aos dados
DE UMA CAPACITAÇÃO PARA qualitativos obtidos nos diários de campo
PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO da equipe que participou da primeira edi-
À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO ção do Pronex. A mesa será composta de
INTERIOR DO RS três trabalhos. O primeiro deles buscará
Normanda Araujo de Morais - UFRGS descrever a capacitação que foi realiza-
normandaaraujo@gmail.com da (organização dos temas, cronograma,
caracterização dos participantes), assim
O objetivo desta Mesa Redonda é descre- como apresentar os primeiros dados quali-
ver e avaliar o processo de implantação tativos que resultaram da mesma (impres-
de uma tecnologia social, proposta pelo sões da equipe sobre o envolvimento dos
Programa de Apoio a Núcleos de Excelên- participantes, temas centrais, fragilidades
cia – PRONEX, realizado em um município identificadas na rede, etc). O segundo tra-
do noroeste do RS. Trata-se de um projeto balho buscará descrever os índices de es-
de pesquisa multicêntrica, realizada com gotamento profissional e de bem-estar no
a parceria de 10 Universidades, que tem trabalho, apontados pelos participantes no
como objetivo implementar e avaliar uma momento do pré-teste. Por fim, o terceiro
proposta de capacitação de profissionais trabalho buscará apresentar, também com
das áreas da saúde, da educação e da rede base em dados quantitativos do pré-teste,
de proteção de crianças e adolescentes nas os principais valores que têm embasado a
seguintes temáticas: direitos humanos, vio- prática desses profissionais, bem como a
lência e mediação de conflitos. O processo sua percepção sobre como se sentem des-
de capacitação teve a duração de 30 horas de que começaram a trabalhar com essa
e trabalhou os seguintes temas: direitos população. Os dados aqui avaliados dizem
das crianças e de adolescentes, mulheres e respeito aos 30 participantes que respon-
minorias étnicas e sociais; maus-tratos con- deram ao pré-teste, sendo a maioria do
tra crianças; consequências psicológicas da sexo feminino (n=28; 93,3%) e com média
violência; fatores de risco e de proteção; de idade de 38 anos (DP=10,93). A apre-
resiliência; comportamento infrator; uso sentação do conjunto de trabalhos per-
de drogas na adolescência e mediação de mite estabelecer os pontos centrais dessa
conflitos. Além disso, ao final, os partici- primeira edição do PRONEX, quais sejam:
pantes montaram um projeto de interven- a relevância de propostas de capacitações

100
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como essa, especialmente, para trabalha- referentes a uma proposta de intervenção


dores do interior do estado, para quem junto a uma amostra de 30 profissionais da
o acesso a cursos e capacitações é mais rede de proteção às crianças e adolescen-
limitado; a relevância das estratégias de tes vítimas de violência da Região Noroeste
avaliação do impacto e do processo da tec- do RS. Especificamente, busca-se com esse
nologia proposta; e, por fim, o importante trabalho: descrever a capacitação realizada
papel multiplicador que estratégias desse nessa primeira etapa do PRONEX e apre-
tipo podem ter, ao criarem um espaço nos sentar dados qualitativos acerca do proces-
quais os profissionais da rede local podem so de avaliação da mesma. A intervenção
se encontrar, discutir temas relevantes ao foi planejada a partir de três módulos, os
seu cotidiano e identificar estratégias que quais contemplam os temas dos direitos de
venham a fortalecer a rede. crianças e adolescentes, mulheres e mino-
rias étnicas e sociais (6 horas); maus-tratos
contra crianças, consequências da violên-
DESCREVENDO A CAPACITAÇÃO PARA cia, fatores de risco e de proteção, resiliên-
PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO À cia, comportamento infrator e uso de dro-
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO INTERIOR gas na adolescência (16 horas); bem como
DO RS mediação de conflitos (4 horas). Além dis-
Jeane Lessinger Borges - SETREM so, um turno de trabalho (4 horas) foi de-
jeanepsico@yahoo.com.br dicado à montagem de um projeto de in-
Normanda Araujo de Morais - UFRGS tervenção pelos participantes, a partir das
normandaaraujo@gmail.com demandas percebidas no seu cotidiano. A
intervenção totalizou 30 horas, e buscou-se
Trata-se de um recorte de um projeto de avaliar a efetividade desta através de um
pesquisa multicêntrica, sobre a efetivida- levantamento pré e pós-teste. Além disso,
de de uma tecnologia social junto a 1.200 foram adotados diários de campo para o
profissionais da rede de proteção no es- registro de dados qualitativos, os quais fo-
tado do Rio Grande do Sul (RS), realizado ram elaborados pela equipe de psicólogas
através do Programa de Apoio a Núcleos palestrantes e bolsistas de iniciação cien-
de Excelência (PRONEX). O objetivo da pes- tífica. Os participantes são, predominan-
quisa mais ampla é o de capacitar profis- temente, do sexo feminino (93,3%), sendo
sionais das áreas da saúde, da educação e que 40% têm ensino superior completo e
da rede de proteção de crianças e adoles- 46,7% têm pós-graduação. A idade média
centes para a identificação de indicadores da amostra era de 38 anos (DP=10,93). Os
de violência, futuros encaminhamentos e participantes desta amostra incluem profis-
acesso à rede de atendimento, bem como sionais da Psicologia (30%), do Serviço So-
avaliar o impacto e o processo da capacita- cial (23,3%), da Enfermagem (26,7%) e da
ção. Visa-se que, ao final da intervenção, os Educação (15,3%), representantes de cin-
participantes possam instrumentalizar-se co municípios da referida região. A renda
e serem multiplicadores dos conhecimen- mensal variava de R$ 600,00 a 5.000,00 (M
tos adquiridos e da vivência desenvolvida = R$ 2.004,90 reais). O principal vínculo de
ao longo dos módulos de trabalho. Este trabalho foi celetista e concursado (ambos
trabalho busca descrever dados iniciais, com 26,7%; n = 8), seguido de estatutário

101
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(13,3%; n = 7). O tempo médio de trabalho junto às crianças e suas famílias, a partir
na ocupação atual variava entre 1 mês e 30 de um viés interdisciplinar. Nesse sentido,
anos (M = 7,3 anos) e o tempo médio de de um modo geral, os resultados encontra-
atuação profissional com o fenômeno da dos nesta etapa inicial do PRONEX contem-
violência contra criança era de 4 anos (DP= plam os objetivos da proposta mais ampla
4,0). Em relação aos dados qualitativos, os desta pesquisa. O recorte proposto neste
resultados preliminares desta intervenção trabalho problematiza o trabalho que vem
apontam: (a) a satisfação dos participan- sendo desenvolvido na rede de proteção
tes com os temas abordados, sobretudo, à criança vítima de violência, apontando
com temáticas como resiliência e Psicolo- suas lacunas e possibilidades, num grupo
gia Positiva, vistos pela primeira vez pela de profissionais do interior do RS. Os resul-
maioria deles; (b) a grande participação e tados encontrados podem oferecer subsí-
motivação dos presentes no processo de dios para políticas públicas no atendimento
capacitação; (c) a oportunidade criada na a crianças e suas famílias expostas a situ-
capacitação da rede local de proteção ser ações de violência. Além disso, aponta-se
avaliada e discutida, inclusive, apontando a necessidade de uma maior articulação
suas fragilidades. Dessa forma, ficou visí- entre os serviços da rede de proteção, em
vel a falta de uma rede de proteção arti- prol de uma maior integralidade das ações
culada, ou seja, observou-se a existência e de um atendimento mais humanizado.
de vários serviços da rede de proteção na
cidade, porém, com atuações individualiza- Palavras-chave: rede de proteção, criança e
das; (d) predomínio de encaminhamentos adolescente, capacitação.
da rede para os serviços de assistência so-
cial especializados (por exemplo, CREASs),
como sendo o serviço de referência para NÍVEIS DE BEM-ESTAR E SÍNDROME
as situações de violência contra a criança; DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS
(e) a alta rotatividade dos profissionais nos DA REDE DE PROTEÇÃO A CRIANÇA E
serviços da rede, sendo que os participan- ADOLESCENTE DO INTERIOR DO RIO
tes demonstraram perceber a perda do GRANDE DO SUL
vínculo do usuário com a equipe e com o Juliana das Neves Nóbrega - UFRGS
profissional como sendo uma dificuldade julli.nobrega@gmail.com
no trabalho cotidiano em seus serviços de Clarissa Pinto Pizarro de Freitas - UFRGS
origem; e (f) a necessidade de formação clappdf@gmail.com
permanente para os profissionais que atu- Normanda Araujo de Morais - UFRGS
am na rede de proteção. Os dados aponta- normandaaraujo@gmail.com
ram, ainda, que a capacitação possibilitou Bruno Figueiredo Damásio - UFRGS
um momento para a elaboração de proje- brunofd.psi@gmail.com
tos de intervenção sobre diferentes temas, Silvia Helena Koller - UFRGS
envolvendo infância e adolescência em si- silvia.koller@gmail.com
tuação de vulnerabilidade psicossocial e o
fortalecimento do trabalho em rede. Veri- Este trabalho é um recorte do projeto
ficou-se que tais projetos abordaram tanto “Avaliação de uma tecnologia social apli-
intervenções primárias quanto terciárias cada para a capacitação de profissionais

102
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da área da educação, saúde e da rede de adolescente, de cinco municípios do in-


proteção a crianças e adolescentes sobre terior do Rio Grande do Sul. Participaram
direitos humanos, violência e mediação 30 profissionais, dos quais 28 mulheres e
de conflitos”, o qual foi direcionado aos dois homens. A média de idade foi de 38
profissionais da rede de proteção à crian- anos (DP= 10,9). A maioria era de religião
ça e ao adolescente, do estado do Rio católica (n=24; 80%), possuía nível supe-
Grande do Sul. Discutir-se-ão dados refe- rior (n=14; 46,7%) ou algum tipo de pós-
rentes à primeira etapa da capacitação, -graduação (n=12; 40%). A área predomi-
com profissionais de cinco municípios da nante de formação foi a Psicologia (n=9;
região noroeste do Rio Grande do Sul. A 30%), seguida pelo Serviço Social (n=8;
satisfação que as pessoas têm com o seu 26,7%) e pela Enfermagem (n=5; 16,7%),
trabalho pode ser explicada, em parte, e a renda mensal variou de R$ 600,00 a
pelos seus níveis de bem-estar no traba- 5.000,00 (M = R$ 2.004,90 reais). Quanto
lho, sendo tal indicador uma importante ao vínculo de trabalho, os principais fo-
ferramenta para avaliar o desempenho ram celetistas e concursados (ambos os
ocupacional e o comprometimento or- grupos com 26,7%; n = 8), seguido de es-
ganizacional. O bem-estar é um constru- tatutários (13,3%; n = 7). O tempo médio
to amplo, o qual tem sido associado à de trabalho na ocupação atual variou de
felicidade, satisfação, afetos positivos e 1 mês a 30 anos (M = 7,3 anos). Os instru-
avaliação subjetiva de qualidade de vida. mentos utilizados foram a Escala de Bem-
Quando vinculado ao trabalho, o bem- -estar Afetivo no Trabalho e Maslach Bur-
-estar torna-se útil à medida que expõe a nout Inventory (MBI). A primeira avalia os
não equivalência entre a satisfação e insa- níveis de bem-estar no trabalho, por meio
tisfação, demonstrando que uma não está da subescala de afetos positivos e da su-
diretamente vinculada à outra. Associado bescala de afetos negativos; o MBI inves-
à insatisfação no ambiente ocupacional, tiga os níveis de burnout através das três
identifica-se o burnout, ou síndrome do escalas: exaustão emocional, despersona-
esgotamento profissional. Essa se carac- lização e realização profissional. Os dados
teriza, entre outras coisas, pela predomi- foram analisados por meio de estatísticas
nância de sintomas emocionais disfóri- descritivas e da correlação de Pearson. Os
cos; de sintomas psicológicos e compor- valores do alpha de cronbach (α) da Es-
tamentais, em detrimento de sintomas cala de Bem-estar Afetivo no Trabalho na
físicos; e diminuição gradativa no rendi- subescala de afetos positivos foi α=0.86 e
mento ocupacional. Apesar de não haver na subescala de afetos negativos foi α =
consenso na definição de burnout, existe 0.86. Os valores do α do MBI para o fator
uma significativa concordância em rela- exaustão emocional foi α = 0.79, para o fa-
ção às dimensões que a constituem. São tor despersonalização α = 0,25 e para bai-
elas: exaustão emocional, despersonali- xa realização pessoal no trabalho α = 0,72
zação e baixa realização pessoal no traba- indicando, em geral, uma consistência
lho. Considerando o exposto, o objetivo interna significativa. Os resultados encon-
desse estudo foi analisar o nível de bem- trados na Escala de Bem-estar Afetivo no
-estar e síndrome de burnout em profis- Trabalho indicaram que os profissionais
sionais da rede de proteção à criança e ao apresentam uma relação positiva com o

103
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

trabalho. Isso pode ser notado na média PERCEPÇÃO SOBRE VALORES


ponderada da subescala de afetos positi- QUE INFLUENCIAM A PRÁTICA DE
vos M = 4,43 (DP = 0,41); complementan- PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO
do essa percepção, a média ponderada da A CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO
subescala de afetos negativos foi de 2,50 INTERIOR DO RS
(DP = 0,88). No MBI, a média ponderada Normanda Araujo de Morais - UFRGS
para o nível de exaustão emocional foi de normandaaraujo@gmail.com
2,08 (DP = 0,48), para despersonalização Juliana das Neves Nóbrega - UFRGS
foi de 1,53 (DP = 0,43) e de baixa reali- julli.nobrega@gmail.com
zação profissional foi de 1,79 (DP = 0,41). Clarissa Pinto Pizarro de Freitas - UFRGS
Os achados indicam que os profissionais clappdf@gmail.com
apresentam baixos níveis de burnout. As Bruno Figueiredo Damásio - UFRGS
análises de correlação de Pearson indica- brunofd@gmail.com
ram que as dimensões afeto negativo da Silvia Helena Koller - UFRGS
Escala de Bem-estar Afetivo no Trabalho silvia.koller@gmail.com
está positivamente relacionada às di-
mensões de exaustão emocional (r=0,71; Este trabalho tem como objetivo avaliar os
p=0,001) e baixa realização no trabalho principais valores que embasam a prática
(r=0,54; p=0,002) do MBI. Com relação de profissionais da rede de atendimento a
ao afeto positivo da Escala de Bem-estar crianças e adolescentes do interior do Rio
Afetivo no Trabalho, observou-se que o Grande do Sul, assim como as percepções
mesmo está negativamente relacionado destes profissionais, sobre como têm se
às dimensões de exaustão emocional (r=- sentido desde que começaram a trabalhar
0,53; p=0,003) e baixa realização (r=-0,59; com essa população. Esses profissionais
p=0,001) no trabalho do MBI. No que se (n=30) participaram da Capacitação pro-
refere à dimensão de despersonalização movida pelas Universidades Federal do
do MBI, essa não está significativamente Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Facul-
relacionada com a Escala de Bem-estar dade Três de Maio (SETREM) acerca das
Afetivo no Trabalho. As correlações de- temáticas de direitos humanos, violência
monstraram que os dois instrumentos fo- e mediação de conflitos, com duração de
ram adequados para acessar os aspectos 30 horas. No início das atividades, os pro-
constituintes da relação dos profissionais fissionais responderam a um questionário
com o próprio trabalho. Neste sentido, de pré-teste, no qual constavam questões
pode-se inferir que os profissionais que se de caracterização sociodemográfica, além
disponibilizaram a participar da primeira de escalas específicas, sobre esgotamento
etapa da capacitação apresentavam re- profissional, bem-estar no trabalho, valo-
lações positivas com o trabalho por eles res que fomentam suas práticas e percep-
desenvolvido, aspecto corroborado pelos ções de como se sentem desde que come-
índices da Escala de Bem-estar Afetivo no çaram a trabalhar com crianças e adoles-
Trabalho e pelo MBI. centes. Os resultados destas duas últimas
escalas foram analisados para o presente
Palavras-chave: burnout, bem-estar, rede trabalho. Na escala de valores (seis itens;
proteção alpha = 0,70), o participante deveria apon-

104
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tar um valor entre 1 a 5 para avaliar a fre- sociodemográficas (idade, escolaridade,


quência (nunca a sempre) com que valo- tempo médio de trabalho na ocupação
res familiares, religiosos, institucionais, atual, tempo de trabalho com direitos da
do Estatuto da Criança e do Adolescente criança e renda mensal) mostraram as
(ECA), formação técnica e experiência pro- seguintes correlações: valores familiares
fissional influenciam a sua prática. Na es- e idade (r = 0,39; p < 0,05); valores fami-
cala de percepção sobre como se sentem liares e tempo de trabalho (r = 0,45; p <
desde que começaram a trabalhar com 0,05); valores religiosos e idade (r = 0,36;
crianças e adolescentes (13 itens; alpha p < 0,05); valores religiosos e tempo de
= 0,89), o participante deveria destacar trabalho (r = 0,46; p < 0,05); valores reli-
numa escala de 1 a 5 (discordo totalmente giosos e tempo de trabalho com direitos
a concordo totalmente) o quanto se sente da criança e do adolescente (r = 0,51; p <
mais otimista, cansado, feliz, preparado, 0,01); influência da legislação do ECA com
pessimista e outros, desde que vem tra- escolaridade (r = 0,43; p < 0,05) e da le-
balhando nessa área. A amostra foi pre- gislação do ECA com a renda mensal (r =
dominantemente do sexo feminino (n=28; 0,37; p < 0,05). Ou seja, os valores fami-
93,3%) e tinha, em média, 38 anos de ida- liares e religiosos tenderam a ser aponta-
de (DP = 10,93). A maioria declarou-se ca- dos por profissionais mais velhos e com
tólica (n=24; 80%) e possuía nível superior mais tempo de trabalho; os valores reli-
(n=14; 46,7%) ou algum tipo de pós-gra- giosos também foram mais mencionados
duação (n=12; 40%). A área predominan- pelo grupo de profissionais que trabalha
te de formação foi Psicologia (n=9; 30%), há mais tempo com direitos da criança;
seguida por Serviço Social (n=8; 26,7%) e e, por fim, os valores do ECA foram mais
Enfermagem (n=5; 16,7%) e a renda men- mencionados pelo grupo de profissionais
sal variou de R$ 600,00 a 5.000,00 (M = com maior escolaridade e renda. Quando
R$ 2.004,90 reais). O principal vínculo de convidados a avaliarem como se sentiam
trabalho foi celetista e concursado (ambos desde que começaram a trabalhar com
com 26,7%; n = 8), seguido de estatutário crianças e adolescentes, os participantes
(13,3%; n = 7). O tempo médio de trabalho ressaltaram que: (a) começaram a buscar
na ocupação atual variou entre 1 mês e conhecimentos que julgavam necessários
30 anos (M = 7,3 anos). Já o tempo médio (M = 4,52; DP = 0,50); (b) estavam certos
do trabalho com direitos da criança e do que queriam continuar trabalhando na
adolescente foi inferior (M = 4 anos; va- área (M = 4,45; DP = 0,63); (c) sentiram
riando de 1 mês a 21 anos). Entre os par- que agregaram conhecimentos que jul-
ticipantes, a experiência profissional (M = gavam necessários à atuação (M = 4,38;
4,66; DP = 0,55) foi apontada como o item DP = 0,56); (d) desenvolveram uma visão
que mais influencia a prática, seguida pe- menos preconceituosa da população (M =
los demais valores: formação técnica (M = 4,21; DP = 0,92); e (e) uma visão menos
4,50; DP = 0,78), valores institucionais (M idealizada desta (M = 4,14; DP = 0,59). Os
= 4,17; DP = 0,87), valores familiares (M itens que obtiveram as menores médias
= 4,00; DP = 1,2) e valores religiosos (M = foram aqueles que expressavam uma vi-
2,87; DP = 1,33). Análises de correlação são negativa, dentre eles: sentir-se mais
envolvendo esses valores e características pessimista (M = 2,10; DP = 0,90), sentir-se

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mais cansado (M = 2,21; DP = 0,98) e sen- ta por Ana Luiza Bustamante Smolka, uma
tir-se mais frustrado (M = 2,28; DP = 1,03). das pesquisadoras vygotskianas do Brasil
Análises de correlação dos itens dessa de maior proeminência, com destaque
escala com variáveis sociodemográficas nos cenários nacional e internacional; pelo
mostraram apenas uma correlação po- professor Bernd Fichtner, da Universidade
sitiva, a saber: o tempo de trabalho com de Siegen na Alemanha, que repensa a
direitos da criança esteve correlacionado teoria de Vygotsky no contexto da produ-
com o item “sentir-se mais otimista quan- ção das ciências humanas; pela professora
to ao sucesso do trabalho” (r = 0,48; p < Marta Sforni, pesquisadora ativa na área,
0,05). Em síntese, os resultados sugerem com enfoque na Teoria da Atividade; e,
a importância da experiência profissional por fim, Zoia Prestes, tradutora das obras
na prática cotidiana dos participantes. de Vygotsky que levanta questionamentos
Inclusive, eles ressaltam a busca pelo co- atuais acerca da interpretação da teoria
nhecimento na área como um passo que vygotskiana no Brasil.
deram desde que começaram a trabalhar
com a temática de direitos da criança e do
adolescente. Há, ainda, por parte dos par- VYGOTSKY NA CONTEMPORANEIDADE:
ticipantes, uma visão positiva da sua práti- CONTRIBUIÇÕES, INSPIRAÇÕES E
ca, a qual é relacionada a sentimentos de PROVOCAÇÕES
felicidade e realização. Ambos os aspectos Ana Luiza Bustamante Smolka - UNICAMP
(busca de conhecimento técnico, senti-
mento de felicidade e realização) ficaram L. S. Vygotsky nos deixou uma obra ex-
visíveis nos depoimentos e na forma como tensa, densa e inacabada, repleta de in-
se mostraram engajados na capacitação. tuições fecundas. Ao mesmo tempo em
que nos inspira e nos fornece as bases
Palavras-chave: profissionais, rede de de uma consistente sustentação teórico-
proteção, infância e adolescência -metodológica, a obra se abre a múltiplas
Contato: Normanda Araujo de Morais, UFRGS, interpretações. Vygotsky privilegiou em
normandaaraujo@gmail.com seus estudos o desenvolvimento cultural
da criança, chamando a atenção para a
história do desenvolvimento cultural do
MR LT02 - Mesa Redonda ser humano. Apontando insistentemente
Convidada para a importância de se considerar a his-
tória – das funções mentais superiores, da
atividade humana, do desenvolvimento
MR LT02-1503 - VIGOTSKI NA do gesto de apontar, dos signos, da lingua-
ATUALIDADE, UMA DISCUSSÃO gem, da consciência -, ele argumentava
TEÓRICO-METODOLÓGICA sobre a constituição social da personalida-
de individual forjada numa história de re-
A mesa redonda tem por objetivo reunir lações sociais. Vygotsky dizia que a histó-
especialistas em Vygotsky que trazem uma ria do desenvolvimento cultural nos leva,
perspectiva atual na leitura dos textos e de cheio, aos problemas da educação.
na prática de pesquisa. A mesa é compos- Suas preocupações se orientavam, assim,

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para os modos de ensinar, para os modos a Vygotsky, em interlocução com outros


de estudar as relações de ensino, e para autores contemporâneos. Tomando como
os resultados ou efeitos dessas relações. foco e lugar de análise as enunciações
Em sua perspectiva do desenvolvimento dos professores em reuniões de estudo, a
humano, a educação e o ensino, como o proposta é refletir sobre as possibilidades
trabalho do homem sobre o homem, ad- de (investigação do) desenvolvimento dos
quiriam fundamental relevância. Buscan- sujeitos e de desenvolvimento da própria
do compreender como a criança se apro- da atividade de ensinar, considerando as
pria da cultura, ou como o coletivo cria as con(tra)dições da contemporaneidade.
funções mentais superiores na criança, ele
defendia a tese da participação do outro
e dos instrumentos técnicos e semióticos A ABORDAGEM DE VYGOTSKY COMO
como constitutivos da emergência de no- PROVOCAÇÃO PARA AS CIÊNCIAS
vas formas de atividade humana no curso HUMANAS
da história. Perseguindo essas questões Bernd Fichtner - Universidade de Siegen/
no campo da Psicologia e da Educação, Alemanha
Vygotsky não se cansou de levantar e dis-
cutir a questão do método. Interessado na Nos últimos vinte anos vivenciamos o co-
emergência e no engendramento de no- lapso e a dissolução de três fronteiras im-
vas formas de atividade, ele desenvolveu o portantes: 1. a fronteira entre o homem e
que chamou de método instrumental, his- o animal foi definitivamente desconstruí-
tórico genético, ou de dupla estimulação, da pelos resultados da pesquisa sobre os
no estudo das relações desenvolvimento/ primatas; 2. a fronteira entre organismo e
aprendizagem/ pensamento/linguagem / maquina foi aniquilada pelas pesquisas da
experiência/consciência. Nos últimos anos neuro-informática e nanotecnologia; 3. a
de sua vida, chegou a afirmar que “a aná- fronteira entre o físico e o não físico desa-
lise semiótica é o único método adequa- pareceu. Com o desaparecimento destas
do para estudar a estrutura do sistema fronteiras todos os velhos dualismos, com
e o conteúdo da consciência” (Vygotsky, os quais estávamos compreendendo a re-
1996:188). Sua obra plural e “em aberto” alidade, perderam a sua credibilidade, es-
repercute e se desdobra hoje em uma di- pecialmente aqueles fundamentos das
versidade de tendências. São muitos os distinções dicotômicas: matéria/espírito,
aspectos que demandam aprofundamen- corpo/mente, indivíduo/sociedade. Neste
to. Participando das atuais discussões e contexto, a abordagem histórico-cultural
visando a incitar o debate, trago para essa de Vygotsky é uma provocação irritante
apresentação fragmentos do material em- formulando perguntas inúmeras. Quando
pírico referente a um projeto de pesquisa nós hoje estamos examinando e analisan-
em andamento que assume o referencial do as obras de Vygotsky podemos dizer
em questão e que tem como objetivo a que ele também nos examina de perto.
melhoria do ensino público. A intenção Nós mesmos somos o objeto de pesquisa
aqui é problematizar e explorar o poten- quando queremos compreender um autor
cial teórico, conceitual e analítico de al- do passado. Nessas tentativas de compre-
guns pressupostos e construtos atribuídos ender o pensamento de Vygotsky constru-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ímos sempre conhecimento novo sobre o ”Nenhum vôo é permitido, exceto aquele
nosso presente quer dizer a nossa com- que obedece às regras do que é requerido
preensão da psicologia de desenvolvimen- para a construção de novos enunciados”.
to torna-se quase mais transparente nas Uma polícia discursiva (ou, uma polícia
suas estruturas, seus contornos, suas das ciências disciplinares) está pronta
fronteiras e, sobretudo nos seus aspectos para voltar ao já firmado, ao já previsto,
problemáticos. As ciências humanas se es- ao já estatuído, ainda que estivesse lá por
forçam – com maior ou menor êxito – para ser dito. E há que fazer isso com rigor.” Sa-
conseguir aproximações cada vez mais bemos realmente o que é o desenvolvi-
precisas à realidade pesquisada. Com essa mento de uma criança, de um adolescente
lógica as ciências humanas acreditam que – ou mais geral o que é uma criança, o que
essa realidade na sua essência já é enten- é um adolescente? Nas Arte e Filosofia en-
dida e compreendida. Assim a psicologia contramos que o conhecimento não tem
de desenvolvimento pode-se afirmar o nem uma acumulação linear nem uma
que é desenvolvimento psíquico. A psico- hierarquização desse conhecimento. Alei-
logia de desenvolvimento define também jadinho não é mais avançado do que Ve-
o que é uma criança ou o que é um adoles- lásquez e Cézanne não é mais avançado
cente. As crianças são pesquisadas há do que Aleijadinho. Espinosa não é mais
mais de cem anos. Encontramos uma acu- avançado do que Descartes. Nem Hegel
mulação impressionante de conhecimen- que Descartes. A filosofia e a arte estão
to cientifico. Nessa lógica com certeza sa- indicando que esta ideia de uma “aproxi-
bemos hoje mais sobre crianças do que se mação a realidade” é uma ilusão. Mas, o
sabia na época de Vygotsky. Porém, en- que arte e filosofia realmente têm em co-
contramos aspectos sobre este tema que mum? Na lógica de uma obra de arte ou
ainda não são plenamente compreendi- de um conceito fundamental de filosofia
dos. Como exemplo podemos questionar se encontra “a Perspectiva do Novo/o
o pouco que realmente se sabe sobre os Ponto de Vista do Novo”. Isso significa ver
adolescentes e suas ligações com as novas e olhar um fenômeno, uma realidade
tecnologias de informação e comunica- como se os olhássemos pela primeira vez.
ção, a mudança atual de valores morais e No olhar da filosofia e no olhar da arte, a
éticos destes adolescentes, etc. Na pers- realidade nunca é já totalmente compre-
pectiva linear da lógica da pesquisa cienti- endida. Ao contrário, ela é indeterminada,
fica como aproximação cada vez mais pre- aberta. Nesse sentido uma obra de arte e
cisa à realidade todos os problemas apa- um conceito fundamental de filosofia são
recem resolvíveis. Uma conseqüência dis- sempre pressupostos e tematizam uma
so: a importância dos métodos e da meto- relação formal com a realidade. A relação
dologia (metodologia: a avaliação e a com essa realidade ou com esse fenôme-
análise do sistema dos métodos a respeito no é precisamente e absolutamente de-
da sua “objetividade”, de sua “reliabilida- terminada pela forma enquanto, que a
de” e sua “validade”). Wanderley Geraldi realidade, o fenômeno fica aberto e inde-
(2005) critica esta direção e orientação, terminado. O formal, a representação
mais ou menos técnica, para os métodos e possibilita aqui a escolha de uma perspec-
para a metodologia com estas palavras: tiva: conceitos teóricos e obras de arte

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como modelos de um diálogo com a reali- acaba por introduzir e apontar caminhos
dade mediando uma relação. “A Perspecti- para todas as ciências humanas. Gostaria
va do Novo/o Ponto de Vista do Novo” de mostrar como nas obras de Vygotsky a
exige aceitar o metafórico no processo de lógica geral de arte e de filosofia atua con-
olhar e de ver, o que significa ver algo cretamente nas disciplinas humanas, so-
como algo (isso é isto). A metáfora não re- bretudo na psicologia do desenvolvimen-
flete semelhanças; não apresenta algo to. No centro da metodologia vigotskiana
que seja comum entre objetos, como fe- encontra-se o “Método Histórico” ou tam-
nômenos e processos; algo que está já bém o assim chamado “Método Genéti-
pronto, disponível e preestabelecido. A co” ou “Método Histórico” pelo qual
metáfora cria e constrói fundamentalmen- Vygotsky tematiza o seu pressuposto fun-
te relações. Metáforas são como crianças: damental: entender cada fenômeno vivo
impressionam o seu ambiente de uma exige entendê-lo no seu início e também
maneira específica. Elas portam o novo, o no processo do seu desenvolvimento. A
não previsto. Representam enfoques de este método está incorporado o famoso
relevâncias junto com uma orientação lema de Hegel: "O inteiro é sempre o resul-
para o futuro. Como uma criança é uma tado compreendido junto com o processo
promessa de vida, vida que não é preesta- de seu desenvolvimento". Este lema foi as-
belecida em seus passos. Metáforas não sumido por Vygotsky como um principio
têm só uma função constitutiva na forma- universal metodológico. Este problema
ção cítrica de nossa experiência, mas tam- principal do desenvolvimento foi analisa-
bém para as mudanças, transformações e do e pesquisado através de três perspecti-
reestruturações delas. As fronteiras e limi- vas metodológicas: (1) A abordagem de
tes de uma área preestabelecida de expe- Vygotsky apresenta uma perspectiva mo-
riências podem ser destruídos, quebrados nística, quer dizer, toda separação entre
e alargados. Uma relação estandardizada indivíduo e sociedade, corpo e mente, en-
e automatizada pode ser assim rompida. tre cognição e emoção, entre físico e espí-
Muitas obras de Vygotsky se caracterizam rito, entre ações exteriores e ações inte-
pela confrontação e ruptura com o esta- riores foram rigorosamente negadas. (2) A
belecido, com o sistema estereotipado, abordagem de Vygotsky apresenta uma
fechado e fixado. O seu trânsito por e o perspectiva holística, que se opõe a qual-
interesse pela Arte e Filosofia lhe propor- quer reducionismo, ou seja, processos
cionaram condições de ter uma visão mais complexos não se podem reduzir a pro-
ampla das questões psicológicas, incorpo- cessos elementares. Por exemplo, um pro-
rando contribuições dessas outras áreas cesso psíquico não se pode explicar redu-
de conhecimento. Encontra-se na aborda- zindo-o a processos físicos ou químicos.
gem de Vygotsky uma enorme riqueza e Segundo Vygotsky se deve encontrar ou
diversidade de temas, passando pela neu- construir unidades de análise que permi-
ropsicologia, pela linguagem, pela educa- tam considerar os processos complexos.
ção, nomeadamente quando enfrenta (3) A abordagem histórico-cultural apre-
problemas de deficiências, pelas questões senta uma perspectiva interdisciplinar ou
semióticas do cinema, aliando questões multidisciplinar. A base desta perspectiva
teóricas e metodológicas, de modo que são sempre problemas sociais ou proble-

109
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mas práticos. Um problema social sempre gado à fundamentação lógico-psicológica


tem aspectos diferentes: individuais, psí- da estruturação das disciplinas escolares.
quicos, culturais materiais etc. Os próprios Isto é, o conteúdo e os meios didáticos
especialistas em interdisciplinaridade não por meio dos quais o conteúdo é ensina-
se encontram nos estudiosos ou nos pes- do determinam o tipo de consciência e de
quisadores, mas nos práticos, que devem pensamento que se formam nos estudan-
resolver problemas práticos sempre multi- tes. Assim, a organização do ensino não é
dimensionais. Na palestra vou tentar de um assunto exclusivamente didático, mas
concretizar esses aspectos ao respeito da está relacionado também ao potencial de
conceitualização de “desenvolvimento” desenvolvimento psíquico dos estudan-
na abordagem de Vygotsky. tes. Nesse sentido, as respostas aos dois
questionamentos, expostos acima, podem
oferecer conhecimentos importantes para
PESQUISA SOBRE ENSINO, a Didática e para a Psicologia. Mas para se
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: chegar a tais respostas é necessário en-
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA contrar procedimentos de pesquisa que
ATIVIDADE permitam identificar se uma forma de
Marta Sueli de Faria Sforni - UFSC organização do ensino tem o potencial de
promover o desenvolvimento dos estu-
As discussões acerca do papel da esco- dantes. A necessidade de analisar como
larização sobre o desenvolvimento psí- têm sido ensinados conceitos científicos
quico desencadeadas pela abordagem na escola, bem como de identificar condi-
Vigotskiana ressaltaram o valor da edu- ções teórico-metodológicas para a organi-
cação escolar na constituição dos su- zação do ensino em que a aprendizagem
jeitos. Porém, quando Vygotsky fala de conceitual contribua para a promoção do
ensino, não se refere a qualquer ensino, desenvolvimento psíquico (Sforni, 2004),
mas àquele que se “adianta ao desenvol- tem nos acompanhado desde a pesquisa
vimento”, ao “bom ensino”, a uma “cor- de doutorado. Atualmente, as pesquisas
reta organização da aprendizagem” ou, que temos realizado conjuntamente com
ainda, ao “aprendizado adequadamente os membros do Grupo de Pesquisa Ensino,
organizado” (VYGOTSKY, 2001). Ou seja, Aprendizagem e Conteúdo Escolar - UEM,
não basta ao indivíduo freqüentar esco- e com os membros do GEPAPe-USP – Gru-
las, não lhe basta ter acesso a conceitos po de Estudos e Pesquisas sobre Atividade
científicos para que seus processos inter- Pedagógica, têm como objetivo “Investi-
nos de desenvolvimento sejam acionados. gar princípios teórico-metodológicos da
Tal fato suscita dois possíveis problemas atividade pedagógica, tendo como funda-
de investigação: O que qualifica um bom mento a Teoria Histórico-Cultural”. Além
ensino ou uma correta organização da dos estudos de Vygotsky, contamos tam-
aprendizagem? Em que sentido a organi- bém com os subsídios da Teoria da Ativi-
zação do ensino pode influenciar qualitati- dade de Leontiev (1983, 2004). Como pro-
vamente o processo de desenvolvimento? cedimento metodológico para coleta de
Davidov (1992) considera que o ensino dados, temos organizado “experimentos
que impulsiona o desenvolvimento está li- didáticos” ou “experimentos formativos”

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que permitem acompanhar o processo que a operação se constitui na ação auto-


de aprendizagem dos sujeitos, quando matizada, Leontiev oferece pistas para se
inseridos em uma situação de ensino or- pensar uma orientação metodológica para
ganizada de acordo com alguns princípios o ensino de conceitos. Mesmo que mui-
teórico-metodológicos que consideramos tos conhecimentos sejam já operacionais
favoráveis ao desenvolvimento dos estu- ou automatizados na cultura, para que
dantes, sendo que, esses modos de orga- eles sejam desenvolvidos no sujeito como
nização do ensino também são objetos de operações conscientes é preciso que elas
investigação. Alguns conceitos desenvolvi- se formem primeiramente como ações
dos por Leontiev (2004) são orientadores (Leontiev, 2004). É preciso que um dado
de nossas ações, dentre eles os conceitos conteúdo seja objeto direto da atenção,
de objetivação e apropriação do conheci- da percepção, do raciocínio do sujeito
mento. Na compreensão dos conhecimen- para que passe a compor o conteúdo e o
tos científicos como instrumentos psico- modo de ele operar com os fenômenos da
lógicos, nos quais estão objetivados pro- realidade, ou seja, para que, de fato, seja
cessos mentais já alcançados pelo gênero apropriado como instrumento simbólico
humano, encontramos valiosos indícios pelo sujeito. Por quais meios investigar o
que podem orientar a tomada de decisões impacto do ensino sobre aprendizagem
na organização do ensino. Apropriar-se de e desenvolvimento dos sujeitos, já que
um conceito, nessa perspectiva, significa esses são processos tão subjetivos? Se
tomar posse desses processos mentais, o aprender é mais do que recitar definições,
que implica colocar em movimento esses implica “fazer uso” dos conceitos na rea-
processos à medida que interagimos com lização de ações e operações mentais, é
o conhecimento. Daí a relação entre en- preciso buscar elementos externos que
sino, aprendizagem e desenvolvimento, explicitem os processos psicológicos en-
destacada por Vygotsky. Nesse sentido, é volvidos em determinadas atividades do
preciso que os conceitos – objetos de en- sujeito, já que essas atividades podem
sino – estejam inseridos em uma ativida- revelar a forma pela qual o sujeito opera
de na qual sua função como instrumento com os conceitos. Assim, em nossas pes-
seja explícita. Pensar a aprendizagem de quisas temos tomado como objeto de
conceitos nessa perspectiva implica reco- análise a própria atividade do sujeito com
nhecer que a sua apropriação não se re- objetos e fenômenos. Observamos se ele
sume à definição e memorização, como realiza a atividade por meio de um pen-
normalmente ocorre no contexto escolar. samento categorial, em nível teórico, ou
Também os conceitos de ação e operação, se depende de representações sensoriais,
apresentados por Leontiev (2004), têm limitando-se ao pensamento empírico, o
nos permitido algumas inferências signifi- que significa diferentes níveis de desen-
cativas. Esse autor explica que a assimila- volvimento. Considerar a atividade como
ção do conhecimento implica a formação objeto de análise “significa a possibilidade
de ações mentais. Ao afirmar que no pro- de se analisar um elemento observável e,
cesso de aprendizagem motora ou intelec- por meio dele, desvelar a forma e o con-
tual, o sujeito passa da ação à operação teúdo da subjetividade” (Sforni & Galuch,
com o objeto do conhecimento, sendo 2009, p. 127). Partindo do princípio de que

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

há unidade entre linguagem, pensamento iskusstva (Psicologia da Arte), escrito em


e ação, tomamos como fontes de análise a 1925 e publicado somente em 1965; Pe-
linguagem e a ação, como meios que nos dagoguitcheskaia psirrologuia (Psicologia
permitem inferir, mesmo que parcialmen- Pedagógica) de 1926, e Michlenie e retch
te, o pensamento conceitual promovido (traduzido no Brasil como Pensamento e
pelo ensino. Cabe destacar que tais proce- linguagem ou Construção do pensamento
dimentos investigativos constituem-se em e da linguagem), de 1934; e uma série de
um caminho em construção, marcado por livros didáticos para o ensino à distância
dúvidas e algumas limitações, mas que (por correspondência), tais como Pedolo-
tem apresentado resultados promissores, gia da idade escolar (Pedologuia chkolno-
o que nos estimula a continuar caminhan- go vozrasta), de 1928, Pedologia da juven-
do, apesar das incertezas. tude (Pedologuia iunochevskogo vozrasta),
de 1929, e Pedologia do adolescente (Pe-
dologuia podrostka), escrito entre 1930 e
L. S. VYGOTSKY: A FORÇA E A 1931. Alguns capítulos deste último livro
ATUALIDADE DE SUA OBRA didático foram republicados no volume 4
Zoia Prestes - UniCEUB de Obras reunidas (Sobranie sotchineni).
Os livros publicados, principalmente após
Lev Semionovitch Vygotsky foi um pensa- a morte de Vigotski, reúnem artigos, tex-
dor soviético e seu nome é bem conheci- tos e estenografias de aulas proferidas ou
do hoje no Brasil, principalmente entre os discursos em eventos científicos. O levan-
que se dedicam aos estudos nas áreas da tamento mais completo e sistematizado
pedagogia e psicologia. A trajetória acadê- até o momento está apresentado em ane-
mica no Brasil das obras de Vygotsky, seus xo à biografia escrita por Guita Vigodskaia,
colaboradores e alunos teve início no fim filha de Vygotsky, e Tamara Lifanova (1996)
dos anos 70. Seus estudos estão presentes que relaciona 274 títulos. Embora Daniil
no mundo inteiro, editados e publicados Borissovitch Elkonin, contemporâneo, alu-
nas mais diferentes línguas, tais como in- no e colaborador de Vygotsky, relacione
glês, francês, italiano, espanhol, alemão, cerca de 180 trabalhos (Elkonin, 1984).
japonês, português, húngaro e dinamar- Essa divergência nas informações a res-
quês. Se fizermos hoje uma rápida busca peito de sua produção teórica mostra não
nas publicações das obras de Vygotsky apenas o interesse que ainda desperta sua
na Rússia, por exemplo, veremos que, na obra em seu país, mas também é uma di-
última década, seus três principais livros vergência que está prestes a ser reduzida a
foram relançados por diferentes edito- zero com a publicação da obra completa.
ras, assim como foram reeditados artigos Um dos motivos da divergência é que na
publicados apenas nos anos 30, antes de lista de Guita estão indicados até mesmo
serem proibidos, em coletâneas que es- artigos e textos que ainda permanecem na
tão surgindo novamente nas prateleiras forma de manuscritos e estão guardados
das livrarias da Rússia. Quando se analisa nos arquivos da família que, atualmente,
a extensa produção escrita de Lev Semio- prepara o lançamento de dois volumes das
novitch Vygotsky, nota-se que foram pou- obras completas que deverão conter 16
cos os livros que escreveu: Psirrologuia volumes, cada um com uma média de 400

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

páginas. Além de proibidas na URSS por te, em 2001, no Brasil, foi publicada pela
quase 20 anos, as obras de L.S. Vygotsky mesma Martins Fontes a versão completa
nem sempre tiveram um destino digno. Ao de Michlenie e retch, sob o título A cons-
analisarmos detalhadamente o percurso trução do pensamento e da linguagem,
de algumas de suas publicações, pode-se traduzida diretamente do russo por Paulo
afirmar, sem medo, que foram muitas as Bezerra. Na ficha técnica do livro não está
adulterações, os cortes, as censuras que indicada a edição russa da qual foi tradu-
sofreram ao longo da história, tanto em zida para o português, mas, ao comparar
sua pátria como fora dela. Desde a publi- com a edição russa integral de 2001, pode-
cação de seus primeiros livros nos Estados -se afirmar que é o texto completo, pois
Unidos e de traduções para o português a contém todos os trechos suprimidos na
partir das versões norte-americanas, já se edição soviética retalhada de 1956 (Gon-
passaram mais de 30 anos. Sem dúvida, zález, 2007, p. CXXXI). Mas parece que não
essas primeiras iniciativas de trazer para o foi somente a obra de Vygotsky que sofreu
Brasil os estudos de um dos mais impor- adulteração. Sua vida também é cercada
tantes pensadores soviéticos do século XX de mistérios e fatos pouco esclarecidos. As
merecem reconhecimento. No entanto, divergências entre as interpretações de fa-
atualmente, a própria Rússia reconhece tos importantes de sua vida permanecem
que muitos textos do autor, para que fos- ainda como um campo bastante nebuloso
sem publicados ainda no fim dos anos 50, na história da psicologia soviética. Se fo-
foram cortados e alterados pelos editores rem feitas comparações entre textos bio-
(Zaverchneva, 2009, 2010). É desconcer- gráficos publicados na União Soviética (por
tante descobrir, por exemplo, que o livro exemplo, Levitin, 1990), na Argentina (por
Michlenie i retch (traduzido como Pen- exemplo, Blanck, 1984) e nos Estados Uni-
samento e linguagem) teve alguns pará- dos (por exemplo, Kozulin, 1990) é possível
grafos cortados e que, somente em 1996 detectar discrepâncias acerca de fatos im-
(González, 2007, p. CXXXIV), foi publicada portantes da vida e obra do autor. Assim, o
a primeira edição do texto original que se estudioso de Vygotsky vê-se diante de in-
encontra microfilmado na biblioteca da formações, por vezes, até contraditórias e
Universidade Estatal de Moscou. Mais per- a melhor alternativa na busca de um qua-
turbador ainda é o fato de que, no Brasil, dro mais coerente da vida e obra do autor
uma mesma editora publica duas versões é a realização de exames comparativos
(Vygotsky, 1987 e 2001) dessa obra de das diferentes biografias disponíveis. Atu-
Vygotsky como se fossem livros diferentes. almente, além das biografias citadas, há a
Na verdade, até são, já que uma delas, a escrita por sua filha, em colaboração com
edição resumida, não pertence de fato à T. M. Lifanova e encontra-se publicada em
pena do pensador, mas sim aos seus edi- russo e em inglês (1996, 1999 a, b, c), esta
tores que a adulteraram, atribuindo a au- última não totalmente na íntegra (faltam
toria a Vygotsky. Essa edição apareceu em fotos e fac-símiles de alguns documentos).
1987 pela editora Martins Fontes traduzi- A outra biografia é de autoria de Iaroche-
da do inglês por Jefferson Luiz Camargo, vski (2007) e foi publicada somente em
a partir da edição do Instituto Tecnológi- russo. Além disso, em 2011, foi publicada
co de Massachusetts. Mais recentemen- na Rússia mais uma biografia do pensador

113
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Misl i sudba psirrologa Vigotskigo (O pen- Juliane Rosa - UnB


samento e o destino do psicólogo Vigotski), jullyll@hotmail.com
de autoria de Igor Reif. Diante desse qua- João Luís X. M. de Negreiros - UnB
dro, não resta dúvida de que há em todo o jlnegreiros@gmail.com
mundo um grande interesse pelas ideias e Brisa Oliveira - UnB
pela vida de Vygotsky. brisa-oliveira@hotmail.com

De acordo com a perspectiva do life-span,


MR LT01 - Mesa Redonda o envelhecimento humano é um processo
Convidada multidimensional e multidirecional que
engloba um delicado equilíbrio entre limi-
tações (perdas) e vantagens (ganhos). Con-
MR LT01-1508 - O ENVELHECIMENTO sonante com essa visão, o envelhecimento
BEM SUCEDIDO E A APOSENTADORIA: e a velhice constituem experiências hete-
A PRÁTICAS DE HOMENS IDOSOS rogêneas e, como tal, devem ser aborda-
E DIFERENTES PROGRAMAS DE dos em sua complexidade e diversidade. A
PREPARARO PARA A APOSENTADORIA passagem para aposentadoria, é uma fase
difícil e nem sempre enfrentada de forma
Samia Abreu - UnB
positiva por alguns trabalhadores. Os Pro-
abreu.samia@gmail.com gramas de Preparação para Aposentadoria
Lilian Maria Borges Gonzalez - UCB surgem como medida preventiva para me-
limaborgesg@gmail.com lhorar a qualidade de vida das pessoas que
Cristineide Leandro França - UnB se encontram nessa fase e necessitam de
cristineide@unb.br ajuda para atravessá-la de forma saudável.
Sheila Giardini Murta - UnB O envelhecimento bem sucedido e a apo-
murta@cultura.com.br sentadoria serão apresentados em suas
Eliane Seidl - UnB manifestações frente a um estudo sobre
seidl@unb.br a concepção e práticas de homens idosos
Isolda Gunther - UnB (estudo 1), a implantação de um programa
isolda.gunther@gmail.com de preparação para aposentadoria (estudo
Juliana Seidl - UnB 2) e avaliação de um intervenção preventi-
juliana.seidl@gmail.com va breve no planejamento da aposentado-
Ana Carolina da Conceição ria (estudo 3). O presente estudo buscou
anakarou@gmail.com investigar as percepções de treze homens
Marina Pedralho - UnB com idades entre 62 e 78 anos, todos casa-
pedralho3@gmail.com dos, aposentados e portadores de diferen-
Nadielle Lira - UnB tes doenças crônicas, recrutados em um
nadiellelira@gmail.com centro de convivência para idosos, os quais
Rochely Karen Moreira Carvalhedo - UCB foram entrevistados individualmente acer-
rochellykaren@hotmail.com ca de suas concepções de envelhecimento
Andressa Gonzáles Azevedo Pinheiro Soares bem sucedido e das práticas adotadas na
Macedo - UnB busca de uma velhice saudável. As respos-
andressagonzalez62@gmail.com tas obtidas foram submetidas à análise de

114
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conteúdo de Bardin. Os relatos dos partici- e cartilha para os participantes - Consistiu


pantes foram agrupados em fatores físicos na elaboração de todo o material gráfico,
e psicossociais. Dentre os fatores físicos design da cartilha, convites e cartazes de
mencionados, foi possível identificar duas divulgação. Sensibilização e Divulgação
subcategorias, que apresentavam em co- - Foram realizadas visitas aos sindicatos
mum o fato de enfatizarem as necessida- e à diretoria de saúde da universidade.
des ou limitações orgânicas da pessoa ido- Informações sobre o programa foram dis-
sa, a saber: busca de serviços médicos e ponibilizadas no site da UnB e convites
uso da medicação e reconhecimento e res- entregues individualmente. Formação dos
peito às limitações físicas. Os fatores psi- grupos e conteúdo da intervenção - Fo-
cossociais, por sua vez, foram organizados ram formados dois grupos, 13 servidores
em oito subcategorias: manutenção de concluíram a intervenção. O programa
hábitos saudáveis; ausência de hábitos no- contou com intervenções estruturadas
civos à saúde; manutenção de atividades em 8 módulos informativos e módulos vi-
de trabalho ou recreativas; esquiva ou ma- venciais em um formato psicoeducativo,
nejo de situações estressantes; satisfação com duração de três horas semanais, to-
em viver; manutenção de bom relaciona- talizando 24 horas de programa. A partir
mento familiar; prática de ações solidárias da análise dos dados, foram encontradas
e controle das finanças. Os participantes seis dimensões de maior investimento pe-
relataram manter em seus cotidianos prá- los participantes, a saber: Aposentadoria,
ticas preventivas e promotoras da saúde, Finanças, Laços Afetivos e Sociais, Ocupa-
as quais foram organizadas tomando por ção, Autoconhecimento e Saúde. Os temas
parâmetro três eixos temáticos: busca e citados pelos participantes, relacionados à
utilização dos serviços de saúde, hábitos categoria Aposentadoria, foram: a tomada
saudáveis e vida ativa. A promoção do en- de consciência em relação à aposentado-
velhecimento saudável e a prevenção de ria e o planejamento de questões legais
incapacidades devem assumir um papel relativas à mesma. Na categoria Finanças,
central nas pesquisas e cuidados no cam- os participantes indicaram a realização de
po da saúde dos idosos, considerando que atividades com fins lucrativos e o cuidado
podem assegurar um uso mais eficiente com as finanças, como a quitação de dívi-
dos serviços de saúde e melhorar a quali- das bancárias. Quanto à categoria Laços
dade de vida destas pessoas, ajudando-as Afetivos e Sociais, foi mencionado o cultivo
a permanecerem independentes e produ- de amizades, laços familiares e da relação
tivas. O objetivo do estudo é descrever as com o parceiro. Além disso, investimento
etapas de implantação do Programa de na atividade profissional, cumprimento
Preparação para Aposentadoria adotado de obrigações, lazer e responsabilidades
pela Universidade de Brasília, chamado com bens materiais foram temas que apa-
Viva Mais!. O modelo seguiu as seguintes receram na categoria Ocupação. Por fim,
etapas: Avaliação de necessidades - Inclui na categoria Autoconhecimento, foram
a revisão da literatura, elaboração do ro- apontados os seguintes temas: lidar com
teiro de entrevistas individuais e dos gru- mudanças e reflexão sobre seus compor-
pos focais com trabalhadores aposentados tamentos. Pode-se observar que os obje-
da Instituição. Criação de identidade visual tivos do programa vêm sendo alcançados

115
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o que justifica a sua continuidade e pro- dos recursos significativos para enfrentar
põe uma agenda de pesquisa para adap- as vulnerabilidades originadas nessa fase
tação de procedimentos, novas formas de transição. Sugere-se que esse modelo
de avaliação e aprimoramento desse mo- breve de intervenção seja investigado em
delo preventivo. Esse estudo teve como um número maior de sujeitos e em outros
objetivo testar e aprimorar os procedi- ambientes organizacionais.
mentos e estratégias de uma intervenção
breve no planejamento da aposentado- Palavras-chave: envelhecimento bem
ria. Utilizou-se para esse fim uma oficina sucedido, programa de preparação para
breve com técnicas psicoeducativas pré- aposentadoria, intervenção preventiva breve.
-estabelecidas. Participaram da pesquisa
09 trabalhadores, com a idade entre 22 e
63 anos, sendo 03 homens e 06 mulheres.
Para coleta dos dados foram utilizados os
MR LT01 - Mesa Redonda
seguintes instrumentos: Questionário So- Convidada
ciodemográfico para trabalhadores em si-
tuação de pré-aposentadoria e a Escala de
Estágio de Mudança em Comportamento MR LT01-717 - “AS MELHORES COISAS
de Saúde. A intervenção ocorreu em ses- DO MUNDO” COMO ESTÍMULO
são única, em grupo, com aproximada- EVOCATIVO AOS DESAFIOS DA
mente 180 minutos de duração. Consistiu JUVENTUDE NA UNIVERSIDADE
na utilização de estratégias psicoeduca- Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
tivas e teve como base o modelo “FRA- fscavalcantejunior@gmail.com
MES” (Feedback, Responsability, Advice,
Menu de Option, Empathy, Self-eficacy). Utilizando-nos do filme “As melhores coi-
Para tratamento dos dados, utilizou-se a sas do mundo” (BODANSKY, 2010) como
técnica de análise conteúdo de Bardin. O estímulo evocativo, os trabalhos propos-
tratamento dos dados permitiu identificar tos por esta Mesa Redonda apresenta um
que os preditores de uma aposentado- conjunto de autores que se debruçam so-
ria promissora envolvem sentimentos de bre suas experiências docentes em cursos
persistência, iniciativa, suporte familiar, de graduação para refletir sobre os desa-
busca de uma nova carreira e continuar os fios da juventude com a qual convivem em
estudos. Como fatores de risco destacam- suas aulas. Uma análise das condições de
-se as doenças, solidão, diminuição nas valia introjetadas por jovens universitários
relações sociais, pouco dinheiro, condi- que os impedem de seguirem um cami-
ções de trabalho inapropriadas, ausência nho de desenvolvimento autônomo de
de políticas públicas para esse segmento suas trajetórias de vida é o primeiro tema
populacional e falta de apoio da família e abordado. Inovações metodológicas apli-
amigos. A segunda categoria investiga o cadas na disciplina de Psicologia da ado-
que a intervenção breve possibilitou aos lescência, vida adulta e velhice permitem
participantes descobrir, pensar e sentir que professora e estudantes estudem, de
sobre a transição para a aposentadoria. forma autobiográfica, as condições valora-
A terceira categoria abrange a descrição tivas que os impedem de navegarem em

116
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fluxo vital pleno pelos estágios da vida. Na do sujeito como pessoa. E, desde muito
sequência, o professor visa compreender pequenina, a criança percebe que espe-
fenômenos das expressões e linguagens ram algo dela. Ao mesmo tempo em que
adolescentes que são expressas no cibe- começa a sentir a necessidade de consi-
respaço, a partir da exibição do filme “As deração positiva de seus pais e de outras
melhores coisas do mundo”, em sala de pessoas significativas. Passa a perceber o
aula, abordando o crescente uso dos ser- comportamento de aprovação ou repro-
viços das novas tecnologias por jovens vação daqueles que aprecia e a necessi-
universitários, assim como os variados dade de aceitação é tão importante que
“novos” fenômenos que se desdobram passa a guiar seu comportamento a partir
a partir desse espaço virtual que passa a dessas experiências. Isso sugere que a ex-
ser amplamente utilizado e propagado. periência poderá não mais estar seguindo
Narrativas adolescentes em redes sociais um fluxo natural de aperfeiçoamento de
são registradas e analisadas neste estudo. nosso organismo, mas caminhando em
Por fim, o desafio da tríade da neurose direção ao valimento do amor de nossos
coletiva que se apresenta na juventude pais e aceitação da sociedade. Essas ex-
atual, ao matar, se matar ou se drogar, pectativas, essas condições para ser aceito
é ampliado, quando a morte passa a ser e amado é o que chamamos de condições
apresentada por adultos jovens na univer- de valia. É uma valoração do amor a ser
sidade como a única liberdade encontra- recebido. E todos nós trazemos condições
da, tema também evocado e densamente de valia assinaladas em nossas vidas, que
trabalhado no filme “As melhores coisas foram passadas por pais, professores, ins-
do mundo”. Orientados por uma perspec- tituições, sociedade e por tudo que impõe
tiva da Abordagem Centrada na Pessoa algo a partir de um apreço condicional,
cuja aprendizagem significativa emerge da que leva a pessoa mudar o curso de nos-
experiência, os professores universitários sas escolhas para podermos ser aceitos ou
aqui reunidos compartilham transforma- amados e que frustra a nossa força moti-
ções que se constroem em suas práticas vadora em direção ao crescimento. Deno-
docentes, de forma espontânea, com uma minei essas condições de rodinhas da bici-
capacidade transformadora de mobiliza- cleta emocional. Neste momento, preten-
ção de todos os envolvidos no processo de do lançar mão dessa metáfora que venho
ensino e aprendizagem do adulto jovem desenvolvendo a partir de uma pesquisa
no contexto da universidade brasileira. realizada com uma jovem em final de ado-
lescência, que buscava irromper com as
condições de valia impostas pelo meio e
PEDALANDO NAS TRILHAS DA VIDA que disparava uma luta pelo seu próprio
Terezinha Teixeira Joca - UNIFOR crescimento, tomando como abordagem,
terezinhajoca@unifor.br para o estudo, a etnográfica centrada
na pessoa, proposta por Harry Wolcott
Desde a concepção, o bebê carrega uma (1999). Ampliei esse estudo através de mi-
bagagem impregnada de expectativas de nhas observações e das impressões apre-
seus pais. Dessa forma, a família e o meio sentadas pelas pessoas ao lerem o texto,
exercem forte influência na constituição utilizado em sala de aula para jovens uni-

117
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

versitários, que imprimem suas reações, melhores coisas do mundo” (Bodanzky,


seus sentidos dados após o contato com 2010) e encantei-me com as reações emo-
essas rodinhas, que os remetem à infân- cionadas e as experiências trazidas pelos
cia e à adolescência. Aprofundado minha estudantes da evocação que essas duas
percepção sobre as condições de valia, obras geraram. Assim como os estudan-
percebi que, durante o percurso de vida, o tes, passei a visitar as fases de desenvolvi-
sujeito não se torna isento das condições mento e, como propõe Amstrong (2011),
impostas pelo meio, pois poderá sobrevi- fizemos uma navegação pelos estágios da
ver uma ou outra que tropeçará no desejo vida, enveredamos pela “Odisseia do de-
de ser amado e aceito. Essa situação de senvolvimento humano” e resolvi desbra-
condicionalidade poderá levar a pessoa à var esses novos caminhos, pedalando nas
incongruência e, consequentemente, ao trilhas da Vida, cujas descobertas serão
desenvolvimento de patologias. Dilatando compartilhadas nesta comunicação.
o olhar, quando é conseguido retirar as
rodinhas da bicicleta emocional segue-se Palavras-chave: condições de valia,
adiante e passa a fazer uso de algo mais desenvolvimento humano, fluxo vital.
sofisticado, as marchas da bike. Esse novo
recurso representa as formas que se pos-
sui para reagir aos problemas, modo como LINGUAGENS ADOLESCENTES NO
se percebe que não pode direcionar todas CIBERESPAÇO: VIDAS PÚBLICAS E
as culpas dos problemas ao meio e aos PRIVADAS
outros, passa-se a tomar consciência das Márcio Silva Gondim - FANOR
próprias incapacidades e competências. mgondim@fanor.edu.br
Descobre-se e reconhece o seu valor in-
terno. Lembrando que a adolescência não Este estudo visa compreender fenômenos
é só balada, diversão, papos livres e aven- das expressões e linguagens adolescen-
tura e que os problemas surgem como ter- tes que são expressas no ciberespaço, a
renos diversos, enlameados, pedregosos, partir da exibição do filme “As melhores
asfaltados, arenosos, que só se consegue coisas do mundo” (Bodansky, 2010), em
sair se souber fazer uso da marcha ade- sala de aula do Ensino Superior. Trata-se
quada. Lembro, também, que as rodinhas de um tema relevante e atual, tendo em
da bicicleta emocional não estão presen- vista o crescente uso dos serviços das no-
tes apenas na infância. Andar com rodi- vas tecnologias, assim como os variados
nhas pode representar o sentir-se amado, “novos” fenômenos que se desdobram a
amada. Um amor atarraxado à sua condi- partir desse espaço virtual que passa a ser
ção de crescimento, um amor atrelado ao amplamente utilizado e propagado. Além
pequeno espaço seguro, que não conse- disso, enfatiza-se que as narrativas adoles-
gue vislumbrar novos caminhos a serem centes precisam ser registradas (Oliveira,
conquistados. Com a minha chegada à 2006). Optou-se pela delimitação na ado-
disciplina Psicologia da adolescência, vida lescência, por ser o público representado
adulta e velhice, apresentei o texto “Das no filme e pela possibilidade de debater
Rodinhas da bicicleta as marchas de mi- temas atuais relacionados à juventude
nha bike” logo após a exibição do filme “As brasileira. O filme foi exibido em três sa-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

las de aulas, cada uma com uma média de gem do filme remeteu os estudantes (em
quarenta estudantes, que foram convida- sala de aula) a lembranças, pensamentos
dos a escreverem as reações ao filme por e sentimentos (Cavalcante Jr, 2001) acerca
meio de textos-sentidos (Cavalcante Jr, da escrita de si. Pode-se, então, conside-
2001). O filme citado apresenta cenas que rar que as histórias de vidas são carrega-
demonstram situações específicas dos das de particularidades e modos singula-
usos do ciberespaço: um blog em que um res de perceber a existência. Sendo assim,
jovem registra escritos acerca de si e uma podemos verificar momentos em que as
jovem que sofre agressividades e precon- histórias de vidas permitem às pessoas
ceitos por ter imagens íntimas expostas fazerem um processo retrospectivo: olhar
na Internet. “As melhores coisas do mun- a um caminho percorrido, para aconte-
do” foi apresentado a estudantes do En- cimentos, situações, atividades, pessoas
sino Superior da cidade de Fortaleza (CE). significativas que encontraram, destacan-
Destacaram-se, como pontos de reflexão, do que tudo o que é dito é importante,
neste estudo: 1) Manifestação da escrita no sentido de descobrir a riqueza interior
de si – pensamentos e emoções; 2) Ma- da experiência. Entende-se, assim, que se
nifestações da linguagem do preconceito, deve somar novas ferramentas estético-
intolerância e agressividade. Em ambas as -crítico-culturais no exercício pessoal e
manifestações, com características e refle- engajado de tornamo-nos sujeitos em-
xões peculiares, observam-se em comum poderados (Olinda, 2010). Recordações
a exposição da vida privada por meio das evocadas pelas pessoas mostram-se como
novas tecnologias (especificamente blo- ricos materiais para que os sujeitos enten-
gs). Tendo em vista que os serviços tecno- dam o que são (presente), porque são o
lógicos são utilizados de modo crescente, que são (passado) e para onde querem
nota-se também que a interioridade e as direcionar as vidas (futuro). Dessa forma,
vidas íntimas ganham espaço e repercu- os estudantes envolveram-se em uma
tem entre os adolescentes, de modo veloz atitude de reflexividade crítica acerca do
e ágil, propagando informações privadas mundo que nos rodeia, também escreven-
de modo amplo: tanto reflexões diárias do sobre si (Brandao, 2008). Ocorreu uma
acerca da vida e morte, como informações interação propiciada por um grupo reflexi-
da vida íntima e sexual que ganham noto- vo em sala de aula, no qual se contou, ou-
riedade pública na comunidade escolar. viu-se e representou-se imageticamente,
A possibilidade de uma hipervisibilidade conduzindo a aprendizagens biográficas.
(intencional ou não) parece haver em am- Desse modo, verificou-se a relevância de
bos os casos. Também é pertinente pensar compartilhar experiências autobiográfi-
acerca das motivações acerca das histórias cas, proporcionando reflexões e relações
dos outros (a espetacularização da vida em que as pessoas descobrirão nelas a ca-
pública, assim como um modo de anun- pacidade de utilizarem essas relações para
ciar publicamente uma importante deci- crescerem e se transformarem. Conforme
são pessoal). No primeiro ponto discutido, Delory-Momberger (2006), a história de
“1) Manifestação da escrita de si – pensa- vida é a ficção verdadeira do sujeito: é a
mentos e emoções”, percebeu-se que as história que o narrador tem como verda-
experiências de escrita do jovem persona- deira, e ele se constrói como sujeito no

119
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ato de sua enunciação. O sujeito é objeto teriza-se como uma violência psíquica na
incessante de sua própria construção. Ve- qual se destacam atitudes intimidadoras
rifica-se que o ato de registrar por escrito conscientes com caráter de ridicularizar.
as experiências e percepções, inscreve-se Nesse caso, discutiu-se o quanto pode ser
na dinâmica do projeto de si e concretiza extremamente negativo a publicação de
uma forma particular dele, compreenden- si no ciberespaço. Neste estudo, perce-
do a vida contada como uma construção bemos um movimento que Josso (2004,
de si, sempre aberta e sempre a refazer. p. 171) denomina de uma “estranheza do
Nessa primeira discussão, percebeu-se a outro” e “estranheza de si”, ou seja, diante
publicação de si como algo transformador de relatos de experiências de vida, somos
e útil aos sujeitos. No segundo ponto tra- levados a reflexões acerca de nós mesmos.
balhado, “2) Manifestações da linguagem A partir das descrições das cenas do “As
do preconceito, intolerância e agressivi- melhores coisas do mundo”, compreen-
dade”, verificou-se a relevância de sen- de-se outras situações semelhantes que
sibilizar criativamente os estudantes em ocorrem na vida cotidiana, possibilitando
relação às questões psíquicas relaciona- assim uma significativa reflexão acerca
das ao bullying, fenômeno conhecido vul- desse tema. Espera-se, assim, promover
garmente como assédio moral e físico em reflexões nas quais o saber psicológico
ambientes escolares, que vem crescendo possa contribuir ao entendimento desses
em vários ambientes; desde o doméstico, fenômenos.
empresas , escolas, universidades , peni-
tenciárias, forças armadas e mais recen- Palavras-chave: sala de aula, psicoeducação,
temente nos meios virtuais (ciberespaço), filme brasileiro.
onde a intolerância, discriminação e as
minorias são alvos de ataque a indivíduos
reconhecidos como mais frágeis. O filme QUANDO A MORTE É A ÚNICA
retrata exatamente o “cyber bullying”, LIBERDADE NA JUVENTUDE: “NINGUÉM
quando uma jovem é submetida a vários ESCUTA A MINHA DOR”
constrangimentos públicos. O bullying Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
é um problema social que deixa fissu- fscavalcantejunior@gmail.com
ras, muitas vezes, irreversíveis no sujeito André Feitosa de Sousa - FANOR
(Antunes, 2008; Bandeira, 2010; Zaine, asousa3@fanor.edu.br
2010). Tratando-se de uma pesquisa-ação
qualitativa, convidaram-se os estudantes A tríade da neurose coletiva que se agrava
do Ensino Superior pro que expressarem nos dias atuais é um problema que ocupa
reações ao filme (Cavalcante Jr, 2001), os estudos da Psicologia Humanista há
emergindo as seguintes discussões: a) longo tempo. Em uma trilogia de ações
pensar sobre o assunto, não refletido an- que findam a vida ou subtraem os anos
teriormente; b) atenção para a gravidade de existência, o ser humano mata, se
do problema social; c) mobilizar-se com as mata ou se droga (Frankl, 2010). De todos
situações vividas pela jovem personagem. os tipos de morte, o suicídio é analisado
Considerou-se, no filme, que o (cyber) como o problema mais alarmante da vida
bullying sofrido pela adolescente carac- (Hillman, 2009). Entretanto, em nenhuma

120
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

população do mundo, a aceitação da dizendo ter desistido da vida, que não


morte é recebida de forma natural quando aguentava mais...”. Analisamos, portanto,
acontece na juventude (Armstrong, o papel do professor de Psicologia do
2011). No caso do suicídio, torna-se ainda Desenvolvimento no contexto de uma
mais desafiadora a sua compreensão. juventude que sofre e pede ajuda ao
Abordando as várias facetas da juventude professor “da área”, muitas vezes o
no Brasil, a temática do suicídio também único profissional psicólogo no âmbito
está presente no filme “As melhores dos cursos de licenciatura para os quais
coisas do mundo” (Bodansky, 2010). Nele, esta disciplina é obrigatória. Por outro
acompanhamos o sofrimento do jovem lado, desenvolvemos a proposta de
Pedro (interpretado por Fiuk) para quem o que a abordagem da morte e do morrer
blog é o principal veículo de expressão de em cursos de graduação torne-se uma
suas emoções: “Ninguém escuta a minha temática transversal que não fique
dor... Podem te arrancar os braços, as restrito à disciplina de Psicologia. O
pernas... mas sem a alma, você é apenas conhecimento de teorias sobre a morte e
uma caixa de ovos boiando por aí... O meu o morrer, em suas orientações teóricas e
desejo comanda o meu destino e a morte suas variações culturais, pode representar
é a única liberdade”. O presente trabalho um conhecimento importante para ser
objetiva promover uma reflexão, no desenvolvido por profissionais com
âmbito da Psicologia do Desenvolvimento, diferentes formações. No caso em estudo,
sobre a morte como a única liberdade precedido por um episódio de suicídio
encontrada na juventude e será ilustrado consumado de uma outra estudante na
com um estudo de caso de uma jovem mesma instituição, a preparação de texto
universitária, acompanhada em uma de informativo sobre a morte e o morrer
nossas disciplinas na Universidade, cuja permitiu aos professores de diferentes
vida foi colocada em risco em tentativas disciplinas, a abordagem do tema em
recorrentes de consumar a sua morte. suas salas de aula, com foco na vida como
Utilizando-se de e-mail escreveu-nos: dádiva da morte; a compreensão do fato
“professor me ajuda a morrer”. Em uma de que refletir sobre a morte pode ser um
de suas contas em redes sociais, postou importante estímulo para a descoberta do
durante dias seguidos narrativas de significado de viver de forma consciente
seu sofrimento, o que gerou uma onde (Armstrong, 2011) dos adolescentes e
de sucessivos e-mails que nos foram adultos jovens que estão na universidade.
enviados por seus colegas de turma com Os episódios inesperados narrados nesta
compartilhamento de preocupações comunicação tiveram o potencial de
e pedido de ajuda: “Eu estou muito promover importantes aprendizagens e
preocupada, tenho medo que ela consiga mudanças no corpo docente e discente:
enfim o que quer. Por favor, professor, o interesse pelo estudo dos temas
tenta fazer alguma coisa.” Um outro dizia: integrantes do ensino da Psicologia
“Estou a lhe enviar este e-mail pelo motivo do Desenvolvimento foi despertado;
do sr. ser da área e sabe como lhe dar docentes e discentes passaram a escutar
com pessoas como ela. Recentemente ela mais atentamente as dores de seus alunos
tem colocado... mensagens depressivas, e colegas, e um programa de tutoria para

121
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os estudantes de graduação foi priorizado. abrange o debate teórico e possibilidades


Por fim, renovamos o potencial de uma de intervenção partindo das contribuições
aprendizagem que emerge da experiência, de duas importantes abordagens, a Psica-
conforme difundiu amplamente Carl nálise e a Centrada na Pessoa. Abrangem
Rogers (1983: 22) na Abordagem Centrada também atividades de extensão universi-
na Pessoa: “Aprender, e especialmente tária realizadas, que enfocaram, no caso
aprender com a experiência, tem sido um dos trabalhos de base psicanalítica, so-
elemento fundamental que faz com que a bretudo as situações advindas de relações
vida valha a pena”. familiares disfuncionais que favorecem o
recrudescimento da agressividade e a ma-
Palavras-chave: juventude, ciclos de vida, nifestação da violência, e que culminam
suicídio. em problemáticas no campo da saúde e
da escola, dificultando o desenvolvimento
saudável da criança, do adolescente e do
adulto. Os diferentes enfoques trazem em
MR LT01 - Mesa Redonda comum a importância da clínica, que não
Convidada se coloca à parte das questões sociais que
envolvem o desenvolvimento humano,
mas permite direcionamentos que visem
MR LT01-1304 - A ÉTICA DO CUIDADO ao cuidado às famílias, à subjetividade de
NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO seus membros e às relações interpessoais
HUMANO: COMPREENDENDO AS que ocorrem em seu seio. Assim, esses
RELAÇÕES FAMILIARES direcionamentos não se orientam por ati-
Maria Regina Basílio Teodoro dos Santos - tudes de avaliação, julgamento e medidas
UNIUBE de correção, mas sustentam modos de
Vilma Valeria Dias Couto cuidar que garantem a autonomia e a in-
Conceição Aparecida Serralha dependência das famílias.

O conjunto de trabalhos apresentados


nesta mesa redonda propõe discutir o de- A ÉTICA DO CUIDADO: PLATAFORMA
senvolvimento humano como corolário do E VIA DE POSSIBILIDADE DO
cuidado propiciado pelo ambiente fami- DESENVOLVIMENTO HUMANO3
liar, bem como pelos espaços educacionais Conceição Aparecida Serralha – UFTM
que complementam este cuidado. Discute serralhac@psicologia.uftm.edu.br
a importância dos papéis parentais e as re-
lações que se estabelecem dentro da famí- MEC/SESu/DIFES – PROEXT 2010
lia, independentemente da configuração
que esta apresenta. Atenta para a questão Em se tratando de bebês e crianças pe-
ética do cuidado, que deve estar presente quenas, uma rede de cuidados, que se
não só em um contexto natural de cuida-
do, mas também em toda e qualquer in-
3
Agradeço à FAPEMIG o apoio para a apresentação deste
tervenção político-social, educacional e trabalho no VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do
profissional de apoio à família. A proposta Desenvolvimento

122
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

caracteriza por articulações que diversi- condição de poder desejar, e é a essa sa-
ficam, integram e ampliam os cuidados tisfação que podemos relacionar uma éti-
oferecidos, tem se expandido abarcando ca, uma vez que a dependência do ser hu-
a mãe e a relação mãe-bebê, bem como a mano de outro ser humano para a satisfa-
relação educador-criança. Contudo, essa ção de suas necessidades é um fato. Isso
rede ordinariamente tão necessária, me- implica uma responsabilidade de atender
rece cuidados ela própria, pois, em alguns ao que o bebê necessita de uma maneira
casos pode alterar-se rapidamente, asse- que favoreça o desenvolvimento de suas
melhando-se mais a outro tipo de rede tendências herdadas, que lhe possibilite a
(de pesca) com uma característica apri- sua pessoalidade. Este estudo pretende,
sionadora, imobilizadora e sufocante, do portanto, discutir a natureza e a qualida-
que a um apoio efetivo que leve em conta de do cuidado ao indivíduo, as caracte-
as reais necessidades dos envolvidos. A rísticas do ambiente cuidador, a relação
ideia de que se pode ter um método, uma deste com a cultura em que se insere e
técnica, ou um saber mais certo e perfeito da qual sofre influências, que são impor-
que outros tende a se implantar com incrí- tantes para o desenvolvimento de suas
vel facilidade. Isso nos faz pensar sobre a tendências herdadas ou geneticamen-
questão ética envolvida nos cuidados que te determinadas. Tem por base a teoria
são oferecidos, pois chama a nossa aten- do amadurecimento de D. W. Winnicott,
ção sobre os equívocos gerados a partir bem como experiências em atividades de
de determinados saberes. A psicanálise, extensão realizadas com profissionais da
em suas várias escolas ou abordagens, educação infantil e familiares de crian-
discute a questão ética relacionada à na- ças na primeira e segunda infância, que
turalização das necessidades humanas e apresentavam alto grau de agressividade.
a proposição de cuidados universalizada e Para tanto, foram realizadas leituras de
utópica, que retira a dimensão subjetiva textos winnicottianos e outros autores,
daqueles que recebem e fornecem cuida- bem como observações dos ambientes
dos. De acordo com Motta (2011), “a éti- da criança, encontros com educadores e
ca do cuidado,” [pensada pela psicanálise, cuidadores, que possibilitaram diálogos
...] é a do cuidado enquanto experiência importantes para a troca de conhecimen-
essencialmente humana, se tiver por di- tos, dúvidas e angústias próprias ao edu-
reção a localização subjetiva”, “não se re- car/cuidar. Sem um reconhecimento das
fere a nenhum código [...] se refere ao su- questões inconscientes envolvidas no cui-
jeito, enquanto sujeito do desejo incons- dado, uma ênfase em instruções técnicas
ciente (p. 149)”. Winnicott (1989/1994), para este é cada vez mais realizada, ob-
entretanto, considerou-se “a figura de jetivando o atendimento às necessidades
proa do movimento no sentido de um da criança para um desenvolvimento inte-
reconhecimento da satisfação da neces- gral saudável. As atividades de extensão
sidade como mais inicial e fundamental realizadas permitiram ver que, se por um
que a realização de desejos” (p. 357), sem lado, a partir do momento que essa no-
deixar de considerar o bebê necessitado ção de cuidado é difundida, mais e mais
como uma pessoa. É essa satisfação que pessoas reconhecem o seu valor e se em-
irá possibilitar ao ser humano chegar à penham em oferecer cuidados adequa-

123
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos aos bebês e crianças pequenas, como sempre esses ambientes serão possíveis.
também apoio às mães e às famílias; por Correlatamente, podemos entender a im-
outro lado, vê-se crescer a construção de portância de várias políticas públicas, que,
projetos de “escolas de pais”, “educação apesar de não serem ideais, podem aten-
em saúde”, “orientações aos pais”, que der minimamente às necessidades das
passam a exigir condutas adequadas por crianças e de suas famílias, o que é essen-
parte das mães e dos pais, sem considerar cial, mas o que não quer dizer conseguir
seus contextos de vida e seus padrões de que elas alcancem um amadurecimento
defesas individuais. Além disso, a “mãe psicossomático. Para esse alcance, é ne-
suficientemente boa”, pensada por Win- cessária a presença de alguém que esteja
nicott (1988/1990), perde sua condição física e emocionalmente bem, “vivo”, ca-
de adequação às necessidades de seu paz de ver e ouvir este bebê, ou criança,
próprio bebê e se torna uma mãe pa- como uma pessoa que tem necessidades
dronizada, repleta de instruções a serem próprias e preferências, podendo atendê-
seguidas, ignorando individualidades e -las; e não é raro o fato de que esse al-
subjetividades. Esse tipo de vivência, em guém não seja a própria mãe, até porque
graus variados, pode ser frequentemen- a esta pode estar faltando o apoio e a
te encontrada. Crianças rotineiramente sustentação emocional necessários a um
estimuladas e obrigadas a dar conta do cuidador. O cuidado essencial não pode
que não conseguem entender ou que não ser automático ou mecânico e, como bem
conseguem dar um único sentido sequer, disse Winnicott (1988/1990), desde que
fomentando a criação de novos diagnós- seja um cuidado propiciado por um am-
ticos psiquiátricos, que abarquem sua biente humanamente envolvido, pode até
desorganização. Os pais e os educado- ter falhas. O ambiente pré-escolar espe-
res, enquanto crianças que, muitas vezes, cialmente pode complementar bem esse
cresceram sob esse tipo pressão, se vêm papel. Contudo, compreender as ques-
agora pressionados a cuidar/educar, sem tões das relações primárias da criança,
uma base da qual possam se sentir segu- que afetam o seu desenvolvimento e de-
ramente apoiados. As reações de negati- sempenho escolar, não retira a importân-
vidade não são incomuns, e os cuidados cia de se pensar sobre as multidetermina-
que poderiam ser naturalmente intuídos ções dos problemas encontrados tanto no
a partir de uma sustentação emocional cotidiano familiar quanto escolar, ou seja,
adequada, não são realizados por recusa, sobre as características macrossociais e
negligência ou indiferença. E então, os culturais também na constituição desses
profissionais responsáveis pela “educação problemas, para que mudanças sejam
em saúde”, ou “pela educação continua- promovidas.
da”, não entendem, e se perguntam por
que os pais e os educadores não realizam Palavras-chave: ética do cuidado;
as orientações dadas e aprendidas. Por agressividade; ambiente.
mais que tenhamos consciência da im-
portância de ambientes suficientemente
bons para o amadurecimento emocional
de nossas crianças, sabemos que nem

124
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A IMPORTÂNCIA DAS a apreciação desta. A consideração positi-


RELAÇÕES FAMILIARES PARA O va incondicional sugere um cuidado não-
DESENVOLVIMENTO -possessivo, como forma de apreciação
Maria Regina Basílio Teodoro dos Santos – do outro como uma pessoa individualiza-
UNIUBE da, a quem é permitido ter os seus pró-
reginabasilio@terra.com.br prios sentimentos e experiências. Con-
gruência, por sua vez, pode ser entendida
A concepção e existência do outro origi- como atitude de integrar-se, vivenciando
na-se numa díade e conclui-se numa trí- plenamente os sentimentos que fluem na
ade ou grupo maior. A organização dessa pessoa no momento. A pessoa está con-
vivência e de sua dinâmica, observados os gruente quando está livre e é profunda-
papéis de cada membro, indubitavelmen- mente ela mesma. Por isso, ser congruen-
te, favorece a manutenção da homeosta- te significa ser real e genuíno. São estas
se familiar. atitudes que permitem o crescimento e a
atualização das potencialidades criativas e
Em se tratando de abordagem, a Centra- positivas dos indivíduos em qualquer for-
da na Pessoa prima pelas relações inter- ma de relação interpessoal. Isto nos ajuda
pessoais. A mesma parte do pressupos- a compreender a amplitude do campo de
to de que em todo indivíduo existe uma aplicação da Psicologia através da referida
disposição à atualização, uma tendência abordagem, incluindo as áreas da psico-
inerente ao organismo para o crescimen- terapia, educação, resolução de conflitos,
to, desenvolvimento e atualização de suas relações familiares, grupos de encontro,
potencialidades numa direção positiva e grupos de crescimento e grandes grupos
construtiva. Esta tendência promovida de comunidade. Segundo Rogers (2009),
em uma relação interpessoal é cercada como conseqüência de uma psicoterapia
por atitudes de empatia, consideração centrada no cliente, os clientes modifi-
positiva incondicional e congruência. Por cam sua vida familiar, da seguinte manei-
empatia entende-se que é a atitude de ra: expressam melhor seus sentimentos
tentar se colocar no lugar da outra pessoa – retiram a máscara que usavam; as rela-
e tentar "ver com os olhos dela". É com- ções podem ser vividas numa base real –
preender a pessoa a partir de seu quadro o cliente descobre que pode-se viver uma
de referência; neste sentido, na situação relação com base nos sentimentos reais,
familiar, consideram-se todos os aspec- podendo exprimir sentimentos de ver-
tos que constituem a pessoa como idade, gonha, de angústia e de aborrecimento
estrutura em todos os sentidos, persona- e que a relação sobrevive a isso, em vez
lidade e outros. Para isto, é preciso dei- de fundar numa aparência defensiva; me-
xar de lado nossas próprias perspectivas lhora a comunicação nos dois sentidos:
e valores para poder penetrar no mundo compreendem a fundo as idéias e os sen-
do outro sem julgamentos. Por conside- timentos de outra pessoa e é compreen-
ração positiva incondicional, entende-se dido por ela, isso é uma das experiências
que é a atitude de aceitar cada aspecto mais humana, rara e compensadora; e,
da experiência da uma pessoa e não co- finalmente, desejar que o outro seja inde-
locar condições para a aceitação ou para pendente – os clientes tendem a permitir

125
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que cada membro da família tenha seus “à medida que eu aceito melhor ser eu
próprios sentimentos e seja uma pessoa mesmo, descubro que me encontro mais
independente. Em se tratando, especifi- preparado para permitir ao outro ser ele
camente das relações familiares, pode- próprio, com tudo o que isso implica. Isso
mos dizer que a família é um contexto significa que o círculo familiar tende a
único e dinâmico para o desenvolvimento encaminhar-se no sentido de se tornar
do ser humano. Portanto, para se falar em um complexo de pessoas independentes
desenvolvimento é necessário compreen- e únicas, com valores e objetivos indivi-
der o indivíduo nesse contexto. A família dualizados, mas unidas por verdadeiros
é algo singular e complexo, especialmen- sentimentos – positivos e negativos – que
te se for considerado a forma como as existem entre elas, e pela satisfação do
relações acontecem nesse conjunto. Po- laço da compreensão recíproca de, pelo
deríamos dizer: famílias – meio ambien- menos, uma parte do mundo particular
te/cultura - problemas/conflitos - possibi- de cada um dos outros. É desse modo
lidades de soluções. A condição familiar, que as pessoas descobrem maior satisfa-
por mais complexa que seja, nos remete ção nas relações familiares, o que facilita,
ao sentimento de pertencer a um grupo, em cada membro da família, o processo
nos tirando da solidão, que, segundo Ca- de descobrir-se e de vir a ser ele mesmo.”
mon (1993), “na maioria das vezes, é di- (Rogers, 2009). No que se refere às rela-
retamente associada com desespero, so- ções familiares é fundamental discutir so-
frimento e com o suicídio.” Segundo este bre contexto histórico, social e econômico
autor, é como se, suportar a questão de em que as pessoas estão inseridas, enfim,
ser só, fosse dicifil ou desesperador para a analisar a diversidade cultural existente.
maioria das pessoas. Camon, ainda com- Pois as alianças e os conflitos existentes
pleta que a solidão distancia quando se nas relações familiares, influenciam, sig-
mantem um relacionamento estreito ou nificativamente, no comportamento e
íntimo com uma pessoa que se ama, com desenvolvimento das pessoas, especial-
a qual se tem proximiadade e afinidade. mente, crianças e adolescentes. Assim,
E a conclusão inevitável a que se chega pode-se dizer que a família, enquanto um
é “cada um é um”, porém, como parte espaço em que se pode desenvolver uma
de um grupo ou de uma família (Camon, comunicação aberta entre os membros e
1993). De acordo com Rogers (2009), ve- eles podem expressar seus desejos e pre-
rifica-se que um indivíduo pode encontrar ocupações, favorece sobremaneira a coe-
satisfação em exprimir atitudes emocio- são do próprio grupo familiar.
nais fortes no contexto em que surge, no
caso, no contexto familiar. Dessa forma, Palavras-chave: Família. Conflito.
para este autor, a pessoa descobre que Compreensão.
é melhor viver em condição mais real do
que numa relação dissimulada, exprimin-
do mais livremente, renunciando atitudes
defensivas e ouvindo o outro. Compreen-
dem, assim, o que a outra pessoa sente e
porque é que sente. Salienta, ainda que,

126
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A RESPONSABILIDADE DOS PAIS NA compreensão da influência dos pais na


PROBLEMÁTICA DA AGRESSIVIDADE DOS questão emocional próprias à adolescên-
ADOLESCENTES cia. Consideramos também a influencia da
Vilma Valeria Dias Couto - UFTM dimensão da cultura nas características da
vilmacouto@psicologia.uftm.edu br família contemporânea que dificulta a su-
peração da experiência da adolescência e
MEC/SESu/DIFES – PROEXT 2010
contribui para o aumento da agressivida-
de e violência dos adolescentes. Em torno
Na atualidade uma das problemáticas que
da família de um adolescente dito agres-
perpassa a adolescência diz respeito à re-
sivo normalmente circulam discursos que
corrência das manifestações de agressivi-
culpabilizam os pais pelas dificuldades dos
dade e violência. As estatísticas revelam o
filhos. É freqüente ouvirmos falas que re-
impacto da violência na população adoles-
metem para uma lógica de compreensão
cente. Estudos mostram que a violência é
das perturbações dos adolescentes como
um dos fatores determinantes nos índices
decorrente de famílias desestruturadas,
de mortalidade na adolescência e apon-
pais ausentes, negligentes ou permissivos
tam os jovens como os seus autores (Mi-
demais. Somando a este entendimento
nayo, 1990; Adorno, Lima & Bordini, 1999;
generalizante e culpabilizante, encon-
Waiselfisz, 1998). Essa situação exige dos
tramos estudos (Rutter, 1961, citado por
profissionais diferentes possibilidades de
Marcelli & Branconnier, 2007) que asso-
compreensão e enfrentamento que os le-
ciam as dificuldades dos adolescentes aos
vam a propor intervenções nos contextos
indicadores de patologia familiar de divór-
clínico, social, educacional e familiar. Com
cio, separação dos pais, doença mental e
base num projeto de extensão universitá-
ria que sustenta intervenções junto a ado- alcoolismo parental.
lescentes de uma instituição socioeduca- Buscando avançar na discussão, recorre-
cional, propomos discutir a influência dos mos a Marcelli (2007) que distingue três
pais na agressividade dos adolescentes. perspectivas de análise da influência da
Uma das etapas do projeto propõe o de- família nos conflitos da adolescência. A
bate de temáticas ligadas à agressividade primeira compreende os conflitos entre
na adolescência. De um modo geral, veri- pais e adolescentes como conseqüên-
ficamos que o entendimento da agressivi- cia do processo de adolescência e desse
dade e violência do jovem é associado a modo é o adolescente que entra num em-
problemas familiares, especialmente dos bate com os pais, se opondo a eles para
pais. Essa constatação justifica a discussão marcar sua autonomia. Nesta perspecti-
da implicação dos pais na problemática da va, a revolta e hostilidade do adolescen-
agressividade do adolescente. Ainda que te dirigida aos pais é um mecanismo de
as intervenções sejam realizadas direta- encontrar-se a si mesmo e constitui uma
mente com os adolescentes, reconhece- pressão necessária para superar os laços
mos que este trabalho deve visar também de dependência com os pais. Ainda que
os pais na medida em que eles, de algu- o adolescente deprecie seus pais, ele não
ma forma, estão implicados nos conflitos deseja destruí-los como modelos para sua
que favorecem a agressividade. Neste vida adulta. Por outro lado, numa segun-
trabalho, apresentamos algumas vias de da perspectiva, alguns autores julgam que

127
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as condutas problemas dos adolescentes ram o arranjo da família contemporânea,


resultam em grande parte de atitudes sustentam o enfraquecimento das figuras
patológicas dos pais que se vêem amea- parentais. Mayer (1997, citado por Saviet-
çados pelas tentativas de independência to, 2006), por exemplo, vai apontar a am-
do filho adolescente. Trata-se de pais frá- bigüidade do lugar ocupado por homens
geis que não suportam os esforços de se- e mulheres como pais na atualidade. Ele
paração do adolescente. Por último, uma considera que a família atual está em cri-
terceira perspectiva, agrega autores que se, e remete essa situação à falta de esta-
consideram que os conflitos entre os ado- bilidade e à incerteza que estão em jogo
lescentes e seus pais testemunham tanto no desempenho dos papéis dos membros
dificuldade do adolescente de assumir da família. Para Levisky (2001), a confusão
seu crescimento e sua autonomia como de papéis na família atual é fruto da au-
dificuldade dos pais de superarem o que sência de hierarquia dos seus membros,
é chamado de crise parental. Nesta pers- que gera uma indiferenciação entre pais e
pectiva, os conflitos do adolescente não filhos. Para ele, a falta de clareza dos pa-
são vistos simplesmente como resultado péis promove uma desorganização interna
da adolescência, mas testemunham tan- e externa que é capaz de gerar um senti-
to as dificuldades dos adolescentes como mento de insegurança no adolescente que
dos pais. Apesar destes três pontos de vis- neste momento, precisa ter ao seu lado
tas não serem excludentes, acreditamos um adulto para confrontá-lo em suas rein-
que é possível reconhecer um entre eles vidicações e ajudá-lo a pensar e a se de-
que parece mais pertinente a cada ado- senvolver. Este breve exame da influencia
lescente e sua família. Compreendemos dos pais na problemática da agressividade
que os adolescentes precisam desafiar os dos adolescentes mostra que na clínica,
pais, hostilizar sua autoridade já que este não só o adolescente deve ser olhado e
desafio é fundamental para o desenvolvi- escutado, mas também a própria família.
mento de sua autonomia. Os pais devem Hoje a avaliação do ambiente familiar de
suportar as provocações e os desafios de um adolescente em dificuldade deve fazer
uma forma ativa, por meio de uma postu- parte da abordagem dos profissionais. En-
ra coerente e firme. Mas como os pais de tretanto, não se trata de tomar os pais em
hoje acompanham o adolescente em sua consideração para culpabilizá-los, mas de
crise? Será que eles estão sendo capazes reconhecer a responsabilidade dos mes-
de reconhecer as reivindicações dos seus mos no processo de subjetivação do ado-
filhos adolescentes? Em acréscimo à dis- lescente. Nesta perspectiva, destacamos
cussão da agressividade dos adolescen- a proposta de intervenção clínica que en-
tes, consideramos que o funcionamento volve um trabalho de apoio narcísico pa-
da família também é influenciado pelo rental (Marty, 2006). Trata-se de uma pro-
contexto social. Estudos mostram que as posta de tratamento da agressividade que
características da família contemporânea passa pela tomada de consciência, por
dificultam a superação do processo da parte dos pais, do papel que devem exer-
adolescência. Vários autores (Roudinesco, cer na constituição do self, em particular
2003; Figueira, 1987), analisando a trans- no momento da adolescência. Os resulta-
formações socioculturais que influencia- dos do projeto de extensão apontam que

128
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

apesar das resistências é possível maior insistido, então, em expor a ideologia do


implicação dos pais na problemática dos patriarcado contemporâneo - que funda-
filhos adolescentes desde que se sintam menta, por meio da tese da naturaliza-
apoiados e não culpados pela instituição ção, as ideologias da masculinidade e da
e profissionais. feminilidade - para sustentar a necessi-
dade de reflexão sobre as práticas sociais
Palavras-chave: Adolescência. Agressividade. e institucionais vigentes e sobre nossas
Família. próprias práticas profissionais e pessoais
em relação ao gênero, que sustentam em
última análise, um processo gendrado
MR LT01 - Mesa Redonda de socialização que mantém a ideia das
chamadas escolhas profissionais adequa-
Convidada das segundo o gênero. Temos insistido
também que este processo gendrado de
socialização mantém padrões gendrados
MR LT01-785 - A CONSTRUÇÃO
de emoção que mediam as aquisições
DA ESCOLHA PROFISSIONAL NO
individuais. Assim, as crenças gendradas
CURSO DA VIDA: UM LOCUS DE
sobre a emoção podem atuar na interpre-
INTERLOCUÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA
tação dos indivíduos sobre suas próprias
DO DESENVOLVIMENTO E A PSICOLOGIA
experiências emocionais vividas em de-
DO GÊNERO.
terminadas circunstâncias. Considerando
Maria Helena Fávero - UnB o exposto, esta mesa redonda discutirá,
faveromh@unb.br através de relatos de pesquisas as seguin-
Financiamento: CNPq tes questões particulares: (a) o acesso às
diferentes áreas do conhecimento segun-
Nossas pesquisas têm focado o desen- do o gênero e suas implicações na escolha
volvimento psicológico e a Psicologia profissional; (b) a desigualdade da parti-
do Conhecimento e elas nos ensinaram cipação de homens e mulheres nas áreas
que as áreas de conhecimento mantêm de ciências e tecnologia; (c) o ensino e a
representações sociais próprias e parti- aprendizagem da matemática como um
culares e que essas se articulam com os filtro crítico na manutenção desta desi-
significados dos papéis de gênero. Há gualdade; (d) o acesso ao conhecimento
duas décadas nossos dados já evidencia- sobre o gênero e a tomada de consciên-
vam que em uma situação de resolução cia da sua relação com a própria subjeti-
de problemas o desempenho dos alunos vidade; (e) a implicação da consideração
e das alunas variava se as informações do gênero na pesquisa desenvolvimental.
para a realização da atividade eram da- Em suma, por meio do aporte e da arti-
das por um homem ou por uma mulher. culação entre a Psicologia do Desenvolvi-
Temos desenvolvido uma linha de pes- mento, a Psicologia do Conhecimento e a
quisa para nos dedicarmos ao estudo Psicologia do Gênero esta mesa redonda
da Psicologia do Gênero tendo em vista abordará ambos: as interações particula-
uma maior compreensão dos processos res de gênero na construção e na media-
psicológicos desenvolvimentais. Temos ção do conhecimento científico e que tais

129
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

interações particulares dizem respeito à filiamos aos significados do feminino e do


igualdade de gênero, educação e cidada- masculino (Fávero, 2010a). Temos assumi-
nia democrática inclusiva. do dois desafios. O mais óbvio é evidenciar
a manutenção da ideia de que homens e
Palavras-chave: Socialização de papéis de mulheres constituem duas categorias dife-
gênero; Escolha profissional, Cidadania. rentes de indivíduos; o mais sutil diz res-
peito às noções de objetivo e de subjetivo,
culturalmente e historicamente associa-
ESCOLHA PROFISSIONAL E GÊNERO: dos a essas duas categorias: a objetivida-
UMA RELAÇÀO QUE DEMANDA UMA de, associada à razão, à masculinidade e ao
PSICOLOGIA REFLEXIVA E CRÍTICA. mundo público; a subjetividade, associada
Maria Helena Fávero - UnB à afetividade, à feminilidade e ao mundo
faveromh@unb.br privado. Por exemplo, em um estudo so-
Financiamento: CNPq bre as representações de gênero com es-
tudantes universitários, professores e pais
O consenso nas publicações sobre episte- de alunos obtivemos, frente à questão “Na
mologia, filosofia e história da psicologia sua vida escolar, entre professores e pro-
critica a ideia de se considerar os chamados fessoras, qual ou quais lhe marcaram mais,
vieses culturais e políticos como um pro- eles ou elas? Por quê?” duas proposições-
blema metodológico e defende o interesse -chave: as professoras são mais afetivas;
nos vieses sociais e históricos do conhe- os professores são mais competentes. No
cimento científico (Janice Haaken, 1988; geral, as professoras foram relacionadas às
Ronald Mather, 2000; Jill Morawiski, 2005; áreas sociais e humanas e os professores
Jan Smedslund 2009; Kenneth J. Gergen, às áreas exatas (Fávero & Salgado, 2006).
2010). Neste consenso, a perspectiva femi- Em outro estudo, a análise dos atos da
nista tem insistido na constituição de uma fala produzidas em grupos focais (Fávero,
psicologia reflexiva e crítica que considere 2007 b) de professores indicaram 5 temas
as dinâmicas do gênero (Jill Morawiski, predominantes: 1º – gênero e exercício do
1997; 2005). Assumindo esta perspectiva magistério nas séries iniciais – evidencian-
temos defendido a tese da interação dia- do duas proposições: a sociedade espera
lética entre o ser humano e a sociocultura que a mulher alfabetize; a instituição esco-
para evidenciar a importância do gênero lar concorda; 2º – a competência masculi-
nessa interação, tanto nas construções na no magistério – foco na racionalidade,
pessoais como nas socioculturais (Fávero, autoridade e controle, segundo a premissa
2010 a; 2010 b). Assim, temos procurado de que a figura masculina impõe respeito;
fundamentar a articulação entre desenvol- 3º – magistério e maternagem – sensibili-
vimento, conhecimento e gênero, defen- dade, natureza e cuidado fundamentaram
dendo que o plano do funcionamento in- a premissa de que a relação entre magis-
terno não é dado: ele é construído (Fávero, tério, mulher e maternagem é natural; 4º
2007 a). É nessa perspectiva que entende- – habilidades femininas – separação entre
mos a socialização: uma construção gen- áreas de conhecimento e gênero: a mulher
drada cujo ponto central reside no modo apresenta, naturalmente, mais habilidades
como entendemos a emoção e como a linguísticas, artísticas e manuais; 5º – o

130
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

homem como chefe de família e provedor nas se esforçam para aprender, mas “não
–os sujeitos defendem melhores salários, têm o raciocínio matemático desenvolvi-
não pelo magistério em si, mas por serem do”. Levando tais premissas para a discus-
homens e provedores (Fávero & Salgado, são com alunos da 9ª série, entre 14 e 15
2007). Estes dados confirmam a análise anos, obtivemos concepções distintas: “as
de Abramo (2004) e Anzorena (2008). Ou meninas são mais inteligentes na mate-
seja, um sistema de diferenças como o gê- mática”; “elas são mais maduras”; “elas
nero, torna-se um princípio organizador estudam mais”; “aprendem com mais fa-
das relações sociais: como os homens e cilidade”; “a maioria dos meninos só quer
mulheres mantêm intensa interação, seja ‘vadiar’” (Alves & Fávero, 2010). Por outro
no contexto privado, como nos contextos lado, nossas pesquisas de intervenção com
públicos, o gênero difere de outras formas estudantes com dificuldade em matemáti-
de desigualdade; esta interação constrói ca (Fávero, 2007 c) apontam como Dweck
experiências que confirmam, ou poten- (2007) que, ver a competência em mate-
cialmente determinam as crenças sobre mática como um dom fixo e “natural”, leva
as diferenças e desigualdades de gênero os estudantes a questionarem sua própria
(Ridgeway e Smith-Lovin, 1999; Ridgeway capacidade e perderem a motivação quan-
e Correl, 2004). Portanto, defendemos que do encontram dificuldades; ver a compe-
a escolha profissional é uma construção tência como um processo de desenvolvi-
vinculada a uma socialização gendrada. mento leva-os, diante de dificuldades, a
Estas questões nos permitem focar duas procurar procedimentos ativos e efetivos.
questões particulares: 1. A desigualdade Nossos estudos têm nos permitido ampliar
da participação de homens e mulheres nas esta discussão para a questão mais ampla
áreas de ciências e tecnologia; 2. O ensi- da relação entre conhecimento e cidada-
no e a aprendizagem da matemática como nia e de trazer à pauta de discussão, “no
um filtro crítico na manutenção desta de- contexto das diferentes áreas do conheci-
sigualdade, já que está no centro das cren- mento científico, a relação entre ensino, fi-
ças parentais sobre as escolhas ocupacio- losofia e cidadania, com o intuito de tornar
nais tidas como “apropriadas” aos papéis explícita a possibilidade efetiva de conside-
de gênero (Watt e Eccles, 2008). Igualmen- rar a responsabilidade humana e cidadã e
te, os professores e professoras têm ex- pleitear que a instituição escolar assuma,
pectativas diferentes para alunos e alunas por princípio, educar o cidadão e prover
particularmente no caso da matemática e educação para a cidadania” (Fávero, 2009,
isto se inicia muito cedo na escolarização p.16). Por isto mesmo concluímos, parti-
(Mosconi, 2001). Comprovamos isto em lhando os aspectos consensuais dos es-
um estudo sobre as concepções de profes- tudos da linha de pesquisa que focamos
sores e professoras de matemática: para as aqui: 1. Pleitear uma educação que funda-
professoras, as alunas têm bom desempe- mente, por meio de sua prática, uma rela-
nho em matemática porque se esforçam; ção entre igualdade de gênero, pedagogia
os alunos estão prontos para o raciocínio e cidadania (Arnot, 2006; Enslin e Tjiattas,
matemático; para os professores, as alu- 2006); 2. Conquistar justiça social, tanto no
nas tendem naturalmente para as áreas nível doméstico como no nível global (Ho-
humanas e os alunos para as exatas; as alu- well, 2007); 3. Sustentar a tese segundo

131
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a qual a afirmação dos direitos humanos ofreciendo así, subsidios para la Psicología
universais caminha junto com a decisão de cognitiva y educativa (ver Watson & Mor-
desafiar a distinção entre público e privado ritz, 2001). Presentamos los resultados de
(Kaplan, 2001). estudios en lo que hemos propuesto tare-
as sobre el contenido de dos conjuntos de
Palavras-chave: psicologia critica; socialização cajas de fósforo de diferente marca (X e
gendrada e escolha profissional; cidadania. Y), que involucra en su solución la media
aritmética, la mediana y la moda, a estu-
diantes de ambos sexo, de quinta y octava
LA RESOLUCIÓN DE PROBLEMAS: serie de enseñanza fundamental, de una
INDICIOS ACERCA DE EL PROCESO DE escuela de Brasilia, DF (150 estudiantes) y
CONSTRUCCIÓN DE LA ESCOGENCIA DE de dos escuelas de Popayán, Colombia (85
UNA PROFESIÓN estudiantes). En cada una de las 3 tareas
Yilton Riascos Forero - UNICAUCA/COLÔMBIA se buscaba que los estudiantes determi-
yirifo@gmail.com naran la marca de fósforos que, segundo
Maria Helena Fávero - UnB/DF los datos presentados tendrían más con-
fáveromh@unb.br. tenido en sus cajas: “Las empresas X e Y,
fabrican fósforos que venden en cajitas.
La literatura nacional e internacional en- Todas las cajas presentan una etiqueta que
fatiza la importancia de la relación entre indica 40 fósforos de contenido. Se sabe,
género, ciencia y matemática y la relación por observación y conteo que algunas ca-
entre desarrollo psicológico, conocimiento jas no siempre tienen el mismo número
y género (Fávero, 2010 a). Se trata de una de fósforos. Algunas veces ellas presentan
cuestión de punta que compara la igual- más o menos cantidad de fósforos; otras
dad en el acceso al conocimiento entre los veces, presentan efectivamente la canti-
géneros; sobre todo las áreas de ciencia dad indicada (40)”.Se evidenció diversos
y tecnología y su relación con las creen- comportamientos en el desarrollo de es-
cias culturales sobre género. Defendemos trategia para la resolución, encontrando
como Fávero (2010 b) que las instituciones que las estrategias de mayor complejidad
educativas, lugar donde tales creencias las desarrollaron los estudiantes brasile-
están en juego, deben ser consideradas a ros. De las estrategias identificadas, se en-
través de la articulación entre a psicología contró con más frecuencia la de sumar los
del desarrollo, la psicología del género y la valores; pocos estudiantes utilizan divisi-
psicología del conocimiento. La resolución ón y tablas de frecuencias.Se identificó un
de problemas se presta para esto porque comportamiento diferente entre las alum-
evidencia las interacciones entre regula- nas de 5ª serie y las de 8ª serie, contrario
ciones cognitivas y regulaciones sociales y al de los estudiantes hombres respecto al
expone el papel de la mediación semiótica número de tareas no resueltas. En el caso
en el desarrollo psicológico (Riascos & Fá- de los alumnos brasileiros, todos los de
vero, 2010). En particular, la resolución de sexo femenino de la 5ª serie procuraron
problemas estadísticos evalúa la lectura, desarrollar una estrategia para resolver
análisis e inferencia sobre la distribución el problema, mientras que el 18,42% de
de los datos y los conceptos estadísticos, los de sexo masculino no lo hicieron; este

132
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dato se invierte en la 8ª serie: 27,91% de O GÊNERO DA MATEMÁTICA NA


los de sexo femenino no desarrollan una FORMAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: O
estrategia de resolución, para 10% de los DESAFIO DA PESQUISA NA DOCÊNCIA
de sexo masculino que no lo hicieron. Este Regina da Silva Pina Neves - SBEM
dato no fue observado en los estudiantes reginapina@gmail.com
colombianos, sin embargo se observó el Maria Helena Fávero - UnB
uso de estrategias más simples por los alu- faveromh@unb.br
mnos de sexo femenino. Las conclusiones
corroboran las evidencias de otros estu- Da última década do século passado para
dios (Berger, 2004; Fávero e Soares, 2002; cá, houve uma ampliação significativa do
Gonzalez-Pienda & Coll., 2006; Fernandes número de mulheres na Educação Básica
& Healy, 2007; Fávero, 2009; Fávero & Pina e no Ensino Superior (Godinho, 2005; Ris-
Neves, 2009; Muniz, 2009) y apuntan a las toff, 2006): as mulheres superaram os ho-
dificultades de los alumnos brasileiros y mens em escolaridade; estão em maior
colombianos en la utilización de instru- número nas áreas de humanas e biológi-
mentos matemáticos en la solución de los cas; os homens estão em maior número
problemas propuestos; la interacción par- nas áreas de exatas e, isto permanece nos
ticular del medio escolar con la lógica del cursos de pós-graduação (Chamom, 2005;
sistema numérico decimal y su notación y INEP, 2011). Fávero (2010) discute essas
una práctica de enseñanza que se viabiliza diferenças argumentando que é necessá-
a través de reglas no efectivas en la media- rio compreender a natureza das relações
ción de este sistema lógico y su utilización que crianças, adolescentes, jovens e adul-
como instrumento para la construcción tos têm construído com as diferentes áre-
de nuevos instrumentos de pensamien- as de conhecimento e como tais relações
to, como analizado por Fávero & Soares têm influenciado a escolha profissional.
(2002); la importancia de la enseñanza de Assim, Fávero (2010) defende uma linha
la estadística en currículo de matemática de pesquisa particular, focada na investi-
de enseñanza fundamental; la importan- gação da escolha “profissional de postos
cia de considerar la articulación entre el relacionados à ciência, matemática e tec-
género y la enseñanza y el aprendizaje de nologia; sobre a permanência da mulher
las diferentes áreas del conocimiento de nas carreiras tecnológicas e sua relação
modo que se pueda asegurar la paridad com os fatores emocionais; a relação en-
entre los géneros en lo que respecta a las tre gênero e tempo dedicado ao trabalho
profesiones relacionadas con la ciencia, (p.188).” Dentro dessa linha de pesquisa,
la tecnología, las ingenierías, como pro- temos desenvolvido estudos focados par-
puesto por Fávero, 2010 a ; el papel de la ticularmente na formação de pedagogas e
psicología en esta cuestión, que se refiere psicólogas, estudantes de pós-graduação
a la escogencia de una carrera profesional em psicopedagogia de uma universidade
y, en última instancia, respecto a la cons- pública. Temos perseguido o duplo desa-
trucción de la ciudadanía. fio de, primeiro, definir um procedimento
didático para abordar o estudo do desen-
Palabras-clave: resolución de problemas, volvimento de competências conceituais
desarrollo cognitivo, género. em matemática como uma disciplina do

133
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

curso em questão, considerando-se que de uma abordagem qualitativa segundo


ele deve responder à necessidade de dis- os quais existe um viés cultural relaciona-
cutir as questões pertinentes à Educação do com gênero no desenvolvimento dos
Matemática e, ao mesmo, mediar o co- currículos de matemática (isto é, exem-
nhecimento matemático. Segundo, tal si- plos mais relacionados com o universo
tuação didática deve se constituir em um simbólico de meninos, a partir sexto ano,
lócus de pesquisa. Assim, num primeiro por exemplo) e com a própria prática di-
estudo, apresentamos a 26 pedagogas dática, como diferentes tipos de pergun-
e 6 psicólogas, estudantes do já referido tas e incentivos para meninos e meni-
curso, duas tarefas: a resolução de uma nas (Walden e Walkerdine, 1985; Freire,
situação-problema e a análise dos regis- 2002; Andrade et al, 2003; Souza, 2008).
tros de sete alunos produzidos na resolu- Insistindo na perspectiva de que a docên-
ção de três situações-problema. Os resul- cia universitária pode e deve ser um lócus
tados evidenciaram que, no geral, as par- de pesquisa, recentemente desenvolve-
ticipantes descreviam o erro sem levantar mos um terceiro estudo junto aos atuais
hipóteses, atribuindo-o ao aluno e apre- estudantes do curso já mencionado, com
sentavam um discurso construtivista, in- o intuito de refinar nosso procedimento
compatível com suas respostas e dúvidas didático com os seguintes objetivos: 1/
conceituais (Fávero & Pina Neves, 2009). compreender como avaliam a relação
No segundo estudo colocamos em expe- que estabeleceram com a matemática,
rimentação um procedimento didático seu ensino e aprendizagem ao longo da
focado na relação entre resolução de pro- sua escolarização; 2/ analisar o seu de-
blemas, didática e história da matemáti- sempenho sobre a conceituação mate-
ca, visando capacitá-los a intervir como mática relacionada a tópicos curriculares
psicopedagogos na mediação do conhe- presente na Educação Básica, 3/ compre-
cimento matemático na prática clínica e ender como a crença sobre sua própria
institucional. Evidenciou-se que a maio- competência impacta sua futura prática
ria associava a matemática ao medo, ao profissional de psicopedagogo. Participa-
fracasso e à dificuldade. O procedimento ram 23 mulheres, entre 23 e 48 anos, pro-
didático que desenvolvemos desarticulou venientes dos cursos de fonoaudiologia,
tal associação e desenvolveu: a compe- psicologia e pedagogia. Tendo em vista os
tência para analisar a notação de alunos e objetivos anunciados, lhes propusemos
colegas segundo o campo conceitual nos uma atividade em quatro etapas: 1ª / res-
quais as resoluções se inseriam; a com- ponderam perguntas que identificavam
preensão da mediação e da notação na idade, formação, local de trabalho, ativi-
conceituação matemática; a tomada de dade desenvolvida, atuação profissional;
consciência sobre a importância do currí- 2ª / completaram as duas frases: “Na mi-
culo de matemática e das práticas de ava- nha vida escolar a matemática...”; “ Os
liação; a prática da pesquisa na formação professores de matemática na minha vida
inicial e continuada de professores. Nos- escolar...”, 3ª / resolveram uma situação-
sos dados corroboraram os estudos que -problema sobre conceitos algébricos e
têm investigado a relação entre gênero e geométricos, extraída do Programa Inter-
aprendizagem de matemática por meio nacional de Avaliação de Alunos (PISA) e,

134
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

4ª / descreveram seus sentimentos du- medo, angustia e dúvidas sobre a própria


rante a 3ª etapa. Os dados foram analisa- competência diante da tarefa. Por fim,
dos considerando-se a filiação entre com- assumem a importância de desenvolver
petências e dificuldades Fávero (2001, competências sobre o conhecimento ma-
2005b), e a natureza da tarefa proposta. temático para a sua futura prática profis-
Os dados da 1ª etapa evidenciaram atu- sional em psicopedagogia. Tais resultados
ações, como psicóloga, docente dos anos reforçam a necessidade de procedimento
iniciais, orientadora educacional e coor- didático que articule resolução de proble-
denadora educacional, todas envolvendo mas, didática e história da matemática
trabalho com crianças e adolescentes em para o desenvolvimento de competências
situação de risco, necessidades especiais matemáticas fundamentais para a prática
e situação de dificuldade de aprendiza- profissional em psicopedagogia.
gem, na maioria relacionada à matemá-
tica. Os dados da 2ª etapa evidenciaram: Palavras-chave: conhecimento matemático,
a consideração da matemática como im- gênero, pesquisa didática.
portante área de conhecimento para a
inserção dos sujeitos na sociedade atual;
relatos de experiências escolares positi- MR LT04 - Mesa Redonda
vas com a matemática nos anos iniciais
do Ensino Fundamental; relatos de que Convidada
tais experiências mudam de natureza e
passam a ser negativas na medida em
que avançam na escolaridade, atingin- MR LT04-1232 - CONTRIBUIÇÕES DA
do níveis de desinteresse, dificuldade e PSICOLOGIA ESCOLAR À PROMOÇÃO DO
aversão no ensino médio; relatos sobre a DESENVOLVIMENTO HUMANO ADULTO
diferença na mediação do conhecimento Cynthia Bisinoto - UnB
matemático por parte de seus professo- cynthia@unb.br
res e professoras a depender do nível de
ensino, sendo mais acolhedores nos anos Baseando-se em uma perspectiva crítica,
iniciais, menos acolhedores nos anos fi- positiva e progressista da Educação, as
nais do ensino fundamental e no ensino práticas profissionais, de pesquisa e de
médio, assumindo métodos mais investi- produção de conhecimento em Psicologia
gativos, nos anos iniciais e mais formais Escolar vêm se disseminando para diver-
nos demais níveis, influindo seus próprios sos espaços educativos nos quais a atua-
modos de ver e aprender matemática. Os ção e mediação da área se comprometem
dados da 3ª etapa – resolução de proble- com os processos de aprendizagem e de
ma – evidenciaram dificuldades na análi- desenvolvimento (Araujo, 2003; Guzzo,
se de padrões geométricos, na interpre- 1996, 2001; Martínez, 2003). Se, histori-
tação algébrica e na resolver da equação, camente, o trabalho da Psicologia Escolar
evidenciando a não compreensão de fór- se consolidou no contexto da escola da
mulas matemática e o significado de seus educação básica, outros espaços de de-
termos. Os dados da 4ª etapa eviden- senvolvimento humano, também respon-
ciam relatos associados a sentimento de sáveis por promover processos educacio-

135
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nais de diferentes naturezas, vêm sendo Leontiev (s.d./2004) seus maiores expo-
reconhecidos como campos legítimos de entes, concebe o homem como um ser
inserção do psicólogo escolar (Marinho- ativo, social e histórico, e assume que
-Araujo, 2009; Oliveira & Marinho-Araujo, ele se constitui a partir das interações
2009; Soares & Marinho-Araujo, 2010). sociais que são mediadoras da constru-
Alguns destes contextos são as creches, ção de suas características, sentimentos,
orfanatos, abrigos, asilos, organizações pensamentos, crenças, conhecimentos e
não governamentais, cursinhos pré-ves- concepções, enfim, da sua subjetividade.
tibular, Instituições de Educação Superior, Essa perspectiva incita-nos a pensar sobre
entre outros. Nesses diferentes espaços os espaços contemporâneos do trabalho
tem sido recorrente a preocupação e educativo como lócus para a elaboração
compromisso, sobretudo dos psicólogos de processos formativos e de mediação
escolares, com as múltiplas possibilidades de competências que busquem favorecer
de mediação em prol do desenvolvimento o desenvolvimento, tanto individual quan-
humano, particularmente o desenvolvi- to coletivo, sob uma perspectiva sistêmi-
mento humano adulto, o qual é um tema ca, dinâmica e relacional (Araujo, 2003;
lacunar na Psicologia de forma geral (Fá- Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Nessa
vero & Machado, 2003; Marinho-Araujo, perspectiva, a mesa redonda aqui propos-
2009). Por conseguinte, têm crescido as ta apresenta relatos e pesquisas que dis-
discussões em torno das competências cutem contribuições da Psicologia Escolar
dos profissionais que atuam na educa- ao desenvolvimento humano adulto em
ção, cujo trabalho deve comprometer-se diferentes espaços educativos e almeja
com o desenvolvimento e aprendizagem suscitar reflexões sobre os desdobramen-
(Marinho-Araujo & Almeida, 2005; Soa- tos das ações interventivas do psicólogo
res & Marinho-Araujo, 2010). Com base escolar junto aos profissionais desses con-
em ações contextualizadas e ampliadas a textos. Assim, o primeiro trabalho apre-
outros atores e instâncias institucionais, senta e discute uma proposta de atuação
a Psicologia Escolar tem investido no de- para os Serviços de Psicologia Escolar na
senvolvimento humano adulto por meio Educação Superior. O segundo, apresenta
de ações que visem à formação de com- experiências de intervenção do psicólogo
petências profissionais dos agentes da escolar em espaços de trabalho cotidiano
educação, sejam os próprios psicólogos e de formação continuada. Na sequência,
escolares ou outros atores (coordenado- serão abordadas possibilidades de media-
res, professores, pais e alunos) envolvidos ção da Psicologia Escolar junto a educa-
no processo educativo. Como campo de dores sociais em organização não gover-
reflexão teórica, os pressupostos concei- namental, visando o desenvolvimento de
tuais e metodológicos que orientam a competências profissionais.
prática dos psicólogos escolares têm se
alicerçado, especialmente, nas proposi-
ções da abordagem histórico-cultural do
desenvolvimento humano. Essa aborda-
gem, que tem em Vygotsky (s.d./1999,
s.d./2003, s.d./2009), Luria (s.d./2008) e

136
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

PROPOSTA DE ATUAÇÃO PARA A cação Superior é qualitativamente distinta


PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO daquela que transcorre em outros contex-
SUPERIOR tos. O conhecimento científico, artístico
Cynthia Bisinoto - UnB e cultural intencionalmente contemplado
cynthia@unb.br nos planejamentos de ensino, as informa-
ções divididas, os saberes apropriados, as
Um dos contextos emergentes de atuação posturas éticas e ideológicas partilhadas,
e pesquisa em Psicologia Escolar é a Edu- bem como as vivências pessoais e as rela-
cação Superior, a qual tem como finalidade ções intersubjetivas que se fomentam no
formar sujeitos para a vida em sociedade. contexto educativo são mediadoras do pro-
Para além do foco na competência profis- cesso de aprendizagem e, por conseguinte,
sional, que é uma das dimensões do de- do desenvolvimento humano que tem nela
senvolvimento dos sujeitos, a formação em sua base (Oliveira, 2011). Por essa razão, a
nível superior deve incidir na preparação Educação Superior como contexto no qual
de pessoas capazes de enfrentar de forma transcorrem múltiplos e complexos proces-
ética e socialmente comprometida os de- sos de aprendizagem tem papel primordial
safios extremamente contraditórios, am- na mediação das funções psicológicas su-
bíguos e complexos que são característicos periores dos sujeitos adultos que frequen-
da sociedade contemporânea. Mais do que tam esse espaço, seja como estudantes ou
habilitar sujeitos a exercerem com compe- como profissionais (Marinho-Araujo, 2009;
tência e sucesso sua atividade profissional, Oliveira & Marinho-Araujo, no prelo). En-
a Educação Superior tem como finalidade tretanto, em virtude das inúmeras e com-
formar cidadãos conscientes do seu poder plexas transformações características da
transformador no combate à exclusão, in- sociedade contemporânea, as Instituições
justiças, desigualdade, enfim, questões re- de Educação Superior (IES) têm se confron-
levantes na área social, econômica, política tado com desafios e dilemas relacionados
e cultural de uma nação (Dias Sobrinho, ao seu papel frente às demandas do merca-
2004, 2005; Goergen, 2008; Marinho-Arau- do; à expansão quantitativa das instituições
jo, 2009; Morosini, 2005, 2006; Ristoff, e dos cursos; à efetividade dos programas
1999, 2008; Severino, 2000, 2002; Sguissar- de apoio ao acesso e permanência; à ade-
di, 2006, 2008). Nesse sentido, a Educação quação dos objetivos pedagógicos e institu-
Superior é um dos espaços sociais privile- cionais à realidade dos estudantes; à qua-
giados e fecundos à promoção do proces- lificação do corpo docente; à necessidade
so de desenvolvimento humano adulto de inovações curriculares e pedagógicas;
justamente pelo fato de que as diferentes entre outros. Para enfrentar de forma mais
aprendizagens ali propiciadas são propulso- eficiente estes desafios, as IES têm desen-
ras do desenvolvimento. Por meio da rela- volvido algumas estratégias como a criação
ção com os vários objetos de conhecimento de Serviços de Psicologia voltados ao apoio
científico, a crítica, a reflexão e o exercício ao estudante, ao sucesso acadêmico, à in-
político da participação social, além das serção profissional, entre outros objetivos.
relações interpessoais que se constrói en- Se, por um lado, nos países europeus e
tre os sujeitos adultos e jovens adultos, a norte-americanos estes serviços estão em
natureza da mediação que ocorre na Edu- funcionamento há muitos anos, por outro,

137
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no Brasil, a produção científica relativa à a um desenvolvimento saudável e pleno


atuação da Psicologia Escolar no Sistema em suas potencialidades, é extremamente
de Educação Superior e a presença dos psi- pertinente haver uma variedade de ativi-
cólogos escolares nas IES são consideradas dades que tenham como meta a promoção
restritas e recentes (Bariani, Buin, Barros desses processos. Relativamente à propos-
& Escher, 2004; Oliveira, Cantalice, Joly & ta de criação e estruturação dos Serviços de
Santos, 2006; Serpa & Santos, 2001). Dessa Psicologia, ela se ancora na perspectiva his-
maneira, a Psicologia Escolar tem um gran- tórico-cultural do desenvolvimento psico-
de desafio que é o de ampliar suas pers- lógico humano (Leontiev, s.d./2004; Luria,
pectivas de atuação por meio de práticas s.d./2008; Vygotsky, s.d./1999, s.d./2003,
diferenciadas em um contexto ainda pou- s.d./2009) e na abordagem preventiva e
co explorado pela área. Com o intuito de institucional de atuação em Psicologia Es-
conhecer o trabalho realizado nestes Ser- colar (Araujo, 2003; Marinho-Araujo & Al-
viços, desenvolveu-se um estudo com ob- meida, 2005). Se, por um lado, pretende-
jetivo de investigar a atuação da Psicologia -se, com este modelo de atuação, propor
Escolar em IES do Brasil e, em especial, do algumas linhas de intervenção para os psi-
Distrito Federal. Nesta apresentação, pre- cólogos que trabalham nestas instituições,
tende-se, portanto, discutir alguns dos re- por outro, aspira-se que ele venha figurar
sultados relativos à atuação dos psicólogos como detonador de um movimento de re-
escolares na Educação Superior brasileira flexão, estudo, investigação e problemati-
e, na sequência, apresentar uma proposta zação acerca das possibilidades de atuação
de criação e estruturação para os Serviços da Psicologia Escolar na Educação Superior.
de Psicologia na Educação Superior. No que A proposta de atuação se organiza em seis
tange aos resultados da pesquisa, nota-se eixos: (a) a fundamentação teórica que a
que os Serviços de Psicologia distribuídos sustenta, baseada na abordagem histórico-
nas IES brasileiras não são privilégio de um -cultural do desenvolvimento humano; (b)
tipo de instituição; ao contrário, eles se fa- os objetivos que se entende pertinentes
zem presentes tanto nas universidades com aos serviços desse tipo; (c) o público alvo
perfil acadêmico quanto nas faculdades para o qual podem ser dirigidas as interven-
com perfil mais profissionalizante; em rela- ções; (d) a descrição dos recursos humanos
ção à natureza administrativa das IES com que podem compor os serviços, destacan-
serviços, são as instituições privadas as que do as características do perfil dos psicólo-
mais os têm. O foco principal da ação dos gos escolares, o número de profissionais e
psicólogos nestes serviços são os estudan- o vínculo de trabalho com a IES; (e) alguns
tes, fundamentalmente os de graduação, elementos importantes sobre o funcio-
todavia, apesar do objetivo principal estar namento e organização do serviço; e, por
centrado neste segmento da comunidade fim, (f) possíveis atividades que podem ser
acadêmica, alguns Serviços já estendem desenvolvidas pelos profissionais, as quais
suas ações para outros públicos da insti- estão organizadas em três dimensões inter-
tuição, ampliando seu foco de intervenção. dependentes.
Considerando que são muitos e diversifi-
cados os espaços de aprendizagem, bem Palavras-chave: Psicologia Escolar, Educação
como são múltiplos os caminhos que levam Superior, Serviços de Psicologia.

138
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

PSICOLOGIA ESCOLAR: Le Boterf, 2003; Wittorski, 1998; Zarifian,


RESSIGNIFICANDO METODOLOGIAS 1993), esta apresentação tem, dentre seus
PARA ATENDER ÀS NOVAS DEMANDAS objetivos, compartilhar experiências de
DA ATUAÇÃO trabalho cotidiano e de formação continu-
Rejane Barbosa - SEEDF/FA, ada para profissionais da educação, mais
rejmariab@bol.com.br especificamente voltada para professores
e psicólogos que atuam no contexto da
O estudo acerca do desenvolvimento escola. O psicólogo escolar é um dos pro-
adulto vem se configurando como um fissionais que deve contribuir com a ressig-
importante e necessário campo de pes- nificação e oxigenação dos espaços subje-
quisa, haja vista os avanços tecnológicos tivos presentes no contexto educacional.
e a atual configuração sociocultural, que Pode atuar por meio da promoção de es-
demandam o exercício de novas capaci- paços coletivos e individuais de reflexão,
dades intelectuais, sociais e afetivas. Em no qual compareçam assuntos relaciona-
uma perspectiva histórico-cultural, pode- dos à prática profissional, reconhecimento
-se dizer que o ser humano desenvolve-se dos desafios e avanços presentes no con-
ao longo de todo seu curso de vida, uma texto escolar, das potencialidades do gru-
vez que é capaz de manter e aperfeiçoar po, discussão das concepções de desen-
as interações com seus pares, com instru- volvimento e aprendizagem presentes no
mentos e com o ambiente por meio das grupo escolar, entre outros. O contexto de
mais diferentes linguagens e signos cultu- ensino atual solicita um profissional que,
rais presentes no seu cotidiano (Vygostky, mediante o desenvolvimento de novas
s.d./2007). Neste contexto, a Psicologia habilidades de compreensão da escola em
Escolar constitui-se como área de conhe- sua conjuntura social, cultural, política e
cimento que contribui fundamentalmen- econômica, seja capaz de planejar estraté-
te para que a escola possa atingir seus gias de favorecimento ao desenvolvimento
objetivos enquanto espaço de promoção dos profissionais que ali atuam (Almeida,
das diversas aprendizagens, do desenvol- 2001, 2002; Araujo, 2003; Barbosa & Ma-
vimento humano e da cidadania. Não so- rinho-Araujo, 2010; Campos & Jucá, 2003;
mente para os estudantes, mas principal- Campos, Lopes, Onofre, Alexandre & Silva,
mente para os profissionais que ali atuam. 2005; Cruces, 2003; Guzzo, 2001, 2005;
Dessa, forma torna-se relevante pesquisar Guzzo & Weschsler, 1993; Marinho-Araujo
e apresentar possibilidades de formação & Almeida, 2003, 2005; Neves, 2007; Sou-
continuada que favoreçam o desenvolvi- za, 2004, 2007; Vectore & Maimoni, 2007).
mento de habilidades e recursos pessoais, A título de ilustração, serão apresentadas
interpessoais, profissionais, cognitivos, éti- três experiências intervenção do psicólogo
cos, entre outros que corroborem à forma- escolar em espaços de trabalho cotidiano
ção de competências do psicólogo e dos e de formação continuada desenvolvidas
demais atores da escola (Barbosa, 2008). entre os anos de 2009 e 2010. O primeiro
Com base na abordagem histórico-cultu- focaliza o trabalho desenvolvido no âm-
ral (Leontiev, s.d./2001; Luria, s.d./1990; bito da Secretaria de Estado de Educação
Vygotsky, s.d./ 2000, s.d./2007) e na abor- do Distrito Federal (SEEDF) com o grupo
dagem por competências (Kuenzer, 2002; de psicólogos escolares, o qual se refere a

139
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

reelaboração do documento norteador da vimento adulto, as quais vêm sendo utili-


atuação em Psicologia Escolar no DF, deno- zadas, nos últimos cinco anos de trabalho
minado Orientação Pedagógica do Serviço em Psicologia Escolar, na esfera da SEEDF,
Especializado de Apoio à Aprendizagem de modo a cooperar com a ressignificação
(OP/SEAA). O modelo inovador do traba- da atuação psicológica no contexto esco-
lho realizado proporcionou a todos os par- lar, numa perspectiva preventiva, para
ticipantes a discussão acerca das concep- além da remediação/tratamento das difi-
ções institucionais que balizam a atuação culdades de aprendizagem apresentadas
e a construção coletiva das ações que hoje pelos estudantes. Igualmente, abre novas
estão presentes no cotidiano de muitos possibilidades de compreensão das quei-
psicólogos escolares do Distrito Federal xas escolares em um contexto muito mais
(Marinho-Araujo, Neves, Pena-Moreira & complexo e permeado por possibilidades
Barbosa, no prelo). O segundo apresenta a de desenvolvimento subjetivo de todos e
dinâmica de atuação do psicólogo escolar por oportunidades de promoção do suces-
que compõe as equipes multidisciplinares so escolar e social.
de apoio à aprendizagem da SEDF, imple-
mentada em uma cidade do Distrito Fe- Palavras-chave: desenvolvimento humano
deral proposta a partir da pesquisa desen- adulto, atuação institucional, desenvolvimento
volvida por Barbosa (2008). O modelo de de competências.
trabalho foi organizado em três dimensões
denominadas: (a) intraequipe; (b). intere-
quipes e (c) extraequipe, cujo objetivo ge- ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR
ral foi viabilizar para os próprios psicólogos EM ONG: CONTRIBUIÇÕES PARA O
e para os demais membros da comunidade DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
escolar – pedagogos, gestores, professo- DE EDUCADORES SOCIAIS
res, alunos, pais, entre outros – o desen- Pollianna Soares - UnB
volvimento de habilidades e recursos que polliannagalvao@yahoo.com.br
subsidiem ações competentes e promoto-
ras do sucesso escolar. O terceiro e último Nas últimas décadas, a Psicologia Escolar
exemplo refere-se à atuação do psicólogo tem revisto seus fundamentos epistemoló-
escolar no programa de acompanhamento gicos para o estabelecimento de novas di-
ao aluno com altas habilidades, também retrizes de atuação profissional e produção
da SEDF, que pautada pelas mesmas bases de conhecimento nos contextos de educa-
epistemológicas e teóricas vem ratifican- ção formal e não formal (Campos & Jucá,
do este tipo de intervenção relacional e 2003; Cruces, 2003, 2005; Marinho-Arau-
institucional já utilizada nas experiências jo, 2007, 2009; Marinho-Araujo & Almei-
anteriores como uma possibilidade de am- da, 2005; Oliveira & Marinho-Araujo, 2009;
pliação e ressignificação do trabalho do Soares & Marinho-Araujo, 2010; Souza,
psicólogo escolar com vistas à promoção 2006, 2010). O redirecionamento de sua
do desenvolvimento humano adulto no práxis, que amplia seu escopo de atuação
contexto escolar. Portanto, a apresenta- para distintos contextos educacionais, tem
ção do tema aqui exposto contribui com ocorrido em meio a diversas mudanças no
estratégias para a promoção do desenvol- campo político da educação no Brasil, ins-

140
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tigando a Psicologia Escolar a comparecer no desenvolvimento e consolidação da


com um posicionamento crítico e levan- identidade profissional do educador social.
tando novas questões sobre a realidade Tradicionalmente, se reconhece a Psicolo-
educacional do país. Nesse cenário, as gia Escolar como uma das áreas científicas
organizações não governamentais (ONGs) que contribuem para a discussão da for-
de natureza educacional vêm ganhando mação do professor da educação formal
atenção da Psicologia Escolar por promo- (Facci, 2009). Nesse novo panorama social,
verem atividades educativas não formais, há de se pensar sobre as possibilidades de
visando o desenvolvimento humano (Soa- mediação dos psicólogos escolares junto
res, 2008; Soares & Marinho-Araujo, 2010; ao educador social nos contextos de edu-
Souza, 2009). As ONGs educativas surgem cação não formal, que visem à transfor-
no cenário brasileiro, especialmente entre mação da realidade social. Dessa forma,
as décadas de 70 e 80, vinculadas a movi- considera-se que a Psicologia Escolar deve
mentos sociais que visam ao incentivo de estar voltada para a mediação do desen-
ações direcionadas à garantia dos direitos volvimento humano adulto, por meio da
civis relacionados à educação básica públi- promoção de intervenção e mediação psi-
ca. A inauguração desses espaços tem de- cológica que objetive contribuir para a for-
mandado profissionais da educação com mação das competências necessárias ao
um perfil específico à natureza e filosofia exercício pedagógico crítico e politicamen-
institucionais, vinculado fortemente ao te comprometido com a transformação
compromisso com a transformação social social (Barbosa, 2008; Guzzo, 2003, 2005).
(Gohn, 2009, 2010). A esses profissionais, Para isso, é importante compreender o per-
Romans, Petrus e Trilla (2003) têm deno- fil necessário do educador social no recen-
minado de educadores sociais, os quais te cenário educativo brasileiro (Caro & Gu-
proveem mediação pedagógica distinta zzo, 2003; Gohn, 2009). Entendendo que a
dos contextos formais de educação. Surgi- constituição das competências do trabalho
do em meio às emergências da sociedade esteja ligada diretamente à subjetividade
civil, o educador social ainda se encontra humana e ao desenvolvimento psicológico
com um perfil profissional pouco definido, dos sujeitos (Araujo, 2003), considera-se o
principalmente em virtude da falta de for- trabalhador como um sistema complexo e
mação adequada, tanto inicial como conti- em contínua evolução nas esferas sociais,
nuada, para o exercício competente de sua cujo processo de formação profissional
atuação. Conforme Caro e Guzzo (2004), está relacionado à constituição histórica
“muitas vezes, observam-se inadequações do seu processo de subjetivação. Assim,
de educadores sociais bem intencionados, ao se considerar o desafio da construção
pela falta de formação, de apoio e até de do perfil profissional do educador social,
uma orientação por parte de profissionais percebe-se a relevância em compreender
das diversas áreas de desenvolvimento” o caráter político, social, econômico e cul-
(p. 16). Diante desse desafio, entende- tural intrínseco aos problemas sociais que
-se que a área da Psicologia Escolar pode emergem na sociedade e que se presentifi-
trazer contribuições às ONGs educativas cam na constituição da subjetividade des-
e, entre as suas possibilidades de atuação, se sujeito trabalhador em especial. Nessa
destaca-se urgência de ações que auxiliem direção, defende-se que a perspectiva his-

141
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tórico-cultural do desenvolvimento (Leon- psicólogo escolar deve privilegiar o acom-


tiev, s.d./2001; Luria, s.d./1990; Vygotsky, panhamento das práticas pedagógicas no
s.d./2000, s.d./2007), em articulação à próprio contexto educativo, lócus privile-
abordagem por competências (Le Boterf, giado para o desenvolvimento de proces-
2003; Wittorski, 1998; Zarifian, 1993), são sos de formação contínua dos educadores
aportes teórico-metodológicos relevantes sociais. A formação continuada em serviço
à formulação de estratégias de desenvol- se constitui como estratégia bastante útil
vimento adulto. Em virtude do campo de para o desenvolvimento de competências
atuação do educador social estar relacio- que promovam reflexões e processos de
nado a compromisso e militância em favor conscientização contínuos na práxis pro-
dos setores sociais mais desfavorecidos, fissional (Guzzo, 2005; Marinho-Araujo &
sua postura deve estar para além do cará- Almeida, 2005). Tal conscientização, me-
ter pedagógico, assumindo, também, po- diada pelo psicólogo escolar, poderá evi-
sições de cunho político e ideológico (Ro- denciar, criticar e denunciar concepções
mans, Petrus & Trilla, 2003). O comprome- deterministas de desenvolvimento huma-
timento dos profissionais envolvidos nes- no; práticas domesticadoras e autoritárias
se setor reflete uma atuação em prol da de ensino e de aprendizagem; processos
transformação social, o que se torna fator de exclusão, marginalização e discrimina-
imprescindível para a conscientização de ção camuflados em processos avaliativos
sua responsabilidade como agente do de- ou em procedimentos pedagógicos pouco
senvolvimento e emancipação social dos críticos e autônomos em sua intencionali-
sujeitos (Caro & Guzzo, 2004). É com essa dade (Guzzo, 2003, 2005; Marinho-Araujo
conscientização que o Psicólogo Escolar & Almeida, 2005).
deve estar comprometido quando sua in-
tervenção direciona-se ao desenvolvimen- Palavras-chave: psicologia escolar, desenvolvi-
to adulto. Assim, a atuação em Psicologia mento de competências, educador social.
Escolar nesse contexto deverá vincular-se
ao desenvolvimento de competências de
educadores sociais, considerando a cons- MR LT04 - Mesa Redonda
tituição histórica e social das ONGs que
requerem, em suas atividades institucio-
Convidada
nais, a expressão de recursos subjetivos e
objetivos de seus profissionais, manifestos
MR LT04-1399 - ESCOLA INCLUSIVA,
por meio de habilidades, conhecimentos,
ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS E
saberes e capacidades que compõe o perfil
FOSSILIZAÇÃO DE APRENDIZAGEM
pessoal e profissional do ser educador. A
trajetória de vida pessoal e profissional do Tânia Maria de Freitas Rossi - UNICESP
educador e a própria história social dos es- taniamrossi@gmail.com
paços educacionais configuram a subjeti- Financiamento: FAP-DF
vidade social que constituem a identidade
dessa categoria (Araujo, 2003; Marinho- Esta mesa redonda discute a escola inclu-
-Araujo & Almeida, 2005). Defende-se, siva, focalizando quatro temas interrela-
nessa apresentação, que a atuação do cionados: O primeiro, Sobre o conceito

142
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de fossilização analisa o uso do termo pelas professoras contribuem para o de-


fossilização na Psicologia e na Linguística, senvolvimento dos conceitos nos dois gru-
um conceito não monolítico dada a falta pos, mas suscitam melhor compreensão
de uniformidade entre objetos de estudo. da (1) internalização dos conceitos pelas
O uso abarca (1) construtos complexos crianças, a ponto de tornar-se automa-
vinculados falhas, desvios e estabilização tizados, (fossilizados); (2) dos processos
de funcionamento cognitivo resistente que asseguram a continuidade do desen-
à alterações; (2) causas individuais, não volvimento. O terceiro tema, O processo
generalizáveis, subjetivas, com conota- de inclusão em salas regulares: pontos
ção histórica e cultural e, (3) efeitos da críticos, possibilidades pedagógicas e de-
aprendizagem hebbiana nas construções safios na formação de professores, discute
lingüísticas em um nível não-ótimo de o modelo educativo tendo como referên-
proficiência em relação à língua mater- cia a concepção de inclusão nas escolas,
na, de caráter dinâmico. Na Psicologia, a se valorizam e atendem à diversidade hu-
fossilização é estudada como sucessão de mana/cultural. Sustenta que, atualmente,
estágios necessários ao desenvolvimento há reconhecimento das diferenças, não
e formação de hábitos histórico-culturais, como incapacidades, e que o objetivo é
urgindo se retomem a abordagem genéti- ensinar a todos dado que aprender é con-
ca do fenômeno, transcendam sua iden- dição inerente aos seres humanos. Com-
tificação e focalizem a dinâmica de seu preende a realidade educacional como
desenvolvimento. Sugere a investigação multifacetada e as propostas pedagógicas
dos processos de mediação semiótica e de devem refletir a ação educativa, embasa-
internalização do conhecimento, ou seja, da na autonomia, na construção coletiva
do ensinar e do aprender, base da fossili- do conhecimento e nas potencialidades
zação. O segundo, Estratégias pedagógicas a serem estimuladas no processo de en-
para o ensino-aprendizagem de conceitos sino e de aprendizagem. O quarto tema,
científicos em uma escola inclusiva inves- Atendimento especializado aos alunos
tiga estratégias pedagógicas de quatro inclusos em salas regulares, mostra que o
professoras na construção de conceitos atendimento educacional especializado às
científicos em quatro turmas de crianças pessoas com deficiência deve realizar-se,
com desenvolvimento típico e deficiência preferencialmente, na rede regular de en-
intelectual. Analisou-se atividades realiza- sino, com estabelecimentos profissionais
das na introdução de um novo conceito e especializados próprios ao atendimento
sua apropriação pelas crianças, baseado do aluno e professores capacitados à real
nos pressupostos vygotskianos. Foram re- integração, nas classes comuns. Entretan-
alizadas entrevistas semiestruturadas com to, o quadro atual afigura-se outro: fal-
as professoras e filmadas interações entre tam material específico para atender aos
estas e as crianças, especialmente aquelas alunos e profissionais especializados para
com desenvolvimento atípico, retratando atender à criança especial. Lembra que o
três momentos: apresentação, desenvol- papel a ser assumido pelos profissionais
vimento e conclusão na constituição de educacionais especializados seria o de ca-
um conceito novo. Os resultados indicam talisar demandadas e coordenar ativida-
que as estratégias e recursos utilizados des coletivas que fomentem os processos

143
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de discussão, reflexão e resolução coletiva que foram erroneamente identificadas


e colaborativa dos problemas educativos. com formas equivalentes dessa segunda
língua, para elas transferidas, tornando-se
fossilizadas. Em 1961, Nemser (citado por
SOBRE O CONCEITO DE FOSSILIZAÇÃO Percegona, 2005) sustentou que, na aqui-
Tânia Maria de Freitas Rossi - UNICESP sição de língua não-nativa, o sujeito cria
taniamrossi@gmail.com um sistema intermediário (interlíngua) no
qual a língua em estudo não é exatamente
Vigotski (1997), ao estudar o desenvolvi- como a língua “oficial” e tampouco como
mento das funções psicológicas, deparou- a nativa. A fossilização compreenderia to-
-se com processos que, ao longo do tem- dos os estágios de competência lingüística
po, tornaram-se rígidos/mecanizados, não nativa, considerados permanente-
sem que sua aparência externa sofresse mente adquiridos. Selinker (1972; 1993),
modificação, enquanto que sua aparência descreveu o fenômeno afirmando que são
interna era modificada e esmaecida. Em itens, regras e subsistemas lingüísticos
analogia à paleontologia, os denominou que os falantes de uma língua nativa parti-
“processos fossilizados”. A fossilização re- cular tendem a manter em sua interlíngua
fere-se ao automatismo e à mecanização em relação a uma outra língua em estudo,
de comportamentos e é o final de uma li- não importando a idade do aprendiz, ou
nha que une o presente ao passado, os es- a quantidade de explicações que recebeu
tágios superiores do desenvolvimento aos sobre esta. Nakuma (1998) examinou os
estágios primários (Vigotski, 2003). O ter- pressupostos implícitos na definição de
mo fossilização, de uso freqüente na Lin- fossilização e concluiu que algum conhe-
guística, possui definições e entendimen- cimento desviado foi instaurado como pa-
tos distintos, apresentação de argumentos drão cognitivo e, nesse caso, estaria rela-
teóricos e dados empíricos para descrição cionado ao sucesso ou fracasso do sujeito
e explicação do fenômeno e conceituação ao adquirir certas regras de uma segunda
que seguem a mesma diversidade. Assim, língua. As formas fossilizadas seriam o re-
o objetivo deste estudo é analisar alguns sultado da esquiva, do desejo intencional
desses usos correntes. A Linguística con- de não adquirir uma dada forma porque
grega grande parte das investigações e acredita que ela já esteja disponível em
focaliza processos de automatização de sua bagagem cognitiva. Crer que a fossi-
comportamentos e seu uso não delibera- lização manifesta-se apenas através de
do em situações de aprendizagem de uma formas desviadas fornece uma conotação
segunda língua, com uso contínuo de for- pejorativa, como se formas não desviadas
mas desviadas da forma correta da língua não fossem fossilizáveis. A fossilização sur-
em estudo. Todavia, há mais tentativas de ge da percepção individual do aprendiz da
descrição que de explicação do fenômeno. segunda língua a respeito das equivalên-
A noção de fossilização inicia-se em 1953, cias entre esta e a língua materna, cujo
quando Weinreich (1953) demonstrou resultado pode ser positivo ou negativo.
a existência da transferência gramatical Selinker e Lakshmanan (1993) demons-
permanente nas formas da língua nativa tram, posteriormente, que a estagnação
de um aprendiz de uma língua não-nativa na fossilização deve ser considerado ape-

144
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nas a estabilização do processo de apren- potenciação de longo prazo (PLP), resul-


dizagem em um patamar, focalizando tando na descoberta de um caso típico de
algumas áreas localizadas. O estudante plasticidade sináptica entre um neurônio
apresenta um desenvolvimento contínuo pré e um neurônio pós-sináptico, tal como
em algumas áreas da segunda língua e, ao proposto por Hebb. (Lent, 2001). Se a PLP
mesmo tempo, uma relativa estabilização for adequada e possuir significado para o
de erros em outras (Percegona, 2005). A sujeito, ocorrerão a aquisição e a manu-
falta de uniformidade quanto ao processo tenção das habilidades cognitivas dese-
de fossilização na Linguística mostra que jáveis. Se a ativação for inapropriada, o
não se está diante de um conceito mono- ajuste sináptico hebbiano tenderá a forta-
lítico. Há construtos complexos vinculados lecer as tendências existentes, impedindo
a manifestações de falhas, desvios e a o progresso na aquisição do efeito deseja-
estabilização de um funcionamento cog- do. No caso da aprendizagem de uma se-
nitivo resistente às alterações. Há o deli- gunda língua, se o sujeito não perceber as
neamento de possíveis causas individuais, diferenças entre as formas da língua ma-
não generalizáveis, nas quais cada sujeito terna e da nova língua a ser aprendida, os
percebe a realidade de forma idiossin- padrões do sistema da sua língua materna
crática, o que institui uma conotação his- continuarão sendo fortalecidos indevida-
tórica, cultural e, ainda, subjetiva. Há a mente, ou seja, haverá uma fossilização
concepção da fossilização não como esta- de determinadas formas da interlíngua.
bilização permanente da interlíngua, mas Na Psicologia, dentre os raros autores que
como efeitos da aprendizagem hebbiana se debruçam sobre o fenômeno e adotam
nas construções lingüísticas em um nível a acepção vigotskiana, estão Gallimore e
não-ótimo de proficiência e complexidade Tharp (2002) que afirmam ser a fossili-
em relação à língua materna, o que lhe as- zação o conhecimento interiorizado, no
segura caráter dinâmico e não estável. De qual o sujeito passa a resolver situações-
fato, interessantes contribuições da neu- -problema sem precisar de ajuda assistida.
rociência e de simulações computacio- Eles definiram quatro estágios genéticos
nais têm sido desenvolvidas sobre como situando-os na zona de desenvolvimento
se realiza a aprendizagem na micro e na proximal (ZDP). O sujeito gradualmente
macroestrutura cerebral e faz lembrar da necessita de menos assistência para exe-
hipótese de uma estrutura latente de lin- cutar uma atividade, aumentando sua
guagem, de caráter biológico de Weinsrei- capacidade de autoregulação e o compor-
ch (1967). Bliss e Lomo (citados por Lent, tamento assistido torna-se não assistido
2001) realizaram uma estimulação elétrica e autorregulado. O estágio I refere-se às
repetitiva nas fibras colaterais de Schaffer, atividades que o sujeito pode operar com
situadas no hipocampo e registraram a auxilio de pessoas mais capacitadas para
atividade resultante nas células piramidais que, mais tarde, ele aja com independên-
da região responsável pela consolidação cia. No estágio II, ele realiza tarefas sem
da memória (Cornos de Amon – regiões assistência externa e ainda que sob influ-
CA). Eles constataram significativo aumen- ência do modo de funcionamento de outra
to no potencial pós-sináptico excitatório pessoa e sem autodireção. No próximo es-
na célula piramidal após a estimulação de tágio, a assistência e a autoassistência não

145
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

são necessárias, pois há interiorização e Analisar a dinâmica do processo de ensi-


automatização do conhecimento, ou seja, no e aprendizagem que ocorre nas escolas
fossilização. No último estágio há a desau- torna-se, pois, fundamental, uma vez que
tomatização do funcionamento anterior é nesse espaço que o desenvolvimento
(desfossilização), com a retomada de uma psicológico da criança pode alcançar níveis
nova ZDP. No limite, as contribuições de de aprimoramento de determinadas fun-
Gallimore e Tharp (2001) são aproxima- ções e estabelecer mudanças dos vínculos
ções que descrevem o comportamento e das relações interfuncionais tal como in-
fossilizado por meio da sucessão de está- dicadas por Luria e Yudovich (1985). O de-
gios necessários ao desenvolvimento, com senvolvimento de cada função psicológica
formação de hábitos histórico-culturais. particular, por sua vez, depende dessa mu-
Carece sobremaneira, retomar a aborda- dança, como no caso do desenvolvimen-
gem genética do fenômeno, transcender to de conceitos. Na aprendizagem de um
sua identificação e buscar a dinâmica de conceito, as funções psicológicas superio-
seu desenvolvimento. O conceito de fos- res que pressupõem o uso das ferramentas
silização é ainda uma grande lacuna e na intelectuais, são ativadas pela interação
psicologia reclama que se focalize e in- social, especialmente, sob a orientação ou
vestigue os processos envolvidos com a a supervisão de pessoas mais experientes.
mediação semiótica e a internalização de Por isso, no tocante ao desenvolvimento
um dado conteúdo, em outros termos, do de conceitos, as propostas pedagógicas
ensinar e do aprender. devem levar em conta a adequação do ma-
terial ao nível real e potencial dos sujeitos
Palavras-chave: fossilização, aprendizagem. aprendizes, considerando a diversidade
da aprendizagem e os ritmos diferencia-
dos de cada um. Nesse sentido, o estudo
ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O ora apresentado buscou analisar as estra-
ENSINO-APRENDIZAGEM DE CONCEITOS tégias pedagógicas adotadas por quatro
CIENTÍFICOS EM UMA ESCOLA professoras, para o ensino-aprendizagem
INCLUSIVA de conceitos científicos em quatro turmas
Divaneide Lira Lima Paixão - UCB formadas com crianças que apresentam
divaneide@ucb.br desenvolvimento típico e crianças com de-
ficiência intelectual (DI). Foram realizadas
As atividades humanas são construídas, filmagens das professoras e seus alunos,
segundo Vygotsky (1984), ao longo da vida buscando identificar e analisar as ativida-
e são resultado de aprendizagens media- des realizadas com vistas à introdução de
das na e pela cultura, o que imprime às um novo conceito e sua apropriação pelas
relações sociais e à atividade psicológi- crianças, tendo como base os conceitos
ca traços comuns que transcendem suas propostos por Vygotsky (1984), no que diz
qualidades particulares. No seio dessa respeito à Zona de Desenvolvimento Proxi-
discussão, o processo de escolarização mal. Nas filmagens em vídeo foram privi-
surge como uma significativa experiência legiadas as interações entre as professoras
que abre possibilidade de aprendizagem e, e as crianças, especialmente aquelas com
consequentemente, de desenvolvimento. DI, retratando três momentos distintos da

146
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

constituição do conceito científico: apre- mento de crianças com DI, Vygotsky (2002)
sentação, desenvolvimento e conclusão. analisa que elas apresentam certa dificul-
Foi realizada, também, com cada profes- dade em constituir o pensamento abstra-
sora uma entrevista semiestruturada para to, e que se o conteúdo e as situações de
investigar aspectos da ação pedagógica aprendizagem não forem mediadas, isso
no decurso da apresentação de um con- fica mais difícil. Nesta direção é que a esco-
teúdo novo. Os dados apontam que entre la e professores devem assumir a iniciativa
as estratégias utilizadas pelas professoras e a intervenção no processo de aprendiza-
para introduzir um novo conceito científi- do de forma competente e consciente, na
co estão: contextualização do conteúdo e medida em que os esforços devem se focar
vivências por meio de dinâmicas variadas; para estágios de desenvolvimentos ainda
o processo de aplicar, avaliar, fortalecer e não alcançados. O trabalho educativo deve
reavaliar os conteúdos programados; o uso fomentar novos conhecimentos, habilida-
da leitura pausada do material seleciona- des e competências, reconhecendo o nível
do. Quanto aos recursos acionados, são real de desenvolvimento do aluno. Os pro-
identificados: material concreto, música, cedimentos utilizados pelas professoras e
figura/imagem, poemas, material do tipo o modo como elas os justificam corrobo-
impresso e cartazes. As professoras elabo- ram a perspectiva teórica histórico-cultural
ram materiais diversificados para permitir ao passo que elas buscam introduzir um
e imprimir diferentes modos de abordar conceito paulatinamente, ressaltando sua
o assunto, evidenciando considerar o pro- construção social. Das quatro professoras,
cesso como diferenciado para cada um de três salientaram empregar estratégias di-
seus estudantes, o que possibilita a todas versificadas para atender especificamente
as crianças com ou sem DI a construção as crianças com DI. Ao serem planejadas
de conhecimentos e de modos de funcio- estas atividades levam em consideração
namento para lidar com o desenvolvimen- a necessidade e o direito de adaptação
to dos conceitos. Alternam momentos curricular e isso pressupõe o emprego de
de atendimento individual ao aluno com situações de aprendizagem em pequenos
aprendizagem colaborativa, buscam em- grupos ou duplas, considerando os níveis
pregar atividades lúdicas e de fixação de de aprendizagem e as dificuldades apre-
conteúdos, de forma a motivar os estu- sentadas, frente a um dado conteúdo. As
dantes e levá-los a perceber a vinculação professoras relatam fragilidades variadas
entre certos elementos estruturantes do no decorrer do processo, especialmente
conceito. São promovidas condições para com relação à aprendizagem das crianças
o desenvolvimento de competências e in- com DI, como manter a concentração, tra-
ternalização dos conceitos científicos, por balhar a memória e otimizar o tempo de
intermédio de jogos, reálias, que, para elas a realização das atividades; a não fixação
contribuem para promover as funções psi- dos conceitos e informações; a não com-
cológicas superiores como memória téc- preensão e acompanhamento das ativi-
nica, criatividade, raciocínio, comparação, dades, como acontece com o restante da
discriminação e generalização de idéias, turma. Tal posição corrobora os achados
além do pensamento abstrato. Ao discu- de Bogoyavlensky e Menchisnskaya (1991)
tir o processo de construção do conheci- que sustentam não existir uma relação

147
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

direta entre a construção de noções e de- uma necessidade educativa especial e,


senvolvimento cognitivo e, portanto, nem possibilitar o seu acompanhamento edu-
toda aprendizagem escolar possibilita ao cacional, em uma sala regular, com cole-
aluno o desenvolvimento das funções gas que tenham desenvolvimento típico.
mentais superiores. De fato e também Ele projeta também, os anseios da socie-
para Vygotsky (1995), as pessoas com dade em constatar que todas as pessoas
DI apresentam um desenvolvimento das são capazes de aprender, independente
funções psíquicas superiores com ritmo de suas dificuldades e limitações. Estas
diferenciado, em relação às crianças com condições ressaltam o potencial do ser
desenvolvimento típico, e um dos maiores humano, superando as deficiências físi-
entraves no desenvolvimento de conceitos cas, intelectuais, emocionais, comporta-
para aquele grupo está justamente no pro- mentais, sendo reconhecidamente imple-
cesso de generalização e abstração, que mentado, por um processo pedagógico de
não depende somente do caráter da gravi- qualidade. Este solidamente construído,
dade da deficiência, mas também da reali- sobre bases teóricas e metodológicas e,
dade social na qual ele se desenvolve e dos intrinsecamente, vinculado às ações, às
recursos mediacionais que lhe são apre- estratégias, aos materiais e aos espaços
sentados. As análises até aqui engendra- pedagógicos promotores do desenvol-
das apontam que as estratégias e recursos vimento e aprendizagem. Schwartzman
utilizados pelas professoras participantes (1997 apud Siqueira, 2008) ressalta que a
deste estudo contribuem para o desenvol- legislação brasileira assegura a inclusão e,
vimento dos conceitos científicos nos dois sobretudo, demanda que o sistema edu-
grupos de crianças e suscitam uma melhor cacional, aceite a pessoa com necessida-
compreensão acerca da (1) internalização des educacionais especiais, em classes re-
dos conceitos pelas crianças, a ponto de gulares ou comuns. Paradoxalmente, ele
tornar-se automatizado, isto é, fossilizado; reflete que, se as escolas regularmente,
(2) do processo que assegura a continuida- não têm conseguido, com sucesso, pro-
de do desenvolvimento. mover os alunos denominados ‘normais’,
como estender então este atendimento
Palavras-chave: deficiência intelectual, educacional aos que apresentam neces-
aprendizagem de conceitos científicos, sidades educativas especiais? Enfatiza a
estratégias pedagógicas. responsabilidade do sistema educacional,
na medida em que, este não prepara os
professores do ensino regular para aten-
O PROCESSO DE INCLUSÃO EM SALAS der e trabalhar pedagogicamente com
REGULARES: PONTOS CRÍTICOS, alunos identificados com necessidades
POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS educativas especiais. Sem este preparo
E DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE acadêmico, didático e metodológico fica
PROFESSORES precário, mesmo com a experiência e boa
Ana da Costa Polonia - SEEDF/UnB vontade do professor, adotar a premissa
da inclusão. Sem dúvida, a formação ini-
O processo de inclusão, não se restringe a cial, experiência profissional, o domínio
oportunidade de matricular a criança com da estratégias de ensino e das proposta

148
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

didáticas, aliadas à formação profissional sua atuação em sala de aula, refletindo


se em constituem pilares para estabele- mudanças no planejamento, na avaliação
cer uma aprendizagem de qualidade que e na reelaboração das atividades. Fáve-
se estende a todos os alunos, sobretudo, ro, Pantoja e Mantoan (2004) reforçam
aos que demandam constantemente um que para ensinar a turma toda, é preciso
atendimento diferenciado. Como subli- programar atividades abertas e diversifi-
nhado por Vygotsky (1984), o bom ensino cadas, porque estas englobam distintos
é aquele que se adianta ao desenvolvi- níveis de compreensão, conhecimento e
mento, isso implica que, o professor deve até mesmo de desenvolvimento dos alu-
estar ciente e adote abordagens pedagó- nos, sem privilegiar ou persistir na noção,
gicas diferenciadas que possam incidir so- de que alguns sabem mais e outros me-
bre a zona de desenvolvimento potencial nos. Subjacente a esta formação, está a
do aluno, fazendo que, posteriormente, condição de oferta contínua, diversificada
ele adquira a autonomia ao empregar e democrática de cursos ou capacitações
aquele conhecimento. No entanto, condi- para atingir o quantitativo de profissionais
ções como o número de alunos por turma da educação, não apenas os professores,
e o apoio das equipes multidisciplinares que atuam em escolas regulares. Deve-se
e psicopedagógicas, são aspectos que ainda, associar, o espaço de apoio e su-
devem ser avaliados, quando se discute pervisão psicopedagógica que existe nas
o ensino de qualidade e a inclusão es- escolas, resgatando o compartilhamento,
colar. Considerando as condições educa- a discussão e a reflexão, por meio de lei-
cionais brasileiras, Mazotta (2005) indica turas e estudos de temas ligados ao pro-
que são poucos os municípios, cidades e cesso ensino-aprendizagem, estimulando
estados que contam com um sistema de a elaboração de materiais pedagógicos
ensino estruturado, nos aspectos físicos, e uma adequação curricular que aten-
materiais, humanos e políticos, de forma da as condições peculiares dos alunos e
a responder as demandas e a contemplar que permita a superação progressiva de
as condições peculiares do aluno com ne- suas dificuldades. É consenso entre os
cessidades educativas especiais. Sublinha pesquisadores que, a formação docente
que a educação de qualidade perpassa é um dos alicerces do sistema educacio-
pelo equacionamento das políticas edu- nal, enfatizado o investimento constante,
cacionais, voltadas ao atendimento des- na formação continuada, considerando
tes recursos e à formação dos profissio- seus reflexos, na melhoria do ensino e as
nais da escola, não se restringindo à ação repercussões em sala de aula. Enfocan-
pedagógica do professor. Consonante à do temas ou conteúdos que emergem
proposição de uma abordagem educacio- das necessidades e das situações prove-
nal diferenciada, se enfatiza a necessida- nientes do contexto escolar, resgatando
de de cursos de formação continuada, es- a vivência pedagógica como condição im-
pecificamente, aqueles que enfoquem es- prescindível à construção de conhecimen-
tratégias pedagógicas e práticas, métodos to e às transformações geradas nas prá-
e didáticas que atendam as necessidades ticas educativas. Complementando esta
dos alunos inclusos. E que substancial- discussão, Garcia e Yáñez (1997, apud
mente, possam apoiar os professores, em Oliveira, 2009) resgatam que os profes-

149
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sores são profissionais imersos em uma ATENDIMENTO ESPECIALIZADO


organização e, por esta condição, devem AOS ALUNOS INCLUSOS EM SALAS
ser assegurados espaços direcionados ao REGULARES
desenvolvimento de seus próprios pro- Teresa Cristina Siqueira Cerqueira - UnB
cessos de aprendizagem, que de sobre-
maneira, interferem em seu planejamen- A Constituição da República Federativa
to e na dinâmica de suas aulas. Enfim, o do Brasil de 1988 assegura, em seu Artigo
modelo educativo tendo como referencia 208, “o atendimento educacional especia-
à concepção de inclusão, está sedimenta- lizado aos portadores de deficiência, pre-
do nos estabelecimentos de ensino que, ferencialmente, na rede regular de ensino”
prioritariamente, valorizam as diferenças (Oliveira, 2009). Indicando que os sistemas
e se preocupam em trabalhar a diversida- de ensino devem ter em seus estabeleci-
de humana e cultural. Reconhecendo as mentos profissionais especializados para
diferenças, não como incapacidades ou o atendimento do aluno com necessida-
limitações, e objetivam ensinar todos os des educativas especiais, e ainda, profes-
alunos porque o aprender é condição ine- sores capacitados para assegurar a real
rente dos seres humanos. Em geral, rom- integração, nas classes comuns. Ele deve
pem as barreiras entre as disciplinas cur- ser disponibilizado em todos os níveis de
riculares, constroem uma rede de conhe- ensino, notadamente, pelas características
cimentos, evitando a concepção de currí- presentes na escola regular, na medida
culo, sob ótica conteudista, valorizando a em que se constitui em ambiente propí-
integração entre os saberes, tendo como cio para garantir e estimular a convivên-
referência a transversalidade (Gallo, 1999 cia entre os alunos, independente, de sua
apud Montoan, 2006). Nesta perspecti- condição, especialmente, quando se pre-
va, a realidade educacional é compreen- tende romper com rótulos e preconceitos.
dida como múltipla e multifacetada e as Sabe-se que o processo de interação social
propostas pedagógicas, refletem a ação é um fator que atua positivamente no de-
educativa, embasada na autonomia, na senvolvimento global dos sujeitos com ou
construção coletiva do conhecimento e sem deficiências (Montoan, 2006). Uma
nas potencialidades que são constante- preocupação emerge em relação aos re-
mente estimuladas pelo processo ensino- cursos humanos e psicopedagógicos, eles
-aprendizagem. Estas diretrizes edificam devem estar intimamente, associados às
ambientes polissêmicos, estimulando te- estratégias e aos materiais didáticos, es-
mas que partam da realidade do aluno, tando disponíveis no contexto escolar, de
considerando sua identidade sociocultu- forma a atender as demandas dos atores:
ral, estabelecendo espaços criativos e di- professores, familiares, alunos e outros
ferenciados para aprender. profissionais da educação. Principalmente,
quando se vislumbra e se assegura o pro-
Palavras-chave: formação de professores; cesso de inclusão, o considerando como
inclusão; processos pedagógicos. fonte permanente de desenvolvimento e
aprendizagem humana, tendo como eixo a
diversidade cultural. Retomando a função
e o atendimento especializado nos espa-

150
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ços escolares, Alves et al (2006) destaca incluindo o Distrito Federal, englobando


que as salas de recursos multifuncionais 4.564 municípios brasileiros - 82% do to-
são espaços na escola, centrados no aten- tal.4 Outro profissional presente na escola
dimento educacional especializado, obje- e que pode integrar esta rede de apoio psi-
tivando atender os alunos com necessida- copedagógico é o orientador educacional.
des educativas especiais, com o emprego Atualizando as suas funções, Placco (1994,
de estratégias diferenciadas de ensino, de apud Oliveira, 2009) enfatiza que o papel
forma potencializar a aprendizagem e o deste profissional sofreu transformações,
fazer pedagógico. Visa então, favorecer e não sendo mais a porta de ‘entrada de alu-
desenvolver a construção de conhecimen- nos problemas’. Sobretudo, emerge como
tos e, concomitantemente, propiciar que um dos educadores da escola, envolvidos
todos os estudantes possam ativamente em uma ação escolar coletiva, estabele-
participar do currículo da escola, e desen- cendo processos voltados ao desenvolvi-
volver habilidades e competências impres- mento de uma atividade pedagógica de
cindíveis à qualidade do ensino. Nele se qualidade, significativa e inserida no pro-
encontram materiais didáticos, pedagógi- jeto político pedagógico da escola. Assim,
cos, equipamentos e recursos outros, além ele pode atender o grupo de professores
dos profissionais com formação e qualifi- e as demandas particulares de cada um,
cação para o atendimento às pessoas com ainda promover discussões e grupos de
necessidades educacionais especiais, es- estudo, além de buscar outros profissio-
tendendo, quando necessário, orientações nais que possam dar apoio profissional, de
aos professores da sala de aula. A perspec- acordo com as necessidades do grupo de
tiva assegurada neste ambiente, é que o professores. Quanto aos profissionais que
professor responsável considere as dife- compõe o quadro de especialistas, focados
rentes áreas do conhecimento, os estágio no apoio educacional, se pode identificar, o
de desenvolvimento cognitivo dos alunos, supervisor escolar, o orientador educacio-
seu nível de escolaridade, potenciais e difi- nal e o coordenador pedagógico, Oliveira
culdades, aliados aos recursos específicos (2009) retoma que na atualidade a função
para sua aprendizagem, de maneira a pos- deste grupo converge para a qualidade da
sibilitar atividades de complementação e ação pedagógica: oferecer assessoramen-
suplementação curricular. Assim, os alunos to ao docente, adotando uma perspectiva
podem ser atendidos individualmente ou colaborativa de trabalho, fortalecendo as
em pequenos grupos, conforme necessi- bases de uma atividade educacional de
dade e programação especial, em horários cunho coletivo, voltadas ao fazer pedagó-
diferenciados e opostos, de suas aulas, em gico crítico e reflexivo, aliando a compe-
sala regular. Configura-se como um espa- tência à experiência, como fundamentos
ço para atender, com qualidade, os alunos do processo ensino-aprendizagem. Esta ar-
com deficiência, transtornos globais do de- ticulação possibilita trocas de experiência,
senvolvimento e aqueles identificados com
altas habilidades que fazem parte das tur-
mas de ensino regular De 2005 a 2009, fo- 4
Implantação de salas de recursos multifuncionais, disponí-
ram disponibilizadas 15.551 salas de recur- vel em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=12295&Itemid=595, acessado
sos multifuncionais para todos os estado, em 21/11/2011, às 1:15.

151
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conhecimentos e rede de apoio entre os o número reduzido de profissionais, retra-


profissionais da escola. Sobre a constitui- tam as dificuldades de sua implantação. In-
ção da equipe psicopedagógica e seu pa- clusive as políticas educacionais, por vezes,
pel no espaço escolar, Muller et al (2010) negligenciam o investimento nas equipes
aponta entre os seus objetivos: promoção de atendimento especializado, sobrecarre-
da melhoria da qualidade do processo gando o professor, o deixando isolado e se
de ensino e de aprendizagem, adotando sentindo responsável pelo processo peda-
uma perspectiva institucional, centrada na gógico de inclusão.
abordagem preventiva e interventiva, com
vistas ao aprimoramento e contextualiza- Palavras-chave: equipes de apoio à
ção das atividades profissionais, dos distin- aprendizagem, educando com necessidades
tos atores que fazem parte das instituições educativas especiais, sala de aula, sala de
educacionais. Visa então, fomentar e in- recurso, equipes multiprofissionais.
crementar a qualidade educacional, retra-
tada no desenvolvimento e aprendizagem
efetiva dos alunos, fundamentada na cul- SP LT03 - Simpósio
tura de sucesso escolar. Ela é atualmente,
composta por um profissional formado em
pedagogia e outro em psicologia, sendo SP LT03-1244 - AÇÕES EDUCATIVAS
rebatizada, como Equipes Especializadas E O DESENVOLVIMENTO MORAL DA
de Apoio à Aprendizagem. Apesar do reco- SOCIEDADE
nhecimento e da legislação que assegura Vannuzia Leal Andrade Peres - PUC-Goiás/
este apoio educacional especializado, em UnB
grande parte das escolas, falta material vannuzia@terra.com.br
específico para atender os alunos, pro- Rafael de Almeida Mota - PUC-Goiás
fissionais especializados, como intérpre- rafael.almeida@live.co.za
tes de Libras para atender a criança com Cândido Martins do Santos Neto - PUC-Goiás
necessidade educativa especial, Ainda, o cmsnpsi@gmail.com
coordenador pedagógico e o orientador Luciane Aparecida Muniz Mols - PUC-Goiás
educacional, e entre outros profissionais luciane_muniz_@hotmail.com
especializados que estariam catalisando as Roberta Alves Dionisio - PUC-Goiás
demandadas e coordenando atividades co- roberti.alves@hotmail.com
letivas, que fomentassem os processos de Marina Magalhães David - PUC-Goiás
discussão, reflexão e proposição, visando à marinadavidpsi@hotmail.com
resolução coletiva e colaborativa dos pro-
blemas educativos. Mazotta (2005) ressal- Com base nos resultados de pesquisa
ta que este atendimento é restrito e, não qualitativa sobre a “Expressão Moral do
atingem uma boa parte dos municípios, ci- Goianiense”, realizada em quatro semes-
dades e estados. E a precariedade engloba tres consecutivos por alunos do Curso de
desde o espaço físico destinado a sala de Psicologia da Pontifícia Universidade Cató-
recurso ou destinada ao atendimento por lica de Goiás, foram desenvolvidas ações
parte das equipes atuarem. Além disso, os educativas com adolescentes, adultos e
materiais didáticos, os recursos humanos e idosos na perspectiva da psicologia histó-

152
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rico-cultural da subjetividade de Gonzá- tes de torcidas organizadas, para que elas


lez Rey. Com o objetivo de criar espaços pudessem através de si mesmas, de sua
sociais de desenvolvimento moral, essas subjetividade e de sua capacidade de aná-
ações consistiram na construção de diá- lise compreender quais atitudes necessita-
logos e reflexões sobre a invisibilidade do vam ser metamorfoseadas para que a rela-
outro, a despersonalização do sujeito e a ção homem – sociedade estivesse pautada
produção da violência nas relações, den- na Moral, abortando assim atitudes que
tre outras categorias construídas no pro- são contrárias ao viver social harmônico,
cesso da pesquisa. Para isso foram utiliza- como a violência exacerbada, que se vê tão
dos cartazes, panfletos, vídeos e jogos de vinculada a estes meios que supostamente
ação envolvendo todos os participantes deveriam propiciar formas de lazer límpi-
que foram escolhidos aleatoriamente e do, mas que na realidade só reafirmam a
deram seu consentimento livre e esclare- posição de Sujeitado de seus participantes.
cido ao serem convidados nos diferentes Foi realizada uma ação educativa, de cará-
espaços da cidade, dentre eles um clube ter qualitativo (González Rey, 2005) em
de futebol e duas escolas, uma de ensino um clube de time local, quando teve-se a
fundamental e outra de ensino médio. O priori uma perspectiva de construção de
envolvimento ativo dos participantes no conhecimento, com integrantes da torcida
diálogo e reflexão sobre as categorias e e estudantes de psicologia refletindo sobre
sobre os temas delas decorrentes, pos- este “indivíduo torcedor” e como o grupo
sibilitaram a construção do indicador de o posiciona frente à agressividade, rivalida-
sentido de que é premente a realização de de, revanchismo e incapacidade de discer-
ações educativas que desafiem e compro- nimento que o precipita à uma agressão
metam os sujeitos com práticas sociais, cega em decorrência de desdobramentos
atividades e relações que privilegiem o futebolísticos. Mostrou-se visível como em
desenvolvimento moral da sociedade. organizações populares, grupos de massa,
no caso, as torcidas organizadas, o proces-
so de morte do Sujeito. Ele se torna exau-
A MORAL NO ESTÁDIO DE FUTEBOL – A rido de sua própria voz, sua capacidade de
ESSENCIA DO FUTEBOL NAS TORCIDAS decisão não está mais pautada em si, mas
ORGANIZADAS no grupo, abdicando-se deste modo da
sua subjetividade e agindo de acordo com
A partir de um estudo realizado por quatro a direção acenada pelo grupo, o que torna
semestres na matéria “Psicologia do De- visível a compreensão do por que da vio-
senvolvimento III”, que visava compreen- lência estar tão latente nestes meios, ten-
der a expressão moral do Goianiense em do em vista que as amarras impossibilitam
vários espaços sociais, sendo um deles o a autonomia e tornando-os sujeitados,
estádio de futebol, teve-se direcionamen- fazendo com o que seu corpo grite a todo
to à segunda parte deste projeto, que an- instante para ser retomada a posse de ser
siava práticas de modelos educativos para Sujeito de si mesmo.
possibilitar a reflexão, consciência e envol-
vimento cognitivo-emocional das pessoas Palavras-chave: subjetividade, sujeito, torcidas
vinculadas aos times, no caso, participan- organizadas

153
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

EDUCAÇÃO MORAL DE JOVENS presente em todas as ramificações sociais


NA ESCOLA – SERIA A ESCOLA UM dos meios de ensino, possibilitando assim
DELIMITADOR CRIATIVO E SOCIAL? a mudança nesta concepção de como se
dá o ensino, o aprendizado e as relações
Tal trabalho surgiu da necessidade de se dentro do ambiente escolar, para formar
compreender como o sujeito moral, isto sujeitos morais.
é, aquele que se orienta a partir da moral
constitutiva de sua personalidade (Gon- Palavras-chave: escola, educação moral,
zález Rey, 1989) emerge de relações de subjetividade
extrema complexidade, muitas vezes rís-
pidas e que camuflam com discursos do-
ces o marasmo, a estagnação e práticas ESCOLA E EDUCAÇÃO MORAL:
deletérias que muitas vezes dão formas MUDANÇA OU MANUTENÇÃO DO
as silhuetas das Escolas. Como podemos STATUS QUO?
discorrer sobre sujeitados sociais e sobre
a incapacidade reflexiva de um grande Com base na psicologia histórico-cultural
número de pessoas, se em nosso modelo da subjetividade de González Rey foi reali-
de educação vigente, as escolas, um dos zada ação educativa em uma escola, com o
objetivo de criar um espaço de expressão
primeiros passos das crianças à um meio
autentica dos alunos, no tocante as suas
social além de sua família, só impõem ain-
relações cotidianas com os professores.
da mais o desligamento do homem de si
Participaram da ação educativa, alunos
mesmo, de suas sensações, sentimentos,
do sexto ano do ensino fundamental de
manifestações, destituindo-o daquilo que
uma escola estadual. Motivados por car-
o torna único, a sua subjetividade? A pro-
tazes ilustrativos de situações de opressão
posta de nosso trabalho de ação educativa e violência, os alunos foram desafiados a
era desafiar pais e professores a levarem expressarem suas idéias e emoções pro-
em conta a necessidade de expressão da duzidas no espaço da sala de aula, com
criança, de tornar-se sujeito e se envolver relação à escola e aos professores. Nesta
de forma ativa com o mundo que a cir- atividade lúdica os alunos expressaram,
cunda, para romper com uma relação de por meio da arte, emoções produzidas nas
obrigatoriedade, automatizada e, assim, práticas delimitadoras de suas relações no
abandonar o patamar de sujeitada e tor- âmbito escolar, tais como: insatisfação,
nar-se sujeito de seu próprio aprendizado. raiva, desmotivação, desconsideração.
Tendo como direção teórica a perspectiva Deste modo, pôde-se perceber sua neces-
histórico-cultural da subjetividade de Fer- sidade de participar ativamente da vida
nando Gonzalez Rey, tivemos a oportuni- da escola, necessidade esta que se mostra
dade de construir junto aos pais e profis- escassa numa realidade escolar que busca
sionais da educação a representação de a homogeneização. Se para Edgar Morin
uma escola onde o sujeito não fosse ne- (2003), a moral é “a constituição do ou-
gado a todo instante, mas sim enxergado tro em mim”, como podemos pensar em
e valorizado. O abordar dessa escola tão Moral em um espaço onde a figura de au-
pouco humanizada exigiu a reflexão sobre toridade desconsidera os anseios dos alu-
este fatídico da educação que se mostra nos? Portanto, existe constituição deste

154
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

outro moral em mim? Ele é simplesmen- apenas ser uma obrigação. Impor leis e pu-
te ignorado? O profissional da educação, nições para pessoas que não respeitam a
ao tornar-se o detentor da verdade, não faixa pode ser uma medida imediata, mas
dificultaria o desenvolvimento do aluno não a solução quando para o desenvolvi-
enquanto sujeito? Na perspectiva de Gon- mento humano, o que significa não apenas
zález Rey (2006) o desenvolvimento do obedecer às fiscalizações, mas respeitar os
sujeito somente é possível pela aprendiza- direitos do outro.
gem, o que implica em envolvimento do
aluno no processo de educação e, portan- Palavras-chave: desenvolvimento moral,
to, na mudança deste status quo. subjetividade, faixa de pedestres.

Palavras-chave: escola, moral,


desenvolvimento A MORAL DO GOIANIENSE NAS
AGÊNCIAS BANCÁRIAS

A MORAL DO GOIANIENSE NA FAIXA DE No primeiro semestre de 2011, na Ponti-


PEDESTRES fícia Universidade Católica de Goiás (PUC-
-Goiás), com base no conceito de Gon-
A partir de pesquisa sobre a expressão mo- zález Rey de que a moral é um elemento
ral do goianiense, na disciplina de Psicolo- da personalidade que orienta o sujeito
gia do Desenvolvimento do curso de Psico- nas suas relações e práticas sociais, foi
logia da Pontifícia Universidade Católica de realizada uma ação educativa visando
Goiás, foi realizada uma ação educativa no o desenvolvimento moral de usuários e
trânsito, na perspectiva da teoria histórico- funcionários de duas agências bancárias
-cultural da subjetividade, com o intuito de da cidade de Goiânia, uma de um bairro
mobilizar as pessoas para refletirem e pro- periférico e outra de um bairro nobre. É
duzirem uma subjetividade sobre a impor- importante enfatizar que as gerências
tância de respeitarem a faixa de pedestres. de ambas as agências foram devidamen-
Para isso foram utilizados panfletos, a par- te esclarecidas sobre o intuito da ação e
tir dos quais as pessoas eram abordadas permitiram que fosse realizada desde que
e convidadas a participarem da ação. Ob- a identidade da instituição fosse preser-
servou-se que a grande maioria dos par- vada. A ação consistiu na distribuição de
ticipantes mostrou interesse e motivação panfleto contendo, como disparador para
para a discussão sobre o tema, bem como reflexão e discussão, a seguinte pergunta:
preocupação com a educação de motoris- “Como está sua moral dentro da agência
tas e pedestres para se respeitarem mutu- bancária? As reflexões e discussões sobre
amente. Sobre a questão, ainda há muito a moral, tanto com os usuários quanto
que fazer, as pessoas precisam se cons- com os funcionários de ambas as agên-
cientizar que respeitar a faixa de pedestres cias, trouxeram aos estudantes a oportu-
é um problema do âmbito da moral. Essa nidade de entrarem em contato com uma
noção de respeito precisa ser desenvolvida realidade complexa, em que cada pessoa
por cada pessoa, fazer parte de sua orien- pensa e age diferentemente da outra, ou
tação moral (González Rey, 1989) e não seja, existe aquela que está indiferente,

155
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aquela que ironiza sobre a problemática inserem-se como experiências de aprendi-


da moral e aquela que está atenta à ela, se zagem (Gonçalves & cols. 2008; Rodrigues
interage com os estudantes e se mobiliza & Oliveira, 2009). Neste contexto, as estra-
para ajudar a mudar a realidade. Entretan- tégias preventivas e promotoras de saúde
to, o fato de pessoas terem dado atenção vêm ganhando cada vez mais destaque
à ação é um importante indicador de que (Borges & Marturano, 2009; Rodrigues,
o tema pode e precisa ser retomado em Dias & Freitas, 2010). Matinez (1996) as-
outras oportunidades. Uma vez registra- segura que a escola é um espaço poten-
do em vídeo, com a permissão dos par- cial para se prevenir problemas e promo-
ticipantes, o processo da ação educativa ver saúde. Um recurso promotor de saúde
permitiu aos estudantes produzirem um são as histórias infantis (Borges & Martu-
pequeno documentário que deverá, en- rano, 2009; Kalyva & Agaliotis, 2009; Ro-
tão, servir a outras ações educativas que drigues, 2009; Teglasi e Rothman, 2001).
serão realizadas por outros estudantes em Rodrigues e Oliveira (2009) salientam que
futuro próximo. o relato e a leitura de histórias favorecem
a ampliação da realidade da criança, a
Palavras-chave: agências bancárias, escuta e observação dos outros em uma
desenvolvimento e moral. perspectiva de aprendizagem e conscien-
tização de que as outras pessoas também
possuem sentimentos, pensamentos, mo-
CO 24 - LT04 tivos e desejos e que cada ação tem uma
consequência nos diversos contextos que
Literatura e Brincar vivenciam. Teglasi e Rothman (2001), uti-
lizando a literatura infantil, elaboraram
um programa para promover o desenvol-
LT04-722 - LIVROS DE HISTÓRIAS: UM
vimento sociocognitivo de crianças agres-
RECURSO PROMOTOR DE SAÚDE NA
sivas, com base nos seis componentes do
EDUCAÇÃO INFANTIL
modelo de processamento da informação
Jaqueline Pereira Dias - USP social proposto por Dodge e Crick (1994).
jaquepdias@gmail.com Como resultados obtiveram redução de
Edna Maria Marturano - USP comportamentos externalizantes em alu-
emmartur@fmrp.usp.br nos de 4º e 5º ano. Tendo como apoio
Financiamento: CAPES teórico o mesmo modelo, o presente es-
tudo teve por objetivo promover habili-
A permanência na educação infantil acon- dades sociocognitivas, por meio da leitura
tece em uma fase crucial para o desen- de livros de histórias infantis, em alunos
volvimento social, escolar e emocional da da educação infantil. Esperava-se que,
criança. O Referencial Curricular Nacional com o desenvolvimento do pensar socio-
para a Educação Infantil (1998) ressalta cognitivo propiciado pela intervenção, as
que é função social da escola capacitar a crianças melhorassem suas habilidades
criança para sua inserção na sociedade; sociais e seu comportamento nas relações
para isso a formação pessoal e social e a com os companheiros. Método – Sujeitos
aquisição do conhecimento de mundo - Participaram do estudo até o momento

156
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

25 crianças de 5-6 anos, matriculadas no dos junto aos professores, antes e depois
Pré III de uma escola de educação infantil da intervenção, de modo a aferir os seus
filantrópica, no interior de São Paulo. Ma- efeitos. Para avaliar as habilidades sociais
teriais e procedimentos - Para implemen- das crianças, foi utilizado o Questionário
tar a intervenção, foram selecionados 25 de Respostas Socialmente Habilidosas -
livros ilustrados de histórias infantis, ricos QRSH-RP (Bolsoni-Silva, Marturano & Lou-
em pistas sociais, com base na pesquisa reiro, 2009), composto por 24 itens agru-
de Rodrigues e cols. (2007). A intervenção pados em três fatores - Sociabilidade e
foi conduzida durante três meses, em 25 Expressividade Emocional, Iniciativa Social
sessões, com cerca de 50 minutos cada, e Busca de Suporte. Para avaliar proble-
em grupos com até 9 crianças. Em cada mas de comportamento, empregou-se o
sessão, a interventora lia um livro de his- Questionário de Capacidades e Dificulda-
tória interativamente, visando explorar e des – SDQ (Fleitlich, Cortázar & Goodman,
discutir o seu conteúdo com as crianças, 2000), composto por 25 itens em cinco
de acordo com o modelo de seis compo- escalas: sintomas emocionais, problemas
nentes do processamento da informação de conduta, hiperatividade, problemas
social. Na exploração do primeiro compo- de relacionamento e comportamentos
nente - o que está acontecendo? - as crian- pró-sociais. Um procedimento de avalia-
ças observam e interpretam as pistas so- ção sócio-cognitiva também foi utilizado,
ciais. No segundo - o que os personagens porém seus resultados ainda não estão
estão pensando e sentindo? - as crianças disponíveis. Os resultados das avaliações
são incentivadas a observar o “mundo pré- e pós-intervenção foram comparados
interno” dos personagens por meio das por meio do teste de Wilcoxon. Resulta-
ilustrações e leitura. No terceiro compo- dos e discussão - Os resultados apontaram
nente - quais são as intenções e metas incrementos significativos (p < 0,05) da
dos personagens? - relacionam-se os sen- pré para a pós-avaliação nos escores to-
timentos e pensamentos, já identificados, tais de dois fatores do QRSH-PR. No fator
com os objetivos e as metas. No quarto sociabilidade e expressividade emocional,
- o que os personagens alcançam com com 14 itens, aumentaram os escores nos
suas ações? - Discute-se com as crianças itens comunica-se positivamente, cumpri-
a relação entre os objetivos e metas dos menta, expressa carinhos, expressa dese-
personagens e os resultados alcançados. jos, expressa frustração e desagrado de
No quinto - como os personagens execu- forma adequada, faz elogios e tem rela-
tam e monitoram seus comportamentos? ções positivas. No fator iniciativa social (6
- as ações dos personagens são avaliadas itens), houve incremento nos itens toma
levando em consideração as consequên- a palavra, participa de temas de discus-
cias do comportamento. O sexto e último são, negocia. Os itens usualmente está de
componente - quais as lições aprendidas? bom humor e toma iniciativas mostraram
- abre para a criança a oportunidade de tendência a aumento (p < 0,10). No SDQ,
estabelecer relações entre as experiências houve melhora da pré para a pós-avalia-
vivenciadas pelos personagens da história ção nas escalas relativas a problemas de
e aquelas vividas por ela própria em seu relacionamento e comportamentos pró-
dia a dia. Dois instrumentos foram aplica- sociais. Os resultados demonstraram uma

157
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

redução de problemas de relacionamento Os projetos sociais são hoje uma realida-


e aumento nas taxas de comportamentos de muito comum à sociedade brasileira.
pró-sociais. Não tendo havido mudan- São iniciativas individuais ou coletivas
ça nos indicadores de busca de suporte que visam a proporcionar a melhoria da
(QRSH-PR), sintomas emocionais, hipera- qualidade de vida de pessoas e comuni-
tividade e problemas de conduta (SDQ), dades. A sociedade se mobiliza, por meio
pode-se supor que os resultados refle- de contribuições voluntárias, organizando
tem a especificidade do programa para e desenvolvendo projetos e ações sociais
promover comportamentos socialmente para transformar determinada realidade
habilidosos e reduzir problemas de rela- para o bem comum. A arte e a música,
cionamento. A evolução encontrada nos mais especificamente, representam a ma-
referidos resultados denota que com o nifestação cultural de um povo e contri-
programa de leitura de histórias infantis buem para qualificar a vida das pessoas,
as crianças se tornam mais colaboradoras, na medida em que, através da arte, o ser
empáticas, atenciosas e, provavelmente, humano manifesta sua cultura e, correla-
mais capazes de analisar as consequên- tivamente, suas emoções, ou seja, aquilo
cias de cada comportamento (Rodrigues, que compartilha socialmente e seu mun-
2009; Rodrigues & Oliveira, 2009), o que do subjetivo. Sendo assim, elas se tornam
pode contribuir para a melhora da con- uma importante ferramenta para que os
vivência na escola (Borges & Marturano, projetos sociais atinjam seus objetivos.
2009). Conclusão - Programas promotores Os resultados de pesquisas anteriores
de habilidades infantis são de grande va- (Kebach, 2003; 2008) evidenciam que a
lia para favorecer o relacionamento inter- educação musical nos espaços informais
pessoal; a literatura infantil vem se mos- demonstra ser algo bastante produtivo
trando benéfica dentro desta proposta. em termos de musicalização e de trocas
Por meio dos livros de história as crianças sociais, o que motivou a realização da
esclarecem de modo interativo, contex- pesquisa atual. Diante disso, o objetivo
tualizado e reflexivo o processamento da desta pesquisa é investigar no âmbito de
informação social tornando-se cada vez projetos sociais no Vale do Paranhana/RS,
mais ajustadas ao meio social. como ocorrem as práticas musicais para
compreender de que modo estes espaços
Palavras-chave: desenvolvimento podem contribuir para a construção mu-
sociocognitivo, livros de histórias infantis, sical, para a inclusão e resgate da cultura
educação infantil local dos sujeitos envolvidos neste proces-
so. Através da pesquisa, poder-se-á mape-
ar a Educação Musical informal na região
LT04-744 - A MUSICALIZAÇÃO NO de estudo e sua repercussão na sociedade
CONTEXTO DOS PROJETOS SOCIAIS DO local, legitimando-se este espaço. Pre-
VALE DO PARANHANA/RS tende-se também contribuir para que os
Alexandre Herzog - FACCAT atuantes nos projetos sociais aprimorem
alexandre.herzog@hotmail.com seu trabalho e pensar na implantação da
Patrícia Fernanda Carmem Kebach - FACCAT educação musical, obrigatória nas escolas
patriciakebach@yahoo.com.br a partir de 2011, em função da lei 11.769

158
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

publicada no Diário Oficial da União em nesses projetos através do ensino de ins-


agosto de 2008, de modo mais qualifica- trumentos musicais e por meio da realiza-
do e significativo. A metodologia utilizada ção de corais, que permitem a construção
visa compreender o fenômeno em suas do cantar dos participantes e a sensibili-
dimensões individual e social. Os sujeitos zação musical. Nos projetos mapeados
investigados serão os professores (ou ou- até o presente momento, de modo geral,
tros proponentes) e participantes do pro- objetiva-se trabalhar com a prevenção
cesso de musicalização no contexto dos antidrogas, a promoção de saúde, melho-
projetos sociais. Utilizar-se-á a técnica de rar a qualidade de vida dos participantes,
observação coletiva e entrevistas individu- promover a socialização de crianças e sua
ais. Essas entrevistas serão realizadas com permanência na escola, profissionalizar o
base na técnica de aplicação do Método jovem e mantê-lo longe do trabalho sem
Clínico Piagetiano (Delval, 2002), a fim de condições, além de reunir a comunidade
compreender, através da livre conversa- e fomentar o gosto pela espiritualidade e
ção com os agentes do processo, de que cultura local. Caracterizam-se como inicia-
modo ocorrem a produção musical e as tivas movidas por diversos tipos de pro-
interações sociais nos espaços investiga- ponentes, desde igrejas, moradores dos
dos. O método clínico se traduz pelo pro- municípios, secretarias de educação e de
cedimento de coleta de dados através da assistência social até escolas e programas
observação das ações e livre conversação federais. Esta pesquisa está em fase de co-
sobre determinada temática, para seguir leta de dados e poderá contribuir para a
o pensamento da pessoa entrevistada. No construção de conhecimento acerca dos
caso desta pesquisa, os dados referentes projetos sociais e as práticas de educação
às ações musicais dos sujeitos serão regis- musical desenvolvidas na região do vale
trados através de filmagens e as entrevis- do Paranhana. Os projetos já mapeados
tas gravadas e transcritas, para posterior revelam a relação entre a música e a qua-
análise. A eleição da observação das ações lidade de vida e, também, a intenção de
musicais e dos sujeitos entrevistados será promover uma educação musical qualifi-
feita através de entrevista com um propo- cada. Na etapa em que os pesquisadores
nente de atividade musical e um partici- analisarão com mais profundidade os pro-
pante destas atividades de cada uma das jetos eleitos em cada cidade do Vale do
seis cidades do Vale do Paranhana: Taqua- Paranhana, ter-se-á como objetivos os se-
ra, Parobé, Três Coroas, Riozinho, Igreji- guintes: analisar como as pessoas que tra-
nha e Rolante. Serão mapeados espaços balham com musicalização nestes espaços
diversificados de projetos sociais, o que compreendem seu papel e o dos educan-
se caracteriza como pré-requisito para a dos para compreender a fundo os proces-
eleição de determinados projetos, ou seja, sos de ensino e aprendizagem musical;
em cada cidade, será eleito um espaço di- verificar as relações interpessoais estabe-
ferente para ser mapeado. Até o presente lecidas nos projetos para compreender o
momento, a pesquisa permitiu verificar a que une as pessoas em torno das ações de
existência de 25 projetos sociais ocorren- educação musical; investigar a função, na-
do nas cidades do Vale do Paranhana. A tureza e impacto que a Educação Musical
educação musical tem sido trabalhada causa nas localidades dos projetos sociais

159
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

onde é desenvolvida para compreender crianças. A idéia de educação infantil – en-


como os grupos em situação de vulnera- tendida como aquela que se orienta para
bilidade e risco social podem vislumbrar o desenvolvimento de crianças de zero a
novas perspectivas de estruturação social, seis anos de idade (Brasil, 1998) – está as-
a partir da interação nos cenários de mu- sociada, culturalmente, às dimensões do
sicalização nestes projetos. “cuidar” e do “educar”, visando garantir
a não-fragmentação das experiências de
Palavras-chave: educação informal, projetos ensino-aprendizagem à criança pequena
sociais, musicalização (Angotti, 2000; Machado, 2000; Oliveira,
1999). Porém, muitas vezes, tais contextos
LT04-810 - JOGOS COOPERATIVOS E se encontram à mercê de concepções te-
A PROMOÇÃO DA COOPERAÇÃO NA óricas e práticas não adequadas para ex-
EDUCAÇÃO INFANTIL pressar, em sua plenitude, o caráter edu-
Marilícia Witzler Antunes Palmieri - UEL cativo, pedagógico e formativo, implicado
marilicia@uel.br nas diversas experiências vivenciadas pela
Valéria Queiroz Furtado - UEL criança (Machado, 2000). Dentre as diretri-
valeriauel@uel.br zes apontadas pelo Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (Brasil,
Em muitas das práticas educativas no âm- 1998) para o desenvolvimento do trabalho
bito da educação infantil, desvelam-se com crianças de quatro a seis anos está à
diferentes procedimentos contemplando promoção de interações que favoreçam a
alternativas educativas e pedagógicas di- troca de idéias, oportunidade de expres-
versificadas. Estas permitem o trânsito de são, de contato com outras vivências e a
uma ampla gama de valores, conceitos, construção conjunta de conhecimentos e
regras, orientações, idéias e concepções, habilidades sociais, sublinhando a coope-
configurando relações motivacionais alta- ração como o principal tipo de interação a
mente complexas e que implicam no de- ser estimulado e promovido. Nessa pers-
senvolvimento de diferentes padrões de pectiva a proposta pedagógica dos jogos
interação social. O eixo central do estudo cooperativos (Correia, 2006, 2007; Brotto,
recai sobre a necessária superação de va- 2000; Salvador e Trotte, 2000; Soler, 2003)
lores atrelados as práticas sócio-culturais apresenta-se como um recurso educativo
competitivas e individualistas das relações promissor para a modificação de práticas,
humanas que se estabeleceu em nossa conceitos e valores competitivos e indi-
sociedade, as quais têm sido enfatizadas vidualistas comumente encontrados na
no exercício do cotidiano escolar (Branco, escola, a qual enaltece o resultado e não
2003, 2006; Crockenberg & Bryant, 1979; o processo, ao valorizar a vitória como
Johnson & Johnson, 1989; Palmieri, 2003; prêmio do sucesso individual (Correia,
Salomão, 2001). Isto porque, dependen- 2006; Salvador & Trotte, 2001). Chama-
do das ações pedagógicas do professor, -se de “cooperativos” jogos que alteram
é ele quem define as normas e as regras, a estrutura dos jogos tradicionais de suas
como também lidera e domina de forma características de exclusão, agressividade,
quase absoluta o espaço comunicativo das seletividade e exacerbação presentes em
atividades a serem desenvolvidas pelas jogos competitivos, para uma estrutura de

160
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

jogos que sejam basicamente pautados na tuição, visando analisar, em nível microge-
cooperação, no envolvimento e na diver- nético, como três educadoras promovem
são (Brotto, 2002). São jogos que aceitam ou inibem a cooperação entre seus alunos
as diversidades e as limitações dos partici- (4 a 6 anos), utilizando como recurso pe-
pantes promovem o exercício da confian- dagógico os jogos cooperativos. O estudo
ça pessoal e interpessoal, cumplicidade, inclui: 1) Registro das atividades diárias re-
solidariedade, respeito mútuo (Correia, alizadas com as crianças (protocolo espe-
2006), uma vez que ganhar e perder são cífico); 2) Entrevistas (inicial e final) com as
apenas referências para um contínuo educadoras (roteiro semiestruturado); 3)
aperfeiçoamento de todos, vislumbrando Planejamento dos jogos para orientar as
um verdadeiro exercício educativo para a professoras a reconstruírem e adaptarem
paz (Brotto, 2002). Neste sentido, o me- jogos a uma concepção não competitiva
lhor momento para introduzir os jogos co- ou cooperativa (categorização de Orlik,
operativos para o exercício da cultura da 1989, apud Correia, 2007); 4) Registro em
cooperação é a educação infantil, consi- vídeo de atividades de jogos cooperativos
derando que a criança ainda foi pouco ex- estruturados pelas educadoras. Como re-
posta a experiências de competição (Soler, sultado parcial, os registros das atividades
2003). Acreditamos que as possibilidades diárias têm revelado um grande volume
e os limites dessa proposta no contexto da de “atividades livres” sendo promovidas
educação infantil contribuirão à análise do às crianças fora da sala de aula, onde pre-
complexo processo construtivo de sociali- domina as instruções das educadoras sem,
zação entre professores e alunos inseridos contudo, considerarem o interesse das
em espaços educacionais que tem por crianças pelas brincadeiras. Quando se
base um contexto heterogêneo e dinâmi- trata de atividades sendo estruturadas no
co, ancorado em diferentes aspectos rela- contexto da sala de aula, as educadoras se
tivos à interdependência humana, aí con- orientam pelo objetivo de obter a atenção
vivendo, em princípio, orientações múlti- das crianças na realização de tarefas indivi-
plas e diversificadas. O presente trabalho duais ou em grupo, com a atenção orienta-
é fruto de estudo anterior sobre o tema lu- da para a professora, desestimulando-as a
dicidade e formação de educadores infan- interagirem entre si. Tais atividades, geral-
tis realizado em um Centro de Educação mente, se reduzem às educadoras contan-
Infantil do município de Londrina-PR. Uma do uma estória para as crianças, repetidas
oficina de Jogos Cooperativos foi promo- vezes por um período determinado e, na
vida a quinze educadoras, as quais reco- seqüência, as instruem para a produção
nheceram a necessária promoção de ati- individual de trabalhinhos (pintura, dese-
vidades verdadeiramente cooperativas na nho, recorte, colagem). Neste caso, não se
educação infantil, e, ao mesmo tempo, re- observa preocupação das professoras com
velaram desconhecer como este tipo de vi- atividades estruturadas para as crianças
vência pode ser promovido nas atividades interagirem cooperativamente que façam
lúdicas que desenvolvem com as crianças com que aprendam novos conceitos e
no dia-a-dia da instituição. Dentro deste experimentem algo novo no contexto da
contexto se insere o presente estudo (em sala de aula. Questiona-se o pouco espaço
fase inicial), desenvolvido na mesma insti- para a criação de um ambiente propício a

161
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

negociações professoras-crianças, o que mente, o desenvolvimento da imaginação


levaria a um posicionamento mais demo- e da criatividade de seus alunos. Definimos
crático na sala de aula. Problematiza-se o os seguintes objetivos específicos: identifi-
caráter educativo das atividades propostas car concepções de leitura, literatura infan-
e o tipo de interação estimulado e promo- til, imaginário e criatividade presentes no
vido no âmbito da instituição. Acredita- ideário das professoras participantes deste
mos que a prática dos Jogos Cooperativos estudo; analisar estratégias pedagógicas
nesse contexto educacional propiciará às utilizadas pelas professoras para realizar
crianças a participação em atividades lúdi- uma leitura prazerosa; descrever os proje-
cas que incentivam a cooperação, visando tos de literatura infantil desenvolvidos na
o alcance de objetivos comuns, adquirin- escola, destacando o desenvolvimento da
do também progressiva autonomia e in- imaginação e criatividade de seus alunos;
dependência para coordenar suas ações identificar os programas da escola para
com a de outros. As educadoras poderão capacitação de professores no que diz res-
explorar as configurações motivacionais peito ao trabalho com projetos literários;
facilitadoras de modalidades construti- identificar as possibilidades de aplicação
vas de interdependência social, o que nos das estratégias pedagógicas desenvolvidas
propiciará analisar os diferentes tipos de no campo da literatura nessa escola, em
inter-relações que ocorrem no conjunto instituições da rede pública do DF. Para que
dos fatores que se apresentam típicos des- tais objetivos fossem alcançados, organiza-
se contexto. mos o referencial teórico que fundamenta
todo o estudo com os trabalhos de Alencar
Palavras-chave: Jogos Cooperativos; (2003); Coelho (2000); Garcez (2008); Ma-
Cooperação; Educação Infantil. chado (2002); Martinez (1997); Vygotsky
(2009); Zilbermam (2005). A metodologia
escolhida para o desenvolvimento da pes-
LT04-1412 - A LITERATURA INFANTIL NO quisa foi a de cunho qualitativo, utilizando
DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO instrumentos de coleta de dados como a
E CRIATIVIDADE DE ALUNOS DE 2 A 5 observação participante em três turmas da
ANOS DE IDADE educação infantil e a entrevista semiestru-
Priscila Martins do Nascimento da Silva - UnB turada com as respectivas professoras. Os
Norma Lucia Neris de Queiroz - UnB resultados deste estudo revelam que a prá-
normaluciaq@yahoo.com.br tica da literatura realizada pelas professo-
ras da escola investigada, mesmo que em
O presente trabalho caracteriza-se com um alguns momentos precise de maior emba-
estudo de pesquisa, cujo título é A literatu- samento teórico e capacitação profissional
ra infantil no desenvolvimento da imagina- no que diz respeito a intenções pedagógi-
ção e criatividade de alunos de 2 a 5 anos cas pautadas numa prática mais rica em
de idade. Foi estabelecido como objetivo possibilidades de criação e imaginação, faz
geral, analisar a prática pedagógica de um com que a literatura chegue a seus alunos
grupo de professoras da educação infantil de maneira que favorece e possibilita a
de uma escola particular do Distrito Fede- vivência de sua verdadeira essência, sem
ral em relação à literatura infantil, especial- cobranças, ou seja, viver a literatura pela

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

própria literatura. Refletindo sobre os re- de terem idéias e hipóteses originais so-
sultados, é possível dizer que para realizar bre aquilo que buscam desvendar” (Rc-
uma prática pedagógica pautada na lite- nei,1998, p.21) Compreender, conhecer e
ratura, mais especificamente na literatura reconhecer a forma particular das crian-
infantil, é preciso ir além dos fantoches e ças serem e estarem no mundo é um dos
dramatizações e sim viver a leitura da pala- grandes desafios da educação infantil. A
vra com encantamento e prazer. escola é uma instituição social privilegiada
e responsável por promover este encon-
Palavras-chave: Literatura infantil; Educação tro com as mais diversas áreas do conhe-
infantil; Criatividade; Imaginação. cimento, dentre elas, a da cultura corporal
de movimento pela qual a Educação Física
é diretamente responsável. Cultura corpo-
LT04-1422 - O CIRCO: UMA PROPOSTA ral são todas as manifestações corporais
DE AÇÃO INCLUSIVA EM EDUCAÇÃO humanas que são geradas na dinâmica
FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. cultural, são conhecimentos historicamen-
Vivianne Flávia Cardoso - UnB/UAB te acumulados e socialmente transmitidos
vfcardoso@gmail.com (PCN EF, 1992, 1998). Segundo o PCN EF
Juliana Eugênia Caixeta - UnB (1992, p. 27) “É preciso que o aluno en-
eugenia45@hotmail.com tenda que o homem não nasceu pulando,
saltando, arremessando, balançando, jo-
Nesse trabalho, discutimos a inclusão de gando etc. Todas essas atividades corpo-
alunos deficientes nas aulas de educação rais foram construídas em determinadas
física, entendendo que a escola deixa de épocas históricas, como respostas a deter-
ser uma instituição social com forte apelo minados estímulos, desafios ou necessida-
seletivo e passa a ser o lugar em que as des humanas”. Assim, o aluno deficiente
potencialidades devem ser vistas, as difi- deve ser atendido em suas necessidades e
culdades superadas e os resultados apro- desafiado em suas potencialidades como
veitados em prol de uma sociedade me- todas as outras crianças, pois o objetivo
lhor. O processo de aprendizagem aciona das aulas de educação física é a inclusão
vários processos de desenvolvimento do aluno na cultura corporal de movimen-
que sem este estímulo poderiam não vir to por meio da participação e reflexão, de
a acontecer (Vygotsky, 1994). Quando fa- um conjunto de vivencias que contribuam
lamos de inclusão de pessoas deficientes, para seu desenvolvimento global. Descre-
o que temos que fazer é descobrir como ver e analisar o processo de inclusão de
promover zonas de desenvolvimento alunos deficientes nas aulas de Educação
proximal que estimulem estas crianças Física na educação infantil que foram re-
a adquirir e formar o pensamento abs- alizadas em uma escola pública de Vitória
trato. Sabemos que a mediação do mais durante os meses agosto a novembro de
experiente impulsiona o desenvolvimento 2010. Nesse trabalho, realizamos a união
do menos experiente. “No processo de da abordagem qualitativa de pesquisa
construção do conhecimento, as crianças com a pesquisa-ação em um estudo de
se utilizam das mais diferentes linguagens caso. Participaram do estudo 25 crianças
e exercem a capacidade que possuem na faixa etária de 4 anos, incluindo uma

163
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

criança com Síndrome de Down, uma es- se balançar no balanço de pneu. Quanto
tagiária, a professora de Educação Física, a relações mediadas, trabalhamos, além
a professora regente da turma 4A e a pes- da cooperação, soluções de problemas e
quisadora, que também atuou como me- a tomada de decisões, pois assim nossos
diadora das atividades. Como técnicas e alunos poderiam acessar seu repertório
materiais para coleta de dados foram utili- motor, além de ressignificar movimentos
zados observações e composição de diário culturalmente construídos e historica-
de campo, filmagens, fotografias. Como mente acumulados. De acordo com Melo
procedimento foi adotado a implantação (2010, p. 29), “na perspectiva em que o
do planejamento da proposta pedagógica contexto da ação assume papel central
Circo em que cada dia havia uma atividade no processo de desenvolvimento motor, o
diferente. Na medida em que as atividades sujeito é considerado ator do seu próprio
eram avaliadas, o planejamento inicial so- desenvolvimento”. Dentro da temática do
fria ajustes. O tema circo foi escolhido por Circo, realizamos intervenções variadas na
apresentar um universo lúdico muito rico turma, de forma que João tivesse oportu-
para a criança, porque permite o trabalho nidade de ser atendido em suas necessi-
com músicas, com personagens, como: o dades individuais, vindas principalmente
palhaço e o mágico e com diferentes ex- da hipotonia, uma das características da
pressões corporais, como: malabarismo, Síndrome de Down. Esta experiência mos-
acrobacias (como cambalhotas), equili- trou que a Educação Física contribui para
brismo, trapézio, corda bamba, dentre ou- a construção de uma escola inclusiva à
tros. A intervenção foi planejada visando medida que integra saberes e fazeres di-
vivenciar com as crianças práticas corpo- ferentes dentro de um mesmo contexto,
rais atreladas à temática do circo de forma quando tece reflexões sobre os significa-
lúdica e prazerosa. Durante a intervenção dos e sentidos que as ações corporais têm
foi possível observar que todas as crianças dentro da escola e na vida dos indivíduos
participaram ativamente, inclusive João, envolvidos. Acreditamos que intervenções
portador da síndrome da Down. Todos os como as apresentadas nesse estudo evi-
alunos demonstraram parceria e coopera- denciam o papel da educação física como
ção. O processo de mediação professor/ promotora do desenvolvimento integral
aluno foi muito importante para promo- das crianças, integrando o desenvolvimen-
ver um ambiente inclusivo, pois à medida to cognitivo, afetivo e motor. Percebemos
que pensávamos um processo de aprendi- que a intervenção na educação física pode
zagem que incluísse todas as crianças bus- ir além dos “muros” da quadra e integrar
camos também uma prática voltada para ações da escola como um todo. Adultos e
competências dos sujeitos e que contri- crianças, crianças e crianças vivenciaram
buísse para superar as limitações impos- e evidenciaram, neste estudo, as possibi-
tas pela deficiência. Quanto à mediação lidades que se abrem no trabalho coletivo,
aluno/aluno: das relações espontâneas, contextualizado à cultura infantil e, tam-
citamos a cooperação, esta acontecia toda bém, à cultura corporal de movimento.
vez que um colega ajudava o outro a re-
alizar determinada atividade, como: virar Palavras-chave: Inclusão Escolar, Educação
cambalhota, alcançar o trapézio, subir e Física, Cultura Corporal.

164
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1423 - A CONSTRUÇÃO DO tural. É construído porque os significados


SI MESMO E DO OUTRO NAS compartilhados nas interações tornam-se
BRINCADEIRAS DE FAZ-DE-CONTA constitutivos do sujeito e é construtor,
Sônia Regina dos Santos Teixeira - UFPA porque os significados compartilhados
soniaregina.st@uol.com.br são resignificados, recriados pelo sujeito.
Na brincadeira de faz-de-conta é possível
Os princípios teóricos e metodológicos perceber essa co-construção. A criança é
adotados neste estudo tiveram como construída pelos significados partilhados
pressupostos o referencial da psicologia no seu grupo cultural, uma vez que a ma-
histórico cultural e foram utilizados para téria da situação imaginária origina-se das
compreender como determinadas experi- experiências diretamente vividas ou pre-
ências inquietantes vivenciadas por crian- senciadas pela criança. Ao mesmo tempo,
ças ribeirinhas, durante brincadeiras de é construtora, na medida em que recom-
faz-de-conta contribuíram para o processo bina os significados e cria situações ficcio-
de constituição cultural das mesmas. Para nais que são virtuais, não correspondendo
Vygotsky (1984), o indivíduo, ao nascer, a cópias literais dos significados partilha-
ainda não é verdadeiramente humano. dos. Para Simão (2004), o ser humano
Somente passa a sê-lo quando, a partir constrói o si mesmo e a cultura, por inter-
da interação com outros sujeitos, inter- médio do constante diálogo entre o “mim
naliza os significados compartilhados no mesmo” e o “outro”, principalmente, a
seu contexto sociocultural. Para o autor, partir de vivências que ferem as expecta-
em cada fase do processo de constituição tivas do “mim mesmo” e o instigam cog-
cultural do sujeito há uma atividade que nitivo e afetivamente – as “experiências
contribui de forma fundamental para a inquietantes”. A autora questiona a rele-
construção do psiquismo humano. Na fase vância de estudos que buscam o acúmu-
por ele denominada pré-escolar, de três a lo exaustivo e seletivo dos dados visando
seis anos, a brincadeira de faz-de-conta é descrever a ‘interação em si’, ‘o mais obje-
a principal atividade a contribuir para esse tivamente possível’. Para ela, ao examinar
processo. Assim, investigar como as crian- as falas das interações, o pesquisador, ao
ças brincam, como interagem e os signi- invés de procurar os diálogos marcados
ficados construídos durante as brincadei- pelos consensos entre os sujeitos, deve
ras, pode ajudar na compreensão do pro- tomar como objeto de suas análises as fa-
cesso de constituição cultural dos sujeitos. las que expressem ‘momentos de tensão’,
Considerando que, atualmente, muitas investigando para onde elas orientam os
crianças nessa faixa etária participam de interlocutores, na negociação para a dis-
programas de educação infantil, as turmas tensão e reconstrução do conhecimento
de educação infantil constituem-se lócus sobre o conteúdo da conversa, mas, so-
importantes para a investigação dessa ati- bretudo, na reconstrução concomitante e
vidade e, consequentemente, do processo interdependente do conhecimento sobre
de constituição cultural das crianças, que relações eu-eu e eu-outro. Nesse sentido,
delas participam. Valsiner (1997) afirma foi realizado o presente estudo para veri-
que o indivíduo, exerce um papel dialé- ficar as experiências inquietantes viven-
tico no seu processo de constituição cul- ciadas pelas crianças, durante as brinca-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deiras de faz-de-conta e como as mesmas instante (Simão, 2002, 2004). O estudo re-
contribuem para o processo de constitui- velou momentos de tensão presentes nos
ção cultural das crianças que participavam diálogos entre as crianças, que as exigiam
das interações. O estudo faz parte de uma reconstruções afetivas e cognitivas cons-
pesquisa maior realizada durante o ano de tantes. É evidente na análise, que embo-
2005 e teve como participantes dez meni- ra tenha sobressaído o investimento das
nos e seis meninas, com idade entre qua- crianças na negociação de conflitos para
tro e cinco anos e a professora da classe garantir o processo interativo do brincar,
de uma escola localizada na Ilha do Com- longe de ser um ambiente harmônico,
bu, no município de Belém, Pará. O pro- este era um espaço marcado por tensões,
cedimento de coleta constou de gravações desencontros e disputas. Verificou-se res-
em vídeo das brincadeiras que ocorreram significações de princípios de classificação
no cotidiano da classe. As informações fo- dos sujeitos, presentes no contexto socio-
ram coletadas quinzenalmente, perfazen- cultural das crianças, tais como: mais ou
do um total de 16 registros. Os episódios menos competente; mais velho e mais
de faz-de-conta foram transcritos e exami- novo; adulto e criança; homem e mulher
nados do ponto de vista microgenético, de e feio e bonito. Tais ressignificações esta-
acordo com a forma concebida pela psico- vam na origem de diversas experiências
logia histórico cultural. A análise centrou- inquietantes. Na análise ficou evidente
-se na dinâmica do processo de constru- que o processo de constituição cultural
ção de significados pelas crianças. Ficou ocorre da diferenciação de elementos ini-
evidente na análise dos episódios que as cialmente indiferenciados. Tal diferencia-
experiências inquietantes vividas pelas ção só é possível, por intermédio do dis-
crianças, durante as brincadeiras, contri- tanciamento psicológico crescente, pos-
buíam para a tomada de consciência da sibilidade que as crianças encontram no
diferenciação entre o si mesmo e o outro. faz-de-conta, que as exige uma maior des-
Isso pode ser observado pelo uso frequen- centralização do si mesmo e uma menor
te dos pronomes pessoais e possessivos e contextualização. No faz-de-conta, na me-
pela diversidade de formas de ocupação dida em que a criança discorda da outra,
do lugar do outro da cultura, durante a ela instaura um distanciamento entre o si
representação de diversos papeis sociais. mesmo e o outro. Isto a possibilita tomar
Tais achados confirmam a proposição de consciência cada vez mais abrangente de
Góes (2000), de que a brincadeira de faz- seus contextos, de si mesma, dos outros
-de-conta é um excelente campo para e de suas relações com eles e a participar,
investigar os indícios da construção do si de formas cada vez mais diferenciadas do
mesmo e do outro, pelo fato, da criança, processo de construção da sua subjetivi-
nessa atividade, manejar, constantemen- dade e da sua cultura.
te, imagens de si e dos outros da cultura.
A análise mostrou também como as crian- Palavras-chave: Brincadeira de Faz-de-Conta;
ças estavam constantemente significando Educação Infantil; Crianças Ribeirinhas.
e ressignificando a sua relação com os par-
ceiros, figuras cognitivo-afetivas a quem
alimentavam expectativas diversas a todo

166
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 27 - LT04 tratando de crianças autistas, apresentar


das mais diversas formas e de diferentes
Inclusão 2 maneiras os objetos da cultura ao aluno,
para que este encontre um lugar no mun-
do ou que nele possa advir como sujeito.
LT04-798 - INCLUSÃO ESCOLAR DE
A educação terapêutica (Kupfer, 2001) é
ALUNOS AUTISTAS: CONCEPÇÕES DE
um conjunto de práticas interdisciplinares
PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DO
que visa à retomada do desenvolvimen-
DISTRITO FEDERAL
to global do sujeito ou a reestruturação
Mara Rubia Rodrigues Martins - SEEDF psíquica interrompida pelo surgimento
mararubiarm@gmail.com do autismo. Na pesquisa, foi utilizada a
Sandra Francesca Conte de Almeida - UCB abordagem qualitativa de tipo etnográ-
sandraf@pos.ucb.br fico, adotando-se como instrumento de
coleta e construção de dados a entrevista
As indagações acerca da possibilidade de semiestruturada. Os resultados indicaram
inclusão escolar de pessoas com autismo congruência e semelhança de concepções
habitam o imaginário dos envolvidos no e práticas pedagógicas entre os profes-
processo educativo e lançam um debate sores entrevistados. Observou-se que a
sobre as condições que vão além da ga- maioria dos sujeitos entrevistados, vinte
rantia dada por lei (acessibilidade) à esco- e um, era favorável à inclusão escolar de
laridade em salas comuns. Assim, é neces- alunos com autismo, embora tivessem re-
sário que a escola e os professores se pre- latado o mal- estar que sentiam frente ao
parem para incluí-las. O presente trabalho aluno autista, cuja “diferença” os remetia
investigou as concepções de 23 professo- ao exercício constante da impotência, da
res regentes de escolas públicas acerca incapacidade, da angústia, marcas signifi-
da inclusão escolar de alunos autistas no cantes da castração. Apesar da formação
ensino regular. A fundamentação teórica acadêmica de nível superior, esta não os
que embasou o estudo é a psicanalítica, autorizava, de “per si”, a implicar-se sub-
enfatizando a compreensão do autismo, jetivamente no trabalho realizado com es-
na perspectiva freudo-lacaniana, o concei- ses alunos. Cabe ressaltar que as concep-
to de educação terapêutica e as relações ções dos professores sobre o processo de
entre psicanálise e educação. A grande inclusão escolar, bem como sua compre-
descoberta da psicanálise, a constituição ensão acerca do autismo, permitiam que
do sujeito no campo do Outro, ensina que se perpetuasse a ideia de que os autistas
a pessoa se torna sujeito pelo desejo e vivem em um mundo à parte, isolados da
que o sujeito só pode se constituir como realidade e que, por tais motivos, as práti-
sujeito desejante se o Outro o desejou, cas inclusivas se restringiam a ações edu-
antes. Para que o sujeito se constitua não cativas de pouco impacto na subjetividade
basta apenas que seja cuidado, é preciso e no comportamento desses sujeitos. Os
também que seja desejado e que o Outro dados relativos aos fatores que facilitavam
responda à sua demanda. Cabe ao profes- ou dificultavam a inclusão de autistas no
sor, na função de suplência do outro, mas ensino regular se expressaram sob a for-
de um outro barrado, sobretudo em se ma de uma aparente contradição. Foram

167
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

apontados como fatores facilitadores: a volvidos no processo de inclusão escolar


informação/conhecimento, a formação é de fundamental importância, pois dar
específica, a presença de um professor voz a esses que são os protagonistas da
auxiliar, em sala de aula, e o envolvimento educação inclusiva, juntamente com os
da família; como fatores que dificultavam alunos, significa apostar no professor e
a inclusão, apareceram esses mesmos as- criar condições para que a educação te-
pectos, mas em situação de falta, de ca- rapêutica aconteça. Os resultados deste
rência ou de ausência. Quanto às práticas estudo confirmaram, ainda, a complexida-
pedagógicas diárias, foi possível observar de do processo de inclusão de autistas no
que a grande maioria, dezenove dos vin- ensino regular e apontaram para a neces-
te e três professores, realizava algum tipo sidade de se dar continuidade a outros es-
de adaptação curricular, quer seja nas tudos e pesquisas que levem em conside-
atividades propostas, no atendimento ou ração essa temática, sobretudo a função
nas avaliações dos alunos autistas, o que da escola e do professor no processo de
nos permitiu inferir que os professores reestruturação psíquica de crianças com
se preocupavam em oferecer atividades graves problemas de desenvolvimento.
pedagógicas que levavam em considera-
ção as peculiaridades e limitações de seus Palavras-chave: Inclusão escolar; autismo;
alunos autistas e as suas próprias. O papel psicanálise.
do educador, nas vicissitudes da constitui-
ção do sujeito, é o de fornecer aos alunos
autistas inscrições primordiais, conteúdos LT04-933 - O BRINCAR EM CRIANÇAS
ideativos, objetos da cultura, a partir de COM DEFICIÊNCIA VISUAL
diversas linguagens, instituindo o simbóli- Letícia Coelho Ruiz - UNICAMP
co em torno do real, diferenciando-se da letsruiz@yahoo.com.br
educação formal, ocupando o lugar de Ou- Cecília Guarnieri Batista - UNICAMP
tro barrado, transmitindo, além de conhe- cecigb@gmail.com
cimentos, valores, ideais e um saber exis-
tencial. A educação terapêutica, prática Muitos trabalhos discutem questões so-
interdisciplinar que visa à reestruturação bre o desenvolvimento de crianças com
psíquica da criança com transtorno global deficiência visual, por meio de compara-
do desenvolvimento, foi sugerida como ções com aspectos do desenvolvimento
proposta de atendimento educacional aos de crianças videntes. Nesses estudos, as
alunos autistas inclusos no ensino regular, dificuldades e os déficits são salientados,
assim como a criação de um espaço de por tomarem por base a relação normal/
interlocução e de escuta dos professores, deficiente. Warren (1994) sugeriu uma
de modo que estes pudessem ressignificar “abordagem diferencial”, que se caracte-
suas angústias e rever suas certezas, des- riza por buscar compreender as variações
construir saberes e aprender a conviver no desenvolvimento entre indivíduos com
com a impossibilidade de uma educação deficiência visual, considerando importan-
ideal, apostando no saber e no desejo de tes os casos de indivíduos que se destacam
que, pelo ato educativo, um aluno-sujeito pelo desenvolvimento de habilidades dife-
possa advir. A escuta dos educadores en- renciadas. A detecção de uma habilidade,

168
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mesmo que em um único participante, já ogravações e análise qualitativa e micro-


é indicação de que a deficiência não impe- genética de episódios, segundo Carvalho
de a sua aquisição. Sugere, portanto, que e Pedrosa (2005) e Góes (2000). O estudo
a pesquisa seja voltada para perguntas so- abrangeu sete crianças de 4 a 8 anos, or-
bre os fatores que levaram essas pessoas ganizadas em dois grupos: (a) no Grupo 1
a adquirir tais habilidades. Um contexto participaram três crianças, duas com baixa
em que podem ser observados aspectos visão e uma cega; (b) no Grupo 2 participa-
do desenvolvimento infantil é durante ram duas crianças com baixa visão e duas
o brincar. Vygotsky (1988) discute sobre com alterações visuais e dificuldades es-
a relação entre o brincar e as funções colares. As filmagens foram feitas de abril
mentais superiores, afirmando que, ao a junho de 2010. Foram videogravadas 8
partir do brinquedo, com destaque para sessões, com cada um dos grupos. As ob-
o brincar de faz de conta, a criança torna- servações foram realizadas em situações
-se capaz de compreender o real e atuar que propiciaram contatos com brinquedos
de maneiras distintas e mais elaboradas, em momentos de interação. Foram prepa-
em relação às que costuma apresentar em rados conjuntos de brinquedos variados,
seu convívio social. A atividade lúdica con- com atenção às necessidades referentes
fere liberdade à criança, por meio destas à deficiência visual (brinquedos coloridos,
ações simbólicas, e lhe permite ultrapas- sonoros, etc). O pesquisador era o coor-
sar os limites determinados por seu nível denador das sessões. Foram analisados
atual de desenvolvimento. Hueara, Souza, episódios relevantes de faz de conta, em
Batista, Melgaço e Tavares (2006) eviden- relação aos seguintes aspectos: modos de
ciaram as competências apresentadas por brincar entre as crianças, modos de ma-
crianças cegas e com baixa visão, durante nuseio de objetos e formas de atuação do
atividades relativamente livres de explora- adulto, de acordo com as categorias cria-
ção de brinquedos. A brincadeira relativa- das para a análise. Os pais das crianças es-
mente livre, encorajada, mas não dirigida tudadas foram entrevistados no que se re-
por adultos, levou à constituição de um fere às formas de brincar dessas crianças.
ambiente muito propício ao desenvolvi- Foi elaborado um sistema de categorias,
mento do faz-de-conta. Na conclusão do abrangendo os seguintes aspectos: For-
estudo, destacaram-se diversos exemplos mas de Interação (adulto- criança e crian-
de capacidades apresentadas por estas ça-criança) e Uso de Objetos. Foi, também,
crianças, na criação de cenas, represen- focada a questão das dificuldades específi-
tação de papéis, estabelecimento de re- cas de crianças com problemas visuais du-
gras, que nem sempre eram evidentes em rante a brincadeira. Dois exemplos de aná-
outros contextos, especialmente, os de lise são apresentados. Na sessão “O lobo e
avaliação formal. Na mesma direção, foi o porquinho” (Grupo 1), no que se refere
proposto um estudo envolvendo crianças à Interação criança- criança, observou-se
com deficiência visual e/ou alterações vi- que o grupo manteve na maior parte do
suais, a maioria com outras alterações no tempo, Ação conjunta. Quanto ao Uso de
desenvolvimento. Procurou-se identificar Objetos, as crianças elaboraram uma Cena
habilidades e competências das crianças, de faz de conta análoga à história dos três
a partir da análise de transcrições de vide- porquinhos, com alguns elementos novos,

169
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como a aparição de um policial, a prisão, ção da criança cega (ex: permitir o contato
o lobo chegando de carro. Na Interação com os brinquedos utilizados pelos ou-
adulto-criança, observou-se que o adulto tros). Quanto às crianças com baixa visão,
apresentou Sugestão para integração das o adulto orientou à exploração de objetos
atividades e, depois que foi observada na (ex: pistas para aproximação, exploração
Atividade conjunta das crianças, passou tátil e comparação entre objetos). Os re-
a apresentar Comentários e Avaliações sultados trazem subsídios para a interven-
Positivas. Na sessão “Mãe, pai e filho” ção educacional, com um modelo voltado
(Grupo 2), quanto à Interação criança- para a facilitação das aquisições das crian-
-criança,observou-se predomínio de Ação ças; apontam, também, para aspectos es-
conjunta. No que se refere ao Uso de ob- pecíficos, relativos a possíveis obstáculos
jetos, as crianças criaram uma Cena de faz para participação na brincadeira de faz de
de conta entre quatro crianças, de “fazer conta por parte de crianças cegas e com
comidinhas”, com papéis de pai, mãe e baixa visão mais severa; descrevem, ain-
filhos, cada um assumindo um papel com- da, soluções propostas pelo pesquisador,
binado entre eles. E quanto à Interação de forma a propiciar brincadeiras em ní-
adulto-criança, a atuação foi semelhante veis crescentes de elaboração e de supe-
à da sessão já descrita. No final da sessão ração dos obstáculos identificados.
surgiu a necessidade, explicitada pelas
crianças, de registro escrito da brincadeira Palavras-chave: brincar, deficiência visual,
para poderem dar continuidade à mesma Educação Especial
na sessão seguinte. Também foi observa- Contato: Letícia Coelho Ruiz, CEPRE/FCM-
do que, nessa sessão, uma das crianças UNICAMP, letsruiz@yahoo.com.br
pegou algumas caixas de alimento e leu
os registros das caixas. É interessante
destacar esses aspectos, pois, indicaram LT04-986 - A CONDIÇÃO
a compreensão da função da escrita, sen- UNDERACHIEVEMENT NO FENÔMENO
do que a maior queixa de aprendizagem ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO:
desses alunos estava relacionada à leitura DESDOBRAMENTOS EMPÍRICOS
e escrita. A análise das sessões permitiu Fernanda do Carmo Gonçalves - UnB
identificar estratégias das crianças para a fernandajfmg@yahoo.com.br
exploração dos objetos e elaboração de Vanessa Terezinha Alves Tentes - SEDF
faz de conta. Foi possível identificar alguns psivan@terra.com.br
obstáculos na interação com a criança Denise de Souza Fleith - UnB
cega e alguns exemplos em que a inter- fleith@unb.br
venção do adulto pôde promover melhor
interação entre as crianças. No grupo com Conceber o indivíduo superdotado, en-
a criança cega, o adulto descreveu a locali- xergar o seu potencial e ao mesmo tempo
zação dos brinquedos, aproximou objetos reconhecer suas limitações é um exercício
e deu pistas verbais de direcionamento desafiador, presente nos estudos sobre
para que a criança realizasse deslocamen- a condição de baixa performance acadê-
tos. O adulto também orientou as outras mica ou underachievement (McCoach &
crianças para que facilitassem a participa- Siegle, 2003; Montgomery, 2009; Neihart,

170
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

2002; Ourofino, 2005, 2007; Ourofino & tem cerca de dois milhões de estudantes
Fleith, 2005; Reis & McCoach, 2002). A superdotados e a prevalência de undera-
baixa performance acadêmica em indiví- chievers pode chegar a 50% dos alunos
duos superdotados refere-se, portanto, a identificados no contexto educacional.
uma condição concomitante a de super- Mais recentemente, o Davidson Institute
dotação, que interfere no desenvolvimen- for Talent Development (2009) divulgou
to do indivíduo, em consequência da dis- que a população de superdotados abran-
crepância entre o potencial previamente ge 2.392.300 indivíduos, ou seja, 5% dos
revelado e a performance atual exibida. estudantes norte-americanos. Desse total,
A condição antagônica vivenciada pelo mais da metade é considerada underachie-
superdotado o coloca em situação de ris- ver. Esses dados reforçam a preocupação
co, de vulnerabilidade social e emocional, dos estudiosos da área de superdotação e
acentuando ainda mais suas necessida- confirmam a prevalência de underachie-
des educacionais especiais. As Diretrizes vers em vários países, conforme verificado
Nacionais para a Educação Especial na em estudos conduzidos na Espanha por
Educação Básica reconhece o aluno su- Olivarez (2004), na Áustria por Schober
perdotado, como aquele que apresenta (2004), na Alemanha por Sparfeldt (2006)
“grande facilidade de aprendizagem que e mais recentemente por Doeschot-Bults
o leve a dominar rapidamente conceitos, e Hoogeveen (2010), na Turquia por Bas-
procedimentos e atitudes” (Ministério da lanti e McCoach (2006), em Hong Kong
Educação, 2001, Art. 5°, III). A Política Na- por Phillipson (2007), na República Tche-
cional da Educação Especial, no que tange ca por Dvorakova (2008) e Holesovska
às altas habilidades/superdotação, define (2010), na França por Villatte e Leonardis
o superdotado como aquele que demons- (2010) e na Inglaterra por Montgomery
tra “potencial elevado em qualquer uma (2009), além da extensa produção verifi-
das seguintes áreas, isoladas ou combi- cada nos Estados Unidos da América e no
nadas: intelectual, acadêmica, liderança, Canadá. No Brasil, os estudos sobre de-
psicomotricidade e artes, além de apre- sempenho escolar abarcam os alunos de
sentar grande criatividade, envolvimento modo geral (Pinheiro-Cavalcanti, 2009; Li-
na aprendizagem e a realização de tarefas bório, 2009). No que tange especificamen-
em áreas de seu interesse” (Ministério te à performance acadêmica de indivíduos
da Educação, 2008, p.15). Superdotação superdotados, não foram encontrados es-
e insucesso escolar não se complemen- tudos brasileiros que investigassem esse
tam mutuamente, pois se encontram em fenômeno. No entanto, chamam atenção
extremos opostos no espectro do ensino. os dados oficiais apresentados no Censo
No entanto, apesar da dissonância cogni- Escolar 2010 demonstrando que no país
tiva que essa condição suscita, a realidade existem 53.791.142 estudantes matricu-
mostra que muitos superdotados exibem lados na Educação Básica, sendo que des-
baixo rendimento escolar. Ao longo dos te total, 398.155 são alunos da educação
últimos trinta anos a preocupação com especial, 5.186 alunos são considerados
superdotados underachievers tem ganha- superdotados e, entre estes, apenas 465
do força e espaço de investigação. Para estão matriculados no Distrito Federal
Heacox (1991), nos Estados Unidos exis- (Ministério da Educação, 2010). Diante

171
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deste quadro, se fortalece a concepção dêmica de Alunos Superdotados, análise


de que muitos alunos superdotados são documental e questionário demográfico.
invisíveis ao sistema e certamente dentre Para o estudo comparativo foi realizada a
estes estão muitos underachievers. Ainda análise de variância multivariada (MANO-
mais complexa é a situação daqueles que VA). Os resultados indicaram prevalência
mesmo identificados como superdotados de alunos superdotados underachievers
apresentam uma produtividade aquém de entre superdotados na razão de 2:1. As
seu potencial, revelando uma desconexão variáveis descritivas que mais se destaca-
entre capacidade, habilidade e o desem- ram na autopercepção desse grupo foram,
penho acadêmico real e, por esse motivo, em sua maioria, coincidentes. Os alunos
acabam, de alguma forma, excluídos do superdotados em comparação aos unde-
processo educacional e os dados oficiais rachievers obtiveram desempenho signifi-
sequer os mencionam. (Ourofino & Fleith, cativamente superior nas medidas de in-
2005). O objetivo deste estudo foi iden- teligência, criatividade total e criatividade
tificar a prevalência de superdotados un- verbal, autoconceito (na dimensão condu-
derachievers entre superdotados de um ta comportamental e autoestima global),
atendimento educacional, descrever as desempenho escolar total e na dimensão
habilidades, as preferências, os interesses, escrita. Por outro lado, os underachievers
os aspectos motivacionais, as característi- se destacaram nas medidas de motivação
cas pessoais, as relações interpessoais e extrínseca, quando comparados aos su-
acadêmicas e os estilos de aprendizagem perdotados. Com relação ao gênero, os re-
de alunos superdotados e superdotados sultados sinalizaram diferenças significati-
underachievers. Investigar ainda possíveis vas a favor do gênero masculino quanto à
diferenças entre os alunos desses grupos, inteligência. Da mesma forma, as alunas
dos gêneros masculino e feminino, em obtiveram resultados superiores, quando
relação à inteligência, criatividade, mo- comparadas aos alunos, nas medidas de
tivação para aprender, autoconceito, de- criatividade verbal, motivação intrínseca
sempenho escolar e atitudes parentais. para aprender, autoconceito na dimensão
Participaram do estudo 96 alunos, sendo autoestima global e desempenho escolar
53 superdotados e 43 superdotados unde- na dimensão escrita. Interações significa-
rachievers. Utilizou-se um delineamento tivas entre grupo e gênero foram observa-
descritivo-comparativo e uma combina- das em relação à inteligência e autocon-
ção de instrumentos para acessar as variá- ceito nas dimensões competência escolar,
veis investigadas. Foram empregados tes- aceitação social e autoestima global. As
tes psicométricos de inteligência não ver- alunas superdotadas underachievers ob-
bal, de pensamento criativo verbal e figu- tiveram resultados inferiores em todas as
rativo e de desempenho acadêmico, bem medidas quando verificados os efeitos da
como aplicadas escalas de características interação grupo e gênero. Quanto às vari-
pessoais, acadêmicas e motivacionais, áveis relacionadas à família, não existem
estilos de aprendizagem, autoconceito e diferenças significativas no que tange às
atitudes parentais. A análise baseou-se atitudes parentais adotadas na educação
também nos dados colimados no Proto- de superdotados e superdotados undera-
colo de Investigação da Performance Aca- chievers. Alunos underachievers são invi-

172
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

síveis ao sistema de ensino e estão de, al- ciais posteriores. Nessa perspectiva, o
gum modo, excluídos dos processos edu- autismo é caracterizado por prejuízos bio-
cacionais. É imperativo que a sociedade se lógicos primários acarretando déficits nas
mobilize para criar alternativas alinhadas interações sociais. Esta pesquisa aborda o
com o movimento de educação inclusiva, transtorno autista que abrange um espec-
a fim de reverter essa realidade paradoxal. tro heterogêneo de quadros comporta-
mentais envolvendo desvios no desenvol-
Palavras-chave: Educação, Superdotação, vimento desde os primeiros anos de vida
Underachievement nas áreas de interação social, comunica-
Contato: Fernanda do Carmo Gonçalves, UnB, ção e imaginação. Inúmeras pesquisas são
fernandajfmg@yahoo.com.br realizadas e muitos aspectos permanecem
inconcludentes, sobretudo em relação à
etiologia, as possibilidades terapêuticas e
LT04-1036 - INCLUSÃO DE CRIANÇAS inserção em escolas regulares. A inclusão
AUTISTAS: UM ESTUDO SOBRE escolar dessas crianças é questionada por
CONCEPÇÕES E INTERAÇÕES NO alguns educadores devido aos prejuízos
CONTEXTO ESCOLAR inerentes às características da síndrome,
Emellyne Lima de Medeiros Dias Lemos - mas este trabalho se apóia em estudos
UFPB que admitem que embora seja uma prá-
emellyne@gmail.com tica difícil, é também realizável e possível,
Nádia Maria Ribeiro Salomão - UFPB considerando os benefícios das vivências
nmrs@uol.com.br escolares tanto em termos de interações
Financiamento: CNPq sociais quanto do desenvolvimento de
habilidades cognitivas nas crianças do
A interação social é de grande relevância espectro. A falta de clareza quando aos
no processo de desenvolvimento infantil benefícios da inclusão escolar dessas
entendendo que o sujeito, inserido em crianças traz implicações às concepções
um contexto histórico-social, é um ser sobre os indivíduos autistas. Nesse senti-
ativo em suas interações desde a mais do, destaca-se a importância de conhecer
tenra idade. Nesse processo destaca-se as concepções de pais e educadores visto
a importância do ambiente interpessoal que tais idéias apresentam implicações
para a aquisição de habilidades comu- nas práticas e nas interações estabeleci-
nicativas ressaltando a convivência com das com a criança. Dada à importância da
outras crianças, assim como o suporte do interação social e a influência dos contex-
adulto, uma vez que, sensível às necessi- tos situacionais e interacionais o presente
dades conversacionais da criança é capaz estudo tem como objetivos principais ana-
de adequar seu comportamento comu- lisar as interações sociais entre as crianças
nicativo às capacidades desta última. O com espectro autista e as demais crianças
presente estudo adota uma perspectiva nos contextos de escolas regulares con-
desenvolvimentista que concebe o desen- siderando a mediação das professoras,
volvimento típico a partir da articulação assim como, analisar as concepções dos
entre capacidades biológicas iniciais para pais e professores acerca da criança e do
o engajamento social e as interações so- processo de inclusão escolar com ela rea-

173
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lizado. Participaram deste estudo crianças mo, alguns abordando que as dificuldades
e professoras de duas escolas regulares na interação social diferiam de preferên-
particulares da cidade de João Pessoa - cia ao isolamento; satisfação com o pro-
PB; sendo analisadas duas turmas de uma cesso de inclusão escolar realizado com
escola e três de outra, totalizando cinco seus filhos e reconhecimento da impor-
professoras, como também cinco crianças tância do papel da família nesse processo.
com diagnóstico do espectro autista, com Outro aspecto foi que embora atribuíssem
idades variando entre 3 e 5 anos, de classe expectativas mais voltadas à socialização,
sócio-econômica média e seus respectivos a maioria enfatizou as diferentes habili-
pais. Para a coleta dos dados, foram uti- dades adquiridas pelos seus filhos após a
lizadas entrevistas semiestruturadas com entrada na escola. Quanto às professoras
os pais e professoras registradas através a maioria demonstrou estar reformulando
de um mini-gravador, como também, fo- suas concepções a partir das experiên-
ram realizadas duas filmagens em cada cias estabelecidas com estas crianças no
turma contemplando 20 minutos em cada cotidiano escolar, adotando concepções
uma das situações de pátio e sala de aula, que embora abordem as dificuldades das
dos quais foram transcritos e analisados crianças, partem de aspectos positivos
10 minutos. Com o objetivo de caracte- que envolvem as possibilidades e os re-
rizar as crianças deste estudo também sultados dos esforços dispensados com o
foi utilizada a escala de avaliação CARS trabalho de inclusão. No que diz respeito
(Childhood Autism Rating Scale). Quanto às interações estabelecidas no contexto
à análise dos dados, as entrevistas foram escolar foram observadas categorias de
transcritas e analisadas a partir da técnica comportamentos verbais e não verbais
de análise de conteúdo, as filmagens fo- em três áreas: comportamentos da crian-
ram transcritas e foram analisadas através ça com espectro autista, comportamentos
de categorias pós-formuladas tendo em da professora e comportamentos das de-
vista a bidirecionalidade nas interações mais crianças. Na primeira área emergi-
estabelecidas nos contextos escolares de ram as seguintes categorias e subcatego-
pátio e sala de aula, assim como, a parti- rias: Olhar, sendo este dirigido a pessoas,
cipação dos membros em termos de fre- ações ou objetos; Iniciativa, sendo esta
quência e duração do comportamento. Os dirigida a pessoas, ações ou a objetos;
resultados apresentados neste trabalho Resposta adequada; Interação passiva;
contemplam parte dos resultados da pes- Imitação; Demonstração de afeto; Sorriso;
quisa de dissertação de mestrado. Em re- Esquiva e Isolamento. Já na segunda área
lação à análise das verbalizações dos pais foram observadas as categorias: Mostrar;
das crianças com espectro autista, embo- Gesticular; Apoio físico; Modelo; Demons-
ra considerando apenas 5 participantes tração de afeto; Diretivos, sendo estes de
alguns aspectos foram encontrados, quais atenção, de instrução e de controle de
sejam: percepção dos filhos como crianças comportamento; Informação e Feedback.
carinhosas e afetuosas, atribuindo a difi- Por último, sobre os comportamentos das
culdade em comunicar-se como sendo a demais crianças emergiram as categorias:
principal característica de criança autista; Olhar; Iniciativa; Esquiva e Demonstração
relatos de dificuldades em definir autis- de afeto. Nos contextos de pátio foram

174
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

enfatizadas as brincadeiras sendo elas em “A lógica da inclusão na rede municipal de


conjunto ou isoladas. Resultados parciais ensino de amparo – estratégias de apoio
indicam a importância da mediação das para a construção da educação inclusi-
professoras, uma vez que as crianças au- va”. O objetivo é contribuir com a prática
tistas do presente estudo demonstraram e a compreensão de algumas das razões
se comportar, nos diferentes contextos, pelas quais é tão difícil saber como lidar
mais frequentemente em resposta a pro- e o que fazer quando temos alunos cujas
fessora ou a situação do que por imitação. características nos evidenciam a necessi-
Pretende-se com este estudo subsidiar dade de trabalhar com as diferenças nos
orientações a pais e profissionais princi- mais variados contextos do cotidiano de
palmente no que se refere à inclusão es- uma educação que se propõe a ser inclu-
colar de crianças autistas, tendo em vista siva. O Programa de Educação Inclusiva,
que as concepções podem influenciar os intitulado “A educação tem muitas faces -
comportamentos dos adultos, como tam- educando e aprendendo na diversidade”,
bém, os comportamentos dessas crianças tem como proposta o apoio aos profes-
podem ser influenciados considerando os sores, no qual consiste no levantamento
contextos interativos, a mediação do adul- de informações sobre o atendimento de
to e, sobretudo, as particularidades de diferentes casos nas escolas, buscando
cada criança. categorizar e caracterizá-los para o conhe-
cimento da realidade e encaminhamentos
Palavras-chave: Espectro autista, Concepções, pedagógicos e clínicos, encontros com
Inclusão profissionais da educação e saúde para
Contato: Emellyne Lima de Medeiros Dias discussão de dificuldades e indicações das
Lemos, UFPB, emellyne@gmail.com intervenções realizadas, levantamento de
propostas, orientações, encaminhamen-
LT04-1197 - A EDUCAÇÃO INCLUSIVA tos e registros. Segundo Sassaki (1998),
E O TRABALHO DAS ASSESSORIAS na escola inclusiva há colaboração e apoio
ESPECIALIZADAS mútuo entre professores, terapeutas e
Simone Cassiani - PM-Amparo consultores para se oferecer orientação
simonecassiani@uol.com.br na própria sala de aula em vez de retirar
Alessandra Rodrigues de Almeida - PM-Amparo alunos do horário de aula para desenvol-
Marisol Regina Pavani de Oliveira - PM-Amparo ver terapias no ambiente escolar, o que
seria muito inadequado, uma vez que a
A Rede Municipal de Ensino de Amparo escola não se confunde com a clínica, e o
vem desenvolvendo um trabalho em prol papel de cada profissional deve ser respei-
de uma educação inclusiva e de qualida- tado. O trabalho clínico deve ser realizado
de visando beneficiar a TODOS. Reconhe- fora do espaço escolar, com profissionais
cendo que a Constituição Federal de 1988 da saúde. Atualmente a Secretaria vem
garante a todos o direito à educação e o crescentemente investindo em formas de
acesso à escola (Art. 1º; 3º; 205; 206 e instrumentalizar os profissionais que atu-
208) e atendendo a esses princípios cons- am nas unidades escolares na perspectiva
titucionais, a Secretaria Municipal de Am- de qualificar o atendimento educacional e
paro, elaborou um documento intitulado, desenvolver uma prática de Educação In-

175
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

clusiva voltada a participação democrática do no processo de ensino e aprendiza-


de todos. Além de todo trabalho desen- gem de seus alunos de maneira integral
volvido pela SME, composto no documen- e inclusiva; b) os alunos são assistidos em
to do Programa, vimos nesse texto enfa- suas necessidades, tendo a possibilidade
tizar uma ação que tem sido de grande e oportunidade de desenvolver todas as
valia ao desenvolvimento dos alunos e à suas habilidades, de participar de todo
prática pedagógica dos professores, que é processo educativo da escola, sendo visto
o trabalho realizado pelas assessorias con- como seres com potencial para aprender;
tratadas pela SME para garantir o apoio e c) os pais estão mais conscientes e infor-
as orientações às unidades escolares e mados sobre as ações da rede e se sentin-
diretamente aos professores que aten- do participantes do processo escolar, va-
dem alunos com as diversas deficiências. lorizados e comprometidos com seu filho
A fim de desenvolver o reconhecimento e com todos da escola; d) a equipe escolar
e a valorização das diferenças humanas que está mais informada e comprometida
em todas as instâncias, minimizando os com todos da escola, não somente com
preconceitos e buscando garantir a imple- os alunos com necessidades educacio-
mentação de práticas inclusivas mais ade- nais especiais. Enfim, TODOS aprendem a
quadas, a qualificação e aprimoramento conviver e a serem pessoas melhores com
do atendimento educacional a todos os nossas diferenças. Em síntese, a inclusão
alunos, considerando suas diferenças, ca- escolar e em todos os âmbitos só ocorrerá
pacidades e ou limitações, e a competên- se TODOS alinharmos nosso leme em dire-
cia de todos os profissionais das escolas, ção ao acolhimento, compromisso com o
a Secretaria Municipal de Educação, dan- próximo, acreditando em sua capacidade,
do continuidade as ações do Programa “A competência e possibilidades, adotando
Educação tem muitas faces – Educando posturas e atitudes que não dê brechas
e aprendendo na diversidade”, vem in- para o surgimento de barreiras, conser-
vestindo desde 2006, na contratação de vadorismo, resistências e ou ações pre-
assessorias especializadas e consultorias conceituosas e ou excludentes que levam
para o desenvolvimento desse trabalho: ao impedimento da Inclusão. Precisamos
Assessoria em Gestão Inclusiva, LIBRAS e rever nossos papéis como cidadãos e as-
Comunicação Suplementar e Alternativa sumir nossa identidade em benefício do
(CSA); Assessoria em Fisioterapia, Psicolo- que acreditamos, numa sociedade mais
gia e Terapia Ocupacional, desempenhan- justa e Inclusiva para TODOS. A Secreta-
do atuação com todos os alunos matricu- ria Municipal de Educação está investindo
lados nas salas regulares e na orientação em ações que beneficiam não somente as
do trabalho do Atendimento Educacional pessoas do âmbito escolar, mas realizan-
Especializado da rede municipal de en- do ações interdisciplinares que envolvem
sino. Foram observados resultados que e sensibilizam toda a comunidade escolar
beneficiaram: a) os professores, que se e a sociedade, ou seja, TODOS nós, sem
sentem mais seguros, esclarecidos, in- exceção.
formados e valorizados, em sua prática e
qualificado para atuar com todos os alu- Palavras-chave: educação inclusiva,
nos com condições de trabalho, pensan- assessorias, saúde.

176
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1352 - CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA se o professor na condição de sujeito mais


DOCENTE PARA A INCLUSÃO DO ALUNO experimentado e no exercício de um pa-
COM NECESSIDADE EDUCACIONAL pel historicamente comprometido com
ESPECIAL EM TURMA REGULAR mudanças sociais, tem sustentado em sua
Noélia Martins dos Anjos - Unb prática ações que consolidam os pressu-
noeliamartins@ig.com.br postos da educação inclusiva, indo além
de garantias como a socialização e intera-
O trabalho pedagógico concretizado por ção, promovendo antes, a aprendizagem
uma de suas vertentes, o trabalho docen- escolar. Ao passo que a pesquisa se lançou
te, apresenta natureza dinâmica que deve pela elucidação dessa primeira proposta,
reunir teoria e prática como ferramenta moveram também essa investigação os se-
a ser utilizada, dentre outras coisas, no guintes objetivos específicos: conhecer as
desenvolvimento de habilidades sociais. concepções de ensino e de aprendizagem
Nesse sentido, e tendo o professor no es- que norteiam as práticas educacionais
paço escolar posição de sujeito mais ex- dos professores participantes; quais me-
periente e, portanto, mediador de novos didas são tomadas pelo docente no que
conhecimentos, o trabalho docente pode se refere à continuidade de sua formação
vir a ser uma das formas mais eficazes de inicial; quais relações estabelecidas en-
inclusão de alunos com deficiência no en- tre discurso e prática e finalmente como
sino regular. Ao desenvolver meu trabalho são compreendidas pelos professores as
como Pedagoga no Serviço Especializado contribuições de seu trabalho no que se
de Apoio à Aprendizagem - SEAA em uma refere ao desenvolvimento da aprendiza-
escola pública do Distrito Federal, observo gem escolar. Como pressupostos teóricos,
que os professores regentes que atuam no a pesquisa pautou-se nos trabalhos de:
ensino regular e que têm em suas classes Resende (2006), Pimenta (2006) e Dessen
alunos com necessidades educacionais es- e Polônia (2007) para abordagens acerca
peciais – ANEEs, diagnosticadas como de- do trabalho pedagógico e saberes da do-
ficiência apresentam dificuldade em com- cência. Sobre as concepções de ensino e
preender a inclusão deste aluno no ensino aprendizagem compreenderão os estudos
regular por meio do trabalho docente. A de Freire (1997), Tunes, Tacca e Mitjáns
partir dessa observação e para melhor Martinez (2006), Kassar (2006) e Vygotsky
compreensão dessa realidade, busquei (2003). Por fim, as considerações referen-
resposta à seguinte problemática: como as tes ao trabalho docente e educação inclu-
concepções de ensino e aprendizagem que siva apresentam embasamento nas avalia-
nutrem os educadores, bem como as prá- ções de Mantoan (2007), como também
ticas docentes aplicadas em sala de aula na legislação brasileira referente ao tema.
contribuem, ou não, com a inclusão dos A metodologia de pesquisa baseou-se nos
alunos com necessidades educacionais es- pressupostos da abordagem qualitativa,
peciais no ensino regular? Por isso, como cuja coleta de dados foi realizada por meio
objetivo geral de pesquisa, pretendi en- dos instrumentos de observação, questio-
tender de que forma o trabalho pedagógi- nário e entrevista semiestruturada aplica-
co docente pode tornar efetiva a inclusão dos junto aos professores de uma escola
de ANEEs no ensino regular, considerando pública dos anos iniciais do Ensino Funda-

177
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mental do Distrito Federal. O tratamento cias no processo de oferta e procura do


dos dados se deu de acordo os procedi- atendimento especializado, visto que a
mentos próprios do método qualitativo, própria rotina escolar e as incumbências
utilizando de análise interpretativa dos profissionais de cada função envolvida
resultados com vistas à produção de refle- podem ter tido influência significativa no
xão e contribuições para a prática docente afastamento observado entre as profes-
no lócus pesquisado. Dentre os resultados soras regentes e àquelas encarregadas
obtidos pela pesquisa a partir dos objeti- pelo apoio a ser oferecido. Finalmente, a
vos elencados, foi possível perceber que a última proposição a que se lançou esse
passagem do ANEE pela escola e o traba- trabalho foi a apuração de contribuições
lho dos profissionais envolvidos, colabora- do trabalho docente para a aprendizagem
ram para que, de alguma forma, esse alu- escolar. Conforme já sinalizado pela aná-
no experimentasse crescimento em algum lise da principal assertiva levantada pela
aspecto de seu desenvolvimento: tanto pesquisa, não se pode deixar de observar
na socialização, na convivência com seus diversos aportes ao processo de desenvol-
pares ou até mesmo vencendo expectati- vimento do ANEE, efetuados por meio do
vas negativas que são feitas a seu respei- trabalho docente. Porém, muito ainda há
to. Entretanto, verificou-se que dentre as que ser feito para que essas contribuições
concepções de ensino e de aprendizagem contemplem de forma integral a aprendi-
que embasam o trabalho docente, ainda zagem escolar que ainda encontra-se em
permanecem arraigadas na prática dos situação de desvantagem quando com-
professores pesquisados os pressupostos paradas a outras contribuições, que nem
de uma educação voltada para os resulta- sempre perpassam o fazer tipicamente
dos obtidos a partir da aprendizagem de docente e sua função precípua de promo-
conteúdos escolares sem fins específicos, ção dos aspectos que favoreçam a relação
não sendo abertamente defendidas medi- de ensino e de aprendizagem. Dessa for-
das de promoção de aprendizagem esco- ma, o que se pode arrematar de todo esse
lar que resultem na inclusão do ANEE no trabalho é a expectativa de que o investi-
universo dos saberes formais. Outro tópi- mento na formação inicial e contínua do
co proposto pela pesquisa foi a condução professor será o diferencial para que este
do processo de formação continuada e se pense e repense sua ação, não se confor-
esta contemplaria os pressupostos neces- mando com um saber, que ainda válido
sários ao trabalho com o ANEE. Observou- ao seu tempo, encontra-se ultrapassado
-se insuficiência na formação ao longo da e insuficiente para as demandas da edu-
carreira e na condição profissional que cação atual. Considera-se ainda que, para
vincula as professoras ao exercício do seu muitos, a aprendizagem escolar pode não
trabalho, tendo em vista dificuldades im- ser o principal objetivo de quem enfrenta
postas pelo sistema de ensino na seleção tantas adversidades provindas da condi-
dos profissionais para oferta de formação ção imposta pela deficiência, entretanto,
continuada e no processo de escolha de é esse o trabalho que deve ser desenvolvi-
turmas com ANEE que não tem sido con- do por professores e professoras, até para
duzido de forma criteriosa. Também, foi que não se sustente mais uma forma de
possível observar imprecisões e divergên- perpetuação da exclusão.

178
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: trabalho pedagógico, O ato de matar-se expressa, então, além


aprendizagem escolar, inclusão da impossibilidade de contenção do trau-
Contato: Noélia Martins dos Anjos, mático via representação simbólica, a
Universidade de Brasília, única via de descarga possível para uma
noeliamartins@ig.com.br demanda de trabalho para o qual o indi-
víduo não encontra recursos de media-
ção. Assim sendo, muitos desses atos se
CO 38 - LT06 apoiam na insuficiência de recursos men-
tais, na incapacidade de dar figurabilida-
Vulnerabilidades/risco de à dor psíquica. Com isso, deflagram-se
os fatores de risco psicossociais, de de-
senvolvimento, e os quadros psicopato-
LT06-866 - PROCURANDO A MORTE: O lógicos relacionados. Entre os primeiros
ZULLIGER NA AVALIAÇÃO DE PACIENTES destacam-se: nível socioeconômico e de
COM TENTATIVAS DE SUICÍDIO escolaridade baixos; dinâmica familiar
Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS disfuncional, traumas e perdas pessoais;
silvanalba@upf.br baixa autoestima, falta de controle da
Luana Gasparetto Fontanella - FHST, Erechim/RS impulsividade e da agressividade, humor
luluzinhagf@erechim.com.br lábil, precários recursos para o enfrenta-
mento de problemas, tentativas prévias
O suicídio está entre as 10 principais cau- e antecedentes na história familiar. Entre
sas de morte, no mundo, e entre as três as perturbações mentais mais evidentes
primeiras quando se considera a faixa estão os transtornos borderline, a es-
etária entre 15 e 35 anos. No Brasil, a quizofrenia, a dependência química e os
incidência tem aumentado, especialmen- quadros depressivos. Essas organizações
te, entre adolescentes e adultos jovens. permitem perceber que os atos suicidas
O Estado do Rio Grande do Sul registra podem ter motivações totalmente diver-
o maior coeficiente de suicídio no país sas, e que têm relação com rupturas em
- 9,88 casos/100.000 habitantes - com diferentes períodos do desenvolvimen-
maiores coeficientes de mortalidade en- to afetivo-emocional. Considerando ser
tre a população idosa (com mais de 70 esse um problema de saúde pública e a
anos de idade); porém, nos últimos anos, escassez de estudos com esses pacien-
há elevação nas faixas mais jovens, en- tes que, frequentemente, encontram-se
tre 20 e 59 anos. A tentativa de suicídio nas emergências dos hospitais e, em sua
pode ser considerada como uma reação maioria, sobrevivem às tentativas de seus
frente à ação do traumático que, pela atos lesivos, há necessidade de se verifi-
força do irrepresentável, leva o indivíduo car a validade de instrumentos eficientes
ao ato de tentar dar fim à própria vida. e rápidos de avaliação psicológica, para
Algumas dessas situações são resultan- que possam auxiliar na compreensão
tes de contextos nos quais o sujeito se vê da estrutura e da dinâmica psíquica dos
acometido por um excesso, mostrando- mesmos. Com esse propósito, o presente
-se incapaz de processar e metabolizar a estudo buscou investigar as característi-
tensão (trauma/excesso) psiquicamente. cas de personalidade de pacientes com

179
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

várias tentativas de suicídio, os fatores de tem três filhos: duas meninas, uma de 14
risco relacionados e a validade do Zulliger e outra de 27 anos de idade e um meni-
nesse contexto. Foram participantes duas no, de 18 anos. A baixa hospitalar deu-se
mulheres, de 41 e 47 anos de idade, di- pelo consumo de 18 comprimidos de dia-
vorciadas, uma auxiliar de serviços gerais zepam, sua quarta tentativa de suicídio,
e outra de indústria, com ensino funda- sendo uma anterior ao tentar atirar-se
mental e médio, respectivamente. Utili- do quarto andar de um prédio. O início
zaram-se como critérios de inclusão: (a) desses episódios foi relacionado com o
tentativas de suicídio anteriores; (b) hos- excesso de trabalho, quando também co-
pitalização em decorrência da tentativa meçou a apresentar sintomas psicóticos.
de suicídio, por um período de no mínimo Dados da família de origem revelaram a
três dias; (c) não fazer uso de medicações presença de irmãos usuários de drogas,
que pudessem interferir na fidedignidade sendo um deles morto por overdose, e
dos achados. Como instrumentos utiliza- de morte por suicídio nos dois avôs, tanto
ram-se a entrevista clínica semiestrutura por parte de pai quanto de mãe. O Caso
e o teste Zulliger no Sistema Compreensi- “B” pensa em se matar porque não tem
vo ZSC. Os dados foram analisados quanti outra opção; além de querer morrer quer
e qualitativamente, trazendo elementos matar seus filhos. A análise comparativa
sobre a leitura da realidade, defesas psi- dos protocolos de entrevista permitiu ve-
cológicas, autopercepção, percepção in- rificar que ambas as pacientes apresen-
terpessoal e história de vida. A entrevista taram cinco tentativas de suicídio cada
semiestruturada revelou que o Caso “A”, uma, sobretudo pela ingestão de medi-
de 41 anos, é divorciada, mas vive, atual- camentos; possuíam, em seu desenvol-
mente, com um companheiro; é mãe de vimento, histórico familiar disfuncional
um menino de 15 anos e de uma menina e de perdas traumáticas; foram diagnos-
de 25 anos. A baixa hospitalar deu-se pela ticadas com transtorno de personalida-
intoxicação por ingestão de 20 comprimi- de borderline e participam de grupos de
dos de carbamazepina e de amitriptilina, atendimento psicoterápico individual em
sendo sua terceira tentativa de suicídio ambulatório de saúde mental. A inter-
por consumo de medicamentos. As duas pretação dos protocolos do ZSC, por sua
tentativas anteriores foram: uma aos 20 vez, possibilitou confirmar a história do
anos de idade, por ingerir veneno, oca- desenvolvimento pessoal por meio dos
sião em que começou a sentir vontade de dados de personalidade e a identificar
se matar e, a outra, quando tentou cortar prejuízos na apreensão da realidade, de si
os pulsos por sua perícia ter sido negada. mesmo, do outro e nas interações sociais,
O início desses episódios foi relacionado por meio de atribuições de aspectos sub-
com a morte de seus dois irmãos, que fo- jetivos, distorcidos e falhos. Os dois casos
ram assassinados com tiro na cabeça. O apresentaram dificuldades de controle
Caso “A” pensa em se matar porque acre- emocional, impulsividade, instabilidade
dita que irá para um lugar melhor, mas, nos relacionamentos e isolamento. Esses
ao mesmo tempo em que quer morrer, resultados podem ser úteis para ampliar
quer melhorar para cuidar de seu neto. a compreensão de pacientes com tenta-
O Caso “B”, de 47 anos, é divorciada e tivas de suicídio, para predizer as possi-

180
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bilidades de novas ocorrências e, ainda, brenner, 1996), a Psicologia Positiva e o


para direcionar programas de tratamen- conceito de Resiliência (Paludo & Koller,
tos mais eficientes e adequados. Além 2006, 2007; Yunes, 2006). Nesse senti-
disso, conclui-se que o ZSC pode ser útil do, os pressupostos teóricos subjacentes
em contextos de avaliação clinica e hospi- possibilitam uma melhor compreensão
talar, respeitando-se as limitações de seu do desenvolvimento humano, sobretudo,
emprego. no que se refere a crianças e adolescen-
tes expostos a situações de vulnerabilida-
Palavras-chave: teste Zulliger, tentativa de de psicossocial, uma vez que possibilitam
suicídio, fatores de risco investigar os efeitos dos fatores de risco e
Contato: Silvana Alba Scortegagna, UPF/RS, de proteção no desenvolvimento infanto-
silvanalba@upf.br -juvenil. A Teoria Bioecológica do Desen-
volvimento Humano enfatiza a necessi-
dade de uma melhor compreensão das
LT06-873 - ADOLESCÊNCIA, características do contexto, da pessoa,
VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA: dos processos envolvidos e do tempo no
AVALIAÇÃO DE FATORES DE PROTEÇÃO desenvolvimento humano. A Psicologia
EM UMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES Positiva é uma nova sub-área, dentro da
NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL Psicologia, que busca investigar os aspec-
Jeane Lessinger Borges - SETREM tos positivos do desenvolvimento do ser
www.setrem.com.br ou humano, fortalecendo as potencialidades
jeanepsico@yahoo.com.br e a saúde do sujeito em desenvolvimen-
Sara Eduarda Pires - SETREM to (Assis, Pesce, & Avanci, 2006; Yunes,
www.setrem.com.br ou 2006). Um constructo teórico importante
saraeduardapires@yahoo.com.br da Psicologia Positiva se refere ao de resi-
liência, que pode ser compreendido como
Este trabalho apresenta os resultados de a capacidade do indivíduo de superar as
uma pesquisa sobre a presença de fatores situações de adversidades. Atualmente¸
de proteção, associados a variáveis indivi- a resiliência vem sendo considerada não
duais e do contexto familiar e escolar, em como um evento isolado e de caráter indi-
uma amostra de adolescentes em situa- vidualizado, mas, sim, como um processo
ção de vulnerabilidade psicossocial. Este dinâmico e abrangente incluindo, além da
estudo foi realizado ao longo do primeiro pessoa, o contexto familiar (Yunes, 2003).
semestre de 2011, durante a etapa inicial Nesse sentido, uma maior compreensão
da prática de estágio curricular da se- da presença de fatores de proteção no
gunda autora, sob orientação da primei- contexto familiar e escolar, bem como de
ra autora, junto a adolescentes que fre- características individuais - por exemplo,
quentavam uma escola pública de tempo autoestima e satisfação de vida - na me-
integral, localizada num município da Re- diação do impacto dos fatores de risco
gião Noroeste, no interior do Rio Grande presentes no desenvolvimento de adoles-
do Sul. Os aspectos teóricos norteadores centes, se tornou o foco de atenção desta
deste estudo são a Teoria Bioecológica pesquisa. A interação entre risco e prote-
do Desenvolvimento Humano (Bronfen- ção necessita ser melhor investigada, a

181
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fim de se compreender como estes inter- maioria, pelo modelo nuclear (65%), em-
ferem na resiliência de adolescentes. Para bora 17,5% vivessem numa família mono-
tanto, foram entrevistados 40 adolescen- parental, chefiada pela figura da mãe. O
tes (52,5% meninos e 47,5% meninas), relacionamento com os pais foi avaliado
com idades entre 11 a 17 anos (M=12,97; de forma positiva (70,7%), sendo que mo-
DP=1,10), residentes na área urbana e nitoramento (63,4%), afeto (56,1%) e es-
periférica de um município gaúcho ca- tabelecimento de regras (61%) foram ava-
racterizado, eminentemente, pela agri- liados pelos adolescentes como aspectos
cultura familiar. Os adolescentes foram importantes na relação pais-filhos. Os
convidados a participarem da pesquisa, relacionamentos com amigos e professo-
tendo sido autorizados por seus pais, que res também foi avaliado de forma positi-
assinaram o Termo de Consentimento Li- va (78,0% e 56,1%, respectivamente). Em
vre e Esclarecido. Foi aplicado um Ques- relação às estratégias de enfrentamento
tionário com 16 questões estruturadas, utilizadas pelos adolescentes frente às
sobre variáveis individuais e do contexto situações adversas, os itens “continuar
familiar e escolar, que pudessem estar tentando resolver o problema” (75,6%),
associadas à resiliência. Este questionário “acreditar em si mesmo frente às dificul-
foi elaborado a partir dos dados de Assis dades que a vida lhe apresenta” (48,8%)
et al. (2006) e aplicado de forma coletiva. e “pedir ajuda a alguém” (46,3%) foram
Os dados foram tabulados e analisados no os mais citados pelos adolescentes en-
programa SPSS versão 13.0. Foram reali- trevistados. Nesse sentido, os resultados
zadas análises estatísticas descritivas e de apontam que, apesar da presença de fa-
frequência simples, bem como cálculo de tores de risco ao desenvolvimento destes
correlação de Spearman. Os resultados adolescentes, sobretudo pela exposição
apontaram que a trajetória de vida des- a eventos estressores, os participantes
tes adolescentes foi caracterizada pela apresentaram boa autoestima e elevada
exposição a eventos estressores (56,1%), satisfação de vida. Observou-se, ainda,
incluindo separação dos pais, morte de um predomínio de estratégias de enfren-
um ente querido, uso de drogas por um tamento adaptativas por parte dos ado-
familiar e violência doméstica. Os parti- lescentes frente a situações adversas. A
cipantes relataram vivenciar algum sofri- presença de fatores de proteção na famí-
mento psíquico frente a estas diferentes lia e no contexto comunitário (grupo de
situações adversas (41,5%). No entanto, pares e escola) pode ser considerada uma
estes adolescentes se percebiam como variável importante para o processo de
tendo uma autoestima alta (58,5%) e uma resiliência. Conclui-se que uma maior in-
elevada satisfação de vida (82,9%), além vestigação da interação de características
de terem planos para o futuro (82,9%). individuais e do contexto de desenvolvi-
Foi encontrada uma correlação positiva mento do adolescente podem dar subsí-
entre alta autoestima e monitoramento dios para os estudos sobre resiliência em
parental (r=.50; p<0,01), bem como entre jovens, na tentativa de potencializar os
satisfação de vida e relacionamento com aspectos saudáveis destes indivíduos e de
os pais (r=.64; p<0,01). A família destes sua capacidade de superação das dificul-
adolescentes caracterizava-se, em sua dades e adversidades da vida.

182
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: infância, vulnerabilidade, do sexo feminino e tinham, em média,


resiliência 15,53 anos (SD = 1,12). Foram utilizados
Contato: Jeane Lessinger Borges, Faculdade os seguintes instrumentos: (a) Inventá-
Três de Maio/SETREM, rio de Eventos Estressores (para avaliar
jeanepsico@yahoo.com.br os fatores de risco), (b) Mapa dos Cinco
Campos (para avaliar a rede de apoio –
número de contatos e fator de proximi-
LT06-898 - REDE DE APOIO, EVENTOS dade) e (c) um bloco de instrumentos que
ESTRESSORES E AJUSTAMENTO NA compôs o Índice Geral de Ajustamento
VIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES (Checklist de Sintomas Físicos, Escala so-
EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE bre o Uso de Drogas, Escore de Risco para
SOCIAL Comportamento Suicida, Índice Geral de
Normanda Araujo de Morais - UFRGS Comportamento Sexual de Risco e a Es-
normandaaraujo@gmail.com cala de Afeto Positivo e Negativo). Houve
Marcela Raffaelli - UIUC diferença estatisticamente significativa
mraffael@illinois.edu entre os grupos, sendo que o de base-rua
Silvia Helena Koller - UFRGS (G1) apresentou maior média de eventos
silvia.koller@gmail.com estressores e valores de impacto e pior in-
dicador geral de mau ajustamento, com-
Este trabalho tem como objetivo: (a) parado ao grupo de base-familiar (G2). A
descrever e comparar dois grupos de comparação das médias entre os grupos
adolescentes em situação de vulnerabi- também mostrou diferença estatistica-
lidade social - um grupo em situação de mente significativa na variável “rede de
rua e um grupo que vive com sua família apoio”. G1 apresentou maior número de
- quanto ao número e impacto dos even- contatos no campo “instituição”; maior
tos estressores, à sua rede de apoio social fator de proximidade total e no campo
e afetiva, e ao indicador geral de ajusta- “amigos/vizinhos e parentes”, quando
mento; e (b) verificar se as características comparado a G2. Uma ANOVA fatorial do
da rede de apoio (tamanho e qualidade) tipo 2 (alto vs. baixo nível de proximida-
moderaram o efeito do número e impac- de familiar) x 2 (alto vs. baixo número de
to dos eventos estressores sobre o índi- eventos estressores), em que o nível de
ce geral de ajustamento. Trata-se de um ajustamento representou a variável de-
estudo transversal, que foi realizado com pendente, revelou efeitos principais sig-
98 crianças/adolescentes, em dois gru- nificativos tanto para a proximidade fami-
pos: aqueles que vivem em situação de liar quanto para os eventos estressores.
rua (n=32; 32,7%) e os que moram com Foi encontrado um efeito de interação
suas famílias e frequentam uma institui- significativo entre estas duas variáveis.
ção para jovens em situação de vulnera- A descrição gráfica dessa interação mos-
bilidade social (n=66; 67,3%). No grupo trou que houve moderação da proximi-
de base-rua (G1), a maioria (n=27; 84,4%) dade familiar, no nível de ajustamento de
era do sexo masculino, com idade média indivíduos que vivenciavam alto nível de
de 14,69 anos (SD = 1,85). Já no grupo eventos estressores. Ou seja, na presença
com base-familiar (G2), 38 (57,6%) eram de um alto nível de proximidade familiar,

183
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o impacto de eventos estressores sobre o de que programas e políticas públicas


ajustamento foi menor do que quando o com foco no indivíduo tendem ao fracas-
nível de proximidade familiar era baixo. so, assim como intervenções pontuais,
Os resultados do presente estudo corro- compensatórias e assistencialistas. Tão
boram, empiricamente, a importância da importante quanto o suprimento de con-
“proximidade” familiar como um fator de dições materiais e econômicas às famílias
proteção na vida de adolescentes que vi- é a existência de programas sociais que
vem em situação de vulnerabilidade so- visem um acompanhamento mais siste-
cial. Mais especificamente, sobre a vida mático destas. Embora a miserabilidade
daqueles/as que estão submetidos a um econômica seja considerada um dos fato-
maior número de eventos estressores. res que mais contribuem para a fragilida-
Nenhum estudo que testava a associação de dos vínculos familiares, isso não signi-
entre rede de apoio e ajustamento, a par- fica dizer que o problema será resolvido,
tir do Mapa dos Cinco Campos, foi identi- quando as famílias receberem apenas o
ficado até então. Quase sempre, as pes- apoio financeiro necessário. Ao contrário,
quisas que utilizam esse instrumento o as propostas assistencialistas vigentes,
fazem para descrever as características da até então, apenas reforçam a percepção
rede de apoio dos participantes. A utiliza- dessas famílias como incapazes e desqua-
ção deste instrumento com adolescentes lificadas para o cuidado de seus filhos.
em situação de vulnerabilidade social (na Urge uma nova concepção de família, a
rua ou na família) mostrou-se apropria- qual esteja baseada não apenas nas suas
do, pela riqueza de dados produzidos e vulnerabilidades e fragilidades, mas, que
pelo aspecto lúdico e terapêutico que sua as reconheça, também, em suas próprias
aplicação possibilita. Durante a aplicação potencialidades e recursos, e que atue
do Mapa, foi frequente a expressão de fortalecendo-as.
sentimentos e relatos de vida que, talvez,
demorassem mais tempo para serem ex- Palavras-chave: rede de apoio, família,
pressos, caso apenas a entrevista tivesse vulnerabilidade social
sido utilizada. À luz desses resultados, Contato: Normanda Araujo de Morais, UFRGS,
confirma-se a necessidade de progra- normandaaraujo@gmail.com
mas e políticas sociais que tenham a fa-
mília como foco de atenção e interesse.
A retomada da família como referência
das políticas públicas é justificada como
a estratégia mais adequada (ao lado das
intervenções sociais tradicionais – saúde,
educação, habitação, renda, etc.) para o
desenvolvimento de programas sociais
efetivos de enfrentamento das diversas
situações que implicam em vulnerabilida-
de social (tais como, pobreza, violência,
situação de rua etc.). Além disso, o foco
na família está relacionado com a visão

184
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-1015 - DESENVOLVIMENTO EM de atenção à criança e ao adolescente


RISCO: RELATO DE INTERVENÇÃO em situação de risco se deparam com
PSICOLÓGICA JUNTO A CRANÇAS E mais desafios na busca de melhorar as
ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE precárias condições de vida em que estas
RISCO. UMA EXPERIÊNCIA DE EXTENSÃO se encontram vivendo, muitas vezes, em
UNIVERSITÁRIA um cotidiano de situações extremas de
Emily Souza Gaião - UEPB exclusão social, no qual os direitos asse-
emilygaiao@gmail.com gurados no Estatuto da Criança e do Ado-
Luciano Edgley dos Santos - UEPB lescente não são respeitados (ECA, 1990).
lucianoedgley@gmail.com São consideradas em situação de risco as
Lívia Sales Cirilo - UEPB crianças e adolescentes que apresentam
liviasalesc@gmail.com um atraso no desenvolvimento esperado
Ana Karine Gonçalves dos Santos - UEPB para a sua faixa etária, de acordo com a
anakikags@hotmail.com cultura em que se encontram (Bandeira et
Aline Ribeiro - UEPB al., 1996). Hutz e Koller (1996) classificam
aline_ribeiro15@hotmail.com tais situações em três categorias: risco
Ana Karoliny da Silva Carolino - UEPB físico (doenças genéticas ou adquiridas,
ak-karoliny@hotmail.com prematuridade, problemas de nutrição,
Clarissa Loureiro das Chagas Campêlo - UEPB entre outros); risco social (exposição a
clarissalcc@hotmail.com ambiente violento, a drogas) ou risco psi-
Gabriella Cézar dos Santos - UEPB cológico (efeitos de abuso, negligência ou
gabriellacezar@hotmail.com exploração), podendo, ainda, terem como
Johanna Sales Pereira - UEPB causa fatores externos (relacionados com
iohanninha@hotmail.com condições ambientais adversas) ou inter-
nos (relacionados a comportamentos que
No Brasil, assim como em outros países, acentuem a possibilidade de conseqüên-
a pobreza ainda é um traço marcante na cias adversas para o desenvolvimento do
sociedade, como resultado da má distri- indivíduo). Esta situação de risco acaba se
buição de renda. As dificuldades advindas traduzindo por dificuldades na freqüência
desse fato podem comprometer o desen- e no aproveitamento escolar; nas con-
volvimento de crianças e jovens brasilei- dições de saúde, de forma geral; e nas
ros menos favorecidos economicamente, relações afetivas, consigo mesmo, com
por dificultar o acesso a diversos tipos de sua família e com o mundo, tendo como
informações levando-os, em muitos casos, conseqüências a exposição a um circuito
a começar a trabalhar precocemente, re- de sociabilidade marcado pela violência,
duzindo suas potencialidades e os expon- pelo uso de drogas e pelos conflitos com
do a situações delicadas de violência físi- a lei. Muitas vezes, estas experiências de
ca e psicológica, desestruturação familiar, vida facilitam dinâmicas expulsivas da fa-
uso de drogas (lícitas ou ilícitas), abuso e mília nuclear e da casa, e o ingresso no
exploração sexual, comportamento sexu- circuito da rua e das instituições de abri-
al promíscuo, relações sexuais desprote- gamento. Nos casos em que as situações
gidas, ausência de referência apropriada, de risco são detectadas por órgãos públi-
entre outros. Cada vez mais, as políticas cos como a Vara da Infância e Juventude

185
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ou Conselho Tutelar, geralmente, as crian- Os encontros foram realizados quinzenal-


ças são transferidas para abrigos; em ou- mente, durante o período de um ano. De
tros casos, faz-se um acordo com a família modo intercalado às intervenções, os en-
para que a criança possa estar assegura- contros com as meninas eram avaliados e
da. Um dos aspectos mais observados em os resultados eram discutidos pelo grupo
crianças que adentram nos abrigos é a si- de extensão, possibilitando a elaboração
tuação de abandono que, algumas vezes, de novas atividades para o encontro se-
são encontradas em situação desumana. guinte. Nas oficinas foram trabalhadas
Entretanto, de acordo com Hutz e Koller temáticas como sexualidade, violência na
(1996), os estudos relacionados ao desen- sociedade, relações familiares, violência
volvimento de crianças e jovens tendem doméstica e outros, em dinâmicas de gru-
a focar no desenvolvimento de crianças po, rodas de conversa, grupos de escuta,
brancas da classe média de nossa socie- a partir das sugestões advindas das parti-
dade, fato que se torna mais grave devido cipantes. Os relatos que refletiam uma di-
ao fato de que, apesar do grande número nâmica familiar conturbada, ausência de
de problemas sociais que o país enfrenta, orientação, atos de violência e compor-
os estudos em Psicologia sobre indivíduos tamento sexual não adequado estiveram
expostos aos riscos provocados por estes presentes durante as atividades realiza-
problemas têm merecido pouca atenção das. Os encontros se mostraram impor-
(Hutz & Koller, 1996). O déficit de estu- tantes para o desenvolvimento das meni-
dos nessa temática deixa à deriva essa nas, primeiramente, por terem propiciado
população, tão necessitada de atenção momentos de convívio de maior proximi-
e de cuidados. Uma das ferramentas que dade entre elas, uma vez que a convivên-
as universidades possuem para intervir cia com pessoas da mesma idade, princi-
sobre os problemas sociais é a extensão palmente, quando em relação de amiza-
universitária, que visa contribuir para a de, oferece grandes experiências e contri-
viabilização e fortalecimento da relação buições para o desenvolvimento. Moreno
universidade-sociedade. Objetivando au- (2004) assinala estas contribuições como
xiliar na redução das conseqüências das claramente distintas das proporcionadas
situações de risco ao desenvolvimento pelas relações de parentesco. Ainda de
de crianças e adolescentes usuários da acordo com o autor, o contato com iguais
Organização Não Governamental (ONG) permite ao indivíduo situações de apren-
“Menina Feliz”, residentes em bairros de dizagem ao refletir sobre si mesmo, tecer
periferia da cidade de Campina Grande- considerações do eu a partir da perspec-
-Paraíba, foram realizadas oficinas temáti- tiva do outro, compartilhar experiências
cas e terapêuticas por graduandos do cur- e desenvolver suas competências sociais.
so de Psicologia, como atividade do com- Apesar da resistência em falar sobre os
ponente curricular “Extensão II”, presente temas propostos, algumas participan-
na grade curricular do curso de Psicologia tes abordaram as situações de violência
da Universidade Estadual da Paraíba. O vividas, demonstraram curiosidade em
público atendido por essa atividade era questões de ordem sexual, enfatizando a
de meninas com idades entre 6 e 16 anos, necessidade de realização constante de
de duas unidades da ONG “Menina Feliz”. oficinas de expressão e grupos de escuta,

186
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para que tivessem um espaço para elabo- blematização sobre as possibilidades da


rar seus sentimentos diante das situações práxis “psi” no serviço de proteção social
vivenciadas. Faz-se necessário que essas básica, lócus imprescindível para a pro-
crianças em situação de risco continuem moção do desenvolvimento humano e
sendo acompanhadas através de outros comunitário. A noção de desenvolvimento
projetos de extensão; que as políticas go- humano e comunitário, dentro da política
vernamentais se tornem mais eficazes em de Assistência Social, nos parece um pro-
relação às possibilidades de acompanha- blema que exige atenção e requer apro-
mento, através dos órgãos competentes fundamento teórico, tanto na perspectiva
e que os profissionais possuam um olhar das leis que regem a política de assistência
mais atento, com o objetivo de minimizar social, quanto na perspectiva das possibili-
as conseqüências que podem ser geradas dades de atuação da Psicologia que se faz
pelas situações difíceis, enfrentadas por no cotidiano em movimento. Diante disso
essas crianças. buscamos sistematizar, neste documento,
os conceitos de desenvolvimento humano
Palavras-chave: desenvolvimento, situação de e comunitário; problematizar esses concei-
risco, extensão universitária tos, dentro da política pública de assistên-
Contato: Emily Souza Gaião, UEPB, cia social; e refletir acerca de sua compre-
emilygaiao@gmail.com ensão e importância na práxis do psicólogo
no contexto social e político atual. Como
referência teórica, partimos de Vygostky,
LT06-1018 - DESENVOLVIMENTO entendendo que estudar o desenvolvi-
HUMANO E COMUNITÁRIO MEDIADO mento é estudar o movimento - por isso
PELO SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL a perspectiva histórica – e estudar as rela-
BÁSICA: REFLEXÕES TEÓRICAS ções – por isso a perspectiva social, enxer-
SOBRE PERSPECTIVAS E ATUAÇÃO DA gando o sujeito como interativo, por con-
PSICOLOGIA. ta de uma aprendizagem que se dá pelas
Alexsandra Maria Sousa Silva - UFC suas relações intra e interpessoais de troca
alelexsandra@yahoo.com.br com o meio social. Para Leontiev (1978), a
Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC consciência humana diferencia a realidade
naradiogo@hotmail.com de seu reflexo, o que permite diferenciar
o mundo das impressões, possibilitando o
A presente pesquisa nasce da interface da desenvolvimento da capacidade de auto-
Psicologia do Desenvolvimento e da Psi- -observação. Afirmamos, com isto, que ter
cologia Comunitária. Pergunta-se sobre o consciência de alguma coisa é distinguir
lugar da Psicologia no serviço de Proteção o reflexo entre esta coisa e como este re-
Social Básica, examinando teoricamente flexo se dá em meio à realidade, atentan-
e analisando a noção de desenvolvimen- do para como se dá o desenvolvimento
to humano e comunitário, propostas pela humano, a partir dessa (auto)percepção.
Política Nacional da Assistência Social, à Por desenvolvimento comunitário consi-
luz da Teoria Sócio-histórica e da Psicolo- deramos que, hoje, se fale nessa compre-
gia Comunitária. Experiências de extensão ensão atrelada à formação de lideranças
e estágio em Psicologia instigam a pro- locais e à participação comunitária onde,

187
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

através de vínculos afetivos, cooperação e Assistência Social, a Proteção Social Bási-


solidariedade, os moradores-sujeitos tor- ca se assume com o objetivo de atuar no
nam-se responsáveis pela construção de sentido de “prevenir situações de risco por
sua história coletiva. A isso se relaciona o meio do desenvolvimento de potenciali-
conceito de sujeito da comunidade (Góis, dades e aquisições, e o fortalecimento de
2008), como sendo aquele que, saindo do vínculos familiares e comunitários” (PNAS,
véu da submissão e implicado com a rea- p. 27). Dando-se conta de que a Política de
lidade que lhe afeta, compreende melhor Assistência Social, em nível de Proteção
o modo de vida de sua comunidade e de Social Básica, se constrói no sentido da
si mesmo, enxergando seu valor e poder, prevenção, pode-se perceber que o exercí-
para descobrir-se e desenvolver-se. É vá- cio da atividade comunitária tende a levar
lido, ainda, esclarecer a diferença entre o sujeito a um caminho para além, que é
desenvolvimento comunitário e desen- o da promoção do desenvolvimento e da
volvimento da comunidade, uma vez que autonomia e, portanto, a cidadania. Sendo
este último refere-se a ações mais intensas assim, a concepção de desenvolvimento
de agentes externos e não propriamente humano e comunitário, dentro da PNAS,
ações nascidas do potencial comunitário, busca afastar-se da concepção assistencia-
de comum acordo com o agente externo. lista através da promoção da autonomia,
E perpassando uma dimensão histórica de definindo-se como o desenvolvimento de
como a Psicologia foi adentrando o campo potencialidades e fortalecimento dos vín-
da assistência, afirma-se que o trabalho do culos familiares, e compreendendo o sujei-
psicólogo é priorizar as potencialidades e, to numa dimensão histórico-cultural, con-
assim, é percebida a sua importância para siderando a participação social, a cidadania
a superação do viés assistencialista, bem e o desenvolvimento que se dá ao longo de
como para re-inventar uma práxis capaz toda a vida. Além do que, compreender o
de promover o protagonismo e a auto- ser humano fundando, epistemológica e
nomia, tanto individual quanto coletiva, metodologicamente, no materialismo his-
da família e da comunidade. O CREPOP tórico e dialético, como concebe a teoria
(2007) compreende que “a capacidade sócio-histórica, dá possibilidades ao psicó-
de enfrentamento das situações da vida é logo de apreender os fenômenos humanos
afetada pelas experiências, condições de e sociais na sua mais concreta forma de
vida e significados construídos ao longo existir e se manifestar, favorecendo uma
do processo de desenvolvimento” (p. 17). compreensão contextualizada com a reali-
Esta percepção é consoante com o ideal do dade que nos encharca, transitando entre
psicólogo, de ser um dos responsáveis pela as dimensões que são pessoais, familiares,
facilitação do processo de transformação comunitárias (e, portanto, sociais). Assim,
social. Dessa forma, se pode enxergar a a práxis do Psicólogo perpassa a facilita-
importância a ser dada a compreensão ção humana e comunitária, que pode se
que esses profissionais têm, diante de sua dar pela compreensão de ir aonde o povo
atuação, sobre o que é desenvolvimento está, nas ruas e nas comunidades. Além
humano e comunitário. Utilizamo-nos da disso, atentamos para a atuação conjunta
pesquisa qualitativa e, como guia, da pes- das tantas políticas públicas. Concluímos
quisa bibliográfica. Na Política Nacional de com o compromisso da Psicologia de de-

188
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nunciar e anunciar novas possibilidades de social, à história familiar e à declaração de


se sentir, perceber e transformar a realida- intenções. Com o objetivo de investigar ca-
de, pela via do desenvolvimento humano racterísticas de personalidade de pacien-
e comunitário. tes que cometeram tentativa de suicídio,
foram avaliadas 4 mulheres, com idades
Palavras-chave: desenvolvimento humano, entre 29 e 47 anos, usuárias do SUS, que
desenvolvimento comunitário, proteção social se encontravam internadas em um hospi-
básica tal geral por tentativas de suicídio. As par-
Contato: Alexsandra Maria Sousa Silva, ticipantes – denominadas, simbolicamen-
Universidade Federal do Ceará/campus Sobral, te, de Rosa, Orquídea, Bromélia e Hortên-
alelexsandra@yahoo.com.br cia - eram casadas, tinham filhos, possuí-
am diferentes níveis de escolaridade, não
exerciam atividades profissionais, estavam
LT06-1248 - TENTATIVA DE SUICÍDIO E AS sob auxílio doença e tinham histórico de
CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE transtorno mental na família. Como cri-
POR MEIO DO HTP térios de inclusão, consideraram-se: (a)
Luana Gasparetto Fontanella - FHST, tentativas de suicídio anteriores; (b) hos-
Erechim/RS pitalização em decorrência da tentativa de
luluzinhagf@erechim.com.br suicídio, em um período de no mínimo 3
Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS dias, para haver estabilização do quadro
silvanalba@upf.br clínico; (c) não fazer uso de medicações
que pudessem interferir na fidedignidade
O suicídio está entre as 10 principais causas dos relatos da entrevista e do teste psico-
de morte no mundo. No Brasil, a incidência lógico. Como instrumentos, foram utiliza-
tem aumentado e o Estado do Rio Grande dos a entrevista clínica semiestrutura com
do Sul registra o maior coeficiente de mor- as pacientes e os familiares, e o teste HTP.
te por suicídio do país. Entre os principais Os resultados da entrevista revelaram que
fatores de risco relacionados destacam-se: Rosa teve baixa hospitalar devido à tenta-
os níveis socioeconômicos e de educação tiva de enforcamento (amarrou uma corda
baixos; os problemas com o funcionamen- no suporte da televisão e uma na maça-
to da família (dinâmica familiar conturba- neta da porta, subiu num banquinho e se
da); as relações sociais e os sistemas de atirou); fez uso de drogas e medicamentos
apoio precários; as perdas traumáticas; as (clorpromazina, tegretol e haldol) antes da
perturbações mentais como depressão, tentativa; após ser atendida no hospital, a
perturbações da personalidade, esquizo- mesma quis ir embora e seu marido assi-
frenia e abuso de álcool e outras substân- nou o termo de responsabilidade. O ma-
cias; a baixa autoestima; a falta de contro- rido fotografou o episódio, após terem-na
le da impulsividade e os comportamentos encontrado, para que ela pudesse ver e,
autodestrutivos; a labilidade do humor; e quem sabe, se sensibilizar e mudar. Já teve
a inabilidade para gerenciar e enfrentar internação em clínicas para dependentes
os problemas. Outros fatores associados químicos, onde, também, teve tentativa
ao suicídio dizem respeito às tentativas de suicídio devido à abstinência. As de-
prévias, à doença afetiva, ao isolamento mais tentativas foram devido a não aguen-

189
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tar mais viver e a querer terminar com o tentando, sendo que começou há mais ou
sofrimento de sua família. É usuária de menos 6 anos, quando ela se mudou para
cocaína injetável e de medicações anesté- o interior onde não há vizinhos e ela fica
sicas injetáveis (morfina e dolantina). En- sozinha o dia todo. Hortência relata que
contra-se em tratamento no CAPS AD e já fizeram “mal feito” na casa onde ela mora,
apresenta sintomas psicóticos (paranóia, pra separar ela e seu marido, porque ela
alucinações). Orquídea foi hospitalizada diz que fica “possuída” e faz essas coisas.
em decorrência da ingestão de 18 com- Seu marido trabalha de motorista; já mo-
primidos de diazepan e para ser encami- raram em várias cidades, porque ele troca
nhada para uma clínica psiquiátrica, pois, de emprego seguidas vezes. O resultado
tem diagnóstico de transtorno borderline. do teste HTP apresentou características
Encontra-se em tratamento psiquiátrico comuns, considerando-se a localização
e psicológico há, aproximadamente, dois dos desenhos (esquerda), a linha de solo,
anos. Relata que segue o tratamento cor- os detalhes na casa como na porta (aber-
reto até certo ponto: “é que nem criança ta). Na figura da pessoa, detalhes como a
quando ganha chocolate e dizem pra ela presença de dedos indicaram atuação e
comer um pedacinho por dia e ela segue detalhes no pescoço, impulsividade. Essas
isso, mas, de repente, come tudo de uma características são consonantes com as-
vez só... eu faço a mesma coisa, eu tomo pectos relacionados às características de
certinho um comprimido por dia, mas tem personalidade de indivíduos que cometem
dias que dá vontade e eu tomo um mon- tentativas de suicídio, especialmente, no
te pra testar até aonde eu aguento”. Fre- que diz respeito à incapacidade de tolerar
quentemente, faz ameaças, dizendo que frustrações, impulsividade, intolerância e
vai matar seus filhos. Bromélia foi interna- atuação. Na realização do HTP, as narra-
da devido à intoxicação de medicamentos tivas das participantes sobre os desenhos
(20 comprimidos de carbamazapina e de revelaram idéias de morte, sentimentos
amitriptilina); é sua terceira tentativa de de frustração, carência afetiva e evidencia-
suicídio utilizando medicamentos, sendo ram a utilização de mecanismos de defesa
que teve outra tentativa, quando estava como identificação projetiva, o que é, co-
com 20 anos, ingerindo veneno. Bromé- mumente, empregado por pacientes com
lia relata que desde essa idade pensa em Transtorno Borderline. Apesar da amostra
se matar, acreditando que “lá em outro reduzida do estudo, esses resultados au-
lugar vai ser melhor”. Nessa época esse xiliam na melhor compreensão das carac-
sentimento foi agravado com a morte de terísticas de personalidade de indivíduos
um de seus irmãos, assassinado com um que apresentam risco de suicídio e na ca-
tiro na cabeça e, há mais ou menos 8 anos, pacitação de profissionais que atuam nes-
outro irmão foi assassinado da mesma for- se contexto.
ma. Hortência teve baixa hospitalar por-
que queria tentar se matar de qualquer Palavras-chave: tentativa de suicídio, teste
jeito; tentou enforcar-se, atirar-se da ja- HTP, características de personalidade
nela e cortar-se com facas. A família não Contato: Luana Gasparetto Fontanella,
sabe dizer quantas tentativas Hortência Fundação Hospitalar Santa Terezinha,
já teve, sua filha diz que ela esta sempre Erechim/RS, luluzinhagf@erechim.com.br

190
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-976 – TRABALHO INFANTIL: Adolescente (ECA. Brasil, 1990) consolida


CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS PARA O essa idade mínima proibindo qualquer
DESENVOLVIMENTO IDENTIFICADAS trabalho a pessoas menores de 16 anos,
NAS PRODUÇÕES EM PERIÓDICOS DE salvo na condição de aprendiz, a partir dos
PSICOLOGIA. 14 anos. Outro critério relevante na con-
Antonielli Jatobá Bezerra Tinoco - UFRN ceitualização do trabalho infantil é a fre-
antoniellijatoba@uol.com.br quência e regularidade dessas atividades.
Mariana Pinheiro Cabral - UFRN Muitas vezes, as crianças são impedidas
nanathay@hotmail.com de exercitarem outros direitos: frequência
Rosângela Francischini - UFRN à escola, convivência familiar e comunitá-
rfranci@uol.com.br ria, prática do lazer e do esporte, cultura.
No que se refere ao local e ao tipo de ativi-
A inserção de crianças em atividades labo- dade, a Convenção 182 e a Recomendação
rativas é registrada, na história do Brasil, 190 da OIT preconiza que as “piores for-
desde o período colonial. À época, crian- mas” de trabalho infantil são aquelas que
ças escravas trabalhavam para prover a resultam em prejuízo à saúde, à segurança
própria subsistência, situação corroborada e à moral da criança. Diante das questões
tanto pela diferença de classes, como pelo apontadas acima, estabelecemos, como
status secundário que a infância tinha na objetivo deste trabalho, identificar, nas
sociedade de então. Essa concepção sobre produções em Psicologia, enquanto eixos
a infância só veio a ser modificada, não de temáticos: 1.) os conceitos de trabalho
forma abrupta e generalizada, a partir do infantil e suas causas; b) as consequên-
século XVIII, período esse em que a crian- cias para o sujeito. Foi realizada, então,
ça passou a ser vista como sinônimo de uma revisão bibliográfica na Base de Da-
fragilidade e inocência. Embora seja um dos Scielo, no período de janeiro de 1991
fenômeno presente ao longo da história, a dezembro de 2010. Acrescentamos a
o trabalho infantil foi sendo caracteriza- essa fonte, a leitura dos principais livros/
do de formas diferenciadas. Assim, temos documentários impressos recorrentemen-
uma diversidade de conceitos cujos crité- te presentes na bibliografia da área. Na
rios são igualmente diferenciados. Os cri- pesquisa eletrônica, foram empregadas as
térios mais recorrentes são: faixa etária, seguintes Palavras-chave: crianças de rua,
remuneração, regularidade, frequência, crianças e adolescentes em situação de
tipo e local da atividade. Considerando a rua, crianças em situação de rua, crianças
idade mínima recomendada para o tra- em situação de trabalho nas ruas, traba-
balho, a Convenção 138, da Organização lho de menores, trabalho infantil, trabalho
Internacional do Trabalho (OIT, 1973) fixa infantil agrícola, trabalho infantil de rua,
em 16 anos. Por outro lado, para ativi- trabalho infantil produtivo, trabalho infan-
dades que coloquem em risco a saúde, to-juvenil, trabalho precoce. Procedeu-se
a segurança e a moralidade do sujeito, à leitura dos resumos e foram excluídos
essa idade passa para 18 anos. Ainda em os artigos que não atendessem aos obje-
relação a esse critério, a Constituição de tivos deste trabalho. Desse processo, re-
1988 mantém a recomendação da OIT. A sultaram 44 artigos. Procedeu-se, então,
promulgação do Estatuto da Criança e do à leitura desses artigos, observando os

191
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

eixos temáticos aqui definidos. A leitura de baixa renda. (Campos e Francischini,


de livros/documentários centrou-se nas 2003). A pobreza é o principal fator apon-
produções da OIT e foram fundamentais tado pelos autores. Com a insuficiência de
para a compreensão dos conceitos de tra- ganhos, as famílias obrigadas a inserirem
balho infantil adotados pelos autores dos seus filhos no mercado de trabalho, am-
artigos. A partir da leitura e identificação pliando, assim, o orçamento doméstico.
dos eixos propostos, com apoio na Análi- Dentre os fatores microestruturais, des-
se de Conteúdo Temática, sistematizamos tacam-se as relações entre os membros
os elementos e compomos um quadro, das famílias e sua dinâmica interna, mui-
caracterizado a seguir: 1.) Tipos de ativi- tas vezes, permeada por outras formas de
dades desenvolvidas e faixa etária consi- violência. Em relação às consequências do
derada. Iniciando por essa última unidade trabalho para o desenvolvimento da crian-
de sentido, a faixa etária citada e/ou con- ça, destacamos, as consequências para a
siderada pelos autores é aquela proposta escolarização (dificuldades para ingresso
pela legislação, principalmente o ECA e as no sistema educacional, altos índices de
Resoluções da OIT. O Estatuto, em confor- evasão e de repetência, baixo desempe-
midade com as propostas internacionais, nho escolar). Impossibilidades de vivência
e com atenção às especificidades locais, da cultura lúdica, fator importante para o
estabelece, em 1990, a proibição do tra- exercício do Ser Criança, também são indi-
balho infantil para menores de 14 anos, cadas pelos autores. Do ponto de vista da
sendo essa condição sido alterada, pela saúde, muitas consequências são aponta-
Emenda Constitucional de número 20, Ar- das: cansaço físico e mental, dores no cor-
tigo 7º, inciso XXXIII (Brasil, 1998), fixando po e na cabeça, doenças infecto-contagio-
a proibição do trabalho a menores de 16 sas causadas por acidentes com materiais
anos de idade, ressalvando a condição de cortantes e perfurantes contaminados,
aprendiz, a partir dos 14 anos. No que diz contaminação por agrotóxicos ou outros
respeito aos tipos de atividades desenvol- produtos químicos, traumatismos decor-
vidas, comparecem as mais diversas, in- rentes de acidentes de trânsito, dores na
cluindo aquelas consideradas “piores for- coluna e dores musculares, sintomas de-
mas de trabalho infantil”. Em relação aos vidos a exposição às alterações climáticas
fatores explicativos para inserção de crian- e à poeira sem as devidas proteções, DSTs,
ças na condição de trabalhadores - foram gravidez precoce e indesejada, intoxica-
identificados dois grandes grupos, deno- ção decorrente da exposição à nicotina.
minados fatores macroestruturais e fato- Considerando a ampla variedade de con-
res microestruturais. Acrescente-se, no sequências do exercício de atividades de
entanto, fatores considerados de ordem trabalho pelas crianças, resta-nos questio-
cultural, como a importância atribuída ao nar: porque, então, o trabalho infantil per-
trabalho, pelas famílias, a consideração siste e sua erradicação não se torna uma
do trabalho como alternativa única para realidade? Estarão, as produções acadê-
impedir a inserção da criança no mundo micas contribuindo para o entendimento
das ruas, das drogas, da vagabundagem. dessas questões? Em artigo denominado
Acrescente-se, ainda, a ineficiência de po- Trabalho Infantil e Produção Acadêmica
líticas públicas voltadas para a população nos anos 90: tópicos para reflexão, Ferrei-

192
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ra (2001), indica a necessidade de pesqui- Único de Saúde (SUS), tem como objetivo
sas interdisciplinares que possam tornar a expansão de estratégias de prevenção e
visíveis os determinantes e impactos do tratamento relacionadas ao consumo de
trabalho precoce. As instituições de ensi- álcool e outras drogas, mediante ações
no superior têm responsabilidade ímpar intersetoriais, ou seja, ações integradas
nessa tarefa. Os artigos aqui apontados de setores como saúde, justiça, assistên-
sinalizam para algumas respostas e fazem cia social, educação, cultura, esporte e la-
emergir a urgência e seriedade necessá- zer, tanto na esfera governamental como
rias no tratamento dessa questão. não-governamental, com prioridade para
os cem maiores municípios brasileiros,
Palavras-chave: Trabalho Infantil, Crianças, abrangendo todas as capitais. Visa a am-
Trabalho Infanto-juvenil. pliação do acesso, qualificação dos profis-
sionais, prevenção, promoção da saúde e
redução de danos relacionados ao consu-
LT03-906 - PROJETO CONSULTÓRIO mo de substâncias psicoativas e, ainda, o
DE RUA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA: resgate dos direitos humanos e de cida-
CONQUISTANDO A CIDADANIA dania da população usuária. Os dispositi-
Elaine da Cunha Fernandes Mesquita - SMSG vos consultórios de rua no SUS tem como
elainefmesquita@yahoo.com.br princípios a garantia dos direitos huma-
Helizett Santos de Lima - SMSG/UnB nos, combate ao preconceito e estigma,
helizettlima@yahoo.com.br inclusão e reinserção social, baseadas em
Marcelo Santos Ribeiro - SMSG ações de redução de danos e integradas
olecramribeiro@hotmail.com a outras políticas públicas de saúde no
Rôzi-Mayry Oliveira Soares Duarte - SMSG campo da saúde mental. É composto de
capsgirassol@gmail.com equipe volante multiprofissional, com téc-
Sheila Alves da Cunha - SMSG nicos da saúde mental, atenção básica,
sheilacunha.mt@gmail.com educadores sociais, oficineiros e reduto-
Roberto Vaz de Abreu - SMSG res de danos que desenvolvem trabalho
robevaz@hotmail.com extramuros nos locais onde se encontram
as pessoas que vivem em situação de rua
O uso de substâncias psicoativas por pes- e fazem uso de substâncias psicoativas,
soas em contexto de vulnerabilidade so- prioritariamente a população jovem. Es-
cial, em situação de rua, tem preocupado ses dispositivos devem integrar a rede de
a sociedade brasileira. No município de saúde mental local, trabalhar com ações
Goiânia esta realidade não é diferente voltadas para a intra e intersetorialidade,
e percebe-se a necessidade de ofertar o para possibilitar aos usuários o acesso aos
acesso aos serviços de saúde existentes diversos serviços de saúde disponíveis e,
para essa parcela da população que se en- ainda, outros serviços como da assistência
contra excluída da sociedade e em condi- social de acordo com as demandas espe-
ções precárias de sobrevivência. O Plano cíficas apontadas pela clientela atendida.
Emergencial de Ampliação do Acesso ao Entre os projetos da rede especializada
Tratamento e Prevenção em Álcool e ou- em saúde mental de Goiânia, que foram
tras Drogas (PEAD 2009-2010), do Sistema aprovados recentemente pelo Ministério

193
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da Saúde e estão em fase de implantação CO 03 - LT01


e execução, destaca-se o Consultório de
Rua 1, projeto de intervenção, que tem
Transtornos de Desenvolvimento
equipe multiprofissional composta de de-
zesseis técnicos, sendo três educadores de
LT01-770 - AUTISMO E AMIZADE
rua/redutores de danos, três psicólogos,
NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTUDO A
uma enfermeira, uma assistente social,
PARTIR DO MODELO PIAGETIANO DE
um clínico geral com formação em saúde
INTERAÇÃO SOCIAL
mental, um oficineiro, um profissional de
educação física e cinco alunos de gradu- Claudia Broetto Rossetti - UFES
ação estagiários do PET Saúde Mental. A cbroetto.ufes@gmail.com
equipe atua na região Campinas-Centro, Lorena Santos Ricardo - UFES
próximo ao Terminal Rodoviário de Goi- lorena.sricardo@gmail.com
ânia, onde se encontra parcela conside- Financiamento: CNPq
rável de pessoas vivendo em situação de
rua do município. A população atendida é Jean Piaget afirma que os aspectos sociais
qualquer pessoa em situação de alta vul- e individuais constituem polos indissociá-
nerabilidade social, com uso abusivo de veis de uma única realidade no processo
substâncias psicoativas, principalmente de desenvolvimento humano. O referido
o crack, que vive em condições precárias autor argumenta ainda que as pessoas
no espaço da rua, com prioridade para são a fonte de toda classe de cognições e
crianças, adolescentes e jovens. É rele- de sentimentos e que, se a criança sente
vante apresentar esse novo dispositivo necessidade de socializar seu pensamen-
de atenção e suas contribuições para o to, esta necessidade pode satisfazer-se
atendimento dessa clientela, pois o mes- quando esta tem amigos, com os quais
mo traz inúmeros desafios, como: mudan- brinca sem constrangimentos. Assim,
ça no modelo de atendimento, busca do para além dos aspectos científicos, a im-
contato com o usuário pelo atendimento portância social das amizades também
in loco (na rua), identificação das neces- deve ser considerada. Com o advento da
sidades/demandas da clientela a partir inclusão de pessoas com deficiência em
da escuta da mesma, bem como a efeti- escolas regulares, as crianças passaram
vação das parcerias intra e intersetoriais a ter contato com uma realidade diferen-
e o atendimento em rede. Ademais, essa ciada na sala de aula. No caso específico
modalidade de atenção pode favorecer dos transtornos do espectro autista, a
o resgate de direitos humanos e de cida- manifestação dos comportamentos este-
dania da clientela-alvo, com enfoque em reotipados, típicos do quadro, pode aca-
experiências anteriores e nas políticas pú- bar afastando as demais crianças, ou, ao
blicas voltadas para esta área. contrário, dependendo de como é feita a
inclusão, esse contato pode resultar em
Palavras-chave: redução de danos, uso de novas experiências e aprendizados sobre
drogas, jovens em situação de rua o respeito às diferenças e sobre o convívio
Contato: Helizett Santos de Lima, SMSG/UNB, social. Dessa maneira, a presente pesqui-
helizettlima@yahoo.com.br sa objetivou investigar se há diferença no

194
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conceito de amizade, no respeito às dife- realizada a entrevista cujo roteiro conti-


renças e na formação de relacionamentos nha 14 questões divididas em três grupos
de amizade no contexto escolar entre 17 temáticos: o primeiro visava investigar a
crianças que estudam com um autista em concepção de amizade dos participantes;
classe inclusiva (CI) e 17 crianças que es- o segundo, compreender a relação entre
tudam em classe não inclusiva (CNI). As- a percepção de diferenças (e respeito
sim, participaram 35 crianças, com idades a elas) e a possibilidade de um relacio-
variando entre 7-8 anos, estudantes do namento de amizade com aqueles que
2º ano do ensino fundamental de duas são vistos como diferentes; e, o terceiro,
escolas da rede pública de um município analisar a formação dos relacionamentos
do interior do Espírito Santo. Para a cole- de amizades na escola, nos contextos de
ta de dados foram criados 14 cartões com classe inclusiva e não inclusiva. Todas as
desenhos de crianças em diversas situa- etapas da coleta de dados foram gravadas
ções, sendo seis específicos para meninas em áudio. Os cartões foram descritos de
(1- duas meninas brincando; 2- duas me- forma bem semelhante pela maioria dos
ninas brigando; 3- uma menina mais ve- participantes. De maneira geral, ambas
lha e uma menina mais nova; 4- um grupo as classes apontaram para a possibilidade
de meninas conversando e uma menina de amizade entre as crianças dos cartões,
isolada, num canto; 5- uma menina cega, embora na CI tal possibilidade apareça
com óculos escuros e bengala, e uma me- em 75% das respostas dadas aos cartões
nina que não é cega; 6- uma menina na enquanto na CNI esse número se reduz
cadeira de rodas e outra menina em pé, (66%). Em relação ao primeiro grupo te-
ao lado), seis cartões específicos para me- mático da entrevista, tanto a CI (40%)
ninos (as mesmas situações dos cartões como a CNI (50%) entendem amizade
detalhados anteriormente, mas com de- como brincar/se divertir e o “brincar” é
senhos de meninos) e dois cartões para apontado como principal facilitador para
ambos (1- um menino e uma menina; 2- se ter amigos. Sobre o que atrapalha a ter
um grupo de crianças, sendo um menino amigos, “fazer mal” é apontado como o
negro, uma menina asiática, uma menina principal fator. Quanto ao segundo gru-
loira, um menino gordo e ruivo). Além po temático investigado, na CI a maioria
disso, utilizou-se um roteiro de entrevis- dos participantes (60%) acha possível ter
ta baseado no método clínico Piagetiano. um amigo que é diferente, enquanto que
O encontro com cada criança ocorreu in- na CNI apenas 40% considera essa possi-
dividualmente, na própria escola, após a bilidade. Quando questionados sobre o
aprovação pelo Comitê de Ética e a assina- que consideravam “diferente”, a maioria
tura dos Termos de Consentimento Livres das respostas da CI (30%) apontou para
e Esclarecidos pela diretora e pelos res- diferenças no comportamento. No caso
ponsáveis. Primeiramente os cartões fo- da CNI o “diferente” foi mais associado a
ram apresentados a cada participante. Em características físicas (55%). Além disso,
seguida, era solicitado que a criança des- enquanto mais participantes da CNI afir-
crevesse o que via, dissesse se as crianças maram haver alguém diferente na sala na
do desenho poderiam ou não ser amigas e qual estudam, mais participantes da CI se
justificasse sua resposta. Logo depois era consideram amigo das crianças apontadas

195
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como diferentes. Por fim, no terceiro gru- Palavras-chave: Teoria de Piaget,


po temático investigado todos os partici- Desenvolvimento Atípico, Inclusão
pantes afirmaram ter amigos na escola. Contato: Claudia Broetto Rossetti.
Quando perguntados sobre quem na sala Universidade Federal do Espírito Santo
tem mais amigos, houve maior coesão en- cbroetto.ufes@gmail.com
tre as respostas dos participantes da CI,
ou seja, poucas crianças foram citadas. Na
CNI foram muitas crianças. O motivo mais LT01-774 - TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
apontado pela CI (59%) e pela CNI (79%) ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH):
para determinada criança ter muitos ami- PENSANDO O DESENVOLVIMENTO
gos foi a boa comunicação/interação dela ATÍPICO A PARTIR DA TEORIA
com os demais colegas. Sobre “ficar mais PIAGETIANA
sozinho”, a maioria dos participantes afir- Camila Tarif Ferreira Folquitto - USP
ma que existe alguém assim na sala e tan- ctarif@usp.br
to a CI (33%) como a CNI (46%) apontam Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP
como motivo o fato de ninguém gostar da mtdesouza@usp.br
referida criança. Todos os participantes da Financiamento: FAPESP
CNI e 94% dos da CI afirmam que é bom
ter amigos na escola. Entre os motivos, O Transtorno de Déficit de Atenção e Hi-
a maioria dos participantes assinalou a peratividade (TDAH) é uma das principais
possibilidade de brincar com os amigos causas de procura nos ambulatórios de
no contexto escolar. A maioria dos parti- saúde mental infantil no Brasil. Embora
cipantes de ambas as classe afirmou que não haja consenso a respeito de algumas
ter amigos na sala é benéfico, pois pode características do TDAH, acredita-se que
ajudar a aprender os conteúdos das ma- se trata de um fenômeno biopsicossocial.
térias, uma vez que um amigo pode aju- Assim como ocorre em outros transtor-
dar o outro quando houver dificuldades. nos, os sintomas de TDAH são aspectos
De forma geral, os participantes de ambas que, em certo grau, estão presentes em
as classes conseguem definir bem o ter- crianças de diferentes idades e contextos.
mo “amizade” e percebem o diferente de Portanto, o que diferencia crianças com
forma semelhante, embora os alunos a um desenvolvimento considerado dentro
CI pareçam se dispor a respeitar e se re- do esperado, de crianças com este trans-
lacionar mais com aqueles que são vistos torno é que, nestas, tais aspectos mani-
como diferentes do que os alunos da CNI. festam-se com uma frequência e intensi-
Dessa maneira, espera-se que os resulta- dade consideradas sintomáticas, compro-
dos da presente pesquisa venham a con- metendo a adaptação, socialização e de-
tribuir para uma compreensão maior da senvolvimento. O termo “desenvolvimen-
temática abordada, que possam auxiliar to atípico” é utilizado para descrever tra-
na elaboração de novas estratégias para jetórias de desenvolvimento de crianças
que o processo de inclusão se torne cada nas quais há uma ausência de atributos,
vez mais viável no contexto escolar, em características ou construções essenciais
especial para os portadores de transtor- para o desenvolvimento, ou quando estas
nos do espectro autista. são conquistadas de maneira mais lenta,

196
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

muitas vezes necessitando de mais trocas o TDAH, a partir de dois eixos principais:
e experiências com o meio. No caso do 1) o estudo do desenvolvimento de crian-
TDAH, a literatura demonstra que crian- ças com este transtorno, com ênfase na
ças com tal diagnóstico apresentam um construção de noções operatórias, em
desempenho em baterias neuropsicoló- especial na noção de tempo; 2) a diferen-
gicas comparável aos resultados de crian- ciação entre aspectos estruturais e proce-
ças mais novas não diagnosticadas. Outra dimentais das ações, suas interrelações e
importante característica é a dificuldade funções no desenvolvimento das noções
em “pensar antes de agir”, entendida no operatórias. Em relação ao desenvolvi-
campo da Neuropsicologia como uma mento das referidas noções, pesquisas
dificuldade em inibir pensamentos ou demonstram que, em provas operatórias,
atitudes impulsivas, justamente por uma crianças hiperativas apresentam uma ten-
dificuldade em antever suas consequên- dência em emitir julgamentos e respostas
cias. Portanto, acreditamos que o próprio típicos do período pré-operatório de de-
campo de pesquisas sobre o TDAH aponta senvolvimento, no qual ainda não estão
a necessidade de uma investigação mais construídos aspectos importantes para o
detalhada a respeito do desenvolvimen- desenvolvimento da inteligência opera-
to das crianças diagnosticadas com este tória, como a conservação, interiorização
transtorno. A partir da teoria de Jean da ação em pensamento, flexibilidade
Piaget, temos um referencial teórico que mental e reversibilidade. Os sintomas de
permite realizar pesquisas sobre o TDAH impulsividade podem ser compreendidos
à luz da Psicologia do Desenvolvimento. de forma mais detalhada diante desses
A teoria piagetiana procura responder a indícios de defasagens no desenvolvi-
questão de como é possível a construção mento. Para que a criança consiga “pen-
de conhecimento. Por meio de um pro- sar antes de agir”, é necessário que ela
cesso dialético de interação e adaptação consiga coordenar os eventos passados,
ao mundo, os indivíduos desenvolvem- à luz dos acontecimentos presentes, para
-se progressivamente, em seus aspectos tomar uma decisão acertada, prevendo
cognitivos, afetivos e morais. Embora Pia- as consequências futuras. Para Piaget, a
get não tenha estudado especificamente construção da noção de tempo é o aspec-
crianças diagnosticadas com algum tipo to necessário para a coordenação desses
de transtorno, suas contribuições podem eventos, e, em consequência, para a pos-
ser aplicáveis a este campo de pesquisa, sibilidade do estabelecimento das rela-
já que, na teoria piagetiana temos como ções causais. Portanto, o tempo, para este
foco o sujeito epistêmico e suas ações autor, é compreendido como uma noção
no mundo. Assim, as particularidades e o cognitiva, estruturante do real e organi-
contexto social não são descartados, mas zadora das experiências do indivíduo. O
procura-se entender as regularidades e tempo pode ser apreendido de maneira
semelhanças dos processos de desenvol- objetiva ou subjetiva, e, a respeito dessa
vimento em diferentes contextos. Com questão, Piaget distingue o tempo físico,
base na teoria piagetiana, temos como que se refere à duração métrica do tem-
objetivo realizar reflexões que contribu- po, e o tempo vivido, que seria a duração
am para uma maior compreensão sobre psicológica do tempo, ou seja, a sensa-

197
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção dos sujeitos em relação à passagem esta construção teórica com dados de
do tempo. Serão apresentados dados de pesquisa em andamento, que busca rea-
pesquisa realizada com 62 crianças, que lizar intervenções em crianças com TDAH
investigou as noções temporais em crian- a partir de jogos e situações problema.
ças com TDAH, e os possíveis efeitos das Assim, esperamos que tais pesquisas e
medicações psicoestimulantes utilizadas apontamentos teóricos possam contribuir
para o tratamento do transtorno no de- para um melhor entendimento de crian-
senvolvimento das noções operatórias. ças TDAH, e contribuir para a elaboração
Crianças com TDAH tenderam a apresen- de estratégias de intervenção no campo
tar dificuldades em mensurar intervalos da Psicologia e da Educação.
de tempo, e demonstraram, em suas res-
postas às perguntas feitas na aplicação Palavras-chave: desenvolvimento atípico;
das provas piagetianas, uma noção tem- TDAH; teoria piagetiana.
poral não dissociada da noção de espaço. Contato: Camila Tarif Ferreira Folquitto.
Em relação ao uso do metilfenidato na Instituto de Psicologia da Universidade de São
amostra clínica, não foi observada dife- Paulo
rença entre o desempenho de crianças E-mail: ctarif@usp.br
com TDAH medicadas e não medicadas.
Portanto, por meio destas pesquisas po-
demos pensar que crianças com TDAH LT01-969 – A MEDIAÇÃO AFETIVA NO
possuem sintomas que as impedem de PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO
focar a atenção em estímulos importan- ALUNO COM TRANSTORNO GLOBAL DO
tes; em decorrência disso, as trocas com DESENVOLVIMENTO - TGD – UM ESTUDO
o meio, que possibilitam construções cog- DE CASO
nitivas essenciais, ficariam prejudicadas, Érika Goulart Araújo - UAB/UnB
acarretando um atraso no desenvolvi- erikagoulart@hotmail.com
mento, na apreensão de noções abstra- Geane de Jesus Silva - UAB/UnB
ídas das relações dos objetos do mundo enaeg@hotmail.com
físico. A partir desses resultados, realiza-
remos uma discussão teórica a respeito O estudo levanta uma inquietação cientí-
da interação entre os procedimentos, fico-pedagógica e constitui-se num estu-
isto é, as ações pontuais que os sujeitos do de caso evidenciado no contexto de
realizam para atingir determinado fim, e uma escola pública do Distrito Federal na
as estruturas, que dizem respeito ao con- perspectiva de uma criança do sexo femi-
junto das implicações necessárias para a nino diagnosticada com Transtorno Glo-
realização das ações, que são atemporais bal do Desenvolvimento – TGD portado-
e interiorizadas. Refletir sobre as relações ra de Autismo atípico, matriculada no 2°
entre o par procedimentos/estruturas Ano do Ensino Fundamental. A pesquisa
nos permite pensar a respeito da qualida- teve como principal problemática: enten-
de das ações e procedimentos de crianças der até que ponto a mediação afetiva no
com TDAH, sobre o que “sabem fazer” e contexto escolar pode contribuir com o
o quanto elas “compreendem as razões” processo de inclusão educacional de um
destes procedimentos. Exemplificaremos aluno com TGD. Para isso, como objetivo

198
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

geral visou compreender como a media- Participaram da investigação o Professor


ção afetiva pode contribuir para o proces- Regente, a Supervisora Pedagógica e a
so de inclusão educacional de um aluno Professora do Atendimento Especializado
com TGD. Como metas específicas, foi – Sala de Recursos, a Orientadora Educa-
necessário identificar a contribuição da cional e a aluna. Os instrumentos empre-
mediação afetiva entre professor e aluno, gados na estruturação do levantamento
observar a interação entre o aluno e seus das informações foram os seguintes: a
pares, verificar as limitações específicas observação, diário de campo, entrevista
da aluna e sua relação com as trocas afe- semiestruturada e análise documental
tivas e a identificação da mediação peda- sendo discutidos à luz do caráter inter-
gógica que o professor lança mão para a pretativo-construtivo. Sendo assim, fo-
interação com o aluno com TGD. O traba- ram construídas as seguintes categorias
lho de pesquisa embasou-se em teóricos de análise com base nos objetivos espe-
como: Piaget, Vygotsky, Wallon, Sassaky e cíficos desse trabalho: Mediação afetiva;
Documentos e legislação específica sobre Interação social do TGD; Limitações espe-
Educação Inclusiva. Com intuito de esta- cíficas e a Participação do outro no pro-
belecer relação entre afetividade e intera- cesso de inclusão. Tais eixos nortearam a
ção social, buscou-se refletir sobre a me- organização dos dados obtidos por meio
diação no contexto escolar considerando de cada um dos instrumentos utilizados
as teorias construtivistas e sociogenéticas e também a apresentação dos resultados
que evidenciam os aspectos individuais, alcançados. Nesse sentido, os principais
sociais e culturais do desenvolvimento. A resultados obtidos revelaram que com
discussão foi direcionada para educação base na ideia de mediação sendo a inter-
inclusiva, especificamente a inclusão do mediação, de algo interposto entre uma
aluno com TGD, dimensionando o papel coisa e outra tendo como base a afetivi-
da mediação afetiva e do outro no proces- dade, podemos evidenciar que a media-
so de inclusão educacional. Desta forma, ção afetiva proporcionou à aluna um am-
este aluno foi caracterizado e focado em biente de permanente desenvolvimento.
suas especificidades, apresentados fren- Sobre a interação da aluna, suas limita-
te à mediação do outro e de suas intera- ções não implicam em seu isolamento,
ções com o ambiente. Empregou-se na pois há interação, uma vez que respeitada
metodologia a abordagem qualitativa de seu ritmo e sua individualidade. Em rela-
pesquisa, pois seu caráter dialógico possi- ção à possibilidade real de desenvolver e
bilita a obtenção de dados descritivos me- romper com as limitações específicas da
diante contato direto e interativo do pes- aluna a partir da intervenção do outro
quisador com o objeto de estudo no intui- como mediador proporcionou identificar
to de entender os fenômenos segundo a o inexorável papel da medição afetiva
perspectiva dos participantes da situação que revelou ser de extrema importância
estudada. E, nesse caso, como a realida- dentro do processo de inclusão educacio-
de a ser pesquisada refere-se ao contexto nal de um aluno TGD. No que concerne
escolar de um aluno TGD, optou-se pelo à participação do outro no processo de
estudo de caso, pois tal método atende inclusão, os dados sugerem ainda o forta-
ao propósito da pesquisa em questão. lecimento do outro no ambiente escolar

199
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o qual é espaço privilegiado de interação LT01-1046 – AUTISMO: CONCEPÇÕES DE


social, pois possibilita a apropriação da PROFISSIONAIS DAS ÁREAS DA SAÚDE E
diversidade cultural e aprendizagem de EDUCAÇÃO
conteúdos, base para a constituição da Cibele Shírley Agripino Ramos - UFPB
pessoa em si e também do outro. Portan- Nádia Maria Ribeiro Salomão - UFPB
to, o papel do outro na superação das di- Financiamento: CAPES
ficuldades de aprendizagem e no caso, de
inclusão educacional, tem relevância sig- O autismo é um dos transtornos do de-
nificativa e status de mediador propulsor senvolvimento mais estudados atual-
das potencialidades do indivíduo sendo o mente, cuja compreensão representa um
outro sujeito ativo, concreto que atua em fator relevante para a formação de diver-
sistemas históricos complexos da ativida- sos profissionais. Embora seja um tema
de interativa. Tendo em vista tais resulta- bastante investigado, ainda não existe
dos, chega-se a seguinte resposta para a um consenso a respeito da sua etiolo-
pergunta inicial: a mediação afetiva con- gia, visto que as explicações variam de-
tribui significativamente com o processo pendendo do enfoque teórico adotado,
de inclusão educacional de alunos com o que dificulta a elaboração do próprio
TGD, pois o que se caracteriza como obs- conceito de autismo. Apesar das diver-
táculo dentro de um quadro de espectro gências teóricas envolvendo a sua etiolo-
autista, ou seja, a dificuldade nas relações gia e das mudanças de enfoque ocorridas
e trocas afetivas, é o que substancialmen- ao longo dos anos, pode-se dizer que há
te justifica ações interativas que possibili- um consenso a respeito da existência de
tem seu desenvolvimento. Com este estu- um comprometimento em três importan-
do pôde-se apreender que o processo de tes áreas para o desenvolvimento infantil
inclusão da aluna torna-se efetivo a partir nesse transtorno: interação social, comu-
das trocas afetivas e da participação do nicação/linguagem e comportamento,
outro, o qual compõe o cenário da aluna sendo esta tríade de prejuízos utilizada
de maneira bem particular, pois é a partir como critério diagnóstico de autismo. O
dele que ela se mostra e se constitui. A diagnóstico de autismo deve ser realiza-
contribuição dessas reflexões possibili- do até os três anos de idade, entretanto,
ta reelaborar questões sobre o papel do muitas vezes, ele só é feito mais tardia-
outro no processo de inclusão escolar a mente, por volta dos quatro ou cinco anos
partir da mediação afetiva, indicando sua de vida da criança. Tem sido ressaltada,
eficácia quando resguardada a individua- nos últimos anos, a importância de uma
lidade do aluno com necessidades educa- identificação precoce do autismo, já que
cionais especiais. por meio dela é possível antecipar a in-
tervenção. A identificação e a interven-
Palavras-chave: Educação Inclusiva, ção precoce são de extrema importância
Mediação Afetiva, transtorno global do para que sejam amenizados os prejuízos
desenvolvimento. decorrentes do autismo, o que justifica a
Contato – Érika Goulart Araújo – UAB-UnB – necessidade de os profissionais se infor-
erikagoulart@hotmail.com marem a respeito dos avanços relaciona-
dos a essa área, principalmente aqueles

200
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

referentes ao diagnóstico do transtorno. considerem que fatores ambientais pos-


Vários profissionais estão envolvidos tan- sam desencadeá-lo. Um número menor
to no diagnóstico quanto na intervenção de profissionais caracterizou o autismo
do autismo. No entanto, poucos estudos como sendo de origem multifatorial, isto
têm sido realizados a fim de investigar as é, que envolve uma associação de fato-
concepções ou crenças de profissionais res orgânicos, psicológicos e ambientais.
de diversas especialidades acerca des- Houve ainda profissionais que não se
te transtorno. Nesse sentido, o presente posicionaram a respeito. No que se refe-
estudo teve como objetivo investigar as re à identificação do autismo, os profis-
concepções que profissionais de diversas sionais, em geral, acreditam ser possível
áreas, que comumente lidam com o grupo identificá-lo antes dos três anos de idade.
autista, possuem a respeito de tal trans- Entretanto, nem todos acreditam na pos-
torno. Considera-se que a forma como sibilidade de o fechamento do diagnóstico
eles concebem o autismo influencia na ser realizado antes dessa idade. Dentre os
maneira como será feito o diagnóstico e a aspectos que possibilitam a realização da
intervenção, e, consequentemente, trará identificação precoce, foi destacada a im-
reflexos importantes para o desenvolvi- portância do olhar diferenciado do pedia-
mento da criança com autismo. Participa- tra, cujo acompanhamento contribui para
ram deste estudo 29 profissionais, sendo que as características do autismo possam
sete psicólogos, sete fonoaudiólogos, seis ser percebidas mais facilmente. As carac-
pedagogos, três psiquiatras, três neurolo- terísticas relatadas com maior frequên-
gistas e três pediatras. Estes profissionais cia pelos participantes quanto aos sinais
foram procurados em instituições públi- precoces de autismo foram a ausência do
cas e privadas que recebem indivíduos contato visual, isolamento, movimentos e
com necessidades educativas especiais, atividades repetitivas e chorar demais. A
bem como em consultórios particulares, confusão com outras condições, como dé-
todos localizadas na cidade de João Pes- ficit auditivo, por exemplo, foi menciona-
soa - PB. Os instrumentos utilizados neste da como um dos problemas que interfe-
foram um questionário de identificação rem na identificação precoce, tendo sido
aplicado ao profissional e uma entrevista ressaltada, assim, a importância do diag-
estruturada, com perguntas referentes às nóstico diferencial. No que diz respeito ao
concepções dos participantes quanto às prognóstico do autismo, a grande maioria
causas, indicadores, prognóstico e inter- dos profissionais acredita que é possível
venção no autismo, bem como ao papel haver uma evolução positiva nesse trans-
que a família desempenha no desenvol- torno, mas que esta depende de alguns
vimento das crianças que possuem esse fatores, como o grau de autismo que a
transtorno. A análise das respostas foi criança apresenta e se a intervenção é
realizada buscando-se as convergências e iniciada precocemente. Destacaram-se
divergências entre as concepções dos pro- ainda como importantes para um bom
fissionais das diferentes áreas do saber. prognóstico a necessidade de a criança
Verificou-se que a maioria dos profissio- ser acompanhada por uma equipe multi-
nais acredita em uma causa orgânica para disciplinar e de haver a participação da fa-
o autismo, embora, dentre estes, alguns mília no tratamento. Quanto às propostas

201
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de intervenção mais eficazes para o autis- Palavras-chave: autismo; concepções;


mo, os profissionais, em geral, acreditam profissionais.
que é preciso atentar para as necessida- Contato: Cibele Shírley Agripino Ramos
des de cada criança em particular, bem - Estudante de Pós-Graduação (mestrado) -
como para o seu contexto familiar. Além Universidade Federal da Paraíba
da importância de uma equipe multidis- cibeleagripino@yahoo.com.br
ciplinar no tratamento, destacou-se tam-
bém como importante a integração entre
pais, profissionais e escola. Dentre os pro- LT01-1052 - A CRIANÇA COM SÍNDROME
fissionais que citaram métodos específi- DE DOWN E SUA FAMÍLIA: UM
cos para o tratamento, os mais menciona- ESTUDO SOBRE A DINÂMICA FAMILIAR
dos foram o TEACCH, o ABA, o PECS e o DE ACORDO COM A PERSPECTIVA
Son-Rise. A maior parte dos profissionais SISTÊMICA
considera válidas estratégias alternativas, Luciene Pires de Araújo Lins - UCB
como a musicoterapia, a arteterapia e a Maria Alexina Ribeiro – UCB
equoterapia. Contudo, nem todos acredi- lupsc@uol.com.br
tam que estas estratégias devam ser utili-
zadas isoladamente, mas como um com- A Síndrome de Down caracteriza-se pela
plemento a outras formas de intervenção. existência de um cromossomo extra, ou
Quanto ao papel da família no auxílio ao seja, em cada célula há 47 cromossomos,
desenvolvimento das crianças com autis- quando o esperado são 46 cromossomos.
mo, os aspectos mencionados com maior As crianças com Síndrome de Down pos-
frequência foram a necessidade de haver suem características físicas específicas,
estimulação por parte dela e a aceitação. que podem ser observadas pelo médico
Por fim, considera-se que alguns profis- ao fazer o diagnóstico clínico. O diagnós-
sionais não conseguem definir claramen- tico da Síndrome de Down, atualmente,
te o que causaria o autismo, o que talvez pode ser obtido antes mesmo do nasci-
tenha feito com que eles não se posicio- mento do bebê durante o acompanha-
nassem a respeito. Acredita-se que a falta mento pré-natal. Se o acúmulo de fluído
de um consenso na literatura acerca das na nuca fetal, conhecido como translu-
causas do autismo, bem como a diversida- cência nucal (TN), for excessivo, no perí-
de de quadros clínicos encontrados, pos- odo de 11 a 136/7 semanas, há um risco
sam ter contribuído não apenas para que aumentado para a ocorrência de anoma-
alguns profissionais não se posicionassem lias cromossômicas, malformações fetais
a respeito da etiologia, como também e síndromes genéticas. A revisão da lite-
para a diversidade de explicações sobre as ratura mostrou que há uma escassez de
causas do autismo apresentada por eles. estudos que envolvem todos os membros
Enfatiza-se a necessidade de outros estu- da família e seu funcionamento, necessi-
dos sobre as concepções dos profissionais tando, portanto, de mais investigações na
acerca do autismo que envolvam uma área, principalmente no tocante especifi-
quantidade maior de profissionais, espe- camente ao papel do pai nesse contexto,
cialmente os da área médica, que foram onde foram encontrados poucos estudos.
minoria na presente investigação. Em geral, há certa predominância de tra-

202
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

balhos que priorizam, especificamente, a DF há seis anos. A família foi convidada a


relação da mãe com a criança que possui participar da pesquisa por meio da pes-
Síndrome de Down, bem como os aspec- quisadora e, após ser informado sobre os
tos sócio-educativos, na maioria das ve- procedimentos do estudo, assinou o Ter-
zes com o enfoque particular em um ou mo de consentimento Livre e Esclarecido.
mais membros da família. Dificilmente O projeto foi submetido e aprovado pelo
esses estudos têm enfatizado a família Comitê de Ética em Pesquisa da Univer-
e sua dinâmica como um todo. Estudos sidade Católica de Brasília - UCB. Para o
apontam para a importância da família levantamento dos dados foram realizados
no desenvolvimento da criança com Sín- três encontros com a família com o obje-
drome de Down, pois mesmo com toda tivo de conhecer a história familiar, com
a dificuldade que a família tem que lidar base em um roteiro, elaborar o genogra-
nas várias situações difíceis, é ela que vai ma, o ecomapa e a confecção da colagem
fazer de tudo para que o filho possua um com a participação de todos os membros
atendimento especial e de qualidade. As- da família que teve como tema “Nossa
sim, uma vez que a família é o primeiro família”. A análise dos dados foi feita de
universo de socialização da criança e é a acordo com a abordagem construtivo-in-
mediadora das relações desta com seus terpretativa de González Rey a partir de
diversos ambientes, é fundamental que três Zonas de Sentido: 1) História familiar
pesquisadores e profissionais foquem sua e fases do ciclo de vida; 2) Subsistemas,
atenção para a compreensão da dinâmica fronteiras e hierarquia e 3) “Em Brasília é
de funcionamento de famílias de crianças difícil fazer amizades”: relações da família
com Síndrome de Down. Este trabalho com outros sistemas sociais. Os resulta-
apresenta um estudo sobre a dinâmica dos apontam para a falta de preparo dos
familiar e os padrões de relacionamento profissionais ao atender uma criança com
de uma família com um filho com Síndro- deficiência, sem acolhimento e sensibili-
me de Down. Trata-se de uma dissertação dade ao lidar com família; a dificuldade,
de mestrado da primeira autora orienta- por parte da família, em aceitar a defici-
da pela segunda. O objetivo do estudo ência do filho, tendo que elaborar o luto
foi conhecer a dinâmica de uma família pelo filho ideal perdido; o medo dos pais
com um filho diagnosticado pela Síndro- de terem outros filhos com deficiência; o
me de Down, enfocando alguns aspectos relacionamento entre irmãos permeado
dessa dinâmica, visando contribuir com de cooperação e apoio mútuo, embora
o conhecimento sobre o tema e possibi- haja sentimentos de ciúmes; reestrutu-
litar uma melhor assistência às famílias. ração familiar durante as várias etapas
Privilegiou-se o referencial da pesquisa do ciclo de vida, possibilitando aos mem-
qualitativa de González Rey com utiliza- bros exercerem outros papéis e funções
ção do estudo de caso. A pesquisa teve familiares; pouca permeabilidade das
como participante uma família constituí- fronteiras com os outros sistemas sociais,
da por pai, 39 anos, militar, mãe, 42, uma ou seja, a família possui poucos relacio-
filha, 16, e um filho de 18 anos que possui namentos sociais. A escolha do método e
Síndrome de Down. A família é natural do a abordagem sistêmica foram essenciais
nordeste brasileiro e reside em Brasília/ para o alcance dos objetivos de pesquisa

203
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e proporcionaram um melhor entendi- educação inclusiva. Participaram do es-


mento sobre a dinâmica de uma família tudo quatro professores do Ensino Médio
que possui um membro com Síndrome que atendem alunos com necessidades
de Down. Como sugestões para pesquisas educacionais especiais em uma escola
futuras, consideram-se importantes estu- da rede pública de ensino. Os procedi-
dos que abordassem a questão religiosa mentos e instrumentos utilizados para a
como enfrentamento para aceitar o filho investigação do objeto de estudo foram
com deficiência. Também seria muito in- concretizados através de uma entrevista
teressante a realização de um estudo que semiestruturada que continha doze per-
focalizasse somente o pai, uma vez que guntas, que investigavam a educação in-
a revisão bibliográfica nos trouxe poucos clusiva na perspectiva do professor, para
dados a respeito da relação do pai com o conhecer as impressões que os docentes
filho com Síndrome de Down. têm a respeito dos seus alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, bus-
Palavras-chave: Síndrome de Down, dinâmica cando um maior conhecimento quanto
familiar e abordagem sistêmica. aos seus sentimentos, dificuldades, an-
Contato: Luciene Pires de Araújo Lins - gústias e representações que possam faci-
Universidade Católica de Brasília – UCB litar ou dificultar seu desempenho profis-
lupsc@uol.com.br sional diante da proposta inclusiva. Assim
sendo, esta pesquisa se caracteriza por
ser qualitativa pautada por teóricos re-
presentativos. A discussão dos resultados
PO-LT04-A deu-se mediante a análise do conteúdo.
A análise dos resultados obtidos, indicou
a carência de recursos pedagógicos para
LT04-702 - A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA trabalhar com alunos com necessidades
PERSPECTIVA DOS PROFESSORES educacionais especiais, a falta de capa-
Lanusa Menezes da Silveira - UCB citação profissional, a necessidade de
um ambiente adequado aos alunos com
A inclusão de alunos com necessidades necessidades educacionais especiais e a
educacionais especiais (ANEEs) no ensino falta de contato com a família. Esses de-
regular tem encontrado inúmeras barrei- safios estão aliados a uma má formação
ras, e tem sido motivo de muitas discus- dos profissionais da Educação em relação
sões e estudo. O presente trabalho tem à educação inclusiva.
como objetivo contribuir para o estudo
do processo da Educação Inclusiva na Palavras-chave: Educação inclusiva; Alunos
perspectiva dos professores de uma esco- com Necessidades Educacionais Especiais
la da rede pública da cidade do Gama-DF. (ANEEs); Capacitação; Professor.
Deste modo, este estudo buscou anali-
sar: “A Educação Inclusiva na perspectiva
dos professores”, com intuito de promo-
ver reflexões sobre as possíveis soluções
diante das dificuldades encontradas na

204
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-705 - CONCEPÇÕES DE tentação a essas teorias. Vigotski (1991),


PROFESSORES/AS DA REDE PÚBLICA presume do entendimento de que o ser
DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL humano se constitui como tal mediante as
SOBRE INCLUSÃO ESCOLAR relações social, histórica e cultural, e esse
Vanuza Sales - UNB estabelece a aprendizagem como o eixo
vanuzamoreno@yahoo.com.br dessas relações, admitindo ser esta que
Carla Francini H. Terci - UNB promove o desenvolvimento. Segundo
carlaterci@gmail.com Fonte (2005), é na sala de aula que ocorre
o momento crucial da educação escolar, e
A Educação como possibilidade de desen- encontro de duas vidas, ambas buscando
volvimento humano sempre foi uma ma- crescer e alcançar plenitude comunhão
neira que encontramos para nos referir a aluno professor. [...] O relacionamento
capacidade cognitiva do outro.Entretanto, entre estes dois elementos constitui a
na perspectiva da educação inclusiva é chave do processo ensino aprendizagem.
preciso, vislumbrarmos um novo contexto [...] (p. 04). Dos professores espera-se
escolar, onde outras questões e olhares que conduza o seu grupo de estudantes,
possam ser delineados no relacionar-se buscando compreender e negociar os di-
com o diferente, principalmente na ex- ferentes processos de significação que
periência da escola. A educação inclusiva envolvam situações de aprendizagem que
pressupõe essas novas interações, princi- planejou. (Tunes, Tacca & Bartholo, 2005,
palmente no ambiente pedagógico, onde p. 01). Analisar as concepções de profes-
deveriam ser vivenciadas relações que sores da rede pública do Distrito Federal
denominamos de educativas, ou ‘peda- - SEE/DF, ensino básico - sobre a Inclusão
gógicas’. E através dessas, percebemos a Escolar na escolarização formal. Examinar
necessidade de usá-la, como recurso, no que concepções teóricas sobre inclusão
processo educativo. A inclusão escolar é escolar que norteiam a prática pedagó-
entendida como um processo complexo gica dos professores. Identificar na rela-
de profundas transformações: na estrutu- ção professor x estudante que elemen-
ra dos sistemas educacionais e das escolas tos foram favorecedores no processo de
e nas práticas educacionais. Para Maciel e inclusão escolar. Participantes: três (03)
Barbato (2010) é um recente fenômeno professoras de três escolas de ensino fun-
sociocultural que, entre outras caracterís- damental séries iniciais, sendo uma, (01),
ticas, se configura complexo por eviden- de cada uma, das escolas acompanhadas
ciar a separação conflituosa que é habitu- pelo profissional psicólogo escolar. Os
almente feita entre o individual e o social. respectivos profissionais professores são
As concepções de desenvolvimento e de todos pertencentes a escolas públicas do
aprendizagem também já se constituíram DF. Elaborou-se um roteiro de entrevista
em objeto de estudo feito por Vygotski narrativa para os professores. Os profes-
(1977), quando propõe uma análise das sores foram investigados a partir de suas
teorias que enfocam as relações entre es- práticas, para chegar a concepções, o que
sas concepções, investigando quais são as implica, conseqüentemente perceberem
implicações educativas de determinados que concepções construíram no percurso
princípios teórico-práticos que dão sus- de suas práticas de ensino e aprendiza-

205
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gem, e, possibilitando ressignificar essas espaço de aprendizagem para os atores


na perspectiva da educação inclusiva. Foi da escola numa cultura colaborativa de
realizada uma análise qualitativa dos da- desenvolvimento e inclusão escolar.
dos, por aproximação de sentido dos con-
teúdos levantados entre as participantes Palavras-chave: Inclusão escolar, concepções,
entrevistadas. As falas foram organizadas prática, pedagógica, vínculo professor-
e agrupadas em categorias a partir dos estudante.
temas cujos sentidos eram semelhantes,
sendo essas denominadas por uma ex-
pressão que melhor as representasse pela LT04-738 - O ALUNO QUE NÃO
força dos temas recorrentes. Os professo- APRENDE: DIFICULDADE OU
res embora sejam os principais agentes TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM?
dessa ação, não percebem ainda, nem Aline Pacheco de Medeiros Ferro - UPM
consideram como elemento principal do alinepmf@yahoo.com.br
processo pedagógico a relação professor Giuliano Michel Mussi - UPM
e estudante, portanto, reestruturar a es- gmussi@terra.com.br
cola deve compreender repensar as práti- Lígia Canellas - UPM
cas, as ações e acima de tudo considerar ligiacanellas@yahoo.com.br
as possibilidades relacionais como espaço Nathália Zoli Sant`Ana – UPM
do processo de ensino e aprendizagem, nzs@uol.com.br
como recurso educativo. A pesquisa por Paulo Roberto Pereira de Souza - UPM
meio da análise dos dados nos permi- paulosouza70@terra.com.br
te concluir que com a fragmentação do Sérgio Martins Lopes - UPM
conhecimento pedagógico influenciado sergio_estagioenf@fmu.br
pelo ecletismo do senso comum, a falta José Salomão Schwartzman - UPM
de diálogo com o conhecimento teórico josess@terra.com.br).
influencia nas concepções dos professo-
res sobre inclusão escolar. Percebe-se nas No Brasil, a evasão escolar ainda é um
percepções das profissionais entrevista- grande desafio para as escolas, para os
das, uma lógica particular que sustenta pais e para o sistema educacional. Se-
a importância crescente da necessida- gundo dados do INEP (Instituto Nacional
de da mudança da prática pedagógica a de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira),
partir da relação professor e estudante. de 100 alunos que ingressam na escola
Verificou-se que o trabalho dos profissio- na 1ª série, apenas 5 concluem o ensino
nais professores não é fundamentado em fundamental, ou seja, poucos terminam
uma única concepção de inclusão, o que a 8ª série. Estudos mostram que em tor-
pôde ser demonstrado pela coexistência no de 15% a 20% das crianças no início
de várias percepções e práticas indistin- da escolarização apresentam dificuldade
tas. Constatou-se que as abordagens dos em aprender e, logo, mau desempenho
profissionais da escola são permeadas escolar. Essas estimativas podem chegar a
pela prática intuitiva, discutindo-se, a par- 30%-50% se forem analisados os primei-
tir da perspectiva sócio interacionista, as ros seis anos de escolaridade. O mau de-
diversas possibilidades relacionais como sempenho escolar (MDE) nestes estudos,

206
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

é definido como um rendimento escolar sidade de fatores etiológicos, quando se


abaixo do esperado para determinada considera o aprendizado da leitura, escri-
idade. O diagnóstico precoce do MDE é ta e matemática. Entretanto, é necessária
um ponto fundamental para a supera- uma adequação nestas terminologias a
ção das dificuldades escolares, pois além fim de possibilitar uma homogeneização
de orientar os educadores e pais sobre quando estes casos são discutidos pelos
a melhor forma de lidar com a criança, profissionais das áreas afins. O DSM-IV
direciona a elaboração de programas de classifica o transtorno de aprendizagem
reforço escolar e a adoção de estratégias (TA) e o define como a situação na qual
clínicas e/ou educacionais que auxiliam a os “resultados do indivíduo em testes pa-
criança no desenvolvimento escolar. Ob- dronizados e individualmente administra-
jetivos: Levantar as principais causas do dos de leitura, matemática ou expressão
MDE; Identificar os fatores intrínsecos e escrita estão substancialmente abaixo do
extrínsecos envolvidos no MDE; Diferen- esperado para sua idade, escolarização
ciar os conceitos dificuldade e transtorno e nível de inteligência. Os problemas de
de aprendizagem; Descrever quais são os aprendizagem interferem significativa-
transtornos de aprendizagem segundo o mente no rendimento escolar e nas ativi-
DSM-IV(Manual diagnóstico e estatístico dades de vida diária que exigem habilida-
de transtornos mentais); Descrever outros des de leitura, matemática ou escrita.” O
transtornos envolvidos no MDE: Transtor- mesmo manual de diagnóstico divide os
no de déficit de atenção/hiperatividade transtornos de aprendizagem em: Trans-
e Transtorno de desenvolvimento de co- torno da Leitura (dislexia); Transtorno
ordenação. O presente estudo trata-se da Matemática (discalculia); Transtor-
de uma pesquisa descritiva, com levan- no da Expressão Escrita; Transtorno da
tamento bibliográfico em bases de dados Aprendizagem Sem Outra Especificação.
científicos: SCIELO, LILACS, DEDALUS. Uti- A dislexia é um distúrbio de linguagem,
lizamos como descritores: mau desempe- de origem constitucional, caracterizado
nho escolar; transtorno de aprendizagem; pela dificuldade em decodificar palavras
transtorno de déficit de atenção/hipera- simples. Mostra uma insuficiência no pro-
tividade; dificuldade de aprendizagem O cesso fonológico, sendo que essas difi-
MDE depende de diferentes fatores: os fa- culdades em decodificar palavras simples
tores extrínsecos (ambientais), como: ca- não são esperadas para a idade. Apesar
racterísticas da escola (físicas, pedagógi- da instrução convencional, adequada in-
cas, qualificação do professor), da família teligência, oportunidade sociocultural e
(nível de escolaridade dos pais, presença ausência de distúrbios cognitivos e sen-
dos pais e interação dos pais com escola soriais fundamentais, a criança falha no
e deveres); e, os fatores intrínsecos, ou processo de aquisição da linguagem com
seja, o próprio indivíduo. Os termos difi- frequência, apresentando problemas na
culdades e transtorno de aprendizagem leitura, na aquisição de novas palavras e
têm gerado muitas controvérsias entre os na capacidade de soletrar. No transtorno
profissionais, tanto da área da educação da matemática (ou discalculia), a capaci-
quanto da saúde. Isto porque, há uma dade matemática, individualmente testa-
sintomatologia muito ampla, com diver- da, encontra-se abaixo do esperado para

207
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

idade cronológica. Corresponde a 6% dos mas que podem atrasar ou comprometer


Tas e ocorre igualmente em ambos os todo um trabalho educacional, uma vez
gêneros. Algumas situações específicas que a educação não tem apenas históri-
podem associar-se a ela como: epilepsia, co de sucessos e aprovações. Muitas ve-
Síndrome de Turner, TDA/H, síndrome al- zes, a criança em idade escolar, por estar
coólica fetal, fenilcetonúria tratada, entre apresentando um MDE é discriminada e
outros. No transtorno da expressão escri- até emocionalmente agredida por pro-
ta, a disgrafia e disortografia, individual- fessores, pais e pelos próprios colegas da
mente testadas, apresentam-se acentua- escola. Porém, o MDE pode estar com-
damente abaixo do esperado para idade pletamente ligado ao ambiente em que
cronológica. Corresponde a 8% a 15% dos ela está inserida, sendo assim uma difi-
TAs e compromete todas as áreas acadê- culdade de aprendizagem ao invés de um
micas. Pode ser resultado de alterações transtorno. Cabem a nós, pais, professo-
motoras, de percepção espacial, de lin- res, orientadores e educadores em geral,
guagem, além de memória e atenção. Já, termos a sensibilidade de enxergar em
o transtorno da Aprendizagem Sem Outra nossos alunos quando algo não vai bem
Especificação envolve, de acordo com e encaminhá-los a uma equipe multidis-
o DSM-IV, os transtornos da aprendiza- ciplinar para que este seja acompanhado
gem que não satisfazem os critérios para de perto e diagnosticado de maneira cor-
qualquer Transtorno da Aprendizagem reta, a fim de obter um bom rendimento.
específico, podendo incluir problemas em É de fundamental importância analisar a
todas as três áreas (leitura, matemática, qualidade das mediações estabelecidas
expressão escrita) que, juntos, interferem em diferentes contextos sociais (como a
significativamente no rendimento escolar. família e a escola), considerando que o
Para o diagnóstico do Transtorno de Dé- esfacelamento das relações entre os in-
ficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) divíduos se tornou uma característica da
é necessário que o profissional tenha pós-modernidade, na qual se verifica o
experiência clínica significativa, conheci- surgimento de verdadeiras epidemias de
mento teórico e, muita reflexão. As esco- desordens de aprendizagem.
las, a cada dia que passa se envolvem em
uma tendência de explicar o MDE de seus Palavras-chave: mau desempenho escolar;
alunos pela presença do TDAH e muitas transtorno de aprendizagem; transtorno
vezes este diagnóstico realizado na escola de Déficit de Atenção e Hiperatividade;
pode estar equivocado. O Transtorno do dificuldade de aprendizagem.
Desenvolvimento da Coordenação (TDC)
que ocorre quando há atraso no desen-
volvimento de habilidades motoras ou
dificuldades para coordenar os movimen-
tos sem causas neurológicas ou sensoriais
identificadas, também causam prejuízos,
contribuindo para o MDE. Infelizmente,
no decorrer do processo ensino-apren-
dizagem, esbarramos com alguns proble-

208
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-751 - O BRINCAR FAVORECENDO O dagógica na escola e capaz de repercutir


DESENVOLVIMENTO E O APRENDIZADO na qualidade da educação infantil: como
DA CRIANÇA PEQUENA NA ESCOLA os estudantes da UFPB, vêem a importân-
Tuana Porto Lima Cordeiro - UFPB cia da brincadeira como meio de favore-
Andréia Dutra Escarião - UFPB cer o desenvolvimento e a aprendizagem
aescariao@gmail.com da criança pequena? Quais os limites e as
Financiamento: PROLICEN contribuições da formação acadêmica na
ressignificação da identidade dos docen-
Introdução: Este projeto surge da neces- tes da educação infantil? Quais as dificul-
sidade em avançar os estudos na área da dades encontradas pelos professores em
educação infantil, pensando a formação compreender de fato o objetivo pedagó-
do professor numa perspectiva que aten- gico das brincadeiras utilizadas na escola
da a necessidade da criança pequena na infantil? Estas se constituem nas principais
escola. Não há como pensar numa esco- questões de estudo, cujo aprofundamen-
la que favoreça o desenvolvimento e o to a ser realizado, em fase subseqüente,
aprendizado da criança, sem relacionar permitirá perceber a existência ou não de
esses aspectos à brincadeira, a uma prá- mecanismos articuladores da prática na
tica pedagógica que objetive o aprender formação no cotidiano das práticas peda-
brincando. A questão da formação docen- gógicas dos professores, com vistas à me-
te para a educação infantil está longe de lhoria da Educação infantil. Sabemos que
constituir-se em uma questão resolvida no a criança traz consigo um conjunto de ca-
cenário educacional brasileiro. É preciso racterísticas que se expressam, sobrema-
destacar que historicamente temos avan- neira, no campo educacional, ou seja, traz
ços e recuos, tanto no plano teórico, quan- para escola aspectos emocionais próprios,
to no plano da prática, a questão envolve apresentam comportamentos, valores,
debates, por perpassar distintas concep- interesses e dificuldades, aprendizados e
ções da prática educativa e por constituir- cultura decorrentes de sua vivência social
-se numa atividade que envolve um alto e familiar. A partir desta realidade, faz-se
grau de complexidade para a sua realiza- necessário embasar teoricamente os es-
ção. Ainda se constitui um grande desa- tudos sobre a criança da educação infan-
fio para a educação infantil consolidar-se til. Evidentemente, esta pesquisa deverá
enquanto etapa de fundamental impor- analisar o seu objeto tendo como marco
tância na educação básica. Infelizmente é referencial o contexto que essas crianças
comum, educadores demonstrarem falta estão inseridas, e as políticas voltadas
de conhecimento acerca dos fundamen- para educação infantil. Analisar como a
tos da educação infantil e das técnicas que brincadeira pode favorecer os processos
podem ser utilizadas como meio de favo- de desenvolvimento e de aprendizagem
recer o desenvolvimento integral da crian- da criança pequena na escola; Identificar
ça, sendo a brincadeira uma delas. Ligadas as concepções teóricas sobre a criança pe-
a esta problemática, emergem algumas quena e a educação infantil; Identificar as
questões cujas respostas seriam indica- contribuições da brincadeira como ação
doras da possibilidade da formação incidir pedagógica lúdica no desenvolvimento in-
positivamente na melhoria da prática pe- tegral da criança pequena; Verificar se os

209
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

professores da educação infantil fazem a educativas em prol da melhoria da educa-


relação entre a brincadeira e o desenvolvi- ção infantil, tanto no plano da formação
mento e o aprendizado da criança peque- dos sujeitos envolvidos, quanto no plano
na na escola; Desenvolver atividades lúdi- das escolas do sistema público de ensino.
cas que favoreçam o desenvolvimento in- Portanto, argumentamos a necessidade
tegral da criança pequena em articulação da sua viabilidade em razão da relevân-
com os professores. Nossa pesquisa é de cia do estudo, ressaltando a importância
natureza etnográfica em razão desta abor- de refletir criticamente sobre o brincar na
dagem metodológica permitir aos pesqui- educação infantil como forma de favore-
sadores uma vivência direta na realidade cer o desenvolvimento e o aprendizado da
onde se insere a pesquisa. A pesquisa criança pequena na escola, assim como, a
abrangerá o docente que se encontra em possibilidade de revisão das práticas pe-
pleno exercício de suas atividades docen- dagógicas dos professores da educação
tes na etapa da educação infantil na Escola infantil como forma de garantir uma me-
de Educação Básica do Centro de Educa- lhoria na qualidade da educação atenden-
ção da Universidade Federal da Paraíba. A do às reais necessidades e expectativas da
esse estudo, caracterizado com pesquisa criança pequena na escola.
e intervenção, interessa observar como
a brincadeira vem sendo trabalhada na Palavras–chave: Educação Infantil. Prática
etapa de educação infantil, assim como Pedagógica. Brincadeira.
pretende contribuir com a elaboração de
propostas de atividades lúdicas que pos-
sam ser inseridas no processo de plane- LT04-884 - A EDUCAÇÃO DE ESCOLARES
jamento dos professores que trabalham COM BAIXA VISÃO: PERCEPÇÕES DOS
com crianças pequenas na escola nas suas PRÓPRIOS SUJEITOS.
práticas docentes. O projeto atende direta Marília Costa Câmara Ferroni - UNICAMP
e indiretamente os professores que traba- marilia_ferroni@hotmail.com
lham com a Educação Infantil e às crianças Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto
pequenas matriculadas na escola, lócus - UNICAMP
da pesquisa. A metodologia prioriza a par- gasparetto@fcm.unicamp.br
ceria, o trabalho coletivo facilitado pelo
exercício do diálogo e da avaliação perma- Nos dias atuais, a inclusão é uma questão
nente para retroalimentar o projeto, cor- central em todos os ambientes em que
rigido o que for necessário em busca da vivemos: famílias, escolas, mercado de
consecução dos seus objetivos. O trabalho trabalho, espaços de lazer e todas as situ-
de pesquisa está sendo realizado coletiva- ações da vida do ser humano (Amiralian,
mente por meio de reuniões de estudo, 2009). Educar os escolares com baixa vi-
seminários, debates, produção de textos e são é favorecer-lhes condições para que
atividades junto às crianças contando com desenvolvam suas possibilidades naturais
a participação dos professores da escola. e possam contribuir com seu trabalho
A pesquisa encontra-se em andamento. para uma comunidade à qual tenham o
Espera-se que esse estudo favoreça uma sentimento de pertença (Masini, 2007).
ampla reflexão da produção de práticas Considera-se baixa visão quando o valor

210
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da acuidade visual corrigida no melhor subestimação de suas potencialidades e


olho é menor que 20/60 e igual ou maior capacidades (Bezerra & Pagliuca, 2007).
que 20/400, ou o campo de visão seja me- Esses escolares são, muitas vezes, isola-
nor que 20 graus com a melhor correção dos do contato com parceiros e têm in-
óptica. A baixa visão subdivide-se em três terações restritas à relação com o adulto
categorias: perda visual moderada, em limitando, assim, suas experiências fora
que o indivíduo apresenta acuidade visu- da família. Esse isolamento pode ocorrer
al < 20/60 e ≥ 20/200; perda visual grave nas relações parentais, com a vizinhan-
< 20/200 e ≥ 20/400; e cegueira Legal < ça, escolares e em caráter terapêutico,
20/400 e ≥ 20/1200 (OMS, 2003). Para embora a interação constitua importante
melhorar o desempenho visual de escola- elemento da vida social do escolar, pois,
res com baixa visão, é recomendada a uti- promove um contexto propício ao desen-
lização dos recursos de Tecnologia Assisti- volvimento de suas competências sociais.
va, uma área do conhecimento de caracte- A relação com os pares também é um ele-
rística interdisciplinar que engloba produ- mento importante a ser considerado no
tos, recursos, metodologias, estratégias, processo de construção, desenvolvimento
práticas e serviços que objetivam maior e transformação do indivíduo, da cultura
funcionalidade, autonomia, independên- e da sociedade (Souza & Batista, 2008).
cia, qualidade de vida e inclusão social da As necessidades visuais de cada pessoa
pessoa com deficiência (Gasparetto et al., variam de acordo com cada fase e mo-
2009). Qualquer recurso que potencialize mentos de sua vida, em atividades esco-
o funcionamento visual do indivíduo com lares, de lazer, de vida diária, do trabalho
baixa visão, em suas atividades diárias, é ou na vida adulta e, para o bom desem-
caracterizado como recurso de Tecnologia penho dessas pessoas, se faz necessária
Assistiva e pode ser classificado em re- a parceria entre a área da saúde, escola,
cursos óptico, não óptico, eletrônico e de família e ensino especializado (Carvalho
informática. Em pesquisa sobre a percep- et al., 2005). Os profissionais que atuam
ção de diretores do sistema público sobre na educação, habilitação e reabilitação de
a inclusão educacional, verificou-se que escolares com baixa visão necessitam co-
faltavam recursos de tecnologia assistiva nhecer esta população, para uma melhor
e materiais pedagógicos destinados ao elaboração de programas de habilitação
uso do escolar com deficiência visual (Ja- e/ou reabilitação visual, que propiciem
nial & Manzini, 1999). Quando se trata da desenvolvimento, transmissão de conhe-
educação de escolares com necessidades cimentos de acordo com as necessidades
especiais, questões relacionadas à inte- de cada um, transformação em novos sa-
ração social se tornam ainda mais impor- beres, aprendizagem e preparo para a in-
tantes, por possuírem algumas limitações clusão social. A presente pesquisa tem por
quanto às possibilidades de locomoção e objetivos: conhecer a percepção de esco-
exploração de objetos. Freqüentemente, lares com baixa visão em relação às suas
são considerados incapazes de executar dificuldades visuais; investigar suas opini-
certas atividades, participar, decidir por ões sobre a comunidade escolar; verificar
si mesmos, contribuir nas atividades em o uso de recursos de tecnologia assistiva
grupo e em brincadeiras livres, havendo nas atividades cotidianas. Realizou-se um

211
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

levantamento descritivo, tipo transversal. a matéria. Embora a maioria dos entrevis-


A coleta de dados foi realizada no período tados (52,4%) tenha relatado não possuir
de janeiro a agosto de 2010, com aplica- relacionamento com a direção, coordena-
ção de um questionário semiestruturado ção e outros funcionários da escola, esses
a escolares com baixa visão, observações profissionais fazem parte da comunidade
e leitura de prontuários. Para elaborar o escolar e deveriam ajudar os escolares
instrumento e adequá-lo à realidade es- em relação à orientação, estimulação e
tudada, realizou-se um estudo explorató- integração, já que são responsáveis pela
rio, com a finalidade de descobrir novos inclusão educacional, de modo a favore-
enfoques, conhecimentos, vocabulários cer a aprendizagem, a independência e a
e percepções dos escolares com baixa autonomia dos escolares com baixa visão
visão em relação ao tema estudado. A (Bezerra & Pagliuca, 2007). Sobre o uso
população foi composta por 19 escolares de recursos de Tecnologia Assistiva, pre-
na faixa etária entre 12 e 17 anos, com valeceram os recursos de informática, no
baixa visão congênita (94,7%) ou adquiri- qual 76,7% dos respondentes declararam
da (5,3%), regularmente matriculados no fazer uso de recurso específico para bai-
Ensino Fundamental II (63,2%) ou no En- xa visão. É imperativo que uma atenção
sino Médio (36,8%) e que freqüentavam maior seja dada à educação de escolares
os serviços de Habilitação e ou Reabilita- com baixa visão, pois, as maiores dificul-
ção Visual nos municípios de Campinas dades enfrentadas são do âmbito acadê-
ou em Ribeirão Preto. Destes, 52,6% eram mico. Acredita-se que uma das formas de
do sexo feminino e 47,4% do sexo mascu- minimizar ou sanar as dificuldades é com
lino; verificou-se que os dados do Censo o preparo da comunidade escolar, por
Demográfico de 2000 apresentaram maior meio de palestras, reuniões com profis-
prevalência de pessoas com deficiência sionais especializados, leituras de textos
visual do sexo feminino. De acordo com informáticos, exibição de vídeos e estudos
a classificação de baixa visão, 79,0% dos nos HTPC (hora de trabalho pedagógico
escolares entrevistados apresentam baixa coletivo). Outra ferramenta importante é
visão moderada; 15,7%, cegueira Legal e a utilização de Recurso de Tecnologia As-
5,3%, grave. Verificou-se que 94,7% de- sistiva, destacando o uso da informática,
clararam ter dificuldades visuais na es- um recurso importantíssimo a ser explo-
cola, destacando-se as dificuldades para rado pelos alunos com deficiência visual,
enxergar a lousa (33,3%), ler dicionário pois, pode auxiliar no desenvolvimento da
(22,2%) e realizar leitura de livros (16,7%). programação e conteúdo escolar, propor-
Em relação à autopercepção das dificul- cionando melhor desempenho visual na
dades visuais, verificaram-se: dificuldades leitura de livros e dicionários disponíveis
acadêmicas, pegar ônibus, andar a noite e na internet.
assistir televisão. Enfatizando as relações
com a comunidade escolar, a maioria dos Palavras-chave: educação, inclusão,
alunos possui bom relacionamento com deficiência visual
professores (79,0%) e 68,4% indicaram Contato: Marília Costa Câmara Ferroni,
possuir boa relação colaborativa com os CEPRE- FCM- UNICAMP, marilia_ferroni@
colegas de classe, pois, os mesmos ditam hotmail.com

212
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-995 - APRENDIZAGEM EM tismo?”, “Qual é o papel de um professor


CRIANÇAS AUTISTAS: DUAS VISÕES que trabalha com autistas?” e “Quais são
Ana Karina C. R. de Farias as dificuldades de aprendizagem de um
akdefarias@gmail.com aluno autista?”. Notou-se que a profes-
Ângela Suzana Rodrigues Guimarães - UniCEUB sora do ensino especial ocupa esse cargo
angela.suzanarg@gmail.com por vontade própria, por causa de even-
Alyne Farias Moreira - UniCEUB tos da sua vida pessoal; apresenta uma
alynefariasmoreira@gmail.com visão interacionista da aprendizagem,
Isabele Raiana de Mendonça Rangel - UniCEUB apropriando-se do papel de mediadora;
belle.rangel@gmail.com recusa o papel de cuidadora; e assume
Thaís Polônio Ribeirinho - UniCEUB a responsabilidade pelas dificuldades de
thais.polonio@gmail.com aprendizagem em sala de aula. Já a pro-
fessora do ensino inclusivo acredita que
O autismo é classificado como um dos o professor tem a função de transmitir o
Transtornos Globais do Desenvolvimen- conhecimento; reconhece a necessidade
to, segundo o Manual Diagnóstico e Esta- de assumir o papel de cuidadora; enfatiza
tístico de Transtornos Mentais, o DSM-IV- as dificuldades de aprendizagem próprias
-TR (Associação Americana de Psicologia, de alunos autistas; e busca a aprendiza-
APA, 2002). Dentre os critérios diagnósti- gem formal. Ambas acreditam na im-
cos, estão falta de reciprocidade nas inte- portância da escola para a melhora do
rações sociais, comportamentos estereo- espectro autista. Sabe-se que visões inte-
tipados, limitação nas atividades e inte- racionistas da aprendizagem consideram
resses, assim como falhas na aquisição e/ o desenvolvimento como advindo das re-
ou na emissão de algum comportamento lações entre o indivíduo e seu meio. Des-
verbo-gestual ou vocal (Martins, 2010). sa forma, essa interação seria uma base
Para o sucesso na aprendizagem de au- propícia a mudanças (Baum, 1994/2006;
tistas, é importante que o professor acre- Vigotsky, 1998). Portanto, compartilhan-
dite na capacidade de aprender desses do de uma visão interacionista da apren-
alunos. Essa interpretação da realidade dizagem, a professora do ensino especial
determinará as práticas e comportamen- parece propensa a acreditar na possibi-
tos do professor e o investimento por ele lidade de desenvolvimento das crianças
creditado aos alunos (Abric, 1998). Dessa autistas. Também, por seu maior inte-
forma, esse estudo se propôs a investigar resse na execução de sua função e por
as crenças e práticas de duas professoras ter investido mais em sua formação, a
que lidam com crianças autistas por meio professora do ensino especial mostra-se,
de dois estudos de caso, sendo que uma atualmente, melhor preparada para lidar
delas trabalha com ensino especial e a com alunos autistas.
outra com ensino inclusivo. O instrumen-
to escolhido para a coleta de dados foi Palavras-chave: Autismo infantil, Ensino
uma entrevista semiestruturada, dentro especial, Ensino inclusivo
de uma perspectiva qualitativa de produ- Contato: Thais Polonio Ribeirinho, UniCEUB,
ção de conhecimento, com itens como, thais.polonio@gmail.com
por exemplo: “Como você definiria o au-

213
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1039 - ESTRATÉGIAS DE ENSINO conhecimentos. A DI se caracteriza por


APRENDIZAGEM PARA O DEFICIENTE registrar um funcionamento intelectu-
INTELECTUAL al considerado por alguns autores como
Cristiane Alves Cardoso - UAB/UnB significativamente inferior à média, im-
kristalves@hotmail.com possibilitando o indivíduo de responder,
Patrícia Cristina Campos Ramos - UnB conforme se espera, às demandas da so-
pcamposramos@uol.com.br ciedade. Tendo em vista as questões des-
Andrea Moreira Couto Fournier - UAB/UnB tacadas até aqui, o objetivo geral desta
andrea.fournier@hotmail.com pesquisa foi o de buscar compreender o
processo de ensino-aprendizagem de uma
Financiamento: CNPq criança diagnosticada com D.I.; e como
objetivos específicos: conhecer as causas
É na escola que os direitos dos Alunos e conseqüências da D.I e verificar o desen-
com Necessidades Educacionais Especiais volvimento da criança com D.I em relação
(ANEEs) são garantidos. Por esse motivo, ao processo de ensino-aprendizagem du-
a instituição escolar desempenha papel rante o 2º semestre de 2010. A metodolo-
importantíssimo no processo inclusivo gia empregada buscou alcançar resultados
do aluno, já que é através dela que este qualitativos, através do acompanhamento
poderá obter novos conhecimentos e con- da vida acadêmica e sócio-cultural de um
solidar aqueles adquiridos em outros con- aluno com deficiência intelectual, matri-
textos de seu convívio social. Influenciada culado no 4º ano do Ensino Fundamental
por diretrizes internacionais, a educação em turma regular de uma escola públi-
inclusiva brasileira está ampliando seus ca do DF, em que a pesquisadora atuava
horizontes, e vem conquistando espaço como professora regente. A instituição de
na legislação do país, que tem demonstra- ensino fundamental escolhida como fon-
do crescente preocupação em integrar ao te de pesquisa para este estudo possuía
meio os grupos historicamente excluídos 44 turmas em 2010, ano em que foi de-
em função de classe, etnia, idade, gênero, senvolvido o estudo. Além do aluno com
deficiência entre outros. Garantir a quali- diagnóstico de D.I, participaram do estudo
dade de ensino educacional a cada um de a mãe do aluno e a professora da sala de
seus alunos, reconhecendo e respeitando recursos. Para a construção das informa-
sua diversidade, é uma das características ções junto aos participantes foram utili-
do sucesso de uma escola inclusiva. Atu- zados alguns materiais, como livros, arti-
almente, existem avanços significativos gos, roteiro de entrevistas, câmera digital,
ao que se refere à educação especial e, computador. Para iniciar a construção de
mais propriamente para o nosso foco de informações, foi pedida autorização para
interesse, a Deficiência Intelectual (D.I.). a instituição escolar e, após consenti-
A D.I. afeta uma parcela significativa das mento, deu-se início ao processo de es-
pessoas na população em geral e, tam- clarecimentos relevantes ao trabalho. As
bém, das crianças em idade escolar. Essa informações necessárias foram obtidas na
deficiência ainda não é suficientemente própria instituição escolar, pela pesquisa-
compreendida e, por isso, constitui obje- dora. Os envolvidos no processo da cons-
to de investigação de inúmeras áreas de trução destas informações preencheram

214
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e assinaram o Termo de Consentimento por objetivo buscar sua autonomia na rea-


Livre Esclarecido para início das atividades lização das atividades. Contraditoriamen-
de pesquisa. O familiar responsável pelo te, analisando a entrevista com a mãe,
aluno também autorizou a participação observou-se, por parte dela, uma grande
da criança na pesquisa, após conversa em preocupação de que seu filho aprendes-
reunião com a professora pesquisadora, se os conteúdos curriculares; além disto,
que lhes garantiu o sigilo das informações que se sentia incomodada pelo fato de o
e seu uso apenas para fins de pesquisa. Ao filho brincar com crianças de idade infe-
serem informados sobre o processo, tanto rior à dele, além de acreditar que a escola
o responsável quanto o aluno demonstra- já atendia suas necessidades. O diário de
ram satisfação em serem escolhidos para campo e o portfólio, confeccionados com
tal, e seus nomes não foram divulgados, o objetivo de verificar o desenvolvimen-
sendo ambos referenciados apenas por to cognitivo do aluno, traziam atividades
nomes fictícios. Para descrever o aluno e realizadas com o intuito de atingir os ob-
o seu processo de aprendizagem foram jetivos da adequação curricular. Nele, o
utilizadas todas as informações a que tive- aluno apresentou avanço significativo na
mos acesso na instituição escolar, como: realização de suas produções; organizou
relatórios de apoio ao docente, relatórios as ideias e conseguiu transmitir seus pen-
psicopedagógicos, relatório médico e re- samentos. O conhecimento adquirido foi
latório de desempenho escolar. Foram re- expresso através de ilustrações. A percep-
tiradas, desses documentos, informações ção do aluno sobre os conteúdos ministra-
consideradas relevantes para a construção dos, no entanto, foram representados da
desta pesquisa. Os resultados alcançados forma com que ele conseguia interpretar
demonstraram que o acompanhamento os fatos, sendo que, na maioria das ati-
diferenciado e adequado às especificida- vidades, foi necessária a intervenção da
des e necessidades do aluno contribuiu, professora. Conclui-se, então, que o aluno
significativa e positivamente, para o pro- participante desta pesquisa, diagnostica-
cesso de ensino-aprendizagem. Analisan- do com deficiência intelectual, conseguiu
do o histórico da vida escolar do aluno nas manter um bom desenvolvimento educa-
escolas pelas quais passou, percebemos cional, provavelmente, porque a prática
que na primeira escola o aluno não teve educativa esteve direcionada às suas par-
muito progresso e a mãe esteve ausente. ticularidades, já que sabemos que cada
Na segunda escola, com a troca de profes- indivíduo tem o seu tempo para aquisi-
sor, o aluno apresentou melhorias signi- ção de novos conhecimentos e aprimo-
ficativas em seu rendimento escolar. Se- ramento dos antigos. O direcionamento
gundo relatório, naquele período, o aluno das atividades facilitou o aprendizado do
aprendeu a ler, embora tenha continuado aluno e, através dos resultados obtidos,
com dificuldades na resolução de opera- foi possível notar que o atendimento indi-
ções matemáticas; a ausência da mãe foi vidualizado, a adequação das atividades e
um ponto mencionado mais uma vez pela a participação dos colegas como monito-
equipe escolar. Na terceira escola a mãe res contribuíram para que o aluno se de-
também se mostrou ausente e as ativi- senvolvesse e se sentisse incluído naquela
dades desenvolvidas com o aluno tinham instituição. A conclusão que chegamos,

215
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

inspirados em Vigotski, é que o olhar do vimento humano, enquanto sujeitos em


educador deve estar sempre voltado para transformação, inseridos num contexto
as potencialidades do educando e nunca, de relações e condições historicamente
como corriqueiramente ocorre, para as constituídas. Participou dessa pesquisa
suas deficiências e limitações. um total de 26 adolescentes, organizados
em dois grupos, com 14 e 12 participan-
Palavras-chave: Deficiência intelectual, tes, respectivamente, organizados por fai-
Ensino-aprendizagem, Inclusão Escolar xa etária (10 a 14 anos e 15 a 19 anos).
Contato: Cristiane Alves Cardoso, UAB/UnB, Selecionaram-se os temas desenvolvidos
kristalves@hotmail.com durante as vivências nos grupos, a partir
das diretrizes nacionais para a atenção in-
tegral à saúde de adolescentes e jovens,
LT04-1043 - CONTRIBUIÇÕES DA na promoção, proteção e recuperação
PSICOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO EM da saúde, do Ministério da Saúde (Brasil,
SAÚDE DE ADOLESCENTES EM UM 2010), os quais incluíram: direitos sexuais
SERVIÇO DE SAÚDE e direitos reprodutivos, projeto de vida e
Etiene Oliveira Silva Macedo - UnB cultura de paz. Além disso, também foram
etienemacedo@gmail.com abordados temas considerados importan-
Maria Inês Gandolfo Conceição - UnB tes pelos participantes, diretamente rela-
inesgand@unb.br cionados aos anteriores, como processos
Financiamento: CNPq identitários e relações familiares. A rele-
vância desse trabalho está na contribui-
O presente trabalho visa apresentar as ção teórico-metodológica que a Psicologia
contribuições da inserção da Psicologia pode oferecer a partir da inserção nos
nas atividades voltadas à educação para a espaços públicos que atendem essa po-
promoção da saúde de adolescentes aten- pulação. Desde a década de 1970, os psi-
didos no serviço público de saúde. Trata- cólogos têm participado do Sistema Único
-se dos resultados parciais de pesquisa de- de Saúde, sobretudo na atenção terciária,
senvolvida pela 1ª autora, sob orientação a partir da Psicologia Hospitalar. Relatos e
da 2ª, para obtenção do título de mestre, pesquisas sobre a inserção do psicólogo
cuja dissertação se encontra em andamen- na atenção primária estão ainda em cons-
to. Tomou-se como referência a realização trução, devido ao pouco tempo de inser-
de grupos temáticos, desenvolvidos den- ção do profissional nesse espaço (Boing,
tro de um Programa de Atenção Integral Crepaldi & Moré, 2010). Especificamente
à Saúde do Adolescente. Essas atividades em relação à promoção da saúde integral
tiveram duração de 3 meses, organizadas de adolescentes, observa-se que esses
em 12 sessões estruturadas a partir do relatos são escassos. Dentre as contribui-
referencial metodológico do sociodrama ções alcançadas por esse estudo, pode-se
(Nery, Costa & Conceição, 2006) e tiveram destacar o fortalecimento da atuação da
como objetivo, propiciar aos participantes psicologia em contextos não-clínicos, mas,
da pesquisa, por meio de jogos e drama- essencialmente, terapêuticos. Nessa pers-
tizações, a vivência sócio-afetiva sobre pectiva, tem-se a expansão da concepção
seu momento no processo de desenvol- de fato clínico: fatos sociais e psicológicos

216
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se complementam ou se suplementam convergir para possibilitar aos participan-


em torno do objeto estudado, o que exige tes a realização de escolhas possíveis em
intervenções terapêuticas cada vez mais prol da saúde; ações que busquem a au-
criativas (Nery & Costa, 2008). Outra con- tonomia e a saída coletiva para problemas
tribuição é a aproximação da Psicologia que também são vividos na coletividade.
com a Saúde, o que requer um posiciona-
mento ético-político junto ao seu objeto Palavras-chave: Adolescência, Psicologia,
de estudo. Para se compreender o sujeito Sistema Único de Saúde
em sua integralidade é preciso reconhecer Contato: Etiene Oliveira Silva de Macedo, UnB,
sua inserção num espaço histórico e cul- etienemacedo@gmail.com
tural. No presente estudo, a adolescência
é concebida como um momento no pro-
cesso de desenvolvimento humano, cuja LT04-1048 - VALIDADE DO ZULLIGER
transição é multifacetada, mediada por re- NA AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA
lações que se dão num contexto sociohis- INTERPESSOAL
toricamente constituído. De acordo com Jucelaine Bier Di Domenico Grazziotin
Vygotsky (1996), o adolescente só pode jucelainegraz@terra.com.br
ser compreendido a partir de relações que Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS
são objetivadas na cultura: adolescentes silvanalba@upf.br
de contextos diferentes vão se desenvol-
ver também com especificidades diferen- A avaliação psicológica é uma prática fre-
ciadas. Logo, essa transição não pode ser quente no contexto organizacional, pois
tomada como um “a priori”. Do contrário, possibilita melhor compreensão das ha-
corre-se o risco dessa transitoriedade le- bilidades do indivíduo, do seu funciona-
gitimar o caráter de invisibilidade desses mento psicológico e, ainda, dos aspectos
sujeitos, como o vir a ser, o inacabado que preditivos do desenvolvimento de seu
almeja a vida adulta. Em relação à promo- comportamento. Atualmente, as habili-
ção da saúde, buscou-se o entendimento dades de competência interpessoal nes-
da saúde em sua concepção mais amplia- se âmbito, passaram a ser um requisito
da, com dimensões e causalidades múl- imprescindível em todos os níveis ocupa-
tiplas (Brasil, 2010). Além de contribuir cionais, desde aquele que atende à co-
para o desenvolvimento psicossocial dos munidade externa à empresa como aos
adolescentes participantes, essa pesquisa clientes e ao público em geral, até aqueles
discute também a prática da Psicologia no que convivem diariamente com o público
Sistema Único de Saúde, pois comparece interno, no mesmo setor e intersetores.
como um fazer transversal, inseparável Assim, a competência interpessoal é a
dos princípios norteadores dessa políti- habilidade de lidar eficazmente com as re-
ca, na busca de uma saúde possível aos lações interpessoais, de lidar com outras
participantes, neste caso, os adolescentes pessoas de forma adequada às necessi-
atendidos, considerando seus múltiplos dades de cada uma e às exigências da si-
contextos de inserção (Santos, Quintani- tuação. Perceber de forma acurada uma
lha & Dalbello-Araújo, 2010). Discutem-se situação e suas variáveis permite que o
também como as ações e práticas podem sujeito desempenhe melhor o seu traba-

217
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lho, tanto na dimensão técnica requerida desenvoltura social; F4) autoexposição a


pela natureza dessa atividade quanto na desconhecidos e situações novas; F5) au-
de ser capaz de se posicionar de forma ha- tocontrole da agressividade em situações
bilidosa na rede de relações interpessoais, aversivas. Participaram dezenove sujeitos,
interna e externa, no local de trabalho. A entre 18 e 43 anos de idade, média 27,5
competência interpessoal é revelada nas anos (DP=8,83), dez (53%) do gênero fe-
relações estabelecidas entre indivíduo-in- minino e nove (47%) do gênero masculi-
divíduo e indivíduo-grupo, englobando as- no, quinze (78,94%) com ensino médio
sim atitudes individuais e coletivas, sendo completo e quatro (21,05%) ensino mé-
estas jamais indissociáveis. Desse modo, dio incompleto. Todos exerciam ativida-
para avaliar o desenvolvimento e a aquisi- des de atendimento direto ao cliente em
ção da competência interpessoal é neces- uma loja de uma rede de supermercados.
sário a utilização de instrumentos válidos, Destes, sete (36,84%) na função de ope-
que reúnam um conjunto de evidências radores e frente de caixa; sete (36,84%)
que assegurem a sua relevância, a sua como atendentes de perecíveis e cinco
utilidade nos usos propostos e nas inter- (26,31%) no cargo de atendentes de loja.
pretações geradas. É nesse contexto, que Os participantes responderam ao ZSC se-
o teste Zulliger no Sistema Compreensivo guido pelo IHS, de forma individual em
ZSC se insere, especialmente por integrar uma única sessão. Nos resultados, em re-
diversos aspectos da personalidade, com lação ao ZSC, apenas as variáveis SumT e
base tanto nos preceitos da psicometria, Isolamento oscilaram entre os parâmetros
como nos da projeção e por possibilitar normativos. Também os fatores do IHS,
uma investigação mais completa do uni- mantiveram-se nos índices normativos.
verso psíquico do examinando, tão solici- Os resultados, além disso, demonstraram
tada no campo empresarial. Assim sendo, que os indicadores GHR, GPHR, pure H,
o objetivo deste estudo foi verificar as evi- Sum H, que informam sobre o bom re-
dências de validade do Zulliger no Sistema lacionamento e percepção interpessoal
Compreensivo ZSC, focalizando a variável adequada, correlacionaram-se positiva e
relacionamento, a saber: SumT (som- significativamente com fatores GIHS, F3 e
breado textura); Fd (comida ou ação de F1 do IHS. A variável COP, apesar de não
comer); H (humano inteiro), Hd (detalhe ter apresentado índices significativos de
humano),(H) (para-humano inteiro), (Hd) correlação com o IHS, apontou aspectos
(detalhe para-humano); GHR (boa repre- positivos qualitativamente, manteve-se
sentação humana) e PHR (representação na média normativa e em comparação à
humana pobre); a (movimento ativo) e p AG, mostrou-se superior. As variáveis AG,
(movimento passivo); (isolamento); PER PHR, SumT, que podem informar sobre o
(resposta personalizada); AG (movimento relacionamento e a percepção interpes-
agressivo); COP (movimento cooperati- soal prejudicados, correlacionaram-se ne-
vo) que, por hipótese, estariam correla- gativa e significativamente com os fatores
cionadas com os fatores de Habilidade GIHS e F5 do IHS. Portanto, sendo a idéia
IHS: F1) autoafirmação e enfrentamento principal desse estudo, verificar as evidên-
com risco; F2) autoafirmação na expres- cias de validade do ZSC em correlação com
são de afeto positivo; F3) conversação e os fatores do IHS, que teoricamente ava-

218
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

liam construtos similares, relacionamento o desenvolvimento como decorrente do


e habilidade social, a correspondência dos fluxo de interações entre características
resultados obtidos entre os instrumentos, estruturais da pessoa e diferentes con-
forneceu uma importante contribuição textos dos quais ela participa. Entre estes
para a sua legitimidade. Por fim, mesmo contextos, a escola é uma instituição so-
sendo um estudo de caráter preliminar, os cial que faz parte do processo de desen-
resultados contribuíram para afirmar a va- volvimento do indivíduo, com a função
lidade do Zulliger na avaliação psicológica de ampliar as capacidades interpessoais/
da competência interpessoal no contexto intrapessoais, de pensar, planejar, memo-
organizacional. rizar, o que não se diferencia no âmbito
da inclusão de crianças com necessida-
Palavras-chave: competência interpessoal, des educacionais especiais. Portanto, o
Zulliger no Sistema Compreensivo, evidência objetivo geral desta pesquisa foi traçar
de validade. um paralelo entre o funcionamento do
Programa de Educação Precoce no DF, em
dois diferentes momentos e contextos: o
LT04-1193 - A INCLUSÃO NO PROGRAMA atendimento no Centro de Ensino Espe-
DE EDUCAÇÃO PRECOCE NO DISTRITO cial e o atendimento em uma escola de
FEDERAL: DIFERENTES MOMENTOS ensino regular de educação infantil. Os
Andrea Moreira Couto Fournier - UnB objetivos específicos deste estudo foram:
andrea.fournier@hotmail.com observar as diferenças e semelhanças
Patrícia Cristina Campos Ramos - UnB entre estas duas realidades e identificar,
pcamposramos@uol.com.br com base nos depoimentos e opinião
Cristiane Alves Cardoso - UnB dos participantes, os fatores que atuam
kristalves@hotmail.com como facilitadores ou dificultadores no
processo de inclusão da criança. Trata-
O desenvolvimento da criança tem sido -se de uma pesquisa qualitativa, da qual
estudado, ao longo do tempo, sob dife- participaram professores, coordenador e
rentes enfoques. Para a teoria da matu- pais integrantes do Programa de Educa-
ração biológica, por exemplo, o desenvol- ção Precoce em realidades distintas, que
vimento ocorre de forma natural e tem tratam do funcionamento do Programa
uma raiz endógena; a teoria ambientalis- de Educação Precoce em Centros de En-
ta, por sua vez, preconiza que o conheci- sino Especial e em Centros de Educação
mento vem da experiência do indivíduo; Infantil. Os participantes deste estudo fo-
já de acordo com a abordagem constru- ram: uma professora educadora física, a
tivista, a aprendizagem ocorre com a coordenadora do Programa (ambas já tra-
interação sujeito-ambiente, enquanto balharam nas duas realidades citadas), a
teóricos da abordagem histórico-cultural gestora da escola de educação infantil e o
apontam o papel da cultura, da socieda- pai de uma criança que também frequen-
de e da história como essenciais para o tou o Programa em ambos os contextos.
desenvolvimento individual. Assim, cada A referida criança atualmente integra o 2º
criança é singular no modo de aprender e período da Educação Infantil, na mesma
desenvolver-se, e podemos compreender unidade de ensino em que já participou

219
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do Programa de Educação Precoce, tam- vel, por que o preconceito ainda não está
bém tendo participado do mesmo Pro- cristalizado, e as crianças que convivem
grama em Centro de Ensino Especial. A com a diferença na escola tendem a ser
condição definida para esta participação mais compreensivas com a diversidade. A
foi que todos estivessem envolvidos com criança em situação de necessidade espe-
o programa, direta ou indiretamente. As cial, inserida na escola desde cedo e que
entrevistas foram realizadas por meio de faz parte do alunado, aos poucos vai con-
procedimentos similares e pautadas por quistando seu espaço, interagindo com
referenciais teóricos e pressupostos me- funcionários e outras crianças, com os
todológicos comuns. Os três instrumen- próprios colegas em sala de aula e partici-
tos foram idealizados para entrevistas pando das atividades coletivas da escola.
semiestruturadas, sendo que o primeiro Outro aspecto trazido nas entrevistas foi
era destinado ao gestor da instituição que o impacto na percepção dos pais ao leva-
já atuava na escola antes do Programa de rem seus filhos para serem atendidos no
Educação Precoce se iniciar lá. O segundo Programa de Educação Precoce e se depa-
instrumento era aplicado em professores rarem com crianças, jovens e adultos nos
e coordenador do Programa. O terceiro, Centros de Ensino Especial que apresen-
destinado à entrevista com a família da tam um desenvolvimento muito aquém
criança. Buscamos, com isto, valorizar o do esperado, podendo comprometer a
ambiente natural, bem como o significa- frequência da criança no Programa de-
do que as pessoas participantes deram vido ao preconceito, o que pode levar a
e dão à inclusão e à educação. O estudo própria criança a não se desenvolver de
foi realizado em uma escola de Educação forma adequada. Outro aspecto trazido
Infantil localizada em uma Região Admi- nas entrevistas foi relativo à dificuldade
nistrativa de Brasília, no Distrito Federal. no processo de inclusão como as barrei-
As entrevistas foram transcritas em sua ras arquitetônicas, falta de monitor, res-
integridade e foram considerados temas peito à estratégia de matrícula, a qualifi-
recorrentes para a definição das catego- cação profissional, a resistência e a acei-
rias utilizadas para análise. Os entrevista- tação do profissional com a criança com
dos trouxeram, em suas verbalizações, a necessidades especiais. Apesar de tudo,
importância do processo de inclusão e as- foi relatado que com o Programa em fun-
pectos que favorecem o desenvolvimento cionamento na escola comum os profes-
infantil dentro da escola comum, além dis- sores estão mais sensíveis ao processo de
to, salientaram a importância da presença inclusão. Também é reconhecida, pelos
de outras crianças no processo de desen- participantes deste estudo, a importân-
volvimento das crianças em situação de cia do Programa para o desenvolvimento
necessidade especial, como referências das crianças com necessidades especiais
uma para as outras. Segundo eles, esse e sua futura inclusão na rede pública de
processo é uma via de mão dupla, pois as ensino regular. Os trabalhos desenvolvi-
crianças (com ou sem necessidades espe- dos nos Programas de Educação Precoce,
ciais) aprendem com as diferenças. Ainda tanto nos Centros quanto em escolas re-
para os participantes, é importante que gulares, objetivam a inclusão. No entanto,
este processo ocorra o mais cedo possí- através dos relatos, foi possível concluir

220
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que, além do Programa ser particular- as experiências de aprendizagem sejam


mente benéfico para o desenvolvimento apresentadas às crianças de uma forma
infantil, o funcionamento do mesmo em adequada a seu nível de pensamento. É
escolas regulares é mais favorável para o imprescindível que o professor da edu-
processo de inclusão. É consenso entre os cação infantil tenha uma formação espe-
participantes a importância do Programa cífica para trabalhar com seus alunos. O
de Educação Precoce inserido em escola objetivo dessas formações continuadas
regular, devido a vários processos posi- é auxiliar as professoras a problematiza-
tivos inerentes a este modo de inclusão. rem as atividades realizadas por elas na
No futuro, políticas institucionais podem escola, para que possam refletir, ter cons-
ser implementadas, de forma a contribuir ciência do fim a atingir e assumir o papel
ainda mais para o processo de inclusão, de mediadoras entre os alunos e as ativi-
já que esta população de 0 a 3 anos não dades desenvolvidas na escola e na socie-
é amplamente atendida, ainda, no Brasil. dade. Para tanto, a formação continuada
deve ser concebida como um trabalho de
Palavras-chave: Centro de Educação Infantil, reflexibilidade crítica sobre as práticas e
Centro de Ensino Especial, Educação Precoce. de construção permanente de uma iden-
Contato: Andréa Moreira Couto Fournier, tidade pessoal e profissional em interação
UnB, andrea.fournier@hotmail.com. mútua. Com essa premissa, esse trabalho
teve como objetivo propiciar um espa-
ço de reflexão e conscientização sobre a
LT04-1253 - FORMAÇÃO CONTINUADA: prática pedagógica de cada professora e
UM ESPAÇO PARA REFLEXÃO EM transmitir conhecimentos gerais da Edu-
EDUCAÇÃO INFANTIL cação Infantil, para as Agentes de Educa-
Caroline Andrea Pöttker - UEM ção Infantil, visando um melhor desenvol-
Caroline_pottker@hotmail.com vimento das suas atividades pedagógicas.
Participaram do estudo 10 agentes de
Este artigo se originou do relatório de es- educação infantil e 6 professoras. Para
tágio na área de Psicologia Escolar, que isso utilizou-se de encontros quinzenais
ocorreu durante um ano, foi realizado com o grupo das Agentes, e encontros
num Centro de Educação Infantil, loca- grupais, mensalmente, e individuais, se-
lizado em um município de Santa Cata- manalmente, com as professoras. Com as
rina. Para se referir ao local de estágio agentes de educação infantil foram reali-
será usado o nome fantasia, C.E.I. Algo- zados 4 encontros, onde priorizou-se os
dão Doce. A educação infantil sempre seguintes temas: abordagens em apren-
mostrou-se necessária, mesmo que suas dizagem (Tradicional e Integradora), as
finalidades e objetivos mudassem com funções de uma Instituição de Educação
o tempo para atender as solicitações de Infantil: cuidar e educar, desenvolvimento
uma sociedade em transformação. Ela infantil e o brincar. Desse modo, na reali-
exige um ambiente que encoraje e apóie zação do primeiro encontro com as agen-
as expressões de sentimentos, interesses tes de educação infantil foram abordadas
e valores pelas crianças e isso só será pos- as diferenças entre duas abordagens da
sível se o professor assegura-se de que Aprendizagem: a Tradicional e a Integra-

221
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dora. Viu-se como essencial proporcionar (1994) postulam que a brincadeira parece
às agentes um momento de reflexão e ser importante para diversos aspectos do
conhecimento sobre as diferenças entre desenvolvimento, e essas vivências lúdi-
a Tradicional e a Integradora, bem como, cas são necessárias para que a criança se
a relevância de se ter clareza dos concei- desenvolva normalmente. Como as agen-
tos de cada abordagem e seguir cons- tes estão constantemente em contato
cientemente uma teoria escolhida. Pois, com as crianças, principalmente nos mo-
segundo Almeida (2002), ao oportunizar- mentos das brincadeiras, é imprescindível
-se uma formação de qualidade aos pro- que elas compreendam a importância do
fissionais de Educação Infantil, estaremos momento lúdico para o desenvolvimen-
subsidiando-lhes na construção de suas to da criança e, com isso, possam pro-
práticas, proporcionando-lhes consciên- porcionar-lhes um ambiente agradável e
cia das opções teórico-práticas que fazem criativo. Na atividade com as professoras
e, assim, podendo oportunizar que se li- foram realizados encontros grupais e in-
bertem das amarras impostas pelas inse- dividuais. O encontro grupal foi realizado
guranças originárias do desconhecimento mensalmente no turno vespertino, com
de seu objeto de trabalho – a infância. grupo fixo, na sala dos professores. Para
No segundo encontro foram trabalha- a realização do primeiro encontro foi
dos os objetivos da Educação Infantil: o abordado as diferenças entre duas abor-
cuidar e educar. O cuidado e a educação dagens em Aprendizagem: a Tradicional e
são indissociáveis, pois a instituição deve a Integradora. Já para os demais encon-
promover práticas de educação e cuida- tros os temas foram definidos tendo-se
dos, que possibilitem a integração entre como base os encontros individuais com
os aspectos físicos, emocionais, afetivos, as professoras. Os encontros individuais
cognitivos/lingüísticos e sociais da crian- foram realizados semanalmente, tanto no
ça, entendendo que ela é um ser com- período da manhã como no da tarde, com
pleto e indivisível. Já no terceiro encon- duração de aproximadamente uma hora,
tro o tema proposto para discussão foi o sendo que os horários dos encontros fo-
desenvolvimento infantil. Darezzo (2004) ram combinados com as próprias profes-
afirma que algumas informações sobre o soras. Tanto com os encontros individuais
desenvolvimento infantil, as fases que ca- e grupais pode-se perceber a abertura
racterizam seu desenvolvimento em ter- das professoras para novos conhecimen-
mos de habilidades, limites e descober- tos e discussão das dificuldades enfrenta-
tas, ajudam muito o adulto nas decisões das em sala de aula, foi discutido sobre
frente a problemas que surgem no dia a a construção de propostas pedagógicas
dia. Portanto, pode-se dizer que o conhe- e curriculares, que espelhe as conquistas
cimento sobre o desenvolvimento infantil e saberes já existentes nestas práticas, e
permite realizar aconselhamento de pais também sejam capaz de vislumbrar en-
e formação de programas educacionais caminhamentos futuros. O trabalho do
mais eficazes. Por último, no quarto en- professor de educação infantil exige a
contro, foram levados para o debate três mobilização de muitos conhecimentos
conceitos da educação infantil: o brincar, para cuidar e educar as crianças, interagir
a brincadeira e o brinquedo. Sylva e Lunt com as famílias e lidar com as exigências

222
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

institucionais. Diante disso, Nóvoa (1995) autoeficácia compreende um julgamento


aponta que um modelo construtivo de pessoal de capacidade relativa a um do-
formação continuada para professores mínio específico e não necessariamente
parte da reflexão interativa e contextuali- representando a real capacidade de um
zada, articulando teoria e prática. E neste indivíduo, mas o que o mesmo acredita
processo formativo, centrado na profissão ser capaz de realizar, em uma variedade
e na vida da escola, que se entende, deva de circunstâncias (Souza; Brito, 2008).
residir o foco de origem e de retorno da A autoeficácia é conceituada entre dois
formação continuada fundamentada nos componentes: a expectativa de eficácia e
princípios da reflexão crítica compartilha- a expectativa de resultado. A expectativa
da. Formação esta que, longe de consti- de eficácia corresponde, então, à crença
tuir uma formulação acabada, se apre- individual de capacidade ou a falta dela
senta como uma categoria da formação para a realização de uma tarefa específi-
docente. Após a realização das atividades ca. Já a expectativa de resultado é a cren-
percebeu-se que as professoras e agentes ça de que determinado comportamento
refletiram sobre suas práticas profissio- leva a um resultado (Hall; Lindzey; Cam-
nais e, com isso, modificaram algumas de pbell, 2000). Alguns fatores exercem um
suas formas de atuações. Como no caso, papel na origem e no desenvolvimento
as funcionárias relatam terem dificulda- destas crenças: experiências, realizações
des na disponibilidade (falta) de tempo e desempenhos anteriores, experiência
para a realização das atividades progra- vicariante, persuasão social e estados fi-
madas para o dia, após a intervenção pas- siológicos e afetivos (Souza; Brito, 2008).
saram a se reorganizarem e desenvolver As crenças de autoeficácia podem in-
as atividades. fluenciar como as pessoas sentem, pen-
sam, se motivam e se comportam. Tais
Palavras-chave: Educação Infantil, Formação consequências são provocadas através
Continuada, Professores de quatro processos principais: processos
cognitivos, relacionados à antecipação do
resultado dos próprios comportamentos,
LT04-1269 - A PERCEPÇÃO DE processos motivacionais, afetando va-
AUTOEFICÁCIA EM ALUNOS COM riáveis como esforço e tempo que uma
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM pessoa emprega em uma determinada
Fernanda Elis Matte - FACCAT atividade, processos afetivos, relaciona-
Paula Grazziotin Silveira Rava - FACCAT dos às reações emocionais dos indivídu-
paulagraz@yahoo.com os, quando experimentam atividades que
julgam difíceis e os processos de seleção,
A percepção que o indivíduo tem sobre já que as pessoas escolhem realizar as ati-
a sua capacidade para desempenhar de- vidades que pensam ter um desempenho
terminada tarefa é conceituada como eficiente (Souza; Brito, 2008). As dificul-
autoeficácia. Estas percepções acompa- dades de aprendizagem correspondem a
nham o sujeito, podendo ter influências uma falta de habilidade específica, como
positivas ou negativas sobre o seu de- na leitura, na escrita ou na matemática,
sempenho real. Pode-se afirmar que a em crianças que apresentam um rendi-

223
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mento bem abaixo do esperado para seu ao passo que, em situações aversivas, em
nível de desenvolvimento, escolaridade e que consideram não ter capacidade para
capacidade intelectual. O transtorno de desenvolver as atividades, não apresen-
aprendizagem pode ser suspeitado em tam gosto, nem real interesse, apenas re-
um aluno que apresente uma inteligência alizam-nas, pois lhe é solicitado (Dell’agli;
normal, habilidades motoras e sensoriais Caetano; Castanho, 2009). Quando um
de acordo com o esperado, bom ajuste estudante experimenta situações de difi-
emocional e um nível socioeconômico e culdades de aprendizagem, o sentimento
cultural mínimo (Rotta; Ohweiler; Riesgo, é de fracasso, pois, por não obter êxito
2006). As dificuldades de aprendizagem nas atividades escolares, sente-se inca-
são de difícil solução já que são de cau- paz, gerando sentimentos de frustração
sa multifatorial. Dell’Agli, Caetano e Cas- e comportamentos disfuncionais, entre
tanho (2009) sugerem que a chave para outros (Carneiro; Martinelli; Sisto, 2003).
estudarmos uma solução estaria em unir A criança que apresenta dificuldades de
os aspectos cognitivos aos afetivos, pois, aprendizagem, então, encontra-se diante
segundo elas, não podem ser avaliados de um problema de circularidade causal,
separadamente. A afetividade pode ace- quando sua baixa crença de autoeficácia
lerar ou retardar a aprendizagem, pois é a deixa menos motivada e atenta às ati-
considerada o combustível, a motivação vidades acadêmicas, gerando de fato um
para aprender, sendo a inteligência, a mau desempenho e, assim, confirmando
estrutura, a organização. Portanto, para sua ideia de que não é capaz. Há uma for-
aprender o sujeito necessita de uma es- te relação entre o desenvolvimento inte-
trutura de inteligência, mas ainda de lectual e as crenças autorreferenciadas.
um motor que a impulsione, sendo esta Apenas ter habilidades cognitivas, por-
a afetividade (Dell’agli; Caetano; Casta- tanto não explica um sucesso ou fracasso
nho, 2009). Outros estudos também têm escolar. Assim, profissionais da educação
apontado a relação entre afetividade e precisam buscar desenvolver, além dos
inteligência. Alunos que apresentam um conteúdos de cada disciplina, autoper-
alto senso de autoeficácia são capazes de cepções de capacidade positivas (Souza;
realizar atividades utilizando mais estra- Brito, 2008). Este estudo buscou avaliar a
tégias cognitivas e metacognitivas, persis- percepção de autoeficácia de alunos com
tindo por mais tempo do que os alunos dificuldades de aprendizagem e de alunos
com baixa percepção de autoeficácia sem dificuldades de aprendizagem. Para
(Medeiros et al. 2003). Já os alunos que tanto, utilizou-se o Roteiro para a avalia-
apresentam um rendimento escolar fraco ção da autoeficácia (Medeiros; Lourei-
e atribuem isso à incompetência pessoal ro,1999 apud Medeiros et al., 2000) em
distanciam-se das atividades intelectuais, 38 alunos, sendo 19 alunos com dificulda-
demonstrando problemas emocionais e des de aprendizagem e 19 alunos sem di-
comportamentos internalizados (Roeser; ficuldades de aprendizagem. Objetivou-se
Eccles, 2000 apud stevanato et al. 2003). investigar se há relação entre a percepção
Quando os estudantes pensam serem de autoeficácia e dificuldades de apren-
capazes de realizar a tarefa, vivenciam o dizagem, através da comparação entre
momento como prazeroso e interessante, os dois grupos de alunos. Encontrou-se

224
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

diferença significativa entre os dois gru- LT04-1280 - A INFÂNCIA


pos, sendo que os alunos com dificulda- CONTEMPORÂNEA NA PERSPECTIVA
des de aprendizagem apresentaram uma DOS PROFESSORES
percepção de autoeficácia mais baixa que Dayane Aparecida do Nascimento - UFMT
os alunos sem dificuldades de aprendiza- dayane.an@hotmail.com
gem. Diante dos resultados apresentados, Raquel Gonçalves Salgado - UFMT
percebe-se que, alunos que experimen- ramidan@terra.com.br
tam situações de dificuldades de apren-
Financiamento: FAPEMAT e CNPq
dizagem, sentem-se muitas vezes fracas-
sados. Carneiro, Martinelli e Sisto (2003)
As discussões sobre a temática da infân-
afirmam que, por não obterem êxito nas
cia constituem um campo inesgotável de
atividades escolares, alunos com dificul-
informações e descobertas. Por isso, ao
dades de aprendizagem sentem-se inca-
nos depararmos com cenas em que as
pazes, gerando sentimentos de frustração
crianças aparecem como protagonistas de
e comportamentos disfuncionais, entre
outros. Portanto, como sugerem as mes- experiências que atestam saberes e com-
mas autoras, estes alunos apresentam petências nas suas relações íntimas com
um problema de circularidade causal, em as tecnologias e a cultura do mundo con-
que a baixa percepção de autoeficácia os temporâneo, é inevitável que se produza
deixa menos motivados, gerando um real um estado de perplexidade e dúvida com
mau desempenho e, então, confirmando relação aos nossos saberes sobre a infân-
sua ideia de incapacidade no âmbito es- cia. Diante desse fato, surge a necessidade
colar. Dentre a amostra analisada, o teste de considerar o tema da infância contem-
de Mann Whitney apontou não existir di- porânea como um campo para a configu-
ferença significativa entre a variável sexo ração de outros mapeamentos e imagens,
e a percepção de autoeficácia (P=0,928), dada a diversidade de experiências, valo-
refutando a hipótese de que os alunos do res e conhecimentos que as crianças têm
sexo masculino apresentam uma percep- construído. Por outro lado, há de se con-
ção de autoeficácia mais baixa. Entretan- siderar os adultos, principalmente aque-
to, o grupo de alunos com dificuldades les que assumem a tarefa de educar, na
de aprendizagem foi constituído, em sua alteridade que seus saberes, experiências,
maioria, pelo sexo masculino (79%), de- valores e concepções revelam ao se depa-
monstrando que a maioria dos estudan- rarem e se relacionarem com a infância
tes, com dificuldades de aprendizagem, vivida pelas crianças hoje. Diante dessa
nesta escola e nos anos pesquisados, é do dupla tarefa, a pesquisa em questão bus-
sexo masculino. ca compreender a infância contemporâ-
nea no diálogo entre gerações. No sentido
Palavras-chave: autoeficácia, dificuldades de de problematizar a idéia da criança como
aprendizagem, crianças. ser inacabado, em estado transitório para
Contato: Paula Rava, FACCAT, a vida adulta, situamos o escopo teórico
paulagraz@yahoo.com desta pesquisa no campo da Sociologia da
Infância, que se propõe a interrogar a so-
ciedade a partir de uma perspectiva que

225
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

considera as crianças como eixo da inves- jeitos que dela participam e o pesquisador
tigação sociológica, com vistas não ape- se definem ao mesmo tempo como obje-
nas à produção de conhecimento sobre a to de investigação, à medida que se tem
infância, mas sobretudo à compreensão como foco a produção discursiva que se
da sociedade em seu conjunto (Sarmen- processa nesse contexto, e como postu-
to, 2005). Nesta pesquisa, constituem- ra metodológica, haja vista a intervenção
-se como parâmetros de análise tanto os que se efetiva na deflagração dessa produ-
discursos dos adultos (professores) sobre ção discursiva. Nessa dupla dimensão da
a infância vivida pelas crianças hoje (seus pesquisa, os sujeitos que dela participam
alunos) quanto os discursos das próprias não são apenas informantes de dados a
crianças sobre as experiências que reve- serem traduzidos pelo texto analítico do
lam e assumem como legítimas de suas in- pesquisador, posto que constroem conhe-
fâncias. Trata-se, portanto, de analisar as cimentos e refletem sobre suas próprias
tensões entre os modos como os adultos concepções, valores e práticas. Para que
atribuem sentidos à infância vivida pelas as relações entre as crianças e os profes-
crianças nos dias atuais e os modos como sores não sejam capturadas pelas amarras
elas próprias definem as experiências que institucionais da escola, o locus da pesqui-
marcam seu tempo de vida. Nesse diálogo sa é o Laboratório Especial de Ludicidade
de temporalidades e valores, destacam-se (Brinquedoteca) do Campus de Rondo-
os discursos que historicamente atraves- nópolis da Universidade Federal de Mato
sam o conceito de infância e se materia- Grosso. Trata-se de um Laboratório que
lizam em valores para os adultos e aque- funciona, desde 2008, como um programa
les que se apresentam como referências de extensão e tem oferecido atendimento
simbólicas às crianças para a constituição a instituições de Educação Infantil da rede
de experiências próprias de seu tempo de pública municipal de Rondonópolis, situ-
vida. Este estudo, em particular, como um adas nas imediações do Campus. Como
dos subprojetos da pesquisa abordada, as turmas de crianças que frequentam a
enfatiza as experiências da infância con- Brinquedoteca estão sempre acompanha-
temporânea sob a ótica dos professores. das por seus professores, é válido afirmar
Seus objetivos consistem em analisar os que esse espaço oferece condições favo-
sentidos que os professores atribuem às ráveis para que ambos os sujeitos possam
suas experiências de infância e àquelas compartilhar suas experiências, tendo
vividas pelas crianças hoje e compreen- como mediação o brincar. Atualmente,
der, nas interlocuções entre professores e a Brinquedoteca tem atendido três ins-
crianças, os contrapontos em relação aos tituições com o perfil acima descrito. Os
sentidos que atribuem à infância. Além sujeitos participantes desta pesquisa são:
disso, busca-se delimitar como eixo teó- as crianças, de 5 a 6 anos, de três turmas
rico-metodológico a alteridade presente do 2º agrupamento da Educação Infantil,
nessa produção discursiva, uma vez que a sendo duas de uma escola e uma de outra;
criança se apresenta como o outro situa- e os professores responsáveis por essas
do no passado do adulto (Bakhtin, 1992). turmas. Como estratégia metodológica,
Trata-se de uma pesquisa-intervenção, em temos a realização de grupos de discus-
que as relações estabelecidas entre os su- são com as crianças e os professores, or-

226
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ganizados sob a forma de oficinas, como LT04-1340 - O QUE PENSAM OS AGENTE


forma de suscitar debates sobre questões AUXILIAR SOBRE SUAS CRECHES
relacionadas à infância contemporânea. Ana Carolina Monnerat Fioravanti - PUC/Rio
Entendemos que, desse modo, seja pos- ana@fioravantiana.org
sível que todos, à sua maneira, inclusive Amanda Cristina de Freitas Souza - NEIPE/
o pesquisador, participem do processo UERJ
de construção de sentidos (Castro, 2008). achrys.souza@bol.com.br
Outro importante recurso metodológico Daniele Vieira de Azevedo - NEIPE/UERJ
é a realização de entrevistas semiestru- daniele.vieiraazevedo@ig.com.br
turadas com as professoras sobre as suas Vera Maria Ramos de Vasconcellos - PROPED
experiências de infância e os modos como - NEIPE/UERJ
significam as experiências de infância vi- Vasconcellos.Vera@gmail.com
vidas pelas crianças com quem atuam.
Salientamos, nessas entrevistas, o entre- Este trabalho apresenta alguns dados refe-
cruzamento dos valores relativos à infân- rentes aos questionários de “Avaliação das
cia, constituídos a partir das experiências Creches” preenchidos pelos Agente Auxi-
que marcaram a infância das professoras, liar, que atuam em cinco creches munici-
com os sentidos que estas atribuem à in- pais do Rio de Janeiro e que fazem parte da
fância vivida pelas crianças hoje – como se pesquisa Agente Auxiliar de Creche: Edu-
apresentam, seus saberes, suas práticas e cadores da Infância Carioca. Em 2007 hou-
suas relações com os adultos. Nesse diálo- ve um concurso público para esta função
go de temporalidades e gerações, temos (Edital nº1 de 04/08/2007), que desconsi-
observado, nos discursos das professoras, derou as premissas da LDB 9394/96 e não
um estado de perplexidade, com tom sau- exigiu nem mesmo o ensino médio na mo-
dosista, diante da quebra de uma imagem dalidade normal para trabalhar na educa-
tradicional da infância – subordinada ao ção infantil. Apesar de protestos contra a
adulto e inocente – devido à constatação efetivação do mesmo, a partir de junho de
de experiências e saberes manifestos pe- 2008, foram oferecidas 1.519 vagas regula-
las crianças hoje muito mais avançadas e res, e 81 para pessoas com deficiência e, a
complexas do que os de outras gerações partir de então, o quadro de pessoal das
e, por isso, considerados como fora de seu creches públicas passou a contar com no-
tempo. vos profissionais, marcando uma nova tra-
jetória na história dessas instituições.
Palavras-chave: infância contemporânea, Frente à nova realidade, sentimos necessi-
relações intergeracionais, professores. dade de investigar quem eram estes profis-
Contato: Dayane Aparecida do Nascimento, sionais e o que intencionavam ao fazer um
UFMT/Rondonópolis, dayane.an@hotmail.com concurso público. Assim surgiu através do
Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa &
Extensão (NEI:P&E) e na Linha de Pesquisa
Infância, Juventude e Educação do Progra-
ma de Pós-Graduação em Educação, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(ProPEd/UERJ) a pesquisa que tem por ob-

227
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

jetivo acompanhar e analisar, junto com os to interno, projeto político pedagógico e


educadores a trajetória de formação em centros de Estudos), divisão multiplicidade
serviço dos mesmos e suas concepções so- de experiências e linguagens (desenvolvi-
bre criança, infância, educação e creche. mento infantil, respeito a valores familia-
Realizamos a partir de 2009, um trabalho res, etc), dimensão e interações, saúde e
conjunto com os educadores das cinco cre- prevenção de agravos, materiais e mobiliá-
ches e a Universidade. Dentre outras ações rios, formação e condições de trabalho e
propostas, desenvolvemos encontros cole- cooperação e troca com as famílias. Uma
tivos de formação continuada para os no- ANOVA nas questões objetivas em relação
vos profissionais em setembro, outubro, ao escore total do questionário demons-
novembro de 2009 e outubro 2010. Neste trou que houve diferença significativa en-
trabalho apresentaremos parte dos resul- tre as cinco creches F( 72 ) = 11,224; p <
tados desses encontros e de práticas refle- 0,004. Tal diferença foi marcada principal-
xivas realizadas em cada creche. O objetivo mente pelas creches 3 e 4 por apresenta-
desta apresentação é aumentar o foco, via rem menor média na avaliação total do in-
um olhar mais sistemático às respostas das ventário. Esse padrão de comportamento
práticas das educadores das 5 creche situ- se repetiu em muitas outras dimensões
adas na 1ª e na 3ª CRE do Rio de Janeiro. A avaliadas dentro do próprio questionário.
observação do dia-a-dia e as respostas das Dentro do eixo Planejamento Institucional,
crianças no cotidiano da instituição são foram analisadas as diferenças entre as
trazidas pelas co-pesquisadoras para o ló- creches em 4 subescores. Através da ANO-
cus universitário, através de sessões refle- VA no subescore Regimento Interno (RI)-4
xivas que acontecem de 15 em 15 dias no itens, encontramos diferença entre as cre-
(NEI:P&E – UERJ). O outro olhar foi a res- ches F(72,1)= 8,414477; p<001 atribuída
posta que os demais educadores deram as médias muito baixas das creches 1 e 2.
através do questionário, após dois anos da No subescore Proposta Pedagógica Conso-
pesquisa (2009 – 2010), que incluiu os lidada (PP)- 21 itens, não foi encontrada
Centros de Estudos Coletivos, realizados diferença significativa entre as creches
na UERJ. Foram 74 (setenta e quatro) edu- F(72)= 2,579672; p= 0,044939. No subes-
cadores em 123 que devolveram o ques- core Planejamento, Acompanhamento e
tionário respondido. São eles agentes auxi- Avaliação (PAA)- 4 itens, encontramos dife-
liares de creche, recreadoras e professoras rença entre as medias F(72)=10,03138; p<
articuladoras, divididas em 22 (vinte e 0,001, devido as baixas médias das creches
duas) na primeira creche; 12 (doze) na se- 4 e 5 e no subescore Registro da Pratica
gunda, 24 (vinte e quatro) na terceira, 12 Educativa (RP)- 3 itens encontramos dife-
(doze) na quarta e na quinta creche 9 renças entre as medias F(72)= 35,69113,
(nove) educadores (dos 34 atuantes). O p<0,001, devido a creche 1. Dentro do eixo
questionário foi composto com perguntas - Dimensão Multiplicidade de Experiências
abertas e objetivas, para avaliar tanto e Linguagem foram analisadas diferenças
questões da prática como questões rela- entre 3 subescores. No subescore Crianças
cionadas a estrutura básica de funciona- construindo sua autonomia e tendo expe-
mento das unidades. São sete eixos princi- riências saudáveis com o próprio corpo
pais: Planejamento institucional (regimen- (AE)- 3 itens a ANOVA demonstrou diferen-

228
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ça significativa F(72)= 11,61414; p<0,001 crianças (EM)- 3 itens F(72) = 9,36783;


atribuída as baixas médias das creches 3 e P<0,005 em função das baixas médias dos
4, do mesmo modo, no subescore Crianças itens 3 e 5 e no subescore Espaços, mobili-
relacionando-se com ambiente natural e ários e materiais para responder aos inte-
social (ANS)- 5 itens encontramos diferen- resses dos adultos (EMA) - 4 itens F(72) =
ça significativa F (72)=8,833919; p<0,001, 7,831102; P<0,005, em função das baixas
também em função das creches 3 e 4. Já médias dos itens 2, 3 e 5. Dentro do eixo -
no subescore Crianças expressando-se por Dimensão formação e condições de traba-
meio de diferentes linguagens plásticas, lho das professoras, professores e demais
simbólicas, musicais, teatrais, e corporais e profissionais a ANOVA não demonstrou
tendo experiências agradáveis variadas e diferença significativa no subescore For-
estimulantes com a linguagem oral e escri- mação inicial (FIP) – 3 itens, F(72) =
ta (LOE)- 5 itens não foram apresentadas 2,091485, p= 0,09143, mas por outro lado,
diferenças entre as 5 creches analisadas em função da baixa média da creche 4,
F(72)= 1,449122; p= 0,227418. Dentro do houve uma diferença significativa entre as
eixo - Dimensão Interações, foram analisa- creches no subescore Formação continua-
das diferenças entre 2 subescores: Respei- da e condições de trabalho adequada (FC)
to a dignidade, às diferenças, das crianças – 4 itens, F(72)=9,492752; P<0,005. Dentro
e estímulo a cooperação mútua (RD)- 3 do eixo Escore na Dimensão cooperação e
itens onde a ANOVA encontrou diferença troca com as famílias e participação na
entre as medias das creches F(72)= rede de proteção social, a ANOVA demons-
3,283955; p<0,05 em função da media trou diferença entre os grupos em função
muito baixa da creche 3 e Respeito a idéias das menores medias das creches 3 e 4 no
conquistas e produções das crianças (RCP)- subescore Respeito e Acolhimento (RA) – 4
2 itens onde em função das baixas medias itens F(72)=7,760763; P<0,005. Assim
das creches 3 e 4, também foi encontrada como também foi encontrada diferença no
diferença entre as médias F(72)=3,283955; subescore Garantia do direito das famílias
p<0,05. Dentro do eixo - Dimensão Promo- de acompanhar as vivencias e as questões
ção de saúde e prevenção de agravos, o ligadas as crianças (DF) – 5 itens F(72) =
subescore Constituição de hábitos alimen- 4,479957, p<0,005 atribuído a maior mé-
tares (HA)- 3 itens a ANOVA apresentou dia da creche 1. No subescore Participação
diferença entre as médias das creches da instituição na rede de proteção aos di-
F(72)=5,471698; p<0,005 em função de reitos da criança (DC) – 10 itens a diferença
baixas médias das creches 3 e 4 ao passo entre os grupos foi atribuída as menores
que o subescore Avaliação de riscos, segu- medias das creches 4 e 5, F(72) = 7,092314;
rança e medidas de prevenção de aciden- p<0,005. Uma ANOVA nas Diferenças entre
tes (RSP) - 6 itens, não apresentou diferen- os escores totais do questionário em rela-
ça entre as 5 creches estudadas F(72)= ção as funções (Recreador e Auxiliar) não
2,09616 ; P=0,090814. Dentro do eixo - Di- demonstrou diferença significativa F(70) =
mensão Espaços materiais e mobiliários a 1,865164 p = 0,176465 Estes dois olhares
ANOVA demonstrou diferença significativa (respostas das co-pesquisadoras e avalia-
no subescore Espaços, mobiliários e mate- ção quantitativa do questionário) nos de-
riais que favorecem as experiências das monstraram que houve uma dualidade de

229
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

respostas, entre as observações das co- em tempos distintos, definem e significam


-pequisadoras, que levantam a questão da o que caracteriza a infância nos dias de
discrepância entre a proposta da formação hoje. Ao recusar-se a conceber a infância
continuada e o que acontece no dia-a-dia como tempo de vida em transição para a
das creches e as respostas dadas aos ques- vida adulta, esta pesquisa tem como fun-
tionários pelas educadoras. Apesar das damentação teórica os estudos realizados
respostas dos questionários e as observa- no campo da Sociologia da Infância, que
ções das co-pesquisadoras não correspon- busca compreender os fenômenos sociais
derem, compreendemos que quando elas e culturais a partir da infância, admitindo
nos informam questões distintas das que que a criança não apenas se apropria de
ocorrem no cotidiano, estão demonstran- uma cultura que já encontra constituída,
do conhecimento de como deveria ocor- mas nesta também opera transformações
rer. Externando pelo menos a intenção de ao interpretá-la e a partir dela produzir
realizar melhor no futuro. práticas sociais (Sarmento, 2008). Nessa
perspectiva teórica, dois enfoques assu-
Palavras-chave: avaliação, creche, educadores mem relevância: por um lado, as crianças
e formação continuada. são vistas como atores sociais em seus
mundos de vida e, por outro, a infância
se define como uma categoria geracional
LT04-1348 - A INFÂNCIA NA PERSPECTIVA socialmente constituída. Regida por esses
DAS CRIANÇAS vieses teóricos, esta pesquisa busca com-
Rayssa Karla Dourado Porto - UFMT preender a infância na contemporaneida-
rayssa90@gmail.com de numa perspectiva intergeracional, en-
Rayany Mayara Dal Prá - UFMT tendendo que os adultos em questão são
ray_may_@hotmail.com os professores, sujeitos que assumem a ta-
Raquel Gonçalves Salgado - UFMT refa de educar as crianças, também parti-
ramidan@terra.com.br cipantes da pesquisa. Este subprojeto, em
Financiamento: FAPEMAT particular, tem como foco as experiências
que as crianças constroem a partir dos di-
As experiências, os saberes e as compe- versos aparatos culturais que circulam na
tências que as crianças hoje revelam em cultura contemporânea, bem como os sen-
suas interações cotidianas com os meios tidos e os valores que atribuem a essas ex-
de comunicação, cada vez mais integrados periências. Busca-se, portanto, compreen-
às novas tecnologias, têm feito com que os der como as crianças definem e significam
nossos saberes sobre a infância, na maio- o que, para elas, é próprio da infância tal
ria das vezes assentados como “verdades”, como se apresenta hoje. Este estudo pre-
sejam postos em xeque. Este trabalho con- tende problematizar as verdades e as au-
siste em um subprojeto de uma pesquisa toimagens, como destaca Arroyo (2008),
que busca compreender a infância con- do pensamento pedagógico ao se deparar
temporânea a partir do diálogo entre os com as experiências concretas da infância,
sentidos que crianças e adultos produzem marcadas pela época e pela cultura em
sobre esse fenômeno, ou seja, como esses que são produzidas. Tem se tornado cada
sujeitos, nas suas singularidades e situados vez mais insustentável a manutenção de

230
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

imagens e discursos sobre a infância, so- infância; o que uma criança pode ou não
bretudo aqueles que, produzidos no cam- saber/fazer. Busca-se, com esta pesquisa,
po da psicologia do desenvolvimento, vão desconstruir, tanto teoricamente quanto
ganhar corpo no pensamento e na prática metodologicamente, a idéia de uma infân-
pedagógica, sem a confrontação com os cia apartada da vida, das experiências e
modos como as crianças concretas vivem das culturas produzidas pelas crianças, no
e significam suas próprias experiências. A sentido de redimensioná-la como um tem-
pesquisa, em sua abordagem metodoló- po da vida humana cujo valor e significado
gica, define-se como uma pesquisa-inter- não se efetivam prospectivamente, mas se
venção, na qual as relações estabelecidas configuram no próprio exercício de vivê-lo.
com as crianças são, ao mesmo tempo, Assim, objetiva-se identificar nos discur-
foco de análise e uma postura diante da sos das crianças as experiências que elas
realidade investigada, posto que são ins- próprias assumem como legítimas de seu
tauradas situações desencadeadoras dos tempo de vida. Nas oficinas desenvolvidas,
discursos em torno do objeto em questão até então, observou-se que as crianças,
– a infância. Desse modo, as crianças não diante de figuras de objetos e imagens,
são apenas informantes de dados, mas se que, em grande parte, poderiam ser consi-
apresentam como sujeitos que constroem deradas como próprias do universo adulto,
conhecimentos e refletem sobre suas pró- as definem, na maioria das vezes, como
prias concepções, valores e experiências pertencentes tanto à infância quanto à
no processo de pesquisa. O locus da pes- vida adulta, quando instigadas a situá-las
quisa é o Laboratório Especial de Ludicida- como “coisas” de crianças, de adultos ou
de (Brinquedoteca) do Campus de Rondo- dos dois. Estamos diante de um estreita-
nópolis da Universidade Federal de Mato mento das fronteiras entre esses mundos.
Grosso, que tem oferecido, desde 2008, na Cada vez mais, torna-se evidente a parti-
condição de programa de extensão, aten- cipação das crianças em situações sociais
dimento a instituições de Educação Infantil antes não acessíveis a elas, construindo
da rede pública municipal de Rondonópo- experiências e conhecimentos não previ-
lis, Mato Grosso, situadas nas imediações síveis em décadas passadas. Diante disto,
do Campus. Atualmente, participam da perguntamo-nos: que implicações éticas
Brinquedoteca três escolas municipais de e educativas esse novo mapeamento da
Educação Infantil, que atendem crianças infância em sua relação com a vida adulta
na faixa etária de 4 a 6 anos. Entretanto, nos traz? Como estabelecer, no campo da
da pesquisa participam apenas três turmas educação, um diálogo entre as gerações
de 2º agrupamento, com crianças de 5 a marcado pelo reconhecimento do outro,
6 anos, sendo duas de uma escola e uma ao mesmo tempo, como singular e legíti-
de outra. Consistem em estratégias meto- mo? Estas são questões que mobilizam a
dológicas a observação participante das pesquisa que aqui se apresenta.
brincadeiras e das interações das crianças
no contexto da Brinquedoteca e a realiza- Palavras-chave: infância, contemporaneidade,
ção de oficinas, como espaços de discus- relações intergeracionais
são sobre questões como: o que significa Contato: Rayssa Karla Dourado Porto, UFMT/
ser criança; o que é ou não próprio da Rondonópolis, rayssa90@gmail.com

231
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1445 - CONCEPÇÕES DE orientação de um adulto ou em colabora-


PROFESSORES SOBRE EDUCAÇÃO ção com companheiros mais capazes”. De
INCLUSIVA: UM EXERCÍCIO DE acordo com esse conceito, o autor defende
INVESTIGAÇÃO que o processo de ensino-aprendizagem
Pedro Mar Rebello - UnB na escola deve ser construído na zona de
Luísa Pereira Nishioka - UnB desenvolvimento proximal, tomando como
Carolina Braga Cunha - UnB ponto de partida o nível de desenvolvimen-
Bruna Pedrosa Mundim - UnB to real da criança - num dado momento e
Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino - UnB com relação a um determinado conteúdo
pedrom.rebello@gmail.com a ser desenvolvido - e como ponto de che-
gada o nível de desenvolvimento potencial,
O que é uma criança? O que é uma criança que são os objetivos estabelecidos pela
com problema de desenvolvimento? Em escola, supostamente adequados à faixa
que aspectos estas crianças se diferem? etária e ao nível de conhecimentos e ha-
Será que deve haver um tratamento dife- bilidades de cada grupo de crianças. Des-
rencial para crianças portadoras de neces- ta forma, uma criança com problemas de
sidades especiais? Tais questionamentos desenvolvimento é vista como uma criança
foram motivadores para este exercício de cujo processo de desenvolvimento pode
investigação, que tem como objetivo co- ser marcado por uma especificidade, o que
nhecer a concepção dos professores sobre não impede os processos mediacionais
as escolas inclusivas, e é de extrema impor- que promovem a sua educação, da mesma
tância para isso o pensar sobre o conceito forma como ocorre com todas as outras
de crianças com problemas de desenvolvi- crianças. Vygotsky (1993) enfatiza que uma
mento, já que é a partir desta concepção condição de deficiência não impossibilita o
que os professores vão trabalhar com tais desenvolvimento da criança, e que a noção
crianças. Para que os professores das es- de que um portador de deficiência se tor-
colas inclusivas possam trabalhar de forma na um cidadão incapaz é uma construção
igualitária com os alunos, é preciso que social e que a própria criança pode se apro-
eles conheçam o processo de desenvolvi- priar dessa ideia. Esta pesquisa foi realizada
mento de uma criança. Segundo Vygostsky como trabalho final da disciplina Psicologia
(1984), o desenvolvimento deve ser pen- da Infância, ministrada para alunos do se-
sado em dois níveis: o nível de desenvol- gundo semestre do curso de psicologia na
vimento real e o nível de desenvolvimento Universidade de Brasília. Utilizou-se me-
potencial. No real, considera-se o que uma todologia qualitativa. Participaram deste
pessoa já tenha alcançado e no potencial, estudo duas professoras de diferentes es-
aquilo que se espera que ela alcance. A colas inclusivas, sendo que a entrevistada
zona de desenvolvimento proximal neste 1 lecionava em uma escola associativa de
contexto, sustenta o teórico, “é a distância educação infantil localizada em um bairro
entre o nível de desenvolvimento real, que nobre de Brasília (DF) e a entrevistada 2 le-
se costuma determinar através da solução cionava em uma escola pública de ensino
independente de problemas, e o nível de fundamental localizada no município de
desenvolvimento potencial, determina- Duque de Caxias (RJ). As professoras foram
do através da solução de problemas sob escolhidas por terem dado aula para crian-

232
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ças com problemas de desenvolvimento ferenças e demonstrou preocupação com a


em contextos diferentes. Na entrevista, foi possibilidade de um preparo formal limitar
utilizado um roteiro de questões orienta- a visão dos profissionais às teorias aprendi-
das para uma entrevista semiestruturada das, cegando-os para as crianças reais com
contendo oito perguntas que focalizavam quem estariam trabalhando, enquanto a
as seguintes dimensões: concepção do que professora 2 afirmou que um preparo for-
é ser professor, ser criança, ser uma crian- mal é essencial para um trabalho adequa-
ça com problema de desenvolvimento, ser do com tais crianças. Além disso, a primeira
professor de uma criança com problemas entrevistada enfatiza que as diferenças de
de desenvolvimento e concepção sobre cada criança devem ser trabalhadas em
escolas inclusivas. Por meio das entrevis- toda a turma de forma a evitar qualquer
tas pode-se constatar que as professoras segregação. A segunda entrevistada acres-
partilhavam concepções semelhantes. centa que todos possuem problemas de
Ambas apresentaram a visão de criança desenvolvimento, na medida em que todos
como um novo ser que chega ao mundo já possuem desenvolvimentos distintos em
construído, como indivíduos que possuem diferentes áreas e que ninguém nunca fica
sua singularidade, individualidade e espe- pronto, acrescentando também que a rela-
cificidades, de forma que as crianças com ção dos alunos com os professores é dialé-
problemas de desenvolvimento devem ser tica e que os professores estão constante-
consideradas crianças como outras quais- mente aprendendo com seus alunos justi-
quer. Elas ressaltaram que o desenvolvi- ficando uma relação menos hierarquizada
mento não é linear e que cada criança tem nas salas de aula. Conclui-se que a questão
seu ritmo e seu caminho, de forma que da inclusão é mais complexa do que mera-
o professor possui a função de trabalhar mente o cumprimento de uma lei; é uma
cada uma em sua individualidade. Segun- questão de transformação do pensamento
do elas, o professor tem uma função mais das pessoas, pois inclusão não é apenas a
ampla do que a de passar conhecimentos; inserção da criança nas escolas regulares,
enfatizam a importância de se ter uma re- mas proporcionar a sua inclusão dentro do
lação de afetividade com os alunos e de contexto escolar. É necessário que o profes-
respeitar as diferenças que se apresentam. sor perceba a singularidade de cada crian-
Elas concordam também na importância ça a fim de adaptar as atividades escolares
da integração de todos na sociedade e no para que esta possa participar juntamente
papel fundamental que escolas inclusivas com as outras crianças. Dessa forma, ela
desempenham nesse âmbito, mas que, em poderá desenvolver suas habilidades de
sua maioria, as escolas não são inclusivas, acordo com o seu ritmo de desenvolvimen-
pois não possuem condições para lidar to, além de poder estabelecer contato com
com a diversidade. As entrevistadas tive- um novo ambiente, diferente do que ela
ram visões diferentes no que diz respeito à está acostumada.
necessidade de um preparo especializado
para professores que lidam com crianças Palavras-chave: educação inclusiva; professor;
portadoras de necessidades especiais: a desenvolvimento
professora 1 acredita que o preparo deve Contato: Pedro Mar Rebello, UnB, pedrom.
vir naturalmente da convivência com as di- rebello@gmail.com

233
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1469 - TDAH: UMA ANÁLISE é facilmente distraído por estímulos exter-


DA ESPECIFICIDADE DO TRABALHO nos, tem dificuldades de esperar sua vez
PEDAGÓGICO em brincadeiras ou em situações de gru-
Evanilda da Silva Correia - FACITEC pos, dispara respostas para perguntas que
nildinha_eva@yahoo.com.br ainda não foram completadas, tem dificul-
Helen Tatiana dos Santos Lima - FACITEC/SEEDF dades em seguir instruções e ordens e tem
helen.tatiana@hotmail.com dificuldades em manter a atenção em tare-
fas ou mesmo atividades lúdicas. Frequen-
Sabe-se que o Transtorno de Déficit de temente, muda de uma atividade inacaba-
Atenção e Hiperatividade (TDAH) interfere da para outra, não conseguindo brincar em
diretamente na vida social e no desempe- silêncio ou tranquilamente e; na maioria
nho acadêmico dos sujeitos nesta condi- das vezes, fala em excesso. Já o TDAH do
ção. Atualmente, a Associação Brasileira tipo combinado, ainda conforme a autora,
de Déficit de Atenção (ABDA), chegou a é aquele que reúne, no mínimo, seis ou
conclusão que o quadro é um transtorno mais sintomas de desatenção associados
neurobiológico cerebral, que acompanha a outros seis de hiperatividade e impulsi-
vários indivíduos desde a infância até a vidade. Silva (2003) afirma que a maioria
idade adulta, e que cerca de 3 a 5 % das das crianças ou adolescentes que possuem
crianças em idade escolar sofrem desse o transtorno, se enquadra nessa última ca-
mal (Silva, 2003). Os sintomas do qua- tegoria. Cabe ressaltar que a criança com
dro podem variar a depender do tipo de o transtorno, independente do tipo, pode
transtorno apresentado pelo sujeito que, desenvolver normalmente sua capacidade
conforme o DSM IV (Silva, 2003), pode ser cognitiva. No entanto, Bee (2003) enfoca
predominante desatento, predominante que estas crianças podem ter uma baixa
hiperativo ou combinado. Em ambos os autoestima caso não seja acompanhada
casos, tais sintomas podem comprometer de forma diferenciada pelo professor no
a vida social e escolar do sujeito. Assim, o que tange ao desempenho escolar. A au-
TDAH predominante desatento, de acordo tora defende que esta criança necessita de
com Silva (2003), é aquele que apresenta uma interação sadia entre família, escola e
falta de atenção; está passivo de erros por o meio onde vivem, para que o transtorno
pequenos descuidos, tanto nas tarefas es- não afete sua estrutura cognitiva, social e
colares como em outras; tem dificuldade cultural no futuro. Para tanto, Silva (2003)
para concluir tarefas; evita atividades que alega que o trabalho pedagógico necessita
exigem esforços mentais e frequentemente ser reorganizado para atender a especifici-
perde objetos pessoais. Rotta et al. (2006) dade dessa criança. Dorneles (2000) corro-
acredita que os alunos desatentos são os bora afirmando que estudantes com TDAH
mais prejudicados com relação ao apren- necessitam de intervenções para que suas
dizado, uma vez que esse transtorno é o dificuldades comportamentais e acadêmi-
que mais influi negativamente na dimen- cas sejam amenizadas. Para isso, segundo o
são cognitiva. O TDAH do tipo hiperativo, autor, os professores precisam perceber as
segundo Silva (2003), é aquele que, com áreas a serem trabalhadas com seus alunos
frequência, mexe ou sacode pés e mãos, se e, com a ajuda de psicólogos e psicopeda-
remexe nos acentos, se levanta da carteira, gogos, descobrir as dificuldades e facilida-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

des vividas pelos mesmos, afim de elaborar não envolvem apenas o professor, mas, a
um planejamento e um programa de inter- família, a criança e toda a comunidade es-
venção acertada. O docente deve, também, colar. Por isso, a interação entre essas par-
saber utilizar a comunicação assertiva; dar tes é de extrema importância, uma vez que
ordens de modo cortês, mas com firmeza e ela reflete diretamente no fracasso ou su-
sempre olhar para a criança antes de emitir cesso escolar do educando.
uma frase ou advertência. Além disso, ele
deve ser democrático, compreensivo, ami- Palavras-chave: Transtorno de Déficit de
go e empático. É importante, portanto, que Atenção e Hiperatividade; Professor; Trabalho
o professor desenvolva recursos de ensino Pedagógico.
para descobrir o estilo de aprendizagem de Contato: Helen Tatiana dos Santos-Lima;
cada sujeito, de modo que possa favorecer FACITEC/ SEEDF; helen.tatiana@hotmail.com
um desempenho escolar mais satisfató-
rio. Sabendo disso, este estudo se propôs
a identificar a forma pela qual o professor LT04-1480 - FOTOGRAFIA E FAZ DE CONTA
trabalha com os alunos que tenham esse Aline do Carmo Oliveira - IESB
transtorno. Para isso, foi realizada uma alinecarmo1@yahoo.com.br
pesquisa qualitativa, por meio de entrevis- Emanuelle Mendes das Chagas - IESB
tas com 3 professoras dos anos iniciais do psicoeste@gmail.com
Ensino Fundamental de uma escola da rede Alice Araujo Costa - IESB
pública de ensino do DF. Os resultados da psicoeste@gmail.com
pesquisa evidenciaram que as professoras Rafael dos Reis Braga - IESB
identificam a necessidade do desenvolvi- psicoeste@gmail.com
mento de estratégias pedagógicas específi- Anaí Haeser Peña - IESB/UnB
cas para com o aluno com TDAH para que anai.hp@gmail.com
haja uma aprendizagem favorecida. Pode-
-se pensar que, na dinâmica pedagógica, Muitas vezes conhecida como uma das
tais concepções são colocadas em prática, formas mais comuns do comportamento
pois elas relatam que sua ação é norteada humano, especialmente durante a infância,
pelo trabalho diversificado, em que usam a brincadeira marca a vida de muitas crian-
recursos diferentes para promover a apren- ças em diferentes sociedades, constituindo
dizagem deste aluno, imagens, movimen- uma prática cultural típica dessas crianças.
tos, histórias, brinquedos lúdicos, músicas Criatividade e espontaneidade casam-se
e jogos. Entretanto, elas denunciam as di- na brincadeira, ao mesmo tempo em que
ficuldades encontradas para trabalhar com regras sociais e morais são exercitadas e
esse aluno, dentre as quais citam a falta de testadas e aprendizagens são construídas.
apoio da instituição escolar, o pouco recur- Segundo Siaulys (2005), a brincadeira per-
so didático disponível e o grande número mite à criança vivenciar o lúdico e desco-
de alunos em sala. Assim, pode-se concluir brir a si própria, pois nessa atividade ela
que ensinar a criança com esse transtorno apreende a realidade ao mesmo tempo em
pode ser uma tarefa difícil se as posturas que se desenvolve. Dito de outra maneira,
e medidas necessárias não forem tomadas. através do brincar a criança se humaniza,
Entretanto, entende-se que estas medidas no sentido de constituir uma forma de

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

participação cultural, de permitir o conta- de maneira diferente em relação ao que


to e o exercício com atividades e forma de vê. Assim, é alcançada uma condição que
funcionamento da comunidade na qual a começa a agir independentemente daquilo
criança está inserida. Vygotsky (1998) afir- que vê.” (Vygotsky, 1998, p. 127). A partir
mou que o sujeito se constitui nas relações do exposto, verifica-se a fundamental im-
com os outros, por meio de atividades ca- portância da brincadeira para o desenvolvi-
racteristicamente humanas, mediadas por mento infantil ao permitir a transformação
ferramentas técnicas e semióticas. A brin- e produção de novos significados. Vygotsky
cadeira infantil, nesta perspectiva, assume (1998) defende que a criação de situações
uma posição privilegiada para a análise do imaginárias na brincadeira surge a partir da
processo de constituição do sujeito, pois tensão entre o indivíduo e a sociedade. A
constitui uma atividade em que, tanto os brincadeira libera a criança das amarras da
significados social e historicamente pro- realidade imediata e oferece a oportunida-
duzidos são construídos, quanto novos de de controlar uma situação existente (Ce-
podem ali emergir. A brincadeira e o jogo risara, 2002). A fotografia, por seu turno,
de faz-de-conta seriam considerados como pode ser definida como um verdadeiro ato
espaços de construção de conhecimentos icônico (Dubois, 1993), um encontro entre
pelas crianças, na medida em que os signi- o ato de fotografar um objeto ou cena em
ficados que ali transitam são apropriados circunstâncias específicas, com o ato de sua
por elas de forma específica. Paralelamen- percepção e contemplação. O fotografar
te, os objetos com os quais a criança se re- permite a recriação da realidade, pois apre-
laciona são significados em sua cultura e a sentam um recorte da realidade realizado a
relação estabelecida com eles se modifica partir de uma intenção específica daquele
à medida em que a ela se desenvolve. Des- que fotografa.
sa maneira, num primeiro momento essa O presente trabalho apresenta análises
relação é marcada pela predominância de preliminares de um estudo que tem como
sentidos convencionais, característicos da objetivo identificar o papel da fotografia
cultura em que está inserida, de tal forma como instrumento em brincadeiras de faz
que o objeto diz para a criança, de certa de conta, em duas situações diferentes:
forma, como deve agir. Com o passar do uma na qual as crianças são ao mesmo
tempo, de modo gradativo, a relação entre tempo os fotógrafos e os fotografados, e
objeto significado e ação se altera, tendo outra em que são fotografadas em situação
a brincadeira um lugar de destaque nessa de brincadeira de faz de conta com a par-
mudança. Na situação da brincadeira há ticipação de um adulto. As duas situações
mudança na relação da criança com os ob- são apresentadas para as crianças como
jetos, pois estes perdem sua força determi- brincadeiras. Na primeira situação as crian-
nadora. Dessa maneira, ao brincar a crian- ças são incentivadas a brincar de fazer caras
ça pode dar outros sentidos aos objetos e expressando sentimentos ou a fazer care-
jogos, partindo de sua própria ação, de sua tas em frente a uma webcam e aprendem
imaginação, da trama de relações que esta- a tirar fotos de si mesmas fazendo essas ca-
belece com os amigos com os quais produz ras ou caretas. Depois de um momento de
novos sentidos e os compartilha (Cerisara, aprendizagem e ambientação das crianças
2002). “A criança vê um objeto, mas age são deixadas a vontade e sem a presença

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do adulto para brincar e tirar fotografias sabe da importância de comprar as mer-


utilizando a webcam. A situação de brin- cadorias que necessitam, ao contrário do
cadeira de faz de conta com a participação consumista, que compra constantemen-
de adulto consistiu na escolha livre, pelas te produtos supérfluos, seja pelo simples
crianças, de situações para brincarem e re- prazer de comprar ou para mostrar o seu
presentarem. As crianças escolheram brin- poder financeiro frente ao seu grupo so-
car que eram, por exemplo, o Zeca Urubu cial. Os consumidores adultos têm uma
e o Pica-pau em uma situação em que um grande responsabilidade não apenas com
engana o outro, em outro momento brin- a sustentabilidade do planeta, mas, so-
caram de Chapeuzinho Vermelho e Lobo bretudo, com os modelos de comporta-
Mau, e em outro de super-heróis. As ce- mentos transmitidos as crianças. Os pais
nas eram fotografadas tanto pelas crianças ou responsáveis devem ter a consciência
quanto pelo adulto presente. Em ambos os de que a família é o primeiro contexto de
casos as fotografias são apresentadas às socialização da criança e, portanto, ela vai
crianças, que as vezes as identificam como adquirir valores e crenças acerca da vida
produto ou continuidade da brincadeira. e do mundo a partir de suas primeiras re-
lações. Deste modo, é fundamental que
Palavras-chave: faz de conta, brincadeira, os pais demonstrem aos filhos comporta-
fotografia, desenvolvimento mentos de consumo condizentes com suas
Contato: Aline Do Carmo Oliveira, IESB, condições sociais e necessidades. Estudos
alinecarmo1@yahoo.com.br mostram que pais que consumem em ex-
cesso, sejam roupas, alimentos, utensílios
para casa e carro influenciam negativa-
LT04-1513 - PERCEPÇÃO DAS MÃES mente no comportamento dos filhos que,
ACERCA DO CONSUMO INFANTIL provavelmente, vai se tornar uma criança
Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB consumista. A literatura também aponta
eugenia_gba@hotmail.com que pais consumistas geralmente negli-
Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB genciam os filhos e tornam-se permissivos
patynfonseca@hotmail.com do consumo infantil. Na atualidade, há um
Walkyria dos Santos Farias Machado - UFPB crescimento considerável no consumo por
psi_walkyriafarias@hotmail.com parte de crianças, isto tem preocupado
Vivian Kelle Lau Alves - UFPB profissionais de diversas áreas, tais como:
vivian.e@gmail.com psicólogos, educadores, psicopedagogos,
Nájila Bianca Campos Freitas - UFPB sociólogos, nutricionistas e médicos. Tem-
najila.bianca@hotmail.com -se constatado que o consumo em excesso
tem provocado uma série de problemas à
Nas últimas décadas, percebe-se um au- vida das crianças, especialmente, de natu-
mento significativo do consumo em todo reza física, emocional e social. As crianças
o mundo, motivado principalmente pela estão mais propensas a se alimentarem
sociedade capitalista. As empresas inves- inadequadamente, frente à infinidade de
tem muito em produção de bens e anún- opções de comidas, muitas delas gordu-
cios publicitários para atrair cada vez mais rosas sem nutrientes necessários e impor-
o consumidor. O consumidor consciente tantes para a saúde infantil. A isto, tem sur-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gido um aumento no número de crianças contendo quatro questões relacionadas


obesas e com doenças adquiridas a partir ao consumo infantil, especificamente, em
da má alimentação, levando-as a aumen- relação à alimentação, aos brinquedos, a
tar as fileiras dos grupos de risco. O consu- filmes e ao lazer. Na oportunidade foi co-
mo também prejudica a vida emocional da municado que o estudo era voluntário e
criança uma vez que o brinquedo ou o jogo que o nome dos participantes seria manti-
nada mais é do que um substituto da aten- do em sigilo. Foi feito uma análise quanti-
ção e amor dos pais. Na atual realidade tativa das respostas maternas. Os resulta-
social, a criança não é mais um sujeito que dos mostraram que, segundo as mães, as
depende exclusivamente das escolhas do crianças consomem na alimentação mais
adulto na hora de comprar, mas um cliente chocolate (20,8%), refrigerante (16,6%)
decidido, que opina e consome. As crianças e bombons (16,6%); nas compras, conso-
tem se tornado um público exigente quan- mem mais brinquedos (28%) e bonecas e
to ao consumo, pois muitas delas querem bonecos (25%); no lazer, pedem para sair
adquirir objetos de marca consolidada para parques (28,5%) e pizzaria (17,3%).
no mercado. Para assegurar ainda mais o Na aquisição de filmes infantis, as meni-
comportamento consumista da criança, as nas pedem para comprar mais da Barbie
empresas estão investindo em diversidade (17,8%) e os meninos do BEM 10 (17,8%).
de produtos e publicidade voltada para o Conclui-se que o consume das crianças
mundo infantil, especialmente no que se tem sido um comportamento cada vez
referem a brinquedos, alimentos, roupas, mais comum na nossa sociedade, mesmo
objetos de uso pessoal, etc. Há uma varie- em idades tão precoces as crianças deci-
dade de produtos que encantam os olhos e dem e ordenam que os pais correspondam
o paladar da criança. Frente ao crescimen- as suas exigências. Pode-se constatar que,
to do consumo infantil, o Instituto Alana, na alimentação, as crianças demonstram
tem desenvolvido ações relacionadas ao consumir alimentos sem nutrientes neces-
fomento de uma consciência crítica na so- sários ao perfeito funcionamento do orga-
ciedade a respeito do consumo de produ- nismo, ao mesmo tempo em que mostra a
tos e serviços por crianças e adolescentes passividade das mães em corroborar com
e, principalmente, atividades que buscam o filho e não impor as regras de uma boa
debater e apontar meios de minimizar os alimentação. No quesito compras, perce-
impactos negativos do consumismo na in- be-se que os brinquedos e as bonecas/
fância. O presente trabalho teve por obje- bonecos foram os que se sobressaíram,
tivo verificar o comportamento consumis- isto pode indicar que apesar do consumo,
ta das crianças da segunda infância, espe- as crianças da faixa etária do estudo prefe-
cialmente no que se referem a brinquedos, rem este tipo de brinquedo até porque es-
alimentos, filmes e passeios. Participaram tão na época propícia ao desenvolvimento
20 mães com idades entre 25 a 45 anos. das representações simbólicas. No que se
Moravam no interior do estado da Paraí- refere às compras de objetos, constata-se
ba, onze eram profissionais autônomas, a escolha pela marca consolidada da mer-
sete eram donas de casa, uma assistente cadoria, o que revela ser um consumidor
administrativa e uma técnica enfermagem. bastante exigente e até disposto a pagar
Todas tinham filhos com idade entre 3 e 5 mais caro pelo produto. Então, observa-se
anos. Elas responderam um questionário a necessidade de uma discussão sobre o

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tema, seja através de campanhas na mídia transmissão da informação. Alguns autores


ou nas escolas, a fim de promover uma mostram que as escolas que adotaram a
reflexão da sociedade, especialmente, de perspectiva de escola como uma comuni-
pais e professores sobre a importância de dade possibilitaram um desenvolvimento
se ter um consumo consciente e o reflexo interpessoal e intrapessoal aos alunos. Com
do consumismo no desenvolvimento da isso, os alunos reduziram os conflitos inter-
formação da personalidade, dos hábitos e pessoais e tiveram maior interesse pelos
dos comportamentos sociais. outros, demonstrando aceitação e confian-
ça nos valores democráticos. Evidenciou-
Palavras-chave: Consumo, crianças, educação -se ainda o envolvimento dos alunos em
infantil. atividades de grupo e um elevado desem-
Contato: Patrícia Nunes da Fonseca, UFPB, penho acadêmico. Como se pode perce-
patynfonseca@hotmail.com ber, o senso de comunidade é um fator de
integração na medida em que promove o
envolvimento entre estudantes na sala de
LT04-1516 - ESCOLA COMO aula e na escola como um todo, a ponto
COMUNIDADE: COMPARAÇÃO destes adotarem as normas e os valores
SOCIODEMOGRÁFICA da escola como uma ação comum. O sen-
Jaciara de Lira Almeida Dantas - UFPB, so de comunidade na sala de aula envolve
jaciaraadantas@hotmail.com dois elementos principais: (a) a percepção
Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB de ajuda e trabalho coletivo em prol de um
patyfonseca@hotmail.com objetivo comum, e (b) a percepção de que
José Farias de Souza Filho - UFPB cada aluno deve contribuir significativa-
farias.mp@hotmail.com mente para o crescimento da classe como
Nájila Bianca Campos Freitas - UFPB um todo. A percepção e avaliação que os
najila.bianca@hotmail.com jovens formavam acerca da escola, das ati-
Samara Pereira Cabral - UFPB vidades nela desenvolvidas e do seu papel
samarapc@hotmal.com na sua vida, verificaram que as percepções
positivas destes jovens estavam diretamen-
Em todas as culturas há sistemas organi- te correlacionadas com a participação em
zados, de maior ou menor complexidade, atividades extra-curriculares, com o ato de
que preparam os jovens para sua incorpo- pegar livros emprestados na biblioteca e de
ração à sociedade. Entretanto, na socieda- estudar com outros colegas da escola. Em
de brasileira, por exemplo, as escolas são, contrapartida, identificaram uma correla-
por excelência, a instituição encarregada ção inversa com gazear aulas e desrespeito
de transmitir conhecimentos, normas e aos professores. Assim, buscando-se com-
valores da cultura, fontes basilares para o preender melhor a realidade brasileira, es-
desenvolvimento adequado do jovem e de pecificamente de João Pessoa/PB, decidiu-
sua inserção à sociedade. A escola consti- -se realizar um estudo com o objetivo de
tui-se um contexto de socialização, que é verificar se há diferenças na percepção dos
presumivelmente, distinto do contexto fa- jovens acerca da escola como comunidade,
miliar. A diferença baseia-se em padrões de considerando o sexo, a faixa etária e o tipo
comportamentos, regras de interação, mé- de escola (particular vs. pública). Partici-
todos de comunicação e procedimentos de param deste estudo 242 jovens matricula-

239
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos regularmente no ensino fundamental hoc de Bonferroni revelando que os jovens


(23,1% e 38,4% cursavam a 6ª e 8ª séries, de 6ª série do ensino fundamental obtive-
respectivamente) e médio (38,5% estavam ram maior média neste fator (m = 3,36) do
cursando o 2º ano). A maioria foi do sexo fe- que aqueles do 2º ano do ensino médio (m
minino (57,7%) e de escola privada (53,7%) = 2,89). Por outro lado, o sexo teve efeito
de João Pessoa, PB. Os participantes ti- principal em relação ao fator influência [F
nham idades entre 11 e 20 anos (m = 14,3; (1, 229) = 2,59, p = 0,04], em que os rapazes
dp = 1,88). Esta foi uma amostra de conve- obtiveram pontuação maior (m = 2,68) do
niência, não probabilística, tendo partici- que as moças (m = 2,46). Nenhum efeito de
pado os jovens que, presentes nas salas de interação foi observado entre as três variá-
aula visitadas e tendo sido requeridos a co- veis consideradas. Os estudantes de séries
laborar, decidiram formar parte do estudo. mais elementares tendem a apresentar
Os participantes responderam a Escala de melhor percepção da escola como comuni-
Percepção da Escola como Comunidade. Os dade do que os de séries mais avançadas.
dados foram analisados no O Statistical Pa- Isso foi exatamente o que se observou no
ckage for the Social Sciences (SPSS). Foi re- presente estudo, em que os estudantes de
alizada uma MANOVA para medidas repe- 6ª série apresentaram médias maiores do
tidas, observando-se diferenças entre suas que aqueles da 8ª série (ensino fundamen-
pontuações [Lambda de Wilks = 0,73, F (2, tal) e do 2º ano do ensino médio. Contudo,
240) = 43,70, p < 0,001]. O teste post hoc de o fizeram unicamente no fator colaboração,
Bonferroni relevou que as pontuações dos ajuda e proximidade. É provável que os alu-
participantes diferiram entre os três fatores nos das séries iniciais mostrem um envolvi-
(p < 0,001), na ordem apresentada: colabo- mento maior com a escola, tendo melhor
ração, ajuda e proximidade (m = 3,1, dp = relação com seus colegas e administrado-
0,80), relações interpessoais positivas (m res da instituição, além de apresentarem
= 2,7, dp = 0,77) e influência do estudante um bom rendimento acadêmico. Isto pos-
(m = 2,5, dp = 0,77). Um passo seguinte foi to, demonstram ser mais responsáveis e
conhecer a influência de três variáveis de- ajustados ao contexto escolar, ou ao menos
mográficas em relação às pontuações dos mais obedientes, cumpridores de normas
participantes, a saber: tipo de escola (pú- sociais convencionais. Por outro lado, os
blica versus privada), série (6ª e 8ª séries alunos de séries mais avançadas podem es-
do ensino fundamental e 2º ano do ensino tar começando a se interessar por ativida-
médio) e sexo. Neste sentido, realizou-se des extraescolares (por exemplo, shoppin-
uma MANOVA considerando como variá- gs, namoro, campeonatos), o que diminui a
veis critérios os três fatores de percepção probabilidade de apresentarem um padrão
da escola como comunidade, e as variáveis consistente de percepção da escola como
demográficas como antecedentes. Duas comunidade, haja vista que esta pode ser
destas variáveis apresentaram efeitos prin- menos influente nas suas vidas do que ou-
cipais: série [Lambda de Wilks = 0,94, F (3, tros grupos ou instituições de referência.
454) = 2,38, p = 0,03] e sexo [Lambda de
Wilks = 0,96, F (3, 227) = 2,74, p = 0,04]. Os Palavras-chave: Escola; Percepção;
testes univariados indicaram a influência Comunidade.
da série em relação ao fator colaboração [F Contato: Jaciara de Lira Almeida Dantas, UFPB,
(2, 229) = 3,78, p = 0,003], com o teste post jaciaraadantas@hotmail.com

240
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

DIA 13/11 - Domingo novidade. Inicialmente faz-se uma reflexão


sobre os possíveis avanços da teoria da
subjetividade com relação à psicologia so-
14h-15h30 viética e, a seguir, sobre as relações entre a
aprendizagem e o desenvolvimento huma-
no nessa perspectiva, quando compare-
CONFERÊNCIA cem os principais conceitos desenvolvidos
por González Rey nessa direção. Por último
são apresentadas duas pesquisas na pers-
“ONDE FICAM OS BEBÊS NOS DIREITOS pectiva histórico-cultural da subjetividade:
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES?” uma sobre a violência nas escolas e outra
sobre a criatividade infantil, pesquisas es-
Fúlvia Rosemberg - FCC
sas que se articulam e se desdobram na
tensão dos questionamentos e problema-
tizações gerados na construção interpreta-
SP LT04 - Simpósio tiva das produções subjetivas dos sujeitos,
acessadas e expressas no decorrer do mo-
mento empírico e que tem se constituído
SP LT04-845 - A TEORIA HISTÓRICO- em um grande desafio para a educação e a
CULTURAL DA SUBJETIVIDADE: DESAFIOS psicologia do desenvolvimento.
PARA A EDUCAÇÃO E A PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Maria Eleusa Montenegro - UNICEUB A TEORIA DA SUBJETIVIDADE NA
memontenegro@terra.com.br PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL DE
Vannuzia Leal Andrade Peres - PUC-Go/UnB FERNANDO GONZÁLEZ REY: UM AVANÇO
vannuzia@terra.com.br À PSICOLOGIA SOVIÉTICA
Ana Maria Orofino Teles - FE/UnB Maria Eleusa Montenegro - UNICEUB
anaorofino@gmail.com memontenegro@terra.com.br
Geisa Nunes de Souza Mozzer - UFG
geisamozzer@hotmail.com Atualmente, a educação, carente de qua-
lidade e de valorização, busca em dife-
Reflexões e pesquisas na perspectiva da rentes teorias educacionais e psicológicas
teoria histórico-cultural da subjetividade elementos que possam contribuir para o
de Fernando González Rey têm sido reali- processo de ensino-aprendizagem. Em
zadas em diferentes instituições de ensino vista disso é que se pretende, com este
superior, por diferentes professores. Neste trabalho, propiciar aos profissionais da
momento, em que a necessidade é anali- educação a teoria da subjetividade, na
sar os avanços concretos desta proposta e perspectiva Histórico-Dialética do autor
os desafios que ela coloca para as áreas da cubano contemporâneo Fernando Gonzá-
educação e do desenvolvimento humano, lez Rey (2000; 2004; 2005); como uma al-
as autoras vêm expor suas produções com ternativa de continuidade, avanço e apro-
o objetivo de ampliar o debate sobre um fundamento dos teóricos clássicos sovié-
pensamento que é plenamente aberto à ticos, sobretudo de L. S. Vygotsky (1984;

241
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

1987; 1988). Inicialmente houve a preo- A APRENDIZAGEM E O


cupação em conceituar o Materialismo DESENVOLVIMENTO HUMANO
Histórico-Dialético de Marx, filosofia de SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DA
base da Psicologia Histórico-Cultural, e de SUBJETIVIDADE
apresentar os conceitos desta Psicologia Ana Maria Orofino Teles - UnB
e da Educação na perspectiva Histórico- anaorofino@gmail.com
-Dialética. Como aspectos básicos do tra-
balho foram discutidas as categorias de O modelo ou enfoque científico de caráter
sentido, de significado, de subjetividade, empírico e analítico prestigia o controle
do papel do outro e da emocionalidade das variáveis, a objetivação do fenômeno
para os autores L. S. Vygotsky e Fernando estudado e o isolamento do mesmo de
González Rey. Percebeu-se em González seu contexto, o que parece ser impossí-
Rey, por meio da teoria da subjetividade, vel nas investigações que estudam o hu-
uma visão mais aprofundada do homem mano, principalmente em seu atributo de
também como sujeito da própria história. "ser social". Nesse sentido, as abordagens
O papel das emoções e do outro é visto, de ordem hermenêutica e fenomenológi-
para este autor, de uma forma mais sub- ca contribuem para ampliar o sentido do
jetiva. O outro não é percebido com um fazer ciência e da construção do conheci-
papel de caráter instrumental, mas como mento. O saber deve ser contextualizado
ser de relações, detentor de expressões e o mundo como coisa em si cede espaço
diferentes que dependem da qualida- ao mundo como representação e constru-
de do próprio curso no contexto social e ção de um observador que compartilha
cultural. Para González Rey a educação certos consensos sociais. Na esteira des-
é um “processo vivo que não aceita ‘re- se processo de rupturas paradigmáticas
ceitas’ pré-fabricadas e cujo curso define- encontramos em González Rey o pensa-
-se nos sentidos e nos significados que as dor capaz de apresentar uma teoria para
atividades e formas de comunicação im- a integração das diversas partes isoladas
plicadas nesse processo vão produzindo em que se desenvolveu a psicologia como
por meio dos sujeitos que o configuram”. ciência. Talvez seja até possível falar em
A cultura das relações e da comunicação psicologias, ao invés de uma só psicologia,
passa a ter um lugar central para a teoria pela diversidade de teorias que co-habi-
da educação. Acredita-se, também, que tam esse campo de conhecimento resul-
maior aprofundamento da teoria da sub- tante desse modelo de compartimentali-
jetividade de González Rey somente tem zação do saber. A aprendizagem, por sua
a contribuir com o conhecimento do indi- vez, ficou restrita ao campo do compor-
víduo, da educação, do desenvolvimento tamento observável, ou então ao campo
e do processo ensino-aprendizagem, pro- dos processos cognitivos e, na maioria
piciando subsídios para a superação dos das vezes, entendida como algo mecâni-
problemas educacionais. co que se dá através de um processo de
interiorização linear de algo que vem de
Palavras-chave: Teoria da Subjetividade. fora. A teoria da subjetividade de Gonzá-
Histórico-Cultural. Psicologia Soviética. lez Rey (2002, 2004, 2005a, 2005b, 2008)
vem para apresentar um pensamento que

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

responda a uma psicologia geral, uma ci- participação ativa de um sujeito concreto
ência de amplitude e reunião dos conhe- que produz. Nessa perspectiva de subje-
cimentos fragmentados. Uma teoria que tividade cultural-histórica a motivação
conjuga a epistemologia e a metodologia não vai estar na atividade, nem na tarefa
necessárias à integração lógica do fazer proposta, muito menos no professor e na
ciência em psicologia. Com González Rey sua simpatia. A motivação está no sujeito
temos uma maneira interessante de en- que aprende e a aprendizagem acontece
tender a aprendizagem, e também o de- quando o conteúdo passa a fazer sentido
senvolvimento, pois ambos passam a ser para o sujeito, implicando nisso também a
concebidos como processos subjetivos. sua emocionalidade. Para a teoria da sub-
Não exclusivamente cognitivo, não uma jetividade existe uma integração complexa
simples interiorização, mas de produção entre o sentir, o pensar e o agir; e existe o
de sentidos subjetivos que reconfiguram a sujeito. Os atos mecânicos de memoriza-
subjetividade da pessoa. Ou seja, o apren- ção não significam aprendizagem, ou seja,
diz irá aprender na medida em que pro- aprender é um processo subjetivo com-
duzir novos sentidos, que são unidades plexo que passa por um sujeito concreto e
subjetivas formadas pela total integração todo e qualquer processo de massificação
entre o simbólico e o emocional. A per- do ensino anularia esse sujeito e sua ca-
sonalidade, entendida como uma confi- pacidade singular de aprender. O próprio
guração de configurações subjetivas, se conceito de desenvolvimento ganha ou-
transforma no processo de aprendizagem tro caráter ao conjugar não só o "andar
e, com isso, aquele que entrou na sala para frente" na aprendizagem e também
de aula será diferente daquele que sair. o "adquirir conhecimentos", mas também
Esse entendimento do humano e de seu as contradições, os processos cíclicos e as
desenvolvimento explica a aprendizagem ambiguidades inerentes ao complexo sen-
como um processo complexo que implica tido da subjetividade humana.
a subjetividade individual da pessoa, seja
criança ou adulto; a sua subjetividade so- Palavras-chave: subjetividade,
cial, pois essa pessoa está subjetivamente desenvolvimento, aprendizagem, sujeito.
imersa no tempo e no espaço e seu con-
texto histórico e social são relevantes;
implica também a tensão entre sua emo- A PRODUÇÃO SUBJETIVA DA VIOLENCIA
cionalidade e sua racionalidade, onde a NAS ESCOLAS
aprendizagem se dá nas contradições e Vannuzia Leal Andrade Peres - PUC/Goiás
não só nas linearidades e nas transmis- vannuzia@terra.com.br
sões diretas de informação; e também na
produção do sujeito, pois, para González Já não é mais novidade que a violência
Rey esse processo acarreta a produção de nas escolas é um fenômeno mundial. Para
sentidos subjetivos e as reconfigurações isso é só observar as notícias veiculadas
subjetivas e não exclusivamente a inte- nos meios de comunicação de massa,
riorização de algo externo e alheio. Para especialmente a televisão. O problema
a teoria da subjetividade não existe de- é que pouco se sabe, de fato, como essa
senvolvimento e aprendizagem sem uma violência tem sido constituída na com-

243
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

plexidade do real social das diferentes cessos simbólicos e significados, para a


escolas e como diferentes crianças e ado- compreensão da organização psicológica
lescentes poderiam estar subjetivamente subjetiva do sujeito, González Rey (1999,
com ela envolvidos em seus processos 2003, 2011) desenvolve um outro con-
de aprendizagem e desenvolvimento. Na ceito, o de “sentido subjetivo” que nos
abordagem complexa e subjetiva do psi- permite ir mais além e fazermos, final-
quismo humano, proposta por González mente, a seguinte pergunta: que registros
Rey (2011), o primeiro passo para a ex- complexos das experiências de relação
plicação dessa constituição é uma análise na escola, poderiam estar envolvidos na
de como o sistema econômico, o sistema constituição psicológica do sujeito e na
político-social e as ideologias vigentes sua produção subjetiva da violência? Para
estão sendo mediados por professores e González Rey (2011), entretanto, a ênfa-
alunos no cotidiano da escola. Este autor se, ainda hoje, é nas funções cognitivas
compreende que os fatos sociais, econô- mediadas pelos signos, supostamente
micos e culturais que constituem a reali- internalizados, deixando-se de lado a ex-
dade social perpassam pela constituição pressão simbólico-emocional do sujeito,
dos processos psicológicos dos sujeitos, fruto de sua imaginação, sua fantasia e
não de forma imediata, mas por meio de emoção, o que confere à psique um ca-
sua mediação subjetiva que inclui suas ráter gerativo. Essa ênfase no cognitivo,
produções cognitivo-emocionais geradas mediado por aspectos da vida objetiva,
e expressas no espaço escolar. Pergunta- de forma direta e imediata, viria dificultar
-se, então, como o processo ensino/ o desenvolvimento de um modelo teóri-
aprendizagem tem envolvido os professo- co que explicasse como as emoções, os
res e seus alunos na produção subjetiva processos simbólicos e os significados são
do espaço social da escola, que ao mesmo articulados na organização psicológica do
tempo é seu espaço social de constituição sujeito e na sua produção subjetiva de
psicológica? Para González Rey (1999) a seus cenários sociais. Em síntese, a falta
subjetividade integra dialeticamente o in- desse modelo viria dificultar a explicação
dividual e o social, implicando, para isso, de como o cenário social escolar, no qual
o sujeito com sua história e seu espaço o foco deveria ser a aprendizagem e o de-
social que o constitui e é por ele consti- senvolvimento do sujeito, é, ao contrário,
tuído em um processo recursivo. Entre o palco de produção subjetiva da violência,
sujeito e seu espaço social, no qual ele em níveis cada vez maiores. A partir da
atua, há um processo dialético que lhe implantação da disciplina "Estágio Bási-
possibilita constituir sua psique que é ge- co em Psicologia Escolar" na PUC-Goiás,
rativa, não reprodutiva. Buscamos, assim, em 2009, desenvolvemos uma pesquisa
refletir sobre a qualidade do diálogo e da sobre o tema nas escolas estaduais. As
dialética daqueles que atuam nas esco- informações foram construídas pelos alu-
las, especialmente professores e alunos, nos por meio de observações interativas,
e como esse processo poderia estar com- redações, desenhos, discussão de temas,
plexa e subjetivamente envolvido com a complementação de frases e entrevis-
constituição e a expressão da violência tas. Além disso, realizaram ações intera-
entre eles. Ao articular emoções, pro- tivas com professores e alunos nas salas

244
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de aula. Pode-se dizer que, com base na cas que atendam à diversidade da sala de
Psicologia Histórico-Cultural da subjeti- aula quanto na educação para uma con-
vidade de González Rey buscaram fazer vivência pacífica e respeitosa entre eles.
uma leitura das realidades das escolas
e desenvolver ações compatíveis com a Palavras-chave: subjetividade, escola,
proposta de uma psicologia escolar/edu- violência
cacional que visa à aprendizagem e ao
desenvolvimento humano, considerando
a diversidade desses processos em cada A CRIATIVIDADE INFANTIL NA
sujeito concreto. A realização das ações PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL DA
interativas os ajudaram a compreender: SUBJETIVIDADE
1) que a diversidade não é um empecilho Geisa Nunes de Souza Mozzer - PUC/Goiás
para o desenvolvimento do cenário da geisamozzer@hotmail.com
sala de aula, mas a sua riqueza; 2) que o
diálogo deve ser uma prática cotidiana da Esta pesquisa teve como objetivo central
sala de aula para que alunos e professo- buscar compreender como se expressa a
res desenvolvam uma reflexão sobre suas criatividade nas crianças na Educação In-
histórias e necessidades; 3) que as práti- fantil, privilegiando a atividade de ouvir
cas pedagógicas devem atender à diver- e contar histórias, entre crianças de 3 a 6
sidade do processo de aprendizagem e à anos de idade. Para tanto, é apresentado
necessidade de desenvolvimento da ima- um breve levantamento bibliográfico sobre
ginação criativa e da inventividade, ora o conceito de criatividade e criatividade in-
relegadas a segundo plano na maioria das fantil abordando como esses temas estão
escolas, o que torna invisíveis as crianças sendo discutidos na literatura especializa-
e os adolescentes concretos; 4) que a pro- da. Durante a comunicação da pesquisa,
dução subjetiva, possibilitada pelo exercí- buscou-se responder as seguintes ques-
cio da imaginação criativa, ajuda a supe- tões: Por que estudar criatividade? Como
rar as barreiras das condições objetivas ela se expressa? Como a criatividade é
das relações entre professores e alunos, concebida à luz da teoria Histórico-Cultural
tais como o mau humor, a impaciência, da Subjetividade? Com quais recursos sub-
a falta de atenção e a indiferença. Com- jetivos/personológicos a criatividade das
preenderam, ainda, a necessidade que há crianças está relacionada? Quais as maio-
das crianças e adolescentes poderem ex- res barreiras para o seu desenvolvimento?
pressar a realidade social das escolas, nas Como a criatividade se relaciona com a
suas relações com a realidade social mais Literatura Infantil nesta fase inicial da vida
ampla, mediadas por suas emoções mui- da criança? Buscou-se também analisar os
tas vezes contraditórias. Afinal, pudemos, elementos contextuais que podem interfe-
todos nós, vivenciar o desafio da psico- rir na expressão da criatividade das crian-
logia histórico-cultural da subjetividade, ças na Educação Infantil, sempre privile-
isto é, de buscar ultrapassar o pensamen- giando a atividade de conto, reconto, cria-
to da causalidade clássica e considerar ção e interpretação de histórias, a partir
a subjetividade de alunos e professores, da Teoria Histórico-Cultural da Psicologia,
tanto na realização de práticas pedagógi- inaugurada por Lev Vigotski (1896-1937), e

245
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da Teoria Histórico-Cultural da Subjetivida- nos quais as crianças atuam. Diferentes


de desenvolvida pelo pesquisador cubano técnicas qualitativas foram utilizadas à luz
Fernando González Rey (1999, 2007). À luz da concepção epistemológica qualitativa,
desta última, propomos discutir o conceito proposta por González Rey (2002, 2005). A
de subjetividade, personalidade, sujeito, pesquisa empírica se dividiu em duas fases:
sentido subjetivo, unidades subjetivas do a primeira com um grupo de 20 crianças de
desenvolvimento e subjetividade social. 5 anos de idade, quando foram realizadas
Segundo Vigotski (1930-1990), a criança sessões de conto e reconto de histórias de
tem a criatividade menos desenvolvida personagens infantis escolhidos pelas pró-
que o adulto, pois este último estaria mais prias crianças. Nestas sessões foram explo-
capacitado à produção criativa. Para o au- radas questões cognitivas, como escrever
tor, o processo de imaginação e de criação o nome dos personagens da história, des-
não é espontâneo e o mundo cultural é, cobrir as cores das roupas dos persona-
em grande parte, produto da imagina- gens, formar palavras a partir do nome dos
ção, fantasia, memória e imitação. Sendo personagens, dentre outros. Depois desta
assim, a imaginação e a criatividade, jun- etapa foi solicitada a algumas crianças que
tamente com outras funções psicológicas vestissem a fantasia dos personagens das
superiores, são o que distingue o mundo histórias. Elas ficaram fantasiadas durante
cultural do mundo natural. Essas funções o período de um dia, ou seja, todo o perío-
se desenvolvem no contexto histórico-cul- do de permanência no CMEI (Centro Muni-
tural. O domínio histórico-cultural, para cipal de Educação Infantil), quando foram
Vigotski, não representa o histórico social feitas as observações. As análises ainda
do indivíduo nem seu contexto cultural estão sendo realizadas, mas os primeiros
presente, mas refere-se à natureza do de- resultados demonstram que a criatividade,
senvolvimento dos processos psicológicos nesta fase da vida criança, manifesta-se de
humanos (Neves-Pereira, 2007). A concep- forma diferente em cada um dos sujeitos,
ção de criatividade como processo da sub- mas sempre mediada, principalmente,
jetividade, foi analisada à luz dos estudos pela memória, cognição, percepção, aten-
desenvolvidos por Mitjáns Martínez (1997, ção, imitação, afetividade, ou seja, me-
2002, 2006, 2007). Esta autora apresen- diada e relacionada com as configurações
ta a criatividade como uma expressão da subjetivas de cada uma, bem como com
personalidade que se manifesta de forma a subjetividade social constituída nos es-
diferente em cada um dos sujeitos, es- paços sociais nos quais as crianças atuam.
tando relacionada com a sua constituição Assim, nessas pesquisas temos observado
subjetiva. Ou seja, fazendo um contrapon- crianças pré-escolares em diferentes inter-
to com a ideia de que a criatividade é um pretações de histórias através das quais a
traço isolado da personalidade, esta abor- criatividade tem se manifestado de forma
dagem teórica entende que a criatividade bastante relacionada com a personalidade
se expressa e está relacionada com a ca- e subjetividade de cada um dos sujeitos
pacidade cognitiva, com a forma pela qual observados. As crianças, ao interpretar os
o indivíduo interage dialeticamente com o personagens das histórias, demonstram
contexto social, bem como com a subjetivi- características dos mesmos que se mistu-
dade social constituída nos espaços sociais ram à sua própria constituição subjetiva.

246
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Percebemos ainda que o contexto social, Educação e Inclusão Escolar, oferecido


por exemplo, a relação estabelecida com pela Universidade de Brasília, em parce-
a professora e com as outras crianças do ria com a Universidade Aberta do Brasil.
grupo, também interferem na expressão e O curso, de 420 horas, foi oferecido na
manifestação da criatividade das crianças. modalidade a distância e ocorreu duran-
Desta forma, buscamos discutir também te os anos de 2010 e 2011, atendendo a
a relação da criatividade com a Literatura quase 500 alunos advindos de diferentes
Infantil. Ou seja, como a criatividade pode localidades no Brasil. A proposta do curso
ser melhor desenvolvida nas Escolas de buscou dar respostas à demanda de edu-
Educação Infantil através da atividade de cadores que solicitam um curso de quali-
contar, recontar, interpretar e criar his- dade para sua formação continuada, re-
tórias. Assim, buscamos observar quais presentando uma iniciativa conjunta para
características gerais dos contextos que atender à demanda de escolas, hospitais
podem provocar, assim como preconiza e do contingente de profissionais que
Mitjáns Martínez (1997), circuitos nega- trabalham em diversas associações, que
tivos e positivos para o desenvolvimento, procuram instâncias formadoras e espe-
manifestação e expressão da criatividade, cializadas para promover sustentabilidade
dentre outros aspectos. ao processo inclusivo. Seu objetivo era o
de qualificar profissionais que lidam com
Palavras-chave: subjetividade, criatividade, a questão do desenvolvimento humano e
educação infantil com o campo da educação, para atuar na
promoção e sustentabilidade da inclusão
escolar de alunos com necessidades es-
peciais. Entre as atividades de formação
SP LT04 - Simpósio oferecidas pelo curso, incluía-se a constru-
ção de uma pesquisa monográfica orien-
tada, que ocorreu nos últimos seis meses
SP LT04-930 - INCLUSÃO ESCOLAR: de funcionamento do curso. Tal pesquisa
AÇÕES E REFLEXÕES NAS ESCOLAS DA abrangeu todos os diversos componentes
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO do currículo do curso, como ação integra-
DO DISTRITO FEDERAL dora que visava assegurar a indissolubili-
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB dade teoria e prática. Os trabalhos apre-
rmirian@unb.br sentados representam uma síntese de três
Albenira Alves Rodrigues Soeira - SEE/DF monografias construídas ao longo do cur-
nirasoeira@gmail.com so, todas produzidas nas escolas da rede
Ana Ester Soares Oliveira - SE/DF pública de ensino do Distrito Federal. As
anahadassa@hotmail.com principais pesquisadoras dos três estudos
Claudia Maiana Silva - SEE/DF são professoras dessa rede, em formação
cmaianass@hotmail.com continuada, e cada uma delas, a partir de
suas especificidades, visou refletir a res-
Esse simpósio representa o fruto de um peito do processo inclusivo na escola, bus-
trabalho desenvolvido no Curso de Espe- cando construir recursos teórico-metodo-
cialização em Desenvolvimento Humano, lógicos que pudessem orientar e facilitar a

247
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ação dos diversos participantes desse pro- mento humano. De acordo com Moreira
cesso. Consideramos que seus resultados (apud Dessen & Weber, 2009), tanto a
representaram uma importante contribui- família como a escola podem trazer situ-
ção para a organização do trabalho peda- ações que incentivem o crescimento da
gógico da escola e da sala de aula, uma vez criança, como também podem contribuir
que possibilitaram um exercício reflexivo para o desencadeamento de situações
sobre a prática educacional inclusiva, tan- adversas que podem prejudicar a crian-
to para os pesquisadores em formação ça no seu desempenho educacional. Esse
como para os contextos educacionais nos trabalho pretendeu, portanto, compre-
quais as pesquisas foram desenvolvidas. ender atitudes positivas para a inclusão
nos dois sentidos, ou seja, da família e da
escola. Na visão de Bronfenbrenner, famí-
A INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS lia e escola são microssistemas, entendi-
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS dos como contextos de maior influência
ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E para o desenvolvimento de uma criança
SUAS FAMÍLIAS (apud Dessen & Silva, 2004). A família é
Albenira Alves Rodrigues Soeira - SEE/DF o primeiro local de convivência de uma
nirasoeira@gmail.com criança e deveria ser o maior incentivador
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB de quebra de preconceitos, em se tra-
rmirian@unb.br tando da criança com necessidades edu-
cacionais especiais. Já o papel da escola
O contexto atual em que vivemos, na é o de incluir e criar estratégias para o
sociedade, incentiva o movimento de in- crescimento dessa criança. Aranha (apud
clusão. Esse movimento parte da idéia de Barbosa, Rosini & Pereira, 2007) ressalta
que gozamos dos mesmos direitos e que que a educação inclusiva é um projeto a
todos os cidadãos têm garantias e direitos ser construído por todos os envolvidos na
primordiais para a sua vida, como: saúde, comunidade escolar, e que só terá êxito
educação, segurança, trabalho, previdên- quando as atitudes em relação à inclusão
cia social e lazer (Brasil, 1988). A inclusão escolar forem positivas. Ao se falar de fa-
deve partir da inserção do indivíduo na mília, escola e pessoa com necessidades
sociedade e da garantia de seus direitos. especiais ou com deficiência, tem-se em
De acordo com Madeira Coelho (apud Kel- mente as palavras diversidade, respeito
man, 2010), a inclusão é um termo inte- e igualdade de oportunidades. De acor-
ressante, e serve de bandeira globalizada do com Glat e Duque (2003), o papel dos
para os grupos ditos minoritários e margi- profissionais é fundamental para mini-
nalizados da sociedade. No tocante a edu- mizar os sentimentos de superproteção
cação, o dever do Estado de proporcionar ou segregação e promover orientações
o direito à educação encontra-se em seu e esclarecimentos sobre as capacidades
artigo 205: "Educação direito de todos e do filho com necessidades especiais, bem
dever do Estado" (Brasil, 1988). Bronfen- como provocar um olhar dos pais sobre si
brenner (1996 apud Kelman, 2010) afirma mesmos. Ainda com Glat (2004) uma vez
que a família e a instituição escolar são orientados e sensibilizados para a nova
ambientes que promovem o desenvolvi- situação, os pais podem influenciar, posi-

248
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tivamente, na autoconfiança do filho para rado pelas entrevistadas foi a preparação


o desenvolvimento de suas capacidades. prévia da sociedade, família e escola para
Este trabalho teve por objetivo compre- a inclusão de alunos com necessidades
ender a relação família-escola no proces- educacionais especiais, tanto no meio so-
so de inclusão dos alunos com necessida- cial como educacional. Outro tema foi: A
des educacionais especiais na Educação inclusão - bem comum, já que a inclusão
Infantil do Ensino Regular. Quanto à abor- foi muito citada pelas duas participantes
dagem, a mais indicada foi a pesquisa da pesquisa como o envolvimento de to-
qualitativa. De acordo com Maciel e Ra- dos da sociedade nesta luta; elas citaram
poso (2010), tal pesquisa representa um a inclusão como uma causa não abraça-
processo permanente de construção do da por todos da sociedade, a começar
conhecimento pela interação do pesqui- pelas autoridades que fazem as leis e as
sador, do pesquisado e da pesquisa, em colocam em prática. O terceiro tema mais
si. A escola contexto da pesquisa selecio- explorado foi denominado: A qualida-
nada para o estudo é uma escola da rede de no cotidiano educacional e inclusivo,
pública, inaugurada em 11 de outubro de pela busca na qualidade no atendimento
1978; está localizada na zona urbana de no ambiente escolar, já que o ambiente
uma das regiões administrativas do DF, pode ser educacional, mas, não necessa-
atendendo crianças da própria comuni- riamente, inclusivo; reconhecer e conhe-
dade e de regiões próximas. Participaram cer quais são as atitudes da sociedade,
desta pesquisa uma mãe de aluno NEE in- família e escola nessa etapa de vida do
serido numa turma de educação infantil e ANEE é essencial para assegurar sucesso.
a regente da turma desse mesmo aluno. O último tema levantado foi denomina-
O instrumento mais adequado para as si- do: Os frutos da inclusão nos parâmetros
tuações propostas foi a entrevista semies- de igualdade para todos, tendo recebido
truturada. O roteiro para a efetivação da este título por incluir os resultados de
entrevista foi organizado em três blocos uma boa inclusão e da convivência entre
de questões sobre os entrevistados: (a) sociedade, família e escola. As percepções
apresentação; (b) seus conhecimentos te- e traduções feitas ao longo desse período
óricos sobre o assunto proposto; e (c) sua – de pesquisa, entrevistas e análises - são
prática vivenciada. A entrevista foi reali- que alguns assuntos ou temas são anti-
zada com o auxílio de um gravador. Para gos, mas, com soluções e atitudes ainda
analisar as informações construídas por tímidas e pequenas para o que a realida-
meio das entrevistas, portanto, optamos de pede. A intenção, com este trabalho,
pela construção de categorias teóricas de não é apontar erros e falhas da família ou
análise. As categorias elencadas são fru- da escola, mas, a de buscarmos, juntos,
tos da análise de informações construídas a resolução dos problemas encontrados
por meio das entrevistas. Os títulos das ao longo do percurso. Se a maior tarefa é
categorias foram formulados a partir de da escola, inclusive, ao dar subsídios para
temas que envolviam tanto a sociedade a família, no entanto, precisamos rever
quanto a comunidade escolar, e as cate- nossos conceitos e atitudes. Precisamos
gorias são: conhecimento e vivência com- entender que não adianta estarmos num
partilhada. O segundo tema mais explo- local onde a inclusão deve acontecer, se

249
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

não tivermos mente aberta para aceitar e dizagem; sendo a escola um ambiente
incentivar não somente o aluno NEE, mas que reúne diversidade de conhecimen-
todo o excluído. tos, atividades, regras e valores, permea-
dos por conflitos, problemas e diferenças
Palavras-chave: inclusão, necessidades (Mahoney apud Dessen & Polonia, 2007),
educacionais especiais, relação família-escola ela se transforma em espaço privilegiado
de desenvolvimento. Ressaltando a im-
portância da educação na diversidade,
PROGRAMA DE ATENDIMENTO cabe à escola criar meios que superem
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO as dificuldades, assegurem o desenvolvi-
COMPLEMENTAR mento e promovam ações que conduzam
Ana Ester Soares Oliveira - SEE/DF a atividades que transcendam a educação
anahadassa@hotmail.com informativa. O estímulo a atividades des-
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB portivas, recreativas e culturais aproxima
rmirian@unb.br os diferentes, rompendo com as barreiras
do monoculturalismo (Kelman, 2009). A
Atualmente, o grande desafio da educação Secretaria de Educação Especial, por meio
tem sido o de promover o desenvolvimen- dos seus programas e ações, apresenta
to da aprendizagem, onde a diversidade possibilidades para viabilizar o processo
constitui um traço marcante no contexto inclusivo e apoiar os sistemas de ensino
escolar. Diante desta realidade, diversas com programas de formação continuada
ações são sugeridas, a fim de contemplar de professores na educação especial, pro-
as peculiaridades do processo de aprendi- grama de implantação de salas de recursos
zagem dos alunos com necessidades edu- multifuncionais e demais programas que
cativas especiais. A Secretaria de Estado buscam implementar a educação inclusiva
de Educação do Distrito Federal, a partir e o direito à diversidade. Segundo o De-
das Diretrizes Pedagógicas, disponibiliza creto nº 6571/2008, entende-se por aten-
atendimentos educacionais especializados dimento educacional especializado todo
complementares, aos alunos inclusos em o conjunto de recursos de acessibilidade
escolas regulares, a fim de complementar e pedagógicos organizados institucional-
o processo de desenvolvimento da apren- mente, ofertados de forma complementar
dizagem. Hoje, atendimentos como: Edu- ou suplementar à formação dos alunos no
cação Física adaptada, Artes, Informática ensino regular. Este documento enfatiza,
adaptada, Jardinagem e Argila são reali- ainda, a importância da transversalidade
zados pela SEE-DF, em centros de ensino das ações do ensino especial no ensino re-
especial, com caráter complementar, no gular, no intuito de viabilizar e consolidar
horário contrário ao de aula. O Programa o processo inclusivo. Diante destas con-
de Atendimento Educacional Especializado cepções, as diretrizes pedagógicas do DF
Complementar visa contemplar as particu- contemplam o processo inclusivo, ao apre-
laridades e necessidades dos alunos e au- sentarem orientações para a realização do
xiliar no processo inclusivo. A diversidade atendimento educacional especializado na
de conhecimentos é elemento propulsor perspectiva inclusiva. Dentre os programas
do desenvolvimento humano e da apren- apresentados, o Programa de Atendimen-

250
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to Educacional Especializado Complemen- importância da família como promotora de


tar tem o intuito de oferecer atendimentos possibilidades para favorecer o desenvolvi-
que não são ofertados no ensino regular. mento humano. Segundo Carvalho (2010),
Esta é mais uma ação que sugere o forta- apesar dos avanços, o diagnóstico é dificul-
lecimento do processo inclusivo, a partir tado pela significativa heterogeneidade de
da reelaboração dos ambientes educacio- comportamento e atitudes, pois, as mani-
nais, com o intuito de efetivar o processo festações autísticas variam de pessoa para
de inclusão escolar e embasar a constru- pessoa. Dessen e Polonia (2007) enfatizam
ção da sociedade inclusiva. Neste estudo, que os laços afetivos, principalmente entre
buscamos compreender a importância dos pais e filhos, podem ser aspectos positivos
atendimentos educacionais especializados para desencadear um desenvolvimento
complementares, na implantação e manu- saudável, possibilitando o ajustamento do
tenção do processo de inclusão, bem como indivíduo em diversos ambientes. Proces-
a relevância destes no processo de desen- so de Adaptação da escola à necessidade
volvimento humano e educacional dos do aluno: Inclusão - nesta categoria, per-
alunos com necessidades educativas espe- cebemos que as ações educacionais apli-
ciais. O contexto da pesquisa foi um centro cadas favoreceram o processo educacional
de ensino especial, que disponibiliza vários de um aluno participante do Programa
ambientes para a realização dos atendi- Educacional Especializado Complementar.
mentos complementares. Para este estu- Em dois espaços diferentes, os professo-
do foram selecionados dois professores, res transformaram suas práticas, a fim
sendo um do atendimento complementar de proporcionar o desenvolvimento da
e um do ensino regular; a mãe de um alu- aprendizagem do aluno. Segundo Carva-
no matriculado no atendimento comple- lho (2010), os aspectos educacionais con-
mentar, também foi convidada a participar siderados evidenciam a importância da
desta pesquisa. A entrevista semiestrutu- mediação educacional, favorecendo maior
rada foi o instrumento de construção de aproveitamento dos espaços escolares,
informações, por preservar a naturalidade bem como ações efetivas de aprendiza-
e possibilitar que as informações constru- gem, promovendo o desenvolvimento do
ídas refiram-se aos mais diferentes am- aluno. Rede de apoio à inclusão: Programa
bientes sociais (Gil, 1989). O procedimen- de Atendimento Educacional Especializado
to de análise foi a categorização de dados, Complementar - os participantes definiram
elaborada com base nas transcrições das os atendimentos especializados comple-
entrevistas aqui mencionadas. Através da mentares como atividades essenciais no
elaboração de um quadro, focalizamos, nas auxílio e apoio ao processo educacional re-
falas dos participantes, aspectos essenciais gular; ainda, ressaltaram a importância de
do desenvolvimento do aluno. Como parte profissionais capacitados no atendimento
dos resultados, a partir da categorização a alunos com necessidades especiais. Pro-
das informações, foram levantadas três fessor e aluno, por estarem "mergulhados
categorias: Diagnóstico: compreensão da em diferentes possibilidades interativas",
realidade - os participantes expuseram as constroem um espaço versátil e enrique-
dificuldades na precisão de um resultado cedor para o processo de ensino/aprendi-
diagnóstico de uma criança com TGD e a zagem. Em outra vertente, a ação do pro-

251
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fessor também é pautada pela definição eram intituladas anormais e possuidoras


da função da educação, que não seria só de forças malignas muito ligadas a crenças
a de prover oportunidades para o cresci- sobrenaturais; elas eram consideradas um
mento e expressão, mas, essencialmente, mal para a sociedade (Boaventura, 2008).
de nutrir possibilidades relacionais (Bar- A Declaração de Salamanca de 1994 marca
tholo, Taca & Tunes, 2007). A partir das in- a luta contra o preconceito; a partir dela,
formações aqui apresentadas, verificamos se iniciaram discussões voltadas à inclu-
a importância dos atendimentos especiali- são e de atendimento em todo o mundo,
zados complementares, no apoio e fortale- inclusive, no Brasil (Moraes, 2009). Bueno
cimento do processo inclusivo. As estraté- (2001) refere-se ao movimento brasileiro
gias de divulgação devem ser fortalecidas, de integração escolar que, desde a década
a fim de alcançarem maior quantitativo de de 1970, privilegia a detecção de caracte-
alunos inclusos. Outro aspecto que refor- rísticas individuais que possam prejudicar
çamos é a utilização de todos os espaços a escolarização dos alunos e que, diante
educacionais, de modo a se constituírem deste diagnóstico, incorpora cada aluno
ambientes inclusivos. E, finalmente, rei- à educação regular ou especial. No Brasil,
teramos a importância da elaboração de historicamente, o sistema segregado de
uma política inclusiva, onde todos os seg- ensino, somado à educação bancaria (Frei-
mentos educacionais possam participar da re, 1987), torna ainda maior o desafio de
construção de ações como o Programa de mudanças. Bueno (2001) destaca que, ao
Atendimento Educacional Especializado. lado dessas práticas de reprovação, está o
ensino seriado ou a ausência de qualquer
Palavras-chave: inclusão escolar, atendimento seriação na educação especial. Segundo
educacional especializado complementar, a Orientação Pedagógica da Educação Es-
desenvolvimento humano e da aprendizagem pecial do Distrito Federal (2010), a rede
publica de ensino, visando tornar sua es-
trutura organizacional pedagógica mais
A REALIDADE EDUCACIONAL E A inclusiva e, para efetivar esse processo,
INCLUSÃO ESCOLAR define que ele deverá acontecer de ma-
Claudia Maiana Silva - SEE/DF neira paulatina, tendo em vista a acessi-
cmaianass@hotmail.com bilidade curricular e o aprimoramento das
Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB perspectivas organizativas, de maneira
rmirian@unb.br coerente e responsável, respeitando a fle-
xibilização da dimensão da temporalidade
Atualmente, as diversas demandas edu- e de outros aspectos, para que o sistema
cacionais exigem que as escolas regulares de ensino se torne cada vez mais inclusi-
estejam preparadas para receber alunos vo. Quanto à qualificação profissional do
com necessidades educacionais espe- professor, Leão (2004) entende que essa
ciais, proporcionando-lhes uma educação qualificação seja essencial para a inclusão
de qualidade com condições igualitárias, e deva ser continuada. Ferreira (2005), a
onde as diferenças sejam respeitadas no esse respeito, afirma que o processo de
processo de ensino e aprendizagem. Na inclusão pressupõe uma escola que pos-
antiguidade, pessoas com deficiências sui uma política participativa com cultura

252
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

inclusiva, de maneira que os membros da analise desses instrumentos chegamos a


comunidade escolar sejam colaboradores três categorias: (a) a formação dos profes-
entre si, apóiem-se mutuamente e apren- sores: por meio dessa categoria foi possí-
dam uns com os outros. Esta pesquisa vel observar que a formação do professor
teve por objetivo analisar como gestores deve acontecer durante todo o processo,
e professores de uma escola regular na ou seja, deve ser inicial e continuada, par-
cidade de Ceilândia viabilizam o processo tindo da realidade do professor, da escola
de inclusão. Foi nossa intenção específica e dos alunos envolvidos no processo; (b)
compreender que aspectos da organiza- a família como parceira: percebeu-se a
ção do trabalho pedagógico da escola e profunda necessidade da participação da
da sala de aula poderiam ser consideradas família, numa perspectiva bidirecional, de
fundamentais para o desenvolvimento e a maneira que um possa alimentar o outro
aprendizagem do aluno com necessidades de informações fundamentais que contri-
educacionais especiais. Como parte da buam para o desenvolvimento do aluno
metodologia, entendemos que a pesqui- NEE; (c) o currículo e suas adequações:
sa qualitativa responde a questões muito sugere-se, a partir dessa categoria, que os
particulares; ela se preocupa, nas ciências alunos possam vivenciar, no processo edu-
sociais, com um nível de realidade que cacional, um currículo contextualizado,
não pode ser quantificado. Para a realiza- interdisciplinar e que sofra adequações
ção desse trabalho participaram o diretor compatíveis com as necessidades especí-
da instituição de ensino e uma professora ficas de cada um dos alunos em formação;
que atua com alunos especiais (NEEs) na e (d) avaliar no dia a dia: a avaliação, a
área da surdez. As estratégias empregadas partir dos resultados do estudo, deve ser
para a construção dessa pesquisa foram a processual, contextualizada, formativa e
pesquisa documental e as entrevistas. Foi servir como ponto de referência para re-
elaborado um roteiro com 46 perguntas, organização das atividades escolares. Con-
que foram distribuídas em cinco cate- cluímos que ainda não seja possível rea-
gorias, para a realização da entrevista. lizar a inclusão que desejamos, mas, en-
Após ouvirmos atentamente as entrevis- tendemos que a experiência relatada seja
tas, procuramos transcrevê-las fielmente, relevante, no que diz respeito ao processo
não omitindo nem acrescentando nada evolutivo da escola como espaço inclusi-
além daquilo que foi dito. Dentre os re- vo. O professor pode utilizar as estratégias
sultados, de acordo com o PPP da escola apresentadas para enriquecer o seu tra-
pesquisada, o processo de avaliação não balho e para refletir sobre suas estratégias
se refere, apenas, a uma verificação do e instrumentos utilizados no processo de
rendimento escolar do aluno, mas, sim, a ensino aprendizagem, a fim de alcançar os
todo um processo de adaptação e cresci- objetivos desejados. A inclusão de quali-
mento que consciente de que seu papel dade é possível, apostando numa postu-
apresente domínio sistêmico, evidenciado ra de respeito dos professores frente aos
nas demonstrações e articulações práticas seus alunos com dificuldades de apren-
com a vida. As entrevistas demonstram a dizagens, sendo eles NEEs ou não. Como
concepção do diretor e da professora em formaremos cidadãos que promoverão
relação às práticas da inclusão. A partir da as mudanças necessárias no meio em

253
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que vivemos construindo uma sociedade A proposta apresentada é parte das dis-
melhor? Ansiamos por educadores que cussões e reflexões realizadas no Núcleo
sejam capazes de desencadear ações que de Estudos da Infância: Pesquisa & Exten-
tornem os seres humanos melhores, que são (NEI:P&E) e na Linha de Pesquisa In-
pensem no outro e no futuro do planeta, e fância, Juventude e Educação do Progra-
que utilizem, para isso, criatividade, dispo- ma de Pós-Graduação em Educação, da
sição e, como falou o diretor, sentimento. Universidade do Estado do Rio de Janei-
Acredita-se que este estudo possa ofere- ro (ProPEd/UERJ). Com foco nas Políticas
cer importantes contribuições quanto à Públicas busca estabelecer um trabalho
inclusão escolar de qualidade e propor- profícuo de parceria com a Secretaria Mu-
cionar, aos professores, oportunidade de nicipal de Educação da Cidade do Rio de
reflexão quanto a sua prática pedagógica, Janeiro (SME/RJ), onde a pesquisa Agente
com um novo olhar e uma nova postura, Auxiliar de Creche: Educadores da Infância
em relação à educação inclusiva. Carioca é desenvolvida. Visa, entre outros
objetivos, apoiar a implementação das
Palavras-chave: inclusão/avaliação/ políticas públicas do governo municipal
adequações curriculares, relação família- na formação em serviço dos agentes au-
escola, formação de professores xiliares de creche, aprovados no concurso
Contato: Mirian Barbosa Tavares Raposo, UnB, público realizado em 2007 (Edital nº1 de
rmirian@unb.br 04/08/2007) e dos Professores de Educa-
ção Infantil (Edital nº 91, de 25 de outu-
bro de 2010). A pesquisa está situada nas
áreas de Educação Infantil e Desenvolvi-
SP LT04 - Simpósio mento Humano e visa influenciar na pro-
dução de discussões sobre as questões de
desenvolvimento e formação de subjetivi-
SP LT04 1293 PSICOLOGIA DO
dade de crianças (0 a 42 meses) e adultos
DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS
(educadores da infância e familiares), num
PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO
ambiente educacional específico (creche).
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Articula temas de pesquisa, valorizan-
Vera Maria Ramos de Vasconcellos - ProPEd/ do a produção nacional da Psicologia do
UERJ Desenvolvimento em interlocução com a
vasconcellos.vera@gmail.com Educação da Infância. Este Simpósio apre-
Fátima Veról Rocha - SME/RJ sentará quatro pesquisas interrelaciona-
fverol@globo.com das, são elas: (i) Formação de Educadores
Maciel Cristiano da Silva - ProPEd/UERJ e de Creche: Compartilhando Experiências;
SEMED/NI (ii) Infância & Inclusão: Olhares sobre as
mcs.pesq@yahoo.it Práticas Pedagógicas e o Desenvolvimento
Flávia Maria Cabral de Almeida - ProPEd/ Humano; (iii) Diálogo entre Família e Edu-
UERJ cadores de Creche; e (iv) De um Concurso
psi.flaviamaria@yahoo.com.br a Outro: a trajetória de um município na
Marcia Gil - ProPEd e SME/RJ Construção de Identidade do Educador
marciagil@globo.com Infantil.

254
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

FORMAÇÃO DE EDUCADORES SIL, 1996). No município do Rio de Janeiro,


DE CRECHE: COMPARTILHANDO por força da legislação, as creches públicas
EXPERIÊNCIAS passaram a integrar a SME/RJ. Desde en-
Fátima Veról Rocha - PROPED/UERJ e SME/RJ tão, mudanças estruturais aconteceram
fverol@globo.com em decorrência do processo transitório.
Ana Lúcia Ferreira - FE/NEIPE/UERJ A principal mudança na estrutura de fun-
ana_ferreira_41@hotmail.com cionamento das instituições ocorreu após
o concurso público (Edital - SME/SMA
As mudanças no cenário nacional após a nº8, de 24/07/2007 ). Em junho de 2008,
promulgação da CF/88, no âmbito educa- o quadro de pessoal das creches públicas
cional, referente à educação das crianças do município do Rio de Janeiro passou a
de zero a seis5 anos, vincula o atendimento contar com os novos profissionais egressos
em creches e pré-escolas à área de Edu- do concurso. Este estudo apresenta parte
cação. Tal fato representou o primeiro dos resultados da pesquisa “Creche Odeti-
passo rumo à superação do caráter assis- nha: um estudo de caso”, desenvolvida no
tencialista que, até então, predominava mestrado em Educação do PROPED/UERJ
nos programas de atendimento à infância (2008 - 2010). A pesquisa teve por objetivo
e seu texto deixa claro que as propostas descrever e analisar o processo de forma-
educacionais devam basear-se em princí- ção de um grupo de 34 educadores7 (AAC),
pios de respeito aos direitos das crianças. recém concursados e atuantes numa cre-
Posteriormente, o Estatuto da Criança e che municipal, localizada na zona norte do
do Adolescente (1990) e a LDBEN6 9394 Rio de Janeiro. Os instrumentos utilizados
(1996) surgem com o objetivo de concre- na pesquisa foram questionários, sessões
tizar e regulamentar seus dispositivos nas reflexivas (em pequenos/grandes grupos),
diferentes esferas da sociedade. Neste ce- além de análise dos relatórios de avaliação
nário, os profissionais que desenvolvem o e registros produzidos pelos educadores.
trabalho com as crianças, também passam Nesta apresentação será destacado o perfil
a ter importância reconhecida legalmente dos educadores, com o objetivo de refletir
e os debates acadêmicos sobre a qualidade sobre a formação em serviço necessária
dos serviços oferecidos aos pequenos têm para atender às especificidades de traba-
enfatizado também, a questão da forma- lho com criança de zero a três anos. Para
ção de profissionais que atuam neste nível produzir esses dados, utilizamos um ques-
da ensino. De acordo com a LDBEN/96, art. tionário que continha itens relativos a: i)
62 “a formação mínima para o exercício do dados pessoais; ii) aos aspectos formativos
magistério na educação infantil [...] é o ní- (trajetória escolar e nível de escolarida-
vel médio, na modalidade normal”. (BRA- de); iii) profissionais (vínculo empregatí-
cio, carga horária de trabalho, experiência
anterior e atividade laboral exercida antes
5
O que já foi alterado pela Emenda Constitucional nº 53, de trabalhar na creche) e iv) sobre as atri-
de 19 de dezembro de 2006 que estabelece: IV - educação
infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade.
6 7
Lei que disciplina a educação escolar, que se desenvolve, Agente Auxiliar de Creche: educadores das creches
predominantemente, por meio do ensino, em instituições públicas do município do Rio de Janeiro que integram o
próprias. (Art.1º, § 1º). quadro de pessoal de apoio à educação, desde 2008.

255
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

buições profissionais (atividades desen- dessa formação superar o nível fundamen-


volvidas com as crianças e expectativas tal exigido no edital, 50% dos funcionários
em relação ao cargo e a creche). A análise concursados, não possui formação espe-
permitiu conhecer alguns traços da história cífica para o exercício do magistério. Este
de profissionalização dos educadores nesta quantitativo soma 17 funcionários leigos,
creche. Quanto ao gênero, 3 são do sexo sendo que do total, 59% (10 educadores)
masculino e 31 são educadoras (91%). Ní- atualmente estão cursando o PROINFAN-
vel de escolaridade, dos 34 educadores: 1 TIL10. Em relação à experiência profissional
tem pós- graduação lato sensu em educa- anterior ao concurso: 44% dos educado-
ção e 16 possuem 3º grau completo. Des- res nunca tinham trabalhado com criança,
te total, apenas 9 possuem formação em 30% já haviam desenvolvido algum tipo de
pedagogia. O restante compreende outras atividade com a faixa etária acima de qua-
formações como: psicologia, administra- tro anos e, somente, 26% já possuía expe-
ção de empresas, direito, engenharia civil, riência anterior em creche. A não exigência
fisioterapia, marketing e licenciatura em de formação específica em educação como
educação física. Ainda em nível superior, pré requisito para o cargo trouxe, para as
10 possuem 3º grau incompleto: 4 estão creches, educadores leigos, com nível de
cursando a formação superior em peda- escolaridade elevado, entretanto, muitas
gogia e 6 educadores em outras áreas: far- vezes, sem experiência anterior de traba-
mácia, licenciatura em história (2), mate- lho na Educação Infantil. Dados que de-
mática, geografia e educação física. Encon- notam uma mudança significativa do que
tramos ainda, 10 funcionários com ensino havia sido apresentado como a realidade
médio completo e, deste total, somente 6 do cenário nacional, apontado em estudos
concursados possuem formação em curso anteriores: leigos, com baixa escolaridade,
Normal8 , os outros 4 educadores têm en- providos dos saberes da experiência profis-
sino médio regular9. Analisando o grau de sional. (Oliveira et al., 2006; Cerisara, 2002;
escolaridade, constatamos que apesar do Kishimoto, 1999). Dos 4 educadores que
edital do concurso para o cargo de Agente já atuavam na área de ensino, sem expe-
Auxiliar de Creche contrariar a disposição riência em creche, encontramos professor
da LDBEN/96 de que “a formação mínima nível fundamental, de pré-escola, de edu-
para o exercício do magistério na educação cação de jovens e adultos e de curso pre-
infantil [...] [é] a oferecida em nível médio, paratório, todos oriundos da rede privada.
na modalidade Normal” (BRASIL, 1996, art. Dos 9 educadores que tinham experiência
62.), nenhum educador concursado, atu- em creche, 7 já trabalhavam nesta creche,
ante nesta instituição, possui formação mí- antes do concurso. Durante a pesquisa,
nima. Na realidade, nesta creche, 79% do as propostas de intervenção não fugi-
grupo de educadores têm ou estão cursan- ram daquilo que era proposto pela SME/
do o 3º grau (formação superior). Os da-
dos encontrados nos mostram que, apesar 10
Trata-se de um curso semipresencial de formação para o
magistério, em nível médio, na modalidade Normal, ofer-
8
ecido para professores em exercício na educação infantil,
Atualmente, três cursando nível superior (licenciaturas em que atuam em creches e pré-escolas da rede pública e da
áreas diversas) rede privada que não possuem a formação exigida pela
9
Deste total, três estão cursando o PROINFANTIL. legislação vigente.

256
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

RJ como espaço de formação: os Centros discussões referentes ao Estudo de Caso


de Estudos. Tivemos por objetivo, ao lon- da primeira pesquisa mencionada que teve
go de 2009, avaliar o que ia mudando na como foco uma criança com múltiplas de-
concepção destes profissionais em relação ficiências. Inicialmente o diagnóstico era
ao conceito de “creche” e do trabalho por de surdez, porém na instituição os educa-
eles realizado que integrasse “educação e dores perceberam outras dificuldades, que
cuidado”. Esperamos que as considerações prejudicavam a participação da criança nas
ora apontadas, possam contribuir e emba- atividades por eles propostas. Para mergu-
sar as discussões sobre políticas públicas lhar, no cotidiano, das práticas pedagógi-
e sociais voltadas para a infância, assim cas de Educação Infantil fez-se necessário
como na estruturação de diretrizes para a uma proposta metodológica de imersão
formação das profissionais que lidam com do pesquisador na instituição para com-
crianças tão pequenas. preender a dinâmica da mesma. Por ser
uma única criança observada (e seu en-
Palavras-chave: Educação Infantil, Creche, torno), optou-se pelo estudo de caso. Para
Formação de Professores. Yin (2001) esta proposta metodológica é
utilizada para compreender processos na
complexidade social nas quais eles se ma-
INFÂNCIA & INCLUSÃO: OLHARES nifestam: seja em situações problema, em
SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O análise de obstáculos, seja em situações
DESENVOLVIMENTO HUMANO bem-sucedidas, para avaliação de mode-
Maciel Cristiano da Silva - ProPEd/UERJ e los exemplares. Esta proposta possibilita
SEMED/NI compreender um caso particular em sua
mcs.pesq@yahoo.it complexidade. Exige do pesquisador inves-
Fabíola Lira Gonçalves - FE/NEIPE/UERJ tigar a realidade articulada a determinado
Fabibsb5@yahoo.com.br contexto e definir recursos metodológicos
capazes de aprofundar e construir explica-
O presente trabalho enfoca as primeiras ções que permitam captar o real. Para tan-
articulações desenvolvidas na pesquisa to, há que se consideram as dimensões e
de mestrado “Inclusão de Crianças Focais os movimentos da criança e de seus outros
na Educação Infantil”. A pesquisa analisa sociais (educadores e outras crianças). No
dados de um follow-up com crianças parti- primeiro momento da pesquisa decidimos
cipantes de duas investigações anteriores. relativizar o Caso estudado, dialogando
A primeira “Infância, Educação e Inclusão: com as práticas pedagógicas de Jean Itard,
um estudo de caso”11 e a segunda “Crian- tendo por base seus relatórios de 1801 e
ças Focais: uma triangulação educação- 1806 (In: Banks-Leite & Galvão, 2001) e no
-família-saúde na creche”12. Apresenta a filme O Menino Selvagem de François de
Truffaut (1970). Para tal usamos como refe-
11 rencial teórico a perspectiva sócio-histórica
SILVA, Maciel Cristiano da. Infância, Educação e Inclusão:
um estudo de caso. 2009. Monografia (Graduação de Ped- de Lev Vygotsky (1998 e 2007), focando os
agogia) UERJ. Rio de Janeiro. processos de desenvolvimento e sociabi-
12
OLIVEIRA, Miriam P. R. de. Crianças Focais: a triangula- lidade presentes no material empírico de
ção educação-família-saúde na creche. 2009. Dissertação
(Mestrado em Educação) UERJ. Rio de Janeiro. Jean Itard. Para o levantamento de dados

257
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

adotamos como procedimentos metodoló- rais e gestuais não eram consideradas for-
gicos: observações com registro e entrevis- ma de linguagem valida para que houvesse
tas semiestruturadas, com a mãe adotiva13 processo comunicativo. O Dr Itard compre-
do menino e cinco educadores. As entrevis- endia tais manifestações como primitivas
tas aconteceram no decorrer das ativida- e, portanto, um obstáculo ao aprendizado
des de acompanhamento e observação da da verdadeira linguagem: a fala. Sobre essa
criança na creche. Nas análises dos escritos relação Banks-Leite & Souza(2001) escla-
de Itard, percebemos que o médico tinha recem que o fato do jovem Victor usar a
por propósito desenvolver os sentidos de linguagem da ação e através dela ser en-
seu jovem pupilo, dando grande importân- tendido, evidencia que o convívio social
cia aos aspectos sensoriais. A prática desse não lhe era estranho. Como bem é desta-
médico era baseadas na concepção filosó- cado pelas autoras o gesto de apontar só
fica empirista de Condillac (1715-1780), na é entendido como tal, como efeito de um
qual o sujeito era entendido como despro- ato de interpretação por outrem. Passan-
vido de experiência. Dr. Itard intencionava do agora à descrição das observações das
moldar e controlar o comportamento de cenas cotidianas do menino na creche (Es-
seu aprendiz a partir de estímulos senso- tudo de Caso), destacamos a presença de
riais e uso de recompensas e punições. No alguns indícios de interação social que para
que tange ao desenvolvimento de Victor, seus educadores, de forma similar ao mé-
deve-se considerar que enquanto vivera dico-educador Itard, não eram valorizadas.
isolado nas Florestas de Avyeron, não pre- O menino observado mantinha-se, muitas
cisara de nenhum recurso de comunicação vezes, próximo de outras crianças e adul-
humana para satisfazer suas necessidades tos, independente de estar numa atividade
fisiológicas, dependia tão somente de sua de relacionamento com elas. Nos relatos
astúcia física na superação dos obstáculos dos educadores é enfatizado um peculiar
da natureza. Em sua nova fase de vida, Vic- interesse da criança por água, assim como
tor necessitava de da mediação de sujeitos os relatados pelo médico-educador, sobre
sociais para o mundo que lhe era apresen- o menino de Avyeron. No trabalho com
tado. Somente imerso num contexto hu- os educadores buscamos valorizar o que a
mano, poderia atribuir sentido e sentir ne- criança conseguia apresentar. Por exemplo,
cessidade do uso da fala oral. Vale destacar constatamos que seu relacionamento com
que mesmo com um universo interpessoal outros sujeitos ocorria em forma de gestos,
restrito e pela necessidade de comunica- ou seja, a partir do que os outros conse-
ção com os outros sujeitos, Victor desen- guiam perceber na ação dele. Tal fato era
volve o que é chamado de “linguagem da muitas vezes interpretada como agressão.
ação”, constituída de gestos e mímicas Verificamos também que a participação do
(Banks-Leite & Souza, 2001). Tais recursos menino nas atividades da creche era redu-
de comunicação que foram apropriados zida propositalmente pelos educadores,
pelo menino eram ignorados por seu tutor pois solicitavam que o menino chegasse
que só objetivava o desenvolvimento da um pouco mais tarde e saísse sempre antes
fala. Para o médico, as linguagens corpo- das demais crianças. Esta decisão prejudi-
cava a participação da criança em foco nas
13
A biológica faleceu durante o parto. atividades pedagógicas orientadas, ou seja,

258
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deixava-se de oportunizar momentos de dade do serviço oferecido para essas crian-


interação mediada pelos educadores. Con- ças (BRASIL, 2006). Quando se trata de
forme os relatos e observações partilha- oferta e qualidade das creches, devemos
das, passamos (pesquisador e educadores) levar em consideração as necessidades das
a perceber que a criança compreendia e famílias, especialmente das mães trabalha-
interpretava fatos e ações que ocorreriam doras (Aquino & Vasconcellos, 2005; Mi-
ao seu redor. Do mesmo modo, apresenta- zrahi, 2004) e das famílias que necessitam
va um potencial comunicativo facilmente de uma rede social de apoio (Piccinini et
compreendida pelos sujeitos ao seu redor, al., 2007). Embora legítimas as necessida-
mesmo sendo elas denominadas pelos des dos adultos, a criança deve ser o alvo
educadores de agressivas; na verdade isto principal, sendo reconhecida como sujeito
pode ser alguma possível forma de comu- de direito a ser educado em um ambiente
nicação com os demais sujeitos. Em suma, complementar à família (Brasil, 1996). O
esta fase da pesquisa possibilitou articular objetivo deste trabalho é apresentar parte
uma reflexão dos fazeres cotidianos dos re- da tese que vem sendo construída sobre a
cém chegados agente auxiliares de creche, relação creche-família, apresentando re-
com crianças que demandavam outros sultados obtidos nas análises prelimina-
fazeres pedagógicos, como, por exemplo, res. A tese tem como finalidade analisar o
o menino em estudo. Forneceu suporte à processo de construção da relação família-
formação continuada dos educadores, (re) -educadores ao longo de três anos em uma
significando algumas práticas de cuidar- creche pública municipal do Rio de Janeiro.
-educar. As discussões permitiram aos Estudos sobre o desenvolvimento humano
educadores e ao pesquisador momentos afirmam que a família é a primeira media-
de reflexão sobre o tema, além de prestar dora entre o homem e a cultura, garantin-
apoio técnico-pedagógico à equipe de co- do uma unidade dentro das relações afeti-
ordenação da creche. vas, sociais e cognitivas presentes no grupo
(Dessen & Polônia, 2007). Essa instituição
Palavras-chave: Infância, Inclusão, Práticas depara-se com desafios vindos do mundo
Pedagógicas. do trabalho, das questões de gênero, do
advento de novas tecnologias. A maneira
como se organizam frente a esses desafios
DIÁLOGO ENTRE FAMÍLIA E é relevante para verificar a necessidade de
EDUCADORES DE CRECHE compartilhar o cuidado com os filhos e/ou
Flávia Maria Cabral de Almeida - ProPEd/UERJ contar com o suporte das redes de apoio
psi.flaviamaria@yahoo.com.br social. A formação dessas redes deve ser
Amanda Cristina de Freitas Souza - FE/NEIPE/UERJ estimulada, levando-se em conta que as
Achrys.souza@bol.com.br famílias também estão constantemente
lidando com fatores de estresse próprias
Em nossa sociedade, é crescente o número da dinâmica do relacionamento entre seus
de famílias que decide colocar suas crian- membros (idem). A creche constitui um
ças pequenas na creche. Esta procura deve dos braços dessa rede de apoio e compar-
entrar na pauta das políticas públicas para tilha com as famílias a educação de suas
a ampliação de vagas e a garantia da quali- crianças, representando mais um espaço

259
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para o desenvolvimento. A interação famí- bientes familiares, agora são compartilha-


lia e creche tem sido considerada um palco das com os educadores da creche (Bhering
de negociações de valores e crenças, mas & Sarkis, 2007). Os sujeitos da pesquisa
também de conflitos entre os saberes de são educadores e famílias de 42 crian-
um e de outro. Alguns desses conflitos se ças que frequentam a creche desde 2009
traduzem na falta de confiança, na disputa (quando tinham entre quatro e doze me-
(real ou imaginária) pelo amor da criança ses) até o ano de 2011. Adotamos a pers-
(Maranhão & Sarti, 2008). Investigações pectiva do estudo de caso longitudinal, op-
nesse campo têm demonstrado que, em tando por fontes de dados diversificadas,
geral, os momentos de encontro são bre- que permitem uma visão mais abrangente
ves (na entrada e/ou despedida) e base- do objeto (Alves & Azevedo, 2010). Utili-
adas na solução de problemas imediatos, zamos questionários, entrevistas, diário
porque as professoras se dividem entre de bordo e observações. Para este traba-
as crianças e os familiares, que geralmen- lho, apresentaremos os resultados obtidos
te estão apressados. Tanto as professoras através de 3 questionários: ficha de acom-
quanto as famílias almejam um contato panhamento e observação do período de
mútuo, embora o que geralmente motiva o inserção e avaliação do trabalho da creche
diálogo sejam as insatisfações de ambas as (2009 e 2010). Os questionários foram
partes (Bahia, Magalhães & Pontes, 2009; submetidos a exame quanti e qualitati-
Sarkis & Bhering, 2009). Mesmo quando a vo. Os resultados preliminares do primei-
creche planeja e incentiva a comunicação ro questionário indicam que os aspectos
pode haver constrangimentos entre famí- importantes observados na inserção de
lias e professores (Bhering & Sarkis, 2007). crianças são semelhantes para educadores
Em geral, famílias e professores concordam e famílias, o que diferencia é a ordem de
sobre os ganhos sociais que as crianças ad- importância. As famílias ficam atentas aos
quirem quando frequentam a instituição fatores comumente relacionados ao “cui-
de educação infantil, mas de diferentes dado” (alimentação, sono), deixando em
pontos de vista: os pais não enfatizam os último lugar o que é típico de um ambien-
aspectos pedagógicos; as professoras, por te coletivo: a relação com outras crianças
sua vez, valorizavam a preparação das ati- e adultos. A idade das crianças em 2009
vidades pedagógicas e não mencionam também deve ter contribuído para que os
a relação com pais para a ampliação das aspectos ligados ao “cuidado” apresentas-
possibilidades educativas (Bhering, 2009). sem maior destaque. Os educadores, por
A creche, por ser uma instituição onde as sua vez, estão mais atentos aos aspectos
crianças passam uma grande parte do seu ligados ao trabalho desenvolvido na cre-
tempo, convivendo com outros colegas e che, como a brincadeira e a interação. O
adultos, lidando com as normas coletivas, choro para ambos constitui um forte indi-
é um novo contexto de desenvolvimento. cador para saber se a criança está bem ou
Isto traz implicações para os estudos so- não durante a inserção. Nos outros dois
bre o desenvolvimento humano, já que é questionários, verificamos que a busca
diferente dos contextos que as teorias do pela creche se devia ao fato de a mãe tra-
desenvolvimento até então analisavam. As balhar fora. As famílias respondentes esta-
questões que antes eram restritas aos am- vam satisfeitas com o trabalho promovido

260
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pela instituição, e mais da metade afirmou Educação Infantil no município do Rio de


que colocaria o filho na creche, mesmo se Janeiro. É intenção olhar especificamente
não trabalhasse. Todos os pais disseram a partir do ano de 2005, com a criação da
participar das reuniões, sendo presentes categoria funcional de Agente Auxiliar de
no cotidiano da instituição e estabelecen- Creche14, que passou a integrar o Quadro
do diálogo constante com os educadores de Pessoal de Apoio à Educação, através
e a direção. A presença na creche contri- da Lei 3985 de 08 de abril, até criação do
buiu para que conhecessem o trabalho da cargo de Professor de Educação Infantil
instituição, reconhecendo que a atividade em 201015. Este percurso é analisado a
da creche era educar e cuidar, e comple- partir de concursos públicos realizados
mentar à família. A independência e inte- nos últimos 3 anos, voltados para o pro-
ração foram os aspectos mais destacados fissional que atua com funções pedagógi-
no desenvolvimento do filho, sendo tam- cas junto às crianças pequenas. Em 2007,
bém destacadas quando mencionavam as foi realizado o primeiro concurso público
vantagens da creche. No questionário de para agente auxiliar de creche, através de
2010, a mudança significativa foi a comu- provas e títulos, ocorrendo a seleção de
nicação e socialização como aspectos que forma regionalizada, isto é, por CRE16, com
foram desenvolvidos com a frequência da exigência de formação mínima em nível
criança à creche. Através da análise desse fundamental17 e carga horária de 40 horas
material e dos demais utilizados na investi- semanais. Esta pesquisa analisa as mu-
gação, esperamos ampliar o conhecimento danças nas políticas educacionais públicas
sobre o tema em estudo. Acreditamos que da cidade do Rio de Janeiro, desde o edital
a creche pode contribuir no desenvolvi- conjunto SME/SMA nº8, de 24 de julho de
mento da criança, mas também na própria 2007 (com oferta de 1.519 vagas regulares
relação desta com sua família. e 81 para pessoas com deficiência), para
Agentes Auxiliares de Creche, até o edi-
Palavras-chave: Creche; Família; Infância. tal nº 91, de 25 de outubro de 2010 (com

DE UM CONCURSO A OUTRO A 14
No ano de 2005, o poder executivo do município do Rio de
TRAJETÓRIA DE UM MUNICÍPIO NA Janeiro, através da Lei 3985 de 08 de abril, criou a catego-
ria funcional de “Agente Auxiliar de Creche”, que passou
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO a integrar o Quadro de Pessoal de Apoio à Educação. O
EDUCADOR INFANTIL ingresso ao cargo, deu-se através de concurso público re-
alizado em 2007, constituído de provas e provas de títulos,
Márcia de Oliveira Gomes Gil - PROPED/UERJ sendo exigido a formação mínima em nível fundamental
marciagil@globo.com e carga horária de 40 horas semanais. A seleção ocorreu
regionalmente, isto é, pelas Coordenadorias Regionais de
Daniele Vieira de Azevedo - FE/NEIPE/UERJ Educação (CRE).
daniele.vieiraazevedo@ig.com.br 15
Projeto de de lei nº 701/2010, cria no quadro permanente
do poder executivo do Município do Rio de Janeiro a cate-
goria funcional de professor de Educação Infantil.
16
RESUMO Coordenadoria Regional de Educação – a cidade do Rio de
Janeiro está divididas em 10 Coordenadorias
O presente artigo apresenta um breve his- 17
Em desacordo com a LDBEN 9394/96, que no seu artigo 62
tórico da trajetória de organização do cor- define “a formação mínima para o exercício do magistério
na educação infantil [...] é o nível médio, na modalidade
po docente e de apoio que atuam junto à normal”.

261
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

oferta de 1424 vagas regulares e 76 para no; um professor regente articulador, tam-
pessoas com deficiências). A chegada dos bém professor da rede; cozinheiro ou me-
agentes auxiliares de creche às instituições rendeira; lactaristas, para as creches com
buscava substituir o recreador - profissio- berçário; auxiliar de serviços gerais e recre-
nal contratado junto às Organizações da adores. Estes últimos, mesmo depois de
Sociedade Civil (OSC)18. Também trouxe al- 2008, com a chegada dos agentes auxilia-
guns questionamentos pertinentes à nos- res de creche dependendo da localização
sa discussão. Para começar, as funções dos da unidade, permaneceram nas creches
agentes auxiliares de creche são descritas até junho de 2011. A Professor(a) Regente
no edital do concurso e envolvem ações Articulador(a) tem a responsabilidade de
pedagógicas19, tais como: disponibilizar e coordenar o trabalho pedagógico de toda
preparar os materiais pedagógicos a se- a creche.. Assim, os fazeres cotidianos jun-
rem utilizados nas atividades; auxiliar nas to às crianças ficam centrados no recrea-
atividades de recuperação da autoestima, dor/agente auxiliar de creche ou seja, em
dos valores e da afetividade; observar as profissional sem formação específica para
alterações físicas e de comportamento, de- tal função. Enfatizamos a importância de
sestimulando a agressividade; estimular a uma formação anterior àqueles que se
independência, educar e reeducar quanto dedicam ao trabalho educativo, sem des-
aos hábitos alimentares, bem como con- considerar a formação que ocorre no co-
trolar a ingestão de líquidos e alimentos tidiano das ações. Segundo Vasconcellos
variados. Ainda de acordo com o edital e (2001) a formação de professores e outros
pela própria nomeclatura do cargo, estava profissionais para o trabalho nas institui-
descrito com função esse profissional atu- ções de educação infantil só são possíveis
ar em apoio pedagógico a um professor. pela construção coletiva e reconstrução
Participar da execução das rotinas diárias, pessoal de sentidos, significados e valores
de acordo com a orientação técnica do referentes a uma filosofia de educação in-
educador; Colaborar e assistir permanen- fantil para todas as crianças, independente
temente o educador no processo de desen- de raça, religião ou etnia.(p.?) As questões
volvimento das atividades técnico-peda- apontadas acima contrariam diretamente
gógicas; Receber e acatar criteriosamente a legislação, e parecem demonstrar um
a orientação e as recomendações do edu- caráter de precariedade no atendimento
cador no trato e atendimento à clientela. oferecido às crianças. Com a posse de uma
Na realidade, não havia um educador para nova gestão na Cidade, algumas mudanças
cada grupamento. Um olhar mais aten- tiveram curso, e estão sendo analisadas
to ao documento20 que ainda norteava o nesta pesquisa. Dentre elas está a criação
funcionamento dessas instituições, aponta do cargo de Professor de Educação Infan-
que a estrutura técnico-administrativa da til, com realização de concurso público em
creche conta com: um diretor, professor ou 2010. Desta vez, o edital exigiu a formação
especialista de educação da rede de ensi- mínima Normal Médio (na modalidade
normal), Normal Superior ou Pedagogia
18
Resolução SME nº 816/2004
(com Licenciatura Plena, com habilitação
19
Edital conjunto SME/SMA nº8 de 24 de julho de 2007 para docência na Educação Infantil e anos
20
Resolução SME nº 816/2004 iniciais do Ensino Fundamental ou especí-

262
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fica para Educação Infantil). A carga horária SP LT06 - Simpósio


é de 22 horas e trinta minutos semanais.
O cargo tem como descrição sumária:
Planejar, executar e avaliar, junto com os SP LT06-1404 - AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO
demais profissionais docentes e equipe de EM PSICOLOGIA PEDIÁTRICA: PROPOSTAS
direção, as atividades da unidade de Edu- PARA MINIMIZAR RISCOS AO
cação Infantil e propiciar condições para DESENVOLVIMENTO
o oferecimento de espaço físico e de con-
Kelly Ambrósio Silveira - UFES
vivência adequados à segurança, ao de-
kellysilveira.psicologia@gmail.com
senvolvimento, ao bem-estar social, físico
e emocional das crianças. Com a chegada
O campo da Psicologia Pediátrica tem sido
dos novos profissionais (Professor de Edu-
definido como um domínio interdisciplinar
cação Infantil) às creches um novo dilema
e de interface da Psicologia do Desenvolvi-
se instala, isto é: profissionais com funções
mento e da Psicologia Clínica. Este campo
próximas, carga horária e salários distintos.
se ocupa do funcionamento e do desen-
Esta pesquisa pretende realizar um estudo
que acompanhe a constituição/produção volvimento físico, cognitivo, social e emo-
da identidade do educador da infância cional, além do seu relacionamento com
carioca. São questões de estudo: Como a saúde de crianças, adolescentes e suas
será a convivência dos Agentes Auxiliares famílias. No cenário brasileiro, a Psicologia
de Creche e os Professores de educação Pediátrica vem se consolidando como um
Infantil? Como se dará a partilha das ta- campo de saber científico, em que existe
refas diárias? Qual o impacto da entrada uma preocupação bastante clara em en-
dos professores no desenvolvimento e na fatizar uma visão global e psicossocial do
educação da infância carioca? Observar as desenvolvimento humano, sobretudo, nos
duas políticas e buscar entender os signifi- contextos da saúde e da educação. Nesse
cados lá expressos e os sentidos reconstru- sentido, estudos nessa área têm enfocado
ídos por cada profissional é fundamental a eficácia de propostas metodológicas de
para constituir um olhar sobre as políticas avaliação e intervenção, em uma perspec-
de Educação Infantil que se concretizam tiva desenvolvimentista, e que sejam apli-
nesta cidade. Uma nova identidade do cadas a populações em situação de vulner-
Educador da Infância Carioca parece estar abilidade, ou seja, com risco de problemas
se constituindo. O olhar pedagógico vem e atraso no desenvolvimento. No presente
ganhando força com novas políticas que simpósio, pretende-se apresentar e discu-
assentam o professor nesta etapa de ensi- tir pesquisas realizadas em nível de pós-
no, e desta forma, atendem à necessidade graduação, em Psicologia Pediátrica, com
urgente de oferecer atendimento de qua- enfoque na avaliação e intervenção, com
lidade às crianças, na forma de seu direito diferentes tipos de população em condição
assegurado em lei. de vulnerabilidade biopsicossocial: (a) cri-
anças inseridas no contexto hospitalar
Palavras-chave: Agente Auxiliar de Creche, por problemas diversos, como bebês pre-
Concurso Público, Professor de Educação maturos e com baixo peso internados em
Infantil, Identidade do Educador da Infância. UTIN e enfermaria pediátrica, e (b) crianças

263
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entre 6-11 anos de idade hospitalizadas, e Palavras-chave: Psicologia Pediátrica,


bebês prematuros e com baixo peso, com riscos ao desenvolvimento, estratégias de
idade entre 18 e 36 meses, freqüentando enfrentamento
Ambulatório de Neurologia, em hospi-
tais públicos. O Estudo 1 deste simpósio
abordará as estratégias de enfrentamento HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL:
(coping) de crianças entre 6 e 11 anos que ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DE
se encontram hospitalizadas e de seus cui- CRIANÇAS E CUIDADORES
dadores, utilizando dois instrumentos de Camila Ramos Medalane Cravinho - UVV
avaliação de coping: Instrumento de Aval- millamedalane@hotmail.com
iação do Enfrentamento da Hospitalização Claudia Pedroza Canal - UVV/
(AEH) e Escala Modos de Enfrentamento claudiapedroza@uol.com.br
(EMEP), também analisando os problemas Alessandra Brunoro Motta Loss - UFES
de comportamento entre as crianças estu- alessandrabmotta@yahoo.com.br
dadas por meio do Child Behavior Check-
list (CBCL/6-18 anos). Esta escala também Financiamento: FUNADESP/UVV/CNPq
foi utilizada no Estudo 2 deste Simpósio,
que aborda as percepções maternas sobre A implantação do modelo de assistência
cuidados e problemas comportamentais psicológica e de humanização, em servi-
de filhos prematuros e com baixo peso, ços de saúde pediátrica, tem contribuído
com idade entre 18 e 36 meses. Com essa para que aspectos do desenvolvimento
mesma população, o Estudo 3 analisará físico, cognitivo e emocional da criança
uma proposta de intervenção com mães sejam minimamente afetados pela doen-
de bebês prematuros e com baixo peso, ça. De outro lado, os vários tipos de tra-
internados em UTIN, integrando dados de tamento provocam mudanças na rotina
pesquisas realizadas em hospitais públicos da criança, exigindo freqüentes idas ao
de Vitória, ES e do Rio de Janeiro, RJ, em hospital, internações, afastamento esco-
parceria entre universidades (UFES, UFRJ, lar e familiar, exposição a procedimentos
UVV e Faculdade Salesiana de Vitória). médicos invasivos, entre outras altera-
Enfocando mais diretamente o cuidador ções do cotidiano, que provocam reações
- geralmente a mãe -, pessoa central no de stress e sofrimento (McCaffrey, 2006).
processo de desenvolvimento infantil, os No caso da hospitalização, estudos mos-
dados dessas pesquisas podem contribuir tram que um período de internação su-
ou contêm propostas de intervenção que perior a cinco dias é fator de risco para
conduzem à melhoria nas estratégias de o desenvolvimento de transtornos com-
enfrentamento dos problemas apresen- portamentais (Dias, Baptista & Baptista,
tados pelos filhos, adquirindo, assim, um 2003). Deve ser levado em consideração,
caráter protetor de seu desenvolvimento. ainda, que a hospitalização tem impacto
Pretende-se discutir como essas propostas não somente sobre a criança em desen-
podem contribuir para consolidar a área volvimento, mas, também, sobre sua
da Psicologia Pediátrica como campo de família. O cuidado diário da criança no
estudo, pesquisa e intervenção no cenário hospital implica no abandono temporá-
acadêmico-científico no Brasil. rio das atividades cotidianas e dos outros

264
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

membros da família, bem como a respon- & Meireles, 2005). As informações coleta-
sabilidade de gerenciar os cuidados com das na avaliação foram analisadas quanti-
a criança doente em um ambiente hostil, tativa e qualitativamente, de acordo com
no qual a tomada de decisão sobre esses as normas dos instrumentos. Em relação
cuidados está centrada em pessoas até aos comportamentos apresentados pelas
então desconhecidas (Weisz, McCabe crianças durante a hospitalização, obtidos
& Dennig, 1994). Assim, uma vez que o a partir do AEH, verificou-se o predomí-
comportamento da criança pode afetar nio de comportamentos facilitadores (M
o modo como ela lida com a hospitaliza- = 1,93) sobre os comportamentos não-
ção, interferindo no curso da recupera- -facilitadores (M = 0,77). A análise por
ção, e que o contexto adverso associado tipo de comportamento destaca a média
à hospitalização é suficiente para gerar maior dos comportamentos: assistir TV e
reações de stress e sofrimento, exigindo a tomar remédio. Os comportamentos que
necessidade de enfrentamento da situa- apresentaram menor média foram buscar
ção para a eliminação ou minimização do informações e cantar. Entre os compor-
estressor; este estudo buscou investigar tamentos não-facilitadores, verificou-se
as estratégias de enfrentamento de crian- uma pontuação média maior na prancha
ças hospitalizadas e de seus cuidadores, pensar em milagre e desanimar. Escon-
bem como verificar a presença de proble- der não foi referido por nenhuma crian-
mas de comportamento entre as crianças ça como um comportamento emitido no
estudadas. Para tanto, realizou-se um hospital. A pontuação média superior no
estudo descritivo, de corte transversal, comportamento de assistir TV pode ser
com 15 crianças: 7 meninos e 8 meni- justificada pelo fato de ser o único recur-
nas, com idades entre 6 anos e 3 meses so de distração disponível para a criança
a 12 anos e 11 meses (média de 9 anos durante a internação, mostrando a rele-
e 5 meses), internadas em hospital pú- vância de ações institucionais que pro-
blico de Vila Velha/ES, que responderam movam o brincar nesse contexto. Quando
ao Instrumento de Avaliação do Enfren- se analisam as justificativas das crianças
tamento da Hospitalização (AEH) (Motta para suas respostas, a fim de obter a es-
& Enumo, 2004, 2010), que fornece infor- tratégia de enfrentamento que está sen-
mações sobre os comportamentos duran- do relatada, foi verificada uma proporção
te a hospitalização e permite verificar as maior da estratégia de distração (40,5%),
estratégias de enfrentamento da hospi- seguida da estratégia de ruminação
talização, a partir do relato das crianças; (31,1%), busca por suporte (25,7%) e so-
e ao Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 lução do problema (20,3%). A estratégia
anos) (Achenbach & Rescorla, 2004), que que apresentou menor proporção foi re-
avalia a competência social e problemas gulação da emoção (1,3%). A estratégia
de comportamento anteriores à hospita- de distração tem sido predominante em
lização. Para a análise do enfrentamento outros estudos com crianças hospitaliza-
dos familiares, 15 cuidadores - sendo a das por doenças crônicas, como o câncer,
maioria mães - responderam à Escala Mo- mas a freqüência da estratégia de rumi-
dos de Enfrentamento (EMEP) (Faria & nação é um indicador da necessidade da
Seidl, 2006; Seidl, Rossi, Viana, Meneses inclusão do psicólogo na equipe de saúde,

265
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

avaliando e desenvolvendo propostas de busca da religiosidade no enfrentamento


intervenção que favoreçam o processo de problemas, especialmente, em situ-
adaptativo da criança. Na análise de com- ações de pouco controle, como é o caso
petência (CBCL), as crianças foram referi- da hospitalização. Além disso, considera-
das, na maioria, como não-clínica (Social -se a cultura religiosa como variável que
= 87,5%; Escolar = 81,2%). Com relação interfere na resposta de enfrentamento.
ao envolvimento da criança em ativida- Espera-se que a presente avaliação possa
des esportivas e de lazer, a maioria foi contribuir para o subsídio de intervenções
referida como clínica, indicando o baixo com crianças hospitalizadas, bem como
envolvimento em atividades recreativas. com seus cuidadores, prevenindo danos
Já a análise de problemas de comporta- emocionais gerados pela hospitalização.
mento (CBCL) mostrou que a maioria das
crianças foi referida como clínica. A aná- Palavras-chave: estratégias de
lise por tipo de comportamento permitiu enfrentamento, hospitalização infantil,
verificar que a indicação de problemas é cuidadores.
do tipo internalizante, caracterizado por Contato: Camila Ramos Medalane Cravinho,
um padrão de depressão, retraimento Centro Universitário Vila Velha/UVV,
e desânimo. Esses achados ressaltam a millamedalane@hotmail.com
importância da inserção do psicólogo na
Pediatria, uma vez que um padrão de de-
sânimo e depressão anterior à hospita- PERCEPÇÕES MATERNAS SOBRE
lização pode repercutir na variabilidade CUIDADOS E PROBLEMAS
de estratégias da criança para lidar com COMPORTAMENTAIS DE FILHOS
a hospitalização. Com relação à avaliação PREMATUROS E COM BAIXO PESO
das estratégias de enfrentamento dos cui-
Kelly Ambrósio Silveira - UFES/IESFAVI
dadores, verificou-se que dos quatro fato-
kellysilveira.psicologia@gmail.com
res da EMEP, o Fator 3 (Busca de prática
Schwanny Roberta Costa Rambalducci
religiosa/pensamento fantástico) apre-
Mofati Vicente - UFES
sentou média de pontuação superior (M=
2,95 e DP= 1,77), seguido do Fator 4: Bus- schwannyv@hotmail.com
ca de suporte social (M= 2,83 e DP= 1,82) Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES
e do Fator 1: Enfrentamento focalizado no soniaenumo@terra.com.br
problema (M= 2,81 e DP= 1,73). O fator Financiamento: CNPq
que apresentou menor média foi o Fator
2: Enfrentamento focalizado na emoção A literatura tem apontado a prematu-
(M= 1,75 e DP=1,21). A análise por itens ridade e o baixo peso como fatores que
destaca médias superiores nos itens 44 podem conferir maior vulnerabilidade
– “Eu me apego à minha fé para superar ao desenvolvimento infantil. Seus efeitos
esta situação” (M = 3,65) e 6 – “Espero podem ser observados durante a primei-
que um milagre” aconteça (M = 3,55), am- ra infância e, até mesmo, na fase escolar
bas as estratégias do Fator 3. A freqüência (Linhares, Bordin & Carvalho, 2004; Ma-
maior de estratégias do Fator 3 mostrou- galhães, Catarina, Barbosa, Mancini &
-se coerente com estudos que indicam a Paixão, 2003). Diversos estudos mostram

266
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que crianças em condições de nascimen- Grande Vitória, ES. Participaram da coleta


to prematuro e com baixo peso (PT-BP), 30 mães de crianças PT-BP, divididas em
quando comparadas a crianças com peso três grupos: mães de crianças de 18 a 24
≥2.500g e >37 semanas de gestação, são meses (G1= 10), 24 a 30 meses (G2= 10) e
mais propensas a apresentar comprome- 30 a 36 meses (G3= 10). Foram aplicados:
timentos no desenvolvimento cognitivo e um questionário sobre dados familiares
comportamental (Espírito Santo, Portu- e de nascimento e uma entrevista se-
guez & Nunes, 2009; Linhares, Chimello, miestruturada contemplando percepções
Bordin, Carvalho & Martinez, 2005). Ao sobre formas de cuidado com os filhos,
mesmo tempo, a Psicopatologia do Desen- métodos de estimulação que as mães uti-
volvimento tem indicado a ação de fato- lizavam e expectativas sobre o desenvol-
res biopsicossociais que tendem a produ- vimento do filho. Também foi aplicado o
zir efeitos diferenciados ao longo da traje- Child Behavior CheckList – CBCL (1½ a 5
tória de desenvolvimento infantil (Laucht, anos) (Achenbach & Rescorla, 2004), que
Schmidt & Esser, 2004). Nesse contexto, a avalia problemas comportamentais do
interação de criança e seus familiares pa- tipo internalizante e externalizante, além
rece ser crucial para o desenvolvimento de conter escalas orientadas pelo DSM-IV
de variadas habilidades (Linhares, Mar- que, no caso do presente estudo, aponta-
tins & Klein, 2004). Ressalta-se, também, ram predominância de problemas exter-
que as condições neurológicas e familia- nalizantes, com 30% da amostra apresen-
res da criança atuam de modo significa- tando perfil Clínico para esse problema
tivo a suavizar ou agravar tais compro- comportamental. Os problemas mais fre-
metimentos. Estudos têm apontado que quentes foram de ordem atencional (50%
mães com filhos PT-BP mostram-se mais da amostra). A maioria das crianças (20)
atentas nos cuidados com os filhos, assim apresentou perfil clínico para pelo menos
como mais sensíveis em relação aos sinais um tipo de problema comportamental,
emitidos por eles (Feldman, 2007). Esses com maior proporção no G1 (7). Conside-
comportamentos maternos podem cons- rando as médias obtidas pelos T scores, os
tituir-se em uma forma de compensação problemas atencionais e a agressividade
perante os riscos aos quais os bebês estão tiveram as maiores pontuações, sobretu-
expostos. Por outro lado, as mães podem do, em G1 (60,5 e 61,3) e G2 (65,0 e 62,2),
apresentar comportamentos menos as- respectivamente. Considerando as esca-
sertivos ao lidar com o filho, em decor- las orientadas pelo DSM-IV, foi observada
rência da fragilidade do recém-nascido e maior frequência em G1 e G2 de Transtor-
sentimentos de culpa vivenciados (Feld- no de Déficit de Atenção e Hiperatividade
man, 2007; Morsh & Abreu, 2008). Diante (5 crianças cada) e Transtorno Desafiador
disso, esta pesquisa investigou queixas e Opositor (2 e 3 crianças, respectivamen-
comportamentais relacionadas aos filhos, te). A partir da entrevista, foi possível
além de formas de cuidado e interação identificar que 80% das mães acredita-
entre crianças PT-BP com idade entre 18 vam que o fato do filho ter nascido PT-BP
e 36 meses e suas mães, inscritos em Pro- não influenciava seu desenvolvimento e
grama de Follow up de um Ambulatório que a assistência que a criança iria rece-
de Neurologia de um hospital público da ber seria primordial. As mães relataram

267
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que levavam sempre a criança para con- interferir (7), bater (3) e não dar atenção
sultas com médico, fisioterapeuta e ou- (2). Observou-se que em G1 houve maior
tras especialidades que fossem necessá- frequência de comportamentos pouco
rias. Costumavam, também, estar muito assertivos, ligados, sobretudo, a ajudar a
presentes na vida dessas crianças, dando criança por achá-la frágil (5), tentar dis-
carinho e apoio, fatores que elas acredita- trair a criança (4) e não interferir, mesmo
vam ser fundamentais para o desenvolvi- nervoso (3). Diante dos resultados obti-
mento de seus filhos. Uma pequena parte dos, é possível concluir que as mães de
das mães (20%) acreditava que a PT-BP crianças PT e BP acreditam que esses fato-
influenciava o desenvolvimento de seus res podem não afetar o desenvolvimento
filhos, mas, todas concordavam que a es- da criança, a partir do momento em que
timulação era essencial. Todas as mães elas se disponibilizam ao cuidado. Sugere-
falaram sobre a importância de sua aju- -se que o sentimento de culpa frente ao
da no desenvolvimento da criança; essa nascimento de risco, porventura, expe-
ajuda foi traduzida, em 72,5% das mães, rimentado pelas mães e demais familia-
em cuidados com a saúde, como acom- res, pode contribuir para a manutenção
panhamento com profissionais de saúde, de repertório comportamental que con-
boa alimentação, uso de remédios e vita- temple a superproteção, como forma de
minas; dar atenção, carinho e cuidar foi compensar a vulnerabilidade apresenta-
relatado por 62,5% das mães; e realiza- da pelos filhos e o desconforto frente aos
ção de atividades lúdicas, por 37,5% das problemas apresentados. G1 apresentou
mães. Foram relatadas outras atividades discurso relacionado à superproteção e
com baixos índices, tais como levar para ao cuidado não assertivo, e teve maior
escola e creche, com 15%, e também pra- frequência de crianças com problemas
ticar natação, com 7,5%. Com relação às comportamentais externalizantes. Os
atividades que realizavam juntos, as mais dados presentes confirmam a literatura
citadas foram: passeio no parque ou pra- quanto à vulnerabilidade de crianças nas-
cinha, visita aos parentes e atividades cidas PT-BP para a manifestação de pro-
realizadas em casa, tais como brincar. Ve- blemas comportamentais, sobretudo, os
rificou-se que, enquanto a frequência de de padrão externalizante, e a presença de
menção às visitas a parentes diminuiu de cuidados familiares pouco assertivos, in-
G1 a G3, a menção de atividades lúdicas dicando a necessidade de apoio aos pais,
e de lazer aumentou. De acordo com as com treinamento de habilidades ligadas à
mães, os pais tiveram um papel secundá- estimulação dos filhos.
rio no cuidado dos filhos, desenvolvendo
atividades voltadas à vigilância e às ativi- Palavras-chave: risco ao desenvolvimento,
dades lúdicas. Na perspectiva das mães, prematuridade, avaliação do
os familiares costumavam lidar com as desenvolvimento
dificuldades externalizantes, demons- Contato: Schwanny Roberta Costa
trando os seguintes comportamentos, em Rambalducci Mofati Vicente, Universidade
ordem decrescente de frequência: tentar Federal do Espírito Santo,
distrair a criança (11), ajudar a criança schwannyv@hotmail.com
por achá-la frágil (9), mesmo irritado, não

268
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ANÁLISE DE UMA PROPOSTA DE de mãe-bebê (Carvalho, Linhares, Macha-


INTERVENÇÃO COM MÃES DE BEBÊS do & Martinez, 2004). A UTIN, dispositivo
PREMATUROS E COM BAIXO PESO que oferece o máximo de suporte para o
INTERNADOS EM UTIN desenvolvimento do recém-nascido, tam-
Ana Cristina B. Cunha - UFRJ bém se constitui em potencial fator de
acbcunha@yahoo.com.br risco, devido às privações de estímulos
Luciana F. Monteiro - UFRJ sensoriais ou excesso de estimulação de-
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com corrente da atividade humana e tecnoló-
Cristiane T. Rocha - UFRJ gica presentes nesse ambiente (Raeside,
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com 1997). As complicações neonatais podem
Ana Paula A.S. Medeiros - UFRJ constituir indicadores para ocorrência de
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com efeitos negativos no desenvolvimento,
Anderson M. Rodrigues - UFRJ tais como: deficiências motoras, visuais
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com e auditivas; retardo mental; distúrbios de
Camila S. Pereira - UFRJl atenção; dificuldades de aprendizagem
em idade escolar e pior desempenho em
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com
testes de capacidades cognitivas e lin-
Fabiana Pinheiro Ramos - UFES
güísticas, se comparados aos de crianças
ramosfabiana@bol.com.br
nascidas a termo e com peso adequado
Schwanny Roberta Costa Rambalducci Mofati
(Espírito Santo, Portuguez & Nunes, 2009;
Vicente - UFES
Linhares, Bordin & Carvalho, 2004). Isso
schwannyv@hotmail.com
tudo pode ser agravado quando a per-
Maria Luiza Guidoni Macedo - UFES
cepção materna da condição da criança
maluguima@hotmail.com
resulta em maiores níveis de estresse,
Kely Maria Pereira de Paula - UFES
ansiedade e depressão, que podem per-
kelympp@terra.com.br
durar mesmo após a alta, indicando a
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES
necessidade de intervenção psicológica
soniaenumo@terra.com.br
(Feldman, 2007). Nesse contexto, a reali-
Financiamento: CNPq/MCT/CAPES/MEC/ zação de intervenção durante o período
FAPERJ/CNRMS/MEC em que a mãe fica internada com o bebê
pode minimizar os impactos da hospita-
Situações de risco podem acarretar maior lização infantil no bem-estar emocional
vulnerabilidade para atrasos de desen- materno, com possíveis reflexos na inte-
volvimento, sobretudo, quando no nasci- ração mãe-criança e no desenvolvimento
mento de um bebê estiverem presentes infantil (Gasparetto & Bussab, 1994; Me-
condições de risco, como a prematuridade lnyk, Feinstein & Fairbanks, 2006; Melnyk
e o baixo peso (PT-BP). Tais condições po- et al., 2006). O objetivo deste estudo foi
dem, freqüentemente, ser causa de inter- analisar uma proposta de intervenção em
nação dos bebês em Unidades de Terapia Psicologia Pediátrica (Barros, 2003), con-
Intensiva Neonatal (UTIN) e provocar alte- duzida em duas maternidades públicas
rações nas expectativas maternas acerca de referência para assistência pré-natal e
do seu desenvolvimento, modificando, as- perinatal de alto risco - na Região Metro-
sim, as possibilidades de interação da día- politana da Grande Vitória, ES (n=18) e na

269
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Maternidade-Escola da Universidade Fe- “nada confiante”; “um pouco confiante”;


deral do Rio de Janeiro (n=14). Seguindo “o mesmo que antes”; “mais confiante’ ou
as normas éticas, as mães foram aborda- “muito mais confiante”; (g) percepção ma-
das pessoalmente e convidadas a partici- terna do quanto o grupo ajudou a enfren-
par do grupo de intervenção, que ocorreu tar a internação do bebê: “não ajudou”;
em duas sessões consecutivas. O critério “ajudou pouco”; “nem ajudou, nem atra-
de inclusão na amostra era o bebê ser PT- palhou”; “ajudou um pouco” ou “ajudou
-BP e estar internado na UTIN. Na sessão muito”; (h) sentimentos maternos sobre
1 do grupo de intervenção foram explici- participar do grupo: “detestou muito”;
tados às mães os objetivos e as etapas da “detestou um pouco”; “sente-se neutra”;
pesquisa. Após a concordância assinada, “gostou um pouco” ou “gostou muito”. Os
as mães responderam, individualmente, resultados mostraram que todas as mães
um protocolo de registro de dados sobre avaliaram que o grupo ajudou no enfren-
seu perfil psicossocial, sendo entregue um tamento da situação de internação do seu
material de apoio com informações sobre bebê, quer seja porque elas adquiriram
desenvolvimento infantil, prematuridade, conhecimento (n=12), quer seja porque
baixo peso e a internação na UTIN, conte- puderam contar com suporte psicossocial
údos transmitidos às mães nos dois dias (n=14) ou ambas as coisas (n=5). Todas as
do grupo, sob a forma de palestra infor- mães consideraram interessante e impor-
mativa seguida de discussão, com apoio tante o conteúdo transmitido ao grupo,
de material audiovisual. Na sessão 2, as sendo que a maioria (n=20) avaliou como
mães responderam um inventário de sa- interessante e importante o conheci-
tisfação do usuário e um questionário de mento adquirido (características do bebê
avaliação da intervenção psicológica im- PT-BP, como cuidar do bebê, marcos do
plementada, para verificar se a participa- desenvolvimento infantil, por exemplo),
ção no grupo as ajudou a enfrentar me- além da troca de experiência que o grupo
lhor a situação de internação do bebê. As promoveu (n=7), entre outros aspectos.
categorias analisadas foram: (a) se o grupo Sobre como as mães se sentiram após as
ajudou a mãe no enfrentamento da situa- sessões, 8 relataram que se sentiram “um
ção do bebê; (b) o que a mãe achou mais pouco melhor do que antes”, enquanto 24
interessante ou importante (ou não inte- mães declararam se sentir “muito melhor
ressante/importante) no grupo; (c) como do que antes”. Quando questionadas so-
a mãe se sentiu após as sessões: “muito bre o que aprenderam sobre o bebê inter-
melhor”; “melhor”; “igual”; “pior” ou nado em UTIN, a maioria (n=20) disse ter
“muito pior”; (d) o que a mãe aprendeu aprendido “muitas coisas” sobre o bebê
sobre o bebê internado em UTIN: “nada”; internado e “muitas coisas” sobre como
“muito pouco”; “alguma coisa”; “várias lidar com o bebê na UTIN (n= 21). Após
coisas” ou “muitas coisas”; (e) o que a participar do grupo, apenas uma mãe
mãe aprendeu sobre como lidar com o declarou se sentir da mesma forma que
bebê internado: “nada”; “muito pouco”; antes em relação a estar confiante para
“alguma coisa”; “várias coisas’ ou “muitas cuidar do bebê, enquanto que a maioria
coisas”; (f) estado emocional da mãe após se declarou “mais confiante” (n= 13) ou
o grupo para cuidar do bebê internado: “muito mais confiante” (n=18); além dis-

270
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

so, a maioria afirmou ter “gostado muito da inteligência dos surdos é uma ativida-
do grupo” (n= 31) e 27 mães também con- de muitas vezes relevante para decidir
sideraram que o grupo “ajudou muito” a quanto ao encaminhamento e/ou planos
enfrentar a internação do bebê na UTIN. de intervenção para a efetividade dos
Os sentimentos e percepções maternas processos inclusivos. As escalas Wechsler
acerca da participação no grupo indicam de inteligência, em suas diversas edições,
uma avaliação positiva da proposta de in- são amplamente utilizadas na avaliação
tervenção psicológica adotada, capaz de de crianças e adolescentes, estimando a
promover estratégias mais adequadas de capacidade intelectual geral em função
enfrentamento da hospitalização do bebê, dos domínios das habilidades verbais e
a partir do conhecimento adquirido, bem não-verbais. Encontram-se vários estudos
como do suporte psicossocial e da troca que utilizam estas escalas também com
de experiências que o grupo proporcionou surdos, administrando, principalmente,
às mães. o conjunto de subtestes não-verbais, os
quais não exigem respostas que envolvam
Palavras-chave: grupo de mães, estratégias de a linguagem oral do examinando. Devido
enfrentamento, prematuridade e baixo peso ao atraso no desenvolvimento da
Contato: Cristiane Tonnensen Rocha, linguagem, os surdos, geralmente, têm
Universidade Federal do Rio de Janeiro, desvantagens nos subtestes verbais. As
equipe-psicologia-pediatrica@googlegroups.com aplicações costumam ser administradas
de maneira informal (gestualização), oral
(leitura labial) e mesmo, no caso de utili-
zar a Língua de Sinais, não há referências
CO 17 - LT02 de estudos de adaptação. Os resultados
Surdez apontam para escores médios na escala
não-verbal e médios inferiores a limítrofes
na escala verbal. Além de problemas rela-
LT02-1382 - COGNIÇÃO E LINGUAGEM cionados à falta de adaptação do instru-
DOS SURDOS: UM ESTUDO mento, outros fatores podem justificar o
EXPLORATÓRIO COM BASE NO TESTE baixo desempenho dos surdos nos subtes-
WISC-III tes verbais das escalas Wechsler. Segundo
Tharso Meyer - UCPel-RS a literatura, as oportunidades limitadas de
tharso.psico@gmail.com ouvir informações e a falta do reforço au-
Vera Figueiredo - UCPel-RS ditivo prejudicam a aquisição e o aumento
verafig@terra.com.br do vocabulário dos surdos. A limitação em
compreender conceitos científicos pode
Considerando o número cada vez maior estar associada à ausência de algumas
de surdos inseridos na comunidade aca- aprendizagens do cotidiano, previamente
dêmica/escolar, surge uma demanda de adquiridas. A dificuldade ao acesso a uma
profissionais especializados, metodolo- língua que seja oferecida de forma natural
gias e instrumentos adequados para aten- pode levar a criança surda a um tipo de
der às necessidades dessa população com pensamento mais concreto. Os pais de 90
características tão específicas. A avaliação a 95% dos surdos são ouvintes, a maioria

271
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

demonstrando resistência no aprendizado anos, considerando-se o critério mais re-


e na utilização da Libras. Consequente- levante, a escolaridade dos adolescentes,
mente, o filho surdo chega à escola sem uma vez que, normalmente, há um atraso
dominar nenhuma língua, encarregando na escolarização dos surdos. O teste foi
a instituição de criar condições para esta aplicado nas próprias instituições escola-
aquisição. A língua brasileira de sinais – Li- res por duplas de pesquisadores com do-
bras foi reconhecida no país em abril de mínio da Libras; um sinalizava os itens e
2002 e é considerada a língua materna outro registrava as respostas. Em relação
dos surdos. Por ser uma língua recente aos subtestes não-verbais, foram testadas
e em construção, há uma limitação de as instruções e os itens iniciais de cada
expressões, não havendo, ainda, sinais subteste. Os participantes não tiveram
formais para alguns vocábulos do portu- dificuldades de compreender e executar
guês. O sinal utilizado para determinado as tarefas, demonstrando terem poten-
conceito em Libras, pode abranger outros cial para o raciocínio prático-concreto e
significados que representam, no portu- facilidade para percepção e organização
guês, palavras diferentes. Assim, a dificul- de estímulos visuais, confirmando dados
dade dos surdos pode estar associada à da literatura. No subteste Informação, os
privação de ferramentas da competência dados mostraram que os alunos surdos
gramatical. Apresentar alguns resultados parecem ter dificuldade de memorizar
sobre a capacidade cognitiva e o desen- e assimilar conteúdos dos itens relacio-
volvimento da linguagem dos surdos, nados com a vivência pessoal e o currí-
segundo seu desempenho nas provas do culo escolar. Em Semelhanças, o tipo de
teste de inteligência WISC-III. Com intuito estímulo utilizado é breve, já que inclui
de verificar a adequação do instrumento perguntas simples e repetitivas, exigindo
para a comunidade surda, o WISC-III, na que o indivíduo identifique a similaridade
sua forma original, adaptado ao contexto entre os dois conceitos ou objetos apre-
brasileiro, foi apresentado a um grupo de sentados. As respostas referiram-se, ge-
especialistas para analisar a adequação ralmente, às diferenças entre os objetos,
dos itens ao contexto dos surdos. Logo, sendo associadas às situações concretas,
foram feitas algumas modificações perti- demonstrando dificuldade no raciocínio
nentes e, após, os itens e as instruções do abstrato. No subteste Vocabulário, dos 30
instrumento foram traduzidas para Libras. itens que compõe o subteste, 14 palavras
O teste WISC-III traduzido foi filmado e não foram encontradas no dicionário de
gravado em DVD para treinamento e pa- Libras, indicando pobreza lexical da língua.
dronização das aplicações. O instrumento A tarefa no subteste exige que o exami-
foi aplicado em uma amostra-piloto cons- nando identifique o significado da palavra
tituída de 14 escolares surdos de ambos dando sinônimos. Observou-se repertório
os sexos, usuários da Libras, matriculados limitado de vocabulário, uma vez que, um
de quatro escolas públicas, inclusivas e único sinal em Libras, pode ter vários si-
exclusivas, duas cidades da região sul do nônimos e significados diferentes. No sub-
país. Apesar de o teste ser padronizado teste Compreensão, que envolve conheci-
para a faixa de 6 a 16 anos, foi aplicado mento de situações sociais do cotidiano,
em participantes com idades entre 7 a 21 os participantes não conseguiram dar

272
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dois argumentos diferentes nos itens que como uma deficiência que deve ser repa-
exigem duas respostas, sugerindo pensa- rada. Esta perspectiva está referida a um
mento mais concreto e dificuldade para conceito fixo de normalidade. É uma ten-
expressar as ideias. No subteste Dígitos, dência, neste modelo, atribuir-se ao sur-
o examinando deve repetir uma série de do desvantagens maturativas, sejam elas
números, sinalizados pelo examinador. de origem neurológica ou psicológica. Na
Identificou-se dificuldade sequencial vi- psicologia, a concepção clínico-terapêuti-
sual e limitações na memória imediata. ca foi dominante especialmente entre os
No subteste Aritmética que exige cálculos anos 50 e 60, dando origem à Psicologia da
a partir da sinalização do examinador de Surdez, que atribuía ao surdo dificuldades
problemas matemáticos, os participan- de ordens motora, intelectual e compor-
tes evidenciaram dificuldade de executar tamental. (Bisol, Simioni & Sperb, 2008;
cálculo mental, e déficit de atenção. O de- Solé, 2005). Em oposição a esta corrente,
sempenho nos subtestes verbais, que en- surge o modelo socioantropológico, que
volve domínio e aprendizagem da língua e se desenvolve em interface com os Estu-
raciocínio teórico-reflexivo, demonstrou dos Culturais, as antropologias de grupos
pouca qualidade na elaboração das res- minoritários, políticas de educação, polí-
postas. Pode-se concluir que, apesar das ticas identitárias, entre outros. Este con-
limitações em algumas habilidades cogni- junto de estudos é denominado Estudos
tivas dos surdos e restrições na comuni- Surdos. Ele parte de uma compreensão da
cação familiar, a falta de recursos léxicos surdez como diferença, cultural e lingüís-
da própria Língua de Sinais e a estrutura tica, e propõe a construção de saberes e
inapropriada dos subtestes verbais dificul- práticas que considerem as particularida-
tam o processo de avaliação deste grupo des da aquisição da linguagem e constru-
clínico, por meio do teste WISC-III sem um ção do conhecimento pelos surdos como
processo de adaptação. qualitativamente diferentes dos ouvintes.
(Skliar, 2010; Bisol et al, 2008; Solé, 2005).
Um terceiro grupo de trabalhos sobre a
LT02-1448 - OS EFEITOS DO surdez pode ser identificado, ainda que
NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA não se constitua como um modelo. São
SURDA EM UMA FAMÍLIA OUVINTE – os trabalhos que se constroem a partir da
CONSIDERAÇÕES DESDE A PSICANÁLISE teoria psicanalítica. Segundo Solé (2005),
Letícia Silveira Vasconcelos - UFBA só recentemente este tema tem sido es-
www.ufba.br tudado por psicanalistas e ainda há um
Sônia Maria Rocha Sampaio - UFBA número pequeno de artigos publicados.
www.ufba.br Esses estudos devem ser considerados
como um grupo a parte, não se alinhando
Duas correntes principais e opostas sobre com nenhuma das correntes citadas ante-
a surdez são encontradas na psicologia e riormente. Em um artigo no qual analisam
nas demais áreas que se ocupam do tema. a produção da psicologia brasileira sobre
A mais antiga, vinculada a um modelo mé- a surdez, Bisol et al (2008) também situ-
dico, denominada modelo clínico-terapêu- am os estudos de concepção psicanalítica
tico, se alinha a uma concepção da surdez como um terceiro grupo. Dos 34 artigos

273
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

encontrados, seis foram identificados pe- ativando áreas corticais relevantes para a
las autoras como pertencentes ao modelo linguagem. Também Kuhl (2007) mostra
clínico-terapêutico, 24 ao socioantropo- que o uso do manhês por adultos encoraja
lógico e quatro à concepção psicanalítica. a reciprocidade nas crianças e demonstra
Desde a psicanálise, a surdez vai ser toma- que mesmo recém-nascidos preferem as
da a partir da forma como se inscreve na falas dirigidas aos bebês, ainda que não
história do sujeito e daqueles com quem sejam produzidas por suas próprias mães
vai estabelecer seus primeiros laços. Des- e mesmo que não sejam ditas em sua lín-
se modo, como afirma Solé (2005, p.35), gua materna. Os estudos sobre a aquisição
a psicanálise “não se atém à normalização da linguagem ressaltam a importância de
e não busca a cura”, mas vai se perguntar que a criança seja, desde seu nascimento,
sobre as especificidades da estruturação inserida em um ambiente lingüístico natu-
subjetiva de cada sujeito marcada pela ral, em que a língua lhe seja apresentada
surdez. Este trabalho parte da idéia de que cotidianamente. Esta compreensão se sus-
a surdez se apresenta para a teoria psica- tenta no entendimento de que a língua e a
nalítica, de cara, como um desafio, uma linguagem são adquiridas em relação com
vez que vai demandar um repensar sobre o outro e com o meio. De modo geral, os
algumas questões centrais à psicanálise, trabalhos sobre a surdez definem a língua
em especial àqueles que trabalham com de sinais como língua natural, ou língua
a psicanálise e o desenvolvimento infan- materna, dos surdos, justamente por ser
til. Porém, justamente por isso, que é na essa uma língua que o surdo pode apre-
própria psicanálise que se poderá produzir ender naturalmente. No entanto, entre
contribuições importantes sobre o tema. 90 e 95% das crianças surdas nascem em
Entre estes pontos destaca-se a centrali- famílias ouvintes, que não dominam a lín-
dade incontestável da linguagem para esta gua de sinais. Algum tempo se passa até
teoria e sua conseqüente importância para que a família possa se adaptar às neces-
a estruturação subjetiva; a importância sidades lingüísticas deste novo membro e
atribuída pela psicanálise, desde Freud, que possa escolher que caminho vai tomar
às primeiras experiências da criança com no que diz respeito à inserção de seu filho
a linguagem, mediada pelo Outro Primor- na língua. Diante do exposto perguntamos
dial; e o papel fundamental da voz mater- o que pode nos dizer a psicanálise sobre
na, e do manhês, para o enlaçamento do os efeitos do nascimento de uma criança
bebê à linguagem. Neste trabalho, busca- surda em uma família de ouvintes. Três
mos artigos empíricos de outras áreas de grupos de efeitos são analisados: os efei-
pesquisa para verificar essas idéias. Entre tos na entrada do bebê na linguagem, os
outros, Beauchemin, González-Franken- efeitos na alienação e separação entre os
berger, Trembla et al., (2010) ressaltam corpos da mãe e do bebê e os efeitos na
a importância da voz, em detrimento de apresentação do mundo ao bebê. Enten-
outros estímulos sonoros, para o córtex demos que, embora apresentados de for-
auditivo, em especial de vozes familiares. ma separada, estes são eventos essenciais
Este estudo demonstrou que bebês não ao processo de estruturação subjetiva. A
só reagem à voz materna de forma mais análise destes três eixos, a partir de arti-
ativa, como reagem de forma diferente, gos teóricos, relatos de casos e experiência

274
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

profissional com crianças surdas e suas fa- ser e o modo como se quer viver” (Puig,
mílias, demonstrou que a surdez, enquan- 1998, p. 26). La Taille (2006) diferencia
to ausência de percepção do estímulo moral de ética, sendo moral referente
auditivo, não impede o processo de estru- aos deveres e ética relacionada às refle-
turação subjetiva. No entanto, ela coloca xões acerca da felicidade. Nesse contex-
algumas barreiras, especialmente por con- to, é possível emergirem perguntas como
ta da diferença lingüística entre o bebê e “quem eu quero ser?” (La Taille, 2006, p.
sua família. Não é a lesão real, mas a lesão 46) e “que vida eu quero viver?” (p. 36),
fantasmática (Bergès, 1988b) que pode instigando a investigação sobre projetos
trazer efeitos mais nocivos e permanentes de vida. Para Damon (2009), o projeto de
para o sujeito surdo. Sob todos os aspec- vida, em uma perspectiva ética, é “uma
tos, ficou bastante clara a necessidade de intenção estável e generalizada de al-
um diagnóstico o mais precoce possível da cançar algo que é ao mesmo tempo sig-
surdez. Do lado estrutural, o saber sobre a nificativo para o eu e gera consequências
surdez e o poder elaborar o luto pelo filho no mundo além do eu” (p. 53). Pesquisas
idealizado é que vão dar início à constru- sobre projetos de vida em tal perspecti-
ção de um novo lugar para o bebê. Do lado va destacam a escassez de projetos de
instrumental, um acompanhamento inter- vida em que o outro comparece de forma
disciplinar poderá ajudar a família a lançar central (D'Áurea-Tardeli, 2005; La Taille
mão de diferentes possibilidades lingüísti- & Madeira, 2004; Miranda, 2007). Para
cas, ainda nos primeiros momentos de sua investigar a relação entre moralidade e
entrada na linguagem. legitimação de atos violentos, La Taille e
Madeira (2004) analisaram projetos de
Palavras-chave: surdez, psicanálise, vida de adolescentes e observaram que,
estruturação subjetiva em linhas gerais, o uso da violência não
Contato: Letícia Silveira Vasconcelos – UFBA – foi condenado moralmente pelos partici-
leticiasvasconcelos@gmail.com pantes. Os autores ressaltam que "grande
parte dos adolescentes justificam hipote-
ticamente a violência [...] e, no plano éti-
LT03-1004 - PROJETOS DE VIDA DE co, não inclui outrem como parceiro nos
UNIVERSITÁRIOS SURDOS EM UMA seus projetos de vida." (p. 30). Em sua
PERSPECTIVA ÉTICA pesquisa, D'Áurea-Tardeli (2005) verificou
que somente 29,55% dos participantes
Alline Nunes Andrade - UFES apresentaram aspirações solidárias em
lineandrade@gmail.com seus projetos de vida. Por sua vez, Miran-
Heloisa Moulin de Alencar - UFES da (2007) também considerou as justifica-
heloisamoulin@gmail.com tivas dos projetos de vida de adolescentes
Financiamento: FAPES em conectados, nos quais outras pessoas
eram incluídas como protagonistas e par-
A moral passa por desenvolvimento (Pia- ticipantes, ou desconectados, quando
get, 1932/1994; Kohlberg, 1992) e se ori- outras pessoas eram consideradas, mas
gina da indeterminação, que “obriga o ser de modo instrumentalizador. As princi-
humano a construir o modo como quer pais justificativas (66,7%) caracterizaram

275
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os projetos de vida como desconectados surdos e de Libras. Os projetos de ‘forma-


(Miranda, 2007). Com base nesses dados, ção acadêmica’ (n=27) destacam cursar
pretendemos investigar o grau de con- uma pósgraduação lato ou strictu sensu e
sideração do outro em projetos de vida concluir a graduação atual ou cursar uma
estabelecidos por universitários surdos, nova graduação. Esse dado vai de encon-
usuários da língua de sinais. Os surdos tro aos resultados apresentados por Mi-
fazem parte de uma comunidade minori- randa (2007), em cujo estudo os projetos
tária que, de acordo com Gesueli (2006), de formação acadêmica foram pouco
é usualmente discriminada, comumente considerados. Os projetos de ‘relacio-
pela adoção de uma perspectiva médica namento afetivo’ (n=20) abrangem tan-
da surdez ou modelo clínico da surdez. to o propósito de casar e constituir uma
Porém, Skliar, Massone e Veinberg (1995) família, como apenas ter filhos, adotar
alegam ser possível assumirmos a pers- crianças surdas, investir na formação dos
pectiva socioantropológica, que considera filhos e cuidar dos próprios pais. Os ‘bens
o surdo como parte de uma comunidade materiais’ (n=11) foram considerados em
para a qual a língua de sinais exerce um menor quantidade e dizem respeito à
papel fundamental. Nebel (2006) observa aquisição de casa e carro, além de ter me-
que por ter sido comum o modelo clínico lhores condições financeiras. Em relação
da surdez na área educacional, “a escola às justificativas, propomos o Grau de Con-
não tinha compromisso com o desenvol- sideração de Si e do Outro (GCSO), pois a
vimento cognitivo do aluno” (p.12). His- maneira como o outro e/ou si próprio fo-
tórias de fracasso escolar e proibição do ram considerados nas justificativas carac-
uso de Libras nos espaços escolares foram terizou a conexão ou desconexão dos pro-
relatadas por pessoas surdas em estudos jetos. Nessa análise, os projetos citados
sobre humilhação (Andrade, 2006; Andra- pelos participantes podem ser do tipo: 1)
de & Alencar, 2008, 2010). Pretendemos, ‘autocentrado’ (n=158), com referência
assim, investigar a existência de projetos às próprias características, necessidades,
de vida em uma perspectiva ética, com a habilidades, possibilidades de satisfação
participação de 16 universitários surdos, pessoal ou benefício pessoal, em que o
da região da Grande Vitória-ES, usando outro pode aparecer, mas figurativamen-
o método clínico piagetiano, por meio te; 2) ‘conectado com a comunidade sur-
de uma entrevista semiestruturada em da’ (n=63), com referência aos integran-
língua de sinais e filmada na íntegra. Per- tes da comunidade surda como protago-
guntamos aos participantes ‘Quem é você nistas; 3) ‘conectado com a sociedade’
no futuro do jeito que você gostaria que (n=32), com preocupação em promover a
fosse?’. Em resposta, foram citados 102 inclusão, considerando o próprio relacio-
projetos de vida. Os principais projetos de namento com os ouvintes como pessoas
vida são de ‘atividade profissional’ (n=29), capazes de conhecer, interagir, respei-
‘formação acadêmica’ (n=27), ‘relaciona- tar e/ou reconhecer o valor positivo dos
mento afetivo’ (n=20) e ‘bens materiais’ surdos; 4) ‘conectado com pessoas pró-
(n=11). Em ‘atividade profissional’ (n=29) ximas’ (n=24), em que o outro é alguém
identificamos como principal intenção ou mais pessoas com relação de proximi-
o desejo de tornarem-se professores de dade com o participante ocupando um

276
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

papel de protagonismo em seu projeto; LT03-1007 - EXPECTATIVAS E


5) ‘desconectado de pessoas próximas’ ESTRATÉGIAS DE UNIVERSITÁRIOS
(n=9), em que o outro é alguém ou mais SURDOS SOBRE SEUS PROJETOS DE VIDA
pessoas com relação de proximidade com Alline Nunes Andrade - UFES
o participante, porém considerado como lineandrade@gmail.com
meio para realizar um projeto. Os dados Heloisa Moulin de Alencar - UFES
apresentados indicam o quão é urgente, heloisamoulin@gmail.com
para esses participantes, o investimen- Financiamento: FAPES
to em si próprio, haja vista a quantidade
de argumentos categorizados como auto O mal-estar moral vivido pela sociedade
centrados, ressaltando a importância do contemporânea tem sido alvo de refle-
sentimento de expansão de si próprio (La xões (La Taille & Menin, 2009), instigando
Taille, 2006) como crucial para a experiên- a realização de pesquisas sobre projetos
cia do sentido da vida. Em contrapartida, de vida. Projeto vital é "uma intenção es-
as justificativas que apontam para a cone- tável e generalizada de alcançar algo que
xão com o outro, em níveis diferentes de é ao mesmo tempo significativo para o eu
relação, totalizam um número conside- e gera consequências no mundo além do
rável (n=119). Em tais argumentos iden- eu" (Damon, 2009, p. 53). Pesquisas re-
tificamos que o participante se beneficia centes destacam a escassez de projetos
com o beneficio conquistado ao outro por de vida em que o outro comparece de
meio de seus projetos de vida, especial- forma central (D'Áurea-Tardeli, 2005; La
mente projetos de atividade profissional Taille & Madeira, 2004; Miranda, 2007).
e de formação acadêmica. Lembramos Em sua pesquisa, D'Áurea-Tardeli (2005)
que projetos de vida que incluíam o outro verificou que somente 29,55% dos par-
de forma solidária foram pouco encontra- ticipantes apresentaram aspirações soli-
dos nos estudos mencionados (La Taille dárias em seus projetos de vida. Miranda
& Madeira, 2004; D’Áurea-Tardeli, 2005; (2007) também classificou as justificati-
Miranda, 2007). Pretendemos contribuir vas dos projetos de vida de adolescentes
para a ampliação das pesquisas em Psico- como conectados, nos quais outrem era
logia da Moralidade, no que tange aos es- incluído como protagonista, ou como des-
tudos sobre projeto de vida em uma pers- conectados, quando outras pessoas eram
pectiva ética, tendo pessoas surdas como consideradas, mas de modo instrumenta-
público-alvo, a respeito de quem existem lizador. As principais justificativas (66,7%)
poucas pesquisas realizadas. caracterizaram os projetos de vida como
desconectados (Miranda, 2007). Expecta-
Palavras-chave: moralidade, projetos de vida, tivas positivas em relação ao futuro são
surdos verificadas em estudos sobre projetos
Contato: Alline Nunes Andrade, UFES, de vida de adolescentes (Sarriera, Silva,
lineandrade@gmail.com Kabbas, Lópes, 2001; Miranda, 2007; Oli-
veira & Saldanha, 2010) e de estudantes
universitários (Callegaro & Zimmerman,
2007). Por outro lado, autores identificam
a indefinição do perfil profissional exigido

277
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pelo mercado como fator de influência profissional’, ‘formação acadêmica’, ‘re-


negativa das expectativas de estudantes lacionamento afetivo’ e ‘bens materiais’
universitários (Gondim, 2002; Bardagi, . Posteriormente, realizamos as seguin-
Lassance, Paradiso, Menezes, 2006). Au- tes perguntas e respectivas justificativas,
tores como Matheus (2003), Furlani & para cada projeto mencionado: 1) ‘Você
Bonfim, (2010) consideram que determi- acredita que você realizará esse projeto?’
nadas condições sociais vivenciadas por e 2) ‘De que maneira você pretende reali-
jovens podem resultar em restrição de zar esse projeto?’. Sobre as expectativas
expectativas a metas mais palpáveis. Fur- de realização dos projetos, obtivemos
lani e Bonfim (2010) observam ainda que como principais respostas: ‘sim’ (n=65)
seus participantes “expressavam a falta e ‘depende’ (n=26). As justificativas das
de criatividade e motivação para projetar expectativas são do tipo ‘autocentrado’
planos objetivos e metas diversificadas (n=71), ‘conectado’ (n=39) e ‘desconec-
para suas vidas” (p. 57), o que pode estar tado’ (n=28). Em geral, argumentos au-
relacionado à condição econômica desfa- tocentrados explicam as expectativas
vorável. Com base nesses dados, preten- positivas de realização dos projetos, pois
demos investigar os projetos de vidas, as os participantes se baseiam em suas pró-
expectativas e as estratégias de realização prias habilidades, desejos e condições.
por parte de universitários surdos. Estu- Também nota-se que a conexão com pes-
dos apontam para a existência de humi- soas próximas, com a comunidade surda
lhação nas histórias de vida de surdos e com a sociedade, presente nas justifi-
(Andrade, 2006; Nebel, 2006; Gesueli, cativas do tipo ‘conectado’, motivam os
2006; Andrade & Alencar, 2008, 2010) participantes a crerem na concretização
marcadas pela exclusão e pela impossibi- de seus projetos. Porém, respostas cate-
lidade de comunicação devido à adoção gorizadas em ‘depende’ revelaram argu-
de uma perspectiva médica da surdez. mentos desconectados, especialmente
Para Skliar, Massone & Veinberg (1995), a aqueles em que o participante está des-
perspectiva médica impõe uma visão pa- conectado de si e centrado no outro. As-
tológica, resultando em estratégias e re- sim, embora desejáveis, alguns projetos
cursos de ‘normalização’ do sujeito surdo; estão dependentes de outras pessoas
em contrapartida, a perspectiva socioan- para que sejam realizados, gerando ins-
tropológica considera o surdo como parte tabilidade na projeção de si no futuro.
de uma comunidade para a qual a língua Sobre como os participantes pretendem
de sinais é central. Considerando esse realizar os projetos, as principais estra-
histórico de restrições às pessoas surdas, tégias foram ‘acadêmicas’ (n=63), ‘profis-
entrevistamos 16 universitários surdos da sionais’ (n=44) e de ‘cuidado com o outro’
Grande Vitória-ES, utilizando o método (n=20). Para esses participantes, a realiza-
clínico piagetiano (Piaget, 1932/1994) em ção dos seus projetos depende principal-
língua de sinais, com filmagem integral. mente de estudar, concluir a graduação e
Perguntamos aos participantes ‘Quem conhecer novas tecnologias. Em seguida,
é você no futuro do jeito que você gos- obter um trabalho futuro, avaliar alterna-
taria que fosse?’. Como resposta, foram tivas de trabalho e participar de concur-
citados 102 projetos de vida: ‘atividade sos configuram estratégias ‘profissionais’.

278
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

O ‘cuidado com o outro’ foi mencionado zação dos projetos de vida apresentavam
apenas pelas mulheres, principalmente justificativas do tipo autocentrado, se-
em relação ao cuidado e à educação dos guido por argumentos conectados. Esse
filhos já existentes. As justificativas das dado parece indicar a valorização que os
estratégias foram categorizadas em ‘au- participantes atribuem a si próprios, mas
tocentrado’ (n=103), ‘conectado’ (n=79) que também assinalam o lugar do outro
e ‘desconectado’ (n=45). As referências em suas aspirações, de forma conectada;
às próprias habilidades, necessidades e sendo que esta última forma foi pouco en-
características foram novamente consi- contrada noutros estudos (La Taille & Ma-
deradas pelos participantes, à frente dos deira, 2004; D’Áurea-Tardeli, 2005; Miran-
argumentos que remetem à conexão com da, 2007). Pretendemos contribuir para a
a comunidade surda, com pessoas pró- ampliação das pesquisas sobre projeto de
ximas e com a sociedade. Argumentos vida em Psicologia da Moralidade, tendo
desconectados foram mencionados pelos pessoas surdas como público-alvo, a res-
participantes, em especial a desconexão peito de quem existem poucas pesquisas
de pessoas próximas e a sociedade des- realizadas.
conectada dos surdos. Logo, se parte das
estratégias eram conectadas devido ao Palavras-chave: surdos; expectativas;
desejo de criar oportunidades de desen- estratégias
volvimento aos surdos, de proporcionar Contato: Alline Nunes Andrade, UFES,
o desenvolvimento intelectual e moral lineandrade@gmail.com
dos filhos e de favorecer a inclusão pro-
piciando o relacionamento entre ouvintes
e surdos, as estratégias desconectadas LT07-1429 - SURDEZ E
sugerem o uso de pessoas próximas – HOMOSSEXUALIDADE: ASPECTOS DA
nesse caso, intérpretes e filhos -, como FORMAÇÃO IDENTITÁRIA DE SUJEITOS
meio para a realização dos seus projetos. SURDOS NO ENFRENTAMENTO DO
Outro tipo de desconexão aparece em ar- DUPLO PRECONCEITO
gumentos nos quais a sociedade está des- Fabrício Santos Dias de Abreu - FE/UnB
conectada dos surdos. Logo, o fato de as fabra201@hotmail.com
políticas de inclusão educacional serem Daniele Nunes Henrique Silva - UnB
criadas sem considerar a opinião dos sur- daninunes74@gmail.com
dos, o mercado de trabalho local não pro-
piciar a inclusão de trabalhadores surdos Aqueles considerados deficientes fogem
e os participantes não saberem como será aos padrões normatizados de desenvol-
seu futuro profissional após a formatura vimento e são concebidos culturalmente
exemplificam essa desconexão. Lembra- como sujeitos incapazes de viverem am-
mos que a indefinição do perfil profissio- plamente em sociedade. No que tange às
nal foi apontada por alguns autores (Gon- limitações sociais impostas a essas pes-
dim, 2002; Bardagi, Lassance, Paradiso, soas, a expressão da sexualidade é uma
Menezes, 2006) como aspecto negativo temática não problematizada; um lugar
da expectativa futura. Constatamos que de negação da dimensão erótica. Em ge-
as expectativas e as estratégias para reali- ral, prevalece a ideia de que as pessoas

279
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deficientes são assexuadas, consideradas qualificações que se constituem de ma-


infantis e inocentes (incompletas pelo neira dupla; síntese da junção de vários
defeito). O pensamento mais tradicional fatores de desqualificação em um mesmo
dirige-se para o argumento de que a se- individuo como: ser surdo (“deficiente”) e
xualidade do sujeito com peculiaridades ser homossexual. Nos estudos de Beche
no desenvolvimento inexiste, apesar da (2005), em que se discute a relação entre
bibliografia científica recente apontar no deficiência e sexualidade, a autora aponta
sentido de contestar a relação entre de- a percepção dos surdos sobre a homos-
ficiência e assexualidade (ou de proble- sexualidade, evidenciando que o tema
mática sexual) como sinônimos (Beche, ainda causa dúvida e incompreensão,
2005; Bisol, 2008 Maia, 2006 e Moukar- pois há pouca informação disponível (na
zel, 2003). Apesar desses apontamentos, família, na escola e outras instituições de
o que prevalece nos discursos cotidianos apoio) sobre a temática. Além disso, são
a respeito da sexualidade de pessoas com escassos os espaços inclusivos (com uso
deficiência é que ela se manifesta de for- da libras) para sanar dúvidas acerca da se-
ma atípica e infeliz (Maia, 2006). Quando xualidade e suas diversas manifestações.
se fala em homossexualidade relaciona- Segundo Anderson e Kitchen (2000), a
do às deficiências, o assunto é envolto maior dificuldade encontrada na vida de
em uma penumbra, com raros estudos uma pessoa com deficiência, no que tan-
investigativos. O que se percebe são in- ge as questões da sexualidade, é causada
dícios de discussões teóricas ainda inci- pelo fracasso informacional dos recursos
pientes (Maia e Ribeiro, 2010). A escassez educacionais (e de outros serviços) em
dos trabalhos acadêmicos parece refletir proporcioná-los esclarecimentos sobre
a dificuldade de abordagem do assunto. o tema. Nessa linha, Bisol (2008) afirma
Assim, não se imagina uma pessoa com que o surdo não encontra na família es-
deficiência gay ou lésbica. Essa cartogra- paço proveitoso para dirimir suas duvidas
fia subjetiva (forma(to)s de identidades sobre sexualidade, pois, na maioria dos
sexuais) apresenta, no seu fundo de aná- casos, a comunicação é precária devido a
lise, o problema do duplo-preconceito; não fluência em Libras. Dessa forma, é na
ser deficiente e ser homossexual. O que escola e no convívio com surdos adultos
prevalece no discurso hegemônico é a no- que pode acontecer o tratamento da te-
ção de que a sexualidade ora inexiste, ora mática. O presente trabalho aborda con-
é deformada, assim como a pessoa que a ceitualmente essas temáticas interdisci-
expressa. È, portanto, uma dimensão que plinares, tentando preencher, pontual-
se manifesta de forma atípica (quase pa- mente, a lacuna e a carência de pesquisas
tológica) e infeliz. Segundo Ferrari e Mar- nesse campo. A partir de relatos de dois
ques (2010), existem estratégias de des- homens surdos, que assumem uma iden-
qualificação a todos aqueles considera- tidade bilíngue homossexual como fator
dos desviantes dos padrões estabelecidos constitutivo de suas vivências, buscou-se
pela sociedade hegemônica. Muitos indi- problematizar: a) aspectos gerais da con-
víduos, em função disso, se posicionam dição social do surdo; b) experiências e
a partir do lugar de subalternidade. De vivências homossexuais; e c) (duplo)pre-
acordo com Foucault (1999), existem des- conceito. Por meio de entrevistas semies-

280
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

truturadas, contando com a participação CO 32 - LT04


de uma interprete fluente em Libras (já
conhecida e aprovada pelos sujeitos en-
Violência
trevistados), os dados, ainda em fase pre-
liminar de análise, demonstram que, para
esses sujeitos, existe um marco (ponto de LT04-812 - CONSELHO TUTELAR
transição) definidor do reconhecimento E ESCOLA: REPERCUSSÕES DE
da sua condição homossexual: a primeira PRÁTICAS SOCIAIS COM CRIANÇAS E
relação sexual ocorrida na infância tardia. ADOLESCENTES
Nesses termos, a condição homossexual Maria das Graças Vasconcelos Paiva - UERJ
se refere ao ato sexual propriamente vi-
vido, restrita a genitalidade e ao sexo. Os O objetivo deste trabalho é investigar o
surdos entrevistados parecem identificar impacto produzido pela ação do Conselho
a sexualidade como algo relacionado à Tutelar em escolas do subúrbio, periferia
ação, não necessariamente vinculado à e zona norte da Cidade do Rio de Janeiro.
dimensão do afeto, da comunicação, da Foram realizadas entrevistas com profes-
gratificação libidinosa ou de construção sores das respectivas escolas para verificar
de vínculos. Além disso, observa-se que suas opiniões sobre o Conselho Tutelar. A
os sujeitos ouvidos estabelecem estra- escolha deste órgão foi determinada pela
tégias de ocultamento da homossexua- sua estreita ligação com a comunidade,
lidade como forma de não sofrerem um inovando a forma de interação entre Po-
duplo preconceito. As estratégias mais der Público e a sociedade. Age vinculado
relevantes apontadas dizem respeito ao administrativamente ao Poder Executivo
controle do corpo, no que tange aos tre- Municipal. Recebeu a função de garantir
jeitos estabelecidos socialmente como que os preceitos do Estatuto da Criança
femininos, e ao silenciamento em relação e do Adolescente (ECA) fossem exercidos
à opção sexual nos diversos ambientes pela família e pela sociedade e pelas en-
em que os sujeitos transitam. Os dados tidades de atendimento. Por outro lado,
encontrados revelam que a condição ho- a Psicologia social comunitária, em seus
mossexual ainda é pouco compreendida vários enfoques, mostra seu compromis-
pelos surdos, pois há dúvidas, preconcei- so com qualidade de vida da população e
tos e mitos acerca da experiência sexual. com os direitos humanos. Seu campo de
Desse modo, torna-se relevante ampliar pesquisa em práticas sociais é bastante
os estudos nessa área e sua interface com amplo, pois, considera prática social toda
as políticas públicas de assistência e for- prática de interação entre sujeitos sociais.
mação das pessoas surdas. Neste trabalho, serão enfocadas aquelas
praticadas sobre as crianças e adolescen-
Palavras-chave: surdez, homossexualidade, tes nas escolas que deveriam dizer respei-
identidade to aos seus direitos e deveres infantis e
Contato: Fabrício Santos Dias de Abreu, UnB, juvenis. As práticas educativas constituem
fabra201@hotmail.com um tipo de prática social na infância. De-
nunciar, observar maus tratos e faltas ex-
cessivas são práticas sociais, pois, exigem

281
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a ação do sujeito em favor de outro. Seu relação ao CT. Composta de nove pergun-
sentido se fundamenta em fazer surgir tas transcritas em folha de papel. Os cinco
efeito em outros, planejada, consciente ou temas mencionados anteriormente foram
inconscientemente. O Conselho Tutelar é abordados em questões abertas e os ou-
uma instituição mediadora entre as vidas tros quatro em questões fechadas. Os
da criança e do adolescente e a vida coleti- contatos nas escolas foram feitos através
va, institui, portanto, uma nova prática en- dos diretores ou coordenadores pedagó-
tre outras que podem ser consideradas no gicos. As entrevistas foram respondidas
tratamento das questões da infância. Cabe por escrito por grupos de professores. O
a seguinte pergunta: Em que medida a es- propósito inicial era realizar entrevistas in-
cola receberá a intervenção desta nova dividuais. Contudo, a rotina escolar a que
prática? Este trabalho tem como hipótese: estão submetidos os professores impediu
a cultura solidificada das instituições esco- por falta de tempo de responder individu-
lares torna-se um empecilho para o pleno almente às entrevistas. Como alternativa
desenvolvimento das práticas sociais tute- metodológica, as perguntas foram ofereci-
lares. Professores que lecionam em esco- das transcritas e o registro dos dados foi
las da rede pública estadual e municipal de feito em uma folha de papel onde se en-
ensino fundamental e médio da zona nor- contravam registradas as nove perguntas.
te, subúrbio e periferia da cidade do Rio No primeiro contato com os professores,
de Janeiro Dez participantes são do sexo pedia-se a colaboração voluntária e infor-
masculino, idade: 28 e 52 anos e 48, do mava aos participantes sobre o objetivo e
sexo feminino, idade 23 e 60 anos. Média o tema da pesquisa. Pedia-se também que
de idade, 40 anos (DP=10,16). Exercem o assinassem um termo de consentimento
magistério em média a 15 anos (DP=9,43) informado. O anonimato e a confidenciali-
e residem no subúrbio e da zona norte des- dade dos dados obtidos eram assegurados
ta cidade. A escolaridade varia do segundo a todos. Em cada escola visitada, entrega-
grau à pós-graduação: 4 professores pos- va-se a grupos de professores a entrevista
suem apenas segundo grau, 41, superior que respondiam na presença do psicólogo,
completo e 13, pós-graduação. O nível por escrito, e devolviam a seguir. Conhe-
socioeconômico a partir do grau de esco- cimento do que é Conselho Tutelar- 62%
laridade, embora não homogêneo, pode conhecem; 38% desconhecem o conceito
ser avaliado variando entre o nível mé- de Conselho Celular. Causas de encami-
dio baixo, médio e médio alto. Entrevista nhamentos ao CT- Para 31% da amostra,
visando atender os objetivos subjacentes o CT é uma alternativa para solucionar
considerados pertinentes aos temas cen- problemas de mau comportamento esco-
trais do estudo. O instrumento foi desen- lar, esgotadas todas as possibilidades de a
volvido no sentido de obter informações escola resolver com a família. Para 29%,
dos professores sobre o conceito de con- a causa é o comportamento inadequado
selho tutelar (CT); a relação, dificuldades e na escola provocado por transtornos fa-
barreiras encontradas no relacionamento miliares Relação Conselho Tutelar versus
entre escola e o CT; os encaminhamentos, Escola - Para 28%, o relacionamento com
suas principais causas; credibilidade na o CT é ineficiente, os conselheiros des-
atuação do CT; as atitudes, crenças com preparados, omissos e desinteressados e

282
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desconhecem a realidade escolar. Os pro- LT04-904 - O BULLYING NA PERSPECTIVA


fessores não têm informação de como o SOCIOCULTURAL CONSTRUTIVISTA
CT funciona, onde situam e afirmam des- Raquel Gomes Pinto - UnB
conhecer as atribuições dos conselheiros raquel.pinto@tjdft.jus.br
(24%). Para 21%, a relação foi considerada Angela Branco - UnB
apenas insatisfatória, sem parceria entre ambranco@terra.com.br
Conselho Tutelar e a escola. Para 17%,
a relação é unilateral, da escola para o No contexto sociocultural do século XXI,
CT e de um cunho disciplinar e punitivo. alcançar o sucesso e a felicidade parece
Apenas uma minoria (10%) considera a significar, para a maioria das pessoas, ad-
relação positiva e que ainda poderia ser quirir bens de consumo e realizar proje-
melhor se o CT fosse menos burocrático tos individualistas considerando-se, cada
e contasse com mais recursos. As atitudes vez menos, as necessidades e a dignida-
pessoais com relação ao Conselho Tutelar de do outro, bem como as condições do
- Os participantes variam desde aqueles meio ambiente no qual vivemos. Desde
que são radicalmente contra, alegando muito cedo, crianças e adolescentes são
que o órgão é ineficaz, inútil, burocrático expostos, de forma explícita ou implícita,
e não devia existir; os de centro, argumen- a situações onde o competir é considera-
tando “que pode melhor”; “que em algu- do a melhor forma do sujeito se consti-
mas escolas funcionam em parceria”. E tuir como pessoa e atingir seus objetivos.
professores que são totalmente a favor e Crenças e valores orientados para a acir-
defendem como necessário para a defesa rada competição e o individualismo têm
dos direitos das crianças e apoio à escola. sido promovidos de forma recorrente,
Credibilidade na intervenção do Conselho em diversos contextos sociais. Situações
Tutelar - Os participantes agrupam-se em onde competição e individualismo são
três grupos gerais: a maioria (55%) não valorizados promovem a progressiva des-
acredita na ação do CT na escola porque valorização da ética e a emergência de
sua intervenção seria “paliativa” e/ou bu- agressões e violência. A incidência cres-
rocrática, e os “episódios” continuam se cente do bullying nas escolas retrata a
repetindo mesmo com sua intervenção. necessidade de mudar o paradigma edu-
25% alegam que não possui conhecimento cacional. Segundo a psicologia científica,
para avaliar a pergunta. Para 21%, a rela- não existem fórmulas mágicas e o fenô-
ção foi considerada apenas insatisfatória, meno precisa ser analisado considerando
sem parceria entre Conselho Tutelar e a o papel da cultura, do sujeito construti-
escola. A minoria (20%) acredita que a es- vo, e da causalidade múltipla. Prevenir
cola precisa de ajuda para casos comple- o bullying implica que a escola assuma,
xos junto às famílias. Com base nos dados intencionalmente, o trabalho dos valores
da pesquisa, conclui-se que o impacto so- sociais positivos com alunos e professo-
bre as práticas sociais educacionais não é res, de forma a incluir a paz como eixo
relevante. transversal no currículo escolar. Com
o objetivo de investigar como a escola
Palavras-chave: Conselho Tutelar; Infância e pretende promover ações preventivas
Juventude; Práticas sociais educacionais e de resolução de situações de bullying,

283
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

analisamos um projeto de prevenção do LT04-1311 - CULTURA DE PAZ,


bullying, desde sua implantação, ainda PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E
em 2011. A pesquisa inclui análise de SOCIALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DE
documentos, observação das atividades POLICIAIS MILITARES
previstas no projeto e entrevistas com Letícia de Sousa Moreira - PMTO
a coordenadora, com seis professores e leticia_psi@hotmail.com
com seis crianças do quinto ano de uma Angela Uchoa Branco - UnB
escola pública da cidade de Brasília – DF. ambranco@terra.com.br.
Os eixos norteadores da pesquisa foram:
como o projeto define e compreende o A sociedade pós-moderna apresenta uma
fenômeno bullying, quais os seus objeti- configuração social bastante diversifica-
vos e quais as atividades desenvolvidas da, onde crenças e valores são diretamen-
para o alcance destes objetivos. O proje- te influenciados pelo contexto sócio-his-
to é, assim, analisado e discutido a partir tórico-cultural em que a pessoa está in-
das falas dos entrevistados e das obser- serida. As transformações e construções
vações realizadas, buscando-se identifi- humanas decorrem tanto de um processo
car coerência, bem como convergências interno quanto externo, permeados pelos
e divergências no discurso de educado- diversos agentes que compõem a socie-
res e alunos. Consideramos que as insti-
dade. O desenvolvimento humano, por-
tuições educativas podem e devem atuar
tanto, é fruto da interação de uma série
no campo da promoção concreta da paz,
de fatores e, sobretudo, das relações aí
de interações humanas saudáveis, éticas
estabelecidas. A partir dessa idéia, surgiu
e respeitosas, promovendo valores como
o interesse na seguinte questão: como o
justiça, dignidade e responsabilidade so-
ser humano desenvolve suas ações vis-
cial. Consideramos que o presente estu-
lumbrando a paz ou a violência? Entende-
do contribuiu para a análise de iniciativas
da própria escola sob a orientação e su- -se que os conflitos violentos têm sido
pervisão da coordenadora, e os resulta- protagonistas de grandes tragédias ao
dos obtidos deverão gerar subsídios para longo do tempo em todo o mundo. Isso
a elaboração e a avaliação de projetos ocorre porque a sociedade persiste pro-
desta natureza, auxiliando na prevenção movendo práticas culturais onde compe-
da violência na escola e promovendo tição, agressão e violência são toleradas
ações concretas em prol da paz. ou mesmo incentivadas, e assim a gran-
de maioria das pessoas não internalizam
Palavras-chave: bullying, sociocultural, o valor, o sentimento e a vivência da paz
violência em suas vidas. A Cultura de Paz está in-
Contato: Raquel Gomes Pinto, UnB, raquel. trinsecamente relacionada à cooperação
pinto@tjdft.jus.br e à resolução não-violenta dos conflitos.
É uma cultura concebida como processo
orientado para a tolerância, solidarieda-
de e compartilhamento em base cotidia-
na, uma cultura que respeita os direitos
individuais, o princípio do pluralismo,
que assegura a liberdade e divergência

284
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de opinião. Ela se empenha em preve- ma que este seja um mediador de confli-


nir conflitos violentos resolvendo-os em tos, utilizando o poder de polícia somente
suas fontes ou origens. Na perspectiva em casos extremamente necessários.
sociocultural construtivista aqui adotada, O ideal da Polícia Comunitária, Jornada
a Paz é concebida como um conceito ca- Formativa de Direitos Humanos e Proerd
racterizado pela convivência cooperativa (programas desenvolvidos pela Secretaria
entre seres humanos em geral, ou seja, Nacional de Segurança Pública), propõem
como um conceito positivo e não como que os policiais estejam preparados para
a simples ausência de conflitos ou en- lidar com os problemas cotidianos dos
frentamentos. Considerando o processo cidadãos comuns, de forma preventiva
de desenvolvimento humano como dinâ- e não somente coerciva, como há anos
mico e contínuo, torna-se possível a (re) se postulava. A metodologia utilizada foi
construção de valores, crenças, emoções baseada na pesquisa qualitativa, a partir
e expectativas para serem desenvolvidos de entrevistas semiestruturadas, onde
na família, escola e sociedade objetivan- os indicadores empíricos foram constru-
do a construção de uma Cultura de Paz. ídos ao longo do processo de interação
Fazendo um recorte para um contexto es- pesquisador-pesquisado. Foram selecio-
pecífico, foi escolhida a Polícia Militar do nadas seis entrevistas, de um estudo mais
Estado do Tocantins como campo de pes- amplo, com quatro homens e duas mu-
quisa, por suas peculiaridades de atuação lheres e o critério de seleção foi a diver-
social, sendo por vezes preventiva e por sidade de posicionamentos apresentados
vezes coerciva, e por ser o campo de tra- pelos policiais entrevistados. Todos os
balho da pesquisadora. Assim sendo, este participantes ingressaram na instituição
estudo buscou investigar e compreender há pelo menos cinco anos, um tempo ra-
como o sistema de crenças e valores pes- zoável para que haja maior familiarização
soais, permeado pela instituição militar, com a cultura institucional militar. Todos
influencia as convicções e ações de poli- os participantes selecionados têm filhos,
ciais militares para a construção de uma pois também buscou-se avaliar possíveis
Cultura de Paz neste contexto específico. preocupações dos participantes com o fu-
Nesse sentido, tornou-se necessário com- turo deles na sociedade de forma geral. O
preender quais as práticas e concepções procedimento de análise seguiu o mode-
estão presentes na vida dos policiais mili- lo construtivo-interpretativo, que busca
tares para pensar em sua atuação, visan- transformar as informações dos partici-
do a construção de uma Cultura de Paz. pantes em algo que tenha sentido para
O desenvolvimento dessa visão de vida eles e para a pesquisa. A partir do discur-
e de trabalho, vinculada à noção da paz, so dos participantes, observou-se que os
busca promover um aprimoramento con- policiais militares têm dificuldades com o
creto na prestação de serviços da institui- tema da Cultura de Paz, em conceituar e
ção, sempre de forma articulada com os admitir a existência de conflitos positivos.
demais setores da sociedade. A realidade Os indicadores obtidos com as entrevistas
atual da Polícia Militar no Brasil tem por revelam crenças permeadas pela cultura
objetivo aperfeiçoar a qualidade das rela- institucional, na qual a paz é vista como
ções entre o policial e a sociedade, de for- algo subjetivo, ligado muito mais à noção

285
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de harmonia interior e espiritualidade do LT04-1349 - PALAVRAS E AÇÕES QUE


que à paz social. A visão de paz no senti- MACHUCAM
do mais preventivo, permeado por ações Claudilene Pereira - Me Ninar Creche Escola
concretas, é algo distante do pensamen- claudilenepereira1@hotmail.com
to dos participantes. Ficou evidenciado Amanda Nogueira Cordeiro - UMINHO
que os participantes da pesquisa não se amandanc_uff@hotmail.com
reconhecem nesse papel de agentes mul-
tiplicadores da paz e transformadores da Atualmente, questões relacionadas à
sociedade, modelo de atuação social e agressão verbal, física, coação e constran-
presença forte do estado nas ruas. Eles gimento entre crianças nas escolas são
não conseguem visualizar a ressonância muito comentadas. Tais atitudes (isoladas
e abrangência de suas ações enquanto ou em conjunto), quando praticadas entre
portadores de uma identidade profissio- pares, numa relação desequilibrada de
nal que, além de tudo, é uma autoridade poderes, de forma regular e intencional
constituída e deve ser usada em favor caracterizam o bullying, podendo causar
da comunidade. No entanto, forneceram transtornos físicos, cognitivos e psicológi-
muitas sugestões para a construção de cos em suas vítimas. Este tema começou
uma Cultura de Paz na instituição e todos a ser estudado na Noruega, nos anos 70.
se colocaram como voluntários para par- Uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro
ticipar, mesmo sem definir exatamente pela extinta ABRAPIA, em 2002, com mais
como poderiam colaborar. Nesse sentido, de 5000 crianças, revelou que 40,5% dos
acredita-se que uma mudança de cul- alunos já tinham participado em casos
tura institucional pode favorecer a inte- de bullying, sendo 16,9% alunos vítimas,
gração entre os membros da instituição, 12,7% alunos agressores e 10,9% vítimas/
tão requisitada pelos participantes deste agressor. Mas que providências são con-
estudo, e também deve contribuir para cretamente tomadas? Que trabalho de-
promover diálogos cooperativos, campo senvolver com as crianças? Que caminho
fértil para o cultivo e amadurecimento de seguir? Segundo Barros, Carvalho e Pe-
idéias e sugestões. Dessa forma, a reali- reira (2009): “num primeiro momento há
zação deste trabalho visou construir sub- de reconhecer que a violência é um pro-
sídios para desenvolver valores e compe- blema social e que a escola tem um papel
tências que levem os policiais militares a fundamental na sua redução por meio de
serem promotores da Cultura de Paz no ações e programas preventivos buscando
exercício das diversas funções que de- parcerias com as famílias dos alunos en-
sempenham, dentro e fora da instituição, volvendo-os com o problema.” Por isso,
melhorando a qualidade de vida dos en- apontamos que um programa de preven-
volvidos nesse processo de construção. ção primária pode ser o primeiro passo no
intuito de que as crianças e a comunidade
Palavras-chave: Cultura de Paz, educativa, incluindo pais e professores,
Construtivismo Sociocultural, Polícia Militar. percebam que o tema deve ser tratados
Contato: Letícia de Sousa Moreira, Polícia por todos. Casas (1998) aponta que a pre-
Militar do Tocantins, leticia_psi@hotmail.com venção relaciona-se com realidades co-
nhecidas, onde são conhecidos os efeitos

286
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

negativos que podem ter. Segundo Caplan brincadeiras ofensivas e demasiadas têm
(apud Casas 1998), a prevenção primária sido protagonistas nas interações escola-
caracteriza-se por ter um enfoque comu- res e relações em geral. Diante disto, em
nitário, por ser interdisciplinar e proativa, 2010, foi iniciado o projeto “Palavras e
interconectar os diferentes aspectos da ações que machucam”, surgido da vonta-
vida (orientação bio-psicossocial), utili- de da Equipe Pedagógica e professores da
zando técnicas educativas e sociais orien- Me Ninar Creche Escola (escola particular
tadas para dotar os indivíduos de recursos situada em Niterói-RJ) de trabalhar com
ambientais e pessoais, e assim enfrenta- as crianças (dos 6 aos 10 anos) questões
rem seus problemas e promoverem con- relacionadas aos valores éticos culturais e
textos sociais justos. A prevenção primária de convivência entre as pessoas. Para to-
dirige-se a grupos que não manifestam si- mar uma ação preventiva junto às crian-
nais evidentes de enfermidade ou proble- ças sobre o tema bullying, escolhemos po-
ma social, onde só existe a consideração tencializar as interações dentro da escola,
que alguns membros possam estar em desta com a família e da criança com a
risco. Partindo da teoria de Brofenbren- comunidade, considerando os diferentes
ner, detentora de uma visão bioecológica níveis ambientais de interação. Neste caso
do desenvolvimento humano, adotamos consideramos a escola como microssis-
uma visão sistêmica onde o desenvolvi- tema para as crianças e, a relação entre
mento se dá através de forças emanadas a escola e a família como mesossistema,
por múltiplos ambientes e das relações contudo não desconsideramos a influên-
entre eles, através da interação sinérgi- cia do mesossistema e do macrossistema
ca de quatro núcleos inter-relacionados: no seu desenvolvimento. Os principal
Processo, Pessoa, Contexto e Tempo (Nar- objetivo deste projeto foi diminuir episó-
raz & Koller). Naquele o destaque é dado dios comportamentais nas crianças que
para o conceito de processos proximais, possam interferir de forma negativa o de-
que são formas particulares de interação senvolvimento e as interações entre pares
entre organismo e ambiente que operam na escola. Para isto foi preciso repensar
ao longo do tempo. Em relação a Pessoa, (equipe e crianças) atitudes e palavras di-
parte-se do princípio que suas caracterís- tas no dia-a-dia, para atingir uma melhor
ticas são tanto produtoras, quanto produ- convivência, trabalhando valores como
tos do desenvolvimento. O conceito de respeito, cooperação, entendimento,
Contexto refere-se à interação recíproca compreensão, tolerância e fraternidade.
de quatro níveis ambientais interdepen- A idéia foi promover junto à comunidade
dentes estruturados de forma concêntri- acadêmica um entendimento de questões
ca: microssistema, mesossistema, exossis- sócio-culturais pertinentes à atualidade,
tema e macrossistema. O Tempo também para que percebam que idosos, portado-
influencia o desenvolvimento humano res de necessidades especiais, diferentes
através de mudanças e continuidades. No- etnias, classes sociais, culturais e credos
tamos uma crescente desvalorização de devem ser respeitados e compreendidos
atitudes gentis e cordiais entre as crian- em suas particularidades,e assim aumen-
ças. A busca pela perfeição, competiti- tar o respeito mútuo no ambiente esco-
vidade, intolerância com as diferenças e lar. A primeira ação foi a apresentação do

287
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vídeo “Palavras que machucam” (sessão pais e crianças sobre a importância da vi-
coletiva), em sequência, conversas com sita foi surpreendente, ficando evidencia-
professores e Equipe Pedagógica e ações da no cuidado que tiveram ao oferecerem
pontuais com as crianças (encontro quin- alimentos que condiziam com as limita-
zenal com a psicóloga da escola denomi- ções biofísicas dos idosos. Publicação de
nado “grupo de reflexão) e atividades em textos coletivos no Informativo Interno da
parceria com professores regentes. Outras escola. Por fim, acreditamos que houve
estratégias utilizadas foram: Leitura dos o despertar de um julgamento moral das
livros “A ovelha rosa da Dona Rosa” e “O atitudes e responsabilização em relação
colecionador de segredos”, e desenvolvi- ao respeito ao próximo, às diferenças e
mento de atividades a estes relacionados. aos seus iguais.
-Dinâmicas de grupos voltadas para o
respeito aos pares e aos demais; Elabora- Palavras-chave: prevenção primária, valores
ção de “combinados” (regras particulares sócio-culturais, bullying
para cada turma) referentes aos compor- Contato: Claudilene Francisco Pereira, Creche
tamentos; Autoavaliação individual das Escola Me Ninar, claudilenepereira1@hotmail.com
crianças; Reunião de pais promovendo
parceria no processo de conscientização
das crianças; Reunião junto à Equipe Pe- LT04-1507 - VALORES HUMANOS E
dagógica para discussão de textos sobre ATITUDES FRENTE À ESCOLA: UM
bulliyng e valores éticos e sociais; Visitas ESTUDO CORRELACIONAL
a espaços promotores de auxílio a idosos Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB
e portadores de necessidades especiais. patynfonseca@hotmail.com
É importante ressaltar que este projeto é Rildésia Silva Veloso Gouveia - UNIPÊ
uma ação preventiva que não se caracteri- rildesia.val@gmail.com
za por ter uma temporalidade determina- Deliane Macedo Farias de Sousa - UFPB
da, por isso buscamos atingir seus objeti- delianemfs@gmail.com
vos constantemente na dinâmica cotidia- Kátia Correa Vione - UFPB
na da escola. Entretanto, no seu período katiavione@gmail.com
de maior intensidade de ações, pudemos Larisse Helena Gomes Macedo Barbosa -
notar alguns resultados concretos: Iden- UFPB
tificação das atitudes e comportamentos larissehelena@hotmail.com
a serem repensados pelas crianças; Cons- Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB
cientização da equipe de professores acer- eugenia_gba@hotmail.com
ca dos resultados de suas falas e atitudes
frente às crianças; Exposição de trabalhos As pesquisas sobre as atitudes no con-
realizados pelas crianças sobre a temática texto escolar têm sido bastante diversi-
na mostra de Arte e Expressão da escola; ficadas e demonstram um novo foco de
Aumento da parceria entre as famílias e interesse na área escolar ou da educação.
a equipe pedagógica; Sucesso da visita a Por mais de vinte anos estas estiveram
Casa de Repouso Lar Esperança, onde as voltadas, predominantemente, a abor-
crianças propuseram atividades de leitura dar o desempenho acadêmico dos estu-
e ofereceram lanche. A compreensão de dantes de uma forma mais objetiva (isto

288
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

é, notas nos exames escolares), o que os valores humanos, uma vez que estes
atendia ao interesse imediato de pensar e são entendidos como um construto que
modificar as políticas públicas de educa- influencia as atitudes e as ações humanas
ção. Entretanto, embora este tema ainda e servem como padrões avaliativos do
ocupe espaço importante na agenda da- comportamento (Gouveia, 2003). No pre-
queles que fazem a educação, aspectos sente estudo, parte-se do modelo acerca
mais subjetivos dos estudantes têm rece- dos valores proposto por Gouveia (1998,
bido cada vez mais destaque, a exemplo 2003; Gouveia & cols., 2008) que define
da satisfação do estudante com a escola, os valores como critérios de orientação
das experiências vivenciadas e das atitu- que guiam as ações do homem e expres-
des apresentadas frente ao contexto es- sam as suas necessidades básicas. Ainda
colar (Daly & Defty, 2001). Coerente com de acordo com este autor seria possível
esta linha de interesse, Willms (2003) observar seis subfunções valorativas, a
constatou, em pesquisa realizada pelo saber: interativa, normativa, suprapesso-
Programa Internacional de Assistência ao al, existência, experimentação e realiza-
Estudante, que os jovens que participa- ção. Deste modo, objetivou-se conhecer
vam mais das atividades oferecidas pela se e em que medida os valores humanos
escola parecem ter melhor relação com e as atitudes frente à escola estão relacio-
seus colegas e administradores da escola, nados.Para lograr tal objetivo, contou-se
além de apresentar um bom desempenho com uma amostra de conveniência (não
acadêmico. Por outro lado, aqueles que probabilística) composta de 291 estudan-
apresentam atitudes negativas, de desa- tes do ensino fundamental, sendo a maio-
feto com as pessoas inseridas na escola ria do sexo masculino (53%), de escolas
podem, gradualmente, vir a demonstrar públicas (53,5%) e com idades variando
comportamentos desajustados. Refor- entre 10 e 18 anos (m = 13,2; dp = 1,76).
çando este aspecto, Duarte (2004) indica Estes responderam a um livreto compos-
que a falta de envolvimento, interesse e to pelos seguintes instrumentos: Questio-
vontade por parte dos jovens refletem nário de Valores Básicos (QVB – Gouveia,
seu descompromisso total frente às ativi- 1998; 2003), Escala de Atitudes Frente
dades da escola, atuando como fator de à Escola (Cheng & Chan, 2003; Fonseca,
risco. Por outro lado, algumas pesquisas 2008), e por fim, questões demográficas
têm mostrado que as atitudes positivas (sexo, idade, tipo de escola). Inicialmente,
dos estudantes em relação à escola com- entrou-se em contato com as escolas, pro-
preendem um fator de proteção quanto curando obter a autorização para coletar
à delinqüência e ao uso de substâncias os dados. Em seguida, enviou-se o Termo
proibidas (Cheng & Chan, 2003). Deste de Consentimento Livre e Esclarecido para
modo, cogita-se que as atitudes apresen- os pais ou responsáveis assinarem, permi-
tadas pelos jovens frente à escola podem tindo a participação dos estudantes. Após
influenciar em seu engajamento na esco- essa etapa, os participantes responderam
la, bem como o seu desempenho acadê- ao instrumento individualmente, porém
mico. Mas a que fatores estariam associa- em ambiente coletivo de sala de aula, e
das essas atitudes? Um desses fatores, de em média, 30 minutos foram suficientes
acordo com Fonsêca (2008), poderiam ser para concluírem o preenchimento do

289
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

questionário. Para a análise de dados foi tre os valores de existência e as atitudes


utilizado o Pacote Estatístico para Ciên- frente à escola pode ser compreendida já
cias Sociais (PASW), versão 19. Foi realiza- que as pessoas que adotam tais valores
da uma análise de correlação de Pearson são pessoas preocupadas em assegurar
entre as seis subfunções valorativas e as sua sobrevivência, planejando o futuro
atitudes frente a escola a fim de verificar em busca de estabilidade e a escola é tida
se existe relação entre tais variáveis. Os como um ambiente onde se adquirem
resultados indicaram que, com exceção ferramentas (sociais e acadêmicas) para
da subfunção experimentação (r = -0,00, assegurar o futuro estável. Por fim, obser-
p < 0,987), as demais apresentaram cor- vou-se a relação entre as atitudes frente
relação direta e significativa com as atitu- à escola e os valores de realização ocorre
des frente à escola, a saber: normativa (r em razão das pessoas que adotam tais va-
= 0,37, p < 0,001), suprapessoal (r = 0,37, lores serem orientadas ao êxito, enfatiza-
p < 0,001), interativa (r = 0,32, p < 0,001), rem a busca pela eficiência sendo capaz
existência (r = 0,31, p < 0,001) e realização de alcançar metas, terem um ideal de re-
(r = 0,17, p < 0,001). Diversos estudos têm alização e orientarem suas vidas nesta di-
corroborado a adequação psicométrica reção. Tais valores estão em consonância
do modelo proposto por Gouveia (1998; a um dos principais objetivo da educação
2003) para o entendimento dos valores que é o bom desempenho, a aquisição
humanos, destacando-se sua capacidade de conhecimentos e habilidades pesso-
para explicar diversos comportamentos ais e sociais, aspectos necessários para
e atitudes sociais (Chaves, 2006; Pimen- progressão satisfatória na vida acadêmi-
tel, 2004; Santos, 2008). Como é possível ca, social e profissional no futuro. Deste
observar nos achados deste estudo, os modo, considera-se de suma importância
valores normativos estão relacionados às ampliar os conhecimentos acerca das di-
atitudes frente à escola, pois estes refle- ferentes formas de influências sofridas
tem, de algum modo, o quanto os jovens pelos jovens acerca dos valores humanos,
aderem ou não às normas existentes na e como estes podem vir a interferir nas
escola, como se integrar, ajustar e engajar atitudes frente à escola para que a lacuna
ao contexto escolar (Fonsêca, 2008). No encontrada no âmbito escolar seja preen-
que diz respeito à relação entre a subfun- chida. Uma vez que, diversos estudos têm
ção suprapessoal e as atitudes em ques- demonstrado que altos níveis de engaja-
tão, justifica-se uma vez que os tais valo- mento escolar e atitudes positivas frente
res refletem a busca pelo conhecimento, à escola estão associados à um melhor
por aprender coisas novas e interessantes desempenho acadêmico e a uma redução
(Gouveia, Fischer & cols., 2008). Além na probabilidade de abandono escolar
destas relações, observou-se ainda que (Finn & Rock, 1997; Fredricks, Blumenfeld
a subfunção interativa também apresen- & Paris, 2004).
tou uma correlação com as atitudes fren-
te à escola, o que faz todo sentido, uma Palavras-chave: Engajamento Escolar; Valores
vez que a escola é um ambiente onde a Humanos; Atitudes.
interação é de fundamental importância
(Gouveia, 2009). Ademais a relação en-

290
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-803 - CULTURA DA PAZ E anti-sociais. A Cultura da Paz é um contexto


PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA importante para a internalização e práti-
SEGUNDO PROFESSORES DE ESCOLA ca dos direitos humanos. A promoção da
PÚBLICA DE BRASÍLIA Cultura da Paz em nível mundial tem sido
Bruno Campos - UnB bastante mencionada pela Organização
Lorena Leite - UnB das Nações Unidas, tanto é que a revisão
Alia Barrios - UnB feita em 1989 da Declaração Universal dos
Angela Branco - UnB Direitos da Criança de 1959 foi bastante
influenciada pelo tratado que estabelece
Crenças e valores são frequentemente ci- a necessidade da Cultura da Paz. Portanto,
tados pelos educadores como importantes emerge no âmbito das ciências psicológicas
objetivos da educação formal. Entretanto, a necessidade de se compreender os pro-
a dimensão motivacional, constituída por cessos de internalização de valores como
valores e crenças, não têm sido discutida pré-requisito para a co-construção da paz,
no processo de construção dos currículos uma vez que “co-construir a paz significa
escolares e das metodologias pedagógi- analisar e favorecer as configurações do sis-
cas. Valores ligados a competição e ao in- tema motivacional que sejam compatíveis
dividualismo estão presentes nas salas de com as crenças e valores que caracterizam
aula das escolas brasileiras e estas têm o que denominamos paz” (Branco, 2009).
enfrentado sérias dificuldades em relação Nesse sentido, o presente trabalho teve
às interações agressivas que cada vez mais como objetivo a construção de dados que
se observa no cotidiano escolar. Esses va- permitissem analisar e refletir criticamente
lores competitivos e individualistas, de for- sobre a questão da ontogênese dos valores
ma oculta ou explícita, se fazem presentes humanos, e a possibilidade de contribuir
especialmente nas práticas pedagógicas e concretamente para a promoção de valo-
nas interações sociais que se estabelecem res humanistas, de orientação cooperativa
nas salas de aula. Nos projetos para a edu- e solidária, no contexto escolar, de acordo
cação básica no Brasil existe como objetivo com a Cultura de Paz. Para tanto, foram en-
o desenvolvimento da independência e da trevistados doze professores de quarto ano
autonomia dos alunos, mas não se explicita de escolas públicas do Distrito Federal acer-
a necessidade de que esta autonomia seja ca de sua opinião sobre a socialização de
associada à responsabilidade e a moralida- seus alunos, os valores humanos, o papel
de. Este tipo de socialização, segundo Ro- da educação, o papel do conflito, o desen-
goff (2005), tende a influenciar o individuo volvimento da criança, e sobre estratégias
para uma atuação individualista, orientada para a construção da Cultura da Paz, assim
quase que exclusivamente por interesses como dificuldades e empecilhos para esta
pessoais em detrimento dos interesses co- construção. A realização de projetos para
letivos. E é assim que a competição e o in- a construção de Cultura de Paz na escola
dividualismo têm sido cada vez mais obser- foi considerada importante ou necessária
vados em várias pesquisas e, segundo au- pelos entrevistados, sendo que a maioria
tores como Staub (2002) e Branco (2003), deles afirmou ter disposição para partici-
práticas e valores desta natureza estão sig- par como voluntário de projetos deste tipo.
nificativamente relacionados a motivações Diversos fatores foram apontados como

291
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

empecilhos para a Construção da Cultu- LT03-816 - VIOLÊNCIA NA ESCOLA E


ra de Paz, sendo que a grande dificuldade CULTURA DA PAZ: COM A PALAVRA AS
de comunicação entre a escola e a família CRIANÇAS
foi considerada central. Houve menção às Bruno Campos - UnB
divergências entre família e escola quanto Lorena Leite - UnB
aos papeis e objetivos específicos de cada Alia Barrios - UnB
contexto, e foram discutidos fatores como Angela Branco - UnB
desigualdade social, violência urbana e in-
fluência negativa da mídia sobre as crian- Considerando que todo cientista tem
ças. Os professores apresentaram vários o compromisso de favorecer a saúde e
tipos de definição de Paz, mas quase todas bem-estar dos indivíduos e da sociedade,
eram definições ingênuas e individualistas. o objetivo do presente trabalho consistiu
Entre elas encontramos definições como em construir dados que permitam ana-
a “ Paz é a ausência de conflito” ;“é uma lisar e refletir criticamente a questão da
característica interna”; “é tranqüilidade” violência nas escolas na percepção e ava-
interna ou externa, “é ligada ao convívio liação de crianças do quinto ano do ensi-
harmonioso” e assim por diante. Para a no fundamental, bem como analisar suas
grande maioria dos professores não exis- sugestões acerca do que pode ser feito
tem conflitos desejáveis, os conflitos são para se promover uma cultura de paz
sempre negativos; entretanto alguns, es- no ambiente escola. Nosso objetivo foi
pecialmente quando solicitados a se posi- construir subsídios para contribuir com o
cionar se “existem conflitos desejáveis?”, desenvolvimento de valores humanistas,
diziam que sim e que estes poderiam gerar de orientação cooperativa e solidária, no
crescimento pessoal. Como sugestões e contexto escolar. Para o cumprimento de
passos concretos para a construção da Cul- tal objetivo e como guia teórico-metodo-
tura da Paz, os entrevistados citaram a pro- lógico para a realização do trabalho, parti-
moção de palestras (tanto para pais quanto mos de uma perspectiva sociocultural de
professores), dramatizações, aulas voltadas caráter construtivista cujo foco se dá na
para o tema e discussão de filmes. Foram qualidade semiótica do desenvolvimen-
relatadas e analisadas histórias envolvendo to humano, com ênfase na linguagem e
“alunos problema”, casos de professores na comunicação não verbal das pessoas.
agredidos por alunos, brigas entre alunos e Ainda são poucos os estudos encontrados
bullying. Verificando o grau de desconheci- na literatura que produzem dados na di-
mento dos professores quanto a questões reção da reflexão acerca da origem e do
de socialização e internalização de valores, desenvolvimento dos valores humanos,
o estudo discute a grande necessidade de e em como estes são culturalmente dis-
orientar os educadores para que possam seminados. Segundo Juberg (2000), as
bem conceituar, compreender e saber pessoas são agrupadas de acordo com
posicionar-se na prática de forma a atuar características que, conforme a ideologia
como promotores de uma Cultura de Paz. dominante, são julgadas como boas ou
ruins, positivas ou negativas. Tais julga-
Palavras-chave: cultura da paz; violência; mentos constituem a base de preconcei-
escola pública tos geradores de violência, pois, segundo

292
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a autora, esses estimulam a discrimina- aula; a questão do bullying nas interações


ção social, legitimando a agressividade e em sala de aula e fora dela; E a criação
atitudes segregacionistas. Seguindo essa de atividades e práticas específicas de na-
lógica, os indivíduos passam a serem tureza cooperativa e sugestões diversas
percebidos e tratados em função de es- para a construção da paz e prevenção do
tereótipos e preconceitos associados ao bullying no contexto escolar. Realizados
grupo a que pertencem. Essa tendência, os grupos, observou-se resultados muito
cada vez mais freqüente nos contextos interessantes. Na escola A, as crianças
educacionais atuais, origina o fenôme- revelaram que, para elas, as caracterís-
no do bullying, definido pela execução ticas que definiriam uma vítima de um
de um mal não percebido, causado por agressor seriam diversos atributos físicos,
ações pequenas, mas que são repetidas inclusive antagônicos (como ser baixo ou
frequentemente (Staub, 2003). As ações alto, gordo ou magro), dado esse que con-
violentas são causadas, na maior parte firma a esterotipia criada com padrões
das vezes, psicologicamente produzidas culturais de beleza idealizados no grupo a
por frustrações e aprendizagem de for- que se pertence. Na escola B isso se con-
mas agressivas de resolução de conflito, e firmou, pois um dos sujeitos participan-
múltiplas são as motivações para compor- tes do grupo, que era negro, disse que os
tamentos pró-sociais como o bullying. A outros gostavam de chamá-lo de ‘lacraia’,
metodologia utilizada para a investigação e que ele não gostava disso. Ninguém ex-
das percepções e avaliações das crianças plicou o porquê desse apelido, mas uma
quanto ao bullying e a cultura da paz qua- suposição que podemos fazer é que este
litativa, uma vez que nosso objetivo foi menino tem uma aparência não muito
identificar e analisar os processos de sig- compatível com os padrões de beleza vi-
nificação no contexto da diversidade dos gentes em nossa sociedade. Nessa escola
participantes da pesquisa, que gerou uma evidenciou-se, também, a presença gene-
riqueza de informações ao longo do pro- ralizada do bullying, pois a discussão do
cesso de construção interativa dos dados. tema surgiu antes mesmo do pesquisador
Nesta pesquisa realizaram-se dois grupos lançar a pergunta sobre bullying para ser
focais em duas escolas públicas do Distri- discutida entre as crianças após a exibi-
to Federal (A e B) com crianças de 5º ano, ção do vídeo de um menino que contava
com idade entre 10 e 11 anos de idade, a sua história de vítima de bullying. Além
o grupo A com a participação de quinze dos resultados encontrados que corrobo-
alunos (nove meninos e seis meninas), ram as questões levantadas e discutidas
e o grupo B com a participação de onze na literatura, foi possível verificar a am-
(sete meninas e quatro meninos). Eles pla diversidade de motivações e contex-
aconteceram de acordo com um roteiro tos geradores de bullying, que precisam
semiestruturado, contendo perguntas ser melhores investigados. Tudo indica
que abordavam a reflexão conjunta sobre que um aspecto importante seja a dinâ-
as experiências e avaliação das dificulda- mica das interações e relações que ocor-
des de interação e relacionamento entre rem em contextos competitivos, como a
as crianças, com os professores e entre as escola. A internalização de valores e pa-
pessoas em geral no contexto de sala de drões de agressão e violência como forma

293
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de obter sucesso e popularidade entre passando por profissionais liberais até


os colegas, o que eleva a autoestima do o domínio do Estado, presente na con-
“ganhador”, acaba gerando situações de temporaneidade. A histórica da infância
grande sofrimento para todos, pois nem no Brasil (Pinheiro, 2006) é marcada por
sempre existe apenas uma vítima envolvi- abandono, crueldade, violência. Na Co-
da na situação: como observamos no gru- lônia, já existia o abandono de crianças
po B, quase todos desqualificam-se uns índias, brancas e negras (Leite, 1997).
aos outros. Aprender a resolver conflitos Priore (1996 e 2000) e Marcilio (1997)
de forma pacífica, por exemplo, não faz explicitam práticas de abandono e vio-
parte do cotidiano dessas crianças. Isto lências físicas, morais e sexuais no Brasil,
tudo confirma a necessidade crescente por longo período. No século XIX, emer-
de se realizar ações preventivas tanto no giram tentativas filantrópicas de cuidados
contexto educacional, como em outros à infância abandonada e, no século XX,
surgiram instituições para crianças den-
setores da sociedade. Afinal, a capacida-
tro das exigências produzidas no período
de de resolver conflitos de forma pacífica
(Rizzinni e RizzinniI, 1990): compuseram
e a tolerância exige o desenvolvimento
um sistema de proteção, solidificado na
de estratégias específicas para a promo-
era Vargas, presente até os anos 60; os
ção de práticas, crenças e valores para a
anos 70 configuraram práticas compensa-
construção da paz articulando crianças e tórias de educar crianças asiladas (Nunes,
adultos, família, escola e comunidade. 2009). Pela falência do sistema de acolhi-
mento das crianças abandonadas, o Esta-
Palavras-chave: cultura da paz, violência na do passou a ser cobrado de prover-lhes
escola, escola pública assistência (Rizzinni e RizzinniI, 2004). O
Serviço de Atenção ao Menor, criado du-
rante o Estado Novo, faliu quase de ime-
CO 48 - LT03 diato, surgindo a Fundação Nacional do
Abrigamento e Adoção Bem Estar do Menor, prometendo uma
prática de atenção social a menores em
vias de marginalização ou marginaliza-
dos. A partir dos anos 70, com denúncias
LT03-764 - SITUAÇÃO DE ABRIGAMENTO
regulares na imprensa, principalmente
PARA CRIANÇAS, POLÍTICAS PÚBLICAS E
após o golpe militar e o fracasso do mi-
SOFRIMENTO PSÍQUICO
lagre econômico, voltou a se pensar esta
Ana Maria Monte Coelho Frota - UFC problemática (Passetti, 1996). O Ano In-
anafrota@ufc.br ternacional da Criança, marca o início do
Ângela de Alencar Araripe Pinheiro - UFC enfrentamento da crueldade com o aten-
a3pinheiro@gmail.com dimento à criança abandonada e o abri-
gamento é situação extraordinária, provi-
No Brasil, a política de atendimento à sória e excepcional. O Plano Nacional de
infância e à juventude, em situação de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
abandono, vem sofrendo transformações de Crianças e Adolescentes à Convivên-
profundas: do gerenciamento da Igreja, cia Familiar e Comunitária –PNPPDDCA-

294
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CFC- (2006) explicita a provisoriedade do com a Educação será efetivado mediante


abrigamento, e a necessária convivência a garantia de... IV: atendimento em cre-
da criança com a família e comunidade. che e pré-escola às crianças de zero a seis
Contudo, abrigos continuam crescen- anos. Art. 227, Parágrafo 6º. – Os filhos,
do em número e quantidade de abriga- havidos ou não da relação do casamento,
dos. Segundo Arpini (2003), Siqueira, ou por adoção, terão os mesmos direi-
Dell’aglio (2006), Yunes, Miranda, Cuello tos e qualificações, proibidas quaisquer
(2004), os abrigos somente conseguem designações discriminatórias relativas à
atender necessidades de sobrevivência filiação. A Doutrina da Proteção Ingeral e
física, deixando brechas para sofrimentos o PNPPDDCACFC igualmente contribuem
psíquicos, aproximando-se da conceitua- para colocar o abrigamento no campo da
ção de instituição total (Goffman, 1996). cidadania, fortalecendo a concepção de
Políticas Públicas são abordagem recen- abrigamento como direito e situação. As
te (anos 1990) entre psicólogos, e mais reflexões levam-nos a um questionamen-
ainda sua execução e formulação, como to: como garantir o usufruto do direito à
campo de atuação (Bock, 2003; Conti- convivência familiar e comunitária para
ni, 2002; Gonçalves, 2003; Yamamoto, crianças que vivem mais permanência no
2003). A inclusão das políticas públicas abrigo do que provisoriedade? Parece-
no fazer psicológico vincula-se ao reco- -nos quase impossível pensar nesta ga-
nhecimento do ser humano como cons- rantia. Anunciamos como possibilidade
tituidor e constituído pelo contexto; aos que os abrigos sejam construídos como
anseios inolvidáveis da população, des- instituições de pequeno porte, que pos-
tituída de bens e serviços fundamentais, sam construir laços afetivos e de confian-
com implicações em sua subjetivação. ça, e vínculos assemelhados aos dos di-
Campo tenso e contraditório, as políticas ferentes agrupamentos familiares. Neces-
públicas no País são ainda reconhecidas sário atentar para a inserção da criança
mais como benemerências do que como abrigada nos diferentes espaços sociais
instrumentos de universalização de di- da comunidade. Utópico? Certamente, e
reitos humanos. Focalizando práticas de norte para a transformação da sociedade
abrigamento, vale refletir: com prevalên- e do atendimento de direitos da criança.
cia no campo da caridade, têm sido exe-
cutadas prioritariamente por instituições Palavras-chave: Infância, Abrigamento,
religiosas/humanitárias. Concepções dis- Políticas Públicas
criminatórias para crianças tidas fora do
casamento contribuíram para manter a
prevalência de práticas assistencialistas,
repercutindo no processo de subjetiva-
ção (Pinheiro, 2006); CF e ECA trazem
inovações que se contrapõem às práticas
referidas, requerendo reordenamentos
institucionais. Lembremos princípios le-
gais que colocam o abrigamento como
direito: CF, Art. 208 – O dever do Estado

295
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-960 - VERIFICAÇÃO DE UM cidade do observador simpatizar com o


MODELO MEDIACIONAL ENTRE A outro e se inclinar a ajudá-lo e TP como a
EMPATIA E O PERDÃO INTERPESSOAL EM habilidade cognitiva de tomar a perspec-
RELAÇÃO A UM OFENSOR. tiva do outro e entende-lo(a) a partir do
Júlio Rique Neto - UFPB contexto no qual ele(a) está inserido(a).
julio.rique@uol.com.br Rique e cols. (2010) testaram um modelo
Nilton Formiga - UFPB no qual a CE é associada ao grau da má-
nsformiga@yahoo.com goa e a TP é associada ao grau do perdão,
Felipe Fernandes de Medeiros - UFPB porém, tal modelo não permitiu avaliar a
felipefm1@hotmail.com existência de uma mediação entre essas
variáveis e o perdão interpessoal expli-
Financiamento: CNPq
cando o grau da mágoa em relação a um
ofensor. Este trabalho propõe verificar
Este trabalho verificou um modelo de esta mediação. Participaram deste estu-
mediação entre a Consideração Empáti- do, 201 jovens do sexo masculino e do
ca (CE) e a Tomada de Perspectiva (TP) sexo feminino, estudantes secundaris-
para o perdão interpessoal. Buscou-se tas e universitários com media de idade
saber se a CE e a TP influencia na redu- de 19 anos (DP = 2,06) do município de
ção da mágoa em relação a um ofensor João Pessoa – PB. Os sujeitos respon-
facilitando o perdão. O tema do perdão deram as seguintes escalas: a escala do
é presente na ciência, senso comum e perdão – EFI (Enright Forgiveness Inven-
conhecimento religioso. Na psicologia, tory, Enright & Rique, 2000), uma escala
autores têm se interessado em verificar objetiva composta inicialmente por uma
as variáveis preditoras do perdão visan- Folha de Rosto que coleta informações
do uma melhor qualidade nas relações sobre a mágoa e uma breve descrição da
humanas. De acordo com Enright, Free- ofensa, depois um Inventário de 60 itens
dman e Rique (1998) o perdão interpes- divididos em três subescalas de 20 itens
soal é uma atitude moral na qual uma cada (10 positivos e 10 negativos) sobre
pessoa considera abdicar do direito ao afetos, comportamentos e julgamentos,
ressentimento, julgamentos negativos, e é respondido em uma escala de concor-
comportamentos negativos para com ou- dância com seis pontos (1 = discordo e
tra pessoa que a ofendeu injustamente. 6 = concordo) e, finalmente, o Item do
Bem como, o perdão tem a função de fo- Perdão, que corresponde a uma questão
mentar na pessoa a compaixão para com objetiva: "Por favor, indique o quanto que
a pessoa que ofendeu. Para o perdão, você perdoou a pessoa que você avaliou
faz-se necessário um re-enquadramento na Escala EFI". Essa questão é respondida
cognitivo (ou reframing) da situação, ou em uma escala de cinco pontos (1 = não
seja, a vítima reelabora o evento sob uma perdoei e 5 = perdoei completamente).
nova perspectiva. Neste processo, é es- Administrou-se também uma adaptação
perado que a vítima desenvolva a CE e TP das escalas de CE e TP da EMRI (Davis,
do ofensor como variáveis facilitadoras 1983, adaptada por Ribeiro, Koller & Ca-
do perdão (Enright & Fitzgibbons, 2000). mino, 2001). Foram feitas adaptações
Davis (1983) definiu a CE como a capa- semânticas nos itens destas escalas para

296
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que os participantes respondessem pen- mostraram indicadores de ajuste que ga-


sando no ofensor que foi avaliado na es- rantiram a adequabilidade de sua estru-
cala EFI. Após as modificações, os itens tura (c2/gl = 1,12; RMR = 0,05; GFI = 0,96;
adaptados foram aleatoriamente distri- AGFI = 0,93; CFI = 1,00; TLI = 0,99; RMSEA
buídos e medidos em uma única escala = 0,02, CAIC = 365,92 e ECVI = 0,80) ob-
objetiva de cinco pontos (1 = baixo e 5 = servando uma associação positiva entre a
alto) com 14 itens no total. Por último, foi TP e CE (l = 0,77). A EFI também mostrou
utilizada uma escala sócio demográfica índice de confiabilidade interna Alfa sa-
para informações sobre idade, sexo etc. tisfatório de 0,97 na amostra do presente
A ordem das escalas foi a seguinte: pri- estudo. Em seguida, dois modelos foram
meiramente a escala sócio demográfica, testados separadamente. No primeiro
em seguida a EFI com o item do perdão e, modelo, os resultados mostraram que a
por último, a escala de CE e TP. O estudo CE apresentou um escore preditivo po-
atendeu as recomendações éticas da re- sitivo com a mágoa, porém, não signifi-
solução 196/96 do CONEP. Os estudantes cativo. Por outro lado, a CE influenciou
foram convidados verbalmente a partici- positivamente o Perdão que, como predi-
parem do estudo e a administração dos to, influenciou negativamente, a Mágoa
questionários ocorreu em sala de aula, (z = 12,47; p < 0,001) explicando 33%
com cada participante respondendo indi- da amostra na relação entre essas vari-
vidualmente todas as medidas. Para tes- áveis. No segundo modelo, verificou-se
tar o efeito de mediação da variável in- que a TP influenciou significativamente
dependente - VI (CE e TP) na variável me- de forma negativa a Mágoa e positiva-
diadora -VMe (o perdão) sobre a variável mente o Perdão, que por sua vez expli-
dependente – VD (a mágoa), efetuou-se cou negativamente, a mágoa (z = 12,47;
o teste de Sobel. Este teste tem como p < 0,001) 32% da amostra no modelo.
função avaliar a VMe como preditora Nesse sentido, encontrou-se tanto uma
da VD e como a VI deve ser preditora da relação direta da CE e TP sobre a mágoa
VMe. Assim, na presença de ambas – VI como uma relação mediada pela variável
e VMe – uma relação significativa prévia do perdão, influenciando negativamente
entre a VI e a VD decresce em magnitu- a mágoa. Considerando esses resultados,
de, demonstrando o efeito da mediação confirmou-se o modelo de mediação do
(Baron & Kenny, 1986; MacKinnon, Warsi perdão sobre a mágoa. Uma vez encon-
& ,1995; Sobel, 1982). Este cálculo é ca- tradas maiores magnitudes da CE e TP no
racterizado por uma relação que altera perdão e na mágoa, exponencialmente
para mais ou para menos a influência da maior será o impacto do grau de perdão
VI sobre a VD. Sendo assim, modelo pro- sobre a intensidade da mágoa.
posto foi considerar a CE e a TP como VIs
influenciando o perdão. O perdão passou Palavras-chave: perdão interpessoal,
então a ser uma variável de mediação da consideração empática, tomada de
VD (intensidade da mágoa). Para verificar perspectiva, mágoa
o modelo proposto, inicialmente buscou- Contato: Júlio Rique Neto, UFPB,
-se avaliar a validade da escala de CE e julioriqueneto@gmail.com
TP em relação ao ofensor. Os resultados

297
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-1024 - CASAS DE ACOLHIMENTO E relações de respeito mútuo (cooperação)


AS RELAÇÕES DE RESPEITO EXISTENTES promove a autonomia. Para as realidades
EM SUA ROTINA morais se constituírem é relevante que
Carla Andressa Placido Ribeiro - UNESP os indivíduos estabeleçam relações so-
carlaandressap@yahoo.com.br ciais, pois, é nessas relações entre os in-
Adrián Oscar Dongo Montoya - UNESP divíduos que se estabelecem as normas.
Patrícia Unger Raphael Bataglia - UNESP Não há, portanto, moral sem educação
moral. "[...] não há uma única moral e
Financiamento: FAPESP
nem haverá tantos tipos de reações mo-
rais quanto as formas de relações sociais
Na Lei nº 8.069, de julho de 1990 no ou interindividuais que ocorrem entre a
Estatuto da Criança e do Adolescente a criança e seu meio ambiente" (PIAGET,
criança é vista como pessoa em desen- 1930/1996, p. 3). Na casa de acolhimen-
volvimento e goza de todos os direitos to pesquisada, apesar dos acolhidos se-
fundamentais intrínsecos ao ser huma- rem assistidos em suas necessidades bá-
no assegurando-lhe o desenvolvimento sicas, as ações educativas junto às crian-
físico, mental, moral, espiritual e social. ças e adolescentes se fundam, sobretu-
No caso das crianças e adolescentes insti- do, em relações de respeito unilateral à
tucionalizadas por razão de maus tratos, autoridade e às regras estabelecidas, as
abandono ou por serem órfãs, seus direi- quais não promovem a responsabilidade
tos são preservados pelo Estado sendo interior e a vida cidadã. O cumprimento
garantido um abrigo, seja em famílias das regras nem sempre solicita, por parte
substitutas ou em casas de acolhimento as crianças e adolescentes, a necessária
(abrigos provisórios). Com o objetivo de tomada de consciência das suas ações.
entender como as relações estabeleci- E sabemos que a participação na elabo-
das nas rotinas dessas casas contribuem ração e exercício consciente das regras
para o desenvolvimento moral de seus é absolutamente necessária para o seu
acolhidos, pesquisamos uma casa de cumprimento responsável. “As crianças
acolhimento na cidade de Marília-SP, e são heterônomas quando fazem um uso
observamos qual o tipo de relação (res- imitativo das regras e quando as conside-
peito unilateral ou respeito mútuo) que ram sagradas, pois vindas da tradição e
predomina em sua rotina e consequente- imutáveis... As crianças são autônomas
mente qual o tipo de educação moral es- quando fazem um uso racional e social
tabelecida, pois, segundo Piaget (1994), das regras, e quando as consideram pro-
a pressão exercida pelo adulto à alma da dutos do e para o grupo” (MENIN, 1996,
criança acarretará resultados diferentes p.46). Observamos que o processo de
do que a livre cooperação entre crianças tomada de consciência na construção
e, dependendo de como ocorre a edu- de regras também não é uma prática
cação moral moldará as consciências e junto aos funcionários da instituição. As
determinará comportamentos de modos crianças pesquisadas não têm um espaço
diferentes, ou seja, a relação educativa social e coletivo onde possam agir e ex-
de caráter unilateral (coação adulta) re- perienciar valores de respeito mútuo. As-
sulta na heteronomia, contrariamente as sim, as relações entre crianças, via de re-

298
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gra, não se pautam pelo respeito mútuo ver o desenvolvimento moral dos acolhi-
e pelos laços de solidariedade, pelo con- dos. A proposta foi aceita pela instituição
trário, são relações de competição que se e encontra-se em sua etapa final no que
sobrepõem a essas relações. Suas noções diz ao trabalho de intervenção junto aos
de justiça se fundamentam no respeito à funcionários (reuniões que promova a re-
autoridade adulta e não em laços de co- flexão crítica das condutas entre adultos
operação entre iguais, de solidariedade e para com os acolhidos) e em andamen-
e respeito mútuo. Esses dados mostram to no trabalho de intervenção junto aos
que as relações que ocorrem no interior acolhidos. Podemos assim, expor os re-
da instituição (entre adultos e acolhidos sultados preliminares divididos em dois
e entre os próprios acolhidos) não esta- grupos: junto aos funcionários, e, junto
riam promovendo a autonomia moral e/ aos acolhidos. No primeiro grupo alguns
ou não estariam conseguindo alterar os funcionários já fazem reflexões críticas
efeitos das práticas educativas vivencia- a respeito de suas práticas colocando-
das com suas famílias e noutros centros -se no processo de educação moral das
educativos. Se para Piaget (1994) o de- crianças e adolescentes e nos problemas
senvolvimento da noção de justiça de um da instituição. Também apresentam inte-
indivíduo se estabelece, principalmente, resse em adquirirem novas posturas que
em função das relações estabelecidas em auxiliem no bom desempenho de seu
seu meio social, podemos afirmar que é trabalho enquanto educador, no entanto
fundamental o papel da educação moral ainda há os que não se enxergam como
motivada na autonomia e na reciprocida- tal e apresentam resistência em se colo-
de. “O alcance educativo do respeito mú- car nos problemas da instituição. Muito
tuo e dos métodos baseados na organiza- ainda devemos percorrer para a consti-
ção social espontânea das crianças entre tuição de um ambiente favorável ao de-
si é precisamente o de possibilitar-lhes senvolvimento moral, mas julgamos que
que elaborem uma disciplina, cuja neces- o principal que é a visão da necessidade
sidade é descoberta na própria ação, ao desse ambiente já tem alcançado grande
invés de ser recebida inteiramente pron- parte dos funcionários e o interesse de
ta antes que possa ser compreendida” alguns em se orientarem para estabele-
(PIAGET, 1973, p.77). Com isso, propo- cerem com as crianças e adolescentes
mos à instituição uma pesquisa de inter- uma relação de respeito mútuo. No se-
venção com o objetivo de constituir junto gundo grupo o trabalho tem sido bem
aos funcionários da casa e acolhidos um minucioso com o propósito dos acolhidos
ambiente favorável ao desenvolvimento perceberem qual o caráter que a regra
moral das crianças e adolescentes, esta- apresenta em sua convivência na institui-
belecendo em suas relações rotineiras o ção (preservar os princípios de respeito,
respeito mútuo. Assim, podemos refle- justiça, igualdade... e de sua reciprocida-
tir se um ambiente favorável à tomada de) e de perceberem que a regra em si
de consciência das regras, baseado no não é imutável, mas seguindo um princí-
princípio do respeito mútuo e na relação pio moral válido, ela pode ser modificada
de cooperação entre todos os membros e constituída pelo grupo. Para isso, traba-
dessa instituição adultos, possa promo- lhamos com brincadeiras, contos e con-

299
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fecções de materiais promovendo identi- crianças, ao invés de se proporcionar


ficação com o grupo e a necessidade de uma reestruturação da família de origem
respeito mútuo e de cooperação para se para que ela exerça seu direito de viver
estabelecer um bom convívio, dentro e com seus filhos. Sendo assim, refletimos
fora da instituição. sobre a importância de um trabalho cujo
foco inclua o desenvolvimento da auto-
Palavras-chave: casa de acolhimento; nomia desses sujeitos. Baseando-se na
educação moral; relações de respeito experiência de trabalho no projeto de ex-
Contato: Carla Andressa Placido Ribeiro, tensão “Os afetos em cena: a brincadeira
UNESP, carlaandressap@yahoo.com.br nas relações em um abrigo para crianças
e adolescentes”, desenvolvido por alunos
de Psicologia da Universidade de Brasília,
LT04-1437 - PROPORCIONANDO vimos pensando e buscando desenvolver
RELAÇÕES QUE FAVORECEM A essa questão. Ao tratar da autonomia, é
CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA importante ser colocado que acredita-
DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE mos nesse processo como uma constru-
ABRIGAMENTO ção, como algo que se constitui a partir
Arytanna Zuitá Barbosa Ferreira - UnB das relações interpessoais desenvolvidas
aryryyy@gmail.com em parceria. Acreditamos, também, que
Lorena de Abreu Menezes Araujo - UnB para que se comece a pensar na constru-
nena-menezes@hotmail.com ção de tais relações é preciso adotar um
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB olhar diferenciado sobre a criança, um
rpedroza@unb.br olhar que em si mesmo traga a ideia de
que é possível que esse sujeito seja au-
A realidade das relações interpessoais no tônomo. Um exemplo disso está no ques-
contexto de abrigamento, no Brasil, tem tionamento de Rogers que, ao pensar
sido evidenciada por certo fatalismo da em sua relação com o outro, questiona
impossibilidade de crescimento de re- “como posso proporcionar uma relação
cursos de personalidade que permitam que essa pessoa possa utilizar para seu
a construção da autonomia. Defendemos próprio crescimento pessoal?” (Rogers,
que, apesar desse contexto deparar-se 2001, p.36). Diferentemente disso, o que
com regras rígidas, por exemplo, com os encontramos nos abrigos é, muitas ve-
horários predeterminados e fixos para zes, um olhar assistencialista sobre o ou-
todas as atividades do dia a dia e pouco tro, que, ao se questionar, por exemplo,
espaço para a criança exercer sua indivi- como seria possível mudar ou transfor-
dualidade, é possível criar condições fa- mar aquela pessoa, carrega uma percep-
voráveis ao desenvolvimento da pessoa ção que retira a possibilidade de movi-
como sujeito ativo e de direitos, deveres mento e protagonismo do sujeito. Segun-
e desejos. Entretanto, ainda prevalece do Foucault, conquista-se a autonomia a
a idéia de que a criança só pode se de- partir de uma libertação que ocorre pelo
senvolver por completo no seio de uma exercício individual e conjunto de práti-
família, de forma que a adoção apare- cas de liberdade. No entanto, deve-se en-
ce como única possibilidade para essas tender a construção de autonomia como

300
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mais que um processo de libertação, ou a oportunidade para a criança escolher,


um sinônimo de independência. Dentro experimentar, tentar, sonhar, ser plena-
dessa questão, podemos pensar, então, mente, mesmo em aspectos que normal-
em qual é a medida da liberdade dentro mente seriam reprimidos, como expe-
desse processo. De fato, a autonomia rimentar sentimentos de raiva, tristeza,
está estreitamente ligada ao conceito de angústia e até agressividade – sempre
liberdade; no entanto, tal liberdade não de forma mediada e responsável e den-
significa retirada de limites, pelo contrá- tro dos limites humanos éticos. Por meio
rio, como traz Paulo Freire: “a liberdade do brincar abre- se um espaço em que é
não se autentica sem o limite da autori- possível à criança exercer sua individu-
dade, mas o limite que a autoridade se alidade, sendo respeitada e escutada,
deve propor a si mesma, para propor ao sem censura, pois acreditamos que seu
jovem a liberdade, é um limite que ne- desenvolvimento, como um todo, deve
cessariamente não se explicita através de respeitar sua unicidade e individualidade
castigos” (Freire, 2001, p. 250). Partimos como ser humano. As relações com esses
do pressuposto que esse limite é consti- sujeitos são construídas buscando-se não
tuidor do sujeito e, portanto, necessário carregar olhares e atitudes comumente
para a diferenciação do eu psíquico. O au- pré-concebidas e determinantes, como
tor propõe, ainda, que seja alcançado um estereótipos de crianças em situação de
equilíbrio entre autoridade e liberdade, abrigamento como sendo agressivas ou
já que, quando esse equilíbrio se desfaz possuidoras de desenvolvimento cogni-
em favor da autoridade, nos deparamos tivo e motor inferiores; além disso, não
com uma realidade de autoritarismo; por há espaço para um olhar penoso, que
outro lado, quando se desfaz em favor pensamos ser extremamente nocivo para
da liberdade, tem- se um clima licencio- a constituição de qualquer indivíduo.
so, e, assim, a liberdade não é liberdade, Assumindo as ideias expostas, e tendo
e a autoridade se esvazia como tal. No como norteador de atuação profissional
trabalho desenvolvido pelo projeto de o respeito e a honestidade para o desen-
extensão citado anteriormente, busca-se volvimento de qualquer relação interpes-
manter esse equilíbrio e se acredita que, soal saudável, o objetivo deste trabalho
dessa forma, seja possível estabelecer as é refletir sobre as possibilidades de se
relações interpessoais favorecedoras à construir relações interpessoais diferen-
construção do processo de autonomia. ciadas que favoreçam o desenvolvimento
Referindo-se ainda a esse projeto, ao tra- da autonomia de crianças em situação de
balhar com a questão da autonomia, o abrigamento.
instrumento que se utiliza para construir
não só tais relações interpessoais, como Palavras-chave: Abrigamento;
também o espaço favorável para seu de- Desenvolvimento Infantil; Autonomia.
senvolvimento, é a brincadeira. Busca-se
proporcionar um espaço do brincar segu-
ro, em que a criança pode ser ela mes-
ma, pode ser diferente, ou simplesmente
pode ser. É um espaço em que é dada

301
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT07-1234 - PINTANDO E BORDANDO: autoras citaram estudos que comprova-


UMA REFLEXÃO ACERCA DA INFÂNCIA E vam que crianças em instituições apresen-
DA SITUAÇÃO DE ABRIGAMENTO taram atraso no desenvolvimento, exte-
Alyne Farias Moreira - CEUB riorizado pelo atraso na linguagem, pela
alynefariasmoreira@gmail.com dificuldade de memorização e pelo não
Bianca de Moraes Ávila - UnB reconhecimento de pessoas do convívio.
bdmavila@gmail.com Estudos atuais continuam atribuindo essa
Camila Moura Fé Maia - UnB identidade deficitária particular às crian-
mila.mfm@gmail.com ças de abrigo. Dell’Aglio e Hutz (2004), em
Lídia Furtado Oliveira - UnB pesquisa sobre depressão e desempenho
lidiafurtadoo@hotmail.com escolar em crianças institucionalizadas,
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB colocam que tais crianças possuem mé-
rpedroza@unb.br dias mais baixas relativas ao seu desem-
Thaís Polônio Ribeirinho - CEUB penho escolar e maior depressão quando
thais.polonio@gmail.com comparadas com as que vivem com suas
famílias. Percebe-se, portanto, que pes-
Um levantamento bibliográfico realizado quisas relacionadas a crianças em situa-
por Ayres, Coutinho, Sá & Albernaz (2010), ção de abrigamento, muitas vezes, se limi-
a respeito de crianças que se encontram tam a descrever as diferenças do contexto
em situação de abrigamento, aponta para que teriam como conseqüência déficits
uma delicada situação: a construção de de desenvolvimento cognitivo, afetivo e
uma identidade institucional, a “criança social. Esses estudos classificam tais crian-
de abrigo”. Há uma lógica determinista ças em uma identidade estática e focada
que atribui características psicológicas às nesses déficits (Ayres et al., 2010). As re-
crianças em decorrência dessa situação. presentações sobre a criança no abrigo
Afirma-se a vitimização da criança por es- possuem profunda relação com o proces-
tar vivendo longe de sua família, demar- so histórico-cultural de políticas assisten-
cando um lugar específico de segregação ciais à infância. Historicamente, os abrigos
em relação àquelas não abrigadas. Neste surgiram como instituições que acolhiam
estudo, buscamos fazer uma reflexão crí- tanto adolescentes em conflito com a lei,
tica sobre a identidade institucional que como aqueles que foram separados de
despersonaliza e dificulta a visão da crian- suas famílias por negligência, abandono
ça como sujeito ativo e em constante mu- ou maus tratos. Além disso, as caracterís-
dança com possibilidades de se desenvol- ticas negativas endossadas por concep-
ver em contextos adversos. Já em 1958, ções psicológicas estigmatizantes se ba-
Anna Freud e Burlingham, em estudo so- seiam em comparações entre percepções
bre crianças em situação de abrigamento, sobre as crianças que estão em abrigos e
notaram um atraso de seis meses na lin- as crianças que estão com suas famílias
guagem dessas crianças e atribuíram-no à (biológicas e nucleares). Ou seja, há uma
falta de contato com a mãe. Além disso, concepção de que o único espaço de de-
apontaram que as crianças parecem mais senvolvimento saudável possível é o seio
agressivas do que outras que vivem com familiar. Deve-se lembrar, entretanto, que
a família. Do ponto de vista cognitivo, as a família nuclear é uma construção sócio-

302
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

-histórica, como bem aponta Ariès (1978), trabalho de extensão realizado em uma
e não contém, per se, todas as condições instituição de abrigamento no entorno do
que viriam a caracterizar um ambiente Distrito Federal. Esse trabalho é um proje-
saudável. As crianças quando retiradas to de extensão do Instituto de Psicologia
do seu seio familiar, ao serem abrigadas, da Universidade de Brasília, denominado
entram em contato com uma nova orga- Pintando e Bordando: desenvolvimento de
nização de espaço e tempo e passam a crianças e adolescentes em abrigos. Tem
conviver com novas pessoas, normas e por objetivo a criação de um espaço dife-
hábitos. Essas mudanças súbitas podem renciado de relações interpessoais, lazer
causar estranhamentos devido às origens, e comunicação. Utiliza-se a brincadeira
histórias, angústias e dificuldades tão di- como instrumento que favorece essas
versas de cada um. Sendo assim, reações relações, possibilitando o desenvolvimen-
vistas como de agressividade, de depres- to de recursos de personalidade como a
são e déficits podem aparecer em situa- criatividade e a autonomia. Por meio do
ções de abrigamento. No entanto, não brincar, as extensionistas criam um meio
são características inerentes das crianças, ativo de desenvolvimento afetivo e cog-
e sim expressões dos conflitos vividos. nitivo, em que transforma a criança e é
Apontamos, portanto, que a visão estáti- por ela transformado. Isso só é possível
ca desse processo apenas estigmatiza as a partir da disposição das extensionistas
crianças, impossibilitando o acolhimento em se colocarem como psicólogas em
e a ressignificação desses fenômenos. O constante atenção à escuta das demandas
presente trabalho não se propõe a quali- das crianças. Dessa forma, a brincadeira
ficar qual o melhor ambiente de desenvol- permite uma aproximação entre adultos
vimento, mas sim de propor uma reflexão e crianças e entre elas mesmas. Nesse es-
crítica dos conceitos de instituição familiar paço, a criança pode tomar a iniciativa e
e de abrigamento. Nesse sentido, visamos propor novas brincadeiras onde lhe é as-
não só descrever a situação da criança em segurado que possa colocar seus desejos,
abrigo, mas, a partir da construção de di- sendo acolhida nos limites constituintes. A
ferentes tipos de relações, oferecer possi- partir das atividades de brincadeira, cons-
bilidades de produzir novos sentidos para truímos com as crianças uma forma de se
seu desenvolvimento. Assim, o trabalho relacionar pautada no respeito, promo-
volta-se para a criança como sujeito de vendo o desenvolvimento de recursos de
direitos que se desenvolve imersa em re- personalidade que os tornem mais capa-
lações interpessoais. Estamos resgatando, zes de fazer suas próprias escolhas, lidar
portanto, uma visão de criança enquanto com contradições do cotidiano, perceber
sujeito ativo, que é construtor e constru- que existem diferentes tipos de relações
ído em um meio único e próprio. Sendo pessoais, elaborar a questão da separa-
assim, a infância é algo indeterminado, ção e do abandono entre outros. Reafir-
relativo e imprevisível (Larrosa, 2004) que mamos, portanto, a imprevisibilidade do
transforma seu meio em um constante vir sujeito que se constitui nas relações de
a ser. As considerações aqui resumidas a abrigamento, sendo impossível determi-
partir das reflexões dialógicas entre a te- nar a forma como irá ocorrer o desenvolvi-
oria e a prática são provenientes de um mento de cada criança. Sendo assim, nos-

303
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

so trabalho visa proporcionar um espaço pecíficas” abordaremos a noção de valor


de brincadeira que permita a criança lidar que definido por Gerard Legrand traduz
com situações adversas do abrigamento a “passagem do desejo para o conjunto
no seu processo de desenvolvimento. Isso doutrinário e prático que constitui uma
só pode ser feito se a criança é vista como moral fundada (explicitamente ou não)
sujeito único, acolhida e respeitada em em um conjunto de valores que são tam-
seus desejos e suas histórias. bém abstrações representando o que se
tem por desejável”. Nesta perspectiva inú-
Palavras-chave: abrigo, infância, identidade meras são as questões que se colocam na
Contato: Camila Moura Fé Maia, UnB, mila. contemporaneidade sobre a construção e
mfm@gmail.com vivência de valores para os jovens. O Prof.
Fernando Rey a partir de suas pesquisas
realizadas em Cuba, na Guatemala e no
Brasil, abordará o tema dos desafios dos
valores dos jovens em diferentes realida-
DIA 13/11 - Domingo des da América Latina, discutirá alguns dos
processos macro e micro sociais que hoje
vivem esses três países da América Latina
16h-18h
e os desdobramentos desses processos
nos problemas específicos do desenvolvi-
mento de valores dos jovens. Serão ana-
Mesa Redonda Convidada lisados os processos de configuração sub-
jetiva dos valores morais, aspecto central
no processo de desenvolvimento da juven-
A JUVENTUDE NA AMERICA LATINA: tude. A Profª.Sílvia Koller apresentará os
VALORES E DESENVOLVIMENTO resultados da pesquisa desenvolvida com
HUMANO Prof.Carlos Nieto sobre o desenvolvimento
Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke - UCB de valores em adolescentes e jovens em
Silvia Helena Koller - UFRGS situação de rua no Brasil e na Colômbia.
Fernando González Rey - CEUB/UnB Serão discutidos aspectos relacionados
Normanda Araujo de Morais - UNIFOR às questões biosociodemográficas desta
população, os fatores que os levam à situ-
Esta mesa redonda se propõe a apresentar ação de extrema vulnerabilidade e alguns
e discutir resultados de pesquisas realiza- aspectos protectivos, incluindo valores so-
das no Brasil e em países da América La- ciais e pessoais, que os auxiliam na sobre-
tina que enfocam o desenvolvimento dos vivência e na superação. O Prof. Benedito
jovens e sua relação com a formação de dos Santos apresentará os resultados de
valores. Partindo do conceito de virtude sua pesquisa sobre (In)justiça emocional:
desenvolvido pelos gregos na antiguidade o sentido de justiça de crianças e adoles-
como “um traço de caráter merecedor de centes que fogem de casa. Será abordada
admiração, tornando seu portador melhor, a formação do senso de justiça entre crian-
quer seja do ponto de vista moral ou inte- ças e adolescentes em situação de vulne-
lectual, quer na conduta de matérias es- rabilidade e violência intrafamiliar para ar-

304
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gumentar que o sentido de injustiça emo- crianças. Assim, serão abordadas questões
cional é um componente importante no específicas, relacionadas ao trabalho de in-
entendimento dos atos de fugir de casa. A vestigação com crianças pequenas - bebês
Profª. Normanda Araújo apresentará refle- -, considerando-as, a partir do referencial
xões acerca dos valores atribuídos por jo- da Sociologia da Infância, sujeitos sociais,
vens em situação de vulnerabilidade social portanto, que estabelecem relações com o
acerca de suas famílias a partir da pesquisa outro, grupo geracional ou não e, nessas
realizada com dois grupos de jovens. Um relações, tem um papel ativo na composi-
grupo que ainda mora com suas famílias e ção dos contextos em que estão inseridas.
que frequenta o Trabalho educativo e ou- O contexto eleito para o trabalho empírico
tro grupo que vive em situação de rua. Se- foi uma creche em Braga/Portugal e os re-
melhanças e especificidades dos contextos sultados apontaram para a importância das
familiares para os dois grupos são discuti- ações das crianças/ bebês na condução da
das. A Profª. Júlia Bucher-Maluschke apre- ação do(s) outro(s) e nas transformações
sentará a partir da pesquisa de histórias de de suas próprias ações. Aliando a perspec-
vida de jovens, filhos de pais “fora da lei”, tiva teórico-metodológica da Psicologia
como construíram e vivenciam seus valo- Sócio-Histórica às reflexões sobre as con-
res pessoais num contexto intrafamiliar e dições de exclusão/inclusão dos sujeitos
social contraditório. Esperamos suscitar sociais crianças, considerando, inclusive,
com esta mesa-redonda novos encami- aquelas que vivem em contextos onde a
nhamentos para a investigação nesta área violação de seus direitos se faz presente,
do desenvolvimento humano. a segunda exposição aborda a condição da
criança - e a persistente desconsideração
por essa condição - enquanto sujeito que
produz sentidos e significados aos aconte-
MR LT04 - Mesa Redonda cimentos de seu cotidiano, considerando
Convidada os contextos instituicionais e seus atores.
Assim, afirma a autora: “O reconheci-
mento da criança como sujeito concreto,
MR LT04-979 - REFLEXÕES TEÓRICO- inserido num contexto que ajuda a produ-
METODOLÓGICAS EM PESQUISAS COM zir e que o produz, leva a compreender a
CRIANÇAS posição desse sujeito no contexto social,
Rosângela Francischini - UFRN a situá-lo numa realidade mais ampla e a
rfranci@uol.com.br tentar apreender o processo pelo qual ele
Angela Coutinho - UFSC (sujeito) se forma. Sem esse enfoque, tem-
gi_scalabrin@hotmail.com -se uma análise parcial do problema, uma
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás espécie de ‘psicologismo’, uma abordagem
smgsousa@terra.com.br insuficiente, incapaz de dar conta do pro-
cesso de exclusão–inclusão social a que
O objetivo principal desta Mesa é apre- estão submetidos milhares de seres huma-
sentar trabalhos que se propõem a refletir nos. Portanto, é necessário compreender
sobre questões teórico-metodológicas que a realidade social como uma construção
perpassam a atividade de pesquisa com humana, e não simplesmente como um

305
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dado natural, pois é no processo de produ- bem como as possibilidades de diálogo en-
ção de sua realidade social que o homem tre diferentes áreas do conhecimento no
produz-se a si mesmo como ser histórico estudo de problemáticas interdisciplina-
e cultural.” A terceira exposição tem por res, como são as relacionadas às crianças
objetivo estabelecer um diálogo entre a e às suas infâncias. Para tanto, toma como
Psicologia Sócio-Histórica e a Sociologia da referência uma pesquisa de doutorado de-
Infância. A partir da constatação de que na senvolvida no âmbito de um programa de
bibliografia especializada em Sociologia da doutorado em Estudos da Criança. Trata-
Infância comparecem críticas recorrentes -se de um estudo com orientação etnográ-
à Psicologia do Desenvolvimento, princi- fica, que foi desenvolvido em um contexto
palmente, de vertente piagetiana, a autora de educação infantil do tipo creche, em
se propõe a sinalizar as possibilidades de Portugal, tendo como objetivo conhecer a
aproximação entre essas duas áreas do ação social dos bebês no contexto da cre-
conhecimento, considerando, no entanto, che e, especificamente, identificar a recor-
a Psicologia Sócio-Histórica representada rência e o modo como ocorrem tais ações
por Vygotsky, cujo desafio é pensar o de- sociais. As perguntas que orientaram o
senvolvimento do sujeito a partir do ma- estudo são: Como ocorre a ação social en-
terialismo dialético, das interinfluências tre os bebês, nas relações cotidianas no
e das transformações recíprocas sujeito- contexto da creche? Quais elementos são
-ambiente. Por seu lado, da Sociologia da constituidores de tal ação? As relações e
Infância é chamada à cena a tese da “re- as ações sociais são ideias e práticas simi-
produção interpretativa”, elaborada por lares? O que caracteriza a ação de bebês
Corsaro, que assume a capacidade e o po- na estruturação das suas experiências, no
der que as crianças têm de transformarem contexto da creche? Há uma ordem so-
os elementos de seu contexto, através das cial diferenciada para adultos e crianças,
interpretações que fazem desses elemen- no interior das instituições? Como elas
tos, sinalizando para a importância das re- são estruturadas? Quais indicativos para
lações intrageracionais. a formação das professoras de educação
infantil emergem do conhecimento da
ação social dos bebês na creche? A base
DESAFIOS METODOLÓGICOS PARA O teórico-metodológica selecionada encon-
ESTUDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DOS tra-se na interface das Ciências Humanas
BEBÊS com as Ciências Sociais, nomeadamente
Angela Coutinho - UFSC a Sociologia da Infância, numa perspec-
gi_scalabrin@hotmail.com tiva que situa a criança como ator social
e a infância como construção histórica e
Financiamento: Alβan – Programa de bolsas cultural (Ariès, 1981; James & Prout, 1990;
de alto nível da União Europeia para América Pinto & Sarmento, 1997). Dentre os pres-
Latina supostos a serem abordados está a ideia
de que a infância deve ser estudada a
Esta comunicação tem por objetivo apre- partir de si própria, considerando que as
sentar algumas reflexões sobre os desafios crianças são as melhores informantes so-
metodológicos na pesquisa com bebês, bre as questões que lhe dizem respeito.

306
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Tratando-se de bebês, há questões impor- sobretudo, nas últimas duas décadas, um


tantes a serem debatidas em torno da es- crescente número de estudos que reve-
colha de instrumentos de coleta de dados lam a competência social das crianças (Ja-
e o trato dispensado aos dados coletados. mes, 1998; Hutchby & Moran-Ellis, 1998),
Isso porque, ao buscar superar a ideia de no entanto, as crianças envolvidas em tais
negatividade ou falta atribuída à infância, estudos, quase sempre, encontram-se em
desde a etimologia da palavras infans - uma faixa etária em que as formas de co-
que é aquele que não fala - a legitimidade municação aproximam-se das utilizadas
da competência social dos bebês passa correntemente pelos investigadores-adul-
pela descortinamento de seus modos de tos. Esse dado nos provoca a pensar que,
ser e estar no mundo, não pela ausência mesmo que tais estudos avancem no sen-
da fala, mas, pela presença de múltiplas tido de considerar a opinião das crianças
outras formas de comunicação. A captu- como legítima e relevante, eles ainda não
ração das vozes dos bebês ocorreu, neste conseguem superar a marginalização das
estudo, por meio da utilização de instru- crianças bem pequenas, algo posto como
mentos como o diário de campo e o vídeo, desafio para as diferentes áreas. Mesmo
sendo o último um instrumento valioso, aqueles que têm se proposto a ouvir as
sobretudo, porque essas vozes manifes- vozes das crianças bem pequenas: em que
tam-se pelo gesto, pelo corpo, pelo si- medida as crianças são atores e não meros
lêncio, pelo olhar, enfim, por múltiplas objetos de estudo? O que diferencia esses
formas de comunicação. Ainda na esteira papéis? As questões apresentadas consti-
da abordagem em torno da recolha de da- tuem o eixo orientador da proposta de co-
dos junto às crianças bem pequenas, nos municação ora proposta que, como anun-
deparamos com questões éticas que se ciamos inicialmente, toma como base um
referem não só à utilização de termos de estudo de doutorado, que por preocupar-
consentimento informado dos familiares/ -se com tais questões e tomá-las como
responsáveis ou devolutiva dos resultados fundamentais ao processo de pesquisa,
às partes interessadas - aspectos funda- permitiu compreender que os processos
mentais a qualquer processo de pesquisa constitutivos das ações sociais dos bebês
-, mas, algumas questões bastante sutis, relacionam-se a diferentes categorias sen-
contudo, fundamentais quando partimos do que, neste grupo, em específico, nossa
de perpectivas de pesquisa que tomam as interpretação permitiu relacioná-los com
crianças como atores sociais, pois, como a elaboração cultural e, de modo bastante
respeitar o direito dos bebês de escolhe- recorrente, às situações de brincadeira; ao
rem ou não participar de uma pesquisa? corpo, à sua dimensão social e enquanto
Ou, ainda, de participar da pesquisa ape- expressividade; as relações entre os pares,
nas em determinados momentos? Como com ênfase para as relações de gênero e
“ler” a sua opinião, que nem sempre é di- a problematização das relações a partir
reta, sobre a presença de um outro adulto da classe social. A idéia da competência
em seus espaços de vida, para satisfazer dos bebês, no que tange à estruturação
uma necessidade que lhe é alheia? De- de ações que são sociais, porque são
vemos considerar, ainda, que a partir dos mobilizadas pela ação de outro, se reve-
childhood studies temos acompanhado, lou de modo complexo e nas minúcias de

307
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sua expressividade, seja nas situações de lho, lazer, violência física, sexual e/ou psi-
brincadeira, no revelar das preferências cológica – é uma tentativa de romper com
por determinados pares, assim como da a concepção dominante, que vê a criança
sua condição social enquanto menina ou como o infante, ou seja, ‘aquele que não
menino pertencente a uma determinada tem fala’, para colocá-la num lugar de
classe e estatuto social. Os bebês agem protagonista, em defesa de seu status de
socialmente, determinando a ação de ou- sujeito de direitos. O estudo da infância e
tros, modificando a sua própria ação, as- da criança objetiva, assim, desvelar o real,
sim como atuando sobre a estrutura, que subvertendo a aparente ordem natural das
embora tenha um poder interferente, não coisas, pois, compreende que a criança fala
conforma as suas ações, dada a sua capa- não apenas de seu mundo e de sua ótica
cidade enquanto agente. infantil, mas, também, do mundo adulto
e da sociedade contemporânea (Kramer,
Palavras-chave: pesquisa com bebês, 1996). E, nessa perspectiva, pretende tam-
metodologias de pesquisa, estudos sociais da bém colaborar na elaboração de políticas
infância públicas não excludentes e que vejam a
infância não como risco, mas, fundamen-
talmente, como oportunidade (Rizzini et
O ESTUDO DA INFÂNCIA COMO alii, 2000). A opção por estudar/pesquisar
REVELADOR E DESVELADOR DA a infância parte do pressuposto de que a
DIALÉTICA EXCLUSÃO–INCLUSÃO criança, na vida que vive e nas diversas
SOCIAL formas de subjetivação que produz, reve-
la e desvela o mundo e expressa a história
Sônia M. Gomes Sousa - PUC/Goiás, dos homens. Assim, estuda-se a infância,
smgsousa@terra.com.br buscando captar a criticidade da criança
sobre o mundo e a do pesquisador sobre
A psicologia sócio-histórica, que tem como a relação criança–mundo. Contudo, essa
sujeito principal de investigação a criança perspectiva teórico-metodológica não é
ou o adolescente, têm produzido pesqui- ainda usual, pois, estudar a criança quase
sas que privilegiam aspectos ausentes sempre parece ao adulto interessar-se por
das investigações em outros momentos um ‘objeto’ menor. Uma prova disso é que,
históricos. Desse modo, ao voltar-se para quase sempre, as teorias sobre a infância
temas como a violência contra crianças, o estão profundamente marcadas pela óti-
abandono, a exploração sexual, o trabalho ca do ajustamento da criança à sociedade
infantil etc, essas pesquisas contribuem dos adultos, não apenas esquecendo a sua
para a construção de um campo investiga- forma específica de ver e viver o mundo,
tivo que alcança e focaliza a dimensão da mas, tentando transformá-la em adulto
exclusão–inclusão (Sawaia, 1995 e 1998) idealizado. Geralmente, não se leva em
na vivência infantil. Investigar os sentidos consideração que tal ajustamento deve
e significados que as crianças atribuem a ser o resultado de um processo histórico
diversos fenômenos da sua vivência co- e cultural e que a transmissão/assimilação
tidiana na contemporaneidade – família, cultural não se dá de uma forma comple-
convivência com os pares, escola, traba- ta, nem tampouco passiva e pacífica. Da

308
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

visão fragmentária da infância, que não mulo exagerado ao consumo, da exposição


permite a compreensão plena da criança à mídia etc. –, a criança continua, cotidia-
em sua singularidade, resultaram teorias namente, não confirmada como sujeito
nas quais se perdeu a dimensão dos con- do seu tempo e da sua história. Refletir
flitos, das crises e das tensões vividas por sobre o sofrimento ético-político em situ-
ela, em seu processo de desenvolvimento. ação de exclusão–inclusão social “é uma
O reconhecimento da criança como sujeito oportunidade de refletir sobre subjetivi-
concreto, inserido num contexto que ajuda dade enquanto fator histórico e confronto
a produzir e que o produz, leva a compre- político e participar do debate transdis-
ender a posição desse sujeito no contexto ciplinar capaz de romper a cisão clássica
social, a situá-lo numa realidade mais am- entre homem/sociedade e subjetividade/
pla e a tentar apreender o processo pelo objetividade”, na compreensão de Sawaia
qual ele (sujeito) se forma. Sem esse enfo- (1998, p. 6). Há um aspecto que não deve
que, tem-se uma análise parcial do proble- nem pode ser esquecido, especialmente,
ma, uma espécie de ‘psicologismo’, uma quando se trata da realização de pesquisas
abordagem insuficiente, incapaz de dar com crianças: o pesquisador é portador
conta do processo de exclusão–inclusão de um poder expresso por sua condição
social a que estão submetidos milhares social, por sua formação, pela hierarquia
de seres humanos. Portanto, é necessá- de idade. E é óbvio que essas condições,
rio compreender a realidade social como presentes nas relações sociais, marcam
uma construção humana e não, simples- sua relação com os sujeitos pesquisados.
mente, como um dado natural, pois, é no Por isso, é sempre importante ele se per-
processo de produção de sua realidade so- guntar e se avaliar – assim como também
cial que o homem produz-se a si mesmo ser avaliado pelos seus pares – a respeito
como ser histórico e cultural. Embora Ariès de como utiliza esse poder nas suas rela-
(1986) tenha, na década de 1960, defen- ções com os seus pesquisados, mais ainda,
dido teses como a de que o sentimento quando estes são crianças. É indispensável
de infância não estava presente no mun- ao pesquisador que investiga a temática da
do medieval e a de que a infância é uma infância, a formação adequada. Ele tem de
construção social, não raro, encontramos, extrapolar a sua área específica, entender
na sociedade atual e no mundo acadêmi- as implicações e os procedimentos jurídi-
co, questionamentos sobre a importância cos, científicos e técnicos atinentes a essa
de seu estudo. Os questionamentos com- área. Sobretudo, deve ter sempre presen-
parecem travestidos pelo discurso do rigor te que “a pesquisa não pode representar
científico – a criança é um sujeito confiá- apenas um momento de coleta de dados,
vel?, como acessar o seu discurso?, o que que beneficie somente o pesquisador e a
ela “fala” tem importância? Na realidade, comunidade científica. Este processo deve
tais questionamentos expressam a condi- representar um fator de proteção para a
ção social subalterna (Charlot, 1986) a que criança que será ouvida, protegida e ajuda-
a infância tem sido submetida. E, mesmo da” (Lisboa & Koller, s.d., p. 20). É fato que
na aparência da sociedade capitalista con- a sociedade reconhece a infância como o
temporânea, em que a infância parece momento da vida em que o indivíduo deve
posta em destaque – em função do estí- ser cuidado, no sentido biopsicossocial.

309
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Todavia, é notório que essa compreensão na Educação, principalmente, com produ-


não encontra suporte na realidade nem ções acadêmicas que sinalizam a filiação
alcança o universo das crianças brasileiras. teórico-metodológica à abordagem sócio-
O reconhecimento dessa fase da vida, em -histórica. Interacionismo, construtivismo,
sua plenitude, exige a garantia – a todas aprendizagem e desenvolvimento passam
as crianças – da possibilidade concreta de a ser focos privilegiados de discussão aca-
ser criança e do direito à infância, resguar- dêmica. Neste trabalho, retomamos alguns
dado pela sociedade e pelos adultos que pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica
a compõem. cujo diálogo com os pressupostos básicos
da Sociologia da Infância nos seja possível.
Palavras-chave: Psicologia sociohistórica, Em nosso caso, estaremos considerando
infância, dialética exclusão/inclusão social o sujeito-criança. Com esse propósito, ini-
ciamos com uma abordagem das críticas à
Psicologia do Desenvolvimento que com-
A INFÂNCIA EM QUESTÃO: DIÁLOGOS parecem nas principais obras em Sociolo-
ENTRE A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA E gia da Infância. Observamos, inicialmen-
A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA te, que as críticas à Psicologia, presentes
Rosângela Francischini - UFRN, nas obras de referência em Sociologia da
rfranci@uol.com.br Infância, centram-se, principalmente, na
Psicologia do Desenvolvimento piagetiana.
O objetivo deste trabalho é estabele- Essa opção deve-se ao fato de que a Epis-
cer um diálogo entre a Psicologia Sócio- temologia Genética teve grande influência,
-Histórica, representada por Vygotsky, e no século XX, principalmente na Psicologia
a Sociologia da Infância. Sua emergência e, também, na Educação, área em que se
deve-se às opções teórico-metodológicas concentram as pesquisas em Sociologia da
que orientam nossas atividades de ensi- Infância. Segundo James e James (2008), a
no, pesquisa e extensão e às inquietações Psicologia do Desenvolvimento concebe o
decorrentes de leituras da produção aca- sujeito a partir de estágios de desenvolvi-
dêmica em Sociologia da Infância. Nesse mento e das estruturas cognitivas que os
contexto, chamou-nos atenção as obser- caracterizam, enquanto processo linear e
vações das críticas recorrentes à Psicologia diretamente relacionado à idade cronoló-
do Desenvolvimento, que comparecem gica. Acrescente-se, ainda, a concepção de
na bibliografia em Sociologia da Infância. desenvolvimento como um processo ca-
Os temas privilegiados nas/das investi- racterizado por aquisições progressivas de
gações são: desenvolvimento cognitivo e determinadas competências, que têm no
desenvolvimento social do sujeito, embo- universo adulto o modelo/ perspectiva a
ra não sejam os únicos. Assim, as princi- ser alcançado. Essa atribuição de uma con-
pais teorias do desenvolvimento, que têm dição de transitoriedade à criança, acres-
em Piaget o teórico de maior destaque, cida de sua condição de dependência em
centram-se nesses domínios. A partir das relação ao adulto, é criticada por Sarmen-
traduções de parte da obra de Vygotsky, to (2006), que afirma: “Neste domínio, a
observou-se a emergência e acentuação psicologia do desenvolvimento tem sido
de grupos de pesquisas, na Psicologia e a mais consistente promotora de uma re-

310
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

presentação social da infância sustentada zhovich, 2009). Dessa forma, os estágios


na incompletude, na incompetência e na de desenvolvimento são pensados a partir
imperfeição das formas de pensamento, da composição de diferentes processos e
que, por isso mesmo, necessita de acom- funções mentais, e das distintas possibili-
panhamento e promoção nas sucessivas dades de combinação entre esses proces-
‘etapas de desenvolvimento’ legitimando sos e funções. Ainda, como indicadores de
não apenas o controlo adulto, mas a assi- diferentes domínios e predominâncias de
metria radical de poderes intergeracionais formas de interação com os contextos. As
na condução da vida das crianças” (Sar- alterações qualitativas que são observa-
mento, 2006, p. 52). Ainda, o mesmo autor das nas interações da criança representam
afirma que coube à Sociologia da Infância momentos de transição e de desenvolvi-
resgatar a infância das “perspectivas bio- mento de novas funções mentais que, por
logistas (...) e psicologizantes, que tendem sua vez, resultam em novas organizações
a interpretar as crianças como indivíduos da consciência como um todo. Consequen-
que se desenvolvem independentemente temente, de novas possibilidades de ação
da construção social das suas condições de e de transformação tanto de si, quanto do
existência e das representações e imagens contexto. À ciência Psicológica, portanto,
historicamente construídas sobre e para e mais especificamente à Psicologia do
elas” (Sarmento, 2006, p. 43). Ressalva, Desenvolvimento, é colocado o desafio
no entanto, é feita pelo autor à Vygotsky, de pensar o desenvolvimento do sujeito
cuja abordagem atenta para os contextos a partir do materialismo dialético, das in-
sociais de desenvolvimento e para o pa- terinfluências e das transformações recí-
pel das crianças nesse processo. Assim, a procas sujeito-ambiente. Por seu lado, a
Sociologia da Infância reivindica a “cons- Sociologia da Infância, aproximando-se do
trução social da infância” nos estudos exposto acima, ao tecer uma revisão crítica
sobre a criança e seu desenvolvimento, sobre os processos de socialização, se opõe
reivindicação esta presente no clássico de a determinadas vertentes da Sociologia
Ariès (1981), História Social da Criança e em que as crianças são “tematizadas como
da Família. Considerando os apontamen- objecto de um processo de inculcação de
tos iniciais deste trabalho afirmamos que, valores, normas de comportamento, e de
em Vygotsky, comparece, igualmente, uma saberes úteis para o exercício futuro de
reflexão sobre o desenvolvimento infantil práticas sociais pertinentes” (Sarmento,
tendo como norteadores os estágios de 2006, p. 54). As crianças são considera-
desenvolvimento; no entanto, esses está- das atores sociais, grupo geracional com
gios não são concebidos como agregados características próprias, com capacidade
de traços psicológicos separados, mas, de ação e de criação da cultura. Portanto,
antes, por estruturas cujo caráter integra- longe de serem reprodutores passivos nos
tivo de seus componentes compõe as ten- processos de socialização, Corsaro (1997)
dências do desenvolvimento nas diversas propõe a tese da “reprodução interpreta-
faixas etárias, ao longo de seu percurso. tiva”, que assume a capacidade e o poder
Considere-se, no entanto, a fluidez entre que as crianças têm de transformarem os
as fronteiras das idades e o caráter qualita- elementos de seu contexto, através das in-
tivo das diferenças que os conformam (Bo- terpretações que fazem desses elementos.

311
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Nesse contexto de discussão, a interação obesidade. Esses transtornos e a obesida-


social assume papel de relevância. Uma de são reconhecidos como graves proble-
aproximação com o conceito de Zona de mas de saúde, atingindo um número gran-
Desenvolvimento Proximal de Vygotsky é de de pessoas, o que tem preocupado as
sinalizada, considerando, no entanto, que autoridades de saúde do nosso país. Parti-
a Sociologia da Infância, diferentemente, ciparão dessa mesa redonda pesquisado-
sinaliza para a importância das relações ras participantes do projeto de pesquisa
intrageracionais. Concluímos com a obser- “Construção de metodologia de atendi-
vação de que outros pontos de diálogo são mento psicossocial a crianças e adolescen-
sinalizados, observando, com James e Ja- tes com transtornos alimentares e suas
mes (2008), que: “precisamente por causa famílias”, em andamento na Universidade
de sua complexidade, um entendimento Católica de Brasília – UCB e coordenado
compreensivo da infância não pode ser pela proponente dessa mesa redonda. A
realizado/alcançado através de uma pers- equipe responsável pelo projeto é forma-
pectiva epistemológica e disciplinar única: da por seis professoras doutoras da UCB e
um fenômeno complexo requer estudo in- UnB, uma médica da Secretaria de Saúde
terdisciplinar, assim, o estudo da infância do DF, quatro alunos de mestrado em psi-
tem que ser compreendido como uma ati- cologia da UCB e oito alunos de iniciação
vidade multi e interdisciplinar” (p. 26). científica cursando graduação em psico-
logia na UCB. A primeira participante da
Palavras-chave: infância, Psicologia Sócio- mesa é a Dra. Denise Leite Ocampos, mé-
-Histórica, Sociologia da Infância dica, atualmente respondendo como che-
fe do Núcleo de Saúde do Adolescente da
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
MR LT01 - Mesa Redonda Federal, que vai apresentar dados sobre o
atendimento aos adolescentes no Distrito
Convidada Federal, contextualizando a questão dos
transtornos alimentares e obesidade. Em
seguida, teremos a participação da psicó-
MR LT01-939 – TRANSTORNOS loga é Aldenira Barbosa, Cavalcante, Mes-
ALIMENTARES E OBESIDADE NO CICLO tre em Psicologia pela UCB, apresentando
DE VIDA FAMILIAR: O PAPEL DA FAMÍLIA sua pesquisa de mestrado sobre anorexia
Maria Alexina Ribeiro - UCB nervosa na adolescência, orientada pela
alexina@solar.com.br proponente dessa mesa, que também
participará como co-autora do trabalho. A
O objetivo da mesa redonda é apresentar última participante da mesa é Ana Flávia
dados importantes de pesquisas e inter- Nascimento Otto, nutricionista e Mestre
venções realizadas na Universidade Cató- em Psicologia pela UCB, apresentando sua
lica de Brasília – UCB, bem como discutir pesquisa de mestrado sobre obesidade
questões relacionadas ao tratamento que grave e TCAP em adultos, orientada pela
é oferecido no DF para crianças e ado- proponente dessa mesa, que participará
lescentes com transtornos alimentares como co-autora do trabalho.
– anorexia nervosa e bulimia nervosa – e

312
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE em relação ao feminino (43,7%). Dentre


ADOLESCENTES NO DISTRITO FEDERAL: os principais diagnósticos realizados nos
A QUESTÃO DOS TRANSTORNOS atendimentos de janeiro de 2009 a junho
ALIMENTARES E OBESIDADE de 2010, os diagnósticos mais frequentes
Denise Leite Ocampos - SES/DF foram: 23 diagnósticos de saúde mental:
denise.sesdf@gmail.com TDAH, Dificuldade com Autoridade, Dis-
túrbio de conduta, Ansiedade, Deficiência
A adolescência é marcada pela experi- Mental, Superproteção Parental, Depres-
mentação de valores, de papéis sociais são, Dificuldade Escolar, Timidez, Alcoolis-
e de identidades e pela ambiguidade en- mo Parental, Violência Familiar, Obesidade
tre ser criança e ser adulto. No entanto, a ou Sobrepeso, Opressão Familiar, Drogas,
adolescência não deve ser vista somente Luto, Fobias, Adoção, Depressão Materna,
como fase, etapa, período provisório ou Conflitos Familiares, TEPT, TPM e/ou cóli-
de transição. Esse momento é marcado cas, Conflitos com a Sexualidade, Rebeldia.
por aprendizados, descobertas e desa- Destes, 10 dizem respeito a diagnósticos
fios biopsicossociais. Tendo em vista esse psiquiátricos propriamente ditos, sejam
momento especial de intenso aprendiza- do adolescente ou de seus pais: TDAH, Dis-
do na vida do ser humano, a Organização túrbio de conduta, Ansiedade, Deficiência
Mundial de Saúde e Ministério da Saúde Mental, Depressão, Alcoolismo Parental,
do Brasil instituíram o Programa de Saú- Drogas, Fobias, Depressão Materna, TEPT.
de de Adolescentes em 1989 e o Distrito Em termos de frequência, a importância da
Federal oficializou o Programa em 1991. prevalência de problemas mentais entre
Atualmente as ações de Atenção Integral os/as adolescentes fica também evidente:
a Saúde de Adolescentes no DF são admi- 70% são de saúde mental e, desses, 37,6%
nistradas pelo Núcleo de Atenção Integral são de quadros psiquiátricos. Entre os diag-
à Saúde do Adolescente da Secretaria de nósticos biomédicos, predominaram Rinite
Estado da Saúde. Essas ações encontram- Alérgica, Acne, Cefaléia, Deficiência Auditi-
-se implantadas nas 15 Regionais de Saúde va ou Visual, Epilepsia, Gastrite e Hiperco-
e têm, como prioridade, três eixos de ação: lesterolemia. Os transtornos alimentares e
crescimento e desenvolvimento saudáveis, a obesidade, embora não constem entre
promoção da saúde sexual e reprodutiva os mais frequentes, têm aparecido como
e redução da morbi-mortalidade por aci- queixa frequente nas consultas dos adoles-
dentes e violências. A população na faixa centes que procuram o Núcleo. Este tem se
etária da adolescência, de 10 a 19 anos, no preocupado com os referidos diagnósticos,
DF, corresponde a 20,1%, cerca de 469.000 o que motivou a busca de parceria com a
adolescentes. O total de atendimentos Universidade Católica de Brasília – UCB, vi-
aos adolescentes chega a 35%, o que é sando proporcionar aos técnicos da Secre-
considerado ideal em relação ao total de taria de Saúde que atendem aos adoles-
atendimentos da população em geral. Há centes um melhor embasamento teórico
uma ligeira predominância de pacientes e instrumental para um atendimento mais
na faixa etária de 10-14 anos (36,4%) em eficaz dos casos. A partir desse cenário, e
relação aos da faixa de 15-19 anos (53,7%) apoiados pelos indicadores, reconhecendo
e de pacientes do sexo masculino (56,3%) a complexidade desses fenômenos, que

313
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

escapam do domínio do indivíduo e alcan- ANOREXIA NERVOSA NA ADOLESCÊNCIA:


çam a família e a sociedade, e adotando a O PAPEL DA FAMÍLIA NO SURGIMENTO E
lógica da vigilância à saúde, são oferecidos MANUTENÇÃO DO TRANSTORNO
serviços de promoção à saúde e prevenção Aldenira Barbosa Cavalcante - UCB
dos agravos aos adolescentes na atenção aldenirapsic@gmail.com
básica: acolhimento, acompanhamento Maria Alexina Ribeiro - UCB
Biopsicossocial, grupo de adolescentes,
grupo interventivo para pais, acompanha- O aumento significativo do número de pa-
mento de pré-natal, planejamento repro- cientes com Anorexia Nervosa nas ultimas
dutivo, acompanhamento nutricional, ofi- décadas, leva a pensar numa verdadeira
cinas temáticas, imunização e articulação “epidemia” do transtorno. O desequilí-
interinstitucional. As equipes são multidis- brio da relação do individuo com a sua
ciplinares e são compostas por: médico(a) forma de se alimentar, tem preocupado
s, enfermeiro(a)s, técnico(a)s de enfer- os especialistas em saúde mental. A Ano-
magem, assistentes sociais e psicólogo(a) rexia Nervosa caracteriza-se por uma per-
s, sendo que a composição da equipe va- da de peso acentuada, resultante de uma
ria de serviço para serviço. As principais restrição calórica voluntária do paciente
atividades realizadas são: acolhimento, devido a um temor exacerbado de en-
atendimento individual, grupo de instru- gordar e a uma busca implacável da ma-
mentalização de pais, grupo para pais de greza. Estudos apontam a incidência de
adolescentes em situação especial de uso pessoas cada vez mais jovens, e a média
de drogas, grupo de adolescentes, grupo de idade das meninas com anorexia caiu
de adolescentes gestantes, grupo de pla- de 12-14 anos para 7-8 anos. Esta disser-
nejamento sexual e reprodutivo, além de tação de Mestrado objetivou compreen-
oficinas e ações nas escolas, por meio do der a dinâmica de famílias que possuem
Programa Saúde na Escola – PSE. Compre- um membro adolescente portador de
endemos que, embora a média de atendi- Anorexia Nervosa, identificando aspectos
mentos alcançou o objetivo quantitativo do relacionamento intrafamiliar específi-
em relação ao ideal estabelecido, é preciso cos de famílias com esta problemática. A
que haja um grande empenho na melhoria adolescência é considerada uma etapa do
qualitativa dos atendimentos, com investi- desenvolvimento humano que pressupõe
mentos variados na qualificação profissio- a passagem de uma situação de depen-
nal e na organização da rede para o aco- dência infantil para a inserção social e a
lhimento desta população, considerando formação de um sistema de valores que
as várias especificidades que apresenta. definem a idade adulta, segundo estudio-
Ao mesmo tempo, é necessário investir na sos. Encarada como uma fase do ciclo de
busca ativa e na atenção integral, já que vida familiar, a adolescência apresenta ta-
a demanda espontânea é principalmente refas particulares, que envolvem todos os
motivada por acidentes, doenças agudas e membros da família. Pode-se dizer, então,
à gravidez na adolescência. que este período se constitui como uma
fase de transição do indivíduo, da infân-
Palavras-chave: adolescência, transtornos cia para a idade adulta, evoluindo de um
alimentares, obesidade. estado de intensa dependência para uma

314
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

condição de autonomia pessoal. Adota- pos multifamiliares: 1) de que não existe


mos uma metodologia baseada na pro- uma única forma correta de lidar com as
posta da pesquisa qualitativa, pesquisa- dificuldades decorrentes da doença; 2) a
-ação e uma adaptação da metodologia conclusão de que precisam observar me-
de Grupo Multifamiliar, o qual se funda- lhor as mudanças de comportamento dos
menta nos pressupostos: a) da Terapia Fa- filhos; 3) a percepção de que o momento
miliar, tendo a visão de família enquanto do diagnóstico causa sofrimento a todos;
sistema, sendo a relação o ponto focal do 4) o grau de importância de buscar infor-
trabalho, priorizando o interpsíquico mais mações sobre os sintomas da filha; 5) o
que o intrapsíquico, e utilizando os recur- entendimento de que o tratamento fa-
sos sistêmicos como a circularização e a miliar é eficaz para a união da família; 6)
provocação; b) da Psicologia Comunitária, o sentimento de que dividir as angústias
visando ao trabalho em equipe com dife- em relação à AN, com as demais famílias
rentes saberes, científicos e populares ; c) é importante; 7) o entendimento que a
do Sociodrama em que o grupo é o pro- adesão ao tratamento exige mudanças no
tagonista e as famílias possuem objetivos ambiente familiar; 8) e por fim, relataram
comuns, além de se identificarem mutu- o fortalecimento dos vínculos familiares
amente; d) e da Teoria das Redes Sociais, após compartilhar seus sofrimentos com
que enfoca a interação humana com a outras famílias. Nessa perspectiva, este
troca de experiência, desenvolvendo a estudo mostrou que as interações que
capacidade autorreflexiva e autocrítica. se estabelecem entre pais, mães, filhos e
Os participantes foram três famílias com filhas permeadas por sofrimentos, confli-
adolescentes do sexo feminino diagnosti- tos, valores e crenças interagem com as
cadas com Anorexia Nervosa, em atendi- questões biológicas, nutricionais e psicos-
mento em uma instituição pública de saú- sociais que envolvem a dinâmica familiar
de da SES/DF, em Brasília. Os instrumen- dos sujeitos pesquisados. Esses dados
tos utilizados foram: roteiro de entrevista mostram a complexidade da doença, cujo
semiestruturada, genograma, colagem, conhecimento exige uma leitura que in-
construção do ciclo de vida familiar e gra- clua várias dimensões do contexto onde
vação em áudio - MP3. Os dados foram está inserida e reforçam a importância da
submetidos à análise de conteúdo e inter- terapia familiar no tratamento dos trans-
pretados de acordo com a abordagem sis- tornos alimentares.
têmica da família. A análise demonstrou
dificuldades múltiplas no sistema familiar, Palavras-chave: anorexia nervosa, família,
tais como: padrão de comunicação pouco adolescência.
claro; presença de conflito conjugal com
a adolescente anoréxica se posicionando
triangulada com os pais; negligência dos
pais da adolescente; depressão das mães;
mães dependentes afetivamente das fi-
lhas, fronteiras internas difusas e evita-
ção de conflitos. Alguns aspectos foram
sinalizados pelas famílias ao final dos gru-

315
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

OBESIDADE E TRANSTORNO DA ligação entre o papel da alimentação no


COMPULSÃO ALIMENTAR (TCAP) NA desenvolvimento infantil, pertencimento
IDADE ADULTA: CONHECENDO A FAMÍLIA familiar e a eclosão da compulsão alimen-
DO PACIENTE E SUA DINÂMICA tar na fase adulta A literatura aponta que
Ana Flávia Nascimento Otto - UCB a interação da mãe com o bebê, via alei-
anaotto30@yahoo.com.br tamento, e, posteriormente, a interação
Maria Alexina Ribeiro - UCB da família com a alimentação da criança,
constitui fator fundamental no surgimen-
Entre as pessoas com obesidade grave to de alguns casos de obesidade. Muitas
existe uma sub-população com caracte- mães e famílias têm uma excessiva preo-
rísticas semelhantes, que não respondem cupação com a alimentação da criança e
ao tratamento comportamental para per- a alimentam de forma exagerada, criando
da de peso. Este grupo apresenta um tipo um hábito alimentar que pode se manter.
de transtorno alimentar conhecido como Essa relação alimento-afetividade foi in-
Transtorno da Compulsão Alimentar Perió- tensificada na vida de Eva, pela ênfase que
dica (TCAP). Essa patologia é uma nova ca- a mãe dava em alimentá-la, parecendo ser
tegoria diagnóstica proposta pelo Manual essa a única forma de carinho que a mãe
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos lhe dedicava. A expressão de afeto através
Mentais, 4ª edição - DSM-IV, para possível do alimento iniciada na amamentação e
inclusão nos transtornos alimentares, sen- perpetuada com o uso de outros alimen-
do que até o momento, está inserida nos tos, pode ter influenciado ou predisposto
transtornos alimentares sem outra especi- ao surgimento da compulsão alimentar e
ficação. É caracterizada pela presença pe- da obesidade. As perdas são outro aspecto
riódica de compulsão alimentar com sub- que chamou a atenção na história da famí-
sequente angústia, devido à ausência de lia de Eva. Elas permeiam o ciclo de vida
comportamentos regulares voltados para familiar desde a sua família de origem: o
eliminação do excesso alimentar Apesar de pai de Eva abandonou a família assim que
diversos estudos investigarem o ambiente ela nasceu. As perdas sempre provocam
familiar de pessoas com transtornos ali- uma desestabilização do sistema familiar,
mentares, existe uma escassez de estudos e a experiência de superá-la fortalece a
que aliem funcionamento familiar, obesi- capacidade resiliente da família para en-
dade e TCAP. Por isso, o objetivo deste tra- frentamento de adversidades futuras.
balho foi investigar a dinâmica familiar de Entretanto, quando este ajuste ocorre em
um adulto com obesidade grave e TCAP, a apenas parte do sistema familiar, cria-se
partir do arcabouço teórico da Abordagem um desequilíbrio entre os membros, onde
Sistêmica da Família. A pesquisa foi deline- uns tornam-se mais resilientes que outros
ada na forma de um estudo de caso rea- e estas diferenças podem afastá-los, justa-
lizado a partir dos dados levantados em mente nos momentos de reorganização de
duas visitas domiciliares para construção papéis e de vínculos na família. A vivência
do genograma familiar, ecomapa, colagem desta crise pode paralisar a família no seu
da família e realização de duas tarefas: processo natural de desenvolvimento e
tarefa nº 2 de Féres-Carneiro e tarefa nº favorecer o surgimento de sintomas. No
4 de Watzlawick. O estudo demonstra a caso da Família Dias, a saída do pai de Eva

316
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foi a primeira crise enfrentada por ela. A familiar, entendida aqui, como a capaci-
família, na tentativa de adaptar-se a essa dade do grupo familiar de suportar crises
nova realidade, promoveu Eva à condição e adversidades acionando o potencial de
de filha parental. Ela, além de cuidar da reparação e superação. Dessa forma, a
mãe alcoolista, também cuidava dos seus estrutura familiar desligada pode ter difi-
irmãos, apesar de ser a filha mais nova. cultado o manejo da crise iniciada com a
Essa troca de papéis quando temporária morte do irmão e agravada pela doença
constitui a base de identificação da crian- materna, e gerado uma sobrecarga na fa-
ça com os pais e esse arranjo natural não mília nuclear, culminando no surgimento
acarreta, necessariamente, prejuízos para de um novo sintoma, o TCAP. Outras ca-
o funcionamento familiar. Mas se a paren- racterísticas identificadas similares quanto
talização tornar-se um modo habitual e ao funcionamento de sistemas com obe-
prevalente de relação, como no caso de sidade descritos na literatura foram: fron-
Eva, o filho parental é excluído do subsis- teiras internas difusas e externas rígidas;
tema fraterno e inserido no subsistema ênfase à lealdade familiar; forte ligação
parental, assumindo prematuramente entre alimentação, afetividade e pertenci-
uma considerável responsabilidade emo- mento e comunicação marcada por pouca
cional, que o obriga a desenvolver um expressão de sentimentos. Sobre o funcio-
falso-self de autonomia, independência e namento familiar de pessoas com TCAP,
autossuficiência. Esse filho fica triangula- também foi observado características rela-
do e fusionado com figuras parentais in- tadas na literatura, como vulnerabilidade
diferenciadas, transformando esse papel à obesidade e baixa coesão na família de
num aspecto de sua própria identidade. origem. Por outro lado, a pesquisa identi-
Provavelmente, a parentalização de Eva ficou aspectos da dinâmica que não foram
tenha dificultado o seu relacionamento encontrados nos estudos revisados e que
com seus irmãos, referidos por ela como podem estar relacionados com o desen-
“inimigos”, visto que sua permanência no volvimento de obesidade e TCAP: a pa-
papel parental a impediu de desenvolver rentalização do paciente com o sintoma e
uma relação de igualdade no subsistema uma comunicação familiar paradoxal. Com
fraterno. Já na fase adulta, quando Eva já base nesses resultados salientamos que a
era casada e suas filhas eram pequenas, obesidade não se limita ao indivíduo, ela
morre seu irmão mais próximo e em se- está intimamente ligada ao sistema fa-
guida sua mãe adoece gravemente. Nesse miliar e, portanto, precisa ser tratada de
momento de luto e de dificuldades finan- forma sistêmica. Se conseguirmos mudar
ceiras, Eva começa a desenvolver os sinto- o nosso olhar, do indivíduo para o con-
mas de compulsão alimentar. Nos seus re- texto, e incluir a família no tratamento da
latos refere não ter tido apoio dos irmãos obesidade e do TCAP, não como fonte de
para cuidar da mãe, o que demonstra o suporte, mas como agente primordial de
ambiente desligado de sua família de ori- mudança, possivelmente teremos melho-
gem. O desenvolvimento do TCAP parece res resultados ao longo prazo.
estar intimamente ligado a um sistema
familiar desligado. De fato, um baixo nível Palavras-chave: obesidade/TCAP; família,
de coesão familiar enfraquece a resiliência dinâmica familiar.

317
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

MR LT01 - Mesa Redonda cionamento da pessoa, e as implicações


do conhecimento já disponível para ações
Convidada voltadas para a atenção ao idoso, propor-
cionando-lhes mais qualidade de vida.
MR LT01-1013 – IMPLICAÇÕES DO
ENVELHECIMENTO PARA A PERCEPÇÃO O ENVELHECIMENTO DO SISTEMA
VISUAL E AUDITIVA AUDITIVO E A PERCEPÇÃO AUDITIVA EM
Luciana Carelli Henriques de Andrade - InPA IDOSOS: A COMPREENSÃO DA FALA EM
luliandrade@gmail.com DESTAQUE
Maria Ângela Guimarães Feitosa - UnB Luciana Carelli Henriques de Andrade - InPA
afeitosa@unb.br luliandrade@gmail.com
Roberta Ladislau - UnB
robertaladislau@gmail.com O envelhecimento constitui processo
degenerativo progressivo, marcado por
O aumento da expectativa de vida da alterações estruturais e fisiológicas nos
população tem despertado crescente in- sistemas cardiovascular, respiratório,
teresse de pesquisadores em diferentes músculo-esquelético, nervoso e senso-
áreas para estudar o envelhecimento, rial os quais desencadeiam complicações
pelos seus aspectos econômicos, sociais, importantes para os processos sensoriais
biológicos e psicológicos. Na presente e cognitivos (Feitosa, 2001). A perda da
mesa redonda dá-se atenção aos aspec- audição começa em torno dos 20 anos
tos biológicos caracterizados por um pro- de idade, entretanto, nesta fase, esta per-
cesso degenerativo progressivo, marcado da não é notada e nem facilmente men-
por alterações estruturais e funcionais e surável. Ela começa a ser percebida em
aos aspectos psicológicos relacionados a torno dos 50 anos. Em geral, os homens
decréscimo no funcionamento sensorial, apresentam uma perda auditiva notável
perceptual e cognitivo. São apresentadas mais cedo que as mulheres (Yost, 2007).
e problematizadas alterações na percep- Homens a partir dos 69 anos têm limia-
ção que acompanham o processo de enve- res auditivos mais altos do que mulheres
lhecimento, abordando tanto alterações na faixa de 4000Hz. Observa-se a partir
usuais não necessariamente vinculadas a dos 50 anos o aumento progressivo nos
doenças, como as alterações na percep- limiares auditivos detectados por meio
ção de fala e no processamento temporal da audiometria tonal (Syka, 2002). Segun-
auditivo, quanto às alterações associadas do Baraldi, Almeida e Borges (2007) é na
a doenças crônico-degenerativas, como faixa etária de 80 anos que a dificuldade
as alterações na percepção da emoção para ouvir sons em alta frequência está
em idosos com doença de Alzheimer. São mais acentuada, e depois dos 90 o nível
examinadas as implicações destas altera- de perda se estabiliza. A perda auditiva bi-
ções para outros aspectos da percepção lateral e simétrica que ocorre progressiva-
e para a vida social do idoso, as relações mente em função do avançar da idade é
dessas alterações de percepção com as chamada de presbiacusia. A presbiacusia
dimensões biológica e cognitiva do fun- gera dificuldade de localização espacial,

318
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

processamento de informações sobre fre- na amplitude dos reflexos acústicos, b) a


quência, tempo, intensidade dos sons e diminuição dos potenciais de tronco en-
compreensão da fala. As diversas mudan- cefálico, c) a diminuição da inibição do
ças anatômicas que ocorrem no sistema sistema nervoso auditivo central (SNAC)
auditivo do idoso, tanto na parte perifé- e d) o prolongamento das latências das
rica quanto central interferem na eficácia respostas do tronco encefálico. Encon-
do processamento da compreensão da tram-se, também, evidências sobre irre-
fala. A presbiacusia é percebida como o gularidades no processamento da infor-
principal fator explicativo para a dificulda- mação no que tange a: a) alterações no
de de compreensão da fala desta popula- processamento e na resolução temporal,
ção (Humes, Watson, Christensen, Cokely, b) alterações no processamento espacial
Halling & Lee, 1994). A presbiacusia atin- (i.e. localização de sons), c) diminuição
ge cerca de 60% dos idosos acima de 65 progressiva e acentuada da sensibilidade
anos e inclui mudança gradual na sensibi- para frequências altas, d) declínio na re-
lidade auditiva para todas as frequências, solução de frequências, e) o aumento do
sendo as perdas para as altas freqüências limiar de audibilidade para tons puros e
as de maior magnitude (Bess, Hedley- f) lentificação na velocidade de proces-
-Williams & Lichtenstein, 2001). A perda samento. Como a intenção das autoras
da sensibilidade para altas frequências relaciona-se aos processos de percepção
ocorre porque as estereocílias das célu- da fala, serão argumentados de forma
las ciliares da base da cóclea, responsável seletiva os aspectos relacionados a esta
pela transdução do som, são estimuladas temática. Parte da diminuição progressiva
diante de todas as frequências sonoras, na compreensão de fala associada à idade
assim seu desgaste é maior e ocorre pri- avançada é devido a um declínio na capa-
meiro, se comparado com as estereocílias cidade do processamento funcional, a de-
das células do ápice, que demoram um terioração da memória episódica secun-
pouco mais para ficarem flácidas e pro- dária e a diminuição na velocidade dos
cessam apenas frequências baixas. Como processos mentais (Gordon-Salant, 2005;
as células da base da cóclea são especia- Marshall, 1981). Em resumo, observa-
listas em processar sons de alta frequên- -se que a ocorrência da presbiacusia em
cia, o prejuízo na compreensão dos sons idosos compromete várias habilidades re-
agudos ocorre primeiro (Syka, 2002; Yost, lacionadas com a audição. Compreender
2007). O envelhecimento do sistema au- e discutir sobre o processo de envelheci-
ditivo (SA) está correlacionado com várias mento sensorial e os seus efeitos é uma
alterações, as quais podem ser resumidas tarefa importante para os profissionais
em mudanças cognitivas, morfológicas e de saúde que lidam com idosos, pois isto
fisiológicas. Como mudanças morfológi- possibilita a busca de meios mais eficazes
cas constata-se, segundo Syka (2002): a) a e positivos para a comunicação e relacio-
desestruturação das células ciliadas inter- namento com os idosos.
nas e externas e b) as perdas das células
ganglionares espiraladas que formam as Palavras-chave: Envelhecimento, Envelheci-
fibras do nervo auditivo. Nas mudanças mento do sistema auditivo, Percepção de fala.
fisiológicas identifica-se: a) a diminuição

319
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ENVELHECIMENTO E PROCESSAMENTO do a localização de fontes e a percepção


TEMPORAL AUDITIVO de movimento. O processamento tempo-
Maria Ângela Guimarães Feitosa - UnB ral vem sendo estudado em dois aspectos
afeitosa@unb.br centrais e com metodologias comporta-
mentais psicofísicas próprias. De um lado
É de longa data conhecido que com o pro- aquelas situações em que é necessária a
cesso de envelhecimento, as pessoas vão integração de informação ao longo de um
gradualmente perdendo a sensibilidade período relativamente longo, como na
auditiva, com prejuízo em maior grau para detecção de sinais fracos; de outro lado
homens do que mulheres, e para sons de aquelas situações em que é necessário
frequência alta do que frequências baixas. um processamento rápido para evitar o
Acompanha este processo uma dificulda- efeito mascarador de outros sons antece-
de crescente de comunicação oral, com dentes ou subsequentes, ou seja uma boa
eventual prejuízo para a própria autono- acuidade ou resolução temporal (Eddins
mia pessoal, e estes dois tipos de prejuízo & Green, 1995; Helfer & Freyman, 2008).
são componentes centrais da presbiacu- Mais recentemente o aspecto temporal
sia . Uma série de estudos tem analisado da informação tem sido ampliado para o
aspectos específicos do processamento estudo da percepção de fluxos, objetos e
do som que também acompanham o en- cenas auditivas (por exemplo, Sakai, Chi-
velhecimento e há documentação impor- moto, Qin & Sato, 2009). Dentro da temá-
tante de prejuízo crescente em processa- tica de processamento temporal, e mais
mento temporal, em discriminação de fre- especificamente no estudo da resolução
quência e de intensidade, e em uma série temporal, encontramos vários estudos
de tarefas em que o ambiente acústico utilizando procedimentos em que a tare-
inclui ruído ou distorções, especialmente fa do participante é identificar a presen-
se estas tarefas são de reconhecimento ça de falhas, interrupções, em um sinal
de fala. Revisões abrangentes deste ce- contínuo e mostramos a partir de estu-
nário podem ser encontradas em Fozard dos realizados por diferentes grupos de
& Gordon-Salant (2001) e Fitzgibbons pesquisadores que a resolução temporal
& Gordon-Salant (2010). Muitas vezes, diminui com a idade (por exemplo, Snell,
um aspecto importante da informação 1997; Neves, 2005; Ross, Schneider, Sny-
auditiva é a sua organização no tempo, der & Alain, 2010). Procuramos argumen-
demandando que o ouvinte realize um tar que a diminuição da competência do
processamento temporal do som. Nesta processamento temporal não se relaciona
apresentação damos atenção diferencia- com a diminuição na sensibilidade a tons
da ao envelhecimento do processamen- puros, mas se relaciona a outras compe-
to temporal, uma habilidade considera- tências de importante valor adaptativo,
da importante para a percepção de sons como a percepção da fala, do espaço, e de
complexos e com características acústicas aspectos mais subjetivos como a análise
altamente dinâmicas ao longo de interva- de cenas. Por fim, comentamos sobre a
los de tempo razoavelmente curtos, como dificuldade em dissociar os componentes
as envolvidas no reconhecimento da fala e sensoriais e cognitivos do processamento
na percepção auditiva do espaço, incluin- auditivo.

320
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Processamento temporal, alterações emocionais também. No en-


Envelhecimento auditivo, Desenvolvimento velhecimento normal, o idoso passa por
sensorial. uma série de transformações emocionais
e psicológicas. Sua autoestima e a sua
aceitação de si mesmo podem ficar mais
PERCEPÇÃO EMOCIONAL NO vulneráveis à medida que sofre alterações
ENVELHECIMENTO em sua autonomia, em sua liberdade, no
Roberta Ladislau - UnB seu convívio social e nos vínculos afetivos
robertaladislau@gmail.com no grupo. (Gáspari & Schwartz, 2005).
Como consequência, pode-se ter um iso-
O aumento da expectativa de vida da po- lamento social e um cenário facilitador de
pulação despertou o interesse de muitos depressões. Porto, Bertolucci, Ribeiro e
profissionais para estudar o envelheci- Bueno (2008) explicam que os idosos pos-
mento. Falcão e Dias (2006) advertem suem uma maior habilidade na regulação
que em 2025, o Brasil será o sexto país das suas emoções do que os jovens. Con-
com maior população de idosos no mun- forme os autores, os idosos focariam em
do. Esse processo de envelhecimento uma resposta antes de gerar a emoção.
tem trazido diversas consequências. Uma Eles utilizam a teoria da seletividade so-
delas é o aumento de doenças crônico- cioemocional, segundo a qual, os idosos
-degenerativas, como as demências, que valorizariam mais objetivos com significa-
vêm se tornando muito comuns na po- do emocional, investindo mais cognitiva e
pulação mundial, chegando a duplicar a comportamentalmente nessas situações.
cada cinco anos, após os 60 anos (Cara- Assim, a emoção direcionaria processos
melli & Barbosa, 2002). O DSM-IV consi- cognitivos, e, ao direcioná-los, a memó-
dera demência toda síndrome que apre- ria formada poderia sofrer influência em
senta declínio da memória, de alguma seu conteúdo. No caso da DA, Abrisqueta,
outra função superior (e.g. linguagem, Ueta, Oliveira, Bertolucci & Bueno (1998)
gnosias, praxias ou funções executivas) afirmam que essa população apresentam
e que interfira nas atividades de vida di- capacidade de atribuir conteúdo afeti-
ária. Caramelli e Barbosa (2002) e Farah e vo aos estímulos. Contudo, a associação
Feinberg (2005) afirmam que a Doença de entre a emoção e a memória nesses pa-
Alzheimer (DA) é a causa mais comum de cientes não é consistente, pois a emoção
demência, atingindo 50% dos idosos aci- não promove uma melhora na evocação
ma de 65 anos. A DA evolui, inicialmente, de informações. Para os autores, é possí-
com o prejuízo na orientação temporo- vel que o conteúdo emocional seja reti-
-espacial e nas memórias de curto-prazo do pelos idosos. Contudo, essa retenção
e episódica. A seguir, ocorrem déficits na não deve ser suficiente para a evocação
linguagem, nos distúrbios de planejamen- do conteúdo cognitivo dos estímulos. Os
to, nas habilidades visuoespaciais e no autores sugerem ainda que é possível que
processamento emocional. Nos pacientes os pacientes com DA percam, em estágios
mais idosos, é comum a ocorrência de iniciais, a capacidade de evocar o conte-
sintomas psicóticos (Caramelli & Barbosa, údo emocional dos estímulos, provavel-
2002). É comum observar, nesses idosos, mente devido ao comprometimento da

321
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

amígdala. Devido a essa dificuldade no indivíduo, o qual lhe possibilitará lidar, em


processamento das emoções, o presen- diferentes graus de eficácia, com as per-
te trabalho buscou estudar o reconhe- das inevitáveis do envelhecimento” (Néri,
cimento de expressões emocionais da 2000, p. 12-13).
face em idosos com DA por considerar a
importância desse reconhecimento para Palavras-chave: Envelhecimento visual, Reco-
a regulação do comportamento e para a nhecimento de expressões faciais, Doença de
interação social do idoso. Como resulta- Alzheimer.
dos, observou-se que os idosos com DA Contato: Maria Ângela Guimarães Feitosa,
em estágio moderado obtiveram índice UnB, afeitosa@unb.br
de reconhecimento próximo de 80% para
a face de alegria; de 36% para a de triste-
za e as restantes ficaram abaixo de 20%
de reconhecimento. Esses dados sugerem
MR LT04 - Mesa Redonda
que o reconhecimento da face de alegria Convidada
é a única que está preservada nesse gru-
po. Como sugerido no estudo de Luzzi,
Piccirilli e Provinciali (2007), o déficit no MR LT04-1235 - TECENDO INFÂNCIAS:
reconhecimento de expressões faciais CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA E DA
emocionais em idosos com DA está rela- EDUCAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE
cionado ao hemisfério direito. Mais espe- PROFESSORES
cificamente, o hemisfério direito está vol- Paula Cristina Medeiros Rezende - UFU,
tado para o processamento de emoções lalamedeiros@netsite.com.br
negativas (Perry et al., 2001). A preserva- Paula Amaral Faria - ESEBA/UFU,
ção do reconhecimento da face de alegria paula_afaria@yahoo.com.br
sugere que ainda há uma memória resi- Pâmela Faria Oliveira - ESEBA/UFU,
dual voltada para essa expressão emocio- pamela8oliviera@hotmail.com
nal facial. Considerando que a emoção é Denise Bortoletto - ITV
eliciada por representação mental e me- debortoletto@yahoo.com.br
mória (Scherer & Ekman, 1984), parece
que os déficits encontrados na percepção Esta mesa pretende contribuir com o de-
de faces emocionais estão mais relaciona- bate sobre a constituição e formação de
dos à progressão da DA, que afeta tanto professores, a partir do encontro entre a
as habilidades visuoespaciais quanto o Pedagogia e a Psicologia, abordando ques-
processamento da emoção. O aspecto tões atuais relativas à Educação Infantil.
emocional, portanto, deve ser bem es- Atualmente, a infância tem-se apresenta-
tudado a fim de favorecer os programas do como tema central na constituição de
de estimulação para os idosos, proporcio- um novo paradigma que convida a com-
nando-lhes mais qualidade de vida. Nes- preender a natureza histórica-cultural da
se trabalho, entede-se qualidade de vida criança, tentando romper com a ideia de
como envelhecer de forma satisfatória e infância enquanto in-fans, ou seja, crian-
isso “depende do delicado equilíbrio en- ça sem fala, sem voz. Concomitante a este
tre as limitações e as potencialidades do movimento de legitimação de uma infân-

322
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cia “rica” e ativa, constatamos que o edu- educação, culminando em uma atuação
cador infantil, diretamente responsável coerente com a perspectiva que compre-
por este universo, se encontra sem espaço ende a criança como produtora de cultura.
para uma interlocução teórica-prática sis- A quarta fala será desenvolvida por uma
tematizada que o ajude a ampliar suas pos- pedagoga que compõe uma equipe de
sibilidades de intervenção neste contexto. apoio pedagógico da Educação Infantil de
Deste modo, a formação em serviço dos uma instituição privada, onde refletirá e
professores da educação infantil coloca-se explicitará as intervenções possíveis neste
em pauta na ordem da urgência, intiman- campo, delineando uma formação de pro-
do os profissionais que atuam na área da fessores que esteja voltada e comprometi-
educação a problematizarem e comparti- da com os processos de desenvolvimento
lharem suas práticas e fundamentações e aprendizagem das crianças.
teóricas. Assim, pretendemos articular
esta temática possibilitando legitimar as Palavras-chave: formação de professor,
diferentes vozes que compõem o cenário educação infantil, infância.
escolar, a saber: professores da educação PARANGOLÉS: Formação em Serviço de
infantil, pedagogo e psicólogo escolar. A Professores da Educação Infantil.
primeira fala abordará a formação em Paula Cristina Medeiros Rezende, UFU,
serviço do educador infantil, destacando lalamedeiros@netsite.com.br
a relevância da arte como ferramenta útil
no processo de ampliação dos sentidos O presente trabalho, desenvolvido a partir
sobre a atuação deste profissional no co- da experiência de uma psicóloga escolar
tidiano da educação infantil. Por meio da com um grupo de formação de educado-
metáfora do Parangolé, proposto pelo ar- res da educação infantil, inspira-se nos Pa-
tista Hélio Oiticica, pretende-se articular rangolés do artista plástico Hélio Oiticica
os recursos e as potências que o educa- quando convida o espectador a assumir
dor da infância pode desenvolver em sua um posicionamento ativo na constituição
prática diária. A segunda apresentação, da atividade criadora, abandonando o lu-
proposta por uma professora da educação gar de mero espectador. Parangolés são
infantil de uma Escola de Educação Básica, capas, estandartes, bandeiras para serem
versará sobre as perspectivas teóricas do vestidas ou carregadas pelo participante
campo da Educação e da Psicologia que de um happening. As capas são constituí-
sustentam as práticas educativas, dando das de tecidos coloridos estampados com
destaque às especificidades deste profis- palavras e imagens que aparecem com o
sional; a formação inicial e em serviço e movimento da pessoa que o carrega. Ao
as possibilidades de diálogos com a pro- vestir o parangolé o participante se consti-
posta educativa de Reggio Emilia. Em se- tui obra de arte e supera a ideia de supor-
guida, por meio das experiências de uma te para a capa. De acordo com Oiticica há
educadora infantil, também de uma Esco- uma “incorporação do corpo na obra e da
la de Educação Básica, pretende-se abor- obra no corpo”. De acordo com Salomão
dar a importância do desenvolvimento de (2003) a “relação artista-propositor com o
habilidades e competências necessárias participante que veste o parangolé não é
para instrumentalizar o profissional da a relação frontal do espectador e do espe-

323
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

táculo, mas como que uma cumplicidade, fio condutor neste trabalho está de acor-
uma relação oblíqua e clandestina, de pei- do com a perspectiva sócio-histórica, que
xes do mesmo cardume”. A intenção do ar- considera o homem como um ser ativo,
tista é provocar o público, convidando-o a social e histórico; e a sociedade, como pro-
abandonar o lugar de espectador em atitu- dução histórica dos homens (Bock; Gon-
de meramente contemplativa e a ocupar o çalvez, Furtado, 2009). Assim, esse sujeito
lugar de participante ativo na constituição se constitui e constrói o mundo dialética
da atividade criadora, experimentado tam- e dialogicamente, não podendo ser com-
bém uma inundação sensorial vibrante no preendido independentemente de suas
corpo inteiro pela cor, tato e movimento relações e vínculos. Deste modo, adulto
rápido e improvisado. Assim, o conceito de e criança se constituem mutuamente du-
exposição de obra de arte para ser aprecia- rante a história e dentro de um contexto
da pelo público passa a ser problematizada, sócio-cultural. Juntos constroem sentidos
inserindo na questão a idéia de invenção e significados do mundo infantil e adulto,
criativa do espectador, agora participante. se opondo, contrapondo e complemen-
O objetivo da participação é oferecer ao tando; demarcando um campo de tensão
homem a possibilidade de experimentar, e confronto presente no cotidiano desses
de se descobrir na criação. A obra, como sujeitos (Prado, 2005). A criança se cons-
objeto de arte em si, não diz nada. Fica à titui e se constrói em relação com adultos,
espera do seu interlocutor para comungar jovens, idosos, não estando para vir a ser
no movimento a experiência artista. De um adulto. É um autor e ator social, um in-
acordo com Favaretto (1992) o interesse terlocutor que se relaciona com o mundo
de Oiticica, ao criar o Parangolé, não foi conversando, brincando, questionando e,
outro senão o de levar o indivíduo ao di- na medida em que realiza esse intercâm-
latamento de suas capacidades artísticas, bio, possibilita a construção de diferentes
para a descoberta de seu centro interior versões de sentido. Para Corsaro (1997),
criativo, de sua espontaneidade expressiva citado por Müller (2006), as crianças são
adormecida, condicionada ao cotidiano. responsáveis pelas suas infâncias, uma vez
A transposição das intenções de Oiticica que contribuem ativamente para a mu-
para a arena da Educação Infantil nos per- dança social e para a construção da cul-
mite refletir sobre como os educadores da tura a partir da interação com seus pares
infância tem se posicionado em relação a e com os adultos. Elas são agentes ativos
práticas educativas que legitimem os di- que constroem suas culturas e colaboram
reitos fundamentais das crianças e colabo- para a produção do mundo adulto, afetam
rem na construção de uma sociedade mais e são afetadas pela sociedade. Dahlberg,
democrática. Quais os espaços que este Moss e Pence (2003) aproximam-se desse
educador tem para dar continuidade ao pensamento à medida que apontam para
seu processo de formação que possibilite o reconhecimento de algumas caracterís-
exercer com autoria uma prática marcada ticas deste novo paradigma da infância, as
por experiências criativas, com sentidos quais são de suma importância para este
voltados para a formação da criança autô- estudo, tais como: a infância como uma
noma, também autora de suas experiên- construção social e sempre contextualiza-
cias? A visão de infância que temos como da; as crianças enquanto atores sociais que

324
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

exercem atividade e função; o direito de para a formação inicial de professores. Em


terem seus relacionamentos sociais e cul- torno da formação em serviço dos pro-
tura estudados, e de contribuírem para os fessores que atuam na primeira infância
recursos e produções sociais; a legitimação alguns tópicos merecem ser destacados
de que as crianças têm uma voz própria e como fundamentais para sustentar uma
devem ser ouvidas de modo a serem consi- prática diferenciada: as especificidades do
deradas com seriedade; a necessidade de professor de educação infantil; formação
se atentar para a maneira como o poder inicial e em serviço; desafios atuais diante
do adulto é mantido e usado, assim como da formação desse setor e possibilidades
a elasticidade e a resistência das crianças a de diálogos com a proposta educativa de
esse poder. Desta forma, os Parangolés de Reggio Emilia. Primeiramente acredita-se
Hélio Oiticica, nos convidam a trabalhar no importante situar o momento atual em
sentido da construção de uma educação que o segmento da Educação Infantil tem
composta por sujeitos criativos, ativos, co- atravessado no cenário da Educação bra-
-responsáveis de práticas educacionais vol- sileira, dado esse relacionado com a for-
tadas para a democracia. A formação em mação dos nossos educadores. Tomam-se
serviço de Educadores da Infância susten- como base as discussões travadas no XV
tada pela teoria sócio-histórica e tramada ENDIPE (2010). Neste foi discutido que o
nas interações cotidianas entre educado- setor da educação infantil está vivendo
res e crianças, pode anunciar-se como uma um intenso processo de revisão de con-
forma alternativa para alcançarmos uma cepções sobre a educação de crianças em
educação infantil de qualidade. espaços coletivos, e de seleção e fortaleci-
mento de práticas pedagógicas mediado-
ras de aprendizagem e do desenvolvimen-
FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA to das crianças. Discutiu-se também sobre
EDUCAÇÃO INFANTIL: DIÁLOGOS a não antecipação de processos para o
TEÓRICOS Ensino Fundamental. Embora o momento
Paula Amaral Faria - UFU, atual apresente um quadro de maior re-
paula_afaria@yahoo.com.br gulamentação, as análises realizadas indi-
cam permanências, redefinições e tensões
O trabalho tem como intenção articular as que ainda demandam mobilizações dos
principais perspectivas teóricas disponí- diferentes setores envolvidos, e das políti-
veis socialmente no campo da Educação e cas públicas voltadas para as questões da
da Psicologia, com o processo de constitui- infância. Um dessas tensões apresentadas
ção e formação de uma educadora infantil durante o referido evento, especificamen-
de uma escola de Educação Básica da Uni- te por Cruz (2010) refere-se à formação de
versidade Federal de Uberlândia. Esta ins- professores da Educação Infantil. Um dado
tituição, por ser uma escola de aplicação, discutido diz respeito à necessidade do
constitui-se também em um espaço que professor da primeira infância constituir
recebe estagiários do curso de pedagogia uma profissionalidade específica relativa
e psicologia para desenvolverem projetos a aspectos diferenciadores do papel de
de pesquisa juntamente com a comunida- professor de crianças pequenas, de zero a
de, o que possibilita ampliar a discussão cinco anos. A formação do professor de-

325
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

veria contribuir para uma ação docente professor acumulou na sua vivência pes-
que inclua, dentre outros aspectos: avaliar soal e profissional – o que é importante
cuidado e educação; planejar experiências para que ele também reconheça e valorize
diversificadas, que atendam aos vários as- o conhecimento da criança. Para desem-
pectos do desenvolvimento infantil; esta- penhar bem seu trabalho cotidiano, esse
belecer e manter uma relação cooperativa profissional precisa aprender a refletir
e amistosa com as famílias; aprender a sobre a sua prática, construindo um pro-
ser parceiro do desenvolvimento infantil, jeto educativo que leve em consideração
estimulando-o, mas não o apressando; a utilização de recursos que possam os
abordar as diferentes áreas de conheci- auxiliar na construção de uma educação
mento de maneira integrada; vincular a para a infância de maior qualidade como:
aquisição de novos conhecimentos e ha- a documentação, a avaliação, a pesquisa e
bilidades pelas crianças aos seus reais de- a observação, desde que não seja suprimi-
sejos e necessidades, promovendo uma da a importância de sensibilizar, de brin-
verdadeira aprendizagem significativa; dar car, de ler, dialogar e escutar a infância.
atenção privilegiada aos aspectos emo- Identifica-se em Dahlberg, Moss e Pence
cionais, especialmente durante o período (2003) que os desafios atuais diante da
de inserção a criança a creche ou a pré- formação do educador para a primeira in-
-escola; dar oportunidade e estímulo para fância referem-se em aceitar as limitações
a criança expressar os seus sentimentos, temporais e espaciais, de que não há con-
desenvolver a sua autonomia, ajudando- certos rápidos e nem projetos universais.
-a a desenvolver a sua identidade cultu- Mas há possibilidades de conhecimento
ral, racial e religiosa. Ao que se refere à e ações locais: o indivíduo interessado
formação inicial do educador, de crianças pode ler e refletir sobre temáticas relati-
pequenas, a autora defende que os cur- vas a sua formação e sobre a infância, bem
sos que cuidam dessa etapa da formação como outras que por ventura surgirem
deveriam repensar, sistematizar e enri- necessidades; o grupo, a equipe de uma
quecer dois conjuntos de informações, instituição, podem discutir e explorar di-
intimamente relacionados: as referentes ferentes recursos e possibilidades para o
ao desenvolvimento e a aprendizagem aperfeiçoamento da sua formação, como
infantil, focalizando a criança concreta, exemplo, a documentação pedagógica.
localizada histórica e socioculturalmente. Podendo assim aprofundar o seu entendi-
Aspectos fundamentais para que o profes- mento do trabalho pedagógico e levando
sor possa desenvolver com qualidade seu a refletir sobre as concepções que cons-
trabalho, contextualizá-lo e posicionar-se truímos sobre a criança e a infância, e nes-
diante dos problemas que a área enfren- ta discussões podemos buscar inspirações
ta, dentre eles: a constituição histórica da em trabalhos como o de Reggio Emilia, e
infância; as políticas públicas da Educação assim fortalecer uma formação docente
Infantil; a identidade profissional docente. de qualidade. Edwards, Gandini e Forman
Sobre a formação em serviço do professor (1999), a partir de suas experiências nas
as leituras indicam que a formação preci- escolas de Reggio, recomendam que os
sa ter como referência o saber docente, professores devem ter o hábito de ques-
o reconhecimento e valorização do que o tionar suas certezas, devem possuir uma

326
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sensibilidade imensa, devem ser conscien- compromisso que a sociedade deve assu-
tes e estar disponíveis, devem assumir um mir em relação à infância. Diante desde
estilo crítico em relação às pesquisas e quadro devemos encontrar novas formas
conhecimento continuamente atualiza- de se trabalhar com crianças, incluindo
do sobre as crianças, devem manter uma entre estas a valorização das múltiplas
avaliação enriquecida do papel dos pais, e linguagens infantis buscando o desenvol-
devem possuir habilidades para falar, ou- vimento integral das mesmas. Também
vir e aprender com. Contudo é fato que a exige um bom entendimento por parte
educação para a primeira infância é um di- do professor sobre este desenvolvimento
reito da criança. A criança não tem direito e aprendizagem das crianças, pois ofere-
apenas ao acesso a creche e/ou a pré-es- cer uma educação de qualidade demanda
cola, mas a uma experiência educativa de conhecimentos profissionais, estratégias
qualidade, que realmente seja prazerosa e cuidado únicos apropriados a infância.
e eficaz na promoção das suas múltiplas E para isso exige-se também uma boa for-
aprendizagens e desenvolvimento. Como mação do professor que atua na educação
o professor é a figura mais importante infantil, pois a qualidade do trabalho com
para a qualidade dessa experiência, é im- a criança é intrinsecamente vinculada à
prescindível que a sua formação inicial e formação e qualificação do profissional da
em serviço seja foco de atenção por parte área. Pensando em dialogar sobre estas
das políticas públicas e dos cursos de for- questões pretendo, a partir da minha ex-
mação desses profissionais. periência como educadora infantil da Es-
cola de Educação Básica da Universidade
Federal de Uberlândia, contribuir com a
DIÁLOGOS SOBRE A INFÂNCIA: reflexão sobre a formação do professor da
EXPERIÊNCIAS DE UMA EDUCADORA educação infantil, destacando a importân-
INFANTIL cia do desenvolvimento de habilidades e
Pâmela Faria Oliveira - UFU, competências necessárias para instrumen-
pamela8oliviera@hotmail.com talizar este profissional da educação para
um trabalho mais rico, prazeroso e efetivo.
Ao longo da história da infância percebe- A partir do diálogo rico entre a pedagogia e
mos uma história da marginalização que a psicologia, temos refletido e estruturado
abrange os mais diversos âmbitos, seja novas formas de compreender a infância
social, cultural ou econômico. As crianças e, por conseguinte, temos buscado expe-
precisavam viver sempre em um mundo rimentar em nosso cotidiano escolar uma
que não era o seu, que não estava feito a atuação coerente com esta perspectiva
sua medida, sendo vista como um adulto que se apresenta. Dahlberg, Moss e Pence
em miniatura. Contudo, atualmente, per- (2003) nos colocam que há muitas crianças
cebemos uma ampliação no modo como e muitas infâncias, a primeira infância é a
temos visto e interagido com a infância. base do progresso bem sucedido na vida
Inicia-se uma configuração de um mapa posterior. É o início de uma jornada de re-
de direitos da infância cada vez mais pre- alização da incompletude da infância para
ciso e comprometido com as novas teorias a condição humana plena da idade adulta.
e políticas educacionais, reafirmando o A infância deve ser entendida como uma

327
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

construção social, elaborada para e pelas prático que nos mostra que a possibilidade
crianças, em um conjunto de relações so- de realizar um desenvolvimento e apren-
ciais, e a principal fase onde se constrói a dizagem significativos, valorizando uma
identidade infantil, portanto merece aten- prática pedagógica em sua dimensão li-
ção especial por parte dos educadores bertadora, criativa, participativa, inclusiva
que trabalham com a educação infantil. e democrática, por um processo de inte-
Faria e Mello (2005) nos mostra que hoje ração com o outro, mediado pela cultura,
temos um acervo bem denso de pesqui- uma prática pedagógica que contemple o
sas revelando infâncias diferenciadas, lúdico, a cultura, a formação humana e a
crianças curiosas e inventivas, capazes de construção de conhecimentos pela crian-
estabelecer múltiplas relações e levantar ça, são as escolas de Educação Infantil de
hipóteses de várias naturezas, derruban- Reggio Emillia. Edwards, Gandini e Forman
do por terra, portanto as concepções da (1999) referem que o respeito a coopera-
criança incompleta, incapaz, egoísta por ção, a solidariedade, a autonomia, a inclu-
natureza, assim desafiando o adulto pro- são, o direito de brincar a manifestação e
fissional da educação a trabalhar de acor- valorização da pluralidade cultural, social e
do com as múltiplas linguagens infantis. ética, ou seja a interação da criança com o
Teóricos como Vygotsky, Piaget e Wallon seu meio promove o desenvolvimento in-
também contribuem para os nossos estu- tegral da criança. Nas escolas de Reggio as
dos, trazendo uma melhor compreensão crianças são encorajadas a tomarem suas
do processo de constituição dos sujeitos, próprias decisões e a fazerem suas pró-
de seu desenvolvimento e de sua cons- prias escolhas. Os educadores exploram
trução de conhecimento. O estudo destes as múltiplas linguagens da infância, incen-
autores tem dado sustentação teórica ao tivam os relacionamentos e entendem as
trabalho do educador infantil e auxiliado crianças como promotoras do seu próprio
na compreensão do desenvolvimento in- desenvolvimento, abrindo as portas para
fantil. As contribuições destes teóricos nos as cem linguagens infantis. Charlot (2005)
fazem compreender que a aquisição de coloca que há uma grande diferença entre
conhecimento é um processo construído ensinar e formar, a idéia de ensino impli-
pelo indivíduo durante sua vida. Assim nós ca um saber a transmitir, e a idéia de for-
educadores devemos desenvolver práticas mação implica em dotar o indivíduo de
pedagógicas alinhavadas aos saberes in- competência. Assim formar o professor é
fantis, pois isto leva a situações privilegia- dotá-lo de competência que lhes permi-
das de aprendizagem infantil onde o de- tirão gerir tensões e construir mediações
senvolvimento pode alcançar níveis mais entre a teoria e a prática. Assim o autor
complexos, exatamente pela possibilidade defende uma formação de professores,
de interação entre os pares em uma situa- onde é necessário trabalhar saberes e prá-
ção imaginária e pela negociação de regras ticas em diversos níveis, e articular estas
de convivência e de conteúdos temáticos. com as lógicas de desenvolvimento da
Uma criança nunca pode perder a curiosi- criança na educação infantil. O professor
dade a respeito do mundo que a envolve, deve formar uma identidade profissional
e esse certamente há de ser um grande estruturada na sua relação com o mundo
objetivo da Educação Infantil. Um exemplo e com teorias. Edwards, Gandini e Forman

328
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(1999) nos mostram que o sucesso da es- ricamente acumulados e culturalmente


cola está intimamente relacionado com comunicados. Nesta instituição, as ações
a boa formação de seus professores. De da autora são realizadas com as crianças
acordo com o autor os professores de Re- e suas famílias e com os educadores. Estes
ggio realizam sua formação em serviço e últimos constituem foco principal desta
desenvolve seus conhecimentos enquanto apresentação. O cotidiano escolar revela
trabalham com as crianças. Estes fazem uma multiplicidade de saberes e práticas,
questionamentos constantes sobre o seu muitas vezes não vivenciados pelos profes-
ensino, e trabalham em conjunto com sores em seu processo de formação inicial.
toda a comunidade escolar, deixando de Por isso, acreditamos ser necessário inves-
lado o modo isolado e silencioso de se tra- tir esforços de modo a viabilizar interven-
balhar. Mostrando-nos a importância do ções que valorizem a formação dos profes-
professor reflexivo. sores em serviço, na tentativa de possibi-
litar a eles novos olhares sobre a infância
e sobre as crianças e, ainda, sobre as suas
NOVOS OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO relações estabelecidas com elas. Além dis-
INFANTIL: A FORMAÇÃO EM SERVIÇO DE so, reflexões sobre as suas salas de aulas,
PROFESSORES COMO POSSIBILIDADES DE as suas práticas didático-metodológicas
DIÁLOGOS SOBRE A INFÂNCIA e sobre a nova realidade escolar tornam-
Denise Bortoletto - ITV -se indispensáveis. Conforme esclarece a
debortoletto@yahoo.com.br literatura educacional, investir em situa-
ções que sejam favorecedoras da apren-
O presente trabalho tem como objetivo dizagem significativa, valorizar o conhe-
apresentar o relato de experiência da auto- cimento prévio dos alunos, relacionar os
ra, junto à equipe de apoio pedagógico da conhecimentos escolares com a realidade
Educação Infantil de uma instituição priva- atual, constituem alguns dos desafios do
da de ensino de Uberlândia-MG. A litera- educador frente ao novo contexto econô-
tura esclarece que o trabalho do Pedagogo mico e cultural. As investigações atuais re-
nas equipes de apoio pedagógico precisa ferentes à formação de professores reve-
estar relacionado ao desenvolvimento de lam a necessidade de se instrumentalizar
projetos e de práticas educacionais que os futuros professores ou os professores
intentem criar condições favoráveis à au- em serviço para pensarem ativamente na
tonomia das crianças e dos educadores, de realidade escolar, bem como em sua pró-
modo a desenvolver suas competências e pria inserção nela. Como pode ser obser-
habilidades, que só serão efetivadas por vado nos estudos de Facci (2009), Sawaya
meio de condições de aprendizagem faci- (2002) e Souza (2002) é na formação em
litadoras (Porto, 2009; Bassedas, 1996). A serviço do professor que se encontra uma
aprendizagem é entendida aqui como de- possibilidade de que suas práticas peda-
corrente de uma construção, de um pro- gógicas sejam refletidas, repensadas e até
cesso permeado por questionamentos, mesmo reestruturadas. Estamos de acor-
hipóteses e reformulações, enfim, uma do com o pensamento de Sawaya (2002)
dinâmica ação pedagógica que envolva ao sugerir que uma das contribuições fun-
o construir e o reconstruir saberes histo- damentais da psicologia ao campo educa-

329
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cional está relacionada à formação de pro- MR LT04 - Mesa Redonda


fessores. Todavia, a autora alerta que este
processo deve estar sustentado em ações
Convidada
que levem o professor a rever criticamen-
te as relações que constituem o seu fazer
MR LT04-1337 - PRÁTICAS SOCIAIS E
educacional, e ao mesmo tempo, que ele
DESENVOLVIMENTO HUMANO EM
possa refletir sobre suas concepções, seus
CONTEXTOS EDUCACIONAIS
modos de atuação e sua relação interpes-
soal na instituição escolar. Como pode ser Luciano Santana Lopes - FAPRO,
visto em Machado (2002), se na escola professorluciano.lopes@gmail.com
não existirem estratégias coletivas para Alice Farias de Araújo Marques - SEE/EMB
pensar os acontecimentos do cotidiano, alicemarques@unb.br
se faltarem recursos para atender aos in- Denise de Oliveira Alves - Anhanguera
teresses diversificados das crianças, se não denisedeoliveiraalves@gmail.com
se realizam discussões que auxiliem o pro- Luciana Câmara Fernandes Bareicha -
cesso ensino-aprendizagem, as dificulda- Anhanguera
des tornam-se fatalidades. Assim, torna-se luciana.bareicha@gmail.com
urgente repensar junto aos professores as
suas concepções de infância, criança e de As temáticas ora desenvolvidas giram em
Educação Infantil e, é no espaço de forma- torno de práticas sociais inseridas nos di-
ção em serviço, que esses saberes pode- ferentes contextos cotidianos, sobretudo
rão ser construídos e reelaborados. Para nos ambientes educacional e esportivo.
isso, busca-se um novo significado ideoló- São ressaltados os princípios e intenções
gico e social da infância a partir das ideias grupais que encorpam as práticas so-
de Piaget e Vygotsky. Tomando por base ciais, em especial as pedagógicas, bem
esses referenciais teóricos, a criança pas- como suas interações que favorecem o
sa a ser vista como agente construtor do desenvolvimento humano. Os trabalhos
conhecimento e sujeito ativo no proces- apresentam proposições conceituais re-
so educacional. Por conseguinte, as con- levantes para a compreensão do desen-
tribuições desses autores sinalizam uma volvimento humano em uma dimensão
nova etapa na história da educação das sócio-histórica, atribuindo centralidade
crianças. Frente ao até aqui exposto pode- aos “processos” e às características da
-se considerar que a formação em serviço pessoa. O primeiro aborda a inclusão
de professores precisa estar pautada em educacional de pessoas com deficiên-
processos e estratégias que permitam tra- cia no ensino superior, tomando como
tar a criança em sua individualidade, para eixo estruturante o acolhimento e a va-
assim buscar melhorias para os processos lorização das diferenças e da diversida-
de desenvolvimento e aprendizagem das de humana, questões socioculturais nas
crianças, especialmente àquelas inseridas quais se apóiam ou deveriam se apoiar
na Educação Infantil. as práticas sociais. O segundo trabalho
relaciona a construção da subjetividade
Contato: Paula Cristina Medeiros Rezende, ligada às representações sociais, compro-
UFU, lalamedeiros@netsite.com.br metimentos de grupos e valores sociais

330
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estimulados e valorizados nas práticas na aceitação ou não da criança em com-


educacionais. O terceiro discute as prá- preender o mundo em que ela vive. 3) A
ticas esportivas associadas à formação teoria psicológica que discute os aspectos
motora e psicossocial de crianças e ado- do desenvolvimento infantil e adolescen-
lescentes no âmbito do esporte de alto te nem sempre pauta a práticas cotidia-
rendimento. O último trabalho apresen- nas dos profissionais que trabalham com
tado discute a conjunção subjetividade e iniciação esportiva. Daí a importância de
práticas sociais, especificamente as edu- articular suas práticas pedagógicas com
cativas escolares, como uma necessida- o estágio de desenvolvimento no qual o
de de reflexão nos setores da psicologia atleta se encontra, considerando os as-
social e educação. O objetivo da mesa é pectos cognitivo, afetivo, físico e social. 4)
discutir os aspectos relacionais sob dis- É importante considerarmos que durante
tintas perspectivas teóricas, promovendo o processo educacional a subjetividade
um debate que perpasse vários espaços perpassa a inserção do professor na rela-
de práticas sociais. Os autores também ção com os seus pares, de maneira a res-
apresentam posicionamentos episte- ponsabilizá-lo pela intencionalidade de
mológicos, os quais dão visibilidade aos seus atos pedagógicos. Ressaltamos que
aspectos psicológicos da trama social na a subjetividade com características inten-
qual se detém. Os trabalhos apresentam cional e subjetiva, atravessa as interações
proposições conceituais relevantes para sociais também no contexto educacional
a compreensão do desenvolvimento hu- influenciando na construção de valores
mano em uma dimensão sócio-histórica humanos e, portanto sendo necessária
atribuindo centralidade aos “processos” a atenção devida a essas práticas sociais
e às características da pessoa em desen- contemporâneas.
volvimento. Algumas considerações finais
são apresentadas: 1) As ações educacio-
nais para a inclusão refletindo o avanço ACESSABILIDADE DE ESTUDANTES COM
no desenvolvimento dos direitos huma- DEFICIÊNCIA AO ENSINO SUPERIOR
nos devem envolver um rigoroso pro- Denise de Oliveira Alves - Anhanguera,
cesso de planejamento e organização de denisedeoliveiraalves@gmail.com
recursos de acessibilidade, rompendo,
assim, com as barreiras que obstaculizam A inclusão social e educacional de pes-
a plena participação e aprendizagem de soas com deficiência constitui, hoje, pro-
estudantes com deficiência no ensino cesso mundial que eclodiu no Brasil a
superior. 2) Conhecer como a criança é partir da década de noventa e tem como
representada internamente pelos estu- filosofia estruturante o acolhimento e a
dantes de pedagogia nos revela a forma valorização das diferenças e da diversi-
como essa fase do desenvolvimento hu- dade humana. Sua proposição conceitual
mano é retratada pelos formandos da toma como referência alguns documen-
educação. Pode-se considerar que existe tos internacionais que passam a nortear
uma construção subjetiva vinculada às a formulação de políticas públicas. Entre
representações sociais na relação criança eles destacam-se: a Declaração Mundial
e adulto que interfere significativamente Sobre Educação para Todos (Tailândia,

331
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

2009); a Declaração de Salamanca (Espa- importante, para a reflexão que preten-


nha, 1994); a Convenção Interamericana demos trazer aqui, é que se retirarmos
para Eliminação de Todas as Formas de qualquer pedaço ele perde parte de sua
Discriminação contra as Pessoas Porta- beleza. Especificamente relacionado ao
doras de Deficiência (Guatemala, 1999); a âmbito educacional o conceito toma a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas dimensão de um redirecionamento das
com Deficiência, (Estados Unidos, 2006). práticas educacionais e dos sentidos sub-
O conteúdo expresso nestes textos cons- jacentes às mesmas. Trata-se de uma pos-
titui um marco histórico em defesa da in- tura ativa de identificação de barreiras
clusão de grupos sociais em situação de que alguns grupos encontram no acesso a
vulnerabilidade e tem importante reper- educação e também na busca de recursos
cussão na educação, exigindo uma rein- necessários para ultrapassá-las. Tal con-
terpretação da educação especial, que cepção difere substancialmente de outras
passa a ser compreendida no contexto formas de inserção escolar de pessoas
da diferenciação adotada para promover com deficiência, requerendo uma visão
a eliminação das barreiras que dificultam ampliada de educação, dos recursos, da
ou impedem o acesso à escolarização por estrutura, do currículo e uma mudança
parte das pessoas com deficiência. Vários estrutural do sistema educacional. Com
autores, ao tratarem da educação inclu- relação à inclusão de estudantes com
siva, traduzem a dimensão de um “proje- deficiência no ensino superior, apesar de
to revolucionário”. Eizirick (2005) utiliza um crescente ingresso deste alunado, o
a guerra como metáfora para defender que confronta as práticas discriminató-
a idéia de ser a inclusão um processo rias e a cultura seletiva da universidade,
complexo, difícil e doloroso e demandar dados do Censo escolar/2009 revelam
a “gestação de uma mentalidade inclu- que, em um universo de 5.954.021 es-
siva”; em Mantoan (2006) encontramos tudantes com matrícula, apenas 20.019
“andar no fio da navalha” para expressar apresentam algum tipo de deficiência, o
o embate, a resistência, a ruptura episte- que equivale a um percentual de 0,34%.
mológica, inerente à proposição de uma Este contingente mínimo que consegue
escola aberta para todos; ainda, Forest e acessar ao ensino superior encontra uma
Lusthaus (1987), pesquisadores canaden- instituição despreparada, em suas bases
ses, utilizam o caleidoscópio como metá- política, organizacional e, principalmen-
fora para a inclusão. Caleidoscópio é um te, na dimensão epistemológica, ou seja,
aparelho formado por um pequeno tubo na concepção que está subjacente a ação
de metal, com pequenos fragmentos de docente dos professores universitários.
vidro colorido, que, por meio do reflexo Para uma melhor contextualização desta
da luz exterior em pequenos espelhos in- realidade precisamos não perder de vis-
clinados, apresenta, a cada movimento, ta uma perspectiva mais ampla que é a
combinações variadas e agradáveis efei- análise das condições nas quais se deu
tos visuais. Quem já teve oportunidade o nascimento da universidade no Brasil.
de conhecer o brinquedo impressionou- Sabemos que sua criação não se concreti-
-se com a infinidade de desenhos que os zou alicerçada às especificidades da nos-
pedaços de vidro podem produzir. O mais sa realidade educacional, nem tampouco

332
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se pautou em políticas governamentais qualidade da educação e apresenta ins-


construídas a partir da preocupação de trumentos de aferição do nível de eficácia
que a universidade viesse a assumir o do ensino ministrado nas escolas brasilei-
papel social de democratizar o direito à ras. Recentemente, em 2008, é publicada
educação. Mesmo com a concretização, a Política Nacional de Educação Especial
em 1931, do Estatuto das Universidades na Perspectiva da Educação Inclusiva. Em
Brasileiras, considerado como um dos seu texto o Documento traz a prerrogati-
grandes marcos estruturais da univer- va de que, na educação superior, a educa-
sidade em nosso país, pouco se alterou ção especial se efetive por meio de ações
do caráter excludente e seletivo que vi- que promovam o acesso, a permanência
nha caracterizando o ensino superior. Ao e a participação dos estudantes com de-
contrário, de acordo com Garcia (2000), ficiência. Estas ações envolvem o plane-
o estatuto corrobora para consolidar a jamento e a organização dos recursos e
“(...) hegemonia dos que se pretendiam serviços para a promoção de acessibilida-
proprietários do saber, que eram também de arquitetônica, nas comunicações, nos
os proprietários das terras e de todas as sistemas de informação, nos materiais
riquezas produzidas, e que se utilizavam didáticos e pedagógicos, que devem ser
do saber para justificar seu poder” (p. disponibilizados nos processos seletivos e
68-69). Isto demonstra que o Documen- no desenvolvimento de todas as ativida-
to revelou-se insuficiente para diminuir des que envolvam o ensino, a pesquisa e
o quadro de exclusão social na educação a extensão. Essas proposições conceituais
brasileira. Em 1994 podemos localizar a têm desencadeado um conjunto de ações
primeira iniciativa por parte do Ministé- e políticas que dão conseqüência aos
rio da Educação com relação ao acesso princípios filosóficos da inclusão. A in-
de estudantes com deficiência no ensino clusão de estudantes com deficiência no
superior.Trata-se da Portaria nº 179/1994 ensino superior é, portanto, uma propo-
que recomenda a inclusão da disciplina sição visionária, que considera a evolução
“Aspectos Ético-Político-Educacionais dos direitos humanos e nos convida a re-
da Normalização e Integração da Pessoa fletir sobre a essencialidade epistemoló-
Portadora de Necessidades Especiais”. gica e o caráter emancipatório desta nova
A recomendação era, prioritariamente, perspectiva.
para os cursos de Pedagogia, Psicologia
e demais licenciaturas, e a inclusão de Palavras-chave: Inclusão, docentes
conteúdos relativos a essa disciplina em universitários, estudantes com deficiência,
cursos da saúde, serviço social e demais acessibilidade.
cursos superiores, de acordo com as suas Contato: Denise de Oliveira Alves,
especificidades. Em 2007 é lançado o Faculdade Anhanguera de Brasília,
Plano de Desenvolvimento da Educação: denisedeoliveiraalves@gmail.com
razões, princípios e programas – PDE,
reafirmado pela Agenda Social, tendo
como um de seus eixos o acesso e a per-
manência das pessoas com deficiência no
ensino superior. O Documento focaliza a

333
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO cias durante a época colonial. Na expecta-


“SER CRIANÇA”: A INFÂNCIA NA tiva de conquistar novos adeptos ao pen-
SUBJETIVIDADE DOS ESTUDANTES DA samento católico, elas foram as primeiras
PEDAGOGIA a serem catequizadas, recorrendo-se a ar-
Luciana Câmara Fernandes Bareicha - tifícios punitivos quando necessários (Del
Anhanguera, Priore, 1999). Com o passar do tempo, as
luciana.bareicha@gmail.com crianças indígenas do Brasil tornaram-se
adolescentes ou, como disse Pe. Manoel
No Brasil, durante o século XVI, como da Nóbrega, chegaram aos anos da pu-
nos lembra Del Priore (1992), vislum- berdade que eram caracterizados pela
bramos o momento áureo da ocupação autonomia, iniciando questionamentos
jesuítica. Nesse período, nossas crianças quanto à necessidade de abandonar seus
eram retratadas como anjos gordinhos e costumes (Del Priore, 1992). Esse ponto
bochechudos que brincavam em jardins. de vista aponta uma diferença entre a in-
Pareciam simbolizar, por um lado, aspec- fância e a adolescência, sendo a infância
tos místicos da infância e, por outro, os suscetível à aceitação direta de informa-
mártires dos ensinamentos dos professo- ções, diferentemente do adolescente que
res jesuítas. O que mais chama atenção levanta dúvidas a respeito dos temas en-
nas produções artísticas e literárias dessa sinados através de avaliações críticas dos
época é a elaboração de um modelo de conteúdos assimilados. Nesse período,
criança que resultou em dois aspectos. como observa Chambouleyron (1999),
O primeiro revela uma visão de criança começa a surgir o entendimento entre os
como detentora de poderes místicos, que educadores de que as crianças poderiam
a levava a suportar provações físicas em expressar sentimentos apropriados à sua
“nome da sua fé”, valorizando qualidades idade. Os jesuítas estavam determinados
intrínsecas ao indivíduo. O segundo revela a imprimir nos indígenas suas concepções
uma criança que incorpora as característi- de homem e de Deus na crença de que
cas do Menino Jesus que, através de uma a aceitação incondicional do pensamento
imagem divinizada e associada à inocên- jesuítico, por parte dos nativos que seria
cia que transmitia, era usada para interce- assimilado utilizando-se, quando neces-
der junto aos fiéis da Igreja Católica e para sário, de castigos corporais e vigilância
converter os infiéis. A infância era vista constante como maneira de contenção.
como um momento propício para o que Outra concepção presente na educação
se chamava catequese, sendo a criança, jesuítica era a de que ela considerava as
sobretudo a indígena, passível de aceita- crianças como um papel em branco, no
ção dos conteúdos doutrinários. A criança qual os visitantes da terra Brasil registra-
indígena era tratada como depósito de in- vam condutas “apropriadas” e “valoriza-
formações, sem se levar em consideração das” (Chambouleyron, 1999). As crianças
suas características físicas, psicológicas e aderiram com maior rapidez ao que foi
de interação social. Usadas como símbo- ensinado, enquanto que os jovens e os
lo para a propagação de informações de adultos retornavam, em pouco tempo, às
caráter religioso, as crianças eram subme- tradições de seu povo (Chambouleyron,
tidas ao rigor de treinamentos e penitên- 1999). Foi entre os séculos XVI e XVIII,

334
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de acordo com Del Priore (1999), foi in- um sujeito com características peculiares,
troduzido a conceituação de infância, de- ela tem o brincar como atividade central
nominada por ela puerícia - período en- no seu comportamento social, onde tan-
tre o nascimento e os 14 anos de idade, to pode vivenciar de maneira espontânea
com a qualidade de ser quente e úmida quanto como fazendo parte da rotina de
- que corresponderia à primeira idade do aprendizagem na escola, mas essencial-
homem. A infância seria dividida em três mente ela é o brincar. Essa criança expres-
momentos: 1) entre o nascimento e a ida- sa uma forma de ser que se revela pela
de de 3 a 4 anos - amamentação; 2) entre sua forma de se sentir feliz e de ser alegre
os 4 e 7 anos - a criança acompanharia os quando se relaciona. Não tem medo do
pais durante as atividades diárias; 3) dos mundo, precisa estar nesse mundo para
7 anos em diante, quando a criança ou es- viver todos os momentos o mais intensa-
tudava, ou participava de atividades pró- mente possível e por isso mesmo se re-
prias a sua idade através do aprendizado conhece na possibilidade de dizer o não,
em escolas. É importante enfatizarmos a quando o sim também existe. Então a
participação da sociedade como fator pre- subserviência do início de nossa coloniza-
ponderante para a educação infantil, bem ção tem cada vez menos impacto na vida
como para a manutenção das relações dessas crianças. O aluno da pedagogia
afetivas na e entre famílias. O simbolismo reconhece o poder que a criança tem no
de absolvição ou purificação da alma da ambiente de escola e na vida cotidiana,
criança através do batismo e, ao mesmo sem perder com isso a inocência como
tempo, o apoio da religião católica, anun- inocente que é. Para esses discentes a
ciavam um sentimento de aprovação e/ou criança não tem preocupações, mas como
responsabilidade por parte da sociedade atributo dado pela sociedade é colocado
em ajudar na criação da criança, dividindo os estudos e o aprender que estão sob o
com os pais a responsabilidade educativa seu encargo. Dessa maneira entendemos
(Del Priore, 1999). Na contemporaneida- que o professor em formação se pauta na
de de nossa época podemos conhecer criança que tem muito mais domínio da
como as idéias a respeito do que significa construção de conhecimento e não é in-
ser criança está revelada nas representa- fluenciada de maneira rápida pelo adulto.
ções sociais dos alunos da pedagogia da Existe uma construção na relação criança
Faculdade Anhanguera de Brasília, onde e adulto que interfere significativamente
81 alunos puderam participar e tiveram na aceitação ou não da criança em com-
as suas resposta analisadas pelo software preender o mundo em que ela vive.
EVOCATION 2000 (análise de evocação).
As representações do que é “ser criança” Palavras-chave: Representações Sociais,
estão solidificadas, no núcleo central da Infância, Pedagogia
seguinte maneira: alegre (7), aprender Contato: Luciana Câmara Fernandes Bareicha,
(12), brincar (58), criança (8), estudar Faculdade Anhanguera de Brasília, luciana.
(8), feliz (35), inocente (8), inocência (9), bareicha@gmail.com
medo (12), mundo (11), não (35), poder
(12), ser (89), vida (9), viver (12). A cons-
trução de ser criança é apresentada como

335
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA outros) exercem, direta ou indiretamente,


ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NOS ESPORTES sobre crianças e jovens. Discutindo as di-
Luciano Santana Lopes - Projeção ferentes abordagens que o esporte pode
professorluciano.lopes@gmail.com assumir, Tubino (1992 apud Scaglia, 1996)
aponta três áreas de manifestações espor-
A prática desportiva tem assumido lugar tivas, que mesmo sendo distintas estão in-
de destaque na sociedade, na medida ter-relacionadas: 1) Esporte-performance:
em que é associada à promoção de saú- objetivo é o alto-rendimento; 2) Esporte-
de, qualidade de vida, formação motora -participação: promover o bem-estar e a
e psicossocial, sobretudo, de crianças e recreação; 3) Esporte-educação: objetivo
adolescentes. Isso implica na importância de formação sócio-educativa. A interven-
de se compreender melhor como os jo- ção do treinador na iniciação esportiva
vens estão sendo iniciados no ambiente envolve uma discussão sobre em qual
esportivo, bem como se a forma utilizada área ele deveria se inserir. O debate gira
é correta e coerente com suas caracterís- em torno de quais os objetivos prioritários
ticas e necessidades e se há uma adequa- deveriam nortear a prática pedagógica, ou
ção ao seu estágio de desenvolvimento seja, envolve a contraposição entre o cará-
físico, psicológico e afetivo. Para Personne ter pedagógico-educacional-recreativo do
(1987 apud Neto, 2000, p.49), a iniciação esporte e a busca de novos talentos espor-
esportiva precoce “é a atividade espor- tivos, com ênfase na especialização preco-
tiva desenvolvida antes da puberdade e ce. O primeiro momento refere-se à valo-
caracterizada por uma alta dedicação aos rização do desenvolvimento integral dos
treinamentos (mais de 10 horas semanais) atletas, respeitando seu desenvolvimento
e principalmente por ter uma finalidade motor, cognitivo, social e emocional, pro-
eminentemente competitiva”. No que piciando experiências positivas com o es-
pese as grandes e reconhecidas contribui- porte, no intuito de promover a qualida-
ções da prática esportiva para o desenvol- de de vida e a formação do cidadão. Essa
vimento do ser humano, ainda é pequeno proposta está em sintonia com as idéias
o número de estudos realizados conside- de Betti (1991) que encara o esporte não
rando as especificidades e os diversos efei- apenas como um fazer estereotipado, mas
tos do treinamento esportivo com os mais acredita no uso de conhecimentos peda-
jovens (Silva, Fernandes & Celani, 2001). O gógicos com vistas a uma compreensão
esporte não é inerentemente benéfico ou e aprendizado de atitudes, habilidades e
prejudicial a quem pratica. Na realidade, conhecimentos, que leve o atleta a viven-
não é a prática esportiva que determina ciar adequadamente os valores e a cultura
os benefícios e prejuízos na formação do esportiva. A outra possibilidade de atua-
indivíduo, mas sim a natureza do esporte ção do professor, voltada para o esporte
no qual a criança se insere (Weinberg & de alto-rendimento, fixa suas bases no
Gould, 2001). Caracterizam esse contexto ensino e desenvolvimento de habilidades
os objetivos pedagógicos definidos na for- visando à capacitação de seus praticantes
mação dos atletas, bem como as influên- para atuação no esporte de alto nível. O
cias que os protagonistas desse processo enfoque no rendimento esportivo ocasio-
(pais, professores, imprensa, amigos, entre na uma valorização da alta performance

336
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e da vitória, gerando uma cobrança por nível de rendimento”. É relevante que se


resultados que nem sempre as crianças busque compreender como se dá a real di-
estão preparadas para suportar. Segundo mensão da especialização esportiva preco-
Weinberg & Gould (2001) tem se verifica- ce em relação à idade e ao nível de desen-
do com constância a conduta de treinado- volvimento atual da criança e do jovem,
res que criticam duramente a criança na sem deixar de considerar as perspectivas
ocorrência de um erro, criando assim um de desenvolvimento a longo prazo. Não
ambiente permeado pelo estresse e pela se podem desconsiderar questões rele-
ansiedade, que pode causar prejuízos para vantes, que ainda não encontram consen-
o aprendizado, além da ocorrência de le- so no meio científico, nem tampouco no
sões físicas. O nível de compreensão sobre meio esportivo: qual a idade mais adequa-
a adequação da prática desportiva aos es- da para iniciação na prática desportiva?
tágios de desenvolvimento e caracterís- Que pré-requisitos deverão possuir crian-
ticas psicomotoras da criança e do jovem ças e adolescentes participarem de uma
apresenta-se, ainda, relativamente frágil, prática esportiva especializada? Quais são
principalmente se considerarmos as par- as vantagens e prejuízos para aqueles que
ticularidades das várias modalidades des- iniciam precocemente a prática de um es-
portivas e seus efeitos no organismo. Mes- porte? É possível formar um atleta de alto
mo em estudos mais recentes continuam rendimento sem comprometer sua saúde?
a persistir dúvidas sobre as idades em que Qual o papel a Psicologia deve assumir
as crianças e jovens estariam preparados para minimizar os possíveis efeitos nocivos
para se iniciarem numa prática desportiva para o atleta de uma especialização espor-
sistemática e de que forma deveria ocor- tiva precoce? A mudança de um quadro
rer essa inserção. É importante assinalar tão desolador e grave, que coloca em risco
que o treino com crianças e jovens tem o desenvolvimento saudável de crianças
nuances que o diferencia do treinamento e jovens em troca de um sonho quase
dos adultos. Em razão das características sempre inalcançável, é o envolvimento de
e particularidades de cada atleta relacio- diferentes áreas do conhecimento (Socio-
nadas aos estágios de crescimento e de- logia, Psicologia, Biologia, Educação Física,
senvolvimento, torna-se imprescindível Medicina, Fisioterapia, Nutrição, Pedago-
diferenciar os objetivos, os conteúdos e os gia, entre outras) na compreensão desse
processos de treinamento em função da fenômeno. Até então o que se identifica
idade (Silva, Fernandes & Celani, 2001). É é atuação de diferentes profissionais da
preciso considerar que, até pouco tempo e área do esporte sem a devida integração,
ainda hoje em alguns esportes, o treino de ou seja, os conhecimentos sobre a infância
jovens é uma reprodução ou, no máximo, e adolescência produzidos pela Psicologia,
uma simples adaptação dos procedimen- por exemplo, não chegam aos treinado-
tos e organização do esporte de rendimen- res para que estes os incorporem a suas
to. Consonante com tal assertiva, Sobral práticas pedagógicas. Em contrapartida a
(1994, p. 10) afirma que “os treinadores Psicologia possui poucos estudos que ana-
de jovens tendem a pautar seus pensa- lisam essas fases do desenvolvimento em
mentos e condutas pelos estereótipos vi- um ambiente esportivo, ocasionando um
gentes no treino dos atletas do mais alto afastamento da realidade.

337
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Especialização Esportiva passarão a conjugar-se a outros tantos


Precoce, Psicologia do Esporte, sentidos subjetivos e em suas ações, pala-
Desenvolvimento vras e gestos. Isenta de previsibilidade, a
Contato: Luciano Santana Lopes, Faculdade comunicabilidade dessa relação se reflete
Projeção, professorluciano.lopes@gmail.com nos produtos subjetivos oriundos das inte-
rações desenvolvidas refletindo-se recursi-
vamente nas interações subsequentes. O
PRÁTICAS DE SUBJETIVIDADE sentido subjetivo, uma categoria da sub-
Alice Farias de Araújo Marques - SEE/BEM jetividade, é um produto psíquico envolto
alicemarques@unb.br pelo emocional, intelectual e fisiológico,
Teresa Cristina Siqueira Cerqueira - FE/UnB, ocasionado por estímulos diversos advin-
teresacristina@unb.br dos dos processos vivenciais do sujeito, os
quais, por sua vez, são desenvolvidos em
O presente ensaio busca apresentar a con- seu interior bem como em meio às situa-
junção subjetividade e práticas sociais, ções sociais (González Rey, 2005). Dentre
especificamente as educativas escolares, tantas situações sociais e estímulos vários,
como uma necessidade de reflexão nos se- uma das mais presentes em nossa socieda-
tores da psicologia social e educação. Por de trata-se das práticas educativas escola-
abordar as experiências humanas em seus res. O processo subjetivo pedagógico edu-
aspectos psicológicos mais sutis, a subjeti- cativo possui inúmeros detalhes quanto a
vidade, sob a forma de categoria teórica, suas ações, pois existe uma conjuntura di-
representa para os estudos do ser humano versificada de ações intencionais, as quais
e em sua relação com o mundo a possibi- sujeitam os indivíduos a várias possibilida-
lidade de compreensão, do ponto de vista des de produção subjetiva. Em tal proces-
psíquico, de práticas humanas, as quais so, as ações com intencionalidade pedagó-
contemplam a interação humana em to- gica trazem em sua produtividade subjeti-
dos os níveis. Dentre as interações huma- va, possibilidades que vem somar-se aos
nas mais importantes, estão aquelas de- resultados pedagógicos idealizados pelos
senvolvidas durante o contato face a face mentores pedagógicos. Como toda práti-
– a interação humana mais fundamental ca social, as vivências educativas intervem
da sociedade (Berger E Luckmann, 2008). diretamente nas visões, atitudes, valores
Conforme explica a própria denominação, sociais cotidianos de seus praticantes. Fe-
o contato face a face é aquele no qual tor- cundas de sentido subjetivo (González Rey,
na-se possível o acesso ao outro por meio 2006), as ações, em qualquer âmbito, por
de uma interação direta entre duas ou mais mais planejadas que sejam, se apresentam
pessoas. As práticas sociais definem valo- ao outro sempre somando-se ao que o ou-
res que a própria sociedade guarda para tro já traz - aspecto que impossibilita ain-
si. A mutualidade estabelecida nos vários da mais qualquer perspectiva de previsão
contextos das diversas práticas, nas quais de qualquer resultado subjetivo. Em tais
são constituídas interações pessoais, está condições, os sentidos subjetivos estão
implicada pelas ações, palavras, gestos. estreitamente ligados ao contexto face a
Isso pelo fato de estes imprimirem-se re- face e nesse sentido, o processo subjeti-
ciprocamente sentidos subjetivos, os quais vo pedagógico torna-se fundamental no

338
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

processo educacional, situando o profes- O processo de resiliência se dá no con-


sor em um ponto privilegiado na relação, texto de exposição a situações adversas
o que, ao mesmo tempo, o torna predo- significativas e consiste na capacidade
minantemente responsabilizado por seus de o indivíduo sustentar o seu bem-estar
atos intencionais pedagógicos em função frente a essas adversidades, com a uti-
das possibilidades imprevisíveis de produ- lização individual e coletiva de recursos
ção subjetiva. Isso caracteriza uma subjeti- físicos, psicológicos, sociais e culturais.
vidade que exprime em sua complexidade A resiliência está atrelada aos resultados
a riqueza e a necessidade de se pensar a desenvolvimentais do enfrentamento das
ação com precaução, embora sem perder dificuldades, bem como ao processo pelo
a espontaneidade. Devido a essa conjun- qual o indivíduo sustenta o seu bem-estar.
tura intencional e subjetiva é que a subjeti- Com base na perspectiva que considera o
vidade representa um tema para reflexões desenvolvimento humano como um pro-
dirigidas em vários âmbitos interativos, tal cesso contínuo que segue do nascimento
como no exemplo do âmbito educativo. Se à morte do indivíduo, o objetivo desta
for verdade que ‘as práticas definem os va- mesa é analisar processos de resiliência
lores que a própria sociedade guarda para de populações em diferentes etapas do
si’, então cuidemos dessas práticas como desenvolvimento: infância, adolescência
forma de compromisso e motivação frente e adultez. Três populações em situações
às implicações específicas de cada uma. de risco foram avaliadas quanto a suas
estratégias de resiliência, fatores de risco
Palavras-chave: subjetividade, práticas e proteção em diferentes contextos: (a)
pedagógicas, sentidos subjetivos. crianças e adolescentes com nível socio-
Contato: Alice Farias de Araújo Marques, econômico baixo, estudantes do ensino
SEE/Centro de Educação Profissional EMB público primário em Angola; (b) meninas
(Brasília–DF) - alicemarques@unb.br adolescentes vítimas de exploração sexu-
al; e (c) homens adultos trabalhadores de
construção civil, vivendo em alojamentos
MR LT06 - Mesa Redonda de grandes obras em locais isolados do
Convidada Brasil. São discutidos aspectos de seme-
lhanças e diferenças entre os processos
de resiliência desenvolvidos por essas po-
MR LT06-1180 - PROCESSOS DE pulações. Analisando comparativamente
RESILIÊNCIA, CICLO VITAL E CONTEXTOS os casos conclui-se que, embora diversos
DE DESENVOLVIMENTO entre si, nos três contextos de desenvolvi-
Elder Cerqueira Santos - UFS mento podem ser identificados fatores co-
eldercerqueira@yahoo.com.br muns relacionados ao processo de resili-
Airi Macias Sacco - UFRGS ência: fatores individuais (e.g. habilidades
amsacco@gmail.com de resolução de problemas, objetivos e as-
Silvia Helena Koller - UFRGS pirações, perspectivas de futuro, senso de
silvia.koller@gmail.com humor); relacionais (e.g. relacionamentos
Diogo Araújo de Sousa - UFRGS significativos e aceitação do grupo de pa-
diogo.a.sousa@gmail.com res, percepção de suporte social, compe-

339
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tências sociais); comunitários (e.g. acesso O Índice de Desenvolvimento Humano


à educação e informação) e culturais (e.g. (IDH) de Angola é de 0.403, considerado
afiliação com uma religião, identificação baixo. Além disso, 50% da população não
cultural). O primeiro estudo apresenta um têm acesso à água potável, 71,6% não têm
recorte qualitativo de um estudo que teve energia elétrica e 54,3% sobrevivem com
como intuito conhecer a opinião de crian- uma renda de até US$1,25 por dia. Além
ças angolanas a respeito de suas escolas, de ter sido um obstáculo ao desenvolvi-
investigar como é a escola dos seus so- mento do país, o período de guerras dei-
nhos e identificar aspectos relativos à resi- xou marcas profundas na população que,
liência nessa população. O segundo estu- como usualmente acontece nos países em
do teve como objetivo investigar aspectos situação de conflito armado, aprendeu a
gerais sobre a vida e os fatores de risco e conviver com transgressões cotidianas dos
proteção junto a crianças e adolescentes direitos humanos. As crianças são a fatia da
vítimas de exploração sexual, assistidas população mais vulnerável a esse tipo de
por instituições, com foco nas consequ- situação, que pode oferecer consequên-
ências sócio-psicológicas sobre as vítimas. cias bastante nocivas ao desenvolvimento
Finalmente, o terceiro estudo teve como infantil. Segundo estimativas recentes, An-
objetivo apresentar um levantamento so- gola tem a segunda maior taxa de mortali-
bre quem são e como vivem os trabalha- dade infantil do mundo: 130 mortes para
dores de grandes obras em atividade no cada 1000 bebês nascidos vivos. O mesmo
Brasil, focalizando aspectos de resiliência ocorre com o índice de mortalidade das
desta população frente às adversidades crianças com até cinco anos, segundo o
provenientes das condições de trabalho. qual 220 crianças, de cada 1000 nascidas
vivas, morrem antes de completar essa
idade. Das crianças com até cinco anos de
EDUCAÇÃO E RESILIÊNCIA: ESTUDO idade, 31% estão abaixo do peso ideal. No
QUALITATIVO COM CRIANÇAS E que diz respeito à educação, a população
ADOLESCENTES ANGOLANOS angolana adulta tem escolaridade espe-
Airi Macias Sacco - UFRGS rada de 4,4 anos, o que corresponde ao
amsacco@gmail.com ensino primário incompleto, e 30,4% da
Silvia Helena Koller - UFRGS população não é alfabetizada. Algumas
silvia.koller@gmail.com das principais dificuldades do sistema de
ensino público primário estão relaciona-
Angola, país de língua portuguesa localiza- das à insuficiência de recursos financeiros,
do na costa ocidental da África, enfrentou materiais e humanos; à precariedade das
41 anos de guerras sucessivas, que tive- infraestruturas; à diversidade linguística
ram fim em 2002, e está em período de e à baixa qualidade do ensino. As escolas
reconstrução. Embora rico em petróleo e não têm mobília e manutenção adequa-
diamantes, o país enfrenta uma série de das, além de existir um elevado número
problemas relacionados à desigualdade de salas de aula ao ar livre, funcionando
social. A população angolana tem, em mé- encostadas em muros ou embaixo de ár-
dia, 17,4 anos de idade e a oitava menor vores. A formação do corpo docente é pre-
expectativa de vida do mundo: 48,1 anos. cária, o que acarreta a utilização de poucas

340
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estratégias de ensino e o despreparo para afastados dos centros urbanos, as crian-


lidar com os alunos que são submetidos, ças precisam percorrer grandes distâncias
cotidianamente, a castigos físicos e humi- até a escola, onde relataram chegar can-
lhações. A comunidade escolar também sadas, com fome e com sede. A falta de
precisa lidar com a falta de merenda, água água potável, merenda e energia elétrica,
potável e energia elétrica. Tendo em vista a comum a todas as instituições, também
realidade descrita, o objetivo deste traba- foi apresentada como um dos principais
lho é apresentar um recorte qualitativo de entraves para a aprendizagem. Ainda no
um estudo que teve como intuito conhecer que diz respeito à relação dos alunos com
a opinião de crianças angolanas a respeito a escola, os elementos que mais se sobres-
de suas escolas, investigar como é a escola saíram nos relatos foram aqueles ligados
dos seus sonhos e identificar aspectos re- ao seu relacionamento com os docentes.
lativos à resiliência nessa população. Parti- A maioria das crianças afirmou gostar dos
ciparam do estudo crianças e adolescentes professores e da maneira como eles ensi-
com nível socioeconômico baixo, de sete a nam, além de valorizar os que brincam e
18 anos, estudantes de 15 escolas de en- contam histórias. Elas se mostraram in-
sino público primário localizadas em cinco comodadas, porém, com a utilização fre-
províncias angolanas: Bié, Cunene, Huíla, qüente de castigos físicos. A escola dos so-
Luanda e Moxico. O método utilizado foi nhos das crianças e dos adolescentes an-
o da inserção ecológica, proposta metodo- golanos é uma escola simples, com chão,
lógica que promove a imersão da equipe paredes, teto e janelas; é um local em que
de pesquisa no ambiente analisado, com o todos têm cadernos, lápis e borracha e que
objetivo de estabelecer proximidade com atende a requisitos básicos promotores de
o objeto de estudo e, assim, responder saúde e de bem estar; nessa escola, os
apropriadamente às questões propostas. professores são seus amigos e não batem.
As crianças e os adolescentes participaram Os participantes deste estudo enfrentam,
de entrevistas em grupo, nas quais foram cotidianamente, uma série de obstáculos
convidados a descrever a escola na qual ao seu desenvolvimento e estão expostos,
estudam e a falar sobre sua relação com na escola, a diversos fatores de risco, que
ela. Eles também foram solicitados a ima- vão desde a ausência de condições básicas
ginar e descrever como seria a escola dos para promoção de saúde – como água, luz,
seus sonhos. No que diz respeito à opinião saneamento e alimentação – até situações
sobre suas escolas atuais, os participantes de violência física e psicológica, perpetra-
demonstraram valorizá-las como o local no das por membros do corpo docente e da
qual aprendem a ler e a escrever. Eles per- direção. Apesar disso, a relação deles com
cebem uma série de questões como pro- a escola é marcada por um forte compo-
blemáticas, a começar pela infraestrutura nente de valorização do ambiente escolar.
oferecida, visto que não há mesas, cadei- A equipe de pesquisa identificou alguns as-
ras, quadros ou material didático disponí- pectos relativos à resiliência nessas crian-
veis. Muitas vezes, as cadeiras são levadas ças e adolescentes, sendo que os princi-
de casa pelos alunos ou são substituídas pais estão relacionados a fatores individu-
por pedras, latas e troncos. Não há trans- ais, como a intensa vontade que têm de
porte escolar e, por isso, nos locais mais aprender, e relacionais, como o apoio que

341
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

recebem de seus amigos e colegas, com os os critérios de interpretação dos dados.


quais se unem para superar as situações As participantes são três adolescentes,
adversas. Os participantes deste estudo residentes em dois diferentes estados
percebem suas escolas como locais reple- do nordeste do Brasil, duas em capitais
tos de problemas relacionados, principal- e uma numa pequena cidade do interior.
mente, à precariedade infraestrutural e à A coleta de dados foi realizada através
falta de condições necessárias para uma de entrevista individual, guiada por um
boa aprendizagem, mas, também deixam roteiro na forma de questionário. Foram
claro, em palavras e atitudes, que a escola realizadas análises de conteúdo. No pro-
é muito importante em suas vidas. cesso de análise, após transcrição, foram
seguidos os seguintes passos: (a) leitura
Palavras-chave: educação, resiliência, Angola exaustiva do material; (b) identificação
das categorias extraídas do texto; (c) va-
lidação das categorias por pares (juízes);
VÍTIMAS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL: (d) transformação dos “dados brutos” em
ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS SOBRE “dados úteis”, a partir da fragmentação
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO do texto e estabelecimento de unidades
Elder Cerqueira Santos - UFS semânticas (critério de analogia); (e) cate-
eldercerqueira@yahoo.com.br gorização de cada entrevista por dois pes-
quisadores independentes; e (f) discussão
A exploração sexual de crianças e adoles- das categorias para validação pelo grupo
centes vem sendo investigada como um de pesquisadores do estudo. A partir da
fenômeno de caráter social, com conse- análise de conteúdo, emergiram dos da-
qüências no ajustamento psicológico das dos quatro categorias principais de análi-
vítimas e das famílias envolvidas. A situa- se: vitimização, papel da família no envol-
ção de exploração configura-se como uma vimento com a ESCA, mercado da ESCA, e
ampla situação de risco e alta vulnerabili- dinâmica da exploração sexual. Os resul-
dade. Poucos estudos têm investigado as tados destacam aspectos diferenciados no
conseqüências deste fenômeno para as histórico de exploração vivenciado pelas
vítimas e suas famílias. Este trabalho teve três participantes, especialmente, pelo
como objetivo investigar aspectos gerais tipo de exploração vivenciado: turismo
sobre a vida e os fatores de risco e prote- sexual, exploração familiar e exploração
ção junto a essas crianças e adolescentes, nas estradas. Todas demonstram grande
assistidas por instituições, com foco nas dificuldade de vinculação ao atendimento
consequências sócio-psicológicas sobre as especializado e uma relação contraditória
vítimas. Trata-se de um estudo de casos típica da exploração sexual, que gera de-
múltiplos, com vítimas de exploração em pendência e sofrimento. A família assume
atendimento psicológico. O delineamento papel de destaque no início do processo
de estudo de caso proposto por Yin envol- de exploração, mas, toma uma perspec-
veu cinco componentes interligados: (a) as tiva diferente comparando-se interior e
questões de pesquisa; (b) as proposições; capital. Estratégias de resiliência são ana-
(c) a(s) unidade(s) de análise; (d) a lógica lisadas nos três casos, e alguns aspectos
que vincula os dados às proposições; e (e) considerados no enfrentamento da vivên-

342
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cia da violência sexual são: rede de apoio obras com o abuso de álcool e outras dro-
(amizades, escola e família); atendimento gas, e o envolvimento em comportamen-
profissional (engajamento na psicotera- tos sexuais de risco. No Brasil, pesquisas
pia) e aspectos individuais (elaborações anteriores demonstraram que esses tra-
sobre a sexualidade, culpa e escolhas). balhadores tendem a apresentar uma des-
Discute-se a relação entre atendimento, valorização da sua condição profissional.
vitimização e culpa, como processo de Essas pesquisas também identificaram
afastamento das vítimas do serviço espe- problemas de autoestima e aceitação de
cializado e uma dificuldade em planejar estereótipos negativos nesta população.
tratamento continuado. Os aspectos inerentes às condições de
trabalho em grandes obras afetam tanto
Palavras-chave: exploração sexual, os trabalhadores como as empresas e as
adolescência, sexualidade comunidades onde as obras se inserem.
Este trabalho teve como objetivo apre-
sentar um levantamento sobre quem são
ASPECTOS DE RESILIÊNCIA NA e como vivem os trabalhadores de gran-
PROFISSÃO DE TRABALHADOR DE des obras em atividade no Brasil, focali-
GRANDES OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL zando aspectos de resiliência desta popu-
Diogo Araújo de Sousa - UFRGS lação frente às adversidades provenientes
diogo.a.sousa@gmail.com das condições de trabalho. Participaram
do estudo 288 trabalhadores de grandes
Trabalhadores da área de construção civil obras civis (todos homens), vivendo alo-
de grandes obras vivenciam condições de jados nas imediações de grandes constru-
trabalho que, muitas vezes, os expõem a ções, em cinco estados brasileiros: Goiás,
amplas situações de risco. Esses profis- Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina
sionais, responsáveis pela edificação e e São Paulo. A média de idade dos parti-
construção de hidrelétricas, barragens, cipantes foi de 32,78 anos (DP = 10,91),
montagens e outras grandes obras, no variando entre 18 e 64 anos. Dos entre-
Brasil, passam por períodos de emprego vistados, 51,9% eram casados ou estavam
e desemprego e levam boa parte de suas em um relacionamento estável, ao passo
vidas em alojamentos, mudando constan- que 42,9% eram solteiros. Quanto à esco-
temente de cidade, de acordo com o fluxo laridade, 37,5% dos trabalhadores cursa-
de construções pelo país, o que acarreta ram apenas o Ensino Fundamental incom-
no afastamento dos seus lares e famílias. pleto, outros 21,2% concluíram o Ensino
A alta mobilidade e os movimentos migra- Fundamental e 20,8% têm Ensino Médio
tórios são características marcantes dessa completo. A média da renda mensal fami-
profissão, bem como a falta de formação liar foi de R$ 1.497,13 (DP = R$ 1.452,59).
de redes sociais de apoio, o que os coloca Para a realização das entrevistas, os pes-
em uma situação diferenciada de vínculos quisadores inseriram-se no ambiente de
frágeis com as diferentes comunidades pesquisa (alojamentos de grandes obras
em que se inserem ao longo da vida. Es- no país), a fim de estabelecer uma relação
tudos internacionais relacionaram o estilo de maior proximidade com os participan-
de trabalho em construções de grandes tes. Os participantes foram entrevistados

343
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

individualmente e as entrevistas duraram, condições de trabalho em grandes obras.


em média, 40 minutos (variando de 30 Entre eles, a categoria de maior força en-
minutos a 2 horas). O instrumento foi um volveu fatores individuais. Por exemplo,
questionário que servia de roteiro de en- quanto às aspirações profissionais, mui-
trevista estruturada. A análise dos dados tos entrevistados colocaram o trabalho
seguiu um método misto, com análises em construção civil como um trabalho
quantitativas descritivas, de frequências passado de geração em geração nas suas
e médias de comportamentos relatados famílias, ou uma aspiração para “melho-
pelos profissionais e análises qualitativas res condições de vida”. Nesse ponto, al-
de conteúdo, acerca dos dados coletados guns deles comentaram que esta seria
nas questões abertas das entrevistas, so- a única profissão na qual ganhariam um
bre condições de trabalho, vida nos aloja- bom salário tendo estudado tão pouco, e
mentos e caracterização da profissão. Os mostraram-se satisfeitos com a sua renda
resultados apontam importantes aspec- mensal. Em outra vertente de fator indi-
tos relacionados à caracterização do tra- vidual, foi comum o relato de que, para
balho, condições de vida nos alojamentos se ajustar à vida de trabalho em grandes
e noções e percepções dos trabalhadores obras, os profissionais optam por perío-
acerca de sua profissão. O tempo médio dos sem trabalho, pedindo demissão após
de profissão dos entrevistados foi de 8,17 tempo suficiente para retirada do seguro
anos (DP = 9,3). Sobre os maiores proble- desemprego, e passando um tempo sem
mas enfrentados na profissão, destaca- trabalhar antes de recomeçar a jornada.
ram-se para mais da metade da amostra A média de meses em que ficavam alo-
“ficar longe da família” (87,5%) e “riscos jados trabalhando foi de 9,7 meses (DP
de acidente de trabalho” (55,9%). Além = 8,46) e o tempo que ficavam sem tra-
desses, muitos participantes também re- balhar entre uma obra e outra teve mé-
lataram problemas devido à dificuldade dia de 4,1 meses (DP = 5,58). Estiveram
de comunicação, por estarem afastados presentes, também, fatores de resiliência
da cidade, em alojamentos sem torre de relacionais, como a pertença a um gru-
telefonia celular ou telefone público. No po de profissionais. Para alguns (21,1%),
que se refere à visão que pessoas da co- a profissão de trabalhador de grandes
munidade em geral fazem da profissão obras é uma profissão de “homens traba-
deles, 53% dos entrevistados disseram lhadores”, “honestos”, “de bem” e “cora-
ser mal vistos, o que ficou expresso por josos”. Por fim, fatores culturais como a
respostas que caracterizavam os trabalha- afiliação a uma religião se mostraram re-
dores como “arruaceiros”, “refugiados”, cursos para o enfrentamento e possíveis
“bagunceiros”, “baderneiros” ou “sem componentes dos processos de resiliência
vergonha”. Entre esses trabalhadores, as nesta população. Todavia, também foram
denominações de “peão” ou de “barragei- comuns, nos relatores dos trabalhadores,
ro” foram comuns e apareceram, muitas comportamentos de enfrentamento não
vezes, com valor pejorativo. Estratégias funcionais, como o uso de drogas e o en-
de resiliência presentes nos discursos dos volvimento com a exploração sexual. Fo-
trabalhadores envolveram diversos fato- cando os discursos dos trabalhadores que
res relacionados ao enfrentamento das expressaram abertamente o uso de bebi-

344
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da alcoólica e de outras drogas, declara- direciona a vida. A partir desse autor,


ções preocupantes foram relatadas, em avançamos nos estudos que reconhecem
sua maioria associando o uso de drogas a criança como protagonista de seu de-
às condições difíceis de vida e de trabalho senvolvimento e de sua segurança afetiva
do profissional da construção civil. Discu- que até então ficava restrita à relação diá-
te-se a relação entre condições de traba- dica com a mãe ou com alguns outros so-
lho, situações de risco, enfrentamento e ciais, mais próximos (Vasconcellos, 2002,
estratégias de adaptação ao contexto en- Nascimento, 2003). Para este autor, a fór-
tre os trabalhadores de grandes obras. Os mula para entender o processo de desen-
achados servem de subsídio para que se- volvimento está em nos voltarmos à to-
jam estruturadas formas de intervenção talidade das relações das quais a criança
com esses trabalhadores para promoção faz parte e das quais modifica. Para ele,
de resiliência, aplicadas a este contexto a criança é um ser geneticamente social,
específico de desenvolvimento. pois nasce num meio envolvente do qual
depende inteiramente para a satisfação
Palavras-chave: trabalhador de grandes obras, de suas necessidades e a solução de seus
construção civil, resiliência desconfortos, sendo um ser biológico que
Contato: Elder Cerqueira-Santos, UFS, nasce já social por ser membro de um
eldercerqueira@yahoo.com.br grupo com cultura e linguagem próprias
(Vasconcellos, 1996). Nesta Mesa apre-
sentaremos quatro trabalhos que partem
SP LT04 - Simpósio da psicogênese da pessoa de Wallon. No
primeiro Pedroza, apresenta o resultado
de seus estudos sobre a contribuição da
SP LT04-1405 - HENRI WALLON NA psicologia e da psicanálise da educação
INTERFACE DA PSICOLOGIA COM A principalmente no que concerne o pro-
EDUCAÇÃO cesso da aprendizagem. O ponto central
dos seus questionamentos parte do pres-
Maria Letícia B. P. Nascimento - FEUSP
suposto de que a escola ainda valoriza os
letician@usp.br
aspectos cognitivos em detrimento dos
Núbia Schaper Santos - PROPED/UERJ
afetivos. Nesse sentido são priorizadas as
nubiapsi@ig.com.br
teorias de Freud e Wallon que procuram
Vera Maria Ramos de Vasconcellos - PROPED/
estudar o sujeito numa perspectiva de
UERJ
totalidade buscando a superação da dico-
vasconcellos.vera@gmail.com
tomia entre cognição e afeto. No segun-
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB
do, Santos e Santos, discutem o lugar das
emoções de crianças na creche, a partir
Henri Wallon (1879-1862) discute, por
da presença do choro em sua rotina. No
intermédio da criança, uma ciência do
terceiro trabalho Nascimento apresen-
homem por inteiro21 em que a emoção
ta uma análise interessante do lugar do
conflito constitutivo nas interações e no
21 processo de desenvolvimento de crianças
Assim o define René Zazzo no livro Psychologie et marxis-
me (1979, p. 137). com pouco mais de dois anos. Finalizan-

345
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do, Vasconcellos apresenta também um ção permite a passagem da vida orgânica


recorte de pesquisa, no qual a importân- para a vida psíquica. Não é uma simples
cia do processo de percepção de si e a di- reação do organismo a um determinado
ferenciação eu-outro, se dá num ambien- estímulo, mas possibilita a interação en-
te plural de adultos e crianças pequenas tre o sujeito e o meio social. É no movi-
(creche). mento do outro que a criança, ainda sem
condições da consciência de si e de efetu-
ar algo por si, que o outro, por sua ação,
DIÁLOGOS ENTRE WALLON E A CRECHE desencadeará a ação dela. Se a emoção
Núbia Schaper Santos - PROPED/UERJ tem como possibilidade a ativação do
nubiapsi@ig.com.br outro no processo de interação humana,
Tayane Peixoto Bueno dos Santos - FE/NEIPE/ não é difícil supor a relevância do tema
UERJ para o cotidiano da creche e das relações
tay_peixoto@hotmail.com.br nela estabelecidas. A emoção torna-se
afetividade quando é atravessada pelo
Financiamento: FAPERJ
conteúdo e pelas significações dadas pela
cultura (Wallon, 2007). É no movimento
Neste trabalho, apresentaremos uma dis- do outro que a criança, ainda sem con-
cussão sobre as contribuições de Wallon dições da consciência de si e de efetuar
para a compreensão das emoções de algo por si, que o outro, por sua ação, de-
crianças no contexto da creche, em es- sencadeará a ação dela. Se a emoção tem
pecial a questão do choro. Trata-se de como possibilidade a ativação do outro
um estudo teórico, que se apresenta re- no processo de interação humana, não é
levante porque enquanto não aparece a difícil supor a relevância do tema para o
palavra, é o movimento que traduz a vida cotidiano da creche e das relações nela
psíquica, garantindo a relação da criança estabelecidas. Para Wallon, há diferenças
com o meio. As descargas motoras e, um conceituais entre emoção e afetividade.
pouco mais tarde, os gestos do lactente As emoções, os sentimentos e os desejos
são carregados de significados afetivos são manifestações da vida afetiva. A afeti-
que, nesse princípio, nada mais são que vidade é um conceito mais abrangente no
expressão das necessidades alimentares qual se inserem várias manifestações. As
e do humor. A afetividade manifesta-se emoções são constituídas de característi-
primitivamente no comportamento, nos cas mais específicas que as diferenciam
gestos expressivos da criança. Neste sen- das demais manifestações afetivas. Sendo
tido, a creche pode ser pensada como um uma atividade social, provoca, por exem-
espaço que complementa a educação no plo, algumas alterações orgânicas, como
interior da família. O choro engendra a aceleração dos batimentos cardíacos, al-
característica de variadas interpretações, terações no ritmo da respiração, secura
é um processo integrante do desenvol- na boca, dificuldades na digestão, além de
vimento infantil, é linguagem. A emoção alterações expressivas, como mudança na
torna-se afetividade quando é atraves- expressão facial, na postura e nas gesti-
sada pelo conteúdo e pelas significações culações. Nisso se diferencia o sentimen-
dadas pela cultura (Wallon, 2007). A emo- to, que não obrigatoriamente resulta em

346
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

alterações visíveis. Nesta direção, Wallon são esperadas, os conflitos geralmente


sugere o que se convencionou chamar tornam-se objeto de preocupação de pro-
em sua teoria de a psicogênese da pessoa fessoras e professores, e, na maioria das
completa. Isto significa dar ênfase no de- vezes, são considerados como momentos
senvolvimento de maneira integrada, sem perigosos para as crianças ou para a ati-
a possibilidade de privilegiar um aspecto vidade proposta. O objetivo desse texto
em detrimento do outro, uma vez que se é compreender as situações de conflito a
o desenvolvimento é compreendido de partir do conceito de conflito constitutivo,
maneira dialética, não é possível consi- de Henri Wallon, cujos estudos indicam
derar um único aspecto do ser humano que essas situações podem ser momen-
(Wallon, 2007). Neste sentido, que lugar tos de crescimento e avanço na consti-
ocupa na creche? Existe possibilidade de tuição das crianças como pessoas. Em
sua expressão como linguagem? Como duas pesquisas realizadas com crianças
é considerado e como lidamos com ele? no terceiro ano de vida, em creches pú-
Que concepções ele pode revelar nesse blicas do município de São Paulo (Nasci-
contexto? Lidar com o choro das crianças mento, 1997, 2003), tive a oportunidade
evoca a concepção de infância, educa- de filmar e analisar duas cenas nas quais
ção e aprendizagem que se revelam nas as interações entre as crianças geraram
ações dos profissionais no cotidiano nas conflitos constitutivos. Numa das cenas
creches. Pressupomos, então, que o cho- (C1), entre duas meninas, uma com 25
ro faz parte daquilo que convencionamos meses de idade e outra com 28, o conflito
chamar de rotina e que deve ser proble- foi desencadeado pela posse de um livro;
matizado para além do momento de in- na outra (C2), entre uma menina e um
serção das crianças pequenas nas institui- menino, ela com 26 meses e ele com 30,
ções que as recebem. um conflito verbal revela posições anta-
gônicas entre as duas crianças em relação
Palavras-chave: creche, choro, Wallon a uma história contada pela professora.
A C1 acontece durante uma atividade de
livre escolha das crianças. Desde o início
INTERAÇÃO E CONFLITO: UMA da cena o livro parece não ser um objeto
INTERPRETAÇÃO WALLONIANA PARA O em si, mas a extensão do próprio corpo,
COTIDIANO DAS CRIANÇAS PEQUENAS ou seja, há como que uma aderência ao
Maria Letícia B. P. Nascimento - FEUSP objeto, manifesta no sofrimento causado
letician@usp.br pela sua perda (choro). O conflito expli-
cita dois pontos de vista diferentes, ou
As rotinas das instituições de educação seja, observa-se que há um desejo de um
infantil são marcadas por interações entre lado que difere do desejo do outro lado,
crianças e entre as crianças e os adultos. ambos legítimos. A professora interfere
Entretanto, nessas interações surgem con- verbalmente, a princípio; tenta substituir
flitos, que muitas vezes são considerados o livro por outro; apropria-se do livro para
“mal-vindos”, como se os conflitos não mostrá-lo, ela mesma, às duas meninas.
fizessem parte do próprio processo inte- Em todas as ações, o conflito permanece
rativo. Enquanto situações de interação e sugere a constituição do eu através do

347
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

meu. Na C2, durante uma roda de histó- titutivo dos sujeitos, de suas identidades
ria, a menina repete seu ponto de vista (o por meio da preservação e afirmação do
anjinho sobe na serra) e o menino insis- eu. Estes movimentos de preservação e
te no seu (o anjinho sobe nas nuvens). A afirmação vão ocorrendo na medida em
disputa inclui alteração no tom de voz e que as atividades da criança vão se distin-
culmina com insulto. As posições antagô- guindo. As interações com outras crian-
nicas presentes na disputa verbal revelam ças e com o ambiente se tornam fatores
a afirmação de um eu pelas duas crianças. decisivos em seu desenvolvimento, por-
São dois pontos de vista, que se opõem que os conflitos gerados por meio destas
e se excluem um ao outro. Trata-se de interações que fazem com que o sujeito
um conflito constitutivo22, de acordo com reformule suas atividades e objetivos,
Wallon, ou seja, um conflito com uma caminhando rumo ao novo (Corsi, 2010).
função dinâmica no desenvolvimento. A Considerar o conflito constitutivo signi-
professora busca uma adesão à atividade fica reconhecer os diferentes pontos de
desenvolvida, criando uma atmosfera de vista das crianças em relação a tal objeto
curiosidade em relação ao livro, objeto da ou atividade e estabelecer a importância
roda. Tal atmosfera permite que as crian- da constituição de espaços permanentes
ças expressem suas hipóteses e favorece para reflexão sobre a prática pedagógica,
disputas desse tipo, considerando as ca- onde seja possível trocar idéias sobre as
racterísticas de constituição do eu. A dis- dificuldades enfrentadas e buscar apoio
puta é absorvida pela atividade, que se- para encaminhá-las. De acordo com Gal-
gue seu curso. Nas instituições de educa- vão (2001), “para que os conflitos tenham
ção infantil, os interesses das crianças são efetivamente um valor positivo, deve-
delimitados pela organização dos espaços -se assegurar que sejam compreendidos
e tempos e pelos recursos que são ofere- e bem geridos”, ou seja, “para definir o
cidos (brinquedos, livros, tinta etc), que valor de um conflito, se positivo ou nega-
oferecem maior ou menor possibilidade tivo, dever-se-ia levar em conta a forma
de exploração e uso. Segundo Wallon, a pela qual é gerido e menos o fator que o
partir dos deslocamentos possibilitados desencadeia.” (p.139) Por meio da refle-
pelo andar, “o espaço adquire para ela [a xão permanente, parece possível incor-
criança] uma realidade independente dos porar e integrar as ações das crianças aos
objetos que o povoam. É um campo livre- objetivos propostos, valorizando tanto a
mente aberto à sua atividade [...]” (1979, construção de um eu quanto a constru-
p.79). O movimento vai se integrando ao ção do conhecimento sobre o mundo,
pensamento, o que possibilita à crian- reforçando, assim, a função educativa da
ça prever a seqüência dos atos motores, instituição.
cada vez mais complexos. A ampliação da
dimensão cognitiva do movimento torna Palavras-chave: conflito, educação infantil,
a criança cada vez mais autônoma para Wallon
agir sobre o mundo exterior. O conflito
é compreendido como movimento cons-

22
PEREIRA (1998) realizou um detalhado estudo sobre o tema.

348
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

HENRI WALLON E AS TRILHAS SINUOSAS os valores histórico-culturais das pessoas


DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL que compõem e organizam os mesmos.
Vera Maria Ramos de Vasconcellos - FE/ Nossa compreensão de desenvolvimento
NEIPE/UERJ da criança é de um processo socialmente
vasconcellos.vera@gmail.com construído, de emergência de significados
e aquisição da própria identidade, onde
Temos por objetivo compreender, na as contribuições das outras crianças e dos
perspectiva teórica de Henri Wallon, adultos que com ela convivem, são igual-
como se dá o processo de constituição da mente importantes, assim como o é o
pessoa (a percepção de si e a diferencia- aparecimento de novidades nas intera-
ção eu-outro), num ambiente plural de ções e co-construção entre crianças e en-
adultos e crianças pequenas, de idades tre crianças e adultos familiares. Entende-
próximas, como é a creche. Pretendemos mos que as crianças do grupo estão num
também analisar o papel da imitação e o crítico período de transição, entre infân-
do brinquedo no decorrer da emergência cia e meninice, apontada pelos teóricos
de significado produzido entre crianças da Psicologia da Infância como tempo di-
em que a linguagem verbal ainda não está ferenciado de viver. Para Wallon (1975), a
totalmente estruturada. Buscamos anali- linguagem e a fala inauguram as chama-
sar como elas constróem brincadeiras, das “atividades projetivas”, que consis-
dividem afeto e mútua compreensão, na tem em realizações ‘ideomotoras’, quan-
e pela interação com companheiros, além do imagens mentais são projetadas em
de irem formando sua maneira pessoal de ações e nelas se fundem. Neste trabalho
lidar com as coisas do mundo (Vascon- nos propomos a desvendar o papel da in-
cellos, 2002). Observamos os mecanis- teração, da imitação e da brincadeira na
mos utilizados por crianças pequenas produção de subjetividades de crianças
para construir seu conhecimento e consti- pequenas, sendo vista a creche como um
tuir-se num ser social diferenciado, no in- interessante espaço de variadas e mutá-
terior de um grupo constante de compa- veis interações. Pretendemos compreen-
nheiros de idade próxima e adultos cons- der o que, realmente, pode significar este
tantes, onde múltiplas relações novas po- novo lugar de brincar na vida de cada
dem ocorrer a cada momento. Nosso criança, que até bem pouco tempo estava
olhar se volta para o entrelaçamento dos ocupada em conhecer a constituição do
aspectos emocionais, sociais, lingüísticos próprio corpo, voltando-se agora para o
e cognitivo do desenvolvimento, em 8 novo meio emocional, físico e social que a
(oito) crianças, próximas aos dois anos, rodeia, manipulando e explorando, livre-
antes do total domínio da fala. Interessa- mente, distintos objetos, que podem le-
-nos acompanhar, não só a complexidade vá-la ao domínio e compreensão de um
do desenvolvimento intelectual de cada mundo, diferente daquele em que esteve
criança, mas, sobretudo, o processo de imersa desde o nascimento, tão simbólico
construção de competências práticas para e de representação mental das coisas
lidar com o conhecimento dos outros, das como o doméstico. Na perspectiva wallo-
coisas e de si, em ambientes físicos, so- niana, a constituição do “eu” é, ao mesmo
cialmente estruturados, de acordo com tempo, a construção do “não eu”, percep-

349
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção do que é próprio e do que é exterior a extenso que a subordine e transforme em


si. Entendemos que cada criança, apesar meio” (Dantas, 2002, p. 113). Surgidas
de ser dependente do grupo social para a nas primeiras análises dos vídeos, quando
construção de seu conhecimento, do pró- nosso olhar era mais flutuante23, depará-
prio grupo e do novo ambiente, tem, si- vamos com cenas que prendiam nossa
multaneamente, a possibilidade de, com atenção e, assim, pudemos observar atra-
suas ações livres, modificar o grupo, o vés delas, a existência e a construção de
ambiente e, até, a proposta original da consistência no relacionamento desse
pesquisa. Sequências de episódios de in- grupo de crianças. Nosso interesse princi-
teração social e brincadeiras foram obser- pal é acompanhar a emergência de signi-
vadas sempre que crianças estavam en- ficados entre crianças, que ainda não fa-
volvidas em atividades que dependiam da lam claramente e que estão conhecendo
participação de um outro companheiro e dominando um novo ambiente, com
(adulto ou criança). Sabemos que simples outras crianças e brinquedos novos. O es-
descrições de sequências interativas não paço analisado foi um brinquedo grande,
são suficientes para explicar os significa- chamado por nós de Trilha sinuosa. A Tri-
dos que estão por trás das ações e das lha sinuosa é um pequeno móvel de um
intenções de crianças, muito menos as metro de comprimento e 30 a 40 cm de
que tem na imitação seu fio condutor altura, cuja superfície inclui um plano ho-
(Nadel & Butterworth, 1999). Em nossos rizontal, um trecho em forma de ∪ (como
estudos, muitas vezes, uma breve descri- um vale) e um plano inclinado até o chão.
ção de episódios anteriores foi necessá- Uma primeira criança, um menino, está
ria, para entendermos o significado de com um brinquedo de roda (um elefante
uma simples cena. As relações das crian- rosa de plástico que é montado sobre
ças sempre foram o centro de nossas aná- quatro rodas), que faz andar sobre a pista
lises (Vasconcellos, 1986, 1996, 2002). sinuosa, deixando-o rolar ora com um
Cenas e episódios foram destacados pelos movimento de ida e volta no trecho em ∪
temas que envolviam, em sequência, mas ora no plano inclinado até o chão. Cena
sem linearidade nos fatos, já que as ativi- 01: Louise está perto da trilha sinuosa e
dades da criança nunca ocorrem com es- olha para Catarina, que lá está também.
sas características. Assim, a análise das Catarina desliza pela trilha, pega uma
interações sociais, em crianças pequenas, bola e joga para o pai de Louise. Ela vai
não devem ser realizadas considerando para a trilha sinuosa, desliza, pega outra
todo o entorno, tudo que acontece no bola e joga para seu pai. Há uma triangu-
contexto afetivo, físico e social, porém, lação na troca de interesses, numa brin-
deve-se dar sempre destaque à dimensão cadeira criada por uma criança e que foi
lúdica (Wallon, 1949/2008). “Na concep- copiada e aceita por outra criança. Cena
ção walloniana, infantil é sinônimo de lú- 02: Gabriel vai brincar na trilha sinuosa,
dico. Toda a atividade da criança é lúdica, … Fernando vai atrás de Gabriel, tenta su-
no sentido de que se exerce por si mes-
ma…. Toda atividade emergente é lúdica,
23
exerce-se por si mesma antes de poder Em outras pesquisas adotamos a metodologia da Análise
de Conteúdo, por isso nosso “modo flutuante” de iniciar
integrar-se em um projeto de ação mais qualquer análise (Bardin,s/data – original 1977)

350
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bir pela rampa da trilha, sem conseguir. da no objeto à tomada de consciência (da
Fernando abre a porta do armário em bai- criança) de sua próprias e novas habilida-
xo da pia e guarda um brinquedo lá. Fer- des e próprias forças, seja porque ela faz
nando vai para o escorrega (com ajuda de de seu próprio corpo o campo de tentati-
um adulto) A trilha sinuosa também vas de suas possibilidades. A fim de modi-
atuou como local focal, ponto de encon- ficar as relações, antes estabelecidas com
tro, oportunidade para crianças desenvol- o brinquedo ou com os coleguinhas, a
verem e partilharem suas habilidades mo- criança firma suas novas conquistas, con-
toras mais amplas. Objetos grandes com- testando as formas tradicionalmente utili-
portam-se como veículos para brincadei- zadas (transgressão).
ras envolvendo atividades motoras mais
amplas, tema que tem sido bastante dis- Palavras-chave: Interação de crianças,
cutido na literatura relativa à interação de percepção de si e a diferenciação eu-outro
companheiros. Porém, o tom emocional,
que aparece nas atividades de brincadei-
ras nesses espaços, tem sido menos estu-
dado, mas nem por isso são menos im-
CO 02 - LT01
portantes, pelo contrário, marcam e defi- Hospitalização Infantil
nem o uso do brinquedo. A dialética
walloniana esclarece a simultaneidade da
saída de um estado atual e o domínio de LT01-697 - A UNIDADE DE TERAPIA
uma tendência futura, que pode ser aqui INTENSIVA NEONATAL COMO
exemplificada: - muitas foram as situa- CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO E DE
ções em que a mesma criança, inicial- PROMOÇÃO DE SAÚDE
mente dependente do apoio seguro do Aline Melo de Aguiar - UERJ
adulto, vai, por tentantivas e erros, adqui- melodeaguiar@gmail.com
rindo a habilidade que antes não possuía, Deise Maria Leal Fernandes Mendes - UERJ
chegando ao domínio total de si e do ob- -deisefmendes@gmail.com
jeto. O ponto do prazer do brincar está na Maria Lucia Seidl de Moura -UERJ
transgressão à norma. Explicação comple- mlseidl@gmail.com
mentar é dada por Wallon (1942/2008); Talita Maria Nunes de Aguiar - UERJ
para ele a criança e as coisas estão, inicial- talita_aguiar@yahoo.com.br
mente, misturadas e a criança deverá, por
esforço próprio, separar-se delas. Ela as A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
deseja ou evita, é atraída ou rejeita, solici- (UTI-Neo) representa um cenário comple-
ta ou reprova e neste exercício dialético xo em que há o contraponto das moder-
de reconhecer-se diferenciando-se, vai nas tecnologias disponíveis e utilizadas a
compreendendo os objetos e as outras serviço do salvamento e manutenção da
crianças não como distintas dela, mas vida de bebês prematuros e com proble-
como complementares à perda de seu mas de saúde, mas, ao mesmo tempo,
ser/ter – não ser/não ter. A Criança per- apresenta todo tipo de problemas e pri-
manece associada às coisas através de vações que esse mesmo ambiente pro-
seus movimentos, seja porque está inseri- move. Esse ambiente marca uma ruptura

351
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no contato tão esperado da mãe com seu de saúde na UTI-Neonatal. O presente


filho. Além disso, torna-se um espaço de trabalho relaciona promoção de saúde
confronto para os pais com seu bebê real; e psicologia do desenvolvimento e suas
geralmente magro, preso a fios, sensores, possibilidades de articulação no ambien-
e por vezes, impossibilitado de ser ama- te da UTI-Neonatal. Inicialmente, temos
mentados e restritos ao leito. Assim, os a própria complexidade da definição dos
pais frequentemente apresentam reações dois campos supracitados que envolve
de estresse, medo e ansiedade diante entendimentos variados, sem uma defini-
dessa separação inicial e na aposta na for- ção única de consenso. Segundo a OMS
ça do bebê e na competência da equipe. (1998), a promoção de saúde é “o estado
O bebê, por outro lado, encontra-se cer- de completo bem-estar físico, mental e
cado de cuidados médicos, nutricionais, social e não apenas a ausência de doença
respiratórios, com seu ambiente ‘contro- ou enfermidade”. Ou seja, apresenta uma
lado’ pela equipe, de modo que chega a visão holística perpassada por vários cam-
nos transparecer um espaço causador de pos: o biológico, o psicológico, o social e
incômodo para a criança, e pouco ade- o cultural. Da mesma forma a psicologia
quado para seu desenvolvimento inicial. do desenvolvimento também contempla
Outros protagonistas nesse cenário, na entendimentos diversos. Assume-se nes-
garantia de manter a vida do bebê fora te trabalho uma abordagem evolucionista
do útero, são os próprios profissionais, a do desenvolvimento, com uma visão inte-
equipe de saúde da UTI-Neo. Estes pro- racionista em que biologia e cultura são
fissionais vivenciam a “missão de salvar” imbricadas de modo indissociável. São
estas crianças e neles são depositadas considerados ainda os vários campos de
altas expectativas, muitas vezes, com ex- análise: o microgenético, o ontogenético,
tenuantes rotinas de trabalho, com vários o filogenético e o histórico-cultural. Uma
plantões e uma carga horária pesada. vez que a concepção de promoção de
Diante deste quadro, torna-se fecundo re- saúde descrita pela OMS não traz em si a
fletir sobre o que seja promoção de saúde idéia de um indivíduo em desenvolvimen-
nesse contexto inicial de desenvolvimen- to, a psicologia do desenvolvimento irá
to humano com todas as peculiaridades integrar a uma visão de promoção de saú-
que possui uma UTI-Neonatal. Acredita- de o conceito de ciclo vital, de forma que
-se que nesse ambiente é possível realizar as estratégias em saúde levem em consi-
melhorias na qualidade de vida em vários deração a idéia de um indivíduo com ne-
níveis desse sistema. Isso pode se dá em cessidades e características peculiares em
relação aos pais, às crianças, à equipe, cada momento. Assim, promoção de saú-
em normas e rotinas institucionais e na de ao longo do ciclo vital, quer dizer que,
elaboração e implementação de políticas ter foco em uma criança, é diferente de tê-
públicas. Além disso, é um campo em que -lo para um adulto, adolescente ou idoso.
ainda é pouco explorada, a relação entre Desse modo, ao voltar o olhar para o pro-
desenvolvimento infantil e promoção de cesso de desenvolvimento de uma crian-
saúde. Assim esse trabalho se propõe a ça prematura é preciso considerar suas
discutir sobre a contribuição da Psicolo- especificidades não apenas relacionadas
gia do Desenvolvimento para a promoção à idade, mas também a seu ambiente. Os

352
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

primeiros momentos da vida do bebê irão focam apenas os comprometimentos, se-


ocorrer neste espaço: a UTI-Neonatal. qüelas e até atrasos no desenvolvimento
Neste ambiente começam a se configurar da criança. É necessário pensar que ela
as relações entre pais e crianças e ainda também possui um potencial de saúde
a questão saúde-adoecimento, esboçada que pode advir da interação. A psicologia
pela relação inicial com a equipe, ou seja, do desenvolvimento ainda contribui com
a UTI-Neo é um contexto inicial de desen- orientações aos pais e à equipe sobre
volvimento, de extrema importância para as competências e características do
o desenvolvimento posterior da criança e bebê prematuro e ainda com avaliações
de sua família. Nesse cenário, a psicologia precoces do desenvolvimento da criança
do desenvolvimento contribui com ações e da interação entre pais e filhos. A UTI-
preventivas e interventivas. Em primeiro -Neo pode se apresentar como um am-
lugar, ela sinaliza que não há uma forma biente de muito potencial, um verdadeiro
linear de desenvolvimento, mas irá rela- celeiro de desenvolvimento físico e rela-
cionar-se com vários aspectos: biológicos, cional de pequenos indivíduos que lutam
culturais, ecológicos, genéticos, econô- pela sobrevivência apesar de sofrerem
micos, sociais e históricos, entendendo determinadas privações. Nesse contex-
que as crianças prematuras não se cons- to, a psicologia do desenvolvimento tem
tituem em uma população homogênea. contribuições transformadoras como
Promover saúde de um bebê prematuro exposto. No entanto, pesquisas e estra-
implica conhecer os fatores específicos da tégias de trabalho ainda necessitam ser
ontogenia daquele indivíduo. As estraté- empreendidas e compartilhadas a fim de
gias de políticas públicas voltadas para a promoverem conhecimentos preciosos
infância (amamentação, método canguru, aos que cuidam, sejam pais ou profissio-
política nacional de humanização) devem nais de saúde e à saúde do bebê dentro
ser interpretadas e implementadas de dessa abordagem interacionista.
acordo com as demandas de cada bebê,
e mais ainda, daqueles internados em Palavras-chave: Psicologia do
UTI-Neo, com tantos aspectos diferentes Desenvolvimento, Promoção de Saúde,
em seu quadro de saúde. Outra contri- Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
buição da psicologia do desenvolvimento Contato: Talita Maria Nunes de Aguiar.
à área dos cuidados em Neonatologia é Mestranda do Programa de Psicologia Social
a compreensão de um modelo bidirecio- da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
nal sobre a interação mãe-bebê, carac- talita_aguiar@yahoo.com.br
terizado pela ênfase na reciprocidade e
na adaptação mútua entre parceiros. As
interações e trocas se estabelecem entre
parceiros de capacidades distintas e são
por eles atualizadas continuadamente.
Uma visão bastante diversa daquela em
que o bebê é apenas estimulado pelas
ações dos adultos. Essa observação é
um alerta importante, para estudos que

353
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-875 - O PROCESSO DE Nesse contexto, se faz urgente encontrar


HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL: estratégias que propiciem uma melhora e
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO uma humanização no atendimento ao ser
Fernanda Rosalem Caprini - CUVV humano em situação de hospitalização
fernandacaprini@gmail.com (Faquinello, Higarashi & Marcon, 2007).
Claudia Patrocinio Pedroza Canal - CUVV Sendo assim, tendo em vista os impactos
claudia.canal@uvv.br que o processo de hospitalização pode
produzir em pacientes infantis e adoles-
O processo de hospitalização no perío- centes, objetiva-se investigar as estraté-
do da infância pode se configurar como gias de enfrentamento ao processo de
uma experiência conflituosa (Santa Roza, hospitalização utilizadas por crianças e
1997). Tal processo está envolto em um adolescentes internados em um hospital
contexto de tensão e insegurança para infantil da rede pública estadual, localiza-
a criança e seus familiares promovendo do na Grande Vitória – ES. Para tanto, foi
inúmeras situações desagradáveis, exa- escolhido como método a pesquisa des-
mes invasivos e dolorosos, afastamento critiva que será realizada com 20 crianças
do ambiente familiar e de amigos, aban- e adolescentes, de ambos os sexos, com
dono da atividade escolar, mudança do idades entre 4 e 16 anos em situação de
contexto social, dentre outras alterações internação na área pediátrica do hospi-
em seu cotidiano (Lima, Jorge & Moreira tal com diagnósticos variados. Para pos-
2006). Segundo Motta e Enumo (2004), terior análise de dados os participantes
pode se acrescentar a esse quadro a ne- serão divididos em quatro subgrupos, de
cessidade de confiar em pessoas até en- acordo com suas idades, com um total de
tão desconhecidas, ter que permanecer cinco componentes em cada um. Assim,
em um quarto, ser impossibilitada de os participantes serão distribuídos em
brincar, dentre várias outras situações grupos de crianças de 4 a 7 anos, de 8 a
que não estavam presentes na vida da 10 anos, de 11 a 13 e, por fim, de 14 a
criança e que se encontram na hospita- 16 anos. O critério de divisão estabeleci-
lização. Adoecer, portanto, pode implicar do pode ser justificado com base em Di
em sentimentos relacionados a perda de Leo (1987), ao colocar que uma avaliação
controle em relação à doença, atrelado válida de qualquer aspecto do compor-
a perda de controle sobre seu próprio tamento requer que seja considerada a
ambiente (Soares & Zamberlan, 2003) idade do sujeito e seu nível de desenvol-
caracterizando-se ainda como um evento, vimento. Dessa forma, as crianças serão
muitas vezes, imprevisto que leva o indi- subdivididas com base em suas idades
víduo a situações de vulnerabilidades em para que sua posterior avaliação permi-
variados contextos. Essas modificações ta a comparação e análise dos conteú-
do cotidiano da criança podem provocar dos expressos por cada indivíduo dentro
estresse, agitação, depressão, retroces- dos subgrupos. Essa pesquisa atenderá à
sos, gritos, choros, ausência no controle resolução 196 de 1996, do Conselho Na-
dos esfíncteres, dentre outras situações cional de Saúde sobre as normas éticas
prejudiciais à criança e ao seu desenvol- para pesquisa com seres humanos. Tal
vimento (Lima, Jorge & Moreira 2006). trabalho será realizado em um hospital

354
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da rede estadual situado no município leitura projetiva acerca dos desenhos


de Vila Velha. Mais especificamente, a infantis (Corman, L., 1970; Di Leo, J. H.,
pesquisa será realizada na área pediátri- 1987; Hammer, E. F., 1969; Van Kolck, O.
ca do hospital, a qual conta atualmente L., 1984 & Cunha, J. A., 2000). Contudo,
com uma classe hospitalar e 50 leitos dis- busca-se na presente pesquisa, realizar
tribuídos entre 15 enfermarias comuns, uma análise mais objetiva e sistemática
dentre as quais uma é de tratamento dos desenhos coletados. Para posterior
semi-intensivo e mais três enfermarias de análise dos dados empregar-se-á a análi-
isolamento. Como instrumento de coleta se do desenho infantil e das entrevistas
de dados, será utilizada uma única ques- que acompanharem tais desenhos. Para
tão aberta, realizada segundo o estado de tal, as categorias de análise serão criadas
saúde e a disponibilidade dos pacientes a partir dos desenhos e das entrevistas
para participar. Entendendo a variação de coletados. Finalmente, com relação aos
idade dos participantes, propôs-se, para resultados, espera-se obter respostas in-
responder a questão, a utilização da lin- dicativas acerca das possíveis estratégias
guagem não verbal, através do desenho, utilizadas por crianças e adolescentes
atrelado a análise da linguagem verbal para enfrentar o processo de hospitaliza-
oral ou escrita, expressa pela criança, no ção, compreendendo sua relevância cien-
intuito de esclarecer o que está sendo de- tífica referente à área da saúde infantil e
senhado. Entendendo ainda que muitos do adolescente.
dos participantes encontram-se em ida-
de pré-escolar ou ainda que enfrentem o Palavras-chave: estratégias de
processo de afastamento escolar, optou- enfrentamento, desenho infantil,
-se por formular uma questão simples e hospitalização infantil.
de fácil compreensão por parte de todos Contato: Fernanda Rosalem Caprini, Centro
os participantes. Para tanto, formulou-se Universitário Vila Velha,
a questão: Faça um desenho dando uma fernandacaprini@gmail.com
dica a um colega que também esteja em
um hospital para que ele possa viver bem
aqui. Posteriormente ao desenho, será LT01-1334 - EXPECTATIVAS DE CRIANÇAS
feita uma investigação sobre o mesmo HOSPITALIZADAS EM RELAÇÃO AO
por meio de perguntas que visem explo- RETORNO PARA A ESCOLA
rar o conteúdo expresso e levar o pacien- Isabelle Maria Bourguignon da Proência -
te a justificar o motivo de ter realizado UVV
aquele desenho. Com relação ao proce- isabellembp@yahoo.com.br
dimento da pesquisa, as entrevistas serão Claudia Patrocinio Pedroza Canal - UVV
desenvolvidas durante os atendimentos claudia.canal@uvv.br
individuais realizados nos leitos das en-
fermarias e na classe hospitalar, segundo De acordo com Nobrega, Collet, Gomes,
os critérios descritos anteriormente, ob- Holanda e Araújo (2010) a doença na in-
tendo duração variada. No que se refere fância geralmente traz consigo algumas
à análise, observa-se que grande parte particularidades. É possível que sejam
do referencial teórico aponta para uma enfrentados problemas como longos pe-

355
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ríodos de hospitalização, reinternações ser implementadas por ele e renunciará a


frequentes e interrupção das atividades outros objetivos ou ações que não lhe in-
diárias, situações essas que, entre outros centivem, porque sabe que não os pode-
prejuízos, ocasionam o afastamento da rá executar. Com crenças de autoeficácia
criança do convívio escolar por pouco ou positivas, o esforço será feito desde o iní-
por muito tempo. De acordo com Ortiz e cio e ao longo de todo o processo, de ma-
Freitas (2002), ao ser prescrita a alta hos- neira persistente, mesmo que aconteçam
pitalar, aciona-se a confirmação do sonho dificuldades. Desta forma, objetiva-se
de cura. Porém, em meio a sensação de analisar as opiniões de pacientes, inter-
bem-estar e alívio, surge a necessidade nados no setor de pediatria de um hospi-
de enfrentamento da vida fora do hospi- tal público da rede de saúde estadual do
tal. Entre questões sobre o retorno a vida Espírito Santo, sobre o afastamento esco-
cotidiana, está o regresso da criança ao lar e verificar as expectativas e motivação
ambiente escolar. Pode-se notar que a dos mesmos em relação ao retorno para
criança, ao retornar à escola, está sujei- este contexto. O hospital recebe crianças
ta a enfrentar dificuldades que vão além e adolescentes de 0 a 17 anos da região
das apresentadas pelo seu quadro clínico, metropolitana e interior desse e de ou-
podendo ser de ordem física, sociointera- tros estados, possui 25 leitos de Unidade
tiva e burocrática. Desta forma, torna-se de Tratamento Infantil Neonatal (Utin) e
indispensável, entre outros quesitos, sua tornou-se centro de referência no aten-
própria motivação para lidar com tais si- dimento materno-infantil do Estado. Na
tuações. As crenças de autoeficácia estão pediatria há 50 leitos distribuídos entre
entre os fatores que compõem os me- 18 enfermarias, sendo 1 delas para trata-
canismos psicológicos de motivação do mento semi-intensivo e 3 isolamentos. Os
aluno. De acordo com Bandura, as cren- pacientes da pediatria contam também
ças de autoeficácia são “julgamentos das com os atendimentos da Classe Hospita-
pessoas em suas próprias capacidades lar e do Serviço Social. Para realização da
para organizar e executar cursos de ação coleta de dados, será utilizado um roteiro
necessários para alcançar certo grau de de entrevista de caráter qualitativo, que,
desempenho” (1986, citado por Pajares e segundo Godoy (1995), fornece dados
Olaz, 2008, p. 101). Na área escolar, essas descritivos a respeito dos pensamentos,
crenças de autoeficácia são convicções sentimentos e comportamentos das pes-
pessoais que a criança tem quanto a dar soas pelo contato direto da pesquisadora
conta de uma determinada tarefa e com com os sujeitos, procurando compreen-
certo grau de qualidade determinada. Se- der os fenômenos pesquisados segundo
gundo Bzuneck (2002), um aluno motiva- a perspectiva dos mesmos. Com as per-
-se a envolver-se nas atividades de apren- guntas do roteiro objetiva-se realizar um
dizagem caso acredite que, com seus levantamento do tempo de afastamento
conhecimentos e habilidades, poderá ad- escolar de cada sujeito, o gosto que têm
quirir novos conhecimentos, dominar um por sua escola, seu interesse em voltar a
conteúdo e aprimorar suas habilidades. estudar, seu relacionamento com colegas
Assim, esse aluno escolherá atividades e e professores, suas crenças em relação ao
estratégias que, segundo supõe, poderão retorno escolar e ao seu desempenho e

356
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

verificar comportamentos como iniciati- didos em três subgrupos de acordo com a


va e persistência e outros que já foram faixa etária, sendo eles: 6 a 9 anos, 10 a
apresentados e poderá apresentar. Parti- 13 anos e 14 a 17 anos. Essas faixas foram
ciparão da pesquisa 21 crianças e adoles- divididas considerando características de
centes em idade escolar, de acordo com desenvolvimento próprias de cada um
o prescrito pela Lei de Diretrizes e Bases desses períodos. A partir do conteúdo
da Educação Nacional (Brasil, 1996), com das entrevistas, será realizada uma aná-
idade entre 6 e 17 anos, que frequentam lise qualitativa do conteúdo das mesmas,
a escola e que estejam internados há, no por meio da criação de um sistema de ca-
mínimo, uma semana. O roteiro contém tegorias que possibilitem uma interpreta-
10 questões a serem respondidas pelos ção dos dados. Para a análise dos dados
21 participantes, uma única vez e de for- será adotada uma abordagem fenomeno-
ma voluntária. Todos deverão ter sua par- lógica, que, de acordo com Lopes e Souza
ticipação na pesquisa autorizada por seus (1997), consiste em compreender o ser
responsáveis, após assinatura de termo humano em seu existir, como um ser que
de consentimento livre e esclarecido, possui uma vivência de consciência única
atendendo a resolução 196 de 1996, do e singular. Para que isso aconteça, a pes-
Conselho Nacional de Saúde, que versa quisadora adotará uma postura de aber-
sobre pesquisa com seres humanos. An- tura para perceber a vivência da criança
tes de cada entrevista será apresentada a partir dela mesma, se abstendo de seus
uma figura com o desenho de uma es- julgamentos e procurando entendê-la da
cola como instrumento de aproximação forma como ela se mostra no momen-
dos sujeitos ao tema das questões a se- to. Com os resultados dessa pesquisa,
rem respondidas, de forma que seja fa- espera-se obter respostas que auxiliem
cilitada a simbolização do que será dito. na compreensão dos comportamentos
Cada visita ao hospital será dividida em apresentados pelos pacientes no contex-
dois momentos. O primeiro refere-se a to apresentado e oferecer embasamento
uma apresentação da estagiária, sempre empírico para novas ações, tanto no am-
necessária já que a rotatividade semanal biente onde se realizará a pesquisa como
dos pacientes é muito alta, seguida de um em outras instituições.
momento livre, no qual os pacientes es-
colherão sobre o que querem conversar Palavras-chave: criança hospitalizada,
e qual brinquedo querem usar. As opções afastamento do convívio escolar, motivação
de brinquedos disponíveis são: quebra- do aluno.
-cabeça, jogo da memória, UNO, dominó,
jogo de dama, carrinhos, bonecas, além
de desenhos para colorir. No segundo
momento, será realizada a entrevista que
visa à coleta de informações sobre as opi-
niões dos mesmos a respeito do afasta-
mento escolar e suas crenças em relação
ao retorno para este convívio. Para análi-
se dos dados, os participantes serão divi-

357
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT02-1427 - AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO foram recrutadas no Ambulatório da


SELETIVA E SUSTENTADA EM CRIANÇAS Criança de Risco da Universidade Fede-
NASCIDAS PREMATURAS E COM BAIXO ral de Minas Gerais (ACRIAR/UFMG). Sua
PESO idade gestacional média foi de 31 se-
Alexandre Ferreira Campos - UFMG; manas e seu peso ao nascimento variou
alexfercam@ig.com.br entre 790g e 1.950g (M = 1.395g ± DP=
Suzan Caroline Such - UFMG; 275g). Os dois grupos não diferiram em
suzancarolinesuch@yahoo.com.br relação à idade cronológica, ao gênero
Vanessa Maria de Almeida - UFMG; e ao nível socioeconômico. Os partici-
vanessapsi22@gmail.com pantes foram submetidos às tarefas de
Leandro Fernandes Malloy-Diniz - UFMG; atenção seletiva e de atenção sustentada
malloy.diniz@gmail.com do Teste de Atenção Visual – 3ª Revisão
Cláudia Cardoso-Martins - UFMG; (TAVIS-3; Coutinho, Mattos, Araujo, &
cardosomartins.c@gmail.com Duchesne, 2007). Tendo em vista que a
distribuição dos escores não foi normal,
Introdução e Objetivo: Há evidência de o teste não-paramétrico Mann-Whitney
que crianças nascidas prematuras e com foi utilizado para avaliar a significância
baixo peso apresentam uma prevalên- estatística das diferenças encontradas
cia relativamente elevada de Transtorno entre os grupos nas medidas do TAVIS-3,
do Déficit de Atenção/Hiperatividade a saber: Tempo Médio de Reação, Erros
(TDA/H) (Aylward, 2005; Böhm, Smed- por Omissão e Erros por Ação. Resulta-
ler & Forssberg, 2004; Shum, Neulinger, dos: De modo geral, as crianças nascidas
O'Callaghan & Mohay, 2008). A maioria prematuras apresentaram um desempe-
dessas pesquisas foi realizada quando nho inferior ao das crianças nascidas a
as crianças já estavam em séries mais termo em todas as medidas do TAVIS-3,
avançadas do ensino fundamental. No sendo a diferença estatisticamente signi-
presente estudo, avaliamos se os deficits ficativa para o número de erros por ação
de atenção presentes entre crianças pre- na tarefa de atenção seletiva (p = .016) e
maturas são observados desde o início para o tempo médio de reação na tarefa
dos anos escolares. Metodologia: Par- de atenção sustentada (p = .004). Discus-
ticiparam do estudo 37 crianças prema- são: Os resultados sugerem que crianças
turas, nascidas com até 34 semanas de prematuras apresentam uma prevalência
gestação e peso inferior a 2.000g (grupo maior de deficits de atenção desde o iní-
dos prematuros), e 28 crianças nascidas cio dos anos escolares. Estudos longitu-
a termo e sem intercorrências neonatais dinais são necessários para determinar o
(grupo controle). Em ambos os grupos, impacto dessas dificuldades no desem-
as crianças tinham, em média, 6 anos de penho acadêmico posterior dessas crian-
idade e estavam matriculadas em classes ças. Ressalta-se ainda, a importância de
do 1º. ano do ensino fundamental de es- programas de seguimento de crianças
colas públicas da região metropolitana nascidas prematuras, com a perspectiva
de Belo Horizonte/MG. Apenas crianças de detectar possíveis dificuldades que
com QI igual ou superior a 85 participa- poderão interferir na aprendizagem e no
ram do estudo. As crianças prematuras comportamento desta população.

358
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: prematuridade; baixo peso Cunha, 2003). Aplicando a teoria da EAM


ao nascer; atenção. ao contexto hospitalar, o mediador (M)
Contato: Alexandre Ferreira Campos; (neste caso, um psicólogo, responsável
Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG; pela condução do grupo de mães) se situa
alexfercam@ig.com.br). entre o indivíduo mediado (a mãe) e os
estímulos desse novo universo (o bebê PT-
-BP, a hospitalização, a equipe de saúde e a
LT06-921 - ANÁLISE DA MEDIAÇÃO EM UTIN), de modo a selecioná-los, mudá-los,
INTERVENÇÃO GRUPAL PARA MÃES DE ampliá-los ou reinterpretá-los, por meio
BEBÊS PREMATUROS E COM BAIXO PESO de estratégias interativas. Para que uma
INTERNADOS EM UTIN experiência seja considerada como EAM
Fabiana Pinheiro Ramos - UFES e a mediação promova mudança em ní-
ramosfabiana@bol.com.br vel do desenvolvimento, faz-se necessário
Schwanny Roberta Costa Rambalducci Mofati que ela atenda a três critérios principais:
Vicente - UFES (a) Intencionalidade e Reciprocidade, que
schwanny.vicente@gmail.com ocorre quando M chama a atenção para
Maria Luiza Guidoni Macedo - UFES um estímulo a fim de alcançar a recipro-
maluguima@hotmail.com cidade do mediado; (b) Significação, que
Kely Maria Pereira de Paula - UFES diz respeito à atitude de M em enfatizar a
kelympp@terra.com.br importância dos estímulos por meio da ex-
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES pressão de afeto, pela indicação de valor e
soniaenumo@terra.com.br significado dos estímulos; e (c) Transcen-
Financiameno: CNPq/MCT e CAPES/MEC dência, que diz respeito à atitude de M em
conduzir o indivíduo para além de contex-
A aprendizagem das condutas necessárias tos e necessidades mais imediatas, favo-
ao cuidado e à estimulação de bebês em recendo a generalização da aprendizagem
situação de risco ao desenvolvimento, (Lidz, 1991). Adotando os princípios da
como os prematuros e com baixo peso EAM, neste trabalho, objetivou-se avaliar
(PT-BP), internados em Unidade de Tera- o padrão de interação de um mediador
pia Intensiva Neonatal (UTIN), pode ser em situação de intervenção em grupo, di-
facilitada se as mães forem mediadas nes- rigida a mães de bebês PT-BP internados
se processo, de modo a refletir sobre suas na UTIN de um hospital público da Região
práticas nesse contexto, ampliando seu Metropolitana da Grande Vitória, ES. Par-
repertório para lidar com essa situação e ticiparam 35 mães, divididas em sete gru-
com o cuidado e a estimulação do bebê pos, com dois dias de intervenção para
(Linhares, Martins & Klein, 2004; Melnyk, cada grupo, totalizando 14 sessões, nas
Feinstein & Fairbanks, 2006; Melnyk et al., quais a atuação do mediador foi avaliada
2006). Esse contexto pode se caracterizar por três observadores independentes (A,
como uma experiência de aprendizagem B e C, estudantes de Psicologia treinados),
mediada (EAM), na qual a atuação de utilizando-se, para isso, uma tradução
um mediador filtra, interpreta e elabora adaptada do Guidelines for Observing Te-
diferentes estímulos, em um processo in- aching Interactions (GOTI) (Lidz, 2002). O
terativo organismo-ambiente (Fonseca & instrumento é composto por 23 itens que

359
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

avaliam o perfil de mediação, sendo que, no item 5 (“M faz uso de voz, gestos e mo-
para cada afirmação sobre o comporta- vimentos para vivenciar a apresentação
mento do mediador, o juiz deve marcar: dos conteúdos da sessão”) M obteve, na
nível 4, se o comportamento de M ocorrer sessão 1: NM= 3,95 e na sessão 2: NM= 4;
sempre; nível 3, se ocorrer muitas vezes; e no item 6 (“M especificamente aponta
nível 2, se ocorrer poucas vezes; ou nível características extras e elementos dos ma-
1, nunca, caso não ocorra na sessão. As- teriais e conteúdos que são importantes
sim, quanto maior a nota dada pelo juiz, de serem notados”) M obteve, na sessão
melhor o perfil de mediação nos critérios 1: NM= 3,71 e na sessão 2: NM= 3,66. O
avaliados. Foram analisados, neste traba- critério de mediação Transcendência teve
lho, oito dos 23 itens do GOTI, relaciona- IC = 61% (variação: 43%-81%), sendo ava-
dos aos três principais critérios citados da liado, no item 7 do GOTI (“M promove
EAM. O desempenho do mediador foi ana- pensamentos que associam o conteúdo
lisado separadamente por sessão, pois, a da sessão com experiências anteriores”),
intervenção era diferenciada em cada dia. na sessão 1: NM= 3,55; na sessão 2: NM=
Efetuou-se o cálculo das médias das notas 3,71; e no item 8 (“M promove pensamen-
atribuídas pelos três juízes aos níveis de tos que associam o conteúdo da sessão
mediação (NM), bem como do índice de com experiências futuras”) M obteve, na
concordância médio (IC) entre os pares de sessão 1: NM= 3,6; na sessão 2: NM= 3,61.
juízes (AB, BC e AC), para cada um dos três Para os oito itens avaliados, M obteve mé-
critérios da EAM, adotando-se IC ≥70% dia acima de 3 (ocorreu muitas vezes), com
(Fagundes, 1999). O critério de mediação menor IC no critério Transcendência, su-
Intencionalidade e Reciprocidade teve IC = gerindo possíveis problemas na definição
79% (variação: 43%-100%), sendo avalia- do comportamento a ser observado ou no
do em três itens do GOTI: no item 1 (“M treinamento dos observadores. Por ser a
produz uma mensagem clara aos partici- primeira adaptação do instrumento para
pantes do grupo, com objetivo de engajá- esse contexto, consideram-se necessárias
-los nas atividades da sessão”), M obteve, novas revisões para seu aprimoramento.
em ambas as sessões, NM= 4; no item 2 A adequação dos itens com menor IC po-
(“M consegue, com sucesso, manter a derá ser feita, posteriormente, baseada
atenção dos participantes ao longo da ses- em trabalhos que utilizaram a EAM em
são”) M obteve, na sessão 1: NM= 3,85; na outros conjuntos de mães (Cunha, Enumo
sessão 2: NM= 3,71; e no item 3 (“Quando & Canal, 2006), professores (Faria, Mara-
os participantes perdem a atenção, M pro- nhão & Cunha, 2008; Vectore, Alvarenga
cura meios eficazes de fazê-los retomar a & Gomide Jr., 2006) e terapeutas (Cunha
concentração nas atividades do grupo”) & Guidoreni, 2009). No geral, o estilo de
M obteve, na sessão 1: NM= 3,70; na ses- atuação do mediador mostrou-se coeren-
são 2: NM= 3,33. O critério de mediação te com os princípios da EAM e o uso da
Significação teve IC = 78% (variação: 52%- escala GOTI, adaptada para o contexto de
100%) registrando-se, no item 4 do GOTI UTIN, mostrou-se viável, fornecendo feed-
(“M produz suporte apropriado, visível e back à atuação do psicólogo na condução
concreto para o alcance dos objetivos da de grupos de mães. A realização desses
sessão”), em ambas as sessões: NM= 3,90; grupos, com base em uma adequada me-

360
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

diação no período em que a mãe acom- Para alcançar esse objetivo torna-se fun-
panha a internação do seu bebê, pode se damental que o professor crie recursos,
constituir como um fator de proteção ao estratégias pedagógicas que considerem
desenvolvimento desses bebês em situa- as diferentes possibilidades de aprendiza-
ção de risco ao desenvolvimento. gem, que solicitem a construção de refle-
xões, posicionamentos críticos, bem como
Palavras-chave: mediação, grupo de mães, a construção de conhecimentos. Torna-se
riscos ao desenvolvimento infantil necessário, então, a consideração da cria-
Contato: Schwanny Roberta Costa tividade no trabalho pedagógico, compre-
Rambalducci Mofati Vicente, UFES, endida não como um fenômeno ou “dom
schwanny.vicente@gmail.com divino”, mas segundo abordagem teórica
de Mitjáns Martínez (2009a, 2008, 2004),
como um processo complexo da subjetivi-
dade humana, na qual participam proces-
CO 08 - LT01 sos e elementos diversos, tanto da subje-
Criatividade tividade individual, como da subjetividade
social. Fundamentando essa definição da
criatividade está a Teoria da Subjetividade
LT01-1055 – A CRIATIVIDADE NO na perspectiva Histórica-Cultural de Gon-
TRABALHO PEDAGÓGICO E O zález Rey. Esta proposta teórica acerca da
DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE criatividade, do ponto de vista da pesqui-
DO PROFESSOR sadora, integra dois aspectos centrais, os
Tatiana Santos Arruda - SEEDF e FE/UnB quais justificam sua escolha para a reali-
arruda.tatiana@gmail.com zação da pesquisa que tem como tema a
Albertina Mitjáns Martínez - FE/UnB criatividade no trabalho pedagógico e o
desenvolvimento da subjetividade do pro-
No contexto contemporâneo a diversida- fessor, que são a consideração do sujeito
de social e cultural marcam o contexto e da subjetividade social nos processos
escolar e as relações construídas nesse criativos. Rompe com as dicotomias pre-
espaço. Solicitam, cada vez mais, investi- sentes em diversas concepções de criati-
mentos na construção de estratégias pe- vidade que ora a definem como processo
dagógicas capazes de oportunizarem situ- individual, ora como processo social. Há
ações educativas que viabilizem a aprendi- a consideração do sujeito, compreendi-
zagem e desenvolvimento dos educandos. do como o indivíduo concreto, portador
As prerrogativas legais quanto à finalidade de personalidade e caracterizado por sua
da educação, expressas na Lei de Diretri- condição de ser atual, interativo, inten-
zes e Bases da Educação Nacional – Lei cional, emocional e consciente (González
8.384/1996, legitimam a necessidade Rey, 1995). É esse sujeito que atua, faz
de tais investimentos, ao afirmar no Art. escolhas, constrói representações da rea-
2º que a educação “tem por finalidade lidade e vivencia diferentes emoções em
o pleno desenvolvimento do educando, seus processos de interação nos contex-
seu preparo para o exercício da cidada- tos dos quais participa, segundo Mitjáns
nia e sua qualificação para o trabalho”. Martínez (2000). É ele que em sua função

361
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de professor faz as seleções educativas, entanto, Mitjáns Martínez (2008) desta-


organiza o trabalho pedagógico e o realiza ca que é preciso analisar o seu impacto
no cotidiano de sua sala de aula e de sua para a aprendizagem e desenvolvimento
instituição. Nesse processo de escolhas das crianças. Observa-se, então, que os
pedagógicas, participa a subjetividade critérios para consideração da criatividade
social, definida por González Rey (2003) no trabalho pedagógico são relativos,
como o processo de produção e organi- têm relação com a situação educativa e
zação de significados e sentidos subje- o contexto social em que são produzidos.
tivos que caracterizam o espaço social. A expressão da criatividade no trabalho
Constitui-se nos diferentes meios sociais, pedagógico, assim, torna-se possível no
representando processos simbólicos e “interjogo de configurações subjetivas
emocionais que integram diferentes níveis constituídas no sujeito no percurso de sua
de organização da sociedade. No contexto história de vida individual, da sua própria
escolar, a subjetividade social relaciona-se condição de sujeito e das configurações
com os elementos de sentidos proceden- da subjetividade social (...)” (Mitjáns Mar-
tes de outros espaços sociais (González tínez, 2008, p. 75-76). Da citação de Mi-
Rey, 2003). Para Mitjáns Martínez (2008) tjáns Martínez (2008) chama a atenção a
envolve, ainda, o clima emocional, as for- participação da subjetividade individual
mas de relação, as crenças e valores em do professor na criatividade do trabalho
relação ao ensinar, ao aprender, ao tra- pedagógico. Esta, conforme definição de
balho pedagógico e ao aluno, o significa- González Rey (2003), se configura por
do dado à criatividade e outros aspectos. meio de momentos da subjetividade so-
Participam da subjetividade social da ins- cial, das relações pessoais que o sujeito
tituição educativa elementos de sentidos estabelece dentro de uma cultura, carac-
advindos de outros espaços sociais, ele- terizando-se por seu caráter histórico, sin-
mentos que caracterizam esse cenário em gular e irrepetível. É, além disso, dialógica,
momentos históricos antecedentes. E que complexa, dialética, organiza-se por meio
se perpetuam e se modificam nas relações e concomitante às subjetividades sociais.
que estabelecem entre si (González Rey, Nessa direção, a subjetividade individual
2003). É essa subjetividade social, mais representa para o autor processos e for-
a condição de sujeito, e as configurações mas de organização subjetiva dos sujeitos,
da subjetividade individual que na qual se expressa a história única de
participam da expressão da criatividade cada um deles. De maneira que passa por
no trabalho pedagógico. Nesta pesquisa, diversos contextos sociais de subjetivação,
a criatividade entendida a partir de dois se constitui dentro deles, mas atua simul-
critérios: a novidade e o valor. Isto é, taneamente como elemento diferencia-
como a produção de algo novo e, ao dor no desenvolvimento da subjetividade
mesmo tempo, considerado como valio- social. Considerando, assim, as relações
so para o processo de aprendizagem e entre a subjetividade individual e a subje-
desenvolvimento das crianças (Mitjáns tividade social, os estudos em andamento
Martínez, 2008). Nessa perspectiva, a no curso de doutorado procuram compre-
produção de novidades inclui as situações ender os impactos da criatividade no tra-
em que o “novo” dá-se para o sujeito. No balho pedagógico para o desenvolvimento

362
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da subjetividade do professor. Parte-se do vimento constatada por Feldman (1999)


princípio que as produções novas e com se expressa claramente no conjunto de
valor para a aprendizagem dos educandos pesquisas desenvolvidas na área da criati-
também podem ter repercussões para vidade. Ao empreender uma intensiva re-
o desenvolvimento do professor, solici- visão da produção científica nesse campo
tando-lhe posicionamentos, mediações, em bases de dados nacionais e internacio-
intervenções não planejadas. Com isso, nais, constatamos que as questões rela-
o verdadeiro critério definidor da criativi- tivas ao desenvolvimento da criatividade
dade que está sendo considerado não é o não têm sido um objeto frequente no
valor conferido por outros, nem o produ- debate que acontece no centro da comu-
to. Mais que isso, a criatividade definida nidade científica. Autores como Moran e
como o “processo de novidade, de mu- John-Steiner (2003) destacam que é preci-
dança, assim como sua significação para o so considerar que a criatividade não surge
funcionamento integral da subjetividade” repentinamente na fase adulta e, por isso,
(Mitjáns Martínez, 2009b, p. 35). Trata-se, pesquisar o seu desenvolvimento pode
portanto, de um estudo que foca o desen- ser frutífero para avançar na compreensão
volvimento da subjetividade e suas rela- dos elementos subjetivos que dinamizam
ções com o contexto de atuação docente, e favorecem a emergência desse proces-
que no trabalho pedagógico criativo, gera so. Não obstante, para Simonton (2006,
condições para o desenvolvimento do pro- p. 492), os trabalhos identificados nessa
fessor no que se refere a sua condição de linha de pesquisa estão voltados basica-
sujeito e de configurações subjetivas. mente para “as circunstâncias familiares
e experiências educacionais na infância e
Palavras-chave: criatividade, adolescência que contribuem para o cres-
desenvolvimento, professor. cimento criativo”, mas não abordam o de-
Contato: Tatiana Santos Arruda, professora senvolvimento dos processos subjetivos
da Secretaria de Estado de Educação do que animam esse processo e que estão
Distrito Federal e doutoranda em Educação na vinculados a tais condições contextuais.
Universidade de Brasília. O interesse pelo tema da constituição da
E-mail: arruda.tatiana@gmail.com aprendizagem criativa se insere no debate
atual sobre a importância da formação de
indivíduos em uma sociedade que está em
LT01-1242 – A RELAÇÃO ENTRE O constante transformação. A possibilidade
DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE de personalizar a informação e torná-la
E A CONSTITUIÇÃO DA APRENDIZAGEM própria é uma condição necessária para o
CRIATIVA ingresso em um mercado de trabalho que
Ana Luiza Snoeck N. do Amaral - UNB está ávido por profissionais criativos que
amaral.analu@gmail.com não apenas executem tarefas, mas consi-
Albertina Mitjáns Martínez - UNB gam criar, inovar, buscar novas soluções.
amitjans@terra.com.br As constatações supramencionadas mo-
bilizaram a nossa pesquisa de Doutorado
A dificuldade de diálogo entre os campos (Amaral, 2011) que teve como objetivo ge-
científicos da Criatividade e do Desenvol- ral compreender a constituição da apren-

363
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dizagem criativa considerando os proces- cendo para que o aluno posicione-se como
sos de desenvolvimento da subjetividade sujeito autor da própria aprendizagem,
individual, tendo em vista os contextos para que ele não seja passivo nesse pro-
de atuação e inter-relação do indivíduo. cesso e fique apenas repetindo, copiando,
Para contemplar tal objetivo frente a um transcrevendo informações, mas que ele
objeto de estudo tão complexo e pluri- possa se implicar efetiva e afetivamente
determinado, optamos pela perspectiva no processo de aprendizagem. O segun-
histórico-cultural do desenvolvimento da do aspecto nuclear para a constituição
subjetividade proposta por González Rey da aprendizagem criativa foi o desenvol-
(1995, 1999, 2008) e pela compreensão vimento de determinadas configurações
da criatividade como processo da subjeti- subjetivas, dentre elas, a aprendizagem,
vidade de Mitjáns Martínez (2005, 2006a, a leitura, a escrita, a autovalorização e o
2008). Desenvolvemos um percurso me- outro como ensinante. Compreendemos
todológico qualitativo em sintonia com a que tais configurações se constituíram em
Epistemologia Qualitativa (González Rey, função da articulação de uma rede que
2002, 2005) e realizamos três estudos de envolvia: a ação do indivíduo, sentidos
caso utilizando instrumentos como entre- subjetivos sociais, e um conjunto de sen-
vista, redação e análise documental. Além tidos subjetivos individuais que ganharam
desses, construímos novos instrumentos: estabilidade e se constituíram numa tra-
Construção da Linha de Vida Escolar, Baú ma simbólico-emocional favorecedora da
de Lembranças, Fotos e Frases e Túnel do aprendizagem criativa. O terceiro aspecto
Tempo para favorecer aos participantes diz respeito à produção de sentidos sub-
não apenas resgatar lembranças, mas, jetivos situacionais no espaço da aprendi-
principalmente, recordar emoções com o zagem escolar. Concordamos com Mitjáns
objetivo de alcançar as sutilezas do desen- Martínez (2006b) quando ela afirma que a
volvimento subjetivo. A análise integrativa constituição da aprendizagem criativa não
que desenvolvemos dos casos nos permi- diz respeito exclusivamente aos sentidos
tiu fundamentar a tese de que a constitui- subjetivos já constituídos que compõem
ção da aprendizagem criativa está vincula- as configurações subjetivas, mas está atre-
da a quatro aspectos nucleares. Primeiro lada também aos sentidos subjetivos que
o desenvolvimento da condição de sujeito o aluno produz no momento da aprendi-
que ocorre mediante vivências de auto- zagem. Identificamos na pesquisa um im-
nomia, momentos de enfrentamento, a portante sentido subjetivo produzido pe-
conquista paulatina da autoconfiança, o los participantes: a realização pessoal. Em
desenvolvimento da capacidade reflexiva, nossa compreensão tal sentido subjetivo
e o próprio exercício da condição de su- relacionava-se com uma satisfação pró-
jeito. No entanto, concluímos que apenas pria vinculada a uma expressão persona-
o desenvolvimento da condição de sujei- lizada no processo de aprendizagem. Per-
to não é suficiente para a constituição da cebemos que para eles a aprendizagem
aprendizagem criativa. Defendemos a im- não estava somente a serviço do outro,
portância primordial de que essa condição do professor, não era um processo vazio,
psicológica se desenvolva e se expresse no direcionado exclusivamente para o reco-
domínio da aprendizagem escolar favore- nhecimento e aprovação social. Eles im-

364
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

plicavam-se na aprendizagem em função um dos obstáculos para a promoção desse


de uma demanda interna engendrada por importante processo da subjetividade hu-
sentidos subjetivos gerados nesse proces- mana. Ao evidenciar nesta pesquisa como
so. O quarto aspecto é o desenvolvimento se desenvolvem os elementos subjetivos
da imaginação criativa. Do nosso ponto constitutivos da aprendizagem criativa,
de vista, o exercício subjetivo de “olhar geramos conhecimentos que podem favo-
para dentro”, favorecido pela imaginação recer a compreensão do papel da escola
criativa foi fundamental para o processo e da família, entre outros espaços sociais,
de constituição da aprendizagem criati- nesse processo.
va. Percebemos que os participantes di-
vidiam a sua atenção: eles se voltavam Palavras-chave: Desenvolvimento.
para o mundo e para eles mesmos cons- Subjetividade. Aprendizagem Criativa
tantemente. Ou seja, eles se ligavam e se
desligavam do contexto, voltando-se para
o que sentiam e pensavam sobre o que LT01-1428 – CRIATIVIDADE E
estavam vivenciando. Compreendemos INTELIGÊNCIA EM ALUNOS
que esse vai e vem é necessário à apren- SUPERDOTADOS: USO DO TESTE DE
dizagem criativa, pois é exatamente esse PENSAMENTO CRIATIVO – PRODUÇÃO
balanço criativo entre o aprendiz e o mun- DE DESENHOS (TCT-DP)
do que favorece para que ele aprenda da Angela M. Rodrigues Virgolim - UnB
nova experiência e avance no seu desen- angela.virgolim@gmail.com
volvimento. Se o aprendiz não inclui suas
imagens e ideias e fica preso nas informa- Um dos grandes desafios que o Brasil ain-
ções transmitidas, as suas ações, muito da enfrenta nos dias atuais é o de prepa-
provavelmente, serão automatizadas e rí- rar professores para trabalhar na educa-
gidas o que dificulta a personalização das ção de alunos superdotados e talentosos,
informações recebidas, condição primei- o que inclui o desenvolvimento de uma
ra de uma aprendizagem criativa. Enfim, concepção coerente de superdotação e
concluímos que a constituição da aprendi- um entendimento efetivo das necessi-
zagem criativa, acontece numa processu- dades acadêmicas, sociais e emocionais
alidade de ordem essencialmente relacio- destes alunos. Clássicas discussões no
nal. Indubitavelmente, nos reconhecemos campo dizem respeito à conceituação da
autor quando nos diferenciamos do outro superdotação, principalmente quando se
e, simultaneamente, nos reconhecemos salientam conceitos como inteligência,
na nossa singularidade. É nesse encontro talento e criatividade. Contudo, como
intersubjetivo que nossos pensamentos inteligência e criatividade não têm uma
e sentimentos ganham contorno, nossas definição única e global, os profissionais
ideias geram impacto, nossa imaginação da área pontuam a necessidade de uma
se materializa, nossas emoções afloram e definição operacional da superdotação e
a nossa autoria nasce. O desconhecimento do talento para tornar possível a aplicabi-
dos professores e pais sobre o que é cria- lidade destes conceitos em sala de aula.
tividade e como ela pode ser desenvolvi- Teorias modernas da superdotação in-
da tem sido apontado na literatura como cluem a criatividade como essencial para

365
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o desenvolvimento de altas habilidades. todos quantitativos e qualitativos foram


Renzulli e Reis (1997), na Teoria dos Três também utilizados para determinar como
Anéis, concebem os comportamentos de um grupo de alunos altamente criativos
superdotação como compreendendo a e/ou inteligentes (n=22) e seus professo-
interlocução entre habilidades superio- res da sala de recursos (n=15) percebiam
res, envolvimento com a tarefa e criati- a criatividade e a inteligência. Estudos
vidade. Sternberg (2003) desenvolveu de casos múltiplos foram utilizados para
o modelo denominado WICS - Wisdom, coletar dados sobre os alunos e seus pro-
Intelligence, Creativity, Synthesized, se- fessores. Informações obtidas sobre as
gundo o qual a sabedoria, a inteligência habilidades dos alunos, seus interesses,
e a criatividade são fatores sine qua non estilos de aprendizagem, autoconceito e
para os futuros líderes talentosos do futu- características comportamentais foram
ro. Gardner (1999), nas Teorias Múltiplas categorizadas e codificadas em padrões
da Inteligência,define a inteligência como e temas. A análise correlacional indicou
um conjunto de habilidades que permi- uma relação significativa entre os resulta-
tem ao indivíduo resolver problemas ou dos dos alunos nos testes de criatividade
modelar produtos como conseqüência de e inteligência (r=.21), com uma significân-
um ambiente ou cultura particular. Em- cia prática pequena. Os alunos percebiam
bora várias concepções de inteligência e suas habilidades criativas de forma favo-
criatividade tenham sido propostas por rável, o que também foi corroborado por
pesquisadores e educadores nas últimas seus professores. Alunos e professores
décadas, poucas pesquisas foram realiza- consideraram criatividade, inteligência e
das no sentido de investigar as habilida- superdotação como construtos relacio-
des criativas de estudantes brasileiros, de nados. Inteligência foi definida por am-
examinar em que medida a inteligência bos como raciocínio e conhecimento; os
e a criatividade estariam relacionadas professores acrescentaram ainda em suas
e explorar a concepção de alunos e pro- definições o pensamento criativo. Criativi-
fessores sobre estes dois construtos. Par- dade foi definida tanto pelos alunos quan-
tindo desta necessidade, um estudo foi to pelos professores como habilidade de
realizado para investigar a relação entre pensamento divergente, assinalando
os resultados de testes em criatividade e também o papel do conhecimento na so-
inteligência de um grupo de 100 alunos lução de problemas. O presente trabalho
com idades entre 9 e 17 anos, de 4ª a 8ª visa discutir os resultados desta investiga-
séries, que participavam de um programa ção, ressaltando o uso do Teste de Pensa-
de enriquecimento para alunos superdo- mento Criativo – Produção de Desenhos –
tados e talentosos no Distrito Federal (Vir- TCT-DP, de Urban e Jellen (1996), que nos
golim, 2005). A correlação de Pearson foi últimos anos tem sido um dos testes mais
utilizada para determinar a magnitude e utilizados na Europa para acessar a cria-
o grau da relação entre os resultados dos tividade. Percebendo a criatividade como
alunos no teste Matrizes Progressivas de um construto holístico e gestáltico, o teste
Raven – STM, Forma Geral – e no Teste de utiliza 14 elementos figurativos para ava-
Pensamento Criativo – Produção de De- liar dimensões cognitivas e de personali-
senhos – TCT-DP, de Urban e Jellen. Mé- dade, como disposição para correr riscos

366
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e desafiar limites, humor, afetividade e escolar? A partir dessas inquietações, a


pensamento não-convencional e não-es- presente pesquisa busca compreender a
tereotipado. Diferentemente dos testes constituição da aprendizagem criativa em
tradicionais de criatividade, que medem museus e seu vinculo com o desenvolvi-
apenas quantitativamente um sub-fator mento. Ao compreender a criatividade
do pensamento divergente, como a flu- como um processo complexo da subjeti-
ência de idéias, o TCT-DP tenta, também, vidade humana, que resulta entre outros
reconhecer e valorar características qua- importantes elementos da produção de
litativas de execuções criativas. Por ser sentidos subjetivos configurados no de-
um teste não verbal, o TCT-DP tem a van- correr da trajetória de vida do sujeito, a
tagem de ser culturalmente justo, sem a pesquisa busca mediações entre as áreas
dependência de fatores de escolarização de aprendizagens em museus e de Cria-
formal. O uso da modalidade de desenho tividade, sob a perspectiva da Teoria da
deve garantir o mais elevado grau de im- Subjetividade, de González Rey (González
parcialidade cultural, o que normalmente Rey, 1997, 2003, 2004, 2005) e da concep-
não é garantido por testes verbais de cria- ção de criatividade elaborada por Mitjáns
tividade. Além disso, é de fácil aplicação Martínez (2002, 2001, 2004, 2006, 2009).
e avaliação; pode ser administrado em Percebidos como instituições de educa-
uma atmosfera amigável e relaxante; e, ção não-formal, museus ocupam cres-
por isso mesmo, é indicado para acessar centemente um espaço privilegiado de
de forma global o pensamento criativo de reflexão e diálogo sobre nosso patrimônio
crianças e adolescentes. natural e cultural. Nesse sentido, museus
estão umbilicalmente ligados à formação
Palavras-chave: superdotação, criatividade, e ao desenvolvimento de cidadãos aptos
TCT-DP à reflexão-crítica e criativa sobre seu con-
texto sociocultural e histórico-cultural,
em complementariedade com outros
LT04-1195 – A CONSTITUIÇÃO DA contextos da educação formal e informal.
APRENDIZAGEM CRIATIVA NA A aprendizagem em museus caracteriza-
APRENDIZAGEM EM MUSEUS E SUA -se por peculiaridades próprias ao con-
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO texto museal marcado pela relação entre
Pilar de Almeida - FE/UnB o visitante, os objetos museológicos e o
pilar_almeida@hotmail.com contexto físico (expositivo) estruturado.
Albertina Mitjáns Martínez - FE/UnB Elementos comumente relacionados à
amitjans@terra.com.br aprendizagem em museus consistem no
voluntarismo, na não-sequencialidade da
Como compreender a aprendizagem em visita, na autonomia de escolha e ritmo
museus para além do contexto da visita do visitante, na multisensorialidade, na
ao museu em si? Como compreender o ludicidade, no apelo à emocionalidade,
impacto dessa aprendizagem em outros entre outros. Pesquisas em educação em
contextos da vida do indivíduo e em com- museus têm tradicionalmente focado a
plementariedade com outras aprendiza- experiência museal no contexto expositi-
gens como, por exemplo, a aprendizagem vo, evidenciando as relações estabeleci-

367
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

das entre o visitante e os objetos (Mene- perspectiva histórico-cultural, conforme


ses, 2000), a comunicação expositiva e os proposta por González Rey. A Teoria da
visitantes (Hooper-Grenhill, 1999), as in- Subjetividade assume uma abordagem
terações sociais geradas entre grupos de histórico-cultural da psique humana, to-
visitantes entre si, entre visitantes e mo- mando o sujeito como constante produ-
nitores (Falk e Dierking, 1992; Marandino, tor de sentidos subjetivos e configurações
2006; Sapiras, 2007; Gaspar, 1993). Não subjetivas resultantes da interação entre
obstante, é percebida a necessidade de configurações subjetivas prévias, asso-
pesquisas mais horizontais que compre- ciadas a sua trajetória de vida singular, e
endam a experiência museal em conexão configurações subjetivas relacionadas à
com a vida integral dos sujeitos (Bizerra e vivência do momento presente. Segundo
Marandino, 2009). Ou seja, pesquisas que o pensamento de González Rey, a consti-
dêem conta de avaliar o impacto da ex- tuição subjetiva do sujeito que aprende é
periência museal, considerando sujeitos elemento essencial do processo de apren-
constituídos em contextos anteriores e dizagem, na medida em que ela define o
posteriores ao contexto museal em si. A sentido que esse processo tem para o su-
educação em museus tem por finalidade jeito dentro da condição singular em que
o desenvolvimento de cidadãos aptos à se encontra inserido em sua trajetória de
reflexão-crítica e criativa sobre as temáti- vida (González Rey 2006). Dessa forma, ao
cas abordadas no museu, apropriando-se considerar a condição subjetiva do sujeito
do museu para uma aprendizagem autô- em seu processo de aprendizagem, temos
noma e em complementariedade com ou- acesso a emoções geradas em diferentes
tros contextos da educação formal e infor- espaços de sua vida social que aparecem
mal. Não obstante essa finalidade expres- em sua vivência no museu e que consti-
sa sobre o desenvolvimento de cidadãos tuem momentos de sentido subjetivo do
críticos e criativos, cabe a pergunta: como sujeito dentro desse espaço. Este acesso
se constitui um cidadão crítico e criativo a é essencial na compreensão das emo-
partir de sua experiência museal? Sob que ções produzidas na aprendizagem e na
formas essa criatividade se expressa? De aprendizagem criativa. Toma-se a apren-
forma a abordar essas questões, a pesqui- dizagem criativa, a partir da perspectiva
sa buscará compreender os processos de de Mitjans Martínez (2006), como uma
emergência do sujeito na sua experiência aprendizagem realizada por um sujeito,
museal. Quais configurações e sentidos emocionalmente implicado, produtor de
subjetivos esse sujeito produz no decor- sentidos subjetivos e mobilizador de con-
rer da experiência? Como essas configura- figurações subjetivas que de forma recur-
ções impactam sua aprendizagem? Como siva incentivam uma aprendizagem ativa,
acontece o desenvolvimento dos recursos crítica e criativa. A partir desse arcabouço
subjetivos que favorecem a aprendiza- teórico, a pesquisa tem por objetivos fa-
gem criativa nesses espaços? Para com- zer uma análise da aprendizagem criativa
preender os processos de subjetivação em museus, diferenciando-a e correlacio-
do sujeito com relação a sua experiência nando-a com a aprendizagem escolar; e
museal, a pesquisa se utiliza do arcabou- analisar o impacto da aprendizagem cria-
ço teórico da Teoria da Subjetividade, na tiva em museus no desenvolvimento do

368
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

indivíduo. A primeira etapa desta pesqui- homem está destinado a educar-se. Não
sa consistirá uma ampla pesquisa e aná- há saída. É no palco histórico-cultural que
lise bibliográfica nas áreas de educação os processos de aprendizagem e desen-
e aprendizagem em museus, e de criati- volvimento vão executar uma dança dia-
vidade. Em etapas posteriores, a pesqui- lética, promovendo o desenvolvimento
sa buscará, a partir de uma abordagem do sujeito e dotando-o de atributos típi-
metodológica construtivo-interpretativa, cos da condição humana. Também neste
baseada na epistemologia qualitativa de cenário sociocultural surge a escola como
González Rey (1997, 2002, 2005b) definir espaço privilegiado de desenvolvimento e
um grupo de profissionais em museus e aprendizagem e, consequentemente, pro-
analisar seus processos de constituição e moção do potencial criativo. O fenôme-
desenvolvimento de configurações sub- no criativo também será compreendido
jetivas que favoreceram a emergência de como originário na história do comporta-
suas condições de sujeitos de aprendiza- mento do homem, com destaque para as
gem em espaços museais. instâncias sociais e culturais que definem
os processos de subjetivação humana,
Palavras-chave: educação em museus, teoria sempre circunscritos ao tempo histórico e
da subjetividade, criatividade e aprendizagem seus respectivos contextos. Promover um
criativa diálogo sistemático, sistêmico, dialético e
profundo entre criatividade e cultura não
só é necessário como fundamental para o
LT04-1212 – CRIATIVIDADE E entendimento do fenômeno criativo, em
CULTURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE especial na primeira infância. Dentre as
OS FATORES SOCIOCULTURAIS NO etapas de vida do sujeito, a primeira in-
DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE fância revela-se um momento privilegia-
Mônica Souza Neves-Pereira - IP/UnB do para o fomento da criatividade e a es-
monicasouzaneves@yahoo.com.br cola destaca-se como cenário central das
Jonathas Nogueira da Rocha - IP/UnB interações entre as crianças, seus pares,
jonathasnr@gmail.com professores e educadores. O ambiente
escolar reveste-se de múltiplas caracterís-
As abordagens sociogenéticas do de- ticas da maior relevância para o pesquisa-
senvolvimento buscam compreender os dor interessado em investigar criatividade
processos de construção da natureza hu- como uma função psicológica humana.
mana partindo do pressuposto central de Ali estão presentes interações e relações
que a gênese das estruturas psicológicas definidoras de rotas desenvolvimentais,
do homem situa-se na dimensão histó- além dos ricos e imprevisíveis processos
rica, social e cultural onde os sujeitos se de mediação que canalizam as mensa-
inserem. A biologia, por si só, não é sufi- gens culturais, orientando processos de
ciente para definir um estatuto de huma- subjetivação. Na escola observamos a
nidade. Para alcançar as potencialidades criança construindo a si mesma, em toda
específicas da espécie homo sapiens, o a complexidade que este processo en-
ser humano necessita pertencer a grupos cerra. Porém, somente por meio de uma
sociais, precisa apropriar-se da cultura. O leitura complexa e abrangente é possível

369
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

enxergar a emergência deste fenômeno de suas características básicas. O domínio


multifacetado - a criatividade - com seus sócio-histórico-cultural passa a ser o palco
elementos que, desafiados ao diálogo, de onde surge a criatividade, a partir da
podem revelar muito. O ser humano, em interação entre o sujeito e o meio, propor-
sua trajetória histórica, sempre tentou cionada pelas linhas do desenvolvimento
explicar os acontecimentos e fenômenos e da aprendizagem. Vygotsky assume cria-
tanto internos quanto externos à sua na- tividade como função psicológica supe-
tureza. Explicar e compreender o fenô- rior, construída nas interações entre ho-
meno criativo não poderia fugir à regra. mem e cultura, mediada por mensagens
As primeiras tentativas de entendimento sociais, mas com características próprias.
desse processo surgiram com a psicologia O homem nasce dotado de potencial para
e algumas de suas ramificações teóricas o desenvolvimento de seus processos psi-
como a Psicanálise, a Gestalt e a linha hu- cológicos, mas isso só acontecerá median-
manista. Os pensadores destas correntes te sua inserção no domínio cultural. Pos-
teóricas formularam propostas que en- suirmos um potencial não significa o de-
fatizavam o sujeito humano como fonte senvolvimento do mesmo. Nascemos com
geradora do processo criativo. O ato de um cérebro dotado de inúmeras compe-
criar passou a ser concebido como ação tências, construímos processos orgânicos
de um sujeito dotado de atributos dife- que serão indispensáveis para nosso de-
renciados, influenciado por um contexto senvolvimento futuro, mas essa herança
sociocultural, mas, essencialmente, de- não garante a constituição de uma dimen-
terminado pelas qualidades e traços pró- são “humana”. Sem modelos culturais e
prios a esse sujeito. O ato criativo poderia processos de aprendizagem mediados por
ser definido como ação individual gera- outras pessoas não conseguiríamos nos
dora de produtos e influenciado por um desenvolver e construir novas estratégias
contexto coletivo. As relações entre cria- de sobrevivência. Articulando as noções
tividade e cultura, nesta perspectiva, não de desenvolvimento, cultura e criativida-
são interdependentes, apenas influentes. de, podemos sintetizá-las numa ideia que
Essa abordagem gerou um pressuposto retrata a posição vygotskiana: o proces-
implícito que vinculou o potencial criati- so de desenvolvimento da criatividade é
vo a “certo” determinismo biológico. Tal construído no contexto cultural ao qual
concepção vai ser discutida por Vygotsky pertence o sujeito agente do ato criativo.
e seus colaboradores quando assumem Sua expressão criativa individual reflete a
que as funções mentais superiores do influência do coletivo, é obra do grupo, da
homem, onde se inclui a criatividade, são dimensão social, onde ele, como agente,
oriundas de um dado contexto cultural e apenas exteriorizou o desejo, necessidade
determinadas por uma instância histórica. ou pensamento oriundo e emergente da
As relações entre criatividade e cultura cultura. Sendo assim, a tessitura de con-
passam, assim, a ter uma feição diferente. siderações acerca das relações entre cria-
Os dois conceitos tornam-se diretamente tividade e cultura atravessa os elementos
vinculados, o segundo passando a ter um socioculturais que canalizam mensagens
papel fundamental na geração do primei- o tempo inteiro, construindo uma teia de
ro e contribuindo para a determinação significados onde o sujeito se “humaniza”,

370
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

internalizando suas relações com o mundo à moralidade: regras morais, virtudes,


para um sistema semiótico intrapsíquico. convenções sociais e noção de justiça. A
É neste mesmo cenário que se desenvolve maioria dos estudos, porém, não conside-
sua criatividade, com possibilidade de re- ra as experiências dos sujeitos investiga-
finamento de seu potencial para imaginar, dos nos contextos socioculturais em que
inovar e transformar esta mesma cultura vivem e se desenvolvem. Sendo assim,
que o originou. Compreender como es- é necessário ampliar as pesquisas sobre
tes fatores atuam, de que modo exercem o tema do desenvolvimento moral estu-
suas ações de mediação no desenvolvi- dando as concepções e crenças morais de
mento da criatividade e como mobilizam pessoas, no caso específico, das crianças,
sujeitos nesta dança dialética representa levando em conta sua inserção histórico-
ponto fundamental para o entendimento -cultural. É importante investigar como as
do processo de tornar-se criativo em um crianças analisam e re-significam suas pró-
contexto sociocultural específico. prias experiências nos diferentes contex-
tos socioculturais e, especificamente, no
Palavras-chave: criatividade, cultura, contexto escolar. Como as crianças anali-
desenvolvimento. sam, avaliam e re-significam experiências
que podem ser significativas para seu de-
senvolvimento moral? Quais as concep-
CO 19 - LT03 ções e crenças morais em formação que
orientam suas análises e re-significações?
Justiça Quais valores morais podem estar em
processo de construção através das inte-
rações com colegas e adultos? Estudar e
LT03-784 – A QUESTÃO DA MORALIDADE
compreender essas concepções e crenças
NA NARRATIVA DE CRIANÇAS DO
pode ser fundamental para construir mé-
ENSINO FUNDAMENTAL
todos educativos que, de fato, levem em
Alia Barrios - UnB conta o processo muitas vezes oculto da
Angela Branco - UnB canalização cultural de crenças e valores,
Financiamento: CAPES/CNPq e o papel ativo das crianças na sua pró-
pria educação e desenvolvimento moral.
A pesquisa sobre o desenvolvimento mo- A complexidade do fenômeno exige a
ral vem se tornando cada vez mais rele- adoção de uma perspectiva que enfatize
vante nos dias atuais. Numerosos estudos a interdependência das dimensões psi-
abrangem o tema da moralidade e do de- cológicas da cognição, do afeto e da ação
senvolvimento moral por vários ângulos intencional na re-significação do conjunto
e diferentes perspectivas, havendo, en- de crenças e valores morais, que orientam
tretanto, uma prevalência da abordagem a ação do sujeito no contexto de suas rela-
construtivista. Algumas pesquisas se cen- ções. Além disso, exige o estudo do tema
tram no estudo do papel que a educação no contexto das práticas socioculturais e a
tem no desenvolvimento moral, outras no partir das narrativas das próprias crianças.
estudo das concepções que as crianças Assim, o presente estudo tem como fun-
têm sobre questões e conceitos relativos damentação teórico-metodológica a pers-

371
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pectiva sociocultural construtivista, e seu das pelas crianças destacam-se o diálogo


objetivo principal consiste em identificar e a compensação, no caso da ocorrência
as concepções e crenças morais apresen- de danos materiais e pessoais. Nos casos
tadas por crianças, entre nove e dez anos em que a situação de conflito não seja
de idade, de uma instituição pública de resolvida pelas crianças envolvidas, faz-
Ensino Fundamental no Distrito Federal. -se necessária a intervenção do professor,
Neste trabalho analisamos as significa- no sentido de estabelecer sanções, assim
ções e re-significações das experiências como regras e normas que orientem a
pessoais das crianças em sua relação com ação e regulem a interação. Entretanto,
as pessoas, que podem ser consideradas as intervenções do professor em deter-
significativas para o seu desenvolvimento minadas situações foram avaliadas pelas
moral. Foram realizadas sessões estrutu- crianças como negativas, uma vez que são
radas pelo professor da turma e pela pró- injustas e não levam em conta as neces-
pria pesquisadora tendo em vista levar as sidades e habilidades sócio-morais das
crianças a discutir estas questões. Reali- crianças. Para a maioria das crianças, mui-
zou-se uma análise microgenética das fa- tas regras e normas do contexto educati-
las e interações filmadas dessas sessões. vo são injustas e estão pautadas na falta
Selecionamos para apresentação e dis- de diálogo. As avaliações realizadas pelos
cussão a sessão de grupo focal realizada participantes do grupo focal apontam a
sob a coordenação da pesquisadora, com importância da intervenção do educador
a participação de dez crianças, sendo qua- nas situações que envolvem questões
tro meninos e seis meninas. Nessa sessão de moralidade em uma posição de me-
de grupo focal, as crianças avaliaram e diador, no sentido de ajudar as crianças
discutiram dilemas morais hipotéticos e a partir de sua experiência e, ao mesmo
reais que são característicos do contexto tempo, deixar o espaço para que elas se
escolar, assim como avaliaram suas expe- responsabilizem por seus conflitos e in-
riências educativas voltadas para o esta- terações sociais, exercendo a autonomia
belecimento e internalização das normas e a criatividade. Com o presente estudo,
que regulam suas interações na escola. pretendemos compreender e apontar
Para a maioria das crianças, a moralidade aspectos que consideramos fundamen-
envolve o respeito e o cuidado na rela- tais para construir métodos educativos
ção com o outro, assim como o respeito que, de fato, privilegiem o papel ativo das
às normas e regras voltadas para o esta- crianças no seu desenvolvimento moral,
belecimento e manutenção de relações entendido como aspecto fundamental do
simétricas e justas. De acordo com elas, desenvolvimento integral do ser humano.
os conflitos interpessoais que envolvem
questões morais devem ser resolvidos pe- Palavras-chave: Desenvolvimento
las próprias crianças que se encontram na Moral, Ensino Fundamental, Perspectiva
situação de conflito, através de diferentes Sociocultural Construtivista, Análise
estratégias de negociação que procurem Microgenética.
minimizar a situação de oposição, assim Contato: Alia Barrios, Universidade de
como o restabelecimento do vinculo in- Brasília, aliabarrios@gmail.com
terpessoal. Entre as estratégias aponta-

372
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-763 – O QUE PENSAM AS CRIANÇAS a ingratidão é um fenômeno comum na


SOBRE A INCAPACIDADE DE RETRIBUIR? infância. A criança nasce sem a capacida-
Gabriela Ballardin Geara - UFRGS, de de reconhecer os benefícios recebidos,
geara.g@hotmail.com tais como o carinho, a atenção e até mes-
Fernanda Palhares - UFRGS, mo a alimentação. Este reconhecimen-
ferzinha.palhares@gmail.com to vai sendo construído ao longo de seu
Lia Beatriz de Lucca Freitas - UFRGS, desenvolvimento e organiza-se a partir
lblf@ufrgs.br da troca de experiências e vivências que
ocorrem em um primeiro momento no
Financiamento: CNPq
âmbito familiar, e depois se estendem
para a sua relação com os pares. Neste pe-
Na maioria das culturas, a gratidão é con- ríodo a criança pode, de acordo com seu
siderada uma virtude, um aspecto dese- aprendizado, desenvolver ou não a cons-
jável da personalidade humana e da vida ciência da importância de se retribuir uma
em sociedade; a ingratidão, ao contrário, ajuda prévia. Apesar de que a ingratidão
é considerada um vício, uma falha moral. possa levar à exclusão social e seja con-
Estudos recentes no campo da psicologia siderada, em diversas culturas, um vício,
indicam que a gratidão pode estar relacio- encontram-se ainda relativamente poucos
nada com melhor qualidade de vida, além estudos sobre a ingratidão na infância. No
de favorecer as relações sociais, contri- entanto, alguns resultados de pesquisa e
buindo com a manutenção da vida social. observações cotidianas indicam que as
Por exemplo, pessoas gratas tendem a crianças e os adultos não julgam o ingra-
ser mais felizes e ter menos estresse (Mc- to da mesma maneira. Assim, realizou-se
Cullough, Tsang, & Emmons, 2004; Wa- um estudo cujo objetivo foi investigar o
tkins, Woodward, Stone, & Kolts, 2003). juízo moral de crianças de 5 a 12 anos so-
Em contrapartida, a ingratidão pode levar bre uma das formas de ingratidão - a não
à exclusão social: o indivíduo ingrato sofre retribuição a um benfeitor prévio (McCon-
desprezo por parte de seus benfeitores e nell, 1993; Suls et al., 1981) - a partir da
de seu grupo social, além de experimentar abordagem construtivista sobre o desen-
toda uma gama de sentimentos negativos volvimento moral. Examinaram-se duas
como ressentimento, hostilidade e indife- questões: (a) o juízo das crianças sobre
rença. Segundo Comte-Sponville (2007), a a ação do ingrato e (b) as suas justificati-
ingratidão é a incapacidade de retribuir. A vas. Entrevistaram-se, individualmente,
pessoa ingrata não retribui o favor e, além 77 crianças (49% meninas) de três grupos
disto, não compartilha com seu benfeitor etários (5-6, 8-9 e 11-12 anos). Contou-se
a satisfação recebida. Segundo McConnell às crianças uma história, na qual um adul-
(1993), há várias maneiras de ser ingrato: to (benfeitor) ajuda uma criança (benefici-
(a) não retribuir um benefício a um ben- ário); posteriormente, o adulto pede um
feitor prévio; (b) não reconhecer a sua favor à criança, mas ela nega-se a ajudá-
ajuda; (c) não retribuir adequadamente -lo. Em um primeiro momento, buscou-se
ou (d) retribuir por razões moralmente certificar-se de que as crianças haviam
reprováveis. Segundo alguns autores (Ber- compreendido a história. Em um segun-
gler, 1945; François, 1953; Freud, 1953), do momento, teve início uma entrevista

373
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

baseada no método clínico, conforme os ou mais; (c) a necessidade de ajuda ao


passos sugeridos por Delval (2002), com benfeitor prévio foi mencionada principal-
a finalidade de proceder à investigação mente pelas crianças de 11-12 anos. Este
das questões levantadas. As entrevistas estudo constitui uma contribuição impor-
foram gravadas e posteriormente transcri- tante para a psicologia moral, examinan-
tas para análise. Verificou-se que todos os do o juízo moral de crianças no domínio
participantes reprovaram a ação do bene- aretaico da moralidade (Lourenço, 2000)
ficiário ingrato, isto é, a não-retribuição. – relacionado aos conceitos de louvável e
Todavia, as crianças justificaram essa re- reprovável – o mesmo também deve ser
provação de maneiras diferentes. Cons- considerado em propostas de educação
tituíram-se quatro categorias de análise moral que visem ao pleno desenvolvimen-
para as justificativas: (a) Consequência da to do ser humano.
ação do ingrato para o benfeitor, na qual
o foco foram as consequências negativas Palavras-chave: juízo moral; ingratidão;
da não-retribuição para o benfeitor prévio crianças
(por exemplo, ele ficaria triste); (b) Custo Contato: Gabriela Ballardin Geara, UFRGS,
da ação para o benfeitor, referente àque- geara.g@hotmail.com
las justificativas que se centraram em um
contraponto entre o prejuízo material do
benfeitor e a ausência de prejuízos mate- LT03-778 – UM ESTUDO DO PERDÃO
riais da retribuição do favor para o bene- INTERPESSOAL EM ADOLESCENTES E
ficiário; (c) Consequência negativa para o JOVENS ADULTOS
beneficiário, a qual enfocou o juízo alheio Renan Pires Maia - UFPB
negativo que a não-retribuição acarreta renanpmaia@gmail.com
(por exemplo, mal-educado, preguiçoso, Júlio Rique Neto - UFPB
etc.) ou o fato de que, provavelmente, o julioriqueneto@gmail.com
beneficiário que não-retribui não recebe-
rá ajuda futura e (d) Ajuda ao benfeitor, Este é um estudo sobre o perdão inter-
na qual foram enfocadas a generosidade pessoal a teoria de Enright (Enright & The
da ação do benfeitor e a necessidade de Human Development Study Group, 1991).
retribuição como uma forma de expressar Os objetivos foram: (1) verificar se existem
gratidão. Três juízes participaram da codi- diferenças entre adolescentes e jovens
ficação dos dados, sendo que cada justi- adultos no tocante ao grau do perdão ofe-
ficativa foi lida por, pelo menos, dois juí- recido aos ofensores após uma injustiça
zes; em caso de diferenças, realizou-se um específica; (2) verificar se existem diferen-
acordo interjuízes. Os resultados indicam ças no padrão de respostas as subescalas
que a maneira como as crianças justificam de afeto, comportamento e julgamento
o seu juízo moral sobre a ingratidão mo- da escala do Perdão - EFI (Enright & Rique
difica-se com a idade: (a) as justificativas 2000) e (3) verificar se existem diferenças
que enfocaram apenas as consequências na frequência de respostas aos itens da
para o benfeitor diminuíram com a idade; EFI por idades. Participaram deste estudo
(b) o custo da ação para o benfeitor apa- 82 jovens, homens e mulheres, divididos
receu somente entre as crianças de 8 anos em dois grupos de idade: 14 a 16 anos (M

374
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

= 15, DP = ,51) e 22 a 24 anos (M = 23, amostras independentes por agentes da


DP = ,76). Foram utilizados: a escala do mágoa mostraram que os adolescentes
Perdão EFI que é composta por uma Folha favoreceram os familiares diferenciando-
de Rosto onde o participante é solicitado -os dos amigos (t = 3,72, df = 34, p < ,05)
a lembrar uma situação na qual ele(a) foi e dos outros ou estranhos (t = 2,93, df =
magoado injustamente e responder em 15, p < ,01). Não foram encontradas di-
uma escala de 5 pontos a intensidade da ferenças significativas no grau do perdão
mágoa (1 = Nenhuma e 5 = Tremenda- no grupo de jovens adultos entre agentes
mente) e o agente da mágoa (família, ami- da mágoa. Verificou-se através de testes-t
gos ou outros). Em seguida, o responden- para amostras emparelhadas comparando
te é solicitado a pensar sobre seus afetos, as médias das subescalas EFI em todas as
comportamentos e julgamentos a respei- combinações que os jovens perdoaram
to do ofensor(a) no presente e responder mais pelos julgamentos do que pelos afe-
um inventário de 60 itens divididos em tos, independente da idade. A média da
três subescalas com 20 itens cada, sen- subescala de comportamentos foi sempre
do 10 positivos e 10 negativos para cada intermediária as médias das subescalas de
categoria. O escore total da EFI é a soma afetos e julgamentos. Uma comparação de
dos escores das subescalas e varia de 60 frequências de concordância com os itens
a 360 pontos. Foi utilizado também o Item da EFI por grupos de idade, através do tes-
do Perdão que é uma medida do grau pelo te de Mann-Whitney, mostrou diferenças
qual o respondente perdoou a pessoa que significativas em seis itens. Por um lado,
o magoou em uma escala de 5 pontos (1 = verificou-se que 63% dos adolescentes
Não perdoa; 5 = Perdoa completamente). concordaram com a ausência de ressen-
Este item é uma última questão na EFI e timento (item 10) para o perdão vs. 39%
serve como medida de validade externa. dos jovens adultos; 83% dos adolescentes
Por último, foi usado um Questionário Só- concordaram com a ausência de desa-
cio-Demográfico com informações sobre provação do outro (item 55) vs. 59% dos
sexo e idade dos participantes. A adminis- jovens adultos e 93% dos adolescentes
tração das escalas foi feita em sala de aula, concordaram com a ausência de condena-
os participantes receberam orientações ção do outro (item 58) vs. 78% dos jovens
verbais e assinaram o TCLE atendendo adultos. Por outro lado, 88% dos adoles-
as normas da resolução 196/96 para pes- centes concordaram com sentir nojo pelo
quisas com seres humanos. Os resultados outro (item 20) vs. 50% dos jovens adultos;
de correlação de Pearson com a amostra 88% dos jovens adultos concordaram em
total entre a intensidade da mágoa, a EFI negligenciar o outro (item 24) do outro vs.
e o Item do Perdão mostraram uma cor- 73% dos adolescentes; e 90% dos jovens
relação positiva e significativa (r = ,293) adultos concordaram que devemos espe-
entre a EFI e o Item do Perdão (p < ,001) rar que o outro tivesse êxitos na vida (item
e uma correlação negativa e significativa 59) vs. 78% dos jovens adolescentes. Estes
(r = -,261) entre Item do Perdão e a inten- resultados corroboraram em diversos as-
sidade da mágoa (p < ,004). Com relação pectos resultados obtidos anteriormente
ao grau do perdão dentro do grupo de 14 sobre o perdão interpessoal (ex., Rique &
a 16 anos, os resultados de testes-t para Camino, 2010, Rique, Camino, Enright &

375
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Queiroz, 2007). O grau do perdão se man- LT03-781 – UM ESTUDO DA VERIFICAÇÃO


tém negativamente relacionado com a in- DA QUALIDADE DO JULGAMENTO
tensidade da mágoa através dos diversos MORAL DE UNIVERSITÁRIOS NOS ANOS
estudos; a idade e o contexto do agente DE 1996 E 2011
da mágoa (ou qualidade da relação entre Pollyana de Lucena Moreira - UFPB
vitimas e ofensores) influenciam o perdão pollyanadelucena@yahoo.com.br
com familiares e amigos recebendo maior Cleonice Pereira dos Santos Camino - UFPB
grau de perdão do que estranhos, porém, cleocamino@yahoo.com.br
note-se que neste estudo os jovens adul- Júlio Rique Neto - UFPB
tos não diferenciaram os agentes de má- julio.rique@uol.com.br
goas com relação ao perdão. As análises
com a EFI também corroboraram que as Este é um estudo em Psicologia Moral na
pessoas perdoam em maior grau de jul- linha do desenvolvimento adotada por Ko-
gamento do que de afeto independente hlberg (1971, 1984) e Rest (1974). A moral
da idade. A novidade deste estudo foi à é definida por Kohlberg como julgamen-
análise das escolhas nos itens da EFI que tos pautados em noções de justiça: igual-
mostrou diferenças significativas em seis dade, respeito e reciprocidade. Segundo
conceitos que correspondem a 10% do to- Kohlberg (1984) o desenvolvimento mo-
tal de itens da escala. Entre estes itens, o ral ocorre em uma seqüência invariante
que mais chamou a atenção foi o padrão de três níveis e seis estágios. Os estágios
de respostas ao Ressentimento (Item 10), são subestruturas psicológicas que repre-
cuja superação é central ao perdão inter- sentam diferentes formas de organização
pessoal. A quantidade de jovens que con- do pensamento. O nível pré-convencional
cordaram com a necessidade da diminui- compreende os estágios 1 (orientação
ção do ressentimento para o perdão dimi- para a punição e obediência) e 2 (hedo-
nuiu significativamente com a idade. Nes- nismo instrumental). O nível convencional
te sentido, ressalta-se que esses dados se compreende os estágio 3 (moralidade do
referem ao perdão oferecido espontanea- bom garoto) e 4 (orientação para a lei e
mente, talvez com o amadurecimento que para a ordem). O nível convencional com-
proporciona maior autonomia e uso dos preende os estágios 5 (orientação para o
princípios morais a pessoa defenda sua contrato social) e 6 (orientação para os
dignidade perante injustiças com maior princípios éticos universais). Para men-
força ou necessite de uma educação para surar o desenvolvimento do julgamento
esclarecimentos sobre a tensão existente moral, Kohlberg criou o Moral Judgment
entre o ressentimento e princípios morais Interview – MJI (1984), uma entrevista
como a justiça, ou seja, a que se refere o semiestruturada com três dilemas morais
perdão quando ganhamos maior autono- que apresentam conflitos entre princípios
mia moral. (e.g. vida vs. lei). Os estágios do julga-
mento moral são avaliados no MJI a par-
Palavras-chave: perdão, moral, tir das respostas dadas às perguntas que
desenvolvimento seguem cada dilema. Baseado na teoria
Contato: Renan Pires Maia, UFPB, de Kohlberg, Rest (1974) criou o Defining
renanpmaia@gmail.com Issues Test - DIT, uma forma objetiva de

376
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mensuração do julgamento moral. O DIT baixos índices de pensamento pós-con-


é composto por seis dilemas morais. Os vencional. Koller (1990), em um estudo so-
respondentes, após lerem cada dilema, bre as diferenças de gênero no desenvol-
avaliam a importância de 12 afirmativas vimento moral, realizado com 180 jovens
numa escala do tipo Likert de cinco pon- com idades entre 18 e 25 anos, também
tos. Em seguida, os respondentes são so- utilizando o MJI, verificou que não exis-
licitados a indicar dentre as 12 afirmativas tiam diferenças entre os sexos e que havia
quatro que consideram mais importantes. uma predominância do nível convencional
Camino, Luna, Alves, Silva e Rique (1989) de julgamento moral em sua amostra de
realizaram uma adaptação do DIT para o jovens adultos. Camino, Rique, Ribeiro e
contexto brasileiro. O instrumento adapta- Araújo (1996) verificaram a qualidade do
do é composto por quatro dilemas morais: julgamento moral em adolescentes secun-
João e o Remédio, O Prisioneiro Foragido, daristas e jovens universitários através do
O Jornal Escolar e A Ocupação pelos Estu- DIT. Os resultados mostraram um pensa-
dantes. Essa versão é respondida da mes- mento convencional para os adolescentes
ma forma da versão original proposta por e um pensamento pós-convencional para
Rest (1974). A literatura indica que exis- os universitários. Em outro estudo, tam-
tem diferenças entre a mensuração do jul- bém realizado com o DIT, Camino et al
gamento moral quando se comparam os (1998) analisaram a relação da idade com
resultados obtidos com o DIT e com o MJI a qualidade do julgamento moral conside-
(Camino, Morais & Galvão, 2006; Biaggio, rando três grupos de idade: 11 a 13, 14 a
2002). O DIT, por se tratar de uma medida 16 e 17 a 19 anos. Os resultados mostra-
de identificação de argumentos morais, ram que o julgamento moral se desenvol-
permite que os respondentes indiquem via com a idade. Nesse mesmo estudo fo-
formas de pensamento mais avançadas do ram encontradas diferenças significativas
que quando respondem ao MJI, uma me- entre os sexos: as mulheres apresentaram
dida de elaboração de argumentos morais. mais julgamento pós-convencional que os
No Brasil, estudos na linha do desenvolvi- homens. Considerando esses estudos, o
mento moral ocorreram primordialmen- presente trabalho tem como objetivo veri-
te nas décadas de 1970 e 1980. Biaggio ficar se ocorreram mudanças na qualidade
(1976) realizou um estudo intercultural, do julgamento moral de jovens universi-
comparando universitários brasileiros e tários no período compreendido entre os
americanos, utilizando o MJI. Os resulta- anos de 1996 e 2001. Com esta finalidade
dos mostraram que 51% dos universitários foi realizada uma pesquisa na qual parti-
brasileiros possuíam um julgamento moral ciparam 103 universitários da cidade de
convencional. Biaggio (1984), em um estu- João Pessoa, com idades de 18 a 32 anos,
do de verificação da relação entre maturi- sendo 46,6 % de homens e 53,4 % de mu-
dade de julgamento moral e internalidade lheres. Foi utilizada a versão adaptada do
de lócus de controle, utilizando o MJI com Defining Issues Test –DIT, realizada por
14 universitários, de 20 a 32 anos, cor- Camino, Luna, Alves, Silva e Rique (1989).
roborou seu estudo anterior verificando O instrumento foi administrado de forma
que o julgamento moral dos universitários coletiva, mas respondido individualmente.
encontrava-se no nível convencional, com Cada participante respondeu ao instru-

377
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mento em aproximadamente 20 minutos. A área da moralidade tem sido objeto de


Uma análise de comparação de médias re- muitos estudos, ganhando destaque com
alizada através de um teste-t para medidas os trabalhos desenvolvidos por Lawrence
repetidas indicou que as médias obtidas Kohlberg (1984) acerca do pensamento
pelos universitários na pesquisa atual para moral da justiça. Nos últimos anos, a área
os níveis convencional e pós- convencional de estudos foi ampliada, surgindo novas
foram significativamente diferentes (t = abordagens e novos campos de abrangên-
2,463; p = .01): os universitários apresen- cia como, por exemplo, os estudos sobre
taram um pensamento convencional su- o desenvolvimento do pensamento moral
perior ao pós-convencional, enquanto que do perdão. Enright, Santos e Al-Mabuk
no estudo de Camino et al (1998) a média (1989) validaram um modelo cognitivo,
do nível convencional foi significativamen- investigando as condições nas quais as
te inferior a do nível pós-convencional (t pessoas perdoam. Neste modelo, os au-
= -3,11; p = .003) Assim, julga-se que hou- tores consideraram que o desenvolvimen-
ve uma regressão no que diz respeito ao to do pensamento do perdão segue uma
nível de julgamento moral em relação ao sequência similar ao desenvolvimento do
pensamento dos universitários. Diante de pensamento de justiça proposto por Ko-
tais resultados fica a questão: que fato- hlberg. O modelo de pensamento do per-
res poderiam indicar a diminuição do uso dão apresenta seis estágios de raciocínio:
do pensamento pós-convencional entre estágio 1 – perdão como vingança; estágio
aqueles que deveriam ser a vanguarda do 2 – perdão por restituição ou compensa-
pensamento moral? Espera-se responder ção; estágio 3 – perdão como expectativa
a essa questão por meio de uma análise social; estágio 4 – perdão como expecta-
de outros estudos empíricos e através de tiva institucional; estágio 5 – perdão para
uma análise das estruturas sócio-econô- a harmonia social e estágio 6 – perdão
micas, política e educacional vigentes no como compaixão. O resultado do estu-
Brasil nos anos de 1996 e 2011. do de Enright et al. (1989) mostrou uma
relação positiva entre o pensamento de
Palavras-chave: moral; desenvolvimento; justiça e o pensamento de perdão, sendo
universitários; que o primeiro antecedia ao segundo no
Contato: Pollyana de Lucena Moreira, UFPB, desenvolvimento do pensamento. Com
pollyanadelucena@yahoo.com.br. base neste resultado, objetivou-se, no
presente estudo, analisar o pensamento
moral da justiça e do perdão em jovens
LT03-825 – RELAÇÃO ENTRE O universitários para verificar se existe re-
PENSAMENTO MORAL DE JUSTIÇA E DE lação entre os dois tipos de pensamento.
PERDÃO EM UNIVERSITÁRIOS Esperou-se encontrar uma relação seme-
Eloá Losano de Abreu - UFPB lhante àquela encontrada pelo estudo aci-
eloalosano@gmail.com ma, ou seja, que o pensamento de justiça
Cleonice Pereira dos Santos Camino - UFPB estivesse mais desenvolvido e relacionado
cleocamino@yahoo.com.br ao pensamento de perdão. Participaram
Júlio Rique Neto - UFPB do estudo 37 estudantes universitários
julio.rique@uol.com.br da cidade de João Pessoa - Paraíba, sen-

378
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do 18 homens e 19 mulheres com idades traram uma relação significativa entre os


de 17 a 24 anos (M= 20,22; DP= 2,56). Foi estágios dominantes de justiça e de per-
utilizado para avaliar o pensamento mo- dão (z=-4,189; p<0,001), indicando que o
ral de justiça um instrumento composto pensamento de justiça foi mais avançado
por um dilema retirado do instrumento do que o pensamento de perdão. Uma
de maturidade do pensamento elaborado análise de conteúdo desses estágios indi-
por Kohlberg, Moral Judgment Interview cou que a relação encontrada foi entre o
– MJI (Colby e Kohlberg, 1987). Para ava- estágio 4 de justiça - orientação para a lei
liar o pensamento de perdão, foi utilizado e para a ordem - e o estágio 2 de perdão
um instrumento constituído por um dile- - perdão por restituição ou compensação.
ma elaborado por Enright et al. (1989), a No que se refere à predominância de ra-
partir do dilema de justiça de Kohlberg. Os ciocínios de estágio 2 de perdão, é preciso
dilemas vêm acompanhados de questões destacar que o dilema apresenta dois ti-
abertas que investigam o tipo de pensa- pos de compensação para a mágoa: o di-
mento de justiça e de perdão que orienta nheiro e o pedido de desculpas. Os partici-
os participantes na resolução do conflito pantes que apresentaram pensamento do
moral. Esses instrumentos foram adap- estágio 2 como dominante não aceitaram
tados no Brasil por Biaggio (1976) e por
a condição do dinheiro como uma repa-
Camino e Rique (1991, não publicado),
ração para a mágoa, mas consideraram o
respectivamente. O estudo atendeu a to-
pedido de desculpas como uma condição
das as recomendações éticas da resolução
facilitadora para o perdão, servindo como
196/96. Os participantes responderam ao
uma compensação moral da mágoa sofri-
instrumento individualmente em ambien-
da. Como conclusão, pode-se dizer que a
te de sala de aula, durante aproximada-
relação verificada confirma as expectati-
mente 45 minutos. As análises seguiram
critérios previamente estabelecidos para vas teóricas e do presente estudo, e que
identificação de estágios na justiça e no a relação encontrada entre o estágio 4
perdão. Estes critérios são baseados no de justiça e o estágio 2 de perdão pode
Manual do MJI (Colby e Kohlberg, 1987) ser explicada pelo fato de que o estágio 4
e no estudo de Enright et al. (1989). As apresenta uma compensação pela justiça
respostas dos dilemas foram avaliadas legal, o que facilita o raciocínio do estágio
por um grupo de cinco juízes, cada um 2 de perdão – compensação por restitui-
atribuindo um estágio de pensamento ção. Ou seja, ambos se utilizam da com-
para cada questão do participante, com pensação no processo de perdoar. Sobre
consenso de 80% entre os juízes. Os es- a aceitação do pedido de desculpas como
tágios dominantes de justiça e de perdão uma compensação moral, o resultado en-
de cada participante foram determinados contrado neste trabalho confirma aqueles
pela freqüência dos mesmos em cada di- obtidos no estudo de Abreu, Moreira e Ri-
lema. Com as freqüências de estágios do- que (2011) realizado com crianças.
minantes de justiça e perdão dos partici-
pantes, foi realizado um teste de Wilcoxon Palavras-chave: perdão; justiça; compensação
para verificar a relação entre os dois pen- Contato: Eloá Losano de Abreu, UFPB,
samentos. Os resultados deste teste mos- eloalosano@gmail.com

379
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-869 – RESOLUÇÃO DE DILEMAS atenderam às seguintes categorias temá-


MORAIS POR ESTUDANTES DO ENSINO ticas: (1) ética e educação, (2) educação
MÉDIO moral e (3) desenvolvimento moral, prio-
Luiz Câmara - PUC/Rio, rizando as principais revistas da área da
luizccamara@hotmail.com educação: (1) Educação e Sociedade, (2)
Revista Brasileira de Educação, (3) Educa-
Financiamento: CAPES/CNPq/FAPERJ
ção e Pesquisa e (4) Cadernos de Pesqui-
A presente comunicação apresenta uma sa, com recorte temporal entre os anos
pesquisa que analisou como estudantes de 2000 e 2009. Do mesmo modo foi feito
de uma escola pública de ensino médio um levantamento da produção dos GTs
da Cidade do Rio de Janeiro discutem e de Filosofia da Educação (GT17) e Psico-
resolvem dilemas morais que envolvem logia da Educação (GT20) da Associação
questões de justiça, dignidade humana Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
e práticas de discriminação e preconcei- em Educação (ANPEd), como também no
to (gênero, etnia e orientação sexual). O banco de teses e dissertações do portal
referencial teórico utilizado foi a ética do da Coordenação de Aperfeiçoamento de
discurso de Jürgen Habermas e a teoria do Pessoal de Nível Superior (CAPES), consi-
desenvolvimento moral de Lawrence Ko- derando as mesmas categorias temáticas
hlberg. O trabalho foi motivado pela cons- e o mesmo período de tempo. A coleta
tatação da existência de muitas relações de dados se efetuou em duas etapas, das
conflitivas no cotidiano escolar, causadas, quais participou toda a equipe de pes-
em grande parte, pela falta de reconheci- quisa do GECEC. A primeira consistiu na
mento e respeito às diferenças interpesso- observação do campo de pesquisa, a sa-
ais, bem como, pelos limites na formação ber, uma escola pública de ensino médio
docente para lidar com esses conflitos. localizada na Zona Sul da Cidade do Rio de
A investigação esteve inserida no proje- Janeiro, cuja clientela pertence às classes
to de pesquisa institucional “Diversidade populares das comunidades do entorno e
Cultural, Prática Pedagógica e Mínimos de alguns bairros mais distantes, nomea-
Éticos” (2008-2010), que foi desenvolvido da aqui Colégio Guarani. Tínhamos como
pela linha de pesquisa “Ética Intercultural foco principal o comportamento e relacio-
e Prática Pedagógica”, do Grupo de Estu- namento dos estudantes nos momentos
dos sobre Cotidiano, Educação e Culturas de intervalo e lazer no pátio da escola, a
(GECEC), do Programa de Pós-graduação partir dos quais construímos algumas ca-
em Educação da PUC-Rio. A investigação tegorias que nos orientaram a interpretar
a que me propus se efetuou através de suas idéias e opiniões expressas na pró-
um diálogo entre a filosofia, a psicologia xima etapa. A segunda etapa foi a reali-
do desenvolvimento e o cotidiano escolar, zação de grupos focais, que discutiram a
levando em conta a complexidade do pro- resolução de dilemas morais, previamen-
blema enfrentado. Para responder aos di- te elaborados. Os dilemas trataram de
ferentes aspectos do problema proposto, conflitos envolvendo questões de justiça,
realizei inicialmente um aprofundamento dignidade humana, preconceito e discri-
teórico dos referenciais que orientaram minação referentes às características de
a pesquisa e uma revisão de artigos que gênero, etnia e orientação sexual. Foram

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

realizados quatro encontros com um gru- tam em sua capacidade e em sua autono-
po de 14 estudantes, entre 16 e 18 anos, mia para resolver problemas e conflitos.
de ambos os sexos, que se voluntariaram Voltando à questão inicial que mobilizou
para a pesquisa. Cada encontro, com du- a presente pesquisa, considero que os
ração aproximada de 60 minutos, foi co- elementos e reflexões apresentados ofe-
ordenado por um integrante da equipe de recem uma contribuição, mesmo que par-
pesquisa e acompanhado por outros pes- cial e provisória, para a compreensão so-
quisadores, que observaram e realizaram bre como os jovens pesquisados pensam
anotações para posterior discussão nas e buscam solucionar dilemas morais re-
reuniões do grupo. As discussões foram lacionados à justiça e às diversidades. Al-
registradas em áudio, transcritas e depois gumas lacunas, entretanto, permanecem
analisadas a partir do referencial teórico em aberto e são limites que estão por ser
que orientou a pesquisa. superados, bem como outras questões
Dentre as conclusões a que chegamos, que surgiram no percurso. Penso ser per-
merecem destaque: (1) os estudantes tinente caracterizar a compreensão que
pesquisados organizam seu raciocínio em os adultos (professores, gestores e de-
diferentes níveis e estágios de desenvolvi- mais profissionais da educação) possuem
mento moral, considerando os critérios de sobre as situações apresentadas pelos di-
Kohlberg (1992), o que não está em con- lemas, ainda que hipotéticos, e como as
tradição com sua teoria, pois os estágios enfrentam. No campo teórico, permanece
não são estáticos e não avaliam o desen- a inquietação sobre como a filosofia mo-
volvimento moral dos indivíduos, mas o ral e a teoria do desenvolvimento podem
modo como constroem seu raciocínio; (2) manter suas pretensões de universalida-
os estudantes vivenciam e têm consciên- de e, ao mesmo tempo, respeitar as di-
cia de que em seu ambiente escolar ocor- ferenças culturas, tomando como ponto
rem situações de injustiça, preconceito e de partida o cotidiano escolar e seus con-
discriminação em função das diferentes flitos. Essas são questões sobre as quais
características das identidades dos mem-
pretendo continuar me debruçando, na
bros comunidade escolar; (3) os jovens
tentativa de aprofundar a compreensão
participantes não hesitam quando desa-
das complexas relações entre os sujeitos
fiados a se posicionarem sobre problemas
envolvidos no cotidiano escolar, partindo
que envolvam suas vidas e crenças, o que
pode ser visto como sinal da pertinência e do pressuposto de que a escola deve cada
da importância que as temáticas aborda- vez mais se tornar um espaço em que as
das pela pesquisa possuíam para eles; (4) gerações mais jovens possam construir
os estudantes pesquisados possuem um suas diferentes identidades, reconhecen-
bom grau de maturidade e capacidade de do como riqueza a pluralidade presente
ouvir e respeitar as diferentes opiniões em seu interior.
de seus pares; (5) em geral os jovens pes-
quisados não confiam na capacidade dos Palavras-chave: educação moral, dilemas
adultos de assumirem sua responsabilida- morais, diversidade.
de na resolução de problemas e conflitos; Contato: Luiz Cláudio da Silva Câmara, PUC-
(6) os participantes da pesquisa acredi- -Rio, luizccamara@hotmail.com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-956 – CONSIDERAÇÃO EMPÁTICA E empática como a capacidade de uma pes-


TOMADA DE PERSPECTIVA ASSOCIADAS soa simpatizar com outra e se inclinar a
AO PERDÃO INTERPESSOAL ajudá-la e definiu a tomada de perspectiva
Júlio Rique Neto - UFPB como uma habilidade cognitiva de tomar
julioriqueneto@gmail.com a perspectiva do outro a partir do contex-
Felipe Fernandes de Medeiros - UFPB to no qual ele(a) está inserido. A pesquisa
felipefernandes.ufpb@gmail.com contou com 201 participantes, homens e
Nilton Formiga - UFPB mulheres, com idade média de 19 anos
nsformiga@yahoo.com (DP=2,6) residentes em João Pessoa, PB.
Cleonice Camino - UFPB, Foram utilizados: a escala do perdão – EFI
cleocamino@yahoo.com (Enright Forgiveness Inventory, Enright &
Verônica Luna - UFPB, Rique, 2000), uma escala objetiva dividi-
veronicaluna@uol.com.br da em três partes: 1. uma Folha de Rosto
que coleta informações sobre a mágoa
Financiamento: CNPq e a ofensa; 2. um Inventário de 60 itens
divididos em três subescalas de 20 itens
Segundo Enright e Fitzgibbons (2000), o cada (10 positivos e 10 negativos) sobre
perdão é a capacidade de superar o res- afetos, comportamentos e julgamentos,
sentimento e desenvolver compaixão que deveriam ser respondidos em uma
para o ofensor. Perdoar é um processo de escala de concordância com seis pontos
construção de novas perspectivas acerca (1 = discordo fortemente e 6 = concordo
de uma situação especifica de injustiça. fortemente) e 3. o Item do Perdão, que
Teoricamente, no processo do perdão a corresponde a uma questão objetiva: “Por
vítima desenvolve consideração empá- favor, indique o quanto você perdoou a
tica para com a pessoa que a magoou e pessoa que você avaliou na Escala EFI”.
adota a perspectiva dele(a) ao reelaborar Essa questão é respondida em uma esca-
o evento da injustiça sob uma nova pers- la de cinco pontos (1 = não perdoei e 5 =
pectiva. Rique e cols. (in press) verificaram perdoei completamente). Administrou-se
empiricamente se a consideração empáti- também uma versão das escalas de Con-
ca se associava positivamente a tomada sideração Empática e Tomada de Perspec-
de perspectiva e se esta última também tiva da EMRI (Davis, 1983, adaptadas por
se associava positiva e significativamente Ribeiro, Koller & Camino, 2001). Foram
com o grau do perdão. O modelo testado feitas adaptações semânticas nos itens
foi válido com associações significativas destas escalas para que os participantes
das variáveis critérios para o perdão (p < respondessem pensando no ofensor que
.05). Porém, o modelo testou as habilida- foi avaliado na escala EFI. Após as modifi-
des empáticas sem que essas fossem diri- cações, os itens adaptados foram aleato-
gidas a um ofensor específico após uma riamente distribuídos e medidos em uma
situação real de injustiça. Neste estudo, única escala objetiva de cinco pontos (1 =
o modelo voltou a ser testado a partir do baixo grau e 5 = alto grau) com 14 itens no
ponto de vista de uma vítima ao pensar total. A ordem das escalas foi a seguinte:
sobre uma pessoa que a magôo injusta- primeiramente a EFI seguida do item do
mente. Davis (1983) definiu consideração perdão, da escala de consideração empá-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tica e tomada de perspectiva do outro. O CO 36 - LT05


trabalho respeitou todos os princípios éti-
cos da Resolução 196/96 para pesquisas
Práticas Parentais
com seres humanos. As administrações
foram feitas coletivamente em salas de
LT05-710 - REDE SOCIAL E CUIDADO DE
instituições de ensino. Para as análises,
CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL
foi realizado o cálculo de modelagem de
equação estrutural (SEM) para verificar o Camila Ferrari - UCSAL
modelo pretendido por meio do progra- camilaferrari@sarah.br
ma AMOS 7.0. Com base nos indicadores Elaine Pedreira Rabinovich - UCSAL
de bondade de ajuste, o modelo se mos- elainepedreira@gmail.com
trou adequado: c2/gl = 1,16; RMR = 0,05; Financiamento: Rede Sarah de Hospitais de
GFI = 0,97; AGFI = 0,94; CFI = 1,00; TLI = Reabilitação
0,99; RMSEA = 0,02. A consideração em-
pática associou-se positivamente com a O cuidado compõe a vida do ser huma-
tomada de perspectiva (l = 0,64), com o no desde a sua concepção, fazendo-se
grau do perdão (l = 0,27) e com a inten- necessário durante seu processo de de-
sidade da mágoa (l = 0,15). A tomada de senvolvimento; por isso, assume uma di-
perspectiva associou-se positivamente ao mensão existencial. No cuidar de crianças
grau do perdão (l = 0,40) e negativamente que apresentam desordens no desenvol-
à intensidade da mágoa (l = -0,24). Estes vimento, todo o empenho e estimulação
resultados corroboraram o estudo ante- oferecidos em uma dada etapa serão es-
rior indicando que o modelo teórico aten- tendidos para além do esperado, graças
de as expectativas e se adéqua aos dados, ao atraso global que apresentam. A Parali-
a associação da consideração empática sia Cerebral (PC) é considerada a incapaci-
com a tomada de perspectiva e desta com dade física mais comum na infância. Neste
o grau do perdão interpessoal é significa- diagnóstico encontra-se um amplo espec-
tiva. Em outras palavras, a capacidade de tro de apresentações, destacando-se a te-
simpatizar com o outro e motivar-se a aju- traplegia espástica, na qual se pressupõe
dá-lo (consideração empática) se associa que houve dano cerebral difuso e grave,
com a habilidade de se colocar no lugar do com lesão piramidal acometendo os qua-
outro (tomada de perspectiva) que se as- tro membros, tronco e pescoço. Nestes
socia com a atitude de perdoar. O estudo casos, o prognóstico de marcha é desfa-
contribuiu empiricamente para o entendi- vorável e espera-se uma maior associação
mento do processo de perdão, indicando com comorbidades, como por exemplo,
variáveis facilitadoras que podem ser uti- distúrbios de deglutição, fonação e respi-
lizadas em uma orientação terapêutica ou ração, epilepsia e retardo mental. Estudos
educacional para o perdão interpessoal. mostram que há a inscrição do ato de cui-
dar nas relações familiares, mais precisa-
Palavras chave: perdão, empatia, tomada de mente na maternidade. A atenção ofere-
perspectiva cida à criança com limitações, portanto,
Contato: Júlio Rique Neto, UFPB, faria parte de um processo natural do qual
julioriqueneto@gmail.com a mãe seria responsável. Por conta disso,

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as cuidadoras vivenciam o cansaço, isola- neste contexto. Trata-se de um estudo de


mento, sobrecarga e estresse, tendo como um caso, empregando método qualitativo
conseqüência direta dificuldades para de- e descritivo. Utilizou-se um questionário
senvolver seus próprios papéis sociais. sócio demográfico, entrevista semiestru-
Uma fonte importante de apoio neste turada e confecção do mapa de rede, apli-
contexto pode ser oferecida pelas pessoas cados como instrumentos de investigação.
que são significativas para estas mães, ou Foi selecionada uma mãe cuidadora prin-
seja, pelos indivíduos que compõem a sua cipal da filha de sete anos, que freqüenta
rede social. Tal conceito é útil por ampliar um hospital de reabilitação em Salvador-
o enfoque da análise, sendo possível, por -BA há dois anos. A família, e em especial,
exemplo, considerar a família extensa, a a mãe cuidadora, passou por uma transi-
vizinhança, elementos de outros contex- ção ecológica com o nascimento da crian-
tos (como escola e trabalho), os vários ça portadora de desabilidade. O Processo
recursos comunitários e serviços de saúde proximal foi diretamente afetado, na me-
como elementos de uma rede. Estes espa- dida em que se mudaram os seus papéis
ços precisam ser vistos como um todo in- e atividades diárias, culminando com a
tegrado, no qual se discernem elementos alteração da sua dinâmica de vida. O Con-
interconectados num embricamento que texto, em especial o micro e mesossiste-
é necessário serem levados em conta e ma, sofreram impacto. A sua rede social
explorados nos estudos de saúde. Por ser experimentou redução, tornando-se mais
a PC uma condição que exige atenção di- dispersa, homogênea e pouco densa. As
reta ao longo de toda a vida, a cuidadora pessoas que compuseram esta rede acu-
precisa organizar-se para oferecer o apoio mularam funções, embora tendessem a
requerido, gerando necessariamente mo- incentivar comportamentos promotores
dificações na sua forma de relacionar-se de bem-estar, a dividir cuidados e a emi-
interna e externamente com os membros tir reações de alarme, como por exemplo,
do sistema, com a comunidade e centros solicitando ajuda junto a equipes de saú-
de saúde. A compreensão acerca do fun- de. O hospital de reabilitação ocupou lu-
cionamento das redes, sob o enfoque da gar importante na rede social, oferecendo
teoria bioecólogica do desenvolvimento suporte emocional, sendo guia cognitivo
humano é uma instância necessária para e de conselhos, bem como oferecendo
o desenvolvimento de trabalho com as ajuda material e de serviços. O abandono
cuidadores, pois oferece uma ótica ecos- do emprego foi conseqüência da neces-
sistêmica responsável. Objetivo: Compre- sidade de cuidado direto da criança; por
ender o processo do cuidar de crianças conta disso, houve queda considerável
com PC - tetraplegia espástica, levando do padrão financeiro, gerando limitações
em consideração a composição e função sociais. O benefício de prestação conti-
da rede social. Como objetivos especí- nuada, que representa o exossistema,
ficos, foram analisados os aspectos que tornou-se a única fonte de renda da fa-
compõem o cuidar e em que dimensão ele mília; entretanto, parece oferecer pouco
é definido; a estrutura e funcionalidade da a sensação de amparo social. No macros-
sua rede social no processo de cuidar; o sistema, observou-se que a idéia de me-
lugar ocupado pela equipe de reabilitação nos valia imputada à deficiência parece

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

perpetuar as noções falta e imperfeição LT05-819 - AMOR DE PAI: INFLUÊNCIA


associadas a ela. Foram muitos os relatos PATERNA NO DESENVOLVIMENTO
de pré-conceito vividos dentro e fora da INFANTIL
família. Em relação à Pessoa, os recursos e Daiany Souza de Jesus - UFRB
a demanda, notadamente, mostraram-se day_souza89@hotmail.com
relevantes no desenvolvimento das mães Tabta Looremberg Carvalho Maia Bezerra -
cuidadoras. As grandes limitações da UFRB
criança, inicialmente, interferiram negati- tabtalooremberg@hotmail.com
vamente na interação desta díade. Após Silvana Batista Gaino - UFRB
o acolhimento em um nível psicológico, silgaino@gmail.com
a mãe pode compreender melhor o prog-
nóstico motor e cognitivo desfavorável e Lançando um olhar sobre a história da hu-
focar sua atenção na qualidade de vida da manidade, podemos fazer uma breve re-
família. A vivência do Tempo foi marcada capitulação sobre o papel do pai no seio
agudamente, pois as perspectivas em tor- familiar. O que os achados históricos nos
no da criança se modificaram, assim como mostram é que a figura paterna sempre
a perspectiva de futuro da própria família manteve um lugar de provedor financei-
(macrotempo). Se por um lado, o tempo ro, educador religioso e moral sobre sua
proporcionou a esperança de ver a filha família (CIA et al., 2005). Com o advento
alcançar as aquisições e independências da Revolução Industrial, o chefe da famí-
tão sonhadas, em contrapartida também lia acabou se afastando do seio familiar,
ofereceu o cansaço da rotina desgastante em busca de vida melhor, sobrecarre-
e a constatação de que com o seu passar, gando assim, o papel da mãe no cuidado
aprender a falar, comer sozinho, andar, re- dos filhos (Coley, 2001, apud Cia, 2005).
conhecer a si próprio e o mundo pode não Após esse período as famílias ditas nucle-
ser possível. Como conseqüência de toda ares (tradicionais) vêm sofrendo grandes
essa vivência, o mesotempo ofereceu à transformações. As mulheres saíram para
mãe sabedoria, que, segundo ela, a aju- o mercado de trabalho, houve inversões
da a viver com serenidade. A abordagem de papéis e funções na família, o número
bioecólogica do desenvolvimento huma- de casais separados aumentou gradativa-
no mostrou-se útil para compreender o mente assim como o de recasamentos e
processo de cuidar, uma vez que parte da pais ou mães homossexuais. O número
premissa que o desenvolvimento só pode de mães solteiras ou filhos criados por
ser entendido se devidamente contextua- apenas um cuidador é também notável.
lizado e a partir da interação dinâmica de A sociedade patriarcal colocou o homem
quatro dimensões: pessoa, processo, con- em um pilar mais alto, e o afastou da sua
texto e tempo. família, no entanto, muitas modificações
foram ocorrendo na dinâmica familiar o
Palavras-chave: rede de apoio, família, que exigiu do homem uma maior respon-
deficiência sabilidade quanto ao seu papel de pai. Os
Contato: Camila Ferrari, Rede Sarah pais passam a ter então participação ativa
de Hospitais de Reabilitação, UCSAL, na vida familiar (Gomes; Resende, 2004).
camilaferrari@sarah.br A identidade paterna está se reconfigu-

385
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rando, pois muitos pais não conseguem o pai representa um sustentáculo afeti-
assumir as responsabilidades que esse vo para a mãe interagir com seu bebê, e
papel configura, sobrecarregando a mãe na adolescência ajudando na construção
que terá que assumir os dois papéis. Des- da identidade do filho (Gomes; Resende,
sa forma, pretendemos trazer contribui- 2004). A criança está sempre em busca
ções sobre como vem sendo modificado o do pai, em qualquer figura masculina, na
papel do pai, bem como suas implicações maioria das vezes, no avô. Quando da si-
para o desenvolvimento infantil, dando tuação da mãe encontrar outro parceiro,
ênfase para as conseqüências da ausência o afastamento do mesmo pode acarretar
paterna no desenvolvimento infantil. Luz na criança sentimentos de abandono, e
e Berni (2010) nos chamam a atenção a esta tem mais uma vez um sentimento
respeito da construção social sobre a pa- de culpa, como se ela fosse a responsável
ternidade. Segundo eles, a mesma é um pela separação. A criança tem um desejo
conceito relacional, pois a paternidade só incessante de conhecer seu pai biológico,
é exercida depois do nascimento da crian- o que se fortalece em algumas etapas da
ça, ao contrário da função materna, que é vida, como se fosse uma necessidade de
sentida e exercida desde a vida intra-ute- fechar sua história, saber sua origem (Ei-
rina. Apesar da importância da figura pa- zirik; Bergmann, 2004). Conclui-se que a
terna, o homem, em vias de se tornar pai, vida afetiva, cognitiva, emocional e social
tende a se fragilizar diante da nova res- da criança ou do adolescente pode so-
ponsabilidade. Para Corneau (1995, apud frer muitas transformações diante da au-
Dantas et al., 2004), o pai tem três papéis sência do pai. Já que o mesmo tem peso
a exercer com os filhos. Primeiro é o de significativo durante o desenvolvimento
“separar” a criança de sua mãe e vice- desta. A presente pesquisa trata de uma
-versa. O próximo papel segundo o autor revisão bibliográfica. Foram utilizados
é o de auxiliar na formação da identidade como descritores os termos: pai, paterni-
do seu filho. O terceiro papel do pai seria dade, relação pai-filho e desenvolvimen-
o de transmitir “a capacidade de receber to infantil. Foram excluídos os livros que
e de interiorizar os afetos, de carregá-los constavam dentro destes descritores, uti-
consigo” (Corneau, 1995, p.51, apud Dan- lizando-se apenas os artigos, de qualquer
tas et al., 2004). Essa aproximação entre natureza, qualitativa, quantitativa, estudo
pai e filho ocasionará cumplicidade e uma de caso ou revisão bibliográfica. Para fins
relação cheia de emoções, afetos e inti- de delimitação da pesquisa foram excluí-
midade, ocasionando um relacionamento dos os artigos que estudaram a respeito
simples, porém saudável. Com base em de pais adolescentes, o foco da pesquisa
uma leitura psicanalítica, é possível afir- foi com pais adultos, com filhos de 0 ano
mar que o pai representa a possibilidade até a adolescência. Sendo assim, treze ar-
do equilíbrio pensado como regulador da tigos foram obtidos na íntegra e utilizados
capacidade da criança investir no mundo com fonte para a pesquisa. Diante desses
real. A atuação paterna é decisiva em dois achados, é inegável a importância do pai
momentos do desenvolvimento da crian- no desenvolvimento infantil, seja exer-
ça, dos 6 aos 12 meses de vida na quebra cendo a função de autoridade, ou dando
da relação simbiótica com a mãe já que apoio às mães no cuidado com os filhos.

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Para se desenvolver a criança precisa de teção de seus integrantes, transmissão da


um ambiente propício, principalmente cultura, do capital econômico e dos bens
no que diz respeito ao âmbito emocional. familiares, bem como das relações de gê-
O pai, em parceria com a mãe, mesmo nero e de solidariedade entre as diferen-
que estes não estejam casados, deve to- tes gerações Dada a importância do am-
mar seu lugar de pai, permitindo que a biente familiar, destacam-se as mudanças
criança forme sua identidade, mantendo que vem ocorrendo na família, como a
relação com outra pessoa que não a sua tendência a redução do número de filhos
mãe. Além das implicações referentes à e o adiamento da gravidez, bem como da
divisão da responsabilidade com a mãe, maior participação do pai nos cuidados
a ausência paterna traz conseqüências básicos dos filhos, que têm proporciona-
para a vida emocional da criança, já que a do a emergência de novos modelos de so-
mesma acredita que ela foi a culpada pelo cialização. A família, portanto, é uma das
afastamento do pai, não compreendendo instituições sociais básicas, constituídas
a situação, e sentindo um vazio que tal- através das relações de parentesco cultu-
vez nunca seja preenchido. Em suma, in- ral e historicamente determinadas, e tam-
dependente da organização familiar que bém o ambiente onde as primeiras intera-
o indivíduo faça parte, é imprescindível ções ocorrem. Através dessas interações
que ele tenha uma figura materna, como é que ocorre a socialização e a educação
também a paterna, que será base para a das crianças. As metas de socialização e
construção da sua identidade, seu desen- as práticas educativas utilizadas pelos
volvimento físico e moral. pais têm importante influência nas intera-
ções que são estabelecidas e consequen-
Palavras-chave: paternidade, temente no desenvolvimento infantil. As
desenvolvimento infantil, relação pai-filho práticas parentais educativas são referen-
Contato: Daiany Souza de Jesus, UFRB, day_ tes às estratégias utilizadas para atingir
souza89@hotmail.com objetivos específicos em diferentes domí-
nios, sejam estes acadêmico, social e/ou
afetivo, dentro de determinadas circuns-
LT05-1068 - METAS DE SOCIALIZAÇÃO tâncias e contextos, como por exemplo, o
E PRÁTICAS PARENTAIS EDUCATIVAS uso de recompensas ou punições. Os pais
MATERNAS EM FAMÍLIAS COM UM A esperam que estes objetivos alcançados
TRÊS FILHOS sejam duradouros e que ocorram mesmo
Karla Alves Carlos - UFPB sem a presença parental. Essas práticas
kalcarlos@gmail.com são influenciadas entre outros aspectos,
Nádia Maria Ribeiro Salomão - UFPB pelas metas de socialização dos pais e as
nmrs@uol.com.br experiências destes com os filhos propor-
Financiamento: CAPES cionam a socialização da criança a partir
de seu nascimento. Cabe destacar que a
As ciências sociais apontam a família como socialização ocorre de forma bidirecional,
o elemento-chave não apenas para salva- destacando-se o papel ativo da criança nas
guardar a sobrevivência dos indivíduos, interações. As metas de socialização são
como também para a socialização e pro- os ideais implícitos ou explícitos dos pais

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

relacionados com o modo que desejam conteúdo de Bardin, também está sendo
que seus filhos sejam. Os objetivos esta- aplicado um Inventário de Práticas Paren-
belecidos a longo prazo pelos progenito- tais – IPP, com 29 itens respondidos em
res em relação a seus filhos, influenciam uma escala tipo Likert, que servirá para o
as práticas de cuidados dos pais a partir estabelecimento de uma média global de
do conjunto de concepções e valores que envolvimento parental das mães de filho
são construídos culturalmente. A literatu- único e com mais filhos; e um Questio-
ra aponta que há diferença na criação dos nário Sócio-Demográfico para caracteri-
filhos e que o número da prole influencia zação das mães. 21 entrevistas já foram
tanto na quantidade quanto na qualidade realizadas e estão sendo gravadas e trans-
dos recursos e da atenção recebida por critas literalmente. Os dados obtidos es-
eles. Neste trabalho considera-se então o tão sendo tratados de forma a comparar
desenvolvimento humano como um con- os resultados dos dois grupos de mães. Os
junto de processos por meio dos quais as resultados iniciais têm demonstrado dife-
propriedades do indivíduo e do ambiente renças quanto as expectativas em relação
interagem e produzem contínuas mudan- à vida adulta dos filhos das mães de mais
ças nas características da pessoa durante de um filho para as mães de filho único.
toda sua vida. Portanto, o objetivo geral Os dois grupos de mães têm demonstra-
desta pesquisa é investigar quais são as do preocupação com a educação dos fi-
Metas de Socialização e as Práticas Paren- lhos primordialmente, porém, esse nível
tais Educativas em famílias com filho úni- educacional tem sido apontado de forma
co e famílias com dois a três filhos através diferenciada pelas mães com mais de um
do relato materno. Especificamente, ob- filho, que espera que a educação formal
jetiva-se investigar e comparar as metas, das crianças possa transforma-se em boas
as estratégias de socialização e práticas oportunidades de emprego e sustento na
parentais das famílias com filho único e vida adulta, demonstrando expectativas
com mais filhos, além de conhecer como de independência financeira. Além dis-
pai e mãe decidem a educação de seus fi- so, as qualidades que as mães descrevem
lhos e como o pai participa desse proces- como necessárias para atingir estas ex-
so educativo através do relato das mães. pectativas são a honestidade (mais cita-
Esta pesquisa está sendo realizada atra- da entre os dois grupos de mães), sendo
vés de visitas nas residências de mães de a cidadania e o reconhecimento de seus
nível sócio-econômico médio casadas ou direitos e deveres na sociedade citados
conviventes, com ao menos ensino médio frequentemente pelas mães com nível su-
completo e com 1 a 3 filhos; estes entre perior. A participação do pai tem sido re-
5 a 7 anos da cidade de João Pessoa-PB. latada pelas mães principalmente na área
Os dados serão obtidos através da aplica- do lazer, como brincar e passear com os
ção de instrumentos com 40 mães partici- filhos. Quanto ás práticas parentais edu-
pantes de forma não-probabilística e por cativas ressalta-se dentro das práticas ne-
conveniência. Estão sendo aplicados três gativas que 9% das mães utilizam de pal-
instrumentos: uma entrevista semies- madas para educar as crianças com frequ-
truturada sobre metas de socialização ência e 36,4 % das mães frequentemente
que será analisada através da análise de gritam com as crianças quando elas fazem

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

algo de errado. Dentre as práticas positi- de – representa o grande conflito da vida


vas destaca-se que 72,8% das mães têm adulta (Slater, 2003). Esse estágio, qualifi-
conversas amigáveis com seus filhos com cado por Erikson (1968/1972) de genera-
frequência e 86,4% dizem frequentemen- tividade versus estagnação, representa o
te que amam seus filhos. Os resultados período que a pessoas avalia o que reali-
iniciais, portanto, têm indicado que o pai zou na vida até aquele momento e o que
está mais participativo, porém é atribuída pretende contribuir para a posteridade
à mãe a maior parte da responsabilidade na produção ou constituição de bens, e
da educação das crianças. na manutenção da humanidade pelo cui-
dado de outras pessoas. Para resolução
Palavras-chave: metas de socialização, de parte da crise dessa fase, a parenta-
práticas parentais, família lidade surge como uma eficaz estratégia
Contato: Karla Alves Carlos, UFPB, afirma Erikson (1968/1972). Isto é, cuidar
kalcarlos@gmail.com de alguém, seja um filho ou outra pessoa,
contribuindo para o futuro (Rothrauff &
Cooney, 2008). Relevante destacar que
LT05-1201 - DESENVOLVIMENTO apesar da paternidade e maternidade po-
HUMANO: A PARENTALIDADE NO derem estar inseridas na parentalidade,
CURSO DE VIDA24 esta está além de ser pai ou mãe. Toman-
André de Carvalho-Barreto - UnB do como base esses conceitos, a presente
andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br pesquisa objetivou realizar uma revisão
da literatura em periódicos nacionais re-
Financiamento: CAPES
lacionados à parentalidade. A revisão da
literatura nacional ocorreu em janeiro de
Erikson, originariamente, foi seguidor
2011 pela busca eletrônica na World Wide
do modelo psicossexual freudiano, mas
Web por esse sistema ser o que contem-
discordou dessa perspectiva, propondo
pla a maior quantidade de periódicos na-
um desenvolvimento positivo ligado às
cionais. As bases de dados escolhidas nes-
crises normativas que ocorrem ao longo
sa investigação foram SciELO, o IndexPsi
de toda vida. Para o autor, essas crises
e o PePSIC. A escolha desses indexadores
eram fomentadas pelo contexto no qual a
ocorreu por serem eles os que abrangem
pessoa está inserida (Erikson, 1950/1976,
o maior número de produções nacionais
1968/1972), por essa atenção especial ao
(artigos completos e resumos) na área
fator ambiental no desenvolvimento, sua
da psicologia. As consultas a essas bases
teoria foi, por vezes, nomeada de Teoria
de dados cobriram todas as publicações
do Desenvolvimento Psicossocial (Ben-
existentes até o momento, sendo utiliza-
tley, 2007). O sétimo estágio de sua teoria
das como descritores as palavras: paren-
– que compreende o adulto de meia-ida-
talidade e – seu equivalente em inglês
– parenthood. A amostra compreendeu
24
Este estudo foi desenvolvido no âmbito da disciplina Psi-
somente as produções de artigos comple-
cologia do Desenvolvimento Adulto, do Programa de Pós- tos, selecionados pela leitura prévia dos
-Graduação em Processo de Desenvolvimento Humano seus resumos, sendo excluídos: (a) artigos
e Saúde, da Universidade de Brasília, sob a docência da
Profa. Dra. Maria Helena Fávero. que se repetissem nas bases de dados; (b)

389
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

produções de revistas de divulgação cien- tigação apresentada por Bronfenbrenner


tífica; (c) teses, dissertações, trabalhos (2001) que mostra a relevância de estu-
de conclusão de curso, relatórios, livros dos e práticas de intervenção na parenta-
e capítulos de livros; (d) investigações lidade dado o aumento na desordem do
publicadas em periódicos internacionais; desenvolvimento de crianças, jovens e fa-
e, finalmente, (e) textos que não tives- miliares. Essa preocupação com as gera-
sem relação com a psicologia. A leitura ções futuras ocorre, para o autor, pelo au-
de cada artigo permitiu estabelecer uma mento do individualismo na sociedade e
hierarquização das seguintes informações pelas fragilidades das instituições de pro-
das produções: ano de publicação, mé- teção infanto-juvenil e de apoio à educa-
todo empregado, população pesquisada ção e saúde. Identificar como o fenôme-
(sexo, faixa etária, escolaridade e etnia), no da parentalidade está sendo discutido
sexo do primeiro autor e periódico, pos- nos periódicos brasileiros é, portanto,
sibilitando a emergência de categorias perceber como a psicologia está traba-
de acordo com a análise teórico-meto- lhando com o desenvolvimento adulto e
dológico de seu conteúdo. Nossa análise social, buscando promover um desenvol-
evidenciou seis categorias de publicações vimento mais positivo. Nas contribuições
sobre o tema em questão: (a) a parenta- desta investigação, conseguiu-se mapear
lidade na adoção (f=5, 15,6%); (b) a pa- como os pesquisadores estudam esse fe-
rentalidade em contextos adversos (f=4, nômeno, os métodos empregados, seus
12,5%); (c) a parentalidade homoafeti- interesses e como esse fenômeno está
va (f=3, 9,4%); (d) a relação pais e filhos relacionando com o desenvolvimento hu-
(f=5, 18,8%); (e) as relações de gênero na mano. Destaca-se nos resultados deste
parentalidade (f=2, 6,3%); (f) a parentali- levantamento o maior interesse dos pes-
dade na transição de vida (f=12, 37,5%). quisadores sobre o desenvolvimento não
A análise bibliográfica foi sistematizada normativo dentro do contexto da paren-
em tabelas, como proposto por Fávero e talidade. Nessa direção, recomenda-se
Sousa (2001), nas quais a primeira e se- estudos sobre desenvolvimento positivo
gunda colunas fornecem identificação às que objetivem preencher essa lacuna as-
referências pelo nome do primeiro autor sim como investigações sobre a parenta-
e da revista que ele publicou; a terceira lidade exercida por homens, idosos e ou-
apresenta o referencial teórico utilizado; tros cuidadores.
a quarta, os objetivos da investigação; a
quinta identifica o método utilizado; e a Palavras-chave: parentalidade,
sexta identifica os principais resultados e desenvolvimento adulto, revisão da literatura
conclusões descritos. As categorias oriun- nacional
das das leituras sugerem maior interesse Contato: André de Carvalho-Barreto, UnB,
de pesquisa sobre a parentalidade dentro andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br
do desenvolvimento não normativo, re-
lacionado à vivência da parentalidade na
adolescência e às dificuldades apresenta-
das no seu exercício nas relações pais e
filhos. Esse dado converge com a inves-

390
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-1281 - FAMÍLIA E CULTURA: tas produções. Para isto são tecidas con-
A PATERNIDADE RETRATADA EM siderações acerca de algumas produções
DESENHOS ANIMADOS populares da mídia, assim como exami-
Zaíra Mendonça - UFAL nadas outras pesquisas sobre o tema. Em
zairalyra@gmail.com uma pesquisa sobre os programas infan-
Heliane Leitão - UFAL tis na televisão, as relações familiares e o
helianeleitao@uol.com.br exercício das funções parentais, Leila Brito
(2005) analisou os comportamentos de
Considerando-se as profundas mudanças personagens consagrados na televisão,
ocorridas nos modos de organização fami- indo dos seriados como “Papai Sabe tudo”
liar, constata-se a necessidade de reflexão aos super-heróis como “Super-Homem” e
acerca dos papéis e funções atribuídos aos “Zorro”. Como resultado, estabeleceu uma
seus membros na atualidade. O exercício relação entre estes personagens e as con-
da paternidade e suas atribuições, assim cepções de feminino e masculino vigentes
como sua relevância no desenvolvimento no momento de maior circulação de tais
das crianças, tem se tornado importante programas. Inês Hennigen (2003), investi-
alvo de investigação, sob a ótica de refe- gando paternidade e mídia, traça um para-
renciais teóricos diversos (Ramires, 1997; lelo entre a paternidade como construção
Lewis & Dessen, 1999; Levandowiski & social e a mídia na construção das posições
Piccinini, 2002; Resende & Gomes, 2004). de pai. A autora questiona que discursos
É evidente a importância da mídia na con- a mídia vem produzindo sobre e para os
temporaneidade enquanto veículo de in- pais, considerando que a forma de retra-
formação e transmissão de valores e ideais tar o pai se modificou profundamente nas
sociais, com grande inserção no cotidiano últimas décadas, como se pode constatar
das pessoas. A indústria cultural tende a através da comparação entre programas
refletir a realidade de uma época, ao tem- como a série “Papai sabe tudo”, nos anos
po em que é formadora de mentalidades 50/60, e “Os Simpsons” nos anos 90. Nes-
e catalizadora de mudanças sociais. O pre- ta mesma direção, Leitão e Stadtler (1998)
sente trabalho pretende estabelecer uma descrevem os modelos de pai presentes
interlocução entre as mudanças observa- em dois filmes de desenhos animados
das no exercício da paternidade e as ideias em momentos históricos distintos: “Bam-
veiculadas acerca do pai pela cultura da bi” (1945) e “O Rei Leão” (1994). Para as
mídia na atualidade. A mídia sendo aqui autoras, cada filme revela um modelo de
representada por programas televisivos paternidade consonante com a época em
e vídeos de desenhos animados dirigidos que foi produzido, considerando-se tanto
ao público infantil que trazem o tema da as condições psicoafetivas, como a identi-
paternidade como um de seus focos. O dade social de pai eleita como ideal para
objetivo principal deste estudo foi refletir aquele momento histórico. O pai dos anos
acerca de modelos de paternidade veicu- 90 se mostra afetuoso e próximo, em con-
lados pela mídia nas últimas décadas, bus- traste com o pai distante e formal dos anos
cando analisar como as efetivas mudanças 40. Na década de 1990 duas séries televi-
observadas no exercício da paternidade sivas obtiveram grande aceitação da popu-
vêm sendo incorporadas e retratadas nes- lação mundial: “Os Simpsons” e “A Família

391
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Dinossauro”. Os dois programas valorizam pode estar relacionada ao momento histó-


as figuras maternas, dotadas de equilíbrio rico de produção de cada filme e às trans-
e sensatez, atribuindo-as o lugar de refe- formações ocorridas nos papéis parentais
rência familiar. As figuras paternas, no en- nos últimos anos. Além disso, a família no
tanto, são apresentadas sob a ótica da in- “Rei Leão” é baseada na estrutura nucle-
competência para a solução de problemas, ar, na qual as funções e os papéis de cada
atrapalhadas, desprovidas de autoridade e genitor são bem definidos, enquanto que
inseguras no desempenho da função pa- o filme “Procurando Nemo” retrata uma
rental. A figura do ‘pai atrapalhado’ parece família monoparental, na qual a criança
ganhar força na transmissão de uma nova mora apenas com o pai. A tarefa de cuidar
imagem da paternidade, especialmente da criação do filho pequeno sozinho pare-
nas produções a partir dos anos 90. Isto ce ser uma tarefa árdua para Marlin, para
pode refletir a emergência de uma iden- a qual ele se mostra afetuoso e dedicado,
tidade paterna pouco definida, destituída embora inseguro e desajeitado. É possível
do seu lugar tradicional de detentor do perceber que as transformações sociais
poder e do saber. As mudanças sociais que vão sendo gradualmente incorporadas aos
acarretaram novas configurações de rela- filmes e programas dirigidos ao público
ções de gênero impulsionam o surgimen- infantil. Observa-se que o ideal de pai e o
to de uma nova paternidade, a qual vem exercício da paternidade foram sendo vei-
sendo gradualmente construída em meio culados através da mídia de acordo com a
a contradições, incertezas e inseguranças. vivência da sociedade em cada momento
Por outro lado, o novo modelo de pai tem histórico, frequentemente enfatizando as-
sido retratado como mais afetuoso, próxi- pectos associados aos papéis tradicionais,
mo e envolvido com a vida dos filhos. Rosa mas, concomitantemente, atribuindo à
Mariotto (2006) ressalta que atualmente função paterna elementos novos. Ao mes-
os pais estão mais preocupados e envol- mo tempo, reconhecendo-se a intrínseca
vidos com os cuidados e rotina de suas relação entre constituição de subjetivida-
crianças. Para ilustrar distintos modelos de e cultura, destaca-se a necessidade de
contemporâneos de paternidade, a autora examinar os modelos de pai oferecidos
traça um paralelo entre ‘Mufasa’ e ‘Mar- pela mídia, como forma de compreender
lin’, pais dos filmes de desenhos animados os processos de identificação masculina
“O Rei Leão” (1994) e “Procurando Nemo” com determinadas representações de pai
(2003), respectivamente. Mufasa exerce a disponíveis na cultura. Considera-se, por-
autoridade moral baseada na afetividade e tanto, a importância destes produtos da
nas instruções constantes ao filho Simba, indústria cultural enquanto poderosos fa-
constituindo-se como modelo de identi- tores de transmissão de valores e ideais
ficação para ele e influenciando decisiva- que se tornam constituintes das subjetivi-
mente na sua transformação de criança dades, na indissociável dialógica entre cul-
para adulto. Já Marlin, demonstra insegu- tura e modos de subjetivação.
rança e incerteza quanto aos cuidados do
seu filho Nemo, quando se vê obrigado a Palavras-chave: paternidade, cultura, mídia
criá-lo sozinho após a morte da mãe. Esta Contato: Zaíra Rafaela Lyra Mendonça, UFAL,
nítida diferença entre Marlin e Mufasa zairalyra@gmail.com

392
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-1295 - EXPECTATIVAS MATERNAS Alegre: Da Gestação à Escola – ELPA (Pic-


SOBRE O INGRESSO DO BEBÊ NA cinini, Tudge, Lopes & Sperb, 1998/2009).
CRECHE E OS CRITÉRIOS DE ESCOLHA As mães tinham idade entre 20 e 37 anos
DOS CUIDADOS ALTERNATIVOS: DA (M=28; dp=5,13), escolaridade de 13 anos
GESTAÇÃO AO PRIMEIRO ANO DE VIDA em média (dp=3,04), eram primíparas,
DO BEBÊ moravam com o pai do bebê, sendo que
Andrea Rapoport - UNILASSALE 35 mães tinham trabalho remunerado. Foi
deiar@terra.com.br realizado um levantamento de dados, que
Gabriela Dal Forno Martins - UFRGS envolveu três etapas de coleta: último tri-
gdalfornomartins@gmail.com mestre de gestação, 3 e 12 meses do bebê.
Cesar Augusto Piccinini - UFRGS Na gestação, foram realizadas a Entrevista
piccinini@portoweb.com.br de dados demográficos e a Entrevista so-
bre gestação e as expectativas da gestante
Atualmente, é comum que as famílias cui- (questões utilizadas: Tu estás pensando
dem exclusivamente das crianças apenas em colocar o bebê na creche ou deixar
nos primeiros meses, enquanto durar o com alguém para cuidar? Por que esta
período de licença maternidade (Lordelo, escolha? Quando tu pensas fazer isto?).
1997). Na falta de uma rede de apoio para Quando o bebê completou três e doze
compartilhar o cuidado à criança quando meses, as mães responderam a Entrevis-
voltam a trabalhar, muitas mães optam ta sobre a experiência da maternidade no
por inserir o filho na creche, deixar sob terceiro mês do bebê e a Entrevista sobre
cuidados de uma babá ou ainda de um a experiência da maternidade e desenvol-
parente. Embora seja uma demanda social vimento do bebê de um ano (questões
na atualidade, a entrada de bebês em cui- utilizadas: O bebê foi para a creche? Com
dados alternativos, especialmente durante que idade? Por que escolheram colocar na
o primeiro ano, tem gerado controvérsias creche? Porque escolheram a creche que
entre estudiosos e leigos, pois implica em ele está? (Se não foi para a creche) Vocês
separações diárias do bebê e da mãe en- estão pensando em colocar o bebê na cre-
quanto ele ainda é muito pequeno. A revi- che? Quando? Por que escolheram colocar
são da literatura mostra que existem pou- na creche?). Análise de conteúdo (Bardin,
cos estudos que exploram as atitudes dos 1977) foi utilizada para examinar as res-
pais em relação aos cuidados alternativos, postas às diferentes entrevistas com base
como ocorrem suas escolhas e suas ex- em três categorias que emergiram das
pectativas em relação aos mesmos (Long, próprias respostas: 1) Intenção de colocar
Wilson, Kutnick & Telford, 1996). Diante o bebê na creche e a idade que pretendia
disso, este estudo teve como objetivo ca- colocá-lo; 2) Motivos da mãe para colocar
racterizar as expectativas maternas sobre bebê na creche; e 3) Motivos para deixar
ingresso do bebê na creche e os critérios bebê em casa ou na casa de um familiar.
de escolha dos cuidados alternativos, in- Subcategorias também foram utilizadas na
vestigadas longitudinalmente da gestação classificação das respostas. Enquanto na
até o bebê completar um ano. Participa- gestação as mulheres referiram com maior
ram do estudo 44 mães, que faziam parte frequência que pretendiam colocar o bebê
do projeto Estudo Longitudinal de Porto na creche numa idade indefinida (36%); no

393
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

3º mês destacou-se a subcategoria depois segundo mês: 8%). Por sua vez, a atenção
de um ano (23%), e no 12º mês também a individualizada foi citada em um número
subcategoria idade indefinida (28%). Além crescente de respostas, aumentando de
disso, houve um aumento no número de 3% na gestação para 11% no 12º mês. Ape-
mães que tiveram suas falas classificadas sar da importância atribuída aos benefí-
na subcategoria não pretende na gestação cios para o bebê, as facilidades para a mãe
(4,5%) e terceiro mês (9%), em compara- também foram apontadas como um im-
ção com o décimo segundo mês (13%). portante motivo para deixar a criança em
Quanto aos motivos declarados pelas casa (32% das respostas na gestação, 26%
mães para colocar o bebê na creche, pre- aos 3 meses e 39% aos 12 meses), sendo
dominou, na gestação, a restrição ou falta que ter pessoas disponíveis para cuidar do
de provedores de apoio (55%), e no ter- bebê foi a facilidade mais citada. Em con-
ceiro e décimo segundo mês os benefícios junto, estes resultados parecem indicar
para o bebê (56% e 60%, respectivamen- que as mães preferem postergar a entrada
te). A restrição de apoio, na gestação, es- do bebê na creche para uma idade superior
teve relacionada principalmente à necessi- ao primeiro ano, e que diferenciam os cui-
dade da mãe trabalhar (37%). No entanto, dados disponibilizados nos diferentes am-
esta necessidade decresceu para 15% das bientes. O ambiente doméstico garantiria
respostas aos três meses, e para 5% aos 12 ao bebê intimidade e segurança, enquanto
meses, sugerindo que o ingresso na creche o ambiente de creche atenderia as neces-
nesta fase não está condicionado necessa- sidades de socialização e contato com es-
riamente ao emprego materno. Já quanto tímulos diversos. Essa distinção pode estar
aos benefícios da creche para o bebê, as relacionada às crenças maternas de que a
subcategorias socialização e estímulo para criança, em cada fase do desenvolvimento,
o desenvolvimento foram sendo gradati- possuiria diferentes necessidades. Mas, o
vamente mais valorizadas pelas mães: a que chama a atenção, é que as mães consi-
socialização, citada por 11% das gestantes, deram que cada cuidador possui um papel
foi para 27% no terceiro mês e para 22% distinto e atende somente algumas dessas
no décimo segundo; e o estímulo para o necessidades. Talvez, como forma de ga-
desenvolvimento, trazido por 11% das ges- rantir seu lugar na vida da criança depois
tantes, evoluiu para 14,5% aos três meses que ela passa a permanecer muitas horas
e 16% aos 12 meses. Por fim, em relação com outras pessoas, as mães deleguem a
aos motivos citados pelas mães para dei- si mesmas tarefas únicas que não pode-
xar o bebê em casa ou com familiar, des- riam ser supridas por outro cuidador. Isso
tacou-se a subcategoria benefícios para as auxiliaria a lidar de uma forma melhor
o bebê em todas as fases (gestação=63%; com as separações constantes do bebê e
3º mês=68%; 12º mês=57%). Dentre estes com eventuais ameaças ao apego ante-
benefícios, o motivo mais citado foi a ida- riormente estabelecido.
de do bebê, tanto na gestação (45%), como
no terceiro mês (34%). Também foi citada Palavras-chave: expectativas maternas,
a importância da família/lar/contexto co- cuidados alternativos, creche
nhecido em todas as fases de coleta (ges- Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS,
tação: 10%; terceiro mês: 9%; e décimo gdalfornomartins@gmail.com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-1296 - TRANSMISSÃO punição física e privação de privilégios ou


INTERGERACIONAL DE PRÁTICAS ameaças, compelindo a criança a adequar
EDUCATIVAS PARENTAIS: EVIDÊNCIAS o seu comportamento a determinadas si-
EMPÍRICAS tuações e às reações punitivas dos pais
Angela Helena Marin - ULBRA (Hoffman, 1975). Entendendo as relações
ahmarin@hotmail.com que se estabelecem no sistema familiar
Ana Paula Corrêa de Oliveira Freitas - UFRGS como recíprocas, tanto características das
anapaulapsi@gmail.com crianças quanto dos genitores exercem
Gabriela Dal Forno Martins - UFRGS influência sobre os processos de sociali-
gdalfornomartins@gmail.com zação (Belsky, 1984; Biasoli-Alves, 1997).
Isabela Machado da Silva - UFRGS Em se tratando das diversas características
isabela.ms@gmail.com dos genitores, é importante considerar os
Rita de Cássia Sobreira Lopes - UFRGS aspectos intergeracionais de sua história,
sobreiralopes@portoweb.com.br como a criação que eles próprios recebe-
Cesar Augusto Piccinini - UFRGS ram de seus pais ao longo de seu desen-
piccinini@portoweb.com.br volvimento. Portanto, este estudo teve
como objetivo investigar a transmissão
O conceito de família tem passado por intergeracional das práticas educativas
constantes modificações decorrentes das parentais. Participaram 30 mães e 22 pais,
transformações sociais e culturais da so- cujo primeiro filho tinha três anos de ida-
ciedade pós-moderna (Fonseca, 2005). de (70% meninos). As mães apresentavam
Todavia, por ser o primeiro meio social do idade média de 27 anos (SD = 5,81) e 63%
qual o indivíduo participa, a família ainda delas tinha, no máximo, o ensino médio
tem como tarefa fundamental o processo completo; os pais, por sua vez, tinham em
de socialização, através do qual a criança média 29 anos (SD = 7,53) e 67% deles pos-
deve adquirir comportamentos, habilida- suíam ensino médio completo. Em relação
des e valores apropriados e desejáveis em ao nível socioeconômico, 17% das famílias
sua cultura (Biasoli-Alves, 1997; Nichols pertenciam ao nível baixo, 26% ao médio
& Schwartz, 1998; Steinberg, 2000). Para baixo, 20% ao médio, 17% ao médio alto
tanto, os pais utilizam-se de diversas estra- e 20% ao alto. Quanto à situação conjugal,
tégias e técnicas para orientar os compor- 80% tinham companheiro/a, 17% eram
tamentos de seus filhos, chamadas de prá- solteiros/as e 3% separados/as. Todos os
ticas educativas parentais (Hoffman, 1975, participantes fazem parte do Estudo Lon-
1994; Newcombe, 1999), que podem ser gitudinal de Porto Alegre: Da Gestação à
classificadas em estratégias indutivas e de Escola – ELPA (Piccinini, Tudge, Lopes &
força coercitiva, conforme Hoffman (1994). Sperb, 1998/2009). Mães e pais respon-
As práticas indutivas caracterizam-se por deram separadamente à Entrevista sobre
direcionar a atenção da criança para as o Passado dos Pais (Tudge, 1994), a partir
consequências de seu comportamento às da qual se obtiveram informações sobre a
outras pessoas e para as demandas lógi- sua infância e as práticas educativas que
cas da situação; já as práticas coercitivas receberam de seus genitores; e à Entrevis-
caracterizam-se pelo uso da aplicação de ta sobre Estratégias Disciplinares (Tudge,
força direta e do poder dos pais, e incluem 1994), utilizada para a análise das práticas

395
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

educativas que utilizavam com seus pró- das na educação recebida pelos próprios
prios filhos. As respostas dos participantes pais (p<0,05), enquanto a combinação
às diferentes questões da entrevista foram de indutivas/coercitivas foi mais mencio-
transcritas e analisadas através da análise nada entre as práticas utilizadas com os
de conteúdo (Bardin, 1977), a partir de ca- filhos (p<0,01). A proporção de práticas
tegorias pré-definidas, baseadas em Hoff- coercitivas manteve-se estável entre as
man (1975, 1994) e adaptadas por autores gerações. A análise qualitativa indicou um
do presente estudo (Alvarenga & Piccinini, padrão mais claro de reprodução das prá-
2001; Marin, Piccinini & Tudge, no prelo): ticas coercitivas, ainda que estas fossem
práticas indutivas (negocia/troca, explica/ relatadas como evitadas, na medida em
fala, explica baseado em convenção/con- que eram relacionados à idéia de vivência
sequencia, organiza o ambiente/forma de sofrimento quando crianças. Por outro
hábito e comanda sem coerção), práticas lado, alguns genitores mencionaram que,
coercitivas (punição, ameaça, coação física mesmo tendo associado memórias desa-
e punição física), práticas de não interfe- gradáveis às práticas coercitivas, faziam
rência (não se intromete, segue o ritmo uso eventual das mesmas por acreditarem
da criança e cede a vontade da criança), e que se não foram nocivas a eles também
combinação de práticas indutivas/coerciti- não seriam para os filhos. A mudança in-
vas. Foram calculadas as frequências e pro- tergeracional das práticas educativas foi
porções totais em cada categoria e compa- associada à aprendizagem de práticas ou
radas as proporções de práticas recebidas habilidades parentais junto a outras figu-
e utilizadas através do teste Z. Além disso, ras que não somente os próprios pais, em
realizou-se uma análise qualitativa visan- especial o cônjuge, à busca pela correção
do avaliar especificidades da transmissão de experiências prévias na relação com os
intergeracional das práticas educativas filhos, e ao temperamento dos pais e/ou
caso a caso. Os resultados indicaram que das crianças. Em conjunto, os resultados
os participantes relataram ter recebido do presente estudo forneceram indícios
de seus próprios pais mais práticas coer- de que houve a semelhança no uso das
citivas (52%) seguidas das indutivas (40%), práticas coercitivas entre gerações e um
e, com menor freqüência, a combinação aumento na utilização com os próprios fi-
de indutivas/coercitivas (3,5%) e não in- lhos de práticas que combinam estratégias
terferência (4,5%). Tendência semelhante indutivas e coercitivas. Todavia, a análise
ocorreu em relação às práticas utilizadas caso a caso revelou que em apenas me-
com os próprios filhos, onde foram mais tade dos casos houve a transmissão dos
relatadas práticas coercitivas (60%) do que padrões interativos, o que fortalece a idéia
indutivas (26%). Já a combinação de práti- de que a forma como os pais educam seus
cas indutivas/coercitivas foi mais mencio- filhos trata-se de um processo complexo
nada (13%) entre as utilizadas. O teste Z e recíproco que envolve características de
indicou diferença significativa entre as ge- ambos (Belsky, 1984; Biasoli-Alves, 1997).
rações na proporção de práticas indutivas, Nesse sentido, é plausível supor que a
de não interferência e da combinação de transmissão intergeracional das práticas
indutivas/coercitivas. As práticas indutivas educativas não envolve somente a repro-
e de não interferência foram mais relata- dução para com os filhos dos padrões re-

396
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cebidos quando criança, ainda que estes gico, o leitor poderá observar o seguinte
possam levar à construção de modelos so- exemplo na manchete: BOLSA FAMÍLIA
bre o que deve ser seguido ou evitado nas - “Beneficiários usam recurso para com-
relações posteriores (Ângelo, 1995). prar roupas e eletrônicos” Tocadores de
música MP4, celulares, aparelhos de DVD
Palavras-chave: práticas educativas, e brinquedos. Esses são alguns dos arti-
parentalidade, transmissão intergeracional gos adquiridos por famílias em situação
Contato: Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS, de pobreza (R$60) ou de extrema pobreza
gdalfornomartins@gmail.com (R$120) beneficiadas pelo maior progra-
ma de transferência de renda direta do
País, o Bolsa Família, em cidades da RMC
LT04-1303 - PSICOLOGIA ECONÔMICA: (Região Metropolitana de Campinas).(
O ESTUDO DO DESEMVOLVIMENTO DO Reportagem jornal Todo Dia, 2008). A re-
COMPORTAMENTO ECONÔMICO portagem traz o fato de famílias que uti-
Maria A. Belintane Fermiano - UNICAMP lizam o benefício na compra de itens que
maria.belintane@gmail.com não são considerados como aqueles que
Sonia Bessa - Unasp/LPG-FE/UNICAMP o programa tem como objetivo. Reynaud
(1967) explicaria que a disponibilidade
O termo Psicologia Econômica ocorreu material (Bolsa-Família enquanto recurso
pela primeira vez em 1881, aplicado por provedor de necessidades) desenvolve
Gabriel Tarde e é pouco conhecido até os possibilidades psicológicas no indivíduo.
dias de hoje. Essa é uma área cujas pes- No exemplo, pressupõe-se que o estímu-
quisas se iniciaram no final do século XIX lo econômico (o recurso do Bolsa-Família)
e, em seu transcurso histórico, houve vá- seja direcionado para o consumo de bens
rios fatores que dificultaram sua constitui- de primeira necessidade, no entanto, não
ção como uma disciplina, bem como seu é utilizado como o esperado, sendo “des-
trânsito entre as áreas da Psicologia e da viado” para a satisfação de outros “dese-
Economia. A Psicologia Econômica busca jos” ou “necessidades”. Observa-se que
identidade e tem a contribuição de psi- tanto a primeira situação, consumo de
cólogos, economistas, neuropsicólogos, bens de primeira necessidade, como a se-
sociólogos, antropólogos e filósofos, que gunda, consumo de eletrônicos e roupas,
procuram explicá-la e localizá-la como fa- contribuem para a movimentação de dife-
zendo parte da vida do homem, desde os rentes setores da economia. Como esses
primórdios da sua história. Compreender objetos figuram na lista de outras tantas
seu conceito implica em estabelecer rela- pessoas, sob a ótica da Psicologia Eco-
ção entre os conhecimentos e peculiarida- nômica é possível elaborar os seguintes
des da Psicologia e da Economia. Reynaud questionamentos: “O que levam pessoas
(1967, p. 9,10) definiu a Psicologia Econô- a valorizarem tais objetos? O que poderia
mica como um “estudo da economia que ser considerado como essencial? Essen-
aborda aspecto subjetivo ou mental e en- cial para quem? Como pode ser avaliado
volve as necessidades, os valores e o bem- o desejo e o poder de compra? Como o
-estar”. Para contextualizar o significado desejo de possuir um determinado obje-
do comportamento econômico e psicoló- to surge e atinge, simultaneamente, pes-

397
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

soas de diferentes segmentos sociais? O se considera o homem como um indivíduo


que pode ser considerado como racional social e psicológico. A Psicologia Econômi-
nesse caso? Tais questionamentos podem ca teve um grande desenvolvimento nos
ser analisados sob aspectos psicológicos e últimos 60 anos. De acordo com Ferreira
econômicos e sua inter-relação é objeto (2007), a formação acadêmica na área,
de estudo da Psicologia Econômica, pois tanto nos Estados Unidos, na Europa e,
os “processos econômicos são o resulta- mesmo na América Latina, ainda não de-
do do comportamento de pessoas e são monstra consolidação e nem constância.
influenciados por diferentes modelos de Já no Reino Unido, na Universidade de
comportamento” (Katona, 1975, p.4). Ao Exeter, há importantes trabalhos. Denegri
longo do processo de estabelecimento (1999, p.5, 10) explica que, na América La-
da Psicologia Econômica, as ideologias e tina, até 1999 não havia estudos sistemá-
a filosofia de cada época, interferiram na ticos com populações latinoamericanas
elaboração de modelos que explicassem sobre o processo de socialização de con-
a economia, a psicologia, as questões sumo “aplicado à nossa realidade cultural
sociais, e no desenvolvimento de teorias e nem quais são os hábitos e condutas de
subjacentes a cada área. Economistas consumo nas diferentes idades a partir da
e neuropsicólogos procuram, por meio adolescência”. A autora elabora em 1995,
de suas pesquisas e teorias, demonstrar um modelo evolutivo da psicogênese do
como as pessoas pensam e como as ati- conhecimento econômico que desen-
vidades cerebrais funcionam. Kahneman cadeou pesquisas no Chile, Colômbia e
(2002), Simon (1979), Egide (2002) bus- Brasil. Tais pesquisas definem uma linha
cam explicar como ocorre o conhecimen- de desenvolvimento contextual distinta,
to. Assim, os estudos sobre comporta- pois conjuga as ideias-chave da Psicologia
mento econômico estão intrinsecamente Econômica com fundamentação na Psico-
relacionados com aprendizagem e cog- logia do Desenvolvimento, em especial a
nição e com maneiras mais racionais, ou Psicogenética. Denegri (2007) apresenta
seja, mais inteligentes em resolver proble- três grandes importantes temas à Psicolo-
mas de forma inovadora, onde o conhe- gia Econômica, os quais contribuem para
cimento desempenha papel fundamental estudos do comportamento econômico:
nas estratégias de ações a serem utiliza- A - Alfabetização Econômica; B - Sociali-
das pelos indivíduos. Com certeza, eis aí, zação Econômica e C - Psicologia do Con-
a implicação de todo esse estudo para a sumo. No Brasil, poucos centros se dedi-
Educação. Nos últimos 30 anos, houve um cam à área. Destacam-se os trabalhos de
salto qualitativo significante em relação às Moreira, Universidade do Pará; a tese de
pesquisas realizadas por economistas que doutorado de Ferreira (2007). E na área
abordam questões pertinentes às emo- da Educação, o Laboratório de Psicolo-
ções e motivos que pessoas possam mani- gia Genética/UNICAMP que, desde 2006,
festar em suas condutas sociais e econô- possui um grupo de pesquisa voltado para
micas. Simon (1979) e Kahneman (2002) Educação Econômica: Araújo (2007); Silva
demonstram que o estudo da racionalida- (2008); Cantelli (2009); Ortiz (2009); Fer-
de ainda mantém-se vivo, diferente do di- miano (2010); Braga (2010). Os autores
fundido no final do século XVII, pois hoje Lea, Tarpy e Webley (1987, p. 371, 381)

398
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

explicam que o estudo das questões que na infância, com o objetivo de obter pro-
envolvem as crianças na economia de hoje ximidade com a figura materna. Tal com-
é recente. E pressupõem que, se a econo- portamento continua durante toda vida,
mia tem influência no comportamento pois, é indispensável para a vida social,
individual, pode-se esperar que também favorecendo a capacidade de manter
tenha no comportamento econômico das relações. Segundo Barros e Fiamenghi
crianças. Os autores apontam pesquisas (2007), mães insensíveis e negligentes às
que demonstram a influência das crian- necessidades de seus filhos acabam por
ças nas decisões de compra de seus pais gerar insegurança nas crianças, tanto em
e outras pesquisas sobre a influência da relação à própria mãe, quanto em relação
propaganda nas crianças. E destacam a aos outros. Quando as crianças têm suas
importância e o compromisso em teorizar necessidades de afeto, trocas subjetivas
tais dados. As pesquisas nas áreas tiveram e cuidados com higiene e alimentação
grande avanço, a partir de 1982, as quais atendidas, tornam-se confiantes e desen-
descreviam “conceitos infantis sobre uma volvem-se emocional, física e intelectual-
série de fenômenos econômicos, desde o mente de forma saudável. O ECA, criado
de banco, até o de desemprego”. Desse em 1990, prevê a proteção integral da
modo, compreende-se que a Psicologia criança, assegurando o desenvolvimento
Econômica e, em especial, a Educação físico, mental, moral, espiritual e social
Econômica, apresentam grandes possibi- (Brasil, 2002). No entanto, segundo We-
lidades de pesquisas inovadoras. Tais te- ber (1995), a institucionalização - criada
mas fizeram parte do referencial teórico com intuito de proteger a criança - sim-
da pesquisa “Pré-adolescentes (“tweens”) plesmente efetiva, na prática, o afasta-
desde a perspectiva da teoria piagetiana à mento da criança ou adolescente do con-
da Psicologia Econômica”. vívio familiar e social. Mannoni (1995)
observa que crianças abrigadas apresen-
Palavras-chave: Psicologia econômica, tam a carência como marca importante
educação econômica, socialização econômica. em suas vivências afetivas e acrescenta
que, muitas vezes, seus efeitos são irre-
versíveis. Azôr e Vectoré (2008) observam
que, quando abrigadas, as crianças pas-
CO 39 - LT06 sam por um processo de ‘mutilação’ de
Acolhimento Institucional sua identidade, pois, a instituição afasta
o individuo da sociedade. Quando consi-
deramos o Transtorno de Apego Reativo,
LT06-686 - AVALIAÇÃO DE SINAIS DE sua característica principal é uma “liga-
TRANSTORNO DE APEGO REATIVO EM ção social perturbada e inadequada, com
CRIANÇAS ABRIGADAS inicio aos 5 anos de idade e associada ao
Renata Hottum Melani - UPM recebimento de cuidados amplamente
patológicos” (Apa, 1995, p. 384). Ainda
Bowlby (1990) afirma que o vínculo afe- segundo o DSM IV (Apa, 1995), tal trans-
tivo (attachment) se dá na atração vivida torno pode apresentar-se sob duas for-
por dois indivíduos e que se desenvolve mas: tipo inibido e tipo desinibido. Sua

399
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

condição está associada a cuidados am- interesse social, sentimentos de imobi-


plamente patológicos, sendo que as ne- lidade, desesperança e incapacidade de
cessidades físicas e emocionais da criança agir com confiança, segundo os critérios
foram negligenciadas, pouco estimuladas propostos por Koppitz (1968). Outro traço
e que a mesma recebeu pouco afeto; ou- observado em 44% das crianças foi uma
tra característica é que, provavelmente, agressão aberta em relação ao ambiente
houve mudanças repentinas de quem cui- e 40% das crianças também mostraram
dava primariamente da criança, evitan- sinais de sentimentos de inadequação
do a formação de vínculos estáveis. Esta ou culpa por não serem capazes de agir
pesquisa, portanto, teve como objetivo adequadamente. Parece existir uma inci-
investigar, por meio de Desenho da Figu- dência de traços do tipo inibido do Trans-
ra Humana (DFH) de crianças abrigadas, torno, que é caracterizado por falhas em
sinais de Transtorno de Apego Reativo na iniciar e manter interações sociais e um
Infância. Foram avaliadas 25 crianças (15 padrão de respostas inibidas em relação
do sexo masculino e 10 do feminino), com ao ambiente. Outro critério do Transtor-
idades entre 4 e 12 anos, que viviam em no Reativo de Apego relaciona-o com
um abrigo na região metropolitana de São cuidados patológicos na infância, o que
Paulo. A diferença no número de meninas é evidente em nossa amostra, pois, as
e meninos se deve ao fato de que existem crianças foram separadas dos pais devido
mais meninos abrigados do que meninas. a maus tratos, negligência e abuso. Nos
Por se tratar de crianças abrigadas - mui- desenhos, segundo os critérios de Koppitz
tas afastadas das famílias por questões (1968), foi percebido que essas crianças
de abuso e maus tratos - as informações possuem um sentimento de desamparo
pessoais não foram fornecidas pela insti- e grande insegurança. Outro sentimento
tuição, como uma tentativa de preservar que chama à atenção foi o de sentirem-se
o sigilo. Assim, dados sobre as famílias, ameaçadas pelo mundo, principalmente,
condições de saúde física e/ou psicológi- por adultos e, especialmente, pelos seus
ca das crianças e tempo de abrigamento pais, demonstrando assim que, de algu-
não foram disponibilizados. O instrumen- ma forma, essas figuras que deveriam
to utilizado para avaliação foi o Desenho representar a segurança falharam. Essas
da Figura Humana (DFH), seguindo os 30 características do transtorno também são
indicadores emocionais propostos por percebidas e relatadas por de Schwartz e
Koppitz (1968). Após a aplicação, os de- Davis (2006), que levantam, ainda, a hipó-
senhos foram realizados e os resultados, tese de que a história de maus tratos di-
comparados com os dos critérios diag- ferencia o Transtorno Reativo dos demais
nósticos do DSM-IV para Transtorno de transtornos. Na verdade, ao se analisar a
Apego Reativo. Sinais importantes foram história do abrigamento no Brasil, chega-
observados, indicando que algumas das -se à conclusão de que, apesar de muitas
crianças da amostra necessitam ser mais tentativas de estabelecer uma vida mais
direta e atentamente observadas, pois, digna a essas crianças, a grande maioria
48% de todas as crianças foram caracte- foi e é frustrada, pois, no dia-a-dia das
rizadas por timidez, afastamento, falta instituições, continua valendo a desper-
de agressividade, assim como com baixo sonalização e o castigo. Uma caracterís-

400
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tica marcante na instituição analisada é LT06-727 - COMPORTAMENTO DE


que os cuidados primários eram realiza- CUIDADO ENTRE CRIANÇAS NA ESCOLA E
dos por figuras pouco constantes e que se NO ABRIGO: UM ESTUDO COMPARATIVO
revezavam evitando, assim, a formação Débora Lisboa Correa Costa - UFPA
de vínculos estáveis. Toda a literatura so- debylisboa2007@yahoo.com.br
bre Transtorno de Apego Reativo mostra Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA
que os sintomas desaparecem quando as liliaccavalcante@gmail.com
crianças são colocadas em lares afetivos Laiane da Silva Corrêa - UFPA
e com cuidados adequados. Portanto, lai_correa@yahoo.com.br
deve-se tentar ao máximo, como propos- Diene Cristina de Lima Correa - UFPA
to pelo ECA (Brasil, 2002), restabelecer
dienelimassocial@yahoo.com.br
ou mesmo estabelecer uma relação mais
saudável entre as crianças e suas famílias, Financiamento: CAPES
assim como, enquanto abrigadas, que as
crianças tenham figuras de referência com Diversos estudos mostram que, ao intera-
quem possam estabelecer e construir vín- gir, a criança tem a oportunidade de de-
culos. Se as instituições de abrigamento senvolver suas habilidades sociais. Dentre
promovessem treinamento adequado à elas, ações de solidariedade ao próximo,
equipe responsável pelo cuidado com as semelhantes ao cuidado parental, que
crianças, muitas das situações de instabi- têm por objetivo dar suporte ao outro e
lidade vincular seriam evitadas garantin- que são definidas como comportamen-
do, futuramente, relações mais saudáveis to pró-social. Essa modalidade de com-
e indivíduos mais seguros. Podemos dizer, portamento, que pode assumir a forma
também, que a utilização dos critérios de cuidado entre pares, sofre influência
de Koppitz (1968) permite avaliar sinais de fatores físicos e sociais do ambiente.
de Transtorno Reativo de Apego, embora No caso de crianças que estão vivendo e
mais pesquisas sejam necessárias, dadas crescendo em instituições de abrigo, estu-
as limitações da amostra estudada, tanto dos mostram que, devido à sua condição
em termos de número, quanto de infor- peculiar de vulnerabilidade pessoal e so-
mações significativas (tempo de abriga- cial, tais crianças podem se beneficiar da
mento, condições que levaram ao abriga- presença do comportamento de cuidado
mento). Em relação ao Transtorno Reativo nas interações estabelecidas nesse tipo
de Apego, sabemos que as definições e de ambiente. Esta modalidade de com-
critérios utilizados pelo DSM-IV são bas- portamento pró-social lhes possibilita
tante limitados e imprecisos. Portanto, oferecer e obter ajuda e apoio emocional
são realmente necessárias mais pesquisas no convívio com seus pares, auxiliando-os
para clarificar este transtorno, que pode a diminuir o sofrimento ocasionado pelo
levar tantas crianças abrigadas a um erro distanciamento da família. E, ainda, nas
de diagnóstico e prognóstico em relação a situações em que estas crianças freqüen-
seu futuro psicológico. tam a escola, isso lhes possibilita, além do
aprendizado de conteúdos e conhecimen-
Palavras-chave: Transtorno de Apego Reativo, tos, a convivência com crianças em uma
Desenho da Figura Humana, abrigamento instituição diferente do abrigo, em um

401
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ambiente que tem outras características uma a uma das categorias comportamen-
físicas e sociais. Tomando como referência tais, percebe-se que o comportamento de
os benefícios da convivência da criança ajudar, quando emitido na escola (n=14;
institucionalizada em outros ambientes e 53.8%), apresentou freqüências maiores
da constatação do baixo número de pes- que no abrigo (n=7; 41,2%). Contudo, o
quisas que investigam a presença destas Teste Binomial indica que esta diferen-
crianças em mais de uma instituição infan- ça não é estatisticamente significativa
til, este estudo teve como objetivo investi- (p>0,05), sendo semelhantes os percen-
gar aspectos do ambiente que concorrem tuais referentes a ações de ajuda em am-
para a manifestação do comportamento bos os ambientes. O mesmo constata-se
de cuidado entre pares, observados em em relação ao comportamento de brincar
suas interações nos pátios da escola e de cuidar que, em termos percentuais,
do abrigo. Participaram do estudo cinco foi mais presente no abrigo (n=4; 23.5%)
crianças, com quatro a seis anos de idade, do que na escola (n= 2;7.7%); entretan-
que moravam há mais de um ano no abri- to, a análise estatística mostrou que não
go e freqüentavam regularmente a escola. houve significância estatística entre os
Para a coleta de dados, cada sujeito focal e ambientes. A descrição da freqüência do
suas interações com outras crianças foram comportamento estabelecer contato afe-
filmados nos dois ambientes, ao longo de tuoso mostra que este se apresenta com
dez sessões com duração de cinqüenta maior ocorrência na escola (n=7; 26.9%)
minutos cada, totalizando 500 minutos de do que no abrigo (n=6 ; 35.3%), porém, o
observação dos participantes da pesqui- teste mostra que não houve diferença es-
sa. Quanto aos resultados derivados da tatística entre ambos os ambientes. E, por
observação dos sujeitos focais, constatou- fim, verificou-se que o comportamento
-se que os cinco participantes manifes- de entreter não teve nenhuma ocorrência
taram comportamentos de cuidado nos no abrigo, tendo sido observado somente
ambientes da pesquisa. Ao todo, foram no ambiente da escola (n=3, 11.5%), não
registrados 43 eventos de comportamen- sendo possível, assim, a aplicação do teste
to de cuidado, organizados em torno das estatístico. A análise estatística dos dados
seguintes subcategorias: estabelecer con- mostrou que nenhuma das subcatego-
tato afetuoso, ajudar, brincar de cuidar e rias do comportamento de cuidado teve
entreter. Ao descrever a freqüência deste predomínio estatístico em ambos os am-
comportamento no pátio da escola (26) bientes (abrigo e escola). Os resultados do
e do abrigo (17), constata-se que os per- estudo revelam que a escola (n=26) teve
centuais que representam esse tipo de a maior ocorrência do comportamento
evento foram mais elevados no primeiro quando comparada ao ambiente de abri-
ambiente quando comparados aos do se- go (n=17), o que está, provavelmente,
gundo. Entretanto, a avaliação intragrupal relacionado às características sociais da
mostrou que não houve diferença estatís- instituição escolar, onde os profissionais
tica na diferença dos percentuais do com- buscam incentivar os alunos ao cuidado
portamento de cuidado observados nos recíproco, através de atividades grupais e
pátios da escola e do abrigo. Quando se da educação inclusiva de inserção de alu-
considera para análise o desempenho de nos com deficiência neste ambiente. Os

402
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dados apontaram, também, que a escola LT06-754 - REFLEXÕES SOBRE O


não foi somente o ambiente de maior nú- DESENVOLVIMENTO INFANTIL DE
mero de ocorrências do comportamento CRIANÇAS ADOTADAS NO BRASIL
de cuidado, mas, onde houve uma maior Alessandra Themudo Lessa - FMU/SP
variação deste comportamento, visto que dudalessa@uol.com.br
todas as subcategorias estiveram presen- Vanessa Mendonça Lima Borba - FMU/SP
tes nas interações entre as crianças no vmlima@gmail.com
pátio escolar. No abrigo, o número de sub-
categorias manifestadas foi menor, talvez No Brasil, existem algumas formas de
devido ao caráter da instituição, que inclui adoção; dentre elas, quatro são as mais
uma rotina fechada, com poucos horários comuns: adoção legal, que transcorre
de recreação livre e com uma alta taxa de dentro das medidas legais; adoção ilegal,
rotatividade entre os profissionais e as “à brasileira”, que consiste em registrar
crianças acolhidas. Isto dificulta a cons- a criança com o nome dos pais adotivos,
trução de vínculos mais fortes entre as sem passar pelo processo legal; adoção ir-
crianças o que, consequentemente, dimi- regular ou adoção pronta, na qual os pre-
nui as ocorrências do comportamento de tendentes convivem com a criança em seu
cuidado. Esta pesquisa é importante por domicílio, sem registrá-la e, depois, bus-
revelar, a partir dos dados obtidos, como cam legalizar a situação; adoção “intuitus
as crianças em acolhimento institucional personae”, que é a adoção realizada por
interagem com seus pares no ambiente pessoas indicadas pela mãe biológica, que
escolar, o que permitirá uma futura inter- enfrentarão os trâmites do processo legal
venção no sentido de favorecer as mani- (Souza, 2008). Qualquer que seja o pro-
festações de comportamentos pró-sociais cesso enfrentado pela criança, não muda-
em ambos os ambientes. Uma vez que rá o fato de que ela tem uma história e de
se constatou que ainda existem poucas que a conhece, ainda que não tenha sido
pesquisas que investigam esta temática, verbalizada ou confirmada. Dolto (1978)
aponta-se a necessidade de continuação enfatiza que o ser humano “sabe mais
deste estudo, através de outros que per- de si mesmo” do que só aquilo que ele se
mitam a ampliação do número de sujeitos lembra ou que lhe contam. Há um saber
e da investigação das interações de crian- inconsciente que, quando não é posto em
ças acolhidas em outros ambientes além palavras, ou lhe oferecem uma visão dis-
da escola e do abrigo como, por exemplo, torcida, abre espaço para uma vida sim-
espaços da comunidade. bólica assentada em uma base insegura.
Para se desenvolverem satisfatoriamente,
Palavras-chave: comportamento de cuidado, as crianças necessitam de amor, dedica-
interações infantis, acolhimento institucional ção, interação e um ambiente seguro e
acolhedor. No caso das crianças adotivas
Contato: Débora Lisboa Correa Costa,
não é diferente, porém, existem algumas
PPGTPC/LED/UFPA,
peculiaridades que devem ser conside-
debylisboa2007@yahoo.com.br
radas pelos pais pretendentes (Levinzon,
2009). Caso a criança não encontre esse
ambiente e esse lugar real de filho, o seu

403
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

processo de pertencimento e adequação a o seu funcionamento e sem disponibilida-


essa família será prejudicado, pois, a mes- de para o filho real, relembram a sensação
ma poderá desenvolver mecanismos de de impotência e de abandono vivenciada
defesa para proteger-se de um novo aban- na busca por gerar uma criança (Schetti-
dono. Esses mecanismos refletirão na re- ni, 2006). Alguns mecanismos de defesa
lação com os novos pais e, principalmen- ou “proteção” podem ser citados, atrela-
te, em seu desenvolvimento (Schettini, dos ao processo de desenvolvimento da
2006). Dessa forma, avaliando as peculia- criança. A criança adotiva tem uma maior
ridades do universo adotivo, esse trabalho sensibilidade ao abandono e à rejeição.
tem como objetivo investigar, através de Para evitar uma nova situação desse tipo
uma pesquisa de levantamento bibliográ- buscam sempre acertar, e muitas se tor-
fico, como ocorre o desenvolvimento de nam perfeccionistas, não se permitindo
crianças que vivenciaram o processo de errar. Buscam, também, uma identificação
adoção. A base a partir de onde o adulto com os pais, procurando corresponder
opera será a sua família de origem ou, en- às suas expectativas escondendo, dessa
tão, outra nova base que ele formou para forma, sentimentos desagradáveis e ex-
si mesmo, pois, “qualquer indivíduo que plodindo, vez ou outra, em ataques de
não possua tal base é um ser sem raízes raiva (Schettini, 2006). Sem esse lugar de
e intensamente solitário” (Bowlby, 1997). expressão, a criança age de acordo com
Para a criança adotada, segundo Schetti- o que esperam dela e não de modo au-
ni (2006), a construção do vínculo afetivo, têntico, desenvolvendo um falso self. Em
que norteará o seu desenvolvimento, terá casos mais graves, ele pode se implantar
como base suas novas relações parentais. como se fosse real, e a pessoa apresenta-
Dessa forma, a nova família precisa de- rá carências essenciais em seus relaciona-
sejar esse filho e, para tal, as motivações mentos, no trabalho e no plano social (Le-
paternais precisam estar bem definidas. vinzon, 2009). Outro mecanismo que visa
Motivações corretas permitirão que es- protegê-la de um novo abandono é a indi-
ses pais sintam e aceitem essa criança ferença emocional, ou seja, a criança não
como seu filho e que o acolham como tal. se envolve para não sofrer. Muitas vezes,
Segundo Winnicott (1953), a história da por não confiar que isso não irá acontecer,
adoção, quando transcorre bem, é a da poderá “abandonar” primeiro, tanto pes-
história humana comum e, como tal, tem soas quanto relações, projetos, estudo e
suas intercorrências. Sem a motivação aprendizado no qual possa não sentir-se
correta, não haverá disponibilidade emo- aceita (Schettini, 2006). A agressividade
cional para o desejo do filho real. A crian- e rebeldia também são mecanismos atra-
ça perceberá que não tem um lugar de vés dos quais as crianças testam os pais.
pertencimento nessa família, e será mobi- De maneira não proposital, buscam no
lizada por um sentimento de estranheza. comportamento provocativo, saber: “até
O sentimento de não pertencer suscitará, onde vocês vão me agüentar?” (Levinzon,
nela, a possibilidade de um novo abando- 2009). A necessidade de cuidar do próxi-
no; mecanismos de defesa serão criados mo e a autonomia prematura também po-
para protegê-la e elas serão recebidas por dem representar mecanismos de defesa.
pais fragilizados que, não compreendendo A criança cuida como gostaria de ter sido

404
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cuidada e não deseja depender por muito para com a adoção. Ressalta-se, ainda, a
tempo de quem possa abandoná-la. A ne- necessidade de uma ampliação da rede de
gação ao desenvolvimento também é uma Grupos de Apoio à Adoção em todo o país,
forma de se defender; essa defesa será com o objetivo de esclarecer, fortalecer e
criada se a criança não tiver se encontra- incentivar as futuras relações parentais
do com seu passado. “A criança é confron- derivadas da adoção.
tada com um medo do futuro, por conta
de um passado ignorado e concebido em Palavras-chave: adoção, família adotante,
sua fantasia como grotesco e ameaçador” desenvolvimento infantil
(Schettini, 2006). Outra defesa a ser con- Contato: Alessandra Themudo Lessa,
siderada diz respeito ao desenvolvimento Psicologia - FMU, dudalessa@uol.com.br
sexual; se há uma certeza que a criança,
agora já na puberdade tem, é de que ela
é resultante de um ato sexual de seus LT06-844 - CRIANÇAS EM ACOLHIMENTO
pais. Muitas vezes essa é a informação INSTITUCIONAL E SUAS DINÂMICAS
de maior relevância que tem de seus pais FAMILIARES
biológicos, e as crianças se apegam a ela Emmanuelle de Oliveira Ferreira - UFRN
gerando dois possíveis comportamentos: emmanuelle_of@yahoo.com.br
precocidade sexual, como identificação Rosângela Francischini - UFRN
do filho com os pais de origem, ou afasta- rfranci@uol.com.br
mento de sua sexualidade, por associá-la Financiamento: CAPES
a pais biológicos não confiáveis e “maus-
-modelos” (Levinzon, 2009). Sendo assim, O acolhimento institucional de crianças e
conclui-se que o desenvolvimento de uma adolescentes, no Brasil, e o (des)amparo
criança adotiva está intimamente ligado à destinado a eles e suas famílias são temas
relação parental e ao ambiente que essa de extrema relevância para a garantia do
criança estará inserida. Além disso, Winni- direito desses sujeitos. O Estado Brasilei-
cott (1953) revela que o grau de perturba- ro tem sua responsabilidade estabelecida
ção ambiental que a criança sofreu antes em lei sobre a proteção à família e, junta-
da adoção também influencia o seu de- mente com ela e com a sociedade, deve
senvolvimento: quando sua história inicial fazer valer os direitos das crianças e dos
não foi suficientemente boa em relação à adolescentes, o que é confirmado pelo
estabilidade ambiental, os pais adotivos discurso da Constituição Federal (Brasil,
têm que saber que, além de pais, serão 1988), do Estatuto da Criança e do Ado-
“terapeutas de uma criança carente”. É lescente (Brasil, 1990), do Plano Nacional
importante que os pais sejam alertados de Promoção, Proteção e Defesa do Direi-
sobre esse fato, pois, o cuidado da criança to de Crianças e Adolescentes à Convivên-
exigirá, deles, mais do que o simples ma- cia Familiar e Comunitária (Brasil, SEDH,
nejo comum. Com isso, ressalta-se ser de 2006), entre outros documentos do país.
fundamental importância o conhecimento Vicente (2005) expõe a dimensão política
prévio da história de vida dessas crianças do vínculo entre a criança e sua família de
pela família adotante, assim como a ve- origem afirmando que, para a proteção e
rificação das reais motivações da mesma desenvolvimento desse vínculo, é neces-

405
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sária a atuação estatal. Um suporte, como prias falas: vivência de rua, mendicância,
pode se pensar a partir de Vasconcelos, violência e uso de drogas por parte de
Yunes e Garcia (2009) e Cavalcante, Ma- familiares. A partir das interações com
galhães e Pontes (2009), que se faz mais as crianças foi possível destacar e anali-
veemente para as famílias que, muitas sar tais fatores, procurando observá-los
vezes, por enfrentarem toda a sorte de integrados a seus ambientes particulares
privações e situações indignas, também e entender como esses ambientes se ar-
expõem crianças e adolescentes a condi- ticulam à conjuntura geral, constituída
ções precárias, presentes desde antes do por problemas socioeconômicos de toda
nascimento desses sujeitos e culminando ordem, enfrentada por diversas famílias
no seu acolhimento institucional. Este es- no Brasil. Magali e Cascão abordam a vio-
tudo apresenta as percepções de suas di- lência de modo frequente, mesmo que de
nâmicas familiares por três crianças, dois formas distintas e, no caso de Cascão, em
meninos e uma menina: Cascão, Magali e situações hipotéticas/imaginadas, não
Cebolinha (os dois últimos irmãos) com, dizendo respeito diretamente ao seu nú-
respectivamente, oito, nove e sete anos, cleo familiar de origem, como na situação
em uma instituição estadual localizada imaginativa do procedimento com figu-
em Natal, Rio Grande do Norte. Nos pro- ras. Além da forte presença da violência
cedimentos realizados individualmente, nos discursos de Magali e Cascão, a vivên-
foram usados materiais de desenho e fi- cia na rua por parte das famílias compa-
guras. Ao todo foram cinco procedimen- rece nos discursos de ambos os sujeitos,
tos, além de uma conversa inicial com as ao criarem uma família (procedimento de
crianças, todos registrados com gravador imaginar e desenhar uma família que não
e no diário de campo. Cada criança fez: um a deles) e contarem um pouco sobre a
autorretrato, acompanhado ou seguido vida dela, o que pode refletir experiências
de conversa com a pesquisadora; o dese- de suas realidades antes do acolhimento
nho delas junto com sujeitos que estavam institucional, já que relatos de situações
na instituição onde se encontravam e com similares constavam em seus relatórios
outros que haviam sido desabrigados; o ou em falas acerca de suas famílias de
desenhado da própria família e o de outra origem. Cebolinha, quando questionado
que não a deles; além do procedimento sobre o porquê de estar em acolhimento
em que tinham imagens de crianças para institucional, responde de forma a con-
dar nomes, características e imaginar firmar discursos de Magali, pelo menos
suas vidas em contextos familiares e em no que se refere ao abuso de substâncias
instituições de acolhimento. O corpus foi químicas da mãe, relatado pela menina
analisado por meio da Rede de Significa- e, ainda, deixando clara a relação que
ções, perspectiva teórico-metodológica faz disso com sua condição atual. Cascão
adotada ao longo de todo o trabalho, e também aponta o uso de drogas por parte
da Análise de Conteúdo Temática. No cor- da sua mãe, fazendo uma relação dessa
pus constituído, destaca-se a presença de situação com a sua condição de abrigo, de
vários fatores de risco nos contextos de modo similar ao de Cebolinha, mas, adi-
suas famílias, constatados em relatórios ciona a circunstância em que se encontra
psicossociais dos sujeitos e em suas pró- seu pai, preso. Referente à temática que

406
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

emerge das falas das crianças, Vascon- tência aos membros de toda e qualquer
celos et al. (2009), coerentemente com família no Brasil, cabendo-lhe criar meca-
Cavalcante et al. (2009) e Azôr e Vectore nismos para coibir violências nas relações
(2008), afirmam que existe influência, nos entre eles contribuindo, enormemente,
grupos familiares do público de crianças para a garantia do direito à convivência
institucionalizadas, de numerosos fatores familiar e comunitária.
de risco, que são por eles enfrentados e
podem tornar vulneráveis crianças e ado- Palavras-chave: crianças, acolhimento
lescentes a ocorrências de negligência, institucional, famílias
vivência de rua, violência física, psicológi- Contato: Emmanuelle de Oliveira Ferreira,
ca, sexual..., as quais se ligam às dificulda- UFRN, emmanuelle_of@yahoo.com.br ou
des socioeconômicas, culminando com o manumousinho@yahoo.com.br
acolhimento institucional desses sujeitos.
Tais contextos tornam as possibilidades
de vida e desenvolvimento precárias e de- LT06-1012 - CRIANÇAS E ADOLESCENTES
terioradas, contribuintes do não cuidado AFASTADOS DA CONVIVÊNCIA
dos filhos por parte dos pais ou, melhor FAMILIAR: ANÁLISES A PARTIR DE UMA
dizendo, da não garantia dos cuidados INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
mais básicos e essenciais a esses sujeitos. Rita de Cássia de Souza - UFV
Assim, tal conjuntura, que une à pobreza ritasouza@ufv.br
diversos outros problemas sociais, deve
receber mais atenção real do Estado e Esta comunicação propõe uma discussão
dos governos, pois, ao mesmo tempo em sobre os motivos que têm determinado
que os núcleos familiares tratados aqui a retirada de crianças e adolescentes de
não podem ser isentos da responsabili- suas famílias, e o que tem sido feito du-
dade pelas condições de risco impostas rante este período de afastamento. De-
a essas crianças quando sob os seus cui- fendemos que o papel das instituições de
dados, também, são vítimas da falta de acolhimento não se restringe a planejar
suporte social estatal, da ausência de po- o cotidiano das crianças e adolescentes,
líticas públicas eficientes e eficazes para mas, é muito mais complexo e relevan-
o cuidado e o atendimento às famílias te, consistindo em preparar-lhes para, o
que, como um todo (considerando todos quanto antes, realizar a reinserção destes
os seus integrantes), estão mais expostas no ambiente familiar ou a criação de no-
às desigualdades econômicas e a todas as vos vínculos sociais e afetivos. Algumas
dificuldades de sobrevivência que tais de- pesquisas mostram que o estabelecimen-
sigualdades, frequentemente, acarretam. to de vínculos sociais e afetivos é condi-
Para finalizar, é importante refletir, justa- ção fundamental para o desenvolvimento
mente, sobre o que é destinado às famí- humano. René Spitz (1887-1974), psica-
lias violadoras dos direitos dos seus filhos, nalista austríaco, estudou um orfanato e
nos casos apontados, e não ignorar que a um berçário de uma prisão de mulheres
Constituição (Brasil, 1988) - em seu artigo nos EUA e o resultado desta pesquisa foi
226, parágrafo oitavo - estabelece como publicado no livro O primeiro ano de vida
competência do Estado: assegurar assis- do bebê, em 1965. Nesta obra, Spitz rela-

407
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ta que no orfanato, organizado e limpo, as e/ou de cuidadores. A Teoria do Apego


crianças mostravam um sensível retarda- afirma que os bebês, ao nascer, estão
mento em seu desenvolvimento mental e pré-programados para se interessar por
progressiva debilidade física. Uma epide- estímulos sociais e vincular-se a algumas
mia de sarampo matou 23 das 88 crianças pessoas. O vínculo emocional mais impor-
com idade inferior a 2 anos e meio; das tante na primeira infância é o apego, que
sobreviventes, apenas 2 começaram a fa- a criança estabelece com uma ou várias
lar e aprenderam a caminhar no espaço pessoas do sistema familiar e que pos-
da pesquisa; nenhuma aprendeu a comer sui quatro manifestações fundamentais:
sozinha e todas eram incontinentes. Na buscar e manter a proximidade; resistir
prisão de mulheres, o desenvolvimento à separação e protestar se esta se con-
das crianças era tão acelerado e sadio suma; usar a figura de apego como base
que o problema era de como conter as de segurança a partir da qual se explora
manifestações de sua vitalidade e inteli- o mundo físico e social e sentir-se seguro
gência. Nos testes de quociente de desen- buscando na figura de apego o bem estar
volvimento, as crianças do segundo grupo e apoio emocional. As conclusões a que
obtiveram uma média de 105 pontos, en- chegaram mostram que, dependendo da
quanto a média das crianças do primei- relação que as crianças possuem com a
ro grupo foi de apenas 72 pontos. Spitz figura de apego, elas podem desenvol-
concluiu, então, que a falta de contato ver um apego seguro (o mais adequado
materno prejudicava o desenvolvimento e saudável) ou não e o principal determi-
das crianças do orfanato e denominou de nante da segurança do vínculo afetivo é a
hospitalismo o conjunto de perturbações sensibilidade da figura de apego, entendi-
que o bebê pode sofrer devido a carências da como a disposição de prestar atenção
afetivas. Tal situação também pode acon- aos sinais da criança, interpretá-los ade-
tecer quando os bebês possuem mães quadamente e responder a eles rápida e
que não desejam seus filhos ou não lhes apropriadamente. O psicanalista inglês
dão atenção e carinho. Crianças de idades Donald Winnicott (1896-1971) criou o
muito precoces, com privação de contato termo “maternagem”, que consiste em a
afetivo, podem sofrer de problemas tanto criança estabelecer um vínculo emocio-
físicos como psicológicos, como: atraso nal com uma figura de referência e apoio,
no desenvolvimento corporal, insônia, que pode ser qualquer pessoa, desde que
queda de peso, dificuldade de adaptação esta seja sensível às demandas da criança,
ao meio, fragilidade e menor imunidade a fornecendo-lhe apoio emocional que lhe
doenças infecciosas. O psicanalista inglês permita compreender a si própria e seu
John Bowlby (1907- 1990) e a psicóloga meio social, sentindo-se segura. Portan-
canadense Mary Ainsworth (1913-1999), to, conforme estas pesquisas, é evidente
em 1948, dirigiram uma pesquisa sobre a importância do afeto e do acolhimento
crianças abandonadas ou privadas de lar para o desenvolvimento integral do ser
que resultou no desenvolvimento da Te- humano e a necessidade que as institui-
oria do Apego, com base em observações ções de acolhimento não sejam respon-
clínicas de crianças que viviam situações sáveis pela desvinculação familiar, mas,
de separação e perda de figuras parentais pelo estabelecimento de vínculos seguros

408
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e adequados. Considerando estes fatores, LT06-1323 - PRÁTICAS DE CUIDADO


este trabalho pretende apresentar os mo- NAS SITUAÇÕES DE BRINCADEIRA E
tivos para o afastamento familiar e, prin- BANHO: INTERAÇÕES EDUCADOR-
cipalmente, como tem sido o trabalho CRIANÇA EM ESPAÇO DE ACOLHIMENTO
para a reinserção social destes sujeitos INSTITUCIONAL
em uma instituição de acolhimento na ci- Tamires Santos Rufino e Silva - UFPA
dade de Viçosa, interior do estado de Mi- tamiresrufino88@gmail.com
nas Gerais, que atende até vinte crianças Laiane da Silva Corrêa - UFPA
e adolescentes de até 18 anos, de ambos lai_correa@yahoo.com.br
os sexos. Estas crianças e adolescentes, a Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA
princípio, estão em situação de risco e são liliaccavalcante@gmail.com
retirados de suas famílias pelo Judiciário Celina Maria Colino Magalhães - UFPA
e Conselho Tutelar. O principal objetivo celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br
da instituição é acolher estas crianças e
estes adolescentes, temporariamente, Financiamento: CAPES/CNPq
protegendo-os de situações de violência
e abuso, visando a reintegração ao am- Dados da literatura indicam que ao se
biente familiar, seja o de origem, seja em estudar o cuidado coletivo de crianças
outro ambiente que lhes possa fornecer pequenas em espaço de acolhimento
condições dignas e seguras de desenvolvi- institucional identifica-se que são vários
mento. A instituição foi inaugurada em 06 os aspectos envolvidos neste processo,
de fevereiro de 2010 e sua manutenção dentre os quais destacam-se os cuidados
é feita por um consórcio intermunicipal físicos, sociais e psicológicos, considera-
que envolve prefeituras de seis municí- dos primordiais para o desenvolvimento
pios da região. Os dados coletados para saudável (Cavalcante, 2008). As intera-
este trabalho, através de documentos que ções e relações estabelecidas entre edu-
registram a passagem das crianças e ado- cador-criança nas situações de brincadei-
lescentes pela referida instituição, nos le- ra e de banho são de extrema relevância
vam a questionar se o afastamento fami- nos processos desenvolvimentais, visto
liar é a opção mais adequada em alguns que são momentos ricos de interações e
casos e ressaltar a importância de que aprendizado, oferecem um conjunto de
estas instituições não venham a se tornar práticas voltadas à estimulação, orien-
um abrigo pura e simplesmente, mas que, tação e ensino de habilidades diversas,
efetivamente, contribuam para melhorar além de contribuírem para o processo
a qualidade de vida destas crianças e ado- desenvolvimental da criança que vive em
lescentes, sem afastá-las de referências espaço de acolhimento institucional (Ale-
afetivas importantes e satisfatórias. xandre & Vieira, 2004; Cordazzo & Vieira,
2007). Nestes termos, estudos mostram
Palavras-chave: crianças e adolescentes que um ambiente rico de estímulos pode
vulneráveis, institucionalização, família ser de suma importância para amenizar
Contato: Rita de Cássia de Souza, os efeitos do ambiente de acolhimen-
Universidade Federal de Viçosa, to institucional para as crianças (Bron-
ritasouza@ufv.br fenbrenner, 1996). O presente estudo

409
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

objetivou investigar práticas de cuidado til e o banheiro dos bebês. Observou-se


em situação de brincadeira e banho a que o tempo dedicado às práticas de
crianças, realizadas por educadoras de brincadeira representam 36 horas, o que
um espaço de acolhimento institucional. corresponde a 30% de um total de 120
Participaram da pesquisa dez educado- horas de observação, e é um momento
ras, responsáveis pelo cuidado diário das marcado por recreação, entretenimento
crianças, bem como 62 crianças de zero e diversão proporcionados pelo ato de
a seis anos, de ambos os sexos. Entre os brincar, enquanto o período destinado às
profissionais pesquisados, todas são mu- práticas de banho alcançam um intervalo
lheres, a maioria possui mais de 35 anos, em torno de 11,20 horas, o equivalente
tem filhos, completou o ensino médio a 9,34% do total de horas de observação
e tem mais de 24 meses de experiência das educadoras. Esta forma de cuidado
como educadora. O estudo foi realizado ocorre, em geral, em dois momentos: no
em um abrigo governamental, localiza- final da manhã e da tarde, sendo o tempo
do na região metropolitana de Belém-PA médio de duração do banho de 16 minu-
que acolhe, provisoriamente, crianças tos, compreendendo a limpeza do corpo
cuja integridade tenha sido ameaçada ou e a troca de roupa no dormitório. Para as
violada, em razão de situações típicas de análises das situações de brincadeira na
abandono familiar, negligência e violên- interação educador-criança foram consi-
cia doméstica. Os dados foram obtidos a deradas três categorias (Piccinini, Frizzo &
partir de sessões de observação que fo- Marin, 2007): orienta quanto à natureza,
ram filmadas e tiveram duração de uma função e regras do brincar, caracterizada
hora cada, totalizando doze sessões para quando a educadora guia a criança quan-
cada participante. As sessões foram reali- to às normas, atitudes e aspectos envol-
zadas em momentos diferentes da rotina vidos no brincar, destacando situações
de cuidado dos educadores, compondo de perigo iminente e outras envolvidas
uma sequência de quadro da realidade nesse tipo de atividade; estimula, enco-
institucional. A partir das filmagens, fez- raja e desafia quanto à divisão e compar-
-se um recorte de trechos de episódios in- tilhamento de brinquedos e brincadeiras,
terativos entre o educador e a criança em caracterizada quando a educadora for-
situações de brincadeira e banho. A abor- nece brinquedos, incentiva a ludicidade,
dagem das educadoras e a observação de insere novos elementos, promove a divi-
suas práticas de cuidado no cotidiano da são e o compartilhamento de materiais
instituição foram realizadas em diferen- entre as crianças, as encoraja e desafia
tes ambientes do espaço de acolhimento para o engajamento em novas atividades
institucional, tornando possível registrar usando, para isso, reforços sociais; e en-
situações próprias da convivência e das sino de conceitos e pronúncia correta ao
práticas de cuidado. Os resultados apon- falar, categoria relacionada ao fato de
tam que entre os principais locais em que que a educadora menciona à criança algo
se realizaram as sessões de observação em relação a conceitos, cores, números,
nas situações investigadas estão o quin- partes do corpo, elementos que fazem
tal, o barracão, o playground, a brinque- parte de um conjunto, nomes de frutas,
doteca, os dormitórios, o banheiro infan- além de pronunciar as palavras correta-

410
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mente. Já para as análises das situações de banho, especialmente, em espaço de


de banho foram consideradas, também, acolhimento institucional, visto que as
três categorias (Piccinini, Frizzo & Marin, diversas estratégias utilizadas pelo educa-
2007): orienta quanto à natureza e função dor, nestes momentos, são fundamentais
do banho, onde se destacam ações que ao desenvolvimento infantil, pois, podem
conduzem a criança a como tomar banho proporcionar afeto, segurança e diversão,
e vestir-se; estimula, encoraja e desafia a além de estimular habilidades cognitivas
tomar banho, em que a educadora insti- e sociais as crianças. Logo, identifica-se
ga e reforça a participação da criança no que a avaliação da qualidade do cuidado
banho e na escolha da roupa; ensina con- em ambiente institucional deve ser uma
ceitos e destaca etapas que fazem parte questão de investigação importante para
do banho, que compreende a instrução estudos sobre o desenvolvimento infantil.
de conceitos e descrições sobre as etapas
e procedimentos envolvidos no banho. Palavras-chave: acolhimento institucional,
Os dados indicam que há diferenças cla- práticas de cuidado, interação educador-
ras quanto à qualidade das interações. criança
As educadoras que possuem filhos têm, Contato: Tamires Santos Rufino e Silva, FASS/
em média, 32 anos e menor nível de es- UFPA, tamiresrufino88@gmail.com
colaridade, tendem a adotar práticas de
cuidado que valorizem a criança como um
membro ativo, um indivíduo em desen-
volvimento, que precisa ouvir e ser ouvi- PO-LT01
do. Identifica-se que, diante de regras e
normas institucionais, estas educadoras
adaptam-se à situação vivida, levando em LT01-776 – A VIVÊNCIA DE APRENDIZES
consideração o ambiente, a individualida- COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO
de, disponibilidade de materiais, número MERCADO DE TRABALHO.
de crianças e outras variáveis que fazem Adelaine Vianna Furtado -UFJF
parte do ambiente físico e social da crian- ane_vf@yahoo.com
ça. Do outro lado, as educadoras que não Nara Liana Pereira-Silva - UFJF
possuem filhos têm, em média, 44 anos naraliana.silva@ufjf.edu.br)
e maior nível de escolaridade, tenden-
do a adotar posturas mais autoritárias, A deficiência intelectual (DI), a partir de
cujas práticas de cuidado marcam o que um enfoque multidimensional, vem sen-
se deve ou não fazer, sem muitas expli- do caracterizada por limitações significa-
cações à criança, manifestando atitudes tivas tanto no funcionamento intelectual
em que o coletivo sobrepõe-se ao indi- como no comportamento adaptativo ex-
vidual, as regras e as escolhas são feitas presso em habilidades conceituais, so-
quase que exclusivamente pela figura do ciais e práticas, originando antes dos 18
educador. Os dados deste trabalho reve- anos de idade (Associação Americana so-
lam como é essencial a presença e a in- bre Deficiência Intelectual e do Desenvol-
teração educador-criança, tanto em situ- vimento – AAIDD, 2010). Dessa forma, a
ações de brincadeira como em situações pessoa com DI apresenta limitações que,

411
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

muitas vezes, se tornam incompatíveis tágio visa propiciar uma reflexão a partir
com as demandas exigidas pelo contexto da descrição das vivências e sentimentos
social. Segundo Bronfenbrenner (1996), sobre a inclusão no mercado de trabalho
a relação entre ambiente e desenvolvi- de aprendizes com DI de uma instituição
mento humano é marcada pelas intera- de educação especial da cidade de Bra-
ções da pessoa com os vários contextos sília. Com um total de quatro aprendizes
de desenvolvimento e em cada um em com DI, o presente relato baseou-se em
particular. De acordo com essa perspec- entrevistas com um roteiro semiestrutu-
tiva, o contexto ocupacional representa rado que objetivaram descrever a respei-
um dos contextos que pode proporcionar to da experiência de inclusão no merca-
à pessoa adulta com DI o desenvolvimen- do de trabalho. Tal roteiro foi adaptado
to de suas habilidades e competências a do estudo de Masson (2009) de acordo
partir das interações estabelecidas neste com as necessidades do presente estudo.
ambiente, bem como fora dele na sua re- Todos os participantes moravam em regi-
lação com outros ambientes, como o fa- ões administrativas do Distrito Federal e
miliar, o educacional e o comunitário. No tinham experiência de trabalho no ramo
caso das pessoas com DI, o contexto edu- do comércio. As idades variavam entre
cacional, tal como os Centros de Educação 19 e 32 anos. Três eram do sexo feminino
Especial são os principais locais de forma- e um do sexo masculino. A entrevista foi
ção profissional. Esta profissionalização é realizada individualmente, na própria ins-
realizada por meio de oficinas que visam tituição de capacitação e de acordo com
estimular a capacidade produtiva e o de- a disponibilidade dos entrevistados, com
senvolvimento de competências voltadas duração média de quarenta e cinco mi-
para o trabalho, tendo, ainda, objetivo nutos. As respostas foram transcritas de
de inclusão no mercado de trabalho ex- acordo com o roteiro de entrevista, sen-
terno, por meio do processo de emprego do analisadas posteriormente. As análi-
competitivo, ou a colocação em serviços ses das entrevistas demonstraram o sa-
internos na própria instituição profissio- lário recebido pelos participantes era de,
nalizante, por meio de emprego apoiado aproximadamente, um salário mínimo
ou trabalho protegido (Sassaki, 2003). A (R$ 465,00). Este valor, para maioria, era
inclusão vem se tornando um tema cada destinado para a compra de objetos pes-
vez mais relevante, especialmente, sob a soais e de interesse próprio, bem como,
perspectiva do desenvolvimento dessas para a ajuda no pagamento das despesas
pessoas (Lancillotti, 2003). Pode se con- domésticas. A administração desse salá-
siderar que investigar e descrever a visão rio, porém, na maioria dos relatos, era
das pessoas com DI, oferecendo dados de responsabilidade da família, principal-
empíricos para melhor compreensão e mente da mãe. Em relação ao sentimento
reflexão de seu processo de inclusão no de satisfação com o emprego, bem como,
mercado de trabalho pode ser um cami- com a realização das atividades que re-
nho promissor para subsidiar o planeja- alizavam no local de trabalho, todos os
mento de atividades na preparação do jo- participantes demonstraram contenta-
vem com DI para o mercado de trabalho. mento no início do emprego, perdendo-o
O presente relato de experiência de es- com o passar do tempo. A dificuldade de

412
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

engajamento no trabalho por parte das que a literatura já vem apontando sobre
pessoas com DI pode ser refletida nos a importância da inclusão no trabalho
dados dos participantes, pois dos qua- para a pessoa com DI, principalmente no
tro sujeitos, dois foram demitidos por pressuposto de que o trabalho para essas
justa causa e um pediu demissão. Para pessoas serve como uma via de inclusão
justificar esse processo os participantes social, permitindo ao indivíduo demons-
relataram motivos pessoais e dificulda- trar suas potencialidades e competên-
des em estabelecer vínculos de amizade cias, além do reconhecimento como
no ambiente de trabalho. Em relação ao cidadãos. O presente relato, também,
outro participante que se manteve no demonstra a necessidade de os serviços
emprego, o mesmo relatou que gostava profissionalizantes adaptarem seu currí-
de exercer sua atividade de trabalho, o culo no desenvolvimento de habilidades
que fez com que tivesse um bom rendi- sociais se adaptando ao real ambiente
mento na produção e, juntamente, com competitivo das empresas. É importan-
as boas condições socais do ambiente te que as empresas estejam dispostas a
da empresa garantiram sua permanência produzir no local de trabalho a acessibi-
no emprego. Como Jahoda et al (2009) lidade física e social. Além disso, que as
encontraram no seu estudo longitudinal empresas e as instituições profissionali-
que visava examinar a experiência das zantes estabeleçam um vínculo para que
pessoas com DI no trabalho, a carência possam conhecer suas necessidades e se
de oportunidades de relacionamentos adaptarem uma a outra. Ressalta-se, ain-
sociais e a ansiedade para atender às ex- da, a necessidade de estudos nessa área,
pectativas dos empregadores foram os que busquem uma maior compreensão
pontos negativos encontrados pelos seus do processo de inclusão no trabalho con-
participantes inseridos no mercado de siderando este como um contexto pro-
trabalho. Quanto às expectativas dos par- motor de desenvolvimento humano.
ticipantes, do presente estudo, em se in-
serir novamente no mercado de trabalho, Palavras-chave: inclusão no trabalho,
foi constatado que todos demitidos apre- deficiência intelectual, profissionalização.
sentavam expectativas de retornarem ao Contato: Adelaine Vianna Furtado.
mercado de trabalho competitivo. Isso Universidade Federal de Juiz de Fora.
demonstra que as dispensas, até mesmo ane_vf@yahoo.com.br
as voluntárias, não acarretaram implica-
ções danosas aos entrevistados. Como
Meletti (1997) ressaltou em seu estudo
com pessoas com DI com e sem experi-
ência no mercado de trabalho, a conquis-
ta de um emprego representa mais que
uma alternativa ao ócio, mas também
uma via de reconhecimento pessoal e
profissional. Portanto, as reflexões alcan-
çadas, com a análise das entrevistas do
presente relato, nos remetem a questões

413
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-784 - AVALIAÇÃO DOS se constituem-se como um fator de risco


INDICADORES EMOCIONAIS DE ESTRESSE que deve ser avaliado devido aos efeitos
EM MÃES DE BEBÊS DE 6 A 13 MESES que podem produzir sobre o desenvolvi-
Elisa Rachel Pisani Altafim - UNESP mento infantil e na relação entre a mãe e
altafim.elisa@gmail.com seu bebê. A presença de diversos fatores
Mariana Biffi - UNESP de risco na vida de um indivíduo tende a
biffi.mariana@gmail.com ter os seus efeitos multiplicados, agravan-
Sária Cristina Nogueira - UNESP do um ao outro e prejudicando o desen-
sariacris@yahoo.com.br volvimento adaptativo e sadio do mesmo
Nathália Charlois Nogueira - UNESP (Linhares; Bordin; Carvalho, 2004). Parece
nathmail@ig.com.br importante identificar os indicadores de
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues - UNESP estresse de mães de bebês para imple-
olgarolim@uol.com.br mentar ações visando garantir o equilíbrio
emocional delas assim como o desenvolvi-
Durante o ciclo vital da mulher, especifi- mento de seus bebês. O presente projeto
camente, existem períodos em que ocor- pretendeu identificar e descrever a pre-
rem previsíveis crises, ou seja, períodos de sença de estresse em mães de bebês de
temporário desequilíbrio e desorganização seis a 13 meses de idade associando-o a
desencadeados por determinadas circuns- variáveis maternas (idade, escolaridade,
tâncias em que podem estar presentes in- tipo de família e número de filhos) e do
dicadores emocionais como ansiedade, es- bebê (sexo e idade). Participaram do proje-
tresse e depressão. O período da gravidez, to, 25 mães com idade entre 15 e 41 anos
do parto e do puerpério são exemplos des- (Média=25,6; MED=23; DP=7,1) de bebês
ses períodos de transição que fazem par- de seis a 13 meses (Média=9; MED=9;
te do desenvolvimento normal. Durante DP=2,41), sendo que quanto a condição de
o ciclo grávido-puerperal, por exemplo, a risco, 16 não tinham identificação prévia
mulher vivencia mudanças metabólicas e, e, das demais, dois eram prematuros, um
também, instabilidade emocional devido baixo peso e seis eram filhos de mães ado-
às alterações que irão ocorrer com o nasci- lescentes, sendo que destes, dois bebês
mento do bebê, sendo que após o mesmo nasceram prematuros. Quanto à escolari-
a mulher tem que reestruturar o seu papel dade, 16 das mães possuíam pelo menos
social, adaptando-se às mudanças decor- Ensino Médio completo. Quanto ao tipo de
rentes dessa nova fase (Maldonado, 1997). família, prevaleceu a família nuclear (72%)
Nesses períodos de instabilidade emocio- e, delas, 52% tinham apenas um filho. To-
nal, os níveis de estresse costumam au- das as participantes frequentavam o pro-
mentar, expressando a reação do organis- jeto de extensão “Acompanhamento do
mo perante situações extremamente difí- desenvolvimento de bebês de risco: ava-
ceis ou excitantes, sendo que essas provo- liação e orientação” oferecido pelo Centro
cam transformações psicológicas, físicas e de Psicologia Aplicada da UNESP - Bauru.
químicas, influenciando o comportamento No processo de coleta de dados, foi reali-
humano (Gomes; Bosa, 2004). Dessa ma- zada primeiramente uma Entrevista Inicial
neira, evidencia-se que as presenças de in- a fim de coletar informações sociodemo-
dicadores emocionais maternos de estres- gráficas do bebê e de sua família, como

414
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sexo, membros que a compõem, estado mães de bebês com mais de seis meses e
de saúde dos pais e do bebê. As avaliações 57% das mães de bebês com menos de seis
do desenvolvimento dos bebês foram re- meses apresentaram estresse. Os resulta-
alizadas mensalmente, sempre em datas dos apontam para a presença de estresse
próximas ao do aniversário dos mesmos, na amostra estudada, sendo mais presente
utilizando o Inventário Portage Operacio- em mães com menos de 30 anos, com boa
nalizado (Williams; Aiello, 2001). As ava- escolaridade, de família nuclear e com um
liações foram conduzidas na presença das único filho. Quanto às variáveis do bebê
mães, que serviram como mediadores e (sexo e idade), os dados apontam para a
informantes, sendo que o comportamento influência da idade do bebê (mais velhos)
do bebê foi observado a partir da estimu- do que o sexo na presença de estresse. To-
lação ambiental, emissão de comporta- davia, a amostra é reduzida (n=25), o que
mentos espontâneos e, também, obser- dificulta a generalização dos achados.
vações relatadas pelos pais. Entre o sexto
e o décimo terceiro mês, as mães foram Palavras-chave: estresse, mãe de bebê e
convidadas a responderem o Inventário de saúde mental.
Sintomas de Stress de Lipp (ISSL), sendo a Contato: Elisa Rachel Pisani Altafim – altafim.
participação voluntária e conforme dispo- elisa@gmail.com
nibilidade da mesma. O ISSL é um instru-
mento validado por Lipp e Guevara (2004),
que avalia os sintomas físicos e psicológi- LT01-800 - AMIZADE E SUPORTE SOCIAL:
cos vivenciados pelos sujeitos nas últimas DIFERENÇAS DE GÊNERO ENTRE JOVENS
24 horas, na última semana e no último ADULTOS
mês e possibilita realizar um diagnóstico Diogo Araújo de Sousa - UFRGS
da ocorrência do estresse, da fase em que diogo.a.sousa@gmail.com
esse se encontra e também, identificar se Elder Cerqueira Santos - UFS
os sintomas são predominantemente fí- eldercerqueira@yahoo.com.br
sicos ou psicológicos. Os resultados mos-
traram que dezesseis (64%) das 25 mães Na psicologia do desenvolvimento, desta-
apresentaram estresse, sendo que, delas, ca-se a análise de relacionamentos de lon-
12 (75%) apresentarem resistência e qua- ga duração, entre os quais se encontram
tro (25%) exaustão. A presença/ausência as amizades íntimas. A literatura é con-
de estresse foi associada, também, às vari- sensual quanto ao fato de que amizades
áveis sociodemográficas da mãe e do bebê desempenham importante papel ao longo
mais frequentes. Observou-se a presença do ciclo vital; na maior parte do tempo,
de estresse em 76% das mães de bebês para melhorias em habilidades sociais,
com menos de 30 anos, em 62% das mães saúde e qualidade de vida. Estudos apon-
com Ensino Médio completo, em 55% das tam que os relacionamentos de amizade
mães de famílias nucleares e em 69% das constituem entre 60 a 80% da rede social
mães de filhos únicos. Quanto às variáveis de uma pessoa. O suporte social se refe-
do bebê, 69% das mães de meninos e 62% re aos recursos materiais e psicológicos
das mães de meninas mostraram-se es- aos quais as pessoas têm acesso através
tressadas. Considerando a idade, 66% das de suas redes. Assim, relacionamentos de

415
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

amizade têm grande valia no provimento lidade manter o caráter de rede social pro-
de suporte social. O suporte social facilita movido pelo RDS. Foram percorridas cinco
o enfrentamento de crises e a adaptação ondas na amostra. Foram utilizados dois
a mudanças na vida e pode ser dividido instrumentos: um questionário sobre ami-
em: suporte emocional, incluindo apego, zades e uma escala sobre percepção de
conforto e poder confiar e acreditar em suporte social. Foram realizadas análises
uma pessoa; e suporte instrumental, en- estatísticas descritivas (frequências, mé-
volvendo ajuda direta, como empréstimos dias e desvios-padrão), e inferenciais (qui-
ou presentes, e serviços como cuidar de -quadrado, teste t de student e correlação
alguém que está doente, fazer um tra- de Pearson). Os resultados apontaram
balho para a pessoa, bem como o provi- a existência de uma homogeneidade de
mento de informações, orientações e con- características entre amigos íntimos, prin-
selhos. Este trabalho teve como objetivo cipalmente para o gênero. Dos homens
investigar relações entre características participantes, 74,1% foram indicados por
das amizades nas redes sociais de jovens outros homens, enquanto que 71,4% das
adultos e sua percepção de suporte social, mulheres foram indicadas por outras mu-
focalizando diferenças de gêneros entre lheres (p<0,001). Além disso, homens de-
os jovens, tanto para o gênero da pessoa monstraram possuir mais amizades mas-
quanto para o gênero das suas amizades. culinas do que as mulheres e vice-versa
Participaram 98 jovens adultos (45,9% ho- (p<0,001). Foram encontradas diferenças
mens), com idades entre 18 e 30 anos (M significativas entre as melhores amizades
= 23,01 anos; DP = 6,57). Quanto à escola- de homens e mulheres para as funções de
ridade, a maioria possuía ensino superior segurança emocional e intimidade, sendo
incompleto (75,5%). A amostragem se deu que as mulheres obtiveram maiores mé-
pela técnica do Respondent Driven Sam- dias em ambos os fatores (p<0,01). Em-
pling (RDS). O RDS é uma abordagem de bora as mulheres tenham percebido suas
amostragem que vem alcançando grande melhores amizades como preenchendo
popularidade internacional. Os dados são mais funções do que os homens, isto não
coletados por meio de um mecanismo de implica em uma desvalorização dos ho-
bola de neve que começa com o recruta- mens para tais aspectos. As diferenças
mento de poucas pessoas que se encai- se mostraram mais quantitativas do que
xem no perfil da população-alvo – as se- qualitativas. Aos serem questionados so-
mentes. No presente trabalho, a coleta de bre quais as primeiras palavras que lhes
dados teve início com quatro sementes – vinham à cabeça quando pensavam em
dois homens e duas mulheres. As semen- amizades, não houve diferenças signifi-
tes constituem a 1ª onda da amostra; as cativas entre homens e mulheres, tendo
pessoas recrutadas por elas compõem a 2ª ambos indicado palavras como “compa-
onda, e assim por diante. Neste estudo, as nheirismo”, “confiança”, “sinceridade/ho-
sementes responderam os instrumentos nestidade” e “respeito”. Isso é indicativo
e foram requisitadas a indicar, cada uma, de que a importância é dada por ambos
dois outros nomes para participar entre os sexos aos mesmos fatores, embora em
aqueles que apontaram como amizades graus distintos. Além do gênero do partici-
próximas. Tal procedimento teve por fina- pante, também foi considerado o sexo do

416
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

melhor amigo avaliado. Entre os homens, masculina de maior inibição emocional;


melhores amizades com mulheres respon- 2) segundo, independentemente do indi-
deram mais às funções de autovalidação víduo ser um homem ou uma mulher, o
e segurança emocional do que melhores seu nível de percepção de suporte social
amizades com homens (p<0,01). Assim, prático estaria mais associado ao número
melhores amigas preencheram mais, para de melhores amizades com homens do
os homens, as funções de encorajar, es- que com mulheres, pois as características
cutar, tranquilizar, e ajudar a manter a de ajuda objetiva e instrumental seriam
autoimagem de uma pessoa competente mais bem providas pelo sexo masculino.
e digna, e de dar consolo e confiança em Dessa maneira, hipotetiza-se que a per-
situações novas ou ameaçadoras, respec- cepção de suporte social emocional está
tivamente. Em contrapartida, mulheres mais diretamente relacionada ao sexo do
que avaliaram um melhor amigo homem indivíduo enquanto que a percepção de
apresentaram-se mais satisfeitas com a suporte social prático é mais fortemente
amizade do que as com melhores ami- influenciada pelo sexo das suas amizades.
gas (p<0,01). Quanto à percepção de su- Novos estudos devem investigar mais a
porte social, apenas o suporte emocional fundo essas hipóteses.
demonstrou diferença significativa entre
homens e mulheres, tendo as mulheres Palavras-chave: amizade, suporte social,
apresentado maior percepção desse tipo gênero.
de suporte (p<0,05). Já quando considera-
do o sexo das amizades, apenas o número
de melhores amigos homens apresentou LT01-848 - POSSIBILIDADES
relação significativa com o suporte social, DE ENFRENTAMENTO DE
do tipo prático (p<0,05), enquanto que COMPORTAMENTOS AUTOAGRESSIVOS
o número de melhores amigas mulheres PARA PAIS E CUIDADORES DE CRIANÇAS
não demonstrou relações com nenhum AUTISTAS.
dos índices de suporte social. Analisando Larissa Andrade Viriato - UFRB
esses resultados em conjunto com teorias Lary_andrade15@hotmail.com
e estudos anteriores sobre diferenças de Silvana Batista Gaino - UFRB
gênero nas amizades, discute-se que a Silgaino@hotmail.com
percepção de suporte social se daria da
seguinte forma entre os dois sexos: 1) O autismo é um transtorno invasivo do
primeiro, mulheres perceberiam-se como desenvolvimento, caracterizado pelo com-
mais providas de suporte emocional, in- prometimento severo em três áreas: habi-
dependentemente do sexo dos seus ami- lidades de interação social recíproca, habi-
gos, pois elas próprias já cultivam em suas lidades de comunicação, presença de com-
amizades um maior nível de intimidade e portamentos, interesses e atividades este-
apoio emocional, enquanto que homens reotipadas. Além dos sintomas caracterís-
não se diferenciariam em questões de ticos, o transtorno pode vir acompanhado
percepção de suporte emocional, inde- de comportamentos autoagressivos, que
pendentemente do sexo dos seus ami- podem ser entendidos como uma situação
gos, por conta da característica própria extrema de insatisfação e um estado maior

417
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de irritação, em que a criança não mais con- artigos incluídos em base de dados (Scielo,
segue suportar o excesso de sensações, ou Pepsic, Lume) a partir das palavras-chave
quando algo lhe incomoda muito, e a mes- relacionadas ao tema; de uma cartilha e de
ma manifesta comportamentos de ferir-se, 4 livros sobre autismo que mencionavam
morder-se, bater com a cabeça nos objetos sobre comportamentos autoagressivos.
próximos, arrancar os cabelos, entre ou- Foi feita uma leitura completa e seletiva
tros. O presente estudo busca então, inves- de todos os materiais encontrados e um
tigar a literatura científica da área, através agrupamento entre as seguintes catego-
da pesquisa bibliográfica, com o objetivo rias: Autismo; Comportamento autoagres-
de identificar quais as estratégias utilizadas sivo apresentados por indivíduos autistas;
pela Abordagem da Análise do Comporta- Formas de tratamento do comportamento
mento na ocorrência dos comportamentos autoagressivo mais difundidas; Formas de
autoagressivos, visando amenizar os riscos manejo apresentadas pela Análise com-
para a criança e buscando também verificar portamental. Em seguida, os dados foram
quais as variáveis que podem estar influen- fichados de modo a ser identificado as
ciando a ocorrência desses fenômenos. No principais idéias. Por fim, os dados foram
entanto, constata-se que há uma carência revisados e interpretados e foi elaborada a
de estudos sobre os comportamentos de síntese dos resultados. Os resultados apon-
autoagressão que podem ser manifesta- tam para várias tentativas terapêuticas
dos em crianças autistas. E, além disso, que foram ou continuam sendo propostas
entende-se que esses comportamentos no contexto dessa problemática como, por
constituem um estressor para a própria exemplo: 1- neurolépticos em altas doses;
criança, pois podem conduzir o indivíduo a 2- Reforço negativo; 3- Baclofeno; 4- Fen-
um processo de exclusão social, e também fluramina; 5- Antagonistas opióides, além
fazê-lo perder a oportunidade de apren- outros medicamentos, como a combinação
der novas habilidades, além de ameaçar vitamina B6-magnésio, carbamazepina,
a sua saúde e segurança. Para sua família ácido valpróico e lítio. Do ponto de vista
porque esses comportamentos exigem analítico-comportamental, o autismo é
cuidados integrais e desgastam a organi- uma síndrome de déficits e excessos que
zação interna desse grupo. E também para [pode ter] uma base neurológica, mas que
a comunidade, visto que a presença dos está, todavia, sujeita a mudança, a partir de
comportamentos autolesivos necessita da interações construtivas, cuidadosamente
utilização de mais recursos por parte das organizadas com o ambiente físico e social.
instituições, intervenções mais intensas e A Análise Aplicada do Comportamento tem
de maior custo. Nesse sentido, entende-se desenvolvido cada vez mais programas de
que estudar sobre este tema é de grande tratamento buscando analisar os aspectos
relevância. No âmbito metodológico, a re- do ambiente que poderiam estar manten-
visão bibliográfica foi elaborada a partir do o comportamento, enfatizando o ensino
de uma análise descritiva e qualitativa de de novas habilidades aos indivíduos diag-
pesquisas já existentes na área a fim de nosticados com autismo, opondo-se desta
estimular uma maior compreensão do pro- forma, ao tratamento medicamentoso tra-
blema pesquisado. A pesquisa foi operacio- dicional e à exclusão social dessas pessoas.
nalizada por meio de busca eletrônica de 6 Os comportamentos autolesivos apresen-

418
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tados pelos indivíduos autistas podem es- autoagressão não tem a ver com nenhum
tar sendo mantidos por diferentes conse- problema fisiológico, e se é apresentado
quências, como por exemplo, necessidade de uma forma repetitiva e compulsiva,
de auxílio ou atenção dos outros, escapar pode representar uma forma de chamar a
de tarefas que são aversivas para o indi- atenção do cuidador, ou indicar que algo
víduo, obter objetos desejados, protestar não ocorreu como esperava, ou ainda
contra eventos não desejados, para comu- ser uma forma de estimulação sensorial.
nicar involuntariamente a ocorrência de Nesse caso, a Abordagem da análise do
alguma dor ou problema fisiológico que comportamento pode ser uma alternativa
causam sofrimento, e obter estimulação. eficaz, para reduzir a ocorrência dessas
O conhecimento das funções desses com- automutilações. Se não for possível
portamentos permite a compreensão de identificar uma causa ambiental para a
que os mesmos não são atos deliberados autoagressividade, primeiramente deve-
de agressão, mas que têm um valor co- -se recorrer a exames clínicos para averi-
municativo importante. De acordo com guar a existência de alguma dor, problema
a abordagem analítico-comportamental, fisiológico, ou para detectar algum pro-
para diminuir a ocorrência desses com- blema neurológico, como epilepsia, por
portamentos deve-se fazer uma análise exemplo. Nesse tipo de situação os medi-
funcional individualizada, avaliando as va- camentos podem ser uma alternativa a se
riáveis as quais o comportamento autoa- recorrer juntamente com a terapia com-
gressivo é função, para assim, ser possível portamental.
uma manipulação dessas variáveis ensi-
nando a criança meios alternativos de co- Palavras-chave: Autismo, comportamentos
municação e visando a aquisição de novos autoagressivos, Análise do Comportamento.
comportamentos adequados que atuem Contato: Larissa Andrade Viriato. Universidade
exercendo uma função semelhante ao an- Federal do Recôncavo da Bahia
terior que era inadequado. Cabe ressaltar lary_andrade15@hotmail.com
que esta análise deve ser realizada prio-
rizando as diferenças individuais e o con-
texto que influenciam o repertório com- LT01-885 – DESENVOLVENDO AS
portamental de cada criança e que não HABILIDADES SOCIAIS, O CORPO E O
esteja restrita à aplicação de procedimen- PSIQUISMO.
tos baseada exclusivamente em formas Jeane de Souza Pontes Viana - FAP/RJ
generalistas de diagnóstico. É importante jeanepontes@ig.com.br
também que a modificação dos comporta-
mentos ocorra de forma gradativa, tendo O pôster apresentado é referente a um
como objetivo principal a diminuição da trabalho de mediação, desenvolvido com
ansiedade e do sofrimento. Com base nos uma criança de cinco anos e meio diag-
resultados encontrados, entende-se que o nosticada como autista. Teve início em
manejo do comportamento autoagressivo dezembro de 2009, com base no Son-
em crianças autistas é bastante complexo. -Rise, que tem como base a atitude de
Porém, no que diz respeito ao tratamen- amor e apreciação, motivando a criança a
to, é possível compreender que quando a partir da motivação que ela já tem e exi-

419
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gindo que o adulto seja mais responsivo LT01-886 – AS EXPECTATIVAS DA


em relação a sua criança. Autores como GESTANTE COM RELAÇÃO ÀS
Fonseca, acreditam que as crianças me- MUDANÇAS NO CORPO
diatizadas desenvolvem mais capacidades Danusa Thais de Almeida - Inedi
de generalização e de transferência de Evanisa Helena de Maio Brum - Inedi
estratégias para tarefas de aprendizagem
novas e inéditas. O contexto do trabalho Dentre as muitas experiências que for-
é basicamente “o quarto de brincar”, local mam a vida de uma mulher, podemos
fechado, com um espelho, onde aconte- destacar a gestação como uma importan-
cem as atividades mediadas pela autora, te vivência. Durante a gravidez, a mulher
que envolvem brincadeiras, e na casa da passa por transformações físicas e psico-
criança. Junto a esse programa foi reali- lógicas intensas. “As primeiras modifica-
zado um trabalho pedagógico onde nos ções do corpo podem ser vividas, pela
apropriamos da observação, da pesquisa mulher, como uma experiência deses-
e da estimulação, para que ele não só de- tabilizadora e angustiante que anuncia
senvolvesse as habilidades sociais exigi- modificações mais significativas, que po-
das como também as demais dimensões derão ameaçar a sua autoimagem” (Szei-
referentes a corpo e psiquismo. Alguns jer & Stewart, 2002, p.121). Desta forma,
episódios eram fotografados e filmados torna-se importante estudar aspectos re-
pela autora. Com a quantidade de mate- lacionados a este período sensível, como
rial, escrito e fotográfico que conseguimos a vivência materna diante das mudanças
reunir, decidimos produzir um portfólio corporais. Objetivo do Estudo: O objetivo
visual, por meio de um slide, para que pu- desse estudo foi investigar a expectativa
déssemos organizar uma pesquisa e para da gestante com relação às suas trans-
que a família acompanhasse mais de per- formações corporais durante a gestação.
to todo o processo do nosso trabalho, que Também, procurou-se investigar como
foi realizado em casa e na escola, compre- a gestante recebia os comentários do
endendo melhor o resultado. O pôster em companheiro e de familiares sobre essas
questão apresenta o trabalho realizado ao transformações. Método: O método de
longo de dois anos através dos quais pode- estudo empregado neste trabalho foi um
mos enfatizar as principais conquistas que estudo de caso único (Stake, 1994) com
a criança: hoje está cursando o jardim III; análise de dados qualitativos (Bardin,
por meio da mediação podemos apreciar 1977). Participou do estudo uma gestan-
de forma extraordinária como está acon- te de 22 anos no último trimestre de ges-
tecendo o processo de letramento em sua tação. A entrevista foi semiestruturada e
vida, pois ele já faz a leitura de “gestos” e as respostas foram registradas em áudio.
de expressões (feliz, zangado, assustado), Resultados e Discussão: Evidenciou-se na
brinca de contar histórias, tem prazer em entrevista que a gestante relatava mais
“ler” e em escrever. Além disso, escreve pontos negativos do que positivos sobre
lindas e carinhosas cartas e cartões. suas transformações físicas. Sobre pon-
tos positivos das mudanças no seu corpo
Palavras-chave: mediatização, apreciação e a gestante destacou que não havia pon-
desenvolvimento. tos positivos, pois se sentia “horrível”.

420
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Sobre os pontos negativos, ela destacou te em relação ao seu próprio corpo e seus
que ficou com manchas, alergias, en- conflitos com a mãe para a não aceitação
joos e azia. Essa autoavaliação negativa das mudanças corporais experimentadas
foi tão marcante e forte para a gestante pela gestante. Considerações Finais: A
que uma de suas atitudes foi a retirada partir da entrevista, das leituras realiza-
do espelho (de corpo inteiro) que tinha das e da análise comparativa entre am-
em seu quarto. Para enfrentar as mudan- bos foi possível verificar que as expectati-
ças corporais da gestação ela evitava si- vas da gestante em relação às mudanças
tuações nas quais teria de se confrontar de seu próprio corpo estavam relacio-
com a própria imagem. Por exemplo, no nadas com sua própria imagem e com o
momento em que relatou que ao tirar relacionamento com os seus familiares,
fotos para ter de lembrança da sua ges- especialmente com sua mãe. Destaca-se
tação, não conseguia olhar o resultado. o fato de que apenas um aspecto posi-
“De modo geral, a mulher reagirá de uma tivo foi relatado pela gestante durante a
maneira ou de outra a essas mudanças. entrevista e estava relacionado a fala do
Poderá exaltar o seu corpo com grande marido. Por fim, salienta-se a necessi-
satisfação por tomar formas diferentes, dade de intervenções em saúde mental
mais femininas. Ou odiá-lo pela apa- para esta gestante, que objetivariam a al-
rência física que a desagrada” (Szeijer teração da sua percepção corporal, bem
& Stewart, 2002, p.121). Como um pon- como para promover uma relação mãe-
to positivo, a participante destacou que -bebê favorável.
seu companheiro achava-a bonita. Deve-
-se destacar, que a forma como ela fazia
referência a essa opinião era de modo LT01-893 – A CRIATIVIDADE E O
simples e direto, sem muitos detalhes. O PROFESSOR: UM PROCESSO DE
que poderia evidenciar que essa visão do DESENVOLVIMENTO HUMANO.
companheiro não era muito considerada
Alessandra do N. Pereira Tinoco - UF/RJ
por ela. Em relação a sua própria mãe a
alenptinoco@bol.com.br
gestante relatou que se sentia ressentida,
pois contou que certa vez ela a chamou Financiamento: PIBIC/UFRJ
de feia, também relatou sobre a gravidez
da cunhada, que segundo a gestante, re- A criatividade é algo inerente ao homem
cebeu muito mais atenção e cuidados por e de certa forma, está correlacionada com
parte de sua mãe. “Ela se sentava no sofá o processo de desenvolvimento humano.
e a mãe vinha e alisava a barriga dela, Para desenvolver o potencial criador da
conversava com o nenê. Já comigo a mãe criança, no entanto, se faz necessário que
não faz isso. E eu não esperava isso da esta receba estímulos durante a infância
mãe”. Podemos pensar que a gestante dentro do seu meio social. Os estímulos
tenha internalizado estes aspectos nega- em conjunto aos traços característicos da
tivos contidos na fala da mãe, passando a sua personalidade e da sua capacidade
sentir-se feia. Diante destes dados pode- de correr riscos poderão dar melhores
mos levantar a hipótese de uma relação condições para o seu desenvolvimento
entre as percepções negativas da gestan- evitando desperdício de potencial huma-

421
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no. Vale ressaltar que esses fatores são do aluno. Então, como podemos pensar a
imprescindíveis ao processo criador, sen- docência de modo a estimular o processo
do possível observar que a criança atra- criador? O professor propõe atividades
vés deles, se relaciona com o ato de criar que favoreçam o processo criador da
sem barreiras ao seu desenvolvimento e criança no cotidiano da sala de aula? O
este pode ser espontâneo dentro de um desenvolvimento do processo criador na
ambiente favorável. O desenvolvimento criança é um objetivo observável na esco-
da criatividade encontra-se intrinseca- la pesquisada? Qual a metodologia mais
mente relacionado à apropriação da cul- apropriada para que o aluno desenvolva
tura. Essa apropriação indica uma partici- características de sua personalidade que
pação ativa da criança no seu meio social, o tornem um aluno criativo, autônomo e
tornando próprios dela mesma os modos com a capacidade de formular soluções
sociais de perceber, sentir, falar, pensar diversas para a complexidade que a vida
e se relacionar com os outros. Assim, ela contemporânea nos exige? Estas são as
se manifesta de diversas formas e não questões que pretendemos discutir nesta
se limita apenas às artes, mas em outros pesquisa. Para reconhecermos a impor-
campos de atuação (Smolka, 2009). Pri- tância que a criatividade exerce sobre o
meiramente, a revisão de literatura nos desenvolvimento cognitivo e emocional
informa que a espontaneidade e a criati- infantil, destacamos o que Alencar (1996)
vidade são inatas ao ser humano e essen- descreve sobre o valor da criatividade,
cial para o desenvolvimento. No Brasil, pois para a autora esta é uma habilidade
observamos que muitos desconhecem necessária e que deve ser incentivada no
que o potencial presente no ser humano ambiente escolar, promovendo o bem es-
é imenso, que tem sido utilizado de for- tar emocional mediante as experiências
ma muito limitada, permanecendo mui- de aprendizagem criativas e que contri-
tas capacidades inibidas e bloqueadas bui para uma melhor qualidade de vida
por falta de estímulo, de encorajamento dos alunos. Também ajuda na formação
e de um ambiente favorável ao seu de- profissional do indivíduo, já que a criati-
senvolvimento (Alencar, 2009). Muitos vidade é uma peça fundamental para o
professores, em enfoque os da rede pú- indivíduo lidar com as adversidades do
blica de ensino, ignoram que suas atitu- mundo contemporâneo (Sartori & Fialho,
des, suas expectativas em relação aos 2009). Mediante essa interação do indiví-
alunos, assim como a metodologia utili- duo com o meio no que tange o ambien-
zada no ensino podem favorecer a apren- te escolar, a criatividade está relacionada
dizagem ou, pelo contrário, podem criar com a produção de conhecimento, con-
barreiras para este desenvolvimento, sequentemente a escola é responsável
concorrendo ainda para tornar a aprendi- por garantir meios que possam favorecer
zagem um processo aversivo e doloroso. condições para que o aluno possa criar.
Nesse aspecto, podemos dizer que o pro- Se a criança estiver inserida em um am-
cesso criador da criança sofre uma influ- biente acolhedor e que facilite e estimu-
ência significativa da escola durante a sua le o seu aprendizado, esta terá grandes
construção e a metodologia do professor chances de se tornar um sujeito criativo.
pode contribuir para a produção criativa Buscando conhecer o contexto da sala de

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aula em relação ao problema em pauta, e não na compreensão do conhecimento.


foi feita uma pesquisa qualitativa que Contudo, devemos nos preocupar com as
apresenta um estudo de caso realizado atitudes coerentes que o professor deve
em uma escola municipal da cidade do ter para a obtenção do sucesso escolar
Rio de Janeiro. Participaram do estudo de seus alunos, pois ele deverá colabo-
alunos de uma turma de 3º ano do pri- rar com uma aprendizagem facilitadora
meiro segmento do ensino fundamental onde o aluno possa aprender com satis-
e uma professora. Foram sujeitos da pes- fação e não apenas para o cumprimento
quisa 28 alunos, com idades predomi- das exigências da família, da escola e da
nantes entre 8 e 11 anos, sendo 16 me- sociedade e sendo um mediador das re-
ninas e 12 meninos e 1 professora com lações para que o aluno se torne capaz de
idade de 50 anos. Utilizou-se a técnica se apropriar do conhecimento através do
de observação sistemática com relató- prazer e pela busca da criatividade.
rio descritivo num período de três me-
ses com 9h semanais num total de 90h. Palavras-chave: Criatividade, Educação e
Buscou-se identificar nas atividades pro- Aprendizagem.
postas pelo professor a possível relação Contato: Alessandra do Nascimento Pereira
com o desenvolvimento da autonomia/ Tinoco - alenptinoco@bol.com.br
tomada de decisão por parte dos alunos,
assim como propostas de atividades de
autoexpressão. No que diz respeito à ca- LT01-926 – INFÂNCIA, BRINQUEDO E
racterística da professora, seu método de HOSPITALIZAÇÃO: EXPERIÊNCIAS EM
ensino consiste no que Paulo Freire men- UMA BRINQUEDOTECA
ciona como pedagogia bancária, onde Aline Oliveira Furlam Nogueira - UFMT
o professor é o detentor do saber e sua Julia Hueb Perez - UFMT
função é transmitir o seu conhecimento Juliana Rizzini De Sá - UFMT
aos alunos. No tempo observado a pro- Paola Biasoli Alves - UFMT
fessora trabalhou com uma metodologia Shaienie Monise Lima - UFMT
tradicional, não trazendo para sala de
aula atividades que pudessem desenvol- A infância é um dos períodos do desen-
ver o processo criador, assim como ati- volvimento humano sobre o qual diver-
vidades que estimulassem a autonomia. sas ciências humanas e da saúde realizam
Sua prática de ensino pareceu atender a inúmeros estudos e, de maneira geral, é
teoria comportamental (Behaviorismo). caracteriza como processo de grandes
Todavia, nos dias atuais sabemos que o construções cognitivas, sociais, afetivas e
professor não é o único detentor do sa- maturacionais. Para a Psicologia, em suas
ber e raras são as situações criadas nas mais diversas teorias, a infância enfatiza
escolas públicas que estimulam o aluno a a necessidade de espaços de interação
pensar, criticar e ter tomada de decisão. entre ambiente e indivíduo responsáveis
A criança ainda não é vista por seus pro- e recíprocos, apresentando indicações
fessores como construtores do conheci- de configurações protetivas ou de risco
mento e estes focam suas metodologias ao longo desse processo. Nesse sentido,
de ensino na memorização do conteúdo a existência de períodos de internação

423
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

hospitalar na vida da criança cobram o no que diz respeito às suas relações com
estudo de seu desenvolvimento nesse as crianças. A elaboração e efetivação da
contexto, a compreensão das vivências sessão com sucatas, embasada em con-
estressoras e protetivas para a criança, ceitos da Psicologia Sócio-Histórica, em
sua família e equipe de cuidados hospi- especial a mediação e os processos de
talares dentro do ambiente do hospital. significação, buscou aproximar a reali-
Esse trabalho apresenta os processos en- dade externa à interna do hospital, além
volvidos em uma sessão de brinquedos de trazer alternativas para a confecção e
e brincadeiras com sucatas realizada na uso de brinquedos. Ao se considerar as
brinquedoteca do Hospital Universitário dimensões nomeadas por Urie Bronfen-
Júlio Müller (HUJM) em Cuiabá/MT. O brenner (1996/1979) no que diz respeito
HUJM tem sua brinquedoteca organizada à sustentação de processos de interação
e mantida pela Faculdade de Enferma- humana com ênfase na saúde, é possível
gem da Universidade Federal de Mato identificar três pilares: afeto, reciprocida-
Grosso, que realiza diversos projetos em de e equilíbrio de poder entre os partici-
seu interior, entre eles o “Cuidar Brin- pantes das ações sociais. Também, foram
cando”, que traz para as crianças hospi- considerados diversos autores que abor-
talizadas e suas famílias a oportunidade dam a temática do brinquedo e do brin-
de utilizar o espaço lúdico, brinquedos car na promoção do desenvolvimento
e computadores para auxiliar na elabo- infantil (Brougerè, 1995 e outros que vou
ração do processo de hospitalização, na citar)Dessa forma, ao se pensar a inter-
adesão aos tratamentos e nas dinâmicas venção com sucata, foram considerados
das terapêuticas necessárias durante a esses pilares, na busca da sustentação e
internação. Em parceria com esse proje- manutenção de aspectos mediacionais
to, o Curso de Psicologia da UFMT/Cuiabá efetivos e construções de redes de signi-
conduz o projeto “Infância, brinquedo e ficação promotoras de saúde. Para tanto,
hospitalização”, através do qual a inter- as estudantes de Psicologia utilizaram os
venção com sucatas foi realizada, sendo dados informais coletados ao longo de
essa também ligada à prática da discipli- cinco meses de presença na brinquedo-
na Estágio Básico em Contextos Educacio- teca, de uma a duas vezes por semana,
nais e Sociais. A presença dos estudantes o que favoreceu a construção de conhe-
de Psicologia nas atividades da brinque- cimentos e vínculos nesse espaço. Esses
doteca tem três objetivos específicos: dados foram obtidos em conversas com
pesquisar junto às crianças suas expec- as crianças, seus cuidadores imediatos
tativas e demandas quanto ao espaço da e equipe técnica, além de coletados nas
brinquedoteca e o uso dos computado- próprias atividades lúdicas, realizadas
res, identificar e intervir em característi- enquanto brinquedo livre nos encontros
cas do desenvolvimento infantil que pos- comas crianças. O aspecto cognitivo tam-
sam ser implementadas ou melhoradas bém foi valorizado, trazendo essa ativi-
enquanto as crianças estão internadas e dade características de desenvolvimento
fazem uso da brinquedoteca e, por fim, psicomotor, raciocínio lógico e processos
identificar e trabalhar demandas especí- de imaginação, memória e linguagem
ficas das famílias e técnicos cuidadores (Stenberg, 2000). O material utilizado foi:

424
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rolo de papel higiênico, tampinha de gar- obesidade aumentou entre os brasilei-


rafa pet, revista, guache, cola, papelão e ros. A anorexia nervosa na população
canetinha. Os procedimentos incluíram brasileira adolescente e juvenil, está en-
uma explanação inicial para as crianças tre 0,5% e 1% e da bulimia entre 1% e
sobre o que são sucatas e como podem 3%. Esses números vêm aumentando a
ser obtidas e aproveitas para manufatu- cada ano, atingindo idades mais tenras, e
rar brinquedos (aspecto formal do co- preocupando tanto pesquisadores como
nhecimento), e em seguida, a disponibi- autoridades em Saúde. O presente traba-
lização do material para que as crianças lho é um projeto de pesquisa que está em
produzissem seus brinquedos (aspectos andamento na Universidade Católica de
lúdicos e sociais da aprendizagem). Brasília – UCB desde outubro/2010. De-
senvolvido com recursos da CAPES/CNPq,
tem como objetivo construir uma meto-
LT01-944 – CONSTRUÇÃO DE dologia de atendimento psicossocial a
METODOLOGIA DE ATENDIMENTO crianças e adolescentes com transtornos
PSICOSSOCIAL A CRIANÇAS E alimentares e obesidade e suas famílias,
ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS a partir do conhecimento dos aspectos
ALIMENTARES E OBESIDADE E SUAS intrapsíquicos, familiares e sociais das
FAMÍLIAS mesmas. Objetiva também formular as
Heron Flores Nogueira - UCB bases para a criação de um Núcleo de
Maria Alexina Ribeiro - UCB Pesquisa e Atendimento aos portado-
Cícero Nunes Menezes - UCB res de Transtornos Alimentares na Uni-
Flora Teixeira Mota de Paula - UCB versidade Católica de Brasília – UCB, a
Luiza Leal Martinez - UCB partir da implantação de um programa
interdisciplinar de atenção às crianças e
Os Transtornos Alimentares são doen- adolescentes com transtornos alimen-
ças psiquiátricas caracterizadas por per- tares e suas famílias com a participação
turbações no comportamento alimen- de representantes dos cursos da área de
tar. Os atuais sistemas classificatórios saúde (Medicina, Enfermagem, Nutrição)
de transtornos mentais descrevem três e Serviço Social. A nova metodologia que
categorias diagnósticas principais nos será construída representará um avanço
transtornos alimentares: Anorexia Ner- em termos científicos e técnicos, uma vez
vosa, Bulimia Nervosa e Transtornos Ali- que os transtornos alimentares e a obe-
mentares Sem Outra Especificação. Para sidade em crianças e adolescentes têm
a Organização Mundial de Saúde a obesi- sido muito discutidos, mas propostas efi-
dade é uma doença endócrina, nutricio- cazes ainda não são conhecidas. A equipe
nal e metabólica, não fazendo parte dos de pesquisa é formada por quatro pro-
transtornos mentais e comportamentais. fessores doutores da UCB e Universida-
No entanto, alguns autores a incluem di- de de Brasília, uma médica da Secretaria
daticamente nesta categoria pelos aspec- de Saúde do DF, três alunos de mestrado
tos de funcionamento semelhantes aos que estão desenvolvendo suas disser-
demais transtornos. Pesquisa realizada tações sobre o tema da pesquisa e oito
pelo Ministério da Saúde mostra que a estudantes de Iniciação Científica, alunos

425
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do curso de Psicologia da UCB. A idéia do de saúde ou escolas. Além disso, foi fei-
projeto surgiu da experiência de profes- ta uma articulação com os PRAIAs - DF
sores e alunos do curso de Psicologia da - Programas de Atenção Integral à Saúde
referida universidade que, nos últimos do Adolescente para identificar casos de
dez anos, tem recebido no seu Centro de transtornos alimentares, via Coordena-
Formação em Psicologia Aplicada, um nú- ção de Saúde do Adolescente da Secre-
mero significativo de encaminhamentos taria de Saúde do DF. O DF tem hoje 15
de crianças e adolescentes com transtor- PRAIAs em 15 regionais de saúde, aten-
nos alimentares, seja de órgãos e profis- dendo adolescentes na perspectiva Biop-
sionais de saúde, escolas ou mesmo pais sicossocial. O referido Programa está en-
que buscam o nosso centro à procura de caminhando os adolescentes e suas famí-
ajuda. Essa imensa demanda deve-se, em lia à UCB para participarem da pesquisa,
parte, à falta de um programa regular e após assinatura de um Termo de consen-
eficaz de atendimento a essa clientela no timento Livre e Esclarecido. As atividades
âmbito do Distrito Federal. A falta de um de pesquisa uis estão sendo realizadas
referencial teórico e prático que oriente no Centro de Formação em Psicologia
o trabalho dos professores, pesquisado- Aplicada da UCB, divididas entre ativida-
res e supervisores de estágio da UCB nos des de pesquisa-ação com as crianças e
motivou a realizar, nos últimos três anos, adolescentes e com as famílias, diagnós-
pesquisas de Mestrado sobre o referido tico com o Método do Rorchach com os
tema, objetivando uma melhor compre- adolescentes, encontros lúdicos em gru-
ensão dos transtornos alimentares e obe- po com as crianças e adolescentes, en-
sidade, buscando ampliar o olhar sobre trevistas e Grupos Multifamiliares com os
o indivíduo que apresenta o transtorno genitores. Os dados parciais da pesquisa
para o seu contexto familiar e social. Por estão em consonância com os trabalhos
outro lado, a gravidade dos transtornos e constantes do levantamento bibliográfico
a falta, ainda, de literatura que embase sobre o tema, ou seja: fatores individu-
o trabalho com essa clientela, exige que ais, familiares e sociais estão na base do
estudos mais aprofundados sejam rea- surgimento e da manutenção dos trans-
lizados. Entendemos que os resultados tornos alimentares e da obesidade em
obtidos com essa pesquisa podem ajudar crianças e adolescentes e precisam ser
a aprimorar os serviços de atendimento levados em consideração quando se pen-
de saúde à comunidade, tanto os do âm- sa em metodologia de atendimento efi-
bito público, como os de âmbito acadê- caz para esses problemas de saúde.
mico dos hospitais e clínicas - escolas das
universidades. O estudo está envolvendo Palavras-chave: transtornos alimentares,
30 famílias de crianças e adolescentes obesidade, dinâmica familiar.
com diagnóstico de transtorno alimen- Contato: Heron Flores Nogueira
tar (anorexia nervosa, bulimia nervosa) heronfn@uol.com.br
e obesidade que procuraram a universi-
dade para atendimento psicológico ou
foram encaminhados por instituições e
profissionais de saúde, hospitais, postos

426
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-983 – CONSTRUÇÃO DE UM frente aos desafios e às questões que sur-


INSTRUMENTO DE ENFRENTAMENTO gem; porém, as que não conseguem lidar
DE CONDIÇÕES ADVERSAS DURANTE A com essas questões e desafios que apare-
INSERÇÃO PRÉ-ESCOLAR INFANTIL. cem no aprendizado, por mais que façam
Elaine Fiorentini da Silva - UNIVIX/ES grande esforço, acabam por falhar (Shapi-
elainefiorentini@hotmail.com ro & Bradley, 1999). Para essas crianças,
Schimeni Andréa Vello Sartório - UNIVIX/ES faltam estratégias de enfrentamento mais
schimeni@gmail.com eficazes de modo a produzir reforçadores
Erika da Silva Ferrão - UNIVIX/ES - UnB/DF suficientes para um bom desempenho
edsferrao@folha.com.br escolar, aumentando, consequentemen-
Bárbara da Silva Ferrão - UNIVIX/ES te, as probabilidades de os mesmos te-
babysfr@yahoo.com.br rem seu desempenho acadêmico afetado
Financiamento: Faculdade Brasileira UNIVIX desde a idade precoce (Brown, 2004).
Para agravar a situação, as crianças com
No contexto pediátrico escolar, a inserção diferentes queixas psicológicas, sejam
da vida acadêmica-escolar faz com que sócio-emocionais, comportamentais ou
a criança se depare com uma realidade cognitivos, inseridas no ensino regular
diferente do seu contexto familiar primá- desde a pré-escola, encontram-se em si-
rio, ou seja, em um ambiente que pode tuação de maior risco psicossocial. Essas
apresentar-se como desafiador e hostil, podem receber tratamento diferenciado
com diferentes regras e limites, pessoas em relação aos demais colegas de classe
e situações não familiares. Tais fatores e serem vítimas de preconceito e discri-
podem ter efeitos importantes sobre o minação. Esses alunos, muitas vezes, es-
desenvolvimento infantil, levando a crian- tão incluídos no âmbito físico, mas não no
ça, inclusive, a ter reações de ansiedade e social e emocional. Pela inexistência de
stress (Lipp e colaboradores, 2002; Souza, um instrumento que avalie as estratégias
2004). Considerando que as experiências de enfrentamento da inserção escolar de
precoces vivenciadas por seres humanos crianças pré-escolares no Brasil, a presen-
influenciam seus comportamentos futu- te pesquisa objetivou construir e aplicar
ros, a maneira pela qual a criança lida com um instrumento para avaliar o enfrenta-
seu estresse pode determinar sua resis- mento da adaptação escolar em crianças
tência às tensões psicossociais até a fase pré-escolares. Participaram desta pesqui-
adulta. O sofrimento vivido pela criança, sa 9 crianças indicadas pelos professores
somado a fatores familiares significantes, como tendo alguma queixa escolar, de
como a ausência de regras e limites ou ambos os sexos (3 meninas) e idade entre
superproteção dos pais, podem desenca- 3 a 6 anos (média de 4 anos), que frequen-
dear a longo prazo, a fobia escolar, vista tavam um Centro de Educação Infantil
como uma variante de alguns dos trans- (CMEI) localizado no município de Vitória,
tornos comuns na infância, como o Trans- ES. O critério de seleção da amostra foi o
torno de Ansiedade de Separação. No ge- encaminhamento pela escola de crianças
ral, as crianças que conseguem responder observadas rotineiramente apresentando
de forma positiva às condições adversas alguma das seguintes queixas escolares
na quais se encontram, adquirem sucesso no ambiente escolar, desde sua inserção:

427
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

emocionais, comportamentais e/ou cogni- ficasse muito extensa e cansativa, quanto


tivas. Nas queixas comportamentais foram à atenção focada da criança e na energia
identificadas: desorganização nas tarefas, despendida nesta faixa etária. Para o de-
comportamento obsessivo, agressividade, senho das pranchas, foram feitas obser-
não cumprimento das regras, falta de limi- vações prévias do cotidiano da criança na
te, pirraça e deboche de adultos. Na amos- escola a fim de detectar situações aversi-
tra havia crianças chorosas por diferentes vas, indicativas de estratégias de enfren-
motivos, tais como ser órfã de mãe, com tamento adequadas e não-adequadas, es-
pais em processo de separação, e com fre- pecíficas ao ambiente escolar. Assim, or-
quente demanda de carinho, considera- ganizou-se um conjunto de 7 Pranchas de
das pela escola como queixas emocionais. Situações-Problemas. Da mesma forma,
Em relação às queixas cognitivas foram foi organizado um conjunto de situações
identificadas: falta ou pouca atenção e representativas das diferentes maneiras
concentração, e déficit de aprendizagem. como as crianças respondem às situações
O instrumento IAE – Instrumento de Ava- aversivas, que foram elaboradas sob duas
liação das Estratégias de Enfrentamento categorias: a) aquelas que se referem a
Escolar, elaborado na presente pesquisa, estratégias consideradas facilitadoras, tais
foi aplicado em cada uma das crianças como Pegar outro brinquedo, Obedecer a
em local reservado, dentro do próprio regra, e Permanecer na fila; e b) aquelas
CMEI. Na primeira etapa da pesquisa, es- que se referem a estratégias consideradas
tratégias de enfrentamento facilitadoras não-facilitadoras, incluindo Fazer birra,
e não-facilitadoras de outros trabalhos Chorar e Desistir e brincar, por exemplo.
(Del Prette & Del Prette, 2006; Motta & Na segunda etapa da pesquisa, o instru-
Enumo, 2002; 2004; Skinner, 2007; Skin- mento construído foi aplicado nas 9 crian-
ner, Edge, Altman & Sherwood, 2003) em ças (média 4 anos), que tiveram suas es-
contextos diferentes foram adaptadas ao tratégias analisadas na terceira etapa da
contexto pré-escolar, que compuseram pesquisa. Considerando os dados obtidos
os itens do instrumento construído Ins- na aplicação do instrumento, observou-
trumento de Avaliação das Estratégias -se que as estratégias de enfrentamento
de Enfrentamento Escolar (IAE). Quanto utilizadas pelas crianças com diferentes
à quantidade de pranchas, foram criadas queixas escolares, foram facilitadoras em
7 pranchas com situações-problemas e 7 41% das respostas na categoria Reestru-
pranchas com situações-respostas, sendo turação cognitiva, e 24% das respostas
esta última composta por 1 resposta faci- não-facilitadoras na categoria Oposição.
litadora e 2 não-facilitadoras cada. O IAE, Assim, tais dados indicam que crianças
portanto, foi composto por 21 situações- identificadas pela escola como tendo al-
-problema acompanhado de 3 respostas guma queixa escolar são capazes de res-
possíveis cada uma, que se propõem a ponder de forma adequada às situações
avaliar as habilidades sociais na infância. estressantes vivenciadas no contexto es-
Por serem crianças em idade pré-escolar, colar, e a pensar sobre a importância e a
delimitou-se o número de 14 pranchas, necessidade de se intervir no processo de
devido ao tempo de aplicação (média de aprendizagem escolar de forma media-
11 minutos) com o cuidado para que não dora, já que a escola pode apresentar-se

428
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como desafiadora e hostil. Sendo assim, o 1994) com análise de dados qualitativos
presente instrumento pareceu identificar (Bardin, 1977). Participante: Participou
e a avaliar qualitativamente as estratégias do estudo uma gestante multípara no
de enfrentamento de crianças em idade terceiro trimestre de gestação, com 28
pré-escolar, contribuindo para o diagnós- anos de idade que residia com seu com-
tico e intervenção psicológicos nesse con- panheiro. Procedimentos: A coleta de
texto. Entretanto, tal instrumento se en- dados ocorreu em setembro de 2010,
contra em fase de aprimoramento, sujeito na casa da participante, onde foi aplica-
a alterações e análises estatísticas consis- da uma entrevista semiestruturada. Re-
tentes, a fim de ser validado como um ins- sultados: Os resultados revelaram que a
trumento capaz de avaliar as estratégias mãe através da interação, ou seja, com a
de enfrentamento (coping) de crianças conversa e o toque procurava formar um
em pré-escolas. laço afetivo com o bebê ainda no período
pré-natal, através dos movimentos fetais
Palavras-chave: Construção de instrumentos; a mãe acreditava que seu filho estava cor-
Avaliação de Coping; Psicologia Pediátrica. respondendo a suas comunicações com
Contato: Bárbara da Silva Ferrão- Faculdade ela, o incrementou suas expectativas em
Brasileira UNIVIX relação a ele. Já as expectativas atribuídas
edsferrao@folha.com.br ao sexo e nome ofereceram mais identi-
dade ao bebê. Discussão. A entrevista
corrobora com os achados da literatura
LT01-1000 – EXPECTATIVAS DA científica sobre o tema, pois revela que a
GESTANTE E INTERAÇÃO MÃE-BEBÊ relação mãe-bebê estabelecida durante a
Cleonice Aline Dutra - ACPC gestação é um investimento importante à
Evanisa Helena de Maio Brum - UFRGS constituição psíquica do bebê, e ao exer-
cício materno (Brazelton & Cramer, 1992).
A interação da mãe com seu bebê ainda A participante se mostrou muito presta-
na gestação é uma forma indispensável tiva ao responder os questionamentos
de estabelecer um relacionamento obje- feitos a ela. E segundo a gestante a gravi-
tivo, sendo assim a expectativa da gestan- dez estava sendo um marco em sua vida,
te para com o bebê, reforça ainda mais afinal a forma como o bebê correspondia
esta relação e torna esta interação mais as suas expectativas e a intensidade de
frequente e prazerosa. O bebê anuncia, seus movimentos fetais, faziam com que
então, sua existência no interior dos pais a mãe sentisse seu bebê como mais real.
muito antes do nascimento e os projetos Sendo assim, ela demonstrou também,
e expectativas que envolvem a sua che- estar cooperando para que a relação com
gada preparam o lugar, para acolhê-lo seu bebê fosse estável e “perfeita” após
(Piccinini, Tudge, Lopes & Sperb, 1998). o nascimento. Conclusão. A percepção
Objetivo: Investigar a interação através materna dos movimentos fetais é con-
da comunicação entre a díade e as expec- siderada um grande marco na gravidez,
tativas da gestante durante a gestação. pois, faz com que a mãe sinta o feto como
Método: O método empregado neste es- mais real e personificado, e incrementa as
tudo foi um estudo de caso único (Stake, expectativas referentes a ele. É a partir da

429
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

maneira como são percebidos estes mo- cas. Dentro deste contexto, a existência
vimentos que as gestantes vão atribuin- de determinados problemas clínicos da
do características de temperamento ao gestante e do feto podem também elevar
bebê, além de expressarem que a intera- o nível da ansiedade materna diante de
ção passou a ser recíproca, e elas podem uma gestação de risco. O nascimento pré-
até compreender certas mensagens dos -termo do bebê está entre os fatores que
filhos (Maldonado, 1997; Raphael-Leff, mais afetam a experiência da gestação,
1997; Szejer & Stewart, 1997). A gestante podendo trazer dificuldades específicas
deste estudo afirmou que as expectativas para a mulher. Diante de uma gestação de
atribuídas ao bebê durante a gestação es- risco, a mãe poderá ter de fazer um esfor-
timularam ainda mais a comunicação en- ço maior para conseguir atingir a condição
tre eles. E que esta comunicação se fazia descrita por Winnicott (1956/2000) como
cada dia mais intensa, já que segundo a preocupação materna primária (PMP)
mãe, ela era correspondida por seu filho, que envolve um estado psicológico espe-
com mensagens de companheirismo e ca- cial da mãe, que a torna sensível às ne-
rinho através dos movimentos fetais. cessidades básicas de seu filho. Tal estado
tem início ainda na gestação, sendo acen-
tuado no seu final, estendendo-se até as
LT01-1011 – INDICADORES DA primeiras semanas ou meses após o par-
PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA to. Trata-se de uma condição fundamen-
NA GESTAÇÃO DE MÃES QUE TIVERAM tal da mãe para que o bebê tenha suas
PARTO PRÉ-TERMO necessidades atendidas de maneira satis-
Marocco, Carolina - UFRGS fatória desde a gestação, sejam elas quais
caca_mak@hotmail.com forem, e possa, a partir daí, continuar se
Anton, Márcia C. - UFRGS desenvolvendo. Winnicott (1956/2000)
marciacamaratta@gmail.com referiu que esse estado materno é pos-
Piccinini, Cesar A. - UFRGS sível graças a processos identificatórios
piccini@portoweb.com.br maternos que colocam a mãe em uma
Financiamento: CAPES posição de saber o que o bebê precisa.
No que diz respeito aos primeiros conta-
A experiência subjetiva materna frente tos com seu bebê, que começam desde a
à gestação e o nascimento do bebê tem gravidez, a mãe comunica-se com ele es-
sido motivo de inúmeras investigações sencialmente através de gestos e vocali-
nas últimas décadas. Existe um perío- zações. Diante da ameaça do nascimento
do sensível no decorrer da gestação até pré-termo na gestação, a função da PMP
os primeiros dias depois do nascimento, parece ser ainda mais crucial, pois a situ-
dentro do qual as trocas íntimas mãe-re- ação de vida imposta à mãe demandará
cém-nascido são facilitadoras do ajuste dela um esforço maior que o usual para
da díade e da vinculação afetiva posterior. conseguir entrar em sintonia com o bebê
A gravidez, por si só, envolve um intenso e conseguir exercer adequadamente sua
trabalho por parte da mulher, exigindo função. Diante disso, o estudo se propõe
que esta consiga assimilar e enfrentar a investigar indicadores da PMP na ges-
mudanças corporais, sociais e psicológi- tação de mães que tiveram parto pré-

430
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

-termo. Participaram deste estudo qua- sobre a gestação e o parto no contexto


tro mães de bebês nascidos pré-termo, da prematuridade. A entrevista, que era
selecionadas na Unidade de Tratamento gravada, investigou retrospectivamente
Intensivo Neonatal (UTINeo) do Hospital diversas questões sobre a gestação em
de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Todas particular sobre os indicadores de PMP.
as mães apresentaram gravidez de risco. A abordagem psicoterapêutica utilizada
As mães tinham idade entre 22 e 28 anos, foi a da Psicoterapia breve dinâmica em
apresentavam nível sócio-econômico bai- UTI e internação neonatal. O material
xo e grau de instrução variado. Todas as derivado dos atendimentos, assim como
mães moravam com o pai do bebê. Os das observações e contatos mantidos
bebês nascidos pré-termo apresenta- com as mães na UTINeo, bem como da
ram uma idade gestacional média entre entrevista foram transcritos e levados à
30 e 37 semanas e peso intermediário supervisão clínica e posteriormente ana-
variando entre 1000g a 2500g (medidas lisados. A análise de conteúdo qualitativa
estabelecidas pela Organização Mundial dos achados sugerem que a PMP também
de Saúde). Os bebês não apresentaram se apresentou nas mães com risco de
complicações clínicas sérias. Foi utiliza- parto pré-termo, apesar deste processo
do um delineamento de estudo de caso ter sido marcado pelo contexto da pre-
coletivo que investigou os indicadores da maturidade. O nascimento pré-termo e
preocupação materna primária com base as intercorrências na gestação relaciona-
em diversas categorias, citadas a seguir: das a ele agregam algumas dificuldades
acompanhamento pré-natal; sentimentos à PMP e aos sentimentos maternos rela-
em relação às mudanças físicas e emo- cionados ao processo de formação da ma-
cionais; sentimentos em relação à função ternidade, que por si só, já é repleto de
materna; sintonia da mãe com o bebê; mudanças, ansiedades e adaptações. Os
preparação para a chegada do filho. As resultados destacam dificuldades impos-
mães dos bebês foram contatadas na UTI- tas à díade diante da gravidez de risco e
Neo do HCPA. Como o tema proposto nos do nascimento pré-termo, entre os quais
pareceu difícil de ser investigado através está a preocupação da mãe com a sobre-
de um contato rápido envolvendo apenas vivência do filho e com a sua própria vida;
entrevistas pontuais com as mães, em a não aceitação inicial da gestação, que
um período considerado difícil como é o pode ter sido agravada pela ameaça do
pós-parto de bebês nascidos pré-termo, parto pré-termo. O aumento da sensibi-
decidiu-se que a primeira autora passaria lidade materna, que já é esperada no pe-
a integrar a equipe de Psicologia do HCPA, ríodo gestacional, pareceu se exacerbar
realizando atendimentos psicológicos das com a possibilidade da prematuridade do
mães, conforme a rotina do Serviço de filho e necessidade de repouso e a pos-
Psicologia desse hospital. A supervisão sibilidade de dependência dos familiares
clínica local foi realizada pela psicóloga por parte das mães. Apesar disto tudo,
responsável pela UTINeo, buscando-se após as mães assimilarem a ameaça do
identificar o melhor momento emocional nascimento pré-termo e, posteriormente
da mãe para que fosse convidada a par- o nascimento prematuro do filho, alguns
ticipar da presente pesquisa Entrevista fatores positivos foram se sobressaindo

431
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no lugar das adversidades vivenciadas ini- cionais, aprendizagem e relacionamento.


cialmente. Entre estes, pode-se destacar Foi realizado acompanhamento ludote-
a construção simbólica, gradual, do lugar rápico, na perspectiva fenomenológico-
do filho nos preparativos para a chega- -existencial. Inicialmente, foi feito contato
da do mesmo; a sintonia das mães com com a mãe e realizada entrevista anam-
os bebês, que começaram a assimilar a nésica, a fim de compreender a queixa e
ideia de que seus filhos poderiam sentir a história da criança. Quando João esta-
o que elas estavam sentido e a percepção va com 2 anos, mudou-se com sua mãe
da dependência do bebê dos cuidados e irmão para a cidade de origem dela,
maternos. Cabe ressaltar que, apesar das em virtude da separação dos pais, e des-
particularidades envolvendo cada uma de então, não houve mais contato do pai
das mães muitas foram as semelhanças com as crianças. Segundo a mãe, as quei-
evidenciadas entre elas. Nesse sentido, xas e questionamentos dos filhos sobre o
é possível pensar que as ansiedades, tris- pai são constantes. João, frequentemen-
tezas e satisfações verificadas entre essas te agressivo na escola, associa e justifica
mães poderão ser encontradas em outras suas ações pelo fato de ter sido abando-
mães que se depararem com nascimento nado pelo pai. A mãe refere que João não
pré-termo do filho e que encontram-se quer ir à escola, não quer aprender a ler
em contextos de vida semelhantes àque- e escrever. Ela também conta que ele tem
las deste estudo. a fala “enrolada e infantil”, com uma pro-
núncia ruim; é muito emotivo, e não tem
Palavras-chave: preocupação materna amigos. A criança “emotiva e agressiva”
primária, gestação, nascimento pré-termo. que então recebo revela-se, na verdade,
Contato: Carolina Marocco, doutoranda como uma criança com baixa autoestima.
UFRGS e endereço eletrônico do autor Ele também traz a necessidade de elabo-
responsável: caca_mak@hotmail.com rar questões para além do aprendizado
escolar, dentre as quais: o abandono do
pai e a vivência do conflito entre a família
LT01-1040 – A CONDUÇÃO E EVOLUÇÃO pensada e a vivida (Szymansky, 2002), e
DO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO revela descobertas e dúvidas no tocante à
COM UMA CRIANÇA DE 07 ANOS SOB A sexualidade. Nas primeiras sessões, João
ÓTICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL é uma criança que, sim, apresenta uma
Beatriz Mendes e Madruga - UF/RN fala infantilizada e de difícil compreen-
beatrizmadruga@gmail.com são, além de um brincar repetitivo e pou-
Symone Fernandes de Melo - UF/RN co criativo. As demandas próprias ele já
symelo@gmail.com traz nas primeiras sessões, mas ainda de
modo sutil: a relação pai e filho; a curio-
Neste trabalho será apresentado o estudo sidade sobre a sexualidade e o feminino.
de caso de João. A criança, de 7 anos, foi Há poucos diálogos espontâneos. A con-
encaminhada pela escola para o Serviço versa aberta é evitada pela criança, espe-
de Psicologia Aplicada (SEPA) da Univer- cialmente se o assunto remeter à escola,
sidade Federal do Rio Grande do Norte contudo, há interesse evidente quanto
(UFRN) com queixas de dificuldades emo- aos livros e leitura. Sua baixa autoestima

432
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

é observada na pouca persistência com concebem isso muito positivamente. Ele


brincadeiras que envolvem algum esforço não resiste mais em ir à escola, e agora
cognitivo; a desistência e a frustração são aborda esse assunto de modo positivo.
comuns. Acontecem também episódios Ainda não aprendeu a ler e a escrever,
de autodepreciarão. Aqui, a influência da apesar de continuar expressando o seu
autoestima no seu desempenho escolar interesse nisso. Após 27 sessões, João
é manifesta. Há fuga do assunto que re- aproxima-se da alta terapêutica. A evolu-
mete diretamente à sua dificuldade, en- ção é observada nas demandas trazidas
quanto ele demonstra não acreditar no pela própria criança. A autoestima, que
próprio desempenho em diversas tarefas. a princípio mostrava-se prejudicada, me-
Para Carneiro, Martinelli e Sisto (2003), o lhora ao longo das sessões. A compreen-
fracasso escolar pode advir de condições são e elaboração da sua condição familiar,
internas do indivíduo, destacando-se o da falta de uma figura paterna presente
desenvolvimento cognitivo e fatores de e constante, ou, pelo menos, significativa,
ordem afetivo-emocional, motivacional perpassa as sessões, sendo expressa por
e de relacionamento. Já nas sessões in- meio de diferentes mediadores lúdicos. A
termediárias, João começa a apresentar autonomia e autenticidade da criança vão
evoluções no brincar. Revela-se mais au- emergindo progressivamente. Estar mais
tônomo no faz-de-conta, mostrando-se à vontade na sala de Ludo, dirigir a brinca-
protagonista do processo. As brincadeiras deira, empreender diálogos espontâneos,
são mais demoradas, elaboradas e criati- trazendo deliberadamente episódios do
vas, e João mostra-se persistente e mais seu cotidiano, são expressões importan-
resistente à frustração. Os diálogos es- tes; e novas facetas de sua subjetividade
pontâneos principiam. João utiliza-se bas- aparecem ao longo do processo (cuidado,
tante dos animais, um recurso frequente- zelo, organização), revelando estabilidade
mente usado para representar a dinâmica no comportamento e reconfiguração de
familiar (Feijoo, 1997). Com os animais, self. A expressão lúdica passou de regres-
ele forma famílias de padrões variados, siva e rígida para um brincar elaborado
incluindo a composição mãe e filhos. e criativo. Associado a isso, evidencia-se
Aqui, observamos o início da compreen- a tranquilidade que agora ele tem em ir
são e elaboração da sua condição de viver à escola, e o interesse demonstrado em
em uma família sem a figura paterna. No relação ao aprendizado. Apesar de ainda
bloco das sessões finais, ele usa bonecos haver muito a ser conquistado quanto à
humanos para abordar a temática familiar aquisição da leitura e da escrita, verifica-
– e isso denota a continuidade da elabo- -se uma tendência à evolução também
ração sobre a temática. A identificação fe- nesse aspecto. Um aspecto especialmen-
minina é ainda mais explorada, e ele mos- te interessante de se abordar é a relação
tra-se mais livre para abordar tal questão. entre as demandas trazidas sobre a crian-
Os diálogos espontâneos ocorrem com ça e aquelas trazidas pela própria crian-
frequência, e neles João fala sobre alguns ça. Segundo Oaklander (1980), podemos
amigos, citando nomes e episódios. João descobrir o que se passa na vida da crian-
trocou de turma e de professora no início ça a partir da perspectiva dela própria,
do novo ano letivo. Sua mãe e ele próprio sem precisar recorrer a interpretações

433
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

teóricas apriorísticas. No caso de João, as res, principalmente sociais e culturais,


demandas da criança não são totalmente exercem influencia nos conceitos. É tão
distintas daquelas trazidas pela sua mãe forte a caracterização cultural que órgãos
e escola; mas aquilo que é enfatizado e influentes como a ONU e a OMS estabele-
tem-se como queixa (a agressividade, a cem os 10 aos 20 anos incompletos como
dificuldade de relacionamento com cole- o período cronológico da adolescência,
gas, e a dificuldade escolar) contém um mas permitem e respeitam que cada país
plano de fundo no qual estão demandas estabeleça seus parâmetros considerados
emocionais e existenciais da criança. Por mais adequados. No Brasil, o Estatuto da
trás da dificuldade escolar de João desve- Criança e do Adolescente afirma que ado-
la-se a baixa autoestima, fator associado lescente é toda e qualquer pessoa entre
também às dificuldades interpessoais. A 12 e 18 anos. A adolescência que presen-
agressividade configura-se como um ele- ciamos atualmente é conseqüência das
mento observável das questões existen- condições sociais nas quais estamos inse-
ciais da criança, que sofre pela ausência ridos, a maturação sexual, o surgimento
paterna e apresenta um autoconceito do interesse sexual e o conseqüente trato
comprometido. Mostrar-se agressivo é do início da vida sexual são pontos que
uma forma de colocar-se no mundo, reve- mais se destacam por serem grandes des-
ladora de sua subjetividade. Ao encontrar cobertas inerentes a esta fase. Os com-
um espaço de expressão de si mesma, a portamentos sexuais de risco são ativi-
criança amplia a compreensão de suas dades iniciadas pelo caráter exploratório
experiências, evidenciando-se um movi- do jovem, por influência do meio, podem
mento rumo a uma maior autenticidade. comprometer a saúde física e mental e
mostram-se como grandes obstáculos
Palavras-chave: infância; psicoterapia; ao desenvolvimento biológico e social,
fenomenológico-existencial. principalmente doenças como HIV/AIDS,
Contato: Beatriz Mendes e Madruga - gestações não-planejadas e Doenças Se-
Universidade Federal do Rio Grande do Norte xualmente Transmissíveis (DSTs). Segun-
beatrizmadruga@gmail.com do Relatório do Banco Mundial, pessoas
jovens engajadas em comportamentos de
risco tendem a apresentar baixa autoesti-
LT01-1189 – COMPORTAMENTO SEXUAL ma. Autoestima está relacionada à saúde
E AUTOESTIMA EM ADOLESCENTES mental, ao bem-estar psicológico e a sua
Elder Cerqueira Santos - UFS carência está relacionada a fenômenos
eldercerqueira@yahoo.com.br mentais negativos como depressão, além
Othon Cardoso de Melo Neto - UFS de apresentar engajamento em compor-
othoncxp@gmail.com tamentos delinqüentes. A autoestima
é uma avaliação que o indivíduo efetua
A adolescência é tradicionalmente tra- e comumente mantém em relação a si
tada como uma fase de transição dentro mesmo, a qual implica um sentimento ou
do ciclo do desenvolvimento humano. atitude de valor, de aprovação ou repulsa
Os mais diversos autores se debruçam em relação a si próprio direcionado a si
tentando delimitar esta fase, mas fato- próprio e refere-se ao quanto um sujei-

434
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to se considera capaz, significativo, bem uma adaptação do Instrumento “Juven-


sucedido e valioso, pode ser entendida tude Brasileira” e abordava questões so-
como um juízo pessoal de valor, externa- cioculturais e econômicas, aspectos sobre
do nas atitudes que o indivíduo tem para saúde, além do uso da escala de autoesti-
consigo mesmo e nas crenças pessoais ma de Rosenberg. A aplicação do questio-
sobre suas habilidades, capacidades, rela- nário foi coletiva, mas anônima, no senti-
cionamentos pessoais e acontecimentos do de garantir aspectos éticos e propor-
futuros. A baixa autoestima caracteriza- cionar mais confiança aos pesquisados e
-se pelo sentimento de incompetência, estes responderem de maneira mais fiel
de inadequação à vida e incapacidade de possível assuntos delicados relacionados
superação de desafios. A alta expressa um à sexualidade e comportamento sexual.
sentimento de confiança e competência. Entre os participantes, maioria cursando
Estudos que avaliam a importância da o 3º ano do ensino médio, 46,8%, mais
autoestima proliferam nos países desen- da metade (57,9%) pertence ao sexo fe-
volvidos, destacando-se dentre os indica- minino e com idades entre 14 e 23 anos
dores de saúde mental e nas análises so- (M= 17,19 anos; DP=1,47). A quase to-
ciais de crescimento e progresso. Apesar talidade dos jovens (99,4%) tem acesso
do reconhecimento internacional sobre aos serviços de saúde disponíveis, sendo
o tema, no Brasil a autoestima ainda é o SUS mais apontado (55,8%). Os resul-
pouco abordada cientificamente, bastan- tados mostraram que 55,8% já tiveram
te popularizada por livros de autoajuda e relações sexuais, com idade média para
senso comum. Menor ainda é o volume o debute sexual de 15,15 anos (DP=2,02)
de estudos que buscam correlações com e média de 2,34 parceiros (DP=2,02) ao
comportamentos sexuais, principalmente longo da vida. A média de idade da pri-
em jovens e adolescentes. Portanto este meira relação sexual apresentou diferen-
estudo teve como objetivo investigar as ça significativa (t=3,179; gl=84; p=0,002)
relações entre autoestima e os compor- entre meninos (14,46 anos; DP=2,14) e
tamentos sexuais de risco (sexo sem ca- meninas (15,78 anos; DP=1,68). Quanto
misinha, relações sexuais precoces, gravi- ao uso de preservativo, 83,3% usam a
dezes, abortos, diversidade de parceiros camisinha, 38% a usam para evitar AIDS,
sexuais, AIDS, DSTs) e níveis de autoesti- 57% para evitar gravidez. 7,4% dos jovens
ma. A amostra foi composta por 159 ado- sexualmente ativos tiveram alguma DST,
lescentes, de ambos os sexos, estudantes apenas 7,9% já engravidaram ou foram
do ensino médio de grandes escolas da engravidados e tem em média 1,43 filhos
rede pública de ensino na cidade de Ara- (DP= 0,787), geralmente, aos 18 anos, em
caju, Sergipe, escolhidas por abrangerem média (DP= 2,64). As correlações entre
populações diversas em termos de locais autoestima e comportamentos sexuais
de moradia e níveis socioeconômicos. O sugerem que quanto maior a autoesti-
delineamento utilizado foi do tipo levan- ma, maior a idade para o debute sexual
tamento exploratório por amostragem (x²=0,076; p=0,614), menor a probabili-
aleatória simples, com coleta de dados dade para o uso de camisinha (x²=1,948;
padronizada, em um estudo de corte p=0,378), maior a chance de ter relação
transversal. O instrumento utilizado foi estável (x²=1,518; p=0,468), menor a pos-

435
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sibilidade (significativa) de envolver sexo LT01-1219 – BRINCANDO DE FAZ DE


com uso de drogas (x²=7,137; p=0,028) e CONTA: UMA FORMA DE APRENDER
mais dias portando camisinha (x²=1,702; SOBRE A MENTE?
p=0,427). Os dados mostram que os altos Natália Benincasa Velludo - UFSCar
índices de alto-estima influenciam em as- nataliabvelludo@hotmail.com
pectos de proteção, como adiamento da Débora de Hollanda Souza - UFSCar
primeira relação sexual, maior probabili- debhsouza@ufscar.br
dade de ter parceiros fixos e assim expor-
Financiamento: PIBIC/CNPq
-se menos à multiplicidade de parceiros,
terem preservativos próximos a si e me-
nor a probabilidade deste jovem transar A teoria da mente pode ser entendida
sob o efeito de drogas, o que potencializa como a habilidade de compreender que
muito a exposição a comportamentos se- as pessoas têm mundos privados que en-
xuais de risco e suas conseqüências. Ou- volvem sentimentos, desejos, crenças e
tros fatores analisados mostram que ter intenções não acessíveis aos outros dire-
alta autoestima favorece comportamen- tamente. Dentro do campo de pesquisa
tos sexuais de risco no que concerne ao da Cognição Social, o faz de conta tem
não uso de camisinha durante as relações sido objeto de estudos por oferecer um
sexuais. Uma possível explicação é que contexto no qual a criança pode aprender
em geral, este jovem tem maior chance sobre os estados mentais que são contrá-
de ter parceiros fixos – namorados, noivos rios à realidade, o que potencialmente
ou esposos. Os resultados desta pesqui- poderia contribuir para o desenvolvimen-
sa podem ser considerados animadores, to de uma teoria da mente. Uma forma
pois sugerem que os jovens, na atualida- de faz de conta comum no universo in-
de, tanto possuem a informação, quanto fantil é o jogo de papéis (role play), du-
vem fazendo uso da mesma por meio da rante o qual a criança temporariamente
adoção de práticas de sexo mais seguras, expressa em ações o papel de outra pes-
como o número reduzido de parceiros se- soa ou criatura inventada, utilizando-se,
xuais, o alto índice de uso de camisinha para tanto, do ponto de vista desse outro,
para ambos os sexos e é possível encon- e caracterizando-o, por exemplo, quanto
trar relações importantes entre níveis de ao seu tom de voz e humor. Consideran-
autoestima e comportamentos sexuais de do a escassez de estudos brasileiros so-
risco na adolescência e que parece sim bre cognição social, bem como as evidên-
existir relações entre autoestima de um cias de uma possível relação entre o faz
adolescente e as maneiras como ele se de conta e a teoria da mente, o presente
comporta sexualmente. projeto pretendeu testar possíveis efei-
tos do treinamento de uma forma especí-
Palavras-chave: Adolescência; fica de faz de conta, o jogo de papéis (role
Comportamento Sexual de Risco; Autoestima play), sobre o desempenho de crianças
Contato: Elder Cerqueira-Santos – pequenas em testes padrão de teoria da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) mente. Para tanto, duas condições foram
eldercerqueira@yahoo.com.br criadas, uma de treino em faz de conta
e uma de treino em brincadeiras não re-

436
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

presentacionais, de modo a se comparar va entre o pré- e o pós-teste, tanto para


o desempenho do primeiro grupo (expe- o grupo experimental (t(11) = -3,447, p
rimental) com o segundo (controle). Vin- = 0,005), quanto para o grupo controle
te e duas crianças, com idades entre 3;0 e (t(9) = -3,248, p = 0,009). Contrariamente
5;8 anos, foram recrutadas em duas pré- ao esperado, um teste t de amostras in-
-escolas da rede particular de uma cidade dependentes (t(20) = - 0,613, p = 0,547)
do interior de São Paulo para participa- não revelou uma diferença significativa
rem do presente estudo. Doze crianças, entre o desempenho das crianças do gru-
10 meninos e 2 meninas, com idade mé- po controle e do grupo experimental no
dia de 4;0 anos (DP= 11,72), participaram pós-teste. Algumas hipóteses explicativas
no grupo experimental e 10 crianças (7 para o padrão de resultados encontrado
meninos e 3 meninas), com idade média são oferecidas. Primeiramente, é possível
de 4;3 anos (DP= 10,49), participaram no que os ganhos apresentados em ambas
grupo controle. Com o grupo experimen- condições sejam resultado do próprio
tal, foram realizadas intervenções de faz desenvolvimento cognitivo das crianças.
de conta baseadas em duas propostas de De fato, houve um intervalo de 4 meses
treinamento encontradas na literatura: entre a execução das duas testagens,
a) a Orientação Verbal, atividade durante para o grupo experimental, e de 3 meses,
a qual o adulto faz sugestões com a fun- para o controle. Outra explicação para a
ção de encorajar as crianças a usarem os ausência de diferença significativa entre
elementos do jogo sociodramático (re- os dois grupos seria a de que ambas as in-
presentação simbólica, jogo de papéis, tervenções, de brincadeira simbólica ou
interação social, comunicação verbal e não, são promotoras do desenvolvimen-
persistência); e b) a Brincadeira de Fan- to sociocognitivo, em especial, da teoria
tasia Temática que consiste na apresen- da mente, pois encorajam as crianças a
tação de histórias infantis que posterior- interagir socialmente e assumir a pers-
mente são encenadas a fim de que os pectiva de outros, via simulação de pen-
participantes possam assumir diferentes samentos e emoções. Como evidências
papéis. Com o grupo controle, foram rea- recentes sugerem, diversas habilidades
lizadas atividades lúdicas não simbólicas, são desenvolvidas durante a brincadei-
tais como o jogo de boliche e a brincadei- ra simbólica, tais como: a negociação, a
ra de estátua. Foram realizadas 4 sessões habilidade de entender um objeto como
de 20 minutos em ambas as condições, sendo duas coisas ao mesmo, a capaci-
totalizando 80 minutos de atividades. An- dade de compreender representações
tes e após a intervenção, os participantes externas, a metarrepresentação (a capa-
foram avaliados em tarefas padrão de cidade de representar a representação
teoria da mente (e.g., local inesperado, mental dos outros) e a simulação. Es-
conteúdo inesperado). Surpreenden- sas habilidades também são apontadas
temente, os resultados indicaram que como sendo precursoras de uma teoria
houve ganhos significativos em teoria da da mente mais sofisticada. A hipótese ini-
mente para os participatnes em ambas cial do presente estudo, ou seja, de que
as condições. Testes t de amostras pare- as crianças do grupo experimental teriam
adas revelaram uma diferença significati- um desempenho melhor do que as crian-

437
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ças do grupo controle no pós-teste, não LT01-1241 - QUALIDADE DE VIDA DOS


foi confirmada, apesar das sugestões te- IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
óricas e das evidências empíricas de que Marcelly Cristini Lopes de Mello - UFRRJ
a brincadeira de faz de conta pode con- marcellymachado@gmail.com
tribuir para o desenvolvimento da teoria Marcele Mendes da Silva - UFRRJ
da mente infantil. Deste modo, é impor- marcellymachado@gmail.com
tante avaliar as possíveis limitações da Carla Cristine Vicente - UFRRJ
presente pesquisa, como por exemplo, o carlavicent@gmail.com
número reduzido de participantes. Outra Valéria Marques - UFRRJ
variável que pode ter interferido na efeti- marquesvaleria@globo.com
vidade do treino foi a escolha do tipo de
treinamento de faz de conta. É possível No Brasil a população idosa entre 60-65
que alguns tipos de treinamento de faz anos chegou a 14,5 milhões (IBGE, 2010).
de conta, como evidenciado por estudos Nos grandes centros urbanos tem-se veri-
prévios, levem a ganhos em desenvolvi- ficado um aumento na quantidade de fa-
mento cognitivo, mas não contribuam mílias pequenas, as pessoas estão buscan-
especificamente para o desenvolvimento do ter menos filhos ou não tê-los, devido
da teoria da mente. Novos estudos são a diversos fatores como falta de tempo,
necessários para que se possa obter uma falta de condições financeiras, planeja-
compreensão melhor dos efeitos de di- mento familiar, programas de educação e
ferentes tipos de treinamento de faz de saúde, aumento de mulheres no mercado
conta sobre o desenvolvimento da cogni- de trabalho. Com a diminuição de pessoas
ção social. Há evidências robustas de que dentro do núcleo familiar diminui-se tam-
a brincadeira de faz de conta pode ser bém o apoio aos anciãos, o que aumenta
muito útil em intervenções com crianças a quantidade de idosos Institucionalizados
que apresentam atrasos no desenvolvi- (Burnside, 1979). O idoso muitas vezes é
mento sociocognitivo, ou que são priva- asilado a força, tornando-se um prisionei-
das dos benefícios da brincadeira infantil ro abandonado pela sua família em insti-
de qualidade. Em especial, o treinamento tuições precárias com profissionais pouco
de faz de conta tem o potencial de con- qualificados, e seus familiares nem sempre
tribuir para o trabalho com crianças que voltam para visitá-los (Tier,2004). A falta
apresentam déficits em teoria da mente. de tempo da família é apontado como um
dos principais aspectos que influenciam a
Palavras-chave: Teoria da Mente; Faz de internação dos idosos. Cuidar dos idosos
conta; Crianças pré-escolares.
requer assistência específica, alimentação
Contato responsável: Débora de Hollanda
balanceada, medicação, higiene pessoal,
Souza, Departamento de Psicologia, lazer, transporte e outras demandas que
Universidade Federal de São Carlos, implicam em muitos recursos (Richards,
debhsouza@ufscar.br 1994). Outro fator responsável pela inter-
nação são as doenças que acometem mui-
tos desses idosos, fazendo-os necessitar de
acompanhamento médico constante. Entre
idosos asilados, a depressão está associa-

438
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da ao desprazer para realização de ativi- critas pelos entrevistadores. Os participan-


dades cotidianas, à ausência do convívio tes foram questionados sobre a decisão
familiar e à sensação de isolamento em um familiar ou própria da institucionalização.
ambiente estranho; especificamente em 63,73% dos idosos entrevistados relataram
mulheres, ao baixo nível de escolaridade, que a família decidiu pela internação. De
à viuvez e a falta de pratica de atividades acordo com Richards (1994), a falta de tem-
físicas (Andrade, et al, 2005). A qualidade po dos familiares influencia a internação
de vida está relacionado à autoestima e ao dos idosos, considerando a necessidade
bem-estar pessoal e abrange uma série de dos familiares trabalharem ou manterem
aspectos como a capacidade funcional, o outras atividades durante o dia. Quando
nível sócio econômico, o estado emocional, questionados sobre a concordância com a
a interação social, a atividade intelectual, o internação, 77,27% disseram que concor-
autocuidado, o suporte familiar, o próprio daram. É interessante que todos os idosos
estado de saúde, os valores culturais, éti- que concordaram com a internação estão
cos e a religiosidade (Santos, 2002). Como cientes de seu estado de dependência de
as instituições nem sempre conseguem cuidados externos e dos riscos de viver
suprir a carência afetiva, o sedentarismo e sozinho nessa idade. Considerando o con-
minimizar a perda de autonomia causada ceito proposto por Santos (2002), a quali-
por incapacidades físicas e mentais, a qua- dade de vida está relacionada à inúmeros
lidade de vida de idosos institucionalizados aspectos que incluem o ajustamento emo-
nem sempre é suficientemente benéfica cional e a interação social, assim, ao con-
para manter a capacidade funcional do ido- cordar com a própria institucionalização,
so e proporcionar-lhe o bem estar biopsi- estes idosos estariam preocupados com o
cossocial, através de atividades educativas seu bem-estar, compreendendo que esta
com o propósito de incentivar os idosos a é a uma opção por sua própria qualidade
se comunicarem, estabelecendo assim re- de vida. Dos idosos entrevistados, 36,4%
lações interpessoais, pois foi observada a relataram não terem tido filhos, 27,3% ti-
existência de problemas na comunicação veram um único filho, 4,55% tiveram dois
entre eles (Moura, 2005). O objetivo deste e 31,82% tiveram mais de dois filhos. Cor-
trabalho foi investigar aspectos pertinentes roborando a idéia de Tier (2004), de que
a qualidade de vida de idosos instituciona- quando o núcleo familiar é menor, aumen-
lizados e as condições relacionadas a situ- ta a decisão pela institucionalização dos
ação asilar, por meio de depoimentos dos idosos, nesse grupo de idosos a maioria
asilados. O estudo foi realizado no asilo provinha de famílias pequenas. Em relação
Abrigo Doce Morada localizado na periferia ao motivo pelo qual ocorreu a instituciona-
do Rio de Janeiro, onde viviam 68 Idosos. A lização, 36,4% dos idosos responderam que
amostra foi composta por 22 idosos, den- foi por falta de condições financeiras, ou
tre eles 13 mulheres e 9 homens cuja idade por falta de tempo dos cuidadores 27,3%.
varia entre 66 e 99 anos, todos lúcidos e Dados em concordância com os apontados
orientados para responder a entrevista. As por Richards (1994), sobre os principais
entrevistas compostas de sete perguntas motivos das institucionalizações. Quanto
fechadas e uma aberta de caráter pessoal. ao relacionamento que os idosos mantém
As respostas cada participante foram trans- com os funcionários da instituição, 68,18%

439
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

respondeu que têm um relacionamento Palavras-chave: Idosos; Institucionalização;


bom e excelente. Entretanto, contraria- Qualidade de Vida.
mente observado por Moura (2005), este
grupo de idosos não mantém dificuldades
de comunicação dentro da instituição, pois LT01-1279 - GERAÇÕES Y, X E BABY
72,8% dos idosos afirmaram manter bom BOOMER: UMA ANÁLISE DA TIPOLOGIA
relacionamento e trocas experiências com DE VALORES DE SCHWARTZ
outros idosos, apesar de uma maior seleti- Stela Maria Santos de Lemos - UnB
vidade na escolha dos parceiros ou amigos, stela.de.lemos@gmail.com
o que vai de acordo com a perspectiva de Bárbara Monteiro Farias da Silva - UnB
que os idosos em geral, são socialmente e Wanessa Kesya Moreira Gonçalves da Silva - UnB
emocionalmente seletivos (Belsky, 2010). Gabriela de Albuquerque Gonçalves - UnB
Foi constatado na instituição que 45,45% César Augusto Galvão - UnB
dos idosos entrevistados recebem visitas às
vezes, 31,82% não recebem e 22,73% são As gerações nascidas a partir do século XIX
visitados com freqüência. Famílias que ins- cresceram vinculadas à tecnologia, ao pon-
titucionalizam os idosos em comum acordo to de desenvolverem características pecu-
com os próprios, são quase-sempre as que liares. Dentre estas, os valores configuram-
os visitam durante a institucionalização -se como constructos importantes, pois há
(Tier, 2004). Os Idosos entrevistados foram consenso entre teóricos de que os valores
questionados sobre o que poderia ser feito orientam e guiam a vida das pessoas. Re-
para que houvesse uma melhoria na sua conhecida pela capacidade de abarcar a
qualidade de vida e 13,7% responderam complexidade das relações entre os valores
que queriam receber visitas familiares, e o comportamento, a teoria de valores de
13,6% disseram necessitar de mais saúde Schwartz identifica dez tipos motivacionais
e 45,45% deles, falaram que sentiam fal- distintos, que indivíduos de todas as cultu-
ta de atividades que os distraíssem como ras reconhecem, e os especifica, através de
dança, canto, cinema e jogos, necessidades uma estrutura circular (Tamayo & Porto,
apontadas por Moura (2005) que preconiza 2005). Esta estrutura é proveniente do fato
o bem estar biopsicossocial do idoso asila- de que ações na busca de qualquer valor
do, através de atividades educativas. Este têm consequências que podem conflitar
estudo concluiu que, apesar de o número ou ser congruentes com a busca de outros
de idosos investigados ter sido pequeno e valores. No presente estudo, os partici-
procederem de uma única instituição asilar, pantes foram divididos em três gerações
os resultado confirmam, em sua maioria, o conforme o critério de Washburn (2000):
que a literatura da área vem descrevendo. Geração Y, nascida de 1982 até 2003; Gera-
A qualidade de vida do idoso instituciona- ção X, nascida de 1965 até 1981; e Geração
lizado está de fato associada a seu bem baby-boomer, nascida de 1945 até 1964.
estar, o que se relaciona com as condições A geração Y, composta pelas atuais crian-
específicas que o asilo pode oferecer, mas ças, adolescentes e jovens-adultos, cres-
que também com a própria percepção da ceu em um meio tecnológico, convivendo
sua condição de saúde e dos laços afetivos com computadores, correio eletrônico e
que conseguem manter com a família. programas de mensagens instantâneas.

440
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Os integrantes da geração Y são acostuma- “gostar de família” a geração baby-boomer


dos a captar os acontecimentos em tempo teve a maior média (4,57, DP=0,74), segui-
real e a se conectarem na rede com uma da da geração X (4,42; DP=0,79) e depois
enorme variedade de pessoas, por isso é a geração Y (3,94; DP=0,78) e para o fator
possível que desenvolvessem melhor visão “gostar de viajar” a maior média foi da ge-
sistêmica e aceitassem mais facilmente a ração Y (3,91; DP=0,68), depois da geração
diversidade. Tulgan (1997) afirma que em X (3,56; DP=0,66) e por último a geração
geral os indivíduos da geração X são indi- baby-boomer (3,45; DP=0,71). Ademais,
vidualistas, irreverentes, auto-confiantes, para a geração Y o valor poder teve média
com clara percepção de seus direitos e de 3,74 (DP=1,14), o valor conformida-
capacidades, porém são estreitamente de 3,41 (DP=1,16) e o valor benevolência
ligados à família e amizades fortes. A ge- 1,84 (DP=0,87). Nessa perspectiva, o valor
ração que surgiu na época do fenômeno conformidade, com a segunda maior mé-
denominado baby-boom (quando a popu- dia, indica uma tendência dos indivíduos
lação infantil norte-americana aumentou a restringir impulsos que podem causar
em 50%) é tida como moralista, mas sem desconforto em alguém, além de enfatizar
aceitar autoritarismo ou princípios institu- a auto-restrição na interação com pessoas
cionais sobre moral ou ética, e acredita-se próximas ao indivíduo (Tamayo & Porto,
que não sacrificam prazeres pessoais em 2005). Remke, Reines e Filipczak (2000) de-
prol de um grupo (Castro, 2008). Nessa finiram as pessoas da geração Y como mul-
perspectiva, para se estudar esta seg- titarefadas, pois vivem em ação e costu-
mentação do público-alvo, foi necessário mam administrar bem o tempo, valorizan-
analisar características demográficas da do o equilíbrio entre convívio com pessoas,
amostra, como idade, renda e sexo. O ob- trabalho e lazer. Isso é congruente com os
jetivo desta pesquisa é analisar o perfil de resultados encontrados em relação aos va-
valores das gerações Y, X e baby-boomer, lores conformidade e poder atribuídos por
com base em suas características psicológi- esta geração. Ainda para a geração Y, foi
cas e demográficas. Realizou-se um survey dada uma importância baixa para o valor
através da coleta pessoal em instituições benevolência, o que pode indicar uma falta
particulares e órgãos públicos de Brasília de preocupação com o bem-estar do próxi-
com 295 participantes, sendo: 50% perten- mo. De acordo com Tamayo e Porto (2005),
cente à Geração Y, 30% à geração X e 20% à o objetivo que define a benevolência é pre-
geração baby-boomer. Para isto, utilizou-se servar e fortalecer o bem-estar daqueles
um questionário com escala de 6 pontos, que são próximos. Para a geração X o valor
contendo: 73 questões acerca de atitudes, poder teve média 4,07 (DP=1,26), o valor
interesses e opiniões pessoais; e 21 ques- realização 3,40 (DP=1,39) e o valor univer-
tões referentes ao Questionário de Perfis salismo 2,06 (DP=0,86). O valor realização,
de Valores Schwartz, por ser uma versão que obteve a segunda maior média, carac-
simplificada e por isto mais rápida de ser teriza a preocupação com o sucesso pes-
respondida. Os resultados mostraram que soal, demonstrando competência de acor-
os fatores “gostar de família” e “gostar de do com padrões sociais exigidos. Castro
viajar” tiveram as maiores médias em to- (2008) define esta geração como insegura
das as gerações, sendo que para o fator devido a um mundo que está mudando ra-

441
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pidamente e que, com isso, valoriza mais a versos segmentos da sociedade atual com
experiência do que a teorização, alegando base em seus valores abrange também a
que esta não é autêntica e pode não re- psicologia do desenvolvimento.
presentar bem a realidade. Para a geração
baby-boomer a média para o valor poder Palavras-chave: Gerações, Valores, Indivíduos
foi de 4,98 (DP=1,25), para o valor esti- Contato: Stela Maria Santos de Lemos,
mulação foi 3,69 (DP=1,07) e para o valor Universidade de Brasília,
universalismo foi 1,92 (DP=0,80). A impor- stela.de.lemos@gmail.com
tância para o valor estimulação, caracteriza
a excitação e desafio na vida derivados da
necessidade de variedades motivacionais. LT02-1297 - EXPECTATIVAS DE FUTURO
É possível observar que todas as gerações DE ADOLESCENTES DROGADITAS
atribuíram uma importância maior ao va- Karen Lopes das Neves - UFRRJ
lor poder, o que significa uma preocupação karen.lone@hotmail.com
com a manutenção de uma posição social Thais Brasil de Oliveira - UFRRJ
independente da idade. Tamayo e Porto brasil_thaisoliveira@ig.com.br
(2005) afirmam que este valor tem como Carla Cristine Vicente - UFRRJ
objetivo manter um status social e pres- carlavicent@gmail.com
tígio, bem como ter controle ou domínio
sobre pessoas e recursos. Ademais, valores A literatura sugere que a pequena parce-
de poder podem demonstrar necessidades la de adolescentes que se envolvem com
de transformações individuais de domínio problemas relacionados ao uso de drogas
e controle. As gerações X e baby-boomer tende a já apresentar problemas emocion-
apresentaram médias baixas para o valor ais prévios em sua história de vida (Belsky,
universalismo, que é caracterizado pela 2010). Estes adolescentes também costu-
importância e proteção que se dá ao bem- mam apresentar um perfil de má relação
-estar das pessoas e da natureza, algo ne- social, tanto com seus pares quanto com
cessário para a sobrevivência dos grupos os seus familiares (Silva, 2007). Ao provo-
e indivíduos. Entretanto, esta necessidade car uma sensação inicial de euforia e bem-
só é valorizada quando o indivíduo entra estar, a droga gera uma falsa sensação
em contato com outros grupos e com a de efeito benéfico que atrai a atenção
escassez de recursos naturais (Tamayo e dos adolescentes ávidos pela novidade.
Porto, 2005), o que pode ser uma explica- Porém, o seu uso repetido e freqüente
ção para a baixa importância que foi dada acaba conduzindo a um ciclo vicioso, que
por tais gerações. O presente estudo abre causa danos ao sistema nervoso e afeta
uma discussão para seu importante uso o processo de socialização destes ado-
na área de psicologia do consumidor. To- lescentes (Soares, Gonçalves & Werner,
davia há um enfoque importante no uso 2010). Apesar de uma parcela dos jovens
de valores, assunto que vem crescendo que se envolvem com drogas conseguirem
dentro da psicologia, para que seja possí- de alguma forma chegar a instituições que
vel conhecer melhor relações entre cren- ofereçam tratamento para sua drogadição,
ças, atitudes e comportamento. Desta pouco se sabe a respeito de suas expecta-
forma, conhecer o perfil individual de di- tivas durante este processo de reabilitação

442
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(Marques & Cruz, 2000). O objetivo da das, foram transcritas e analisadas através
presente pesquisa foi de buscar conhecer do exame de seus conteúdos. Resultado
as expectivas de adolescentes drogaditas e discussão: Todas as adolescentes par-
pertecentes a famílias de baixa renda e/ou ticipantes eram advindas de famílias com
a população de rua, em processo de trata- baixa renda ou população de rua. A maio-
mento em um abrigo especializado na re- ria mostrou possuir uma família desestru-
cuperação da dependência química. Meto- turada com pais ausentes ou completa-
dologia: A pesquisa foi realizada no Centro mente desconhecidos, confirmando o que
de Atendimento à Dependência Química Silva e Guimarães (2007) relataram sobre
(CADQ) Doutor Bezerra de Menezes, lo- um possível maior risco de adolescentes
calizado no subúrbio da cidade do Rio de virem a tornar-se drogaditas quando não
Janeiro. O abrigo é uma Organização Não possuem boas referências familiares como
Governamental conveniado à prefeitura base de valores éticos e morais. A metade
do Rio de Janeiro e que recebe ajuda de delas, já alternava com freqüência entre a
um grupo de empresários. A instituição é permanência e abandono dos abrigos. A
voltada ao atendimento de adolescentes droga relatada como mais utilizada pelas
do sexo feminino dependentes de drogas adolescentes foi o crack, sendo comum
ilícitas. Possui capacidade para vinte in- o uso de múltiplas drogas pelas adoles-
ternas, mas no momento da pesquisa centes. Com relação à expectativa de vida
abrigava somente dezesseis drogaditas após o tratamento, apenas uma das ado-
variando entre as idades de onze a dezoito lescentes relatou não ter perspectiva algu-
anos. Todas vinham de famílias pobres ou ma para si ou para o filho que estava por vir
de população de rua. As adolescentes che- (adolescente estava grávida na época da
gam a esta instituição por determinação entrevista). Todas as outras seis apresenta-
judicial, pelo conselho tutelar ou respon- ram expectativas relacionadas à retomada
sável. Muitas são vítimas de abandono, dos estudos, vir a trabalhar, melhorar suas
negligência parental e abuso sexual. Para a relações familiares e algumas perspectivas
presente pesquisa foi utilizada uma abord- de cunho religioso. Foi observada a ne-
agem qualitativa através de uma entrevista cessidade por parte dessas adolescentes
direcionada por um questionário. Foram de deixarem de viver à margem da socie-
entrevistadas sete adolescentes que se dade e se sentirem incluídas num padrão
voluntariaram a responder questões so- de vida considerado digno com direito à
bre: histórico do uso de drogas, expecta- educação, trabalho, moradia e estrutura
tiva de vida após o tratamento, contexto familiar adequada. O desconhecimento da
familiar, preocupações atuais e seus de- figura paterna ou o descaso da materna
sejos. Algumas perguntas auxiliares foram mostrou-se recorrente em suas falas. A
desenvolvidas previamente, porém, foi retomada aos estudos se mostrou pre-
dada liberdade para que as adolescentes sente como expectativa de quase todas as
falassem de outros temas que as interes- adolescentes, a ponto de ser considerada
sasse. As entrevistas foram gravadas com uma prioridade após o tratamento. Além
a concordância das entrevistadas e foram de estudar, as adolescentes pretendem
realizadas individualmente em um local trabalhar, como um meio para uma mu-
isolado das demais. Depois de concluí- dança de vida e recuperação da dignidade.

443
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A religiosidade foi outro ponto citado pelas Palavras-chave: Adolescentes, Drogadição,


adolescentes, corroborando a afirmação Expectativa de vida, Recuperação.
de Sanchez e Nappo (2008) de que a fé é Contato: Carla Cristine Vicente – Universidade
um agente facilitador na recuperação da Federal Rural do Rio de Janeiro -
dependência, pois o indivíduo acredita carlavicent@gmail.com
que uma força transcendental é capaz de
ajudá-las a manter-se afastado das drogas,
além de preencherem os “vazios” deixados LT02-775 -CONCEPÇÃO DE CRIANÇA EM
pela ausência da família, como um agente DESENHOS INFANTIS
capaz de transformar suas vidas. Duas Andrea Guimarães Tomazela - IMESSM
adolescentes apresentaram o desejo de se andreatomazela@gmail.com
dedicar a vida religiosa após o tratamento. Débora Conceição Domingos Pereira
Quando questionadas a respeito da sua deboradomingos@hotmail.com
maior preocupação, as respostas tenderam Jorge Henrique Pilan - IMESSM
à questões relacionadas com a família. As pilan2520@yahoo.com.br
famílias, geralmente desestruturadas ou Letícia Carla dos Santos - IMESSM
ausentes, ocupam um espaço significativo leticiacarla_@hotmail.com
em seus sentimentos, e relatam que ao sair Kelly Cristina de Paula - IMESSM
do abrigo estão determinadas a rever seus kgini26@gmail.com
familiares. No abrigo, muitas vezes descon- Mariana de Cássia Jorgeto - IMESSM
heciam à situação atual da mãe e de seus mary_jorgetto@hotmail.com
irmãos, que geralmente encontravam-se Suzana Marcolino - IMESSM
em outros abrigos ou nas ruas. As adoles- suzanamarcolino@yahoo.com.br
centes também apresentaram muita preo-
cupação com possíveis recaídas quanto ao Nas últimas décadas cresce a oferta de
uso de drogas enfatizando o fato de que desenhos animados dirigidos às crianças,
manterem-se afastadas das drogas seria exibidos em diversos horários na TV aberta
uma tarefa muito difícil. As adolescentes ou paga com programação exclusiva para
acreditam que a sociedade as enxerga de as crianças. Existem desenhos com as mais
forma negativa de modo geral e um dos variadas temáticas, que vinculam diferen-
termos utilizados recorrentemente nas tes valores, condutas e comportamentos.
falas foi a de serem consideradas pela Um aspecto que nos chama atenção é
sociedade como “cracudas /drogadas”. quantidade de desenhos em que os prota-
Acreditam que para a sociedade elas não gonistas são crianças. Perguntamos: quais
têm mais jeito e nem solução. Deste modo, as concepções de criança contidas nesses
uma delas afirma que apenas os fun- desenhos? Partimos da suposição teórica
cionários dos abrigos as têm como filhas de que em cada época histórica a socieda-
e as enxerga como gente, sendo reduzi- de produz determinados significados sobre
das pelo restante das pessoas, à condição infância que orientam tanto aquilo que os
de viciadas. Contraditoriamente, a crença adultos esperam das crianças em cada fase
na própria capacidade de recupera-se não de seu desenvolvimento, como a conduta
apareceu como uma das expectativas de da própria criança. No processo de desen-
vida das adolescentes participantes. volvimento a criança internaliza os signos

444
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da cultura, que passam, então, a orientar se constitui entre Ben e Gwen uma rela-
sua conduta. Ocorre que ao internalizar tais ção de amizade que permita o desenvolvi-
signos, ela também se apropria dos signi- mento psicossocial de ambos. A literatura
ficados da cultura. Por serem construídos descreve que crianças escolares passam
objetivamente no processo histórico, en- grande parte do tempo em grupos segre-
tende-se que esses contêm aspectos ide- gados pelo sexo (Cole, Cole, 2003). Todavia,
ológicos fruto das relações sociais. Os de- essa segregação sexual é forte em alguns
senhos infantis não estão livres de concep- contextos, enquanto em outros, meninos
ções de criança, pelo contrário, carregam e meninas brincam juntos, compartilham
ideias, valores, condutas e, desta forma, descobertas e desenvolvem uma relação
difundem uma forma de ser criança. Com- de amizade. A amizade é um traço típico
preendendo os desenhos animados como das relações entre as crianças em idade es-
um dos elementos da realidade social da colar (Petrovisk, 1985). O que fundamenta
criança é possível supor sua influência, o uma relação de amizade é a reciprocidade
que exige daqueles envolvidos com a edu- e interesses comuns. As amizades entre as
cação, uma postura crítica. O presente tra- crianças são relações sociais que permitem
balho analisa o desenho infantil “Ben 10” o desenvolvimento da solidariedade, co-
25
com objetivo de conhecer a concepção municação, conhecimentos dos outros e
de criança contida nele. Dada a brevidade do mundo, além de propiciarem modelos
do presente texto, apresentamos a análise de relacionamento íntimo caracterizados
da quarta temporada (2007-2008). Todos pela confiança (Cole, Cole, 2003). Uma vez,
os episódios foram assistidos (total de dez) que o desenho se passa no período de fé-
e descritos na forma de sinopses. Nossa rias, a escola não é o cenário principal das
atenção, pelo objetivo de nosso trabalho, aventuras de Ben 10. Entretanto, em dois
focou-se no conteúdo dos episódios. Cons- episódios é possível apreender a relação
truímos para nossa análise três categorias, do personagem central com a escola. Em
a saber: a relação criança-criança; a relação um dos episódios Ben tem um pesadelo
criança-adulto e a relação criança-escola. induzido por um dos vilões da estória. O
Ao sair de viagem de férias com seu avô cenário do pesadelo é a escola e ele foge
Maxwell Tennyson e sua prima Gwendolyn da biblioteca com medo dos livros. No epi-
Tennyson, “Gwen”, Ben encontra um reló- sódio final da temporada, Ben irrita-se com
gio que se fixa em seu braço, o omnitrix. o retorno à escola; na escola ele tem que
O omnitrix carrega uma carga de DNA que se conformar em ser um garoto comum,
permite mudar o código genético de Ben, sem superpoderes e exposto a agressões
dando ao garoto o poder de se transfor- de garotos mais velhos. Somente quando
mar, a sua escolha, em 10 alienígenas com a cidade é atacada por monstros e os ga-
super-poderes. A criança que Ben mais se rotos que o agrediram vêm Ben armado e
relaciona nos episódios é sua prima Gwen. se transformando em alienígena, é que ele
O desenho apresenta a relação entre Ben passa a ser respeitado na escola. A escola
e sua prima Gwen de forma caricaturada, para Ben 10 não se constitui como lugar de
estereotipada e marcada pela disputa; não ampliação das relações sociais, pelo menos
na ampliação de relações que sejam pauta-
25
Animação produzida pelo Cartoon Network Studios das em interesses comuns e na reciproci-

445
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dade. A aprendizagem dos conhecimentos mo tempo, é um fator que propicia a falta


da cultura, transmitidos pela escola, não de respeito dos demais.
produzem em Ben, nenhum interesse. Pelo
contrário, ele demonstra aversão. Nos epi- Palavras-chave: Criança; Desenvolvimento
sódios da quarta temporada o adulto com Infantil; Televisão.
quem Ben mais se relaciona é o avô. Os Contato: Suzana Marcolino, IMESSN,
dois possuem uma relação de confiança, suzanamarcolino@yahoo.com.br
pois o avô é o único adulto que sabe dos
superpoderes adquiridos pelo garoto. Em
um episódio Ben ridiculariza o avô por não
ouvir e enxergar bem. Diz para o avô: “os
idosos não deveriam sair de casa no ve- DIA 13/11 - Domingo
rão”. No mesmo episódio o avô bebe água
da fonte da juventude e torna-se jovem 18h-20h
novamente. No episódio citado, chamou
nossa atenção a forma como Ben ridicula-
riza o avô pelo fato de ser idoso. A impor-
tância da relação entre adulto e criança se
CONFERÊNCIA
constitui, pois, o adulto é o ser humano
mais experiente da cultura que apresenta
ESPAÇO VITAL URBANO:
o mundo humano para a criança, além de
OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA OS
ser o modelo de conduta para ela: estas
JOVENS
são as bases em que se constrói a relação
entre adulto e criança. Essa relação deve Hartmut Günther - UnB
ter como princípio o respeito das especifi-
cidades de cada idade, que, inclusive, cabe Um dos primeiros estudos do que viria a
ao adulto explicitar para a criança. Parece- ser conhecido como Psicologia Ambiental,
-nos que desenho traz implícito uma super a partir dos anos de 1960, foi realizado
valorização da idade adulta inicial. Note-se quarenta anos antes. No fim da década de
que quando Ben transforma-se em aliení- 1920, Martha Muchow, aluna de William
gena, ele deixa de ser criança e assume a Stern, estudou o Espaço Vital da Criança
forma de um super-herói adulto, porém, Urbana, investigando três “campos de
um adulto jovem. Através da análise das treinamento”: o espaço no qual a criança
relações travadas pelo personagem princi- vive; o espaço que a criança experiencia
pal concluímos que o desenho apresenta e o espaço do qual a criança se apropria
um personagem infantil no interior de um (Muchow & Muchow, 1935/1998). An-
círculo pequeno de relações e as relações tecipou, desta maneira, a problemática
mantidas pelo personagem principal são central da Psicologia Ambiental, isto é, a
bastante pobres. Outro elemento que iden- reciprocidade entre comportamento e ex-
tificamos na análise da quarta temporada é periência subjetiva de um lado e espaço
que ser criança não basta: é preciso ter su- construído ou natural do outro. Partindo
perpoderes. Ser criança e ter uma vida de da diferenciação feita por Muchow, esta
criança parece desinteressante e, ao mes- apresentação visa refletir sobre continui-

446
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dades e mudanças históricas e culturais incluíram observações realizadas em um


nos três espaços: quais as oportunidade e espaço baldio e sem construção, em um
desafios que os mesmos apresentam para terminal de descarga de mercadoria, em
os jovens, hoje? O espaço no qual se vive. um playground feito “para” crianças, em
De que maneira o espaço urbano no qual ruas com diferentes níveis de movimento
o jovem de hoje vive em Brasília é diferen- de trânsito, em uma loja de departamen-
te do espaço urbano de Hamburgo, estu- to. Ao mesmo tempo que é possível afir-
dado por Muchow na década de 1920? mar que a maior complexidade do espaço
Sob a perspectiva de oportunidades e urbano de hoje é o resultado de maior alo-
desafios há de se considerar as demandas cação de espaços para as necessidades da
vivenciais da transição entre a juventude e vida moderna, isto é, da vida dos adultos,
a vida adulta. Colocado de outra maneira, resta questionar sobre as oportunidades
qual a correspondência entre os “campos de viver estes espaços, de se apropriar dos
de treinamento” urbanos, não-institucio- mesmos. Quais as formas de apropriações
nais e a vida futura? Qual a experiência e de adaptações que existem para os jo-
para a vida futura real, que o ambiente vens de hoje? Chegamos, desta maneira,
urbano proporciona diante da observação a um conceito que não estava presente
non scholae, sed vitae discimus? O espa- nestes termos – o espaço público. A for-
ço que se experiencia. Numa comparação malização do termo é uma consequência
entre o espaço de hoje com o espaço de de uma maior competição por um espaço
antigamente há de se constatar que, sem que, no caso de ter aumentado, aumentou
dúvida, os espaços experienciados dife- de maneira desigual: cada vez mais é alo-
rem de maneira significativa. As oportuni- cado para as vias, o transporte individual,
dades e os desafios são diferentes. Hoje, para o comércio. Tal competição pode ser
simplesmente existem mais informações e verificada mais diretamente nas formas de
mais estimulações. Isto implica em maior locomoção: flanar, andar a pé, de bicicle-
complexidade das vivências e maiores ta, no transporte individual, no transporte
desafios. As características específicas da público, no transporte de carga. Igualmen-
vida na metrópole foram teorizadas pela te, a competição pode ser observada nas
primeira vez por Simmel (1903), quando diferentes formas de ocupação e uso do
apontou a natureza racional, calculista e espaço urbano: comércio, depósito, recre-
pontual da metrópole; Wirth (1938) ob- ação, segurança. Esta repartição do espa-
servou que cidades grandes implicam em ço urbano freqüentemente implica numa
um estilo de vida particular; enquanto Mil- redução do espaço público, o que induz à
gram (1970) falou em sobrecarga da esti- pergunta sobre a acomodação das neces-
mulação. Quais as maiores oportunidades sidades dos diferentes grupos de usuários
desta vida urbana moderna para os jo- do meio urbano. Em particular, para fins
vens? O espaço do qual se apropria. Quan- desta apresentação, quais os espaços,
do Muchow falou em “viver o espaço” quais as oportunidades e os desafios que
tratou da apropriação do mesmo. Apre- estes espaços oferecem aos jovens? O
sentou exemplos de espaços criados por propósito desta contribuição é, em suma,
adultos e a sua apropriação e adaptação chamar atenção para o papel do espaço
aos interesses das crianças. Seus estudos informal na socialização dos jovens.

447
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CONFERÊNCIA bretudo do tutor; a qualidade da forma-


ção de agentes educativos para atuarem a
distância e a qualidade da aprendizagem
DYNAMICS IN THE “SABOR” OF dos alunos e seu desenvolvimento nessa
VYGOTSKY modalidade de ensino. Inspirados nes-
ses desafios, o objetivo deste simpósio é
Joseph Glick - CUNY/EUA
contribuir para a qualidade dos proces-
sos educativos em contextos nos quais os
dispositivos tecnológicos são utilizados
SP LT02 - Simpósio como mediadores para o processo de
ensino-aprendizagem e desenvolvimento
adulto. Apresentamos quatro trabalhos,
SP LT02-1274 - PROCESSOS DE
desenvolvidos em distintas Instituições
DESENVOLVIMENTO HUMANO de Ensino Superior, os quais abordam
PROMOVIDOS NO CONTEXTO DA a temática EAD sob diferentes ângulos:
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. Formação de docentes para atuarem
nessa modalidade de ensino, com ênfase
As Novas Tecnologias da Informação e Co- na análise de como essa formação favo-
municação (NTIC’s) têm sido amplamen- rece os processos de desenvolvimento
te utilizadas em diversos campos sociais profissional e propicia qualificação de
e ocupa lugar de destaque no âmbito da mediações pedagógicas; 2. Significados
Educação a Distância (EAD). Ao adotar as construídos por docentes sobre o uso de
NTIC’s, em especial a internet, a EAD ga- recursos da EAD no ensino presencial, no
nhou maiores proporções e visibilidade sentido de analisar como esses agentes
em diferentes áreas de formação e capa- percebem o potencial das NTIC’s, utiliza-
citação profissional, legitimando-se como das na EAD, para criarem cursos ao estilo
importante contexto de desenvolvimento blended learning; 3. Sobre a função do tu-
humano. A EAD tem possibilidades de tor, apontando algumas incompreensões
renovar e re-construir práticas pedagó- e condições que engendram sua função
gicas tradicionais, transformar a imagem e suas práticas tutorais; e 4. Um estudo
convencional de sala de aula e conferir sobre o desenvolvimento profissional
novos papéis ao professor e ao aluno, na do aluno da licenciatura no contexto da
tentativa de superar a ideia de transmis- EAD, buscando identificar o perfil discen-
são de conteúdo. No entanto, colocam-se te e os significados atribuídos por eles à
como desafios para a EAD, dentre outros: sua formação. Para subsidiar as análises
o desenvolvimento de propostas de cur- empreendidas neste trabalho, adota-
sos que sejam inovadoras, aproveitando- mos a perspectiva histórico-cultural e os
-se criticamente dos recursos oferecidos pressupostos da metodologia qualitativa.
pelas NTIC’s; a incorporação reflexiva dos Concebemos o desenvolvimento humano
elementos da EAD nos cursos da moda- como processo e produto das interações
lidade presencial, ao estilo bledend lear- socialmente estabelecidas ao longo da
ning; a importância de se compreender a vida, a partir dos significados negociados
função dos atores envolvidos na EAD, so- entre os diferentes indivíduos. Os contex-

448
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos educativos e formativos atuais, como representando o maior grupo. O desen-


é o caso da EAD, são considerados lugares volvimento de cursos para formação de
privilegiados por oferecerem condições professores na modalidade a distância é
para uma intensa troca de significados favorecido pelo cenário contemporâneo,
que podem promover diferentes traje- no qual tem ocorrido um investimento
tórias para o desenvolvimento dos indi- expressivo na formação docente, com vis-
víduos neles inseridos. O uso das NTIC’s tas a atender a demanda de certificação
no âmbito educacional potencializa o en- e qualificação profissional de um grande
contro social e diferentes configurações número de profissionais brasileiros que
de práticas pedagógicas favoráveis ao atuam sem formação adequada (Santa-
desenvolvimento humano. No entanto, a na, 2010). Um investimento motivado,
relação entre NTIC’s – EAD – ensino pre- principalmente, pela exigência da Lei de
sencial, bem como os elementos que os Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
compõem deve contemplar posturas teó- nal, n° 9394/1996, de obrigatoriedade
ricas e metodológicas claras que possam de titulação superior para docentes de
romper com o modelo de educação ainda todos os níveis de ensino. Nesse cenário
vigente e garantir efetivamente condições interessa-nos, particularmente, compre-
ao processo de ensino-aprendizagem e ao ender as especificidades da formação do
desenvolvimento humano. professor para atuar na EAD, e para isso
temos desenvolvido estudos sobre tal te-
mática, dentro de um projeto de pesquisa
FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA maior, realizado na Universidade Federal
ATUAR NA EAD: REFLEXÕES SOBRE O de Goiás sobre um curso de licenciatura
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL vinculado à Universidade Aberta do Bra-
Alba Cristhiane Santana - UFG sil. A UAB foi criada pelo Ministério da
albapsico@gmail.com Educação (MEC) em 2005, configurando-
-se em um programa de Educação a Dis-
A modalidade da Educação a Distância tância. Seu objetivo principal é formar
(EAD), baseada nas Novas Tecnologias professores para atuar na educação bá-
da Informação e Comunicação (NTIC’s), sica e, ao mesmo tempo, contribuir com
particularmente sob o apoio da internet, a expansão e interiorização da oferta de
tem se expandido de modo considerável cursos e programas de Educação Superior
nas últimas décadas, com vistas a atender no país. A estimativa do MEC foi alcançar
às demandas educacionais geradas pelos em 2010 a criação de mil pólos de atendi-
contextos sócio-culturais, políticos e eco- mento da UAB em todo território nacio-
nômicos. Um censo realizado pela Asso- nal e até 2013 atender 800 mil alunos por
ciação Brasileira de Educação a Distância ano (http://portal.mec.gov.br). O cenário
aponta que em 2008 cerca de 2,6 milhões de crescente expansão da EAD, com a
de alunos utilizaram essa modalidade, criação de programas como a UAB, tem
em todos os níveis educacionais (ABED, motivado o desenvolvimento de diferen-
2010). Esse estudo ainda demonstra que tes estudos (Belloni, 2008; Bicalho, 2010;
31,5% dos cursos oferecidos na EAD são Coll et al., 2010; Cruz, 2010; Zuin, 2006),
voltados para a formação de professores, visando compreender as especificidades

449
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do processo de ensino e de aprendizagem realidade educacional, suas possibilida-


nesses novos contextos educativos. O de- des e limites, bem como espaços para
senvolvimento dessa modalidade de ensi- reflexão e ressignificação do processo
no a partir das NTIC’s propicia uma nova educativo. Kenski (2004) afirma que os
cultura. Belloni (2008) e Kenski (2004) professores precisam sentir-se confortá-
assinalam que tais tecnologias são mais veis para atuarem nesse espaço, o que
do que simples suportes pedagógicos ao significa conseguir avaliar criticamente
processo educativo, elas interferem nas as diferentes possibilidades pedagógicas
formas de interação social e de apro- da EAD, integrando os recursos tecnoló-
priação e construção de conhecimento, gicos aos objetivos do processo de ensi-
gerando um novo modelo educacional. no. Nosso estudo tem uma fundamenta-
São construídas novas demandas para o ção teórico-epistemológica que articula a
papel do professor e do aluno, bem como, Psicologia histórico-cultural, numa pers-
novas concepções acerca do processo de pectiva dialógica, com uma abordagem
ensinar e de aprender, a partir das con- teórico-metodológica qualitativa. A partir
figurações específicas dessa modalidade, dos estudos de Bruner (1997) e Vygotsky
destacando o distanciamento espacial en- (2003) concebemos que o processo de
tre professor e aluno, e a simultaneidade desenvolvimento humano se configura
temporal das ações de cada um. Assim, nas relações dialógicas entre os sujeitos e
nesse contexto, os professores precisam os contextos sócio-histórico-culturais, nas
aprender a dominar e a valorizar não só quais ocorrem processos de produção e
um novo instrumento, ou um novo siste- negociação de significados, ao longo de
ma de representação do conhecimento, toda a vida. Dessa forma, vislumbramos
mas uma nova cultura de aprendizagem. o contexto de formação de professores
Os professores precisam estar preparados para atuar na EAD, como um espaço pri-
para lidar com as práticas educativas na vilegiado para o desenvolvimento adulto,
EAD, construídas pela mediação pedagó- considerando que ocorre um intenso pro-
gica, a qual se apresenta como um desafio cesso de significação, o qual pode gerar
para o papel docente nessa modalidade várias possibilidades de trajetórias para o
de ensino. Segundo Coll et al. (2010), o desenvolvimento dos sujeitos. Participam
papel mais importante do professor em da pesquisa quatro professores-forma-
ambientes virtuais, como os da EAD, é dores e quatro tutores a distância de um
o de mediador, visto como alguém que curso de licenciatura inserido no progra-
auxilia a atividade de aprendizagem do ma UAB. A construção das informações
aluno, utilizando-se para isso as NTIC’s. está ocorrendo a partir de entrevistas
A preparação do professor para atuar no qualitativas e observações no ambiente
ambiente virtual implica em uma forma- virtual de aprendizagem. Nosso objetivo
ção que ultrapasse o aspecto técnico de é identificar os significados atribuídos pe-
domínio de ferramentas, deve abranger los professores do curso à formação que
uma nova concepção acerca do processo receberam para atuar nesse contexto for-
de ensino e de aprendizagem. A forma- mativo, com vistas a analisar como essa
ção desse professor precisa oportunizar formação favorece processos de desen-
tempo para familiarização com essa nova volvimento profissional e propicia quali-

450
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ficação de sua mediação pedagógica. Os impulso a partir da década de 1990, oca-


resultados parciais apontam quatro eixos sionaram profundas mudanças em todas
interpretativos, a saber: a) formação ba- as esferas sociais. O domínio e a utilização
seada em cursos ou seminários presen- das Novas Tecnologias da Informação e
ciais, de cunho teórico sobre a EAD; b) Comunicação (NTIC’s), devido a sua pene-
ausência de atividades e experiências prá- trabilidade nas mais variadas esferas da
ticas na formação para atuação na EAD; atividade humana, passa a constituir prá-
c) importância das reuniões periódicas tica cotidiana para a socialização e rela-
entre professores-formadores e tutores, ções de produção e consumo, além de re-
vistas como espaço para reflexão sobre curso para a aquisição e aprofundamento
a prática docente; e d) concepção dos de conhecimentos (Castells, 2000). Entre
professores acerca da EAD: desconfiança outras consequências, observa-se, por um
ou certeza? Acreditamos que a formação lado, um vertiginoso acúmulo de informa-
de professores para atuar na EAD precisa ções em diversos campos do saber (Levy,
contemplar especificidades que garantam 2000; Shirky, 2011) e, por outro lado, a
ao docente condição para perceberem- necessidade de constante formação, atu-
-se como agente, produtor e crítico des- alização de conhecimentos, competên-
sa nova educação mediada pelas NTIC’s. cias e habilidades (Angelim & Rodrigues,
Nessa perspectiva, os programas de EAD 2009). Nesse cenário, a noção de educa-
precisam se comprometer com uma for- ção ao longo da vida vem ganhando força
mação de seus professores que mobilize juntamente com a demanda por maior
processos de desenvolvimento profissio- acesso à educação de nível superior e de
nal, a partir da produção de novos signifi- formação continuada. As NTIC’s começam
cados acerca de seu papel nesse contexto a ser vistas como mediadores do ensino-
educativo, assim como, novas concepções -aprendizagem e também como ferra-
sobre o aluno, os conteúdos, os procedi- menta para ampliar o acesso à educação e
mentos, a avaliação e o processo de ensi- a formação profissional. O campo da Edu-
nar e de aprender. cação a Distância (EAD) se fortalece e vão
crescendo as ofertas de cursos nos mais
Palavras-chave: Formação de professores; diferentes níveis de ensino dentro dessa
EAD; Psicologia Histórico-Cultural. modalidade (Pereira & Moraes, 2009). A
possibilidade de mesclar a EAD e o ensino
presencial tem sido compreendida como
SIGNIFICADOS CONSTRUÍDOS POR uma forma de aproveitar os benefícios
DOCENTES SOBRE O USO DOS de ambas as modalidades, sendo indica-
RECURSOS DA EAD NO ENSINO da como uma das grandes tendências no
PRESENCIAL DE GRADUAÇÃO campo da educação nos próximos anos. O
Anaí Haeser Peña - UnB ensino bimodal, híbrido ou blended lear-
anai.hp@gmail.com ning pressupõe a utilização de princípios
ou o uso das NTIC’s como feito em EAD,
Os avanços tecnológicos no campo da in- juntamente com o ensino presencial (Tori,
formação e comunicação iniciados na dé- 2009). Uma das vantagens mais expressi-
cada de 1960, e que ganharam um grande vas dessa modalidade de ensino seria a

451
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

possibilidade maior de potencialização da da necessidade de educação ao longo da


comunicação e integração espaço-tempo. vida e de possibilitar a formação de pes-
Além disso, há mais opções para oferecer soas capazes de utilizar essas tecnologias
apoio aos estudantes com dificuldades de em sua vida profissional. Nesse sentido,
aprendizagem e atividades complemen- a Coordenação de Aperfeiçoamento de
tares para aumentar a produtividade da- Pessoal de Nível Superior (CAPES) lançou,
queles mais adiantados (Tori, 2009). No em 2010, o Edital no 15 de 2010, o qual
que diz respeito ao fortalecimento das tinha por objetivo incentivar a integração
possibilidades de aprendizagem coope- e a convergência entre as modalidades
rativa e colaborativa (Pontes, 2009, An- de educação presencial e a distância nas
gelim & Rodrigues, 2009), há, igualmen- Instituições Públicas de Ensino Superior
te, estudos que indicam que o senso de (IES), por meio do fomento ao uso das
comunidade entre estudantes de cursos NTIC’s nos cursos de graduação presen-
bimodais é mais forte em comparação ciais. O presente estudo objetivou identi-
àquele de alunos de cursos em modalida- ficar e analisar os significados construídos
de totalmente a distância ou puramente por professores de ensino superior de
presencial (Rovai & Jordan, 2004). Esses uma IFES participante desse edital quan-
exemplos mostram, assim, a possibilida- to ao processo de ensino-aprendizagem
de de atender um escopo mais abrangen- mediado por tecnologias de informação
te de interesses quando se mesclam as e comunicação. A proposta dessa institui-
metodologias de ensino presencial e EAD. ção ao edital foi formada por 27 subpro-
Entretanto, a utilização das NTIC’s na edu- jetos propostos por diferentes unidades
cação, em suas diversas modalidades e acadêmicas e órgãos complementares
níveis, trazem em seu bojo a necessidade dessa instituição, prevendo quatro linhas
de novas práticas educativas (Tori, 2009). de ação: (i) plataforma virtual de aprendi-
Ganham força os discursos que defendem zagem; (ii) oferta de disciplinas com uso
a aproximação entre as práticas educati- das NTIC’s para os cursos de graduação
vas e o universo dos aprendizes, seus in- presenciais; (iii) produção de conteúdos
teresses e necessidades. A formação de educacionais e materiais didáticos; (iv)
professores para atuar nessas diferentes capacitação de recursos humanos. Essa
modalidades educativas tem se apresen- investigação se foca em apenas uma das
tado como um desafio nesse contexto. O linhas de ação de um desses subprojetos,
Poder Público, sensibilizado e impulsio- a qual tinha como um de seus objetivos
nado por esses elementos contextuais, específicos capacitar o corpo docente do
vem adotando políticas para ampliar o departamento para utilização plena os re-
acesso e promover melhorias qualitativas cursos midiáticos da Plataforma Moodle.
à educação, sendo uma das estratégias Participaram da pesquisa 7 professores
adotadas as políticas para a ampliação de ensino superior de um departamento
da EAD e a introdução de seus elementos de uma unidade acadêmica dessa IFES,
no âmbito do ensino presencial. Dessa doravante referidos como docentes e 3
maneira, a EAD associada às NTIC’s tem professores-tutores. Os docentes tiveram
potencial para oferecer maior acesso à acesso a um tipo de capacitação individu-
educação, de favorecer a compreensão alizada, com um professor-tutor especia-

452
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lista no uso e configuração de ambiente A FUNÇÃO DO TUTOR E SUAS PRÁTICAS


virtual de aprendizagem Moodle e gradu- TUTORIAIS EM EAD: ALGUMAS
ado na área do professor em formação. INCOMPREENSÕES
As atividades da capacitação se davam Rute Nogueira de Morais Bicalho - UnB
em torno do planejamento, elaboração, arutebicalho@gmail.com
construção e acompanhamento da ofer-
ta de disciplinas em curso de graduação, Com a expansão dos cursos na modalida-
com o objetivo de criar disciplinas na de de Educação a Distância (EaD), funções
modalidade blended learning. Foram fei- profissionais estão sendo (re)desenhadas
tas entrevistas com os docentes, com os para se adequarem às novas demandas
professores-tutores e etnografia virtual educativas da sociedade atual, como é o
dos ambientes virtuais de aprendizagem caso do tutor. A inserção desse profissional
das disciplinas ofertadas pelos docentes. na EaD, as concepções e suas práticas pe-
As análises, baseadas na metodologia dagógicas ainda são permeadas por mui-
qualitativa (Denzin & Lincoln, 2007) e na tas contradições e incompreensões, o que
abordagem histórico-cultural (Vygotsky, acaba por comprometer a qualidade dos
2003), mostram formas singulares de cursos ofertados nesse contexto. Uma des-
apropriação das NTIC’s e das caracterís- sas incompreensões diz respeito à quan-
ticas da modalidade híbrida de ensino tidade de nomenclaturas oficiais26 que
por parte dos docentes. Tais formas de fazem referência ao tutor: assessor peda-
apropriação se aproximam das concep- gógico (Gutierrez & Prieto, 1994); forma-
ções de ensino-aprendizagem conhecidas dor ou webcoferencista (Valente & Mattar,
e utilizadas por esses docentes em suas 2007; Valente et al., 2003); professor on-
práticas cotidianas, notadamente numa line (Machado & Machado, 2004); educa-
concepção tradicional de educação base- dor a distância (Niskier, 1999), professor/
ada na transmissão de conteúdos e pouca orientador (Lima et al., 2010), orientador
interatividade entre professor-estudante. acadêmico (Pretti, 2000) e instrutor ou
Esses resultados em parte apontam falta facilitador online (Du, Havard & Li, 2005;
de conhecimentos específicos sobre ou- Beuchot & Bullen, 2005; Bolliger & Wasilik,
tras formas de ensinar e aprender pos- 2009; Moore & Kearley, 2008; Dennen &
sibilitadas pelas NTIC’s e estratégias de Wieland, 2007; Dennen, 2005). Essa multi-
resistência diante do imperativo do uso plicidade de termos é um circunscritor im-
dessas tecnologias. Como nos dizem Ma- portante que traduz a ambiguidade e a fal-
turana e Varela (2001), “no âmago das ta de clareza em relação à função do tutor
dificuldades do homem atual, está seu e suas práticas (Bicalho, 2010). Quem é o
tutor afinal? Ele é um docente, informador,
desconhecimento do conhecer. Não é o
avaliador, mensageiro, um recurso, ou um
conhecimento, mas sim o conhecimento
prestador de serviços pedagógicos? (Zuin,
do conhecimento, que cria o comprome-
2006). Certamente, sutilezas do desempe-
timento” (p. 270).
nho da função do tutor engendram-se nas
Palavras-chave: Desenvolvimento docente,
26
EAD, Blended-Learning. Em contrapartida há nomenclaturas informais como,
por exemplo: fantutoche, impostutor (Valente & Mattar,
2007), bedel online.

453
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

propostas metodológicas e na organização visão crítica e global, responsabilidade,


estrutural e profissional adotadas pelas capacidade para lidar com situações novas
diferentes instituições de ensino que ofer- e inesperadas, saber trabalhar em equipe,
tam cursos a distância. No entanto, auto- dominar o conteúdo da(s) disciplina(s); ter
res como Belloni (2008); Machado e Ma- manejo metodológico e didático; habilida-
chado (2004); Valente e Mattar (2007) cha- de para orientar, supervisionar, planejar e
mam a atenção para uma melhor definição avaliar as atividades discentes; motivar e
dos perfis de professor e de tutor em EaD. animar os alunos; e, na opinião de Gonzá-
A inexistência de um modelo que abarque lez (2008), necessita também exercer uma
as diferentes posições ocupadas por eles sedução pedagógica que proporcione aos
“é um fator desestabilizador nas muitas alunos condições de uma aprendizagem
formas de equacionar a EaD” (Saraiva et indagadora, plena e autônoma. Conforme
al., 2006, p. 487). Ressaltamos que as prá- o manual de tutoria da UAB-UnB, o tutor
ticas na modalidade a distância envolvem “é um mediador que problematiza a rea-
compreensões e posturas diferenciadas, lidade, por meio do estabelecimento de
sobretudo quanto à concepção do papel ações interativas dialógicas [...]”, em que o
de tutor (Belloni, 2008) que ainda não tem reconhecimento do tutor como mediador,
uma identidade específica (Sá, 1998). De- resgata o princípio epistêmico da ação do-
finir e compreender o lugar que o tutor cente, compreendendo-o como articula-
deve ocupar nesse contexto é fundamen- dor do processo de formação do aluno. O
tal para o sucesso da EaD. Nesse sentido, tutor, para essa instituição, deve ser “cria-
o objetivo deste ensaio teórico é refletir dor de situações de aprendizagens capazes
sobre as incompreensões e condições do de possibilitar ao aluno montar estratégias
trabalho do tutor, ressaltando o modelo para resolvê-las, “reconstruir conceitos e
de tutoria da UAB em parceria com a UnB. utilizar os processos de estruturas mentais
De acordo com Sá (1998), a figura do tutor complexas” (Brasil, 2009, p. 21). Todavia,
teve origem no século XV permeada por o tutor recebe uma bolsa de trabalho da
um caráter religioso e limites profissionais FNDE27, ao tempo de desenvolvimento da
delimitados: responsabilidade pela orien- ação tutorial, cujo valor atualmente é de
tação de estudantes às condutas de fé e R$ 765,00. Acreditamos que a baixa remu-
de moral. Apenas no século XX, o tutor tor- neração e o caráter incerto da atividade
nou-se figura importante nos programas profissional são circunscritores importan-
de EaD, tendo suas práticas profissionais, tes para o desenvolvimento das práticas
a partir dessa época, um caráter acadê- docentes/tutorias e para sua formação
mico. Apesar dessa mudança histórica, a identitária (Bicalho, 2010). Teixeira Júnior
concepção de tutor parte ainda da premis- (2010), nesse sentido, coloca como condi-
sa de que ele não ensina, apenas orienta, ções ruins para o exercício da tutoria: a so-
dirige e apóia a aprendizagem, remetendo
brecarga e acúmulo de atividades, as difi-
a alguém devidamente responsável pela
culdade na organização do tempo e espaço
tutela e proteção (Machado & Machado,
para executar a atividade tutorial, a falta
2004). Essa figura do tutor, entretanto, não
de diálogo com a equipe docente e dificul-
condiz com a nova demanda social, que co-
bra dele uma série de competências: ade-
quada formação acadêmica; dinamismo, 27
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

454
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dade em manter o ânimo e a participação DESENVOLVIMENTO DISCENTE NA


dos alunos no curso. Ademais, a falta de ga- EAD: UM ESTUDO SOBRE O ALUNO DA
rantias legais e de reconhecimento deses- LICENCIATURA
timula o tutor, fazendo-o permanecer pou- Alessandra Oliveira Machado Vieira - UFG
co tempo na função, acarretando prejuízos avieira@fe.ufg.br
pedagógicos à EaD (Juste, 2011). Estudos
americanos (Bolliger & Wasilik, 2009), afir- Temos evidenciado nas últimas décadas,
mam que os tutores apresentam desgaste um foco especial de atenção e interes-
emocional, altos níveis de despersonaliza- se à modalidade de ensino denominada
ção e baixos níveis de realização pessoal, Educação a Distância (EaD). Baseada nas
enfatizando que a satisfação do tutor é Novas Tecnologias da Informação e Co-
um fato considerável por comprometer a municação (NTIC’s), essa modalidade tem
qualidade de cursos a distância, tal como buscado atender às demandas educacio-
as pesquisas brasileiras indicam (Bicalho, nais geradas pela exigência de certifica-
2010). Valente e Mattar (2007) falam que ção e qualificação profissional do quadro
as condições dadas ao desempenho da docente, com o objetivo de democratizar
função tutorial são indecentes e dramáti- e elevar o padrão de qualidade da edu-
cas, ao passo que o “tutor recebe não ape- cação brasileira (Behar, 2010). A começar
nas um currículo, mas um pacote comple- pelo amplo sentido de definições (Bello-
to pronto [...]”, de todo o funcionamento ni, 2008), sem dúvida a EaD apresenta-se
do curso. Os autores concluem que o tutor, como uma proposta de ensino diferente,
assim, transforma-se “em um ‘impostutor’ visto que não consiste simplesmente em
(inclusive porque tudo lhe é imposto), um adaptar formas tradicionais de ensino às
‘fantutoche’, passivo e algemado, ao qual tecnologias ou vice-versa, mas envolve
não é dada praticamente nenhuma liber- a preocupação com o que Kenski (2010)
dade para atuar no processo de ensino e chamou de nova lógica do ensino, tendo
aprendizagem” (p. 139). Para Zuin (2006) em vista questões estruturais, dentre as
o tutor não deve, apaticamente e sem quais destaca a definição sobre que tipo
questionamentos, absorver o que lhe é de educação se deseja desenvolver e que
imposto. Seu posicionamento crítico guar- tipo de aluno se pretende formar; com
da relações diretas com a qualidade do co- que finalidade e perspectivas; que altera-
nhecimento construído em EaD (Bicalho, ções curriculares e impactos na concreti-
2010; Bicalho et al., 2011).Concluímos que zação do projeto pedagógico são acarreta-
o papel desse profissional e suas práticas das por essas tecnologias e que formação
pedagógicas precisam ser repensadas, sob é necessária aos professores que vão atuar
risco de reproduzirmos concepções tradi- nesse espaço. As questões levantadas por
cionais de ensino em uma modalidade que Kenski e outros pesquisadores (Belloni,
tem grande potencial para transformar, de 2008; Bicalho, 2010; Coll et al., 2010; Cruz,
maneira criativa e inovadora, a educação 2010; Mattar, 2011; Zuin, 2006) sugerem
deste país, favorecendo assim o desenvol- uma diversidade profícua de objetivos de
vimento humano. pesquisa, que abarcam a complexidade
sistêmica dessa modalidade de ensino. Em
Palavras-chave: EaD; Tutor; Práticas Tutoriais. relação ao aluno da EaD, especificamente,

455
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Belloni (2008) aponta que estudos indicam perspectiva dialógica de desenvolvimen-


que muitos estudantes dessa modalidade to, que considera a co-construção de sig-
de ensino tendem a realizar uma aprendi- nificados compartilhados nos específicos
zagem passiva “digerindo pacotes instru- contextos de participação e produção de
cionais e regurgitando os conhecimentos saberes. Nessa perspectiva, o desenvolvi-
assimilados nos momentos de avaliação” mento está intimamente relacionado ao
(p.40). Essa autora ainda assinala que não contexto sociocultural no qual se insere a
se pode generalizar, mas esta concepção pessoa, do qual participa e o qual reorga-
revela significados que são atribuídos à niza continuamente. Sendo os processos
EaD e que podem comprometer seu pro- de significação dos sujeitos impregnados
cesso educativo. Nessa modalidade de de significação cultural, as concepções dos
ensino exige-se do aluno um trabalho au- alunos constituem campos privilegiados
tônomo, ao assumir a responsabilidade de de conhecimento sobre processos educa-
estudar à distância, o aluno se obriga a ter cionais e desenvolvimento humano. São
um ambiente e um tempo para estudar no participantes da pesquisa 35 alunos de
seu próprio ritmo, de acordo com as con- um curso de licenciatura inserido no pro-
dições e capacidades individuais. A EaD grama UAB. Questionários e observações
exige um aluno disciplinado, independen- no ambiente virtual de aprendizagem são
te e autônomo (Coll et al., 2010), mas será os procedimentos utilizados e a partir dos
que é esse o aluno que temos nos nossos quais temos construído as informações,
cursos? Estudos têm sido desenvolvidos apoiando-nos numa análise qualitativa
nessa direção (Belloni, 2008; Bohadana & das mesmas. Nosso objetivo é identificar
Valle, 2009; Coll et al., 2010), com vistas quem são os alunos e quais os significa-
a conhecer o perfil, as competências, os dos atribuídos por eles à sua formação,
objetivos do aluno da EaD. Assim, também tendo assim, como perspectiva, conhecer
temos desenvolvido estudos nesse cená- o que pensam sobre o curso e como tais
rio, abrangendo diferentes eixos investi- concepções favorecem (ou não) sua atu-
gativos, dentro de um projeto de pesquisa ação e compromisso, isto é, os processos
maior, realizado na Universidade Federal de qualificação e desenvolvimento profis-
de Goiás sobre um curso de licenciatura sional. Os resultados preliminares apon-
vinculado à Universidade Aberta do Bra- tam como indicadores (a) a construção de
sil (UAB). Interessa-nos, particularmente uma consciência grupal sobre os limites da
aqui, apresentar um desses eixos, que formação na modalidade à distância, des-
consiste em compreender algumas espe- dobrada em queixas sobre a qualidade do
cificidades que envolvem o processo de material textual didático e o ritmo em que
construção do conhecimento nessa nova são apresentados os conteúdos; (b) dificul-
cultura educacional, em especial, a carac- dade de compreender com autonomia, a
terização dos alunos e as suas concepções linguagem dos textos propostos, eviden-
e objetivos quanto ao curso de licenciatu- ciando a necessária mediação do tutor; (c)
ra. A pesquisa em questão fundamenta-se a importância e demanda do número de
na Psicologia Histórico-Cultural, a partir encontros presenciais; (d) a urgência em
dos estudos de Vygotsky (1994, 2003) e repensar e avaliar a qualidade das (inter)
Bruner (1997, 2001), articulado a uma ações e dos aspectos de intervenção mo-

456
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tivacionais voltados para a produção do sentar modelos de intervenção e, con-


conhecimento no ensino a distância. Co- sequentemente, formação profissional
nhecer as concepções dos alunos sobre mais condizentes com o conhecimento
o curso em desenvolvimento nos ajuda a contemporâneo a respeito do desenvol-
compreender o que esperam dessa expe- vimento humano. Em um país como o
riência e quais são as características dos Brasil, de grande diversidade cultural,
cursos que atendem aos seus objetivos, social, econômica, ambiental, é de funda-
analisando os efeitos desses novos mode- mental importância um olhar diferencia-
los pedagógicos em relação ao desenvolvi- do para a situação de crianças e adoles-
mento de processos de ensino e aprendi- centes. A primeira fala tem o objetivo de
zagem (Behar, 2010). Em consonância com apresentar fatores de risco e de proteção
essa última autora, acreditamos que é ne- para o desenvolvimento da criança e do
cessário realizar pesquisas reflexivas, que adolescente, visando introduzir o tema;
auxiliem na compreensão não apenas das destaca-se a multideterminação desses
possibilidades, mas também dos limites fatores, uma vez que há uma interação
do uso de ambientes virtuais na educação, contínua, ao longo do tempo, entre fato-
contribuindo para a construção e expan- res biológicos e ambientais e que as con-
são da EAD, de forma crítica e dinâmica. dições ambientais têm a possibilidade de
atenuar ou agravar os efeitos de risco ou
Palavras-chave: Desenvolvimento Discente; de proteção no desenvolvimento infantil.
Licenciatura; EaD; Psicologia Histórico- A segunda fala apresenta uma análise de
Cultural. fatores de risco e de proteção, relativos
à violência física intrafamiliar contra a
criança, dentro da perspectiva do Modelo
SP LT06 - Simpósio Bioecológico, identificando necessidades
de pesquisas na área para esclarecer as-
pectos pouco explorados; são enfocados
SP LT06-883 - REFLEXÕES SOBRE fatores relacionados ao contexto e ao
FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA tempo, assim como às características da
O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA pessoa; discutem-se, ainda, os proces-
E DO ADOLESCENTE E MODELOS DE sos proximais que permeiam o contexto
INTERVENÇÃO de violência intrafamiliar, abordando sua
Lígia Ebner Melchiori - UNESP/Bauru perpetuação ao longo do curso de vida
lmelch@fc.unesp.br e as características das interações entre
Maria Auxiliadora Dessen - UnB pais e filhos, em famílias com histórico
dessen@unb.br de violência. Na terceira fala discorre-se
Ana Carolina Villares Barral Villas Boas - UnB a respeito da necessidade de se adotar
villares_ana@yahoo.com.br uma fundamentação teórica sistêmica e
modelos de formação profissional que se-
Esta proposta de Simpósio visa: promo- jam compatíveis com a complexidade das
ver reflexões a respeito de fatores de ris- intervenções com famílias em situação de
co e de proteção ao desenvolvimento da risco; inicialmente, discute-se como a te-
criança e do adolescente, além de apre- oria sistêmica da família e o modelo bio-

457
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ecológico de Bronfenbrenner constituem te, visando fornecer subsídios para jovens


ferramentas apropriadas para pesquisar e pesquisadores brasileiros e para profissio-
lidar com a família; defende-se a adoção nais que atuam diretamente nessa área. A
de um modelo de formação profissional primeira parte é dedicada a descrever os
compatível com a atuação sistêmica – o fatores de risco para o desenvolvimento
modelo transdisciplinar; conclui-se com e, na segunda, são destacados os fatores
algumas reflexões sobre a necessidade de proteção. Os fatores de risco envolvem
de parcerias entre todos os segmentos os de ordem política, socioeconômica,
envolvidos com a qualidade de vida e o ambiental, cultural, familiar e genética,
desenvolvimento de famílias em situação sendo a combinação de adversidades que
de risco. influencia, negativamente, diferentes áre-
as do desenvolvimento. Eles têm ações
diversas sobre o desenvolvimento, uma
FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO vez que dependem da idade em que aco-
PARA O DESENVOLVIMENTO DA metem o indivíduo, duração, intensidade,
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE quantidade e variedade do agente nocivo
Lígia Ebner Melchiori - UNESP/Bauru e da susceptibilidade genética. Diferentes
lmelch@fc.unesp.br autores têm destacado fatores de risco
gerais que podem afetar o desenvolvi-
Os fatores de risco ao desenvolvimen- mento infantil, que vão além dos fatores
to da criança e do adolescente têm sido genéticos ou biológicos e das condições
estudados, na literatura, em função das de nascimento, como baixo peso ou pre-
condições prejudiciais que podem causar. maturidade. Sameroff, Seifer, Barocas,
No entanto, há necessidade de se dar a Zax e Greenspan (1987), por exemplo,
mesma ênfase aos fatores de proteção, destacaram 10 fatores de risco que afe-
uma vez que eles podem auxiliar na mi- tam o QI de crianças de nível socioeconô-
nimização ou, mesmo, na superação das mico desfavorecido, no entanto, muitos
condições adversas. É necessário destacar deles influenciam crianças de qualquer
que esses fatores são multideterminados classe social: (a) saúde mental materna;
- pois, há uma interação contínua entre (b) ansiedade materna; (c) perspectivas
fatores biológicos e ambientais, ao longo parentais; (d) comportamentos interati-
do tempo - e que as condições ambientais vos maternos; (e) educação materna; (f)
têm a possibilidade de atenuar ou agravar status ocupacional do provedor; (g) status
os efeitos de risco ou de proteção no de- socioeconômico; (h) suporte social fami-
senvolvimento infantil. Atrasos no desen- liar; (i) tamanho da família; e (j) eventos
volvimento são produzidos, então, pela estressantes. Esses autores alertam que,
combinação de fatores de risco genéti- no entanto, poucos riscos são suscetíveis
cos, biológicos, psicológicos e ambientais, a intervenções. O tamanho da família não
envolvendo interações complexas entre tem como diminuir. O nível de escolari-
eles. Esta apresentação tem o objetivo de dade materno, a ocupação do chefe da
destacar relevantes aspectos a respeito família, as perspectivas parentais e os
dos fatores de risco e de proteção no de- aspectos socioeconômicos são aspectos
senvolvimento da criança e do adolescen- que podem ser desenvolvidos em longo

458
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

prazo, apesar de não serem passíveis de e sociais (ex: escola, comunidade, centros
modificação em programas básicos de de saúde, opções de lazer, centros reli-
intervenção. No entanto, a intervenção giosos) podem minimizar ou neutralizar
psicológica pode ajudar a alterar a forma o impacto dos fatores de risco. É impor-
de se enfrentar os eventos estressantes, tante destacar a necessidade de fortale-
diminuir a ansiedade materna e melho- cimento dos fatores de proteção, em seus
rar a qualidade da interação entre mãe diferentes níveis, o mais cedo possível.
e filhos. A rede de suporte social familiar Em estudo de meta-análise, por exemplo,
também pode ser passível de ampliação, Bakermans-Kranenburg, Van Ijzendoonr
com orientações de como e onde buscar e Juffer (2005) concluíram que as inter-
determinados tipos de ajuda. Em função venções psicológicas para se trabalhar o
da situação aflitiva em que se encontram vínculo de apego entre mãe e filho ocor-
as crianças brasileiras, Della Barba, Mar- rem com excelentes resultados quando
tinez e Carrasco (2003) concluem que as este tem seis meses de idade. Outros
políticas públicas devem procurar facili- tipos de intervenção e de estimulação
tar a integração da mãe no mercado de também apresentam resultados excelen-
trabalho, auxiliá-la na conciliação de res- tes nos primeiros anos de vida da crian-
ponsabilidades familiares e profissionais, ça, em função da plasticidade do cérebro
apoiar crianças e famílias em situação de humano nesta época. No entanto, para
risco, favorecer oportunidades de escola- que realmente ocorra o fortalecimento
rização materna e paterna - uma vez que dos fatores de proteção e supressão ou
a escolaridade pode resultar em crenças minimização dos riscos, há necessidade
mais positivas com relação ao ambiente de se ter uma visão o mais abrangente
familiar, aumentando a provisão de mate- possível dessa multiplicidade de influên-
riais e interações afetivas - e auxiliar na cias a que o ser humano está exposto. A
implantação de ambientes que estimu- atuação da forma mais eficaz possível vai
lem o desenvolvimento global da crian- depender de inúmeros agentes, desde os
ça, como creches e escolas de qualidade, proponentes das políticas públicas, cuja
centros esportivos, entre outros. Outro iniciativa em nosso país está começando
ponto que eles destacam é a veiculação a não depender apenas dos órgãos go-
de informações a respeito do desenvolvi- vernamentais, como a atuação de uma
mento infantil para profissionais da saú- equipe multiprofissional, que trabalhe de
de e para a família. Eles concluem que os forma mais organizada e interdependen-
resultados serão satisfatórios quando a te. Trabalhar junto com a família, visando
intervenção envolver a família, a comu- suas necessidades gerais, é condição bási-
nidade e os serviços públicos, uma vez ca para a promoção do desenvolvimento
que saúde, ambiente e desenvolvimen- da criança e do adolescente, em toda sua
to infantil não são conceitos que podem potencialidade.
caminhar sozinhos. Os recursos pessoais
(ex: autoestima, habilidades cognitivas, Palavras-chave: fatores de proteção e de risco,
capacidade de enfrentamento de situa- crianças, adolescentes
ções adversas), familiares (ex: práticas pa- Contato: Lígia Ebner Melchiori, Unesp/Bauru,
rentais, vínculos de apego estabelecidos) lmelch@fc.unesp.br

459
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA A CRIANÇA: miliar e, ao tempo, tendo em vista que a


ANÁLISE DE FATORES DE RISCO E noção de cronossistema permite compre-
PROTEÇÃO NA PERSPECTIVA DO ender as transformações nas concepções
MODELO BIOECOLÓGICO sobre a criança, ao longo das gerações. Na
Ana Carolina Villares Barral Villas Boas - UnB segunda parte, é destacado o olhar sobre
villares_ana@yahoo.com.br o indivíduo e características pessoais que
devem ser levadas em conta. Em seguida,
No Brasil, os números da violência física são discutidos os processos proximais que
contra crianças são alarmantes, sobretu- permeiam o contexto de violência intrafa-
do, por se referirem a indivíduos em ten- miliar, abordando sua perpetuação ao lon-
ra idade, que deveriam estar protegidos go do curso de vida e características das
desse tipo de experiência. Ainda que a interações entre pais e filhos, em famílias
família represente o principal ambiente de com histórico de violência. Discutem-se,
socialização da criança, desempenhando por fim, limites e avanços na pesquisa con-
um importante papel no seu processo de temporânea sobre violência física contra a
desenvolvimento, muitas famílias expõem criança e as vantagens da adoção da pers-
crianças e adolescentes a situações de ris- pectiva biecológica para a sua compreen-
co que podem comprometer sua integri- são. Enquanto fatores de risco aumentam
dade física e emocional. A violência física as chances ou estão associados à ocorrên-
intrafamiliar é um fenômeno de complexa cia de um evento indesejado, fatores de
apreensão, determinado por fatores que proteção envolvem recursos do indivíduo
operam em diferentes níveis, consideran- ou da sociedade que minimizam ou neu-
do a interação entre variáveis contextuais tralizam os efeitos do risco. Considerando
e individuais. Sua compreensão, portanto, o atual contexto histórico brasileiro e as
depende de uma perspectiva ampla o su- discussões para o combate à violência, os
ficiente para contemplar aspectos imedia- fatores associados ao macro e ao cronos-
tos e históricos, proximais e distais, envol- sistema são os primeiros a serem aborda-
vendo toda a rede de relações em que a fa- dos. Enquanto a análise sobre o macrossis-
mília se encontra. O modelo Bioecológico tema contribui para o entendimento sobre
proposto por Uri Bronfenbrenner revela- valores e padrões da cultura ou subcultura,
-se capaz de embasar estudos sobre fenô- especialmente, no que diz respeito ao uso
menos dessa natureza, por oferecer uma da punição física como prática educativa, a
ampla visão sobre as variáveis associadas noção de cronossistema permite compre-
ao desenvolvimento humano. Para tanto, ender as mudanças no reconhecimento
esta apresentação tem como objetivo re- da criança como detentora de direitos e
alizar uma análise de fatores de risco e de a construção de prerrogativas legais para
proteção relativos à violência física intrafa- sua proteção. Além do contexto social,
miliar contra a criança, na perspectiva do seja ele imediato e representado pelos
Modelo Bioecológico, com base nos seus valores que permeiam o contexto familiar,
componentes Pessoa-Processo-Contexto- ou distal, como as alterações na visão da
-Tempo. Primeiramente, são enfocados infância, nenhum fenômeno relacionado
aspectos relacionados ao contexto, espe- ao desenvolvimento pode ser compreen-
cialmente, o macro e o microssistema fa- dido sem levar em conta as características

460
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da pessoa. Nesse sentido, os estudos sobre de proteção, evitando que a atenção a um


violência física chamam a atenção tanto único aspecto possa gerar intervenções li-
para características dos pais, como a pre- mitadas e não abrangentes. No que tange
sença de psicopatologias e de uma perso- aos processos proximais, os estudos care-
nalidade hostil, quanto da criança, como o cem de análises mais amplas, que focali-
temperamento difícil. No que diz respeito zem as interações entre os membros fami-
ao processo, elemento central do modelo liares e identifiquem padrões de risco com
bioecológico, estudos sobre as relações o intuito de favorecer relações saudáveis,
mantidas no contexto imediato sinalizam auxiliando no declínio e até abandono de
a importância de identificar característi- práticas que violem os direitos da criança.
cas da interação entre pais e mães com
histórico de violência e seus filhos, o que Palavras-chave: família, fatores de risco e
pode contribuir para o reconhecimento proteção, violência física contra a criança
de padrões de interação considerados de Contato: Ana Carolina Villares Barral Villas
risco. Pesquisadores têm identificado, por Boas, UnB, villares_ana@yahoo.com.br
exemplo, que nessas famílias pais e filhos
interagem menos e, frequentemente, suas
interações têm sido descritas como mais MODELOS SISTÊMICOS: DESAFIOS
negativas, sendo as genitoras mais direti- PARA A ATUAÇÃO COM FAMÍLIAS EM
vas, controladoras e inconsistentes. Ape- SITUAÇÃO DE RISCO
sar desses achados, os fatores relaciona- Maria Auxiliadora Dessen - UnB
dos aos processos proximais têm recebido dessen@unb.br
menor atenção por parte dos pesquisado-
res da área. Embora haja um considerável A promoção do desenvolvimento huma-
número de trabalhos sobre as interações no requer ações complexas, que envol-
entre pais e filhos em situação de violên- vam aspectos biológicos, físicos, sociais e
cia, muitos estudos têm enfocado apenas psicológicos. Nesse processo, as ações da
o comportamento de cada membro fami- saúde e da educação têm contribuições
liar, separadamente, sem levar em conta diretas e fundamentais, no que tange a
a reciprocidade da relação. Considerando assegurar melhores condições de vida,
que o desenvolvimento é um fenômeno permanência e participação da pessoa em
epigenético e probabilístico, sua compre- desenvolvimento no seu contexto social.
ensão depende da análise da interação en- Considerando as diversas frentes de atu-
tre as diversas características do indivíduo ação promovidas pelas áreas da saúde e
e do ambiente. Sendo assim, a adoção da da educação, merecem destaque aquelas
perspectiva bioecológica para a análise da voltadas às famílias em situação de risco,
violência física intrafamiliar parece contri- particularmente, de bebês e crianças que
buir para a compreensão das relações di- necessitam de atenção precoce. A família
nâmicas presentes nesse contexto, eviden- é a principal fonte de contribuição para o
ciando a necessidade de estudos amplos processo de desenvolvimento do ser hu-
e integrados. A intensificação do combate mano, especialmente na infância, quando
à violência contra a criança requer ações a criança se encontra em situação de risco
com foco tanto em fatores de risco como social ou biológico. Estas famílias deman-

461
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dam maior suporte, cuidado, informação, têm uma organização dinâmica, na qual as
acolhimento e orientação. Neste contexto, mudanças que ocorrem em uma determi-
os programas de atendimento familiar são nada relação afetam as demais; (c) a famí-
essenciais, tanto para orientar as famílias lia tende a manter um estado de equilíbrio
no que se referem às tarefas de desenvol- ou homeostase; e (d) o equilíbrio familiar
vimento do seu curso de vida quanto para ocorre através de uma constante readap-
apoiá-las, fortalecê-las e encorajá-las na tação ao seu contexto. Para compreender-
busca de soluções para seus problemas. A mos a família e suas relações extra-fami-
noção de fortalecimento da família como liares, faz-se necessário recorrer a outra
solucionadora de suas próprias dificulda- ferramenta teórica, mais abrangente e que
des deve ser priorizada no planejamento complementa a Teoria Sistêmica da Famí-
dos programas e de projetos de pesquisa. lia: o Modelo Bioecológico, proposto por
Para isto, duas condições são necessárias: Bronfenbrenner. Este modelo, bastante di-
adotar uma fundamentação teórica sistê- vulgado nas últimas três décadas, amplia
mica e modelos de formação profissional o escopo de análise e permite entender o
que sejam compatíveis à complexidade sistema familiar de forma integrada e glo-
das intervenções com as pessoas e as famí- bal, levando em consideração a pessoa,
lias em situação de risco. Assim, a primei- os processos proximais, os contextos eco-
ra parte desta apresentação é dedicada a lógicos e o tempo. Esta complexidade sis-
discutir como a teoria sistêmica da família têmica demanda uma inovação na forma-
e o modelo bioecológico de Bronfenbren- ção atual de uma equipe multidisciplinar.
ner constituem ferramentas apropriadas Assim, apresentamos uma das alternativas
para pesquisar e lidar com a família. Na de formação de profissionais que nos pa-
segunda parte, defendemos a importância rece apropriada: os Modelos Transdiscipli-
de se adotar um modelo de formação pro- nares. A intervenção transdisciplinar é de-
fissional compatível com a necessidade de finida como os papéis compartilhados en-
uma atuação sistêmica – o modelo trans- tre os limites ou fronteiras das disciplinas,
disciplinar. A terceira e última parte é dedi- de modo a otimizar a comunicação, a in-
cada a apresentar algumas reflexões sobre teração e a cooperação entre os membros
a necessidade de parcerias entre todos os da equipe. Portanto, os modelos transdis-
segmentos envolvidos com a qualidade de ciplinares têm como objetivo proporcionar
vida e o desenvolvimento de famílias em serviços mais integrados, coordenados e
situação de risco. Para estudar a família, centrados na família, reduzindo os proble-
frente às mudanças nas sociedades, é pre- mas de comunicação e potencializando a
ciso compreender as transformações ocor- coordenação dos serviços. A elaboração
ridas dentro deste microssistema e, deste, de programas, baseada única e exclusiva-
em relação a outros contextos extrafami- mente na experiência do próprio profissio-
liares. Quatro princípios devem ser consi- nal que executa a intervenção e limitada à
derados em um planejamento de pesqui- sua necessidade de trabalho com a família,
sa sob a perspectiva do desenvolvimento não se mostra mais adequada à complexi-
familiar: (a) a família é caracterizada por dade de um paradigma sistêmico. Um pa-
uma estrutura específica de relações entre radigma sistêmico requer a colaboração de
seus membros; (b) as interações familiares profissionais de diferentes áreas envolven-

462
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do, pelo menos, pesquisadores e profis- CO 15 - LT02


sionais da psicologia do desenvolvimento
infantil e familiar, da educação, do serviço
Leitura e Escrita
social, direito e da área de saúde, em geral.
Assim, dada a complexidade e a natureza
LT02-739 - METACOGNIÇÃO E
transdisciplinar das questões de desenvol-
METALINGUAGEM: ALIADOS NA
vimento humano, relacionadas à pessoa e
AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA
suas famílias em situação de risco, a imple-
mentação de qualquer projeto de pesqui- Renata Nóbrega de Lucena - UFPE
sa ou programa de atuação requer que a a renata.nobrega@gmail.com
qualidade de vida e dos serviços ocupem Alena Nobre - UFPE
um lugar de destaque na política social, em alenacabral@gmail.com
programas de habilitação e reabilitação e Lysia Basílio - UFPE
na pesquisa científica. Somente com a co- lysiabasilio@yahoo.com.br
laboração de uma equipe multidisciplinar
poderemos responder as questões cen- A relação entre linguagem e cognição é
trais sobre crianças e adolescentes, e suas amplamente discutida na literatura psico-
famílias, em situação de risco; tais ques- lógica. Diversos são os posicionamentos
tões são, no mínimo, interdisciplinares e sobre essa relação: alguns enxergam uma
transdisciplinares. Portanto, é essencial preponderância da cognição sobre a lin-
que se forneçam subsídios empíricos para guagem (Correa, 2004; Gombert, 2003);
a formulação de políticas públicas das áre- outros salientam que cognição e linguagem
as de saúde e educação e, também, que não se interrelacionam (Gleitman, 1972
a produção do conhecimento seja exten- apud Gombert, 1992); e há ainda os que
siva à melhoria da qualidade dos serviços defendam uma interdependência entre
prestados por centros de desenvolvimento elas (Vygotsky, 1998; Figueira, 20 03).Nes-
infantil e instituições de reabilitação, bem te último posicionamento, notadamente
como por escolas infantis. Acreditamos vygotskyano, linguagem e cognição se afe-
que uma nova postura teórico-metodo- tam mutuamente. Para o autor, é inegável
lógica possibilitará um novo olhar sobre que a linguagem desempenha um papel im-
a complexidade do desenvolvimento de portante na regulação do comportamento
crianças e adolescentes e suas famílias em e, simultaneamente, esta regulação é fruto
situação de risco. Isto requer uma equipe do desenvolvimento das funções mentais
de profissionais habilitados para trabalha- superiores (Fernandes e Magalhães, 2003).
rem sistemicamente com essas famílias, o Tomando esta perspectiva sociocultural de
que demanda novas necessidades de for- forma axiomática, uma reflexão acerca da
mação destes profissionais. metacognição e metalinguagem e sua inter-
relação precisam ser igualmente discutidos,
Palavras-chave: família, situação de risco, destacando ainda sua repercussão sobre a
formação profissional aquisição da leitura e da escrita. Segundo
Contato: Maria Auxiliadora Dessen, Flavell (1974), a metacognição refere-se
Universidade de Brasília-UnB, dessen@unb.br ao conhecimento do próprio conhecimen-
to, além do controle e da autorregulação

463
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos processos cognitivos. É possível afir- objeto de conhecimento, enfim, imporá


mar também que a metacognição está novas demandas à criança, por exemplo:
relacionada com a avaliação, o controle e o constante apelo didático para se tomar
a regulação de quaisquer tarefas e estraté- a linguagem como objeto do aprender re-
gias cognitivas já evidenciadas na literatura quererá o uso em maior ou menor grau de
enquanto habilidades metacognitivas (me- habilidades metalinguísticas. Contudo, é
tamemória, meta-atenção, meta-aprendi- importante lembrar ainda que as habilida-
zagem, meta-cognição social, metalingua- des metalinguísticas não podem ser vistas
gem, etc.). O conceito de metalinguagem de forma isolada. Acredita-se que o uso das
pode ser definido a partir de duas pers- estratégias metacognitivas nas atividades
pectivas: linguística e psicolinguística. Na de leitura e escrita podem tornar o leitor
perspectiva linguística, a metalinguagem é mais consciente metalinguisticamente das
vista como autorreferenciação da língua. suas produções e compreensões. Vejamos
Neste sentido, ela poderia ser encontrada breves exemplos a seguir. Para realizar uma
ao examinarmos produções verbais e en- tarefa de manipulação de sons que envolva
contrarmos características de que a lingua- produção de um verso rimado, por exem-
gem foi usada para referir-se a si própria. A plo, o sujeito precisa fazer uso de estraté-
perspectiva psicolinguística, por seu turno, gias que facilitem a realização daquela ativi-
assume uma análise da atividade cognitiva dade linguística. O sujeito precisa enumerar
inexistente na perspectiva linguística. Nesta palavras que terminam com o mesmo som,
perspectiva, Pratt e Grieve (1984) definem mas que guardem o sentido com o verso
a metalinguagem (melhor traduzida como anterior; pode optar por utilizar verbos (e
consciência metalinguística) enquanto uma não substantivos) com terminações pareci-
habilidade para refletir sobre as proprieda- das em versos alternados, a fim de facilitar
des da linguagem, tratando-a como objeto a rima, etc. Esse seria um exemplo de uma
de atenção deliberada pelo sujeito. Gom- atividade metacognitiva, sendo suporte
bert (1992) ratifica ainda que saber sobre para uma atividade metalinguística, uma
a linguagem é uma habilidade preliminar, vez que elas se referem à realização da ta-
enquanto que a atividade metalinguística refa e não aos sons relativos à mesma. Se
refere-se à capacidade de saber analisar pensarmos também no desenvolvimento
aquilo que já se conhece. Diante deste pa- da escrita de maneira mais ampla, vemos
norama, Correa (2004, p.74) afirma que que para aprender a escrever de forma or-
“[...] não resta dúvida que, ao longo do tograficamente correta é preciso mais do
desenvolvimento, ocorre uma mudança que a consciência metalinguística fonológi-
significativa na maneira como conceitua- ca ou sintática. De acordo com Dias e Ávila
lizamos e fazemos uso da linguagem. Ini- (2008), o aprendizado da escrita ortográfica
cialmente utilizada como instrumento de envolve processos metacognitivos, de aná-
comunicação social que permite a crian- lise dos fatos da grafia (metagráfica), que a
ça se expressar e interagir socialmente, a criança faz até dominar o uso das regras.
linguagem torna-se, gradativamente, um Essas competências conferem ao aprendiz
objeto de conhecimento, devido aos efei- a capacidade de explicar o porquê da for-
tos da escolarização sobre o aprendizado ma de escrever uma ou outra palavra, e não
da língua escrita”. Tomar a língua como apoiando sua ação somente no domínio das

464
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bases fonológicas ou regras ortográficas. significar ampliação e reativação da cons-


Outro exemplo refere-se à leitura. A forma- ciência metalinguística para avaliar se as
ção de um leitor não resume-se à decodifi- estratégias trouxeram ou não a compreen-
cação de sons. É necessário que se faça uso são ou produção esperada pelo sujeito. En-
de habilidades metalinguísticas de manipu- fim, sugeriu-se neste ensaio pensar a rela-
lação sonora para ler adequadamente pois, ção entre metacognição e metalinguagem
para ler um texto, manipular sons não é su- de forma cíclica, havendo uma relação mú-
ficiente. É preciso, deliberadamente, pen- tua de interdependência e beneficio. Pro-
sar sobre o sentido daqueles sons traduzi- por atividades nas quais a criança é levada
dos em palavras, num todo ainda mais sig- a fazer uso das duas habilidades pode ser
nificativo: o texto. Ou seja, a consciência fo- significativo para apropriação e desenvol-
nológica pode ser suficiente para ler frases, vimento linguístico da mesma.
mas não necessariamente para produzir
sentido sobre ela. É neste momento, então, Palavras-chave: Alfabetização; Metacognição;
que a colaboração das estratégias cogniti- Metalinguagem.
vas e metacognitivas podem ser eficientes Contato: Renata Nóbrega de Lucena (renata.
para o sucesso da atividade. Numa situação nobrega@gmail.com)
como esta, a monitoração de pausas para
armazenamento e compreensão da infor-
mação e o uso consciente desta estratégia LT02-741 - A REVISÃO DE TEXTOS
pode ajudar o leitor em formação. Nestas ESCRITOS POR CRIANÇAS: UMA ANÁLISE
condições, entende-se que a literatura con- DAS PESQUISAS NA ÁREA
firma a necessidade do desenvolvimento Renata Nóbrega de Lucena - UFPE
da consciência metalinguística no processo renata.nobrega@gmail.com
de aquisição da leitura e escrita. Entretan- Alina Galvão Spinillo - UFPE
to, nem sempre menciona-se como meta- alinaspinillo@hotmail.com
linguagem e metacognição podem colabo- Lysia Basílio - UFPE
rar entre si, favorecendo as descobertas lysiabasilio@yahoo.com.br
sobre a representação e o uso do sistema Financiamento: CNPq
de escrita. Sabe-se que delimitar as bordas
de afetação de linguagem, cognição, meta- Escrever textos é uma habilidade que en-
linguagem e metacognição entre si é algo volve diferentes etapas: planejamento,
muito difícil. Mas independentemente dis- textualizacão e revisão. O planejamento
so, concebê-las não enquanto “entidades” ocorre em nível pré-linguístico, consistindo
diferentes, mas complementares, pode ser na organização e definição de objetivos da
algo muito interessante. A consciência me- escrita, na seleção e avaliação das ideias
talinguística, por exemplo, aponta dificulda- a serem inseridas no texto. A textualiza-
des em determinadas questões linguísticas ção ocorre em nível linguístico, traduzindo
que, por conseguinte, indica a necessidade ideias em instâncias linguísticas que aten-
de adoção de estratégias adequadas para dam as regras ortográficas, sintáticas e gra-
realização da atividade linguística proposta. maticais de uma língua. A revisão consiste
Assim, a utilização destas estratégias favo- em se colocar no lugar de leitor e avaliar
receria a realização da tarefa, o que poderia a necessidade de alterar o texto, seja du-

465
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rante a textualização quando o texto ainda mostram que a capacidade de identificar e


é emergente, ou na fase de edição, após corrigir erros varia em função do domínio
a escrita do texto. O processo de revisão, que o escritor tem da escrita. Os dados evi-
então, resulta do confronto entre o texto denciam que quando se é inexperiente, as
pretendido e o instanciado (aquele efetiva- alterações de revisão costumam ser poucas
mente escrito de forma parcial ou total) so- e em relação a aspectos superficiais do tex-
bre o qual alterações podem ser realizadas. to (sintaxe e ortografia). Quando o escritor
Essas alterações podem ser de forma e de é mais competente, a revisão torna-se mais
conteúdo, assim como podem ser mínimas complexa, ocorrendo em maior frequência
ou substanciais. No âmbito da Psicologia, e em relação a aspectos estruturais do tex-
diferentes aspectos relativos à revisão tex- to. Além disso, todos os tipos de alterações
tual têm sido investigados: as estratégias de (adição, retirada, substituição e desloca-
revisão adotadas pelos escritores ao reali- mento) tendem a ser realizados por este
zarem alterações sobre seus textos, a com- escritor, o que não se observa em relação
petência do escritor, sua familiaridade com a escritores iniciantes que utilizam poucas
o texto revisado, o papel do interlocutor na ações de revisão. Estudos de intervenção e
escrita do texto e as diferentes situações de longitudinais confirmam esses dados, des-
revisão. O objetivo deste trabalho é apre- tacando que instruções específicas podem
sentar e discutir esses estudos e suas prin- potencializar o desenvolvimento da capaci-
cipais contribuições, procurando mapear a dade de escrever e de revisar. Sobre familia-
literatura mais recente e oferecer aos inte- ridade com o texto revisado, estudos apon-
ressados informações acerca deste campo tam que é mais fácil identificar os erros
de investigação, bem como tecer conside- presentes em textos não-familiares do que
rações acerca de possíveis implicações edu- os erros presentes em textos familiares.
cacionais para o ensino da escrita de textos. Isso foi observado tanto com crianças como
Há autores que investigam as estratégias com indivíduos graduados. Pesquisas sobre
de revisão adotadas pelos indivíduos, agru- este tema geralmente consistem em solici-
pando-as em edição e reescrita. A edição tar que o revisor identifique erros e os corri-
refere-se à correção de erros e alterações ja em textos familiares (seu próprio texto) e
com vistas a melhorar a adequação do tex- em textos não familiares (escritos por outra
to sem que seja necessário alterar seu signi- pessoa). Por exemplo, estudos realizados
ficado e estrutura geral. A reescrita implica com estudantes universitários mostraram
em transformações no conteúdo (inserção que ao identificar e corrigir erros em tex-
e retirada de segmentos), alterações na or- tos com níveis de familiaridade distintos,
ganização do texto (deslocamento de seg- a familiaridade do revisor com sua própria
mentos que alteram a sequência) e modi- escrita pode prejudicar a detecção de erros,
ficações do significado de algum segmento pois aumenta a previsibilidade do texto que
(substituição). Essas duas estratégias não está sendo revisado e, portanto, a probabi-
são excludentes, podendo ser combinadas lidade de não perceber os erros. Por outro
de modo que a revisão inclua tanto a cor- lado, a não familiaridade poderia tornar os
reção de erros como a transformação do erros mais salientes, aumentando assim o
texto. Estudos acerca da relação entre a número de detecções e correções. Outras
competência do escritor e a revisão textual investigações examinam o papel do interlo-

466
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cutor sobre as alterações feitas pelas crian- dos na escrita de textos, de maneira geral,
ças ao revisarem seus textos, examinando e na revisão textual, em particular. Assim,
o papel desempenhado pelo adulto letrado do ponto de vista psicológico, compreender
com o qual a criança interage e que contri- o processo de escrita é essencial para de-
bui com o seu processo de constituição da senvolver habilidades linguísticas, tornan-
representação escrita. Pesquisas desta na- do o indivíduo competente em sua língua
tureza muitas vezes são estudos longitudi- materna. A partir de tal reflexão é possível
nais e estudos de caso. Segundo os dados gerar ainda alternativas educacionais relati-
gerados por essas pesquisas, durante a es- vas ao planejamento de situações em que a
crita, o escritor se coloca no lugar de leitor escrita passa a ser um objeto do ensino pas-
de seu próprio texto, marcando a existência sível de tratamento didático, sem perder de
de um leitor, ou seja, de um destinatário; e vista sua natureza psicológica (aquisição e
que o produtor do texto alterna os papéis desenvolvimento).
de escritor e de leitor. A presença de um in-
terlocutor internalizado, um leitor ao qual Palavras-chave: revisão textual;
o texto se dirige, tende a ser mais saliente crianças; psicologia.
com o aumento da idade e da escolaridade Contato: Renata Nóbrega de Lucena,
(através do domínio da escrita). Um grande renata.nobrega@gmail.com.
número de investigações tem examinado
ainda as diferentes situações de revisão e
interação entre revisores/escritores. Há in- LT02-842 - O CONHECIMENTO DE
vestigações envolvendo diversas situações ALUNOS DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO
de revisão: individual, em dupla e coletiva- FUNDAMENTAL SOBRE OS PORTADORES
mente. De maneira geral, observa-se que DE TEXTO
interações coletivas influenciam a maneira Kaline Jurema Jambeiro Rocha - UNIVASF
dos alunos revisarem. Um dos principais rocha.kaline@yahoo.com
resultados dos estudos em que se compa- Maria Tarciana de Almeida Barros - UNIVASF
ram diferentes situações de revisão é que mariatarciana@yahoo.com.br
a atividade de revisão conjunta provoca
um grande número de alterações sobre o Os estudos sobre Letramento no Brasil são
texto, havendo diferentes categorias de co- recentes, datando de duas ou três décadas
-elaboração dos membros: concordância e seguindo as preocupações com grupos
e discordância quanto a alguma alteração sociais marginalizados que não dominam
proposta e co-construção de maneira que a escrita. Por seu próprio estado de cons-
as alterações se articulavam e se comple- trução, é um conceito que enfrenta dificul-
mentavam. Os dados mostraram que mui- dades em sua definição. De acordo com
tas das ações de revisão ocorriam ao nível Kleiman (1995), tal conceito começou a ser
do planejamento da escrita e que tais alte- utilizado por pesquisadores com o objeti-
rações, no entanto, não se traduziam efeti- vo de diferenciar estudos sobre o impacto
vamente em alterações feitas sobre o texto social da escrita dos estudos em alfabeti-
em construção. Mapear, apresentar e dis- zação, que se ligavam quase que espon-
cutir esses estudos permitem compreender taneamente à escolarização e ao desen-
os diferentes processos cognitivos envolvi- volvimento de competências individuais.

467
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Diante dessa preocupação com o impacto Gostaria que você me desse o portador X;
social da escrita e das práticas sociais em (2) Como você sabe que este é o portador
que ela é central, os estudos em Letramen- X?; (3) O que você acha que tem escrito no
to desligam-se do individual e centram-se portador X? e (4). Pra que a gente usa o
no social, investigando não apenas quem portador X?. Com isso, obteve-se 2800 res-
é alfabetizado, mas todos os sujeitos que postas para o grupo total de participantes.
de certa forma se engajam em atividades Assim, focalizou-se o conhecimento dos
de escrita, mesmo que dominem ou não alunos sobre a identificação do portador,
as habilidades de leitura e escrita. O con- suas características, seu conteúdo, usos e
ceito de Letramento, portanto, focaliza os funções. Inicialmente, o grupo de pesquisa
aspectos sócio-históricos que são vistos estudou a bibliografia referente à temática
como intrínsecos à aquisição da escrita. da pesquisa. A seguir, o projeto foi subme-
Ao abordar-se a compreensão da criança tido ao Comitê de Ética em Pesquisa com
sobre a funcionalidade da língua escrita, é Seres Humanos. Sendo assinado o TCLE,
ressaltada a importância do texto enquan- realizaram-se entrevistas com os alunos
to unidade mínima de sentido lingüístico. O participantes. A análise dos resultados foi
uso da linguagem escrita em sociedade se realizada por meio de categorizações das
faz prioritariamente pelo texto. Dessa for- repostas em níveis hierárquicos, os quais
ma, foi investigado o nível de Letramento foram posteriormente avaliados estatisti-
dos alunos em relação aos portadores de camente (análise de variância). As análises
texto – objetos para serem lidos ou objetos foram feitas com base em estudo de Mo-
que carreguem um texto impresso (jornal, reira (1992). Quanto à identificação dos
receita de remédio etc.) (Moreira, 1992). O portadores de texto, notou-se uma maior
conhecimento sobre portadores textuais freqüência de respostas concentradas no
será aqui tomado como um indicador de Nível III (47,4%), p<0,001, ou seja, a maior
Letramento. O presente estudo nasceu da parte do alunado em questão consegue
preocupação crescente com a qualidade identificar corretamente os portadores,
do ensino da linguagem escrita no que se tendo como critérios as características ine-
refere ao fenômeno do Letramento. Diante rentes aos mesmos. Já quanto ao conteú-
desse cenário, objetivou-se identificar o ní- do dos portadores, notou-se que a maioria
vel de letramento presente em estudantes dos participantes encontra-se no Nível I
do primeiro ano do ensino fundamental de (50,9 %), p<0,001, ou seja, os alunos erram
escolas públicas do Vale do São Francisco. ou nada dizem em relação às previsões
Participaram do estudo 50 crianças de bai- quanto ao conteúdo dos portadores de
xa renda, de 6 a 7 anos, todas alunas do texto apresentados. Quanto à função do
primeiro ano do Ensino Fundamental I de portador, pode-se dizer que a maioria dos
Escolas Públicas Municipais da região do participantes encontra-se no Nível II (58,3
Vale do São Francisco. Foram aplicadas ta- %), p<0,001, ou seja, as crianças atribuem
refas, em entrevistas individuais, que ava- função ao portador levando em considera-
liaram o conhecimento sobre portadores ção situações particulares de contatos com
de textos dos alunos. Eram apresentados o objeto ou considerando que a função dos
14 portadores de texto separadamente, portadores possui um fim em si mesma,
cada um gerando quatro perguntas: (1) mas não identificam uma função comuni-

468
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cativo social dos mesmos. Os dados trazi- Já há algum tempo as discussões sobre alfa-
dos revelaram que apesar dos estudantes betização ocupam um significativo espaço
investigados conseguirem fazer a identifi- no meio educacional. Este fato provavel-
cação dos portadores de textos, mostraram mente deve-se à dificuldade que ainda en-
ainda não ter desenvolvido conhecimentos frentamos em alfabetizar os nossos alunos,
sobre a função comunicativo-social da es- o que se torna um grande desafio para to-
crita, assim como sobre o conteúdo que dos os que lidam com este tema. Se antes
os portadores possuem. Portanto, pode-se nos preocupávamos com a grande quanti-
questionar: qual o sentido que tais crian- dade de alunos fora da escola, hoje vivemos
ças estão produzindo sobre portadores de o que alguns pesquisadores têm chamado
texto? Os dados apontam que os mesmos de “exclusão de dentro das escolas”, fenô-
consistem em objetos extrínsecos, porém meno que caracterizaria a incapacidade
não são utilizados de fato como objetos das escolas em alfabetizar uma boa parte
comunicativos no cotidiano das crianças. dos alunos que a procuram. Reconhece-
Sendo assim, destaca-se a importância de mos que, em grande parte, a melhoria da
tornar a experiência com portadores de alfabetização dos alunos depende de polí-
textos mais significativa para as crianças, ticas públicas que efetivem investimentos
o que pode ser realizado em várias agen- nas escolas e na formação de seus profis-
cias de Letramento, inclusive na escola, sionais. Mas sabemos também que muito
considerada como uma das agências de vem sendo realizado por professoras com-
letramento. As dimensões da escrita ultra- prometidas com a sua função de ensinar.
passam as barreiras da relação grafofônica, Concordamos com Bressoux (2003) quando
sendo preciso pensar em outras dimen- afirma que se há professores que elevam
seus alunos a maior nível de sucesso do
sões tais como: a compreensão de textos,
que outros, investigá-los e compartilhar as
as habilidades cognitivas e metacognitivas
suas práticas seria uma possibilidade de
e os conhecimentos sobre textos envolvi-
melhorar o sucesso de muitos alunos, em
dos neste processo, propondo novas estra-
outras escolas. Trabalhamos, desse modo,
tégias de ensino-aprendizagem.
com o conceito de professora-referência28.
Esta seria uma professora reconhecida na
Palavras-chave: alfabetização; letramento;
comunidade escolar por sua capacidade
portadores de textos .
em alfabetizar os seus alunos. Dominaria
Contato: Kaline Jurema Jambeiro Rocha, a metodologia de alfabetização com a qual
UNIVASF, rocha.kaline@yahoo.com se propunha a trabalhar, teria uma boa re-
lação com os seus alunos, conhecendo-os
e respeitando-os, reconhecendo ainda as
LT02-936 - AS PRÁTICAS COTIDIANAS
suas necessidades de aprendizagem. Se-
DE ALFABETIZAÇÃO: O QUE FAZEM AS
ria, enfim, uma professora comprometida
PROFESSORAS-REFERÊNCIA EM DUQUE
com a aprendizagem do código escrito dos
DE CAXIAS?
seus alunos e eficiente na tarefa. Além de
Janete Teixeira de Lyra - PUC/Rio
janetelyra@ig.com.br 28
A escolha do gênero feminino deve-se à constatação de
Zena Eisenberg - PUC/Rio que os professores que alfabetizam são, em sua maioria,
zwe@puc-rio.br mulheres.

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

componentes importantes à sala de aula, jeito com as práticas sociais de letramento,


como gestão do tempo e conhecimento do que se iniciam muito antes de as crianças
que os alunos sabem, as práticas de ensino entrarem para a escola. Entretanto, a autor
possuem um grande poder de influência no alerta para que não descuidemos do ensino
sucesso escolar dos alunos. Mas, existem sistemático da relação letra-som e o ensi-
de fato práticas que melhor alfabetizam? no da notação alfabética. Segue daí nossa
Se existem, quais são? Nos últimos anos, pergunta de pesquisa: e as professoras-
pesquisas têm nos permitido acumular -referência? Como conjugam as práticas de
um conjunto de conhecimentos que nos alfabetização e as de letramento? Propo-
informam sobre o que vem a se configurar mos que investigar as práticas do cotidiano
como boas práticas de ensino. Em se tra- de tais professoras pode nos dar respostas
tando de alfabetização, os estudos sobre a sobre como organizam o ensino para que
psicogênese da língua escrita e os do cam- seus alunos desenvolvam as habilidades de
po do letramento trouxeram importantes leitura e escrita. Como procedimento me-
contribuições para a área (Ferreiro & Tebe- todológico, pretendemos utilizar a obser-
rosky,1889; Goulart 2006 & Soares, 2004, vação sistemática em sala ao longo de um
2008). Desde a circulação, em meados dos ano. Discutiremos aqui os resultados de um
anos 80, de estudos que nos informavam estudo preliminar com cinco orientadoras
sobre as diferentes hipóteses que as crian- pedagógicas do município de Duque de Ca-
ças constroem sobre a escrita, (Ferreiro & xias. Entregamos um questionário para elas
Teberosky, 1889) passamos a compreender completarem no qual pedimos para identi-
que a aprendizagem do sistema alfabéti- ficarem professoras-referência em alfabeti-
co é de natureza conceitual, o que a torna zação na sua escola e relacionarem carac-
muito mais complexa para o alfabetizando. terísticas que julgam relevantes para sua
Ao contrário do que se pensava, a criança constituição como referência. Perguntamos
desde cedo elabora ideias sobre o que a a elas: “Que práticas da rotina de professo-
escrita nota. A compreensão dessas ideias ras alfabetizadoras você considera que con-
das crianças sobre a língua escrita muda tribuem para a alfabetização dos alunos?”.
radicalmente a postura do professor frente Os resultados preliminares indicam que
às suas tentativas de produção. A criança algumas práticas são consideradas mais im-
passa a ser considerada um sujeito ativo portantes que outras. As que se destacaram
e, o que antes era erro de escrita, passa a em relação ao letramento foram: a leitura
fazer parte do processo de desenvolvimen- diária de diferentes gêneros, os comentá-
to individual. Nas últimas duas décadas, os rios sobre essas leituras, as atividades de
estudos sobre letramento têm contribuído produção coletiva de textos, recontos, em-
para pensarmos práticas alfabetizadoras préstimos de livros e propostas para que os
significativas que promovam a inserção do alunos leiam, mesmo que não saibam ler.
sujeito no mundo da leitura e escrita. Muito Em relação ao ensino da notação alfabéti-
além de considerar a alfabetização como a ca, vimos um número menor de citações
simples aprendizagem da correspondência e de atividades: escrita com letras móveis,
fonográfica propõe-se que esta aprendiza- atividades com nomes dos alunos, bingo de
gem ocorra dentro de uma prática ampla de letras, atividades diagnósticas de escritas.
leitura e escrita. Para Morais (2006a), a alfa- Percebemos uma prevalência de atividades
betização deve ocorrer na interação do su- de letramento em detrimento das de alfa-

470
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

betização, o que corrobora as críticas que Existem relatos de crianças que nas fases
Soares (2004) faz ao ensino da escrita nos iniciais da escrita utilizam estratégias refe-
últimos anos, fenômeno chamado por ela renciais ao invés de estratégias fonológicas
de “desinvenção da alfabetização”. Entre- (Ferreiro & Teberosky, 1982). Por exemplo,
tanto, as professoras foram escolhidas jus- crianças utilizam mais letras para escrever a
tamente por seus resultados satisfatórios. palavra ‘urso’ do que para escrever a pala-
Além disto, as orientadoras pedagógicas vra ‘mosquito’ porque elas acreditam que
compreendem que outros fatores, além do o número de letras deve refletir o tamanho
conhecimento técnico do professor contri- do objeto ao invés da duração da pronúncia
buem para a alfabetização dos alunos, sen- da palavra. Essas estratégias são algumas
do esses: o comprometimento profissional, vezes chamadas de estratégias referenciais
o respeito aos alunos, a abertura a novas ou estratégias semanticas. No entanto, a
aprendizagens, a afetividade e a preocupa- evidência para essas estratégias referen-
ção com a aprendizagem dos alunos. Em re- ciais é baseada em grande parte apenas
lação a estes aspectos acreditamos que se em relatos e essa estratégia ainda não foi
faz necessária uma investigação mais apro- rigorosamente testada. O presente estudo
fundada, no sentido de compreender como investiga o uso destas estratégias nas
se dão as múltiplas relações presentes no primeiras escritas das crianças. Estudamos
dia-a-dia. “É necessário que a sala de aula 106 crianças americanas de escolas particu-
como objeto de pesquisa seja revelada na lares que tinham o inglês como primeira lín-
sua cotidianidade, na interação professor- gua (idade média de 4 anos e 7 meses). As
aluno para que a “caixa-preta” seja aberta” crianças participaram de tarefas individuais
(Bressoux, 2003, p. 48). No momento es- de leitura, conhecimento dos nomes e sons
tamos organizando um protocolo de ob- das letras e de uma tarefa de leitura. Utili-
servação, com base no conjunto proposto zando um quadro magnético e letras mag-
por Albuquerque, Morais e Ferreira (2008). néticas, as crianças escreveram 24 palavras
Esse conjunto está organizado em catego- com comprimentos diferentes que repre-
rias e estas divididas em subcategorias re- sentavam pequenos objetos (por exem-
lacionadas às atividades de alfabetização plo, bug ´mosca`, mosquito ´mosquito´) ou
desenvolvidas pelas professoras. Em nossa grandes objetos (por exemplo, bear ´urso`,
re-elaboração buscaremos identificar quais dinosaur ´dinossauro`). Nós investigamos
atividades são privilegiadas pelas professo- se as crianças que ainda não eram fonoló-
ras-referência e com que frequência apare- gicas escreveriam as palavras que denotam
cem na rotina das mesmas. objetos maiores com mais letras, ignorando
o comprimento das palavras, e se as crian-
ças fonológicas demonstrariam escritas
LT02-1001 - ESTRATÉGIAS INICIAIS DE seguindo o padrão oposto. Utilizamos um
ESCRITA programa chamado AMPR (Treiman & Kes-
Tatiana Cury Pollo - UFSJ sler, 2004), que avalia as escritas de crian-
tpollo@gmail.com ças nas fases iniciais de escrita, bem como
Rebecca Treiman - WUSTL técnicas de Monte Carlo, para identificar
rtreiman@wustl.edu subgrupos que faziam uso significativo de
Financiamento: NIH letras que eram fonologicamente apropria-

471
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

das ou que não utilizavam letras fonologi- não encontramos nenhuma evidência para
camente apropriadas em suas escritas (56 estratégias de escrita referenciais, mesmo
crianças). Esse último grupo é o grupo de no grupo de crianças que ainda não haviam
interesse nesse trabalho. Como esperado, aprendido a utilizar letras para representar
as crianças que utilizam fonologia em suas sons. A estratégia referencial descrita por
escritas utilizaram mais letras para palavras outros pesquisadores pode não ser repre-
mais longas (p < .001), enquanto o grupo sentativa da forma como a maioria das
que não era fonológico não utilizou (p = crianças não fonológicas escrevem em ex-
.808). No entanto, ao contrário do que se- perimentos controlados.
ria esperado se as crianças utilizassesm es-
tratégias referenciais, nenhum dos grupos Palavras-chave: Alfabetização; escrita;
consistentemente utilizou mais letras para estratégias referenciais.
objetos maiores (p = .237; grupo não fono- Contato: Tatiana Cury Pollo, UFSJ,
lógico). Em um segundo estudo, 35 crianças tpollo@gmail.com
americanas de escolas particulares (idade
média de 4 anos, 3 meses) escreveram pala-
vras a mão livre. Palavras que representam LT02-1023 - A UTILIZAÇÃO DA ZONA
objetos pequenos e objetos grandes foram DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL NA
escritas em pares para fazer o contraste de AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA
tamanho mais saliente. As palavras que re- Natalia Duarte - EAPE/SEDF/GDF
presentavam objetos pequenos ou grandes nataliasduarte@gmail.com
eram escritas lado a lado (por exemplo,
“Nós agora vamos falar de coisas do ocea- O presente trabalho destaca o desafio de
no. Nós vamos escrever duas coisas. Escre- assegurar o direito social de aprender a to-
va fish ‘peixe’ aqui. (Esperar a criança termi- dos os alunos e expõe indicadores das difi-
nar). Agora escreva ship ‘navio’ aqui deste culdades na aquisição da linguagem escrita,
lado”. Nem as 18 crianças que ainda não especialmente dos grupos mais vulneráveis
utilizavam fonologia em suas escritas pro- da população. Apresenta referencial teó-
duziram escritas maiores para palavras que rico que analisa as dificuldades da escola
representam objetos maiores. No entando, em socializar a aquisição da língua escrita,
quando pedimos que as crianças fizessem a em especial Mortatti (2006), Soares (2004)
mesma tarefa mas que, ao invés de escre- e Grossi (1995). Registra a presença dessa
ver, elas desenhassem os referentes, elas dificuldade nos últimos 100 anos e apre-
produziram figuras maiores para palavras senta a operacionalização do conceito de
que representavam objetos maiores. Isso Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP
demonstra que as crianças conseguiam sim no trabalho pedagógico para aquisição da
entender as diferenças de tamanho dos linguagem escrita. Destaca a ZDP como
objetos, mas escolheram não as represen- conceito Vygotskiano, apresentado em
tar em suas escritas. Ao final desse estudo Pensamento e Linguagem como aquilo que
nós entrevistamos as crianças e analisamos “a criança é capaz de fazer hoje em coo-
qualitativamente suas respostas e também peração” (Vygotsky, 1993, p.89). Destaca
não obtivemos nenhuma indicação de pos- a ZDP como uma janela para a aprendiza-
síveis estratégias referenciais. Para concluir, gem (FINO, 2001) a ser utilizada na escola e

472
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

na organização do trabalho pedagógico do gundo Vergnaud (2004), as conseqüências


professor: o bom ensino “caminha à frente práticas do conceito de ZDP são muito im-
do desenvolvimento, servindo-lhe de guia; portantes. “De uma maneira próxima, nas
deve voltar-se não tanto às funções já ma- escolas comuns, o ensino orientado para
duras, mas principalmente para as funções um estádio já adquirido pela criança não é
em amadurecimento” Vygotsky, 1993, p. muito produtivo” (idem, 2004, p. 31). O en-
89). Apresenta a psicogênese da lecto-es- sino convencional volta-se para aquilo que
crita (Ferreiro & Teberosky, 1991) como o a criança já consegue fazer ao invés de se
reconhecimento e sistematização das hipó- voltar para aquilo que ainda não sabe e por
teses que os alfabetizandos constroem no isso pode vir a saber (PAIN, 1999). A possi-
percurso da aprendizagem da leitura e da bilidade, maior ou menor, que uma criança
escrita e como esse construto teórico pos- tem de passar do que ela sabe fazer sozinha
sibilita a operacionalização da ZDP. Destaca ao que ela sabe fazer com a colaboração de
como a psicogênese da lecto-escrita repre- alguém é “precisamente o sintoma mais
senta a caminhada no processo de aquisi- notável que caracteriza a dinâmica do seu
ção da escrita explicando os esquemas de desenvolvimento e o êxito de sua ativida-
pensamento e performances dos níveis de intelectual. Coincide inteiramente com
Pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e a sua Zona de Desenvolvimento Proximal”
Ortográfico. Apresenta a Psicogênese for- (Vygotsky citado em Vergnaud, 2004, p. 36).
mulada por Grossi (1995) destacando a Para apurar as aprendizagens dos alunos e
procedência do desmembramento do nível alcançar precisão didática nas atividades
PS em PS1 e PS2; a extinção do nível silábi- planejadas, o artigo apresenta explicação
co-alfabético e o desmembramento do ní- de Vygotsky (1993) que permite entender
vel ortográfico em níveis Alfabetizado1, 2 e que aquilo que a criança pode fazer hoje
3. Apresenta a fundamentação teórica para com a ajuda de um mediador, poderá exe-
a aproximação do conceito de psicogênese cutar sozinha amanhã. A partir daí, apre-
piagetiano (PIAGET, 1972) e ZDP vygotskia- senta evidências e estratégias do ensino
no empregando Vergnaud (2003) para vali- que deixam de focar o que o aluno já sabe
dar o emprego conjunto desses dois teóri- para focar aquilo que ele ainda não sabe
cos ressaltando que “há algumas idéias que e por isso pode vir a saber - se provocado
podemos tomar de Piaget e de Vygotsky, na para isso. Destaca que na alfabetização a
sua convergência e na sua complementari- Zona Real é a forma como o aluno escreve
dade” (Vergnaud, 2003, p. 24). Segue apre- espontaneamente, Zona Potencial é aquilo
sentando a utilização pedagógica da ZDP na que espera-se que o aluno aprenda e a ZDP
aquisição da linguagem escrita a partir da é a escrita que o aluno consegue fazer com
idéia de esquema de pensamento, desta- a ajuda de um colega, de um jogo, de um
cando a contribuição da análise de Vygotsky cartão ou mesmo da professora. Assim, o
(1993): a escola tradicional não ensinava trabalho finaliza-se com a apresentação do
“na medida em que se oferecia à criança quadro abaixo, a partir de Duarte (2007),
problemas que ela conseguia resolver sozi- onde se explicita a Zona Real do aluno, rela-
nha, o método foi incapaz de utilizar a ZDP cionando-a com os níveis psicogenéticos e
e dirigir a criança para aquilo que ainda não a ZDP, caracterizando-a como o nível psico-
era capaz de fazer” (1993, p. 90). Ainda se- genético subsequente.

473
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ZONA REAL ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL


Nível
(como o aluno escreve espontaneamente) (o que deve ser trabalhado com o aluno)

Escreve desenhando. Escrever com símbolos. Perceber as


PS1 letras. Relacionar a escrita à fala. Produzir
frases e textos.

Escreve com símbolos, mas sem Vincular a escrita à fala. Estabelecer


PS2 relacionar a escrita à fala. a relação letra/som. Produzir frases e
textos.

Quebrar a unidade sonora da sílaba,


Escreve uma letra para cada sílaba.
desdobrando-a nos fonemas das letras.
S Fortalecer a relação letra/som. Propiciar
a leitura de palavras (dissílabas simples) e
pequenas frases. Produzir frases e textos.

“Engole” letras. Não tem estabilidade na Perceber a sílaba como consoante/vogal.


representação da sílaba. Propiciar a leitura de palavras (dissílabas
A
simples) e pequenas frases. Produzir
frases e textos.

Representa a sílaba rigidamente por Flexibilizar a sílaba (como consoante/


consoante/vogal. Não segmenta vogal; consoante/ consoante/vogal;
Alf1 corretamente as palavras em uma frase. vogal/ consoante). Segmentar palavras.
Propiciar a leitura de palavras, frases e
pequenos textos. Produzir frases e textos.

Escreve a palavra e não mais a sílaba. Quebrar a relação biunívoca letra/som.


Consegue vincular um som para cada Apresentar formalmente os dígrafos e
Alf2 letra (em uma relação biunívoca). Já as nasalizações. Operar com os sinais de
apresenta segmentação e início de pontuação.
pontuação.

Escreve frases e textos. Flexibiliza a Destacar as consoantes mudas. Estruturar


relação biunívoca letra/som. Já apresenta as idéias de um texto expressas em
paragrafação e pontuação. parágrafos (início, meio e fim) analisar
Alf3
as idéias do texto (uma idéia vinculada a
outra... com conclusão coerente). Operar
a lógica da pontuação.

474
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT02-1187 - SEMELHANÇAS E em programas de alfabetização tardia na


DIFERENÇAS NA AQUISIÇÃO DA LEITURA cidade de Belo Horizonte, MG. O estudo
E DA ESCRITA POR CRIANÇAS E JOVENS E também incluiu 61 crianças (39 meninas
ADULTOS e 22 meninos) com desenvolvimento tí-
Marcela Fulanete Corrêa - UNIVASF pico, individualmente emparelhadas aos
mfulanete@gmail.com adultos em função da habilidade de leitu-
Cláudia Cardoso-Martins - UFMG ra de palavras. Sua idade variava entre 6 e
cardosomartins.c@gmail.com 9 anos e todas estavam matriculadas em
Financiamento: CAPES, CNPq, FAPEMIG classes do 2ª, 3ª e 4ª anos do ensino fun-
damental de uma escola pública localiza-
O objetivo do presente estudo consistiu da na mesma cidade dos adultos. Os par-
em investigar o processamento fonológico ticipantes foram submetidos a tarefas que
de jovens e adultos pouco escolarizados avaliavam habilidades acadêmicas e de
em comparação com o processamento processamento fonológico. As habilidades
fonológico de crianças com a mesma ha- acadêmicas foram mensuradas através
bilidade de leitura. Estudos realizados nos dos subtestes de leitura, escrita e mate-
Estados Unidos e na Espanha sugerem mática do Teste de Desempenho Escolar
que jovens e adultos pouco escolarizados (TDE, Stein, 1994). Tarefas de consciência
apresentam déficits fonológicos, em com- fonológica, memória verbal de trabalho e
paração a crianças com desenvolvimento nomeação seriada rápida foram utilizadas
típico emparelhadas aos adultos em fun- para aferir o processamento fonológico. A
ção da habilidade de leitura. Por exemplo, consciência fonológica foi avaliada através
os jovens e adultos que participaram dos de tarefas de detecção de rima e fonema.
estudos de Read e Ruyter (1985), Green- Nessas tarefas, os participantes eram soli-
berg, Ehri e Perin (1997), Thompkins e citados a indicar, entre três palavras enun-
Binder (2003) e Jiménez e Venegas (2004) ciadas pelo examinador, as duas que rima-
apresentaram um desempenho signifi- vam ou que começavam com o mesmo
cativamente inferior ao das crianças em som. Os subtestes de repetição de dígitos
tarefas que avaliavam a consciência fono- (ordem direta e ordem inversa) das esca-
lógica, especificamente, a habilidade de las de inteligência Weschler para crianças
segmentar e subtrair os sons da fala. Não e adultos foram utilizados para avaliar a
é certo, contudo, que esses resultados memória fonológica e o executivo central,
possam ser generalizados para jovens e respectivamente. Finalmente, a tarefa de
adultos brasileiros com pouca escolariza- Denckla e Rudel (1976) foi utilizada para
ção. Como Oliveira (1999) destaca, o bai- mensurar a habilidade de recuperar códi-
xo nível de escolarização de grande parte gos fonológicos na memória de trabalho.
da população jovem e adulta brasileira é, Nesta tarefa, os participantes eram solici-
em geral, resultado de condições econô- tados a nomear tão rápido e corretamen-
micas e sociais adversas e não de dificul- te, quanto possível, séries de estímulos
dades de aprendizagem. Participaram do visuais familiares, especificamente, cores,
presente estudo 61 jovens e adultos (49 objetos, números e letras. Ao contrário
mulheres e 12 homens) com idade entre do que tem sido apontado na literatu-
16 e 80 anos. Todos estavam matriculados ra, nenhuma diferença entre os adultos

475
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e as crianças foi encontrada nas tarefas dos adultos inscritos nesses programas
de consciência fonológica. Além disso, os possa impor alguma restrição à sua alfa-
adultos apresentaram um desempenho betização. Por exemplo, não encontramos
relativamente melhor do que as crianças uma relação entre a idade cronológica, as
nas medidas de nomeação seriada rápida, habilidades acadêmicas e as habilidades
embora apenas as diferenças envolvendo de processamento fonológico dos jovens
as medidas de nomeação de objetos e dí- e adultos que participaram deste estudo.
gitos tenham atingido significância estatís- Nossos resultados sugerem, portanto, que
tica. Os dois grupos tampouco diferiram o fracasso de programas de alfabetização
entre si na tarefa de repetição de dígitos tardia está provavelmente relacionado a
na ordem direta. No subteste de escrita do variáveis exógenas aos participantes. Es-
TDE e na tarefa de repetição de dígitos na tudos adicionais são necessários para es-
ordem inversa, as crianças se sobressaíram clarecer a natureza dessas variáveis.
aos adultos, ao passo que no subteste de
matemática os adultos apresentaram um Palavras-chave: Alfabetização de adultos;
desempenho significativamente superior crianças; processamento fonológico.
ao das crianças. Há evidência de que pro- Contato: Marcela Fulanete Corrêa, UNIVASF,
gramas de alfabetização tardia raramente mfulanete@gmail.com
são bem sucedidos (Abadzi, 1995; Di Pier-
ro, 2010). Semelhantemente ao que tem
sido relatado na literatura especializada,
os jovens e adultos que participaram do
CO 49 - LT03
presente estudo apresentaram pouco pro- Valores
gresso ao longo do programa de alfabeti-
zação. Dos 61 jovens e adultos avaliados
no início do estudo, 33 foram novamente LT03-1277 - COMO AS MÃES DIZEM
submetidos às tarefas de leitura e escrita CONVERSAR COM SEUS FILHOS SOBRE
do TDE no final do programa. Compara- SENTIMENTOS EMPÁTICOS
ções entre o seu desempenho no início Natália Lins Pequeno - UFPB
e no final do ano revelaram um aumento natalia_lins@hotmail.com
significativo, porém muito pequeno, no Cleonice Camino - UFPB
número de palavras lidas corretamente cleocamino@yahoo.com.br
[M=44,79; DP=19,56 para a primeira oca- Pablo Queiroz - UFPB
sião, M=48,21; DP=18,01 para a segunda pablooliver5@gmail.com
ocasião, t(32)=-2,96, p=0,006]. Além dis- Julian Bruno Santos - UFPB
so, nenhum progresso foi encontrado na ledjulian@hotmail.com
tarefa de escrita. A julgar pelos nossos re- Lívia Braga - UFPB
sultados, é pouco provável que o fracasso liviabsc@hotmail.com
de programas de alfabetização tardia no
Brasil possa ser atribuído a dificuldades A empatia é uma das habilidades mais
fonológicas apresentadas pelos seus par- valorizadas por todas as pessoas que cul-
ticipantes. Tampouco encontramos qual- tivam valores humanitários, sendo impor-
quer evidência de que a idade avançada tante para o desenvolvimento do julga-

476
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mento moral e para o engajamento em gravadas com autorização das participan-


comportamentos pró-sociais (Hoffman, tes e foram transcritas. Em seguida, foram
1975a, 1978, 1990, 2003). A empatia, categorizadas utilizando-se a Análise de
em um nível mais desenvolvido, segundo Conteúdo Semântico (Bardin, 1977). Após
Hoffman (1975a, 2003), é compreendida esta análise, os dados foram submetidos
como uma resposta afetiva voltada mais a uma análise das freqüências por meio
para a situação de outra pessoa do que do Qui-quadrado. Em relação aos resul-
para a própria. Considera-se que os pro- tados, foi possível organizar as respostas
cedimentos que os pais adotam na educa- em duas grandes categorias: recomenda-
ção são cruciais para que os sentimentos ção – respostas nas quais as mães diziam
empáticos dos filhos sejam fortalecidos ter mencionado ao filho como deveria se
ou enfraquecidos (Hofmman & Saltzstein, comportar ao se deparar com umas das
1967; Hoffman, 1975b). No momento em situações envolvendo vítima e/ou agres-
que os pais verbalizam sentimentos e ex- sor – e explicação – respostas nas quais
plicam a situação da vítima chamando a as mães diziam explicar a situação, dar
atenção para o seu sofrimento, eles esti- exemplos, etc, sem mencionar diretamen-
mulam a tendência empática da criança, te como o filho deveria se comportar. O
fazendo com que a experiência da criança teste estatístico para duas amostras inde-
de angústia empática – não há motivação pendentes identificou diferença significa-
necessária para procurar amenizar o senti- tiva entre as freqüências de respostas em
mento da vítima por meio de ajuda – tran- relação às situações em função das duas
site para a angústia simpática – sofrimen- formas de verbalização (X2(3)=38,171
to que estimula uma forma de motivação p≤0,05). As situações que se destacaram
para buscar a resolução de conflitos (Ho- foram Pessoa em sofrimento, com uma
ffman, 2003). Quando os pais assumem freqüência elevada de recomendações, e
esta postura disciplinar, estão utilizando a Pessoa passando por sofrimento não me-
técnica indutiva. Diante da compreensão recido, com uma freqüência elevada de
da importância da habilidade empática explicações. A fim de compreender quais
e do papel dos pais para o seu fortaleci- as recomendações que as mães diziam
mento, o presente estudo teve como ob- verbalizar aos seus filhos, foi necessário
jetivo verificar como as mães dizem con- realizar uma análise mais aprofundada,
versar com seus filhos a respeito dos seus construindo, assim, subcategorias em re-
sentimentos empáticos. Participaram da lação a cada situação. Em todas as situa-
pesquisa 100 mães de crianças e adoles- ções estudadas, as subcategorias de di-
centes, da cidade de João Pessoa-PB. As ferenciaram significativamente (p<0,05).
participantes responderam um roteiro de A seguir serão apresentadas as subcate-
entrevista, onde puderam falar a respeito gorias que obtiveram maiores freqüên-
do que verbalizavam aos seus filhos em re- cias. Em relação à situação que envolvia
lação a diferentes situações presenciadas: uma pessoa em sofrimento, destacou-se
uma pessoa em sofrimento, uma pessoa Ajudar o próximo/Solidariedade (30,00%
agredindo outra, uma pessoa necessitada das respostas). Na situação que envolvia
e uma pessoa passando por um sofrimen- uma agressão, destacou-se Não maltratar
to não merecido. As entrevistas foram (34,31% das respostas). No que se refere

477
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

à situação que envolvia uma pessoa ne- sofrimentos nelas e principalmente neles
cessitada, destacou-se Ajudar o próximo/ próprios. É difícil compreender como este
Solidariedade (54,21% das respostas). Na último tipo recomendação promoveria
última situação estudada, pessoa pas- uma transformação de afetos – da angús-
sando por um sofrimento não merecido, tia empática para angústia simpática – e,
destacaram-se Ser generoso e Não fazer não acorrendo esta transformação, o indi-
nada errado (21,84% e 20,69% das res- víduo não desenvolveria a sua capacidade
postas, respectivamente). O fato das mães empática. Salienta-se que, segundo Hoff-
terem utilizado mais recomendações man (1975a,1982,1990), sem essa transi-
do que explicações mostra que elas não ção não haveria a possibilidade do desen-
deixaram claro para os seus filho porque volvimento de motivações altruístas.
determinados sentimentos podem ser ex-
perimentados e, neste sentido, não contri-
buem como deveriam para o processo de LT03-1416 - ENSINO DO TEMA
internalização moral. O fato do número de TRANSVERSAL ÉTICA NO ENSINO MÉDIO
explicações ter ultrapassado o das reco-
Nelson Pedro-Silva - UNESP
mendações na situação que envolvia uma
nelsonp1@terra.com.br
pessoa passando por um sofrimento não
Camila Mendes Prado - UNESP
merecido pode ter ocorrido porque essa
camilamprado@hotmail.com
situação suscita muitos sentimentos no
Camila Rippi Moreno - UNESP
observador e maiores descentrações cog-
cah.moreno@gmail.com
nitivas (Hoffman,1990,2003). As recomen-
Fernanda Estevaletto Macedo - UNESP
dações das mães para motivarem os filhos
fernanda.estevaletto@hotmail.com
a ajudar o próximo e a ser solidários com
a vítima demonstraram uma mobilização Financiamento: UNESP
afetiva das participantes para indicar aos
filhos como estes devem aliviar os senti- Nas últimas décadas, aumentou as quei-
mentos experimentados. A fala das mães xas dos docentes no tocante à violência
para os filhos não maltratarem o outro ao escolar. Ao pesquisar 13 mil alunos de
se referirem a uma situação de uma pes- escolas públicas brasileiras, por exemplo,
soa agredindo outra aparentemente de- Abramovay e colaboradores (2006) verifi-
monstra uma preocupação com o outro, caram que cerca de 50% dos docentes já
mas, considera-se que nesta verbalização tinham sido vítimas de violência discente.
há também uma preocupação nas conse- Em outra pesquisa, estudiosos concluíram
qüências em que um ato agressivo pode que 40% dos docentes consideraram as
trazer aos filhos das participantes. Julga- gangues de jovens e as drogas os maiores
-se que a recomendação dada pelas mães problemas escolares; 50% dos alunos têm
aos filhos para serem generosos ao verem o aprendizado prejudicado pela violência
uma pessoa passando por sofrimento escolar e metade dos professores pau-
não merecido incentivaria a expressão da listanos já relatou ameaças de agressão.
angústia, mas a segunda recomendação Para Fante (2005, p.9-10), a violência es-
dada para não fazerem nada errado pre- colar refere-se a “um conjunto de atitu-
veniria o filho para que este não causasse des agressivas, intencionais e repetitivas

478
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que ocorrem sem motivação evidente alunos e sua influência na violência esco-
[...], adotado por um ou mais indivíduos lar; pouca importância é dada à discussão
contra outro(s), causando dor, angústia e da moral brasileira e o trabalho sobre a
sofrimento”. Produziu, na maioria de suas ética é considerado “deficiente”. O obje-
vítimas, estresse, depressão, baixa auto- tivo principal da pesquisa foi desenvolver
estima, reduzida capacidade de autoafir- procedimentos para o ensino da ética.
mação e de autoexpressão, prejudicando Secundários: discutir, tendo como pers-
o processo de ensino-aprendizagem e de pectiva a psicologia moral e ética, temas
socialização. Para Pedro-Silva (2011), tal relacionados ao interesse dos adolescen-
fenômeno é produto de personalidades tes; oferecer espaço de escuta analítica
imaturas (elas só pensam em si mesmas (Kupfer, 2004); contribuir para a reflexão
e buscam a satisfação imediata), passando sobre a moral vigente; auxiliar no desen-
as diferenças a serem vistas como obje- volvimento ético; contribuir para a melho-
tos a serem destruídos. Há outras causas ria do aprendizado escolar e incentivar os
e explicações para o bullying. Entre eles: membros da escola à concretização dos
divulgação distorcida do saber psicológi- valores básicos previstos na Lei. Participa-
co; valorização de uma sociedade centra- ram da pesquisa 26 alunos do Ensino Mé-
da nos desejos infanto-juvenis (La Taille, dio entre 15 e 17 anos, ambos os sexos,
1998a); situação política e econômica do nível sócio-econômico D, matriculados
país (Costa, 1989; Silva, 2004); o fato de a numa escola pública paulistana. Foram
escola não ser mais vista como templo do realizadas 20 oficinas, realizadas sema-
saber (Bruckner, 1997); desvalorização do nalmente (duração de 50’), com dois exe-
conhecimento (La Taille, 2006); ausência cutores e oito alunos. Nestas, abordamos
da vergonha por apresentar condutas inci- vários temas (diversidade, escola, grupos
vilizadas (La Taille, 1996) e dificuldade dos urbanos, beleza, preconceito, sexualidade
docentes em lidarem com as novas políti- e bullying). Tais assuntos foram propostos
cas educacionais. Não se pode desprezar pelo pesquisador e/ou pelos próprios su-
que os alunos estão agindo segundo for- jeitos. Levantamos os temas de interesse
mas de glória (beleza, status social e finan- dos sujeitos e as representações acerca de
ceiro), são consumistas, individualistas e tais assuntos; depois, estabelecemos vín-
hedonistas (La Taille, 2009). Há também culo e apresentamos conteúdo sistemati-
os estudos de Costa (1988, 1989, 1999). zado com o fim de informá-los e, principal-
Estes apontam que, diante da impotência mente, de que tais saberes funcionassem
e a impossibilidade de mudança do mo- como elementos “disparadores” de novas
delo social instituído, além de serem mal- discussões. Exemplo: a “normalidade” era
-socializados e frágeis psiquicamente, os citada e compreendida como sinônimo
jovens ativam mecanismos narcisistas, a de “natural”. Buscamos demonstrar, pelo
ponto de desconsiderarem valores morais conceito de curva normal (Estatística), que
e a serem descrentes quanto à lei na solu- a normalidade é uma construção (propor-
ção de conflitos. Em síntese: não há con- ção matemática). Portanto, o normal esta-
senso sobre os motivos que estimulam a belecido hoje pode ter sido compreendido
produção de tais fatos; há a ausência de e/ou pode vir a sê-lo em outras ocasiões
estudos científicos sobre os valores dos como anormal. Obtidas as informações,

479
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as categorizamos, tendo por parâmetro os to estado persecutório (eles acreditavam


objetivos do estudo, a teoria psicológica que as pessoas os viam como diferentes).
das virtudes (Piaget, 1932/1994; La Taille, Nesse sentido, as intervenções exerceram
2002, 2006, 2009; Pedro-Silva, 2006). Com papel terapêutico; Relação com a esco-
isso, analisamos as concepções dos sujei- la: Um dos sujeitos afirmou que, devido
tos sobre as temáticas trabalhadas e os às oficinas, aproximou-se daqueles com
agrupamos em cinco categorias: bullying; os quais tinha diferenças, aprendendo
orientação sexual, padrões de beleza; aná- a respeitá-los. Afinal, as pessoas não se
lise da escola e das oficinas. Bullying: Con- resumem a certos caracteres, como a
sideraram uma prática condenável e dano- vestimenta. Informou-nos, ainda, que ele
sa. Eles, inclusive, deram subsídios à ideia superou certo quadro de xenofobia. Para
de que quem já fora objeto do bullying ele, não é necessário fazer tempestade só
sabe dos seus efeitos negativos; logo, to- porque o outro não pensa e age de manei-
dos deveriam colocar-se no lugar das ví- ra igual. Ao ampliar as diferenças, ampliou
timas. Além disso, manifestaram que as seu ciclo de convivência. Outro aspecto foi
oficinas foram importantes para que tra- o fato de eles terem começado a apreciar
balhassem seus preconceitos, assim como valores morais e éticos; evidentemente,
o fato de mostrarem-se incomodados com sem desconsiderar os ligados à glória.
os juízos alheios; Orientação sexual: Jul- Informamos que os valores são fortes de-
garam que a homossexualidade deve ser terminantes das condutas morais, pois o
respeitada. Porém, avaliamos que eles homem faz uma leitura valorativa de si. Tal
consideraram esse “respeito” como obri- valor pode ser moral, ético ou não-moral
gação (dever). Depreendemos, ainda, que (La Taille, 1998b; 2000). Caso os valores
os docentes podem não estar trabalhando morais/éticos sejam centrais, a pessoa
o tema, ou o fazendo de modo ineficaz, a poderá sentir vergonha ou indignidade
ponto de os alunos a transformarem em se cometer ato desonesto, se os da glória
conhecimento; Padrões de beleza: Rea- ocupar esse lugar, esses sentimentos apa-
valiaram sua visão acerca da beleza, além reçam quando não se possuir a beleza de-
de a terem relativizado. Eles basearam- sejada; Avaliação das oficinas: os alunos
-se na ética da reciprocidade, isto é, não fizeram críticas à metodologia, ao dizer
se deve falar nada a respeito da beleza que explicávamos de uma maneira que
pelo motivo de o outro poder fazer uso de eles compreendiam o conteúdo, não os
expediente igual. Vê-se, que, para eles, a deixando desmotivados para o aprendiza-
reciprocidade é defesa (e não sentimen- do. Além disso, as oficinas lhes possibilita-
to de respeito à diversidade). As oficinas ram a reflexão sobre assuntos distantes da
foram válidas, ainda, para a elevação da sua vivência, até então tidos como verda-
autoestima. Apesar disso, eles indicaram des. Em relação aos docentes, tais oficinas
certo conformismo, isto é, uma forma en- auxiliaram os sujeitos a se colocarem no
contrada de lidar com a representação de lugar deles, apesar de ainda terem referi-
si como pessoas esteticamente feias ou di- do reciprocidade como obrigação (dever).
ferentes e, como decorrência, aceitarem- As oficinas contribuíram para a construção
-se e relacionarem-se positivamente com de meios para o ensino da ética no Ensino
tal estado. Reafirmaram, além disso, cer- Médio; possibilitaram a discussão de te-

480
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mas atinentes aos interesses dos alunos, abstração e descentração, totalizando seis
tendo como parâmetro a perspectiva da estágios). Para esses autores, o princípio
psicologia das virtudes e os conteúdos da justiça é o fundamento do juízo moral.
curriculares; funcionaram como espaço Neste ponto, Carol Gilligan (1982) discor-
de escuta analítica; auxiliaram na melho- da, defendendo haver duas orientações
ria das relações escolares e contribuiram para tratar os assuntos morais: a masculi-
para o desenvolvimento da noção de soli- na, centrada nas ideias de justiça, direitos
dariedade e de respeito às diferenças. e deveres (“ética da justiça”); e a femini-
na, centrada nas responsabilidades e cui-
Palavras-chave: ensino médio, psicologia das dados aos outros (“ética do cuidado”). As
virtudes, ética. teorias de Piaget e Kohlberg conduzem à
Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP, ideia de que todas as virtudes estão liga-
nelsonp1@terra.com.br das à justiça. Esta seria, para os filósofos
e estudiosos da moral, a mais importante
das virtudes, e a única necessária. Con-
LT01-699 - VALORES RELIGIOSOS OU tudo, Lima (2000) aponta que, na forma-
VALORES MORAIS: UM ESTUDO SOBRE ção do senso de justiça, estão presentes
A VIRTUDE DA GENEROSIDADE À LUZ DE outras virtudes, inclusive a generosidade.
INTERPRETAÇÕES DE HISTÓRIAS Spinoza, segundo Comte-Sponville (1998),
define a generosidade como dar algo que
Sarah Izbicki - IPUSP
faltará para quem está dando, não sendo
sarahizbicki@yahoo.com.br) a atribuição ao outro o que é seu direito
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - PUSP (como o faz a justiça). Para Comte-Sponvil-
mtdesouza@usp.br) le (1999), a justiça seria mais racional e a
Financiamento: FAPESP generosidade, mais afetiva. Para Gilligan, a
generosidade é um importante elemento
Os escritos de Piaget sobre a construção para a “ética do cuidado”: cuidar do outro
e a qualidade das crenças infantis, as ca- nos convocaria a dar mais do que lhe é de
racterísticas da evolução cognitiva e a cor- direito, portanto, a sermos generosos. Se-
respondência entre aspectos cognitivos e gundo Vázquez (1998), a religião se carac-
afetivos do desenvolvimento, bem como a teriza pelo sentimento de dependência do
entrevista clínica, por ele proposta (Piaget, homem a Deus e pela garantia de salvação
1926), inspiram pesquisas que fazem uso dos males terrenos, entendendo-se Deus
de contos de fada como instrumento para como verdadeiro sujeito e negando-se a
estudar o desenvolvimento infantil. Para autonomia do homem. Vázquez (1998)
compreender as representações infantis defende que se confirma historicamente
da generosidade em sua relação com os que a religião inclui certa moral, pois uma
aspectos morais, deve-se considerar te- moral de inspiração religiosa sempre exis-
orizações de Piaget (1932) sobre a mora- tiu, com a ressalva de que a moral cristã
lidade (passagem da heteronomia para a estava a serviço dos interesses da classe
autonomia) e Kohlberg (1981) (passagem social dominante. Porém, a moral não se-
de estágios mais concretos e egocêntri- ria originada a partir da religião, mesmo
cos, para níveis de maior complexidade, porque é anterior a ela.

481
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Fowler (1992) foi um dos autores que es- as relacionadas com a ideia da recompen-
tudou o desenvolvimento das valorizações sa (apresentadas somente por meninas)
religiosas e crenças, estabelecendo, para apresentam maior ligação com a questão
cada intervalo de idade – considerando da justiça. Quanto à coerência interna, as
as características do pensamento e os meninas tenderam a dar mais respostas
processos imaginativos correspondentes coerentes (julgam boa a atitude generosa
-, aquilo que denomina “estágios da fé” da personagem e afirmam que fariam o
(fé intuitivo-projetiva, fé mítico-literal, fé mesmo) e, os meninos, a dar mais respos-
sintético-convencional, fé individuativo- tas incoerentes (julgam boa, mas negam
-reflexiva, fé conjuntiva e, por fim, fé uni- que fariam o mesmo). Possivelmente, os
versalizante). meninos mostram que não fariam o mes-
No contexto da literatura apresentada, mo, por não apresentarem necessidade
buscou-se investigar relações entre va- de preservar relacionamentos – o que
lores religiosos e morais. Como segundo ocorreria caso agissem generosamente -,
objetivo, foi realizada uma comparação confirmando a ideia de Gilligan de que a
entre os dois sexos, com relação à concep- masculinidade se caracteriza pela separa-
ção de generosidade. Para isso, participa- ção e a feminilidade, pelo apego. Quanto
ram da pesquisa 17 meninas e 13 meninos às relações entre valores religiosos e mo-
de uma escola pública, com idades entre rais, mais crianças defenderam a genero-
oito e 11 anos. Utilizou-se o método clíni- sidade por ser boa para os outros e apre-
co piagetiano para estudar as representa- sentaram respostas com religião explícita,
ções relacionadas à generosidade da per- seguidas das que defenderam a genero-
sonagem do conto “As moedas-estrela”, sidade do mesmo modo e apresentaram
dos Irmãos Grimm, segundo um protocolo respostas com ideia de religião implícita
previamente elaborado, a partir do qual, e das que não souberam justificar porque
conforme o participante respondia, novas a generosidade foi boa e apresentaram
perguntas eram feitas, com o intuito de respostas com ideia de religião explícita.
esclarecer pontos obscuros e acompanhar Como as crianças que trouxeram respos-
seu pensamento. As respostas obtidas fo- tas classificadas como “religião implícita”
ram agrupadas de acordo com as seme- apresentaram valores religiosos mais con-
lhanças dos argumentos, por questão do solidados, seria esperado que mais crian-
protocolo, sexo e idade do participante. ças que defenderam a generosidade por
Os dados foram submetidos a uma análise ser boa para os outros apresentassem res-
estatística. Com relação às diferenças en- postas com ideia de religião implícita, pois
contradas entre os sexos quanto à razão a ideia do “fazer o bem” seria um dos va-
pela qual a atitude generosa da perso- lores implícitos nos conteúdos religiosos
nagem foi vista como positiva, houve, na transmitidos diretamente ao indivíduo.
amostra estudada, uma tendência à in- Entretanto, a referência direta do conto
versão das características salientadas por à generosidade da personagem e à figura
Gilligan, pois as respostas relacionadas de Deus pode ter contribuído para as res-
com a ideia do fazer o bem (apresenta- postas mais frequentes. Com referência
das, na amostra, mais por meninos do que ao cruzamento dos dados relativos aos as-
meninas) se referem mais ao cuidado, e pectos religiosos e à coerência interna, a

482
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

frequência maior de crianças com respos- com transformações das estruturas de ra-
tas classificadas como incoerentes e com ciocínios que implicam em uma constru-
religião explícita que a de crianças classifi- ção progressiva. Existem cinco estágios
cadas do mesmo modo em relação aos as- do julgamento religioso, que podem ser
pectos morais, mas com religião implícita, divididos em três níveis de pensamento re-
mostrou o quanto os valores religiosos das ligioso, no qual os dois primeiros estágios
crianças com respostas “explícitas” ainda podem ser considerados elementares, o
não são totalmente consolidados por elas, terceiro estágio intermediário e os dois úl-
enquanto que essa consolidação ocorreu timos estágios avançados. As pessoas que
com maior intensidade nas entrevistadas se encontram no primeiro estágio consi-
que trouxeram respostas “implícitas”. A deram que Deus interfere diretamente na
consolidação do valor religioso, que per- vida das pessoas e no mundo. No segundo
mite com que a criança compreenda seus estágio existe uma reciprocidade entre os
valores implícitos, tornaria o indivíduo seres humanos e Deus, na qual as ações
apto a julgar como positiva a ação da per- humanas podem interferir nos desígnios
sonagem e, também, assumir para si sua divinos. O terceiro estágio é a autonomia
atitude. Os dados parecem corroborar a entre os seres humanos e Deus, é a sepa-
relação positiva existente entre os aspec- ração entre as duas esferas. O quarto es-
tos morais e os aspectos religiosos, refe- tágio é um retorno do divino no mundo e
rentes a valores consolidados da religião. na vida das pessoas, existe uma liberdade
de ação concedida por Deus. No quinto e
Palavras-chave: valores religiosos, valores último estágio existe uma total união entre
morais, interpretações de histórias. Deus e os seres humanos. Para investigar
Contato: Sarah Izbicki, Instituto de Psicologia o julgamento religioso, Oser e Gmunder
da USP, sarahizbicki@yahoo.com.br elaboraram uma entrevista semiestrutu-
rada, contendo dilemas hipotéticos, que
foi traduzida e adaptada para a língua
LT01-966 – VALIDAÇÃO DA ESCALA DO portuguesa pela primeira autora deste tra-
JULGAMENTO RELIGIOSO balho. Essa entrevista é extensa e requer
Aurora Camboim - UFPB bastante tempo e atenção dos entrevista-
auroraclal@yahoo.com.br dos. Para facilitar a aplicação e correção
Cleonice Camino - UFPB na investigação do julgamento religioso,
cleocamino@yahoo.com.br acreditou-se ser conveniente, a partir des-
Financiamento: CAPES sa entrevista e das respostas a ela, cons-
truir uma escala com um formato de teste
O Julgamento religioso é definido por Oser objetivo. A construção e validação da Es-
e Gmünder (1991) como a maneira pela cala do Julgamento Religioso (EJR) cons-
qual as pessoas justificam seu relacio- tituem o objetivo da presente pesquisa.
namento com Deus, principalmente, em Essa pesquisa foi realizada em duas fases.
situações difíceis da vida. Esses autores A primeira teve como objetivo a constru-
elaboraram uma sequência de estágios ção e validação de conteúdo da EJR e a se-
referentes à evolução desse tipo de pen- gunda teve como objetivo a validação de
samento, que ocorre de forma organizada construto, para verificar os coeficientes de

483
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fidedignidade e a consistência interna dos de forma coletiva em sala de aula. Os estu-


itens. A construção da EJR foi baseada nos dantes levaram em média 40 minutos para
estágios do julgamento religioso descritos responder. Para verificar se os itens da es-
por Oser e Gmünder (1991), nos dilemas cala correspondem aos estágios do julga-
hipotéticos da entrevista semiestruturada mento religioso, foi feita uma Análise Fato-
desses autores e nas respostas dos parti- rial confirmatória, inicialmente com cinco
cipantes que responderam a essa entre- fatores, como prevê a teoria. Utilizou-se o
vista no trabalho dissertativo da autora método dos componentes principais com
desse trabalho (Camboim, 2009). A escala rotação Varimax que revelou a adequação
é composta por um dilema, que diz respei- da amostra (KMO = 0,85) e que a correla-
to a uma promessa feita a Deus num mo- ção entre os itens são suficientes para rea-
mento de dificuldade. Inicialmente, foram lização da análise (teste de esfericidade de
elaborados 40 itens referentes ao dilema, Bartlett [А² (190) = 1425,556, p < 0,001]). A
sendo dez itens para cada um dos cinco es- análise inicial mostrou que quatro dos cin-
tágios do julgamento religioso. Após cada co componentes obedeceram ao critério
item, deve-se indicar o grau de importân- de Kaiser de autovalor (eigenvalue) maior
cia para cada afirmação que acompanha que 1 e explicaram 54,2% da variância. To-
o dilema numa escala tipo likert de cinco mando-se como referência os estágios do
pontos. Por fim, deve-se escolher dentre julgamento religioso, verificou-se que a or-
todas as afirmações, as quatro que são ganização dos itens nos fatores mostrou-se
consideradas mais importantes, de forma inadequada e desequilibrada. Optou-se,
hierárquica. Depois de elaborados os itens, portanto, por reter a estrutura fatorial em
foi realizada uma análise de juízes através três componentes. Assumiu-se que cada
da discussão com um grupo de pessoas, item deveria apresentar saturação mínima
com prévio conhecimento dos estágios, de |0,47|, assim como excluir os itens que
que verificou a dificuldade e adequação saturavam em mais de um componente.
dos itens. Em seguida, houve a adminis- Seguindo esses critérios, dois itens foram
tração do instrumento em 40 adolescentes excluídos. Os três componentes obtiveram
de uma escola pública, do sexo masculino um Alfa de Cronbach médio de 0,75. O pri-
e do sexo feminino, com idades de 12 a 16 meiro componente incluiu todos os itens
anos. Após responderem ao instrumen- que caracterizavam os estágios 1 e 2 (Nível
to foram discutidas com os estudantes as I), tendo um valor próprio de 5,09, e expli-
dúvidas e dificuldades que os itens susci- cando 25,4% da variância e com consistên-
taram. Com os dados obtidos foi realiza- cia interna (Alfa de Cronbach) de 0,87. O
da uma análise semântica, na qual alguns segundo componente incluiu os estágios 4
itens foram retirados e outros reformula- e 5 (Nível III), tendo um valor próprio de
dos, o que levou a uma segunda versão do 2,93, explicando 14,63% da variância e
instrumento com 20 itens, sendo quatro com consistência interna de 0,72. O tercei-
itens para cada estágio. A segunda fase ro componente incluiu o estágio 3 (Nível
deste trabalho contou com a participação II), tendo um valor próprio de 1,71, expli-
de 114 adolescentes de escolas públicas e cando 8,55% da variância e com consistên-
privadas e 130 jovens adultos de universi- cia interna de 0,65. Com esses resultados,
dades públicas federais. A EJR foi aplicada pode-se verificar que a escala apresentou

484
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

parâmetros psicométricos adequados, A Empatia é definida por autores da abor-


podendo ser um instrumento válido para dagem Cognitivo-Desenvolvimentista
identificar três componentes claramente como um construto multidimensional,
discerníveis em relação aos três níveis de formado por fatores cognitivos, afetivos
julgamento religioso. Com relação à con- e sociais. Autores como Hoffman (1987)
sistência interna, um Alfa de Cronbach mé- e Davis (1983) corroboram essa definição,
dio de 0,75 pode ser classificada como ten- afirmando que a empatia se desenvolve
do uma confiabilidade apropriada, mesmo paralelamente à maturação do individuo.
que um dos fatores tenha apresentado um Para Hoffman (1987), a Empatia deve ser
alfa de 0,65, pois pode ser justificado pelo compreendida como uma reação afeti-
número reduzido de itens. Com esses re- va mais adequada ao contexto de outra
sultados, pode-se constatar uma diferença pessoa do que ao contexto do próprio ob-
na maneira de pensar dos participantes servador, sendo, portanto, uma resposta
brasileiros em relação aos europeus en- vicária às representações mentais que se
trevistados por Oser e Gmunder. Porém, tem dos sentimentos dos outros. O pre-
essa diferença pode ser explicada pelo fato sente estudo teve como objetivo realizar
dos dados representados nessa pesquisa um levantamento dos sentimentos empá-
terem sido colhidos por uma amostra de ticos vivenciados por crianças, adolescen-
conveniência que talvez não represente a tes e adultos diante de notícias da TV. A
população brasileira. Ressalta-se, portan- amostra foi composta por 254 sujeitos do
to, a necessidade de novos estudos em sexo masculino (n=107) e do sexo femi-
diferentes contextos. nino (n=147), com idades variando entre
10 e 29 anos, estudantes de escolas pú-
Palavras-chave: Validação de instrumento, blicas (n=69), escolas particulares (n=35)
Julgamento Religioso, Estudantes. e de uma universidade pública (n=150)
Contato: Aurora Camboim Lopes de Andrade das cidades de Petrolina-PE e Juazeiro-BA.
Lula (UFPB - auroraclal@yahoo.com.br) Os instrumentos utilizados foram quatro
reportagens, exibidas por telejornais da
TV aberta brasileira, retirados de um por-
LT01 – 978 – AVALIAÇÃO DE tal de vídeos da Internet (YouTube). Estes
SENTIMENTOS EMPÁTICOS EM vídeos serviram como situações-estímulo
CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS para perguntas disparadoras da temática
Leonardo Rodrigues Sampaio - UNIVASF empatia, a partir das seguintes situações:
leorsampaio@yahoo.com.br o primeiro vídeo retratava a história de
Maria Aline Rodrigues de Moura - UNIVASF uma babá que agredia uma criança com
aline_rm@hotmail.com síndrome de Down; o segundo relatava
Pâmela Rocha Bagano Guimarães - UNIVASF a história de uma mãe que esqueceu um
pamisbagano@hotmail.com bebê no carro e este acabou morrendo
Laila Barbosa de Santana - UNIVASF por causa do calor; o terceiro fazia uma
lailablue@hotmail.com comparação entre os gastos públicos com
Cleonice Pereira dos Santos Camino - UFPB políticos no Brasil e em países desenvol-
cleocamino@yahoo.com.br vidos; e o último contava a história de
Financiamento: FACEPE, FAPESB e CNPq um ex-morador de rua que conseguiu ser

485
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aprovado em concursos públicos. Para a raiva (agressividade contra a babá), tris-


coleta de dados foi utilizada um roteiro teza (pelo sofrimento causado à criança),
de entrevista semiestruturado que busca- compaixão (com o sofrimento da criança
va identificar os tipos de emoções/senti- e de seus pais), injustiça (pela condição
mentos desencadeados pelas reportagens de fragilidade da criança), angústia (pelo
nos participantes, uma escala gráfica do sofrimento do infante), culpa (ao se colo-
tipo Likert para avaliar a intensidade dos carem no lugar dos pais por terem contra-
sentimentos empáticos e um questionário tado a babá) e desprezo (pelas ações da
sócio-demográfico. A análise de dados foi babá). Em relação ao vídeo do ex-morador
realizada usando técnicas qualitativas e de rua, os participantes relataram seis ti-
quantitativas. No que concerne a análise pos de respostas empáticas: alegria (pela
qualitativa, os relatos dos participantes atual situação de vida do protagonista),
foram transcritos e, com base na teoria de tristeza (pelo sofrimento do ex-morador,
Hoffman (1987; 1989; 1991), foi feita uma quando este ainda residia nas ruas), com-
categorização das respostas, através do paixão (pela condição de miséria anterior
método dos juízes, buscando-se avaliar os do personagem), orgulho (pelo esforço do
tipos de sentimentos empáticos vivencia- ex-morador), injustiça (pela discrepante
dos pelos participantes da pesquisa. distribuição de renda no país) e angústia
(pela situação anterior do ex-morador).
Em relação aos dados quantitativos, fo- No vídeo da mãe que esqueceu seu bebê
ram realizadas Análises de Variância Mul- dentro de um carro, as respostas obtidas
tivariada, para comparar as intensidades foram organizadas em seis categorias: tris-
dos sentimentos relatados, em função das teza (pelo óbito da criança e/ou pelo sofri-
principais variáveis independentes. Além mento da mãe), compaixão (pelo bebê e
disso, foi utilizado o Teste do Qui-quadra- pelos seus pais), angústia (pelo sofrimen-
do para comparar a frequência de evoca- to do bebê e dos seus pais) e culpa (ao se
ção das respostas em cada categoria, em colocar no lugar da mãe como responsável
função do sexo, idade, curso e tipo de es- pelo fato). Em relação ao vídeo dos polí-
cola dos participantes. Nos resultados ob- ticos brasileiros, as respostas foram clas-
servou-se que 54 tipos diferentes de res- sificadas nas seguintes categorias: raiva
postas relacionadas a emoções (ex: nojo, (pelos gastos exorbitantes dos políticos
raiva, alegria, tristeza, etc.), sentimentos brasileiros), tristeza (por ser uma situação
(ex: compaixão, angústia, etc.) e outros constante no país), injustiça (ao comparar
(ex: graça, fé, impotência, etc.) foram re- a realidade brasileira com a de outros pa-
latados pelos participantes, quando estes íses desenvolvidos), culpa (por não fazer
eram questionados sobre o quê sentiram nada para mudar esta situação), angústia
após assistirem os vídeos. Foram conside- (diante da constatação desta realidade)
radas como respostas empáticas aquelas e vergonha (dos políticos e da população
relacionadas a emoções e sentimentos brasileira). No tocante à influência do
que seriam mais adequadas aos protago- sexo, não houve diferenças significativas
nistas dos vídeos do que aos participantes. na frequência com que os participantes
No vídeo da babá observaram-se oito ti- relataram os diferentes sentimentos em-
pos diferentes de sentimentos empáticos: páticos. Entretanto, as análises de vari-

486
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ância indicaram que: no vídeo do carro DIA 14/11 - Segunda-feira


a intensidade da Tristeza foi significativa-
mente superior entre os participantes do
sexo feminino (X = 4,12; d.p. = ,89) em 8h30-10h
relação à intensidade dos participantes
do sexo masculino (X = 3,74; d.p. =1 ,02);
no vídeo do ex-morador, a intensidade na
CONFERÊNCIA
média da alegria foi diferente entre crian-
ças (X = 4,27; d.p. = 0,78), adolescentes (
X = 3,77; d.p. = 1,04) e adultos (X = 4,03;
CREATIVIDAD Y DESARROLLO DE
d.p. = 0,74): O post hoc Test de Tukey indi-
TALENTOS HACIA LA TRANSFORMACIÓN
cou que a diferença foi significativa ape-
SOCIAL
nas entre as crianças e os adolescentes (p
= ,001). Em relação à variável faixa etária, Sheyla Blumen - PUC/Perú
a ANOVA apontou que no vídeo dos po-
líticos houve uma influência significativa Se reflexiona acerca de la importancia de
sobre os sentimentos de Raiva, Tristeza la creatividad como expresión de salud
e Injustiça, no sentido de que os adultos en el desarrollo humano y su desarrollo
relataram sentir estes sentimentos mais en entornos de diversidad etnolingüística
intensamente que as crianças. Esses re- para la transformación social, a partir de
sultados sugerem que os tipos de pistas datos empíricos. Asimismo, se analiza la
situacionais acessíveis e o desenvolvimen- construcción social del concepto talento
to psicossocial podem exercer influência en Perú, Chile y Colombia considerando
significativa sobre os sentimentos empá- la influencia de la psicología positiva en su
ticos vivenciados por crianças, adultos e concepción actual, así como la necesidad
adolescentes. Além disso, emoções que de fomentar su desarrollo desde el esfuer-
fazem parte do dia-a-dia dos participantes zo individual y grupal hacia la mejora del
foram mais facilmente identificadas e que bien común. Posteriormente, se discute
suas perspectivas críticas diante de deter- la relación de los conceptos creatividad y
minados fenômenos também exerceram talento, considerando estudios empíricos
influencia sobre suas respostas. y el análisis de un caso, con el fin de com-
Assim, os resultados corroboram a teoria prender las contribuciones particulares de
de Hoffman no que tange à empatia como aquellas personas que utilizaron su talen-
algo essencial para a vida em sociedade, to para hacer de éste, un mundo mejor
uma vez que é através dela que as pessoas para vivir, enfatizando el importante rol
acessam as experiências internas dos ou- que juegan las oportunidades y servicios
tros e, a partir disso, modificam seu pró- complementarios a los que están expues-
prio comportamento. tos las y los jóvenes potencialmente ta-
lentosos. Asimismo, se proponen diversas
estrategias de aceleración pedagógica en
el entorno escolar y universitario, para
apoyar el desarrollo del talento en niñas,
niños y jóvenes, tomando consciencia de

487
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nuestra responsabilidad en la formación de los organizadores de este Congreso de


intelectual, ética y moral de las y los líderes pensar una Psicología del Desarrollo para
del futuro. Finalmente, se subraya la nece- Transformar América Latina. El texto La
sidad de mejorar la comprensión de las y Hollywodización de la Psicología del Desar-
los profesionales de la salud y educado- rollo (Valsiner, 2004) constituye una fuer-
res acerca de las y los jóvenes talentosos, te crítica a una concepción del desarrollo
tomando en consideración la diversidad basada en la edad como referencia para
etnolingüística característica del contexto conceptualizar los cambios, así como una
en que crecen y se desarrollan, asumien- critica a esa tendencia a realizar compara-
do que la gran mayoría se encuentra en ciones entre grupos de edades, para dar
espacios de pobreza, carentes de oportu- cuenta de lo que sería el desarrollo “Las
nidades para desarrollar sus capacidades. teorías que se hacen pasar por evolutivas
Se recomienda el planteamiento de line- solo son un compendio de afirmaciones
amientos formales de fomento al talento no evolutivas, adornadas de tal manera
en sus diferentes manifestaciones, con el que, efectivamente, parecen depender del
compromiso de los diferentes agentes de concepto de desarrollo”. Esa crítica que
la sociedad civil y del estado, así como de se oye de más en más, y que es común a
las universidades y empresas, con el fin de muchos otros investigadores (van Geert,
asegurarles un espacio comunitario, social 2003; Rose & Fischer, 2009; Kagan, 2008;
y laboral, evitando la fuga de talentos y Spencer & Perone, 2008), es entonces
apoyando su desarrollo para la transfor- la plataforma sobre la cual se construye
mación social. buena parte de la argumentación de esta
charla. Complementariamente para la otra
Palabras-clave: creatividad, talento, bienestar parte la invitación sobre el papel de Amé-
social, diversidad etnolingüística, aceleración rica Latina en los estudios del desarrollo,
también tiene en las palabras de Valsiner,
un excelente complemento. En su discurso
CONFERÊNCIA de aceptación al Doctorado Honoris Causa
que concedió la Universidad del Valle en
Octubre del 2010, Valsiner plantea que la
LA HOLLYWODIZACIÓN DE LA investigación psicológica realizada en paí-
PSICOLOGÍA DEL DESARROLLO, FRENTE ses como Brasil, Chile y Argentina y en Co-
A LAS PROPUESTAS DE UNA PSICOLOGÍA lombia, constituye una de las alternativas
AÚN MUY SILENCIOSA: EL PAPEL DEL más audaces y rigurosas de la psicología
SUBCONTINENTE LATINOAMERICANO EN actual. Por una parte la investigación en es-
LA INVESTIGACIÓN PSICOLÓGICA tos países acepta sin prejuicios lo que po-
Rebeca Puche Navarro - Universidad del Valle- dría ser “la primacía cualitativa en la cons-
Cali Colombia trucción de los métodos en la psicología”
(Valsiner, 2010, p 52), pero por otra parte
Como deriva del título de esta charla, las también se explora “el uso de matemáticas
reflexiones de Jaan Valsiner, a quienes sofisticadas” (Valsiner, 2010, p 52) como
ustedes conocen bien aquí en Brasil, son las provenientes de los sistemas dinámi-
la base que para responder a la solicitud cos. Dicho de manera breve, alguna inves-

488
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tigación realizada por una cierta vanguar- temas dinámicos no lineales), y que han
dia en Latinoamérica, entiende y asimila permitido abordar los naturaleza cam-
más rápidamente los rápidos cambios que biante de itinerarios y los patrones subya-
la psicología del desarrollo requiere, aun- centes a dichos itinerarios. Una de esas
que lo hace aún de manera bastante silen- técnicas, es la de series temporales de los
ciosa. Esta charla pretende recuperar esos mínimos y máximos (van Dick & van Geert,
planteamientos a la luz de algunos núcleos 2002). Ella gráfica la trayectoria de los de-
conceptuales del desarrollo, y analizar su sempeños de un sujeto, y de esta manera
relación con los abordajes metodológicos. visualiza el tiempo serial a partir de curvas
Desde la revisión de algunas herramien- de los itinerarios del sujeto. La condición
tas metodológicas se podrá mostrar que para su aplicación es un número amplio
la no linealidad del desarrollo de la men- de observaciones sucesivas en situaciones
te resulta ineludible, por ejemplos y por idénticas, establecidas dentro de un lapso
lo tanto esa vieja premisa según la cual, determinado de tiempo. El equipo de van
el desarrollo depende de la manera cómo Geert ha introducido éstas técnicas de se-
lo abordemos sigue presente en la agen- ries temporales en estudios longitudinales
da de trabajo. En primer lugar, se toman (van Dijk & Van Geert, 2007). A partir de
versiones de los métodos microgenéticos esos trabajos, otros estudios usan esas téc-
exitosos que han producido un amplio nú- nicas en períodos más cortos y más centra-
mero de estudios y que provienen muchas dos en funcionamientos a lo largo de tres o
veces de autores con linajes muy diferen- cuatro meses con dos intervenciones men-
ciados (Flynn & Siegler, 2007; Miller & Coy- suales y con cuatro observaciones por re-
le, 1999; Siegler, 2004, 2002; Adolph, Ro- gistro (Guerrero & Puche-Navarro, 2009).
binson, Young, & Gil Alvarez, 2008; Lavelli, En tercer lugar se toma técnicas como el
Pantoja, Hsu, Messinger & Fogel, 2005; state space grid (Hollenstein, & Lewis,
Puche Navarro & Ossa, 2006). Se trata de 2006; Hollenstein, & Lewis, 2009; Lewis,
mostrar como el método micrognenético 2004; 2006). Con esta técnica se trata de
esta unido conceptualmente al cambio y a “rastrear las trayectorias de emergencia
la variabilidad. Definido como la capacidad de patrones de los fenómenos en estu-
abordar minuciosamente la manera como dio (personalidad, emociones, interacción
se manifiesta el cambio cognitivo en una madre-niño) para mostrar las transiciones
secuencia de conductas, el método micro- en los desempeños a través del tiempo
genético implica registrar un gran número (Lewis, Lamey & Douglas, 1999; Lewis,
de conductas en una secuencia corta de 2000a; Lamey, Hollenstein, Lewis & Granic,
tiempo. Se trata de cubrir el mayor núme- 2004; Hollenstein & Lewis 2006)” (De la
ro de acciones que tienen lugar antes, en Rosa, Rodriguez & Ossa. 2009 p.33-34). A
y después de que ocurre el cambio. Si se partir del espacio de estado y atractor, dos
acepta que “la esencia del desarrollo es el principios de los sistemas dinámicos, se
cambio” (Siegler & Crowley, 1991 p. 606), identifican muchos de los posibles estados
entonces la pertinencia de esta técnica de un sistema en momentos específicos.
resulta definitiva. En segundo término se La otra cosa es trata de encontrar que las
revisan otros métodos de naturaleza más tendencias de esas trayectorias correspon-
matemática provenientes de los SDNL (sis- den a un atractor. En la conclusión se hace

489
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

un balance de la claridad entre la interde- crianças em creche”, defendida no Insti-


pendencia entre la concepción del desar- tuto de Psicologia da USP, sob orientação
rollo y los métodos. Se enfatiza como los do prof. Lino de Macedo, em fevereiro do
métodos microgenéticos como las técnicas corrente ano. O objetivo da Tese foi de
de series temporales recuperan el flujo di- investigar a Exploração Lúdica e Afetivi-
námico que es la característica que define dade, em criança de zero a dois anos de
el desarrollo como proceso. Ese tipo de idade, atendida em berçários de creche.
abordaje contrasta con el abordaje trans- Para tanto, utilizaram-se as concepções
versal que se limita a establecer, en el me- teóricas de Jean Piaget que possibilitaram
jor de los casos, un solo registro en un mo- compreender tanto a Exploração Lúdica
mento determinado, es decir “fotografías” - na discussão dos conceitos de Repeti-
del desarrollo. Ese abordaje transversal ção, Prazer Funcional, Jogos de Exercício
responde a una concepción que concibe e Reação Circular Terciária -, quanto o
el desarrollo como etapas, como momen- Desenvolvimento Afetivo - através dos
tos fijos en la adquisición de habilidades y conceitos de Afetos Perceptivos e Afetos
que en consecuencia termina siendo una Intencionais. Este foi um Estudo de Caso
concepción estática. En resumen se trata desenvolvido através do Método Clínico
de analizar aquello que permite a los paí- de Piaget e da Microgenética. Foram re-
ses llamados de la periferia y del papel del alizadas 10 observações com registros fíl-
subcontinente latinoamericano jugar un micos, em um total de 44 crianças peque-
papel, y contribuir a identificar como ha- nas, presentes nos berçários de duas cre-
cerlo de la mejor manera. ches comunitárias e conveniadas com a
Rede Municipal de Belo Horizonte, a par-
Palabras-claves: Desarrollo, microgenético, tir da apresentação de um kit de objetos/
metodos de mínimos y máximos, método de brinquedos. Desse processo resultaram 5
state space gris. filmes sobre as ações afetivas manifesta-
das pelas crianças pequenas: o primeiro
foi elaborado com o foco nas ações das
crianças, no ambiente de berçário sem
CO 12 - LT01
o kit de objetos/brinquedos. O segundo
Estudos piagetianos contempla as ações das crianças, no am-
biente de berçário, com a introdução do
kit de objetos /brinquedos. O terceiro,
LT01-929 – A CRIANÇA PEQUENA, O quarto e quinto filmes focam a trajetó-
BRINCAR E AFETIVIDADE. ria individual de três crianças, de idades
Paula de Souza Birchal - PUC/Minas diferentes. Os cinco filmes possibilitaram
pbirchal@pucminas.br perceber as ações das crianças pequenas
Lino de Macedo - USP com e sem o kit de objetos/brinquedos,
limacedo@uol.com.br suas relações - entre si, com os objetos/
brinquedos e com as professoras - além
A proposta dessa comunicação oral é de da comparação entre os períodos de Ex-
apresentar um recorte da Tese de Douto- ploração Lúdica e de não exploração. A
rado: “Exploração lúdica e afetividade de pesquisa confirmou a hipótese de que a

490
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

introdução do kit de objetos/brinquedos filme foi elaborado a partir das ações das
promove a Exploração Lúdica e esta se crianças, no ambiente de berçário, com a
constitui em um recurso fundamental de introdução do kit de objetos /brinquedos.
manifestação e desenvolvimento da Afe- Este filme mostra as ações de Exploração
tividade das crianças pequenas. A partir Lúdica e manifestações afetivas das crian-
desta breve apresentação da Tese preten- ças quando lhes foram oferecidos os kit’s
de-se, nessa comunicação oral, apresen- de objetos/brinquedos, compostos de
tar os dois primeiros filmes que mostram bolas, livros, chocalhos, caixas de formas,
as ações das crianças sem e com o Kit de jogo de empilhe, mordedores. A maioria
objetos/brinquedos e os resultados ob- das cenas evidencia crianças explorando
tidos em cada um deles, como também os objetos/brinquedo, primeiramente,
uma análise comparativa das ações das através do olhar, quando os identificam
crianças nessas duas situações. No pri- e os escolhem. Em seguida observam-se
meiro filme, que mostra o que as crianças a intensificação das ações e as manifes-
fazem no ambiente de berçário quando tações afetivas das formas mais distintas:
não estão com os objetos/brinquedos, pegar, morder, chupar, arrancar, dispu-
definidas a partir das ações: mostrar os tar, jogar, balançar, sorrir, apertar, segu-
cuidados básicos das professoras com as rar, agarrar, encaixar, assentar, encontrar
crianças e cenas que retratam a existência orifícios, empilhar, manipular livremen-
de brinquedos nos berçários das creches, te, solicitar ajuda, interagir com o outro,
compatíveis com o desenvolvimento das chorar, balbuciar, falar, irritar-se, criar
crianças, mas que permanecem sem uso, histórias, derrubar, imitar. Não há cenas
seja porque as professoras não os dispo- de crianças isoladas sem exploração dos
nibilizam para as crianças (visível no fato objetos/brinquedos e em todas as cenas
de alguns estarem ainda dentro das em- a Exploração Lúdica está presente nas
balagens, e no caso dos triciclos as rodas ações das crianças, assim como a Afetivi-
lisas e brilhantes demonstram não uso) dade também pode ser observada tanto
seja porque estão guardados em lugares nas formas de Afetos Perceptivos quan-
altos, inacessíveis às crianças. Observa-se to Intencional. Os dados apontam que,
neste filme que a maioria das cenas re- na ausência do kit, em apenas 59% das
trata crianças dispersas pela sala, ou sozi- cenas há Afeto Perceptivo contra 100%
nhas em algum canto, ou em seus berços, com a presença dele. No caso do Afeto
acordadas. Enquanto algumas crianças Intencional a ausência do kit torna-o pre-
exploram objetos do berçário que as colo- sente apenas em 21% das cenas contra
cam em situação de risco, como cadeira, 81% quando de sua presença. Pode-se
porta, portão, saco plástico e até mesmo perceber que há um ganho qualitativo
balões, outras carregam de um lado para no desenvolvimento da afetividade com
outro, bolas, chocalho de garrafa pet e bo- a presença do kit, uma vez que as mani-
neca. Algumas exploram o próprio corpo, festações afetivas das crianças são mais
interagem entre si e com as professoras. intencionais que perceptivas. É impor-
Poucas estão sorrindo e alegres. Dormem, tante ressaltar que no filme com o Kit de
choram e recebem os cuidados básicos objetos/brinquedos, nas primeiras cenas,
(banho, alimentação, higiene). O segundo as crianças emitem poucos sons, durante

491
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sua exploração. Já do meio para o fim do moral. O campo de pesquisa com jogos
filme, pode-se observar um aumento na comporta, atualmente, temas partidários
variedade de sons emitidos pelas crian- da Antropologia, Filosofia, Sociologia e, é
ças, assim como também produzidos claro, também da Psicologia. Com relação
pelos próprios brinquedos, enquanto as a esta última, vemos importantes con-
crianças os exploram. Outro aspecto a ser tribuições do uso do jogo para o estudo
ressaltado é quanto à frequência dos kit’s de aspectos cognitivos, afetivos, sociais,
no ambiente dos berçários. Isto é, com morais, simbólicos, comportamentais,
frequência maior dos objetos/brinquedos entre outros. Neste contexto, o jogo é
dos kit’s as crianças se interagiam mais geralmente estudado em termos de suas
umas com as outras e com as professoras. influências ou contribuições para diversos
A frequência também mostrou que nas fenômenos, como, por exemplo, a repre-
últimas cenas as crianças disputavam me- sentação mental, a linguagem, a aprendi-
nos os objetos/brinquedos e brincavam zagem, sem contar a vasta gama de no-
mais próximas umas das outras. Diante ções e conceitos aos quais são, geralmen-
do exposto pode-se concluir que a Explo- te, associados. A moralidade, assim como
ração lúdica se coloca como elemento in- o jogo, vem sendo historicamente estuda-
termediário, primordial e fundante, pois da como aspecto inerente à humanidade
com ela a criança se estrutura, edifica-se e é também alvo do interesse de ciências
na sua condição de sujeito e protagonista diversas. Assim, enquanto algumas cor-
do seu desenvolvimento, não apenas in- rentes filosóficas buscam teorizar sobre
telectual, mas afetivo. os valores e princípios morais universais,
os sociólogos, geralmente, enfatizam o
Palavras-chave: afetividade; brincar; criança pensamento moral em caráter coletivo,
pequena. ficando a cargo de algumas vertentes da
Contato: Paula de Souza Birchal - Pontifícia Psicologia uma preocupação maior em re-
Universidade Católica de Minas Gerais; lação ao desenvolvimento da consciência
pbirchal@pucminas.br moral individual. Neste grupo, daremos
destaque a Epistemologia Genética de
Jean Piaget, na qual é possível encon-
LT01-1288 – A REGRA EM JOGO: trar importantes teorizações a respeito
ESTUDANDO AS CONCEPÇÕES INFANTIS do jogo e da moralidade, que nortearão
SOBRE A REGRA DO JOGO E A REGRA o presente trabalho.Acreditando que a
MORAL essência da moral deva ser estudada a
Ana Paula Sthel Caiado - USP partir do respeito que os indivíduos ad-
apcaiado@usp.br quirem pelas regras, e que o jogo possui a
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP peculiaridade de reunir regras estabeleci-
mtdesouza@usp.br das nas relações entre crianças exclusiva-
Financiamento: FAPESP mente, Piaget (1932/1994) buscou inves-
tigar as afirmações e ideias destas sobre
Trata-se de um estudo sobre os julgamen- as regras do jogo de bolinha de gude,
tos emitidos por crianças a respeito das analisando não só como elas as pratica-
regras em contexto de jogo e contexto vam como também suas considerações a

492
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

respeito de sua origem e obrigatorieda- que lhe cabe nesta proposta, o presente
de, ao que denominou consciência das trabalho reúne os resultados referentes à
regras. Com essa pesquisa, demonstrou realização de entrevistas, utilizando-se o
como o jogo muscular e egocêntrico tor- método clínico piagetiano, com 08 crian-
na-se social, defendendo-o como espaço ças, entre 07 e 09 anos, nas quais foram
de discussão e reciprocidade, no qual os investigadas suas concepções relativas
indivíduos, considerando-se como iguais, aosquatro aspectos da moralidade supra-
poderão controlar-se mutuamente e atin- citados. A entrevista consistiu em quatro
gir, assim, o estado cooperativo, condição pares de historias-dilemas nas quais eram
primeira para o desenvolvimento do juízo contrapostas situações de jogo com situ-
moral autônomo. Desta maneira, julga- ações do cotidiano envolvendo preceitos
-se pertinente ressaltar o enfoque dado morais. Esta foi gravada e posteriormen-
ao jogo de regras como espaço de trocas te transcrita pela própria pesquisadora.
interindividuais igualitárias e estas como Foram definidos critérios de análise de
importantes ao desenvolvimento moral, forma a avaliar se as respostas emitidas
sendo a regra um importante ponto de pelas crianças tendiam mais para a auto-
intersecção entre tais aspectos. Concebi- nomia, para a heteronomia, se denota-
da por Piaget (1932/1994) como fator es- vam certa transição ou ainda se apresen-
sencial da moralidade e estudada por ele tavam contradição. Foi também analisado
como uma das estruturas do jogo – em se era mantida coerência de respostas
conjunto com o exercício e o símbolo – a entre a situação de jogo e a situação co-
regra funciona como regulador das trocas tidiana descritas nas estórias-dilema. A
sociais, determinando (ou restabelecen- este respeito cabe uma breve referência
do) seu equilíbrio, encontra-se nela um à forma como o desenvolvimento moral
sentido de obrigatoriedade que denota é tratado na abordagem piagetiana. Nela
a existência de relações sociais (Piaget, são concebidas duas formas possíveis de
1965/1973).As considerações teóricas legitimação das regras e valores morais,
apresentadas, resumidamente até então, uma a partir da referência a figuras de
embasam este trabalho, que teve como autoridade constituindo-se, portanto he-
objetivo avaliar os juízos dos sujeitos com terônoma, e outra baseada na autonomia
relação às regras do jogo e regras morais, da consciência, na qual o sujeito conse-
tomando como referência as noções de gue prescindir de interferências externas.
justiça (distributiva ou retributiva), de de- Sendo a primeira geralmente, prevalente
ver (igualdade ou autoridade), de sanção até os sete anos, momento em que ocor-
(expiatória ou recíproca) e de responsabi- re o deslocamento da postura egocêntri-
lidade (objetiva ou subjetiva). Tal propó- ca para a capacidade de coordenar dife-
sito é parte de um espectro mais amplo rentes pontos de vista, condição inerente
que busca analisar, por meio do jogo de ao exercício cooperativo e à construção
regras, diferentes maneiras das crianças de juízos morais mais autônomos. Os
praticarem, assimilarem e respeitarem a resultados demonstram conformidade
regra, buscando com isso abordar aspec- com a teoria no que diz respeito aos ju-
tos do desenvolvimento moral infantil, ízos morais emitidos, ficando as crianças
segundo a teoria piagetiana. Para a parte mais novas responsáveis, em sua maioria,

493
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

por aqueles que denotavam concepções vídeo é uma produção da Casa Redonda
heterônomas. Quanto às comparações Centro de Estudos, instituição localizada
entre as situações de jogo e situações em São Paulo, que atende a crianças en-
cotidianas, verificou-se uma supremacia tre dois anos e meio e sete anos. O vídeo
das segundas em relação às primeiras, ou é composto por cenas em que as crianças,
seja, houve diferenças no julgamento de ao longo das diferentes estações do ano
grande parte das crianças, no sentido de e quase sempre ao ar livre, brincam com
tomarem as situações cotidianas que en- os quatro elementos da natureza: terra,
volviam preceitos morais como mais im- água, fogo e ar (Cruz, 2005). Estimulados
portantes ou os erros delas decorrentes a falar sobre o vídeo, os alunos reconhe-
como mais graves quando comparadas às ceram o ambiente retratado como um
situações de jogo. Uma possível ponde- espaço de aprendizagem, propiciador de
ração a este respeito pode ser levantada contato com a natureza e em que, sem a
tomando em conta que as situações coti- intervenção direta de adultos, as crianças
dianas descreviam vez ou outra, a parti- podem explorar livremente os recursos
cipação de um adulto. Desta forma, são que encontram. Segundo eles, Piaget con-
evidenciados alguns fatores presentes sideraria esse espaço “ideal”, já que nele
nas concepções infantis sobre a regra em as crianças dispõem de liberdade para
diferentes contextos, assim como suas agir e é pela ação que a criança organiza
nuances e transformações. seus pensamentos. Alguns alunos identi-
ficaram as ações realizadas pelas crianças
Palavras-chave: jogos de regras; do vídeo como possibilidade de constru-
desenvolvimento moral infantil; ção de novos esquemas e de experiência
epistemologia genética. de reflexão sobre temas abstratos, como
“Deus” e “criação do mundo”. As crianças
visualizadas, segundo os alunos, vivem o
LT01-1310 – A INFLUÊNCIA DA TEORIA estágio pré-operatório, apresentam pen-
PIAGETIANA SOBRE A PERCEPÇÃO DE samento animista e linguagem marcada
ESTUDANTES DO SEGUNDO SEMESTRE por monólogos coletivos. De fato, Piaget
DO CURSO DE PSICOLOGIA A RESPEITO (2006) identifica o estágio pré-operatório,
DO BRINCAR INFANTIL que localiza-se aproximadamente entre o
Juliana Lima de Araújo - UNIFOR terceiro e o oitavo ano de vida, como um
ju_lima_araujo@yahoo.com.br momento de grande evolução, quando a
Cristiane Amorim Martins - UNIFOR linguagem, recém adquirida, expande as
crisamorim@unifor.br possibilidades de socialização e, em uma
forma ainda egocêntrica, favorece a in-
Este trabalho relata a experiência de moni- teriorização da ação e o surgimento do
toria em que se investigou a percepção de pensamento intuitivo. No vídeo vemos
alunos do segundo semestre do curso de crianças em volta da fogueira, controlan-
psicologia a respeito do brincar infantil. A do as chamas ao movimentar o vento,
experiência relatada consiste na exibição manuseando velas, cozinhando em um
do vídeo “Brincando com os Elementos” e fogão improvisado que uma delas chama
posterior discussão sobre o mesmo. Este de “caldeirão de bruxa” (é importante

494
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ressaltar que todas essas atividades são relativos às capacidades básicas de ler e
supervisionadas por um adulto e que a contar é hoje o principal meio de medir
criança só realiza aquilo que pode e con- a eficácia do ensino escolar. Certamente
segue). Lima (2003) nos fala da “idade do as crianças devem ser capazes de ler, es-
fogo”, comum ao período pré-operatório, crever e contar, mas a maioria das escolas
em que as crianças sentem-se especial- parece deixar em segundo plano o desen-
mente motivadas em explorar o fogo volvimento da sua autonomia intelectual
(com frequência envolvem-se longamen- e moral e a construção de conhecimentos
te em jogar objetos numa fogueira). O relacionados à questões cotidianas. Os
vídeo também nos mostra jogos simbó- estudos de Piaget trazem grande contri-
licos, os chamados faz-de-conta, em que buição à educação. Embora ele não tenha
as crianças agem através de um “como proposto uma metodologia de ensino,
se”. Este “como se” se caracteriza como sua teoria nos exige uma quebra de para-
símbolo lúdico: as crianças, por exemplo, digma na idéia tradicionalmente atribuída
brincam imitando barulhos de carros, api- de como o conhecimento é apreendido.
tos de trem, tiros, e, nesse contexto de É a partir de sua teoria sobre o desenvol-
fantasia, exercitam um pensamento mais vimento da cognição e da aquisição de
flexível do que aquele presente nas situa- conhecimento, que muitas intervenções
ções cotidianas. Essa experiência propicia são realizadas por psicólogos e pedago-
o desenvolvimento da competência para gos. Partindo da idéia de que toda pro-
pensar sobre coisas irreais (Bomtempo, posta educacional deve, inicialmente, se
2000). perguntar que tipo de homem se quer
Discutindo as brincadeiras mostradas no formar, a grande questão a se pensar, em
vídeo, questionamos, junto aos alunos, se uma educação influenciada pela teoria
as escolas costumam dar espaço à ação piagetiana, é como promover o desenvol-
espontânea da criança. Alguns menciona- vimento da autonomia intelectual e moral
ram o fato de muitas escolas, atualmente, das crianças. Deve haver uma mudança
permitirem às crianças a experimentação de paradigma à medida que se considera
através de “feiras de ciências” e uso de o conhecimento construído pelo aluno ao
laboratórios, mas consideraram raras as invés de transmitido pelo professor. Este
práticas pedagógicas que valorizam, real- deixa de ser entendido como o possuidor
mente, a brincadeira livre. Piaget (1990) do saber, passando a ser visto como aque-
ressalta o quanto o brincar é importante le que estimula o processo de aprendiza-
para o desenvolvimento infantil, já que, gem do aluno. É importante que na for-
dispondo de um pensamento marcada- mação do psicólogo, desde os primeiros
mente concreto, é através das suas ações semestres da graduação, se reflita sobre
que a criança pequena elabora uma com- as contribuições da psicologia na supe-
preensão sobre a realidade e também ex- ração dos desafios vividos no campo da
pressa suas idéias. Tem-se alcançado mui- educação.
tos progressos teóricos no campo da edu-
cação, mas infelizmente a prática não tem Palavras-chave: teoria piagetiana, brincadeira,
conseguido acompanhar esses avanços. educação.
O desempenho em testes padronizados

495
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT02-1451 – O ESTADO DA ARTE DAS em anais de congressos e de seminários.


PROVAS OPERATÓRIAS PIAGETIANAS NO Também são reconhecidas por utilizarem
BRASIL uma metodologia de caráter inventarian-
Daiana Stursa - UFES te e descritivo da produção acadêmica e
daianastursa@yahoo.com.br. científica sobre o tema que busca inves-
Bárbara Subtil de Paula - UFES tigar, à luz de categorias e facetas que se
Sâmia Gabler da Eira - UFES caracterizam, enquanto tais, em cada tra-
Tamires da Silva Mascarenhas Pinho - UFES balho e no conjunto deles, sob os quais o
Savio Silveira de Queiroz - UFES fenômeno passa a ser analisado. O objeti-
vo desta pesquisa é o de investigar a pro-
O conjunto das provas operatórias piage- dução brasileira nos últimos 10 anos acer-
tianas foi concebido inicialmente como ca do uso das provas operatórias como ins-
metodologia destinada à investigação de trumentos ou como objeto de reflexão em
parâmetros de observação do processo pesquisas de caráter científico. Para isso,
de construção do conhecimento, visando realizaremos análise quantitativa e quali-
a descrição de um sujeito epistemológico. tativa de dissertações, livros, teses e arti-
Desde então, as provas operatórias são uti- gos publicados sobre o tema geral: “pro-
lizadas para múltiplos fins investigativos. vas operatórias piagetianas”, empregando
Contudo, aparentemente, não sofreram os seguintes critérios para essa análise: 1)
modificações relevantes em sua forma de a quantidade da produção; 2) definições
aplicação ou parametrização, dificultando empregadas; 3) referenciais teóricos ado-
novas abordagens sobre o sujeito psicoló- tados e presença de pesquisa empírica;
gico acerca de como construiu seu próprio 4) adoção, ou não, de postura crítica em
conhecimento. Proceder desta maneira relação avaliação clínica ou pedagógica;
é permitir o restabelecimento constante 5) presença de propostas de intervenções
dos parâmetros do sujeito epistemológi- pedagógicas ou clínicas; e 6) discussão
co, contribuindo para o exame dos relatos epistemológica ou filosófica sobre o tema
de pesquisas e reflexões em geral à luz do específico da publicação. Os dados (em
crivo da Epistemologia Genética e da Epis- fase final de organização e análise) foram
temologia científica em geral. Nesse senti- obtidos por meios digitais ou impressos,
do, pesquisas que recebem denominação centralizados em banco de dados único, e
de “estado da arte” ou “estado do conhe- criticados em reuniões periódicas que cor-
cimento” podem ser definidas como de rigem eventuais falhas em nossos procedi-
caráter bibliográfico, trazendo em comum mentos de pesquisas. Espera-se que esta
o desafio de mapear e de discutir a produ- pesquisa forneça avanço teórico e meto-
ção acadêmica em diferentes campos do dológico a respeito das provas operatórias
conhecimento, a fim de responder sobre bem como, subsídios para a produção de
quais aspectos e dimensões vêm sendo material didático voltado para a instru-
destacados e privilegiados em diferentes mentação clínica e pedagógica.
épocas e lugares; de que formas e em que
condições têm sido produzidas disserta- Palavras-chave: Provas Operatórias
ções de mestrado, teses de doutorado, pu- Piagetianas; Estado da Arte; Epistemologia
blicações em periódicos e comunicações Genética.

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 13 - LT01 grama estruturado de intervenção no qual


os procedimentos de estimulação visavam
Saúde atingir os seguintes objetivos específicos:
andar sozinha pela sala de aula; pular (os
dois pés devem sair do chão); chutar (o
LT01-725 - ESTIMULAÇÃO DO
pé direito ou esquerdo deve sair do chão
DESENVOLVIMENTO MOTOR DE UMA
quando a bola for tocada); correr (em um
CRIANÇA CEGA
instante, no local, ambos os pés devem
Maria Luiza Pontes de França Freitas - UFSCar estar fora do chão ao mesmo tempo);
mluizapf@yahoo.com.br locomover-se em velocípede; realizar o
Maria Stella Coutinho de Alcântara Gil - movimento manual de penta digital; ma-
UFSCar nusear massa de modelar. O programa de
stellagil@uol.com.br intervenção foi elaborado com base na
Financiamento: CAPES avaliação inicial do repertório de compor-
tamentos da criança participante desse
O grau da deficiência visual tem diferentes estudo que foi um menino cego (retino-
efeitos no desenvolvimento de habilida- patia da prematuridade) de cinco anos de
des motoras e pode afetar, por exemplo, a idade com acentuado atraso de desenvol-
aquisição da percepção espacial e de dis- vimento que frequentava a sala regular do
tância necessárias para o desenvolvimen- maternal de uma escola pública localizada
to dessas habilidades (Rodrigues, 2002). em uma cidade do interior de São Paulo.
De acordo com Warren (1994), o desen- Para obter o repertório de comportamen-
volvimento motor mais lento em algumas tos da criança cega antes das intervenções
crianças cegas pode ser devido à restrição foi realizado um pré-teste que consistiu na
de oportunidades muitas vezes agravada aplicação do Inventário Portage Operacio-
pela superproteção dos pais. A oportuni- nalizado (WILLIAMS; AIELLO, 2001) que
dade ou possibilidade de deslocamento fornece a avaliação das seguintes áreas
e mobilidade é o fator mais importante de desenvolvimento: socialização, lingua-
na determinação das capacidades moto- gem, autocuidados, cognição e desenvol-
ras de crianças com deficiência visual e vimento motor. Esse instrumento foi uti-
a restrição de oportunidades pode gerar lizado em forma de entrevista com a mãe
atrasos de desenvolvimento da locomo- e a professora (informantes na pesquisa)
ção. Por esse motivo é importante que a da criança cega antes da intervenção. O
criança adquira as habilidades de locomo- item era lido e depois a mãe ou professora
ção, exploração e manipulação tátil, para informava se a criança realizava ou não o
poder interagir efetivamente com o mun- comportamento específico do item lido.
do físico (Warren, 1994). Diante disso, o Além das informações coletadas por meio
objetivo geral desse trabalho foi avaliar o do Inventário Portage Operacionalizado
efeito de procedimentos de intervenção, (IPO), foram realizados registros manuais
em ambiente escolar, no desenvolvimen- e em vídeo de sessões de brincadeira li-
to motor de uma criança cega com atraso vre na escola para obter informações do
de desenvolvimento. Para alcançar esse repertório de entrada da criança. Com
objetivo foi necessário elaborar um pro- base nesses registros e entrevistas iniciais

497
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foi possível verificar os comportamentos perspectiva da mãe, outros pela perspec-


que necessitavam de estimulação e os tiva da professora e um número menor
que precisavam ser incluídos no reper- foi incluído com base na perspectiva das
tório da criança. Após a coleta descrita, duas. O maior número de desempenhos
deu-se início a segunda fase do estudo motores foi incluído pela perspectiva da
na qual foram realizadas intervenções por professora (20) em comparação com os
meio de propostas de atividades indivi- inseridos na perspectiva da mãe (9). É pro-
duais e de brincadeiras semiestruturadas vável que isso tenha acontecido pelo fato
para estimular o desenvolvimento motor da intervenção ter sido realizada no am-
da criança cega. Essas atividades foram biente escolar. Com base nos resultados
registradas em vídeo e manualmente. Fi- pode-se afirmar que a partir das experi-
nalizadas as intervenções foi realizado um ências motoras, proporcionadas através
pós-teste que consistiu na reaplicação do das brincadeiras, foi possível estimular o
IPO por meio de entrevista para a mãe e desenvolvimento motor da criança cega,
para a professora com o intuito de avaliar bem como a construção da noção de es-
novamente o nível de desenvolvimento paço tão importante para a capacidade de
motor da criança (pós-intervenção). Para se deslocar no ambiente escolar. À medi-
avaliação dos resultados obtidos por meio da que a criança adquiria novos desempe-
do IPO foi realizado o cálculo da reta de re- nhos motores estimulados com atividades
gressão do desenvolvimento motor. Esse individuais era facilitada sua participação
cálculo apresentou os totais de compor- nas brincadeiras em grupo realizadas em
tamentos estimados pelo inventário por sala de aula. Diante das alterações veri-
faixa-etária e onde a criança avaliada se ficadas na comparação do repertório an-
localizava na reta. Depois disso, o pré-tes- terior da criança com os desempenhos
te foi comparado com o pós-teste (IPO) e adquiridos posteriormente, pode-se des-
os desempenhos incluídos no repertório tacar que a intervenção realizada nessa
da criança consistiram naqueles que não área específica de desenvolvimento foi
haviam sido considerados como parte do efetiva. Atualmente, se reconhece que as
repertório dessa criança nem pela mãe crianças cegas que não recebem estimula-
nem pela professora antes da intervenção ção especializada no primeiro ano de vida
e depois foram acrescentados pelas duas apresentam atraso no desenvolvimento,
ao repertório após a intervenção. Com por esse motivo necessitam de uma maior
base nessa comparação e nos registros estimulação para que desenvolvam suas
manuais e em vídeo foi possível verificar potencialidades. Faltou à criança partici-
que após a intervenção foram alcançados pante do estudo a devida estimulação nos
os sete objetivos específicos desse estudo. seus primeiros anos, conforme relato da
Os objetivos correr e locomover-se com mãe e da professora. Entretanto, a criança
velocípede foram alcançados pela crian- demonstrou ter capacidade para adquirir,
ça apenas com auxílio de outra pessoa. com o auxílio de estimulação especializa-
Outros desempenhos motores existen- da, vários comportamentos e desenvol-
tes no IPO foram incluídos no repertório ver suas potencialidades. Com apenas 18
da criança após intervenção. Alguns de- sessões, foram obtidas modificações sig-
sempenhos foram incluídos apenas pela nificativas no comportamento da criança

498
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cega. Diante disso, pode-se afirmar que a sexuais e relacionais da constituição do


estimulação realizada de forma adequada aparelho psíquico. O conhecimento sobre
pode contribuir para a criança cega, com a origem dos bebês manifesta uma pro-
deficiências adicionais ou não, adquirir gressão genética baseada nas “formas”
senso de equilíbrio, autoconfiança e in- gerais do desenvolvimento das estruturas
dependência, tão importantes para seu do pensamento postuladas por Piaget.
desempenho geral no ambiente escolar. Na obra freudiana, as teorias sexuais in-
Esse estudo, portanto, fornece estratégias fantis (falocêntrica, sádica do coito e clo-
para promover o desenvolvimento motor acal) são destacadas como os primórdios
de crianças cegas, contribuindo de modo do vínculo da criança com o saber e seu
significativo para futuras intervenções. desenvolvimento psicossexual modelará
as características dessas construções. A
Palavras-chave: desenvolvimento motor, escolha das contribuições de ambos os
criança cega, intervenção. autores se justifica em suas concepções
Contato: Maria Luiza Pontes de França Freitas de desenvolvimento, que permitem en-
- Universidade Federal de São Carlos tender a constituição subjetiva e mental
mluizapf@yahoo.com.br da criança a partir de um processo mul-
tideterminado. Este trabalho se baseia na
hipótese de que os processos estruturais
LT01-796 - A CONSTRUÇÃO DO do desenvolvimento cognitivo da criança
CONHECIMENTO SOBRE O NASCIMENTO: se desenvolvem de maneira correlativa e
CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO DIÁLOGO convergente aos aspectos psicodinâmicos
ENTRE AS TEORIAS PIAGETIANA E do pensamento e aos conflitos psíquicos
FREUDIANA e fantasias universais em relação à sexu-
Mariana Inés Garbarino - IP/USP alidade. Para isso, articula a contribuição
marianagarbarino@usp.br da psicogênese de Piaget e da psicanálise
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - IP/USP por considerar que ambas se distanciam
mtdesouza@usp.br. dos dualismos corpo-mente e afetividade-
Financiamento: CNPq -inteligência que levam a reducionismos
na interpretação dos processos cognitivos
A análise da construção dos conhecimen- e afetivos do desenvolvimento humano.
tos das crianças sobre o nascimento e a Os dois corpos teóricos admitem refletir
fecundação exige ferramentas conceitu- acerca dos limites do fator social, e espe-
ais que abordem diferentes aspectos do cialmente da educação, diante do pensa-
desenvolvimento. O presente trabalho se mento egocêntrico/pré-operatório e do
situa na linha do estudo da inteligência e caráter universal das teorias sexuais infan-
da afetividade e se fundamenta nas con- tis. Para ambos os autores, a tenacidade
tribuições da psicogênese e da psicanálise das convicções das crianças persiste ape-
por considerá-las as mais adequadas para sar da observação de fatos contraditórios
tratar a questão. A primeira fundamenta a sua crença e da influência dos discursos
sua teoria nos fatores cognitivos e afeti- dos adultos. A relevância do problema
vos implicados na construção do conhe- da origem dos bebês na perspectiva pia-
cimento. A segunda, nos aspectos psicos- getiana se sustenta na afirmação de que

499
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a curiosidade relativa ao nascimento é o Partindo do método clínico piagetiano


que está no ponto de partida das pergun- foram realizadas 60 entrevistas individu-
tas sobre a origem das coisas de maneira ais e semiestruturadas, com crianças de 4
geral e, portanto, do artificialismo. Outra e 8 anos de escolas de Campinas/SP. Os
importante fonte de artificialismo, segun- níveis das respostas foram estabelecidos
do Piaget, é o singular sentimento filial com base nos sucessivos períodos do ar-
das crianças pequenas. Aproximadamen- tificialismo e animismo propostos por
te aos 6/7 anos começa uma crise intelec- Piaget nas suas pesquisas, além de consi-
tual e moral da onisciência e onipresença derar o nível de descentração das respos-
dos pais que coincide com uma crise do tas (por oposição às mais egocêntricas).
artificialismo mitológico e o início da ten- Foram organizadas a partir de três blocos
dência ao artificialismo técnico. O vínculo temáticos: Nascimento e origem do bebê
da criança com os pais também foi espe- (fecundação e saída da barriga); Vida in-
cialmente destacado por Freud para expli- trauterina (alimentação e crescimento
car o complexo de Édipo, sua dissolução e do bebê) e Diferença entre os sexos. Os
o ingresso ao período de latência. Nesse dados coletados mostram recorrência de
período, a tentativa de decifrar os enig- certas respostas e corroboram tendências
mas do sexo ativa traços inconscientes do do pensamento simbólico (como sincre-
primeiro período e assim as novas desco- tismo e admissão da contradição) espe-
bertas se misturam com idéias falsas e re- cialmente nas crianças mais novas. Tam-
síduos das teorias sexuais infantis de fases bém foi verificada a tendência narcisista
anteriores. A respeito do nascimento, Pia- intelectual que funciona, segundo Piaget,
get (1926) considera que em um primeiro como a única prova possível da qual a ló-
momento a criança do período pré-ope- gica infantil se serve durante muito tem-
ratório sustenta a pré-existência do bebê po. Acerca do nascimento, observaram-se
e as perguntas surgem em referência a três níveis de respostas. No primeiro, as
onde estava antes de nascer. Logo, se per- crianças afirmam que o bebê sai da bar-
guntará acerca do como da formação dos riga, mas sem especificações de como se
bebês e o papel dos pais. Nas primeiras tira. Um segundo grupo de respostas in-
perguntas, que supõem a pré-existência clui processos como a ação do médico.
(estágio de pré-artificialismo), há ligação Um terceiro grupo menciona o nascimen-
pais-criança no sentido de que a vinda do to pela barriga ou por outro lugar. A res-
bebê é considerada querida e determina- peito da fecundação foram estabelecidos
da pelos pais, mas sem que seja feita a três níveis de crenças: Mágicas com pre-
pergunta sobre como o bebê pode vir à existência, Mistas com fecundação mági-
existência. Diante do exposto, o presente ca e Realistas deformadas. As respostas
trabalho visa apresentar um recorte da variam entre idéias de preexistência do
pesquisa que está sendo realizada a partir bebê na barriga, de alimentação materna
da seguinte pergunta: como se constroem fecundante e da participação de uma se-
as crenças sobre a origem dos bebês nas mente de origem ambígua, oferecida pelo
crianças de 4 a 8 anos e qual é a sua pro- pai ou pelo “papai do céu” e que a mãe
gressão genética em relação ao desenvol- ingere. Em linhas gerais, nas respostas das
vimento da inteligência e da afetividade? crianças mais novas, para ter um bebê

500
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pode ser suficiente desejá-lo ou pedir a de que as funções vitais findam com a
Deus e a função do pai aparece restringida morte e a universalidade, significa dizer
aos cuidados da mãe e do bebê. A respei- que a morte serve para todos e que uma
to do nascimento, a crença predominante hora ou outra irá ocorrer (Torres, 1999).
é a do médico que corta a barriga e tira o Determinado esse conceitos, é possível
bebê, omitindo o nascimento pela vagina. compreender o fato de que informar à
Com os resultados da pesquisa espera-se criança que algum ente querido faleceu
aprofundar a compreensão sobre a cons- não é uma tarefa nada fácil. O adulto
trução do conhecimento das crianças so- tende a adiar esse momento por algum
bre a fecundação e o nascimento, e avaliar tempo, acreditando que desta forma es-
a pertinência do diálogo entre conceitos tará protegendo-a da dor do luto e ameni-
piagetianos e freudianos para estudar as zando seu sofrimento, além de que, falar
particularidades afetivas e cognitivas do sobre isso fará com que apareçam senti-
desenvolvimento infantil. mentos difíceis de lidar e que confirmam
a realidade vivida (Bolwby, 1985; Kovács,
Palavras-chave: nascimento e fecundação; 1999). São várias as explicações que pos-
psicogênese piagetiana; psicanálise. sivelmente são dadas aos pequenos: “a
Contato: Mariana Inés Garbarino (IP/USP) de que o pai ou a mãe foi viajar, ou talvez
marianagarbarino@usp.br que foi transferido para outro hospital”
(Bolwby, 1985, p. 283); a de que o ente
querido foi levado para o céu, o que leva o
LT01 – 1025 – LUTO NA INFÂNCIA: UMA menor a ficar confuso, achando que o céu
VISÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM é apenas um lugar distante e que a vol-
Camilla Ramos Medalane Cravinho - UVV ta irá acontecer mais cedo ou mais tarde.
camillamedalane@yahoo.com.br Também há algumas explicações relacio-
Claudia Patrocinio Pedroza Canal - UVV nadas a pessoas mais velhas, como, dizer
claudia.canal@uvv.br que estas foram dormir; porém, a criança
não entende de forma conotativa e acaba
Compreender a maneira como a crian- acreditando que o simples fato de ador-
ça hospitalizada vivencia o luto de outra mecer pode ser algo arriscado (Bolwby,
criança no hospital é de grande relevân- 1985). Segundo Brazelton (1994), é im-
cia, pois a partir disso é possível descobrir portante que os pais compartilhem seus
estratégias que fundamentem o programa sentimentos relacionados ao luto com
de intervenção do profissional da psicolo- os filhos. Apesar destes terem uma ideia
gia. Para entender como a criança desen- primitiva da morte, são capazes de iden-
volve o conceito de morte, foram identi- tificar os sentimentos de tristeza a partir
ficados três componentes fundamentais das expressões faciais (Harris, 1996). En-
que a caracterizam: irreversibilidade, não tão, com a transmissão do sofrimento do
funcionalidade e universalidade. Sendo adulto, a própria criança também será ca-
que a irreversibilidade refere-se ao fato paz de dividir suas emoções e se sentirá
de que algo com vida, se morrer não há mais segura e aliviada em relação a essa
a possibilidade voltar a viver; a não fun- questão que é inerente à vida (Brazel-
cionalidade diz respeito à compreensão ton, 1994; Kovács, 1999). Bolwby (1982)

501
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

afirma também que, assim como para os esclarecido. A identidade dos participan-
adultos, as crianças necessitam do supor- tes será mantida em sigilo e a divulgação
te de alguém próximo para superar uma dos dados será feita somente por meio
perda. Dessa forma, será capaz de se reor- de nomes fictícios. Os participantes tam-
ganizar internamente e conseguirá aceitar bém poderão retirar seu consentimento
a morte como algo permanente, universal para participação na pesquisa a qualquer
e irreversível. Além do que foi citado, pes- momento de realização da mesma, sem
quisas realizadas por Almeida (2005), re- prejuízo para os mesmo. A entrevista não
velam que o brincar terapêutico também será realizada com as crianças devido à
pode ser uma forma de enfrentar a morte questão ética, prevista nessa mesma re-
e o luto, pois através dele a criança é ca- solução, de que o risco de prejuízo para
paz de representar simbolicamente essa a criança de falar sobre conteúdos rela-
situação dolorosa. Sendo assim, sabendo- tivos ao luto estando numa situação de
-se da dificuldade de se perder um ente hospitalização poder ser maior do que os
querido, a pesquisa tem como objetivo benefícios previstos para o campo cientí-
identificar o enfrentamento da morte por fico. Finalmente, em relação aos resulta-
crianças hospitalizadas, a partir da visão dos, pretende-se identificar, por meio da
da equipe de enfermagem de um hospi- equipe da enfermagem, a maneira como
tal da rede pública da Grande Vitória/ES. as crianças vivenciam o luto. Dessa forma
A pesquisa contará com 10 profissionais será possível descobrir estratégias que
da equipe de enfermagem (enfermeiros, fundamentem o programa de intervenção
auxiliares e técnicos de enfermagem), de do profissional da psicologia e obter res-
ambos os sexos. Será realizada uma en- postas que agreguem conhecimento para
trevista com duração aproximada de 20 a área científica.
minutos. Para ser incluído na pesquisa, o
participante terá que ter vivenciado algu- Palavras- chave: criança hospitalizada, equipe
ma situação de morte na pediatria. Esta de enfermagem, luto.
pesquisa será do tipo descritiva, pois visa Contato : Camilla Ramos Medalane Cravinho -
a descrever a visão dos profissionais da Centro Universitário Vila Velha
enfermagem sobre a vivência de luto por camillamedalane@yahoo.com.br
crianças hospitalizadas. Os dados coleta-
dos ao longo do estágio serão analisados
de modo qualitativo. As categorias serão LT01-1066 – ABORDAGEM CENTRADA
criadas após a realização das entrevistas, NA PESSOA: PROMOÇÃO AO
das transcrições e da leitura das mesmas, DESENVOLVIMENTO
a fim de retratarem com fidedignidade os Lydia Maria Sena e Santos
conteúdos das entrevistas. Essa pesquisa Daniela Ribeiro Barros
atenderá à resolução 196 de 1996, do Con- José Andrade Costa Silva - UEPB
selho Nacional de Saúde sobre as normas www.uepb.edu.br
éticas para pesquisa com seres humanos.
Assim, participarão da pesquisa aqueles Este trabalho objetiva apresentar o estu-
profissionais que concordarem após lei- do de um caso clínico embasado na Abor-
tura do termo de consentimento livre e dagem Centrada na Pessoa e no método

502
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da ludoterapia não-diretiva, visando favo- necessitava trabalhar a autonomia, con-


recer o desenvolvimento da criança como centração, entendimento dos processos
um todo. Nessa perspectiva, foram traba- relativos ao conhecimento da realidade
lhados, através da brincadeira, os senti- e seus sentimentos envolvidos na dificul-
mentos relativos à experiência imediata dade de aprendizagem. Nesse momento
da criança, com a utilização das atitudes houve o encaminhamento e passei a me
facilitadoras e respostas-reflexo propos- inteirar do processo terapêutico de João.
tas por Carl Rogers. O presente trabalho A sessão de repasse foi marcada onde foi
trata-se de um estudo de caso, com base produzida uma pipa como objeto de re-
no método fenomenológico, do tipo des- cordação entre cliente e terapeuta. Luisa
critivo. Participou do presente estudo um procurou nos deixar à vontade; e foi no
menino de 5 anos de idade, cursando o clima de aceitação, numa atmosfera tera-
1º ano do Ensino Fundamental, numa es- pêutica que fui introduzida no seu proces-
cola da cidade de Campina Grande-PB. As so psicoterápico. Através da observação
intervenções ocorreram na Clínica de Psi- sistemática, percebi em João dificuldade
cologia da Universidade Estadual da Pa- na estruturação espacial e ordenação de
raíba. Os procedimentos para análise dos sequências, ansiedade frente à realização
dados foram: transcrição dos atendimen- de atividades, dificuldade psicomotora,
tos, releitura das transcrições e triagem numérica e na linguagem, e principal-
dos eventos mais significativos durante os mente, insegurança e dependência. Em
atendimentos. O caso em questão trata- seguida foi realizada a entrevista psicoló-
-se de João (nome fictício), um garoto gica com os pais do menino com o objeti-
que foi atendido no Serviço de Triagem vo da “clarificação da queixa inicial, a sua
da Clínica de Psicologia da UEPB, encami- contextualização, favorecendo o conheci-
nhado pela Assistente Social do Centro de mento das condições familiares e sociais,
Saúde Municipal, por ser filho adotivo e os vínculos estabelecidos e os papéis de-
sua mãe apresentar dificuldades para tal sempenhados” (Camon et al, 2004, p.11).
revelação. Também foi encaminhado pela Nesta, os pais relataram a persistência
Professora e pela Coordenadora Pedagó- da dificuldade na aprendizagem, falta de
gica da escola onde estuda, por apresen- atenção, insegurança, medo de ficar so-
tar comportamentos agressivos, falta de zinho e dependência como pressupostos
limites, dificuldade na socialização e na para continuar o processo. Nas sessões
linguagem e medos. Inicialmente João subsequentes, buscou-se estabelecer
foi atendido durante 7 meses por Luiza uma análise situacional ou avaliação psi-
(nome fictício), uma estagiária daquele cológica pautada na observação, entrevis-
setor. Já na anamnese realizada por ela tas e uma visita à escola. Considerando a
surgiu outra queixa: ansiedade diante análise situacional nas sessões realizadas
das atividades que necessitava realizar. no final do ano, além de suas dificuldades
Durante o acompanhamento psicoterá- apresentadas, percebeu-se a consistência
pico por Luiza, João apresentou várias do vínculo terapêutico, e com ele, João
conquistas, como a extinção do compor- pôde expor seus sentimentos, medos,
tamento agressivo. Com término do está- angústias e assim, revelar seu verdadeiro
gio de Luiza, esta verificou que João ainda “eu” através dos brinquedos e das brinca-

503
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deiras. Durante essas sessões uma frase ler. Segundo a professora, João não con-
permeou os atendimentos: “É muito difí- segue ler, interpretar e expor sua opinião,
cil”, principalmente quando as brincadei- embora tenha uma ótima participação
ras lhe exigiam concentração e habilida- nas atividades lúdicas. Acrescentaram
des específicas, assim como o medo de que todas as suas atividades eram reali-
ficar sozinho. Para finalizar o ano e iniciar zadas sob sua mediação ou de um colega,
o recesso na universidade, foi necessária e que se perdia na ordem do alfabeto e
uma nova sessão com os pais. Nesta, fala- dos números. Durante as sessões seguin-
ram dos avanços no desenvolvimento de tes João conseguiu desenvolver habilida-
João: na aprendizagem, passou de ano e já des na escrita, conhecimento em relação
conseguia escrever e, na interação social, aos números, dinheiro, valores, somas e
já que conseguia participar da roda de respeito às regras dos jogos e demais re-
conversa na escola e aceitava bem a mu- gras, autonomia, segurança na escrita e
dança de psicoterapeuta. Dessa forma, foi ordenação numérica, segurança na late-
acordado para o ano seguinte, com o iní- ralidade da escrita, clareza dos seus sen-
cio das atividades da Clínica de Psicologia timentos e indícios para alta. Nas sessões
da UEPB, um novo contato para conhecer de preparação para alta, o mesmo pôde
os interesses na continuação dos atendi- resgatar momentos importantes, como a
mentos psicoterápicos. Com a retomada pipa que confeccionara com Luiza e nossa
das atividades da clínica no início do ano, primeira sessão juntos, bem como nossos
firmou-se novamente o contrato terapêu- jogos de futebol. Vale salientar que João
tico objetivando trabalhar os sentimentos recebeu calmo e tranquilo a notícia da
de João envolvidos em suas dificuldades alta, embora expressasse preocupação
de aprendizagem, atenção, insegurança, por não compreender o real espaço de
dependência, e como lidar com as separa- tempo das sessões quinzenais. Durante
ções e mudanças afetivas. Nos primeiros estas, João tomou consciência de que iría-
contatos, percebeu-se uma notável evo- mos terminar; continuou o seu progresso,
lução em João. Quanto às mudanças, não não regrediu, pelo contrário, começou a
expressou insatisfação na troca de sala expressar seus sentimentos com clareza,
de atendimento; apresentou paciência, expor suas idéias e lembrar fatos passa-
concentração e persistência; no entan- dos. Hoje João continua com dificuldades
to, continuou manipulando as regras dos na aprendizagem, no entanto, todas as
jogos em seu favor. Com a continuação outras queixas que o fizeram procurar o
do processo, João passou a respeitar as processo psicoterápico cessaram. Portan-
regras estabelecidas e delimitar o espa- to, é com sentimento de muita satisfação
ço, bem como criar suas próprias regras. que este caso é concluído, tomando como
Também se pôde perceber sua dificulda- avaliação as visíveis mudanças de João.
de numérica, por meio da qual houve a
autorização de João para que se visitasse Palavras-chave: Psicoterapia Infantil;
sua escola. Na escola tanto a professo- Abordagem Centrada na Pessoa, Dificuldade
ra como a coordenadora pedagógica de de aprendizagem.
João relataram que o percebiam inquieto,
disperso e angustiado por não conseguir

504
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1069 - HIV/AIDS NA IDADE como objetivo conhecer e analisar aspec-


MADURA: UM ESTUDO SOBRE AS tos do relacionamento conjugal e familiar
REPERCUSSÕES NO CASAL E NA FAMÍLIA de um casal heterossexual infectado pelo
Renata Maêve Faleiros - UCB vírus HIV, bem como o impacto e as mu-
Maria Alexina Ribeiro - UCB danças causadas pela doença no sistema
Luciene Pires de Araújo Lins - UCB conjugal e familiar. Trata-se de uma dis-
renatamaeve@terra.com.br sertação de mestrado da primeira autora
orientada pela segunda. Devido ao seu
A aids (acquired immune deficiencccccy caráter complexo e subjetivo, o estudo
syndrome) ou síndrome da imunodefi- aqui proposto privilegiou o método da
ciência adquirida é uma das epidemias pesquisa qualitativa, que permite focar o
mais complexas e desafiadoras já enfren- específico e trabalhar com o universo dos
tadas pela humanidade. Uma doença de significados e crenças, compreendendo
dimensões alarmantes, transmitida prin- as relações estabelecidas entre os sujei-
cipalmente pela via sexual, que traz à tos. A pesquisa foi realizada por meio de
tona questões complexas e desafiadoras estudo de caso com um casal heterosse-
como o comportamento sexual e de pre- xual casado há 27 anos, com dois filhos
venção às doenças sexualmente trans- adolescentes. O marido tem 61 anos e a
missíveis, crenças e mitos relacionados à esposa 42. Ambos foram diagnosticados
enfermidade, morte, preconceito, papéis há dez anos como portadores do vírus
e infidelidade. No Brasil, de 1980 a 2008 HIV. O casal participa do Programa Esta-
foram notificados 506.499 casos de aids. dual de DSTAIDS da Secretaria Estadual
Nosso país tem uma epidemia concentra- de Saúde de Goiás. O casal foi convidado
da, com taxa de prevalência de infecção a participar da pesquisa por meio da co-
pelo HIV de 0,6% na população de 15 a ordenadora do programa e, após ser in-
49 anos e de 19,5 casos de aids a cada formado sobre os procedimentos do es-
100 mil habitantes. Inicialmente conside- tudo, assinou o Termo de consentimento
rada como uma praga que abatia somen- Livre e Esclarecido. O projeto foi subme-
te identidades marginais, a aids passa a tido e aprovado pelo Comitê de Ética em
ser percebida como enfermidade que Pesquisa da Universidade Católica de
ameaça a todos e não somente grupos Brasília - UCB. Foram realizados cinco en-
específicos. Pesquisas recentes apontam contros com o casal com duração de duas
para significativo aumento de pessoas in- horas cada, na clínica de psicologia onde
fectadas pelo HIV/AIDS com mais de 50 a primeira autora trabalha. Os instru-
anos de idade e em relacionamento es- mentos utilizados para coleta de dados
tável, denunciando baixos índices do uso foram: roteiro de entrevista semiestrutu-
de preservativo por essa população. Con- rado, genograma, roteiro para a técnica
siderando a família como a base da cons- da colagem, roteiro para a construção da
tituição do sujeito e de seus padrões rela- linha da vida do casal e o roteiro para en-
cionais, construídos ao longo do ciclo de trevista do ciclo de vida familiar, sendo a
vida familiar e essenciais na forma como abordagem sistêmica a base para análise
o indivíduo lida e enfrenta as vivências e interpretação dos dados. Para análise
ao longo da vida, o presente estudo teve dos dados utilizamos a perspectiva inter-

505
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pretativa e construtivista que pressupõe redes de relacionamentos, promovendo


o conhecimento enquanto uma produção mudanças e transformações na sua vida
e não uma assimilação linear da realida- e de sua família. Como sugestões para
de. Trabalhamos com eixos de análise e pesquisas futuras, consideram-se impor-
indicadores, a partir dos quais seis zonas tantes estudos sobre educação sexual e
de sentidos foram construídas. Os dados questões de gênero e papéis relaciona-
mostraram o impacto da descoberta da dos com a negociação de sexo seguro.
doença gera sofrimento e angustia por
levantar questões acerca das circunstân- Palavras-chave: HIV/AIDS; casal
cias da infecção pelo vírus HIV, medo da heterossexual; ciclo de vida familiar.
morte, do preconceito, do tratamento Contato: Renata Maêve Faleiros -
e do estigma da aids. Verificou-se tam- Universidade Católica de Brasília - UCB
bém a importância do apoio da família renatamaeve@terra.com.br
no enfrentamento, como facilitador de
resiliência diante da doença e seus mais
complexos significados, proporcionando LT01 – 1194 – A EXPRESSÃO GRÁFICA
maior adaptação às mudanças. Em re- DA CRIANÇA COMO POSSIBILIDADE DE
lação às mudanças na relação conjugal, PERCEPÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
observamos uma reorganização do siste- MOTOR: UMA PROPOSTA
ma familiar em busca de equilíbrio. Com Ilton de Jesus Viana - UEPA
o aparecimento da doença o casal estu- iltonjv@yahoo.com.br
dado se aproximou mais, aumentando
o companheirismo e o respeito entre os Diante da necessidade de possibilitar que
cônjuges, por meio do desempenho de a aprendizagem esteja sempre acessível
novos papéis dentro da relação. A análi- à criança, faz-se necessário a elabora-
se demonstrou que a aids é uma doença ção de estratégias que possam prevenir
estigmatizante, permeada por crenças e e/ou identificar questões que interfiram
preconceitos que dificultam a sua pre- no processo ensino/aprendizagem. Um
venção e tratamento, tornando-se funda- aspecto que atua diretamente neste pro-
mental a atuação sobre essas crenças a cesso é a evolução da motricidade, por-
fim de promover o sexo seguro, o uso de que ela é uma base fundamental para
preservativo e a prevenção. A pesquisa outras aquisições do ser humano, como
confirma que não existem os grupos de a aprendizagem. A esse respeito, Silva
risco e que a população estudada está et al. (2011) ressalta que o desenvolvi-
vulnerável à doença por questões cultu- mento motor está inter-relacionado com
rais e de gênero relacionadas com a ne- a evolução fisiológica, as condições do
gociação do uso de preservativo por ca- ambiente e as necessidades das tarefas,
sais em relacionamento estável. Os dados que se bem interligadas podem propor-
do estudo demonstraram e confirmaram cionar ao indivíduo novas conquistas. No
a complexidade das relações onde estão entanto, caso ocorra alguma interrup-
presentes o HIV e a aids. Esta é uma do- ção neste processo, especialmente para
ença que envolve o indivíduo física, psí- aqueles que possuem algum déficit ou
quica e emocionalmente, afetando suas transtorno, faz-se necessário a detecção

506
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o quanto antes para que se possa inter- aspectos será percebida de acordo com
vir evitando prejuízos futuros (Brêtas et o tipo de desenho ou do comando que é
al., 2005; Mora, 2007; Rosa et al., 2008; dado para executá-lo. No tônus muscu-
Silva, et al., 2011). Neste sentido, o estu- lar se verifica as variações hipertônicas
do do grafismo (desenho e escrita) infan- e hipotônicas, quando o desenho apre-
til surge como uma ferramenta passível senta traços muito grossos quase rasgan-
para este fim, pois sua observação não do o papel observa-se a ocorrência de
exige grandes habilidades do observa- hipertonia (Oliveira, 2008), já quando o
dor e é possível que se faça a detecção grafismo apresenta riscos claro demais,
do indício de atraso no desenvolvimento quase apagados pode ser sinal de hipoto-
motor. Como a evolução motora segue nia (Mora, 2007). A coordenação motora
uma maturação coordenada, também o ampla é necessária para ter uma postura
desenvolvimento da expressão gráfica na corporal adequada diante dos elementos
criança acontece em estágios sucessivos, usados no ato de desenhar. Já a coorde-
o que reflete o grau de seu amadureci- nação motora fina é necessária para se-
mento nervoso (Sistema Nervoso) e mo- gurar o lápis e manuseá-lo corretamente
tor (Mora, 2007). A escolha pelo desenho e quando ao desenhar um círculo e se fi-
se faz pela sua facilidade na execução por zer outro menor dentro dele e um pingo
parte da criança. E pelas inúmeras possi- dentro do segundo círculo (uma cabaça
bilidades que ele representa, porque há com os olhos, por exemplo), aqui tam-
quem considere o ato de desenhar como bém é fundamental a presença de um
processo no qual se expressa experiên- adequando desenvolvimento óculo-mo-
cias vividas, organiza informações e reve- tor. Outros aspectos da evolução psico-
la o aprendizado (Goldberg; Yunes; Frei- motora podem ser evidenciados na análi-
tas, 2005), ou o desenho como forma de se do desenho infantil, como o esquema
representação do espaço (Padilha, 1990), corporal, a lateralização, a senso-per-
o desenho como expressão da linguagem cepção e a percepção espaço-temporal
simbólica (Hammer, 1981; Di Leo, 1985), (Viana, 2011). No entanto, estas evidên-
o desenhar como mediador e facilita- cias têm sido observadas empiricamen-
dor de interações sociais (Dias; Almeida, te, sem rigor científico, o que necessita
2009), ainda o desenho como expressão de estudos que comprovem ou refutem
de sentimento e promotor da comunica- esta hipótese. Como foi referido acima,
ção terapeuta-cliente (Silva, 2010), ape- paralelamente ao desenvolvimento mo-
nas para citar alguns. Além disso, é pos- tor, a expressão gráfica no infante deve
sível, a partir do grafismo infantil, avaliar evoluir continuamente, assim os traços e
e/ou perceber o desenvolvimento de cer- rabiscos dos primeiros anos vão se apri-
tos aspectos da motricidade da criança. morando para circunferências, bolinhas e
Os elementos da evolução motora que até o desenho perfeito da figura humana
a expressão gráfica do infante relaciona- (Oliveira, 2008). Assim, em torno dos três
-se diretamente são: o tônus muscular, anos a criança pode combinar formas re-
coordenação motora ampla e fina e co- tas e circulares, passa a relacionar suas
ordenação óculo-motor (Palácios et al., produções com objetos e pessoas (Pa-
2004; Mora, 2007). A observação destes lácios et al., 2004). Por volta dos quatro

507
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

anos faz figuras geométricas fechadas, algo simples. E uma vez que ele é funda-
pode deixar de desenhar ações pre- mental para desencadear uma série de
sentes e passar a registras situações de aquisições no sujeito humano como, por
motivação afetiva, aqui a figura humana exemplo, a linguagem e a escrita que são
ainda apresenta grandes desproporções fundamentais para a pessoa entrar em
(Mora, 2007). Aos cinco anos surgem os contato com o mundo exterior e assim
primeiros desenhos de pessoas com ob- adquirir os resultados conquistados pela
jetos nas mãos e a ideia de movimento cultura humana. Com isso, a pessoa pode
é representado nas gravuras. Já por volta tornar-se conhecedora e modificadora da
dos seis anos as ilustrações representam realidade que a cerca. No processo edu-
mais claramente a realidade, a noção de cacional, faz-se necessário que todo edu-
chão e céu está presente, o desenho da cando tenha acesso aos conhecimentos
figura humana dever ser o mais perfeito e produzidos, mas o bloqueio ou retardo
completo (para crianças com motricidade na evolução motor pode interferir nesta
e inteligência normal) possível (Palácios aquisição. Por isso, análise do desenho
et al., 2004; Mora, 2007) o que demons- infantil é uma possibilidade de verifica-
tra o adequado desenvolvimento motor. ção do estágio da motricidade da criança,
Do ponto de vista das funções motoras a permitindo que se intervenha em tem-
partir dos seis/sete anos a pessoa já deve po hábil evitando prejuízos futuros na
ter adquirido as habilidades necessárias aprendizagem. Como isso, o profissional
para possibilitar as demais aquisições poderá estabelecer um plano de inter-
advindas com a aprendizagem (escolar venção junto ao infante a fim de superar
ou não) e das demais interações sociais a dificuldade encontrada, ou deverá en-
que o meio em que vive a proporcionar. caminhá-lo para profissionais que atuem
A evolução do grafismo infantil refere-se na reabilitação destes aspectos.
à elaboração dos desenhos e o desenvol-
vimento da escrita manual. A este respei- Palavras-chave: Grafismo infantil.
to Condemarín e Chadwick (1990 apud Desenvolvimento motor. Avaliação motora.
Palácios et al., 2004) dividem a aquisição
da escrita em três fases: pré-caligráfica,
caligráfica e pós-caligráfica. A fase pré-ca- LT01-1479 - ACOMPANHAMENTO
ligráfica situa-se entre dois e cinco anos PSICOLÓGICO AO PORTADOR DE
aproximadamente e caracteriza-se pelo MUCOPOLISSACARIDOSE
início dos primeiros rabiscos até a elabo- Petruska Oliveira Baptista - UFPA
ração das primeiras letras. Na caligráfica petruska@ufpa.br
que ocorre depois dos cinco anos há o Ana Paula de Andrade Rodrigues
desenvolvimento propriamente dito da
escrita, ela vai até por volta de doze anos. A Mucopolissacaridose (MPS) é uma do-
E na fase pós-caligráfica a pessoas irá es- ença genética rara com manifestações
colher que tipo de letra usará, comple- patológicas progressivas na maioria dos
tando, assim o desenvolvimento do seu sistemas de órgãos. A complexidade das
grafismo. O desenvolvimento psicomotor características clínicas associadas a MPS
é um processo complexo, embora pareça dificulta aos profissionais da saúde uma

508
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

intervenção preventiva que possibilite indivíduos quanto para seus familiares,


controlar os rumos clínicos que a doen- que acabam por desenvolver doenças
ça possa seguir. Este trabalho teve como psicológicas. Uma avaliação cognitiva
principal objetivo organizar uma linha se faz necessária, por que como a MPS
de cuidados referentes ao acompanha- é uma doença sistêmica, conseqüente-
mento psicológico do paciente portador mente atinge as habilidades sensoriais,
de mucopolissacaridose. Foram inscritos e por conseqüência a cognição e a habi-
dez pacientes no programa, sendo que lidade de aprendizado escolar. Por essas
destes apenas cinco compareceram de razões fica claro que é necessário fazer
forma assídua aos atendimentos psico- avaliação e acompanhamento psicológi-
terápicos. Como recursos de avaliação co com estes pacientes. Em suma, este
foram utilizados Anamnese Psicológica, projeto consiste em organizar uma linha
Inventário CBCL, Questionário de Quali- de cuidados referentes ao acompanha-
dade de Vida e Teste SON. Mucopolissa- mento psicológico do paciente portador
caridose (MPS) é uma doença metabólica de mucopolissacaridose. Foram inscritos
hereditária na qual há falta ou diminui- no Programa Caminhar um total de dez
ção de algumas enzimas que atuam nos pacientes, sendo cinco do sexo masculi-
lisossomos da estrutura celular, as quais no e cinco do sexo feminino. O Ambula-
digerem os glicosaminoglicanos (GAG). tório Cirúrgico onde ocorriam as infusões
Em razão deste erro metabólico a MPS era composto de dois ambulatórios, um
faz parte de um grupo de doença chama- feminino e um masculino. O HUBFS dis-
do de Doença de Depósito Lisossômico. põe de duas salas para as atividades do
(Pinheiro, 2010). A MPS é uma doença Serviço de Psicologia, devidamente equi-
genética rara com manifestações pato- padas com o material necessário para a
lógicas progressivas na maioria dos sis- realização de psicodiagnóstico e de regis-
temas de órgãos. Os sintomas da MPS tro dos atendimentos. Anamnese psico-
variam de acordo com a idade do pacien- lógica: Entrevista semiestruturada, com
te, com o tipo de mucopolissacaridose e o objetivo de colher informações sobre
com a gravidade da doença de cada pa- o paciente. Inventário CBCL e ABCL (Child
ciente. O tratamento da mucopolissaca- Behavior Checklist & Adult Behavior Che-
ridose envolve uma equipe com diversos cklist): Inventário de Comportamentos
profissionais, entre eles estão: médico da Infância, Adolescência e Idade Adulta.
geneticista, pediatra, pneumologista, Questionário que avalia a competência
otorrinolaringologista, oftalmologista, social e problemas de comportamento
ortopedista e neurologista, fisioterapeu- de indivíduos. Questionário de Qualida-
ta, dentista, fonoaudiólogo e psicólogo. A de de Vida: avalia a saúde e o bem-estar
complexidade das características clínicas da criança segundo o relato dos pais e/
associadas a MPS dificulta aos profissio- ou responsáveis. Teste SON-R 2 ½-7
nais da saúde uma intervenção preven- (Snijders-Oomen Niet Verbale Intelligen-
tiva que possibilite controlar os rumos tietest): Teste não-verbal de inteligência
clínicos que a doença possa seguir. Esta que consiste em um conjunto de 4 sub-
insegurança frente ao enfrentamento da -testes (mosaicos, categorias, situações e
doença gera dificuldades tanto para os padrões), os quais são combinados para

509
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

formar um escore de inteligência que re- Pessoal estavam na gama normais. Estes
presenta a habilidade do paciente relati- resultados foram confirmados pelas per-
vo à sua idade. Atividades desenvolvidas: cepções de suas responsáveis e profes-
Análise de prontuários e levantamento sores. A partir do mencionado podemos
de dados de identificação para estabe- dizer que a melhora da qualidade de vida
lecer contato com os responsáveis; Pri- dos pacientes após as sessões de repo-
meiro contato com os responsáveis para sição enzimática e do acompanhamento
esclarecem os objetivos do acompanha- especializado é significativa. Quanto às
mento e quais os procedimentos que avaliações das Competências Sociais e os
serão adotados; Aplicação da anamnese Problemas de Comportamento, os resul-
psicológica; Aplicação do Questionário tados variaram em razão das vivencia que
de Qualidade de Vida; Aplicação do teste cada individuo, pois esta está intrinseca-
SON; Aplicação do CBCL; Elaboração do mente relacionada com as habilidades
laudo; Apresentação de relatório psico- sociais. E, que, apesar do auxílio físico e
lógico à Equipe multidisciplinar. Entrevis- psicológico que o acompanhamento no
ta devolutiva do diagnóstico e possíveis hospital proporciona as dificuldades so-
encaminhamentos à família. Dos 10 pa- ciais, comportamentais e escolares ain-
cientes inscritos, apenas quatro compa- da se encontram presentes, por serem
receram desde o início ao acompanha- uma constante na vida destes pacientes
mento psicológico. O teste SON foi apli- desde o momento da descoberta desta
cado em quatro, sendo duas meninas e doença em suas vidas. Isto se dá por ser
dois meninos. Os resultados da avaliação uma doença sistêmica e atingir todos os
apontaram diferentes graus de Déficit sentidos. Por ser uma doença sistêmica
Cognitivo, ambas as meninas apontaram que altera diversas capacidades, acredi-
grau médio, um dos meninos teve como tamos que esta característica altera os re-
resultado grau abaixo da média, e o últi- sultados apontado para alguns pacientes
mo Dificuldades no Aprendizado. Foram Déficit Cognitivo, pois não visualizamos
aplicados os Questionários de Qualidade dificuldade elaborativa ou ideativa. Os
de Vida em cinco pacientes, duas meni- assuntos relacionados aos atendimentos
nas e três meninos. O resultado para os a pacientes com MPS exige amplo co-
quatro pacientes apontou uma melhora nhecimento de diversos aspectos sobre
na qualidade de vida, ou seja, melhora a psique do paciente, e devem guardar
na saúde e no bem-estar. Foi aplicado o relações específicas com os níveis de de-
CBCL em três pacientes, sendo duas me- senvolvimento e com os sintomas apre-
ninas e um menino, as avaliações para o sentados por cada paciente, respeitando
paciente do sexo masculino nas escalas a premissa da diversidade, da idiossincra-
de Competência Social, Interação Social, sia e individualidade.
Amizades e Família resultou na escala
normal para os responsáveis, enquanto Palavras-chave: mucopolissacaridose;
que na autoavaliação resultou na escala psicopediatria; neurogenética.
limítrofe. Para ambas as meninas, a con-
tagem de Competência Social Interação
Social, Amizades, Família e Adaptação

510
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-910 - MÃES DE CRIANÇAS COM tendo entre 10 a 20% da população mun-


DERMATITE ATÓPICA: ASPECTOS dial. Essa dermatose se caracteriza por le-
PSICOSSOCIAIS sões avermelhadas e prurido (Alvarenga
Tatiana Helena José Facchin - PUCRS & Caldeira, 2009; Ricci, Dondi & Patrizi,
tatyhelena@yahoo.com.br 2009; Myssior, Fontes, Ferreira & Mar-
Helena Diefenthaeler Christ - PUCRS ques, 2008). Embora sua etiopatogenia
helenachrist@hotmail.com não esteja completamente esclarecida,
Deise Fonseca Fernandes - PUCRS esta doença pode ser considerada psicos-
deise.ff@hotmail.com somática por estarem envolvidas ques-
Bruna Ferreira Fernandes - PUCRS tões emocionais, além das físicas, modifi-
brufernandes1@hotmail.com cando, inclusive, a estrutura familiar, pois
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS a família passa a viver em torno desta
ggauer@pq.cnpq.br doença, e, consequentemente, evita situ-
ações que possam desencadear as crises,
Financiamento: CNPq, CAPES, Pró-bolsa tais como mudanças climáticas, ingestão
de alimentos, exposição a alérgenos e
A pele é o maior órgão do corpo humano, situações emocionais (Ferreira, Müller &
tendo como funções o toque, o contato, a Jorge, 2006; Alvarenga & Caldeira, 2009).
respiração, a proteção, entre outros. Além A DA pode ser considerada uma derma-
disso, a pele pode ser considerada o espe- tose social e psicologicamente relevante,
lho das emoções, pois possui uma estrei- pois além de acometer o próprio pacien-
ta ligação com o Sistema Nervoso Central, te, todo o ambiente familiar e profissio-
como, por exemplo, o rubor quando a nal é afetado. É relatado, também, um
pessoa sente vergonha, assim a manifes- impacto financeiro, social e emocional na
tação de conflitos pode vir a aparecer por família do acometido por esta doença de
meio de alguma dermatose (Dethlefsen & pele. Além disso, esta sobrecarga gerada
Dahlke, 2007). Alguns autores (Thomaz, pelos cuidados das crianças com DA gera
Lima, Tavares & Oliveira, 2005; Jorge, conflitos entre o casal e entre os irmãos
Müller, Ferreira & Cassal, 2004; Montagu, saudáveis, alterando a estrutura familiar
1988) afirmam que é possível encontrar (Alvarenga & Caldeira, 2009; Ferreira et
conexões entre as relações iniciais mãe- al., 2006). A abordagem privilegiada nes-
-bebê e a pele, uma vez que os primeiros te trabalho é a psicossomática, na qual a
modelos de vinculação com o mundo ex- “criança para se fazer ouvir, revela simul-
terno começam a ser impressos no corpo, taneamente grande parte dos seus impas-
e a partir disso, no psiquismo da criança. ses de suas formas psíquica e somática”
Desta forma, as dificuldades experiencia- (Myssior et al., 2008). Desta forma, pode-
das pela díade podem ter diferentes vias -se considerar que o sintoma comunica
de manifestação, sendo a doença de pele algo em nível corporal, que acaba infor-
uma delas. Ao contrário da grande maio- mando a família, e adquire um simbolis-
ria dos problemas de pele que, geralmen- mo por estar inserido em uma seqüência
te, têm início na segunda década de vida, de troca de afetos. Os pais utilizam os
a Dermatite Atópica (DA), ou eczema, é sintomas do filho como “elo comunicati-
bastante encontrada na infância, acome- vo de forma rígida”, isto é, o filho sinto-

511
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mático é o canal de comunicação entre o são advindos da relação mãe-bebê, como


casal, pois estes não conseguem definir forma patológica decorrente das relações
sua relação adequadamente. O sintoma objetais. Pode-se dizer que a criança fica
também exerce a função de proteção ao contaminada pelo clima afetivo materno,
sistema familiar, desviando o olhar dos e, quando a mãe depressiva se afasta, a
conflitos existentes para o sintoma em si criança fica impossibilitada de completar
(Ferreira et al., 2006). O estado emocio- a fusão, necessária nesta etapa do ciclo
nal da mãe é primordial para a presença vital e, se estiver no período de forma-
ou ausência de saúde, especialmente ção do psiquismo, estes distúrbios dei-
quando se trata da fase mais precoce da xam cicatrizes tanto na estrutura quanto
criança (Araújo, 2003). McDougall (2000) no funcionamento do aparelho psíquico
ratifica isso, ao afirmar que a mãe pode (Pio, 2007). Assim, este estudo visa inves-
ser incapaz de atender às necessidades tigar os aspectos psicossociais de mães
de seu filho por questões internas (dela) de crianças com Dermatite Atópica, bem
ou por fatores ambientais. Assim, a crian- como a relação mãe-filho(a). A amostra
ça sente-se permanentemente frustrada será composta por 6 mães com idade
e com fúria impotente, de forma a criar entre 18 a 60 anos, com escolaridade mí-
recursos de proteção para crises afetivas nima de 5ª série do ensino fundamental,
e para o esgotamento advindo disso. Esta com filhos portadores de DA entre 6 anos
defesa diz mais respeito ao fenômeno a 9 anos 11 meses e 29 dias. O local será
psicossomático do que à psicose, e assim, o Ambulatório de Dermatologia Sanitária
toda a agressão que não é direcionada à de Porto Alegre e Ambulatório de Derma-
figura materna volta como autoagressivi- tologia do Centro Clínico Santa Marta. O
dade inconsciente no sujeito que adoece. delineamento é qualitativo, descritivo e
Mello, Maia e Silva (2009) acreditam que exploratório, sendo utilizados um ques-
as dificuldades da mãe no cuidado com o tionário de dados sócio-demográficos e
bebê, como não conseguir se aproximar da situação clínica da criança, entrevista
dele, nem segurá-lo, causam neste uma semiestruturada e análise do prontuário
sensação de desconforto, na qual há um clínico da criança. As entrevistas serão
sentimento de falta de proteção corpo- gravadas e os dados obtidos por meio
ral. As relações iniciais entre a mãe e seu das gravações de áudio serão transcritos
bebê têm grande importância para o de- e analisados de acordo com o método
senvolvimento emocional deste, visto que de análise de conteúdo de Bardin (1977).
a partir da atitude emocional da genitora Este estudo está aprovado pelo Comitê
e de seu afeto, ela orienta a criança, cujo de Ética em Pesquisa da PUCRS sob o nú-
aparelho perceptivo e discriminação sen- mero CEP 11/05428. Neste momento, as
sorial se encontra imaturo. Não obstante, participantes estão sendo recrutadas nos
a formação das primeiras relações entre serviços. As entrevistas ocorrerão no mês
esta dupla serve como modelo para as fu- de julho do presente ano. Desta forma, os
turas relações sociais do infante (Thomaz, resultados são esperados até o mês de se-
Lima, Tavares & Oliveira, 2005). Muitos tembro de 2011. Este estudo encontra-se
sintomas físicos infantis, tais como cólica, em andamento, e, portanto, não há con-
eczema, manipulação fecal, entre outros, clusões até o presente momento.

512
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: dermatite atópica, mães, ralidade de trajetórias, a não normatização


aspectos psicossociais e a influência dos contextos sócio-político-
Contato: Tatiana Helena José Facchin, PUCRS, -culturais na constituição de um sujeito
tatyhelena@yahoo.com.br que é ativo em seu processo de estar no
mundo, entende-se que a condição de ser
um adulto com deficiência, com a comple-
CO 09 - LT01 xidade que tal rotulação acarreta, é campo
fértil para análise. Assim, revisa-se a lite-
Deficiência e vida adulta ratura na Psicologia e disciplinas afins em
que adultos com deficiência são incluídos
nos delineamentos de pesquisa e analisa-
LT01-750 - ADULTOS COM DEFICIÊNCIA -se a presença de temas transversais como
NA PSICOLOGIA: DESAFIOS PARA exclusão social, pobreza e violência. Rea-
UMA INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA lizou-se revisão exploratória de literatura
POLITICAMENTE CONSCIENTE com base em artigos disponíveis no portal
Aline Wanderer - UnB SciELO (www.scielo.br), a partir de combi-
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB nações dos descritores psicologia, desen-
www.unb.br volvimento, adulto, deficiência, social e
violência. Algumas publicações internacio-
Este trabalho objetiva investigar como os nais foram incluídas para fins de discussão
adultos com deficiência vêm sendo abor- com a literatura nacional. Foram localiza-
dados pela Psicologia do Desenvolvimento dos diversos estudos, na Psicologia e em
Adulto. Parte de uma análise acerca das áreas correlatas, envolvendo questões vin-
concepções de desenvolvimento humano culadas à experiência de adultos com defi-
que embasam a área e considera algumas ciência. Uma grande categoria identificada
de suas principais linhas de pesquisa. Du- refere-se a publicações relacionadas à saú-
rante o século XX, ocorreram importantes de em temas como reabilitação, qualidade
mudanças na compreensão da psicologia de vida, programas de orientação acerca
sobre o desenvolvimento humano, que de questões como a sexualidade, atuação
passou a ser entendido, genericamente, dos profissionais que intervêm na área da
como transformação ou mudanças em ní- saúde de pessoas com deficiência. A maio-
vel de funcionamento e comportamento, ria dessas investigações preocupava-se
que ocorrem durante todo o ciclo de vida com a identificação de aspectos psicológi-
e percorrem múltiplos caminhos que se cos e repercussões sociais para os indivídu-
diversificam com o avanço da idade e mar- os diante de adoecimento que implica em
cam trajetórias singulares. As teorizações uma condição de perda. Essa perda, relati-
têm dado progressivo valor à noção dos va a alguma funcionalidade anterior do or-
indivíduos como produtos e produtores ganismo, é tomada como eixo central dos
de seu desenvolvimento, exercendo papel questionamentos de pesquisa, buscando-
ativo e intencional. Considerando-se as -se compreender como se pode auxiliar o
contribuições teóricas acerca do desenvol- indivíduo a superá-la, por meio de inter-
vimento adulto provenientes de uma am- venções multidisciplinares que minorem a
pliação desse conceito, que valoriza a plu- desvantagem resultante da nova condição

513
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

orgânica. Temas entendidos como mar- de condições macroestruturais comple-


cadores importantes da vida adulta são xas que envolvem processos de exclusão
considerados em outras áreas, como a pa- social, pobreza, violência, preconceito e
rentalidade, o trabalho e a sexualidade. As estigma. Diante disso, entende-se ser de-
investigações com adultos com deficiência safio da Psicologia do desenvolvimento
intelectual merecem atenção especial, adulto ter algo a dizer, politicamente, com
porque o estigma vinculado à deficiência suas contribuições teóricas, no sentido de
intelectual parece perpassar escolhas teó- auxiliar na fomentação de uma sociedade
rico-metodológicas de pesquisadores com inclusiva, com garantia de direitos de vida
esses sujeitos de forma mais contundente, digna a todos. Nesse sentido, importa re-
inaugurando importantes desafios para a conhecer que toda escolha teórico-meto-
investigação psicológica. De modo geral, dológica é marcada por concepções ideo-
o maior desses desafios é elaborar meto- lógicas e políticas e que a consciência des-
dologias que confiram, verdadeiramente, se fato pode permitir delineamentos de
o status de adultos aos sujeitos com de- pesquisa e elaborações teóricas que não
ficiência intelectual. Projetá-las envolve contribuam para a manutenção do status-
questões como: onde encontrar os parti- -quo sendo, elas mesmas, potencialmente
cipantes da pesquisa (escolas especiais e impulsionadoras de desenvolvimento (em-
contextos familiares versus outros setores poderadoras) dos indivíduos. Nos estudos
da sociedade); a quem solicitar a autori- que focalizam a saúde, a qualidade de vida
zação para a participação desses adultos e a reabilitação, a visão que predomina nas
nas pesquisas empíricas (aos cuidadores escolhas teórico-metodológicas ainda é a
exclusivamente ou aos sujeitos que serão de um desenvolvimento padrão esperado
parceiros na construção do conhecimen- que serve de parâmetro de comparação
to); que instrumentos utilizar para a inte- para compreender aqueles que fogem a
ração com esses adultos, notadamente ele e, por isso, carregam um pressuposto
quando os processos comunicacionais se- de desvantagem. Constitui desafio ideali-
jam qualitativamente diferenciados; como zar metodologias que abordem a reabilita-
conduzir análises que confiram papel ativo ção numa perspectiva de desenvolvimento
aos adultos com deficiência intelectual em por todo ciclo de vida, não linear e aberto
seu desenvolvimento. A literatura analisa- a possibilidades diversas. Nessa perspecti-
da demonstrou que ainda é tímido o tema va, importaria compreender a deficiência
de desenvolver-se adulto com deficiência não como interrupção de um processo de
na Psicologia do Desenvolvimento Adul- desenvolvimento normal, mas como inter-
to. A quantidade de trabalhos relativos ao corrência cabível na vida de qualquer ser
campo da saúde, principalmente voltadas humano e que compõe o processo, sem
à reabilitação é expressiva, embora alguns necessariamente representar prejuízo.
estudos na psicologia voltem-se a aspec- Nos estudos com adultos com deficiência
tos culturalmente considerados como im- intelectual, as desvantagens no processo
portantes marcadores da vida adulta. Con- de pesquisa são evidentes, percebendo-se
tudo, é marcante em todas as produções que em trabalhos com adultos sem com-
o reconhecimento de que constituir-se prometimento cognitivo, há maior tendên-
adulto com deficiência implica o manejo cia em se considerar a deficiência como

514
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aspecto que compõe o desenvolvimento ratura, uma reflexão acerca do ambiente


em vez de limitá-lo. Os estudos que privile- ocupacional como contexto de desenvol-
giam enfoques qualitativos, com ênfase na vimento para as pessoas com deficiência
narrativa e na construção sócio-histórica intelectual (DI). O desenvolvimento das
da identidade, parecem promissores em pessoas com DI é caracterizado por limi-
um campo ainda tão marcado pela incons- tações no funcionamento intelectual e no
ciência das ideologias perpetuadoras das comportamento adaptativo em habilida-
assimetrias de poder. Conclui-se refletindo des conceituais, sociais e prática. Pode-se
criticamente sobre a importância de uma considerar que as pessoas com DI apresen-
produção acadêmica politicamente cons- tam baixo nível intelectual que dificulta a
ciente, em que pesquisadores reconhe- aprendizagem e, consequentemente, a re-
çam os pressupostos ideológico-políticos alização das atividades de vida diária, den-
que embasam suas escolhas teórico-meto- tre outras habilidades. O desenvolvimento
dológicas para se alinharem com um com- humano, segundo Bronfenbrenner (1996),
promisso ético que vise mudanças sociais é regido pelas interações da pessoa com
tendentes à efetiva inclusão das pessoas os contextos de desenvolvimento. Dentre
com deficiência. estes contextos, o ambiente de trabalho,
para as pessoas adultas com DI, pode ser
Palavras-chave: adultos com deficiência; considerado de grande importância para
psicologia do desenvolvimento adulto; construção da identidade, desenvolvi-
inclusão social. mento social e emocional (Amaral, 1994;
Contato: Regina Lúcia Sucupira Pedroza – Araújo, Escobal & Goyos, 2006; Escobal,
Universidade de Brasília (UnB). Araújo & Goyos, 2005). Os processos de
rpedroza@unb.br capacitação profissional e de inserção no
mercado de trabalho podem ser conside-
rados como meios importantes de aquisi-
LT01-777 – O TRABALHO COMO ção de habilidades para as pessoas com DI,
CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO visando à inclusão efetiva destas no meio
PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ocupacional, ou seja, trata-se de processos
INTELECTUAL que têm implicações no funcionamento do
Adelaine Vianna Furtado - UFJF sujeito, bem como na interação da pessoa
ane_vf@yahoo.com com o ambiente. A formação profissional
Nara Liana Pereira-Silva - UFJF dirigida às pessoas com DI, no Brasil, vem
naraliana.silva@ufjf.edu.br sendo ofertada pelos Centros de Educação
Especial, principalmente, através de ofici-
As leis que regem o contexto de desenvol- nas que visam desenvolver competências
vimento das pessoas com deficiência são voltadas para o trabalho. Entretanto, ve-
iguais às que regem o desenvolvimento rifica-se que o mercado competitivo tem
das pessoas sem deficiências, porém, o demandas que as instituições profissiona-
desenvolvimento quando é comprometido lizantes nem sempre conseguem suprir. O
por alguma deficiência ocorre de manei- treinamento para o trabalho, geralmente,
ra diferenciada. O presente trabalho visa é dirigido para atividades ocupacionais
apresentar, por meio dos dados da lite- gerais, tais como jardinagem, artesanato,

515
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dentre outras, as quais oferecem poucas necessárias como competências para in-
vagas de empregos. É fundamental que serção e manutenção das pessoas com DI
ocorra o ajustamento ao trabalho com a no trabalho, visto que esse tipo de compe-
criação de oportunidades para as pesso- tência é de suma importância para o ade-
as com DI desenvolverem e mostrarem quado ‘funcionamento’ do indivíduo não
suas competências dentro de uma ótica somente no local de trabalho, mas tam-
de mercado mais real. Não basta, apenas, bém na comunidade, na família, dentre
treinar algumas habilidades básicas para outros sistemas sociais (Tanaka & Manzini,
que ocorra a efetiva inclusão das pessoas 2005). Considerando o papel do contexto
com DI no trabalho. Por outro lado, não do trabalho para a promoção ou não do
é necessária somente a preparação da desenvolvimento do indivíduo, bem como
pessoa com DI (escolaridade, qualificação da escassez de estudos com a população
profissional etc.), mas também é preciso brasileira é que se faz necessária a imple-
que as empresas tenham condições físi- mentação de estudos que visem uma re-
cas e sociais para promoverem a inclusão, flexão do processo de inclusão, de forma,
além do apoio para efetivar a acessibili- a contribuir para a geração de dados que
dade e estreitar os vínculos entre as insti- possam subsidiar políticas de atenção às
tuições profissionalizantes e as empresas. pessoas com deficiências em nosso país.
Independentemente da maneira com que
ocorre a inclusão no trabalho, este tema Palavras-chave: deficiência intelectual;
vem se tornando cada vez mais relevante inclusão no trabalho; desenvolvimento
por sua importância na perspectiva do de- humano.
senvolvimento dessas pessoas, podendo Contato: Adelaine Vianna Furtado.
subsidiar dados empíricos que fomentem Universidade Federal de Juiz de Fora.
programas de preparação do jovem com ane_vf@yahoo.com.br
DI ao mercado de trabalho. A produção
científica nesta área ainda é escassa, prin-
cipalmente, no Brasil. É preciso envidar LT01-1261 – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
esforços no sentido de planejar estudos NA VIDA ADULTA: PRODUÇÃO CIENTÍFICA
que busquem um melhor entendimento NACIONAL
do processo de inclusão, bem como do im- Sueli de Souza Dias - UnB/SEEDF
pacto desse processo no desenvolvimento suelidiass@gmail.com
das pessoas com DI. Não há dúvidas quan- Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB
to à importância da inclusão no trabalho, mcsloliveira@gmail.com
destacando esta como via de inserção das
pessoas com deficiências nas relações de Transição para a vida adulta é uma circuns-
produção e consumo, portanto, de inclu- tância significativa para o desenvolvimen-
são social também. Além disso, trata-se to do ser humano, pois um conjunto de
da continuidade do atendimento educa- mudanças se processa, tendo o indivíduo
cional, podendo proporcionar aquisição que se reorganizar tanto do ponto de vista
de boa conduta e reconhecimento pessoal da própria subjetividade, quanto no rela-
e profissional. Dessa forma as habilidades cionamento com o seu mundo circundan-
sociais vêm sendo consideradas as mais te. Trata-se de um momento de escolhas

516
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e emergência de novas responsabilidades, demonstrar as atuais pesquisas realizadas


que possibilitam ampliação do contexto na área e as lacunas a serem preenchidas.
imediato através de inserção social na vida Levantamento bibliográfico geral dos ar-
laboral e ressignificação da vida acadêmi- tigos sobre deficiência intelectual no por-
ca, familiar e comunitária. Estudos sobre tal Periódicos CAPES (Brasil, 2011), sem
transição para a vida adulta e desenvol- delimitação de datas, nas bases de dados
vimento adulto ganharam destaque nas Scientific Electronic Library Online – Brasil
últimas décadas, sobressaindo-se o inte- (SciELO- Brasil) e Peródicos Eletrônicos em
resse sobre competências profissionais e Psicologia (PePSIC). Observou-se, inicial-
aspectos cognitivos. Duas grandes linhas mente, o período das publicações, direcio-
de pesquisa se destacam: (a) a perspecti- namentos e temas abordados. O procedi-
va life span, discutindo mudanças ao longo mento seguinte foi a seleção e análise das
da vida (Baltes, 1987, Baltes, Staudinger & produções específicas sobre pessoas com
Lindenberger, 1999) e (b) estudos sobre deficiência intelectual na idade adulta. O
self, processos de significação e narrativas, acesso às produções se deu a partir dos
com investigações envolvendo teorias do descritores: deficiência; deficiência inte-
desenvolvimento e teorias psicoterápi- lectual; deficiência mental. O resultado foi
cas (Brockmeier, 2009; D’alte, Petracchi, insatisfatório para as seguintes variações
Ferreira, Cunha & Salgado, 2007; Davies nos descritores: deficiência e vida adulta;
& Harré, 1990; Hermans & Hermans- desenvolvimento adulto; adultez e defici-
-Jansen, 2003). No caso de pessoas com ência. Foram encontrados 76 artigos publi-
deficiência, o processo de transição para cados no período de 1996 a 2010, descon-
a vida adulta está ligado diretamente às siderando aqueles que se repetiram nas
concepções sociais sobre esta condição. duas bases. Observaram-se grandes eixos
Historicamente, pessoas com deficiência, nas publicações: questões conceituais e
quando não exterminadas, foram trata- concepções sobre a deficiência intelectual;
das de forma segregada ou submetidas levantamentos de produções sobre defici-
à infantilização permanente (Dias, 2004; ência intelectual; prevenção de deficiência
Glat, 1989; Meletti, 2008), impedindo a in- intelectual; infância; adolescência; vida
serção social de forma plena e autônoma. adulta; curso de vida. Diferentes temas
A inclusão de pessoas com deficiência faz perpassaram os citados eixos: inclusão;
parte da história recente no mundo oci- interações sociais; habilidades cognitivas;
dental, sendo a deficiência intelectual a práticas educativas; trabalho; saúde; se-
condição que mais tardiamente se coloca xualidade; família. Houve variação signi-
no contexto de inserção social (Barbosa & ficativa nos números de publicações. Não
Moreira, 2009). Este trabalho é parte da foram encontradas publicações no ano de
revisão bibliográfica da tese de doutora- 1998, contrapondo-se ao salto quantitati-
do, em andamento, da primeira autora. O vo em 2006. Totalizaram 26 artigos publi-
propósito do presente estudo foi discutir a cados entre 2000 e 2010. Quanto ao tipo
produção apresentada em periódicos cien- de periódico: três publicações em periódi-
tíficos brasileiros, sobre emergência da cos especializados em educação especial;
adultez e desenvolvimento adulto de pes- duas em educação geral; duas em psica-
soas com deficiência intelectual, buscando nálise; duas em administração; uma em

517
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

psiquiatria; uma em periódico abrangendo liados os programas de acompanhamento


educação e psicologia; 15 em periódicos e promoção educacional dessas pessoas?
de psicologia de diferentes abordagens. Quais os mecanismos sociais existentes
Há um quantitativo menor de publicações para motivar a inserção das pessoas com
com temas como educação, sexualidade deficiência intelectual nas diversas esferas
e qualidade de vida, se comparado com a da sociedade? E quanto ao campo afetivo/
ênfase no tema do trabalho. As áreas de sexual, existem serviços educação sexual
concentração e os temas das publicações que possibilitem ao jovem e ao adulto com
dão indicativo de interesse científico em deficiência intelectual uma reflexão crítica
aspectos importantes ao desenvolvimen- acerca de seu próprio desenvolvimento se-
to na vida adulta: conclusão dos estudos, xual, possibilidade de união estável ou de-
trabalho e desenvolvimento psicológico sempenho da paternidade ou maternida-
(autonomia, habilidades sociais, afetivida- de responsável? Tais questões perpassam
de, dentre outros). O crescimento de pu- a discussão sobre o desenvolvimento do
blicações sobre a fase adulta de pessoas pensamento pós-formal, característica do
com deficiência intelectual pode estar re- pensamento do adulto (Marchand, 2002;
lacionado às novas concepções de mundo Sinnott & Johnson, 1997), destacando-se a
e de ser humano, assim como a evolução necessidade de se pesquisar metodologias
médica e tecnológica que têm propiciado adequadas para a compreensão desse pro-
longevidade às pessoas com deficiência. cesso em relação às pessoas com deficiên-
Da mesma forma, discussões sobre inclu- cia intelectual.
são têm dado visibilidade a situações antes
ignoradas ou consideradas não relevantes Palavras-chave: desenvolvimento adulto; defi-
do ponto de vista da investigação científica. ciência intelectual; produção científica.
O quantitativo de artigos sobre vida adulta
ficou muito próximo do número de artigos
produzidos sobre infância e adolescência LT01-1227 - DEPRESSÃO NA MATURIDADE:
juntos, destacando-se o número restrito UM ESTUDO COM MULHERES NO
de artigos acerca deste último, destoando INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL
do que se observa em relação aos adoles-
centes sem deficiência. Os temas discu- Jeane Lessinger Borges - ETREM
tidos nos artigos contemplam, em certa jeanepsico@yahoo.com.br
medida, as preocupações inerentes à vida Zuleica Strohschon - SETREM
adulta (Arnet, 2001). Entretanto, o quanti- zuleica.psico@yahoo.com.br
tativo de pesquisas é ainda restrito diante Diana Kettner - SETREM
da diversidade de aspectos que envolvem dyana-tm@hotmail.com
cada um dos temas, observando-se a ne- Financiamento: Faculdade Três de Maio/SETREM
cessidade de realização e divulgação de
mais pesquisas com diferentes aborda- A Depressão Maior (DM) caracteriza-se
gens. Como garantir que o fim da escolari- pela presença de humor depressivo por
zação possa ter um significado de inclusão duas semanas com anormalidades das
social para as pessoas com deficiência in- funções neurovegetativas (apetite, peso,
telectual? De que forma estão sendo ava- sono), da atividade psicomotora (perda

518
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de energia, de interesse, agitação mo- conjugais, dilemas da maternidade, passi-


tora ou retardo), da cognição (memória, vidade e submissão, violência perpretada
tomada de decisão, culpa, inutilidade, pelo companheiro íntimo e sentimentos
falta de esperança), bem como ansiedade de culpa e de fracasso (Carvalho & Coe-
e ideias suicidas (Bauer et al., 2009). De lho, 2002). O presente estudo refere-se
acordo com estes autores, a DM é o qua- aos resultados de uma pesquisa realizada
dro psicopatológico mais estudado entre no município de Três de Maio/RS, junto
os transtornos de depressivos unipola- a uma amostra de usuários de unidade
res e está associada à alta mortalidade e de Estratégica de Saúde da Família (ESF).
morbidade. Além disso, uma associação Este município se localiza na região no-
entre as variáveis sexo feminino, episó- roeste do Rio Grande do Sul, próximo a
dio prévio e histórico familiar positivo fronteira com a Argentina. A incidência de
aumentam o risco para a DM. A depres- suicídio nesta cidade é significativamente
são é um dos transtornos mentais mais mais alta do que a média do Estado do
observados em usuários de atendimento RS (média de 10,2/100.000) (Roos, Fao-
público de saúde e/ou saúde mental (He- ro, Osmari & Kettner, 2009). As taxas de
gadoren et al., 2009). Sua prevalência na suicídio no RS estão entre as mais do Bra-
população adulta, varia entre 15 a 20%, sil. Além disso, o sentimento de desespe-
em que estima-se que pelo menos 12% rança é um dos mais associados aos atos
das pessoas experimentam depressão suicidas (Dutra, 2010). Considerando es-
grave ao longo da vida (Fenell, 1997). tes aspectos, o presente trabalho aborda
Uma maior incidência de depressão em os resultados de dois estudos realizados
mulheres também foi observada entre na referida amostra. O Estudo I avaliou a
usuários de unidades primárias de saúde presença de sintomas de estresse, de de-
de Porto Alegre/RS (Fleck et al., 2002). pressão e de desesperança entre usuários
Neste estudo, a média de sintomas de- atendidos numa ESF, identificando pesso-
pressivos nas mulheres foi mais alta do as com elevados sintomas de depressão e
que entre os homens. Embora não haja desesperança. Foram aplicados um ques-
uma idade de início para a DM, uma vez tionário sóciodemográfico; o Inventário
que está presente em todas as etapas do Beck de Depressão (BDI), para avaliar sin-
desenvolvimento humano (Bauer et al., tomas de depressão; a Escala de Deses-
2009), estudos têm apontado uma maior perança de Beck (BHS), para avaliar sinto-
prevalência de DM na maturidade (Car- mas de desesperança; e o Inventário de
valho & Coelho, 2002; Fleck et al., 2002). Sintomas de Estresse para Adultos (ISSL),
A depressão em mulheres na faixa etária para avaliar sintomas referentes a fases
entre 40 a 60 anos vem sendo associada de estresse. Os participantes assinaram
as alterações hormonais (Polisseni et al., Termo de Consentimento Livre e Escla-
2009) e à autoimagem feminina e sua re- recido. Os dados foram analisados atra-
lação com a menopausa. Além disso, sin- vés de cálculo estatístico descritivo, fre-
tomas de depressão em mulheres madu- qüência simples e correlação de Sperman
ras, que estejam vivenciando o ciclo vital (SPSS versão 13.0). Foram entrevistados
do adulto maduro, foram associados com 100 usuários de uma unidade de ESF, de
perdas e privações na infância, conflitos ambos os sexos (17% masculino e 83%

519
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

feminino), com idade entre 20 a 80 anos violência psicológica e física perpretada


(M=60 anos; D.P.= 11,87). Nesta amostra, pelo marido e desastres naturais, foram
14.8% dos usuários têm diabetes associa- associados a um alto impacto emocional
da à hipertensão. Os resultados indicaram na vida destas mulheres, incluindo os
que, na amostra geral, a média no escore sentimentos de depressão; e “Depressão,
do BDI foi de 11,23 (D.P.=9,65), bem como feminino e visão de si”, a qual inclui os re-
que 13% dos participantes apresentam latos das mulheres sobre seu self, sendo
sintomas moderados a grave de depres- que a maioria destas faz uma associação
são, sendo que este dado foi associado ao entre a sua imagem e a depressão. As par-
gênero feminino. Não foi encontrada uma ticipantes se descrevem como “sendo a
diferença entre os gêneros quando avalia- própria depressão”, com sentimentos de
da apenas a média de escore no BDI, em- inutilidade, fracasso e culpa. Desta forma,
bora as mulheres apresentassem escore os resultados apontam características de
médio superior (M=11,54; D.P.=10,35) mulheres que se encontram na passagem
quando comparado ao dos homens (M= da etapa do adulto maduro para a velhi-
9,71; D.P.=4,92).Em relação à desesperan- ce, com um quadro crônico de depressão,
ça, observou-se que a média no BHS foi iniciado ainda na etapa do adulto jovem.
de 5,19 (D.P.=3,54) e, ainda, que 15% dos Ressalta-se a necessidade de um olhar so-
entrevistados apresentam sintomas de bre as relações entre depressão e gênero
desesperança de intensidade moderada. feminino, buscando avaliar possíveis con-
Não foi observada a presença de sinto- vergências teóricas sobre estas variáveis.
mas significativos de estresse (M=10,14; Além disso, discute-se a importância do
D.P.=9,25), apesar de ser identificada uma acesso ao atendimento psicológico em
correlação positiva entre o escore do BDI ESFs, a fim de minimizar a cronificação e
e do ISSL (r=.76). A partir deste estudo o risco de suicídio em usuários com sin-
verificou-se que, respectivamente, entre tomas moderados a grave de depressão.
13% e 15% dos entrevistados apresenta- Por fim, torna-se importante avaliar a pre-
ram escores altos de depressão e deses- sença de sintomas de risco e de proteção
perança. O Estudo II se refere a uma pes- à depressão maior, bem como investigar
quisa qualitativa, envolvendo o Estudo de a presença de comorbidade psiquiátrica.
Casos Múltiplos (Yin, 2004), em que parti-
ciparam três mulheres, com idades entre Palavras-chave: Depressão, gênero feminino,
53 a 62 anos, que apresentavam sintomas adulto maduro.
moderados de depressão (Estudo I) e que Contato: Jeane Lessinger Borges, Docente do
tinham histórico de depressão crônica e Curso de Psicologia da SETREM,
com uma tentativa de suicídio. A partir jeanepsico@yahoo.com.br.
de fragmentos de relatos das participan-
tes, ao longo de sessões de psicoterapia,
foram construídas duas categorias: “De-
pressão, feminino e eventos de vida nega-
tivos”, a qual aponta que a exposição a vá-
rios eventos estressores ao longo da vida,
incluindo violência na família de origem,

520
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 28 - LT04 com os outros (Bakhtin, 2006a, 2006b;


Hermans, 1996, 1999, 2001). Apresenta-
Docência mos uma análise de posicionamentos de
uma professora a partir da matriz concei-
tual do self dialógico. Nessa perspectiva
LT04-818 - UM ESTUDO o self é visto como uma multiplicidade
SEMIÓTICO E DIALÓGICO SOBRE O dinâmica de posições relativamente au-
DESENVOLVIMENTO DOCENTE A PARTIR tônomas que se movem em um espaço
DA ANÁLISE DE POSICIONAMENTOS imaginário, de acordo com as mudanças
Alba Cristhiane Santana - UFG da situação e do tempo (Hermans, 1996,
albapsico@gmail.com 2001). Os posicionamentos referem-se às
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB posições que a pessoa assume em rela-
claudia@unb.br ção a si própria e a algo ou alguém, nos
diálogos internos e externos realizados
Este estudo faz parte de uma pesquisa em determinados contextos espaciais e
de doutorado que investigou o desenvol- temporais (Hermans, 2001; Salgado &
vimento de professores no contexto de Hermans, 2005). A posição é um constru-
um programa alternativo de licenciatura, to teórico que representa um conjunto
tomando por indicadores de desenvolvi- complexo de significados e de ações ado-
mento os processos de significação e as tadas pela pessoa na sua relação consigo
mudanças de posicionamentos pessoais a mesma, com o outro e com o mundo,
partir da formação superior. Nosso obje- assim como as interpretações que ela
tivo nesta apresentação é discorrer sobre faz em relação à realidade. Em relação
um estudo de caso (desenvolvido na pes- ao self, é possível pensar que no espaço
quisa maior) acerca do desenvolvimento dialógico a pessoa pode mover-se de uma
e de mudanças de posicionamentos de posição a outra e de um tempo a outro,
uma professora em relação a si mesma e quer dizer, pode circular entre o passado,
à sua trajetória profissional, mediada pelo o presente e o futuro, por meio de narra-
curso superior. Interessa também discutir tivas que carregam lembranças e projeto
sobre as percepções da professora acerca de vida, por exemplo. O termo posiciona-
do seu processo formativo como espaço mento representa a ideia do movimento
de mediação para seu desenvolvimento dinâmico e constante do Eu entre as dife-
profissional. Partimos de uma base que rentes posições que constituem o espaço
associa dois eixos teórico-epistemoló- dialógico, e refere-se a uma ferramenta
gicos, uma perspectiva semiótica do de- conceitual que favorece a compreensão
senvolvimento humano, vista como um tanto da dinâmica interna, como dos pro-
estudo dos significados e dos processos cessos de interação social que levam à
de significação (Bruner, 1997, 1998; Val- construção de significados sobre si e so-
siner, 1989, 2007; Vygotsky, 1934/2000, bre o mundo (Oliveira, Guanaes & Costa,
2003), e uma perspectiva dialógica da 2004). Assim, a noção de posição e de
constituição do self, a qual dá relevância posicionamento é semiótica e dialógica,
às relações dialógicas que são estabele- envolve os processos de significação e as
cidas entre os sujeitos consigo mesmo e relações dialógicas estabelecidas entre os

521
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sujeitos (Salgado & Cunha, no prelo), os em que a professora fala de si e de sua


quais participam da configuração do de- prática profissional usando uma posição
senvolvimento humano. A análise de po- autoral e reflexiva, especificamente usan-
sicionamentos da professora foi realizada do o pronome “eu” e os correspondentes
a partir de uma entrevista mediada por me/mim, meu/minha. Na narrativa da
videogravação. O procedimento foi dividi- professora foram identificadas seis posi-
do em duas etapas: a primeira orientada ções em relação à sua prática pedagógi-
por um roteiro semiestruturado, com ob- ca, as quais se destacaram devido à sua
jetivo de provocar questões sobre a tra- regularidade e aos conteúdos expressos.
jetória pessoal da professora na docência Observamos uma relação de dependên-
e sobre suas experiências na licenciatura; cia entre os posicionamentos e de domí-
a segunda etapa foi mediada pela video- nio do espaço dialógico, situação em que
gravação de episódios retratando situa- ocorre um enfraquecimento da possibili-
ções concretas de sua prática docente. A dade de emergência de outras posições,
entrevista foi analisada por meio de um dificultando o surgimento da inovação e
roteiro de análise de posicionamentos, o de processos de desenvolvimento (Her-
qual foi construído apoiado na teoria do mans, 1999; Valsiner, 2002). Quer dizer,
self dialógico e no manual de posiciona- emergem posições que não se confron-
mentos elaborado por Salgado e Cunha tam a ponto de dominar o espaço e nem
(no prelo). O roteiro contemplou os se- criam estados de tensão que possibilitem
guintes passos: a) construção de catego- processos de mudança. Os significados de
rias de análise dos posicionamentos; b) cada posição são construídos a partir das
identificação de unidades de significação relações dialógicas e conforme as caracte-
(Vygotsky, 1934/2000); c) microanálise de rísticas dos contextos sócio-culturais e re-
cada unidade (Cunha, Salgado, Santos & lacionais. Esse processo é caracterizado,
Marques, 2009; Salgado & Cunha, no pre- segundo Salgado e Hermans (2005), por
lo); d) análise das formas de relação dialó- um interjogo contínuo do sujeito consigo
gica entre os posicionamentos (Hermans, próprio e com o outro, onde significados
2001b; Valsiner, 2002); e) elaboração de são negociados e trocados, promoven-
um diagrama para representar tais formas do um movimento de posicionamentos
e a organização hierárquica entre as posi- e reposicionamento. Em tal movimento,
ções (Salgado & Cunha, no prelo; Valsiner, conforme Hermans (1996, 1999) podem
2002). Uma das categorias de análise dos ocorrer confrontos que resultam em ins-
posicionamentos foi: os Posicionamentos tabilidade e estados de tensão, gerando
autorreflexivos assumidos pela profes- processos autoreflexivos e favorecendo o
sora em relação à sua prática docente. A surgimento de novas posições. No estu-
análise de tais posições propiciou indica- do de caso apresentado notamos que os
dores sobre a percepção da professora posicionamentos construídos pela profes-
acerca da influência do processo forma- sora ao longo da entrevista fundam uma
tivo vivenciado na licenciatura em sua relação de dependência, tal como descri-
ação docente e em seu desenvolvimento ta por Valsiner (2002), onde um fortalece
profissional. Tais posicionamentos foram o outro e assim, se mantém um estado de
observados em momentos da entrevista estabilidade e não se cria espaço para o

522
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desenvolvimento de mudanças. Por outro to facilitador dos processos de ensino e


lado, também é interessante sublinhar aprendizagem, uma vez que a criança pe-
que o último posicionamento assumido quena utiliza-se da fantasia/imaginação
pela professora (Eu como professora que para compreender o complexo mundo a
espera mais de sua prática) se mostra fér- sua volta, devendo o educador ter cons-
til para a produção de novos significados ciência de que, em sua prática educativa,
sobre a percepção de si em relação à do- o brincar é uma das atividades essenciais
cência, uma vez que se expressa por uma para o desenvolvimento da identidade e
voz reflexiva que questiona a possibilida- da autonomia. O posicionamento desses
de de desenvolver práticas pedagógicas autores vem de encontro à série de do-
alternativas. cumentos que integra os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais, elaborado pelo MEC,
Palavras-chave: análise de posicionamentos; ao explicitar a necessária realização de
desenvolvimento docente; self dialógico. programas que contribuam para a qualifi-
cação destes profissionais, conhecendo e
reconhecendo as características da infân-
LT04-822 - A FORMAÇÃO DO EDUCADOR cia, assumindo uma postura crítica fren-
INFANTIL EM CONTEXTOS LÚDICOS DE te às teorias que embasam sua atuação,
DESENVOLVIMENTO revendo e atualizando suas práticas, e
Valéria Queiroz Furtado - UEL criando novas estratégias educativas que
valeriauel@uel.br atendam os objetivos da educação infantil
Marilícia Witzler Antunes Palmieri - UEL (Brasil, 1998). A atividade lúdica enquan-
marilicia@uel.br to uma ação mediada pelo contexto so-
ciocultural é um recurso educativo funda-
Financiamento: Fundação Araucária – Apoio
mental para o pleno desenvolvimento da
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
criança, pois circunscreve a própria noção
do Paraná.
de infância. Enquanto se diverte, sozinha
ou em pares, a criança vivencia o lúdico,
A discussão sobre a formação do edu-
descobre-se a si mesma, apreende a rea-
cador infantil em contextos lúdicos1 de
lidade, tornando-se capaz de desenvolver
desenvolvimento tem sido uma preocu-
seu potencial criativo (Siaulys, 2005 cita-
pação atual que impulsiona um grande
do em Queiroz, Maciel & Branco, 2006).
volume de estudos e produções teóricas
De acordo com o Referencial Curricular
(Almeida, 1998; Araújo, 1992; Borba,
Nacional para a Educação infantil (Brasil,
2006; Kamii, 2001; Kishimoto, 1998; Quei-
1998, p. 27), “os jogos e as brincadeiras
roz, Maciel & Branco, 2006). Tais estudos
devem ser parte integrante do projeto pe-
enfatizam o lúdico como um instrumen-
dagógico, pois propiciam a ampliação dos
conhecimentos infantis por representa-
1
No presente trabalho, embora a distinção entre as termi- rem um desafio e provocam o pensamen-
nologias ‘jogo’, ‘brinquedo’, ‘brincadeira’ e a caracteriza-
ção de ‘brincar’, ‘lúdico’ e ‘ludicidade’ tenham um espaço
to reflexivo da criança”. As crianças estão
próprio para serem explicitadas, o uso que fazemos deles na escola para aprender, no entanto, nos
não se limita a tais parâmetros; assim, ‘brincadeira’ ou parece um paradoxo que nem todo traba-
‘jogo’ podem, igualmente, expressar as idéias genéricas de
atividade lúdica ou brincar, sem perda de inteligibilidade. lho escolar produza aprendizagem e, ao

523
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mesmo tempo, “é surpreendente como ção continuada em educação lúdica, a 15


as crianças aprendem enquanto brincam” (quinze) educadoras infantis, provenien-
(Kamii, 2001, p. 171). Para que uma ativi- tes de duas instituições filantrópicas per-
dade possa ser caracterizada como lúdica tencentes à Rede de Ensino de Londrina-
é importante que promova à criança em -PR. O objetivo é oferecer formação teó-
desenvolvimento capacidade de tomar rica e fomentar discussões práticas, a fim
decisões, fazer escolhas, descobertas, de contribuir à conscientização profissio-
perguntas e encontrar soluções (Borba, nal sobre a importância das atividades lú-
2006), definir valores, formar juízos, tor- dicas no favorecimento da aprendizagem
nando a linguagem mais rica por meio da social. O programa incluiu as seguintes
aquisição de novas formas de expressão. etapas: 1ª) Entrevista (inicial) com as edu-
O brincar é, assim, um espaço de desen- cadoras para conhecer suas concepções
volvimento da linguagem, da cognição, sobre ludicidade, e as formas nas quais in-
dos valores e da sociabilidade, pois atra- serem o lúdico no trabalho educativo di-
vés da brincadeira, a criança se apropria ário junto às crianças (roteiro semiestru-
dos conteúdos sócio-culturais disponíveis, turado, gravação em áudio). Uma segun-
tornando-os seus, através de construções da entrevista está sendo conduzida para
específicas (Borba, 2005; Porto, 2002). avaliar o conhecimento gerado durante
Para tanto o educador infantil deve assu- o processo formativo; 2ª) Elaboração de
mir uma postura crítica frente às teorias portifólios para registrar o processo for-
que embasam sua atuação, rever e atua- mativo de cada educadora e auxiliá-la nas
lizar seu fazer e criar estratégias de ação, reflexões sobre o seu próprio processo
as quais o levem a compreender conflitos (etapa em construção); 3ª) Cursos para
e dificuldades postas no seu dia-a-dia es- abordar o aporte teórico-metodológico
colar. Desse prisma, parece inconcebível acerca do papel do lúdico na educação
que as atividades lúdicas não estejam infantil, utilizando perspectivas teóricas
acentuadamente presentes no trabalho defendidas por autores como Piaget e
com a criança pré-escolar. No entanto, a Vygotsky para abordar a proposta teóri-
realidade da maioria de nossas institui- ca do sociocultural construtivismo (Jaan
ções infantis diverge dessa constatação, Valsiner e colaboradores); 4ª) Oficinas de
quando a ‘hora do brincar’ constitui-se jogos (simbólico, regras e jogos coopera-
pelo enquadre espontaneísta. Concomi- tivos) e confecção de jogos educativos de
tantemente é necessário buscar soluções materiais recicláveis. Esta etapa envolveu
educativas para a superação, de um lado, planejamento dos jogos pelas educado-
da manutenção de modelos tradicionais ras, a promoção dos jogos planejados jun-
de educação, pautados na transmissão de to às crianças (gravação em vídeo; análise
conteúdos e no caráter passivo do edu- microgenética, em curso) e uma sessão
cando e, de outro, implementar projetos devolutiva parcial às educadoras sobre os
educativos que enriqueçam as discussões resultados e avaliação dessa etapa. Para
pedagógicas no interior das instituições a realização dos cursos e das oficinas ela-
(Kramer, 2002). É dentro deste contexto boramos apostilas como recurso didático.
que discorremos a forma com que vimos Nas primeiras entrevistas, questionamos
desenvolvendo um programa de forma- a amplitude do conhecimento teórico das

524
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

educadoras em que se respaldam suas LT04-928 - A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA


práticas educativas e problematizamos COMO PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO
se estão conscientes da natureza das ati- ENTRE A PSICOLOGIA E A FORMAÇÃO
vidades lúdicas que estão promovendo CONTINUADA DE PROFESSORES.
às crianças. Ao invés de conceberem o Mírian Barbosa Tavares Raposo - UnB
lúdico como promotor de aprendizado, rmirian@unb.br
mostrando experiência prática e reflexões
pedagógicas acerca do brincar, terminam Esse trabalho tem por objetivo apresentar
por fortalecer concepções de que al- uma alternativa de formação continuada
guns jogos e brincadeiras não favorecem de professores, desenvolvida pelo Labo-
aprendizagem. Por outro lado, cursos e ratório de Microgêneses das Interações
oficinas ofereceram-lhes ampla gama de Sociais, do Instituto de Psicologia da UnB,
informações e questionamentos relativos por meio do curso de extensão ‘A Psicolo-
às concepções sobre o brincar como uma gia e a Formação Continuada de Professo-
atividade de construção de cultura basea- res’. O curso visa atender professores da
do nas interações entre as crianças e que Educação Básica do DF, na construção de
envolve aprendizagem, sendo uma for- competências relacionadas à Psicologia
ma de internalizar e recriar a experiência do Desenvolvimento e da Aprendizagem
sócio-cultural dos adultos. Valorizaram e à relação Psicologia e Educação. Trata-se
vivências lúdicas cooperativas, conside- de um curso presencial de 60 horas e que
rando-as valiosas para favorecer o desen- se desenvolve, anualmente, tendo como
volvimento da autonomia e da solidarie- princípio básico a formação do professor
dade, muito embora desconhecessem as pesquisador, na perspectiva da ação-re-
formas pelas qual este tipo de vivência flexão-ação, discutida por Nóvoa e Schön.
pode ser promovido. Acreditamos que as O curso se propõe a contribuir para o pro-
ações até aqui empreendidas têm contri- cesso de construção de duas competências
buído para o planejamento, desenvolvi- essenciais ao professor: (a) conhecer algu-
mento e avaliação das práticas educativas mas teorias do desenvolvimento humano,
no tocante ao lúdico como um instrumen- a fim de instrumentalizar-se para análise
to facilitador de aprendizagem social, das questões teórico-práticas recorrentes
podendo utilizá-lo como instrumento de na educação; e (b) refletir sobre a relação
trabalho cotidiano. O tema da ludicidade entre desenvolvimento e aprendizagem,
atrelado à formação de educadores infan- de forma que se possibilite uma discussão
tis, constitui-se em um desafio teórico e crítica de questões e problemas referen-
prático, capaz de gerar novas reflexões, tes à prática pedagógica. Nesse sentido, o
análises e discussões sobre concepções e curso se utiliza da pesquisação, de maneira
práticas sócio-culturais que venham a se- que o professor possa rejuntar a teoria e a
dimentar ações educativas enriquecedo- prática, a ação e a reflexão, a formação da
res de discussões pedagógicas no interior consciência e a realidade material e cultu-
das instituições. ral. A Psicologia, nesse processo, contribui
para o desenvolvimento de conhecimentos
Palavras-chave: Ludicidade; Formação de e habilidades, além de competências, ati-
Educadores; Educação Infantil. tudes e valores, que possibilitem ao pro-

525
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fessor em formação ir construindo seus de Vygotsky. Segundo a autora, a análise


saberes-fazeres docentes a partir das ne- dessas questões, a partir de diferentes
cessidades e desafios que o ensino, como concepções, contribuiu para a compreen-
prática social, lhes coloca no cotidiano. A são de que a atividade pedagógica exige,
partir desse ponto de vista, a Psicologia do professor, o alinhamento de princípios
deixa de ser vista como um conjunto de co- científicos que viabilizarão o alcance das
nhecimentos teóricos a serem aplicados na metas pedagógicas que se propõem.
prática pedagógica e se reconhece como
um conjunto de referenciais que, ao lado
de outras áreas do conhecimento, pode JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
subsidiar a prática, contribuindo no sentido
de melhor compreender e atuar na compli- O estudo teve por objetivo conhecer como
cada dinâmica que se desenrola dentro da os professores da Escola Parque 210/211
escola. Nesse trabalho, especificamente, Norte trabalham com os jogos e as brin-
sintetizamos os trabalhos co-construídos cadeiras, na organização do trabalho pe-
por alunos de algumas das turmas do cur- dagógico de sua sala de aula. Por meio
so, entre eles: O Ensino de Contabilidade; dessa informação, a escola pôde refletir
Jogos e Brincadeiras na Educação; Coorde- sobre outras possibilidades do uso de jo-
nação Pedagógica e Formação Continuada; gos e brincadeiras, de maneira a contri-
Desenho e Desenvolvimento. buir para o desenvolvimento dos alunos. A
metodologia envolveu a utilização de dois
instrumentos fundamentais: o questioná-
O ENSINO DE CONTABILIDADE rio e a discussão comentada de cada um
deles com os sujeitos da pesquisa. Quatro
Nesse estudo, a autora, professora de Con- professoras participaram do estudo. Os
tabilidade num curso de Administração resultados foram apresentados a partir de
em nível superior, tinha como objetivo duas categorias de análise: A vivência de
construir conhecimentos que pudessem situações internas manifestadas pelo ima-
facilitar a ação pedagógica do professor ginário; e Ampliação do desenvolvimento
de contabilidade e indicar caminhos para cognitivo e psicomotor. No que se refere
mostrar, aos alunos de Administração, as à primeira categoria, a autora, embasada
contribuições da Contabilidade para o al- nos trabalhos de Hernandez (1998), afirma
cance de seus objetivos profissionais. Para que no momento em que a criança partici-
pensar o ensino de Contabilidade, a autora pa de imitações, jogos e desenhos, ela se
refletiu a respeito de alguns dos conceitos transporta do mundo real ao imaginário,
que perpassam a atividade pedagógica onde é capaz de produzir uma linguagem
do professor, entre eles: currículo, ensi- mais significativa. Nessa relação de maior
no, aprendizagem, avaliação e motivação. espontaneidade, ela é capaz de aumentar
Tais discussões foram organizadas a partir seu entendimento, solucionar questões
de diferentes concepções de desenvolvi- ou apontar o caminho para ajudas. Nesses
mento, a saber: o behaviorismo de Skin- momentos, a criança tira o peso de quem
ner, o humanismo de Rogers, o construti- ela realmente é e interpreta um papel que
vismo de Piaget e o sócio-construtivismo lhe dá liberdade de jogar, arriscar e ampliar

526
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seu comportamento habitual. Em relação prática pedagógica, de formação e de cons-


à segunda categoria, a autora utiliza os trução do projeto político-pedagógico, por
fundamentos de Vygotsky para afirmar meio de uma reflexão permanente, num
que os jogos e as brincadeiras podem re- clima psicológico favorável à participação
presentar uma excelente ferramenta pro- e a tomada de decisões, para o desenvol-
motora de desenvolvimento, uma vez que vimento de uma educação de qualidade
podem atuar como recursos que propiciam para todos. A formação do professor – que
diferentes relações interpessoais entre os se dá na instituição educativa, partindo de
vários sujeitos envolvidos na atividade e, situações problemáticas do contexto esco-
nesse sentido, poderá servir como impul- lar, com a concepção de professor como
sionadores dos níveis reais de desenvolvi- agente social, isto é, capaz de planejar, ge-
mento de cada um deles. rir o ensino-aprendizagem, além de inter-
vir nas questões sociais e profissionais que
influenciam a sua prática, coerente com
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E a visão de educação como prática social,
FORMAÇÃO CONTINUADA comprometida com o desenvolvimento de
uma educação de qualidade para todos.
O estudo teve por objetivo refletir sobre
as possibilidades e os limites da coordena- Palavras-chave: Psicologia e formação
ção pedagógica, como espaço de formação continuada de professores, desenvolvimento e
docente e de aperfeiçoamento da prática aprendizagem, pesquisa e formação docente.
pedagógica na Escola. Os instrumentos Contato: Mírian Barbosa Tavares Raposo, UnB,
empregados foram questionários para a rmirian@unb.br
caracterização dos interlocutores e entre-
vistas semiestruturadas. Os depoimentos
dos professores expressam uma perspecti- LT04-1188 - A CONSTITUIÇÃO DO
va de coordenação pedagógica como espa- COORDENADOR PEDAGÓGICO NAS
ço de: integração, reflexão sobre a prática, RELAÇÕES SOCIAIS: CONTRIBUIÇÕES DE
troca de experiências e conhecimentos, HENRI WALLON E CLAUDE DUBAR
formação continuada, elaboração do pro- Laurinda Ramalho de Almeida - PUC/SP
jeto político-pedagógico e desenvolvimen- laurinda@pucsp.br
to de relações interpessoais. Destacam, Andrea Jamil Paiva Mollica - PUC/SP
ainda, a importância do caráter coletivo do ajmollica@uol.com.br
trabalho de coordenação pedagógica e a Lilian Corrêia Pessôa - PUC/SP
dificuldade para a estruturação desse tra- lilipessoa@hotmail.com
balho. Três categorias de análise responde-
ram aos objetivos do estudo: A prática pe- O texto refere-se a um dos eixos de pes-
dagógica - entendida como práxis, ou seja, quisa em andamento sobre o desenvolvi-
um processo complexo e dinâmico em que mento da identidade do coordenador pe-
teoria e prática estão unidas, por meio de dagógico. A escolha deste profissional para
ação e reflexão permanente. A coordena- investigação decorre do fato de acreditar-
ção pedagógica - compreendida como um mos na importância de sua atuação para
espaço coletivo de aperfeiçoamento da uma escola de qualidade. Entendemos que

527
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

compete a este ator as funções de articula- na teoria walloniana contribui para a am-
dor, formador e transformador no cenário pliação do entendimento sobre o processo
da unidade escolar. Como articulador, ofe- de constituição do coordenador pedagógi-
recendo condições aos professores para co. Assim, pessoa é o conceito empregado
que trabalhem coletivamente suas pro- por Wallon (2007) para definir e nomear o
postas curriculares; como formador, ofere- domínio ou conjunto funcional resultante
cendo condições aos professores para que de outros três: afetividade, ato motor e
se aprofundem em suas áreas específicas e conhecimento. A integração das funções
para que transformem seu conhecimento dos domínios funcionais não é estática, é
em ensino de qualidade; como transfor- mutante, a partir de oposições, conflitos,
mador, propiciando condições para que forças convergentes e divergentes nas re-
o professor seja reflexivo e crítico em sua lações com o meio social, pois pessoa é a
prática (Almeida & Placco, 2009). Sem des- síntese entre um organismo com potencial
considerar as demais vias que promovem genético para se tornar um representante
o desenvolvimento dos conhecimentos típico da espécie e o meio, predominan-
pedagógicos, curriculares e também das temente social. A integração das funções
habilidades de relacionamento interpes- desses domínios pode levar a configura-
soal, vamos nos deter nas situações de ções diferenciadas, variáveis de indivíduo
trabalho, por concordar com Dubar (1997, para indivíduo, conferindo, portanto, sin-
p.48) que o “trabalho está no processo de gularidade e caracterizando uma forma de
construção, destruição e reconstrução das ser e estar no mundo. Entretanto, de um
formas identitárias...”. Esse mesmo autor modo geral, é a afetividade que dá direção
(Dubar, 2005) lembra que há um jogo de às ações, orienta as escolhas, com base
forças constante entre atos de atribuição nos desejos da pessoa, nos significados e
e atos e sentimentos de pertença. No caso sentidos atribuídos às suas experiências
do coordenador pedagógico, os atos de anteriores, em suas necessidades fisioló-
atribuição chegam da estrutura oficial (o gicas e sócio-afetivas. Esses significados
que vem do instituído, do Sistema) e da e sentidos são constituídos no meio so-
estrutura funcional da escola (a tradução cial, portanto, na relação eu-outro. Zazzo
do instituído e as exigências da escola para (1978) observa que em Wallon pode-se
o trabalho de coordenação). Já os atos e apreender três tipos de Outro: o outro, os
sentimentos de pertença referem-se ao outros e o outro íntimo. Outro refere-se
que o coordenador aceita desses dois con- a um conceito geral; os outros referem-
textos, e o que acrescenta a eles, definin- -se àqueles com os quais o indivíduo se
do seu papel profissional, numa constante relaciona concretamente; o outro íntimo,
tensão eu-outro. Ao abordar a questão também chamado de socius (conceito
da identidade, Wallon (1975) a denomina emprestado de Pierre Janet) é o parceiro
como personalidade e a descreve como permanente na vida psíquica do indivíduo,
uma percepção e si mesmo adquirida por decorrente da articulação de elementos
afirmação constante de autonomia em re- antigos e novos da experiência do indiví-
lação aos demais, construída nos proces- duo, em suas relações com os diferentes
sos de identificação e diferenciação com o meios sociais. Para a produção de informa-
outro. A compreensão do conceito pessoa ções foram empregados questionários e

528
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entrevistas biográfico-narrativas com coor- papel exercido pelo Outro Íntimo. A valori-
denadoras atuando em duas Diretorias Re- zação que todos os coordenadores dão às
gionais de Ensino do Estado de São Paulo, relações interpessoais, seja nos momen-
uma na capital, outra no interior. Nesta co- tos de início da função (apoio, aceitação),
municação serão discutidos os resultados seja nos momentos formativos (aceitação,
de uma das Diretorias Regionais. O que é rejeição de propostas) é outro indicativo
recorrente no cotidiano dos coordenado- de forte influência das relações eu-outro.
res é a resposta aos atos de atribuição do Alguns coordenadores referem-se ao pa-
sistema e da organização da escola: mul- pel das políticas públicas, acentuando que
tiplicidade de tarefas: materialidade bem o coordenador precisa ver sentido nelas,
explicitada por uma mesa “cheia de coisas: para trabalhar de forma competente. Esse
rádios, revistas, livros perdidos, bilhetes de sentido foi sendo constituído por eles nas
professores, cadernos, os próprios papéis, e pelas relações sociais de sua trajetória. A
cadernos, atas...”; atendimento a situa- função formativa é recorrente, como ato/
ções imprevistas, que impedem a execu- sentimento de pertença. Afirma um coor-
ção do planejamento feito; tempo escasso denador: “Nós, coordenadores antigos, tí-
para dar conta de tantas atribuições: “a nhamos uma função que nos honrava: de-
mesa cheia de coisas migra para a casa, e o senvolver um projeto, articular o coletivo,
trabalho continua...”; atendimento a pais, formar o professor.”
professores, alunos, pessoas que procu-
ram informações; elaboração da agenda e Palavras-chave: coordenador pedagógico,
execução de Horas de Trabalho Pedagógi- identidade, relações sociais.
co Coletivo; resolver conflitos: de profes- Contato: Laurinda Ramalho de Almeida, PUC-
sores, pais, alunos. Esta situação provoca SP, laurinda@pucsp.br
manifestações de mal-estar nos coordena-
dores ao final do período de trabalho: ex-
tremados, cansados, com sensação de “fiz LT04-1327 - BUSCANDO COMPREENDER
tanto, e não fiz nada”. As atividades são A RELAÇÃO TUTOR E CURSISTA EM
feitas porque os outros exigem dele uma UM AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO A
atuação desse tipo. Algumas dessas ativi- DISTÂNCIA
dades, no entanto, caracterizam-se como Daniel Röhe Salomon da Rosa Rodrigues -
suas (sentimento de pertença), principal- UnB
mente a elaboração de agenda de traba- rohe.daniel.1986@gmail.com
lho e planejamento e execução de horas Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB
de trabalho coletivo. Os atos de pertença Maria Fátima Olivier Sudbrack - UnB
são, também, decorrentes das relações Financiamento: PRONASCI
eu-outro, principalmente com pares (coor-
denadores de outras escolas), com profes- A educação possui a função de habilitar in-
sores, gestores, comunidade escolar que divíduos para o manejo do conhecimento.
lhes solicitam atendimento às suas neces- Paulo Freire propõe a reflexão no sentido
sidades. Ao aceitar/recusar as atribuições do reconhecimento de objetos: o si-mes-
que lhes são dadas, entra, na tomada de mo, o outro e os conteúdos disciplinares.
decisão para este ou aquele caminho, o Ele incentiva ainda o exercício de criativi-

529
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dade que vai além do simples reconhecer, o acréscimo de 60 horas aula pela neces-
mas que alcança a reflexão epistemológica sidade de integrar teoria e prática. A meta
do conteúdo. Educar então não significa fundamental é, pois, a socialização e im-
impor um conhecimento ao outro, mas plementação dos projetos elaborados nos
sim propor a reflexão sobre o conheci- módulos anteriores. Assim, esse módulo
mento que se almeja partilhar. É preciso estimulou a equipe da coordenação do
reconhecer o mecanismo fundamental na curso a refletir e a criar espaços para aten-
aprendizagem, destarte é necessário que der aos desafios apresentados pelos cur-
o sujeito que está aprendendo enxergue sistas. Nesse curso ocorre uma relação en-
a si mesmo. Ensinar é então a criação de tre conteudistas, supervisores de tutores,
possibilidades para a autocondução e a tutores e cursistas no sentido de garantir a
produção de diálogos que promovam a eficácia do curso. Os conteudistas além de
construção do conhecimento. O ensino a elaborarem o conteúdo participam da for-
distância é uma modalidade educacional mação dos tutores e seus supervisores. Os
que será utilizada como principal forma tutores, por serem aqueles que estão em
de ensino no futuro, pois possibilita que contato direto com os cursistas, são os res-
grandes populações tenham acesso à ponsáveis pela construção do conhecimen-
educação escolar. Isto porque proporcio- to e ações deles. Por isso faz-se necessário
na flexibilização de espaço e tempo para uma reflexão sobre a formação daqueles
os estudos. Pesquisas apontam relatos de para que atuem de forma dialógica privile-
estudantes indicando uma preferência por giando os aspectos da aprendizagem como
esse tipo de ensino porque adquirem mais um todo e não apenas as práticas tecno-
informações. O Curso de Prevenção ao Uso cráticas das ferramentas contemporâneas.
de Drogas é uma parceria entre o Progra- Deve-se garantir que os tutores favoreçam
ma de Estudos e Atenção às Dependências o potencial criativo dos educadores para
Químicas do Departamento de Psicologia que atuem na área de prevenção e saúde
Clínica do Instituto de Psicologia da Uni- pública. Este trabalho tem como objetivo
versidade de Brasília (PRODEQUI/PCL/IP/ geral refletir sobre a formação do tutor em
UnB) - em articulação com a Secretaria Na- ensino a distância e especificamente inda-
cional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e gar sobre o papel de supervisão dos tuto-
MEC. Este é um curso à distância voltado res analisando a interação tutor-cursista
para formação de educadores de escolas no ensino a distância. Os participantes da
públicas e tem como objetivo habilitá-los pesquisa foram 45 Tutores de 45 turmas
a atuar na área da prevenção ao uso de do Módulo V e um supervisor de conteú-
drogas de forma integrada às atividades de do. Foi analisada a relação entre esses tu-
ensino em sala de aula. O curso é compos- tores e os cursistas na plataforma moodle.
to de quatro módulos de conteúdos que Os materiais de análise foram: relatórios
envolvem as temáticas sobre adolescente, padronizados para análise com ALCESTE
família, conceitos e informações básicas a partir de um banco de dados contendo
sobre drogas, a prevenção e estratégias de os fóruns de socialização de 50% do total
prevenção na escola. Na edição 2010-2011 de turmas do Módulo V; análise de conte-
do curso, foi acrescentado o Módulo V que údo das falas dos tutores em supervisão.
consiste na ampliação do curso mediante No primeiro material de análise foram

530
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

identificados como variáveis “T_1” para do projeto. Na Classe 5 encontramos os


tutor e “T_2” para cursista. Com a análi- cursistas discutindo o conteúdo do curso e
se ALCESTE estudamos a relação entre os há uma fala de tutor orientando para a dis-
participantes. O relatório ALCESTE gerou cussão epistemológica. Assim percebemos
cinco classes. Na Classe 1 predominam fa- uma prevalência das práticas tecnocráti-
las de cursistas. Na 2, falas de tutores com cas apesar de ocorrem também reflexões
duas de cursistas com qui-quadrado maior epistemológicas. Nota-se uma preocupa-
que 32. Na 3 predominam falas de tutores. ção com o lado executivo em contraste
No entanto, há duas falas de cursistas que com uma preocupação na construção do
tem o maior qui-quadrado nesta classe. conhecimento. Acreditamos que o tutor
Na 4, predominam falas de tutores. Na 5 deva atuar na formação de um cursista que
sobressaem falas de tutores observando- irá aprender sob a égide de uma aventura
-se a presença de uma fala de cursista. No criadora. É Paulo Freire que aponta para
fórum de socialização foi possível identifi- um aprendizado que implica em “construir,
car os eixos de sentido, o tecnocrático e o reconstruir, constatar para mudar”, o que
que concerne o conteúdo programático. cria a demanda de riscos e pela aventura
Como exemplo o enunciado que denuncia do espírito.
o primeiro eixo temos: “(...) para postar o
projeto nesse fórum vocês precisam seguir Palavras-chave: ensino a distância, tutor,
os seguintes passos: entre no fórum, leia prevenção de drogas.
a mensagem de seu colega e clique em
responder, em seguida escreva uma men-
sagem na janelinha aberta para tal fim e LT04-1342 - UMA REFLEXÃO SOBRE
ANEXE o projeto pelo espaço que apare- A RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO: O
ce embaixo do local onde você escreve a SUBJETIVO FRENTE À COMPLEXIDADE DE
mensagem (...)”. Por outro lado podemos ENSINAR E APRENDER
identificar enunciados voltados para outra Silvia Souza de Miranda Rodrigues - UnB
postura: “A socialização é um momento ssylvyar2@yahoo.com.br
privilegiado para incluir novas contribui-
ções decorrentes dos encontros realizados Trata-se de uma reflexão sobre a pro-
na escola e nos fóruns. Além da socializa- blemática da relação professor e aluno
ção na sua escola, vocês terão acesso a com ênfase na complexidade de ensinar
projetos elaborados por outros cursistas, e aprender. Baseado em alguns autores
em outras realidades, e poderão intera- preocupados com a educação, ressalto a
gir com eles.” A partir de uma leitura do questão polêmica de conhecer a si mes-
relatório gerado pelo ALCESTE podemos mo para então conhecer o outro com fins
perceber o desenrolar da relação tutor- a facilitar o encontro de entendimento e
-cursista no Módulo V. Na Classe 2 encon- compreensão durante o processo ensino
tramos 13 falas de tutores orientando para e aprendizagem. É no espaço escolar que
procedimentos mecânicos na plataforma o eu-professor (Blanchard-Laville, 2005)
enquanto há 6 falas que incentivam para a se confunde com um super-herói na ten-
discussões epistemológicas. Encontramos tativa de cumprir com suas obrigações de
também duas falas sobre prazo de envio forma exemplar, dentro dos parâmetros

531
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de exigências que fazem a instituição, os sociação de idéias realize a transição entre


alunos, os pais e comunidade, esquecen- duas formas de realidade psíquica e uma
do-se, porém, que antes de ser professor que exista a ameaça de transformação,
é um ser humano, com identidade e sub- produz-se uma resistência movida pelo
jetividade própria e que nem ele e nem medo do doloroso sofrimento associado
o aluno mudam de personalidade para (Blanchard-Laville,2005). Uma coisa é o
enfrentar uma sala de aula. Portanto, o professor ir para sala de aula expor me-
essencial a considerar no espaço escolar é canicamente sua aula, e outra, é expor a
a relação de parceria e cumplicidade que mesma aula utilizando-se de linguagem
ambos estabelecerão no decorrer do pro- apropriada, de empatia, deixando fluir o
cesso de aprendizagem, sem esquecerem- diálogo de forma a transformar os conte-
-se de si mesmo e cientes que ambos têm údos em algo significativo. Obviamente, o
suas próprias dificuldades, sua história de professor traz consigo sua bagagem histó-
vida, cada qual a seu modo. O objetivo do rica, suas próprias dificuldades psíquicas e
trabalho foi refletir sobre a importância não será fácil transpor essas barreiras. Não
da subjetividade na relação professor e se espera que o professor salve a educa-
aluno. Esta reflexão ocorreu no contexto ção sem antes entender-se, falar consigo
escolar através da observação em conso- mesmo, observar e analisar sua prática
nância com os professores regentes. Muito pedagógica, olhar prioritariamente sua re-
há que se analisar numa relação professor lação com o aluno, pois minha observação
e aluno onde, segundo a concepção do não se resume no conteúdo ministrado e
sistema educacional, o essencial dessa re- nem nas estratégias utilizadas no contexto
lação é o sucesso no ensinar e aprender escolar, mas a complexidade da relação do
de forma numérica e quantitativa. Sem, eu-professor com o eu-aluno (Blanchard-
portanto, uma preocupação de em que -Laville(2005). Num documentário sobre
moldes a relação é estabelecida e por que a educação, Leandro de Lajonquiere pro-
motivos se torna exaustivo e desanimador voca reflexões sobre a prática pedagógica
o exercício dessa profissão. As queixas são afirmando que “o ser humano não repete
freqüentes em relação aos alunos que não uma mensagem”, o que significa que os
trazem mais consigo o desejo em aprender alunos não são meros especuladores ou
dificultando a mediação de conteúdos e receptores de conhecimentos, são pessoas
o cumprimento do currículo educacional que levam consigo a cultura do contexto
em tempo hábil. Esquecemos, porém, que em que vivem e cada qual interpreta e aco-
tanto o professor como o aluno são muni- moda os conhecimentos sob uma ótica. A
dos de particularidades que requerem pri- palavra, como esclarece o referido autor, é
meiramente conhecimento de si mesmos, uma ferramenta indissociável da educação
numa quebra de paradigmas onde tradicio- que o professor poderá fazer uso para se
nalmente o ensinar se resumia em cuspe e aproximar e estreitar uma relação de cum-
giz. O aprender a lidar requer mudança de plicidade com seus alunos. O importante
postura, de pensamento, de atitudes, pois nesta fala é como está sendo endereça-
complexidade dentre outros significativos da, qual a clareza e autoridade com a qual
reporta-se a tecer juntos, numa cumplici- está sendo dirigida, pois através da palavra
dade de estar junto e uma vez que a as- transparente o professor guia os alunos

532
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para novos horizontes. Não há receita para como o desenvolvimento da subjetividade


a educação sem a existência da palavra e evitando, talvez, o prolongamento de frus-
não haverá ensino e aprendizagem sem a trações, angústias e sofrimentos. “Ensinar,
presença da subjetividade. O sofrimento nesta proposição, significa mais do que se
exteriorizado nas queixas do professor em preocupar com estratégias e métodos de
relação aos entraves pedagógicos e dificul- ensino em si, mas implica, sobretudo, re-
dades de aprendizagem dos alunos deve- conhecer a importância de conhecer o fio
riam ser entendidos pelo Sistema Educa- da história constitutiva da configuração
cional como o primeiro pedido de socorro subjetiva dos sujeitos da aprendizagem,
e numa análise minuciosa procurar desve- procurando compreender a forma como
lar as causas que impactam o desenvolvi- se imbricam nela o afeto e a cognição...”
mento dos saberes, com fins a redimensio- (Tacca, apud Maluf, 2006).
nar o fazer pedagógico, propiciando meios
para a autorreflexão do professor, o olhar
para si mesmo como um espelho que re- LT04-1364 - CENÁRIO EDUCACIONAL:
flete as aparências. Porém, o olhar do pro- UM OLHAR SOBRE O PROFESSOR E A
fessor para ele mesmo deverá ir além da RELAÇÃO COM O SABER
aparência física, ou seja, buscar conhecer a Natália Queiroz de Oliveira Souto - UnB
sua subjetividade numa ação psicanalítica, nathqueiroz@yahoo.com.br
lembrando-se que tanto ele como o aluno
têm suas razões para ensinar e aprender. Este ensaio pretende abordar, a dimensão
Nesse encontro consigo mesmo o profes- da relação com o saber estabelecida pelo
sor poderá refazer seus objetivos e ideais professor enquanto sujeito da cena edu-
quanto aos resultados do processo de cativa e suas possíveis ressonâncias para
aprendizagem, reconsiderando que ambos o processo de ensino e aprendizagem. A
têm limitações que precisam superar jun- abordagem sustenta-se no arcabouço te-
tos – é o eu-professor com o eu-aluno num órico discutido em Charlot (2000, 2005);
movimento de compreensão e respeito à Blanchard-Laville (2001) e Tanis (1995). O
integridade de cada um, uma vez que nem cenário educacional tem alguns de seus
o professor e o aluno vão para sala de aula elementos previamente definidos pelos
sem serem o que são. Entretanto, espera- saberes que se pretendem transmitir num
-se que diante desse encontro, rompam-se processo contínuo de construção de sen-
paradigmas quanto à educação tradicio- tidos e de significação dos fazeres, num
nal avançando para uma abordagem mais mundo social. Os outros elementos vão
transdisciplinar considerando a relevância se constituir no encontro, forjados no ca-
do saber ser. A forma como se conecta os lor da relação, na consolidação dos víncu-
vínculos relacionais entre professor e aluno los que vão se formando e se atualizando
transcendem o fazer pedagógico, influen- constantemente, na dinâmica estabele-
ciando o aluno em sua vida fora dos muros cida dentro dos espaços educativos. Para
da escola. Portanto, a qualidade da comu- Charlot (2000, p.63) “o saber é construído
nicação, a relação de confiança estabeleci- em uma história coletiva que é a da men-
da em sala de aula favorecerá o sucesso do te humana e a das atividades do homem
processo de ensino e aprendizagem, assim e está submetido a processos coletivos da

533
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

validação, capitalização e transmissão”. A negativa” conforme Charlot (2005, p.21)


reflexão a que se destina o texto se cons- das problemáticas educacionais. A abor-
trói partindo da caracterização do saber dagem refere-se à problematização da re-
como patrimônio humano, do qual o ser lação com o saber estabelecida pelo pro-
humano se apropria no mesmo processo fessor ao longo de sua trajetória, de sua
em que se constitui como sujeito de sua história e constituição enquanto sujeito de
história. A discussão avança no sentido saber. “Não há sujeito de saber e não há
de refletir sobre a centralidade da relação saber senão em uma certa relação com o
com o saber, da apropriação do saber na mundo, que vem a ser, ao mesmo tempo e
constituição do indivíduo em ser humano. por isso mesmo, uma relação com o saber”
A conceituação de infantil em Tanis é im- (Charlot, 2000, P.63). O olhar sobre a rela-
portante no âmbito desta discussão como ção com o saber com o foco no professor,
o “núcleo ordenador dos possíveis, como se justifica na crescente responsabilização
determinante das potencialidades singu- dos alunos, que tem influenciado inclusive
lares do sujeito” (Tanis, 1995, p.91). Este no crescimento de diagnósticos médicos,
núcleo constitui uma dimensão estrutural neurológicos, psiquiátricos e psicoterápi-
do sujeito, por guardar as interpretações cos como justificativa do não desenvolvi-
do que fora vivido no início da sua cons- mento intelectual, emocional e social de
tituição, primeiras relações estabelecidas alunos em geral, uma leitura unilateral e
ou propiciadas. Esta perspectiva implica reducionista do processo. No contexto his-
analisar o próprio sujeito que se consti- tórico-cultural ocidental e nessa organiza-
tui enquanto constrói sua relação com o ção social, parte considerável dessas expe-
mundo, além de perceber a forma como rimentações rumo à apropriação do saber
este sujeito interpreta e atribui sentido às acontece num ambiente específico: a esco-
suas posições e aos papéis que desempe- la. Ela é o lócus de sistematização do saber
nha, no caso, o professor. Implica também por excelência. Um lugar que se propõe a
conhecer e analisar a relação com o saber tratar das relações com o saber a priori. O
estabelecida pelo professor como conside- professor imprime sua marca, a marca de
rada em Blanchard-Laville, na sua própria sua relação com o saber, na relação com
constituição como sujeito, com a posterior o saber que cada um dos alunos estabe-
dimensão da responsabilidade profissional lece particularmente. “A interação destes
de ter o saber como objeto de trabalho do psiquismos cria uma atmosfera que qua-
qual é mediador, nos contextos educacio- lifico como transferencial (...) permeados
nais que pertencem a um contexto outro, pelos afetos que circulam neste espaço.
de práticas e demandas sociais. A relação (Blanchard-Laville, (2005). Nesta demanda
com o saber, em seu desdobramento no de ensinar, serão mobilizados os modelos,
processo de ensino e aprendizagem, é das as referências deste professor. Este é um
problemáticas que assumem a centralida- momento em que toda a dinâmica fantas-
de no cotidiano escolar. Nesta oportuni- mática do educador vem à tona, permeia a
dade a abordagem a que se propõe esta malha da configuração pedagógica, articu-
reflexão não se refere às faltas, carências lando sua mobilização com seus desejos,
já muito discutidas e de diversas ordens – inclusive inconscientes, na forma como
social, cultural, econômica; uma “leitura se relaciona com o conteúdo que ensina.

534
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Os processos subjetivos, embora muitas esta aproximação com a temática, objetiva


vezes desconsiderados, se inscrevem in- lançar luz sobre aspectos da relação com
cessantemente nas relações estabelecidas o saber, dignos de uma atenção mais deti-
pelo professor, imprimindo suas marcas e da por passarem muitas vezes, por muitos
fazendo transparecer em lados opostos, anos de carreira, de forma irrefletida, sem
a síntese entre vontades “conscientes” e o intuito de esgotá-los ou de discorrer so-
resistências, muitas destas no nível incons- bre todas as suas nuances.
ciente, não encontram explicações nos
princípios da realidade consciente, e que Palavras-chave: educação, saber, sociedade
geram sem dúvidas sofrimento psíquico Contato: Natália Queiroz de Oliveira Souto,
ao profissional, adoecimento emocional e Universidade de Brasília, nathqueiroz@yahoo.
físico, revelados numa vivência e atuação com.br, nathqueiroz@unb.br
docente sem significação pessoal. Torna-se
primordial para o professor evocar as mar-
cas que reuniu em seu psiquismo no que LT01-1070 - A MEDIAÇÃO DE
diz respeito a sua relação com o saber, des- SIGNIFICADOS NA AULA DE
de as primeiras interdições por parte dos, MATEMÁTICA: VALORIZAÇÃO,
sujeitos que o impulsionaram rumo ao sa- DESQUALIFICAÇÃO E PAPÉIS DE GÊNERO
ber com seus desejos, tanto dos saberes Otávio Henrique Braz de Oliveira - SEEDF
que adquiriram expressões verbais quanto ohbo-df@hotmail.com
daqueles cuja comunicação o inconsciente Maria Helena Fávero - COGITO/UnB
se encarregou de expressar como sujeito faveromh@unb.br)
de incompletude – da falta que funda o de-
sejo. O contexto social no qual o professor
atua promove uma alienação do professor Conforme sabemos, a instituição esco-
enquanto sujeito, no que se refere à sua lar media significados partilhados social-
interioridade psíquica e seus processos mente acerca da relação entre as áreas
subjetivos. “Os professores devem passar do conhecimento e gênero (Fávero, 1994;
imediatamente por uma reaprendizagem Fávero, 2009 b). Como as questões de gê-
da escuta de si mesmos, pois não pode- nero delimitam os papéis considerados
mos deixar fora de sala de aula tudo aqui- adequados a homens e mulheres, na es-
lo que somos, tudo aquilo que sentimos” cola essa constatação não é diferente: nos
(Blanchard-Laville, 2005, p. 134). A dinâmi- meios escolares, são partilhados signifi-
ca reflexiva que leva à compreensão da re- cados que associam as disciplinas ligadas
lação com o saber por parte do professor, às áreas das ciências exatas como mais
se encaminha num movimento em busca apropriadas ao gênero masculino (Fáve-
da elucidação da função dos saberes, da ro, 2010). Assim, na escola, acredita-se
significação que estes adquirem na vida do que as alunas apresentam dificuldades em
sujeito, em seu devir... Saber sobre os sa- aprender tais conhecimentos, considera-
beres que os saberes suscitam e também dos racionais e objetivos, portanto, tidos
dos saberes que estes suplantam, pode sócio-culturalmente como masculinos.
desvelar, importantes rumos na formação Conforme indicam as pesquisas de Fávero
reflexiva do docente. Cumpre registrar que (2010), as alunas aprendem que as áreas

535
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ligadas à ciência e tecnologia não são ade- nas, como, por exemplo, passar a mão na
quadas ao seu gênero e a matemática é a cabeça delas durante alguma dificuldade
porta de entrada para o ingresso nessas encontrada nas atividades de matemática,
carreiras. Para o entendimento mais am- demonstrando mais paciência - repetindo
plo dessas questões, este trabalho analisa várias vezes as instruções, por exemplo -
a maneira como o conhecimento mate- ao explicar-lhes o conteúdo; em ocasiões
mático é mediado em sala de aula, ten- como essas as alunas, nessas aulas, eram
do como fundamento teórico-conceitual desqualificadas, como se elas não pudes-
e metodológico a abordagem de Fávero sem aprender satisfatoriamente, sendo
(2009b; 2010a) que propõe a articulação suas dificuldades tidas como naturais e,
entre a Psicologia do Desenvolvimento e a portanto, esperadas para seu gênero. Es-
Psicologia do Gênero. Assim, procedemos sas atitudes do professor revelam que as
a coleta de dados em aulas de matemática expectativas docentes em relação à apren-
de duas salas do 3º ano do Ensino Médio dizagem das alunas acerca dos conceitos e
de uma escola da Rede Pública de Ensino das regras matemáticas são menores do
do DF, uma ministrada por uma professora que os resultados esperados das alunas.
de matemática e outra por um professor Numa dessas situações, por exemplo, o
de matemática, ambos licenciados nessa professor disse que iria “utilizar o giz ro-
disciplina, ambos numa faixa etária de 35 sinha em homenagem às meninas”, numa
anos. As salas tinham em média 35 alunos clara referência à dicotomia presente na
cada, com alunos entre 17 e 19 anos. Com escola entre a feminilidade das meninas
a anuência dos professores e da direção da (associada à delicadeza da cor escolhida) e
escola, registramos em vídeo três aulas em a rigidez e objetividade do conhecimento
cada turma, sendo 30 minutos em média, matemático. Concluímos, como já assina-
com o intervalo de três dias entre cada lado por Fávero (2010 a), que as meninas
registro. As transcrições dos vídeos foram são distanciadas da matemática ao longo
submetidas à proposta de Fávero (2005), a de sua vida escolar. Tais atitudes, ao lon-
qual toma os atos da fala como unidades go do ciclo escolar, também as distanciam
de análise. Os resultados apontam que: a das carreiras científico-tecnológicas que,
mediação dos professores associa a mate- como sabemos, têm a matemática como
mática à objetividade científica e à racio- filtro de acesso e permanência. Tais dados
nalidade; as regras sobre as operações são podem explicar porque ainda hoje as alu-
transmitidas no lugar de conceitos mate- nas são distanciadas dessas carreiras, as
máticos; os alunos são mais solicitados a quais gozam de alto prestígio social (Fer-
participar durante as aulas, perguntando nandes & Healy, 2007). Nossos estudos
e procurando soluções para problemas, continuam dentro dessa linha para apro-
enquanto as vozes das alunas são menos fundar dados tais como o fato de que as
ouvidas durante as participações nas aulas dificuldades das alunas, nas mediações
de matemática. Evidenciou-se: a diferença observadas, são desqualificadas em várias
de comportamento entre professores e situações, quando, por exemplo, o profes-
alunos e professores e alunas; no segundo sor diz que “não estão aprendendo ma-
caso, os professores tendem a demonstrar temática porque estão preocupadas com
comportamento complacente com as alu- flerte com os meninos”.

536
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Gênero, mediação de sem suas próprias idéias e valores. Assim,


conhecimento, aprendizagem de matemática. podemos afirmar que nas interações coti-
Contato: Prof. Otávio Henrique Braz de dianas os professores e alunos vão cons-
Oliveira - Secretaria de Estado de Educação do truindo e produzindo representações so-
Distrito Federal. Endereço eletrônico: ohbo- bre o mundo, sobre o fazer pedagógico, as
df@hotmail.com quais são compartilhadas com seus pares
e contribuem para a constituição de sua
identidade. Esta pesquisa teve como prin-
cipal objetivo conhecer como professores
CO 29 - LT04 e alunos representam a questão do insu-
Dificuldades de Aprendizagem cesso escolar e a não aprendizagem. A co-
leta de dados foi organizada por meio de
uma entrevista semi estruturada conten-
LT04-747 - CRIANÇAS QUE NÃO do quinze questões abertas. Participaram
APRENDEM: REPRESENTAÇÕES DE deste estudo vinte professores e quarenta
PROFESSORES E ALUNOS alunos (20 com adequado desempenho
Andreia Osti - FAV acadêmico e 20 com desempenho insatis-
andreia.osti@gmail.com fatório) do 5º ano do Ensino Fundamental
Rosely Palermo Brenelli - Unicamp da rede municipal de uma cidade da região
roselypb@unicamp.br Metropolitana de Campinas. Foram sele-
cionados dois alunos de um mesmo pro-
A escola constitui uma das mais importan- fessor, um apontado por ele – professor,
tes fontes de socialização, sendo assim, como tendo adequado desempenho aca-
não há como desconsiderar que nesse dêmico e outro com desempenho abaixo
contexto inevitavelmente ocorrem múl- do esperado. Não foi verificado se o aluno
tiplos relacionamentos entre alunos e com baixo desempenho apresenta alguma
professores. Segundo Visca (2002) o re- dificuldade de aprendizagem, nos base-
lacionamento entre docente e estudante amos apenas na opinião do professor so-
ocorre de maneira tão intensa que ambos bre seus alunos. As comparações entre as
formam um par educativo e devem ser respostas dos alunos e professores foram
considerados como uma unidade. Nes- realizadas através do teste Qui-Quadrado
se sentido, podemos afirmar que a cons- e do teste exato de Fisher. O nível de con-
trução do indivíduo está completamente fiança utilizado nas análises comparativas
imbricada ao ambiente no qual ela se de- foi de 95% e o software estatístico empre-
senvolve. Falar sobre a aprendizagem de gado foi o XLSTAT 2009. As representações
alunos implica perceber o ambiente e as dos alunos e professores sobre as crianças
relações que o circundam, o amparam e que não aprendem se aproximam. Para
falam sobre ele mesmo. Moscovici (1978), o professor não se aprende por possíveis
afirma que quando uma pessoa está reu- transtornos específicos de aprendizagem,
nida e formando um grupo, ela passa a tendo como causa a imaturidade, proble-
sentir e a pensar de maneira diferente de mas psicológicos e sociais. Ele caracteriza
quando está sozinha, isso porque as trocas esse aluno como desinteressado (35%),
contribuem para que os indivíduos repen- sem apoio familiar (40%) e com algum tipo

537
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de deficiência ou transtorno (25%). Os alu- Baseiam suas respostas na percepção de


nos atribuem a não aprendizagem a fato- que não se aprende ao se ter uma doença
res internos, como sua falta de capacidade (75%), por não fazer a lição (5%) ou por-
para entender os conteúdos e o não cum- que a disciplina estudada é difícil (20%).
primento dos deveres escolares. No en- Acreditamos ser a aprendizagem, até certo
tanto arriscamos afirmar que, apesar das ponto, condicionada tanto pelas possibili-
representações coincidirem, elas diver- dades e capacidades do aluno (nível cog-
gem quanto ao significado da palavra. En- nitivo e conhecimentos prévios) quanto
quanto as crianças dizem que o aluno não pela interação vivenciada em sala de aula
aprende porque não domina a matéria, o com seus pares. É interessante observar
professor pontua essa não aprendizagem na fala dos professores que os alunos com
como falta de interesse, como se a moti- baixo desempenho são considerados de-
vação e a atenção dependessem somente sinteressados, mas o docente parece não
do aluno. Analisando mais detalhadamen- ter consciência que esse desinteresse, em
te as representações dos alunos, 5% dos certa medida, pode ser decorrente de sua
com desempenho insatisfatório e 90% dos própria didática e do modo de se relacio-
com bom desempenho apontam o fator nar com o estudante. É interessante notar
não estudar e não fazer a lição como uma que apesar das crianças compartilharem
variável que contribui para o insucesso da um mesmo ambiente, as representações
aprendizagem. Os demais, 10% dos alunos se diferenciam. Isso se justifica pelo fato
com bom desempenho e 75% dos com de cada aluno vivenciar as relações com
baixo desempenho, consideram que uma seu professor e com o ambiente de sala de
pessoa pode não aprender porque tem um aula, segundo suas possibilidades. Quere-
problema, ou uma doença. Aqui podemos mos com isso dizer que, embora a análise
perceber a questão da medicalização da comparativa dos grupos nos forneça da-
aprendizagem, uma visão mais biológica, dos interessantes não podemos esquecer
ou seja, quem tem uma deficiência ou um do sujeito psicológico, individual. Cada
problema de saúde pode não aprender aluno e cada professor participante desta
em conseqüência dessa condição. Para pesquisa construiu suas representações a
explicar o porquê um aluno não apren- partir da interação com o meio o que im-
de, as professoras usaram expressões plica em considerar também sua história
como imaturidade, falta de estimulação, pessoal. Nesse sentido, acreditamos que
alteração orgânica, enquanto as crianças tanto professores quanto alunos adotam
usaram o termo doença. Nesse ponto as uma concepção de ensino e aprendiza-
dificuldades são vistas como indicador de gem, mesmo de forma inconsciente, e essa
algo errado, sintomático, assemelhando- representação vai determinar sua com-
-se à visão de doença. Comparando mais preensão sobre as causas e conseqüên-
especificamente os argumentos dos dois cias do não aprender. De maneira geral,
grupos de alunos, os com desempenho constatou-se a visão de que a criança não
insatisfatório apontam mais causas para a aprende devido a alguma circunstância ou
não aprendizagem. Talvez esse grupo con- motivo que se encontra dentro ou ligada
siga ter uma visão mais geral sobre essa a ela, sendo descartados outros fatores
problemática por serem integrantes dela. tais como a metodologia empregada e a

538
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

maneira pela qual o conteúdo é enfocado. como o diagnóstico de TDAH tem sido fei-
Não aparece a possibilidade de questiona- to no Sistema de Saúde Pública no Brasil.
mento frente ao método de ensino ado- Verificamos que há um grande número de
tado, as estratégias utilizadas nem se isso crianças sendo diagnosticadas como TDAH
poderia interferir no desempenho acadê- por médicos do setor de Saúde Pública,
mico dos alunos. Nesse sentido, a aprendi- mas que, de fato, não apresentam esse
zagem parece ser um processo individual e transtorno, quando avaliadas segundo os
não social. Nossos dados também revelam critérios do DSM-IV. A pesquisa nos per-
uma visão tradicional de ensino, em que a mitiu identificar três pontos básicos envol-
aprendizagem é concebida como um refle- vendo a criança diagnosticada como TDAH
xo da conduta do aluno e de sua família, pelo Sistema de Saúde Pública de Divinó-
desconsiderando o papel do professor e a polis, o qual reflete o que acontece em ou-
influência de sua prática para o desenvol- tros locais no Brasil (Gomes & cols, 2007).
vimento do estudante. O primeiro ponto refere-se à forma como
o diagnóstico tem sido realizado na Saúde
Palavras-chave: representações, Pública de Divinópolis, segundo ponto, a
aprendizagem, desempenho acadêmico. importância das narrativas das mães e es-
colas sobre a criança para que o profissio-
nal da área de saúde estabeleça o diagnós-
LT04-837 - O DIAGNÓSTICO DA CRIANÇA tico de TDAH e terceiro, a inadequação da
COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE medicação fornecida a essa criança, diag-
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA SAÚDE nosticada de forma inadequada. A partir
PÚBLICA dos resultados aqui encontrados, mesmo
Cláudia Lúcia Carazza - Bolsista PAEx/UEMG que parciais hipotetizamos que a criança
(FUNEDI/UEMG) usuária do Sistema de Saúde Pública de
Lúcia Maria Silva Arruda - FUNEDI/UEM Divinópolis recebe o diagnóstico médico
Marcos Paulo Alves de Oliveira - Bolsista de TDAH a partir das narrativas que a mãe
PAPq/UEMG (FUNEDI/UEMG) ou o cuidador dessa criança fornece sobre
Marilene Tavares Cortez - FUNEDI/UEMG/ ela. O principal objetivo dessa pesquisa foi
UFMG refazer o diagnóstico de TDAH recebido
por muitas crianças, já que observávamos
A pesquisa aqui relatada reavaliou o diag- que havia um número excessivo de crian-
nóstico de Transtorno de Déficit de Aten- ças com esse diagnóstico, crianças com as
ção e Hiperatividade (TDAH) dado às crian- quais tínhamos contato. Sabíamos que se-
ças usuárias do Sistema de Saúde Pública guindo as indicações das pesquisas sobre
da cidade de Divinópolis (MG). A meto- o TDAH e a indicação do DSM-IV sobre o
dologia de pesquisa envolveu analisar as número de crianças TDAH, em idade esco-
fichas das crianças com o diagnóstico ou lar, deve ficar entre 3 a 7%. O número de
indicação de TDAH de alguns Centros de crianças com diagnóstico de TDAH vincula-
Saúde de Divinópolis e refazer o diagnós- das ao nosso trabalho ultrapassava muito
tico. Os dados e resultados aqui descritos essa estatística. Em um primeiro momento
e analisados, mesmo sendo parciais, são da pesquisa foi realizado um levantamento
extremamente relevantes para se pensar de dados das crianças TDAH usuárias da

539
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rede de Saúde Pública de Divinópolis. Esse se sabe “nenhum exame laboratorial ou


levantamento se deu através das seguintes avaliação neurológica ou da atenção foi es-
etapas: Primeira: Elaboração da ficha para tabelecido como diagnóstico na avaliação
coleta de dados pela equipe pesquisado- clínica do TDAH” (DSM-IV, 2003, p. 115).
ra. Estabelecimento de parcerias com a Outro dado a ser obtido pela pesquisa é
prefeitura da cidade de Divinópolis, para que há um número significativo de crian-
que a pesquisa pudesse ser efetivada. Co- ças que estão sendo medicadas pelos pais
leta de dados das fichas de crianças e ado- e pelos profissionais da área de saúde sem
lescentes de 3 a 17 anos, em Centros de necessidade, pois elas não se enquadram
Saúde de Divinópolis. O numero de fichas nos critérios definidores do TDAH. Polan-
pesquisadas em três Centros de Saúde czyk, Arruda e Bigal apresentaram dados
com o TDAH, perfazem um total de 325 fi- de pesquisas similares no 3º Congresso
chas, sendo 120 fichas de crianças. Dessas Internacional de TDAH, na Alemanha, em
120 fichas de crianças, 57 fichas referem- fins de maio de 2011. É necessário discutir
-se à crianças que tinham algum indicador de forma séria e permanente pela comu-
de TDAH, dessas 57 crianças, 31 tinham nidade, pais, professores/as e profissionais
recebido o diagnóstico, médico, de TDAH. da área de saúde, uma vez que se sabe
O nosso trabalho de pesquisa de reava- que os psicoestimulantes, como o metilfe-
liação diagnóstica levou em consideração nidato, causam danos no sistema nervoso
22 crianças que receberam o diagnóstico dos indivíduos jovens (Gomes, 2006, p. 51,
médico inicial de TDAH. Não foi possível 56). A análise dos dados obtidos até o pre-
contatar as 31 crianças, apenas 22 foram sente momento possibilita uma conclusão
localizadas. Esse segundo diagnóstico foi parcial de que, atualmente, o diagnóstico
realizado através de anamnese junto às de TDAH é estabelecido, primordialmente,
mães e/ou responsáveis, bem como atra- por neurologistas, em alguns casos após
vés de atendimentos individuais das crian- haverem sido realizados exames neuroló-
ças, e, ainda, foram realizadas entrevistas gicos. No entanto, os critérios diagnósticos
com professoras. Ou seja, esse segundo devem ser estabelecidos a partir do exame
diagnóstico foi estabelecido a partir do clínico (cf. DSM-IV). Conforme destacado,
exame clínico, com base nos critérios diag- a partir dos dados obtidos por essa pes-
nósticos estabelecidos DSM-IV. Através da quisa, pode-se estabelecer, ainda, que um
prefeitura do diagnóstico das 22 crianças número significativo de crianças faz uso da
que tinham recebido o diagnóstico médi- medicação indicada para o tratamento do
co de TDAH por esse grupo de pesquisa, TDAH sem, contudo, apresentar tal “dis-
constatou-se que apenas 2 crianças de função”. Diante deste quadro, rapidamen-
fato apresentavam os sintomas de TDAH te traçado, percebe-se a necessidade de
listados no DSM-IV. Em 84% dos casos das ampliar a compreensão que se tem sobre o
crianças diagnosticas no Sistema de Saú- TDAH, inclusive pelos profissionais da área
de Publica foi realizado por neurologistas. médica e/ou se de saúde mental. Assim,
Identificamos que muitas crianças pesqui- é crucial que os responsáveis pela saúde
sadas foram submetidas ao eletroencefa- da criança, sejam os pais, os profissionais
lograma (EEG) e depois receberam o diag- da área da saúde e os/as professores/as,
nóstico médico de TDAH. Contudo, como mobilizem-se para que: Reavaliem a bana-

540
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lização que vem ocorrendo em relação ao cio do estudo, os sujeitos pouco se relacio-
diagnóstico do TDAH. Hiperatividade não navam entre si e, com o decorrer das ses-
é o TDAH. Ampliar a consciência sobre o sões, a interação foi favorecida pela maior
uso de psicoestimulantes, como o metilfe- freqüência de brincadeiras de faz-de-con-
nidato, que pode causar dano nos sistema ta. As autoras concluíram destacando a
nervoso das crianças. Ter consciência dos importância do brincar para melhorar re-
reais critérios usados para se fazer um lações sociais e promover desenvolvimen-
diagnóstico correto do TDAH. Encontrar to. O brincar também pode ser utilizado
formas alternativas de tratamento para es- para identificar habilidades em crianças
sas crianças. A Terapia Cognitiva (TC), por que apresentam alterações no seu de-
exemplo, tem propostas diferentes para senvolvimento. Esse uso é enfatizado na
abordar essa criança. Isto é, ela pretende proposta de grupo para intervenção fono-
trabalhar precisamente aspectos o proces- audiológica descrito por Laplane, Batista e
samento cognitivo da criança que, efetiva- Botega (2007), em que crianças com quei-
mente, apresente o TDAH. xas de atraso de linguagem podem mos-
trar competências através da observação
Palavras-chave: TDAH; Discussão diagnóstica; de situações que se caracterizem como as
DSM-IV. mais naturais possíveis como, por exem-
plo, o brincar. Diante da perspectiva do
brincar como contexto passível de iden-
LT04-984 - O MANUSEIO DE tificação de competências, o objetivo do
OBJETOS COMO INDICADOR DE presente projeto foi o de descrever situa-
DESENVOLVIMENTO EM CRIANÇAS ções de brincadeiras, nas quais ocorresse
COM ALTERAÇÕES DE LINGUAGEM E DE o uso de objetos por crianças com alte-
DESENVOLVIMENTO rações no desenvolvimento e linguagem,
Amanda Brait Zerbeto - UNICAMP e assim, evidenciar as competências que
amandabrait@gmail.com elas apresentam. Em relação à metodolo-
Cecília Guarnieri Batista - UNICAMP gia, trata-se de uma pesquisa qualitativa
cecigb@gmail.com observacional. Os participantes da pesqui-
Financiamento: CNPq sa foram quatro crianças com idades entre
2 e 5 anos, com queixas de alterações de
Crianças com alterações de linguagem e linguagem e no desenvolvimento global.
no desenvolvimento global são, frequen- Foram observados em contexto de um
temente, descritas por suas incapacidades grupo de Avaliação de Linguagem, super-
e limitações, mais do que por suas habi- visionado por Fonoaudióloga, Psicóloga
lidades, muitas vezes, de difícil identifica- e Pedagoga. O projeto foi aprovado pelo
ção. O brincar influi no desenvolvimento Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição
infantil, contribuindo para o desenvolvi- em que foi realizado. Os pais assinaram o
mento social, cognitivo, linguístico e mo- Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
tor (Vygotsky, 1998). Pinto e Góes (2006) do e os nomes das crianças, quando cita-
estudaram o brincar de faz-de-conta em dos no estudo, foram substituídos por no-
crianças com diagnóstico de deficiência mes fictícios. Doze sessões foram video-
mental, entre 4 e 6 anos de idade. No iní- gravadas, com duração de uma hora cada,

541
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sendo transcritos e analisados 12 episó- (segurando-o pela traseira). Análise: (a)


dios relativos às 4 crianças. Os episódios competências sociais: nesse episódio, não
significativos (Carvalho & Pedrosa, 2002) houve intervenção direta do estagiário e,
foram identificados e a análise, realizada mesmo assim, Mila manuseou o objeto da
tendo como base a abordagem microge- forma socialmente aceita; quando o car-
nética (Góes, 2000). A análise foi centrada rinho caiu de lado, Mila o virou diversas
na busca de competências, com foco nos vezes, até que este ficou na posição con-
aspectos sociais, cognitivos e lingüísticos. vencional, com as rodas sob o chão; (b)
Como parte dos resultados, a análise de competências cognitivas: Mila pareceu
um episódio relativo à criança Mila (3 estar “concentrada” na tarefa de colocar o
anos e 4 meses) será apresentada, para carrinho na posição convencionada, com
ilustrar as análises realizadas: Queixa/ as rodas no chão; fez tentativas seguidas
diagnósticos: “Atraso no desenvolvimen- de posicionar o carro, com movimentos
to da linguagem e no desenvolvimento de virá-lo em seu eixo central; deslizar o
neuropsicomotor” (dado do prontuário). carro pelo chão de forma simples, pareceu
Nasceu prematura e era pequena para a próximo ao uso canônico, sem colocar o
idade gestacional. Observações no grupo: objeto na boca; (c) competências lingüís-
Durante os grupos, andou pela sala sem ticas: Mila não falou no episódio relata-
se fixar em atividades e freqüentemente do; demonstrou atenção na atividade, ao
levou objetos à boca. Fez contato de olho olhar o movimento do carro sendo virado,
com os estagiários e apresentou sorrisos e em relação ao trajeto feito quando este
espontâneos. Quando chamada pelo ape- foi empurrado. Em outros momentos da
lido, olhou na direção de quem a chamou. sessão, olhou para os estagiários enquan-
Vocalizou “aaa” e “ooo”, algumas vezes, to estes falavam, sorrindo para eles. Nas
em contexto de comunicação, ocupando crianças com alterações de linguagem e
seu turno de conversação. Episódio 1: (1) desenvolvimento, pode-se notar que atra-
Mila está ajoelhada no chão, com um car- vés do manuseio de objetos foi possível
rinho de plástico (ambulância) na mão. (2) identificar competências sociais, cogni-
Mila deixa o carrinho cair no chão e o ob- tivas e lingüísticas (Silva e Batista, 2007).
jeto cai virado de lado. (3) Mila olha para As crianças observadas, na maior parte
o carrinho e começa a virá-lo em diversas das sessões, fizeram o manuseio não con-
posições (de cabeça para baixo, de lado, vencional do objeto (Rodriguez & Moro,
de trás), até deixar o carrinho na posição 1999). Entretanto, na análise minuciosa
convencional (com as rodas no chão). (4) de sessões consecutivas, foram encontra-
Mila coloca as mãos na lateral do carri- dos episódios em que as mesmas crian-
nho e o empurra. O carrinho é deslocado ças manusearam os brinquedos de forma
para longe de Mila, e se move lateralmen- mais próxima à socialmente preconizada.
te (nessa posição, as rodas deslizam no Nas brincadeiras em que foram simuladas
chão). (5) Mila acompanha com o olhar situações do cotidiano (como alimenta-
o movimento do carrinho. (6) Mila pega ção, meios de transporte, brincadeiras
o carrinho pela parte de trás e o arrasta tradicionais, cuidar do bebê), a interação
para mais próximo de seu corpo. (7) Mila da criança com o estagiário mostrou-se
desliza o carrinho para frente e para trás mais efetiva e semelhante ao encontra-

542
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do socialmente. As crianças sustentaram dissociado do contexto social, histórico


uma atenção voltada tanto para os obje- e cultural: é sempre decorrente da rela-
tos como para os estagiários (interação tri- ção dialógica do sujeito com o meio e,
ádica). As simulações do cotidiano foram como afirma Kelman (2010), pressupõe
especialmente relevantes porque muitas interações que acontecem em ambientes
das crianças não tinham familiaridade ou social e culturalmente estruturados, que
interesse por outro tipo de brinquedo. A promovem mudanças ao longo do tempo,
observação do manuseio de objetos pe- implicando em transformações. Partindo
las crianças com queixas de alterações na dessa concepção, o trabalho com forma-
linguagem e desenvolvimento permitiu ção de professores na Secretaria de Edu-
a identificação de competências sociais, cação do Distrito Federal remete a análise
cognitivas e lingüísticas. O manuseio ocor- de questões que interferem no desen-
reu, na maior parte das ocasiões, de forma volvimento profissional dos docentes e,
não-convencional, porém, a partir da par- por conseguinte, no desenvolvimento
ticipação do estagiário na brincadeira e da dos estudantes. Com relação à formação
significação do contexto por meio da fala, dos professores que trabalham com estu-
o manuseio mostrou-se mais próximo do dantes com Transtorno Global do Desen-
socialmente estabelecido. A observação volvimento (TGD) torna-se pertinente a
sistemática das interações, por várias ses- análise das expectativas que professores
sões, permitiu caracterizar o processo de e família tem sobre o atendimento para
desenvolvimento da criança, com foco no orientação do trabalho na formação. O
potencial. desenvolvimento profissional de profes-
sores, historicamente, não traz, em sua
Palavras-chave: alteração no formação inicial, um trabalho direcionado
desenvolvimento, manuseio se objetos, de modo objetivo para o atendimento ao
competências aluno com TGD, deficiência, ou altas habi-
Contato: Cecilia Guarnieri Batista, lidades/superdotação. Formações especí-
Universidade Estadual de Campinas, ficas, hoje, são determinadas por lei, ou
cecigb@gmail.com são feitas à parte em cursos complemen-
tares. Atualmente nos encontramos no
curso efervescente da inclusão escolar e
LT04-1026 - IMPLICAÇÃO DAS com muitos profissionais sentindo-se des-
EXPECTATIVAS DE PROFESSORES E preparados para o trabalho com o público
FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO DO da Educação Especial. Fator que diminui
ALUNO COM TRANSTORNO GLOBAL DO ou exacerba as expectativas durante o
DESENVOLVIMENTO - TGD atendimento ao estudante, prejudicando
Virgínia Silva - SEDF/EAPE o curso do seu desenvolvimento e tam-
virgínia_s@globo.com bém do desenvolvimento profissional do
Maria da Conceição Nunes - SEDF/EAPE docente. O conhecimento das expectati-
conceicaonunes@yahoo.com.br vas interfere diretamente na construção
de objetivos e estabelecimento de meto-
Segundo a perspectiva histórico-cultural dologias de trabalho. O professor, como
o desenvolvimento humano não ocorre sujeito cultural, propõe um arranjo me-

543
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

todológico para mediar a aprendizagem mento aprofundado dos estudantes, das


e o desenvolvimento dos estudantes. Tal expectativas da família e da escola com
arranjo deve ser organizado e construí- relação ao seu desenvolvimento e da pre-
do com base nas expectativas da família sença da formadora no momento de defi-
e da escola. Essa ação se justifica porque nição e escolha de estratégias de ensino
a pessoa com diagnóstico de TGD possui e critérios de avaliação do planejamento.
características que, sem a precisão do Definiram-se encontros quinzenais para
planejamento, presença e colaboração discutir os planejamentos, totalizando 14
de um sujeito mais experiente na reali- sessões de discussão, com cerca de 3h de
zação de atividades, podem impedir um duração cada. Inicialmente, foi utilizado,
ritmo adequado ao seu desenvolvimen- para a apresentação de cada estudan-
to. O desenvolvimento das pessoas com te, um dossiê com perguntas específicas
TGD está ligado ao que o meio lhes ofe- elaborado para que a descrição fosse ob-
rece como propulsores de habilidades e jetiva e abrangesse aspectos globais de
conhecimentos úteis, necessários e indis- análise da pessoa com TGD. Os objetivos
pensáveis para a vida autônoma. Para es- são discutidos e produzidos em grupo
tabelecer esses propulsores, professores nas turmas de formação. Posteriormen-
e família devem trabalhar em conjunto e te, estratégias serão traçadas para cada
partir do que os estudantes conseguem objetivo estabelecido enfatizando a im-
demonstrar saber e/ou fazer bem. Este portância do atendimento às expectativas
aspecto será o ponto motivador para os analisadas e do registro das ações para o
estudantes recepcionarem o trabalho acompanhamento pontual do desenvolvi-
e poderem, por meio dessa mediação, mento do estudante e do profissional que
desenvolverem-se de forma mais autôno- está em formação. Dados preliminares
ma possível. Estudos indicam que as con- deste estudo indicam que as expectati-
cepções dos professores norteiam seus vas relatadas por professores e famílias
trabalhos e modificam o meio no qual se relacionam-se as categorias linguagem,
estabelece o ambiente de aprendizagem escolarização, comportamento, socializa-
dos estudantes. O professor, ao levar em ção/interação e autonomia. A categoriza-
conta a expectativa que ele próprio e a ção facilita a orientação, no trabalho de
família possuem para determinado estu- formação, para o estabelecimento de um
dante, está imprimindo em sua prática ambiente que seja estruturado e provo-
suas concepções de mundo e de desen- que interações causadoras de desenvol-
volvimento. Tais concepções interferem vimento humano. Os procedimentos es-
de modo significativo no estabelecimento colhidos neste estudo desenvolvem-se na
de ações que promovam ensino e apren- direção da compreensão, pelos sujeitos
dizagem dos estudantes. A pesquisa ora envolvidos, da importância que as expec-
apresentada propõe o acompanhamento tativas possuem no desenvolvimento dos
individual do planejamento de sessenta e contextos interacionais. Para isso, conhe-
dois professores, em formação continua- cer o aluno nos leva a estabelecer expec-
da, que atendem estudantes com TGD na tativas adequadas e possíveis e planejar
rede pública. O acompanhamento acon- estratégias que sejam funcionais dentro
tece a partir da identificação e conheci- dos variados contextos. O aluno com TGD

544
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

precisa aprender a viver nesses contextos LT04-1037 - AS EXPERIÊNCIAS


de forma autônoma, o que muitas vezes ESCOLARES DE PESSOAS COM
é um ponto impeditivo do seu estar mais NECESSIDADES EDUCACIONAIS
independente no mundo. O exercício de ESPECIAIS: OLHARES SOBRE AS PRÁTICAS
olhar para esse sujeito, objetivando o seu DE EXCLUSÃO E BULLYING
desenvolvimento, provoca no educador Laís Pinheiro de Menezes - UnB
outro exercício: o de pesquisar, estudar, lais.pinheiro.menezes@hotmail.com
registrar e analisar suas ações práticas e Sandra Ferraz de C. D. Freire - UnB
seus resultados. Tais exercícios promovem sandra.ferraz@gmail.com
o desenvolvimento profissional quando
realizado em um contexto dialógico que O presente trabalho tem por objetivo ana-
permite a ida e a vinda das ações inter- lisar o sentido das práticas discriminatórias
ventivas, o diálogo do, então profissional vivenciadas por sujeitos com necessidades
pesquisador, com a realidade pesquisada educacionais especiais na escola com o in-
e com o sujeito objeto de sua pesquisa. tuito de verificar a possível caracterização
O fomento pela análise dessa realidade dessas práticas como violência escolar, ou
permite que se desenvolvam estratégias bullying. Apesar da grande repercussão
de aprimoramento. Estratégias que a for- que a violência escolar, bullying, tem tido
mação auxilia a desenvolver ou mesmo na mídia, na política e na produção de pes-
fortalecer ao destacar, por meio do diálo- quisas e trabalhos acadêmicos de diversas
go e estudo aprofundado, a importância áreas do conhecimento, pouco têm se fala-
da precisão na sua definição. Portanto, do do fenômeno com pessoas com neces-
identificar e compreender as expectativas sidades educacionais especiais. No caso da
que, socialmente, são construídas para o experiência escolar dessas pessoas, muito
trabalho escolar no atendimento ao aluno tem se estudado sobre as especificida-
com TGD deve tornar-se parte constituti- des das condições biológicas, cognitivas e
va e de tradição nos cursos de formação questões referentes à aprendizagem. Mas,
e de desenvolvimento profissional de do- poucos trabalhos se preocupam em estu-
centes da escola pública. Espera-se que, dar as questões referentes aos processos
ao finalizarem este curso de formação, do desenvolvimento subjetivo marcadas
os profissionais compreendam: a) a im- pelas experiências interpessoais viven-
portância das expectativas da escola e da ciadas em função do trabalho escolar. As
família para o desenvolvimento da pessoa políticas de inclusão se preocupam com a
com TGD e b) a relação de tais expecta- colocação dessas crianças na escola, mas
tivas para o desenvolvimento docente e tais medidas não são suficientes para que
discente, em permanente construção. se garanta a inclusão. E o que se observa
no dia a dia de escolas inclusivas é uma re-
Palavras-chave: Desenvolvimento, lação ainda excludente com essas pessoas.
Expectativa, Formação O Brasil demorou em expressar seu inte-
Contato: Virgínia Silva, SE-DF/ EAPE, resse por “cuidar” dos “deficientes” por
virginia_s@globo.com meio de políticas e ações concretas. Inter-
nacionalmente, Maria Montessori (1870-
1956) e médicos como Jean Marc Itard

545
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(1774-1838) e Edward Seguin (1812-1880) cionais especiais. O simples fato de apenas


já atribuíam uma importância ao estudo colocar as crianças com necessidades edu-
do desenvolvimento físico e intelectual cacionais especiais em classes regulares
dessas pessoas. Preocupados com o “de- não é suficiente para que haja uma inclu-
senvolvimento atípico” buscavam conhe- são. Vasta literatura aponta para a inade-
cer características especiais e desenvolver quada formação dos professores para lidar
métodos de treinamento para estimular o com o processo de inclusão. Entretanto,
aprendizado dessas crianças, que naquela poucos estudos considerem as perspecti-
época eram rotuladas como idiotas, dé- vas dos sujeitos em processo de inclusão.
beis e outros pejorativos. Na evolução da Acreditamos que tais estudos possam ser
história da educação especial no Brasil, reveladores dos mecanismos de exclusão,
merece destaque a primeira inciativa do discriminação e violência vivenciadas por
governo Imperial na criação de institutos pessoas com necessidades educacionais
como: “Instituto dos Meninos Cegos” (hoje especiais e da posição dessas experiências
“Instituto Benjamin Constant”) em 1854, na construção da subjetividade. Práticas
e do “Instituto dos Surdos-Mudos” (hoje, discriminatórias, de exclusão e até mesmo
“Instituto Nacional de Educação de Surdos de violência ocorrem desde os primórdios
– INES”) em 1857, ambos na cidade do Rio da escola. Atualmente é conhecido pelo
de Janeiro. Mesmo com rápido avanço no termo inglês bullying, que designa compor-
exterior no início do século XX, o Brasil só tamentos agressivos, anti-sociais e violen-
deu outro passo significativo a partir dos tos tanto em âmbito educacional quanto
anos 50. Entretanto, a Educação Especial fora dele. Porém, o fenômeno tem chama-
da época se dedicava apenas à pesquisa do mais atenção no ambiente escolar pelos
acadêmica e a pouquíssimos atendimentos prejuízos que acarreta na vida das pessoas
educacionais. A criação de escolas de en- envolvidas. No Brasil cerca de 1/3 dos estu-
sino especial ocorreu gradativamente ao dantes se consideram vítimas de bullying.
longo da década de 1960. Em 1969 já havia Brasília é considerada a capital brasileira
mais de 800 estabelecimentos de ensino com maior incidência de bullying: 35,6%
especial para deficientes mentais, cerca de dos estudantes (IBGE, 2009). Não há dados
quatro vezes mais que em 1960. Depois, estatísticos relacionando pessoas com ne-
somente a partir da reabertura política, cessidades especiais. No meio acadêmico,
com a Constituição de 1988, a Educação o tema também tem preocupado pesqui-
Especial começa a ganhar espaço nos do- sadores de várias áreas. Em um levanta-
cumentos oficiais. Em dezembro de 1996, mento no indexador de periódicos cientí-
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- ficos Scielo, usando como palavra-chave
cional 9.394/96, define Educação Especial bullying, foi possível encontrar 54 artigos
e adota medidas para o devido exercício sendo que o primeiro aparece no ano de
no Brasil, preferencialmente nas escolas 2001. Após essa data o próximo trabalho
públicas por meio da política de inclusão. data de 2005, mas é em 2008 que há um
Mesmo com esse novo modelo, ainda per- intenso aumento de estudos e trabalhos
sistem práticas de exclusão, discriminação publicados nos periódicos indexados pelo
e até violência, principalmente simbólica, termo. Não foi encontrado nenhum traba-
contra pessoas com necessidades educa- lho que relacionasse bullying e estudantes

546
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com necessidades educacionais especiais, de violência que assola a sociedade atual


ou termos similares. Por isso, esta pesquisa e marcam mais intensamente as vidas das
procurou o sentido das práticas discrimina- pessoas mais vulneráveis. Como mencio-
tórias vivenciadas por alunos com necessi- na Charlot (2005), a escola não pode fugir
dades educacionais especiais nas escolas, negando a existência da violência, pelo
com o intuito de verificar a possível carac- contrário, é seu papel refletir e lutar pela
terização dessas práticas como bullying. A cultura de paz.
pesquisa empírica, de caráter qualitativo,
desenvolveu uma metodologia interpre- Palavras-chave: Práticas de exclusão, Bullying,
tativa das narrativas dos sujeitos. Utilizou Necessidades educacionais especiais
questionários dialogados com questões Contato: Laís Pinheiro de Menezes, UnB,
abertas com quatro mães/ pais de crianças lais.pinheiro.menezes@hotmail.com
com necessidades especiais que estudam
em escolas regulares e fazem complemen-
tação em uma escola especial e entrevistas LT04-1050 - DESENVOLVIMENTO
narrativas individuais com quatro pessoas COGNITIVO E CO-COGNITIVO DE
com necessidades especiais de 11, 14, 19 e INDIVÍDUOS SUPERDOTADOS
35 anos de idade, alguns também estudan- Fernanda do Carmo Gonçalves - UnB
tes de escolas regulares, que frequentam a fernandajfmg@yahoo.com.br
escola especial. Foi realizada no contexto
de um centro de ensino especial da rede O interesse por indivíduos superdotados
pública de educação do Distrito Federal. A vem crescendo nas últimas décadas. Diver-
partir da análise dos discursos e narrativas, sos países têm, inclusive, investido em pro-
procurou-se identificar e caracterizar prá- gramas para superdotados por reconhece-
ticas potencialmente ou evidentemente rem as vantagens sociais, científicas e eco-
discriminatórias nas experiências escola- nômicas relacionadas ao desenvolvimento
res de tais sujeitos e sua possível caracte- do potencial desses indivíduos. Em parale-
rização como bullying. As categorias foram lo, nas últimas três décadas, os especialistas
construídas com base nos significados e em superdotação têm ressaltado a impor-
sentidos dessas experiências preconcei- tância de se compreender esse fenômeno
tuosas para os próprios sujeitos. Foi pos- de maneira complexa e multidimensional,
sível estabelecer relações entre o sentido conhecendo as características dos indiví-
das vivências discriminatórias na escola, o duos superdotados para que eles possam
desenvolvimento de concepções de si e o ser efetivamente identificados e receber
desenvolvimento escolar de pessoas com um atendimento adequado de acordo com
necessidades educacionais especiais. Os suas potencialidades e necessidades. Des-
resultados sugerem que todos os sujeitos e sa forma, os programas para superdotados
suas famílias são marcados pela exclusão e não devem focar-se apenas nos aspectos
desigualdade social na escola e na família. cognitivos (como criatividade e inteligên-
Porém, o reconhecimento da violência se cia), mas também nos aspectos afetivos e
dá apenas de forma indireta na narrativa sociais, por exemplo. Renzulli, um dos mais
em função de práticas veladas de exclusão. renomados estudiosos na área, propôs em
As práticas escolares canalizam a cultura seu modelo a caracterização da superdo-

547
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tação por meio de três anéis (Modelo dos que trazem impacto no capital intelectual
Três Aneís) que interagem: habilidade aci- e econômico, mas os fatores co-cognitivos
ma da média, envolvimento com a tarefa e merecem ser melhor refletidos e desenvol-
criatividade. Na representação gráfica des- vidos pois esses estimulam o capital social.
se modelo, Renzulli apresenta essas três ca- Observa-se ainda que os capitais intelec-
racterísticas contextualizadas em um fundo tual e financeiro tem sido o foco principal
que representa os fatores personológicos dos países para o seu desenvolvimento, o
e ambientais que são necessários para a capital social ainda precisa ser estimulado.
emergência e o desenvolvimento dos três Embora não haja uma definição clara des-
anéis. Segundo Renzulli esses fatores estão se termo, considerado intangível, o capital
inter-relacionados e seriam: (a) otimismo, social é compreendido como importante
que diz respeito à esperança e aos senti- e determinante na qualidade de vida de
mentos positivos decorrentes da dedicação pessoas e nas relações sociais diárias. Ren-
a uma tarefa; (b) coragem, que se refere à zulli indica que o capital social beneficia a
independência psicológica e intelectual e sociedade como um todo, pois promove a
à coragem para correr riscos; (c) romance criação de valores, normas e redes de con-
em um tópico ou disciplina, representado fiança social que facilitam a coordenação
pela paixão por uma determinada área de e cooperação voltada para bem coletivo. A
interesse; (d) sensibilidade às inquietações promoção desses fatores devem ocorrem
humanas, que diz respeito à empatia e ao em uma bordagem sistemática por meio
altruísmo e são impulsos para a motivação de análise de capacidades individuais, in-
do estudo e para o desejo de compreender teresses e estilos de aprendizagem do indi-
o ser humano e o mundo; (e) energia física víduo superdotado, proporcionando-lhes
e mental, expressa pela curiosidade e pelo oportunidades, recursos e incentivo de in-
investimento em um determinado obje- vestigação ou criação de experiências den-
tivo; e (f) senso de destino, caracterizado tro de suas áreas de interesse escolhida.
pela necessidade de promover mudanças Todo o aprendizado e crescimento pessoal
e buscar seus objetivos. Esses seis compo- resultante dessas experiências, tanto cog-
nentes são chamados por Renzulli de fato- nitivos como co-cognitivos, tomam lugar
res co-cognitivos, pois interagem com os fa- no contexto onde convivem. Dessa manei-
tores cognitivos (fatores associados ao su- ra, faz-se pertinente refletir a importância
cesso escolar e a habilidades humanas). O do desenvolvimento dos fatores cognitivos
autor expandiu a concepção de superdota- e co-cognitivos dos indivíduos superdota-
ção com os fatores co-cognitivos, pois con- dos, bem como os contextos da família, da
sidera que as características dos indivíduos escola e dos programas para superdotados
superdotados não se restringem apenas no estímulo desses fatores para a promo-
a fatores cognitivos. Além disso, Renzulli ção de saúde desses indivíduos e do capi-
busca compreender, por meio desses fato- tal social.
res, condições que estimulem os indivíduos
superdotados a utilizarem seus potenciais Palavras-chave: Superdotação, Educação,
em prol da sociedade. Houve um grande Desenvolvimento
avanço no programa para superdotados no Contato: Fernanda do Carmo Gonçalves, UnB,
desenvolvimento dos fatores cognitivos, fernandajfmg@yahoo.com.br

548
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1196 - AS DIFICULDADES DE avaliadas todas as atividades realizadas no


APRENDIZAGEM E O TRABALHO contexto escolar que interfiram na apren-
PSICOPEDAGÓGICO NOS GRUPOS DE dizagem. O papel da Psicopedagogia insti-
APOIO tucional é estudar as modalidades de ensi-
Simone Cassiani - UNICAMP no-aprendizagem desencadeadas e/ou
simonecassiani@uol.com.br possibilitadas pela instituição escolar. As-
Rosely Palermo Brenelli - UNICAMP sim, o psicopedagogo atuará juntamente
com todos os profissionais que cuidam da
Os grupos de apoio têm como objetivo ga- escola, promovendo a articulação entre
rantir a todos os alunos oportunidades de eles, os alunos e suas respectivas famílias.
aprendizagem, tendo como princípio bási- Ele orientará a ação do professor num ní-
co o respeito à diversidade de característi- vel preventivo e não somente remediador.
cas, de necessidades e de ritmo de apren- (Saravali, 2005; Bossa, 2007). Nessa dire-
dizagem de cada um dos discentes. Esse ção, o trabalho psicopedagógico pode e
estudo de reforço se caracteriza por ativi- deve ser pensado a partir da instituição
dades específicas para a superação das escolar, a qual cumpre uma importante
dificuldades encontradas e para a consoli- função social – de socializar os conheci-
dação de aprendizagem efetiva e bem su- mentos disponíveis, promover o desenvol-
cedida a todos os alunos. Previsto na legis- vimento cognitivo e a construção de re-
lação, de acordo com a Lei de Diretrizes e gras de conduta, de acordo com um proje-
Bases da Educação Nacional 9394/96, to social mais amplo. Pensar a escola à luz
cabe aos municípios baixar normas com- da Psicopedagogia significa analisar um
plementares para o seu sistema de ensino processo que inclui questões metodológi-
(artigo 11, inciso III) e prover meios para a cas, relacionais e socioculturais, engloban-
recuperação dos alunos de menor rendi- do o ponto de vista de quem ensina e de
mento (artigo 13, inciso V). Podemos res- quem aprende, abrangendo, conforme já
saltar que as políticas públicas para as difi- dissemos, a participação da família e da
culdades de aprendizagem não são recen- sociedade (Bossa, 2007). Assim, a Psicope-
tes no âmbito educacional. No entanto, dagogia institucional tem papel importan-
mais do que tê-la, é preciso implementá-la te, mesmo que seus resultados não sejam
de maneira clara e objetiva. O presente imediatos, pois é necessário diagnosticar,
trabalho tem como objetivo descrever a investigar e trabalhar com diferentes fato-
atuação psicopedagógica institucional em res que interferem na aprendizagem, tor-
Grupos de Apoio para os alunos com difi- nando-a mais significativa, agindo de for-
culdade de aprendizagem numa Rede Mu- ma particular com cada aluno. O termo
nicipal de Ensino do Interior do Estado de dificuldade de aprendizagem tem sido fre-
São Paulo, que procurou adequar o siste- qüentemente utilizado por professores e
ma de ensino a uma proposta que esclare- por equipes escolares para caracterizar a
cesse e direcionasse as diretrizes de traba- não aprendizagem ou o fracasso escolar
lho dos Grupos de Apoio. A Psicopedago- de crianças e de adolescentes. Tem sido
gia institucional tem como objeto de estu- estudado pelos mais diversos profissionais
do a instituição, enquanto espaço físico e preocupados com a escola, na busca de
psíquico referente à aprendizagem, sendo uma identificação dos fatores que interfe-

549
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rem diretamente no sucesso escolar, a fim vem a uma falta de conscientização em


de melhorar o ensino no país. Sisto (2001, relação às exigências da tarefa, às estraté-
p. 33) diz que “(...) poder-se-ia definir que gias que devem ser colocadas em prática
o termo de dificuldades de aprendizagem para resolvê-la e não tanto a um problema
engloba um grupo heterogêneo de trans- de ausência das estratégias concretas. De
tornos, manifestando-se por meio de atra- acordo com Macedo (2005), o modo usual
sos ou dificuldades em leitura, escrita, so- de ver a dificuldade de aprendizagem é no
letração e cálculo, em pessoas com inteli- sentido de queixa, de defasagem ou de la-
gência normal ou superior e sem deficiên- cunas que se não forem superadas, impli-
cias visuais, auditivas, motoras ou desvan- carão prejuízos para a criança que tem tais
tagens culturais. Geralmente não ocorre dificuldades. Dificuldades de aprendiza-
em todas essas áreas de uma só vez e gem, às vezes, significa tristeza, desespe-
pode estar relacionada a problemas de co- rança dos pais que gostariam que seus fi-
municação, atenção, raciocínio, coordena- lhos tivessem um ritmo comparável ao da
ção, adaptação social e problemas emo- média da classe ou às suas próprias refe-
cionais”. As dificuldades de aprendizagem rências. Ou seja, dificuldade remete-nos a
podem se manifestar em qualquer época um critério externo, conhecido e desejável
da vida das pessoas, em qualquer mo- para um outro. Para esse autor, dificulda-
mento do processo ensino-aprendizagem. de, na perspectiva do profissional, signifi-
Como destaca Citoler (2000), não são per- ca receber uma queixa, seja no contexto
manentes, compreendendo-as como uma clínico ou no de sala de aula. Significa do-
situação transitória com possibilidades de minar procedimentos de escuta que per-
melhoras. Essas dificuldades, para Martin mitam compreender o sentido dessa difi-
e Marchesi (1995), implicariam qualquer culdade. Há necessidade de precisar a co-
dificuldade observável, vivenciada pelo locação do problema. Significa usar proce-
aluno para acompanhar o ritmo de apren- dimentos de intervenção terapêuticos ou
dizagem de seus colegas da mesma idade, pedagógicos. É todo um universo diferen-
sem contar o fator determinante da defa- te daquele dos adultos, por exemplo, da
sagem. Assim, é uma população de grande mãe e do pai. Dificuldade, para eles, signi-
heterogeneidade, não sendo fácil encon- fica outras coisas: gastar dinheiro com o
trar critérios que a delimitem com maior psicopedagogo, uma certa desesperança,
precisão. Durante muitos anos os atrasos uma certa preocupação. Enfim, o universo
ou problemas foram definidos pela defici- de discurso e inquietações que a dificulda-
ência em uma determinada habilidade de de aprendizagem traz para os pais. Por-
tais como: inteligência, raciocínio, lingua- tanto, na categoria dificuldade de aprendi-
gem, percepção visual, codificação fonoló- zagem encontram-se alunos com proble-
gica ou na memória, dentre outros. Obser- mas situacionais de aprendizagem (com-
va-se que na situação de aprendizagem, prometimento em algumas circunstâncias
há a intervenção de uma série de fatores e não em outras), de comportamento,
de forma interativa, cuja confluência espe- emocionais, de comunicação (distúrbios
cífica determina o rendimento daquele da fala e da linguagem), físicos, de visão e
que aprende. Os autores destacam que os de audição, e, por fim, problemas múlti-
problemas de atenção e memória se de- plos (presença simultânea de mais de um

550
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos problemas anteriormente menciona- venções psicopedagógicas se destinam


dos). Isso nos mostra a abrangência das exclusivamente aos alunos que participam
dificuldades de aprendizagem e as suas da recuperação nas classes de apoio, sem
peculiaridades para o diagnóstico, para a influenciar de modo prescritivo o trabalho
intervenção ou o tratamento. O município desenvolvido nas respectivas classes des-
que foi alvo da presente investigação or- ses alunos. O psicopedagogo não tem uma
ganizou diretrizes de trabalho para os gru- relação direta com o aluno, salvo em situ-
pos de apoio atendendo às exigências pro- ações que necessitem de uma avaliação
postas pelas normas anteriormente des- específica deste profissional. O trabalho
critas. Para tal, a Secretaria Municipal de favorece o aluno, mas a atuação psicope-
Educação elaborou a Resolução nº 003/04, dagógica é com o professor. É o professor
que dispõe sobre os procedimentos para que receberá as orientações pontuais e as
apresentação de um projeto voltado para sugestões de trabalho com os alunos que
o trabalho de acompanhamento psicope- apresentam dificuldades de aprendiza-
dagógico em classes de apoio, consideran- gem. No entanto, nem sempre o professor
do: “ a necessidade da construção e de- cumpre as orientações recebidas, o que
senvolvimento de um projeto claro e coe- pode comprometer o trabalho e a apren-
so para as classes de apoio, com o intuito dizagem dos alunos. Vale ressaltar que há
de contribuir para a minimização dos pro- um psicopedagogo na rede, atendendo as
blemas de dificuldades de aprendizagem oito escolas de Ensino Fundamental. O en-
apresentados por crianças das séries ini- caminhamento ao Grupo de Apoio é reali-
ciais do Ensino Fundamental; a necessida- zado pela professora da sala regular, que
de de acompanhamento e orientação es- detecta as dificuldades dos alunos com
pecífica aos professores que atuam nessas relação aos conteúdos trabalhados na sé-
classes; e, o bom andamento das unida- rie e ou defasagens anteriores, descreven-
des escolares, a democratização de infor- do-as em fichas próprias para direcionar o
mações, a transparência das ações e a uni- trabalho do professor do grupo de apoio.
formização dos procedimentos para a O encaminhamento pode ser efetuado
apresentação de projetos” (2004, p. 1). A para compensar ausências dos alunos que
partir dessas considerações, a Secretaria têm menos de 75% de freqüência às aulas
de Educação do município estudado de- regulares, para reforço aos que não estão
senvolve um projeto sob a orientação de acompanhando o desenvolvimento da
um psicopedagogo em parceria com a di- turma, mas que não apresentam rendi-
reção e coordenação pedagógica das es- mento insatisfatório, e para recuperação
colas e dos grupos de apoio. Essa proposta paralela aos que não acompanham o con-
põe em evidência o compromisso de um teúdo da série, apresentando dificuldades
trabalho cooperativo entre o psicopeda- de aprendizagem e que têm rendimento
gogo, os educadores e os especialistas que insatisfatório, ou seja, notas abaixo da mé-
compõem as unidades escolares da rede dia. O professor da sala de apoio, diante
municipal de ensino. Ressalta, além disso, do encaminhamento recebido, analisa e
que a atuação do psicopedagogo tem um direciona suas aulas preparando ativida-
caráter de atendimento escolar e não clí- des interventivas que possam contribuir
nico, e que o acompanhamento e inter- para a superação das dificuldades do alu-

551
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no. Em casos especiais, os alunos são ava- CO 23 - LT04


liados também pela psicopedagoga que
realiza uma avaliação psicomotora e cog-
Infância 1
nitiva, contribuindo para um diagnóstico
mais preciso, incentivando o professor da
LT04-700 - A ESCOLA DE EDUCAÇÃO
sala de apoio a buscar outras direções
INFANTIL NA PERSPECTIVA DAS
para o processo de intervenção. O psico-
CRIANÇAS: UMA ANÁLISE DE EPISÓDIOS
pedagogo propõe também orientação ao
OCORRIDOS NO CONTEXTO DO BRINCAR
professor da sala regular e de Educação
Física. Os professores que atuam na sala Fernanda Martins Marques - UFRGS
de apoio participam de reuniões de capa- fernanda_mm@ig.com.br
citação com a psicopedagoga, quinzenal- Tania Mara Sperb - UFRGS
mente, em que são discutidas teorias e sperbt@terra.com.br
práticas pedagógicas a fim de proporcio- Júlia Pinto Soares - UFRGS
nar melhores subsídios ao trabalho de in- jps.psico@gmail.com
tervenção. O projeto da atuação psicope- Financiamento: CNPq
dagógica teve início em 2004 e voltou-se
ao conhecimento das atividades do grupo É cada vez mais comum que crianças bra-
de apoio para organização e acompanha- sileiras passem parte considerável do seu
mento do trabalho pedagógico e dos do- tempo no ambiente de creches e pré-
cumentos administrativos e orientação -escolas. É crescente, também, o número
aos docentes e pais de alunos. Nos anos dessas instituições e a quantidade de pro-
seguintes, essas ações foram ampliadas e fissionais que se dedicam a essa etapa da
modificaram-se procedimentos adminis- educação. Isto se deve, entre outros fato-
trativos e pedagógicos. Houve uma orga- res, ao reconhecimento de que o acesso a
nização dos alunos por dificuldades próxi- uma educação de qualidade nos primeiros
mas, nos grupos de apoio, e um trabalho anos de vida auxilia o desenvolvimento in-
voltado à motivação tanto para os alunos fantil. Ainda que as crianças façam parte
da sala regular como para os do próprio da escola e esta se destine principalmente
grupo. Foram realizadas avaliações psico- a elas, a maior parte das ideias e diretrizes
pedagógicas que envolvem o conhecimen- acerca dessa instituição é uma constru-
to lógico-matemático, a psicomotricidade ção dos adultos, que se dá sem o envol-
e as habilidades de leitura e escrita. Con- vimento das crianças. Estudos sobre as
forme o desempenho dos alunos, é pro- concepções das crianças acerca da escola
posta uma anamnese com os pais a fim de de educação infantil também são raros. As
levantar outras informações importantes pesquisas realizadas têm mostrado o des-
para o planejamento das intervenções psi- taque que as crianças conferem ao brin-
copedagógicas, visando à melhoria da car, à alimentação, às regras e à disciplina
qualidade do trabalho e aprendizagem da escola (Cruz, 2002, 2008; Einarsdóttir,
dos alunos. 2008; Sager, 2002; Silveira, 2005). Além
disso, os professores costumam apare-
Palavras-chave: dificuldades de aprendizagem, cer como os principais articuladores des-
grupo de apoio, psicopedagogia. sa função disciplinadora da escola (Cruz,

552
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

2002, 2008; Gonçalves, 1990, 1996). O nú- de Conteúdo (Bardin, 1977/2008; Laville
mero reduzido de estudos sobre este tema & Dionne, 2007). Os resultados mostra-
pode dever-se aos desafios metodológicos ram que as cinco grandes categorias mais
envolvidos em pesquisas realizadas com frequentes nas concepções das crianças
crianças pequenas. Embora o brincar seja, sobre a pré-escola foram: Brincar, Ativida-
atualmente, reconhecido como um lugar des, Espaço Físico, Professores e Regras.
“ecologicamente relevante” para o estu- Em cada uma delas, foram identificadas
do sobre a criança (Pedrosa, 2005), ainda subcategorias que especificam o conte-
são poucas as pesquisas que empregam údo trazido pelas crianças. A categoria
esse recurso ao investigar as concepções Brincar foi a mais frequente, o que suge-
das crianças sobre a escola (Gonçalves, re que, para essas crianças, a pré-escola
1990; Morassutti, 2005; Sager, 2002). Em é, principalmente, um lugar para brincar.
decorrência, o objetivo deste estudo foi Dentre as subcategorias identificadas den-
compreender as concepções das crianças tro da categoria Brincar, a mais frequente
participantes acerca da escola de edu- foi Brincadeiras de pátio, que inclui brin-
cação infantil, através da análise de epi- car em equipamentos como escorregador
sódios ocorridos no contexto do brincar. e balanço, brincar com bola, balde, rolar
Participaram do estudo 5 díades de crian- pneu, jogar futebol, etc.. Em seguida apa-
ças de 5 anos de idade, das quais 3 eram rece a subcategoria Brincadeiras de sala,
compostas por meninos e 2 por meninas. que se refere a jogos (memória, damas,
As crianças frequentavam uma pré-escola bingo), brincar com fantasias, colar figu-
que atende aos filhos e dependentes le- rinha, etc. Já a categoria Atividades, se-
gais dos funcionários de uma instituição gunda mais frequente, mostra que para as
pública. Foi realizado um estudo observa- crianças a escola é um lugar em que são
cional de tipo focal, com a pesquisadora desenvolvidas certas atividades típicas.
ocupando a posição de observadora na As atividades mais frequentemente iden-
qualidade de participante (Gold, 1958 in tificadas foram Alimentação e Acadêmi-
Flick, 2007). Cenas e instruções previa- cas, seguidas por Contação de histórias/
mente organizadas em três sessões de rodinha e Enfermagem. Educação Física,
brincar objetivaram eliciar episódios que Dormir/descansar, Passeio e Vídeo foram
permitissem acessar as concepções das atividades menos frequentes. Na catego-
crianças sobre a pré-escola. Os dados fo- ria Espaço Físico observou-se o predomí-
ram coletados na própria escola e as três nio das referências ao pátio, seguido pela
sessões de brincar foram filmadas. A partir sala, espaço externo à escola, berçário,
dos vídeos das sessões de brincar, dois ob- biblioteca, reunião e vídeo.
servadores identificaram, separadamente, Já na categoria Professores, as crianças
os episódios em que se evidenciavam as identificaram o educador predominan-
concepções das crianças sobre a escola temente como Determinador. Esta sub-
(Pedrosa e Carvalho, 2005). Em cada epi- categoria aplica-se a episódios em que o
sódio foram transcritas as sequências de professor aparece anunciando rotinas, de-
ações, uso de objetos e verbalizações das terminando o início e o final das ativida-
crianças e da pesquisadora. Os episódios des, dizendo o que fazer. O papel do pro-
foram analisados pelo método da Análise fessor como Mediador foi o segundo mais

553
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

frequente, e indica uma representação do diferem do que consta na legislação e no


professor como aquele que oferece su- próprio projeto pedagógico da escola: as
porte direto às necessidades da criança na referências às regras e o predomínio do
escola, seja no confronto com colegas ou papel do professor como Determinador.
diante de desafios como machucar-se ou Tais resultados indicam a importância de
usar um brinquedo. Outras subcategorias se pensar que espaços e oportunidades
identificadas em relação aos professores para brincar estão sendo disponibilizados
foram: Diferenciado do lugar das crianças, nas escolas de educação infantil. Também
Disciplinador e Doente. As crianças tam- mostram que a pergunta inicial deste es-
bém representaram a escola como um lu- tudo pode ser relançada: as crianças vêm
gar em que existem determinadas regras sendo escutadas nas instituições que fre-
a serem cumpridas. A subcategoria mais quentam?
frequente foi Uso do espaço e dos mate-
riais, que se refere a normas como ter que Palavras-chave: Concepções de crianças;
arrumar a sala, guardar os brinquedos, educação infantil; brincar
colocar as cadeiras no lugar, etc. As crian-
ças também mencionaram outros tipos de
regras, especificadas nas subcategorias LT04-733 - O QUE SABEM E PENSAM OS
Segurança, Comportamento e Higiene. EDUCADORES SOBRE A SEXUALIDADE
Alguns resultados encontrados nesta pes- INFANTIL
quisa corroboram os achados de outros Schindhelm, Virginia Georg - UFF/CNPq
estudos, tanto nacionais quanto interna- psicovir@terra.com.br
cionais, como no que diz respeito à impor-
tância conferida pelas crianças ao brincar A pesquisa, em andamento, prioriza os
(Cruz, 2002, 2008; Einarsdóttir, 2008; Sa- educadores e busca conhecer suas expe-
ger, 2002; Silveira, 2005), à alimentação riências e práticas sobre a sexualidade vi-
(Cruz, 2008; Gonçalves, 1990), ao espaço venciada pelas crianças, testemunhando
físico do pátio (Einarsdóttir, 2008; Sager, com eles as concepções, valores, atitudes
2002) e às regras da escola (Cruz, 2002, e saberes, acerca do gênero e da sexua-
2008; Gonçalves, 1990, 1996). lidade infantil, com foco na melhoria da
A cultura em que os participantes vivem interação educador-criança exercitada no
também está relacionada a suas concep- dia-a-dia escolar. A escola para pequenos
ções sobre a pré-escola. Alguns aspectos é uma instituição, criada pela sociedade
mencionados e encenados pelas crianças e nela inserida como uma maquinaria da
são coerentes com a legislação brasileira infância que recebe influências e impac-
na área da educação infantil (Brasil, 1998, tos da comunidade e se vê atravessada
1999, 2009) e com a proposta pedagógica pelas correntes de pensamento, movi-
da instituição em que foi realizado o es- mentos sociais e tensões que perpassam
tudo. Destacam-se, nesse sentido, suas pela sociedade onde se insere. Como
referências ao brincar, a atividades envol- um subgrupo social, a escola enquadra
vendo tanto aspectos assistenciais quanto e normaliza os alunos dentro de padrões
educacionais e à diversidade de espaços sociais, reproduzindo dicotomias e políti-
físicos. Ao mesmo tempo, outros achados cas da verdade entre certo/ errado, nor-

554
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mal/anormal, verdadeiro/falso, natural/ e vida como indicativos de melhoria das


antinatural. As manifestações de poder condições de cidadania das crianças e dos
na escola são exercidas em formas pe- educadores; (d) entender de que forma a
culiares de controle de gestos, atitudes, educação para a sexualidade desde a edu-
comportamentos, hábitos e discursos. Os cação infantil pode contribuir para a me-
educadores aparecem como responsáveis lhoria das práticas educativas e mudanças
pela mudança ou pela reprodução, pois no ethos escolar. O trabalho investigativo
ensinam para as crianças como as iden- tem entrelaçado dados constitutivos de:
tidades e saberes são representados. A (a) pesquisa qualitativa com observação
criança é uma instituição social de apa- participante; (b) coleta de informações,
rição recente ligada a práticas familiares, registro de observações livres e narrati-
modos de educação e classes sociais e, tal vas das crianças e da equipe pedagógica;
como a percebemos hoje, é sujeito ativo (c) discussões e troca de conhecimentos
na sociedade. Presente nas relações hu- na formação continuada dos educadores;
manas, a sexualidade é uma construção (d) análise de material bibliográfico prio-
social relacionada ao poder e à regulação, rizando as teses de Foucault, Louro, Vas-
ainda hoje, polêmica na escola pela multi- concellos, Kramer, Varela e Alvarez-Uria,
plicidade de visões, crenças, tabus, inter- Castejón, Constantine, Martinson e ou-
ditos e valores dos que nela convivem. As tros estudiosos da infância, do poder na
inclinações sexuais das crianças provêm escola e da sexualidade. Muito falada, po-
da curiosidade em explorar e conhecer rém pouco explicada, a sexualidade é uma
aquilo que, comumente, é velado e não invenção social constituída historicamen-
de um desejo de prazer sensual. Os pe- te por inúmeros discursos, que a regulam,
quenos constroem suas representações a normatizam e que instauram saberes e
sobre sexualidade na relação individual produzem verdades sobre o sexo. Vincula-
e social com seus pares, seus familiares e -se ao erotismo e à reprodução, tem um
com os educadores da creche durante os caráter dinâmico e mutável por ser ex-
primeiros anos da vida escolar. Trabalhar perimentada e também expressa pelos
com a sexualidade na educação infantil pensamentos, fantasias, desejos, crenças,
tem sido um desafio transformador da atitudes, valores e relacionamentos. O
prática educativa cotidiana na Creche da educador, em conformidade com a ciên-
Universidade Federal Fluminense – Cre- cia sexual foucaultiana, é levado a pensar
che UFF, em Niterói, no Rio de Janeiro. na sexualidade como algo que está dentro
Inserimo-nos no cotidiano da Creche UFF, de cada um, como algo que faz parte do
com vistas a: (a) investigar como os edu- corpo biológico. A sexualidade, no entan-
cadores infantis lidam com as formas de to, diz respeito à convivência social e às
manifestação da sexualidade das crianças relações, pois manifesta-se por meio de
na vivência escolar; (b) conhecer o que palavras, gestos e também pelas idéias
sabem os educadores sobre os temas gê- compartilhadas com os outros. Apesar de
nero e sexualidade, de forma a fornecer- ser um dispositivo fundamental aos pro-
-lhes condições para um diálogo aberto cessos de subjetivação, ainda hoje, esta
com as crianças sobre estas questões; (c) temática recebe pouca importância e pro-
identificar as relações entre sexualidade voca desafios transformadores da prática

555
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

educativa cotidiana, na medida em que, inusitadas, relativas à sexualidade das


muitas vezes, os educadores defrontam-se crianças; (3) evidenciam falas dos educa-
com situações inesperadas, oriundas das dores que carregam em si marcas de an-
crianças imbuídas por uma vontade de sa- gústias e constrangimentos sobre o sexu-
ber, que os levam a decisões num terreno al; (4) revelam que o conhecimento sobre
de grande complexidade, incerteza, singu- a sexualidade infantil ainda permanece
laridade e de conflito de valores relativos uma verdadeira terra incógnita, proibi-
ao sexual. Estas manifestações relativas à da e assustadora para a equipe pedagó-
sexualidade promovem, nos educadores, gica. A investigação de doutoramento
sentimentos de desconhecimento e impo- tem produzido movimentos instituintes,
tência no confronto e questionamento so- ainda que singelos, no cotidiano escolar,
bre essas vivências. É comum presenciar- na medida em que recolhe fragmentos e
mos, na escola, manifestações peculiares promove oportunidades para o intercâm-
de histórias e vivências de meninos e bio de experiências e saberes geradores
meninas construídas e determinadas pela de novos conhecimentos, informações
cultura no qual são criadas. Os pequenos e reflexões entrelaçados pelas vivências
distinguem-se uns dos outros nos espa- cotidianas, capazes de promover nos edu-
ços, nas formas de socialização, no tempo cadores alternativas para re-significarem
de escolarização, nos trabalhos, nos tipos as suas concepções acerca da sexualidade
de brincadeiras, nos gostos, nas vestimen- infantil.
tas, enfim, nos modos de ser e estar no
mundo. Pela imitação e identificação as Palavras-chave: educadores, sexualidade
crianças introjetam significados e exerci- infantil, poder na escola
tam fazeres estabelecidos pela sociedade
como eminentemente feminino ou mas-
culino. Apesar dos temas sexualidade e LT04-756 - O QUE PENSA A CRIANÇA
gênero ainda serem pouco discutidos na PEQUENA SOBRE A ESCOLA INFANTIL
área da educação infantil, é na primeira Andréia Dutra Escarião - UFPB
infância que as crianças começam a for- Adelaide Alves Dias - UFPB
mar as suas idéias sobre sexo, gênero e aescariao@gmail.com
sexualidade com base no que observam e
vivenciam na interação familiar, com seus O interesse em aprofundar os estudos so-
pares e com os educadores. O educador é bre a criança pequena, e seu olhar sobre a
uma presença política na escola, que não escola infantil se deu a partir da importân-
passa despercebido, na medida em que é cia de focalizar a infância como um estudo
uma figura central e importante nos ques- específico, detalhado e crítico. Os nossos
tionamentos das crianças. As inferências, estudos foram pautados em autores que
ainda que provisórias, alicerçam situa- se propuseram a escrever sobre a crian-
ções que emergiram do cotidiano e: (1) ça pequena, como Ariès (2006), Kramer
desvelam ocultamentos e silenciamentos (2007), Cohn (2005), Del Priore (2007),
dos educadores acerca da temática; (2) Kuhlmann (2007), entre outros, assim
expõem experiências problemáticas que como, a legislação referente à educação
os levam ao enfrentamento de situações infantil. Entendemos que a criança apren-

556
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de desde o seu nascimento. O desenvol- rede particular de ensino da cidade de


vimento cognitivo, social e emocional da João Pessoa – Paraíba. Escolhemos uma
criança se estabelece a partir da sua inte- sala com 8 crianças, todas com 5 anos de
ração com o mundo que a cerca e os olha- idade. Com o objetivo central de identifi-
res que lança sobre este mundo. O ingres- car o que pensa a criança pequena sobre
so da criança à escola infantil marca uma a escola infantil, realizamos uma pesquisa
fase de novas descobertas e aprendizados do tipo qualitativa. Para tanto, utilizamos
que serão construídos. Quando a criança a observação participante como forma
pequena chega à escola infantil, traz con- de iniciar a nossa investigação científica.
sigo um conjunto de características que Como o nosso objetivo se pautou na in-
se expressam, sobremaneira, no campo tenção de perceber o que pensa a criança
educacional, ou seja, traz para escola as- pequena sobre a escola infantil, defini-
pectos emocionais próprios, apresentam mos o estudo de caso como sendo a me-
comportamentos, valores, interesses e lhor abordagem metodológica. Pautados
dificuldades, aprendizados e cultura de- no conceito de que a criança é sujeito
correntes de sua vivência social e fami- ativo na construção das relações sociais,
liar. Etendemos que a Educação Infantil é voltamo-nos para a importância de ouvir
uma etapa de fundamental importância a sua voz, como expressão do seu pensar
para o desenvolvimento pleno da crian- à respeito da escola infantil. Respaldamo-
ça. Educação infantil aqui definida como -nos na interpretação do desenho da es-
um conjunto de ações que envolvem as cola feito pela própria criança, seguida de
dimensões integradas e indissociáveis do entrevista semiestruturada, partindo do
cuidado e da educação, que, de forma desenho. Para a realização da coleta de
sistemática e intencional, propiciam uma dados foram utilizamos desenhos como
visão ampla que compreende o desenvol- forma de expressão da criança, brincadei-
vimento da criança nos seus múltiplos as- ras interativas e o registro das falas das
pectos. Estas colocações sobre o tema em crianças através de gravação. Utilizamos
questão justificam a pertinência dos estu- um questionário com os pais ou responsá-
dos sobre a criança e o seu olhar sobre a veis pela criança, com o objetivo de com-
escola infantil, revisitado na concepção de preender os motivos pelos quais houve a
algo que vai além de saberes que se colo- escolha da escola infantil referida. Como
cam como processo de formação para o recurso auxiliar foi utilizado o diário de
exercício da cidadania plena. Identificar o campo, para registrar possíveis fatos, situ-
que pensa a criança sobre a escola infan- ações e/ou falas observadas no cotidiano
til; Relacionar as necessidades e expecta- do trabalho. Quando pedimos à criança
tivas da criança com as propostas voltadas para desenhar a sua escola, entendemos
para Educação Infantil; Analisar os dados que a representação expressada através
referentes às necessidades e expectativas do desenho foi construída a partir da sua
das crianças com relação à escola infantil, experiência vivenciada neste ambiente.
com o propósito de melhoria da qualida- Sendo assim, a partir dos desenhos e das
de de ensino. A escola escolhida para a re- falas das crianças observamos como é im-
alização da pesquisa foi a Escola da Crian- portante perceber as suas necessidades
ça (nome fantasia). A escola faz parte da neste ambiente infantil, para que, desta

557
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

forma, o seu desenvolvimento aconteça um espaço de crescimento. Concluímos,


de forma plena, estimulando a sua cria- destacando a necessidade de pensarmos
tividade, o contato social com as outras esta escola infantil a partir das necessida-
crianças e com os adultos, promovendo des das crianças, aliada ao planejamento
o aprendizado de novos conhecimentos, pedagógico, e à constante discussão sobre
assim como, estabelecendo um ambiente as políticas públicas que visam atender
em que se sinta confiante e segura. A par- às necessidades da criança, promovendo
tir da fala das crianças, percebemos que a desta forma o seu desenvolvimento pleno
brincadeira assume papel de grande rele- e, consequentemente, uma educação in-
vância na escola infantil, e que as crianças fantil de qualidade. Ratificamos a impor-
se referem ao brincar como aquilo que tância do estudo sobre a criança pequena,
mais gostam de fazer. Vygotsky (1998) entendendo esta criança como um ser so-
afirma que o brinquedo é uma fonte es- cial, atuante, construtora de cultura, com
sencial de promoção do desenvolvimento características próprias, reconhecendo-a
infantil, na medida em que a criança assu- como sujeito ativo no processo de desen-
me papéis, jogos de “faz-de-conta”, repre- volvimento e na construção das relações
sentando simbolicamente alguma situa- sociais que estabelece com os outros, e na
ção ou sentimento. Outro aspecto expos- percepção do mundo que a cerca.
to, por meio dos resultados obtidos, são
os vínculos construídos pelas crianças. A Palavras-chave: Criança. Infância. Escola
pesquisa aponta para a predominância da infantil.
criança interagir mais comumente com
outra criança, a medida que elas brincam,
trocam experiências, constroem e re- LT04-797 - EQUIPE ESCOLAR EM
constroem o seu ambiente. Os resultados ASSENTAMENTO RURAL: SIGNIFICAÇÕES
também mostraram a importância da for- SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E CRIANÇA
mação do professor da educação infantil. DO CAMPO
Podemos ressaltar que, de acordo com as
Juliana Bezzon da Silva - FFCLRP/USP
observações realizadas na escola, os de-
senhos das crianças e as suas falas sobre a julianabezzon@gmail.com
escola infantil, assim como os questioná- Ana Paula Soares da Silva - FFCLR/USP
rios aplicados com as mães ou responsá- apsoares.silva@gmail.com
veis, entendemos o quanto é necessário Financiamento: FAPESP
continuar a luta por uma escola de quali-
dade, que venha atender às necessidades Introdução - A educação infantil no/do
da criança pequena. Estas necessidades campo começa a ser objeto de discus-
estão expressas na nossa pesquisa atra- são nacional a partir de políticas públicas
vés do que pensa a criança sobre a escola recentes empreendidas principalmente
infantil: um espaço de aprendizado lúdico, pela Coordenadoria de Educação Infantil
um espaço onde o brincar seja valorizado da Secretaria de Educação Básica – CO-
e permitido; onde as relações se cons- EDI/SEB/MEC em articulação e diálogo
troem através dos vínculos estabelecidos com os acúmulos dos movimentos sociais
com as outras crianças e com os adultos; e sindicais que atuam na questão agrária

558
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no país. Afinadas com os documentos ofi- possibilidades de sua atuação para o fa-
ciais (BRASIL, 2002; 2009), Silva e Pasuch vorecimento da aprendizagem infantil em
(2010) afirmam que a educação infantil sincronia com a comunidade, visando seu
no/do campo deve ser, portanto, constru- fortalecimento. Nesse campo de investi-
ída a partir dos modos próprios de vida, gação, o objetivo do presente trabalho é
valorizando e reconhecendo as práticas tentar compreender as significações da
culturais locais e as necessidades de fle- equipe escolar de um assentamento ru-
xibilização de calendário, rotina e ativida- ral sobre a criança pré-escolar assentada
des. Segundo Araújo (2010), muitos pro- e a educação infantil do campo. Trata-se
fissionais da educação cultivam modelos de uma análise inserida no contexto da
de educação tradicionais, que têm como pesquisa de mestrado Educação infantil
base a hierarquização Estado-município- no campo: significações de professores,
-professores-alunos. Além disso, quando pais e crianças da pré-escola, cujo obje-
se trata de um contexto diferente como tivo geral é investigar as significações de
o campo, apóiam-se em modelos urbano- educação infantil no/do campo presentes
cêntricos nos quais impera a concepção nas práticas sociais de famílias, crianças
de rural como centro agroindustrial, difi- de cinco anos, comunidade, professores e
cultando possibilidades de atuação junto demais profissionais da educação em dois
à comunidade. A partir do pressuposto assentamentos rurais. Método - A pes-
teórico histórico-cultural, segundo o qual quisa como um todo envolve a vivência
os processos de aprendizagem são media- pelo período de um mês continuamente
dos semioticamente pelo outro (Vygotsky, no cotidiano das instituições escolares
1998) e situados em contextos históricos, em duas comunidades rurais e entrevistas
políticos e culturais, os profissionais da semiestruturadas com os principais ato-
educação do campo são compreendidos res sociais envolvidos. Para este trabalho,
aqui como agentes potencializadores des- foram analisadas as entrevistas com as
sa mediação simbólica criança-mundo. profissionais da educação que trabalham
Assim, a equipe escolar constitui-se como diretamente com a pré-escola da esco-
significativamente importante na constru- la municipal de um assentamento rural
ção de espaços e atividades que permitam do interior do estado de São Paulo, que
às crianças ampliar as potencialidades de possui turmas de pré-escola e das séries
seu desenvolvimento. Para as crianças iniciais do ensino fundamental. As profis-
do campo, a escola pode se configurar sionais que participaram das entrevistas
por diversos matizes, desde um espaço foram: a diretora/coordenadora, a moni-
de descobertas sobre seu próprio mun- tora do ônibus, a professora da pré-escola
do atreladas ao conhecimento produzido e a professora de educação física, que
pela humanidade e sua comunidade até ministrava aulas para eles diariamente.
como um lugar externo à realidade rural, As entrevistas foram trabalhadas a partir
negando-a enquanto espaço de vida. A da perspectiva teórico-metodológica da
atuação da equipe escolar nos contextos Rede de Significações (RedSig) (Rossetti-
rurais, a partir dessa problemática, deve -Ferreira; Amorim; Silva; Carvalho, 2004),
ser analisada na perspectiva de compre- cujas concepções baseiam-se no mate-
ender quem são esses sujeitos e quais rialismo histórico-dialético de Vygotsky e

559
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Wallon, propondo uma abordagem semi- a interpretação dos discursos das profes-
ótica e considerando a complexidade do soras/diretora foram significações sobre
desenvolvimento humano. Assim, foram as crianças como “briguentas”, tanto no
construídas categorias de significações sentido de mau comportamento como de
que permitiram a compreensão dos sabe- luta pelos direitos. Esse duplo sentido foi
res que constituíam as práticas educativas demonstrado como intrinsecamente rela-
das participantes e que compunham a or- cionado e complicador do trabalho peda-
ganização e o cotidiano escolar. As profes- gógico que a equipe tentava desenvolver.
soras entrevistadas, ambas de uma cidade Percebeu-se um desconhecimento com
vizinha tida como referência por ser maior relação aos materiais publicados pelo
e sede da diretoria regional de ensino, ha- governo sobre educação do campo. Tais
viam iniciado seu trabalho na escola seis materiais não têm sido valorizados na re-
meses antes da realização das entrevis- gião em que se encontra a escola, sendo
tas. A diretora, também coordenadora tanto uma dificuldade da própria equipe
pedagógica, é moradora da região urbana em buscá-los independentemente, como
do município do assentamento, com po- também uma falta de articulação entre os
pulação estimada em 5.000 habitantes e poderes públicos local, estadual e nacio-
localizada a 14 km do assentamento. Por nal para viabilização desses materiais na
fim, a monitora do ônibus é assentada há formação continuada da equipe. A escola
cinco anos, possui dois filhos matricula- do assentamento investigada é vinculada
dos na escola, sendo um na pré-escola. a uma escola da cidade do município ao
Considerações - A partir das entrevistas, qual pertence o assentamento. Esse fato
foi possível analisar algumas divergências demonstrou ser um elemento dificultoso
e/ou convergências entre os discursos das na realização de propostas pedagógicas
participantes. Os discursos das professo- específicas para a educação no campo.
ras/diretora divergiram destacadamente Evidenciou-se essa questão na conver-
do apresentado pela monitora do ônibus sa com as professoras/diretora sobre o
em relação à visão de criança assentada projeto político pedagógico da escola,
no que tange às possibilidades de viven- submetido às determinações da escola
ciar brincadeiras e experiências de apren- urbana. Pode-se dizer que, no contexto
dizagem no contexto rural. Na visão das investigado, a educação infantil do campo
professoras/diretora, as crianças assen- é submetida a uma proposta pedagógica
tadas são “carentes” e possuem poucos tradicional, autoritária, que não agrega
estímulos para aprendizagem e desenvol- novos conhecimentos inclusive legitima-
vimento. Por outro lado, a monitora entra dos pelo poder público, o que prejudica a
em consonância com as demais quando construção de projetos originais e autên-
se trata dos modos de lidar e interpretar ticos que visam estimular e enriquecer as
os problemas de comportamento, sempre possibilidades de desenvolvimento infan-
solucionados pelo uso de ameaças de re- til nos e para os contextos rurais específi-
preensão dos familiares/responsáveis e cos onde ele ocorre.
raramente relacionados às interações com
a equipe ou à organização da rotina/am- Palavras-chave: educação infantil,
biente. Outros aspectos que compuseram assentamento, pré-escolar.

560
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-899 - CRENÇA E PRÁTICA DE apoiando as famílias na criação dos seus


PROFESSORES SOBRE A RELAÇÃO filhos e a criança passa a viver com seus
CRECHE-FAMÍLIA pares e com adultos em um novo contex-
Celi Costa Silva Bahia - UFPA to, com regras e normas próprias. Neste,
celibahia@yahoo.com.br as relações são centrais, desde aquelas
Celina Maria Colino Magalhães - UFPA diretas com as crianças, até as relações
celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br com os familiares e com a comunidade;
Fernando Augusto Ramos Pontes - UFPA assim, a relação entre estas instituições
fernando.pontes@pesquisador.cnpq.br não pode ser uma opção que poderá ou
não existir, ela é imprescindível. Uma das
Diante da importância da cultura para a possibilidades de análise da relação entre
compreensão do desenvolvimento hu- crença e prática é quando os subsistemas
mano, a literatura indica diversas razões envolvidos entram em contato; entende-
para se investigar a psicologia dos cui- -se que a atividade de recepção/despedi-
dadores. Como um elemento dessa psi- da é um bom momento para analisar a re-
cologia, as crenças influenciam, ainda lação entre crença e prática sobre a rela-
que parcialmente, na maneira como as ção creche-família. O estudo foi realizado
pessoas se comportam. Assim, o com- com o objetivo de localizar convergências
portamento dos cuidadores não consiste e divergências entre crenças e práticas
de uma série de respostas acidentais à de professoras de creche sobre a rela-
criança; os adultos têm noções ou ideias ção creche-família. Fizeram parte deste
a respeito de como tratá-las, isto é, suas estudo 16 professoras que trabalhavam
práticas na relação com as crianças estão com crianças na faixa etária de zero a três
sustentadas no que acreditam ser bom ou anos, em uma creche pública da periferia
ruim, naquilo que eles valorizam ou des- de Belém, bem como as crianças que fre-
valorizam (Miller, 1988). Contudo, Good- quentavam as turmas de maternal e seus
now (1988) argumenta que o número de familiares. Para coleta de dados, utilizou-
pesquisas relacionando crenças e práti- -se a observação e o grupo focal; neste,
cas ainda é limitado. Essa autora também abordou-se os seguintes eixos: (a) os ato-
chama atenção para o risco de resultados res da relação creche-família, (b) como
ambíguos, por se tratar de respostas dos ocorria essa relação e (c) as principais di-
adultos sobre suas ações, ou seja, ela ficuldades enfrentadas para promovê-la.
considera que alguns estudos que esta- Os dados observacionais foram analisa-
belecem essa relação investigam crenças dos tendo por referência os estudos reali-
sobre práticas como se estivessem inves- zados por Bondioli (2004) e Nigito (2004).
tigando as práticas. Por isso, estabelecer Já os dados do grupo focal, depois de
conexão entre crença e prática exige cui- transcritos, foram analisados tendo por
dados, pois, nem sempre existe uma re- base as orientações propostas pela aná-
lação direta, uma vez que outros fatores lise de conteúdo. Os principais resultados
interferem nas ações dos adultos. Estu- revelam que, em se tratando da iniciativa
dos também têm apontado que quando para a busca da relação, as verbalizações
a família compartilha a educação e socia- das professoras indicam que as relações
lização da criança com a creche, esta atua são bidirecionais. Essa crença foi observa-

561
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da na atividade de recepção/despedida, Neste estudo, especificamente, a visão


pois, foi possível visualizar que tanto as negativa que as professoras têm sobre
professoras quanto as mães buscam a re- as famílias parece estar influenciando
lação, desde que sejam estas as pessoas na maneira como as duas instituições
que deixam ou buscam a criança. Quanto se relacionam, pois, ainda que os fami-
ao conteúdo da relação, as professoras liares ofereçam informações sobre seus
afirmam que buscam a relação para so- filhos, poucas oportunidades são ofe-
lucionar problemas de saúde e compor- recidas para que eles expressarem seus
tamento da criança, para partilhar res- desejos, medos, dúvidas, inseguranças,
ponsabilidades com a família e para levar etc., enquanto ficam, apenas, receben-
informação sobre a criança e seu desen- do informações da creche. Infere-se que
volvimento. Essas ideias indicam a supe- a continuidade/ complementaridade do
ração da compreensão de que a busca de processo educativo da criança, ocorrido
contato com a família é apenas para so- nas duas instituições, fica prejudicada e,
lucionar problemas imediatos. Contudo, consequentemente, a função educativa
observou-se que, na atividade de recep- da creche, que tem por objetivo o desen-
ção/despedida, os contatos são breves, volvimento integral da criança, também.
pautados na solução de problemas ime- Esses resultados nos fazem pensar que os
diatos e não fazem parte do planejamen- cursos de formação de professores preci-
to das professoras. No que dizem res- sam discutir as crenças desses profissio-
peito à forma, as professoras afirmaram nais a respeito não só do desenvolvimen-
promover a relação por meio de eventos to da criança, mas, também, das famílias
(reuniões e festas) e da atenção e diálogo e, ainda, como sugere Tancredi e Reali
destinado aos pais durante a recepção/ (2001), “conhecer como elas se constro-
despedida, entretanto, na atividade de em, para que as imagens das famílias das
recepção/despedida observou-se que os crianças sejam (re)construídas de forma
encontros são breves e pautados na so- mais realista e menos preconceituosa”
lução de problemas; esta atividade tem (p.15). Para além de conhecer os pais, é
o caráter, apenas, de receber e entregar importante as professoras saberem como
e não representa uma oportunidade de se comunicar com as famílias, pois, a co-
aproximação entre as instituições. As- municação é o princípio que rege a rela-
sim, a relação é quase inexistente. Desse ção e assegura às crianças a continuidade
modo, é possível perceber a existência e o enriquecimento de suas experiências.
de convergências e divergências entre as
crenças e as práticas das professoras, o Palavras-chave: crença, prática, relação
que significa que nem sempre suas cren- creche-família
ças são coerentes com suas ações. Con- Contato: Celi Costa Silva Bahia, UFPA,
cordamos com Goodnow (1988, 1996), celibahia@yahoo.com.br
quando argumenta em favor do cuidado
em estabelecer correspondência entre
crença e prática, pois, nem sempre existe
uma relação direta, uma vez que outros
fatores interferem nas ações dos adultos.

562
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1514 - REPRESENTAÇÃO DO mente dependentes dos homens. Neste


GÊNERO NOS CLÁSSICOS INFANTIS contexto, a família e a instituição escolar
Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB têm reproduzido os discursos e as imagens
eugenia_gba@hotmail.com retratados nestes livros, estimulando atitu-
Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB des sexistas, de discriminação e de exclu-
patynfonseca@hotmail.com são. Os clássicos infantis, estórias mundial-
Jaciara de Lira Almeida Dantas - UFPB mente conhecidas e passadas às gerações
jaciaraadantas @hotmail.com através de livros e de filmes, continuam
Vivian Kelle Lau Alves - UFPB encantando e moldando o pensamento e
vivian.e@gmail.com @hotmail.com o comportamento de um povo em um de-
Walkyria dos Santos Farias Machado - UFPB terminando momento histórico. Nos dias
psi_walkyriafarias@hotmail.com atuais, ainda se vê jovens falando que es-
Jessyka Natalya de Sousa Cavalcanti tão à procura de um “príncipe encantado”,
jessyka_natalia@hotmail.com ou seja, de um rapaz bonito, forte, rico e
inteligente que, juntamente com ela, serão
A infância é uma fase do desenvolvimen- “felizes para sempre”. Todavia, não se tem
to repleta de descobertas e aprendiza- realizado uma análise crítica acerca das
gens. Nela, as crianças observam, imitam mensagens sexistas transmitidas através
e aprendem comportamentos e atitudes dos textos e das imagens desses clássicos.
apresentados pelos adultos que fazem Sendo assim, há necessidade de se discu-
parte de sua vida. Progressivamente, vão tir na sociedade, especialmente na esco-
formando seus papéis sociais, os quais são la, as desigualdades de gênero propostas
construídos a partir dos valores transmiti- por esta literatura que reforçam práticas
dos pelos pais e pelas atividades desenvol- sociais e pedagógicas preconceituosas.
vidas no contexto escolar, que estimulam Diante do exposto, este trabalho tem por
objetivo verificar como as estórias infantis,
e enfatizam determinados estereótipos de
especialmente os textos e as imagens, re-
masculinidade ou feminilidade, a exemplo
presentam os papéis de gênero.
das estórias infantis. A literatura infantil
é uma das grandes responsáveis pelo de- Para sua realização, foram selecionadas,
senvolvimento da imaginação, da criativi- por indicação de cinco professores da
dade, da linguagem, da socialização e da educação infantil, 11 estórias infantis, são
identidade de gênero. Os livros auxiliam elas: A Bela Adormecida, A Bela e a Fera,
na aprendizagem de conteúdos, na forma- A pequena Sereia, A Princesa e o Sapo,
ção de hábitos de higiene e de convivência, Aladim, Branca de Neve e os Sete Anões,
na aquisição de princípios religiosos, mo- Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João e
rais, éticos transmitidos através de textos o Pé de Feijão, Peter Pan e Rapunzel. Estas
e ilustrações que, por sua vez, expressam foram submetidas a uma análise qualitati-
conotações femininas e masculinas. Tra- va por três juízes, onde se buscava avaliar
dicionalmente, os homens são represen- a representação do gênero a partir dos
tados como fortes, agressivos, violentos, seguintes aspectos: personagem escolhi-
inteligentes e competentes, enquanto as da como protagonista, características físi-
mulheres são apresentadas como meigas, cas, sociais, econômicas e emocionais dos
simpáticas, amorosas, frágeis e emocional- personagens.

563
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Os resultados mostraram que dos 67 atual contexto social. As estórias ainda


personagens identificados nas estórias, revelam uma ênfase nas características
55,2% eram do sexo masculino e 44,8% fe- físicas dos personagens, principalmente
minino. Identificou-se ainda que do total na mulher, figuras belas, magras, brancas
dos personagens, 36 eram protagonistas, e com cabelos lisos, definindo um padrão
sendo 61,1% do sexo masculino e 38,9% de beleza. Com isto, as estórias estimulam
do sexo feminino. Com relação à figura a preocupação com a beleza e o corpo a
masculina, foram identificadas 277 carac- ponto de abalar o autoconceito e a au-
terísticas, sendo 25% físicas (cor branca, toestima das jovens que não conseguem
alto, forte, cabelos lisos e escuros, olhos alcançar este padrão. Nesta perspectiva,
claros e magros), 20,9% socioeconômi- por definir previamente um padrão de be-
cas (rico, simpático, gentil e solidário), leza, a sociedade exclui o diferente (ex. a
16,2% características psicológicas (bon- criança de cor escura, cabelos cacheados,
doso, corajoso, alegre e amável) e 15,8% gorda, deficiente intelectualmente), o que
cognitivas (inteligente e esperto). Quanto precisa ser combatido nas escolas. Frente
à figura feminina foram observadas 174 ao exposto, pensa-se sobre a representa-
características, sendo 58% físicas (cor ção que as crianças da educação infantil
branca, loira, magra, cabelos lisos e escu- estão formando a partir destas estórias,
ros, olhos claros e escuros), 13% socioe- que são contadas e lidas, na maioria das
conômicas (rica, simpática, e solidaria) e vezes, sem uma reflexão sobre os papeis
29% características psicológicas (ingênua, sociais de gênero. Assim, é fundamental
meiga, submissa, honesta e bondosa). que o professor e os pais/responsáveis to-
Conclui-se que as estórias infantis repre- mem consciência desta discussão uma vez
sentam, predominantemente, figuras que tanto a escola como a família são os
do gênero masculino, sobretudo, prota- dois contextos de socialização responsá-
gonistas. Esta constatação vem mostrar veis pela formação inicial da criança, que
uma relação desigual, onde o homem é está aprendendo sobre a diferenciação
representado com mais importância e su- de gênero, ou seja, o que é ser homem
perioridade do que a mulher, próprio de ou mulher na sociedade. A escola, em
uma sociedade androcêntrica, onde as particular, apresenta-se como um meio
normas e os valores são definidos a partir de grande importância na construção da
dos princípios masculinos. Especificando identidade na vida dos indivíduos, pois
os dados, constatamos que a figura mas- é neste contexto que as crianças passar
culina é apresentada nas estórias, na sua grande parte do seu tempo e aprendem a
grande maioria, como um homem bonito, ser e a conviver.
rico, corajoso e inteligente, atributos ab-
sorvidos pelo público feminino e fonte de Palavras-chave: Gênero; Estórias Infantis;
desejo na adolescência e na vida adulta. Educação Infantil.
No caso do modelo feminino transmitido Contato: Patrícia Nunes da Fonseca, UFPB,
nestas estórias, observa-se o de uma mu- patynfonseca@hotmail.com
lher bonita, ingênua e submissa, aspectos
tão enfatizados na sociedade patriarcal e,
ainda, exigidos, por alguns homens, no

564
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1519 - O CUIDAR NOS PEDE nais que são deslocados da sala de aula da
MAESTRIA: REFLEXÕES SOBRE O alfabetização para tomar conta das crian-
TRABALHO DO PROFESSOR NO CAMPO ças entendem a importância de seu papel
DA PRIMEIRA INFÂNCIA ou sabem o que fazer? Hoje já temos uma
Maria Vitória Campos Mamede Maia - UFRJ cultura da educação infantil, mas o cuidar
mariavitoriamaia@gmail.br que essa faixa etária nos pede é um cuidar
Isadora Garcia - UFRJ diferente, um cuidar de sustentação e con-
Shelle Cristine Goldemberg de Araújo - UFRJ tinência para além do trabalho pedagógi-
co que lhes é solicitado. Um bebê e uma
Cuidar de crianças na primeira infância criança muito pequena só pode se cons-
nos coloca questões diante do fato de es- tituir e construir para si uma história nar-
tas nos solicitarem, mais do que crianças rativa se houver, com ela, nesse percurso,
maiores, cuidado: como não assumirmos um adulto que exerça a função de nomear
transferencialmente o lugar materno ou o mundo, identificá-lo e interpretá-lo des-
paterno|? Como não nos penalizarmos de as funções corporais até o mundo das
pelo que vemos, sem proferirmos julga- coisas que rodeiam essa criança e os sen-
mentos de valor? De que lugar falamos e timentos que emergem em determinadas
que lugar ocupamos quando trabalhamos situações. Há regras que ainda precisam
com a primeira infância ? O cuidar nos ser aprendidas e estas só assim serão se
pede maestria. Quando lidamos a pri- houver alguém que exerça essa função. O
meira infância, igualmente lidamos com que é pedido aos professores, mais do que
suas famílias e estas possuem uma forma uma demanda pedagógica, é sustentação
peculiar e única de funcionamento. Pre- e continência (Winnicott, 2000). Como
cisamos, como profissionais, sermos ma- articular o que se pede como trabalho a
estros de uma orquestra que possui sons ser feito dentro de uma faixa etária e a
próprios e tons próprios. Dentro desse questão primordial, ao nosso ver, de cons-
contexto qual seria a função do educador tituição de um sujeito psíquico, qual seja,
no espaço da educação infantil? Será que sustentar e conter no tempo e no espaço
essas pessoas têm noção plena do impac- uma criança pequena nas suas angustias
to que causam no desenvolvimento da e desejos? Relata-nos Zornic (2010) que
criança desta faixa etária? Como lidar com em um estudo feito pela Fundação Carlos
essas crianças se elas nos mobilizam exa- Chagas, em parceria com o Ministério da
tamente a parte que muitas vezes esque- Educação e o BID, que 49,5% das creches
cemos como era quando fôramos peque- no Brasil tem qualidade inadequada, com
nos? Se retomarmos o histórico de como nota entre 1 e 3 numa escala que vai até
a educação infantil passou a fazer parte da 10. A pesquisa foi realizada em 147 insti-
Educação veremos que antes de a infância tuições municipais, mas também incluiu
habitar o espaço educacional ela era des- escolas conveniadas e particulares. Os
tinada e cuidada por profissionais sociais. resultados enfatizaram a necessidade de
Depois que o cuidar ganha outros sentidos melhorar a formação dos profissionais
para além de manter vivo aquele ser pe- que cuidam desta faixa etária” (Zornic,
queno e passa a escola a ser o palco deste 2010, p. 4). Segundo a autora, esta e ou-
trabalho. Perguntamo-nos se os profissio- tras pesquisas marcam a “falta de práticas

565
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de cuidado que respeitem e favoreçam as trouxeram para a pesquisadora-professo-


condições de subjetivação e acolhimento ra levaram-na a, mais do que cumprir os
ao pais e aos bebês, e que contemplem pontos pedagógicos estabelecidos para
uma formação mais singularizada dos esta turma, trabalhar com elas contenção,
profissionais que se dedicam à primeira limite e sustentação no tempo e no espaço
infância”(Zornic, 2010, p. 4) e igualmen- e, assim, poder reconstruir o vinculo com
te de sua valorização pelo trabalho exer- a aprendizagem que fora quebrado frente
cido, o que não acontece na maioria das à saída da professora conhecida por eles.
vezes. Segundo ainda a mesma autora, na
pesquisa realizada pela mesma, foi cons- Palavras-chave: Primeira Infância; Formação
tatado que “muitas vezes os profissionais de Professores; Pratica Pedagógica.
da primeira infância não conseguem reco-
nhecer a dimensão fundamental e criativa
de seu trabalho, sobrecarregados por uma
rotina repetitiva e sem uma interlocução
que lhes permita dar sentido e amarração
DIA 14/11 - Segunda-feira
simbólica a seu ato.” (Zornic, 2010, p. 13).
Neste trabalho discutiremos qual a impor- 10h30-12h
tância da formação de profissionais nesta
área da primeira infância, levando-se em
consideração os conceitos de Winnicott MR LT04 - Mesa Redonda
de holding, handling e apresentação do
mundo como sendo as principais tarefas Convidada
maternas e o olhar diferenciado que um
professor precisa desenvolver para intervir
sem interferir em um processo de desen- MR LT04-1331 - A CIDADANIA DOS BEBÊS
volvimento que já está lá, só que às vezes BRASILEIROS EM DEBATE: DESAFIOS
de forma ainda insipiente. Neste âmbito, PARA A CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO À
para ampliar a discussão que este trabalho EDUCAÇÃO INFANTIL
pretende trazer, relataremos como uma Fúlvia Rosemberg - FCC/PUC-SP
situação de substituição de professor no frosemberg@fcc.org.br
final de ano, devido à demissão da profes-
sora regente, pode gerar a construção de A educação infantil brasileira tem passado
um trabalho entre as crianças de 3-4 anos, por profundas mudanças ao longo das úl-
do Maternal II, em um colégio Municipal timas décadas. Os sistemas de ensino têm
do Rio de Janeiro, e a professora novata, sido provocados por legislações e regula-
levando a uma transformação da relação mentações, criadas pelos governos e con-
professor-aluno e novos aprendizados. A selhos de educação a partir da construção
técnica por ela utilizada foi desenvolvida de conhecimentos e da pressão do movi-
no âmbito do grupo de pesquisa Criar e mento social, para atuarem em direção a
brincar: o lúdico na escola, coordenado um atendimento que assegure os direitos
pela Profa. Dr. Maria Vitoria Maia (UFRJ). das crianças ao acesso à educação infantil
Os impasses que as crianças de 3-4 anos com qualidade. Esse direito, contudo, não

566
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tem sido ofertado e efetuado com equi- pública, direitos trabalhistas e questões
dade. Diferenças etárias, étnico-raciais, econômicas, abordando particularmen-
de classe e territoriais são evidenciadas te o benefício do auxílio-creche e seus
nos índices nacionais sobre a cobertura impactos na qualidade diferenciada de
do atendimento. Dados sobre as condi- atendimento ofertado às crianças peque-
ções estruturais dos estabelecimentos nas. Ana Paula Soares da Silva, a partir
educacionais e sobre os profissionais da das reflexões derivadas das investigações
educação infantil demonstram ainda que de seu grupo de pesquisa Subjetividade,
a qualidade é bastante diferenciada, a Educação e Infância nos Territórios Rurais
depender da população atendida. Es- e da Reforma Agrária (SEITERRA), vincula-
ses fatores afetam a plena cidadania das do ao CINDEDI, explorará a particularida-
crianças de 0 a 6 anos de idade e, como de relativa aos desafios para a efetivação
queremos discutir nessa mesa, de modo do direito à educação infantil dos bebês e
particular afetam os bebês e as crianças crianças de até 3 anos de idade do campo.
de até 3 anos de idade. Representam di-
ficuldades e desafios que necessitam ser
vencidos no processo de construção da DISCURSOS SOBRE BEBÊ E A CRECHE
sociedade democrática, estipulado pela Fúlvia Rosemberg - FCC/PUC-SP
Constituição Federal de 1988, e na conso- frosemberg@fcc.org.br
lidação de um Estado de Direito. A invisi-
bilidade dos bebês nas políticas públicas A apresentação pretende trazer reflexões
e, por que não dizer, também em parte na derivadas das várias pesquisas desenvol-
ciência, é ingrediente adicional nesse pro- vidas na trajetória de investigação do Nú-
cesso. A mesa pretende aprofundar essas cleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade
questões, explicitando e esmiuçando as (NEGRI) da PUC-SP. O NEGRI, nos últimos
desigualdades no direito à educação in- anos, vem desenvolvendo uma linha de
fantil vividas e vivenciadas pelos bebês pesquisas denominada Discursos sobre o
e crianças de até 3 aos de idade. Aspec- bebê, sua educação e cuidado, com espe-
tos do desenvolvimento infantil, parti- cial atenção à creche. A linha de pesqui-
cularmente das condições ofertadas às sa parte de uma reflexão sobre o espaço
crianças pequenas, serão abordados na auferido ao bebê nas políticas educacio-
relação complexa que esse possui com a nais. Se pais e mães brasileiros amamos
política pública, com determinações eco- nossos filhos, enquanto cidadãos adultos
nômicas e culturais. A professora Fúlvia nem sempre reconhecemos a criança pe-
Rosemberg, que vem problematizando quena como cidadã, pois apreende-se um
há algum tempo o lugar do bebê nas po- descompromisso histórico quando suas
líticas públicas, abordará os discursos do necessidades e seus direitos são trazidos
bebê e da creche a partir do trabalho de para o espaço público. A insuficiência de
investigação empreendido por seu grupo recursos disponibilizados para a EI pode
de pesquisa Núcleo de Estudos de Gêne- explicar, em parte, o quadro de insuficiên-
ro, Raça e Idade (NEGRI) da PUC-SP. Ana cias que vem sendo apontado: as crianças
Maria Mello, por sua vez, discutirá aspec- de 0 a 3 anos são as pessoas que menos
tos relacionados à relação entre política frequentam instituições educacionais, dé-

567
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ficit apenas superado pelas pessoas de 25 práticas de reconhecimento da alteridade


anos e mais, idade prevista para o término dos bebês. Para tanto, é necessário trazer
do ensino superior (IPEA, 2008). Além de a criança pequena e sua família, suas ne-
a oferta de vagas ser insuficiente e iníqua, cessidades e seus direitos para o espaço
sua qualidade é precária: a situação das público, fortalecendo sua visibilidade e o
creches é pior que a das pré-escolas; a poder de negociação na arena de debates
situação das creches comunitárias é pior sobre prioridades em políticas públicas.
que a das demais; a formação dos pro- Enquanto pesquisadores, cabe-nos “dese-
fessores dá pouca atenção ao desenvol- videnciar” processos de naturalização de
vimento infantil na faixa de 0 a 3 anos e opções históricas que são construções so-
oferece poucas oportunidades de estágio ciais. Daí a linha de pesquisa do NEGRI que
em creche; as atividades com as crianças vem analisando discursos de atores sociais
são rígidas, pouco diversificadas. Enten- sobre o bebê, sua educação e cuidado.
demos que nossa dificuldade de que a
creche seja definitivamente incorporada Palavras-chave: bebê; educação infantil;
à agenda de políticas educacionais decore políticas públicas
de vários fatores. Falta-nos mais clareza Contato: Fúlvia Rosemberg, FCC/PUC-SP,
sobre o estatuto da pequena infância na frosemberg@fcc.org.br
sociedade brasileira quando a considera-
mos apenas como uma etapa preparatória
para a verdadeira vida, que se inicia com A POLÍTICA DO AUXÍLIO-CRECHE:
o ensino fundamental, com as verdadei- IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO E O
ras aprendizagens, da leitura, da escrita, CUIDADO INFANTIL
dos cálculos. Por esta falta de clareza, te- Ana Maria Mello - USP
mos caído nas armadilhas: a escolarização melloa@uol.com.br
precoce, que transforma a pré-escola em
vestíbulo, fase preparatória para o ensino A apresentação procurará explorar as
fundamental e daí sua valorização; a re- implicações da política do auxílio-creche
dução progressiva da idade para ingresso para a educação infantil e para as crian-
no ensino fundamental e para o início da ças bem pequenas. Ao longo da história,
escolaridade obrigatória; a “assistenciali- a escola da elite não é a mesma que a do
zação” da creche, especialmente do aten- trabalhador. Nos últimos anos, desenvol-
dimento à criança pobre de 0 a 3 anos, isto veram-se inúmeros arranjos familiares e
é, direcionar os recursos da creche para a formas de organizar o dia a dia da crian-
salvação da criança brasileira. Portanto, ça pequena. Diferentes formas e arranjos
observamos que a EI não tem escapado educacionais retratam e exprimem essa
à lógica de produção e reprodução da diferença, que reproduz a desigualdade
pobreza via políticas públicas. Por isto, é entre as classes. A análise de expansão
necessário lutar por mudanças estruturais de vagas e das políticas de financiamen-
para que os recursos alocados às políticas to da educação infantil no país evidencia
públicas para o bebê, não sejam reduzi- que elas se reproduzem menos na lógica
dos. Mas para isto, é necessário, também, da superação e mais na da reprodução e
atuar no plano simbólico, em políticas e manutenção das desigualdades sociais e

568
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de classe. Uma dessas políticas de finan- papéis na educação das crianças peque-
ciamento, justificadas para atender mais nas. Dados de pesquisa sobre oferta nas
rapidamente um maior número de crian- creches ao longo do tempo oferecem
ças, consiste no auxílio-creche, oferecido indicadores do movimento de influên-
a trabalhadoras e trabalhadores. O auxí- cia do auxílio-creche na demanda pelo
lio-creche, como benefício pecuniário, atendimento à criança pequena. A fim de
precisa ser compreendido a partir da aná- complementar a renda familiar, o auxílio
lise dos limites de organização do Estado se torna muitas vezes mais atraente do
enquanto promotor de políticas sociais que um atendimento à criança em insti-
no âmbito de uma sociedade capitalista. tuição de qualidade, oferecendo à família
Ele se fortalece no com forte influência possibilidades de deslocar o recurso para
de recomendações de agências multilate- outras despesas ou para o pagamento de
rais, no bojo das reformas do Estado que atendimento em instituições precárias.
precisam assim ser consideradas como Esse quadro reforça situações de desi-
determinadas por crises estruturais. Nes- gualdade no atendimento ao direito da
se cenário, rico em concepções e orien- criança pequena à educação infantil, uma
tações neoliberais, as conquistas dos tra- vez que incide principalmente sobre as fa-
balhadores, os acordos e convenções co- mílias de menor renda. Aponta-se dessa
letivas, quando relacionados à educação forma para o risco de que o auxílio-creche
e cuidado dos filhos dos trabalhadores, determine que sejam oferecidas diferen-
facilmente derivam para financiamentos tes qualidades de cuidado infantil, tendo
e programas ditos alternativos, o que se ainda como conseqüência a restrição do
convencionou denominar atendimento investimento público em instituições e
à infância incompleto. Esses programas sistemas de qualidade e a ampliação dos
expressam contradições sociais e resul- modelos alternativos de educação e cui-
tam em reformas restritivas de direitos dado infantil. Afirma-se a ideia de que
das crianças bem pequenas. Assim, ape- programas como o auxílio-creche para a
sar da grande ampliação do atendimento infância desresponsabilizam o Estado e
a partir dos anos 1980, persistiu no país acentuam as diferenças sociais, pois pro-
a oferta de padrões distintos conforme movem a expansão do atendimento das
o perfil social dos usuários. Às reflexões crianças de camadas pobres sem a qua-
teóricas e políticas sobre esse benefício, lidade preconizada pela legislação, pelas
serão acrescentados exemplos concre- pesquisas referentes à infância pequena
tos como o caso do auxílio-creche, con- e pelos princípios e critérios de qualidade
quistado pelos servidores com filhos de defendidos pelos movimentos sociais.
menos de sete anos de idade e que não
freqüentam as creches da Universidade Palavras-chave: educação infantil, creche,
de São Paulo – USP. Depoimentos de sin- auxílio-creche
dicalistas, de equipe de direção do serviço Contato: Ana Maria Mello, USP,
social da Universidade e de creches, as- melloa@uol.com.br
sim como de pais e familiares, dão vida
às relações entre o auxílio e o cotidiano
desses atores que assumem diferentes

569
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

BEBÊS DO CAMPO: UM CASO das populações do campo para a cidade,


PARTICULAR DE DESILGUALDADE expande-se como direito a todas as crian-
NO ATENDIMENTO DO DIREITO À ças, não mais apenas um direito social dos
EDUCAÇÃO INFANTIL filhos de trabalhadores rurais e urbanos.
Ana Paula Soares da Silva - CINDEDI/FFCLRP- Esses avanços, sejam eles do ponto da
USP vista da ciência, da política ou da cultura,
apsoares.silva@gmail.com não possuem, contudo, uma distribuição
Financiamento: FAPESP democrática e igualitária no país. O aces-
so e a qualidade dos serviços oferecidos
A educação infantil brasileira vem se con- às crianças de 0 a 6 anos são atravessa-
solidando como uma área própria, com dos por desigualdades etárias, étnicas,
saberes específicos, no diálogo e na arti- de classe e regionais. No que se refere à
culação com os outros níveis da educação. questão territorial, a desigualdade entre o
Do ponto de vista da construção do conhe- oferecimento da educação infantil urbana
cimento, nas últimas décadas, são grandes e do campo é particularmente preocupan-
os avanços realizados pelos pesquisadores te, uma vez que no campo concentram-se
e universidades do país. Questões relati- os maiores indicadores de pobreza. Num
vas à organização do trabalho pedagógico, processo de múltiplas desigualdades, as
à formação de professores, à relação famí- populações do campo sofrem com a au-
lia e instituição, à importância do brincar sência de políticas públicas. Se assumir-
como eixo da proposta pedagógica, às po- mos, com demais autores, que as crianças
líticas de educação infantil são exemplos são o grupo geracional mais afetado pelas
de temas bastante pesquisados e para desigualdades sociais e pelas políticas pú-
os quais a produção nacional já pode ser blicas e que, quanto menores as crianças
considerada com relativo acúmulo. Ques- mais invisíveis são do ponto de vista do co-
tões mais recentes, como o currículo, vêm nhecimento e das políticas, podemos dizer
ganhando também espaço no debate na- que as crianças do campo de a 0 a 3 anos
cional. Da perspectiva da legislação e da de idade situam-se na ponta mais extrema
política, também os avanços são visíveis desse processo. Os indicadores nacionais
principalmente após a LDB de 1996, que evidenciam a desigualdade de acesso no
estabeleceu os marcos para a integração caso do segmento de 0 a 3 anos de idade.
das creches e pré-escolas ao sistema de Enquanto que na população infantil urba-
ensino. Na medida dos avanços do conhe- na a taxa de frequencia à creche, de acor-
cimento e da produção de marcos legais, do com a PNAD 2008, era de 20,52%, nos
e concomitantemente a eles, temos ob- territórios rurais era de 6,83%. Os desafios
servado a modificação nas concepções de para a implantação do direito à educação
infância, assim como a inclusão das crian- infantil no campo são enormes, dada a
ças no movimento histórico de conquista quase inexistência de investigações sobre
dos direitos humanos, incluindo a educa- a população do campo, em especial sobre
ção infantil. É nesse contexto que a edu- o momento em que o ciclo familiar conta
cação infantil, embora tenha sua origem com a presença de crianças bem peque-
intrinsecamente vinculada ao processo de nas. Como vivem os bebês do campo, que
industrialização, urbanização e migração povos do campo querem e reivindicam o

570
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

direito à creche e que povos do campo ne- ças, como meio de garantir atendimento
cessitam do atendimento a seus filhos em com qualidade e equidade, as formas de
creche são ainda questões não pautadas implantação necessitam de adequação
pelo país em sua agenda política e cien- à realidade e à dinâmica da vida dos po-
tífica. Quando pautadas, são atravessadas vos do campo. Enfrentar esta questão no
pelos discursos e práticas historicamente âmbito do sistema de educação formal é
construídos que apelam para programas questão necessária, urgente e estratégi-
não formais, alternativos e de baixo cus- ca para colaborar na construção da iden-
to para a população pobre do campo que, tidade da educação infantil do campo e
como apontam vários estudos em educa- para evitar que políticas de flexibilização
ção, recebe as “sobras” da cidade e é sub- produzam, na educação infantil do cam-
metida a políticas que desconsideram e po, processos de exclusão já bastante co-
desvalorizam a cultura, os modos de vida nhecidos na educação infantil ofertada às
e os saberes desses povos. Se essas ques- crianças dos territórios urbanos.
tões são desafiadoras para as ciências de
modo geral, são de modo peculiar para Palavras-chave: bebês, rural, educação infantil
a psicologia, dado o impacto na constru- Contato: Ana Paula Soares da Silva, CINDEDI/
ção das subjetividades desses povos e de FFCLRP-USP, apsoares.silva@gmail.com
suas crianças. Na apresentação, pretende-
-se explorar esses aspectos, a partir de
reflexões provenientes de pesquisas do
MR LT01
grupo Subjetividade, Educação e Infân-
cia nos Territórios Rurais e da Reforma Mesa Redonda Convidada
Agrária (SEITERRA), vinculado ao Centro
de Investigações sobre Desenvolvimento
Humano e Educação Infantil (CINDEDI/ MR LT01-1223 - QUE INFÂNCIA(S)? QUE
FFCLRP-USP). Derivam também da vivên- CRIANÇA(S)
cia recente desse grupo na consultoria a Rosângela Francischini - UFRN
iniciativas, do governo federal, de cria- rfranci@uol.com.br
ção de um diálogo entre duas áreas cujos Romilson Martins Siqueira - PUC/Goiás
avanços vêm se dando pela pressão dos romilson@pucgoias.edu.br
movimentos sociais: a educação infantil Silvia Helena Vieira Cruz - UFC
e a educação do campo. Afirma-se que silviavc@uol.com.br
será necessária uma síntese dos acúmulos Financiamento: CAPES
construídos por essas duas áreas a fim de
superar concepções de campo sem crian- O objetivo desta Mesa é apresentar e dis-
ça e concepções de criança hegemoniza- cutir sobre os conceitos Infância – Crian-
das por um ideário urbano. ça, considerando os espaços que esses
Defende-se que o grande desafio na ga- conceitos vêm comparecendo nas produ-
rantia do direito à educação infantil dos ções acadêmicas, principalmente a partir
bebês do campo é harmonizar os princí- da década de 80. Os significados e senti-
pios e as formas do atendimento. Se os dos atribuídos a esses conceitos resultam
princípios são os mesmos a todas as crian- em ações/intervenções específicas. Em

571
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se considerando a população infantil en- OBSERVAÇÕES ACERCA DA ÉTICA NA


quanto sujeito de pesquisa, o primeiro ESCUTA DE CRIANÇAS
trabalho discute as especificidades éticas Silvia Helena Vieira Cruz - UFC
e metodológicas do trabalho de investiga- silviavc@uol.com.br
ção com crianças. A condição da criança
enquanto sujeito de direitos faz com que Nos últimos anos tem havido relativo in-
a escuta da criança e os cuidados especiais cremento na produção científica que
necessários nessa condição ganhem no- toma as crianças como sujeitos ou atores
vos contornos. As concepções de Infância sociais e têm como objetivo conhecer o
– Criança presentes nas produções acadê- que elas pensam e sentem sobre temas
micas em Psicologia e Educação, no Brasil, que lhes dizem respeito. Nestes trabalhos
após a promulgação do Estatuto da Crian- consideram o fato de que as crianças vi-
ça e do Adolescente, é objeto de investiga- vem as suas diferentes infâncias imersas
ção do segundo trabalho. O autor analisou em práticas sociais, das quais participam
teses e dissertações, livros, capítulos de li- e através das quais, de diferentes manei-
vros e artigos em periódicos, produzidos ras e posições, vão se apropriando de
por participantes de grupos de pesquisa idéias, crenças, habilidades, desejos, ne-
relacionados à infância, cadastrados no cessidades... Já começa e ser comum a
CNPq. Segundo o autor, no Brasil, foram referência a essa apropriação como sen-
os marcos legais/institucionais que norte- do uma reprodução interpretativa (Corsa-
aram as concepções de infância e de crian- ro, 2001), uma vez que ela não se dá de
ça no Brasil, a partir da segunda metade maneira passiva, mas há um papel ativo
do século XX, “e resultaram na afirmação dos sujeitos. Passa a ser evidenciado, por-
de uma identidade marcada pelos discur- tanto, que as crianças possuem uma ma-
sos psicológico e sociológico nos quais as neira própria de perceber e sentir as suas
tensões, o sujeito e a subjetividade estive- diversas experiências. Tais trabalhos par-
ram, por vezes, também subsumidas”. O tem da crença de que entre as várias com-
terceiro trabalho busca, na produção de petências das crianças está a possibilida-
duas composições de autores brasileiros, de de perceber aspectos da sua realidade,
uma de Chico Buarque, a outra de Lenine discriminar e expressar os seus sentimen-
e Paulinho Moska, a identificação do re- tos e opiniões sobre eles. Por isso, aos
trato da infância presente na letra, com a poucos os pesquisadores têm abandona-
Doutrina da “situação irregular”, que vi- do a prática comum de recorrer aos adul-
gorou, no Brasil, desde a segunda década tos com os quais as crianças têm mais
do século XX até a adoção da Doutrina da contato para obter informações sobre
Proteção Integral. As duas composições elas e passam a interrogá-las diretamente
retratam uma infância em situação de rua, (CRUZ, 2008). Soma-se a essa percepção
cujas condições e ações, reveladas pelos da criança como competente para falar o
compositores, comparecem nos descrito- reconhecimento de que ela deve ser ouvi-
res dessa população, na referida doutrina. da. De fato, na definição contemporânea
O caráter de crítica social e de não resig- dos direitos fundamentais das crianças
nação frente a essa condição é igualmente está incluído o direito assegurado pela
apontado. Convenção Internacional sobre os Direi-

572
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos da Criança de que elas têm o direito plo, diz que “a infância, em sua aparente
de exprimir livremente as suas opiniões fragilidade, pode revelar ao adulto verda-
sobre questões que as afetam e de ver es- des que ele não consegue mais ouvir ou
sas opiniões tomadas em consideração. enxergar”. Trata-se, portanto de reconhe-
Portanto, ser ouvida acerca de temas que cer uma contribuição insubstituível, já
lhes dizem respeito não é uma concessão que, como reforça Rocha (2008), a escuta
que fazemos às crianças, mas um direito das crianças torna possível conhecer e
delas. Entre as justificativas apontadas confrontar um ponto de vista diferente
para que as crianças sejam envolvidas nas daquele que nós seríamos capazes de ver
discussões dos adultos sobre como me- e analisar no âmbito do mundo social de
lhorar as suas vidas está a constatação de pertença dos adultos. No Brasil, esse mo-
que assegurar que aqueles que direta- vimento iniciou-se lentamente, sendo di-
mente vivenciam a situação focada te- fícil identificar pesquisas focadas na escu-
nham as suas vozes ouvidas aumenta a ta da criança antes dos anos 90. É a partir
possibilidade de que as decisões sejam de então que alguns trabalhos principia-
relevantes e apropriadas (Save the Chil- ram a busca por conhecer a criança con-
dren, 2003). A compreensão de que o co- creta, contextualizada social e cultural-
nhecimento da perspectiva das crianças mente (Rocha, 1999). Nos últimos anos
traz ganhos aos adultos é inovadora, pois tem crescido a produção de estudos que
se coloca na contramão do desdém domi- ampliam e aprimoram o nosso conheci-
nante acerca da opinião das crianças na mento acerca do ponto de vista da crian-
nossa sociedade. O pediatra e pedagogo ça, não apenas nas áreas da educação e
polonês Janusz Korczac (1986, p.71), em da psicologia, mas também na da saúde e
meados da década de 20, já alertava que outras têm sido buscadas formas de apre-
os políticos e legisladores deliberam e de- ender o ponto de vista das crianças. Para
cidem sobre o destino das crianças, “mas tanto, além de recorrerem às estratégias
a ninguém ocorreria perguntar à própria tradicionalmente disponíveis, vários pes-
criança o que ela acha, se está de acordo. quisadores têm procurado novas formas
Afinal, o que ela teria a dizer?” Vale desta- de explorar as diferentes linguagens da
car, portanto, que as crianças passam a criança. Buscam criar recursos metodoló-
ser vistas, ao mesmo tempo, tanto como gicos diferentes, como entrevistas de
indivíduos que precisam ser protegidos, crianças em pequenos grupos; criação de
em decorrência da sua vulnerabilidade (o histórias acerca de desenhos feitos por
que já estava presente na “Declaração elas; complementação de pequenas his-
dos Direitos das Crianças”, de 1959), mas tórias relativas ao tema enfocado; realiza-
também como sujeitos potentes devido a ção de jogos simbólicos; utilização de ví-
suas competências e sujeitos com direitos deos e fotografias feitas pelas crianças
assegurados, inclusive o direito à partici- etc. É preciso considerar, no entanto, que
pação. Na atualidade, vários autores têm nesse tipo de pesquisa é estabelecida
destacado que as crianças podem acres- uma relação entre sujeitos com posição
centar informações novas e importantes, desigual na nossa sociedade: enquanto
que ampliam o nosso conhecimento so- ao adulto é conferido o poder de realizar
bre a realidade. Novaes (2000), por exem- ações que afetam diretamente a criança,

573
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ela usualmente precisa submeter-se a ele. considerar aspectos éticos relativos ao in-
No caso das pesquisas realizadas com gresso da criança na situação de pesquisa
crianças pertencentes às camadas mais e ao seu bem estar durante a sua partici-
empobrecidas da população (o que tem pação no processo, é preciso também
sido bastante comum), soma-se a assime- atentar para as conseqüências decorren-
tria de poder derivada do pouco prestígio tes da expressão das suas percepções,
dos pobres ante as camadas dominantes. opiniões, sentimentos etc. Isto porque,
Em muitos casos, são agregadas ainda as dependendo do uso que se faz delas e das
desigualdades de poder originadas na reações dos adultos, as crianças podem
raça e no gênero das crianças envolvidas vir a ser penalizadas. Recentemente, por
na situação de pesquisa. Alguns cuidados ocasião do projeto Indicadores da Quali-
adicionais, portanto, precisam ser toma- dade na Educação Infantil, tivemos uma
dos ao se realizar a escuta de crianças, experiência muito marcante nesse senti-
dando especial atenção à questão ética. É do. Esse projeto, realizado sob a coorde-
necessário, por exemplo, tratar com rigor nação da Ação Educativa, tinha como ob-
o consentimento e a manutenção da par- jetivo a avaliação conjunta de todos os
ticipação das crianças: após obter a auto- segmentos que integram a instituição de
rização dos seus responsáveis, agir de Educação Infantil acerca do trabalho que
modo que elas não se sintam constrangi- está sendo realizado. Assim, foi elaborado
das a participar da pesquisa, deixando um instrumento para a escuta das crian-
bastante clara a possibilidade de elas ças, utilizado de forma experimental em
aceitarem ou não o convite que lhes é fei- quatro instituições que partilharam da
to. Ao mesmo tempo, o pesquisador deve aplicação piloto na cidade de Fortaleza.
ficar muito atento para perceber se as Participaram desse processo meninos e
crianças estão confortáveis e interessadas meninas de 4 a 5 anos que freqüentam
nessa participação ao longo de todo o uma creche municipal e outra convenia-
processo da pesquisa, mesmo que a de- da, uma instituição filantrópica e uma es-
sistência de alguém não seja conveniente cola particular. Em cada uma dessas insti-
para os seus objetivos (vale lembrar que o tuições foi ouvido um grupo de crianças.
interesse para a realização da pesquisa Elas trouxeram informações muito impor-
não parte da criança e, ao contrário do tantes sobre o seu quotidiano nessas ins-
pesquisador, para ela é uma proposta tituições, mas várias dessas informações
nova e nem sempre muito clara). Uma das eram contraditória com as fornecidas pe-
formas de diminuir os possíveis constran- los adultos e algumas desvelavam práti-
gimentos decorrentes das desigualdades cas totalmente inadequadas. Nessa expe-
entre pesquisador e crianças tem sido a riência, concluímos que, apesar de ser
realização de atividades em grupos, pois, muito importante para o sucesso dessa
estando entre os seus pares, a criança iniciativa que as crianças fossem ouvidas,
possivelmente se sente mais à vontade e seria preciso preservá-la de possíveis re-
mais fortalecida frente ao adulto (Andra- taliações provocadas pela exposição do
de, 2007; Cruz, 2002, 2004 e 2007; Cam- que pensam e sentem sobre a sua experi-
pos e Cruz, 2006; Martins, 2009; ência educativa. Para minimizar esse ris-
Schramm, 2009, Souza, 2006). Além de co, seria necessário uma série de medi-

574
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

das, como a realização de vários grupos ENTRE CRIVOS EPISTEMOLÓGICOS E


de crianças, a fim de dificultar a identifi- MODOS DE APREENSÃO: QUEM NOMEIA
cação da autoria das opiniões e sentimen- A INFÂNCIA E A CRIANÇA?
tos apresentados. Concluímos, portanto, Romilson Martins Siqueira - PUC/Goiás
que seria melhor, no sentido de proteger romilson@pucgoias.edu.br
as crianças, que elas não participassem
Financiamento: CAPES
dessa consulta, apesar do processo ficar
empobrecido por essa ausência. Nos últi- O presente trabalho tem como objeto
mos anos, a área da Psicologia tem sido o estudo as concepções de infância e de
demandada a pensar acerca do papel do criança no campo da educação e da psi-
psicólogo na escuta de crianças suposta- cologia. Estudar uma concepção significa
mente vítimas de violência. A partir de estudar “aquilo que a coisa expressa ser,
consulta recebida sobre o procedimento mas não é”. Dito de outro modo, uma con-
denominado Depoimento sem Dano, o cepção é elaborada no plano das idéias,
Conselho Federal de Psicologia tem pro- fato que pode ocultar o seu sentido e sua
movido o debate e tomado posição acer- razão. A concepção expressa o que é pen-
ca de várias questões éticas envolvidas sado, perspectivado, elaborado e dito so-
nessa escuta, tanto relativas ao papel do bre. No caso, é uma forma de como a so-
psicólogo como às possíveis consequên- ciedade representa a infância e a criança.
cias para as crianças e adolescentes (da- Uma coisa é falar sobre as “concepções de
nos, sofrimento, revitimação) (CFP, 2009). infância e de criança”, outra coisa é falar
Escutar as crianças, portanto, é decorren- da “infância e da criança” em si, portan-
te não só do desejo de aprofundar certos to, em sua concretude. Claro que essas
conhecimentos, mas também de uma dimensões: o real e o racional, o conceito
postura política de insatisfação diante das e a realidade, o lógico e o histórico estão
condições em que vivem a sua infância. O referidas reciprocamente. Mas é certo
maior conhecimento das perspectivas das também que não há uma correspondên-
crianças sobre aspectos de suas experiên- cia empírica imediata, ao menos do ponto
cias realmente tem permitido ampliar o de vista de uma epistemologia dialética,
conhecimento acumulado sobre as pró- entre o conceito e a realidade que ele no-
prias crianças e sobre temas a elas rela- meia. De início, portanto, já se coloca uma
cionados, fornecendo elementos para problemática importante no contexto des-
melhor fundamentar ações a seu favor. te estudo. Se o tempo e o cenário em que
Mas o empenho em escutar as crianças se vive hoje são marcados pelos processos
precisa ser orientado também pelo maior de (des)razão, quais são as possibilidades
cuidado com esses sujeitos, devido a sua de se pensar a infância e a criança con-
maior vulnerabilidade e respeito que lhe temporâneas partindo de outra lógica?
é devido. Não haveria outro espaço e sentido senão
aqueles marcados pela crítica, pela auto-
Palavras-chave: pesquisa com crianças, nomia e pela razão. Mas porque partir dos
ética em pesquisas com crianças, escuta de estudos sobre as concepções de infância
crianças. e criança? Segundo Miranda e Resende
(2009), “palavras são realidades lógicas e

575
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

históricas. Nos seus sentidos e significa- ça no Brasil, constituídas particularmente


dos, são sínteses produzidas por objeti- a partir da segunda metade do século XX,
vações humanas em condições históricas foram crivadas predominantemente pelos
determinadas e, enquanto tal, revelam ou marcos legais/institucionais e resultaram
velam intencionalidades, direções, proje- na afirmação de uma identidade marcada
tos.” (p. 201) Neste caso, a elucidação dos pelos discursos psicológico e sociológico
sentidos e significados de uma nomeação nos quais as tensões, o sujeito e a subje-
nos remetem à “percepção de que as pa- tividade estiveram, por vezes, também
lavras podem se referir a várias coisas e a subsumidas. A defesa dessa idéia guarda
nenhuma ao mesmo tempo.” (Resende, sua afirmação na análise que foi realizada
2001, p. 533). A exemplo disso, pode-se no doutoramento em educação, a partir
perceber como muitos estudos justapõem do estudo de 151 trabalhos, sendo estes
as concepções de criança e de infância 27 livros, 70 capítulos de livros e 54 arti-
como intercambiáveis. Para muitos auto- gos, objetos da produção científica de 10
res, falar da infância é falar da criança e grupos de pesquisa cadastrados no CNPq,
vice-versa, como se, ao fim, falassem de o que representa parte substantiva da
tudo. Contrária a essa perspectiva está a pesquisa sobre a infância e a criança em
afirmação de que criança e infância são quase todas as regiões brasileiras. Nesse
interdependentes, já que não é possível conjunto, foram analisados os trabalhos
deixar de apreender na criança a infância, de 05 grupos na psicologia e 05 na educa-
muito menos de reconhecer que na infân- ção, sendo os mesmos representativos de
cia há uma expressão da criança, mas as 06 IES públicas federais, 03 privadas e 01
duas categorias, se se aproximam e se afir- estadual. Vale aqui a ressalva de que este
mam, também se afastam e se negam e trabalho não se propôs a avaliar esta pro-
não são as mesmas. Ambas se constituem dução científica, mas tomá-la como ponto
como categorias históricas e sociais, mas de partida para a compreensão daquilo
a criança revela o indivíduo e a infância que vem sendo formulado em torno das
revela o tempo social e histórico em que concepções de infância e de criança. Mas
esse indivíduo se constitui e constrói a sua porque tomar os campos da educação e
história. Enquanto síntese deste trabalho da psicologia? Porque objetivou-se com-
pôde-se apreender movimentos de nega- preender como se tensionam os campos
ção e de reafirmação da criança e do seu teóricos que advogam a autoridade de
tempo da vida. Se num tempo a expressão postular o que se compreende por criança
infante circunscreveu o silêncio e a abstra- e infância, ao mesmo tempo em que per-
ção da infância e da criança, por outro, e mitiu interrogar sobre o que vem sendo
atualmente, um determinado tipo de dis- produzido sobre criança e infância no Bra-
curso sobre o protagonismo tem afirma- sil. Neste caso, a relação entre Educação-
do o direito, a voz e a ação dos sujeitos -Psicologia tem historicamente marcado
da infância. Todavia, esse processo não se presença no campo da produção intelec-
deu deslocado da História e das contradi- tual sobre a infância e a criança, ora em
ções sociais. A idéia central que norteia movimentos de confluências, ora de em-
este trabalho parte da compreensão de bates epistêmicos. Também tem orienta-
que as concepções de infância e de crian- do muitas das produções sobre o tema e,

576
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

particularmente, tem informado modos lógico-histórico e das condições concretas


de compreensão da criança e da infância e objetivas que produzem os padrões de
em seus processos correlatos: subjeti- sociabilidade, a infância, a criança e a sub-
vidade, educação, sociabilidade, dentre jetividade continuam abstratas.
outros. Ademais, tem sido convocada es-
pecialmente quando a segunda toma os Palavras-chave: infância; criança; “menor”.
fenômenos educacionais como objetos de
análise e a primeira se apropria da ciência
psicológica para empreender e respaldar DA CONDIÇÃO DE ‘MENOR’ EM
os processos educativos no campo das te- ‘SITUAÇÃO IRREGULAR’: RETRATOS DE
orias, das políticas e das práticas. Os resul- INFÂNCIAS NA MPB
tados deste estudo indicaram que, a partir Rosângela Francischini - UFRN
da segunda metade do século XX, aquilo rfranci/@uol.com.br
que constituiu a história da infância e da Narjara Medeiros de Macêdo
criança brasileira, e consequentemente a narjaramaceo@yahoo.com.br
formulação de suas concepções, foi sinte-
tizado e recortado, predominantemente Pensar a produção artística implica, neces-
pelo recorte do aparato jurídico-legal. Ou sariamente, a consideração do contexto
seja, a nomeação da infância e da criança social e histórico em que esta foi elabora-
foi afirmada por uma certa “força da lei” da. As manifestações artísticas sempre es-
como determinante destas concepções. tiveram associadas às tradições e culturas
Da concepção de menor à concepção de de cada época, tendo, portanto determi-
sujeito de direito as crianças foram en- nadas funções e atribuições relacionadas
quadradas no imperativo da lei. Da mes- à estrutura social, em um determinado
ma forma, uma certa noção de “infância momento. Segundo Stalschimidt (1999),
como construção social ou histórica/cultu- em diferentes culturas ao longo da histó-
ral” foi propagada sem considerar a ten- ria da humanidade, podem ser encontra-
são dialética que perpassa temas como das manifestações artísticas que expres-
classe, desenvolvimento natural-social e a sam, de algum modo, as características da
infância como tempo da vida. Desse pro- sociedade em que foram produzidas, bem
cesso investigativo é possível indicar as como as formas de relações entre seus
tendências predominantes como a ausên- membros. A música, por exemplo, pode
cia do tema da subjetividade, a presença ser encontrada em diferentes contextos
de riscos que envolvem reducionismos, a sócio-históricos, com funções bem dis-
presença do recorte da identidade pelo tintas, tais como em rituais religiosos, na
Direito, a presença de uma epifania da educação/formação dos indivíduos, como
criança na exacerbação do protagonismo procedimento terapêutico, na crítica ou
infantil, a ausência da tensão entre natu- manutenção de padrões estabelecidos,
ral-biológico e social-histórico e ausência dentre outros. Deste modo, as canções e
do debate sobre o desenvolvimento da músicas podem esclarecer certos aspec-
criança. Portanto, considera-se que, sem a tos da história e da cultura, que nem sem-
apreensão daquilo que se entende por in- pre se apresentam de maneira explícita ou
fância e criança no campo da relação entre acessível por meio de outras linguagens.

577
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Como afirma Moraes (2002), a música, so- Menores de 1979, qual seja, sujeito “em
bretudo a popular, pode ser compreendi- condição irregular”, retratada em duas
da como parte de uma trama povoada por composições musicais brasileiras, partin-
contradições e tensões em que os sujeitos do do pressuposto de que a construção,
sociais (re) constroem partes da realida- a profusão e significação de elementos
de social e cultural, por meio dos sons. culturais e formas simbólicas comparti-
Nessa perspectiva, a produção artística, lhados em uma dada sociedade, em de-
especialmente a musical, tem represen- terminado momento histórico, refletem
tado, a partir da década de 70, material e refratam as condições dessa sociedade.
documental de interesse em pesquisas de No Brasil, teóricos que se ocupam da dis-
enfoque histórico, antropológico, semio- cussão sobre as políticas de atendimento
lógico, sociológico e literário, para citar os à Infância (Pilotti & Rizzini, 1995, Rizzini,
mais representativos. As formas através 1997, 1998; Kramer, 2001; Faleiros, 1995;
das quais a música foi se expandindo na Neves, 1999) vêm apontando que a con-
sociedade, enquanto veículo de informa- cepção de infância que orienta essas po-
ção ou de massificação, ganha contornos líticas passa por um percurso inaugurado
diferenciados, decorrentes dos momentos pela Doutrina do Direito do Menor (em
históricos no desenvolvimento das socie- oposição à criança), substituída posterior-
dades. Assim, além de podermos observar mente, pela Doutrina da ‘Situação Irre-
manifestações específicas predominantes gular’ que, decorrente de ampla mobili-
em determinadas épocas, convivem, em zação popular, foi abandonada e em seu
um mesmo momento histórico, diferen- lugar adotou-se, com o Estatuto da Crian-
tes possibilidades de expressão musical e ça e do Adolescente (Lei 8.690, 1990), a
ideológica. Isso porque, seguindo Bakhtin Doutrina da Proteção Integral. Não é ob-
(1979), enquanto manifestação simbólica jetivo, neste trabalho, aprofundarmo-nos
a música é perpassada pelo diálogo entre na discussão a respeito dessas doutrinas.
diversas vozes culturais, caracterizado ora Nossa intenção, ao chamá-las ao cenário,
por oposição/confronto, ora por comple- sinaliza para uma direção/proposta de
mentaridade ou ainda por concordância. análise das letras das músicas, que, de al-
Desta forma, a música pode carregar ma- guma forma, trazem o protagonista “Me-
nifestações da cultura dominante, erudi- nor em situação irregular”. Essa catego-
ta/formal, bem como da cultura popular ria, presente no imaginário da população
em suas formas folclóricas, urbanas e/ou por um longo período de nossa história,
massificadas. Essas possibilidades que a persiste no sentido de que configura uma
música nos apresenta, de trazer conteú- concepção de infância “delinqüente”,
dos do contexto de sua produção, podem “abandonada”, que vive nas ruas e/ou em
ser observadas também nas letras de can- ambientes familiares “desestruturados”,
ções brasileiras cujo tema é a infância. As- na mendicância, e/ou praticando atos in-
sim como a música, a infância é uma cons- fracionais. Foram selecionadas as músicas
trução social. A partir das observações aci- Pivete, de Chico Buarque e Francis Hime
ma, estabelecemos, como objetivo deste (1978) e Relampiano, de Paulinho Moska
trabalho, apresentar e discutir a concep- e Lenine (1997). A análise das letras obe-
ção de infância que norteou o Código de deceu aos seguintes elementos constitu-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tivos, que aqui são apenas sinalizados: a.) crição, em terceira pessoa, em podemos
a condição do protagonista; b.) o teor do identificar a expressão do sofrimento que
discurso sobre o protagonista; c.) quem comparece no relato da situação de vida,
“fala” desse protagonista. O discurso na de família e da condição de pobreza do
composição Pivete pode ser entendido Neném. A aparente resignação frente a
como uma narrativa do cotidiano de um essa condição, presente em “tudo é tão
sujeito em situação de rua, no Rio, em normal, tudo tal e qual” marca o não dis-
atividades de trabalho: vendedor no se- tanciamento dos autores da música em
máforo, flanelinha; em atividade ilegal: relação à condição do Neném.
“aponta o canivete”, “arromba uma por-
ta Faz ligação direta”; “agita numa boca,
descola uma mutuca”, e perambulando MR LT04
e mendigando: “zanza na sarjeta, fatura Mesa Redonda
uma besteira”. Assim, o protagonista é o
retrato do sujeito em ‘situação irregular’.
No entanto, considerando o autor da com- MR LT04-1407 - CONSTRUCIONISMO
posição, Chico Buarque, cujas canções SOCIAL: DESCOBRINDO CRIANÇAS QUE
são marcadas pela oposição ao regime FORMAM PESQUISADORES
autoritário, Pivete é mais um registro da-
quilo que contraria o discurso dominante, Paula Cristina Medeiros Rezende - UFU
na época, sobre crianças e adolescentes. lalamedeiros@netsite.com.br
Nas palavras de Meneses, Chico “privile- Marcella Oliveira Araújo - USP
gia o marginal como protagonista, pondo moa.psic@gmail.com
a nu, assim, a negatividade da sociedade. Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo Ferreira - USP
Desde o primeiro disco (...) os despossuí- melolud@yahoo.com.br
dos têm voz e vez. Malandros, sambistas,
pedreiros, pivetes, prostitutas, pequenos Esta mesa pretende refletir, a partir das
funcionários, sem terra, mulheres aban- contribuições do construcionismo social,
donadas”. (Meneses, 2003: 58). Sobre Re- sobre a pesquisa com crianças e a cons-
lampiano o personagem central, Neném, tituição do pesquisador da infância. Esta
é retratado na condição de trabalho nas reflexão apresenta-se profícua quando
ruas e pelo contexto de moradia em um nos posicionamos como pesquisadores-
barraco junto à mãe, aos irmãos e de um -adultos interessados em investigar a in-
“pai de agora”. Assim, igualmente, crian- fância por ela mesma. Esta empreitada
ça em ‘situação irregular’. A descrição não nos permite pensar em uma criança
das atividades de Neném não pode ser como um ser universal, isolado e imper-
localizada em um narrador determinado, meável às categorias culturais e sociais,
ao contrário do que ocorre com Pivete. mas sim nos convidam à interlocução
O refrão da canção evidencia a presença com sujeitos ativos, produtores de cul-
da mãe: “Tá relapiano, cadê Neném?”, e tura que emergem em um movimento
uma resposta, que não se sabe por quem ativo de negociação social. A primeira
é emitida: “Tá vendendo drops ...” Os de- fala versará sobre a apresentação de al-
mais segmentos demonstram uma des- guns conceitos do construcionismo so-

579
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cial, especificamente, responsabilidade CONSTRUCIONISMO SOCIAL:


relacional, posicionamento, postura de APROXIMAÇÕES NO CAMPO DA
não saber, relacionamento colaborativo, INFÂNCIA
conversas dialógicas e suplementação. Paula Cristina Medeiros Rezende - UFU
Pretende-se articular a utilização desse lalamedeiros@netsite.com.br
repertório conceitual no processo de pes-
quisar a infância, explicitando os desafios O construcionismo social, como um refe-
e as interessantes descobertas quando rencial teórico-metodológico disponível
dessa aproximação. A segunda apre- socialmente, compreende o conhecimento
sentação abordará a utilização do diário como uma função da interpretação social
de campo como uma ferramenta útil no de uma comunidade linguística, atribuin-
processo de constituição do pesquisador do destaque aos sentidos construídos
da infância. Tal ferramenta é compreen- pelas pessoas enquanto interagem. Esta
dida por nós como um espaço possível perspectiva teórica valida o discurso sócio-
de experimentação, na medida em que -historicamente construído, na medida em
ao descrever determinadas experiências, que questiona a ciência como propriedade
utilizando-se de um repertório linguístico do indivíduo e produtora de verdades uni-
e uma forma específica de escrita, con- versais e objetivas. Atualmente, o constru-
tribuímos para a construção de infâncias cionismo social tem avançado no campo da
específicas. A partir da análise dos diários psicoterapia, ampliando novas possibilida-
de campo pretendemos refletir sobre o des de ação do terapeuta e o processo te-
processo de formação do pesquisador rapêutico. Apoiado em suas contribuições
da infância, explicitando a trajetória de o terapeuta construcionista tem como foco
aprendizagem que se configura enquanto a potencialidade do significado, a co-cons-
entrevistamos as crianças. Em seguida, a trução do processo terapêutico, a ênfase no
terceira fala apresentará uma pesquisa relacionamento, a polivocalidade, a ação e
empírica realizada com crianças de idade as potencialidades dos clientes superando
entre quatro e sete anos, como forma de a noção de problema como algo existen-
refletir sobre a utilização da entrevista e te para além das formas de descrevê-lo.
do diário de campo como ferramentas Esse conjunto de ideias conceituais, que
metodológicas para o pesquisador da in- sustentam e inspiram a atuação de tera-
fância, bem como os desdobramentos e peutas construcionistas, quando transpor-
possibilidades destes recursos; tendo o tados para o campo da educação tem nos
construcionismo social como embasa- ajudado a ampliar a compreensão sobre a
mento teórico para a construção da pes- constituição da infância e, por conseguinte
quisa e a análise dos dados. Destaca-se, a a criar novas possibilidades de se conduzir
partir do estudo apresentado, o instigan- pesquisas nesta arena de conhecimento.
te exercício de conversar com as crianças, Para este trabalho pretendo dar visibilida-
em um formato inusitado de aproximação de a alguns conceitos do construcionismo
e pesquisa com os pequenos; e a explo- social, especificamente, responsabilidade
ração de novos caminhos metodológicos relacional, posicionamento, postura de
e perspectivas teóricas realizadas pelos não saber, relacionamento colaborativo,
pesquisadores. conversas dialógicas e suplementação, e

580
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

articulá-los ao processo de pesquisar a in- modos de lidar com crianças. Deste modo,
fância. Utilizar esse repertório conceitual a perspectiva teórica do construcionismo
que sustenta e inspira a atuação de pesqui- social, ao distanciar-se da coleta e quanti-
sadores construcionistas pode se configu- ficação dos dados, permite compreender
rar em um desafio para aqueles que estão os discursos a partir do lugar onde são pro-
introduzindo este conhecimento no campo duzidos, procurando revelar o processo, o
da educação, especialmente a que se en- movimento e o sentido. A aproximação da
carrega das questões da infância. Neste teoria do construcionismo social ao territó-
processo emergem inquietantes indaga- rio da educação infantil tem gerado otimis-
ções: Como ser um pesquisador da infância mo em relação às produções futuras neste
coerente com os pressupostos teóricos do campo de conhecimento.
construcionismo social? Como colaborar
na transformação social da narrativa sobre Contato: Paula Cristina Medeiros Rezende,
a infância? O que poderia ser útil nesse Universidade Federal de Uberlândia – Instituto
processo? Como se constroem perguntas de Psicologia, lalamedeiros@netsite.com.br
que acionam, no encontro com as crianças,
recursos para compreender e constituir a
infância que queremos? A partir do movi- DIÁRIO DE CAMPO: QUE INFÂNCIAS,
mento que tais questões geram, propomos CRIANÇAS E PESQUISADORES
uma análise que foca a relevância de se uti- ESCREVEMOS?
lizar tais conceitos como ferramentas con- Marcella Oliveira Araújo - USP
versacionais na ação do pesquisador que moa.psic@gmail.com
entrevista crianças. Como instrumento de
pesquisa a entrevista apresenta-se como O construcionismo social, enquanto uma
extremamente interessante quando obje- perspectiva teórica e metodológica, res-
tiva, em primeira instância, identificar prá- salta que as descrições do mundo são re-
ticas interpretativas. Ao estar com as crian- sultado dos significados construídos em
ças, acreditamos que as interrogações são relacionamentos. Ao descrever o mundo,
alternativas que abrem caminho para en- sentidos e significados são produzidos e
tender as relações, situando-as histórica e negociados dialógica e relacionalmente.
culturalmente; convivendo com a surpresa, A linguagem, dessa forma, é considerada
na qual não se tem uma receita pré-deter- em seus aspectos performáticos como
minada e uma verdade absoluta que guie ação no mundo, ou seja, uma construção
o pesquisador, mas sim uma abertura para ativa no mundo. Se ao falarmos marcamos
o desconhecido no qual o pesquisador re- posicionamentos e sustentamos alguns
flete sobre o óbvio e entende o ‘pesquisa- sentidos, na escrita isso não é diferente.
do’ por ele mesmo, não por uma verdade Nesse sentido, esta apresentação busca
histórica e exata. Destaca-se, deste modo, dar visibilidade à utilização do diário de
que o posicionamento de ouvir a criança campo, entendido como registros escri-
e construir uma relação que a possibilite tos construídos a partir da experiência de
ser interlocutora, explorando suas narra- pesquisar crianças, como uma ferramenta
tivas são movimentos interessantes que útil no processo de constituição do pes-
nos ajudam a problematizar os diferentes quisador da infância. Quando construímos

581
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um texto consideramos regras linguísticas pertório linguístico e uma forma específi-


e escolhemos palavras e pontuações que ca de escrita, decorrem desse processo di-
serão utilizadas, tecendo, assim, uma nar- ferentes ações e construções das infâncias
rativa sobre o ser e estar pesquisador. À e suas crianças em situação de pesquisa.
priori esse registro carece de interpreta-
ção que será articulada com a participação Contato: Marcella Oliveira Araújo,
de um interlocutor que trará ao diálogo Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto-SP
aspectos históricos, culturais e relacionais, moa.psic@gmail.com
anteriores ao momento da leitura; e que
também participará da negociação de um
significado e não de outro. Deste modo, o JOGANDO CONVERSA (SÉRIA) FORA:
texto escrito é um conteúdo linguístico a PESQUISANDO COM CRIANÇAS
ser complementado e significado no mo- Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo Ferreira -
mento da leitura. O registro de estar, con- USP
versar, brincar, pesquisar com crianças vai melolud@yahoo.com.br
além de uma simples descrição que tem
a infância como objeto de estudo, tema Considerando as contribuições do cons-
ou assunto discutido. Ao registrar, docu- trucionismo social para a pesquisa com
mentamos a criação de uma infância es- crianças, e buscando discutir sobre a en-
pecífica que se faz surgir a partir da mão trevista e o diário de campo como fer-
do pesquisador que atua ativamente no ramentas interessantes nesta área, pro-
processo de escolha sobre como dar visi- põem-se a apresentação de uma pesquisa
bilidade as experiências de pesquisar com empírica com crianças, em que estes re-
crianças. Dessa forma, não só se tornam cursos foram utilizados na metodologia e
visíveis a constituição das infâncias e suas o construcionismo social como referencial
crianças, como também a constituição do teórico. O objetivo da pesquisa foi analisar
pesquisador que se dispõe a desenvolver os sentidos construídos e negociados por
uma postura de não-saber, a fim de pro- crianças e pesquisadoras a partir de de-
mover o diálogo e sustentar uma inves- terminados posicionamentos assumidos
tigação compartilhada. Neste processo, enquanto conversavam durante um exer-
onde pesquisadores e crianças investigam cício denominado “jogando conversa (sé-
a partir de suas curiosidades, há que se in- ria) fora”, uma brincadeira de perguntas e
dagar sobre: as palavras que escolhemos respostas em formato de entrevista, que
para registrar nossas experiências em pes- foram gravadas em áudio e em seguida
quisa com crianças; os recortes que elege- transcritas. O estudo foi desenvolvido em
mos dar visibilidade e como temos olhado praças públicas, com quatro participantes,
para o diário de campo enquanto uma sendo três meninos e uma menina, com
ferramenta de pesquisa com crianças. O idade variando entre quatro e sete anos.
construcionismo social nos convida a dar Desta forma, utilizou-se de uma entrevista
visibilidade ao diário de campo enquanto com nova roupagem, ou seja, uma entre-
um espaço possível de experimentação, vista-brincadeira, a partir da qual foi pos-
na medida em que ao descrever determi- sível brincar de perguntar e responder di-
nadas situações, utilizando-se de um re- versas questões que foram constituindo a

582
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conversa entre pesquisadoras e crianças. palmente para a análise das entrevistas, a


A priori, este modo de aproximação apre- qual compreendeu quatro temas que nos
sentou-se como inusitado, visto que o es- possibilitaram discutir algumas situações
paço físico nos impunha certa imprevisibi- de interação que elegemos interessantes,
lidade e a falta de um roteiro pré-definido a saber: 1) Descobrindo crianças “pergun-
a ser seguido também nos colocava diante tadeiras”; 2) “Pergunta é pra conversar”:
da experimentação da espontaneidade e discutindo uma ferramenta de pesquisa
criatividade. No entanto, ao experimen- com crianças; 3) Negociação de sentidos;
tarmos o exercício proposto, percebemos e 4) Pesquisador em formação. Destaca-
o quanto a entrevista pode ser um recurso mos deste trabalho que o enquadramento
rico para compartilhar o espaço da infância relacional específico utilizado no estudo
e aproximar-se das crianças. Elas, curiosas possibilitou reconhecer a potencialidade
e “perguntadeiras”, não só responderam das descobertas durante a conversa com
às nossas curiosidades e perguntas como as crianças e, ainda, permitiu refletir sobre
também quiseram fazer perguntas e cons- como colaboramos, como pesquisadores-
truir conosco a brincadeira de perguntar. -adultos, com o processo de constituição
Juntamente com a entrevista, propomos da infância e da pesquisa com crianças a
como recurso metodológico o diário de partir da construção e combinação de re-
campo realizado imediatamente após cursos metodológicos, aliados à explora-
cada entrevista. Essa ferramenta foi como ção de novas perspectivas teóricas.
um fio condutor da pesquisa, estando pre-
sente desde a primeira entrevista até a Contato: Ludmilla Dell’Isola Pelegrini de Melo
análise dos dados. Na escrita do diário se Ferreira, Universidade de São Paulo – Ribeirão
concretizava os sentidos e os significados Preto-SP, melolud@yahoo.com.br
construídos pelas pesquisadoras durante
as entrevistas, como: as dificuldades de
aproximar das crianças, as inquietações MR LT01
de como propor uma brincadeira de con-
versar, o próprio jeito de falar e conduzir a
Mesa Redonda
conversa, bem como as dúvidas, os emba-
raços, as surpresas e as conquistas duran-
te o processo. Foi assim que cada diário de MR LT01-1053 - VIOLÊNCIAS,
campo gestava a próxima entrevista que TRAUMATISMOS E VULNERABILIDADES
estava por vir, possibilitando-nos sentir- NO CICLO VITAL: ESTUDOS COM O
mos confortáveis e confiantes com o exer- MÉTODO DE RORSCHACH
cício, e até modificarmos alguns aspectos,
como a aproximação das crianças, o jeito Temas como abuso, violência e suicídio
de conversar e perguntar, os tipos de per- são signos do mal-estar da atualidade e
guntas, e diversos outros detalhes e nu- revelam estados de vulnerabilidade do hu-
ances deste desafio de pesquisar (e con- mano ao longo do seu ciclo vital. Pesqui-
versar) com crianças. Neste processo, o sas com o Método de Rosrchach tem bus-
construcionismo social foi utilizado como cado investigar esses temas. Nesta mesa
referencial teórico-metodológico, princi- serão apresentados quatro trabalhos que

583
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

envolvem a vulnerabilidade da infância, que eles não suportam ou não conseguem


adolescência e vida adulta. No primeiro realizar dificultando a transformação na
trabalho, as autoras investigam efeitos corrente libidinal. Considera-se que o agir
psíquicos de traumatismos precoces pro- é, muitas vezes, uma forma de lidar com a
duzidos pelo abuso sexual em crianças. angústia e que pode revelar a fragilidade
Considera-se que em função desse estágio da capacidade de mentalização deste gru-
de desenvolvimento esses traumatismos po. O método de Rorschach permite inves-
tendem a produzir danos psíquicos que tigar o funcionamento psíquico e psicodi-
afetam o pensar, a capacidade de simboli- nâmico e pode favorecer a construções
zar, o ajustamento no mundo e produzem de estratégias terapêuticas nesta clínica
frequentes danos na aprendizagem. As de tão difícil intervenção. O ultimo traba-
consequências do abuso são múltiplas e lho, apresenta reflexões sobre a violência
o método de Rorschach é um instrumento dirigida contra si, investigando o tema
poderoso nessa investigação. O segundo do suicídio, e os problemas importantes
trabalho continua abordando o tema do associados a dificuldades psicológicas e
abuso sexual na perspectiva de crianças ao sofrimento psíquico grave que podem
e adultos. Neste trabalho a autora apon- ter criado situação favorável às tentativas
ta que o Rorschach tem sido considerado de suicídio. São desenvolvidas considera-
um instrumento ideal para desencadear ções preliminares sobre o risco de suicídio
memórias e sentimentos relacionados às apontando como o método de Rorschach
vivências traumáticas. O processo de sub- é um instrumento adequado para investi-
missão ao teste pode ser muito semelhan- gações psicológicas neste contexto, além
te à revivência da situação dramática em de oferece informações clínicas que me-
pesadelo. Além disso, o teste pode forne- lhor qualificam o psicodiagnóstico e as
cer, de modo indireto, informações essen- recomendações terapêuticas possíveis na
ciais de personalidade que os inquiridos intervenção em crise com pacientes que
não reconhecem plenamente em si ou são acometidos desse risco.
hesitam em admitir quando questionados
sobre eles diretamente por meio de ins-
trumentos de autorrelato. De outra parte, O RORSCHACH DE CRIANÇAS VÍTIMAS DE
no trabalho seguinte, investiga-se a pers- ABUSO SEXUAL E PERDAS PRECOCES
pectiva do abusador adolescente, consi- Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS
dera-se que essa fase do desenvolvimento silvanalba@upf.br
é um momento de intensa instabilidade Anna Elisa Villemor Amaral - USF/SP
produzidas pelas mudanças corporais e anna.villemor@saofrancisco.edu.br
psicológicas que colocam em perspectiva
uma reorganização da identidade corpo- A perda é um evento comumente pre-
ral e psicológica da infância. Enfatiza-se sente na vida das pessoas e pode ser um
os aspectos traumáticos deste período, catalisador promotor de crescimento. En-
destacando-se as transformações violen- tretanto, considerando que as perdas dife-
tas decorrentes da genitalização do corpo rem em sua natureza e na amplitude que
e do psiquismo, considerando que em cer- afetam as pessoas, podem tornar-se uma
tos adolescentes há um trabalho psíquico sobrecarga para o individuo. Isso quer

584
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dizer que pode atingir certos indivíduos ocorrência de eventos traumáticos em pe-
mais intensamente do que outros devido ríodos que antecedem o desenvolvimento
às circunstancias, ao período do desenvol- da habilidade da criança em diferenciar o
vimento, e/ou a multiplicidade formas sob que é real e o que é fantasia, em que o
as quais elas ocorrem. Assim sendo, cer- pensamento concreto predomina, faz com
tas variáveis que influenciam na resposta que seus mais assustadores pensamentos
ao trauma residem no estressor externo. pareçam realidade. Como consequência,
Isso inclui a magnitude e a severidade do a capacidade de pensar, de investigar e
trauma bem como seu fator de imprevisi- de simbolizar torna-se precária e a com-
bilidade e duração. Um trauma repetitivo preensão e o ajustamento ao mundo pre-
e altamente violento tem mais efeitos psi- judicados. São frequentes os danos no
cológicos severos do que incidentes rela- desenvolvimento do pensamento e na
tivamente não violentos e únicos. Outras aprendizagem, que, nesse contexto estão
variáveis moderadoras residem no sujeito, relacionados a uma inibição sintomática,
por exemplo, indivíduos com vivências utilizada como tentativa de remover uma
traumáticas anteriores não elaboradas situação de perigo geradora de ansieda-
tendem a responder de forma mais mal- de para o ego, que é conhecer a própria
-adaptativa a uma nova situação traumá- história. As consequências traumáticas do
tica, assim como os que possuem história abuso sexual são múltiplas e necessitam,
de desordem psicológica estão mais pre- além de procedimentos de observação e
dispostos a resposta patológica ao trau- de entrevistas, de instrumentos eficien-
ma. Aliado a isso, o estágio de desenvolvi- tes e hábeis para responder a avaliação
mento da vítima na ocorrência do trauma deste construto. Entre eles, os pesquisa-
é uma variável moderadora interna pode- dores destacam o Método de Rorschach
rosa. A pesquisa sobre o trauma repetitivo como mais amplamente usado, aceito
em crianças indica que tais experiências e indicado para essa finalidade. Os pri-
estão propensas a ter um efeito pervasi- meiros estudos com o uso do Rorschach
vo no desenvolvimento da personalidade. nesse contexto foram desenvolvidos com
Outras variáveis moderadoras refletem a sobreviventes de guerra e constataram o
interação entre o indivíduo e o contexto aumento no movimento inanimado m. O
da vitimização. Se, por uma lado, uma si- mestá relacionado, portanto, com forças
tuação traumática causada por uma outra ou impulsos fora do controle do sujeito,
pessoa tende a levar a uma reação psicoló- como também com pensamentos e impul-
gica mais séria do que a experiência de um sos inadequadamente integrados em sua
trauma impessoal, como um desastre na- estrutura cognitiva. São forças que podem
tural, por outro, no trauma do incesto, os provir tanto do interior, como os impulsos
laços de proximidade entre o perpetrador que ameaçam a autoimagem ou o sistema
e a vítima tornam mais propensos o de- de valores ,quanto do o exterior, como
senvolvimento do Transtorno de Estresse forças ambientais, incontroláveis e frus-
Pós-Traumático TEPT com profundo dano trantes. Um dos aspectos centrais das res-
ao ego. Talvez, esse seja um dos aspectos postas de m é revelar o significado a como
mais dolorosos da experiência traumáti- o sujeito vivenciou suas experiências de
ca, a perda de um sentido de si mesmo. A vida, como elas estão representadas em

585
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seu psiquismo e como passaram a consti- de desamparo e impotência, associados


tuir o seu mundo interno. Nessa perspec- a circunstâncias que fogem ao controle e
tiva, o presente estudo teve por objetivo que, portanto, constituem um alarme, um
analisar qualitativamente as respostas de indicativo de conflito e tensão, comum em
m, indicador de vitimização e trauma, e processos de vitimização e trauma, confir-
contribuir com a validade do Rorschach mando as expectativas do estudo.
nesse contexto. Foram analisados 16 pro-
tocolos do Rorschach no Sistema Compre- Palavras-chave: Rorschach no Sistema
ensivo de crianças, entre 10 e 14 anos de Compreensivo; abuso sexual infantil;
idade, 11 meninas e cinco meninos, com evidências de validade.
nível socioeconômico e escolaridade bai- Contato: Silvana Alba Scortegagna,
xos, vítimas de abuso sexual intrafamiliar Universidade de Passo Fundo – UPF/RS
documentado, contendo respostas de m. silvanalba@upf.br
Entre as verbalizações das 23 respostas
emitas pelas crianças, destacam-se: “ta
caindo uns pinguinhos de sangue”, “escor- A AVALIAÇÃO DE TRAUMAS POR
rendo sangue”, “ninho...ta se quebrando, ESPANCAMENTO E ABUSO SEXUAL EM
se desfazendo”, “muito sangue caindo CRIANÇA E ADULTO
nas pessoas”, “duas nuvens pretas se en- Ana Cristina Resende - PUC/Goiás
contrando”, “um navio negro vindo, “o anacristinaresende@hotmail.com
fígado de uma pessoa sangrando porque
ta tipo uma cor mais escura e uma mais Sobre o espancamento e o abuso sexual,
clara”. Observa-se que as respostas de m neste estudo definido como constrangi-
associadas a conteúdos de sangue e a con- mento à conjunção carnal mediante vio-
teúdos sexuais simbólicos podem denotar lência ou grave ameaça, pode-se dizer
um ego frágil, ameaçado pela invasão de que se trata de duas experiências com
forças alheias ao seu controle. Já a asso- um grande potencial de desenvolver um
ciação de m à cor acromática e ao sombre- Transtorno de Estresse Pós-Traumático
ado difuso, podem representar a vivência (TEPT). Quanto mais cruel é a violência
de sentimentos persecutórios à vitimiza- sofrida, mais grave tende a ser o efeito
ção, a ansiedade invasora, alheia ao seu psicológico. Quanto mais a pessoa é ame-
controle, podendo ser percebida como açada, maior pode ser medo que ela sente
fruto do destino, de sua história pesso- e provavelmente maior será o trauma psi-
al. Verifica-se ainda, que as respostas de cológico também. O Rorschach tem sido
m partem de uma sensação cinestésica considerado um instrumento ideal para
presente, como algo que está sendo vi- desencadear memórias e sentimentos
venciado, o que pode igualmente denotar relacionados às vivências traumáticas. O
uma relação mais direta com o processo processo de submissão ao teste pode ser
da experiência traumática. Em conclusão, muito semelhante à revivência da situa-
os resultados deste estudo contribuíram ção dramática em pesadelo. Seus estímu-
para asseverar a validade do Rorschach, los pouco definidos, ou vagos, com suas
e ratificaram que as respostas de m são cores acromáticas e vibrantes, evocam
sugestivas da presença de sentimentos imagens distintas de situações de perdas,

586
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de culpa, de medo, de agressões físicas e revelam a percepção única da realidade,


morais que são projetadas nas manchas a história do abuso, o senso do dano que
como respostas. Além disso, o teste pode sofreram e as emoções dolorosas de cada
fornecer, de modo indireto, informações uma delas. Além disso, as duas revelaram
essenciais de personalidade que os inqui- Índices de Depressão positivos (DEPI 7 e
ridos não reconhecem plenamente em si 6) e vários indícios de Transtornos de Es-
ou hesitam em admitir quando questio- tresse Pós-Traumático no Rorschach tais
nados sobre eles diretamente por meio como a re-vivência de eventos perturba-
de instrumentos de autorrelato. Justa- dores, esforços para evitar as emoções e
mente por ter essa característica, esse situações que podem precipitar ou agra-
método pode ser considerado um instru- var a aflição psicológica e um estado de
mento ideal para o estudo de situações hipervigilância mental e física. Destaca-se
traumáticas. Dessa forma, o objetivo do que no Rorschach é possível definir dois
presente estudo consiste em descrever estilos diferentes de responder aos even-
a experiência psicológica de trauma, por tos pós traumáticos: uma fase em que há
meio do método de Rorschach, de uma uma constrição afetiva e cognitiva, onde a
mãe e de sua filha que eram fisicamente pessoa luta contra imagens e pensamen-
abusadas. A senhora Vilma e a filha Aline, tos traumáticos e demonstra um estilo de
respectivamente 39 e 11 anos de idade, resposta mais evitativo; uma fase em que
eram espancadas e abusadas sexualmen- a pessoa revela um perfil de respostas tí-
te pelo marido de Vilma, que também era picos transtornos psicóticos. Nestes dois
o padrasto de sua filha. A senhora Vilma estudos de caso, mãe e filha claramente
resolveu dar queixa na delegacia da mu- evidenciaram um profundo distúrbio do
lher quando descobriu que sua filha tam- pensamento e dos afetos e um número
bém era abusada sexualmente pelo seu grande de conteúdo relacionados ao trau-
marido há mais ou menos três anos. É ma que vivenciaram por alguns anos con-
importante dizer que a Sra. Vilma sofreu secutivos. Os achados dessa investigação
um violento abuso sexual na sua infân- sustentam estudos anteriores que descre-
cia, que sua mãe a criou sozinha porque vem a personalidade de pessoas espanca-
o seu pai bebia muito e quando voltava das e abusadas sexualmente. O Método
para casa batia nas duas. Mãe e filha de Rorschach, por sua vez, revelou-se
foram esclarecidas a respeito do proces- bastante sensível às perturbações trau-
so de avaliação e concordaram com a máticas; seus estímulos ambíguos de fato
participação em estudos que abordam o desvelaram muitas imagens traumáticas e
drama de pessoas que sofreram agres- seus índices foram compatíveis com índi-
sões físicas e psicológicas. Ambas foram ces que refletem resultados encontrados
avaliadas por meio de entrevistas e por em grupos de pessoas vitimizadas.
meio do Método de Rorschach. Quanto
aos resultados das avaliações, observou- Palavras-chave: Rorschach no Sistema
-se que as respostas aos cartões I, II e III Compreensivo; abuso sexual; TEPT.
da Sra. Vilma e de Aline foram as que me- Contato: Ana Cristina Resende - Pontifícia
lhor ilustraram o profundo desespero de Universidade Católica de Goiás
mãe e filha. O conteúdo de suas respostas anacristinaresende@hotmail.com

587
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ADOLESCENTES OFENSORES SEXUAIS: adolescentes, pode-se, também, ressaltar


AVALIAÇÂO PSICODINÂMICA COM O as dificuldades inerentes ao desenvolvi-
MÈTODO DE RORSCHACH mento emocional da criança e considerar
Deise Matos do Amparo - UnB que quando a vida familiar não oferece
deiseamparo@unb.br uma referência segura essa torna-se an-
Márcia Pereira dos Santos - SCA/DF gustiada e recorre à sociedade em busca
osemes@bol.com.br de uma estabilidade externa que lhe per-
Lana Wolf - UnB mita transpor os estágios essenciais de
lanawolff@gmail.com seu crescimento emocional. Estudos com
Financiamento: CNPq método de Rorschach, na abordagem
francesa, indicam como a passagem ao
A adolescência é um período do ciclo vi- ato pode ser uma forma de defesa con-
tal caracterizado por mudanças corporais tra a angústia. De modo geral, a literatura
e psicológicas intensas que colocam em aponta que esses adolescentes apresen-
perspectiva uma reorganização da iden- tam protocolos do método de Rorschach,
tidade corporal e psicológica da infância. com instabilidades narcísicas, dificuldade
Enfatiza-se os aspectos traumáticos deste de elaboração de laços objetais, identifi-
período, destacando-se as transforma- cações marcadas por recusa da diferen-
ções violentas decorrentes da genitaliza- ciação de sexos e banalização das repre-
ção do corpo e do psiquismo. Neste sen- sentações humanas. O propósito deste
tido, por um lado, podemos compreender trabalho é explicitar alguns aspectos re-
a violência agida do adolescente, essen- lativos ao funcionamento psíquico, ava-
cialmente, como um dado pubertário, liar a psicodinâmica e realizar o diagnós-
pelo choque corporal, psíquico e social tico clínico de quatro adolescentes que
que se produz nesse período. Por outro, cometeram abuso sexual. Pretende-se
podemos investigar se em certos adoles- levantar considerações sobre o funciona-
centes há um trabalho psíquico que eles mento psíquico, desses adolescentes por
não suportam ou não conseguem realizar meio dos seguintes eixos de análise: or-
que dificulta a transformação na corrente ganização do ego; defesas, incidência do
libidinal. Nesse caso, trata-se de analisar narcisismo, relação com a realidade, ca-
a dimensão do agir a partir de uma hipó- pacidade de construção simbólica e ela-
tese metapsicológica, referimos ao aspec- boração de conflito. Para tanto, apoiou-se
to dinâmico do funcionamento psíquicos, em entrevistas clínicas e no Rorschach,
abordando, particularmente, a dimensão abordagem francesa. Os protocolos não
narcísica, os recursos simbólicos e a capa- apontam para um perfil único de funcio-
cidade de estabelecer a prova de realida- namento psíquico, muito embora, sejam
de. No caso dos adolescentes ofensores encontrados dois estilos predominantes:
sexuais é importante distinguir a violência 1. defensivo e inibido, com recursos sim-
agida das condutas delituosas, da violên- bólicos precários, restrição da capacidade
cia interna, de essência pubertária, que identificatória e relacional, organização
envolve as transformações corporais e narcísica frágil; 2. abordagem formal re-
que às vezes são vividos como verdadei- baixada, angústia depressiva subjacente,
ros traumatismos. Ao falar sobre esses registro objetal agressivo, rebaixamen-

588
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to da relação com a realidade, clivagem CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES


como defesa. Ressalta-se a singularidade SOBRE O RISCO DE SUICÍDIO PELO
dos casos individuais, a fragilidade nar- MÉTODO DE RORSCHACH NO SISTEMA
císica e os parcos recursos simbólicos e COMPREENSIVO
de mentalização desses adolescentes. Marcelo Tavares - UnB
Por outro lado, é importante reafirmar marsatavares@gmail.com
que a clínica da adolescência coloca em Liliane Domingos Martins - UF/Goiás
questão a estabilidade do quadro e os as- Samita Batista Vaz - UnB
pectos psicopatológicos, bem como, per-
mite uma constante reflexão sobre a in- Apresentaremos considerações sobre o
tervenção e o diagnóstico, em função da risco de suicídio pelo Método de Rors-
suscetibilidade de remanejamento deste chach no Sistema Compreensivo (MRSC).
período. Particularmente em relação aos A maioria dos sujeitos desse estudo são
adolescentes deste estudo, é importante adultos jovens do sexo feminino com ten-
reforçar a necessidade de intervenções tativa de suicídio (TS). Conforme a litera-
adequadas à especificidade do desenvol- tura, as mulheres fazem mais tentativas
vimento e funcionamento psicodinâmico, de menor letalidade e são mais propensas
bem como, considerar as repercussões a buscar ajuda; os homens, ao contrário,
subjetivas da violência, vivida e atuada, mascaram suas vivências depressivas, fa-
no que se refere aos determinantes psí- zem tentativas mais letais mais frequen-
quicos e de saúde mental. A atuação psi- temente que as mulheres e, menos fre-
cológica particularizada, no contexto da quentemente que elas procuram ajuda
prática jurídica do psicólogo é incipiente e psicológica. Homens, portando, têm me-
o sistema de atendimento ao adolescente nor probabilidade de serem incluídos em
em conflito com a lei, realizado pelas ins- estudos desse tipo. A maioria dos sujeitos
tâncias oficiais, de forma predominante, possui pelo menos o primeiro grau com-
propõe intervenções de caráter psicosso- pleto, é casada ou vive com companheiro.
cial ou punitiva nas quais, não necessa- Apenas cerca de um quarto encontra-se
riamente está envolvido, o trabalho com situação regular de trabalho; mais da me-
dimensões subjetivas e clínicas que são tade encontra-se desempregada ou em li-
fundamentais com esta população. cença por motivo de saúde. A maioria tem
história de internação psiquiátrica. Perdas
Palavras-chave: Rorschach , Sistema Frances, recentes são relatadas por dois terços dos
ofensores sexuais, Psicodinâmica. sujeitos. Experiências adversas ou trau-
Contato: Deise Matos do Amparo - máticas são relatadas por quase todos, in-
Universidade de Brasília – UnB cluindo violência, abuso emocional, físico
(deiseamparo@unb.br) e sexual. Não encontramos um padrão típi-
co no MRSC associado à TS. Porém, detec-
tamos problemas importantes associados
a dificuldades psicológicas e a sofrimento
psíquico grave que podem ter criado situ-
ação favorável à TS. Cerca de três quartos
da amostra apresenta algum tipo de pre-

589
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

juízo mediacional (indicadores de quali- de estressores que incidem sobre a expe-


dade formal, incluindo XA%, WDA%, X+%, riência (es – estimulação experimentada
Xu%, X-%, baixa produtividade [R], poucas ou sofrida). Um terço da amostra apresen-
respostas populares [P] e o indicador PTI ta estilos hipoincorporadores (Zd<-3,5) ou
positivo). Um quarto dos sujeitos apresen- hiperincorporadores (Zd>+3,5), denotan-
tou número de respostas menor que 17, do prejuízo na eficiência do processamen-
conforme índice da S-COM. Observamos to do estímulo, ou por uma abordagem
deficiência de adequação perceptiva em descuidada ou por um modo excessivo de
geral (XA%) e deficiência de adequação incorporação de elementos da realidade.
perceptiva em situações óbvias ou co- A experiência dos afetos também apre-
muns (WDA%), o que sugere ajuste menos senta dificuldades significativas. Quase a
eficiente ou menos adaptado à realidade. metade apresentou-se mais suscetível a
Cerca de um quarto da amostra apresenta experiências afetivas negativas, como de-
PTI positivo, o que aponta para um funcio- pressão, alterações do humor, tensão, an-
namento psicológico bastante primitivo e siedade e desorganização emocional (DEPI
maior suscetibilidade a rupturas no conta- positivo). A modulação afetiva da maioria
to com a realidade. Respostas populares, privilegia de modo exagerado a expressivi-
uma das variáveis críticas no estudo do dade e impulsividade (CF+C>FC), demons-
suicídio, são menos frequentes e indicam trando maior intensidade na descarga de
uma capacidade reduzida de reconhecer e seus sentimentos e escasso controle sobre
responder às demandas e valores sociais estes (Cpura). Por outro lado, a constrição
mais óbvios, podendo precipitar conflitos afetiva (SumC’>WSumC) ou o controle rí-
com o ambiente. Todos esses dados mos- gido da afetividade (FC>2[CF+C]) aparece
tram uma maior tendência nessa amostra em cerca de um quarto dos sujeitos, su-
para utilizarem uma lógica mais pessoal e gerindo limitada capacidade para dar li-
subjetiva de abordagem da realidade, sen- vre vazão às emoções, o que resulta em
do que muitas vezes esse contato vai ser estados irritativos e desconfortáveis. Em
pautado por grande distorção. Quanto aos alguns casos essa constrição afetiva é se-
tipos de vivência, uma minoria apresenta- vera (WsumC=0), com estrangulamento
va estilo extratensivo ou introversivo ade- afetivo e muito dispêndio de energia para
quado. O restante se distribuíu entre os reter o fluxo emocional espontâneo. Cerca
estilos ambigual, rígido (extratensivo ou de um quarto apresentou uma séria ina-
introversivo), indefinido ou evitativo. Um bilidade relacional que interfere sobre o
quarto da amostra apresenta elevações ajustamento funcional (CDI positivo). Há
em lambda, cuja média é superior à brasi- elevada incidência de respostas mórbi-
leira. A qualidade dos controles é precária das, um importante destaque da S-CON,
na maioria dos casos, mesmo quando o indicando presença de componentes dis-
tipo de vivência parecia adequado: tam- fóricos e depreciativos que caracterizam
bém nestes protocolos verificamos distor- as impressões sobre o meio e os eventos,
ção da forma em respostas de movimento sobre si e as demais pessoas. A análise
humano ou de cor, ou ainda com respos- geral do agrupamento referente à ide-
tas de cor pura, sugerindo prejuízos no ação mostra uma maior suscetibilidade
uso desses recursos. Há elevação na carga a um funcionamento rígido e inflexível,

590
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com tendências ao uso da intelectualiza- lidação de um índice de suicídio no Brasil.


ção e do abuso da fantasia como estraté- Ainda assim o MRSC oferece informações
gias defensivas para lidar com o impacto clínicas que melhor qualificam o psico-
de certas emoções e com situações de diagnóstico e as recomendações terapêu-
sobrecarga. Tais estratégias se destacam ticas possíveis na intervenção em crise
como recursos frágeis que aumentam os com pacientes em risco de suicídio.
riscos de controle inadequado do estres-
se. Além disso, estes sujeitos estão mais Palavras-chave: Rorschach, Sistema
propensos a sentimentos de pessimismo compreensivo, suicídio, Intervenção em crise.
que influenciam boa parte do seu funcio- Contato: Marcelo Tavares - Universidade de
namento usual, impregnando seus planos Brasília (marsatavares@gmail.com)
e a concepção que possuem acerca de si.
Mais do que isso, expressivas distorções
na percepção interagem e prejudicam a
MR LT02
clareza do pensamento, tornando-o me-
nos eficiente, prático ou ajustado. Em sín- Mesa Redonda
tese, todas essas dificuldades no estilo de
enfrentamento (tipos de vivência rígido,
ambigual, indefinido ou evitativo), dificul- MR LT02-1390 - ESTUDOS SOBRE
dades de mediação (elevação do índice CONSTRUÇÃO DE SI: NARRATIVAS E
FQ-) e dificuldades no gerenciamento do IDENTIDADE
afeto (sentimentos disfóricos; constrição
afetiva ou impulsividade) comprometem Nesta sessão propomos discutir a constru-
ainda outras áreas de organização psíqui- ção dos significados de si em estudos que
ca, alcançam outras variáveis e terão in- visam compreender os processos de iden-
fluência negativa sobre a autopercepção, tificação mediados por narrativas. Tendo
a organização da capacidade de controle em vista a perspectiva da Psicologia Cultu-
do estresse e o ajustamento nos relacio- ral em sua vertente dialogista, a experiên-
namentos interpessoais. A variável EA e os cia é construída numa ininterrupta cadeia
recursos a ela associados podem ser mais de atos comunicativos, na transitividade
uma vez questionados, visto que várias em que significados construídos histori-
respostas destas pessoas são formadas camente, coletiva e individualmente, e é
por um comprometimento da qualidade atualizada na interação que se concretiza.
da forma e da expressão de afetos que Cada experiência está sempre direcionada
conduz a prejuízos na estruturação das para dois pólos: o do seu sentido e o do
capacidades de que o sujeito dispõe para ser. Então, cada experiência comunicati-
se manter equilibrado, tomar decisões co- va leva o indivíduo a construir atos que
erentes e alcançar soluções práticas e re- envolvem toda a sua vida: experiência
alísticas para seus problemas, implicando pessoal, coletiva, de situações similares,
assim, em complicações no manejo das de conhecimento dos diferentes interlo-
vivências de sobrecarga. Serão também cutores e de conhecimento/julgamento
traçadas considerações acerca de dificul- sobre como se está sendo posicionado e
dades culturais e metodológicas para va- se posiciona a cada um dos interlocutores.

591
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Como ato comunicativo uma enunciação mílias cujos membros da primeira geração
muda, uma vez que sua posição e função foram torturados durante o período de Di-
nas cadeias comunicativas mudam, sendo tadura brasileira. A narrativa de história de
moldada por elementos outros que ape- vida é aqui interpretada como instrumen-
sar de se relacionarem com os constituin- to de recordação desde o que é relevante
tes lingUísticos - pois os utilizam como no presente e na construção de futuro,
um meio - são considerados, também, sendo, portanto situada e mediada his-
aspectos dialógicos e, portanto, extralin- tórica e culturalmente. Em seguida, apre-
guísticos (elementos que reverberam a sentaremos estudo em que se utilizam as
partir do encontro polifônico das vozes), narrativas para se entender o impacto de
que se constituem socialmente e pesso- ferramentas mediacionais na emergência
almente, nas cadeias semânticas e semi- da identidade profissional docente de es-
óticas. Nesta sessão vamos enfocar expe- tudantes de um curso de Licenciatura em
riências em esferas comuns, mediadas por Letras a distância. Em um terceiro estudo,
ferramentas culturais físicas e simbólicas enfocamos os reposicionamentos de pro-
diferenciadas que impactam nas formas fessores do ensino superior quando tran-
de os interlocutores interpretarem e atu- sitam do ensino presencial para a EaD.
arem no mundo, desencadeando proces-
sos de transição com novas apropriações
de fazeres e significados, direcionando A MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA
os processos de convencionalização que CIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO:
ocorrem no jogo polifônico entre histó- ASPECTOS TEÓRICO-HISTÓRICOS
ria pessoal e coletiva. A identidade, como André de Carvalho-Barreto - UnB,
uma referência de si mesmo no mundo andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br
cultural, implica nos posicionamentos do Silviane Bonaccorsi Barbato - UnB
self dos interlocutores em uma narrativa. silviane@gmail.com
Neste sentido, o uso inicial de ferramenta, Financiamento: CAPES
técnica, costume até certo momento des-
conhecidos que passam a ser utilizados Nessa sessão pretendo discutir o conceito
em novas práticas culturais desencadeia o de memória autobiográfica no contexto
processo de convencionalziação, cabendo da ciência do desenvolvimento, partindo
ao pesquisador buscar compreender as do aspecto histórico. Por memória auto-
dinâmicas que ocorrem e identificar quais biográfica compreende-se a história de
formas sofrem mudanças, quais perma- vida, que a pessoa constitui ao longo do
necem, antes que o processo se estabili- tempo, promovida pelos processos de in-
ze. Iniciamos com uma reflexão histórica teração da pessoa em desenvolvimento
sobre o conceito de memória histórica e com as outras pessoas, objetos e símbolos
de história de vida destacando aspectos existentes em seu contexto. A linguagem é
relevantes que distinguem a memória da a mediadora na interação e desencadeia a
recordação, e abordando os pontos de construção de significados. Na última dé-
referências como componentes para a cada, a ciência do desenvolvimento huma-
construção narrativa de si para propor um no do Brasil tem retomado seus estudos
estudo da narrativa de três gerações de fa- sobre a memória autobiográfica pela re-

592
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

leitura de um dos pioneiros desse estudo: gráfica. Utilizando um método nomeado


Bartlett. A compreensão sobre o estudo por ele como técnica da palavra-chave,
da memória na ciência do desenvolvimen- asseverava que uma palavra ou um obje-
to induz, no entanto, à necessidade de to podem ser promotores de elucidação
recuperação de sua história nessa disci- de memórias autobiográficas, sendo as
plina. No século XIX, Ribot desenvolveu principais memórias resgatadas as da in-
um estudo sobre memória humana. Sob fância e vida adulta da pessoa. Assim, para
a perspectiva organicista, diferenciando esse autor, a memória autobiográfica seria
recordação e memória; a recordação é um uma forma de recordação do self. Por sua
mecanismo de resgate de eventos passa- vez, psicólogo experimental Ebbinghaus
dos, sendo um aspecto complementar da publica na Alemanha o volume Über das
memória. Essa distinção ocorre pelo fato Gedächtnis no qual, por métodos que
de a memória não conter aspectos subje- envolvem estímulos, tenta quantificar a
tivos de funcionamento, mas biológicos, memória. Para esse autor, um conjunto
enquanto a recordação compõe o ato de silabas lidas em frases longas e, depois,
de recuperar eventos do passado. Nesse repetidas de forma desconexa, diversas
primeiro estudo as memórias autobiográ- vezes, poderia fomentar a memória. As-
ficas são nomeadas como “pontos de re- sim, a memória autobiográfica é originada
ferência” que são manifestados pelas nar- por estímulos que são reunidas ao longo
rativas e vivências da pessoa. Esses pontos da vida. Ainda no fim do século XIX, Freud,
de referência de memória são estabeleci- com seus estudos psicossexuais que se
dos por três fatores que atuam isolada- ou estendem durante o século seguinte, ins-
dinamicamente: interesse da pessoa, con- taura a memória autobiográfica na origem
senso de um grupo no qual a pessoa inte- e no tratamento das neuroses. Em suma,
gra ou pelo interesse da sociedade. Esse as neuroses seriam determinadas pelas
ponto de referência é compreendido ain- experiências ocorridas, especialmente,
da como eventos e estados de consciên- na infância da pessoa. Seus estudos sus-
cia que se posicionam ao longo do tempo tentavam a ocorrência do impedimento
vivido da pessoa. A memória autobiográ- de recordar memórias dos primeiros anos
fica Ribot faz uso dos seus pontos de re- como mecanismo de recalque da sexua-
ferência para resgate de eventos vividos, lidade infantil. Antes da primeira metade
estando esses inseridos dentro tempo, do século XX, as investigações sobre me-
mas não muito bem organizados crono- mória autobiográfica não eram sistêmicas,
logicamente pela memória. A linguagem, sendo associadas a conceitos de memória
nesse contexto, apesar de percebida de neurológica e patologia, como também
forma orgânica, é entendida como a for- a métodos de anamnese. As principais
ma interna que a pessoa utiliza para atri- correntes de fundamentação das investi-
buir significados às suas memórias, sendo gações desse período eram a galtoniana,
ela igualmente uma forma de acesso às a freudiana e a experimental. As três,
memórias, recuperando-as e oferecendo contudo, apresentavam uma perspectiva
significados. No mesmo período Galton limitada da memória autobiográfica por
evidencia a relevância da linguagem como centrarem seus estudos na capacidade de
forma de acesso para a memória autobio- reconhecimento da memória e nas cau-

593
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sas do esquecimento. Numa perspectiva da o processo de convencionalização so-


cognitiva, Barlett é o primeiro a ressaltar a bre a ditadura militar (1964-1985), segun-
memória autobiográfica como reguladora do narrativas de torturados nesse regime,
das formas de resolução de problemas, de seus filhos e netos na perspectiva da ciên-
regulação das emoções, do planejamento cia do desenvolvimento.
futuro e das interações sociais. Seus estu-
dos foram base para diversos modelos te- Palavras-chave: Narrativas Autobiográficas;
óricos que desenvolveram os conceitos de Memória Social; Convencionalização.
esquemas, sistemas de memória e self e,
atualmente, para a psicologia cultural. As
memórias são reconstruções do passado A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
perante as necessidades do presente, sen- PROFISSIONAL: UM ESTUDO SOBRE AS
do necessárias operações de esquemati- NARRATIVAS DE ALUNOS DO ENSINO A
zação para sustentar a reconstrução desse DISTÂNCIA
passado na atualidade. Em Remembering, Ana Paula Carlucci - UnB
Bartlett introduz nos estudos da memó- apcarlucci@gmail.com
ria autobiográfica um dos pressupostos Silviane Bonaccorsi Barbato - UnB
mais relevantes para sua compreensão: barbato.silviane@gmail.com
o da convencionalização social, que con- Financiamento: CAPES
sidera que o macrossistema cultural, ou
os elementos que dele fazem parte, são Nesta sessão, discutiremos a construção
possíveis de serem modificados na sua da identidade docente de estudantes-
passagem de um grupo para outro. Esses -professores que participaram de um es-
elementos vão, gradualmente, assumindo tudo exploratório realizado no curso de
uma forma distinta, estável e aceita pelo Licenciatura em Letras a distância, no qual
grupo receptor. Assim, as memórias, além enfocamos a emergência da identidade
de não serem entidades estáticas e fixas, docente de estudantes-professores do
modificam-se pelos interesses do grupo curso de Licenciatura em Letras a distân-
receptor. A investigação de Bartlett focou cia. Objetivamos no estudo exploratório
na compreensão dos processos de re- analisar nas narrativas os significados que
construção, recordação e codificação dos estão mediando e gerando a construção
eventos outrora vividos, em vez da repre- da identidade docente dos estudantes
sentação fatídica de fatos, como outros do curso de extensão Identidade Docen-
teóricos da memória autobiográfica pro- te na Educação a Distância do curso de
movem. Atualmente, seus estudos estão Licenciatura em Letras. Entendemos que
sendo utilizados como base de uma série a constituição desta identidade profissio-
de estudos sobre posicionamento-eu a nal é gerada nas experiências em espaços
partir de eventos de histórias de vida nar- comuns e individuais mediadas pelos dife-
rados inter- e intrageracionalmente, por rentes instrumentos e recursos de ensino-
diferentes pessoas segundo suas experi- -aprendizagem que incluem, no caso da
ências comuns. Seguindo essa linha, esse EaD recursos tecnológicos, nas interações
trabalho pretende também apresentar de estudantes, tutores e professor nos ao
uma investigação em produção que estu- concretizarem atividades coletivas como

594
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fóruns e atividades individuais presentes o mundo, é um fenômeno situado e con-


em plataformas como a moodle. No estu- textualizado que está sob o domínio de es-
do, consideramos o espaço de educação a tados intencionais como crenças, desejos
distância como um micromundo, onde os e emoções. Nessa relação, a construção da
estudantes em atividades e ações conjun- identidade docente está sendo impactada
tas com os tutores e professores atualizam pelos aspectos ideológicos, isto é, dos sig-
e constroem conhecimentos teórico-práti- nificados sociais expressos em discursos
cos sobre a área de atuação e significados hegemônicos pelos interesses concretos,
sobre o ser professor de forma situada definidos historicamente na contradição
e contextualizada. Para entendermos a de classe e pelos aspectos emocionais, re-
construção da identidade docente acredi- sultante de um processo conhecido como
tamos ser importante recorrermos a suas internalização. Para nós, a internalização é
narrativas sobre os significados e o papel o processo pelo qual os significados cris-
de ser professor e sua prática diária. O dis- talizados no contexto sociocultural e de-
curso produzido por elas nas trocas inter- senvolvidos historicamente pela pessoa
subjetivas propiciadas pelos fóruns de dis- são transformados em significados pes-
cussão, por exemplo, revela os significados soais que irão mediar, regular e impactar
sociais que medeiam as construções das o desenvolvimento dos significados sobre
suas representações e relações na produ- o ser professor, possibilitando o estu-
ção de sentidos pessoais. Para nós, a nar- dante tornar-se um professor individual
rativa é vista como um instrumento que num coletivo. Para a realização do estudo
medeia o mundo canônico da cultura e o exploratório, participaram cinco alunos
mundo idiossincrásico dos desejos, cren- (Andreia, Gilberto, Carolina, Fernanda e
ças e valores das pessoas, sendo utilizada Carla), todos cursando o terceiro semes-
neste trabalho como um instrumento cul- tre do curso de Licenciatura em Letras.
tural que organiza os eventos vividos. Na Como procedimentos para a construção
tensão entre esses novos significados e os das informações, criamos o curso de ex-
antigos sobre a área de atuação, os estu- tensão intitulado Identidade Docente na
dantes estão ativamente em um processo Educação a Distância que durou oito (08)
dialético de identificar-se e diferenciar-se semanas, nas quais os estudantes tiveram
com as outras pessoas, construindo signi- que realizar (a) atividades coletivas, como
ficados e raciocínios que, por sua vez, irão fórum de discussão, sala do café, e (b)
mediar e gerar a construção de posiciona- atividades individuais, como história de
mentos sobre o ser professor. Entende- vida, mapa de vida, painel sobre as gen-
mos posicionamentos como um processo tes dentro de mim, a escolha profissional,
de discurso no qual o self (si-mesmo) é rapidinhas, minhas perspectivas futuras
concretizado na relação dialógica e o si- e, por último, memorial autobiográfico.
-mesmo é construído na relação dialética Para análise das informações, utilizamos
entre os aspectos coletivos e pessoais no a análise dialógica temática aplicada à
momento da interlocução, em um ativo Psicologia, onde as narrativas construí-
processo de construção de sua agenciali- das nas atividades (a) e (b) foram lidas e
dade. A agencialidade, entendida como a relidas várias vezes para a construção de
habilidade de atuar reflexivamente sobre um referencial de codificação, tendo as

595
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

enunciações como unidade de análise. Os no passado, eu-professor no futuro, eu-


resultados indicaram que ser professor -estudante). A partir disso, eles foram se
está sendo mediado pelos seguintes signi- identificando e diferenciando com as ou-
ficados: ser professor = “vocação”, “dom”, tras pessoas e construindo os significados
“dedicação”, “cuidadoso” e “amoroso”, que mediaram suas identidades e seus
“não precisa se aperfeiçoar, pois já nas- posicionamentos sobre o ser jovem, estu-
ceu assim”, “está no sangue”, “sonhador”; dante e trabalhador. Neste interjogo entre
estar na profissão – “bico”, “necessidade passado, presente e futuro, a construção
financeira”, “comprometimento baixo”; e da identidade docente foi marcada pelos
escolher a profissão – “procura se especia- embates críticos, a negociação e a trans-
lizar”, “busca novos modelos de ensino”, formação entre o passado (eu – professor
“trabalha melhor a cada momento”, “bus- iniciante), o presente (eu – professor atu-
ca ser um professor melhor”. Os resulta- al, eu - estudante) e o futuro (eu – profes-
dos sugeriram também que a construção sor melhor, eu - mais preparado, eu - mais
da identidade docente foi impactada pelas qualificado para o trabalho).
experiências e trocas do próprio contexto
de educação a distância, a partir dos se- Palavras-chave: Jovem; Narrativa;
guintes resultados: retorno a educação; Posicionamentos.
facilita e agiliza a vida pessoal e profissio-
nal; e lazer. Concluímos que a constituição
dos significados sobre o ser professor foi CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM
impactada pelas experiências e atividades DOCENTES: DO PRESENCIAL À EAD
realizadas no contexto de educação a dis- Fabrícia Teixeira Borges - UNIT
tância prática de sala de aula. Essas ativi- fabricia.borges@gmail.com
dades e experiências permitiram que os
estudantes ao se posicionarem como do- Neste trabalho, discuto os processos iden-
centes, refletissem sobre suas vidas, sobre titários de professores do ensino superior
si, suas escolhas profissionais e sobre o ser e as mudanças percebidas quando transi-
professor, ao mesmo tempo que permitiu tam entre o ensino presencial e a atuação
que eles se identificassem com as outras na educação à distância. Entendemos que
pessoas (professores, colegas de trabalho a construção da identidade é dinâmica e
e da universidade, pais, amigos, maridos constante, envolvendo os posicionamen-
e esposas) e com o e com os lugares nos tos de si na relação com os grupos a que
quais participavam (emprego, escolas em pertencemos e as atividades que desen-
que trabalham), se situando na narrativa, volvemos. Portanto, a identidade refere-se
e construindo e atualizando os valores, as a um pertencimento e a uma organização
crenças, as idéias e as práticas que foram de si como forma de se construir a partir
produzidas no decorrer de suas histórias das relações dialógicas. A inclusão em um
de vida, de sua família e da comunida- grupo determinado, como o de professo-
de. Posto que nesse espaço da educação res, implica no distanciamento de outros,
a distância, os estudantes puderam se como o de alunos. Embora percebamos
posicionar e atuar de diferentes papéis um movimento dialógico, em que o pro-
(eu-professor no presente; eu-professor fessor, para se diferenciar do aluno, neces-

596
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sita estar incluído na relação com ele, ain- foi observado que a mediação pela tecno-
da que seja uma relação não presencial. logia impactava diretamente sua constru-
É na relação com o aluno que o professor ção identitária por alguns motivos: 1) pela
consegue se perceber em sua atividade, “ausência” do contato direto com o aluno,
regulando suas ações e, consequente- modificando a relação professor-aluno e
mente, orientando e negociando seus o processo de comunicação, 2) pela ênfa-
significados nas trocas intersubjetivas. Em se em outras atividades que não o de dar
relação ao ser professor, vários elementos aulas para identificá-lo como professor
participam desta construção da experiên- (função administrativa e função técnica),
cia em salas de aula presencial ou virtual: 3) por uma mediação hipermidiática na
o tipo de atividade desenvolvida, a relação construção do conhecimento, 4) por um
professor-aluno, a didática e a metodolo- vivência da temporalidade diferenciada
gia e outros mediadores utilizados. O pro- do ensino presencial. Utilizamos as narra-
fessor é a partir de seus alunos, e, é como tivas de história de vida com professores
é por suas relações específicas com as por entendermos que as histórias de suas
ideologias vivenciadas e pelas tensões no vidas profissionais desencadeiam nego-
impacto destas interações. Nesta relação ciações de significados entre as diversas
está envolvida a atividade de “dar aulas’, vozes presentes, como o eu-professor-
que se caracteriza, no ensino presencial, -presencial e o eu-professor-ead, propi-
como o momento privilegiado do encon- ciando uma reflexão sobre sua construção
tro com o aluno. Quando transitamos nos identitária em uma e outra atividade. Ao
diversos níveis do ser professor através do contarem sobre suas carreiras docentes,
processo de escolarização, percebemos na presença do outro-pesquisador, há
alguns significados que participam espe- uma reorganização e a consciência de si
cificamente, de cada fase, e das constru- propiciadas por estas reflexões. Percebe-
ções identitárias de docentes. No ensino mos a repetição dos significados, como
superior, por exemplo, novos significados vozes que circulam nos textos e nas for-
são negociados na relação professor – alu- mações de professores para a Ead, como:
no. Inicialmente, há uma tensão na nego- “temos que planejar mais na ead que no
ciação destes novos significados, pois os presencial”, “temos que ter domínio das
posicionamentos vivenciados entre um tecnologias”. Mas é quando estas vozes
e outro começam a diferir do professor nos remetem às dificuldade do ser pro-
de ensino médio. A perspectiva de uma fessor de ead, como: “nós não temos con-
maior autonomia do aluno e do professor tato com o aluno”, “as relações com os
gera um reposicionamento nesta intera- alunos são diferentes, são mais afetivas”,
ção. Em alguns momentos o impacto da “no presencial dá para improvisar, na ead
entrada na universidade para os jovens, não” ou “no EAD a gente tem que ter uma
vem principalmente, por um contexto que visão diferente, tem que ter uma paciência
novas ideologias são apresentadas como maior, tem que ter uma qualificação tam-
forma de inseri-los em um novo posicio- bém muito maior do profissional para com
namento de ser alunos. Então a partir de o aluno”; que percebemos o momento de
um estudo com professores que atuavam reposicionamento do professor. Nestas
tanto no ensino presencial como na EaD falas, podemos apreender o movimento

597
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de construção de novos significados que MR LT04


estão em evidência nas entrevistas e que
nos propiciaram definir como marcadores
Mesa Redonda
do processo identitário do professor de
ead, as tensões vivenciadas entre o ser-
MR LT04-1476 - PERSPECTIVAS DO
-professor-presencial e o ser-professor-
DESENVOLVIMENTO HUMANO EM
-ead. Na tentativa de definir quais as di-
ESPAÇOS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES
ferenças entre o atuar presencialmente e
na EaD, foi possível perceber a dinâmica Teresa Cristina Siqueira Cerqueira - UnB
identitária entre uma e outra forma de ser teresacristina@unb.br
professor. O que parece ser importante no André Felipe Costa Santos -UnB
professor de EaD é considerar os aspectos andrefelipecostasantos@gmail.com
do ser professor, como: a relação com os Jaqueline Kelly Lourenço -UnB
alunos, a didática e os outros processos jaquelinek@gmail.com
da construção de sua identidade a partir
de mediadores tecnológicos. O professor O objetivo da mesa é discutir as idéias e
presencial estabelece a relação com o socializar conhecimentos resultantes de
aluno em um tempo e um espaço defi- pesquisas, relato de experiência e ensaio
nido, enquanto o de ead, vivencia nesta teórico dos investigadores do Gruppe –
relação outras formas de temporalidade Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicolo-
e de encontro, que na maioria das vezes gia e Educação que, de diferentes formas
são mediados pela tecnologia. Participar e matizes, abordam a questão da postura
do desenvolvimento tecnológico e ser im- transversal das perspectivas do desenvol-
pactado por ele, não é exclusivo da educa- vimento humano em espaços escolares e
ção, mas implica em um processo cultural não escolares. Evidenciam-se os aspectos
que temos sentido em vários níveis e ati- das representações sociais das crianças no
vidades, principalmente o das interações. ensino fundamental sobre a escola opor-
Assim, entendemos que a tecnologia im- tunizando condições para refletir sobre as
pacta consideravelmente no desenvolvi- percepções sobre a escola pelos próprios
mento psicológico humano, influenciando estudantes. A proposta da pesquisa bus-
diretamente nas formas de ser e agir. Por- ca perceber a escola como espaço de de-
tanto, o ser-professor - EaD traz reflexões senvolvimento que privilegia a formação
de nossa própria vivencia histórica con- integral do sujeito enquanto propiciado-
temporânea e de constituição identitária ra de transformações e formação. Busca
globalizada, mediada pelas tecnologias também preparar o aluno para um exer-
e pelo advento da internet, onde namo- cício criativo e de qualidade, considera o
ramos pela internet, temos amigos pelo desenvolvimento humano em suas fases
MSN, mas não deixamos de vivenciar os como importante fator para aquisição de
afetos e os processos dialógicos que en- conhecimento e das competências relati-
volvem todas a relações humanas. va à concretização de valores, como éti-
ca e condutas. As representações sociais
Palavras-chave: Identidade; Professor; EaD. constituem um corpo teórico que nos
auxilia na compreensão das percepções

598
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a respeito de algo. Neste contexto tem- O último trabalho apresentado, o ensaio,


-se a criação da realidade em que grupos enfoca as concepções de educação indí-
e indivíduos controlam-se e criam tanto gena e educação escolar nas sociedades
seus laços de solidariedade, como suas indígenas e propõe-se a contribuir com as
diferenças. Ressaltam-se os aportes teó- discussões para construção da interdisci-
ricos metodológicos das representações plinaridade necessária que ultrapasse as
sociais na segunda pesquisa que aborda a fronteiras dos diversos domínios das ciên-
percepção dos adultos sobre a escola. Fo- cias sociais.
caliza a fase adulta em seus aspectos do
desenvolvimento social, e nas influências
que a escola apresenta sobre as escolhas REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS
realizadas no período da fase adulta. Nes- CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
te sentido, a escola simboliza um espaço SOBRE A ESCOLA
fundamental que proporciona o direcio- Teresa Cristina Siqueira Cerqueira - UnB
namento destas escolhas. Os resultados teresacristina@unb.br
apontam para uma representação sobre
a escola como espaço de socialização, Um dos objetivos da escola é proporcio-
além de primar pelo conhecimento for- nar aos estudantes que nelas estão inseri-
mal e acadêmico. O relato de experiên- dos a oportunidade de aprender uns com
cia sobre as representações sociais dos os outros, sem distinção de sexo, etnia,
professores em relação aos adolescentes ou classe social. Porém, para que isto se
em conflito com a lei aborda as concep- torne realidade é importante que a escola
ções de liberdade assistida como uma das esteja preparada para lidar com as diver-
medidas sócioeducativas que estão pre- sas necessidades de seus alunos, estando
vistas no ECA- Estatuto da Criança e do ciente de que precisa conhecê-las e con-
Adolescente. A medida sócioeducativa é siderá-las em suas estratégias de ensino,
aplicada em meio aberto aos adolescen- respeitando e assegurando desta forma,
tes que cometeram algum ato infracio- uma educação de qualidade. O desenvol-
nal leve. A inclusão dos adolescentes no vimento físico no meio da infância é ca-
contexto escolar é muito difícil uma vez racterizado por variações consideráveis
que são estigmatizados como infratores. nos padrões de crescimento. Estas varia-
A medida sócioeducativa consegue, por ções podem ser devidas a sexo, origem
força da lei, matriculá-los, porém, a per- étnica, genética, hormônios, nutrição,
manência deles na escola, por vezes, não meio ambiente, doenças ou. Embora as
é assegurada por questões de preconcei- crianças desta faixa-etária sigam os mes-
to, estigmatizações e falta de aceitação mos padrões de desenvolvimento, eles
por parte dos atores educacionais e dos não necessariamente maduros na mesma
próprios alunos em liberdade assistida. taxa. A maioria das meninas experimen-
Neste sentido verificar as representações tam um surto de crescimento pré-adoles-
sociais dos professores sobre estes alunos centes em torno de 9 ou 10 anos, enquan-
adolescentes pode ajudar na melhoria da to a maioria dos meninos experimentam
qualidade do ensino e buscar alternati- o estirão de crescimento mesmo em tor-
vas para a permanência deles na escola. no de 11 ou 12 anos. Crianças que não re-

599
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cebem alimentação adequada e cuidados psicanalítica, acaba por concluir que as


médicos podem estar em risco para o de- representações sociais não se alimen-
senvolvimento de crescimento retardado tam apenas das teorias científicas, mas
ou atrasado. Por exemplo, crianças que também “(...) dos grandes eixos culturais,
vivem em países onde a desnutrição não das ideologias formalizadas, das experi-
é um problema tendem a ser mais altos ências e das comunicações cotidianas”
do que as crianças que vivem em países (Vala, 1993 p.353). Estudos mostram que
onde a desnutrição é um problema. As as representações sociais não são a mera
mudanças físicas, desenvolvimento do reprodução mental da realidade exterior
cérebro e sistema nervoso, coordenação ao sujeito, mas elas passam a impregnar a
motora grossa e fina, e problemas de realidade adquirindo foros de consistên-
saúde são aspectos importantes do de- cia ontológica, orientando as cognições e
senvolvimento físico durante a infância comportamentos dos indivíduos. (Abric,
meio como em anteriores fases de desen- Faucheux & Moscovici,1967). Nas pala-
volvimento. Nesta pesquisa o referencial vras de Vala, (1986) “(...) as representa-
teórico e metodológico utilizado será o ções são sociais, não pela sua extensão,
das representações sociais. A teoria das mas porque emergem num dado contex-
representações sociais foi apresentada to social; porque são elaboradas a partir
por Serge Moscovici em 1961. Moscovici de quadros de apreensão que fornecem
(2001) entende as representações como os valores, as ideologias e os sistemas de
“um conjunto de conceitos, proposições categorização social partilhados pelos di-
e explicações originado na vida cotidiana ferentes grupos sociais” (p.20). O papel
no curso de comunicações interpessoais”. da escola está além do âmbito formal, é
(P.59). Elas são equivalentes aos mitos imprescindível que a escola esteja aten-
e sistemas de crenças das sociedades ta e busque estratégias adequadas para
tradicionais, podem também ser vistas trabalhar com os alunos de forma global,
como a versão contemporânea do senso proporcionando ambiente acolhedor e lú-
comum. As representações sociais são dico, além da própria aprendizagem. Des-
como um saber prático que visa respon- ta forma, este projeto de pesquisa teve
der questões que surgem na comunica- como objetivo analisar as representações
ção e no relacionamento interpessoal. A sociais dos alunos do 4º e 5º ano do Ensi-
representação é assim entendida como no Fundamental sobre a escola e sugerir
“construção de um objeto e expressão reflexões sobre os aspectos pedagógicos
de um sujeito” (Vala, 1993 p.354) tendo e metodológicos proporcionados na esco-
uma forte ressonância social, pois se tra- la. A principal fonte de dados da pesquisa
ta de “uma modalidade de conhecimento foi um instrumento de evocação livre com
socialmente elaborada e partilhada, com seis respostas, que foi aplicado aos alunos
um objetivo prático, contribuindo para a do ensino fundamental do 4º e 5º ano da
construção de uma realidade comum a rede pública de ensino do Distrito fede-
um conjunto social”. (Jodelet, 1989 p.36). ral. O instrumento de evocação possui
Moscovici, que começou por analisar na uma única pergunta: Para você a Escola
França as representações de determina- é.... O aluno deve colocar seis frases ou
dos grupos sociais relativamente à teoria palavras que remetam à escola. Após os

600
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dados coletados, os mesmos foram anali- como boa e a percebem como importante
sados por meio do software desenvolvido local de aprendizagem para o desenvolvi-
por Vergès, denominado EVOC (Ensemble mento da pessoa como um todo.
de programmes permettant l’analyse des
evocations) – versão 2003, que permite Palavras-chave: Representações Sociais,
a organização das evocações produzidas Escola, Crianças
de acordo com as suas freqüências e com Contato: Teresa Cristina Siqueira Cerqueira,
a ordem de evocação ou, como se adota UnB, teresacristina@unb.br
no presente estudo, de importância, pos-
sibilitada pela hierarquização dos termos
enunciados pelos sujeitos. É um instru- REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SUJEITOS
mento facilitador para a análise da estru- NA FASE ADULTA SOBRE A ESCOLA
tura e organização de uma representação André Felipe Costa Santos -UnB
social. O instrumento contém ainda as se- andrefelipecostasantos@gmail.com
guintes informações: dados de identifica- Teresa Cristina Siqueira Cerqueira -UnB
ção: sexo, série e idade. Os participantes teresacristina@unb.br
da pesquisa foram 112 alunos, sendo 54
do gênero feminino e 58 do gênero mas- A Psicologia do Desenvolvimento Humano
culino. 51 alunos cursam o 4º ano e 61 tem por seu objetivo o estudo sobre a evo-
alunos o 5º ano do ensino fundamental. A lução da capacidade percentual e motora,
idade variou entre a mínima de 9 e a má- das funções intelectuais, da sociabilidade
xima de 14 anos de idade. Todos estudam e da afetividade do ser humano (Oliveira,
em escolas da rede pública de ensino do 1994). Apoiado nesta premissa e embasa-
Governo do Distrito Federal. Os resulta- do na relevante contribuição que estudos
dos apontam que a representação social em psicologia do desenvolvimento huma-
mais evocada pelos alunos do 4º e 5º ano no pode oferecer para melhor compreen-
foi que a escola é boa (evocada 58 vezes e dermos o espaço educacional, constitui o
com freqüência de 2,27%), em seguida foi objetivo desta pesquisa apresentar dados
a palavra importante com 31 evocações e e contribuições sobre as representações
com freqüência de 2,21 e por último lugar sociais de sujeitos da fase adulta sobre
de aprendizagem, com 28 evocações e a escola. Rodrigues (2003) aponta que o
freqüência de 2,125. Tais representações grande marco e característica fundamen-
devem primar por trabalhar a criatividade tal da etapa adulta são: vida a dois e o
e ampliar o nível de satisfação dos alunos trabalho. Com respaldo nestas conside-
e que os ajudem a reconhecer, cada vez rações é que me proponho explicitar de
mais, a escola como um espaço de apren- forma breve essas duas características
dizagem e de lazer. A inserção prazerosa fundamentais da fase adulta. Pautando,
do aluno na escola certamente é uma ex- todavia, no aspecto social. É mui-
periência positiva em sua trajetória esco- to recorrente encontrarmos na literatura
lar estendendo-se até a vida adulta. Pode- acadêmica, que aborde a psicologia do
-se concluir com essas análises que os alu- desenvolvimento humano, que a principal
nos do 4º e 5º anos do ensino fundamen- característica da fase adulta seja a vida a
tal possuem uma representação da escola dois, ou intimidade. Para Lane (1994) so-

601
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mos seres sociais, muito antes mesmo do volvimento social dos sujeitos e das suas
nosso nascimento. Logo após o nosso nas- representações sociais, em todas as eta-
cimento e durante todo o transcorrer da pas do desenvolvimento humano, desde
nossa vida há um desenvolvimento social a sua infância até a sua velhice. Trazemos
como aborda Zimbardo (2005). A vida a para a discussão deste trabalho conceitu-
dois e o relacionamento matrimonial por ações da Psicologia Social, com o intuito
serem construções sociais são carregados de melhor auxiliar na nossa compreensão
de representações que trazemos e desen- sobre a fase adulta e mais especificamen-
volvemos ao longo da nossa história de te da relação adulto/ escola. Partindo da
vida. A segunda característica marcante linha materialista- histórica da Psicologia
da fase adulta é a relação de trabalho e Social trazemos à baila a Teoria das Re-
profissionalização. Rodrigues (2003) ex- presentações Sociais, desenvolvida por
plana que a escolha profissional é marca- Serge Moscovici em 1961, que conforme
da por dois enfoques: satisfação e prazer Almeida (2003) tem oferecido um impor-
por meio de ganhar a vida. Tais enfoques tante aporte teórico aos pesquisadores
então abalizados e influenciados pelo que buscam compreender os significados,
meio social no qual aquele sujeito está e os processos neles imbricados, criados
inserido. Tendo em vista estas duas carac- pelos homens para explicar o mundo e
terísticas basilares da vida adulta, vida a sua inserção dentro dele. Para Jodelet as
dois e trabalho, constata-se o forte eixo representações sociais são “uma forma de
que o aspecto social tem na relação dos conhecimento, socialmente elaborada e
indivíduos e da construção do ser. Dentro partilhada, que tem um objetivo prático e
desse cenário verificamos o quanto algu- concorre para a construção de uma reali-
mas instituições como: Família; Escola; dade comum a um conjunto social” (Jode-
Religião; são fundamentais e relevantes let, 1989). É nesse cenário que esta pes-
na formação do sujeito e no desenvolvi- quisa analisa como sujeitos na fase adulta
mento social, uma vez que estas institui- percebem o ambiente escolar. Outro re-
ções exercem forte influência na constru- levante objetivo deste trabalho é inferir,
ção e concepção das representações dos de acordo com as representações sócias
sujeitos. Tendo em vista a força destas ins- evocadas pelo grupo pesquisado, melho-
tituições, destacamos o ambiente escolar rias no espaço escolar. A matriz epistemo-
como um das principais entidades gerado- lógica escolhida para realização desta pes-
ras de representações. Segundo Mazzotti quisa foi a pesquisa qualitativa que segun-
(2008) o ambiente escolar exerce função do Gonsalves (2007), tem como baliza as
primordial na internalização de represen- preocupações com a compreensão, com a
tações sociais nos indivíduos, por meio interpretação do fenômeno, considerando
das praticas sociais estabelecidas durante o significado que se dá a sua prática. Os
a formação e o processo de aprendizado. participantes deste estudo foram dez (10)
Mediante a isto a Escola é uma instituição sujeitos na fase adulta no Distrito Federal,
de grande valia de estudo, uma vez que Brasília. Os participantes eram 6 do gêne-
esta gera algumas representações sociais ro feminino e 4 do gênero masculino, sen-
que influenciam grande parte da vida do do que se encontravam na faixa etária de
ser. Em função da importância do desen- 26 a 36 anos. Para a obtenção dos dados,

602
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se adotou como instrumento de coleta o ção, correspondendo 15%. Mediante es-


questionário. O questionário aplicado aos tes dados constatamos, que os sujeitos na
Adultos possuía uma única pergunta: Para fase adulta enxergam a escola como um
você a Escola é....; Os adultos deveriam co- importante espaço de socialização, fazen-
locar seis frases ou palavras que deveriam do nos perceber o quanto o ambiente es-
remeter à escola e depois hierarquizá-las colar é grande contribuído, não somente
pelo grau de importância as evocações. da formação acadêmica, mas também do
Demais disso, os adultos deveriam pre- desenvolvimento social desses atores. Ou-
encher itens relacionados à identificação tra relevante verificação que obtivemos é
(informações sobre idade, sexo, formação que tais representações sociais marcam
acadêmica). Depois de coletados os dados como neste inicio de século XXI os adultos
dos pais, utilizamos o software desenvolvi- enxergam a escola.
do por Vergès, denominado EVOC (Ensem-
ble de programmes permettant l’analyse Palavras-chave: Adulto, Representações
des evocations) – versão 2003, que possi- Sociais, Socialização
bilita a ordem de evocação e a freqüência Contato: André Felipe Costa Santos, UnB,
das respostas suscitadas. Os procedimen- andrefelipecostasantos@gmail.com
tos para realização deste estudo foi pau-
tado na aplicação de 10 questionários,
no transcorrer do segundo semestre de AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS
2010, por cada um dos dois pesquisado- PROFESSORES EM RELAÇÃO AOS
res envolvidos. O passo seguinte foi, a efe- ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
tivação da introdução dos dados colhidos Jaqueline Kelly Lourenço -UnB
pelos questionários no software EVOC, jaquelinek@gmail.com
que permitiu a organização das evocações Teresa Cristina Cerqueira Sirqueira -UnB
produzidas de acordo com as suas frequ- teresacristina@unb.br
ências e ordem. Para os sujeitos na fase
adulta, obtemos 20 representações da O presente trabalho apresenta a concep-
escola. A representação mais evocada foi: ção de liberdade assistida (L.A.) como
socialização com 4 evocações; Aprender, uma das medidas sócioeducativas que es-
Troca de Experiências,Conhecimento e tão prevista no Estatuto da Criança e do
Formação, aparecem com 3 cada; Respei- Adolescente-ECA, ela é aplicada em meio
to e Fazer Amigos com 2 cada. Para uma aberto, aos adolescentes que cometeram
melhor conceituação e visualização cate- algum ato infracional que pode ser con-
gorizamos as representações em três zo- siderado com menos grave. Ela tem por
nas de frequências: A maior categoria, So- objetivo acompanhar os adolescentes em
cial, integrando pelas palavras Fazer ami- seu contexto social, possibilitando uma
gos, Troca de experiências, Socialização maior inserção deles na sociedade. No
e Respeito, compondo 55%; a categoria Distrito Federal, até o ano de 2010, esta
Cognitiva, composto por Aprender e Co- medida era aplicada pela Secretaria de
nhecimento, satisfazendo 30%; A menor Justiça, no entanto, atualmente a com-
zona chamada Cognitivo/Social é formada petência é da Secretária da Criança e do
unicamente pela representação Forma- Adolescente. Uma das condições para

603
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que o adolescente cumpra a medida de fase peculiar de desenvolvimento, e por


L.A. é a que ele esteja devidamente ma- tal motivo merecem tratamento diferen-
triculado e que tenha frequência e apro- ciado (Estatuto da Criança e do Adoles-
veitamento escolar. Como pedagoga da cente, 2005). As legislações que garantem
liberdade assistida, sou responsável pela ou regulamentam os direitos da criança e
inclusão e acompanhamento escolar dos do adolescente, não trabalham na pers-
adolescentes. Tenho percebido que, ape- pectiva da punição e da retribuição e sim
sar da escolarização ser uma das partes na da responsabilização e inclusão, pois
mais importantes para a eficácia da me- estão embasadas em referenciais teóricos
dida sócioeducativa, ela dificilmente é pautados pelos direitos humanos. Pode-
posta efetivamente em prática. A inclusão mos citar a Pedagogia, que por meio do
dos adolescentes que carregam o estigma pensamento freiriano tem sido um dos
de terem sido autores de atos infracionais pilares teóricos de sustentação do atendi-
no contexto escolar é, por vez, muito di- mento sócieducativo. Há, ainda, o estudo
fícil. Conseguimos promover a matrícula das Representações Sociais, que por meio
deles, no entanto, na maioria dos casos, de pesquisas relacionadas às crenças, à
não conseguimos manter sua frequência comunicação e ao imaginário social acer-
e aproveitamento escolar, que são de ex- ca do tema, têm proporcionado possibi-
trema importância para a sua ressociali- lidades diferenciadas de entendimento
zação. Acredito que um dos fatores que da questão da violência que os adoles-
deve ser analisado, quando avaliamos o centes são causadores, e que, por vezes,
porquê da não adesão desses adolescen- também são vítimas. No presente estudo
tes à escolarização, é o da possível falta tentaremos relacionar estes dois campos
de aceitação da qual são vítimas. Enquan- de conhecimento, no intuito de investigar
to executora da medida sócioeducativa as representações sociais em relação ao
de liberdade assistida tenho ouvido cons- tema, bem como, por meio dessa inves-
tantemente discursos contrários à perma- tigação, possibilitar trabalhos educativos
nência desses alunos no contexto escolar, diferenciados com estes adolescentes.
sob a alegação de que eles representam A violência é um dos problemas sociais
um risco para o restante da comunidade mais debatidos na atualidade, o seu en-
escolar. O trabalho sócioeducativo tem frentamento é de suma importância para
como pilares de sustentação legislações a garantia do bem estar social. Almeida
como o Estatuto da Criança e do Adoles- (2006) afirma que quando vemos a vio-
cente, o Sistema Nacional de Atendimen- lência e a exclusão social como fenôme-
to Sócioeducativo - SINASE, bem como nos culturais, por conseqüência, os con-
outras legislações ligadas aos direitos hu- cebemos como objeto social que suscita
manos e defesa dos direitos das crianças representações sociais, e que, portanto,
e adolescente como a Declaração Univer- podem ser estudados à luz da Teoria das
sal dos Direitos Humanos. Pensadores Representações Sociais. Gilly (2001) lem-
como Costa (2001, 2006) Volpi (1999) de- bra que as representações sociais que
fendem tais legislações, pois elas tratam perpassam o ambiente escolar, trazem
a criança e o adolescente como seres do- consigo significações sociais que influen-
tados de direitos e que se encontram em ciam o processo educativo. Sendo assim,

604
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pesquisar as representações sociais dos de como o fenômeno violência tem afe-


professores em relação ao adolescente tado o pensamento e o comportamento
em conflito com a lei pode auxiliar na per- de um povo. Entender o que os grupos de
cepção das significações sociais que estes professores pensam a respeito dos ado-
atores têm em relação ao tema. Este tipo lescentes que já praticaram ou praticam
de estudo se faz ainda mais importante, atos infracionais, pode representar um
pois a escola tem o papel de auxiliar este passo no sentido de superar possíveis
jovem em sua (re)inserção social, ajudan- problemas de relacionamento, visando à
do-o a assimilar as regras sociais, valorizar efetiva inclusão destes adolescentes na
e respeitar os outros cidadãos, tornando- escola. Sendo assim, percebe-se a im-
-os, assim, pessoas éticas e capazes de portância do estudo das representações
uma vinculação social não só efetiva, social em relação à questão da violência.
como ativa. O papel da escola em relação Fica clara a necessidade do aprofunda-
a estes jovens não é diferente do seu pa- mento do tema, especialmente quando,
pel em relação aos demais jovens que ela por meio de pesquisas científicas (Me-
atende. No entanto, devido à trajetória de nim, 2005; Santos; Aléssio, 2006; Espín-
vida deles, as representações da escola dula; Santos, 2004), percebemos que as
em relação a eles podem ser diferencia- representações sociais de determinados
das. A teoria das Representações Sociais grupos em relação ao fenômeno da vio-
é um campo de estudos relativamente lência, têm contribuído para perpetuar
jovem e que tem tido ampla inserção em visões preconceituosas e distorcidas.
vários países, bem como, uma aceitação Diante disso, verifica-se nos estudos das
de seus estudos por diversas áreas do co- representações sociais, um caminho vi-
nhecimento (Jodelet, 2001). O pensamen- ável para entender a visão da sociedade
to ligado às representações sociais que em relação ao fenômeno estudado.
será adotado na presente pesquisa será o
de autores como Moscovici (2009) e Jo- Palavras-chave: Representações sociais;
delet (2005, 2001), utilizar-se-á também Adolescente em conflitos com a lei; Escola.
os pensamentos de outros pesquisadores Contato: Jaqueline Kelly Lourenço, UnB,
do campo das representações sociais. Tra- jaquelinek@gmail.com
remos, ainda, o pensamento de Foucault
(2009), Costa(2006), Freire(1996), Arendt
(2010), entre outros, para entender me- ESCOLA DIFERENCIADA INDÍGENA:
lhor a dinâmica do pensamento social ESPAÇO ABERTO DE PRÁTICAS
corrente em relação aos adolescentes em EDUCACIONAIS CULTURAIS
conflito com a lei, e tentar compreender Ana América Magalhães Avila Paz -UnB
em que medida os processos educativos anapaz.uab@gmail.com
e socieducativos podem contribuir para a
mudança de atitude dos adolescentes em Este ensaio enfoca as concepções de edu-
relação à sociedade e da sociedade em cação indígena e educação escolar nas
relação aos adolescentes. No estudo das sociedades indígenas e propõe-se a con-
representações sociais o instrumento de tribuir com as discussões para construção
evocação (EVOC) sinaliza a compreensão da interdisciplinaridade necessária que

605
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ultrapasse as fronteiras dos diversos do- mentos coletivos importantes tais como:
mínios das Ciências Sociais. O tema tem a recepção do nome, a “iniciação”, o nas-
sido estudado por antropólogos, mas cimento do primeiro filho, a morte de um
pouco contemplado por estudos peda- parente ou de um membro da comunida-
gógicos e psicológicos na abordagem dos de são marcados por ações ritualísticas
estudos sócios-culturais. A aproximação e pedagógicas, das quais a comunidade
dos psicólogos à questão indígena ocor- participa ativamente, a subjetividade se
re nesta década. Atualmente, há uma expressa de forma individual e ao mes-
inserção dos psicólogos junto às aldeias mo tempo é social. A educação indígena,
especialmente na área da saúde e uma em sua alteridade possibilitou estraté-
maior adesão de psicólogos sociais nas gias para continuar sendo eles próprios,
discussões da temática indígena. O tem- conforme é explicitado por Meliá (1999):
po indígena para um ser humano desen- “Os povos indígenas sustentaram sua al-
volver-se imita a natureza, cada pessoa, teridade graças a estratégias próprias,
tem seu próprio ritmo de aprendizagem, das quais uma foi precisamente a ação
o que proporciona a educação é a cultura, pedagógica. Em outros termos, continua
a corporalidade, o próprio ciclo de vida havendo nesses povos uma educação in-
do indivíduo, apoiando-se na cosmologia, dígena que permite que o modo de ser
nas tradições e no modo de vida da sua e a cultura venham a se reproduzir nas
comunidade. “A família e a comunidade novas gerações, mas também que essas
(ou povo) são os responsáveis pela educa- sociedades encarem com relativo sucesso
ção dos filhos. É na família que se aprende situações novas”. A escola enquanto insti-
a viver bem: ser um bom caçador, um bom tuição foi historicamente imposta aos in-
pescador, um bom marido, uma boa espo- dígenas pelos jesuítas, por volta de 1549,
sa, um bom filho, um membro solidário com o objetivo de domesticá-los e cate-
e hospitaleiro da comunidade; aprende- quizá-los, serviu desde o início para vestir
-se a fazer roça, a plantar, fazer farinha; suas vergonhas, adestrar-lhes e reprimir-
aprende-se a fazer cestarias; aprende-se -lhes duramente os comportamentos
a cuidar da saúde, benzer, curar doenças, considerados inadequados. Impôs-lhes a
conhecer plantas medicinais; aprende-se proibição e a vergonha de falar suas lín-
a geografia das matas, dos rios, das ser- guas, de cultuar seus ritos de aprender
ras; a matemática e a geometria para fa- com suas memórias. Este tipo de escola
zer canoas, remos, roças, cacuri, etc; não foi seguida por outras ordens religiosas:
existe sistema de reprovação ou seleção; salesianos, capuchinhos e outros missio-
os conhecimentos específicos (como o dos nários. Entre os séculos XVI a XVIII o papel
pajés) estão a serviço e ao alcance de to- da escola era indissociável do projeto de
dos; aprende-se a viver e combater qual- catequese, crianças indígenas foram reti-
quer mal social, para que não tenha na radas de suas famílias e levadas para inter-
comunidade crianças órfãs e abandona- natos missionários. No Império, o Estado
das, pessoas passando fome, mendigos, laico preocupou-se com a domesticação
velhos esquecidos, roubos, violência, etc. indígena, criando escolas que visavam
Todos são professores e alunos ao mesmo a assimilação à “civilização”. Em 1834, a
tempo”(Gersem Luciano-Baniwa). Os mo- competência da oferta da educação esco-

606
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lar indígena foi atribuída às Assembléias das novas gerações e na transmissão de


Provinciais promovida cumulativamente saberes, valores e tradições, fortalecendo
com as Assembléias e os Governos Ge- as identidades étnicas, articulados com
rais. Até os anos 70, predominou o discur- outras demandas sociais, como saúde, re-
so integracionista que segundo Grupioni cuperação e gestão ambiental para seus
(2008, p.36), evidencia a atuação hege- projetos de futuro. Trata-se de uma esco-
mônica do órgão indigenista na oferta de la aberta, para os tempos e movimentos
processos escolares aos grupos indígenas, da corporalidade indígena, da vida coti-
ancorado numa legislação que apontava diana comunitária, aberta a todos. Escola
para a integração dos índios à comunhão sem muros, escola cheia de vida, prenhe
nacional “como caminho inexorável de de natureza.
seu desenvolvimento”. Entre os anos 80
e 90 começaram as discussões interdis- Palavras-chave: Educação indígena, Educação
ciplinares sobre a educação diferenciada escolar, Práticas educacionais
indígena, (Grupione, 2006). A perspectiva Contato: Ana América Magalhães Ávila Paz,
integracionista dos programas de educa- Faculdade CECAP, anapaz.uab@gmail.com
ção e o acesso à escola, precisavam ser
superadas pelo conceito de direito, garan-
tido pela Constituição Federal de 1988, MR LT06
que recomenda o respeito às línguas, a
formação de índios para a docência na Mesa Redonda
escola indígena e o reconhecimento dos
direitos culturais dos grupos indígenas.
Nesse sentido a escola necessária aos po- MR LT06-1504 - CRIANÇAS DO SISAL:
vos indígenas é multilíngüe, fortalecedora UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE AS
da identidade, do sentimento de perten- CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO E
cimento étnico, exigindo do Estado uma VULNERABILIDADE SOCIAL
postura ativa na construção de políticas Mariana Leonesy da S. Barreto - UFBA
para que os povos indígenas possam usu- maribarreto@gmail.com
fruir deste direito. “A escola não é o único Larisse de Oliveira Seixas - UNEB
lugar de aprendizado. Ela é uma maneira larisseseixas@gmail.com
de organizar alguns tipos de conhecimen- Luciana da Silveira Barreto - UFBA
to para ensinar às pessoas que precisam, lsbarreto@gmail.com
através de uma pessoa, que é o professor.
Escola não é o prédio construído ou as O presente resumo trata do trabalho no
carteiras dos alunos. São os conhecimen- sisal, feito por crianças de baixo status so-
tos, os saberes. Também a comunidade cial e econômico, residentes no semiárido
possui sua sabedoria para ser comunica- baiano, nas regiões sisaleiras de São Do-
da, transmitida e distribuída” (Gersem mingos e Santa Luz. Esses munícipios es-
Baniwa). As práticas educativas emergem tão localizados no nordeste da Bahia, mais
de uma racionalidade que foi negada aos especificamente, em uma região conheci-
indígenas (Meliá, 1999). As pedagogias da como polígono das secas. Há, nestas ci-
indígenas são fundamentais na formação dades, alto Índice de Exclusão Social e um

607
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

problemático índice de Desenvolvimento essas questões, o trabalho busca analisar


Infantil (Pochmann. 2003). Tais dados re- a realidade de crianças e adolescentes em
velam, apenas, uma parte da realidade situação de risco social e econômico, que
do sertão da Bahia, pois, pesquisas mais trabalham com o motor do sisal. Para isso,
detalhadas sobre as condições de vida de adotou-se como referencial teórico uma
sua população demonstram que a aridez abordagem a sociologia da infância (ARI-
da região não se restringe a uma questão ÉS, 1981) e a teoria das representações
climática. É evidente a carência de recur- sociais (Moscovici, 1978), a fim de se en-
sos culturais, educacionais e econômicos. tender a diversidade e as permanências
A situação generalizada de vulnerabilida- culturais, bem como, as contradições ine-
de social destes municípios interfere na rentes à realidade das crianças que traba-
dinâmica familiar e priva os indivíduos lham com o motor do sisal (Spink, 1993).
de direitos fundamentais, assegurados Como método da pesquisa, foi realizado
pelo Estatuto da Criança e Adolescente um estudo descritivo exploratório, por
(ECA,2002). Entre os exemplos que po- meio do qual foram entrevistados cinco
dem ser citados para ilustrar essa realida- participantes, com idades entre 9 a 15
de, pode-se encontrar o trabalho de crian- anos. Os dados também foram coletados
ças e de adolescentes no sisal, temática a por meio de pesquisa participante. Como
ser contemplada na presente pesquisa. O instrumentos de coleta de dados, foram
trabalho no sisal é de alto risco; não raro, realizadas entrevistas semiestruturadas,
vêem-se indivíduos com algum tipo de posteriormente, submetidas a análise de
deficiência física, decorrente do trabalho conteúdo. Os dados levantados durante
nos motores. É, ainda, um ofício extre- a pesquisa apontam para o fato de que,
mamente cansativo e desgastante, ainda mesmo com a cobertura dos variados
mais, considerando-se que é praticado no programas assistenciais do Ministério do
sol do sertão baiano, sem qualquer tipo de Desenvolvimento Social (MDS) - tais como
proteção. É, também, completamente ir- PETI (Programa de Erradicação do Traba-
regular: o trabalhador não possui nenhum lho Infantil), Bolsa Família e CRAS (Centro
dos direitos assegurados pela C.L.T. e, se de Referência em Assistência Social) - a
tal realidade impera entre adultos, a situa- questão do trabalho infantil ainda se apre-
ção é ainda mais difícil quanto às crianças senta como uma contingência inerente à
e adolescentes que desenvolvem traba- realidade dos recortes territoriais dessa
lhos com o cultivo e a extração do sisal. pesquisa. Como reflexo dessa realidade, é
É nesse sentido que o presente trabalho possível identificar crianças que continu-
tem o objetivo de analisar a infância nesse am trabalhando com o sisal – pelo menos
contexto específico. Há poucas pesquisas uma vez por semana – ainda que recebam
que retratam a infância de crianças que incentivos governamentais. Para essas
trabalham com o sisal; justamente por crianças, o trabalho no sisal é considerado
isso, entender tal realidade é importante como uma atividade cansativa, perigosa e
para contribuir com o desenvolvimento e sofrida. Elas indicam que a principal difi-
aprimoramento de políticas públicas que culdade do trabalho é cortar o sisal, pois,
melhorem a qualidade de vida das crian- constantemente, eles se furam ao exercer
ças do semiárido baiano. Tendo em vista a tarefa. A maioria dos meninos indica,

608
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

também, que o sol é muito forte e, por realidade demonstra a falta de perspecti-
isso, sentem muita dor de cabeça, sinto- va de vida de alguns dos jovens, que pro-
ma possivelmente agravado em decor- jetam o seu futuro a partir da realidade
rência da desidratação e da desnutrição. presente, sem analisar a possibilidade da
Ao serem perguntados sobre o que mais alteração de um ciclo de vida. Acredita-se
gostavam no trabalho, eles indicaram que que esse trabalho pode contribuir para
gostavam de voltar montados nos jegues, um melhor entendimento da realidade
após as plantas terem sido descarregadas. de crianças e adolescentes que trabalham
Eles afirmam, ainda, que gostam de poder com o motor do sisal. Para pesquisas fu-
ajudar os seus pais, pois, quando toda a turas, sugere-se a necessidade de realizar
família trabalha, eles conseguem uma estudos transversais, com indivíduos de
maior margem de lucro; isso significa 90 diferentes idades, que trabalharam ou
a 100 reais por mês. Nesse sentido, há o ainda trabalham no motor do sisal, a fim
incentivo dos pais, aos seus filhos, para de se entender melhor a cultura local. Há,
que as crianças ajudem no trabalho com ainda, a necessidade de aprimorar a efe-
o sisal. Para os pais, é um absurdo que os tivação das políticas públicas, elaboradas
seus filhos não possam exercer essa tare- com o objetivo de melhorar as condições
fa, pois, a bolsa família ainda é insuficiente sociais, econômicas, educacionais e cultu-
e, desde crianças, eles trabalharam com o rais das crianças e dos adolescentes que
sisal e afirmam: Os meus pais trabalharam vivenciam na região.
desde pequenos, eu também trabalhei,
por que os meus filhos não podem tra- Palavras-chave: crianças, situação de risco,
balhar? Nesse sentido, é possível afirmar vulnerabilidade social
que o trabalho no sisal faz parte da cultura Contato: Mariana Leonesy da S. Barreto,
da região; é um conhecimento transmiti- UFBA, maribarreto@gmail.com
do de geração em geração e, infelizmente,
de difícil mudança. As precárias condi-
ções são reverberadas no dia-a-dia dessas MR LT01
crianças, que sofrem com a insuficiência
alimentar, o excesso de atividade física e Mesa Redonda
acabam por faltar às aulas. Como conse-
quência, constantemente, as essas crian-
MR LT01 1491 POSSÍVEIS
ças trocam as fardas escolares pelo motor
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO
do sisal. Desde cedo, elas se expõem a si-
DESENVOLVIMENTO EM DIVERSOS
tuações de risco, mas, apesar da situação
CONTEXTOS DE AVALIAÇÃO
adversa que vivenciam, ainda possuem
PSICOLÓGICA INFANTIL
sonhos. Ao serem perguntadas sobre a es-
cola e a necessidade de estudar, elas indi- Clara Maria M. Santos - UFRN
cam a importância do estudo, cultivam os clarasantos@yahoo.com
sonhos de ser policial militar, advogado,
professor e médico. Entretanto, ainda há A presente atividade tem como objetivo
aqueles que afirmam: Estudar para quê? apontar como conhecimentos associados
Eu sempre viverei pela roça, mesmo. Tal à psicologia do desenvolvimento trazem

609
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contribuições para diferentes práticas rísticas do desenvolvimento infantil pode


psicológicas e em especial para o campo levar a compreensões equivocadas de
da avaliação psicológica infantil. Apesar comportamentos e expressões de pensa-
da dificuldade de se definir a psicologia mentos e sentimentos de crianças, resul-
do desenvolvimento, em virtude de seu tando em intervenções menos eficazes.
vasto campo de estudo, alguns autores Obviamente, essas afirmações apontam
afirmam que, de modo geral, trata-se da para perspectiva de desenvolvimento de
área da psicologia que estuda as mudan- natureza em parte previsível, ao mesmo
ças que ocorrem no ser humano ao longo tempo reconhecendo que ocorre sempre
do ciclo vital. Tal definição levanta ques- em contextos relacionais e sócio-histó-
tões sobre o que muda e o que perma- ricos, possibilitando o aparecimento do
nece constante ao longo da vida e sobre imprevisível e das diferenças individuais.
como ocorrem tais mudanças. Diante de Quatro trabalhos compõem esta mesa-re-
tais questionamentos, permanecem anti- donda. O primeiro introduz o tema tratado
gas – e, por vezes, apenas aparentes – di- nesta atividade, apresentando ilustrações
cotomias tais como: a natureza universal de comportamentos típicos de crianças
e previsível do desenvolvimento versus a em diferentes etapas de desenvolvimen-
particularidade da experiência individual tos, comportamentos esses muitas vezes
contextualizada, mudanças quantitativas mal-compreendidos por desconhecimento
versus mudanças qualitativas ou a tão de aspectos desenvolvimentais. Os outros
conhecida problematização “natureza três trabalhos apresentam aplicações da
versus ambiente”. Diferentes teorias as- avaliação psicológica infantil em diversos
sumem posicionamentos distintos em re- contextos, a partir de diferentes referen-
lação a essas questões, bem como enfa- ciais teórico-metodológicos estabelecen-
tizam diferentes dimensões do desenvol- do relações com diferentes aspectos do
vimento. As mudanças desenvolvimentais desenvolvimento. O primeiro trabalho dis-
envolvem aspectos biológicos, cognitivos, cute as contribuições dos princípios teóri-
afetivos e sociais, tornando seu estudo co-metodológicos da psicologia histórico-
um campo efetivamente interdisciplinar, -cultural na avaliação do desenvolvimento
com aproximações em diferentes graus neuropiscológico. Uma segunda reflexão é
com outras áreas de conhecimento tais trazida com foco em aspectos do desenvol-
como a biologia, educação, medicina, vimento cognitivo inicial, problematizando
entre outras. Além disso, inevitavelmen- os alcances e limites do referencial teórico
te, a psicologia do desenvolvimento faz da epistemologia genética, do método clí-
interface com outros ramos da psicologia nico piagetiano e do Protocolo para Obser-
e não apenas no que diz respeito a aspec- vação do Desenvolvimento Cognitivo e de
tos teórico-metodológicos, mas também Linguagem Expressiva (PODCLE). Por fim,
a práticas psicológicas como, por exem- no último trabalho, discute-se a inserção
plo, a avaliação psicológica infantil, foco do psicólogo no campo jurídico, notada-
da presente atividade. A motivação para mente no âmbito de questões que envol-
a organização desta mesa-redonda surgiu vem a infância, a partir da perspectiva fe-
da observação de que a desconsideração nomenológico-existencial para a avaliação
de conhecimentos básicos sobre caracte- psicológica de crianças em processos judi-

610
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ciais. Todas as apresentações usarão como ríamos ainda supor que aquele mesmo
ilustrações estudos de caso, evidenciando menino sertanejo poderia diferir bastan-
assim não apenas uma articulação entre o te de seu irmão gêmeo que, porventura,
estudo do desenvolvimento humano e ou- houvesse sido adotado por uma família
tras áreas da psicologia, mas também uma na “cidade grande” e vivido em contex-
estreita interação entre teorias e práticas tos diferentes dos de seu irmão sertane-
psicológicas. jo. Assume-se, portanto, que o indivíduo
desenvolve-se sempre em contextos que
Palavras-chave: Psicologia do o influencia e o constitui enquanto sujei-
desenvolvimento, avaliação psicológica, to. Assim, no desenvolvimento humano
práticas psicológicas há espaço para o “previsível” e universal,
bem como para o “imprevisível” e para
diferenças individuais (Tourinho & Neno,
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA 2006). O desenvolvimento humano en-
DO DESENVOLVIMENTO PARA A volve dimensões biológicas, cognitivas,
COMPREENSÃO DE EXPRESSÕES afetivas e sociais. Essas dimensões inte-
INFANTIS EM DIFERENTES CONTEXTOS gram-se e se influenciam mutuamente,
DE PRÁTICAS PSICOLÓGICAS. sem limites claros entre elas. Mudanças
Clara Maria M. Santos - UFRN ocorrem ao longo da vida em todas as
clarasantos@yahoo.com dimensões do desenvolvimento, sendo
observadas mais marcadamente no que
Biaggio (1978) denomina de períodos de
O objetivo deste trabalho é demonstrar transição rápida, ou seja, a infância, ado-
como conhecimentos relativos à psicolo- lescência e envelhecimento (Mota, 2005).
gia do desenvolvimento contribuem para Em se tratando especificamente da infân-
uma melhor compreensão de expressões cia, chama-se à atenção neste trabalho
e comportamentos infantis. É consenso para o fato de que a não observância de
que a criança difere do adulto. É igual- características típicas de crianças em di-
mente notório que crianças diferem entre ferentes fases e contextos de desenvol-
si. Essas diferenças podem ser atribuídas vimento pode levar a equívocos na com-
a fatores que ora tendem para aspectos preensão do comportamento infantil com
biológicos, ora para aspectos sócio-cultu- conseqüências para práticas profissionais
rais. Observa-se também que crianças de voltadas para a infância. Considerando o
uma mesma faixa etária assemelham-se desenvolvimento inicial pode-se afirmar
em vários aspectos. Tais semelhanças po- que as potencialidades e limitações de-
dem, por vezes, tornar um menino hipo- monstradas no comportamento infantil
tético do sertão nordestino mais parecido são consequências diretas dos diferentes
com um garoto sueco da mesma idade, ritmos de crescimento neuronal, mieli-
do que com seu irmão adolescente (Cole nização e maturação seqüencial de regi-
& Cole, 2004). Esta afirmação implica as- ões cerebrais distintas (Pappalia, Olds &
sumir que pelo menos alguns aspectos do Feldman, 2009). Nesse sentido, a psico-
desenvolvimento humano são previsíveis logia do desenvolvimento se aproxima
e universais. Ao mesmo tempo, pode- da neuropsicologia e compartilham con-

611
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ceitos relevantes como os de períodos mudanças radicais na forma de pensar (de


críticos/sensíveis do desenvolvimento e sentir e de se comportar) das crianças, re-
o de janelas de oportunidade. O estudo ferido na teoria piagetiana como uma
dos casos das crianças-lobo, perdidas ou mudança de estágio de desenvolvimen-
abandonadas ainda na primeira infância to. Independentemente da perspectiva
em florestas, ilustra de forma dramática a teórica adotada, é consenso que nesta
importância da compreensão desses pro- etapa da infância ocorrem mudanças que
cessos de desenvolvimento (Banks-Leite tornam a criança cada vez mais parecida
& Galvão, 2000). Outro processo central com o adulto. Neste trabalho, focalizamos
no neurodesenvolvimento é a sinaptogê- principalmente a fase de desenvolvimen-
nese. Em determinados períodos críticos to que antecede tais mudanças e tenta-
há uma superprodução de sinapses em mos demonstrar como o conhecimento
áreas específicas do córtex cerebral (Mu- de características do desenvolvimento de
zskat, 2006). Entretanto, se não há uma crianças pré-escolares (pré-operacionais)
estimulação ambiental, esses momento contribui para um melhor entendimento
ótimos para a produção de sinapses nes- da visão de mundo e de comportamentos
tas áreas corticais específicas são perdi- típicos de crianças dessa faixa etária. Para
dos, e o desenvolvimento das habilidades tanto, utilizamos exemplos baseados em
cognitivas associadas a estas áreas será situações reais. Um dos fatores que con-
alterado (Miranda & Muszkat, 2004). Esta tribuem para a dificuldade de compreen-
afirmação aponta para o fato de que o são das crianças pré-escolares é o fato
desenvolvimento do sistema nervoso não de que, apesar de já terem desenvolvido
é apenas resultado de etapas pré-estabe- habilidades lingüísticas que possibilitam
lecidas, mas é também mediado, entre uma comunicação verbal relativamente
outras coisas, pelos processos de apren- satisfatória, ainda há muito a se desen-
dizagem e de memória. Do ponto de vista volver com relação à formação de concei-
neuropsicológico, a aprendizagem depen- tos. Esses são construídos frequentemen-
de da quantidade de sinapses realizadas - te baseados em experiências pessoais e
e não da quantidade de neurônios. É fun- não através do exame das características
damental, portanto, que os neurônios es- essenciais que identificam uma classe de
tabeleçam conexões entre si, construindo objetos. Desse modo, ao se referir ao psi-
redes neurais que possibilitam o aprendi- coterapeuta como médico, a criança não
zado. Por outro lado, as sinapses forma- está necessariamente associando a psico-
das são respostas a demandas da cultura, terapia ao modelo médico (Morais, 2011),
contextualizadas social e historicamente. mas possivelmente tentando transformar
Obviamente, esses conhecimentos sobre o desconhecido e em algo familiar. Conhe-
o desenvolvimento neuropsicológico é de cendo-se um pouco mais o processo de
fundamental importância para a atuação formação de conceitos, entende-se tam-
psicológica em áreas como a avaliação e bém porque crianças pequenas confun-
reabilitação neuropsicológica. Partindo- dem “direitos” e “deveres” (Patino, 2010),
-se do desenvolvimento neuropsicológi- incluindo esses conceitos em uma cate-
co, um surto de sinapses entre os cinco goria maior de “coisas que se tem que...”.
e sete anos de idade está associado com Ainda associado ao desenvolvimento de

612
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conceitos é equivocado interpretar como AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DE


“preconceito” o fato de uma criança acre- CRIANÇAS COM LESÕES CEREBRAIS
ditar que ser negro é ser portador de ne- ADQUIRIDAS: CONTRIBUIÇÕES DA
cessidades especiais porque o único cole- PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL
guinha negro na escola tem síndrome de Izabel Hazin - LAPEN/UFRN
Down. Ainda sobre questões morais e de izabel.hazin@gmail.com
desenvolvimento psicossocial, psicotera- Juliana Medeiros Freire da Costa Mafra - IINELS
peutas ficam intrigados quando crianças j_lianafreire@hotmail.com
em atendimento na abordagem humanis-
ta-existencial continuam requerendo do O desenvolvimento da criança é um pro-
terapeuta manifestações de aprovação a cesso complexo, contínuo e contextualiza-
despeito da atitude de aceitação incondi- do, envolvendo mudanças psicológicas e
cional do profissional (Morais, 2011). Esse físicas, que necessariamente precisam ser
comportamento não os surpreenderia compreendidas no interior de práticas cul-
tanto se considerassem aspectos típicos turais (Hazin, 2006). Entretanto, não é pos-
do desenvolvimento do raciocínio moral. sível pesquisar e construir conhecimento
Sem perder de vista as semelhanças en- contemplando simultaneamente todos
tre crianças em uma mesma etapa de de- estes aspectos, o que constitui um desafio
senvolvimento, é fundamental considerar para a psicologia, que pode por um lado
também as influências sócio-culturais que ser aprisionada numa perspectiva redu-
podem estar por trás do que as genera- cionista, na qual um único elemento expli-
lizações teóricas, muito embora necessá- caria o desenvolvimento humano ou, por
rias, deixam escapar. Respostas peculiares outro lado, resvalar para o ecletismo, no
dadas por crianças de diferentes regiões qual a consideração de uma vasta gama de
do Brasil a testes padronizados como o aspectos é igualmente contraproducente,
WISC apontam para a necessidade desta já que se torna impossível a compreensão
consideração. Acreditamos que interven- da participação específica de determinado
ções profissionais mais eficazes devem domínio no curso do desenvolvimento.
acontecer, na medida em que psicólogos Isto posto, a presente proposta tem como
que trabalham a serviço da infância bus- objetivo central discutir acerca da contri-
quem na psicologia do desenvolvimento buição e pertinência de aplicação dos prin-
subsídios teóricos e metodológicos para cípios teórico-metodológicos da psicologia
sua prática profissional. histórico-cultural na avaliação do desenvol-
vimento infantil, notadamente em termos
Palavras-chave: psicologia do de aspectos inerentes ao desenvolvimento
desenvolvimento, formação de conceitos, neuropsicológico. Para tanto, apresentará
desenvolvimento, avaliação psicológica os conceitos teóricos centrais propostos
por tal projeto científico, o modelo de ava-
liação neuropsicológica decorrente de tais
conceitos e, por fim, discutirá acerca de
conjunto de dados oriundos da avaliação
neuropsicológica de crianças com lesões
cerebrais inatas ou adquiridas utilizando-

613
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

-se a metodologia proposta por Luria. As distintos de análise. O nível histórico, ou


crianças em questão foram acompanhadas da sociogênese, refere-se às aquisições so-
no Centro de Saúde Anita Garibaldi, vin- ciais, históricas, culturais da humanidade,
culado ao Instituto Internacional de Neu- da comunidade e do momento histórico
rociências de Natal Edmond e Lily Safra no qual se desvela a ação humana. O nível
(IINELS). A abordagem genética do desen- evolutivo, ou da filogênese, diz respeito
volvimento avançada pela psicologia histó- ao desenvolvimento das espécies e as es-
rico-cultural pode ser compreendida a par- pecificidades de cada uma destas. O nível
tir do exame de quatro premissas que sub- individual, ou ontogênese, refere-se ao
jazem a toda sua produção (Eilam, 2003). desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo
A primeira premissa aponta para a necessi- dos sujeitos, ou seja, a passagem da infân-
dade da utilização de método genético nas cia para a idade adulta e as mudanças na
investigações acerca do desenvolvimento. estrutura e nas funções mentais que ocor-
O programa de pesquisa instaurado pela rem ao longo deste processo. Por fim, no
psicologia histórico-cultural fornece uma nivel da microgênese considera-se cada
explicação genético-desenvolvimental do fenômeno psicológico como detentor de
funcionamento mental, ressaltando a im- trajetória própria. Utiliza-se aqui a palavra
portância dos aspectos sócio-culturais na Micro, não como para se referir a algo ne-
constituição do funcionamento cognitivo cessariamente pequeno, mas, sobretudo,
superior. A segunda destas premissas de- para remeter a um nível de análise que
fende que as funções psicológicas supe- se orienta para a apreensão de minúcias
riores têm um suporte biológico, baseado na transfomação de processos e ações do
na atividade cerebral enquanto sistema sujeito (Vygotsky & Luria, 1996). Apesar
aberto e plástico. Tal concepção antecipa de o presente trabalho admitir que haja
a terceira premissa, a saber, o argumento inter-relações entre os diferentes níveis
que o funcionamento psicológico comple- de desenvolvimento propostos pela teo-
xo está fundamentado nas relações sociais ria histórico-cultural, este irá centrar-se no
estabelecidas entre o sujeito e o mundo, domínio da ontogênese, examinando, em
imersos numa dimensão histórica e cultu- especial, o curso da dissolução das funções
ral. Por fim, a quarta idéia de base, rela- psicológicas superiores nos quadros de le-
cionada ao aspecto instrumental da psi- sões e/ou disfunções cerebrais, inatas ou
cologia histórico-cultural, argumenta que adquiridas. Podemos resumir as propos-
as relações estabelecidas entre indivíduo tas neuropsicológicas de Luria afirmando,
e mundo não são diretas, mas requerem portanto, que o cérebro é formado por sis-
que a ação do primeiro sobre/com o se- temas funcionais, caracterizados não ape-
gundo, seja mediada por instrumentos nas por sua complexidade estrutural, mas
ou signos, particularmente a linguagem essencialmente pela mobilidade de suas
verbal (Vygotsky, 1991; Vygotsky & Luria, partes constituintes (Luria,1981). Para Lu-
1996; Hazin & Meira, 2004). A análise des- ria, as características básicas de um siste-
tas quatro premissas permite afirmar que ma funcional consistem em que: diante da
a compreensão do desenvolvimento hu- presença de uma tarefa constante (invari-
mano para a perspectiva histórico-cultural ável), mecanismos diferentes podem ser
exige a consideração conjunta de níveis acessados (variabilidade), levando o pro-

614
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cesso a um resultado final constante (inva- dios à estruturação de plano de reabilita-


riável); a composição complexa do sistema ção, partindo da identificação de funções
funcional sempre terá impulsos aferentes cognitivas preservadas e comprometidas.
e eferentes, ou seja, informações são re- Para tanto, cada tarefa avaliativa proposta
cebidas e respostas, de naturezas diversas, foi desenvolvida a partir de teoria compre-
são fornecidas pelo sujeito; e o sistema ensiva do funcionamento e organização
funcional não possui uma localização cor- do sistema nervoso humano. A aplicação
tical exata, ou seja, não está confinado a de tal instrumento junto a crianças com
áreas cerebrais determinadas, embora se lesões cerebrais vem contribuindo para
possa falar de áreas corticais importantes maior compreensão acerca de formas qua-
para cada um dos sistemas. Nessa direção, litativamente atípicas de desenvolvimen-
a proposta de Luria acerca do princípio to e aprendizagem, ilustrando o quanto a
de organização extracortical das funções combinação de abordagens quantitativo-
mentais inaugura uma concepção de ciên- -descritivas e clínico-qualitativa é funda-
cia em consonância simultânea com a tra- mental para a compreensão do funciona-
dição neurofisiológica e com a perspectiva mento neuropsicológico das crianças.
humanista. Simultaneamente, apresenta
reformulação do conflito, inerente à psi- Palavras-chave: avaliação psicológica,
cologia, entre as abordagens nomotética avaliação neuropsicológica, psicologia
e idiográfica, o que resultou no desenvol- histórico-cultural.
vimento de concepção peculiar do fenô-
meno neuropsicológico, e consequente-
mente, na proposição de avaliação de tal AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DA
fenômeno igualmente inovadora. CRIANÇA: ALCANCES E LIMITES
A metodologia proposta por Luria pres- DA EPISTEMOLOGIA-GENÉTICA
supõe a análise qualitativa do sintoma in- E CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE
vestigado, o que provoca duas implicações INTERACIONAL E VIDEOGRÁFICA
centrais, a saber, a flexibilização da avalia- Pompéia Villachan-Lyra - UFPE
ção neuropsicológica, o que possibilita sua lyrapomp@gmail.com
adaptação a cada paciente e; a necessi- Eliana Almeida - FACHO
dade, por parte do examinador, de vasto eligsa.almeida@gmail.com
conhecimento acerca da organização ce-
rebral e da atividade cognitiva subjacente, Esse estudo visa contribuir para a reflexão
de forma a orientar o processo avaliativo acerca da avaliação neuropsicológica de
(GlozmaN, 2007). Para Luria, a habilidade crianças em estágios iniciais do desenvol-
clínica e a avaliação das síndromes não po- vimento a partir do referencial piagetia-
deriam ser substituídas por testes padro- no. Busca também destacar a relevante
nizados e normatizados para a população contribuição que a análise interacional e
dita normal. A necessidade de adaptação videográfica pode trazer para a avaliação
para a criança desta metodologia nos le- psicológica nesses estágios do desenvolvi-
vou à construção de protocolo de avalia- mento. Discutiremos alguns aspectos re-
ção neuropsicológica qualitativa, desen- lacionados aos alcances e limites teórico-
volvido com o objetivo de fornecer subsí- -metodológicos destas perspectivas para

615
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a avaliação do desenvolvimento infantil. No entanto, o uso desses instrumentos


Tomaremos por base: 1. a aplicação das favorece, sobretudo, a avaliação da inte-
tarefas clínicas piagetianas, 2. o Protoco- ligência, tal como preconizado por Piaget.
lo para Observação do Desenvolvimen- Considerando a importância de uma com-
to Cognitivo e de Linguagem Expressiva preensão mais ampla do funcionamento
(PODCLE) - instrumento desenvolvido a cognitivo e psicológico da criança, esse
partir dos constructos piagetianos – e 3. instrumento apresenta importantes limi-
A Bayley-III (Scales of infant and toddler tações. Nesse sentido, sugerimos o uso
development) – instrumento desenvol- da escala BAYLEY-III como importante es-
vido de modo compatível com a aborda- tratégia complementar à avaliação, que
gem sócio-histórica. Para Piaget, a avalia- favorecerá uma compreensão mais am-
ção deveria centrar-se essencialmente na pla do funcionamento cognitivo e sócio-
compreensão do “como” a criança pensa, -afetivo da criança. A BAYLEY-III constitui-
analisa situações, resolve problemas e -se como um instrumento de avaliação de
responde às colocações do examinador. nível de desenvolvimento, com ênfase na
Nesse sentido, as situações de avaliação avaliação das seguintes áreas: cognição,
não são totalmente padronizadas, pois linguagem (receptiva e expressiva), de-
cabe ao profissional que avalia buscar senvolvimento motor (grosso e fino), de-
confirmar suas inferências acerca do ra- senvolvimento sócio-afetivo e comporta-
ciocínio da criança ao longo do processo mento adaptativo. Dessa forma, além da
avaliativo. Como a ênfase do método clíni- avaliação cognitiva, essa escala favorece
co piagetiano recai mais sobre o processo também a compreensão do funcionamen-
do que sobre a resposta como produto, to psicológico infantil considerando aspec-
o foco não está sobre respostas certas tos do seu desenvolvimento sócio-afetivo,
ou erradas, mas sobre o esforço de com- bem como destaca aspectos ecológicos,
preensão da lógica inerente às respostas da rotina da criança e de sua família. Fa-
fornecidas pela criança. Porém, apesar da zendo uso desses instrumentos, traremos
flexibilidade própria do método clínico, a para discussão dados da avaliação de uma
avaliação é orientada pela proposição dos criança com alterações neurodesenvol-
estágios de desenvolvimento da inteligên- vimentais. Trata-se de uma criança de 4
cia preconizados por Piaget. Adotando anos, nascida no dia 01/08/2006, fruto de
essa perspectiva, o PODCLE representa um processo de fertilização in vitro (FIV),
um esforço na direção de sistematização do qual nasceram 4 crianças – 3 meninas
da observação do desenvolvimento cogni- e 1 menino. Em função da prematuridade
tivo e da linguagem expressiva nas fases e de um quadro clínico bastante comple-
iniciais do desenvolvimento, correspon- xo – que inclui um quadro de quilotórax,
dendo, portanto, aos estágios sensório- grave infecção, inúmeras paradas cario-
-motor e pré-operatório. A utilização do -respiratórias e dieta pobre em lipídios
PODCLE e das tarefas clínicas piagetianas – essa criança permaneceu internada em
tem possibilitado a realização de uma UTI pediátrica durante os 2 primeiros anos
avaliação do desenvolvimento cognitivo de sua vida. Após esse período, sai do
inicial de crianças pequenas, em situação hospital alimentando-se por sonda e de-
de desenvolvimento normal e patológico. pendendo do respirador, o que continuou

616
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

acontecendo até o momento da avaliação. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CRIANÇAS


Considerando esse quadro clínico, bem NO CONTEXTO JURÍDICO:
como o fato de ser essa uma criança que CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-
demanda especial atenção por se comuni- METODOLÓGICAS
car de forma muito peculiar, sem que pos-
Symone Fernandes de Melo - UFRN
samos contar com o recurso da linguagem
symonemelo@uol.com.br
verbal, foi feita a opção pelo uso da vide- Ana Andrea Barvosa Maux - TJ/RN/FACEX
ografia. Assim, todo o procedimento de amaux@bol.com.br
avaliação dessa criança foi realizado em
ambiente domiciliar e com uso da técnica O objetivo deste trabalho é problematizar
da videografia e da análise interacional. A a inserção do psicólogo no campo jurídi-
videografia oportuniza um tipo de registro co, notadamente no âmbito da avaliação
permanente, que permite resgatar a com- psicológica em processos que envolvem
plexidade e a densidade das ações e inte- crianças. Discute-se a complexidade do
rações humanas, favorecendo uma maior processo avaliativo neste campo e a rele-
compreensão do fenômeno investigado. vância dos aportes teórico-metodológicos
Em função disso, os registros podem ser que fundamentam a prática profissional.
analisados diversas vezes, de diferentes Ressaltam-se, a partir de experiência na
maneiras e de modo extremamente minu- área, as contribuições da perspectiva Feno-
cioso. Assim, é possível capturar peque- menológico-Existencial e da Psicologia do
nos, mas importantes, detalhes das ações Desenvolvimento em tal contexto. A pro-
e interações envolvidos nas situações de mulgação em 1990, do Estatuto da Criança
comunicação, de manuseio de artefatos e do Adolescente (ECA), inspirado na Dou-
culturais e de competências, de um modo trina da Proteção Integral exigiu do psicó-
geral. A análise interacional, por sua vez, logo o redimensionamento de sua atuação
tem como principal objetivo investigar em processos judiciais em que a criança
empiricamente as atividades dos seres toma parte. A partir de então, torna-se cla-
humanos entre si e em suas relações com ro não se tratar apenas de diagnosticar, elu-
os artefatos culturais e com o ambiente. cidar, mas especialmente de preocupar-se
Fundamenta-se, principalmente, na etno- em possibilitar um desenvolvimento ade-
metodologia e na análise da conversação quado e garantir os direitos fundamentais
e destaca a contribuição da investiga- do infante (Brito, 1999). Segundo Costa e
ção qualitativa das atividades cotidianas. Cruz (2005), “fenômenos e processos psi-
Como resultado dessa avaliação neurop- cológicos estão presentes nas organizações
sicológica e do uso dos recursos descritos de justiça, mobilizando aspectos desen-
acima, apesar das dificuldades inerentes à cadeantes dos processos judiciais que ali
faixa etária e à especificidade do quadro tramitam” (p. 19). As questões humanas
clínico, foi possível construir uma compre- tratadas no âmbito do Direito e do judiciá-
ensão a respeito do perfil neuropsicológi- rio não são meramente burocráticas e pro-
co da criança em análise. cessuais, mas extremamente complexas,
revelando situações delicadas, difíceis e
Palavras-chave: avaliação psicológica; dolorosas (Altoé, 2001). Tais assertivas são
método-clínico piagetiano; PODCLE; BAYLEY especialmente evidentes nos processos re-

617
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ferentes às Varas da Infância e Juventude e periciais aspectos do desenvolvimento in-


Varas de Família. Os processos que envol- fantil. A compreensão da expressão infantil
vem crianças constituem-se num grande requer um conhecimento amplo do desen-
desafio no tocante à articulação entre o volvimento cognitivo, afetivo-emocional
Direito e a Psicologia. Partindo de campos e social da criança. O processo avaliativo
epistemológicos distintos, profissionais infantil deverá ter sempre como referência
destas áreas lançam-se ao desafio de inter- as possibilidades desenvolvimentais re-
vir em casos nos quais aspectos jurídicos e ferentes a cada etapa de vida. Do contrá-
afetivo-emocionais se relacionam de forma rio, corre-se o risco de cometer equívocos
complexa. O trabalho, em tais casos, de- que irão ter desdobramentos importantes,
monstra que, se a decisão judicial não vier inclusive no tocante a decisões judiciais.
acompanhada de um movimento de com- Entende-se que, no que tange a questões
preensão, por parte dos envolvidos, das que envolvem infância e justiça, o modelo
questões implícitas na demanda jurídica, tradicional de avaliação psicológica mostra-
novos processos são originados, numa se- -se contraproducente. Destaca-se a neces-
quência interminável de litígios que provo- sidade de uma apropriação reflexiva da
cam sofrimento às partes e, especialmen- demanda por parte dos litigantes, o que
te, por sua condição de vulnerabilidade, à exige o destecer de uma trama de significa-
criança. Tem-se, assim, adoções malsucedi- dos, que estão na origem dos conflitos que
das, mudanças recorrentes do sistema de resultam na demanda judicial. A dicotomia
guarda e visitação, falsas acusações de abu- inocente versus culpado deve ser proble-
so sexual como exemplos emblemáticos da matizada e revista, tendo-se sempre como
complexidade que envolve este campo. A norte o melhor interesse da criança. Para
despeito da ilusória resolutividade jurídica, além da instrução de processos e elucida-
são muitos os processos em que todos per- ção de dúvidas, propõe-se um investimen-
dem: a criança, os responsáveis e a própria to da instituição judiciária na promoção
justiça. Verifica-se a necessidade de alte- da saúde mental daqueles que buscam tal
rações no modelo tradicional/clássico de instância para resolução de seus conflitos.
avaliação psicológica, de modo a adaptá- É importante rever antigas concepções e
-lo a um contexto marcado por demandas abandonar a ideia de que a avaliação não
não explícitas e, muitas vezes, por intensos tem objetivos terapêuticos. Não há como
conflitos entre os atores envolvidos nos dissociar avaliação e intervenção. Na ava-
processos. Sugere-se a perspectiva feno- liação psicológica pautada em pressupos-
menológico-existencial como fundamento tos da fenomenologia existencial, há uma
teórico-metodológico para a realização de horizontalização no tocante à relação de
avaliação psicológica no campo jurídico. A poder, buscando-se um engajamento ativo
fenomenologia hermenêutica heideggeria- das partes envolvidas na compreensão e
na, especialmente, concebendo o homem resolução da problemática em tela. O pro-
como ser-no-mundo, constituído pelo cui- fissional atua no sentido de facilitar a atri-
dado, livre e responsável por suas escolhas, buição de novos significados ao vivido. Para
oferece subsídios importantes à atuação Altoé (2001), é papel do psicólogo auxiliar
no contexto em foco. Evidencia-se, ainda, as partes na procura por respostas pró-
a necessidade de considerar nas avaliações prias, dentro de suas possibilidades e histó-

618
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rias singulares. Especificamente no campo nados a entender-se”, quiçá, assim, possa-


jurídico, ressalta-se a necessidade de res- mos ter processos judiciais em que todas
tituir ao sujeito o poder de condução de as partes “ganhem”, a criança, os responsá-
sua vida. No tocante aos procedimentos/ veis e a instituição jurídica.
instrumentos utilizados no psicodiagnósti-
co fenomenológico-existencial, prioriza-se Palavras-chave: avaliação psicológica;
a entrevista (aberta ou semiestruturada). psicologia jurídica, desenvolvimento.
Considerando-se o discurso como originá-
rio da disposição afetiva e da compreen-
são, concebe-se que a compreensibilidade SP LT04 - Simpósio
do ser-no-mundo se pronuncia como dis-
curso (Heidegger, 1927/2005). Ressalta-se,
portanto, a necessidade de ouvir todos os SP LT04-1354 – PESQUISAS SOBRE
envolvidos no processo. Em consonância CRIANÇAS E INFÂNCIAS: DIÁLOGOS EM
com as mudanças verificadas na noção de CONSTRUÇÃO
infância, a narrativa da criança é valoriza- Ilka Schapper - UFJF
da, lançando-se mão, algumas vezes, de ilkaschapper@gmail.com
recursos expressivos como o brinquedo e
o desenho, formas privilegiadas de acesso Este simpósio apresenta trabalhos de pes-
à subjetividade infantil. Os testes, especial- quisas desenvolvidas no Grupo de Pes-
mente os projetivos, são também utiliza- quisa Linguagem, Educação, Formação de
dos em alguns casos, como mediadores de Professores e Infância (LEFoPI) em inter-
expressão. A interpretação da expressão da locução com outro Grupo de pesquisa: o
criança deve sempre considerar a etapa do Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa
desenvolvimento em que esta se encontra. e Extensão (NEIPE/PROPED/UERJ). Tais
Conclui-se que a proposição de empreen- trabalhos vêm se constituindo em torno
der no campo jurídico uma avalição pau- da temática da infância e da formação
tada em contribuições da Fenomenologia docente que se apresenta como uma das
e do Existencialismo revela-se delicada. As grandes demandas interpostas para a
instituições judiciais caracterizam-se sobre- educação pública nacional: a formação de
maneira pela hierarquia de poder, objeti- profissionais para atuar no segmento da
vidade, neutralidade e normatividade; os educação infantil.A metodologia utilizada
prazos para consecução de avaliações são consiste em sessões reflexivas, que está
exíguos e a interdisciplinaridade é ainda alicerçada na pesquisa crítico-colaborativa
um desafio. Dentre os obstáculos enfren- como espaço de formação. Esta perspecti-
tados pelo psicólogo na transposição de tal va tem por base o materialismo-histórico-
referencial ao campo jurídico, evidencia-se -dialético e as ações como práxis. A partir
o descompasso entre o tempo jurídico e o dessa concepção teórica e metodológica
psicológico e a adoção de uma concepção optamos, então, nesse simpósio por apre-
de verdade distinta daquela que predomi- sentar os seguintes temas: (1) sentidos e
na na organização judiciária. A despeito significados compartilhados entre os par-
disto a Psicologia e o Direito, no dizer de ticipantes do grupo de pesquisa LEFoPI
Trindade (2010), são “dois mundos conde- sobre o desenvolvimento da imaginação,

619
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a partir da brincadeira de faz de conta (2) no cenário acadêmico, nas instituições de


reflexões sobre as potencialidades que se educação infantil e, também, nas políticas
fazem e/ou podem se fazer presentes nas públicas. Mas o campo da imaginação e seu
práticas de cuidado e educação das crian- desenvolvimento na infância, tendo como
ças pequenas na creche, no que se refere eixo a brincadeira de faz de conta, têm
à emergência de um paradigma crítico- ainda sido pouco discutidos no panorama
-emancipatório, com enfoque nas práticas educacional brasileiro. A discussão sobre
da autonomia (3) o lugar do choro no coti- o desenvolvimento da imaginação infantil,
diano da creche. sob a égide da brincadeira de faz de con-
ta, pode configurar um espaço de discus-
são muito interessante, tanto do ponto de
O MOVIMENTO DO SIGNIFICADO DO vista teórico quanto do ponto de vista da
BRINCAR NO GP LEFOPI prática pedagógica. Em especial, no que
Ilka Schapper - UFJF se refere à possibilidade de estudo sobre
ilkaschapper@gmail.com suas relações com o desenvolvimento da
Víviam Carvalho de Araújo - UFJF criança, no interior dos processos de socia-
viviamc@powermail.com.br lização, de (re) construção do real e de in-
Michelle Duarte Rios Cardoso - BIC/UFJF ternalização de modos, valores e costumes
dudabcc@yahoo.com.br da produção cultural. Assim, este trabalho
Patrícia Maria Reis Cestaro - UFJF transitará no interregno de confluências
patrícia.cestaro@oi.com.br entre o desenvolvimento da imaginação e
Hilda Micarello - UFJF a brincadeira de faz de conta. Trataremos,
micarelo@powerline.com.br em um primeiro momento, das discussões
Mislene Carvalhais do Nascimento - UFJF teóricas do grupo de pesquisa Linguagem,
mislenenasci@yahoo.com.br Educação, Formação de Professores e In-
Alexsandra Zanetti - UERJ fância (LEFoPI) da Faculdade de Educação,
alexzanetti13@yahoo.com.br da Universidade Federal de Juiz de Fora
sobre: (1) a relevância da imaginação no
O presente trabalho tem por objetivo com- contexto da brincadeira de faz de conta,
preender como, no grupo de pesquisa LE- contribuindo para o processo de criação e
FoPI (Linguagem, Educação, Formação de desenvolvimento infantil; (2) a Zona Proxi-
Professores e Infância), processa o com- mal de Desenvolvimento (ZPD) como espa-
partilhamento de sentidos e significados ço de conflitos e tensões e (3) e o compar-
entre os participantes do grupo sobre o tilhamento de sentidos significados sobre o
desenvolvimento da imaginação, a partir brincar. Para isso, trazemos algumas das re-
da brincadeira de faz de conta. Para isso, flexões teóricas tecidas pelos participantes
a discussão se centra em dois pontos: o do grupo de pesquisa, a partir da perspecti-
corpus teórico do grupo de pesquisa e a va histórico-cultural, fundada nas constru-
análise de um excerto, no interior de uma ções teóricas de Vigotski e Bakhtin. Depois,
sessão reflexiva. A criança e suas infâncias analisamos um excerto de uma das sessões
se transformaram em temas que, a partir reflexivas da pesquisa intitulada “A vertica-
das últimas décadas, passaram a represen- lização e a horizontalização do espaço da
tar um dos grandes eixos de preocupação sala de educação infantil: saberes em cons-

620
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

trução”, no período de 2006-2007, buscan- atividade criadora do homem. Nossa tese,


do compreender como foram negociados materializada nas discussões do grupo e
os sentidos e construídos os significados respaldada na perspectiva vigostikiana, é
sobre o brincar entre os participantes do que a imaginação se constitui como um so-
Grupo de Pesquisa LEFoPI. Focaremos a matório de duas imagens (a pregressa e a
discussão sobre a brincadeira de faz de atual), somatório que possibilita a criação
conta e a imaginação, a partir da perspecti- de uma nova imagem totalmente distinta
va histórico-cultural. Para delinearmos me- em cada mente humana. Numa equação
lhor os estudos do grupo de pesquisa LE- simples, diríamos que a cena da imagina-
FoPI sobre o tema, discorreremos sobre as ção se estrutura com a combinação de dois
relações teóricas que o grupo teceu entre a elementos que, resultando num terceiro,
importância do desenvolvimento da imagi- constitui-se como algo totalmente novo.
nação no contexto da brincadeira de faz de O primeiro elemento seria configurado por
conta. Vigotski (1991) estudou a brincadei- estilhaços e fragmentos da memória que
ra de faz de conta e a sua importância para se materializam na imitação, o segundo se-
o desenvolvimento infantil, tendo como re- ria a vivência do sujeito no momento em
ferência os elementos culturais. Ao abordar que decide reconstruir essa imagem e a
essa questão, aponta que a criança desen- combinação desses dois pontos gera uma
volve-se essencialmente através da ativida- nova imagem criada pelo humano. A ima-
de de brincadeira, considerando essa ativi- ginação, conforme a perspectiva histórico-
dade como um fator imprescindível para o -cultural, não repete em formas e combi-
desenvolvimento dos pequenos. Postulou, nações iguais impressões acumuladas,
ainda, que as transformações internas no isoladas, mas (re) constrói, (re) cria o novo
desenvolvimento da criança como o sim- a partir das impressões anteriormente in-
bolismo, a capacidade de representar, imi- ternalizadas. Embora a imaginação criado-
tar e abstrair surgem a partir de situações ra não seja sinônimo de memória, nela se
lúdicas. Esse formato que a criança atribui apoia, já que as novas imagens só surgem
aos objetos representados tem implicações a partir das reminiscências. É interessante
importantes em seu desenvolvimento, em notar como as questões teóricas discutidas
especial para a (re) construção de sentidos no grupo atravessam as intervenções dos
e significados sobre o mundo material em pesquisadores no excerto que foi analisado
que vive. Ao montar suas brincadeiras de e, também, como as reflexões das educa-
faz de conta, retira os elementos das suas doras estão prenhas das suas experiências
experiências de vida, do contexto histórico- vivenciadas no cotidiano das creches. Esse
-cultural em que está inserida, formulação interregno de confluências entre pesquisa-
que traz elementos novos, que não esta- dores e os participantes da pesquisa pos-
vam postos nas experiências passadas. A sibilita, no interior dos enunciados produ-
criação de novas imagens, no interior das zidos, o compartilhamento de sentidos e
imagens e vivências passadas, são ele- significados construídos em interlocuções
mentos importantes para que ela possa anteriores. Acreditamos que este possa
inaugurar novas maneiras de compreen- ser um dos caminhos para diminuir o fos-
der e (re) inventar a realidade que a cerca, so entre a teoria e a prática, manifesto na
configurando-se, também, como a base da dissociação entre o pensar/fazer. No grupo

621
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de pesquisa EFoPI, reforçamos a ideia de critíco-colaborativa, mantendo interlocu-


que se faz importante a reflexão sobre a ção com o grupo de Pesquisa LACE – Lin-
prática e a prática da reflexão, em um mo- guagem em Atividade no Contexto Escolar
vimento circunscrito ao contexto histórico (PUC/SP), e, com as coordenadoras de 23
cultural de cada participante do grupo. As- creches públicas de Juiz de Fora/MG. Para
sim, as pesquisas do grupo estão fundadas Santos (2010, p. 27), essa perspectiva,
em uma interlocução que busca a supera- busca no espaço de pesquisa, “propiciar
ção do já rotinizado, tanto no campo da elementos em que os participantes pos-
investigação científica quanto no universo sam ter uma compreensão crítica de que
das práticas cotidianas das creches e pré- tanto as circunstâncias fazem os homens
-escolas. como os homens fazem as circunstâncias”.
A autora (idem, p.28) acrescenta ainda que
Palavras-chave: sentido, significado, brincadeira “A preocupação é entender a atividade de
pesquisa e de extensão em um movimen-
to que possibilita a transformação da rea-
AS PRÁTICAS DE CUIDADO E lidade social dos sujeitos envolvidos nos
EDUCAÇÃO NA CRECHE: AUTONOMIA, processos de pesquisa”. As dimensões que
EMANCIPAÇÃO, POSSIBILIDADES... envolvem o cuidar e o educar são atraves-
Lílian Marta Dalamura Gomes - UFJF, sadas por complexas redes de valores, mo-
liliandalamura@hotmail.com dos de ver e se posicionar perante os ou-
Alice de Paula Macário - UFJF, tros, à igualdade e à diferença, assim como
alice_macario14@yahoo.com.br às expectativas que geramos com relação
Denise Rangel Miranda de Oliveira - UFJF, às diferentes subjetividades e aos diferen-
denisermoliveira@ig.com.br tes grupos sociais dos quais cada criança
Luciana da Silva de Oliveira - UFJF, ou determinado grupo de criança faz parte.
isoliveiry@yahoo.com.br Como nos questiona Gentili (2001, p.69)
Aretusa Santos - UFJF, atuamos sobre qual educação, para qual
aretusasantos@uab.ufjf.br cidadania? Nessa direção, diversas ques-
Vanessa Almeida Stigert - PROEXC/UFJF, tões são importantes para a construção de
vanessa_stiigert@hotmail.com uma pedagogia crítica (Contreras, 2002;
Freire, 1994; Giroux, 1997; Vygotsky, 2004)
Este resumo apresenta reflexões sobre as de cuidado e educação da criança peque-
potencialidades que se fazem e/ou podem na, envolvendo análise e reconhecimento
se fazer presentes nas práticas de cuida- das concepções e dimensões culturais,
do e educação das crianças pequenas na políticas e sociais que interferem e dialo-
creche, no que se refere à emergência de gam nos nossos modos de posicionamento
um paradigma crítico-emancipatório, com perante cada criança. “Para os professores
enfoque, neste texto, às práticas da auto- isso significa examinar seu próprio capital
nomia. É parte de algumas das reflexões cultural e examinar o modo no qual este
construídas no interior do Grupo de Pes- beneficia ou prejudica os estudantes. (...)
quisa LEFoPI – Linguagem, Educação, For- construindo-se um modo crítico de ensino
mação de Professores e Infância (UFJF), que que empregue, e não exclua, a história e
tem como pressuposto teórico a pesquisa prática crítica.” (Giroux, 1997, p. 39). Para

622
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Vigotski (2004) o educador só será capaz de a costumeira centralidade do adulto na to-


provocar transformações, ou novas intera- mada de decisões, seja impedindo ou limi-
ções, por meio de sua própria experiência. tando as possibilidades da criança escolher
Percebemos que as concepções de infância o que realizar, para onde ir, o que vestir,
e criança atravessam as formas pelas quais seja na definição das rotinas, na tessitura
as ações de cuidado e educação são pla- de argumentos e resolução de conflitos.
nejadas. Se a criança é vista como cidadã As dificuldades vivenciadas no exercício da
futura, raramente será ouvida e atendi- autonomia, tanto no espaço micro das ins-
da em suas singularidades. No entanto, o tituições de educação das crianças peque-
reconhecimento de sua cidadania sócio- nas, quanto no espaço macro das relações
-histórico-cultural, as diferentes especifici- sociais, da qual ambas se completam, se
dades caracterizadas nos modos de ser, se intercambiam e se atravessam, reforçam
relacionar, e produzir culturas entre pares a importância de redes de colaboração
e diferentes gerações (Sarmento, 2007), crítica para a construção de práticas eman-
exigem a consideração de que existe uma cipatórias. Corroboramos com Contreras
dimensão política nos próprios e diferen- (2002, p. 212), de que a autonomia não é
tes modos de ser criança. Assim como há uma condição possuída a priori, mas sim
política nos próprios e diferentes modos de uma condição circunstancial que “tem a
estruturar as relações de cuidado e educa- ver com a forma pela qual se estabelecem
ção. Diferentes modos de cuidar e educar as relações profissionais, tanto no âmbito
estão necessariamente atrelados à diferen- da sala de aula como em outros campos
tes modos e possibilidades emancipatórias de relação e intervenção.” As creches, en-
de construção da autonomia. Há práticas quanto lugar oficialmente designado para
voltadas ao exercício da autonomia no âm- as práticas de cuidado e educação das
bito do educar para o autocuidado que se crianças pequenas, também se constituem
diferem daquelas voltadas para o exercício em locais econômicos, culturais e sociais,
da autonomia no âmbito político e econô- cujas relações de poder e controle se atra-
mico, ou no âmbito do que Vigotski (2004) vessam. Nesse sentido, existem interesses
chama de autogestão. A necessidade de políticos e ideológicos que influem na es-
educar para a autonomia é uma discussão truturação e natureza dos discursos nela
consensual no que se refere às reflexões construídos (Giroux,1997), evidenciando
sobre a educação para a primeira infância. que não há neutralidade nas relações. Todo
Há um consenso de que a criança precisa relacionamento humano acontece entre
aprender a se cuidar, a controlar os esfinc- sujeitos que possuem ideologias, desejos,
teres, a alimentar-se sem sujar a roupa, a afetos e interesses. Cuidado e educação
utilizar o banheiro sozinha, a guardar os são, sobretudo, modos de relacionamento
brinquedos, entre outras. No entanto, entre diferentes sujeitos, diferentes idades
quando pensamos no exercício da autono- e múltiplas especificidades. Para Contreras
mia com relação ao educar para a emanci- (2002, p.186), a emancipação não se tra-
pação política ou às práticas de autogestão ta de uma conquista ou direito individual,
(Vigostski, idem), chama-nos a atenção a mas, sobretudo, uma construção de inter-
busca daquelas práticas que rompem com conexões com contextos locais, específi-
o campo de segurança e certeza, perante cos, imediatos e os contextos sociais mais

623
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

amplos que também precisam ser trans- porque o lugar da creche vem sendo sig-
formados. Assim, o desafio é: romper com nificado a partir de outros elementos que
culturas historicamente instituídas, na bus- divergem daquele significado em tempos
ca por uma transformação que promova a passados, qual seja: apenas um mal neces-
emancipação. Para isso a reflexão embasa sário. A metodologia utilizada para alcan-
todas as partes integrantes do processo çar o objetivo deste trabalho consiste em
crítico-colaborativo - todos os integrantes, sessões reflexivas, que está alicerçada na
sobretudo e principalmente os pesquisado- pesquisa crítico-colaborativa como espa-
res, exigindo revisão de caminhos, abertu- ço de formação. Esta perspectiva tem por
ra ao novo, construção de outras travessias base o materialismo-histórico-dialético e
embasadas pela solidariedade e coletivida- as ações como práxis. Isso nos leva a crer
de entre sujeitos, instituições e as subjetivi- que a pesquisa é uma atividade coletiva e
dades que os atravessam. que os envolvidos no processo são colabo-
radores críticos. As sessões foram filmadas,
Palavras-chave: creche, crianças, autonomia transcritas e estão sendo analisadas. Esco-
lhemos dialogar com Wallon, interlocutor
inscrito na perspectiva sócio-histórico-
PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA- -cultural para auxiliar na discussão sobre
CULTURAL: WALLON E O CHORO DE as concepções de choro e desenvolvimen-
CRIANÇAS NO CONTEXTO DA CRECHE to infantil. Lidar com o choro das crianças
Núbia Santos - UERJ/FAPERJ evoca a concepção de infância, educação
nubiapsi@ig.com.br e aprendizagem que se revelam nas ações
Maritza Dessupoio de Abreu - UFJF dos profissionais no cotidiano nas creches.
maritzaabreu@gmail.com Pressupomos, então, que o choro faz parte
Marília Dejanira B. Almeida - PIBIC/CNPq/UFJF daquilo que convencionamos chamar de
mariliaberberick@yahoo.com.br rotina e que deve ser problematizado para
além do momento de inserção das crianças
Neste trabalho apresentaremos parte de pequenas nas instituições que as recebem.
uma pesquisa mais ampla em andamento Para Wallon (2007), é no movimento do
no Programa de Pós-Graduação em Educa- outro que a criança, ainda sem condições
ção da Universidade do Estado do Rio de da consciência de si e de efetuar algo por si,
Janeiro – PROPED/UERJ juntamente com que o outro, por sua ação, desencadeará a
o grupo de pesquisa Linguagem, Educa- ação dela. Se a emoção tem como possibili-
ção, Formação de Professores e Infância dade a ativação do outro no processo de in-
– LEFoPI da Universidade Federal de Juiz teração humana, não é difícil supor a rele-
Fora/MG. A inquietação tem nos movido a vância do tema para o cotidiano da creche
compreender os sentidos e os significados e das relações nela estabelecidas. É no mo-
que o pensar sobre as atividades educati- vimento do outro que a criança, ainda sem
vas têm para o desenvolvimento infantil e condições da consciência de si e de efetuar
para a (re)construção das ações desenvol- algo por si, que o outro, por sua ação, de-
vidas em vinte e três creches públicas do sencadeará a ação dela. Se a emoção tem
referido município. Isto torna-se relevan- como possibilidade a ativação do outro no
te porque na sociedade contemporânea processo de interação humana, não é difícil

624
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

supor a relevância do tema para o cotidia- Nesse movimento dialético entre ouvinte/
no da creche e das relações nela estabeleci- locutor que o enunciado, no contexto de
das. Para Wallon, há diferenças conceituais produção da investigação, ganha novas
entre emoção e afetividade. As emoções, formas de expressão e novas construções
os sentimentos e os desejos são manifes- coletivas. A descrição das sessões reflexivas
tações da vida afetiva. A afetividade é um demonstra o embate, o encontro e o de-
conceito mais abrangente no qual se in- sencontro desta maneira de fazer pesquisa.
serem várias manifestações. As emoções O conflito teoria-empiria permeia o diálogo
são constituídas de características mais entre pesquisadoras e coordenadoras/dire-
específicas que as diferenciam das demais toras. Isso porque está arraigada em nós a
manifestações afetivas. Sendo uma ativida- histórica cisão entre os dois campos e por-
de social, provoca, por exemplo, algumas que a representação do conhecimento aca-
alterações orgânicas, como aceleração dos dêmico e do conhecimento da experiência
batimentos cardíacos, alterações no ritmo se manifesta continuamente nas sessões
da respiração, secura na boca, dificuldades reflexivas. A questão do olhar do outro foi
na digestão, além de alterações expressi- uma expressão recorrente, utilizada pelas
vas, como mudança na expressão facial, coordenadoras/diretoras. Na trama das in-
na postura e nas gesticulações. Nisso se terações o olhar do outro é em parte o nos-
diferencia o sentimento, que não obriga- so olhar em um jogo que reflete e refrata.
toriamente resulta em alterações visíveis. O olhar do outro representa não somente
Neste sentido, que lugar ocupa na creche? a comunidade do entorno da creche, mas
Existe possibilidade de sua expressão como dos pesquisadores, que, de tão fora que se
linguagem? Como é considerado e como li- encontram, desconhecem também a mate-
damos com ele? Que concepções ele pode rialidade das ações que tentam conhecer.
revelar nesse contexto? Estas perguntas Como dizer para as coordenadoras que o
são fundamentais porque entendemos choro, a agressividade ou outras expres-
que a formação dos profissionais da creche sões da criança estão inseridos em um con-
deve contemplar não somente os saberes texto e que, mais interessante que focalizar
produzidos e sistematizados pela acade- a reação da criança é ler o entorno no qual
mia, mas também o permanente diálogo estas manifestações se expressam? Esta é a
com outros espaços, entre eles, o contexto inversão do olhar e o redirecionamento ne-
das próprias creches. As primeiras análises cessário que pode produzir mudanças nas
revelaram a importância de pensar a prá- ações com as crianças. Não há, portanto,
tica a partir de referenciais teóricos. Nos- possibilidade de mudanças em nossas prá-
sa tentativa no movimento das sessões ticas se não compreendemos os mecanis-
reflexivas foi desdobrar os nossos olhares mos/estratégias que utilizamos nas ações
porque somente assim é possível “que se diárias, dentro de um contexto específico.
veja do sujeito algo que o próprio sujeito A opção por este modelo de investigação
nunca pode ver” (Amorim, 2004, p. 14). deve-se à premissa de que a formação
Neste processo de construir conhecimento, profissional não pode mais se reduzir aos
que é dialético, os participantes se revezam espaços formais e escolarizados, organiza-
nos posicionamentos ora de ouvinte ora de dos com esse fim. Ela precisa ser concebida
locutor, num fluxo dialógico da linguagem. como algo que pode acontecer antes, du-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rante e depois do processo formal, como comportamentos que proliferam através


espaços de reflexão sobre o próprio traba- da comunicação. A comunicação implica
lho, em seu próprio contexto. Mudamos o o compartilhamento de significado entre
olhar para as crianças e para as políticas aqueles que se comunicam. Comunicação
públicas que incidem sobre elas porque o em saúde é uma abordagem multifaceta-
conceito de infância passou por inúmeras da e multidisciplinar para atingir diferen-
transformações através da história. No en- tes audiências que compartilham informa-
tanto, precisamos educar o nosso olhar. É ções relacionadas à saúde, com o objetivo
necessário pensar no espaço da creche de influenciar, engajar e apoiar indivíduos,
como lugar social que ganha visibilidade e comunidades, profissionais de saúde, gru-
interesse, como espaço de investigação, na pos especiais, formadores de políticas pú-
mesma medida em que reconhecemos que blicas e o público, para instigar, introduzir,
a criança exercita sua aparência e sua pre- adotar, ou sustentar um comportamento,
sença no tecido social. prática, ou política que finalmente melho-
re os resultados em saúde, sendo a edu-
Palavras-chave: choro, creche, sentido/ cação em saúde, uma das principais vias
significado de acesso para a comunicação em saúde.
A educação em saúde é um campo multi-
facetado, convergindo temáticas tanto da
CO 30 - LT04 educação, quanto da saúde, e abrangendo
todo o curso de vida da diversidade popu-
Saúde lacional e cultural. A Organização Mundial
da Saúde agrega às dimensões da promo-
ção da saúde a inclusão de fatores sociais
LT04-838 – COMPETÊNCIA CULTURAL E que afetam a saúde, abordando caminhos
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: CONTRIBUIÇÕES pelos quais diferentes estados de saúde e
PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E bem-estar são construídos socialmente.
ASSISTÊNCIA QUALIFICADA Por sua vez, a educação em saúde inclui
Clarissa Vaz Dias - UnB políticas públicas que orientem ações vol-
vazdias@gmail.com tadas para a formação de profissionais de
Elizabeth Queiroz - UnB saúde. A competência cultural tem sido
bethqueiroz@unb.br apontada pela literatura como um conjun-
to de habilidades essenciais para a efetiva
Entende-se a cultura a partir de uma na- promoção da saúde e educação em saúde
tureza dinâmica e processual, dentro em locais onde há diversidade populacio-
de sistemas psicológicos inter e intra- nal. Ela é delineada a partir de uma base
pessoais, considerando os sentimentos, de conhecimentos de diversas disciplinas,
pensamentos e ações, e as condutas de numa tentativa de estabelecer uma orien-
uma pessoa com relação a seu meio. O tação teórica para traduzir as variáveis
desenvolvimento humano se dá através sócio-demográficas de um dado grupo,
da negociação entre a percepção e ação assim como perceber o que é específico
que unem o ator e o contexto, e as suges- e relevante em cada etapa do desenvol-
tões para os sentimentos, pensamentos e vimento humano. Competência cultural é

626
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

uma das estratégias mais atuais que pode cluindo as ações com relação ao estado de
auxiliar na abordagem dos conceitos que saúde são manifestações de crenças cul-
permeiam o processo saúde-doença e na turais e experiências de vida individual. Os
redução das disparidades em saúde. É um achados apontam que é necessário consi-
modelo com indicadores para o processo derar o contexto cultural onde os progra-
da comunicação profissional de saúde- mas de educação em saúde e promoção
-paciente que possibilita a quem trabalha da saúde são prestados, contemplando a
em saúde intervir, exercitando o conheci- importância de fatores psicossociais não
mento e buscando o diálogo interdiscipli- somente com relação a comportamentos
nar, para melhorar a qualidade da atenção de saúde, mas também as atitudes diante
integral à saúde, refletindo a jornada do do processo de saúde e adoecimento, as-
ciclo de vida. Nesse sentido, o presente sim como o impacto que a cultura, as co-
ensaio objetivou apontar a necessidade ortes e o gênero exercem sobre as ações
de inclusão do tema competência cultural das pessoas ao longo de todo o curso de
nas políticas públicas de educação em saú- suas vidas. Quando as diferenças multi-
de, para o treinamento em comunicação culturais são ignoradas, existe um vão no
em saúde, visando a relação profissional processo de educação em saúde. Nesta
de saúde-paciente, de forma a favorecer a reflexão, uma questão central é que aque-
atuação norteada pelo modelo biopsicos- les que fornecem produtos, serviços ou
social, em equipes comprometidas com o educação em saúde, efetivamente pre-
reconhecimento da diversidade popula- cisam se adequar para conversar e asse-
cional e as atuais disparidades em assis- melhar-se com quem recebe a educação,
tência à saúde. Para tanto, realizou-se um e entende-se que a competência cultural
levantamento do que tem sido utilizado pode servir como uma estratégia para
pelas estratégias de educação em saúde, traduzir estas necessidades. A partir de
fazendo uso da competência cultural para uma perspectiva universal, as dimensões
a formação profissional e implementação da competência cultural vão bem além
de treinamentos de competência cultural de uma lista de elementos que auxiliam o
com profissionais de saúde já inseridos sistema de saúde. A competência cultural
nos serviços de saúde, através de uma representa um arcabouço organizacional,
revisão da literatura, utilizando o descri- estrutural e clínico que envolve e requer
tor competência cultural, indexado pelos uma compreensão da importância de in-
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) fluências sociais e culturais como marca-
da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), des- dores básicos que delineiam o ciclo de
de 1989, ano em que o termo competên- vida, os comportamentos e as crenças em
cia cultural, foi definido, especificamente saúde e a integração da interação destes
em saúde, como um conjunto de com- fatores, por aqueles responsáveis por pro-
portamentos, atitudes e políticas que se por, moldar e educar em saúde.
unem em um sistema, agência ou entre
profissionais que possibilitam ao sistema, Palavras-chave: competência cultural;
agência ou profissionais a efetivamente educação em saúde; formação profissional
trabalharem juntos em contextos onde as
culturas se cruzam. As práticas sociais, in-

627
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-840 – A EDUCAÇÃO DE da análise de um curso feito sobre essas


PROFISSIONAIS DE SAÚDE COMO bases pedagógicas e indicaram que o pro-
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO cesso de ensino/aprendizagem que não
HUMANO fornece fórmulas como receitas mágicas
Ana Maria Orofino Teles - FE/UnB e, ao contrário disso, instiga e inquieta a
anaorofino@gmail.com pessoa permanentemente a refletir sobre
si mesma, acarreta numa produção de
O desenvolvimento humano é um pro- sentidos subjetivos altamente mobiliza-
cesso permanente, que acontece desde dores de reconfigurações que agem sobre
a fecundação do óvulo até a morte. Não o concreto da vida, gerando mudanças
existem momentos estáticos na vida de qualitativas, levando esse profissional a
uma pessoa e, dentro de uma perspectiva refletir sobre sua prática clínica. Ele muda
de entendimento subjetivo, não é inte- seu relacionamento com seu paciente,
ressante pensar que o ser humano é um saindo da postura do “todo-poderoso que
bloco estruturado que não se modifica no sabe o segredo da cura”, tornando-se um
constante devir de sua vida. Estamos sem- parceiro e um construtor de diálogos clí-
pre encontrando surpresas que nos mo- nicos que conduzem o paciente a refletir
bilizam e nos fazem produzir novos senti- também sobre si mesmo, suas rotinas e
dos subjetivos (González Rey, 2002, 2004, seu modo de vida, gerando assim mudan-
2005b) que instigam nossa configuração ças qualitativas concretas que repercutem
subjetiva (Idem.) e que nos transformam nas esferas sociais, psicológicas e também
permanentemente. Nosso foco, dentro biológicas. (Teles, 2010). Estamos numa
desse entendimento, tem sido o desen- fase de construção de oficinas para re-
volvimento dos profissionais de saúde plicarmos o modelo avaliado. O primeiro
através de sua formação, trabalhando em passo foi feito com profissionais de saúde
seu despertar como sujeito da saúde, para já graduados e o segundo passo investiga-
que assim eles possam vir a ser pessoas tivo será feito com estudantes das áreas
comprometidas com o de despertar do de saúde. Queremos avaliar como o con-
sujeito da saúde de seus próprios pacien- ceito de saúde é transmitido nessas facul-
tes. Criamos uma categoria de pesquisa dades, fazendo um confronto com essas
que chamamos de “pedagogia do si mes- oficinas. A hipótese é de que o modelo de
mo” para levar em frente esse processo formação é basicamente cognitivo, des-
de investigação sobre um modelo peda- considerando, assim, um entendimento
gógico que coloque o sujeito no centro de aprendizagem como um processo sub-
do processo de ensino e aprendizagem. A jetivo de desenvolvimento e transforma-
ideia é de uma pedagogia que possibilite ção humana. Para o direcionamento des-
que a pessoa perceba que os assuntos de sas oficinas estamos usando a metáfora
caráter humano que estuda também di- do saber como um sabor que se prova Pre-
zem respeito a si mesma. Dessa forma, o tendemos romper com a idéia do aprovar
conhecimento se converte em algo a ser como forma de garantir que o estudante
vivenciado e não somente teorizado, algo adquiriu o saber. A-provar seria a negação
a ser produzido e não somente interioriza- do provar. Em nossas oficinas estamos
do. Nossos primeiros resultados derivam buscando o provar para conhecer, pois

628
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

quem prova o sabor do saber, sabe. É nes- de dominação e sujeição, despertando o


se sentido que buscamos uma estratégia sujeito da ação. Quem inspira nosso pen-
de educação para a saúde, onde o apren- sar pedagógico é Paulo Freire (1965/2003,
diz entra no centro do processo como su- 1983) com sua proposta de círculos de
jeito, onde o instrutor é um coordenador cultura. Como estamos trabalhando outro
e facilitador e não o detentor do saber. O tipo de alfabetização, que não o letramen-
conhecimento é construído coletivamen- to de adultos, construímos um modelo de
te e as pessoas passam a ser responsáveis círculos de ensino/aprendizagem, onde a
por si e também por seu aprendizado. Daí alfabetização que está em jogo é a saú-
o sentido da “pedagogia do si mesmo” e de de cada um que está em vias de se
de uma formação como desenvolvimen- formar como profissional desse campo.
to humano. Nossa perspectiva teórica é Buscamos o despertar para a saúde em
a da teoria da subjetividade de González contraponto a uma formação que se cen-
Rey (2002, 2004, 2005a, 2005b, 2007a, tra na doença. Nessa estratégia de “alfa-
2007b), que nos fornece um entendimen- betização para a saúde” lançamos mão de
to histórico-cultural e uma abordagem do categorias que denominamos de funções
ser humano em complexidade, abrindo o de vida e funções sociais. Trabalhamos a
foco para uma grande angular que mira o conscientização das funções vitais, tais
indivíduo, seus processos subjetivos indi- como respiração, alimentação, sexuali-
viduais e sociais, sua história de vida, seu dade, motricidade, sono, assim como as
momento concreto atual, sua integridade funções sociais básicas, como família, tra-
simbólico-emocional, sua imersão dentro balho, lazer, religiosidade, comunicação,
de um corpo biológico, as tensões entre propriedade, segurança, entre outras, que
o que vive como pessoa e o que o mun- são apresentadas como uma dinâmica ci-
do externo lhe suscita, suas contradições, bernética de retroalimentação e também
etc. O nosso referencial sobre a subjetivi- de conscientização da pessoa sobre os sis-
dade tem pontos de encontros e possibi- temas que vive e que cria como ser vivo
lidades de extensão com o trabalho Edgar autopoiético. O desafio de questionar os
Morin (s/d, 1996, 2000, 2008), principal- modelos educativos vigentes e construir
mente na sistematização que faz acerca uma pedagogia para a emergência do su-
da complexidade, assim como na discus- jeito é grande, mas instiga a pensar novas
são que apresenta ao contrapor o ensino propostas que possam ser utilizadas pelas
de cabeça bem cheia ao de cabeça bem faculdades que formam profissionais para
feita. Em nossa perspectiva de trabalho a saúde, seja a medicina, a odontologia,
buscamos “fazer” as cabeças, mais do que a fisioterapia e, inclusive, a psicologia. O
“enchê-las”, e isso se dá no sentido de le- convite é para romper com o modelo que
var o sujeito à reflexão, ao encontro consi- valoriza o dano em detrimento do ser sau-
go mesmo e, a partir daí, transformar-se. dável e em harmonia, pois acreditamos
Um processo dinâmico e permanente de que saúde não é sinônimo linear de au-
inquietação, que leve a pessoa a encon- sência de sintomas.
trar alternativas frente ao status quo
massificante e veiculador de ideologias Palavras-chave: educação, saúde, sujeito.
apaziguantes que servem aos modelos

629
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-982 – EDUCAÇÃO E JUVENTUDES: dimensões problemáticas e não são ex-


A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA plorados aspectos como o da criativida-
CONSTRUÇÃO DE PROJETOS DE VIDA E de e disponibilidade para a participação
PROMOÇÃO DE SAÚDE social, elementos a serem mais trabalha-
Verônica Salgueiro do Nascimento - UFC dos com os jovens. O presente trabalho
vesalgueiro@gmail.com é fruto das atividades do Projeto de ex-
tensão do curso de Psicologia em Sobral:
Assinalando a significativa transforma- “Juventudes e escola, diálogos em tela”. A
ção que os jovens têm passado, Peralva partir de um detalhado mapeamento de
(1997) afirma que o jovem migra de um informações sobre o contexto de uma es-
pólo onde era percebido como promes- cola pública de Ensino Médio em Sobral,
sa de futuro, para outro lugar, passando região Norte do Ceará, realizado durante
a ser visto como modelo cultural do pre- o primeiro semestre de 2011 utilizando,
sente. Ainda de acordo com essa auto- como instrumento de pesquisa, entrevis-
ra, “interrogar essas categorias permite tas com gestores, docentes e discentes.
não somente uma melhor compreensão Os resultados iniciais apontaram que a
do universo de referências de um grupo temática de projeto de vida traduz algo
etário particular, mas também da nova indicado a ser trabalhado, na ótica de
sociedade transformada pela mutação” uma pesquisa participante. Essa ampla
(Peralva, 1997, p. 23). Entendemos como temática contempla, também, atividades
necessário orientar qualquer que seja a que dizem respeito à orientação profis-
proposta de trabalho com os jovens, com sional. De acordo com a segunda fase da
a clara intenção de contrapor-se a per- pesquisa pretende-se, ainda, desenvolver
cepção de que o jovem é “rebelde sem ações embasadas pelo posicionamento
causa”, situação enfatizada pelo senso co- teórico da Psicologia Sócio-histórica (Bok;
mum. Basearemos nossas ações no inte- Gonçalves & Furtado, 2001). Esse olhar
resse em descobrir o que os jovens têm a compreende a prática da orientação pro-
falar, colaborando com a confirmação da fissional como promotora de saúde. Ob-
condição de sujeitos concretos e capazes. jetivamos, nessa segunda fase, facilitar a
Numericamente, os jovens compõem um expressão da fala dos jovens, na escola,
grupo significativo de nossa população. através da criação de espaços criativos e
No entanto, para além do aspecto quan- dialógicos, a respeito de práticas coletivas
titativo, tal grupo vem despertando inte- de construção de um projeto de vida. A
resse nos pesquisadores, também, por ser opção metodológica será por um padrão
considerado como um grupo vulnerável qualitativo, que privilegia a participação
em várias dimensões, estando presente dos sujeitos envolvidos. O trabalho em
com destaque nas estatísticas de violên- grupo será uma constante e as rodas de
cia, desemprego, gravidez não-desejada, conversas nortearão nossas atividades.
falta de acesso a uma escola de qualida- Da experiência do trabalho em grupo, po-
de e carências de bens culturais, lazer e demos ressaltar a grandeza desta apren-
esporte. Esse quadro revela-se como pre- dizagem, principalmente, por representar
ocupante, na medida em que os jovens uma oposição concreta ao modelo tradi-
passam a ser referência para ênfases em cional de educação, pautado em relações

630
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que estimulam a competitividade. Ao LT04-1268 – O ADOLESCER EM FOCO:


aprender a trabalhar em grupo, o edu- AÇÕES INTERDISCIPLINARES DE
cando vivencia uma situação de aprendi- PROMOÇÃO DE SAÚDE
zagem colaborativa baseada em relações Eliane Gonçalves Cordeiro - UNIUBE
de cooperação e solidariedade. A ênfase eliane.cordeiro@uniube.br
da vivência desses valores com os jovens Luciana S. P. Menezes - UNIUBE
faz com que os sujeitos possam se tornar lucianamenezespediatria@bol.com.br
cada vez mais capazes para o exercício de- Marcelo Meirelles - UNIUBE
mocrático e se tornem mais comprome- dr.marcelomeirelles@yahoo.com.br
tidos com a promoção do bem comum. Nathália B. S. Corrêa - UNIUBE
Acompanhando a prática docente que ricotinha17@hotmail.com.br
atribui tal relevância ao trabalho em gru- Lilia C. Laurentino - UNIUBE
po, lembro-me da contribuição de Jares liliacristin@hotmail.com
(2007), quando este coloca que a escola, Lorrayne F. Silva - UNIUBE
sobretudo, deve ser entendida como um Vilma M. A. Nunes Filha - UNIUBE
espaço de convivência entre as pessoas vilminhamarj@hotmail.com.br
em desenvolvimento, pessoas que devem Thalita A. Queiroz - UNIUBE
ser estimuladas a construir sentidos sobre thalita.allstar@gmail.com
os conhecimentos já sistematizados e so-
bre a relação destes com a vida, nas ins- A discussão sobre o desenvolvimento
tâncias do individual e do coletivo. Por úl- humano tem sido uma das mais transfor-
timo, a contribuição da Psicologia para o madoras dos conceitos defendidos por
cenário escolar atual faz-se cada vez mais educadores, teóricos e cientistas das mais
necessária. Por essa razão, entendemos diferentes áreas do conhecimento, como a
que a formação do estudante de Psicolo- antropologia, sociologia, psicologia, medi-
gia deve oferecer espaços de prática que cina, entre outras . Cada vez mais a visão
enfoque, também, o espaço da escola. naturalizante do desenvolvimento humano
dá lugar para uma compreensão ampliada,
Palavras-chave: Juventude; Escola; Projeto que aborda o tema como um fenômeno
de vida. intercortado pela dimensão sócio-cultural,
Contato: Verônica Salgueiro do Nascimento, situado historicamente, o que colocou em
Universidade Federal do Ceará – Campus de cheque a instituição das fases de cresci-
Sobral, vesalgueiro@gmail.com mento e desenvolvimento como processo
linear e universal. Por essa razão, a cons-
trução de conhecimentos sobre o desen-
volvimento humano e seus ciclos tem
requisitado a contribuição de diferentes
áreas do saber, o que torna necessária a
interdisciplinaridade na sua compreensão
e nas diversificadas práticas profissionais
que o tem enquanto objeto de trabalho,
ainda que resguarde suas especificidades.
Essas transformações conceituais têm con-

631
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tribuído para que práticas sociais também o grupo inclui adolescentes de ambos os
se beneficiem, tornando-se mais próximas sexos, moradores na comunidade da área
das diferentes realidades. Dentre estas prá- de abrangência da unidade de saúde. Tem
ticas destacam-se as relativas ao cuidado por objetivos: propiciar espaço de orienta-
junto aos diferentes ciclos de vida, que his- ção interdisciplinar a adolescentes; favore-
toricamente tem sido objeto das políticas cer a compreensão das demandas desse
públicas que reconhecem o caráter multi- ciclo de vida e como elas são constituídas;
dimensional do desenvolvimento humano contribuir para a formação profissional de
propondo programas e ações interdiscipli- acadêmicos dos cursos de Medicina, Psico-
nares para a efetivação da assistência e do logia e Educação Física, numa perspectiva
cuidado. Dentre os ciclos de vida, a adoles- interdisciplinar e fortalecedora das políti-
cência tem sido foco, nos últimos tempos, cas públicas de saúde do SUS. O grupo, de
de propostas de educação e promoção de natureza aberta, sob a coordenação da mé-
saúde e de prevenção de danos. Porém, dica hebiatra da unidade e co-coordenação
no que diz respeito à Saúde, o adolescente do médico pediatra-hebiatra preceptor, é
tem sido um grande ausente, por conta da conduzido por estagiários dos três cursos
ausência de ações que atendam suas ne- acima. Conta ainda com sistema de super-
cessidades e que estejam em sintonia com visão realizada por professores dos res-
sua realidade sócio-cultural. Os serviços pectivos cursos para a o aperfeiçoamento
públicos de Atenção Primária à Saúde, por técnico específico e suas interfaces com a
exemplo, não tinham claro a quem perten- construção da interdisciplinaridade. São re-
cia o cuidado dos adolescentes, nem pedia- alizados encontros semanais com duração
tra, nem clínico. Não é por acaso que atu- de duas horas, ocasião em que são aborda-
almente há uma especialidade, a hebiatria, dos os temas escolhidos pelos integrantes,
que inclui na formação do médico conheci- de forma participativa e por meio de meto-
mentos sobre o crescimento e o desenvol- dologia e técnicas da Dinâmica de Grupo,
vimento do adolescente. Esse campo, rela- de expressão, dramatização, entre outras.
tivamente novo e pouco conhecido fora do Os temas centrais escolhidos referem-se à
circuito da Saúde, tem aberto espaço para sexualidade, uso de drogas lícitas e ilícitas,
o surgimento de trabalhos interdisciplina- relacionamento amoroso, projeto de vida.
res de acolhimento e cuidado com ações Os estagiários participam de forma ativa e
de promoção de saúde, como é o caso do de acordo com o plano de estágio traçado
objeto deste resumo. O presente trabalho pelo Projeto Pedagógico de cada curso no
trata das atividades de promoção de saúde que se refere ao tipo de vínculo do aluno
realizadas junto a adolescentes, entre 11 e com a atividade. Os alunos do curso de Psi-
14 anos, na Unidade de Atenção Básica à cologia permanecem três semestres letivos
Saúde do Município de Uberaba, MG, de- na atividade o que favorece a vinculação
nominada George Chirré Jardim, localizada estreita com a proposta e seus atores. Os
no bairro Alfredo Freire I, II e II mantida em alunos do curso de Educação Física perma-
parceria pela Universidade de Uberaba – necem um semestre e os alunos do curso
UNIUBE – e Secretaria Municipal da Saúde de Medicina participam dois meses em
– SMS. Formado a partir da clínica de he- sistema de rodízio. O planejamento dos en-
biatria da referida unidade, há 18 meses, contros acontece em reunião semanal, em

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que participam os coordenadores e estagi- enquanto os meninos demonstram desejar


ários. Nessa ocasião são decididas as estra- a formação de família. Para os estagiários
tégias e técnicas para o desenvolvimento tem sido fonte de formação e integração
dos temas. Essa proximidade e articulação de conteúdos teóricos com a prática super-
de saberes e fazeres de diferentes áreas visionada. Este trabalho já conquistou seu
tem consolidado a importância do trabalho espaço na prestação de serviços da referida
interdisciplinar e propiciado o exercício do unidade de saúde e no cotidiano dos ado-
reconhecimento da complementariedade lescentes participantes.
dos conhecimentos e práticas para um tra-
balho que fomenta a integralidade da aten- Palavras-chave: adolescência, hebiatria,
ção. Em vários momentos foi necessária promoção de saúde, interdisciplinaridade.
a flexibilidade e quebra de conceitos pré- Contato: Eliane Gonçalves Cordeiro, UNIUBE,
-estabelecidos, concebidos em outros con- eliane.cordeiro@uniube.br
textos vividos pelos acadêmicos, uma vez
que o grupo de adolescentes está inserido
em uma realidade muito diferente da reali- LT04-1392 – A FISIOTERAPIA À LUZ DAS
dade da maioria dos estagiários. Em várias REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA SAÚDE NO
ocasiões, tem sido possível conferir uma BRASIL
certa distância entre o perfil desses ado- Ricardo Alain Leyva-Nápoles - UnB
lescentes, concretos, enredados em suas confie.fisio@gmail.com
histórias de vida, com seus valores e jeito Sílvia Ester Orrú - UnB,
de estar no mundo, e os conceitos estuda- seorru@hotmail.com
dos no conforto da sala de aula, obrigando
o exercício da reflexão e da crítica para bus- A Fisioterapia é uma profissão de nível
car diferentes formas de trabalho, de técni- superior, reconhecidamente autônoma e
cas mais próximas da realidade daquela co- regulamentada pelo Decreto-Lei n°938/69
munidade. Essa atividade tem demonstra- e Lei Federal n°6.316/75. No marco da saú-
do sua pertinência, pelo aumento gradual de publica sua atuação abrange promoção,
de adolescentes que acessam ao grupo e prevenção, tratamento e recuperação
pela sua permanência ao longo do tempo; de doenças de características cinésico-
pela atualização das orientações em con- -funcionais que provocam impacto psico-
sonância com os temas; pela participação fisiológico na saúde individual ou coletiva,
significativa nas escolhas dos temas e nos na área clínica quanto empresarial e/ou
encontros; pelo compromisso dos estagiá- à saúde do trabalhador, visando garantir
rios no planejamento e realização das ati- melhor qualidade de vida aos cidadãos.
vidades. Os encontros têm propiciado para Tal qual o Sistema Único de Saúde (SUS),
os adolescentes o surgimento de reflexão a Fisioterapia, que é uma categoria cien-
e de possibilidades de ressignificação de tífica nova, conta com quarenta anos de
questões próprias desse ciclo de vida. Nas existência no cenário da saúde brasileira.
discussões sobre projetos de vida, por Apesar de sua importância como protago-
exemplo, têm sido expressas visões interes- nista desse contexto, atualmente, viven-
santes, como no caso das meninas, o fato cia uma crise sócio-cultural, caracterizada
de valorizarem o trabalho, a autonomia, pela soma de fatores complexos expressos

633
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no desconhecimento e na desvalorização ampliada para outras especialidades, além


deste profissional por parte das políticas de médicos, enfermeiros e agentes comu-
publicas do Estado e de suas instituições, nitários, possibilitando atendimento de
bem como na repressão de mercado que qualidade às demandas da comunidade.
enfrenta este profissional por um hege- Esta análise do panorama atual sócio-cul-
monismo médico que, histórica e tradi- tural da Fisioterapia e da saúde brasileira
cionalmente, se encontra instalado sobre nos leva a Moscovici (2007), autor marxis-
ditas políticas e instituições. No Brasil a ta, e seu estudo sobre as representações
saúde avança lentamente num processo sociais. Esta teoria tem como uma de suas
social de quebra paradigmática desde a finalidades tornar familiar algo não-fami-
concepção do SUS, alcançando, atualmen- liar, ou seja, tornar compreensível uma
te, sua máxima expressão com a recente nova alternativa, categoria e a nomeação
constituição do pacto pela saúde (P.SUS de novos acontecimentos e idéias, a partir
Nº 399/2006), e a instauração dos Núcleos de princípios pré-existentes e internaliza-
de Apoio de Saúde Familiar (NASF), que se dos pelo individuo e pela própria socie-
manifestam cada vez mais neste cenário. dade. A implantação do PSF evidencia a
Neste processo social é que se enfrentam necessidade e importância da inserção do
duas forças antagônicas. Por um lado, a fisioterapeuta na equipe multidisciplinar,
forte tendência positivista de uma cultura visando os objetivos da promoção, pre-
de saúde marcada por visão restrita ao pla- venção à saúde e melhoria da qualidade
no biológico, que trata a patologia e não o de vida da população. As atribuições do fi-
individuo, junto a uma cultura social que sioterapeuta no PSF e na atenção primária
apela pelo “curativo” e procura atendi- estão voltadas para a educação, prevenção
mento quando a doença já esta instalada. e assistência coletiva e individual, traba-
E por outro, os princípios e diretrizes do lhando em colaboração com uma equipe
SUS na busca de uma assistência à saúde interdisciplinar. Logo, chamamos à aten-
mais justa, e a conscientização da socie- ção para a mediação fisioterapêutica na
dade sobre a importância da prevenção saúde coletiva e individual, que representa
e a busca de qualidade de vida. Embora uma função fundamental na formação dos
os Programas de Prevenção de Saúde Fa- significados e conceitos que a sociedade
miliar (PSF) agreguem para a promoção e desenvolve, partindo da propiciação do
prevenção na assistência de saúde que se encontro/confronto da sua prática, com
pretende alcançar, o SUS enfrenta desafios as experiências diárias do usuário destes
no rompimento de modelos enrijecidos serviços e com a própria concepção que o
que precisam, além da legislação especí- SUS defende como ideal de saúde. Segun-
fica, a conscientização da sociedade e de do a regulamentação do COFFITO (1969),
suas instituições. Destacamos que as Uni- que rege e legitima a Fisioterapia, esta é
dades Básicas de Saúde (UBS) de atenção uma ciência da saúde que estuda, previne
primaria representam a porta de entrada e trata dos distúrbios cinéticos funcionais
ideal da população aos serviços de saúde intercorrentes em órgãos e sistemas do
e que a função fundamental do PSF é a corpo humano, gerados por alterações
estruturação da demanda populacional. genéticas, traumas e doenças adquiridas.
Porém, a atuação das unidades deve ser Fundamentando suas ações em mecanis-

634
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mos terapêuticos próprios, sistematizados Família. Pois este profissional é um agente


pelos estudos biológicos, morfológicos, multiplicador de saúde, indispensável para
fisiológicos, patológicos, bioquímicos, bio- alcançar o objetivo do desenvolvimento
físicos, biomecânicos, cinésicos, sinérgico- de uma abordagem qualitativa que conhe-
-funcionais, e cinésico-patológicos de ór- ça aspectos particulares e trabalhe com o
gãos e sistemas do corpo, e das disciplinas universo de significados, valores e atitudes
comportamentais e sociais. Portanto, res- desenvolvidos nas relações da sociedade
saltamos que a Fisioterapia não se restrin- e no contexto em que estas ocorrem. Por-
ge à realização de simples procedimentos tanto, a valorização do fisioterapeuta nas
mecânicos de reabilitação como se tem políticas públicas de saúde e a sua inclusão
preconizado, equivocadamente, pela cul- social, principalmente no que diz respeito
tura e seus meios de difusão massiva, mas ao PSF, trará importante contribuição para
é uma ciência complexa que exerce papel a eficácia e a resolução dos problemas de
preponderante no novo contexto que a saúde que o SUS enfrenta na atenção pri-
saúde vivencia, estendendo seus serviços mária, contribuindo para a formação de
assistenciais e atuação pela promoção, uma equipe qualificada e apta para pro-
educação, prevenção e tratamento das di- mover e prevenir a saúde da população.
versas faixas etárias, ou seja, fazendo um
percurso entre as diferentes instâncias de Palavras-chave: Fisioterapia, SUS,
atenção primária, secundária e terciária do representações sociais.
SUS. O principio da fisiologia humana não Contato: Ricardo Alain Leyva Nápoles,
é a estática, mas o movimento. A fisiolo- Universidade de Brasília, confie.fisio@gmail.com
gia é complexa e dinâmica, assim como os
próprios processos e fenômenos sociais, e
a Fisioterapia segue este principio em sua LT04-1446 – O ENFRENTAMENTO DA
concepção, pois, é a ciência que estuda HOSPITALIZAÇÃO EM CRIANÇAS COM
a cinesiologia funcional, a maneira pela CÂNCER, NA CLASSE HOSPITALAR
qual o cérebro e a mente reconhecem e Paula Coimbra da Costa Pereira Hostert - UFES
utilizam o corpo como instrumento de in- paulahostert@gmail.com
teração com o mundo, permitindo ao indi- Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES
víduo maior compreensão de si mesmo e soniaenumo@terra.com.br
de seu entorno. Segundo Le Boulch (1987), Alessandra Brunoro Motta - UFES
o corpo não se reduz ao mero conjunto de alessandrabmotta@yahoo.com.br
músculos e ossos, mas à expressão da cul- Financiamento: CNPq; CAPES
tura de um povo ou de determinado grupo
social. Portanto, quando profissionais da O estudo do enfrentamento é fundamen-
saúde tratam o indivíduo, atuam sobre a tal para compreender como o estresse afe-
manifestação da própria sociedade. Por ta a vida das pessoas, especialmente o de-
conseguinte, concebemos a Fisioterapia senvolvimento de crianças e adolescentes,
em interação com uma equipe multipro- Skinner e colaboradores (Skinner et al.,
fissional e de forma interdisciplinar, como 2003; Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007)
importante canal de atuação à disposição propuseram, a partir da revisão de 100
dos programas e unidades de Saúde da estudos, uma concepção hierárquica do

635
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

construto do coping. Esta permite sistema- o seu bem-estar (Almeida & Albinati, 2009;
tizar o processo de enfrentamento, com Sandroni, 2008). O objetivo deste estudo
base em 13 categorias: solução do proble- foi analisar as estratégias de enfrentamen-
ma, busca por suporte, esquiva, distração, to das crianças com câncer para lidar com
reestruturação cognitiva, ruminação, de- a hospitalização e o tratamento da doen-
samparo, afastamento social, regulação da ça, considerando o diferencial da criança
emoção, busca por informação, negação, frequentar a CH como possível mediador
oposição e delegação. Nessa perspectiva do coping da hospitalização. Participaram
desenvolvimentista, o coping passa a ter do estudo 18 crianças (14 meninos e 4 me-
um papel central e diferenciado, passando ninas), com idade entre 6 e 12 anos (mé-
a entender os processos emocionais, com- dia: 9,4 anos), diagnosticadas com câncer,
portamentais, motivacionais, cognitivos e internadas por 47 dias, em média, para
sociais; mostrando como esses múltiplos tratamento no Serviço de Oncologia, e ins-
subsistemas regulatórios funcionam jun- critas na classe hospitalar de um hospital
tos para enfrentar o estresse. Motta (2007) infantil público em Vitória, ES. Para iden-
adaptou essas categorias para analisar as tificar as EE foi utilizado o Instrumento In-
estratégias de enfrentamento (EE) da hos- formatizado de Avaliação do Enfrentamen-
pitalização em crianças com câncer; sendo to da Hospitalização - AEHcomp (Motta &
também utilizadas por Moraes e Enumo Enumo, 2004; 2010), composto por um
(2008) para crianças hospitalizadas com software com 20 cenas sobre situações co-
doenças diversas. Essa análise considera tidianas no ambiente hospitalar, para iden-
que a criança usa EE acessando seus recur- tificar o que as crianças fazem, pensam e
sos cognitivos, ambientais, afetivos, emo- sentem sobre a sua condição de hospita-
cionais e sociais. Além de estar afastada lização (comportamentos ou instâncias de
de sua família, sua casa e seus amigos, a coping), permitindo analisar suas estraté-
criança deixa de freqüentar a escola, por gias de enfrentamento a partir das justifi-
conta da longa internação e do tratamen- cativas dadas às escolhas da cenas. Quanto
to, podendo ter atraso escolar e prejuízo aos resultados, as informações coletadas
no desempenho acadêmico. Contudo, a na avaliação foram analisadas quantitati-
criança hospitalizada possui o direito legal va e qualitativamente, de acordo com as
de acompanhar seus estudos e não perder normas do AEHcomp, sendo que os com-
o ano letivo, conseguindo assim continuar portamentos brincar, conversar, assistir
no processo escolar. Assim, a educação TV, tomar remédio, estudar e sentir raiva
especial em enfermarias pediátricas tem foram escolhidas por todas as crianças,
o objetivo de prevenir o fracasso escolar, e apenas uma não escolheu a cena fazer
bem como atender às necessidades peda- chantagem. As cenas menos escolhidas fo-
gógico-educacionais do desenvolvimento ram: pensar em fugir (3) e sentir culpa (5).
infantil (Fonseca, 2003; Sandroni, 2008). A partir da classificação de Motta (2007),
Além do aprendizado, a classe hospitalar a estratégia de enfrentamento mais iden-
(CH) contribui na evolução do quadro clí- tificada foi a distração (27,77%), seguido
nico da criança, sendo uma das formas de pela ruminação (24,44%) e solução de pro-
humanização da hospitalização, que acele- blemas (10,55%). A família ou estratégia
ra a melhora do paciente e contribui para de coping menos identificada foi o desam-

636
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

paro (0,55%), seguida pela reestruturação mento psicológico e assistência social para
cognitiva (2,22%). As estratégias de afas- criança neste ambiente, favorecendo seu
tamento social, oposição e delegação não processo adaptativo e seu enfrentamento
foram escolhidas pelas crianças. Estudar as dessa situação adversa. Como os resulta-
EE de crianças com câncer torna possível dos do AEHcomp mostraram que todas
saber quais os fatores que causam prejuízo as crianças escolheram comportamentos
no contexto hospitalar e se o fato de ser favoráveis ao processo de hospitalização
atendida por professores da CH e dar con- (brincar, conversar, assistir TV, tomar re-
tinuidade aos estudos no hospital ajuda a médio e estudar), isto sugere uma possível
minimizar esse sofrimento. Com essa pers- relação favorável ao fato de freqüentar a
pectiva, este estudo identificou, usando o CH, auxiliando as crianças a utilizar essas
AEHcomp comportamentos e estratégias estratégias durante situações estressan-
de coping como diretamente ligados ao tes. Os estudos da área têm mostrado que
enfrentamento das situações estressantes a classe hospitalar favorece uma melhora
no hospital, sendo os principais compor- mais rápida no quadro clínico do paciente,
tamentos: brincar, conversar, assistir TV, o que pode-se observar pela estratégia de
tomar remédio, estudar e sentir raiva. Os coping mais identificada - a distração (San-
cinco primeiros comportamentos ou ins- droni, 2008; Almeida & Albinati, 2009).
tâncias de coping podem ser entendidos
como favoráveis ao processo de adaptação Palavras-chave: Estratégias de Enfrentamento;
ao contexto hospitalar. Esses resultados Hospitalização Infantil; Classe Hospitalar.
corroboram com dados de outros estudos Contato: Paula Coimbra da Costa Pereira
realizados com crianças hospitalizadas: por Hostert, UFES, paulahostert@gmail.com
doenças diversas, Moraes e Enumo (2008)
e por Motta e Enumo (2010) com crian-
ças hospitalizadas com câncer; sendo os LT04-1447 – O BRINCAR NO HOSPITAL E
comportamentos mais escolhidos: tomar PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS EM
remédio, conversar, rezar, chorar e ficar CRIANÇAS COM CÂNCER, NA CLASSE
triste. Diante disso, entende-se que o com- HOSPITALAR
portamento de conversar sugere a busca Paula Coimbra da Costa Pereira Hostert - UFES
de apoio; e o comportamento de tomar paulahostert@gmail.com
remédio demonstra a colaboração direta Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES
da criança para ser curada e voltar ao seu soniaenumo@terra.com.br
ambiente familiar. Entre as famílias de co- Alessandra Brunoro Motta - UFES
ping ou EE mais frequentes nesta amostra, alessandrabmotta@yahoo.com.br
estão a distração e a ruminação, seguidas Financiamento: CNPq; CAPES
das estratégias de solução de problemas e
busca de suporte. Esses resultados apoiam A criança com câncer é exposta a hos-
os dados das pesquisas referidas anterior- pitalizações prolongadas e frequentes,
mente, pois encontraram a ruminação e cujos motivos variam entre o diagnóstico
distração como as principais estratégias inicial, a medicação e a necessidade de
de crianças hospitalizadas. A estratégia tratar uma recidiva da doença. Uma vez
ruminação indica necessidade de atendi- hospitalizada, ela se depara com diversos

637
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estressores, tais como o afastamento fa- no Hospital (ABHcomp) (Motta & Enumo,
miliar, o contato com pessoas estranhas, 2010) – composto por um software com
a restrição de atividades lúdicas, o aban- 20 cenas de brinquedos e brincadeiras,
dono da escola e a submissão a proce- que identifica o que as crianças fazem,
dimentos médicos invasivos (Ferreira, pensam e sentem sobre o brincar no hos-
2006). Para lidar com essa situação, estra- pital, permitindo avaliar suas brincadeiras
tégias de enfrentamento que minimizem preferidas e mais realizadas no ambien-
os prejuízos ao seu desenvolvimento são te hospitalar. Já o perfil comportamental
necessárias. Dentro dessa perspectiva, o dessas crianças foi avaliado por meio da
brincar tem sido inserido no hospital, por Escala Comportamental Infantil A2 de
meio do trabalho de recreadores e como Rutter (ECI) (Graminha, 1994) – utilizada
recurso para a intervenção psicológica para a avaliação de problemas compor-
junto à criança (Moraes & Enumo, 2009; tamentais e emocionais das crianças.
Motta & Enumo, 2010). O brincar pode Contém 36 itens distribuídos em três tó-
ter efeitos positivos para crianças que picos: problemas de saúde (oito), hábitos
vivenciam situações de estresse, medo e (sete) e comportamento (21). Através do
ansiedade associadas a doenças (Motta comportamento infantil, a escala identi-
& Enumo, 2004, 2010; Brown, 2001; Mi- fica casos que necessitam de ajuda psi-
tre, 2004). Assim, estudos sugerem que cológica. Classificando essas atividades
os brinquedos no hospital representem em cinco tipos de brincadeiras de acordo
a vida cotidiana, tais como brinquedos com Garon (1996), tem-se a seguinte hie-
para dramatização, para construção, para rarquia de respostas: 1) atividades recre-
expressão artística e jogos, desde que se- ativas diversas (assistir TV, ler gibi, ouvir
jam seguros, acessíveis e funcionais. Des- histórias, cantar e dançar): 63 (33,7%);
tacam ainda o uso do videogame, por sua 2) jogos simbólicos (fantoches, palhaço,
característica de incentivar a participa- desenhar e médico): 39 (20,9%); 3) jogos
ção da criança, evitando seu isolamento de regras (baralho, minigame, dominó e
e favorecendo a sensação de realização bingo): 39 (20,9%); 4) jogos de acoplagem
(Motta & Enumo, 2004; Mitre & Gomes, (montagem, modelagem, recorte/cola-
2004). Através da promoção do brincar gem e quebra-cabeça) (26 = 13,9%); e 5)
no espaço hospitalar é possível modificar jogos de exercício (jogar bola, tocar ins-
e melhorar o modelo tradicional de in- trumentos, boliche e jogar pedrinhas): 20
tervenção e o cuidado (Mitre & Gomes, (10,7%). As preferências lúdicas apresen-
2004). Procurando verificar se o interes- tadas por essas crianças corroboram com
se da criança em brincar no hospital te- dados de outros estudos. (Motta & Enu-
ria relações com possíveis problemas de mo, 2004, 2010; Furtado, 1999) As brinca-
comportamento e emocionais, este estu- deiras mais escolhidas no ABHcomp - as-
do identificou as preferências lúdicas de sistir TV (88,9%), desenhar (77,8%), ouvir
crianças com câncer, freqüentando uma histórias (72,2%) e tocar instrumentos
classe hospitalar, e os problemas de com- (72,2%) - foram aquelas disponibilizadas
portamento infantis relatados pelos cui- no ambiente hospitalar, levados pelos vo-
dadores. Foram utilizados o Instrumento luntários ou pelos professores da CH. Em
Computadorizado de Avaliação do Brincar geral, estas são também atividades que

638
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

não precisam de recursos ou espaço, tais quência de comportamentos apresenta-


como assistir TV, desenhar, ouvir histórias dos indica sofrimento emocional e afetivo
e conversar. Já as brincadeiras menos es- possivelmente decorrente da hospitaliza-
colhidas - brincar de fantoche, jogar bola, ção. As dores de cabeça e de estômago e
brincar de médico e jogar boliche - são as dificuldades de alimentação e de sono,
atividades difíceis de serem realizadas no que podem decorrer dos efeitos colaterais
hospital. Além disso, realizar atividades da medicação, indicam comportamentos
físicas e emitir sons foi considerado por provavelmente são relacionados às con-
dez crianças como impróprio para o am- sequências do tratamento do câncer. Da
biente hospitalar, revelando a importân- mesma forma, os sentimentos de medo,
cia da implementação de políticas e ações preocupação, insegurança e impaciência
que promovam o brincar neste contexto. são indicativos do sofrimento emocional
Esses dados vão de encontro aos achados e afetivo decorrentes da hospitalização.
de estudos anteriores (Motta & Enumo, Comportamentos, como mau humor, de-
2010; Pedro et al., 2007; Furtado, 1999), sobediência e apego à mãe sugerem que
pois, apesar das restrições físicas impos- o desenvolvimento social e emocional da
tas pela doença e independente da idade, criança também está sofrendo impactos
as crianças continuam interessadas em da hospitalização. Concluindo, os dados
brincadeiras no ambiente hospitalar. Já a mostraram que o brincar no hospital
ECI mostrou que 11 crianças (61,1%) fo- pode ser uma estratégia de enfrenta-
ram classificadas como “clínicas”; indican- mento da hospitalização a ser estimulada
do a necessidade de atendimento psico- institucionalmente, amenizando as di-
lógico. Na subescala Saúde, os itens com ficuldades que a doença traz à criança e
maior frequência de respostas foram: à sua família. Complementarmente, este
dor de cabeça (30,6%), dor no estômago estudo mostra a relevância da avaliação
(20,4%) e mau humor (16,3%). Já na su- de problemas emocionais e comporta-
bescala Hábitos, os comportamentos que mentais de crianças hospitalizadas, pro-
apresentaram respostas mais frequentes blemas estes possivelmente decorrentes
foram: medo (37,2%), dificuldade de ali- do tratamento, sugerindo assim como o
mentação (27,9%) e dificuldade de sono estudo de Parcinello e Felin (2008) que o
(23,3%). Na subescala Problemas de brincar pode ajudar nesse sentido, pois
comportamento, os itens mais indicados através da brincadeira, a criança deixa de
foram: medo de situações novas (8,8%); ser objeto de cuidados e passa a ser sujei-
estar muito preocupada e insegura e ser to da ação, permitindo que ela se adapte
desobediente (7,2%), além de ser impa- e elabore melhor o processo de hospitali-
ciente e ser “agarrada” à mãe (6,8%). Os zação, contribuindo assim para adesão ao
resultados sobre problemas emocionais e tratamento e para a evolução do mesmo.
comportamentais identificados pela ECI
devem ser considerados pelos serviços de Palavras-chave: Brincar; Hospitalização
atendimento psicológico do hospital. Es- Infantil; Câncer Infantil.
ses problemas podem estar associados ao Contato: Paula Coimbra da Costa Pereira
impacto hospitalar no desenvolvimento Hostert, UFES, paulahostert@gmail.com
de crianças com câncer; pois a maior fre-

639
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 33 - LT04 falta de alimentação, falta de material e


estímulos, baixa auto estima, problemas
Psicologia Escolar patológicos como a TDAH (transtorno
de déficit de atenção/ hiperatividade),
dislexias, psicopatias, alterações no de-
LT04-755 – INTERVENÇÃO
senvolvimento cerebral, desequilíbrios
PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL
químicos, hereditariedade, problemas
EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE
no ambiente doméstico e/ou escolar.
VALINHOS
Com base nessa assertiva, o Programa de
Andreia Osti - PMV Atendimento Psicopedagógico parte do
andreia.osti@gmail.com pressuposto de que as dificuldades dos
Cristina Andrade Ferreira Silveira - PMV alunos podem ser superadas desde que
pedcafs@gmail.com o mesmo receba atendimento especiali-
zado direcionado às suas reais necessida-
Ao analisar e verificar um número cada des, tendo por objetivo o seu progresso
vez maior de crianças com queixa de di- acadêmico. Acredita-se que o trabalho de
ficuldades para aprender, a Secretaria prevenção, associado ao de tratamento
de Educação do Município de Valinhos/ das dificuldades, problemas e distúrbios
SP criou em 2004, o Programa de Aten- de aprendizagem possui um caráter fun-
dimento Psicopedagógico – PAP. O qua- damental para garantir a permanência e
dro educacional contemporâneo permite passagem, com sucesso, destas crianças e
constatar um crescente número de alunos adolescentes pela escola. Desta forma a
que são encaminhados pelas escolas para Secretaria de Educação do Município de
avaliação especializada por não estarem Valinhos procurou oferecer ações preven-
acompanhando o conteúdo escolar. Essa tivas e remediativas que possibilitassem
realidade é percebida através dos dados condições para o atendimento psicope-
fornecidos por autores como Fernandez dagógico aos alunos da Rede Pública Mu-
(1991), Ciasca e Rossini (2000), Polity nicipal. Esse trabalho tem a finalidade de
(2002), Osti, Júlio e cols (2005), Ciasca avaliar, atender e intervir junto a alunos
(2006). A criação do Programa em 2004 que não estivessem acompanhando o
visou transformar essa realidade ao aten- conteúdo escolar, além de orientar dire-
der os alunos encaminhados pelas esco- tores, coordenadores pedagógicos e pro-
las da rede por apresentarem algum tipo fessores em como atuar com os estudan-
de dificuldade na aprendizagem e neces- tes que apresentassem queixas escolares.
sitarem de atendimento especializado. As O Programa tem como diferencial incenti-
dificuldades de aprendizagem abrangem var a participação, fortalecer a formação
vários fatores, uma vez que envolvem a e a interação, buscando o aprimoramento
complexidade do ser humano (Sanchez, dos professores desta rede de ensino que
2004; Cruz, 1999; Sisto e Martinelli, 2006), possuem especialização em psicopeda-
podendo ser decorrentes de um proble- gogia para atuarem como psicopedago-
ma fisiológico, um estresse grande vivido gos, visando melhor atender aos alunos
pela criança, problemas com alcoolismo do ensino fundamental que apresentam
ou drogas, separação dos pais, doenças, dificuldades de aprendizagem. Inicial-

640
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mente o Programa foi estruturado em Num primeiro momento a escola envia ao


três fases. Na primeira foram resgatados Departamento Técnico Pedagógico uma
os fundamentos da psicopedagogia por ficha de encaminhamento preenchida
meio do estudo de textos e de grupos de pelo professor da sala relatando a queixa
discussão, o que contribuiu para o melhor em relação ao seu aluno. Essa ficha é ana-
entendimento das técnicas e conceitos, lisada e os alunos encaminhados passam
auxiliando a equipe no seu desempenho por uma triagem. Após essa triagem, são
profissional. Durante a segunda fase os realizadas avaliações para o diagnóstico,
profissionais atuaram na remediação das sendo confirmadas as hipóteses pode ser
queixas apresentadas pelas escolas, re- indicado um acompanhamento específico
alizando ações para atender as diversas pela equipe ou por outros profissionais.
demandas envolvendo a aprendizagem Por fim, a intervenção ocorre por meio de
e desenvolvendo ações compartilhadas. sessões com 50 minutos de duração, re-
A terceira contemplou a retomada do alizadas semanal ou quinzenalmente nas
projeto para revisão dos casos atendidos Unidades Escolares onde o aluno recebe
anteriormente e estruturação de novos atendimento individual. Para isso são uti-
casos. Para a efetivação do Programa a lizados como instrumentos jogos e ativi-
Secretaria de Educação viabilizou a atu- dades diversas que visam melhorar as di-
ação de profissionais da Rede de Ensino ficuldades específicas da criança, tornan-
Municipal que atuavam como professo- do assim a aprendizagem dos conteúdos
ras, com Especialização Lato Sensu em escolares mais concreta, lúdica e pontual.
Psicopedagogia, para atuarem como psi- Em reuniões semanais o grupo troca ex-
copedagogas. Nesse sentido, a Lei Mu- periências e discute sobre os atendimen-
nicipal 4.372/2008, Artigo 39 parágrafo tos realizados, com objetivo de esclare-
III permite aos professores atuarem em cer os casos e diversificar as estratégias,
projetos educacionais, justificando então promovendo modificações na dinâmica e
seu afastamento da sala de aula. Conside- manejo instrumental (preparação de ma-
rando que cabe à escola garantir a todos teriais e atividades) utilizados nos atendi-
os seus alunos oportunidades de apren- mentos. Os avanços observados nas crian-
dizagem que possam promover continua- ças são apresentados aos coordenadores
mente avanços escolares, em observância das escolas e professores em devolutiva
aos princípios e diretrizes estabelecidos trimestral. Este trabalho tem contribuído
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação para a melhora do desempenho acadêmi-
Nacional (LDB 9.394/96) e no Regimento co dos alunos atendidos, o que reforça a
Comum das Escolas de Educação Funda- importância da ampliação e continuidade
mental do Município é que esse progra- do Programa. Entre 2006 e 2009, 460 alu-
ma foi elaborado, dando ênfase à neces- nos foram atendidos, desses, 75% foram
sidade da mudança do olhar no campo dispensados do atendimento por apre-
educacional em relação ao atendimento sentarem progresso em seu desempenho
de crianças do ensino fundamental. Para acadêmico e por terem condições, após
acompanhar e compreender o processo as intervenções, de acompanhar os con-
cognitivo do aprendiz, o Programa de- teúdos trabalhados em sala de aula. Em
senvolvido estruturou-se em três etapas. 2010, 178 crianças participaram do Pro-

641
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

grama e até maio de 2011, foram realiza- sua dinâmica. No decorrer de sua obra,
dos 226 atendimentos. Freud alicerçou uma possível aproxima-
ção entre Psicanálise e Educação - mesmo
Palavras-chave: atendimento psicopedagógico, não tendo desenvolvido, extensivamente,
ensino público, educação básica. uma explanação sobre o tema - e ofere-
ceu alguns elementos muito importan-
tes. Em seu texto, O interesse Científico
LT04-876 – PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: da Psicanálise (1913), Freud afirma que
UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL PARA A “a psicanálise trouxe à luz os desejos, as
CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS estruturas de pensamento e os processos
Anamaria Silva Neves - UFU de desenvolvimento da infância” (p.224).
anamaria@umuarama.ufu.br Pensando as crianças de maneira diferen-
Lorena Candelori Vidal - UFU te, considerando suas disposições para
lorenacvidal@gmail.com perversões, a curiosidade sexual, o com-
Taísa Resende Sousa - UFU plexo de Édipo, o erotismo anal, o amor
taisa.r.s@hotmail.com a si próprio (ou “o narcisismo”), entre
Financiamento: FAPEMIG outros, Freud inaugurou uma nova forma
de se entender a infância. Na Conferência
O presente trabalho tem como objetivo XIII: Aspectos arcaicos e Infantilismo dos
central a discussão teórica que sustenta sonhos (1916), Freud aponta que nenhu-
a díade Psicanálise e Educação, como ar- ma barreira existe desde o início da vida
gumentação possível sobre as estruturas dos indivíduos. Tais censuras vão sendo
afetivas e o desenvolvimento do sujei- gradualmente estabelecidas, durante o
to. Trata-se do recorte de uma pesquisa processo de desenvolvimento e educação.
financiada pela Fapemig, cujo objetivo “Todas as manifestações sexuais de uma
geral é compreender as representações criança são prontamente, energicamen-
tecidas por educadoras da educação in- te suprimidas pela educação” (p.251).
fantil sobre a violência sexual incestuosa, Em Algumas reflexões sobre a Psicologia
com especial interesse sobre os sentimen- Escolar (1914), Freud narra sobre o seu
tos emergidos e as iniciativas assumidas percurso escolar e expressa uma gratidão
diante da suspeita da violência vivencia- aos seus educadores, apontando que, na
da pelos alunos. A eclosão da Segunda fase escolar, os professores se tornam pais
Guerra Mundial (1939-1945) propagou e substitutos. As crianças transferem, para
difundiu a Psicanálise pelo mundo. A te- estas figuras, sentimentos que remetem à
oria freudiana foi sendo conhecida por di- imago parental e à infância; e, depois, co-
versas pessoas, de diferentes segmentos, meçam a tratá-los como tratavam os pais,
e os seus conceitos sendo apropriados em confrontando o que já adquirira com am-
cenários ampliados. Para se pensar a Psi- bivalência. “Estávamos, desde o princípio,
canálise, é fundamental que se retome as igualmente inclinados a amá-los e a odiá-
suas origens: Freud, o pai da Psicanálise, -los, a criticá-los e a respeitá-los” (p.286).
que se dedicou aos estudos dos sentidos Na Conferência XXXIV: Explicações, Aplica-
ocultos dos fenômenos, eclodindo na sus- ções e Orientações (1933), Freud lamenta
tentação fundamental do inconsciente e por não ter contribuído muito para o tema

642
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Psicanálise e Educação. Contudo, afirma (2010), a constituição do sujeito é possível,


que a tarefa primeira da educação é pos- apenas, no campo do Outro; apontando “o
sibilitar que a criança aprenda a controlar gozo do Outro como um elemento consti-
seus instintos, devendo “inibir, proibir e tutivo do aparelho psíquico” (p.143). As-
suprimir, e isto ela procurou fazer em to- sim, é fundamental esse investimento do
dos os períodos da história” (p.182). Po- Outro para que o indivíduo possa emergir
rém, a educação deveria “atingir o máxi- como sujeito. Neves (2009) aponta que a
mo, com o mínimo de dano. Será, portan- família “é um grupo primordial no âmbito
to, uma questão de decidir quanto proibir, do desenvolvimento de sujeitos psíquicos
em que hora e por que meios” (p.182). singulares” (p. 34). E, enquanto instituição
Freud pensou a relação entre Psicanálise primária, ela é um espaço fundamental ao
e Educação, sob a perspectiva do que a desenvolvimento de seus membros. Ini-
Psicanálise poderia influenciar ou ser apli- cialmente, as redes vinculativas são viven-
cada à educação. Entretanto, seus estudos ciadas nessas relações familiares e podem
foram de inegável importância. Almeida ser, posteriormente, reeditadas nos outros
(2001) afirma que as descobertas da Psi- espaços afetivos, que poderão ser expe-
canálise, em relação à questão do incons- rienciados pelos sujeitos. Assim, a escola
ciente, permitiram pensar o sujeito sob poderá emergir como instituição secundá-
uma perspectiva diferente das de outras ria fundamental, podendo contribuir para
ciências sociais e humanas, considerando- a constituição desses sujeitos, singulares e
-o como o sujeito da cultura ou o sujeito únicos; e para a construção de novos es-
social; pensando-o como sujeito do de- paços afetivos. A escola pode representar
sejo, sujeito do inconsciente, sujeito da uma instituição de amparo, de referência
falta. Zibetti (2004) afirma que as crianças à família, com algumas funções específicas
possuem o desejo de saber, que “tem sua na mediação e produção desses outros es-
origem na investigação sexual que precisa paços afetivos. Soares (2004) afirma que,
ser inconscientemente reprimida e que, considerando a escola como um espaço
portanto, é deslocada de objetos sexu- de escuta desses sujeitos implicados no
ais para objetos não-sexuais” (p.224). As contexto educacional, pode-se pensá-la
crianças vão investigando, perguntando, como um lugar de prevenção, uma vez que
indagando, em busca de um domínio do a educação “é uma forma de discurso so-
saber; estimuladas pela força pulsional. E, cial e através dele podemos escutar como
na busca de uma resposta, conjetura-se o sujeito contemporâneo vai orientando
que há um outro, que colocado na posi- seu desejo” (p.206). E, assim, pode-se
ção de educador, recebe importância es- pensar uma aproximação entre a Psica-
pecial. A autora afirma que os educadores nálise e a Educação; e como a Psicanálise
exercem forte influência sobre os alunos, poderá colaborar, de alguma forma, neste
“oriunda da transferência de sentimen- processo. Kupfer (apud Santos, 2002) afir-
tos que a criança dirigia ao pai” (p.224). ma que a Educação pode contribuir para
Para a Psicanálise, só é possível se pensar a constituição do sujeito singular e único,
a constituição de um sujeito, a partir do não importando qual papel social que o
olhar, do investimento, de um mínimo de mesmo ocupa. A autora (1995) afirma que
gozo necessário do Outro. Segundo Laznik “quando um educador opera a serviço de

643
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um sujeito, abandona técnicas de adestra- lidar com outras pessoas de forma ade-
mento e adaptação” (p.19). É importante o quada às necessidades de cada uma e às
refinamento da escuta junto a esses sujei- exigências da situação. Perceber de forma
tos, assim como uma aproximação genuí- acurada uma situação e suas variáveis per-
na entre Psicanálise e Educação. A escola, mite que o sujeito desempenhe melhor o
neste sentido, pode configurar um lócus seu trabalho, tanto na dimensão técnica
que, para além da transmissão de conhe- requerida pela natureza dessa atividade
cimentos, corrobore para a construção de quanto na de ser capaz de se posicionar
novos espaços afetivos, com as (re)edições de forma habilidosa na rede de relações
das relações vinculativas e com a constitui- interpessoais, interna e externa, no local
ção novos sujeitos. de trabalho. A competência interpessoal
é revelada nas relações estabelecidas en-
Palavras-chave: Psicanálise, Educação, sujeito tre indivíduo-indivíduo e indivíduo-grupo,
Contato: Taísa Resende Sousa, UFU englobando assim atitudes individuais e
taisa.r.s@hotmail.com coletivas, sendo estas jamais indissociá-
veis. Desse modo, para avaliar o desen-
volvimento e a aquisição da competência
LT04-1049 – VALIDADE DO ZULLIGER interpessoal é necessário a utilização de
NA AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA instrumentos válidos, que reúnam um
INTERPESSOAL conjunto de evidências que assegurem a
Jucelaine Bier Di Domenico Grazziotin - sua relevância, a sua utilidade nos usos
Comercial Di Domênico Ltda., propostos e nas interpretações geradas.
jucelainegraz@terra.com.br É nesse contexto, que o teste Zulliger no
Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS Sistema Compreensivo ZSC se insere, es-
silvanalba@upf.br pecialmente por integrar diversos aspec-
tos da personalidade, com base tanto nos
A avaliação psicológica é uma prática fre- preceitos da psicometria, como nos da
quente no contexto organizacional, pois projeção e por possibilitar uma investiga-
possibilita melhor compreensão das habi- ção mais completa do universo psíquico
lidades do indivíduo, do seu funcionamen- do examinando, tão solicitada no campo
to psicológico e, ainda, dos aspectos predi- empresarial. Assim sendo, o objetivo des-
tivos do desenvolvimento de seu compor- te estudo foi verificar as evidências de vali-
tamento. Atualmente, as habilidades de dade do Zulliger no Sistema Compreensivo
competência interpessoal nesse âmbito, ZSC, focalizando a variável relacionamen-
passaram a ser um requisito imprescindí- to, a saber: SumT (sombreado textura); Fd
vel em todos os níveis ocupacionais, desde (comida ou ação de comer); H (humano
aquele que atende à comunidade externa inteiro), Hd (detalhe humano),(H) (para-
à empresa como aos clientes e ao público -humano inteiro), (Hd) (detalhe para-hu-
em geral, até aqueles que convivem diaria- mano); GHR (boa representação humana)
mente com o público interno, no mesmo e PHR (representação humana pobre); a
setor e intersetores. Assim, a competência (movimento ativo) e p (movimento passi-
interpessoal é a habilidade de lidar eficaz- vo); (isolamento); PER (resposta persona-
mente com as relações interpessoais, de lizada); AG (movimento agressivo); COP

644
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(movimento cooperativo) que, por hipóte- e significativamente com os fatores GIHS


se, estariam correlacionadas com os fato- e F5 do IHS. Portanto, sendo a idéia prin-
res de Habilidade IHS: F1) autoafirmação cipal desse estudo, verificar as evidências
e enfrentamento com risco; F2) autoafir- de validade do ZSC em correlação com os
mação na expressão de afeto positivo; F3) fatores do IHS, que teoricamente avaliam
conversação e desenvoltura social; F4) au- construtos similares, relacionamento e
toexposição a desconhecidos e situações habilidade social, a correspondência dos
novas; F5) autocontrole da agressividade resultados obtidos entre os instrumentos,
em situações aversivas. Participaram deze- forneceu uma importante contribuição
nove sujeitos, entre 18 e 43 anos de idade, para a sua legitimidade. Por fim, mesmo
média 27,5 anos (DP=8,83), dez (53%) do sendo um estudo de caráter preliminar, os
gênero feminino e nove (47%) do gênero resultados contribuíram para afirmar a va-
masculino, quinze (78,94%) com ensino lidade do Zulliger na avaliação psicológica
médio completo e quatro (21,05%) ensino da competência interpessoal no contexto
médio incompleto. Todos exerciam ativi- organizacional.
dades de atendimento direto ao cliente
em uma loja de uma rede de supermer- Palavras-chave: Competência Interpessoal,
cados. Destes, sete (36,84%) na função Zulliger no Sistema Compreensivo, Evidência
de operadores e frente de caixa; sete de validade
(36,84%) como atendentes de perecíveis Contato: Jucelaine Bier Di Domenico
e cinco (26,31%) no cargo de atendentes Grazziotin, Comercial Di Domênico Ltda.,
de loja. Os participantes responderam ao jucelainegraz@terra.com.br
ZSC seguido pelo IHS, de forma individual
em uma única sessão. Nos resultados, em
relação ao ZSC, apenas as variáveis SumT e LT04-1397 – A PAIXÃO PELO EXERCÍCIO
Isolamento oscilaram entre os parâmetros DA PSICOLOGIA NO AMBIENTE ESCOLAR
normativos. Também os fatores do IHS, Letícia Wilke Franco - UNISINOS/UFRGS
mantiveram-se nos índices normativos. leticiawfranco@gmail.com
Os resultados, além disso, demonstraram Márcia Elisabette Wilke Franco - CESUCA
que os indicadores GHR, GPHR, pure H,
Sum H, que informam sobre o bom re- O campo de trabalho do psicólogo é bas-
lacionamento e percepção interpessoal tante abrangente e diversificado. Encon-
adequada, correlacionaram-se positiva e tramos possibilidades da sua intervenção
significativamente com fatores GIHS, F3 e na área jurídica, do esporte, do trânsito,
F1 do IHS. A variável COP, apesar de não da clínica, hospitalar, empresarial, esco-
ter apresentado índices significativos de lar, entre outras. Cada área tem as suas
correlação com o IHS, apontou aspectos demandas e práticas, específicas ou não,
positivos qualitativamente, manteve-se na e cada profissional procura atuar na área
média normativa e em comparação à AG, que condiz com a sua afinidade, formação
mostrou-se superior. As variáveis AG, PHR, ou mesmo oportunidade. Inspirando-se
SumT, que podem informar sobre o rela- em Maria Cecília Pereira da Silva, a qual,
cionamento e a percepção interpessoal no seu livro “A paixão de formar: da psica-
prejudicados, correlacionaram-se negativa nálise à educação” (1994), utiliza a expres-

645
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

são “paixão de formar” para caracterizar a DE VIDA, onde apareceu que a identifica-
prática daqueles professores que se dedi- ção com figuras da infância é de grande va-
cam com entusiasmo, que se identificaram lor teórico para entender a paixão no exer-
com a profissão e são bem-sucedidos na cício profissional. A história de vida como
transmissão de conhecimento, o presente um ponto determinante para uma escolha
trabalho buscou olhar mais de perto para e inserção nesse campo de trabalho apa-
os psicólogos que escolheram se inserir receu em duas entrevistadas. Quando se
no ambiente escolar, que seguem nesta remete à escolha de algo, as MOTIVAÇÕES
área e que são reconhecidos como bem- INCONSCIENTES estão presentes, portanto
-sucedidos em suas práticas, ou seja, con- esta é a segunda categoria. É neste cam-
forme a autora, que sejam profissionais po (do inconsciente) que se encontram
“apaixonados” pelo que fazem. Portanto, as identificações, tratadas também na
o problema central da pesquisa que re- categoria anterior já que a identificação
sultou no Trabalho de Conclusão de Curso com outro é o que faz a história de vida
da autora, pode ser traduzido na seguinte ser determinante para algumas entrevista-
pergunta: como se constitui a paixão pelo das. Também apareceu a transferência da
exercício da Psicologia no ambiente esco- paixão pela área através de um supervisor
lar? Para respondê-la foram realizadas en- local de estágio. Essa transferência pode
trevistas com cinco psicólogas que foram ser entendida como uma transferência de
tratadas por análise de conteúdo por ca- aprendizagem positiva, onde os processos
tegorização. Para discutir a questão teori- de aprendizagem adicionaram algo à sua
camente, foi levantado um breve histórico prática (Laplanche; Pontalis, 1967). Na ter-
da atuação do psicólogo na área escolar, ceira categoria, FORMAÇÃO ACADÊMICA,
assim como as questões que levam a uma apareceu mais especificamente os Está-
escolha profissional, a partir de Bohosla- gios em Psicologia Escolar como de grande
visky (1977). Também foram trabalhadas importância. Todas identificaram a partir
considerações sobre o conceito de paixão, de seus estágios o interesse em continuar
buscando na psicanálise um suporte teóri- na área e mais que isso: o surgimento da
co para seu entendimento. Em seguida, a paixão por este lugar. A CONFORMAÇÃO
partir de articulações teórico/práticas com DA PAIXÃO é a quarta categoria discutida.
as falas das entrevistadas, pode-se chegar Com a análise desta categoria podemos vi-
a algumas formulações finais sobre o que sualizar o “processo de apaixonamento” e
leva essas profissionais a se “apaixona- o desejo e a necessidade como questões
rem” pelo trabalho no campo da educa- importantes para essa conformação e
ção, mais especificamente dentro da esco- confirmação da existência da paixão. Por
la. Partindo de uma análise inicial das falas fim fala-se do exercício “viciante” da Psi-
das psicólogas entrevistadas foram criadas cologia dentro da escola. A conformação
quatro categorias a fim de orientar a aná- da paixão traz mais um ponto interessante
lise e discussão dos achados. As categorias a ser refletido: as psicólogas entrevistadas
foram formadas a partir da importância são conscientes da paixão que possuem
teórica da questão em análise e da recor- pelo exercício da Psicologia no ambiente
rência nas respostas das entrevistadas. A escolar. Quando perguntado como as en-
primeira categoria foi intitulada HISTÓRIA trevistadas definem o seu apaixonamento

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e permanência na Psicologia Escolar, elas suas práticas às vezes ficam vinculadas às


trouxeram questões sobre o trabalho ser Secretarias de Educação e Saúde dos mu-
gratificante, prazeroso, envolvente, ser nicípios, onde os psicólogos prestam ser-
uma realização. Também apareceram ex- viços às escolas. Também ocorrem os cha-
pressões como acreditar no trabalho nes- mados “desvios de função”, o que acontece
te campo, ter um retorno, ver resultados muito dentro da educação pública brasilei-
e poder fazer a diferença. Além disso, foi ra. Pensando na realidade brasileira, se faz
trazido por mais de uma entrevistada “as necessária a inserção deste profissional
possibilidades de trabalhar com muitas dentro do contexto da comunidade onde a
frentes da psicologia” (sic). Através das fa- escola se encontra, inclusive na produção
las das psicólogas entrevistadas consegue- de conhecimento desta área. Assim esse
-se vislumbrar parte do que elas entendem conhecimento conseguirá ser utilizado a
por Psicologia Escolar. Este trabalho não se fim de pensar práticas no contexto social
propôs a investigar essa questão, porém e cultural em que se encontra a maior par-
é interessante evidenciar um ponto que te da população brasileira, principalmente
todas as cinco entrevistadas trouxeram: quando se tem a grande possibilidade de
a prevenção como talvez sendo a grande trabalhar em termos de prevenção, como
possibilidade de suas práticas. Esta pes- trouxeram as entrevistadas.
quisa suscitou alguns temas pertinentes
a outros estudos. Um dos pontos interes- Palavras-chave: Psicologia Escolar, escolha
santes é o que diz respeito à organização profissional, ambiente escolar.
curricular da graduação em Psicologia. O Contato: Letícia Wilke Franco, UNISINOS/
ensino das diversas disciplinas do curso é, UFRGS, leticiawfranco@gmail.com
em sua maioria, ministrado por professo-
res que atuam ou que tem uma passagem
significativa na área correspondente. Pen- LT04-1459 – DESENVOLVIMENTO
sando na transferência de aprendizagem HUMANO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR:
colocada anteriormente, o ideal é ter au- CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA
las de Psicologia Escolar com um professor ESCOLAR
que, além de ter estudo nessa área, atue Alciane Barbosa Macedo Pereira - UEG/UnB
na escola. Às vezes falta na graduação esse barbosaalciane@gmail.com
docente que esteja engajado nesta área Alba Cristhiane Santana - UFG
ou ainda que transfira o conhecimento e albapsico@gmail.com
toda a gama de sentimentos e realidades
que perpassam sua prática. Não pode ficar A Educação Superior é um cenário privi-
de fora dessa discussão a importância da legiado para o desenvolvimento humano
inserção do psicólogo no sistema público devido as inúmeras possibilidades de inte-
de educação. Nesse trabalho foram entre- ração social nesse espaço, conforme Ma-
vistadas somente profissionais do sistema rinho-Araujo (2009). A partir da Psicologia
privado. Mas será que não existem psicó- Histórico-Cultural pode-se afirmar que o
logos apaixonados na educação pública? desenvolvimento humano é um proces-
Com certeza existe, porém se torna com- so que envolve a interação humana, em
plicado até mesmo localizá-los, já que as seus processos de produção e negocia-

647
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção de significados acerca de si próprios, de estratégias pedagógicas para minimizar


do outro e da realidade. De acordo com essa situação. Também foram investigadas
Vygotsky (2000), nos constituímos atra- as possibilidades de atuação do psicólogo
vés dos outros, os fenômenos psíquicos escolar na inserção acadêmica, com foco
especificamente humanos são oriundos no desenvolvimento dos discentes, pro-
da mediação entre a história social e a ex- movendo reflexões acerca das suas con-
periência individual e concreta dos sujei- tribuições na Educação Superior. O estudo
tos, realizada por meio de relações sociais fundamentou-se em uma Epistemologia
partilhadas. No contexto acadêmico, no Qualitativa (Gonzaléz Rey, 2005), na qual o
entanto, tradicionalmente trabalha-se a centro da pesquisa é o diálogo entre o pes-
partir de concepções de educação que vi- quisador e os sujeitos pesquisados. Outra
sam a transmissão de conteúdos, a indivi- fundamentação importante foi a Psicologia
dualização no processo de aprendizagem, Histórico-Cultural (Bruner, 1997; Vygotsky,
a padronização e a localização no indiví- 2003) e uma visão crítica da Psicologia Es-
duo das responsabilidades pelo sucesso colar (Marinho-Araujo & Almeida, 2005;
ou fracasso acadêmico (Kuenzer, 2000). Mitjáns Martinez, 2006). Participaram do
Tais concepções geram problemáticas que trabalho 37 alunos de duas turmas do pri-
muitas vezes dificultam o pleno desenvol- meiro período de um curso de licenciatura
vimento dos sujeitos. Estudos apontam da área de exatas; dois docentes e o coor-
que ao ingressar neste contexto, os alunos denador desse curso. Utilizou-se um ques-
enfrentam diversas dificuldades relaciona- tionário com questões abertas e fechadas,
das à dinâmica do processo educativo, as aplicado aos discentes em sala de aula. Fo-
quais geram reprovação, evasão e desmo- ram realizadas entrevistas semiestrutura-
tivação em relação à formação acadêmica das com os docentes e o coordenador do
(Ferreira, Almeida & Soares, 2001; Serpa & curso, no contexto da IES. Os procedimen-
Santos, 2001; Witter, 2002). Cunha e Car- tos de análise dos resultados abrangeram:
rilho (2005) afirmam que de maneira ge- análise estatística simples das questões
ral, os alunos ao ingressarem na Educação fechadas do questionário; e análise de
Superior levam com eles uma expectativa significados das questões abertas e das
positiva em relação a sua futura experiên- entrevistas. A construção das informações
cia acadêmica. A discordância entre tais possibilitou a elaboração de temas espe-
expectativas e o que a universidade pode cíficos relativos ao objeto de estudo e aos
oferecer efetivamente, gera uma fonte de objetivos da referida pesquisa. A primeira
dificuldade que se reflete na satisfação e temática está relacionada aos significados
no sucesso acadêmico. Considerando esse que os discentes apresentaram acerca do
cenário, o trabalho realizado a partir de contexto da Educação Superior, a saber:
um curso de especialização em Psicologia disciplinas de difícil entendimento, devido
teve como objetivo investigar as dificulda- a insuficiência de conteúdos básicos; rela-
des encontradas por alunos ingressantes ção distante com os professores, com au-
de um curso de licenciatura na área de sência de apoio em relação às dificuldades
exatas de uma Instituição de Educação encontradas; sensação de estar sozinho
Superior (IES) pública em Goiânia, visando no processo de aprendizagem. As conse-
contribuir com discussões sobre a criação quências diante dessa problemática com-

648
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

prometem os processos de aprendizagem Assim, o Psicólogo Escolar, conforme Mi-


e de desenvolvimento, pois podem gerar tjáns Martinez (2009) tem como objetivo
nos discentes: a manutenção das fragilida- contribuir para a otimização dos processos
des apresentadas no Ensino Médio; falta educativos e seu locus de atuação é cons-
de crença na própria capacidade de apren- tituído pelas diferentes instâncias do sis-
der; diminuição do empenho nos estudos; tema educativo. Assim, foi evidenciada a
dúvidas em relação ao curso escolhido, necessidade de um trabalho coletivo e in-
dentre outras questões. Outro tema foram terdisciplinar para superar as dificuldades
os significados que os docentes apresen- dos alunos e educadores, visando aperfei-
taram acerca do desempenho dos discen- çoar o processo educativo desenvolvido
tes: pouca dedicação aos estudos; defici- na Educação Superior. Esse trabalho com
ência de conteúdos básicos; ausência de a coletividade é fundamental na ação do
comportamento pró-ativo. Somado a isso, psicólogo escolar na instituição, conforme
as dificuldades percebidas nos docentes Tanamachi e Meira (2003), pois viabiliza ao
frente aos discentes foram: pouca habili- profissional colocar-se como um mediador
dade em desenvolver estratégias especí- que pode contribuir, nas questões que lhe
ficas para lidar com alunos com dificulda- são particulares, para a criação de espaços
de; pouco investimento na relação com o de discussão e de resgate da capacidade
aluno; pouca disponibilidade afetiva e de de pensamento crítico, o que pode colocar
tempo para auxiliar os alunos com dificul- todos os segmentos da instituição educati-
dade. Como pode ser percebido não há a va no lugar de sujeitos ativos. As informa-
discussão sobre o tipo de aluno que o En- ções construídas indicam a necessidade
sino Médio está formando, e as possíveis de intervenção para auxiliar na inserção
consequências para a Educação Superior. acadêmica dos alunos e contribuir com
A construção dos significados atribuídos o processo de desenvolvimento humano
por docentes e discentes sinalizam que as nesse contexto. Além disso, o psicólogo
dificuldades de ambos são semelhantes, escolar pode contribuir com um trabalho
uma vez que envolvem problemas em re- coletivo com os demais profissionais, por
lação às deficiências de conteúdo básico, meio de um diagnóstico institucional e
falta de conhecimento acerca de métodos de práticas que favoreçam a elaboração
de estudo e distanciamento na relação de estratégias pedagógicas que levem à
professor-aluno. As possíveis contribui- superação das dificuldades dos alunos no
ções da Psicologia nesse contexto, visan- início de sua formação acadêmica e assim,
do atender um processo formativo que auxiliem na sua aprendizagem e no seu
efetivamente contribua com o desenvol- desenvolvimento.
vimento dos sujeitos teriam que partir de
procedimentos que evidenciem os fatores Palavras-chave: Educação Superior;
que dificultam a ação dos discentes e dos Desenvolvimento dos Discentes; Psicologia
docentes. E, por outro lado, pode-se pen- Escolar.
sar na ação do Psicólogo Escolar criando Contato: Alciane Barbosa Macedo Pereira,
espaços de reflexão e discussão entre do- UEG/UnB, alcianebarbosa@gmail.com
centes e discentes, em busca de superação
das dificuldades vivenciadas nesse espaço.

649
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1484 – CONTRIBUIÇÃO DO sessão e treze a mais de uma (entre duas


PLANTÃO PSICOLÓGICO NO PROCESSO e três sessões). A idade média é de quinze
IDENTITÁRIO E NA ELABORAÇÃO anos; aproximadamente, 78% dos atendi-
DOS CONFLITOS VIVIDOS PELOS dos são do sexo feminino e os problemas
ADOLESCENTES mais citados são: busca de reconhecimen-
André Rezende Morais - UFSJ to, dificuldade na escola, dificuldade em
andre_rmorais@hotmail.com escolhas/decisão, elaboração de perdas,
Dener Luiz da Silva - DPSIC/UFSJ falta de correspondência nos relaciona-
densilva@ufsj.edu.br mentos amorosos, incômodo com a ma-
neira de ser e reagir às situações, insatis-
O objetivo deste trabalho é apresentar fação com as atribuições e contingências
uma experiência de Plantão Psicológico e insatisfação no relacionamento com a
(PP) iniciada durante o segundo semes- família. Para relatar a dinâmica básica dos
tre de 2010 em uma escola pública, com atendimentos foram utilizadas as descri-
aproximadamente 1500 alunos, em uma ções feitas por Mahfoud (1999), que reali-
cidade de médio porte do interior de Mi- zou uma pesquisa para identificar as fases
nas Gerais. Busca-se articular as ativida- do processo de atendimento no PP. Geral-
des e decorrências do PP com elementos mente, um atendimento acontecia com o
do processo de formação identitária dos adolescente apresentando a questão (AQ)
adolescentes, público-alvo do serviço. O e explorando-a (ExQ). Em alguns casos o
PP na escola pode ser inicialmente defi- aluno apresentava várias questões (AV)
nido como um espaço de escuta psico- e no decorrer do processo se fixava em
lógica oferecido aos alunos. Respaldado apenas uma. Havia outros casos em que
na abordagem Humanista de Carl Rogers o jovem, depois de apresentar e explorar
(1902-1987), e em seu famoso tripé Em- uma questão apresentava outra nova (OQ
patia, Congruência e Aceitação Incondi- – outra questão). Além dessas, outras ex-
cional, os estagiários de Psicologia bus- pressões foram utilizadas para descrever
cam atender às questões emergenciais as fases do processo: PI – pede informa-
trazidas pelos alunos e auxiliá-los em sua ção, RA – reafirma atitude, RQR – relata
elaboração. Visto que a adolescência é como a questão se resolveu, RCA – relata
considerada um período de mudanças, como agiu, PR – propõe-se a refletir e AP
caracterizado pela vivência de inúmeros – apresenta possibilidades. No encerra-
conflitos e por um momento importante mento do processo foram percebidas três
na formação da identidade (Aberastury, fases que correspondiam ao desfecho
1981; Erikson 1972), o PP se apresenta diante do que fora apresentado durante
como instrumento que auxilia o adoles- todo o processo: mudança de perspectiva
cente a tomar consciência dos elementos (MP); assumir nova atitude (ANA); decidir
cognitivos e emocionais envolvidos nas agir (DA). Segundo Aberastury (1981), o
vivências de seus conflitos, o que pode sofrimento, a contradição, a confusão, os
trazer benefícios para uma retomada de transtornos, durante a adolescência são
uma postura em direção à saúde psico- inevitáveis. Ela ressalta que estes podem
lógica. Até o momento, foram atendidos ser transitórios, elaboráveis e que a dor
vinte casos. Destes, sete referem-se a uma poderia ser amenizada se as estruturas

650
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

familiares e sociais fossem modificadas. sobre as atitudes tomadas com relação ao


Partindo desta ideia, o Plantão atua, ofe- que sentia pelo rapaz, questionando se o
recendo um espaço onde o adolescente que ela havia feito estava sendo saudá-
possa falar o que realmente sente e ter vel para ela e se agindo como agia esta-
liberdade de ser o que realmente se é e va conseguindo o que queria, que era ser
não o que a sociedade exige. Analisando correspondida afetivamente pelo preten-
as demandas apresentas durante os aten- dente. Neste momento ela deu uma pau-
dimentos e aquelas do período da ado- sa e disse que aquilo não estava fazendo
lescência, o PP se apresenta como lugar bem para ela. O plantonista pergunta o
onde o jovem pode vivenciar com mais que ela pretendia fazer. Ela responde que
liberdade suas experiências. Durante o gostaria de conversar com o rapaz e dizer
atendimento, o plantonista procura pro- tudo o que sente por ele, mas não con-
porcionar um clima de aceitação em um seguiria já que se considera ansiosa. No
momento de reflexão, fazendo com que primeiro encontro foi trabalhado este de-
o adolescente entre em contato consigo sejo de conversar com o rapaz. Ao final,
mesmo, pense de forma mais clara sobre ela disse que iria tomar iniciativa para
a questão trazida, que entenda melhor o falar com ele, pois percebeu os prejuí-
seu problema, se posicionando em rela- zos que esta relação estava causando.
ção a ele (Mahfoud, 1999). Cabe ressaltar, No segundo encontro L.M.S. relatou que
diante do que foi exposto, que para que conseguiu conversar com o garoto e disse
o PP contribua de fato para o desenvol- que se saiu bem. Durante a conversa ela
vimento do adolescente ele deve ser im- disse que procurou ficar tranquila, não
plantado juntamente com outras práticas sofreu por antecipação e não fantasiou a
psicológicas e não de forma isolada na situação. Diante do sucesso da conversa,
escola (Tassinari, 1999), bem como uma afirmou estar mais tranquila e feliz, está
divulgação para alunos e educadores in- pensando mais em si, em suas atitudes
formando sobre importância da interven- e naquilo que ela realmente quer. Desta
ção. Estas ações contribuem para a entra- forma, evidenciamos o papel que o PP as-
da do plantonista de forma mais efetiva sume diante da realidade vivenciada por
e ativa no contexto da escola. Para mos- adolescentes de escolas públicas: contri-
trar como o PP pode auxiliar na tomada buir para promoção da saúde destes ado-
de consciência e na decisão pela saúde, lescentes, uma vez que, apesar de não ser
passaremos a um exemplo de atendimen- tão diferente dos demais adolescentes,
to: L.M.S. tem 15 anos, sexo feminino e estes possuem certas particularidades:
está no 9º ano. No seu primeiro encontro nível sócio econômico baixo, baixa escola-
ela relatou estar apaixonada por garoto. rização dos pais, oportunidades restritas
Diante desta paixão, ela se queixou que de lazer e emprego.
não parava de pensar nesta pessoa, sen-
do assim não se alimentava bem e estava Palavras-chave: Adolescência, Plantão
mal nas atividades escolares. Além disso, Psicológico, Humanismo.
ela se mostrava muito ansiosa e indecisa Contato: André Rezende Morais, UFSJ, andre_
frente a tal situação. Diante desse relato, rmorais@hotmail.com
o plantonista procurou ajudá-la a refletir

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1500 – ONGs, PSICOLOGIA ESCOLAR décadas como novo arranjo social que
E COMPROMISSO SOCIAL: DESAFIOS E viabiliza legitimamente a aproximação
POSSIBILIDADES entre os cidadãos e a esfera pública em
Pollianna Galvão Soares - UnB prol da garantia do atendimento aos di-
polliannagalvao@yahoo.com.br reitos sociais básicos (Gohn, 2009, 2010;
Claisy Maria Marinho Araújo - UnB Montaño, 2002; Souza, 2009). São diver-
claisy@unb.br sas as designações institucionais dessa
Financiamento: CNPq esfera social: associações, fundações,
cooperativas e outras do terceiro setor,
A partir da globalização e da pós-mo- sendo culturalmente reconhecidas como
dernidade, a sociedade hodierna tem organizações não governamentais (ONGs)
fomentado o surgimento de distintas ins- e definidas como agências colaboradoras
tituições pelas quais o homem organiza para a avaliação das demandas sociais e
sua vida em coletividade ante as deman- mobilização dos sujeitos locais para a luta
das contemporâneas. O panorama das e garantia dos direitos civis (Gohn, 2010,
organizações sociais, especialmente no Souza, 2009). Apesar de se reconhecer o
cenário brasileiro, vem configurando con- crescimento das ONGs educativas relacio-
textos emergentes férteis à ações volta- nado à mobilização pela democratização
das para o apaziguamento do quadro de da educação, paralelamente, muitas críti-
exclusão social. Dentre esses contextos, cas têm sido engendradas a partir de uma
as instituições educativas não formais reflexão crítica acerca do seu papel, fun-
de terceiro setor vêm trazendo peculia- ção e relevância social que podem, ainda,
ridades às suas organizações e atividades ocultar a predominância de uma ideolo-
pedagógicas (Gohn, 2009).O surgimento gia burguesa e elitista própria do sistema
dos espaços educativos não formais tem econômico capitalista (Aoyama, 2005;
se elevando em função, principalmente, Deluiz, Gonzalez & Pinheiro, 2003). Ge-
do aumento dos problemas sociais para ralmente, essas críticas são endereçadas
os quais o Estado não tem cumprido de- à forma assistencialista com as quais as
vidamente seu dever em “construir uma ONGs desenvolvem suas atividades e que
sociedade livre, justa e solidária; garantir corroboram com uma espécie de disfarce
o desenvolvimento nacional; erradicar a político-ideológico acerca dos problemas
pobreza e a marginalização e reduzir as sociais sob a égide do compromisso com
desigualdades sociais e regionais” (Cons- a transformação social. Uma vez que o
tituição Federal, 1988, Art. 3) e nem em Estado não cumpre e nem garante ade-
garantir a educação como “direito de quadamente os direitos sociais, tal como
todos e dever do Estado (...) visando ao preconiza legalmente, distribui seu poder
pleno desenvolvimento da pessoa, seu para amenizar o impacto de políticas vol-
preparo para o exercício da cidadania e tadas para um suposto ajuste econômico
sua qualificação para o trabalho” (Cons- que atingem a população mais empobre-
tituição Federal, 1988, Art. 205). Nessa cida. Para se desenvolver ações voltadas
direção, as organizações da sociedade em prol da reversibilidade do quadro de
civil (OSC’s) têm se expandido entre os injustiça social, é necessário que os ato-
setores públicos e privado nas últimas res dessas instituições reconheçam criti-

652
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

camente as implicações políticas e éticas revisto os paradigmas que subsidiam os


para que suas ações sejam intencional- modelos e campos de atuação, sendo re-
mente direcionadas se aos interesses conhecida como área de intervenção pro-
e necessidades da coletividade (Guzzo, fissional, pesquisa e produção de conhe-
2003, 2005). Se as ONGs educativas nas- cimento que compromete-se com ques-
cem e se desenvolvem no sistema social tões relacionadas ao desenvolvimento
capitalista, é necessário que essas insti- humano em diversos contextos e modali-
tuições se posicionem e se assumam poli- dades de ensino (Marinho-Araújo, 2009).
ticamente ante às questões sociais em fa- Embora tradicionalmente vinculada à es-
vor de uma conscientização do grupo so- cola, essa área tem se expandido a outros
cial (Souza, 2009). Nesse sentido, há de se cenários devido ao reconhecimento de
ter o cuidado de que as ONGs educativas que as possibilidades de desenvolvimen-
podem estar a serviço de privilégios elitis- to estendem-se a diferentes instituições
tas, uma vez que elas não criticam, mas se investidas da função educativa, como as
aliam a proposições políticas e filosóficas ONGs (Correia & Campos, 2004; Cruces,
dominantes. Assim, os investimentos em- 2003, 2005; Marinho-Araújo, 2009; Ma-
preendidos nessas instituições corre o ris- rinho-Araújo & Almeida, 2005; Vectore,
co de não transformar, mas, ao contrário, 2005). A recente conjuntura educacional,
perpetuar as relações de poder e incenti- que dá abertura aos espaços educativos
var um papel eminentemente burocrático não formais de terceiro setor, convida (e
e administrativo para angariação de ver- instiga) um comparecimento do psicó-
bas. Em um cenário de práticas educati- logo escolar com um perfil eticamente
vas formais e não formais amplo como o comprometido com a transformação da
Brasil, as organizações não governamen- realidade em prol do estabelecimento
tais (ONGs) tem ganhado atenção da Psi- de ações e mediações para o desenvolvi-
cologia Escolar por realizarem atividades mento da cidadania (Guzzo, 2003, 2005).
pedagógicas que visam, em princípio, ao Uma atuação política, ética e socialmente
desenvolvimento humano (Soares, 2008; voltada para provocar incômodos, des-
Soares & Marinho-Araújo, 2010; Souza, velar ideologias dominantes, desestabi-
2009). A conjuntura da educação brasi- lizar formas de relações de poder, se faz
leira contemporânea, bem como seus necessária e pertinente ao perfil do psi-
diversos desmembramentos institucio- cólogo escolar, a partir da clareza sobre
nais, têm oportunizado novas reflexões o panorama histórico e atual do sistema
sobre o trabalho do psicólogo escolar e educacional e suas complexas dimensões.
o seu compromisso político e ético com Defende-se que seja papel do psicólogo
a educação. Se a intenção é propiciar a escolar contribuir para a transformação
transformação social por meio das ONGs, das condições ideológicas e práticas de
a Psicologia Escolar deve comprometer-se opressão que advém de um quadro social
com o desvelamento dos aspectos ideo- de injustiças que viabilizam e mantêm as
lógicos e filosóficos presentes nos diver- estruturas das relações desiguais entre
sos aspectos institucionais (Guzzo, 2003; os homens. Tal conscientização, mediada
Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Nas pelo psicólogo escolar, poderá evidenciar,
últimas décadas, a Psicologia Escolar tem criticar e denunciar concepções deter-

653
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ministas de desenvolvimento humano; tradicional reduzia a duração da infância


práticas domesticadoras e autoritárias de a seu período mais frágil; a partir do mo-
ensino e de aprendizagem; processos de mento em que a criança conseguia algum
exclusão, marginalização e discriminação desembaraço físico ela já era agregada
camuflados em processos avaliativos ou aos adultos, não passando pelo período
em procedimentos pedagógicos pouco da juventude. Não havia uma preocu-
críticos e autônomos em sua intenciona- pação em controlar a transmissão dos
lidade (Caro & Guzzo, 2004; Guzzo, 2001, conhecimentos e de valores para a crian-
2003, 2005; Marinho-Araújo & Almeida, ça, ela os aprendia quando auxiliava os
2005). adultos a fazer as coisas. A criança vivia
em um anonimato, e quando morria, as
Palavras-chave: Psicologia Escolar; ONG; pessoas não deveriam dar muita impor-
Desenvolvimento Humano. tância, pois ela logo seria substituída por
outra (Ariès, 2006). Esta concepção que
diminui a capacidade da criança continua
CO 14 - LT01 existindo em muitas esferas da sociedade
contemporânea, o que se constata em
Estado da arte da pesquisa instituições como a escola, e até mesmo
em algumas teorias e práticas psicológi-
cas, que tomam a criança como um ser
LT01-827 - PESQUISA COM CRIANÇAS incompleto, desconsiderando sua manei-
NA AMÉRICA LATINA: CONSIDERAÇÕES ra de pensar e usar a linguagem, na me-
ÉTICAS E EPISTEMOLÓGICAS dida em que a comparam com as formas
Nicole Bacellar Zaneti - UnB adultas de pensar, sentir e agir. A criança
nikazaneti@hotmail.com é concebida por essas esferas como um
Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino - UnB ainda não, uma extensão de seus pais,
luciahelena.pulino@gmail.com um ser inacabado, não evoluído, que
Financiamento: CAPES somente será alguém quando se tor-
nar adulto (Andrade, 1998). As crianças,
No seu curso de vida, e até mesmo desde muitas vezes, são invisíveis para algumas
sua concepção, a criança vive imersa em sociedades, que possuem práticas e con-
diversos contextos, tornando-se membro cepções de infância que não valorizam e
de uma cultura, no seio de uma família, não respeitam os direitos das crianças vi-
de comunidades e da sociedade, desen- verem sua infância. É importante que se
volvendo a linguagem, construindo con- compreenda o mundo das crianças e elas
cepções, valores e crenças, típicos dessa mesmas através de seus próprios olha-
cultura. Porém, a criança tem sido vista, res. O mundo das crianças atualmente é
em muitas instâncias, como alguém que bastante heterogêneo, elas têm contato
não é capaz de fazer escolhas, que é infe- com diversas realidades, com as quais
rior ao adulto, um ser passivo e totalmen- interagem e aprendem valores e diversas
te dependente dos outros. A concepção práticas culturais e sociais, ressignifican-
da criança como um ser inferior existe do-os e internalizando-os de forma sin-
desde Platão (Kohan, 2005). A sociedade gular (Vasconcellos, 2007). Dessa forma,

654
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Andrade (1998) salienta que a criança não diversas culturas e valores (Rogoff, 2005).
deve ser subestimada, infantilizada, nem Esta convivência muitas vezes pode ser
vista como um objeto. Ela não deve ser difícil e desafiadora para a criança, prin-
vista como alguém que ainda não é um cipalmente quando os hábitos diferentes
adulto, mas como alguém que constitui entram em conflito, mas também pode
e é constituído, construindo, de forma ser vivida de forma criativa, através de
dialética, sua subjetividade. É necessário combinações e negociações pessoais e
reconhecer e valorizar a criatividade e as coletivas. Dessa forma, é de extrema im-
potencialidades da criança, estimulan- portância a realização de pesquisas com
do sua participação, enxergando-a como crianças. A criança tem estado presente
um sujeito que possui direitos e deveres. nas pesquisas científicas há muito tempo,
A criança não é incompleta, um vir-a-ser sendo estudada como objeto a ser des-
que apenas se constituirá no futuro. Além crito, medido, analisado. O que é preciso
de estar num processo de desenvolvimen- ser discutido e modificado é a forma que
to em direção à idade adulta, ela é; existe, a criança tem sido estudada na comuni-
em sua totalidade, em sua singularidade, dade científica. Pesquisas que deem voz
no tempo presente. A criança traz o novo, a crianças, de modo a não só possibilitar
pode surpreender, transgredir e modifi- o conhecimento da maneira como elas
car o mundo, não apenas sendo modifi- lidam com os ensinamentos, regras, cren-
cada por ele. Ela participa da construção ças que os adultos lhe apresentam, mas
da cultura, da história e da sociedade também para permitir repensar as formas
em que vive, transformando-as (Andra- como os adultos estão se relacionando
de, 1998; Pulino, 2001; Vigotski, 2007). com elas são necessárias (Campos, 2008).
Assim, a criança, desde pequena, já está É preciso compreender a singularidade de
imersa em um contexto, em uma determi- cada criança, que cada resposta da crian-
nada cultura, no seio de uma família, de ça está relacionada ao ambiente em que
comunidades e da sociedade, desenvolve elas vivem. É interessante observar que a
a linguagem, constrói concepções, ações, mesma criança age de forma diferente de
atitudes, valores e crenças, típicos dessa acordo com o ambiente, como a família, a
cultura. Porém, ela não internaliza pas- escola, as brincadeiras na rua e, por isso,
sivamente esses conceitos, mas negocia buscar ouvi-las nesses diferentes contex-
seus significados, atuando e co-construin- tos (Campos, 2008). As crianças precisam
do essas concepções (Vigotski, 2007). As ser ouvidas no plural, através da valoriza-
constantes transformações culturais têm ção das diferenças, da multiplicidade de
ocorrido na atualidade por diversos fato- vivências da infância e da heterogenei-
res, como o surgimento da televisão, da dade dos contextos em que as crianças
internet, do telefone, o que possibilitou vivem. A entrevista com uma criança de
maior velocidade de comunicação entre um determinado país pode ser totalmen-
diversas culturas mundiais. A frequente te diferente de uma com uma criança de
imigração em todo o mundo e o casamen- outro país. A classe social, a cultura, a so-
to entre indivíduos de nacionalidades e ciedade em que ela vive podem constituir
raças diferentes também contribui para indicadores empíricos muito diferentes. É
essas mudanças e para a convivência com interessante, também, o cruzamento de

655
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

diversos procedimentos metodológicos, LT01-1367 - PSICOLOGIA DO


a fim de ampliar as ferramentas para a DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA
compreensão do universo de cada crian- LATINA: UM GRUPO DE PESQUISA DE
ça, e das diferenças e semelhanças entre SÃO PAULO SE REVELA PIONEIRO NESTA
elas e os adultos. Também é essencial ÁREA DO CONHECIMENTO
permitir à criança participar das decisões Fabiana Luzia de Rezende
sobre quais procedimentos elas querem Franciene Soares Barbosa de Andrade
utilizar para comunicar suas experiên-
cias para outras pessoas (Rocha, 2008). Este trabalho consiste em um mapea-
A pesquisa com crianças tanto possibilita mento da produção intelectual brasileira
a abertura de Zonas de Desenvolvimento na área de psicologia do desenvolvimen-
Proximal para as crianças se colocarem to humano da região Sudeste, mais espe-
em posição de serem ouvidas, de coloca- cificamente dos Estados de São Paulo e
rem suas concepções, como a abertura de Espírito Santo. Ele está sendo desenvol-
uma Zona de Desenvolvimento Proximal vido como um dos requisitos avaliativos
para os pesquisadores, considerarem a da disciplina Seminário de Pesquisa em
criança como colaboradora da pesquisa, Desenvolvimento Humano, tendo como
e, mesmo, para considerarem a própria professora supervisora a Doutora Ma-
pesquisa como um processo de constru- ria Cláudia Santos Lopes de Oliveira. O
ção de conhecimento que se abre para o objetivo é identificar e analisar a produ-
novo, para incluir novos seres, em início ção acadêmica de um grupo de pesquisa
de socialização, em nossa tarefa de com- brasileiro com produção consistente e
preender o mundo e as pessoas em vários relevante no cenário nacional e/ou inter-
momentos da vida. Em termos de Améri- nacional. Para levantamento dos grupos
ca Latina, isso pode sugerir que crianças realizamos, em um primeiro momento,
de diferentes países e culturas possam uma busca dos grupos de pesquisa de São
ser ouvidas, e a Psicologia do Desenvol- Paulo e Espírito Santo voltados para área
vimento possa se abrir para um diálogo do desenvolvimento humano presentes
profícuo que permitirá aos países se re- em anais, congressos, reuniões, simpó-
conhecerem no que tem de semelhante e sios de psicologia. Então, consultamos
diferente em relação ao acolhimento e à os diretórios dos grupos de pesquisa no
educação de crianças. Brasil no site da ANPEPP. Por meio dessa
busca identificamos diversos grupos e ve-
Palavras-chave: crianças, pesquisa, América rificamos quais tinham maior visibilidade
Latina. nos congressos dos últimos cinco anos
Contato: Nicole Bacellar Zaneti (UnB) e apresentavam produção relevante na
nikazaneti@hotmail.com área de desenvolvimento humano. Des-
te modo, selecionamos a princípio dois
grupos: o grupo Processos de Desenvol-
vimento e de Aprendizagem da Universi-
dade Federal do Espírito Santo – UFES e
o grupo Centro de Investigação Sobre o
Desenvolvimento Humano e Educação

656
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Infantil da Universidade de São Paulo – afetivas e apego, Diferentes aspectos do


USP. Embora percebamos que o número processo de adoção, Infância e família:
de produções da líder do grupo da USP, ideário e práticas em diferentes contex-
professora Maria Clotilde Rossetti-Ferrei- tos, Narrativa, self e descrições de si na
ra, tenha diminuído gradativamente nos perspectiva de rede de significações, Or-
último cinco anos, pois está aposentada ganização espacial e educação infantil co-
compulsoriamente desde 2006. Optamos letiva, Processos dialógicos e indissociabi-
por um levantamento mais aprofundado lidade de corpo-mente-cultura, Produção
sobre os históricos, projetos e produções de material didático-científico, Questões
de seu grupo de pesquisa porque verifi- conceituais e metodológicas, Significado
camos ser um grupo bastante significa- de sentido e significação/Figuras do si
tivo e pioneiro para a área da psicologia mesmo ou noções de subjetividade. Esse
do desenvolvimento humano no Brasil. O grupo tem repercussão nacional e inter-
grupo da USP – SP, denominado Centro nacional, por meio das suas pesquisas
de Investigações sobre Desenvolvimento sobre interação, adaptação e arranjo es-
Humano e Educação Infantil (CINDEDI) é pacial em creche e pré-escola e produção
constituído por dez pesquisadores, são de material didático destinado à forma-
eles: Ana Maria Almeida Carvalho, Maria ção de professores. Além da expansão de
Isabel Patrício de Carvalho Pedrosa, Ana suas temáticas, está desenvolvendo uma
Paula Soares da Silva, Regina Helena Lima nova perspectiva teórico-metodológica
Caldana, Katia de Souza Amorim, Reinal- chamada Rede de Significações que é “ca-
do Furlan, Mara Ignez Campos de Carva- paz de considerar, no processo de investi-
lho, Sueli Cristina de Pauli Teixeira, Maria gação ou na intervenção, a complexidade
Clotilde Therezinha Rossetti Ferreira e Zil- do processo de desenvolvimento”. Ulti-
ma de Moraes Ramos de Oliveira. Os de- mamente a linha de pesquisa do grupo
mais que participam do grupo são: vinte está voltada para estudos de processos
e oito estudantes e dois técnicos. Quan- ligados a Adoção, que contribuiu para a
to à trajetória, o grupo surgiu em 1988, realização e produção de material didá-
pertence a Faculdade de Filosofia Ciên- tico voltado para o tema “REDE DE PRO-
cias e Letras de Ribeirão Preto do Depar- TEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA, FAMILIA E
tamento de Psicologia e Educação, sen- ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE RISCO”
do certificado pela Universidade de São e auxílio de “diretrizes e práticas para o
Paulo – USP. Atualmente é liderado por campo e formação de políticas públicas
Maria Clotilde Therezinha Rossetti Fer- neste contexto”. A líder Maria Clotilde
reira e Mara Ignez Campos de Carvalho e Therezinha Rossetti Ferreira é Licenciada
tem como área predominante as Ciências em Filosofia pela PUC-SP, Especialista em
humanas e a Psicologia. Apresenta treze Psicologia Clínica pelo Sedes Sapientiae-
linhas de pesquisa, como: Inclusão social -SP, Doutora em Psicologia pela University
de pessoas portadoras de necessidades of London, com Pós Doutorado no Institu-
especiais, Interação criança-criança, A te of Child Health, Londres e no Labora-
construção do sujeito e da intersubjetivi- toire de Psycho-Biologie de l Enfant, Paris.
dade, A Educação infantil a partir da Rede Professora Titular da Faculdade de Filoso-
de Significações, Construção das Relações fia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

657
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Universidade de São Paulo. Em sua rede LT01-1455 - ALBERTO MERANI E OS


de colaboradores podemos citar os auto- ESTUDOS DE PSICOLOGIA INFANTIL- UM
res|: Amorim KS; Anjos AM; Carvalho MI; RESGATE DA CONTRIBUIÇAO LATINA
Costa NR; Ferreira MC; Mariano FN; Oli- AMERICANA PARA A PSICOLOGIA DO
veira ZM; Ramon FM; Roriz TM; Serrano DESENVOLVIMENTO
SA; Teixeira SC e Yazlle CH. Ela apresenta Luciane Alves de Oliveira - UFC/Sobral
linhas de pesquisa voltada para Processos luaoliveira2307@yahoo.com.br
de adoção, guarda e tutela e abrigamento Franci Iria Servolo Sabóia - UFC/Sobral
e Processos de Desenvolvimento da crian- irya.saboia@hotmail.com
ça pequena em creches e pré-escolas. A Hanna Graziely Rêgo Castro - UFC/Sobral
outra líder do grupo de pesquisa, Mara hanna_graziely@hotmail.com
Ignez Campos de Carvalho, possui gradu- Isadorah Dantas Cavalcante Martins - UFC/
ação em Psicologia pela Universidade de Sobral
São Paulo (1970), mestrado em Psicologia Maria Júlia Melo Farias - UFC/Sobral
(Psicologia Experimental) pela Universi- majumelo_3@hotmail.com
dade de São Paulo (1979), doutorado em Thamila Cristina dos Santos da Silva - UFC/
Psicologia (Psicologia Experimental) pela Sobral
Universidade de São Paulo (1990) e pós- thamila_silva@hotmail.com
-doutorado pela Rutgers - The State Uni-
versity of New Jersey (1992). Atualmente Vida e obra - Alberto Merani nasceu em
é professora doutora da Universidade de 1918 na Argentina. Estudou em vários pa-
São Paulo. Tem experiência na área de íses, discípulo de Wallon na França e de
Educação com ênfase em Educação Psico- Nicolás Pende na Itália. Estabeleceu-se
logia Ambiental, atuando principalmente em Caracas, trabalhando Universidade
nos seguintes temas: arranjo, crianças dos Andes e posteriormente na Univer-
2-3 anos, atividades livres. Sua rede de sidade Central de Venezuela. Morreu em
colaboradores apresenta autores, como: 20/08/1984 em Caracas. Em meados do
Carvalho MI; Ferreira MC; Meneghini R; século XX, se converteu em um dos mais
Mingorance RC e Souza TN. Além das in- importantes psicólogos da América Lati-
formações aqui citadas, este trabalho de na; produziu em torno de 40 livros e os
mapeamento constará de uma análise crí- temas principais que trabalha são: psi-
tica acerca da trajetória das líderes e seus cologia infantil, evolutiva, genética, psi-
colaboradores, de suas produções inte- cogênese, epistemologia da psicologia
lectuais, verificando seus pontos fortes, e educação, psicopatologia, historia da
opacidades e perspectivas para futuros psicologia e da educação. Embora com
trabalhos. vasta obra é difícil o seu acesso no Brasil.
Merani engaja-se no campo da psicologia
Palavras-chave: produção acadêmica; em 1941 com um ensaio sobre a psicogê-
psicologia do desaenvolviemento; questões nese do sentimento maternal, e dez anos
conceituais e metodológicas. depois publica seu primeiro trabalho de
psicologia infantil. Em 1961, convidou
Wallon a escrever o prefácio para seu li-
vro “introdução a psicologia infantil”. O

658
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

primeiro tema de sua obra marca abertu- práxis, deu origem ao acervo histórico-
ra de um projeto que vai perdurar duran- -cultural humano. Como seres animais,
te toda a sua vida: a psicologia infantil e estamos apoiados no biológico; como in-
psicologia genética. Contextualizando os divíduo dotados de pensamento, no psi-
principais estudiosos sobre o desenvol- cológico; e como homens, isto é, seres ca-
vimento infantil, visualizamos algumas pazes de assimilar e de converter os pro-
diferenças de conceitos e fundamentos. dutos da atividade interpessoal, no social.
Para Piaget a psicologia genética e a psi- Seja qual for a importância que se queira
cologia infantil se distinguem da seguinte conceder a cada um destes elementos,
maneira: a psicologia genética é o estudo nas sucessivas fases que desembocaram
da psicologia geral que abrange a forma- no estado atual da humanidade, resulta
ção dos processos mentais, enquanto a inegável que o indivíduo contemporâneo
psicologia infantil é um instrumento da representa o equilíbrio harmônico destes
psicologia genética. Para Wallon, a psi- três elementos.” (Merani, 1972, p.68) To-
cologia genética estuda o psiquismo em mando por base as ideias de Merani fica
sua formação e transformações em três evidente que o desenvolvimento humano
níveis: o nível do mundo, da espécie e do reflete continuamente a associação, a in-
individuo. Portanto, a psicologia infantil é teração, a influência de diferentes fatores,
apenas um dos métodos. Merani, seguin- sendo, portanto, um produto tanto do
do Wallon, organiza a psicologia genética biológico quanto do meio social. Quando
como uma psicologia comparada. Opõe- afirma Merani, a “essência” do homem,
-se assim a psicologia geral da psicologia ou, em outros termos, suas funções psí-
genética, que tem o objetivo de explicar quicas, repousa sob o conjunto das rela-
a função mental pela a história do desen- ções sociais. Entendemos que não temos
volvimento através das idades. As etapas como obter a compreensão desse proces-
do homem são estudadas em três pontos so por isolamento, querendo entender as
de vistas: a infância sobre a óptica da psi- singularidades, pois para Merani o que
cologia infantil; a infância, a puberdade existe de mais íntimo e peculiar ao indi-
e adolescência pela psicologia da idade víduo pode ser superado, descamuflado,
evolutiva; o processo completo, isto é, quando considerarmos o meio social que
infância, puberdade, adolescência, juven- o envolve. A interpretação mais evidente
tude, maturidade e velhice pela visão da é que ele coloca a sociedade na condi-
psicologia genética. No pensamento de ção de um fenômeno que tanto contribui
Merani aparece à necessidade de proble- para o surgimento das significações que
matizar, acerca das relações entre a psico- emergem a partir das funções de origem
logia, ciência e a filosofia, e os problemas genéticas que são inatas aos indivíduos,
relacionados com estas, como a classifi- porém essas funções só passam a desen-
cação do método materialista dialético, volverem-se quando estimuladas pelos
a unidade do objetivo e do subjetivo. Um fatores presentes na sociedade. É, mister,
ponto de partida ou um ponto de chega- portanto que haja a integração entre o
da? “Somos conscientes de que o único critério genético e o social. A partir des-
grupo de indivíduos caracterizados como sas considerações, Merani faz uma crítica
homo sapiens é aquele que, mediante a muito sutil aos autores que generalizam

659
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seus estudos, apoiando-se nos mesmos singulares do desenvolvimento infantil.


parâmetros, fazendo as mesmas consi- Transmite uma concepção de desenvol-
derações para crianças que são estuda- vimento em movimento, mostra que este
das em diferentes contextos sociais. Por está em constante construção, é influen-
causa dessas generalizações, afirma que a ciado por fatores internos e externos,
separação da teoria e da prática sobressai destacando, assim, a grande abordagem
a cada instante, pois «a criança é objeto, que considera sobre as influências bioló-
e as hipóteses mais em voga são subjeti- gicas, genéticas ou somáticas no desen-
vas; as interpretações forçam muitas ve- volvimento.
zes o sujeito que estuda a entrar no âma-
go da teoria e, por conseguinte, não é a Palavras-chave: Merani; Desenvolvimento
criança fenômeno natural a ser estudado, Infantil; Devir
mas a criança fenômeno interpretativo.
É relevante considerar o quanto enfatiza
a idéia de desenvolvimento dialético, es- LT01-1498 - PSICOLOGIA DO
tando sempre presente a ideia de devir, DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA
processo inacabado que a todo instante LATINA: BRASIL RIO DE JANEIRO E
pode estar sofrendo alterações. Sabe- MINAS GERAIS
-se que não se herdam idéias, talentos Marina Teixeira Mendes de Souza Costa -
particulares, gostos, sentimentos como UNB
virtuosidades abstratas, mas possibilida- mtmscosta@hotmail.com
des materiais para o desenvolvimento Telma Regina Lago Costa - UNB
das mesmas em função das interações telmalagocosta@gmail.com
indivíduo-meio. Não se herda a rigor uma
entidade formal, mas possibilidades para O presente trabalho foi desenvolvido na
o desenvolvimento da mesma. Com este disciplina Seminário de Pesquisa em De-
trabalho propomos resgatar os estudos senvolvimento Humano, ministrada pela
desse clássico autor de desenvolvimento professora Maria Cláudia Oliveira no pro-
na America Latina. (Re)conhecer sua pro- grama de Pós-Graduação em Processos
posta teórica metodológica para o desen- de Desenvolvimento Humano e Saúde da
volvimento infantil e entrelaçarmos a pro- Universidade de Brasília. O estudo teve
posta do autor com o que estudamos nas como objetivo realizar um levantamen-
disciplinas de desenvolvimento humano to sobre como estão se circunscrevendo
na universidade. Divulgar e possibilitar as pesquisas em psicologia do desenvol-
que outros possam conhecê-lo e com- vimento humano no Brasil e na América
preender a importância de seus estudos. Latina de forma geral, e a escolha de um
Constatamos a importância do discurso grupo de pesquisa em evidência. Neste
feito por Merani sobre desenvolvimento levantamento, foram analisados dois es-
em caráter dialético. Ele faz críticas e con- tados da região sudeste brasileira: Rio de
siderações importantíssimas a autores Janeiro e Minas Gerais. A princípio, toda
de desenvolvimento que se ausentam de a região sudeste foi mapeada por meio
fazer considerações acerca de pequenas dos anais em psicologia. A partir de en-
interconecções que englobam todas as tão, foram anotados os nomes de todos

660
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os pesquisadores da região em questão LT03-719 - A PSICOLOGIA DO


presentes nas comissões dos seguintes DESENVOLVIMENTO BRASILEIRA.
congressos: Congresso Brasileiro de Psi- ARGUMENTOS PARA SUA (RE)
cologia do Desenvolvimento - CBPD (São CONSTRUÇÃO
Paulo, 2005 - Vitória, 2007 - Rio de Janei- Letícia Silveira Vasconcelos - UFBA
ro, 2009), Reunião Anual da Sociedade Lélia Santiago Custódio da Silva - UFBA
Brasileira de Psicologia – SBP (Curitiba, Sônia Maria Rocha Sampaio - UFBA
2010), Congresso Norte-Nordeste de Psi- Sueli Barros da Ressurreição - UNEB
cologia - CONPSI (Maceió, 2007; Belém,
2009; Salvador, 2011), Simpósio Científi- A psicologia, historicamente vinculada ao
co da Associação Nacional de Pesquisa e paradigma positivista, carregou no seu
Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP processo de construção de saber a con-
(XI Simpósio, 2006). Posteriormente, fo- cepção de ser humano naturalista e uni-
ram analisados os grupos de pesquisa dis- versalista, adotando posições e práticas in-
ponibilizados pela ANPEPP. Depois desse dividualistas e distantes da realidade social
primeiro procedimento, estabeleceu-se dos sujeitos que pretendeu estudar. Uma
como critério para aprofundar a análise, vez importada para os países latinos ame-
a área predominante escolhida sendo a ricanos, dentre os quais, o Brasil, orientou-
psicologia. Neste recorte, foram encon- -se pelo pensamento colonialista (Bock,
trados oitenta e seis grupos de pesquisa, 2003) concebendo a sociedade como algo
sendo cinquenta e dois pertencentes à externo ao sujeito, negando seus vínculos,
psicologia. Cabe ressaltar que desses gru- historicidade e contextos culturais espe-
pos, oito pertencem a Minas Gerais e dez cíficos. Aos 49 anos de institucionalização
ao Rio de Janeiro. Estes foram estudados desta ciência no país, convive-se com um
com maior profundidade, no que tange anseio pela afirmação de sua identidade e
às produções anuais na temática do de- seu compromisso com as questões sociais
senvolvimento. Outro fator para a escolha (Bock, 2003). Nesta mesma perspectiva,
do grupo foi à observação daqueles que o neurocientista Nicolelis (2010), em seu
se encontravam presentes nos congres- Manifesto da Ciência Tropical, sinaliza a
sos analisados. A pesquisa se caracteriza necessidade de construção de um novo
por ainda estar em andamento, tendo, a paradigma científico que democratize as
priori, como grupo escolhido por maior práticas de pesquisa e auxilie a transfor-
produção bibliográfica: Interação Social mação social e econômica do Brasil. Diante
e Desenvolvimento, liderado por Maria deste quadro mais geral da ciência psicoló-
Seidl-de-Moura e Deise Maria Leal Fer- gica, propõe-se discutir o tema a partir do
nandes Mendes, da Universidade do Es- campo da psicologia do desenvolvimento.
tado de Rio de Janeiro (UERJ), o que não Algumas perguntas são identificadas como
descarta uma possível mudança caso no pontos de partida para o presente ensaio:
decorrer da pesquisa se encontrem novas O saber e a prática da psicologia do desen-
informações. volvimento brasileira estão comprometi-
dos com a melhora da qualidade de vida
Palavras-chave: desenvolvimento, grupos de de seus cidadãos? As pesquisas contem-
pesquisa e levantamento. plam temas de relevância nacional? Os

661
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

trabalhos realizados priorizam contribui- recorre-se a autores que propõem uma


ções teóricas e práticas que levem em con- forma alternativa de pensar a história da
ta a desigualdade social? Ora, sendo fiel às psicologia, privilegiando versões menos
mais recente elaborações em psicologia do descritivas e romantizadas e mais interes-
desenvolvimento, que entendem o meio sadas em entender as consequências do
como parte essencial desse processo, não saber e fazer psicológico em cada época
seria incoerente pensar que o desenvol- e lugar (Bock, 2003; Foucault, 1987 a e
vimento de um campo de estudo esteja b, Prado Filho, 2005; Martín-Baró, 1996;
também ele inextricavelmente atado ao Bock & Gonçalves, 2009; Massimi, 2006).
seu contexto histórico e cultural. O que, Em seguida, trata-se da história da psico-
de fato, não é uma ideia nova no estudo logia do desenvolvimento no Brasil e uma
da construção do pensamento científico. compreensão de suas raízes históricas
No entanto, desde onde se situam as auto- (Mota, 2005). Como uma tentativa de ve-
ras, cada uma com uma trajetória diversa rificar as ideias expostas, é apresentado os
na psicologia do desenvolvimento, a per- dados construídos a partir de um estudo
cepção que se tem é a de que as teorias empírico da análise dos programas de gra-
vêm sendo mais comumente importadas e duação de psicologia das Instituições de
aplicadas sem as tintas e temperos locais, Ensino Superior públicas, que ministram
seguindo uma moda mais colonial e de disciplinas nomeadas de Psicologia do
aculturação. Tendo em vista este contex- Desenvolvimento. Para análise, buscou-
to, o presente ensaio tem como objetivo -se identificar, através das referências bi-
discutir a prática de apropriação acrítica e bliográficas das ementas das disciplinas, a
a-histórica de teorias do desenvolvimento, presença de autores e estudos nacionais
sem a necessária adaptação teórica e me- e latinos americanos. Os dados mostra-
todológica à realidade brasileira. Este tra- ram que as ementas das disciplinas ainda
balho parte do pressuposto de que todo têm um foco no desenvolvimento a partir
posicionamento teórico e metodológico é da concepção cronológica de fase e uma
também um posicionamento ético e políti- grande influência das teorias tradicionais
co. Encontra sustentação nos pesquisado- do desenvolvimento, que vigoraram no
res que advogam o tema do compromisso século passado. Em grande parte dos pro-
social da psicologia e denuncia a condição gramas consultados, não foram verificadas
de colonização e subserviência aos países citações de referências teóricas brasileiras
desenvolvidos, presente também no âm- e latino-americanas, que discutam a con-
bito científico. O estudo aqui proposto se cepção da infância, juventude e velhice a
constitui por uma revisão teórica da lite- partir de um ângulo local. Sendo assim,
ratura e um esforço empírico de ilustração conclui-se que para desenvolver uma re-
das idéias expressas. Inicialmente, busca- construção crítica dos saberes psicológicos
-se uma compreensão sobre o saber dos no estudo do desenvolvimento humano, a
psicólogos ilustrando suas origens episte- historicidade e a complexidade tornam-se
mológicas dicotômicas e sua relação com categorias fundamentais, pois identificam
o surgimento das noções de subjetividade, cada fenômeno na sua relação com a pro-
infância, juventude e velhice, e inserida dução humana histórica e compreendem
na sociedade contemporânea. Para tanto, a realidade em seu caráter contraditório,

662
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

plural, indivisível e, eventualmente, ambí- Pinheiro (2001) nomeia socialização de


guo. Há necessidade de diálogos com ou- gênero o processo de incorporação pelos
tras áreas do conhecimento humano para indivíduos das normas, dos papéis, dos va-
que se possam superar dicotomias, muitas lores socioculturais que determinam o que
vezes artificiais, da psicologia em campos é ser homem e o que é ser mulher. Como as
distintos e distanciadas das questões da categorias de gênero são construídas pelas
vida contemporânea. Além disso, consi- pessoas nas suas interações, ocorre uma
dera-se urgente a superação da fragmen- constante reconstrução das mesmas. Em
tação interna ao próprio saber psicológico, decorrência disso, considera-se que a pró-
que foi se dividindo em áreas especializa- pria socialização de gênero é um processo
das de atuação e pesquisa, sem interlocu- permanente. Segundo Traverso-Yépez e
ção entre esses campos. Estes são algumas Pinheiro (2005), essa socialização se inten-
posturas que possibilitam uma melhor sifica nos espaços de convivência cotidia-
compreensão do desenvolvimento huma- na – a família, por exemplo – nos quais se
no e a construção de uma psicologia do reproduzem os papéis de gênero vigentes
desenvolvimento que represente o Brasil e no contexto dos indivíduos e também as
responda às necessidades dos brasileiros. contradições existentes em tal contexto,
possibilitando rupturas em relação ao ins-
Palavras-chave: psicologia do tituído. Oliveira (2007) destacou o papel
desenvolvimento, compromisso social, cultura fundamental da família enquanto agente
brasileira de socialização para os jovens, constituindo
Contato: Letícia Silveira Vasconcelos, UFBA, o fundamento das suas trajetórias sociais.
leticiasvasconcelos@gmail.com Em sua pesquisa, com camadas populares
no município de São Paulo, identificou uma
socialização familiar diferenciada para me-
ninos e meninas, em termos de atividades
PO-LT05 permitidas e estimuladas pela família. Ain-
da assim, a autora assinala que a identifica-
ção dos jovens com os modelos familiares
LT05-694 - A SOCIALIZAÇÃO DE GÊNERO
de gênero não ocorria de forma passiva e
NAS FAMÍLIAS DE ADOLESCENTES
automática, sendo um processo de reitera-
HOMENS ALUNOS DE UMA ESCOLA
ção, tensão e questionamento em relação
PARTICULAR DE PORTO ALEGRE
a tais modelos. Objetivo: O objetivo deste
Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS trabalho é analisar a socialização de gênero
gsagebin@hotmail.com nas famílias de um grupo de adolescentes
Tania Mara Sperb - UFRGS homens alunos de uma escola de Porto
sperbt@terra.com.br Alegre (RS). Metodologia: Será apresen-
Financiamento: CNPq tado um recorte de um estudo realizado
acerca das concepções dos adolescentes
Os significados atribuídos ao masculino e sobre o que é ser homem e o que é ser mu-
ao feminino são culturalmente construí- lher atualmente. Neste, foram realizados 6
dos e transmitidos socialmente através da grupos focais online síncronos, através do
interação (Diamond, 2002; Louro, 2004). programa de bate-papo MSN. Participaram

663
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

41 adolescentes, estudantes de uma escola mulher, o pai fica brabo e a mãe assustada,
estadual e de uma escola particular de Por- irritada, nervosa e preocupada. Somente
to Alegre, divididos em 2 grupos de ado- uma dessas narrativas sugere que, frente
lescentes homens, 2 de adolescentes mu- à notícia da perda da virgindade da filha,
lheres e 2 mistos. Os grupos tiveram lugar a mãe a apoia, conversando com ela e de-
na sala de informática das escolas em que monstrando interesse pelo relato da situa-
eles estudavam e foram moderados pela ção. A categoria Hipersexualização do ho-
pesquisadora. Esta e todos os adolescentes mem reuniu as narrativas que associavam
tinham um computador à sua disposição, ser homem com ter uma heterossexualida-
conectado ao MSN. A discussão era realiza- de exacerbada. Essas narrativas abordaram
da por escrito e iniciava com a questão de a aceitação e até o estímulo à sexualidade
abertura proposta pela moderadora: “Con- do adolescente homem por parte do seu
tem histórias que vocês acham que mos- pai e da sua mãe. Nas situações relatadas
tram bem o que é ser homem ou o que é ser no grupo focal, a vida sexual ativa do fi-
mulher hoje.”. As narrativas obtidas foram lho é aceita pela mãe e motivo de orgulho
submetidas à Análise de Conteúdo (Bardin, para o pai. A categoria Homossexualidade
2008). Foram identificados 4 temas entre incluiu uma narrativa em que se explicava
as narrativas dos adolescentes, sendo Se- por que um adolescente da escola tinha
xualidade o tema que contou com o maior aparência de homossexual, graças às suas
número de produções. Resultados: No pre- características consideradas femininas. Es-
sente trabalho, são apresentados somente sas características foram atribuídas à sua
os resultados do grupo focal realizado com pouca convivência com o pai concomitan-
7 adolescentes homens da escola particu- te à sua criação por mulheres. Conclusão:
lar. Tal recorte decorre da presença maciça, Tais narrativas foram ao encontro da afir-
nesse grupo, de narrativas que tratavam mação de Oliveira (2007) acerca do papel
da socialização de gênero nas famílias com fundamental da família como agente de
filhos adolescentes. Das 13 narrativas ela- socialização de gênero para os jovens. As
boradas nesse grupo, 10 referiam-se ao reações dos familiares à expressão da sexu-
tema Sexualidade e foram classificadas nas alidade feminina parecem promover uma
seguintes categorias: Hipossexualização socialização de gênero padronizada para
da mulher (07 narrativas), Hipersexualiza- as adolescentes, fixando características e
çao do homem (02), e Homossexualidade atitudes que associam a mulher a um ser
(01). As outras 3 narrativas não continham heterossexual, pouco sexualizado e passi-
referências à socialização de gênero e não vo. A família também se sobressaiu como
são, portanto, apresentadas aqui. A cate- agente de socialização de gênero para os
goria Hipossexualização da mulher englo- adolescentes homens, promovendo uma
bou narrativas que associavam ser mulher socialização de gênero padronizada, fixan-
com ser heterossexual e pouco sexualizada. do características e atitudes que associam
Nessas narrativas apareceram a censura e o homem à heterossexualidade ativa. Essa
a repressão por parte do pai e da mãe da socialização pareceu ser tomada de modo
adolescente mulher quando esta expressa fatalista pelos próprios participantes da
sua sexualidade. Segundo os membros do pesquisa, que consideraram que a criação
grupo focal, diante da sexualidade da filha oferecida pelos pais pode levar um adoles-

664
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cente a apresentar características femini- condições de sobrevivência, por transmitir


nas e a parecer homossexual. Em resumo, normas, valores pessoais, culturais, emo-
as narrativas mostraram que a socialização cionais e pelo suprimento das necessida-
de gênero na família contribui para a ma- des afetivas (Ferrari & Kaloustian, 2002).
nutenção da articulação histórica entre Apesar do grande destaque dado ao papel
masculinidade e sexualidade heterossexu- materno, o pai também desempenha uma
al (Louro, s/d; Seffner, 2004). No entanto, função de grande relevância no desenvol-
ainda que a análise de conteúdo não tenha vimento físico e emocional de seus filhos
sido capaz de detectar os questionamentos (Winnicott, 1975). Porém, na sociedade
dos adolescentes, esses padrões de femini- contemporânea se vê uma diversifica-
lidade e de masculinidade foram também ção do comportamento paterno (Thorne,
relativizados e postos à prova durante a 1992; Romanelli, 2003; Marri & Wajnman,
construção das narrativas. A linguagem 2007), assinalando, assim, um processo
confirmou-se como um instrumento por de redefinição ou mesmo indefinição de
meio do qual se pode oferecer resistência seu papel. Desta maneira, o objetivo do
às construções estabelecidas e fixadas (Bu- presente trabalho é compreender o modo
tler, 1999), abrindo-se espaço para novos como pais de crianças do sexo feminino,
sentidos. Ressalta-se, assim, a importância inseridos na configuração familiar nuclear,
de análises narrativas que contemplem os experimentam a função paterna, associan-
movimentos realizados pelos indivíduos no do suas vivências ao desenvolvimento do
processo de construção de sentidos. Self de suas filhas, no sentido definido por
Winnicott (1960/1990). Serão apresenta-
Palavras-chave: família, socialização de dos os casos de duas díades, pai-filha, bra-
gênero, adolescência sileiras, de nível socioeconômico médio.
Contato: Gabriela Sagebin Bordini, UFRGS, Foi realizado um encontro com cada pai e
charlestonbordini@yahoo.com.br com cada criança separadamente, utilizan-
do em ambos 5 cartões de um teste psico-
lógico projetivo (CAT-A) como instrumen-
LT05-718 - EXPERIÊNCIA PATERNA tos mediadores da comunicação. Trata-se
EM FAMÍLIAS NUCLEARES E O de uma pesquisa qualitativa em que foi
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA empregado o método Psicanalítico Win-
FILHA nicottiano, a estratégia metodológica uti-
Andressa Pin Scaglia - FFCLRP/USP, lizada foi a de “Narrativas Psicanalíticas”,
andressascaglia@yahoo.com.br como meio de propiciar o surgimento de
Fernanda K. T. Mishima - FFCLRP/USP novos pensamentos e interrogações, par-
fktmishima@srv1.ffclrp.usp.br tindo de uma participação ativa do pesqui-
Valéria Barbieri - FFCLRP-USP, sador (Aiello-Vaisberg & Machado, 2005).
valeriab@ffclrp.usp.br A criança da primeira díade tem quatro
Financiamento: FAPESP anos, a entrevista ocorreu em sua escola.
Mostra-se bastante dominadora, inicial-
A família ocupa um papel de grande im- mente afirma que sabe que verá algumas
portância no desenvolvimento emocional figuras e não vai contar como soube. Ela
da criança, é responsável por fornecer parece experimentar o processo de onipo-

665
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tência com falta de delimitações internas cuidado como uma maneira de poupá-la
que se refletem no mundo externo. Du- de frustrações: “Mesmo quando a pes-
rante a entrevista, três crianças passaram soa está certa eu não gosto que chamem
próximas à sala. Vendo-as, a participante atenção da minha filha”. A criança parece
começou a chamá-las e a provocá-las: “pe- representar um objeto narcísico, e há um
quenininhos”; “Oi pequenininho, cara de grande medo da perda do amor. Na segun-
boboca”. Ela se mostrou desinteressada da díade, a criança, também de 04 anos,
em contar histórias sobre as pranchas; a apresenta-se de maneira bastante tímida e
todo momento, pedia para que a pesqui- retraída, fala pouco. A mãe aparece como
sadora fosse com ela até sua sala e, em uma figura de autoridade proibitiva, cas-
um momento diz “eu estou brava, vamos tradora: “eu queria um cachorrinho, mas
logo!”. Ao chegar em sua sala, ela abre a minha mãe não deixa... não deixa eu fa-
porta de maneira brusca e diz gritando zer piquenique”. O seu vínculo mais forte
que viu um Leão sentado em uma cadei- é com o pai: “faço muitas coisas com meu
ra. Antes disso, entra em uma sala que não pai”, mas ela parece senti-lo como alguém
é a sua e tem a mesma atitude. O pai da que a impulsiona ora para o refúgio, ora a
primeira díade tem 32 anos, é vendedor. autonomia: “meu pai segura atrás da mi-
Inicia a entrevista de uma maneira mais nha bicicleta, mas tem hora que ele solta”.
formal e intelectualizada, postura que Assim, parece que os pais não são capazes
se dissolve ao longo do encontro. Inicia de dar holding suficiente, de maneira que
se descrevendo como um pai autoritário a menina não se sinta segura e protegida.
que exerce poder e domínio: “Sou a refe- Mostra-se frágil diante do mundo. O pai
rência da criança, sou eu quem mando, tem 41 anos, inicia o encontro afirmando
quem sabe o que é certo, basta um olhar”. que é muito prazerosa a experiência de ser
Porém, no decorrer da entrevista relata pai, mas, em seguida, aponta dificuldades
vivências que revelam uma ausência de com a filha “ela é muito insegura, muito
autoridade diante da filha que consegue tímida, alguns aspectos me preocupam
manipulá-lo e dominá-lo, a única maneira nela, como o contato com outras crian-
de controle, de imposição de limites, se dá ças”, mas na seqüência atribui que todos
de forma distorcida através do uso da ma- os problemas com a filha são, na verdade,
nipulação: “ela não gosta de colocar cinto problemáticas da esposa: “o pediatra disse
de segurança, então temos que falar que a que não deveria levar a garota em um psi-
polícia vai pegá-la para ela colocar”. Afirma cólogo, mas minha mulher procurar um”.
que a chantagem é uma maneira mais van- A esposa parece impedir que o pai tenha
tajosa e fácil de educá-la, “assim ela esque- acesso à filha, e ela é citada na maior parte
ce o que quer e faz o que eu quero”. Além da entrevista, tirando, assim, o espaço da
disso, quando impõe a autoridade o faz de garota. O pai se mostrou ambivalente dian-
maneira inconsistente “quando sou bravo te de seu papel e seus valores, fica dividido
com ela bate o maior arrependimento, daí entre uma imagem ideal de pai e a que a
eu pego ela no colo, peço desculpas, digo esposa exige: “às vezes eu preciso sair da
que não vou fazer mais; ela geralmente me minha cama para dar lugar para ela para
manda sair de perto”. Afirma ser um gran- elas dormirem confortáveis, eu acho isso
de protetor da criança e parece exercer tal horrível”. Parece não encontrar seu espaço

666
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

na família: “eu tenho a minha poltrona do figuras parentais é de suma relevância


papai na sala, mas não é cativa minha não, para o desenvolvimento emocional do
todo mundo senta” e sentir-se em dívida indivíduo (Winnicott, 1958/2000), assim,
em a esposa: “tenho muita gratidão pela é capaz de influenciar o aparecimento de
minha esposa”. Nos casos apresentados determinadas doenças e seu tratamen-
os pais parecem vivenciar a paternidade to. Uma das patologias mais difundidas
de maneira confusa e ambivalente, e os no momento atual refere-se à obesidade
significados que atribuem à paternida- infantil, um grave problema de saúde pú-
de parecem refletir no desenvolvimento blica, que atinge de 30 a 45 milhões de
de suas filhas. No primeiro caso, a garota crianças no mundo todo (Fisberg, Cintra &
mostra-se voraz e dominadora, parece que Oliveira, 2005). No Brasil, este índice é de
a experiência de onipotência sugere um aproximadamente 13% (Fisberg, 2005),
processo deficiente de desilusão, quadro sugerindo necessidade de cuidado e com-
este que vai ao encontro com a entrevista preensão da doença, para que haja trata-
do pai que parece ser dominado pela filha, mento mais efetivo. Contudo, apesar da
apresenta dificuldade para impor a autori- abrangência desta epidemia, na literatura
dade. No segundo, a garota se mostra inse- científica destaca-se a vertente biológica
gura, sugere-se um ambiente com falta de e social da obesidade, em detrimento do
holding suficiente; entrevista que também aspecto emocional envolvido na doença.
corresponde com a do pai que se mostra Em vista de tais considerações, este tra-
confuso em seu papel devido às diversas balho tem por objetivo compreender a
demandas e acaba por ao possibilitar uma dinâmica psíquica de uma criança obesa e
provisão insatisfatória para a criança. de seus pais, no intuito de se pensar acer-
ca do psicodinamismo familiar na susten-
Palavras-chave: paternidade, tação desta patologia. Para tanto, será
desenvolvimento emocional, Winnicott apresentado um estudo de caso de um
Contato: Andressa Pin Scaglia, FFCLRP-USP, menino, Felipe, de 09 anos, sua mãe, de
andressascaglia@yahoo.com.br 46 anos e seu pai, de 36 anos. As sessões
realizadas foram individuais, usando-se
entrevista semiestruturada, aplicação do
LT05-721 - PSICODINAMISMO FAMILIAR Desenho da Figura Humana (DFH) e do
E PATOLOGIA INFANTIL Teste de Apercepção Temática, nas formas
Andressa Pin Scaglia - FFCLRP/USP adulto e criança (forma animal – CAT-A).
andressascaglia@yahoo.com.br Os dados advindos destas técnicas foram
Fernanda K. T. Mishima - FFCLRP/USP interpretados segundo método da livre
fktmishima@ffclrp.usp.br inspeção de Trinca (1984), de acordo com
Valéria Barbieri - FFCLRP/USP referencial psicanalítico winnicottiano.
valeriab@ffclrp.usp.br Felipe, 9 anos, apresentava como princi-
pal queixa a obesidade e a dificuldade em
A compreensão da patologia infantil en- perder peso, sentindo-se desanimado a
volve diversos aspectos, em especial, a cada tentativa e insucesso do tratamento
dinâmica familiar em que a criança vive. para emagrecer. Tem um irmão mais ve-
A qualidade do ambiente oferecido pelas lho, de 12 anos; ambos os pais trabalham

667
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fora, permanecendo pouco tempo com os para eles na realidade compartilhada. Os


filhos. A mãe relatou que a gestação foi pais apresentaram conflito em relação à
conturbada, por discutir muito com seu sexualidade, permanecendo em um vín-
marido nesta época. Ela não amamentou culo de dependência mãe-filho, como
a criança no peito, porque não tinha lei- forma de suprir as necessidades que não
te, o pai complementou que foi ele quem foram satisfeitas pelos próprios pais. Com
amamentou o filho, dando-lhe mamadei- isso, houve comprometimento na rela-
ra. Os pais reclamaram do temperamento ção atual com o filho, sugerindo que eles
de Felipe, dizendo que ele era explosivo, se identificaram com as próprias figuras
exigente e inconstante (“ora água, ora vi- parentais, repetindo a mesma dinâmica:
nho” – fala do pai). A mãe parece exer- oferta do material em detrimento do afe-
cer o papel materno não apenas com os tivo. Assim, a criança passa a buscar algo
filhos, mas com o marido também; ela concreto como solução para a ansiedade
demonstrou autoridade, dominância e gerada pela falta de afeto, recorrendo
controle, com receio de cometer erros e à ingestão excessiva de alimento. Esta
ser julgada (culpou a sogra e a babá pelo busca não abranda a ansiedade e não
excesso de peso de Felipe). O pai parece satisfaz, gerando sentimento de solidão.
não ter muito espaço para expressar suas Este sentimento também apareceu na
opiniões, busca a aprovação da mulher e dinâmica dos pais, que buscam amenizá-
se retrai para dar lugar à figura materna. -lo mostrando-se ideais e corretos, como
O funcionamento psicodinâmico de Fe- figuras que devem ser muito idealizadas
lipe e seus pais são semelhantes no que e perfeitas, o que aumenta a exigência
se refere à carência de uma figura capaz consigo próprios e com os filhos. Dessa
de suprir a dependência para, assim, maneira, exigem que Felipe seja respon-
proporcionar a autonomia e expressão sável e independente, mas sem terem
de um estilo pessoal de ser. Houve sinais oferecido a sustentação emocional su-
da vivência de um ambiente que não foi ficiente para se chegar a essa capacida-
suficientemente bom, incapaz de prover de. Ao colocar o outro como inatingível
e sustentar emocionalmente. A deficiên- e perfeito, distanciam-no da realidade,
cia afetiva faz com que eles recorram à intensificando o sentimento de solidão e
racionalidade, valorização do intelectual de não pertencimento familiar, como se
e concretude. Os pais oferecem para Fe- não houvesse um lugar próprio para eles.
lipe o cuidado material em detrimento do Felipe demonstrou prejuízo na expressão
afetivo, valorizando seu desenvolvimento do gesto espontâneo, permanecendo
intelectual no lugar do emocional. Houve preso na concretude e no sentido que o
sinais de dificuldade de integração do afe- alimento tem: amenizar a ansiedade ad-
to e razão, com prejuízos à capacidade de vinda da lacuna afetiva. Pensando em tais
expressão da criatividade e espontanei- considerações, é possível assinalar que as
dade. Os três fazem uso do funcionamen- características dos membros familiares
to falso self como forma de se adaptar ao estão inter-relacionadas, fazendo sentido
ambiente externo, mas que acaba por ge- se compreendidas no todo. A dinâmica
rar sentimento de vazio, inutilidade e futi- psíquica apresentada pelos pais e pela
lidade, como se não houvesse um espaço criança influencia a maneira como esta se

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

relaciona com o objeto externo, em espe- e a cultura. Considerando que a família é a


cial, o alimento, e o uso que é feito deste base para a promoção do desenvolvimen-
objeto. Deve-se ressaltar a raridade de to das crianças, as famílias com crianças
estudos que abarcam o ambiente familiar que apresentam algum tipo de deficiência
na patologia infantil, dando destaque ao requerem uma atenção especial, na medi-
fato de que, ao compreender o psicodina- da em apresentam necessidades diferen-
mismo familiar que envolve a obesidade, tes e especiais. Para alcançar níveis satis-
seu tratamento pode ser mais efetivo, fatórios de adaptação à situação da defici-
pois, assim, pode-se trabalhar com o sen- ência, estas famílias demandam maior su-
tido que a patologia tem para a família e porte, cuidado, informação e acolhimen-
o uso do alimento para a vida da criança. to, sobretudo no que tange às tarefas de
Além disso, ao envolver toda a família, desenvolvimento familiar. A literatura tem
esta se responsabiliza pelo cuidado e é mostrado que um dos fatores de proteção
capaz de auxiliar a criança, para que não para as famílias que têm crianças com de-
haja tanto sofrimento com o insucesso de ficiência é a composição e a qualidade da
outros tratamentos realizados. rede social de apoio. Neste contexto, os
programas de intervenção familiar consti-
Palavras-chave: criança, obesidade, família tuem fonte poderosa de apoio às famílias,
Contato: Andressa Pin Scaglia, FFCLRP-USP, sobretudo quando eles são fundamenta-
andressascaglia@yahoo.com.br dos no modelo centrado nas famílias. Sob
essa perspectiva, as famílias deixam de ser
vistas como passivas e dependentes das
LT05-823 - SERVIÇOS DE ATENÇÃO orientações profissionais para serem con-
A FAMÍLIAS DE CRIANÇAS COM sideradas ativas. Seus conhecimentos e
DEFICIÊNCIA: A PERSPECTIVA DE habilidades são realçados em uma relação
FAMILIARES E PROFISSIONAIS de parceria e não mais de dependência,
Simone Cerqueira-Silva - IESB na qual são desenvolvidos lideranças e ci-
simone.cerqueira@iesb.br dadãos críticos. Apesar de haver reconhe-
Maria Auxiliadora Dessen - UnB cimento, na literatura, da importância da
dessen@unb.br família para os programas de intervenção,
Financiamento: CAPES a sua participação no âmbito dos atendi-
mentos e das políticas públicas tem sido
O suporte familiar e as competências de limitada. O primeiro passo para a adoção
cada membro da família são importantes bem sucedida de modelos centrados na
recursos que influenciam o modo como a familia é a identificação, descrição e ava-
criança lida com a sua deficiência, tendo liação dos atuais serviços e atendimentos
um impacto significativo sobre o seu ajus- às crianças com deficiência e suas famílias.
tamento. Independente da condição so- Assim, este estudo investigou os serviços
cial, econômica e do nível educacional da oferecidos e os atendimentos dirigidos às
família, são os genitores que transmitem famílias, na perspectiva de crianças com
valores, crenças e práticas que são inte- deficiência, de suas famílias e dos profis-
riorizados pelos filhos, atuando como um sionais de instituições de atendimento.
elo que intermedeia e integra o indivíduo Participaram da pesquisa 16 famílias (16

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mães, 12 pais, 10 irmãos e 16 crianças) e riências (n=9). Quanto aos aspectos nega-
26 profissionais (16 especialistas de equi- tivos, os especialistas das equipes técnicas
pes técnicas, 5 coordenadores de equipes disseram, principalmente, que os serviços
técnicas e 5 diretores de instituições de e atendimentos familiares não eram prio-
atendimento às crianças com deficiên- ritários no cronograma de trabalho das
cia), de duas localidades brasileiras: uma instituições (n=3), e as famílias avaliaram
capital (Distrito Federal) e uma cidade do que eles eram insuficientes (n=10), pois as
interior do Estado de São Paulo. Dessas mães ficavam ociosas e não eram atendi-
famílias, 7 tinham filhos entre 4 e 6 anos das em suas necessidades (n=3). As famí-
de idade, com diferentes deficiências: lias desejavam que os diferentes tipos de
auditiva (n=3), múltipla (n=2), intelectual intervenções já oferecidos pelas institui-
(n=1) e física (n=1); e 9 tinham filhos com ções fossem sistematizados/regulares, em
idades acima de 6 anos, com diferentes horários flexíveis, com melhores profissio-
deficiências: auditiva (n=1), intelectual nais, e que envolvessem, inclusive, pais e
(n=3), física (n=3) e visual (n=2). Para a co- irmãos da criança. As crianças, por sua vez,
leta de dados foram realizadas entrevistas manifestaram o desejo de que seus pais
semiestruturadas (individuais) com todos pudessem participar mais dos seus aten-
os participantes e seu roteiro incluía ques- dimentos. Os resultados indicaram que,
tões relativas à caracterização, avaliação mesmo sendo diversificados, os serviços e
e experiências com os serviços e atendi- atendimentos familiares ainda eram cen-
mentos familiares. A análise qualitativa trados na promoção do desenvolvimento
das entrevistas foi realizada com base em da criança e não da família. Portanto, os
um sistema de categorias desenvolvido de serviços e atendimentos oferecidos às fa-
acordo com os procedimentos propostos mílias NE ainda estão embasados muito
para gerar sistemas integrados de cate- mais em um modelo centrado nos profis-
gorias, possibilitando a quantificação das sionais do que em um modelo centrado
categorias. Os resultados mostraram que na família. Apesar das contribuições que
os atendimentos oferecidos às famílias essas intervenções têm tido para os fami-
eram, na sua grande maioria, esporádicos liares, nota-se que o desconhecimento da
e informais (orientações sem uma regu- literatura que subsidia esses trabalhos in-
laridade para acontecer), principalmente cide em prejuízos para as instituições, os
individuais (basicamente psicoterapia de familiares e suas crianças. Considerando
apoio) ou em grupo (restritos às reuniões as lacunas identificadas faz-se necessá-
de pais). Já os serviços oferecidos refe- rio envidar esforços para a melhoria da
riam-se às atividades educativas e profis- qualidade das intervenções familiares, de
sionais (n=30), às confraternizações (n=9) modo que programas centrados nas famí-
e às atividades físicas (n=7). As avaliações lias possam ser, de fato, implementados
dos profissionais e dos familiares apon- na realidade brasileira.
taram alguns aspectos positivos como as
orientações/informações sobre as rela- Palavras-chave: família, crianças com
ções parentais, a deficiência e o desenvol- deficiência, intervenção familiar
vimento da criança (n=22), bem como o Contato: Simone Cerqueira da Silva, IESB,
apoio emocional (n=11), e a troca de expe- simone.cerqueira@iesb.br

670
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-843 - FAMÍLIA E DEFICIÊNCIA xão a respeito das implicações do estresse


INTELECTUAL: PESQUISAS SOBRE em famílias de pessoas com deficiência in-
ESTRESSE, ESTRATÉGIAS DE telectual focalizando: as estratégias utiliza-
ENFRENTAMENTO E APOIO SOCIAL das pelos genitores e o tipo e qualidade do
Larissa Dias de Oliveira - UFJF apoio social recebido. O estresse parental
larissa.dias83@yahoo.com.br é um dos acometimentos psicológicos mais
Nara Liana Pereira-Silva - UFJF frequentemente descritos pela literatura
naraliana.silva@ufjf.edu.br como tendo implicações importantes para
as interações e relações familiares e, con-
A família constitui o primeiro universo de sequentemente, para o desenvolvimento
relações da criança, podendo proporcio- dos membros familiares. A literatura apon-
nar-lhe um ambiente que promova ou não ta para o fato de os genitores de crianças
um desenvolvimento adequado e saudá- com DI apresentarem níveis mais altos de
vel. De acordo com a visão sistêmica, o estresse quando comparados com o grupo
nascimento de uma criança com deficiên- de genitores de crianças sem deficiências.
cia é uma experiência única para o grupo Entretanto pouco se conhece do estresse
familiar, trazendo implicações para o de- parental em famílias de adolescentes com
senvolvimento do grupo, bem como para DI. Estudos indicam que o estresse mater-
cada um de seus membros individualmen- no tende a aumentar ao longo do tempo,
te. Trata-se de uma experiência inesperada enquanto o estresse paterno permanece
que acarreta mudanças na dinâmica e fun- estável. Outras investigações apontam que
cionamento familiar, o que já vem sendo o estresse materno e paterno apresenta-
mostrado pela literatura. As expectativas ram relação positiva, ou seja, quanto maior
dos genitores, também, podem ser afeta- o estresse do pai maior o estresse da mãe.
das pelo nascimento de um filho com defi- Parece, portanto, não haver tanto consen-
ciência, tendo implicações no modo como so na literatura, indicando a necessidade
estes vão lidar com as demandas de criação de mais estudos nessa área. Não há dúvi-
do filho. A importância do tipo de relação das, portanto, que os genitores de pessoas
estabelecida entre a criança com deficiên- com deficiências representam uma popula-
cia intelectual (DI) e os membros familiares ção que tende a manifestar mais sintomas
tem sido tema bastante ressaltado pela de estresse e, por isso, necessitam de mais
literatura. Entretanto, há um foco mais atenção dos profissionais de saúde, so-
frequente sobre as interações e relações bretudo dos psicólogos, para que possam
mãe-bebê/criança com DI em detrimento desenvolver estratégias de enfrentamento
das relações com adolescentes e adultos adequadas. O que os estudos vêm mos-
e daqueles entre estes membros e o pai e trando sobre as estratégias utilizadas pelos
o irmão. Observa-se, atualmente, um au- genitores para o enfrentamento de situa-
mento de estudos com estes membros, es- ções estressantes, nessas famílias? A litera-
pecialmente no contexto brasileiro nos úl- tura apresenta um quadro não muito ani-
timos anos. Dada à importância da família mador das estratégias de enfrentamento
para o desenvolvimento do indivíduo com dessas famílias, o qual é caracterizado por
deficiência intelectual, o presente trabalho estratégias mal adaptativas, incluindo sen-
tem o objetivo de proporcionar uma refle- timentos de culpa, hostilidade, agressão e

671
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

evitação. Contudo, o suporte social pode mães durante os anos de adolescência dos
ser uma dessas estratégias que auxiliam na filhos com DI? As estratégias de enfrenta-
adaptação às circunstâncias estressantes. A mento são diferentes para pais e mães de
rede de apoio e os serviços disponibilizados adolescentes? Quais são as características
para tratamento e acompanhamento de da rede social de apoio dessas famílias com
pessoas com deficiência parecem favore- adolescentes? Essas são algumas das lacu-
cer a adaptação da família, a qual necessita nas que podem ser discutidas e aprofunda-
ser atendida com recursos e profissionais das em planejamentos de pesquisa, contri-
adequados. Estudos apontam que essas buindo para a geração de dados empíricos
famílias possuem um menor número de que subsidiem o planejamento de progra-
pessoas suportivas, existindo uma relação mas dirigidos a essas famílias.
negativa entre estresse e suporte social,
isto é, quanto maior se apresenta o nível Palavras-chave: estresse, deficiência
de estresse, menor é o número de pesso- intelectual, família
as suportivas na rede social das famílias. O Contato: Larissa Dias de Oliveira, UFJF, larissa.
estresse, as estratégias de enfrentamento dias83@yahoo.com.br
e a rede social de apoio são variáveis que
estão inter-relacionadas e, devido a isso,
há necessidade de se ampliar os estudos LT05-852 - CONTINUIDADES E
para que se possa aprofundar o conheci- DESCONTINUIDADES NAS RELAÇÕES
mento sobre o funcionamento de famílias FAMÍLIA-ESCOLA NA TRANSIÇÃO
com pessoas com deficiência intelectual, DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O
utilizando uma metodologia adequada que ENSINO FUNDAMENTAL: CONCEPÇÕES
possa captar a complexidade do fenôme- DOCENTES
no. É importante que as pesquisas envol- Keila Hellen Barbato Marcondes - UNESP
vam outros membros do sistema familiar, keilamarcondes@yahoo.com.br
como os pais, já que homens e mulheres Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo - UNESP
reagem de maneiras diferentes ao estresse, sigolo@yahoo.com.br
além dos níveis de estresse paterno e ma- Financiamento: CNPq
terno estar associado a fatores diferentes
relacionados aos filhos. A escassez de estu- O presente estudo é parte integrante da
dos com a população adolescente e adulta, tese de doutoramento denominado “Tran-
sobretudo com síndrome de Down, espe- sição da educação infantil para o ensino
cificamente, no Brasil, é outra dificuldade fundamental de nove anos: trajetórias de
encontrada. Não há como negar os efeitos escolarização”. A transição entre esse dois
de se ter um adolescente com DI na família níveis de ensino mostra-se um momen-
e os desafios a que esta enfrenta (Bastos & to de grande importância na trajetória de
Deslandes, 2008, 2009; Cunningham, 1996; escolarização das crianças, por se tratar de
Douma, Dekker & Koot, 2006). Quais são as uma situação na qual podem ocorrer conti-
tarefas de desenvolvimento típicas dessa nuidades e/ou descontinuidades, especial-
fase do ciclo vital, para essas famílias? Ao mente quando há uma alteração de políti-
longo do tempo, o estresse tende a aumen- cas educacionais, como a implementação
tar? Quais os níveis de estresse de pais e do ensino fundamental de nove anos. Essa

672
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ampliação prevê a entrada das crianças fessoras das últimas etapas da educação
com seis anos no primeiro ano desse nível infantil de duas escolas e seis docentes dos
de ensino, o qual passa a ter duração de primeiros anos do ensino fundamental de
nove anos. Com essa ampliação novas con- outras duas escolas. A coleta de dados foi
figurações passam a existir, mudanças de realizada por meio de entrevistas semies-
práticas pedagógicas, de tempos, espaços e truturadas, observações das reuniões de
de relações interpessoais. Para a realização pais e situações cotidianas de contato en-
dessa pesquisa adotou-se como respaldo tre famílias e docentes. Com as professoras
teórico-metodológico a perspectiva bioe- da educação infantil a coleta foi realizada
cológica de Bronfenbrenner (1997, 1999), em 2009 e com as professoras do ensino
a qual possibilita a realização de estudos fundamental no ano de 2010. Para a aná-
que visam analisar fenômenos do desen- lise de dados, foram realizadas leituras das
volvimento humano em sua complexidade transcrições das entrevistas e das notas de
analisando as trajetórias individuais, mas diário de campo, em seguida o levanta-
sem deixar de compreender os contextos mento dos temas abordados pelas docen-
macros onde os indivíduos estão inseridos. tes, finalizando com a redação das análises
O desenvolvimento, nessa perspectiva, é (BIASOLI-ALVES, 1998; BOGDAN; BIKLEN,
concebido como o produtor e o produto 1991). Os dados preliminares foram dividi-
dos processos de interação - que devem ser dos em quatro categorias definidas como:
recíprocos - entre o ser humano biopsicolo- Comunicação na educação infantil, Envol-
gicamente ativo e os múltiplos contextos, vimento familiar na educação infantil, Co-
sendo necessário que esse desenvolvimen- municação no ensino fundamental e envol-
to ocorra através do tempo. Destaca-se vimento familiar no ensino fundamental.
para esse estudo, a afirmação que Bronfen- As categorias foram construídas baseadas
brenner (1997) faz sobre a importância do nos estudos de Bhering e Siraj-Blachtford
estabelecimento de comunicação entre os (1999), Bhering e De Nez (2002) e Bhering
contextos em que o indivíduo em desenvol- (2003). Os dados advindos da educação in-
vimento é ativo, destacando a importância fantil e do ensino fundamental foram trian-
dos sujeitos (responsáveis e docentes) se gulados, ou seja, buscaram-se as continui-
envolverem em ambos os contextos, de- dades e descontinuidades referentes às
senvolvendo a confiança mútua e o con- categorias desenvolvidas. A análise inicial
senso de objetivos. O que esta afirmação permite-nos somente apresentar resulta-
salienta é a importância da interação en- dos preliminares da pesquisa. Em relação
tre família-escola, que se apresenta como à comunicação, pode-se afirmar que há
um fator positivo para o desenvolvimento diferenças nas formas destas ocorrerem
infantil. Diante desse cenário, o presente nas duas instituições educacionais. Nas ins-
estudo tem como objetivo analisar as con- tituições de educação infantil, os contatos
tinuidades e descontinuidades das relações dos responsáveis ocorrem diariamente no
estabelecidas entre a escola e a família em momento de entrada e saída das crianças.
uma situação de transição da educação Estes entram na instituição para buscar as
infantil para o ensino fundamental. A pes- crianças, momento em que há troca de in-
quisa ocorre em uma cidade do interior de formações sobre os acontecimentos do dia.
São Paulo, tendo como sujeitos quatro pro- Já no ensino fundamental, nesses momen-

673
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos, os responsáveis são impedidos de en- sendo a alteração da posição da pessoa em


trarem na escola, aguardando as crianças desenvolvimento, resultando em mudança
do lado de fora. Alguns responsáveis, quan- de papel, ambiente ou ambos, tal descon-
do necessitam com urgência conversar com tinuidade mostra-se preocupante. De acor-
a docente adentram o ambiente, mas não é do com o autor, para que a transição seja
uma prática comum. As reuniões entre pais efetiva para a criança em desenvolvimento,
e mestres se constituem em uma das prin- é importante que haja apoio e participação
cipais formas de comunicação entre os dois de pessoas significativas neste processo, o
ambientes, não havendo muitas diferen- que não foi constatado. Assim, há que se
ças entre os dois níveis de ensino no que refletir sobre as possíveis estratégias a se-
se refere à dinâmica da realização desses rem adotadas, buscando estabelecer uma
encontros. Centram-se em informes rela- continuidade entre as formas da família e
cionados ao comportamento das crianças, escola se relacionar, estabelecendo assim
seu desempenho acadêmico e o pedido uma interconexão que seja benéfica para o
de auxílio para a instituição. Em relação ao desenvolvimento das crianças.
envolvimento dos responsáveis com a es-
colarização da criança, destacaremos nes- Palavras-chave: transição escolar, perspectiva
se momento, somente a participação dos Bioecológica, relação família-escola
responsáveis nas festividades promovidas Contato: Keila Hellen Barbato Marcondes,
pela escola. Há uma participação maior dos UNESP, keilamarcondes@yahoo.com.br
responsáveis na educação infantil, uma vez
que a instituição sempre estende o convite
aos pais, diferentemente do ensino funda- LT05-916 - APEGO E SUPORTE SOCIAL
mental, que raramente convida os respon- PERCEBIDOS POR MÃES DE CRIANÇAS
sáveis. As docentes da educação infantil COM DERMATITE ATÓPICA
destacam em seus depoimentos que a es- Tatiana Helena José Facchin - PUCRS
cola está sempre à disposição da comunida- tatyhelena@yahoo.com.br)
de, seja para participarem das festividades Helena Diefenthaeler Christ - PUCRS
ou para conversarem sobre a evolução das helenachrist@hotmail.com)
crianças, já as professoras do ensino fun- Bruna Ferreira - PUCRS
damental afirmam que mantêm o contato brufernandes1@hotmail.com)
com os responsáveis, já que acham essa in- Deise Fonseca Fernandes - PUCRS
terconexão essencial, mas que essa relação deise.ff@hotmail.com)
deve ser controlada e somente realizada Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS
em horários especificados pela escola. O ggauer@pq.cnpq.br)
que se pode concluir é que há diferenças Financiamento: CNPq, CAPES e Pró-bolsa
entre as relações entre família e escola em
cada um dos níveis de ensino pesquisados, A Dermatite Atópica (DA) ou eczema é
mostrando uma descontinuidade dessas uma doença de pele que acomete entre
relações. Tendo em vista que a passagem 10 a 20% da população mundial, sendo
da educação infantil para o ensino funda- mais prevalente em crianças. Esta derma-
mental é uma transição ecológica, a qual é tose se caracteriza pela presença de epi-
definida por Bronfenbrenner (1997) como sódios cíclicos de prurido, com alterações

674
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

imunológicas cutâneas que causam infla- ponto importante a ser destacado é a re-
mação. Ocorre com mais freqüência em lação entre suporte social e níveis de es-
famílias em que há rinite alérgica, asma tresse, na qual este também atua como
e alergia alimentar, e em países indus- fator protetivo nas situações estressoras
trializados (Alvarenga & Caldeira, 2009; “quando as medidas de suporte estão
Ricci et al., 2009; Myssior et al., 2008). relacionadas com a disponibilidade per-
Quando um membro do sistema familiar cebida de recursos interpessoais que res-
está acometido por DA é comum que esta pondem às necessidades presentes nos
instituição passe por uma reorganização, eventos estressantes” (Matsukura, et al.,
especialmente por se tratar de uma do- 2002). As configurações familiares que,
ença crônica cuja etiopatogenia não é além da mãe, contam com a presença
conhecida, mas entende-se que alguns e auxílio de outros adultos favorecem a
fatores, tais como mudanças climáticas, maternidade e o desenvolvimento infan-
alimentação e situações emocionais po- til, especialmente quando o pai é a figura
dem desencadear novas crises que ten- presente, pois este também compartilha
tam ser evitadas pela família (Ferreira, et com a esposa a responsabilidade da cria-
al., 2006). Os cuidadores de crianças com ção, incluindo êxitos e fracassos. Estudos
alguma enfermidade são expostos a uma realizados constataram a existência de
grande quantidade de eventos estresso- uma relação positiva entre a presença do
res. O impacto da doença pode alterar re- pai e o cuidado maior da mãe pelo filho,
lações conjugais, reduzir a capacidade de favorecendo o desenvolvimento infantil
os pais manterem um adequado suporte saudável (Piccinini et al., 2007; Motta et
social à criança e aos demais membros da al., 2005). Outro fator relevante para o de-
família (Kohlsdorf & Costa Júnior, 2008). senvolvimento adequado da criança diz
O apoio social serve como moderador respeito ao apego. Para Montagu (1988)
da relação entre problemas de compor- o contato físico é fundamental para o
tamento e o estresse parental. Não obs- crescimento do bebê, evidenciando a re-
tante, observa-se que quanto maior é o lação entre pele e apego. Anzieu (1989)
apoio social percebido, menor é o estres- afirma que a pele e o toque são bastan-
se relacionado a sobrecarga emocional te importantes para o desenvolvimento
pelas mães. Também constatou-se que os do aparelho psíquico do infante. Assim,
cuidados da mãe consigo, a autoconfian- Piccinini et al. (2007) referem sobre a im-
ça, a busca de lazer e realização pessoal portância de que os pais respondam com
atenuam o estresse materno relacionado afeto e sensibilidade ao comportamento
a doença do filho (Bellé et al., 2009), pro- do filho, a fim de favorecer a formação
piciando uma melhor qualidade de vida. do apego e seu desenvolvimento sócio-
A existência ou não de suporte social -emocional. O apego representa a pro-
está diretamente relacionado a presen- pensão de os seres humanos construírem
ça ou ausência de diversas doenças. O “fortes vínculos afetivos com outros e de
prognóstico de quem está doente é me- explicarem as diferentes formas de cons-
lhor quanto maior for seu suporte social. ternação emocional que ocorrem quan-
Assim, pode-se conceber o suporte social do da separação ou perda involuntárias
como um fator protetor à saúde. Outro do outro, é construído a partir do proces-

675
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

so de interação entre o bebê e o círculo mento: Qualitativo, descritivo e explora-


maternante” (Piccinini, et al, 2001). Do tório. Instrumentos: Questionário de da-
ponto de vista evolucionista, o sistema dos sócio-demográficos, Questionário de
de apego aumenta as chances de sobre- Suporte Social (SSQ) (Matsukura, et al.,
vivência do bebê por permitir ao cérebro 2002) e Escala de Apego Adulto de Collins
imaturo da criança a utilização do funcio- (EAA) (Silva, 2008). Procedimentos: Após
namento maduro de seus pais, a fim de leitura e assinatura do Termo de Con-
atender suas necessidades vitais. O vín- sentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a
culo materno adequado é crucial para o pesquisadora aplicará individualmente
surgimento do apego seguro, o qual ne- os instrumentos supracitados. Os dados
cessitará da retro-alimentação do com- serão digitados no Programa SPSS 17.0
portamento do bebê (Motta et al., 2005; e será realizada uma análise descritiva
Pio, 2007). Filhos de mães mais sensíveis na qual serão avaliadas as freqüências,
e responsivas tendem a ter um apego médias e desvios padrões das variáveis
seguro, caracterizado pela confiança na em estudo através do Qui-quadrado e
disponibilidade emocional e responsivi- correlação de Spearman. Outros testes
dade materna, bem como na promoção paramétricos e não paramétricos serão
de uma orientação positiva e confiante utilizados conforme a situação a ser ana-
da criança em relação à mãe, ao mundo lisada. Procedimentos éticos: Este estudo
e a si mesma. Entretanto, quando o bebê está aprovado pelo Comitê de Ética em
recebe cuidados com pouca sensibilida- Pesquisa da PUCRS sob o número CEP
de e baixa responsividade materna, ele 11/05428. Resultados: Neste momento
tende a desenvolver um apego inseguro, as participantes estão sendo recrutadas
o qual representa uma falta de confian- nos serviços. As entrevistas ocorrerão
ça na disponibilidade emocional da mãe no mês de julho do presente ano. Desta
e acarreta em uma atitude negativa e forma, os resultados são esperados até
pouco confiante em relação à genitora, o mês de setembro de 2011. Conclusão:
ao mundo e a si mesmo (Piccinini et al., Este estudo encontra-se em andamento,
2007; Motta et al, 2005). Percebe-se a portanto, não há conclusões até o pre-
importância do apego e do suporte social sente momento.
como fatores protetivos à saúde tanto
da mãe quanto da criança. Desta forma, Palavras-chave: Apego; Suporte Social; Mães.
este trabalho se propõe a avaliar o apego Contato: Tatiana Helena José Facchin –
e o suporte social percebido por mães de Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
crianças com DA. Método. Amostra: Será do Sul (PUCRS). tatyhelena@yahoo.com.br.
composta por 6 mães com idade entre
18 a 60 anos, com escolaridade mínima
de 5ª série do ensino fundamental, com
filhos portadores de DA entre 6 anos a 9
anos 11 meses e 29 dias. Local: Ambula-
tório de Dermatologia Sanitária de Porto
Alegre e Ambulatório de Dermatologia
do Centro Clínico Santa Marta. Delinea-

676
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-942 - O IMPACTO DO CUIDADO tes do estresse e da sobrecarga. A Políti-


PARA FAMILIARES DE IDOSOS COM ca Nacional da Saúde do Idoso define o
DOENÇA DE ALZHEIMER: AVALIAÇÃO termo cuidador como a pessoa, podendo
DA SOBRECARGA, QUALIDADE DE VIDA, ser membro familiar ou não, que, com ou
DEPRESSÃO E ANSIEDADE VERSUS A sem remuneração, cuida do idoso doente
CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO ou dependente no exercício das suas ativi-
Sara Salsa Papaleo - UFRN dades diárias, tais como alimentação, hi-
sara_papaleo@hotmail.com giene pessoal, medicação de rotina, acom-
Luana Cristina Andrade - UFRN panhamento aos serviços de saúde ou ou-
luana.cris@globo.com tros serviços requeridos no cotidiano. No
Beatriz Mosca Rivera - UFRN entanto, os estudos revelam que 80% dos
biarivera@hotmail.com cuidadores de idosos são membros da fa-
Caroline Araújo Lemos-Ferreira - UFRN mília do paciente, tendo em vista o valor
k_rollemos@hotmail.com cultural de cuidado e proteção atribuído
Eulália Maria Maia - UFRN à família. Portanto, a sociedade, historica-
eulália.maia@yahoo.com.br mente, responsabiliza a família pelos cui-
dados prestados ao idoso, mas, atualmen-
Atualmente, são conhecidos vários tipos te, não a instrumentaliza adequadamente
de demências, dando-se destaque para para realizar tal cuidado. A atenção ao cui-
a Doença de Alzheimer (DA) visto que dador familiar do idoso com DA tem sido
representa entre 60% e 70% do total de cada vez mais reconhecida como forma de
demências. Trata-se de uma doença neu- promoção da saúde do idoso e prevenção
rodegenerativa progressiva e irreversível, de agravos e da manutenção da saúde do
heterogênea nos seus aspectos etiológi- cuidador. Neste sentido, este estudo teve
cos, clínico e neuropatológico, e se carac- como objetivo geral caracterizar os cuida-
teriza por um declínio funcional progres- dores de idosos com Doença de Alzheimer
sivo e perda da autonomia, ocasionando (DA) atendidos no Centro Especializado na
a necessidade de constantes e complexos Atenção à Saúde do Idoso (CEASI), no mu-
cuidados, o que impõe tanto um desgaste nicípio de Natal/RN; além dos objetivos
para o próprio paciente quanto sobrecar- específicos de: Avaliar a capacidade fun-
ga e estresse aos familiares e/ou cuida- cional destes idosos com DA; avaliar a so-
dores. Tais cuidados exigem dedicação, brecarga e a qualidade de vida dos cuida-
às vezes, total do cuidador, conduzindo a dores destes idosos; avaliar ainda os níveis
uma sobrecarga emocional, que somada de depressão e ansiedade nesses cuidado-
aos sintomas neuropsiquiátricos, é fonte res. Participaram do estudo 31 cuidadores
de estresse e prejuízos na saúde e na qua- familiares de idosos com DA, voluntários,
lidade de vida do cuidador, comprometen- de ambos os sexos, triados dentre outras
do sobremaneira sua integridade física, modalidade de cuidadores como os “cui-
mental e social, sendo fontes de sofrimen- dadores remunerados” ou “cuidadores
to e de morbidade. Especialmente quan- secundários”. Foi utilizada a técnica da
do esse cuidador é o(a) companheiro(a) entrevista estruturada em situação indivi-
do idoso, ou seja, também um idoso, mais dual, aplicando-se além de um questioná-
vulnerável às doenças crônicas decorren- rio semiestruturado, contendo questões

677
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sócio-demográficas, as Escalas de Katz, os cônjuges e entre os indivíduos com o


de Lawton e de Qualidade de Vida; o ins- nível superior completo, assim como alto
trumento de Avaliação da Sobrecarga dos índice de depressão entre esses últimos,
Cuidadores; o Inventário de Depressão de os cuidadores viúvos e idosos (acima de
Beck e o Inventário de Ansiedade de Beck. 60 anos). O maior índice de sobrecarga do
No período de maio a julho de 2009 foi cuidado, no entanto, foi dos cuidadores
realizado um estudo-piloto com 7 cuida- que são filhos dos idosos. É importante
dores de idosos atendidos no CEASI, com salientar que para além dessas caracterís-
o objetivo de verificar a aplicabilidade dos ticas, muitas outras variáveis situacionais
instrumentos. Em seguida iniciou-se a podem influenciar nesses índices, trata-
coleta de dados propriamente dita, pros- -se de indicativos gerais. Não obstante,
seguindo de Agosto de 2009 à Janeiro de os estudos indicam possibilidades para a
2010. Os dados obtidos foram organizados minimização do impacto do cuidado para
com auxílio do Programa Microsoft Excel e o cuidador, como o suporte social, o enga-
processados através do programa SPSS for jamento em atividades da comunidade e
Windows, versão 10.0. Os dados do pre- participação em grupos de apoio, ou ou-
sente estudo corroboram com grande par- tras variações como terapia familiar, tera-
te dos estudos encontrados na literatura pia individual, ou intervenções psicoedu-
a respeito das características sócio-de- cacionais que possam ajudar ao cuidador
mográficas do cuidador familiar do idoso no enfrentamento nessa situação de crise.
com Alzheimer, visto que apontam que o Para tal, é necessário que os profissionais
cuidado é realizado, predominantemente, de saúde estejam aptos a prover suporte
pelas mulheres, esposas e filhas do pacien- adequado a esses cuidadores, planejando
te, com idade média entre 50 e 65 anos. junto a eles intervenções para melhorar a
Com relação às implicações do cuidado, qualidade de assistência aos envolvidos
o nível de dependência do paciente, ou na tarefa, com o objetivo de minimizar
seja, as dificuldades em realizar as AVDs, problemas tanto para pacientes, quanto
mostraram-se importantes na avaliação para cuidadores, visando à promoção da
do impacto no cuidador, pois na medida saúde e bem-estar para ambos. Percebe-
em que a doença evolui e a necessidade -se a crescente necessidade de investi-
de cuidados aumenta, ocorre também o mentos em políticas públicas para cons-
aumento da sobrecarga para o cuidador, e truir e manter redes de suporte a idosos e
conseqüentemente aumenta a percepção a cuidadores, de modo manter o idoso em
das dificuldades encontradas. O cuidar en- seu ambiente domiciliar, oferecendo um
volve a necessidade de abdicar de muitos suporte à família e especialmente aos cui-
pontos em sua vida em prol do outro - fato dadores. Uma vez estabelecida essa rede
que pode levar também a um risco subs- de atenção ao cuidador do idoso com DA,
tancial de adoecimento pessoal e familiar. oferecendo apoio institucional, material
No presente estudo, os cuidadores apre- e emocional, eles poderão exercer o cui-
sentaram elevados índices de depressão e dado e permanecer inseridos socialmente
ansiedade, relacionados a uma moderada sem imobilizar-se pela sobrecarga, oriun-
sobrecarga para esse cuidador. Observou- da da exigente atenção ao doente depen-
-se baixo índice de qualidade de vida entre dente. Vale salientar ainda que delegar à

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

família a função de cuidar necessita de ças que vem a influenciar novas fases da
clareza sobre a estrutura familiar, o tipo vida de um individuo, e por sua vez, em
de cuidado a ser executado, o tempo ne- toda a família. Os modelos de planeja-
cessário, as características da doença e o mento familiar típicos deixam de conside-
acompanhamento profissional, o que ra- rar os efeitos significativos da etnicidade,
tifica a necessidade de pesquisas que ob- da religião, das classes sociais, em todos
jetivem levantar as características desses os aspectos de quando e de que manei-
cuidadores de modo a subsidiar a elabora- ra uma família faz suas transições de uma
ção de políticas públicas de saúde. fase para outra. O planejamento familiar
realizado pelo programa de saúde pública
Palavras-chave: cuidadores, demência de é voltado para a questão do controle da
Alzheimer, sobrecarga do cuidado natalidade, a redução do aborto, a saú-
Contato: Sara Salsa Papaleo, UFRN, de da mulher, a redução da pobreza etc,
sara_papaleo@hotmail.com não realizando avaliações das potenciali-
dades e dos recursos do núcleo familiar.
Entretanto, o planejamento familiar, na
LT05-953 - O EFEITO DE INTERVENÇÃO perspectiva do desenvolvimento, acres-
EM PLANEJAMENTO FAMILIAR NA centa variáveis organizadoras do sistema,
PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO permitindo um planejamento baseado na
NAS RELAÇÕES AFETIVAS sustentabilidade e no ciclo de vida da fa-
Marianna Santos Rodrigues - UFRB/CCS mília. O objetivo deste estudo é avaliar, na
marianna-sr@hotmail.com perspetiva do desenvolvimento, o efeito
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS da intervenção em planejamento familiar
pmfrei@gmail.com realizado com adolescentes sobre o clima
Financiamento: FAPESB familiar: relações de conflito e afetividade
de suas famílias, comparando os resulta-
O sistema familiar, definido como um gru- dos de teste e re-teste. Esse estudo teve
po de pessoas que compartilham o seu como base o Projeto de Planejamento Fa-
dia-a-dia, desempenha uma importante miliar na Perspectiva do Desenvolvimento,
função no desenvolvimento e na promo- desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saú-
ção da qualidade de vida e do bem-estar de, Educação e Desenvolvimento - SAED,
de seus membros. Para estudar a família da Universidade Federal do Recôncavo
na contemporaneidade é preciso atentar da Bahia. A metodologia do estudo é de
para a estrutura familiar, a qual está inti- caráter quase experimental. A coleta de
mamente vinculada com o momento his- dados foi realizada com 150 adolescentes,
tórico que atravessa a sociedade da qual entre 12 e 19 anos, estudantes de escolas
ela faz parte, visto que, um conjunto de públicas. Os adolescentes foram convida-
variáveis sociais, econômicas, históricas e dos através do contato com as instituições
culturais vem a moldar e a influenciar na de ensino. A realização da pesquisa ocor-
conjectura da construção familiar atual. reu mediante a assinatura do termo de
Considerando o desenvolvimento como consentimento livre e esclarecido (TCLE)
período de transições em que em todas pelos responsáveis dos participantes. O
as fases do ciclo de vida ocorrem mudan- procedimento do projeto foi constituído

679
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

inicialmente da aplicação dos instrumen- 5,6% vivem juntos e 1,0% são divorcia-
tos de avaliação, em seguida, intervenção dos. No pré-teste, o ICF apresentou o fa-
com orientações sócio-educativa e, por tor coesão familiar (M= 17,25 e DP=5,27)
fim, a re-avaliação com os mesmos ins- maior que o fator de conflitos (M=10,82 e
trumentos iniciais. Todo processo foi re- DP=5,48); os fatores hierarquia (M=11,67
alizado nas escolas, em 12 encontros de e DP=4,68) e apoio (M=16.27 e DP=4,81)
60 minutos. As sessões abordaram temas estão estatisticamente semelhantes. Com
como: educação, saúde, orçamento do- base no Familiograma, as famílias foram
méstico, sexualidade, relações afetivas, classificadas com alta afetividade e baixo
lazer, habitação. Os participantes foram conflito. Apresentou-se maior afetividade
orientados para a análise dos problemas, na relação díade mãe/filho (M=41,05 e
das potencialidades e das conseqüências DP=10,55) e maior conflito na relação fi-
definindo as possíveis soluções. O produto lho com outro individuo, em geral irmão
de cada etapa é o planejamento familiar (M=21,38 e DP=9,44) e na relação filho/
que responde aos diferentes problemas pai (M=20,30 e DP=9,09). No pós-teste, ao
presentes no sistema. A análise dos dados fazer uma comparção com o pré-teste, o
de avaliação (teste e re-teste) foi realizada resultado do Familiograma descreve alta
através do programa estatístico Statistical afetividade e baixo conflito, com uma dife-
Package for the Social Sciences (SPSS). Os rença estatística significativa no aumento
instrumentos utilizados foram o Familio- do nível de afetividade na díade filho/mãe
grama e o Inventário do Clima Familiar (M=42,68 DP=10,38 p=0,05) e na dídade
– ICF. O Familiograma é um instrumento filho/pai (M=37,43 DP=12,64 p=0,05).
desenvolvido para avaliar a percepção da Quanto à relação de conflitos, houve um
afetividade e o conflito familiar nas díades aumento não significativo estatísticamen-
familiares, a partir de 22 adjetivos, confi- te nas relações de conflitos na díade filho/
gurado com a escala Lickert. O Inventário outro indivíduo, em geral irmãos, e na dí-
de Clima Familiar é um instrumento que ade filho/pai. Quanto à comparação entre
avalia a percepção do clima familiar e as os escores médios no pré e pós-teste do
dinâmicas existentes nos relacionamentos Inventário de Clima Familiar e seus res-
intra e extrafamiliares. Essa avaliação é re- pectivos fatores: Conflito (M=10 DP=5,03
alizada através de quatro fatores diferen- p=0,39); Hierarquia (M=10,67 DP=3,84
tes: apoio, coesão, conflito e hierarquia, p=0,74); Apoio (M=16,27 DP=3,84 p=1,0);
contendo um total de 32 itens. Os resulta- Coesão (M=18,05 DP=5,07 p=0,25), os
dos sócio-demográficos apresentam 150 resultados não apresentaram diferenças
adolescentes entre 12 e 19 anos (M=16,03 estatisticamente significativas. Os fato-
e DP = 2,03). A maioria dos participantes res coesão e hierarquia são fatores fortes
era do sexo feminino (73,4%). A distribui- para compreensão do clima familiar que
ção da escolaridade mostra maior concen- se contrapõe, mas não estão dissociados:
tração para o ensino fundamental incom- a coesão representa o vínculo emocio-
pleto (43,4%) e ensino médio incompleto nal entre os membros da família, o que
(46,5%). Os dados sobre estado civil de- evidencia um fator positivo nas relações
monstram que a maioria dos adolescen- familiares. Por sua vez, a hierarquia está
tes é solteira (81,6%); 10,7% são casados; associada à autoridade. Desta forma,

680
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entende-se o desenvolvimento saudável para a resolução de conflitos inconscien-


associado ao alto nível de coesão, mas tes (Zimerman, 2001) e pode ser classifi-
não ao alto nível de hierarquia. O plane- cado em: insight cognitivo, insight afetivo,
jamento realizado por cada adolescente insight pragmático. Na Psicoterapia Pais-
foi útil no sentido de demonstrar todos os -Bebê (PPB) especificamente, um tipo de
elementos que precisam ser considerados intervenção que tem sido bastante desta-
para o desenvolvimento familiar, abor- cada na literatura é a Interpretação Trans-
dando conjuntamente questões sobre a geracional (IT). Esta objetiva buscar conec-
sexualidade. O aumento significativo dos tar os acontecimentos do “aqui-e-agora”
escores de afetividade (Familiograma) foi da sessão com o passado conflitivo dos
outro resultado encontrado a partir da pais (Barrows, 2003; Fraiberg et. al., 1994;
comparação entre o pré-teste e pós-teste. Lebovici, 1993), para assim favorecer mais
Os resultados demonstram que o progra- qualidade na relação dos pais com o bebê.
ma de planejamento familiar na perspec- O presente estudo buscou verificar a asso-
tiva do desenvolvimento contribui com o ciação das interpretações transgeracionais
bem estar de adolescentes, melhorando com o surgimento dos insights, no atendi-
de forma significativa a afetividade entre mento em psicoterapia pais-bebê de duas
os mesmos e suas respectivas famílias. famílias. Foi utilizado um delineamento de
estudo de caso coletivo (Stake, 1994) para
Palavras-chave: planejamento familiar, se investigar o processo psicoterápico das
conflito, afetividade duas famílias atendidas em psicoterapia
Contato: Marianna Santos Rodrigues, UFRB, pais-bebê. As sessões de psicoterapia
marianna-sr@hotmail.com foram gravadas em áudio e vídeo e pos-
teriormente transcritas para análise. As
famílias selecionadas faziam parte de um
LT05-962 - A INTERPRETAÇÃO projeto maior intitulado “O impacto da
TRANSGERACIONALIDADE EM psicoterapia para a depressão materna e
PSICOTERAPIA PAIS-BEBÊ: RELATO DE para a interação pais-bebê: Estudo longi-
DOIS CASOS CLÍNICOS tudinal do nascimento ao segundo ano de
Evanisa Helena de Maio Brum - UFRGS/CESUCA vida do bebê - PSICDEMA” (Piccinini et al.,
evanisa.brum@gmail.com 2003), que acompanhou 19 famílias cujas
Aline Grill Gomes - UFRGS mães apresentavam depressão pós-parto.
Cesar Augusto Piccinini - UFRGS A análise dos dados foi realizada separada-
mente, para cada uma das famílias atendi-
As intervenções utilizadas em psicotera- das em Psicoterapia Pais-Bebê (PPB). Para
pia visam provocar mudanças específicas tanto, foram examinadas as transcrições
ou gerais em alguns aspectos da dinâmi- e o próprio vídeo de todas as sessões de
ca psíquica e/ou comportamental do pa- psicoterapia, buscando-se investigar tanto
ciente, podendo ser reveladas ao longo do as interpretações transgeracionais como
processo psicoterápico através de insights os insights dos participantes associados à
(Zimerman, 2001). O termo insight, con- elas. Para fins de análise se investigou os
forme o autor, é a compreensão pelo pa- conteúdos manifestos e latentes das ver-
ciente de fatos dinâmicos que contribuem balizações e interações entre a terapeuta

681
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e a díade mãe-bebê e/ou tríade mãe/pai- muitas intervenções. A literatura destaca


-bebê, bem como entre a própria díade que pacientes com transtorno obsessivo
mãe-bebê, ou mesmo entre o casal, du- compulsivo apresentam pouca freqüência
rante as sessões psicoterápicas, com base de insights em tratamentos de base psico-
no referencial psicanalítico (Gomes, 2007). dinâmica (Fontenelle et al., 2010).
A expectativa inicial era de que a interpre-
tação transgeracional apesar de importan- Contato: Evanisa Helena Maio de Brum,
te seria pouco presente, pois há registro UFRGS/CESUCA, evanisa.brum@gmail.com
na literatura sobre psicoterapia pais-bebê
que a referência ao passado da mãe é
menos utilizada nesta técnica do que em LT05-1022 - DE MÃE PARA FILHA: A
psicoterapia psicanalítica (Cramer, 1999). TRANSGERACIONALIDADE DA VIOLÊNCIA
Esperava-se também que esta intervenção DOMÉSTICA CONJUGAL
apresentasse bastante associação com
Lila Maria Gadoni-Costa - UFRGS
insights, pois a interpretação objetiva o
lilamariacosta@gmail.com
insight (Zimerman, 2001), seja ela relati-
Débora Dalbosco Dell’Aglio - UFRGS
va a conteúdos transgeracionais ou não.
debora.dellaglio@ufrgs.br
A primeira expectativa recebeu apoio da
análise das duas famílias, cujos resultados
A violência contra a mulher é um fenôme-
mostraram que as interpretações transge-
racionais estiveram pouco presentes. Já no que perpassa todas as classes sociais e
quanto aos insights associados a este tipo independe de idade ou escolaridade. Por
de interpretação, estes ocorreram pre- tratar-se de uma questão multifacetada
ponderantemente na Família 1. Já na Fa- e de alta prevalência, pesquisadores de
mília 2 encontramos poucas intervenções diversas áreas têm se ocupado dessa te-
desta categoria e nenhuma delas apre- mática (Grossi & Aguinsky, 2001). Entre as
sentou associação com insights, na Famí- formas de violência sofridas pela mulher,
lia 1 esta intervenção foi mais presente e destaca-se a violência que ocorre no âm-
pareceu ter sido mais importante por ter bito privado e é perpetrada por parceiro
apresentado associação com insights, in- íntimo, também denominada violência
clusive do tipo pragmático. Os resultados doméstica ou violência conjugal. Confor-
revelaram que as diferenças em relação me Calvete, Corral e Estévez (2008), esta
aos insights encontrados nas duas famílias forma de violência constitui-se em um es-
apresentam relação com o funcionamen- tressor severo, que afeta negativamente
to dinâmico de cada mãe. A mãe da Fa- a saúde mental da vítima. No Brasil, exis-
mília 1 apresentou mais associações com te uma lei contra a violência doméstica,
insights do que a da Família 2. Podemos conhecida como Lei Maria da Penha (Lei
pensar que esta mãe apresentou poucos 11.340/2006), que orienta as práticas de
insights devido a sua dificuldade de sim- atendimento multidisciplinar, tanto nas
bolização, principalmente por apresentar delegacias especializadas como nos ser-
alguns traços de personalidade obsessiva, viços de saúde. Na violência conjugal, o
bem como por ter sido possível observar agressor, que em geral é o homem, busca
que ela respondeu de forma concreta a maneiras diversas para exercer o contro-

682
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

le sobre sua parceira. Segundo a Organi- duz reverberações e contribui para o esta-
zação Mundial da Saúde, uma em cada belecimento do ciclo da violência transge-
seis mulheres no mundo sofre violência racional (Algeri & Souza, 2006; Carrasco,
doméstica, sendo que em 60% dos casos, 2003; Muskat, 2002). Para investigar esse
a violência foi perpetrada por marido ou fenômeno, foi realizado um estudo quali-
companheiro (OMS, 2005). A violência tativo, de cunho exploratório, a partir da
provoca uma situação de intenso estres- metodologia de estudos de caso proposta
se na família, que comumente resulta em por Yin (2005). Foram estudados os casos
marcas físicas e psicológicas. Quando a de duas mulheres vítimas de violência
violência ocorre entre o casal o assunto conjugal que procuraram uma delegacia
torna-se ainda mais complicado, devido especializada para registro de ocorrência.
aos efeitos que frequentemente se esten- Como critérios de inclusão foram consi-
dem em forma de transgeracionalidade derados: presença de histórico de violên-
(Takano, 2006). Na literatura especializada cia perpetrada por parceiro, anterior ou
diferentes termos podem ser encontrados atual, com convívio pelo período mínimo
para descrever esse processo de trans- de um ano; e estar em atendimento psi-
missão dos legados familiares entre as cológico por pelo menos há dois meses
gerações. Entre eles, destacam-se “trans- com um estagiário ou profissional na de-
geracionalidade”, “intergeracionalidade legacia onde os dados foram coletados.
”e “multigeracionalidade” (Falcke & Wag- A coleta ocorreu em um encontro com
ner, 2005). Neste trabalho será utilizado o cada participante, através de entrevista
termo transgeracionalidade para descre- semiestruturada individual, com duração
ver a transmissão do legado da violência de uma hora e meia, aproximadamente.
doméstica de uma geração para outra. As entrevistas foram realizadas na pró-
Os crimes praticados em família não têm pria delegacia, após assinatura do Termo
testemunhas e são encobertos pelo silên- de Consentimento Livre e Esclarecido, e
cio das próprias vítimas (Ribeiro, Ferriani foram gravadas para posterior transcrição
& Reis, 2004). Quando uma criança rece- e análise de conteúdo. As entrevistas ti-
be punição física, passa a perceber a si nham por objetivo investigar a percepção
mesma como merecedora desse castigo, das mulheres vítimas quanto à violência
acreditando que fez algo errado. Ao lon- sofrida, as estratégias de enfrentamento
go do tempo essa crença é internalizada e e a transgeracionalidade do fenômeno.
poderá se repetir na geração seguinte. A As unidades de análise foram definidas a
criança exposta à violência tenderá a ter posteriori, a partir da análise qualitativa
problemas relacionados à agressão em das respostas das participantes, efetuan-
suas relações futuras (Carrasco, 2003). O do-se recortes dos conteúdos das falas,
ciclo da violência, segundo Muskat (2002) tais como palavras, expressões ou frases
começa quando as crianças sofrem negli- que se referiam a temas específicos e que
gência ou abuso em suas casas e quando foram apreciados com o objetivo de es-
aprendem, a partir da relação agressiva da clarecer as semelhanças e as diferenças
díade parental, que é através da violência entre os casos (Laville & Dionne, 1999;
que se resolvem os conflitos. A exposição Yin, 2005). A partir disso, foram definidas
das crianças à violência intrafamiliar pro- duas unidades de análise para direcionar

683
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a discussão: transgeracionalidade e estra- para que essa experiência não se repita


tégias de enfrentamento. A compreensão geração após geração. São necessários es-
dos resultados considerou como base teó- forços nos diferentes âmbitos da socieda-
rica os estudos sobre processos de stress de no sentido de romper este ciclo, bem
e coping, a partir do modelo de Lazarus como para auxiliar as mulheres a compre-
e Folkman (1984), pesquisas atuais que ender a dimensão do mesmo.
consideram o enfrentamento como um
processo complexo e dinâmico e a teoria Palavras-chave: violência doméstica,
sistêmica. Os dois casos investigados se transgeracionalidade, enfrentamento
configuram como de extrema violência Contato: Lila Maria Gadoni-Costa, UFRGS,
conjugal no âmbito doméstico, em que lilamariacosta@gmail.com
tanto a violência física como a psicológi-
ca se fez presente nas famílias de origem
e nas famílias atuais, caracterizando a LT05-1033 - A VIDA EM FAMÍLIA DEPOIS
transgeracionalidade. As duas mulheres DO DIVÓRCIO: A PERSPECTIVA DOS
entrevistadas tiveram um relacionamento FILHOS ADOLESCENTES E ADULTOS
difícil com a figura paterna, descrita como JOVENS
pouco afetiva, rígida, agressiva e autoritá- Lila Maria Gadoni-Costa - UFRGS
ria. Os pais de ambas eram alcoólatras e lilamariacosta@gmail.com
a situação financeira era precária. Apesar Bruno Moraes da Silva - UFCSPA
do uso de álcool não ser um fator causal brunoms88@gmail.com
da violência doméstica, pode ser relacio- Adriana Wagner - UFRGS
nado de forma significativa ao fenômeno, adrianawagner.ufrgs@hotmail.com
visto que o alcoolismo severo aumenta o
risco de vitimização de mulheres e seus O sistema familiar vem passando por diver-
filhos nos relacionamentos com parceiros sas transformações nas últimas décadas.
íntimos. As participantes do estudo pre- Um dos fatores que contribui para essas
senciavam agressões por parte dos pais, transformações é o número de divórcios,
contra suas mães, que suportavam cala- que cresceu 52% nos últimos dez anos no
das, como se o comportamento dos ho- Brasil. A partir da separação, a família pre-
mens fosse algo “natural”. De acordo com cisa se adaptar a diversas mudanças: nova
Carrasco (2003), a partir do momento em rotina dos filhos, padrão econômico, ma-
que se estabelece a crença, entre mães nutenção dos laços parentais e adaptação
e filhas, de que o homem pode agredir, do sistema familiar à nova configuração
instala-se a hierarquia. O homem fica com que se estabelece. Esse momento é reves-
o papel de dominador e a mulher com o tido de complexidade e consiste em um
papel de submissa, proporcionando a par- importante desafio para o ex-casal (Carter
tir daí, um total desequilíbrio nas relações. & MacGoldrick, 2001). A partir da separa-
Estas mulheres suportaram as agressões ção, o estabelecimento da rotina de visi-
durante muito tempo sem partilhar com tas pelo pai ou mãe não-residente pode
outras pessoas. A identificação do ciclo gerar nos filhos a sensação de que não
que se estabelece nas famílias que vivem pertencem a, pelo menos, um dos lados
em situação de violência é determinante de sua família (Travis, 2003). Tal aspecto

684
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

é de extrema importância e deve ser cui- responsabilidade e os cuidados rotineiros


dado com delicadeza pela díade parental por uma criança ou adolescente, visando
no momento em que se organizam os ar- seu bem estar. Essa inter-relação entre o
ranjos a partir da definição da modalidade casal coparental inclui valores e expectati-
de guarda. No Brasil, via de regra, adota- vas quanto ao desenvolvimento dos filhos
-se o sistema de guarda única, concedida à e independente da configuração familiar,
mãe, enquanto o pai fica com o direito de da condição civil ou orientação sexual dos
visita, geralmente em finais de semanas pais (Feinberg, 2002; Margolin, Gordis &
alternados. Essa situação favorece o afas- John, 2001; Van Egeren & Hawkins, 2004).
tamento gradativo do pai na relação com A separação conjugal tem significados di-
os filhos, com grandes desvantagens para ferentes para pais e filhos. Pode ser con-
ambos, principalmente, para os filhos. A siderada pelo adulto como um recomeço,
presença do pai, tanto quanto a presença uma nova chance de ser feliz. Por outro
da mãe, tem sido apontada pela literatu- lado, as crianças e adolescentes tendem a
ra especializada como fundamental para preferir que os pais permaneçam juntos,
a formação da criança e do adolescente mesmo depois que a separação acontece
(Brito, 2008; Cano et al., 2009; Grzybo- (Azambuja, Larratéa, & Filipouski, 2010). É
wski, 2011). A partir da ruptura da conju- comum que os filhos experimentem, logo
galidade, a guarda poderá ser definida em após a ruptura, sentimentos de abando-
diferentes modalidades, visando sempre o no. Trata-se de uma etapa difícil, caben-
melhor interesse da prole. A complexida- do aos pais procurar conduzir o processo
de dessa tarefa impõe reflexões, visto que de separação da maneira mais tranquila
a literatura especializada considera que possível. As mudanças e os ajustamentos
o divórcio é o maior rompimento e tam- necessários na vida dos filhos após a sepa-
bém o maior promotor de mudanças no ração dos pais tendem a ter uma melhor
processo de ciclo familiar, para todos os adaptação quando o vínculo com ambos
membros da família (Alexandre & Vieira, os genitores é preservado e quando as in-
2009; Cerveny, 2004; Schabbel, 2005). O formações e esclarecimentos sobre como
lugar dos filhos, segundo Alexandre e Viei- será suas vidas são compartilhadas. Sendo
ra (2009), precisa ser assegurado após o assim, a opção pela guarda adotada pela
fim da conjugalidade, pois a díade paren- família e a forma como é administrada
tal continua a existir independente da se- passa a ter um papel fundamental nesse
paração. Esses autores salientam que uma processo. O objetivo deste trabalho é in-
separação envolve conflitos no relaciona- vestigar as transições familiares relacio-
mento familiar e ressalta a importância e nadas ao divórcio sob a perspectiva dos
necessidade de que o casal parental seja filhos, enfocando o tipo de guarda e as
mantido, bem como a coparentalidade, principais reverberações entre os subsis-
para que pais e mães possam estabelecer temas filial e parental. Foram investigados
limites e oferecer aos filhos um ambiente aspectos referentes ao relacionamento,
afetivo e seguro, a fim de garantir-lhes um aos sentimentos e reações dos filhos na
desenvolvimento saudável. A coparentali- ocasião da separação, mudanças na roti-
dade é a relação que se estabelece quan- na e a satisfação quanto à frequência com
do duas pessoas assumem, em conjunto, a que convivem com os genitores, entre ou-

685
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tros. Trata-se de uma pesquisa qualitativa LT05-1238 - O CORPO E SUAS


de cunho exploratório, com participação DIMENSÕES: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO
de trinta adolescentes e jovens adultos DE UMA JOVEM ANORÉXICA
com faixa etária entre 18 e 23 anos, mo- Roxane Mangueira Sales - UNIFOR
mento em que já se pode ter uma maior roxane_mangueira@hotmail.com
compreensão das consequências da sepa- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
ração. Os participantes foram seleciona- naradiogo@hotmail.com
dos por conveniência utilizando a técnica Márcio Silva Gondim - FANOR
de composição amostral “bola de neve” mgondim@fanor.edu.br
(snow ball sampling), que consiste em lo-
calizar pessoas mediante indicação de co- A Anorexia Nervosa, segundo diagnósti-
nhecidos, que indicam outras pessoas que
co do DSM-IV é um transtorno alimentar
se ajustam aos critérios. Os dados foram
caracterizado por importante perda de
coletados através da aplicação de ques-
peso, amenorréia, recusa de ingerir ali-
tionário construído a partir de revisão da
mentos, perturbação no modo de viven-
literatura que investigava os seguintes te-
ciar a forma do corpo. Trata-se de um gra-
mas: relações familiares, coparentalidade,
ve distúrbio de imagem corporal. O diag-
divórcio e guarda de filhos. Foi realizada
nóstico ocorre predominantemente em
análise de conteúdo, considerando-se os
mulheres e apresenta uma elevadíssima
blocos temáticos definidos a priori. As
taxa de mortalidade, configurando-se em
reações e sentimentos relatados pelos
um grave problema de saúde pública. O
participantes por ocasião da separação
de seus pais variaram entre tristeza, raiva, objetivo deste estudo é desnudar a narra-
abalo pela quebra de rotina, inseguran- tiva e compreender que tipos de conflitos
ça, desamparo e abandono. Atualmente, estão envolvidos no processo de constru-
os principais sentimentos referem-se à ção da subjetividade da anoréxica. Meto-
compreensão e saudade. A maioria dos dologia. Estudo de caso de uma paciente
entrevistados não relatou alteração no com quadro de anorexia nervosa, de 26
desempenho escolar e nem alteração de anos, em psicoterapia. Para realização
rotina. As principais mudanças são hoje deste trabalho foi utilizada a epistemolo-
percebidas como consequências naturais gia qualitativa e o método etnográfico. A
da etapa de desenvolvimento em que se etnografia é definida como um processo
encontram. Os resultados revelam que in- sistemático de observar, detalhar, descre-
dependente da modalidade de guarda es- ver, documentar e analisar o estilo de vida
tabelecida judicialmente, a qualidade da ou padrões específicos de uma cultura ou
relação entre pais e filhos está mais rela- sujeito, para aprender o seu modo de vi-
cionada ao efetivo desempenho do papel ver em seu ambiente natural. O pesquisa-
parental. dor mantém um intenso envolvimento in-
tersubjetivo com as pessoas pesquisadas.
Palavras-chave: divórcio, guarda de filhos, Trata-se de um processo de relação inter-
coparentalidade pessoal onde ocorre o encontro entre a
Contato: Lila Maria Gadoni-Costa, UFRGS, subjetividade do pesquisador e a do cola-
lilamariacosta@gmail.com borador. Para coleta de dados, utilizou-se

686
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o material das sessões semanais de dura- estar “gorda”. A sua primeira crise anoré-
ção de 50 minutos, que eram transcritas xica ocorreu aos 15 anos, juntamente com
literalmente após atendimento. Além dis- um grave episódio depressivo. Chegou a
so, solicitou-se a paciente um “diário de ser internada e pesar 46 kilos. A paciente
comunicação”, no qual eram relatados os iniciou então acompanhamento psiqui-
sentimentos vividos durante a semana. A átrico. Apresentava também episódios
análise dos dados da descrição das ses- de compras compulsivas. Preocupação
sões (24 sessões ao todo) ocorreu através excessiva com a imagem, e compulsão
da análise de conteúdo temática de Bar- por cosméticos e produtos de beleza que
din. Este método “consiste em descobrir comprava, mas não usava. A observação
os núcleos de sentido que compõem a co- da dinâmica mãe e filha ocorreu desde a
municação e cuja presença, ou freqüên- primeira sessão. Desvelou-se um compor-
cia de aparição podem significar alguma tamento simbiótico da díade mãe-filha e
coisa para o objetivo analítico escolhido” um sentimento, por parte da paciente, de
(Bardin, 1979). A apresentação dos resul- ser controlada, de impotência diante até
tados foi organizada segundo categorias da própria fala. A mãe entra no consultó-
de modo a descrever para o leitor o re- rio “arrastando” a filha. Fala por ela, que
lacionamento familiar vivenciado entre permanece inexpressiva. Peço-lhe para
mãe filha través de narrativas. O sigilo e permanecer a sós com a paciente. Ao fi-
o anonimato da paciente foram garanti- nalizar o atendimento, novamente a mãe
dos. Assim, o nome citado é fictício. Foi adentra o consultório. Acusa a filha, cha-
assinado o Termo de Consentimento Livre mando-a de mentirosa, afirmando que
e Esclarecido, de acordo com Resolução lhe rouba dinheiro para comprar de forma
nº. 196/96 do CNS/Ministério da Saúde, desmedida e que ela está sem estudar e
Brasil. Resultado e Discussão: Ana, uma trabalhar. Além desse comportamento, si-
jovem de 26 anos, natural de Fortaleza. tuações como ligar minutos antecedentes
É a filha caçula e tem um irmão de 31 ao horário da sessão para confirmar se a
anos. Fala baixa, pausada, quase inau- paciente estava lá e tentar obter informa-
dível. Traços delicados. Vive com a mãe ções da filha com a terapeuta desvelava
e perdeu o pai há um ano e seis meses. uma situação de controle excessivo. Iden-
Residiu durante 3 anos e meio em Curiti- tificam-se fatores familiares, psicológicos
ba, onde cursava jornalismo. Pouco após e socioculturais que interagem entre si
a morte do pai, teve a sua segunda crise de forma complexa de modo a predispor,
de anorexia, chegando a apresentar IMC a precipitar e/ou a manter o transtorno.
18. Foi quando retornou a conviver com Ana afirmou, em diversos momentos da
a mãe. Recusava-se a comer, fazia uso de terapia: “Passei a vida tentando ser uma
laxantes, além de apresentar distúrbio de boa filha, uma boa namorada, só queria
imagem corporal grave, consoante o ins- amor e aceitação...”. Destaca-se a nega-
trumental de avaliação de imagem corpo- ção inconsciente da figura feminina adul-
ral BSQ (Body Shape Questionnaire) utili- ta e o temor da anoréxica de assumir pa-
zado. O BSQ mede as preocupações com péis concernentes a esta, como não apre-
a forma do corpo, autodepreciação, em sentar contornos arredondas do corpo,
razão da aparência física e da sensação de permanecendo como um ser assexuado.

687
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A rigidez e o controle presentes na per- LT05-1299 - A HOMOAFETIVIDADE E AS


sonalidade da anoréxica encontram-se na NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES
fala e nos escritos da paciente. Segundo Felipe Pereira de Assis - CFI
as narrativas de Ana, podemos descrever titiassis@gmail.com
três categorias: “Mãe: uma fonte de afe- Alessandra de Almeida Rodrigues
tos e conflitos”, “o espelho da mãe rígida”, Andressa Brogni
“a negação do corpo de mulher e do fe- Cassia Souza
minino”. Consoante Ana, seus remédios, Evanisa Helena Maio de Brum
atitudes, sentimentos eram controlados, Karen Simone Lenz Fortes
assim como sua comida, as amizades, Karine da Silva Moraes Martins
notas, horários e até mesmo o que de- Paula Grazziotin Silveira Rava
veria vestir. Os sentimentos da paciente
em relação à mãe oscilavam entre raiva, Nas últimas décadas temos presenciado
sensação de dependência, zelo e fragili- a modernização, e este conceito não está
dade. “Minha mãe não gosta de mulher, relacionado somente com a tecnologia,
ela controla as minhas roupas... (...) diz: mas também com os padrões da socie-
mulher não presta. Minhas roupas são dade. A vida adulta é uma fase marcada
feias, meus desenhos de vestidos são por várias transições e transformações.
horrorosos. Até meu celular ela xereta...”. Surgem os papéis a serem definidos de
Oscila e diz “Ela é frágil. Sozinha, perdeu estrutura e estabilidade. A relação esta-
meu pai e só tem a mim. Ela quer que belecida entre pessoas do mesmo sexo
eu seja a menina que ela quis ser e não é definida como homoafetiva. Relação
podia. Passou a vida castelos de areia.” esta que tem causado polêmica, devido
Ressalta: “Adoro desenhar vestidos, mas à questão jurídica. A justiça brasileira já
eles são caros, impossíveis de usar e de tem reconhecida a união de pessoas do
cair bem no meu corpo”. Para Gabbbard mesmo sexo, garantindo os direitos de
(1992) é como se o corpo não fizesse par- família nestes casos. No que se refere à
te do self de anoréxicas, mas pertencesse adoção existe divergência de opiniões en-
aos seus pais, de modo que há uma falha tre os juristas brasileiros, apesar de já se
em reconhecerem uma individualidade ter jurisprudência aceitando a adoção por
própria. Conclusões: As narrativas desve- casais homossexuais. As opiniões têm se
lam que a internalização da mãe negati- dividido, levantando questões como uma
va levou Ana a desenvolver um medo de possível educação desviante, moral, ética
assumir seu corpo de mulher adulta. O e social. Apresentaremos neste trabalho
excesso de controle é internalizado pela uma pesquisa qualitativa que objetivou
paciente, que manifesta crises sempre analisar a opinião pública face à confi-
que se sentia cobrada ou em situações de guração da família pós-moderna, para
dependência. fins deste trabalho consideramos família
pós-moderna aquelas compostas por ca-
Palavras-chave: anorexia, construção sais homoafetivos e crianças adotadas.
subjetiva, etnografia A amostra foi realizada por conveniência
Contato: Nara Maria Forte Diogo Rocha, UFC, e composta por 146 alunos do curso de
naradiogo@hotmail.com graduação de Psicologia de uma institui-

688
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção de ensino da região metropolitana dos participantes, enunciava que “Rela-


de Porto Alegre. Foi aplicado uma escala cionar-se com a pessoa que ama faz parte
likert de 4 pontos (Concordo Totalmen- da vida”. Nesta questão observamos una-
te, Concordo, Discordo e Discordo Total- nimidade entre os participantes. A partir
mente) contendo 42 perguntas fechadas. deste momento, começamos a analisar as
Para melhor exposição dos resultados, respostas dadas às questões diretamente
foram consideradas apenas as alternati- relacionadas à união por pares homoa-
vas Concordo (contemplando Concordo fetivos e a configuração da nova família.
Totalmente) e Discordo (contemplando A questão apresentada era: “A ideia de
Discordo Totalmente). Para os resultados, uma relação entre dois homens ou duas
foram destacadas as questões que apre- mulheres me incomoda”, além dos resul-
sentaram maior relevância para discus- tados mostrarem que, apesar da maioria
são sobre o tema abordado. Em relação ser favorável ao casamento e de a unani-
a caracterização da amostra encontramos midade concordar com o relacionamen-
que a idade mínima foi de 17 anos, com to entre pessoas que se amam, 26% dos
a média de 27,5 anos e idade máxima de entrevistados afirmaram que se sentem
54 anos. Em relação ao gênero encontra- incomodados com a ideia de uma relação
mos que 20,5% da amostra era do sexo entre pessoas do mesmo sexo. Destes,
masculino, representando 30 sujeitos; e 21% são mulheres e 31% são homens. A
79,5% era do sexo feminino, representan- pesquisa também buscou coletar dados
do 116 sujeitos. Quanto ao estado civil nos diferentes estados civis, abrangendo
57,5% eram solteiros, representando 84 solteiros, casados, uniões estáveis e divor-
sujeitos; 30% casados, representando 44 ciados. Pretendíamos também verificar o
sujeitos; 1,5% divorciados, representan- grau de tolerância das pessoas frente ao
do 2 sujeitos e, por fim, 11% viviam em relacionamento homoafetivo afirman-
União estável, representando 16 sujeitos. do: “A qualidade do amor entre pessoas
O questionário aplicado visa estabelecer do mesmo sexo é igual à de pessoas de
as diferenças de opiniões entre os gêne- sexo diferente”. O resultado demonstrou
ros, idades e estados civis. Na questão “O que as pessoas casadas apresentam 7%
casamento faz parte do ciclo da vida”. Os mais tolerância ao relacionamento homo-
resultados demonstraram que mulheres: afetivo do que as pessoas solteiras. Isso
104 (90%) Concordam; 12 (10%) Discor- nos chamou a atenção para analisarmos
dam; homens: 24 (80%) Concordam; 6 as opiniões, considerando agora as dife-
(20%) discordam. Nota-se que a pesqui- renças etárias. Na questão “Uma família
sa constatou uma diferença de 10 pontos pode ser composta por um casal homo-
percentuais entre a opinião das mulheres afetivo e crianças adotadas” dividimos as
e dos homens em relação ao matrimônio. respostas em dois grupos: o primeiro com
Esta questão é importante, visto que é pessoas menores ou iguais a 28 anos e
a primeira do questionário e indaga aos segundo grupo acima dos 29 anos. O que
participantes suas concepções sobre a podemos perceber nos resultados obti-
aquisição matrimonial em um aspecto ge- dos é que, apesar da maioria (55%) das
ral. Outra pergunta feita, também com um pessoas concordarem com a formação de
sentido geral, para observarmos a opinião uma família constituída por casais homo-

689
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

afetivos e crianças adotadas, surge uma LT05-1301 - PERCEPÇÃO E IMPACTO


variação considerável na faixa etária dos NA FAMÍLIA DA RECEPÇÃO DO
21 aos 30 anos. Nesta população espe- DIAGNÓSTICO DE SINDROME DE DOWN
cífica, 20% a mais responderam que não EM RECÉM-NASCIDOS
concordam com esta nova concepção de Marta Lindalva da Silva - IESB
família, enquanto a faixa etária acima de martinha@gmail.com
41 anos foi unânime, concordando com a Denise Farias da Silva - IESB
possibilidade desta configuração familiar. denise.farias.silva@gmail.com
Através deste questionário e da análise de Rosângela Valentim Pereira - IESB
dados, constatou-se que, mesmo as pes- rosangela.valentim.pereira@gmail.com
soas concordando com a ideia de relacio- Ana Beatriz Sousa de Menezes - IESB
namentos, de afetos, de família, dentro anab@geap.com.br
de um contexto geral, ainda existe certo Alayr Rodrigues Barros - IESB
preconceito, face aos relacionamentos alayr.barros@gmail.com
homoafetivos e a adoção de crianças por Jucinara Santos Ribeiro - IESB
homossexuais. O último gráfico demons- jucysribeiro@hotmail.com
tra uma significativa diferença entre as Anaí Haeser Peña - IESB/UnB,
opiniões na faixa de 21 a 30 anos. Talvez anai.hp@gmail.com
tal resultado esteja relacionado ao fato Gilvan Gomes da Silva - IESB
das pessoas, nesta fase da vida, estarem lammarca@gmail.com
iniciando seus relacionamentos mais
duradouros e vislumbrando a formação A família pode ser definida como um con-
de uma família dentro dos padrões con- junto organizado de pessoas que se rela-
siderados “normais” para a sociedade. cionam e interagem, sendo que cada um
Também deve ser considerado o fato de de seus membros tem um papel especí-
que as pessoas, nesta faixa etária (princi- fico. Influenciam nessas definições tanto
palmente as mulheres), encontrarem-se questões culturais como as necessidades
no ápice do seu período de fertilidade e individuais e do grupo no qual se inserem.
procriação, tentando inconscientemente Alterações ou mudanças que afetem um
refutar a possibilidade da adoção. O tema dos membros podem repercutir nos de-
escolhido aborda dois assuntos conside- mais, inclusive causando um estado de
rados polêmicos pela sociedade: o pri- crise que desorganiza a estrutura familiar.
meiro é sobre a sexualidade, homossexu- Esses efeitos de alterações ou mudanças
alidade e relacionamentos homoafetivos; sobre a estrutura familiar variam bastan-
o segundo agrega a adoção, que também te, e dependem do membro acometido,
é um assunto bastante complexo. do tempo de permanência do agravo e,
ainda, de sua gravidade. Especificamente
Palavras-chave: família, homoafetivo, adoção no caso de uma doença crônico-degene-
Contato: Felipe Assis, Cesuca Faculdade Inedi, rativa, em especial a de um bebê, exige
titiassis@gmail.com da família maior tempo e dedicação para
o cuidado. Por ainda encontrar-se em
fase de crescimento e desenvolvimento, o
bebê e a criança dependem de um cuida-

690
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dor ou de uma cuidadora que as ofereça Reis, 1999), bem como a formação de me-
estímulos, atenção, carinho, compreen- canismos de defesa, tais como a negação,
são e proteção. Especificamente no que relatadas por Brunhara e Petean (1999)
diz respeito à recepção do diagnóstico de como um dos mecanismos mais freqüen-
deficiência em um recém-nascido em uma tes, provavelmente como meio de dimi-
família pode gerar situações complexas, nuir ou encobrir a problemática do filho,
muitas vezes resultantes da falta de pre- para ganhar tempo para a elaboração do
paro e informação adequada, bem como choque inicial. O papel dos profissionais
de uma rede de apoio que auxilie a lidar de saúde, tanto no momento de atendi-
com os sentimentos experienciados nesse mento pré-natal em geral, como meio de
momento. A Síndrome de Down, um dis- informação e conscientização, assim como
túrbio genético também chamado de Tris- na ocasião do diagnóstico e informação à
somia do Cromossoma 21, por ser resulta- família, é de extrema importância. A es-
do da existência de um cromossomo 21 a ses profissionais cabe maior empenho no
mais, é conhecida como uma das causas sentido de envolver e, ao mesmo tempo,
mais comuns de deficiência mental, além voltar suas ações para a unidade familiar,
de afetar outros sistemas do corpo provo- tendo como objetivo apoiá-la, fortalecê-la
cando mal formações de alguns órgãos. É e instrumentalizá-la ao desempenho efi-
um dos distúrbios genéticos mais comuns caz de suas funções junto a todos os seus
entre recém nascidos vivos. Atualmente membros e, de maneira particular, junto
o diagnóstico dessa síndrome é possível àqueles dependentes de cuidados. Muitas
ainda no período gestacional, e mesmo vezes o diagnóstico da Síndrome de Down
após o nascimento sua identificação é re- não é realizado de maneira adequada,
lativamente simples, especialmente devi- acarretando maior sofrimento e, como
do a características fenotípicas peculiares consequência, trazendo mais dificuldades
aos portadores dessa síndrome. Contudo, para a aceitação do bebê e o estabeleci-
as pessoas ouvem falar pouco sobre a mento de um vínculo adequado entre pais
síndrome e diante de um caso na famí- e recém-nascido. A maneira profissional e
lia sentem-se desamparadas e inseguras. objetiva da comunicação feita comumen-
Embora os pais muitas vezes conheçam te por médicos pode causar indignação
a possibilidade de seu bebê nascer com aos pais. Justamente por esse motivo é
uma má formação, o filho esperado e ima- importante que o bebê seja apresentado
ginado é sempre saudável e lindo. Quan- à família de tal maneira que seus atribu-
do o bebê esperado ou nascido difere tos e aspectos normais sejam ressaltados.
daquele imaginado, haverá um período Também é de suma importância conside-
de luto, no qual as respostas de negação rar o período de desorganização que os
ou aceitação refletir-se-ão no vínculo es- pais experimentam durante os estágios de
tabelecido entre pais e bebê. A possível choque e negação, de tal forma que infor-
predominância de sentimentos negativos mações sobre as condições e a evolução
expressos por mães de crianças com esta da criança terão que ser repetidas várias
síndrome sobre seus filhos pode acarrer- vezes. O presente trabalho apresenta in-
tar sentimentos ambivalentes e compor- formações construídas a partir de um es-
tamentos de superproteção (Sigaud & tudo piloto, que é parte de uma pesquisa

691
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

descritiva, de natureza qualitativa, que Palavras-chave: síndrome de Down, família,


busca analisar a percepção e o impacto apoio psicológico
na família da recepção do diagnóstico de Contato: Marta Lindalva da Silva, IESB,
síndrome de Down em recém-nascidos, martinha@gmail.com
com vistas a identificar elementos para a
construção de um serviço de apoio a famí-
lias com crianças portadoras de Síndrome LT05-1370 - O EFEITO DA COABITAÇÃO
de Down. No estudo piloto foram reali- NA SATISFAÇÃO CONJUGAL
zadas entrevistas semiestruturadas com Caroline Rubin Rossato Pereira - UFSM/
pais de crianças portadoras de Síndrome ULBRA
de Down, baseadas em um roteiro dividi- carolinerrp@gmail.com
do em duas partes: a primeira dedicada Lina Wainberg - UFRGS
à caracterização da família, e a segunda linawainberg@hotmail.com
relacionada às experiências vividas por Cláudio Simon Hutz - UFRGS
ocasião da recepção do diagnóstico de claudio_hutz@terra.com.br
Síndrome de Down. As análises apontam Rita de Cássia Sobreira Lopes - UFRGS
para a importância da presença de um sobreiralopes@portoweb.com.br
psicólogo no momento da transmissão do
diagnóstico, bem como da necessidade de A possibilidade da coabitação tornou-se
informação sobre a Síndrome. Quase to- mais freqüente nas últimas décadas no
dos os casais entrevistados indicaram ter mundo ocidental e trouxe consigo uma sé-
recebido a notícia entre dois dias após o rie de questionamentos sobre a dinâmica
nascimento, e apenas um recebeu esse estabelecida entre os casais nestas uni-
comunicado no segundo mês de gestação, ões quando comparados a casais vivendo
sendo os profissionais responsáveis por em casamentos legalizados. Considera-se
essa tarefa o obstetra, no último caso, o como satisfação conjugal a avaliação sub-
pediatra e o médico da UTI neonatal. O jetiva da experiência pessoal no relaciona-
diagnóstico, em todos os casos, foi trans- mento (Wachelkel, Andrade, Cruz, Faggiani
mitido de forma direta e brusca, sem pre- & Natividade, 2004). A este respeito, al-
parações ou cuidados especiais, inclusive guns estudos sugerem que o “status” con-
aquele de oferecer esclarecimentos sobre jugal e os novos arranjos de uniões entre
esse distúrbio e os cuidados ou rede de os casais podem influenciar na variação
apoio disponível. As reações relatadas en- dos índices desta satisfação (Amato, John-
volvem o susto, desespero, choro compul- son, Booth & Rogers, 2003; Evans & Kelley,
sivo, bem como a percepção de recebe- 2004; Wydick, 2007). Objetivo. O presente
rem informações desencontradas e falta artigo buscou conhecer a literatura produ-
de apoio. Os entrevistados relataram sen- zida sobre a temática da satisfação conju-
tir-se despreparados para a recepção da gal entre casais coabitantes na última dé-
notícia. Também foi relatada a existência cada. De modo específico, o estudo visou
de conflitos familiares disparados a partir a investigar os principais achados e as prin-
da notícia, os quais foram solucionados cipais diferenças apontadas pela literatura
internamente, sem interferência ou apoio entre casais coabitantes e aqueles que ofi-
de profissionais. cializaram sua união através do casamen-

692
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to. Metodologia. A investigação abrangeu samento tiveram menos comprometimen-


a produção científica dos últimos dez anos to interpessoal com o parceiro que casados
sobre o tema da satisfação conjugal asso- sem coabitação pré-marital (Stanley et al.,
ciado à coabitação/união estável acessada 2004). (b2) Conflito e agressão: Alguns es-
através da base de dados “Web of Scien- tudos indicaram que os coabitantes apre-
ce”. No total, foram identificados 102 arti- sentaram maior freqüência de conflito do
gos entre janeiro de 1999 e maio de 2008, que casados (Risch, Riley & Lawler, 2003;
sendo quatro excluídos devido ao idioma. Stafford et al., 2004), o que desencadea-
Dos 98 artigos analisados, 37 (41,3%), ria níveis mais elevados de agressão entre
apresentaram resultados referentes ao estes casais (Stafford et al., 2004). Contu-
“status” conjugal e foram submetidos a do, algumas pesquisas não encontraram
uma análise de conteúdo. Discussão de diferenças significativas no que se refere à
resultados. (a) Satisfação conjugal: De um freqüência de conflito ou desentendimen-
modo geral, foram apontados menores ní- tos (Boesch, Cerqueira, Safer & Wright,
veis de satisfação conjugal em pessoas co- 2007; Kluwer & Johnson, 2007) e, tampou-
abitantes quando comparadas às casadas co, quanto à agressão (Marshall, Weston
(Hansen & Shapiro, 2007; Lee, Miles & Hol- & Honeycutt, 2000) entre os grupos por
ditch-Davis, 2006; Stanley, Whitton & Ma- “status” de relacionamento. (b3) Individu-
rkman, 2004; Xu, Hudspeth & Bartkowski, alidade: Os resultados analisados demons-
2006). Considerando-se as especificidades traram que os coabitantes possuíam maio-
das configurações do arranjo conjugal, res índices de individualidade, mantendo
os coabitantes de longa duração (“status mais vínculos não compartilhados e menos
quo”) foram apontados como significativa- contatos sociais comuns ao casal (Kalmijn
mente menos satisfeitos com o relaciona- & Bernasco, 2001). Nesta perspectiva, Kur-
mento que os outros quatro tipos de casais dek (2006) encontrou que os coabitantes
comparados (casados, casados com coa- possuíam mais contato com amigos do
bitação pré-nupcial, recasados e recasa- que com membros da família e sentiam-se
dos com coabitação pré-nupcial) (Skinner, menos aceitos pelos pais do companheiro
Bahr, Crane & Call, 2002). Mesmo quando do que casados com filhos. No entanto, al-
se deu na forma de coabitação pré-nupcial, guns estudos não encontraram diferenças
houve um efeito negativo sobre a satisfa- significativas entre coabitantes e casados
ção conjugal após o casamento (Stanley et nos seguintes aspectos: dependência e
al., 2004) ou recasamento (Xu et al., 2006). companheirismo (Stafford et al., 2004);
(b) Fatores associados à satisfação conju- equilíbrio emprego-família, equilíbrio tem-
gal (b1) Comprometimento: Embora um po do casal - tempo da família, relaciona-
estudo tenha referido não haver diferença mento com as famílias de origem (Risch
estatística entre coabitantes e casados no et al., 2003); apoio social (Van Willigen &
comprometimento com o relacionamento Drentea, 2001); interdependência para o
(Garcia & Markey, 2007), a literatura apon- planejamento da aposentadoria (Mock &
tou que coabitantes possuíam menor com- Cornelius, 2007). (b4) Valores morais: Os
prometimento do que casados (Stafford, resultados analisados indicaram uma ten-
Kline & Rankin, 2004; Stanley et al., 2004) dência dos coabitantes apresentarem valo-
e que casados que coabitaram antes do ca- res menos conservadores do que os casa-

693
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos. Com relação à religiosidade, enquanto importante para torná-lo mais satisfatório.
que Wolfinger e Wilcox (2008) referiram Assim, a coabitação refere-se a uma possi-
não haver diferença quanto ao “status” bilidade ainda em construção, na qual os
conjugal, Stanley et al. (2004) relataram casais que optam por esta forma de convi-
maior religiosidade entre os casados do vência parecem enfrentar desafios maiores
que entre coabitantes. Pessoas coabitantes do que aqueles casados formalmente. Isto
também apresentaram valores menos con- é, além de vivenciarem os questionamen-
vencionais associados a maiores índices de tos pessoais rotineiros da construção da
inserção da mulher no mercado de traba- vida conjugal, ainda precisam, algumas ve-
lho (Wydick, 2007) e menor discrepância zes, enfrentar a falta de credibilidade com
entre os cônjuges no número de parceiros que a sociedade percebe a coabitação.
sexuais prévios ao relacionamento (Garcia
& Markey, 2007). Neste mesmo sentido, Palavras-chave: coabitação, satisfação
Kaufman (2000) indicou que homens sol- conjugal, status conjugal
teiros que possuíam atitudes mais iguali- Contato: Caroline Rubin Rossato Pereira,
tárias tinham duas vezes mais chances de UFSM/ULBRA, carolinerrp@gmail.com
coabitar do que homens tradicionais (19%
versus 9%). Em contrapartida, um estudo
indicou não haver diferenças de valores LT05-1371 - INDICADORES DE CIÚMES DE
convencionais entre casados e coabitan- PRIMOGÊNITOS PRÉ-ESCOLARES
tes (Treas & Giesen, 2000). (b5) Separação COM OS IRMÃOS MENORES
conjugal: As pesquisas demonstraram que Caroline Rubin Rossato Pereira - UFSM/ULBRA
coabitantes possuem uma tendência mais carolinerrp@gmail.com
elevada a terminar a união do que casados, Rita de Cássia Sobreira Lopes - UFRGS
chegando a índices maiores que o dobro sobreiralopes@portoweb.com.br
(Amato et al., 2003; Hohmann-Marriott,
2006; Kurdek, 2006; Shortt, Capaldi, Kim Com a chegada do segundo filho à família,
& Owen, 2006). A partir destes resultados, surge um novo desafio ao primogênito, o
pode-se indicar que, somado a caracterís- de dividir e compartilhar com o irmão o es-
ticas de personalidade dos indivíduos que paço físico da casa, suas posses, brinquedos
ingressam em uma coabitação, foram iden- e, mais do que isto, a atenção, a admiração
tificados índices mais elevados de conflito e o afeto dos progenitores. Neste contexto,
entre coabitantes, o que estaria associado o ciúme poderia ser pensado como uma
a menores índices de satisfação conjugal. experiência normal e talvez diária para es-
Além disso, a satisfação conjugal estaria tas crianças. Diferentemente das emoções
vinculada à menor segurança e o menor básicas de raiva, tristeza e alegria, o ciúme
senso de indissolubilidade experienciada refere-se a uma emoção social complexa.
nas relações de coabitação. Neste panora- Os indivíduos em situação de ciúme ex-
ma, estes casais estariam mais propensos pressam uma gama de emoções incluindo
a uma separação conjugal do que pessoas raiva, ansiedade e tristeza, as quais podem
casadas formalmente. Destaca-se ainda estar associadas a comportamentos de
que o apoio social e institucional para o conflito com os progenitores e o irmão e
casamento formal constitui-se em parte busca da atenção dos progenitores para si

694
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(Hill & Davis, 2000; Miller, Volling & McE- visam a distrair o progenitor ou o irmão, in-
lwain, 2000). Assim como o ciúme em adul- terrompendo a interação deles e retoman-
tos, as crianças enciumadas agem, pensam do para si a atenção parental (Masciuch &
e sentem de variadas formas que não são Kienapple, 1993; Miller et al., 2000; Volling,
necessariamente agressivas ou abertamen- McElwain & Miller, 2002). Mais especifica-
te competitivas (White & Mullen, 1989). mente, o ciúme tem sido considerado basi-
Além disso, considera-se haver ainda uma camente através de dois comportamentos
falta de clareza na literatura científica acer- - agressões ou comportamentos de distra-
ca dos conceitos referentes a esta temática. ção aos progenitores ou aos irmãos – e três
Objetivo. O presente estudo teve como ob- expressões emocionais básicas - raiva, tris-
jetivo investigar, a partir da perspectiva dos teza e ansiedade (Miller et al., 2000; Volling
progenitores, as manifestações do ciúme et al., 2002). Frente a este panorama, com
de primogênitos pré-escolares com seus base no presente estudo, além de conside-
irmãos menores nos anos iniciais da rela- rar os comportamentos de distração e as
ção fraterna. Metodologia. Participaram do expressões de agressividade e de tristeza
estudo quatro casais de progenitores de fa- do primogênito, propõe-se a ampliação do
mílias com dois filhos residentes na cidade conceito de ciúme, a fim de incluir também
de Porto Alegre (RS). O filho primogênito a expressão de temores, desejos e insegu-
possuía idade pré-escolar e a mãe estava ranças das crianças, considerados como
grávida do segundo filho no momento da emoções e cognições complexas. Com isso,
primeira etapa de coleta de dados. Atra- corrobora-se a ideia de que o ciúme refere-
vés de um estudo de caso coletivo (Stake, -se a um complexo de emoções, compor-
1994), os progenitores responderam se- tamentos e pensamentos (White & Mu-
paradamente a entrevistas semidirigidas len, 1989), devendo ser considerado mais
em quatro momentos de coleta de dados como uma experiência emocional comple-
(3º. trimestre de gestação, aos 6, 12 e 24 xa do que como uma emoção em si ou uma
meses de vida do segundo filho). Os dados expressão comportamental (Volling et al.,
foram examinados através da análise de 2002). Deste modo, apenas podemos aces-
conteúdo qualitativa (Bardin, 1977; Laville sar os indicadores do ciúme, e não o ciúme
& Dionne, 1999). Discussão de resultados. em si. A partir dos relatos de ciúmes, perce-
Ao analisar conjuntamente o ciúme do beu-se, através do sentimento de perda do
primogênito em relação aos progenitores amor dos progenitores, que a redução do
com o irmão nos quatro casos investiga- envolvimento parental fora sentida pelos
dos, cinco formas básicas de manifestações primogênitos como relacionada ao risco de
de ciúme emergiram, sendo consideradas perda da relação parental como um todo
como indicadores de ciúme: 1) busca da e da perda de seu lugar de filho e de de-
atenção/afeto dos progenitores; 2) senti- positário do amor parental na família. Nes-
mento de perda do amor dos progenitores; te contexto, a fim de evitar tal perda, e já
3) desejo de estar no lugar do bebê; 4) ex- percebendo perder parte do envolvimento
pressões de agressividade; 5) expressões de dos progenitores consigo com a chegada
tristeza/desconforto. Segundo a literatura, do irmão, os primogênitos apresentariam
considera-se como indicadores de ciúme uma busca por resgatar a relação desfru-
os comportamentos do primogênito que tada até então. Percebe-se, com isso, a re-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

levância deste fenômeno entre as crianças enfatizado, já na década de 80, a impor-


pré-escolares que vivenciam a chegada de tância de que os comportamentos de ciú-
um irmão. A importância do ciúme expres- me fossem compreendidos como parte da
so neste momento de vida das crianças intensificação do apego, e não necessaria-
justifica-se uma vez que a ameaça ao rela- mente uma regressão a etapas anteriores
cionamento parental equivale ao risco de do desenvolvimento psicossexual. Como
perda de uma relação de apego (Bowlby, contribuição, os resultados encontrados
1973/2004a). Segundo Weiss (1991), três poderão servir como fonte de hipóteses a
características fundamentais diferenciam serem investigadas em futuras pesquisas.
o apego de outras formas de vínculos afe- Através da proposta dos indicadores de ci-
tivos: a busca de proximidade; a presença úme, estes resultados poderão apoiar es-
da figura de apego proporciona segurança tudos quantitativos em grandes amostras,
para a criança, possibilitando que explore a fim de ampliar o entendimento deste
o ambiente; o medo da falta de acessibili- fenômeno.
dade da figura de apego causa protesto e
ativa tentativas para se evitar a separação. Palavras-chave: ciúme, irmãos, indicadores
Os indicadores de ciúme encontrados no Contato: Caroline Rubin Rossato Pereira,
presente estudo estão de acordo com esta UFSM/ULBRA, carolinerrp@gmail.com
definição, uma vez que podem ser consi-
derados como formas de reaver a relação
desfrutada com os progenitores até o mo- LT05-1515 - O DESENVOLVIMENTO
mento. Pode-se considerar que tais mani- DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA
festações (busca da atenção/afeto dos pro- PERCEPÇÃO DAS MÃES
genitores, desejo de estar no lugar do bebê, Jaciara de Lira Almeida Dantas - UFPB
expressões de agressividade, expressões de jaciaraadantas@hotmail.com
tristeza/ desconforto) corresponderiam a Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB
comportamentos de apego, enquanto que patynfonseca@hotmail.com
o terceiro indicador de ciúme, a saber, o Samara Pereira Cabral - UFPB
sentimento de perda do amor dos progeni- samarapc@hotmal.com
tores, seria um fator desencadeante destas Lubiana de Souza dos Santos - UFPB
manifestações. Assim, os indicadores de ci- lubianasouza@hotmail.com
úme poderiam ser pensados como formas Jessyka Natalya de Sousa Cavalcanti - UFPB
de manter a relação especial usufruída até jessyka_natalia@hotmail.com
determinado momento com os progenito-
res, sem serem considerados como inade- O desenvolvimento humano é peculiar e
quados ou indesejados. Segundo Bowlby individual, tem sua gênese na concepção
(1973/2004b), o comportamento de ape- e seu fim com a morte. Segundo Papalia,
go teria uma função vital, sendo um grave Olds e Feldman (2009), o desenvolvimento
equívoco supor que indique patologia ou do ser humano ocorre em oito períodos,
regressão a comportamentos imaturos. são eles: período pré-natal, primeira in-
Ao abordar especificamente a temática do fância, segunda infância, terceira infância,
ciúme fraterno, baseada nas contribuições adolescência, início da vida adulta, vida
da Teoria do Apego, Neubauer (1982) havia adulta intermediária e vida adulta tardia.

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A primeira infância é caracterizada do nas- tudo 48 mães com idade média de 35 anos
cimento até os três anos, é marcado pelo (DP = 10,7), sendo 68,8% casadas, 43%
acelerado crescimento físico e motor, e a com ensino superior e 39,5% tinham até
compreensão e linguagem se desenvolvem dois filhos. A maioria (31,9%) apresentava
rapidamente. A segunda infância ocorre de uma renda familiar entre R$ 546,00 a R$
três a seis anos, é um período que possi- 1.635,00. A amostra foi por conveniência,
bilita o aprimoramento das habilidades não probabilística. O único critério de inclu-
motoras finas e amplas, o pensamento são era ela ter filho independente da idade
apresenta-se egocêntrico, as emoções e o da criança e do estado civil em que a mãe
autoconceito tornam-se mais complexos, se encontrava no momento. Elas responde-
a independência evolui e desenvolve-se ram a um questionário em que se pergun-
a identidade de gênero. A terceira infân- tava sobre o comportamento da criança
cia caracteriza-se pela ampliação da força (na área física, cognitiva, lingüística, emo-
física e as habilidades atléticas, o egocen- cional, social, moral) e a fase do desenvol-
trismo diminui, é marcada por um pensa- vimento (1ª, 2ª, 3ª infâncias e adolescên-
mento lógico, desde que o mesmo seja de cia) correspondente. Foi feito uma análise
forma concreta, as amizades exercem uma qualitativa. Os resultados revelaram que
maior importância. A adolescência por sua as mães apontaram para primeira infância
vez vai dos 11 anos a aproximadamente 20 (0-3 anos) os seguintes comportamentos:
anos e é fundamentada pela maturidade na área física (engatinhar, andar, descer
reprodutiva, o pensamento abstrato vem à escada, pular e dançar); na cognitiva (inte-
tona, no entanto o pensamento imaturo é ligência, curiosidade, compreensão e ego-
persistente em algumas momentos, a edu- centrismo); lingüística (início da pronúncia
cação está direcionada para a preparação das palavras); na área emocional (desobe-
profissional, há uma incessante busca pela dientes, birrentas, porém gostam de rece-
identidade, principalmente a sexual, e um ber carinho); na social (relacionam-se bem
amadurecimento no relacionamento com com a família e estão prontas para novas
os pais. Todavia, frente à sociedade global descobertas, são independentes, atrevi-
e tecnologia, muitos pais comentam sobre das); moral (já sabem o que é certo e er-
o desenvolvimento de seus filhos, alegando rado). Com relação à segunda infância (3-6
que muitos deles são precoces em algumas anos), as mães indicaram com relação à
atitudes e comportamentos, especialmen- área física (possui coordenação para come-
te no que se refere ao desenvolvimento rem sozinhas); emocionais (são agressivas);
cognitivo. Também afirmam que os filhos cognitiva (são esclarecidas, sabem manu-
são precoces para as questões sexuais, sear computadores, inventam estórias, imi-
principalmente em virtude da exposição da tam, são criativas, egocêntricas, brincam
mídia de filmes, comerciais, novelas e mú- de faz de conta e aprendem facilmente);
sicas que estimulam a área sexual. Frente psicossexual (gostam de usar roupas, sapa-
a estas questões, buscou-se, através deste tos e maquiagem da mãe); na linguagem (já
trabalho, identificar a percepção das mães têm o maior acervo de palavras e já sabem
acerca do comportamento das crianças e a nomear alguns objetos); na área moral (pe-
fase do desenvolvimento em que ele deve- dem desculpas e são exigentes), na social
ria ou é apresentado. Participaram do es- (tem a percepção de si mesmo e sabem o

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que querem; brincam com os colegas, são Palavras-chave: gênero, estórias infantis,
espontâneos e desinibidos). Para a tercei- educação infantil
ra infância, que compreendem de 6 a 12 Contato: Jaciara de Lira Almeida Dantas,
anos, as mães mostraram que as crianças UFPB, jaciaraadantas@hotmail.com
apresentam na área física (não gostam de
tomar banho, usam talheres com facilida-
des e são independentes); na psicossexual
(já tem conhecimento sobre namoro, sexo
e romance); na linguagem (são comunicati- DIA 14/11 - Segunda-feira
vas e falam muito); na emocional (são ego-
ístas, rebeldes, tímidas, preocupadas), na 14h-15h30
área social (fazem amizades, são extrover-
tidas e desenvolvem o companheirismo),
na cognitiva (gostam de brincar, imitam,
são curiosas, vaidosas, conseguem fazer CONFERÊNCIA:
duas coisas ao mesmo tempo, gostam de
desenhar); na área moral (gostam de dar
opiniões e algumas vezes apresentam-se EL GIRO LINGÜÍSTICO Y EL GIRO CORPORAL
atitudes de desrespeito). No que se refere a EN LA PSICOLOGÍA DEL DESARROLLO
adolescência, as mães apresentaram como Silvia Español - UBA
características da área física (altos, fortes
e gostam muito de esportes), na cognitiva
(são inteligentes e tem grande interesse MR LT04
pelas tecnologias); na social (apresentam-
-se como solitários), na área psicossexual Mesa Redonda
(tem grande interesse com assuntos rela-
cionados ao namoro e sexo); na emocional
(são desobedientes, donos de si e muitas MR LT04-1276 - PSICOLOGIA ESCOLAR
vezes rebeldes). Conclui-se que, de forma NO MARANHÃO: HISTÓRIA, FORMAÇÃO
geral, as mães apresentaram uma percep- E ATUAÇÃO
ção condizente com a literatura, especial- Januária Aires - UFMA,
mente no que diz respeito à faixa etária e cefape2001@yahoo.com.br
o comportamento correspondente. Não Pollianna Galvão Soares - UnB,
é de surpreender o resultado, quando se polliannagalvao@yahoo.com.br
leva em consideração que a mãe é a pes- Tatiana Oliveira de Carvalho - IG/MA,
soa mais próxima da criança e dedica aten- tatiana@institutogeist.com.br
ção ao desenvolvimento desta, a ponto de
buscar ajuda profissional quando constata A chegada da Psicologia no país se deu
algum atraso no desenvolvimento. Aspec- na passagem dos séculos XIX-XX, acom-
to que não se observa na maioria dos pais, panhada por estudos desenvolvidos prin-
o que seria interessante desenvolver um cipalmente nas áreas da Medicina e da
novo estudo, só que tendo os pais como os Pedagogia (Marinho-Araujo & Almeida,
respondentes. 2005; Maluf & Cruces, 2008). Mais es-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pecificamente, foi na década de 60 que fim, debater-se-á acerca das tendências


a área adquiriu o reconhecimento profis- atuais no âmbito da atuação do psicólogo
sional, por meio da Lei 4.119, de 1962, escolar no estado, a partir de um relato
pela qual se instituiu o ensino superior de experiência em Psicologia Escolar em
da Psicologia e a regulamentação da pro- um contexto educativo ludovicense. Res-
fissão de psicólogo (Marinho-Araujo & salta-se a importância da Psicologia Esco-
Almeida, 2005, Massimi, 1990). Embora lar do Maranhão para integrar-se junto
a área começasse a ser consolidada, no ao debate nacional, especialmente sobre
cenário nacional, na década de 60, a Psi- propostas de reestruturação da forma-
cologia no estado do Maranhão surgiu ção nessa área no estado. Essa formação
com considerável atraso em comparação deve privilegiar recursos pelos quais se
às demais regiões do país. Os caminhos possam desenvolver profissionais segu-
percorridos por essa área no país não se ros da especificidade da sua atuação e
diferiram, em essência, dos de sua inser- conscientes de seu compromisso social
ção na região maranhense. A chegada com a região (Soares, 2008). Considera-
dos profissionais da Psicologia no Mara- -se que o Maranhão necessita da con-
nhão ocorreu entre as décadas de 70 e tribuição de psicólogos escolares que,
80. Desde então, diversas áreas dessa ci- seguros de seu papel e intencionalidade,
ência têm se desenvolvido no estado em construam uma identidade profissional
função dos grupos de professores, pro- comprometida com as transformações
fissionais e pesquisadores que migraram sociais do contexto local, o que começa a
de outras regiões (Araújo, 2005; Carvalho se efetivar através do aprimoramento da
& Marinho-Araujo, 2009). Ao se propor, formação na área e da clareza e seguran-
por meio desse trabalho, discutir sobre o ça em sua atuação profissional (Carvalho
desenvolvimento da Psicologia Escolar no & Marinho-Araujo, 2009).
Maranhão, numa perspectiva histórica e
contemporânea, é necessário considerar
os múltiplos aspectos que passam por HISTÓRICO DA PSICOLOGIA ESCOLAR
uma análise da realidade maranhense NO MARANHÃO
de maneira ampla, crítica e contextuali- Tatiana Oliveira de Carvalho - IG/MA
zada às características políticas, sociais e tatiana@institutogeist.com.br
econômicas do estado (Carvalho, 2007;
Soares, 2008). Assim, pretende-se deba- No Maranhão, estado nordestino com
ter, na primeira temática, sobre o histó- um desenvolvimento ainda restrito na
rico da Psicologia Escolar no Maranhão, área da Educação, a situação precária
a partir do levantamento de informações em que vive grande parte de sua popu-
sobre o processo inserção dessa área no lação vem se constituindo em um apelo
estado. Seguidamente, pretende-se tra- para que estudos, pesquisas e interven-
zer o tema da formação no atual cenário ções psicológicas comprometam-se com
da Psicologia Escolar no Maranhão, ten- a transformação dessa realidade. Trata-
do como aporte as transformações ocor- -se do estado que possui a menor média
ridas nas últimas décadas nos contextos de escolaridade, com uma taxa de anal-
das Instituições de Ensino Superior. Por fabetismo que atinge 22% da população

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com mais de 10 anos de idade. A parcela mento psicológico e religioso. Araújo


empobrecida do povo, que corresponde (2005b) relata que esse padre, estudioso
à grande maioria dos maranhenses, tem da ciência psicológica, recebia grande re-
seu percurso de educação formal trilha- conhecimento por parte da população,
do no ensino público. A Psicologia Escolar por seu trabalho pautado em uma “psi-
maranhense vem reconhecendo que tem cologia iluminada pela fé” (p. 148). Com
contribuições importantes a oferecer em o passar dos anos, a necessidade do tra-
relação às necessárias transformações balho do psicólogo no Maranhão foi len-
sociais no estado. A chegada da Psicolo- tamente se estabelecendo. Na década
gia ao Maranhão ocorreu pelas mesmas de 90, surgiram cursos de graduação em
vias que marcaram sua chegada a outras Psicologia no estado, em São Luís. Ainda
regiões do Brasil, apesar de bem tardia- hoje, porém, pouco desenvolvem ativida-
mente em comparação a essas. O estudo des de pesquisa e extensão universitária.
dos fenômenos psicológicos esteve por Também são raras as oportunidades de
muito tempo atrelado às áreas médica e pós-graduação, e em Psicologia Escolar,
educacional. Enquanto profissão, a con- elas inexistem. Observa-se, por outro
quista de seu espaço se deu de forma lado, que a demanda por serviços psico-
lenta. Na capital, São Luís, onde surgiram lógicos é crescente, assim como cresce a
os primeiros psicólogos no estado, até a quantidade de profissionais no estado.
década de 70 inexistiam serviços profis- Até junho de 2011, o Conselho Regional
sionais de Psicologia, conforme afirma de Psicologia – 11ª Região2 havia registra-
Araújo (2005a). Foi naquela década que do 1.195 psicólogos no estado. A profis-
se iniciou uma atuação ainda restrita, são de psicólogo vem se consolidando no
com a chegada de profissionais formados Maranhão, enquanto a Psicologia Escolar
em outros estados. A maioria dos psicó- brasileira vive um período de transição,
logos recém-chegados atuou na área da marcado por uma tendência a superar os
Psicologia Organizacional, na qual havia padrões tradicionais de formação e atu-
maior demanda. Alguns atuaram na área ação na área (Carvalho, 2007; Carvalho
clínica e raramente se encontravam psi- & Marinho-Araujo, 2009). Vê-se, dessa
cólogos nas escolas. Quando isso acon- forma, que os incrementos que vêm sen-
tecia, essa atuação se restringia à aplica- do realizados na Psicologia Escolar mara-
ção de testes vocacionais. Na década de nhense já trazem a marca das mudanças
80, enquanto a Psicologia brasileira vivia paradigmáticas testemunhadas em âmbi-
um momento de intensas e significativas to nacional. As instituições educacionais
ressignificações, nem sequer havia essa privadas, públicas e do terceiro setor,
formação no Maranhão, e sim, um des- têm crescentemente demandado o servi-
conhecimento generalizado acerca da ço de Psicologia Escolar, ainda que esse
atuação desse profissional. Mesmo com crescimento seja lento. A título de exem-
a chegada de psicólogos no estado, era plo, tem-se que a Prefeitura de São Luís,
comum que as pessoas procurassem, em em fevereiro de 2008, realizou concurso
detrimento desses, o Padre João Moha-
na, para tratarem de assuntos de ordem 2
O CRP 11, cuja sede fica em Fortaleza-CE, abrange os esta-
psicológica, sem diferenciarem atendi- dos Ceará, Piauí e Maranhão.

700
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

público para a Secretaria Municipal de tores da educação no Maranhão, sendo


Educação abrindo quatro vagas para psi- necessária sua inserção nos espaços deli-
cólogo, sendo duas delas para psicólogo berativos. Estes foram alguns dos pontos
especialista em Psicopedagogia. Na rede que passaram a ser sistematicamente dis-
estadual de ensino, há psicólogos escola- cutidos pela categoria no estado, a partir
res atuando na área da Educação Espe- de 2008, ano temático da Educação no
cial. Nas escolas privadas, é mais comum Sistema Conselhos de Psicologia. Neste
a presença do psicólogo apenas como ano, foi criada a Comissão de Psicologia
consultor, ou desenvolvendo atividades Escolar/Educacional da Seção Maranhão
pontuais, sem um vínculo com a institui- do Conselho Regional de Psicologia –
ção. As recentes melhorias da formação 11ª região. Essa Comissão organizou, no
em Psicologia Escolar no Maranhão têm mesmo ano, o II Fórum de Psicologia do
se mostrado como caminho promissor Maranhão, que teve como tema “A Psi-
para uma maior consolidação da área no cologia na construção da educação para
estado, tanto no sentido de uma maior todos”, e o “I Encontro Maranhense de
abertura para inserção desse profissio- Psicologia Escolar”, com participação de
nal na educação, como, também, para o conferencistas de renome no cenário na-
desenvolvimento de ações profissionais cional. Em 2009 e 2011, respectivamen-
pautadas no comprometimento com as te, foram realizados o I e o II Encontro “A
necessárias transformações do cenário Psicologia na construção da educação in-
educacional maranhense. Compreende- clusiva”, dando continuidade à discussão
-se, porém, que a construção de uma acerca da prática profissional e científica
Psicologia Escolar crítica, comprometida do psicólogo no campo educacional, bus-
e transformadora no Maranhão não de- cando a superação de uma atuação estig-
pende exclusivamente das instituições matizadora e excludente e oportunizando
formadoras. Percebe-se a ressonância de que psicólogos, estudantes, docentes e
fatores sócio-econômicos e políticos no pesquisadores refletissem acerca da con-
contexto maranhense funcionando como figuração da Psicologia Escolar no cená-
entraves ao ingresso e permanência dos rio maranhense. Observa-se que, atual-
psicólogos escolares no mercado de tra- mente, têm surgido relevantes iniciativas
balho. Soma-se a isso o pouco conheci- que demonstram que o psicólogo escolar
mento da sociedade acerca de seu papel tem buscado atuar em consonância ao
profissional. Paralelamente ao já aponta- que Martínez (2009) define como formas
do, são necessárias ações de maior am- emergentes de atuação, desenvolvendo
plitude, que envolvam a elaboração de ações cada vez mais abrangentes, com o
políticas públicas que prevejam a parti- propósito de contribuir à otimização do
cipação do psicólogo no cenário educa- processo educativo.
cional, o aumento das verbas destinadas
à educação, bem como uma maior divul- Palavras-chave: Psicologia Escolar, história,
gação do trabalho da Psicologia Escolar Maranhão.
junto aos maranhenses. Isso requer a
mobilização da categoria profissional de
psicólogos junto aos legisladores e ges-

701
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

TENDÊNCIAS ATUAIS NA FORMAÇÃO EM logia começa a se concretizar no estado.


PSICOLOGIA ESCOLAR NO MARANHÃO No início dos anos 90, se inaugurou o pri-
Januária Silva Aires - UFMA meiro curso de Psicologia na Universida-
cefape2001@yahoo.com.br de Federal do Maranhão (UFMA). No final
dessa mesma década, surgiu o segundo
A década de 80 demarca um momento curso de graduação, partindo, dessa vez,
importante na história da Psicologia no da iniciativa privada por meio do Centro
Brasil. Esse período foi caracterizado pelo Universitário do Maranhão (UNICEUMA).
rompimento da tradição individualista, Mais recentemente, emergiu o terceiro
naturalizante, patologizante das questões curso de Psicologia na Faculdade Pitágo-
sociais que dominava a Psicologia desde ras, também uma instituição de natureza
sua regulamentação enquanto profissão. privada. Nessa apresentação, será des-
No entanto, essa ruptura desencadea- tacada a formação em Psicologia Escolar
da ao longo das décadas de 80 e 90 não da UFMA. O estágio em Psicologia Esco-
foi suficiente para vencer a visão liberal, lar nessa instituição só foi iniciado em
positivista e idealista de um homem iso- 1997, mesma época em que o curso de
lado da sociedade, tendências essas que Psicologia da Universidade formava a sua
influenciaram, sobremaneira, a formação primeira turma. Isso significa que o início
em Psicologia nos cursos de graduação da fundação da Psicologia no contexto da
(Bock 1999; Marinho-Araujo & Almeida, UFMA, não se privilegiava a formação na
2005; Meira 2000). Paralelamente a essa área da Psicologia Escolar, quadro insti-
transição, a Psicologia Escolar brasileira tucional não muito diferente das demais
também começou buscar recursos para Instituições de Ensino Superior do país
atender esse novo momento histórico (Marinho-Araujo, 2007). Entre o período
pelo qual Psicologia passava, a partir dos de 1997 a 2006, apenas uma professora
quais se passou a desenvolver uma crítica com experiência em Psicologia Escolar
interna à sua prática. As transições de pa- fazia parte do quadro docente da institui-
radigmas, as mudanças teórico-metodo- ção. Dessa forma, não havia a possibili-
lógicas ancoradas à necessidade de uma dade de atender, de forma satisfatória, a
Psicologia comprometida com as mu- demanda de estágio e nem as disciplinas
danças sociais, dentre outros aspectos, relacionadas à área para uma formação
nos remete à reflexão sobre a formação crítica e segura do psicólogo escolar. As
do profissional de Psicologia como pers- disciplinas eram ministradas por profes-
pectiva de alcançar essa nova demanda. sores que precisavam preencher suas
Embora a área começasse a ser consoli- cargas-horárias, provocando, assim, uma
dada, no cenário nacional, na década de lacuna na formação discente devido à fal-
60, a Psicologia no estado do Maranhão ta de preparo dos docentes, uma vez que
não seguiu o mesmo curso de desenvol- a disciplina não era de domínio teórico,
vimento da Psicologia no Brasil, especial- metodológico e prático do agente media-
mente no que toca à formação da área dor dessa formação. A partir do concur-
(Araújo, 2005a; 2005b; Carvalho & Mari- so realizado em 2006, o Departamento
nho-Araujo, 2009). Foi apenas a partir da de Psicologia da UFMA aumentou para
década de 90 que a formação em Psico- quatro o número de professores efetivos

702
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com experiência em Psicologia Escolar. da UFMA tem possibilitado, como desdo-


Esse momento inaugurou uma nova fase bramento dessas mudanças, um aumen-
na formação discente: o contato com no- to significativo de trabalhos de conclusão
vas abordagens em Psicologia Escolar, o de curso voltados para o mapeamento da
maior número de vagas oferecidas para realidade socioeducacional maranhen-
o estágio na área, professores responsá- se, visando explorar as possibilidades
veis pelas disciplinas afins com experiên- intervenção do psicólogo escolar nos
cia em pesquisa e atuação em Psicologia contextos educacionais. No âmbito da
Escolar, entre outros aspectos. Ainda em formação em Psicologia Escolar na insti-
2006, o estágio começou a ser ofereci- tuição, tem-se privilegiado estratégias de
do na abordagem comportamental e na mediação visando o desenvolvimento de
abordagem histórico-cultural. Com base competências no graduando para a cons-
nessa última perspectiva da Psicologia, trução de uma postura profissional ética
o estágio se configurou em duas moda- e comprometida com a realidade social
lidades de orientação e supervisão: uma do estado do Maranhão. Apesar desses
voltada para uma Psicologia Escolar insti- avanços iniciais, ainda se faz necessário
tucional, de caráter preventivo e relacio- criar outras possibilidades de formação,
nal (Marinho-Araujo & Almeida, 2005), e inicial e continuada, na área da Psicologia
a outra voltada para avaliação e interven- Escolar, tais como cursos de pós-gradua-
ção nas queixas escolares, conforme pro- ção latu sensu e stricto sensu, projetos de
posição teórico-metodológica de Neves pesquisa e extensão, estratégias políticas
& Almeida (2003). Essas perspectivas de para incentivar interlocução com outras
atuação superam a atuação centrada no instituições de ensino em Psicologia do
aluno e envolve toda a instituição esco- estado, bem como para estreitar debates
lar, numa perspectiva dinâmica, sistêmica entre profissionais e pesquisadores do
e processual de intervenção e mediação Maranhão e de outros estados brasilei-
psicológica no contexto educativo, abor- ros, políticas públicas de ampliação dos
dagens significativas no cenário nacional espaços de atuação do psicólogo escolar,
e de grande relevância para a formação entre outros desafios. (Carvalho, 2007;
do psicólogo escolar no Maranhão. Cabe Carvalho & Marinho-Araujo, 2009; Soa-
ainda enfatizar acerca da diversidade dos res, 2008). A reflexão crítica em prol da
campos para os quais os estagiários em transformação de estruturas de curricu-
Psicologia Escolar são orientados e que lares desatualizadas e cristalizadas que
permitem ampliar sua experiência na marcaram história da formação da Psico-
área. Além da escola, tem-se orientado logia no estado do Maranhão é o convite
estágio em instituições de acolhimen- final deste trabalho.
to para crianças em situação de risco e
vulnerabilidade social, ONGs, creches- Palavras-chave: Psicologia Escolar, formação,
-escola, entre outros, instituições geral- UFMA.
mente voltadas para o atendimento da
população desfavorecida socioeconomi-
camente de São Luís. A recente configu-
ração institucional do curso de Psicologia

703
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR voltada para os interesses e necessidades


NO MARANHÃO: COMPROMISSO da coletividade (Guzzo, 2003, 2005). Como
COM A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DA a Psicologia Escolar historicamente esteve
REALIDADE LOCAL comprometida com interesses sociais de
Pollianna Galvão Soares - UnB uma minoria da população (Guzzo, 2003,
polliannagalvao@yahoo.com.br 2005; Patto, 1999; Marinho-Araujo & Al-
meida, 2005), é necessário que se questio-
A realidade socioeducativa do estado do ne de qual compromisso social se discursa
Maranhão requer especial atenção de pro- e se pratica nos mais distintos contextos
fissionais e pesquisadores envolvidos nos revestidos da função educativa. Se a in-
diversos contextos educativos, em função tenção é propiciar a transformação social
de um panorama econômico e político por meio da ação profissional, a Psicolo-
desfavorável ao desenvolvimento dos seus gia Escolar deve comprometer-se com o
cidadãos. De acordo com o IBGE, entre os desvelamento dos aspectos ideológicos e
anos 1999-2002, o Maranhão liderava a lis- filosóficos presentes nos diversos aspec-
tagem dos estados mais pobres do país. Na tos institucionais pelos quais se mantêm
amostragem dos 100 municípios de piores as desigualdades sociais (Guzzo, 2003;
índices do PIB, 83 eram do interior mara- Marinho-Araujo & Almeida, 2005). Partin-
nhense. O IDH (Índice de Desenvolvimen- do de uma perspectiva preventiva, crítica
to Humano) do estado encontrava-se com e contextual (Marinho-Araujo & Almeida,
o índice de 0,673 no ano de 2001, o pior 2005), será apresentada uma experiência
do país. O Maranhão também é o estado de uma equipe de psicólogos escolares em
que detém uma das maiores taxas de anal- uma ONG educativa beneficente de São
fabetismo entre as demais unidades da Luís, capital maranhense. Essa instituição
federação. Diante de um panorama socio- é uma entidade filantrópica mantida por
econômico desfavorável a uma educação uma associação religiosa há cerca de 20
de qualidade pública, o psicólogo escolar anos, pela qual se provê acompanhamen-
maranhense, não diferentemente dos que to da aprendizagem e desenvolvimento de
atuam nas demais regiões do país, tem se cerca de 300 crianças e adolescentes de
defrontado cada vez mais com espaços baixa renda, no horário oposto ao que fre-
diferenciados de práticas educativas vin- quentam a escola. O relato dessa experi-
culadas a organizações civis (ONGs) (Caro ência refere-se ao período de 2002 a 2005,
& Guzzo, 2004; Gohn, 2009, 2010; Soares durante o qual esteve em vigência a atua-
& Marinho-Araujo, 2010; Souza, 2009). A ção dessa equipe de psicólogos escolares.
atual conjuntura da educação brasileira, Esse trabalho foi desenvolvido por três
que alavanca ações socioeducativas civis profissionais, cujas intervenções eram re-
em prol da garantia dos direitos constitu- alizadas por meio de estratégias coletivas
cionais, tem oportunizado novas reflexões e individuais. No que se refere ao acompa-
sobre o trabalho do psicólogo escolar e o nhamento ao processo de ensino-aprendi-
seu compromisso com a educação no Bra- zagem, investigavam-se os casos de queixa
sil. Quando é requerido o compromisso escolar encaminhados ao serviço de Psi-
social da Psicologia Escolar, reivindica-se, cologia Escolar da instituição, partindo do
necessariamente, uma implicação prática modelo de avaliação PAIQUE (Procedimen-

704
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to de Avaliação e Intervenção das Queixas seu papel, responsabilidade e função no


Escolares), proposto por Neves & Almeida desenvolvimento dos seus alunos de ma-
(2003). Para esse acompanhamento, ain- neira intencional e crítica (Marinho-Arau-
da eram realizados observação em sala de jo, 2005; Guzzo, 2003, 2005). A segunda
aula, visitas domiciliares e estudos de caso ação era concretizada através da formação
com as educadoras, a fim de melhor com- assistida às educadoras. As ações de for-
preender os aspectos relacionados ao pro- mação eram feitas mensalmente com as
cesso de aprendizagem e desenvolvimento educadoras sociais das unidades da ONG e
do aluno encaminhado. Os trabalhos com a coordenadora pedagógica. Planejava-se,
grupos referiam-se a intervenções junto por meio dessa ação, o desenvolvimento
aos adolescentes com temáticas específi- de competências teóricas, conceituais e
cas, como adolescência, cidadania, sexuali- metodológicas das profissionais, especial-
dade, drogas, relações interpessoais, entre mente pela mediação de discussões da
outras. Realizavam-se, ainda como traba- psicologia do desenvolvimento e suas im-
lho grupal, encontros com as crianças com plicações pedagógicas, relacionando às di-
temáticas definidas e desenvolvidas com ficuldades educacionais que encontravam
as educadoras. Efetivavam-se, também, no dia a dia. Posteriormente, realizava-se
reuniões mensais com os pais em cada um acompanhamento das educadoras
unidade da instituição, durante as quais o no seu exercício profissional, provocando
psicólogo ministrava oficinas e palestras de continuamente reflexão sobre, na e para
acordo com as demandas analisadas pela a ação do educar, em consonância à pro-
equipe de Psicologia Escolar, educadoras posição teórica da epistemologia da ação
e pais. O terceiro eixo do trabalho realiza- (Araujo, 2003; Plantamura, 2003). Duas
do era a assessoria ao trabalho educativo, pesquisas acadêmicas em Psicologia Esco-
a qual era desenvolvida por meio de duas lar foram desenvolvidas pelas psicólogas
estratégias de mediação: elaboração de da ONG na própria instituição. A primeira,
espaços escuta psicológica e formação as- intitulada Atuação em psicologia escolar: o
sistida às educadoras, em consonância à desenvolvimento de competências para a
proposição de atuação em Psicologia Esco- mediação da escolha profissional em São
lar de Marinho-Araujo & Almeida (2005). A Luís-MA (Carvalho, 2007), investigou o
primeira estratégia era realizada por meio desenvolvimento de competências de psi-
de situações espontâneas e estruturadas, cólogos escolares para a mediação da es-
pelas quais se intencionava compreender colha profissional do grupo de educandos
e intervir nos aspectos intersubjetivos adolescentes da ONG. A segunda pesquisa
construídos nas relações sociais. A escuta desenvolvida foi Psicologia escolar e o de-
clínica (Kupfer, 2004) nos permitia realizar senvolvimento adulto: um estudo sobre o
uma leitura institucional crítica e reflexiva perfil de educadoras sociais em uma ONG
das “vozes institucionais” que se manifes- de São Luís/MA (Soares, 2008), pela qual
tavam pelas ações e discursos desenvolvi- se investigou o perfil de educadoras sociais
dos pelos seus atores. A partir dessa aná- da instituição, visando conhecer as possibi-
lise, se planejavam mediações individuais lidades de mediação da Psicologia Escolar
e coletivas que implicassem em processos para o desenvolvimento de competências
de conscientização do educador sobre o profissionais próprias ao trabalho educa-

705
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tivo não formal. É oportuno refletir, qual com o cuidador na família para a educa-
seja a sua ação, que há de se ter devido ção infantil e da educação infantil para o
cuidado com mediações profissionais de Ensino Fundamental. Para tanto, inicia-
maneira acrítica, apolítica e descontextu- mos com a análise de dados de desenvol-
alizada do panorama histórico e sociocul- vimento semiótico na emergência do ins-
tural do qual as instituições educativas de trumento na relação criança-cuidador em
terceiro setor nascem e se desenvolvem. que se busca compreender as complexas
organizações de signos, ações, afetos e in-
Palavras-chave: Psicologia Escolar, atuação, ONG. tenções tecidas em situação de resolução
de problemas. Em seguida, abordamos a
participação de crianças em pesquisa na
SP LT04 - Simpósio transição da educação infantil para o en-
sino fundamental, cujas dinâmicas são
pouco conhecidas quando se considera o
SP LT04-1383 - A CONSTRUÇÃO DO sistema educacional brasileiro e a inclusão
CONHECIMENTO NA PRIMEIRA recente de crianças de seis anos no pri-
INFANCIA EM DIFERENTES CONTEXTOS meiro ano do EF e envolve fatores como:
DE DESENVOLVIMENTO cuidado e educação da criança pequena,
Silviane Barbato - IP/UnB família e professores dos dois níveis de en-
barbato.silviane@gmail.com sino. O terceiro trabalho também conside-
ra essa transição, no entanto, enfocando
Nesta sessão apresentaremos e discutire- a mediação da música no desenvolvimen-
mos a utilização de diferentes ferramentas to da consciência fonológica em que são
mediacionais físicas e simbólicas na cons- construídas suposições sobre a relação
trução de conhecimento da criança pe- entre desenvolvimento do ouvido musical
quena em interação com um adulto e/ou e a habilidade de ouvir fonemas no ensi-
seus pares. Enquanto grupo, nos interessa no-aprendizagem da leitura e da escrita,
entender como a criança constrói conheci- considerando-se a recente introdução da
mento e significados em contextos de prá- educação musical nas escolas brasileiras.
ticas e interlocuções formais e informais No quarto momento, avançamos em dire-
no cotidiano da família e da escola quando ção a discussão da mediação dos modos
ela passa a frenquentá-la. A fim de alcan- comunicativos visuais, orais e escritos
çarmos nosso objetivo geral, enfocaremos nesta transição, enfocando a mediação do
diferentes momentos do desenvolvimento desenho na aprendizagem de linguagem
na primeira infância, considerando o seu gráfica na construção inicial dos conceitos
desenvolvimento simbólico mediado na fa- de espaço e do sistema de símbolos que
mília, na educação infantil e nos primeiros envolve construção do conceito de pro-
anos do ensino fundamental, entenden- porção e o uso de signos ordenados e téc-
do que estamos diante de dois períodos nicas de projeção necessários para a lei-
de transição que implicam em diferentes tura de linguagem gráfica e representação
configurações das redes interacionais nas do espaço geográfico. Finalizamos nosso
diferentes atividades das quais a criança simpósio com a discussão de dados de fala
participa: da construção de conhecimento egocêntrica mediando a construção de

706
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conhecimento na intersubjetividade com viduais, deixando de lado as construções


a utilização de repetição cantada, repeti- feitas mediante os sistemas culturais de
ção exaustiva de palavras, de conjuntos de canalização, o papel dos Promoter Signs e
fonemas e fonemas isolados, relacionados a transformação dos signos como base as
à situação de ensino construída em sala posteriores mudanças da ação. A organiza-
com a professora e utilizados pela criança ção de “camadas semióticas” nas crianças
para avançar no conhecimento da leitura depende das formas semióticas e dos re-
e da escrita essenciais para os processos cursos sígnicos oferecidos pelos cuidado-
de letramento. res. No caso da presente pesquisa, o traba-
lho consiste em replicar o uso da situação
Palavras-chave: mediação, construção do criada pelo Mounoud (1970). Os dados fo-
conhecimento, transições. ram coletados com crianças de 3,3 até 3,10
meses de idade. Nesta apresentação serão
usados os dados de uma criança e o seu
DESENVOLVIMENTO E SEMIOSIS: A cuidador só, neste caso Santiago de 3.5
EMERGÊNCIA DO INSTRUMENTO NA meses. A tarefa consistiu em utilizar, num
RELAÇÃO CRIANÇA-CUIDADOR primeiro momento, o conjunto de ganchos
Francisco José Rengifo Herrera - UI/UnB de metal com o objetivo de pegar um cubo
frengifoherrera@gmail.com de madeira de 3 cm que tem um gancho
aberto inserido. Depois, num segundo mo-
Os aspectos culturais e semióticos como mento, precisava-se do uso de placas finas
base da explicação das mudanças cogniti- de madeira com o mesmo objetivo. O cubo
vas, afetivas e relacionais dos indivíduos. de madeira se encontra no interior de um
Especialmente os trabalhos de Valsiner frasco de 20 cm de cumprimento e 10 cm
(2007) os quais enfatizam a separação in- de diâmetro. Porém, fizemos algumas mu-
clusiva e a canalização cultural do sujeito, danças nas características metodológicas
assim como a construção de sistemas de da situação original, no caso da pesquisa
significação no sujeito. Nesse sentido a apresentada as mudanças têm relação
construção de sistemas relacionais entre com a participação explícita do cuidador
o cuidador e a criança constitui-se num como parte do processo de resolução do
cenário privilegiado para compreender o problema. As situações foram filmadas
desenvolvimento de sistemas semióticos durante 15 min. e depois foram analisa-
que permitem “desfiar” as complexas or- das através da construção de categorias
ganizações de signos, ações, afetos e in- e a utilização da análise microgenética.
tenções tecidas entre crianças e adultos. A Os resultados indicam que a díade cons-
construção de ferramentas é uma das ca- truiu uma serie de signos recorrentes que
racterísticas que tem sido continuamente deixam em evidência a complexa relação
sublinhada como exemplo da capacidade e semiótica que exige a criação de signos e
flexibilidade do sistema psicológico da es- o papel dos ícones, índices e símbolos na
pécie humana. No entanto, a abordagem facilitação dessa construção por parte das
tradicional na psicologia do desenvolvi- crianças, assim como também as ações e
mento está enfocada tem sido focada na as categorias construídas e identificadas
compreensão de sistemas cognitivos indi- permitem compreender os processos de

707
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

criação de camadas semióticas nas crian- estudos que as investigam focalizam, ape-
ças, o papel dos cuidadores no desenvol- nas, as opiniões dos adultos, revelando a
vimento de ferramentas semióticas e na prevalência de uma visão adultocêntrica
construção e reelaboração das ações das da infância. Por isso consideramos, em
díades e na apropriação das crianças nos nossas pesquisas, de fundamental impor-
usos dos objetos. Finalmente, se pode tância investigar a compreensão e a ex-
concluir que nos processos de desenvolvi- pressão que a criança tem seu desenvolvi-
mento participam de maneira importante mento e aprendizagem. Algumas técnicas
a semiosis, os usos convencionais e simbó- mostram-se mais apropriadas a estas
licos e a canalização dos usos dos objetos, explorações, como as narrativas associa-
mas se deve sublinhar o papel do cuidador das a histórias com bonecos/fantoches;
no desenvolvimento psicológico da crian- figuras representando conceitos; e, entre
ça. Compreender os usos dos objetos à luz outras, os desenhos, ainda que criticados
dos processos de construção de semiosis e pela possibilidade de ambigüidades de in-
significação são um dos principais aportes terpretação, pois, propiciam descobertas
da pesquisa. interessantes e são utilizados na prática
clínica com crianças desde início/meados
Palavras-chave: semiose, díade criança- do século XX, de modo livre ou com temas
cuidador, mediação. como, por exemplo, o desenho de família.
Estas atividades estão entre as preferên-
cias das crianças, dando indicadores simi-
PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM lares aos dos adultos nos diálogos; por-
PESQUISAS DURANTE A EDUCAÇÃO tanto, podem complementar a entrevista
INFANTIL E O INÍCIO DO ENSINO com crianças, visando captar mais ampla-
FUNDAMENTAL mente suas concepções e torná-la mais lú-
Patrícia C. Campos-Ramos - UnB dica e atrativa. Como em todas as técnicas
pcamposramos@uol.com.br de pesquisa, deve haver alguns cuidados
Silviane B. Barbato - UnB ao adotá-las, como o preparo do pesqui-
barbato.silviane@gmail.com sador para saber ouvir e interpretar o que
dizem as crianças. Sua participação vem
Ao relacionarmos processos de desenvol- sendo considerada em nossos estudos,
vimento humano e educação, notamos por exemplo, a respeito das representa-
a existência de diálogos entre crianças, ções de família, relacionadas à (dificulda-
adultos de variados contextos e o conhe- de de) aprendizagem3; participaram do re-
cimento. Eles são oportunizados, nas so- ferido estudo crianças de sete a dez anos,
ciedades letradas contemporâneas, pri- com e sem dificuldades de aprendizagem,
meiramente pela família e a escola, com cursando do segundo ao quinto ano do
implicações para o desenvolvimento e Ensino Fundamental; elas desenharam e
mediação na aprendizagem da criança, via
diferentes atividades. Nestes contextos,
as crianças compreendem, interpretam e 3
Trabalho desenvolvido durante o curso de especialização
em Psicopedagogia pela primeira autora, orientada pela
atuam; porém, ainda são pouco incluídas Profa. Ms. Anete Maria Busin Fernandes, na perspectiva
como informantes nas pesquisas e muitos do atendimento clínico.

708
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

escreveram compreensivamente a respei- sição para o Ensino Fundamental aos seis


to de si, da família e da escola. Também, anos (por vezes incompletos) constitui-se,
em estudo a respeito de sua compreensão no Brasil, mudança recente, com efeitos
de família4, no qual crianças ainda meno- ainda relativamente desconhecidos e que,
res responderam entrevistas semiestrutu- possivelmente, envolvem fatores como
radas, com auxílio de cenário e histórias o cuidado e a educação da criança, pela
para completar, referindo-se a composi- família, e o processo de sua escolarização
ção familiar, coabitação e cumprimento de até o momento. As maneiras como a es-
funções, com definições mais abstratas e cola, a família e a criança lidam com es-
complexas conforme o aumento da idade tas mudanças poderão propiciar ou inibir
dos participantes, que tinham entre três avanços no desenvolvimento global e, em
e cinco anos. Ainda, em estudos sobre a especial, da aprendizagem, como da lei-
inclusão escolar de crianças com neces- tura e escrita. Temos como objetivo geral
sidades educacionais especiais5 com ou a compreensão da transição da Educação
sem diagnóstico, na escola ou em outros Infantil para o Ensino Fundamental, além
contextos inclusivos; educadores especia- das possíveis conseqüências desta inser-
listas são orientados por nós a incluírem a ção e os prováveis reflexos na alfabetiza-
opinião das crianças nas entrevistas - com ção e no letramento das crianças, conside-
auxílio de fantoches, desenhos, livros in- rando a realidade de diferentes contextos
fantis, etc. - a respeito do entendimen- de seu desenvolvimento. Sob a visão do
to e opiniões que elas constroem sobre desenvolvimento humano, consideramos
deficiências, diversidade e inclusão. No importante construir informações sob
momento, dando continuidade aos estu- uma perspectiva longitudinal, para me-
dos com crianças, buscamos melhor com- lhor compreensão de todo o processo e,
preender seu ingresso, aos seis anos, no em particular, da transição de uma para
Ensino Fundamental6 e as possíveis conse- outra etapa da educação. Baseando-nos
qüências para: (a) os profissionais da edu- na metodologia qualitativa, elaboramos
cação, que recebem novas crianças a cada roteiros de entrevistas semiestruturadas
ano e enfrentam constantes mudanças e de observação do quotidiano, a partir
nas diretrizes de trabalho; (b) as famílias, de indicadores da literatura; neles, são
que necessitam se adaptar à nova rotina; explorados aspectos da aprendizagem,
e, principalmente, (c) as crianças. A tran- situações do passado, do presente e das
perspectivas de futuro dos participantes
de ambos os contextos envolvidos (escola
4
Trabalho desenvolvido no grupo de pesquisa em que par- e família), a respeito de papéis e funções
ticipou a primeira autora durante o mestrado, orientada de cada um na escolarização, bem como
pela Profa. Dra. Maria Auxiliadora Dessen, na perspectiva
do desenvolvimento familiar. de suas possíveis relações. A entrevista
5
Trabalhos desenvolvidos por alunos de especialização em com crianças partiu de um roteiro ade-
Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar, quado ao momento de desenvolvimento,
orientados pela primeira autora.
6
Projeto de pesquisa das autoras, em grupo de pesquisa
com base em técnicas e instrumentos já
que trabalha com a perspectiva sociocultural de citados e utilizados em nossas pesquisas
desenvolvimento, com foco na entrada da criança brasileira com crianças, tendo em vista um melhor
de seis anos no Ensino Fundamental, a alfabetização e o
letramento. aproveitamento da sua participação e

709
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

maior abrangência possível de suas opini- As habilidades de consciência fonológica


ões. Tais entrevistas são submetidas à gra- envolvem diversos níveis de processamen-
vação, transcrição na íntegra e análise por to e operações, tais como a segmentação,
episódios, com prevalência de aspectos síntese, exclusão, substituição e trans-
qualitativos. Esperamos, com isto, colabo- posição que podem ocorrer no nível das
rar com a compreensão teórica do tema sentenças, palavras, sílabas e fonemas. O
e estimular reflexões sobre a construção desenvolvimento da habilidade de analisar
de políticas públicas, projetos político- os sons da fala e a consequente aprendiza-
-pedagógicos escolares e objetivos para o gem das correspondências grafema-fone-
ensino-aprendizado de crianças da Educa- ma, necessárias a aprendizagem da leitura
ção Infantil e do Ensino Fundamental. e da escrita, têm relação com o processo
de consciência fonêmica que corresponde
Palavras-chave: pesquisas com crianças; à consciência fonológica no nível do fone-
Educação Infantil; Ensino Fundamental. ma. A relação entre a consciência fonêmica
e a aquisição de leitura e escrita é recípro-
ca. À medida que as crianças desenvolvem
A MÚSICA COMO MEDIADORA DO habilidades de consciência fonológica, a
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA aprendizagem da leitura e escrita é facili-
FONOLÓGICA tada e o desenvolvimento da consciência
Júlia Escalda Mendonça - UnB fonêmica acontece. Um relevante núme-
juescalda@yahoo.com.br ro de estudos tem demonstrado que as
Silviane Barbato - UnB habilidades de consciência fonológica são
barbato.silviane@gmail.com adquiridas no sentido de segmentos maio-
res (sentenças e palavras) para segmentos
O desenvolvimento da linguagem escri- menores (sílabas e fonemas) e que tanto
ta relaciona-se a um complexo sistema a idade como a escolaridade influenciam
de habilidades e de conhecimentos. Para no seu curso de desenvolvimento. Existem
aprender a ler e escrever as crianças de- diferentes níveis de consciência fonológi-
vem inicialmente entender que existe uma ca, alguns são independentes da educação
correspondência entre a linguagem oral e escolar e outros só surgem com o início
os símbolos gráficos usados na escrita. Elas da escolarização. O desenvolvimento da
precisam estabelecer relações entre os consciência fonêmica parece estar direta-
sons da língua e as letras, ou seja, precisam mente relacionado ao aprendizado formal
identificar e reconhecer que os sons po- dos sistemas alfabéticos de leitura e escri-
dem corresponder a letras sozinhas ou em ta. Estudos com adultos não-alfabetizados
combinações. Esse processo é chamado mostraram que eles não possuíam as ha-
de correspondência grafema-fonema e é bilidades de realizar manipulações fonê-
essencialmente um procedimento de aná- micas, ou seja, não tinham desenvolvido a
lise. A descoberta dos sons da língua, os consciência fonêmica. Nesse processo de
fonemas, está relacionada à competência aprendizagem uma dificuldade adicional
metalinguística denominada consciência é ainda imposta às crianças: a fala não é
fonológica, que se refere às habilidades de composta de segmentos isolados, nós fa-
manipular e refletir sobre os sons da fala. lamos de forma encadeada e rápida. Dessa

710
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

forma, a habilidade de “ouvir os fonemas” utilizado o Teste de Consciência Fonológi-


torna-se ainda mais essencial no processo ca como instrumento de coleta de dados,
de desenvolvimento da leitura e da escrita. composto pelas tarefas de síntese silábi-
Recentemente, observou-se um crescente ca; síntese fonêmica; reconhecimento de
interesse pelo estudo do desenvolvimento rimas; segmentação fonêmica e exclusão
da leitura e escrita em relação à aprendi- fonêmica. Os dados foram analisados es-
zagem e experiência musical. Parte desses tatisticamente e observou-se diferença
estudos demonstra relações significantes significante entre os resultados obtidos
entre habilidades musicais, consciência nas tarefas de reconhecimento de rimas,
fonológica, consciência fonêmica e desen- síntese e exclusão fonêmica. A análise de-
volvimento de leitura em crianças de pa- monstrou que a diferença observada entre
íses e línguas diferentes. Alguns autores esses grupos de crianças associou-se com
sugerem a inclusão de aulas de música no significância estatística à sua experiência
currículo escolar a fim de colaborar com o musical, ou seja, crianças com experiência
desenvolvimento de consciência fonoló- musical apresentaram chances maiores de
gica e contribuir em atividades de leitura obter melhores resultados nas habilidades
e escrita. Dessa forma, surgiu o interesse de consciência fonológica em que foram
em dar início às investigações entre as avaliadas quando comparadas às crianças
relações entre a consciência fonológica e sem experiência musical formal. A experi-
a experiência musical em crianças brasi- ência musical foi o fator que determinou
leiras. Muito desse interesse foi pautado as diferenças observadas em relação às
na questão do “ouvir” que, por meio da habilidades de consciência fonológica dos
“apreciação musical”, é uma das modalida- grupos de crianças de cinco anos e espera-
des que possibilita o envolvimento direto -se que, posteriormente, a aprendizagem e
e participativo com a música. Foi realizado desenvolvimento de leitura e escrita nesse
então um estudo inicial com objetivo de grupo de crianças também sejam facilita-
comparar o desempenho de crianças de dos. Assumimos esse estudo como ponto
cinco anos com e sem experiência musi- de partida para investigações mais apro-
cal formal, caracterizada pela participação fundadas sobre o tema. Dada sua impor-
sistemática em aulas de musicalização in- tância e, particularmente após a inclusão
fantil, em tarefas de consciência fonoló- das crianças de seis anos no ensino funda-
gica. Nesse estudo, optou-se por estudar mental, vimos a oportunidade de investi-
crianças de cinco anos pelo fato de essas gar tais relações de desenvolvimento em
crianças possuírem idade anterior ao início crianças já em processo formal de aprendi-
formal da alfabetização no contexto esco- zagem da leitura e da escrita, no contexto
lar, ou seja, ainda que elas estejam expos- escolar onde essa atividade é primordial-
tas diariamente à linguagem escrita (em mente sistemática. Partindo dos processos
casa, na rua, etc) esse tipo de exposição de decodificação, de consciência fonológi-
seria não-sistemático em contraposição à ca e consciência fonêmica, o objetivo de
exposição sistemática às aulas de música. nossos estudos atuais é ampliar o entendi-
Participaram do estudo 56 crianças que mento das relações entre experiência mu-
foram distribuídas em dois grupos: grupo sical, consciência fonológica e linguagem
estudo (n=26) e grupo controle (n=30). Foi escrita para suas funções e usos sociais e

711
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sua importância comunicativa. Tomando partir daí, iniciou-se um novo momento de


a perspectiva de que a aprendizagem é investigação sobre o ensino de Geografia,
um processo de mudança a partir de ex- pautado pela identificação e compreensão
periências, construído nas interações e do papel dessa área do conhecimento na
nos processos de mediação, a experiência formação integral da criança. Os resulta-
musical pode também oferecer interações dos, ainda em franco processo de desen-
significativas na cultura e favorecer novas volvimento, permitiram aportes teóricos
formas de aprendizagem da leitura e da es- específicos aos anos iniciais de escolari-
crita em diversos contextos para além dos zação. Nesse contexto, destacam-se os
escolares. processos de estudo da linguagem gráfica,
compreendida como uma espécie de “al-
Palavras-chave: música, consciência fabetização cartográfica”, fundamental à
fonológica, linguagem escrita. compreensão e representação de mundo,
o qual se modifica em consonância com os
próprios processos de desenvolvimento
GEOGRAFIA, PERCEPÇÃO ESPACIAL E da criança e as condições culturais onde
LINGUAGEM GRÁFICA: UMA RELAÇÃO está inserida. A linguagem gráfica, expres-
APLICADA AO ENSINO NOS ANOS sa na Geografia por meio da cartografia,
INICIAIS assume importante papel no processo de
Cristina Maria Costa Leite - UnB desenvolvimento infantil, notadamente
criscostaleite@gmail.com nos anos iniciais de escolarização, quando
as referências de si, do outro e do mundo
A reflexão sobre as práticas pedagógicas estão sendo construídas. Desse modo, seu
relacionadas ao ensino de geografia nos domínio possibilita o desenvolvimento das
anos iniciais de escolarização é recente. competências necessárias à compreensão
Decorrente da evolução da própria ciência do processo de produção do espaço. Isso
geográfica, que a partir de 1970 reorienta evidencia a necessidade de se trabalhar
suas análises para outras fundamentações na perspectiva de desenvolver as habilida-
filosóficas que não o positivismo, as pes- des que permitam compreender o espaço
quisas nessa área do conhecimento reper- geográfico na lógica de sua produção. Tal
cutiram diretamente nas orientações de compreensão se manifesta pela possibili-
cunho pedagógico, aos terceiro e quarto dade de sintetizar informações, expressar
ciclos do Ensino Fundamental e Ensino conhecimentos sobre uma dada realida-
Médio. Desse modo, pode-se afirmar que de, estudar situações (analisar, comparar,
houve uma primazia dessas etapas da es- correlacionar, concluir), que demonstrem
colarização, em detrimento das demais: a produção do espaço na perspectiva de
primeiro e segundo ciclos do Ensino Fun- sua organização. Tal dimensão é complexa,
damental e da Educação Infantil. Tal lacu- não somente por envolver novas formas
na começou a ser percebida no curso dos de entendimento sobre o papel dessa lin-
anos 90, principalmente em decorrência guagem no contexto da geografia escolar,
do aprofundamento das discussões relati- como também inovadora, por represen-
vas aos sujeitos de aprendizagem, no con- tar a possibilidade de superação das for-
texto do fazer pedagógico em Geografia. A mas tradicionais de trabalho com mapas:

712
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

copiar, colorir, nomear, memorizar suas subseqüentes, denominados vivido, perce-


informações, tão somente. Nesse senti- bido e concebido. No primeiro a referência
do, a construção dos conhecimentos para de mundo é literalmente experimentada,
a leitura de mapas e a representação do sendo o tato o sentido mais marcante: a
espaço geográfico assenta-se na premissa existência é algo concreto, que possa ser
de que a linguagem gráfica corresponde a visto e tocado. Os referenciais de loca-
um sistema de símbolos que envolve pro- lização, orientação e representação são
porção, uso de signos ordenados e técni- estabelecidos a partir do próprio corpo.
cas de projeção, além do atendimento a Daí a afirmação de egocentrismo. Nessa
algumas necessidades cotidianas, como ocasião desenvolvem-se as relações espa-
por exemplo o acesso a determinados lo- ciais mais elementares de especificação
cais ou os limites de uma determinada do lugar: as relações espaciais topológicas
área. A geografia escolar demanda uma elementares (dentro/fora, em cima/ em-
abordagem relacional, a articulação de baixo, perto/longe, grande/pequeno etc).
distintas noções de tempo, espaço, fenô- O segundo momento é caracterizado pelo
menos culturais, sociais, naturais de cada processo de descentralização, superação
paisagem, entre outros, para fazer cum- do egocentrismo, quando os referenciais
prir seu objetivo: “estudar as relações en- de localização, orientação e representa-
tre o processo histórico na formação das ção são estabelecidos, não mais a partir
sociedades humanas e o funcionamento do próprio corpo, mas sim a partir do que
da natureza por meio da leitura do lugar, é visto. Em decorrência disso, realizam-se
do território, a partir da paisagem“ (MEC, as relações espaciais de ordem, sucessão,
1997). Tal intento é complexo e evidencia envolvimento, continuidade. Por fim, num
um problema efetivo e real: até que ponto terceiro momento, ocorre a superação
as crianças que estão em pleno processo total da necessidade de localizar, orientar
de desenvolvimento e, por conseguinte, e representar por meio de algo visto ou
habilitando paulatina e progressivamente experimentado. Aqui ocorre o raciocínio
sua capacidade de compreensão do espa- abstrato, onde as funções de localização,
ço, dispõem de condições para realizar os orientação e representação são estabeleci-
objetivos da Geografia? Assim, para o tra- das por um exercício mental, por meio das
balho em Geografia, há a necessidade de relações espaciais projetivas e euclidianas.
se compreender o processo de desenvolvi- Tais considerações expressam uma inegá-
mento da percepção espacial na criança, a vel cautela ao exigir uma compreensão e
fim de identificar como se desenvolve sua explicação de mundo por crianças, como
capacidade de perceber o espaço, como é objetiva a Geografia escolar. Nesse sentido,
essa percepção e como ela é representada. a aprendizagem da linguagem gráfica, que
Almeida e Pasini (1991) identificam que os pode ser iniciada a partir de desenhos de
conteúdos de Geografia nos anos iniciais situações cotidianas, apresenta-se como
de escolarização orientam-se às noções uma possibilidade de organização pela
de localização, orientação e representa- criança, para a leitura de mundo exigida
ção do espaço. Nesse sentido, para essas pela geografia. Além disso, permite iden-
autoras, a criança desenvolve a percepção tificar o modo pelo qual as crianças perce-
do espaço em três momentos sucessivos e bem o espaço, fundamental à seleção de

713
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conteúdos, por exemplo, e à maneira de 1994). Nesse momento de construção da


abordá-los. Assim, pode-se afirmar que na linguagem escrita da criança pequena, há
área de geografia o desenho constitui-se também a mediação do desenho, enquan-
um condicionante à alfabetização carto- to modo comunicativo utilizado na escola.
gráfica, na medida em que permite: a ela- Partimos do pressuposto que o processo
boração de uma síntese espacial, por meio de desenvolvimento cultural da criança se
da escolha daqueles elementos que carac- relaciona à aprendizagem do uso dos sis-
terizam, efetivamente, um determinado temas simbólicos como ferramentas cul-
espaço (quadro negro, carteiras e mesa da turais, entre eles, a linguagem, a escrita
professora para representar a sala de aula, e as imagens. Esse processo avança à me-
por exemplo); a codificação da realidade dida que a criança pequena participa de
representada, por meio de determinados interações e vai compreendendo o uso e
símbolos (o desenho em si), condição para as funções dos mediadores instrumentais
o processo de decodificação, exercício in- e simbólicos, atribuindo-lhes novas fun-
trínseco à leitura de mapas; significação e ções como meio de atingir seus objetivos.
sistematização de conteúdos estudados; O estudo aqui apresentado faz parte de
identificação das relações espaciais apre- uma pesquisa guarda-chuva com crianças
endidas pela criança e, por conseguinte, o de seis anos em sala de aula do 1º ano do
dimensionamento dos trabalhos relativos ensino fundamental numa escola pública
ao espaço geográfico. de Distrito Federal, denominado de Bloco
Inicial de Alfabetização (BIA 1), na qual es-
Palavras-chave: conceito de espaço, tudamos as mediações da fala, do desenho
proporção, seqüencia lógica, mediação do e da escrita inicial na construção de conhe-
desenho. cimento nas interações criança/criança e
criança/professora (Cavaton, 2010). Este
A MEDIAÇÃO DA FALA EGOCÊNTRICA DA trabalho foi desenvolvido na perspectiva
CRIANÇA DE SEIS ANOS NA CONSTRUÇÃO da psicologia sociocultural (Wertsch, 1998)
COLETIVA DA ESCRITA na qual o desenvolvimento é construído
Maria Fernanda Farah Cavaton - UnB dialogicamente durante atividades de en-
fernandacavaton@uol.com.br sinar e aprender (Alexander, 2003, 2005;
Pontecorvo, Ajello & Zucchermaglio 2005)
Neste trabalho, apresentamos e analisa- em processos de letramento multimodal
mos os dados sobre os usos e as funções da (Descardeci, 2002; Dyson, 2008; Kendrick
fala egocêntrica de quatro crianças de seis & Mckay, 2004). Isto é, novas perspectivas
anos em suas produções gráficas livres: o de alfabetização e letramento de crianças
desenho e as escritas iniciais, no contexto impulsionadas pelo desenvolvimento da
escolar. Escolhemos esta faixa etária, por- tecnologia da comunicação online, o que
que a criança está ingressando no primei- torna conhecer a correspondência fone-
ro ano do ensino fundamental e sua fala ma/grafema insuficiente, é preciso tam-
egocêntrica tem a função mediadora para bém acompanhar os sons e a leitura das
a construção da sistematização da escrita imagens utilizadas em novas formas de
que é fator determinante de seu desen- comunicação. Como nosso estudo analisa
volvimento cultural (Luria, 1992; Vigotski, as falas egocêntricas, buscamos vários es-

714
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tudos contemporâneos (Berk, 1994, 2006; terações continuadas por qualquer um dos
Berk & Spuhl, 1995; Montero, Dios & Huer- interlocutores. Os resultados indicaram o
tas, 2001; Winsler, Diaz & Montero, 1997; uso da fala egocêntrica com a função or-
Ramírez, 1991; Winsler & Naglieri, 2003) ganizadora do desenho, a criança anuncia-
que sugerem as funções vigotskianas da va o que ia desenhar, contava a narrativa
fala egocêntrica nas crianças que falam da história, os personagens; na escrita, o
para si mesmas na realização de atividades uso com a função de soletração da rela-
cotidianas e escolares. Com o objetivo de ção fonema/grafema, a fim de descobrir
analisar os usos e as funções da fala ego- qual letra empregar na palavra que estava
cêntrica nas produções gráficas livres – o escrevendo. Encontramos o uso das falas
desenho e as escritas iniciais – gravamos egocêntricas com as seguintes funções ge-
em áudio e vídeo quatro sessões de ses- radoras de construção de conhecimento
senta minutos no contexto da sala de aula na intersubjetividade: a) comentário de
do BIA I, focando em quatro crianças de outro social: a fala egocêntrica do falante,
seis anos: Clara, Daniel, Felipe e Renato em gerando questões no interlocutor ouvinte,
quatro tipos de atividades de letramento, que pede esclarecimento ao falante. Feli-
sendo três de reconto de história infantil pe narrou sua história, em que, a cada ele-
e uma de escrita livre propostas pela pro- mento inusitado que apresentou falando,
fessora. Utilizamos a abordagem da meto- o colega quis ver e saber do que se tratava;
dologia qualitativa (Creswell, 1998; Mey, b) comentário do próprio falante dirigido
2000) por nos propiciar estudar processos a outros sociais: a fala egocêntrica do fa-
educativos considerando a psicologia do lante como geradora da fala comunicativa.
desenvolvimento da pessoa em sua sin- Clara anunciou para si que ia desenhar o
gularidade, para tal, utilizamos o episódio castelo e o cabelo da princesa, serviu de
como unidade de análise (Lacasa, 2001; Le- interlocutor para chamar o coletivo, as
mke, 1990; Linell, 1998; Wells, 2005; Wers- outras meninas desenharam também o
ch & Sammarco, 1985). Para analisar as fa- castelo e a princesa; c) falas egocêntricas
las egocêntricas aplicamos três categorias em outros sociais: as falas egocêntricas de
descritas por Montero e cols. (2001) e cria- um falante, gerando várias falas egocêntri-
mos uma quarta categoria para a situação cas de falantes diferentes, levando a uma
específica encontrada em nossa pesquisa: adição coletiva de conhecimento. Renato
1. Fala Egocêntrica Irrelevante: a criança e seus colegas da mesa, um dos meninos
fala consigo mesma não estabelecendo começou a nomear seus desenhos perti-
relação com a atividade que está desem- nentes à história e gerou a nomeação de
penhando; 2. Fala Egocêntrica Externali- outros elementos pelos demais meninos,
zada e Relevante: inclui comentários para ampliando cada vez mais as falas; d) co-
guiar, regular e organizar a própria tarefa; mentário de avaliação: a fala egocêntrica
3. Manifestações Externalizadas de Fala gerando avaliação, quando algum interlo-
Interna: relevantes para a tarefa, incluem cutor ouvinte identifica um fato errôneo.
murmúrios e movimentos de lábios quase Quando Renato e os meninos começaram
imperceptíveis; 4. Fala Egocêntrica Gera- a dizer elementos errados da história, ge-
dora de Fala Comunicativa: quando a fala rou a avaliação e correção do erro pelos
da criança para si mesma desencadeia in- outros.; e) falas egocêntricas de soletra-

715
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção “coletivizada”: Daniel, Felipe e Rena- racteriza o fenômeno psicológico. Outro,


to, sentados à mesma mesa, quando um se aplica à inclusão de um tempo irrever-
deles fez a relação fonema/grafema usan- sível como constitutivo deste fenômeno.
do a fala egocêntrica, os demais também Neste simpósio as três apresentações vão
passaram a fazer essa relação, soletrando tratar dos desafios enfrentados ao ado-
conjuntamente; f) comentário de concor- tar propostas metodológicas condizentes
dância ou discordância: As falas egocêntri- com a complexidade requerida para o
cas do Felipe geraram sucessivas Zonas de estudo do desenvolvimento e da cultura.
Desenvolvimento Proximal (ZDP) (Vigotski, A Profa, Ângela Branco inicia destacando
1998) pelas falas de apoio da professora ao as exigências e desafios para o estudo
complexo processo de soletração da rela- do desenvolvimento inserido na cultura
ção fonema/grafema, seguindo a seguinte como fenômeno complexo e multicau-
dinâmica: ele inicia pronunciando uma pa- sal; A Profa. Ana Cecília Bastos examina
lavra; a professora repete; ele pede confir- o modelo de trajetórias de equifinalidade
mação da letra que descobrira; a professo- (TEM) -- proposto por Sato, Valsiner e co-
ra confirma e o incentiva ir adiante. laboradores -- para o estudo de narrativas
autobiográficas de mulheres sobre o tema
Palavras-chave: fala egocêntrica, escrita, da transição para a maternidade; Final-
desenho infantil. mente, as Profa Maria Lyra e Letícia Scorsi
apresentam a aplicação do modelo de tra-
jetórias de equifinalidade (TEM) aplicado
ao estudo das transformações da fala da
SP LT01 - Simpósio mãe enquanto significam a diferenciação
das posições dos parceiros -- mãe e bebê
- no diálogo que ocorre nos primeiros me-
SP LT01-959 – COMPLEXIDADE, ses de vida do bebê.
DESENVOLVIMENTO E CULTURA:
DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS.
Angela Branco - UnB MULTICAUSALIDADE E COMPLEXIDADE
ambranco@terra.com.br NA PERSPECTIVA SOCIOCULTURAL
Ana Cecília Bastos - UFBA CONSTRUTIVISTA
anaceciliabastos@gmail.com Angela Branco - Unb
Maria C.D.P. Lyra - UFPE ambranco@terra.com.br
marialyra2007@gmail.com Financiamento: CNPq
Financiamento: CNPq
A história da psicologia do desenvolvi-
O conceito de complexidade aplicado ao mento como disciplina científica revela-
fenômeno psicológico assume diferentes -nos múltiplas tendências e uma imensa
dimensões que estão interligadas. Dois as- variedade de trajetórias teórico-meto-
pectos são, particularmente, relevantes. dológicas no sentido de promover a pro-
Um primeiro diz respeito à multicausali- dução do conhecimento. A questão epis-
dade que constrói uma causalidade sistê- temológica que se encontra na base de
mica, inerente ao sistema aberto que ca- todo e qualquer processo de investigação,

716
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entretanto, não tem sido suficientemente da pessoa em desenvolvimento, que por


discutida e esta discussão é absolutamen- sua vez, é também capaz de intenciona-
te necessária diante da tarefa de constru- lidade e reflexão em nível inter e intra-
ção de conhecimentos científicos sobre -subjetivo. Considero que a perspectiva
o desenvolvimento humano ao longo do sistêmica desenvolvimental proposta por
ciclo vital. A perspectiva epistemológica Lerner e Ford (1992) permite a considera-
realista, de inspiração positivista, postula ção dialética entre o papel preponderante
a existência de uma realidade que se re- da cultura e a construtividade do sujeito,
vela por métodos rigorosos, atemporais e definido como um sistema de self dialó-
independentes do pesquisador. Os dados gico em constante interação e desenvol-
seriam essencialmente objetivos e, por- vimento. A constatação da complexidade,
tanto, válidos, confiáveis, e independen- entretanto, não inviabiliza, a construção
tes do olhar daquele que pesquisa. É ne- rigorosa e científica de conhecimentos. O
cessário, porém, que sejamos conscientes que nos é exigido é realizar recortes cui-
de que os dados são construídos através dadosos e adotar metodologias coeren-
da derivação de conhecimentos selecio- tes com nossa orientação teórico-episte-
nados e generalizados dos fenômenos ob- mológica e com os objetivos precisos da
servados, de acordo com os pressupostos pesquisa a ser realizada. Iniciamos nossa
teóricos dos pesquisadores. Isto porque a apresentação discutindo com detalhe a
qualidade complexa dos processos estu- própria definição de desenvolvimento
dados pela psicologia do desenvolvimento humano apresentada por Ford e Lerner
exige a consideração da multicausalidade (1992): “O desenvolvimento humano in-
dos fenômenos, superando a adoção de dividual envolve processos de incremen-
paradigmas simplistas onde variáveis são to e transformação que, através do flu-
artificialmente isoladas e analisadas com xo de interações entre as características
base em referencial mecanicista inspirado atuais da pessoa e os contextos em que
em uma lógica formal que não pode dar está inserida, produz uma sucessão de
conta do estudo de processos que atuam mudanças relativamente duradouras que
em sistemas superpostos e interdepen- elaboram ou aumentam a diversidade das
dentes. Impõe-se, assim, uma mudança características estruturais e funcionais da
paradigmática com o objetivo de produ- pessoa e os padrões de suas interações
zir conhecimentos científicos, isto é, coe- com o ambiente, ao mesmo tempo em
rentes, consistentes e sistemáticos sobre que mantém a organização coerente e a
uma realidade dinâmica, organizada de unidade estrutural-funcional da pessoa
forma sistêmica e complexa, constituí- como um todo.” (p. 49). Desta definição,
da de processos e não mais de produtos depreende-se como característica princi-
do desenvolvimento humano. Estou aqui pal do desenvolvimento a noção de pro-
me referindo à multiplicidade de fatores cesso, de dinâmica e transformação de
causais que englobam as dimensões da um sistema aberto (organismo) em con-
filogênese, da história cultural da socie- tínua interação com o contexto em que
dade e dos grupos nos quais o sujeito se se insere. No caso do ser humano, este
insere, da ontogênese, e dos contextos contexto é eminentemente histórico-so-
concretos de relações e interações sociais ciocultural, isto é, um contexto composto

717
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

por características e eventos que assu- universais, as pesquisas tentam eliminar


mem significados particulares, específi- a dimensão da cultura e da subjetividade,
cos, em função da experiência histórico- e com isso os processos de significação de
-cultural do grupo. Desta forma, teorias e características, eventos e experiências,
métodos deverão contemplar a natureza tão distintos em diferentes contextos
dinâmica e de multicausalidade do desen- histórico-culturais, deixam de ser anali-
volvimento, devendo ser sensíveis às es- sados. Muitos autores vêm criticando as
pecificidades do fenômeno em cada con- “leis universalmente válidas”, mas que se
texto que este se apresente, mas sempre aplicam apenas a um indivíduo “médio”
em busca de tendências e regularidades (e.g. Gigerenzer, 1991; Magnusson, 1996).
de caráter mais geral. O maior problema Tais “indivíduos médios” não existem, e
das pesquisas acerca do desenvolvimento isto implica na necessidade de se reali-
humano é a existência de uma preocupa- zar estudos cuidadosos que se refiram a
ção excessiva na obtenção de dados que sujeitos concretos. E é assim que uma ci-
possam ser quantificados (tendo em vista ência idiográfica pode melhor contemplar
uma análise dita “científica” do ponto de a complexidade derivada dos múltiplos
vista tradicional positivista), o que impe- fatores interdependentes que atuam so-
de que o fenômeno seja analisado em sua bre o fenômeno, gerando conhecimentos
plenitude. Assim, a investigação de cada que podem vir a orientar novas pesquisas
questão representa um desafio a exigir visando a construção de generalizações e
a criatividade do pesquisador no sentido o desenvolvimento de novos avanços teó-
de construir uma metodologia adequada ricos. No Laboratório de Microgênese das
aos objetivos do projeto, que seja sufi- Interações Sociais (LABMIS) do Instituto
cientemente clara e precisa e, ao mesmo de Psicologia da Universidade de Brasí-
tempo, flexível e capaz de adaptar-se a lia, temos desenvolvido projetos a partir
cada etapa do processo de investigação. da perspectiva microgenética. Mas temos
Desde que apropriados, métodos quanti- plena consciência de que mesmo que te-
tativos podem também serem utilizados, nhamos de recortar o nível em que o fe-
apesar de que a metodologia qualitativa nômeno é estudado, jamais poderemos
encontra-se muito mais adequada para o perder de vista os demais níveis em que
estudo de processos e não de produtos. estes se situam, isto é, filogenético, histó-
Com isto, superamos a desgastada dico- rico-cultural, ontogenético e prospectivo.
tomia entre quantitativo e qualitativo, e Este último nível ou dimensão vem sendo
partimos para estabelecer recortes entre cada vez mais explorado, analisado e dis-
a multiplicidade de fatores causais que cutido na psicologia do desenvolvimento,
atuam sobre o fenômeno. Uma dificulda- visto que a capacidade humana de ante-
de importante das pesquisas tradicionais cipação de probabilidades de futuro tem
é a exclusão da cultura (Bronfenbrenner, importante influência sobre as ações pre-
1989; Cole, 1992; Schweder & Much, sentes da pessoa.
1987), ou sua consideração apenas como
variável (o que ocorre no caso da abor- Palavras-chave: complexidade,
dagem transcultural, muito distinta da multicausalidade, perspectiva sociocultural
psicologia cultural). Em sua busca por leis construtivista.

718
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

MODELOS COMPLEXOS NO vida da mulher, em particular, e da família,


DESENVOLVIMENTO: O MODELO DE em geral. Nesse sentido, é consenso entre
EQUIFINALIDADE DE TRAJETÓRIAS os autores que trabalham com a aborda-
(TEM) E A ANÁLISE DE NARRATIVAS gem narrativa a idéia de que é o próprio
AUTOBIOGRÁFICAS ato de narrar que dá coesão à diversidade
Ana Cecília Bastos - UFBA, de nossas experiências, promovendo a co-
anaceciliabastos@gmail.com nexão entre eventos passados, presentes
Financiamento: CNPq e futuros. É, então, através da constante
atividade de construção e reconstrução
A construção do self pode ser concebida de narrativas, do relato de histórias, que
como arte narrativa, processando-se en- as pessoas dão unidade e coerência aos
tre os mundos pessoais interno e externo. eventos da própria vida. Discute-se a pos-
Apreciar este processo em sua complexi- sibilidade de aplicação do Modelo de Equi-
dade exige que se tenha como horizonte finalidade de Trajetórias (TEM), elaborado
a incomensurável diversidade e variabili- por Sato e Valsiner, à análise de narrati-
dade da experiência humana em contexto vas autobiográficas de mulheres sobre a
cultural, aberta a abundantes possibilida- transição para a maternidade. O modelo
des de significação, assim como seu po- TEM é apropriado para análises de narra-
tencial inovador. Seu caráter desenvolvi- tivas, na medida em que permite articular
mental implica uma tensão dinâmica entre orientação e direcionamento social à sín-
domínios literais e imaginados, a qual tem tese pessoal, favorecendo a identificação
sido denominada como poetic motion. A de padrões singulares frente a contextos
novidade psicológica emerge justamente que representam diferentes estruturas de
de relações entre domínios polarizados oportunidade. É proposto por seus auto-
entre literal-imaginado e entre passado- res como um novo dispositivo metodo-
-presente-futuro. Narrativas autobiográ- lógicos, baseado numa visão sistêmica e
ficas podem ser consideradas um desses capaz de considerar seriamente a noção
domínios quando, por exemplo, se focali- da irreversibilidade do tempo. Assim, é
za agentividade (agency) como trama que consistente com a perspectiva do curso
autoriza ou induz a pessoa a se engajar em de vida, a qual enfatiza o papel da agen-
algo não necessariamente formulado em tividade humana através de transições
dado momento presente. Esta apresenta- desenvolvimentais, devidamente contex-
ção parte das narrativas de seis mulheres tualizadas no lugar e no tempo histórico
de uma mesma família, de idade variando e através dos processos de formação e
entre 60 e 84 anos, e de suas filhas (ida- dissolução de vidas interligadas. Porém,
de entre 40 e 60 anos), sobre a transição o modelo TEM vai além da identificação
para a maternidade (tomando gravidez e de padrões: pretende alcançar a dinâmica
parto como marcadores). A maternidade, desse movimento da pessoa em direção
entendida como transição, é um processo ao futuro. Pode-se considerar que, nesse
que requer a reconciliação de experiências aspecto, converge com a noção de poetic
passadas, presentes e futuras, de forma a motion. Aqui, trajetória é entendida como
dar nexo aos diversos acontecimentos que o componente estável de uma particular
a caracterizam e integrá-los ao curso de direção, cuja probabilidade de ocorrência

719
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pode ser estimada, para uma determinada Palavras-chave: narrativas autobiográficas;


destinação na vida (o ponto de equifinali- construção do selF; modelo de equifinalidade
dade). Nesse sentido, envolve a tendência de trajetórias (TEM.)
de persistir em determinados padrões no
curso de vida. Os autores sugerem a metá-
fora de “canal” para melhor abordar a no- TRAJETÓRIAS DE DESENVOLVIMENTO DA
ção de trajetória: o canal pode modificar FALA DA MÃE
seu curso eventualmente e, no entanto, Maria C.D.P. Lyra - UFPE
continua representando uma trilha con- marialyra2007@gmail.com
creta. O modelo TEM oferece uma opor- Financiamento: CNPq
tunidade de explorar a complexidade da
história de vida, assumindo efetivamen- Esta apresentação discute as transforma-
te que as vidas humanas se desdobram ções da fala da mãe enquanto ela significa
no tempo irreversível, de um ponto co- as posições dos parceiros no diálogo mãe-
nhecido em direção ao desconhecido. O -bebê. A perspectiva teórica adotada está
modelo inclui os modos de adaptação da respaldada no dialogismo bakhtiniano fo-
pessoa enquanto agente, as histórias de calizando o movimento constante entre o
vida integrativas da pessoa enquanto au- eu e o alter nas trocas que ocorrem no diá-
tora, situados, ambos, de forma complexa logo. Concebemos, assim, que a emergên-
e diferenciada, no contexto sociocultural. cia do self dialógico no início da vida requer
Aqui, são também consideradas as traje- um movimento de identificação e de dife-
tórias potenciais ou não realizadas, tanto renciação dos parceiros no diálogo, parti-
no passado quanto no possível futuro; tais cularmente significado pela mãe nas rela-
dimensões são relevantes e presentes na ções que se estabelecem e se desenvolvem
construção pessoal de vidas individuais. com seu bebê. Trata-se de uma análise da
fala da mãe que ocorre na relação mãe-be-
A noção de eqüifinalidade, oriunda da te-
bê, ao longo dos primeiros meses de vida
oria dos sistemas, refere-se ao princípio
do bebê. Postulamos, desta forma, que a
de que, em sistemas abertos, um estado
diferenciação das posições dos parceiros
final pode ser alcançado através de mui-
mãe e bebê pode ser investigada a partir
tos meios ou caminhos potenciais; é esta
do significado assumido pela fala da mãe
noção que, de certa forma, articula as di- ao adotar posições no diálogo. Partindo da
ferentes trajetórias e imprime à vida uma análise histórica dessas posições compu-
infinita riqueza. Finalmente, pretende-se semos uma amostra historicamente estru-
evidenciar que o modelo TEM é adequa- turada (HSS). Consideramos a abreviação
do a uma concepção do desenvolvimento das trocas mãe-bebê como o estado do
hierarquicamente organizado, abrangen- sistema de trocas a atingir (ponto de equi-
do processos que se dão nos níveis macro- finalidade - EFP) porque sugerimos que,
genético, mesogenético e microgenético, segundo Lyra e colaboradores, ela repre-
permitindo o que os autores denominam senta os primeiros indícios da emergência
de “manutenção ontogenética’, a qual é do bebê como parceiro dialógico. Foram
semioticamente regulada por signos pro- identificados os pontos de passagem obri-
motores derivados dos níveis anteriores. gatória (OPPs) e traçadas as trajetórias re-

720
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sultantes na história de desenvolvimento lise das trocas com seu bebê. Discutire-
da fala da mãe em duas díades mãe-bebê, mos também a possibilidade de que, em
ao longo dos oito primeiros meses de vida se tratando de um sistema extremamen-
do bebê. Os resultados encontrados su- te fluído como aquele que investigamos,
gerem a existência de um movimento em as trocas mãe-bebê, novos desafios se
espiral que pode ser descrito como “co- colocam ao analisar as trajetórias de de-
nhecimento-distanciamento-elaboração” senvolvimento, no presente caso aquelas
em relação a dois tipos de conteúdos de- assumidas pelo desenvolvimento da fala
preendidos das manifestações/ações do da mãe. Por exemplo, trajetórias que pa-
bebê: os estados involuntários do bebê recem persistir sem bifurcações que, mais
e as ações do bebê que operam sobre o adiante, desaparecem, coexistem com ou-
mundo exterior. É nossa compreensão que tras que, claramente, sofrem bifurcações.
este movimento em espiral representa um Poderiam as primeiras ser interpretadas
padrão desenvolvimentista que é projeta- como resultantes da manutenção de sig-
do como possibilidades futuras aplicado, nificados necessários ao próprio sistema
então, a novas manifestações/ações do em estudo? Esta interpretação é coeren-
bebê. Assim, o padrão encontrado guia as te com o modelo de trajetórias de equi-
possibilidades de novas trajetórias a serem finalidade (TEM). Discutiremos, assim, as
vividas no futuro. O modelo de trajetórias contribuições e desafios enfrentados ao
de equifinalidade (TEM, proposto e desen- aplicar este modelo para o estudo da mi-
volvido por Sato, Valsiner e colaboradores) crogênese das trocas mãe-bebê.
se propõe a integrar tanto o domínio do
real-imaginado como aquele do passado- Palavras-chave: self dialógico; fala da mãe;
-presente-futuro, coexistindo em dado modelo de trajetórias de equifinalidade (TEM)
momento do tempo. Na análise efetuada
separamos três tipos de significado da fala
da mãe que correspondem ao movimento
de identificação e de diferenciação dela
SP LT02 - Simpósio
em relação ao parceiro bebê: (a) a neces-
sidade de penetrar o mundo do bebê para
compreendê-lo; (b) a necessidade da mãe SP LT02-1298 -INTERAÇÕES SOCIAIS E
de se distanciar do bebê e se diferenciar PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO NO
como parceira e (c) a necessidade de se ver CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
(ela mesma) pelos “olhos do bebê”. Estes
três tipos de significação correspondem A Educação a Distância (EaD) é uma mo-
ao movimento necessário à constituição dalidade de ensino em expansão que vem
de um agente na e das trocas dialógicas. consolidando-se como “importante fer-
Faremos referência em especial ao que Gil- ramenta de inclusão social e de melhoria
lespie chama de perspectivas na primeira e da qualidade da educação”, especialmente
terceira pessoa necessárias à agentividade no âmbito do ensino superior brasileiro
no diálogo. Discutiremos, nesta apresen- (ABED, 2011, p. 41). Em função disso, di-
tação, como o imaginado se torna real na versos campos teóricos e metodológicos
perspectiva da mãe, a partir da microaná- têm se interessado pela temática EaD. No

721
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entanto, nota-se certa carência de estudos das trocas interativas e a construção do


que investiguem os processos educativos conhecimento. Torna-se possível, a partir
estabelecidos a distância, na tentativa de da análise dessa relação, o entendimen-
compreender como ocorre o funciona- to do papel social e as consequências das
mento cognitivo nesse contexto e quais os ações de todos os interlocutores sobre o
elementos que o influenciam. A proposta processo de ensino-aprendizagem uns dos
deste simpósio é analisar as interações outros, além de possibilitar a criação de
sociais em EaD a partir de três estudos, estratégias que vise maior participação e
desenvolvidos em diferentes Instituições melhores níveis de qualidade do conteúdo
de Ensino Superior: 1) Um resumo teórico postado pelos interlocutores nos fóruns de
que aborda a interface linguagem, cogni- discussão. Outrossim, as análises ilustram
ção e emoção como elementos essenciais a fertilidade do diálogo entre EaD e a área
para o estabelecimento das trocas sociais da Psicologia, em que é desejável uma
em EaD; 2) A apresentação do termo in- maior adesão por parte dos psicólogos,
tercognição como um conceito que va- no sentido de contribuir para o desenvol-
loriza a mediação semiótica presente no vimento de métodos e intervenções que
intercâmbio das mensagens em fóruns de ressignifiquem as práticas educativas no
discussão para a construção dialógica do âmbito da EaD e que sejam favoráveis ao
conhecimento; e 3) O desenvolvimento desenvolvimento humano.
do pensamento crítico empreendido por
interlocutores concretos em fóruns de dis- Palavras-chave: Cognição; Desenvolvimento
cussão, buscando evidenciar os fenôme- humano; EaD.
nos subjetivos e interativos presentes nas
práticas interativas. Os estudos apresenta-
dos compartilham da metodologia qualita- LINGUAGEM, COGNIÇÃO E EMOÇÃO NA
tiva e de uma visão de construção de co- EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
nhecimento forjada a partir de interações Ruben de Oliveira Nascimento - UFU
sócio-afetivas e historicamente contextua- rubenufu@gmail.com
lizadas, onde as pessoas são parceiras de
comunicação, co-autoras e responsáveis A relação entre Linguagem e Cognição é
pela a qualidade dos processos educativos um tema complexo, porém, fundamental
que engendram. À medida que ocorre um quando se pensa no processo educacional
comprometimento entre os interlocuto- e no desenvolvimento dos sujeitos nele
res, uma parceria, voltada ao intercâmbio envolvidos. Na Educação a Distância (EAD),
das ideias e ao reconhecimento e legitima- essa relação é vital. Nesse tipo de educa-
ção do outro enquanto importante media- ção os sujeitos estão física, espacial e tem-
dor para a sua própria aprendizagem, os poralmente distantes, dependendo assim
processos educativos no campo da EaD se de meios e tecnologias de informação e
qualificam mais intensivamente. Portanto, comunicação para diminuir distâncias e
as análises realizadas ao longo deste sim- promover contatos, o que implica na valo-
pósio enfatizam a indissociável relação en- rização da interação. De acordo com Dias
tre intersubjetividade, cognição, emoção e e Leite (2010), na Educação a Distância, “a
práticas argumentativas para a qualidade interação é uma ação recíproca entre dois

722
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ou mais atores em que ocorre intersubjeti- údos cognitivos integrais ou domínios do


vidade” (p. 38). Bicalho (2010) trabalhando pensamento fora da linguagem, nem pos-
esse tema em fóruns de discussão online sibilidades integrais de linguagem fora dos
comenta a importância da relação dialó- processos interativos humanos” (Morato,
gica, das argumentações, da retórica, dos 2002, p. 18). No entanto, Bicalho (2010),
turnos de comunicação, da constituição também numa perspectiva histórico-cultu-
discursiva entre os sujeitos, do enunciado, ral, assinala que o processo de construção
entre outros, na construção intersubjetiva intersubjetiva de conhecimento na Educa-
de conhecimentos. Assim, linguagem, cog- ção a Distância não é linear, mas dialética,
nição e interação são importantes fatores baseada nas diferenças entre os sujeitos e
interligados na Educação a Distância, e po- entre os argumentos produzidos, de modo
dem ser analisados no âmbito da intersub- que as significações precisam ser negocia-
jetividade e do registro simbólico. Neste das. Nesse sentido, não é possível despre-
trabalho, desenvolveremos uma análise zar questões afetivas que surgem tanto no
teórica dessas questões, mas, incluindo embate de ideias quanto nas formas, cri-
a dimensão emocional como outro fator térios e expectativas de participação e de
igualmente importante no estudo da cons- interação com o outro. Assim, linguagem,
trução intersubjetiva de conhecimento em cognição e emoção estão interligadas na
ambientes virtuais de aprendizagem. Nes- interação. Papalia e Olds (2000, p. 154) co-
ses ambientes, a inter-relação entre lingua- mentam que, no desenvolvimento huma-
gem e emoção, no contexto da intersubje- no, as pessoas diferem com relação a uma
tividade, pode ser mais bem observada em determinada emoção, na reação ao tipo
situações de aprendizagem cooperativa ou de situação que as produzem, e até mes-
colaborativa. Essas estratégias consistem mo no modo de agir em consequência;
em fazer circular o conhecimento entre os sendo essas questões ligadas às percep-
participantes de um curso de modo que, ções cognitivas de acontecimentos e pes-
num contexto de troca tanto de crenças e soas. Mesmo num contexto virtual em que
opiniões quanto de conceitos, uma apren- predomina o discurso escrito e eletrônico
dizagem de qualidade aconteça, e o aluno (Souza, 2002), no qual índices de comuni-
experimente desenvolvimento no curso. cação normalmente encontrados na inte-
Bicalho (2010), explica que “quanto mais ração face a face (gestos, olhares, postura
os indivíduos se expressam, aumentam-se corporal, etc., que auxiliam na transmissão
as oportunidades de trocas de significados de intenções e afetos) não estão visual ou
entre eles, e o peso argumentativo de seus diretamente presentes, o registro simbóli-
enunciados ganha força, desenvolvendo, co permite a expressão de intenções e rea-
dessa forma, uma intensa realidade in- ções afetivas, passíveis de serem observa-
tersubjetiva” (p. 24). Nesse caso, é impor- das nas interações em fóruns de discussão,
tante um investimento em dispositivos tutorias, e-mail, etc., no modo como as
comunicacionais que estimulem pedago- relações são construídas. Na abordagem
gicamente a participação e a cooperação vigotskiana, Oliveira (1992) mostra que as
dos sujeitos no tratamento de conteúdos. relações interpessoais (intersubjetivas) são
Como aponta Morato (2002), com base em vistas como “densas, mediadas simbolica-
Vigotski, “não há possibilidades de conte- mente, e não trocas mecânicas limitadas

723
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a um patamar meramente intelectual” (p. tos hace que éstos varíen, ya que guardan
80), envolvendo sujeitos únicos, com expe- cierta relación com nuestros pensamien-
riências próprias em relação ao mundo e tos” (p. 86-87). Bauman (2003) comenta
a outras pessoas. Segundo Oliveira (1992), que “as palavras têm significado: algumas
para Vygotsky, o significado da palavra (or- delas, porém, guardam sensações [...] Os
ganização conceitual) pertence ao cogniti- significados e sensações que as palavras
vo, e o sentido da palavra (o que ela signi- carregam não são, é claro, independen-
fica para cada indivíduo em particular), de- tes” (p. 7). Essas concepções fortalecem
pende do contexto de uso e das vivências a afirmação de Berger e Luckmann (2004)
afetivas dos sujeitos, mostrando como se de que a intersubjetividade inclui índices
dão as relações entre linguagem, cognição de comunicação que se valem do caráter
e afeto. Defendemos que essa relação en- transcendente da linguagem, permitindo a
tre significado e sentido, influencia a inter- expressão de intenções e expectativas, in-
pretação e a resposta afetiva dos sujeitos dependente da presença física dos sujeitos
em interação, num ambiente virtual em em interação. Com base na discussão que
que o discurso escrito predomina. Para- levantamos, consideramos necessário na
lelo a isso, na Educação a Distância, Serra Educação a Distância, examinar como os
(2005) mostra que indícios de intenções fatores que abordamos se entrelaçam em
e estados afetivos trocados no ambiente momentos de intersubjetividade, e como
virtual, podem ser percebidos no uso de podem facilitar ou dificultar um ambiente
emoticons, de formas linguísticas que su- de cooperação na construção de conheci-
gerem emoções e sentimentos, etc. Essas mentos. Concluímos que é importante não
questões são próprias do desenvolvimento dissociar linguagem, cognição e emoção
humano. Vygotsky (2003), em seus estu- no estudo da construção intersubjetiva de
dos sobre desenvolvimento, comenta que conhecimento na Educação a Distância e
as emoções não devem ser “consideradas na análise dos processos de interação em
de modo isolado, separadas do conjunto ambientes virtuais de aprendizagem.
global, de todo o resto da vida psíquica do
homem” (Vygotsky, 2003, p. 86). Vygotsky Palavras-chave: Cognição; Emoção; Linguagem.
(2003) sustenta que todas as emoções, to-
das as sensações emocionais, estão “dire-
tamente entrelaçadas em nossos proces- INTERCOGNIÇÃO: PARA UMA
sos de pensamento e que são parte inalie- CONSTRUÇÃO DIALÓGICA DO
nável do processo integral dos raciocínios” CONHECIMENTO NO CONTEXTO DA
(p. 85). Nesse sentido, Vygotsky concebe as EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
emoções ligadas ao processo intelectual, à Rute Nogueira de Morais Bicalho - UnB
conscientização das situações que nos cer- arutebicalho@gmail.com
cam e ao nosso comportamento. Vygotsky
(1991) defende a noção de que “no senti- Neste trabalho pretendemos apresentar
mos simplesmente: el sentimiento lo per- o conceito de intercognição para compre-
cibimos en forma de celos, cólera, ultraje, endermos a construção coletiva e dialó-
ofensa. Si decimos que despreciamos a al- gica do conhecimento empreendida no
guien, el hecho de nombrar los sentimien- contexto da Educação a Distância (EAD). A

724
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

intercognição é entendida como fenôme- cognição têm sido realizados em contex-


no da interação socialmente estabelecida tos de interações verbais do tipo face a
entre interlocutores concretos e que reve- face (Bourdais, 2002; Sigel, 2002). Nossa
la a interdependência mútua e constante proposta é analisar as interações empre-
entre eles para a construção dialógica do endidas a distância. Acreditamos que a
conhecimento. É um conceito ainda em intercognição converte-se em principal
construção, tendo se desdobrado do estu- instrumento de aprendizagem, quando
do empírico de Bicalho (2010) que reali- envolve trocas ativas entre interlocuto-
zou análises do conteúdo de mensagens res concretos, neste caso, professores-
postadas em fóruns de discussão de uma -tutores e cursistas, permitindo desenvol-
disciplina ofertada, totalmente a distân- ver o que Pontecorvo et al. (2005, p.69)
cia, pela Universidade Aberta do Brasil chamou de “pensamento coletivo”, para
(UAB) em parceria com a Universidade de referir-se àquele pensamento que: “passa
Brasília (UnB). A compreensão que temos de um para o outro, como se não tratas-
da intercognição encontra lastro em uma se mais de indivíduos diferentes, mas de
abordagem construtivista, cuja matriz um único sujeito que fala com mais ‘vo-
provém da tradição piagetiana, conside- zes’ (como poderíamos dizer seguindo
rando a ênfase dada ao papel ativo do Bakthtin, 1981)”. A intercognição emerge
sujeito da aprendizagem; da perspectiva a partir de uma base temporária de do-
sócio-cultural de Vigotski (2001, 2007), mínio conjuntamente compartilhamento
ressaltando a noção de zona de desenvol- entre os interlocutores para as negocia-
vimento proximo; da abordagem dialógica ções semióticas em que a dimensão afe-
de Bakhtin (1988, 1997); e interlocutores tiva é subjacente (Valsiner, 1998). Em ou-
(Bruner, 2001; Ligorio et al., 2005; Pon- tros termos, ela é empreendida à medida
tecorvo et al., 2005; Rommetveit, Blakar, que os interlocutores desenvolvem um
1979), sobre a importância dos proces- fio condutor de natureza simbólica que
sos interativos para a construção do co- avança junto com a comunicação, caracte-
nhecimento. Partimos do pressuposto rizado pelo acréscimo de conteúdos perti-
que “o pensamento, o conhecimento e nentes e novas perspectivas que levam à
o raciocínio são também, e prioritaria- reconstrução do objeto do conhecimento,
mente, atividades sociais” (Pontecorvo et em uma relação de contínua co-autoria
al., 2005, p. 46). O plano cognitivo, nesse (Ligorio et al., 2005; Pontecorvo et al.,
sentido, é concebido na esfera do social, 2005). Nessa perspectiva, o papel do ou-
no qual a interação é responsável por de- tro é essencial não apenas como fonte de
sencadear os processos constitutivos do informação, mas como parceiro no pró-
conhecimento. Produzir conhecimento é prio processo de estruturação e transfor-
interpretar a realidade e a si mesmo, em mação da aprendizagem, considerando-se
um processo dialético bastante complexo, que o conhecimento não está localizado
permeado de contradições e mediações em um ou outro interlocutor, mas na in-
várias (Linell, 2000). Defendemos que a teração que eles estabelecem intencional
cognição deve ser analisada no contexto e colaborativamente. Para tanto, é indis-
da socialização e dos processos comuni- pensável uma imersão dos interlocutores
cativos. Notadamente, os estudos sobre no fluxo da comunicação, logrando uma

725
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

participação e escuta ativa na dinâmica exteriorizações de demandas pedagó-


conversacional constantemente reestru- gicas e didáticas de interlocutores mais
turada em função da resposta de cada tímidos ou academicamente menos com-
um. Para se chegar a noção de intercogni- petentes, no contexto do fórum; (d) Os
ção foram realizadas análises sistemáticas interlocutores se envolviam na discussão
em fóruns de discussão de uma disciplina, em um movimento de ir e vir, sinalizando
da área da Psicologia ofertada pela UAB- que o fórum não é apenas um repositório
-UnB (totalizando 16 fóruns e 1.097 men- de mensagens de cunho avaliativo, mas
sagens postadas). Todas as mensagens um lugar privilegiado de aprendizagem.
foram repetidamente lidas, buscando-se, O conceito de intercognição mostrou-se
conforme os pressupostos da Análise da fértil ao indicar a escuta ativa, o envolvi-
Conversação, formar cadeias enunciativas mento mútuo e o foco no processo cog-
que teve por critério o movimento dos nitivo dos interlocutores, que constroem,
interlocutores em complementarem uns situadamente, um pensamento global,
aos outros, intencionalmente, para o de- coletivo e socializado, o qual tem como
senvolvimento do conteúdo trabalho nos processo e produto a dinâmica conversa-
fóruns. A partir da análise dessas cadeias, cional. Acreditamos que nossas análises
evidenciamos que a intercognição foi im- podem orientar a promoção e a avaliação
plementada quando, entre outros: (a) As de interações voltadas à construção do
mediações pedagógicas foram rápidas, conhecimento e prover subsídios para a
eficientes e constantes, com o objetivo formação de professores-tutores. Entre-
de ajudar os cursistas a concretizarem os tanto, compreendemos que a noção de
conteúdos trabalhos no texto didático, intercognição necessita continuar sendo
favorecendo as discussões e o aprofunda- elaborada, por meio de investigação que
mento em relação ao assunto em foco; (b) envolva outros segmentos da EAD e dis-
O conteúdo das mensagens foi pertinente tintas dinâmicas de construção de conhe-
aos objetivos pedagógicos do fórum e à cimento, como, por exemplo, os contextos
formação de novas zonas de desenvolvi- educativos convencionais.
mento proximo. Os interlocutores busca-
ram agregar novos elementos ao debate, Palavras-chave: Intercognição; EaD; Fórum de
integrando-os ao fluxo da comunicação Discussão.
e evitando repetições acríticas aos enun-
ciados. E ainda quando intervieram, so-
bretudo, nos momentos de dificuldades O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO
dos colegas, conferindo valor epistêmico CRÍTICO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:
aos enunciados e aos termos utilizados, FATORES SUBJETIVOS E INTERATIVOS
passando do senso comum para o gênero Laênio Loche - Uniamérica
discursivo acadêmico, e conteúdos cienti- loche@livrepensamento.com.br
ficamente embasados; (c) As intervenções
demonstraram, além de cuidado, afeto e O momento histórico atual é considerado
zelo com os enunciados alheios, compro- a Era da Informação, cujo um dos indícios
metimento em prover suporte emocional é o crescimento exponencial e vertiginoso
e pedagógico ao grupo, favorecendo as do conhecimento humano. Ao apropriar-

726
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

-se da estimativa realizada pelo francês tados nas práticas interativas em fóruns
Jacques Vallée, Wickert (1999, citado em de discussão no contexto da Educação a
Jacobini s/d) afirma que o conhecimen- Distância. A competência do pensamento
to dobra a cada 18 meses. Dentro desse crítico, alçada ao status de objetivo edu-
contexto, o problema já não é, na maioria cacional, pode ser alcançada através de
das áreas de conhecimento, a escassez de diferentes estratégias de ensino-aprendi-
informações, mas justamente o contrário, zagem, como o estímulo a autorreflexão e
o excesso. Tal condição tem repercussões a análise crítica de um livro, filme ou qual-
diretas sobre o desenvolvimento huma- quer outra obra. Devido à multiplicidade
no, sobretudo nos aspectos cognitivos. de possibilidades didáticas a delimitação
Segundo Terneiro-Vieira (1997, p. 9), “a da pesquisa considerou os seguintes crité-
superabundância de conhecimentos, o rios: 1. Interação – dentre tais caminhos,
crescimento da complexidade e o ritmo da se destacam as metodologias interativas
mudança impendem o domínio de todo o e colaborativas, pois a interação com ou-
conhecimento necessário para dar respos- tro permite comparar e avaliar a própria
tas às exigências sociais e econômicas”. As- forma de pensar; 2. Debate – segundo
sim, qualquer cidadão necessita estar apto Walton (2006, p. 12), do ponto de vista da
para lidar com informações, compreendê- argumentação crítica, o diálogo crítico é
-las, selecioná-las e, sobretudo, avaliá-las. o mais significativo, pois “representa um
É preciso saber discernir as informações modelo ideal, ou normativo, de bom diá-
válidas, confiáveis e verdadeiras daquelas logo porque tem regras normativas que,
inconsistentes, imprecisas e falsas. Para tomadas em conjunto, estabelecem um
isso é convocado o pensamento crítico, padrão que define como deve ser um bom
cujo conceito refere-se à habilidade cogni- diálogo persuasivo”. Optou-se pelo deba-
tiva de decidir racionalmente sobre quais te; 3. EaD – face à presença cada vez maior
ideias, informações ou argumentos devam da EsD nos processos educativos em nível
ser admitidos, rejeitados ou não julgáveis. mundial, impulsionada pela internet, op-
Johnson (citado em Boisvert, 2004, p. 31), tou-se por essa modalidade; 4. Fóruns –
a partir da análise crítica dos conceitos segundo Bicalho (2010, p. 45), o fórum de
de 5 autores de referência no tema, iden- discussão é um contexto propenso à cons-
tificou 3 pontos de convergência sobre a trução intersubjetiva do conhecimento.
constituição do pensamento crítico: 1. Por ser uma atividade de comunicação as-
Envolve múltiplas habilidades cognitivas; síncrona, permitindo uma interatividade
2. Envolve informações e conhecimentos intensa ao tempo de cada um, os fóruns
e; 3. Envolve uma dimensão afetiva. Com permitem aos envolvidos na comunicação
base nestes três elementos constituintes um nível de reflexão maior. Diante desta
surgiu o interesse em saber, no processo delimitação a presente pesquisa visou res-
de ensino-aprendizagem desta competên- ponder o seguinte problema: quais fatores
cia, quais fatores influenciam o exercício de ordem subjetiva e interativa, presentes
pleno do pensamento crítico. O presente nas práticas interativas estabelecidas a
trabalho buscou descrever os fenômenos distância, influenciam o desenvolvimento
subjetivos e interativos no desenvolvi- do pensamento crítico em fóruns de dis-
mento do pensamento crítico manifes- cussão? A pesquisa é relevante devido à

727
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

possibilidade de revelar fatores influen- e por ele envolver valores, de início algu-
ciadores do pensamento crítico de alunos, mas participantes ficaram hesitantes em
contribuindo assim para a elaboração de definir uma posição, algo natural, inferido
estratégias de aprimoramento através de a partir de respostas um pouco ambíguas;
didáticas mais adequadas e efetivas. Cum- 3. Entusiasmo – momentos de entusiasmo
pre lembrar que a investigação foi de na- inferidos a partir da frequência, tempo de
tureza descritiva e exploratória devido aos resposta e argumentos fundamentados a
estudos relacionados ao pensamento crí- partir de pesquisas em referências exter-
tico no ensino a distância ainda serem in- nas; 4. Frustração – chegou o ponto em
cipientes. Os sujeitos selecionados foram que os argumentos começaram a se esgo-
alunos de uma turma do curso Didática do tar, fato identificável quando começaram
Pensamento Crítico 2 – Habilidades Espe- a se repetir em diversas mensagens, além
cíficas, ocorrida no primeiro semestre de da manifestação da dúvida de se chegar a
2011, cujo perfil era de professores uni- um consenso; 5. Reanimação – diante de
versitários (mestres, doutores), treinado- uma queda no ritmo da discussão alguns
res organizacionais, pedagogos, psicólo- tomaram a iniciativa e convocaram o gru-
gos e outros profissionais envolvidos com po para focar em um posicionamento; 6.
a educação de maneira geral, perfazendo Exacerbação – ao longo de certo debate a
um total de 19 participantes. Para analisar exacerbação de emoções identificadas na
as práticas interativas, foram utilizados os progressão da posição moderada para a
pressupostos da Análise de Conteúdo apli- extremada. III. Fenômenos Grupais: 1. Pa-
cada às mensagens postadas nos fóruns péis – a assunção de papéis dentro do gru-
de discussão. A seguir, são apresentados po, onde foi possível observar quem assu-
alguns dos resultados encontrados: I. Fe- miu o papel de motivador, estimulando
nômenos cognitivos: 1. Preconceitos – a o colega, e também o de líder propondo
manifestação de preconceitos a partir da formas de trabalhar ao grupo; 2. Conflitos
assunção de suposições arbitrárias, sem – alguns participantes sentiram-se leve-
fundamentos; 2. Distorções cognitivas – mente desrespeitados a partir da forma
erros sobre os posicionamentos alheios, de refutação e cobrança efetivadas pelos
afirmando que a posição do colega era colegas. A partir dos achados, hipóteses
uma quando ele disse o contrário; 3. Resis- podem ser elaboradas servindo de norte-
tência – recusa declarada de analisar argu- adoras de futuros estudos sobre quais são
mentos por serem contrários às próprias os fatores etiológicos destes fenômenos,
opiniões; 4. Procedimentais – falhas pro- quais métodos didáticos melhor desenvol-
cedimentais no exercício das 3 habilida- vem o pensamento crítico, dentre outros.
des de argumentar, análise argumentativa Conforme os resultados obtidos, a pesqui-
e avaliação argumentativa. II. Fenômenos sa demonstrou que os fóruns de discussão
afetivos: 1. Surpresa – algumas pessoas oferecem oportunidades profícuas para o
manifestaram certa surpresa diante de exercício do pensamento crítico e do de-
uma questão inusitada para a maioria, senvolvimento humano.
pois fugia dos problemas comuns do co-
tidiano; 2. Titubeio – dado o caráter inco- Palavras-chave: Pensamento crítico; EaD;
mum de determinado problema discutido fóruns de discussão.

728
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

SP LT02 - Simpósio ção de processos adaptativos bem-suce-


didos e de resiliência. Entende-se, a partir
da literatura, que condições específicas ao
SP LT02-1442 - AVALIAÇÃO COGNITIVA nascimento, dentre elas a prematuridade
DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA E e o baixo peso, doenças crônicas e defici-
EM RISCO PARA PROBLEMAS NO ências estão associadas a dificuldades em
DESENVOLVIMENTO áreas específicas da agenda desenvolvi-
Grace Rangel Felizardo - UFES mental. Uma das áreas consideradas é a
gracerangelf@gmail.com cognição. Assim, o uso de instrumentos de
Jucineide Della Valentina de Oliveira - FPL vigilância do desenvolvimento e de recur-
jucineidedella@yahoo.com.br sos avaliativos diferenciados, como a Ava-
Kely Maria Pereira de Paula - UFES liação Assistida (Dynamic Assessment), são
kelydepaula@yahoo.com.br importantes, de um lado, para a prevenção
Kelly Ambrósio Silveira - UFES de problemas e estimulação precoce, e de
kellysilveira.psicologia@gmail.com outro, para a maior compreensão das es-
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES tratégias de pensamento utilizadas na re-
soniaenumo@gmail.com solução de tarefas, sinalizando potencial
cognitivo e indicadores para intervenção.
A proposta desse simpósio intitulado “Ava- Este simpósio apresentará três pesquisas
liação cognitiva de crianças com deficiên- que tiveram como participantes crianças
cia e em risco para problemas no desen- que apresentam os seguintes riscos para
volvimento” tem como objetivo principal problemas no desenvolvimento: prema-
discutir procedimentos de avaliação da di- turidade e baixo peso, anemia falciforme
mensão cognitiva em crianças vulneráveis, e deficiência. A relevância dessa temática
dada a influência de fatores de risco bioló- está na necessidade de se discutir os avan-
gico ou psicossociais. Nessa perspectiva, a ços teórico-metodológicos do campo da
Psicologia Pediátrica tem contribuído para Avaliação Psicológica e suas implicações
a compreensão e estimulação dos proces- para a prática profissional, principalmente
sos de saúde no desenvolvimento da crian- no que diz respeito a adoção de estratégias
ça e do adolescente, e de suas famílias. Os de avaliação mais eficazes que promovam
estudos da área procuram identificar e de- intervenções assertivas na promoção da
finir as principais adversidades que com- saúde e na inclusão educacional/social.
prometem a saúde, subsidiando interven- As pesquisas foram desenvolvidas no Pro-
ções e programas de prevenção para esta grama de Pós-graduação em Psicologia
população. Em interface com a Psicologia da UFES. A primeira pesquisa, “Avaliação
Pediátrica, a Psicopatologia do Desenvol- do desenvolvimento cognitivo e de fato-
vimento afirma que, ao longo do curso de res biopsicossociais em crianças nascidas
vida, as crianças estão sujeitas à ação de prematuras e com baixo peso”, utilizando
diferentes riscos ou adversidades que po- a escala Bayley, avaliou o desenvolvimento
dem incidir sobre o processo de aquisição cognitivo de crianças nascidas prematuras
de habilidades. Por outro lado, considera e com baixo peso, que ficaram internadas
que a ação de mecanismos de proteção ex- em uma UTIN de hospital público da Gran-
trínsecos à criança poderá facilitar a ado- de Vitória. O segundo estudo, “Avaliação

729
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do potencial cognitivo de crianças com avaliativos e as atividades de estimulação


deficiência na perspectiva assistida” visou precoce temas recorrentes na atuação em
verificar se a avaliação assistida informati- Psicologia Pediátrica (Barros, 2003). Sabe-
zada se apresenta como uma modalidade -se que o nascimento prematuro (PT) e o
de diagnóstico mais prescritivo do desen- baixo peso (BP) podem estar ligados a in-
volvimento cognitivo, quando comparada dicadores de problemas cognitivos, desde
à avaliação psicométrica em crianças com a primeira infância até os anos escolares,
deficiência. E o último trabalho, “Avaliação comprometendo processos autorregula-
do desempenho cognitivo de crianças com tórios e de aprendizagem (Bordin, Linha-
Anemia Falciforme em prova assistida”, res & Jorge, 2001; Briscoe, Gathercole
teve por objetivo avaliar indicadores de & Marlow, 2001; Dezoete, Macarthur &
desempenho cognitivo em crianças com Tuck, 2003). Dessa forma, faz-se neces-
anemia falciforme durante a realização de sário investigar indicadores cognitivos e
prova assistida. intervir precocemente junto a essa popu-
lação, atuando de forma preventiva, tendo
em vista que o sistema neurológico ainda
AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO está em amplo processo de maturação du-
COGNITIVO E DE FATORES rante os primeiros anos de vida (Antunha,
BIOPSICOSSOCIAIS EM CRIANÇAS 1994). Este estudo teve por objetivo ava-
NASCIDAS PREMATURAS E COM BAIXO liar o desenvolvimento cognitivo de crian-
PESO ças nascidas prematuras e com baixo peso,
Kelly Ambrósio Silveira - UFES em um hospital público da Grande Vitória/
kellysilveira.psicologia@gmail.com ES, com idade entre 12 e 36 meses (mé-
Sônia Regina Fiorim Enumo - UFES dia= 23,6 meses, DP= 7,6). Participaram
soniaenumo@gmail.com 40 crianças, 24 meninas e 16 meninos, e
Kely Maria Pereira de Paula - UFES suas mães, organizados em 4 grupos: G1
Kelympp@terra.com.br com 10 crianças entre 12 e 18 meses; G2
Financiamento: CNPq com 10 crianças entre 18 e 24 meses; G3
com 10 crianças entre 24 e 30 meses; e
A Psicopatologia do Desenvolvimento G4 com 10 crianças entre 30 e 36 meses.
tem indicado a importância da investiga- A avaliação do desenvolvimento foi efetu-
ção de fatores biopsicossociais presentes ada a partir da Bayley Scales for Infant and
na trajetória de desenvolvimento infantil Toodler Development (BSID- III)- versão de
para a compreensão de habilidades cog- triagem (screening), Escala Cognitiva, que
nitivas, linguísticas, motoras e comporta- fornece os indicadores Em Risco, Emergen-
mentais (Rutter, 2000; Rutter, & Sroufe, te e Competente para os resultados obti-
2000). Nesse contexto, a prematuridade, dos (Bayley, 2006). A partir do contato com
entendida como nascimento anterior a 37 as mães, foi realizada uma entrevista para
semanas de gestação, e o baixo peso, in- a verificação de dados demográficos e de
ferior a 2.500g, têm sido apontados como nascimento, sendo preenchido também
importantes fatores que podem conferir o Índice de Riscos Psicossociais de Rutter.
maior vulnerabilidade ao recém-nascido Dados dos prontuários médicos foram
(Halpern et al., 2002), sendo os processos consultados. Verificou-se que o peso mé-

730
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dio ao nascer foi de 1.646g e a idade ges- biopsicossociais, podem aumentar o de-
tacional média em torno de 32,6 semanas. sempenho em atividades cognitivas com o
O tempo médio de internação na UTIN foi passar da idade. Analisando a significância
25,9 dias (DP= 19). A maioria das crianças dos escores entre os grupos, foi possível
(90%) apresentou problemas respiratórios observar que não houve diferença signifi-
ao nascer, sendo a Doença da Membrana cativa entre G3 e G4 para a escala cogni-
Hialina a disfunção mais frequente, repre- tiva. O desempenho cognitivo apresentou
sentando 50% dos problemas respirató- correlação significativa positiva com as va-
rios. A partir do questionário sobre riscos riáveis: peso ao nascer, idade gestacional,
psicossociais, observou-se que a maioria frequência na creche e escolaridade pater-
das crianças (47,5%) apresentava baixo na; e correlação negativa com hemorragia
risco, 40% apresentou risco psicossocial intracraniana. Não foi identificada associa-
moderado e 12,5% da amostra apresen- ção significativa entre indicadores de risco
tou risco psicossocial severo. Houve maior psicossocial e indicadores de risco para
média na pontuação de variáveis relacio- atraso cognitivo (Qui-quadrado, teste V
nadas a problemas conjugais, seguidas da de Cramer). Os resultados obtidos permi-
maternidade/paternidade precoces, ha- tem observar que o desempenho bruto e
bitação superlotada e do baixo nível edu- a classificação tenderam à progressão, res-
cacional dos pais. Verificou-se que o G4 saltando a hipótese de que, a longo prazo,
acumulou maior quantidade de variáveis algumas dificuldades no desenvolvimento
de risco biológico e psicossocial. Houve infantil podem diminuir a partir do enfra-
baixo desempenho cognitivo em 50% das quecimento do efeito de algumas variáveis
crianças, sendo que 45% foram conside- relacionadas ao nascimento. As análises
radas Emergentes, com risco médio de ter provenientes do teste de Qui-Quadrado
algum comprometimento no desenvolvi- reforçaram a noção de que não é possível
mento cognitivo, e 5% foram consideradas generalizar a possibilidade de interferência
Em Risco, com alta probabilidade de apre- negativa de riscos relacionados a atrasos
sentar algum atraso. Houve, em média, no desenvolvimento. Os dados confirmam
67,1% de acerto aos itens da escala, com os resultados indicados na literatura no
progressão da pontuação média e percen- que tange ao contingente de crianças com
tual de acerto do G1 ao G4. A quantidade problemas cognitivos em PT/BP, indicando
de crianças classificadas como Competen- a necessidade de programas de estimula-
tes aumentou com o passar da idade, com ção precoce, e estudos sobre a correlação
maior concentração dessa classificação entre fatores biopsicossociais e indicado-
no G4. Foi realizada, também, uma Análi- res de desenvolvimento cognitivo. Quan-
se de Variância para o resultado bruto da do o foco de análise é o desenvolvimento
BSID-III, objetivando identificar diferenças infantil torna-se difícil afirmar relações de
significativas entre os resultados dos dife- causa-efeito, em que uma variável inde-
rentes grupos. Observou-se que, em re- pendente de interesse produz um efeito
lação aos escores brutos, de modo geral, em outra variável dependente. Ao longo
houve diferença significativa entre os gru- da trajetória de desenvolvimento, os pro-
pos de idade. Isso sugere que as crianças, cessos maturacionais e a própria interação
ainda que sujeitas aos efeitos de variáveis do indivíduo com o mundo são permeados

731
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

por inúmeras condições orgânicas, psicoló- um processo importante para subsidiar es-
gicas, sociais e econômicas que se somam tratégias psicoeducacionais voltadas para
em seus efeitos negativos, ou que, contra- a promoção do potencial de aprendiza-
riamente, adquirem o poder de proteger a gem. Historicamente, entretanto, práticas
criança contra atrasos no desenvolvimen- de avaliação com enfoque estritamente
to. É possível que processos de resiliência comparativo com grupos normativos in-
estejam atuando nos casos em que há crementou a produção de estigmas em
diminuição do efeito da ação de variáveis crianças com deficiência, gerando ações
biopsicossociais comprovadamente per- de segregação e preconceito. Em contra-
turbadoras para o desenvolvimento infan- partida, medidas que consideram a varia-
til. Sendo assim, é de extrema importância ção intragrupo e aquelas que destacam
a prática da intervenção precoce, a partir muito mais o processo de aprendizagem
de grupos de orientação com os pais, e de e as ferramentas metacognitivas do que
estimulação especializada e individualiza- os conteúdos aprendidos trouxeram dife-
da para os casos de maior vulnerabilidade rentes perspectivas ao campo da avaliação
a diferentes fatores de risco. de pessoas com deficiência. Essa nova mo-
dalidade, denominada Avaliação Assistida
Palavras-chave: Prematuridade e baixo peso; (Dynamic Assessment), abre um horizonte
2) Desenvolvimento cognitivo; 3) Avaliação do de possibilidades que colaboram na orga-
desenvolvimento. nização de propostas de intervenção mais
Contato: Kelly Ambrosio Silveira. Mestre e dirigidas às potencialidades do ser huma-
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação no, o que, em tempo, pode auxiliar no pro-
em Psicologia/UFES. cesso de inclusão social e educacional de
Kellysilveira.psicologia@gmail.com crianças com déficits no desenvolvimento.
A Experiência de Aprendizagem Mediada
e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL COGNITIVO Estrutural, conceitos desenvolvidos pelo
DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA NA psicólogo israelense Reuven Feuerstein,
PERSPECTIVA ASSISTIDA norteiam essa abordagem de avaliação, e
Jucineide Della Valentina de Oliveira - FPL resultam na organização de ambientes es-
jucineidedella@yahoo.com.br pecíficos de aprendizagem que auxiliam na
Kely Maria Pereira de Paula - UFES promoção do desenvolvimento cognitivo1,
kelydepaula@yahoo.com.br 2
. Nesse contexto, a avaliação assistida é
Financiamento: FAPES (bolsa de mestrado) e uma metodologia que atende às diferen-
FACITEC (bolsa de iniciação científica) ças individuais3 e que também permite
às crianças utilizarem diferentes recursos
Vislumbrar as práticas de avaliação psico- cognitivos no processo de aprendizagem4.
lógica numa perspectiva de acessibilidade, Quando a criança recebe uma intervenção
potencialidade e modificabilidade cogniti- individualizada, com o objetivo de otimizar
va, principalmente, em crianças com defi- sua capacidade de processar informações,
ciência, é um grande desafio. Sabe-se que a cria-se uma situação favorável para a mo-
identificação e a avaliação de crianças com dificabilidade cognitiva3 , proporcionando
deficiência configuram-se como etapas de a capacidade de planejar, controlar o pro-

732
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cesso intelectual e avaliar os resultados especificamente para este estudo. Proto-


provenientes dessa regulação, desenvol- colos de registro de fatores afetivo-moti-
vendo, por sua vez, habilidades metacogni- vacionais e de operações cognitivas foram
tivas5. Assim como a avaliação assistida, a utilizados durante as tarefas assistidas. Por
informatização de testes psicológicos per- fim, na avaliação do comportamento, o
mite uma maior acessibilidade para crian- Child Behavior Checklist (CBCL) foi respon-
ças com problemas no desenvolvimento. dido pelas mães. Os dados foram subme-
Em ambos os casos, considera-se que os tidos à análise estatística descritiva para
instrumentos utilizados sejam adequados verificar o desempenho das crianças nas
às necessidades dos sujeitos, tendo como duas formas de avaliação informatizada
foco suas potencialidades. Partindo destes (psicométrica e assistida). O desempenho
princípios, este trabalho teve por objetivo do grupo nos testes psicométricos apre-
verificar se a avaliação assistida informati- sentou classificações inferiores. No TVIP-
zada se apresenta como uma modalidade comp, que analisa o vocabulário receptivo,
de diagnóstico mais prescritivo do desen- 7 crianças obtiveram índice “abaixo da
volvimento cognitivo, quando comparada média”. Na avaliação do raciocínio geral,
à avaliação psicométrica, na aplicação em medido pelo Comlúmbiacomp, 55% (n=6)
crianças com deficiência. Participaram da da amostra foi classificada com desempe-
pesquisa 11 crianças, que frequentavam nho “médio inferior”. Na modalidade as-
uma instituição de atendimento clínico sistida, quanto ao desempenho nas provas
especializado, na Grande Vitória (ES). O informatizadas, a maior parte das crianças
grupo foi composto por 7 meninos e 4 (n=6) alcançou o perfil classificado como
meninas, com idades entre 5 anos e 2 me- “alto-escore” na PEFGcomp, enquanto que
ses a 9 anos e 11meses, com deficiências na PEOcomp, 7 crianças foram referidas
e déficits que variavam de moderado a como “não-mantenedoras”. No JAFcomp a
severo nas habilidades sociais, de lingua- maioria (n=6) conseguiu se beneficiar dos
gem, comunicação, coordenação moto- níveis de ajuda fornecidos pela mediado-
ra e cognição, decorrentes de diferentes ra na fase de assistência, melhorando ou
etiologias, entre elas Síndrome de Down mantendo seu desempenho, numa pro-
(n=4), Retardo Mental (n=3), Síndrome de porção de 50% de acertos na manutenção
Asperger (n=2) e Paralisia Cerebral (n=2). (classificações “ganhador” e “ganhador de-
Na avaliação psicométrica foram utilizados pendente de assistência”). A relação entre
a Escala de Maturidade Mental Colúmbia os indicadores cognitivos e o desempenho
computadorizada (Colúmbiacomp) e o Tes- nas provas assistidas ficou bem estabele-
te de Vocabulário por Imagens Peabody cida. Quanto maior o índice de operações
(TVIPcomp). Na avaliação assistida infor- cognitivas facilitadoras à execução da tare-
matizada foram aplicadas três provas vol- fa, melhor o desempenho (por exemplo,
tadas para as habilidades de classificação perfil “alto-escore” ou “ganhador” na PE-
e raciocínio analógico: Exclusão de Objetos FGcomp). Assim, em relação equivalente,
(PEFGcomp), Exclusão de Figuras Geomé- o JAFcomp, tarefa de maior complexidade,
tricas (PEFGcomp) e Jogo de Analogia de apresentou maior índice de operações
Figuras (JAFcomp), no ambiente informa- cognitivas não-facilitadoras (percepção
tizado SINDAPSI, software desenvolvido episódica e conduta não-comparativa, por

733
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

exemplo). No que se refere aos indicado- de processos afetivos na expressão das ha-
res afetivo-motivacionais, em todas as bilidades cognitivas.
provas a proporção de fatores facilitadores
ficou acima de 90%. A despeito das dificul- Palavras-chave: Avaliação Assistida; Avaliação
dades cognitivas, o grupo apresentou com- psicológica computadorizada; Crianças com
portamento acessíveis à mediação do exa- deficiência.
minador e facilitadores à tarefa, tais como Contato: Jucineide Della Valentina de
prazer na atividade, níveis adequados de Oliveira - Faculdade Pitágoras de Linhares,
tolerância à frustração, além de vitalidade jucineidedella@yahoo.com.br
e sentido de alerta. Os dados do compor-
tamento da criança avaliados pela mãe
indicou, por meio do CBCL, que a maioria AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
(n= 7) foi classificada no perfil “clínico” na COGNITIVO DE CRIANÇAS COM ANEMIA
“Escala de Problemas Totais”, o mesmo na FALCIFORME EM PROVA ASSISTIDA
subescala de “Distúrbios Internalizantes”; Grace Rangel Felizardo - UFES
já para os “Distúrbios Externalizantes”, só gracerangelf@gmail.com
1 criança se enquadrou no perfil “clínico”. Kely Maria Pereira de Paula - UFES
Contudo, problemas comportamentais si- kelydepaula@yahoo.com.br
nalizados pelo CBCL não se apresentaram Financiamento: CAPES
como dificultadores à realização dos testes
na condição de avaliação estruturada. Na A doença crônica apresenta um forte im-
análise geral, o grupo apresentou níveis pacto sobre a capacidade funcional do su-
de dificuldade na realização dos testes in- jeito, pois altera de forma significativa a
formatizados assistidos, que variaram em forma como o sujeito se relaciona no dia a
função da prova (maior ou menor com- dia. Mesmo com o avanço nos tratamen-
plexidade). Contudo, quando incluímos na tos, em muitos casos, essas doenças não
análise do desempenho, outros indicado- podem ser curadas, trazendo para o indivi-
res (como os afetivos e comportamentais), duo várias e extensivas hospitalizações,
além do perfil cognitivo, o resultado se dor aguda e/ou contínua e prejuízos cogni-
apresenta melhor, evidenciando que o gru- tivos, além do comprometimento sócio
po se beneficiou da mediação implemen- emocional (Dias, Baptista & Baptista,
tada na fase de assistência para melhorar 2003). Nesse grupo, podemos citar a Ane-
as habilidades dirigidas à resolução de mia Falciforme – AF que chega a afetar de
tarefas. Além disso, a apresentação infor- 6 a 10% da população afrodescendente
matizada dos testes se configurou em fator brasileira. A doença é definida por uma
motivador que contribuiu para a realização mutação genética que compromete as
e persistência na situação de avaliação. Os funções das hemácias, responsáveis por
resultados desta pesquisa poderão auxiliar distribuir o oxigênio às demais células do
na elaboração de estratégias no campo da corpo. Tal mutação leva ao encurtamento
Psicologia, fomentando uma avaliação que da vida média dessas células, causando,
valorize mais as potencialidades do que as então, a anemia hemolítica, a oclusão dos
limitações impostas pela condição de de- vasos e infartos teciduais, resultando em
ficiência, também destacando a influência lesões e crises dolorosas constantes (Anvi-

734
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sa, 2002). Por ser uma doença crônica, a 2001). A Avaliação Assistida vai além da
mesma constitui um risco para o funciona- medição do conhecimento atual da crian-
mento da criança, pois impõe uma rotina ça, buscando compreender como a mesma
de consultas médicas, internações hospita- percebe, identifica e analisa os estímulos
lares, baixa frequência escolar, agravamen- apresentados numa situação de resolução
to da condição física, além de problemas de problemas. Nesse processo de avalia-
psicológicos e comportamentais (Castro & ção se configura uma situação de aprendi-
Piccinini, 2002). A AF é vista como um sério zagem em que o examinador, através do
risco para o desempenho cognitivo e para fornecimento de pistas procura oferecer
a aprendizagem (Bonner, Gustafson, Schu- um suporte instrucional, o qual se ajusta
macher & Thompson, 1999) devido a ao desempenho da criança. Ao final da
maior suscetibilidade a acidentes vascula- prova, além de identificar como a criança
res e outras alterações neuronais, princi- realiza a tarefa, e quais são as melhores e
palmente em crianças. Considerando que mais adequadas estratégias de mediação e
há poucos estudos no campo da Psicologia a sensibilidade da mesma às instruções
que avaliam o impacto da doença falcifor- oferecidas. Assim, o objetivo principal não
me nas funções cognitivas, novas investi- é avaliar o desempenho e sim avaliar a mu-
gações e mais detalhadas são necessárias, dança do padrão de desempenho, a partir
dada a multiplicidade de fatores que po- da assistência do mediador, a fim de reve-
dem afetar o desempenho em situações lar o potencial de aprendizagem, permitin-
de aprendizagem. Este trabalho considera do a construção de estratégias mais ade-
que a proposta da Avaliação Assistida (Dy- quadas para cada aprendiz. O presente es-
namic Assessment) poderá ser útil na iden- tudo teve como objetivo avaliar os indica-
tificação do potencial cognitivo de crianças dores de potencial cognitivo em crianças
com anemia falciforme. Na literatura, a portadoras da anemia falciforme, utilizan-
avaliação cognitiva dessa população foi, do o procedimento combinado de avalia-
sobretudo realizada mediante uma abor- ção psicométrica e avaliação assistida. Uti-
dagem psicométrica (BROWN et al, 1993), lizou-se como instrumentos de avaliação
destacando o desempenho inferior do gru- as Matrizes Progressivas Coloridas de Ra-
po com doença falciforme em relação à ven – Escala especial (Angelini, Alves, Cus-
população normal. Assim, com base nes- tódio, Duarte & Duarte 1999), a prova as-
ses dados, optou-se por utilizar a Avaliação sistida Jogo de Perguntas de Busca com Fi-
Assistida, visto que esta se fundamenta, guras Diversas - PBFD (Gera & Linhares,
teórica e metodologicamente, em uma vi- 1998), na versão computadorizada (Olivei-
são mais otimista acerca do desenvolvi- ra, 2009), além de protocolos específicos
mento humano e dos processos de apren- para avaliação de operações cognitivas e
dizagem em situação de adversidade (Feu- comportamentos envolvidos na resolução
erstein, Rand, Jensen, Kaniel & Tzuriel, da tarefa. Anamnese realizada com as
1987), considerando os indivíduos que mães e análise de prontuários médicos
apresentam uma sobreposição de riscos, completaram o procedimento. Em um mo-
como os de natureza biológica e psicosso- delo estruturado para o contexto de pes-
cial, além de integrar à análise de variáveis quisa, o PBFD apresenta quatro fases (Sem
não estritamente intelectuais (Tzuriel, ajuda – SAJ, Assistência – ASS, Manuten-

735
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção – MAN e Transferência – TRF). Consi- ratura apontar que as crianças portadoras
dera-se a fase SAJ como linha de base, sen- de anemia falciforme tendem a apresentar
do a ASS a única fase com ajuda do media- um baixo desempenho cognitivo, os resul-
dor. Após, suspende-se qualquer procedi- tados indicaram uma situação inversa
mento de auxílio e verifica-se se a criança onde este grupo, de uma maneira geral,
melhorou seu desempenho nas etapas apresentou um bom desempenho, tanto
subsequentes da avaliação, a saber, MAN e na avaliação psicométrica quanto na assis-
TRA. No procedimento assistido avaliam- tida. Na avaliação assistida, mesmo a
-se, além do perfil de desempenho, as ope- criança que apresentou um desempenho
rações cognitivas e o comportamento du- inferior nas primeiras fases, conseguiu ge-
rante a realização da prova. Participaram neralizar a aprendizagem e ter um bom
do estudo 11 crianças com idade entre 8 e desempenho (maior número de perguntas
10 anos, que realizavam tratamento no relevantes e acertos) na fase de transfe-
ambulatório de pediatria de um hospital rência. Ainda, a avaliação assistida permi-
público de Vitória, ES. Em relação à avalia- tiu discriminar o quanto esse grupo se be-
ção psicométrica realizada com o Raven neficiou dos níveis de assistência, pois,
80% da amostra foi classificada como ten- apesar de ter um desempenho médio me-
do nível intelectual médio. Quanto aos in- lhor, se comparado aos resultados de ou-
dicadores de desempenho na resolução de tros grupos com anemia falciforme, em
problemas os resultados mostraram que baterias psicométricas, descritos na litera-
houve um aumento do numero de pergun- tura, a competência na tarefa de “pergun-
tas relevantes e acertos nas fases ASS, ta de busca com restrição de alternativas”,
MAN e TRF quando comparada à SAJ. So- que envolve, por exemplo, outras habilida-
bre os perfis de desempenho verificou-se des cognitivas, como as de análise e classi-
que 27% da amostra foi classificada como ficação de estímulos, se tornou mais efeti-
alto escore (não requer nenhum tipo de va ao longo da prova. Esses resultados po-
assistência para realizar a prova) e 64% dem estar relacionados ao método de
como ganhador mantenedor; apenas uma avaliação mais compreensivo na organiza-
criança foi classificada como ganhador de- ção de uma situação de aprendizagem, de-
pendente de assistência, indicando que a monstrando que essas crianças foram sen-
maioria da amostra obteve melhora na síveis à mediação oferecida. É possível que
fase de assistência e manteve o bom de- o desempenho cognitivo do grupo tenha
sempenho na fase de manutenção. No que sido influenciado por outros fatores, tais
se refere a transferência da aprendizagem como as variáveis clínicas, afetivas e so-
100% da amostra recebeu classificação de ciais. Embora não seja possível medir pre-
transferidor, o que demonstra alto índice cisamente a direção de tais variáveis, dado
de perguntas relevantes e de acertos nessa o delineamento do estudo, entre os fato-
fase. Houve também um aumento das res que podem ter contribuído para o de-
operações cognitivas positivas durante as sempenho nos testes e sensibilidade à ins-
fases ASS, MAN e TRF se comparadas com trução, destacam-se: o diagnóstico defini-
a fase SAJ (sem ajuda). Os comportamen- do até o primeiro ano de vida, o atendi-
tos positivos ocorreram numa média de mento pela mesma equipe médica há vá-
89% entre as quatro fases. Apesar de a lite- rios anos, com acesso mais facilitado a ou-

736
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tras especialidades, participação em grupo ções familiares, influenciando uns aos ou-
de apoio à família do portador de anemia tros, direta e indiretamente. Dependendo
falciforme, elevado envolvimento dos pais do modo como a família se estrutura e
no conhecimento e manejo da doença, o se relaciona, ela pode favorecer ou difi-
uso de medição específica para dor (hidro- cultar os processos de desenvolvimento
xiuréia) levando a menor número de crises humano. Considerando que a família está
álgicas seguidas de internação prolongada em constante processo de adaptação e
e maior frequência escolar. Esses fatores readaptação em função da ocorrência
podem se constituir em mecanismos de de eventos normativos e não normativos
proteção que incidem sobre a criança, mi- próprios de seu desenvolvimento, conhe-
nimizando os efeitos deletérios de fatores cer estes processos, sobretudo, quando
biológicos, como a doença crônica e a dor um de seus membros apresenta algum
recorrente. São necessários novos estudos tipo de deficiência, torna-se prioritário.
no país com amostra mais ampla que con- Assim, este simpósio tem por finalidade
siderem o interjogo entre diferentes variá- discutir as contribuições de diferentes
veis e sua influência no desempenho cog- membros da família (mãe, pai, irmãos)
nitivo de crianças e jovens com anemia para o desenvolvimento de pessoas com
falciforme. deficiência, com ênfase no papel do pai.
A primeira apresentação compara várias
Palavras-chave: Avaliação assistida; Avaliação dimensões das relações entre famílias
psicológica; Anemia Falciforme; Doença de crianças pré-escolares com e sem de-
Crônica. ficiência, com destaque para as relações
Contato: Grace Rangel Felizardo – Mestranda conjugais, parentais e fraternas, demons-
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/ trando que o pai é mais participativo nas
UFES - gracerangelf@gmail.com famílias de crianças com síndrome de
Down que nas famílias de crianças com
desenvolvimento típico. Dando continui-
SP LT05 - Simpósio dade, a segunda apresentação enfoca as
principais descobertas dos estudos em-
píricos a respeito das contribuições do
SP LT05-826 - CONTRIBUIÇÕES DA pai da pessoa deficiente, ilustrando com
FAMÍLIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA dados de uma pesquisa sobre os efei-
PESSOA COM DEFICIÊNCIA tos de uma intervenção domiciliar com
Maria Auxiliadora Dessen - UnB envolvimento paterno em famílias de
dessen@unb.br crianças com síndrome de Down. Den-
tre os principais resultados encontrados,
Estudar o desenvolvimento do indivíduo merece destaque o fato de que, embo-
requer, sobretudo, compreender os pro- ra a maioria dos pais tivesse o papel de
cessos de comunicação existentes dentro provedor principal, eles estavam bastante
da família e suas inter-relações com os envolvidos com seus filhos, colaborando
demais contextos em que ela se insere. de forma eficiente com o desenvolvimen-
Tanto a criança como os seus genitores e to das crianças. A terceira apresentação
irmãos são participantes ativos nas rela- analisa as contribuições da família nos

737
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

atendimentos da pessoa com deficiência, RELAÇÕES CONJUGAIS, PARENTAIS E


na perspectiva de profissionais, de pro- FRATERNAS EM FAMÍLIAS COM FILHOS
fessores de escolas regulares, da família COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
(pai, mãe e irmãos) e da própria pessoa Nara Liana Pereira-Silva - UFJF
com deficiência. Apesar de haver consen- naraliana.silva@ufjf.edu.br
so sobre a importância da parceria entre Maria Auxiliadora Dessen - UnB
profissionais e família, os dados sugerem dessen@unb.br
que a família não participa ativamente
dos serviços e atendimentos oferecidos Os relacionamentos familiares são consti-
pelas instituições, seja porque ela mesma tuídos por um sistema de trocas interati-
não se inclui, seja porque são excluídas vas que incluem díades, tríades, tétrades
pelos profissionais, pois ambos mostram e outras constelações, que integram os
despreparos para atuarem de acordo com diferentes subsistemas (conjugal, paren-
modelos de intervenção centrados na fa- tal, fraternal) que se influenciam mútua
mília. A última apresentação, baseada na e multidirecionalmente. Dentre as influ-
premissa de que o cuidado de pessoas ências marcantes no desenvolvimento in-
com deficiência intelectual não se esgo- fantil, merece destaque aquelas oriundas
ta para os familiares ao longo do curso das relações dos genitores enquanto ca-
de vida destes indivíduos, visa discutir as sal, que interferem diretamente nas suas
possibilidades de desenvolvimento das relações com os filhos, ao desempenha-
pessoas com deficiência ao se tornarem rem as tarefas de pai e mãe. As relações
adultos em nosso contexto sociocultural. parentais, por sua vez, influenciam dire-
Assim, são apresentados os principais re- tamente o desenvolvimento da criança.
sultados de estudos empíricos a respeito Em se tratando das relações conjugais em
das trajetórias escolares e perspectivas famílias com filhos com deficiência inte-
de futuro de jovens / adultos com defici- lectual (DI), os resultados da literatura,
ência e das contribuições dos familiares embora ainda não conclusivos, apontam
para a configuração de um quadro com- que a insatisfação e o estresse marital po-
preensivo das condições educacionais e dem estar associados aos problemas de
sociais destas pessoas. Ao final das apre- comportamento que a criança apresenta,
sentações, serão discutidas questões re- às maiores demandas de cuidado com as
lativas ao funcionamento familiar, tendo necessidades da criança, às interações
como pressuposto básico que a presença maritais negativas, bem como à ocor-
de uma pessoa com deficiência não re- rência de trocas aversivas com a criança.
presenta, necessariamente, um evento Este quadro pode ser amenizado quando
adverso, desde que haja qualidade nas os maridos empregam mais estratégias
relações familiares e uma eficiente rede de enfrentamento de problemas, possi-
social de apoio. bilitando que suas esposas percebam a
relação do casal de modo mais ajustado.
No entanto, há estudos que mostram que
nem a qualidade da relação marital nem o
apoio conjugal diferem significativamen-
te entre famílias de crianças com e sem

738
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

DI, independentemente das idades das foi realizado com 10 famílias residentes
crianças (6, 7 e 8 anos). Isto significa que à em Brasília, das quais 5 tinham um filho
medida que a criança se desenvolve, não com síndrome de Down (SD) e 5 tinham fi-
demanda, necessariamente, mais estres- lhos com desenvolvimento típico. A cole-
sores à unidade conjugal. Quanto às rela- ta de dados foi efetuada na residência das
ções parentais em famílias com pessoas famílias, durante dois anos, com visitas
com DI, a literatura tem priorizado os es- semestrais. As relações parentais e frater-
tudos sobre interações mãe-bebê e crian- nas foram investigadas por meio de ob-
ças pequenas, em detrimento daquelas servação direta do comportamento, usan-
com adolescentes e adultos. No entanto, do os recursos da tecnologia de vídeo. As
as últimas décadas têm registrado um observações tiveram duração de, aproxi-
aumento crescente de interesse pela in- madamente, 10 minutos cada, nas situa-
vestigação de interações pai-criança com ções de atividades livres em que a criança
DI e de interações entre irmãos, em día- (C) encontrava-se com um dos genitores
des em que um dos irmãos apresenta DI. (C-M, C-P), com ambos (C-M-P), com os
A relação entre irmãos é vista como um genitores e o irmão (C-M-P-I) ou somen-
aspecto essencial do desenvolvimento te com o irmão (C-I). As interações fami-
humano, ao longo do curso de vida, uma liares caracterizaram-se pela ‘Sincronia’,
vez que se trata da relação potencialmen- ‘Supervisão’, ‘Amistosidade’ e ‘Liderança’.
te mais duradoura dentro da família. A Esse mesmo padrão foi encontrado em
convivência com os irmãos facilita a aqui- díades, tríades e tétrades, em ambos os
sição e o desenvolvimento de diversas tipos de família, tanto nas relações paren-
habilidades, dentre as quais as sociais e tais quanto nas relações entre os irmãos.
as de solução de problemas. Além disso, As atividades foram desenvolvidas, ge-
os irmãos passam a constituir uma fonte ralmente, em ‘Grupo’, havendo predomi-
importante de apoio da rede social da fa- nância da participação ‘Conjunta’, com a
mília, sobretudo quando há pessoas com mãe sendo a maior responsável pela ‘Su-
deficiência intelectual, que requerem cui- pervisão’ e ‘Liderança’ nas interações, em
dados extras. Assim, dada a importância ambos os tipos de famílias. Mães e pais,
das relações familiares para o desenvolvi- em famílias de crianças com síndrome de
mento de seus membros, e tendo como Down, iniciaram igualmente as interações
premissa básica que as famílias com filhos com sua criança, enquanto em famílias de
com necessidades especiais não têm um crianças com desenvolvimento típico, a
funcionamento patológico, mas apenas responsabilidade maior foi da mãe. O pai
enfrentam desafios diferentes daqueles mostrou-se mais participativo nas famílias
enfrentados pelas famílias com filhos sem de crianças com síndrome de Down que
deficiência, o objetivo desta apresenta- nas famílias de crianças com desenvolvi-
ção é discutir os principais resultados de mento típico. Alguns padrões de comuni-
dois estudos empíricos a respeito das re- cação familiar apresentaram continuida-
lações conjugais, parentais e fraternas em des e outros apresentaram descontinui-
famílias com crianças com DI. O primeiro, dades ao longo do tempo. O outro estudo
com o objetivo de descrever as relações contou com a participação de 21 pais e 21
parentais e as fraternas nestas famílias, mães de crianças de 1 a 13 anos de idade

739
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com o diagnóstico de deficiência intelec- CONTRIBUIÇÕES ALÉM DA MÃE: O


tual, tendo a maioria síndrome de Down IRMÃO E O PAI DA PESSOA COM
(n=15). Um dos objetivos deste estudo foi DEFICIÊNCIA
verificar o índice de ajustamento diádico Nancy Capretz Batista da Silva - UFSCar
medido por meio da Escala de Ajustamen- nancycbs@gmail.com
to Diádico de Spanier. A média de pontos Ana Lúcia Rossito Aiello - UFSCar
atingidos pela maioria de pais (M=106) e ana.aiello@terra.com.br
mães (M=107) foi maior que 101, indican-
Financiamento: CAPES
do que estes casais estão ajustados em
seu relacionamento conjugal. A minoria
O desenvolvimento humano depende,
dos participantes (pais - n=8; mães - n=7)
sobretudo, da família na qual o indivíduo
encontra-se em dificuldade/desajusta-
mento no relacionamento conjugal. Es- se insere. Quando uma das crianças da fa-
ses resultados indicam, ainda, que pais e mília tem uma deficiência, a necessidade
mães não diferiram em sua percepção de de que aquela família seja uma estrutura
ajustamento, bem como de felicidade no social efetiva se torna ainda mais impor-
casamento, apresentando uma variação tante. O universo familiar das crianças vai
entre ‘feliz’ e ‘muito feliz’. Os resultados muito além da interação mãe–criança,
de ambas as pesquisas confirmam o pres- díade tradicionalmente mais contempla-
suposto inicial de que estas famílias têm da nos estudos sobre desenvolvimento,
uma dinâmica similar à de famílias com dado que envolve o pai, irmãos, avós e
filhos sem deficiências e sugerem que é outros agentes sociais. Com base nessa
preciso envidar esforços para ampliar o concepção sistêmica de família, consi-
escopo da pesquisa sobre a família, in- dera-se que qualquer fato ou aconteci-
cluindo resultados positivos para as famí- mento que afete um membro da família
lias com filhos com deficiências, levando atingirá, consequentemente, o sistema
em consideração a natureza sistêmica da como um todo. A relação entre irmãos e
família e, consequentemente, as influên- irmãs, por exemplo, é o mais rico e dura-
cias mútuas entre os diferentes subsiste- douro dos relacionamentos familiares,
mas. Destaca-se a importância da elabo- tanto na infância como na idade adulta.
ração de programas de educação familiar Os irmãos modelam ativamente as vidas
voltados para as famílias com necessida- uns dos outros e preparam uns aos ou-
des especiais, com ênfase na dinâmica de tros para as experiências que terão com
suas relações familiares. pares e adultos. Sabe-se que os irmãos de
pessoas com necessidades educacionais
Palavras-chave: relações maritais, relações especiais frequentemente passam pelas
parentais, relações fraternas, deficiência mesmas experiências que os pais, como
intelectual medo, raiva, culpa, etc., o que se justifi-
Contato: Nara Liana Pereira-Silva, UFJF, ca, uma vez que as reações dos pais in-
naraliana.silva@ufjf.edu.br fluenciam aquelas dos filhos. A literatura
ressalta a importância de se realizar in-
tervenções em grupos com os irmãos de
crianças com deficiência, uma vez que há

740
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um aumento de conhecimentos sobre a paterno (frequência, variedade de com-


deficiência do irmão e aspectos relacio- portamentos, qualidade das interações
nados; variabilidade em relação aos níveis e significado do envolvimento). Assim, o
de interação com os irmãos e aos tipos de objetivo desta apresentação é discutir as
comportamentos dirigidos a eles e, tam- principais descobertas dos estudos empí-
bém, quanto às estratégias utilizadas para ricos à respeito das contribuições do pai
enfrentar situações difíceis relacionadas da pessoa deficiente, ilustrando com os
ao irmão. Já em relação ao papel do pai, dados de uma pesquisa sobre os efeitos
sua importância no desenvolvimento dos de uma intervenção domiciliar com envol-
filhos é reconhecida na literatura, mes- vimento paterno em famílias de crianças
mo que muitas vezes seu papel prepon- com síndrome de Down. Cinco famílias
derante seja o de provedor. Assim, o pai de duas cidades do interior do Estado
positivamente envolvido contribui com de São Paulo participaram do estudo. As
o desenvolvimento psicoafetivo e com a crianças, com idade entre um e dois anos,
construção da personalidade dos filhos, foram avaliadas com o Inventário Porta-
constituindo a sua primeira autoridade ge Operacionalizado, sendo constatado
social; com o desenvolvimento intelectu- atraso no desenvolvimento de todas elas.
al, social e emocional das crianças; com Elas foram filmadas, ao longo do estudo,
a competência cognitiva, a empatia, o brincando com seus genitores e essas in-
foco de controle interno e a formação de terações foram analisadas por meio de
uma menor crença sexualmente estere- três protocolos diferentes: o Protocolo
otipada; contra desajustes psicológicos de Categorias de Análise das Filmagens
e estresse; e tem filhos mais engajados de Interação, o Sistema Definitivo de Ca-
socialmente, obedientes e com relação tegorias Observacionais e o Protocolo de
harmoniosa com o mesmo. Portanto, Avaliação da Interação Diádica/Triádico.
uma variedade de fatores influencia no Além disso, foram utilizados o roteiro de
envolvimento paterno, dentre os quais: Entrevista de Caracterização do Papel do
a qualidade da interação com a parcei- Pai Brasileiro na Educação da Criança com
ra, a relação com o próprio pai, a família Deficiência Mental para avaliar o envolvi-
estendida e os suportes sociais, caracte- mento paterno; o QRS-F e o ISSL para me-
rísticas da criança (idade, gênero, status dir o estresse dos genitores; e outras me-
de desenvolvimento, saúde e personali- didas como depressão, funcionamento
dade); fatores sociodemográficos do pai familiar, nível de enfrentamento, supor-
(idade, nível educacional, renda, status te social, satisfação parental, satisfação
conjugal, status empregatício, identidade marital e empoderamento, os quais não
cultural e religiosidade); fatores pessoais sofreram alterações durante o estudo.
do pai (funcionalidade, preparo para a Foram observadas interações familiares
paternidade, estilo parental, motivação, satisfatórias, porém, diferentes em alguns
personalidade, habilidades, visão do pa- aspectos entre pais e mães e nas díades e
pel paterno, experiência cultural e identi- tríades; envolvimento paterno em diver-
dade paterna); demandas de papéis com- sos aspectos; baixos níveis de estresse em
plementares ou concorrentes (família, relação à presença da criança; ausência
trabalho e comunidade) e; envolvimento de estresse geral entre os genitores mas-

741
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

culinos, mas, estresse geral para todas A PARTICIPAÇÃO E O ENVOLVIMENTO


as mães. Após a intervenção domiciliar DAS FAMÍLIAS NOS ATENDIMENTOS DA
da pesquisadora, as atividades de treino CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA
realizado pelo pai, baseadas no Porta- Simone Cerqueira-Silva - IESB
ge, desenvolveram novos repertórios na simone.cerqueira@iesb.br
criança, comportamentos positivos nas Maria Auxiliadora Dessen - UnB
interações foram mais frequentes e hou- dessen@unb.br
ve diminuição dos índices indicativos de
Financiamento: CAPES
estresse nas mães. Embora a maioria dos
pais tivesse o papel de provedor principal,
Para que a família possa desenvolver pa-
conforme a literatura indica, estavam en- drões de comunicação que favoreçam o
volvidos com seus filhos, colaborando de seu desenvolvimento e o de suas crianças
forma eficiente com o desenvolvimento com deficiência, ela precisa dispor de re-
das crianças e absorvendo as dicas para cursos e suportes que a ajudem a superar
uma melhor interação familiar, o que as adversidades próprias de sua trajetória
pareceu contribuir para a diminuição do de desenvolvimento. A presença de um
estresse nas mães. Assim, a intervenção familiar com deficiência não representa,
indicou realizações nos fatores pessoais necessariamente, um evento adverso para
do pai, que influenciam envolvimento pa- o grupo familiar, desde que haja qualidade
terno, e no envolvimento em si, aumen- nas relações e uma eficiente rede social
tando sua frequência, ampliando a varie- de apoio. As famílias necessitam desse
dade de comportamentos, melhorando a tipo de apoio para que possam desenvol-
qualidade das interações e resignificando ver a autoconfiança, a capacidade crítica
a importância do envolvimento. Concluin- e a autonomia no gerenciamento de suas
do, programas de intervenção precoce próprias vidas. Para isso, é importante que
deveriam abandonar o modelo centrado participem de programas de intervenção
na criança para adotar um modelo centra- familiar que as empoderem na direção de
do na família, envolvendo também o pai uma maior conscientização de seus direitos
e o(s) irmão(s). Futuras pesquisas devem e de um maior envolvimento e participação
avaliar formas de incluir os irmãos nas in- nos atendimentos, de modo que possam
tervenções e os resultados advindos da enfrentar as dificuldades advindas com as
intervenção com a família toda. necessidades especiais de suas crianças.
Dada as contribuições da família para o de-
Palavras-chave: pessoa com deficiência, senvolvimento da criança, tanto no espaço
irmão, envolvimento do pai familiar quanto em instituições de atendi-
Contato: Nancy Capretz Batista da Silva, mento à criança e nas escolas, é cada vez
UFSCar, nancycbs@gmail.com mais crescente o interesse em se promover
a sua participação em programas de inter-
venção familiar. Assim, o objetivo desta
apresentação é discutir a participação e o
envolvimento das famílias nos atendimen-
tos da criança com deficiência, apresentan-
do, inicialmente, um breve histórico sobre

742
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a evolução de sua participação em progra- para serem consideradas ativas e partici-


mas de intervenção familiar e os resultados pativas. Estudos internacionais sugerem
de uma pesquisa nacional sobre o tipo de que os atendimentos familiares deveriam
participação e envolvimento da família em ser embasados, especialmente, no modelo
diferentes instituições de atendimento e centrado na família. O Programa de Edu-
nas escolas. A participação de mães e pais cação Familiar na Infância Precoce (Early
em programas de intervenção familiar é Childhood Family Education), por exem-
considerada importante para o desenvolvi- plo, fundamentado na Teoria Sistêmica e
mento das crianças desde as décadas de 30 no trabalho desenvolvido no Centro para a
e 40 do século XX, quando os programas de Democracia e Cidadania (Center for Demo-
intervenção familiar começaram a prolife- cracy and Citizenship) da Universidade de
rar nos Estados Unidos. Desde essa época, Minnesota (USA), é considerado um mode-
novas perspectivas nos atendimentos fami- lo alternativo de atendimento às famílias.
liares têm sido vislumbradas, embora não Ele prioriza o desenvolvimento de lideran-
necessariamente em todos os contextos e ças, de auto-organização e a participação
áreas de aplicação. A partir de 1950, tanto ativa de todos os envolvidos. Por outro
nos Estados Unidos como no Brasil, surgi- lado, no âmbito nacional, alguns estudos
ram os modelos remediativos de atendi- revelam que a implementação desse tipo
mento (prevenção), enfatizando a maneira de trabalho ainda é muito deficitário, em
de compreender o homem em seu caráter nossa realidade, pois os familiares ainda se
histórico e social. Acompanhando a mesma colocam em posição inferior, desconhecen-
evolução das estratégias de prevenção e do a importância de se emanciparem e de-
intervenção na saúde, os programas vol- senvolverem uma relação mais igualitária.
tados para as famílias vêm lenta e progres- Para ilustrar essa realidade, apresentamos
sivamente ampliando o foco de trabalho. os dados de um estudo envolvendo dife-
A visão predominante da mãe como um rentes instituições de atendimento e esco-
agente passivo e receptivo de orientação e las, em que ficou constatado que a maioria
informação, característica do modelo cen- (81%) das 16 famílias participantes avaliou
trado nos profissionais, vem sendo subs- que sempre colabora com os atendimentos
tituída por um enfoque que a considera da criança, e que 47% dos profissionais da
ativa e participativa - modelo centrado na equipe técnica avaliaram que os pais sem-
família. Este paradigma de trabalho com pre colaboram. Além disso, para 70% das
as famílias surgiu como uma alternativa famílias, elas sempre procuram pelos pro-
promissora na área de intervenção preco- fissionais para se informarem a respeito
ce nos Estados Unidos e difere do trabalho dos atendimentos da criança, mas somen-
tradicional, uma vez que cria oportunida- te 32% dos profissionais das instituições
des para os familiares exercerem suas ca- (equipe técnica e coordenadores) e 10%
pacidades e desenvolverem novas compe- dos professores das escolas, relataram que
tências. Os profissionais são vistos como elas sempre procuram pelos profissionais.
agentes que ajudam as famílias, mas que Quando o assunto é pedir informações, fa-
não agem por elas, enquanto as famílias zer críticas e dar sugestões, 25% das famí-
deixam de ser vistas como passivas e de- lias disseram que sempre fazem isto, 25%
pendentes das orientações profissionais dos profissionais das instituições avaliaram

743
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que este comportamento dos pais sem- TRAJETÓRIAS ESCOLARES E


pre ocorre, e apenas 5% dos professores EXPECTATIVAS DE FUTURO: A
informaram que as famílias têm sempre PERSPECTIVA DE JOVENS /ADULTOS COM
esse comportamento. Portanto, os dados DEFICIÊNCIA E DE SEUS FAMILIARES.
sugerem que apesar de a maioria das fa- Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo - UNESP
milias procurarem por informações sobre o sigolo@fclar.unesp.br
atendimento, isto não significa uma parti- Giorgia Caroline Tomaino - UNESP
cipação efetiva da família. A sua passivida-
de pode ser decorrente da própria falta de Esta apresentação visa discutir as possibi-
recursos pessoais para o enfrentamento da lidades de desenvolvimento das pessoas
deficiência, indicando a necessidade de um com deficiência ao se tornarem adultos
programa eficaz que a capacite a lidar com em nosso contexto sociocultural. Pesqui-
a própria deficiência e suas implicações. sas com esta população que enfocam os
Além disso, essa passividade pode estar cenários de suas atividades e relações, in-
associada aos próprios valores arraigados cluindo as relações com o trabalho, a vida
na cultura, cuja conformidade e autoridade afetiva, os diferentes espaços de ativida-
externa são mais valorizadas do que a pró- des e as experiências escolares, apontam
pria autonomia, o autocontrole e a respon- para um contexto extremamente restrito.
sabilidade. Esta passividade das famílias, Este contexto é permeado pela condu-
aliada ao despreparo dos profissionais para ção de suas famílias e das instituições
trabalhar com a família, constitui um fator das quais fazem parte, sugerindo que as
dificultador para os serviços e atendimen- oportunidades de relações autônomas,
tos. O fato de não haver indicação de de- além de escassas, parecem determinar
mandas espontâneas das famílias para os um não reconhecimento dos direitos de
profissionais e, por outro lado, os próprios participação ampla das pessoas com de-
profissionais não terem o feedback da qua- ficiência intelectual no mundo adulto,
lidade dos seus serviços por parte das famí- incluídas as condições cruciais para a ma-
lias, dificulta ainda mais a mudança de mo- turidade, tais como relações afetivas, es-
delos de atendimento centrados nos profis- colarização e trabalho. Dadas estas con-
sionais para aqueles centrados na família. dições, pode-se afirmar que o cuidado de
Este quadro denota que é preciso investir pessoas com deficiência intelectual não
na mudança de concepções e valores de se esgota para os familiares destes indiví-
ambos os lados – profissionais e famílias, duos e que o conhecimento de suas con-
em primeiro lugar, para, em seguida, ado- cepções e estilos de vida poderiam deli-
tar estratégias que sejam coerentes com o near mais claramente os mecanismos de
modelo centrado na família, apontado pela ligação destes cuidadores com os serviços
literatura como sendo o mais eficaz. disponíveis para seus filhos e parentes,
com base na percepção de necessidades
Palavras-chave: família, necessidades destas famílias. Por outro lado, no âmbito
especiais, parceria família-instituição de educacional, no bojo das propostas inclu-
atendimento-escola sivas tem se estimulado, desde o inicio
Contato: Simone Cerqueira da Silva, IESB, da década passada, a inserção deste gru-
simone.cerqueira@iesb.br po de pessoas no processo de educação

744
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

comum, defendendo a tese de que estes estrutura da escola atual não permitiam
teriam muito a se beneficiar deste proces- melhores oportunidades de aprendiza-
so. Embora haja uma tendência crescente gem e desenvolvimento para estes alu-
de ingresso de jovens e adultos com de- nos, uma vez que os conteúdos eram
ficiência nos programas de educação de apresentados de forma fragmentada em
jovens e adultos, ainda são raras as pes- função do tempo limitado das aulas, au-
quisas que investigam os contextos de de- sência de oportunidades de adaptação à
senvolvimento para esta população. Estes nova realidade escolar, ou mesmo, de uti-
alunos estão vivenciando dupla situação lização de recursos especializados. A tran-
de exclusão, a de ser um aluno com defi- sição para o contexto escolar foi avaliada
ciência no ensino regular e a de pertencer positivamente como princípio, contudo
ao segundo segmento da EJA, revelando apresentaram criticas sobre a sua estru-
as faces de uma inclusão perversa. Alguns tura, o distanciamento entre professor e
estudos apontam como obstáculos a au- aluno e as dificuldades de relacionamen-
sência de informação sobre o processo to entre os alunos em função da hetero-
de inclusão, diferenças na estrutura e geneidade da turma. No contexto escolar
organização das escolas e na formação atual, para alguns jovens, a convivência
profissional distinta dada pela escola es- com um grupo heterogêneo significou
pecializada e a regular. Baseados nestas estabelecer projetos como a continuida-
reflexões, o objetivo desta apresentação de aos estudos, ser inserido no mercado
é discutir os principais resultados dos es- de trabalho ou mesmo constituir famí-
tudos empíricos a respeito das trajetórias lia. Para outros, as interações entre os
escolares e perspectivas de futuro de jo- colegas significou ainda que, de maneira
vens / adultos com deficiência a partir de dissimulada, situações de discriminação.
sua própria percepção e as contribuições Com a freqüência no ensino comum, as
dos familiares para a configuração de um perspectivas de futuro se ampliaram para
quadro compreensivo das condições edu- alguns, que vislumbravam estudar para se
cacionais e sociais destas pessoas. Ênfa- engajar em empregos melhores do que o
se será dada ao estudo dos processos de de atividades manuais. No entanto, estas
transição de jovens/ adultos com deficiên- expectativas parecem não estar pauta-
cia intelectual entre contextos escolares das nas condições reais de progressos na
especializados e regulares, na perspec- aprendizagem escolar e as dificuldades
tiva destes jovens e de seus familiares. no processo de escolarização são visíveis,
Tal estudo revela que o ambiente das além do fato de que o processo de tran-
instituições, de acordo com as relações sição trouxe situações novas e de difícil
estabelecidas e a rotina das atividades, adaptação. Para os familiares, a transição
oferecia maiores oportunidades de socia- significou a perda de alguns benefícios,
lização, enquanto que as escolas regula- como acesso facilitado aos profissionais
res trabalhavam preferencialmente com a da saúde, a oportunidade de ser inseri-
transmissão de conteúdos escolares, não do no mercado de trabalho; para alguns
proporcionando espaços adequados para deles, a escola regular deveria oferecer as
a ampliação da rede de relações até então mesmas atividades e oportunidades que
construída. Os modelos de organização e anteriormente os alunos recebiam nas

745
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

instituições, e ainda propiciar melhores SP LT05 - Simpósio


condições de aprendizagem, uma vez que
estes alunos não apresentavam desenvol-
vimento compatível com a faixa etária. Os SP LT05-841 - CONTEXTO SÓCIO-AFETIVO
dados apresentados embasam uma dis- DA FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO
cussão sobre a necessidade de conceber DA CRIANÇA À LUZ DA CONDIÇÃO DA
a pessoa com deficiência enquanto um DEPRESSÃO PÓS PARTO (DPP)
ser humano com vida social, afetiva, aca-
Júlia Scarano de Mendonça - IPUSP
dêmica e de trabalho. Isto significa pensar
julia.m@itelefonica.com.br
nestes jovens e adultos com deficiência
como pessoas que estão em desenvolvi- Financiamento: FAPESP
mento e cujas perspectivas e expectativas
podem se alterar para além das possibi- Há um reconhecimento crescente da com-
lidades apreendidas durante a infância. plexidade dos processos de desenvolvi-
As trajetórias escolares embora apresen- mento, condizentes com uma abordagem
tadas como singulares, são coincidentes sistêmica: tanto a comprovação de dados
nas condições de extrema precariedade, esperados como a constatação de resul-
nas reiteradas submissões a rótulos de tados paradoxais exigem, dada a natureza
incapazes e à conformidade com o fracas- do fenômeno, constantes aprimoramentos
so imposto por situações excludentes. Há conceituais e metodológicos. Estamos às
necessidade, portanto, (a) de se pensar voltas com os desafios atuais da Psicologia:
em um processo de transição que procure integrar níveis de análise via pesquisa in-
efetivamente estabelecer as conexões en- terdisciplinar e formação de redes; integrar
tre ambos os contextos; (b) há premência conhecimentos através de metanálises e
de pesquisas que conheçam a realidade revisões sistemáticas, abarcando resulta-
de jovens e adultos nestas condições e de dos aparentemente incongruentes; com-
suas famílias, que identifiquem as reais preender a ação de fatores dentro de uma
necessidades para a formulação de servi- abordagem sistêmica; desenvolver méto-
ços adequados; (c) repensar os suportes e dos de coleta e de análise que propiciem
apoios para a garantia de que o processo estes objetivos; realizar pesquisa teorica-
de inclusão escolar e social seja concreti- mente relevante num contexto de saúde
zado, possibilitando estratégias apropria- pública. Convergindo de diferentes pontos
das de transição de um contexto para o de partida, têm sido elaboradas propostas
outro, incluindo as famílias em programas de integração dos vários aspectos do de-
de assistência. senvolvimento, com reconhecimento da
inter-determinação entre aspectos emo-
Palavras-chave: jovens/adultos com cionais, afetivos e cognitivos e entre os
deficiência, famílias, desenvolvimento níveis psicobiológicos (como em Rossetti-
humano -Ferreira, Amorim & Carvalho, 2004; e em
Contato: Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo, Seidl de Moura, 2004). A proposição do
UNESP, sigolo@fclar.unesp.br presente simpósio em torno do tema do
contexto sócio-afetivo familiar e do de-
senvolvimento infantil, à luz da condição

746
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da DPP, propicia reflexões teóricas e meto- feita no terceiro trabalho (Morais, Lucci
dológicas sobre estas questões e congrega & Otta) mostrou resultados indicativos
pesquisadores de diferentes formações e de que variações na gravidade, cronicida-
inserções institucionais em torno de um de e ocasião da DPP, assim como diversos
projeto temático, voltado para população fatores de risco potencializadores, como
atendida pelo sistema público de saúde. adversidade familiar, falta de apoio social
Reúne pesquisas sobre a ontogênese de e estresse financeiro, contribuem para ge-
aspectos essenciais do desenvolvimento rar diferentes consequências no desenvol-
humano, representativos da integração de vimento das crianças. A composição dos
processos afetivos e cognitivos. Dois dos diferentes resultados em função da DPP
trabalhos referem-se ao desenvolvimento aponta, por um lado, fatores de proteção e
do apego. Um deles analisa a constelação de compensação associados, mas também
familiar em geral, valendo-se da experiên- indica aspectos peculiares que merecem
cia em um centro canadense voltado para ser alvo de entendimento e de aplicação a
este tipo de análise (Mendonça & Cosset- políticas de intervenção e suporte.
te): vale destacar que análises separadas
dos pais e das mães produziram resultados
contraditórios, com dados significativos REPRESENTAÇÃO MATERNA E PATERNA
apenas no caso da análise conjunta de DA RELAÇÃO DE APEGO MÃE-CRIANÇA
perfis de apego considerando-se ambos E PAI-CRIANÇA: RELAÇÃO COM A
os pais. Na outra pesquisa, analisou-se o HARMONIA FAMILIAR
desenvolvimento da vinculação afetiva na Júlia Scarano de Mendonça - IPUSP
criança em condição de DPP (Vicente & julia.m@itelefonica.com.br
Bussab). Não foram constatadas diferenças Louise Cossette - UQAM
em estilo de apego nos grupos com DPP, cossettelouise@hotmail.com
mas apareceram efeitos em padrões asso-
ciados à segurança do vínculo, como os de A presente pesquisa enquadra-se no refe-
ansiedade, exploração e brincadeira, de- rencial teórico da teoria do apego (Bowlby,
monstrando complexidade e conjugação 1969; Ainsworth, 1973) e na abordagem sis-
de fatores familiares e sociais, e a ligação têmica do desenvolvimento humano (Bron-
deste desenvolvimento afetivo com aspec- fenbrenner, 1969; Belsky, 1999, 2006) e da
tos cognitivos de exploração do ambiente. família (McHale, 1995; Fivaz-Depeursinge,
O terceiro trabalho (Prado & Bussab) inves- 1999), a qual considera a influência do
tigou aspectos específicos do desenvolvi- contexto social e cultural no qual a criança
mento cognitivo, ligados à compreensão está inserida para o seu desenvolvimen-
de intencionalidade, que têm merecido to, assim como as influências recíprocas
atenção especial na literatura. Esta com- de todos os elementos pertencentes aos
preensão mostrou-se afetada pela DPP múltiplos contextos sociais do indivíduo. A
quanto à adesão geral à tarefa e a aspec- teoria do apego tem sido amplamente in-
tos específicos, além de mostrar interação vestigada: inúmeras pesquisas sobre as re-
interessante com o gênero da criança. Por lações entre a sensibilidade materna refle-
fim, a investigação ampla do desenvolvi- tida nas interações com o bebê e a forma-
mento de aspectos neuropsicomotores ção do vínculo afetivo tem sido realizadas.

747
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Apesar disso, apenas recentemente tem nal para cada uma das categorias: distância
havido uma ampliação de enfoque para in- física, orientação visual e corporal e nível
cluir características do contexto de criação. de envolvimento diádico. A média de cada
O presente trabalho tem como objetivo uma das categorias foi considerada para a
investigar o impacto da harmonia familiar, análise. Os dados do Q.sort foram analisa-
por meio da análise da sincronia interacio- dos segundo um procedimento desenvol-
nal entre os membros da família, na repre- vido por Strayer et al. (1995). Os itens do
sentação dos pais sobre a relação de apego Q.sort foram agrupados nas sete escalas
com os seus filhos. Essa pesquisa é parte sugeridas por Strayer. Análises de Cronba-
do doutorado do primeiro autor, realizado ch alphas foram realizadas para verificar a
no Laboratoire d’Ethologie Humaine, na consistência interna de para cada uma das
Université du Québéc à Montréal, Canadá, escalas. Seis escalas foram mantidas com
dirigido pelo Dr. F. F. Strayer. Baseado em níveis acima de.50, considerados aceitá-
uma perspectiva sistêmica do desenvolvi- veis segundo a literatura. Análises clusters
mento humano, o presente trabalho enfa- foram realizadas nas escalas das mães e
tiza a relevância do contexto sócio afetivo dos pais separadamente com o objetivo
da família para a percepção dos pais da de identificar perfis de apego. Quatro per-
relação do apego com os seus filhos. A in- fis de apego foram obtidos tanto para as
clusão desse trabalho nesse simpósio com mães como para os pais: inseguro-asocial,
ênfase na compreensão dos efeitos da DPP inseguro-dependente, seguro e seguro-au-
no desenvolvimento da criança justifica-se tônomo. Análises da variância não indica-
por ilustrar o impacto do contexto familiar ram nenhuma associação entre os padrões
nas trajetórias de desenvolvimento. Trinta de sincronia interacional segundo o perfil
famílias franco-canadense da classe média de apego mãe-criança e pai-criança. Qua-
(mãe, pai e criança). A idade média das tro grupos foram criados juntando as clas-
crianças foi de 25 meses (DP=3.3). A qua- sificações dos perfis de apego das mães
lidade da relação do apego foi avaliada por e dos pais: seguro com mãe e pai, seguro
meio da tradução francesa do questionário com mãe e inseguro com pai, inseguro com
Q.sort (Waters & Deane, 1985). A sincronia mãe e seguro com pai e inseguro com mãe
interacional foi avaliada a partir da obser- e pai. Quando levamos em consideração a
vação da interação da criança com os seus qualidade do apego da criança com a sua
pais em dois momentos: diádico (mãe- mãe e o seu pai conjuntamente, diferenças
-criança e pai-criança) e triádico (mãe-pai significativas apareceram nas análises. Na
e criança). Os pais responderam ao Q.sort situação triádica, as crianças que têm um
em visitas domiciliares. Para a avaliação da apego seguro ou inseguro com a sua mãe
sincronia interacional, a família participou e com o seu pai diferenciam-se das outras:
de sessões de observação no laboratório. elas apresentam um nível de sincronia in-
Oito minutos de interação foram codifica- teracional parecido e positivo com a mãe
das em cada uma das situações por obser- e com o pai nas categorias envolvimento
vadores treinados (Kappa=80%) a partir do diádico e orientação visual, enquanto que
procedimento “time-sampling”. Os obser- as crianças que apresentam um apego
vadores deveriam anotar, numa escala de 1 seguro com um dos seus pais e inseguro
a 4, a maior ou menor sincronia interacio- com o outro demonstram maior sincronia

748
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

interacional com a mãe do que com o pai ciente que lhe permite explorar o mundo
nessas mesmas variáveis: orientação visual e desenvolver-se. Da mesma forma, outros
(interação apego mãe-criança x apego pai- trabalhos inspirados na abordagem sistê-
-criança x interação pais, F(1, 25) = 6.45, mica, salientam a importância de se con-
p=0.019) e envolvimento diádico (intera- siderar a influência de outras variáveis no
ção apego mãe-criança x apego pai-criança desenvolvimento das relações de apego
x interação pais, F(1, 25) = 5.57, p=0.026). pais-criança, tais como: qualidade da rela-
Conforme esperado, observou-se relação ção conjugal, apoio social, práticas paren-
entre a harmonia familiar e a representa- tais etc (Belsky, 1999, 2006; Martin, 2001;
ção dos pais da relação de apego com os Mendonça et al., 2008) reforçando a idéia
seus filhos. Em análise anterior dos dados da multideterminação na formação dos
sobre a sincronia interacional, Mendonça vínculos afetivos.
et al. (2011) demonstraram que quando
a criança, a mãe e o pai interagem entre Palavras-chave: apego, família, interação mãe-
si, as díades mãe-criança tendem a formar pai-criança
uma “unidade principal” da interação so- Contato: Júlia Scarano de Mendonça, IPUSP,
cial enquanto os pais mantém-se distantes julia.m@itelefonica.com.br
delas. Uma explicação possível é que a si-
tuação triádica reforce os papéis parentais
tradicionais: as mães como principais cui- ESTILO DE APEGO E DEPRESSÃO
dadoras enquanto os pais desempenham PÓS-PARTO
um papel secundário. O que a presente Carla Cristine Vicente - UFRRJ
pesquisa mostra, especificamente, é que carlavicent@gmail.com
esse padrão interacional é diferente, com Vera Silvia Raad Bussab - IPUSP
o pai integrado a essa “unidade principal”, vsbussab@gmail.com
quando ambos os pais têm a mesma per-
cepção da relação do apego com a criança, O estilo de apego que a criança constrói a
seja ela positiva ou negativa. Nesses casos, partir das diferentes interações que partici-
observa-se maior harmonia na interação pa se refere a estratégias ontogenéticas de
social da família. Esses resultados curiosos desenvolvimento social. O apego se rela-
reforçam a relevância da relação marido- ciona ao sentimento de segurança e proxi-
-mulher para a qualidade da vida familiar midade do bebê em relação a suas figuras
(Phares, Duhig & Watkins, 2002) e a impor- significativas, o que integrará todo o seu de-
tância de pensar a formação dos laços afe- senvolvimento global e construirá um mo-
tivos da criança como uma rede complexa delo de funcionamento interno para seus
de influências mútuas entre os membros relacionamentos futuros (Bolwby, 1990). A
da família, em consonância com as teorias Depressão Pós-Parto (DPP) é um distúrbio
sistêmicas (Stafford & Bayer, 1993; Gol- com sérias implicações potenciais para a
dbeter, 2005; Minuchin, 1985). Segundo mãe, por propiciar a emergência de sin-
Byng-Hall (1999), sucessor de Bowlby na tomas como humor deprimido, labilidade
clínica Tavistock, em Londres, é a família emocional, sentimentos de incompetência
e não uma única figura de apego que dá a para lidar com a criança, distúrbio do sono,
criança um sentimento de segurança sufi- perda de prazer e ideação suicida, o que

749
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

por sua vez pode acarretar prejuízos para via atribuição de valores de 1 a 7 pontos,
o bebê, associados a atrasos no desenvol- detalhadamente definidos. A classificação
vimento físico e cognitivo (Patel, Souza & foi realizada separadamente por duas ob-
Rodrigues, 2003). Este estudo objetivou servadoras cegas para o índice de DPP da
avaliar estilos de apego em bebês de mães mãe. A confiabilidade das observações me-
com e sem indicativos de DPP, de modo a dida pelo índice Kappa de Cohen apontou
aprofundar a compreensão sobre o desen- concordância de 0,833, valor confiável para
volvimento afetivo e a sua influência no avaliações. Dadas as reconhecidas ligações
desenvolvimento geral da criança. Este es- entre os estilos de apego e a regulação da
tudo esteve associado ao projeto temático segurança afetiva com autonomia, explora-
“Depressão pós-parto como fator de risco ção e brincadeira (como Grossmann et al.,
no desenvolvimento: estudo interdiscipli- 1999), foi desenvolvido um protocolo adi-
nar dos fatores envolvidos na gênese do cional de observação, para avaliar padrões
quadro e em suas conseqüências”, no qual de exploração do ambiente, de brincadei-
mães e bebês atendidos pelo sistema públi- ra, e sinais de ansiedade, como movimen-
co de saúde foram acompanhados longitu- tos repetitivos, desconcerto emocional e
dinalmente, desde a gestação até o 3º ano cessação de atividade e de interação com a
da criança. Metodologia. O estilo de apego pessoa estranha, nas episódios de separa-
da criança foi avaliado através dos proce- ção e retorno da mãe. Resultados. Segun-
dimentos da “Situação Estranha”, segundo do os critérios do instrumento da Situação
protocolo desenvolvido por Ainsworth, Estranha, predominou a classificação de
Blehar, Waters e Wall (1978) e Main e So- apego seguro (82%), para o grupo como
lomon (1990). Uma equipe de 04 pessoas um todo (inseguros evitadores 11% e resis-
treinadas participou das filmagens, feitas tentes 7%). O mesmo perfil de distribuição
quando os bebês foram completando 12 de estilos foi verificado no subgrupo com
meses. Todas as díades foram recebidas DPP, com predominância de apego seguro
pela pesquisadora e instruídas para par- em 87% dos casos. Dos bebês (27) de mães
ticipar dos oito episódios (duração de 21 que tinham indicativos de DPP, apenas 4
minutos), nos quais ocorre uma seqüência foram classificados como inseguros, con-
de interações entre o bebê, a mãe e uma trariando as expectativas. Apesar de não
pessoa desconhecida do bebê, envolvendo se refletirem na classificação final do esti-
separações e reuniões mãe-bebê. Foram lo de apego, verificaram-se relações entre
analisadas 85 díades, que foram divididas DPP e dimensões do protocolo da Situação
em dois grupos: experimental (com indica- Estranha, por análise de regressão múlti-
tivos de DPP) e controle (sem DPP), Esca- pla (método stepwise), que indicou duas
la de Depressão Pós-Parto de Edimburgh destas dimensões como preditivas da DPP
– EDPE (Cox, Holden & Sagovsky, 1987). A materna: mais comportamentos resistente
classificação do padrão de apego foi feita (B= 1,76; t= 2,66; sig=0,01); menos busca
conforme o protocolo de Ainsworth et al. de contato (B= -3,40; 7= 2,61; sig= 0,01). As
(1978), que considera quatro dimensões: análises do protocolo adicional mostraram
Procura de proximidade; Manutenção de peculiaridades significativas nas crianças
contato; Evitação de proximidade, e Re- do grupo DPP: menos deslocamento ex-
sistência ao contato e conforto, avaliadas ploratório (X²(1)= 4,307, p=0,038), menos

750
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

manipulação de brinquedo (X²(1)=5,434, dade da mãe para restabelecer a confiança


p=0,02), menos iniciativa na manipulação de seus bebês, o que é compreensível na
de brinquedos (X²(2)= 5,939, p=0,005), situação em que se encontram. O conjun-
mais comportamentos ansiosos nos dois to de resultados aponta a importância de
episódios de separação (X²(1)=4,400, questões metodológicas, ligadas a um ce-
p=0,036; e (X²(1)=3,398, p=0,028), e menos nário de complexidade de determinações,
retomada de exploração nos retornos da bem como à necessidade de consideração
mãe (X²(1)=3,896, p=0,040; e X²(1)=3,922 de ajustamento dos instrumentos de ava-
p=0,038). Não houve predominância de liação do apego. Reitera também efeitos
estilos de apego inseguros no grupo com da DPP no desenvolvimento dos padrões
DPP, conforme esperada pelos indicadores ligados à vinculação afetiva e a relevância
da literatura sobre o desenvolvimento de de estudos de acompanhamento para a
vinculação afetiva. Entretanto, foram cons- compreensão do quadro e para a promo-
tatadas ligações significativas da DPP com ção de programas de intervenção.
as dimensões de comportamento resisten-
te e de busca de contato, compatíveis com Palavras-chave: classificação de apego,
aspectos de insegurança neste grupo. Pa- depressão pós-parto, desenvolvimento
drões de exploração do ambiente, de brin- cognitivo e afetivo
cadeira e de ansiedade nas crianças, tam- Contato: Carla Cristine Vicente, UFRRJ,
bém apareceram prejudicados no grupo carlavicent@gmail.com
DPP. Nos episódios de separação da mãe,
as crianças do grupo controle agiram com
mais segurança, como se esperassem pelo EFEITOS DO CONTEXTO SÓCIO-AFETIVO
retorno breve de suas mães. Na compara- DE CRIAÇÃO E DA DEPRESSÃO PÓS-
ção com os dados observacionais, a clas- PARTO NO DESENVOLVIMENTO DA
sificação de segurança dos bebês esteve COMPREENSÃO DE INTENCIONALIDADE
diretamente associada à desenvoltura, ini- E DIREÇÃO DO OLHAR DE CRIANÇAS DE
ciativa, manutenção e retornos à explora- TRÊS ANOS
ção ambiental e dos brinquedos, quanto às Alessandra Bonassoli Prado - IPUSP
oportunidades de interação com a figura sanaprado@hotmail.com
materna. De acordo com a ênfase atual nos Indira Yasmini França - IPUSP
comportamentos dos bebês no retorno da indirayfranca@gmail.com
mãe (Waters et al., 2000), como base para Daniela Bulow - IPUSP
a compreensão da natureza do vínculo, o dmbulow@gmail.com
presente estudo indicou efeitos relevan- Vera Silvia Raad Bussab - IPUSP
tes: bebês do grupo controle, mesmo após vsbussab@gmail.com
a angústia pela separação, demonstraram Briseida Dôgo Resende - IPUSP
apoiar-se mais na mãe como base segu- briseida@uol.com.br
rança para exploração ambiental. Como os
bebês de mães com indicativo de DPP, de A presente pesquisa constitui um re-
modo geral, não retomaram as atividades corte transversal do projeto Depressão
após a separação da mãe, podemos presu- pós-parto como um fator de risco para
mir uma angústia maior ou falta de habili- o desenvolvimento do bebê: estudo in-

751
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

terdisciplinar dos fatores envolvidos na mães têm em média 24 anos (± 6, 049)


gênese do quadro e em suas conseqüên- e escolaridade predominante de ensino
cias, (Temático FAPESP, N° 06/59192), que médio (incompleto ou completo=68,6%).
acompanha díades mãe-bebê, do sistema 28% das mães (N=25) apresentaram indi-
público de saúde, a partir da gestação. cativos de DPP quatro meses após o par-
Tem como objetivo avaliar o desempenho to. Os testes foram aplicados aos 3 anos
das crianças, aos três anos, em Testes de (X²=3,15±0,13), em 45 meninas e 26 me-
Compreensão de Intencionalidade e de ninos. Procedimento: Teste 1- Compreen-
Direção do Olhar, comparando os grupos são de intencionalidade: Foi desenvolvido
com e sem indicativos de DPP, avaliada com base no estudo de Feinfield, Lee, Fla-
aos quatro meses, pela Escala de Depres- vell, Green e Flavell (1999) para verificar
são Pós-parto de Edinburgh, (Cox, Holden quando as crianças começam a compre-
& Sagovsky, 1987; validada por Santos, ender a intenção das pessoas como esta-
Martins & Pasquali, 1999). A aquisição de do mental representacional e comporta-
compreensão de intencionalidade é um mento direcionado a metas. Para tal, são
marco no desenvolvimento infantil (Fein- usadas figuras, em cenários e estórias,
field, Lee, Flavell, Greene & Flavell, 1999) que mostram um personagem no pro-
e está ligada ao desenvolvimento da ca- cesso de busca de um objeto (A) em um
pacidade cognitiva de “Teoria da Mente”, local previsto e, em seguida, a descoberta
ou seja, capacidade de reconhecer e in- inesperada de um objeto diferente, mais
ferir sobre a perspectiva mental do ou- desejável (B) em seu lugar. O protocolo
tro, e de representar os estados mentais avalia todas as etapas de aplicação do
próprios e da outra pessoa, em termos de teste quando à compreensão, memória,
pensamentos, crenças e intenções (Cahill, intenção da ação e pensamento subjacen-
Deater-Deckard & Pike, 2007): levar em te à ação. O escore pode variar de 0 a 8.
consideração os próprios estados mentais Teste 2-Compreensão de direção do olhar:
e os dos outros, de modo a compreender Baseado no estudo de Doherty e Ander-
e prever comportamentos são condições son (2000), para avaliar a habilidade para
básicas na interação social (Jou & Sperb, compreender e fazer julgamentos sobre
1999). Acumulam-se evidências de que a “direção do olhar” ou “olhar fixamente”
adaptação social e a teoria da mente de (gaze) e o “apontar”, por meio de três
crianças dependem do contexto sócio- tarefas em que a criança deveria identi-
-emocional de criação (Cahill et al., 2007), ficar: qual das figuras está “olhando para
o que confere especial importância para ela (você)?”; o personagem (José) está
a investigação desta ontogênese no con- “olhando para onde?”, e está “apontando
texto da DPP. O objetivo do presente tra- para onde?”, associadas a perguntas so-
balho é verificar a influência de variáveis bre o que o personagem quer. O escore
do contexto sócio-afetivo, em especial da pode variar de 0 a 14. Resultados. O teste
DPP, no desempenho de crianças em tes- de Compreensão de Intencionalidade foi
tes de compreensão de direção do olhar aplicado completamente em 51 crianças,
e de intencionalidade. Método. Partici- interrompido em 13 casos devida a não
pantes: Foram analisadas 71 díades mãe- colaboração/interação durante o teste e
-criança que chegaram ao terceiro ano. As aplicado parcialmente em 7, pois a crian-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ça não compreendeu o teste, errando a dos resultados dos dois testes apontarem
maioria dos questionamentos. A falta de para uma capacidade subjacente comum,
adesão inicial relacionou-se à DPP: nas alguns aspectos dos resultados também
crianças em que a aplicação do teste teve mostram peculiaridades dos testes quan-
que ser interrompida, por falta de coo- to à adesão e ou à dificuldade relativa,
peração e interação com a pesquisadora, que merecem ser mais bem discutidas e
o escore de DPP foi em média significa- avaliadas. O desempenho diferenciado
tivamente mais alto do que nos demais das meninas em ambos os testes condiz
grupos (F2,68=3,006, p<0,05). No teste de com dados da literatura quanto ao ritmo
Compreensão de Direção do Olhar não de desenvolvimento da “teoria da mente”
foi verificado tal efeito. Constatou-se, em função do sexo (Baron-Cohen, 2004).
porém, adesão ainda menor das crianças Ainda assim, possíveis interações entre
de modo geral: apenas 30 completaram o o sexo da criança e o efeito da DPP de-
teste e em 28 casos este foi interrompido. verão ser mais bem investigadas com o
Não foi identificada diferença significativa aumento da amostra, pois há indicadores
entre os grupos com e sem DPP quanto de os meninos poderem ser mais afeta-
à porcentagem de acerto, embora esta dos (Tronick & Weinberg, 1997). Mere-
fosse mais alta para o grupo sem DPP no ce ainda destaque e aprofundamento a
teste compreensão de intencionalidade compreensão do duplo efeito da DPP so-
(Sem=37,0% e Com=35%) e no teste de bre a disposição geral para a interação e/
Direção do Olhar (Sem=41% e Com=31%). ou sobre o desenvolvimento cognitivo da
Avaliando aspectos particulares de cada criança refletido na dificuldade da tarefa.
teste, foi identificada tendência de as O conjunto de resultados é compatível
crianças do grupo Sem DPP apresentarem com a hipótese de efeito das condições
significativamente mais acerto na tarefa sócio-afetivas de criação, via presença da
“apontando para” (t=1,737, p=0,08). Veri- DPP, no desenvolvimento de capacidades
ficou-se diferença significativa entre me- cognitivas básicas das crianças e indica a
ninas e meninos no teste direção do olhar importância de estudos longitudinais na
(t=-2,208, p=0,031), e uma tendência no população em geral e nas amostras de
teste de compreensão de intencionalida- risco em particular, para a promoção de
de (t=-1,775, p=0,08), com desempenho condições de prevenção e de intervenção.
superior das meninas. Houve correlação
significativa no desempenho entre os dois Palavras-chave: desenvolvimento cognitivo,
testes (r=0,469; p=0,000), ou seja, a crian- compreensão de intencionalidade, depressão
ça que teve um bom desempenho em um pós-parto
dos testes manteve-o no outro. A depres- Contato: Alessandra Bonassoli Prado, IPUSP,
são pós-parto afetou mais a adesão geral sanaprado@hotmail.com
ao teste de intencionalidade, do que o de-
sempenho final das crianças. Entretanto,
constatou-se melhor desempenho em as-
pectos específicos das tarefas nos grupos
sem DPP, além de uma tendência geral
de superioridade. Apesar de a correlação

753
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

TIMING DA DEPRESSÃO a interação das díades mães-bebês. Den-


MATERNA E DESENVOLVIMENTO tre os fatores que podem ser responsáveis
NEUROPSICOMOTOR DO BEBÊ AOS 12 por diferentes achados sobre a influência
MESES DE VIDA. da depressão sobre o desenvolvimento
Maria de Lima Salum e Morais - IS/SESSP dos filhos, encontram-se, por parte da
salum@isaude.sp.gov.br mãe: o apoio que recebe de seu compa-
Tânia Kiehl Lucci - IPUSP nheiro, familiares e amigos, sua capacida-
tanialucci@usp.br de de tamponar os sintomas da depressão
Emma Otta - IPUSP na relação com o bebê, o período, a du-
emmaotta@usp.br ração e o nível de gravidade da depressão
Vinicius Frayze David - IPUSP (CPS, 2004), e, por parte do bebê, fatores
viniciusfdavid@gmail.com como temperamento, resiliência, tempo
Luiz Santos Silva - IPUSP que passa com a mãe, entre outros. Para
luizsilvadossantos@usp.br avaliar o desenvolvimento das crianças
neste estudo, partimos de critérios esta-
Investigações da influência da depressão belecidos por Knobloch e Passamanick
pós-parto (DPP) sobre o desenvolvimento (1990), pelo teste Denver II (Frankenburg,
e o comportamento de bebês apresentam 1990) e pela escala M-Chat (Robins, Fein,
dados contraditórios, sugestivos da com- Barton & Green, 2001). Tanto Knobloch
plexidade dos fatores envolvidos. Alguns e Passamanick (1990) – que propuseram
autores encontraram efeitos negativos, uma forma de avaliação do desenvolvi-
principalmente sobre as interações face- mento de quatro semanas a 36 meses de
-a-face. Schwengber e Piccinini (2003) e vida seguindo Gesell – quanto o teste Den-
Frizzo e Piccinini (2005), por exemplo, re- ver II, aplicável dos 15 dias aos seis anos de
lataram que mães deprimidas apresenta- idade, exploram mais os aspectos motor,
vam menos interações com seus bebês, pessoal-social e de linguagem. A escala M-
mais expressões negativas e menor espon- -Chat, formulada por Robins et al. (2001)
taneidade. Por sua vez, os bebês de mães para o diagnóstico de autismo, propõe
deprimidas mostravam menos afeto posi- itens especialmente voltados para avaliar
tivo e expressões de interesse, bem como o desenvolvimento da capacidade de in-
menor nível de atividade e vocalização. teração social da criança. A subdivisão do
Entretanto, os resultados de algumas pes- desenvolvimento em domínios, a qual foi
quisas demonstram que diversos fatores empregada no presente estudo com base
podem compensar os efeitos da depres- nas escalas citadas, ajuda-nos a compre-
são no comportamento parental. Boyd et ender melhor em que áreas e de que ma-
al. (2006), estudando um grupo de mães neira o comportamento da criança pode
afro-americanas e hispânicas, não encon- ser afetado pela depressão da mãe. Bus-
traram diferenças significativas entre indi- cando contribuir para a compreensão da
cadores de interação materna em função influência da duração e momento da de-
da depressão. Fonseca et al. (2010), em pressão materna sobre o comportamento
pesquisa com as mesmas participantes do do bebê, objetivamos, no presente estu-
presente trabalho, não constataram efeito do, comparar o efeito do momento da de-
significativo da depressão puerperal sobre pressão materna sobre o desenvolvimento

754
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

neuropsicomotor (DNPM) do bebê aos 12 ção entre quesitos de desenvolvimento e


meses de vida. Para tanto, as mães foram a DPP medida no 8º. mês mostrou resulta-
avaliadas quanto à depressão no 3o. e no dos bastante diferentes. Houve diferenças
8º. mês do bebê. A associação de sua con- significativas favorecendo filhos de mães
dição (deprimida aos três ou oito meses) não deprimidas nos seguintes itens: supor-
a itens do desenvolvimento do bebê foi ta bem breves ausências da mãe e reage
testada através de qui-quadrado. Setenta a prolongadas (А2 = 5,479; p <0,05); olha
e oito díades mães-bebês de 12 meses de com curiosidade o que interessa à mãe (А2
idade, moradoras de bairros periféricos da = 4,900; p <0,05); faz gestos comunicati-
Zona Oeste da cidade de São Paulo, sendo vos (А2 = 6,542; p <0,05); começa a andar
25% avaliadas como portadoras de DPP no apoiado pelo adulto (А2 = 7,312; p <0,01);
3º. mês pós-parto. No 8º. mês foram ava- sobe degraus engatinhando (А2 = 8,453; p
liadas 70 das 78 mães, sendo 23% consi- <0,01). Apenas em um quesito detectou-
deradas deprimidas. Foi utilizada a Escala -se tendência a superioridade de filhos de
de Depressão Pós-Parto de Edimburgo mães deprimidas: imitar sons de palavras
(EDPE) (Santos, Martins & Pasquali, 1999): (А2 = 2,676; p<0,10). O pior desempenho
mães com escores de 12 pontos ou mais de filhos de mães deprimidas, conforme
foram consideradas deprimidas. Para a depressão medida no 8º. mês em com-
avaliação do desenvolvimento dos bebês paração com o 3º. mês, em diversos itens
adaptamos um instrumento de rápida e do desenvolvimento avaliados aos doze
simples aplicação baseado em marcos se- meses, leva-nos a concluir que é possível
lecionados dentre os indicadores apresen- que quanto maior a duração e/ou mais re-
tados por Knobloch e Passamanick (1990), cente é o período da depressão, maiores
Frankenburg (1990) e Robins et al. (2001). são os impactos negativos sobre o desen-
Resultados. Relação entre DNPM aos 12 volvimento do bebê. Tais dados estão de
meses e DPP medida no 3º. mês pós-par- acordo com os estudos de Brennan et al.
to. Encontraram-se diferenças estatistica- (2000), McLearn et al. (2006), Deave et al.
mente significativas entre filhos de mães (2008), entre outros. Os primeiros autores
com e sem DPP, no 3º. mês após o parto, encontraram que relatos recentes de sin-
nos quesitos: juntar sílabas (А2 = 3,800; p = tomas depressivos da mãe estavam asso-
0,05) e bater dois cubos seguros nas mãos ciados a taxas mais altas de problemas de
(А2 = 5,336; p <0,05) e diferenças margi- comportamento das crianças; os segundos
nalmente significativas em imitar sons de verificaram que os sintomas de depressão
palavras (А2 = 2,980; p <0,10) e começar a materna recentes tinham relações mais
andar apoiado pelo adulto (А2 = 2,919; p fortes com atitudes parentais inadequadas
<0,10). Surpreendentemente, nos três pri- do que sintomas depressivos anteriores.
meiros quesitos, o desempenho de filhos Os terceiros constataram que é a depres-
de mães com DPP foi superior. Apenas em são persistente que está associada a atra-
começar a andar apoiado pelo adulto, fi- sos de desenvolvimento. Os resultados
lhos de mães não deprimidas tenderam a deste trabalho mostram que o momento
sair-se melhor do que bebês de mães com em que a mãe está deprimida - variável re-
DPP. Relação entre DNPM aos 12 meses e legada em alguns estudos – é um aspecto
DPP medida no 8º. mês do bebê. A rela- importante a se considerar em pesquisas a

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

respeito do impacto da depressão mater- -econômico e escolaridade) maternas.


na no desenvolvimento infantil. Estudos interculturais de Keller e colabo-
radores (2006) identificaram seis sistemas
Palavras-chave: depressão materna, timing da de cuidados parentais universais: cuidado
depressão, desenvolvimento infantil primário; contato corporal; estimulação
Contato: Maria de Lima Salum e Morais, corporal; estimulação via objeto; face-a-
Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da -face; e envelope narrativo. Apesar de uni-
Saúde de São Paulo, salum@isaude.sp.gov.br versais, estes sistemas variam dependen-
do do contexto eco-sócio-cultural em que
estão inseridos. Além destes sistemas de
cuidados parentais, os sistemas de cren-
CO 25 - LT04 ças e de práticas parentais são também
Cuidado e relação mãe-bebê responsáveis por promover, juntamente
com o contexto, diferentes experiências
de socialização ao indivíduo. Apesar da
LT04-736 - RELAÇÃO ENTRE DEPRESSÃO variação intercultural, membros de uma
PÓS-PARTO, CRENÇAS E PRÁTICAS mesma sociedade podem ser vistos como
MATERNAS EM UMA AMOSTRA co-autores de uma realidade parental
PAULISTANA DE RISCO compartilhada (Harwood, Schoelmerich &
Renata Pereira Defelipe - USP Schulze, 2000). Foram identificadas duas
redefelipe@gmail.com, CAPES orientações ou modelos sócio-culturais
Vera Silvia Raad Bussab - USP básicos associados a diferentes metas
vsbussab@gmail.com, CNPq; FAPESP de desenvolvimento infantil e diferentes
práticas de cuidados: 1. Autonomia ou
O presente trabalho insere-se na pesquisa independência; e 2. Relação ou interde-
longitudinal “Depressão pós-parto (DPP) pendência (Keller & cols. 2003). Mais re-
como um fator de risco para o desenvol- centemente, foi identificada uma terceira
vimento do bebê: estudo interdisciplinar expressão destas orientações, entendida
dos fatores envolvidos na gênese do qua- como uma conjugação das anteriores e
dro e em suas conseqüências” (FAPESP chamada de modelo autônomo-relacional
No. 06/59192), que acompanha díades (Kagitçibasi, 2005; Keller & cols. 2006).
mãe-bebê da gestação ao terceiro ano da Cada um destes modelos está associado
criança. Pesquisa anterior (Defelipe, 2009) a diferentes estilos parentais que, por sua
mostrou efeitos de interação entre fato- vez, costumam refletir o modus operandi
res sócio-culturais e DPP, apontando para de diferentes sociedades. No modelo au-
a necessidade de se considerar variáveis tônomo, o indivíduo é percebido como
do contexto sócio-cultural materno (am- um elo separado e independente. A edu-
biente sócio-físico e sistemas de criação) cação é voltada para a singularidade e
para a promoção de diferentes trajetórias para o autoaprimoramento. Este modelo
ontogenéticas infantis. O presente estudo é composto por famílias nucleares ur-
visou avaliar relações da DPP com variá- banas de classe média, encontradas em
veis bio-culturais (crenças, metas e práti- sociedades industrializadas ocidentais. O
cas de criação) e ecológicas (nível sócio- modelo relacional concebe o indivíduo

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como co-agente, capaz de obedecer a Constataram-se índices elevados para prá-


normas e priorizar a harmonia social. A ticas de estimulação (m = 40,3) e baixos
interdependência é passada de pais a fi- para as de cuidados primários (m = 16,8).
lhos e é crucial para sobrevivência. É iden- Uma ANOVA mostrou diferenças significa-
tificado em famílias estendidas, típicas de tivas dos diferentes grupos de DPP (sem-
zonas rurais ou tribais que sobrevivem da pre deprimida; pelo menos uma vez depri-
agricultura ou da caça-coleta. O modelo mida; nunca deprimida) sobre a escolari-
autônomo-relacional tem características dade materna (F(2,77) = 7,693, p<0,001) e
dos modelos anteriores, concebendo o in- sobre os escores de estimulação (F(2, 80)
divíduo como independente e co-agente. = 6,983, p=0,002). Mães sempre deprimi-
É constatado em famílias de classe média das: 1) estudavam, em média, menos (m =
de zonas urbanas com uma herança cul- 5,83) que as demais (mpelo menos uma vez = 9,42;
tural inter-relacional (Keller & cols., 2006). mnunca deprimidas = 9,97); e 2) estimulavam, em
Em suma, enquanto as crenças influen- média, menos seus filhos (m = 35) que
ciam as práticas parentais e vice-versa, as demais (mpelo menos uma vez = 40,5; mnunca
ambas auxiliam a esculpir diferentes tra- deprimidas =
41,36). Uma ANOVA subseqüente
jetórias de desenvolvimento infantil. Além encontrou diferenças significativas entre
delas, outros fatores, como a DPP, podem os grupos de DPP e itens de práticas ide-
influenciar nas práticas parentais, e, con- alizadas e realizadas: sempre deprimidas
duzir a trajetórias ontogenéticas particu- tiveram média maior do que as demais
lares. Caracterizar as crenças e práticas em “Não é necessário atender imediata-
parentais da amostra e contribuir para o mente o bebê que chora” (prática ideali-
entendimento das relações entre crenças, zada autônoma) (F(2) = 3,298, p=0,042) e
práticas parentais e DPP. Participaram 83 “Dormir junto na cama” (prática realizada
mães do Distrito Butantã (São Paulo) com relacional) (F(2) = 4,688, p=0,012); e tive-
média de 25 anos (m = 24,8 ± 6,02) atendi- ram médias menores para “Conversar”
das pelo sistema público de saúde. Foram (F(2) = 5,081, p=0,008) e “Explicar coisas”
aplicados: 1) Questionário sociodemográ- (ambas práticas realizadas autônomas)
fico aos 36 meses pós-parto; 2) Escala de (F(2) = 3,762, p=0,027). Mães valorizaram
Depressão Pós-parto de Edinburgh (San- mais metas relacionais, idealizaram e re-
tos, Martins & Pasquali, 1999) aos 3, 8 e alizaram mais práticas autônomas. Esta
36 meses; 3) Escalas de Metas de Sociali- conjugação pode caracterizar um cená-
zação e de Crenças sobre Práticas Paren- rio autônomo-relacional para a presente
tais (Keller et al., 2006) e a Escala de Ati- amostra. Porém, a discrepância observada
vidades Parentais Realizadas (Martins et entre crenças e práticas pode sugerir certo
al., 2010) aos 36 meses. As participantes conflito. Conflito este que pode se agravar
atingiram médias significativamente mais em ambientes de risco, caracterizados por
elevadas para metas relacionais (m = 18,5) alta prevalência de DPP (sempre deprimi-
do que para autônomas (m = 16,7) (t82 = das = 9,2%; pelo menos uma vez deprimi-
-4,619, p<0,001) e médias significativa- da no puerpério = 44,8%), baixa escolari-
mente mais elevadas para práticas autô- dade, conflitos familiares e conjugais, falta
nomas (m = 17,7) do que para relacionais de apoio social (Silva, 2008). Mães com
(m = 16,4) (t test: t81 = 2,086, p=0,040). DPP mais crônica destacaram-se das de-

757
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mais por terem menor escolaridade, fato elementos que o leite em pó não incorpo-
que poderia indicar maiores dificuldades ra, tais como anticorpos e glóbulos bran-
sócio-econômicas. Para enfrentar tais difi- cos. É por isso que o leite materno protege
culdades, estas mães mesclariam elemen- o bebê de doenças e infecções (World He-
tos relacionais idealizados e autônomos alth Organization, 2000; 2001). Venâncio
realizados a fim de se “ajustar” ao cenário e Monteiro (1998) observaram, na década
de risco em que vivem. Os resultados além passada, um aumento na freqüência e du-
de sugerir relação entre a DPP e o modelo ração da amamentação no Brasil (de 2,5
cultural autônomo-relacional, justificam para 5,5 meses) em todos os estratos da
a importância da análise sistêmica de fa- população. Porém, estudos atuais apon-
tores bio-culturais (crenças e práticas), tam para a diminuição do índice ao longo
ecológicos (escolaridade e renda) e psico- dos meses, sendo que apenas 3% mantém
lógicos (DPP) para uma compreensão mais essa prática até os seis meses de idade e
global das diferentes trajetórias de desen- 70% introduzem o leite industrializado an-
volvimento infantil. tes do sexto mês (Bernardi; Jordao; Barros
Filho, 2009; Almeida; Novak, 2004). Barros
Palavras-chave: depressão pós-parto; metas e e cols. (2008) afirmam que a alimentação
práticas; ambiente de risco. oferecida ao bebê exerce papel funda-
mental no que diz respeito tanto ao seu
desenvolvimento físico, quanto cogniti-
LT04-782 - A INFLUÊNCIA DO TIPO DE vo e emocional. A interação mãe-bebê é
ALIMENTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO importante não só na promoção da saúde
DE BEBÊS DE TRÊS MESES DE IDADE física, mas também na criação das condi-
Jussara do Amaral Leopaci - UNESP/Bauru ções necessárias para que a criança, ao
jussara_leopaci@yahoo.com.br sentir-se amada, desenvolva, ao máximo,
Renata Ajub Tirelli - UNESP/Bauru o seu potencial psicomotor e social (Al-
renata_ajub@hotmail.com faya; Schermann, 2005). Todavia, a iden-
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues – tificação precisa do desenvolvimento in-
UNESP/Bauru fantil depende de instrumentos confiáveis
olgarolim@uol.com.br que fornecerão resultados para subsidiar
procedimentos pontuais de intervenção.
O desenvolvimento no primeiro ano de Vieira, Ribeiro e Formiga, (2009) em uma
vida é um complexo processo afetado por revisão de literatura sobre instrumentos
múltiplos fatores, como os socioeconômi- de avaliação do desenvolvimento de crian-
cos, condições de saúde ao nascer e tipo ças de zero a dois anos de idade, identifi-
de alimentação oferecida. A recomen- caram 15 instrumentos e, entre eles, cita
dação da OMS é de que os bebês até os o Inventário Portage Operacionalizado.
seis meses de idade sejam alimentados Avaliar o desenvolvimento de bebês de
somente com leite materno, a não ser em três meses de idade considerando o tipo
casos de orientação médica. O leite ma- de alimentação oferecida. Participaram da
terno contém todas as proteínas, açúcar, pesquisa 150 (cento e cinquenta) díades
gordura, vitaminas e água que o bebê ne- mães-bebês de três meses, do projeto de
cessita. Além disso, contém determinados extensão universitária “Acompanhamento

758
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do desenvolvimento de bebês de risco: Autocuidado os bebês com aleitamento


avaliação e orientação aos pais”, realizado natural (t=4, 21, p<0,0001) e mista (t=-2,
no campus da UNESP de Bauru. As condi- 35, p=0,01). Para a amostra estudada os
ções de aleitamento foram classificadas resultados obtidos indicam que o alei-
como natural (exclusivamente no seio), tamento natural favoreceu o desenvol-
misto (leite do seio juntamente com arti- vimento de bebês em sete das dez com-
ficial) ou artificial (exclusivamente leite in- parações realizadas, principalmente nas
dustrializado). Os dados foram coletados áreas de Desenvolvimento Motor, Cogni-
dos protocolos do projeto de extensão, ção e Socialização, presentes nas análises
tendo suas mães no papel de informantes. conduzidas com os dois grupos (mista e
Os dados sobre desenvolvimento foram artificial). Os dados obtidos em Autocui-
coletados a partir do Inventário Portage dado, área que avalia a independência
Operacionalizado, utilizado na avaliação do bebê, pode se dever ao fato de que a
mensal dos bebês. Utilizou-se o teste t de alimentação artificial aumenta a probabi-
Student para análise dos dados estatís- lidade de exposição a variados cuidado-
ticos. Os resultados apontaram para me- res e contextos, o que colaboraria para o
lhor desempenho dos bebês aleitados ex- resultado encontrado. Pesquisa realizada
clusivamente no seio na maioria das áreas por Mansur e Neto (2006) confirma os re-
observadas. Os resultados indicaram que sultados encontrados. Os autores analisa-
o desenvolvimento de bebês submetidos ram o desenvolvimento neuropsicomotor
ao aleitamento natural aos três meses de de lactentes com desnutrição leve através
idade, quando comparados com o desen- da Escala de Desenvolvimento Psicomo-
volvimento de bebês com alimentação tor da Primeira Infância. Seus resultados
mista, foi significativamente superior em apontaram para as médias de desenvolvi-
quatro das cinco áreas avaliadas (Desen- mento da coordenação óculo-motriz e de
volvimento Motor t=1, 61, p=0,05; Cog- sociabilidade significativamente abaixo da
nição t=3, 19, p=0,001; Socialização t=1, média cronológica esperada para a amos-
73, p=0,043; Linguagem t=1, 86, p=0,03). tra. Outros estudos também confirmam a
Comparando o desenvolvimento de bebês influência positiva do aleitamento mater-
com aleitamento natural e de alimentação no no desenvolvimento de lactentes, nos
artificial observou-se que os primeiros fo- quais os resultados apontam que crianças
ram significativamente melhores em três aleitadas naturalmente tinham escores
das áreas avaliadas (Desenvolvimento de desenvolvimento cognitivo significati-
Motor t=3, 34, p=0,0006; Cognição t=2, vamente maiores do que os das crianças
05, p=0,021; Socialização t=2, 32, p=0,01). alimentadas artificialmente (Anderson &
Comparando os bebês com alimentação cols, 1996; Rao, 2002). Os dados apontam
mista e artificial observou-se que os pri- para a importância da alimentação natu-
meiros superaram os segundos somen- ral no desenvolvimento de bebês aos três
te em Desenvolvimento Motor (t=1, 69, meses de idade. Todavia, é importante
p=0,04), sendo que em Linguagem, Socia- estudos com populações maiores e outras
lização e Cognição não houve diferenças faixas etárias para analisar os efeitos do
significativas. Todavia, os bebês alimenta- aleitamento materno, comprovando seus
dos artificialmente superaram, na área de benefícios em idades posteriores.

759
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: desenvolvimento infantil; de distintas classes sociais (Aquino & cols.


tipos de aleitamento; Inventário Portage 2003). Não há, também, consenso na lite-
Operacionalizado. ratura sobre os mecanismos pelo qual a
idade da mãe opera durante a gestação e,
ainda, que determinam os cuidados poste-
LT04-783 - A IDADE DA MÃE E O riores com o bebê. Pesquisadores defen-
DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS NO SEXTO dem que mães jovens não estariam fisiolo-
MÊS DE VIDA gicamente prontas para uma gravidez em
Renata Ajub Tirelli - UNESP/Bauru termos de peso, altura e desenvolvimento
renata_ajub@hotmail.com - Apoio Fapesp do aparelho reprodutivo, enquanto outros
Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues - focam mais sobre as condições socioeco-
UNESP/Bauru nômicas destas mães como fator de risco
olgarolim@fc.unesp.br que superaria o efeito da idade (Siqueira;
Tanaka, 1986; Vieira & cols, 2007; Gallo;
Pesquisas têm investigado a relação entre Leone; Amigo, 2009). Outros estudos pro-
a idade da mãe e seu impacto durante a curam analisar as competências desta mãe
gravidez e no desenvolvimento da crian- nos cuidados e estimulação do desenvol-
ça, com ênfase nos filhos de mães adoles- vimento do bebê (Bigras; Paquete; 2007).
centes (Konje & cols. 2002; Vieira & cols. Apesar de a adolescente ser considerada
2007). De acordo com o Estatuto da Crian- freqüentemente incapaz de cuidar de
ça e do Adolescente, é considerado ado- uma criança, há controvérsias quanto ao
lescente o indivíduo entre 12 e 18 anos de resultado final do seu desempenho e as
idade. A gravidez na adolescência ocorre, conseqüências para o seu filho (Carruth;
principalmente, devido a: falta de acesso neviling; Skinner, 1997). Estas indagações
a métodos contraceptivos e/ou ignorância motivaram a elaboração do presente tra-
e ineficiente utilização dos mesmos; pouca balho. Comparar o desenvolvimento de 31
compreensão sobre sexualidade e sobre o bebês, filhos de mães até 18 anos de ida-
próprio corpo; alternativa para sair de casa de (Grupo 1) com o desenvolvimento de
ou da escola; tentativa de manter um re- 46 bebês filhos de mães com idade entre
lacionamento; sanar a carência afetiva e o 19 a 24 anos (Grupo 2), no sexto mês de
desejo de ser mãe (Araújo, 1996; Gaude- vida. As mães dos bebês nascidos de janei-
rer, 1996). Outros estudos salientam que ro de 2010, que não possuíam nenhuma
a pouca escolaridade, desenvolvimento condição de risco, identificados em uma
puberal mais precoce, pobreza e difícil maternidade e no Banco de Leite Huma-
acesso aos serviços de saúde, também no, de uma cidade do interior paulista,
têm contribuído para que a gravidez e os em parceria com o projeto de extensão
partos de adolescentes aumentassem nos “Acompanhamento do desenvolvimento
últimos 20 anos (Colucci, 2003; Konje & de bebês no primeiro ano de vida”, foram
cols. 2002; Corrêa, 2003; Costa, 2001). To- convidadas a participar da pesquisa. O de-
davia, a gravidez na adolescência pode ser senvolvimento dos bebês foi acompanha-
vivida de múltiplas formas e os contextos do utilizando o Inventário Portage Opera-
sociais definem inúmeras possibilidades cionalizado (IPO) (Williams; Aiello, 2001) o
e significações diferentes entre os jovens qual objetiva avaliar o desenvolvimento de

760
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

crianças até seis anos de idade, previstos de papéis desempenhados no meio sócio
para faixas etárias anuais. É composto por – familiar da jovem mãe que, precisando
580 comportamentos divididos nas cinco continuar seus estudos ou ir para o mer-
áreas de desenvolvimento (Linguagem, cado de trabalho, deixam seus bebês aos
Autocuidados, Cognição, Socialização e cuidados de outros familiares/cuidado-
Desenvolvimento – Motor) além do proto- res. Quanto ao melhor desempenho na
colo de Estimulação Infantil, composto por área de Cognição pelo Grupo 2, fatores
45 comportamentos previstos para ava- como organização do ambiente, expec-
liação do comportamento de bebês até 4 tativas e práticas parentais, experiências
meses de idade. Para o presente estudo os com materiais para estimulação cognitiva
itens do protocolo de Estimulação Infantil e variação da estimulação diária estariam
foram distribuídos nas áreas previstas no mais presentes em mães mais velhas que
IPO, resultando em 154 itens para avalia- proporcionariam um desenvolvimento in-
ção de bebês no primeiro ano de vida. O fantil adequado (Bradley; Corwyn, 2002).
desenvolvimento das crianças de cada um Andrade e cols (2005), em um estudo ana-
dos grupos foi avaliado em cada uma das lisando estimulação ambiental e cognição,
áreas de desenvolvimento e comparados apontaram que mães orientadas a esti-
utilizando-se o teste estatístico t de Stu- mularem seus bebês por meio de uma va-
dent. Não foram encontradas diferenças riedade de experiências perceptivas com
significativas nas áreas de Linguagem (t= pessoas, objetos e símbolos, contribuem
1,07; p =0,14), Socialização (t = 0,61; p = significativamente para o desenvolvimen-
0,27) e Desenvolvimento Motor (t = 0,60; to cognitivo das crianças, observando-se,
p = 0,27). Já nas áreas de Autocuidados, os ainda, conseqüências positivas em longo
bebês do Grupo 1 apresentaram melhor prazo. Entretanto, são necessários estu-
desempenho (t = 2,22; p = 0,01) e na área dos que investiguem o impacto do grau
de Cognição, foram os bebês do Grupo 2 de instrução das mães mais velhas, o que
(t = 1,81; p = 0,03) que apresentaram de- pode, também, providenciar ambientes
sempenho superior. Uma hipótese para o mais estimuladores para seus filhos, assim
melhor desempenho do Grupo 1 na área como o papel do tipo de família da mãe
de Autocuidados pode estar relacionada adolescente para referendar os resultados
ao fato de que estes bebês podem ter sido obtidos. Concluindo, o presente estudo,
expostos a diferentes situações de alimen- parece apontar para a influência da idade
tação e cuidados por cuidadores variados materna em alguns aspectos do desenvol-
o que resultou na necessidade de adapta- vimento infantil em especial autocuidado
ção a outras situações de independência e cognição, reconhecendo, todavia a im-
da mãe. Coslovsky e Geller (1996) suge- portância de ampliação de estudos des-
rem que a gravidez na adolescência tem te tipo para a análise de outras variáveis
um grande impacto na vida da família de associadas como escolaridade materna e
origem da jovem mãe podendo resultar tipo de família.
em múltiplos cuidadores do bebê. Silva
e Salomão (2003) também alertam para Palavras-chave: Idade Materna;
o fato de que o exercício da maternida- Desenvolvimento Infantil; Inventário Portage
de irá requerer reajustes e até mudanças Operacionalizado

761
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-917 - QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL alunas do curso de Psicologia e uma aluna


NO ATENDIMENTO ESCOLAR DA do curso de Pedagogia, orientadas sema-
CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS: REFLEXÕES nalmente por uma professora do curso de
SOBRE O PAPEL DOS EDUCADORES Psicologia. Foram realizadas visitas sema-
INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO nais à escola, para a realização de ativida-
DOS BEBÊS des lúdicas com as crianças e professoras,
Bárbara Couto Preisser Marçal - PUC/Minas além de reuniões de reflexão e planeja-
barbaracpmarcal@gmail.com mento pedagógico com a coordenadora
pedagógica. As práticas foram norteadas
Segundo o Ministério da Educação, atual- pelas interações entre as próprias crian-
mente, apenas 18% das crianças brasilei- ças e delas com os educadores, por meio
ras de zero a três anos são atendidas em de brincadeiras e vivências que propor-
creches (IBGE/PNAD, 2009). A demanda cionavam o desenvolvimento integral da
por vagas na Educação Infantil é crescen- criança, nos aspectos físico, psicológico,
te e, cada vez mais, tem sido evidenciada intelectual e social, em complemento às
a necessidade de se desenvolverem polí- relações com a família e a comunidade.
ticas públicas para atender a essas crian- As intervenções também buscaram es-
ças e suas famílias. Porém, além da am- timular o planejamento e a reflexão so-
pliação da oferta de vagas, deve-se visar bre as ações pedagógicas desenvolvidas
à qualificação, viabilizando a garantia das pela escola, para que sempre tivessem
especificidades necessárias para o aten- como foco principal as necessidades e
dimento à criança pequena. Nesse con- demandas apresentadas pelas crianças
texto, o Núcleo Educativo da Pró-reitoria e se valessem do lúdico como princípio
de Extensão da PUC Minas desenvolveu, norteador da prática educativa cotidia-
ao longo dos últimos anos, ações exten- na. A avaliação dos resultados da ação de
sionistas colaborativas com creches e qualificação desenvolvida foi realizada a
pré-escolas do sistema de ensino de Belo partir de estudo bibliográfico e pesquisa
Horizonte, contribuindo para a qualifi- documental. Para a pesquisa documental,
cação no atendimento à criança até os 6 foram utilizadas as informações contidas
anos de idade. As experiências e reflexões nos relatórios escritos pela autora da
relatadas no presente trabalho foram vi- pesquisa, durante o desenvolvimento da
venciadas ao longo do ano de 2010, em ação extensionista de Qualificação Profis-
um estabelecimento educacional comu- sional no Atendimento à Criança de Zero
nitário localizado em um aglomerado da a Três Anos, a respeito das experiências
regional Centro-Sul de Belo Horizonte, vivenciadas ao longo do ano de 2010. Fo-
através da ação de Qualificação Profissio- ram analisados os relatos das reuniões de
nal no Atendimento à Criança de Zero a planejamento pedagógico e das tardes lú-
Três Anos, integrante do Programa Inter- dicas realizadas com a turma do Maternal
disciplinar de Política e Atendimento Edu- I, composta de crianças de 1 a 2 anos de
cacional. A ação em questão teve como idade e uma profissional. A escolha desta
foco a melhoria da qualidade dos afetos turma se deu pelo fato de ter sido acom-
entre crianças e adultos no contexto esco- panhada pela autora da pesquisa durante
lar, e contou com a participação de duas todo o ano, sendo que, em apenas alguns

762
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

momentos, as atividades tenham sido também, neste campo. Autores dos cam-
realizadas juntamente com crianças de pos da Educação Infantil e da Psicologia
outras faixas etárias e as demais extensio- do Desenvolvimento também foram uti-
nistas envolvidas. Os relatos das reuniões lizados para acrescentar a discussão que
com a coordenadora pedagógica também vem sendo realizada nos últimos anos, a
foram utilizados, pois, permitiram a ob- respeito das políticas e práticas de aten-
servação de momentos de planejamento dimento às crianças e seus reflexos no
e reflexão das atividades executadas com desenvolvimento dos bebês. Foi possível
crianças e professoras. Algumas dessas observar que os educadores da Educação
reuniões contaram com a presença das Infantil, muitas vezes, não conseguem
professoras, o que proporcionou uma reconhecer as potencialidades das crian-
aproximação das concepções das mes- ças e adaptar os conhecimentos teóricos
mas em relação à sua atuação. Outro à prática profissional, construindo seu
ponto importante para a escolha da análi- próprio saber a partir de suas vivências.
se das atividades realizadas com a turma Promover a apropriação da teoria, pro-
do Maternal I é o fato de que o atendi- porcionando uma visão ampla em relação
mento à faixa creche – 0 a 3 anos – tem ao repertório de recursos, à flexibilização
se apresentado como um desafio para as dos espaços, à disponibilidade dos ma-
profissionais, por estas não conhecerem teriais, bem como sensibilidade para in-
bem as ações pedagógicas voltadas para teragir com as crianças e perceber suas
a referida faixa, pautando sua atuação, necessidades e demandas contribuiu,
majoritariamente, no campo dos cuida- significativamente, para a melhoria do
dos aos bebês. Além dos relatórios escri- atendimento oferecido. As ações lúdicas
tos, foram analisadas as fotos de algumas propostas proporcionaram maior intera-
atividades desenvolvidas com as crianças, ção entre as crianças e professoras da ins-
também, com foco principal na turma de tituição, favorecendo o desenvolvimento
Maternal I. A partir do estudo bibliográfi- integral das crianças e o aprimoramento
co de autores do campo da Psicossocio- profissional das docentes. Observou-se,
logia, fez-se uma releitura da experiência ainda, maior comprometimento das pro-
extensionista e análise das contribuições fessoras com as atividades planejadas e
da intervenção psicossocial para a qualifi- executadas, a partir do momento em que
cação profissional do atendimento educa- o planejamento pedagógico englobou as
cional de crianças de 1 a 2 anos. Buscou- concepções de educar e cuidar, de forma
-se traçar, também, possíveis estratégias indissociada.
de formação continuada para professores
da Educação Infantil, a partir dos concei- Palavras-chave: desenvolvimento infantil,
tos estudados. A pesquisa também teve qualificação profissional, creche
como referência a legislação brasileira Contato: Bárbara Couto Preisser Marçal, PUC
relacionada à esta etapa da educação, Minas, barbaracpmarcal@gmail.com
principalmente, no que se refere às po-
líticas de formação inicial e continuada,
além de outras publicações dos órgãos
públicos federais, estaduais e municipais,

763
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1047 - ENVOLVIMENTO PATERNO expectativas de futuro em relação ao filho;


NOS ANOS INICIAIS DE VIDA DOS FILHOS a participação paterna nos cuidados com os
Karla da Costa Seabr - UERJ filhos; a divisão dos cuidados e dos traba-
seabrakc@uol.com.br lhos domésticos entre o pai e mãe; o seu
Maria Lucia Seidl de Moura - UERJ estilo paterno e o modelo de estilo paterno
mlseidl@gmail.com da família de origem; satisfações e insatisfa-
ções em relação aos cuidados com o filho e
O sistema econômico da sociedade urba- a participação paterna na escola. O inventá-
na ocidental, no qual a mulher tem estado rio de dados socioeconômicos teve por ob-
inserida cada vez mais em trabalhos remu- jetivo obter informações sobre as condições
nerados, exige mudanças nos papeis sociais socioeconômicas da família. Os resultados
e têm levando o pai a ganhar espaço em apontam que a maioria dos pais percebe
relação à promoção do desenvolvimento diferença na participação paterna ao longo
de seus filhos. O presente trabalho integra do desenvolvimento, quanto menor a ida-
a tese de doutoramento da primeira autora de menor a participação paterna. Piccinini
e pretendeu dar continuidade às investiga- e colaboradores (2004) discutem que o en-
ções sobre o papel paterno no desenvolvi- volvimento paterno nos primeiros meses de
mento da criança, buscando compreender vida do bebê tende a ser menor nas famílias
a paternidade através da abordagem socio- que as mulheres resistem a essa participa-
cultural. Este estudo parte do pressuposto ção, excluindo os pais dos cuidados básicos
de que o desenvolvimento humano em to- com o bebê. As atividades que mais dão
dos os seus aspectos depende de um “outro prazer aos pais em relação aos filhos são as
social”, que a família é o primeiro ambiente atividades lúdicas, como afirma Jablonski
socializador da criança, e suas práticas são (1999), os pais costumam interagir mais
essenciais para que a criança se desenvolva. com os filhos nos momentos de jogos e hu-
Seu objetivo principal foi investigar o estilo mor, e Roberts (1996) que afirma que a par-
paterno dos participantes e mapear a forma ticipação dos pais ocorre nas horas de lazer
de envolvimento dos pais com seus filhos. enquanto as mães se encarregam das tare-
Participaram deste estudo um grupo de fas rotineiras e cotidianas. Os momentos de
pais da cidade do Rio de Janeiro com filhos imposição de limites e regras são considera-
primogênitos de trinta e seis meses. As fa- dos pelos pais os menos prazerosos. Este é
mílias eram de nível socioeconômico médio um dos pontos que, segundo a classificação
e os pais moravam junto com seus filhos. de Muzio (1998), os pais deste estudo mais
Os pais foram entrevistados e responderam se distanciam da paternidade tradicional,
um inventário de dados socioeconômicos. na qual uma característica marcante seria
As entrevistas foram gravadas, transcritas e exatamente o fato do pai exercer o “poder”
os conteúdos das falas dos pais foram ana- dentro da família. Quanto à participação na
lisados qualitativamente. As entrevistas re- vida escolar do filho, os pais se consideram
alizadas com os pais tiveram por objetivos participativos dentro das possibilidades dos
coletar informações sobre a compreensão horários de trabalho e evidenciam um dese-
da paternidade; as mudanças ocorridas jo de maior participação. Os pais atribuem
após a paternidade; os conhecimentos ne- pouca participação em reuniões solicitadas
cessários para cuidar e educar os filhos; as pela escola. Os resultados encontrados em

764
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

relação à participação paterna na escola Um pensamento que toma o homem como


estão de acordo com os encontrados por um ser abstrato existe apenas no “mundo
Wagner e colaboradores (2005), os pais das idéias”. O homem concreto tem como
tendem a investir e incentivar os compro- referência seu nicho, ou seja, ele ocupa
missos escolares dos filhos, mas o acompa- espaços, os transforma em lugar, tem uma
nhamento diário tende a ser considerado história, cultura, relaciona-se com pes-
atribuição feminina. O resultado das entre- soas e assume determinados papéis nos
vistas indica que os pais ainda apresentam grupos sociais dos quais participa. Assim
características da “paternidade tradicio- são os espaços destinados a infância: es-
nal”, tais como: preferir se envolver em tão definidos culturalmente e têm seus
atividades lúdicas; não apreciar as tarefas significados percebidos e/ou modificados
de cuidado; e não participar de reuniões pelos sujeitos nele presentes. Os espaços
escolares. Mas, também apresentam ca- socialmente construídos para as crianças
racterísticas da “paternidade não tradicio- influenciam e afetam o comportamento
nal”: não gostar de impor regras e limites; e desenvolvimento das mesmas num pro-
compartilhar tarefas; e participar da vida cesso de interdependência e afetações
escolar, predominado a “paternidade com complexas. Em outras palavras, como nos
manifestações de mudança”, apresentando diz Lopez e Vasconcellos (2006, p. 121),
características da paternidade tradicional e “a noção espacial, como parte integrante
da paternidade não tradicional. dos sujeitos, é uma noção social, é uma
construção simbólica, constituída a partir
Palavras-chave: Paternidade, Participação do contexto cultural no qual se está inse-
paterna, Envolvimento paterno rido”. Nesta perspectiva, Vygotsky (1998)
Contato: Karla da Costa Seabra, UERJ, nos auxilia na compreensão da relação do
seabrakc@uol.com.br sujeito com o meio social e físico em que
vive. Para ele, o desenvolvimento humano
é entendido como a internalização de pro-
LT04-1250 - ESPAÇOS DE CRIANÇAS, cessos interpsicológicos, ou seja, o que é
LUGARES DE INFÂNCIAS: UM OLHAR apreendido pelos sujeitos nas interações
SOBRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE que estabelece com seus outros sociais
EDUCADORES INFANTIS e com o espaço planejado por eles. O ser
Claudia da C. G. Santana - ISE TRÊS RIOS/ humano desenvolve-se primeiramente por
FAETEC meio de uma inteligência prática, elemen-
ccgsantana@yahoo.com.br tar que, num processo de internalização
Lílian A. dos R. Ernesto - ISE TRÊS RIOS/FAETEC transforma-se quantitativa e qualitativa-
liliernesto@msn.com mente em funções mais elaboradas, su-
Peterson P. S. de Almeida - ISE TRÊS RIOS/ periores, presentes somente no Homem.
FAETEC Esse processo de desenvolvimento é me-
Peterson.psa@hotmail.com diado socialmente por outros homens
Elder dos Santos Azevedo - UFF no contato com instrumentos e signos
eldersouza_rj@yahoo.com.br culturais. Apesar de sua ênfase na inter-
Luther King A. Santana - USS subjetividade, a perspectiva vygotskyana,
lutherk@yahoo.com.br aponta para a materialidade da cultura, o

765
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que implica entender também os elemen- ças e significados que afetam sua natureza
tos físicos de um espaço, sua composição, e qualidade”. Nesse sentido, o espaço de
organização e simbolização que, numa educação de crianças pequenas não é um
abordagem semiótica, funcionam tanto cenário onde ocorre a atividade educativa,
como signos quanto como instrumentos. mas é parte integrante de sua própria na-
Na intenção de refletir sobre as questões tureza. Nas palavras de Lima (1989, p. 5),
até aqui abordadas, o Grupo de Estudo e “o espaço físico isolado do ambiente só
Pesquisa da Infância (GEPINFÂNCIA) do existe na cabeça dos adultos para medi-lo,
Instituto Superior de Educação de Três Rios para vendê-lo, para guardá-lo. Para a crian-
busca compreender como a construção de ça existe o espaço-alegria, o espaço-prote-
um espaço físico para a criança pequena ção, o espaço-medo, o espaço-mistério, o
é utilizado e simbolizado por educadores espaço-descoberta, enfim, os espaços da
infantis e crianças. Nossa pesquisa (em liberdade ou da opressão”.
andamento) se desenvolve numa Escola
Municipal de Educação Infantil em Três Palavras-chave: infância, lugar, educação
Rios que neste ano completa 50 anos. Contato: Claudia da Costa Guimarães Santana.
Considerada por muitos como uma esco- Instituto Superior de Educação de Três Rios/
la modelo em educação infantil, não só FAETEC, ccgsantana@yahoo.com.br
pela sua localização, mas sobretudo, pela
sua arquitetura projetada com amplos es-
paços de movimento e uma área externa LT04-1391 - LUGAR DO CUIDADO
repleta de árvores e brinquedos próprios INSTITUCIONAL NA REDE DE
para esta faixa etária, nosso objetivo é re- CUIDADORES ENVOLVIDOS NO
fletir sobre as concepções e práticas des- CUIDADO COTIDIANO DE CRIANÇAS
ses educadores neste espaço educacional. PEQUENAS
A pesquisa tem sido desenvolvida dentro Ana Maria de Almeida Carvalho - USP
de uma abordagem qualitativa, com ob- amacarva@uol.com.br
servações semanais em diário de campo, Anamélia Lins e Silva Franco - UFBA
fotografias e entrevistas semiestruturadas anameliafranco@uol.com.br
com os educadores do turno da manhã da Lívia da Costa Fialho - UCSAL
referida escola. Como elemento concreto livia.fialho@yahoo.com.br
através do qual a criança experimenta suas
primeiras sensações, queremos analisar As transformações da família, em especial
como este espaço é qualificado significati- as decorrentes do ingresso crescente de
vamente por esses educadores na sua prá- mulheres no mercado de trabalho, intro-
tica cotidiana com suas crianças. Entende- duziram novos desafios para o comparti-
mos como Tuan (1980), Lima (1989), Lopes lhamento do cuidado de crianças peque-
(1999) e Santana (2000, p. 19) que “um nas. A literatura evidencia que o cuidado
mesmo espaço pode constituir ambientes parental humano sempre envolve algum
diferentes da mesma forma que ambientes grau de compartilhamento, mais tipica-
semelhantes não correspondem a espaços mente entre a mãe e outras mulheres dis-
iguais, visto que concretamente os espa- poníveis, familiares (avós, tias, irmãs) ou
ços físicos estão prenhes de valores, cren- não (vizinhas, amigas, babás). Poortinga

766
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

& Georgas (2006) apontam que nas so- mico médio-alto têm na sua maioria ativi-
ciedades urbanas contemporâneas, onde dade profissional formal com carga-horária
predominam famílias nucleares e as dis- de pelo menos 40 horas chegando até 80
tâncias físicas entre familiares tendem a horas. As mães do grupo sócio-econômico
ser maiores, reduzindo a disponibilidade baixo, várias não são “donas de casa” e
de familiares para o compartilhamento aquelas que exercem atividade laboral for-
do cuidado, este ocorre principalmente mal têm uma carga-horária mais variada
com auxiliares domésticas e com cuidado entre 15 até 72 horas semanais, estes da-
institucional. Este estudo consiste de um dos possibilitam considerar que o motivo
recorte realizado a partir de um trabalho das famílias de nível médio-alto optarem
sobre cuidado de crianças em diferentes por cuidados institucionais para seus filhos
níveis socioeconômicos, aspectos de gêne- está relacionado às rotinas de trabalho dos
ro e geração. Neste trabalho, analisamos o pais o que não necessariamente segue o
lugar do cuidado institucional na rede de mesmo padrão para as famílias de nível
cuidadores de crianças pequenas em uma socioeconômico baixo e médio. Outra re-
amostra de 150 famílias de Nível Socioeco- lação construída foi a condição socioeco-
nômico (NSE) médio-alto e baixo, residen- nômica e a presença de avós morando na
tes em Salvador, a partir de informações mesma cidade: os dados demonstram que
oferecidas por pais e mães em entrevistas todas as famílias de nível socioeconômico
estruturadas. Encontramos uma incidência baixo tem familiares morando na mesma
bastante reduzida de cuidado institucional cidade o que não acontece com as famílias
(14%), maior no NSE médio-alto quando de nível sócio econômico médio-alto que
se tratava de freqüência em tempo parcial, pelo menos a metade não tem nenhum
enquanto no NSE baixo ocorreram os pou- familiar de geração anterior morando em
cos casos de freqüência em tempo integral. Salvador. Finalmente, de forma a abrir
Estas famílias pertencem tanto ao nível só- novas possibilidades de interpretação, os
cio econômico baixo como ao médio-alto, dados quantitativos foram complemen-
aquelas do nível sócio-econômico baixo de tados com entrevistas em profundidade
modo previsível residem em bairros perifé- a respeito de atitudes em relação ao cui-
ricos e as de nível socioeconômico médio- dado institucional com duas mães de NSE
-alto em bairros centrais. Com relação a médio-alto e duas de NSE baixo, sendo, em
faixa-etária dos pais observamos que as fa- cada caso, uma mãe que recorre ao cuida-
mílias de nível socioeconômico alto recor- do institucional e uma que não o utiliza. Os
rem a creches há mais tempo já que o gru- resultados sugerem que o recurso ao cui-
po é composto de pais de todas as faixas dado institucional para crianças pequenas
etárias e o grupo de nível sócio-econômico é modulado por um conjunto complexo de
baixo na sua maioria encontra-se na faixa fatores que também podem ser analisados
etária produtiva entre 30 e 44 anos. Para com utilização do conceito de rede.
explorar possíveis fatores relacionados ao
recurso à creche, examinamos algumas Palavras-chave: cuidado parental, cuidado
relações: nível socioeconômico e horas de institucional, rede de cuidadores
trabalho da mãe – esta relação possibilita Contato: Anamélia Lins, UFBA,
afirmar que as mães do nível socioeconô- anameliafranco@uol.com.br

767
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

DIA 14/11 - Segunda-feira rada por González Rey. O autor concebe


a subjetividade como uma forma comple-
xa de organização do psicológico onde se
16h-18h integram, formando novas unidades, os
processos simbólicos e emocionais que
tipificam as formas complexas do funcio-
namento do homem inserido na cultura.
MR LT01
As categorias sujeito, sentidos subjetivos
Mesa Redonda e configurações subjetivas contribuem
para dar conta do caráter contraditório,
dinâmico e processual da subjetividade,
MR LT01-757 -O DESENVOLVIMENTO a que se constitui e se desenvolve a par-
DA SUBJETIVIDADE: UMA DISCUSSÃO tir da inserção do individuo em múltiplos
NECESSÁRIA contextos culturais e sócio-relacionais.
Albertina Mitjáns Martínez - UnB Porém, como “os outros” participam do
Maristela Rossato - UnB desenvolvimento da subjetividade? Quais
Geandra Cláudia Silva Santos - UECE os “mecanismos” pelos quais o próprio in-
Luciana Soares Muniz - UFU/Eseba divíduo participa de seu desenvolvimen-
Fernando Luis González Rey - UniCEUB/UnB to? Como o subjetivamente constituído
intervém no desenvolvimento de novos
Durante muitos anos a Psicologia abor- processos subjetivos? Como a subjetivi-
dou os problemas do desenvolvimento a dade social participa da constituição das
partir de dois eixos dominantes e inter- subjetividades individuais? Tentar avan-
-relacionados: o desenvolvimento de çar na elaboração de respostas para estas
processos específicos (desenvolvimento perguntas a partir das ideias elaboradas
psicomotor, desenvolvimento cognitivo, por González Rey acerca da subjetividade
desenvolvimento moral etc.) em corres- e seu desenvolvimento tem gerado dife-
pondência com a forma fragmentada de rentes pesquisas algumas das quais dão
se estudar o psicológico e o desenvolvi- suporte à Mesa proposta. Seu objetivo
mento concebido como transito entre central é discutir o tema do desenvolvi-
fases ou etapas influído pela concepção mento da subjetividade tendo em conta,
universalista e intrapsíquica, dominante essencialmente, as reflexões elaboradas
de psique. O estudo do desenvolvimen- a partir de três pesquisas com olhares di-
to do psicológico como sistema comple- ferentes: (a) a pesquisa desenvolvida por
xo não tem tido destaque na Psicologia, Rossato, com alunos de séries iniciais de
mesmo considerando as diferentes for- ensino fundamental que investigou o mo-
mas em que tem sido tratado o desen- vimento da subjetividade no processo de
volvimento da personalidade. Avançar superação das dificuldades de aprendiza-
na compreensão do psicológico como gem escolar; (b) a pesquisa realizada por
sistema e consequentemente da consti- Santos, que objetivou compreender como
tuição e desenvolvimento de tal sistema o trabalho com alunos que têm desenvol-
constitui um desafio que temos assumido vimento atípico impacta a subjetividade
a partir da Teoria da Subjetividade elabo- dos professores e (c) a pesquisa de Mu-

768
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

niz, ainda em andamento, que investiga MUDANÇA E DESENVOLVIMENTO DA


a influência da aprendizagem criativa da SUBJETIVIDADE: UM ESTUDO A PARTIR
leitura e da escrita no desenvolvimento DA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DE
da subjetividade em alunos das primeiras APRENDIZAGEM ESCOLAR
séries de ensino fundamental. Também Maristela Rossato - UnB/IP
contribui para a discussão em foco o inte- stelarossato@hotmail.com
ressante trabalho elaborado por González Albertina Mitjáns Martínez - UnB/FE
Rey sobre as implicações de considerar a amitjans@terra.com.br
ação como configuração subjetiva para
a compreensão do desenvolvimento da Compreender as fronteiras entre mudan-
subjetividade. As construções elaboradas ça e desenvolvimento da subjetividade
a partir das pesquisas realizadas, assim requer um olhar sensível do pesquisa-
como os avanços na teorização sobre o dor amparado por um rigor teórico que
desenvolvimento da subjetividade permi- lhe possibilite produzir inteligibilidade
tirão discutir, analisar e exemplificar três em meio à complexidade humana e seus
questões chaves neste campo de estudos: processos evolutivos. As discussões apre-
(1) As diferenças entre mudança e desen- sentadas a seguir são decorrentes de
volvimento da subjetividade; (2) Os senti- uma pesquisa realizada com estudantes
dos subjetivos produzidos pelo indivíduo das séries iniciais do ensino fundamental
nas suas ações e nas suas relações com que objetivou investigar o movimento da
os outros como fontes do desenvolvimen- subjetividade no processo de superação
to da subjetividade e (3) As condições e das dificuldades de aprendizagem esco-
os mecanismos pelos quais os sentidos lar (Rossato, 2009). Dessa pesquisa, serão
subjetivos mobilizam o aparecimento de apresentadas as reflexões e produções
novas configurações subjetivas. Conside- da primeira autora sobre como a subjeti-
ramos ser esta uma discussão necessária vidade se movimenta, distinguindo mu-
não apenas pela sua significação para o dança e desenvolvimento, identificadas
delineamento de novas pesquisas, mas, em diferentes zonas da vida dos sujeitos
essencialmente, pela nossa convicção de e presentes na complexidade da dinâmica
que avançar na compreensão dos meca- escolar. A Teoria da Subjetividade de Gon-
nismos do desenvolvimento da subjetivi- zález Rey (1995, 2003a, 2003b) foi usada
dade pode favorecer o delineamento de como base teórica para discussão por ser,
estratégias educativas potencialmente em essência, uma teoria que busca com-
mais efetivas. preender a subjetividade reconhecendo o
valor da história e da cultura, o que pos-
Palavras-chave: desenvolvimento subjetivo, sibilita olhar o estudante e seus proces-
sentidos subjetivos, sujeito. sos singulares. Mais especificamente, a
Contato: Albertina Mitjáns Martínez. UnB/FE; teoria citada permitiu: (1) compreensão
amitjans@terra.com.br da subjetividade como sistema complexo,
dinâmico e em permanente mobilidade;
(2) concepção do sujeito constituído na
inter-relação tensa e contraditória entre a
subjetividade individual e a subjetividade

769
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

social; (3) possibilidades de reconfigura- e João podemos afirmar que a superação


ção subjetiva e mudanças nos núcleos das das dificuldades de aprendizagem decor-
configurações subjetivas diante de novos rentes do desenvolvimento da subjetivi-
sentidos subjetivos; (4) produção contínua dade envolveu uma reorganização estável
de novos sentidos subjetivos capazes de da personalidade e das qualidades do su-
entrar no sistema de configurações subje- jeito, assumindo novos níveis qualitativos
tivas. Na busca de inteligibilidade sobre o de organização subjetiva. No caso de Da-
desenvolvimento da subjetividade, faz-se niel, o movimento da subjetividade não
necessário diferenciá-lo da compreensão chegou a gerar mudanças complexas que
de mudança adotada na pesquisa. O con- ganhassem estabilidade durante o perí-
ceito de mudança presente na Teoria da odo investigado, uma vez que, quando a
Subjetividade de González Rey encontra emocionalidade produtora dos sentidos
ancoragem na conceituação de circuito subjetivos se rompeu, houve também
tetralógico proposta por Morin (2003) – uma involução na qualidade que acredi-
ordem-desordem-interação-organização távamos ter alcançado em sua aprendi-
– estabelecendo, com isso, uma dinâmica zagem. O caso de Daniel mostra-nos que,
mutacional de impactos no sistema, mes- no momento em que a emocionalidade
mo que sejam de superfície. O desenvol- geradora de uma mudança se interrom-
vimento de um sistema ocorre por forças pe, pode haver involução nos níveis de
que incluem o funcionamento do pró- organização subjetiva que se anunciavam
prio sistema (Gonzalez Rey, 1995, Morin, até então, demonstrando que os sentidos
2003). Considera-se que, no funcionamen- subjetivos precisam de certo tempo, esta-
to, o foco da análise é a organização do sis- bilidade e intensidade para se integrarem
tema e, quanto maior sua complexidade, às configurações subjetivas e provocarem
mais ordem e desordem tendem a estar mudanças mais complexas. Em termos
intimamente ligadas; no caso de desenvol- de desenvolvimento da subjetividade, a
vimento, o foco da análise é a complexi- análise das informações produzidas na
dade do processo de mudança desse sis- pesquisa abriu dois caminhos de análise
tema. Os casos analisados permitiram-nos baseados no momento empírico: em pri-
compreender com maior inteligibilidade a meiro lugar, o desenvolvimento da subje-
integração do sujeito, da personalidade e tividade na constituição do sujeito produ-
da subjetividade social no desenvolvimen- zida no confronto com o outro. No caso
to da subjetividade, conforme González de João, esse outro foi representado pela
Rey (1995, 2003a, 2004, 2008) já havia professora Ana e pela Mãe; nos casos de
anunciado teoricamente. Em dois parti- Fernanda e Daniel, o outro foi represen-
cipantes da pesquisa, João e Fernanda, o tado pela professora Rosane. A produção
movimento da subjetividade, pela com- dos sentidos subjetivos específicos segue
plexidade envolvida nas mudanças subje- desdobramentos e entrelaçamentos que
tivas e pela relativa estabilidade adquirida nunca são universais, mas que posicionam
na organização do sistema, possibilitou a pessoa como sujeito de seu próprio de-
o desenvolvimento da subjetividade ne- senvolvimento e, nesse sentido, o outro
cessário à superação das dificuldades de tem importância para o desenvolvimento
aprendizagem. Portanto, com Fernanda quando se converte em uma fonte de pro-

770
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dução de sentidos subjetivos mobilizado- dominante, pode mobilizar mudanças no


res, numa relação dialógica (González Rey, núcleo de uma configuração. Vale lembrar
2004). Nos três casos analisados, o outro, que a configuração subjetiva caracteriza-
em circunstâncias distintas, gerou emocio- -se pela possibilidade de integrar elemen-
nalidades que possibilitaram a produção tos dinâmicos e contraditórios, os quais
de sentidos subjetivos mobilizadores dos podem converter-se em sentidos subje-
sujeitos. A condição do sujeito é marcada tivos dominantes. (González Rey, 2003a).
pela mobilidade ao longo de toda a vida Diante do exposto, definimos o desenvol-
em formas e níveis particulares de organi- vimento da subjetividade como mudanças
zação da subjetividade. O pensamento, a subjetivas que impactam e que ganham
reflexão e as decisões tomadas pelo indi- certa estabilidade, capazes de desencade-
viduo singular legitimam sua condição de ar outras mudanças, gerando novos níveis
sujeito e possibilitam que entre na dinâ- qualitativos de organização subjetiva. A
mica complexa da vida social e seja capaz análise do desenvolvimento da subjetivi-
de gerar espaços próprios de subjetivação dade requer adentrar no movimento con-
(González Rey, 2005, 2006, 2007). tínuo de produção de sentidos subjetivos
identificando os impactos, as rupturas e as
Em segundo lugar, discutiu-se o desen- construções que são capazes de desenca-
volvimento da subjetividade na mudança dear no sujeito.
da personalidade gerada pelas reconfi-
gurações subjetivas e produção de no- Palavras-chave: desenvolvimento da
vos sentidos subjetivos. À personalidade subjetividade; dificuldades de aprendizagem;
como sistema subjetivo auto-organizador sujeito.
da experiência do sujeito, constituída em Contato: Maristela Rossato; UnB/IP;
sua história, se lhe atribui um caráter tem- stelarossato@hotmail.com
poral e com mobilidade (González Rey,
1995), e somente com essa compreensão
de personalidade pode-se efetivamen- MUDANÇAS NA SUBJETIVIDADE DOS
te pensar o sujeito em permanente pro- PROFESSORES: CONSTRUÇÕES A PARTIR
cesso de mudança, sem ter que carregar DA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS QUE TÊM
para toda vida os rótulos sociais criados DESENVOLVIMENTO ATÍPICO
em função das condições vividas em de- Geandra Cláudia Silva Santos - UECE
terminadas circunstâncias de sua história. geandracss@yahoo.com.br
As experiências vividas pelo sujeito pro- Albertina Mitjáns Martínez - UnB/FE
duzem uma variedade de sentidos sub- amitjans@terra.com.br
jetivos que alimentam e desenvolvem as
configurações subjetivas, as quais, mesmo A experiência com os alunos que têm de-
diante dessa mobilidade, mantêm núcleos senvolvimento atípico vem gerando, em
estáveis de produção subjetiva. Os núcle- parte significativa dos educadores brasi-
os, organizados pelos sentidos subjetivos leiros, manifestações de insegurança, an-
dominantes, dão integridade à configu- gústia, impotência e resistência (Tessaro,
ração, o que nos leva a entender que um 2004; Domingues; Cavalli, 2006; Munhos,
novo sentido subjetivo, que assuma papel 2009), por sentirem-se despreparados

771
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

profissional e emocionalmente. A pro- implicado, bem como da subjetividade


blemática da oferta de educação escolar social do espaço, no qual ele se realiza
para esses alunos encerra desafios de na- (González Rey, 2007). A mudança origina-
tureza organizacional, política, pedagógi- -se dos impactos gerados pelas relações
ca, cultural e subjetiva (Gomes; González com outros sistemas subjetivos individu-
Rey, 2007; Mitjáns Martínez, 2005, 2006; ais e sociais e pelas experiências vivencia-
Tunes; Bartholo, 2006) a todos os atores das em diferentes contextos. Os impac-
dos sistemas de ensino, sobretudo, aos tos, por sua vez, mobilizam confrontos e
professores, que cada vez mais estarão instabilidades, na constituição subjetiva
assumindo responsabilidades político-pe- do sujeito, pelas tensões e contradições
dagógicas em um cenário profundamente que são capazes de produzir. Nos estudos
contraditório, tornando-se um contexto de caso realizados identificamos impactos
propício para reflexões relacionadas às que geraram mudanças qualitativamente
implicações dessa experiência, na sub- diferentes na subjetividade individual de
jetividade individual dos professores. Ao cada professor. A mudança significativa,
problematizarmos a situação de inclusão no caso da professora Bárbara, consis-
escolar vigente na escola, objetivamos tiu no fortalecimento da sua condição
compreender como o impacto do traba- de sujeito, permitindo o enfrentamento
lho com os alunos que têm desenvolvi- ativo, interativo e criativo das próprias
mento atípico gerou mudanças na subje- limitações e das adversidades do cenário
tividade dos professores envolvidos. Op- organizacional, bem como em mudanças
tamos pela Epistemologia Qualitativa de importantes na configuração subjetiva
González Rey (2002, 2005a) para ancorar da profissão docente, oriundas da cons-
as construções teórico-metodológicas. A tituição de novos sentidos subjetivos
pesquisa foi organizada por meio do es- que resultou no posicionamento ético-
tudo de três casos, contando com a par- -profissional favorável ao trabalho com
ticipação de três professores do Ensino alunos que têm desenvolvimento atípico
Fundamental, iniciantes no trabalho com e em desvantagem pedagógica. Essa mu-
alunos que têm desenvolvimento atípico. dança constituiu-se numa movimentação
Nossas construções fundamentaram-se expressiva e com certa estabilidade, que
na Teoria da Subjetividade de González se manifestou em elementos centrais de
Rey (1995, 2003, 2004a, 2004b, 2007), uma configuração subjetiva específica,
articulada as contribuições da Teoria da por meio da alteração e emergência de
Complexidade de Morin (2003) e de Neu- sentidos subjetivos, responsáveis pela
bern (2004). A mudança na subjetividade reorganização da configuração subjetiva,
individual não é uma produção final e iso- implicada na mudança. A mudança pou-
lada, fruto da construção de uma respos- co significativa, no caso do professor Teo,
ta imediata, linear e específica aos apelos consistiu na emergência de sentido sub-
externos participantes das relações e ex- jetivo voltado à relação com os alunos,
periências vivenciadas pelos sujeitos, mas promovendo aproximação, afetuosidade
inscreve-se no processo de produção de e interesse pelo processo de aprendiza-
sentidos subjetivos em desenvolvimen- gem destes; mudanças na representação
to, na subjetividade individual do sujeito relacionada à deficiência e na representa-

772
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção sobre as alternativas de intervenção verso da escola, não promove, por si só,
educativa direcionada aos alunos com impactos diferenciados, na subjetividade
desenvolvimento atípico. Essa produ- individual do professor. O que desenca-
ção articulou-se, dialeticamente, com o deia impactos na subjetividade, capazes
aprofundamento do status conflituoso de inscrever o outro em uma condição
da configuração subjetiva da sua condi- significativa, depende da qualidade de
ção de professor e das relações estabe- sentidos subjetivos produzidos na relação
lecidas na escola, criando contradições que se constituiu mutuamente (González
que causaram danos, interrompendo Rey, 2004b). Existem processos organiza-
a produção subjetiva em curso. Os no- tivos da subjetividade, com capacidade
vos elementos subjetivos, integrados na generativa e outros que congregam pelo
configuração subjetiva da condição de menos, em situações específicas, como
professor não geraram repertórios de ex- a estudada, qualidades não-generativas,
pressão subjetiva duradoura e consisten- interrompendo ou impedindo o fluxo de
te emocionalmente, apesar das expres- novas produções subjetivas (González
sões pertinentes à condição de sujeito Rey, 1995, 2004a, 2007). Os vínculos emo-
de Teo, interrompendo a reorganização e cionais do professor com a atividade pro-
ruptura de sentidos subjetivos dominan- fissional atuam como recursos subjetivos
tes na configuração em tela. A mudança relevantes às mudanças, na subjetividade
não-significativa, no caso da professora individual dos professores. Na produção
Amália, incidiu na emergência de relativo subjetiva em que houve sensível expres-
interesse pela tarefa de ensinar os alunos são da condição de sujeito, no processo
com desenvolvimento atípico, na negação de subjetivação da experiência com as
da condição de sujeito e no agravamento alunas que têm desenvolvimento atípico,
da insatisfação com o magistério, pois a mais a mudança tornou-se significativa.
experiência com esses alunos mostrou- O movimento tenso e contraditório da
-se problemática, intensificando as difi- relação estabelecida entre a realidade e
culdades da sua prática educativa. Essa a condição pessoal do sujeito requer con-
movimentação foi coerente com os arran- gruência (González Rey, 2005b, 2004a),
jos subjetivos existentes na configuração para que essa condição expresse-se e
subjetiva implicada, expressa por um pro- aprimore-se. Assim, compreendemos
cesso de consolidação dos sentidos subje- que as mudanças na subjetividade dos
tivos dominantes, que gerou novo reper- professores concentraram-se em configu-
tório emocional, contudo, não produziu rações subjetivas associadas à atividade
uma organização subjetiva alternativa. em foco; a produção de novos sentidos
As mudanças configuraram-se a partir de subjetivos firmou-se como marco central
uma tessitura de implicações geradas a das mudanças; os descompassos entre a
partir dos seguintes aspectos: a relação condição de sujeito e a organização sub-
estabelecida com os alunos; a organiza- jetiva favorecem danos na produção de
ção subjetiva, incluindo o envolvimento novos sentidos subjetivos; a organização
emocional com a docência; a expressão subjetiva produzida com as mudanças so-
da condição de sujeito. A inserção de alu- freu implicações relevantes da integração
nos com desenvolvimento atípico no uni- entre processualidade e temporalidade; a

773
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mudança tornou-se mais intensa, quando para reproduzir tal qual lhe foi ensinado,
as relações entre os envolvidos expressa- caracterizando uma aprendizagem pas-
ram-se com riqueza subjetiva. sivo-reprodutiva (González Rey, 2003b,
2006). Entender como o sujeito pode
Palavras-chave: subjetividade do professor; aprender criativamente e se desenvolver
mudanças; alunos com desenvolvimento como sujeito criativo no contexto educa-
atípico. cional é essencial. Acreditamos que as
Contato: Geandra Cláudia Silva Santos; UECE; características subjetivas que participam
geandracss@yahoo.com.br da expressão criativa do sujeito são cons-
tituídas no decorrer da sua história de
vida e a partir dos diferentes contextos
A CRIATIVIDADE NA APRENDIZAGEM DA sociais de que o sujeito participa. Num
LEITURA E ESCRITA E SEUS IMPACTOS NO movimento dialético, a história individual
DESENVOLVIMENTO INFANTIL e os momentos que vivenciam os sujeitos
Luciana Soares Muniz - UFU/Eseba concretos nos trazem a possibilidade de
lucianasoares.muniz@gmail.com analisar a leitura e a escrita em contexto,
Albertina Mitjáns Martínez - UnB/FE como um processo singular dos sujeitos
amitjans@terra.com.br envolvidos. Apreendemos como Gonzá-
lez Rey (1995, 2003, 2007) que o desen-
O presente trabalho permeia uma pesqui- volvimento da subjetividade consiste em
sa em andamento vinculada ao Programa um processo que ocorre vinculado aos
de Doutorado da Faculdade de Educação sentidos subjetivos que o sujeito produz.
da Universidade de Brasília. Partimos do Como um movimento singular, o desen-
pressuposto de que a escola e a sala de volvimento da subjetividade ocorre na
aula são espaços singulares de aprendi- confluência da subjetividade individual
zagem e desenvolvimento, e convidam a e da subjetividade social. Nessa aborda-
várias reflexões (Muniz, 2006). Tendo em gem, procuramos analisar o impacto da
vista que a função que move a escola é o criatividade no desenvolvimento a partir
próprio processo de ensinar e aprender das complexas relações sujeito-contexto,
torna-se fundamental, no contexto atu- em que o sujeito é ativo e atua conforme
al da sociedade que demanda cada vez os recursos subjetivos de que dispõe no
mais uma postura criativa das pessoas momento da ação, bem como da repre-
frente aos desafios e à complexidade do sentação que concretiza em decorrência
cenário mundial, a expressão criativa dos da situação vivida. Enfatizamos a falta
sujeitos envolvidos nesse processo. Mes- de pesquisas que revelem a expressão
mo convalidando a relevância da criativi- criativa da criança no processo de aqui-
dade na educação, as práticas e os sabe- sição da leitura e da escrita, processo
res organizados no cotidiano escolar nem essencial para todo o desenvolvimento
sempre contribuem para a formação de educacional posterior, e os impactos des-
sujeitos criativos. As salas de aula consti- sa aprendizagem no desenvolvimento
tuem espaços em que o professor ainda integral dela. Consideramos como funda-
é o único detentor do conhecimento e ao mental para a investigação aqui exposta,
aluno cabe a tarefa de ouvir e observar compreender os recursos personológicos

774
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que são mobilizados na aprendizagem tada nessa concepção epistemológica,


criativa da leitura e da escrita, a partir do o pesquisador demonstra abertura e
sistema atividade-comunicação que en- sensibilidade à imprevisibilidade da pes-
volve o cotidiano da criança, seja no âm- quisa e assume sua responsabilidade e
bito da escola, família ou outros contex- criatividade individual em um processo
tos sócio relacionais nos quais a criança interpretativo – construtivo de produção
participa. Desta forma, partimos de uma de conhecimento. Os sujeitos da pesqui-
concepção de personalidade como uma sa são alunos em fase de aprendizagem
configuração de configurações subjetivas da leitura e da escrita que demonstram
(González Rey, 1997) que possui um ca- indicadores de criatividade nesse pro-
ráter dinâmico, flexível e singular. Nessa cesso. Para contribuir, numa perspectiva
concepção a categoria sujeito, constitui da pesquisa qualitativa, com a expressão
uma categoria fundamental para nossos dos sujeitos, contamos com a utilização
estudos, uma vez que expressa o cará- de instrumentos abertos e semiabertos,
ter ativo, intencional e transformador da com o intuito de compreender os senti-
pessoa, na confluência das configurações dos subjetivos e as configurações subjeti-
subjetivas constituídas em sua história de vas implicados na aprendizagem criativa
vida e dos sentidos subjetivos que produz dos alunos. Igualmente com instrumen-
nos contextos sociais onde desenvolve tos deste tipo, junto a entrevistas a pais e
sua ação. Diante dessas reflexões, enfa- professores acompanhamos os possíveis
tizamos que o objetivo principal desta impactos que a aprendizagem da leitu-
pesquisa consiste em compreender os ra e da escrita tem em outras áreas do
processos subjetivos que se expressam desenvolvimento das crianças. O estudo
na criatividade na aprendizagem da lei- aqui delineado apreende a prática edu-
tura e da escrita e os impactos desta no cativa como cenário de investigação e de
desenvolvimento infantil. Buscamos as produção teórica. A pesquisa encontra-se
contribuições da perspectiva histórico- em andamento e aponta como resulta-
-cultural, dentro dela, a linha teórica que dos iniciais a necessidade de construções
tem elaborado o tema da Subjetividade teóricas sobre como se expressa a criati-
desenvolvida por González Rey (1995, vidade na aprendizagem da leitura e da
2003, 2005a), e da Criatividade, proposta escrita e suas influências no desenvolvi-
por Mitjáns Martínez (1995, 1997, 2002, mento infantil, especialmente em outros
2004, 2008, 2009a). Como metodologia aspectos da subjetividade. A revisão bi-
utilizada, ressaltamos a opção pelos es- bliográfica do tema, realizada até o pre-
tudos de caso a partir da Epistemologia sente instante, referente aos impactos
Qualitativa (González Rey, 2002, 2005b, da aprendizagem criativa no desenvolvi-
2009), concepção epistemológica que mento da criança, revela a ausência de
tem se mostrado promissória para a pro- pesquisas dessa natureza e se constata
dução de conhecimentos sobre proces- estudos que partem do que é exterior
sos humanos complexos como a apren- ao sujeito, como métodos, recursos ma-
dizagem criativa e o desenvolvimento da teriais, estudos do professor, revelando
subjetividade (Mitjáns Martínez, 2008). a urgência de pesquisas que considerem
Por meio da pesquisa qualitativa orien- o desenvolvimento a partir da ação do

775
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

próprio sujeito, como o que temos come- mo se institucionalizou na psicologia. Nas


çado realizar. Portanto, o produzido até tendências dos pensamentos que se in-
o presente momento permite hipotetizar tegram naquilo que hoje se define como
que as emoções envolvidas no momento “teorias culturais”, têm sido preferivel-
da aprendizagem, adquirem importância mente usados, de uma forma geral, os
essencial para a compreensão do desen- conceitos de ação e atividade. O conceito
volvimento subjetivo da criança, o qual de ação, diferentemente do comporta-
é concretizado em meio aos sentidos mento, sinaliza o caráter ativo do sujeito
subjetivos diversos produzidos no pro- através do exercício de recursos simbó-
cesso de aprender criativamente. Nessa licos de caráter cultural, ainda que com
reflexão, ressaltamos a sala de aula como frequência se identifiquem ação e ato. O
espaço dialógico e que a aprendizagem conceito de ação, assim como o de ativi-
constitui-se como propulsora da ativi- dade, enfatiza um psiquismo humano em
dade criadora e do desenvolvimento do processo, de natureza cultural, destacan-
aluno. Estudar a forma em que a apren- do o processual desse psiquismo. Porém,
dizagem criativa da leitura e da escrita nessa mesma tradição, que no Ocidente
impacta o desenvolvimento ulterior da se circunscreve dentro das famílias de
criança torna-se promissor no sentido de psicologias culturais ou socioculturais,
contribuir para melhor fundamentar pos- a definição cultural histórica da psique
síveis mudanças nas formas dominantes que caracterizou a obra de Vygotsky, o
em que o ensino da leitura e da escrita que apareceu como um princípio geral
tem se desenvolvido nas nossas salas de da Psicologia Soviética tem sido mistura-
aula, vinculado a uma aprendizagem pas- da com uma definição concreta de ativi-
sivo-reprodutiva. dade; aquela claramente definida por A.
N. Leontiev na Teoria da Atividade como
Palavras-chave: desenvolvimento infantil; atividade com objetos. Como resultado
criatividade; aprendizagem. dessa integração acrítica das teorias de
Contato: Luciana Soares Muniz; UFU; Vygotsky e Leontiev apareceu a CHAT
lucianasoares.muniz@gmail.com (Cultural Historical Activity Theory), mo-
vimento que hegemonizou as interpre-
tações desses dois autores no Ocidente.
A AÇÃO COMO CONFIGURAÇÃO Desde esse marco os conceitos de ação
SUBJETIVA: IMPLICAÇÕES PARA O e de atividade foram usados em uma
DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE perspectiva orientada à compreensão
Fernando Luis González Rey - UniCEUB/UnB das funções psíquicas como resultado
gonzalez_rey49@hotmail.com direto da atividade humana, afirmando-
-se esse foco num paradigma teórico que
Historicamente o termo comportamento enfatizou a unidade teórica da ativida-
ficou associado ao Behaviorismo, assim de, da interiorização, da mediação e da
como o inconsciente à Psicanálise, o que função psíquica, onde o sujeito, a perso-
tem levado a sua desconsideração como nalidade e a unidade do cognitivo e do
categoria psicológica por matrizes teóri- afetivo, temas importantes na trajetória
cas diferentes daquelas em que esse ter- cultural histórica, foram omitidos. Desde

776
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

essa perspectiva o desenvolvimento ti- deslocado da atividade e colocado na ca-


nha como seu conceito central o de “ati- pacidade subjetiva geradora de um sujei-
vidade reitora”, estabelecendo-se uma to, conceito que é central para a produ-
relação direta entre um tipo de atividade ção subjetiva que acontece na ação. Os
e as características mais gerais de cada diferentes atos da pessoa representam
momento concreto do desenvolvimento momentos particulares de configurações
psíquico. Os temas da emoção, da subje- subjetivas que fazem da ação um espaço
tividade, assim como a personalidade e de intensa produção subjetiva. O curso
a motivação, ocuparam um lugar total- da ação não é operacional cognitivo, mas
mente secundário nesse marco teórico um processo emocional intenso em que
e, consequentemente, não apareceram as emoções resultam inseparáveis de to-
como aspectos centrais para uma teoria das as operações da ação. A ação repre-
do desenvolvimento humano dentro des- senta sempre uma configuração na qual
sa perspectiva, apesar dos importantes personalidade, contexto e produções do
antecedentes que existiram na obra de sujeito se integram em uma configuração
Vygotsky orientados a representar a uni- subjetiva específica, responsável pelas
dade do cognitivo e do afetivo no desen- produções subjetivas que acontecem e
volvimento humano. O conceito de “pe- se desdobram como resultado da ação.
rezhivanie”, que pode ser traduzido como As duas categorias que temos desenvol-
vivência, mas que, como categoria, era vido para esta representação da subje-
algo mais abrangente em sua definição, tividade que se desenvolve no curso da
foi compreendido por Vygotsky como ação, sem se diluir nela, nem nas práticas
aquela unidade psicológica que integrava discursivas ou nos atos como processos
cognição e afeto e que permitia explicar, da ação, são as de sentido subjetivo e
desde o sujeito, a relevância de uma in- configuração subjetiva. Diferentemente
fluência externa para o desenvolvimento da ênfase da psicologia cultural-histórica
da personalidade. Esse conceito desen- na unidade do cognitivo e do afetivo, a
volvido por Vygotsky no último momento nossa ênfase é na unidade do simbólico-
de sua obra voltava a trazer a personali- -emocional, unidade essa que representa
dade como um conceito importante para uma produção subjetiva permanente da
o desenvolvimento humano. No presente experiência humana, que tem lugar nos
trabalho iremos discutir o lugar central contextos da ação e de todas as outras
da ação numa concepção cultural históri- formas de expressão do sujeito, incluin-
ca do desenvolvimento da subjetividade, do a produção imaginária e reflexiva de
que recupera e integra em novas defini- seus espaços íntimo-pessoais. Nos senti-
ções teóricas os temas da personalidade, dos subjetivos o simbólico e o emocional
da motivação e do sujeito do desenvolvi- se implicam de forma recíproca, mas sem
mento, onde a ação aparece como con- relações de determinação. As emoções
figuração subjetiva em processo e não têm uma capacidade geradora que se
apenas como a expressão de recursos desdobra em múltiplas formas no curso
simbólicos numa atividade externa que do tempo e sobre as quais se desenvol-
passa a ser interna através da interiori- vem formas simbólicas múltiplas que es-
zação. O epicentro do desenvolvimento é capam da ordem da racionalidade, se re-

777
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

configurando subjetivamente em formas MR LT04 - Mesa Redonda


que escapam tanto à intencionalidade,
quanto à capacidade de significação do
Convidada
sujeito. Essas poderosas forças simbóli-
co-emocionais se organizam em configu-
MR LT04-1325 - O LUGAR DA CRIANÇA
rações que estão permanentemente en-
NA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
volvidas nos cursos de vida do sujeito. A
E NA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA:
ideia de configuração subjetiva é respon-
PROXIMIDADES E DIFERENÇAS
sável pela presença permanente do his-
tórico no atual, e do contexto no pesso- Juliana Prates Santana - UFBA
al. O desenvolvimento da subjetividade julianapsantana@gmail.com
acontece pelos processos envolvidos em Maria Letícia B. P. Nascimento - FEUSP
configurações subjetivas que se tornam letician@usp.br
centrais no presente da vida do sujeito. Lirene Finkler - UFRGS/FASC
Os sentidos subjetivos múltiplos, que se lirenefinkler@yahoo.com.br
organizam e se geram permanentemen- Vera M. R. de Vasconcellos - FE/UERJ
te nas configurações subjetivas, estão Vasconcellos.Vera@gmail.com
associados a processos simultâneos e
diversos que ganham vida nas diferentes A presente Mesa tem por objetivo cons-
experiências humanas implicadas com truir um diálogo entre a Psicologia do De-
essas configurações subjetivas. São os senvolvimento e a Sociologia da Infância
novos níveis de desenvolvimento desses a partir de contribuições teóricas e empí-
processos e da pessoa, que estão presen- ricas realizadas à luz destes dois campos
tes de forma permanente na processua- de conhecimento. Inicialmente, a Sociolo-
lidade dessa experiência através de sua gia da Infância surge em contraposição a
reflexividade, suas decisões e conflitos uma perspectiva de desenvolvimento que
que, em seu conjunto, representam es- via na criança apenas um vir a ser, um pro-
sas mudanças qualitativas na história da jeto de futuro em construção, ao mesmo
pessoa e que podem ser definidas como tempo em que se opõe a uma perspectiva
desenvolvimento da subjetividade. sociológica que limitava a criança ao papel
de alvo dos processos de socialização. Es-
Palavras-chave: configuração subjetiva; sas idéias iniciais colocavam a Sociologia
desenvolvimento subjetivo; ação. da Infância como antagônica à Psicologia
Contato: Fernando Luis González Rey; do Desenvolvimento, particularmente,
UniCEUB/UnB; gonzalez_rey49@hotmail.com aquela que não considerava os aspectos
históricos e sócio-culturais que influen-
ciam o desenvolvimento, tomando a infân-
cia como fenômeno natural. No entanto,
tais críticas também surgiram no interior
da própria Psicologia do Desenvolvimento,
produzindo importantes reformulações e
novas proposições teóricas. Nesse sentido,
observa-se atualmente um maior diálogo

778
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entre as disciplinas tanto no contexto bra- BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A


sileiro, como internacional, sendo eviden- SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA COMO ÁREA
tes as contribuições dos dois campos de DE ESTUDO DAS CRIANÇAS
conhecimento para o estudo dos mundos Maria Letícia B. P. Nascimento - FEUSP
sociais das crianças. A articulação e o diá- letician@usp.br
logo não implicam em um apagamento das
diferenças existentes, mas a necessidade Em 1998, os sociólogos britânicos James,
do estabelecimento de novos diálogos e Jenks e Prout apresentaram um levan-
novas propostas de pesquisa e intervenção tamento das representações sociais da
com as crianças. Dessa forma, observa-se infância elaboradas por diferentes pen-
que uma tentativa de abandonar a pers- sadores. Nesse inventário, denominam
pectiva adultocêntrica nas investigações imagens pré-sociológicas aquelas que
com crianças, considerando as suas vozes correspondem a construções históricas –
e culturas como elementos cruciais para e simbólicas – de tipos ideais de criança:
a compreensão dos seus modos de vida e a criança má, a inocente, a imanente, a
mundos sociais. O trabalho de Maria Letí- naturalmente desenvolvida e a incons-
cia Nascimento versa sobre os contributos ciente, concepções construídas entre os
teóricos iniciais da Sociologia da Infância e séculos XIX e XX. O que há de comum
sua influência nas pesquisas com e sobre nessas representações? Marcadamente
as crianças. Lirene Finkler discute a par- o reconhecimento que crianças e adultos
ticipação social infanto-juvenil no Brasil, são diferentes. Indo mais além, as con-
tomando como base as práticas nas Con- cepções hierarquizam as relações sociais
ferências Nacionais e Municipais dos Di- entre a infância e o mundo adulto, enfa-
reitos da Criança e do Adolescente. Juliana tizando a subordinação da infância, com-
Santana discute, a partir de uma pesquisa preendida como “tempo de passagem”,
empírica, as principais contribuições da aos adultos. Além disso, a negatividade
Sociologia da Infancia e da Psicologia do atribuída às características infantis e à
Desenvolvimento para a investigação e fragilidade física e moral reconhecida nas
intervenção com crianças em situação de crianças vão produzir práticas sociais de
rua. Por fim, Vera Vasconcellos objetiva confinamento e proteção. Acrescente-se
compreender, por sua vez, como os con- que foi sendo constituída uma imagem de
ceitos de infância e criança vêm mudando criança com características universais, ou
na Psicologia e influenciando a Educação, seja, “o status da infância tem suas fron-
e como tais mudanças têm marcado os te- teiras mantidas pela cristalização das con-
mas em estudo e as práticas, tanto de pes- venções e discursos presentes nas formas
quisa quanto de ensino, além da atuação institucionais que com ela lidam, como as
profissional dos psicólogos e educadores. famílias, creches, escolas e consultórios/
Pretende-se a partir das discussões imple- clínicas, todas essas, agências designadas
mentadas nesta Mesa aprofundar as inter- e estabelecidas para processar a infância
conexões da Psicologia do Desenvolvimen- como uma entidade uniforme.” (JENKS,
to e da Sociologia da Infância, evidencian- 2002, p.5) Embora as concepções apre-
do as suas potencialidades e as principais sentadas tenham sido originadas em di-
tensões existentes. ferentes autores, e sejam interpretações

779
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

historicamente datadas, elas não excluem categoria na estrutura social que manifes-
uma a outra, mas, ao contrário, muitas ta variações históricas e interculturais; (2)
vezes se mesclam entre si e justificam alterações na sociedade afetam as crian-
algumas das práticas sociais dos adultos ças tanto quanto os adultos; (3) as crian-
até nossos dias. Os sociólogos apresen- ças contribuem ativamente na sociedade,
tam também as imagens sociológicas da embora a natureza de sua contribuição
infância, organizadas em quatro aborda- seja diferente em distintas culturas. A
gens: a infância construída socialmente, passagem de um tipo de abordagem, que
que se opõe à visão positivista e à crença focalizava a criança, para outro, que vai
em significados pré-estabelecidos, isto é, estudar a infância e as crianças como uma
sendo uma construção social, depende categoria social, vai modificar as práticas
dos contextos social, político, histórico sociais e as relações intergeracionais. Na
e moral, o que revela que os grupos de primeira, as crianças, avaliadas por sua
crianças que compõem a infância são va- imaturidade física e mental, são, sobretu-
riáveis; a tribal, que estuda as relações do, controladas tanto nas famílias quanto
sociais das crianças entre pares e as in- nas escolas e creches, tendo reduzidas
terações destes grupos de pares com os suas possibilidades de utilizar as próprias
adultos próximos; a infância como grupo capacidades e de opinar sobre suas vidas.
minoritário, que focaliza as relações de Nesse caso, as instituições dão voz prin-
poder entre adultos e crianças; e a infân- cipalmente aos adultos que delas partici-
cia como estrutura social, que pesquisa a pam, contrariando o princípio que susten-
infância na estrutura social, com ênfase ta que crianças e adultos têm o direito de
na interdependência entre as gerações. serem ouvidos individual e coletivamente
Parece interessante pensar que as qua- sobre as questões que os afetam e têm o
tro abordagens sociológicas trazem em direito de terem suas inquietações leva-
comum um novo paradigma da infância, das a sério pela sociedade (Moss e Petrie,
que deixa de ser vista como um tempo de 2004). Na segunda, são coconstrutoras
passagem para constituir-se como uma da sociedade, conforme a quinta tese
categoria na estrutura social. De acordo de Qvortrup (2011), são agentes sociais.
com os pesquisadores Dahlberg, Moss e A agência é o compromisso construído
Pence (2003), significa que a infância dei- temporalmente por atores de diferentes
xa de ser vista como estágio preparatório contextos estruturais – os quais, através
para ser entendida como um componente da interação de hábito, imaginação e jul-
da estrutura da sociedade, “importante gamento, reproduzem e transformam as
em seu próprio direito como um estágio estruturas em respostas interativas aos
no curso da vida, nem mais nem me- problemas postos por situações históricas
nos importante do que outros estágios” em mudança (EMIRBAYER e MISHE, 1988,
(p.70). Importante notar que a perspec- p.970). Corsaro (2005/2007) destaca que
tiva estrutural da infância, defendida por a utilização desse conceito em casos con-
Qvortrup (1993, 1995, 1999, 2002, 2005, cretos permite romper com abordagens
2009, 2010) fundamenta-se em três as- individualísticas: “a natureza relacional e
serções principais: (1) a infância não é coletiva da agência, tende a suplantar o
exatamente uma fase da vida, mas uma foco no ator individual” (p.3). Argumen-

780
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ta ainda que “o nível de análise para o PARTICIPAÇÃO INFANTO-JUVENIL


estudo da infância e das transições nas NAS CONFERÊNCIAS DE DIREITOS
vidas das crianças devem ser sempre co- DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
letivas, o indivíduo em interação com os NO BRASIL: REFLEXÕES A PARTIR
outros, num contexto cultural” (p.1). Nes- DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA E DA
sa linha, Corsaro propõe o conceito de PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
culturas infantis, “um arranjo estável de Lirene Finkler - UFRGS/FASC,
atividades ou rotinas, artefatos, valores lirenefinkler@yahoo.com.br
e interesses que as crianças produzem e Ana Paula Lazaretti Souza - UFRS
compartilham em interação com os pa- anapaula.lazzaretti@gmail.com
res” (1997). Essas culturas influenciam Débora Dalbosco Dell’Aglio - UFRGS
e são influenciadas pelo mundo cultural dalbosco@cpovo.net
adulto. A tese permite uma modificação Silvia Helena Koller - UFRGS
no olhar para suas atividades cotidianas silvia.koller@gmail.com
das crianças, ou seja, ao invés da fragili-
dade, da incompetência, da negatividade No decorrer dos últimos séculos, a cons-
naturalmente atribuída aos pequenos, é trução da infância implicou a sucessiva
possível formular outras hipóteses, a par- exclusão das crianças das esferas do tra-
tir de suas ações concretas e simbólicas balho, do convívio social com adultos fora
e, mais do que isso, modificar as práticas do círculo familiar e, portanto, da par-
sociais. Moss (2001) afirma que “se esco- ticipação na vida comunitária e política
lhemos entender as crianças como atores (Sarmento, Fernandes, & Tomás, 2007).
sociais, como especialistas em suas pró- Cada vez mais heterogênea, a infância e
prias vidas, então os trabalhos futuros os modos de ser criança tornam-se mais
precisam tornar suas vidas visíveis por plurais, com novos papéis e estatutos so-
meio da escuta das crianças pequenas: ciais, os quais vem sendo estudados tanto
elas precisam participar desses estudos. pela Sociologia da Infância quanto pela
Tendo feito, eu mesmo, trabalho na área, Psicologia do Desenvolvimento, em suas
reconheço que participação e escuta são diversas concepções teóricas. Ao contrá-
conceitos muito complexos e problemáti- rio do que se poderia esperar, há cada vez
cos. Entretanto, há maneiras pelas quais menos autonomia e maior controle, res-
podemos chegar a alguma compreensão tringindo às crianças o exercício da par-
sobre as experiências da pequena infân- ticipação social. Afirma-se a cidadania da
cia nas instituições de educação infantil – infância, e ao mesmo tempo intensifica-
elas vivem suas vidas”. (2001, p.4). Não se -se seu controle simbólico, no sentido de
trata somente de uma contraposição ao limitar seus espaços de atuação e influ-
adultocentrismo, desenvolvido ao longo ência sobre seu contexto social e as deci-
dos séculos, e de visibilização das crian- sões que influenciam suas próprias vidas
ças, mas de reconhecimento da interde- (Bühler-Niederberger, 2010b; Reynaert,
pendência entre gerações. Bouverne-de-Bie & Vandevelde, 2009;
Sarmento, 2004). A presente proposta
Palavras-chave: infância, sociologia da tem como objetivo discutir a participação
infância, relações intergeracionais social infanto-juvenil, a partir do referen-

781
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cial teórico da Sociologia da Infância e da todos os seus membros. Ainda que exis-
Psicologia do Desenvolvimento, tomando ta um conjunto de experiências, iniciati-
como campo empírico de análise as prá- vas e lutas “por/com/das crianças”, o que
ticas nas Conferências Nacionais e Locais contribui para a progressiva inclusão das
dos Direitos da Criança e do Adolescente. crianças na agenda sociopolítica mun-
A partir das legislações CDC (ONU, 1989) dial, sua efetiva participação como pro-
e ECA (Brasil, 1990) a questão deixa de ser tagonistas acontece ainda a passos lentos
se as crianças devem participar, e passa (Sarmento et al., 2007). Para responder a
a ser o como e a finalidade dessa parti- questão proposta, inicialmente, serão ex-
cipação (Hinton, 2008). Assim como no postos importantes conceitos da Sociolo-
artigo de Souza, Finkler, Dell’Aglio e Kol- gia da Infância relacionados ao direito de
ler (2010) a questão geradora é o quanto participação, e definidos os conceitos e
as conferências são espaço que expressa práticas de participação e protagonismo,
avanço nas condições de participação in- conforme problematizados pelo referen-
fanto-juvenil no Brasil. Nesta mesa, a dis- cial da Psicologia do Desenvolvimento. O
cussão será ampliada para a participação referencial da teoria Bioecológica do De-
em nível local e municipal, a partir da ex- senvolvimento Humano (Bronfrenbren-
periência das pré-conferências de Porto ner, 2005) é tomado como parâmetro
Alegre/RS no ano de 2011. Considera-se para o olhar sobre os contextos de partici-
essa reflexão pertinente, tendo em vista pação infanto-juvenil. Após um breve his-
que o direito de participação está pre- tórico acerca das Conferências Nacionais
sente nas legislações sendo, entretanto, dos Direitos da Criança e do Adolescente
menos enfatizado e colocado em prática no Brasil, será discutida a participação de
do que os direitos de proteção e provisão crianças e adolescentes nas conferências
(Hinton, 2008; Murray & Hallet, 2000). A nacionais e municipais. Tal discussão será
participação corresponde ao direito da subsidiada a) pela consulta e análise de
criança ser ativa nas tomadas de decisão documentos – programas e anais das con-
que afetam sua vida (Verhellen, 2000), e ferências disponíveis em sites do Governo
é um tema amplamente problematizado Federal Brasileiro e registros das confe-
pela Sociologia da Infância e de interes- rências municipais de Porto Alegre, e b)
se para a Psicologia do Desenvolvimento. pelo acompanhamento direto do proces-
Ainda que a literatura aponte o cresci- so de participação nas pré-conferências
mento global nas atividades de partici- e conferência municipal no ano de 2011.
pação infanto-juvenil, e um significativo Entre os resultados encontrados no estu-
ambiente político para sustentação de do de Souza et al. (2010), o espaço das
tais espaços (Hinton, 2008), as crianças conferências nacionais parece ser visto
permanecem sendo o único grupo social como do outro, o saber sobre os conteú-
verdadeiramente excluído de direitos po- dos em discussão parece estar com a ge-
líticos expressos (Bühler-Niederberger, ração dos adultos, que as expressa a seu
2010a). A concretização de tal direito re- próprio modo e linguagem. A existência
produz um desafio compartilhado entre de uma linguagem dominante, adulta,
as diversas sociedades: a efetivação de que predomina nos espaços de decisões
formas de participação democrática de políticas, é apontada como uma barreira

782
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para uma mudança sistêmica nos modos e adolescentes, quanto numa perspectiva
de participação (Hinton, 2008). As regras de acompanhamento e monitoramento
fixas e procedimentos que reforçam as re- das ações políticas implantadas. O con-
lações de poder a partir dos adultos, com- junto das discussões a serem apresenta-
petem com um modo mais fluido e lúdico das neste trabalho aponta que a constru-
que caracteriza a infância. Por outro lado, ção de relações democráticas nos espaços
essas prerrogativas de participação num de vida das crianças pode contribuir para
âmbito de conferência implicam em certo a transformação não apenas dos sujeitos/
treinamento anterior em modalidades de atores/crianças no seu momento de vida
participação nos demais espaços de con- presente, mas também para a emancipa-
vívio da criança e adolescente ao longo do ção social e transformação da sociedade.
seu desenvolvimento/socialização (Rogo-
ff, 2005). Entende-se que o direito à parti- Palavras-chave: participação; sociologia da
cipação deve ser estimulado o ano inteiro infância; psicologia do desenvolvimento.
nos diversos microssistemas nos quais Contato: Lirene Finkler, UFRGS/FASC,
crianças e adolescentes se desenvolvem – lirenefinkler@yahoo.com.br
família, escola, comunidade. As pré-con-
ferências proporcionam justamente ex-
periências de participação em ambientes AS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RUA:
comunitários conhecidos das crianças e DIÁLOGOS ENTRE PSICOLOGIA DO
adolescentes, mas que constituem-se em DESENVOLVIMENTO E SOCIOLOGIA DA
contextos mais amplos. São necessários INFÂNCIA
procedimentos flexíveis para possibilitar Juliana Prates Santana - IP/UFBA
a escuta da opinião das crianças e adoles- julianapsantana@gmail.com
centes, assim como proporcionar contro-
le pelas crianças quanto ao destino dado O presente trabalho pretende discutir a
às suas propostas e reivindicações. Essas importância de um diálogo freqüente e
estratégias não devem simplesmente re- próximo entre a Psicologia do Desenvolvi-
plicar as instituições adultas de participa- mento e a Sociologia da Infância na com-
ção política, como os parlamentos locais preensão do fenômeno das crianças em
ou as comissões consultivas, “mas desco- situação de rua. O interesse social e cien-
brir, através do recurso à imaginação in- tífico sobre esta tema teve o seu apogeu
terventora, modalidades de participação no final dos anos oitenta, havendo mais
compatíveis com as culturas infantis, for- de duas décadas de pesquisas, que bus-
mas de comunicação atentas aos modos cavam entre outras questões, caracterizar
de expressão das crianças” (Sarmento et essas crianças, suas famílias e principais
al., 2007, p. 196). Faz-se necessária a utili- atividades desenvolvidas na rua (Rizzini &
zação do lúdico, dos desenhos, de formas Butler, 2003). Inicialmente eram estudos
alternativas de diálogo com o poder cons- que, no âmbito da Psicologia do Desen-
tituído, que deve, por sua vez, estar pron- volvimento e de outras disciplinas, bus-
to a receber e interpretar formas alterna- cavam assinalar os déficts destas crianças
tivas de participação. Isso é relevante tan- quando comparadas com aquelas que vi-
to nos níveis de reivindicação das crianças viam em um contexto “normal” de desen-

783
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

volvimento. Esta perspectiva foi bastante giarem a escuta das vozes das crianças, já
criticada, sendo que muitos estudos fo- que como afirma Vasconcellos (2007, p.
ram realizados no sentido de compreen- 10), “as crianças são, sim, sujeitos plenos
der a rua como um contexto que promove de direito e informantes competentes de
desenvolvimento, sendo que as crianças suas histórias singulares, que com espe-
ali inseridas possuíam muitas caracterís- cificidades próprias expressam variadas
ticas comuns a todas as outras crianças, dimensões culturais, presentes em toda
como por exemplo, o fato de brincarem, ação/atividade humana”. Privilegiar as vo-
de terem um desenvolvimento moral ou zes das crianças, especificamente aquelas
mesmo expectativas de futuro. No entan- em situação de risco ou vulnerabilidade,
to, muitos estudos acabaram por roman- como é o caso das crianças em situação
tizar a vida nas ruas, desconsiderando os de rua, implica em alguns desafios éticos
constrangimentos e perigos presentes e metodológicos, sendo que as metodolo-
neste espaço, e os fatores sociais, histó- gias participativas parecem ser uma valio-
ricos e econômicos que influenciam esta sa contribuição no processo de visibiliza-
condição. A compreensão da realidade ção das vozes dessas crianças (Santana &
das crianças em situação de rua exige a Fernandes, 2011). Além disso, a pesquisa
superação dessas perspectivas antagô- com crianças em situação de rua exige
nicas, que ora demonizam ora romanti- do pesquisador uma postura de reflexi-
zam a realidade dessas crianças. Tal su- vidade constante já que se trata de uma
peração é facilitada no diálogo estreito dupla alteridade (Marchi, 2007), uma vez
entre a Psicologia do Desenvolvimento e que as crianças em situação de rua não
a Sociologia da Infância, na medida em são adultos, mas também não são crian-
que ambas fornecem elementos que au- ças como as outras crianças. Outro ele-
xiliam na compreensão da realidade des- mento que tem aproximado as duas áreas
tas crianças, ao mesmo tempo, que pro- de conhecimento é a investigação sobre
vê subsídios para uma intervenção mais as produções culturais das crianças ou as
qualificada. Para ilustrar esta questão, chamadas culturas de pares. De fato, este
será descrita uma investigação participa- parece ser um tópico de bastante con-
tiva realizada com crianças em situação fluência no contexto brasileiro, tanto em
de rua inseridas em uma instituição de termos teóricos, como metodológicos,
atendimento na cidade de Salvador. Esta sendo o conceito de reprodução interpre-
investigação teve por objetivos investigar tativa o principal elo de ligação (Müller &
a trajetória de vida e o cotidiano institu- Carvalho, 2009). Por fim, um elemento
cional das crianças, assim como as suas crucial na área dos estudos sociais da in-
produções culturais (Santana, 2008). Ao fância parece ser a interdisciplinaridade,
assumir as crianças enquanto atores so- também explicitada na pesquisa e de-
ciais competentes e produtores culturais, fendida por vários pesquisadores como
esta pesquisa explicita elementos que pa- crucial no desenvolvimento da pesquisa
recem ser importantes na convergência sobre a infância e crianças (Prout, 2005;
entre a Psicologia do Desenvolvimento e Carvalho, Müller & Sampaio, 2009). Não
a Sociologia da Infância. Um deles refere- se trata de uma tarefa simples, mas in-
-se à necessidade das pesquisas privile- dispensável. Prout (2005) argumenta a

784
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

necessidade de estudos interdisciplinares PSICOLOGIA DA CRIANÇA E SOCIOLOGIA


para a compreensão das infâncias e das DA INFÂNCIA: PARADIGMAS RIVAIS OU
crianças para além das dicotomias, an- COMPLEMENTARES?
teriormente identificadas pelos teóricos Vera M. R. de Vasconcellos - FE/UERJ
como sendo estruturadoras do campo vasconcellos.vera@gmail.com
da Sociologia da Infância. Para o autor, a
dicotomia entre Psicologia e Sociologia Neste trabalho pretendemos estabelecer
são emblemáticas do embate entre as um diálogo entre os princípios da Psico-
concepções de crianças como indivíduos logia do Desenvolvimento, que estudam
e crianças como produção social. De acor- a infância e as crianças, privilegiando a
do com Prout são particularmente úteis matriz sócio-histórica e cultural do de-
diálogos que explicitem as similaridades e senvolvimento humano e a Sociologia da
as diferenças desses campos, visando ao infância, a partier dos princípios traçados
desenvolvimento de novas abordagens e nos trabalhos mais contemporâneos da
perspectivas teóricas-analíticas. De acor- área (Sarmento &Gouvêa, 2008; Rocha &
do com Sarmento (2007), a interdiscipli- Ferreira, 2011). Iniciamos, por apresentar
naridade deve ser baseada em afinidade a Psicologia do Desenvolvimento como
eletivas, sendo importante recorrer ao uma área do conhecimento das ciências
conhecimento produzido por outras áreas sociais e humanas que se constituiu, his-
de saber, sem que isso implique a nega- toricamente, em diálogo com a Infância.
ção das tensões e contradições. Cabe des- Com ela fala-se de gêneses da origem, do
tacar que a pesquisa e a intervenção com início da infância da Psicologia da Infância
as crianças em situação de rua se bene- (Kohan, 2003). E pergunta-se: o que fez a
ficiam do diálogo cada vez mais próximo Psicologia com o conhecimento acumula-
entre os campos de conhecimento da Psi- do de tanto estudar a criança? o que fez
cologia do Desenvolvimento e a Sociolo- a Psicologia com as imagens de infância
gia da Infância, sendo este aspecto crucial e criança que construiu ao longo de todo
quando se tem em mente uma produção o século XX – Século da Criança? a quem
científica implicada com as necessidades a Psicologia serve/serviu quando fala de
e demandas sociais. Dar visibilidade e voz Infância? E em que momento a Psicolo-
às crianças em situação de rua significa gia deixa de falar das/sobre as crianças e
não apenas um avanço do conhecimento começa a falar com as crianças? (Vascon-
científico, mas um compromisso efetivo cellos, 2008). Com estas questões temos
com a alteração das condições de vida por objetivo compreender como os con-
destas crianças. ceitos de infância e criança vêm mudando
na Psicologia e influenciando a Educação,
Palavras-chave: crianças em situação de rua, e como tais mudanças têm marcado os te-
Psicologia do Desenvolvimento, Sociologia da mas em estudo e as práticas, tanto de pes-
Infância quisa quanto de ensino, além da atuação
Contato: Juliana Prates Santana, IP/UFBA, profissional dos psicólogos e educadores.
julianapsantana@gmail.com Num segundo momento, compreende-
mos a Sociologia da Infância, constituída
na dupla visão de infância como categoria

785
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

geracional construída social e historica- a compreensão sociológica e psicológica


mente e das crianças como atores e au- que a Sociologia da Infância e a Psicologia
tores sociais. Esta outra abordagem das da Criança inscrevem-se no duplo movi-
ciências sociais e humanas tem produzido mento de deslocamento do olhar analítico
discursos que colocam a Educação como e de exploração do objeto que reconfigura
propriedade intrínseca e constitutiva do as tendências da Sociologia e da Psicologia
“ser criança”. Assim procedendo, chama da Educação contemporâneas, colocando
a atenção para se pensar a criança não agora ambas as ciências “do mesmo lado
só enquanto aluno (a) da escola, mas sim da balança”. Busca-se com isso a produ-
como participante de outros lugares da ção de estímulos para o investimento e
vida social e de outros espaços socioedu- ampliação dos estudos da infância, pela
cativos. A Sociologia da Infância aparece prática da interdisciplinaridade. Neste
na contramão de uma Sociologia da Edu- sentido, a presente comunicação apoia-se
cação ou da Família, que sempre teve por nos dados de levantamento bibliográfico
tradição observar as crianças no papel de obtidos na interlocução de dois projetos
aluno ou de filho. Nos aproximamos de de investigação, financiados pela FAPERJ,
uma releitura crítica feita pela Sociologia intitulados: Creche: Contexto de Desen-
da Infância que toma o campo da infância volvimento e Formação de Subjetividade
interpretando as crianças como sujeitos (E-26/110.234/2007) vigência 2007008
em condição de desenhar e interpretar e Agente Auxiliar de Creche: educadores
as suas próprias vidas. Vendo as crianças da infância carioca (E-26/102.961 /2008),
como portas de entrada fundamentais na com vigência 2009-011. Em nossas buscas
reflexão da realidade social contemporâ- verificamos que a Infância está no centro
nea (Sarmento, 2005; 2006). Tal propósi- do pensamento da Psicologia há mais de
to traduz-se numa perspectiva distinta de um século. Muitos foram os caminhos
análise da Educação, da escola ou outros e, portanto, também os descaminhos e
contextos socioeducativos, privilegiando, erros cometidos nessa trajetória, o que
no plano teórico, a análise da situação so- expõe a Psicologia da Infância, mais que
cial das crianças como atores e autores de qualquer outra ciência, às críticas de suas
seu próprio desenvolvimento. No plano jovens parceiras, dentre elas a Sociologia
metodológico, busca-se ouvir as crianças da Infância, na (re)descoberta da Infância.
reconhecendo-se os sentidos e significa- Verificamos também que ainda há muito
dos por elas construídas do ser criança e a fazer para compreender e criar formas
ter direito à infância. Entende-se que em de entender e interpretar o ser humano
ambos os campos teóricos, o foco incide histórico, e dentre eles estão as crian-
prioritariamente na análise da interação ças. Precisamos melhor descrever seu
de crianças versus o dispositivo institucio- processo de desenvolvimento, e de estar
nal, na aprendizagem versus o ensino e na no mundo, ao mesmo tempo analisar, de
criança como ator/autor e sujeito social forma crítica, as ciências a ele dedicadas.
versus o estatuto e papéis sociais por elas Entendemos que os conceitos que vão
assumidos (Ferreira, 2008). Produzida na sendo reconstruídos no interior das te-
visibilidade e reconhecimento epistemo- orias, sejam elas da Psicologia ou da So-
lógicos das crianças e seus modos de vida, ciologia, passam a interferir diretamente

786
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nas práticas educiacionais, nas premissas MR LT05


institucionais, alterando interesses cultu-
rais, sociopolíticos e econômicos a’i exis-
Mesa Redonda
tentes (Vasconcellos, 2006). Mais que pa-
radigmas rivais, que competem entre si,
MR LT05-1499 - FAMÍLIA:
a Sociologia da Infância e a Psicologia do
DESENVOLVIMENTO E PROMOÇÃO DA
Desenvolvimento, que estuda a criança,
SAÚDE
colaboram com a Educação no momento
em que suas reflexões expandem e apon- Júlio César dos Santos - UFRB
tam espaços de diálogo que ampliam o economiadasaude@ufrb.edu.br
conhecimento sobre/da Infância. Temos Silvia Renata Lordello - NASAD
por compromisso comum situar a Infân- srlordello@terra.com.br
cia no centro das reflexões das Ciências Etiene Oliveira Silva Macedo - UnB
do Homem (Vasconcellos, 2008). Este de- etienemacedo@gmail.com
safio conceitual é um empreendimento
ético e político, que atravessa as práticas Esta mesa será composta por três pesqui-
educacionais influenciadas pelas dife- sadores de instituições diferentes. O foco
rentes concepções teóricas encontradas central dos estudos realizados tem proxi-
no levantamento bibliográfico realizado. midade com a temática da família e inter-
Acreditamos que é o desafio de impedir faces no desenvolvimento e na saúde. Esta
toda e qualquer simplificação e redução última tem conceitos que historicamente
na forma de se pensar o ser humano e foram se formando. Para a Organização
a(s) ciência(s) a ele dedicadas, que têm Mundial de Saúde – OMS (1948) a saúde
inspirado nossas reflexões e pesquisas é um completo bem estar físico, mental
com e sobre as crianças. Simultaneamen- e social. Esse conceito carrega um anseio
te, as discussões teóricas das Ciências político dos movimentos sociais do pós-
Humanas atravessam as práticas sociais -guerra. Uma das críticas a esse conceito
influenciadas pelas perspectivas éticas e era que se constituía um desafio aos policy
políticas das diferentes concepções teó- markers da saúde. Em decorrência da pri-
ricas de desenvolvimento humano. Por- meira objeção, surge o conceito de Chris-
tanto, enquanto estudiosos da Infância topher Boorse (1977): saúde é ausência de
precisamos construir novos patamares doença. Mas como a saúde era a contra-
complementares de compreensão, pois partida da doença o objetivo dos líderes
quando os paradigmas disputam entre si de saúde era somente diminuir os males
a hegemonia do conhecimento das pecu- da região sob sua direção. A resposta foi
liaridades da Infância, são as crianças que A Conferência de Alma-Atá, que ampliou
perdem e com elas perdemos todos nós o conceito da saúde para a esfera política
como sociedade. e social. Em seu relatório final destaca os
cuidados primários de saúde, nos seguin-
Contato: Vera M. R. de Vasconcellos, FE/UERJ, tes parâmetros: educação em saúde, nutri-
vasconcellos.vera@gmail.com ção adequada, saneamento básico, cuida-
dos materno-infantis, planejamento fami-
liar, além da participação da comunidade

787
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

na construção da política de saúde. Nesse de adolescentes foi satisfatório conside-


sentido, a psicologia do desenvolvimento rando o custo-efetividade. Esse procedi-
humano aborda parâmetros semelhantes. mento é favorável para implantação do
Uma de suas dimensões, a sócio-histórica, programa como política pública, pois atin-
sociogenética (Vygotsky, 1984) está con- ge um maior número de pessoas com um
templada pelo construto sociocultural, efeito desejável, reduzindo custos.
que por sua vez, se refere a relevância do
sujeito ativo, co-construtivo e participante
de seu próprio desenvolvimento (Valsiner O DESENVOLVIMENTO FAMILIAR: UMA
2007). Nesse aspecto, o desenvolvimento VISÃO DOS ADOLESCENTES
será facilitado pela família, como unidade Júlio César dos Santos - UFRB
microssistêmica dos primeiros cuidados economiadasaude@ufrb.edu.br
em saúde como também contribuidora Financiamento: CAPES
para o desenvolvimento humano. Estes
três entes: a visão ampla da saúde, a psico- Os serviços de planejamento familiar tra-
logia do desenvolvimento e sua dimensão dicionais atuam em função da vida repro-
cultural contribuem para os estudos em dutiva com responsabilidade exclusiva-
desenvolvimento familiar. Para debater mente feminina e prioridade social. As op-
investigações próximas a esse conceito um ções contraceptivas mais utilizadas pelas
dos autores discutirá que o investimento mulheres são sugeridas pelos serviços de
na gravidez representa uma grande con- saúde e requerem desenvolvimento tec-
tribuição à promoção de saúde, pois an- nológico e monitoramento médico. Além
tecipa conteúdos e atitudes que preparam das falhas dos atuais modelos de planeja-
os pais para o exercício da parentalidade mento familiar, a presença dos benefícios
saudável, tão desejável e necessária à che- sociais durante a gestação tem sido favo-
gada dos filhos. O outro autor tem uma rável ao aumento do número de adoles-
proposta: pensar a promoção da saúde em centes grávidas, provocando problemas
estreita interdependência com os fatores educacionais como a evasão e um ônus
psicossocioambientais e a psicologia na excessivo para o sistema previdenciário. O
interface com a atenção integral à saúde salário-maternidade é o segundo benefí-
dos adolescentes, entendendo que uma cio mais pago no Recôncavo da Bahia. Por-
permanente reflexão fomenta na prática, a tanto o objetivo geral deste estudo é ela-
possibilidade, aos adolescentes, da vivên- borar um modelo de avaliação e interven-
cia sócio-afetiva e o acesso a variados tipos ção fundamentadas no desenvolvimento
de expressões e autodescoberta de habi- familiar para famílias de baixa renda de
lidades, potencialidades e limitações. Já o Santo Antônio de Jesus - BA, com impac-
último autor propõe que o programa de tos positivos na educação básica dividida
planejamento familiar segundo a perspec- entre a família e a escola. Os participan-
tiva do desenvolvimento pode ser um mé- tes do estudo foram adolescentes e suas
todo mais adequado para atingir as metas famílias de baixa renda de Santo Antônio
do governo em relação ao planejamento de Jesus-BA, divididas em três grupos: a)
familiar e as melhorias sociais. O modelo grupo de famílias que utilizam os progra-
investigado em sua pesquisa com grupos mas sociais do governo federal e estavam

788
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

abaixo da linha da pobreza; b) grupo de dos dados foi dividida em três etapas: es-
famílias cujos adolescentes estavam nas tudo de caso; efeito da intervenção intra-
escolas públicas c) grupo de famílias que -grupo e inter-grupo. Entre as questões de
utilizaram o salário maternidade. O nú- pesquisa estão: O planejamento familiar é
mero de famílias participantes por grupo uma política de saúde que não atinge as
foi definido a partir dos alunos - adoles- populações da baixa renda? Nestes des-
centes de escolas públicas estaduais que níveis educacionais o que ocorre com o
consentiram na participação da pesquisas. processo cultural? Desta forma, num am-
Para garantir um poder estatístico de 80% biente onde o relacionamento entre os
a amostra foi de 150 famílias em média di- membros se dá de forma harmoniosa é
vididas nos grupos. O estudo foi iniciado possível que adolescentes o tenha como
com a realização de um estudo piloto. A o ideal para suportar as transformações
avaliação do sistema familiar foi realizada que ocorrem neste período de transição
por um questionário com itens demográfi- da fase de criança para o início da vida
cos e econômicos da população envolvida. adulta. A qualidade da relação com a fa-
Dados primários: a avaliação do sistema mília tem um impacto importante em
familiar foi realizada por um questioná- vários aspectos da vida do adolescente
rio com questões demográficas e sócio- como, por exemplo, na formação do au-
-econômicas da população como idade toconceito que, segundo Peixoto (2004), é
reprodutiva, número de filhos, urbano/ desenvolvido por influência das avaliações
rural. Os instrumentos de pesquisa foi in- feitas por diferentes membros da família
ventário do clima familiar (ICF – Teodoro, relacionadas com as representações que
2008). Para a intervenção foi desenvolvido os adolescentes fazem de si mesmo. As re-
um programa baseado na terapia familiar lações familiares foram o foco dos proce-
consistindo de orientações sócio-educati- dimentos de intervenção. Durante a apli-
vas seguida de tarefas para que os parti- cação dos procedimentos de intervenção,
cipantes percebam o efeito da mudança. realizada prioritáriamente nas escolas, foi
Através de sessões realizadas com a famí- possível perceber a dificuldades que os
lia serão focalizados os seguintes temas: adolescentes tinham de falar sobre os con-
educação, lazer, habitação, relação fami- flitos familiares. A principal preocupação
liar, valores, orçamento doméstico, saúde, era se os pais teriam acesso as informa-
sexualidade e afetividade. Este momento ções coletadas. Essa dificuldade demons-
é de discussões com o grupo familiar nas trou que os problemas familiares eram
conclusões em que chegaram cada mem- ciclicos e que romper com os mesmos não
bro da família sobre as situações de con- dependeria apenas das ações da interven-
flito, os fatores externos e internos que ção, mas sim da capacidade de cada estu-
interferem no seu desenvolvimento e na dante de aplicar as orientações recebidas.
unidade familiar. Diante disto, será reali- O Programa de Planejamento familiar na
zada dinâmica de grupo que promovam a Perspectiva do Desenvolvimento tem o
conscientização sobre os processos espe- formato de passo a passo, constituído de
cíficos e amplos abordados nestas ações. atividades realizadas pelos participantes,
As sessões de orientação social educativa sendo os mesmos a gente de sua própria
tiveram duração de 60 minutos. A análise transformação. Esse modelo aborda as

789
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

diversas questões do desenvolvimento evidenciou que o trabalho com grupos de


familiar tais como: afetividade; conflito; adolescentes foi satisfatório considerando
comunicação; orçamento doméstico; mo- o custo-efetividade. Esse procedimento
radia; segurança; sexualidade; educação é favorável para implantação do progra-
e saúde. Através do programa espera-se ma como política pública, pois atinge um
mudanças nas relações familiares e que maior número de pessoas com um efeito
o desenvolvimento da família seja plane- desejável, reduzindo custos.
jado. Os resultados demonstram inicial-
mente que as relações afetivas podem ser Palavras-chave: planejamento familiar,
definidas como fatores de proteção para afetividade, conflito
o desenvolvimento dos adolescentes, Contato: Julio César dos Santos, UFRB,
evitando ou diminuído o impacto dos di- economiadasaude@ufrb.edu.br
versos problemas emocionais que podem
surgir. Os resultados foram mais efetivos
na preparação desse adolescentes para ADOLESCÊNCIA E PROMOÇÃO DA
a construção de suas famílias. O planeja- SAÚDE: IMPLICAÇÕES CONCEITUAIS
mento realizado por cada adolescente foi E PRÁTICAS PARA A ATUAÇÃO DA
útil no sentido de demonstrar todos os PSICOLOGIA
elementos que precisam ser considerados Etiene Oliveira Silva Macedo - UnB
para o desenvolvimento familiar. Os resul- etienemacedo@gmail.com
tados precisam ser analisados a partir das Financiamento: CNPq
limitações do estudo como a dificuldade
de conciliação do processo de intervenção O conceito de adolescência faz referên-
com o calendário escolar, o que muitas cia a variados indicadores: faixa etária,
vezes atrasou a aplicação dos procedi- período da vida, categoria social, que de
mentos. Os resultados demonstram que alguma forma, estão vinculadas aos li-
o programa de planejamento familiar na mites etários, para marcar esse período
perspectiva do desenvolvimento contribui transicional entre infância e a maturida-
com o bem estar de adolescentes, melho- de. O clássico, História social da criança
rando de forma significativa a afetividade e da família (Ariès, 1981), mostra como a
entre os mesmos, e suas respectivas famí- adolescência começa a ser privilegiada no
lias. Assim, a intervenção contribuiu para século XVIII quando infância e adolescên-
a redução dos sintomas depressivos e me- cia ainda não eram diferenciadas e, como
lhora na saúde percebida dos adolescen- ganha atenção na sociedade ocidental ca-
tes. Esse resultado também foi acompa- pitalista, durante o século XX. Para a Orga-
nhado por uma melhora significativa nas nização Mundial de Saúde, a adolescência
relações familiares. Esses resultados são é o período entre os 10 e 19 anos, marca-
efetivos e já sugerem que o programa de do por mudanças biopsicossociais (WHO,
planejamento familiar segundo a perspec- 1975). O enfoque biomédico caracteriza
tiva do desenvolvimento pode ser um mé- esse período como marcado por intensas
todo mais adequado para atingir as metas mudanças físicas, psicológicas e sociais,
do governo em relação ao planejamento cujo fio condutor, é a puberdade, que,
familiar e as melhorias sociais. O modelo nessa perspectiva tem seu fim e início de-

790
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

marcados. Do ponto de vista jurídico, o foque das ações torna-se, deste modo, es-
Brasil fez avanços, ao compreender esse tritamente verticalizado e limitado (Burt,
período como aquele que ocorre dos 12 1998). Reconhecendo a diversidade de
aos 18 anos e conceber crianças e adoles- experiências, condições de vida, carac-
centes como sujeitos em condição pecu- terísticas raciais, étnicas, econômicas e
liar de desenvolvimento, por isso, inimpu- culturais, dentre outras, o Ministério da
táveis nos âmbitos civil e criminal (Brasil, Saúde adotou a expressão “adolescências
1990). Diversas áreas do conhecimento e juventudes”, com o objetivo de compre-
procuram então inscrever essa adoles- ender essa multiplicidade de fatores, num
cência num fenômeno explicável, e vão continuum, que implica em experiências
se instituindo assim, a normativa jurídica, diferenciadas com significados específi-
pedagógica e médica, que visam oferecer cos (Brasil, 2010, p. 46). Nessa perspecti-
os contornos para esse conceito. Embora va, para além de extirpar os “males” que
haja uma multiplicidade de olhares, é con- acometem essa população, sugere-se que
senso que se trata de um momento dis- as ações considerem três dimensões: a
tinto no processo de desenvolvimento hu- macrossocial, relacionada às questões de
mano, entre a infância e a vida adulta. Fato classe, desigualdades, gênero e etnia; a
é que a temática da adolescência mobiliza institucional, que diz respeito aos disposi-
as sociedades. Na atualidade, comumente tivos de ensino, às relações produtivas e
encontramos definições para os adoles- de mercado e a biográfica, inscrita na tra-
centes como incompreensíveis, inacessí- jetória pessoal do adolescente. Assim, ao
veis ou difíceis, presentes no cotidiano, se desenvolver ações voltadas para esses
por meio do discurso de pais, profissionais sujeitos é necessário colocar em questão
da saúde e educação e nos veículos de co- imagens estigmatizadas que atravessam o
municação. Para Rios (2002), vigora nos conceito de adolescência. Compreendê-la
dias atuais o caráter adultocêntrico, que a partir de modelos socialmente desfa-
concebe uma adolescência irresponsável, voráveis, alude a uma forma equivocada
instável, rebelde e imatura. A concepção de abordagem, pois reafirma um modelo
de adolescência subjacente a qualquer estereotipado de ser adolescente (Toneli,
serviço oferecido a essa população traz, 2004). No estudo em questão, pretende-
pois, implicações para as atividades que -se propor a concepção de adolescência
vão ser realizadas. No campo das políti- como uma categoria situada no contexto,
cas de saúde, por exemplo, a Organização o que possibilita sua despatologização. A
Pan-americana de Saúde, observa que as perspectiva da teoria histórico-cultural,
ações voltadas para os adolescentes limi- desenvolvida por Vygotsky (1996) con-
tam-se à educação pela informação em cebe esse “momento”, no processo do
relação a comportamentos problemáticos desenvolvimento humano como uma ca-
específicos, tardiamente, quando estes já tegoria gerada pela interação das pessoas
comparecem como uma questão de saú- com o seu meio. Durante a adolescência,
de pública, evidenciados em dados epide- transformações significativas ocorrem. Ao
miológicos. É o caso das ações que visam à longo do desenvolvimento humano as for-
prevenção de doenças sexualmente trans- ças motrizes é que vão pôr em movimento
missíveis, uso de drogas e violência. O en- os comportamentos. Em cada nova ida-

791
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de não só se modifica o comportamento, dos adolescentes, entendendo que uma


como também as próprias forças motrizes permanente reflexão em relação a esses
também são modificadas, a partir de no- posicionamentos conceituais fomenta na
vos objetos incitadores que são criados prática, a possibilidade, aos adolescentes,
pelo homem. Na adolescência se mani- da vivência sócio-afetiva e o acesso a va-
festam as relações entre as necessidades riados tipos de expressão, autodescoberta
biológicas e as constituídas historicamen- e o encontro com suas próprias habilida-
te, que, dada à multiplicidade de interes- des, potencialidades e limitações (Traver-
ses que vão se desenvolvendo, cooperam so-Yépez & Pinheiro, 2002).
para a ocorrência de profundas mudan-
ças nessas necessidades e aspirações. De Palavras-chave: adolescência, promoção da
acordo com o autor, é nessa fase que vão saúde, Sistema Único de Saúde
emergir novas possibilidades, novos obje- Contato: Etiene Oliveira Silva de Macedo,
tos capazes de modificar os interesses e Secretaria de Estado de Saúde-DF, UnB,
incitar novas necessidades, até então des- etienemacedo@gmail.com
conhecidas da criança. Sugerindo, então,
pensar os processos de subjetivação na
adolescência a partir da abordagem his- IMPLANTAÇÃO DE PRÉ-NATAL
tórico-cultural de Vygotsky e autores con- PSICOLÓGICO NO GRUPO DE
temporâneos (González Rey, 2003; Madu- ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UMA
reira & Branco, 2005, dentre outros) na in- VISÃO INDISSOCIÁVEL ENTRE SAÚDE E
terface com a condição humana, em lugar DESENVOLVIMENTO HUMANO
da natureza humana, pretende-se discutir Silvia Renata Lordello - NASAD
sobre a inserção da psicologia no âmbito srlordello@terra.com.br
do sistema único de saúde, com os servi-
ços oferecidos a essa população. Como as Numa perspectiva desenvolvimental, o
ações desenvolvidas por esse profissional investimento na gravidez representa uma
podem favorecer o desenvolvimento inte- grande contribuição à promoção de saú-
gral desses sujeitos, conforme preconiza de, pois antecipa conteúdos e atitudes
a normativa constitucional? Para além da que preparam os pais para o exercício da
simples transposição do modelo clínico parentalidade saudável, tão desejável e
hegemônico da psicoterapia individual, necessária à chegada dos filhos. Sendo
centrada no modelo curativo, problema- esta uma transição ecológica das mais
tiza-se a necessidade de um reordena- significativas, a gravidez é um período de
mento prático e também paradigmático grandes transformações, de mudanças fí-
da Psicologia (Boing, 2009), de modo que sicas e emocionais, de planejamento de
contribua para a transformação social e vida, ressignificação de papéis e de re-
para legitimar a condição de sujeitos em lacionamentos. As vivências do período
desenvolvimento dos adolescentes. A pro- gravídico podem ocorrer de forma angus-
posta é pensar a promoção da saúde em tiante porque não se limitam ao plano
estreita interdependência com os fatores orgânico, mas remetem à configuração
psicossocioambientais e a psicologia na subjetiva e à significação da maternidade.
interface com a atenção integral à saúde A intervenção psicológica ao longo do ciclo

792
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gravídico puerperal, que compreende não universitários. O que há de comum é a ne-


só o pré-natal, mas inclui ainda o parto e cessidade de escuta e diálogo e o espaço
o puerpério, vem se mostrando benéfica, de acolhimento das angústias vivenciadas
como processo privilegiado de construção pelas gestantes, o que muitas vezes não é
e compreensão do sentido subjetivo da contemplado nos serviços. De acordo com
maternidade e da complexidade de emo- Maldonado (2002), um grupo que atue
ções envolvidas nesta elaboração psíquica. com gestantes deve preconizar a expressão
Além disso, a natureza profilática da in- de sentimentos positivos e negativos que
tervenção psicológica junto a este público envolvem a gestação e compartilhar vivên-
tem apresentado uma rica contribuição à cias comuns em relação à maternidade e
prevenção da depressão pós-parto e ou- às modificações conseqüentes. Segundo
tras sintomatologias puerperais que se a autora, é pelo manejo da ambivalência
alimentam de sinais ansiógenos, expres- afetiva que se minimizam sentimentos de
sos ao longo da gestação. Uma vez não culpa. Ao contrário de ignorá-los, é aco-
tratados, estes sinais podem exacerbar-se lhendo o que há de negativo e hostil que
na forma de quadros patológicos. O fato haverá a oportunidade de ressignificá-los,
de a gestação desencadear estados orgâ- em processo de maternagem sadia, não
nicos e emocionais intensos faz com que idealizada, que inclua imperfeições e inse-
este público seja alvo de intervenções de guranças e que permita a construção pro-
diferentes naturezas. Segundo Serruya, gressiva de sentimentos, defendendo uma
Cecatti e Lago (2004), nos serviços públi- vinculação afetiva que ocorre por conquis-
cos de saúde, inicialmente o trabalho era ta e não por instinto. A historicidade das
voltado à gestante com vistas ao cuidado intervenções psicoprofiláticas com relação
infantil. A saúde da mulher ganhou desta- à gestação sempre estiveram limitadas à
que somente em 1983 com a criação do facilitação do parto, por este demandar
Programa de Assistência Integral à Saúde tentativas de redução dos sintomas ansió-
da Mulher (PAISM). Em 2000, foi instituído genos envolvidos, como apontam os estu-
o Programa de Humanização no Pré-natal dos de Maldonado (2002). De acordo com
e Nascimento (PHPN), que preconizava a Bortoletti (2007), há diferenças entre cur-
humanização da assistência obstétrica e sos de gestantes oferecidos por psicólogos
neonatal como condição privilegiada para como parte de seus serviços e a psicopro-
o adequado acompanhamento do parto e filaxia denominada como pré-natal psico-
puerpério, mas que na visão dos autores, lógico. Para a autora, o curso de gestantes
permanece um desafio à assistência por difere em objetivo e estrutura, pois traba-
configurar-se ainda em modelos restritivos lha com aulas e conteúdos pré-definidos
medicalizantes e hospitalocêntricos. Há na para casais grávidos e gira em torno de
literatura, várias iniciativas em torno de uma proposta informacional com diferen-
atendimento às gestantes (Durães-Pereira, tes profissionais, cada qual esclarecendo
Novo & Armond, 2007; Melleiro & Gualda, sobre sua área. A intenção é que represen-
2004; Nagahama & Santiago, 2006; Ser- te um investimento no período pré-natal
ruya, Cecatti & Lago, 2004) que enfatizam que instrumentalize teoricamente o casal
avaliações dos programas destinados à para as vivências futuras de parto, primei-
gestantes na saúde pública e em hospitais ros cuidados com o bebê recém-nascido e

793
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o atendimento a dúvidas específicas pelos a partir das necessidades apontadas por


especialistas. O pré-natal psicológico, de adolescentes grávidas de uma comuni-
acordo com Bortoletti (2007), tem como dade do entorno do DF. O grupo já é ati-
objetivo a prevenção de transtornos psico- vidade regular do Programa de Atenção
lógicos, que contemple as angústias perti- Integral à Saúde do Adolescente (PRAIA)
nentes ao casal grávido que, uma vez ali- desta regional e é desenvolvido em uma
viadas, permitirão a vivência saudável do Unidade Básica de Saúde. O programa é
ciclo gravídico puerperal. Ao contrário do coordenado por uma médica ginecolo-
curso de gestantes, o pré-natal psicológi- gista que participou junto à psicóloga da
co não deve privilegiar somente aspectos condução dos encontros. Participaram
informativos, mas deve incluir ainda um das sessões uma média de 25 gestantes
trabalho corporal com vistas a priorizar a com idades entre 14 e 18 anos. Foram
exteriorização e expressão dos conteúdos realizados sete encontros, contemplando
psíquicos envolvidos, interpretados à luz temáticas como: desenvolvimento do feto,
da psicodinâmica do ciclo gravídico puer- dor do parto, comunicação pais e filhos e
peral. De acordo com a autora, o trabalho educação. Três encontros foram interdis-
pressupõe uma personalização e evita a ciplinares, contando com profissionais de
organização diretiva por conteúdos aprio- áreas afins como nutrição, enfermeira e
rísticos ao casal, entretanto é possível o dentista. Os companheiros das gestantes
atendimento a grupos, desde que obser- eram solicitados a participar, bem como as
vadas as indicações de adequação desta mães ou tias, porém ao longo das sessões,
proposta aos participantes em questão. por se tratarem de grupo aberto, houve
O conceito de pré-natal psicológico vem uma média de 5 companheiros por encon-
sofrendo interferências do contexto sócio- tro. Os resultados obtidos demonstraram
-cultural, e em nível de aplicabilidade, re- que as gestantes, a cada sessão, validavam
cebe a contribuição atual dos primeiros a participação nos encontros, relatando
delineamentos na intervenção psicológica várias mudanças na relação com o bebê,
baseada em seus pressupostos. O presen- diminuição de angústias e fortalecimento
te trabalho tem por objetivo realizar uma da rede social de apoio. Foram discutidas
proposta de intervenção que se baseia a inserção de um trabalho de promoção
em pressupostos do pré-natal psicológi- de saúde em comunidade, visando a psi-
co, com vistas a acolher as angústias das coprofilaxia da clientela, bem como a rele-
adolescentes gestantes e oportunizar um vância de propostas de intervenção psico-
espaço de expressão das vivências afetivas lógica, do ponto de vista social e científico,
com o bebê, além da inclusão de esclare- favorecendo a vivência saudável da rela-
cimentos de cunho informacional a respei- ção mãe-bebê.
to do processo gestacional. Voltada para
acolher comunidade do entorno do DF, a Palavras-chave: gestação, psicoprofilaxia,
proposta sofreu adaptações com vistas à maternidade
exeqüibilidade. Buscando investigar e in- Contato: Silvia Renata Lordello, Núcleo de
tervir sobre tais transformações, o traba- Atenção Integral à Saúde de Adolescentes -
lho consiste de uma pesquisa qualitativa Secretaria de Estado da Saúde, UnB,
sobre programa de intervenção elaborado srlordello@terra.com.br

794
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

MR LT02 cognitivo. Este entendimento de narrati-


va como mediador para o desenvolvimen-
Mesa Redonda to em distintos contextos e situações é o
adotado nesta mesa redonda. Assim, di-
ferentes espaços criados para narrar são
MR LT02-704 - NARRATIVA,
descritos: no contexto da escola infantil,
DESENVOLVIMENTO E INTERVENÇÃO
a mãe e seu filho contam-se mutuamente
uma história e a habilidade narrativa da
Recentemente, os processos através dos criança, assim como o estilo materno de
quais as pessoas constroem significados narrar, foram analisados com referência
sobre o mundo em que vivem e sobre si à coerência narrativa de ambos e aos in-
mesmas têm merecido destaque na pes- dicadores do desenvolvimento da teoria
quisa sobre o desenvolvimento. A visão da mente; uma oficina do conto foi criada
de desenvolvimento como um processo no contexto de uma instituição de acolhi-
interativo, mediado pela cultura, contex- mento para investigar como a mediação
to, linguagem e interação social tem sido do outro social possibilitou o desenvol-
um enfoque prevalente no atual campo vimento do enredo narrativo, analisado
do desenvolvimento cognitivo (Hudson, através dos aspectos estruturais e conver-
Lucariello, Fivush & Bauer, 2004). Nes- sacionais da narrativa, e por meio deste
ta linha, a linguagem é entendida como enredo o acesso às respectivas histórias
emergindo do progressivo conhecimento de vida; narrativas autobiográficas de
que a criança tem sobre o mundo que a pré-adolescentes sobre experiências en-
cerca e, por sua vez, estas emergentes volvendo emoções são analisadas quanto
habilidades linguísticas mudam a forma a sua coerência e relacionadas ao hábito
como elas interagem com os outros. A de conversar sobre emoções com os pais
linguagem é entendida como um instru- no contexto de suas casas. Os efeitos des-
mento representacional para ambos, a se contexto conversacional nas autobio-
comunicação com os outros e a organi- grafias são discutidos; grupos online sín-
zação da própria cognição. Dentro deste cronos foram criados no contexto escolar
enfoque, a narrativa ocupa atualmente para investigar o processo interativo de
um lugar de destaque uma vez que seria, construção de identidades de gênero de
nas palavras de Bruner (2002), uma for- adolescentes. O acesso a estas constru-
ma não somente de representação, mas ções foi feito através de microanálises das
de constituição da realidade. Definir nar- narrativas interacionais produzidas pelos
rativa, no entanto, não é uma tarefa fácil, adolescentes. Os exemplos trazidos sobre
uma vez que o termo narrativa carrega os usos da narrativa em vários contextos
consigo vários significados e é usado de e para a investigação de vários aspectos
modos variados por diferentes discipli- da organização do self indicam a impor-
nas. Uma das formas de considerá-la é tância da utilização desta ferramenta para
como uma ferramenta mediacional que ampliar as possibilidades de desenvolvi-
opera entre os indivíduos e grupos e a mento e ao mesmo tempo pensá-la como
realidade tendo, como consequência, um ferramenta de intervenção.
poderoso impacto no desenvolvimento

795
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

MICROANÁLISE DE NARRATIVAS determinada identidade. Assim, questões


INTERACIONAIS CONSTRUÍDAS POR culturais – normatizantes e reguladoras
ADOLESCENTES EM AMBIENTE VIRTUAL – direcionam o indivíduo a determinadas
Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS identidades. Isso não quer dizer que as
charlestonbordini@yahoo.com.br pessoas não questionem essas repetições,
oferecendo resistência às construções es-
Financiamento: CNPq
tabelecidas e fixadas pela sua própria rei-
A linguagem é fundamental tanto na trans- teração (Butler, 1999). É esse processo in-
missão quanto na construção das catego- terativo de construção das identidades de
rias de classificação da realidade e das con- gênero, com suas repetições, resistências
cepções culturais. Conforme Bruner (1998, e ambiguidades, que se procurou abarcar
não há mundo independente da atividade na pesquisa aqui descrita. O objetivo do
mental humana, da linguagem, pois é atra- presente trabalho é apresentar e discutir
vés de procedimentos simbólicos que o ser a microanálise de narrativas interacionais,
humano constrói a realidade. Isto é, os sig- revelando os benefícios dessa técnica para
nificados não provêm das coisas, mas são o estudo das identidades. Apresenta-se
fruto da linguagem, que as classifica (Hall, um recorte de um estudo realizado acer-
1997). Quando, àquilo que ainda não tinha ca das concepções dos adolescentes sobre
sido categorizado, se atribui um significa- o que é ser homem e o que é ser mulher
do baseado em padrões vigentes, não se atualmente. Neste, foram realizados 6 gru-
pode esquecer que esses padrões foram pos focais online síncronos, através do pro-
instituídos justamente na linguagem. Evi- grama de bate-papo MSN. Participaram 41
dencia-se, assim, o poder da linguagem, adolescentes, com idades entre os 14 e os
enquanto espaço de construção e de hie- 15 anos, estudantes de uma escola esta-
rarquização das realidades. Nesse proces- dual e de uma escola particular de Porto
so, destaca-se o papel na narrativa, visto Alegre (RS), divididos em 2 grupos de ado-
que o indivíduo, ao construir histórias e lescentes homens, 2 de adolescentes mu-
ter contato com as histórias dos outros, dá lheres e 2 mistos. Os grupos tiveram lugar
sentido à sua experiência e à sua realidade na sala de informática das escolas em que
(Bruner, 1997). Além de uma prática social, eles estudavam e foram moderados pela
o contar histórias é uma atividade organi- pesquisadora. Esta e todos os adolescentes
zadora da vida mental do sujeito, através tinham um computador à sua disposição,
da qual ele conhece a si mesmo (Lopes conectado ao MSN. A discussão era realiza-
de Oliveira, 2006). Dessa forma, observa- da por escrito e iniciava com a questão de
-se a importância da interação narrativa abertura proposta pela moderadora: “Con-
na construção das identidades. As identi- tem histórias que vocês acham que mos-
dades de gênero, por exemplo, não estão tram bem o que é ser homem ou o que é
contidas nos indivíduos. Estas são produ- ser mulher hoje”. As narrativas produzidas
zidas e, ao mesmo tempo, reguladas pelo mediante a interação entre os adolescen-
discurso (Butler, 2003). Ou seja, através da tes e a moderadora foram microanalisadas
repetição de normas ou práticas que, em (cf. Bamberg, 2002). Tal técnica conta com
uma dada cultura, são tidas como cons- três níveis de análise das narrativas: (a) um
tituintes de uma identidade, produz-se nível com foco nas posições e nos papéis

796
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

em que os personagens das histórias e si- predominância de concepções tradicio-


tuações contadas são colocados pelo gru- nais sobre o masculino e o feminino, em
po; (b) um nível no qual se analisam as po- especial a associação entre ser homem e
sições e os papéis assumidos pelos compo- ter uma vida heterossexual intensa. No
nentes do grupo – uns em relação aos ou- entanto, essa técnica de análise também
tros – durante as interações; e (c) um nível revelou questionamentos e relativizações
que aborda as posições dos participantes desses discursos culturais hegemônicos, já
frente aos discursos culturais hegemôni- que, m alguns momentos, personagens e
cos e a influência destes na construção das participantes mulheres foram apresenta-
identidades dos membros do grupo. Neste das em papéis de agente e posicionadas
trabalho apresenta-se uma microanálise ativamente, enquanto personagens e par-
de dois trechos considerados ilustrativos ticipantes homens foram apresentados em
do processo de construção das identida- papéis de receptor e posicionados passiva-
des de gênero dos adolescentes partici- mente. A microanálise das narrativas mos-
pantes. Esses trechos de interação foram trou que os adolescentes não apenas repe-
produzidos em dois dos grupos focais on- tiam, mas reelaboravam e construíam di-
line realizados. Os grupos contavam com ferenças não só entre homens e mulheres,
adolescentes de ambos os sexos; sendo mas entre as próprias mulheres e entre os
um composto por alunos da escola públi- próprios homens. Isto é, suas identidades
ca e outro, da escola privada. As narrativas de gênero não eram fixas, pois as masculi-
contidas nos trechos microanalisados não nidades não eram produzidas unicamente
correspondiam à narrativa prototípica, tra- em contraposição às feminilidades, mas
tando-se, algumas vezes, de contações de em relação com outras masculinidades, o
eventos futuros, presentes, hipotéticos ou mesmo tendo ocorrido na produção das
compartilhados (Georgakopoulou, 2007). feminilidades. Assim, a microanálise per-
Além disso, a linguagem utilizada nesses mitiu o acesso aos movimentos que fazem
trechos caracterizou-se pela fragmenta- parte do processo de construção das iden-
ção e pela pouca elaboração. Tais aspec- tidades de gênero e evidenciou o papel da
tos podem ser atribuídos ao contexto de narrativa interacional para que o indivíduo
realização da coleta de dados. Nos grupos não só apreenda a cultura, mas a construa.
focais online síncronos, os participantes fa-
zem comentários mais curtos e menos ela- Palavras-chave: Narrativa; Microanálise;
borados, em comparação com os grupos Ambiente Virtual.
presenciais (Schneider, Kerwin, Frechtling
& Vivari, 2002). Essa técnica de coleta de
dados também pareceu ter influenciado a AS NARRATIVAS MATERNAS E O
continuidade das narrativas construídas, DISCURSO NARRATIVO DA CRIANÇA
visto que a rapidez da comunicação onli- Greicy Boness de Araujo - CSI
ne pareceu dificultar a concentração do greboness@hotmail.com
grupo em um único assunto, provocando
a fragmentação das interações. Quanto à O ato de contar histórias está presente
construção das identidades de gênero dos no mundo infantil em vários momentos
adolescentes, a microanálise mostrou uma do desenvolvimento e de formas distin-

797
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tas. Sejam contadas, lidas ou ouvidas, sentido é um importante indicador da


as histórias podem versar sobre eventos capacidade de considerar o interlocutor.
ocorridos, sobre experiências passadas Conforme Bamberg (1997), uma histó-
e podem ser ficcionais, como os contos ria competente requer a aprendizagem
de fadas, ou criações da própria criança de convenções sociais e a capacidade de
para dar conta de acontecimentos vivi- manter as informações referenciais e con-
dos. A forma narrativa pode ser conside- textuais, monitorando a compreensão do
rada, portanto, mais do que um meio de ouvinte e seu envolvimento através dos
comunicação, mas, principalmente, uma eventos narrados. Para Tomasello (2003),
forma de compreensão de si mesmo, das são estas propriedades das histórias que
pessoas e do mundo em que se vive. Con- auxiliam o ouvinte a construir, em sua pró-
forme Dunn (1991), existe um fascínio pria mente, uma coerente e interessante
natural das crianças pelas narrativas, o estrutura narrativa. Deste modo, a narra-
que denota uma prontidão para explorar tiva constitui-se em uma valiosa fonte de
e compreender o mundo social. Este inte- investigação, não somente da linguagem
resse deve ser estimulado e suprido pelos infantil, mas do desenvolvimento social e
adultos que fazem parte de seu mundo. cognitivo. Nelson (2006) destaca o papel
Becker (2004) salienta o papel da intera- da narrativa como instrumento de desen-
ção no desenvolvimento da linguagem e volvimento da linguagem e de evolução da
o quanto é preponderante para o desen- criança no campo cognitivo e social. Nesta
volvimento da estrutura narrativa. Dentro direção, Lorusso, Galli, Libera, Gagliardi,
deste contexto, papel dominante tem sido Borgatti e Hollebrandse (2007) observam
atribuído para a díade mãe-criança. O es- que a elaboração de narrativas pode pro-
tilo narrativo materno é apontado como ver valiosas informações sobre a teoria da
instrumental no desenvolvimento da ha- mente, já que pressupõe não somente a
bilidade narrativa da criança, por muitos habilidade representação da história, mas
pesquisadores da área. Nelson e Fivush também representação do estado mental
(2004), por exemplo, citam que o modo do ouvinte. O narrador conta uma his-
como as mães estruturam suas histórias tória coerente para manter a audiência
com os filhos possui forte relação com a através da avaliação de informações que
forma utilizada pelas crianças para elabo- considera interessantes ao interlocutor.
rar suas próprias narrativas. A literatura Pesquisadores (Adrian, Clemente & Villa-
(Oppenheim, Nir, Warren & Emde, 1997; nueva, 2007; Bruner 1991; Losh & Capps,
Fivush, Haden & Reese, 2004) aponta 2003; Miller, 2006; Nicolopoulou & Rich-
também que crianças cujas mães contam ner, 2007; Slaughter, Peterson & Mackin-
histórias com mais referência a estados tosh, 2007) indicam a potencialidade das
mentais, como sentimentos e emoções, histórias para favorecer conversas sobre
tendem a apresentar mais condições de estados mentais e para a consideração de
reconhecer e identificar os próprios esta- diferentes pontos de vista, aspectos im-
dos mentais e dos demais, o que auxilia na portantes para o desenvolvimento da ha-
elaboração de narrativas mais coerentes. bilidade sociocognitiva de compreensão
A coerência, que se refere à habilidade dos estados mentais e de sua relação com
de contar uma história organizada e com o comportamento. Eles acreditam que a

798
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

referência a estes aspectos ocorre mais suas narrativas também contribuem para
frequentemente durante a leitura de uma a elaboração de narrativas mais coerentes
história, do que em outros tipos de intera- por parte de seus filhos, nas quais existe
ção social. Ouvir histórias, portanto, é um maior habilidade de levar em conta a pers-
importante ato de passagem ao longo do pectiva do ouvinte. Quanto mais as mães
caminho para a comunidade de mentes, utilizam termos mentais, mais favorecem
metáfora utilizada por Nelson (2005) para a ampliação do conhecimento, reflexão
explicar o ingresso da criança no mundo e utilização destes pelas crianças, o que
social e cultural. Apesar de muitos estu- também contribuiria com sua teoria da
dos estrangeiros indicarem que há fortes mente. A atividade materna de contação
relações entre linguagem materna e dis- de histórias mostra-se uma ferramenta
curso narrativo infantil, no Brasil, ainda há efetiva tanto no desenvolvimento lingüís-
poucas pesquisas na área. Neste estudo, tico infantil quanto cognitivo e social.
comparam-se as narrativas das mães e
das crianças quanto ao nível de coerência Palavras-chave: Contação de Histórias;
e de alusão aos estados mentais. Utilizou- Coerência Narrativa; Teoria da Mente.
-se um delineamento transversal correla-
cional para avaliar a associação entre as
variáveis do estudo: narrativas maternas ANÁLISE DA COERÊNCIA NAS
e discurso narrativo da criança. Partici- NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS DE
param 27 díades mãe-criança, tendo as PRÉ-ADOLESCENTES
crianças idade entre 4 e 5 anos, de ambos Lídia Suzana Rocha de Macedo - UFRGS
os sexos, matriculadas em uma escola pri- lidiasrmacedo@gmail.com
vada de Porto Alegre. As mães foram con-
vidadas a contar aos filhos uma história de Ao longo de seu desenvolvimento a crian-
um livro de gravuras, fornecido pela pes- ça é auxiliada a re-constituir e avaliar suas
quisadora, nas dependências da escola. experiências pessoais durante as conver-
Após a narrativa da mãe, estas solicitavam sações com seus pais. A construção de
que as crianças narrassem a história para uma narrativa autobiográfica depende da
a mãe do seu jeito. As narrativas das mães interação de vários desenvolvimentos que
e das crianças foram analisadas quanto a se beneficiaram dessas conversações, em
indicadores de estados mentais e quanto especial: do desenvolvimento cognitivo,
aos índices de coerência narrativa. Cons- da memória autobiográfica, da habilidade
tatou-se que avaliar a habilidade narra- narrativa e do self. A narrativa autobiográ-
tiva infantil é uma forma de acessar seu fica prescinde do desenvolvimento de dis-
desenvolvimento sociocognitivo e tam- positivos cognitivos, pois o modo narrativo
bém de estabelecer relações com o estilo é um modo de funcionamento cognitivo
narrativo materno. Resultados prévios do que tem implicações imaginativas no que
estudo indicaram que as crianças cujas tange às ações e intenções humanas (Bru-
mães produziram histórias com maior ní- ner, 1997). A aquisição do pensamento
vel de coerência também apresentaram formal constitui-se como pré-requisito bá-
narrativas mais coerentes. Mães que utili- sico para construção da narrativa autobio-
zam mais referência a estados mentais em gráfica. Já o desenvolvimento da memória

799
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

autobiográfica é o que permite ao indiví- entre personalidade e eventos, compara-


duo recriar o passado ao compartilhá-lo ções entre o passado e o presente e o uso
com os outros, e em decorrência disso, de elementos biográficos complexos para
emerge um passado individual (Fivush & explicar a maneira de experimentar deter-
Nelson, 2004). Um passado passível de minada situação. Há poucos dados sobre
ser transformado em uma história única o desenvolvimento da narrativa autobio-
de vida. Por fim, a relação entre narrativa gráfica na pré-adolescência, tanto em es-
autobiográfica e self se revela na coerên- tudos internacionais como no Brasil. O ob-
cia da narrativa. Coerência da narrativa é jetivo desta apresentação é mostrar uma
o pivot da integridade da história e na his- forma de analisar a coerência nas narra-
tória de vida é considerada um marcador tivas autobiográficas de pré-adolescentes,
para avaliar a integridade do self (Fiese & baseada no modelo de Habermas e Paha
Pratt, 2004). Adolescentes que são capa- (2001). Serão apresentadas narrativas au-
zes de sintetizar diferentes elementos de tobiográficas de pré-adolescentes 10 a 13
suas vidas em uma história coerente têm anos, que participaram de uma pesquisa
um senso mais integrado de self. Coerên- que investigou os efeitos na narrativa au-
cia na construção de uma história de vida, tobiográfica da conversação entre o pré-
em adultos, está significativamente rela- -adolescente e seus pais sobre experiên-
cionada com medidas psicométricas que cias envolvendo emoções. 25 pré-adoles-
indicam bem estar psicológico (Baerguer centes constituíram três grupos conforme
& McAdams, 1999). A articulação total de seu hábito conversacional: um grupo que
uma história de vida implica, segundo Ha- costuma conversar e fala sobre emoções;
bermas e Bluck (2000), em compreender um grupo que costuma conversar, mas
e utilizar quatro tipos de coerência: tem- não fala sobre emoções e um grupo que
poral, biográfica, causal e temática. Ao não costuma conversar em casa. As nar-
utilizá-los, a pessoa consegue criar uma rativas dos três grupos foram comparadas
narrativa integrada sobre o self que trans- em relação ao uso dos dispositivos que
mite a idéia de que ela se constitui como agregam coerência. Ao comparar o nú-
uma unidade psicossocial com algum pro- mero de associações de causalidade utili-
pósito na vida (McAdams, 2001). O domí- zado nos três grupos, verificou-se que os
nio no uso de todos os tipos de coerência pré-adolescentes pertencentes aos dois
ainda não está consolidado durante a pré- grupos que costumam conversar em casa
-adolescência, mas em processo de aquisi- utilizaram o dobro de associações do que
ção. Assim, para estudar como se dá esse o grupo que não tem esse costume. A falta
processo, Habermas e Paha (2001) identi- de associações de causalidade nas narra-
ficaram alguns dispositivos que agregam tivas do grupo que não costuma falar em
coerência às narrativas autobiográficas, casa resultou em narrativas sem integra-
como: o grau de integração das narrati- ção que lembram uma coleção de eventos
vas através do número de associações de (Habermas & Paha, 2001). Nos dois gru-
causalidade entre as sentenças e a utiliza- pos que costumam conversar em casa, o
ção de diversos tipos de associações de uso de associações que indicam extensão
causalidade. Esses tipos são associações temporal resultou em narrativas coeren-
que indicam extensão temporal, relações tes (Habermas & Bluck, 2000) e com mais

800
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

qualidade, pelo nível de detalhe e relevân- resultados mostraram que o uso desses
cia dos eventos para o self (Baron & Bluck, dispositivos permitiu comparar os grupos
2009). Esse resultado confirma a literatu- em relação ao desenvolvimento cognitivo
ra, pois o nível de detalhe e a coerência (raciocínio autobiográfico e capacidade de
na narrativa de uma experiência pessoal compreender a experiência), da memória
é resultado das conversações precoces autobiográfica, da habilidade narrativa e
mãe-criança, em especial, do estilo mater- da compreensão sobre o próprio self.
no de relembrar (Cleveland, Reese & Grol-
nick, 2007; Fivush, Haden & Reese, 2006; Palavras-chave: Pré-adolescência; Narrativa;
Peterson & McCabe, 1994; Reese, Haden Comunicação Familiar.
& Fivush, 1993). As relações entre even-
tos e personalidade foram estabelecidas
apenas nos dois grupos que costumam ANÁLISE ESTRUTURAL E
conversar em casa, o que mostra maior CONVERSACIONAL DAS NARRATIVAS
capacidade desses pré-adolescentes para PESSOAIS CONSTRUÍDAS NA HORA DO
refletir sobre a experiência e sobre o self. CONTO
Esse resultado também confirma a litera- Luciane De Conti - UFPE
tura, pois é no contexto das conversações ludeconti@gmail.com
precoces em que a mãe relembra em con- Financiamento: CNPq
junto com a criança de suas experiências
que se desenvolve um modelo para ava- A perspectiva narrativista em Psicologia
liar a própria experiência (Fivush, 1991). toma a linguagem como aspecto nuclear
Os dois grupos que costumam conversar da constituição subjetiva humana à medi-
em casa estabeleceram mais compara- da que estabelece o elo entre a ordem do
ções entre o passado e o presente. Esses psicológico e a da cultura, por meio dos
resultados mostram que esses pré-ado- significados. É pelo trabalho de narração
lescentes puderam compreender melhor que o sujeito interpreta os fatos vivencia-
as experiências vividas, sendo capazes de dos, construindo uma significação pessoal
identificar continuidades e descontinuida- sobre eles (Bruner, 1997). O sentido do
des em suas linhas de vida. Compreender tempo vivido é resultado de uma inter-
melhor o próprio self, implica no funcio- pretação, nunca um dado imediato. A lin-
namento da memória autobiográfica, guagem constitui-se, então, em uma fer-
que define o self no tempo e em relação ramenta privilegiada de mediação entre
aos outros (Nelson & Fivush, 2004). Já o o sujeito e o seu meio, sendo a interação
uso de elementos biográficos complexos, social a base desse processo. Esta intera-
como nas referências ao background bio- ção é condição inevitável e necessária de
gráfico, ilustrações e generalizações, reve- inserção social do indivíduo enquanto par-
lam ainda a agilidade do funcionamento ticipante de um processo histórico e cultu-
da memória autobiográfica. Isso porque, ral que o produz e é, dialeticamente, por
é através da memória autobiográfica, ele produzido (Colaço, 2004). A habilidade
que a pessoa mantém um senso de con- da criança em narrar suas experiências
tinuidade no tempo (Bauer, 2007; Nelson pessoais é uma das primeiras modalida-
& Fivush, 2004). De um modo geral, os des narrativas a se desenvolver e depende

801
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

exclusivamente das trocas conversacio- os eventos que compõem a trajetória de


nais com suporte de um adulto. As nar- seus primeiros anos de vida, antes que
rativas pessoais se constituem antes de ela tivesse acesso à linguagem. É o acesso
tudo num meio para compreender a vida às histórias que contam sobre o seu pas-
e a nós mesmos porque permitem estabe- sado que parece ser difícil e até mesmo
lecer um elo entre o passado, o presente impossível para muitas crianças acolhidas
e o futuro, ou seja, entre os eventos que em um abrigo o que pode impedi-la de
fazem parte da história de vida da crian- (re)contar a história de sua vida em uma
ça e de sua família, seus ancestrais. Nesse narrativa temporalizada. Partimos da idéia
sentido, as histórias que contam sobre nós que os contos infantis podem servir como
e para nós têm um papel importante na mediadores semióticos na elaboração das
definição de nós mesmos (Fivush, 1991). narrativas pessoais para essas crianças
As crianças aprendem a falar sobre as suas cujas interações iniciais com seus fami-
memórias dos eventos passados de uma liares estão muitas vezes impossibilita-
maneira organizada num contexto colabo- das. Assim, a pesquisa desenvolvida teve
rativo de engajamento com seus pais (Ma- como objetivo investigar a construção de
cedo e Sperb, 2007; Fivush & Haden, 1997; narrativas pessoais pela criança no ato de
Dunn, 1988). Assim, os adultos próximos narrar sua história de vida em um contex-
da criança têm um papel específico a de- to de oficina denominada Hora do conto.
sempenhar em relação ao desenvolvimen- Participaram do estudo dez crianças entre
to da habilidade da criança em narrar suas seis e nove anos, acolhidas em um abri-
experiências pessoais. Esta habilidade se go de Pernambuco e que fizeram parte de
inicia entre 24 e 36 meses, sendo que aos dois grupos. Utilizamos um delineamento
4 anos a criança, em geral, já toma a inicia- de estudo de casos múltiplos (Yin, 2001).
tiva em narrar as suas experiências pesso- Os grupos foram compostos por até seis
ais sem o questionamento adulto (Peter- crianças, os encontros foram realizados
son e McCabe, 1991; Hudson & Shapiro, no abrigo, semanalmente com duração de
1991; Perroni, 1992). Dos 4 aos 5 anos as uma hora e meia, por oito meses. Os en-
crianças evoluem da apresentação de uma contros se organizaram de tal forma que
sequência de eventos temporalmente de- um dos responsáveis pelo grupo narrava o
sorganizadas para uma sequência tempo- conto; seguia o espaço para o reconto e o
ral coerente, porém finalizam suas histó- debate da história narrada, durante o qual
rias no ponto culminante, ou como coloca as crianças podiam desenhar e/ou brincar.
Todorov (1978/1987), elas encerram suas Os episódios foram filmados e posterior-
histórias na problematização do even- mente transcritos. Para fins de análise dos
to. Então, podemos dizer que para que a dados, inicialmente consideramos dois
criança possa significar a sua existência e níveis: 1) Análise da estrutura e 2) Análi-
realizar a narração de suas experiências se da voz narrativa (autor, personagem e
pessoais é necessário que ela tenha um narrador). Analisamos 18 encontros nos
adulto que possibilite a ela o acesso a sua quais foram encontradas 93 narrativas: 45
origem, a sua herança. Ou seja, alguém pessoais e 48 de fantasia. A análise estru-
que transmita a ela a história das gerações tural mostrou que as narrativas pessoais
que a antecederam bem como nomeie apresentaram um ciclo narrativo incom-

802
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pleto, encerrando a narrativa na situação MR-LT02


problema. Em termos de Todorov (1973),
podemos dizer que a organização narrati-
Mesa Redonda
va constituída pelas crianças nos encon-
tros dos grupos se circunscreveu predo-
MR LT02-1425 - LEITURA DOS
minantemente na apresentação da situ-
PROFESSORES E PEDAGOGOS EM
ação inicial (Pn1), de uma outra situação
PROCESSO DE COCONSTRUÇÃO E
que vinha perturbar esse estado inicial
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL EM
(Pn2) permanecendo na terceira proposi-
CONTEXTOS DE LETRAMENTO E DA EAD,
ção marcada pela situação em estado de
PRIVILEGIANDO PRÁTICAS INCLUSIVAS E
desequilíbrio. Este resultado nos indicou
INVESTIGATIVAS
que a dificuldade dessas crianças em fina-
lizarem suas narrativas pessoais, embora Norma Lucia Neris de Queiroz - FE/UnB
já tivessem idade para isso, poderia estar normaluciaq@yahoo.com.br
relacionada ao papel de suporte do outro
mediador (pesquisador ou outra criança) Esta mesa redonda composta por três es-
na composição narrativa. Isto porque na tudos tem como objetivo discutir a forma-
maioria das vezes esta intervenção não ção de professores, incluindo os pedago-
ocorreu, o que nos indicou a necessidade gos nos contextos de aprendizagem pre-
de realizarmos a análise da conversação sencial e a distância, destacando práticas
a fim de melhor compreendermos o pa- sociais de letramento e inclusivas apoiada
pel do outro na manutenção e sustenta- na perspectiva teórica da Psicologia Cul-
ção da narrativa pessoal nesse contexto. tural, na qual Vigotsky é um dos mais im-
Em função disso, selecionamos um caso portantes representantes. A preocupação
para realizamos um terceiro nível de aná- das pesquisadoras, aqui, foi discutir os
lise, a análise conversacional, a fim de resultados de seus estudos com vistas a
visualizarmos o papel da interação social identificar possibilidades de ampliá-los
na manutenção ou não dessas narrativas e ao mesmo tempo compartilhar suas
pessoais. Esta análise demonstrou que a análises para perceberem contradições e
mediação do outro social foi essencial na limites. A discussão destacou nos três es-
modulação das narrativas pessoais cons- tudos a formação profissional dos sujeitos
truídas pela criança no caso investigado, adultos no ensino superior, os desafios e
pois a intervenção dos pesquisadores ou possibilidades de formação desses sujei-
dos pares (outras crianças) na construção tos, os quais que não teriam chances de
das narrativas pessoais, quando ocorreu, realizar o ensino superior, considerando
possibilitou o desenvolvimento do enre- seus lugares de moradia e suas necessida-
do narrativo. Para fins específicos deste des de sobrevivência. Sendo assim, a EaD
trabalho, iremos apresentar as análises tem cumprido uma função social impor-
estrutural e conversacional realizadas no tante, bem como a ênfase nas práticas de
caso selecionado. letramento dos cursos presenciais.

Palavras-chave: Narrativa; Estrutura; Análise


conversacional.

803
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

INCLUSÃO/FORMAÇÃO DO PROFESSOR mesmo tempo, podemos dizer que, a pre-


POR MEIO DO OLHAR INVESTIGATIVO sença cada vez mais marcante das novas
SOBRE O COTIDIANO ESCOLAR E A tecnologias da informação e comunicação
COCONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO (TIC) tem contribuído para uma revolucio-
EM AMBIENTES VIRTUAIS DE nária transformação (nem sempre posi-
APRENDIZAGEM tivas, segundo Coll & Monereo, 2010) da
Diva Albuquerque Maciel - PGPDS/IP/UnB nossa realidade social e cotidiana, em que,
de uma sociedade ainda marcadamente
A existência de cursos na modalidade da rural, estamos caminhando a passos largos
Educação a Distancia (EAD) data de qua- para uma sociedade da informação (SI).
se um século. Em uma revisão de estudos Temos, especialmente na última década,
em que buscam comparar os resultados sido confrontados com ambientes virtuais
de cursos presenciais e a distancia, Moore de aprendizagem (AVA), notadamente a
& Kearsley (2010) citam estudo de Crump plataforma moodle, que têm implicado em
(1928), no qual afirma não ter encontra- uma verdadeira revolução de transforma-
do diferenças significativas entre resulta- ções que carecessem de estudos que nos
dos de testes de alunos de uma escola de permitam dar-lhes sentido e avaliar seu
Oklahoma e aqueles que estudaram por valor e impacto. De uma cultura marcada-
correspondência. Na revisão de Moore & mente oral, estamos sendo lançados a uma
Kearsley, cuja parte massiva é de estudos cultura digital, produtora e produzida pelos
realizados do final da década de 1990 até avanços tecnológicos. Tal revolução nos su-
os três primeiros anos dos anos 2000, pe- portes da informação tem criado novas for-
ríodo em que a tecnologia dominante em mas de relacionamento e novas formas de
EAD era a ‘teleducação’ (sistemas media- aprender e produzir conhecimento, assim
dos por redes de TV), eles consideram ha- como novos agentes educativos. Por ou-
ver evidencia suficiente para afirmar que tro lado, de acordo com a perspectiva te-
cursos na modalidade EAD podem ser tão órica da Psicologia Cultural que adotamos
eficazes para a aprendizagem quanto os aqui, o desenvolvimento humano é com-
presenciais, sendo que, não é a ausencia preendido como um fenômeno complexo
de contato (face a face) ‘em si’ prejudicial e dinâmico, no qual o sujeito é tido como
a aprendizagem. Grande parte dos estu- participante ativo do seu desenvolvimento,
dos citados, realizados por meio de mé- em constante interação com o meio (Bran-
todos comparativos e que examinaram co & Valsiner, 2004). Por outras palavras,
variáveis ligadas a resultados entre essas compreende-se que o sujeito se constitui
modalidades de cursos demonstraram que por meio da interação dialética entre pro-
os índices de aprendizagem eram melho- cessos de canalização cultural e da ação do
res na modalidade EAD, ou pelo menos indivíduo, enquanto sujeito ativo e co-par-
equivalentes aos presenciais. Postas estas ticipante do seu próprio desenvolvimento.
reflexões iniciais, podemos dizer que, no Nesse contexto, a presença cada vez mais
nosso país, ainda se observa um forte pre- frequente de cursos na modalidade EAD
conceito da academia acerca da EAD, espe- por meio de AVA tem nos confrontado
cialmente, no que diz respeito à oferta de com desafios marcantes, especialmente
cursos regulares de nível universitário. Ao no que se refere a necessidade de repen-

804
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sar a formação de um professor capaz de runs de Discussão no referido curso, tendo


atuar nessa nova realidade. Por outro lado, sido selecionados para análise 10 tópicos
o olhar investigativo do professor sobre o dos fóruns de discussão, específicos sobre
cotidiano escolar tem sido entendido, por os projetos de pesquisa, que tiveram acima
nosso grupo de pesquisa, como condição de 10 intervenções. Dois tipos de catego-
necessária a uma formação comprometi- rias de análise foram construídas com base
da com práticas pedagógicas inclusivas e em procedimentos de microanálise das in-
transformadoras. Nessa perspectiva, a pes- formações observadas e da exegese reali-
quisa no e do ambiente escolar pode ser zada com base na literatura: (1) categorias
vista, ao mesmo tempo, como princípios, que focalizam a construção colaborativa do
científico e educativo. Hoje, não cabe mais conhecimento; e (2) categorias que focali-
ao professor apenas reproduzir os conheci- zam a reflexão conjunta sobre as situações
mentos para seus estudantes, mas buscar de pesquisa realizadas pelos participantes
a compreensão dos problemas concretos na sua realidade escolar. Os temas mais
que se colocam no cotidiano educacional. recorrentes observados no estudo dizem
Coconstruir ferramentas que permitam respeito às referências dos professores à
ao professor olhar sua própria prática e oportunidade de participarem da própria
investigar as questões reais presentes em construção do curso por meio da discussão
seu cotidiano, de forma reflexiva e siste- nos fóruns, e a possibilidade de ressignifi-
matizada em bases teóricas consistentes, carem a sua prática pedagógiaca por meio
constituiu a base curricular de um curso da pesquisa, sendo estes apontados como
de especialização sobre desenvolvimento os principais fatores de comprometimento
humano e inclusão escolar, na modalidade com a qualidade do curso. Trazemos para
EAD, oferecido pelo PGPDS – PED/IP - UnB/ debate alguns princípios pedagógicos cons-
UAB. No contexto desse curso, os fóruns de truídos neste exercício de análise que con-
discussão - salas de conversa entre os alu- sideramos uma contribuição importante
nos pós-graduandos (professores de redes para o tema da inclusão
públicas, psicólogos e outros profissionais
da educação) e seus tutores e professores Palavras-chave: Inclusão/Formação do
supervisores – constituem um meio privi- Professor; Ambiente Virtual de Aprendizagem;
legiado de formação, de coconstrução de Microanálise das interações em Fóruns de
conhecimentos e de novos procedimen- Discussão.
tos de ensinar e aprender. O presente es-
tudo teve como objetivo contribuir para a
sistematização de princípios pedagógicos É POSSÍVEL A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO
específicos da modalidade EAD e que se- COMO PROFISSIONAL PESQUISADOR:
jam úteis à Formação de Professores que DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO CURSO A
possa prover a instituição escolar de meios DISTÂNCIA DA FE-UnB
pedagógicos que atendam à diversidade Norma Lucia Neris de Queiroz - FE-UnB
dos alunos. Por meio de uma abordagem normaluciaq@yahoo.com.br
interpretativa, característica da perspecti-
va teórica aqui defendida, foram objeto de Inovações tecnológicas e mudanças na
análise as discussões estabelecidas nos Fó- economia mundial têm exigido profundas

805
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

alterações em nosso modo de aprender e Projeto 3 – alfabetização e letramento,


de ensinar na sociedade contemporânea cuja a oferta ocorre no quinto semestre
brasileira. Nos anos 1990, a Lei de Dire- do curso. Nessa perspectiva, percebe-
trizes e Bases da Educação Nacional esta- mos a formação docente dos estudantes
beleceu diversas mudanças no contexto como um processo de transformações,
educacional para atender às essas novas que abrange continuidades e desconti-
exigências. Uma dessas mudanças diz res- nuidades, e que se configura nas relações
peito à obrigatoriedade da formação em dialógicas entre os sujeitos e os contextos
nível superior para todos os docentes da sócio-histórico-culturais, nos quais ocor-
educação básica. Essa determinação le- rem processos de produção e negociação
gal gerou novos desafios, possibilidades de significados, ao longo da formação. A
e modalidades de curso para instituições expectativa na formação em nível supe-
de ensino superior, os quais favoreceram rior foi vista como um espaço privilegiado
a criação de diferentes Programas de Li- de formação de um futuro pedagogo que
cenciaturas com vistas atender aos do- poderia refletir sobre sua prática docente.
centes da educação básica em exercício, Ou seja, o pedagogo poderá imprimir nela
bem como a formação inicial de jovens melhoria na qualidade da educação para
para atuar em áreas de conhecimento seus alunos. Os objetivos específicos elei-
que apresentam lacunas em seus qua- tos para esse estudo foram: identificar a
dros tais como Matemática, Física, Quí- configuração do curso e do componente
mica e Biologia. É possível observar que curricular, identificar concepções dos es-
esses programas procuraram dar uma tudantes sobre a pesquisa e o profissional
resposta institucional às demandas legais pesquisador; identificar expectativas dos
e sociais em relação à formação docente, participantes sobre o curso e o compo-
como uma estratégia que para a melhoria nente curricular investigado; analisar a
da educação brasileira. Por outro lado, interação entre teoria e prática presente
compreendemos que esses programas no discurso dos participantes; analisar
constituem-se em espaços de tensões em os impactos desse componente em sua
função dos confrontos entre velhos e no- formação docente; analisar os aspectos
vos significados construídos pelos sujeitos que os participantes ressignificaram por
em relação à prática docente, oriundos meio desta formação. Participaram deste
de suas trajetórias pessoais, crenças, va- estudo 29 estudantes de três polos (Alto
lores e formação acadêmica propiciada Paraíso (Go), Alexania (Go) e Carinhanha
nestes espaços formativos. Este estudo (Ba) e uma professora-tutora. Os instru-
tem como objetivo explicitar as configu- mentos de construção de dados foram a
rações do curso de Pedagogia a distância análise documental acerca da proposta do
oferecido pela Faculdade de Educação - componente curricular, observações sis-
UaB-UnB, bem como compreender, mais temáticas das atividades realizadas pelos
especificamente, a formação do futuro estudantes no ambiente virtual e uma en-
pedagogo como um profissional pesquisa- trevista semiestruturada com professora-
dor, aquele que desenvolve estratégias de -tutora. Os dados foram analisados em
reflexão sobre a prática docente, a partir três níveis: institucional e interpessoal e
do componente curricular, denominado pessoal. Nesta análise, destacamos no ní-

806
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vel institucional, a proposta do curso e do lita um encontro de diversas vozes, possi-


componente curricular e nos níveis inter- bilitando que as idéias se entrecruzam nas
pessoal e pessoal, os dados da entrevista interações entre os sujeitos envolvidos no
semiestruturada com a professora-tutora processo de ensino aprendizagem. Sendo
e observações das atividades interativas e assim, os fóruns podem ser vistos como
teóricas – projeto de pesquisa construído uma valiosa estratégia de aprendizagem
pelos estudantes e dos registros do diário neste curso. No entanto, para que haja a
de bordo feitos nos encontros presenciais. construção do conhecimento em grupo é
Os resultados evidenciaram as seguintes fundamental que os estudantes comecem
categorias interpretativas: a) o Programa a encarar os fóruns como as discussões
do curso explicita muitas limitações em presenciais em sala de aula e tornem-se
relação aos seus desafios e possibilidades parceiras nesse processo. A partir desta
de atuação; b) a proposta do componen- parceria, os estudantes podem entender
te curricular trabalha o contexto de pro- que eles podem contribuir de forma ati-
fissional pesquisador articulando teoria e va e colaborativa com a aprendizagem do
prática em suas comunidades, portanto, outro e motiva-lo a investir esforço para
desafia durante todo o semestre um olhar discutir e aprender com os debates em
investigativo. Essa estratégia no primeiro questão; f) as atividades que contribuíram
momento provoca muitos conflitos nos para os estudantes ampliarem suas con-
estudantes, mas com o passar dos dois cepções sobre a formação do profissional
primeiros meses observamos um refazer pesquisador foram as atividades desen-
de suas concepções; c) concepções de en- volvidas nos encontros presenciais e a
sino previstas no curso vão se deslocando elaboração do projeto de pesquisa. Cons-
da tendência tradicional para uma, consi- tatamos que as relações dialógicas entre
derada mais inovadoras; d) há um peque- professora-estudantes e estudantes-estu-
no avanço nas concepções dos estudantes dantes instituem um contexto semiótico
acerca do pedagogo como um profissional que circunscreve os sujeitos em processo
pesquisador, uma vez que no início eles de formação profissional, especialmente,
sequer pensavam nessa dimensão profis- elas podem favorecer o desenvolvimento
sional; e) a construção do conhecimento de futuros pedagogos pesquisadores. É
nas atividades interativas, especialmente, necessário, ainda, investir em estratégias
os fóruns de discussão ainda carecem de de discussões mais positivas e recursos
estudos mais aprofundados, pois as par- teórico-metodológicos que permeiam a
ticipações ficam restritas a concordâncias prática docente de um modo geral, a qual
e/ou discordâncias sem reflexões teóricas; exige deles a reflexão acerca dessa prática
ou seja, eles têm ocupado mais da função e das ações da instituição educativa para
de avaliar a participação dos estudantes. facilitar que estudantes desses cursos
Por outro lado, favorece as interações compreendam e assuma a postura de um
dialógicas entre professora-tutora e estu- profissional pesquisador.
dantes e estudantes e estudantes. Nossa
argumentação é de que é necessário apro- Palavras-chave: Curso de Pedagogia; Educação
fundar os estudos sobre os fóruns, consi- a Distância; Profissional Pesquisador
derando que a discussão temática possibi-

807
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

MAS AFINAL DE CONTAS, QUEM entre os participantes envolvidos nas situ-


É A MULHERZINHA? REFLEXÕES ações interativas. O espaço subjetivo em
SOBRE A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO que elas se processam é chamado de “situ-
E A SITUAÇÃO SOCIAL DE ação social do desenvolvimento” e traduz-
DESENVOLVIMENTO. -se como o contexto que envolve o indiví-
Mercedes Villa Cupolillo - FP/SG-RJ duo, permitindo a ele o estabelecimento
mercedes.cupolillo@gmail.com de uma zona de sentido. Retomando nossa
escola, podemos dizer que na sala de aula
Apoiados na perspectiva histórico-cultural, se estabelecem relações entre os alunos,
podemos dizer que personalidade é in- entre alunos e professores, entre os coor-
fluenciada pela história do sujeito e pelas denadores e alunos, entre os coordenado-
interações que se dão nos contextos sócio- res e professores, e assim por diante. Essas
-culturais do indivíduo de uma forma di- relações podem produzir espaços de trocas
nâmica. As formas de organização dos ele- que promovem a aprendizagem e geram
mentos de sentido da personalidade acon- desenvolvimento. Muitas das contribuições
tecem em relações de contradição entre as sobre a subjetividade nessa perspectiva
forças que a movimentam. Um dos espaços vêm de autores como González Rey (2005)
sociais privilegiados que atua fortemente e Martinez Mitjáns (2005), na discussão so-
na constituição da personalidade em nossa bre as concepções de Vygotsky sobre a na-
sociedade é o espaço educacional. A pers- tureza dos processos de desenvolvimento e
pectiva histórico-cultural do desenvolvi- aprendizagem. Investigando mais os aspec-
mento humano convida à reflexão sobre a tos ligados à subjetividade humana, Gonzá-
necessidade de mudanças nos espaços de lez Rey contribui para a compreensão dessa
sala de aula do ensino superior com base dinâmica nos processos de desenvolvimen-
em pesquisas recentes (Cupolillo, 2010). to. Com base em suas contribuições, pode-
Apoiados em Vygotsky, dizemos que a zona mos dizer que o ser humano se desenvolve
de desenvolvimento proximal refere-se ao processualmente, de maneira gradual e em
caminho que o sujeito percorre para de- constante relação de tensão e conflito entre
senvolver funções que estão em processo o sujeito e o mundo: o homem se consti-
de amadurecimento e que se tornarão fun- tui ao mesmo tempo nas relações consigo
ções consolidadas, estabelecidas no nível mesmo e com o seu meio sociocultural. Es-
de desenvolvimento real. Ao recorrermos sas relações não são diretas. São mediadas
à ideia de zona de desenvolvimento proxi- por instrumentos concretos e psicológicos,
mal, deparamo-nos com a impossibilidade sendo a psique constituída na unidade dia-
de pensar o desenvolvimento como uma lética objetividade/subjetividade, em que
função puramente cognitiva, já que ela o indivíduo e o social são inseparáveis e o
acontece na relação com o Outro. Ambos particular contém em si o universal. As vi-
promovem, portanto, um clima emocional vências na área de educação, sejam elas
durante esse percurso conjunto. No caso em cursos presenciais ou à distância, en-
de nossa sala de aula, podemos dizer que volvem o aprendizado e os processos de
as situações interativas na escola propor- desenvolvimento. Baseados no pressupos-
cionam vivências de conflitos, emoções to de que os processos de constituição de
e construções de significados e sentidos subjetividades é multideterminado e que,

808
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

apesar das características em comum que textos que os professores passam; 6-Eu
os grupos de alunos de cada curso apresen- queria psicologia, mas tem que ler muito;
tam, a constituição individual de cada um é 7-Psicologia é meu sonho, mas não tem por
muito importante na formação dos grupos, aqui.” A partir daí identificamos a necessi-
planejamos nosso trabalho. O presente dade de um trabalho de desenvolvimento
estudo discute o percurso de uma turma de habilidades e competências diversas
de pedagogia durante as disciplinas minis- dentre elas:1-o conhecimento sobre o cur-
tradas pela autora. O percurso serviu para so escolhido e consciência da co-constru-
nortear grande parte de nosso trabalho em ção das habilidades durante o curso; 2-a ca-
sala de aula, após compreendermos que a pacidade de trabalhar cooperativamente;
base das necessidades dos alunos era pro- 3-a valorização do curso e o enfrentamento
veniente da leitura e da escrita. Construí- em situações que envolvem exposição de
mos estratégias no sentido de promover o idéias;4- a compreensão e elaboração das
aprendizado e desenvolvimento de proces- idéias no processo de leitura e escrita e
sos de pensamento complexo, por conside- 5-o incentivo à pesquisa. Através de ativi-
rarmos a importância desses processos na dades que envolviam leituras individuais e
formação de professores. O relato foi reti- conjuntas, relatamos uma experiência com
rado de trabalho com disciplinas de psico- leitura conjunta de um texto científico. Du-
logia de desenvolvimento e aprendizagem, rante o episódio, que exibe o trabalho com
acompanhada durante o período de um a turma, o nome da autora do texto era
ano, disciplinas obrigatórias do primeiro nomeado pela leitora como “mulherzinha.”
e segundo períodos do curso. Tomamos Nossa proposta é, portanto, discutir a ne-
como base os indicadores anteriores ob- cessidade de formação de na formação de
servados em todos os grupos de alunos do pedagogos, partindo da compreensão da
mesmo curso de pedagogia, de três anos situação social de desenvolvimento como
anteriores: 1-as turmas apresentavam a uma das bases para o planejamento das
falta de interesse e motivação para ativida- atividades de sala de aula.
des que envolviam leitura e escrita, ainda
Palavras-chave: pedagogia; situação social de
que possa parecer estranho e incoerente
desenvolvimento
para um curso de formação de educadores;
2-apresentavam desvalorização da profis-
são em contradição à supervalorização do
psicólogo; 3-havia de modo geral muita di- MR LT04
ficuldade de entrar em contato com o erro. Mesa Redonda
Após uma conversa informal com a turma
que ingressava havia pouco tempo, no pri-
meiro período, chegamos a algumas das MR LT04-1460 - DESENVOLVIMENTO
respostas que nos levaram aos indicadores HUMANO E SUBJETIVIDADE UM
sobre o curso de Pedagogia: 1-“Vim porque DIÁLOGO ENTRE SAÚDE E EDUCAÇÃO
não passei em outra. 2- Eu não gosto mui-
to do curso, não quero ser professora, mas O objetivo da mesa é discutir as ideias e
só podia fazer esse curso. 3-É mais barato; socializar conhecimento na perspectiva
4-Detesto ler; 5-Não entendo nada desses do desenvolvimento humano como um

809
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

processo sistêmico o desenvolvimento hu- nova proposta para compreender o ser


mano como um processo sistêmico, com- humano em sua totalidade. Desta forma,
plexo, singular e subjetivo marcado pela apresentar a subversão como produção
implicação do sujeito em um movimento simbólico-emocional que se manifesta na
histórico e cultural em que em que a saú- mudança de posicionamento do sujeito
de, a doença e a educação são partícipes em relação à ordem estabelecida, pode
desse processo e corroboram na configu- viabilizar a expressão de sua singularidade
ração de sua personalidade. Para adentrar e contribuir para o desenvolvimento en-
esse sistema complexo, alguns diálogos quanto crescimento individual a partir da
buscam ancorar-se na Teoria da Subjetivi- emergência de sentidos frente à nova for-
dade de caráter histórico-cultural de Gon- ma de vivenciar sua realidade. Outra te-
zález Rey (2003) buscando suas categorias mática que compõe esta mesa é discutir a
para gerar inteligibilidade e mergulhar por tríade equoterapia, educação e promoção
temas como: as produções subjetivas em de saúde, instigar essa reflexão é uma for-
relação ao desenvolvimento humano, a ma de abertura à visibilidade desse espaço
saúde e a educação e o reconhecimento como propício à comunicação saudável, à
do sujeito como ser histórico, concreto, emersão do sujeito e ao favorecimento
marcado por uma cultura, sujeito produ- de relações dialógicas que contribuam e
tor de ideias e alternativas e que, ao pro- impulsionem os processos de aprendi-
duzir e reproduzir a realidade social é, ao zagem e desenvolvimento e à promoção
mesmo tempo, produzido por ela no esco- de saúde como um processo complexo,
po do seu desenvolvimento. Destarte, em- multidimensional, subjetivo, contradi-
basar-se no contexto histórico-cultural, ao tório, singular e sistêmico (Rey, 2004). A
propor a superação dos reducionismos de última temática apresentada aborda um
concepções que privilegiam ora a mente modelo de prevenção da Aids pautado
e os aspectos internos (idealismo), ora o na informação, motivação e habilidades
comportamento externo (empirismo), cria comportamentais. A subjetividade, nesta
uma nova visão na psicologia e na educa- perspectiva, está necessariamente impli-
ção que possibilita pensar o indivíduo em cada no que Lévinas chama de “aventura
sua integralidade/totalidade, compreen- do saber” ou, noutras palavras, implicada
dendo-o como articulação dialógica dos numa estrutura gnosiológica, relativo aos
aspectos externos com os internos e con- limites e valores do conhecimento huma-
sidera a relação do sujeito com a socieda- no, que em última instância, também é
de a qual pertence. Trazemos também sob ontológica. Para Lévinas, a subjetividade
essa égide e como tema a uma discussão tem como tarefa ontológica encontrar-se,
profícua, a subversão como alternativa compreender-se e compreender, estabe-
para a emergência do sujeito apontando lecer referências com sentido e significar.
a influência sobre o desenvolvimento hu-
mano, esta abordagem traz em si, tanto
uma crítica contundente ao paradigma
dominante que se baseia em pressupostos
universais e naturalistas e metodologia
reducionista e quantitativa, quanto uma

810
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

O DESENVOLVIMENTO HUMANO, em que as razões lineares e hierárquicas de


A SAÚDE E A EDUCAÇÃO COMO compreender o sujeito dessem lugar aos
PRODUÇÕES SUBJETIVAS aspectos relacionais, Vygotsky (1991) assi-
Helio Ricardo Machado Lopéz - SENAC nala que este é um processo dialético, com-
helio.lopez@terra.com.br plexo, multifacetado, por desproporções
de funções, conversões qualitativas, combi-
A discussão situada neste trabalho, que en- nações complexas, processos de evolução
volve os temas do Desenvolvimento Huma- e involução, interação de fatores externos
no, da Saúde e da Educação como produ- e internos e busca constante de adaptação
ções subjetivas, apóia-se, principalmente, ao meio. Segundo González Rey (2001), o
na Teoria da Subjetividade de caráter his- desenvolvimento humano é um processo
tórico-cultural desenvolvida por González complexo e não linear, que não pode ser
Rey (2003). Segundo este autor, a Subjetivi- reduzido a um padrão. Desta forma o com-
dade é caracterizada por uma ruptura com preende o desenvolvimento humano como
a visão da psique como entidade individual uma produção de sentidos subjetivos que,
e intrapsíquica; uma representação da psi- segundo González Rey (2009), esta catego-
que como um sistema complexo, cujas for- ria permite expressar os processos de sub-
mas de organização não estabelecem rela- jetivação que estão além da intencionalida-
ções de causa e efeito e a superação de um de e da consciência do sujeito, e que estão
conjunto de cisões que historicamente fo- estreitamente associados ao percurso das
ram construídas pelo conhecimento forma- emoções que atuam como uma o unidade
dor na maioria das correntes nas Ciências inseparável com os processos simbólicos e
Sociais, em especial na Psicologia, como emocionais. González Rey (2005) assevera
objetivo/subjetivo, afetivo/cognitivo, inter- que é preciso pensar uma construção teó-
no/externo, individual/social. Na tentativa rica diferenciada sobre a saúde e o desen-
da compreensão do desenvolvimento hu- volvimento humano, implicada em superar
mano, vários autores realizaram estudos sua definição em termos de normalidade,
com diferentes enfoques, tais como: os as- equilíbrio e ausência de sintomas e doen-
pectos biológicos, as estruturas cognitivas, ças perceptíveis a partir do diagnóstico mé-
o meio social, o campo afetivo, entre ou- dico. Para tal, torna-se necessário definir
tros. Para Piaget (1988), o desenvolvimento saúde em termos de um sistema vivo, inte-
humano obedece a estágios hierárquicos ratuante com as complexas formas de vida
(sensório-motor - 0 a 2 anos, pré-operató- e espaços sociais que ultrapassem a barrei-
rio - 2 a 7 anos, operações concretas - 7 a ra do fisiológico e expresse a qualidade do
11 ou 12 anos, operações formais - 11 ou desenvolvimento do sistema, tendo como
12 anos). Já a concepção behaviorista de referência os elementos constitutivos
Skinner (2003), elegeu o comportamento de suas produções subjetivas. Conforme
como objeto de estudo e analisou o de- Langdon (1995), reconhecer a subjetivida-
senvolvimento humano e a aprendizagem de permite considerar a heterogeneidade
como unidades estímulo-resposta, com o como partícipe do processo do desenvolvi-
objetivo de controlar e modificar o com- mento humano. Desta forma, ressalta a re-
portamento. Com intuito de entender o de- lação entre padronização-descontinuidade,
senvolvimento humano sob outro prisma, em que o desenvolvimento humano, saúde

811
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e educação possuem interrelações: o cará- humano deixa de ser mimetizado e robó-


ter simbólico da singularidade em relação tico, para envolver-se no campo das cons-
aos temas citados, abre outro olhar sobre truções dos elementos de sentido do sujei-
sua representação, diferente daquela que to, articulado nos diálogos, nas reflexões e
o conceitua como máquina, formatada por nas contradições, tendo estes elementos
mecanismos bioquímicos e histológicos, fortes aliados na composição da tessitura
para outro, que estabelece relações mul- simbólica da aprendizagem. Como teoriza
tiarticuladas na processualidade assimétri- González Rey (2008), recuperar o sujeito
ca do constituir-se. Desta afirmação surgem que aprende e se desenvolve, implica em
dois desdobramentos que consideramos integrar a subjetividade como aspecto im-
significativos. O primeiro é que os aspectos portante deste processo, pois o sujeito in-
subjetivos da saúde e da educação e, por terage em desenvolvimento permanente
consequência, o desenvolvimento huma- como sistema e não só com o intelecto ou
no, não podem ser conceituados como um com a cognição. Os sentidos subjetivos na
eco da condição objetiva da realidade. Dife- forma em que temos desenvolvido esta ca-
rentemente disto, possibilitam alternativas tegoria representam um sistema simbólico
de enfrentamento ao sujeito a partir dos emocional em constante desenvolvimento,
seus recursos subjetivos: viver os proces- no qual cada um desses aspectos acima
sos geradores de saúde não é apenas uma citados se evoca de forma recíproca, sem
expressão direta entre o sujeito e os efeitos que um seja a causa do outro, provocando
de suas ações concretas na vida cotidiana. constantes e imprevisíveis desdobramen-
Por este viés, é caracterizada como produ- tos. Para tal, se faz necessário considerar o
ção de sentidos articuladas na trama singu- sujeito e seu desenvolvimento como aspec-
larizada da experiência vivida. O segundo tos subjetivos que possuem uma dimensão
desdobramento é a possibilidade real da central nos processos educativos em saúde
emergência do sujeito, tendo como base que, por meio dos desdobramentos desta
este cenário em que a singularidade se faz complexa relação, tem aberto novas fren-
presente, sendo legitimada nas práticas tes de entendimento na compreensão das
em educação e saúde. O resgate da subje- práticas pedagógicas diferenciadas que re-
tividade na dimensão educacional, como conheçam de vez seu caráter singular.
um atributo essencial de sua própria defi-
nição histórica e cultural, permite o reco- Palavras-chave: Desenvolvimento Humano;
nhecimento das práticas educativas como Saúde; Educação.
processos de sentido, promotoras de uma
compreensão significativa no ato de apren-
der. Esta visão desenvolvida por González SUJEITO, SUBVERSÃO E
Rey (2008) esclarece que o caráter singular DESENVOLVIMENTO HUMANO
da do desenvolvimento humano vai nos Mariana Oliveira Santos - Crea-DF
obrigar a pensar em nossas práticas peda- mari.oliveirasantos@yahoo.com.br
gógicas sobre os aspectos que propiciam o
posicionamento do sujeito e sua complexi- O entendimento do desenvolvimento hu-
dade na aprendizagem. A partir desta con- mano como processo singular, complexo,
cepção, o processo do desenvolvimento histórico, cultural, dinâmico e sistêmico

812
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conforme apresentado pela Teoria da Sub- pendência absoluta. De acordo com Morin
jetividade de González Rey, entre outros (1999) autonomia e independência não se
autores contemporâneos, contribui signi- separam, ao contrário, na medida em que
ficativamente para o avanço no conheci- nos tornamos autônomos, ficamos cada
mento da Psicologia e áreas afins. Gonzá- vez mais dependentes de inúmeras condi-
lez Rey (2004) define o desenvolvimento ções necessárias à emergência da autono-
como um processo integral do sujeito que mia. Neste sentido, apresenta-se a subver-
influencia simultaneamente diferentes as- são como alternativa para tornar-se sujei-
pectos da personalidade em configurações to. A subversão é aqui entendida como a
subjetivas que acarretam no crescimento atitude de subverter uma ordem reinante
do indivíduo em diversas esferas de sua adotando-se uma posição diferente e
vida. Este crescimento não significa acu- muitas vezes contrária a anteriormente
mulo de informações, mas produção de estabelecida ou proposta (Santos, 2008).
sentidos subjetivos que afetam sua per- Representa uma modificação configuracio-
sonalidade como um todo. Neste sentido, nal que pode se dar em diferentes níveis,
torna-se imperioso falar da categoria Su- ou seja, pode ter seu epicentro no âmbito
jeito. Segundo Gonzalez Rey, o sujeito se religioso, científico, político entre outros.
forma na atuação consciente e intencional Porém, como um verdadeiro terremoto,
em seus diversos espaços de convivência e esta modificação configuracional pode al-
relacionamento (Rey, 2004a). Está engaja- cançar as mais longínquas estâncias que
do em seu cenário atual e produz sentidos se ramificam a partir do epicentro e abalar
subjetivos a este relacionados, possibili- até as estruturas mais sólidas. Daí abre-
tando sua reconstituição e reconfiguração. -se o espaço para o novo. A ordem que se
O sujeito é gerador de alternativas frente subverte está na interface relacional entre
aos contextos de tensão, e emerge das a subjetividade social e a individual, sen-
rupturas provenientes de experiências que do assim, abrange o compartilhamento
se apresentam impositivas. Touraine apre- de significados e o sentido subjetivo do
senta interessantes apontamentos sobre sujeito. O sujeito subversivo enquanto
este tema. Para ele, o indivíduo torna-se constituinte e constituído da subjetivida-
sujeito quando se reencontra na vida e de social, participa e compartilha dos ele-
desta toma posse (2004). Reconhece-se o mentos subjetivos de seu grupo, cultura e
sujeito em seu engajamento a serviço de sociedade, porém, em algum momento a
sua própria imagem, que constitua sua práxis deste grupo deixa de lhe apresentar
razão de ser, em seu retorno a si mesmo sentido e ele busca novas formas de pen-
e àquilo que confere sentido a sua vida, sar e agir em que possa encontrar subsí-
àquilo que cria sua liberdade, sua respon- dios que sustentem essas novas produções
sabilidade e sua esperança (2007). Neste de sentido. Cabe ressaltar que a noção de
sentido, o sujeito aparece na resistência subversão apresentada, não agrega ne-
às forças modeladoras e alienantes e na nhum tipo de valor em si. Não se trata de
diferença. Ele surge na vontade e compro- uma ideia qualificante, que esteja associa-
misso consigo de afirmar-se em sua sin- da a um valor (a pessoa subversiva é boa
gularidade. Estas definições não implicam ou má), muito menos, representa uma vál-
em dizer que o sujeito é portador de inde- vula entre dois polos: negativo ou positivo,

813
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

visto que o conceito adotado fundamenta- da instabilidade gerada por tal conflito. A
-se na perspectiva da complexidade, supe- partir destas considerações, propõe-se a
rando o pensamento dicotômico. Também subversão como uma alternativa para a
não representa a passagem de um estado emergência do sujeito. A abordagem de
estático para outro, contrário ou diferente, Touraine (2007) sobre sujeito caracteriza
uma vez que a constituição do sujeito e da o sujeito subversivo quando o apresenta
subjetividade acontece de forma dinâmi- dotado de rebeldia, emergindo na vonta-
ca, processual e sistêmica. Trata-se de um de de escapar às forças, regras e poderes
tema que consolida-se pela atribuição de que o impedem de exercer a autenticida-
sentido, sendo assim, a subversão deve ser de. “Não há sujeito senão rebelde, dividido
entendida dentro de um contexto, e na re- entre raiva e esperança.” (p. 119). O tema
ferência a um sujeito ou grupo específico. da subversão está diretamente relaciona-
A subversão representa uma produção de do ao desenvolvimento, uma vez que a
sentidos que constitui um modus operandi produção de sentidos subjetivos é central
diferenciado. González Rey (2005) diz que para ambos os processos e a emergência
“o sentido subjetivo está na base da sub- do sujeito tem papel fundamental para o
versão de qualquer ordem que se queira desenvolvimento humano.
impor ao sujeito e à sociedade desde fora”
(p. 22). Mas a subversão difere do sentido Palavras-chave: Sujeito; Subversão;
subjetivo, pois este não produz, necessa- Desenvolvimento.
riamente, uma ação contraposta. O sujeito
pode produzir sentidos subjetivos em con-
sonância com uma ordem estabelecida ou EQUOTERAPIA, EDUCAÇÃO E
proposta de acordo com sua configuração PROMOÇÃO DE SAÚDE
subjetiva. Sendo assim, a principal rela- Vanessa Martins Rubim - SEEDF/UnB
ção entre a categoria sentido subjetivo e a nessarubim@gmail.com
subversão é que ambos representam uma
produção simbólico-emocional que consti- Pensar na tríade equoterapia, educação e
tui a práxis do sujeito. Porém, a diferença promoção de saúde, talvez não seja algo
entre estas categorias é que a práxis do tão simples como pareça, principalmente
sujeito subversivo apresenta-se como dis- quando buscamos como apoio para essa
sonante da ordem estabelecida e da con- discussão categorias sistêmicas, comple-
figuração de sentidos subjetivos vigente xas e processuais ancoradas na Teoria da
na constituição do sujeito. A subversão é Subjetividade de caráter histórico-cultural
uma produção de sentidos que entra em desenvolvida por González Rey (2003) e
conflito com aqueles que configuram sub- os estudos acerca do Tratado de Defec-
jetivamente o sujeito proporcionando uma tologia de Vygotsky (1997). Faz-se mister
reconfiguração que vai além dos sentidos salientar a princípio que a equoterapia
produzidos até o momento, que se confi- enquanto método terapêutico (Ande-Bra-
gura com essas novas produções, e que o sil,1989) possui ação terapêutica por meio
faz avançar os limites de seu escopo bus- do cavalo como possibilitador de novas
cando em novos arcabouços aquilo que experiências propiciadas pela cinestesia
se lhe apresente como alternativa diante de seus movimentos. O que pode gerar a

814
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

possibilidade de transformar-se em mo- síveis das propriedades e estruturas dessa


mento propício à comunicação saudável, relação, o que rompe o caráter metafísico
à emersão do sujeito e ao favorecimento e alcança a sua condição histórica, mas o
de relações dialógicas que provoquem e fator imprescindível dessa relação é o ca-
impulsionem os processos de aprendiza- ráter sistêmico, processual e integral de
gem e desenvolvimento por meio da ação compreender o sujeito. Portanto, essa trí-
planejada, personalizada e interventiva ade nos insere na dinâmica dos processos
da equipe de atendimento. Igualmente, de aprendizagem e desenvolvimento desa-
esses elementos engendram a promoção fiadores que se apresentam nesse espaço
de saúde, não como um estado desen- e nos brindam com o caráter criativo, com-
contrado do sujeito e de seus processos plexo e dialético desse desenvolvimento
de constantes conflitos e tensões com o que não segue as vias diretas, mas ver-
meio, mas como um processo complexo, dadeiros caminhos criativos e elaborados
multidimensional, subjetivo, contraditório, que mobilizam a criança na produção do
singular e sistêmico (Rey, 2004) em que a conhecimento. Investigar como as ações
educação como prática social e a equote- equoterápicas em consonância com os as-
rapia enquanto terapia sistêmica estejam pectos educativos se constituem em inter-
vinculadas à qualidade de vida do sujeito. venções atentas e criativas que se conec-
Destarte, marcamos essa conjunção como tam ao sujeito atendido percorrendo o seu
um processo de desenvolvimento humano funcionamento psicológico (Tacca, 2008),
sistêmico em que a eleição da subjetivida- o seu pensar e a forma como produz sen-
de como espaço ontológico diferenciado tidos subjetivos nas sessões, nos levam a
nos permite entender as tramas tecidas crer que estas corroboram à aprendizagem
na interface da educação com a equotera- e ao desenvolvimento, impulsionam e mo-
pia como possibilitadoras da configuração bilizam esses processos. São questões que
subjetiva de uma personalidade saudável nos instigam a entender a unidade indisso-
quando nos propomos a discutir a impli- ciável entre cognição e afeto e a configu-
cação da deficiência nesse espaço. Diante ração da personalidade enquanto sistema
disso, a deficiência, como produção social, aberto e dinâmico de autorregulação e
nos impõe desafios, nos convida a refletir regulação do comportamento do sujeito
que se por um lado o defeito cria obstácu- nos seus contextos de atuação. Quando
los e barreiras, por outro, abre novas zonas saímos do entendimento da personalidade
de possibilidade, nova organização, novas enquanto traços fixos definidores do sujei-
formações psíquicas. Portanto, quando to e a entendemos enquanto um sistema
falamos em desenvolvimento sistêmico, relativamente estável, trazemos uma di-
frisamos a existência de um sujeito atual, mensão subjetiva que infere que a equo-
em constante movimento e processualida- terapia na interface com a educação possa
de, implicado pela subjetividade, inserido contribuir para que o sujeito possa operar
nas dinâmicas sociais em constante tensão com os recursos subjetivos com os quais
e contraditoriedade com as experiências se constitui para gerar alternativas diante
travadas. O caminho do desenvolvimento das situações contraditórias e tensas expe-
pressupõe a relação indissociável entre rimentadas convertendo-as em sentimen-
cognição e afeto e os percursos imprevi- tos de segurança, confiança e autovalori-

815
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

zação, ou não, dependendo de como esse sujeito de ausências, mas em um sujei-


trabalho é direcionado. Essa teia dinâmica to de possibilidades que possivelmente
e processual no espaço da equoterapia na conduzirão esse processo terapêutico a
articulação com a educação constitui-se novas produções de sentidos subjetivos e
em momentos que expressam a organi- configurações subjetivas que corrobora-
zação peculiar do sujeito e de sua perso- rão à configuração de uma personalidade
nalidade o que nos conduz à tentativa de saudável. Nesse sentido, concluímos que
compreender a organização da psique e essa tríade alicerçada aos estudos da sub-
seu caráter ontológico histórico-cultural jetividade e pautada nos pressupostos de
fora de uma perspectiva coisificada e ob- Vygotsky coaduna para a compreensão do
jetivista como um ente que se revela fora desenvolvimento humano como um pro-
do sujeito, mas como um sistema gerador, cesso singular e integral do sujeito impli-
processual e em constante desenvolvi- cado por sua emocionalidade, o que des-
mento. Vygotsky (1995) pressupõe que o mistifica o caráter universal, padronizado e
desenvolvimento humano seja um proces- mecânico de desenvolvimento.
so dialético, dinâmico e interativo em que
as diversas funções se metamorfoseiam Palavras-chave: Equoterapia; Educação;
e tomam novas formas em que as velhas Subjetividade.
não se perdem, mas são constitutivas das
novas, em que interno e externo são mo-
mentos interrelacionados de um processo UM MODELO PARA A PREVENÇÃO DA
e não algo dicotômico que se reflete em AIDS
uma instância que se substancializa, mas Teresa Cristina Siqueira Cerqueira - UnB
que nesse conflito produz complexas es- teresacristina@unb.br
truturas psíquicas capazes de diferentes
formas de organização e desdobramentos. As últimas pesquisas epidemiológicas
À guisa dessa premissa, entramos nos pro- têm demonstrado um aumento signifi-
cessos de aprendizagem e desenvolvimen- cativo na taxa dos jovens atingidos pela
to que implicam os sujeitos atendidos pela Aids. Neste grupo predominam aqueles
equoterapia e destacamos que a organiza- cuja vida sexual é intensa e que nem sem-
ção da ação terapêutica pressupõe a imer- pre tomam as precauções necessárias. A
são do sujeito no contexto de atendimento constatação de que, muitas vezes jovens
(Rey, 2007). Desta forma, o terapeuta é um estudantes universitários, com acesso à
provocador, um facilitador da emergência informação pertinente, assumem riscos
de sentidos subjetivos, um organizador do desnecessários, faz com que o estudo dos
contexto social de atendimento que esco- fatores psicológicos deste comportamen-
lhe os instrumentos que mediam e mobi- to tenha-se tornado extremamente rele-
lizam os motivos e as necessidades desse vante. Pesquisas como a de Dhalia, Bar-
sujeito que alavancam a aprendizagem e reira e Castilho (2000), e a de Szwarcwald
o desenvolvimento por meio da conexão e Castilho (1999), têm demonstrado uma
com o seu funcionamento psicológico pe- redução na taxa dos jovens atingidos pela
culiar. São as zonas de possibilidades de Aids (Síndrome da Deficiência Imunoló-
desenvolvimento aportadas não em um gica Adquirida) no Brasil. Atualmente a

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Aids está disseminada em todo o país e de otimismo exagerado têm como base
no mundo, infectando milhares de pes- uma avaliação comparativa, mostrando
soas nos diferentes ciclos da vida. Deste claramente a força da referência social.
modo, estratégias de prevenção, tanto in- Pode-se perceber que, se a percepção
dividuais quanto coletivas, permanecem da própria vulnerabilidade leva, no caso
imprescindíveis para reduzir e controlar das outras doenças a um comportamen-
as taxas de transmissão, além das estra- to preventivo, a ligação entre estas duas
tégias, há necessidade de pesquisas para variáveis não se aplica no caso da Aids.
identificar os fatores psicológicos e situa- Os modelos mais conhecidos de compor-
cionais que possam levar a uma mudança tamento de saúde foram elaborados para
neste comportamento. Entre as dificulda- lidar com doenças não fatais e até, ocasio-
des de desenvolver e manter um compor- nalmente, reversíveis e no caso da Aids os
tamento preventivo nas pessoas destaca- comportamentos de risco a serem evita-
-se a dificuldade, da maioria delas, em ter dos estão, em geral, ligados à vida sexual
uma noção clara do próprio nível de risco. o que os torna eminentemente sociais,
Vários vieses psicológicos influem sobre afetando outras pessoas e dependendo
esta dificuldade de percepção. Do ponto de sua colaboração. Os autores Fisher e
de vista cognitivo há uma tendência ge- Fisher (1992), discutem uma conceitu-
neralizada para a baixa avaliação do risco ação e um conjunto de operações dela
acumulado, segundo Linville, Fisher e Fis- derivada que possa fornecer uma base
chhoff, estudiosos da década de noventa. mais sólida às intervenções visando a re-
Outra distorção comum da percepção é a dução do risco Aids. A informação acerca
de se acreditar mais seguro que os ami- dos métodos de transmissão da Aids e de
gos e estes mais seguros que os demais. modos específicos de prevenir a infecção
Este otimismo parece ter origem na per- são elementos indispensáveis à obtenção
cepção de controle. Segundo Thompson, de um comportamento preventivo. A mo-
Nanni e Levine (1994) o controle pode ser tivação para mudar o comportamento de
definido como primário, isto é, a crença risco é o segundo determinante da dispo-
de que pode influenciar a realidade, ou sição à prevenção. Finalmente as habili-
secundário, obtido por meio da aceitação dades comportamentais necessárias para
da realidade. Fatores motivacionais como executar os atos preventivos completam
os estereótipos acerca das características os três elementos do modelo. O modelo
dos grupos de pessoas atingidas são con- é chamado pelos autores de (IMB) vindo
siderados como provocando um otimismo de: Information – Motivation – Behavior.
irrealista, de quem se considera diferente (Fisher e Fisher, 1993). A partir do modelo
dos demais. Este tipo de reação foi en- geral (IMB) as informações, a motivação
corajada muito tempo pela mídia, que já e as habilidades a serem utilizadas serão
deixou de associar a Aids a drogados e ho- específicas ao grupo que o pesquisador
mossexuais. Outro fator motivacional que visa atingir, seja este de homossexuais,
leva ao otimismo irracional é o mecanis- drogados, donas de casa ou estudantes
mo de negação defensiva, que ajuda a re- universitários. O modelo proposto pelos
duzir a ansiedade, pela redução na avalia- autores já foi amplamente aplicado em di-
ção dos riscos. Finalmente todos os tipos versos países, em especial no Brasil, como

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mostram as pesquisas desenvolvidas por rante o aprendizado e o desenvolvimento


D’Amorim (2002, 2004), todas com re- da autoestima e pertencimento, trazendo
sultados positivos e propondo alterações contribuições para o aperfeiçoamento
para a prevenção. Portanto, conclui-se da inclusão escolar. A segunda autora faz
que a prevenção tem estreita relação com um histórico epistemológico relativo ao
o comportamento; as intervenções que desenvolvimento de sujeitos com defici-
ensinam tais habilidades têm sido efeti- ência intelectual, deslocando o eixo do
vas na promoção do comportamento de enfoque biológico para o caráter multidi-
evitar riscos. mensional da deficiência intelectual. Le-
vanta um conjunto de questionamentos
Palavras-chave: AIDS; Modelo para relativos às formas de inclusão de sujeitos
Prevenção; Motivação. com deficiência intelectual, desde o dese-
nho de atenção ao estudante com neces-
sidades educacionais especiais, de uma
MR LT07 maneira geral, proposto pela Política Na-
cional de Educação Especial na Perspecti-
Mesa Redonda va da Educação Inclusiva do MEC (2008),
até o estudante em situação de deficiên-
cia intelectual, considerando o modelo
MR LT07-1492 - DESENVOLVIMENTO de atendimento educacional especializa-
HUMANO EM CONTEXTOS INCLUSIVOS do- AEE no contraturno e a adoção de um
Celeste Azulay Kelman - FE/PPGE/UFRJ currículo único para todos os estudantes
da Educação Básica, com ou sem flexibi-
Esta Mesa Redonda pretende discutir as lizações. Em seguida, a terceira autora
influências das interações sociais sobre a analisa a percepção das famílias de adul-
diversidade humana, focalizando a inclu- tos surdos que não adquiriram nenhuma
são de algumas minorias em diferentes língua e que crescem em ambiente pobre
contextos e etapas do desenvolvimento. de desafios, com cuidadores que têm
Será abordada a inclusão na escola, na baixas expectativas quanto ao seu desen-
sociedade, na família e no trabalho de su- volvimento. Foram analisadas entrevistas
jeitos que apresentam surdez na infância com familiares de adultos entre 35 e 52
e na vida adulta, sujeitos com deficiência anos, procurando identificar concepções
intelectual e adolescentes em conflito a respeito da surdez. Todos os quatro sur-
com a lei. A primeira autora apresenta dos buscaram a escola na idade adulta, na
os reflexos do respeito à diferença lin- perspectiva de incluírem-se socialmente.
güística dos alunos surdos de uma escola É quase consenso entre os familiares a
de ensino fundamental e o impacto que descrença de que o surdo possa tomar
essa diferença traz no desenvolvimento conta de si mesmo e encontrar, por es-
da autoestima, da formação identitária forços próprios, meios de subsistência. A
e do bom desempenho acadêmico. Pro- conquista da linguagem representou um
blematiza o papel dos diferentes partici- marco no desenvolvimento destes adul-
pantes da escolarização desses alunos, tos. Mesmo não sendo fluentes, estes
mostrando que a língua de sinais não ga- alunos passaram a interagir com outras

818
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pessoas, alargando o universo de inter- passa a garantir aos surdos que Libras seja
locutores; tornaram-se mais ousados em a sua língua de instrução (Decreto Presi-
abordar e manter contato com pessoas dencial 5.626/2005). Espera-se que a es-
estranhas; e passaram a ter maior con- cola se adapte às necessidades educacio-
trole sobre as próprias vidas, realizando nais desses alunos, mas o que por vezes
atividades simples como escolher roupas, ainda se observa é o fenômeno denomi-
administrar dinheiro, expor vontades e nado “copismo”, onde os alunos surdos
modificar hábitos. A última autora con- dentro das classes regulares fazem uma
tribui com proposta interdisciplinar no cópia mecânica, desprovida de significado
atendimento à adolescentes em conflito e que não conduz à aprendizagem. Tam-
com a lei, revelando a mudança da abor- bém apresentam uma produção textual
dagem interinstitucional governamental, rudimentar, muitas vezes incompreensí-
que transfere o atendimento da Secre- vel, por não dominarem a gramática, o lé-
taria de Justiça para a de Educação. Para xico e a semântica da língua portuguesa.
melhor incluir socialmente esses jovens, Tradicionalmente, dentro do âmbito esco-
os profissionais propõem a criação de um lar, as metodologias e práticas educativas
projeto individualizado para cada adoles- empregadas são apoiadas em aspectos fo-
cente, o PIA. Relata o acompanhamento e néticos da nossa língua. Em decorrência,
o destino de nove adolescentes em cum- os alunos surdos do ensino fundamental
primento de medida socioeducativa e em vivenciam grandes dificuldades para aqui-
situação de vulnerabilidade social, em um sição da língua portuguesa, o que pode
projeto que agrega a atividade esportiva à eventualmente ser entendido como in-
formação profissional, com o objetivo de capacidade cognitiva. Por serem filhos de
inserção no mercado de trabalho. pais ouvintes, são prejudicados na forma-
ção inicial de conceitos e mecanismos que
desenvolvem o pensamento, uma vez que
INCLUSÃO E AUTOESTIMA ANDAM língua e pensamento caminham juntos,
JUNTAS? DECORRÊNCIAS DA PEDAGOGIA um influenciando o outro. Os problemas
VISUAL relacionados à educação de alunos surdos
Celeste Azulay Kelman - UFRJ vão desde a estrutura e funcionamento
cel.azul@superig.com.br da escola, passando pelo acesso ao currí-
Financiamento: FAPERJ culo até as pessoas que respondem dire-
tamente pela inclusão escolar no ensino
A história escolar dos surdos foi marca- fundamental: seus professores e gestores
da por movimentos de fracasso escolar (Kelman; BRANCO; 2003; 2004). Para veri-
e evasão, produzindo sentimentos de ficar o estágio atual de desenvolvimento
frustração e baixa-estima. Nas primeiras escolar de alunos surdos na rede pública
décadas do século XXI, entretanto, têm municipal, procuramos identificar se a
sido observadas no Brasil transformações escola está se transformando para assu-
com a política de inclusão e o reconheci- mir uma posição de respeito à construção
mento da Libras como a língua oficial da identitária desses alunos, tornando-se
comunidade surda (Lei 10.436/2002). Em uma escola “bi-bi”: bicultural, que englo-
decorrência, o governo cria legislação que be a cultura ouvinte e a cultura surda, e

819
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bilíngue, um local onde circulam e são (BUZAR, 2008). A metodologia utilizada,


respeitadas ambas as línguas, a portugue- de cunho qualitativo, baseou-se na Semi-
sa e a Libras. Mas será que os aspectos ótica Imagética (Santaella; Nöth, 2001) e
culturais que envolvem o currículo estão introduziu aulas de português fora da sala
sendo pautados nessa perspectiva? Ou de aula ao longo de 2011. Foram também
permanecem atendendo à cultura do- entrevistados a diretora, a professora da
minante, logocêntrica? O que fazer para classe regular, a intérprete, a professora
que a escola apresente indicadores mais da sala de recursos, o instrutor surdo e
eficazes no processo de letramento de os próprios alunos surdos. As aulas foram
alunos surdos, promovendo não apenas a realizadas pela pesquisadora, juntamente
construção de conhecimentos, mas tam- com duas alunas da graduação em Peda-
bém sujeitos com autoestima enaltecida? gogia, a professora da sala de recursos e a
Como os surdos podem aprender melhor intérprete fora da sala de aula. O ambien-
o português, já que sucesso acadêmi- te utilizado foi a sala de informática da es-
co relaciona-se também com satisfação cola, para acesso aos computadores, que
pessoal? Será que seus professores têm facilitariam o uso de recursos visuais. A di-
passado por processos de formação con- retora da escola revelou que esses alunos
tinuada? A língua portuguesa está sendo estavam em classe especial (CE) até 2009;
ensinada como segunda língua? Pratica- mas, em 2010, pela política de inclusão,
-se a pedagogia visual? Estão presentes foram transferidos para classe regular. Ela
os atores necessários ao processo ade- diz: “Acho uma “bobagem” ter colocado
quado à escolarização do surdo, como o os alunos da CE na classe comum. Era pre-
intérprete educacional e o instrutor surdo ferível eles ficarem na salinha deles, que
adulto, por exemplo? Nesse sentido, bus- se é pra socializar, eles já estão. Estão su-
camos investigar quais os aspectos que per integrados, se divertem e brincam, só
relacionam sucesso acadêmico com satis- não ouvem. No governo Federal eles não
fação pessoal em contextos de aprendiza- entendem nada de escola.”. A professora
gem do português como segunda língua. da sala de recursos acompanha esses alu-
Com o objetivo de verificar qual o impacto nos há mais de seis anos e disse sobre um
que o respeito à diferença lingüística cau- deles: “No começo, ele beliscava, chuta-
sa no processo de letramento, na autoes- va e jogava as coisas no chão. Depois que
tima e na construção identitária de alunos aprendeu Libras, se acalmou. Hoje esses
surdos, foi realizada uma intervenção em alunos surdos são melhores do que mui-
uma escola da rede pública municipal, em tos alunos ouvintes da classe.” A professo-
forma de reforço escolar. Os participan- ra regente constata a evolução acadêmica
tes foram cinco alunos surdos de quarto dos mesmos, dizendo: “Eu percebo que
ano do ensino fundamental, com idades os olhinhos deles brilham quando com-
variando entre onze e treze anos. Inicial- preendem o que estou dizendo”, o que é
mente foi feita uma reunião com as mães feito pelo trabalho da intérprete. Houve
desses alunos, que autorizaram a realiza- troca de três intérpretes durante a rea-
ção da pesquisa. As estratégias utilizadas lização da pesquisa e nem sempre estes
foram o ensino de português como se- tiveram uma atuação adequada, deixando
gunda língua e o uso da pedagogia visual de interpretar ou submetendo o aluno a

820
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um estado de terror: “Vou te dar mais um clássico de Inhelder em 1944 Le diagnostic


chance, se você não acertar, vai ficar sem du raisonnement chez lês débiles mentaux
almoço! Tem que ser assim. Só funciona (NOT, 1975), explica a deficiência intelec-
por pressão.” Apesar de alguns entraves, tual como uma construção mental inaca-
os resultados acadêmicos dos alunos es- bada, impossibilitando à pessoa o alcance
tão comparáveis aos das crianças ouvin- de níveis superiores de conhecimento e
tes, com defasagem ainda em português. de construção das funções mentais, via-
Os resultados da turma de quarto ano bilizados pelo desenvolvimento cognitivo
onde estão inseridos, nas provas bimes- pleno. A limitação intelectual foi reco-
trais padronizadas, têm mostrado uma nhecida, também, por Vigotski (1995), e
média melhor do que da outra turma de entendida como resultado das respostas
quarto ano da escola. Essa intervenção sociais do meio ambiente à condição (de-
tem resultado em melhor aprendizado e feito) apresentada pela pessoa; caracteri-
poderá apontar para a adoção da mesma zou-se a deficiência, portanto, como uma
estratégia em outras escolas onde exis- condição social e culturalmente provoca-
tam alunos surdos incluídos e em dife- da. As visões de deficiência enquanto des-
rentes séries escolares. As modificações vantagem natural, biológica, provocada
estruturais na escola, que reconhece e por lesões ou reações sociais, passaram a
respeita as características linguísticas do coexistir com uma representação alterna-
seu alunado surdo, têm implicado no au- tiva desde os anos 70, na emergência do
mento da autoestima, o que retroalimen- modelo social de deficiência. O modelo
ta o processo de escolarização dos alunos foi um marco teórico da concepção des-
surdos. se fenômeno, descrito não mais em uma
perspectiva personalista, tendo o corpo,
Palavras-chave: educação, surdez, pedagogia o organismo, como centralidade, mas
visual concebido na interação pessoa-ambiente
(Diniz, 2007). Essa visão colocou a defici-
ência como problema social e, não ape-
EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ATENÇÃO nas, da pessoa e sua representatividade
AO ESTUDANTE EM SITUAÇÃO DE corporal. O modelo social de deficiência
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL tem ganhado reconhecimento e aceita-
Erenice N. Soares Carvalho - UCB ção em estudos e pesquisas da comuni-
erenice@pos.ucb.br dade científica, em textos governamen-
tais e de organismos internacionais e em
A deficiência intelectual é compreendi- documentos e legislações. Desse modo,
da e explicada diferentemente, segundo passou-se a demandar uma resposta so-
diversas abordagens teóricas. Historica- cietal à exclusão e ao negligenciamento
mente, e de modo consensual, apenas a dos direitos das pessoas em situação de
dimensão cognitiva era considerada na deficiência, mediante o reconhecimento
identificação do fenômeno, caracterizado da diversidade, da posição de desigualda-
pelo atraso no desenvolvimento da inte- de em que se encontravam, requerendo
ligência. Nessa perspectiva, a concepção a promoção de medidas de superação do
piagetiana, representada pelo estudo status quo, inclusive no que diz respeito

821
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

à sua educação e escolarização. Conver- meio ambiente [...]”, relacionando o im-


gente com o modelo social, a American pacto do ambiente no desenvolvimento e
Association on Intelectual and Develop- no funcionamento humano em diferentes
mental Disabilities-AAIDD (2010) vem re- níveis sistêmicos. Coaduna-se, ainda, com
definindo, desde a década de 90, sua con- a Classificação Internacional de Funciona-
cepção de deficiência intelectual, vista lidade, Incapacidade e Saúde – CIF (OMS,
atualmente como: “limitação significativa 2003), considerando que o funcionamen-
no funcionamento intelectual e no com- to humano abrange um conjunto de fun-
portamento adaptativo, como expresso ções e estruturas do corpo, atividades da
nas habilidades conceituais, sociais e prá- pessoa e participação social. Desse modo,
ticas. A deficiência origina-se antes dos 18 quando são garantidas condições favorá-
anos de idade” (AAIDD, 2010, p. 1). Essa veis de apoio, interações sociais positivas
definição enfatiza a limitação significativa e acessibilidade à vida comunitária e aos
como indicadora de desvantagens para a bens da cultura, ampliam-se as expectati-
pessoa em situação de deficiência, quanto vas de desenvolvimento da pessoa, bem
ao seu funcionamento na sociedade. Por como os horizontes para sua realização
sua vez, considera o funcionamento inte- pessoal e social. A inclusão educacional
lectual como uma das dimensões impor- escolar nessa concepção de deficiência
tantes do conceito, mas não a única. Essa intelectual abre espaço para uma gama
perspectiva funcionalista defende que os de reflexões. Dyson (apud Inclusión In-
comportamentos funcionais da pessoa ternacional, 2011) distingue quatro en-
levam em conta fatores contextuais, fa- foques de inclusão escolar baseados em
tores de natureza pessoal (idade, gênero, diferentes ênfases: (a) localização física–
raça, história de vida, escolarização, etc.) enfatizando a inserção do estudante na
e fatores ambientais (físicos e sociais), de escola comum/classe comum, fundamen-
modo que a deficiência intelectual deixa tando-se principalmente nos direitos hu-
de ser vista como um estado ou condi- manos e na igualdade de oportunidade;
ção da pessoa para ser concebida como (b) acessibilidade– enfatizando a educa-
um estado de funcionamento no ambien- ção para todos mediante a acessibilidade
te, justificando, a nosso ver, a expressão plena e a prática do desenho universal;
situação de deficiência. Enfim, a AAIDD (c) participação social– destacando a in-
defende o caráter multidimensional da tegração social do estudante, mediante
deficiência intelectual, ressaltando a ar- relações/interações sociais e interpesso-
ticulação entre habilidades intelectuais ais e; (d) inclusão social/societal– tendo
e adaptativas, mediadas por sistemas de como ênfase a cidadania plena, defen-
apoio, envolvendo cinco dimensões: habi- dida e conduzida pela escola como eixo
lidades intelectuais, habilidades adaptati- detentor do poder e capaz de superar os
vas, saúde, participação social e contex- impeditivos da inclusão escolar e social,
to. Essa visão coaduna-se com o modelo atuando como protagonista da transfor-
bioecológico de Bronfenbrenner (1996, p. mação da sociedade excludente em inclu-
14), para quem “o desenvolvimento hu- siva. Algumas reflexões nesse sentido re-
mano é um produto da interação entre o metem, primeiramente, às possibilidades
organismo humano em crescimento e seu efetivas da escolar exercer seu papel fren-

822
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

te à aprendizagem e ao desenvolvimento ADULTOS SURDOS: A FAMÍLIA COMO


do estudante em situação de deficiência LUGAR DE DESENVOLVIMENTO
intelectual (e outros), sua preparação Linair Moura Barros Martins - SEE/DF
para o trabalho e exercício da cidadania, linairmoura@gmail.com
como preconiza a Constituição Federal de
1988. Como desdobramento, as seguintes A aquisição da primeira língua é um fenô-
questões se impõem: O que caracteriza- meno tipicamente integrante da infância;
mos como inclusão escolar? Que posição entretanto, há um grupo de indivíduos, os
social ocupa o estudante em situação de surdos, que enfrentam enormes dificul-
deficiência intelectual enquanto sujeito dades no processo de aquisição de língua
da inclusão na escola? De que mudanças nesta fase. Cerca de 95% dos surdos bra-
estamos falando, para as escolas e os sis- sileiros são filhos de pais ouvintes e, nesta
temas educacionais, para tornar efetivo o situação, o ambiente lingüístico domésti-
processo de inclusão? Qual é o desenho co não oferece um input adequado, uma
de atenção ao estudante com necessida- vez que a língua de sinais, que poderia
des educacionais especiais proposto pela ser aprendida naturalmente (QUADROS,
Política Nacional de Educação Especial 1997), não é utilizada nem conhecida pela
na Perspectiva da Educação Inclusiva do família e o desenvolvimento da lingua-
MEC (2008) ao estudante em situação de gem oral não tem como acontecer em ra-
deficiência intelectual? Consideram-se o zão da impossibilidade de percepção dos
modelo de atendimento educacional es- sons pela criança com surdez profunda.
pecializado-AEE no contraturno, segundo Sem este acesso, muitas vezes, os surdos
a caracterização proposta pelo MEC, e a chegam à idade adulta sem aquisição de
adoção de um currículo único para todos nenhuma língua. Este fato tem como con-
os estudantes, com flexibilizações? É pos- seqüência o estabelecimento grandes difi-
sível uma aula que contemple a diversida- culdades que se manifestam na interação
de de todos os estudantes em sua singula- social e na sua autonomia, especialmen-
ridade? Que espaço ocupa o “Pluralismo te quando o ambiente em que crescem é
de ideias e de concepções pedagógicas” pobre em desafios e as pessoas que estão
nas propostas atuais dos sistemas de en- ao seu redor, principalmente os cuidado-
sino, como preconiza a Constituição Fede- res, têm baixas expectativas quanto ao seu
ral de 1988? Essas questões constituem desenvolvimento. A deficiência cria dificul-
pontos indutores de análises que podem dades diferentes para o desenvolvimento
contribuir para orientar a avaliação da nos planos biológico e cultural. Segundo
efetividade do processo de inclusão quan- Vigotsky (1997), a surdez gera um efeito
do se pensa a deficiência intelectual e as primário, de origem biológica, que é senti-
necessidades educacionais especiais dela do apenas secundariamente por meio das
decorrentes na escolarização de estudan- ações das pessoas que compõem o entor-
tes da Educação Básica. no do surdo, no modo como entendem a
deficiência e no status social que dão a ela.
Palavras-chave: educação inclusiva, Isto se traduz no lugar social concebido ao
deficiência intelectual, modelo funcional de surdo, “seu papel e destino como partícipe
deficiência da vida” (p. 18). Este autor analisa profun-

823
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

damente a linguagem– ou sua ausência– com a utilização de um sistema gestual,


do ponto de vista do desenvolvimento das constituído no âmbito doméstico e com-
funções psíquicas superiores, argumen- partilhado com um número muito restri-
tando que este não está ligado às condi- to de interlocutores. Quatro entrevistas
ções orgânicas e sim às sociais, uma vez com famílias de surdos foram analisadas,
que é do ambiente da criança que virão procurando identificar suas concepções a
as condições e desafios que propiciarão respeito da surdez. Os surdos em questão
o seu desenvolvimento. Estudos indicam são quatro adultos com idades que variam
que a língua de sinais é constituída pelos de 35 a 52 e que buscaram a escola na ida-
mesmos parâmetros das línguas orais e de adulta, onde começaram a aprender a
que ela exerce o mesmo papel quanto ao língua de sinais. Foram constituídas quatro
desenvolvimento das funções vitais da categorias de análise nas entrevistas: a) a
linguagem (Vigotsky, 1997) e outras com- comunicação; b) o status dado à deficiên-
petências humanas que se baseiam nesta cia; c) a expectativa quanto ao futuro; e d)
capacidade (Quadros, 1997). Para Bakhtin as mudanças resultantes da inserção na es-
(1981), é pela aquisição de uma língua que cola e do o aprendizado da língua de sinais.
se constitui a consciência. A consciência se Quanto à comunicação, as quatro famílias
confunde com o processo constitutivo do relataram a construção do sistema gestual
sujeito, porque é a através da língua que se na infância para atender às necessidades
dão a interação com o outro e a apropria- básicas. Este sistema gestual ainda é utili-
ção de conhecimentos, valores, normas e zado no âmbito doméstico e a comunica-
conceitos compartilhados que permitem ção se restringe à indicação de atividades
a inserção no grupo social. Considerando relativas a cuidados pessoais, alimentação,
a relevância que Vigotsky dá ao ambiente repouso e higiene. Relataram ainda que a
como promotor de condições adequadas comunicação com o surdo é estabelecida,
para que o desenvolvimento da pessoa em geral, com apenas um membro da fa-
com deficiência se concretize, e nessas mília, pois nem todos, no âmbito domés-
condições está incluído o status social da tico, entendem ou se fazem entender com
deficiência que se revela nas metas esta- ele. Quanto ao status da deficiência, três
belecidas socialmente como um ideal para famílias consideram que cuidar do familiar
os indivíduos de um determinado grupo, com deficiência é uma espécie de missão.
pode-se antever os resultados de um am- Há um sentimento de responsabilidade e
biente em que a surdez é tida como uma não existe a crença de que o surdo possa
característica limitante e no qual estejam tomar conta de si mesmo e encontrar, por
presentes valores negativos em relação esforços próprios, meios de subsistência.
às capacidades das pessoas surdas. No Dois, dentre os quatros, foram matricu-
estudo em questão, o desenvolvimento lados na escola após as mortes das mães
lingüístico dos alunos tem como caracte- cuidadoras. Quanto ao futuro, duas famí-
rística importante o início da aquisição da lias não demonstraram expectativa quan-
primeira língua na idade adulta. Esta rea- to a um possível casamento ou trabalho
lidade marca de forma significativa este da pessoa surda. Uma mãe entende que
processo por se tratar de pessoas que já as aproximações de seu filho adulto com
estabeleceram sua experiência de vida o sexo oposto são “coisas de criança”. Foi

824
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

possível concluir que existe uma respon- de 80, transfere o foco do assistencialismo
sabilidade passada de uma geração para para a possibilidade de promoção do de-
outra quanto ao cuidado com o surdo. A senvolvimento, sendo a criança conside-
conquista da língua representou um mar- rada “sujeito de direito”. Com base no Es-
co no desenvolvimento destes adultos tatuto da Criança e do Adolescente, na Lei
surdos. Na medida em que aprenderam 8.0669/90, e em diálogo com o Sistema de
a usar uma língua como meio de comuni- Atendimento Socioeducativo – SINASE –,
cação, mesmo não sendo fluentes, estes o DEGASE vem promovendo mudanças a
alunos passaram a interagir com outras partir de reformulações sobre as Ações So-
pessoas, alargando o universo de seus in- cioeducativas. Entre elas, os antigos CRIA-
terlocutores. Pelos relatos dos familiares, MS passaram a se constituir como unida-
eles se tornaram mais ousados em abordar des vinculadas aos Municípios, responsá-
e manter contato com pessoas estranhas veis pela medida de “liberdade assistida”.
e passaram a ter maior controle sobre as Em contrapartida, o governo do Estado do
próprias vidas, realizando atividades sim- Rio de Janeiro instituiu o Departamento
ples como escolher roupas, administrar di- de Ações Socioeducativas, desvinculando
nheiro, expor vontades, modificar hábitos o DEGASE da Secretaria de Justiça. Através
da vida diária. Ganharam certa autonomia do decreto de nº 18.493/93, ele foi trans-
nas atividades da vida social. As famílias ferido para a Secretaria Estadual de Educa-
são muito resilientes quanto ao novo meio ção como órgão estadual responsável pela
de comunicação e não demonstraram in- execução das medidas socioeducativas: “de
teresse com seu aprendizado, relatando infrator à adolescente em conflito com a
que os gestos satisfazem as necessidades lei”. O trabalho passou a ser realizado por
de comunicação. Percebe-se que, para as uma equipe de profissionais previamente
famílias, a surdez é uma condição limitan- capacitados através de um curso com du-
te se suas expectativas ainda são baixas ração de 40 horas, ministrado por equipes
quanto ao desenvolvimento do surdo. do DEGASE. Nesse contexto, o pedagogo
é basicamente responsável pelo acompa-
Palavras-chave: surdez, língua de sinais, nhamento do processo de escolarização;
interação familiar os agentes educativos, pelo acompanha-
mento das atividades dos adolescentes no
CRIAAD; o assistente social, pelo acompa-
AS NOVE VELAS: UM OLHAR SOBRE O nhamento do adolescente na relação com
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE as famílias; o psicólogo, pelo acompanha-
ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO mento psicológico do adolescente, volta-
DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO do para o aspecto do desenvolvimento. O
ESTADO DO RIO DE JANEIRO trabalho do psicólogo possui uma proposta
Mercedes Villa Cupolillo - FAP/São Gonçalo-RJ interdisciplinar e, em nossa experiência,
mercedes.cupolillo@gmail.com deparamos-nos com situações freqüen-
tes de conflitos e troca de papéis entre os
A ruptura com os velhos costumes da crian- profissionais. Na direção do desenvolvi-
ça “em situação de risco”, a partir das con- mento, uma das propostas sinalizadas pelo
quistas de políticas de direito na década SINASE é a do projeto individualizado para

825
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cada adolescente, o PIA (Monte, 2011). a progressão de medida socioeducativa.


Com base em uma experiência da autora O relato a seguir descreve nosso percurso
de seis meses no DEGASE, o trabalho em desde os primeiros contatos com adoles-
questão pretende discutir os limites e pos- centes em conflito com a lei. Adegmar, juiz
sibilidades de implantação do PIA, a partir da infância e da juventude em uma cidade
de estudos de casos de nove adolescentes longe daqui, me surpreendia com sua capa-
em cumprimento de medida socioedu- cidade de ver um potencial para a vida fora
cativa. Durante o percurso, a autora ficou do crime naquelas crianças e adolescentes,
responsável pelo acompanhamento de um tão temidos por sua violência. Eu tanto ti-
grupo de adolescentes em um projeto que nha admiração por ele quanto curiosidade
agregava a atividade esportiva à formação em saber como deveria ser amar aquelas
profissional, com o objetivo de inserção no pessoas. Minha convivência com eles me
mercado de trabalho - PROJETO GRAEL. O levaria mais tarde a essa compreensão. No
projeto acontece em uma ONG na cidade CRIAAD, assim que os adolescentes chega-
de Niterói, fundada pelos velejadores ir- vam à unidade, os recebíamos através de
mãos Grael, inicialmente com o objetivo de uma entrevista padronizada. Assustava-me
promover a socialização do esporte da vela. a cada contato com um dos adolescentes.
Mais tarde, o projeto foi ampliado e, hoje Por incrível que pareça, não era a condição
em dia, recebe adolescentes e crianças de ilegalidade que me sensibilizava, mas
em situação de vulnerabilidade social para a condição humana de cada um deles. Foi
cursos profissionalizantes voltados ao es- assim que o afeto por eles acabava por se
porte, além da natação para vela e da vela, entranhar através de nossos olhos, ouvi-
enquanto atividades esportivas. Os cursos dos, pele, quando nos deparávamos com
são de mecânica de poupa, mecânica a die- sorrisos deslocados, corpos mal tratados,
sel, carpintaria náutica, eletro-eletrônica falas interrompidas, vidas dissimuladas,
náutica, fibras e capotaria. Os adolescentes esperanças adiadas. É preciso ser ingênuo
ingressam a partir de acordo estabeleci- para viver. Isso eu aprendi com eles. Inge-
do entre o CRIAAD e o grupo do PROJETO nuidade é algo que quase ninguém aprecia,
GRAEL. A participação nas atividades im- mas, hoje, tenho certeza de que é um dos
plicava a saída do adolescente do CRIAAD requisitos mais importantes para a vida
por uma manhã ou tarde, três vezes na desses adolescentes e tantos mais. Duvi-
semana, em um período de quatro meses dar para compreender é importante, mas
consecutivos. Foram nove os adolescentes desacreditar remete à condição de eterna
acompanhados pela autora. Dentre eles, impotência ou impossibilidade de mudan-
apenas um obteve uma colocação significa- ça. Como discute Bauman, é a completa
tiva no mercado de trabalho imediatamen- derrota em uma sociedade como a nossa,
te após o curso, optando pelo envolvimen- onde quase nunca se confia no próximo,
to com grupos diferentes de adolescentes; mas na possibilidade de superá-lo. Portan-
dois retornaram à escola após um período to, na lógica desses adolescentes, ninguém
de cinco anos de ausência; dois deles ob- corre riscos se não for um pouco ingênuo
tiveram uma colocação no mercado de e abraçar os novos desafios acreditando
trabalho, optando por um novo curso no que dali sairá algo diferente. Meus veleja-
projeto; três interromperam o curso após dores eram ingênuos também. E foi esse

826
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

leme que levou alguns deles até o fim da 9394/1996 passa-se a discutir essa relação
jornada. A ausência dele, à deriva do barco. de modo mais ampliado, inclusive no que
Após a análise dos casos, observamos que toca a educação dos jovens aos adultos.
alguns fatores foram determinantes para Sendo assim, nesta perspectiva, apresen-
que cada vela pudesse se coloca ao vento: tamos uma provocação como proposta
a aceitação/credibilidade do adolescente deste Simpósio “A Formação Docente deve
pelo grupo de profissionais e pela família; Considerar a Psicologia do Desenvolvimen-
as formas de vínculo estabelecidas com os to para a Educação Inclusiva do Jovem ao
profissionais e grupos do CRIAAD e do PRO- Adulto?” com trabalhos de grupos envolvi-
JETO GRAEL; as estratégias desenvolvidas dos com a Educação Básica que, de alguma
pelo adolescente na relação com os demais forma, procuram se aproximar. O primeiro
durante o seu percurso no CRIAAD; e, final- deles, apresentado por Robson Camara,
mente, “a ingenuidade”. De vez em quan- Kattia Amin, Andréia Tavares e Simão de
do, acordo desolada com a maré. Lembro- Miranda sintetiza a experiência do Grupo
-me daqueles barquinhos desnorteados. de Estudo e Pesquisa em Educação de Jo-
Quando ficam assim, logo me preocupo, vens e Adultos (GEPEJA) frente aos cursos
temendo que as velas se deteriorem e já de formação continuada da SEE-DF/EAPE.
não possam continuar a velejar. As velas Nele, analisam o processo sócio-histórico
ainda não têm rumos muito claros. Além de aprendizagem considerando o desen-
disso, freqüentemente não sabem se dei- volvimento proximal na educação de jo-
xar levar pelos bons ventos, resistindo ao vens e adultos. O segundo apresenta ainda
encontro de si mesmos. que resumidamente, alguns resultados de
investigações as quais tive a oportunidade
Palavras-chave: desenvolvimento, medida de orientar, realizadas por Marina Lopes e
socioeducativa, inclusão laboral Igor Menezes. Eles representam a partici-
pação da Universidade Estadual de Goiás/
Unidade Universitária de Formosa/ Depar-
SP LT04 - Simpósio tamento de Química. Nele revelam como
transpor obstáculos pedagógicos ao desa-
fiar preconceitos e propor as adaptações
SP LT04-1496 - A FORMAÇÃO DOCENTE metodológicas necessárias para efetivar a
DEVE CONSIDERAR A PSICOLOGIA DO educação inclusiva no que tange o desen-
DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO volvimento da educação científica, com o
INCLUSIVA DO JOVEM AO ADULTO? caso específico do ensino de Química para
Juliana Alves de Araújo Bottechia - UEG/UnU estudantes com deficiência visual. O tercei-
- Formosa ro trabalho é apresentado por Renato San-
juliana.bottechia@gmail.com tos, Ana Marques, Alexandra Pereira e Vâ-
nia Bacellar, todos colegas de profissão que
Houve um tempo que a Psicologia do De- atuando na Secretaria de Estado de Educa-
senvolvimento em relação à Educação res- ção do Distrito Federal estiveram à frente
tringia, em certa medida, suas ocupações da experiência de construir o módulo res-
ao ensino na infância. No entanto, com ponsável por relacionar Diversidade, Edu-
o percurso desenvolvido após a LDB nº. cação e Trabalho nos cursos “Construindo

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Práticas Educativas na Educação de Jovens As constantes transformações num mun-


e Adultos”. Esta contribuição versa sobre as do em que ciência, tecnologia e outras
pesquisas realizadas por este grupo de pro- formas de letramentos tomam relevo, a
fessores da rede pública de ensino para os educação escolar torna-se um instrumen-
professores dessas escolas com foco na EJA to mediador das relações estabelecidas
e, sendo assim, considera a formação do- entre o homem, enquanto gênero hu-
cente como fundante para que educação e mano, e a sociedade. A educação, como
trabalho construam o ser humano em meio prática social, não está dissociada de ou-
á diversidade. A quarta pesquisa apresen- tras práticas que permeiam igualmente o
tada trás os resultados iniciais de uma pes- processo de interação humana e produ-
quisa em andamento realizada pelo Grupo zem o conhecimento a partir da mediação
de Pesquisa em Educação Especial (GPEE) histórico-social-cultural. A aprendizagem
frente aos cursos de formação continuada na perspectiva do desenvolvimento cog-
da SEE-DF/Eape. Neste caso específico, Su- nitivo recoloca no centro do conhecimen-
sana Carvalho e Leda Bitencourt represen- to os sujeitos da educação. Autores como
tam o grupo e revelam uma escuta sensível Vigotsky (1998), Marques (2006), Libâneo
tanto às questões legais quanto às angús- (1994), entre outros, ajudam a compreen-
tias de professores da rede pública para le- der melhor o processo de ensino e apon-
cionar junto ao público da modalidade; em tam caminhos que podem ser apropriados
toda sua transversalidade; sem contar com por professores que atuam na Educação
o suporte do Atendimento Educacional Es- de Jovens e Adultos (EJA). Analisar o pro-
pecializado e como é fundamental a forma- cesso sócio-histórico de aprendizagem na
ção contínua na área. Assim, este Simpósio educação de jovens e adultos. O proces-
não tem a pretensão de esgotar o tema, so metodológico se deu nas experiências
mas sim, com trabalhos de grupos envolvi- com formação de professores da rede pú-
dos com a Educação Básica e que, de algu- blica de ensino do Distrito Federal reali-
ma forma, procuram aproximar suas visões zada durante o desenvolvimento dos cur-
complementares sobre a formação docen- sos “Construindo Práticas Educativas na
te, seja inicial ou continuada. Educação de Jovens e Adultos” na Escola
de Aperfeiçoamento dos Profissionais da
Educação- EAPE. A prática de ensino re-
A APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA quer que tenhamos como pressuposto
SÓCIO HISTÓRICA NA EDUCAÇÃO DE uma compreensão clara e segura do que
JOVENS E ADULTOS significa a aprendizagem, o que remete
Robson Santos Camara Silva - SEE-DF/GEPEJA a vários problemas. Pode-se inferir que
robsoncamara@gmail.com desde o momento que nascemos estamos
Kattia de Jesus Amin Athayde Figueiredo - aprendendo, e continuamos aprendendo
SEE-DF/GEPEJA a vida toda. Nestes termos, a questão da
kattia.unb@gmail.com aprendizagem toma dimensões mais am-
Simão de Miranda - SEE-DF/GEPEJA, plas. Observa-se que há uma gradação
simaodemiranda@globo.com das complexidades dos interesses e pre-
Andréia Costa Tavares - SEE-DF/GEPEJA ocupações que tomam corpo ao longo da
prof.andreiatavares@gmail.com vida dos indivíduos. Tais aspectos ocupam

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o centro do processo de ensino-aprendi- dos indivíduos, o que remete a uma maior


zagem como elementos fundante no con- compreensão dos elementos contextuais
texto na educação contemporânea, o que e sociais daqueles que são sujeitos da
pode ser perfeitamente desenvolvido na educação. A EJA não pode ser compreen-
EJA. Diante disso, a aprendizagem assume dida como se estivéssemos tratando de
uma dimensão em seu significado maior sujeitos como sendo receptáculos vazios
que comumente se conhece. O que se e neutros em suas convicções, muito pelo
aprende não sai do nada, mas é construí- contrário, é constituída de percepções di-
do no processo histórico constitutivo dos versas acerca da realidade existente. Evi-
indivíduos em suas diversas interações dentemente, também possui limitações
societais. O desenvolvimento humano que são inerentes àqueles que não pos-
não é um processo eminentemente bio- suem o saber oriundo de um mundo em
lógico, mas de ordem social. Tais fatores que a escolarização equipa cognitivamen-
preponderam e são históricos, o que re- te os indivíduos e limita aqueles que não
mete lançar um olhar sobre o contexto possuem o saber advindo do processo de
de aprendizagem num plano diferente escolarização. Segundo Fontana (1997, p.
de como as pessoas aprendem e podem 57), o princípio orientador dessa aborda-
ser estimuladas a aprender. Assim como gem “tudo o que é especificamente hu-
as crianças, os adultos e jovens têm o seu mano e distingue o homem de outras es-
processo eivado dos fatores sócio-históri- pécies origina-se de sua vida em socieda-
cos em seu aspecto cognitivo. Portanto, de. Seu modo de perceber, de represen-
pode-se também inferir que os educan- tar, de explicar e de atuar sobre o meio,
dos da EJA trazem consigo apreensões da seus sentimentos em relação ao mundo,
sua realidade no seu acervo cognitivo, o ao outro e a si mesmo”. Sob o princípio
que não pode ser jamais descartado pelo da interação homem-mundo-natureza, a
professor, mas potencializados nos pro- aprendizagem na perspectiva sócio-histó-
cessos escolares de ensino. Parte-se desse rica traz consigo um conteúdo pedagógico
pressuposto no centro da aprendizagem fértil de possibilidades educativas. Nesse
os elementos constitutivos da vida em so- caso, percebe-se que, ao mesmo tempo
ciedade como ao campo o campo educa- em que a educação deriva das relações
tivo. Ao apropriarmos essa visão teórica sociais, da mesma forma, o homem, nas
à EJA, o seguinte exemplo pode ser utili- suas relações com o mundo, manifesta
zado - os jovens e adultos não começam um modo específico de aprendizagem
a estudar aritmética na escola, mas mui- capaz de enfrentar as adversidades que
to antes eles tiveram alguma experiência a vida apresenta. Com efeito, possibilita
com quantidades ou tiveram que lidar a reflexão sobre a importância de consi-
com operações de divisão, adição, sub- derar os fatores sociais nos processos de
tração e determinação de tamanho. Por- ensino. As proposições de como e quais
tanto, eles têm suas próprias estratégias são os mecanismos desencadeadores da
mentais para resoluções aritméticas pré- aprendizagem estão, portanto, imbrica-
-escolares. Este fato revela que não são, das na interação sócio-histórico-cultural
apenas, os fatores internos ou biológicos e, que ao serem visualizados pelo pro-
que determinam os processos cognitivos fessor da EJA deve ser o ponto de partida

829
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para o seu fazer pedagógico. Em suma, o a Escola Inclusiva. Entretanto, mais do


processo de desenvolvimento cognitivo que criar condições para os deficientes, a
dos educandos baseado nos princípios da inclusão é um desafio que implica mudar
aprendizagem sócio-histórica é uma va- a escola como um todo: no projeto peda-
liosa estratégia didática que o professor gógico, na postura diante dos alunos, na
poderá lançar mão e construir o seu fazer filosofia educativa. A educação inclusiva
pedagógico. Parte-se do princípio que os tem a finalidade de incluir os alunos com
educandos não são destituídos de conhe- deficiência ou distúrbios de aprendiza-
cimentos e saberes, mas possuidores uma gem na rede regular de ensino. Então, os
histórica cultural própria que deve ser tra- alunos com deficiência visual (DV); sejam
tada como pressuposto de uma educação cegos ou com baixa visão; poderão pro-
com a emancipação humana. Para isso, gredir como os alunos não cegos, os vi-
a zona de desenvolvimento proximal é dentes. Na escola inclusiva, todos buscam
onde o professor deverá atuar no ensino atingir o mesmo nível de conhecimento
da EJA com intuito de verificar a metodo- sem que existam preconceitos e para que
logia utilizada e reavaliar o crescimento os obstáculos com os alunos DV sejam su-
cognitivo dos educandos na condução do perados, mas, para tanto, os professores
trabalho pedagógico. devem ficar próximos de cada aluno para
que cada dificuldade “seja vista” a fim de
Palavras-chave: Aprendizagem sócio-histórica; ser trabalhada para a obtenção de conhe-
Desenvolvimento Proximal; Formação de cimento. A inclusão “olha” para todos os
Professores da EJA alunos, sem preconceito e garante que
Contato: Robson Santos Camara Silva, SEE-DF/ os alunos com deficiência frequentem o
GEPEJA, robsoncamara@gmail.com ensino regular. Sendo assim na inclusão,
a escola deve acolher todos os alunos e
se adaptar a eles. Contudo, a maioria
ENSINO DE QUÍMICA PARA CEGOS É dos professores não se sente preparados
POSSÍVEL? para trabalharem com os vários tipos de
Juliana Alves de Araújo Bottechia - UEG/UnU necessidades, o que acaba tornando o
- Formosa sonho da escola inclusiva um pouco dis-
juliana.bottechia@gmail.com tante. Principalmente no que diz respeito
Marina Alves de Castro Lopes - UEG/ UnU - ao ensino da Química que, dependente
Formosa da visão e de outras capacidades orga-
marinaedih@hotmail.com nolépticas, além da lógica do raciocínio,
Igor Ramos Menezes - UEG/ UnU - Formosa é para alunos DV e seus professores um
igor_menezes14@hotmail.com grande desafio. Por ser uma ciência de-
pendente da visão e de outras capacida-
A Educação para Todos, enunciada pela des organolépticas, o ensino de Química
primeira vez na Conferência de Salaman- para alunos com DV, principalmente os
ca, em 1994, organizada pela UNESCO, alunos cegos que são o foco do trabalho,
mudou drasticamente a concepção de pode ser considerado um grande desa-
educação para pessoas com necessida- fio. Pensando nas possíveis dificuldades
des educativas especiais, surgindo então encontradas pelo professor em sala de

830
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aula, buscamos expor técnicas e adapta- Modelos Atômicos.


ções que podem ser feitas para amenizar
a dificuldade da aprendizagem dos alunos
cegos, lembrando que essas adaptações
irão valer tanto para os alunos cegos
quanto para os videntes. Nosso trabalho
se fundamentou em realizar uma ampla
pesquisa em documentos como livros, re-
vistas e internet com referência no ensino
da Química para alunos cegos do ensino
médio. Porém, visto que os estudos sobre
o referente assunto começaram a surgir
há pouco tempo, se mostrou um tema
árido para a obtenção de informações
teóricas. Assim, participamos de oficina,
mini curso, no qual conhecemos alguns
métodos de adaptação de material para
o ensino de DV, visitamos instituições de
Fonte: Resende Filho e Barreto, 2009.
ensino que realizassem a atividade de
ensino para alunos DV e investigamos
pesquisas na área in loco. No decorrer da Representação do NaCl e HCl.
pesquisa, a investigação revelou que tex-
tos, imagens, gráficos, tabelas e diagra-
mas podem ser adaptados para o Braille
com o auxílio da Sala de Recurso por pro-
fissionais especializados. Mas essa trans-
FONTE: Lourenço, I. M. B., Marzorati, L., 2005.
crição para o Braille terá um número de
páginas maior do que a comum visual.
Também existem dispositivos auxiliares As atividades experimentais podem ser
como o multiplano que desenvolve ope- consideradas como um dos melhores
rações, tabuadas, equações, proporção, auxílios para facilitar o entendimento do
regra de três, funções entre outros. Além conteúdo por parte dos alunos, incluindo
do multiplano, também existem mode- os alunos cegos. Pensando em incluir os
los atômicos fabricados com bolinhas de alunos cegos nas atividades experimen-
isopor texturizadas, tabela periódica em tais, adaptações de experimentos po-
Braille, tabela periódica em alto relevo, dem ser realizadas utilizando materiais
tabela periódica com bolinhas de isopor, acessíveis, onde a adaptação dos experi-
representação de ligação iônica e cova- mentos possibilita aos alunos cegos uma
lente com bolinhas de isopor texturiza- maior facilidade em compreender as rea-
das com imã para a iônica e com pino de ções químicas. Porém, é importante que
madeira para a covalente, ligações entre os alunos cegos visitem os laboratórios
substâncias escritas em Braille na fita Din acompanhados de um instrutor antes
com canudinhos. das aulas para conhecerem a disposição

831
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

das bancadas e dos equipamentos onde nas mudar nossos métodos de ensino. Em
o professor deve ensinar os principais consequência, teremos benefícios para
procedimentos de segurança para todos toda a turma, pois os alunos compre-
os alunos. Com base nos dados apresen- enderão melhor os conteúdos se forem
tados, conclui-se que houve uma evolu- apresentados a eles métodos diferentes
ção sensível no tratamento destinado às do que os de costume. Facilitar a vida do
pessoas com deficiência. Ao mesmo tem- aluno com deficiência visual é excluí-los,
po, houve um resgate aos direitos dessas eles precisam apenas de ferramentas
pessoas e uma atenção maior foi dada à para concorrer em condições similares
Educação Especial, onde o professor tem aos alunos videntes, ao invés de recebe-
o papel mais importante no processo de rem privilégios que acabarão prejudican-
ensino aprendizagem; porém; ele preci- do o seu desenvolvimento.
sa de apoio total do governo como a sua
profissionalização de eficácia que deveria Palavras-chave: Química para Cegos; Escola
ser obrigatória em todos os cursos de gra- Inclusiva; Adaptação de Materiais.
duação a fim de estarem preparados para Contato: Juliana Alves de Araújo Bottechia,
lidar com os alunos especiais. As conse- UEG/ UnU-Formosa,
quências psicológicas da perda da visão juliana.bottechia@gmail.com
variam de indivíduo para indivíduo, sendo
ela congênita ou adquirida, necessitando
assim, de acompanhamento especializa- A EDUCAÇÃO E O TRABALHO NA
do. Estes impactos acontecem de acordo CONSTRUÇÃO DA DIVERSIDADE
com a idade em que a pessoa adquire a HUMANA
deficiência visual, o grau da deficiência Renato Ferreira dos Santos - SEE-DF
entre outros fatores, mas o principal é reneja.12@gmail.com
a personalidade da pessoa. Além disso, Ana José Marques - SEE-DF
as famílias das pessoas que sofrem com marques.ana67@gmail.com
este tipo de trauma também precisam de Vânia Elisabeth Bacelar - SEE-DF
um acompanhamento para aprender a li- vania.elisabeth@yahoo.com.br
dar com a situação sem que tragam mais Alexandra Pereira da Silva - SEE-DF
problemas psicológicos ao afetado. A uti- alexalina@bol.com.br
lização das técnicas e adaptações apre-
sentadas no decorrer do trabalho visa No decurso da história da sociedade hu-
uma melhor compreensão da matéria mana a educação e o trabalho têm sido
por parte de todos os alunos. Adaptações atividades fundamentais na afirmação da
feitas com materiais de baixo custo são condição humana e servido de marco di-
estratégias essenciais para tornar o ensi- ferenciador dos humanos em relação aos
no de Química um modelo a ser seguido demais animais. Embora sejam atividades
para construir uma educação democráti- humanas de dimensões diferentes, a in-
ca e acessível a todos. As iniciativas apre- terligação entre ambas está na base da
sentadas em nosso trabalho mostram aos constituição humana, pois o trabalho no
professores que não é impossível lecionar sentido ontológico é uma atividade em
Química para alunos cegos, devemos ape- que o ser humano, também um ser da na-

832
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tureza, mobiliza seus recursos corporais de, conhecer e reconhecer os grupos so-
para, em relação social necessária, trans- cialmente excluídos torna-se necessário.
formar a natureza e produzir os meios Além disso, existe a necessidade de iden-
necessários à sua subsistência. Esses tificar os fatores geradores de tais exclu-
meios necessários são materiais e sim- sões, pois as estratégias de conhecimento
bólicos. Ao proceder conscientemente geram o entendimento e a possibilidade
na transformação da natureza, o ser hu- de se pensar ações concretas que impe-
mano também transforma a sua natureza çam a reprodução da exclusão. No que
tornando-a cultural. Ele produz cultura e tange ao gênero, pretende-se abordar, de
projeta a sua existência através das gera- forma breve, o histórico que demonstra a
ções futuras e, ao longo da sua existência, construção do processo de dependência
vem ampliando progressivamente a pro- em que a mulher foi submetida e de lu-
dutividade do trabalho. Para tal, recorre tas pelas mudanças, que paulatinamente,
à educação para transmitir a experiência vem conseguindo alcançar, bem como as
social acumulada e ao fazê-lo proporcio- transformações ocorridas na sociedade,
na o desenvolvimento humano que, na no que se refere às escolhas sexuais pra-
concepção histórico-cultural de desen- ticadas por homens e mulheres. Quanto
volvimento humano, não pode prescin- à temática étnico-racial, a abordagem
dir do desenvolvimento da sociedade. O será no campo conceitual de raça, etnia,
trabalho em tela tem por objetivo apre- de como se processa o racismo no mun-
sentar conceitos básicos da diversidade, do capitalista e os estabelecimentos das
em geral, e das diversidades étnico-racial, diferenças entre racismo, preconceito e
de gênero, e da língua utilizados na cons- discriminação. Em relação à diversidade
trução de um módulo sobre diversidade, linguística, serão apontados três campos
educação e trabalho. Vale salientar que, importantes: várias línguas nativas do
desde a metade do século XX, ocorre uma Brasil; línguas estrangeiras incorporadas
série de discussões sobre a dimensão da ao nosso sistema escolar e as variantes
liberdade, a essas discussões associa-se a linguísticas dos grupos socioculturais.
noção de cidadania, “que implica a con- Evidencia-se que o público da Educação
quista de um amplo leque de direitos ci- de Jovens e Adultos está inserido em con-
vis, políticos, sociais e, mais recentemen- texto de diversidade e que este público
te, os direitos culturais” (Silvério, 2006, p. busca educação e trabalho. Segundo a
7). O sentido original da ideia de liberda- concepção histórico-cultural, o ser huma-
de transformou-se, deixando de ser uma no se constitui humano através do outro
ideia abstrata e vazia, passando a ser um (pedagógico) nas relações intersubjetivas
desejo dos indivíduos poderem controlar e pela linguagem. O desenvolvimento hu-
suas autorrealizações. Essa evolução leva mano é intersubjetivo e discursivo. Assim,
os grupos de excluídos a formarem mo- a educação adquire contornos basilares
vimentos sociais (de mulheres, negros, no desenvolvimento humano cuja relação
índios, homossexuais), que visam a sua com a sociedade humana do seu tempo é
melhor qualidade de vida: inserção na dialética e histórica. Isto é, o ser humano
sociedade, aquisição de direitos, acesso se desenvolve com a sociedade e, esta se
a bens e serviços. Diante dessa realida- desenvolve com o ser humano. Além dis-

833
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

so, a atualidade de uma sociedade reflete vra interna do interlocutor para que haja
a sua história. Então, o ser humano cons- o diálogo. E o diálogo entre dois sujeitos,
tituído também concentra os conheci- o sujeito aprendente/ensinante e o su-
mentos e valores de gerações anteriores, jeito ensinante/aprendente, deve neces-
isto é, a história da própria humanidade. sariamente ocorrer para que haja ensino
O trabalho assim concebido, ou seja, no aprendizagem e, portanto, desenvolvi-
sentido ontológico tem se caracterizado mento humano. Ter a compreensão des-
enquanto eixo norteador da educação se processo é essencial para a formação
desde os primórdios da humanidade e continuada do professor que trabalha na
tem sido fundante na promoção do de- Educação de Jovens e Adultos (EJA). Por
senvolvimento humano. De acordo com a isso, no curso de formação docente reali-
concepção sócio-histórica, é nas relações zado pela Escola de Aperfeiçoamento de
sociais estabelecidas para a produção dos Profissionais de Educação (EAPE), abor-
meios necessários à sua sobrevivência- o damos esses fundamentos educacionais.
trabalho- que os seres humanos se pro- Esse trabalho analisa e discute o processo
duzem enquanto humanos. Nas relações de ensino-aprendizagem de indivíduos
intersubjetivas mediadas pela lingua- nas escolas de EJA do Distrito Federal em
gem, os processos e as funções do seu que indivíduos situados em contextos de
grupo social são internalizados e passam diversidade podem ter acesso a conhe-
para o controle do indivíduo quando há cimentos que possam ser utilizados para
a construção das funções psicológicas além da escola.
superiores e o desenvolvimento huma-
no. Nesse momento o indivíduo adquire Palavras-chave: Diversidade, Trabalho e
autonomia para transformar os valores Educação de Jovens e Adultos.
e conhecimentos recebidos socialmente. Contato: Renato Ferreira dos Santos, SEE-DF,
Fica configurado o espaço educacional, reneja.12@gmail.com
mesmo nos ambientes de pouco domí-
nio sobre a natureza das sociedades e
comunidades comunitárias que caracte- A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
rizaram os primórdios da sociedade hu- PARA ATENDIMENTO EDUCACIONAL
mana. Para a concepção sócio-histórica ESPECIALIZADO CONTRIBUI NA
o desenvolvimento das funções psicoló- PROMOÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR?
gicas superiores passa necessariamente Susana Silva Carvalho - SEE-DF/EAPE – GPEE
pela mediação do outro e da linguagem. susanaxedas@gmail.com
O desenvolvimento humano é intersubje- Leda Regina da Bitencourt Silva - SEE-DF/
tivo e discursivo. A conceitualização está EAPE – GPEE
entre essas funções psicológicas supe- ledaregina@yahoo.com.br
riores. No entanto, o contexto social em
que os indivíduos estão inseridos é fun- O presente texto parte de algumas refle-
damental para que esse desenvolvimento xões originadas de professores que atuam
aconteça. Bakhtin acrescenta que não há nos cursos de formação docente na Esco-
locução sem interlocução, ou seja, a pa- la de Aperfeiçoamento dos Profissionais
lavra do locutor deve ser dirigida à pala- da Educação – EAPE. Preocupados com

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as inquietações e relatos dos professores da Educação Inclusiva faz-se a opção pelo


cursistas envolvidos no processo de inclu- aporte teórico da teoria histórico-cultural
são, esses questionam e buscam por meio formulada por Vigotsky associada a ou-
de pesquisas respostas que atendam aos tros teóricos e pesquisadores que apro-
problemas relacionados à formação dos fundaram e analisam a realidade social
profissionais para escola inclusiva. Uma vigente considerando a subjetividade dos
das questões, diz respeito ao Atendimen- sujeitos. Essa teoria explica que “o desen-
to Educacional Especializado-AEE, que volvimento não se dá em círculo, mas em
fundamenta-se nos marcos legais, políti- espiral, passando por um ponto a cada
cos e pedagógicos que orientam a imple- revolução enquanto avança para um nível
mentação de sistemas educacionais inclu- superior” (Vygotsky, 2007, p.56) e que o
sivos. AEE, pela legislação, é o conjunto “aprendizado adequadamente organiza-
de atividades e recursos pedagógicos e de do resulta em desenvolvimento mental e
acessibilidade, organizados institucional- põe em movimento vários processos de
mente, prestados de forma complemen- desenvolvimento que, de outra forma,
tar ou suplementar a formação dos alunos seriam impossíveis de acontecer”. Dessa
público alvo da educação especial, matri- forma, educação inclusiva, temática en-
culados no ensino regular e deverá ser re- volvida nesse estudo, não pode ser consi-
alizado em sala de recurso multifuncional derada apenas pela matrícula de pessoas
ou em centro de atendimento educacio- em situação de deficiência nas escolas
nal especializado. A formação de profes- regulares. É necessário garantir o atendi-
sores para atuação no AEE foi formatada mento desses estudantes com respeito às
e proposta inicialmente pelo Ministério suas potencialidades de forma que se de-
da Educação, posteriormente foram reali- senvolvam como cidadãos contemplando
zados alterações pelo grupo da educação suas individualidades. Para conviver com
especial da EAPE, para que atender as e na diferença é necessário oferecer for-
necessidades dos professores envolvidos mação permanente aos professores, prin-
com os processos de inclusão dos alunos cipalmente os do atendimento educacio-
com deficiência, os diversos transtornos nal especializado para que o atendimento
e altas habilidades do Distrito Federal. A possa funcionar como uma parte eficien-
versão 2011, foi planejada na modalidade te da rede apoio, disponível hoje, para os
semipresencial, com 129 horas de ativi- professores regentes e estudantes. Dessa
dades na plataforma Moodle e 51 horas forma, surge a questão: o curso AEE con-
presenciais. E o objetivo, do curso, foi de tribui para a potencialização da rede de
conceituar e caracterizar as deficiências, apoio e estruturação dos atendimentos
o transtorno global do desenvolvimento, ofertados? Dessa forma, foi elaborada
as altas habilidades/superdotação com uma pesquisa, divida em duas partes: (1)
vistas à elaboração do plano pedagógi- Levantamento do perfil dos professores
co de adequação curricular e o plano de cursistas, por meio de um questionário.
atendimento educacional especializado. (2) Reflexão sobre as lacunas e contribui-
Para tratar do tema do atendimento edu- ções do curso AEE para formação dos pro-
cacional especializado proposto na Polí- fessores das salas de recursos. Portanto, é
tica da Educação Especial na Perspectiva uma pesquisa qualitativa, mas com dados

835
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

quantitativos. Utilizou-se a metodologia 47%. A EJA tem apenas 1% e mais 1% não


da pesquisa qualitativa desenvolvida por responderam essa questão. No universo
Gonzalez-Rey que tem como princípios: o dos 206 questionários: 50% trabalham
conhecimento é uma produção construti- nas salas de recursos generalistas; 6% em
vo-interpretativa; o caráter interativo do salas de recursos para deficientes auditi-
processo de produção do conhecimento; vos; 1% em salas de recursos de deficien-
a significação da singularidade como ní- tes visuais; 9% em salas de recursos de
vel da produção do conhecimento. Nesse altas habilidades e superdotação; 4% em
momento, temos apenas os resultados da atendimento complementar em escolas
primeira fase quantitativa. No questioná- especializadas; 1% são intérpretes de Li-
rio, respondido, no terceiro encontro pre- bras e 5% são coordenadores, superviso-
sencial do curso, perguntamos sobre (1) res, diretores ou outras cargos na escola;
localização do trabalho docente, (2) atu- 4% trabalham em serviço especializado de
ação por níveis e etapas da educação, (3) apoio a aprendizagem; 1% não respondeu
os tipos de atendimento, (4) experiência e 9% estão em sala de aula regular com
(tipo e tempo) e a formação desses cur- aluno incluído. Sobre a experiência, 42%
sistas. O questionário foi respondido por estão desenvolvendo esse trabalho há um
duzentos e seis (206) cursistas, número a treze meses. Somando com aqueles que
que perfaz 74% dos professores matricu- trabalham 13 a 24 meses (19%), podemos
lados no curso. Temos representatividade constatar que 61% dos professores têm
de 25% das escolas do Distrito Federal, e menos de dois anos de experiência com
23% das salas de recursos. Desse univer- o AEE. 5% têm 49 a 72 meses, 8% 73 a
so, 165 (80%) são (1) professores de sala 120 meses e 6% tem mais de dez anos de
de recurso generalistas - que atendem os experiência. Quando perguntamos sobre
alunos com deficiência intelectual, múl- a formação, 17% responderam que esse
tipla e física, com transtorno global do curso era o primeiro curso em educação
desenvolvimento e ainda os transtornos especial, e 42% só tem cursos de forma-
funcionais; (2) sala de recursos específi- ção continuada. Enquanto 13% têm pós-
cos: para deficientes visuais, deficientes -graduação latu senso (especialização).
auditivos e ainda aqueles com altas ha- Esse panorama indica um quadro de pro-
bilidades/superdotação; professores que fessores com pouca experiência e relativa
atuam em escolas especializadas que formação. O que desafia nossa pesquisa a
fazem atendimento complementar aos seguir no sentido de abordar, na segunda
alunos incluídos e os intérpretes de libras. fase, quais percepções e necessidades es-
Em relação ao níveis e etapa, foi surpresa ses profissionais tem para promover uma
constatar que 42% desses profissionais inclusão qualitativa, propulsora do desen-
estão trabalhando em escolas de anos fi- volvimento desses alunos.
nais do ensino fundamental e mais 8% são
originados do ensino médio. O que totali- Palavras-chave: Formação Docente,
za 50% do grupo de professores de AEE de Desenvolvimento Humano e Inclusão Escolar.
área específica, fazendo o curso em 2011. Contato: Susana Silva Carvalho, SEE-DF / EAPE
Na educação infantil (5%) e no ensino fun- – GPEE, susanaxedas@gmail.com
damental séries iniciais (42%) totalizando

836
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

SP LT04 - Simpósio técnicos de confrontação e confrontação


cruzada (Yves Clot), da análise do discur-
so, dentre outros utilizados para coletar
SP LT04-1483 - POLÍTICAS, PRÁTICAS os dados, discutir os temas propostos e
PEDAGÓGICAS E PESQUISA NA ESCOLA analisar os dados de diferentes tipos à luz
PÚBLICA do referencial teórico implicado na dis-
cussão de cada um dos aspectos citados.
Os trabalhos a serem discutidos na pre- Os três trabalhos apresentam um panora-
sente proposta enfocam questões rela- ma das principais questões de desenvol-
cionadas às dinâmicas de funcionamento vimento humano que perpassam a vida
nas escolas, aos processos de ensino- das escolas e a constituição dos sujeitos
-aprendizagem, à constituição dos su- que participam dos processos de escolari-
jeitos (professores e alunos) e à consti- zação. Financiamento: Adriana L. F. Lapla-
tuição da memória apreendida através ne: Programa Escola Pública FAPESP; Ana
das narrativas que evocam aspectos da Luiza B. Smolka: Programa Escola Pública
história da escola e do bairro. O projeto FAPESP e Bolsa Produtividade CNPq; Eliza-
de Adriana L. F. Laplane e colaboradoras beth dos Santos Braga: USP.
discute o efeito de políticas e programas
nas práticas educacionais e enfoca, tam-
bém as percepções dos professores em POLÍTICAS PÚBLICAS E PRÁTICAS
relação ao trabalho docente e às possibi- PEDAGÓGICAS: O DESENVOLVIMENTO
lidades de atuação pedagógica. O grupo DE PROFESSORES E ALUNOS DE UMA
liderado por Ana L. B. Smolka, por sua ESCOLA PÚBLICA
vez, aborda uma variedade de temas que Adriana Lia Friszman de Laplane
envolvem as relações professor-aluno, a Financiamento: FAPESP
educação inclusiva, a gestão e o trabalho
docente, nas suas diferentes dimensões. Este estudo, concebido e implementado
O estudo de Elizabeth dos S Braga enfoca nos dois últimos anos numa escola pú-
narrativas de experiências e de histórias blica estadual da cidade de Campinas,
de vida, formação e prática à procura da SP, teve por objetivo compreender o mo-
articulação entre as histórias individuais e vimento das práticas pedagógicas e sua
a história social mais ampla. As três pes- relação com as políticas educacionais na-
quisas compartilham a escola como ló- cionais e estaduais. O projeto de pesquisa
cus de investigação e intervenção e uma se desdobrou em duas frentes principais:
base teórico-metodológica construída a o estudo das políticas, através da análise
partir da perspectiva histórico-cultural de documentos e da legislação nacional
do desenvolvimento humano, inspirada (Brasil, 1996, 2008) e estadual relevan-
nas ideias de L. S. Vygotsky e de outros te (São Paulo, 1989, 2001, 2003, 2008a,
autores que permitem abordar os temas 2008b, 2009) e a observação e interven-
referidos. As pesquisas, de base qualitati- ção no ambiente escolar, na sala de aula
va, lançam mão de técnicas etnográficas, e nas reuniões da equipe de professoras
da observação participante, da entrevis- e gestores. Essas duas frentes se fundem
ta, do registro em vídeo, dos dispositivos nas reflexões que procuram situar as prá-

837
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ticas no contexto da política, entender de campo e por meio da filmagem e fo-


de que modo essas duas instâncias (a tografia das atividades e das produções
das políticas e a das práticas) interagem dos alunos. Os resultados da pesquisa
e quais são as consequências dessa inte- mostram que o agrupamento de alunos
ração para o desenvolvimento dos atores com vários tipos de dificuldade na sala
do cenário escolar. Do ponto de vista das PIC (alunos com deficiências, dificulda-
teorias de Desenvolvimento Humano, a des de aprendizagem, problemas sócio-
perspectiva histórico-cultural (Vygotsky, -afetivos e outros) constitui um desafio
1989; 2000) fornece as referências que quase impossível de ser enfrentado com
permitirão analisar, no contexto das prá- sucesso pelo professor da sala sozinho.
ticas escolares, as relações de ensino pos- Por outro lado, a participação da equipe
síveis no ambiente institucional criado de pesquisa em sala de aula, assim como
a partir da implementação das políticas o trabalho integrado entre as professoras
educacionais. O foco dessa apresentação permitiu observar que quando a classe
estará centrado na análise da política es- se propõe metas de curto, médio e lon-
tadual que se propõe a garantir a apren- go prazo e assume um projeto coletivo
dizagem da leitura e da escrita a todos e quando o professor recebe apoio, seja
os alunos (Programa Ler e Escrever) e na de outros professores da escola, seja de
análise das práticas pedagógicas vincula- outros eventuais participantes do proces-
das a ela. O Programa (São Paulo, 2007) so escolar, o avanço é significativo. Ou-
prevê, também, a alocação de bolsas tro resultado da observação participante
(Bolsa Alfabetização) a estudantes dos permite apontar o trabalho por projetos
cursos de Pedagogia que, na qualidade (Hernández, 1998, 2000; Reily e Laplane,
de estagiários atuariam nas salas de 1a e 2011) como uma das ferramentas capazes
2a série do Ciclo I, sob supervisão do pro- de potencializar a aprendizagem, já que
fessor da sala e do professor coordenador insere os conteúdos disciplinares em um
de estágio no curso. Os alunos das séries contexto que extrapola a tarefa escolar e
subsequentes são atendidos por meio de promove o conhecimento sobre a vida da
um projeto específico: o Projeto Intensivo família, da comunidade e da sociedade.
no Ciclo – PIC. Este conta com materiais A partir da formulação e implementação
diferenciados e os professores que atuam das propostas de intervenção nas salas
nas salas de 3a e 4a série PIC recebem for- de aula emerge – do rotundo sucesso al-
mação da Secretaria de Educação do Es- cançado na condução das atividades – a
tado (SEESP) e participam de um número ideia de que a integração de disciplinas e
maior de reuniões de HTPC (hora de tra- o estabelecimento de parcerias entre as
balho pedagógico coletivo) que os demais professoras dinamiza, apoia e promove o
professores da escola. Duas das interven- trabalho escolar, ampliando o significado
ções realizadas no contexto da pesquisa cultural das atividades. Nesse sentido, a
consistiram na observação e participação, disciplina de Artes confirma seu poten-
por meio de projetos, em duas salas de cial como elemento integrador. Constata-
4a série PIC. A pesquisa acompanhou o -se que ela ajuda a derrubar todo tipo de
desenvolvimento dos trabalhos por meio barreiras à aprendizagem e que ela pode
de registros das observações em diário propiciar o contato com temas, técnicas

838
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e tecnologias atuais e descortinar para justamente com essa estrutura funcional


os alunos novas áreas de interesse. As para a implantação e multiplicação de
competências básicas de leitura, escrita, ações e propostas de atuação (São Paulo,
ciências e matemática envolvidas nessas 2008). O papel do coordenador pedagó-
atividades se tornam, assim, meios que gico é assim relevante para a prática dos
os alunos se empenham em dominar para professores, e por isso, apontamos o in-
atingir os objetivos por eles previstos e vestimento nesse profissional como fator
assumidos (Portela, 2010). Em relação fundamental para articular o trabalho pe-
aos fatores que condicionam o sucesso dagógico na escola.
escolar, as nossas observações nos levam
a afirmar que os modos de organização e
distribuição de alunos nas classes consti- DESENVOLVIMENTO HUMANO E
tuem, ainda, importantes condicionantes. PRÁTICAS CONTEMPORÂNEAS:
Embora seja possível e desejável traba- PESQUISA E ENSINO NO ESPAÇO
lhar com alunos com diferentes caracte- ESCOLAR
rísticas, alguns tipos de agrupamentos Ana Luiza Bustamante Smolka
revelam-se pouco eficazes para promover Financiamento: FAPESP/CNPq
o trabalho escolar e a aprendizagem dos
alunos. Na sala PIC, o agrupamento obe- A persistência de problemas que se re-
dece ao critério ‘alunos com dificuldades’. colocam continuamente no interior da
Esse tipo de agrupamento, que lembra escola nos levou à formalização de um
a ‘classe especial’, com o agravante de projeto coletivo de pesquisa intitulado
concentrar numa única classe todo tipo “Condições de desenvolvimento humano
de dificuldades (socioeconômicas, cultu- e práticas contemporâneas: as relações
rais, de comportamento, aprendizagem e de ensino em foco” (FAPESP, CNPq). Os
também deficiências e necessidades es- temas que se configuraram inicialmente
peciais) dificulta a troca entre os alunos no referido projeto surgiram do que cada
e a tarefa de ensinar da professora. Por participante – professores-pesquisadores
isso, a presença da equipe de pesquisa na escola, pesquisadores na universida-
na sala de aula melhorou as condições de de - podia enxergar no/do seu cotidiano.
trabalho. Nesse sentido, o trabalho em Emergiram das preocupações do dia a dia
pequenos grupos coordenados por um para se transformarem em questões de
adulto proficiente que possa abordar as pesquisa, que foram acolhidas, discutidas
dificuldades e as necessidades dos alunos e entretecidas no conjunto dos interesses
de forma pontual se apresenta como pro- e propostas. Dois movimentos concomi-
posta plausível para melhorar a qualidade tantes foram importantes: acordar sobre
do ensino, nas turmas em que é preciso e definir o que se tornaria objeto de in-
dispensar atenção especial a alguns alu- vestigação coletiva; e pensar como as pre-
nos. Finalmente, a reflexão sobre a estru- ocupações e os projetos individuais pode-
tura escolar e sobre o papel das funções riam contribuir para a proposta coletiva
não-docentes na escola é também um ve- de investigação, com vistas à melhoria do
tor importante a ser considerado, já que ensino público. Se as condições concretas,
as políticas, projetos e programas contam nelas incluídas as concepções - de ensino,

839
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de linguagem, de desenvolvimento hu- Ancorado teórica e metodologicamente


mano, de currículo, etc. - se transformam nas contribuições de Vygotsky e Bakhtin,
ao longo do tempo, como essas condições Yves Clot (2010) afirma que “O problema
e concepções (por exemplo, política de ci- metodológico consiste então em inventar
clos, escola de nove anos, avaliação, pro- dispositivos técnicos que permitam aos
gressão continuada, educação inclusiva, sujeitos transformar sua experiência vivi-
projeto político-pedagógico, definição e da de um objeto em objeto de uma nova
ocupação de cargos...) afetam as formas experiência vivida. Isso com a finalidade
de organização da escola e as práticas na de estudar a transformação de uma ati-
sala de aula? Ficaram definidos quatro ei- vidade em outra”. Encontramos nessa
xos de investigação que se articularam no citação provocações que nos movem no
desenvolvimento da pesquisa: 1. Estudo sentido de problematizar nossa própria
dos anos iniciais do ensino fundamental, experiência. Indagamo-nos, por exem-
com foco nas relações professor/aluno/ plo, se uma reunião de estudo pode ser
conhecimento e nas relações família/es- um dispositivo técnico que permita aos
cola; 2. Estudo dos anos finais do ensino sujeitos transformar a experiência vivida,
fundamental, com foco nas experiências incluindo a experiência do(s) próprio(s)
e concepções de cidadania e no discurso pesquisador(es) que é/são levado(s), pela
sobre trabalho; 3. Estudo das políticas e presença do/relação com o outro, a se
práticas de educação inclusiva, com foco flagrar(em) também no seu ofício. Nesse
em estudos de caso, na dinâmica em sala particular, vale considerar que além do
de aula, no conceito de compensação; 4. “outro”, ou com ele, interlocutor, instru-
Estudo das formas de gestão e trabalho mentos técnico-semióticos podem contri-
docente. Ao longo de três anos de traba- buir na viabilização de mudanças de posi-
lho, temos vivido diversas situações – dife- ção, propiciando distanciamentos e obje-
rentes modos de participação em sala de tivações (gravações, vídeos, etc.).Torna-se
aula, reuniões para estudo e discussão de importante, então, discutir o estatuto
textos, reuniões para análise conjunta do dos recursos/instrumentos técnico-se-
material empírico, oficinas de textos e de mióticos – o papel do registro escrito, do
imagens, participação em reuniões cientí- diário de campo, da leitura do material
ficas, etc. - em que temos experienciado empírico, dos registros em áudio, dos ví-
mudanças de posições e reorientação do deos, das transcrições; mas também a
olhar para a prática de ensino e pesquisa. escuta com/pelo outro, que me dá “aca-
Ler e estudar junto, discutir e problemati- bamento” (Bakhtin, 2003). Uma reunião
zar, estabelecer e compartilhar um univer- de estudo congrega pessoas que, de di-
so discursivo, elaborar conceitualmente, ferentes modos, participam de objetivos
tem feito parte desse trabalho. Indagar, que se tornam (ou não) compartilhados
discordar, polemizar, contrapor, divergir, na busca de conhecimento e compreen-
flagrar-se na realização do trabalho, apa- são de ideias, conceitos, teorias... Seja
recem como possibilidades de provocar qual for o suporte (livro, revista, inter-
o desenvolvimento. É necessário provo- net, etc.), as palavras de outros entram
car o desenvolvimento para ser possível em contato num jogo de interposições e
estudá-lo, nos aponta Vygotsky (1997). múltiplas relações – os textos, os autores;

840
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os lugares de fala, os modos de dizer; as O TRABALHO COM MEMÓRIAS


vivências; as interpretações; as trocas, as NARRATIVAS: SENTIDOS DA RELAÇÃO
elaborações conjuntas, heterogêneas; as ESCOLA/COMUNIDADE
contribuições singulares... Possíveis aná- Elizabeth dos Santos Braga
lises dessa dinâmica nos mostram como
os sujeitos em relação vão se afetando, se O projeto de pesquisa “Memória, nar-
inter-constituindo no trabalho cotidiano. rativa e a dimensão discursiva da expe-
Como se configura a atividade de pesqui- riência escolar”, desenvolvido em uma
sa, como se realiza o ato de investigar? De escola municipal de São Paulo, compre-
quantas formas ele pode acontecer? O ende uma tentativa de apreender os
pesquisador ensina enquanto pesquisa? significados partilhados, produzidos nas
Pode ensinar? Como professores pesqui- relações sociais que se entrecruzam na
sadores se afetam nas relações de interlo- história da escola e do bairro onde ela
cução? Como pode um pesquisador levar está inserida, nas memórias e narrativas
o outro/sujeito/pesquisado a falar sobre / dos sujeitos que participam de sua dinâ-
elaborar suas experiências, a passar suas mica. Articulado ao projeto de pesquisa,
ações pelo crivo do pensamento? A ação desenvolvemos um projeto de extensão,
passada pelo crivo do pensamento se desenvolvido com docentes em jornada
transforma em outra ação que é refleti- de trabalho integral. Assim como o pro-
da (Vygotsky, 1995). Há, portanto, que se jeto de pesquisa, este objetiva o trabalho
aprofundar a discussão sobre a posição com memórias, histórias, narrativas na/
do pesquisador, as formas de (atu)ação, sobre a escola, desta vez tendo como
o campo de investigação – pesquisar (n) participantes ativos os professores. En-
o campo da educação, pesquisar (n)a es- volve formação de professores, relações
cola. Aqui entrevemos possibilidades de de ensino, relações sociais na escola e a
elaboração teórico-metodológica, com relação desta com a comunidade na qual
base nos conceitos de gênero de ativida- está inserida. A escola localizada na pe-
de e gênero de discurso. Se considerar- riferia da Zona Oeste de São Paulo fun-
mos pesquisar e ensinar como esferas ou ciona em três turnos e atende a alunos
gêneros de atividade, levantamos a hipó- do Ensino Fundamental e EJA. Embora
tese de um gênero híbrido – pesquisar/ o bairro conte com infraestrutura básica
ensinar - que se mostra particularmente relativa, fruto da mobilização popular a
profícuo e em evidência nesse campo da partir dos anos 70, ainda apresenta mui-
pedagogia, da educação. Sem proclamar- tos problemas sociais, como a ausência
mos que seja o único modo de investigar de equipamentos culturais e serviços de
nesse campo, argumentamos sobre a via- assistência social. Membros de escolas
bilidade, e mais do que isso, a necessida- e de outros equipamentos públicos lo-
de de compreender (argumentar sobre) cais têm trabalhado ativamente em um
essa forma de pesquisar... e de mostrar movimento por melhorias no bairro. Os
como essa forma está relacionada com as projetos articulados de pesquisa e exten-
características (e os objetivos) do próprio são vão ao encontro desse movimento de
campo de atuação. preocupação com as condições de vida,
saúde e educação e de revitalização de

841
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seus espaços, incluindo as escolas. O tra- professores, alunos e outros sujeitos e re-
balho de pesquisa tem se dado por meio latos sobre relações de cooperação e/ou
de observação participante na escola e conflito na instituição escolar e na histó-
no bairro, entrevistas a antigos mora- ria do bairro e da escola. Especificamente
dores, representantes de associações, com relação à construção e manutenção
alunos, participação em reuniões ordi- do memorial, pretendemos estender o
nárias e eventos da escola, em reuniões trabalho com os docentes a alunos e à
do movimento por melhorias no bairro, comunidade, visando à criação de uma
e por meio de conversas com membros cultura de preservação. Este trabalho en-
da equipe escolar. A observação segue volve a busca de material - documentos
os princípios da etnografia (Geertz, 1978; textuais, registro fotográfico, cadernos, li-
Hymes, 1982), e parte dela foi realizada vros e outros objetos escolares -, ativida-
como um trabalho de Iniciação Científica des de organização das fontes e oficinas
(Faria, 2010). Das conversas e entrevistas, para preservação e acondicionamento de
podemos apreender alguns aspectos que documentos, para o que contaremos com
caracterizam esta instituição, envolvendo o apoio do Centro de Memória da Educa-
tensões e conflitos no cotidiano escolar. ção (Faculdade de Educação - USP). A arti-
A observação da dinâmica do funciona- culação entre as atividades de pesquisa e
mento da escola foi complementada pela extensão tem proporcionado aprofunda-
análise do Projeto Político-pedagógico. mento teórico e metodológico por parte
No bairro, esta se deu a partir de visitas dos professores, e as etapas que frequen-
acompanhadas por moradores do bairro, temente ficam nas mãos dos pesquisado-
bem como com professores e gestores. As res responsáveis são compartilhadas com
entrevistas têm fornecido indícios sobre membros dos grupos. Conforme aponta-
a realidade e a história do bairro e da es- do na avaliação do projeto, as atividades
cola. Os entrevistados têm falado de suas têm contribuído para uma maior integra-
trajetórias como alunos ou funcionários, ção com a comunidade, para a constru-
de sua relação com a escola e com pes- ção de um “outro olhar sobre a escola e
soas que ocuparam esse espaço no pas- o bairro”, um maior conhecimento das
sado. Os trabalhos referentes ao projeto condições de vida dos alunos e o reco-
de extensão concentram-se em torno de nhecimento da necessidade de levá-las
quatro eixos - memória do bairro, memó- em consideração ao propor atividades
ria da escola, memória dos sujeitos que pedagógicas. Há também a referência a
ocupam o espaço escolar e história do pa- problemas e dificuldades no percurso.
trono da escola - e envolvem atividades Acreditamos que os projetos contribuam
de reflexão (sobre os temas da memória não só para transformações na relação
e subjetividade), visitas de observação, escola/comunidade, mas também para
elaboração de roteiros, realização de o fortalecimento da identidade da esco-
entrevistas e busca de documentos para la e o repensar de práticas e relações, na
compor um memorial escolar dinâmico e medida em que cria espaços de emergên-
aberto à comunidade escolar e local. As cia de memórias e narrativas de vida e
entrevistas têm produzido depoimentos experiências. Tomando como referencial
sobre trajetórias de vida e escolares de teórico elaborações de autores que nos

842
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

possibilitam pensar no desenvolvimento CO 42 - LT07 – Infância,


e funcionamento mental especificamen-
te humanos somente no interior de prá-
adolescência e diversidade
ticas, na intrincada rede de relações so-
ciais, na cultura, na história, na dinâmica
LT07-737 - NARRATIVAS DE
do discurso (e.g. Vygotsky, 1996, 2001;
DESENVOLVIMENTO AFETIVO ENTRE
Halbwachs, 1952, 1990; Bartlett, 1977;
UNIVERSITÁRIOS DE ORIGEM POPULAR
Elias, 1994; Bakhtin, 1992, 1997), e de
autores que nos levam a refletir sobre a Sueli Barros da Ressurreição - UNEB
relação entre memória, discurso e experi- suelibarros13@gmail.com
ência (Middleton e Brown, 2005; Smolka, Sonia Maria Sampaio - UFBA
2006), olhamos para as narrativas de ex-
periências, de histórias de vida, formação A trajetória dos jovens de origem popular
e prática, relatos de trajetórias escolares, na Universidade tem sido objeto de pes-
destacando três aspectos – reconstrução, quisas internacionais e nacionais voltadas
memória autobiográfica e estrutura nar- para compreender as mudanças que ocor-
rativa da memória –, considerando a di- rem no meio universitário quando nele
mensão constitutivamente dialógica das ingressa um novo tipo de estudante, mais
narrativas. A atenção a narrativas de expe- diverso e multifacetado em relação ao
riências escolares faz emergir a “história perfil do discente oriundo de segmentos
não documentada da escola” (Ezpeleta e sociais mais favorecidos (Almeida, 2007).
Rockwell, 1986), sua dimensão cotidiana, A partir da adoção das políticas de cotas, a
e a apropriação por parte dos seus pro- universidade brasileira possibilitou o aces-
fissionais, alunos e pais, das prescrições so de um contingente expressivo de jovens
e modo de funcionamento. Por trabalhar de origem popular. Estas políticas têm sido
com memórias e narrativas de vida princi- alvo de muitos debates públicos e estudos
palmente por meio de depoimentos orais, em torno da diversidade cultural desses
a pesquisa considera contribuições da his- jovens, considerando nível de renda, ori-
tória oral (Thompson, 2002) e da etnosso- gem social, gênero, raça, territorialidade,
ciologia (Bertaux, 2010), na articulação de padrões de preconceitos e discriminação,
histórias de sujeitos singulares à dimen- como integrantes de sua singularidade e
são social mais ampla. Assim, tentamos identidade geracional, política e social.
apreender nos relatos elementos cons- Segundo Melero (2001) as políticas edu-
titutivos próprios de uma memória co- cativas sobre a cultura da diversidade
letiva e discursiva (Maingueneau, 1997), têm sustentado a idéia de integração de
atentando para as condições de produção grupos marginalizados às condições im-
e a dimensão histórica das enunciações, postas pela cultura hegemônica. Como
interações, práticas. E indagamos sobre a contraponto, o autor propõe que a cul-
possibilidade de se articularem a recons- tura da diversidade deve ter um compro-
trução da história da escola e do bairro, a misso ético de transformar pensamentos
formação docente e o trabalho pedagógi- e atitudes relativos a estes grupos, para
co, na promoção de espaços de diálogo e evitar a tirania e a normatização. Sobre
troca de experiências. este ponto, Silva (2000) denuncia a forma

843
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como a diversidade cultural é conduzida tendidas na ótica da diversidade, ou seja,


pelas relações de poder constitutivas da compreendidas por meio da contextuali-
sociedade que concebem a diferença e a zação das relações sociais num determi-
identidade como naturais, cristalizadas e nado tempo e espaço histórico. O concei-
independentes, perpetuando-se, dessa to de identidade é entendido como uma
forma, a exclusão e a marginalização. Es- construção sócio-histórica, intersubjetiva
tudos sobre a juventude sul-americana e simbólica, inscrevendo-se como repre-
enfocam a vivência da condição juvenil na sentação, ou seja, como um sistema de
universidade como desigual e diversa em significação no qual se constitui o Eu. Esta
função da origem social e da renda fami- representação é inserida num contexto
liar (Novaes, 2007). No Brasil, as pesquisas de diversidade que lhe permite múltiplas
voltadas para as estratégias de perma- identificações e oposições e que fornece
nência de estudantes cotistas no contexto sentido de igualdade, diferença, inclusão
universitário apontam para importância e exclusão (Sawaia, 1999; Silva, 2007; Hall,
de analisar a dialética exclusão-inclusão 2006). A pesquisa se ancora empirica-
(Nery, 2009; Souza & Souza, 2006; Reis, mente num estudo piloto de abordagem
2007; Zago, 2009). Esta dialética mostra- qualitativa que recorre à técnica da Entre-
-se como um processo multifacetado, uma vista Episódica (Flick, 2008). Esta técnica,
configuração de dimensões materiais, po- como modalidade da entrevista narrativa,
líticas, relacionais e subjetivas (Sawaia, permite o acesso a trajetória do sujeito
2002). Desse modo, a sociedade que ex- a partir de sua fala espontânea e da for-
clui, inclui o estudante na Universidade ma como ele organiza, seleciona, detalha
através das políticas de cotas, mas a exclu- e reduz os seus episódios biográficos. As
são não se esgota apenas no acesso, ela entrevistas foram realizadas com dois es-
pode reproduzir-se caso não sejam asse- tudantes cotistas de duas universidades
guradas a permanência e a convivência do públicas baianas, uma federal e outra es-
jovem com normas institucionais e com tadual, e indagaram sobre a percepção
a sua própria diversidade cultural. Assim, que esses jovens tinham acerca dos víncu-
torna-se relevante estudar a forma como los estabelecidos no ambiente acadêmico
a diversidade cultural na universidade bem como os episódios que consideraram
tem influenciado o processo de desenvol- marcantes para seu desenvolvimento afe-
vimento afetivo de jovens de origem po- tivo. Os achados mostram que a vida uni-
pular e como ela vem sendo tratada neste versitária parece ser mais do que um sim-
contexto. O propósito deste artigo é re- ples cenário onde tramitam os estudantes
fletir sobre alguns elementos identitários cotistas; ela se constitui palco de mudan-
que se apresentam como organizadores ça para sua trajetória de vida, trazendo
do desenvolvimento afetivo de jovens de marcos para o desenvolvimento do seu
origem popular no contexto universitário. processo identitário. Ao entrar na univer-
A base teórica deste estudo discorre sobre sidade, estes jovens sofrem uma série de
o conceito de juventudes e identidade na rupturas afetivas e culturais como reflexos
perspectiva da psicologia sócio-histórica. das relações que estabelecem na ambi-
As juventudes (Abramo, 2005; Dayrell, ência universitária, provocando tensões
2002; Groppo, 2010; Pais, 2005) são en- significativas para organização do seu per-

844
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

curso de vida. No entanto, estas rupturas que precisa ser privilegiado por pesqui-
tornam-se fatos integrantes de uma nova sas sistemáticas voltadas para a constru-
reconfiguração de sua identidade (do ser ção de políticas públicas adequadas para
jovem de origem popular a ser estudante este segmento. Além disso, reitera-se a
universitário cotista). Além disso, constro- necessidade de novos estudos na área de
em outro sentido subjetivo para seu proje- psicologia do desenvolvimento, buscando
to de vida, através da experiência vivida e o aprofundamento dos aspectos identi-
de suas reconfigurações (do ser estudante tários deste grupo de jovens, tais como
cotista a “ser sujeito” no mundo competi- organização política, diversidade cultural,
tivo). Apesar das diferenças de condições além do reconhecimento social e afetivo.
econômicas e culturais com as quais se Assim, o tema da juventude no contex-
deparam para permanecer na universida- to da diversidade mostra-se campo fértil
de e das discriminações sofridas para al- de investigação da Psicologia do Desen-
cançar a sua mobilidade social, declaram- volvimento comprometida com o reco-
-se mais confiantes em sua competência nhecimento das diferenças e respeito às
e valor pessoal. Observou-se, ainda, que identidades, especialmente no contexto
os episódios vividos por estes jovens no brasileiro, contribuindo com indicadores
cotidiano possibilitam sua afiliação afetiva teóricos para problematização da condi-
à universidade, não de forma passiva às ção juvenil na universidade e para a cons-
normas institucionais e hegemônicas, mas trução de políticas públicas voltadas para
eles transformam-se frente às pressões e este público.
dificuldades enfrentadas, elaboram etno-
métodos (Coulon, 2008) e (re)constroem Palavras-chave: processos identitários,
seus referenciais identitários, adquirindo desenvolvimento afetivo, universitários de
novos contornos e valores. Como afirma origem popular
González Rey (2006), diante das mudanças Contato: Sueli Barros da Ressurreição, UNEB,
ocorridas na trajetória de vida, a pessoa é suelibarros13@gmail.com
capaz de gerar novos sentidos que levam
a configurações subjetivas alternativas,
facilitadoras do desenvolvimento pesso- LT07-761 - A DIVERSIDADE COMO
al. Conclui-se que a universidade, espaço PRESSUPOSTO BÁSICO NOS PROCESSOS
onde ocorrem importantes transições, é DE INCLUSÃO ESCOLAR
também palco onde uma nova juventu- Izete Santos do Nascimento - SEEDF
de enfrenta grandes desafios relativos à izesantos@uol.com.br
afirmação da diversidade e à exigência de Rute Nogueira de Morais Bicalho - UAB
lutar pelo direito à diferença, pela recusa arutebicalho@gmail.com
de uma educação excludente, exercendo
uma política voltada para a convivência Diversidade e Inclusão Escolar são temas
democrática. Á guisa de considerações recorrentes e amplamente discutidos em
preliminares, é possível afirmar que a ex- livros, revistas, periódicos e artigos edu-
periência dos jovens de origem popular na cativos em geral. A diversidade do público
universidade revela uma nova identidade existente no ambiente escolar tem sido
de estudante e de cidadão, fenômeno investigada prioritariamente focando as

845
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

diferenças entre os alunos com necessi- de 14 educadores de uma Instituição de


dades educacionais especiais (ANEE): au- Ensino regular da Rede Pública do Distri-
ditivo, visual, deficiência intelectual, física to Federal com o objetivo de compreen-
ou múltipla. Os marcos referenciais para der a concepção deles sobre o conceito
a Inclusão Escolar envolvendo educado- de Inclusão Escolar e sua aplicabilidade
res, familiares, pessoas com necessidades face à diversidade existente no contexto
educacionais especiais (PNEE) e, poste- educacional. A partir das falas dos parti-
riormente, a criação do Ensino Especial cipantes, emergiram quatro categorias de
definida na Lei de Diretrizes e Bases da análise. Na primeira categoria, conceito
Educação Nacional 9.394/1996, foram de Inclusão Escolar, percebemos que os
a Conferência Mundial sobre Educação participantes mesclam o uso do conceito
para Todos (1990 – Tailândia); a Confe- ora para ANEE, ora para os alunos e suas
rência Mundial sobre Necessidades Edu- dificuldades em geral, como se pode ob-
cacionais Especiais (1994 – Salamanca) e servar nas falas a seguir: “processo que
a Convenção de Guatemala (2001). O fato possibilite a aprendizagem de todos, sem
da Inclusão Escolar ser discutida, predo- distinguir ANEE...” (Professor Regente);
minantemente, no contexto da Educação “inclusão de indivíduos independente da
Especial, acarretou a falsa ideia de que sua raça, cor, classe social, tribos, gênero, em
proposta é para os ANEE’s. Deste modo, um mesmo espaço físico, o que seria em
o termo Inclusão Escolar passou a ser tese, a igualdade de todos” (Professor In-
compreendido como sinônimo de Ensino térprete). Ainda nesta categoria, ouvimos
Especial (Carvalho, 2009). No entanto, en- frases de que a Inclusão Escolar é: “edu-
tendemos que incluir pressupõe admitir a cação livre de preconceitos” (Professor
todos. Questões que merecem destaque Regente); “ANEE’s que saíram de um am-
quando o assunto é Inclusão Escolar in- biente específico para ele e veio se juntar
cluem: Inclusão Escolar como privilégio aos alunos regulares” (Professor Regen-
apenas de ANEE’s? Onde ficam outras te). Assim, torna-se evidente a confusão
expressões de diversidade? Diversidade que se faz no entendimento e aplicabili-
pressupõe identidade pessoal: modos de dade da Inclusão Escolar. Nesse sentido,
ser, agir; gênero; faixa-etária; classe social Carvalho (2009, p.26) classifica de ‘desa-
e econômica; religião; sexualidade; re- visado’ o professor que, indagado sobre
gião; cultura; escolaridade; etnia; alunos inclusão, a associa com Ensino Especial
com dificuldade de aprendizagem, entre (modalidade de ensino), isto porque mi-
outros. Diversidade significa que cada in- norias e grupos excluídos necessitam ser
divíduo tem o direito de não ser “absor- incluídos, indiscriminadamente, nas pro-
vido de modo genérico” (Abramowicz E postas pedagógicas. Esta autora pondera
Silvério, 2005, p.103). A proposta deste serem necessários esclarecimentos sobre
trabalho é ampliar as discussões sobre o o que seja Inclusão Escolar, a fim de redu-
conceito de Inclusão Escolar para além de zir tanto a confusão quanto as incertezas
sua associação com os ANEE’s. Seguindo sobre o tema envolvendo educadores, fa-
os pressupostos da pesquisa qualitativa, mílias, a comunidade e o poder público.
foram realizadas entrevistas semiestrutu- Na segunda categoria, a maneira como o
radas e observações do contexto escolar professor lida com a diversidade, os edu-

846
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cadores se referiram à diversidade aplica- sa buscou contribuir para que a educação,


da tão somente ao ANEE. Afirmaram que de fato, possa garantir a inclusão de to-
lidam bem com a presença desses alunos, dos os alunos que adentram os muros das
mas, em momentos distintos da entre- escolas. Na perspectiva inclusiva, a escola
vista, as falas indicam o oposto: “existe precisa de adequações que valorizem o
resistência mútua por parte de alunos e profissional de educação; formação ade-
professores” (Professor Intérprete). O pa- quada; equilíbrio e aperfeiçoamento das
radigma da inclusão não é voltado apenas estruturas escolares; promoção da igual-
para os ANEE’s, mas deve abranger e re- dades de oportunidade (Carvalho, 2009).
presentar “o resgate histórico do igual di- Sobretudo, o cotidiano escolar exige no-
reito de todos à educação de qualidade” vas posturas educativas e humanitárias,
(Carvalho, 2009, p.27); implica promover capazes de mudar os homens, construir
interações capazes de gerar relações de pontes entre educação escolar e vida em
reciprocidade. Na terceira categoria, se sociedade, na formação de indivíduos
Inclusão Escolar e Ensino Especial são si- que, em diálogo com seu semelhante/
nônimos, os professores se dividem, mas diferente, encontrem caminhos para uma
acabam dizendo sim e citam o Ensino Es- vida melhor a partir do reconhecimento e
pecial para justificar suas respostas. Em respeito das diversidades individuais.
complemento, na última categoria, In-
clusão Escolar se refere apenas ao aluno Palavras-chave: inclusão escolar, ensino
especial, boa parte dos participantes re- especial, diversidade
conhece que a Inclusão Escolar se aplica Contato: Izete Santos do Nascimento, SEEDF,
a todos os indivíduos envolvidos no con- izesantos@uol.com.br
texto educacional: “é uma proposta a ser
aplicada à diversidade de uma forma ge-
ral” (Professor Regente); “a todos os ne- LT07-765 - CRIANÇA E INFÂNCIA NO
gros, indígenas, pobre, ricos...” (Professor MOVIMENTO DOS TRABALHADORES
Intérprete). No entanto, quando se junta SEM TERRA: OS SEM TERRINHA NAS
os termos Inclusão Escolar e Ensino Espe- REVISTAS
cial, percebe-se confusão no entendimen- Ângela de Alencar Araripe Pinheiro - UFC
to e na aplicação de ambos por parte dos a3pinheiro@gmail.com
educadores, indicando a necessidade de Ana Maria Monte Coelho Frota - UFC
maiores reflexões. As entrevistas mostra- anafrota@ufc.br
ram que a maioria dos educadores encon-
tra dificuldade para diferenciar Inclusão A partir de estudos feitos por diferentes
Escolar e Ensino Especial. Surpreendemo- campos de conhecimento, consideramos
-nos ao descobrir que poucos deles con- tese irrefutável a afirmação de que não
cordam que é preciso entender como as se pode falar de infância partindo-se de
diferenças se manifestam para não negli- uma perspectiva a-histórica e essencialista
genciar a diversidade de atuação nos pro- (Sarmento e Gouveia,2008). É necessário
cessos de ensino e aprendizagem, assim afirmar que a infância é um tempo de vida,
como não promover atos de violências construído a partir das relações com os
pela não aceitação do outro. Esta pesqui- outros, em contextos particulares (Aries,

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

1988; Freitas E Khulman Jr, 2002; Dahl- de infância, construídos e em circulação,


berg, Moss e Pence, 2003; Priore 1996 e entre integrantes de assentamento MST,
2000; Vasconcelos e Sarmento, 2007). A no interior do Ceará. O MST surgiu na dé-
sociologia da infância propõe como ob- cada de 1980, sendo ator coletivo atuante
jetos de estudo a criança, compreendida da sociedade civil brasileira contemporâ-
como ator social, e a infância, como cate- nea. Sua visibilidade se associa à capaci-
goria social do tipo geracional (Sarmento, dade de reivindicação e conflitos que sua
2008). Avessa à invisibilidade infantil, cí- atuação revela. É um movimento massivo
vica ou científica, e à definição de criança de luta pela terra para quem nela trabalha,
centrada na negatividade, propõe estudos reivindicação secular (Gohn (1997). O MST
que estejam atentos à complexidade da adota como estratégia básica a ocupação
vida concreta. Ariès (1988) inaugurou uma de terras improdutivas para se tornarem
perspectiva da compreensão da infância assentamentos, com a titularidade da ter-
como categoria socialmente construída, ra para as famílias que a tornam produtiva.
assim como estudiosos, tais como Stearns São três os momentos centrais da consti-
(2006) e Heywood (2004). No Brasil, pes- tuição do MST, segundo Stédile (1997,
quisadores (Priore, 1996 e 2000; Freitas, apud Souza, 2002): a retomada das lutas
2007; Freitas e Khulman Jr., 2002; Rizzini, massivas pela terra; a constituição formal
2004; Pinheiro, 2006) têm estudado a his- do MST, a partir da realização do Encontro
tória da infância, deixando clara a sua con- Nacional dos Sem-Terra; e o investimento
dição de exploração, desrespeito e invisi- na ocupação das áreas para assentamen-
bilidade. Fazer antropologia, afirma Cohn tos, que são, ao lado dos acampamentos,
(2005), “é tentar entender um fenômeno o universo mais próximo do cotidiano do
em seu contexto social e cultural” (p. 9). MST, nos quais vivem, convivem, traba-
Desde a década de 20, antropólogos vêm lham, estudam, se organizam. É evidente
estudando a infância em suas peculiari- a importância que a educação ocupa para
dades e distintos contextos. Estudos vêm o MST - formal e formação de seus inte-
tomando a cultura como dado simbólico, grantes, como caminho fértil para fortale-
acionado por atores sociais que dão senti- cer a atuação do Movimento (Souza, 2002;
do à sua experiência. Pretende entender o Gohn, 1997). O olhar que o MST incide em
lugar da criança e da infância como sistema direção às crianças traz uma comparação
simbólico. Gomes (2008) re-afirma a ne- plena de sentidos: “Há que se cuidar do
cessidade de se considerar a criança “em broto, para que a vida dê frutos” (MST,
seus próprios termos” (p. 85), chamando 2011, p. 1). As Jornadas de Crianças sem
a atenção para sua especificidade. A filo- Terrinha consolidam tal perspectiva, ini-
sofia (Koan, 2004 e 2007; Agamben, 2005) ciadas em 1994, tendo como lema: “Por
vem discutindo esse tema: a infância pre- Escola, Terra e Dignidade”. O envolvimento
cisa dizer-se, para ser. Com base na neces- das crianças se dá desde a sua preparação
sidade da criança se dizer, para ser escu- até a sua realização. Relatos dos Encontros
tada verdadeiramente, construímos este de 2010 apontam para sua ocorrência em
projeto de investigação: Criança e infância 14 Estados, com a presença de cerca de 15
no Movimento sem Terra, com o objetivo mil crianças. Estudos em assentamentos
de conhecer os significados de criança e têm investigado o trabalho infantil (Cruz e

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Gonçalves, 2011; Oliveira, 2011). Contudo, luta, assumida e travada pelos sem terra,
não encontramos referências de estudos também é deixada muito evidente. A or-
que tratem especificamente das significa- ganização interna do Movimento é apre-
ções atribuídas à infância e ao ser criança sentada, através de texto bem escrito e
em assentamentos e acampamentos. Fi- adaptado à linguagem infantil. Chama-nos
caremos também atentas, durante nossa a atenção a apresentação que é feita dos
investigação, a como a presença (ou não) Sem Terrinha, através de características:
do trabalho infantil tem implicações nas “Mas os Sem Terrinha são muito corajo-
significações de infância e do ser criança sos”; “E como Sem Terrinha não tinham
em assentamentos do Ceará. Um recorte nada de bobo, gritaram bem alto para os
neste trabalho diz respeito a concepções soldados: nós não queremos balas, quere-
de criança/infância que atravessem a es- mos terra para os nossos pais” (Sem Ter-
trutura dos textos que compõem revistas rinha, 2009); “nós sem terrinha fazemos
produzidas pelo MST, destinadas a serem parte desde o início da luta pela terra”
trabalhadas com as crianças. Para o MST, (Sem Terrinha, 2010). Fica-nos a pergunta
“desde cedo as crianças aprendem através a ser refletida: como esses conteúdos de
da participação na luta, que as coisas não significação identitária são (re)construídos
nascem prontas, que o mundo está para pelos próprios sem terrinha? Nossa inves-
ser feito. Sendo assim, a realidade não é tigação há de abordá-la, com a profundi-
algo imutável, mas para transformá-la é dade possível.
importante tratar a terra como lugar de
morar, de trabalhar, de produzir, de viver, Palavras-chave: criança, MST, infância
de morrer e de cultuar os mortos” (Mon-
teiro, 2005, p. 16). Segundo Caldart (2004,
apud Silva, 2008), o ser sem terrinha apre- LT07-1271 - EDUCAÇÃO ESCOLAR
senta uma condição infantil ou jeito de ser QUILOMBOLA: MEMÓRIA E VIVENCIAS
criança peculiar, assim como sua condição DE SABERES NAS COMUNIDADES
de estudante. Sua participação se liga à QUILOMBOLAS DO SAPÊ DO NORTE: ES
história do MST, dando um matiz diferen- INTERFACES NA ESCOLA
te à sua infância. Nem todas as crianças Olindina Serafim Nascimento - UFES
acampadas e/ou assentadas são de fato
sem terrinha, embora tal condição se faça O presente trabalho é um recorte de uma
possível, a partir da formação política. Tal pesquisa em andamento no curso de Pós-
perspectiva corrobora com afirmação de -Graduação no PPGE-UFES que vem retra-
uma educadora do MST: “a primeira idéia tar a necessidade de considerar a memó-
que me vem, quando se fala de criança, ria e o saber acumulado dos mais velhos
é a necessidade de formação política”. do território do Sapê do Norte, úteis nos
Essa realidade é percebida claramente no conteúdos das escolas nas comunidades
conteúdo encontrado em Revistas SEM quilombolas, visando criar caminhos me-
TERRINHA. A importância da compreen- todológicos-pedagógicos para o desenvol-
são do significado dos símbolos do MST, vimento do processo educativo. O territó-
assim como do princípio sagrado que eles rio do Sapê do Norte-ES inclui as comuni-
representam, é muito clara. A história da dades quilombolas de toda a região norte

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do Estado do Espírito Santo, os municípios dia e sustento, bem como o seu modo tra-
de São Mateus e Conceição da Barra. De dicional de viver, o livre exercício de suas
acordo com (Silva, 2005), há no território práticas, crenças e valores culturais consi-
quilombola do Sapê do Norte, 39 comuni- derados em sua especificidade. A história
dades, cujo grande desafio atualmente é da educação escolar quilombola tem sido
ter reconhecidos os seus direitos de pos- marcada pela instabilidade e pelo descaso.
se e titularidade das terras. Apresentare- Da conquista da escolaridade à existên-
mos dados das escolas das comunidades cia dos estabelecimentos de ensino nas
quilombolas, articulando reflexões sobre comunidades, passaram-se muitas lutas
as experiências pedagógicas ali realizadas travadas com os poderes constituídos res-
com ideias centrais de Vygotsky (1991), ponsáveis pelas políticas publicas. A pre-
tais como a mediação do outro na cons- sença de escolas, muitas vezes, parece ser
trução de significados que nos permitem mais uma concessão governamental do
pensar o mundo que nos cerca e o papel que uma obrigação em assegurar direitos
da afetividade e das relações intra e extra- (GT Educação quilombola, 2008). Entre as
-escolares no desenvolvimento do sujeito reivindicações das Associações Quilombo-
que aprende. Do final do século XIX até las estão o direito à educação e a efetivi-
quase o final da segunda metade do sé- dade da Lei 10.639/2003 de 09/01/2003,
culo XX, os quilombos foram tratados na que estabelece as diretrizes e bases da
historiografia e na educação brasileira educação nacional, para incluir no currí-
como se restringindo aos “redutos de es- culo oficial da Rede de Ensino a obriga-
cravos fugidos” e a experiências do perío- toriedade da temática “História e Cultura
do escravista. No entanto, por todo o país, Afro-Brasileira”. A população quilombola
agrupamentos negros rurais suburbanos busca não apenas o direito ao estudo, mas
e urbanos se constituíram não somente lutam também para que suas tradições e
como fuga ou resistência direta ao siste- pertencimento sejam temas constantes
ma vigente, mas como uma “busca espa- no currículo escolar. Atualmente, pela via
cial” (NASCIMENTO, 1989), na construção dos movimentos sociais, temos consegui-
de território que é social e histórico, atra- do avanços em relação à incorporação da
vés da manutenção e reprodução de um cultura afro-descendente nos currículos
modo de vida culturalmente próprio. Após escolares, mas a diversidade do povo bra-
mobilizações regionais em que estiveram sileiro enquanto alvo do processo educa-
envolvidos militantes e parlamentares ne- cional ainda permanece como desafio nas
gros e entidades de apoio, a abordagem escolas. A educação constitui-se um dos
do tema assumiu outra direção com a principais mecanismos de transforma-
publicação do artigo 216 na Constituição ção de um povo. De acordo com (Nunes,
Federal que se refere diretamente aos 2006), uma concepção de educação que
quilombos. Nos últimos vinte anos, os ne- vá ao encontro dos interesses emancipa-
gros rurais, em todo o território nacional, tórios que as comunidades quilombolas
organizados em Associações Quilombolas, vêm construindo requer a promoção de
reivindicam o direito à permanência e ao uma leitura de mundo que dê ênfase à sua
reconhecimento legal da posse das terras trajetória histórica, como lembrança viva
ocupadas e cultivadas por eles para mora- de que o tempo não esvaece a disposição

850
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para transformar. É papel da escola, de Essencial também é o acesso dos alunos


forma democrática e comprometida com a materiais didáticos elaborados regional-
a promoção do ser humano na sua inte- mente que tragam perspectivas afirmati-
gralidade, estimular a formação de valo- vas para os negros. Nas comunidades qui-
res, hábitos e comportamentos que res- lombolas, o direito a educação deve ser
peitem as diferenças e as características entendido como um processo de desen-
próprias de grupos e minorias (Diretrizes volvimento humano e cultural. Nas esco-
Curriculares/Afro-Brasileiro). O processo las quilombolas, é necessário fomentar o
pedagógico para as comunidades quilom- conhecimento, a valorização e o respeito
bolas difere dos demais, em função de es- à descendência africana, à sua cultura e à
tar baseado em uma pedagogia vinculada história, construindo sujeitos cidadãos e
a um movimento de luta social visando cidadãs e não apenas meros dominadores
reparações, reconhecimento e valoriza- de competência e habilidades técnicas. A
ção da identidade, da cultura e da história formação para a cidadania procura liber-
dos negros e negras brasileiros. Nos qui- tar a população quilombola do processo
lombos, o currículo presente não poderá alienante, historicamente constituído, no
permanecer insensível ao diferente capi- qual a formação acadêmica do negro era
tal cultural de origem familiar e social que limitada, enquanto mão de obra barata, e
os alunos carregam no seu dia-a-dia para não o levava a galgar espaços relacionais
a escola. Para atuar nas escolas das comu- dos quais fora para eles definidos.
nidades de quilombo, é necessário que os
professores tenham competência cultural Palavras-chave: educação, escolar quilombola,
para entender que os alunos são seres so- território - Sapê do Norte
ciais com uma bagagem peculiar de cren-
ças, significados, valores, atitudes e com-
portamentos adquiridos em ambientes LT07-1439 - AS POSSIBILIDADES DE
extra-escolares que devem ser considera- VIVER INFÂNCIAS SOB O OLHAR E
dos (Perrenoud, 2000). A etno-conclusão DESENHAR DAS CRIANÇAS
do nosso trabalho entende que a garantia Simone Brehm Wurzel - CESUCA
legal é um primeiro passo nesse campo de simone.wurzel@terra.com.br
lutas contra a discriminação, mas ainda Márcia Elisabette Wilke Franco - CESUCA
precisamos efetivar de fato essas discus- Camila Francisco Zanette - CESUCA
sões nos cotidianos escolares. É necessá- Felipe Pereira de Assis - CESUCA
rio um novo olhar, que valoriza o saber
acumulado, a tradição, a experiência vivi- Este trabalho é resultado de uma pesqui-
da e as reflexões feitas por aqueles que de sa empírica com contextualização teórica
fato experienciaram o fato de serem ne- das disciplinas do curso de Psicologia da
gros nessa nação. Entendemos que é fun- Faculdade CESUCA – Complexo de Ensino
damental o amplo acesso dos professores Superior de Cachoeirinha/RS, em uma es-
e professoras a uma formação específica, cola pública infantil, região metropolitana
que empregue materiais e equipamentos da grande Porto alegre. A instituição que
pedagógicos que tratem diretamente das participa da pesquisa atende crianças de
questões étnicas e raciais; estes são raros. classe média baixa, tendo casos em que as

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

famílias carentes passam por necessidades as formas de viver esse lúdico constituem
básicas; as crianças permanecem na escola uma das possibilidades das crianças vive-
em turno integral. Com fundamentação te- rem suas infâncias. Quando a criança está
órica na Psicologia e na Educação, a investi- com a palavra, ela produz mudanças e se
gação busca compreender as diversas pos- configura como agente histórico e social.
sibilidades de viver a infância. Utilizamos A Psicologia estuda a importância do de-
como instrumento de pesquisa o desenho senvolvimento psíquico. As brincadeiras
representando episódios de uma criança e são primordiais nesta etapa da vida, na
suas falas sobre um dia livre (Schmid-Kitsi- atenção, memória, concentração, compre-
kis, 1994). A partir das falas das crianças, ensão de regras e papéis sociais, autoesti-
foram organizadas categorias a posterio- ma e criatividade. O trabalho desenvolvido
ri e sobre estas foi realizada uma análise na escola reflete junto aos profissionais
quantitativa e qualitativa, cruzando a fre- a importância que eles exercem junto às
quência e porcentagem do aparecimento crianças nesse processo humano, frente
das categorias a partir do conteúdo reve- às suas necessidades e possibilidades de
lado pelas mesmas. O grupo de crianças desenvolvimento físico, mental e social e o
pesquisado, na faixa etária ente 5 e 6 anos, quanto a escola tem contribuído para esti-
expressa suas idéias por meio de falas e mular as aprendizagens infantis através do
desenhos. Os episódios foram desenha- lúdico. A forma que estas crianças se de-
dos em seis momentos, desde o acordar senvolvem refletirá na aprendizagem. En-
até a hora de dormir, detalhes da forma tendemos que a interação é fundamental
que preenchem seu dia e as brincadeiras para se constituírem novos olhares sobre
que vivenciam tornando-se informantes a infância, proporcionando novas formas
privilegiados. O pesquisador entrevista de se vivê-la hoje. Podemos entender o
o participante de forma que este relate espaço da escola como um espaço de tro-
as intenções que teve no seu desenho e, cas, de afetos, de grandes interações e
conjuntamente, manifestam sentimentos que, por abrir essas brechas de convivên-
e emoções ao decodificar seus traços re- cia, passa a ser um espaço de formação
gistrados no papel. Os desenhos e falas re- de identidades, de diferentes infâncias. As
velam que é pelas interações nos espaços crianças mostram suas compreensões de
da casa, da rua e da escola que elas vivem mundo na contemporaneidade e compre-
as suas diferentes atividades, explicitando endem sua participação neste mundo de
distintas possibilidades de infância. Os re- uma forma bastante lógica e criativa. Elas
sultados indicam o quanto as culturas de acompanham as transformações históricas
infância dependem das interações e dos e sociais e também produzem mudanças,
significados dos lugares reconhecidos pe- configurando-se, assim, como agentes
las crianças. A dinâmica das interações em ou atores históricos e sociais. As crianças
cada um desses espaços é própria. A esco- dispõem de um conhecimento, fazem di-
la é mais um lugar para crianças viverem versas relações, são capazes de avaliar e
suas infâncias. Elas não são passivas nas vivenciar vários papéis e inventam suas es-
situações de entretenimento; elas são ati- tratégias. Transgridem as regras atribuindo
vas protagonistas. Elas têm presente que a outros significados para suas atividades.
não-ludicidade faz parte da vida. O lúdico e Pesquisando com as crianças, precisamos

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

reconhecê-las como sujeitos de cidadania. LT01-851 - REPRESENTAÇÕES SOCIAIS


As crianças e suas falas sobre as diversas SOBRE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DOS
possibilidades de viver a infância hoje, à ACADÊMICOS DE LICENCIATURA EM
medida que as elas apontam, em um dia QUÍMICA, FÍSICA E MATEMÁTICA
livre, atividades que podemos entender Tatiana Comiotto Menestrina
como aquelas que fazem parte do cotidia- Bruna Bortolatto Rizzieri
no. Alguns autores chamam-nas de rotina, Jacira E. da C. Tavares
hábito, e que, pela repetição, acabam se Marcelly Brenzink Mira
tornando comportamentos individuais e
sociais. Poderíamos entender que as crian- As representações sociais são uma espé-
ças mostram que não podemos pensar só cie de pequenas teorias criadas de ma-
em coisas lúdicas, mesmo em um dia livre. neira informal em meio às interações so-
Estaríamos, neste caso, negligenciando ciais. O homem, ao representar alguma
os cuidados, ou tudo aquilo que não é lú- coisa, tem a tendência de remodelar,
dico, por pensar que o lúdico é a grande atribuir aos objetos, fatos ou situações,
marca trazida pela criança para a infância? um sentido especial e subjetivo. Neste
Ou deveríamos pensar que no lúdico en- sentido, pode-se dizer que o mundo no
contramos também as questões biológicas qual as pessoas interagem é construído
do humano? É claro que se faz tudo isso por estas representações sociais, e o que
também porque as normas sociais nos le- consideram como realidade é algo que
vam a fazer, mas as crianças aqui pesqui- foi reelaborado tanto pelo psiquismo in-
sadas parecem indicar algo mais do que dividual quanto pelo social. A Teoria das
só os condicionantes sociais. Os entrevis- Representações Sociais é, desta forma,
tados, através de suas falas, demonstram uma abordagem alternativa para se com-
o quanto suas formas de brincar estão e preender o comportamento cotidiano
são produzidas pela cultura, pelos meios dos indivíduos e dos grupos sociais. Cada
de comunicação e pelas instituições so- ser humano, no decorrer de sua vida, vai
ciais de que fazem parte. Essas questões compondo sua história formando um sis-
podem ser mais bem entendidas quando tema de pensamento que de um lado di-
olhamos para quais os tipos de brincadei- fere dos demais e por outro está em con-
ras que as meninas e os meninos mais se formidade com o grupo do qual faz parte.
apropriam, assim como os espaços mais Estas considerações sobre as representa-
utilizados por eles. A pesquisa ainda em ções sociais permitem compreender que,
execução nos lança questionamentos so- embora uma representação se construa
bre as influências externas na organização em torno de objetos reais ou imaginá-
das brincadeiras pelas crianças, influências rios, ela não pode ser percebida isolada
da cultura dos adultos, dos programas de ou distanciada do que se pretende captar
televisão, da internet, da tecnologia na in- e analisar, bem como do modo de vida
fância, o quanto o mundo que as rodeiam concreta dos seres humanos. De acordo
interferem na construção do lúdico. com o exposto, as representações sociais
não dizem respeito apenas a um fenôme-
Palavras-chave: infância, crianças, educação no do imediato, pelo contrário, estão, so-
Contato: simone.wurzel@terra.com.br bretudo, diretamente relacionadas a um

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contexto histórico social mais amplo. dade. Neste trabalho, têm-se como obje-
Sendo assim, é de se supor que o (re) co- tivos: analisar as representações sociais
nhecimento das representações sociais de infância dos acadêmicos de licenciatu-
construídas pelos indivíduos pertencen- ra em química, física e matemática de
tes a um determinado grupo social deve uma instituição pública de Joinville; dis-
passar, necessariamente, pelo conheci- cutir as representações sociais dos aca-
mento da história de construção desse dêmicos dos referidos cursos quanto à
conceito pela comunidade científica, adolescência, e relacionar as representa-
uma vez que é a partir daí que os mes- ções sociais apresentadas pelos acadêmi-
mos são difundidos e propagados para cos destes cursos de formação de profes-
outras instâncias sociais. Segundo Mos- sores e a educação. A EDUCAÇÃO VOLTA-
covici (1984) representação social é algo DA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
um tanto complexo para ser compreendi- A formação docente tem suas problemá-
do. Isto se deve ao fato de que deste con- ticas enraizadas na história, partindo daí
ceito confluem noções de origem socio- os desafios da contemporaneidade. A
lógica, como a cultura, a ideologia e no- exigência ao professor é demasiada, a ele
ções de procedência psicológica, tais são dadas inúmeras responsabilidades.
como a imagem e pensamento. Por este Será que a educação oferecida aos pro-
motivo representação social pode ser fessores em suas formações é suficiente
chamada de um conceito psicossociológi- para eles encararem todas as dificulda-
co. Este autor considera que as represen- des, desafios e principalmente responder
tações sociais constituem uma organiza- de forma positiva a maioria das exigên-
ção psicológica, uma forma de conheci- cias feitas? Não. Para o professor conse-
mento específico da sociedade e que não guir administrar as facetas existentes é
se reduz a nenhuma outra forma de co- necessário ir além dos muros de uma ins-
nhecimento. Desta forma, ele diferencia tituição. Gradativa e historicamente vem-
as representações sociais de outras for- -se focalizando a importância na forma-
mas como os mitos, a ideologia, a ciência ção de professores, em passos miúdos,
ou as visões de mundo, embora conside- mas que proporcionam em longo prazo
re que elas compartilham aspectos co- grandes mudanças. É ampla a responsa-
muns com cada uma. As representações bilidade das Universidades e Faculdades
sociais são constituídas, em grande par- na formação profissional de docentes. A
te, através da cultura acumulada na so- ela cabe além de simplesmente passar-
ciedade ao longo da história. O caldo cul- -lhes a teoria, instigar, deixar claras as di-
tural circula pela sociedade por meio das ficuldades e desafios, sua importância na
crenças compartilhadas, dos valores, das formação de cidadãos, descentralizando
referências históricas e culturais que for- do sujeito a culpa pelas dificuldades e fo-
mam a memória coletiva e constroem a calizando o contexto social. Segundo Pe-
identidade da própria sociedade. Estas se nin (2001, p. 9) um dos princípios citados
encontram, na maioria das vezes, no con- para formação de professores é que ele:
junto de condições sociais, econômicas e “... deve partir da noção de que a docên-
históricas, bem como no sistema de cren- cia não se realiza num quadro abstrato de
ças e valores existentes na referida socie- relações individualizadas de ensino e

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aprendizagem, mas dentro de um com- uma grande diversidade da forma como


plexo contexto social e institucional”. Não os professores percebem as crianças e as
há uma formação acabada, o professor suas representações sobre a infância, a
necessita de uma constante movimenta- educação infantil e seu próprio trabalho,
ção, buscando aperfeiçoar fazeres. Se- pois, constroem ao longo de suas histó-
gundo Freire (2011, p.1): A responsabili- rias de vida, ideias de como devem ser
dade ética, política e profissional do ensi- educadas as crianças. As concepções re-
nante lhe coloca o dever de se preparar, lacionadas à infância e compartilhadas
de se capacitar, de se formar antes mes- em uma sociedade determinam as atitu-
mo de iniciar sua atividade docente. Esta des e práticas educativas e suas intera-
atividade exige que sua preparação, sua ções com as crianças. Como afirma Nu-
capacitação, sua formação se tornem nes (1994) o conceito de infância varia
processos permanentes. Sua experiência entre distintas classes e culturas, o que
docente, se bem percebida e bem vivida, gera expectativas e demandas diferentes
vai deixando claro que ela requer uma quanto ao processo de desenvolvimento
formação permanente do ensinante. For- das crianças, ou seja, motiva a constru-
mação que se funda na análise crítica de ção de várias imagens a respeito delas.
sua prática. A prática profissional oportu- Estas imagens são determinantes na prá-
niza ao docente aprendizado cotidiano, tica educativa, nos mais diversos contex-
quando tal permite-se invadir e almejar o tos sociais. Os professores são adultos
curiosear dos alunos. De acordo com que já passaram pela infância, e suas vi-
Freire (2011, p.1): Não existe ensinar sem vências marcam profundamente as re-
aprender. O aprendizado do ensinante ao presentações que constroem sobre as
ensinar não se dá necessariamente atra- crianças e suas famílias, influenciando na
vés da retificação que o aprendiz lhe faça prática educativa. Os educadores defi-
de erros cometidos. O aprendizado do nem a criança de forma simbólica e como
ensinante ao ensinar se verifica a medida um ser em desenvolvimento, a partir de
que o ensinante, humilde, aberto, se uma idealização que dela fazem, e da
ache permanentemente disponível a re- percepção de suas necessidades. Além
presentar o pensado, rever-se em suas da infância, os licenciados também ne-
posição; em que procura envolver-se cessitam conhecer as características dos
com a curiosidade dos alunos e dos dife- adolescentes, pois isso irá demonstrar a
rentes caminhos e veredas, que ela o faz forma como eles irão trabalhar com esta
percorrer. A educação vem-se transfor- faixa etária. REPRESENTAÇÃO SOCIAL SO-
mando, assim como o modo de formar os BRE ADOLESCÊNCIA. A adolescência, uma
profissionais desta área, concomitante- fase em que o jovem não é nem criança
mente a maneira de aprender e a relação nem adulto, está repleta de confusões.
professor-aluno. Por isso é fundamental As representações sociais dos adolescen-
conhecer as representações sociais que tes são (re) criadas a todo o momento,
os futuros docentes, atuais licenciandos, bem como, na sociedade atual, a adoles-
possuem a respeito da infância e da ado- cência também foi recriada, seu tempo
lescência, objeto de seu trabalho. REPRE- se estendeu: começa mais cedo e está
SENTAÇÃO SOCIAL SOBRE INFÂNCIA. Há terminando mais tarde (OLIVIERA, 1997).

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Tudo é mais disponível, mais liberado, cebe-se que eles veem a infância e a ado-
descartável. As facilidades e soluções que lescência nos dias atuais como complica-
os jovens encontram para resolver seus das, afirmando que tem uma tendência
problemas são muito mais rápidas que há inclusive da infância ir desaparecendo
algum tempo atrás. A falta de espaço aos poucos. Mencionaram que não exis-
para o amadurecimento tem preocupado tem mais crianças como antigamente. A
os educadores, inclusive quanto ao com- adolescência está se antecipando e as
portamento dos alunos e suas perspecti- crianças param de brincar cada vez mais
vas em relação à educação. Muitas vezes cedo. Consideram que os adolescentes
os adolescentes sabem tudo do mundo vivem em uma sociedade violenta, ex-
virtual, mas estão com os pés longe do postos a marginalidade e as drogas. A se-
chão, sonhando com uma realidade que xualidade também é vivenciada precoce-
não existe. Por este motivo, conhecer as mente. Acreditam que as crianças e ado-
representações sociais dos futuros pro- lescentes estão muito presos a tecnolo-
fessores sobre a adolescência é um passo gia, e deixam de lado brincadeiras que
fundamental, pois oportuniza a eles envolvem o grupo. Isso afeta o desenvol-
maior conhecimento da realidade. ME- vimento social. Apresentaram como pro-
TODOLOGIA. Foi aplicado aos alunos da blemática a falta de tempo dos pais para
disciplina de Psicologia da Educação de darem atenção aos filhos, o que conduz,
uma instituição pública de Joinville um segundo eles a insegurança, a falta de ob-
questionário com perguntas abertas a jetivos e limites. Afirmam que os adoles-
fim de verificar a percepção dos acadêmi- centes estão cada vez mais sedentários e
cos quanto à infância e a adolescência. que os jovens vão a festas, se drogam,
Os questionários foram aplicados entre bebem, sem pensar nas consequências, e
os meses de março e abril de 2011. A ta- deixam os estudos de lado. Além disso,
bulação dos dados foi realizada através estabelecem uma análise baseada no
da técnica da análise de conteúdo pro- contexto em que vivem, algumas preci-
posta por Bardin (2002). Esta técnica me- sam trabalhar desde jovens, outros se
todológica consiste em que o pesquisa- sentem mais solitários. Os acadêmicos
dor construa conhecimentos através da relatam sobre travessuras, acontecimen-
análise do discurso e da organização das tos trágicos, contam fatos relacionados
palavras utilizadas pelo entrevistado. As com a vida escolar, sobre a dedicação pa-
questões apresentadas para os acadêmi- terna e outros sobre brigas com amigos
cos foram: como é a infância e a adoles- da mesma idade durante estes períodos.
cência hoje; conte uma história da sua Quando questionados sobre os momen-
infância ou adolescência; o que é ines- tos inesquecíveis destas fases menciona-
quecível para você nestes dois períodos e ram como pontos positivos: as férias em
o que se poderia fazer para mudar a rea- casa de parentes, a reunião familiar, o
lidade atual em relação a infância e a primeiro beijo, andar de bicicleta, as
adolescência. RESULTADOS E DISCUS- brincadeiras de boneca e liberdade para
SÕES. Através de questionário respondi- brincar nas ruas, ir à escola, mudança de
do pelos alunos dos cursos de licenciatu- cidade e de amigos. Suas únicas respon-
ra em química, física e matemática, per- sabilidades eram estudar. Relatam tam-

856
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bém sobre a vida em família, mencionan- sária também uma preocupação maior
do a relação com os avós. Afirmam que com a educação dos adolescentes. É im-
gostavam de tomar banho de rio e viajar portante, segundo mencionaram, escu-
com os pais. Um deles mencionou que tar mais os jovens, seus problemas, e dar
gostava de ver, por horas, a mãe dese- oportunidades para que possam crescer
nhando e que deixavam a imaginação e progredir. Concordam que seria impor-
guiar a brincadeira. Outros pontos elen- tante que os pais tivessem consciência de
cados foram: os primeiros contatos com a seu papel e não jogassem toda a respon-
vida noturna, o amadurecimento pesso- sabilidade em cima dos professores, par-
al, as afinidades, o primeiro namorado, ticipando da vida dos filhos. E por último
amizades da época e o aprendizado com que as escolas deveriam proporcionar
os professores, pais e o com experiência palestras aos pais, com temas ligados a
de vida deles. O carinho dos pais, que relacionamentos, e também a diferença
sempre observavam tudo que faziam, em da educação de uma criança que vive no
fim todas as descobertas feitas neste pe- mundo tecnológico e uma de antigamen-
ríodo foram apontados como aspectos te. CONCLUSÕES. Os acadêmicos dos cur-
positivos. Arrumar toda a bagunça, cair sos de licenciatura irão ministrar aulas
de bicicleta, a morte do padrinho na in- para crianças e adolescentes e identificar
fância, o fato de ter passado tanto tempo suas representações sociais é primordial
sozinho na adolescência, a questão dos para uma formação profissional sólida e
conflitos no casamento dos pais, as ami- voltada para o desenvolvimento de cida-
zades deixadas para trás, as mudanças dãos conscientes e engajados na luta
repentinas no corpo, as brigas como os pela transformação social. Verificou-se
pais ou a super proteção por parte deles, que os alunos separaram em algumas ca-
o jeito antigo deles pensarem, preconcei- tegorias as suas percepções, entre elas
tuosos em alguns casos, a distância da citam-se: comportamento dos jovens,
mãe que morava em outra cidade e uma questões familiares, educação, aspectos
desilusão amorosa são os pontos negati- sociais, alargamento da adolescência em
vos da fase. Um dos entrevistados disse contraponto com a diminuição da infân-
que não tinha nenhuma história a ser cia, as brincadeiras e amizades. Essas re-
contada, pois tinha uma realidade triste presentações estão em conformidade
na adolescência e outro menciona ainda com as características dessas faixas etá-
a questão do bullying sofrido na escola. A rias descritas na literatura. Um contexto
pergunta que se referia ao que poderia muito comum na realidade da família
ser mudado em relação a realidade atual atual está na permanência cada vez
na infância e na adolescência, afirmaram maior das crianças nas escolas, da expan-
que depende como as pessoas agem, dos são da mídia e o surgimento das novas
valores que transmitem e ensinam. Tam- configurações da família e da sociedade,
bém disseram que depende do contexto tornando cada vez mais tênue a linha que
onde estão inseridos, que é necessário separa a infância de outros grupos gera-
maior imposição de limites, dar mais cionais (adolescência, adulto), levando
atenção as crianças e mostrar que tudo alguns a questionar se a infância não está
tem seu tempo para acontecer. É neces- em processo de extinção.

857
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT05-1363 - AS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS DO critérios de inclusão no levantamento fo-


CAMPO E SUAS FAMÍLIAS: INVESTIGANDO ram: descrição de práticas diretas estabe-
A PRODUÇÃO ACADÊMICA NACIONAL E lecidas com as crianças de 0 a 3 anos por
INTERNACIONAL suas famílias; disponibilidade nos idio-
Marcella Oliveira Araújo - FFCLRP-USP mas inglês, português, espanhol e fran-
moa.psic@yahoo.com.br cês; disponibilidade dos resumos. O ma-
Ana Paula Soares da Silva - FFCLRP-USP terial levantado foi tratado a partir da se-
apsoares.silva@gmail.com guinte categorização: 1ª) temática e por
Financiamento: CAPES áreas do conhecimento; 2ª) demográfica
e por locais de realização da pesquisa e
Apesar dos avanços no conhecimento so- de publicação; 3ª) teórico-metodológica.
bre a criança de 0 a 3 anos de idade e das Na base de dados BVS-PSI, o cruzamento
suas possíveis implicações nas práticas entre as palavras bebê ou bebês, família
cotidianas, esses sujeitos, de acordo com e rural obteve apenas 1 resultado, sendo
a literatura da área, continuam invisíveis que o artigo tem como foco o envolvi-
aos olhos da ciência, das políticas públi- mento do pai no cuidado de bebês. Com
cas e da historiografia da infância. Quan- a palavra criança (s), foram encontrados
do se trata das crianças moradoras em 14 artigos que trabalhavam temáticas
territórios rurais, essa (in)visibilidade é relativas à saúde e ao estado nutricional
mais intensa. O presente trabalho é parte do bebê do campo assim como a proje-
da pesquisa de mestrado que busca com- tos de assistência social e à saúde desti-
preender como é o cotidiano das crian- nados às famílias cm crianças pequenas.
ças de 0 a 3 anos de idade, moradoras de Nas bases internacionais, o cruzamento
uma comunidade rural e que tem como entre as palavras baby or babies, family
objetivos específicos investigar as signifi- e rural obteve 25 artigos (PSYCINFO) e 2
cações da família sobre a criança peque- artigos (FRANCIS). O cruzamento entre
na no contexto do campo, assim como os as palavras newborn or newborns, family
modos como organiza seu dia-a-dia em e rural obteve 9 artigos (PSYCINFO) e 4
relação à educação e ao cuidado desta artigos (FRANCIS). O cruzamento entre as
criança. O recorte para a apresentação é palavras infant or infants, family e rural
a revisão bibliográfica do estudo, realiza- obteve 88 artigos (PSYCINFO) e 45 artigos
da com objetivo de analisar a produção (FRANCIS). E, por último, o cruzamento
acadêmica nacional e internacional sobre toddler or toddlers, family e rural obteve
as crianças de 0 a 3 anos do campo e suas 12 artigos (PSYCINFO) e 4 artigos (FRAN-
famílias. Realizou-se um levantamento bi- CIS). Dos 210 estudos encontrados, 130
bliográfico de estudos indexados nas ba- estudos (62%) são provenientes da área
ses de dados BVS-PSI, PSYCINFO e FRAN- da Saúde: 68 estudos (52%) abordam a
CIS, sem restrição de data, utilizando as saúde materna, com o foco especialmen-
seguintes palavras-chaves e seus cruza- te na depressão pós-parto e na violência
mentos: criança; bebê; recém-nascido e doméstica por parceiro íntimo, e saúde
família e rural. Nas bases internacionais, neonatal; 19 estudos (14%) se referem à
as palavras utilizadas foram: newborn; mortalidade infantil, perinatal, materna
baby; infant; toddler e family e rural. Os e fatores de risco de natimortalidade; 13

858
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estudos (10%) retratam sobre a capacita- pesquisa foram: Brasil; Estados Unidos;
ção de profissionais e a relação médico- Índia; Quênia; Canadá; Israel; Egito; Iê-
-paciente; 11 estudos (8%) abordam os men; China; Itália; Uganda; Irlanda; Gré-
impactos de programas governamentais; cia; Peru; Bolívia; Indonésia e Líbano. A
8 estudos (6%) apresentam como foco partir dos 210 estudos encontrados, fo-
a maternidade e/ou paternidade – suas ram selecionados 109 artigos que faziam
práticas, suas relações e seus cuidados; referência direta ou indiretamente as
8 estudos (6%) apresentam como temá- práticas entre as crianças e suas famílias
tica a natalidade; e, por último, 3 estudos a fim de compreender como a literatura
(2%) focalizam políticas públicas para as vem abordando as relações entre famí-
áreas rurais. Encontrou-se 41 estudos na lia e criança de até 3 anos de idade do
área de Psicologia, sendo: 16 artigos so- campo. A análise mostra algumas lacunas
bre maternidade e/ou paternidade: práti- entre esses estudos, como a ausência de
cas, relações e cuidados (39%); 8 artigos investigações longitudinais, realizadas
na temática saúde materna e neonatal no contexto familiar e no dia a dia da
(19,5%); 8 artigos sobre processos de de- criança do campo. Quando se trata da
senvolvimento (19,5%); 6 artigos sobre in- educação e cuidado da criança de 0 a 3
teração cuidador-criança (14,6%); e 3 ar- anos do campo, os estudos focalizam as
tigos sobre organização social e ambiente metas e práticas de saúde idealizadas por
físico (7,4%). Os 39 estudos restantes se profissionais e significam o campo como
dividiram nas seguintes áreas do conhe- um lugar de escassez e privação de aten-
cimento e temáticas: Serviço Social (5 ar- dimento. Outra lacuna é a ausência da
tigos sobre natalidade); Antropologia (5 explicitação do povo do campo investi-
artigos sobre natalidade e saúde materna gado; quando especificada a população,
e neonatal); História (3 artigos sobre pro- a cultura da mesma é valorizada dicoto-
cessos de desenvolvimento); Agronomia micamente, se boa ou não para o seus
(3 artigos sobre políticas públicas para membros. Sendo assim, o levantamento
áreas rurais); Economia (11 artigos sobre bibliográfico contribui para a discussão
políticas públicas e impactos de progra- da temática e coloca como desafio a re-
mas governamentais); e Educação (12 alização de estudos prospectivos sobre a
artigos sobre maternidade, paternidade criança de 0 a 3 anos, suas famílias e as
e processos de desenvolvimento). Do to- comunidades rurais enquanto contextos
tal de 210 estudos, 182 apresentam da- específicos de desenvolvimento.
dos empíricos que utilizam os seguintes
recursos metodológicos: dados demográ- Palavras-chave: criança, família, territórios
ficos, entrevista, vídeo gravação, escalas, rurais
inventários, questionários, observação Contato: Marcella Oliveira Araújo, USP,
participante, transversal, longitudinal, moa.psic@yahoo.com.br
estudo de caso, prospectivo, testes bio-
lógicos, grupo focal e manchetes. Os 24
restantes se dividem da seguinte manei-
ra: 11 teóricos, 5 relatos de experiência,
5 históricos e 3 narrativas. Os locais de

859
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-1240 - BREVE ANÁLISE DO orçamento público como previsão de gas-


ORÇAMENTO PARA CRIANÇAS E tos que não necessariamente são executa-
ADOLESCENTES NO ESTADO DE SÃO dos em seu todo. Todavia, seu significado
PAULO consubstancia-se no fato de que nenhuma
Gisele Toassa - FE-UFG instância pública estadual pode gastar o
que não está previsto no orçamento dos
O Anuário Estatístico do Estado de São Estados, o qual se sistematiza por meio
Paulo (Fundação Seade, 2003), indica que de três leis: Plano Plurianual (PPA, atual-
a população de até 19 anos de idade era mente: 2008-2011); Lei de Diretrizes Orça-
de 13.282.721 habitantes (34% da popula- mentárias (LDO, Anual) e Lei Orçamentá-
ção total). Este dado informa que, apesar ria Anual (LOA, que integra os outros dois
de haver uma tendência histórica ao enve- documentos, PPA e LDO). O presente resu-
lhecimento no Brasil, há ainda a presença mo expõe, brevemente, análise do princi-
de uma expressiva participação de crian- pal dispositivo orçamentário: a LOA/2008,
ças e adolescentes na composição etária publicada em dezembro de 2007 (Estado
da população residente em São Paulo. En- de São Paulo, 2007b) e o acompanha-
tre 1993 e 2004, foi notável o aumento da mento de sua execução. Método: Existem
presença da população juvenil, em espe- problemas metodológicos para o levanta-
cial entre 15 e 24 anos de idade (Fundação mento dos gastos públicos com qualquer
Seade, s.d.). Mas, em um Estado cujo PIB, segmento populacional em particular
em 2006, somou R$ 802 bilhões, a distri- (crianças, idosos etc), pois, embora quase
buição de renda é extremamente desigual sempre se indique o público-alvo das po-
(Fundação Seade, 2006). Em consonância líticas, as leis orçamentárias não o deta-
com a elevada produção de riqueza de São lham. Além disso, pode ser difícil precisar
Paulo, a previsão de arrecadação líquida de que modo certas políticas afetam uma
do Estado, para 2008, era inicialmente faixa etária, já que elas podem incidir de
de R$ 96.873.844.780 (Orçamento Fiscal forma bastante abrangente na popula-
e da Seguridade Social). Arrecadação tão ção. Por esta razão, Velasco et al. (2005)
expressiva subsidia investimentos igual- recomendam o levantamento de planilhas
mente expressivos nas políticas sociais tanto de ações destinadas à criança e ao
dirigidas a crianças e adolescentes? Eis adolescente quanto das que melhoram as
o problema fundamental desta pesquisa condições de vida das suas famílias. Regra
do orçamento público do Estado de São geral no Brasil, até o momento em que se
Paulo, realizada em 20087, cujo objetivo finalizou a presente pesquisa, o Estado de
consistiu em analisar a distribuição de re- São Paulo ainda não aderira ao Orçamen-
cursos orçamentários entre os programas to Criança, metodologia proposta pela
(subdivididos em projetos, ações e ativida- parceria entre a Fundação Abrinq, o Insti-
des) dirigidos a crianças e adolescentes e tuto de Estudos Sócio-Econômicos (INESC)
acompanhar sua efetiva execução. Tal ob- e o Fundo das Nações Unidas para a Infân-
jetivo relaciona-se à própria natureza do cia (UNICEF). O Orçamento Criança facilita
acompanhamento, avaliação e mobiliza-
7 ção na proposição de políticas dirigidas às
O relatório da pesquisa como um todo pode ser acessado
em http://tinyurl.com/analisedeor-amentocriancasp crianças e aos adolescentes.

860
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Procuramos contornar tal carência de dis- não era o caso dos 13 programas/proje-
positivos de acompanhamento utilizando- tos/atividades do nosso primeiro foco de
-nos da ferramenta de busca do programa análise, cuja média ficou aquém dessa
Adobe Reader 9.0 no arquivo eletrônico da liquidação, variando em torno dos 45%
LOA/2008 em formato Portable Document do orçamento previsto até o mês de ou-
Format (Estado de São Paulo, 2007b). Os tubro. O atraso na execução não se devia
termos que mais surgiram (ao longo de aos repasses federais, pois os programas/
toda a lei) foram justamente “criança” e projetos ou atividades recebiam, predo-
“adolescente”. Procuraram-se, também, minantemente, um aporte de recursos do
com resultado nulo, as palavras “infância”, Tesouro do Estado. Sobressaem-se outros
“adolescência”, “recém-nado”, “recém- três aspectos: o baixo índice de investi-
-nascido”, “materno-infantil”. O termo mentos, a baixa participação de gastos
“pré-natal” foi localizado apenas uma vez, com pessoal e o acúmulo da despesa no
servindo na composição das tabelas de grupo “Outras despesas correntes”, em
acompanhamento orçamentário. Nosso detrimento de investimentos e gastos com
primeiro foco de análise do orçamento ex- pessoal. Pela natureza dos programas/
cluiu as dotações orçamentárias dirigidas projetos ou atividades, podemos apontar
à educação básica, principal política diri- uma tendência a lidar com as crianças e
gida a crianças e adolescentes (e na qual adolescentes das classes populares ou a
as crianças e adolescentes identificam-se partir do assistencialismo, ou do encarce-
fundamentalmente como “alunos”), dis- ramento (como se constata no relatório do
secadas em um segundo foco da pesquisa, Sistema Conselhos e Ordem dos Advoga-
impossível de ser relatado no limitado es- dos do Brasil, 2006), pois a internação via
paço do presente trabalho. Selecionaram- Fundação Casa contém os programas mais
-se para análise 13 programas/projetos ou dispendiosos do primeiro foco de análise.
atividades governamentais, os quais infor- Notou-se, ainda, uma acentuada carência
mam sobre: 1) os gastos de acordo com de políticas dirigidas especificamente ao
o grupo de despesa8; 3) a relação entre a lazer/cultura na infância e adolescência.
dotação orçamentária inicial e o liquidado Existiam apenas as “Fábricas de Cultura”,
até 15/02/2009. Após o levantamento dos mantidas majoritariamente com recursos
dados de dotação orçamentária, a execu- federais e baixíssimo orçamento liquidado
ção das despesas foi acompanhada pela até fevereiro de 2009 (11%). Concluindo,
autora no site da Secretaria da Fazenda: é possível apontarmos que existiu tanto
http://www.fazenda.sp.gov.br/contas. Os insuficiência na dotação orçamentária
resultados indicam que o ritmo da execu- quanto na execução do orçamento diri-
ção orçamentária foi regular no conjunto gido a crianças e adolescentes no Estado
do orçamento: até outubro, 92% da recei- de São Paulo em 2008. Mas a proteção
ta arrecadada havia sido liquidada. Esse social especial (que agrega a proteção de
crianças e adolescentes em situação de
rua, contra a violência doméstica etc), por
8
A categoria “grupo de despesa” refere-se à classificação dos exemplo, demanda investimentos cons-
gastos como: pessoal e encargos sociais, juros e encargos tantes e de larga escala, pois requer não
da dívida, outras despesas correntes, investimentos,
inversões financeiras, amortização da dívida. só infra-estrutura e pessoal qualificado,

861
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mas também mudanças culturais na for- truídas no âmbito familiar contribuirão


ma como nos relacionamos com a infância diretamente na sua formação enquanto
e adolescência. adulto, em sua capacidade de tomar de-
cisões, relacionar-se, trabalhar e escolher
Palavras-chave: criança; adolescente; análise um cônjuge (Osório, 1991; Aberastury &
orçamentária; direitos da criança. Knobel, 1992). Assim, o objetivo deste
Contato: Gisele Toassa, gtoassa@gmail.com trabalho foi de identificar diferentes opi-
niões de adolescentes acerca do relacio-
namento familiar dos jovens na socieda-
de atual. Para isso foi necessária a deli-
CO 37 - LT05 mitação dessa etapa, diferenciando-a da
Adolescência e família adulta. O conceito de diferenciação ado-
tado foi o proposto por Françoise Dolto
(2004), segundo o qual um jovem se tor-
LT05-943 - O ADOLESCENTE E SUA na adulto quando consegue se libertar
RELAÇÃO FAMILIAR: CONCEPÇÕES DE da influência e da angústia dos pais, ou
ADOLESCENTES DE ENSINO MÉDIO seja, quando consegue “caminhar com as
Rafaela Marcolino El Corab Moreira - UnB, próprias pernas”, ser independente, não
rafaela.mecm@gmail.com apenas financeiramente, mas emocional-
Taíse Galdioli Paes - UnB, mente. Por conseqüência não é a idade
taisegaldioli@gmail.com que faz da pessoa um adulto, mas sim
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB seu grau de autonomia. Para este estudo
rpedroza@unb.br utilizou-se um grupo focal composto por
sete estudantes de ensino médio com
A adolescência é tida como uma fase na idades entre 15 e 20 anos, sendo quatro
qual as emoções são vivenciadas de for- do sexo masculino e três do sexo femini-
ma intensa, havendo uma busca do ado- no. O grupo foi realizado dentro de uma
lescente pela consolidação da sua perso- instituição de Ensino Médio da Secreta-
nalidade (Wallon, 1973). A família tem ria de Educação do Distrito Federal em
um papel fundamental na constituição do Brasília – DF, Plano Piloto, com consen-
indivíduo, na determinação e na organi- timento da mesma, sendo a participação
zação de sua personalidade. Além disso, dos alunos voluntária. Estes debateram
é utilizada como base para a construção a respeito de questões previamente ela-
do comportamento individual através de boradas pelas pesquisadoras, como o
ações e medidas educativas próprias do conceito de família, a comunicação e as
ambiente familiar (Drummond & Drum- regras familiares e a rebeldia na adoles-
mond Filho, 1998). É na família que a cência. Para o devido registro e análise
pessoa vive a situação inicial de aprendi- posterior dos dados utilizou-se um gra-
zagem e introjeção de padrões e valores, vador com a permissão de todos os su-
sendo introduzida gradualmente na vida jeitos. Após esta etapa foi entregue aos
em sociedade (Biasoli-Alves, 1995, citado participantes uma folha para que escre-
por Biasoli-Alves & Dessen, 2001). Dessa vessem o que “amam” e o que “odeiam”
forma, as experiências do jovem cons- em suas famílias, além de outros assun-

862
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos que desejassem abordar. A análise foi surgiram respostas como: “Regras vão te
feita de forma qualitativa de acordo com ajudar na sociedade” e “Dar satisfação
as interpretações das pesquisadoras com não é bom, mas é uma coisa necessária
base no referencial teórico. Os resultados que você tem que aprender desde cedo
revelaram que o conceito de família para porque vão te cobrar isso lá fora”. Essas
esses jovens não se restringia ao modelo idéias apóiam a teoria da família como
padrão de família como necessariamente fornecedora de uma base ao indivíduo
boa e composta por pai, mãe e filhos. As no que diz respeito às regras e normas
falas “Pode ser pai com filho, mãe com essenciais para o convívio em sociedade
filho”, “Família a gente não escolhe. Tem (Biasoli-Alves, 2001). Quanto à questão
gente boa e tem gente ruim” e “Às ve- da rebeldia na adolescência, não houve
zes tem gente que está muito próxima e um consenso de opiniões, enquanto um
acaba virando uma família” reforçam a afirmou que a família estaria diretamente
idéia da flexibilidade desse conceito. No relacionada a este fato, outros discorda-
entanto, houve consenso na visão da fa- ram dizendo que dependeria do “gênio”
mília como um modelo a ser seguido pelo da pessoa, “a pessoa faz o que quer, ela
jovem, fornecendo uma base de valores e sabe o que está fazendo”. Outro partici-
orientando suas atitudes. A comunicação pante levantou a idéia de que o jovem
familiar foi vista como algo importante que não se ocupa com atividades acaba
por todos, mas que ocorre com limitação tornando-se rebelde, no entanto foi co-
de assuntos e é colocada como variando locada também a visão na qual a rebeldia
de acordo com os pais, como podemos se deve à necessidade de chamar a aten-
observar nas falas: “É difícil um adoles- ção dos pais ou de pertencer a um gru-
cente se aproximar da mãe e contar de- po. Dessa forma, podemos ver a rebeldia
terminadas coisas, porque tem vergonha, como uma característica não apenas da
aí conta pros amigos”, “A gente conversa adolescência, mas do ser humano em ge-
sobre assuntos que passam na televisão ral como parte de um processo de auto-
(...) mas nunca eu comecei o assunto. Se nomia, de construção da personalidade,
eles puxarem o assunto, eu converso” e assim, como colocado por Paulo Freire
“Se os pais dão abertura, o adolescente (2001) não é possível “ser” sem rebeldia.
vai perguntar qualquer coisa”. De acor- Ao contrário do que apresentaram em
do com a literatura há uma maior busca suas relações familiares, todos os parti-
de diálogo com a mãe (Carmona, 2000), cipantes relataram que gostariam de ter
sendo esta considerada uma pessoa mui- um contato mais próximo com seus filhos
to coerente e com grande capacidade de e demonstraram a incorporação de valo-
entendimento, responsável pelo cuidado res passados por seus pais, como a ne-
e pela mediação das relações familiares. cessidade de regras e a visão hierárquica
Já os participantes chegaram à conclusão entre pais e filhos. Assim, a despeito das
de que a busca por um membro especí- dificuldades enfrentadas, a família conti-
fico da família varia conforme o assunto nua atuando nessa etapa da vida como
e o grau de afinidade. Quando questio- um referencial importante para o adoles-
nados sobre a necessidade de regras, en- cente, o que se reflete nas avaliações que
tendida por alguns como dar satisfação, os jovens fizeram sobre o que gostam e

863
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

o que não gostam em suas famílias, bem causam grande impacto no contexto fa-
como nos planos e escolhas que os mes- miliar. Neste sentido, entende-se que em
mos apresentaram para o futuro. todas as fases do ciclo de vida ocorrem
mudanças os quais vem a marcar as tran-
Palavras-chave: adolescentes, família, sições para novas fases da vida de um in-
relacionamento dividuo, e por sua vez, em toda a família.
Contato: Rafaela Marcolino El Corab Moreira, Neste estudo foca-se a fase da adolescên-
UnB, rafaela.mecm@gmail.com cia. A entrada da adolescência de um dos
membros modifica o relacionamento e o
funcionamento da família como um todo.
LT05-949 - RELAÇÕES FAMILIARES: O Estudos apontam a adolescência, como
CLIMA FAMILIAR NA PERCEPÇÃO DE uma fase com tendências para a presen-
ADOLESCENTES ça de uma série de problemas e confli-
Marianna Santos Rodrigues - UFRB tos dentro do contexto familiar, além de
marianna-sr@hotmail.com enfatizar que há um aumento das brigas
Patrícia Martins de Freitas - UFRB e disputas entre pais e filhos durante os
pmfrei@gmail.com anos da adolescência. O objetivo desse
estudo foi investigar o perfil das relações
A família constitui-se como uma institui- familiares, considerando conflito e afeti-
ção fundamental da sociedade, na qual vidade, sobre o clima familiar e as dinâ-
os seus membros dividem o dia-a-dia micas existentes nos relacionamentos
e possuem um relacionamento íntimo das díades familiares, a partir da percep-
que promove o seu desenvolvimento. ção de adolescentes, de escola pública da
Na perspectiva sistêmica a família é vis- cidade de Santo Antônio de Jesus / BA.
ta como um sistema complexo compos- Essa pesquisa teve como base o Projeto
to por vários subsistemas, por exemplo, de Planejamento Familiar na Perspectiva
mãe-filho, pai-filho, mãe-pai, mãe-pai- do Desenvolvimento, desenvolvido pelo
-filho, os quais estabelecem relações úni- Grupo de Pesquisa Saúde, Educação e
cas, sendo que cada um destes influencia Desenvolvimento - SAED, da Universida-
e é influenciado pelos outros subsistemas de Federal do Recôncavo da Bahia. A me-
existentes. Para estudar a família na con- todologia do estudo é de caráter quase
temporaneidade é preciso atentar para a experimental. A coleta de dados foi rea-
estrutura familiar, a qual está intimamen- lizada com 203 adolescentes, entre 12 e
te vinculada com o momento histórico 19 anos, como critério de escolha os par-
que atravessa a sociedade da qual ela faz ticipantes são estudantes de escolas pú-
parte, visto que, um conjunto de variáveis blicas. Os adolescentes foram convidados
sociais, econômicas, histórico e cultural, através do contato com as instituições de
vem a moldar e a influenciar na conjectu- ensino. A realização da pesquisa ocorreu
ra da construção familiar atual. As novas mediante a assinatura pelos responsáveis
configurações reafirmam que o sistema dos participantes, ao termo de consenti-
familiar é dinâmico, sendo marcado tanto mento livre e esclarecido (TCLE). O pro-
por eventos normativos previsíveis quan- cedimento do projeto foi constituído da
to por eventos idiossincráticos os quais aplicação dos instrumentos de avaliação,

864
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a qual foi realizada nas Escolas, em dois estão estatisticamente semelhantes. O


encontros de 60 minutos. Inicialmen- fator coesão e hierarquia são dois fato-
te, houve a sensibilização à proposta do res fortes para compreensão do clima
projeto aos estudantes a participarem familiar que se contrapõe, mas que não
da pesquisa. Depois foi entregue ao par- estão dissociados: a coesão representa o
ticipante uma ficha cadastro, com dados vinculo emocional entre os membros da
sócio-demográficos e caracterização do família, o que se evidencia um fator posi-
seu núcleo familiar. Em seguida, foram tivo nas relações familiares. Por sua vez,
aplicados os instrumentos de avaliação a hierarquia está associada a autoridade.
familiar. A análise dos dados foi realizada Desta forma, entende-se o desenvolvi-
através do programa estatístico Statistical mento saudável associado ao alto nível
Package for the Social Sciences (SPSS). Os de coesão, mas não se associa de mesma
instrumentos utilizados foram: o Fami- forma ao alto nível de hierarquia. Com
liograma, e Inventário do Clima Familiar base no Familiograma, as famílias foram
– ICF. O Familiograma é um instrumento classificada com alta afetividade e baixo
desenvolvido para avaliar a percepção da conflito. Apresenta-se maior afetividade
afetividade e o conflito familiar nas día- na relação díade mãe/filho (M=41,05 e
des familiares, a partir de 22 adjetivos, DP=10,55) e maior conflito na relação fi-
configurado com a escala Lickert. Inven- lho com outro individuo, em geral irmão
tário de Clima Familiar é um instrumento (M=21,38 e DP=9,44) e na relação filho/
que avalia a percepção do clima familiar pai (M=20,30 e DP=9,09). Quanto a com-
e as dinâmicas existentes nos relaciona- paração de gênero, o perfil de percepção
mentos intra e extra familiar. Essa avalia- das relações familiares em ambos ins-
ção é realizada através de quatro fatores trumentos não difere significativamen-
diferentes: apoio, coesão, conflito e hie- te entre o sexo feminino e masculino. O
rarquia contendo um total de 32 itens. Os gênero pode ser compreendido como
resultados sócio-demográficos apresen- uma construção social e histórica femi-
tam 203 adolescentes entre 12 e 19 anos ninos versus masculinos que se processa
sendo a (M=16,03 e DP = 2,03). A maioria de maneira diferenciada, dentro de uma
dos participantes era do sexo feminino mesma sociedade. Tal configuração vem
(73,4%) e (26,6% masculino). A distribui- a ser reflexo do desenvolvimento e inter-
ção da escolaridade mostra maior con- nalização de papeis e comportamentos
centração para o ensino fundamental in- sociais desejáveis, e culturalmente re-
completo (43,4%) e ensino médio incom- passados em linhas transgeracionais. Em
pleto (46,5%). Os dados sobre estado civil suma, avaliar a percepção de adolescen-
demonstram que a maioria dos adoles- tes e suas famílias a partir do clima fami-
centes, são solteiros, sendo 81,6%; 10,7% liar, afetividade e conflitos traz a possibi-
são casados; 5,6% vivem juntos e 1,0% lidade de compreender a qualidade da
são divorciados. O ICF apresentou o fa- relação com a família e os impactos desta
tor coesão familiar (M= 17,25 e DP=5,27) em vários aspectos da vida do adolescen-
maior que o fator de conflitos (M=10,82 e te como, como a formação do autocon-
DP=5,48); os fatores hierarquia (M=11,67 ceito. Além de instigar discussões sobre
e DP=4,68) e apoio (M=16.27 e DP=4,81) temáticas tangentes com o contexto so-

865
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cioeconômico-cultural ao qual a família com pares e fatores socioeconômicos que


pertence, os tipos de vinculação e papéis também desempenham o mesmo papel
existentes entre os membros da família, no desenvolvimento humano. O objetivo
a fim de conhecer o desenvolvimento do desta pesquisa foi investigar se adoles-
ciclo familiar. centes de quatro escolas públicas da ci-
dade de Santo Antônio de Jesus/BA apre-
Palavras-chave: família, adolescentes, conflito sentam traços de depressão e fazer uma
e afetividade correlação com o relacionamento familiar
Contato: Marianna Santos Rodrigues, UFRB, destes adolescentes. A amostra foi com-
marianna-sr@hotmail.com posta por 150 adolescentes estudantes
de quatro escolas públicas, da cidade de
Santo Antônio de Jesus/Ba, convidados a
LT05-1453 - RELATO DE PESQUISA: partir do banco de dados do projeto de
ADOLESCENTES COM TRAÇOS DE Intervenção em Planejamento Familiar
DEPRESSÃO E O RELACIONAMENTO na Perspectiva do Desenvolvimento, sen-
FAMILIAR COMO FATOR DE INFLUENCIA do 73,4% da amostra do sexo feminino e
Bruna Rafaela Soares de Assis - UFRB/CCS 26,6% do sexo masculino. Os participan-
brunassis18@hotmail.com tes assinaram o Termo de Consentimen-
Marianna Santos Rodrigues - UFRB/CCS to Livre e Esclarecido (TCLE). A média de
marianna-sr@hotmail.com idade foi de 16,03 anos. Os participantes
Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS assinaram o Termo de Consentimento Li-
pmfrei@hotmail.com vre e Esclarecido (TCLE). Foram utilizados
Financiamento: FAPESB para a avaliação dois instrumentos vali-
dados no Brasil: o Familiograma, desen-
Diversos estudos abordam sobre a impor- volvido para avaliar a percepção da afe-
tância das relações familiares para o de- tividade e o conflito familiar nas díades
senvolvimento de crianças e adolescen- familiares. Torna-se útil na identificação
tes. A qualidade desta relação é benéfica do funcionamento sistêmico da família,
para tal desenvolvimento; em contrapar- sendo importante na avaliação de famí-
tida, a instabilidade familiar aumenta os lias que estão em condições de risco, seja
riscos relacionados a problemas emocio- de caráter biológico, psicológico ou social;
nais e comportamentais, em crianças e e o Questionário de Saúde Geral de Gold-
adolescentes, podendo também afetar berg- o QSG, que objetiva fornecer uma
sua saúde física. Assim as falhas no su- perspectiva sobre o estado de saúde men-
porte afetivo e na coesão familiar estão tal dos indivíduos. Além do escore geral,
habitualmente presentes, podendo estes os resultados do QSG originam 5 escores
assumir um caráter influenciador no de- parciais: Fator I - Estresse; Fator II - Desejo
senvolvimento de características depres- de Morte; Fator III - Desconfiança no Pró-
sivas em adolescentes. Entretanto, é im- prio Desempenho; Fator IV - Distúrbios do
portante ressaltar que o fator relaciona- Sono; e Fator V - Distúrbios Psicossomá-
mento familiar não é preponderante no ticos. Para análise dos dados foi utilizado
desencadear de tais reações, mas existem o programa Statistical Package for Social
características genéticas, envolvimento Sciences, SPSS versão 18. Os resultados

866
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foram analisados inicialmente através da Desta forma, a média de adolescentes


verificação do perfil emocional dos ado- que apresentaram traços característicos
lescentes e do perfil das relações familia- de depressão acima do ponto de corte
res, através dos quais não foram encon- pode ter sofrido influências outras. Exis-
trados comprometimentos emocionais e tem estudos que falam que adolescentes
nem das relações familiares. Foi feita uma que apresentam indícios de depressão na
análise mais detalhada destes resultados adolescência estão sujeitos a desenvolvê-
através da interpretação dos fatores sin- -la de maneira mais severa em situações
tomáticos do QGS: no fator I 5,8% apre- da vida adulta. Desta forma, ainda que os
sentaram dos adolescentes apresentaram comportamentos dos adolescentes pos-
resultados acima do ponto de corte; no sam se confundir com alguns sintomas
fator II 11,7% apresentaram tais resulta- da depressão, é necessário se atentar
dos; no fator III 4,8%; no fator IV 8,7%; para a duração que estes são expressos
no fator V 11,5% da amostra apresentou por tais indivíduos para que não desen-
resultados acima do ponto de corte. Além volvam complicações futuras na vida des-
disso, foi feita uma comparação de gêne- tes. E se estes sintomas se apresentarem
ro para ver qual deles se sobressaía com com uma duração de duas semanas e, no
distúrbios psiquiátricos menores e foi en- mínimo cinco deles persistirem já é sinô-
contrado que os meninos se destacavam nimo de preocupação com tal indivíduo.
nesta categoria, assim foi possível iden- Assim, uma vez que o ambiente familiar
tificar que o sexo masculino se destacou é definido como um dos fatores primor-
na maioria dos fatores, sendo que as me- diais que assegura o apoio psicológico e
ninas teve o resultado percentual acima social dos seres humanos, ajudando no
do ponto de corte apenas no fator dese- enfrentamento do estresse provocado
jo de morte. A literatura vem apontando por dificuldades do cotidiano, quando se
que a instabilidade familiar aumenta os encontram em alto nível de conflitos e es-
riscos relacionados a problemas emocio- tresse pode dificultar o desenvolvimento
nais e comportamentais, em crianças e emocional do adolescente. Desta forma,
adolescentes, podendo também afetar conclui-se que é necessário se atentar
sua saúde física. Contudo, neste estudo para as famílias de maneira que seja pos-
foi verificado que a maioria dos adoles- sível desenvolver projetos que desenvol-
centes não apresentou indícios de proble- va os aspectos positivos desta e, a partir
mas emocionais. Bem como os resultados disso, trabalhar com as crianças e adoles-
que falam das relações familiares não centes que fazem parte desse ambiente e
apresentaram valores acima do ponto necessitam de um espaço saudável para
de corte, assim não apresentam valores desenvolver-se.
que confirme o que a literatura estudada
traz sobre influencias de conflitos fami- Palavras-chave: desenvolvimento humano,
liares no desenvolvimento de distúrbios relacionamento familiar, traços de depressão
psiquiátricos menores nos adolescentes Contato: Bruna Rafaela Soares de Assis, UFRB/
estudados, uma vez que as relações con- CCS, brunassis18@hotmail.com
flituosas foram identificadas com menor
média do que as relações de afetividade.

867
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1264 - O ATENDIMENTO AOS PAIS tegoria exclusiva da cultura moderna,


NA CLÍNICA COM ADOLESCENTES definida como um tempo de travessia da
Fernanda Hamann de Oliveira - UFRJ infância para a idade adulta (Ariès, 1981).
Nas sociedades ditas tradicionais, esta
Como nos conta a história da psicanálise, travessia é ritualizada pelos chamados ri-
o caso do pequeno Hans é o único relato tos de passagem, cuja eficácia simbólica
de um atendimento de Freud a uma crian- garante a operação de morte da criança
ça. A rigor, porém, foi através da interlo- para que haja o subsequente nascimento
cução com o pai de Hans que Freud con- do adulto. Não por acaso, tais ritos envol-
duziu a análise do menino. Lacan, por sua vem situações extremas como cortes na
vez, abordou a patologia da criança a par- pele, marcas, sangramentos, provações
tir da situação da mesma em dois lugares ou longos períodos de reclusão absoluta.
possíveis: no lugar de sintoma do casal Neste contexto, o lugar social que será de-
parental ou de objeto na fantasia da mãe. sempenhado pela criança ao se converter
Ambas as posições, de Freud e de Lacan, em adulto – pescador, caçador, etc. – já se
respaldam a observação de que um tra- encontra pré-definido. Em contrapartida,
balho sistemático com os pais produz nas nossas sociedades modernas, onde o
efeitos importantes sobre a criança em individualismo produz um afrouxamento
análise, constituindo-se como uma estra- dos laços e ritos sociais, a adolescência
tégia fundamental na clínica da infância. se instala como um vácuo, um limbo, no
Mas e quanto à clínica da adolescência? qual o sujeito não é criança nem adulto,
O atendimento aos pais pode ou deve ser não está dentro nem fora da família, e o
incluído como uma estratégia nesta clíni- lugar que ele deverá ocupar como adulto
ca? Ainda trazidos para o atendimento – está em aberto, demandando dele uma
tal como as crianças – pelas mãos de um série de redefinições sociais, sexuais, fa-
adulto, não são raros os jovens que de- miliares e profissionais (Saggese, 2001).
monstram dificuldade em formular uma Neste momento, a família do adolescente
demanda própria de análise, que possa “ocupa um lugar ambíguo, ora represen-
se sobrepor à queixa inicial apresentada tando ela mesma o indivíduo para o con-
pelo Outro. Entretanto, no caso dos ado- junto social, ora apresentando-se como
lescentes – diferente das crianças –, o tra- o círculo menor do qual o indivíduo deve
balho de formular uma demanda própria separar-se” (Ibid., p. 63). Tal ambiguidade
de análise é o ponto de partida para que se faz notar nos conflitos do adolescente,
ela possa transcorrer. Diante da tarefa que em geral se divide entre o amor e o
abandonar o lugar de sintoma familiar, ódio pelos pais – ou seja, entre a neces-
para passar a responder em nome pró- sidade de se tornar independente deles
prio, o adolescente é convocado a ressig- e o desejo de ser novamente acolhido e
nificar as relações que estabelece com os cuidado por eles. Estes conflitos ganham
pais. Frequentemente, esta tarefa é atra- uma intensidade particularmente exage-
vessada por um caráter de forte agressivi- rada uma vez que, nesse período que se
dade, como uma espécie de combustível segue à latência, costuma haver uma re-
para uma possível separação. Diferente vivescência de afetos envolvidos no com-
da puberdade, a adolescência é uma ca- plexo de Édipo. Tais afetos, outrora viven-

868
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ciados pelo sujeito criança, revestem-se cia, com que frequência, etc. –, portanto,
de novos contornos quando retornam ao se inclui entre essas dificuldades. Estas
sujeito adolescente, visto que seu corpo questões se encontram na pauta do Pro-
púbere já estaria, ao menos fisicamen- adolescer – Programa Ambulatorial para
te, preparado para realizar os desejos Adolescentes de Risco –, que há cerca de
proibidos de matar o pai e copular com vinte anos realiza atendimentos ambula-
a mãe. Diante deste panorama, impõe- toriais a adolescentes em grave sofrimen-
-se ao sujeito a necessidade de remane- to psíquico, no Serviço Infanto-Juvenil do
jar suas identificações infantis, o que se Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Embora
torna claro nas escolhas de adolescen- se oriente por pressupostos psicanalíti-
tes pela identificação aos pares – grupos cos, o programa desenvolve um trabalho
de outros que, como ele, buscam novas interdisciplinar, por acreditar que a com-
formas de ser e estar no mundo –, assim plexidade das questões graves na adoles-
como na violência como tantos jovens se cência demanda a mobilização de uma
voltam, nesta fase, contra os pais, a so- equipe multiprofissional. Assim, psicana-
ciedade, o “sistema”, ou qualquer repre- listas, psiquiatras e terapeutas de família
sentante dos obstáculos deste processo compõem uma mesma equipe, planejan-
árduo que ele é obrigado a atravessar. É do e revendo projetos terapêuticos para
a necessidade de separação dos pais que cada caso atendido, que pode envolver as
leva muitos adolescentes a não suportar três vertentes de trabalho – psicanálise,
a ideia de que eles sejam atendidos por psiquiatria e terapia de família –, ou duas,
seu analista. Nesses casos, a escolha de ou apenas uma delas. No contexto do
atender os pais pode, amiúde, ser sen- Proadolescer, em que grande parte dos
tida pelo adolescente como uma trai- casos, por sua gravidade, demanda um
ção, impondo dificuldades significativas atendimento aos pais, é possível que este
ao manejo da transferência. Entretanto, atendimento seja levado a cabo por uma
tampouco são raros aqueles que chegam terapeuta de família, preservando assim
a endereçar ao analista um pedido de a relação entre adolescente e psicanalis-
que receba em atendimento um de seus ta. Há outros casos, também, em que os
pais, ou ambos. Ademais, casos consi- pais comparecem apenas às consultas
derados especialmente graves – como a psiquiátricas, resguardando-se o espaço
eclosão de transtornos alimentares ou a de análise do adolescente. Por promover
manifestação de um quadro psicótico, o estratégias integradas de tratamento, o
que tantas vezes ocorre justamente na programa apresenta uma solução viável
adolescência, como resposta do sujeito – e que tem se mostrado eficaz – para as
para as injunções impostas pela tarefa de dificuldades impostas ao analista de ado-
adolescer – parecem exigir um trabalho lescentes com relação à inclusão de seus
junto à família. A chamada crise da ado- pais no tratamento.
lescência é passível de suscitar situações
clínicas que revestem de dificuldades o Palavras-chave: atendimento aos pais; clínica
campo da psicanálise com adolescentes. com adolescentes; proadolescer.
O atendimento aos pais – recorrer ou não
a ele, de que modo, em que circunstân-

869
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1431 - O DESENVOLVIMENTO NA durecimento. Por conseqüência da visão


ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO dos outros, o próprio indivíduo, estando
Laís de Azevedo - UnB ele maduro de fato ou não, pode perceber-
laismfc@gmail.com -se como adulto. Agora é o próprio jovem
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB que deve criar sua passagem, o que pode
rpedroza@unb.br causar grande sofrimento psíquico. Tanto
por não estar correspondendo a um ideal
Este artigo, utilizando-se de uma situação da sociedade, quanto por ter que criar por
clínica, pretende discutir o desenvolvimen- si maneiras de se separar dos pais. Ela afir-
to da adolescência. Esta fase da vida sem- ma que atualmente a independência acon-
pre foi vista mais como uma preparação tece de forma mais concreta pela via eco-
para a próxima: a idade adulta. Seu obje- nômica, entretanto, a sociedade impede
tivo parece ser formar uma ex-criança em que o jovem trabalhe. Seguindo essa visão
um adulto completo. No entanto, o caso clí- de ruptura, Rivelis de Paz (1978) comenta
nico a ser descrito traz uma série de ques- que existe um relacionamento simbiótico
tionamentos relativos a essa visão geral entre adolescente e seus pais, sendo então
sobre a adolescência e mesmo da própria necessária uma dessimbiotização, a fim de
fase adulta. Além disso, o caso ajuda a re- fortalecer o ego. Esta acontece por meio de
pensar também a prática clínica, no senti- uma crise, entendida como a resolução de
do de estar atrelada a uma busca por uma um conflito. O termo crise sugere instabi-
cura, possuindo, então, um fim. Françoise lidade com caráter negativo, porém nesse
Dolto (1988) sugere a adolescência como caso é vista como o início de uma nova
uma fase de mutação, que, no entanto, é etapa. Para ela, é uma crise de elabora-
mais comumente definida por característi- ção da ruptura do vínculo simbiótico e da
cas biológicas ou fisiológicas do que pelos nova organização do ego perante os pais.
aspectos subjetivos. O corpo é um sinali- Durante essa crise elaborativa, podem sur-
zador, contudo, não é um determinante gir momentos de angústia, alterações do
para que a adolescência e suas vicissitudes esquema corporal, despersonalização, sin-
se instalem. Mais ainda, ela traz a idéia do tomas fóbicos etc. O termo simbiose alude
adolescente como um ser que não é: não é a uma relação em que ambos os partici-
criança e não é adulto. Para resolver esse pantes se beneficiam encaixando-se perfei-
conflito, o adolescente precisa passar por tamente no período da infância. A criança
um segundo Complexo de Édipo (Freud, se desenvolve de um estado de completa
1905), no sentido de abandonar o amor dependência para outro de maior individu-
incestuoso dos pais, agora já fisicamente ação. Este caminhar, contudo não é linear.
possível, para procurar um outro objeto de De acordo com Wallon (1981), a adoles-
afeto fora da família nuclear. Dolto (1988) cência representa o segundo momento de
pontua que nos tempos atuais, os jovens conflito eu-outro que culminará na diferen-
passam maior dificuldade para vencer essa ciação do eu. Para todos esses teóricos, a
etapa, devido à falta de ritos de passagem. fase da adolescência acontece durante o
Estes funcionam como marcadores tempo- período entre doze e dezoito anos. No en-
rais e sociais importantes para o entendi- tanto, podemos refletir sobre essa fase, de
mento dos outros em relação a este ama- forma a nos questionar a respeito tanto de

870
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sua consolidação temporal quanto de sua conhecia e precisava da aprovação deles.


característica finita. Será apenas uma fase Relata uma série de acontecimentos em
de quebra que resultará em um sujeito que sente sua mãe excessivamente prote-
novo, plenamente diferenciado do outro tora. Isto é algo que o incomoda, chegando
ou apenas uma passagem importante na a afirmar que a odeia por isso. Ao mesmo
vida? Isto é, teria a adolescência, e por sua tempo em que sente o ímpeto de se sepa-
vez, o próprio desenvolvimento, um fim, rar da mãe, deseja uma volta à sua infância
um ápice? Foram estas as questões susci- perdida em meio às cobranças dela. Afirma
tadas pelo caso clínico a seguir. J. é um jo- que “isto não é coisa de mãe”. O fato de ter
vem de 20 anos, estudante de engenharia. 20 anos faz com que J. se sinta angustiado
Filho de pais separados, mora com a mãe por ainda não ter constituído seu ego. Ele
e o irmão mais velho, também estudante relata sentir-se velho e diz ter perdido tem-
de engenharia. Ele procurou por vontade po na vida com algo que, para ele, deveria
própria a clínica-escola da Universidade de ter acontecido aos 15 anos, ou seja, ter se
Brasília com a demanda de dificuldade em dessimbiotizado. A terapia permite a J. fa-
“mostrar quem ele realmente era” para as zer uma reflexão sobre si, afirmando que
pessoas e queria ampliar a rede de amiza- apesar de ter chegado com certos objeti-
des. Relatava que quando viajava sozinho vos, agora já percebe ter novos. Ele conse-
se sentia livre e queria se sentir assim mais gue entender a psicoterapia como um tra-
vezes. Além disso, pretendia “diminuir o balho que não busca um final, visto que, tal
peso da faculdade em sua vida”, pois seu como o desenvolvimento, é um processo
desempenho acadêmico o afetava em ou- dinâmico, dialético e constante.
tras relações. Sua postura era sempre re-
flexiva, porém com uma visão majoritaria-
mente racionalizada dos fatos. J. acredita
que as pessoas o julgam e o odeiam antes
CO 18 - LT02
mesmo de conhecê-lo, culminando em Educação
uma vontade de agradar a todos. Revelou
que sua mãe foi muito cobrada por sua avó
na juventude e para ele, ela ainda se sente LT02-814 - REGRAS DO JOGO DE FAZ DE
presa a essa situação. Essa postura não o CONTA E DO FUNCUNCIONAMENTO
agrada e faz com que ele se compare com DA ESCOLA: O QUE DIZEM CRIANÇAS
ela. J. apresenta arrependimentos sobre NA EDUCAÇÃO INFANTIL
situações nas quais provocou sentimentos Nadja Maria Vieira - UFAL
negativos em outras pessoas. Essas lem- vieira.ufal@gmail.com
branças são sempre as mesmas, aparecem
repentinamente e se repetem com frequ- A forma como os seres humanos lidam com
ência. J. aparenta estar sempre na defensi- as regras tem sido alvo da atenção de di-
va, como se os outros tivessem cobranças e ferentes pesquisadores. Mas são aqueles
julgamentos sobre ele. Chega a questionar que se envolvem com questões educacio-
todas suas decisões, supondo que elas fo- nais quem mais tem investigado a relação
ram realizadas por desejo de outros (mãe, entre o uso e a compreensão de regras e o
pai e irmão mais velho), visto que não se desenvolvimento infantil. Não é difícil ob-

871
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

servar as razões porque a compreensão e to infantil. Para ele toda forma de brinca-
uso de regras sejam conteúdos necessários deira infantil é regida por regras. Ao invés
no contexto dos processos educacionais. A do enfoque na moralidade, ele discutiu a
compreensão e uso das regras envolvem relação entre a imaginação e as regras nas
processos cognitivos. Abordar o desenvol- brincadeiras infantis comentando que não
vimento cognitivo no contexto da sala de existe brinquedo sem regras e a situação
aula implica no posicionamento teórico e imaginária de qualquer forma de brinque-
metodológico frente à forma como os alu- do já contem regras de comportamento.
nos constroem, concebem e operam com Por exemplo, a criança imagina-se como a
as regras. Em diferentes estudos, pesquisa- mãe e sua boneca como uma filha. Dessa
dores têm destacado que subjacente à ope- forma, a criança deve obedecer às regras
ração com regras está a natureza social da do comportamento maternal. Sempre que
condição humana. As regras pressupõe a há uma situação imaginária no brinquedo
comunicação entre individualidades; pres- há regras que têm origem na própria si-
supõe intersubjetividade e historicidade. tuação imaginária. Vigotski (1934/2010)
Piaget (1932/1977) tem sido referência fre- observou ainda que o mais simples jogo
quente para pesquisadores que estudam a com regras transforma-se imediatamente
dimensão social da operação com regras. numa situação imaginária, pois na medida
Na caracterização de diferentes estágios do em que o jogo regulamenta determinadas
conhecimento de regras pela criança, ele regras, outras possibilidades de ação são
destacou um momento que denominou de eliminadas. Então, nesse raciocínio, toda
cooperação nascente, quando as crianças situação imaginária contém regras de uma
voltam-se para um controle e construção forma oculta; e todo jogo com regras con-
de regras coletivas. Nesse estágio a regra tém, de forma oculta, uma situação imagi-
é considerada como uma lei imposta pelo nária. Refletindo-se esse cenário de inves-
sentimento mútuo. Piaget observou tam- tigação voltado para explicações de como
bém que a criança pode perceber que a crianças concebem e lidam com regras e
regra pode ser alterada de acordo com a como essa concepção e uso são refletidos
vontade dos participantes. Como próximo no funcionamento cognitivo e desenvolvi-
estágio, ele caracterizou a codificação das mento de valores sociais, foi realizado um
regras e, subjacente à codificação, ele ob- estudo, pretendendo-se atualizar algumas
servou a emergência da consciência autô- questões que, sugere-se, continuam ainda
noma relacionada com uma atitude de am- pouco exploradas nas pesquisas afins. O
plo convencimento quanto à necessidade objetivo do estudo que se apresenta aqui
das regras serem obedecidas. De acordo foi analisar as atribuições de sentidos para
com Piaget (1932/1977) essa consciência regras do jogo e do funcionamento da es-
indiciava a atribuição de valores pelas crian- cola por crianças da educação infantil. A
ças ás convenções sociais. Essa observação atualização que se esperou com este es-
levou-o a declarar que a base do desenvol- tudo foi poder desenvolver uma interpre-
vimento da moralidade na criança é funcio- tação da compreensão e uso de regras por
namento das regras. Vigotski (1934/2010) crianças da educação infantil fundamen-
também discutiu a relação entre a compre- tada em pressupostos da psicologia sócio
ensão e uso de regras e o desenvolvimen- histórica. Considera-se esta perspectiva

872
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como atualização, pois, observa-se que a do funcionamento da escola, realizaram-se


literatura que discute esse tema tem, com rodas de conversas, com as mesmas du-
maior frequência, mencionado estágios plas e com participação da pesquisadora.
no desenvolvimento da compreensão e Nessas rodas de conversas a pesquisadora
uso das regras por crianças. De forma di- contou uma estória. O enredo dessa estó-
vergente, nos pressupostos da psicologia ria envolveu duas personagens ( masculino
sócio-histórica destacam-se um enfoque e feminino) que representaram crianças da
na variabilidade; nos processos de mudan- educação infantil quebrando regras de fun-
ça. Portanto, propõe-se como atualização, cionamento da escola. Na estória contou-
uma análise da compreensão e uso de re- -se que um aluno se esqueceu de tirar os
gras numa perspectiva dinâmica, a partir sapatos ao entrar na sala, quando ele sabia
da construção de parâmetros conceituais que todos deveriam deixar os sapatos lá
que traduzam aspectos da dimensão inter- fora. Foi também contado na estória, que
subjetiva no conceber e lidar com regras. uma aluna insistia em tomar uma carteira,
Além disso, investe-se com esta análise, na onde estava sentada sua colega de turma,
construção de informações úteis para revi- quando ela sabia que, os lugares foram
são e renovação das metodologias voltadas pré-definidos pela professora. Depois de
para a educação infantil. O estudo foi reali- contar a estória, a pesquisadora incentivou
zado numa instituição de educação infantil uma conversa acerca das situações de que-
que tem sua sede no campus da Universi- bra de regras de funcionamento da escola,
dade Federal de Alagoas - UFAL. O Núcleo voltando-se sempre para a sala de aula
de Desenvolvimento Infantil - NDI atende real, onde estudavam as crianças que par-
prioritariamente, filhos de funcionários ticipavam da roda de conversa. O estudo
e estudantes da UFAL. Antes do início do está em andamento, mas é possível tecer
estudo, pesquisadores visitaram a escola algumas considerações acerca de resul-
para observar nas salas de aulas e no re- tados parciais. Na análise das atribuições
creio, quais as brincadeiras mais frequen- de sentidos das crianças para as situações
tes. Foram observadas que as brincadeiras de jogo de faz de conta foram levantadas
de faz de conta foram as mais frequentes. algumas categorias. A partir dessas cate-
Depois foi realizado um pré-teste para sele- gorias foi interpretado que a habilidade
cionar crianças que reconheciam as regras para lidar com conceitos é um aspecto do
daquelas das brincadeiras. Quarenta crian- desenvolvimento cognitivo eminentemen-
ças do NDI, divididas em dois grupos (vinte te envolvido no reconhecimento de regras.
do maternal e vinte do segundo período) Nos dados observou-se que a imaturida-
foram selecionadas a partir do pré-teste. de no lidar com conceitos relacionados às
Em duplas, essas crianças interagiram em regras do jogo de faz de conta traduziu-se
três diferentes situações de um jogo de nas atitudes de aceitação e incorporação
faz de conta com a pesquisadora. Durante das posições irregulares da pesquisadora.
essas situações a pesquisadora quebrou re- Por outro lado, os indícios da habilidade
gras do jogo faz de conta. Nas reações das em lidar com conceitos possibilitou que as
crianças estudaram-se as suas atribuições crianças explicassem a regras em questão e
de sentidos para as regras do jogo. Para corrigissem as posições incorretas da pes-
analisar as atribuições de sentidos às regras quisadora. Pontuou-se, portanto, o papel

873
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da linguagem no desenvolvimento cogni- histórico real de sua realização. O presen-


tivo relacionado com o conhecimento de te estudo discute possibilidades na defi-
regras no jogo, explorando-se a função da nição e análise da relação entre contexto
atividade narrativa. Traduziu-se com dados histórico-cultural e a produção de sentidos.
desse estudo, o desenvolvimento infantil Busca-se com essa iniciativa refletir acerca
como expressão da narratividade. das dificuldades metodológicas potenciais
quando a questão é delinear a dimensão
Palavras-chave: Regras; Desenvolvimento contextual (processual) na análise da pro-
infantil; Narratividade. dução de sentidos. Apresenta-se, aqui, um
estudo que teve como objetivo, explorar a
concepção de contexto histórico-cultural
LT02-815 - ENTRE O CONTEXTO VERBAL na análise da produção de sentidos de
E O CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL: crianças. Trata-se de um estudo de casos.
CONSIDERAÇÕES NA ANÁLISE Três crianças entre quatro e cinco anos,
DA PRODUÇÃO DE SENTIDOS DE matriculadas na educação infantil, três
CRIANÇAS crianças entre nove e dez anos matricula-
Nadja Maria Vieira - UFAL das no ensino fundamental participaram
vieira.ufal@gmail.com deste estudo. Na coleta de dados, as crian-
ças assistiram a um filme de curta duração
Na contramão da análise da “língua mor- (2min 42s). No filme figuravam imagens de
ta”, Bakhtin (1997; 1999) observou que o crianças reais e desenho animado, acom-
entendimento das palavras de quem fala panhadas por um fundo musical. No filme
sempre será passível de muitas interpreta- o tema central foi a importância da água
ções pelo interlocutor. Mesmo as interpre- e a necessidade de preservá-la. Depois de
tações aparentemente semelhantes são assistirem ao filme, solicitaram-se às crian-
elaboradas a partir de experiências diferen- ças que desenhassem sobre o que o filme
ciadas. Na caracterização da enunciação tratava. Para as crianças do ensino funda-
ele capturou laços de interpendência entre mental foi solicitada, além do desenho,
diferentes dimensões atuantes nos atos de uma narrativa escrita, por compreender-se
fala. A produção de sentidos emerge nes- ser esta também uma atividade potencial
sas condições; refletindo propriedades do de produção de sentidos. Posteriormente,
funcionamento contextual (processual) dos solicitou-se às crianças que falassem so-
atos de fala. O contexto verbal tem sido tra- bre os desenhos e comentassem, no caso
dicionalmente estudado na linguística clás- das crianças do ensino fundamental, sobre
sica referenciando a relação entre as fra- suas narrativas escritas. Essas situações
ses e os significados das palavras. Bakhtin foram videografadas. Na análise conduziu-
(1997; 1999) contestou essa concepção -se uma abordagem qualitativa de dados,
declarando que o signo cultural, quando considerando-se: (a) O diálogo entre teo-
compreendido e dotado de um sentido tor- ria e método, aproximando e adequando
na-se parte da unidade da consciência ver- a pergunta da investigação aos procedi-
balmente constituída. Nesse pensamento, mentos para análise (Flick, 2004); (b) O
a concretização da palavra só é possível potencial da videografia para captura da
com a inclusão dessa palavra no contexto dinâmica do fenômeno focalizado (Jordan

874
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

& Henderson, 1995) e (c) A narrativa como (lixo) e falta da água, uma vez que, no ví-
expressão do desenvolvimento humano e deo, constou um momento em que seres
instrumento metodológico (Bruner, 1987; no desenho animado mergulharam em um
1997; Flick, 2007). Confrontaram-se duas rio poluído com objetos e a água despare-
perspectivas na análise da produção de ceu. Na perspectiva do contexto histórico-
sentidos: o contexto verbal e o contexto -cultural, a pobreza sintática (contexto ver-
histórico-cultural. Os aspectos que nortea- bal) deu lugar ao sentido proposicional, lixo
ram a reflexão acerca do contexto históri- e poluição provocam falta d’agua. Em um
co-cultural foram (a) A dinâmica de vozes segundo caso, uma criança do ensino fun-
sociais ativadas nos atos de fala (Bakhtin, damental apresentou o seu desenho para a
1999) e (b) A relação entre tendências so- pesquisadora dizendo que “O cara bebeu a
ciais estáveis (significado) e características metade da água do copo, depois derramou
da apreensão ativa do discurso do outro, em outro copo a água, a água saiu voando
manifestas no uso de linguagem (Brait, e disse adeus mundo cruel antes de morrer
2005).Os dados de uma criança da educa- e caiu na pia”. Ao ser solicitado pela pes-
ção infantil ilustram como se operou com quisadora que falasse um pouco mais de-
esses parâmetros na análise dos casos aqui vagar, pois ela gostaria de compreendê-lo
estudados. Nesses dados configuraram-se melhor, a criança complementou “Isso tem
rabiscos predominantemente circulares, a ver que o cara tá desperdiçando água, ó
coloridos, nomeados pela criança como aqui o copo! É a única coisa que eu vi que
bola, chuveiro, balde, tubarão, abelha. Es- tem a ver... Eu vi que simplesmente você
ses elementos estavam presentes no filme pode morrer se desperdiçar muita água!”.
de curta duração. A criança nomeou ainda Um tio da criança que ouvia perto intro-
quatro dos rabiscos por barata. A análise da duziu-se no diálogo e questionou “Super
produção de sentidos dessa criança a partir Câmera é?”, referindo-se a um dos super
desses dados, se apoiada na definição de heróis de desenho animado que a criança
contexto verbal, pressupõe a justaposição conhece, que, entretanto, não estava pre-
de elementos (rabiscos). Nessa justaposi- sente no filme de curta duração. A criança
ção concebeu-se uma sintaxe empobrecida então responde “É, tirei da Super Câme-
pela ausência de funções coesivas que indi- ra!”. Informa-se ainda, que o desenho que
cassem a formulação de proposições pela propiciou essa fala, tinha aspectos gráficos
criança. Quando analisada na perspectiva definidos, constituindo-se como uma com-
do contexto histórico-cultural, destacou-se posição pela presença de funções coesivas,
a apreensão ativa dos significados apresen- reforçadas na fala da criança sobre o dese-
tados no filme pela criança, refletida no nho. Essa criança compôs uma estória so-
seu destaque para “a barata”. Uma questão bre o resto da água de um copo que uma
que se colocou foi: Por que “a barata” foi pessoa desperdiçou, por não toma-la toda.
um elemento tão frequente no desenho A diversidade, se comparada com o caso
(rabiscos) e na fala dessa criança acerca do anterior diz respeito às diferentes formas
seu desenho? Vale salientar que a imagem de apropriação das vozes sociais. Esgotar
da barata não esteve presente no filme. uma análise da diversidade é praticamente
Foi interpretado aqui que, a barata figurou impossível. Características da história dos
como sentido da relação entre poluição autores dos diferentes desenhos leva-os

875
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a apropriação das vozes sociais de forma LT02-874 - EQUÍVOCOS


diversa. No primeiro caso, na justaposi- CONTEMPORÂNEOS NA
ção de rabiscos circulares (perspectiva do ARTE DE ENSINAR PARA O
contexto verbal) as proposições não es- DESENVOLVIMENTO HUMANO
tiveram visíveis. Elas foram possíveis na Nyrma Souza Nunes de Azevedo - UFRJ
perspectiva do contexto histórico-cultural, nsn.azevedo@gmail.com
ao capturar-se na história da criança que,
a referência incidente à barata promovia Este trabalho tem como objetivo discutir
o sentido onde a criança relacionava o lixo formas de ensinar e aprender a partir dos
à falta d’agua. De forma diferente, no se- sentidos expressos por professores e alu-
gundo caso, observou-se uma composição, nos da rede pública do Rio de Janeiro e a
a partir de elementos gráficos no desenho relação com a expectativa social de suces-
e na narrativa escrita. Os elementos manti- so na sociedade brasileira contemporâ-
nham uma relação ativa uns com os outros. nea. Um dos referenciais da pesquisa foi o
Todavia, a perspectiva do contexto verbal conhecimento nos legado por Vygotsty de
não provê explicações sobre a relação que que a partir de estruturas básicas neuroló-
a criança fez entre o “Super Câmera” e as gicas funcionais seriam as experiências de
questões sobre a preservação da água. Os aprendizagem que alavancariam o desen-
sentidos emergentes nessas condições não volvimento humano. Essas experiências
podem prescindir da história da criança para o autor são mediadas pelos com-
com os significados em questão. A partir de ponentes dos grupos sociais de entorno
dados construídos com desenhos e narrati- do sujeito. Assim, o grupo social ao qual
vas de crianças, promoveu-se aqui um con- pertencemos em nosso cotidiano, aliado
junto de situações onde se configuraram aos instrumentos mediadores culturais de
produção de sentidos. A pretensão foi de quem recebemos as influências (inclusive
que essas situações fossem analisadas con- as mídias), promovem em nós as transfor-
siderando-se aspectos emergentes no uso mações para o nosso desenvolvimento;
da linguagem contrapondo-se a análise de isto é, para nossas capacidades adapta-
palavras e sentenças. Na condução dessa tivas à realidade da vida. Desta forma, a
perspectiva de análise destacou-se como família, a escola, os vizinhos, os cultos re-
parâmetro a configuração do contexto ligiosos e outros grupos sociais são funda-
histórico-cultural, confrontando-se com o mentais para o desenvolvimento humano.
contexto verbal. Destacou-se que a análise No mundo contemporâneo as informa-
do contexto histórico-cultural pressupõe a ções e vivências virtuais também são per-
dinâmica de vozes sociais, aspecto ausente cebidas, principalmente pelas crianças e
na análise do contexto verbal. A dinâmica jovens, como modelos de aprendizagem.
das vozes sociais, por sua vez está refletida Em relação ao ensino, é interessante re-
na forma de apreensão ativa de significa- fletir sobre a formação de educadores
dos no discurso do outro. efetivada em escolas urbanas nas décadas
de 1950 e 1960, que serão aqui comen-
Palavras-chave: Produção de sentidos; tadas através de depoimentos de profes-
Metodologia; Contexto histórico-cultural; soras. Havia exigência nos conhecimentos
Desenvolvimento infantil. teóricos e na prática, sendo que a Escola

876
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Nova trouxe características de uma me- professores em sala de aula. Essas práti-
todologia vivencial, enfatizando no en- cas pedagógicas, aliadas a outros fatores,
sino fundamental os “cantinhos na sala como o desprestígio social da carreira do
de aula”- onde os alunos encontravam magistério, demonstrado, por exemplo,
material diversificado para sua consulta e nos baixos salários e na péssima formação
experimentação, como em atividades de profissional, são grandes problemas a se-
leitura, ciências, jogos matemáticos, arte, rem enfrentados no contemporâneo. Por
música e outros, que proporcionavam a outro lado, a interdependência dos povos,
diversificação nas experiências pedagó- que vem transformando o cenário de po-
gicas. Era uma pedagogia do fazer e da der e as relações comerciais, vem exigin-
alegria, aplicada nas escolas públicas da do cada vez mais um preparo diferenciado
época. Mas, era uma escola para poucos, e amplo para o mercado de trabalho. Es-
não atingindo a totalidade da população. ses dados aliados à rapidez das transfor-
Foi ocorrendo, então, a democratização mações proporcionadas pelas conquistas
da educação, com a ampliação das redes tecnológicas e que abalaram as certezas
públicas, porém, sem a correspondência científicas exigem ruptura de paradigmas
na qualidade. As políticas públicas ado- nos objetivos educacionais. É necessário o
tadas a partir daí “resolveram” as defici- desenvolvimento do humano numa visão
ências na formação educacional da socie- de totalidade que favoreça um pensamen-
dade brasileira, favorecendo a cisão entre to complexo capaz de encontrar soluções
os que podem pagar e aqueles que são para os grandes problemas encontrados
obrigados pelos parcos recursos a submis- no mundo contemporâneo; inclusive de
são do oferecido pelo governo. Acirrou- sobrevivência no Planeta. Hoje, o conhe-
-se deste modo o afastamento entre as cimento deve vir aliado à capacidade de
classes sociais e o despreparo das novas tomar decisões onde um processo criativo
gerações para lidarem com as diferenças. de pensamento é valorizado. Pode-se pen-
Os diplomas começam a ser exigidos no sar que a partir dessa demanda são feitas
mercado de trabalho sem a devida cor- as avaliações de aprendizagem escolar em
respondência à competência profissional. diferentes níveis nacionais e internacio-
Hoje, o diploma não corresponde ao va- nais, onde o Brasil aparece de forma la-
lor do conhecimento. O construtivismo mentável. A inquietação provocada pelos
piagetiano faz-se hegemônico a partir baixos índices de aprendizagem escolar
da década de 1980 e é entendido como obtido em todos os níveis avaliados, inspi-
uma esperança de rompimento com a rou a elaboração de uma pesquisa em que
mesmice. Isto é, o aluno é que constrói o se buscou conhecer o sentido de aprendi-
seu conhecimento sendo o professor um zagem e de como se aprende, tendo como
facilitador e observador deste fenôme- sujeitos 70 professores e 89 alunos da
no. Porém, aplicado de forma equivocada rede pública do Rio de Janeiro. O referen-
numa sociedade de experiências culturais cial teórico que embasou a pesquisa foi
tão heterogêneas, parece ter criado no o estudo do Imaginário Social a partir da
imaginário social da docência característi- elaboração feita por Castoriadis (1991),
cas que perduram até hoje, manifestadas a teoria do desenvolvimento humano de
na atitude passiva de grande parte dos Wallon (1995) e Vygotsky (1988). A análi-

877
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se de conteúdo (Bardin,2008) foi utilizada LT02-920 - EFEITOS DE SIMILARIDADES


na interpretação dos dados levantados. AFETIVAS DE ENUNCIADOS DE
Verificou-se que os professores tendem PROBLEMAS NA RESOLUÇÃO DE
a confundir o conceito de aprendizagem PROBLEMAS E NA TRANSFERÊNCIA
com a metodologia interativa, como se ANALÓGICA EM UNIVERSITÁRIOS
um clima de participação e diálogo garan- Simone Cagnin - UERJ
tisse a aprendizagem dos alunos. O inte- scagnin@oi.com.br
ressante é que professores com mais de
60 anos indicaram a forma tradicional de Muitos estudos situados em uma pers-
ensino como a mais eficiente. Esse dado pectiva cognitivista vêm destacando o
foi encontrado também em 55% dos alu- papel das similaridades de superfície, es-
nos pesquisados. Sabe-se que há muitos pecialmente dos conteúdos semânticos
anos a figura do professor que dá aula dos enunciados dos problemas, na reso-
expositiva, exige dos alunos tarefas e pro- lução de problemas e na transferência
move avaliações vem sendo criticada na de aprendizagem por analogia, como os
literatura pedagógica. Parece haver uma de Holyoak (2005) Holyoak e colabora-
dicotomia no imaginário social dos profes- dores (1980, 1983, 1987, 1997), Bassok
sores pesquisados entre ensinar conteúdo (2001, 2003), dentre outros. De modo
e interagir com o aluno, como se fossem complementar, outros estudos destacam
coisas conflitantes. Tal fato não é percebi- a influência do afeto na cognição, espe-
do nas respostas de grande parte dos alu- cialmente das emoções e dos estados de
nos, quando indicam que aprendem mais humor no processamento da informação
facilmente com professores que explicam (Bower, 1981, Bower & Forgas, 2001,
a matéria, tiram as dúvidas e exigem dis- Curran, 2007). Porém, poucos estudos in-
ciplina na sala de aula. Deve ser conside- vestigam mais diretamente os efeitos das
rado também como problema, o fato de tonalidades afetivas de enunciados de
que é a quantificação de diplomas e cer- histórias de problemas nos processos de
tificados que expressa o sucesso profis- resolução de problema e de transferência
sional e social em nossa sociedade. Penso analógica (Hesse, Kauer & Spies, 1997).
que o ensino em qualquer nível, deve ter Nesta direção, o principal objetivo des-
o objetivo de intervir no desenvolvimento te estudo foi o de investigar a influência
dos humanos, através do conhecimento e das similaridades afetivas de enunciados
de vivências, para que autonomia e criati- de histórias de problemas nos processos
vidade sejam consideradas como valores. de resolução de problemas e de transfe-
Essas competências aliadas ao respeito e rência de aprendizagem por analogia. De
à cooperação em todos os níveis podem modo mais específico, buscou estudar os
favorecer a eclosão de um novo paradig- efeitos da similaridade entre as tonali-
ma na vida para o futuro. dades afetivas agradáveis/ alegres e de-
gradáveis/ tristes de enunciados nesses
Palavras-chave: desenvolvimento humano; processos em dois intervalos de tempo
ensino; valores. distintos: sessões consecutivas e sessões
Contato: Nyrma Souza Nunes de Azevedo, com intervalo de uma semana. Esta inves-
UFRJ, nsn.azevedo@gmail.com. tigação foi feita através da escolha, na si-

878
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tuação-problema apresentada na segun- resultados encontrados apontam para a


da sessão, ou seja, na situação problema existência de efeitos positivos das simi-
“alvo”, de um dos modos de solução de laridades afetivas dos enunciados dos
problema vistos na situação-problema problemas nos dois intervalos de tempo
apresentada na primeira sessão, ou seja, pesquisados, com maior freqüência re-
na situação-problema “fonte”. Em outros lativa nas sessões consecutivas. Desse
termos, dois modos de solução (serial e modo, pode-se concluir que, quando há
convergente) foram apresentados nas mais de uma solução disponível e funcio-
histórias dos problemas das primeiras nalmente adequada para um determina-
sessões nos dois intervalos de tempo do problema, similaridades de superfície,
pesquisados. Nas segundas sessões, nas como as tonalidades afetivas de histórias
situações-problema “alvo”, foi pedido de problemas, influenciam a preferên-
aos participantes que solucionassem um cia por um modo de solução. Verificou-
problema análogo aos problemas vistos -se ainda que esse tipo de influência das
anteriormente. Cabe observar que tanto similaridades afetivas não depende de
os problemas “fonte” que continham os uma alteração do estado de humor dos
dois modos de solução quanto o proble- indivíduos, pois a maioria dos participan-
ma “alvo” que requisitava a aplicação de tes da pesquisa não apresentou variação
um destes dois modos de solução foram em seu estado de humor após a leitura
todos análogos ao clássico problema da das histórias “alvo” de tonalidade triste e
radiação de Duncker (1945). Participaram alegre. A escolha de um modo de solução
do estudo 463 estudantes universitários para um problema “alvo” mal-definido,
de diferentes cursos das áreas humanas. semelhante ao problema da radiação de
Foram realizados também dois estudos Duncker, pode ser vista, então, como so-
pilotos com 42 estudantes universitários frendo a influência das similaridades afe-
com o objetivo de ajustar os instrumen- tivas de histórias que contém problemas
tos da pesquisa propriamente dita. Os que compartilham uma analogia. Conclui-
instrumentos aplicados foram os proble- -se que o processo de transferência ana-
mas “fonte” e ”alvo” mencionados, ques- lógica em resolução de problemas pode
tionários que versavam sobre algumas ser influenciado por similaridades de
características das histórias dos proble- superfície, como as tonalidades afetivas
mas e sobre a apreciação da tonalidade de histórias de problemas, tanto a curto-
afetiva das histórias e uma escala de au- -prazo, em sessões consecutivas, quanto
toavaliação do humor. A pesquisa foi sub- a médio-prazo, em sessões com intervalo
metida ao Comitê de Ética em Pesquisas de tempo de uma semana, e essa influên-
Humanas da Universidade de São Paulo cia não depende da mediação do humor
e obteve parecer favorável para a sua re- dos indivíduos para ocorrer. Podemos su-
alização. Cerca de 50% da amostra parti- por que não só problemas mal-definidos
cipou dos subgrupos das sessões conse- apresentados em situações experimen-
cutivas e os outros 50% dos subgrupos tais poderiam sofrer a influência das si-
com intervalo de uma semana. O Termo milaridades afetivas dos enunciados, mas
de Consentimento Livre e Esclarecido foi também problemas de diferentes nature-
apresentado a todos os participantes. Os zas com diferentes graus de definição e

879
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com maior dependência ou independên- A formação de professores atualmente é


cia de domínio poderiam sofrer a influên- foco de ações e programas ligados às po-
cia, não só dos conteúdos semânticos dos líticas públicas, vinculados aos projetos, à
enunciados dos problemas e das histórias capacitação e à formação que buscam a
com um todo, mas também das tonalida- qualidade de ensino e sua democratiza-
des afetivas desses conteúdos. Nossos re- ção. Assim, por meio da tecnologia da co-
sultados podem ter particular relevância municação e da informação, emerge um
para os contextos acadêmico e escolar, novo conceito de espaço de aprendiza-
como um todo, na medida em que as situ- gem on line, com características peculia-
ações-problema vivenciadas pelos alunos res direcionadas à educação a distância,
podem revestir-se de tonalidades afetivas visando a democratização e ampliação de
que favorecem certo tipo de transferên- oportunidades educacionais, superando
cia, ainda que os efeitos dessas tonalida- as barreiras presenciais e espaciais. O fó-
des não se dêem, normalmente, de modo rum se constitui em uma ferramenta de
consciente e ainda que os mesmos não natureza assíncrona, na medida em que o
dependam da mediação do humor para aluno ou o professor-mediador não pre-
ocorrer. Desse modo, mostra-se relevante cisam estar simultaneamente, conecta-
a ampliação do conhecimento, por parte dos para estabelecer um diálogo ou uma
dos educadores, de que fatores afetivos conversação, diferentemente, do chat ou
de diferentes naturezas, incluindo-se aqui do skype (comunicação síncrona). E por
as tonalidades afetivas de histórias que isso, Brito (s/d) destaca que ele apresenta
revestem problemas, podem ter nítida uma flexibilidade, já que a interação ocor-
influência na transferência de aprendiza- re sem a presença imediata do aluno ou
gem. O papel do afeto na cognição pode- grupos de alunos ou professor-mediador.
ria ser assim visto como mais abrangen- Rychen e Salganick (2001, 2003 citado
te do que o pressuposto na literatura da em Coll; Monereo, 2010) afirmam que
área, pois mesmo quando os indivíduos as competências básicas que todos os
não se consideram afetados em seu hu- sujeitos da aprendizagem devem ter, se
mor pela leitura de histórias tristes e ale- aglutinam em três blocos: (a) autonomia:
gres, eles demonstram sofrer a influência retrata a capacidade de elaborar e acio-
das tonalidades afetivas dessas histórias. nar projetos, além de se colocar e ocu-
par espaços de discussão, expondo suas
Palavras-chave: Afetividade; Resolução de opiniões, desejos e interesses; (b) intera-
Problemas; Transferência Analógica. ção: inclui a dinâmica de relacionamento
com diferentes pessoas e grupos, contri-
buindo de forma cooperativa e estabele-
LT02-1466 - A POSSIBILIDADE DO cendo trocas nas dimensões cognitivas,
ESPAÇO INTERATIVO E DE CONSTRUÇÃO afetivas, sociais e até mesmo culturais,
COLETIVA POR MEIO DO FÓRUM: A e revela também, a capacidade de lidar
EXPERIÊNCIA DOS SEMINÁRIOS DE com conflitos e propor sua resolução; (c)
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO uso de instrumentos e recursos: indica a
Ana da Costa Polonia - FE/UnB habilidade em lidar com diferentes lin-
polonia@unb.br guagens, informações, materiais digitais

880
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e emprego da tecnologia para aprender os dados, empregando a análise do conte-


e ensinar, criar e estabelecer elos entre údo das comunicações. No que se refere à
conteúdos, situações e interesses. Estas categoria conceitos científicos e suas sub-
são imprescindíveis em qualquer espaço categorias, um dos destaques foi a con-
educativo, e certamente, as ferramentas textualização, indicando que nas discus-
presentes no espaço virtual, associadas sões, além da apresentação do conceito
às ações pedagógicas não podem se fur- científico estudado, tanto os professores
tar desta premissa, visando incrementar quanto as professoras, se preocupavam
estas macrocompetências. Neste cenário, em articular a este, reflexões ou experi-
este estudo se propõe a refletir sobre a ências vividas na profissão, assegurando,
exploração pedagógica do fórum, vislum- assim, a perspectiva teórico-prática. Esta
brando então, a construção coletiva do subcategoria pode refletir o papel de pro-
conhecimento, paralelamente, identifi- fessores-mediadores, atuando no curso
cando as dimensões ligadas à interativi- de graduação, e concomitantemente, por
dade e ao desenvolvimento de compe- sua experiência como alunos (as), valori-
tências imprescindíveis ao processo de zando esta ação complementar aos con-
ensino-aprendizagem. Impulsionando a teúdos. Evitando adotar apenas o ‘mode-
investigação, dos fóruns, da disciplina Psi- lo’ de disponibilizar o conceito no fórum,
cologia da Educação, ofertada ao grupo sem estabelecer relações com a prática
de professores-mediadores, em nível de e sua realidade, afinal, não se concebe o
especialização, do estado do Acre. Para conhecimento como um produto oriundo
proceder as análises dos fóruns se optou do acúmulo de informações. Aliando à
pelo emprego do software Nvivo 8 (1999- compreensão do conceito ou pressupos-
2008), de natureza qualitativa que possi- tos teóricos apresentados, outro recurso
bilita a criação de categorias, codificações identificado foi conectar o conceito ou
de trechos ou falas, além de organizar da- conteúdo, a outros autores anteriormen-
dos de pesquisa que podem ser digitali- te estudados, possibilitando realizar apro-
zados- entrevistas, fóruns, registros de ví- ximações e promovendo um diálogo entre
deos e áudio, etc (Saur-Amaral, 2010). Se- eles, ou identificando diferenças em suas
gundo Onrubia, Colomina e Engel (2010) abordagens. Interessante ressaltar que
é preciso adotar uma perspectiva de pes- os e as participantes também descreviam
quisa que, vislumbre situações educati- elementos associados à reflexão sobre a
vas reais e naturais, e ainda, tendo como experiência da atividade de seminário, no
subsídio a abordagem qualitativa. Não se fórum e, o papel da discussão, estimulan-
pode conceber que os dados apenas iden- do e incrementando o processo ensino-
tifiquem o número de mensagens troca- -aprendizagem. Nesta situação, pode se
das, palavras ou frases, como evidência observar a presença de dois movimentos,
de sucesso de condições colaborativas, a percepção de si, como agente gestor
no ambiente virtual, desconsiderando a das ações pedagógicas e acompanha-
qualidade das interações e da construção mento do fórum, e concomitantemente,
coletiva de conhecimento. A tendência a percepção do outro, no que se refere
atual é associar a abordagem qualitativa à supervisão do fórum, a elaboração das
e a quantitativa, de forma complementar questões e a proposição da atividade em

881
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

si, no papel de aluno. Transversalizando LT01-1386 - INVESTIGAÇÃO SOBRE A


esta discussão, é fundamental, no am- INTERAÇÃO, AS FUNÇÕES DE CONTATO E
biente on line, o fomento à proatividade. A RESSIGNIFICAÇÃO COMO REFERÊNCIA
Ela pode ser conceituada como a capaci- NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO
dade de se antecipar, de prever, de tomar INFANTIL
a frente, no que tange a um determinado Gabriela da Cunha Gomes - UNIFOR
objetivo ou mesmo, a uma situação. Ela cunhagg@hotmail.com
está estreitamente, associada à autono-
mia, à curiosidade, à capacidade de orga- A preocupação com o desenvolvimento
nização e à de previsão, potencialmente, infantil nas dimensões psicológica e social
imbricada com a motivação. Por vezes, instigou-me sobremodo durante a reali-
nas propostas direcionadas às discus- zação do Estágio Supervisionado em Psi-
sões nos fóruns, nos planejamentos e na cologia Clínica I, no qual a realidade social
implementação dos conteúdos, há uma das crianças atendidas no Instituto de Pro-
‘certa’ negligência quanto o fomento à moção da Nutrição e do Desenvolvimento
proatividade, compreendida simplesmen- Humano (IPREDE) é de expressiva vulne-
te como autonomia, não propiciando a rabilidade social. Em razão da constante
tomada de decisão e nem assegurando relação da pesquisadora com este proces-
o espaço de proposição, por parte dos so psicológico, nada mais enriquecedor e
alunos. Retomando a reflexão proposta construtivo do que estudar o seu campo
por Delcin (2005 citado em Bear et. al, de trabalho como objeto de investigação.
2009), as novas experiências pedagógi- O presente trabalho objetiva analisar o
cas não podem estar alijadas do emprego desenvolvimento infantil de crianças aten-
das tecnologias, porque ambas têm uma didas pelo IPREDE a partir das contribui-
influência e podem transformá-las em ções da Gestalt-Terapia. Uma revisão dos
ambientes múltiplos, especialmente, com estudos sobre o desenvolvimento infantil
contornos cooperativos, considerando o no âmbito psicológico mostra-nos que
pensamento divergente, e as múltiplas estamos perante um tema complexo com
linguagens. Espaços onde imagens, sons, dimensões que vão além da anteriormente
afetos, desejos, sonhos, signos e símbo- mencionada. Entretanto, para fins de deli-
los, além da perspectiva humanista se en- mitação da pesquisa, concebe-se o desen-
contram para superar o conteúdo em si, volvimento infantil atrelado a interação,
mas para criar e ampliar as possibilidades imaginação, fantasia, criação e ao brincar
de refazer, inovar e reescrever a história enquanto forma de transformação e ex-
da educação. pressão da realidade. Nesta perspectiva,
pode-se inferir que a criança tem sempre
Palavras-chave: Educação a Distância; Fórum; “a possibilidade de criar outros sentidos
Software Nvivo; Formação Continuada. para os objetos que têm significados fixa-
dos pela cultura dominante, assim indo
além do sentido único que as coisas novas
tendem a possuir” (Sousa, 1994). Nesse
sentido, algumas indagações foram reali-
zadas, tais como: que técnicas de interven-

882
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção são pertinentes à comunidade infantil de três níveis de intervenção terapêutica


atendida no IPREDE? Quais intervenções baseados no método fenomenológico.
subjacentes ao campo da Gestalt-terapia Todos estes níveis possuem particularida-
são adequadas para orientar o desenvolvi- des, assim, não sendo consideradas etapas
mento infantil? Como as categorias teóri- ou fases que devem seguir uma ordem
cas erigidas a partir da intervenção psico- específica. Os dados revelaram que ao se
lógica operam com respeito à efetividade apropriar do ambiente lúdico, as crianças
dos processos de ressignificação construí- escolhiam o brinquedo e a brincadeira que
dos pela criança? . Quanto à metodologia, gostariam de interagir espontaneamente.
a pesquisa foi bibliográfica e de campo, e, Observou-se que os brinquedos que fa-
teve como referencial teórico o método fe- voreciam a expressão corporal como um
nomenológico (Aguiar, 2005) adotado pela todo também eram bastante desejados.
Gestalt-terapia com crianças. O desenvolvi- O tato e o movimento corporal foram às
mento Infantil é abordado, de acordo com funções de contato mais expressivas pela
os estudos de Philippe Ariès (1975), atra- comunidade infantil pesquisada. Este dado
vés de obra intitulada A História Social da se confirma quando refletimos a respeito
Criança e da Família (1975), em que Ariès das idéias de Piaget, especialmente na fase
percorre a história para pensar a infância Simbólico-Intuitiva, em que a criança é ca-
como um tempo que foi construído em paz de simbolizar o mundo a sua volta. Em
decorrência de fatores culturais, sociais, decorrência da observação atenta do com-
emocionais e religiosos, bem como as te- portamento das crianças em grupo, e, de
orias desenvolvimentistas propostas por suas atividades lúdicas escolhidas, visuali-
Piaget (1998) e Vygotski (2001). No que zaram-se indícios dos mecanismos de evi-
tange aos aspectos sociais, as políticas de tação de contato denominados: Deflexão e
amparo à criança, surgem como ferra- Projeção. Estes mecanismos representam
mentas indispensáveis à efetivação plena a forma que estas crianças encontraram de
dos direitos da criança e do adolescente. manifestar seu sofrimento psíquico, de ma-
Para a realização da pesquisa de campo, neira que se evidenciou que as situações
inicialmente, fez-se contato com 30 (trinta) familiares repercutem de forma direta na
crianças em atendimento pelo IPREDE. En- apreensão do mundo por estas. Assim,
tretanto, apenas 06 (seis) dessas atendiam observou-se que tais mecanismos podem
aos critérios da pesquisa. Quais sejam: minimizar a expressão dos verdadeiros
crianças com o diagnóstico de desnutrição; sentimentos da criança, mas, que consti-
com a idade de 03 (três) a 06 (seis) anos e tuem uma forma flexível da criança ser no
em atendimento nos grupos Mediação e mundo. Quanto às considerações finais,
Psicomotricidade. Os procedimentos de compreendeu-se que o desenvolvimento
coleta e registro de dados foram realiza- saudável da criança é de responsabilidade
dos por meio de mapas sinápticos, para não só da família, da escola, das entidades
acompanhar o percurso de cada criança no sociais, mas, também da sociedade como
decorrer das atividades lúdicas propostas um todo. Contudo, ainda existem indícios
pela pesquisadora. Na estrutura dos ma- de violação dos direitos da criança, o que,
pas é possível visualizar as dimensões rela- incita a investigação científica por parte do
tivas ao desenvolvimento infantil, a partir profissional de Psicologia acerca das con-

883
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seqüências desta realidade e de suas impli- outro ensine esses conceitos. Já no segun-
cações para o desenvolvimento infantil. O do caso, os conceitos são aprendidos no
fato de a pesquisa trazer à tona a necessi- dia-a-dia da criança através de mediações
dade de um trabalho específico no campo implícitas. Para que a aprendizagem acon-
da Gestalt-terapia, requer que, as institui- teça, os conceitos devem ser trabalhados
ções de apoio a este segmento concen- dentro da zona de desenvolvimento pro-
trem seus esforços em ações direcionadas ximal da criança, garantindo assim que
à ludicidade como uma ferramenta capaz ela estabeleça um diálogo entre o conhe-
de favorecer a interação e ressignificação cimento novo e os já internalizados, sejam
de experiências. estes conhecimentos científicos ou cotidia-
nos. Este processo todo se dá pela media-
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil. ção da linguagem e dos instrumentos cul-
Gestalt-terapia. Mapas Sinápticos. turais. As educadoras seguem estragégias
sem uma metodologia específica

LT02-1502 - ESTRATÉGIAS NO ENSINO As educadoras seguem estragégias sem


DE CONCEITOS TEMPORAIS EM uma metodologia específica
LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO Para esta apresentação buscamos verificar
FUNDAMENTAL se encontramos também nos livros didá-
Zena Eisenberg - PUC/Rio ticos adotados no Ensino Fundamental o
zwe@puc-rio.br descompasso encontrado entre educado-
Jéssica Castro Nogueira - PUC/Rio res infantis e o conhecimento temporal
Ana Carolina Vilar da Silva - PUC/Rio das crianças. Queremos ainda examinar as
Financiamento: FAPERJ estratégias temporais que os livros trazem.
Faremos por fim uma comparação entre as
A apresentação proposta faz parte de um estratégias utilizadas nos diferentes anos
projeto maior em andamento financia- do Ensino Fundamental, mais especifica-
do pela Faperj. A pesquisa foi realizada mente do 2º ao 5º ano. Duas escolas do
em duas escolas municipais de Vassouras município de Vassouras participaram da
(chamaremos aqui de Escolas A e B), com pesquisa. A Escola A possui um total de
os professores e alunos das turmas do 2º 71 alunos e a Escola B possui um total de
ao 5º ano. Neste trabalho analisaremos as 89 alunos. Analisamos no total dezenove
estratégias temporais utilizadas nos livros livros didáticos pertencentes às seguintes
didáticos adotados pela prefeitura de Vas- disciplinas: Geografia, História, Matemáti-
souras para as turmas do 2º ao 5º ano do ca e Ciências. Todos os livros foram doados
Ensino Fundamental. Usamos as ideias de pela Secretária Municipal de Educação de
Vygotsky (2000) acerca do desenvolvimen- Vassouras para nossas análises. A análise
to de conceitos. Para ele, a criança constroi dos dados teve como unidade cada página
o conhecimento sobre o mundo através de do livro. Como as duas escolas adotavam
um diálogo entre conceitos científicos e os mesmos livros (por serem indicados
cotidianos. No primeiro tipo, o aprendiza- pela secretaria e selecionados pela PNLD),
do se dá de forma explícita e consciente, não fizemos distinção nas nossas análises
ou seja, a criança necessita que o adulto ou entre as mesmas. Cada página dos livros foi

884
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

codificada buscando identificar estratégias (55%) seguido de SQO com 27,5% (11/40).
didáticas no ensino dos conteúdos tempo- Com relação à análise por disciplina, os
rais. Selecionamos para discutir aqui aque- resultados demonstraram que em mate-
les que apareceram com maior frequência. mática os códigos mais utilizados foram
São eles: Evento Temporal (ET) - datas co- ET com 26 de 64 ocorrências (41%), LT com
memorativas ou evento temporal para fa- 31% (20/64) e SQO com 25% (16/64); em
zer marcações do tempo; Linha do Tempo História o destaque é o código XAA com
(LT) - quando a página do livro apresentava 105 marcações de 187 (56%), seguido de
uma imagem ou um gráfico representando LT com apenas 20% (37/187); em Ciências
uma linha temporal; Passagem do Tempo o código SQO é o mais usado 37 de 75 mar-
(PT) - Usado em momentos de comparação cações (49%), seguido de PT com 41% dos
de imagens de objetos ou lugares novos casos (31/75); em Geografia, verificamos
com antigos; Sequenciamento (SQO) - Atri- como mais presentes os códigos PT, com
buído a imagens que passam a concepção 15 casos entre 35 (43%), e SQO com 28,5%
de sequência, seja com ações ou mudan- (10/35). Podemos notar que a estratégia
ças da imagem; xxx anos atrás (XAA) - re- mais usual é aquela referente aos anos
ferência a anos passados no formato da passados que explicam com exatidão o
expressão. Este último foi observado ape- tempo do evento ocorrido, XAA, mas este
nas no livro de História, que foi analisado aparece apenas na disciplina de História
de forma diferente dos outros por tratar com maior frequência no terceiro e quarto
de eventos no tempo e tornando-se assim ano. A segunda estratégia mais frequente
redundante tratar de estratégias que fo- está associada à esquematização visual das
cassem nesses eventos. Percebemos que, mudanças de uma determinada figura ou
de forma geral, o código XAA foi o mais em uma ação, SQO, comumente presente
frequente com 105 ocorrências seguidas em matemática, ciências e geografia, além
pelo código SQO com 81 casos e o PT com de ter destaque em todos os anos. Já a es-
75. Já os menos frequentes são os códigos tratégia PT, que demonstra visualmente
ET com apenas 38 e LT com 62 marcações, as mudanças de objetos ou locais é mais
sendo no total 361 marcações em todos os utilizada nas disciplinas de ciências e geo-
livros. Assim, os livros em geral lançam mão grafia e no terceiro ano. O código LT, que
de falar do passado utilizando marcadores está relacionado aos conceitos cotidianos
temporais convencionais – como número representando aqueles aprendidos no dia-
de anos. A análise por ano demonstrou -a-dia das crianças, aparece em destaque
que no segundo ano SQO foi o código mais nas matérias de matemática e história,
presente com 16 de 49 marcações (33%) mas apenas no quinto ano. Notamos como
seguido de PT com 24% das marcações a estratégia ET é pouco utilizada em todos
(12/49); no terceiro ano, há destaque para os anos, seu uso só se torna mais evidente
XAA com 46 casos entre 160 (29%), PT com na disciplina de Matemática. As estratégias
28% (44/160) e SQO com 21% (33/160); no mais usadas nos livros são as que exigem
quarto ano XAA tem 51 marcações de 112 uma noção prévia de tempo, pois a crian-
(45,5%) sendo mais presente também SQO ça precisa saber se “100 anos” faz muito
com 19% (21/112); no quinto ano o código ou pouco tempo, assim como saber se 5
mais presente é LT com 22 casos entre 40 anos é muito tempo. As duas estratégias

885
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

seguintes são mais visuais, desta forma e sutil, exalta o corriqueiro da vida, escre-
as crianças assimilam melhor o conteúdo. vendo sobre amores, tempo, memória,
As estratégias menos usuais são aquelas infância e velhice. Seus poemas revelam
que envolvem conhecimentos adquiridos tanto a noção cristã de tempo, linear e
formalmente, ou de maneira explícita e determinada pela cronologia nascimento,
consciente, como aquelas que situam os vida e morte, quanto a filosofia epicuris-
eventos em uma data histórica. Notamos ta, que privilegia a busca incessante do
que nem sempre a linguagem do livro está prazer. Com a ajuda desses quintanares,
de acordo com a Zona de Desenvolvimento procuramos, neste ensaio, refletir sobre
Proximal das crianças como, por exemplo, o tempo – sem, no entanto, ousar defini-
em História, que necessita de apoio para -lo – e suas repercussões na vida e no pro-
ensinar os conceitos temporais abstratos cesso educativo, pondo em discussão a
pretendidos. Já matérias consideradas sua dimensão mensurável e previsível que
mais difíceis, como Matemática, há um su- acaba por se apropriar de nossos encon-
porte maior das estratégias para exempli- tros com o outro e de nossas travessias ao
ficar o que pode ser mais complicado para longo da vida. Conjugamos a sensibilidade
as crianças. do poeta às reflexões de Agamben (2005)
sobre khronos e kairos, às de Elias (1998)
sobre o tempo em sua dimensão simbólica
LT04-1430 - REPENSANDO O TEMPO: e de Lloret (1998), sobre as idades da vida
ENCONTROS E TRAVESSIAS e como estas atravessam a constituição
Anabela Rute Kohlmann Ferrarini - UFMT de nossa identidade. A concepção greco-
anabelaferrarini@hotmail.com -romana de tempo como um continuum
Raquel Gonçalves Salgado - UFMT lança os fundamentos da noção ocidental
ramidan@terra.com.br quanto à incapacidade humana de domi-
ná-lo. É o tempo como eterno duelo entre
O tempo tem sido celebrado em verso e kairos e khronos, entre o tempo existen-
prosa há séculos, e também tem desperta- cial e divino, que se apropria do instante,
do angústias, debates filosóficos e estudos e o tempo quantificado, humano, deli-
científicos. Nossas vidas são uma travessia mitado e delimitador. Kairos nos convida
no tempo, permeada de instantes e lem- a viver o prazer, enquanto khronos nos
branças, construídas e reconstruídas na obriga a postergá-lo. Quintana (1988) la-
memória, pessoal e coletiva, e atravessa- menta que não possamos viver sem outra
das por encontros entre pessoas e gera- pretensão que não seja viver: “A vida não
ções, entre inexperiências e experiências, dá tempo para a Vida.” Esse pensamento
cada vez mais raras, nessa época em que perdura até o início da era cristã, quando
tudo acontece velozmente. Construir co- surge a representação do tempo como
nexões significativas em meio a estímulos uma linha reta, com princípio, meio e fim.
efêmeros requer que tomemos para nós O Gênese é o marco inicial do universo
nosso próprio tempo, que sejamos capa- criado por Deus, enquanto o Apocalipse
zes de, mesmo imersos nesse mundo de é seu destino final e inescapável. Durante
vivências pontuais e rasas, criar memórias muito tempo, as teses de Newton e Kant,
e afetos. Quintana, com seu olhar poético fundamentalmente opostas, dominaram

886
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as reflexões sobre o tempo. Newton sus- mesma idade. Ser uma pessoa de 30 ou de
tentava uma ideia objetivista, segundo a 5 anos. Esse ser de indica que somos todos
qual o tempo era propriedade da natureza propriedade de alguns anos e que, vamos,
e, portanto, está fora do sujeito e sempre ao longo da vida, sendo inscritos a grupos
existiu. Já Kant, subjetivista, compreendia determinados de idade (Lloret, 1998). Po-
o tempo como imanente à razão humana. rém, assim como existe a normalidade,
Na Modernidade, encontramos o antes e existe o desvio. Tornou-se comum encon-
o depois, conceitos que forjam uma noção trarmos pessoas que não estão em confor-
de tempo histórico entendido como pro- midade com seus anos de vida. É possível
cesso, contrária à noção do tempo cristão, construir uma identidade flexível e diver-
retilíneo e irreversível. O homem criou os sificada, desenhada pelas experiências vi-
relógios e os calendários, que cumprem vidas, pois uma idade não elimina a outra
as mesmas funções dos fenômenos natu- e, sim, a contém (Lloret, 1998). Sob a pers-
rais: orientar a humanidade na sucessão e pectiva do desvio à normalidade, é justo
ordenação de processos sociais e físicos, pensar que a sociedade contemporânea
representando a passagem irreversível vive um período de instabilidade quanto a
do tempo (Elias, 1998). Enquanto cresce, situar as pessoas em determinados grupos
a criança sofre uma espécie de coerção etários e papéis sociais. Infância e idade
social, disciplinadora, que lhe ensina os adulta são tempos de vida distintos, mas
habitus sociais, inserindo-a no processo cujas fronteiras se tocam em determina-
civilizatório e capacitando-a a integrar dos momentos, quando as experiências da
uma comunidade humana e interpretar infância no mundo globalizado e midiático
os símbolos temporais socialmente usa- a aproximam do que seria próprio da ida-
dos, guiando-se em função deles. Dentre de adulta. Nosso ideário projeta sobre as
as instituições sociais, a escola está inti- crianças determinados comportamentos e
mamente ligada à ideia de tempo como linguagens que entram em confronto com
processo – e progresso-, sendo organizada a infância que aí está, transitando entre
em função dele: a gestão se preocupa em o que se espera de um adulto ou de uma
cumprir a tempo as obrigações junto ao criança. Confrontos intergeracionais sem-
Estado. Os professores, em vencer os con- pre existiram, e, na contemporaneidade,
teúdos. Os alunos correm rumo a dois des- tem se mostrado ainda mais intensamen-
tinos possíveis: aprovação ou reprovação, te, atravessados que são pelas mensagens
determinados pela aprendizagem ou não- da mídia, pelas tecnologias e pelo consu-
-aprendizagem no tempo pré-determina- mo que seduz. A pedagogia é desafiada a
do como tempo certo de aprender. Assim perceber a dinâmica da sociedade onde as
como apreendemos o tempo como even- imagens da infância se constroem e des-
tos que ordenam nossas vidas, também constroem, e, assim, reconhecer as expe-
aprendemos sobre nossos tempos de vida. riências formadoras da infância e da ado-
Aprendemos que além de sermos homens lescência. O tempo nos intriga e confunde.
ou mulheres, jovens ou velhos, somos/per- Vivemos nele e ele vive em nós. Desde o
tencemos a uma determinada idade, que berço recebemos lições sobre a passagem
não é somente nossa, é também do outro do tempo, a organização social e cultural
que, assim como nós, é/pertence a essa da vida, a trajetória humana – individu-

887
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

al e coletiva – e sobre nossos tempos de Compreender o olhar sobre o bullying


vida. Assim, é na coexistência de saberes em uma escola de Teresina, como ele se
que aprendemos sobre o tempo. Passado, manifesta, de que forma os professores
presente e futuro. Infância, idade adulta, percebem e lidam e como os alunos re-
velhice. São conceitos e configurações agem ao presenciar o bullying. Uma pes-
que permeiam nossas experiências huma- quisa de ordem qualitativa, realizada em
nas, constituídas por instantes, memórias uma escola da rede pública de Teresina.
e encontros, construídas e reconstruídas Foram realizadas entrevistas semiestru-
num ciclo sem fim. turadas a partir de um roteiro com oito
perguntas, onde os sujeitos envolvidos
Palavras-chave: Tempo; Idades da Vida; eram doze alunos e três professores. Os
Gerações. dados coletados nesse estudo foram ana-
Contato: Anabela Rute Kohlmann Ferrarini, lisados a partir da análise de conteúdo e
UFMT, anabelaferrarini@hotmail.com agrupados em categorias por similarida-
des de respostas. A partir dos resultados
obtidos observou-se que o bullying está
PO-LT04-B se disseminando entre os jovens, princi-
palmente os de idade escolar, gerando
violência, exclusão, ocasionando sérios
LT04-813 - COMPREENSÃO DO OLHAR danos psicológicos para as vitimas. Foi
SOBRE O BULLYING EM UMA ESCOLA DE verificado que os professores não tomam
TERESINA-PI. conhecimento da ocorrência do bullying
Nara Caroline dos Santos Silva - FACID no âmbito escolar. Já os fatores que le-
nara_carolline@hotmail.com vam a ocorrência do bullying, são sen-
Ana Lúcia Camargo Queiroga - FACID timentos que variam muito, entre eles:
lucqueiroga@yahoo.com.br maldade, inveja, exibicionismo, falta de
Ana Mary Pereira Nunes - FACID formação e violência.
anna11024@hotmail.com
Palavras-chave: Bullying. Escola. Jovens
Na atualidade, um dos temas que vem
despertando cada vez mais, o interesse
de profissionais das áreas de educação e LT04-846 - DIAGNÓSTICO
saúde, em todo o mundo, é sem dúvida, PSICOPEDAGÓGICO E POSSÍVEIS
o do bullying escolar. Termo encontrado INTERVENÇÕES EM INSTITUIÇÕES
na literatura psicológica anglo-saxônica, NÃO-GOVERNAMENTAIS NA ÁREA DA
que conceitua os comportamentos agres- EDUCAÇÃO
sivos e anti-sociais, em estudos sobre o Caroline Andrea Pöttker - UNIPAN
problema da violência escolar. Esta ação Caroline_pottker@hotmail.com
discriminatória dá-se, sobretudo, na ado-
lescência, podendo ser direto ou indireto O diagnóstico psicopedagógico institu-
e, ocorrendo-nos mais variados contex- cional é uma forma de investigação que
tos, sendo que o mais comum é ser entre deve partir da história da instituição e de
crianças e jovens em contexto escolar. suas características atuais, reestruturan-

888
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do a função desta junto aos envolvidos, nas salas e no pátio da instituição, bem
identificando os sintomas bloqueadores como aplicado atividades pedagógicas
do processo ensino-aprendizagem. Con- com as crianças direcionadas a leitura
seqüentemente, a partir desta investiga- e escrita. Ainda foram utilizadas entre-
ção pode-se formular as hipóteses sobre vistas semiestruturas, as quais foram
as causas da queixa que lhe foi trazida aplicadas aos educadores sociais sobre
para, então intervir no sentido de melho- as crianças e sobre os aspectos psicope-
rar este processo. O diagnóstico psicope- dagógicos da instituição, aos pais ou res-
dagógico institucional explica Bassedas ponsáveis e as crianças selecionadas. Nas
(1996) busca conhecer, olhar e escutar a observações pode-se notar a resistência
relação do sujeito com o conhecimento das crianças a atividades pedagógicas,
objetivando a melhoria do ensino e da as quais eram semelhantes com as que
aprendizagem, ou seja, para ajudar a fa- realizam na escola. Nas entrevistas com
mília, a escola (em todos os níveis – ad- os educadores sociais sobre as crianças
ministrativo, docente, técnico, discente) pode-se perceber que algumas crianças
a cumprir o seu papel, atuando como necessitavam de mais atenção, e demo-
um articulador do ensino e da aprendi- ravam mais para terminar as atividades,
zagem. (p.24) Dessa forma, esta pesquisa além de presenciarem estas copiando
foi realizada em uma instituição não-go- as atividades do colega. Nas atividades
vernamental, na área da educação, que pedagógicas observou-se que as maio-
observou através das atividades peda- res dificuldades eram quanto a troca e
gógicas desenvolvidas, que um número omissão de letras na escrita das palavras,
significativo de crianças apresenta difi- e em casos mais extremos a não compre-
culdades para aprender. Partindo destas ensão do que a criança havia escrito. Em
considerações, este estudo buscou rea- relação às entrevistas com os educadores
lizar o diagnóstico psicopedagógico ins- sociais sobre os aspectos psicopedagógi-
titucional para identificar quais as crian- cos na concepção dos educadores sobre
ças que apresentam estas dificuldades, dificuldade de aprendizagem, estes as re-
bem como, propiciar uma reflexão sobre lacionam à dificuldade na família, a con-
possíveis intervenções que os educado- dição social, como ao próprio aluno assim
res sociais poderiam desenvolver junto como a escola também. Quanto ao mo-
às crianças. Participaram da pesquisa 50 delo de aprendizagem da instituição para
crianças que tem entre 7 à 9 anos, estão os educadores sociais não é esclarecido
na 2ª e 3ª série do ensino fundamental, o referencial teórico a seguirem, relatam
freqüentam escolas públicas de um mu- que o ensino vai desde aprendizagem de
nicípio do interior do Paraná, e também letras e números até aprender um ofício,
a instituição no contra-turno. Além dis- costurar, bordar ou pintar. Assim, foram
so, participaram 5 educadores sociais selecionadas 15 crianças e a partir disto,
e 15 pais ou responsáveis. Também foi foram chamados os pais e as crianças se-
necessário realizar uma caracterização lecionadas para entrevistas. Nas entre-
da Instituição Social, sendo utilizado o vistas com os pais, ficou evidente que
Projeto Político Pedagógico. Para a coleta todos já haviam percebido a dificuldade
de dados foram realizadas observações de aprendizagem que seu filho apresen-

889
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tava. Quanto à tarefa, muitos relataram testar hipóteses, explorar toda a sua es-
que ajudam o filho a fazer, e quando pontaneidade criativa. O jogo cria uma
este tinha dificuldade com algo, muitas situação de regras que proporcionam
vezes chorava, ficava agitado, nervoso, uma zona de desenvolvimento proximal
demonstrava insegurança, com medo no aluno. Assim comporta-se de forma
de errar. Nas entrevistas com as crianças mais avançada do que nas atividades da
percebeu-se que quase metade delas já vida real e também aprende a separar
havia reprovado na escola. Além disso, a objeto e significado. (Oliveira, 1999). Para
maioria relatou que a atividade que não Bock (1999) “a preocupação do ensino
gostavam de realizar na escola era escre- tem sido a de criar condições tais, que o
ver texto, pois consideravam muito difícil. aluno fique “a fim” de aprender” (p. 121).
Dessa forma, com o diagnóstico psicope- Diante desse contexto percebe-se que
dagógico institucional, constatou-se que a motivação deve ser considerada pelos
neste momento que estas 15 crianças professores de forma cuidadosa, procu-
necessitavam de uma complementação rando mobilizar as capacidades e poten-
do processo de alfabetização, sendo que cialidades dos alunos a este nível. Para
em seguida, foi realizada uma reflexão a leitura, os textos selecionados pelo
sobre alfabetização e possíveis interven- educador devem estar de acordo com a
ções que os educadores sociais poderiam realidade dos alunos, pois serão de fácil
realizar junto à criança. Para Paulo Freire compreensão; levar em conta também o
(1991), “a alfabetização enquanto práti- nível intelectual, os interesses e os gos-
ca discursiva possibilita uma leitura crí- tos. Quanto aos tipos de leitura, devem
tica da realidade, constitui-se como um ser variados: parlendas, receitas, notí-
importante instrumento de resgate da cias de jornais, listas de mercado, letra
cidadania e reforça o engajamento do ci- de músicas, poesias, gibis, revistas, entre
dadão nos movimentos sociais que lutam outros. Portanto determinadas dificul-
pela melhoria da qualidade de vida e pela dades de leitura e escrita apresentadas
transformação social” (p.68). Enquanto pelas crianças podem ser minimizadas e
que para Soares (2003) a alfabetização seu aprendizado pode ser potencializado,
requer um novo termo, mais abrangen- principalmente quando pais e professo-
te ou equivalente, sendo este denomi- res se unem neste mesmo objetivo. Um
nado Letramento. Para ela, alfabetizar e ambiente estimulante e encorajador que
letrar são duas ações distintas, mas não ofereça oportunidades apropriadas á
inseparáveis, ao contrario: o ideal seria aprendizagem produz crianças dispostas
alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a a aprender (Smith, 2001).
ler e a escrever no contexto das práticas
sociais da leitura e da escrita. Para pos- Palavras-chave: diagnóstico psicopedagógico;
síveis intervenções educacionais sugere- dificuldade de aprendizagem; intervenção.
-se: jogos, brincadeiras, dinâmicas de
motivação, para proporcionar as crianças
um trabalho rico e prazeroso na aquisição
da escrita e da leitura. Através dos jogos
o indivíduo pode brincar naturalmente,

890
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-912 - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS favorecer, de forma efetiva, processos de


DESENVOLVIDAS EM UM CURSO DE qualificação e desenvolvimento profissio-
LICENCIATURA: CONTRIBUIÇÕES PARA O nal dos sujeitos, à medida que conceber a
DESENVOLVIMENTO DOCENTE relação constitutiva entre os saberes cien-
Joana Dark Leite - UFG tíficos e os saberes da experiência. Saben-
joanadarkl@yahoo.com.br do que o desenvolvimento desse diálogo
Pedro Henrique Andrade de Faria - UFG implica na superação de concepções his-
pedrohandradef@hotmail.com tóricas que dicotomizam teoria e prática
Alba Cristhiane Santana - UFG nos processos formativos, privilegiando
albapsico@gmail.com uma ou outra dimensão (Gamboa, 2003).
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB Nossa fundamentação teórica acerca da
claudia@unb.br mediação pedagógica parte dos estudos
Financiamento: PROLICEN/UFG de Vygotsky (2003), os quais enfatizam
a importância da relação dialógica esta-
A prática pedagógica é constituída por belecida entre professores e alunos, e o
diferentes fatores, abrangendo: os signi- processo de significação vivenciado no
ficados e as concepções que os docentes contexto educativo. Diante disto, a prática
atribuem ao processo educativo e aos pedagógica dos docentes de um curso de
seus atores; os saberes teórico-práticos licenciatura pode contribuir (ou não) para
construídos pelos professores no seu pro- o alcance da proposta de articular teoria
cesso formativo; a metodologia de ensino e prática, a depender de suas concepções
desenvolvida pelos docentes; as especifi- acerca dessa questão, das metodologias
cidades da mediação pedagógica que os de ensino desenvolvidas e das especifici-
docentes estabelecem com seus alunos; dades de sua mediação pedagógica. As-
bem como aspectos relacionados à organi- sim, a mediação pedagógica é concebida
zação curricular e aos contextos sócio-cul- como um processo de intervenção de um
turais nos quais o docente está inserido. elemento intermediário na relação entre
Este trabalho tem como proposta investi- os sujeitos e o objeto de conhecimento
gar como a prática pedagógica de docen- (Barros, 2006). Esse é um conceito funda-
tes de um curso de licenciatura favorece a mental para a compreensão dos processos
articulação entre as dimensões da teoria de aprendizagem e de desenvolvimento
e da prática na formação de professores humano, visto que é por meio de um in-
e, dessa forma, contribui com o desenvol- tenso processo de interação com o meio
vimento profissional dos discentes. Este social, através da mediação feita pelo ou-
trabalho apoia-se na ideia de que é no diá- tro, que os sujeitos se apropriam dos obje-
logo entre a prática docente e a formação tos culturais e se desenvolvem (Vygotsky,
teórica que o professor terá condições de 2003). As ações do professor e do aluno
construir uma prática crítica e transfor- não ocorrem de maneira isolada, mas, se
madora, a partir de estudos que indicam convergem, com discussões e trocas que
a relevância de tal diálogo para qualifi- podem ou não favorecer o desenvolvi-
cação da formação docente (Brzezinski, mento dos sujeitos. É necessário realçar
2008; Freire, 2001; Freitas, 2002; Pimenta, que a natureza da relação entre professor,
2005). A formação de professores poderá aluno e objeto do conhecimento é, tam-

891
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bém, afetiva e está subordinada, qualitati- sores, e favorece o desenvolvimento dos


vamente, à mediação vivida pelos sujeitos sujeitos. Este estudo faz parte de um pro-
(Falcin, 2006). No espaço educativo, o pro- jeto de pesquisa maior, vinculado à Uni-
fessor é o responsável pela mediação en- versidade Federal de Goiás, desenvolvido
tre o aluno e o conhecimento; ele desem- a partir do desmembramento da pesquisa
penha o papel de organizador e facilitador de doutorado realizada pela coordenado-
do contexto de aprendizagem, para que ra do projeto de pesquisa (Santana, 2010),
o aluno conheça e se aproprie do conhe- a qual resultou em um significativo banco
cimento. A metodologia de ensino é um de dados que não foi totalmente analisa-
elemento facilitador do processo ensino- do. O material empírico a ser analisado
-aprendizagem, que pode contribuir para abrange informações coletadas nas obser-
o atendimento dos objetivos planejados; é vações etnográficas de aulas de um curso
uma ferramenta do professor que, segun- de licenciatura, as quais foram registradas
do Libâneo (2002), envolve o método e as em diários de campo, visando investigar as
estratégias de ensino, bem como inclui a características da prática pedagógica dos
posição assumida pelo professor diante do docentes. Os resultados das análises par-
próprio fenômeno educativo. É necessário ciais apontam três eixos interpretativos:
ressaltar que, em sua prática pedagógica, (a) significados contraditórios acerca da
os docentes desenvolvem diversos proce- teoria e da prática; (b) ênfase em procedi-
dimentos para alcançar seus objetivos e mentos de cunho teórico; e (c) significados
atender as propostas de cada disciplina, sobre o desenvolvimento dos discentes:
configurando metodologias de ensino es- falta de confiança? A partir da observa-
pecíficas a cada contexto. O professor, ao ção da prática pedagógica dos docentes
utilizar determinados procedimentos de do curso de licenciatura, analisamos que
ensino, como uma aula expositiva ou um é favorecida a dicotomização entre as di-
fórum de debate, se fundamenta em um mensões da teoria e da prática, situação
método que abrange: as suas concepções que, dentre outras, dificulta a mobilização
sobre ensino e aprendizagem, os seus ob- de processos de desenvolvimento profis-
jetivos de ensino e as características dos sional dos discentes. Pensamos que a for-
conteúdos curriculares trabalhados (Gil, mação docente deve assumir uma visão
2007). Nessa perspectiva, a formação dos global de desenvolvimento profissional e,
professores assume um papel fundamen- nesse sentido, a prática dos docentes de
tal na qualificação do processo educativo, um curso de licenciatura deve ser pautada
devendo possibilitar análises e reflexões em concepções que privilegiem a qualifi-
acerca das finalidades da educação e do cação do processo formativo. Nessa pers-
papel do professor e do aluno no proces- pectiva, a produção de novos significados
so de ensinar e de aprender, além da im- acerca das dimensões da teoria e da prá-
portância de metodologias de ensino que tica é questão fundamental para a supe-
alcancem os objetivos planejados. A meta ração de concepções que desvinculam tais
deste trabalho é compreender como a prá- dimensões e comprometem o processo
tica pedagógica de docentes de um curso ensino-aprendizagem, nos contextos de
de licenciatura articula as dimensões da formação de professores. Entendemos
teoria e da prática na formação de profes- que um curso de licenciatura deve con-

892
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tribuir para que os professores assumam Xavier, 2005; Freitas, 2002; Libâneo, 2001)
uma posição ativa na produção de novos e a legislação educacional em vigência de-
significados acerca de sua profissão, os fine e orienta que essa articulação deve ser
quais possam gerar a construção de prá- um dos fundamentos das licenciaturas. O
ticas intencionais e críticas que promovam artigo 61 da LDB/1996 enfatiza a necessi-
transformações efetivas no contexto edu- dade de “associação entre teorias e práti-
cacional, mas, para alcançar tais objetivos, cas” (Brasil, 1996); e o artigo 3° das Diretri-
é necessário haver investimentos no pro- zes Curriculares Nacionais para a Formação
cesso formativo de tais profissionais. dos Professores da Educação Básica res-
salta a importância da “coerência entre a
Palavras-chave: práticas pedagógicas, formação oferecida e a prática esperada do
formação de professor, desenvolvimento futuro professor” (Brasil, 2002). Essa não
profissional é uma proposta de fácil desenvolvimento
Contato: Joana Dark Leite, UFG visto que, historicamente, teoria e prática
joanadarkl@yahoo.com.br têm sido objeto de diferentes interpreta-
ções, resultando na elaboração de diver-
sas abordagens. Gamboa (2003) apresenta
LT04-914 - TEORIA E PRÁTICA EM três abordagens que conceituam a relação
UM CURSO DE LICENCIATURA: entre teoria e prática, de formas distintas:
ESTUDO SOBRE AS SIGNIFICAÇÕES NA (a) as que privilegiam o papel da teoria, po-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES dendo ser classificadas como ideal-raciona-
Pedro Henrique Andrade de Faria - UFG listas; (b) por outro lado, as que enfatizam a
pedrohandradef@hotmail.com prática como critério para validação da teo-
Joana Dark Leite - UFG ria, a partir de uma concepção pragmático-
joanadarkl@yahoo.com.br -utilitarista; (c) e, também, a abordagem
Alba Cristhiane Santana - UFG dialética, a qual não considera a relação
albapsico@gmail.com entre teoria e prática em termos de ade-
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB quação de uma a outra, mas, de comple-
claudia@unb.br mentação e de conflito, considerando que
Financiamento: PROLICEN/UFG “é a própria relação entre elas que possibi-
lita sua existência” (p.125). Na perspectiva
Este trabalho refere-se a uma pesquisa que dialética, a relação entre teoria e prática é
está sendo realizada sobre um curso de li- mais complexa que uma relação de impli-
cenciatura e tem como proposta o estudo cação causal, na qual os saberes científicos
das significações e das concepções rela- mantêm uma relação constitutiva com os
cionadas à articulação entre as dimensões saberes da experiência. E partindo dessa
da teoria e da prática, nesse contexto for- discussão, é relevante desenvolver estudos
mativo, e como tal articulação favorece o que busquem compreender as concepções
processo de desenvolvimento profissional assumidas na tarefa de articular teoria e
dos discentes. A proposta de articular as di- prática nos cursos de formação docente.
mensões da teoria e da prática na formação Acreditamos que os contextos sócio-cul-
docente é um tema recorrente nas discus- turais sejam constituídos por um conjunto
sões nessa área (Brzezinski, 2008; Canen & de regras, concepções, crenças e valores

893
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que orientam a ação humana, um sistema de estratégias interativas planejadas para


semiótico compartilhado por pessoas de o desenvolvimento da pesquisa (González
um mesmo cenário social e histórico (Bru- Rey, 2005). Nosso estudo está vinculado a
ner, 1997). Por isso, adotamos o conceito um projeto de pesquisa maior, desenvol-
de significação, tal como desenvolvido por vido na Universidade Federal de Goiás, a
Vygotsky (2000) e Bruner (1997) e, assim, partir do desmembramento da pesquisa de
o significado é visto a partir de uma natu- doutorado realizada pela coordenadora do
reza relacional e produzido nos processos projeto (Santana, 2010), a qual resultou em
sociais de interação humana. Nas relações um expressivo banco de dados, que devido
interpessoais os sujeitos negociam as inter- ao grande número de informações constru-
pretações que fazem do mundo e de si pró- ídas não foi totalmente explorado. O mate-
prios, ou seja, as negociações referem-se rial empírico analisado abrange informa-
ao estabelecimento de combinações numa ções coletadas em entrevistas semiestru-
mútua partilha de pressupostos e convic- turadas com quatro docentes de um curso
ções sobre como a realidade é percebida de pedagogia de uma Instituição de Ensino
(Bruner, 1997). Nesse sentido, pensando Superior pública do estado de Goiás e em
na relevância de estudos que contribuam uma entrevista em grupo com nove dis-
com a compreensão acerca do processo de centes do referido curso. Ainda é objeto de
formação docente, buscamos compreen- análise a matriz curricular do curso de pe-
der as possibilidades de um curso de licen- dagogia e as ementas das disciplinas, visan-
ciatura desenvolver a articulação entre as do identificar a forma como as dimensões
dimensões da teoria e da prática, por meio da teoria e da prática são consideradas na
da análise das significações e das concep- organização curricular do curso. As análises
ções que orientam as práticas pedagógicas. iniciais apontam três eixos interpretativos,
Entendemos que a articulação entre os sa- a saber: (a) o dos significados que dicoto-
beres científicos e os saberes da experiên- mizam teoria e prática; (b) o da contradição
cia qualifica a formação dos professores, e acerca de aspectos teórico-metodológicos
proporciona a mobilização de processos de do curso; e (c) o dos espaços férteis para
desenvolvimento profissional dos discen- qualificação do processo formativo. Obser-
tes, ao gerar reflexões e ressignificações vamos que os significados produzidos no
acerca do processo de ensinar e de apren- curso acerca da teoria e da prática compro-
der. Neste estudo adotamos uma metodo- metem a proposta de articulação de tais
logia qualitativa, que concebe o processo dimensões no processo formativo, pois,
investigativo a partir da indissociação entre na medida em que as pessoas as perce-
a fundamentação teórica do estudo e os bem de forma desvinculada, a tendência é
métodos de construção e análise dos da- trabalhá-las, também, de forma desvincu-
dos (Ludke & André, 1986). É um processo lada. No entanto, também, identificamos
de investigação que se caracteriza por: (a) espaços de negociação de significados que
ser construtivo-interpretativo na constru- possibilitam alcançar os objetivos de uma
ção do conhecimento; (b) contar com um formação que contribua, efetivamente,
instrumento visto de forma vinculada aos com o desenvolvimento docente. Entende-
procedimentos, cujo papel é o de facilitar mos que a teoria não se configura em uma
a expressão dos participantes, por meio solução, explicação ou diretriz pronta para

894
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

guiar as situações da prática. A formação a inserção das creches e pré-escolas no sis-


docente pode e deve possibilitar espaços tema de ensino, atribuindo às instituições
de troca entre as pessoas, onde cada uma de educação infantil, além do comparti-
possa relacionar teoria e prática, além de lhamento da educação da criança com a
produzir conhecimentos teórico-práticos família, a função de promoção do desen-
que favoreçam a ação docente. Ao favore- volvimento das crianças. Com esse movi-
cer a ação docente nos cursos de formação mento de mudança no papel da creche, ela
de professores, criam-se possibilidades de distancia-se de uma concepção fundada
mobilizar processos de desenvolvimento na educação compensatória e assistencia-
profissional nos discentes. Nesse cenário, lista, e passa a ser compreendida como
é fundamental que os futuros professores lugar de formação das crianças e espaço
tenham clareza acerca dos processos que privilegiado para a promoção da interação
podem ser desencadeados pela mediação entre elas. Com identidade própria, a cre-
pedagógica e que podem ou não favorecer che complementa a ação da família na edu-
o desenvolvimento dos seus alunos. cação integral da criança. Nesse contexto,
embora de origem urbana, atualmente, as
Palavras-chave: teoria e prática, formação de creches e pré-escolas se constituem como
professor, processos de significação um direito social dos trabalhadores, sejam
Contato: Pedro Henrique Andrade de Faria, eles urbanos ou rurais e, principalmente,
UFG, pedrohandradef@hotmail.com como direito às crianças, estendendo-se às
que vivem nos territórios rurais. Esse fato
requer atenção quanto a possíveis especi-
LT04-919 - CAMPO E EDUCAÇÃO ficidades do atendimento para essa popu-
INFANTIL: CONCEPÇÕES DE FAMÍLIA lação. Desde 2002, vêm sendo publicadas
E CRECHE NA PERSPECTIVA DE UM regulamentações com o intuito de orientar
CASAL DE PAIS MORADORES DE UM as políticas e propostas pedagógicas das
ASSENTAMENTO RURAL. instituições educacionais do campo, inclu-
Leticia Verardi Madlum - FFCLRP-USP sive, as da Educação Infantil. Apesar dos
leticiaverardi@terra.com.br avanços na legislação, dados mostram que
Ana Paula Soares da Silva - FFCLRP-USP as crianças de 0 a 3 anos de idade não es-
apsoares.silva@gmail.com tão sendo atendidas ou estão sendo aten-
Financiamento: FAPESP didas na cidade, e que a taxa de freqüência
das crianças de 0 a 3 anos na Educação In-
No Brasil, em meados de 1920, com a urba- fantil é de 6,83% para as oriundas de área
nização, industrialização e entrada da mu- rural; na área urbana esse número sobe
lher no mercado de trabalho, surgem práti- para 54% (PNAD, 2008). Partindo da dis-
cas coletivas, públicas e institucionalizadas crepância entre o atendimento às crianças
de cuidado das crianças pequenas, com o urbanas e do campo, faz-se presente a ne-
intuito de assistir aos pais trabalhadores cessidade de compreender os fatores que
na educação de seus filhos (Oliveira, 2005). influenciam nas escolhas das famílias do
Na década de 1990, a Lei n. 9.394, de 20 campo, que tenham crianças de 0 a 3 anos,
de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e pela Educação Infantil. Nesse sentido, o ob-
Bases da Educação Nacional [LDB] – define jetivo deste trabalho é compreender os pa-

895
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

péis que são atribuídos à família e à creche seu território. A partir da entrevista, foram
por um dos casais de pais investigados na selecionados trechos que contribuiriam
pesquisa de iniciação científica: “Famílias para a compreensão de como esses pais
moradoras em assentamento rural: signifi- vêem a creche e a família com relação ao
cações de creche e escolhas dessa modali- cuidado e educação de crianças pequenas.
dade de educação para seus filhos de 0 a A principal idéia que aparece é a de que a
3 anos de idade”. O referencial teórico que inserção da criança na instituição está vin-
norteia o trabalho é a perspectiva da Rede culada à necessidade da família. A creche
de Significações (RedSig) que, por conce- assumiria papel importante no processo de
ber o homem a partir de sua materialida- aprendizagem dos pais no cuidado de seus
de, compreende que ele se constitui nas e filhos, particularmente, para aqueles que
pelas relações estabelecidas dentro de um apresentam dificuldades. Outra concepção
contexto histórico-cultural, que delimita presente é a da creche como um recurso
possibilidades de interação, favorecendo para aqueles que não têm condições de fi-
determinados sentidos e significados. Des- car com seus filhos em casa, pois, precisam
sa forma, entende-se o meio tanto como trabalhar fora. A família recebe o status de
campo de aplicação de condutas, quanto principal responsável pelo cuidado e a edu-
condição e recurso de desenvolvimento. O cação da criança de 0 a 3 anos, sendo este
instrumento utilizado para a construção do modelo considerado o ideal pelos entrevis-
material empírico foi a entrevista; a partir tados. As falas sugerem uma visão de ins-
dela, foi possível acessar os recortes que tituição que se baseia no direito social do
cada pessoa, baseada nas suas histórias, trabalhador, que precisa do emprego e não
fez da relação com a família e com a cre- tem com quem “deixar” o filho, e no direi-
che. A entrevista foi realizada com um ca- to da criança no que concerne ao cuidado
sal de moradores do assentamento há sete desta, para que tenha assistência durante
anos. Ambos trabalham no lote, sendo que a jornada de trabalho dos pais. A creche
o pai atua como monitor do ônibus escolar assume, assim, um caráter de compartilha-
que conduz as crianças do assentamento mento social, exercendo a mesma função
até as instituições escolares localizadas na da família quando esta não pode exercê-la.
cidade. Eles têm cinco filhos, com idades Quando questionados sobre uma possível
entre 3 e 20 anos; quatro deles moram na escolha pela creche caso ela existisse no
casa e uma reside na cidade. Nenhum dos próprio assentamento, o casal modifica seu
filhos frequentou creche. A entrevista foi discurso sobre essa instituição no diálogo
realizada na casa da família, localizada em com uma creche imaginária que atenda as
um assentamento rural no interior de São necessidades das famílias do campo. Na-
Paulo. A área onde se situa o assentamen- quela concepção de creche, está ausente a
to foi ocupada em 2003, sendo oficializada complementariedade pedagógica e educa-
pelo Incra em 2007. O assentamento é vin- tiva, o que tem efeito nos sentidos sobre a
culado a um movimento social de luta pela própria identidade da creche enquanto ins-
terra e é constituído por, aproximadamen- tituição educacional legítima, que promova
te, 260 famílias, que utilizam os serviços de contextos de interação e desenvolvimento
educação da área urbana, já que o assen- distintos do núcleo familiar e que se consti-
tamento não possui escolas e creches em tua, portanto, como um direito da criança.

896
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Nessa concepção, está presente o direito a ambiente esse responsável em formar in-
uma especificidade no cuidado e na educa- divíduos aptos a se comportarem no meio
ção da criança dos territórios rurais. Esses social. Entretanto essa situação não é mui-
sentidos sobre a creche e a família falam to dimensionada, já que o objetivo primor-
sobre as expectativas de aprendizagens e dial é passar o conteúdo escolar sem se
desenvolvimentos desse casal, construídas preocupar com as relações interpessoais;
na relação entre suas histórias e experi- porém, o desempenho positivo dos alunos
ências, suas condições atuais concretas e só se torna possível quando há o mínimo
na cultura de seus grupos. Compreender de aparato. Visto a magnitude dessa pro-
como concebem a criança parece ser um blemática, decidiu-se desenvolver o tra-
passo importante nessa rede de significa- balho com escolares, pais e professores,
ções que delimita e promove condições aplicando-se questionários para visualizar
peculiares de desenvolvimento e, também, e relacionar à problemática. Tem-se como
que ajudariam a dar visibilidade às necessi- objetivo abrangente do estudo identificar
dades e demandas das famílias do campo. o conhecimento de praticantes e/ou agre-
didos sobre o bullying, além de evidenciar
Palavras-chave: educação infantil, pais e professores, a fim de dimensionar
assentamento rural, creche a situação. Esse trabalho foi desenvolvi-
Contato: Letícia Verardi Madlum, FFCLRP-USP, do em duas escolas de Brasília-DF – uma
leticiaverardi@terra.com.br de iniciativa pública e outra privada, pois
se conjecturou que a prática do bullying
independe da classe social – de junho de
LT04-922 - BULLYING E SUA 2010 até o início de agosto do mesmo ano,
INTERFERÊNCIA NO PROCESSO com intuito de conhecer a realidade atual
EDUCACIONAL das duas escolas. O estudo foi baseado na
Tamara Correia Alves Campos - UnB abordagem quanti-qualitativa. Nas esco-
tamara.cac@hotmail.com las, foram anexados cartazes e distribuídos
folders de caráter informativo, para pais,
O bullying é definido como uma agressão definindo o que é bullying, as formas de
física ou psicológica, intencional e repeti- ocorrência da prática do ato e as possí-
tiva que acontece, principalmente, no am- veis conseqüências e intervenções. Foram
biente escolar. Essa agressão é perpetuada aplicados questionários para alunos com
por pessoas que impõem um nível de po- idades de 10 a 15 anos, pais e professores,
der maior do que o do agredido e, muitas além de realizada uma roda de conversa
vezes, o bullyng é confundido como uma com os docentes, a fim de planejar ações
brincadeira inocente. Verificam-se casos educativas. Responderam aos questioná-
de bullying em indivíduos que fogem de rios 104 alunos, 20 professores e 20 pais.
padrões ditados pela sociedade. O proble- Como parte dos resultados verificou-se
ma que se confere desse ato violento é a que, realmente, em escolas públicas e
questão da estigmatização do acometido privadas, a prática de bullying independe
que, muitas vezes, se sente impossibilitado da classe social, já que 59,61% e 61,53%,
de reagir às provocações e de superá-las, respectivamente, afirmaram terem sido
tornando o ambiente escolar ameaçador, alvo da prática de bullying. A partir desse

897
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

percentual elevado, considerou-se a ne- forte influência do ambiente em que se


cessidade de analisar a seguinte pergunta: vive e dos grupos formadores de opiniões,
“Se você já sofreu ou não bullying, o que nesse caso, principalmente, pais e profes-
sentiu ou sentiria?” As alternativas eram: sores. Com relação ao questionário que
raiva, desejo de vingança, não sentiu nada, abarcou, no total, 20 professores das duas
tristeza, simplesmente uma brincadeira, se instituições, verificou-se que todos tinham
isolou/isolaria, sendo frisado que os alu- ciência do conceito de bullying e 90% de-
no poderiam marcar mais de uma opção. les já presenciaram esse tipo de agressão.
Os sentimentos mais comuns, levando- Entretanto, 65% tinham consciência que o
-se em consideração as respostas dos dis- problema necessita de ações educativas e
centes que já sofreram bullying, foram: 25% achavam que é normal no cotidiano
raiva, desejo de vingança e tristeza, tendo escolar. Muitos deles relataram que fal-
percentuais de 50,79%, 34,92%, 34,92%, tam projetos que os motivem e orientem
respectivamente. As respostas daqueles de forma correta, dificultando muito sua
que afirmaram que não sofreram bullying atuação. A realidade se restringe a seguir
ficaram concentradas nos sentimentos o calendário programático e realizar com
de brincadeira, obtendo percentagens êxito a aprendizagem dos alunos, ou seja,
de 48,78%. Os sentimentos citados pelos se importam muito mais com o conheci-
alunos que já sofreram bullying são muito mento formal, não refletindo que apenas
preocupantes, pois, podem desencadear o conhecimento acadêmico não tem ser-
comportamentos extremos, como homicí- ventia se o aluno não conseguir aplicá-lo
dios e suicídios. Ficou nítido, também, que socialmente. O caso de bullying não tem
os que não tiveram experiência com esse que ser visto como algo isolado, que não vá
ato, não têm consciência da gravidade e da repercutir futuramente, pois, ele é capaz
amplitude do problema. Essa afirmativa se de desenvolver e agravar transtornos. En-
confirma pelo fato de que, entre os alunos tão a figura do professor não se restringe
praticantes, 47% afirmaram sentir satis- em compartilhar conhecimentos; ela vai
fação ao praticar e não dimensionarem o muito além, pois, ele precisa ser como psi-
que a pessoa agredida poderia sentir. Re- cólogo, conciliador e pai dos horários leti-
lacionaram-se, também, 49,2 alunos que já vos. Por isso, nesse projeto, também foram
sofreram e praticaram bullyng, simultane- considerados os professores, através uma
amente, podendo ser hipotetizado como de roda de conversa, para compreenderem
um ato de vingança, enquanto 75,6% dos mais claramente causas e conseqüência,
que não sofreram afirmaram não ter pra- de problemas imediatos até traumas futu-
ticado. Analisando mais profundamente os ros. Com relação aos questionários aplica-
dados, o bullying se mostrou um ciclo vicio- dos com os pais, foi possível inferir que a
so, em que aqueles que já sofreram sentem maioria (70%) não sabia o que era bullying;
necessidade de revidar o comportamento, mesmo depois do esclarecimento, grande
enquanto aqueles que não passaram por parte afirmou que seus filhos não eram víti-
essa situação não sentem necessidade de mas dessa agressão, sendo que, em média,
continuar o ciclo. A pesquisa não se res- 61% dos alunos afirmaram terem sofrido,
tringiu a alunos, pois, a formação e capa- ou seja, isso mostra que não há uma rela-
cidade de interação sócio-cultural sofrem ção efetiva de cuidado. Por isso foi desen-

898
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

volvido um folheto que informava, aos pais, profissional e cidadã, ao conectar a univer-
sobre o que é bullying, como é praticado, sidade com as necessidades da população
suas consequências e soluções. Obtiveram- (Ribeiro, 2009). Uma das características da
-se resultados que confirmam que a prática extensão é o fato de proporcionar uma du-
de bullying é algo que já faz parte do coti- pla formação, ou seja, além da formação
diano escolar e, diversas vezes, o problema dos membros da comunidade a quem se
não é dimensionado por um conhecimen- dirige o trabalho do projeto, há também a
to superficial ou, até mesmo, a falta dele. formação dos próprios extensionistas (Ar-
Entretanto uma diminuição significativa royo & Rocha, 2010). Além disso, a exten-
disto pode ser possível com a realização de são possibilita a troca de conhecimentos
ações educativas, incluindo dinâmicas, a entre a comunidade acadêmica e a popu-
fim de interagir pais, professores e alunos lação, e também a divulgação dos conhe-
para o alcance de uma verdadeira educa- cimentos obtidos durante a execução do
ção de qualidade, por conseguinte, uma projeto em eventos científicos (Fernandes;
melhor inserção social. Alves & Nitschke, 2008; Ponte; Torres; Ma-
chado & Manfrói, 2009). Os jovens adultos,
Palavras-chave: bullying, alunos, inserção ao ingressarem na universidade, cada vez
social mais se vêem diante da necessidade de in-
Contato: Tamara Correia Alves Campos, UnB, tegrar e discutir conteúdos teóricos a partir
tamara.cac@hotmail.com de práticas reais ou simulações da vida pro-
fissional, visando o “aprender a fazer”, não
aceitando passivamente a teoria que lhes
LT04-1014 - A IMPORTÂNCIA DA é apresentada. Esse contexto tem promovi-
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO do uma formação crítica, reflexiva e atenta
DESENVOLVIMENTO DO JOVEM para as necessidades sociais. Esta última
PROFISSIONAL: UMA EXPERIÊNCIA diz respeito não somente ao profissional,
JUNTO A PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO mas também ao desenvolvimento do aluno
INFANTIL como pessoa, como cidadão, ou seja, uma
Fernanda Pavão Corrêa - UFTM formação mais ampla. O presente trabalho
fernandinha_pavao@hotmail.com tem como objetivo destacar as percepções
Caroline M. P. Alves - UFTM e reflexões de graduandos em Psicologia
carolmartins4@gmail.com de uma universidade pública da região do
Letícia B. Elias - UFTM Triângulo Mineiro (MG) envolvidos dire-
le_billiejoe@hotmail.com tamente na execução de um projeto de
Nayara Fileni Prodócimo - UFTM extensão com educadores, sobre a impor-
nah_prodocimo@hotmail.com tância dessa experiência para o desenvol-
Conceição Aparecida Serralha - UFTM vimento profissional e pessoal destes. O
serralhac@hotmail.com projeto, executado por esses graduandos
Jéssica Bezerra Soares - UFTM, MEC/SESu/DIFES – discentes do terceiro ao quinto período
jessicabsoares@hotmail.com – e uma docente do curso de Psicologia,
discutiu a temática da agressividade na
A extensão universitária tem se apresenta- primeira e na segunda infância com grupos
do como uma possibilidade de constituição de profissionais da educação infantil. Para

899
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

alcançar o objetivo proposto neste estudo, enfrentamento de situações reais foi de


foram analisados qualitativamente os pare- grande importância para o amadurecimen-
ceres individuais (relatos) dos extensionis- to dos estudantes como pessoas e também
tas, registrados de forma escrita e obtidos como profissionais, desenvolvendo, assim,
após o término da execução do projeto, a capacidade de pensar, de interagir com
durante discussões realizadas entre os par- a realidade e de serem críticos. Segundo
ticipantes. Esses relatos foram lidos inicial- Gondim (2002), esta maturidade é neces-
mente em profundidade, levantando-se as sária e de extrema importância para agir
principais percepções e reflexões realiza- em situações de imprevisibilidade. (Alves,
das. Nessa análise, ficou clara a percepção Serralha, Scorsolini-Comin, Corrêa, Soa-
dos extensionistas da importância do co- res & Miareli, no prelo). Nos encontros os
nhecimento da demanda de cada institui- alunos passavam as informações que pos-
ção, buscando respostas de acordo com as suíam e as discutiam, associando-as com a
necessidades demonstradas: “Com o proje- realidade trazida pelos educadores, o que
to pude perceber a importância de se co- pôde levar estes últimos a refletir e repen-
nhecer a comunidade com a qual se traba- sar sua prática profissional, evidenciando,
lha, o que fica provado pelo fato de que nas para os extensionistas, a importância de
instituições surgiram diferentes queixas, sua atuação na possível mudança de visão
que acabavam orientando os encontros dos educadores. A realização do projeto
para rumos distintos...” (Graduanda A). No contribuiu também para o conhecimento e
início, foram destacadas algumas dificul- o desenvolvimento da prática com grupos.
dades, como ansiedade e insegurança de Desse modo, a execução do projeto possi-
se perder ou não saber o que falar diante bilitou reflexões acerca tanto do processo
de alguma situação. Contudo, de acordo de desenvolvimento pessoal dos extensio-
com o relato dos estudantes, à medida que nistas, como dos desafios profissionais en-
eles passaram a lidar diretamente com as frentados na prática com os professores e
professoras e educadoras das instituições, educadores das comunidades atendidas. A
tiveram de se adaptar a situações inespera- prática possibilitou uma troca recíproca de
das. Durante o projeto realizado, foi possí- saberes entre os extensionistas e a comuni-
vel observar certas aquisições importantes dade, além de lhes oferecer oportunidade
para a constituição das competências dos de se colocarem e mostrarem o seu ponto
discentes envolvidos: (a) habilidade da uti- de vista ao aplicar as teorias no seu dia-a-
lização dos conhecimentos anteriormente -dia, sendo o grupo um espaço privilegiado
adquiridos para a realização das ativida- para a instilação desses aspectos. É pos-
des; (b) adaptação na maneira de agir dos sível afirmar, assim, que a experiência de
integrantes da extensão, de acordo com a extensão possibilitou o aprimoramento da
realidade específica de cada instituição; (c) formação profissional, de forma a melhor
capacidade de socializar-se, desenvolvida capacitá-los para a execução de seu traba-
ao longo dos encontros, no contato com os lho. Possibilitou, também, que os alunos se
educadores e também entre o próprio gru- sentissem responsáveis por promoverem
po de alunos durante o desenvolvimento uma transformação na comunidade, o que
das atividades propostas; (d) capacidade de os deixou mais seguros de sua identidade
enfrentar situações não programadas. Esse de futuros psicólogos.

900
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Extensão universitária, diferentes formas de organização familiar


Psicologia, Narrativas e de ampliação no fornecimento de cuida-
Contato: Fernanda Pavão Corrêa, UFTM, dos, sendo o papel materno muitas vezes
fernandinha_pavao@hotmail.com complementado por outras figuras, como,
por exemplo, professores e educadores, no
cuidado a crianças de até seis anos de ida-
LT04-1017 - DIALOGANDO COM de. Este trabalho pretende relatar e ana-
EDUCADORES SOBRE AGRESSIVIDADE lisar qualitativamente os resultados finais
VISANDO AO DESENVOLVIMENTO DA da execução de um projeto de extensão,
CRIANÇA E A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA que foi construído ao se levar em conta es-
Nayara Fileni Prodócimo - UFTM sas características relacionadas à agressivi-
nah_prodocimo@hotmail.com dade e a importância da participação dos
Carolina Martins Pereira Alves - UFTM professores e educadores no desenvolvi-
carolmartins4@gmail.com mento global das crianças. O projeto teve
Fernanda Pavão Corrêa - UFTM como propósito auxiliar esses profissionais
fernandinha_pavao@hotmail.com a compreenderem melhor a agressividade
Letícia Bianquini Elias - UFTM no ser humano, seus diferentes tipos de
le_billiejoe@hotmail.com manifestação e motivações, suas bases
Jéssica Bezerra Soares - UFTM, MEC/SESu/ e contextos de ocorrência, bem como de
DIFES discutir sobre intervenções mais adequa-
jessicabsoares@hotmail.com das por parte dos educadores, de acordo
Conceição Aparecida Serralha - UFTM com as competências profissionais de cada
serralhac@hotmail.com um, no cuidado e prevenção de problemas
relacionados à agressividade, evitando o
De acordo com a teoria psicanalítica win- agravamento de situações conflituosas. As
nicottiana do amadurecimento humano discussões visaram ainda orientar possí-
(Winnicott, 1988/1990), compreende-se a veis encaminhamentos a outros serviços,
agressividade como pertencente à nature- em casos de agressividade mais elevada
za humana, sendo passível de sofrer influ- na criança e, de forma geral, possibilitar
ências do ambiente para o grau e o modo a melhora das relações interpessoais, a
como se manifesta. Sendo assim, há a pos- promoção da saúde física e psíquica da
sibilidade de a agressividade intensificar- comunidade e a prevenção da violência,
-se de forma negativa, causando prejuízos criando condições favoráveis para o de-
na vida do indivíduo e em suas relações senvolvimento saudável da criança. Além
sociais, caso as interações com o ambiente disso, pretendeu-se que os discentes pu-
não atendam às suas necessidades (Winni- dessem estabelecer contato com os pro-
cott, 1987/1999). Essas interações, princi- blemas da comunidade e fazer atuações
palmente no início da vida, se dão de for- significativas nesta. A análise dos resulta-
ma prioritária com a figura materna, que dos do projeto abrange a execução deste
não precisa ser necessariamente a mãe em oito Centros Municipais de Educação
biológica, mas qualquer pessoa sensível Infantil (CEMEIs) e uma creche filantrópi-
que se disponha a cuidar do bebê. Nos ca do município de Uberaba, que têm sob
vários contextos atuais, são encontradas seus cuidados crianças entre 0 e 6 anos de

901
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

idade. Para compreensão da análise reali- responsabilidade durante o período esco-


zada é importante relatar os componentes lar, podendo intervir com mais confiança
metodológicos do projeto: a equipe exe- em situações de agressividade, que antes
cutora foi composta por sete discentes e não eram capazes de lidar. “Pude compre-
uma docente do Curso de Psicologia, que ender melhor sobre o comportamento hu-
inicialmente elaborou três palestras sobre mano na infância, o que mudou a minha
os temas: “O que é agressividade”, “Ori- maneira de lidar com meus alunos em sala
gens da Agressividade” e “Lidando com a de aula. Porque vejo que o professor tem
Agressividade”; as palestras foram minis- uma tendência em punir o aluno agressivo
tradas, nos CEMEIs, em três encontros de sendo também agressivo com ele. Contu-
duração aproximada de duas horas, ao fi- do, tendo em vista os conhecimentos ad-
nal do turno de trabalho dos profissionais quiridos neste módulo percebi as causas
da instituição, em período pré-agendado e da agressividade e caminhos para melhor
destinado à educação continuada destes; trabalhá-la.” (Professora participante). Os
houve projeção de slides e filmes, realiza- diálogos permitiram o compartilhamento
ção de dinâmicas e concessão de tempo de dúvidas e angústias que muitas vezes
para discussões e trocas de experiências impedem uma compreensão mais objetiva
entre os participantes. Ao final, foi con- das origens dos comportamentos agressi-
tabilizada a participação de 185 pessoas. vos da criança. Além disso, a sensibilização
Embora a participação dos profissionais demonstrada pelos profissionais foi im-
em todas as instituições tenha superado a portante, pois são eles que possibilitarão
marca de 80 % de seus membros, puderam a repercussão do projeto na comunidade,
ser constatados a dificuldade e o esforço por meio de práticas e intervenções dife-
de todos para manterem-se participativos renciadas com os alunos e seus familiares.
e atentos, após um dia inteiro de traba- A teoria winnicottiana forneceu uma visão
lho. Contudo, o período para a execução mais profunda acerca dos problemas coti-
foi escolhido pelas próprias diretoras das dianos enfrentados na escola, dos afetos
instituições, que alegaram ter experiência interpessoais, o que os instigou a busca-
suficiente para saber que a adesão seria rem novas formas de exercício de seus pa-
mínima caso os encontros fossem marca- péis tanto profissionais quanto familiares.
dos em horários em que os profissionais já Quanto aos discentes que participaram
estivessem desligados e afastados de suas do projeto, estes puderam aumentar seus
atividades na instituição. Apesar dessas conhecimentos sobre o tema da agressi-
dificuldades iniciais, pôde ser percebido o vidade, sobre as diferenças culturais e so-
crescente envolvimento de todos os parti- ciais na comunidade e também integrar e
cipantes nos diálogos, a partir da base teó- discutir os conteúdos teóricos a partir de
rica – winnicottiana – muito pertinente às práticas reais e simulações da vida profis-
experiências vividas em seu cotidiano fa- sional, visando à complementação entre
miliar e escolar. Foi possível perceber que teoria e prática (Lima, 2005). Desse modo,
a sensibilização dos educadores em rela- os graduandos desenvolveram sua capaci-
ção aos temas levantados levou-os a re- dade de identificar problemas, discuti-los
conhecer sua própria importância no que e até apresentar propostas para a resolu-
tange ao cuidado das crianças sobe sua ção destes. A extensão, de modo geral,

902
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

proporciona aos estudantes uma forma- consigo, procedimentos que invadem o es-
ção diferenciada, complementando seu paço social, conduzindo o paciente à sen-
desenvolvimento acadêmico e proporcio- sação de insegurança e isolamento. Tais
nando uma formação também pessoal questões podem, ainda, contribuir para
que os tornem mais preparados para atuar um não ajustamento da criança ao am-
como profissionais no futuro (Alves, Ser- biente escolar. A hospitalização de crianças
ralha, Scorsoloni-Comin, Pavão, Soares & em processo de escolarização e a atuação
Miareli, no prelo). Assim, a experiência de do pedagogo no ambiente hospitalar são
extensão permite que os discentes, desde temas que tomam proporções significa-
os períodos iniciais da graduação, se habi- tivas na literatura, por tratarem de uma
litem a atuar diante de uma comunidade temática discutida no âmbito da inclusão
marcada por singularidades e ao mesmo escolar. Percebe-se, no entanto, a neces-
tempo por problemas comuns à socie- sidade de maior divulgação de estudos
dade como um todo. Na execução deste relacionados à permanência da criança no
projeto, em particular, tanto os educado- ambiente hospitalar, bem como sua ruptu-
res das instituições atendidas quanto os ra no processo escolar, que são de suma
futuros profissionais de Psicologia pude- importância, pois, almejam proporcionar
ram discutir sobre os aspectos da agressi- uma adequada inclusão educacional de
vidade que dificultam o desenvolvimento crianças e adolescentes hospitalizados.
da criança e pensar meios de facilitarem Considerando a dialógica saúde/educação
esse desenvolvimento, levando em conta e os desafios de interação destas áreas, o
a diversidade cultural. presente estudo parte do interesse pelo
tema classe hospitalar, tendo por base a
Palavras-chave: Agressividade, percepção de crianças hospitalizadas e de
Desenvolvimento da criança, Escola. seus cuidadores, em relação à intervenção
Contato: Nayara Fileni Prodócimo, UFTM, do pedagogo neste ambiente, prioritaria-
nah_prodocimo@hotmail.com mente marcado pela presença de profis-
sionais de saúde. Neste sentido, a presente
pesquisa teve por objetivo geral identificar
LT04-1065 - OUTRAS QUESTÕES QUE efeitos da hospitalização na vida escolar
PODERÍAMOS SABER SOBRE CLASSE das crianças, da perspectiva dos seus cui-
HOSPITALAR dadores e da própria criança, e por obje-
Kathelem de oliveira dos Santos França - UnB tivos específicos: conhecer percepções
kathelemf@yahoo.com.br dos cuidadores e das próprias crianças, a
Patrícia C. Campos-Ramos - UnB respeito da dialógica educação e saúde e
como a educação tem se preparado para
Fazem parte de nossas rotinas diárias, as- atender a criança em momentos de hos-
pectos físicos, sociais e afetivos. Quando pitalização. O estudo foi realizado a partir
estas rotinas são quebradas, levando-se da reavaliação e releitura de informações
em consideração a hospitalização, princi- obtidas para um trabalho de estágio reali-
palmente, durante a infância, gera-se uma zado no ano de 2003, como exigência par-
ruptura inesperada de vínculos sociais e cial para conclusão do curso de Pedagogia
afetivos. Juntamente, o fator doença traz, na habilitação Ensino Especial. Tendo, no

903
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

momento do presente estudo, foco de pedagógica à criança hospitalizada, facili-


análise na inclusão e na atuação do pe- tando que a criança esteja ciente e com-
dagogo no ambiente hospitalar, pois, se preensiva do que acontece no hospital.
evidencia a importância da busca pela dis- Portanto, o pedagogo deve ter, em sua
cussão sobre a continuidade do processo atuação, a preocupação de proporcionar o
de escolarização da criança hospitalizada, resgate da identidade da criança e de seus
bem como a oferta de outras atividades, cuidadores. Outro aspecto a ser conside-
procedimentos e estratégias curriculares rado diz respeito à construção de meios
e/ou extracurriculares mais apropriadas às que favoreçam a criança a aquisição da se-
necessidades da criança hospitalizada. A gurança e confiança em relação à equipe
releitura foi realizada sob uma ótica qua- hospitalar, uma vez que foi possível perce-
litativa, com vistas à observação de infor- ber a valorização dos cuidadores em rela-
mações ilustradas por meio de quadros ção ao serviço prestado na classe hospita-
descritivos e históricos de casos específi- lar. A ruptura do processo escolar torna-se
cos. Como parte importante da metodo- significativo para a criança e seus cuidado-
logia adotada neste estudo, foi focalizada res, pois, de modo geral, a permanência da
a observação de crianças hospitalizadas criança na escola é marcada por um perí-
que, no momento da construção das infor- odo de descobertas, redescobertas, signi-
mações, estavam em idade escolar e com ficação e re-significação de conceitos e a
processo de escolarização interrompido ocorrência da hospitalização na idade es-
devido à hospitalização. Participaram do colar ocasiona um brusco rompimento do
estudo crianças oriundas de escolas da processo da própria construção da infân-
rede de ensino público ou particular do cia. Desta forma faz-se necessário o aten-
Distrito Federal e de cidades do Entorno. dimento na modalidade classe hospitalar,
No momento da pesquisa foi solicitada a por se tratar de um momento particular de
colaboração de cuidadores responsáveis vida da criança e de seus cuidadores, pois,
por estas crianças e das próprias crianças. os mesmos passam a vivenciar a exclusão
Nos resultados foi possível perceber que de diversos contextos sociais. Sendo as-
o trabalho realizado em classe hospita- sim o hospital pode ser considerado um
lar implica o favorecimento da criação e novo lócus de atendimento educacional,
ou fortalecimento de laços afetivos entre que deve priorizar a inclusão. Em geral, a
a criança e seu cuidador. Nos relatos dos hospitalização impõe limites à socialização
cuidadores foram observados sentimen- e às interações da criança, impondo o seu
tos em relação às situações vivenciadas no afastamento da escola, dos amigos, da rua
período de hospitalização da criança e que e de casa, além de regras sobre o corpo, a
neste momento, a criança e seu cuidador saúde, o tempo e o espaço. A hospitaliza-
necessitam de um espaço de escuta que ção na infância representa, na maior parte
valorize o resgate da própria história, pois, das vezes, o impedimento total ou parcial
no ambiente hospitalar, na maior parte das oportunidades de ser uma criança. Tais
do tempo, não é possível se preservar a impedimentos ocorrem devido às restri-
intimidade familiar. Foi possível perceber, ções ambientais ou, mesmo, pelas condi-
também, o papel inclusivo de atuação do ções adversas como uma inabilidade para
pedagogo frente a uma adequada escuta usar efetivamente o próprio corpo, intera-

904
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gir com pessoas e solucionar problemas. A volvimento e o acesso a recursos sociais.


classe hospitalar, ao prestar assistência à Na literatura, modelos como o biomédico
criança hospitalizada, proporciona o pro- e o social explicam as deficiências e orien-
cesso inclusivo, e conduz a uma percepção tam, diferenciadamente, a participação da
de que ainda existe um longo caminho a família no processo de inclusão escolar de
ser percorrido até a efetiva e adequada crianças com NEE. Neste sentido, o estabe-
inclusão escolar da criança hospitalizada lecimento de um diagnóstico tende a con-
sendo, também, preciso alcançar objeti- duzir a uma organização de atendimento e
vos de sensibilização neste ambiente, que estruturação de apoio específicos, visando
vão além da alfabetização. Atualmente suprir as necessidades e desenvolver estra-
percebe-se a necessidade da ampliação tégias eficazes. Porém, é visível a demanda
do atendimento escolar no ambiente hos- de alunos sem diagnóstico, à margem de
pitalar, por meio do caráter pedagógico estratégias educativas potencializadoras
e a prática de uma escuta sensível. Com de desenvolvimento, por falta de respal-
este estudo pretendemos contribuir para do de um laudo médico, além de outros
a reflexão acerca de práticas inclusivas no inúmeros fatores. Dentro dessa perspec-
ambiente hospitalar, visando à abertura de tiva, se faz importante o trabalho de uma
novos leques. equipe composta por profissionais de di-
versas áreas, com um objetivo comum - no
Palavras-chave: Classe hospitalar, crianças caso, a educação inclusiva - partindo das
hospitalizadas, cuidadores especificidades de cada área e trazendo
contribuições coletivas frente às reais ne-
cessidades de cada educando. O presente
LT04-1211 - A PARTICIPAÇÃO DAS estudo tem por objetivo principal valorizar
FAMÍLIAS NO PROCESSO DE INCLUSÃO a participação da família na potencializa-
EDUCACIONAL DE ALUNOS NEE SEM ção do desenvolvimento dos educandos e,
DIAGNÓSTICO especialmente, no processo de inclusão de
Tânia de Sousa Lima - UAB/UnB alunos NEE sem diagnóstico; além disto,
tanialli@yahoo.com.br buscamos destacar a importância da rela-
Patrícia Cristina Campos Ramos - UnB ção família e escola; contribuir para a atu-
pcamposramos@uol.com.br ação das equipes multi/inter/ transdiscipli-
Peterson Trindade dos Santos - SEE/DF – UCB nares e propor meios que facilitem a inclu-
petersonbsb@ig.com.br são destes alunos. A opção metodológica
Financiamento: CNPq adotada é a pesquisa qualitativa que está
inserida, atualmente, em um campo trans-
Escola e família são contextos interrela- disciplinar e sob diferentes paradigmas
cionados, agindo como propulsores ou de análise. Nestas pesquisas é importan-
inibidores do desenvolvimento infantil. te obter informações de variadas fontes,
Nos últimos anos, ações de educadores e como entrevistar professores, familiares
familiares promovem a inclusão escolar de e profissionais de outras áreas que lidem
pessoas com necessidades educacionais diretamente com a questão em foco, para
especiais (NEE), visando resgatar o respei- conhecer mais amplamente o histórico de
to e a dignidade, e possibilitando o desen- vida do aluno, a fim de traçar estratégias

905
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

conjuntas de estimulação família-escola. vel por questões comportamentais dos


Participaram do estudo membros do corpo educandos), uma pedagoga e uma psicó-
discente, do corpo docente e da família do loga (responsáveis por questões de apren-
educando (no caso em questão, a mãe e a dizagem e diagnóstico de deficiência inte-
avó) ligados a uma instituição educacional lectual) e A relação família-escola, que na
pública do Recanto das Emas, Distrito Fe- opinião dos participantes deveria ser mais
deral, além de uma médica pediatra, que próxima e o processo de diagnóstico seria
assinaram um Termo de Consentimento Li- mais célere se a participação fosse mais
vre e Esclarecido concordando com a parti- efetiva; (c) a entrevista realizada com a pe-
cipação. A construção de informações teve diatra conduziu a três categorias: Diagnós-
como instrumento entrevistas semiestru- tico e a inclusão: quanto mais cedo defini-
turadas, a partir de um roteiro elaborado do o diagnóstico, maior a possibilidade de
para este estudo, e que foram gravadas reversibilidade; porém, existe alta deman-
em áudio e transcritas na íntegra. A forma da e poucos profissionais na rede pública,
de categorização foi construída a partir do relação médico-família: adequação da lin-
referencial utilizado em estudos da área, guagem médica vista como fundamental
envolvendo a participação ativa das crian- na comunicação com as famílias durante o
ças, de seus familiares e educadores; as diagnóstico, e relação médico-escola: deve
categorias foram agrupadas por temas. Os haver maior interação entre profissionais;
resultados obtidos com as entrevistas con- (d) as respostas da criança, mais do que
duziram a diferentes categorias em cada dos outros participantes anteriores, pos-
grupo de participantes: (a) as respostas da sibilitaram o levantamento de seis catego-
mãe e da avó possibilitaram o levantamen- rias, sendo quatro referentes às suas con-
to de quatro categorias: Processo de diag- cepções de família e duas sobre escola e
nóstico na vida familiar, com concepções inclusão: Composição familiar, coabitação,
divergentes sobre o diagnóstico da crian- sentimentos, função socializadora e sobre
ça; Aprendizagem e diagnóstico, em que a a escola e a inclusão. Em síntese, a criança
escola regular foi vista como o melhor am- considera o modelo tradicional de família,
biente de aprendizagem, ao proporcionar ao citar pai, mãe e filhos em sua compo-
convivência com todas as crianças; Rela- sição, apesar de não ser esta a configura-
ção família-escola no processo de diagnós- ção de sua própria família; também cita as
tico, em que a família, por vezes, transfere relações biológicas e as não biológicas; o
sua função para terceiros ou para a escola pai não é citado pela criança participante
e Expectativas dos familiares para com o como pessoa da família, por habitar em
educando, em que a família foi concebida outra residência; o amor é compartilhado
como aquela que apresenta um conflito de com a mãe, que é chamada pela crian-
interesses e poucos momentos de lazer; ça por seu nome próprio; deduz-se que a
(b) as respostas do orientador educacional televisão é quase a única fonte de lazer;
e da professora regente possibilitaram o demonstra gostar da escola e reconhecer
levantamento de duas categorias: Critérios a autoridade da professora, mas, demons-
para o atendimento especializado, em que tra não gostar da agressividade de alguns
foi constatada a existência de uma equipe colegas para com ele. Observamos que a
constituída por um orientador (responsá- família exerce influências decisivas para o

906
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desenvolvimento e o diagnóstico do edu- que dificultam a perda de peso – estudo


cando e, também, que uma abordagem de casos de mulheres obesas de grau I
transdisciplinar seria a melhor forma de e II”, objetiva contribuir para que ocorra
organização da equipe dos profissionais um avanço em termos científicos e téc-
que lidam com crianças sem diagnóstico, nicos, uma vez que este tema tem sido
para que haja uma melhor compreensão muito discutido, mas poucas propostas
de suas condições e potencialidades. A são implementadas e avaliadas. O Cen-
multiplicidade de profissionais e divisão tro de Formação em Psicologia Aplicada,
de saberes não pode conduzir ao retalha- do curso de graduação em Psicologia da
mento da criança, ou à segmentação de Universidade Católica de Brasília, recebe
suas necessidades, como parece ocorrer semestralmente um número significativo
no caso do educando em estudo. A es- de encaminhamentos de indivíduos com
cola - espaço privilegiado para reflexões, transtornos alimentares e obesidade. De-
aprendizagens e mudanças de posturas vido a esta demanda faz-se necessário um
- deve lidar com as diferenças e a diversi- programa regular e eficaz de atendimento
dade de características de cada sujeito e a essa clientela. O projeto “Construção de
de suas famílias. Por isso, é fundamental a metodologia de atendimento psicossocial
existência de equipes transdisciplinares e a crianças e adolescentes com transtornos
a participação ativa das famílias. A relação alimentares e obesidade e suas famílias”
família-escola possibilita o delineamento visa uma construção de uma metodologia
de intervenções que favoreçam mais am- que trabalhe tanto os aspectos intrapsí-
plamente o desenvolvimento humano. quicos como familiares e sociais, dando
às crianças e adolescentes com essa pro-
Palavras-chave: Família, Escola, Diagnóstico blemática e suas famílias um atendimento
Contato: Tânia de Sousa Lima, UnB/UAB, mais eficaz. Torna-se necessário estudar
tanialli@yahoo.com.br questões relacionadas à obesidade pelo
fato de sua prevalência vir aumentando
na maioria dos países, a ponto de ser con-
LT04-1243 - FATORES QUE DIFICULTAM A siderada ultimamente, uma epidemia de
PERDA DE PESO – ESTUDO DE CASOS DE grandes proporções. A obesidade pode
MULHERES OBESAS DE GRAU I E II levar a morte do corpo físico devido a
Ana Paula da Silva Vasques Oliveira - UCB diversas doenças que pode vir a causar,
psi.paula.vasques@hotmail.com porém, uma grande quantidade de peso
Maria Alexina Ribeiro - UCB pode “matar” subjetivamente o indiví-
alexina@solar.com.br duo também. Mata sua vontade de sair,
Marília Marques da Silva - UCB de se relacionar com outras pessoas, de
marilia@ucb.br fazer sexo, dançar, de viver enfim. Assim,
a obesidade pode causar várias feridas
Como uma vertente do projeto “Cons- emocionais e comprometimentos funcio-
trução de metodologia de atendimento nais, principalmente em adultas jovens
psicossocial a crianças e adolescentes que vivem em uma cultura onde a ma-
com transtornos alimentares e obesida- greza é vista como sinônimo de beleza. A
de e suas famílias” a pesquisa “Fatores magreza tende a ser mais valorizada entre

907
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as mulheres em nossa sociedade, o que da obesidade em dimensões do desenvol-


faz com que estas evitem o estilo de vida vimento humano. Os resultados obtidos
sedentário e tenham mais probabilidade com esta pesquisa podem ajudar a apri-
se comparadas aos homens de fazer uma morar os serviços de atendimento de saú-
dieta durante sua vida. Existe maior pos- de à comunidade que apresenta quadro
sibilidade de homens abaixo do peso, re- de obesidade. A pesquisa tem um enfo-
ceber diagnóstico de depressão clinica do que qualitativo e envolve cinco mulheres
que os homens obesos, o que aponta que residentes em Brasília, com faixa etária
o sofrimento de um obeso masculino não entre 23 a 35 anos de idade, com obesida-
é tão intenso quanto ao feminino, devido de de grau I e II, que já tentaram emagre-
a isto a pesquisa envolve apenas mulhe- cer e por diversos fatores não obtiveram
res, pois apesar do obeso independente sucesso na perca do peso ou na manuten-
do sexo ser discriminado pela sociedade ção deste e que nunca realizaram alguma
e sofrer vários tipos de preconceitos, são cirurgia estética. O delineamento de pes-
as mulheres na maior parte das vezes que quisa escolhido devido à complexidade do
carregam o sentimento de não serem vis- problema foi o estudo de caso, onde se es-
tas. Existe não apenas um ideal de corpo, tudou os fenômenos individuais para um
mas um ideal de vida no qual só se pode entendimento do fenômeno mais amplo.
ser feliz sendo magro. A obesidade pode Os instrumentos utilizados para a análise
ser vista como um escudo que protege o dos dados foram uma entrevista semies-
indivíduo, para que ele não entre em con- truturada, a escala de figuras de Stunkard
tato com a sua dor verdadeira. É um fato e o questionário dos três fatores alimen-
complexo, que envolve diversos fatores tares. A limitação da pesquisa se dá pelo
biológicos, sociais, familiares e emocio- fato de serem entrevistadas apenas cinco
nais que interagem entre si. A pesquisa mulheres que residem no Distrito Federal,
“Fatores que dificultam a perda de peso restringindo-se assim a generalização dos
– estudo de casos de mulheres obesas resultados. Os dados parciais da pesquisa
de grau I e II” está em andamento desde estão em consonância com os resultados
Fevereiro de 2011. Tem como objetivo in- dos trabalhos constantes do levantamen-
vestigar os fatores que dificultam o ema- to bibliográfico sobre o tema, ou seja, fa-
grecimento em mulheres obesas de grau tores biológicos, sociais, familiares e emo-
I e II que querem emagrecer; identificar a cionais estão na base do surgimento e da
existência de ganhos que contribuem para manutenção da obesidade em mulheres
que mulheres obesas em sofrimento em jovens e precisam ser levados em consi-
relação ao próprio corpo permaneçam deração quando se pensa em um acompa-
obesas; verificar quais fatores genéticos, nhamento adequado feito pelos profissio-
emocionais, sociais e familiares pode difi- nais de saúde.
cultar a perda de peso; verificar o quanto
a família interfere na adesão ao tratamen- Palavras-chave: obesidade feminina, família,
to e investigar se existe alguma resistência aspectos psicossociais.
em relação ao emagrecimento, como uma Contato: Ana Paula da Silva Vasques Oliveira,
forma de afirmar a identidade. Enfim, o Universidade Católica de Brasília (UCB), psi.
estudo pretende investigar a interferência paula.vasques@hotmail.com

908
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04 -1246 - PROMOÇÃO DO ticiparam do estudo 31 alunos do primei-


AUTOCONCEITO: PESQUISA- ro ano do ensino fundamental de uma
INTERVENÇÃO NO ENSINO escola pública da cidade de Juiz de Fora
FUNDAMENTAL (MG). A amostra foi composta por 15 me-
Bianca Cristine Gomide Costa - UFJF ninas (48,4%) e 16 meninos (51,6%), com
biacgc@gmail.com média de idade de 6 anos. Após crivo do
Marisa Cosenza Rodrigues - UFJF comitê de ética da Universidade Federal
rodriguesma@terra.com.br de Juiz de Fora, realizou-se um sorteio
das turmas de primeiro ano para a de-
O ambiente escolar possui papel funda- limitação de um grupo de comparação
mental no desenvolvimento humano. (composto por 14 crianças) e do grupo
De acordo com os parâmetros curricu- intervenção (17 crianças). Os dois grupos
lares nacionais para a Educação Infantil foram pré-avaliados mediante a utiliza-
(Brasil, 1998), a finalidade da educação ção da Escala de Percepção do Autocon-
é o desenvolvimento integral da criança. ceito Infantil – PAI (Sanchez e Escribano,
Nesse sentido, cabe à escola não apenas 1999), composta por 34 itens que ava-
o desenvolvimento acadêmico do aluno, liam o autoconceito de crianças de idade
mas também a promoção de sua saú- pré-escolar e do ciclo inicial. A escala, em
de física, emocional, social e psicológi- sua forma de aplicação individual, possui
ca. Um importante fator nesse aspecto, quatro possibilidades de resposta, cada
considerado relevante à trajetória de um uma correspondente a um valor (de 1
desenvolvimento saudável é a visão que a 4). A soma da pontuação em todos os
o indivíduo tem de si mesmo e de suas itens fornece o escore do autoconceito
possibilidades, ou seja, o seu autocon- da criança. Uma maior pontuação indica
ceito. Este constructo tem sido conside- um autoconceito mais positivo, enquan-
rado um importante fator de proteção to uma pontuação mais baixa indica um
intrínseco à criança (Maia e Williams, autoconceito mais negativo. Em segui-
2005), sendo defendida a importância mento, implementou-se o programa para
de sua estimulação em contextos educa- a estimulação do autoconceito no grupo
tivos (Muller, 2006; Sanchez e Escribano, intervenção, tendo como base as propo-
1999). Alguns estudos têm demonstrado sições teórico-práticas de Muller (2006) e
uma associação positiva entre o autocon- Sanchez e Escribano (1999). O programa
ceito e o desempenho escolar (Vertelo, foi aplicado em 10 encontros envolvendo
2007, Ferreira, 2010). No entanto, são temáticas focalizadas no desenvolvimen-
escassos na literatura nacional estudos to do autoconceito positivo, a saber: coo-
que objetivam promover o seu desen- peração, reconhecimento das diferenças
volvimento nas instituições escolares. entre as pessoas, autoconhecimento,
Nessa perspectiva, insere-se a presente reconhecimento de características positi-
pesquisa-intervenção, parte integrante vas em si, reconhecimento e comunica-
de um estudo mais amplo, cujo objetivo ção de características positivas no outro,
foi avaliar o impacto de um programa de expressão de afeto positivo, persistência,
intervenção voltado para a estimulação identificação de sentimentos, amizade e
do autoconceito no contexto escolar. Par- reconhecimento próprio. Os encontros

909
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foram realizados na própria sala de aula aqui obtidos e aponta para a necessida-
com duração média de 50min cada, apli- de de mais estudos acerca da avaliação
cados ao longo de 4 semanas. Após o tér- de programas de intervenção para esti-
mino da intervenção realizou-se a pós- mulação do autoconceito no contexto
-avaliação com os dois grupos de alunos, educativo. O resultado positivo obtido
observando-se que houve a perda de um no presente trabalho justifica a realiza-
participante do grupo controle que, por ção de novos estudos para a aplicação
faltas sistemáticas, não respondeu ao do programa em outros grupos. É válido
pós-teste. Ressalta-se que, para atender destacar que o baixo número de sujeitos
aos critérios éticos, o mesmo programa dessa pesquisa dificulta a generalização
de intervenção foi realizado posterior- dos dados a outros contextos, sugerindo-
mente com o grupo de comparação. A -se a ampliação da amostra em interven-
fim de se efetuar comparações entre as ções futuras.
pontuações das crianças antes e após a
aplicação do programa de intervenção foi Palavras-chave: autoconceito, ensino
empregada na análise estatística a pro- fundamental, promoção
va de Wilcoxon, o nível de significância Contato: Bianca Cristine Gomide Costa,
adotado foi de p<0,05.A média da pon- Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista
tuação do grupo comparação na primei- do Programa de Educação Tutorial PET-
ra aplicação foi de 104,14 (dp=12,83) e Psicologia/MEC-SESu, biacgc@gmail.com
na segunda avaliação 109,3 (dp= 11,75),
não se obtendo significância estatística
(p=0,059). Quanto ao grupo interven- LT04-1259 - VIVÊNCIA ACADÊMICA:
ção obteve-se, na fase de pré-avaliação, SIGNIFICADOS E MOTIVAÇÕES
a média de 109,52 (dp=9,99) e na fase Elen Alves Santos - Projeção
posterior à implementação do progra- elenpsi@gmail.com
ma, a média de 115,23 (dp=9,39), sendo Elaine Ribeiro Santos - Projeção
tal diferença significativa ( p=0,017). Ou elaine.santos@projecao.br
seja, comparativamente, houve um incre- Danielle Sousa Silva - Projeção
mento de componentes relacionados ao dssfatima@gmail.com
autoconceito na fase de pós-avaliação do
programa, sugerindo que a intervenção O ingresso no ensino superior é permeado
implementada teve um impacto positivo por diferentes significados e motivações.
sobre o autoconceito do grupo de crian- Jovens e adultos, seja qual for a idade,
ças. O resultado converge com os dados apresentam razões diversas na escolha
obtidos por Gonçalves e Murta (2008), do curso, como a busca pela identificação
que também evidenciaram um efeito fa- pessoal, a correspondência de expectati-
vorável de um programa de treinamento vas pessoais e dos familiares, assim como
de Habilidades Sociais, focalizando, de o desejo pelo retorno dos aspectos finan-
maneira indireta, o autoconceito infantil. ceiro e temporal que foi empregado du-
A escassez de pesquisas com intervenção rante o processo acadêmico. O ingresso
focalizando o autoconceito no contexto é marcado pela euforia e idealização de
nacional limita a comparação dos dados que o novo ambiente educacional, que

910
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foi tão desejado, satisfaça suas necessi- mas também, de conhecer a si próprio.
dades, promova mudanças pessoais e o Reportando a psicologia sócio-histórica
transforme em um profissional capacita- percebe-se que os fatores impostos no
do (Almeida & Soares, 2003). No entanto, âmbito social e cultural compreendem
a entrada no ensino superior não corres- um aspecto de relevante valor no mo-
ponde apenas em realizar os sonhos e de- mento da escolha profissional. Contudo,
sejos pessoais, familiares e sociais, mas a escolha restrita aos aspectos sociais e
também requer do estudante coeficien- culturais acomete várias intercorrências
tes de resiliência capazes de possibilitar no processo de escolarização no ensino
ao estudante mediar os estados da subje- superior que contemplam desde dificul-
tividade com as expectativas e situações dades de aprendizagem, de relações in-
cotidianas, uma vez que, este período de terpessoais, processos de somatização,
estudo é permeado de incertezas e dúvi- além do possível desenvolvimento de
das, podendo vir a desencadear quadros transtornos de ansiedade e depressão
de sofrimento psíquico como ansiedade, tendo em vista, a obrigatoriedade que o
compulsão, fobias, estados depressivos, sujeito impõe a si próprio de realizar um
ao mesmo tempo em que se busca pela curso, não por vontade e identificação,
ascensão profissional, sendo o último mas para atingir um ideal social e cultu-
fator o mais verbalizado entre os gradu- ral. Desta forma, justifica-se a necessida-
andos. Marinho-Araújo (2009) salienta de de um serviço de apoio ao estudante
que o ensino superior não está atrelado no âmbito das instituições de ensino su-
apenas a ascensão social, mas vincula- perior, a fim de, atuar em uma perspecti-
-se ao processo do desenvolvimento hu- va preventiva, dando subsídio aos estu-
mano adulto, em uma dimensão crítica dantes a ressignificar as suas decisões e
e complexa. A motivação e o significado escolhas profissionais, bem como o res-
da vivência acadêmica que trazem os es- significar do desenvolvimento pessoal da
tudantes calouros em seu primeiro ano carreira profissional, conforme as vivên-
no ensino superior estão estritamente cias e expectativas intrínsecas e extrínse-
relacionadas ao desenvolvimento do ci- cas. A experiência prática em um núcleo
clo vital particular de cada indivíduo. A de apoio psicopedagógico aos estudan-
depender da fase do desenvolvimento tes do ensino superior interage na busca
em que se encontra o sujeito, percebe-se pela compreensão dos aspectos sociais e
uma dissonância entre o ideal construído subjetivos que contemplam os estudan-
sobre o que é a vivência acadêmica no tes, sendo um ambiente de identificação
ensino superior e as relações psicosso- dos conflitos pessoais vivenciados pelos
ciais; com a vivência real e concreta das acadêmicos que tangenciam o processo
relações que se estabelecem neste con- de ensino e aprendizagem. Neste servi-
texto. A distância entre o ideal e o real é ço é possível verificar que a experiência
visto como uma luta interna que impeli de ser universitário apresenta-se cada
o sujeito a questionar-se sobre a escolha vez mais introduzida em um processo de
do curso e da faculdade, desencadeando falta de organização social a nível macro,
outras indagações que visam não apenas no sentido de direcionar o sujeito a uma
o ressignificar da escolha profissional, realização pessoal com possibilidades de

911
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sucesso e ascensão profissional no futu- LT04-1273 - O(A) CUIDADOR(A) DO


ro. Esta temática deve compor as discus- PACIENTE COM ALZHEIMER
sões que permeiam o contexto do ensino Evanisa Helena de Maio Brum - CESUCA/
superior, independente de ser uma insti- Faculdade Inedi
tuição privada ou pública, uma vez que, Paula Grazziotin Silveira Rava - CESUCA/
há uma gama de recursos sendo empre- Faculdade Inedi
endidos para atender as demandas e ne- Aline Fontes de Freitas - CESUCA/Faculdade
cessidades do público acadêmico, que Inedi
muitas vezes não estão conscientes de Amanda Passarela Ferreira - CESUCA/
seu papel pessoal e social. É preciso man- Faculdade Inedi
ter uma discussão contínua referente às Carina Renata Pellisoli - CESUCA/Faculdade
experiências acadêmicas, principalmen- Inedi
te, pelo fato que os sujeitos acadêmicos, Kelly Ribeiro Aguiar - CESUCA/Faculdade Inedi
em geral, estão na fase desenvolvimen- Nádia Maria Viana Vazata - CESUCA/
tal adulta, necessitando de ressignificar Faculdade Inedi
de maneira sucessiva as suas vivências
pessoais que se interpõem as vivências A Doença de Alzheimer (DA) é a forma
acadêmicas/profissional. Deste modo, mais comum de demência. Segundo Frei-
uma intervenção psicológica crítica faz-se tas et al (2006) a DA foi descrita primei-
necessário, no decorrer dos anos escola- ramente em 1906 pelo neuropatologista
res anteriores a graduação, para que faça alemão Alois Alzheimer recebendo essa
despertar no sujeito uma maturidade e a denominação em 1910 por Kraepelin. Isto
consciência de si próprio, para lidar com significa que toda vez que vemos uma pes-
o enfrentamento dos aspectos pessoais soa “esclerosada” existe uma chance, em
e sociais que se unem ao processo de duas, de apresentar a doença (Bertolucci,
escolha profissional, vindo a possibilitar 1996). Não há ainda um teste específico
experiências pessoais e sociais favoráveis para estabelecer de modo inquestionável
às habilidades e competências do sujeito. a doença. A comprovação do diagnósti-
Nesse sentido, Sampaio (2009) ressalta co só é feita através de exame patológi-
que é imprescindível a atuação de psicó- co (biopsia de tecido cerebral) realizado
logos no ensino superior para clarificar as após a morte. Assim, o diagnóstico é feito
experiências e as dificuldades acadêmi- excluindo-se outras patologias que podem
cas existentes no âmbito estudantil, além evoluir também com quadros demenciais.
de agregar enriquecimento ao ambiente Ela se caracteriza pela perda da memória e
universitário. pela formação de placas amilóides e ema-
ranhados neurofibrilares no cérebro, par-
Palavras-chave: significados, profissional, ticularmente no córtex cerebral e no hipo-
ensino superior. campo, levando a perda neural progressi-
Contato: Elen Alves dos Santos, Núcleo de va (Tavares, 1985). Sabe-se que os neurô-
Atenção Psicopedagógica ao Estudante – nios morrem pelo acúmulo de proteínas
NAPEs. Faculdade Projeção, em formas que não são normalmente en-
elenpsi@gmail.com contradas no cérebro, tanto dentro como
fora dos mesmos, mas ainda não se sabe

912
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

por que se inicia este processo (Bertolucci, a pessoa cada vez mais dependente dos
1996). No início da doença, esta perda das familiares e cuidadores. Nesse momento
células cerebrais não acontece de forma precisa de ajuda para se locomover, tem
homogênea, ocorrendo, principalmente, dificuldade para se comunicar e passa
nas áreas responsáveis pela memória e a necessitar de supervisão integral para
funções executivas. Segundo Izquierdo suas atividades comuns de vida diária,
(2006) esta doença envolve um fator ge- até mesmo as mais elementares, como
nético, portanto, quem tem um familiar alimentar-se ou vestir-se, precisando
próximo, como pai ou mãe com a doença, de acompanhamento, progressivamen-
tem maior chance de desenvolvê-la, mas te intenso, causando desgaste em seus
também deve haver outros fatores, como cuidadores. Borges (2010) previne que a
o ambiental, porque mesmo em gêmeos doença de Alzheimer não afeta apenas o
idênticos um pode desenvolver a doença e paciente, mas também as pessoas que o
o outro não. O fato é que as pessoas porta- cercam. A família deve preparar-se para
doras de Alzheimer podem ter problemas uma sobrecarga tanto em termos emocio-
de memória, perdas de habilidades moto- nais, pois a evolução da doença acarreta
ras, problemas de comportamento e con- em idas frequentes a médicos, limpeza
fusão mental. Izquierdo (2006) refere que do ambiente, horários de remédios, troca
existem três fases na evolução da doença: de fraldas, roupas de cama e pessoal do
a fase inicial caracteriza-se por distração, paciente e também financeiros através da
dificuldades de lembrar-se de nomes e/ou compra de medicamentos, produtos de
para aprender novas informações; deso- higiene e limpeza pessoal e pagamento
rientação em ambientes familiares e redu- de cuidadores ou clínicas. Este trabalho
ção das atividades sociais dentro e fora de objetivou investigar as dificuldades, sofri-
casa. Na fase intermediária ocorre a perda mentos e privações enfrentadas pelos cui-
marcante da memória e da atividade cog- dadores de pacientes com Alzheimer, bem
nitiva, além da deterioração das atividades como apontar possíveis alternativas para
verbais, diminuição do conteúdo e da va- abrandar estas dificuldades. Muitas vezes,
riação da fala. Frequentemente o paciente o cuidador não dispõe de tempo para si
apresenta, nesse estágio mais alterações próprio, não recebe ajuda de familiares,
de comportamento, como exemplo tem- não dispõe de tempo para atividades de
-se: frustração, impaciência, inquietação, lazer, sente-se frustrado, triste, culpado,
agressão verbal e física. Na fase avançada, entra em conflito com o paciente, não
a fala pode tornar-se monossilábica e até dorme bem, não se alimenta adequada-
desaparecer. Podem estar presentes delí- mente, então começa a apresentar pro-
rios, transtornos emocionais e de compor- blemas de saúde. Realizou-se um estudo
tamento, perda do controle da bexiga e do de caso único, com análise de conteúdo
intestino, tendência a ficar mais no leito, qualitativa. Participou deste estudo uma
enrijecimento das articulações, dificulda- mulher de 50 anos de idade, que respon-
de para engolir alimentos, evoluindo para deu a uma entrevista semi estruturada,
morte. A evolução da doença comprome- contendo 14 questões. Os resultados re-
te três áreas: a cognição, as atividades do velaram que a participante já cuidou de
dia-a-dia e o comportamento, deixando três pacientes com esta doença e que

913
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pelo fato de não ser parente conseguia horários de medicação e alimentação. As-
tempo para desenvolver suas atividades, sim, o trabalho seria menos áspero e mais
principalmente quando a doença ainda se fácil de suportar (Borges, 2010). Este tem
encontrava numa fase intermediária. Ela sido o papel do grupo de suporte ou de
se abalava muito, emocionalmente, pelas autoajuda da ABRAZ (Associação Brasilei-
dificuldades dos pacientes e pelo descaso ra de Alzheimer, que existe para servir de
de familiares que continuavam suas roti- cooperação no trabalho dos cuidadores/
nas normalmente, limitando-se apenas a familiares).
visitá-los. Também relatou que muitas ve-
zes tinha o sono interrompido como, por Palavras-chave: Alzheimer, cuidador, demência.
exemplo, pelo fato de uma das pacientes Contato: Paula Grazziotin Silveira Rava,
levantar de madrugada e começar a fazer CESUCA/ Faculdade Inedi,
almoço e esperar os filhos como se fosse paulagraz@yahoo.com
meio dia ou acompanhá-la quando saía à
rua, pois aconteceu de a paciente sair e se
perder, só voltando com ajuda de um co- LT04-1282 - UM ESTUDO SOBRE A
nhecido. Sofria quando a doença chegava ESCOLHA PROFISSIONAL ENTRE
numa fase mais adiantada e os pacientes ESTUDANTES DO SISTEMA DE ENSINO
necessitavam ir para clínicas e, principal- PÚBLICO E PRIVADO
mente, quando, pela convivência que tive- Liliane Ferreira Neves Inglez de Souza - UNIP
ra, percebia a proximidade da morte. Es- lfneves@terra.com.br
tas questões instigam a continuidade dos André Bethiol Victoria - UNIP
estudos sobre o desgaste dos cuidadores andre_victoria@hotmail.com
de doentes com Alzheimer. Como se tem Andreia Ap. Alves Feitoza da Costa - UNIP
ainda um tratamento curativo, nem vaci- andréia.fcosta@yahoo.com.br
nas ou qualquer outro tipo de terapêutica Audrey Vanessa Barbosa - UNIP
preventiva, o que se pode fazer é utilizar audreyvanessa@hotmail.com
medicamentos que amenizem os sinto- Fabiana de Souza - UNIP
mas, o que auxilia o doente e facilita a fazinhasz@gmail.com
vida do cuidador. É importante o apoio da
família ao doente e ao cuidador, ajudando O processo de escolha profissional é afe-
em outras tarefas como compras, limpeza, tado por modificações observáveis que
idas ao médico, bem como ouvir o cuida- estão ocorrendo, como: introdução de no-
dor para que não se sinta sozinho. Seria vas tecnologias, flexibilidade de produção,
recomendado que eles tivessem acesso expansão de emprego etc. (Silva & Jacque-
às orientações e dicas de como cuidar do min, 2001). Alguns jovens levam em con-
idoso com Alzheimer e também de como sideração ao fazer a escolha profissional
se cuidar. Para que o cuidador facilite sua o “desejo de independência”, a “vontade
tarefa é importante não tratar o idoso de sair de casa”, o “consultório existente
como doente, mas manter uma rotina di- do pai”, a “importância atribuída pelos
ária, organizar a casa de maneira simples pais para se cursar um nível superior”, o
e segura, procurar manter o bom humor. “incentivo da família na realização do so-
Isto ajuda a diminuir o estresse, organizar nho”, etc. (Santos, 2005). Coincide com

914
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

este processo, o período de desenvolvi- foi composta por 15 participantes: ado-


mento conhecido como adolescência, no lescentes com idades entre 17 e 18 anos,
qual o jovem se vê envolto por diversas estudantes do terceiro ano do ensino mé-
transformações não só físicas, mas tam- dio, sendo 8 alunos de uma escola pública
bém psicológicas. Encontra-se inserido e 7 alunos de uma escola particular. Para
numa fase transitória entre a infância e a a coleta dos dados utilizou-se um roteiro
maturidade, vendo-se obrigado a tomar de entrevista semi estruturada, constituí-
diversas decisões e assumir responsabi- do de 12 perguntas. A partir das respostas
lidades anteriormente inexistentes. Para às questões da entrevista, foram identi-
muitos jovens, na sua decisão de escolha ficadas categorias de análise. Os resulta-
profissional, cabe ser acolhido ou não, dos apontaram que a maioria dos alunos
pelo seu grupo, sua família, pois muitas provenientes da escola pública pleitearia
vezes são ridicularizados, desacreditados vagas em instituições de ensino superior
de suas competências. Além disso, há o particulares, colocando inclusive como
fator da discriminação socioeconômica. fator de exclusão, instituições mais distan-
Segundo relata Costa (2007) a escola é tes do local onde moram, dando preferên-
um agente importante na escolha profis- cia a cursos existentes na mesma cidade
sional, pois ela atua como uma janela pela ou em cidades vizinhas. As justificativas
qual os adolescentes vislumbram o futuro, apresentadas pelos participantes foram
mas quando se trata do adolescente de no sentido de que os mesmos teriam que
baixa renda, a escola se torna excluden- trabalhar para custear o curso. O oposto
te. Para Bock (1995; 2006) na perspectiva ocorreu com alunos da escola particular,
da teoria liberal as diferenças existentes que em geral relataram que pleiteariam
não são vistas como conseqüência da es- vagas, em sua maioria, em instituições
trutura social, mas sim como resultado de ensino superior de origem pública,
das diferenças dos indivíduos: aquele que as quais consideram ter mais qualidade,
“não se deu bem na vida” foi porque não além de mostrarem uma preferência por
se esforçou o suficiente (por exemplo, instituições mais distantes, realizando o
devido à evasão ou repetência escolar). ideal de “morar sozinho” e ter “indepen-
Então, deve conformar-se com a sua situ- dência”, apesar de serem custeados pelos
ação, uma vez que teve nas mãos todas pais. Outro dado obtido que merece ser
as oportunidades e não soube aproveitá- ressaltado, é que os estudantes da escola
-las de forma eficiente. A partir do quadro pública, em sua maioria, levaram em con-
apresentado, propôs-se o presente estudo sideração o interesse e gosto pessoal para
que teve como objetivo investigar alguns fazer sua escolha profissional. Já os alunos
fatores que possivelmente interferem na da escola particular, aparentaram consi-
escolha profissional de adolescentes, es- derar este como um dos fatores menos
tudantes do sistema de ensino público e relevantes para a realização de tal esco-
privado, das cidades de Piracicaba e Santa lha. Não raro, os estudantes da instituição
Bárbara D’Oeste, SP, tendo como base te- particular demonstraram preferência por
órica a perspectiva sócio-histórica. Tratou- profissões já existentes na própria família.
-se de uma pesquisa qualitativa, de cará- Sendo assim, a escolha profissional passa
ter exploratório-descritivo, cuja amostra a ser para a maioria dos alunos da escola

915
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pública um fator de gosto pela profissão, orientá-lo quanto à escolha profissional,


enquanto que para a maioria os alunos deve ser ajudá-lo a conhecer os possíveis
da escola particular a escolha profissio- fatores que podem influenciar sua esco-
nal teve como fator decisivo a família, lha, estando o mais consciente possível ao
amigos e pares. Observa-se através disto tomar sua decisão.
ainda que a família influencia, ainda que
indiretamente, na escolha profissional. A Palavras -chave: escolha profissional,
família por ter uma função socializado- adolescência, perspectiva sócio-histórica.
ra esteve sempre incluída no meio social Contato: Liliane Ferreira Neves Inglez de
do adolescente, opinando sobre o que é Souza, Universidade Paulista (campus
desejável ele realizar como profissão e se Limeira), lfneves@terra.com.br
preocupando com um futuro bem-sucedi-
do e remunerado adequadamente (COR-
DEIRO, 2007). Acredita-se que a família LT04-1381 - O QUE PENSAM
constitua uma das principais influencias PROFESSORES DE MÚSICA ACERCA DO
nesta escolha, embora vários adolescen- TALENTO MUSICAL
tes tenham afirmado que não se sentem Mariella Dalvi Rampinelli - UFES
influenciados. Além disso, outro fator que marielladalvi@yahoo.com.br
se destacou foi que os entrevistados, em Célia Regina Rangel Nascimento - UFES
sua maioria, não se mostraram cientes celiarrn@gmail.com
da multiplicidade de fatores que interfe- Claudia Broetto Rossetti - UFES
rem na realização desta escolha, sejam cbroetto.ufes@gmail.com
estas familiares, escolares, econômicas
ou mesmo sociais. Deve-se ressaltar que, A partir do mês de agosto de 2011 o en-
por apresentar uma metodologia qualiti- sino de música se tornará obrigatório nas
tativa, o presente estudo contou com um escolas públicas e particulares do Brasil e
número restrito de sujeitos, portanto os é urgente buscar as melhores maneiras
resultados não podem ser generalizados a de operacionalizar a implementação des-
outras amostras. No entanto, é relevante se novo componente curricular. De fato,
notar que os dados desta pesquisa confir- é a partir do surgimento da Lei 11.769,
mam alguns aspectos já apontados pela que inclui o ensino da música no currí-
literatura. Por exemplo, como afirmaram culo escolar, que estudos na área pas-
Gonçalves e Coimbra (2007), jovens pro- saram a ganhar relevância. Entende-se
venientes de um contexto sociocultural que, primeiramente, é necessário que o
privilegiado obtêm melhores possibilida- aluno demonstre interesse em aprender
des de acesso às formações profissionais, música, assim como ocorre em todas as
ao passo que adolescentes de níveis socio- outras disciplinas. Dessa maneira, parte-
culturais e econômicos médio e baixo ten- -se da premissa de que a aprendizagem
dem a reduzir suas expectativas referente musical, como ocorre com todos os outros
ao seu projeto de vida. Diante do estudo tipos de conhecimento, é construída na
realizado, acredita-se que o papel do psi- interação entre sujeito e objeto. Assim,
cólogo, quando procurado pelo adoles- entende-se que é de grande importância a
cente, seja dentro ou fora da escola, para participação do professor no processo de

916
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aprendizagem musical, pois será a partir prazer, de descanso, de diversão, além de


de suas concepções sobre essa questão entendê-la como expressão das emoções
que serão propostas e aplicadas suas prá- e como forma de transcendência. Em rela-
ticas e métodos de ensino dentro de sala. ção à escolha da profissão, a maioria dos
Dessa maneira, o presente trabalho bus- professores afirmou que a escolha se deu
ca compreender como se dá a construção principalmente pela necessidade financei-
do conhecimento sobre talento musical ra. No levantamento sobre os fatores que
em um grupo de professores de música, influenciam na aprendizagem musical, a
buscando analisar quais as concepções categoria “talento natural” apresentou os
de música que esses sujeitos construíram resultados mais destacados: uma parte
ao longo dos anos. Este estudo investi- significativa dos professores entrevista-
gou especificamente o que os professores dos, disseram que alguns alunos já levam
pensam acerca do processo de ensino/ consigo algo de natural, algo de inato, que
aprendizagem musical, como concebem o pode ou não facilitar o processo de ensi-
seu próprio papel nesse processo e tam- no/aprendizagem. Contudo, o esforço e
bém as suas concepções sobre o talento a dedicação também representam uma
musical. Participaram deste estudo oito categoria que aparece nas respostas da
professores de música, sendo seis do sexo maioria dos professores quando afirmam
masculino e dois do sexo feminino. Foi que se não houver esforço do próprio
utilizada uma entrevista semiestruturada aluno e certa dedicação por parte dele, a
contendo questões que investigaram, ini- aprendizagem musical vai demorar mais
cialmente, o lugar que a música ocupa na ou pode não acontecer. Gostar e ter vonta-
vida dos participantes, isto é, como se deu de de aprender foi outra categoria na qual
a escolha da profissão e qual a percepção os professores enfatizam a importância de
da palavra “música” para cada um deles. o aluno gostar do que faz e ter interesse
Após essa abordagem inicial, foram pro- em aprender sempre mais. A influência do
postas questões relacionadas ao proces- ambiente apareceu como um dos fatores
so de ensino/aprendizagem musical e às que influenciam na aprendizagem nas res-
representações sobre o talento/dom mu- postas de três professores. Apenas dois
sical. Os dados foram coletados nas pró- professores consideraram a educação ou
prias instituições nas quais os professores os métodos de aprendizagem como fator
ministram aulas de música. Foram elabo- que influencia de maneira decisiva o de-
radas categorias temáticas de acordo com senvolvimento musical. Sobre o papel do
as respostas dos oito professores às ques- professor no processo de aprendizagem
tões da entrevista. As respostas dos parti- musical, as respostas foram muito próxi-
cipantes a uma mesma questão foram se- mas. Seis professores responderam que
paradas considerando-se o seu significado o papel do professor não é só o de trans-
e as categorias temáticas previamente mitir informações, mas de estimular o
organizadas. Portanto, para cada questão aprendizado, de motivar o aluno. A respei-
podia haver respostas múltiplas. Ao se- to do significado que os professores dão
rem questionados sobre o significado da ao talento/dom musical, seis professores
palavra “música”, metade dos professores afirmam que o interesse e a facilidade são
disse que a percebem como uma forma de características inatas de algumas pessoas.

917
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Segundo três professores, o talento é algo zagem musical, julgamos ter sido possível
que vai surgir com o tempo e que pode ser aprofundar o conhecimento e a compre-
desenvolvido. Com efeito, os professores ensão de alguns elementos envolvidos na
constroem suas concepções e, em função problemática da implementação do ensi-
delas, executam suas práticas e as impõem no de música como obrigatório nas esco-
aos alunos. Isso é claramente apresentado las brasileiras, bem como a sinalização de
nos resultados dessa pesquisa. Com isso, alguns entraves para que o referido pro-
torna-se essencial que o professor, além cesso de fato possa ocorrer. Como pesqui-
de construir conhecimentos acerca de sua sa sobre a educação musical escolar, es-
prática pedagógica, tenha a oportunidade pera-se poder contribuir para a ampliação
de repensá-la sempre, adaptando-a para o dos conhecimentos disponíveis na área,
contexto de seus alunos. Em nossa pesqui- visando, em última instância, uma melhor
sa, foram identificadas as percepções de compreensão dos processos de ensino/
“talento musical” que nos levaram a dois aprendizagem envolvidos na construção
campos: o campo do inato e o campo do do conhecimento musical.
social (aprendido). Em suas falas, os pro-
fessores definem a música como algo que Palavras-chave: ensino/aprendizagem,
provoca emoção, como algo que envolve professores, talento musical
a dedicação, como uma forma de lingua- Contato: Claudia Broetto Rossetti,
gem, ou até mesmo algo que está direta- Universidade Federal do Espírito Santo,
mente ligado a elementos musicais, como cbroetto.ufes@gmail.com
o violão, por exemplo. De acordo com
os resultados, os professores parecem
acreditar que o desenvolvimento musical LT04-1406 - AS RELAÇÕES AFETIVAS
envolve a existência de um componente ENTRE DISCENTES DA PEDAGOGIA
hereditário e que, portanto os alunos já E SUAS INFLUÊNCIAS NA CONSTRUÇÃO
possuem algumas habilidades musicais DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
inatas. No entanto, as respostas apontam Fabianna Antunes Gadelha - Anhanguera
também que, segundo as concepções dos fabianna.gadelha2@gmail.com
professores, o que é inato não determina, Luciana Câmara Fernandes Bareicha -
mas apenas facilita o processo de aprendi- Anhanguera
zagem musical. Além disso, para a apren- luciana.bareicha@gmail.com
dizagem em música ser significativa e para
que o interesse em buscar além do que A presente pesquisa teve como propósito
está sendo ensinado em sala de aula apa- investigar a respeito da influência da afe-
reça, o aluno precisa vivenciar a realidade tividade para o desenvolvimento psico-
musical, segundo o discurso dos professo- lógico e como contribuinte na formação
res. Com isso, os alunos se empenhariam educacional na medida em que se consti-
em buscar sempre mais, tirando dúvidas tui como componente das relações entre
que vêm diretamente de sua prática fora os discentes do curso de pedagogia. Foi
de sala. Ao investigar o que professores verificado como os alunos da pedagogia
de música pensam sobre o talento/dom percebem os tipos de afetividades nega-
musical e o processo de ensino/aprendi- tivas e positivas estabelecidas entre seus

918
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pares de sala de aula durante a formação pela mãe, pai, irmãos, tios, avós e etc. Nes-
universitária. Nossa pesquisa teve como sa matriz de identidade, que para More-
objetivos específicos (i) verificar que tipos no (2009, p. 114) é caracterizado como a
de sentimentos os alunos manifestam na “placenta social”, a criança vai percebendo
construção do desenvolvimento humano a sua semelhança com as pessoas que es-
a respeito de suas relações afetivas entre tão ao seu redor. Com o passar do tempo,
discentes; (ii) analisar a percepção do dis- a criança é inserida numa etapa que surge
cente de pedagogia a respeito de como após o ambiente familial, o ambiente es-
as dificuldades vinculadas às relações so- colar. Nesse novo ambiente, a criança vai
ciais no contexto educacional podem in- adquirindo uma relação que à princípio é
terferir na aprendizagem. Sabe-se que no harmoniosa, mas com o passar do tem-
processo de assimilação da aprendizagem po a relação pode acarretar em conflitos.
o indivíduo participa de maneira ativa no Pode também ocorrer problemas à níveis
desenvolvimento do conhecimento, assim didáticos ou relacional onde será preciso
como na aprendizagem cooperativa um um profissional para auxiliá-los. Entra em
grupo de alunos fazem essa construção de ação o próprio educador como profissio-
forma coletiva, constante e ininterrupta nal de formação superior com capacidade,
no desenvolver ou resolver alguma tare- espera-se, para auxiliar nos desgastes dos
fa. Freire (1996) fez uma indagação do por vínculos constituídos no processo educa-
que não estabelecer uma relação entre cional e que afeta também o desenvol-
os saberes curriculares fundamentais e as vimento dos sujeitos envolvidos. Nesse
experiências que eles levam como indiví- processo de conflitos durante o período
duos. Por isso é importante essa parceria de aprendizagem os alunos considerados
entre docente e discente. Ao chegar numa colegas de sala de aula atuam como faci-
sala de aula, todo educador faz as seguin- litadores ou opositores para facilitar ou
tes indagações: O que vai ensinar? Para dificultar as superações nas dificuldades
que ensinar? Como vai ensinar? O que de relacionamentos durante a formação
também chega como desafio para o edu- educacional. Para Vygotsky (apud Carrara,
cador é estar preparado para as possíveis 2004) o termo atividade não é qualquer
dificuldades de relacionamento entre os coisa feita e sim algo que tem um significa-
alunos. Sabe-se que cada indivíduo carre- do para quem dela usufrui. Com isso uma
ga consigo uma identidade própria que, ao tarefa, por exemplo, possui um objetivo e
entrar em contato com outras identidades um motivo onde um representa a meta a
pode ocorrer harmonia assim como con- ser alcançada e o outro, respectivamente,
flitos e divergências. Ao nascer, a criança é a necessidade que a pessoa sente no agir.
tem seu primeiro contato com o mundo Vygotsky (apud Carrara, 2004) enfatiza que
denominado “matriz de identidade” onde há um sentido quando existe relação en-
para Moreno (2009, p. 114) “proporciona tre objetivo e motivo. Sendo assim, no que
ao bebê humano segurança, orientação e concerne ao motivo a pessoa atua porque
guia”. Sendo assim ela proporciona à crian- há um interesse, uma necessidade ou mo-
ça um amparo quanto à suas necessidades tivação pelo resultado para atingir o obje-
de ordem fisiológicas, afetivas e relacio- tivo, por isso a atividade ou tarefa têm um
nais. A matriz de identidade é composta sentido para o sujeito. Dessa forma, o su-

919
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

jeito ao se sentir motivado a realizar uma eu já relatei”. Verificou-se que no decorrer


tarefa, este poderá se apropriar de suas do curso o aluno conclui a sua formação
aptidões, habilidades e capacidades que com uma percepção diferente a respeito
desenvolve ao longo do tempo. O fato do do seu desenvolvimento como um todo e
discente se colocar no lugar do seu colega, em relação às características subjetivas de
mesmo que mentalmente, dá ao indivíduo quando entrou no curso universitário ao
a capacidade de segundo Vygotsky (apud adquirir características provenientes de
Carrara, 2004) ter a compreensão dos pa- sua interação com o outro, seja entre as
péis das relações sociais que na qual tes- trocas afetivas com seus coadjuvantes de
temunha. Percebeu-se através da pesquisa sala de aula, seja com as relações de afe-
que o indivíduo no processo de aquisição to estabelecidas com os seus professores.
de conhecimento tem a possibilidade de Consideramos importante ressaltar que o
mudança interior e de comportamento ao desenvolvimento emocional e cognitivo
interagir e construir trocas afetivas com o dos alunos foi favorecido pela influência
outro da sua geração e na convivência com das relações afetivas estabelecidas duran-
o mundo. Desenvolvemos uma pesquisa te o curso com os seus pares de sala de
do tipo qualitativa onde foi utilizado como aula. Constatamos que as relações sociais
instrumento de coleta de dados um grupo que se estabelecem no contexto de apren-
focal composto por 16 alunos da Pedago- dizagem mobilizam o desenvolvimento
gia da Faculdade Anhanguera de Brasília, das construções coletivas e articulam re-
com alunos do 1º ao 6º semestres da res- soluções singulares significativas para to-
pectiva formação. A partir de interações dos os envolvidos.
grupais apresentamos o tema a respeito
da importância das relações afetivas entre Palavras-chave: afetividade, aluno, relações-
alunos para conhecermos esse aspecto no sociais
desenvolvimento emocional e educacional
dos pesquisados. Como conclusões, cons-
tatamos que nesta construção coletiva a LT04-1421 - CIRANDA INFANTIL DO MST:
aprendizagem ocorre numa ação conjunta DESENVOLVENDO ATIVIDADES COM
entre o colega mais experiente e aquele EDUCADORES POPULARES E CRIANÇAS
que aprende, sendo assim, o processo é DO ASSENTAMENTO MÁRIO LAGO DE
ativo por parte de quem aprende e com RIBEIRÃO PRETO/SP
o tempo acaba adquirindo personalidade T. V. Araujo - USP
consciência e inteligência. A formação aca- thaisevieira@gmail.com
dêmica influencia significativamente a vida J. B. da Silva - USP
dos alunos e professores nas suas constru- A. P. S da Silva - USP
ções de capacidades cognitivas, sociais e Financiamento: FAPESP; USP
habilidades específicas para a profissão.
Nesse sentido, destacamos as ideias do O presente trabalho tem como objetivo
sujeito 2 que expressa suas conclusões da relatar uma experiência de ensino e ex-
seguinte maneira: “Estou saindo outra pes- tensão realizada junto à Ciranda Infantil
soa com uma outra visão muito mais am- Rumo à Liberdade do assentamento Má-
pliada do que eu tinha à anos atrás como rio Lago, vinculado ao Movimento dos

920
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e conceitos da perspectiva da Rede de Sig-


localizado em Ribeirão Preto, interior do nificações. A intervenção inspira-se ainda
Estado de São Paulo. A Ciranda Infantil em princípios da Psicologia Social Comuni-
se materializa enquanto um espaço/tem- tária. Sob orientação da docente e de uma
po de educação não formal e é fruto da monitora da pós-graduação, a equipe atua
Pedagogia do MST, funcionando tanto em em duas frentes por meio do desenvol-
espaços permanentes nas escolas do mo- vimento de: grupos formativos junto aos
vimento, acampamentos, assentamento educadores populares do Setor de Educa-
e centros de formação, como também a ção do assentamento; atividades lúdicas
Ciranda funciona de forma itinerante em com as crianças da comunidade no espaço
marchas, encontros e viagens de luta do da Ciranda. Essas duas frentes de atuação
movimento. As Cirandas se constituem do grupo têm como ponto de chegada e
enquanto um espaço para as crianças de partida a criança, já que o trabalho com
Sem Terrinha construírem sua identidade os educadores populares tem como princi-
nas e pelas interações com seus pares de pais objetivos a formação para a constru-
faixas etárias diferenciadas, com a comu- ção da identidade de cirandeiro e para a
nidade e com o movimento. Ela é assim construção da autonomia da comunidade
também um espaço de luta das crianças no trabalho intencionalmente planejado
pela reforma agrária, por seus direitos para ser desenvolvido com as crianças do
e pela escola do campo. No caso do as- assentamento. Tendo como um dos princí-
sentamento Mário Lago, que conta com pios a promoção do desenvolvimento tan-
aproximadamente 260 famílias, a Ciranda to da criança como do adulto, múltiplas
nasceu da vontade e engajamento da pró- linguagens são exploradas nas atividades
pria comunidade quando ainda a mesma formativas e nas atividades lúdicas. Orien-
estava em fase de acampamento. Atual- tados por uma concepção que vê como
mente, a Ciranda ocorre em encontros inseparável a teoria e a prática, elementos
semanais, aos finais de semana, com ati- para as atividades emergem da observa-
vidades planejadas e recebe em torno de ção das ações e da escuta das deman-
30 crianças de variadas faixas etárias. Os das dos cirandeiros. Essa escuta orienta
educadores populares são denominados a construção e confecção de diferentes
pelo movimento social de cirandeiros. O materiais que atuam como mediadores
trabalho junto a esse grupo social é de- auxiliares nesse processo, buscando am-
senvolvido desde 2007 por meio de uma pliar os repertórios de brincadeiras, prá-
disciplina estágio oferecida aos alunos dos ticas, organização de espaços e tempos,
dois últimos anos do curso de Psicologia recursos e interações dos cirandeiros com
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Le- as crianças. Além disso, as atividades que
tras de Ribeirão Preto – Universidade de são realizadas na Ciranda partem de uma
São Paulo. No ano de 2010, a intervenção posição ético-política que busca garantir
se tornou interdisciplinar, recebendo tam- o direito das crianças de viverem suas in-
bém alunos do curso de Pedagogia. A base fâncias, de construírem suas identidades
teórico-metodológica de desenvolvimen- e de se apropriarem dos espaços em que
to humano que fundamenta as atividades vivem por meio da brincadeira, da intera-
é a teoria histórico-cultural articulada com ção com crianças de diferentes idades e

921
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de práticas que considerem seu direito de princípios, gera a construção das inter-
participação na vida social e nos processos venções de forma coletiva e contextuali-
de decisão em questões que afetam suas zada e de acordo com as demandas das
vidas. Busca assim promover práticas que crianças e dos cirandeiros, objetivando
apontam para novas sociabilidades e que principalmente a melhoria e promoção do
rompam os processos de dominação etá- desenvolvimento de adultos e crianças en-
ria, promovendo assim espaços de ativida- volvidos no projeto. O trabalho contínuo
des onde as crianças de diferentes idades realizado diretamente com as crianças e
possam estar junto a sua comunidade. educadores do movimento na Ciranda In-
Dentre as novas sociabilidades desejadas fantil vem permitindo ao acompanhamen-
pelo movimento social, são incluídas de- to do desenvolvimento dos cirandeiros e
mandas de desenvolvimento de projetos das crianças, assim como dos estagiários
junto às crianças para a promoção da rela- e profissionais envolvidos no projeto. Essa
ção com o ambiente natural. O modelo de intervenção tem se mostrado formativa
assentamento baseado no sistema agro- para o trabalho do psicólogo do desen-
florestal, escolhido pela comunidade para volvimento em educação não formal, em
ser implantado no assentamento, compõe contextos rurais e, principalmente, em
assim parte das temáticas abordadas com situações que desafiam modelos de atua-
as crianças. A construção da autonomia ção pautados em recortes geracionais.
dos educadores que trabalham com as
demandas da infância do assentamento Palavras-chave: Infância; Formação de
é extremamente relevante no trabalho de Educadores; Assentamento Rural.
intervenção desse projeto, assim como a
instrumentalização da própria comunida-
de para atuar frente às demandas e pro- LT04-1465 - A INFLUÊNCIA DA
blemas que ocorram em seu espaço de AUTOESTIMA NO PROCESSO DE
vivência e no espaço social mais amplo. APRENDIZAGEM
Os encontros com os educadores e com Juliana Nunes da Silva - FACITEC
as crianças não se restringem apenas aos jully-gospel@hotmail.com
momentos de realização de uma ativida- Helen Tatiana dos Santos Lima - FACITEC/
de, uma vez que há acompanhamento de SEEDF
atividades fora do assentamento, como helen.tatiana@hotmail.com
por exemplo, atividades nas escolas em
que as crianças estudam, no trajeto do A autoestima é um aspecto participante e
ônibus escolar e em reuniões do setor importante no processo de aprendizagem.
de educação onde atuam também os ci- Pode-se notar que a maioria das crianças
randeiros. Com esse acompanhamento, o com problemas de interação e dificuldade
grupo pode compreender mais apurada- na sala de aula passaram ou passam por
mente os saberes e a cultura local, suas problemas em sua comunidade, em sua
dificuldades, problemas, potencialidades família ou na própria escola, causando a
e especificidades individuais e coletivas. dificuldades em se manter bem e ter uma
O trabalho realizado junto à comunida- autoimagem positiva. Acredita-se que
de assentada, construído a partir desses a autoestima favorece à criança o sen-

922
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

timento de prazer pela descoberta, em que uma criança que é alimentada afeti-
ser persistente e em superar obstáculos, vamente e recebe incentivo do seu edu-
assim alcançando um ótimo rendimento cador, tende a explorar com expectativas
escolar, interação e companheirismo, em positivas o seu percurso escolar, assim
que o aprendizado fluirá com maior faci- podendo adquirir novos conhecimentos.
lidade. Maia (2005) corrobora à discussão Desta maneira, o aprender se torna mais
afirmando que a autoestima da criança interessante e o aluno se sente confian-
é essencial para o seu desenvolvimento te e competente pelas atitudes tomadas
educacional. A partir desse entendimen- em sala de aula. Partindo desses pres-
to, acredita-se que a escola deve propiciar supostos, propôs-se uma pesquisa cujo
condições adequadas para o bem estar objetivo foi saber se, de fato, a autoesti-
comum e para uma aprendizagem eficaz. ma influencia sobre a interação social do
Nesse contexto, o professor se torna um aluno e sobre seu rendimento escolar. O
referencial que poderá contribuir de for- direcionamento do trabalho se firmou
ma positiva ao estimular adequadamen- por meio de uma abordagem qualitati-
te a autoestima da criança no cotidiano va. Foram realizadas entrevistas com três
escolar. De acordo com Melo (2004), o docentes que atuam nos anos iniciais do
aluno que tem suas características valori- Ensino Fundamental de uma escola públi-
zadas pelo professor tende a desenvolvê- ca do DF. Todas as participantes eram do
-las cada vez mais, enquanto aquele que sexo feminino e graduadas em Pedagogia.
se sente rejeitado tende a se afastar-se, Os resultados mostraram que a influência
acabando por ver as expectativas nega- da autoestima é marcante no processo de
tivas do professor confirmadas. Gadotti aprendizagem. Com base nas respostas
(1999) acrescenta afirmando que o edu- apresentadas, os professores consideram
cador deve promover o diálogo, não se que crianças com a autoestima elevada
colocando na posição de detentor do sa- desenvolvem uma boa abstração do con-
ber, mas sim, se colocado na posição de teúdo, se sentem confiantes para realizar
quem não sabe de tudo, reconhecendo qualquer atividade ou desafio proposto e
que mesmo um indivíduo que não sabe ler se apresentam mais participantes. Contra-
nem escrever possui o conhecimento mais riamente, aquela com uma baixa autoes-
importante: o da vida. Por outro lado, o tima evita a interação social e apresenta
professor, por ser reconhecido como um dificuldade em se expressar e manter con-
exemplo de ideal de comportamento, se tato social. As docentes acreditam que as
torna um uma figura de reflexo na forma- condições que favorecem a autoestima no
ção da identidade da criança. Por isso, é contexto escolar estão basicamente orien-
importante que o docente esteja sempre tadas por suas ações, que devem estar
se autoavaliando para que sua postura voltadas ao oferecimento de elogios para
seja vista e observada pelos alunos de for- motivação aos alunos, para a criação de
ma positiva. Por fim, Brigs (1990) aponta uma relação afetiva com o aluno e para o
que, neste espaço relacional, a criança desenvolvimento de uma metodologia de
deve ser tratada com respeito e se sentir ensino adequada para o desenvolvimento
livre para expressar sua ideias, sem medo da autoestima, ou seja, que valorize as ca-
de ser censurada. Isso porque entende-se pacidades do aprendiz. No tocante ao pa-

923
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pel da escola, elas apontam que as ações LT04-1488 - ANOFTALMIA UNILATERAL


da instituição devem contemplar ativida- NA INFÂNCIA: IMPLICAÇÕES
des diversas que tratem de temas como a DA PROTETIZAÇÃO PARA O
motivação e o respeito e que envolvam, DESENVOLVIMENTO
também, a família. Além disso, elas con- Douglas Rangel Goulart - UnB
sideram que a criação do espaço dialógico douglasrgoulart@gmail.com
é um importante recurso para favorecer a Elizabeth Queiroz - UnB
autoestima. Entretanto as respostas indi- bethqueiroz@unb.br
cam que são poucas as ações desenvolvi-
das no cotidiano escolar voltadas para o Desde o final da década de 1960 hou-
trabalho da autoestima, dentre as quais ve um crescente aumento no interesse
se pode citar o desenvolvimento dos pro- mundial pela reabilitação como campo
jetos específicos sobre o tema e as apre- de atividade da psicologia e importan-
sentações coletivas, que visam favorecer tes contribuições dos especialistas em
o reconhecimento e a valoração social do desenvolvimento têm colaborado para
aluno. Em seu planejamento individual, aplicações nas práticas clínicas e cientí-
as docentes relatam que contemplam o fica. As questões pertinentes ao desen-
tema em suas aulas por meio da criação volvimento típico bem como as influ-
do espaço dialógico e da relação afetiva, ências genéticas, médicas, ambientais,
além do desenvolvimento de atividades comportamentais e socioculturais sobre
reflexivas. Isso porque elas acreditam que como uma criança irá se desenvolver têm
a interação entre professor e aluno é um permitido compreender as inter-relações
elo relacional fundamental para a autoes- entre diagnósticos específicos e as dife-
tima, de modo que a postura do profes- renças inter e intra-individuais no lidar
sor para com o aluno pode fazer com que com prognóstico. Deriva-se daí a noção
este acredite mais em seus potenciais. de que alterações no processo de desen-
Nesse sentido, o trabalho permitiu con- volvimento se devem principalmente aos
cluir que todas as docentes acreditam na fenômenos psicossociais relacionados à
relação professor-aluno como elemento questão da deficiência, importantes de
fundamental para o desenvolvimento da serem discutidos tanto com o paciente
autoestima. No entanto, embora os profis- quanto com sua família e equipe de saú-
sionais da educação considerem a impor- de. O presente estudo de caso ilustra a
tância da autoestima no sucesso dos pro- aplicação desses princípios e importância
cessos de aprendizagem, ainda existe uma dos cuidados personalizados dedicados
prática incipiente sobre a valorização des- a uma criança submetida à enucleação
tes processos no espaço escolar, o que se do globo ocular direito, devido a um
distancia, portanto, de uma proposta ideal retinoblastoma, associada à reparação
de ação considerada por elas mesmas. protética imediata e acompanhamento
sistemático ao longo de seu desenvol-
Palavras-chave: Autoestima; Criança; vimento. Trata-se de uma menina, hoje
Aprendizagem. com seis anos de idade, filha do meio de
Contato: Helen Tatiana dos Santos-Lima; uma prole de três irmãos, estudante do
FACITEC/ SEEDF; helen.tatiana@hotmail.com ensino fundamental de escola privada do

924
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Distrito Federal. Desde os nove meses de ter uma perspectiva negativa quanto à
idade foi verificado um déficit na visão e utilização de uma prótese ocular, porém
o desvio do olho direito. A mãe procurou a adaptação à primeira prótese com dois
um serviço privado, e a criança ficou um anos e quatro meses foi considerada
período em avaliação, incluindo ecogra- boa, caracterizando o auxílio como uma
fia. Com um ano e 11 meses a criança estratégia compensatória, capaz de tirar
foi atendida pelo Hospital Universitário o foco da deficiência. Nessa condição, o
de Brasília, com relato da mãe de que o desenvolvimento da criança pode seguir
olho direito não acompanhava objetos e um curso guiado por suas possibilidades
luz. Após tomografia computadorizada e não pela falta. Em função da idade do
foi formulada a hipótese diagnóstica de diagnóstico, atenção primeira foi dada à
retinoblastoma. A mãe foi encaminhada mãe no processo de lidar com a prótese e
para um serviço de referência em cirur- assimilar a perda do olho. A criança sem-
gia oncológica, e através da Secretaria de pre apresentou desenvolvimento físico,
Saúde do Distrito Federal marcou uma cognitivo e emocional compatíveis com
avaliação no Hospital AC Camargo – São sua idade. Não foram relatadas altera-
Paulo. A cirurgia para remoção do glo- ções na alimentação durante a primeira
bo ocular foi realizada em abril de 2007 infância. Apresentou somente doenças
e a paciente retornou para Brasília para comuns à faixa etária. Não ocorreu dé-
acompanhamento oftalmológico no HUB. ficit no desenvolvimento motor e da lin-
Foi encaminhada para confecção de pró- guagem, quanto aos quesitos de firmar
tese ocular externa 30 dias após a cirur- a cabeça, sentar com apoio, sentar sem
gia. Esta é uma modalidade de prótese apoio, engatinhar, desenvolver o movi-
maxilofacial, que tem o objetivo de recu- mento de pinça, andar, balbuciar, falar,
perar a estética facial, prevenir o colapso primeiras palavras, primeiras frases, ca-
e a deformidade palpebral, restaurar a pacidade motora e linguagem atual. A
direção da secreção lacrimal e proteger mãe considera o desenvolvimento da
a cavidade anoftálmica contra agressões filha semelhante ao dos irmãos, haven-
de elementos externos. A prótese atua do inclusive boa interação entre eles. A
como elemento estimulador do desen- menina frequenta a escola desde os três
volvimento da órbita durante o período anos, com comportamento colaborador
de crescimento para os indivíduos que e entusiasmo. A perda ocular e o fato
perderam parte ou todo globo ocular. No de usar prótese não são associados à
caso apresentado a primeira prótese foi mudança na rotina de vida e no relacio-
adaptada em junho de 2007 e a atual em namento interpessoal. Os sentimentos
maio de 2011. Neste período, oito próte- maternos relacionados ao momento do
ses foram confeccionadas de forma a ga- diagnóstico foram tristeza, inseguran-
rantir os objetivos acima descritos, o que ça e medo e já não estão presentes no
equivale a mais de uma por ano, respei- momento atual. A mãe relata não ter
tando o desenvolvimento físico particular recebido atendimento psicológico em
de sua idade. A possibilidade de reparo qualquer momento do processo de per-
protético foi informada pelo médico pou- da e reabilitação, o suporte foi dado pelo
cos dias antes da cirurgia. A mãe relatou pai o que reforça a importância do apoio

925
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

social. A doença da filha afetou a religio- DIA 14/11 - Segunda-feira


sidade materna, que passou a acreditar
mais em Deus. Um ponto importante a
ser destacado neste caso é a noção pro- 18h-20h
cessual de adaptação. Indivíduos que são
expostos a situações estressantes apre-
sentam reações emocionais que não ne- CONFERÊNCIA
cessariamente evoluem para problemas
emocionais, compreendidos aqui como
patológicos. Além disso, através de uma LA AUTOBIOGRAFÍA EN CUANTO OPCIÓN
rede de apoio, que inclui os profissionais, INVESTIGATIVA PARA INDAGAR LA
podem ter a oportunidade de identifi- SUBJETIVIDAD POLÍTICA
car estratégias de enfrentamento mais Alvaro Díaz Gómez - UTP/Colombia
eficazes para lidar com aquela situação
específica uma vez. O profissional pode
efetivamente contribuir com o bem estar CONFERÊNCIA
do paciente através de diferentes formas
de apoio: emocional (sendo empático às
percepções do paciente); concreto (aju- PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
dando-o a superar limitações através do E SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA:
desenvolvimento de habilidades especí- APROXIMAÇÕES E CONTRADIÇÕES ESTAS
ficas ou fornecimento de recursos com- PERSPECTIVAS
pensatórios) e informativo (orientando-o
Vera Vasconcellos - UERJ
sobre sua patologia, prognóstico e possi-
bilidades). Em outras palavras, o profis-
sional pode ser importante modelo de
enfrentamento para o paciente e família, MR LT04
colaborando para sua real reabilitação, Mesa Redonda
reforçando a necessidade de acesso a
serviços de saúde e viabilizando condi-
ções de pleno desenvolvimento. MR LT04-1263 - A ATUAÇÃO DA
PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO
Palavras-chave: Anoftalmia; Reabilitação; PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL
Prótese Ocular. Marisa Maria Brito da Justa Neves - UnB
Contato: Douglas Rangel Goulart, UnB, marisa.brito.neves@uol.com.br
douglasrgoulart@gmail.com
A trajetória da Psicologia Escolar no Dis-
trito Federal evidencia nuances, avanços
e desdobramentos singulares, produzi-
dos e consolidados por meio de um con-
tinuado processo de atuação, pesquisa e
intervenção. A expressividade das produ-
ções e estudos na área, intensificados no

926
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Distrito Federal especialmente nos últi- informais. O reconhecimento do desen-


mos quinze anos e a representatividade volvimento humano como um processo
da presença dos psicólogos escolares nas histórico, amalgamado pelas influências
instituições educacionais, notadamente sócio-culturais dos contextos e das rela-
as que compõem o sistema público de ções partilhados, favorece a atuação dos
ensino, contribuem para qualificar o Dis- diversos profissionais ligados à educação,
trito Federal como um cenário privilegia- dentre eles, os psicólogos escolares, de
do para a atuação, ensino, pesquisa e in- modo a permitir-lhes a autoria de mu-
tervenção em Psicologia Escolar. A Psico- danças e quebras de paradigmas tradicio-
logia Escolar vem apresentando no Brasil, nais sobre o estudo do desenvolvimento
especialmente nas últimas três décadas, e as formas de ensinar e aprender. Cons-
reflexões teóricas, pesquisas e alternati- titui-se um compromisso ético dos profis-
vas de intervenção profissional como re- sionais que atuam nos contextos educa-
sultado de maior criticidade à formação cionais o planejamento de possibilidades
e à atuação superando, assim, atuações de trabalho que considerem o desen-
tradicionais que pouco consideravam as volvimento histórico presente nos con-
questões sociais. Discussões contempo- textos educativos, entendendo-os como
râneas na área apontam para a consoli- projetores da ampla e complexa trama
dação da atuação profissional orientada social, na qual não deixa de comparecer
pela adoção de práticas inovadoras de o modo singular e único dos sujeitos que
intervenção e pela incorporação de es- dela participam e fazem sua história. No
tratégias diferenciadas de ação, visando Distrito Federal, psicólogos escolares tra-
favorecer a disseminação e implantação balhando há mais de 40 anos na Secre-
de uma cultura de sucesso escolar. As exi- taria de Educação, consolidam ações de
gências da realidade educativa, das de- resistência e renovação de concepções,
mandas de educadores e demais atores teorias, prática profissional, alicerçadas
de contextos educacionais, formais ou em pesquisas e inovações interventivas.
não, conferem às práticas profissionais A ampliação da área, a busca constante
de psicólogos escolares desafios que se de reflexões e de aperfeiçoamento, o de-
configuram a partir de urgências, indeter- senvolvimento de competências cada vez
minações, novidades, exigindo compe- mais compatíveis às especificidades do
tências teórico-metodológicas fortemen- trabalho da psicologia escolar serão dis-
te embasadas e um trânsito ágil do pro- cutidas na Mesa proposta.
fissional em uma práxis contextualizada
e referendada em pesquisas e teorias. A
realidade para a qual o psicólogo escolar ENSINO PÚBLICO DO DISTRITO
deve ser preparado é aquela na qual as FEDERAL: A ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS
certezas são limitadas, as necessidades ESCOLARES
dinâmicas, os cenários constantemente Marisa Maria Brito da Justa Neves - UnB
reconstruídos e que vão além da situação marisa.brito.neves@uol.com.br
ou ambiente imediato no qual o sujeito
está inserido, considerando a influência A necessidade de definir a atuação dos
de contextos mais amplos, formais ou psicólogos nos contextos escolares e a di-

927
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ficuldade em delinear um perfil de atua- promovido, no ano de 2009, pelo Labora-


ção profissional, bem como de articular a tório de Psicologia Escolar do Instituto de
prática à teoria, são questões amplamen- Psicologia da Universidade de Brasília, em
te discutidas pelos pesquisadores dessa parceria com a Secretaria de Estado de
área, assim como a falta de clareza sobre Educação do Distrito Federal (SEDF). Esse
a abrangência das funções possíveis a se- programa tinha dois objetivos principais:
rem desenvolvidas na escola pelos psicó- o primeiro, promover formação de todos
logos que nela atuam (Neves, 2009). No os psicólogos escolares da rede pública e,
entanto, é inegável que a produção teóri- o segundo, promover uma ampla discus-
ca nesse campo do conhecimento tem se são com esses profissionais com vistas a
consolidado nos últimos anos, onde as pu- subsidiar a elaboração de um documen-
blicações sistemáticas do Grupo de Traba- to norteador do trabalho do Serviço Es-
lho em Psicologia Escolar/Educacional da pecializado de Apoio à Aprendizagem da
ANPEPP (Almeida, 2003; Campos, 2007; SEDF. O estudo ora apresentado teve seus
Del Prette, 2001; Guzzo, 2002; Marinho- dados sistematizados a partir das respos-
-Araújo, 2009; Mitjáns Martinez, 2005; tas dos psicólogos escolares a um ques-
Wechsler, 1996) se constituem numa pro- tionário respondido no penúltimo dia do
va inequívoca dessa realidade. No Distrito programa de formação e versa sobre as
Federal, uma parceria entre o Instituto de práticas cotidianas desenvolvidas por es-
Psicologia da Universidade de Brasília e ses profissionais numa semana típica de
a Secretaria de Estado de Educação vem trabalho. Os resultados apontaram como
ocorrendo desde 1995, por meio do Pro- atividades típicas desenvolvidas pelos
jeto de Extensão – Integração Universi- psicólogos escolares da SEDF: entrevistas
dade / Psicologia Escolar- e, as atividades com professores e pais; escuta aos pro-
desenvolvidas no projeto, têm possibilita- fessores e aos pais; acompanhamento
do um contínuo fluxo de trocas entre os de alunos; levantamento de dados para
conhecimentos produzidos e discutidos elaboração do mapeamento institucional;
na academia e a prática dos psicólogos es- encontros com os gestores e coordena-
colares. Assim, a atuação dos psicólogos dores; visitas a outras instituições par-
escolares no ensino público do Distrito ceiras; orientações aos professores; es-
Federal tem se pautado tanto na necessi- tudos teóricos; atendimento aos alunos;
dade de acompanhar a produção na área, avaliação psicológica; estudos de casos e
como também, as demandas advindas participação nas coordenações coletivas
das escolas de uma forma ética e social- das escolas. A partir desses resultados,
mente comprometida. Este trabalho obje- pode-se afirmar que os psicólogos escola-
tiva apresentar e discutir as práticas pro- res da SEDF incorporaram às suas rotinas
fissionais desenvolvidas cotidianamente cotidianas atividades institucionais ende-
pelos psicólogos escolares que atuam na reçadas a toda comunidade escolar e que
Rede Pública de Ensino do Distrito Fede- suas ações estão disseminadas nos diver-
ral. Fizeram parte do estudo 66 psicólogos sos espaços escolares, configurando-se,
escolares que atuavam nas escolas públi- assim, numa atuação coadunada com as
cas do Distrito Federal e que participaram pesquisas atuais. Depreende-se, também,
de um programa de formação continuada que as atividades desenvolvidas pelos psi-

928
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cólogos escolares da SEDF possibilitam o instala o compromisso com o aperfeiço-


desenvolvimento de ações voltadas para amento constante, apropriação e atuali-
a compreensão do sistema educacional e zação crítica da base teórico-conceitual,
conduzem a Psicologia Escolar na direção constante reflexão acerca da prática real,
da promoção do desenvolvimento huma- ressignificada pelos inúmeros sentidos
no, com foco no sucesso e nas potencia- da experiência. O perfil do psicólogo es-
lidades dos sujeitos para transformar-se a colar, nessa perspectiva, configura-se de
si mesmos e aos seus contextos. As ativi- forma complexa, caracterizado por obje-
dades tradicionais, principalmente as que tivos desenvolvidos na formação (inicial e
se centram nos alunos, permanecem com continuada), na demarcação do campo de
uma das múltiplas possibilidades de atua- atuação e no domínio de competências e
ção desses profissionais e não mais como conhecimentos expressos na intervenção
a atividade central de suas intervenções. profissional (Araújo, 2003). Ao longo de
Ressalte-se, também, que esse programa mais de 40 anos de história, psicólogos
de formação continuada possibilitou que que atuam na Psicologia Escolar da Secre-
todos os envolvidos pudessem discutir e taria de Estado da Educação do Distrito
contribuir para a elaboração da “Orienta- Federal (SEEDF) buscam superar as adver-
ção Pedagógica”, documento norteador sidades do cotidiano escolar investindo na
das ações dos psicólogos escolares da Se- reconstrução da própria história por meio
cretaria de Educação do Distrito Federal. da conscientização de possibilidades e
potencialidades forjadas entre avanços e
Palavras-chave: Psicologia escolar, práticas dificuldades, obstáculos e conquistas. A
profissionais, formação continuada. partir de 2008, a consolidação da atuação
de mais de 120 psicólogos da SEEDF foi
oficializada em portaria governamental e
FORMAÇÃO CONTINUADA EM regulamentada nas políticas educacionais
PSICOLOGIA ESCOLAR: PARA do sistema de ensino público do DF para
ALÉM DA CONQUISTA, A POLÍTICA mais de 500 mil alunos na Educação Bá-
REGULAMENTADA sica, distribuídos em mais de 640 escolas
Claisy Maria Marinho Araújo - UnB públicas. As diretrizes orientadoras das
claisy@unb.br atividades dos psicólogos escolares focam
a atuação preventiva, relacional e institu-
A forte vinculação que a Psicologia Esco- cional, favorecendo reflexão e conscienti-
lar vem apresentando entre as pesquisas zação de papéis e responsabilidades da-
e os diversificados processos de inter- queles que atuam no cotidiano da escola
venção conferem à área uma ampliação (GDF, 2010). A gênese dessas orientações
de sua atuação para contextos, espaços, e um dos alicerces de sua implementa-
sujeitos, comunidades e políticas, con- ção está no projeto de formação conti-
tribuindo com análises críticas, atuali- nuada em serviço construído há mais de
zação, revisão e inovação de práticas e 15 anos em parceria com a Universidade
perfis profissionais formados na interface de Brasília, com ênfase ao mapeamen-
da Psicologia e da Educação (Marinho- to institucional, à escuta psicológica, ao
-Araújo, 2005). A realidade social do país acompanhamento do trabalho coletivo e

929
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do processo de ensino-aprendizagem. O objetivos apresentar reflexões acerca da


trabalho discutido nessa Mesa apresenta demanda proveniente do contexto esco-
ações desse projeto. Espera-se desenca- lar por um profissional capaz de inovar,
dear discussões acerca da consolidação por exemplo, nos processos interventivos
de redes nacionais que gerem políticas junto aos atores da escola, utilizando-se
educacionais favoráveis à formação e de espaços coletivos e institucionalizados
atuação de psicólogos escolares compe- para favorecer os processos subjetivos da
tentes e comprometidos eticamente com comunidade escolar e a conscientização
uma educação de qualidade para todos e das responsabilidades pelo sucesso mui-
com todos. to mais do que pelo fracasso educacional.
O sistema de ensino solicita um profis-
Palavras-chave: Psicologia Escolar, políticas sional que, mediante o desenvolvimento
públicas, atuação institucional de novas habilidades de compreensão
da escola em sua conjuntura social, cul-
tural, política e econômica seja capaz de
FORMAÇÃO CONTINUADA planejar estratégias de favorecimento do
EM PSICOLOGIA ESCOLAR: desenvolvimento dos profissionais que ali
RESSIGNIFICANDO METODOLOGIAS atuam. Respondendo a esta necessidade
FRENTE AOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO evidenciada na produção científica mais
Rejane Maria Barbosa - SEDF recente, será apresentado o trabalho de-
rejmariab@gmail.com senvolvido em 2009, no âmbito da Secre-
taria de Estado de Educação do Distrito
Ao longo de 40 anos de história, os psi- Federal (SEDF) com o grupo de psicólogos
cólogos escolares que atuam na rede de escolares, de reelaboração do documento
ensino público do Distrito Federal vem ar- norteador da atuação em Psicologia Esco-
ticulando conhecimentos e ações àquelas lar no DF, denominado Orientação Peda-
evidenciadas em cada momento histórico gógica do Serviço Especializado de Apoio
da Psicologia Escolar no Brasil, de modo à Aprendizagem - OP/SEAA (GDF, 2010),
que atualmente evidenciam-se avanços e bem como o modelo de formação conti-
desafios amplamente tratados na litera- nuada, desenvolvido à época, que possi-
tura da área com as situações cotidianas bilitou a interação entre os profissionais
vivenciadas por estes profissionais no es- e a comissão responsável pela elaboração
paço das escolas do DF, nas quais o psicó- do documento. O modelo inovador do
logo escolar é membro integrante do cor- trabalho realizado proporcionou a todos
po de servidores (Barbosa, 2008). Desta os participantes a discussão acerca das
forma, acredita-se que a inovação nas re- concepções institucionais que balizam a
flexões e ações para a formação continu- atuação e a construção coletiva das ações
ada que vem sendo produzidas no âmbito que hoje estão presentes no cotidiano de
do DF possam contribuir para o enrique- muitos psicólogos escolares do Distrito
cimento da área e para a construção de Federal.
processos de ressignificação das ações no
fazer cotidiano da escola em âmbito na- Palavras-chave: psicologia escolar, atuação
cional. Esta mesa redonda tem entre seus coletiva e institucional, formação continuada.

930
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

SP-LT06 - Simpósio visa fornecer dados que possam contribuir


para que abrigos institucionais se adé-
quem às recentes orientações e diretrizes,
SP LT06-923 - ACOLHIMENTO melhorando a qualidade do acolhimento e
INSTITUCIONAL E QUALIDADE DO promovendo o desenvolvimento das crian-
CUIDADO: O ABRIGO E A FAMÍLIA NO ças. Tem também por objetivo fomentar o
PROCESSO DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E intercâmbio entre grupos de pesquisa de
AO ADOLESCENTE universidades de duas regiões do Brasil,
Maria Clotilde Rossetti-Ferreira - USP Norte e Sudeste. O primeiro trabalho, do
mcrferre@usp.br Centro de Investigações sobre Desenvolvi-
Camila Filocreão - UFPA mento Humano e Educação Infantil (CIN-
milafilocreao@hotmail.com DEDI) da Universidade de São Paulo (USP),
Celina Maria Colino Magalhães - UFPA buscou trazer para esse contexto conheci-
celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br mentos e práticas interessantes, construí-
Laiane da Silva Corrêa - UFPA das nas últimas décadas, na Educação In-
lai_correa@yahoo.com.br fantil. Aborda, especificamente, o momen-
Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA to de ingresso da criança na instituição e
liliaccavalcante@gmail.com a complexa integração abrigo-família. O
Ivy Gonçalves de Almeida - USP segundo e o terceiro trabalhos apresen-
ivy.almeida@uol.com.br tam ações investigativas e interventivas
Tamires Santos Rufino e Silva - UFPA que, desde 2004, vêm sendo realizadas
tamiresrufino88@gmail.com no maior abrigo para crianças de zero a
seis anos da região metropolitana de Be-
No Brasil, estudos têm mostrado que mui- lém, sob a responsabilidade de alunos e
tas crianças e adolescentes permanecem professores do Laboratório de Ecologia do
por longos períodos em abrigos de má Desenvolvimento (LED) da Universidade
qualidade, tendo seus direitos novamente Federal do Pará (UFPA). Um dos trabalhos
violados, freqüentemente, por problemas apresenta a experiência de adaptação e
derivados da falta/deficiência de políti- a aplicação da Escala Infant Toddler Envi-
cas públicas que auxiliem suas famílias a ronment Rating Scales (ITERS), revelando
enfrentarem suas dificuldades. Nota-se, aspectos que concorrem para a qualidade
também, falta de trabalhos efetivos com a do ambiente físico e social em instituição
criança, a família e sua rede de apoio du- de abrigo e, consequentemente, para as
rante o acolhimento institucional, que per- interações adulto-criança e criança-crian-
mitam o retorno à família ou, no caso disso ça. No terceiro estudo foram investigados
mostrar-se inviável, seu encaminhamento conhecimentos e concepções sobre desen-
a uma família substituta. Buscando supe- volvimento infantil e práticas de cuidado
rar essa situação, planos, leis e orientações em situações de brincadeira, observadas
técnicas foram formulados e entraram em entre educadores de uma instituição de
vigor nos últimos anos, introduzindo sérias acolhimento infantil, refletindo-se acerca
mudanças no acolhimento a crianças/ado- da qualidade do nicho de desenvolvimen-
lescentes privados de cuidados parentais. to da criança a partir da integração entre
A proposta de organização deste Simpósio ambiente, psicologia e práticas dos cui-

931
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dadores. Os trabalhos acima relacionados família ou, no caso disso mostrar-se invi-
dão relevo às diferentes dimensões da ável, seu encaminhamento a uma família
qualidade que deveria ser a marca de abri- substituta. Buscando superar essa situ-
gos institucionais que se constituíssem, de ação, planos, leis e orientações técnicas
fato, como contextos de desenvolvimento (Eca, 1990; Conanda & Cnas, 2006; 2009;
para as crianças acolhidas. Para atingir esta Lei nº 12010, 2009) foram formulados
qualidade há uma urgente necessidade de e entraram em vigor, nos últimos anos,
pesquisas na área e de trabalhos de capa- introduzindo sérias mudanças no acolhi-
citação e de apoio para os profissionais mento a crianças/adolescentes privados
envolvidos nesse importante momento da de cuidados parentais. Neste momento,
vida das crianças. Cabe, ainda, acrescentar os abrigos institucionais se defrontam com
que as novas leis e normativas nacionais exigências de adequação às novas normas,
responsabilizam o abrigo, prioritariamen- que seus dirigentes raramente tiveram
te, pelo trabalho de reintegração familiar. oportunidade de conhecer ou enfrentam
Para isso faz-se necessário capacitar seus dificuldades para atendê-las e pô-las em
profissionais e mobilizar um rede integra- prática. Desta forma, o desafio e os esfor-
da de serviços que os apoie nessa bela e ços atuais são para que estas instituições
difícil tarefa. se constituam, realmente, como espaços
coletivos de cuidado e educação de crian-
ças e adolescentes conquistando, assim, a
O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL legitimidade de um serviço capaz de pro-
ENQUANTO CONTEXTO DE mover seu desenvolvimento, mesmo que
DESENVOLVIMENTO: O MOMENTO DO em caráter excepcional e provisório. Histo-
INGRESSO E A INTEGRAÇAO ABRIGO – ricamente, também as instituições de Edu-
FAMILIA cação Infantil, em especial a creche, foram
Maria Clotilde Rossetti-Ferreira - USP e com freqüência ainda são vistas como
mcrferre@usp.br “mal necessário”. Muitos estudos e esfor-
Ivy Gonçalves de Almeida - USP ços foram necessários para tirá-las desse
ivy.almeida@uol.com.br status e inseri-las no sistema de ensino,
Financiamento: CNPq/CAPES com um conjunto de leis e normativas, aos
quais se acrescentou, recentemente, um
Estudos têm mostrado (AASPTJ-SP, 2004; sistema de avaliação com o objetivo de
IPEA, 2005) que muitas crianças e adoles- promover um atendimento de qualidade
centes permanecem por longos períodos (Soares-Silva, Mello, Pantoni & Rossetti-
em abrigos de má qualidade, tendo seus -Ferreira, 2009; Souza, Mello & Rossetti-
direitos novamente violados, frequente- -Ferreira, 2009). Quanto esse saber e essa
mente, por problemas derivados da falta experiência podem nos ser úteis e contri-
ou deficiência de políticas públicas que buir para a promoção da qualidade dos
auxiliem suas famílias a enfrentarem suas abrigos institucionais? Quais as semelhan-
dificuldades. Nota-se, também, falta de ças e diferenças entre esses dois contex-
trabalhos efetivos com a criança, a família tos? Nesta apresentação, dada a restrição
e sua rede de apoio durante o acolhimento de tempo, decidimos abordar dois pontos
institucional, que permitam seu retorno à interrelacionados: a inserção da criança na

932
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

instituição e a integração instituição - fa- to das crianças. Há uma urgente necessi-


mília. Quanto à inserção da criança na Edu- dade de pesquisas na área, além de tra-
cação Infantil evidenciamos, em nossas balhos de capacitação e de apoio para os
pesquisas, que a boa adaptação da criança profissionais envolvidos nesse importante
à creche e o estabelecimento de um bom momento na vida e no desenvolvimento
relacionamento com a família dependem da criança. A integração instituição-família
da qualidade do trabalho de acolhimento é um tema bastante complexo que abor-
à criança e à família. O processo de aco- daremos aqui, apenas, para complemen-
lher é planejado e feito quando se prepara tar o item anterior. Na Educação Infantil
e se inicia um novo ingresso, favorecendo percebemos que nas instituições fecha-
a gradual integração da criança ao novo das, onde as crianças eram entregues e
contexto, com ativa participação da famí- buscadas pela família na porta da rua, não
lia. Descobrimos, também, a importância se percebia a necessidade de realizar um
da organização dos espaços, com o obje- trabalho específico para o momento do
tivo de promover o relacionamento entre ingresso da criança nesse novo ambiente.
as crianças e seu envolvimento em ativida- Achava-se que, com o tempo, bem ou mal,
des conjuntas ou individuais, que favore- as crianças se adaptavam. O contato com
çam seu desenvolvimento (Amorim et al., as famílias se resumia a reuniões com pais,
2004; Vitória & Rossetti-Ferreira, 1993). E onde estes podiam ver os trabalhinhos
no abrigo? Como fazer essa acolhida em dos filhos e recebiam orientações sobre
situações de ruptura com a família, as como proceder com eles quanto à higie-
quais podem envolver abandono, violên- ne (piolho...) e disciplina, dentre outros
cia, além de muito sofrimento, revolta e tópicos. Nas instituições abertas, pais ou
dor? Há poucas pesquisas nessa área. Os familiares podiam acompanhar as crian-
dados que vimos obtendo em nosso grupo ças até sua sala, havendo um contato mais
de pesquisa e intervenção mostram que, próximo com a educadora. Essa proximi-
ao serem levadas de casa para o abrigo, as dade nem sempre era tranqüila, podendo
crianças raramente são informadas sobre envolver momentos de conflito e ciúmes.
o que está ocorrendo ou do que vai ocor- Nessas instituições, uma boa parceria com
rer com elas ou com sua família (Rossetti- a família e a adaptação da criança ao novo
-Ferreira, Solon & Almeida, 2010; Rossetti- ambiente dependiam de um cuidadoso
-Ferreira et al., no prelo). Não há preparo trabalho de acolhimento às crianças e seus
algum para recebê-las. Os funcionários do familiares nos primeiros dias e semanas
abrigo, sobrecarregados de múltiplas ta- de freqüência na instituição. E como se
refas e sem orientações sobre o caso, em dá esse processo de integração nos abri-
geral, não sabem o que e como conversar gos? Em nossos estudos e práticas temos
com a(s) criança(s) naquele momento. Eles verificado que a retirada da criança da fa-
têm dificuldade para lidar com as reações e mília, em geral, é feita de forma abrupta
sentimentos da criança e da família diante e sem explicações para os familiares ou
das separações e rupturas abruptas impos- para a criança. Não existe possibilidade de
tas pela forma como esta medida de pro- que uma pessoa que tenha vínculo com a
teção tem sido realizada. Eles mencionam criança, mesmo quando não envolvida na
seu próprio sofrimento frente ao sofrimen- negligência ou violência que levou à sepa-

933
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ração, atue como mediadora em seu pro- promissor para um bom desenvolvimento
cesso de integração no abrigo. Ademais, físico, cognitivo e emocional infantil. A le-
embora o objetivo maior do acolhimento gislação brasileira defende a família como
institucional seja a reintegração familiar, espaço ideal e privilegiado para o desen-
predomina certo preconceito para com volvimento integral (Brasil, 2006). Todavia,
as famílias das crianças. As visitas dos fa- nos casos em que a convivência familiar
miliares não são favorecidas, sendo mar- ameaça ou viola os direitos de crianças e
cadas em horários restritos que impedem adolescentes, a instituição será a respon-
pais trabalhadores de irem visitar os filhos, sável pelo acolhimento provisório, com a
embora a freqüência de visitas seja toma- responsabilidade de suprir as demandas e
da como índice do vínculo existente entre oferecer condições a um desenvolvimento
eles. Conforme as novas leis e normativas, saudável (ECA, citado em Lamarão e Ama-
a responsabilidade pelo trabalho de rein- ral, 2007). Apesar de se propor como uma
tegração familiar cabe, prioritariamente, medida de proteção, várias são as pesqui-
ao abrigo. É necessário, porém, capacitar sas que demonstram que esta medida tem
seus profissionais para isso e mobilizar potencial tanto para ser um fator de risco
uma rede integrada de serviços que os quanto de proteção. O que definirá a natu-
apoie nessa bela e difícil tarefa. reza da influência que terá sobre a expe-
riência de vida da pessoa institucionaliza-
Palavras-chave: acolhimento institucional, da será o conjunto das características nas
integração abrigo-família, educação infantil quais acontece (Cavalcante, Magalhães e
Contato: Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, Pontes, 2007; Salinas-Brandão e Willians,
CINDEDI/FFCLRP-USP, mcrferre@usp.br 2009; Siqueira e Dell´aglio, 2006). Reco-
nhecendo que a falta de qualidade pode
ter repercussões negativas sobre o proces-
AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE UMA so de desenvolvimento, o Governo Fede-
INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO ral, recentemente, estabeleceu critérios
PROVISÓRIO INFANTIL de qualidade para regulamentar os servi-
Camila Lima Filocreão - UFPA ços de institucionalização (Brasil, 2009).
milafilocreao@hotmail.com Entretanto, ainda não foram estabelecidos
Celina Maria Colino Magalhães - UFPA instrumentos capazes de realizar essa ava-
celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br liação de forma padronizada. Na ausência
Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA de instrumentos formulados para este fim,
liliaccavalcante@gmail.com.br Cavalcante (2008) e a presente pesquisa
Financiamento: CNPq pensaram a Escala Infant Toddler Environ-
ment Rating Scales (ITERS) como uma pos-
O desenvolvimento humano acontece em sibilidade real de se ter, ao mesmo tempo,
todos os momentos da vida das pessoas, critérios e meios de se avaliar, acompanhar
através de uma constante interrelação do e melhorar a qualidade de ambientes de
organismo humano e de seu ambiente, institucionalização. Apesar da grande par-
em diversos níveis de complexidade.(Bron- te dos estudos que utilizaram a ITERS te-
fenbrenner, 1996). Muitos pesquisadores rem sido realizados em ambientes de cre-
questionam qual seria o ambiente mais ches, o uso desse instrumento em abrigos

934
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

justifica-se por certas semelhanças entre Ética e, depois, se contatou a Instituição e


esses dois nichos, a saber: ambos são am- se iniciou um período de habituação. Para
bientes de caráter extra-familiar, cujo cui- a coleta, a maioria dos itens foi pontuada
dado é realizado por profissionais e onde simultaneamente à observação, enquanto
há ausência de espaços individualizados, outros necessitaram de entrevistas com as
além de oferecerem uma convivência diá- educadoras e profissionais de outros seto-
ria e intensa entre coetâneos (Amorim, Ya- res, pela impossibilidade de serem obser-
zlle e Rossetti-Ferreira, 2001). Neste senti- vados diretamente. Ao total foram realiza-
do, o presente estudo caracteriza-se como das onze horas de observação por dormi-
exploratório, objetivando avaliar, através tório. Para a análise dos dados foi extraída
da Escala ITERS, a qualidade ambiental a média da somatória de todos os itens
do Abrigo Municipal do Estado do Pará. avaliados pela ITERS como, também, o va-
Fizeram parte do estudo 42 bebês e 50 lor médio alcançado em cada subescala. A
educadoras. Os bebês eram acolhidos nos análise foi realizada com o auxílio de uma
dormitórios de acordo com o critério de na planilha eletrônica. Em uma avaliação ge-
faixa etária: D1 (zero a 5 meses), D2 (6 a ral dos quatro dormitórios, as médias dos
11 meses), D3 (12 a 23 meses ) e D4 (24 dormitórios D1, D2, D3 e D4 foram, respec-
a 35 meses). A maioria era do sexo mas- tivamente, 1,26; 1,34; 1,52 e 1,56. Todos
culino (60,5%) e a metade tinha irmãos os itens avaliados nestes dormitórios rece-
abrigados na mesma instituição. Negligên- beram somente as pontuações um, dois e
cia (22,6%), dependência química dos pais três, dentro de uma escala de Likert com
(22,6%) e abandono (19,3%) foram os mo- valores que se deslocam de um a sete. Isto
tivos mais citados para institucionalização. denota que, dentro dos critérios da escala,
No que se referem às educadoras, metade nenhum aspecto desse espaço de cuida-
tinha o Ensino Médio Completo, enquanto do coletivo foi merecedor de avaliação de
28% tinham Formação Superior, mais da qualidade considerada boa (quando rece-
metade eram mães (63%) e o tempo mé- be o valor 5) ou excelente (quando recebe
dio de serviço foi de 48 meses. A ITERS é o valor 7). Sobre os fatores relacionados à
uma escala norte-americana criada para baixa pontuação, poderemos citar: o mau
avaliação de ambientes de cuidados coleti- estado e a ausência de imobiliários neces-
vos a crianças de zero a 30 meses (Harms, sários à rotina de cuidados; os hábitos de
Cryer & Clifford, 1990). São 35 itens que a higiene precários; a ausência de médico
compõem, agrupados em sete subescalas: especializado em pediatria e a falta de
I - Material e Mobiliário para as crianças; equipamentos de saúde e remédios im-
II - Rotinas e Cuidados Pessoais; III - Lingua- portantes; a desproporção entre o número
gem oral e compreensão; IV - Atividades de educadores para o número de crianças,
de Aprendizagem; V - Interação; VI - Es- que afetava a prontidão para que as edu-
trutura do Programa e VII - Necessidades cadoras atendessem as demandas infantis;
dos adultos. Cada item observado pode cuidado despersonalizado por parte do
receber as seguintes pontuações: (1) Ina- adulto; interações marcadas pela agressão
dequado (3) Mínimo (5) Bom (7) Excelente e competitividade entre as crianças; pouca
e as pontuações intermediárias (2) (4) e oferta de atividades lúdicas e de estimula-
(6). A pesquisa foi submetida ao Comitê de ção; falta de capacitação das educadoras;

935
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

etc. O instrumento se revelou sensível tan- práticas de cuidado oferecidas às crian-


to para classificar a qualidade ambiental ças abrigadas e concepções destes pro-
quanto para apontar quais são os pontos fissionais no que tange a transformações
que merecem atenção e planejamento vividas na infância (Cavalcante, 2008). No
para a melhoria dos serviços. A crítica mais âmbito das práticas de cuidado encontra-
relevante que se tem da Escala ITERS, en- -se um conjunto de atividades referentes
quanto instrumento capaz de oferecer in- a formas de atenção e zelo, abrangendo
dicadores de qualidade para instituições a dimensão social e psicológica da crian-
de acolhimento provisório, é que ela não ça, que têm relativa importância no curso
engloba todas as características peculia- normal do desenvolvimento. Nesse cená-
res ao processo de institucionalização. Por rio desponta a brincadeira que, por ser tão
isso, seria interessante a adaptação desse importante para a saúde física e mental,
instrumento, com acréscimo de alguns foi reconhecida como um direito que deve
itens e alteração de pequenos detalhes ser garantido à criança, conforme propõe o
para torná-lo, realmente, capaz de atender ECA (1990). Para Cordazzo e Vieira (2007),
as idiossincrasias desse fenômeno dentro a brincadeira possibilita trocas afetivas e
da realidade brasileira. externalização de questões importantes
da história de vida da criança, bem como
Palavras-chave: Escala de Avaliação estimula o desenvolvimento, proporciona
de Ambientes Coletivos para Crianças, meios para a aprendizagem e funciona, de
desenvolvimento infantil, crianças acordo com Martins e Szysmanski (2004),
institucionalizadas como fator de proteção para quem vive
Contato: Camila Lima Filocreão, FASPI/UFPA, em espaços de acolhimento institucional.
milafilocreao@hotmail.com Este estudo teve como objetivo investigar
conhecimentos e concepções sobre desen-
volvimento infantil e práticas de cuidado
CONCEPÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO em situações lúdicas, presentes entre edu-
E PRÁTICAS DE CUIDADO DE cadores de uma instituição de acolhimento
EDUCADORES DE ABRIGO EM SITUAÇÕES infantil. Fizeram parte do estudo 100 edu-
DE BRINCADEIRA cadores, responsáveis pelo cuidado diário
Laiane da Silva Corrêa - UFPA a crianças encaminhadas a um espaço de
lai_correa@yahoo.com.br acolhimento institucional na cidade de
Lília Iêda Chaves Cavalcante - UFPA Belém-Pará. Os educadores responderam
liliaccavalcante@gmail.com ao Inventário do Conhecimento de Desen-
Celina Maria Colino Magalhães - UFPA volvimento Infantil (KIDI); o instrumento
celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br possui 75 questões e abrange quatro cate-
Tamires Santos Rufino e Silva - UFPA gorias: práticas de cuidado, saúde e segu-
tamiresrufino88@gmail.com rança, normas e aquisições e princípios do
Financiamento: CAPES/CNPq desenvolvimento. Do universo citado, fo-
ram selecionados 10 educadores, divididos
Pesquisas realizadas em ambiente extra- em dois grupos, que participaram das ses-
-familiar são escassas na área do desen- sões observacionais. O critério para essa
volvimento infantil, especialmente, sobre escolha foi a seleção com base no desem-

936
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

penho obtido no KIDI: os que acertaram instituição, sem a condução da educadora,


mais questões do inventário (G1) e os que mas, sob a sua supervisão. Notam-se, tam-
erraram mais (G2). Das sessões observa- bém, brincadeiras dirigidas - envolvendo
cionais, foram selecionados momentos em histórias, músicas e jogos - proporcionadas
que cada educador esteve envolvido com e iniciadas, quase sempre, pela educadora.
situações de brincadeira. Os resultados No que se refere à disponibilidade de brin-
mostram que, entre estes profissionais, a quedos, vê-se que são escassos, especial-
maioria é mulher (99%), com mais de 35 mente, dentro dos dormitórios. Entre as
anos, possui filhos, completou o ensino educadoras que compõem os dois grupos,
médio e tem mais de 24 meses de expe- identifica-se que a brincadeira está presen-
riência como educador. No que se refere te, frequentemente, na rotina de cuidados
ao resultado da aplicação do instrumento, com as crianças, sendo que o tempo de
66% dos educadores acertaram em média dedicação a esta atividade é maior no G1.
66 questões. Os educadores apresentaram Quando se analisa os extratos de práticas,
desempenho superior a 50% de acerto em identifica-se que as diferenças entre os
todas as categorias avaliadas. Entretan- dois grupos dizem respeito não só ao tem-
to, os melhores resultados foram obtidos po destinado a estas situações, mas, tam-
em assertivas relacionadas às práticas de bém, a aspectos relacionados à interação
cuidado (80%) e princípios do desenvolvi- e qualidade dos diálogos. Para as análises
mento (68%). A escolaridade se apresen- das situações de brincadeira foram consi-
tou como variável significativa no nível de deradas três categorias (Piccinini, Frizzo &
conhecimento. Observou-se, ainda, que o Marin, 2007): orienta quanto à natureza,
conhecimento sobre desenvolvimento in- função e regras do brincar; estimula, enco-
fantil se apresenta como variável relevante raja e desafia quanto à divisão e compar-
para o tempo dedicado a momentos lúdi- tilhamento de brinquedos e brincadeiras;
cos, na rotina de cuidados e na qualidade e ensino de conceitos e pronúncia correta
das interações mantidas com a criança. As ao falar. Os resultados mostram uma di-
práticas de brincadeira representam 36 ferença marcante entre os dois grupos de
horas, o que correspondente a 30% de um profissionais que cuidam de crianças nas
total de 120 horas de observação. O mo- situações lúdicas. O que se observa é que,
mento é marcado por recreação, entrete- em grande parte dos extratos, cada grupo
nimento e diversão proporcionados pelo tende a apresentar posturas diferenciadas
ato de brincar. Verifica-se que as situações em suas práticas de cuidado. Os dados
de brincadeira têm duração de mais de apontam, entre as educadoras do G1, o
10 minutos sendo que, em alguns casos, uso comum de práticas de cuidado mais
chegam a ocupar quase ou toda a sessão indutivas, onde se valoriza a disciplina,
observacional, estendendo-se por mais de sinalizando à criança as consequências e
60 minutos. Quanto aos espaços em que importância do seu comportamento, com
se desenvolvem, as atividades lúdicas po- o incentivo à cooperação e à negociação.
dem ser realizadas nos mais diversos am- Em termos de estratégias adotadas nos
bientes do abrigo. Durante a observação momentos da brincadeira, o grupo de edu-
das rotinas de cuidado, foram registradas cadoras que fazem parte do G2 converge
brincadeiras livres em diversos espaços da para a adoção de práticas com caracterís-

937
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ticas coercitivas. Contudo, é válido ressal- CO 20 - LT03


tar que não foi identificado nenhum tipo
de punição física. No geral, percebe-se
Medidas socioeducativas
que estas profissionais exigem o cumpri-
mento de normas e regras, porém, as ex-
LT03-759 - PROMOÇÃO DA AUTONOMIA
plicações são diretas, com pouca interação
DE ADOLESCENTES EM UMA UNIDADE
verbal e reforço frente ao comportamento
DE ACOLHIMENTO DO DISTRITO
socialmente aceitável e não-aceitável. Ao
FEDERAL
que parece, o brincar próximo e/ou junto
é pouco valorizado neste grupo, as ações Juliana Castro Benício de Carvalho - SEDEST
estão mais voltadas para a supervisão das castrojuli28@yahoo.com.br
atividades lúdicas com intervenções pon- Sandra Francesca Conte de Almeida - UCB
tuais, dependendo da necessidade. De sandraf@pos.ucb.br
um modo geral percebe-se que práticas
voltadas à estimulação, à orientação e ao O trabalho traz o relato de experiência
ensino de habilidades diversas, no brincar, em uma Unidade de Acolhimento pública
fornecem um conjunto de estímulos que do Distrito Federal, que recebe crianças e
favorece o processo desenvolvimental da adolescentes que estão sob medida pro-
criança (Cole & Cole, 2003) que vive em tetiva do Estado, segundo previsto no Art.
abrigos (Martins & Szymanski, 2004). Nes- 101, VII do Estatuto da Criança e do Ado-
tes termos, um ambiente rico de estimula- lescente - ECA. O acolhimento institucio-
ções pode ser de suma importância para nal é necessário, pela presença de situa-
amenizar os efeitos do ambiente de abrigo ções de violação de direitos, como maus
para as crianças (Bronfenbrenner, 1996). tratos, negligência ou abuso sexual, por
E, à primeira vista, as educadoras do G1 exemplo, no ambiente familiar. Tal medida
tendem a adotar práticas de cuidados nes- é provisória e excepcional, buscando-se
ta direção. A partir dos resultados encon- sempre a reintegração familiar e/ou co-
trados neste estudo, verifica-se o quanto munitária dos acolhidos. Em alguns casos,
se faz importante conhecer o abrigo en- a reintegração na família de origem ou em
quanto contexto abrangente de desenvol- família substituta não ocorre, sendo então
vimento, assim como coloca em debate a extremamente necessária uma interven-
importância de entender o cuidado insti- ção educativa junto ao adolescente, de
tucional a partir das concepções e práticas modo a promover sua autonomia visando
de cuidados de educadores (Harkness & à vida adulta. Buscando o desenvolvimen-
Super, 1996). to moral e autonomia dos adolescentes
acolhidos, este trabalho se referencia na
Palavras-chave: concepções e práticas de teoria de Lawrence Kohlberg, que, após
cuidado, educadores de abrigo, situações de aprofundar os estudos de Jean Piaget
brincadeira sobre heteronomia e autonomia, propôs
Contato: Laiane da Silva Corrêa, PPGTPC/ seis estágios de desenvolvimento moral.
UFPA, lai_correa@yahoo.com.br Kohlberg organizou os seis estágios do de-
senvolvimento do julgamento moral em
três níveis, enfatizou o caráter universal

938
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos estágios e afirmou que nem todas as lescentes acolhidos. A referida Unidade
pessoas atingem os estágios mais eleva- teve início no ano de 1971, sob a égide
dos. No primeiro nível, denominado pré- da Política Nacional do Bem-Estar do Me-
-convencional, estão os estágios 1 e 2. É aí nor, atendendo, na ocasião, as disposições
que estão incluídos a maioria das crianças do Código de Menores. Tinha como fun-
menores de 9 anos, alguns adolescentes ção o abrigamento e a triagem de crian-
e muitos adolescentes autores de ato in- ças e adolescentes de 0 a 18 anos, do
fracional e adultos. As normas morais e sexo feminino, e de 0 a 12 anos, do sexo
expectativas não são entendidas e com- masculino, privados do convívio familiar
partilhadas, ficando externas a essas pes- por maus-tratos, abandono, negligência,
soas. Já no segundo nível, o convencional, exploração sexual, mendicância, perma-
estão os estágios 3 e 4, onde se encontra nência nas ruas, dentre outros problemas.
a maioria dos adolescentes e adultos da Recebia, do então Juizado de Menores e
sociedade ocidental. Os indivíduos inter- da Delegacia de Menor, crianças e adoles-
nalizaram as regras sociais, especialmente centes em “situação irregular”, decretada
quando estas provêm de uma autoridade. pelo Juiz de Menores. Em 1999, inicia-se o
No terceiro nível, o pós-convencional (es- reordenamento da Unidade e em 2005 a
tágios 5 e 6), alcançado por uma minoria construção das primeiras casas lares, com
dos adultos, as regras da sociedade são a presença de mães sociais para o cuida-
aceitas, desde que princípios morais gerais do das crianças e adolescentes acolhidos.
sustentem essas regras. Caso contrário, as No ano de 2007, aumenta-se o número de
normas apresentadas são questionadas e casas lares e substitui-se a figura da mãe
nem sempre seguidas à risca, daí seu ca- social (que residia no local) por cuidadores
ráter autônomo. Um ponto importante é sociais, trabalhando em regime de escala.
que o desenvolvimento moral do sujeito é Sobre o público acolhido, vale ressaltar a
propiciado a partir das interações sociais, presença, atualmente, de grande número
nos mais variados contextos; com o pas- de adolescentes, muitos com vivência de
sar do tempo, diminuem-se as relações de rua, usuários de drogas e/ou autores de
coação e aumentam-se as de cooperação. ato infracional. Estes precisam de prote-
Kohlberg afirma que existe uma atmosfe- ção do Estado, mas possuem dificuldade
ra moral nos ambientes que oferecem as de adaptação em outras instituições, o que
condições para esse crescimento. Essas os leva a serem encaminhados à Unidade
condições são: discussão aberta com o de Acolhimento em questão. Buscando-se
foco na justiça e na moralidade; estimu- facilitar o desenvolvimento da autono-
lação de conflitos cognitivos estimulados mia dos adolescentes acolhidos, a partir
pela exposição de diferentes pontos de da idéia de proteção integral da criança e
vista e raciocínio num estágio superior, do adolescente, preconizada pelo ECA, e
participação na construção de regras e o levando-se em consideração as condições
exercício da autoridade e responsabilida- de contexto que são favoráveis ao desen-
de. A partir da proposta apresentada por volvimento moral dos sujeitos, foram or-
Kohlberg, procurou-se implantar algu- ganizadas ações junto aos adolescentes,
mas ações na Unidade de Acolhimento, visando promover maior participação
visando promover a autonomia dos ado- destes na rotina da Unidade. Para cada

939
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

casa lar, foi eleito um representante e um dade. Ações de vigilância e punição ainda
vice-representante, sendo em seguida estavam bem presentes no discurso e na
realizadas assembleias para discussão e prática dos profissionais, com grande pre-
deliberação dos assuntos de interesse dos sença de relações de coação e pouca de
acolhidos. Eles tinham um caderno para cooperação. Diante desse cenário, cabe a
anotar as reivindicações, reclamações e seguinte reflexão: para que as crianças e
sugestões das crianças e adolescentes da os adolescentes acolhidos possam se de-
casa e as levavam às reuniões. Represen- senvolver em direção à autonomia, pre-
tantes dos setores da equipe que atuava cisam ser escutados e reconhecidos pela
no local também estavam presentes nas equipe da Unidade de Acolhimento como
assembleias, que era mediada pela coor- sujeitos que têm o direito de discutir e to-
denadora da Unidade. Um dos objetivos mar decisões sobre problemas e dilemas
da realização das assembleias era a busca morais que os afetam, aprendendo a au-
de alternativas frente às situações de con- torregular suas próprias ações. Rever con-
flito que surgiam no cotidiano da Unidade. cepções e práticas sociais, por parte dos
Na maioria das vezes, buscava-se um limite profissionais da Equipe, de modo a res-
e uma autoridade externas à equipe, com significá-las em consonância com o ECA,
o encaminhamento do adolescente à De- faz-se absolutamente necessário, para
legacia da Criança e do Adolescente - DCA, que as intervenções propostas promovam
e consequente enquadramento em algum o desenvolvimento e o julgamento moral
ato infracional, conforme previsto no ECA. dos adolescentes acolhidos, em direção à
Na primeira reunião, surgiu o tema “dano autonomia pretendida.
ao patrimônio em decorrência de briga
ou agressividade de algum acolhido”. Os Palavras-chave: autonomia, acolhimento,
adolescentes elaboraram alternativas de adolescência
reparação do dano, na própria Unidade, Contato: Juliana Castro Benício de Carvalho,
mas os profissionais presentes alegaram SEDEST, castrojuli28@yahoo.com.br
que tal ação era ato infracional por dano
ao patrimônio público, sendo, na visão de-
les, necessário o encaminhamento à DCA. LT03-877 - AS ADMIRAÇÕES DE
Com isso, qualquer negociação junto aos ADOLESCENTES EM MEDIDA
adolescentes ficava comprometida. A par- SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: UM
tir desse momento, pensou-se em uma se- ESTUDO NA ÁREA DA MORALIDADE
gunda alternativa: reunião somente com a Marcelo Menezes Salgado - PPGP/Ufes
equipe, a fim de alinhar a concepção de marcelomsalgado@gmail.com
proteção, segundo o ECA, com o objetivo Heloisa Moulin de Alencar - PPGP/Ufes
da unidade de acolhimento. Percebeu-se, heloisamoulin@gmail.com
nesse segundo momento, grande dificul- Financiamento: CAPES
dade de muitos profissionais da equipe
em compreender os pressupostos do Es- A presente pesquisa consiste em um estu-
tatuto, ficando presos à concepção do Có- do sobre as admirações de adolescentes
digo de Menores, que orientava a prática que cumprem medidas socioeducativas
da equipe na época da fundação da Uni- de internação. Entendemos ser interes-

940
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sante um trabalho acerca do desenvolvi- rias: ‘bem-estar próprio’ (n=60; 13,9%),


mento de tais jovens, inclusive, para am- malefício evitado para si’ (n=49; 11,4%),
pliar as discussões e reflexões sobre a sua ‘reputação’ (n=48; 11,1%), ‘melhora na
realidade psicológica: O que poderíamos qualidade do relacionamento interpesso-
encontrar ao investigarmos temas morais al’ (n=39; 9,0%), ‘resultado positivo em
em adolescentes que cometeram deli- geral’ (n=31; 7,2%), ‘auxílio no exercício
tos? Que valores estariam presentes em profissional’ (n=27; 6,3%), ‘mudança de
suas concepções? Que contornos morais vida’ (n=23; 5,3%), ‘obtenção de ajuda’
e éticos os adolescentes estariam esta- (n=21; 4,9%), ‘gosto’ (n=18; 4,2%), ‘am-
belecendo? Compreendemos, portanto, pliação de conhecimentos’ (n=17; 3,9%),
que o estudo dos adolescentes em medi- ‘singularidade própria’ (n=17; 3,9%), ‘aju-
das socioeducativas torna-se imperativo da ao outro’ (n=15; 3,5%), ‘confiança das
dentre os temas sociais. Em específico, pessoas’ (n=11; 2,6%), ‘conquista da liber-
tivemos como objetivo investigar os con- dade’ (n=11; 2,6%), ‘reflexão’ (n=8; 1,9%),
teúdos dos juízos e das justificativas dos ‘obtenção de respeito’ (n=7; 1,6%), ‘expe-
referidos jovens sobre o que admiram em riências adquiridas’ (n=7; 1,6%) e ‘outros’
si mesmo, analisando os dados a partir de (n=22; 5,1%). Face ao exposto, uma refle-
referenciais da psicologia da moralidade xão a fazermos é a que se refere ao pro-
(La Taille, 2006; Piaget, 1932/1994). Fo- cesso de relações sociais averiguado em
ram entrevistados 30 adolescentes, entre nossos adolescentes. Verificamos que nas
16 e 17 anos, do sexo masculino, internos justificativas aparecem falas relacionadas
do Instituto de Atendimento Socioeduca- à ‘melhora na qualidade do relacionamen-
tivo do Espírito Santo (Iases), na região to interpessoal’, ‘confiança das pessoas’ e
metropolitana da grande Vitória/ES. Rea- ‘obtenção de respeito’, que somadas obte-
lizamos entrevistas individuais, de acordo riam a percentagem de 13,2 pontos, ou 57
com o método clínico piagetiano (Piaget, justificativas. Destacamos que as três cate-
1926/s.d.;1932/1994). Pudemos notar, gorias remetem de alguma forma à quali-
que os participantes ao mencionarem o dade do relacionamento interpessoal, isto
que admiram em si mesmos forneceram é, evidenciam a preocupação dos entrevis-
117 respostas, que foram distribuídas em tados com a função social e a aspectos que
16 categorias, sendo as principais: ‘perse- poderiam estar relacionados à cidadania.
verança/força de vontade’ (n=16; 13,7%), Os resultados parecem destacar a impor-
‘respeito pelas pessoas’ (n=12; 10,3%), tância dada pelos adolescentes ao pro-
‘bondade/generosidade’ (n=11; 9,4%), cesso de socialização, evidenciando que
‘beleza’ (n=10; 8,5%), ‘educação’ (n=9; suas motivações estariam relacionadas ao
7,7%), ‘inteligência’ (n=8; 6,8%), ‘auto- convívio social. Neste prisma, somos leva-
controle’ (n=7; 6,0%), ‘extroversão’ (n=7; dos às discussões ponderadas por Piaget
6,0%), ‘amizade’ (n=6; 5,1%) e ‘afetuosi- (1932/1994) a respeito das relações pos-
dade’ (n=6; 5,1%). Indagados acerca das síveis de serem estabelecidas: de respeito
justificativas para se admirar tais aspectos, unilateral ou mútuo. Portanto, haveria em
os jovens apresentaram 431 argumentos. tais categorias a evidência de um proces-
O grande volume de justificativas permi- so, mesmo que incipiente, de relações co-
tiu que as agrupássemos em 18 catego- operativas, e, nesse sentido, relacionada

941
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ao desenvolvimento de características que lescentes em medidas socioeducativas de


auxiliem nos relacionamentos sociais? En- internação, isto é, que estão presos por
tendemos não podermos inferir a respei- não observarem as leis e regras da vida
to, uma vez que tal processo é por demais em sociedade. Como explicar a ocorrência
complexo, oriundo de uma construção de poucos conteúdos imorais em adoles-
sistemática e conjunta entre os pares, ao centes que rompem com determinantes
longo do tempo, por meio de adequada sociais, que contrariam postulados consi-
interação. Apenas podemos destacar que derados corretos e adequados para o con-
é possível que o mesmo esteja sendo ini- vívio social? Salientamos que respostas
ciado, bem como é possível ser tido como a tais questionamentos poderão ser en-
projeto pessoal e social dos participantes, contradas com a análise do plano ético e
e construído a partir da referência de um moral assumidos pelos jovens. Segundo La
ideal de um indivíduo harmônico e coope- Taille (2006) o aspecto ético destacaria a
rativo. Isto é verdadeiro? Sim. É provável? ‘vida boa’ que os adolescentes desejariam
Não sabemos. Outra reflexão importante viver, ou seja, a forma de viver bem, gera-
a salientarmos diz respeito a existência de da a partir da “consciência da direção que
aspectos imorais nas justificativas emiti- damos às nossas vidas” (La Taille, 2006, p.
das por nossos entrevistados. Destarte, 38). As concepções de ‘vida boa’ incidem
verificando as argumentações emitidas sobre o ‘ser’ de cada pessoa uma vez que
pelos adolescentes por meio de uma aná- “escolher um sentido para a vida e formas
lise que identificasse a existência de juí- de viver é escolher a si próprio, é definir-se
zos imorais nas justificativas emitidas por como ser” (La Taille, 2006, p. 46), e esse
nossos entrevistados, pudemos averiguar sentido nada mais é que a ‘expansão de
que havia apenas três justificativas que si’ próprio: ver a si próprio como pessoa
puderam ser consideradas como imorais, de valor. Assim, o fato da possibilidade de
todas oriundas de uma entrevista de um haver uma nova elaboração não, necessa-
mesmo participante. Tal constatação leva- riamente, indicará uma desvinculação da
-nos a ressaltar que há poucas associações criminalidade. Para tanto, teríamos que
com contornos imorais nos dados con- avaliar se tais aspectos admirados teriam
cernentes às admirações dos adolescen- força suficientemente no ‘sentimento de
tes. Portanto, tendo em vista a incipiente obrigatoriedade’ ante a outros valores da
ocorrência, podemos refletir que os entre- autoestima, conforme consideração teó-
vistados estão apresentando admirações rica de La Taille (2006). Destacamos, por-
dissociadas, em sua maioria, de aspectos tanto, a necessidade de estudos que in-
considerados imorais. Como podemos in- vestiguem especificamente o ‘sentimento
terpretar tal resultado? Parece existir, nos de obrigatoriedade’ e a ‘expansão de si’ de
adolescentes, um anseio de construção jovens que cometem delitos.
de uma vida que desconsidere aspectos
imorais, o que pode indicar a possibilidade Palavras-chave: adolescentes em medida
dos mesmos conceberem uma ‘vida boa’, socioeducativa de internação, admirações,
em consonância com aspectos morais (La psicologia da moralidade.
Taille, 2006). Contudo, tais características Contato: Marcelo Menezes Salgado, UFES,
admiradas são respostas oriundas de ado- marcelomsalgado@gmail.com

942
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT03-880 - CARACTERIZAÇÃO DE 26,3%), ‘tráfico de drogas ou associação


ADOLESCENTES EM MEDIDA DE ou uso’ (n=13; 22,8%), ‘homicídio ou latro-
INTERNAÇÃO: UM ESTUDO NA ÁREA DA cínio’ (n=9; 15,8%), ‘tentativa de homicídio
PSICOLOGIA DA MORALIDADE ou tentativa de latrocínio’ (n=7; 12,3%),
Marcelo Menezes Salgado - PPGP/Ufes ‘porte ilegal de arma’ (n=5; 8,8%), ‘forma-
marcelomsalgado@gmail.com ção de quadrilha’ (n=4; 7,0%), ‘sequestro
Heloisa Moulin de Alencar - PPGP/Ufes relâmpago’ (n=2; 3,5%) e ‘quebra de liber-
heloisamoulin@gmail.com dade assistida’ (n=2; 3,5%). Por intermédio
Financiamento: CAPES dos resultados encontrados, constatamos,
ainda, que a maioria dos adolescentes es-
O presente trabalho consiste em um estu- tuda e faz cursos e/ou oficinas. No tocante
do sobre a caracterização de adolescentes ao processo escolar, sob a indagação se na-
que cumprem medidas socioeducativas de quele momento estudava ou não, verifica-
internação. Nosso objetivo foi conhecer a mos que 76,7% (n=23) responderam posi-
realidade dos internos por intermédio do/ tivamente e os que afirmaram não estudar
da: idade; delito cometido; processo esco- contabilizavam 23,3% (n=7). Àqueles que
lar; participação em curso e/ou oficina na diziam estudar foram questionados sobre
instituição. Cabe destacar que nosso inte- a motivação para tal ação. Os argumentos
resse foi analisar os dados de caracteriza- totalizaram um número de 157 justificati-
ção dos jovens a partir de referenciais da vas, que geraram nove categorias: ‘atuar
psicologia da moralidade (La Taille, 2006; em uma ocupação profissional’ (n=34;
La Taille, Flor & Fevorini, 1991 e Piaget, 21,6%), ‘viabilizar uma vida próspera para
1932/1994). Participaram da investigação si’ (n=33; 21,0%), ‘proporcionar aspecto
30 adolescentes, com idade entre 16 e 17 positivo a familiares’ (n=26; 16,6%), ‘am-
anos, do sexo masculino, internos em uma pliar o conhecimento geral’ (n=15; 9,6%),
unidade do Instituto de Atendimento So- ‘obter diploma’ (n=13; 8,3%), ‘promover
cioeducativo do Espírito Santo (Iases), na uma melhor sociabilidade’ (n=7; 4,5%), ‘su-
região metropolitana da grande Vitória/ prir uma necessidade’ (n=6; 3,8%), ‘sair do
ES. Realizamos entrevistas individuais, de crime’ (n=4; 2,5%) e ‘outros’, cujo percen-
acordo com o método clínico proposto por tual foi de 12,1% (n=19), que versa sobre
Piaget (1926/s.d.; 1932/1994). O primeiro a ‘influência familiar’ (n=3), ‘obrigatorie-
dado a ser apresentado é relativo à idade dade do estudo na instituição’ (n=2), ‘im-
dos adolescentes. Assim, averiguamos que portância do estudo’ (n=2), ‘possibilidade
60% (n=18) dos jovens estavam, no mo- de ser uma pessoa melhor’ (n=2), ‘poder
mento da entrevista, com 17 anos e o res- ensinar outrem’ (n=2), ‘obter melhor ren-
tante, 40% (n=12), com dezesseis anos. Ve- dimento nos estudos’ (n=2), ‘aquisição de
rificamos, então, uma predominância de família’ (n=2), ‘boas oportunidades’ (n=1),
entrevistados com 17 anos, contudo com ‘adquirir responsabilidade’ (n=1), ‘ocupar
uma frequência não muito além da outra a mente’ (n=1) e ‘ser independente de
faixa de idade. Quanto aos delitos come- outrem’ (n=1). Avaliando os referidos da-
tidos, os participantes mencionaram um dos, constatamos nos resultados algumas
total de 57, os quais originaram oito cate- aproximações com o dever-estudar discu-
gorias de respostas: ‘roubo ou furto’ (n=15; tido por La Taille et al. (1991). Verificamos

943
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que os resultados encontrados nas justifi- predominante, de justificativas relaciona-


cativas para estudar mencionadas podem das ao ‘dever estudar hipotético’. Todavia
ser relacionados à conceituação do dever é delicado estabelecer os graus, medidas
circular, hipotético e moral de La Taille et e ordem de interferência das variáveis en-
al. (1991). Notamos nas justificativas dos volvidas no processo, ou o que poderia ser
entrevistados que 73,2% (n=115) foram determinante nesse caso: Estaria o proces-
argumentos hipotéticos, 22,3% (n=35) das so escolar dos internos deficitário? Ou os
justificativas foram fundamentos morais e, eventos relacionados à violência seriam
ainda, que as únicas referências ao ‘dever determinantes? Fatores familiares podem
circular’ estão em sete respostas (4,5%) interferir de alguma forma? Se afirmativo,
encontradas em ‘outros’. Assim, poderí- como tais questões se associam na condu-
amos refletir, que nossos participantes ção do processo? Consideramos que es-
estariam interessados, prioritariamente, tabelecer ligações entre esses fenômenos
em vantagens pessoais privadas e, des- sem maiores cuidados poderia incorrer no
ta forma, desconectados de um projeto fato de uma análise notadamente simplis-
cidadão, de uma função social, podendo ta, na qual possivelmente seriam ignoradas
existir, portanto, uma carência de relações outras possíveis influências. Ainda, ponde-
cooperativas. Concordamos com La Taille rando sobre os motivos evidenciados pe-
et al. (1991) que a referida carência pode- los participantes para estudar, chamamos
ria impedir o desenvolvimento da autono- a atenção para a constatação de que os
mia., Assim, é necessário destacar, quanto dados evidenciam a preocupação do ado-
aos nossos participantes, que a possível lescente com algum tipo de benefício a ser
carência da função social em destaque, adquirido por intermédio do estudo. Per-
típica das relações cooperativas, pode- ceba o leitor que as mesmas justificativas
ria prejudicar o pleno desenvolvimento que definimos como hipotéticas (73,2%)
da autonomia nos jovens entrevistados. também estão relacionadas à aquisição
Destarte, teríamos um grave problema, de algum tipo de proveito para si. Desta
que é a falta de integração de outrem nos maneira, temos a constatação de que a
projetos pessoais dos internos. Caracte- maioria das fundamentações menciona-
rizamo-lo como grave por a referida falta das pelos adolescentes, além de estarem
relacionar-se intimamente com a questão relacionadas a um ‘dever hipotético’, tam-
da cidadania e função social, bem como bém têm seu conteúdo vinculado a algu-
com o desenvolvimento da autonomia. ma vantagem pessoal que o estudo pode
Chamamos a atenção para o contexto dos trazer aos projetos futuros do participante.
nossos participantes, ou seja, adolescen- Face ao exposto, é importante reiterar que
tes envolvidos com o crime. Considerando os dados referentes à escola, cursos e/ou
haver indícios de que os jovens não de- oficinas sugerem uma carência de relações
senvolveram plenamente a cidadania, po- cooperativas e uma falta de integração de
demos, ademais, inferir que suas próprias outrem nos projetos pessoais dos inter-
trajetórias pessoais rompem, uma vez que nos. Ademais, constatamos que os adoles-
cometeram infrações, com a função social centes conferem grande atenção aos seus
mais ampla, aquela concebida em socie- projetos de vida. Ressaltamos a existência
dade, o que parece permitir a ocorrência, de argumentações morais no repertório de

944
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

jovens que cometeram infrações. Tal fator se o envolvimento com os DH sofre influ-
evidencia a importância de trabalhos que ência de algumas características dos parti-
investiguem os valores morais de adoles- cipantes como idade, sexo, tipo de escola,
centes envolvidos pelo crime e violência, e gerações dos direitos. A perspectiva de
problematizando, inclusive, os ditames direitos de diferentes gerações é compre-
presentes nos planos moral e ético (La Tail- endida, nesta pesquisa, a partir de Lafer
le, 2006) de tais jovens. (2009): 1ª geração: direitos individuais
(autonomia); 2ª geração: direitos sociais;
Palavras-chave: adolescentes, medida 3ª geração: direitos de grupos minoritá-
socioeducativa de internação, moral e ética rios (não ser discriminado) e 4ª geração:
Contato: Marcelo Menezes Salgado, UFES, direitos relativos ao meio ambiente. Os
marcelomsalgado@gmail.com DH são definidos como princípios basea-
dos na justiça social, que são elaborados e
institucionalizados com a finalidade de re-
LT03-1064 - ENVOLVIMENTO DE gularem as relações sociais gerando bem-
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM OS -estar coletivo. Os DH têm sido estudados,
DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO no âmbito da psicologia social, sobretudo
COM A EMPATIA por Willem Doise que, a partir de uma vi-
Cleonice Camino - UFPB, são psicossociológica, realizou, juntamen-
cleocamino@yahoo.com.br - CNPq te com seus colaboradores, várias pesqui-
Anderson Mathias - UFPB, sas (Doise, Staerklé, Clémence & Savory,
anderson.mathias@yahoo.com.br 1998; Spini e Doise, 1998; Doise, Spini e
Julian Santos - UFPB, Clémence, 1999; Staerklé e Clémence,
ledjulian@hotmail.com 2004). No Brasil, Camino, Camino, Perei-
Lívia Braga - UFPB, ra e Paz (2004); Camino, Galvão, Rique &
liviabsc@yahoo.com.br Camboim (2005) e Camino, Galvão, Quiri-
Philomena Couras - UFPB, no, Moraes, Roazzi & Martin (2007) têm
menacouras@hotmail.com também estudado os DH nessa perspecti-
Nilton Formiga - Maurício de Nassau/PB va. O conjunto desses trabalhos tem con-
nsformiga@yahoo.com.br tribuído para esclarecer várias dimensões
Pablo Queiroz - UFPB, referentes aos DH, como: representações,
pabloqueiroz@live.co.uk conhecimento, envolvimento, princípios
Lilian Galvão - UFCG, organizadores, e a relação dessas dimen-
liliangalvao@yahoo.com.br sões com variáveis sócio-demográficas e
Leonardo Sampaio - UNIVASF psicossociais (idéias de força, valores, tipos
leorsampaio@yahoo.com.br de justiça que os afetam, etc.). Diante da
Financiamento: CNPQ extensão dos aspectos já estudados sobre
os DH, cabe destacar que a contribuição
Este estudo investiga o quanto crianças e do presente estudo refere-se: a conside-
adolescentes julgam que irão se envolver ração dos DH relativos ao meio-ambiente
com a implementação dos Direitos Huma- e a não-discriminação, dentre os direitos
nos – DH – e qual a relação desse envolvi- de outras gerações, como pólos de atração
mento com a empatia. Investiga, também, para um maior ou menor envolvimento

945
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos participantes com os DH; e a relação elevado (M=4,21), que foi seguido dos
dos DH com a empatia. A empatia é defi- escores médios dos direitos à autonomia
nida neste trabalho como a capacidade do (M=3,91), dos direitos ao meio ambiente
indivíduo de se colocar no lugar do outro e (M=3,53) e dos direitos a não ser discri-
sentir algo compatível com o que o outro minado (M=3,49); (2) os escores médios
sente. Julga-se que a introdução desses as- dos participantes em relação aos DH não
pectos no estudo sobre os DH possibilita, se diferenciaram em função do sexo; (3) os
além de um maior conhecimento teórico escores médios dos participantes diferen-
sobre o tema, um melhor planejamento ciaram-se significativamente (p<.05) em
de estratégias relativas à educação sobre função da escola que freqüentavam, tendo
os DH. Participaram da pesquisa 282 es- os alunos de escola pública obtido escores
tudantes, 144 do sexo feminino e 138 do médios mais elevados do que os alunos da
sexo masculino divididos em dois grupos escola particular em relação aos direitos
de idade: o grupo I constituído por estu- ao meio ambiente (M=3,72 e M=3,19), as
dantes de 11, 12 e 13 anos e o grupo II conquistas sociais (M=4,38 e M=3,95) e à
por adolescentes de 14, 15 e 16 anos, que autonomia (M=3,97 e M=3,81); (4) os es-
freqüentavam escolas públicas (N=174) tudantes de 11 a 13 anos obtiveram, em
e particulares (N=108). Todos os partici- relação à todas as gerações de direitos,
pantes responderam individualmente, em escores médios mais elevados do que os
ambiente de sala de aula, a perguntas so- estudantes de 14 a 17 anos, sendo que os
bre aspectos sócio-demográficos e a dois escores médios obtidos pelos estudantes
questionários; um contendo uma lista de mais novos e mais velhos foram, respec-
25 direitos que avalia o nível de envol- tivamente, M=3,90 e M=3,39, em relação
vimento dos participantes com os DH, o aos direitos ao meio ambiente, M=4,47 e
outro, contendo uma lista de 24 itens, que M=4,14, em relação aos direitos sociais,
avaliava a capacidade empática dos partici- M=4,10 e M=3,85, em relação aos direitos
pantes. As respostas para os itens dos dois para a autonomia e M=3,85 e M=3,43, em
questionários foram dadas em uma escala relação aos direitos à não discriminação;
tipo Likert, de cinco pontos, indicando o (5) ocorreu uma correlação positiva signi-
quanto o respondente faria alguma coisa, ficativa (r=.416; p<.05) entre a empatia e
quando ficasse mais velho, para que todos todos os direitos estudados. Diante desses
tivessem os direitos citados, ou o quanto resultados, pode-se concluir que o fato dos
experimentava um certo sentimento. As direitos de primeira e segunda geração
possibilidades de respostas variaram de 1 apresentarem escores médios mais eleva-
(nada) a 5 (muitíssimo). Os dados foram dos deve-se ao fato desses direitos terem
analisados com: o teste “t” para medidas sido os primeiros a serem institucionaliza-
independentes e medidas repetidas; uma dos. Quanto aos direitos relativos ao meio
ANOVA; e a correlação de Pearson. Nos ambiente terem apresentado um escore
resultados, observa-se que: (1) os parti- médio superior aos direitos de não ser dis-
cipantes apresentaram escores médios criminado, acredita-se que se deva a uma
significativamente diferentes (p<.05) em maior presença de movimentos ecológicos
função das gerações de direitos: os direi- nas escolas do que de movimentos relati-
tos sociais obtiveram o escore médio mais vos a não discriminação. A não diferencia-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção dos DH em função do sexo confirma discurso de o “futuro da nação”. Contu-


estudo anterior (Camino e cols., 2004). Os do, “ser esse futuro” implica no cumpri-
resultados referentes aos alunos de esco- mento de todas as expectativas e deman-
la pública apresentarem um escore médio das sociais, fazendo com que aqueles
maior do que os alunos de escola privada adolescentes que, por algum motivo, não
em relação a todos os direitos, podem ser se adéquam ao exigido, sejam excluídos.
justificados pelo fato dos alunos de escola Essa exclusão se aplica aos adolescen-
pública serem vítimas, pela sua pertença tes que cometeram aos infracionais por
à classe social desfavorecida, de maiores diversos motivos, indo desde sua situa-
opressões sociais, de um poder menor de ção infracional, até mesmo as diversas
reivindicação e de constantes catástrofes outras disparidades sociais nas quais
ambientais. Quantos aos estudantes mais aqueles adolescentes se encontram, na
novos terem obtido um escore médio de maioria das vezes. Sendo assim, percebe-
envolvimento mais elevado em relação a -se uma modificação paradoxal: alguns
todas as gerações de direitos, acredita-se adolescentes deixam de ser vistos como
que tem a ver com o fato de, por serem o “futuro da nação” e são vistos apenas
mais jovens, não pensarem nas dificulda- como um problema social. Porém, é im-
des de participarem de lutas e pelo fato de portante ressaltar que, embora a mídia
terem uma postura, em geral, mais afasta- venha enfocando com mais veemência as
da da realidade social. A correlação posi- infrações cometidas pelos adolescentes,
tiva encontrada entre os DH e a empatia, dados na UNICEF (2002) apontam que
pode ser explicada pela função motivado- apenas 10% de todas as infrações co-
ra da empatia em relação aos princípios de metidas no Brasil são de autoria de ado-
justiça (Hoffman, 2003; Sampaio, 2007). lescentes, sendo a maioria destes casos
relacionados a crimes contra o patrimô-
Palavras-chave: direitos humanos, empatia, nio, e não a vida. Essa super valorização
jovens. da mídia no que se refere a essas infra-
Contato: Cleonice Pereira dos Santos Camino, ções, resultaram, entre outras coisas, em
UFPB, cleocamino@yahoo.com.br um movimento social para redução da
maioridade penal. Contudo, assim como
aponta o CFP (2005), os adolescentes
LT03-1510 - JULGAMENTO MORAL E precisam ser vistos como pessoas em
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DE processo de desenvolvimento, sendo a
ADOLESCENTES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE redução da maioridade penal uma forma
Josemar Soares Rosa Filho - UNIVASF de se perder a oportunidade de promo-
josemaar@msn.com ver mudanças significativas na realidade
Leonardo Rodrigues Sampaio - UNIVASF e situação desses adolescentes. Além
leorsampaio@yahoo.com.br disso, torna-se necessário reforçar que as
infrações envolvendo adolescentes não
Como uma fase consideravelmente valo- são um sintoma contemporâneo, sendo
rizada pela sociedade ocidental, a adoles- registrados casos no Brasil desde 1830,
cência é vista sob o signo da esperança e como apontam Oliveira e Assis (1999).
prosperidade, sendo estes tratados sob o Nessa época, não havia nenhum tipo de

947
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

política pública ou instituição específica ra física, até a falta de profissionais bem


para lidar com esse público, sendo apli- qualificados e a péssima qualidade edu-
cadas aos adolescentes as determinações cacional disponibilizada a esses adoles-
do Código do Império. Apenas em 1927 centes (Galvão, 2005; SINASE, 2006; Rosa
é criado o Código do Menor, apontando Filho e Sampaio, 2009). Avaliando essa
que nenhum adolescente entre 14 a 18 situação, questiona-se: de que forma as
anos poderia ser julgado a não ser em medidas socioeducativas poderiam ser
júri especial. Com o passar do tempo a melhoradas e mais bem executadas? A
realidade brasileira foi sendo modificada, resposta é complexa, mas aponta-se que
exigindo assim que as políticas públicas atualmente, segundo Sampaio (2007)
seguissem o mesmo caminho. Em 1941, o campo de pesquisa e educação moral
segundo Galvão (2005), surge o Serviço pode contribuir na modificação dessa re-
de Assistência ao Menor, com o objetivo alidade, havendo um grande número de
de ser uma instituição para modificação pesquisas que comprovam a eficácia de
da realidade dos adolescentes. Porém procedimentos que visam uma melhoria
essa iniciativa foi falha, sendo a iniciativa nas concepções morais dos indivíduos.
considerada como uma verdadeira “fá- Considerando que as concepções morais
brica de delinqüentes” (Faleiros apud Oli- dos adolescentes indicam de que forma
veira e Assis, 1999). Em substituição ao estes compreendem e lidam com as re-
SAM, nasce a Fundação Nacional do Bem gras sociais, tornou-se necessário inves-
Estar do Menor (FUNABEM) e as Funda- tigar quais os níveis de julgamento moral
ções Estaduais de Bem Estar do Menor predominantes entre estes, problemati-
(FEBEMs), porém, da mesma forma que o zando e elaborando estratégias para me-
sistema anterior, tais fundações se mos- lhoria dessa realidade, além de pesquisar
tram inadequadas. Em resposta a todas quais as perspectivas para o futuro des-
as falhas supracitadas, e como resultado ses adolescentes, apontando que a ela-
de uma série de reivindicações sociais, boração de projetos de vida pode contri-
surge em 1990 o Estatuto da Criança e buir para a melhoria da realidade socioe-
do Adolescente – ECA, tentando garan- ducativa dos mesmos. Dessa forma, essa
tir “todas as oportunidades e facilidades pesquisa se delineou utilizando recursos
(para as crianças e os adolescentes), a qualitativos e quantitativos, sendo des-
fim de lhes facultar o desenvolvimento critiva e possuindo como instrumentos
físico, mental, moral, espiritual e social, principais entrevistas semiestruturadas
em condições de liberdade e dignidade” e o instrumento denominado de Dile-
(artigo 3). Contudo, mesmo sendo uma mas da vida real, produzido por Galvão
política muito bem construída a nível (2010). A amostra contou com 32 adoles-
teórico, o ECA, somado ao Sistema Na- centes de uma instituição socioeducativa
cional de Atendimento Socioeducativo – de Petrolina – PE. Estando em processo
SINASE, ainda são documentos que pos- de finalização, essa pesquisa possui ape-
suem diversas lacunas em sua execução, nas resultados parciais, apontando que
havendo uma série de irregularidades as principais perspectivas para o futuro
na realidade assistencial brasileira. Essas dos adolescentes dizem respeito a ob-
falhas vão desde uma péssima estrutu- tenção de uma boa situação financeira,

948
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

não sendo apresentado porém, de que LT03-1512 - SOCIOEDUCADORES E


formas esses adolescentes pensam em AS INSTITUIÇÕES DE PRIVAÇÃO DE
chegar a essa situação. Percebe-se que os LIBERDADE: PERFIL E JULGAMENTO
adolescentes não possuem grandes pers- MORAL
pectivas sobre o futuro, o que aponta a Josemar Soares Rosa Filho - UNIVASF
necessidade de intervenções que visem josemaar@msn.com
facilitar o processo de construção e or- Leonardo Rodrigues Sampaio - UNIVASF
ganização de projetos de vida e maiores leorsampaio@yahoo.com.br
perspectivas para o futuro. No que se re-
fere ao julgamento moral, os dados ainda Após os famosos estudos do educador
não foram totalmente analisados, sendo brasileiro Paulo Freire (1996), foi refor-
a previsão final para a agosto deste ano. çado entre os pesquisadores em ciências
Porém, os dados categorizados até ago- humanas o poder e o valor das práticas
ra apontam uma forte predominância de educacionais enquanto transformadoras
concepções morais entre os estágios três das realidades sociais e individuais, sendo
e quatro do nível convencional da tipolo- esta uma ferramenta muito importante
gia kohlberguiana, apontando uma con- para estruturação de uma sociedade de-
cepção de seguimento irrestrito as regras senvolvida e de melhores oportunida-
sociais como benéfica e mais bem valori- des para aqueles que não possuem boas
zada que a relativização ou análise crítica condições de vida. Como resultado deste
das mesmas. Além disso, a desejabilidade reforçamento, nota-se um enfoque atual
social, característica marcante do estágio do governo na construção e execução de
três, foi uma característica evidente nas políticas públicas educacionais que viabili-
entrevistas. Esses resultados apontam zem o ingresso das populações menos fa-
também, assim como no caso das pers- vorecidas no sistema educacional. Sendo
pectivas sobre futuro dos adolescentes, um dos grupos sociais de maiores inves-
uma necessidade de maiores interven- timentos por parte do Estado, os adoles-
ções visando a promoção de níveis de centes brasileiros tiveram como marco as-
julgamento moral mais elevados, fazen- sistencial, seja para execução de políticas
do com que as medidas socioeducativas educacionais ou não, a fundamentação do
possam ser executadas de melhor forma Estatuto da Criança e do Adolescente –
e fornecendo contexto para o desenvol- ECA, em 1990. Tentando garantir “todas as
vimento de uma moralidade autônoma e oportunidades e facilidades” para o pleno
pautada no respeito mútuo. desenvolvimento das crianças e adoles-
centes (ECA, 1990), esse documento pro-
Palavras-chave: privação de liberdade, põe uma série de iniciativas que visam
adolescentes, julgamento moral incluir os jovens na sociedade e os retirar
de quaisquer situações de vulnerabilidade
social possíveis, como a situação infracio-
nal. Para esses adolescentes que comete-
ram atos infracionais, o ECA recomenda
a aplicação de medidas socioeducativas,
iniciativas que visam, como prioridade,

949
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

reinserir os adolescentes na sociedade e cognitivo. Levando em consideração esse


proporcionar uma educação de qualidade pressuposto, espera-se que os socioedu-
para estes. Essa lógica educacional foi ain- cadores possuam níveis de raciocínios mo-
da mais reforçada com o Sistema Nacional rais mais desenvolvidos que os apresenta-
de Atendimento Socioeducativo – SINASE, dos pelos adolescentes, fornecendo assim
reforçando a obrigatoriedade do ensino o contexto necessário (mas não suficien-
regular aos adolescentes internos e deli- te) para que haja desenvolvimento moral.
mitando o papel de cada profissional da Partindo dessa compreensão, o presente
rede de assistência a esses jovens. Segun- estudo objetivou investigar os níveis de
do o SINASE (2006), os socioeducadores julgamento moral, bem como estabele-
possuem a função de auxiliar, acompa- cer um perfil sócio-demográfico desses
nhar e facilitar o processo de socioeduca- profissionais. Possuindo um delineamen-
ção dos adolescentes, garantindo todas as to descritivo-exploratório e utilizando re-
facilidades para uma possível mudança si- cursos qualitativos e quantitativos, esse
tuacional por parte dos internos. Contudo, estudo contou com uma amostra de 28
alguns estudos apontam que esses profis- profissionais de uma instituição de priva-
sionais não cumprem com seus papéis, ção de liberdade de Petrolina – PE e em-
seja por não possuírem uma boa profis- pregou como instrumentos entrevistas se-
sionalização, seja por possuírem concep- miestruturadas e os Dilemas da vida real,
ções preconceituosas e de descrédito para desenvolvidos por Galvão (2010). Esse ins-
com os adolescentes e a efetividade dos trumento para mensuração dos níveis de
seus próprios trabalhos (Oliveira e Assis, julgamento moral consiste basicamente
1999; Espíndula e Santos, 2004; Monte, na apresentação de duas situações reais
Sampaio, Rosa Filho e Santana, 2011). Es- amplamente divulgadas na mídia e pela
ses dados reforçam a necessidade de aná- posterior discussão sobre estas, mensu-
lises e investigações mais profundas sobre rando os posicionamentos apresentados
as práticas desses educadores, bem como a partir da tipologia kohlberguiana. Por
suas concepções e principais obstáculos se tratar de uma pesquisa em desenvolvi-
para a efetividade dos seus trabalhos. É mento, os resultados se apresentam como
constatado também que não há trabalhos parciais, contudo, mostra-se importante
que investiguem os níveis de julgamento salientar que todos os dados já foram co-
moral desses profissionais, o que se mos- letados e que a previsão para finalização
tra como uma carência, uma vez que essa das análises é de um mês. Com os atuais
compreensão pode facilitar a forma como resultados, pode-se apontar que a média
essas práticas profissionais são pensadas de idade dos socioeducadores é de 29
e planejadas. Sob a ótica de Piaget (1932) anos (d.p. = 2,1); sendo esses profissionais
e Kohlberg (1968), o desenvolvimento da pardos (57%) ou brancos (34%), casados
moralidade só se torna possível a partir ou em relacionamento estável (82%); com
das interações do indivíduo com o seu um ou dois filhos (88%); e moradores em
meio, sendo necessário o contato com bairros de classe média (88%). Esses da-
concepções e níveis de julgamentos mo- dos ainda serão complementados ao final
rais distintos, possibilitando assim o am- das análises, sendo investigada qual a ren-
biente necessário para que haja conflito da média desses profissionais, suas pers-

950
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pectivas de futuro na instituição e quais já possibilitaram um maior conhecimen-


foram os critérios que os fizeram escolher to sobre as práticas e concepções desses
tal trabalho. No que se refere aos níveis profissionais.
de julgamento moral, os dados foram
parcialmente analisados, apontando que Palavras-chave: socioeducadores, julgamento
os profissionais da instituição possuem moral, privação de liberdade
julgamentos morais centrados no nível
convencional, mais especificamente nos
estágios três e quatro da tipologia kohl- LT07-1324 - PROCESSOS DE
berguiana, havendo uma forte valorização DESENVOLVIMENTO DE EDUCADORES
do cumprimento irrestrito as regras mo- SOCIAIS DO SISTEMA DE MEDIDAS
rais e da punição como forma de controle SOCIOEDUCATIVAS: INDICADORES DE
social. Essa noção de regulação expiatória FORMAÇÃO
citada anteriormente pode ser exemplifi- Tatiana Yokoy de Souza - UnB
cada pelo discurso de um dos socioeduca- tatiana.yokoy@gmail.com
dores: Não deveria ser com o sofrimento, Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB
aos poucos. Mas que deveria ser? Com claudia@unb.br
certeza! Ele precisava pagar pelo que fez.
Se fosse uma coisa que ele tivesse feito só Apresentamos um breve ensaio sobre pro-
com uma, aí sim, mas com esse tanto? Até cessos de desenvolvimento de educadores
para que os seguidores dele percebessem sociais que atuam no sistema de medidas
que ele estava sofrendo pelo que ele fez. socioeducativas. O ensaio é parte de uma
(educador 04). Nota-se claramente, por pesquisa de doutorado, em andamento,
parte dos educadores e na fala anterior, que se propõe a identificar um conjunto de
uma concepção de que a punição deve indicadores que possa subsidiar propostas
ser aplicada como forma de exemplificar o críticas, dialógicas e reflexivas de forma-
que não pode ser feito. Esse é um dado de ção orientadas a profissionais que atuam
extrema importância, uma vez que talvez no sistema socioeducativo. A metodologia
reflita inclusive as práticas profissionais da pesquisa inclui a análise de narrativas
desses socioeducadores para com os ado- produzidas por educadores sociais em me-
lescentes internos. Acredita-se que esses moriais autobiográficos e em entrevistas
posicionamentos morais sejam reforçados narrativas. Caro e Guzzo (2004) entendem
pelo clima de coação e cumprimento de que é educador social todo profissional
regras da instituição, sendo estimulado que trabalha com pessoas em programas
que todos cumpram a lei de forma irres- e projetos sociais e que realiza atividades
trita. Com a finalização das análises, os ní- pedagógicas, orientações e aconselha-
veis de julgamentos dos socioeducadores mentos. Em nosso trabalho, consideramos
serão comparados aos níveis dos adoles- educadores sociais os profissionais de di-
centes, possibilitando uma discussão mais versos cargos que estabelecem contato
ampla sobre os limites da socioeducação pessoal e promovem o desenvolvimento
e investigando formas de desenvolver as dos adolescentes institucionalizados nas
concepções morais de ambos. Por fim, unidades socioeducativas. O Sistema Na-
acredita-se que os dados apresentados cional de Atendimento Socioeducativo (SI-

951
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

NASE, 2006) é o projeto de lei 1627/2007 para contaminar mais transformações em


que determina diretrizes para a execução outras esferas do sistema socioeducativo.
das medidas socioeducativas. Apesar dos Ainda que reconheçamos as contradições
avanços legislativos, o tema da infração e dificuldades que hoje cercam o proces-
cometida por adolescentes continua sen- so socioeducativo, entendemos que ele
do abordado no país predominantemente tem potencialidade de movimentar trans-
de forma reducionista, repressiva e disci- formações nas vidas dos adolescentes e
plinadora e a gestão das medidas socioe- dos educadores sociais (Lopes de Oliveira
ducativas oscila entre as áreas da Justiça, e Vieira, 2006; Yokoy e Lopes de Olivei-
da Segurança Pública e da Assistência ra, 2008). Para tanto, é necessário que
Social (Zamora, 2005a). O sistema socio- as práticas socioeducativas se organizem
educativo brasileiro ainda se caracteriza de forma a intencionalmente promover
pela precariedade nos recursos humanos: processos de desenvolvimento humano.
profissionais sem formação educativa; Entendemos que processos de formação
alta rotatividade; reduzida autonomia no de educadores sociais que atuam no sis-
trabalho; dificuldades de comunicação tema socioeducativo são fundamentais
entre grupos profissionais; e insatisfação para se atingir essas mudanças (Yokoy de
com questões trabalhistas (Oliveira e Assis, Souza, 2008; Yokoy e Lopes de Oliveira,
1999; Zamora, 2005b). O papel do edu- 2008). A formação profissional é apresen-
cador social nas relações cotidianas tem tada explicitamente pelo SINASE (2006)
sido freqüentemente reduzido ao moni- como diretriz essencial para transformar
toramento e à disciplinarização. O próprio a realidade atual do atendimento ofere-
contexto das ações socioeducativas pode cido ao adolescente que cumpre medida
levar a um forte desgaste psicológico dos socioeducativa no país. Segundo o SINASE
educadores sociais. Muitos enfatizam a (2006), os programas de atendimento de-
necessidade de acompanhamento psico- vem oferecer formação inicial, continuada
lógico e repetem discursos de desamparo, e em serviço como parte de uma política
isolamento, perseguições políticas e sofri- de recursos humanos. A perspectiva dia-
mento no trabalho (Ferreira e Fernandes, lógica e narrativa e a Psicologia Histórico-
2000; Romans, Patrus e Trilla, 2003; Yokoy -Cultural são consideradas relevantes para
de Souza, 2008). Além de conhecimentos este trabalho, por enfatizarem a natureza
técnicos, salários satisfatórios e boas con- ativa, discursiva, interativa e contextual
dições de trabalho, faltam-lhes espaços de da subjetividade e do desenvolvimento
escuta e reflexão (Zamora, 2005b). Existem humano. A partir de um enfoque dialógi-
avanços em modelos de atendimento e de co (Hermans, 2001; D’Alte, Petracchi, Fer-
funcionamento, realizados em conjunto reira, Cunha e Salgado, 2007) e narrativo
com os familiares e com a comunidade, (Wiley, 1994; Bamberg, 2004), visamos
que fomentam uma rede de apoio socio- compreender significações do cotidiano
emocional e que reconhecem a diversi- de trabalho que canalizam culturalmente
dade e a complexidade das trajetórias de o desenvolvimento de educadores sociais,
envolvimento com a infração (UNICEF, suas identidades profissionais e suas inter-
2003; Costa, 2005; Gonzales, 2006). No venções com os adolescentes. A Psicologia
entanto, estes precisariam se fortalecer Histórico-Cultural enfatiza tanto o papel

952
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ativo do sujeito como a mediação da cultu- a subjetividade do educador social como


ra e das práticas institucionais nos proces- diferenciais da nossa compreensão sobre
sos de desenvolvimento humano (Valsiner, o que é a formação profissional, divergin-
1989; Rossetti-Ferreira, Amorim & Silva, do de modelos exclusivamente conteudis-
2004). Desse modo, os educadores sociais tas, teóricos, tecnicistas, monológicos, que
são compreendidos neste trabalho como não valorizam as experiências dos profis-
sujeitos que negociam ativamente senti- sionais. Assim, consideramos importante
dos sobre si, a partir das circunscrições dos compreender quais processos de desen-
contextos de que participam e dos lugares volvimento têm sido promovidos no coti-
sociais que ocupam em uma matriz sócio- diano de trabalho e nas diferentes ativida-
-histórica. O momento pelo qual passamos des de formação ofertadas aos educadores
sinaliza um maior investimento na área so- sociais, a fim de sugerirmos, como produto
cial e no sistema socioeducativo, incluindo final da pesquisa, indicadores para que a
a formação de recursos humanos. As expe- formação colabore para a modificação das
riências de formação oferecidas incluem suas intervenções profissionais e de sua
cursos com status de Ensino Superior, pa- identidade profissional. Como vimos, a for-
lestras, oficinas e consultorias, fornecidas mação dos educadores sociais que aten-
por empresas privadas e por convênios dem adolescentes em cumprimento de
com universidades. Em algumas experiên- medida socioeducativa é uma necessidade
cias, predomina o viés tecnicista e instru- empírica e teórica e é uma diretriz central
mental; já outras possuem uma orientação do SINASE (2006). Essa formação precisa se
mais dialógica, transformadora da reali- comprometer com modificações criativas
dade e emancipatória dos educadores so- das práticas e mentalidades institucionais,
ciais. Com o SINASE (2006), tem ocorrido promovendo tanto o desenvolvimento dos
um maior investimento na qualificação dos educadores quanto dos adolescentes que
profissionais socioeducativos. No entanto, cumprem medidas socioeducativas.
poucas pesquisas foram feitas sobre as ca-
racterísticas dessas atividades ou sobre o Palavras-chave: medidas socioeducativas,
grau em que elas respondem às demandas formação profissional, educador social
do cotidiano nas unidades de execução de
medidas socioeducativas. A formação de
educadores sociais tem interessado alguns LT04-1063 - A INCLUSÃO DO MENOR
pesquisadores de Psicologia, do ponto de INFRATOR EM CONDIÇÕES DE
vista teórico e metodológico, mas esse ain- LIBERDADE ASSISTIDA NO TRABALHO
da é um movimento tímido e expressivas SÓCIOCULTURAL, PEGAGÓGICO ESCOLAR
lacunas perseveram. Consideramos a ne- E LETRAMENTO
cessidade de ampliação das abordagens Amanda Correia Lima - UNB
teórico-metodológicas que tem sustenta- amandajmorrisson@gmail.com
do atividades de formação de educadores
do sistema socioeducativo, por meio do A pesquisa tem como tema: “A Inclusão
investimento em perspectivas contempo- do menor infrator em condições de liber-
râneas do desenvolvimento humano. De- dade assistida no trabalho sociocultural,
fendemos a práxis, o enfoque dialógico e pedagógico escolar, através do letramen-

953
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to”, que foi um trabalho desenvolvido na porte as pesquisas de campo, trabalhado


conclusão do curso da especialização em de forma descritiva. A significação deste
Desenvolvimento Humano e Inclusão Es- trabalho nos leva a história da legislação,
colar da UNB (Universidade de Brasília) todo o contexto que envolve os menores
em parceria com a UAB (Universidade em conflitos com a lei, isso de uma forma
Aberta do Brasil) e teve como proposta gradual. A preocupação com esse público
analisar a real situação inclusiva em sala vem desde a colonização do Brasil, tendo
de aula do adolescente menor infrator como exemplo às ordens criadas por D.
que está em condição de liberdade as- Fillipe II (ordenações Fillipinas). Depois
sistida que frequenta as escolas públicas vieram as leis codificadas do Código Mello
da cidade satélite do Recanto das Emas de Mattos, até a então Constituição Fede-
no DF. O trabalho aborda em seu refe- ral e com ela o Estatuto da Criança e Ado-
rencial teórico os seguintes temas: Leis, lescentes. Jesus, (2006) um dos principais
Família, Escola, Inclusão e Letramento. A autores que regem esse trabalho, aborda
metodologia usada é de predominância claramente toda trajetória podendo nos
teórica descritiva de caráter qualitativo, dá exemplos do inicio dessa preocupação
promovendo uma pesquisa bibliográfi- com a deliquencia juvenil, (JESUS, 2006,
ca de autores e documentos oficiais que p.31). “A preocupação com a delinquen-
se relacionam com o assunto proposto, cia juvenil estava exposta já nas Ordena-
exemplo: Estatuto da Criança e Adoles- ções Filipinas, que vigoraram no Brasil por
cente (ECA), Constituição Federal, Jesus mais de dois séculos, até a promulgação
(2006), Dalegreve (2006), Mollica (2007), do Código Criminal do Império, em 1830”.
Maciel & Barbato (2010), autores e do- Diante da preocupação e toda trajetória
cumentos que deslancham em uma pro- em volta da delinqüência juvenil em uma
posta explicativa sobre as concessões, a sociedade contemporânea, pode se pen-
realidade social da periferia, o ambien- sar em uma garantia de direitos a uma
te escolar, a inclusão e o letramento. O margem de excluídos da sociedade que
trabalho pode contar com a análise de resultavam em crianças e adolescentes.
questionários, memoriais, trabalho em Após a Constituição Federal que foi pro-
sala de aula de alunos que passaram por mulgada no ano de 1988, na Câmara dos
problemas judiciais, visando uma melhor Deputados com intuito de garantir cida-
contribuição a pesquisa sobre a real situ- dania em suas leis ao individuo brasilei-
ação que envolve o menor infrator, dando ro, se pensou em uma lei complementar
uma produção de conhecimento de um que fosse destinada ao público infantil.
caráter interpretativo-construtivo, a fim Esse ideal se consagrou em Estatuto da
de se ter uma melhor análise da maneira Criança e do Adolescente no ano de 1990.
em que vem sendo incluído o menor in- Diante desse contexto que a lei garante as
frator em sala de aula, tendo como recur- crianças e adolescentes uma lei específi-
so o letramento. A pesquisa além de bi- ca, onde ocorra a inclusão de jovens em
bliográfica, também conta com uma abor- condições de liberdade assistida em sala
dagem qualitativa devido à aplicação de de aula, se pode perceber que muitos
questionários, observação e contato com desses adolescentes voltavam a cometer
a realidade dos alunos, tendo como su- infrações mesmo depois de ser beneficia-

954
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do pela justiça com uma concessão assis- condizentes com seu meio, localizando
tida baseada na inclusão escolar, o que le- assim, esse aluno na sociedade. Constata-
vou ao questionamento e a problemática -se que é considerável investir em futuras
dessa pesquisa. Como ocorre a inclusão pesquisas que trabalhem diretamente
do menor infrator em condição de liber- com as famílias dos menores infratores,
dade assistida na vida escolar? Baseado discutindo sobre o respeito, às origens,
neste contexto de uma vivência profis- cultura e todos os aspectos sociais que
sional e social surgiu a proposta da aná- possam intervir na conduta do adoles-
lise do tema, tendo como norteamento o cente com o meio. Através de uma abor-
letramento, que seria a forma funcional dagem mais específica das realidades
da alfabetização. Os resultados obtidos existentes, fatores norteadores para uma
concluíram que a medida sócio-educativa melhor qualidade do ensino público para
de inclusão escolar por si só não garante menores infratores, neste caso específico,
ao adolescente infrator uma reintegração do Distrito Federal.
social, já que além dos fatores de estrutu-
ra familiar a ser considerado, temos o fa- Palavras-chave: inclusão, menor infrator,
tor social que não garante programas de letramento escolar.
apoio em parceria com a escola a esses Contato: Amanda Correia Lima, Universidade de
jovens e consequentemente a suas famí- Brasília – UNB, amandajmorrisson@gmail.com
lias que vem de uma realidade dura de so-
brevivência e marginalização. O trabalho
trouxe informações práticas de observa- CO 43 - LT06
ções a respeito da preparação dos profes-
sores que trabalham com menores infra- Saúde
tores e que não recebem treinamentos
e desconhecem essa forma de inclusão,
LT06-712 - TRIAGEM DO
trabalham com medo e inseguros, envol-
DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA SAÚDE
vidos pela realidade sofrida do aluno de
PÚBLICA
periferia que chegam às salas de aula sem
motivação. E a inclusão do menor infrator Ana Regina Lucato Sigolo - UFSCar
através do trabalho pedagógico escolar ginasigolo@yahoo.com.br
é minimizada tanto pelo despreparo dos Ana Lúcia Rossito Aiello - UFSCar
professores, quanto pela falta de envol- ana.aiello@terra.com.br
vimento da família no processo inclusivo Financiamento: FAPESP
de aprendizagem, não existe um coopera-
ção mútua de responsabilidades. A parte Amorin et al. (2009) ressalta que uma
positiva que pode ser observada nessa avaliação regular do desenvolvimento in-
pesquisa, baseia-se na funcionailidade do fantil é importante para que problemas
letramento, fator significativo nas discus- do desenvolvimento sejam identificados
sões em sala. Através dessa maneira de precocemente e as crianças diagnostica-
vivenciar com o aluno os vários gêneros das sejam encaminhadas para programas
textuais baseado em sua realidade é que específicos, para que as conseqüências
se pode despertar para algumas questões do seu atraso sejam nulas ou mínimas.

955
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Os autores enfatizam que esse acompa- Foi realizada a aplicação do instrumento


nhamento pode ser realizado com proce- selecionado com pais/responsáveis de
dimentos de baixo custo, simples e que 12 crianças atendidas em cada Unidade
todos os profissionais de saúde da rede e analisadas as informações contidas nos
pública têm possibilidade de realizá-los. prontuários médicos destas crianças. Em
Assim, esse monitoramento tem condi- todas as unidades foram identificadas 38
ções de ser implementado nos progra- crianças (63,34%) que falharam em al-
mas públicos, com a função de vigilância cançar algum marco do desenvolvimento
do desenvolvimento. E, para confirmar para a sua idade. De acordo com o mate-
essa afirmação, documentos do Misté- rial utilizado, estas crianças deveriam ter
rio da Saúde (Brasil, 2002; Brasil, 2002a) um acompanhamento mais sistemático
apontam que os Programas de Saúde da dos profissionais e seus responsáveis,
Família podem ser considerados locais orientados quanto à estimulação necessá-
adequados para a avaliação e o monitora- ria a ser realizada com suas crianças. Além
mento do desenvolvimento infantil, uma disso, três crianças precisariam ser enca-
vez que são responsáveis pela prevenção minhadas para um centro de atendimento
de doenças, promoção e recuperação da especializado, uma vez que não apresen-
saúde. Ainda, de acordo com o Ministério taram o marco do desenvolvimento no úl-
da Saúde (Brasil, 2002), os profissionais da timo mês esperado para este. Importante
saúde devem estar preparados para iden- ressaltar que das 38 crianças que apresen-
tificar os sinais precoces de atraso no de- taram alguma falha em seu desempenho,
senvolvimento e encaminhar essas crian- seis eram prematuras. Desta forma, cal-
ças para os serviços especializados mais culando suas idades corrigidas, somente
adequados para o problema detectado. uma criança deixaria de apresentar al-
Este trabalho teve como objetivos avaliar guma falha em um marco do desenvolvi-
o desenvolvimento infantil a partir do re- mento, ainda assim, cinco crianças preci-
lato dos pais e verificar se havia ou não sariam de um acompanhamento do seu
discrepância entre as informações conti- desenvolvimento mais sistemático e deta-
das no prontuário da criança nos Progra- lhado dos profissionais. Vale destacar que
mas de Saúde da Família e as fornecidas o instrumento não indica a necessidade
pelo instrumento, a partir das informa- em considerar a idade corrigida da crian-
ções relatadas pelo responsável durante ça na sua aplicação. Porém, o fato dessas
a sua aplicação. Participaram desta pes- crianças serem prematuras implica em
quisa 60 pais/responsáveis de crianças de uma atenção maior, uma vez que apre-
zero a dois anos, atendidas em cinco Uni- sentam maior probabilidade de terem
dades do Programa de Saúde da Família. algum atraso em seu desenvolvimento e,
Em função de não existir um instrumento consequentemente, se beneficiariam de
de avaliação do desenvolvimento infantil uma intervenção e/ou estimulação preco-
baseado no relato dos pais e padronizado ces. Outro dado interessante é que quatro
para a população brasileira, optou-se pela crianças eram prematuras e apresentaram
adaptação da “Ficha de Acompanhamen- um desenvolvimento normal tanto para
to do Desenvolvimento” (Brasil, 2002), a sua idade cronológica quanto para sua
disponibilizada pelo Ministério da Saúde. idade corrigida sendo, também, uma po-

956
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pulação em potencial para os programas os das 38 crianças que apresentaram al-


de estimulação precoce, para evitarem o guma falha de desenvolvimento, tinha
aparecimento de possíveis atrasos no de- registro de uma avaliação do “problema
senvolvimento. Esses resultados devem detectado pelo instrumento” e de alguma
ser analisados com cautela; no entanto, orientação específica. Aparentemente os
são preocupantes. Apesar do tamanho re- profissionais não “perceberam” a falha de
duzido da amostra e o fato de ainda ser desenvolvimento e, ao não perceberem,
de conveniência, ainda assim, 63,34% das não realizaram encaminhamentos. O que
crianças avaliadas apresentaram falhas de chama a atenção é que, do total destas
desenvolvimento que sugerem condutas crianças, 12 foram consultadas uma ou
especificas, como: antecipar a próxima mais vezes ao mês e nove tiveram 10 ou
consulta, investigar o ambiente da criança, mais consultas médicas registradas. É ne-
a sua relação com o responsável e a oferta cessário enfatizar, também, a ausência da
de estímulos, sistematicamente. O obje- efetivação de uma proposta do Ministério
tivo dessas condutas dos profissionais é da Saúde, uma vez que o material utiliza-
impedir que essas falhas se transformem do para avaliar as crianças foi criado por
em persistência do atraso. A recomenda- uma equipe de especialistas, em 2002, a
ção, portanto, é lidar de forma preventiva pedido do próprio Ministério, para que
em relação a estas dificuldades e favore- fosse inserido nos atendimentos à popu-
cer o bom desenvolvimento infantil. Com lação infantil, com o objetivo de acompa-
a análise dos prontuários dessas crianças nhar, sistematicamente, o crescimento e
foi possível verificar a predominância de o desenvolvimento da criança. Porém, em
informações sobre saúde nas consultas 2010, oito anos após sua criação, esse ins-
médicas, mesmo sendo únicas ou com trumento não era utilizado no município e
outro tipo de informação. Do total de 444 também não era conhecido por dois mé-
consultas, 397 (89,4%) foram relacionadas dicos e três enfermeiras dos Programas de
à “saúde”. Pôde-se observar: 11 consultas Saúde da Família. Vale lembrar que esta
com registro de algum aspecto relaciona- pesquisa foi realizada em uma cidade do
do à avaliação do desenvolvimento, como centro do Estado de São Paulo, uma região
“aparecimento da dentição” e marcos do conhecida como pólo tecnológico. Assim,
desenvolvimento, porém, realizadas por do mesmo modo que propostas são cria-
um profissional que já não trabalhava mais das, é fundamental que haja políticas para
nas Unidades; e nove crianças da Unidade implementá-las; é preciso que propostas
4 e uma da Unidade 5 tiveram o registro como esta se efetivem, para beneficiarem
da avaliação dos reflexos. Além das pou- a população infantil na sua totalidade.
cas consultas com anotações sobre o de-
senvolvimento da criança (2,48%), não foi Palavras-chave: triagem de desenvolvimento
observado nenhum registro quanto aos infantil, avaliação do desenvolvimento,
marcos evolutivos, que convergiam com Programas de Saúde da Família
os resultados obtidos pelas crianças que Contato: Ana Regina Lucato Sigolo,
não apresentaram um desenvolvimento Universidade Federal de São Carlos,
normal, segundo o instrumento utilizado. ginasigolo@yahoo.com.br
Dessa forma, nenhum prontuário, entre

957
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-746 - CARACTERIZAÇÃO DA REDE em contextos nos quais os pesquisadores


DE ATENÇÃO A USUÁRIOS DE CRACK NO encontram-se engajados em atividades
VALE DO PARANHANA/RS regulares, junto a pessoas que estão en-
Alexandre Herzog, Faccat volvidas, diretamente, com o fenômeno
alexandreherzog@hotmail.com pesquisado. A inserção ecológica, além
Sílvia Schein, Faccat de possibilitar a pesquisa no contexto real
silviaschein@yahoo.com.br dos sujeitos, proporciona intervenções
Laíssa Eschiletti Prati que facilitam o seu desenvolvimento,
Faccat, laissaprati@pq.cnpq.br através da interação pesquisador-pes-
Financiamento: CNPq quisado. Os locais de inserção foram se-
lecionados a partir do CNESnet (Cadastro
A temática do crack vem sendo muito Nacional de Estabelecimentos de Saúde),
discutida, atualmente, motivando e exi- do Guia de Saúde Mental do Rio Grande
gindo intervenções políticas do governo do Sul (Rio Grande do Sul, 2008) e do
federal, que visem ampliar e fortalecer site da Federação Brasileira de Comuni-
a rede de atenção a usuários de crack. A dades Terapêuticas (FEBRACT), onde fo-
reestruturação da atenção aos usuários ram identificados os serviços de atenção
de álcool e outras drogas tem ocorrido a usuários de crack, nos seis municípios
através da sua ligação com a Rede Inte- que compõem o Vale do Paranhana. Os
gral de Atenção à Saúde Mental, tendo pesquisadores estavam inseridos em ser-
como eixos orientadores a prevenção, o viços de atenção a usuários de crack du-
tratamento, a recuperação, a reinserção rante um período mínimo de três meses,
social, a redução dos danos sociais e à com contatos semanais de uma hora e
saúde, a redução da oferta e a realização meia, proposta que acompanha as diver-
de estudos, pesquisas e avaliações acer- sas atividades realizadas, contatando os
ca das intervenções realizadas (Duarte & diferentes profissionais envolvidos com a
Branco, 2008). No entanto, o tratamen- temática e os usuários de crack. O princi-
to do usuário de crack tem se mostrado pal instrumento de coleta de dados tem
como um desafio, tanto para a rede de sido o diário de campo, que vem sendo
atenção quanto para as políticas públicas, redigido individualmente após cada visita
pois, exige intervenção e ação de diferen- ao serviço. Nesse documento são coloca-
tes esferas do governo e da própria rede dos não apenas os fatos observados, mas,
de atenção. Diante desta perspectiva, o também, as impressões e sentimentos
objetivo desta pesquisa é mapear a rede que perpassam a atuação do pesquisador
de atenção a usuários de crack do Vale do nos momentos em que está inserido no
Paranhana/RS, identificando as barreiras serviço pesquisado. Também podem ser
de acesso ao tratamento/ serviço e dos utilizados questionários e escalas padro-
desafios envolvidos na adesão do usuário nizados, entrevistas com profissionais e
ao tratamento. O método utilizado para a usuários do serviço, consulta aos pron-
coleta de dados é o da Inserção Ecológica, tuários e formulários disponíveis. Para a
proposto por Cecconello e Koller (2003). análise dos dados coletados está sendo
Segundo Prati, Paula Couto, Moura, Polet- utilizado o software Nvivo 9, que auxilia
to e Koller (2008) a inserção só é possível na identificação de categorias e identifica

958
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os temas emergentes nos diários de cam- em diversas cidades e como os usuários


po. Da mesma forma, quando necessário, transitam entre diferentes serviços. No
usa-se o SPSS para a análise dos dados contexto do Rio Grande do Sul, Oliveira e
quantitativos. A proposta é realizar uma Dias (2010) salientam que são observadas
análise integrada dos diferentes instru- práticas que desconsideram questões so-
mentos utilizados para a obtenção de in- cioculturais, políticas e econômicas rela-
formações aprofundadas sobre a rede de cionadas ao uso do crack, legitimando o
atenção aos usuários de crack. Em relação usuário como delinquente-doente e a in-
aos resultados, a pesquisa já foi inserida ternação–isolamento, como o tratamen-
em 4 das 6 cidades que compõem o Vale to ideal. Muitos membros das equipes
do Paranhana. Até o presente momento, de atenção estão buscando formação na
permitiu verificar que a rede de atenção área da dependência química, identifi-
aos usuários de crack está em processo cando em si uma dificuldade no manejo e
de construção e definição de competên- atenção ao usuário. Como parte das con-
cias de cada serviço de atenção. Há a ten- clusões, esta pesquisa está auxiliando na
tativa de alguns municípios em articular construção do conhecimento acerca da
os serviços de maneira integrada, mas, realidade dos serviços de atenção, pro-
estas ações ainda estão em nível de pla- fissionais, tratamentos oferecidos e usu-
nejamento e discussão, gerando muitas ários de crack do Vale do Paranhana/RS.
dúvidas e questionamentos quanto ao Portanto, diante da realidade encontrada
papel e responsabilidades de cada servi- e das contribuições previstas da pesquisa,
ço. Entretanto, ainda há municípios que pretende-se auxiliar os municípios tanto
desconhecem a realidade do crack no seu na criação quanto no fortalecimento das
território. Com relação ao atendimen- redes de atenção e dos profissionais que
to oferecido, as principais barreiras de trabalham com usuários de crack, através
acesso aos serviços e tratamentos identi- de encontros e cursos. Quanto à constru-
ficadas são: a exigência de familiar para ção de políticas públicas, acredita-se que
atendimento e tratamento, a necessidade além de capacitar as equipes de atenção
de abstinência total de uso se substâncias à saúde com novas abordagens terapêu-
para permanecer em tratamento e a fal- ticas, é necessário construir uma siste-
ta de abordagens e modelos terapêuticos mática de encaminhamento mais eficaz.
mais flexíveis e adequados à realidade Um resultado imediato que o processo de
dos usuários. Para Silva et al. (2009) a inserção na rede já está possibilitando é o
dependência química tem origem mul- desenvolvimento de novas relações entre
tifatorial e complexa e, por isso, exige os serviços facilitando, assim, o desen-
tratamentos em múltiplas abordagens volvimento das pessoas que, estando em
terapêuticas. Entretanto, Passos (2010) risco e sofrimento, buscam estes espaços.
afirma que, apesar das novas diretrizes
para o atendimento e tratamento a usu- Palavras-chave: políticas públicas, crack, rede
ários de crack persistem, ainda, manei- de atenção
ras preconceituosas e valores arraigados Contato: Alexandre Herzog, Psicologia/Faccat,
quanto ao uso da droga. É interessante alexandre.herzog@hotmail.com
identificar alguns profissionais que atuam

959
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-809 - O CENTRO DE REFERÊNCIA Libertação (Boff), a Filosofia da Liberta-


DA ASSISTÊNCIA SOCIAL CRAS NAS ção (Dussel) e a Pedagogia da Libertação
TRAVESSIAS DA VIDA: REFLEXÕES (Freire), dos quais bebem os psicólogos
SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO comunitários do Ceará. Uma leitura in-
E LIBERTAÇÃO teressada do documento que norteia o
Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC Serviço de Convivência e Fortalecimento
naradiogo@hotmail.com dos Vínculos para crianças até seis anos
Gislane Karla de Souza - UFC (Brasil, 2010) e a vivência de acompanha-
gislanekarla.psicologia@yahoo.com.br mento da implantação deste serviço atra-
Juliana Moita Leão - UFC vés do projeto de extensão “Brincadeiras:
juliana_moita@hotmail.com ações em Psicologia do Desenvolvimento
Iollanda Freire Costa - UFC e práticas lúdicas” – do curso de Psicolo-
iollanda3fcbelchior@yahoo.com.br gia da Universidade Federal do Ceará, na
Raíza Ribeiro de Souza - UFC cidade de Sobral, região norte do Estado
raiza.psicologia@yahoo.com.br – também inspiraram as linhas a seguir.
Susana Maciel Pinto - UFC Abordar a infância e suas vivências con-
garotinha-susi@hotmail.com temporâneas no contexto urbano trata-se
de trabalho complexo, envolvendo múlti-
Este texto apresenta algumas reflexões plos atores e compreensões. De acordo
teóricas sobre as práticas relativas a com Castro (2001), o lugar da infância é
crianças com até seis anos de idade, nos como que marcado por um débito social
Centros de Referência da Assistência So- e cultural, fruto de uma sociedade refe-
cial (CRAS), buscando um diálogo teórico renciada no adulto. Uma aproximação
entre as perspectivas de Walter Benja- da infância pobre do contexto urbano
min, pensador ligado à teoria crítica e Lev evidenciaria mais um déficit advindo da
Vigotski, psicólogo russo fundador da te- situação de privação e luta pela sobrevi-
oria histórico-cultural, e as contribuições vência, enfrentadas por tais sujeitos, coti-
de ambas à compreensão da brincadeira dianamente. A transformação de tais con-
enquanto atividade da criança, além de cepções e situações parte da discussão de
Martin-Baró, psicólogo salvadorenho que uma dimensão ético-política da infância,
versa sobre a América Latina e sua luta desconstruindo a lógica da norma desen-
por libertação. Tais considerações situ- volvimentista para afirmar a criança como
am-se, ainda, no escopo mais amplo das sujeito, ator social, cuja ação é brincar. O
fronteiras entre a Psicologia Comunitária “Brincadeiras” foi proposto no sentido de
e a Psicologia do Desenvolvimento, pro- se pensar, criticamente, os espaços de
curando tecer compreensões a respeito construção dessa lógica diferenciada na
do desenvolvimento humano, em suas cidade de Sobral, articulando-se junto a
dimensões pessoais e coletivas, tomando estes espaços e fortalecendo suas ações,
como ponto nodal a questão da liberta- tendo atenção para o lugar da criança
ção. A Libertação tem sido problemati- como sujeito de direitos. O campo inter-
zada em diversas produções científicas disciplinar no qual o lúdico se inscreve
da América Latina, a saber, a Psicologia tem como esteio teórico-metodológico,
da Libertação (Baró, 1998), a Teologia da no presente projeto, a Psicologia históri-

960
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

co-cultural de Vigotski, compreendendo midade com a vivência cotidiana das fa-


que a brincadeira proporciona à criança mílias e um fortalecimento da rede social
novas leituras da realidade, o que valori- da qual ela faz parte. Este espaço abriu-
za a atividade lúdica em si mesma e não -se para a presença do extensionista do
somente em seu caráter instrumental. Vi- projeto “Brincadeiras”, compreendendo
gotski (1998), em texto que versa sobre a seu lugar de aprendiz e proporcionando
brincadeira para os pré-escolares, aborda vivências mobilizadoras de discussões
a gênese do brincar e seu papel, sendo a acadêmicas, que envolvem psicologia do
brincadeira um dos fundamentos do de- desenvolvimento, psicologia social, so-
senvolvimento psicológico neste momen- ciologia da infância, dentre outras temá-
to da vida. A teoria histórico-cultural con- ticas, qualificando o olhar do psicólogo
sidera, sobretudo, o interesse da criança, em formação e sua contribuição junto a
o que motiva sua ação, que necessidades este contexto, com vistas a colaborar no
estão envolvidas na atividade específica planejamento, execução e avaliação das
do brincar e de que forma esta articulada atividades lá propostas, constituindo-se
às esferas afetivas e cognitivas na direção campo interativo fundamental para a cir-
do desenvolvimento. No enfoque socio- culação de saberes e práticas a respeito
cultural, representado por autores como do brincar. Através da vivência cotidiana
Werscth e Valsiner, compreende-se que a dos extensionistas junto à implementação
criança reconstrói e transforma a cultura, dessa vivência nascente, realizamos leitu-
redefinindo a realidade na brincadeira e ras do documento norteador já referido.
indo além do que foi a ela apresentado, O brincar, como modo de comunicação,
o que ressalta seu papel ativo. Essas con- coloca em pauta: o que teriam as crianças
cepções colaboram para afirmar a infân- a dizer e que importância teria esta escu-
cia a partir do reconhecimento de sua ta para o alcance dos objetivos do CRAS?
visão sobre o mundo como algo de valor Tal escuta se confunde com diagnóstico?
e não apenas como vir a ser. Um olhar Como pode o brincar, no CRAS, ser liber-
crítico alerta-nos, porém, a considerar tação? E a partir das referências já cita-
que os espaços das práticas lúdicas são das e aprofundadas no decorrer do texto,
atravessados pelas tensões contemporâ- a seguir, coloca-se a pergunta originária
neas e marcam a cultura lúdica em ter- destas reflexões: como e o que as equi-
mos de dependência e autonomia, frente pes dos CRAS podem aprender com as
aos movimentos de homogeneização ou infâncias? Ao propor uma nova perspec-
possibilidades de variadas configurações tiva e uma nova práxis para a Psicologia,
do brincar e da constituição dos sujeitos que parta do sujeito e não tome o sujeito
nesse processo. A brinquedoteca cons- como alvo, Martin-Baró (2009) fala de um
tituiria-se, portanto, como um espaço trabalho lado a lado, que se constrói ao
de desenvolvimento humano através do mesmo tempo em que transforma a reali-
brincar; inserida no contexto do CRAS, dade e os envolvidos. Compreendendo o
permitiria a discussão e problematização CRAS como um espaço educativo, em seu
do desenvolvimento humano como trans- sentido mais amplo, ele também deve ser
formação da participação na atividade lugar para a prática política democrática.
sociocultural, além de uma maior proxi- A criança transforma o entorno do CRAS

961
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

no quintal da sua brincadeira, exploran- tores de risco para o desenvolvimento da


do, criando história e afetando os profis- depressão pré-natal (Baptista, Baptista,
sionais com os quais se relaciona. Ressal- & Torres, 2006; Moreira & Satierra, 2008;
tamos, desse modo, seu papel ativo na Chou, Kuo, & Wang, 2008; Collins, Dunkel-
co-construção das ações para crianças de -Schetter, Lobel, & Scrimshaw, 1993; Xie,
0 a 6 anos. Lembramos, ainda, com Sou- He, Koszycki, Walker, & Wen, 2009) e pós-
za (1994), que a compreensão do brincar -parto (Cruz, Simões, & Faysal-Cury, 2005;
é um processo ativo, dialógico. Assim, o Moraes et al., 2006; Coutinho, Baptista,
sentido que se enuncia nem está no fa- & Morais, 2002; O’Hara & Swain, 1996;
lante nem no interlocutor, é efeito da Beck, 2001; Robertson, Grace, Wallington,
interação; na metáfora bakhtiniana, é a & Stewart, 2004).
faísca elétrica produzida pelo atrito entre A Escala de Apoio Social (EAS – Sherbour-
os pólos. ne & Stewart, 1991), que faz parte do
Medical Outcomes Study (MOS), conta
Palavras-chave: Psicologia Comunitária, com 19 itens, todos iniciando com: “Se
brincadeira, libertação precisar, com que freqüência a senhora
Contato: Nara Maria Forte Diogo Rocha, UFC, conta com alguém que...”, que admitem
naradiogo@hotmail.com cinco possibilidades de resposta: 1.nunca,
2.raramente, 3.às vezes, 4.quase sempre,
5.sempre. Os itens foram elaborados es-
LT06-887 - VALIDADE DA ESTRUTURA DE perando-se que pudessem ser agrupados
FATORES DA ESCALA DE APOIO SOCIAL em cinco dimensões teóricas: (a) apoio
EM GESTANTES E PUÉRPERAS material, (b) apoio afetivo, (c) interação
Gabriela Andrade da Silva - USP social positiva, (d) apoio emocional, (e)
gabiasilva@usp.br apoio de informação. A análise fatorial
Tânia Kiehl Lucci - USP confirmatória das respostas de 2.987 pa-
tanialucci@usp.br cientes com doenças crônicas nos Estados
José de Oliveira Siqueira - USP Unidos mostrou que os itens de apoio
siqueira@usp.br emocional e de informação agruparam-se
Emma Otta - USP em uma mesma dimensão.
emmaotta@usp.br No Brasil, a análise fatorial exploratória
Financiamento: CAPES das respostas à EAS de 4.030 funcionários
técnico-administrativos de uma universi-
Apoio social refere-se ao suporte que os dade no Rio de Janeiro resultou em três
indivíduos conseguem obter de sua rede dimensões: (a) apoio emocional e de in-
social, formada por familiares, amigos, formação, (b) apoio afetivo e de interação
conhecidos e profissionais. Esse apoio foi social positiva, (c) apoio material (Griep,
definido como um conjunto de fatores Chor, Faerstein, Werneck, Lopes, 2005). A
socioambientais protetivos, que ajudam confiabilidade teste-reteste da EAS nessa
o indivíduo a lidar com dificuldades ou amostra foi considerada adequada (Griep,
estresses ambientais (Lima, 2009). Pes- Chor, Faerstein, & Lopes, 2003), bem
quisas têm revelado que falta de suporte como em uma amostra de 65 gestantes no
social na gravidez e no puerpério são fa- Rio de Janeiro (Silva & Coutinho, 2005).

962
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

O objetivo do presente estudo foi avaliar de apenas 2,6%. Não foram encontradas
a adequação do modelo psicométrico de diferenças entre as amostras quanto à
cinco fatores previsto por Sherbourne e paridade e ao número de filhos. Testes t
Stewart (1991) a partir das respostas à para amostras independentes indicaram
EAS de duas amostras de mães da cidade que as médias de apoio percebido foram
de São Paulo: gestantes atendidas pelo significativamente maiores para as puér-
SUS (N=392); e parturientes atendidas peras do hospital privado do que para as
por um hospital privado de alto padrão gestantes do SUS, em todos os itens da
(N=269). Foram critérios de exclusão EAS (p<0,001).
apresentar gestação múltipla e deixar de O modelo psicométrico simultâneo para
responder um ou mais itens da escala. As os grupos HU e Einstein foi construído
participantes responderam a versão vali- usando os cinco fatores previstos e sujei-
dada em português da EAS (Griep, Chor, to às restrições das cargas fatoriais serem
Faerstein, Werneck, Lopes, 2005) e entre- iguais nos grupos concebidos por Sher-
vistas estruturadas para obter informa- bourne e Stewart (1991), como variáveis
ções sociodemográficas. latentes correlacionadas entre si (mode-
Análises exploratórias univariadas foram lo não ortogonal). A análise foi realizada
conduzidas para comparar os perfis das no software Amos 16. Os índices usados
participantes do SUS e do hospital priva- como critério para decidir sobre a ade-
do, usando teste t para variáveis contínu- quação do modelo basearam-se em Byrne
as e teste de qui-quadrado para variáveis (2010): PCLOSE>0,5, PGFI>0,5, CFI>0,9,
categóricas. As puérperas do hospital pri- TLI>0,9. Foram encontradas evidências de
vado tinham, em média, 33,1 anos, sendo boa qualidade de ajustamento do modelo
mais velhas que as gestantes do SUS, que de cinco fatores, de acordo com os crité-
tinham, em média=25,3 anos (t650,685=- rios de Byrne (2010): PCLOSE = 0,85, PGFI
20,205, p<0,001). Além disso, puérperas = 0,69, CFI = 0,95, TLI = 0,94.
do hospital privado moravam em residên- Os resultados indicaram que o modelo
cias com média de 2,5 pessoas, valor mais psicométrico de cinco fatores, tal como
baixo que a média das gestantes do SUS, havia sido previsto por Sherbourne e
de 3,9 pessoas (t500,371=12,689, p<0,001). Stewart (1991), foi adequado para medir
Testes de qui-quadrado indicaram que o apoio social percebido por gestantes
entre as puérperas do hospital privado, e puérperas, em suas diferentes dimen-
havia maior proporção que trabalhava sões. O modelo mostrou ter boa qualida-
(77,0%, contra 39,3% das gestantes do de em ambos os grupos estudados, ape-
SUS) e que morava com o companhei- sar das diferenças de perfil observadas
ro (98,9%, contra 75,3% das gestantes nas análises univariadas.
do SUS). Também se observou diferen-
ça quanto à escolaridade (X21=534,535, Palavras-chave: Apoio social, Gestantes,
p<0,001): entre as puérperas do hospital Estudos de validação
particular, 97,4% tinham nível superior Contato: Gabriela Andrade da Silva
(completo ou incompleto), enquanto en- Universidade de São Paulo (USP)
tre as gestantes do SUS, a proporção foi gabiasilva@usp.br

963
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-1214 - TERAPIA COGNITIVO- nardo et al, 2007). O estresse negativo


COMPORTAMENTAL PARA PACIENTES (distress), incapacidade de estabelecer
COM PSORÍASE: POSSÍVEL INTERVENÇÃO relações sociais saudáveis (Fortune et al,
NA SAÚDE PÚBLICA 2002), depressão e ansiedade (Koblenzer,
Leonardo Machado da Silva - PUCRS 2005, Buske-Kirschbaum et al 2007) estão
leonardo.silva@pucrs.br altamente associados com os portadores
Helena Diefenthaeler Christ - PUCRS de psoríase, principalmente, quando as
helenachrist@hotmail.com lesões são desfigurantes e em partes mais
Tatiana Helena José Facchin - PUCRS visíveis do corpo, como nas mãos e ros-
tatyhelena@yahoo.com.br to (Niemeier et al, 2002). Além do nítido
Bruna Ferreira Fernandes - PUCRS sofrimento em decorrência da própria
brufernandes1@hotmail.com psoríase, outras doenças têm sido con-
Deise Fonseca Fernandes - PUCRS sideradas comorbidades desta. Em um
deise.ff@hotmail.com recente estudo de Gulliver (2008), ficou
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS constatado que, além da artrite psoriáti-
ggauer@pq.cnpq.br ca, outras doenças de cunho inflamatório
Financiamento: CNPq, CAPES e Pró-bolsa. estariam a ela associadas, como a síndro-
me metabólica, a obesidade e doenças
A psoríase é uma doença crônica de pele, cardiovasculares. Todas essas situações
que afeta entre 1 e 3% da população evidenciam a necessidade de alguma
mundial e, em geral, ocorre na segunda modalidade de tratamento para esses
ou terceira década de vida. A psoríase do pacientes. Cade (2001) coloca que a te-
tipo vulgar ou de placas caracteriza-se por rapia cognitivo-comportamental é muito
placas sólidas na pele, com bordas bem útil, por abranger uma função educativa e
definidas, cobertas por finas camadas de contribuir para o desenvolvimento de ha-
escamas de cor prateada. Além disso, é a bilidades, centrando-se nos aspectos afe-
de maior incidência (90%) dentre os dife- tivos, comportamentais e interpessoais.
rentes tipos da doença (Consenso Brasi- Devido a etiologia multifatorial das doen-
leiro de Psoríase e Guias de Tratamento, ças crônicas, aspectos ambientais (físicos
2006). Apesar de sua etiologia não ser e sociais) podem funcionar como fatores
clara, acredita-se que siga o modelo mul- de risco, uma vez que os comportamen-
tifatorial e que ela possa surgir em decor- tos de risco emitidos geram emoções que
rência de uma interação genética, fatores são prejudiciais ao organismo, aumentan-
ambientais e psicológicos (Silva, Müller & do a susceptibilidade para as doenças ou
Bonamigo, 2006). De cunho inflamatório, agravando a condição atual. Alguns estu-
acomete, principalmente, a pele e as ar- dos apontam que a intervenção psicoló-
ticulações. Dentre os fatores que podem gica cognitivo-comportamental em doen-
estar relacionados à sua etiologia estão ças crônicas tem auxiliado na melhora de
as variáveis psicossociais: alto índice de diversas variáveis, que incluem processos
estresse percebido, falta de suporte so- psicossociais, qualidade de vida e adesão
cial e desajustamento psíquico têm sido ao tratamento em pacientes com HIV (Ar-
implicados tanto ao surgimento quan- nal, 2003, Rousaud, et al 2007), melhora
to à exacerbação da doença (Mastrolo- dos sintomas nos transtornos psiquiátri-

964
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cos como no transtorno bipolar (Reinares Porto Alegre. Como instrumentos, foram
et al, 2008), diminuição dos prejuízos so- utilizados: o questionário de dados sócio-
ciais em pacientes com depressão maior -demográficos e da situação clínica, a Es-
(Pinquart, Duberstein & Lyness, 2008) e cala de Ansiedade de Beck (BAI) (Beck et
em câncer (revisado por Gundel, Humm- al., 1988), a Escala de Depressão de Beck
ler & Lordick, 2007). Outros exemplos de (BDI2) (Beck et al., 1996), o Inventário de
estudos, no Brasil, demonstram a eficá- Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
cia da terapia cognitivo-comportamental (ISSL) (Lipp, 2000), um exame clínico PASI
grupal em pacientes com estresse ocupa- (Psoriasis Area and Severity Index), além
cional (Murta & Tróccoli, 2004) e hiper- de 10 sessões estruturadas de interven-
tensão arterial (Cade, 2001), e individual ção individual, na modalidade cognitivo-
em pacientes com fibromialgia (Brasio et -comportamental. Quanto aos procedi-
al, 2003). Observa-se a necessidade de mentos, os pacientes com psoríase vulgar
um tratamento para pacientes com pso- foram recrutados por conveniência em
ríase, no intuito de prevenir doenças mais ambulatório especializado. Os instrumen-
graves no futuro, bem como propiciar tos foram aplicados, individualmente,
uma melhor qualidade de vida para os uma semana antes do início da interven-
acometidos por esta dermatose. Assim, ção (tempo 1) e uma semana após o fim
este trabalho objetiva avaliar o impacto da psicoterapia (tempo 2). A intervenção
da intervenção cognitivo-comportamen- consistiu de 10 sessões estruturadas na
tal, por meio de variáveis clínicas e psicos- modalidade cognitivo-comportamental.
sociais, em pessoas com psoríase de pla- Os resultados obtidos no BAI apontaram
cas. Em relação ao método adotado para uma diminuição não significativa da an-
este estudo, a amostra foi composta por siedade (p=0,500 para distribuição dupla;
5 participantes portadores de psoríase de p=0,250 para distribuição simples) nos
placas em atendimento dermatológico, momentos pré e pós intervenção. O mes-
sendo 3 pessoas do sexo masculino e 2 mo resultado foi encontrado nos níveis
do feminino, com idade média de 49 anos de depressão (p=0,125 para distribuição
(DP=12,94), tendo entre 18 e 65 anos e dupla; p=0,063 para distribuição sim-
escolaridade mínima de 5ª série do Ensi- ples). Em relação ao exame clínico PASI,
no Fundamental. Dois participantes eram a análise comparativa dos dois tempos
casados, 2 solteiros e 1 viúvo, todos com da pesquisa evidenciou uma diminuição
escolaridade de ensino médio completo. que beirou a significância no teste para
No tocante à situação de trabalho, 40% distribuição dupla (p=0,063) e revelou
dos participantes estavam empregados uma diferença significativa na distribuição
(n=2), 40% eram autônomos (n=2) e um simples (p=0,031). Os resultados obtidos
estava aposentado (20%). Em relação ao neste piloto apontam que a intervenção
tempo com a doença, a variação foi entre cognitivo-comportamental alterou uma
18 e 120 meses (média 70,8, DP=37,08). série de variáveis no sentido esperado.
A pesquisa, de delineamento transver- Sendo assim, espera-se que um número
sal, quantitativa e quase-experimental, maior de participantes venha a confirmar
foi realizada no Ambulatório de Derma- relações de efeito mais consistentes e sig-
tologia da Santa Casa de Misericórdia de nificativas na segunda etapa da pesquisa.

965
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Por ser uma modalidade terapêutica de seu desenvolvimento no espaço da assis-


curta duração, esperamos que os dados tência pública, os aportes teóricos que
desta pesquisa possam servir como parâ- sustentam a prática e a metodologia uti-
metro para futuras intervenções em saú- lizada. O segundo aponta para o trabalho
de pública. específico com as famílias dos adolescen-
tes atendidos. O Programa Ambulatorial
Palavras-chave: psoríase, terapia cognitivo- para Adolescentes de Risco – atualmen-
comportamental, saúde pública te denominado PROADOLESCER nasceu
Contato: Helena Diefenthaeler Christ, PUCRS, há 20 anos no Serviço Infanto-juvenil do
helenachrist@hotmail.com Instituto de Psiquiatria da UFRJ, como um
projeto de atenção à adolescentes em
grave sofrimento psíquico pertencentes à
LT06-1216 - A TERAPIA DE FAMÍLIA famílias de baixo poder aquisitivo. Trata-
NUM PROGRAMA AMBULATORIAL DE -se de um conjunto de cuidados que inclui
SAÚDE MENTAL PARA ADOLESCENTES: intervenções a partir da psicanálise, da
A EXPERIÊNCIA DO PROADOLESCER – psiquiatria e da terapia de família, além
IPUB/UFRJ de constante atenção aos aspectos reabi-
Sonia Beatriz Sodré Teixeira - UFRJ litadores e sociais. Diferente das interven-
soniabeso@yahoo.com.br ções usuais em ambulatórios públicos, es-
ses recursos são utilizados de forma inte-
O presente trabalho tem como objeti- grada, visando impedir a entrada desses
vo apresentar o Programa Ambulatorial jovens num processo de cronificação que
para Adolescentes de Risco, ressaltando os conduza à uma “carreira de doentes
as ações desenvolvidas com as famílias. È mentais” e que os exclua dos processos
nossa intenção mostrar a importância de comuns de sociabilidade. O programa se
uma aproximação com o grupo familiar, dirige à adolescentes entre 12 e 18 anos,
dado que a família representa o contexto encaminhados pela rede pública de saú-
interpessoal mais decisivo no desenvol- de, conselhos tutelares, escolas ou vin-
vimento juvenil, interferindo de forma dos de procura espontânea, e desde a
fundamental na possibilidade ou não de sua criação o PROADOLESCER, já atendeu
se obter autonomia e maturidade para a cerca de 500 jovens e suas famílias. A
a vida adulta. Sabemos também o quan- partir dessa experiência percebe-se que
to o aparecimento de sintomas graves muitas vezes o adolescente, tentando
nesta faixa etária mexe com o ambiente sair do circuito familiar característico da
familiar, podendo trazer sérias dificulda- infância, apresenta dificuldades em esta-
des na convivência. Escutar e acolher a belecer laços sociais mais amplos, o que
família tem trazido bons resultados na pode resultar em abandono da escola, fu-
clínica com adolescentes e é nosso in- gas de casa, além de isolamento social. As
teresse mostrar como desenvolvemos ressonâncias dessas situações no âmbito
esta prática. A apresentação terá 2 eixos da família são significativas trazendo de-
básicos de reflexão, que se cruzam e são sorganização entre os membros, conflitos
constitutivos do Programa: O primeiro diz e falência das funções parentais, medo e
respeito as suas origens, como foi criado, receio dos pais que congelam suas posi-

966
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ções de autoridade causando na dinâmica LT01-1457 - LAELON: UMA PRAXIS DE


mais ressentimento e dor. Estes compor- DESENVOLVIMENTO
tamentos podem vir acompanhados de Luciane Alves de Oliveira - UFC-Sobral
alguns sintomas como ansiedade exces- luaoliveira2307@yahoo.com.br
siva, estados dissociativos, pensamento Mariana Silva Paula Amaral - UFC-Sobral
suicida, comportamento maníaco ou hi- mariana_spa@hotmail.com
pomaníaco, depressão, recusa alimentar Marilia Gabriela Cavalcante Soares - UFC-
e desorganização do pensamento; estas Sobral
são algumas das formas graves de sofri- cavalcante.marilia@yahoo.com.br
mento psíquico que uma vez inseridas Alexsandra Maria Sousa Silva - UFC-Sobral
no serviço serão atendidas pela equipe alelexandra@yahoo.com.br
básica do programa. Na experiência a ser Franci Iria Servolo Sabóia - UFC- Sobral
apresentada temos como principais quei- irya.saboia@hotmail.com
xas registradas pelas famílias com relação
aos filhos: atitudes desrespeitosas, auto Não temos a vida. É a vida que nos tem.
e hetero agressividade, isolamento da fa- Viemos a esse mundo como as folhas, as
mília em geral, agressividade dirigida aos plantas, os astros e os demais animais.
pais, recusa em exercer atividades escola- Cada espécie tem seus limites e possibili-
res, ausência de cuidados pessoais, con- dades em seu desenvolver (Góis, 2008).
flitos constantes com irmãos e oscilação Cada individuo, em sua história de com-
no humor e nas condutas relacionais. As plexas singularidades, é a expressão de
famílias que encontramos no PROADO- todo o universo. O ser humano traz em si
LESCER podem ser caracterizadas como a história de toda a humanidade em seus
desgastadas, desanimadas e despoten- aspectos etológicos, biológicos, psicológi-
cializadas, com reduzido convívio social, cos e sociais (Merani, 1972). Não devemos
muitas vezes apresentando graves pro- perder isso de vista ao tentar compreender
blemas de relacionamento conjugal, in- o desenvolvimento humano em sua com-
terações destrutivas e padrões confusos plexidade. Por outro lado, sabemos que ao
de comunicação. Ao lado disso podem longo da História da humanidade houve-
também apresentar distúrbios psicopa- ram muitas mudanças de diversas ordens,
tológicos. É nosso interesse trazer o aten- sejam filosóficas, científicas, culturais,
dimento destas famílias através de vinhe- através de lutas, contradições, consensos,
tas clínicas onde procuraremos discutir a que nos levaram ao alongamento da ciclo
metodologia utilizada, os impasses viven- da vida humana nos diversos continentes e
ciados, os resultados obtidos e como se nas diferentes culturas. Tal fenômeno nos
dá na prática a articulação de diferentes coloca diante do envelhecimento. Compre-
vertentes teóricas como a psicanálise e a endemos esse processo como algo natural
terapia sistêmica de família. e inerente ao processo de mudanças mul-
tidimensionais e multidirecionais próprias
Contato: Sonia Beatriz Sodré Teixeira - da vida. Urge a necessidade de cuidado
soniabeso@yahoo.com.br frente a essas tantas vidas que se alongam.
Precisamos garantir que o envelhecimento
seja vivido com toda a sua naturalidade,

967
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que o desenvolvimento siga seu curso nas pliação da autonomia entre a população
suas diversas formas de expressão huma- de terceira idade, contribuindo ainda com
na de envelhecer, de ser e de se fazer cada quebra de preconceito intergeracional e
vez mais vida e que a longevidade seja com a desmistificação do processo de en-
uma real possibilidade e uma perspectiva velhecimento. Tal projeto se dá eminen-
de vivermos mais e melhor. Concebemos temente no laboratório de informática do
que a longevidade não deve ser pensada campus e no curso de psicologia, onde
apenas numa relação com o envelheci- acontece a inusitada variação de idades se
mento e seus aspectos multimensionais encontrando no cotidiano da universidade.
em si, mas também com a complexidade As aulas de informática são dadas pelos
das diferentes relações e tecituras da vida estudantes que se propõem como voluntá-
humana que se desenvolve e cada vez rios do projeto, chamados “estudantes fa-
mais se alonga na linha do tempo (Olivei- cilitadores”, de uma forma individualizada
ra, 2003). O Laboratório de Estudos sobre e em horários flexíveis combinados entre o
a Longevidade, do Curso de Psicologia da estudante e a pessoa idosa. Além de facili-
UFC-Sobral se propõe a contribuir com re- tar a inclusão digital, realizamos encontros
flexões e ações acerca do desenvolvimento periódicos de todo o grupo de estudantes
humano sob a perspectiva da longevidade facilitadores e estudantes do projeto para
implicando-a durante toda a Vida, de for- integração, celebração de datas comemo-
ma a favorecer a promoção da saúde, a rativas e rituais de iniciação e finalização do
participação social, a cidadania e o enve- curso anual. A produção do material didáti-
lhecimento ativo, através do tripé ensino, co é dinâmica, coletiva e continuada onde
pesquisa e cooperação/ extensao. Tem participam todas as pessoas do projeto, in-
como bases epistemológicas as Teorias do clusive os próprios idosos. Há ainda a pre-
Ciclo Vital -Life Span (Baltes, 1993); Teoria ocupação com a formação dos estudantes
Histórico Cultural de Vigotsky (1924-1934); facilitadores, quanto as questões próprias
Psicologia Comunitária (Góis, 2003); Edu- do processo de envelhecimento e temas
caçao Biocêntrica (2007). Atuamos através relacionados a pedagogia e gerontologia.
de ações comunitárias, com diferentes fai- Além de um acompanhamento emocional
xas etárias, mediante o método reflexivo e afetivo de todas as pessoas envolvidas
dialógico vivencial, trabalhamos com arte- com o projeto, visando questões vivenciais
-identidade, círculos de cultura, filmes, da- e existenciais relacionadas ao tema da lon-
tas comemorativas como o “dia do índio”, gevidade. O segundo projeto do Laelon é
“dia da mulher”, “dia do Idoso” e outros. chamado “Vida longa e Feliz para todos”,
Em 2011 seguimos com dois projetos: o In- que tem uma gama de atuações e varia-
clusao Digital para o Envelhecimento ativo ções de tempos em tempos. Podemos citar
e o Vida Longa e Feliz para Todos. No pri- como exemplos de ações do Vida Longa:
meiro Buscamos proporcionar uma aproxi- A utilização de datas comemorativas, tais
mação de gerações, facilitando a troca de como dia do idoso, dia das mães, dia da
conhecimentos, habilidades, experiências, criança, dia do índio, dentre outras para
possibilitando a criação de laços afetivos trabalharmos a temática da longevidade
entre estudantes e idosos, favorecendo tanto no ambiente universitário quanto na
ao estimulo cognitivo, preservação e am- comunidade sobralense; Ações de promo-

968
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção e saúde no grupo de idosos “Corpo e LT07-1233 - O TORNAR-SE PSICÓLOGO


mente sã” no Alto da Brasília, Sobral-Ce; CLÍNICO EM UMA GRADUAÇÃO
Facilitações de discussões sobre a longevi- GENERALISTA
dade no EJA, no pro-jovem adolescente e Camila Moura Fé Maia - UnB
na casa Rosa Gatorno; Promoção do “I En- mila.mfm@gmail.com
contro Dialogando sobre a Longevidade”; Jéssica Helena Vaz Malaquias - UnB
Atualmente o projeto atua com encontros malaquias.jessica@yahoo.com.br
quinzenais nos grupos de idosos do Cras/ Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB
Saúde da Familia e o de Capoeira nos Bair- rpedroza@unb.br
ros Vila Uniao e Terrenos Novos com ações
de promoção de saúde e envelhecimento O Instituto de Psicologia (IP) da Universi-
ativo.Além de contribuir com as temáticas dade de Brasília (UnB) estabelece um cur-
da longevidade e do envelhecimento ativo, so de Psicologia generalista, oferecendo
buscamos com esse projeto favorecer ao laboratórios, linhas de pesquisa e discipli-
estudante de psicologia o desenvolvimen- nas que informam sobre sua abrangência
to de habilidades de facilitação de grupos e diversidade. Ou seja, oferece um núcleo
comunitários e etários. Dando atenção es- comum, mas convida o estudante à res-
pecial a sua formação pessoal (existencial ponsabilidade compartilhada para definir
e emocional) no que diz respeito ao seu suas escolhas ao longo da construção do
próprio desenvolvimento e futuro envelhe- seu currículo. A partir dessa situação, dis-
cimento. O Laelon mantém parceria com cutimos como se dá a formação do estu-
algumas entidades, tais como: Fundação dante desse curso no tocante à constru-
de Assistência Social – Sobral/Ce, Escola ção de sua identidade de psicólogo. Se
de Saúde da Família – Sobral/Ce, Núcleo o IP tem como proposta uma formação
de Psicologia Comunitária – NUCOM (UFC generalista, mas que habilita a atuação
- Fortaleza), LESC (Laboratório de Estudos em um campo específico, como se dá o
sobre a Consciência)-UFC-Fortaleza, Cine processo de identificação e formação
Filos (UFC - campus Sobral), Casa Rosa nesta área? Baseando-nos nesse ques-
Gatorno – Sobral/Ce, Instituto Carnaúba - tionamento, propomos uma reflexão crí-
Sobral/Ce, Conselho Municipal do Idoso. tica acerca do percurso desenvolvido ao
Além de participar ativamente de even- longo da graduação em Psicologia, abor-
tos como as Conferencias dos Direitos do dando a formação do psicólogo em um
Idoso, tanto municipais, quanto estaduais. campo específico de atuação: a psicotera-
Nosso compromisso com a longevidade pia na clínica. Como se dá o processo de
diz respeito em ultima instancia ao nosso tornar-se psicoterapeuta? Como ocorre
compromisso com a vida e com o desen- a formação dos alunos de forma que se
volvimento humano em suas inúmeras contemple esta especificidade do campo
dimensões e lutas do cotidiano, sob seus da ciência psicológica? Há a preocupação
diversos aspectos: ecológica, biológica, com a formação pessoal dos futuros clíni-
científico, social, cultural e política. cos? Tornar-se psicoterapeuta compreen-
de determinadas atividades no decorrer
Palavras-chave: ciclo de vida, longevidade, do curso que transcendem as rotineiras,
envelhecimento ativo. tais como: vivências com colegas, parti-

969
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cipação no centro acadêmico e em pro- as angústias das escolhas necessárias e


gramas extracurriculares oferecidos pela da dúvida persistente. Partindo-se para
instituição, e oportunidades culturais e a formação específica do psicólogo clíni-
esportivas. Nesse sentido, a entrada na co, questionamos os subsídios fornecidos
Universidade marca o início de um longo pela estrutura generalista do currículo. A
processo de construção identitária en- partir de uma ampla grade de disciplinas
quanto profissional não dissociada dessas e projetos de pesquisa, são as vivências
experiências. O aluno passa a fazer parte reais de cada aluno na Universidade que
do grupo com denominação particular, constroem o lugar de psicólogo. Portan-
símbolos e linguagens próprias. Entre- to, assim como as demais especialidades,
tanto, este é apenas o primeiro passo. A a clínica requer uma formação pessoal
trajetória traçada na Universidade é única aliada à profissional. Tomamos por base
e se dará de acordo com suas escolhas na o campo teórico da psicanálise por for-
flexibilidade curricular. Reconhecemos a necer um novo paradigma do funciona-
amplitude dos caminhos possíveis e nos mento psíquico do sujeito e da relação
questionamos como essa trajetória re- “médico-paciente”. Freud, precursor da
flete na atuação específica do psicólogo literatura psicanalítica, reconhece a pre-
clínico. O aluno chega à Universidade po- mência dos processos psíquicos incons-
voado de representações sobre o tornar- cientes, da doutrina da resistência e do
-se psicólogo, trazendo vivências pessoais recalcamento, além das novas compreen-
que fornecem elementos consistentes sões da sexualidade na atuação do sujei-
sobre sua escolha profissional. Tais repre- to. Tais formulações foram consideradas
sentações permearão sua relação com as essenciais a qualquer clínico. Entretanto,
disciplinas e influenciarão suas escolhas. além destes construtos teóricos, lemos
A idealização da Psicologia e do ser psi- em Freud a preocupação com a imensa
cólogo é uma das principais característi- complexidade escondida: como o amor e
cas dos estudantes que iniciam sua gra- o ódio, o desejo e a lei, os atos de fala, de
duação, o que reflete, muitas vezes, em sonho e de fantasia (Nasio, 1995). Além
uma perspectiva do psicólogo herói, sal- desta postura na compreensão do sujei-
vador de almas e mentes (Leite & Silva, to, vale ressaltar que tal corpo teórico foi
2010). Ao longo do curso, as diferentes gestado na experiência humana concreta
disciplinas possibilitam um processo de entre dois parceiros, analista e analisan-
desconstrução e construção do ser psi- do. Ao reconhecer a troca e essa parceria,
cólogo de acordo com as identificações. Freud entende que a descoberta do enig-
Entretanto, a diversidade de campos de ma do funcionamento psíquico do outro
atuação e abordagens teóricas tece uma não ocorre sem que o sujeito analista em-
gama de diferentes conceitos sobre o ser preste seu desejo ao analisando. Aliado a
psicólogo, complexificando a construção este modo de ver a clínica, Haynal (1995)
de uma identidade profissional. O estu- cita Balint e sua compreensão sobre a
dante se vê requisitado a fazer uma re- postura do clínico. Este traz a necessi-
flexão crítica sobre tais possibilidades. No dade de apreensão do que caracteriza o
entanto, nem sempre encontra esse espa- indivíduo, indo além dos complexos e sin-
ço que possibilite a reflexão e que acolha tomas apresentados, expandindo os ho-

970
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rizontes para enxergar aquele indivíduo sejam amplamente discutidas. O tornar-


como único. Freud já havia afirmado que -se psicólogo clínico vai além da formação
a análise não ocorre no vazio, e que o psi- técnica e instrumental, envolvendo os
coterapeuta tem um nome, idade, sexo, e processos subjetivos de cada estudante.
ocupa um lugar (Haynal, 1995). A contri-
buição da psicanálise para a formação do Palavras-chave: graduação, psicólogo clínico,
psicoterapeuta na relação com o paciente formação
ultrapassa o estatuto de técnica e aborda Contato: Camila Moura Fé Maia, UnB, mila.
o caráter próprio de relação. Diante desta mfm@gmail.com
proposta de nos relacionarmos com nos-
sos pacientes, buscamos refletir como a
transmissão destas posturas pode ocorrer CO 47 - LT01
aos alunos que procuram seu lugar de psi-
coterapeutas. Consideramos, portanto, Síndromes
fundamental uma formação acadêmica
que dê a base teórica para que o lugar
de terapeuta na clínica seja ocupado em LT01-1321 - COMO PROFESSORES E
constante processo de reflexão epistemo- GESTORES PENSAM A PARTICIPAÇÃO
lógica, mas também que abarque a im- DA ESCOLA NO COTIDIANO DE ALUNOS
portância de uma formação pessoal. A te- COM INDÍCIOS DO TRANSTORNO DE
oria nos faz remeter o olhar ao si-mesmo, DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
onde os indícios do inconsciente se fazem (TDAH)
presentes não só em um analisando sub- Laís de Almeida Moura - UNIVIX
metido à análise, ou somente na técnica lais_almeida90@hotmail.com
e na postura do terapeuta, mas também Natasha Moreira Leite - UNIVIX
no campo relacional entre os dois prota- natasha_leite@hotmail.com
gonistas. É preciso estar por inteiro nes- Rayanne Suim Francisco - UNIVIX
ta relação, exercendo uma escuta atenta ray.sf@hotmail.com
e flutuante direcionada aos seus ecos. É Samanta Dassiê Calente - UNIVIX
preciso refletir qual a ética do psicólogo samantacalente@gmail.com
não delimitada claramente no Código de Simone Chabudee Pylro - UNIVIX e UFES
Ética. Além disso, a teoria psicanalítica simone.chabudee@gmail.com
enriquece nossa discussão ao colocar a
análise como um espaço de busca da ver- O Transtorno de Déficit de Atenção e Hi-
dade do sujeito, não de uma cura. Ou seja, peratividade é caracterizado por sintomas
não se busca unicamente a eliminação de primários de desatenção, hiperatividade
sintomas, mas o encontro do sujeito com e impulsividade, que afetam a atenção, o
seus desejos. Nesta proposta, o terapeuta controle de impulsos e o nível de ativida-
não se coloca como todo-poderoso que des do indivíduo, além de comprometer,
detém todo o saber sobre o sujeito, bem significativamente, sua vida social, acadê-
como o poder de eliminar seu sofrimen- mica e familiar. Seus sintomas são obser-
to. O lugar de terapeuta precisa então ser vados com maior frequência no ambiente
delineado de forma que estas questões escolar e as queixas dos professores são

971
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

comumente utilizadas como fonte de in- sua percepção sobre o TDAH, e como con-
formação para auxiliar o seu diagnóstico. cebem o papel da escola no cotidiano dos
Entretanto, autores apontam um déficit no alunos que apresentam indícios do referi-
conhecimento científico desses profissio- do transtorno; e o (II) Questionário para
nais, que sem uma bagagem teórica condi- Gestores, contendo 18 questões que ob-
zente, acabam atribuindo prioritariamente jetivaram levantar dados sobre a organiza-
características pejorativas aos indivíduos ção da escola e a atuação da mesma no co-
com o referido transtorno. Essa questão tidiano do aluno com TDAH, se a escola na
suscita preocupações, já que o professor qual eles trabalham mantém algum tipo de
tem um papel importante na forma como registro sobre a incidência de alunos com
os alunos se percebem e constroem suas este transtorno, e quais são as propostas
relações dentro da escola. Assim, tais es- oferecidas pela instituição de ensino para
tigmas, aumentam o risco destes alunos auxiliar esses alunos e suas famílias. Todos
desenvolverem sentimentos de baixa au- os participantes alegaram que suas escolas
toestima e de apresentarem queda do de- contam com uma equipe multidisciplinar
sempenho escolar, acentuando possíveis de atuação, sendo que o psicólogo não
consequências decorrentes do referido está incluído neste grupo, o que também
transtorno. Considerando a importância parece ser a realidade dos demais mu-
da instituição escolar, em especial do pro- nicípios que compõem a Grande Vitória,
fessor, no processo de desenvolvimento e incluindo Vitória, o que foi demonstrado
a escassez de trabalhos que contemplem por um estudo realizado nesta capital. As
a sua compreensão sobre o TDAH, esse escolas investigadas mantêm registro de
estudo teve por objetivo investigar a con- alunos com indícios de TDAH, sendo que
cepção de professores e gestores escolares tais registros indicam uma prevalência do
sobre o TDAH e sua participação no coti- sexo masculino. Em geral, quem primeiro
diano de alunos com indícios desse trans- comunica à instituição de ensino sobre os
torno. Participaram desta investigação 19 possíveis alunos com TDAH são os próprios
professores e sete gestores da área educa- professores. Quanto às características atri-
cional de duas escolas do município de Vila buídas pelos gestores a estes alunos foram
Velha – ES. Dos professores participantes, encontradas prioritariamente as seguintes
oito atuam em uma escola particular e 11 opiniões: desatento, hiperativo/inquieto,
em uma escola pública; dos gestores par- impulsivo e com problemas de aprendiza-
ticipantes, três são de uma escola priva- gem. Dentre as poucas menções às carac-
da, enquanto os outros quatro atuam em terísticas positivas apareceu prestativo e
uma instituição pública. Entre os gestores inteligente. De acordo com os gestores, a
participantes estão incluídos pedagogos, instituição de ensino em que estão aloca-
diretores e coordenadores das referidas dos não proporciona nenhum tipo de for-
escolas. Como instrumentos da coleta de mação para os professores a respeito do
dados foram utilizados dois modelos de TDAH ou outros transtornos. Apesar disso,
questionário: (I) Questionário para Profes- os gestores entendem que a escola exerce
sores, contendo 29 questões que preten- um papel importante no cotidiano desses
deram levantar dados sobre a formação alunos com TDAH, educando e auxiliando
do professor, sua experiência profissional, no aprendizado, de modo a atuar em con-

972
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

junto com a família e os demais profissio- diferenciadas para facilitar o processo de


nais envolvidos no processo de tratamento aprendizagem dos alunos. É importante
deste transtorno. Para uma melhor com- pontuar que uma parcela significativa do
preensão dos dados levantados junto aos professores investigados considerou-se
professores, foram propostas algumas ca- implicada no cotidiano dos seus alunos
tegorias de análise: formação acadêmica, com TDAH, valorizando a interação com
conhecimento do professor sobre o TDAH, a família e com a escola na busca de me-
percepção do professor sobre o aluno que lhorias para a vida dos mesmos. Entre as
possui indícios deste transtorno, o papel principais dificuldades mencionadas para
da escola e do professor no desenvolvi- se auxiliar esses alunos foram indicados
mento e cotidiano de alunos com TDAH e à falta de subsídios e investimento do go-
o auxílio oferecido pelo professor e pela verno pelos docentes da escola pública, e
escola a estes alunos. A maior parte dos a carência de conteúdos direcionados ao
professores investigados, tanto das escolas tema na formação acadêmica pelos pro-
públicas quanto das particulares possui en- fessores da escola particular. Diante dos
sino superior completo, tendo participado dados encontrados, percebemos ser ne-
de alguma disciplina durante a graduação cessária uma ampliação do estudo, tendo
que abordou o tema TDAH. Os professores em vista a importância do papel da escola
da escola particular consideraram que o no cotidiano de alunos com o TDAH e a ne-
TDAH afeta tanto a vida escolar quanto a cessidade de aprofundamento das ques-
social e familiar do indivíduo, enquanto os tões investigadas.
docentes da escola pública acreditam que
ele compromete mais a aprendizagem. Os Palavras-chave: TDAH. Escola.
professores das duas instituições demons- Desenvolvimento Atípico.
traram uma visão negativa sobre os alunos
com o TDAH, sendo as características de-
satenção, hiperatividade/impulsividade LT01- 1308 - O AUTISMO
as mais indicadas. Boa parte dos profes- COMO CONTEXTO ATÍPICO DE
sores participantes atribuiu importância DESENVOLVIMENTO: UM OLHAR
fundamental à participação da escola no PIAGETIANO
cotidiano de alunos com o transtorno. En- Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP
tretanto os professores da escola pública mtdesouza@usp.br
acreditam que não cabe a instituição se Camilla Teresa M. Mazetto - USP
envolver em questões familiares, enquan- contato@camillamazetto.com.br
to os da escola particular denotaram uma Financiamento: CNPq
valorização da inclusão da escola, família e
os profissionais (médicos, psicólogos, psi- A teoria de Jean Piaget focaliza como os
quiatras) em uma rede de apoio para es- indivíduos constroem conhecimento sobre
ses alunos. De acordo com os professores, o mundo e si mesmos, gradativamente e
palestras e treinamentos sobre o tema não ao longo da vida. Duas perguntas episte-
são atividades incorporadas à prática das mológicas dirigem a investigação proposta
escolas. Porém, dentro da sala de aula, a pelo autor: a primeira se refere a como o
maior parte deles busca utilizar atividades conhecimento se dá? E a segunda se liga

973
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a como o conhecimento se transforma ao que se refere às trocas sociais e às ações


longo da vida. A explicação piagetiana pos- e interações de crianças autistas. A discus-
sui dois princípios básicos: 1) inteligência são utilizará como ilustração uma pesqui-
é adaptação ao mundo e 2) o desenvolvi- sa realizada num contexto denominado
mento se dá por patamares de equilíbrio de ‘terapia da troca e desenvolvimento’
móvel, em busca de um equilíbrio melhor. (TED- Thérapie de l’échange et devéloppe-
Como responder as perguntas formuladas ment). Como sabido, o autismo, do ponto
inicialmente? Segundo Piaget, a Psicologia de vista do desenvolvimento é um quadro
oferece o método para acompanhar as multifacetado de aspectos (neurológicos,
transformações do conhecimento durante bioquímicos, psicológicos, sociais) que, por
a vida de qualquer individuo, ‘sujeito epis- um conjunto de fatores, tomaram rumos
têmico’, para ele. Assim, ao construir co- diferentes daqueles seguidos pelo desen-
nhecimentos cada vez mais complexos so- volvimento espontâneo ou ‘normal’. Dito
bre o mundo, os indivíduos desenvolvem assim, o autismo, ou como preferem os
sua inteligência, juntamente com a morali- especialistas, os quadros do espectro au-
dade e a afetividade. Muito se diz sobre a tista, revelam aspectos do desenvolvimen-
abordagem interacionista e construtivista to psicológico que ou estão ausentes em
de Piaget, afirmando-a ou criticando-a, épocas em que deveriam estar presentes
mas é consenso no campo da Psicologia ou se apresentam deslocados, de maneira
do Desenvolvimento, a idéia de que Pia- a não produzir boas adaptações ao meio,
get apresentou uma criança ativa em suas sobretudo do ponto de vista afetivo e so-
relações com o meio físico e social, desde cial. Num trabalho em que buscou investi-
o nascimento até a vida adulta, desenvol- gar o que denominou construções cogniti-
vendo-se e transformando-se continua- vas no autismo, Mazetto (2010) selecionou
mente para superar os desequilíbrios que conceitos da teoria de Piaget para refle-
as situações lhe apresentam e para conhe- tir sobre um contexto de atendimento a
cer o mundo e si mesmas. Piaget e seus crianças autistas chamado TED, que se ori-
colaboradores, sobretudo Barbel Inhelder, ginou na França com um grupo de pesqui-
pouco pesquisaram crianças com diagnós- sadores da cidade de Tours, com um cunho
ticos intelectuais ou psicopatológicos. No neuropsicológico e que tem como um dos
entanto a partir de conceitos centrais des- pressupostos o de que as experiências de
ta perspectiva, pesquisadores contempo- troca quando provêm condições favoráveis
râneos tem buscado compreender desen- tais como, tranquilidade, reciprocidade e
volvimentos e contextos atípicos, no sen- disponibilidade, podem favorecer a ação
tido de não corresponderem exatamente orientada para o outro, assim como aqui-
àqueles descritos pelo autor, mas sendo, sições cognitivas, afetivas e sociais. Além
sem sombra de dúvida, contextos propi- disso, a TED se baseia na hipótese de que
ciadores de construções de conhecimento seria possível retomar o caminho evolutivo
e de desenvolvimento psicológico. O obje- do desenvolvimento com a reconstrução
tivo deste trabalho é apresentar reflexões de noções cognitivas que foram constitu-
sobre a utilização da perspectiva piagetia- ídas de modo atípico e com a retomada
na do desenvolvimento para refletir sobre de experiências com os objetos e com o
alguns aspectos do autismo infantil, no outro. É primordial nesta terapia o contato

974
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e a troca entre criança e terapeuta, troca psicológicos, as construções das noções


esta menos verbal e sustentada mais na de objeto, espaço, tempo e causalidade e
ação (acompanhada ou não pela fala), com a inter-ação entre sujeito e objeto, quan-
a finalidade de propiciar sequências de in- to à construção progressiva de estruturas
terações significantes e tendo como subsi- de conjunto e procedimentos práticos en-
dio a idéia de uma plasticidade neuronal cadeados em sequências de ações diante
que viabiliza processos estruturais e fun- das tarefas apresentadas pelo adulto. To-
cionais no cérebro, os quais, por sua vez, das as discussões apresentados serão ilus-
possibilitariam uma reorganização funcio- tradas com trechos de atendimentos nos
nal interna construída pelas iniciativas e quais as ações e procedimentos parecem
experiências da criança. No referido traba- revelar as construções cognitivas propicia-
lho, a teoria piagetiana permitiu discutir as das pela troca neste contexto atípico de
relações entre o organismo e o meio, as- desenvolvimento.
sim como o papel dos aspectos biológicos
e sociais, que podem estar prejudicados Palavras-chave: teoria de Piaget; contexto
no autismo, mas que podem ser entendi- atípico; trocas sociais
dos no âmbito da base interacionista do
modelo elaborado por Piaget, bem como
quanto ao principio fundamental da TED: LT02-903 - GRUNHIDO: UMA FORMA
a troca. Os fatores do desenvolvimento, POSSÍVEL DE LINGUAGEM DAS PESSOAS
condições necessárias mas não suficientes, COM ASPECTOS AUTÍSTICOS?
sozinhas, pela progressão nas evoluções Nara Cristina Resende Gomes - CMAPD
dos conhecimentos, e também a retoma- nararesendepsi@gmail.com
da da teorização sobre as primeiras cons- Taísa Resende Sousa - UFU
truções cognitivas do bebê (construção do taisa.r.s@hotmail.com
real), permitiram concluir que no caso do
autismo, pode-se falar em contexto atípi- Este trabalho é um mergulho teórico que
co de desenvolvimento no sentido de que se propõe a pensar se a comunicação por
as possibilidades de trocas significativas meio do grunhido, emitido pelas pessoas
estão diminuídas, dificultando as assimi- com barreiras autísticas, pode ser desen-
lações necessárias para as construções volvida, se caracterizando como uma for-
cognitivas. No entanto, estas trocas e as- ma de linguagem. Bion (1991) afirma que a
similações podem ser retomadas na tera- “comunicação é qualquer ‘coisa’ desde um
pia, possibilitando estender o período das grunhido inarticulado até construções bas-
ações motoras orientadas para o ambiente tante elaboradas tais como a escrita de um
e para o outro, com o intuito de significar artigo”. Lidar com pessoas que apresen-
as ações a partir da e na interação, não tam aspectos autísticos e suas formas de
apenas social (quanto à presença de outra comunicação é um campo ainda a ser in-
pessoa) mas também epistêmica (no sen- vestigado. A comunicação dessas pessoas
tido de um outro que é também objeto de parece assemelhar a uma língua estrangei-
conhecimento). Para a discussão aqui pre- ra que, para ser compreendida, precisa de
tendida, serão destacados os conceitos de tradução. Poderia então, existir a possibili-
continuidade entre processos biológicos e dade de uma tradução dos significados dos

975
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

grunhidos que elas emitem? Cavalcanti e que pelo que elas informam”. Comparti-
Rocha (2007) retomam que na década de lhando desse sentimento, acredita-se que,
40, período da Segunda Guerra Mundial, dependendo da entonação com que são
Leo Kanner cria o termo autismo, a par- emitidos, os grunhidos podem significar
tir de sua observação de crianças, visan- sim ou não, desaprovação ou aprovação,
do distingui-lo de outros quadros, como acordo ou discordância. Diante desse po-
a oligofrenia, a esquizofrenia infantil e a sicionamento, a expressão de linguagem
demência precoce. Kanner (1943) conside- das pessoas com aspectos autísticos ad-
rava que o autista não possuía linguagem, quire um valor muito importante. Seria
contudo, em 1946, na medida em que vai isto, então, um vislumbre do nascimento
desenvolvendo seus estudos, passa a afir- de um pequeno espaço mental, para um
mar que há sim uma forma de comunica- existir, mesmo que momentâneo? Seria
ção destas crianças, definindo-a como uma isto, a possibilidade de uma pessoa com
linguagem metafórica. Assim como uma tal aspecto autístico emergir como sujeito?
metáfora de linguagem precisa ser analisa- Sujeito do desejo? Os grunhidos particula-
da e contextualizada para poder ser enten- res, diferenciados, somados aos olhares,
dida, as pessoas com barreiras autísticas sorrisos e gargalhadas parecem sugerir
também precisam dessa análise e do en- uma forma de linguagem, uma marca pró-
tendimento de seu contexto. É fundamen- pria, podendo indicar algo único. Porque
tal conhecer como eles se comunicam e o ninguém tem um grunhido igual ao do ou-
que algumas expressões reverberam. Mas, tro, é como se fosse uma digital sonora,
diferentemente da metáfora de linguagem uma forma particular de linguagem. Rocha
tradicional, no caso da linguagem no fenô- (2010) afirma que Freud (1911) considera
meno autístico, conjectura-se que essas o encontro do “bebê com o mundo exter-
pessoas podem ser entendidas de forma no como fundamental para o acontecer
muito particular, compartilhando da ideia psíquico” (p.169). E, retoma Winnicott
de que os sons emitidos por elas, inarti- (1978) que propõe que “o meio ambiente
culados e aparentemente sem sentido, apresenta o mundo para o bebê” (p. 169).
podem apresentar algum sentido singular, Sendo assim, é fundamental o investimen-
uma forma de linguagem específica. Acre- to no outro para a constituição do sujeito.
dita-se que é preciso muita dedicação e es- De acordo com a teoria psicanalítica, só é
forço daqueles que convivem e trabalham possível um indivíduo se constituir como
com pessoas com barreiras autísticas. Bion sujeito, a partir do olhar, do investimento,
(1991a, 1991b, citado em Oliveira, 2003, p. do gozo necessário do Outro. Lew (2004,
32) afirma que “conhece-se e aprende-se citado em Laznik, 2010) aponta o “gozo do
em um vínculo emocional”. É fundamen- Outro como um elemento constitutivo do
tal o estabelecimento de um bom vínculo, aparelho psíquico do filhote de homem”
para que essas pessoas possam se comu- (p. 143). E, discorre que no caso das pes-
nicar de maneira própria, possibilitando soas com autismo, o que acontece é essa
que elas sejam ouvidas e compreendidas não-relação de gozo, de investimento, uma
em suas expressões de linguagem. Manoel vez que “o autista estaria preso a um gozo
de Barros afirma que aprendeu a “gostar fálico de seu próprio corpo” (p. 143). Pode
mais das palavras pelo que elas entoam do parecer impossível compreender a lingua-

976
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gem de alguém com barrreiras autísticas e por intervenções psicológicas” (p. 251).
mais difícil ainda relacionar-se com eles. Então, a comunicação com as pessoas com
Winnicott (1978, citado em Laznik, 2010) autismo pode ser possível, os grunhidos
pressupõe que um bebê que não respon- podem ser considerados como uma forma
de de maneira convencional, coloca o ou- de expressão da linguagem, na medida em
tro à prova, constantemente, e acredita que um vínculo é estabelecido com elas.
ser fundamental uma “loucura necessária Assim, o psicoterapeuta e as pessoas que
das mães” (p. 142), que talvez seja possível convivem com estes sujeitos, poderiam
apenas em condições em que haja uma ca- buscar acolher seus grunhidos, essa forma
pacidade materna e condições de seguran- única e muito particular de se expressarem
ça, para poder se relacionar (se vincular) no mundo.
com esses sujeitos. Expandindo o conceito,
Alvarez (1994) assevera que é necessário Palavras-chave: Autismo; Linguagem; Psicanálise.
oferecer uma companhia viva a esses su- Contato: Taísa Resende Sousa,UFU,
jeitos. É preciso oferecer um “colo” para taisa.r.s@hotmail.com
as formas de linguagem, as expressões
corporais, sons, gestos e olhares. Oferecer
atenção, vivacidade e alegria podem ser LT05-997 - COMPREENDENDO A
primordiais para a entrada nessa relação, VIVÊNCIA DE SER-MÃE DE UMA
para se comunicar com tais pessoas , mes- CRIANÇA AUTISTA: UMA PERSPECTIVA
mo que essa linguagem possa parecer algo FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
de outra dimensão, inacessível e intocável. Luana Cristina F. de L. Andrade - UFRN,
Todavia, indaga-se, como se comunicar luana.cris@globo.com
com uma pessoa que não se comunica da Symone Fernandes de Melo - UFRN,
maneira convencional? Como estabelecer symelo@gmail.com
um diálogo articulado por meio de grunhi-
dos inarticulados? Os grunhidos emitidos Os estudos sobre o autismo têm se amplia-
pelas pessoas com barreiras autísticas po- do ao longo do tempo, apresentando uma
dem ser considerados como uma forma visível evolução no que diz respeito aos
específica de linguagem? Tustin (1990) conceitos atribuídos e formas de compre-
alega que para lidar com pacientes com ensão, sendo possível apontar diferentes
autismo é necessário “empatizar com eles hipóteses etiológicas, graus de severidade
em suas angústias [...] encontrar pontos de e características específicas ou não usu-
contato com eles” (p. 231). A autora (1990) ais (Schmidt, Dell’Aglio & Bosa, 2007). A
aponta que essa comunicação pode ser descoberta de um filho com autismo gera
desenvolvida através de conversas, com uma grande sobrecarga emocional para a
sentimento, de forma que os mesmos se família da criança (Schmidt, Dell’Aglio &
sintam entendidos. Assim, eles vão gradu- Bosa, 2007; Monteiro et al, 2008), bem
almente, se sentindo encorajados a “baixar como suscita muitas dúvidas e frustra
as barreiras de suas reações autistas mais expectativas em relação a um filho ideali-
extremas” (p. 231). Rhode (2000) assegura zado, sendo um momento peculiarmente
que pesquisas recentes mostram que “as delicado. Este diagnóstico trás também a
funções cerebrais podem ser modificadas necessidade de que alguns cuidados es-

977
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

peciais sejam prestados à criança. Estudos nas ideias de Martin Heidegger Trata-se
têm mostrado que as figuras parentais são de uma pesquisa de caráter qualitativo
as mais afetadas pelo estresse em casos que teve como objetivo geral compreen-
de desenvolvimento atípico de um filho, der a vivência de ser-mãe de uma criança
sendo, porém, a mãe mais atingida por sua autista, considerando as características
condição de “cuidadora direta” (Hamlett, do espectro autista e suas implicações no
et al., 1992; Ong et al., 1998, citado por tocante a maternidade. A pesquisa teve
Cherubini, Bosa & Bandeira, 2008). Outros como participantes três mães de crianças
estudos também mostram que a dedica- com autismo, que frequentam a Associa-
ção ao cuidado do filho com autismo leva ção de Pais e Amigos dos Autistas do Rio
estas mães a vivenciarem considerável Grande do Norte (APAARN), estando seus
sofrimento, em virtude da emergência de filhos com idades entre 5 e 8 anos. Foram
sentimentos ambivalentes. É comum o la- realizadas entrevistas individuais, semies-
mento pelo filho, pelas limitações frente a truturadas, tendo como referência o mo-
vida que ele permanentemente apresen- delo de entrevista fenomenológica pro-
tará, as expectativas frustradas em decor- posto por Szymanski (2002) – a Entrevista
rência da idealização de um filho perfeito Reflexiva. As narrativas foram registradas
(Monteiro, 2008), para o qual são feitos em áudio com o uso de gravador, bem
planos e construídos sonhos. O cuidado como transcritas na íntegra. As mães e
diferenciado e dedicação que uma criança seus filhos receberam nomes fictícios para
autista demanda, leva o cuidador a, mui- que o sigilo de sua identidade fosse man-
tas vezes, abdicar muito de si, e de seus tido. Utilizou-se, inicialmente, a seguinte
próprios planos de vida. Alguns autores pergunta disparadora: “Como é para você
afirmam que apesar dos mecanismos do ser mãe de uma criança com autismo?”,
impacto do estresse na saúde ainda serem com a intenção de suscitar, a princípio, um
subjetivos da vivência de cada sujeito e, discurso livre. Contudo, algumas questões
portanto, não determinados, o excesso de norteadoras direcionaram a investigação,
tarefas atribuídas que uma pessoa absorve a fim de atender aos objetivos propostos
no papel de cuidador gera consequências pela pesquisa. Para a análise dos dados,
em sua saúde física e psicológica (Bauer et foi utilizado o método fenomenológico
al., 2000; Epel et al., 2004; Bandeira et al., baseado no modelo de Giorgi (1985). Mo-
2007; Bandeira, Gonçalves & Pawlowski, reira (2002) aborda o método afirmando
2006, citado por Cherubini, Bosa & Ban- que ele se configura em quatro passos: a)
deira, 2008). Carrion, Córdoba e Collado leitura geral da descrição; b) releitura da
(2003) verificaram que as mulheres são descrição discriminando as “unidades de
mais sensíveis e responsáveis diante da sentido” presentes, focando sempre no
necessidade de outras pessoas e se envol- fenômeno; c) expressão de forma direta
vem emocionalmente mais intensamente do que cada unidade de sentido contém;
principalmente quando o cuidado se refe- d) elaboração da “estrutura da experiên-
re ao filho. Este estudo tem por temática cia” do sujeito, formada pela síntese de
a maternidade no contexto do autismo. A todas as unidades de sentido. A partir da
investigação fundamenta-se na fenome- análise foram discriminadas sete unidades
nologia existencial, mais especificamente de sentido que auxiliaram na compreen-

978
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

são da experiência e reflexão sobre ela, de seus filhos. Os dados demonstraram


são elas: 1) Impacto do Diagnóstico; 2) que as mães entrevistadas vivenciam in-
Mudanças na Relação com Filhos Não-Au- tensa angústia e sofrimento em função
tistas; 3) O Cuidado Com o Filho Autista; 4) de fatores como a sobrecarga inerente ao
Qualidade de Vida Materna e Importância cuidado com o filho autista, o abalo nas
do Apoio Familiar; 5) O Cuidado Consigo; relações familiares e as incertezas que o
6) O Olhar do Outro; 7) Angústia Quanto diagnóstico de autismo trás com relação
ao Futuro. Trazendo um panorama geral ao futuro. Foi possível, a partir dos resul-
sobre estas unidades, a primeira busca tados, refletir sobre formas de interven-
apresentar como foi vivenciada por essas ção no sentido de promover o aumento
mães, a expectativa e o impacto emocio- na qualidade de vida destas mulheres e
nal do diagnóstico, tanto devido ao desco- auxiliá-las a enfrentar as dificuldades ad-
nhecimento sobre transtorno, quanto em vindas desta inesperada realidade.
função do sofrimento advindo do rompi-
mento com sonhos e projetos. A segunda Palavras-chave: autismo infantil, relação mãe-
retrata as mudanças percebidas na rela- filho autista, fenomenologia-existencial
ção materna das entrevistadas com seus Contato: Luana Cristina Fernandes de
outros filhos, entendendo os sentimentos L. Andrade, UFRN, luana.cris@globo.com
envolvidos nesta relação, e as implicações
destas mudanças para elas e estes filhos.
A terceira unidade trás uma compreen-
são sobre a relação entre a mãe e o filho
CO 46 - LT07
autista, apresentando-se pautada primor- Estado da arte da pesquisa
dialmente no cuidado, bem como peculiar
dependência funcional do filho para com
a mãe. A quarta unidade procurar refletir LT07-865 - PSICOLOGIA DO
a respeito da sobrecarga vivida pelas en- DESENVOLVIMENTO E AMÉRICA LATINA:
trevistadas diante das variadas responsa- REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS
bilidades que lhe são atribuídas para além Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino - UnB
daquelas que circundam as necessidades luciahelena.pulino@gmail.com
do filho autista, bem como o papel que o
apoio familiar desempenha neste contex- Pensar a questão da diversidade na cons-
to. Nesta quinta unidade observou-se que trução de processos identitários na Amé-
estas mães apresentaram certo esqueci- rica Latina contemporânea, no escopo da
mento de si, atribuindo pouca prioridade Psicologia do Desenvolvimento, consiste,
para a realização de atividades voltadas efetivamente, num repensar deste campo
aos seus interesses pessoais. A penúltima teórico-prático do conhecimento. Neste
apresenta o desconforto e sentimentos trabalho, propomo-nos a lançar algumas
emergentes diante do olhar do outro so- questões que consideramos os pilares a
bre o comportamento diferenciado de seu partir dos quais possamos orientar nossa
filho. Por fim, a ultima unidade aborda as reflexão sobre os processos de constitui-
esperanças e incertezas vividas por estas ção de identidade no contexto da diver-
mães diante dos limites e possibilidades sidade, na América Latina. São questões

979
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de ordem epistemológica, estética, ética latino-americana, complexa e critica, que


e política que se articulam e entrecruzam dê um sentido para suas relações mútuas.
e que aqui apresentamos como questões A sexta questão diz respeito à existência
específicas. A primeira questão que colo- e às possibilidades de construção e imple-
camos, e a partir da qual queremos fazer mentação conjunta de políticas públicas
desdobrarem-se as seguintes, refere-se ao nos países da América Latina que se in-
estatuto do “cultural” nos processos de cumbam de lidar com questões contem-
desenvolvimento humano e, como conse- porâneas ligadas aos processos de educa-
qüência, na teoria e prática da Psicologia ção de suas populações. Tais programas
do Desenvolvimento voltada para a com- políticos seriam voltados para considera-
preensão da construção dos processos rem, ao mesmo tempo, o caráter inter e
identitários no contexto da diversidade intranacional, de modo a lidarem com a
latino-americana. A segunda questão que complexidade da construção da identida-
escolhemos refere-se à diversidade de de/diversidade dos povos latino-america-
caráter estético-artístico interna a cada nos. Já A sétima questão problematiza as
país, e àquela existente entre os países implicações epistemológicas de se repen-
da América Latina, ao processo histórico sar a Psicologia do Desenvolvimento, con-
que caracteriza seu desenvolvimento e siderando as questões colocadas anterior-
aos possíveis processos culturais, formais mente, sintetizando-as na perspectiva do
ou informais, que dão voz a essas diferen- colonialismo cultural e da colonialidade
ças. A terceira questão que orienta nossa do saber, no contexto da America Latina.
reflexão refere-se ao papel de cada país Dessas sete questões eleitas para orientar
no jogo da alteridade/identidade que a discussão que queremos propor aos es-
possibilita o desenvolvimento de uma éti- tudiosos da Psicologia do Desenvolvimen-
ca calcada na diferença e na cooperação, to, a primeira se refere especificamente à
que dê conta de lidar com os processos de concepção de cultura e a seu status nos
construção conjunta, ainda que conflituo- processos de desenvolvimento e ao valor
sa, de uma política voltada para os Direi- epistemológico que ela ocupa na Psicolo-
tos Humanos na América Latina. A quarta gia do Desenvolvimento. Trata-se de uma
questão refere-se ao papel das línguas/ questão abrangente, por tomar a Amé-
culturas portuguesa e espanhola, implan- rica Latina como contexto, mas não se
tadas no processo colonizador, na produ- restringir a ele. As outras são destinadas
ção de processos identitários na América a propor um desenho do espaço/tempo
Latina, e o lugar que vêm ocupando as de contextualização latino-americano, no
línguas originais dos povos autóctones sentido de nos dar subsídio para repen-
colonizados, especialmente, nos proces- sarmos a Psicologia do Desenvolvimento
sos de socialização e educação formais e e para que este campo de conhecimento
informais. A quinta questão refere-se à teórico-prático possa se constituir em um
autoconsciência crítica desenvolvida por instrumento que nos permita reprojetar
cada um dos países, a partir da constru- as relações entre os países latino-ameri-
ção, interpretação e preservação de sua canos e assumirmos o compromisso ético-
memória, e dos possíveis diálogos entre -político de nos colocarmos como estu-
os países na construção de uma memória diosos de Psicologia do Desenvolvimento

980
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e como atores do processo de mudança ta para pensar o desenvolvimento huma-


do mundo. A última questão assume essa no; ético– reconsiderar sua concepção de
proposta de reconstrução com um olhar a humano, de identidade e de diversidade;
partir do colonialismo cultural, que critica político– reconsiderar seu caráter teórico-
a epistemologia calcada na colonialidade -prático e os compromissos com o desen-
do saber e propõe novas configurações volvimento da vida pública e da cidadania,
teórico-práticas para se redesenhar a no contexto da America Latina, considera-
Psicologia do Desenvolvimento na Ame- da em sua complexidade cultural, em ní-
rica Latina. Em síntese, vamos tratar da vel intra e internacional. Nesse sentido, as
questão da diversidade da América Lati- concepções de infância, juventude, idade
na como espaço/tempo de construção de adulta e velhice se inserem numa compre-
identidade, desconstruindo o caráter na- ensão da existência como um tornar-se,
tural e universal dos processos de desen- um processo de devir que não se prende a
volvimento humano, para inserí-los numa limites de estágios ou de expectativas liga-
perspectiva multi e intercultural, marcada das a modelos universais, ou a processos
pela especificidade latino-americana. Esse hegemônicos, mas que se produz na mul-
repensar a Psicologia do Desenvolvimento tiplicidade de relações históricas, culturais
envolve a participação desta ciência num e sociais, na perspectiva do jogo plural,
processo de transformação da América La- de grupos minoritários, de vertentes dis-
tina, ao mesmo tempo em que vai além de sonantes que, longe de serem exceções,
mera contextualização geográfica, política configuram-se como possibilidades de
e cultural das teorias e ideias desta ciência mudança, que tem trazido para a ordem
humana e social. Neste sentido, nosso es- do dia a importância da especificidade, da
forço consistirá em explorar as possibilida- diferença, da singularidade, para se pro-
des desse campo de construção da com- mover uma conversão do olhar, que possi-
preensão dos processos de desenvolvi- bilite uma transformação no processo de
mento humano, superando as dicotomias construção do conhecimento teórico-prá-
local/glogal, específico/geral, nacional/ tico da Psicologia do Desenvolvimento.
internacional, subjetivo/social, cultural/ Portanto, nosso esforço se dará no sentido
multicultural, assumindo um pensamen- de problematizar a teorização-atuação da
to que se apóie na mútua determinação Psicologia do Desenvolvimento na Ame-
desses pares conceituais, a partir de um rica Latina, o que esperamos que resulte
compromisso epistemológico-estético- num diálogo profícuo e emancipador en-
-ético-político. Nossa proposta, portanto, tre o campo científico e o contexto políti-
consiste em refletir sobre as possibilida- co-cultural, do qual nenhum dos dois sai
des e os limites da Psicologia do Desenvol- ileso, pois acreditamos numa transforma-
vimento diante da tarefa de se repensar a ção mútua.
si mesma ao repensar a América Latina.
O compromisso apresenta-se como epis- Palavras-chave: Psicologia do
temológico– reconsiderar seu estatuto Desenvolvimento, América Latina, identidade/
científico e o caráter multidisciplinar que diversidade
pode assumir; estético– reconsiderar sua Contato: Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino,
visão de mundo e a perspectiva que ado- UnB, luciahelena.pulino@gmail.com

981
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1256 - ESTUDOS LONGITUDINAIS e achados em disciplinas consideradas


DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: ainda díspares na investigação sobre o
REVISÃO DE ARTIGOS BRASILEIROS desenvolvimento humano. Esta Ciência
André de Carvalho-Barreto - UNB, enfatiza igualmente a interação dinâmica
andrecarvalhobarreto@yahoo.com.br dos processos pelos modelos de tempo,
níveis de análises e contextos. O tempo
O objetivo deste estudo é apresentar uma e o timing são centrais nesta perspectiva.
revisão da literatura em periódicos nacio- Os modelos de tempo utilizados são refe-
nais de psicologia relacionados a estudos rentes à vida do fenômeno a ser compre-
longitudinais sobre desenvolvimento hu- endido. As unidades de foco podem ser
mano. Tradicionalmente na ciência do curtas, como milissegundos, ou longas,
desenvolvimento, a passagem do tem- como anos, décadas e milênios. Nesta
po é percebida como idade cronológica, perspectiva, os fenômenos do funciona-
como uma escala crescente de quanto mento individual são vistos em múltiplos
as pessoas vivem, sendo muitas vezes níveis, desde subsistemas genéticos, neu-
compreendida também como um cons- robiológicos e hormonais até os níveis
tructo da personalidade, não relacionada familiares, redes sociais, comunidades e
às condições ou eventos externos (Block culturas. (p. 1) Podem ser considerados
& Block, 2006). Atualmente, no entanto, três os delineamentos gerais que consi-
compreende-se que a passagem do tem- deram o tempo como fator de análise:
po está ligada à relação entre mudanças (a) transversal, (b) longitudinal de curto
ambientais e da pessoa, sendo que a últi- prazo e (c) longitudinal de longo prazo.
ma adquire tanto quanto perde habilida- Dentre os três tipos de delineamentos
des e capacidades distintas em todas as cronossistêmicos, o transversal é o mais
fases do seu desenvolvimento (Damon & empregado pelos cientistas do desen-
Lerner, 2006). Evidenciado isto, conside- volvimento humano, especialmente por
ra-se o que pode ser a pedra angular do requerer poucos custos (Magnusson &
estudo sobre o desenvolvimento huma- Cairns, 1996). O delineamento cronossis-
no, apropriadamente introduzida como têmico transversal é utilizado para com-
“Definição 1”. Embora diversos estudos preender fenômenos do curso de vida no
teóricos da ciência do desenvolvimen- espaço de tempo que ocorrem ou pelo
to tenham tentado fornecer há décadas resgate histórico e projeção de informa-
uma definição formal, somente no fim ções. A perspectiva de coleta de dados
dos anos 1990 surge uma comunicação longitudinal, diferentemente da trans-
organizada pelos autores Cairns, Elder versal, tem por característica geral o uso
e Costello (1996) que conseguem apre- de repetidas medidas com os mesmos
sentar uma definição consistente com as respondentes em períodos de tempo dis-
investigações e teorias adotadas por esta tintos (Jenson, 2007). No desenvolvimen-
ciência. A Ciência do Desenvolvimento to humano, os estudos longitudinais têm
é a síntese que foi gerada para orientar por característica, ainda, medir aspectos
as pesquisas nas áreas social, psicológi- de continuidade e mudança, como exa-
ca e biocomportamental. Ela descreve minar os efeitos cumulativos de uma se-
uma orientação geral para ligar conceitos quência de transições ou experiências de

982
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vida que ocorrem no curso do desenvol- quisas longitudinais de longo prazo (De
vimento da pessoa (Baltes & Nesselrode, Felice, 2006; Oliveira-Monteiro, 2008; Sá
1979; Bronfenbrenner, 1988, 1989). São e cols., 2009) e também três utilizaram o
dois os tipos de delineamentos cronos- delineamento de estudo de caso (Beltrão
sistêmicos longitudinais: curto prazo e & Carvalho, 2008; Diaz, 2007; De Felice,
longo prazo, a diferença essencial entre 2006). Os outros estudos foram longitu-
estes estudos é que, no primeiro, o inter- dinais de curto prazo e/ou utilizaram o
valo de tempo é maior, pelo menos, mais delineamento empírico. Finalmente, nos
de dois anos. No segundo, a obtenção estudos longitudinais investigados, qua-
das informações é realizada em interva- tro efetuaram sua coleta em somente
los menores de tempo, como dias, sema- dois períodos distintos de tempo (Krob,
nas e meses (Baltes & Nesselrode, 1979; Piccinini & Silva, 2009; Linhares, Carva-
Bronfenbrenner, 1988, 1989). No Brasil, lho, Machado & Martinez; Oliveira-Mon-
os estudos usando os delineamentos teiro, 2008; Sá, Curto, Bordin & Paula,
cronossistêmicos longitudinais ainda são 2009), e nenhum realizou análises que
poucos. Isto é o que revela um levanta- considerassem mais de dois níveis de
mento realizado sobre a produção nacio- interferência sobre o desenvolvimento.
nal nos últimos 10 anos (2000 até 2009) Todas as análises destas pesquisas fo-
nos dois principais indexadores nacionais caram somente no nível individual dos
de periódicos online de Psicologia: Index- aspectos de continuidades e mudanças
-Psi e PePSIC. Neste levantamento foi que ocorreram ao longo do tempo das
utilizado como verbete apenas a palavra pessoas investigadas. Até o ano de 2006
“longitudinal”, que possui tradução ho- eram mínimos os estudos longitudinais
mônima nas línguas inglesa e espanhola. brasileiros indexados que se preocupa-
Não foram incluídos nesta revisão teses, vam em compreender os fenômenos do
livros e capítulos, trabalhos de conclusão desenvolvimento humano, indicando que
de curso, revistas de divulgação científi- este tipo de delineamento cronossistêmi-
ca, estudos estrangeiros e produções que co tem ganhado gradualmente interesse
se repetissem nas duas bases de dados. recentemente pelos cientistas do desen-
Ao todo esta revisão localizou 44 artigos: volvimento. Este aumento nacional indi-
16 do Index-Psi e 28 do PePSIC. Muitas ca uma tendência mundial, expressa pelo
destes estudos, todavia, não atendiam a levantamento de Singer e Willett (2005)
Definição 1 de ciência do desenvolvimen- e indicada por Chen e Miller (2005), que
to e aspectos de continuidade e mudan- vem constatando no delineamento cro-
ça; outro refinamento, portanto, foi reali- nossistêmico longitudinal propriedades
zado na leitura dos objetivos, métodos e que melhor definem as trajetórias do de-
resultados dos artigos. O resultado final senvolvimento.
identificou nove investigações (Beltrão
& Carvalho, 2008; De Felice, 2006; Diaz, Palavras-chave: desenvolvimento humano;
2007; Krob e cols., 2009; Linhares e cols., métodos de pesquisa; estudo longitudinal
2003; Nobre e cols., 2009; Oliveira-Mon-
teiro, 2008; Pérez-Ramos e Maia, 2002;
Sá e cols., 2009), dessas três foram pes-

983
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1385 - PSICOLOGIA DO te no México e nos países da América


DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA Central e Caribe. Objetivou-se realizar,
LATINA: O CASO DO MÉXICO, AMÉRICA na região citada, um mapeamento da
CENTRAL E CARIBE pesquisa nesse ramo da ciência verifi-
Cândida Beatriz Alves - UnB cando programas de pós-graduação em
candida.alves@gmail.com universidades, grupos contemplados por
Marcella Brasil Furtado - UnB fomento estatal, além de eventos científi-
marcellabrasil@gmail.com cos na área. O instrumento utilizado para
Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira - UnB tal objetivo foi a internet, com visitas a
mcsloliveira@gmail.com páginas de universidades, páginas go-
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB vernamentais de incentivo à pesquisa e
rpedroza@unb.br páginas de associações e congressos, so-
bretudo a Sociedade Interamericana de
Há décadas, a Psicologia do Desenvolvi- Psicologia (SIP). Foram selecionados ao
mento é uma área consagrada das ciên- todo 11 países (Costa Rica, Cuba, El Salva-
cias psicológicas e constitui o universo de dor, Guatemala, Haiti, Honduras, México,
investigação de inúmeros pesquisadores Nicarágua, Panamá, Porto Rico e Repúbli-
ao redor do mundo. Nos últimos anos, ca Dominicana) e mais de 15 universida-
houve uma significativa melhora na ve- des, sobretudo no México e em Cuba. Os
locidade e facilidade no intercâmbio de pontos investigados foram fundamental-
informações com pessoas de todas as mente os nomes dos pesquisadores em
partes do globo, e tal transformação teve Psicologia do Desenvolvimento, sua área
forte influência também na pesquisa em específica de atuação, seus projetos atu-
Psicologia do Desenvolvimento. De fato, ais, o grupo de pesquisa do qual fazem
o acesso, por um maior número de pes- parte (quando o fazem), as últimas publi-
soas, às atividades e publicações realiza- cações encontradas online e outras infor-
das por pesquisadores na área aumentou mações consideradas relevantes, como
também o impacto dessas atividades e por exemplo, sua formação acadêmica ou
publicações sobre a produção científica vínculos internacionais a outros grupos.
no campo em questão. O intercâmbio de Em todos os países verificou-se a existên-
experiências, de relatos de pesquisa e de cia de cursos de graduação em Psicolo-
intervenções, entre outros, certamente gia, porém em El Salvador e no Haiti não
veio enriquecer a disciplina, explicitan- se encontraram informações específicas
do a tendência à internacionalização da sobre pós-graduação em área própria ou
pesquisa na área – a mesma observada, afim à Psicologia do Desenvolvimento. Na
ainda que em ritmos distintos, em outros Guatemala, em Honduras, na Nicarágua e
ramos da ciência. Com base no interes- na República Dominicana, apesar de ha-
se por investigar a maneira como está ver pós-graduação em Psicologia do De-
estruturada e os resultados oferecidos senvolvimento (ainda que nem sempre
pela pesquisa em Psicologia do Desen- denominada Psicología del Desarrollo),
volvimento em outras regiões do globo, não foi possível obter informações sobre
a presente pesquisa centrou-se no caso professores ou linhas de pesquisa. No
latino-americano, mais especificamen- Panamá e em Porto Rico foram encontra-

984
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos dados sobre professores (não mais número de projetos de extensão realiza-
que três) com pesquisa em Psicologia do dos pelas universidades, o que demons-
Desenvolvimento, porém as informações tra uma importante preocupação com
sobre linhas de pesquisa ou publicações a realidade sócio-cultural local, que se
se revelaram demasiadamente escassas. reflete também nos temas de interesse
Já a Costa Rica, Cuba e México destaca- de pesquisa. A partir desse quadro, salta
ram-se, dentre os países investigados, aos olhos a necessidade e a importância
pelo número de professores atuantes em de que universidades e pesquisadores se
pós-graduações na área, pelo número de mobilizem para sistematizar e disponibi-
publicações, pela diversidade de temas lizar online suas atividades e produções
de interesse em pesquisa e pelas redes em documentos como: organização da
de cooperação internacional na qual es- graduação e da pós-graduação, suas li-
tão envolvidos, permitindo-nos colocá- nhas de pesquisa, seu histórico e objeti-
-los no patamar de grupos de status e vos, seu quadro docente, bem como os
impacto internacional, ao menos poten- currículos completos e atualizados des-
cialmente. No entanto, também esses ses pesquisadores. Observou-se que, nos
pesquisadores raramente apresentavam, países em foco no presente estudo, há
disponível na internet, uma sistematiza- trabalhos, pesquisas, publicações e pro-
ção abrangente de seu trabalho, exigindo jetos de extensão de enorme interesse
assim um esforço de busca em páginas e relevância para o campo da Psicologia
diversas de universidades, congressos e do Desenvolvimento, mas que frequen-
revistas eletrônicas. Com base nos resul- temente não estão ao alcance de pesqui-
tados que foram encontrados, a presente sadores que não vivem naquela mesma
pesquisa indicou algumas considerações realidade nacional ou local. Apesar das
sobre o contexto investigado. Em pri- dificuldades financeiras e técnicas que
meiro lugar, é notável a falta de acesso certamente existem, é importante que
e de sistematização de informações dos os pesquisadores dessas universidades
pesquisadores (como currículos, grupos se mobilizem, pois o compartilhamento
de pesquisa, produção acadêmica, pro- de seu trabalho certamente contribuirá
jetos atuais e orientações de mestrado e sobremaneira para o enriquecimento da
doutorado). Por outro lado, no entanto, Psicologia do Desenvolvimento na Amé-
observa-se sim uma produção de relevo rica Latina e no mundo.
no ramo da ciência em questão aqui –
sobretudo na Costa Rica, em Cuba e no Palavras-chave: América Latina, Psicologia
México –, com predominância da pesqui- do Desenvolvimento, compartilhamento de
sa em Psicologia do Desenvolvimento no experiência.
contexto escolar, chamada de Psicologia Contato: Cândida Beatriz Alves, UnB,
Educativa, Escolar ou Educacional (o que candida.alves@gmail.com
mostra a necessidade de uma investi-
gação mais aprofundada sobre que tipo
de pesquisa e objetos de estudos se en-
contram abarcados por essas denomi-
nações). Destacou-se também o grande

985
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-758 - A TEMÁTICA “PSICOLOGIA recionados à área da Psicologia, totalizan-


DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL” NAS do 45 artigos, distribuídos nos seguintes
PRODUÇÕES NACIONAIS: ESTADO DA periódicos: Paidéia; Psicologia em Estudo;
ARTE Psicologia: Teoria e Pesquisa; Estudos de
Adinete Sousa da Costa Mezzalira - PUC/ Psicologia (Campinas); Psicologia Escolar
Campinas e Educacional; Estudos de Psicologia (Na-
adinetecosta@hotmail.com tal); Psicologia: Reflexão e Crítica; Psico-
Raquel Souza Lobo Guzzo - PUC/Campinas logia USP; Psicologia Clínica. Nos artigos
rguzzo@mpc.com.br foram investigados os seguintes aspectos:
características da autoria, uso de referên-
Alguns marcos históricos recentes indicam cias e abordagem utilizada. Com base no
o crescimento da Psicologia do Desenvolvi- levantamento realizado, constatou-se uma
mento, no Brasil. A realização do Primeiro concentração de autorias vinculadas a
Congresso da Sociedade Brasileira de Psi- instituições públicas: dos 45 artigos anali-
cologia do Desenvolvimento e a criação sados, 78,3% eram de universidades públi-
da Sociedade Brasileira de Psicologia do cas; 15,2%, de universidades particulares
Desenvolvimento (ABPD), em 1996, fo- e 6,5% estavam vinculados a universida-
ram acontecimentos que demonstraram a des internacionais. No tocante à posição
existência de uma quantidade significativa geográfica das universidades em que os
de pesquisadores na área, bem como de autores estavam vinculados, 38,5% encon-
produções especificamente voltadas a ela. trava-se na região Sul; 38,5%, na região
Estes eventos são indicadores da existên- Sudeste; 11,5%, na região Nordeste; 9,6%,
cia de um número crescente de estudiosos na região Centro-Oeste e 1,9%, na região
construindo conhecimento nessa área a Norte. Com relação aos estados que mais
partir da realidade brasileira. Com a finali- produziram trabalhos nesta temática, de
dade de conhecer as produções científicas acordo com este levantamento, foram: São
na área da Psicologia do Desenvolvimento, Paulo (23,1%), Rio Grande do Sul (21,1%) e
no Brasil, o presente estudo traz um le- Santa Catarina (13,4%); estes três estados
vantamento das produções nos periódicos corresponderam a 57,6% do total das pro-
nacionais na área da Psicologia, entre os duções. Em relação ao número de autores
anos de 1998 e 2010, contendo a temáti- por artigo, prevaleceram pesquisas com
ca “desenvolvimento infantil”. Foi utilizada dois autores (48,9%), três autores (22,2%)
a base de dados da Scientific Electronic e um autor (15,5%); os trabalhos com 4,
Library Online - SciELO (www.scielo.br) 5, 6 e 9 autores corresponderam a 16,8%
para pesquisar a temática do Desenvolvi- das produções. No que diz respeito às refe-
mento Infantil nas publicações brasileiras, rências utilizadas, pôde-se verificar um nú-
no mês de fevereiro de 2011, digitando mero significativo de fundamentos e pro-
a expressão “desenvolvimento infantil”, duções internacionais sendo utilizados na
no índice de assuntos na base de artigos discussão de temáticas a respeito do de-
da coleção do Brasil. Diante desta busca senvolvimento na realidade brasileira. No
apareceu um total de 183 artigos. Nessa levantamento realizado, do total de 1.346
amostra, optou-se por investigar, apenas, referências, 50,1% eram internacionais e
os artigos que estavam em periódicos di- 49,9%, nacionais; em geral, prevaleceram

986
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

artigos, livros, capítulos de livros e, depois, (24,5%), questionários e fichas (15,1%), re-
dissertações e teses. Com relação às abor- gistro das observações / diários de campo
dagens utilizadas nas produções investi- (11,3%), vídeogravação / filmagem (7,5%)
gadas, 25 trabalhos (55,5%) continham a e outros (5,7%). Com relação às técnicas
informação da abordagem empregada e de coletas de dados mais utilizadas com
20 trabalhos (44,5%) não mencionaram, crianças foram: escalas, protocolos, testes,
diretamente, a abordagem escolhida. Em inventários e baterias (30,4%); entrevistas
geral, as abordagens mais utilizadas foram (21,7%), registros das observações / diário
o modelo bioecológico do desenvolvimen- de campo (21,7%), filmagens (13,1%) e
to e a abordagem sócio-histórica, históri- outros (13,1%). Quando analisadas as téc-
co-cultural ou sociocultural. Com relação nicas utilizadas com os familiares, profis-
ao tipo de pesquisa, teórica ou empírica, sionais e professores foi constatado o uso
dos 45 artigos, 32 correspondiam a estu- de: entrevistas (42,9%), questionários e
dos empíricos (71,1%) e 13, a estudos te- fichas (25%), escalas / inventários (21,4%),
óricos (28,9%). Nas pesquisas empíricas filmagens (7,1%) e outros (3,6%). Ao inves-
verificou-se o cenário de pesquisa, a técni- tigar o tipo de procedimento de análise
ca de coleta de dados, a análise dos dados dos dados, foi possível verificar que em 18
e os participantes. A respeito do cenário trabalhos (56%) foi empregado algum tipo
de pesquisa ou o local onde foi realizada de quantificação e em 14 trabalhos (44%),
a pesquisa, nos 32 artigos empíricos, 17 empregada a análise qualitativa. Com re-
pesquisas desenvolveram-se dentro de lação aos participantes das pesquisas, 17
uma escola; quatro, em um posto de saúde trabalhos (53,1%) contaram com crianças
ou hospital; duas, dentro de um bairro ou e ou adolescentes e 15 trabalhos (46,9%)
uma comunidade; em outras duas, os par- com os familiares, profissionais e professo-
ticipantes foram entrevistados na institui- res como participantes. É importante con-
ção de ensino superior em que os autores siderar a continuidade deste levantamento
atuavam; e, por último, uma pesquisa foi preliminar, bem como questionamentos a
realizada em um centro de atendimento à seu respeito, a partir da realização de no-
criança. Ressalta-se que em seis estudos vas pesquisas. Acredita-se que a investiga-
não foi possível identificar o cenário da ção realizada possa contribuir para uma
pesquisa, porque os autores não mencio- breve descrição de como vem se consoli-
naram como chegaram aos participantes dando a Psicologia do Desenvolvimento
escolhidos e onde foi realizada a pesquisa. Infantil no país e futuras pesquisas dire-
No que se refere à quantidade de técnicas cionadas a mapear a situação da Psicolo-
empregadas na coleta de dados, dos 32 gia do Desenvolvimento Infantil tornam-se
artigos analisados, 15 trabalhos (28,4%) essenciais para a construção da história da
utilizaram uma técnica; 13 artigos (49%) pesquisa científica na área.
utilizaram duas técnicas; e quatro traba-
lhos (22,6%), três técnicas. Em geral, os Palavras-chave: Psicologia do
dados demonstram que a opção pelo uso Desenvolvimento Infantil; produções
de entrevistas (35,9%) é bastante comum. científicas; Psicologia no Brasil
Na sequência, aparecem o uso de escalas, Contato: Adinete Sousa da Costa Mezzalira,
protocolos, testes, inventários e baterias PUC-Campinas, adinetecosta@hotmail.com

987
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 05 - LT01 -cultural – que também considera o víncu-


lo como central e fundante – entende-se
Abrigamento e adoção o desenvolvimento humano a partir das
relações estabelecidas com o outro e o
ambiente, sendo essas mediadas pela lin-
LT01-817 - A CONSTRUÇÃO DE
guagem e engendradas num determinado
VÍNCULOS NO ACOLHIMENTO DE BEBÊS
contexto histórico-cultural. No entanto,
EM ABRIGOS: UM OLHAR PARA AS
ao considerar a diversidade de contextos
POSSIBILIDADES.
a que a criança pode estar submetida his-
Gabriella Garcia Moura - USP tórica e socialmente, nos questionamos
gabigmoura@yahoo.com.br sobre processos de relações, em termos
Kátia de Souza Amorim - USP de comunicação e construção afetiva de
katiamorim@ffclrp.usp.br bebês que se encontram em contextos de
acolhimento institucional: como o bebê
Na psicologia, há forte difusão da teoria se relaciona com e nesse ambiente? Foi
de apego (Bowlby, 1990), que discute a com essa problematização que nos pro-
inclinação dos seres humanos para a cons- pusemos a investigar, através de um es-
trução de vínculos e que considera ainda tudo de caso, envolvendo um ambiente
o não estabelecimento ou o rompimento de acolhimento institucional, os modos
precoce dos laços afetivos como importan- de co-construção das relações e dos vín-
te fator etiológico de distúrbios emocio- culos afetivos de bebês com os adultos
nais e desordens psiquiátricas. Essa teoria cuidadores e com as outras crianças que
tem influenciado a perspectiva de consi- compartilham do mesmo contexto. A pes-
derar o desenvolvimento cognitivo, emo- quisa foi guiada pela perspectiva teórico-
cional, afetivo e social sadios como produ- -metodológica da Rede de Significações.
to de uma relação estável com um adulto, O estudo foi realizado numa cidade de
preferencialmente a mãe, num ambiente médio porte do interior de São Paulo. Fo-
doméstico-familiar. Nessas condições, se ram realizadas vídeogravações, durante
garantiria um apego seguro, mesmo em três meses, tendo como foco três bebês,
se tratando de “pais muito ruins”, uma vez cujos nomes fictícios e idades são Lucas (3
que, para o autor, “algo pior do que um lar meses); Guilherme (10 meses); e, Rosa (5
insatisfatório é a (...) inexistência de um meses). A fim de acompanhar mudanças e
lar” (ibid, 2006, p.72). Predominantemen- (trans)formações ocorridas nas formas de
te, a discussão sobre desenvolvimento de se relacionar e se comunicar dos bebês,
crianças que vivem alijadas do convívio tem sido feita uma análise microgenética
familiar, especialmente as abrigadas, está das cenas. Isto é, descrição minuciosa de
atravessada por essas vozes, carregando eventos e acontecimentos e acompanha-
a ideia de predição de prejuízo do desen- mento das mudanças, que tal como dis-
volvimento, pressupondo que, nesses am- cute Lyra (2000), marcam a história dos
bientes, entre outros problemas, há im- participantes em termos de momentos
possibilidade de construção de vínculos. de quase estabilidade ou de mudanças.
Na contramão dessas concepções e previ- Como resultados parciais obtivemos: para
sões, partindo-se da perspectiva histórico- a faixa etária em questão (primeiro ano

988
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de vida), os vídeos indicam que os bebês né?”, na qual fica clara a preferência do
utilizam determinados recursos comuni- bebê (Lucas) por uma funcionária-moni-
cativos (como o andar em direção, seguir, tora específica (Elaine). Bussab (2000) nos
se aproximar ou permanecer ao redor de alerta sobre a armadilha metodológica em
determinada pessoa; o olhar, o balbucio, o que podemos cair ao atribuir, de modo
choro e o sorriso direcionado; o estender simplista, relação causal entre o desenvol-
os bracinhos; entre outros recursos) na vimento do apego com o comportamento
interação. Esta se dá com pessoas espe- de cuidado para satisfação de necessida-
cíficas, as mesmas ocorrendo, prioritaria- des básicas (alimentação, cuidados com
mente, com funcionários do abrigo, ain- a saúde e higienização). No entanto, no
da que haja outros adultos e voluntários contexto do abrigo, a condição dependen-
presentes. Tais comportamentos indicam te do bebê faz com que a proximidade dos
preferências e especificidades, revelando adultos, exigida nos cuidados básicos, po-
comportamento possível de seletividade tencialize a construção de relação e pos-
na escolha dos parceiros de interação. O síveis vínculos. Em outras palavras, nos
mesmo acontece nas interações com as momentos de interação, subjacentes aos
outras crianças. Para discutir esses modos cuidados básicos, novos elementos po-
de relações, foi selecionada uma cena. No dem surgir na relação, como brincadeiras,
episódio, Lucas estava no berço, interagin- sorrisos, entre outras trocas afetivas que
do de longe com um bebê de outro berço, envolvem o adulto na história de desen-
por meio de olhares e balbucios. Quando volvimento, com conquistas e descober-
Elaine (funcionária) passa pelo berçário tas do bebê, viabilizando a construção de
e segue em direção à cozinha, ele a vê e vínculos. Embora a cena seja apenas um
começa a chorar, olhando para o corredor recorte da história relacional, ao longo dos
onde ela entrou. Seu choro dura alguns vídeos, é possível observar esse tipo de
minutos, atraindo a atenção de uma vo- troca afetiva entre Lucas e Elaine e entre
luntária. Esta tira o bebê do berço e o co- outros bebês e funcionários. Ela evidencia
loca no chão, oferecendo um brinquedo. que, ao contrário do que é previsto, mes-
Mesmo assim, Lucas continua chorando, mo em situação considerada por princípio
agora com mais intensidade (“berrando”). adversa, as interações entre as crianças
A diretora do abrigo aproxima-se e o pega e adultos e entre as próprias crianças es-
no colo, dizendo “pronto, pronto, pronto”. tão carregadas de afeto, com intensas
Embora o choro diminua, não é suficiente reações emocionais e evidente conforto
para que ele pare de chorar. Nesse mo- proveniente desses contatos. Ainda que
mento, Elaine volta ao berçário, mas sai estes vínculos não tenham as característi-
rapidamente. E ele, novamente, começa a cas que Bowlby (1990) compreende como
chorar gritando e olhando na direção dela. pré-requisitos para um apego seguro, é
Por fim, a funcionária reaparece e o pega claramente observável que as crianças
no colo, após ele inclinar o corpo em sua têm figuras de referências nesses contex-
direção. No colo, imediatamente, Lucas tos. E é na relação com essas figuras de
para de chorar. Ela o leva para a cozinha e referência que surgem as possibilidades
a diretora do abrigo diz: “olha aí o remédio de construção de vínculos e apego no con-
dele (...) oh! Meu amor, tá acostumado, texto de acolhimento institucional.

989
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-872 - O DESENVOLVIMENTO NO acordo com as indicações das pedagogas


GRUPO DA BRINCADEIRA: ESTUDO do abrigo, que priorizaram para a atividade
DE CASO SOBRE UMA CRIANÇA EM aquelas com dificuldades na escolarização
SITUAÇÃO DE ABRIGAMENTO e nas relações com outras pessoas (tanto
Priscila Fernandes do Prado - UnB com outras crianças quanto com as cuida-
pprifp@gmail.com doras da instituição). Outro critério para a
Regina Lúcia Sucupira Pedroza - UnB formação do grupo foi a idade das crian-
rpedroza@unb.br ças, sendo a faixa etária escolhida a de 8
e 9 anos. Com a observação desses aspec-
Este trabalho refere-se ao relato de uma tos, fizeram parte do grupo da brincadeira
experiência de extensão universitária re- um menino e cinco meninas, sendo que
alizada num Projeto de Extensão de Ação uma delas participou apenas em seus perí-
Contínua por estudantes de graduação em odos de férias, por estudar no mesmo tur-
Psicologia da Universidade de Brasília em no de realização do trabalho. No primei-
um abrigo do Distrito Federal para crianças ro semestre de atividades com o grupo,
e adolescentes socialmente abandonados duas extensionistas eram as responsáveis
e encaminhados pela Vara da Infância e Ju- por estar com as crianças. Já no segundo
ventude. A metodologia de relato escolhi- semestre, a equipe contou com mais três
da foi o estudo de caso por permitir maior extensionistas. Foram realizadas visitas
aprofundamento e análise dos conteúdos semanais ao abrigo durante todo o perío-
relacionados ao desenvolvimento de uma do letivo da universidade, nas quais eram
menina de 8 anos participante do projeto dedicadas uma hora e trinta minutos para
realizado na instituição durante o ano de estar com esse grupo na brinquedoteca
2010. Tal proposta consistiu na utilização da instituição. As brincadeiras, seus parti-
da brincadeira como forma de intervenção cipantes e suas regram eram escolhidas e
psicológica com um grupo de crianças, a conduzidas conjuntamente, sendo o brin-
partir da concepção de que a brincadeira é car concebido como um fim em si mesmo.
atividade fundamental para o desenvolvi- Ao brincar com o grupo, os extensionistas
mento da criança, visto como um processo procuraram criar espaços de interação
permeado por descontinuidades, constitu- com as crianças nos quais elas pudessem
ído por avanços e retrocessos. Entende-se se desenvolver de forma espontânea e au-
o brincar como possibilitador da constru- tônoma, a partir da vivência dos conflitos
ção da autonomia, formação de vínculo, que surgiam, das fantasias proporcionadas
reelaboração de experiências vivenciadas, pelas brincadeiras e das demais possibili-
construção e seguimento de regras e ex- dades experienciadas. A criança do pre-
pressão de sentimentos e fantasias. Nessa sente estudo de caso foi a última a entrar
atividade, surgem conflitos que podem, no abrigo, seu ingresso ocorreu aproxima-
por meio da mediação do adulto e da pró- damente um mês antes do início do grupo.
pria situação de brincadeira, promover Com 8 anos, Bela tinha dois irmãos mais
desenvolvimento de recursos de persona- novos, um de 5 e outro de 3 anos. Os três
lidade que possibilitam maiores condições foram abrigados na mesma casa-lar. Quan-
de interação afetiva nas relações interpes- do a criança era buscada em sua casa para
soais. O grupo de crianças foi composto de participar do grupo, os irmãos estranha-

990
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vam sua saída, sendo que algumas vezes o do a criança escolhia permanecer brincan-
mais novo até chorava. Em casa e na brin- do no parquinho, na companhia de outras
quedoteca, os primeiros encontros com crianças, em vez de ir logo para casa ao en-
Bela foram marcados por muito silêncio e contro dos irmãos. O acompanhamento do
recatamento de sua parte. E assim que o desenvolvimento e a convivência com Bela
grupo acabava, Bela logo voltava para per- mostraram a importância da postura dos
to dos irmãos, sempre cuidando dos dois. extensionistas de suporte para as crianças
No transcorrer dos dias e das brincadeiras, do grupo poderem se expressar e agir de
o relacionamento com a criança foi se tor- forma espontânea, como sujeitos de seus
nando cada vez mais pessoal, sem tantas desejos, a partir do vínculo de confiança e
resistências dela e dos irmãos para as sa- respeito estabelecido com elas. Além dis-
ídas de casa e com maior comunicação so, observou-se que a atividade em grupo
visual e corporal. Já a comunicação verbal auxiliou o desenvolvimento da individua-
demorou um pouco mais de tempo para ção da criança, por possibilitar posiciona-
ser compreensível. No início, Bela apon- mentos e escolhas pessoais, e que foi pos-
tava seus desejos e sentimentos com sons sível desenvolver uma escuta terapêutica
de impaciência e grunhidos, revelando na por meio de uma prática clínica reflexiva e
maioria das vezes apenas os momentos de transformadora.
descontentamento. Apesar dessas expres-
sões terem perdurado por grande período, Palavras-chave: desenvolvimento, brincadeira,
nos últimos encontros do grupo, era possí- abrigamento.
vel perceber que Bela expressava com pa- Contato: Priscila Fernandes do Prado –
lavras sua tristeza e suas contrariedades. Universidade de Brasília – pprifp@gmail.com
Além de ter sido ouvida e entendida, o gru-
po analisou o falar da criança importante
por ter proporcionado a ela a melhor per- LT01-1258 - ADOÇÃO NACIONAL E
cepção das suas sensações e a organização INTERNACIONAL: PROCESSOS PROXIMAIS
de possíveis soluções. Outras mudanças de NO PERÍODO DE CONVIVÊNCIA
Bela foram em relação à vivência de mo- Elisa Avellar Merçon-Vargas - UFES
mentos felizes, os quais, no início, parecia elisa.amv@gmail.com
evitar ao se isolar do grupo, permanecen- Edinete Maria Rosa - UFES
do calada e quieta. Tal distanciamento foi edineter@gmail.com
diminuindo ao longo dos encontros e, ao Débora Dalbosco Dell’Aglio - UFRGS
final, a criança brincava todo o período dalbosco@cpovo.net
com os outros componentes do grupo e Financiamento: CAPES
expressava contentamento com risos, can-
tos e interações animadas. Ademais, Bela O Estatuto da Criança e do Adolescente
em vários momentos chamava as outras (ECRIAD; Brasil, 1990) assegura o direi-
meninas de amigas ou deixava evidente o to à convivência familiar e comunitária a
seu carinho por elas. Também foi possível toda criança e adolescente. Nos casos em
perceber diferenças nos comportamentos que estes direitos estão sendo violados, a
de Bela nos outros contextos do abrigo, criança ou adolescente deve ser acolhida e
como nas saídas na brinquedoteca, quan- deverá ser reinserida na sua família de ori-

991
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gem o mais breve possível. Caso isso não se interinfluenciando, possui quatro níveis
possa ocorrer, deve ser procurada uma de interação: 1) microssistema - ambien-
família adotiva. A adoção deve ser prece- tes frequentados pela pessoa, e nos quais
dida de um estágio de convivência com a estabelece relações face a face; 2) mesos-
família adotante (Brasil, 1990; 2009), com sistema - inter-relações entre os micros-
o objetivo de facilitar uma adaptação à sistemas; 3) exossistema - ambientes em
nova situação familiar, tanto nos casos de que a pessoa não frequenta como partici-
adoção nacional como internacional, nes- pante ativo, mas que possui influência no
te último caso devendo ocorrer no país de seu desenvolvimento; e 4) macrossistema
origem das crianças, por um período de no - composto pelo padrão global de ideolo-
mínimo um mês. Apesar dos avanços nos gias, crenças, valores, religiões, formas de
estudos sobre adoção, permanecem ain- governo, culturas e subculturas. O tempo
da muitas lacunas a serem preenchidas, permite examinar a influência para o de-
principalmente com relação às dinâmicas senvolvimento de mudanças e continuida-
e estratégias de interação que propiciam des que acontecem no decorrer da vida.
um ambiente familiar saudável. Palacios A partir destas considerações, realizou-se
(2007) afirma que os estudos têm enfo- um estudo de caso múltiplo com dois ca-
cado mais os resultados da adoção e as sais em processo de adoção, um nacional e
características dos envolvidos, mas pouco outro internacional, e as respectivas crian-
tem sido estudado sobre os processos que ças/adolescentes adotadas (nos dois casos
envolvem a adoção. Assim, neste estudo adoção múltipla - dois irmãos). Para coleta
utilizou-se como aporte teórico e meto- de dados utilizou-se a estratégia da inser-
dológico a Teoria bioecológica do desen- ção ecológica (Cecconello & Koller, 2003).
volvimento (Bronfenbrenner & Morris, Assim, as famílias foram acompanhadas
1998), para investigar de forma qualitativa por um período de cerca de quatro meses,
os processos proximais entre adotantes e tendo sido realizados cinco encontros em
adotados durante o período de convivên- cada caso. Foram realizadas entrevistas
cia anterior à adoção. Para compreender semiestruturadas com os adotantes e os
o desenvolvimento nesta perspectiva de- adotados. Foram feitas visitas às duas ins-
vem ser considerados quatro níveis que se tituições de acolhimento onde as crianças
relacionam entre si: o processo, a pessoa, encontravam-se antes da adoção e um
o contexto e o tempo (PPCT). Os proces- encontro informal no país de acolhida, no
sos proximais são o primeiro mecanismo caso da adoção internacional, três meses
produtor de desenvolvimento, são formas após a ida das crianças. As observações du-
duradouras de interação entre um indiví- rante os encontros foram anotadas em diá-
duo ativo e outras pessoas, objetos e sím- rio de campo. Houve autorização prévia do
bolos. Podem ter efeitos de competência juiz da Vara de Infância e Juventude, o pro-
ou disfunção dependendo dos ambien- jeto foi aprovado por Comitê de Ética e os
tes em que acontecem. As características participantes assinaram o Termo de Con-
da pessoa são vistas como produtoras e sentimento Livre e Esclarecido. Foi realiza-
produto do desenvolvimento. O contexto da uma análise qualitativa dos dados por
considera a relação entre pessoa e am- meio de agrupamentos de sentidos emer-
biente como multidirecional, com ambos gidos, sendo organizados em eixos temáti-

992
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cos (Yin, 2005) previamente construídos a de lidar com a nova situação, tanto em
partir da Teoria bioecológica (Bronfenbren- relação à realidade social em que vivem,
ner & Morris, 1998). Os dados indicaram como na forma como a questão é tratada
uma diferença entre os processos proxi- nos dois países, Brasil e Itália. No que diz
mais competentes e disfuncionais nos dois respeito ao tempo, houve uma adaptação
casos estudados. Na adoção nacional os à situação adotiva nas duas famílias, tan-
processos proximais competentes se de- to na estrutura e dinâmica familiar, como
ram pela convivência anterior que os ado- nas relações entre pais e filhos. Assim, foi
tantes tinham com as adotadas, e na inter- possível observar que estas as relações se
nacional pela percepção dos pais adotivos constituem com o tempo, sendo importan-
de que as crianças estavam engajadas no te que os processos proximais sejam cons-
processo de adoção, percebendo os víncu- truídos de maneira que assegurem certa
los como contínuos e duradouros, além da estabilidade, propiciando engajamento,
capacidade de comunicação das crianças. laços duradouros e recíprocos. Observou-
Já os processos disfuncionais na adoção -se ainda que tanto as características dos
nacional estavam ligados a uma mudança adotantes como dos adotados influenciam
de comportamento da criança mais nova neste processo. Ademais, por essa relação
e na adoção internacional ao fato de esta- se constituir num processo de construção
rem hospedados em um apart-hotel, em diária, o período de convivência torna-se
um país diferente, fora do seu cotidiano. importante, devendo, no entanto, ser re-
Com relação às características pessoais, alizado com maior suporte através de um
nos dois casos destacou-se a questão da acompanhamento de uma equipe prepa-
afetividade nos processos proximais, que rada e considerando as particularidades
se mostraram competentes. Em ambos os de cada caso.
casos nas características pessoais de recur-
so foram apontadas questões relativas ao Palavras-chave: adoção nacional, adoção
diálogo, estabelecimento de regras e limi- internacional, Teoria bioecológica do
tes. Os microssistemas frequentados no desenvolvimento.
caso da adoção nacional eram próximos da
realidade da família, enquanto que na ado-
ção internacional, estes microssistemas es- LT01-1338 - SIGNIFICADOS SOBRE
ADOÇÃO NUMA PERSPECTIVA
tavam limitados, uma vez que não estavam
SOCIOCULTURAL CONSTRUTIVISTA:
em sua casa e cotidiano onde iriam morar
ANÁLISE DE DOIS CASOS
com as crianças de fato e falavam línguas
diferentes. No caso de adoção nacional, Maria C.D.P. Lyra - UFPE
o fato da adotante trabalhar com ques- marialyra2007@gmail.com
tões ligadas ao acolhimento institucional Tatiana Alves de M. Valério - IFPE - Campus
influenciou na maneira como lidava com Belo Jardim
as questões da adoção. Foi possível verifi- tatiana.valerio@belojardim.ifpe.edu.br
car, ainda, com relação ao macrossistema, Fiananciamento: CNPq
que as vivências e contatos com a temá-
tica da adoção por parte dos adotantes, A temática da adoção de crianças e ado-
nos dois casos, influenciavam na forma lescentes e sua discussão no contexto da

993
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sociedade tem, notadamente, avançado alizadas nesse estudo ocorreram em um


neste começo de milênio, sobretudo ado- contexto de conversação, tendo a seguin-
tando um discurso em prol da aceitação te questão deflagradora do tema a ser in-
das diferenças. Isto é percebido no nosso vestigado: “Quando você ouve a palavra
país pelo número crescente de Grupos adoção, o que te vem à mente? Elegemos
de Apoio à Adoção (GAAs); da freqüência como categoria de análise, neste trabalho,
desta temática permeando enredos de a atribuição de valor às ações advindas da
filmes, novelas e programas televisivos; distinção entre “A” (valores legitimados
da Nova Lei da Adoção (Lei nº 10.012/ pelas instituições e presentes naquilo que
2009); da criação do Cadastro Nacional de o discurso social pretende significar como
Adoção (CNA) como política pública; e do “politicamente correto” sobre adoção) e
aumento de estudos e publicações sobre “B” (significados sobre adoção a partir de
a temática. Esse novo status da condição discursos valorados intra-individualmen-
de aceitação positiva da adoção é perme- te). Para análise, seguimos as concepções
ado por uma tensão entre esse discurso de Valsiner que nos apresenta três estra-
social considerado politicamente correto tégias de ação quando atribuímos valor ao
e aquilo que é valorado intra-individual- efetivar a distinção A e B, avaliando A não
mente. Inúmeros exemplos demonstram de forma positiva ou neutra, mas negati-
esta tensão que pode ser sugerida em vamente. São elas: intolerância eliminativa
alguns comportamentos dos pais assim – o outro deve ser eliminado; intolerância
exemplificados: “não revelar a condição assimilativa – mudamos o que era desfa-
de adoção ao filho nem a outras pessoas”, vorável em favorável através de diferentes
“justificar as dificuldades de aprendizagem meios (aculturação, educação); e tolerân-
do filho pela adoção” e “não participar de cia – eliminamos o contraste entre A e B
movimentos pró-adoção para proteger o e a distinção torna-se, por avaliação, po-
filho e a si próprio”. Adotando uma pers- sitiva ou neutra. Ambos os entrevistados
pectiva sociocultural construtivista (Val- selecionados para este estudo, em um
siner, Vigotski) concebemos a cultura e o primeiro momento, avaliaram positiva-
indivíduo como constituídos mutuamente, mente a perfilhação adotiva. No entanto,
inseridos em um processo semiótico que no decorrer da entrevista, foi possível de-
cria valores para os significados atribuídos tectar as estratégias intolerância elimina-
às diversas construções sociais. Procura- tiva e intolerância assimilativa que estão,
mos, assim, neste trabalho, identificar as- segundo Valsiner, ligadas a uma atribuição
pectos dessas tensões que emergem dos negativa de valor quanto às distinções (A e
processos reflexivos de interpretação do B). Destacamos os seguintes exemplos: na
narrador sobre o significado da adoção. entrevista de “X”, aluna do Curso Técnico
Com o objetivo de explorar valores ine- de Enfermagem, 23 anos, casada, grávida
rentes ao significado da adoção, entre- do primeiro filho, e com experiência de
vistamos dois alunos do Instituto Federal adoção na família (uma prima adotou uma
de Educação, Ciência e Tecnologia de PE criança), observamos que a palavra “filho”
(IFPE) – Campus Belo Jardim, de cursos não foi mencionada, foi omitida, silenciada
técnicos na modalidade subseqüente ao no discurso dela. Perguntamos como era a
Ensino Médio. As entrevistas abertas re- relação da família com a criança e ela res-

994
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ponde: “... ele já sabe que ele não é. Ape- LT01-1441 - FAMÍLIA SOB A PERSPECTIVA
sar de que ele sabe que não é... que é ado- DE CRIANÇAS EM ACOLHIMENTO
tado.” Esse excerto revela a “intolerância INSTITUCIONAL
eliminativa” que é quando se busca trans- Pedro Paulo Bezerra de Lira - UFPE
formar aquilo que está em conflito em alvo pedropaulo_v@yahoo.com.br
de eliminação. A palavra filho não tem es- Maria Isabel Pedrosa - UFPE
paço no discurso de “X”. Essa mesma es- icpedrosa@uol.com.br
tratégia é identificada na entrevista de “Y”, Financiamento: FACEPE
aluno do Curso Técnico de Informática, 21
anos, solteiro, mora com os pais e possui Este trabalho compreende a criança como
história de adoção na família. Ele elimina a construtora ativa de significações sobre
condição de adotivo do primo: “Todo mun- objetos sociais diversos, na medida em
do trata ele como se ele... é, esse fato (a que sua participação na sociedade instiga
adoção) não existisse.” Assim, elimina-se a a apropriação e reelaboração de informa-
condição de ser do outro (adotivo) e colo- ções do mundo adulto de forma a aten-
ca-o na mesma e desejável condição dos der, entretanto, aos interesses próprios
entes nascidos desta família. Identificamos de sua idade (Carvalho & Pedrosa, 2002;
também a “Intolerância Assimilativa” que Corsaro, 2002, 2009). Tomar o objeto fa-
é transformar algo desfavorável (condição mília para investigação implica deparar-se
adotiva) em algo favorável. Para tanto o com um fenômeno multifacetado, que as-
entrevistado lança mão de elementos que sume ao longo da história, em diferentes
descrevem a filiação/perfilhação bio-gené- sociedades e culturas, uma diversidade
tica – parto, DNA: “Como se fosse nascido de configurações (Nascimento, 2009).
da minha tia normalmente, é como se ti- Entretanto, investigar significações que
vesse tido parto”.“Como se ele realmente crianças atribuem a família pode revelar
fosse do sangue da família e tivesse o mes- como elas apreendem esse objeto social
mo DNA”. Desta forma ele traz o ente ado- e salientar os aspectos de maior visibili-
tivo à condição de “normalidade” familiar, dade, de acordo com suas perspectivas,
como ele mesmo se refere. Dessa forma, ainda que a família implique um processo
por meio dessa análise, foi possível identi- de contínuas transformações de valores
ficar, em ambos os entrevistados, as estra- e normas culturais. Pensando na criança
tégias de ação utilizadas face à tensão que em acolhimento institucional, torna-se
a adoção desperta, uma vez que elaborar sobressalente a importância de elevá-la a
significados sobre adoção implica trazer uma posição de sujeito ativo e de direitos
para o discurso pessoal um significado co- dentro do processo de institucionaliza-
letivo que é valorado como positivo, mas ção (Rossetti-Ferreira, Solon, & Almeida,
que, ao mesmo tempo, implica em adição 2009), escutando-a atentamente em suas
de valores negativos advindos, neste caso, próprias percepções, especialmente dian-
da história da adoção que no passado era te de um contexto sociocultural em que
carregada de mitos e preconceitos. documentos legais prezam pela preserva-
ção do direito infanto-juvenil à convivên-
Palavras-chave: adoção; construção de cia familiar e comunitária (Brasil, 2006; Lei
significados; socioculturalismo; nº. 8.069, de 13 de julho de 1990; Lei nº.

995
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

12.010, de 3 de agosto de 2009). É então e papel foram utilizados como material


que o presente estudo buscou investigar de apoio. A análise partiu da transcrição
processos de significação de família em de recortes das oficinas e das conversas,
crianças de 3 a 7 anos acolhidas institucio- perpassando significações construídas,
nalmente na cidade do Recife. Partiu-se da negociadas e relacionadas pelas crianças
observação de seis sessões videogravadas, a família. De início, a exploração de quais
com média de 33 minutos de duração, que ‘personagens’ compuseram as brincadei-
foram realizadas em quatro instituições de ras, incluindo-se aqueles que foram ape-
acolhimento e contaram com a participa- nas citados, mas não desempenhados, pe-
ção de 24 crianças, sendo 15 meninos e 9 las crianças, ofereceu as primeiras pistas a
meninas, com idades entre três anos (3;0) respeito das significações de família sob a
e sete anos e um mês (7;1). Os participan- ótica dos sujeitos observados. No grupo fa-
tes estavam há pelo menos um mês aco- miliar podiam existir pai, mãe, filho, filha,
lhidos e suas histórias de vida e situação irmão, irmã, avô, avó, tio, tia. Ressalta-se
processual no Poder Judiciário não foram que a negociação inicial dos ‘personagens’
conhecidas pelo pesquisador. As sessões a desempenhar e as possíveis transforma-
videogravadas foram chamadas de ofici- ções de papéis ao longo da brincadeira fi-
nas, uma vez que se dizia que eles deve- zeram parte de um cerne de competências
riam ‘brincar de família’. Quatro ou cinco sociais e comunicativas (Pedrosa, 2004)
crianças eram convidadas a participar da mais amplo em que conhecimentos so-
situação num setting lúdico previamen- bre os parceiros balizaram as interações
te organizado com objetos à disposição, estabelecidas. Processos de significação
desempenhando ‘personagens’ que ad- entrecruzados a partir dos diferentes par-
mitissem integrar um grupo familiar. Ini- ceiros constituíram um campo interacional
cialmente, escolhiam e negociavam em em que elementos sobre família puderam
conjunto o ‘personagem’ da família que ser alçados, por meio de uma análise mi-
cada uma desempenharia na brincadeira. crogenética. Um dado interessante é que
Ao longo da sessão, perguntas do pesqui- o irmão garantiu espaço nas considera-
sador instavam-nas a referir, entre outras ções sobre família: como ‘personagem’
coisas, que ‘personagem’ vivenciavam, da brincadeira, a exemplo de uma meni-
quais atividades este fazia e o que acon- na que disse ser a irmã em uma oficina; e,
tecia no faz de conta. Essas perguntas po- na referência direta aos irmãos reais, caso
deriam ser consideradas uma ‘entrevista’, de um menino que relatou fragmentos de
mas realizada de modo não habitual, ou uma vivência na companhia destes em
seja, com roteiro flexível ajustado às ações que todos estiveram na Gerência de Po-
das crianças, tornando-as semelhantes lícia da Criança e do Adolescente (GPCA).
àquelas feitas em uma conversa informal. Desperta atenção que esse mesmo garoto
Dois dias após a oficina de que participou, e também um irmão seu, participantes de
cada sujeito individualmente conversou oficinas distintas, protagonizaram breves
com o pesquisador acerca de ideias so- situações de faz de conta parecidas: ‘his-
bre família que surgiram na situação de tórias’ de um pai que ligava para a polícia
brincadeira. Três fotografias escolhidas de porque outros ‘personagens’ (mãe e fi-
momentos significativos da sessão e lápis lhos) estavam “perturbando”. Os garotos

996
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pareceram entrecruzar vivências particu- dos parceiros e do meio, figura como o


lares e percepções a esse respeito com as substrato a partir do qual as significações
significações em curso nas interações com de família se efetivam. O estudo realizado
os parceiros. Como construção coletiva, contribui para a percepção de que mais do
relações entre membros da família, papéis que crianças institucionalizadas, estas são
sociais desempenhados, atividades pre- crianças, e, assim sendo, são socialmente
sentes no cotidiano familiar compuseram competentes (Pedrosa, 2004) como quais-
os enredos lúdicos. Situações de cuidado, quer outras.
de autoridade e obediência e demonstra-
ções de afeto foram observados. Algumas Palavras-chave: processos de significação;
crianças claramente explicitaram nas con- família; crianças em acolhimento institucional.
versas que estavam em um abrigo. Por ve-
zes, disseram os bairros em que moravam
suas famílias biológicas. E, dessa forma, LT01-854 - TOMADA DE PERSPECTIVA,
demonstraram compreender a existência EMPATIA E JUSTIÇA DISTRIBUTIVA EM
da família e do abrigo, referido como um CRIANÇAS DE 7 A 12 ANOS.
local de morada com “as tias” (educado- Michelle França Dourado Neto Pires - UNIVASF
ras). Em suma, ‘brincando de família’ e fa- chelle_fd@hotmail.com
lando de seus ‘personagens’, as crianças si- João Marcos Fonseca Nogueira - UNIVASF
nalizaram elementos que perpassam esse jmfonsecanogueira@yahoo.com.br
grupo social. Significações foram alçadas a Leonardo Rodrigues Sampaio - UNIVASF
partir da explicitação daqueles que julga- leorsampaio@yaho.com.br
ram compor uma família, da consideração Financiamento: CNPq/UNIVASF
de diferenças nas atividades desempe-
nhadas por estes, da referência às distin- Os primeiros trabalhos sobre o desenvolvi-
tas relações estabelecidas entre os ‘per- mento da justiça distributiva foram realiza-
sonagens’, e, especialmente, do próprio dos por Piaget (1932/ 1994) e demonstra-
modo como conduziram suas construções ram que ao longo da infância as crianças
lúdicas com os parceiros. Além disso, ele- consideram alguns princípios distributivos
mentos aparentemente advindos de suas mais justos que outros e que esta prefe-
histórias pessoais circunscreveram alguns rência está relacionada a avanços na ida-
relatos e ações. Para finalizar, evidencia-se de e ao desenvolvimento moral. Outros
neste estudo que o processo de significa- estudos (Damon, 1980; Dell’ Aglio & Hutz,
ção é alçado como uma construção micro- 2001; Sales, 2000; Sigelman & Waitzman,
genética, ao mesmo tempo circunscrito 1991) confirmaram uma tendência de-
pelas interações em curso. Tais interações senvolvimentista da justiça distributiva e
apresentam-se imprevisíveis enquanto um expandiram o trabalho de Piaget. A par-
desdobramento de processos de significa- tir de outra perspectiva, os trabalhos de
ção que se entrecruzam a partir dos dis- Robert Selman (Selman, 1971; Selman &
tintos parceiros interacionais. E a própria Byrne, 1974) indicaram que a evolução
compreensão da criança sobre a dinâmica da capacidade de tomada de perspecti-
relacional da rede social na qual está in- va (role-taking) está relacionada ao de-
serida, isto é, suas compreensões acerca senvolvimento dos julgamentos morais,

997
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sendo uma condição necessária, mas não instrumentos utilizados foram: uma tarefa
suficiente para as crianças evoluírem de para avaliar a capacidade de Role-taking
um nível de julgamento moral pré-conven- desenvolvida por Flavell (1968), o Index
cional para um convencional, segundo a ti- of Empathy for Children and Adolescents
pologia de Kohlberg (1992). Neste sentido, (Bryant, 1982) e um dilema distributivo
pode-se supor que outras variáveis, além hipotético. Este dilema envolvia a distri-
do role-taking, poderiam estar relaciona- buição de lanche em uma situação de
das à evolução dos julgamentos morais e, piquenique, na qual os personagens ti-
mais especificamente, às concepções de nham diferentes características: um era
justiça distributiva. Recentemente, Sam- mais produtivo, o outro era mais pobre,
paio, Monte, Camino e Roazzi (2008) e o terceiro era a professora e o último era
Sampaio, Camino e Roazzi (2007) desen- o próprio participante. De uma maneira
volveram estudos com adolescentes brasi- geral, os resultados preliminares indicam
leiros objetivando testar alguns dos pres- que o nível de empatia dos participantes
supostos de Hoffman (2000) a respeito das variou significativamente em função do
relações entre empatia e a justiça distribu- seu sexo (as meninas pontuaram mais alto
tiva. Em linhas gerais, os resultados destas na escala de empatia que os meninos) e
pesquisas demonstraram que indivíduos que houve uma tendência desta aumentar
com níveis mais elevados de empatia são com o avanço na idade. Além disso, que
mais propensos a aderir ao princípio da os participantes de escolas públicas pon-
necessidade e a comportar-se em confor- tuaram mais que os de escola particular
midade com ele, enquanto que indivíduos na tarefa de role-taking. Os resultados das
menos empáticos tendem a considerar MANOVAS indicaram que o personagem
como mais justo o princípio da equidade, pobre recebeu mais que os outros e que a
favorecendo pessoas que se esforçam ou professora recebeu menos que os demais.
que contribuem mais. Apesar de evidên- As quantidades distribuídas não foram
cias anteriores apontarem para uma rela- influenciadas pelo sexo ou tipo de escola
ção entre empatia e os julgamentos distri- dos participantes. Por outro lado, houve
butivos, não se tem notícias de trabalhos diferença significativa na quantidade dada
que tenham objetivado avaliar como estas a si mesmo, em função da idade: crianças
variáveis estão relacionadas durante a in- com 11 e 12 anos deram uma quantidade
fância. Ademais, há uma lacuna empírico- média de lanches significativamente infe-
-teórica no que diz respeito à compreen- rior aquela dada por crianças com 7 e 8
são sobre as relações entre o desenvol- anos para si mesmas. Houve interações
vimento do role-taking e da empatia e a significativas entre o nível de empatia e
maneira como as crianças raciocinam com a idade dos participantes sobre a quanti-
respeito à justiça distributiva. Neste senti- dade dada para o personagem mais pro-
do, o presente trabalho objetivou abordar dutivo: entre os participantes com nível
esta questão a partir de uma pesquisa na mais alto de empatia, a quantidade dada
qual participaram 98 meninos e meninas, ao mais produtivo diminuiu à medida que
com idades variando entre sete e doze a idade dos participantes aumentou. Além
anos de idade, estudantes de escolas pú- disso, constatou-se uma interação signifi-
blicas e particulares de Petrolina (PE). Os cativa entre a idade e o nível de role-taking

998
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos participantes, sobre a quantidade Palavras-chave: empatia, role-taking, justiça


dada à professora. Mais especificamente, distributiva.
observou-se que entre as crianças mais ve- Contato: Leonardo Rodrigues Sampaio.
lhas (11 a 12 anos), aquelas que atingiram Laboratório de Desenvolvimento -
role-taking mais elevado tenderam a dar Aprendizagem e Processos Psicossociais.
menos lanche para a professora do que as Universidade Federal do Vale do São Francisco
com menor nível de role-taking. Ademais, (UNIVASF). leorsampaio@yahoo.com.br
constatou-se uma correlação negativa e
significativa entre o nível de role-taking e
a quantidade de lanche distribuída para si
mesmo (r = -2,38; p = ,01). Esses resulta-
dos sugerem que as decisões distributivas
15/11 - Terça-feira
de crianças entre os 7 e 12 anos podem
ser influenciadas pela empatia e pelo seu 8h30-10h
nível de role-taking, especialmente quan-
do estas decisões envolvem a produção
de benefícios para elas mesmas. Sugere-
-se que crianças com maior nível de role- CONFERÊNCIA
-taking são capazes de coordenar mais ha-
bilmente diferentes perspectivas em uma
situação de dilema distributivo, fazendo DYNAMICS IN THE “SABOR” OF
com que elas foquem não apenas o auto- VYGOTSKY
benefício, mas busquem adotar um mode- Bernd Fichtner
lo distributivo mais igualitário. Além disso,
acredita-se que o aumento na empatia es-
teve associado a preferência por modelos
distributivos que enfoquem menos a pro-
CONFERÊNCIA
dução/ contribuição pessoal e considerem
a igualdade como um modelo mais justo.
RELACIÓN MADRE BEBE Y DESARROLLO
Por outro lado, as interações entre idade
COGNITIVO
e estas duas variáveis sugerem que seus
efeitos não podem ser isolados de outros Mariela Orozco Hormaza - Universidad del
provocados pelo desenvolvimento sócio- Valle, Colombia
-cognitivo das crianças. Diferentemente orozcohormaza@gmail.com
do que era esperado, o role-taking e a Financiamento: COLCIENCIAS/Universidades
empatia, isoladamente, não influenciaram del Valle, del Magdalena, Tecnológica de
a maneira como as crianças fizeram suas Bolívar y la Corporación Niñez y
distribuições entre os personagens e, nes- Conocimiento.
te sentido, faz-se necessário a realização
de outros estudos para que se possa com- La variabilidad en los patrones de desar-
preender melhor em que extensão o role- rollo cognitivo micro y macro encontrados
-taking e a empatia estão relacionados às en bebés que crecen en barriadas pobres
decisões distributivas durante a infância. de Colombia y la tendencia a presentar un

999
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desarrollo cognitivo normal y alto, inde- “los individuos se envían reiteradamen-


pendientemente de su edad (medida en te una sucesión de perturbaciones tal
meses) permite en primer lugar, rebatir la que uno se convierte en medio necesario
idea de un desarrollo deficiente, ocasio- para la producción y mantenimiento de la
nado por la pobreza y en segundo lugar, organización del otro” (Perinat, 2007, p.
presentar procesos más difusos y cualita- 53); 2) la relación del bebé con la madre
tivamente distintos de los que presenta la y/o su cuidador como ejemplo de acopla-
visión lineal de la concepción por etapas miento social (Maturana y Varela, 1990,
(Fischer & Bidell, 1998). La tendencia a citado por Perinat, 2007) para estudiar la
identificar una valoración positiva en los posible relación entre desarrollo cognitivo
intercambios y la relación afectiva entre de los bebés y los tipos de intercambios
la madre y el bebé, independientemen- y relaciones afectivas que las madres es-
te de la edad del bebe y la relación que tablecen con ellos durante el primer año
se establece entre esta tendencia positi- de vida. Por nicho ecológico se entiende
va y niveles diferenciados de desarrollo, la red de relaciones sociales en las que se
tanto resolutorios como no resolutorios, ubica el desarrollo; desde esta perspecti-
permite cuestionar la relación propuesta va se considera que los vínculos que esta-
por otros autores entre relaciones po- blecen los bebés con las personas que los
sitivas madre bebé y su desarrollo cog- rodean, les permite entrar en un tejido de
nitivo. Probablemente la concepción de relaciones familiares y de parentesco im-
desarrollo adoptada y las metodologías pregnadas de afectividad, que constituye
utilizadas permitieron relacionar trayec- su primer nicho ecológico social. Durante
torias variadas de desarrollo y de relación el primer año de vida, esta trama o tejido
afectivas entre madre y bebé y llegar a de relaciones tiende a manifestarse o ex-
estos resultados. Los cambios metodoló- presarse en las modalidades de intercam-
gicos adoptados son: 1. Análisis micro de bios de la madre con el bebé y viceversa,
las trayectorias y movilizaciones del de- en el marco de rutinas dirigidas a su cuida-
sempeño de los bebés en tiempo real, en do, como la alimentación, el baño y la lim-
cinco intentos, al resolver cada una de las pieza y el juego, que son orientadas por la
situaciones correspondientes a su edad y madre o el/los adulto/s que los atienden
más, de dos subescalas de la Escala Ordi- hacia metas o propósitos que enmarcan
nal de Desarrollo Uzgiris Hunt: objeto per- y dan sentido a los intercambios. Se en-
manente y causalidad. 2. Análisis macro tiende entonces que la dinámica entre las
de las trayectorias y movilizaciones de de- modalidades de actividades que la madre
sempeño al resolver las situaciones de las adopta para asumir las rutinas y los tipos
subescalas, a través de cuatros aplicacio- de intercambios afectivos que ella y el
nes a lo largo de tres meses. 3. Análisis de bebé establecen, configuran un compo-
la relación madre bebe empleando el gra- nente fundamental de su nicho ecológico.
fo ‘state space grid’ (Hollenstein, 2007). En relación con el desarrollo cognitivo se
Se partió de la concepción que propone: adoptan las teorías del cambio, que per-
1) el desarrollo humano tiene lugar en ni- miten identificar fenómenos y datos que
chos ecológicos en los cuales se producen muestran que el acceso al conocimien-
acoplamientos de orden social, cuando to supone procesos variados, analizar

1000
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tanto los cambios locales como globales CO 04-LT01


propios de la concepción de estadios y
profundizar en el análisis de estrategias
Ludicidade/Brincar
– entendidas como programas de acción
de los bebés – para develar la naturale-
za de sus desempeños. Sin embargo las LT01-730 - O PAPEL DA LUDICIDADE NO
relaciones entre desarrollo y cambio aún PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO AFETIVA
no son claras. Algunos autores sostienen DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
que el cambio cognitivo constituye un es- Bernadete Souza Porto - UFC
pacio de avances y retrocesos, en el cual www.ufc.br
lo nuevo y lo antiguo coexisten y registran Sueli Barros da Ressurreição - UNEB
el uso simultáneo de estrategias débiles y www.uneb.br
fuertes (Miller & Coyle, 1999). En contras-
te, Fischer y Bidell (1998) sostienen que O estudo da ludicidade como dimensão
las relaciones entre desarrollo y cambio do desenvolvimento humano tem sido
implican posiciones teóricas distintas que objeto de investigação de muitos teóricos
requieren niveles de análisis diferencia- e pesquisadores dentre os quais Huizinga
dos del desarrollo micro y macro. El de- (2004), Wallon (1964), Chateau (1987) e
sarrollo muestra la evolución del cambio Elkonin (1988), Vygotsky (1988), Freinet
en un período amplio de tiempo y se cen- (1998) Negrine (2001), Benjamim (1984)
tra en las transformaciones permanentes e outros. Segundo estes estudos, o ho-
y estructurales que se pueden observar mem se desenvolveu por intermédio do
tanto a nivel macro como de dominio ge- trabalho e das atividades lúdicas, a evo-
neral: en algunos dominios, ligadas con lução do homo-ludens (o homem que
cierta edad. En tanto que el cambio cog- brinca) advém da atividade criativa do
nitivo se define en un nivel micro y se ocu- homo-faber (homem que trabalha). No
pa de modificaciones en los procesos de processo de desenvolvimento, o homem
funcionamiento de la actividad cognitiva se apropria do mundo envolvendo todos
del sujeto en tiempo real (Yan & Fischer, os campos de sua subjetividade: senti-
2002). Para estos autores, las modificacio- dos, movimentos, pensamentos, senti-
nes se dan en dominios específicos y lue- mentos e ações. Desse modo, a ludicida-
go se reflejan en habilidades de dominio de é também uma forma de apropriação
general. Cambio, variabilidad y transición do mundo, ela participa ativamente da
constituyen conceptos claves en la ruptu- constituição sócio-histórica do homem,
ra con la secuencialidad y el orden de las estando presente na produção dos meios
teorías del desarrollo de dominio general de vida, na sociabilidade, no processo de
(Puche, 2008) El análisis de la variabilidad comunicação e na formação das funções
encontrada en los patrones de moviliza- psicológicas superiores, que se exteriori-
ción o cambio de los desempeños de los za pela linguagem. Nesta perspectiva, a
bebés en tiempo real al resolver cualquier ludicidade é identificada como uma for-
situación en cualquier aplicación permite ma de linguagem, podendo estar presen-
discutir la relevancia de estos conceptos te como signo e ferramenta na mediação
en relación con su desarrollo cognitivo. de instrumentos físicos ou simbólicos que

1001
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dinamizam a apreensão do conhecimen- como sinônimo da abordagem sociocul-


to e a configuração da afetividade na or- tural, definida por Wertsh (1998) como
ganização do desenvolvimento humano. aquela cujo objetivo é de explicar as re-
Julgando-se relevante elucidar o papel lações entre o funcionamento da mente
do lúdico como um dos elementos funda- humana e as situações culturais institu-
mentais na atividade humana e como di- cionais e históricas, nas quais este funcio-
mensão necessária para integrar os cam- namento ocorre. Os resultados deste es-
pos constituintes do desenvolvimento tudo levam a afirmar que Wallon (1964)
psicológico, os objetivos do presente en- e Vigotski (1988) enfatizam os campos
saio são norteados pelas seguintes ques- emocionais e sociais como centrais na or-
tões: Qual a relação entre afetividade e ganização do desenvolvimento da criança
ludicidade no desenvolvimento humano? (interativa e construtora de sua própria
Como os elementos lúdicos colaboram na subjetividade). Para ambos, as funções
organização afetiva do processo de de- psicológicas têm um suporte biológico,
senvolvimento? Ancorado nestas ques- pois são produto da atividade cerebral,
tões tem-se como objetivo central refletir porém, tal suporte não é suficiente para
sobre o papel da ludicidade como organi- o seu desenvolvimento. Estas funções
zadora do processo de desenvolvimento são edificadas na dinâmica entre a natu-
afetivo numa perspectiva sócio-histórica. reza e as relações sócio-históricas estabe-
Do ponto de vista metodológico, o estudo lecidas. Afeto e intelecto se relacionam
aqui empreendido caracteriza-se como dinamicamente. À medida que o sujeito
uma revisão teórica de literatura dividida se apropria do conteúdo cultural, emerge
em dois eixos de análise, centrados nas um plano intrapsicológico, tornando um
obras dos clássicos do desenvolvimento instrumento próprio que passa a servi-lo
psicológico: Henri Wallon e Lev Vygotsky no seu pensamento, planejamento, coor-
e dos pesquisadores que abordam a lu- denação e administração de suas emo-
dicidade como dimensão humana. No ções. Nesta dinâmica, os vínculos afetivos
primeiro eixo a afetividade é discutida demandam interações mais complexas
como função organizadora do processo exigindo novos canais de comunicação,
de desenvolvimento mediante o “par- a brincadeira e o jogo se inserem nesse
to dialético”, segundo a abordagem de campo como linguagem que “ensina a
Wallon (1964), e ora como reguladora seguir cegamente as emoções, a com-
das funções psíquicas, conforme a teo- biná-las com as regras do jogo e do seu
ria de Vygotsky (1988). Em seguida, no objetivo final” (Vygotsky, 2001, p. 147).
segundo eixo, conceitua-se a ludicidade Os achados de pesquisas realizadas com
e seus elementos presentes na ativida- crianças (Dantas, 2002; Kischimoto, 1998;
de humana, especialmente a sua relação Maturama & Verden-Zöller, 2004; Porto,
com a trajetória histórica da afetividade 2001; Vasconcelos, 2003) indicam que o
e do desenvolvimento da consciência so- desenvolvimento humano é permeado
cial, destacando o papel do jogo no pro- por ações que compõem as atividades lú-
cesso formativo. O marco conceitual bási- dicas como o brincar e o jogar: “O brincar
co para análise deste tema é ancorado na para a criança não é só lazer como para o
abordagem sócio-histórica, empregada adulto, mas se constitui como a própria

1002
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

atividade, surge liberada, livre, gratuita e em relação aos animais reside no modo
depois vai se aperfeiçoando, se estrutu- de brincar, pois os brinquedos, como ins-
rando em regras e em cadeias mais com- trumentos significativos, registram a vida
plexas.” (Wallon, 1986, p. 86). No brincar, psíquica e cultural como um testemunho.
a ação está subordinada ao significado, os Deste modo, o caráter coletivo do traba-
objetos são deslocados de uma posição lho e do lúdico sugere um vínculo, con-
dominante para uma posição subordina- creto ou abstrato, e é sempre mediado
da e, com isto, a atividade lúdica atua na por outro sujeito. Este vínculo se nutre
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), da afetividade, como organizadora e re-
permitindo que a criança atue além do guladora da mais simples ação humana.
habitual de sua idade. (Vygotsky, 1988).
Segundo Brougère (1998), Elkonin (1988) Palavras-chave: ludicidade, afetividade,
e Manson (2002) a origem histórica do desenvolvimento humano.
jogo está no trabalho dos adultos e seu Contato: Sueli Baros da Ressureição.
conteúdo está relacionado com a vida, o Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
trabalho e a atividade dos membros adul- suelibarros13@gmail.com.
tos da sociedade. O jogo nasce das condi-
ções de vida da criança na sociedade no
decorrer do seu desenvolvimento históri- LT01-1045 – A COMPREENSÃO DE
co. Portanto é um elemento cultural, tem GÊNERO EM CRIANÇAS EM DUAS
origem e natureza social, sendo assim SITUAÇÕES DE BRINCADEIRA
decorrente do lugar ocupado pela criança Melina de Carvalho Pereira - UFPE
nas diversas formas de produção de tra- melinacpereira@yahoo.com.br
balho. Nos estudos focados na ludicidade Pedro Paulo Bezerra de Lira - UFPE
e no desenvolvimento pessoal do adulto pedropaulo_v@yahoo.com.br
(Luckesi, 2002; Negrine, 2001; Oliveira, Maria Isabel Pedrosa - UFPE
2002; Pereira, 2005; Ressurreição, 2005) icpedrosa@uol.com.br
observou-se que as atividades lúdicas Financiamento: PIBIC/UFPE/CNPq - PIBIC/
atuam nas tensões corporais, favorecem FACEPE/CNPq
a ampliação da consciência e reconfigu-
ram as emoções, assumindo um papel Corsaro (2009) denomina reprodução in-
interativo e cultural para o processo de terpretativa o processo pelo qual a crian-
evolução humana. Mostram-se também ça ativamente se apropria, com seus pa-
como uma forma de autoconhecimento e res de idade, de informações do mundo
aprendizagem, sua vivência proporciona adulto, reconstruindo-as, com potencial
a ressignificação de valores, autoestima de alterações e mudanças culturais, que
e inclusão social. Baseando-se nos estu- atendem aos seus interesses enquanto
dos revisados é possível concluir que a criança. Na opinião de Rocha (2007), é
ludicidade tem papel muito importante comum e ‘natural’ ensinar às crianças a
no processo evolutivo do ser humano, preferirem brincadeiras determinadas
apresentando-se como elemento cultural socialmente para seu gênero e evitar
mediador das relações humanas. Assim, aquelas vistas como inadequadas. Estu-
o salto ontológico do lúdico do homem dos como o de Lira e Pedrosa (2007) re-

1003
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

velam que crianças de 3-4 anos reconhe- vez que as oficinas eram formadas ou
cem objetos marcados socialmente pelo somente por meninos ou somente por
gênero. Além disso, elas transgridem meninas. Esse planejamento foi feito no
regras sociais, em situações protegidas intuito de promover uma situação que
de brincadeiras, pois o lúdico permite de- instigasse a discussão e o posicionamen-
sempenhar papéis que não são ‘de ver- to do grupo em relação às questões de
dade’. Ainda assim, resultados discutidos gênero, pois, concebendo a criança como
por Rocha (2007) apontam que meninos intrinsecamente motivada para o brincar
transgridem menos as regras sociais em (Pedrosa, 2005), tinha-se a expectativa de
atividades lúdicas do que meninas. Há, que ela iria enfrentar e negociar conflitos
portanto, evidências de apropriação des- para participar de uma atividade lúdica.
sas regras na construção da microcultu- Para incitar a brincadeira de faz de con-
ra de pares e na tensão provocada pelo ta e a caracterização dos ‘personagens’,
desafio dessa construção. Este trabalho estavam à disposição dos participantes
buscou investigar em duas situações de roupas e outros objetos relacionados ao
brincadeira a compreensão e a apropria- tema casinha. Um dos pesquisadores es-
ção cultural de papéis e valores relaciona- teve encarregado de instigar as crianças a
dos ao gênero em crianças de 3-4 anos. participarem da brincadeira, escolherem
Ambas foram realizadas em um Centro os ‘personagens’, solucionarem possíveis
Municipal de Educação Infantil (CMEI) conflitos gerados, etc. A análise de ambas
do Recife, que atende prioritariamente as situações teve um caráter microgené-
a famílias de camada de renda baixa e tico e partiu da seleção de episódios, ou
média. Na primeira situação, as crianças seja, segmentos de videogravação em
compuseram trios que foram videogra- que foram recortadas interações cons-
vados em brincadeira livre, perfazendo pícuas com a temática de gênero. Nas
um total de 22 sessões. A sala foi pre- duas situações observou-se expressivo
viamente organizada com brinquedos e envolvimento das crianças em brincadei-
sucatas, constando, entre outros, obje- ras e discussões relacionadas ao gênero
tos socialmente marcados pelo gênero e foram evidenciadas compreensões de
(bonecas, carrinhos, pulseiras, gravata, elementos da macrocultura no grupo de
etc.). A outra situação consistiu em ofici- brinquedo (Carvalho & Pedrosa, 2002)
nas de brincadeira com grupos de quatro no que diz respeito, por exemplo, ao re-
ou cinco crianças, sendo quatro oficinas conhecimento de papéis e objetos social-
de meninos e quatro de meninas. A cada mente marcados como masculinos ou fe-
grupo sugeriu-se brincar de casinha com mininos. Realça-se, entretanto, que cada
os seguintes ‘personagens’ previamente procedimento de coleta permitiu ganhos
definidos: pai, filho, mãe e filha. Não foi circunscritos ao seu escopo de realização.
indicado pelos pesquisadores que papel Nessa direção, os distintos procedimen-
cada criança deveria desempenhar, tam- tos permitiram alçar informações dife-
pouco qual seria o quinto ‘personagem’. renciadas, por vezes, complementares.
Chama-se atenção, entretanto, que exis- Nas oficinas se partia, desde o seu início,
tiam papéis de gênero diferente do da do convite do pesquisador a uma entrada
criança a serem desempenhados, uma numa situação de faz de conta de casi-

1004
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nha, com a escolha de ‘personagens’ e a nas e pai para meninos). Observaram-se


oferta de objetos que proporcionassem o estratégias e artifícios das crianças para
clima lúdico. A situação, então, como um não assumirem papéis do gênero opos-
todo, era ‘de mentirinha’. Qualquer ação, to por meio de rearranjos da proposta
objeto manipulado, etc. fazia parte do - repetição, criação ou exclusão de ‘per-
contexto; tudo convergia para um enredo sonagens’. Os achados apontam para a
de fantasia. Diferentemente, na situação dificuldade de assumir o ‘personagem’
de trio, apesar de ser um setting lúdico, da brincadeira quando ele fez parte de
com objetos disponíveis para livre ma- negociação entre participantes e corro-
nuseio, o faz de conta não estava posto boram ainda a ideia de que a criança é
de antemão, embora pudesse ser ocasio- intrinsecamente motivada para o brincar,
nalmente criado ao longo da sessão. Essa pois mesmo lhe sendo imposta uma re-
diferença entre as duas situações talvez gra, aparentemente conflituosa, ela se
ajude a esclarecer a observação, nos trios, utiliza de meios de se safar daquela regra
de maior recriminação das crianças aos para que a atividade lúdica seja mantida.
parceiros quando estes ‘transgrediam’ O não assumir um determinado papel
as normas da macrocultura em relação mostra o quanto as crianças se importam
ao gênero. A crítica ao outro serviu mui- com os ‘personagens’ que vão represen-
tas vezes como estratégia de constrangi- tar na brincadeira e as suas concepções
mento para obtenção de um objeto com de gênero que embasam tais comporta-
o argumento de que ele era ‘de menino’ mentos. Observaram-se, nas duas situa-
ou ‘de menina’ em oposição ao gênero da ções de coleta, outros elementos da ma-
criança que o possuía. Os meninos foram crocultura trazidos pelas crianças durante
alvo de maior número de ‘xingamentos’ a brincadeira. É a partir do envolvimento
e demonstraram maior incômodo com no enredo lúdico que se torna possível
isso. Nas oficinas, observou-se menos re- reconstruir significações advindas da rea-
criminação social ao comportamento de lidade compartilhada entre os parceiros.
crianças que assumiam ‘personagens’ do As duas situações examinadas permiti-
gênero oposto. Somente em 24% dessas ram observar que as crianças flexibilizam
situações não ficou evidente a aceitação regras compartilhadas socialmente e evi-
do(s) parceiro(s); nas demais ocorrências denciar seu envolvimento na temática do
houve sugestão ou concordância de pelo gênero.
menos um deles. Ao assumir o papel do
gênero oposto, houve maior necessidade Palavras-chave: compreensão social;
de negociação. Pode ser citado o exem- marcadores de gênero; interação de crianças.
plo de uma garota que afirmou ser “o pai Contato: Melina de Carvalho Pereira (UFPE) -
de mentirinha”, embora não precisasse melinacpereira@yahoo.com.br
dessa ressalva ao assumir ‘personagens’
considerados femininos. Percebeu-se dis-
ponibilidade imediata dos participantes
para desempenharem um papel do seu
gênero, mais precisamente um ‘perso-
nagem’ de autoridade (mãe para meni-

1005
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1198 – PREFERÊNCIAS POR ESPAÇOS ou não. Bichara (2006) cita a existência


PARA BRINCAR ATRAVÉS DE FOTOS: UM de delimitações implícitas e/ou explíci-
ESTUDO EM 3 CIDADES DA BAHIA tas por parte da criança que se propõe
Silvia Sales Medeiros - UFBA a brincar. Pode-se inferir, deste modo,
silvias.med@gmail.com que o estabelecimento de uma situação
João Gabriel Nunes Modesto - UFBA de brincadeira implica em escolhas. No
jg.modesto@gmail.com entanto, cada vez menos os brincantes
Dhiego Alves França - UFBA têm liberdade suficiente para realizar tais
dhiegopsi@gmail.com demarcações uma vez que os espaços ex-
Ilka Dias Bichara - UFBA ternos, sobretudo nas grandes cidades,
ilkadb@ufba.br tornam-se cada vez mais inapropriados
Financiamento: FAPESB como consequência dos perigos que os
mesmos oferecem (Bichara e cols, 2006),
A importância do brincar tem sido um dentre os quais se destaca a violência. A
tema bastante discutido, sobretudo por sensação de insegurança vivida por pais
estudiosos da Psicologia do Desenvolvi- e responsáveis repercute no modo como
mento. As investigações neste campo têm as crianças vivenciam suas atividades co-
resultado em perspectivas diversificadas tidianas e tem reforçado uma tendência
e muitas vezes conflitantes acerca da fun- marcante da interferência dos adultos
cionalidade da brincadeira. Embora não na realização das brincadeiras. Pais, edu-
haja um consenso a esse respeito, alguns cadores e poder público parecem tentar
autores como Pellegrini e Smith (1999), atender à demanda das crianças por ativi-
propõem o brincar enquanto um com- dades lúdicas e ao mesmo tempo atender
portamento que prescinde a obtenção de à demanda do mundo adulto de manter
benefícios futuros (um fim), ao invés dis- certa vigilância às crianças (a fim de ga-
so, o valor reside no brincar pelo brincar, rantir-lhes mais segurança). Para tanto,
ou seja, no processo (meio) de realização delimitam espaços formais destinados às
da brincadeira. Outra consideração muito brincadeiras (Mekideche, 2005, Karsten,
cara ao presente estudo é a de que o brin- 2003) tais como parquinhos e playgroun-
car, embora seja uma prática constante ds. As crianças, porém, como indivíduos
na espécie humana, não acontece sempre ativos tanto se adaptam aos espaços for-
da mesma maneira. Dito de outra forma, mais (que, em geral, são reduzidos) como
o brincar varia conforme com o contexto. também se apropriam de espaços pouco
Assim, a concretização de uma brinca- convencionais dando-lhes nova configu-
deira pressupõe adaptação a uma série ração. Tal tendência criativa foi compro-
de fatores contextuais tais como, espaço vada por Rasmussen (2004) em seus estu-
físico, tempo, quantidade de brincantes, dos na Dinamarca. Através da perspectiva
regras, etc. Neste universo, o contexto se das próprias crianças, o autor investigou
destaca em termos de importância para a preferência delas em relação aos espa-
esse estudo, porque diz respeito tam- ços para realização das brincadeiras. Com
bém aos espaços utilizados pelas crian- este objetivo, Rasmussen (2004) utilizou
ças durante atividades lúdicas, podendo um método no qual os participantes fo-
os mesmos serem escolhidos por elas tografavam suas predileções em três am-

1006
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bientes distintos: escola, casa e rua. Seus que consistia em solicitar que as crianças
achados levam a crer que existem “luga- fotografassem seus lugares preferidos
res para crianças” (places for childrens) e para brincar em casa, na escola e fora de
“lugares das crianças” (children´s places). casa e da escola. Para tal, lhes era forneci-
Assim, os espaços mais apropriados (lu- da uma máquina fotográfica descartável,
gares das crianças) para as brincadeiras instruções sobre o manuseio e objetivos
nem sempre são os formais, planejados da pesquisa. Após essa etapa, o filme era
por adultos (espaços para crianças), em- revelado e se retornava a criança para
bora estes possam coincidir em deter- que esta fornecesse esclarecimentos so-
minadas situações. Os estudos sobre a bre os locais fotografados, as brincadeiras
utilização de espaços para brincadeiras, efetivamente brincadas neles com quem
principalmente em ambientes abertos, brincavam, entre outras informações que
geralmente estão mais voltados para os ela julgasse relevante. A amostra foi com-
arranjos que pais e professores podem posta por 25 participantes (13 meninos
fazer para facilitar que as crianças brin- e 12 meninas) com idade média de 8,04
quem ou para incentivar alguns tipos de anos. As crianças residiam nas cidades
brincadeiras. No entanto, o presente es- de Barreiras, Vitória da Conquista e Feira
tudo investe em uma perspectiva diferen- de Santana. Os achados principais desta
ciada baseando-se nos pressupostos de pesquisa corroboram o que é apontado
Rasmussem (2004) de dar voz à criança. pela literatura: i) em casa, meninas pre-
Investigar como as crianças apropriam e ferem brincar em locais mais reservados
ressignificam espaços diversos (tanto os e meninos em locais mais amplos; ii) me-
privados como sua casa ou escola, quan- ninos utilizam mais do que meninas as
ruas como cenários para brincadeiras, iii)
to àqueles públicos como ruas, parques e
na escola, meninos preferem locais mais
praças) se constituiu como um interessan-
abertos e as meninas preferem locais
te meio de obter conhecimento sobre a
menos movimentados. As crianças do in-
relação da criança com o espaço. Associa-
terior demonstraram imensa capacidade
do a isto, a literatura específica relaciona
criativa esboçada na transformação dos
faixa etária, gênero e status socioeconô-
espaços com a finalidade de realizar suas
mico como sendo variáveis definidoras de
atividades lúdicas. Esses achados se jun-
diferenças associadas á usos dos espaços tam a outros obtidos pelo mesmo grupo
em brincadeiras, assim, meninos preferi- de pesquisa na cidade de Salvador que
riam espaços amplos e brincadeiras com indicam resultados semelhantes.
muita movimentação, enquanto meninas
prefeririam espaços mais restritos e brin- Palavras-chave: espaços de brincadeira,
cadeiras com grandes cenários e enredos preferências, ressignificação.
mais longos. O objetivo do presente tra-
balho de pesquisa foi investigar a relação
de crianças de 4 a 10 anos, residente em
cidades do interior da Bahia, com seu es-
paço de brincadeiras sob o olhar dela pró-
pria. Para tanto se utilizou a mesma me-
todologia adotada por Rasmussen (2004)

1007
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1199 – CONFLITOS E RESOLUÇÕES nal: a primeira seria a capacidade de re-


EM BRINCADEIRAS DE CRIANÇAS COM solução de problemas de maneira mais
3-4 ANOS criativa e flexível; a outra, seria um melhor
Mayara Lacerda de Mello - UFPE desempenho em controlar e prever even-
mayara__mello@hotmail.com tos, como por exemplo, distrair o parceiro
Maria Isabel Pedrosa - UFPE para que este não consiga obter um objeto
icpedrosa@uol.com.br. que seja almejado por ambos. Como seres
Financiamento: CNPq que olham o mundo a partir de um viés
intencional, as crianças podem inferir um
Ades (2007) discute a relevância de o possível comportamento do outro, estan-
pesquisador debruçar-se, de modo minu- do assim mais preparadas para ajustarem
cioso, sobre as situações cotidianas a fim seu próprio comportamento de acordo
de alçar dados que esclareçam certos fe- com o posicionamento do parceiro. Apoia-
nômenos em estudo. Seguindo essa pers- do neste referencial teórico e levando em
pectiva, Pedrosa (2005), em seus estudos consideração as situações que parecem
sobre competência social infantil, realça o maximizar ganhos observacionais, o pre-
espaço da brincadeira como um lugar pri- sente trabalho teve como objetivo exami-
mordial para observar crianças, uma vez nar o uso de estratégias sociais em crian-
que estas, seguindo o curso de suas mo- ças de 3-4 anos para a consecução de ob-
tivações, se esforçam para brincar com os jetos que compunham um setting lúdico
parceiros, mesmo quando ainda não con- compartilhado e que eram de interesse de
seguem enredar verbalmente o caminho seus parceiros. Desse modo, caracterizava-
que organiza suas ações em face dos pro- -se uma situação de conflito instaurada no
pósitos do brincar. Esse enredo é constru- grupo. Estratégias são aqui consideradas
ído com as próprias ações e mímicas, ges- formulações feitas de modo intuitivo, em
ticulações, gritinhos, risos e choros, entre uso, postas à prova na interação e que te-
outros recursos, que informam o que está rão na ação do outro os parâmetros para
em pauta entre as crianças. O pesquisa- os ajustes que se fizerem necessários à
dor da criança torna-se um “oportunista”, ação própria (resposta). Não se tratam,
capturando todas as pistas possíveis para portanto, de formulações conscientes
compreender as significações subjacentes. (MEDEIROS, 2011). Para isso, foram obser-
Tomasello (2003), em um estudo compa- vadas e videogravadas 17 crianças, de am-
rativo entre primatas humanos e não hu- bos os sexos, com idade entre 3-4 anos, de
manos, aponta que os primeiros são seres um Centro Municipal de Educação Infantil
intencionais e causais, e conseguem olhar (CMEI) da cidade do Recife. Foram realiza-
seus coespecíficos também como seres de das 11 sessões de trios de crianças, convi-
intenções. Segundo o autor, agentes inten- dadas a brincarem em uma sala da insti-
cionais são seres que assumem posições tuição preparada para as observações. So-
ativas nas escolhas de meios comporta- bre uma mesinha, foram disponibilizados
mentais e na direção de sua atenção em brinquedos e sucatas sugestivos de um
função dos objetivos a serem alcançados. espaço de faz de conta. As sessões tinham
Este autor aponta duas vantagens iniciais duração de 20min e os trios eram organi-
por se ter um raciocínio causal/intencio- zados aleatoriamente, com repetição de

1008
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

crianças em até três sessões. A pesquisa- Tâmara “mai (mas) eu não tenho pente”,
dora esteve presente realizando as video- quando Lica pega uma de suas bonecas.
gravações. A análise partiu da observação Tâmara parece querer propor uma nego-
repetida desses registros para identificar ciação: ela não se importaria em ceder
possíveis episódios, ou seja, segmentos uma das bonecas se Lica cedesse seu pen-
que apresentavam situações de conflitos te – seria uma troca. No último momen-
por disputas de objetos. Com esses recor- to do episódio, Tâmara consegue pegar
tes, tinha-se a expectativa de se observar o pente aproveitando-se da distração da
negociações e estratégias para a resolução parceira e quando esta tenta reaver o ob-
desses impasses. Em seguida, a transcri- jeto, Tâmara lhe dá o batom – como ‘moe-
ção e análise microgenética desses episó- da de troca’. Essa estratégia parece eficaz,
dios foram realizadas. Um exemplo desses pois Lica tenta negociar a futura posse do
procedimentos pode ser aqui relatado de pente (“depois tu me dá, o pente?”). Há
modo a ilustrar o trabalho empreendido. outras formas de negociação: quando Lica
O episódio foi denominado de Tentativas percebe o interesse de Tâmara em seu
de negociação. Lica (menina de 3 anos e10 pente, ele já apresenta uma solução e pro-
meses) pega uma das bonecas que está põe a utilização do barbeador como pin-
próxima a Tâmara (menina de 3 anos e cel. Tâmara, mais adiante, retoma as ne-
9 meses), enquanto esta está distraída, e gociações (“Me dá aí Lica, depois eu te dou
começa a penteá-la. Logo depois, Tâmara esse pente aí”). As duas parceiras também
pede: “me dá a minha boneca, Lica. Me utilizam a estratégia de apelo à autoridade
dáá”. “Tiooo, ela quer ficar com duas bo- e Lica traz a noção de justificativa de pos-
necas” Lica diz e olha para o pesquisador. se (“Eu peguei primeiro”). Esse episódio,
“Mai (mas) eu não tenho pente” Tâmara entre vários outros analisados, apresenta
replica. “Oa um pente aqui que eu achei”, a criança como um parceiro competente
Lica pega o pincel de barbear e demons- socialmente para ajustar suas estratégias
tra como usá-lo; depois o põe perto de Tâ- em função do outro, tentando resolver ou
mara, oferecendo-o. Tâmara não o aceita. “prevenir” situações de conflitos. Notam-
Tâmara insiste, Lica responde: “Eu peguei -se estratégias de negociação, justificati-
primeiro”. Adiante, Tâmara diz: “Me dá aí vas, incluindo ajustes no enredo da brin-
Lica, depois eu te dou esse pente aí”. Lica cadeira, imposição pela alteração de voz,
diz: “Não”. Tâmara apela à autoridade do apelo à autoridade do adulto, distração do
pesquisador, “ô tio, ela não quer me dá” parceiro entre outras, a fim de conseguir o
Quando Lica deixa o pente sobre a mesa, objeto de interesse. O uso dessas estraté-
imediatamente, Tâmara o pega. Lica per- gias por crianças já foi indicado em vários
cebe e tenta reavê-lo, mas Tâmara deixa, trabalhos do desenvolvimento infantil (cf.,
em troca, o batom. Lica o pega, manipula- por exemplo, LEAL, 2004).
-o, e fala: “depois tu me dá, o pente?”. Tâ-
mara diz baixinho: “Dou”. Tâmara começa Palavras-chave: brincadeira infantil;
a pentear a boneca. Vê-se que a noção de estratégias comportamentais; disputa de
troca de objeto aparece em dois momen- objetos.
tos no episódio. A primeira situação não é Contato: Mayara Lacerda de Mello (UFPE) -
tão explícita, para isso, destaca-se a fala de mayara__mello@hotmail.com

1009
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT01-1200 – ESTRUTURA, REGRAS 2005). A metacomunicação emerge então


EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS EM como responsável pela organização da
BRINCADEIRAS DE FAZ DE CONTA: UM brincadeira, ao passo que inicia, mantém
ESTUDO EXPLORATÓRIO e termina a atividade. Apesar de estudos
João Gabriel Nunes Modesto - UFBA sobre o faz de conta terem contribuído
jg.modesto@gmail.com com a compreensão de sua importância
Silvia Sales Medeiros - UFBA para o desenvolvimento infantil, há uma
silvias.med@gmail.com lacuna no conhecimento na área: existe
Ilka Dias Bichara - UFBA escassa literatura que trate da estrutura
ilkadb@ufba.br e regras no faz de conta. Admite-se, como
pressuposto, que as regras, principalmente
O mundo infantil não pode ser investiga- as implícitas, parecem contribuir com a es-
do sem que se faça referência ao brincar. truturação da brincadeira de faz de conta.
A existência de diferentes brincadeiras em Nesse sentido, o objetivo deste estudo é
diferentes culturas, e até mesmo em ani- descrever as principais regras, explícitas e
mais, permite que se considere a presença implícitas, em episódios de brincadeiras de
de alguma predisposição biológica para a faz-de-conta, buscando identificar elemen-
realização desta atividade (Pontes, Bicha- tos estruturais das mesmas, citando os
ra e Magalhães, 2006). A brincadeira de papéis assumidos, analisando o processo
faz de conta, por sua vez, é considerada de negociação e verificando aspectos que
estritamente uma atividade humana por determinam o início e o fim dos episódios.
utilizar meta-representação (Leslie, 1987), Para tal, entende-se como estrutura da
ou seja, a realidade é fantasiada mental- brincadeira os elementos gerais que per-
mente. Lillard (2001) aponta que além da mitem perceber uma determinada ordem
existência de uma meta-representação, ou organização da brincadeira em questão,
é necessária, no faz de conta, a projeção de modo que se possa identificar relações
dessa representação mental na realidade, entre outras brincadeiras de natureza se-
assim como a consciência, por parte do melhante, e assim, perceber as caracterís-
brincante, do que é real e do que é ima- ticas ou as funções ou o funcionamento
ginário. Para o presente estudo, interessa do todo (Pontes e Magalhães, 2002). Para
analisar o fazer de conta em grupo, o que fins de comparação, os resultados prelimi-
implica que a realidade fantasiada men- nares do presente estudo serão discutidos
talmente seja partilhada com os demais a partir do estudo de Curran (1999) sobre
brincantes, nesse sentido, as crianças de- regras em faz de conta. Para o autor, o faz
vem ter um certo desenvolvimento cogni- de conta é composto pelas regras explíci-
tivo e lingüístico (Andresen, 2005). Nesta tas: 1) um líder (diretor) chega primeiro à
modalidade de brincadeira, há dois tipos área designada para a brincadeira ou é o
de mensagens: uma sobre a natureza da primeiro a sugerir idéias atraentes para a
atividade (que se trata de uma simulação); trama; 2) todas as crianças devem pedir
e outra referente ao conteúdo da brinca- para brincar; 3) todas as crianças devem
deira (a criança diz ser um policial), sendo ter um papel na sequência/sucessão do
que toda comunicação no faz de conta é fazer de conta; 4) todas as crianças de-
chamada metacomunicação (Andresen, vem brincar regularmente. Já as regras

1010
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

implícitas seriam: 1) a distinção realidade/ brincantes. Os episódios permitem ainda


fantasia deve ser mantida; 2) os jogadores avaliar a importância do líder na delimita-
devem envolver uns aos outros no jogo; ção dos papéis, e no início da fantasia. Veri-
3) a sequência do jogo deve ser mantida ficou-se também que grupos com alto grau
por meio da adição e aceitação das pro- de intimidade estruturam o faz de conta de
postas dos outros. Para fins da coleta de maneira mais sutil, a partir de comandos e
dados, dois pesquisadores, devidamente vocalizações indiretas. O presente estudo,
treinados em observação e no uso de fil- ainda com dados preliminares, parece pro-
madora, foram a campo, sendo que um era missor em contribuir para um melhor en-
responsável pela filmagem e o outro pelo tendimento do fenômeno do faz de conta.
registro cursivo dos episódios. Finalizada
a observação, as crianças eram entrevista- Palavras-chave: faz-de-conta, estrutura da
das para maiores esclarecimentos sobre a brincadeira, regras.
brincadeira. Os sujeitos de pesquisa foram
escolhidos por acessibilidade, sendo que a
família das crianças, e estas mesmas, eram LT01-1292 - BRINCADEIRAS CANTADAS:
esclarecidas sobre a finalidade do estudo e REFLEXÕES SOBRE CULTURA E
consentiam a participação. Foram analisa- DESENVOLVIMENTO
dos, através dos métodos combinados de Côrtes Andrade - UFBA
análise microgenética das filmagens e aná- andrade_nara@yahoo.com.br
lise de conteúdo das transcrições e regis- Neri Côrtes - UFBA
tros observacionais, três episódios, sendo cleliacn@yahoo.com.br
dois de grupos de meninos e um de grupo
misto, sendo cada grupo composto por 3 A brincadeira e a música são fenômenos
brincantes. As idades dos sujeitos varia- universais e intrinsecamente ligados ao
ram de 4 a 9 anos. O tempo de observação desenvolvimento infantil e suas manifes-
variou em função do tempo que as crian- tações são extremamente diversificadas
ças destinavam ao faz de conta. Os princi- conforme os contextos ecossocioculturais
pais achados do estudo, até o momento, em que ocorrem. A prática coletiva brin-
apontam para possíveis reavaliações e cadeiras, assim como dos jogos, sempre
desdobramentos das regras propostas por esteve presente na história das diferen-
Curran (1999), como, por exemplo, no que tes sociedades e sempre foi reconhecida
concerne à regra explícita 1. Observamos como parte da infância (Pontes & Maga-
que nos episódios analisados, o critério lhães, 2002). O brincar é inerente à espé-
para ser líder era a idade, não importando cie humana ocorrendo em todas as faixas
quem chegou primeiro ao local, ou quem etárias, contextos sócio-econômicos e
deu a primeira sugestão atraente, a crian- culturais, encontrando-se presente tam-
ça mais velha era identificada como a líder. bém em outras espécies, especialmente
Nos grupos de meninos, estes afirmaram mamíferos e algumas aves. Entre huma-
que, necessariamente, a palavra final é nos, as brincadeiras emergem a partir da
do mais velho, enquanto no grupo misto, complexidade cada vez maior da espécie e
as crianças admitiram haver um processo da interação e adaptação ao meio, através
de negociação maior entre líder e demais de processos de aprendizagens complexos

1011
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e prolongados desde a infância (Bichara, quais Colere (cultura) significava cultivar o


Lordelo, Carvalho & Otta, 2009). Os pri- espírito como uma planta, ou seja, “uma
meiros registros da associação entre brin- autoeducação do indivíduo” natural, es-
cadeira e infância foram obtidos por meio pontânea e cumulativa, a palavra cultura
de escavações e datam da época em que passou por significações múltiplas em di-
o meio de sobrevivência da nossa espécie versos espaços, justificando várias cons-
era predominantemente a caça e a coleta truções teóricas. A dimensão cultural nos
(Pontes & Magalhães, 2002). Na contem- referencia à própria humanidade e seu de-
poraneidade, considera-se que o brincar senvolvimento em diversas coletividades.
tem um valor imediato à infância (Pelle- Enquanto experiência humana, a cultura é
grini & Smith, 1998), possuindo um papel universal, entretanto é singular, específica
de extrema relevância para o desenvolvi- e diversa para cada grupo humano. Nem
mento global da criança, assim como em mesmo dentro de um grupo ela pode ser
seus aspectos motor, cognitivo, afetivo considerada homogênea. Apesar de ser-
e social (Cordazzo, Martins, Macarini & mos iguais enquanto seres humanos, nos
Vieira, 2007; Gosso, Morais & Otta, 2006; diferenciamos na maneira com a qual nos
Johnson, Christie & Yawkey, 1999). A brin- relacionamos e estamos no mundo (Cunha,
cadeira é um fenômeno complexo e, ape- 1994). Segundo a UNESCO (2002), cultura
sar de facilmente reconhecível ao ser ob- é:conjunto dos traços distintivos espiritu-
servada, sua definição não é consensual na ais e materiais, intelectuais e afetivos que
literatura, sendo que uma definição única caracterizam uma sociedade ou um grupo
faz-se muitas vezes insuficiente. Burghardt social e que abrange, além das artes e das
(2005) considera cinco características prin- letras, os modos de vida, as maneiras de vi-
cipais que, em conjunto, ajudam a identifi- ver juntos, os sistemas de valores, as tradi-
car o brincar: 1) trata-se de um comporta- ções e as crenças (p.2). Os fenômenos cul-
mento espontâneo, voluntário, prazeroso, turais mostram concomitantemente uma
recompensador e com fim em si mesmo; estabilidade entre gerações, no decorrer
sendo que 2) tem utilidade imediata limi- do tempo e espaço, e uma dinamicidade
tada, referindo-se à ocorrência do com- de continuo processo de mudança (Pontes
portamento fora do contexto original; 3) & Magalhães, 2003; Johnson et al, 1999).
difere temporalmente e estruturalmente Trata-se de uma dimensão dinâmica que
das atividades funcionais; 4) é repetitivo, ultrapassa um conjunto de traços, já que
porém não estereotipado e, 5) se manifes- estes são continuamente gerados. Entre
ta em situações em que o indivíduo não sociedades ou em uma mesma sociedade,
tem como foco necessidades motivacio- a heterogeneidade cultural no interior dos
nais primárias e está livre de stress. Apesar variados espaços — concretos, imaginá-
do fenômeno da brincadeira ser universal rios e cibernético — origina universos so-
na espécie humana, sua manifestação é cioculturais semelhantes e diferenciados:
extremamente diversificada conforme os cultura infantil, cultura juvenil, cultura fe-
contextos em que ocorrem. Neste sentido, minina, cultura masculina, cultura familiar,
os sistemas culturais são elementos fun- cultura escolar, cultura midiática. Cada es-
damentais para a compreensão do brincar paço ecossociocultural, interagindo com os
entre crianças. Desde os romanos, para os demais, com seus conteúdos e formas de

1012
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

aprendizagens próprias, torna-se referen- se refere aos estudos que têm estas como
cial constituinte na formação do sujeito. seu objeto, especialmente dentro da psi-
(Côrtes, 2001). Cada contexto cultural pos- cologia, e, em específico da psicologia do
sui imagens consideradas expressivas com desenvolvimento. Um levantamento bi-
as quais a criança se relaciona, manifesta e bliográfico na base de dados virtual Scielo,
recria. Entre os povos tradicionais, as brin- efetuado pelas autoras, constatou-se que
cadeiras e jogos são formas de socializar e dos 61 artigos que tiveram como palavra
inserir a criança e ou adolescente em um chave de pesquisa “brincadeira”, apenas
contexto no qual aprenderá a respeitar 09 abordavam alguma dimensão da rela-
regras traçadas pelo grupo, estabelecer ção entre música e brincadeira. Destes,
vínculos e relações para o reconhecimen- dois referiam-se à presença de canto du-
to do outro e possibilitam a participação rante a brincadeira de faz-de-conta; cinco
na vida comunitária. Consideramos, como apenas citavam brincadeiras cantadas,
pontuam os autores citados, que o univer- entretanto estas brincadeiras não eram
so lúdico dos cantos, brincadeiras, entre descritas e a sua dimensão musical não era
outras expressões, são de fundamental im- ressaltada ou discutida. Apenas um, dos
portância para desenvolvimento humano 61 artigos, debruça-se um pouco sobre o
e, sobretudo, na infância. O ser humano é tema, descrevendo-as, sendo desenvolvi-
um ser brincante e a brincadeira é a mais do por Pinto e Lopes (2009). Ressalta-se,
concreta forma de expressão da infância. entretanto que nenhum dos artigos teve
A música, assim como a brincadeira, é um as brincadeiras cantadas ou a relação en-
fenômeno universal, sendo um elemento tre música e brincadeira como objeto de
recorrente em todas as culturas conhe- estudo. Concluímos, portanto que, apesar
cidas (Schellenberg, Peretz & Vieillard, da presença significante e diversificada das
2008) com a qual a criança interage com brincadeiras cantadas entre crianças brasi-
os diversos outros e consigo mesma. Ilari leiras, especialmente no que se refere às
(2007) salienta que este é um saber/fazer brincadeiras tradicionais, pouquíssimas
cultural muito antigo e rico, sendo perme- são as investigações na área da Psicologia
ado por canções, danças, brincadeiras e que têm voltado seu olhar para questões
práticas musicais de temáticas, gêneros, como: quais são as brincadeiras cantadas
períodos e origens diversas que formam presentes entre crianças e quais as suas
parte do patrimônio imaterial da cultura variações em contextos culturais diversos?
humana. Muitas das brincadeiras observa- Quais as relações entre música e brincadei-
das entre crianças são permeadas por mú- ra na infância? Como as crianças, através
sicas e cantos, a exemplo da brincadeira de das brincadeiras cantadas, mantém (re)
corda, brincadeiras de roda, amarelinha, significam, criam e transmitem cultura?
parlendas, jogo de bater palma, entre ou- Quais as dimensões de gênero presentes
tras. Entretanto, apesar da riqueza cultural nas brincadeiras cantadas? Como as brin-
do nosso país e da diversidade de brinca- cadeiras cantadas expressam diversidade
deiras cantadas (aqui consideradas como cultural brasileira?
brincadeiras que têm na música um dos
seus elementos estruturais), uma grande Palavras-chave – Brincadeiras cantadas;
lacuna é verificada na literatura no que contexto cultural; desenvolvimento infantil.

1013
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 21 - LT03 rios (não ser discriminado) e 4ª geração:


direitos relativos ao meio ambiente. Os
Educação Moral DH são definidos como princípios basea-
dos na justiça social, que são elaborados e
institucionalizados com a finalidade de re-
LT03- 1064 - ENVOLVIMENTO DE
gularem as relações sociais gerando bem-
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM OS
-estar coletivo. Os DH têm sido estudados,
DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO
no âmbito da psicologia social, sobretudo
COM A EMPATIA
por Willem Doise que, a partir de uma vi-
Cleonice Camino - UFPB são psicossociológica, realizou, juntamen-
cleocamino@yahoo.com.br - CNPq te com seus colaboradores, várias pesqui-
Anderson Mathias - UFPB sas (Doise, Staerklé, Clémence & Savory,
anderson.mathias@yahoo.com.br 1998; Spini e Doise, 1998; Doise, Spini e
Julian Santos - UFPB Clémence, 1999; Staerklé e Clémence,
ledjulian@hotmail.com 2004). No Brasil, Camino, Camino, Perei-
Lívia Braga - UFPB ra e Paz (2004); Camino, Galvão, Rique &
liviabsc@yahoo.com.br Camboim (2005) e Camino, Galvão, Quiri-
Philomena Couras - UFPB no, Moraes, Roazzi & Martin (2007) têm
menacouras@hotmail.com também estudado os DH nessa perspecti-
Nilton Formiga - Maurício de Nassau/PB va. O conjunto desses trabalhos tem con-
nsformiga@yahoo.com.br tribuído para esclarecer várias dimensões
Pablo Queiroz - UFPB referentes aos DH, como: representações,
pabloqueiroz@live.co.uk conhecimento, envolvimento, princípios
Lilian Galvão - UFCG organizadores, e a relação dessas dimen-
liliangalvao@yahoo.com.br sões com variáveis sócio-demográficas e
Leonardo Sampaio - UNIVASF psicossociais (idéias de força, valores, ti-
leorsampaio@yahoo.com.br pos de justiça que os afetam, etc.). Dian-
Financiamento: CNPQ te da extensão dos aspectos já estudados
sobre os DH, cabe destacar que a contri-
Este estudo investiga o quanto crianças e buição do presente estudo refere-se: a
adolescentes julgam que irão se envolver consideração dos DH relativos ao meio-
com a implementação dos Direitos Huma- -ambiente e a não-discriminação, dentre
nos – DH – e qual a relação desse envolvi- os direitos de outras gerações, como pó-
mento com a empatia. Investiga, também, los de atração para um maior ou menor
se o envolvimento com os DH sofre influ- envolvimento dos participantes com os
ência de algumas características dos parti- DH; e a relação dos DH com a empatia. A
cipantes como idade, sexo, tipo de escola, empatia é definida neste trabalho como
e gerações dos direitos. A perspectiva de a capacidade do indivíduo de se colocar
direitos de diferentes gerações é compre- no lugar do outro e sentir algo compatível
endida, nesta pesquisa, a partir de Lafer com o que o outro sente. Julga-se que a
(2009): 1ª geração: direitos individuais introdução desses aspectos no estudo so-
(autonomia); 2ª geração: direitos sociais; bre os DH possibilita, além de um maior
3ª geração: direitos de grupos minoritá- conhecimento teórico sobre o tema, um

1014
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

melhor planejamento de estratégias re- ram-se significativamente (p<.05) em fun-


lativas à educação sobre os DH. Partici- ção da escola que freqüentavam, tendo os
param da pesquisa 282 estudantes, 144 alunos de escola pública obtido escores
do sexo feminino e 138 do sexo masculi- médios mais elevados do que os alunos da
no divididos em dois grupos de idade: o escola particular em relação aos direitos
grupo I constituído por estudantes de 11, ao meio ambiente (M=3,72 e M=3,19), as
12 e 13 anos e o grupo II por adolescen- conquistas sociais (M=4,38 e M=3,95) e à
tes de 14, 15 e 16 anos, que freqüentavam autonomia (M=3,97 e M=3,81); (4) os es-
escolas públicas (N=174) e particulares tudantes de 11 a 13 anos obtiveram, em
(N=108). Todos os participantes respon- relação à todas as gerações de direitos,
deram individualmente, em ambiente de escores médios mais elevados do que os
sala de aula, a perguntas sobre aspectos estudantes de 14 a 17 anos, sendo que os
sócio-demográficos e a dois questioná- escores médios obtidos pelos estudantes
rios; um contendo uma lista de 25 direi- mais novos e mais velhos foram, respec-
tos que avalia o nível de envolvimento dos tivamente, M=3,90 e M=3,39, em relação
participantes com os DH, o outro, con- aos direitos ao meio ambiente, M=4,47 e
tendo uma lista de 24 itens, que avaliava M=4,14, em relação aos direitos sociais,
a capacidade empática dos participantes. M=4,10 e M=3,85, em relação aos direitos
As respostas para os itens dos dois ques- para a autonomia e M=3,85 e M=3,43, em
tionários foram dadas em uma escala relação aos direitos à não discriminação;
tipo Likert, de cinco pontos, indicando o (5) ocorreu uma correlação positiva signi-
quanto o respondente faria alguma coisa, ficativa (r=.416; p<.05) entre a empatia e
quando ficasse mais velho, para que todos todos os direitos estudados. Diante desses
tivessem os direitos citados, ou o quanto resultados, pode-se concluir que o fato
experimentava um certo sentimento. As dos direitos de primeira e segunda gera-
possibilidades de respostas variaram de ção apresentarem escores médios mais
1 (nada) a 5 (muitíssimo). Os dados foram elevados deve-se ao fato desses direitos
analisados com: o teste “t” para medidas terem sido os primeiros a serem institu-
independentes e medidas repetidas; uma cionalizados. Quanto aos direitos relativos
ANOVA; e a correlação de Pearson. Nos ao meio ambiente terem apresentado um
resultados, observa-se que: (1) os parti- escore médio superior aos direitos de não
cipantes apresentaram escores médios ser discriminado, acredita-se que se deva a
significativamente diferentes (p<.05) em uma maior presença de movimentos eco-
função das gerações de direitos: os direi- lógicos nas escolas do que de movimen-
tos sociais obtiveram o escore médio mais tos relativos a não discriminação. A não
elevado (M=4,21), que foi seguido dos diferenciação dos DH em função do sexo
escores médios dos direitos à autonomia confirma estudo anterior (Camino e cols.,
(M=3,91), dos direitos ao meio ambiente 2004). Os resultados referentes aos alunos
(M=3,53) e dos direitos a não ser discrimi- de escola pública apresentarem um esco-
nado (M=3,49); (2) os escores médios dos re médio maior do que os alunos de escola
participantes em relação aos DH não se di- privada em relação a todos os direitos, po-
ferenciaram em função do sexo; (3) os es- dem ser justificados pelo fato dos alunos
cores médios dos participantes diferencia- de escola pública serem vítimas, pela sua

1015
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pertença à classe social desfavorecida, de quisadas, destacamos uma delas para esta
maiores opressões sociais, de um poder discussão. Trata-se de uma escola pública
menor de reivindicação e de constantes da rede municipal do Rio de Janeiro. O
catástrofes ambientais. Quantos aos estu- objeto da pesquisa é o ensino/aprendiza-
dantes mais novos terem obtido um esco- gem de Ética por meio da modalidade de
re médio de envolvimento mais elevado Tema Transversal, conforme orientação dos
em relação a todas as gerações de direi- Parâmetros Curriculares Nacionais. Consi-
tos, acredita-se que tem a ver com o fato deramos como hipótese que é possível se
de, por serem mais jovens, não pensarem ensinar e se aprender ética. Deste modo,
nas dificuldades de participarem de lutas partimos do pressuposto de que os pro-
e pelo fato de terem uma postura, em ge- fessores podem contribuir na construção
ral, mais afastada da realidade social. A da cidadania dos alunos visando a apren-
correlação positiva encontrada entre os dizagem de Ética em suas práticas pedagó-
DH e a empatia, pode ser explicada pela gicas. O processo ensino /aprendizagem da
função motivadora da empatia em relação Ética representa um constante desafio para
aos princípios de justiça (Hoffman, 2003; os educadores. A observação de violência
Sampaio, 2007). presente nas escolas é um fator que nos
leva a refletir sobre o ensino/aprendiza-
Palavras-chave: direitos humanos, empatia, gem de ética. Há uma “desordem moral”
jovens. (Macintyre, 2001) na sociedade de tal or-
Contato: Cleonice Pereira dos Santos Camino, dem que se faz necessária uma ação para
UFPB, cleocamino@yahoo.com.br que este quadro seja revertido. O ensino/
aprendizagem de ética por meio de virtu-
des é proposto (idem) para que a cidadania
LT03 – 1245 - EDUCAÇÃO MORAL: seja possível. Ao inserir a prática das virtu-
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO des no cotidiano escolar, o professor pode
ÂMBITO ESCOLAR contribuir para a formação de cidadãos que
Ana Lidia Felippe Guimarães - UFRJ modifiquem este estado da sociedade. Os
alfelippe@gmail.com objetivos desta pesquisa são os seguintes:
Maria Judith Sucupira da Costa Lins - UFRJ observar como se organiza o processo de
mariasucupiralins@terra.com.br ensino/aprendizagem da ética; e identi-
Monique Maiques de Souza Alves Rezende - ficar a aprendizagem da ética nos alunos
UFRJ do terceiro ano do Ensino Fundamental.
moniquemaiques@yahoo.com.br Trata-se de uma pesquisa qualitativa com
base na metodologia da “Escuta Sensível”
Esta apresentação deriva de uma pesqui- desenvolvida na por René Barbier (1997).
sa com interesse pelas diferentes formas A Escuta Sensível promove uma prática de
possíveis de ensino e aprendizagem de Éti- compreensão e de explicação da práxis dos
ca em escolas nacionais e internacionais, grupos sociais de uma instituição de for-
cuja motivação estava não só na literatura ma que permite o conhecimento de cada
específica, mas em observações continua- participante. Desta forma, a observação
mente realizadas em diferentes instituições participante, permite ao pesquisador se
neste mesmo foco. Dentre as escolas pes- torne parte da situação observada, intera-

1016
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gindo por longos períodos com os sujeitos, momento se refere à atividade de desenho
em que partilha do cotidiano destes para sobre a história contada. No final da sema-
sentir o que significa estar naquela situa- na (sextas-feiras) os alunos montavam um
ção (Alves-Mazzotti, 1998). Esta pesquisa mural com as suas produções. No segundo
se fundamenta na filosofia de Alasdair Ma- semestre estas histórias eram re-significa-
cIntyre, considerado “um dos autores que das e a professora regente indagava se já
tem escrito, de forma mais inteligente so- haviam vivenciado algumas das histórias
bre ética, constituído uma das vozes mais contadas, isto é, com questionamentos e
autorizadas e singulares neste domínio” reflexões diante das situações morais co-
(Marques, 2006, p. 38). A obra do Filósofo tidianas que surgiram no decorrer da sua
Alasdair MacIntyre se destaca pelo exercí- prática. Esta pedagogia permite que além
cio da virtude na exigência de uma defini- do desenho, os alunos passem a escrever
ção clara em relação a questões sociais e suas próprias histórias. A partir de nossas
políticas. A Desordem Moral existente na observações, ressaltamos que a profes-
sociedade está especialmente ligada a um sora regente, por seu agir com os alunos
estado de emotivismo no plano da vida éti- demonstrou ter um compromisso social
ca. O emotivismo é uma doutrina de juízos e político. Como exemplo, destacamos o
morais pessoais de sentimento ou atitudes fato de um de seus alunos ter comparecido
de prazer individual e de caráter valorativo à escola com marcas de agressão, por ter
(Macintyre, 2001). Em se tratando de edu- sofrido violência doméstica pelo padrasto.
cação e Ética a obra de Jean Piaget (1973) A professora chamou da mãe e da avó que
continua contribuindo, especificamente negaram relatando o fato de forma con-
quanto à compreensão do desenvolvimen- traditória. Diante da situação, a professora
to do juízo moral da criança e do jovem. Se- escreveu um relatório relatando o estado
gundo relato da professora regente da tur- físico do aluno e a baixa freqüência nas au-
ma foi utilizado o livro “Histórias de Crian- las. Em seguida, encaminhou o relatório ao
ças”, cujo autor é Vinayak Krishna Gokak. conselho tutelar com apoio da direção, que
As histórias apresentadas neste livro propi- inicialmente havia resistido a este procedi-
ciam o trabalho sobre valores humanos e mento. A professora, no entanto, argumen-
permite a construção da virtude, levando tou que havia ocorrido fundamentalmen-
deste modo o aluno à aprendizagem de Éti- te a violação dos direitos da criança. Com
ca. Partindo de uma técnica de meditação esta atitude de perseverança e coragem, a
e apresentação oral das cenas positivas das professora fortaleceu a dimensão Ética de
histórias, nas quais os valores humanos são seus alunos que culminou em um trabalho
ressaltados, a professora conseguiu uma sobre Estatuto da Criança e do Adolescen-
dinâmica nas aulas favorável ao ensino da te. Nesta prática pedagógica, a inserção
Ética. A partir desta dinâmica, observamos da Ética teve como objetivo conhecer e
que os alunos conseguiam se concentrar, reconhecer as atitudes pautadas por prin-
mostrando um comportamento contrário cípios de solidariedade, respeito, e respon-
ao inicial, no qual a turma se apresenta agi- sabilidade contribuindo para a construção
tada. No segundo momento há leitura de da virtude da justiça e perseverança. “Ao
textos que apresentam mensagens de vida ancorar a Educação Moral na vivência so-
baseada na prática das virtudes. O terceiro cial, reatam-se os laços entre pensar, falar e

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

agir” (Brasil, 1998, p. 89). Concluímos que tos humanos e, consequentemente, para a
a dimensão pedagógica nessa sala de aula redução dos altos índices de violação aos
nos ofereceu condições de compreender a direitos humanos no país, nesse sentido, o
prática escolar e nos mostrou a realização estudo ora apresentado se propõe a inves-
do processo de aprendizagem da Ética que tigar as práticas de ensino e aprendizagem
apontaram a vivência prática das virtudes em três escolas públicas do Distrito Federal
como orientação curricular. Considera-se voltadas para a educação dos direitos hu-
que os objetivos inicialmente propostos manos. A pesquisa também prevê a realiza-
foram alcançados, entretanto, destacamos ção de ações integradas entre as escolas e
que a formação Ética e Moral deve ser con- a universidade para intensificar as práticas
tinuada na prática escolar. Com a continui- pedagógicas capazes de promover a educa-
dade de nossas observações, apresentare- ção para os direitos humanos. Este estudo
mos um quadro mais completo. Entretan- envolve três grandes temas, que têm a vio-
to, é possível desde já afirmar que a pre- lência como pano de fundo: direitos huma-
sença da Ética na prática pedagógica desta nos, direitos das crianças e adolescente e
professora tem surtido efeitos positivos na cidadania. Cada um desses temas abran-
vida dos alunos. ge distintas questões teórico-conceituais,
tornando-se necessário selecionar aque-
Palavras-chave: Ética, Educação Moral, Ensino/ las cujos debates se aproximaram mais da
Aprendizagem discussão educacional e psicossociológica
Contato: Monique Maiques de Souza A. que se pretende aqui erigir. Nesta direção,
Rezende, UFRJ, moniquemaiques@yahoo.com.br entre as discussões teóricas procedidas
tratamos de elaborar uma reflexão acer-
ca da história jurídica brasileira e da efi-
LT03 – 1388 - A EDUCAÇÃO PARA OS cácia das políticas de proteção à infância
DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE DA e adolescência implantadas no Brasil, de
PRÁTICA EDUCATIVA EM TRÊS ESCOLAS modo a promover a “lei e a ordem”, bem
PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL como garantir os direitos fundamentais
Divaneide Lira Lima Paixão - UCB da pessoa humana. Também mostrou-se
divaneide@ucb.br importante proceder com uma discussão
Tatiana da Silva Portella - UCB sobre infância, adolescência e violência no
tatiana@ucb.br cenário brasileiro, já que cotidianamente
Nina Cláudia de Assunção Mello - UCB esse tripé tem sido foco de reportagens
nclaudia@ucb.br e debates públicos, sendo extremamen-
Rosana Márcia Rolando Aguiar - UCB te importante para compor discussões no
zanaguiar@gmial.com cotidiano das escolas, uma vez que a re-
presentação acerca desses fenômenos in-
Acredita-se que a escola, enquanto institui- terfere, sobremaneira, no trabalho voltado
ção representante do Estado é reconheci- para as temáticas acima descritas. No con-
da, consensualmente, como um lugar so- texto da sociedade brasileira, mostram-se
cial privilegiado para o desenvolvimento de crescentes as taxas de violência nas suas
estratégias capazes de contribuir a médio mais distintas modalidades: crime comum,
e longo prazo para a valorização dos direi- violência fatal conectada com o crime orga-

1018
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nizado, explosão de conflitos nas relações não precisassem ser respeitados, já que o
pessoais e intersubjetivas e, em especial, imaginário popular elege os jovens e ado-
graves violações de direitos humanos. Em lescentes como responsáveis pelo incre-
meio ao sentimento de insegurança, frente mento da violência urbana (Paixão, 2008).
a uma violência difusa, o cidadão comum é Ser jovem em um mundo violento não é
colocado cotidianamente diante de estatís- tarefa fácil e se a vida lhes tiver reservado
ticas assustadoras que retratam a violência espaços de pobreza, de desigualdades e de
entre jovens brasileiros. Uma pesquisa re- repressão, a dificuldade só aumenta. Ao
alizada por Waiselfisz (2004) revela ainda examinar as políticas públicas voltadas para
que, em 2002, mais de 75% dos homicídios o adolescente e para a juventude como um
foram causados por arma de fogo. Homicí- todo, Castro e Abramovay (2002) atestam
dios, suicídios e acidentes automobilísticos mudanças positivas, com alguns avanços
são as causas das mortes de 59,9% dos jo- na área da juventude, ainda que existam
vens do país. No ranking internacional de ações sendo implementadas sem levar em
homicídios de jovens, o Brasil fica em 5º consideração a diversidade de direitos dos
lugar entre os 67 países em que há levan- adolescentes, o que é lamentável, já que
tamentos semelhantes, atrás da Colômbia, essa parcela da população vai ter que es-
Ilhas Virgens, El Salvador e Venezuela. Con- perar ainda mais para ter seus direitos res-
siderando a taxa de assassinatos cometidos peitados e a sociedade inteira continuará
contra a população em geral, o Brasil fica pagando por isso. As violações aos direitos
em 4º lugar, atrás apenas de Colômbia, El humanos, apesar de serem freqüentes e
Salvador e Rússia. Diante deste cenário, a amplamente divulgadas pelos meios de
família, a sociedade e o Estado têm papel comunicação, como observa Cardia (1995),
fundamental de orientar e educar para a não têm alcançado um debate mais amplo.
cooperação, à solidariedade, à tolerância, Assim, diante do exposto, cabe evidenciar
para o respeito às diferenças e aos direitos a importância e necessidade de trabalhos
adquiridos pelos cidadãos na história jurídi- voltados para a educação dos direitos hu-
ca brasileira. A escola, enquanto instituição manos, especialmente nas escolas, cujo
representante do Estado é reconhecida, espaço e práticas devem ser favorecedores
consensualmente, como um lugar social do desenvolvimento da cidadania e das
privilegiado para o desenvolvimento de ações promotoras de desenvolvimento
estratégias capazes de contribuir a médio e pessoal, intelectual e social. O estudo da
longo prazo para a valorização dos direitos DUDH, bem como do Estatuto da Criança e
humanos e, consequentemente, para a re- do Adolescente (ECA) deve estar presente
dução dos altos índices de violação aos di- nas escolas brasileiras para despertar o in-
reitos humanos no país. Seja enquanto fru- teresse de crianças e adolescentes pela te-
to de uma construção histórica, seja como mática, contribuindo para que, desde cedo,
reação a uma conjuntura socioeconômica, eles aprendam a respeitar os direitos das
tem-se, de fato, assistido ainda com mui- pessoas com as quais convivem e a exigir
ta freqüência atos de violação dos direitos o respeito que lhes cabe. A pesquisa utiliza
humanos, em especial dos direitos desti- a uma abordagem qualitativa de estudo de
nados às crianças e adolescentes, como se caso. Os dados estão sendo coletados com
estes não fossem cidadãos, cujos direitos professores, alunos e orientadores educa-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cionais, por meio da aplicação de questio- versal dos Direitos humanos (DUDH), de
nários de livre associação e entrevistas de 1948, coloca a condição de pessoa como
grupo focal, bem como se utilizando dos requisito único para a titularidade de di-
recursos da observação. As análises par- reitos, considerando o ser humano como,
cialmente engendradas apontam que as essencialmente moral, dotado de unicida-
estratégias e recursos utilizados pelos ato- de existencial e dignidade. Tal Declaração
res do cenário educativo, por vezes, não foi criada com o propósito de atingir o ho-
favorecem uma educação para valorização mem todo e todos os homens e defende
dos direitos humanos de um modo geral, e sua felicidade e bem-estar, tal como ob-
dos direitos das crianças e adolescentes de serva Piovesan (2005). Os direitos huma-
modo particular, uma vez que a própria ins- nos compõem uma racionalidade de resis-
tituição escola é palco de violações aos di- tência, na medida em que revelam artifí-
reitos humanos, o que se percebe fruto de cios que abrem e estabilizam espaços de
posturas autoritárias e baixa qualificação luta pela dignidade humana, ideia central
da adolescência como uma fase positiva. para a compreensão dos direitos huma-
Isto é, o modo como os atores do cenário nos. Para Doise (2002), a DUDH, logo após
educativo concebem a adolescência e seus a Segunda Guerra, evidenciou em seu
direitos parecem influenciar nas relações corpo alguns princípios que não se res-
sociais que ocupam o ambiente escolar e tringem apenas à garantia de direitos dos
nas praticas educativas ai desenvolvidas. cidadãos, eles geram como conseqüência
uma responsabilização do Estado diante
Palavras-chave: educação para os direitos desses mesmos cidadãos. Esta Declara-
humanos, infância e adolescência, prática ção não defende apenas as liberdades
educativa nas escolas públicas. individuais como pensam alguns críticos.
Na verdade, ela revela a necessidade de
os Estados cuidarem para que se concreti-
LT03 – 1389 - DIREITOS DOS zem condições adequadas para o bom de-
ADOLESCENTES: POSICIONAMENTOS senvolvimento da igualdade social e a re-
INDIVIDUAIS E GRUPAIS distribuição de recursos para garantir mi-
Divaneide Lira Lima Paixão - UCB nimamente a satisfação das necessidades
divaneide@ucb.br básicas dos cidadãos. O século XX deixou
Angela Maria de Oliveira Almeida - UCB uma trágica marca nos direitos humanos,
aalmeida@unb.br conforme postula Trindade (1997). Nunca
Financiamento: CAPES/CNPq se verificou tanto progresso na ciência e
tecnologia, acompanhado paradoxalmen-
Os direitos humanos se constituem em te de tanta destruição e crueldade. Persis-
uma produção histórica, submetida aos tiram violações graves e maciças dos direi-
interesses das instituições que os definem tos humanos mesmo com todos os avan-
e cuja aplicação depende também dos Es- ços registrados na proteção internacional
tados. Os direitos humanos são os direitos destes. Continuam a ocorrer violações de
fundamentais de todas as pessoas, sem direitos civis e políticos, como as liberda-
nenhuma distinção. Essa ótica, instituída des de pensamento, expressão e informa-
quando da elaboração da Declaração Uni- ção; ocorrem ainda graves discriminações

1020
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contra membros de minorias e outros te) é subtraída da média individual de


grupos vulneráveis, de bases étnicas, na- cada PM ou jovem, tem-se uma média
cionais, religiosas e lingüísticas; além de individual livre do efeito dessas pertenças.
violações aos direitos fundamentais e aos O posicionamento dos sujeitos quer em
direitos internacionais humanitários. Seja uma análise geral quer em uma análise in-
enquanto fruto de uma construção histó- dividual, possibilitou a organização de três
rica, seja como reação a uma conjuntura classes bem definidas, a saber: otimistas,
socioeconômica, tem-se assistido ainda céticos, paradoxais. Provavelmente, os
com muita freqüência aos atos de violação participantes que compõem a classe dos
dos direitos humanos, em especial dos di- Otimistas marcaram os valores do extre-
reitos destinados às crianças e adolescen- mo positivo da escala por acreditarem que
tes, como se estes não fossem cidadãos, o respeito aos direitos dos adolescentes é
cujos direitos não precisassem ser respei- algo que pode vir a acontecer com mais
tados, já que o imaginário popular elege intensidade desde que haja o compro-
os jovens e adolescentes como responsá- metimento e envolvimento de todos os
veis pelo incremento da violência urbana setores da sociedade. O oposto acontece
(Paixão, 2008). Diante do cenário erigido e com relação aos participantes alojados
da importância que esse tema assume na na segunda classe que demonstram estar
atualidade, propõe-se com este trabalho tomados por uma descrença generaliza-
apresentar os resultados de uma pesqui- da com relação à efetivação dos direitos
sa realizada com 288 policiais militares e dos adolescentes. A terceira classe, que
298 jovens estudantes do Distrito Federal, tem o maior número de adeptos, apre-
cujo objetivo foi identificar as possíveis senta as respostas paradoxais atribuídas
variações nos posicionamentos dos indi- pelos participantes. Aqui estão reunidos
víduos e grupos acerca dos direitos dos sujeitos que apresentam medias superio-
adolescentes. As análises foram realizadas res extremadas em algumas dimensões e
a partir dos dados obtidos pelas respostas médias inferiores igualmente extremadas
dos participantes com relação ao grau de em outras. A ocorrência dessas classes se
responsabilidade de sete agentes sociais deu na mesma proporção, tanto na análi-
(governo, escola, família, eu mesmo, au- se do tipo “pancultural” quanto na análi-
toridades judiciais, associação de volun- se individual. É relevante evidenciar que,
tários e polícia) diante de 23 artigos da de um modo geral, na análise individual,
Convenção Internacional dos Direitos da neutralizou-se o efeito da pertença sócio-
Criança. De posse das médias obtidas com -profissional, portanto, é acertado con-
as respostas dos participantes à escala de cluir que as diferenças de inserção social e
responsabilidade, buscou-se, identificar profissional – ou seja, o fato de uns serem
padrões de respostas hierarquizadas que policiais e outros serem estudantes – não
pudessem ser agrupadas em diferentes são os únicos fatores causadores de varia-
categorias. A média individual foi calcu- ção sistemática das respostas entre indiví-
lada para eliminar o efeito da pertença duos, fato também comprovado por Doise
sócio-profissional dos participantes. Se- (2002) ao eliminar o efeito da pertença
gundo Doise (2002) quando a média geral nacional para sujeitos de 38 países. De um
dos grupos (PMs e jovens separadamen- modo geral os resultados apontam que os

1021
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

posicionamentos dos policiais diante dos Tal mudança decorreu de sua intenção em
direitos dos adolescentes ficam prejudica- se constituir como nova ciência, preocupa-
dos em função da sua pertença sociopro- da em estudar e em solucionar problemas
fissional, uma vez que são autorizados a de aprendizagem. Apesar destas defini-
fazer uso da violência (“legítima”) pelo Es- ções, entendemos Psicopedagogia como a
tado, ao passo que são chamados a prote- área responsável pela formação de clínicos
ger os adolescentes. Já o posicionamento gerais das escolas; auxiliar do aluno na su-
dos jovens ancora-se na forma como eles peração da fobia escolar e na construção
constroem a própria identidade a partir do desejo de saber, além de organizador
do discurso presente na sociedade. da vida escolar do aprendiz, auxiliar na
aquisição dos conteúdos escolares tradi-
Palavras-chave: direitos dos adolescentes, cionais e no desenvolvimento psicológico.
posicionamentos individuais e grupais, Por clínico geral, o psicopedagogo deve au-
policiais militares e jovens estudantes. xiliar o docente e a escola a diagnosticar,
intervir e encaminhar sujeitos que fracas-
sam na escola. Tal procedimento se justifi-
LT03 – 1415 - INTERVENÇÃO ca em razão de os docentes não estarem
PSICOPEDAGÓGICA E PSICOLOGIA DOS conseguindo realizar tal trabalho, por vá-
VALORES rios motivos: falta de formação adequada;
Nelson Pedro-Silva - UNESP número excessivo de alunos por sala de
nelsonp1@terra.com.br aula; infra-estrutura material precária; re-
Anne Caroline Lima Pereira - UNESP muneração aquém do necessário e desva-
annecarolinelp@hotmail.com lorização do trabalho docente. Em nossa
Bruna Gomes Garcia - UNESP prática, inclusive, observamos que vários
bruna.gomes.garcia@gmail.com pacientes apresentavam problemas auditi-
Isis Bagnhatori Valsecchi - UNESP vos, oftalmológicos, fonoaudiológicos, de
isis_valsecchi@hotmail.com coordenação motora, além dos afetivos,
cognitivos e morais. Em razão disso, o psi-
Várias políticas educacionais foram im- copedagogo pode realizar um primeiro
plantadas, com a intenção de melhorar o diagnóstico e, em decorrência, solicitar aos
rendimento escolar, como a do Ciclo Bási- pais e/ou as instituições o encaminhamen-
co. Apesar disso, o fracasso escolar (indis- to para especialistas. Quanto à fobia esco-
ciplina, desinteresse, problemas de apren- lar, frequentemente as crianças acabam
dizagem e violência) continua a ser o fenô- desenvolvendo um medo desmedido em
meno mais grave a preocupar o sistema relação ao aprendizado escolar. Acredita-
educacional brasileiro. Por esse motivo, mos que esse temor decorra de algum fra-
indagamos se uma intervenção psicopeda- casso que o escolar tenha apresentado,
gógica contribuiria para a superação desse uma ou reiteradas vezes, na própria insti-
quadro. Segundo Ferreira (1986), a psico- tuição. Ao malograr no seu intento, acaba
pedagogia, é definida como a “aplicação internalizando-o como algo pessoal. Em
da psicologia experimental à pedagogia”. A decorrência, afasta-se ou mostra-se, a par-
partir da década de 1980, ela passou a as- tir daquele momento, extremamente te-
sumir novo significado e status no Brasil. merário diante do referido aprendizado.

1022
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Por exemplo, ainda há certos profissionais ma de os homens se apoderarem dos di-


que tendem – diante do fato de os alunos versos conhecimentos. Portanto, não se
não corresponderem as suas expectativas trata de opção pedagógica, mas sim de um
– rotulá-los de incapazes, chegando, inclu- mecanismo psicológico. [...] Vale dizer que
sive, a excluí-los (eles permanecem na o construtivista pensa que seja qual for o
classe, mas é como se não existissem. Ape- método de ensino empregado, está haven-
nas passa a ser considerado quando apre- do construção de conhecimento. [...]”.
senta condutas de indisciplina e/ou violen- Acontece que essas construções só são
tas). Com o passar do tempo, tais aprendi- possíveis se o sujeito interagir com o meio.
zes acabam por internalizar a idéia da in- Isso significa, na prática, que não é o do-
competência. Assim, um problema decor- cente que ensina, mas é o aluno que
rente da relação professor/aluno, acaba aprende. Dessa forma, o sujeito poderá ou
por se transformar em algo pessoal (uma não construir o seu conhecimento, inde-
fobia). Como afirma Macedo (1992, p.125), pendentemente do método pedagógico
“o fracasso escolar produz fracassados. empregado e do professor. Auxiliar os alu-
Uma vez fracassado, mesmo que se com- nos a superarem o fracasso escolar; contri-
batam as causas desse fracasso, o indiví- buir para que eles sejam desejantes de sa-
duo dele vitimado tem problemas que pas- ber; propiciar situações que os levem a se
sam a ser pessoais.”. Outra função diz res- desenvolverem afetiva, cognitiva e moral-
peito ao psicopedagogo auxiliar a criança a mente. São informantes, 21 sujeitos que
desenvolver o desejo de construir conheci- estão submetidas à intervenção psicope-
mento. Entendemos que, para isso, é ne- dagógica desde 2009, de ambos os sexos,
cessário o estabelecimento do vínculo en- com idade entre cinco e 14 anos, de nível
tre a criança e o psicopedagogo, pois de sócio-econômico da classe D e que apre-
acordo com Freud (1909/1973) e Piaget sentam problemas de aprendizagem e/ou
(1932/1994), só se aprende por amor a al- de comportamento. Para a avaliação do
guém. Dessa forma, ao estabelecer o vín- nível de desenvolvimento, empregamos
culo com o paciente e se esse, por sua vez, provas derivadas do método clínico piage-
levar em consideração o nível de desenvol- tiano (Carraher, 1994), de realismo nomi-
vimento, a probabilidade de ele seguir o nal (Ferreiro, 1985), dilemas morais (Pia-
caminho indicado pelo psicopedagogo au- get, 1932/1994) e, eventualmente, testes
menta, mas não necessariamente garante projetivos e observação das condutas no
que tal fato acontecerá. Quanto a ser um espaço da intervenção (resistência à frus-
auxiliar no processo de desenvolvimento e tração, habilidade para lidar com desafios,
de superação de seus problemas, não esta- segurança, capacidade de memorização e
mos diminuindo a importância do trabalho de concentração, relacionamento com os
do professor e a do psicopedagogo. Afinal, membros da intervenção, coordenação
para que o desenvolvimento ocorra, é ne- motora; compreensão das explicações da-
cessário que o sujeito construa conheci- das, capacidade de comunicação, discipli-
mento, processo que ocorre internamen- na e senso crítico). Quanto ao trabalho, o
te. Logo, ele é apenas provável no sujeito. desenvolvemos em grupo, duas vezes por
Segundo La Taille (1996, p.151-152), signi- semana (de 1h30m). As atividades realiza-
fica dizer que “a construção é a única for- das envolvem jogos regrados, “bate-papo”

1023
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e oficinas de leitura, escrita, ciências físicas leitura e a escrita, quase 90% se desenvol-
e humanas. Quanto ao procedimento, 1º veram significativamente. Alguns chega-
realizamos triagem; 2º buscamos estabele- ram a passar do estágio pré-silábico para o
cer vínculo com os sujeitos que estão em alfabético. Outros até já tinham construído
atendimento; 3º concomitantemente, rea- estruturas alfabéticas, todavia ainda apre-
lizamos atividades com o fito de observar sentavam problemas relacionados à orto-
as suas condutas; 4º aplicamos as provas grafia e durante a intervenção tiveram
psicológicas; 5º oferecemos devolutiva aos uma visível melhora em seu desempenho,
pais e/ou responsáveis; 6º realizamos ses- enriquecendo seu léxico. Concluímos que
sões de intervenção, cujo teor é o de auxi- a intervenção realizada tem contribuído
liar às crianças a superarem seus proble- para auxiliar no desenvolvimento cogniti-
mas de aprendizagem, construir estruturas vo, afetivo-moral e da leitura e da escrita.
e valores que pautem pela vida boa; 7º Além disso, tem propiciado condições para
reaplicamos as provas psicológicas, com o que as crianças superem a fobia escolar e
fim de verificar se a intervenção levou ao construam o desejo de saber. Tendo em
desenvolvimento e/ou a superação das di- vista que o trabalho ainda está em anda-
ficuldades escolares e dos problemas de mento, os resultados são preliminares.
conduta. Para a análise dos dados, eles fo-
ram transcritos para ficha padrão e, em Palavras-chave: psicopedagogia, psicologia
seguida, foram montadas categorias exclu- moral e ética, psicologia das virtudes
sivas. Por fim, as analisamos segunda a Psi- Contato: Nelson Pedro-Silva, UNESP,
cologia moral de Piaget (1932/1994) e a nelsonp1@terra.com.br
dos valores, sistematizada por La Taille
(2002). No que se refere à cognição, foi
possível verificar que, dos 21 sujeitos diag-
nosticados, 60% se desenvolveram cogniti-
CO 51 - LT04
vamente. No início, alguns dos sujeitos não Infância 2
conservavam quantidades, indicando que
ainda não tinham construído estruturas
operatórias (mostravam-se egocêntricas e LT04 – 1218 - RELAÇÕES ENTRE
com raciocínio transdutivo). Já no tocante CRIANÇAS E ADULTOS E ROTINAS NA
ao afetivo/moral, mais de 80% dos partici- EDUCAÇÃO INFANTIL
pantes se desenvolveram, sobretudo, no Iza Rodrigues da Luz - UFMG/NEPEI
que concerne ao respeito às regras, ao au- izaluz@bol.com.br
mento da resistência à frustração e da coo-
peração entre os membros do grupo, além Este trabalho teve como objetivo conhe-
do desenvolvimento de virtudes (generosi- cer o comportamento de uma turma de
dade, justiça e prudência). Isso não signifi- crianças de três durante as atividades
ca que eles são autônomos, no sentido previstas na rotina de uma instituição de
piagetiano. Apenas indicia que construí- educação infantil pública. Como referen-
ram valores necessários a auto determina- cial teórico utilizou-se os estudos sobre
ção e, por conseqüência, acabaram se Educação Infantil (Barreto, 1998; Oliveira,
mostrando menos heterônomos. Quanto à 2002), a teoria de desenvolvimento psico-

1024
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lógico de Henri Wallon (1975) e os recen- des repetitivas (concepção de rotina para
tes estudos da sociologia da infância (Oli- o senso comum) aborreciam as crianças e
veira, 2004; Vilarinho, 2004). A instituição desgastavam a relação delas com os adul-
que fica na região metropolitana de Belo tos. Oliveira (2002) ressalta a importância
Horizonte atendia em período integral da regularidade de atividades na educa-
126 crianças de 02 (dois) a 06 (seis) anos, ção infantil, reiterando o entendimento de
divididas em cinco turmas conforme a fai- que essa “rotinização” tem também sua
xa etária. Durante a pesquisa realizou-se função de garantir um sentimento de se-
uma entrevista com a coordenadora e ob- gurança para as crianças, fruto do desem-
servações participantes durante três me- penho de atividades conhecidas. Pensan-
ses (Haguette, 1992) na turma escolhida. do na faixa etária das crianças atendidas
Essa turma era composta de 12 meninas e pela Educação Infantil e na importância de
14 meninos. Como as demais era atendida lhes auxiliar a desenvolver os movimentos
por quatro educadoras, uma professora e a linguagem (Wallon, 1975) entende-
e uma auxiliar no turno da manhã e uma -e que a rotina referente à seqüência em
professora e uma auxiliar no turno da tar- que se desenvolvem as atividades não
de. Como resultados e discussão apresen- deveria engessar o modo como essas
tamos a seqüência das atividades constan- atividades são feitas. Durante a pesquisa
tes da rotina da instituição que era a mes- constatamos um dos problemas comuns
ma para todas as turmas, seguida de uma da educação infantil brasileira conforme
análise dos comportamentos das crianças, apontado por Campos (2006) que é jus-
professoras e auxiliares da Turma 2. Entra- tamente a pouca preocupação por parte
da e café da manhã; Chamada, roda para das instituições com a programação de
contar novidades e atividades diversas: atividades com as crianças, avaliada como
desenho, pintura, montagem, colagem, pouco diversificada, rígida e presa a ro-
brincadeira com carrinhos ou na casinha tinas empobrecidas, levando-as à ocio-
de bonecas de conjunto; Brincadeiras no sidade e representando pouco estímulo
pátio interno ou no parque; Arrumação ao desenvolvimento motor, cognitivo,
dos colchões para o descanso; Almoço; afetivo, cultural e social delas. Ao obser-
Repouso com duração de uma hora e trin- var que a freqüência de comportamentos
ta minutos a duas horas; Lanche; Banho; indesejados pelas professoras aumentava
Estória; Brincadeiras no pátio interno ou durante os intervalos entre as atividades
no parque; Sopa/Jantar; e Saída. A análise ratificamos as impressões de que essa
da seqüência das atividades constantes da postura estava relacionada ao modo de
rotina sem os registros do diário de cam- organização das atividades na institui-
po poderia induzir a avaliação de que a ção. Essa ratificação reforça a importância
rotina estava bem organizada compreen- dos fatores situacionais, na manifestação
dendo cuidados corporais, alimentação, dos comportamentos infantis, implican-
atividades de pintura, desenho, colagem, do assim todos os atores presentes no
brincadeiras e estórias. Entretanto, com- contexto. O modo como as professoras
partilhando das experiências das crianças agiam demonstrava um maior interesse
e adultos da instituição, verificou-se que pela manutenção da “disciplina” do que
em muitos momentos do dia as ativida- pela promoção de interações educativas.

1025
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Evidenciando a dificuldade de perceber as tradicional com um controle excessivo


crianças como sujeitos ativos e capazes de sobre o movimento e a fala das crianças
participar das decisões que lhes afetam, se distanciava bastante do que a teoria
ponto de vista reforçado pelos estudos do referido autor indica. Essas constata-
da sociologia da infância (Sarmento e Ce- ções foram referendadas por pesquisas
risara, 2004; Sirota, 2001). Oliveira (2004) recém publicadas (Martins Filho, 2008; Iza
ressalta a resistência dos adultos em ver e Mello, 2009) que demonstram o quan-
as crianças enquanto “Outros”, porque to as crianças na educação infantil são
isso enfraquece e dificulta a manutenção cobradas a controlar seus movimentos e
das práticas pedagógicas voltadas para sua fala e têm sua participação restrita nas
a preparação da criança para um tem- rotinas das instituições. Pelo exposto, con-
po futuro e para a domesticação de seus clui-se que a instituição pode aprimorar
corpos e mentes. Pensando desse modo seus modos de organização dos tempos e
podemos entender o incômodo que algu- espaços para melhor atender as funções
mas crianças provocavam nas professoras, de promoção do desenvolvimento integral
pois dificultavam o alcance da tarefa que a das crianças conforme estabelecido na
modernidade atribuiu à escola: “burilar” a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
capacidade cognitiva das crianças (Silva Fi- ção (Brasil, 1996) e proporcionar relações
lho, 2004). Ao analisar as dificuldades das mais apropriadas e prazerosas delas entre
professoras em conseguir estabelecer re- si e com os adultos.
lações menos tensas com as crianças que
desafiavam suas ordens, um aspecto se Palavras-chave: educação infantil, crianças,
destacou como relevante, durante a pes- comportamento, relação adulto-criança.
quisa foram raros os momentos de aten- Contato: Iza Rodrigues da Luz, Faculdade de
ção individualizados às crianças. Apesar Educação - Universidade Federal de Minas
das professoras dedicarem a maior parte Gerais, izaluz@bol.com.br
do tempo às crianças que dão “trabalho”,
essa dedicação se restringia às atitudes
de repreensão. Essa dificuldade estava LT04 – 1229 - ATENÇÃO À CRIANÇA E
atrelada ao grande número de crianças na AO ADOLESCENTE: A PSICOLOGIA DO
sala e ao modo como as atividades eram DESENVOLVIMENTO E A CONSTRUÇÃO
organizadas, por isso, novamente se rei- DO CUIDADO INTEGRAL
tera a necessidade de um incrementar o Caroline G. C. da Silva - UFTM
planejamento pedagógico da instituição e carol_gcs@yahoo.com.br
a formação das professoras. Retomando Wanderlei Abadio de Oliveira - UFTM
as idéias de Wallon (1975) um trabalho wanderleio@hotmail.com
educativo para as crianças nesses anos Conceição Aparecida Serralha - UFTM
iniciais de vida deveria privilegiar o movi- serralhac@hotmail.com
mento, a linguagem, a expressão artística, Financiamento: FAPEMIG
a criatividade e a afetividade, por meio do
ensino de formas de convivência respeito- O programa de Residência Integrada Mul-
sas com os colegas, os objetos, a natureza. tiprofissional em Saúde (RIMS) da Uni-
Verificou-se que o uso do modelo escolar versidade Federal do Triângulo Mineiro

1026
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(UFTM) é uma formulação interministe- multiprofissional, em equipe, os psicólo-


rial que objetiva valorizar a formação em gos realizam o acolhimento de crianças,
serviço de profissionais para o fortaleci- adolescentes e familiares, avaliação clíni-
mento da humanização da assistência, da ca de aspectos emocionais envolvidos em
defesa dos princípios do Sistema Único de processos de adoecimento, tratamento,
Saúde (SUS) e da ampliação da concepção cura e reabilitação, suporte psicológico
e prática da integralidade. Tal estratégia em situações de vulnerabilidade, auxílio
tem contribuído para a reflexão sobre a na exteriorização de sentimentos e angús-
atuação na Atenção Básica e colabora para tias, criação de condições para a vivência
a qualificação e resolutividade da atenção e compreensão do processo saúde-doen-
prestada aos usuários do sistema (Brasil, ça-cuidado, leituras sobre as realidades
2007). Em Uberaba, especificamente, o experimentadas pelas crianças, adoles-
programa da residência multiprofissional centes e familiares diante de situações-
foi gestado em 2009 e sua primeira turma -problema e ao mesmo tempo de mu-
de residentes iniciou suas atividades em danças corporais, psicológicas e sociais. O
março de 2010. Foi estruturado segundo o viés do desenvolvimento humano norteia
ciclo de vida, a saber: assistência à criança a prática profissional, contribuindo para
e ao adolescente, ao adulto e ao idoso. A o entendimento de como as condições
proposta é formar especialistas multipro- internas e externas das pessoas afetam
fissionais com foco na promoção de saú- e promovem mudanças que atravessam
de, na educação em saúde e no cuidado temporalmente o ciclo de vida. Sabe-se
integral, envolvendo gestão e organização que as mudanças no desenvolvimento são
do trabalho e visando à melhoria da qua- adaptativas, sistemáticas e organizadas, e
lidade de vida de pessoas e comunidades. terminam por refletir essas situações in-
Neste sentido, este trabalho objetiva pro- ternas e externas no processo de adapta-
blematizar a atuação do psicólogo da área ção ao mundo cujas mudanças também
da criança e do adolescente, na RIMS/ são constantes (Aspesi et al., 2005). No
UFTM, a partir dos subsídios teóricos e cenário hospitalar, o psicólogo tem sido
metodológicos para a prática profissional requerido, constantemente, para avaliar
oferecidos pela psicologia do desenvol- relações familiares e, especificamente, re-
vimento, analisando também como essa lações entre a díade mãe-filho. Para tan-
prática pode contribuir para a construção to, são realizados atendimentos no mo-
de novos saberes. Metodologicamente, delo de consultas terapêuticas, atividades
foram realizadas análises da atuação de lúdicas com pacientes e acompanhantes,
dois psicólogos inseridos no Programa de orientações e escuta psicológica. No que
Residência, no período de março de 2010 se refere à atuação multiprofissional, o
a junho de 2011. As intervenções ocorre- psicólogo propõe intervenções junto aos
ram no Hospital de Clínicas da UFTM e em usuários alicerçadas em proposições te-
uma unidade básica de saúde da cidade óricas e que oportunizam o surgimento
de Uberaba/MG, a partir de informações de estratégias de enfrentamento e res-
clínicas e discussões em equipe sobre os significação do processo de adoecimento.
casos concernentes à atuação multipro- A atuação do profissional da psicologia
fissional. No delineamento do trabalho junto à equipe representa uma possibili-

1027
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dade de ampliação do conceito de famí- questões sociais, culturais e econômicas,


lia, das dinâmicas entre seus membros e influenciados, por sua vez, pela condição
como o arranjo familiar contribui ou não de saúde das pessoas. A compreensão
para a saúde de crianças e adolescentes, dos pressupostos que norteiam os pro-
bem como auxiliam na compreensão inte- gramas de residência multiprofissional e
gral destes sujeitos. Na atenção primária, incluem o psicólogo em sua estruturação,
essa possibilidade de intervenção com engloba questões relacionadas à perspec-
as famílias se intensifica, uma vez que a tiva teórica da psicologia do desenvolvi-
proximidade com os diversos contextos mento, posto que as questões relaciona-
socioculturais brasileiros permitem uma das ao processo saúde-doença-cuidado
abordagem mais integral e na essência da traz implicações para o desenvolvimento
problemática. Questiona-se o quanto esse humano, especificamente de crianças e
contato permite uma ação de promoção adolescente. O psicólogo evidencia a rele-
ou prevenção à saúde, considerando que vância de sua prática profissional em uma
é possível um trabalho multiprofissional equipe multidisciplinar, na medida em
ampliado nos diferentes contextos de que esta oportuniza melhora nos estados
atenção primária, mas também de inter- emocionais de usuários, grupos familia-
venções pontuais e urgentes em situações res e equipes profissionais, e facilita a te-
de vulnerabilidade social. Destaca-se ain- rapêutica e o contato dos usuários com a
da que, no Programa de Residência Mul- gestão do trabalho no SUS. O enfoque no
tiprofissional é importante conhecer as desenvolvimento humano, na assistência
atividades e atribuições dos outros mem- à criança e ao adolescente, possibilita
bros da equipe, pois se propõe uma aten- compreender os fenômenos relacionados
ção integral à saúde dos pacientes e seus a ele e a densidade de elementos que os
familiares. Assim, atuar com outros pro- constituem, além da orientação aos fami-
fissionais convoca o psicólogo a contribuir liares acerca da importância das fases de
para a construção de espaços de ajuda e desenvolvimento e de suas ações com as
compreensão humana, que muitas vezes crianças. No que se refere à produção de
amenizam dores, valorizam a escuta de saberes, a residência tem sido um espaço
fantasias e do desmoronamento do coti- de estudo do desenvolvimento humano
diano, aspectos estes que são tratados de influenciado pela diversidade cultural do
maneira secundária em muitos momen- Brasil, e de proposição de intervenções
tos. Evidencia-se que o processo de ado- em saúde alicerçadas em modelos de
ecimento ou as situações de vulnerabili- defesa da vida, que assumem uma dinâ-
dade, em que as famílias se encontram, mica próxima à realidade concreta dos
exigem reestruturações na dinâmica do sujeitos. Neste sentido, a reunião de di-
cotidiano e, muitas vezes, no redesenho ferentes profissões no grupo de assistên-
do andar a vida. O psicólogo se insere cia à criança e ao adolescente valorizou
como elemento essencial para a com- os saberes das diferentes experiências e
preensão destes processos, do complexo abordagens, integrando e/ou ampliando
desenvolvimento humano e da importân- o sentido do saber/fazer, para uma pers-
cia de evidenciar esses pormenores aos pectiva que afirma a produção do cuida-
cuidadores e familiares, atravessado por do integral em saúde.

1028
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: Psicologia do mantismo que o jogo aparece como con-


Desenvolvimento Humano, Saúde Coletiva, duta típica e espontânea da criança”, fruto
Criança e Adolescente da “nova percepção de infância a consti-
Contato: Conceição A. Serralha, UFTM, tuir-se no Renascimento”, quando “surge
serralhac@hotmail.com a metáfora que correlaciona a infância do
indivíduo à da humanidade por influência
de J. J. Rousseau” e nos quais Fröebel (o
LT04 – 1486 - JOGOS, BRINQUEDOS, propositor dos jogos de construção) pode
BRINCADEIRAS E GAMES: UMA ANÁLISE ser inserido. Entre os paradigmas constru-
DA PRODUÇÃO ACADÊMICA ídos posteriormente, a partir do século
M. G. B. Botelho - UFRG XIX, pela psicologia científica da criança
gloriab.ufrj@gmail.com (Claparède, Piaget, Melanie Klein, entre
outros), prossegue a autora, “a brincadeira
Desenvolvendo trabalhos de pesquisa, ex- da criança aparece como um processo me-
tensão e ensino, na área, desde 2004 no tafórico relacionado a comportamentos
Rio de Janeiro, esta autora também con- naturais e sociais” onde, segundo a mes-
sidera que apesar dos esforços que vêm ma, “ geralmente não há uma discussão do
sendo empreendidos, “no Brasil, termos jogo em si mas um uso metafórico sem a
como jogo, brinquedo e brincadeira ain- explicitação de seu significado” (Kishimo-
da são empregados de forma indistinta, to, 1996, p.34, grifo nosso). Sem qualquer
demonstrando um nível baixo de concei- menção nesta obra aos jogos pedagógicos,
tuação deste campo” (Kishimoto, 1996). por exemplo, de M. Montessori a auto-
Se tomados como objetos culturais, no ra afirma que tal uso, metafórico e sem
campo da historiografia a obra de P. Ari- profundidade, também se faz presente
és, particularmente a “História social da na Antropologia e na Sociologia. Será em
família e da infância” (1960), bastante di- Henriot (1989) que Kishimoto encontrará
vulgada no Brasil a partir dos anos oitenta, “uma espécie de definição stricto sensu”
constituiu um marco divisório passando já que para este, jogo é “ todo processo
a ser referência obrigatória. Nesta o es- metafórico resultante de decisão tomada
tudo de jogos, brinquedos e brincadeiras e mantida como um conjunto coordenado
se fizeram presentes em um capítulo pró- de esquemas conscientemente percebi-
prio- “Pequena contribuição à história dos dos como aleatórios para a realização de
jogos e brincadeiras”- bem como o capí- um tema deliberadamente colocado como
tulo “Brincando na história” por Raquel Z. arbitrário” (Kishimoto, 1996, p.7). Assim,
Altman (2006) na publicação “História das lembra a autora, para que exista jogo é
Crianças no Brasil”. Em ambos, inquestio- necessário que o sujeito tenha consciên-
nável parece ser que para conhecer a(s) cia de que está jogando e que manifeste
infância(s) há que se conhecerem os jogos, conduta (subjetiva, intencional) compatí-
as brincadeiras e também os brinquedos vel com a situação (objetiva, constatável)
daquelas crianças, embora a sua pertinên- e conclui: “o aparecimento de novos para-
cia ao âmbito da história cultural não seja digmas como os de Bruner e Vygotsky, par-
amplamente aceita. Conforme Kishimoto tindo de pressupostos sociais e da linguís-
(1996, p.30) é “dentro dos quadros do Ro- tica, oferece novos fundamentos teóricos

1029
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ao papel dos brinquedos e brincadeiras coerente em sua busca por maior rigor
na educação pré-escolar”. Percebe-se que conceitual ao campo de estudos e pesqui-
após apresentar um conceito geral ao cam- sas sobre jogos, brinquedos e brincadei-
po, e sob o nome de jogo, estranhamente ras, tal quadro será desafiado se tiver que
a mesma Kishimoto (op.cit.35-40) ao res- considerar a inclusão de outros termos
saltar algumas modalidades presentes na - ou quem sabe conceitos- tais como brin-
educação infantil, as apresenta agrupadas quedo pedagógico, brincadeiras escolares
sob outras denominações, “brinquedo e jogos educativos, peculiares ao campo
educativo (jogo educativo)”, “brincadeiras da Psicologia do Desenvolvimento e da
tradicionais infantis”, “brincadeiras de faz Educação. A estes serão agregados o que
de conta” e “brincadeiras de construção” mais recentemente vem sendo chamado
(grifos nossos). O primeiro grupo “remete- de games, que já se fazem presentes por
-nos para a relevância deste instrumento exemplo, no Portal do Professor, oficial-
para situações de ensino-aprendizagem mente disponibilizados pelo MEC/Brasil
e de desenvolvimento infantil”, ou seja, em parceria com o MCT/Brasil ( “Game da
“quando as situações lúdicas são intencio- reforma ortográfica”, “Amino Acids Game”
nalmente criadas pelo adulto com vistas a etc.). Talvez se contraponham a estes,
estimular certos tipos de aprendizagem, os brinquedos e jogos terapêuticos bem
surge a dimensão educativa”. Já o segundo como os de lazer, recreação e/ou entre-
grupo responde pela ”brincadeira tradicio- tenimento, entre outros, que em sentido
nal infantil, filiada ao folclore” expressan- amplo, todos eles, também são consi-
do-se, sobretudo, pela oralidade e é con- derados recursos de “ludicidade”, termo
siderada como parte da cultura popular. apreciado particularmente pelos falantes
A terceira abordagem a das “brincadeiras de língua espanhola e francesa. A fim de
de faz de conta” que é “também conheci- contribuir para este quadro de discussões
da como simbólica, de representação de pretende-se apresentar pesquisa explora-
papéis ou sócio-dramática é a que deixa tória e descritiva, em andamento, acerca
mais evidente a dimensão imaginária (...) da presença e do significado de todos es-
o conteúdo das representações simbólicas tes termos nas publicações da primeira dé-
recebe, geralmente, grande influência do cada, deste século, das associações nacio-
currículo e dos professores [de educação nais de pesquisa e pós-graduação ANPEPP
infantil]”. Por fim, as brincadeiras de cons- (Psicologia) e ANPED (Educação), bem
trução, também consideradas pela autora como da ABPD. Para efeito de análise, dar-
jogos de construção possibilitam a cons- -se-á atenção, em princípio, aos resumos
trução de cidades e bairros que estimulam e quando possível, aos textos completos
a imaginação infantil, pois “construindo, ou artigos, dos GT32 (Os jogos e sua im-
transformando ou destruindo a criança ex- portância em Psicologia e Educação) e GT9
pressa seu imaginário (...) suas representa- (Brinquedo, aprendizagem e saúde) da
ções mentais além de manipular objetos.” ANPEPP e aos GT 07 (Educação de Crianças
Para qualquer destas perspectivas, vale de 0 a 6 anos) e GT20 (Psicologia da Educa-
lembrar, é necessário considerar tanto a ção), da ANPED. Já a análise do material da
fala como a ação da criança, que revelam ABPD, terá como recorte inicial, os títulos.
complexas relações. Embora a autora seja Pretende-se promover melhor compreen-

1030
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

são dos campos simbólicos - no sentido de tre os anos de 2007 e 2009. A primeira au-
P. Bourdieu- ligados ao tema e assim evitar tora, enquanto orientadora da pesquisa e
sua banalização, em busca de maior rigor mentora/ coordenadora de uma das brin-
conceitual no âmbito da Psicologia do De- quedotecas analisadas, a brinquedoteca
senvolvimento e da Educação. do tipo comunitária, e a segunda na condi-
ção de estudante de Pedagogia e bolsista
Palavras-chave: Psicologia da Educação; PIBEX. Através de observação participante,
Lúdico; Educação da infância. portanto enquanto pesquisa qualitativa
(Ludke & André, 1986), as duas brinquedo-
tecas observadas foram dos tipos: 1. Brin-
LT04 – 1487 - INTERVENÇÃO LÚDICA quedoteca comunitária. Situada na Vila
NAS PRÁTICAS CULTURAIS DE Residencial da UFRJ era parte integrante
CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE ESTRESSE do Projeto Brincar e Aprender, projeto de
EDUCACIONAL E HOSPITALAR: extensão da FE/UFRJ; 2. Brinquedoteca
ESTUDO COMPARATIVO PRELIMINAR hospitalar. Localizada na enfermaria infan-
DE DUAS BRINQUEDOTECAS til de um hospital público federal de alta
M. G. B. Botelho - UFRJ complexidade. A primeira foi implantada
gloriab.ufrj@gmail.com pelo Projeto Brincar e Aprender em um
Katiline Carneiro Silva - UFRJ galpão de aproximadamente duzentos me-
katilinecarneiro@gmail.com tros quadrados (200 m²), posse da Asso-
ciação de Moradores daquela localidade.
A importância do brincar para o desen- A equipe que compunha o Projeto contava
volvimento infantil indicada por diversos com duas moradoras e cinco (5) estudan-
autores tais como L. S. Vygotsky, J. Piaget, tes da UFRJ, inicialmente todos do curso
seguidores e outros, foi tão intensamente de Pedagogia e mais tarde com alunos dos
publicada e debatida no âmbito da Psico- cursos de Psicologia e Educação Física e a
logia que chega a dar a impressão de que professora-orientadora - tendo, portanto,
pouco resta (Silva & Botelho, 2009) para uma equipe multidisciplinar. Já a segunda
se falar, pesquisar e acrescentar a respei- preexistia à nossa chegada e era situada
to, em termos acadêmicos. No entanto, em uma pequena sala de cerca de 25m²
no âmbito da formação de professores, as do andar da enfermaria infantil. Quando
contribuições do conhecimento a respeito lá chegamos, havia um ambiente favorável
das diversas práticas culturais do brincar, à assimilação da presença de estagiários
em espaços de educação não-formal (brin- (as) e já contava com uma profissional de
quedotecas hospitalares, comunitárias, Terapia Ocupacional atuando integralmen-
em museus etc.) para a educação formal te na brinquedoteca, a qual participou da
e da infância (em creches e pré-escolas), sua implantação. Quanto às crianças usuá-
ainda estão por serem sabidas ou aprimo- rias, a primeira recebia cerca de trinta (30)
radas. É dentro deste quadro que se pre- crianças todos os dias no espaço, com o
tende apresentar um estudo exploratório objetivo de (re)significar a relação com a
e comparativo entre duas brinquedotecas escola e com a aprendizagem, contribuin-
situadas na cidade do Rio de Janeiro as do assim para o processo de otimização da
quais foram observadas pelas autoras en- escolarização dos participantes do Proje-

1031
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to. A segunda, atendia aproximadamente for levada em conta a possibilidade de di-


dez (10) crianças por dia, umas na sala/ ferentes mediações se fazerem presentes
brinquedoteca e outras no próprio leito. e reconhecidas nestes espaços (Botelho et
O principal objetivo observado foi a otimi- al., 2007). Por fim, entende-se que o aces-
zação do processo de hospitalização da- so às diversas práticas culturais de jogar e
quelas crianças, numa tentativa de tornar de brincar com brinquedos e brincadeiras
sua estada ali o menos dolorosa possível. não exclui as práticas culturais ligadas à
Quanto aos objetivos da pesquisa nestes cultura escrita (Botelho et al., 2009).
locais, o primeiro foi escolhido por favore-
cer um estudo sobre a intervenção lúdica Palavras-chave: Brinquedoteca; Intervenção
nas práticas culturais das crianças em situ- lúdica; Educação da infância.
ação de estresse educacional e/ou social.
E o segundo por ser um espaço onde seria
possível promover uma intervenção lúdica LT01-802 - DIÁLOGO TÔNICO E
no processo de internação das crianças em RELAÇÃO MÃE-BEBÊ NA PERSPECTIVA
situação de estresse hospitalar e/ou so- WALLONIANA: REFLEXÕES A PARTIR DE
cial. Percebeu-se que frente às diferenças, UMA PESQUISA EMPÍRICA
a serem elencadas com maior grau de de- Rodolfo Luís Leite Batista - UFSJ
talhamento na comunicação oral, ambas rodolfo_rllb@hotmail.com
as experiências nas duas brinquedotecas Dener Luiz da Silva - DPSIC/UFSJ
apresentaram alguns aspectos em comum. densilva@ufsj.edu.br
O primeiro, o reconhecimento da brinque- Financiamento: FAPEMIG
doteca como espaço efetivo de ludicidade,
de crianças, com crianças e para crianças. Na presente comunicação, são ofereci-
O segundo aspecto foi a percepção de que das as contribuições da pesquisa ‘Relação
estes locais enquanto espaços de respeito mãe-bebê e as implicações do diálogo
à infância ( E.C.A.: 1990, Art. 16), podem tônico: uma contribuição da abordagem
e devem contribuir para a inclusão social walloniana’ realizada pelos autores, na
em espaços públicos (escola e hospital, no qual se objetivou estudar a interação de
caso). O terceiro aspecto foi a confirmação quatro díades mãe-bebê durante o pri-
de que estes espaços têm forte potencial meiro trimestre de vida à luz da teoria psi-
de expansão como espaço de trabalho e cogenética de Henri Wallon (1879-1962),
de produção de conhecimento interdisci- de modo especial a partir de sua concep-
plinar para pedagogos(as), psicólogos(as), ção de ‘diálogo tônico’. Para entender a
terapeutas ocupacionais e enfermeiros(as) dimensão que o conceito ‘diálogo tônico’
- enquanto abertura de diálogo efetivo pode assumir na teoria walloniana, foi
entre os campos da educação e da saúde, preciso que adentrássemos na leitura das
sem que haja reserva a priori, de mercado seguintes obras: As origens do caráter na
de trabalho. Por fim vale lembrar que as criança (1995), A evolução psicológica da
autoras da presente pesquisa concordam criança (2007) e A função proprioplástica
com Paula e Fortran (2008), no sentido (1986) e de autores que ampliam a discus-
de reconhecerem estes espaços como de são proposta (Ajuriaguerra, 1985; Toledo,
formação da cidadania, principalmente se 2009). Ainda que seja notada em Wallon

1032
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(1995) uma preocupação em demons- no meio externo ou interno ao indivíduo.


trar a fusão afetiva que existe entre mãe Assim, as emoções podem ser diferencia-
e bebê, em Ajuriaguerra identificamos a das conforme a função por elas ocupada,
definição de diálogo tônico como a fusão bem como pelo grau de variação tônica
que se exprime através de fenômenos ocasionada, tendo cada uma delas sua
tônico-emocionais e posturais num di- razão específica de existir. Sob o ponto de
álogo que preludia o diálogo verbal pos- vista metodológico, Wallon (2007) afirma
terior. Assim, o diálogo tônico acontece, que o estudo da criança não deve se res-
por exemplo, nos momentos em que o tringir a descrições de comportamentos
bebê, por alguma razão, busca encontrar e, consequentes, enumerações cronológi-
uma sensação de bem estar ou formas cas. Pelo contrário, o modo como o desen-
para exprimir algo, constituindo-se como volvimento humano se dá deve ser pro-
um dos primeiros modos de vinculação blematizado pelo pesquisador, a fim de
(Ajuriaguerra, 1985). A partir da revisão compreendê-lo melhor e de maneira mais
bibliográfica realizada, pôde-se notar que adequada. A etapa empírica da pesquisa
Wallon constrói uma teoria dos estágios se fez mediante observações nos domicí-
do desenvolvimento – sistemas de relação lios de quatro díades que se voluntariaram
funcional entre o indivíduo e o meio – e para consecução do projeto após recruta-
da emoção, ressaltando que a vida psíqui- mento em agência do Programa de Saúde
ca é consequência dinâmica da interação de Família e mediante assinatura de Ter-
dos meios geográfico e humano em que mo de Consentimento Livre e Esclarecido.
o indivíduo se insere (Galvão, 2002; Tran- O grupo de bebês observados constituiu-
-Thong, 1987). Ele também apresenta os -se de dois meninos e duas meninas, nas-
fatores do desenvolvimento psíquico da cidos a termo e com resultados entre nove
criança e identifica as leis deste desenvol- e dez no teste de Apgar. As observações
vimento, apontando que a idade cronoló- se estenderam no período compreendido
gica da criança não necessariamente coin- até o terceiro mês de vida da criança, com
cide com a idade funcional por ela atingi- no mínimo uma e no máximo duas ses-
da (Wallon, 2007). No primeiro trimestre sões de 50 minutos de observação sema-
de vida, estágio da impulsividade motora, nais, e encerrado com entrega de cópia do
a vida psíquica do bebê se reduz a movi- material coletado para a mãe. Procedeu-
mentos sem objetivo externo, sendo que -se a observação sistemática de tipo parti-
seu psiquismo tende a se relacionar com cipante e a técnica de registro cursivo que
o meio social no qual o indivíduo se insere foi empreendida por um casal de pesqui-
através de modificações no tônus muscu- sadores simultânea e sincronicamente, ou
lar, expresso pela execução de movimen- seja, ao mesmo tempo e buscando a com-
tos. Afirmando a inabilidade funcional do plementação dos pontos de vista e dados
bebê humano, Wallon (1995) considera coletados. Cada sessão de observação foi
que a emoção se relaciona diretamente ao dividida em três momentos, sendo: a) es-
aspecto tônico do movimento, ocupando, tabelecimento do rapport e instrução para
assim, o papel de protolinguagem. A emo- que a díade mantivesse sua rotina de ati-
ção é uma reação organizada a modifica- vidades; b) observação propriamente dita
ções no ambiente da criança, sejam elas em que foi registrada a interação mãe-

1033
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

-bebê, cuidando-se para a descrição dos existe na realidade passível de estudo e as


eventos ocorridos neste intervalo e c) re- supracitadas dificuldades metodológicas
gistro de condições ambientais e comen- encontradas para atingi-lo.
tários dos observadores. A partir do tra-
balho empreendido, notamos limites no Palavras-chave: Diálogo Tônico; Relação mãe-
uso da técnica de registro cursivo: tal re- bebê; Wallon.
gistro foi ‘desafiado’ pelo grande número Contato: Rodolfo Luís Leite Batista. Graduando
e variabilidade dos comportamentos emi- em Psicologia pela Universidade Federal de
tidos; a ausência de categorias de obser- São João del-Rei, UFSJ.
vação pré-definidas não permitiu o treino rodolfo_rllb@hotmail.com
antecipado dos observadores; limites no
contato com as díades para permissão de
videogravação – supomos que a utilização LT02-908 - INFERENCIA DE DESEOS
desta técnica permitiria maior aproxima- EN NIÑOS PEQUEÑOS: UN ESTUDIO
ção com o fenômeno estudado. Após o MICROGENÉTICO
levantamento conceitual, coleta e análi- Mónica Roncancio Moreno - UV
se de dados empíricos, é possível afirmar monikarm83@gmail.com
que o diálogo tônico se caracteriza como a
primeira interação estabelecida pelo bebê En el presente trabajo se documenta la
humano. Enquanto forma de comunica- aparición de la comprensión de deseos
ção existente entre mãe e bebê, o diálogo en niños pequeños y sus modos de fun-
tônico se constrói de modo processual, no cionamiento inferencial con el uso de dos
qual há a expressão da emoção median- situaciones experimentales: preferencias y
te a modificação do tônus muscular. Logo humor gráfico. En esta investigación parti-
que tal modificação ocorre, ela é interpre- mos de una visión desde el cambio cogniti-
tada pela mãe e se manifesta na resposta vo, intentando capturar las pequeñas mo-
comportamental que é dada. Identifica- dificaciones que ocurren cuando los niños
mos igualmente que, como em qualquer se enfrentan a una situación dada. Igual-
outra interação humana, há momentos mente, estamos interesados en el uso del
em que o diálogo instaurado é mais inten- método microgenético con miras a la va-
so, existindo momentos de maior atenção riabilidad, fenómeno que actualmente es
e manutenção de contato entre a díade. considerado fundamental para dar cuenta
Por fim, afirma-se que entre mãe e bebê de la actividad cognitiva del sujeto (Siegler,
se estabelece uma intensa comunicação 2007). La comprensión del deseo viene ar-
afetiva, isto é, um diálogo baseado em ticulada al estudio de los procesos inferen-
componentes corporais e expressivos que ciales, pues en ella se indaga la forma cómo
nos permite entender como a criança se el sujeto, a partir de información específica
comporta no primeiro trimestre de vida. que se le proporciona, logra representarse
A pesquisa empreendida pôde contribuir los estados mentales de otros. La inferen-
sob três pontos: a retomada da discussão cia de un deseo se puede realizar a partir
teórica esboçada inicialmente por Wallon, de diferentes elementos y entre ellos los
a possibilidade de irmos a campo, fato más estudiados han sido tres: los deseos
que permitiu entender como tal conceito conflictivos, las preferencias y las claves de

1034
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

miradas, señalamientos y movimientos de sujetos en todas las sesiones y una compa-


cabeza. Este estudio intenta llevar al plano ración entre las dos tareas. Los resultados
experimental el problema de la inferencia intraidividuales se analizaron con la técni-
de deseos, avanzando con dos situaciones ca de gráficos de movimientos mínimos y
de resolución de problemas que permiten máximos (van Geert & van Dijk, 2002) y ar-
capturar en la acción la actividad mental rojaron tres tendencias principales en los
del niño. Lo característico y que identifica desempeños de los niños: Tendencia Es-
esta investigación es el uso y comparación table, Tendencia Ascendente y Tendencia
de dos escenarios, el humor y situaciones Descender. Estas tendencias representan
del área de la Teoría de la Mente común- tres modos de resolución de la tarea y tres
mente validadas. Participaron del estudio formas de funcionamiento. Se evidencia
38 niños de 2;8 a 3 años pertenecientes a 4 como los niños abandonan desempeños
preescolares de la ciudad de Palmira, Valle eficientes de resolución para reemplazar-
del Cauca, Colombia, de un nivel socioe- los por unos menos avanzados, cambian su
conómico medio-alto. La intervención con combinación de desempeños de un inten-
los niños se llevó a cabo con previa autori- to a otro y luego retornan a un desempeño
zación de los padres y su participación fue anterior (Miller, 2002). Cada uno de los su-
voluntaria. Se utilizaron dos situaciones ex- jetos posee particularidades en el momen-
perimentales: una de humor gráfico (series to de enfrentarse a la situación es por esto
de imágenes chistosas donde diferentes que a pesar de que existen los tres grupos
personajes proyectaban un estado mental) de niños con tendencias similares, los ca-
y una de preferencias (situación adaptada minos seguidos por cada uno son distintos.
de la literatura donde el niño usaba infor- Esas tendencias sugieren que al interior
mación de diversas fuentes para inferir de la variabilidad subyacen regularidades
deseos). En total se realizaron 10 sesiones que pueden ser visualizadas y dan cuenta
de aplicación de ambas tareas para todos de los funcionamientos inferenciales. Los
los sujetos, con intervalos de 8 días entre resultados intragrupo muestran moviliza-
sesión. Las aplicaciones se extendieron por ciones permanentes del grupo entre una
un periodo de dos meses y medio. La apli- sesión de aplicación y otra. No hay con-
cación fue individual y el orden de las ta- sistencia en los niveles transitados por los
reas fue contrabalanceado. Se diseñó una niños, incluso no se observa ninguna ten-
escala de nueve puntajes para cada tarea. dencia al avance por parte del grupo. Otro
Al interior de la escala se definieron tres hallazgo importante es que ninguno de los
niveles de desempeño: implícito, transicio- niños se mantuvo en el mismo nivel duran-
nal y explícito. Con los datos colectados se te las 10 sesiones de aplicación, siempre
realiza: (1) un análisis intraindividual que se presentaron cambios entre los niveles,
permite capturar los diversos caminos por y específicamente entre los puntajes que
los cuales transitan los niños al enfrentar- subyacen a ellos. No se encontraron dife-
se a las tareas y en esos términos observar rencias significativas entre la tarea de hu-
la variabilidad como una característica del mor gráfico y la de preferencias. La eviden-
funcionamiento inferencial, y (2) un análi- cia empírica encontrada en este estudio da
sis intragrupo, que permite ver en térmi- cuenta de los modos de funcionamiento
nos generales el desempeño de todos los presentes en los niños a lo largo de las 10

1035
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sesiones de aplicación de dos situaciones LT02 – 927 - REFLEXÕES SOBRE A


de resolución de problemas. Esos modos CONSTITUIÇÃO DIALÓGICA DO
de funcionamiento se traducen en térmi- DESENHO INFANTIL
nos del tránsito de los niños por los nueve Angelina Nunes de Vasconcelos - UFPE
criterios de medición, fluctuaciones que se vasconcelos.angelina@gmail.com
observan tanto en el grupo como intrain- Nadja Maria Vieira - UFAL
dividualmente. Las tendencias forman vieira_nadja@hotmail.com
parte de los análisis detallados necesarios
para conocer la no linealidad del sistema Segundo Vygotsky (2005) a ação media-
cognitivo. Autores como Siegler y Svetina, da liberta o homem da necessidade de
(2002, 2006) han definido tres patrones en interação concreta com os objetos, per-
las formas de resolución de algunos niños
mitindo que ele opere sobre coisas pas-
en tareas matemáticas (aprendices, no li-
sadas, futuras, inexistentes ou ausentes
neales y precoces), de igual forma, Yan y
do espaço onde ele se encontra. Vygotsky
Fischer (2002) mostraron como tres suje-
também observa que o recurso simbólico
tos expertos al enfrentarse a una situación
utilizado por excelência pelos seres hu-
problema transitaban diferentes vías y ca-
manos é a linguagem. Ressalta-se aqui a
minos de resolución los cuales respondían
capacidade da criança para operar com
a ciertas regularidades que llamaron pa-
este sistema simbólico através do de-
trones. En términos generales, las tenden-
senho. Nessa perspectiva, o desenho é
cias son las respuestas a esas regularida-
concebido como atividade que se cons-
des presentadas por los sujetos dentro de
la variabilidad, mediante ellas es posible titui de forma dialógica no processo de
describir la naturaleza del sistema cogniti- interação entre criança e interlocutor.
vo como un sistema dinámico en constan- Pesquisas diversas vêm evidenciando a
te cambio. Para concluir, el puente tendi- relação entre o desenho e funcionamen-
do entre las situaciones humorísticas y la to psicológico das crianças. Greig (2007),
comprensión de estados mentales resulta por exemplo, apresenta um detalhado
ser de gran beneficio metodológico para estudo no qual reflete sobre o desenho
desarrollar investigaciones conducidas a infantil na perspectiva da representação
capturar la actividad mental del niño en mental, considerando-o dentro de metá-
función de esta comprensión. Adicional- foras que expandem a dicotomia entre
mente, se sabe que el humor hace parte interno e externo. Outros pesquisadores
de la cotidianidad del sujeto y por lo tan- como Silva (1998) compreende o dese-
to es posible observar socialmente como nho infantil destacando o papel da fala da
el niño aprecia los intereses y expectativas criança como constituindo e sendo consti-
de otros (Reddy, 2008). tuída pelo desenho. No presente estudo,
discute-se o desenho infantil compreen-
Palavras-chave: Inferências; Deseos; Método dendo-se que ele constitui-se no contexto
Microgénetico. de interação entre a criança que desenha
Contato: Mónica Roncancio Moreno, e um interlocutor para quem ela os des-
monikarm83@gmail.com creve. Essa compreensão contrapõe-se
as perspectivas que definem o desenho

1036
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como representação de elementos men- L7. C:É pra subir assim. [ Ficando em pé
tais. Relata-se aqui um estudo de caso de sob a mesa.]
uma criança de três anos. Os dados foram
L8. P:E é ? [Olhando para a criança e se-
produzidos na residência da criança após
gurando sua mão.]
obtenção do Termo de Consentimento Li-
vre e Esclarecido (TCLE). Para situação de L9. C: aaalcança (\her) (...) o negócio lá
registro dos dados criança e pesquisadora em cima. [Ainda em cima da mesa
se envolveram na atividade de desenhar. fica na ponta dos pés. Desce da
Depois que a criança desenhou a pesqui- mesa e senta-se no chão.]
sadora a questionou sobre seu desenho
L 10. P:Tem o que lá em cima? [Olhando
com fazendo-a compor narrativas sobre
para a criança.]
sua produção. Estes dados foram video-
grafados. Apresentamos a análise de um L 11. C:Escada aqui. [Olha para cima,
episódio de interação entre esta criança, aponta, se levanta e vai em direção
seu irmão (7 anos) e a pesquisadora, o a uma parede alta onde um sino
qual foi denominado como Construindo de vento estava pendurado. Fica na
desenho sobre uma escada. A transcrição ponta dos pés e levanta os braços na
abaixo apresenta o momento. Episódio: tentativa de alcançar o objeto.]
Construindo desenho sobre uma escada9
L 12. P: O que é isso que tem lá em cima?
[Olhando para o sino de vento pen-
L 1. P: E isso daqui é o que? [Olhando
durado na parede.]
para a criança e apontando para o
desenho que ela fez.] L13. C:Pega, pega, (\her) pe... [Ainda na
ponta dos pés e com os braços le-
L2. C: (\her) é uma (...) [Olhando para
vantados fica dando saltos na tenta-
o papel e subindo na mesa que es-
tiva de pegar o objeto. Pára e volta
tava sendo usada como apoio para
para sentar-se no chão novamente.]
desenhar.]
L 14. P:Há( \! ) Você sobe para pegar uma
L3. P:É uma escada ou é uma casa?
coisa que ta lá em cima, né? [Olhan-
[Olhando para a criança.]
do para a criança.]
L4. C: É(\her) para é (...\) [Ficando em
pé sob a mesa.] L 15. C:É, Assim ó. [Olha para cima, come-
ça a subir na mesa novamente.]
L5. I: Não suba (\imp) [Olhando para a
irmã.] Neste episódio observou-se fala elabora-
L6. P:Cuidado! [Olhando para criança e da unida com gestos e ações constituindo
segurando sua mão.] o desenho infantil. Sugere-se que a re-
gulação entre fala e ação manifesta pela
criança está relacionada com a pergunta
9
Legenda: (L)-Refere-se ao número da linha. (P)-Pesquisa- da pesquisadora “É uma casa ou é uma
dora. (C)-Criança. (I)-Irmão da criança. (\her)- Hesitação/ escada?”, frente ao desenho da criança.
repetição. (\!)-Enunciado exclamativo. (...)-Fala incompre-
ensível. (...\)-Fala incompleta. Entre colchetes descrições
Isto é, observam-se inter-constituição
dos elementos não-verbais. entre a indagação da pesquisadora, as

1037
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ações e fala da criança e o seu desenho. resposta ao questionamento da pesquisa-


A criança passa a agir sobre o ambiente dora, que por sua vez, refletia a apresen-
(com palavras, gestos e ações) organizan- tação gráfica do desenho. Nesta perspec-
do elementos semióticos discursivos que tiva este estudo reflete a multiplicidade
constituem seu desenho, fazendo “surgir” de fatores envolvidos na constituição do
uma escada e explorando quais as fun- desenho e correlacionam-se com o desen-
ções de uma escada, no movimento para volvimento infantil, enfraquecendo os ar-
mostrar para a pesquisadora o desenho gumentos que o estruturam numa dimen-
que produziu. Ou seja, o desenho surge a são essencialmente interna, traduzido nos
partir da pergunta; na regulação entre fala limites do organismo biológico humano.
e ação, na tentativa de explicar o dese-
nho para a pesquisadora. Reflete-se com Palavras-chave: Criança; Desenvolvimento;
os dados do presente, a regulação entre Desenho.
fala e ação incidente quando se solicita a Contato: Angelina Nunes de Vasconcelos,
criança para falar do desenho por ela pro- UFPE, vasconcelos.angelina@gmail.com.
duzido. Características do desenho infan-
til, como indefinição de traços e formas,
suportam a compreensão de que ele só
seja constituído pelo autor, na medida em
CO 52 - LT05
que é apresentado para um interlocutor. Relações Familiares 2
Essa observação não é difícil de ser reco-
nhecida. Frequentemente experimenta-
-se a complexa descrição de crianças de LT05-1204 - A DEPRESSÃO MATERNA
seus desenhos que, sem essa descrição, E O AMBIENTE FAMILIAR: UMA
eram visualizados apenas como traços, ra- CORRELAÇÃO ENTRE O INVENTÁRIO
biscos, pontos. Essas situações suportam BECK DE DEPRESSÃO E O
a interpretação de que o desenho é cons- FAMILIOGRAMA
tituído na linguagem (fala e/ou gestos) e Mariângela Santos de Jesus - UFRB/CCS
que por sua vez, não pode prescindir da mariangela.santos@msn.com
sua propriedade, o endereçamento. Isto Gustavo Marcelino Siquara - UFRB/CCS
é, a linguagem funciona como endere- gustavosiquara@hotmail.com
çamento. Ela transita entre fronteiras do Ana Ribeiro Santana - UFRB/CCS
eu e do não-eu. Ao subir na mesa para ana.ribeiro_22@hotmail.com
completar sua fala, ao agir olhando para Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB/CCS
cima, apontando e se deslocando em di- thiago_gusmao1@hotmail.com
reção ao sino de vento unindo à sua fala, Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS
ou ainda, quando fica na ponta dos pés e pmfrei@gmail.com
com os braços levantados, dando saltos
enquanto fala “Pega, pega, pe” a criança Segundo algumas abordagens (como a do
estava constituindo o desenho, que ainda desenvolvimento no ciclo vital de Baltes),
não existia nos traços que a pesquisado- o ser humano é social e vive desde o seu
ra tinha em mãos. Na descrição da crian- nascimento dentro de um contexto que
ça pressupõe-se o desenho em ação, em possibilita desenvolver-se social, física e

1038
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cognitivamente. Ao nascer, o primeiro nú- jeitos, sendo 42% (9) do sexo feminino,
cleo de socialização que o bebê mantém com idade média de 8,90 anos (dp=0,91)
contato é a família. Esta por sua vez irá e entre 7 e 11 anos, que freqüentam uma
influenciar significativamente no desen- escola pública da cidade de Santo Antônio
volvimento saudável da criança. Assim, a de Jesus-BA. O projeto teve a aprovação
família consolida-se como um importante no Comitê de Ética. Os dados foram obti-
nicho para o desenvolvimento global do dos em uma reunião na escola na qual o
indivíduo, devido às influências que exer- filho da participante estuda. Foi explicado
cer para o seu desenvolvimento (Baptista, as participantes todos os procedimentos
Baptista & Dias, 2001; Conte, 2001; For- do projeto e aquelas que aceitaram parti-
man & Forman, 1981). Cada membro da cipar assinaram o Termo de Consentimen-
família tem uma função essencial para o to Livre e Esclarecido (TCLE). Os instru-
desenvolvimento psicossocial da criança, mentos utilizados foram o Inventário Beck
no entanto, quando existe a presença de de Depressão (Beck Depression Inventory-
algum transtorno mental podem alterar -BDI) e o Familiograma. O BDI é um ins-
o desenvolvimento infantil. A depressão, trumento originalmente desenvolvido por
por exemplo, influencia o funcionamen- Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh
to familiar, principalmente quando esse (1961), que tem como propósito fazer um
transtorno acomete a figura materna. Al- levantamento da intensidade dos sinto-
guns estudos mostram que quadros de mas depressivos através de uma escala
depressão materna têm grande influência de autorrelato composta de 21 itens cada
em todos os ambientes familiares, com o um com quatro alternativas com esco-
aumento das chances de desenvolver pro- res de zero a três os quais subentendem
blemas de comportamento infantil confli- graus crescentes de depressão. Esses
tos familiares ou outro transtorno psiqui- 21 itens fazem referência a 19 fatores, a
átrico devido à depressão da mãe. As re- saber, tristeza, sentimento de fracasso,
lações familiares funcionam em sistemas pessimismo, punição, insatisfação, autoa-
de díades (relação entre dois membros da versão, idéias suicidas, retraimento social,
família) e tríades (relação entre três mem- irritabilidade, choro, indecisão, mudança
bros da família), do bom funcionamen- na autoimagem, dificuldade de trabalhar,
to dessas relações decorre o equilíbrio fatigabilidade, insônia, perda de apetite
no ambiente familiar. Em famílias onde e peso, preocupações somáticas e perda
um dos membros, especialmente a mãe, da libido. Trata-se de um inventário ini-
tem sintomas depressivos as interações cialmente pensado para uso em pacientes
tendem a ficar instáveis. Tendo em vista psiquiátricos, mas que, no entanto vem
estes dados e entendendo que a família sendo amplamente utilizado em pesqui-
desempenha um papel essencial tanto no sas com pacientes não psiquiátricos. O
desenvolvimento psicológico quanto na outro instrumento utilizado, neste estudo
promoção da qualidade de vida de seus foi o Familiograma, este se constitui como
membros, o presente trabalho objetiva um instrumento capaz de avaliar díades
demonstrar a correlação existente entre familiares com base em duas idéias prin-
depressão materna e conflitos familiares. cipais: a terapia sistêmica estrutural e a
Os participantes do estudo foram 21 su- Teoria dos Gráficos. O Familiograma ana-

1039
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lisa inicialmente as relações entre as día- vida de todos os membros da família tanto
des (pai-mãe, filho-mãe, filho-pai e filho- de forma positiva quanto de forma nega-
-irmão) procurando com isso obter uma tiva, e as relações conflituosas estão cor-
visão geral da família. O relacionamento relacionadas à sintomatologia depressiva
existente entre cada díade é descrito em da mãe mostrando que quando este tipo
termos adjetivos, dados em uma escala Li- de transtorno se faz presente as relações
kert que vai desde “não corresponde” até entre as díades se tornam inadequadas.
“corresponde totalmente”, representan-
tes de duas dimensões mais amplas, sen- Palavras-chave: relações familiares, Inventário
do eles afetividade e conflito. Para análise Beck de Depressão, Familiograma
de dados foi utilizado o programa estatís- Contato: Mariângela Santos de Jesus, UFRB,
tico SPSS 18.0. Os dados foram analisados mariângela.santos@msn.com
através da correlação de Pearson. Os re-
sultados do estudo apontaram as seguin-
tes correlações: afetividade pai-mãe (r= -, LT05-1332 - PRATICAS EDUCATIVAS
765 e p=, 000), afetividade filho-mãe (r=,- PARENTAIS: UM PROJETO DO
630 e p= ,003), conflito filho-mãe (r= ,307 PROGRAMA ESCOLA PROMOTORA
e p= ,188), afetividade filho-pai (r= -,742 DA SAÚDE
e p= ,000), conflito filho-pai (r= ,536 e p= Andréia Arruda Guidetti - UNICAMP
,018), afetividade filho-irmão (r= -,600 e Prefeitura Municipal de Itatiba
p= ,023), conflito filho-irmão (r= ,626 e deia.arruda@ig.com.br
p= ,017). Os dados sugerem que há uma
carga de correlação positiva significativa O presente trabalho pretende demons-
entre os sintomas de depressão identifica- trar o funcionamento de uma prática de
dos pelo BDI os conflitos existentes entre intervenção que acontece dentro de um
as díades familiares filho-mãe, filho-pai e Programa da Secretaria de Educação do
filho-irmão, e uma carga de correlação ne- município de Itatiba, estado de São Paulo,
gativa entre os mesmos sintomas e a afe- chamado “Escola Promotora da Saúde”. O
tividade. Esses dados sugerem que existe objetivo principal do programa é promo-
uma relação importante entre os níveis de ver a mudança do paradigma tradicional
conflito e afetividade nas díades familiares para enfoques integrais de saúde escolar,
e que influenciam os níveis de depressão proporcionando discussões sobre educa-
materna. Essas alterações no funciona- ção e promoção da saúde que possibili-
mento familiar podem gerar conseqüên- tem o aumento da qualidade de vida dos
cias como problemas de comportamento seus participantes. Além disso, tem uma
infantil ou psicopatologias como o au- visão global do ser humano e considera as
mento dos níveis de ansiedade. Um ponto pessoas dentro de seu ambiente familiar,
importante a ser ressaltado é a limitação comunitário e social (Sociedade Brasileira
do estudo para investigar outras variáveis de Pediatria, 2005). Segundo o Programa
que possam influenciar na percepção ma- Nacional de Saúde Escolar (Brasil, 2006),
terna acerca do seu funcionamento fami- uma escola que se proponha a promover
liar. O fato a ser ressaltado é que as rela- a saúde, deve mobilizar a participação di-
ções familiares podem influenciar muito a reta e o envolvimento da escola, dos ser-

1040
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

viços de saúde, da comunidade de pais e tos éticos e cidadãos em busca constante


de parceiros diversos. Esta perspectiva traz de uma vida melhor. O ambiente escolar,
uma nova visão para a área educacional, como espaço de convivência e intensas
considerando que o desenvolvimento do interações sociais, apresenta-se como um
escolar está ligado a questões ambien- terreno fértil para implantação de propos-
tais, de convivência com a família e com tas, estratégias e ações que envolvam pro-
a sociedade em geral, de alimentação e moção de saúde. A educação para a saúde
nutrição adequadas, as oportunidades de com enfoque integral objetiva responder
aprendizagem de habilidades, de constru- às necessidades do aluno em cada etapa
ção de conhecimento e de acesso a recre- do seu desenvolvimento. Desta forma, o
ação e as condições de segurança que lhes projeto é realizado com toda comunida-
são oferecidas (Iervolino, 2000). De acordo de educativa de três escolas da cidade de
com Catalán apud Moura et al. (2007), po- Itatiba no interior do estado de São Pau-
dem ser consideradas estratégias e ações lo. Por comunidade educativa entende-se
de uma escola promotora de saúde o di- a equipe gestora, alunos e familiares da
álogo na resolução de problemas, o evitar creche à educação de jovens e adultos.
situações constrangedoras e não recorrer Dentro do contexto do ‘Programa Escola
à coerção e punição como instrumento Promotora da Saúde’ algumas propostas
educativo, estar atento na elaboração da de intervenção foram pensadas como for-
estrutura curricular, à adequação de con- ma de investir na promoção de saúde do
ceitos, habilidades e atitudes que permi- ser humano na sua totalidade e pretende-
tam realizar ações individuais e coletivas -se com este trabalho apresentar uma de-
que melhorem a qualidade de vida e favo- las, intitulada como ‘Oficinas de Práticas
reçam as relações interpessoais, disponi- Educativas Parentais’, que visa o desen-
bilizar veículos de expressão para todas as volvimento de iniciativas familiares como
pessoas que convivem na escola, propor- fatores de proteção infantil, visto que não
cionar programas ergonômicos que privi- se pode negar a importância da família
legiem cuidados com o corpo e a mente e para seus membros, especialmente para
desenvolver atividades que envolvam co- as crianças que vivem nesse ambiente. Se-
munidade educativa e família. Como des- gundo Bee (1996) a forma como a família
taca Bronfenbrenner (1996), num modelo está organizada evidencia o funcionamen-
ecológico do desenvolvimento humano to da mesma, entretanto, é o processo de
atuam sistemas e subsistemas, onde des- interação familiar que tem maior impacto
taca a cultura e a natureza, que operam sobre o comportamento infantil. Na mes-
na família, na escola, na criança, na co- ma direção, Macedo (1994) enfatiza que
munidade, entre outros, de forma equi- a família é, para a psicologia, revestida de
librada, encaixada como um todo e que uma importância capital, visto ser o pri-
não podem ser desconsideradas. Assim, meiro ambiente no qual se desenvolve a
acredita-se que as práticas educativas na personalidade nascente de cada novo ser
escola devem ir além de ações pedagógi- humano. Contudo, Fini (2000) evidencia
cas e transformarem-se em possibilidades que por causa de alterações pelas quais
de transformações individuais e sociais, tem passado a família, da popularização
contribuindo para a formação de sujei- da psicologia e das complexidades da vida

1041
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

atual, os pais podem sentir-se inseguros Palavras-chave: família, intervenção,


em relação ao que devem fazer para um educação infantil
melhor desenvolvimento dos filhos. A in- Contato: Andréia Arruda Guidetti, UNICAMP,
tervenção aconteceu com pais ou respon- Prefeitura Municipal de Itatiba,
sáveis de alunos regularmente matricula- deia.arruda@ig.com.br
dos em uma escola de educação infantil
da cidade de Itatiba, estado de São Paulo,
com idades entre 3 e 6 anos. Participaram LT05-1346 - TRANSMISSÃO
em média 45 familiares, incluindo pai, INTERGERACIONAL E A PATERNIDADE
mãe, avós ou tios. Foram realizados quatro Jôse Peixoto da Rocha Souza da Cunha - UERJ
encontros semanais, dentro do ambiente joseprsouza@ig.com.br
escolar, com duração de 1 hora e 30 minu- Angela Donato Oliva - UERJ
tos, onde se tratou de temas relacionados angeladonatoliva@uol.com.br
ao suporte familiar para as questões dis-
ciplinares. O primeiro encontro abrangeu A transformação da família é influenciada
o comportamento infantil e algumas pos- por diversos fatores sociais, conseqüente-
síveis causas para o bom ou mau compor- mente, ela se torna um palco para o con-
tamento. O segundo dia chamou atenção flito entre o moderno e o tradicional e,
dos pais para as características pessoais nesse embate, ocorre simultaneamente a
dos filhos, tanto positivas quanto negati- mistura de valores individuais e coletivos.
vas e destacou a importância de transfor- Segundo Laraia (2009) cada mudança, por
mar o tempo junto com os filhos em algo menor que seja, representa o desenlace
prazeroso. Por ultimo, o terceiro encontro de numerosos conflitos. Isto porque em
tratou das estratégias educativas que po- cada momento as sociedades humanas
dem ser utilizadas pelos pais na educa- são palco do embate entre as tendên-
ção dos filhos. Os participantes avaliaram cias conservadoras e as inovadoras. As
como excelente a iniciativa e manifesta- primeiras pretendem manter os hábitos
ram disposição para tentar mudar. Este inalterados, muitas vezes atribuindo aos
trabalho se justifica, pois visa reduzir a mesmos uma legitimidade de ordem so-
prevalência de fatores de risco e aumentar brenatural. As segundas contestam a sua
os fatores de proteção relacionados com permanência e pretendem substituí-los
os estilos de vida. Além disso, acredita-se por novos procedimentos. São aparente-
que a médio e longo prazo, como indica o mente pequenas mudanças que cavam o
Programa Nacional de Saúde Escolar (Bra- fosso entre as gerações, que faz com que
sil, 2006), o custo-efetividade das inter- os pais não se reconheçam nos filhos e es-
venções preventivas de hoje representem tes se surpreendam com a “caretice” de
um ganho em serviços de saúde amanhã. seus progenitores, incapazes de reconhe-
Pretende-se ainda, que a construção deste cer que a cultura está sempre mudando.
projeto reforce a ação parceira estratégica Por isto, num mesmo momento é possível
para o desenvolvimento de ações interse- encontrar numa sociedade pessoas que
toriais e reafirmação de compromissos e têm juízos diametralmente opostos sobre
co-responsabilidades entre os setores en- um novo fato. A transmissão geracional
volvidos, educação e saúde. acontece quando uma geração prece-

1042
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dente assume o papel de transmitir à sua acontecem basicamente por motivos coti-
sucessora seus valores, crenças e modos dianos e não por uma disparidade de va-
de agir. E, nesse processo de transmissão, lores. Para Teykal (2007) estamos presen-
as concepções passadas de uma geração ciando uma mudança brusca no processo
a outra nesta cadeia geracional abrem de transmissão, já que pela primeira vez
sempre uma brecha para se acrescentar se assiste uma inversão no sentido trans-
algumas variações, que seriam marcas missional – este aspecto por si só repre-
próprias de cada geração. Segundo Pais sentaria uma ruptura nunca antes vista – o
(1998) de uma geração a outra há saberes que propicia não só a imposição dos va-
e posições que se herdam e transmitem, lores da cultura jovem sobre as gerações
garantindo certa continuidade geracional. mais velhas, como torna possível a esco-
Mas há lugar para a transformação dos lha do que seria importante receber das
valores sem que estes tenham que estar gerações anteriores. Podemos pensar que
necessariamente polarizados em torno de cada pessoa traz consigo crenças que são
gerações distintas. Visto desta forma, as passadas através de gerações, sobre como
gerações que se seguem nunca são exa- devem ser os cuidados parentais e como
tamente iguais às anteriores, até porque o homem deve desempenhar o seu pa-
os indivíduos que compõem uma geração pel na paternidade. Porém, percebemos
têm em comum sua posição no processo que essas crenças sofrem mutações, isto
histórico e social devido à experimentação é, não há apenas uma influência geracio-
dos mesmos acontecimentos, o que acaba nal, as próprias crenças perpassadas pelas
por delimitar suas possibilidades de esco- gerações estão sujeitas às modificações
lha e, logo, seus modos de atuação. Hoje devidas transformações históricas, sociais
vivemos um momento em que, devido ao e ambientais, o microssistema familiar é
aumento da expectativa de vida da popu- submetido ao macrossistema social, um
lação, pode-se observar a convivência de exemplo disto é o fato de na atualidade,
três ou até quatro gerações de uma mes- com a rápida disseminação das informa-
ma família. Esse fenômeno não pode ser ções resultante do processo de globaliza-
confundido com a antiga família extensa, ção, essa idéia de que se pode escolher o
já que, os mais velhos eram autoridade que deve ser transmitido é reforçada, na
maior dentro de casa e todas as gerações medida em que viabiliza a ilusão de que
abaixo lhes deviam respeito. Ao longo do o saber está logo ali disponível para todos
processo de globalização, que traz consigo e basta ter acesso a ele para adquiri-lo.
uma extrema velocidade no trânsito das Desta forma, o indivíduo capta saberes
informações e transformações que estão que não necessariamente foram passados
ocorrendo no núcleo familiar, e sob a in- por seus ascendentes e sente-se livre para
fluência de uma ideologia democrática e fazer suas escolhas individuais acerca do
igualitária, a geração mais velha perdeu que seria relevante para ele. Essa situa-
sua posição hierárquica dentro da famí- ção é, ao mesmo tempo, uma liberação
lia, aumentando-se as trocas intergera- da cadeia transmissional e uma exaltação
cionais. De acordo com Pais (1998) hoje do individualismo, que pode trazer como
as relações intergeracionais são mais pa- conseqüência a desvalorização daquilo
cíficas do que outrora e que os conflitos que é passado de geração em geração. So-

1043
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bre alguns aspectos relacionados à pater- cionamentos acerca das práticas parentais
nidade contemporânea, pode-se dizer de paternas, elas foram se adaptando às mo-
uma forma geral, que quando se recorre dificações da sociedade e incorporando
à literatura nacional e internacional sobre novos valores a respeito dos papéis de-
crenças a respeito dos cuidados parentais sempenhados pela tríade pai-mãe-filho.
paternos algumas indagações e lacunas
ficam em aberto. E em relação à trans- Palavras-chave: psicologia evolucionista,
missão intergeracional, a predominância transmissão geracional, cuidados parentais
é também de pesquisas relacionadas às paternos
mães e avós ou pesquisas que privilegiam Contato: Jôse Peixoto da Rocha Souza da
os resultados dessa transmissão. Por es- Cunha, UERJ, joseprsouza@ig.com.br
sas razões, este estudo visou atender,
em parte, essas lacunas, ao investigar as
crenças sobre práticas de cuidados pa- LT05-1501 - EPISTEMOLOGIA EM
rentais paternos que são privilegiadas na METODOLOGIA QUALITATIVA
atualidade. Além de relacionarmos como DESENVOLVIMENTO FAMILIAR
são percebidas as práticas de cuidados Júlio César dos Santos - UFRB
parentais paterno entre duas gerações economiadasaude@ufrb.edu.br
distintas. Participaram desta pesquisa 100 Financiamento: CAPES
pessoas residentes na cidade de Magé
(estado do Rio de Janeiro), divididas em Considerando a metodologia e epistemo-
dois grupos: 50 (homens e mulheres) de logia processo cíclico e estudo da constru-
25 a 35 anos e 50 (homens e mulheres) ção de conhecimento respectivamente,
de 55 a 65 anos. O estudo incluiu ques- buscou–se, neste resumo, as proximida-
tionário sociodemográfico, questionário des da pesquisa qualitativa em desenvol-
sobre Função Paterna, aplicação da Escala vimento familiar. O estudo foi de revisão
sobre Crenças e Práticas Paterna (ECPP) e teórica sobre a expressão planejamento
Escala sobre Crenças e Práticas Paterna – familiar. A hipótese é que dependendo
Pretéritas (ECPP-P). As análises dos dados do construto epistemológico e do método
foram realizadas por meio do software que eu seleciono para investigar o fenô-
SPSS. Foram realizadas análises descritivas meno familiar, o pesquisador observará a
(média, desvio-padrão, valores mínimo e realidade de uma determinada maneira;
máximo), bem como análise de compara- o método vai influenciar na análise do fe-
ção de médias (Teste t de Student e Anova nômeno, de acordo com a teoria que eu
Oneway) e correlações r de Pearson. Após escolhi dentro de um paradigma episte-
análise de variância ANOVA, foi utilizado o mológico. Para o mainstream em Ciências
teste post hoc de Scheffé (Dancey & Rei- Humanas a maioria da pesquisa conside-
dy, 2006). Observamos durante a pesqui- rada científica advém de ênfase quantita-
sa que as crenças geracionais estão em tiva. Lendo os textos de Mesquista (2008),
uma via de mão dupla, interferindo em Berquó e Rocha (2005), Cipriano (2002) e
novas gerações e sofrendo influências da Lima (2010), o planejamento familiar no
mesma, isto reflete que embora gerações Brasil tem relação com os aspectos macro-
mais velhas tenham determinados posi- econômicos, como as influências do setor

1044
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

externo e a perspectiva de consumo das tionou Thomas Malthus, afirmando que


famílias. Se a filosofia vai à raiz das coisas, a superpopulação mundial atenderia as
então se questiona como os aspectos ma- necessidades do capital industrial criando
croeconômicos são base para as políticas um exército de trabalhadores potenciais
públicas de planejamento familiar e não gerando disputas por postos de traba-
relacionadas ao “eu” das famílias? Talvez lhos e conseqüentemente em reduções
uma leitura atenta de Habermas (1987) salariais (apud Habermas, 1987, p.276).
em seu livro “Conhecimento e Interesse” Isso regularia as pressões populacionais
esclareça filosoficamente essa indagação. demográficas. Surgem hipóteses de que
Habermas (1987) cita Marx para dizer so- a melhoria da qualidade de vida estaria
bre a formação do interesse e da verda- ligada ao número de filhos e não a uma
de. Para o autor é no interesse e não na redistribuição dos recursos de uma dada
neutralidade da ciência, confundida como população capitalista, onde muitos têm
conhecimento que a pretensão pela uni- pouco e vice-versa. Observe que o cres-
versalidade do saber pode ser avaliada. cimento dos estudos do desenvolvimento
Em 1798 vai se estabelecendo a Primeira familiar vai obtendo contribuições de to-
Revolução Industrial e as mudanças do das as áreas como na Filosofia Economia,
modelo tradicional de famílias advindas demografia e História. Uma das razões é
das longas jornadas de trabalho, do traba- o processo histórico de aceitação das Ci-
lho feminino e infantil, da ênfase familiar ências Humanas pelas ciências, chamado
na conquista econômica em detrimento movimento da verdade científica positi-
da qualidade de vida. Há um aumento vista, diferenciando da verdade religiosa.
de vulnerabilidades no campo, entendida Rey (1997) apresentou em linhas gerais
aqui como aplicação de políticas públi- as características do positivismo como (a)
cas no meio urbano em detrimento das subjetividade e afetividade são conside-
áreas rurais, nesse sentido, construindo radas de forma pejorativa; (b) o método
a ideologia que é melhor viver no meio de investigação científica é o mesmo para
urbano – estabelecendo o êxodo rural e todas as ciências; (c) objetivos da ciência
as grandes metrópoles. A linguagem da seriam a descrição imparcial, a predição e
ciência internacional passou a ser os rela- o controle sobre a realidade. Nos séculos
tórios de encontros, resoluções e acordos XVIII e XIX só era científico estudos que ca-
da união dos países pós-segunda guerra. racterizavam-se metodologicamente pela
No período pós Segunda Guerra Mundial, neutralidade, distanciamento entre sujei-
nasce a Organização das Nações Unidas to e objeto, matematização da análise e
(ONU), através da Conferência de Paz em resultados. O objetivo do conhecimento
1945, em São Francisco. Como conse- para os positivistas é explicar a realidade
qüência, portanto, foi revisitada a teoria através de leis universais, de causa-efeito.
malthusiana, como Teoria Demográfica Exclui-se então a criação de teorias a partir
Neomalthusiana. Essa teoria, explica o dos princípios que não são percebidos ob-
subdesenvolvimento pela explosão po- jetivamente. Os avanços do pensamento
pulacional e propõe sua redução através científico são estudados em Kuhn (1992)
de métodos contraceptivos. Em resposta com a revolução científica; Foucault
aos neomalthusianos, Karl Marx ques- (1992) com a reflexividade e a dimensão

1045
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da linguagem como entidade constitutiva todologia que considere o processo de


do espaço social; Habermas (1987) com mudança com os descritos nos estudos do
a inclusão do interesse na construção do desenvolvimento humano de J. Valsiner
conhecimento. Resultados desses estudos (Kindermann & Valsiner, 1989; Valsiner,
estão em Lima (2010) embasado em estu- 2007) e L. Vygotsky (Vygotsky, 2008) que
dos de Lesthaeghe 1986 a 2009, Reis 1975 adotam o desenvolvimento como proces-
a 2000; Rios-Neto 1987 a 2005; Carvalho so dinâmico e a mudança como o foco de
1974 à 2004; Lamounier 1975 à 1980; Fa- pesquisa. Esse desenvolvimento é caracte-
ria 1975 à 1999 (citados por Lima, 2010); rizado como dialógico e/ou trialógico; pela
sobre os estudos sobre fecundidade e sua visão do contexto, por meio de processos
relação com eleições. Primeiramente, o multilineares da seta tempo-espaço. Para
autor buscou analisar “os diferentes ní- essa metodologia surge a possibilidade de
veis de fecundidade entre os municípios utilização dos seguintes métodos como
brasileiros em 1980 e, por conseguinte, intervenção, etnografia, observação, mi-
sua relação com a distribuição espacial do crogenética, análise do discurso, estudo
eleitorado do partido Movimento Demo- de caso, análise da narrativa, grupo focal.
crático Brasileiro (MDB) em 1976. Num São métodos de pesquisa em que sujeito
segundo momento, investigou-se como e objeto interagem e se constroem no mo-
o efeito eleitoral comunitário emedebista mento da pesquisa – e que tentam supe-
associou-se negativamente com variações rar o passado positivista e estigmatizado
reprodutivas individuais e comunitárias, de previsão de futuro na temática.
durante a década de oitenta. Por fim,
analisaram-se as variações reprodutivas Contato: Júlio César dos Santos, UFRB,
municipais de períodos subseqüentes ao economiadasaude@ufrb.edu.br
bipartidarismo, e suas relações com o pas-
sado eleitoral brasileiro”; o resultado polí-
tico deste estudo aponta que o declínio do LT01-780 - EFEITOS DE UM PROGRAMA
número de filhos guarda relação com a ur- DE INTERVENÇÃO NOS ESTILOS
banização, o idealismo político do Partido PARENTAIS DE MÃES DE BEBÊS
Movimento Democrático Brasileiro - MDB ADULTAS E ADOLESCENTES.
e até mesmo a saída do homem rural do Elisa Rachel Pisani Altafim - UNESP
seu espaço geográfico. Pergunta-se como altafim.elisa@gmail.com (Bolsistas FAPESP )
ficam as atividades agrárias? Por que não Sária Cristina Nogueira - UNESP
criar políticas em desenvolvimento fami- sariacris@yahoo.com.br
liar que considere os aspectos da inclu- Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues -
são de grupos como os do meio rural? O UNESP
avanço dos estudos em Thomas Robert olgarolim@uol.com.br
Malthus (1798, apud Lima, 2010) com os
estudos sobre crescimento populacional; As práticas parentais têm como objetivo
ou mesmo estudando a família como em educar, socializar e controlar o compor-
Lima (2010) dá se conta que o desenvol- tamento das crianças, visto que se cons-
vimento ocorreu – mas não se observa tituem o “alicerce” para a aquisição dos
como. Para tanto é necessário uma me- repertórios comportamentais futuros

1046
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(Gomide, 2004). Ao conjunto de práticas média de práticas parentais negativas;


educativas parentais ou atitudes paren- Ruim, média ou baixa frequência de prá-
tais Gomide (2006) define como Estilo ticas parentais positivas e frequência mé-
Parental. Intervenções que promovam a dia ou alta de práticas parentais negati-
otimização das práticas parentais, ou seja, vas. O programa de intervenção realizado
a aquisição e/ou manutenção das prá- no presente estudo constituiu-se de oito
ticas parentais positivas e a diminuição encontros, que ocorreram uma vez por
das práticas negativas, podem auxiliar no semana, tendo duas horas de duração
desenvolvimento adequado das crianças. cada encontro e conduzidos por três es-
Esta pesquisa visa: descrever os efeitos de tudantes do último ano de psicologia. O
um programa de intervenção de estilos e objetivo dos encontros foi promover re-
práticas parentais de mães de bebês me- flexões sobre os temas: família; materni-
diante comparações pré e pós-teste reali- dade; práticas parentais; desenvolvimen-
zado com dois grupos, mães adolescentes to infantil; e projeto de vida. E no grupo
e mães adultas; e realizar comparações de mães adolescentes foi trabalhado o
entre os grupos. Participaram da pesquisa tema adolescência. As mães adolescen-
40 mães de bebês de até 24 meses de ida- tes iniciaram o programa de intervenção
de, sendo 20 mães adolescentes (Grupo apresentando: Estilo Parental Ótimo 50%
1) e 20 mães adultas (Grupo 2). O projeto (n=10); Estilo Parental Bom, 35% (n=6), e
ocorreu no Centro de Psicologia Aplicada Estilo Parental Regular, 20% (4). Nenhu-
(CPA), da UNESP-Bauru, e foi aprovado ma participante apresentou Estilo Pa-
pelo Comitê de Ética local. Para a cole- rental Ruim. Após o programa, quando o
ta de dados foi utilizado o Inventário de instrumento foi aplicado novamente nas
Estilos Parentais para Mães de Bebês (IE- mães adolescentes, observou-se que 55%
PMB), adaptado de Gomide (2006), devi- (n=11) das mães apresentaram Estilo Pa-
do a faixa etária dos filhos, bebês com até rental Ótimo; 35% (n=7) Estilo Parental
24 meses. O IEPMB consta de 25 itens, Bom e 10% (n=2) Estilo Parental Regular.
sendo cinco de cada um dos conjuntos de A maioria das participantes 90% (n=18)
práticas identificados: monitoria positiva, após o grupo apresentou estilo parental
negligência, abuso físico, disciplina rela- ótimo ou bom. Os resultados demons-
xada, punição inconsistente. A pesquisa tram que 65% (n=13) das participantes
contou com três etapas: pré-teste; grupo mantiveram o mesmo estilo, sendo oito o
de intervenção; e pós-teste. A partir do estilo parental ótimo, quatro o estilo bom
cálculo do índice de Estilo Parental obser- e uma o estilo regular; 10% (n=2) piora-
va-se qual estilo parental é predominan- ram de estilo parental, uma de ótimo para
te. Os estilos parentais são classificados regular e uma de ótimo para bom; e 25%
em: Ótimo, com presença marcante das (n=5) melhoraram de estilo, duas do esti-
práticas parentais positivas e ausência lo regular para o bom, duas do estilo bom
das práticas negativas; Bom, com presen- para o ótimo, e uma do estilo regular para
ça de práticas parentais positivas e utili- ótimo. As mães adultas nas duas aplica-
zação com baixa frequência de algumas ções, antes e depois da intervenção apre-
práticas negativas; Regular: presença de sentaram: 35% (n=7) Estilo Parental Óti-
práticas parentais positivas e frequência mo, 25% (n=5) Estilo Parental Bom, 20%

1047
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(n=4) Estilo Parental Regular e 20% (n=4) tal ótimo ou bom, e para as participantes
apresentaram Estilo parental Ruim. Os re- que melhoraram seus estilos para ótimo
sultados demonstram que 65% (n=13) das ou bom. No grupo das mães adolescentes
participantes mantiveram o mesmo esti- o programa foi efetivo para 12 participan-
lo, sendo cinco o estilo parental ótimo, tes que mantiveram o estilo parental óti-
três o estilo bom, duas o estilo regular, e mo ou bom e para cinco participantes que
três o estilo ruim; 20% (n=4) pioraram de melhoraram de estilo para bom ou ótimo,
estilo parental uma de ótimo para bom, totalizando 85% das participantes (n=17).
uma de ótimo para regular, uma de bom No grupo das mães adultas o programa foi
para regular, e uma de regular para ruim; efetivo para 8 participantes que mantive-
e 15% (n=3) melhoraram de estilo, uma ram o estilo parental ótimo ou bom e para
do estilo bom para o ótimo, uma do estilo 3 participantes que melhoraram de estilo
regular para ótimo, e uma do regular para para bom ou ótimo, totalizando 55% das
o bom. A partir do teste de Wilcoxon foi participantes (n=11). O programa não foi
verificado que não existe diferença signi- efetivo para aquelas participantes que
ficativa, em ambos os grupos, nos estilos pioraram seus estilos parentais ou man-
parentais antes e após a participação no tiveram os estilos regular e ruim. Nesses
grupo de intervenção, Grupo 1 (T=79, p casos seria interessante realizar uma in-
= 0,332) e Grupo 2 ( T= 30, p = 0,456). vestigação de outras variáveis.
Também foi realizada uma comparação
entre os grupos e foi verificado que existe Palavras-chave: estilos parentais, mãe de
diferença significativa, entre os grupos de bebê e intervenção.
mães adolescentes e adultas, nos estilos Contato: Elisa Rachel Pisani Altafim – altafim.
parentais na primeira e na segunda apli- elisa@gmail.com
cação do inventário, conforme o teste de
Mann Whitney, 1ª aplicação (U=127, p =
0,048) e 2ª aplicação ( U= 122, p = 0,035). LT04- 934 - RECICLAGEM
Os resultados revelam que as mães adul- SOCIOCULTURAL NUMA DINÂMICA
tas apresentam estilos parentais piores INTERGERACIONAL
do que as mães adolescentes na primei- Maria Helena Novaes - PUC-Rio
ra e na segunda aplicação do Inventário. suelesp@uol.com.br
Nota-se que antes e após a participação Suely de Almeida Batista Dessandre - PUC/Rio
no programa de intervenção as mães ado- suelesp@uol.com.br
lescentes apresentam estilos parentais
mais adequados que os estilos parentais Esta proposta teve como meta promover
apresentados pelas mães adultas. Para a integração de grupos intergeracionais
a maioria das participantes o programa reunindo, na Pontifícia Universidade Ca-
de intervenção foi eficaz, promovendo a tólica – PUC-Rio, idosos participantes do
aquisição e/ou manutenção das práticas Programa Sistêmico Integrado Global –
parentais positivas e a diminuição das PSIG e adolescentes do NEAM – Núcleo
práticas negativas. Considera-se que o de Estudo e Ação sobre o Menor, Vice-Rei-
programa foi efetivo para aquelas parti- toria para Assuntos Comunitários, coor-
cipantes que mantiveram o estilo paren- denados pela Professora Marina Lemette

1048
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Moreira, que neste ano completa 30 anos livro importante, também, para ajudar a
de atividades, dentre as quais, aulas de descobrir quem somos nós: “...quem é
artes, educação ambiental, computação, cada um de nós senão uma combinatória
apoio espiritual, através de dinâmicas e de experiências, de informações, de leitu-
oficinas. O programa foi organizado no 1º. ras, de imaginações? Cada vida é uma en-
Semestre de 2011, no intuito de oportu- ciclopédia, uma biblioteca, um inventário
nizar uma visão mais ampla e abrangen- de objetos, uma amostragem de estilos,
te do mundo contemporâneo através da onde tudo pode ser continuamente reme-
observação, reflexão e análise dos fenô- xido e reordenado de todas as maneiras
menos e eventos pontuais e significativos possíveis” (Calvino, 2005, p. 138). Esse
nas diversas atividades humanas, visando programa desenvolveu, sobretudo, cria-
mudanças e transformações psicossocio- tividade dos participantes, troca entre as
culturais, levando em conta as caracte- diversas gerações, socialização e resgate
rísticas que modelam a sociedade atual, da capacidade de refletir e de fazer traba-
como relacionamento casual, postura lhos práticos pessoais a respeito do tema
transcendental, linguagem digital, poder escolhido: “Como Vivemos Agora: Eu e A
minutal, realidade virtual, predomínio es- Sustentabilidade do Planeta Terra”. Foram
piritual. O tema que norteou esses encon- propostos três eixos de ações norteado-
tros foi a Sustentabilidade, possibilitando ras relacionadas: A Natureza, O Homem
discussões e trocas em função de desco- e A Cultura, no sentido de interligá-las e
bertas simples para problemas complexos configurar situações positivas no relacio-
do cotidiano na atualidade. Muitas des- namento humano, no aproveitamento
sas soluções passam por um resgate de dos materiais e resíduos produzidos pelo
hábitos antigos, que se mostram passíveis homem e na transformação ambiental e
de revisões como, por exemplo, o uso de cultural. No programa, os temas foram
sacolas não-descartáveis. O grupo dos desenvolvidos pelos palestrantes convi-
idosos se adapta de um modo mais fácil dados, dentre eles: (a) A Intergeraciona-
nesse quesito, tendo em vista um hábito lidade na Vivência Humana – Professora
que já fez parte da sua formação. Experi- Maria Helena Novaes (Pós- Doutorado
ências intergeracionais como essas, con- Psicologia); (b) Empreendedorismo Social
gregando pessoas idosas, adultos, jovens e a Construção de um Mundo Moderno
e crianças facilitam a troca de lembran- – Paulo P. Ferraz (MBA pela Universida-
ças, depoimentos, tradições, favorecem a de Harvard); (c) Arte Diálogo Eterno do
escuta mútua e a utilização da memória Imaginário – Audir Bastos Filho (Pós - Gra-
como ação social (Novaes, 2003). Den- duação em Arte Educação – Mestre em
tre diversos autores que desenvolvem o Pedagogia); (d) O Poder da Comunicação
tema da contemporaneidade, destaca-se e a Responsabilidade Social – Professor
Italo Calvino, a partir de seis propostas Miguel Pereira; (e) O Humor e o Riso sua
para o 3º. Milênio – a leveza, a rapidez, a influência no Bem Estar Social – Professor
exatidão, a visibilidade, a multiplicidade, a Bernardo Jablonski (Doutor Psicologia De-
consistência – virtudes a nortear não ape- partamento de Psicologia); (f) A Historia
nas a atividade dos escritores, mas, cada ao Alcance de Todos – Prof. Ilmar Rohloff
um dos gestos de nossa existência. É um de Mattos (Departamento de Historia –

1049
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Professor e Coordenador de Educação à tes envolvidos para divulgar nas escolas


Distância); e (g) Percorrendo uma Estrada e outros espaços educacionais. A promo-
de Conquistas: NEAM 30 anos – Professo- ção da qualidade de vida e saúde mental
ra Marina Lemette Moreira (Mestrado em é que permeia os programas de políticas
Psicossociologia – Departamento NEAM de atendimento e apoio à terceira idade.
– PUC-Rio). Os objetivos gerais foram: (a) O Programa Sistêmico Integrado Global
favorecer o desenvolvimento humano e a – PSIG/PUC-Rio – destaca-se como um
qualidade de vida, através da análise das dos pioneiros nesta área, dentre outros
diversas linguagens da Arte e da intera- desenvolvidos por instituições como a
ção entre Ciência, Tecnologia e Crença, Universidade Aberta da Terceira Idade –
e os processos de produção do saber na UNATI da Universidade Estadual do Rio de
construção da identidade cultural bra- Janeiro – UERJ, a Universidade Federal do
sileira; (b) resgatar a memória histórica Rio de Janeiro – UFRJ, assim como asso-
e artística, destacando a importância ciações de Geriatria e Gerontologia.
de educação, da tecnologia a serviço do
meio ambiente, da preservação e estética Palavras-chave: relações intergeracionais,
ambiental, e estimulando processos cria- sustentabilidade, contemporaneidade
tivos, incentivos na educação formal dos Contato autor responsável: Suely de Almeida
pais; (c) apresentar novos paradigmas, Batista Dessandre, PUC-Rio,
modelos teóricos e posturas biocientífi- suelesp@uol.com.br
cas, como contraponto da nova realidade
socioeconômica e política brasileira. Os
resultados foram obtidos a partir do de-
safio de transitar pelos campos da Arte,
CO 40 - LT06
Ciência, Tecnologia e Religião, a fim de Maus-tratos/Educação
encontrar pontos de equilíbrio entre ne-
cessidades, valores, desejos e atividades.
A partir de um olhar transdisciplinar cria- LT06-731 - O COMPORTAMENTO
tivo, possibilitou a geração de uma maior AGRESSIVO E SUAS RELAÇÕES
energia vital, tanto de natureza estética Maria Elisa Takahashi - UAB/UNB
quanto psicológica, social, cultural e mís- despertar@terra.com.br
tica através do saber, do fazer, do sentir, Sílvia Ester Orrú - UNB
do mudar e do produzir. O grupo demons- seorru@unb.br
trou muita participação com a temática,
que oportunizou o enriquecimento das O desenvolvimento do ser humano ocor-
capacidades cognitivas, de organização re a partir na interação do indivíduo com
de pensamento, de percepção de reali- o meio e isto se dá como um processo.
dade e dos processos de mudanças, tanto Conforme Bronfenbrenner (1999), o indi-
pessoais, quanto sociais. A motivação dos víduo vai se adaptando, progressivamen-
grupos foi grande e, ao final, para con- te, aos estímulos e reforços com o qual
cretizar as atividades, foi confeccionado convive e vai aprendendo a construir e
um alfabeto ecológico com as propostas a estabelecer relações, de acordo com
trabalhadas e desenhos dos adolescen- os diferentes contextos onde vive. Este

1050
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

trabalho tem como objetivo discutir e in- mudam são os caminhos para alcançar
vestigar questões inerentes a comporta- esse desenvolvimento. Pode-se analisar
mentos agressivos, na escola, que foram que os caminhos propostos por Vygotski
abordadas através do método qualitativo estão relacionados aos estímulos ofere-
de pesquisa, utilizando a técnica de es- cidos no ambiente escolar, familiar ou
tudo de caso. Este estudo de caso teve nos demais universos frequentados pelo
como sujeito um aluno de 14 anos, que adolescente. Assim, se ele tem uma inte-
apresentava comportamento agressivo ligência “normal” e apresenta certa de-
no universo escolar, passando durante ficiência em conteúdo, e isto ocorre em
este estudo por duas escolas, devido a função dos estímulos oferecidos a ele,
problemas de agressividade. O sujeito e isto sugere a necessidade de um maior e
sua família receberam, durante este pe- melhor acompanhamento escolar, tanto
ríodo, acompanhamento multidisciplinar por parte da escola quanto por parte da
da equipe do Centro de Referência de família. No quesito relacionamento inter-
Assistência Social (CREAS), de um médico pessoal, constatou-se que a dificuldade
psiquiatra e da equipe do Conselho Tute- de relacionamento e o comportamento
lar. Foram realizados entrevistas e testes agressivo foram detectados por todos os
psicológicos, que permitiram organizar as entrevistados e, também, evidenciados
seguintes categorias: (a) como o adoles- tanto no teste de inteligência quanto no
cente é percebido; (b) como o adolescente teste de personalidade. Analisando-se o
se apresenta no quesito relacionamento comportamento relacional do aluno pe-
interpessoal; e (c) intervenções feitas em los relatos da família, em primeiro lugar,
relação ao comportamento agressivo do pode-se constatar que o adolescente foi
adolescente. Verificou-se, a partir dos re- vítima de violência por parte da mãe e
sultados, que a percepção do adolescente que havia, ainda, um componente com-
pelos entrevistados e pelos testes feitos portamental hereditário relatado tanto
com ele confirma a literatura citada, pois, pelo pai quanto pela mãe. Conforme Me-
ele reagiu diferentemente a cada ambien- neghel (1998), crianças vítimas de vio-
te e, desta maneira, foi percebido. No lência doméstica demonstram ser mais
universo escolar, no quesito rendimento, agressivas que as outras, menos empá-
o adolescente foi avaliado como media- ticas em comparação aos seus colegas
no, fato confirmado pelo teste de inteli- e apresentam dificuldade em expressar
gência, no qual ele apresentou um ren- emoções e identificar as emoções dos co-
dimento médio inferior. Trazendo, ainda, legas. O ambiente escolar foi o local onde
o resultado do teste de inteligência, este mais se evidenciou os comportamentos
informou a respeito de sua deficiência, descritos acima, com atitudes agressivas
em regras gramaticais e lentidão no seu do adolescente para com certos colegas
processamento intelectual; além disso, e, ao mesmo tempo, atitudes de esquiva
na fala da coordenadora, ele possui de- e de respeito para com os professores.
fasagem em ortografia. Sobre isto, utiliza- Segundo Lisboa (2005), alunos que vive-
-se a afirmação de Vygotski (1994), para ram experiências de violência familiar po-
quem as leis do desenvolvimento são as dem levar para a escola o mesmo padrão,
mesmas para todas as crianças: o que utilizando de condutas agressivas para

1051
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com os colegas e atitudes evitativas para isto, tanto o adolescente quanto a famí-
com os professores, sendo interessante lia foram encaminhados para um acom-
analisar sistêmica e ecologicamente este panhamento, coincide com a informação
fenômeno, pois, o ambiente onde o alu- do médico psiquiatra, que afirma que a
no vive colabora para que se sinta vítima; melhora da conduta do adolescente, sem
em primeiro lugar dentro de casa, depois prescindir do uso adequado das medi-
na escola, quando recebe gozações dos cações psiquiátricas, acontecerá a partir
colegas e não consegue expressar o que da mudança de postura da família. Esta
realmente sente para os professores e, proposta de intervenção vem de encon-
posteriormente, pode se transformar no tro com a sugestão de Salmivalli (1996,
abusador, agressor, repetindo ou repro- 2004), já citada acima. Os dados investi-
duzindo o que aprendeu e viveu nas ex- gados e analisados a partir da pesquisa
periências anteriores. Verifica-se que o realizada ampliam o entendimento sobre
comportamento do referido adolescente as questões referentes ao comportamen-
tem componentes tanto biológicos quan- to agressivo em contexto escolar.
to emocionais e relacionais, conforme
já citados anteriormente, demandando, Palavras-chave: contexto escolar,
portanto, ações conjuntas em todas essas relacionamento interpessoal, comportamento
áreas. Por esta razão buscou-se analisar, a agressivo
seguir, o tipo de intervenção oferecido ao Contato: Maria Elisa Rezende Queiroz
adolescente em questão. Verifica-se que, Takahashi, UAB/UNB, despertar@terra.com.br
no universo escolar, não existe uma pre-
ocupação em realizar alguma intervenção
específica com o aluno, pois, nele acredi- LT06-1034 - A IDENTIFICAÇÃO E O
tam que a atuação deva ser pontual, isto é, MANEJO DOS MAUS-TRATOS INFANTIS
se intervém quando o problema do com- NA EDUCAÇÃO: O QUE SABEM E O QUE
portamento agressivo acontece. Segundo FAZEM OS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA?
Olweus (1993), apesar da sua dimensão e Marina Rezende Bazon - FFCLRP-USP
das suas consequências, a agressividade mbazon@ffclrp.usp.br
escolar e o bullying, enquanto fenôme- Daniela Zayat Lopes - FFCLRP-USP
nos, têm sido negligenciados socialmente danizayat@gmail.com
e não têm sido alvo de prioridades nas Paola Gonzales Valladão - FFCLRP-USP
políticas públicas, fato este confirmado paola_gonzales16@hotmail.com
nos relatos apresentados. Segundo Salmi-
valli (1996, 2004), no contexto escolar, os A violência contra crianças e adolescen-
comportamentos devem ser encarados tes, praticada pelos cuidadores prin-
como fenômenos de grupo e, desta ma- cipais em âmbito doméstico, constitui
neira, merecem ser analisados dentro de o fenômeno denominado maus-tratos
uma perspectiva sistêmica e ecológica. A infantis (OMS/ISPCAN). Este fenômeno
informação da conselheira tutelar, de que tem merecido atenção científica e social
as ações comprometidas do adolescente de modo crescente, e sendo considera-
em questão devem receber intervenção do como uma problemática importante
a partir do foco na família e que, para em termos de conseqüências negativas

1052
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para o desenvolvimento humano, além contemplaria ou não a temática. Vale in-


de um problema de saúde pública, por- formar que, nesse primeiro momento da
que atinge um número significativo de investigação, decidiu-se estudar alunos
famílias. O enfrentamento dessa proble- de uma universidade pública do estado
mática implica na detecção dos casos, na de São Paulo, mais especificamente, estu-
comunidade, e seu assinalamento (noti- dantes do curso de um curso de Pedago-
ficação) aos órgãos de proteção infantil, gia, tendo como pressuposto a importân-
com vistas ao desencadeamento de ações cia assumida pela instituição em questão,
de responsabilização dos cuidadores/res- em termos paradigmáticos, no plano das
ponsáveis, bem como de ajuda à criança proposições de um projeto político-peda-
e à família, de modo a garantir que tais gógico de formação na área da educação.
ações aconteçam. Pelo Estatuto da Crian- Esta pesquisa de natureza quantitativa,
ça e do Adolescente (ECA), instituições descritiva, contou com a participação de
sociais/serviços e profissionais ligados à 142 estudantes dos quatro anos do curso
área da infância passaram a ser obriga- (66%), regularmente matriculados no ano
dos, por lei, a agirem frente a situações de 2011. Após consentirem em participar
suspeitas ou confirmadas de maus-tratos do estudo, os estudantes responderam a
infantis. No estado de São Paulo, especi- um questionário de escala multi-item, o
ficamente, a Lei 10.498/00 regulamentou qual demandava por informações visando
o indicativo nacional e, inclusive, propôs caracterizá-los sócio-economicamente,
um formulário padrão para a realização assim como caracterizar seu conhecimen-
de notificação. Vale sublinhar que as leis to sobre o fenômeno, suas opiniões e suas
dão destaque especial ao papel a ser de- atitudes. Os dados coletados foram com-
sempenhado, na proteção infantil, pelos pilados em planilha elaborada no progra-
profissionais da saúde e da educação. De ma Excel e analisados por meio de esta-
acordo com pesquisas recentes, a prá- tística descritiva. Cumpre informar que
tica da notificação é bastante tímida em do total de participantes, 91% eram do
meio a tais profissionais, sobretudo os da sexo feminino; a idade média dos alunos
educação que, a rigor, por entrarem em era de 25,15 anos, sendo que a menor e
contato com um grande contingente de a maior idade eram, respectivamente, 17
crianças e jovens diariamente, seriam os e 45 anos; quanto ao perfil socioeconô-
mais bem posicionados para atuar nesse mico, 44% dos estudantes pertenceriam
sentido. As investigações sobre as razões à classe B2, o que equivale a uma renda
pelas quais educadores/professores dei- familiar em torno de 3 salários mínimos;
xam de notificar casos dos quais suspei- 31% seriam da classe B1, cujo rendimento
tam sugerem, reiteradamente, a necessi- mensal gira em torno de 5 salários míni-
dade de que a formação desses profissio- mos; 16% pertenceriam à classe C, com
nais leve em conta tal temática, de modo 2 salários mínimos; 11% à classe A2, com
a prepará-los para isso. Com base nesses 8 salários mínimos; 1% à classe D, com
apontamentos, desenvolveu-se um es- um salário mínimo e 1% à classe E, cuja
tudo para investigar o conhecimento de renda é de menos de um salário mínimo.
estudantes de Pedagogia sobre o tema De modo geral, 45,77% dos alunos da Pe-
e sobre o quanto a formação recebida dagogia disseram já trabalhar e 54,23%

1053
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

estavam realizando estágios na área da dos, qual seria a ação ideal a empreender
educação. Os resultados obtidos indica- frente a casos suspeitos de maus-tratos.
ram que, para a maioria dos estudantes Vale dizer que a grande maioria dos estu-
(94,37%), a principal fonte de informação dantes (92%) afirmou desconhecer o con-
sobre a temática dos maus-tratos é a “mí- teúdo da Lei estadual SP nº 10.498/00.
dia”, seguida pelas “conversas informais” Em síntese, pode-se dizer que os estudan-
(68,31%). Quando, todavia, indagados so- tes de Pedagogia tendem a lidar com a
bre o fato de terem recebido informações temática dos maus-tratos de forma seme-
sobre o tema em âmbito acadêmico, 60% lhante aos profissionais da educação: em-
do total de participantes responderam bora já entrem em contato com situações
negativamente. Em torno de 40% dos es- relacionadas aos maus-tratos infantis,
tudantes indicaram terem tido aulas, 25% baseando suas suspeitas em indicadores
palestras, 13% disseram terem efetuado comportamentais e na própria expressão
leituras e 5% afirmaram que tiveram in- da criança, consideram que a ação mais
formações sobre maus-tratos infantis no apropriada fosse encaminhar o caso à di-
contexto de congressos científicos. É im- reção e deixar a seu critério a tomada de
portante revelar que 91% dos responden- decisão. Embora ainda estejam freqüen-
tes afirmaram que a temática devia ser tando o ambiente acadêmico, eles pare-
integrada à sua formação como um dos cem não estar tendo acesso ou integração
conteúdos desta formação. Com relação com a produção de conhecimento cientí-
à detecção de possíveis casos de maus- fico sobre o tema ou, tão pouco, assimi-
-tratos, 27% referiram ter contato com lando uma postura crítica quanto ao pa-
crianças de quem suspeitavam sofrerem pel da educação com relação à proteção
maus-tratos domésticos. Levando-se em infantil estando, como a maior parte da
conta somente o subgrupo que referiu população leiga, à guisa da influência de
exercer atividade remunerada (trabalho informações de senso comum. Frente a
na área da educação), a proporção foi su- esse quadro, parece fundamental uma re-
perior, 60%, sendo que em meio aos que visão do projeto político-pedagógico, de
estagiavam a proporção foi de 51%. De modo a fomentar ações consistentes, no
acordo com os participantes do estudo, sentido de implementar transformações
os indicadores considerados para levantar na mentalidade e na atitudes dos futuros
a suspeita de maus-tratos eram, na maior educadores/professores.
parte das vezes, comportamentais (74%),
seguidos pela expressão verbal da criança Palavras-chave: maus-tratos infantis,
(72%) e por evidências como marcas no desenvolvimento humano, educação
corpo da criança (44%). Quando indaga- Contato: Marina Rezende Bazon, FFCLRP-USP,
dos sobre como lidaram com a “suspei- mbazon@ffclrp.usp.br
ção”, 38% referiram encaminhar o caso
à direção, 26% disseram ter notificado o
caso ao Conselho Tutelar e 21% afirma-
ram ter decidido não se envolver com a
situação. Proporções semelhantes foram
encontradas quando se perguntou, a to-

1054
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-1035 - PERCEPÇÕES E ATITUDES à “negligência, discriminação, exploração,


DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA COM violência, crueldade e opressão”, envolven-
RELAÇÃO AOS MAUS-TRATOS INFANTO- do crianças e adolescentes e suas atitudes
JUVENIS com relação à notificação. A opção por in-
Marina Rezende Bazon - FFCLRP-USP vestigar esse segmento advém do fato de
mbazon@ffclrp.usp.br os profissionais da educação, além de se-
Daniela Zayat Lopes - FFCLRP-USP rem obrigados por Lei a empreender a noti-
dani.zayat@gmail.com ficação de casos de maus-tratos, suspeitos
Paola Gonzales Valladão - FFCLRP-USP ou confirmados, com quais tenham contato
paola_gonzales16@hotmail.com no contexto de seu trabalho, serem consi-
derados os melhor posicionados à identifi-
Crianças e adolescentes, pela Constituição cação de casos, uma vez que compartilham
Federal (1988), deveriam estar a salvo de o quotidiano com crianças e adolescentes,
toda forma de negligência, discriminação, podendo observar-lhes numa gama variada
exploração, violência, crueldade e opres- de situações. Ademais, em se pensando no
são. Entretanto, esse segmento é muito status de estudante, o grupo investigado
vulnerável, tendo boa parte de seus direitos refere-se a indivíduos que experienciam
violados em âmbito doméstico, pelos pró- um processo ativo e estruturado de forma-
prios cuidadores/responsáveis. Tais even- ção estando, portanto, mais permeáveis à
tos constituem o fenômeno denominado reflexão sobre diferentes temas. Num futu-
maus-tratos infantis (OMS/ISPCAN). O ro próximo, enquanto jovens profissionais,
enfretamento dessa problemática requer, eles poderão concorrer para provocar de-
numa primeira instância, que determina- terminadas alterações no “meio profissio-
das situações sejam identificadas como tal, nal” ou, dependendo de suas concepções/
na comunidade, e sejam notificadas aos ór- percepções, reforçarem as já existentes. A
gãos de proteção infantil (Conselhos Tute- pesquisa foi realizada com 142 alunos, re-
lares, Promotoria e/ou Juizado da Infância gularmente matriculados em um curso de
e Juventude), de modo que processos de Pedagogia de uma universidade pública de
averiguação, intervenção, ajuda e respon- São Paulo, no ano de 2011. É importante
sabilização sejam instalados. No que con- ressaltar que do total dos participantes,
cerne à identificação, especificamente, um 91% eram do sexo feminino, sendo a idade
dos obstáculos à proteção infantil remete à média de 25,15 anos, em que a menor e a
percepção comunitária das situações e sua maior idade foram, respectivamente, 17 e
apreciação como sendo uma violação dos 45 anos; com relação ao perfil socioeconô-
direitos infanto-juvenis. Pesquisadores da mico, 44% dos participantes eram da classe
área colocam que, dependendo do nível de B2, correspondendo a uma renda familiar
desenvolvimento sócio-cultural, uma parte em torno de 3 salários mínimos; 31% per-
considerável dos eventos, principalmente tenciam à classe B1, em que o rendimento
no âmbito doméstico, não é nem mesmo mensal era de 5 salários mínimos; 16%, à
percebido como maus-tratos infantis. Com classe C, com 2 salários mínimos; 11%, à
base nisso, na presente pesquisa decidiu- classe A2, cujo rendimento era de 8 salá-
-se investigar a percepção de estudantes de rios mínimos; 1%, à classe D, com um salá-
Pedagogia, no tocante a situações relativas rio mínimo; 1%, à classe E, com rendimen-

1055
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to inferior a um salário mínimo. Entre os so, se mostrarem mais favoráveis à ação


estudantes, 45,77% disseram trabalhar e de notificar a situação no intuito de pro-
54,23%, que já estavam realizando estágio teger a criança. Por outro lado, quando a
na área da educação. Após consentirem situação envolvia um adolescente e a ação
em participar do estudo, os estudantes parental correspondia à “correção de com-
responderam a um questionário multi- portamentos tidos como inadequados”, a
-item, que damandava por informações de tendência era de caracterizarem a situação
caracterização socioeconômica e a duas como sendo de gravidade moderada e se
escalas do tipo Likert, traduzidas a partir mostrarem menos favoráveis à ação de
do instrumento proposto por Vicki Ashton: notificar, indicando que a ação mais perti-
a primeira, com 12 vinhetas contendo a nente seria a de indicar a necessidade de
descrição de situações de maus-tratos, procurar ajuda profissional. Cumpre frisar
demandando assinalamento de gravidade que quando a ação parental parecia asso-
(1- muito grave a 7- pouco grave) e a ação ciada ao “descontrole emocional”, mesmo
ideal a ser implementada (“nada fazer”, que causando dano físico, embora fosse
“notificar”, “encaminhar a profissional”); considerada muito grave pela maioria, os
e a segunda, constituída por 9 vinhetas, respondentes tenderam a indicar que a
demandando pelo assinalamento de apro- ação mais pertinente era a de “sugerir a
vação/desaprovação do comportamento ajuda de profissional”. Ademais, indepen-
adulto (com -3 igual a “desaprova forte- dentemente da idade da criança/adoles-
mente” a + 3 igual “aprova fortemente”). cente envolvido na situação, notou-se que
De modo geral, as vinhetas procuravam quando o comportamento infanto-juvenil
apreender: (a) as percepções das situa- podia ser caracterizado como “desobedi-
ções, no sentido de aferir o quanto cada ência à autoridade dos pais”, esse pareceu
uma era percebida como grave; (b) a ati- justificar, em boa medida, que a prática
tude frente a cada uma, sendo que o teor parental disciplinar se valesse de punições
das vinhetas variava em função da idade corporais, desde que não concorresse para
da criança envolvida na situação descrita, danos físicos evidentes e/ou potenciais.
do comportamento apresentado por ela Assim, a ação tendia a ser considerada
e do que motivava a ação do adulto; (c) a moderadamente grave pela maioria dos
ação do adulto, se de natureza física e di- respondentes e a atitude diante da notifi-
reta sobre o corpo da criança ou não, qual cação era menos favorável. Outra variação
a intencionalidade do adulto em agir da observada relacionou-se às conseqüências
forma como agia, as conseqüências desta para as crianças, indicadas nas vinhetas.
ação para a criança, se concorria para al- As ações parentais eram apreciadas como
gum dano físico, evidente ou potencial... mais graves se deixavam marca (ou tem
Os resultados obtidos indicaram que, de grande potencial para ferir), evidenciando
modo geral, a maioria dos estudantes o dano, ao passo que ações que podiam
concebeu todas as situações representa- deixar “marcas psicológicas” tendiam a ser
das como grave, sendo que quanto mais apreciadas como menos graves. Tais resul-
nova a criança envolvida na situação maior tados corroboram os de outros estudos re-
a tendência a avaliar o comportamento alizados em outros contextos sócio-cultu-
parental como muito grave e, diante dis- rais. Novos estudos devem ser conduzidos

1056
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

na realidade brasileira, envolvendo outros pericial se constitui como elemento funda-


segmentos de profissionais que trabalham mental para que seja provada a materiali-
com crianças, bem como com amostras da dade do delito, uma vez que apenas uma
população em geral. pequena parcela dos casos produz vestí-
gios físicos. Um dos objetivos da perícia
Palavras-chave: notificação de maus-tratos psicológica consiste em avaliar o possível
infanto-juvenis, percepção comunitária, dano psíquico, sofrido pela suposta vítima,
violação de direitos em decorrência da situação vivenciada. O
Contato: Marina Rezende Bazon, FFCLRP-USP, estabelecimento deste objetivo é extre-
mbazon@ffclrp.usp.br mamente razoável, uma vez que muitos
estudos têm investigado as possíveis con-
seqüências psíquicas do abuso sexual no
LT06-1210 - SINTOMATOLOGIA desenvolvimento de crianças e adolescen-
ASSOCIADA À VIOLÊNCIA SEXUAL tes e apontado uma variedade de prejuí-
INFANTIL NO CONTEXTO PERICIAL zos emocionais, comportamentais, sociais
PSICOLÓGICO e cognitivos, associada à ocorrência deste
Lara Gava - UFRGS e DML/RS tipo de violência. Pesquisas apontam que
laralagesgava@gmail.com crianças vítimas de violência sexual podem
Doralúcia Silva - UFRGS apresentar sentimentos de culpa, dificul-
doralu.gil@gmail.com dade em confiar no outro, comportamento
Débora Dell’Aglio - UFRGS hipersexualizado, medos, pesadelos, isola-
dalbosco@cpovo.net mento, sentimentos de desamparo e ódio,
fugas de casa, abuso de substâncias, baixa
A violência sexual infantil é definida como autoestima e agressividade, dentre outros
qualquer interação entre a criança ou ado- sintomas. Transtornos psicológicos como
lescente e alguém em estágio sexual de Transtorno de Estresse Pós-Traumático
desenvolvimento mais adiantado, que te- (TEPT), depressão, ansiedade e Transtor-
nha por fim a satisfação sexual deste últi- no de Déficit de Atenção e Hiperativida-
mo. Apresenta-se sob a forma de práticas de (TDAH) também têm sido associados
eróticas e sexuais impostas à criança ou à ocorrência de abuso sexual na infância.
adolescente pela indução ou coerção. Este Considerando estas evidências, na área
tipo de violência também se apresenta pericial, muitas vezes, as avaliações psi-
através do uso da criança ou adolescente cológicas - que, neste contexto, possuem
para realização de performances sexuais, um cunho investigativo - são realizadas a
produção de materiais pornográficos e partir de uma abordagem da psicologia
exploração sexual. As interações, portan- clínica, com enfoque na presença ou au-
to, podem variar desde atos em que não sência de sintomas que são esperados nas
se produz o contato sexual (voyeurismo, vítimas, em decorrência da vivência desse
exibicionismo, produção de fotos) até atos tipo específico de trauma. A lógica subja-
que incluem contato sexual com ou sem cente que parece justificar este modo de
penetração. Em se tratando de casos de realização da perícia é esta: assim como
suspeita de violência sexual contra crian- um dano físico, identificado numa perícia
ças e adolescentes, a avaliação psicológica física, pode se constituir em um meio de

1057
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

prova da violência sexual, também um forense, este estudo possui como objeti-
dano psíquico, identificado numa perícia vo analisar a sintomatologia encontrada
psíquica, poderia vir a se constituir em um em crianças e adolescentes, supostamen-
meio de prova do fato delituoso. Contudo, te vítimas de abuso sexual, submetidas à
este tipo de raciocínio, que parece ter sen- perícia psicológica por solicitação de auto-
tido quando se considera a série de preju- ridade jurídica. Para tanto, foram analisa-
ízos psíquicos associados à ocorrência do dos 162 laudos do Departamento Médico-
abuso sexual, é problemático do ponto de -Legal do Rio Grande do Sul, resultantes
vista da produção da prova pericial, po- de perícias psiquiátricas e psicológicas re-
dendo prejudicar ou mesmo deturpar os alizadas em supostas vítimas entre 7 a 17
resultados da avaliação. Em primeiro lu- anos (M=10,92; DP=2,61), sendo 20,4% de
gar, este raciocínio é problemático porque meninos e 79,6% de meninas, com 64,8%
enquanto algumas vítimas desenvolvem de abuso do tipo intrafamiliar e 26,5%, ex-
severos problemas emocionais ou psiqui- trafamiliar. Estes laudos foram decorrentes
átricos, outras apresentam conseqüências de avaliações solicitadas por delegados
mínimas ou nenhuma conseqüência apa- de polícia, promotores de Justiça e juízes
rente. Se pode acontecer de uma criança de todo o Estado do Rio Grande do Sul. O
ou adolescente ser vítima de abuso sexual projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
e não apresentar nenhuma consequência em Pesquisa do Instituto de Psicologia da
aparente, então, uma avaliação que possui Universidade Federal do Rio Grande do Sul
como foco principal a identificação de sin- e pelo Conselho Técnico-Científico do De-
tomas, certamente, não será capaz de ava- partamento Médico-Legal. Os dados foram
liar consistentemente a situação em foco. digitados em planilha eletrônica para aná-
Além disso, a concepção de que a presen- lises estatísticas descritivas e inferenciais.
ça de um sintoma pode se constituir num Verificou-se que, nos laudos em que foi
meio de prova do crime é falha no contex- possível afirmar a probabilidade de ocor-
to pericial, em segundo lugar, porque não rência do abuso (n=119), prevaleceram as
há um único quadro sintomatológico que seguintes alterações emocionais e com-
caracterize a maioria das vítimas abusa- portamentais: medo ou pânico (47,3%),
das sexualmente, sendo extremamente ansiedade (38,7%), sintomas depressivos
variada a gama de possibilidades de al- (46,2%), prejuízo no desempenho escolar
terações emocionais e comportamentais (28,6%), alterações do sono (21%) e iso-
apresentada. Por fim, não se pode concluir lamento social (20,2%). Também foram
a ocorrência do abuso sexual a partir da observadas reações patológicas relacio-
identificação de sintomas na realização de nadas ao estresse, em 18,5% dos casos.
uma perícia, uma vez que estes, quando Não foram encontradas diferenças signifi-
presentes, não são específicos, isto é, po- cativas entre os sexos e por tipo de abu-
dem ser decorrentes, também, de outra so. Conclui-se que, embora não exista um
situação que não a sexualmente abusiva. quadro único sintomatológico em vítimas
Considerando as peculiaridades da iden- de abuso sexual, alguns sintomas apresen-
tificação das consequências do abuso se- tam maior prevalência e, por isso, devem
xual para o desenvolvimento da criança e ser observados na avaliação destes casos.
do adolescente, em relação ao contexto No entanto, é importante considerar que

1058
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

a avaliação deve incluir outros aspectos, por parte da vítima (Berger, 2007). Alguns
além do levantamento dos sintomas, prin- autores (Olweus, 1993; Smith & Brain,
cipalmente, no que se referem às caracte- 2000) consideram o bullying como sendo
rísticas contextuais e do relato da suposta um poderoso processo de controle social
vítima sobre o evento abusivo. e entendem o agressor como um indiví-
duo que procura poder e liderança dentro
Palavras-chave: sintomatologia, violência do grupo de iguais. O agressor tem sido
sexual, perícia psicológica apontado como aquele aluno que, apesar
Contato: Lara Gava, UFRGS e DML/RS, de popular e bem aceito pelos colegas, se
laralagesgava@gmail.com envolve em comportamentos antissociais
(Lopes, 2005); sente prazer e satisfação
em dominar, controlar e causar dano aos
LT06-1394 - PERFIL DOS AGRESSORES DE outros e, geralmente, é mais forte que a
BULLYING vítima e apresenta uma tendência maior
Cláudia de Moraes Bandeira - UFRGS para comportamentos de risco, como
consumir tabaco, álcool ou outras drogas
kkbandeira@hotmail.com
e porte de armas; vê sua agressividade
Claudia Giacomoni - UFRGS
como qualidade, tem opiniões positivas
giacomon@uol.com.br
sobre si mesmo e possui boa autoestima.
Cláudio Simon Hutz - UFRGS
Autoestima é uma avaliação que o indiví-
claudio_hutz@terra.com.br
duo efetua e, comumente, mantém, em
Financiamento: CAPES relação a si mesmo (Rosenberg, 1989).
Algumas crianças se posicionam tanto
Bullying é uma subcategoria do compor- como vítimas quanto como agressores,
tamento agressivo, que ocorre entre os sendo denominados de vítima/agressor.
pares (Olweus, 1993) e, comumente, é um Conforme Lopes (2005), estas crianças
problema enfrentado por crianças e ado- apresentam uma combinação de baixa au-
lescentes, nas escolas ao redor do mun- toestima, atitudes agressivas e provoca-
do. Caracteriza-se por ser uma crueldade tivas e prováveis alterações psicológicas,
sistemática, voltada diretamente para al- merecendo atenção especial. Podem ser
guém, por parte de uma ou mais pessoas, depressivos, ansiosos, inseguros e inopor-
com a intenção de obter poder sobre o ou- tunos, procurando humilhar os colegas
tro ao lhe infligir, regularmente, sofrimen- para encobrir suas limitações. Juntamen-
to psicológico ou físico. O bullying pode te com o grupo de agressores, as vítimas/
ser definido como uma agressão persis- agressores estão mais suscetíveis ao uso
tente e prolongada de um aluno ou mais, excessivo de cigarros, álcool e outras subs-
denominado(s) agressor(es), sobre outro tâncias. Este grupo apresenta risco mais
que se apresenta mais fraco e vulnerável, elevado para apresentar severas ideações
denominado vítima (Bandeira, 2009). O suicidas, além de vários tipos de compor-
agressor é aquela criança que age de for- tamento de risco, anti-social e de violên-
ma agressiva contra outra, supostamente cia, quando comparadas a crianças que
mais fraca, com o intuito de machucar, não estão envolvidas em bullying (Liang,
prejudicar, sem ter havido provocação Flisher & Lombard, 2007). Em se tratando

1059
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de vítimas/agressores, é importante fazer df=2, p<0,05). Além disso, os meninos se


distinção entre comportamento agressi- identificaram mais como agressores do
vo proativo e reativo. O comportamento que as meninas (χ²=15,4, df=4, p<0,05).
agressivo proativo, utilizado pelos agres- Os ataques foram realizados por dois ou
sores típicos, envolve tentativas de in- mais alunos em 67,7% dos casos. O tipo
fluenciar o outro através de meios aversi- de bullying mais utilizado pelos agresso-
vos, em uma situação não provocada (Gini res foi o do tipo verbal, com a utilização
& Pozzoli, 2006); é um comportamento de apelido, insulto ou deboche (70,7%),
voluntário, deliberado e influenciado por seguido do tipo físico, com a utilização de
reforços externos (Lisboa, 2005). Já o empurrão, chute ou soco (15,4%). Quan-
comportamento agressivo reativo, tipo de to ao sentimento dos agressores em rela-
agressão utilizada pelas vítimas/agresso- ção aos ataques, 35,9% afirmaram que o
res, é um ato impulsivo em resposta a uma fato foi engraçado; 24,4% disseram que se
provocação ou ameaça percebida (Gini & sentiram mal; 18,7% acreditaram que os
Pozzoli, 2006) e consiste em uma resposta outros fariam o mesmo com eles; 13,4%
defensiva de raiva (Lisboa, 2005). O pre- afirmaram que não sentiram nada; 12,6%
sente estudo teve por objetivo investigar disseram que as vítimas mereciam; 6,1%
algumas das características dos agressores se sentiram bem e 3,4% ficaram com
de bullying. A amostra foi composta por medo de serem descobertos. A ANOVA
465 adolescentes, de ambos os sexos, com apontou para uma interação entre sexo e
idades entre nove e dezoito anos (M = papéis de bullying em relação à autoesti-
13,4 anos; dp = 1,47), estudantes de quar- ma [F(3,398)= 2,95; p<0,05]. Testes Post
tas a oitavas séries do Ensino Fundamen- Hoc (Tukey) demonstram que as meninas
tal de três escolas, públicas e privadas, da agressoras têm maior média de autoes-
cidade de Porto Alegre, RS. Dentre estas tima (M=3,01, dp=0,40) que o grupo das
crianças, 52,7% pertenciam ao sexo mas- vítimas/agressoras (M=2,78, dp=0,37,
culino. Os instrumentos utilizados foram p<0,05, d=0,6). Em relação aos meninos
um questionário sobre bullying, com 15 não foi encontrada a mesma relação, pois,
questões de múltipla escolha e a Escala de de acordo com os resultados, os meninos
Autoestima de Rosenberg (Hutz & Zanon, agressores não possuem melhor imagem
2011). Os dados foram coletados de for- corporal nem melhor autoestima que os
ma coletiva nas escolas, após autorização demais envolvidos em bullying. Com os
das mesmas e consentimento dos adoles- resultados encontrados no presente es-
centes e dos pais. Foram calculadas esta- tudo, é possível afirmar que os agressores
tísticas descritivas e testes Qui-quadrado. possuem características distintas, quando
Os resultados mostraram que 50,0% dos são analisadas algumas diferenças entre
ataques foram realizados por meninos; os sexos. Concluiu-se, por exemplo, que a
31,2%, tanto por meninos quanto por maioria dos agressores é de meninos e re-
meninas e 18,8%, por meninas. Foram en- aliza os ataques com outros colegas. Além
contradas diferenças significativas entre disto, os agressores tendem a agredir mais
os sexos, mostrando que os meninos são colegas do mesmo sexo e se utilizam mais
mais agredidos por meninos e as meninas da agressão verbal. Desta forma, progra-
são mais agredidas por meninas (χ²=47,2, mas de prevenção que visam atingir os

1060
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

agressores devem levar em consideração ças não abusadas. O risco de drogadição,


as diferenças existentes entre os sexos, prostituição, problemas de aprendizado,
quanto ao fenômeno em estudo. promiscuidade e queixas somáticas, dis-
túrbios na sexualidade, depressão, suicí-
Palavras-chave: bullying, agressores, perfil dio e dificuldades de relacionamento são
Contato: Cláudia de Moraes Bandeira, UFRGS, manifestações tardias de todas as formas
kkbandeira@hotmail.com de violência contra a criança e o adoles-
cente. Considerando, essencialmente, as
LT06-1450 - CARACTERÍSTICAS questões ligadas aos problemas de apren-
SOCIAIS E COGNITIVAS DE CRIANÇAS dizagem e ao déficit cognitivo, a avaliação
E ADOLESCENTES VITÍMAS DE MAUS psicológica apresenta-se como um méto-
TRATOS do para a obtenção de dados relativos às
Josiane Puchalski - UCPEL capacidades de indivíduos, em diferentes
josipuchalski@hotmail.com áreas. A investigação da inteligência au-
Vera Lúcia Figueiredo - UCPEL xilia no diagnóstico de quadros de super
verafig@terra.com.br e infra dotação, permitindo identificar o
funcionamento intelectual e possibili-
As estatísticas evidenciam que a questão tando o planejamento de recursos psico-
dos maus tratos é um grave problema de pedagógicos que estimulem o desenvol-
saúde pública, exigindo que providências vimento de habilidades defasadas. Uma
sejam tomadas por todos os segmentos das estratégias empregadas na avaliação
da sociedade. A violência contra crianças psicológica, nas diferentes áreas de atua-
pode ser considerada um fator de risco ção profissional, é o teste psicológico. O
para o desenvolvimento, devido às conse- estudo objetivou identificar o potencial
qüências cognitivas, emocionais, compor- cognitivo de crianças e adolescentes víti-
tamentais e sociais que são relacionadas mas de violência intra/extra familiar, ofe-
à sua ocorrência. A reflexão sobre os con- recendo subsídios à orientação de profis-
ceitos dos diferentes tipos de maus-tratos sionais sobre o potencial intelectual desta
e as idéias a eles associadas contribuem população. Foram estudados 67 crianças
para o entendimento de quanto esses e adolescentes, de ambos os sexos, víti-
atos estão presentes em nosso cotidia- mas de maus-tratos, da cidade de Pelotas
no. Tais práticas variam desde a privação (RS), recebidos em um núcleo que oferece
de cuidados e abuso sexual, até inciden- atendimento especializado a vítimas de
tes nos quais as crianças são fisicamente violência. Os participantes tinham entre 6
maltratadas por um adulto, muitas vezes, e 16 anos, com idade média de 11 anos,
resultando em trauma e, freqüentemente, sendo a maior parte da amostra do sexo
levando ao óbito. Estudos apontam que feminino. O instrumento utilizado foi a Es-
crianças violentadas apresentam diminui- cala Wechsler de Inteligência para Crian-
ção de QI e são dez vezes mais suscetíveis ças (3ª edição) WISC-III, o qual apresenta
à deficiência mental. Além disso, demons- uma multiplicidade de tarefas cognitivas,
tram comportamento pró-social diminu- com itens diversificados, de natureza ver-
ído, compartilhando menos com outras bal e de execução (manipulação de vários
crianças, quando comparadas com crian- objetos), tendo em vista a medida de uma

1061
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

globalidade funcional. A escala é compos- e capacidade de planejamento. Sabendo-


ta por seis subtestes verbais (Informação, -se que quanto mais precoces as inter-
Compreensão, Aritmética, Semelhanças, venções realizadas em crianças e adoles-
Dígitos e Vocabulário) e seis subtestes de centes, melhor o prognóstico; o apelo por
execução (Completar Figuras, Arranjo de fazer cessar a violência não pode ignorar
Figuras, Cubos, Armar Objetos, Código e que ela é plural: sua dinâmica e suas ma-
Procurar Símbolos). Os escores alcançados nifestações são diversas e, como tal, exi-
nos referidos subtestes permitem estimar gem combate diferenciado. Desta forma,
forças e fraquezas em diferentes habilida- percebe-se a necessidade de programas
des específicas, assim como avaliar os tra- de intervenção psicopedagógicos e ações
dicionais QIs Verbal, de Execução e Total, interdisciplinares no sentido de estimu-
além dos Índices Fatoriais de Compreen- lar capacidades cognitivas defasadas, as
são Verbal, Resistência à Distratibilidade, quais podem prejudicar a adaptação e o
Organização Perceptual e Velocidade de desempenho escolar. Assim como, novas
Processamento, dimensões relevantes no pesquisas neste campo para que os pro-
processo de aprendizagem. O termo de fissionais da área da saúde e educação te-
consentimento livre e informado foi as- nham melhores condições para formular
sinado pelos responsáveis das crianças e e adaptar estratégias de prevenção, trata-
adolescentes avaliados. Com os pais ou mento e promoção de fatores de resiliên-
responsáveis foi realizada uma entrevista cia para essa população específica.
de anamnese. A grande maioria era com-
posta de pais separados e que não tinham Palavras-chave: características, crianças, maus
Ensino Fundamental completo. Além dis- tratos
so, mais da metade das crianças violen- Contato: Josiane Puchalski, josipuchalski@
tadas tinha algum familiar com problema hotmail.com
de alcoolismo. Entre estas crianças, 55%
já havia apresentado repetência escolar.
Segundo informações dos cuidadores, as LT01-938 - O CICLO DE VIDA FAMILIAR
crianças avaliadas demonstravam com- E O DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS
portamento agitado, ansiedade e irritabi- E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE
lidade. Sobre a avaliação da inteligência, VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR: PESQUISA E
apresentaram capacidade intelectual ge- INTERVENÇÃO
ral (QIT) Média Inferior. Quanto às habili- Maria Alexina Ribeiro - UCB
dades específicas avaliadas nos subtestes, alexina@solar.com.br
os resultados indicaram defasagens na Heron Flores Nogueira - UCB
área verbal, como: raciocínio verbal preju-
dicado, amplitude de informações limita- O reconhecimento de que os primeiros
da, memória e concentração diminuídas, anos de vida são cruciais para o desenvol-
raciocínio concreto e rigidez de pensa- vimento emocional do indivíduo, focalizou
mento. Na área de execução houve prejuí- a família como o lócus potencialmente
zos quanto à noção temporal, organização produtor de pessoas saudáveis, emocio-
perceptual, atenção a detalhes, coordena- nalmente estáveis, felizes e equilibradas,
ção visomotora, conceitualização abstrata ou como o núcleo gerador de inseguran-

1062
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ças, desequilíbrio e desvios de compor- cada da Universidade Católica de Brasília


tamento. Nesta perspectiva, poderíamos - UCB. As pesquisas têm mostrado que há
dizer que a principal função da família um padrão de comportamento dos mem-
é a defesa da vida, cabendo a ela a res- bros da família que tem como desfecho a
ponsabilidade pela criação e formação de violência e, portanto, todos estão envolvi-
seus membros, assegurando-lhes não só a dos, seja de forma ativa (tendo um com-
manutenção da vida, mas também a qua- portamento violento) passiva (sofrendo
lidade de vida. A família contemporânea, a violência) ou como observador do que
entretanto, tem encontrado inúmeras está acontecendo entre duas ou mais pes-
dificuldades para cumprir suas funções soas, mas todos sofrendo as consequên-
psicossociais. Vivemos um momento de cias diretas ou indiretas da convivência em
intensas e rápidas mudanças sociais – o um contexto onde a violência permeia as
trabalho de ambos os pais, alto índice de relações entre as pessoas. A partir desses
divórcios e recasamentos, perda do sen- dados, observamos que é difícil desagre-
tido de tradição, valores culturais pouco gar as diferentes formas de violência, físi-
claros, mudança dos papéis dentro da fa- ca, psicológica e sexual que acontecem no
mília, etc. – que interferem nos padrões contexto familiar, para compreender suas
de relacionamento entre os membros características e consequências, uma vez
da família e requerem, dessa instituição, que aparecem concomitantemente. As-
uma capacidade de adaptação e reestru- sim, não consideramos razoável afirmar
turação muito rápida para continuar cum- que os comportamentos dos filhos são
prindo as novas exigências e solicitações consequência da violência praticada pe-
que lhe são apresentadas. Dessa forma, a los pais ou o contrário, ou seja, que a vio-
família, que deveria ser o principal ponto lência dos pais tem como consequência o
de apoio do indivíduo, muitas vezes, aca- comportamento problemático dos filhos.
ba se tornando a maior fonte de violência, Preferimos afirmar que todos os membros
principalmente para mulheres, crianças e da família fazem parte de uma dinâmica
adolescentes. Os dados sobre a violência onde suas relações são permeadas pela
intrafamiliar estão estampados, constan- violência, o que vem confirmar a visão
temente, na mídia, nos relatórios policiais da violência intrafamiliar como um sinto-
e estatísticas governamentais, porém, é ma de um sistema disfuncional. As pes-
de conhecimento geral que estes mostram quisas adotam a metodologia do Grupo
apenas uma parte do problema, pois um Multifamiliar (GM) e utilizam técnicas de
grande número de casos é mantido em se- levantamento de dados e intervenção da
gredo dentro da família, devido ao medo, terapia familiar sistêmica. Essa metodolo-
vergonha ou conivência de familiares, gia permite o conhecimento da dinâmica
vizinhos e da própria vítima. O objetivo das famílias onde há violência, ao mesmo
do presente trabalho é apresentar dados tempo em que oportuniza uma reflexão
de 10 anos de pesquisas sobre violência sobre a qualidade dos vínculos familia-
intrafamiliar em Brasília/DF, envolvendo res e sociais estabelecidos pelos sujeitos,
famílias que são encaminhadas pela Justi- culminando na busca de novas formas
ça para acompanhamento psicossocial no de relacionamento. Os encontros do GM
Centro de Formação em Psicologia Apli- têm objetivos específicos que estão rela-

1063
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cionados com problemas que são comuns uma maneira de produzir conhecimento e
às famílias participantes, tais como: rela- viabilizar as mudanças necessárias. Além
cionamento pais/filhos, relacionamento disso, uma estratégia de intervenção pos-
conjugal, ciclo de vida familiar, o cuidado sível dentro da perspectiva da pesquisa-
e a proteção da criança e do adolescente, -ação é a visita domiciliar. A violência
formas de educação dos filhos, construção é um fenômeno interacional (Brandão,
da história da família, padrões transgera- 2001), que apresenta implicitamente a
cionais de comportamento violento, co- noção de controle, numa demonstração
municação e expressão de afetividade, au- de poder na relação estabelecida (Guerra,
toestima, perspectiva de futuro da família. 1985; Faleiros & Faleiros, 2007), por meio
do uso da força, objetivando excluir, abu-
Palavras-chave: família, violência, violência sar e aniquilar (Minayo, 2002). A violência
intrafamiliar. contra crianças e adolescentes implica
Contato: Maria Alexina Ribeiro uma transgressão no poder/dever de pro-
alexina@solar.com.br teção do adulto e da sociedade em geral
e numa coisificação da infância. Ou seja, a
negação do direito que crianças e adoles-
LT05-1401 - PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA centes têm de serem tratados como sujei-
FÍSICA INTRAFAMILIAR CONTRA tos e pessoas em condições especiais de
CRIANÇAS: A VISITA DOMICILIAR NA crescimento e desenvolvimento (Minayo,
PESQUISA-AÇÃO 2002). As alternativas encontradas para
Alciane Barbosa Macedo Pereira - UEG/UnB tal fenômeno estão relacionadas à ade-
barbosaalciane@gmail.com quação do poder sob a criança e o adoles-
Maria Inês Gandolfo Conceição - UnB cente para a proteção dos mesmos e não
inesgandolfo@gmail.com a reprodução da coisificação da infância a
Financiamento: CAPES partir de um olhar adultocêntrico. Outro
ponto importante é diferenciar a autori-
A prevenção da violência contra crianças dade da violência. E, além disso, partir do
se torna necessária tendo em vista que princípio de que crianças e adolescentes
atos violentos são praticados contra aque- são sujeitos de direito e por isso, portado-
les que deveriam ser protegidos em seu res de cidadania. O estudo é um recorte
desenvolvimento, com base na exigência da dissertação de mestrado denominada
legal da proteção integral preconizada de “Desligamento entre participantes e
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pesquisadores de uma pesquisa-ação so-
de 1990. Essa prevenção pode dar-se de bre violência física intrafamiliar” e objeti-
diferentes maneiras e nos mais diferentes vou discutir a utilização da visita domici-
espaços. Na família, onde ocorre a prática liar como estratégia metodológica e prá-
da violência contra crianças, particular- tica educativa na pesquisa em questão. O
mente a de cunho físico, justificada pela trabalho realizado se deu a partir da análi-
necessidade de “educar”, intervenções se das informações construídas, gravadas
a fim de promover saúde e prevenir vio- e transcritas em uma pesquisa-ação sobre
lência se tornam extremamente neces- prevenção da violência física intrafamiliar,
sárias. Nesse contexto, a pesquisa-ação é desenvolvida junto a famílias de crian-

1064
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ças de um bairro de camada popular de prevenção da violência física intrafamiliar


Goiânia. Foram analisadas as transcrições contra crianças como forma de educar. As
de oito visitas domiciliares realizadas em visitas domiciliares realizadas às famílias
cada uma das cinco famílias visitadas por estudadas não somente ensejaram a bus-
uma das duplas de pesquisadores. A es- ca de outras vias que não aquela do uso
colha das visitas da dupla de entrevista- da violência física, bem como para tentar
dores se deu devido à possibilidade de evitar outros tipos de violência, tais como
acesso a todo o material construído por a negligência, e a violência emocional ou
elas. As famílias em foco têm filhos(as) psicológica. As ações junto às famílias po-
crianças de 9 e 10 anos que são atendidos deriam ter sido potencializadas se fosse
por um dos programas de extensão de um realizado o que Brandão e Costa (2004)
instituto especializado nas temáticas da chamam de “Devolução” e que se trata
Infância, Adolescência, Juventude e Fa- de uma carta que os visitadores escrevem
mília, de uma universidade particular de para a família sobre o assunto conversa-
Goiânia. De acordo com Brandão e Costa do na visita, objetivando mostrar novas
(2004), a visita domiciliar é um meio para maneiras de pensar sobre a temática dia-
ajudar a família a encontrar um caminho logada. No entanto, os momentos de fe-
para a solução dos problemas para aquilo chamento e o aquecimento a cada nova
que gera preocupação. Nas famílias visita- visita, além da visita de encerramento
das a temática central que foi o objeto da também buscaram levar a novas refle-
pesquisa é a prevenção da violência física. xões. São necessários ainda mais estudos
Dos resultados encontrou-se que uma al- e propostas para se pensar em alternati-
ternativa encontrada pelas visitadoras na vas para educar crianças e adolescentes
pesquisa-ação estudada para mudar as nos mais diferentes contextos, sem o uso
práticas “educativas” violentas, principal- da violência. A visita domiciliar inserida
mente em relação à violência física, foi o na pesquisa-ação se mostra como boa al-
estabelecimento de “combinados”. Neles, ternativa para a realização de novos tra-
as visitadoras junto a os participantes de balhos sobre a temática. Conclui-se que a
cada família estabeleciam acordos para visita domiciliar é uma ferramenta clínica
substituir as práticas violentas por ma- privilegiada, devido seu caráter terapêu-
neiras de educar que partissem do res- tico na capacitação das famílias para uti-
peito ao outro e do diálogo. De acordo lizarem seus próprios recursos a fim de
com classificação de Martins e Bucher- lidarem com as problemáticas cotidianas.
-Maluschke (2005), nas famílias onde
não há a violência, o diálogo é a base Palavras-chave: visita domiciliar, pesquisa-
das relações entre pais e filhos e não há ação, violência intrafamiliar
a agressão física com o intuito de educar Contato: Alciane Barbosa Macedo Pereira,
e com o poder disciplinador. Dessa forma, UEG/UnB, alcianebarbosa@gmail.com
nas famílias em que a possibilidade de ex-
tensão do diálogo entre os participantes
foi possível, provavelmente viabilizou-se
também a prevenção de práticas educa-
tivas não violentas e assim, a busca pela

1065
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 44 - LT07 apresentando os colegas de classe. Des-


te corpus, destacamos um trecho no qual
Inclusão/Deficiência esta nos apresenta Luciana (nome fictício).
Luciana possui uma história de alternância
entre duas escolas do mesmo bairro e, se-
LT07 – 868 - O DESENVOLVIMENTO DO
gundo um relatório de 2005, apresentava
CORPO/SUJEITO NO CONTEXTO DA
um quadro de dificuldade de aprendiza-
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES
gem e de agressividade. No ano de 2009,
TEORICO-METODOLÓGICAS DA
Luciana retornava à escola pesquisada
PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL
após os dois anos na outra escola, consi-
Flavia Faissal de Souza - FE/UNICAMP derada mais “fraca”. A aluna, que reside
ffaissal@unicamp.br em uma região do bairro mais empobre-
Financiamento: CNPq cida, teve, no decorrer do ano letivo, um
desempenho pedagógico coerente com a
Nosso estudo integra uma pesquisa coleti- maioria da classe e sua postura era bastan-
va que investiga as condições de desenvol- te retraída, ficava quase sempre sozinha. O
vimento humano e as relações de ensino objetivo desta apresentação é colocar em
na contemporaneidade, cujo campo em- discussão como os conceitos de vivência/
pírico é uma escola pública do município experiência, acabamento estético e agir
de Campinas/São Paulo. Interessados na ético, elaborados por L.S. Vigotski e por M.
constituição social do corpo a partir da Bakhtin, podem contribuir para analisar a
perspectiva histórico-cultural, nosso es- constituição do corpo/sujeito posto/que
tudo aborda os impactos das políticas de se põe à margem nas diversas práticas do
educação inclusiva no desenvolvimento de cotidiano escolar. Nas palavras de Vygotsky
corpos/sujeitos com deficiência. Contudo, (2000, p.03) “Tornamo-nos nós através do
inseridos no contexto de uma escola públi- outro”. Assumimos que o corpo/sujeito vai
ca de periferia, outras questões se abrem. se constituindo na incorporação de senti-
Não só os alunos com deficiência nos cha- dos e significados antes postos entre, no
mam atenção, mas também outros corpos mínimo, dois sujeitos. Contudo, o que é
que, mesmo não marcados pela deficiên- incorporado do vivido/experenciado “[...]
cia, vão ocupando posições marginais nes- é resultante daquilo que impacta e é com-
te contexto. O lugar de nossas indagações preendido, significado, pela pessoa. [...]
foi uma sala de aula de quinto ano do ensi- Não existe experiência sem significação.
no fundamental, composta por 35 alunos, [...] Falar de experiência é falar de corpo/
sendo 03 com deficiências. No decorrer de sujeito afetado pelo outro/signo [...] É falar
um ano, freqüentamos a sala semanalmen- da vida impregnada de sentido” (SMOLKA,
te. Os registros do vivido em campo foram 2006, p. 107). Bakhtin (1995) nos fala do
realizados por meio de videogravações, au- corpo signo. Organismo e mundo encon-
diogravações, diário de campo, fotografias, tram-se no signo. O corpo é signo, uma
entre outros. Do material empírico ana- arena de lutas sociais, pois traz em seus
lisado, trazemos para este trabalho uma significados índices de valores contraditó-
situação na qual a “melhor aluna da sala”, rios, enquanto se constitui na disputa de
empoderada pela câmera de filmagem, vai valores ideológicos. Na dinâmica do mun-

1066
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do, nas relações interpessoais, corpos in- o olhar do outro e se apropria desta experi-
teragem afetando o outro e se afetando. ência com o outro. Por esse prisma do sig-
Vigarello (1978, p.09) afirma que o corpo no, do significado, da significação, do corpo
“[...] é o emblema onde a cultura escreve marcado pelo olhar do outro, da recíproca
seus signos tanto como um brasão”. Detrez constituição entre subjetivo/coletivo, nos
(2002) assume que o corpo é o lugar de indagamos sobre imagens e conceitos que
todos os paradoxos. Marzano (2007), por vão sendo veiculados sobre ser um corpo/
meio dos diversos olhares, nos aponta que sujeito: Como são lidas/interpretadas algu-
o corpo é a evidência da existência huma- mas marcas no corpo – da cabeça aos pés?
na. O corpo é polissêmico, é uma realidade O que se torna significativo nas relações
histórica, mutável e multifacetada. Bakhtin entre colegas? Do lugar que Luciana ocu-
(2003, 1993) ainda nos instiga a pensar em pa nas relações, o que – imagens, afetos,
como o olhar do outro, possível nas rela- conhecimentos - se mostra por ela incor-
ções sociais vivenciadas, nos afeta. Neste porado?
ato est(ético) de acabamento do lugar de
onde o outro não pode se ver, é produzido Palavras-chave: constituição do corpo/sujeito,
um conhecimento sobre o sujeito observa- estética, ética
do. Vigotski (2001, 2009) também nos traz Contato: Flavia Faissal de Souza, Faculdade de
elementos para pensarmos a atividade/ Educação/UNICAMP, ffaissal@unicamp.br
experiência estética. Ao levantar questões
sobre as possibilidades de conhecer este-
ticamente uma obra de arte, o autor nos LT07-1359 - ABORDAGEM HISTÓRICO-
coloca frente a questões da constituição do CULTURAL E O PROCESSO EDUCACIONAL
psiquismo humano: a atividade construtiva DE ESTUDANTES COM NECESSIDADES
complexa, na qual o contemplador constrói ESPECIAIS
e cria o objeto estético. Para se entender Ricardo Alain Leyva-Nápoles - UnB
o que está representado, requer-se reunir confie.fisio@gmail.com
e sintetizar os elementos dispersos da sua Sílvia Ester Orrú - UnB
totalidade; os sentimentos não estão conti- seorru@hotmail.com
dos na obra em si, mas em como quem per-
cebe é afetado pela obra. O ato de produzir A abordagem histórico-cultural como refe-
um conhecimento sobre o outro o qual eu rencial teórico para o trabalho junto a es-
contemplo é um ato intermitente de cria- tudantes com necessidades especiais nos
ção e recriação do outro. Ato no qual este incita a compreender que o processo de
conhecimento se torna matéria/condição ensino e aprendizagem deve contemplar
de vida, se torna uma experiência vivida. uma criteriosa relação entre mediação pe-
As múltiplas experiências vivenciadas pelo dagógica, cotidiano e formação de concei-
corpo/sujeito nas relações com os outros tos, possibilitando o encontro/confronto
vão constituindo o seu desenvolvimento. A das experiências diárias no contexto em
experiência vivida vai sendo significada e o que ocorrem para a formação de concei-
que se torna incorporado pelo sujeito não tos numa internalização consciente do que
é simplesmente o “como o outro me vê”, é vivenciado e concebido. O educador no
mas sim o “como o corpo/sujeito” significa processo de mediação deve explorar sua

1067
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sensibilidade para perceber quais os sig- troca de informações ou de comunicação


nificados construídos por seus estudantes mecanizada, mas numa perspectiva que
com referência aos conceitos que estão compreende as situações dialógicas com
sendo formados, sejam estes mais elemen- significado cultural. Valorizamos o trabalho
tares ou complexos (Vigotsky, 2000). Quan- educativo a partir da relação com o outro,
do falamos de aprendizagem, entendemos em busca da construção deste sujeito que
estarem implícitas todas as formas de co- está imerso na cultura de uma sociedade e
nhecimento, acadêmicos, do cotidiano, as em que, através da mediação pelo outro,
ações de afeto e sentimento e de valor. As pela linguagem, proporciona à criança ser
proposições de Vigotsky acerca da pessoa reconhecida como sujeito que, dentro de
com necessidades especiais e seu desen- suas possibilidades e recursos, também
volvimento são significativas com relação à interage (Vigotsky, 1989). Neste contexto,
determinação da maneira como essa con- o educador contribuirá em suas ações me-
dição deve ser compreendida e trabalha- diadoras na reconstituição e na melhora da
da no contexto da educação. Entendemos vivência emocional de seu estudante, para
que é essencial conferir-lhe o direito a seu que seu ser, revelado em suas ações, trans-
papel ativo na construção de seu desenvol- cenda as reações afetivas imediatas para
vimento, a partir de sua capacidade indivi- outras mais duradouras. Sob uma metodo-
dual de se apropriar e internalizar formas logia fundamentada na perspectiva do de-
sociais de comportamento como sujeito senvolvimento da linguagem, o estudante
histórico. Assim, ela passa a ser percebida passa a ser compreendido de outra forma,
e compreendida como indivíduo possuidor implicando ações diferenciadas por parte
de diferentes capacidades e potencialida- dos educadores que também se transfor-
des em emergência que devem ser enco- mam, a partir de seu papel de agentes de
rajadas como alicerce do desenvolvimento mediação. A linguagem contribuirá para a
das funções psicológicas superiores. É evi- compreensão e o estabelecimento de re-
dente que a apropriação do conhecimento gras que são formuladas nas relações com
é construída historicamente e mediada em o outro, por meio do diálogo. Nesta abor-
sua relação com o professor pela lingua- dagem, concebe-se o ser humano como
gem, cerne de tudo o que é social, que in- ser eminentemente simbólico e a lingua-
terage, dialoga e colabora para o exercício gem como responsável pelo processo de
da cidadania. Adota-se uma compreensão mudança de funções psicológicas interpes-
de homem em sua totalidade e uma edu- soais em intramentais, constituindo o pen-
cação em que se resguarda o espaço do su- samento, a consciência e as outras funções
jeito. Enfatiza-se que o sentido para o ho- psíquicas superiores, próprias da espécie
mem se constrói na linguagem e que nela humana. Quando falamos em educação in-
se encontram o diálogo e a interação em clusiva tendo em vista a abordagem histó-
que estão presentes o sujeito e o outro, a rico-cultural, remetemos-nos a uma educa-
todo instante (Orru, 2009). Portanto, o ob- ção de todos e para todos. Não é uma edu-
jetivo educacional é o desenvolvimento da cação centrada apenas no estudante com
linguagem como atividade constitutiva do necessidades especiais, mas uma educação
sujeito pela mediação do professor numa de qualidade para todos os estudantes da
perspectiva não reducionista a simples escola. Neste sentido, é necessário atentar

1068
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para que essa inclusão não seja precária, Ao contrário, deve frisar a flexibilidade e a
marginal e pouco visível (Amaral, 1995). mediação da aprendizagem, valorizando o
Não basta o estudante ser aceito na escola; que realmente foi aprendido e construin-
isto não significa que ele está incluído. Ele do novas formas de aprender. Entende-
precisa ter acesso a condições adequadas mos que ela deve respeitar as diferenças
oferecidas pela escola para ali permanecer tendo como meta um ensino de qualidade
e, de fato, se desenvolver, buscando-se o para todos.
seu êxito e respeitando-se seus limites. Ele
tem potencial e habilidades, mas também Palavras-chave: abordagem histórico-cultural,
tem especificidades a serem atendidas. É necessidades educacionais especiais, ensino e
esperado que a escola tenha uma proposta aprendizagem
educacional genuinamente inclusiva nesse Contato: Ricardo Alain Leyva Nápoles, UnB,
mesmo contexto. Os processos de ensino e confie.fisio@gmail.com
de aprendizagem precisam estar centrados
no estudante. As avaliações necessitam ser
adaptadas e compreendidas dentro de seu LT01-1436 - CONSCIÊNCIA REFLEXIVA E
contexto, de potencial de cada estudante, AUTORREGULAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE
mas também de seus limites. Uma avalia- CRIANÇAS COM BAIXO RENDIMENTO
ção que atente àquilo que o estudante re- ESCOLAR
almente aprendeu e que retome as demais Mônica Dorrenbach Luna - Faculdade Dom
questões de uma forma e em uma lingua- Bosco/PR
gem que ele possa rever e aprender. Perce- monicaluna@uol.com.br
bemos que a interação social, nas escolas,
tende a ser maior na hora dos intervalos; O seguinte estudo teve como objetivo
nos momentos destinados às atividades es- diagnosticar as condições da atividade
colares, junto aos demais, ela praticamente reflexiva e da regulação de conduta em
não ocorre, pois o estudante com necessi- crianças com baixo rendimento escolar e
dades especiais, em muitos momentos, se compará-las com as condições de crianças
encontra à parte, certas vezes sozinho, sem com alto rendimento escolar. Os processos
ter real atenção do educador no tocante às psicológicos centrais nessa investigação fo-
suas singularidades referentes ao aprendi- ram consciência reflexiva e autoregulação,
zado de conhecimentos escolares.É preci- formulados pela Psicologia Escola Soviéti-
so que a escola desenvolva uma postura de ca (Vigotsky, Leontiev, Luria) e de seus in-
valorização à diversidade. A escola é para térpretes (Díaz et al., 1993). A consciência
todos não porque somos todos iguais, mas reflexiva foi considerada como a função
porque temos os mesmos direitos, mesmo psicológica que se ocupa da autopercep-
sendo diferentes, e temos experiências di- ção das diferentes atividades da mente,
versas de nossos lares, diversos costumes, permitindo sua classificação, seu isolamen-
valores, princípios e preferências pessoais. to e controle. É consolidada no processo de
Portanto, a escola não deve se ater apenas intelectualização (significação, abstração e
à educação do comportamento e à verifi- generalização) que se dá durante a forma-
cação de conhecimentos aprendidos a par- ção dos conceitos científicos, apresentados
tir de avaliações homogêneas e inflexíveis. pela escola. A intelectualização e a consci-

1069
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ência dos processos mentais, por sua vez, rendimento escolar. Observou-se que o
engendram um crescente domínio volun- processo de autorregulação, avaliado pelo
tário sobre o próprio psiquismo (Vigotsky, nível de regulação da fala e por subcatego-
1987). Outro processo enfocado foi o de rias ligadas à regulação da conduta, encon-
autorregulação. Trata-se do processo psico- trava-se igualmente heterogêneo em am-
lógico de regulação deliberada da conduta. bos os grupos, não se caracterizando como
Inclui planejamento, monitoração e avalia- um processo correlacionado ao rendimen-
ção dos resultados da conduta pelo próprio to escolar. De outro lado está a consciência
sujeito (Luria, 1987; Díaz et al., 1993). Tem reflexiva, avaliada em sua capacidade de
sua gênese nas interações sociais, sendo a ativação, em sua ação sobre o próprio in-
linguagem o instrumento que media a in- telecto e em sua ação sobre os conceitos
ternalização dos comandos da conduta vo- científicos. Apresentou, na dimensão de
luntária. Sua consolidação se dá com o uso ação sobre os conceitos científicos, uma
da percepção generalizante, gerada pela diferença intergrupal significativa para dis-
consciência reflexiva na elaboração con- cussão: o prejuízo da capacidade voluntária
ceitual. Para a investigação foram selecio- dos alunos com baixo rendimento escolar
nados doze alunos do ensino fundamental, de formular explicações genéricas acerca
regular, de uma escola municipal de Curiti- de conhecimentos científicos que circulam
ba. Seis alunos apresentavam baixo rendi- no cotidiano escolar. As condições da ativi-
mento escolar, entre os quais havia cinco dade reflexiva e da regulação da conduta
meninos e uma menina com, ao menos, avaliadas apontaram, antes de tudo, dife-
dois anos de atraso escolar. Dos seis alunos renças interindividuais que, provavelmen-
com alto rendimento escolar, quatro eram te, compõem as dinâmicas particulares de
meninas e dois eram meninos com notas cada criança. A combinação diversificada
iguais ou acima de 80,0 (oitenta) em todas de condutas nas várias categorias exami-
as matérias, durante o ano letivo em curso. nadas sugere estilos de funcionamento
Todos cursavam a terceira série, três com diferentes de cada sujeito com baixo ren-
oito anos e três com nove anos de idade. dimento escolar, os quais, supostamente,
Os procedimentos de coleta e registro de engendram os avanços, os retrocessos ou
dados foram aplicados em um encontro in- a estabilidade psicológicos. Apesar disso,
dividual de, em média, uma hora e meia: regularidades puderam ser observadas e
uma entrevista semiaberta com treze ques- encontraram, no quadro teórico deste es-
tões, um problema lógico para resolver es- tudo, ressonância para discussão. Apenas a
crevendo, um quebra-cabeça com palitos categoria atividade reflexiva sobre os con-
de fósforo (para reconfiguração espacial), ceitos científicos apresentou regularidade
uma tarefa que reproduzia uma prova pe- significativa em todos os sujeitos exami-
dagógica com oito questões envolvendo as nados com baixo rendimento. No entanto,
cinco disciplinas escolares. A suposição de as seguintes características, apesar de não
partida era de que as crianças com baixo terem sido identificadas em todos os estu-
rendimento escolar apresentariam dificul- dantes em foco, também marcaram pre-
dades de atividade reflexiva e de autore- sença no grupo de baixo rendimento, por
gulação em situações de aprendizagem, exclusividade ou por maior freqüência do
quando comparadas às crianças com alto que no outro grupo. Na ativação da cons-

1070
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ciência reflexiva houve presença, em todas dos conceitos científicos e é a esta nature-
as crianças estudadas, de ativação da cons- za de construção intelectual que se refere
ciência reflexiva, quaisquer que sejam as a diferença entre grupos encontrada nesta
condições desta atividade. Significa dizer investigação. Uma vez prejudicada a for-
que todos os alunos de baixo rendimento mação de conceitos científicos, o processo
escolar foram capazes de mobilizar ativi- de intelectualização encontra-se também
dade mental para providenciar resposta às implicado, segundo trabalho de Vigotsky
perguntas autorreflexivas, mesmo que as (1987) já mencionado. Segue-se a limita-
respostas não fossem avançadas. Na ati- ção da atividade reflexiva e do movimento
vidade reflexiva sobre o próprio intelecto de autoregulação que qualificam o pensa-
houve freqüente restrição do conceito de mento e a personalidade.
atividade intelectual aos elementos da vida
escolar; freqüente ausência de consciência Palavras-chave: rendimento escolar –
da própria atividade mental; presença da autoregulação – atividade reflexiva
noção de intelecto invariável apesar da
concepção de aprendizagem controlável,
como se fossem aspectos distintos; presen- LT02-1475 - PSICODIAGNÓSTICO DE
ça da noção de controle da aprendizagem CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH E
por insistência, por repetição e freqüente SEUS RESPONSÁVEIS
atribuição de competência de avaliação da Petruska Oliveira Baptista - UFPA
aprendizagem a outrem, que não o próprio petruska@ufpa.br
sujeito. Na atividade reflexiva sobre con- Cindy Magrinelli
ceitos científicos observou-se dificuldade
de abstração para elaboração de conceitos As primeiras referências ao Transtorno de
em todos os sujeitos do grupo e na regu- Déficit de Atenção e Hiperatividade, citado
lação da conduta, freqüente dificuldade pela literatura médica como Transtornos
de antecipar verbalmente as ações a se- Hipercinéticos, surgiram em meados do sé-
rem encaminhadas em uma determinada culo XIX. Na década de 1940, surgiu a deno-
atividade. A diferença mais significativa minação lesão cerebral mínima, substituída
intergrupos, no processo de formação de em 1962 por disfunção cerebral mínima,
conceitos científicos, certamente não en- quando passaram a reconhecer que as alte-
cerra a idéia de que as crianças de baixo rações características da doença relaciona-
rendimento estejam desprovidas de pro- vam-se mais a disfunções em vias nervosas
cessos intelectuais, mas sim que estes se do que propriamente a lesões nas mesmas
encontram qualitativamente diferencia- (Rohde et. al, 2000). Embora com nomen-
dos dos de outras crianças. Ao chegarem claturas diferentes, os principais sistemas
à escola, as crianças apresentam conceitos classificatórios de doenças mentais atuais
de outra natureza (cotidianos – Vigotsky, – DSM-IV denomina a doença em questão
1987) e são capazes de promover ativida- de Transtorno de Déficit de Atenção e Hipe-
de reflexiva sobre este tipo de conceito e ratividade – TDAH, enquanto que o Sistema
sobre o próprio intelecto. A hierarquia e de Classificação Internacional de Doenças
a subordinação de classes de significados, (CID-10) a nomeia como Transtornos Hi-
entretanto, é uma característica particular percinéticos – eles convergem em grande

1071
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

parte no que diz respeito às diretrizes diag- tos extensivos também aos seus familiares,
nósticas para este transtorno (Rohde et. caso necessário. Participaram do estudo
al, 2000). Ainda segundo Rohde e colabo- crianças e adolescentes com diagnóstico
radores (2000), estudos nacionais e inter- confirmado de TDAH segundo os critérios
nacionais realizados majoritariamente com do DSM-IV, encaminhadas pelo serviço de
crianças em idade escolar, apontam uma neuropediatria do HUBFS, com ou sem
prevalência do TDAH entre 3 e 6%. Essas prescrição medicamentosa. Duas salas
crianças apresentam grande possibilidade destinadas ao atendimento psicológico. Fo-
de apresentar co-morbidades, cujo curso ram utilizados como instrumentos roteiro
chega a estender-se à adolescência e, por de entrevista de anamnese psicológica; o
vezes, à vida adulta (Rohde et. al, 2000; Achenbach Child Behavior Checklist (CBCL)
Pinna et. al, 2007). Ora, se as dificuldades e o Teacher’s Report From Ages 6-18 (TRF);
escolares constituem a principal queixa Escala de Maturidade Mental (Columbia) e
apontada pelos pais e portadores de TDAH o Teste das Matrizes Progressivas de Raven.
(Pastura et. al, 2005), fazendo com que es- A maior parte dos pacientes apresentou
tes procurem atendimento especializado, a um quadro clínico limítrofe para o diagnós-
importância de se fornecer um bom psico- tico de TDAH, não satisfazendo, portanto,
diagnóstico é de que possamos oferecer a os critérios para este diagnóstico, embora
esta demanda a possibilidade de conhecer alguns tenham apresentado muitos dos
melhor o problema e tratá-lo adequada- sintomas que caracterizam o transtorno
mente, buscando auxiliar o paciente, a fa- em questão. Desta forma, vale salientar o
mília e a escola. O aspecto da desinforma- que dizem Cypel (2000 citado em Brogio &
ção da população sobre o assunto, fazendo Corredato, 2003) e Rohde et. al (2000), no
com que acreditem, por vezes – e errone- que diz respeito ao cuidado que se deve ter
amente –, que os pacientes não consegui- ao diagnosticar uma criança como porta-
rão ter uma vida normal, pode também dora de TDAH, pois a desatenção, a hipe-
traduzir a importância do diagnóstico. Há ratividade ou impulsividade como sinto-
um desconhecimento acerca do TDAH na mas isolados podem indicar a presença de
própria esfera da saúde, assim, diagnosti- tantos outros problemas no ambiente ao
cando, ampliaremos o conhecimento da qual a criança está circunscrita. Observou-
doença aos demais profissionais da equipe -se que os pacientes apresentavam muitos
(Ballone, 2002). Respaldados, os profissio- sintomas, mas não preenchiam os critérios
nais da saúde poderão expandir seus co- diagnósticos para o TDAH em si. Logo estes
nhecimentos em direção ao atendimento pacientes e familiares foram encaminhados
especializado e às demandas da comuni- para redes de serviço, com objetivo de dar
dade, proporcionando a troca de saberes, continuidade ao psicodiagnóstico, ofere-
atendendo, desta maneira, os objetivos da cendo os encaminhamentos necessários
extensão que se dá na medida em que es- para a melhor assistência ao alcance desta
tendemos o conhecimento produzido na população.
academia à população. O objetivo deste es-
tudo foi realizar psicodiagnóstico de crian- Palavras-chave: Transtorno de Déficit
ças com diagnóstico de TDAH, encaminha- de Atenção e Hiperatividade (TDAH);
das pelo Caminhar, sendo estes atendimen- Psicodiagnóstico; Psicopediatria.

1072
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-805 - O DESAFIO DA habilidades ou superdotação, que estejam


EDUCAÇÃO ESPECIAL: QUAIS SÃO AS matriculados na rede pública de ensino re-
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA? gular. Com relação às nuances da prática,
Ana Paula Gomes Moreira - PUC/Campinas uma série de produções contundentes na
aana.moreira@yahoo.com.br área tem chamado a atenção para as con-
Adinete Sousa da Costa Mezzalira - PUC/ tradições e incoerências dos processos de
Campinas inclusão nas escolas de educação básica.
adinetecosta@hotmail.com Nesse sentido, muitas ações produzidas no
Raquel Souza Lobo Guzzo - PUC/Campinas interior das escolas brasileiras têm respon-
rguzzo@mpc.com.br dido à necessidade de melhoria dos indica-
dores nacionais, em detrimento da garantia
O cotidiano do psicólogo que privilegia a es- da qualidade do ensino oferecido nas salas
cola como espaço de atuação e intervenção de aula. As linhas das Diretrizes Nacionais
é revelador de uma infinidade de aspectos para a Educação Especial, promulgadas em
que, de alguma forma, circunscrevem o de- 2001, preconizam a ampliação do conjunto
senvolvimento infantil. Esta caracterização de educandos com necessidades especiais
decorre da compreensão de que a escola para aqueles que apresentem ‘dificuldades
funciona como um organismo vivo e dinâ- no processo de aprendizagem ou limita-
mico, em cujo cenário as relações humanas ções no processo de desenvolvimento não
são explicitadas, enquanto constituem e vinculado a uma causa orgânica ou rela-
são constituídas pelos sujeitos, especial- cionadas a condições, limitações ou defi-
mente, as crianças. Dentre esses aspectos, ciências’. Este formato sustenta o risco do
destacamos aqueles referentes à educação aumento das questões identificadas como
especial. No interior da escola, os profes- necessidades especiais, para abarcar os
sores de educação especial representam a “alunos problema”, sob o pretexto de en-
corporificação da Política Nacional de Edu- fraquecer o foco nas condições deficientes.
cação Especial na Perspectiva da Educação Este trabalho representa um ensaio reflexi-
Inclusiva, publicada em setembro de 2008. vo sobre a nossa inserção cotidiana como
Historicamente, contudo, a temática dos psicólogos escolares, por meio de um pro-
alunos com necessidades educacionais es- jeto de extensão existente nas escolas da
peciais tem sido incorporada nos registros rede de educação básica em um município
legais e nos textos de políticas públicas, no do interior de São Paulo. Ele visa revelar a
Brasil, desde a constituição de 1988 até a concretude deste risco e as suas trágicas
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- conseqüências. À educação especial tem
cional, promulgada em 1996. Enquanto sido oferecida a responsabilidade primei-
prática profissional, esta área vem se con- ra de educar toda e qualquer criança para
figurando como campo de expressão da in- moldá-la ao ideal de criança bem compor-
terface entre os saberes da Psicologia e da tada, que aprende domesticada e silencio-
Educação. Nos termos da Lei, o Decreto nº samente. Por outro lado e de maneira não
6.571, de 17 de setembro de 2008, regula- menos aviltante, a Psicologia, alocada na
mentou o atendimento educacional espe- área da saúde, legitima esta configuração
cializado aos alunos com deficiência, trans- ao receber as ‘queixas’ oriundas das insti-
tornos globais do desenvolvimento e altas tuições escolares e rotular as crianças (e

1073
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

não apenas as queixas) com códigos que in- não as tornam, necessariamente, vulne-
dicam suas ‘doenças’ ou classificá-las como ráveis, mas, que sugerem a oportunidade
portadoras de problemas de aprendizagem de articulação dos elementos de prote-
que, por sua vez, atestam sua incapacida- ção, os quais, felizmente, muitas vezes são
de para aprender e, portanto, para serem ofertados pelos profissionais de educação
dignas da escola. O peso desta realidade especial e pelos próprios psicólogos. Estes
surpreende ao indicar que a Psicologia não profissionais, que se envolvem mais com as
se desvencilhou, completamente, das tris- crianças do que as queixas devem, por con-
tes características que a introduziram no seqüência, assumir a tarefa de lutar para
universo escolar como uma disciplina nor- que este seja um horizonte para a escola e
matizadora e remediativa. No contexto do para todos aqueles que a constroem.
surgimento da figura do psicólogo escolar,
ele foi convocado à escola para resolver os Palavras-chave: psicologia escolar, educação
problemas que emergissem neste cená- especial, situação-limite
rio, a fim de ajustar as crianças que, por- Contato: Ana Paula Gomes Moreira, PUC-
ventura, não se adequassem aos padrões Campinas, aana.moreira@yahoo.com.br
de aprendizagem definidos pelo sistema.
Assim, a sociedade estaria isenta de suas
responsabilidades educativas enquanto a LT06-1009 - A INCLUSÃO DA PESSOA COM
Psicologia se constituiria como ciência que NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
referendava, por meio de seus recursos, os NO ENSINO PROFISSIONAL
traços da perspectiva liberal e positivista. A Alice Maria de Oliveira Souza - CEPA
reprodução desta configuração nos dias de alice.souza@cepeduc.com
hoje, todavia, se adéqua aos novos dispo- Ana Claudia Rodrigues Fernandes - UNB
sitivos, legais e práticos, como é o caso das anacrf@ibest.com.br
políticas de educação especial. Os desafios
da prática têm nos mostrado as facetas de Este trabalho surgiu das reflexões que fo-
um processo de inclusão que serve à exclu- ram realizadas durante o trabalho de uma
são, ao agregar as crianças que incomodam das autoras, enquanto coordenadora peda-
sob o rótulo de portadoras de necessida- gógica em uma instituição de ensino profis-
des especiais. Não estamos promovendo a sional, com pouquíssimos atendimentos a
desconsideração de possíveis dificuldades alunos com deficiência. Tem como objetivo
e limitações; ao contrário, estamos en- identificar as dificuldades encontradas no
fatizando que toda e qualquer educação processo de inclusão de alunos com ne-
deva ser especial, no sentido de garantir o cessidades educacionais especiais, possi-
desenvolvimento saudável de toda e qual- bilitando reflexão e socialização de idéias
quer criança. Assim, por outro lado, a cons- inclusivas com outros profissionais. Com a
tatação de que as crianças que inquietam, evolução da Humanidade, as pessoas com
desconsertam e incomodam são excluídas necessidades especiais foram deixando de
sob a proteção do termo especial, revela ser excluídas para fazerem parte da socie-
a possibilidade de ação. Do ponto de vista dade, mas, ainda encontram muitos empe-
psicológico, evidencia-se que estas crianças cilhos para verem seus direitos garantidos
estejam vivenciando situações-limite e que no seu dia a dia; a tendência inclusiva está

1074
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contida nos documentos oficiais, mas, na cia em educação na rede regular de ensino,
prática, não é o que acontece no interior buscaram se informar sobre a inclusão por
das escolas. Desde 1991, a Lei 8213 vem conta própria, já que a instituição não tem
garantindo uma participação mais efetiva promovido discussões acerca deste proces-
no mercado de trabalho, pois, garante ao so. Dos profissionais entrevistados, 13 ou
portador de necessidades especiais uma 65% deles, relataram acreditar que para
cota de vagas em empresas, variando de que o aluno com necessidades especiais
2% a 5% do quadro de funcionários, de- tenha acesso e permaneça na instituição
pendendo do total de empregados que a de ensino profissional, precisa que os pro-
mesma possuir. Entretanto, ainda existem fissionais sejam capacitados, sendo que 18
alguns obstáculos para que essa lei seja deles ou 80% não tiveram acesso à forma-
cumprida, que são as barreiras físicas e psi- ção docente voltada para o atendimento a
cológicas. A primeira diz respeito à falta de alunos com necessidades especiais. Com
rampas, corredores e portas com mais de relação ao conhecimento de instituição de
80 centímetros, banheiros próprios, dentre educação profissional que trabalhe com
outras. As barreiras psicológicas são ainda inclusão, 11 ou 55% dos entrevistados dis-
mais difíceis de serem ultrapassadas, pois, seram não conhecer nenhuma instituição
durante muito tempo, os portadores de ne- que atendesse a este público, enquanto os
cessidades especiais foram tratados como outros 09 ou 45% já tinham ouvido falar
incapazes, sendo-lhes negado o direito ao de instituição de ensino profissional que
desenvolvimento de suas potencialidades. trabalhasse com Inclusão da pessoa com
Para a realização deste trabalho, foi esco- Necessidades Especiais no Ensino Profis-
lhida a abordagem qualitativa de pesquisa, sional. Dos 20 entrevistados, 18 ou 90%
buscando uma compreensão da Inclusão não tiveram acesso a cursos de formação
da Pessoa com Necessidades Educacionais docente para atendimento a alunos com
Especiais no Ensino Profissional, além de Necessidades Especiais voltados para Edu-
buscar compreender como os profissionais cação Profissional e, apenas 02 ou 10%
que atuam em um instituto de educação dos entrevistados, já tinham tido acesso a
profissional de Anápolis/GO vêm lidan- esse tipo de formação. Sobre a questão da
do com a possibilidade de atender a esse oferta de apoio pedagógico especializado,
alunado. O instrumento utilizado para a por parte da instituição, para atendimento
coleta de dados foi a entrevista semi–es- aos casos de pessoas com necessidades
truturada, constando de 09 questões ob- especiais, 75% dos entrevistados (15) res-
jetivas e 04 subjetivas, que foi aplicada a ponderam que sim, enquanto 05, ou seja,
20 profissionais, entre eles professores e 25% responderam que não, que a institui-
funcionários técnico-administrativos. Na ção não oferecia apoio pedagógico. Com
entrevista, era solicitado ao participante relação à legislação que versa sobre a inclu-
demonstrar sua opinião sobre a inclusão são da pessoa com necessidades especiais
do aluno com Necessidades Educacionais na educação Profissional e no mercado de
Especiais no Ensino Profissional e Mercado trabalho, 85% disseram conhecê-la e 15%
de Trabalho Formal. Percebemos, durante afirmaram não conhecer tal legislação. A
as entrevistas, que embora a maioria dos maior parte dos entrevistados demons-
profissionais possuísse bastante experiên- trou ter conhecimento acerca da inclusão,

1075
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

respondendo ser esta “o direito do ser hu- e no mercado de trabalho, vemos grande
mano de aprender junto com todos sem divergência nas respostas, já que enquanto
discriminação”; outros responderam ser temos 01 entrevistado que acredita ser a
de suma importância para a participação escola especial ainda a mais adequada para
social das pessoas com necessidades es- promover a profissionalização do aluno
peciais. Somente 01 dos entrevistados res- com necessidade especial, enquanto outro
pondeu ser totalmente contra a inclusão: acredita que as escolas profissionais não fa-
“sou totalmente contra, pois o professor zem a verdadeira inclusão, fazendo “arran-
não está preparado para tal, nem o aluno jos” quando recebem alunos com necessi-
acompanha os demais colegas”. Outra en- dades especiais. Se quisermos, realmente,
trevistada relatou acreditar que da forma fazer a inclusão verdadeira, precisamos nos
como vem acontecendo nas escolas regu- preparar para recebermos os alunos com
lares, a inclusão não está sendo efetiva. necessidades especiais e capacitá-los para
Quando perguntados acerca do currículo, serem inseridos no mercado de trabalho,
13 dos entrevistados ou 65% respondeu em igual condição com os demais alunos.
que deve ser flexibilizado de forma a aten- Com este estudo concluímos que o insti-
der a todas as diferenças; 04 pessoas ou tuto de educação profissional em questão
20% responderam que deve ser diferente não se encontra preparado para realizar o
e outros 02 ou 10% responderam que deve atendimento a alunos com necessidades
ser diferente do que é oferecido aos de- especiais precisando, ainda, de uma dis-
mais alunos, além de flexibilizado; apenas cussão mais aprofundada sobre o assunto,
01 participante respondeu que “não deve capacitação dos profissionais envolvidos,
ser flexibilizado, pois, o aluno com neces- além de uma política voltada para a forma-
sidades especiais tem as mesmas habilida- ção integral da pessoa.
des racionais”. A maioria dos entrevistados
acredita ser importante para a pessoa com Palavras-chave: inclusão, educação
necessidades especiais ser incluída, tanto profissional, mercado de trabalho
no ensino profissional como no mercado de Contato: Alice Maria de Oliveira Souza, CEPA,
trabalho, para que se sinta útil e integrada alice.souza@cepeduc.com
à sociedade; 01 participante relatou acredi-
tar “que falta interesse dos profissionais da
educação para ofertar essa modalidade de LT06-1470 - LEIS PARA PESSOAS COM
educação e, também no mercado de tra- (D)EFICIÊNCIA: UMA PROTEÇÃO
balho em promover essa inclusão”; outro, NECESSÁRIA?
que acreditava que “é uma realidade ainda Sara Marques Bringel - Universidade de
distante, pois as pessoas com deficiência Salamanca/Espanha
adentram, as empresas na maioria das ve- sara.marques.10@hotmail.com
zes sem um curso profissionalizante”. Como
podemos perceber, em toda a pesquisa, fi- Este ensaio reflete sobre a realidade das
cou evidenciado que a instituição não está pessoas com (d)eficiência, pois, embora
promovendo discussões acerca da inclusão tenha aumentado a quantidade de leis
para os profissionais que ali atuam. Com direcionadas a esse coletivo, nosso país
relação à inclusão no ensino profissional continua, consideravelmente, ainda mui-

1076
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

to longe de tornar-se inclusivo. Ao longo começa nos EUA como a primeira lei eugê-
do século XX, especialmente nos últimos nica de “esterilização dos deficientes men-
sessenta anos, foram firmados e ratifica- tais” (termo utilizado até os dias atuais e,
dos mais de dez tratados internacionais geralmente, confundido com o que deveria
oriundos, essencialmente, do pós-guerra ser utilizado, que é “deficiência intelectual)
europeu, quando foram assassinadas mi- passa a ser concebido, na Alemanha, como
lhões de pessoas, entre judeus, negros e uma lei de esterilização para qualquer pes-
deficientes. Nesse contexto, o papel da Psi- soa com deficiência. Mas, o que é deficiên-
cologia, enquanto uma ciência que ainda cia? A palavra deficiência está longe de ser
se estabelecia, foi o de legitimar o proces- o termo ideal para tratar esse coletivo; o
so de exclusão social. Assim, autores con- “d” entre parêntesis reflete um jogo de lin-
sagrados, tais como Galton e McDougall, guagem e uma posição ideológica de per-
chegaram a publicar obras em que defen- ceber as pessoas como competentes (em
diam, abertamente, a eugenia. A eugenia oposição às características negativas que,
era necessária, pois, favorecia a criação de historicamente, foram construídas e asso-
uma sociedade em que predominassem os ciadas a esse coletivo, tais como: inválidos,
indivíduos mais fortes. Para Galton, a euge- incompetentes, incompletos, imperfeitos,
nia deveria ser considerada como uma te- defeituosos...). Pode ser entendida como
oria científica; já McDougall afirmava que “perda ou anormalidade de uma estrutura
a Psicologia deveria proporcionar os instru- ou função psicológica, fisiológica ou ana-
mentos necessários para o desenvolvimen- tômica do individuo que restrinja limite ou
to da eugenia. Assim, o estabelecimento impossibilite a capacidade do individuo de
da eugenia, enquanto ciência, contempla- realizar uma atividade considerada como
va diversas ações por parte do governo. normal. Essa deficiência pode, em alguns
Criaram-se, nos Estados Unidos da Améri- casos, atuar como desvantagem social, li-
ca (EUA), comitês em prol do “movimen- mitando ou impedindo que esse indivíduo
to eugenista”, tais como o comitê sobre a desenvolva um rol social. Essa desvanta-
hereditariedade da deficiência intelectual gem social será maior ou menor em fun-
e da surdo-mudez, e o comitê de esteriliza- ção dos fatores ambientais e do contexto
ção de pessoas com deficiência. Em 1907 em que essa pessoa está inserida” (OMS,
chegou-se a aprovar, no estado da Indiana- 1980). Se a desvantagem é social, é através
-EUA, uma lei que permitia a esterilização da adaptação do meio que conseguiremos
de pessoas com deficiência intelectual, minimizar os defeitos decorrentes da defi-
sem qualquer tipo de consulta prévia ao ciência de cunho biológico. Assim, podere-
que corresponderia ao desejo real dessas mos inserir esse coletivo ao adotarmos – e
pessoas. Essa lei foi aprovada, posterior- concretizarmos – medidas políticas especí-
mente, na Suécia em 1922, na Noruega em ficas. Entre elas, podemos destacar o que
1923, na Suíça em 1928 e na Dinamarca foi explicitado pela Constituição de 1988,
em 1929. Ironicamente, mesmo com a as- que reconhece a pessoa com deficiência
censão do nazismo, essa lei só foi aprova- como um ser em condição de igualdade
da na Alemanha em 1933 (Ovejero, 2003). de direitos (Honora, 2008). Essa igualdade
Logicamente, essas leis eram alteradas em também vai se refletir no mercado de tra-
função do país de aprovação. Assim, o que balho por meio de leis, tais como a Lei Fe-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deral nº 8.112/90, que garante a reserva de PO-LT02


vagas de 5% para concursos públicos e a Lei
Federal nº 8.213/91, que garante que exis-
ta uma quantidade mínima de funcionários LT02-734 - A INFLUÊNCIA DA DEPRESSÃO
com (d)eficiência nas empresas privadas PÓS-PARTO NO DESENVOLVIMENTO DA
(Assis, 2005). Outra lei essencial é a Lei n.º LINGUAGEM DE CRIANÇAS DE 36 MESES
7.853, que institui a Política Nacional para
Beatriz Servilha Brocchi
a Integração da Pessoa Portadora de Defi-
Vera Silvia Raad Bussab
ciência. Essa política tem como diretrizes
básicas favorecer o processo de inclusão e Financiamento: FAPESP
merece destaque por: viabilizar a partici-
pação da pessoa portadora de deficiência A influência da depressão pós-parto (DPP)
em todas as fases de implementação dessa no desenvolvimento da criança tem sido
Política, por intermédio de suas entidades objeto de diversas investigações. No con-
representativas (Art. IV, Lei n.º 7.853). As- texto do projeto longitudinal no qual a pre-
sim, as pessoas com (d)eficiência puderam sente pesquisa está inserida (“Depressão
se posicionar (e criticar) os princípios da pós-parto como um fator de risco para o
Convenção. “Concede-se” à pessoa com desenvolvimento do bebê: estudo intedisci-
(d)eficiência a possibilidade de falar sobre plinar dos fatores envolvidos na gênese do
suas necessidades diárias, e falar em nome quadro e em suas conseqüências”, (temáti-
próprio é algo fundamental, quando se co FAPESP, Nº 06/59192), identificaram-se
busca a inclusão e se constitui como nor- efeitos da DPP na interação mãe-bebê e em
teador para a Convenção da ONU, que tem aspectos do desenvolvimento cognitivo,
como principio reconhecer a importância, emocional e neuropsicomotor da criança:
para as pessoas com deficiência, de sua au- aos 4 meses, arranjos interacionais mãe-
tonomia e independência individuais, in- -bebê mostraram-se menos estruturados
clusive, da liberdade para fazer as próprias (de Felipe, 2009), prejuízos na sensibilidade
escolhas. Além disso, foram criadas “medi- e estruturação da interação diádica (Fonse-
das de controle”, nas quais os países que ca et al., 2010); aos 12 meses, as crianças
ratificaram o tratado poderiam fazer de- do grupo DPP exploram e brincam menos
núncias em caso de descumprimento dos e ficam mais ansiosas quando separadas
acordos. No entanto, resta-nos a pergunta da mãe (Vicente, 2009). Especificamente
inicial: as leis para a(s) pessoa(s) com (d) neste contexto, efeitos sobre o desenvolvi-
eficiência são realmente necessárias (e efi- mento da linguagem têm sido pouco estu-
cazes) ou são apenas fruto de um assisten- dados. Importante salientar a reconhecida
cialismo paternalista distante da realidade importância do contexto sócio-afetivo para
de milhões de pessoas que a necessitam o desenvolvimento cognitivo e emocional
diariamente? da criança. O processo interacional repre-
senta condição promotora básica para este
Palavras-chave: leis, inclusão social, deficiência desenvolvimento e para a inserção social
Contato: Sara Marques Bringel, Universidade da criança, como participante de um pro-
de Salamanca/Espanha, cesso histórico e cultural. A linguagem tem
sara.marques.10@hotmail.com merecido atenção diferenciada, uma vez

1078
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

que é desenvolvida a partir da interação so- oito mães e crianças de três anos, partici-
cial e, por sua vez, se torna um instrumento pantes do projeto que acompanha díades
poderoso de interação e de inserção social, atendidas pelo sistema público de saúde,
podendo, portanto, ser entendida como no distrito do Butantã, São Paulo, a partir
produto e instrumento das trocas sociais. da gestação. Das participantes, 14 apresen-
O diálogo é a expressão viva desse jogo de taram indicativos de DPP, avaliada pela Es-
papéis, delimita e organiza o processo de cala de Depressão Pós-parto de Edinburgh,
enunciação. A palavra é sempre dialógica, (Cox, Holden & Sagovsky, 1987); validada
evoca significações que a antecedem, ao por Santos, Martins e Pasquali, 1999). Foi
mesmo tempo em que desencadeia rea- realizada uma avaliação do aspecto prag-
ções subsequentes. Desta forma, a ativida- mático do desenvolvimento de linguagem
de discursiva em um processo de interação das crianças (Fernandes, 2000), em filma-
é a condição de subjetivação e essência da gens de quinze minutos de brincadeira livre
vida social humana (Colaço, 2004). Neste com a mãe, em função de informações co-
contexto da ontogênese da linguagem, a lhidas desde o nascimento. O resultado do
interação com as figuras de apego, em es- teste foi avaliado em função do esperado
pecial com a mãe, também ocupa posição para a idade, quanto ao número de atos
central, pois o diálogo mãe-filho tem se comunicativos por minuto de interação.
revelado elemento fundamental deste pro- De acordo com a autora do teste, crianças
cesso. A mãe é considerada coautora no na faixa de 3 anos devem apresentar en-
desenvolvimento comunicativo-linguístico tre 6 e 8 atos comunicativos por minuto.
do filho, uma vez que a criança vivencia, a No teste de pragmática, mais da metade
partir do discurso da mãe, as mais variadas das 28 crianças, (64,3%) apresentaram de-
construções gramaticais, enriquecendo seu sempenho abaixo do esperado, enquanto
repertório verbal. O entrosamento linguís- que 10 (35,7%) apresentaram resultado
tico favorece o desempenho desejado em esperado para a idade. Na presença de
níveis de emissão e apreensão semântica. DPP, constatou-se que a maior parte das
Esta interação diádica mãe-criança pode crianças (71,4%) estavam abaixo do espe-
ser prejudicada quando a mãe apresenta rado para a idade, e apenas quatro (28,6%)
DPP, associada à tristeza intensa e a outros obtiveram desempenho esperado. Na au-
incapacitantes (Schwengberger & Piccinini, sência de DPP, 57,1% estiveram abaixo do
2003). A falta de habilidade da mãe depri- esperado, enquanto que menos da metade
mida em lidar com os próprios problemas (42,9%) esteve dentro do esperado. Apesar
e a falta de persistência necessária para do desempenho abaixo do esperado apre-
estabelecer uma interação sensível com sentar-se para o grupo como um todo, de
a criança são fatores que comprometem um modo geral as crianças do grupo sem
a disponibilidade desta para o filho, com DPP mostraram melhores resultados (60%)
potenciais conseqüências para o seu de- do que as demais e o número de crian-
senvolvimento cognitivo e afetivo (Frizzo ças abaixo do esperado para a idade foi
& Piccinini, 2005). Objetivo: Analisar a in- maior nas mães depressivas (55,6% versus
fluência da depressão pós-parto no desen- 44,4%). O teste do qui-quadrado não mos-
volvimento da linguagem de crianças de 36 trou diferença significativa. Apesar de não
meses. Método: Foram analisadas vinte e ter sido constatada diferença significativa

1079
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entre os grupos, a maior parte das crianças A construção do conhecimento e da lingua-


cujas mães apresentaram DPP estiveram gem resulta de um processo de interação e
abaixo do esperado para a idade, o que é configura-se de um modo particular entre o
compatível com os dados prévios da influ- bebê prematuro e os pais. Conceitua-se re-
ência da depressão pós-parto na interação cém-nascido pré-termo como todo aquele
mãe-criança e, consequentemente no de- que nasce antes de 37 semanas completas
senvolvimento da criança, como relatado de idade gestacional (Vaz, 1986). De acor-
por De Felipe (2009), Fonseca et al (2010) do com Mello e Meio (2003), os recém-
e Vicente (2009). Os dados sugerem que -nascidos de risco são aqueles que desde
as mães com DPP, possam ter sido menos o nascimento têm maior chance de apre-
responsivas e consequentemente estimu- sentar algum problema em seu desenvolvi-
lado menos a linguagem de seus filhos.Em mento, crescimento ou comprometimento
outro contexto que não o da DPP, Taylor et clínico. Apesar de algumas crianças que
al (2008) verificaram que a sensibilidade e não estiveram internadas na UTI neonatal
a responsividade materna contribuem para poderem apresentar alterações em seu
desenvolvimento da linguagem durante o desenvolvimento neuromotor ou no cres-
processo de interação entre a linguagem cimento, as que permaneceram internadas
da criança e a da mãe. Foi constatado, po- geralmente foram expostas a situações
rém, que ambos os grupo apresentaram-se (prematuridade, baixo peso ao nascimen-
aquém do esperado, o que pode ser expli- to, infecções, etc.) que podem acontecer
cado por fatores adicionais que também isoladamente ou em associação e aumen-
influenciam a relação diádica, como: idade, tam as chances dessas alterações aconte-
emprego, nível intelectual, renda familiar cerem. Um ambiente familiar adequado,
e estresse emocional materno (Klein & Li- que inclui responsividade parental, aceita-
nhares, 2006; Mendes, 2006; Fan, 2008). ção do comportamento da criança e dispo-
Com os dados obtidos, conclui-se que os nibilidade de brinquedos pode reduzir ou
aspectos relacionados ao contexto sócio- compensar os efeitos adversos do risco pe-
-afetivo de criação, incluindo os fatores da rinatal, promovendo o aparecimento de si-
DPP influenciam, de forma direta na inte- nais precoces de resiliência na criança. Em
ração diádica e, consequentemente no de- particular, os comportamentos maternos
senvolvimento da linguagem infantil. em interação com a criança atuam como
variáveis moderadoras do risco biológico
Palavras-chave: Depressão pós-parto; do nascimento, à medida que exercem
Linguagem; Interação; Responsividade. efeito diferencial em grupos de crianças
vulneráveis, podendo tanto atenuar quan-
to agravar os efeitos adversos dos fatores
LT02-735 - DESENVOLVIMENTO DA de risco. Objetivo: caracterizar o desen-
LINGUAGEM DE PRÉ-ESCOLARES volvimento da linguagem oral de crianças
PREMATUROS AO NASCIMENTO: A pré-termo em idade pré-escolar e verificou
INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO MÃE- o impacto da interação mãe-criança neste
CRIANÇA NESTE PROCESSO processo. Método: Participaram da pesqui-
Beatriz Servilha Brocchi sa 20 díades de mães e filhos de 5-6 anos
Maria Isabel da Silva Leme com diagnóstico de prematuridade ao nas-

1080
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cimento que são acompanhadas pelo Am- observado em função da idade dos sujeitos
bulatório de Alto Risco de um Hospital no da pesquisa. Na fonologia, foi observado se
interior do Estado de São Paulo. Realizou- os sujeitos apresentaram trocas fonêmicas
-se, primeiramente, uma anamnese com durante os testes de nomeação e repeti-
a mãe a fim de conhecer a constelação ção e se estas estão dentro do esperado
familiar, o histórico materno, histórico da para o desenvolvimento da criança. Para
criança e a interação diádica desde o nas- avaliação do discurso oral, foram transcri-
cimento. Posteriormente, aplicou-se uma tas as histórias realizadas pelas crianças e
avaliação da linguagem oral das crianças, posteriormente analisadas de acordo com
utilizando um teste fonoaudiológico cha- o estudo de Spinillo e Martins (1997) que
mado ABFW, verificando os aspectos de observaram os elementos do discurso, per-
vocabulário, fonologia, pragmática, fluên- sonagens, manutenção do tópico, trama/
cia e uma sequência lógica e de ação para evento principal e desfecho. Observou-se
avaliar o desenvolvimento discursivo. Para que a maioria das crianças nasceu abai-
o teste de pragmática e fluência, foram re- xo de 1.500g. (65%) e quase metade com
alizadas filmagens de 15 minutos de brin- idade gestacional (IG) de 27 a 30 semanas
cadeira livre entre a avaliadora e a criança (55%), caracterizando recém-nascidos pre-
com brinquedos diversos (casinha, bola, maturos extremos e de muito baixo peso
brinquedos de encaixe, bonecos). O teste ao nascimento. A maioria das mães (85%)
de vocabulário foi verificado através da no- informou ter recebido orientações durante
meação de figuras de diferentes campos o período de internação de médicos (40%),
semânticos (vestuário, alimentos, meios enfermeiros (40%) e conversado com ou-
de transporte, formas e cores, brinquedos tras mães (55%). Quinze mães (75%) in-
e instrumentos musicais, animais) e o de formaram sentimentos de tristeza, medo
fonologia de acordo com a nomeação de fi- e até desespero durante a estadia do bebê
guras e repetição de palavras com fonemas na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
balanceados. O teste de pragmática foi (UTIN), havendo uma expectativa pessi-
analisado em função do esperado para a mista com relação à melhora da criança.
idade, quanto ao número de atos comuni- Apesar da maioria das mães relatarem
cativos por minuto de interação. A fluência que as crianças não apresentaram com-
verificou a tipologia das disfluências (co- prometimento no desenvolvimento e a
muns e gagas), velocidade de fala (fluxo de metade destas considerarem-se as princi-
sílabas e palavras por minuto) e frequência pais cuidadoras, observou-se que as crian-
de rupturas (porcentagem de descontinui- ças apresentaram desempenho abaixo do
dade de fala e de disfluências gagas), sen- esperado para os testes de fonologia, vo-
do esperado para a idade ou não. Todos cabulário, pragmática e fluência e desem-
os testes foram transcritos em protocolos penho esperado para o discurso oral. Estes
específicos. A prova de vocabulário foi clas- resultados podem ser explicados pelo fato
sificada de acordo com o tipo de nomeação de que quase a metade das entrevistadas
realizada pela criança: designação por vo- considerou mais importante na educação
cábulo usual (nomeação correta), não de- seguir regras (10%) e ser obediente (30%).
signação ou processo de substituição por Apesar de estar bem desenvolvido para a
outro vocábulo. Este resultado também foi idade ser um fator considerado importante

1081
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para 10% das mães, o saber se comportar para o desenvolvimento da linguagem, do


é o aspecto fundamental na educação da discurso e, futuramente, para o aprendiza-
criança para mais da metade das entre- do da linguagem escrita.
vistadas (60%). Apesar do fator biológico
(prematuridade, baixo peso) estar rela- Palavras-chave: Linguagem; Pré-escolares;
cionado com o desenvolvimento infantil, Interação Mãe-criança.
como relatado por Melo e Meio (2003), a
aquisição e o desenvolvimento de todos os
aspectos relacionados à linguagem (lexical, LT02-907 - A RELAÇAO ENTRE O
sintático-semântico, discursivo, fonético- PROCESSAMENTO FONOLÓGICO E
-fonológico) são fortemente influenciados A HABILIDADE DE COMPUTAÇÃO
pelo processo interacional, pois a lingua- MATEMÁTICA: UM ESTUDO
gem ocorre no contexto em que se está LONGITUDINAL
exposto. Os aspectos sócio-pragmáticos e Daniela Teixeira Gonçalves - UFMG
as habilidades cognitivas são fundamen- danitg6@gmail.com
tais para o desenvolvimento linguístico da Roberta Benedini Vecchi - UFMG
criança (Naigles, 2002). Os achados da pes- bvroberta@yahoo.com
quisa sugerem que estes aspectos também Cláudia Cardoso-Martins - UFMG
influenciaram no desempenho verificado cardosomartins.c@gmail.com
nos testes de linguagem, uma vez que to- Financiamento: CNPq e FAPEMIG
das as crianças apresentaram um desem-
penho muito abaixo do esperado para a Há evidência de uma relação entre a habi-
idade. Apesar da maior parte das mães lidade de leitura e a habilidade matemáti-
relatarem que são as principais cuidadoras ca (Krajewski & Schneider,2009; Hecht et
das crianças, verifica-se que sua disponibi- al., 2001; Durand et. al,2005; Fuchs et al.,
lidade consiste em apenas um ou dois pe- 2006). Por exemplo, é comum que crian-
ríodos para ficar com a criança e a maioria, ças com dificuldades na aprendizagem da
como analisado anteriormente, prioriza a leitura e da escrita também apresentem
obediência e as regras, embora brinquem dificuldades na aprendizagem da matemá-
e conversem com seus filhos. Conclui-se, tica (Krajewski & Schneider, 2009; Fuchs et
com os dados acima que, além dos fatores al., 2006). De acordo com alguns autores
biológicos e socioeconômicos, que podem (Hecht et al., 2001), essa relação deve-se
influenciar no desenvolvimento, a qualida- ao fato de que, como a habilidade de ler
de da interação materno-infantil e a esti- e escrever palavras, a resolução de opera-
mulação materna foram fatores determi- ções matemáticas subentende habilidades
nantes na aquisição e desenvolvimento da de processamento fonológico. O proces-
linguagem dos participantes, uma vez que samento fonológico refere-se à habilida-
a mãe é considerada o modelo e a prove- de de processar os elementos sonoros da
dora de conhecimento e desenvolvimen- fala. Ele é comumente descrito em termos
to para seu filho. O estímulo à leitura e à de três habilidades distintas, porém inter-
brincadeira conjunta da mãe com a criança -relacionadas (Wagner & Torgesen, 1987):
podem ser orientados por profissionais de 1) a consciência fonológica, ou seja, a ha-
diversas áreas e serão uma forte referência bilidade de prestar atenção consciente aos

1082
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sons que compõem as palavras que ouvi- ação seriada rápida – NSR – de figuras de
mos e falamos; 2) a habilidade de codificar, objetos e de dígitos), e dois componentes
armazenar e processar códigos fonológicos da memória verbal de trabalho: a memória
na memória de trabalho; e, finalmente, 3) fonológica (Repetição de dígitos: ordem di-
a velocidade de acesso a códigos fonológi- reta) e o executivo central (Repetição de dí-
cos na memória de longo prazo. Há ampla gitos: ordem inversa). Na segunda ocasião,
evidência de que variações em todas essas avaliou-se a habilidade de ler e escrever
habilidades correlacionam-se estreitamen- palavras e a habilidade matemática através
te com variações na aprendizagem da lei- dos subtestes do Teste de Desempenho Es-
tura e da escrita (Durand et al., 2005). Por colar (Stein, 1994). Finalmente, em ambas
outro lado, a evidência de uma relação as ocasiões, avaliamos a inteligência verbal
entre as habilidades de processamento (Subteste de Vocabulário da Escala de In-
fonológico e a habilidade de resolver ope- teligência Wechsler para crianças- WISC-
rações matemáticas é mais controvertida. -III) e não-verbal (Subteste de Cubos da
Por exemplo, ao contrário de Hetch et al. Escala de Inteligência Wechsler para crian-
(2001), Durand et al. (2005) não encon- ças- WISC-III) das crianças. A Tabela 1 apre-
traram uma associação significativa entre senta os resultados das correlações entre
a consciência fonológica e a habilidade de as medidas de processamento fonológico,
resolver operações matemáticas em um de inteligência e de habilidade de leitura,
estudo que envolveu crianças inglesas de 7 escrita e matemática. Todos os processos
a 10 anos de idade. Resultados discrepan- fonológicos contribuíram significativamen-
tes têm também sido encontrados para as te para a habilidade de leitura e escrita de
outras habilidades fonológicas (Fuchs et palavras. Com exceção da memória fono-
al.., 2006). No presente estudo avaliamos lógica, o mesmo ocorreu para a habilidade
a contribuição do processamento fonoló- de matemática. Contudo, é possível que
gico na pré-escola para a habilidade de a esses resultados tenham sido mediados
criança resolver operações matemáticas por diferenças individuais na inteligência.
no final do 2º. ano do ensino fundamen- Conforme ilustrado na Tabela 1, a medida
tal. Ao que tudo indica, este é o primeiro de inteligência verbal correlacionou-se em
estudo a investigar essa questão em uma geral com as medidas de processamento
amostra de crianças brasileiras. A amostra fonológico e com as medidas de leitura,
foi constituída de 60 crianças (24 meninos, escrita e matemática. A medida de inteli-
36 meninas), as quais foram avaliadas em gência não-verbal, por outro lado, correla-
várias ocasiões diferentes. Neste relato cionou-se apenas com as medidas de ma-
descrevemos os resultados das avaliações temática e do executivo central. Em vista
que ocorreram quando as crianças tinham, desses resultados, uma série de regressões
em média, 5 (Idade média em meses = hierárquicas foi realizada com o intuito de
62,53; DP = 0,08) e 7 anos de idade (Idade controlar o efeito de variações na inteligên-
média em meses = 92,95; DP = 3,86). Na cia verbal e/ou não verbal das crianças. Os
primeira ocasião, as crianças foram subme- resultados dessas análises mostraram que,
tidas a testes que avaliavam a consciência após esse controle, a consciência fonológi-
fonológica (Detecção de rima), a velocida- ca, a memória fonológica e a velocidade de
de de acesso a códigos fonológicos (Nome- acesso a códigos fonológicos na memória

1083
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de longo prazo continuaram a predizer sig- variações na habilidade matemática. As


nificativamente o desempenho nas tarefas implicações desses resultados para a nos-
de leitura e escrita de palavras. Por outro sa compreensão dos processos fonológicos
lado, apenas a nomeação seriada rápida envolvidos na aprendizagem inicial da ma-
de dígitos continuou a contribuir para as temática são discutidas.

Tabela 1: Correlações entre as diversas medidas

Inteli- Inteli- Consciên- Memó- Execu- NSR: NSR: TDE: TDE: TDE:
gência gência cia ria tivo Dígitos Objetos Leitura Escrita Mate-
Verbal Não Fonoló- Fonoló- Central mática
verbal gica gica

Inteligência
1 0,19 0,49** 0,34** 0,30* -0,22 -0,40** 0,29* 0,26* 0,28*
Verbal

Inteligência
1 0,13 0,21 0,31* -0,00 -0,15 0,11 0,25 0,37**
Não verbal

Consciência
1 0,44 0,55** -0,32 -0,39** 0,48** 0,58** 0,31*
Fonológica

Memória
1 0,41** -0,14 -0,24 0,40** 0,43** 0,09
Fonológica

Executivo
1 0,10 -0,27* 0,29* 0,40** 0,36**
Central

NSR: Objetos 1 -0,62** -0,48** -0,50** -0,32*

NSR: Dígitos 1 0,49** -0,44** -0,37**

TDE Leitura 1 0,67** 0,35**

TDE Escrita 1 0,37**

TDE
1
Matemática

* p < 0,05; **p < 0,01.

Palavras-chave: Processamento Fonológico; matemática; leitura.


Contato: Daniela Teixeira Gonçalves, UFMG, danitg6@gmail.com.

1084
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT02-924 - EFEITOS DE CONTEÚDOS tenderiam a raciocinar probabilisticamen-


VALORATIVOS DE ENUNCIADOS te utilizando diferentes heurísticas, inclu-
DE PROBLEMAS NO RACIOCÍNIO sive e chamada heurística de similaridade,
PROBABILÍSTICO DE ALUNOS ou seja, o raciocínio probabilístico pode-
DO SEGUNDO CICLO DO ENSINO ria sofrer a influência da semelhança dos
FUNDAMENTAL exemplos destacados nos enunciados dos
Simone Cagnin - UERJ problemas com os exemplares mais proto-
scagnin@oi.com.br típicos de um grupo ou conceito. Nosso es-
Thamires de Abreu Emmerick - UERJ tudo visa assim investigar, especificamen-
thataemmerick@hotmail.com te, os efeitos, no raciocínio probabilístico,
dos conteúdos de enunciados de proble-
Financiamento: FAPERJ mas, que apresentam concepções valora-
tivas desfavoráveis e neutras em relação
Diversos estudos na área da Psicologia ao gênero, à nacionalidade e à faixa etária
Cognitiva apresentam evidências de que próxima ou distante da dos participantes
não apenas a estrutura profunda dos pro- da pesquisa. Participaram da pesquisa 103
blemas, ou seja, a seu esqueleto lógico, crianças de uma escola pública do municí-
mas também as características de super- pio do Rio de Janeiro, cursando o 7° Ano
fície, ou seja, as características periféricas do Ensino Fundamental, com idade média
que não são essenciais para a solução do de 12 anos e meio, sendo 50 do sexo fe-
problema podem influenciar o raciocínio, minino e 53 do sexo masculino. Os instru-
a resolução de problemas, o julgamento, mentos utilizados na pesquisa foram: um
a memória e a tomada de decisão. Muitos questionário inicial que visou obter dados
destes estudos sugerem que caracterís- sócio-demográficos da população estuda-
ticas como os conteúdos semânticos dos da, quatro tarefas que envolviam a resolu-
enunciados (Ross, 1989; Bassok, 2003), as ção de problemas de probabilidade e um
tonalidades afetivas dos enunciados (Hes- questionário complementar com pergun-
se, Kauer & Spies, 1997; Cagnin, 2008), tas sobre a concordância ou discordância
dentre outras características de superfí- dos participantes em relação aos conte-
cie, teriam nítida influência nos processos údos valorativos depreciativos presentes
inferenciais humanos, em especial nos nos enunciados dos problemas. Houve a
processos de resolução de problemas, no divisão da amostra em 6 subgrupos, sendo
raciocínio analógico e na transferência de 3 compostos por meninas e 3 compostos
aprendizagem. Por outro lado, autores por meninos. Destes, 2 grupos, um com-
como Kahneman e Tversky (1982) e Tver- posto por meninas e outro, por meninos,
sky e Kahneman (1983), dentre outros, resolveram problemas de probabilidade
também apresentaram evidências de que com enunciados neutros. Os outros 4 sub-
o raciocínio indutivo e probabilístico cos- grupos foram assim divididos tendo em
tuma sofrer a influência de conteúdos va- vista o gênero (masculino e feminino) e
lorativos de enunciados que apresentam o tipo de conteúdo depreciativo apresen-
estereótipos e características prototípicas tado (conteúdos depreciativos ao gênero
de indivíduos que compõem determina- feminino ou conteúdos depreciativos ao
dos grupos. Sendo assim, os indivíduos gênero masculino). Foram apresentados

1085
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

também a estes 4 subgrupos problemas mais ricos e equilibrados que dêem su-
de probabilidade que continham conteú- porte a estas operações mentais. O teste
dos depreciativos em relação à naciona- estatístico qui-quadrado foi utilizado para
lidade brasileira ou a outra nacionalidade comparar a frequência de respostas apre-
não-brasileira, bem como problemas de sentadas pelos subgrupos. Alguns achados
probabilidade que continham conteúdos apontam para efeitos dos conteúdos va-
depreciativos em relação a uma faixa etá- lorativos dos enunciados especialmente
ria próxima ou distante da idade média no raciocínio probabilístico envolvido em
dos participantes da pesquisa. No que se tarefas que demandavam o julgamento
refere aos procedimentos éticos de pes- da habilidade técnica para mexer em apa-
quisa, houve, inicialmente, a aprovação da relhos eletrônicos, ou seja, a maioria dos
pesquisa pela Comissão de Ética em Pes- participantes concordou com os enuncia-
quisa da Universidade do Estado do Rio de dos que apresentavam conteúdos valora-
Janeiro. Foi apresentado o Termo de Com- tivos depreciativos e estereotipados em
promisso Livre e Esclarecido aos pais dos relação à habilidade técnica de indivíduos
alunos participantes, bem como também mais idosos. Em outras palavras, em uma
houve a autorização da direção da escola tarefa que envolvia o julgamento da habili-
para a realização da testagem em sala de dade técnica de indivíduos de faixas etárias
aula. No que diz respeito ao perfil sócio- diferentes (idosos e crianças), houve o jul-
-demográfico dos participantes, foi obser- gamento desfavorável ao indivíduo idoso
vada uma equivalência na distribuição dos do ponto de vista probabilístico. De modo
participantes nas classes baixa (49,9%) e complementar, os meninos, em contrapo-
média (50,06%), tendo em vista os crité- sição às meninas, demonstraram maior
rios sócio-demográficos utilizados. A maio- sensibilidade aos conteúdos depreciativos
ria dos indivíduos demonstrou praticar em relação ao seu próprio gênero em uma
esporte (83,3%), especialmente os meni- tarefa que envolvia o julgamento da habili-
nos, sendo que esta prática contrasta com dade matemática em homens e mulheres.
a pouca atividade de leitura extraclasse No que se diz respeito aos conteúdos de-
(40,6%). De modo complementar à prática preciativos relativos a nacionalidade brasi-
esportiva, as atividades de lazer também leira e a outra nacionalidade não-brasileira
foram destacadas pela maioria dos parti- apresentados em alguns problemas, não
cipantes (77,6%). Em relação ao acesso à foram encontrados resultados significati-
internet, a quase totalidade das crianças vos, como também aconteceu nas tarefas
(92,2%) menciona este acesso. Já no que que envolviam conteúdos depreciativos
se refere ao contato com outro idioma, em relação ao comportamento de mulhe-
apenas 39,5% dos participantes destaca- res e de homens no trânsito. Por fim, acre-
ram esta opção. Os principais resultados ditamos que os resultados dessa pesquisa
encontrados sugerem que os alunos par- possam ter particular relevância para o
ticipantes não adquiriram ainda um racio- contexto escolar, na medida em que as
cínio probabilístico proficiente e que, tal- situações-problema vivenciadas pelos alu-
vez, as estruturas cognitivas subjacentes a nos em sala de aula podem, muitas vezes,
este tipo de raciocínio possam estar ainda revestir-se de valores desfavoráveis ou não
demandando a construção de esquemas ao seu gênero, nacionalidade, faixa etária

1086
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e grupo social e isso pode ter influência problemas no desenvolvimento da crian-


na resolução de problemas que envolvem ça. Por volta dos 5 anos espera-se que a
julgamento e probabilidade, bem como no criança já tenha dominado todos os sons
raciocínio indutivo em geral. da fala (Zorzi, 2000). Isso é possível devi-
do a maturidade neurológica que permite
Palavras-chave: Raciocínio; Probabilidade; uma relativa estabilidade no desenvolvi-
Resolução de Problemas. mento da linguagem. Dentro do presente
estudo o referencial teórico utilizado é o
da neuropsicologia cognitiva que se pro-
LT02 – 1191 - AVALIAÇÃO põe a estudar a relação entre os processos
NEUROPSICOLÓGICA: IDENTIFICAÇÃO cerebrais e cognitivos, (Caramazza, 1984).
DE DIFERENÇAS DESENVOLVIMENTAIS Na neuropsicologia cognitiva, a linguagem
DA FUNÇÃO PSICOLINGUISTICA EM é avaliada em indivíduos em diferentes
CRIANÇAS ENTRE 4 E 8 ANOS fases do desenvolvimento humano e tem
Zelma Freitas Soares - UFRB como objetivo avaliar o desenvolvimento
soareszelma@gmail.com de habilidades psicolinguísticas preser-
Gustavo Marcelino Siquara - UFRB vadas e deficitárias após acometimentos
thiago_gusmao1@hotmail.com neurológicos ou distúrbios no desenvolvi-
Társis Cajado Chaves da Silva - UFRB mento (Serafini et al., 2008). Segundo es-
tcajado@hotmail.com ses autores a função linguagem é conside-
Verônica Santos da Silva - UFRB rada como sistema complexo de símbolos
s.s.veronica@hotmail.com e regras que permite a comunicação, com
Patrícia Martins de Freitas - UFRB o envolvimento de habilidades de compre-
pmfrei@gmail.com ensão e expressão. Dessa forma, envolvem
Financiamento: CNPq/FAPESB/PIBEX-UFRB tomar uma representação como um input,
executar algum tipo de processamento so-
A linguagem é um sistema finito de prin- bre esse input, e então produzir uma nova
cípios e regras que permitem ao falante representação, o output, (Capovilla, 2006).
codificar significados em sons e ao ouvin- Segundo Fletcher (2009) o desenvolvi-
te decodificar sons em significado (Brain, mento da linguagem está no centro da
2002). Seu desenvolvimento depende, compreensão leitora. Diante disso, o pre-
portanto, de um ato complexo que envol- sente trabalho teve como objetivo avaliar
ve a cognição (França et al., 2004). Os pri- a existência de diferenças desenvolvimen-
meiros anos de vida são considerados os tais da função psicolinguistica em crianças
mais importantes para o desenvolvimento em fase pré-escolar e escolar inicial a parir
das habilidades da linguagem, pois nesse de avaliação dos componentes específi-
período ocorre a maturação do sistema cos (Fonológico, Lexical e Semântico) da
nervoso, com maior crescimento cerebral linguagem por meio de uma bateria de
e formação de novas conexões neuronais avaliação neuropsicológica. Participaram
(Santos et al.,2008). A ausência de lin- da avaliação neuropsicológica 221 crianças
guagem dentro dos limites cronológicos com idade entre 4 e 8 anos, das quais 126
esperados ou um processo de aquisição (57 %) do sexo masculino sendo a média
muito lento e dificultoso podem indicar da idade de 6,49 anos (dp = 1,28), todos

1087
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de escolas públicas na cidade de Santo An- volvimento da linguagem, pois foi possível
tônio de Jesus-Ba. A avaliação iniciou-se a notar que em concordância com estudos
partir da assinatura do Termo de consen- sobre maturação do sistema nervoso as
timento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos crianças avaliadas apresentaram estabili-
pais. Para a avaliação foi utilizada a Bateria dade do desenvolvimento da linguagem a
de Avaliação Neuropsicológica do Proces- partir dos 6 anos. Estudos com esse cará-
samento Lexical (BANPLE) (Freitas, 2009). ter podem contribuir para o processo de
Com a BANPLE foram avaliados aspectos escolarização formal, uma vez que oferece
dos componentes Fonológico, Lexical e Se- elementos relevantes no que diz respei-
mântico da compreensão e produção oral to o desenvolvimento da linguagem em
da linguagem (Freitas et al., 2010). Portan- crianças. Compreender as diferenças de-
to, as Tarefas da Produção Oral do compo- senvolvimentais da linguagem nas crianças
nente Fonológico foram Discriminação de permite saber o que se deve esperar em
Fonemas (DF) e Detecção de Rimas (DR), nível de aprendizado em cada faixa etária,
do Componente Lexical foi a Tarefa de De- considerando também os aspectos gerais
cisão Lexical (DL) e do Semântico foram As- do desenvolvimento individual.
sociação Semântica Palavra-Figura (ASPF)
e Associação Semântica Figura-Figura Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
(ASFF). As Tarefas da Compreensão Oral do Psicolinguística; Diferenças Desenvolvimentais.
componente Fonológico foi Julgamento de
Rimas (JR), do Lexical foi a Tarefa de Repe-
tição de Palavras e Pseudopalavras (RPP) e LT02 – 1192 -IDENTIFICAÇÃO DE DÉFICITS
do componente Semântico foram Nomea- PSICOLINGUISTICOS CARACTERIZADORES
ção de Figura (NF) e Fluência Verbal (FV). DE DISLEXIA EM CRIANÇAS DE 4 A 8 ANOS
A análise de dados foi feita por meio do Zelma Freitas Soares - UFRB
software SPSS (Statistical Pachkage for So- soareszelma@gmail.com
cial Sciences) versão 18.0. Através da ANO- Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB
VA, com o scheffe tests buscou observar a thiago_gusmao1@hotmail.com
existência de diferenças desenvolvimen- Társis Cajado Chaves da Silva - UFRB
tais da linguagem nas crianças, conforme tcajado@hotmail.com
cada idade (4, 5 , 6, 7 e 8 anos). A partir Jacqueline Miranda Pereira - UFRB
dos resultados da ANOVA, com o scheffe acquedja@yahoo.com.br
foi possível identificar diferenças desen- Patrícia Martins de Freitas - UFRB
volvimentais significativas no desempe- pmfrei@gmail.com
nho das crianças em tarefas da função psi- Financiamento: PIBEX/PIBIC/CNPq/FAPESB/CNPq
colinguística de acordo com suas idades. A
ANOVA apontou diferenças significativas A Avaliação neuropsicológica busca inves-
(p= 0,000) entre os grupos formados. Com tigar quais são as funções cognitivas que
o scheffe foi possível notar a formação de estão comprometidas e conservadas. Os
dois grupos: grupo 1 (4 e 5anos) e o gru- principais eixos de atuação da neuropsico-
po 2 (6, 7 e 8 anos). O presente estudo logia são: a avaliação e a reabilitação (Am-
mostra que a BANPLE é sensível para de- brózio, et al 2009). Dessa forma, o presen-
monstrar aspectos relevantes do desen- te trabalho se restringe a discussões de

1088
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dados a partir da avaliação neuropsicoló- com perfil de dislexia, considerando seus


gica. A neuropsicologia cognitiva focaliza subtipos. Metodologia: Participaram do
o processamento da informação, ou seja, presente estudo 303 crianças na cidade de
as diferentes operações mentais que são Santo Antônio de Jesus-Ba, sendo 68,6%
necessárias para a execução de determi- de escolas públicas, 53,1% do sexo mas-
nadas tarefas (Capovilla, 2006). As dificul- culino com idade entre 4 e 8 anos (média
dades de linguagem referem-se a altera- = 6,08 anos; dp=1,37). A partir da assina-
ções no processo de desenvolvimento da tura do Termo de consentimento Livre e
expressão e recepção verbal e/ou escrita, Esclarecido (TCLE) pelos pais, as crianças
(Schirmer, 2004), sendo que para Bene- foram avaliadas por meio de três encon-
det, (2002), para que uma informação que tros com duração média de 1 hora cada.
se deseja transmitir possa ser processada Os instrumentos utilizados na avaliação
como linguagem, tem que primeiro ser foram tarefas que compõem a Bateria de
processada como mensagem em um sis- Avaliação Neuropsicológica do Processo
tema de pensamento. Na neuropsicologia Lexical (BANPLE) (Freitas, 2009). A BAN-
cognitiva, a linguagem é avaliada em indi- PLE avalia aspectos da compreensão e
víduos de diferentes fases do desenvolvi- produção oral da linguagem (Freitas, et al,
mento humano e objetiva distinguir habi- 2010). As tarefas que fazem parte do com-
lidades lingüísticas preservadas e defici- ponente fonológico foram: Discrimina-
tárias após acometimentos neurológicos, ção de Fonemas (DF), Detecção de Rimas
(Serafini, 2008). Diante disso, na aborda- (DR) e Julgamento de Rimas (JR); tarefas
gem neuropsicológica cognitiva a dislexia do componente lexical foram Decisão Le-
é investigada com o intuito de constatar xical (DL) e Repetição de Palavras e Pseu-
que parte ou partes do processo normal dopalavras (RPP); tarefas do componente
de leitura foram danificadas ou perdidas semântico - Associação Semântica Pala-
por meio de modelos do processo normal vra-Figura (ASPF), Associação Semântica
e hábil de leitura (Ellis, 1995). Consideran- Figura-Figura (ASFF), Nomeação de Figura
do os modelos de dupla rota têm-se como (NF) e Fluência Verbal (FV). Na análise de
tipos clássicos de dislexia, a fonológica e dados foram identificadas as crianças que
a de superfície (lexical). Pessoas com dis- ficaram abaixo do primeiro desvio padrão
lexia fonológica possuem graves dificulda- nas tarefas da BANPLE que avaliavam o
des em leitura de estímulos não familiares componente fonológico e lexical. Resulta-
e pseudopalavras, além de prejuízo na dos: Os resultados demonstraram que das
consciência fonológica. Os disléxicos de 303 crianças avaliadas, 13 apresentaram
superfície apresentam dificuldade no nível desempenho de déficits psicolingüísticos
do tratamento ortográfico da informação, semelhantes ao da dislexia. Das 13 crian-
e consequentemente apresentam incapa- ças, cinco tiveram baixo escore nas tarefas
cidades na leitura de palavras irregulares que avaliam especificamente o compo-
(Salles, 2004). A partir da avaliação de fun- nente fonológico e quatro crianças apre-
ções psicolingüísticas dos componentes sentaram baixo escore nas tarefas que
Fonológico, Lexical e Semântico, por meio avaliam o componente lexical. As referidas
de tarefas específicas o presente trabalho tarefas avaliam aspectos do processamen-
teve como objetivo, identificar crianças to psicolinguísticos comprometidos nos

1089
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dois tipos clássicos de dislexia, a dislexia ram do estudo e foram avaliadas em dife-
fonológica e a lexical, demonstrando que rentes tarefas de teoria da mente, em um
a BANPLE apresenta sensibilidade no em teste de vocabulário receptivo e em uma
identificar funções comprometidas na tarefa de compreensão de ironia traduzida
dislexia, diferenciando os dois subtipos e adaptada para o presente estudo. A tare-
clássicos. Além disso, embora a BANPLE fa de compreensão de ironia consistiu na
não tenha a função de avaliar para um apresentação de oito histórias que repre-
diagnóstico, ela permite identificar défi- sentavam situações familiares para a crian-
cits precoces do desenvolvimento e dessa ça e envolviam sempre conversas com
forma, contribui, para evitar que a criança pais, irmãos ou amigos. Em todas elas,
apresente futuras conseqüênciasdesfavo- um dos personagens fazia um comentá-
ráveis no seu contexto escolar e social. rio irônico dirigido a outro personagem. A
tarefa avaliou quatro componentes socio-
Palavras-chave: neuropsicologia cognitiva, cognitivos para a compreensão de ironia:
linguagem oral, dislexia. significado da sentença, crença, intenção e
motivação do falante. Além disso, a tarefa
avaliou um componente sociocomunica-
LT02 – 1220 - COMPREENSÃO DE IRONIA tivo por meio do julgamento feito pelos
E TEORIA DA MENTE: UM ESTUDO COM participantes sobre o quão gentil, maldoso
CRIANÇAS BRASILEIRAS ou engraçado havia sido o comentário do
Nadia Villa - UFSCar personagem. A ironia presente em cada
nadinhav@hotmail.com história podia variar quanto ao tipo (con-
Débora de Hollanda Souza - UFSCar trafactual x hiperbólica) e quanto à valên-
debhsouza@uol.com.br cia (crítica x elogio). Essas quatro variações
Financiamento: FAPESP foram, portanto, cruzadas de forma a criar
quatro diferentes categorias de ironia: elo-
A teoria da mente é a habilidade de prever gio hiperbólico (EH), elogio contrafactu-
e explicar o comportamento humano por al (EC), crítica contrafactual (CC) e crítica
meio da compreensão dos próprios esta- hiperbólica (CH). Todos os participantes,
dos mentais e dos outros (e.g., intenções, portanto, ouviram duas histórias repre-
crenças e emoções). Estudos recentes têm sentando cada uma dessas categorias. Os
demonstrado uma relação clara entre o resultados do presente estudo mostraram
desenvolvimento da teoria da mente e a que, como esperado, há uma correlação
linguagem. Em especial, há um interesse positiva entre o desempenho dos partici-
crescente em investigações sobre a relação pantes nas tarefas de teoria da mente e
entre teoria da mente e compreensão de de compreensão de ironia (r = 0.454, p <
ironia em crianças de idade escolar. O pre- 0.05), bem como um efeito de idade no
sente estudo foi uma replicação do estudo desempenho em todas as tarefas (F(2,19)
conduzido por Filippova e Astington e tem = 12.43, p < 0.05). Em relação ao escore
como objetivo principal investigar a rela- total na tarefa de compreensão de ironia,
ção entre compreensão de ironia e teoria uma diferença significativa foi encontrada
da mente em crianças brasileiras. Quaren- entre as crianças de 7 anos (M = 27.75) e
ta e três crianças de 7, 8 e 9 anos participa- 8 anos (M = 37.58) e entre as crianças de

1090
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

7 anos e 9 anos (M = 37.73). Uma ANOVA mais da metade dos participantes não jul-
de medidas repetidas foi realizada, com gou a ironia como engraçada (65% na cate-
tipo de ironia (contrafactual x hiperbólica) goria elogio contrafactual, 74% para crítica
e valência (crítica x elogio) como variáveis contrafactual e 69% na crítica hiperbólica).
intra sujeitos e idade como varíavel en- Mais uma vez, os dados das crianças brasi-
tre sujeitos. Os resultados não revelaram leiras foram muito semelhantes aos dados
um efeito significativo de valência (crítica obtidos com crianças canadenses. Consi-
x elogio), F(1, 40) = 0.38, p > 0.05), mas derando a escassez de estudos brasileiros
sim um efeito significativo de tipo de iro- sobre o tema, espera-se que o presente
nia (contrafactual x hiperbólica), F(1, 40) estudo possa contribuir para o campo de
= 13.73, p = 0.05, além de uma interação estudos sobre teoria da mente no Brasil e,
entre valência e tipo, F(1, 40) = 23.43, p < de maneira mais abrangente, que ele pos-
0.05). ANOVAs de medidas repetidas fo- sa avançar o conhecimento atual sobre a
ram também realizadas para cada um dos relação entre essa habilidade sociocogniti-
quatro componentes sociocognitivos da va e o desenvolvimento da linguagem.
compreensão de ironia. Os resultados in-
dicaram uma interação entre as variáveis Palavras-chave: Teoria da Mente; Ironia;
tipo de ironia e valência (elogio x crítica) Crianças Escolares.
em dois dos quatro componentes (crença Contato: Nadia Villa, UFSCar,
e intenção), ps < 0.05. Os dados obtidos nadinhav@hotmail.com
corroboram os resultados de Filippova e
Astington obtidos com crianças canaden-
ses. Assim como as crianças canadenses, LT02-1333 - ERA UMA VEZ: OS CONTOS DE
as crianças brasileiras apresentaram uma FADAS E A INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA
facilidade maior para entender a ironia Iollanda Freire Costa Belchior - UFC
contrafactual, ou seja, quando o falante iollanda3fcbelchior@yahoo.com.br
diz o contrário daquilo que pretende dizer, Juliana Moita Leão - UFC
do que para entender a ironia hiperbólica, Juliana_moita@hotmail.com
quando o falante exagera aquilo que pre- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
tende dizer. Em relação ao julgamento do naradiogo@hotmail.com
conteúdo pragmático da ironia (quão gen- Maria Sandra Braz Marques - UFC
til, maldoso, engraçado foi o comentário), msbmarques@hotmail.com
as análises revelaram uma interação entre Raíza Ribeiro de Souza - UFC
tipo de sentença e valência nas três condi- raiza.psicologia@yahoo.com.br
ções analisadas (gentil, p < 0.001, maldoso,
p < 0.001, engraçado, p = 0.04). A categoria O presente trabalho tem como objetivo
elogio hiperbólico foi considerada como a discutir o conto de fadas como forma de
mais gentil pelos participantes e a crítica problematizar a infância contemporânea,
hiperbólica como a menos gentil. Na mes- apresentando as considerações de uma
ma direção, a crítica hiperbólica foi julga- pesquisa em andamento. As reflexões são
da como a ironia mais maldosa e o elogio suscitadas a partir de discussões ocorridas
hiperbólico como a ironia menos maldosa. nos encontros do projeto de extensão
Finalmente, em três das quatro categorias, “Brincadeiras: ações em Psicologia do De-

1091
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

senvolvimento e práticas lúdicas”, da Uni- atribuindo significados à realidade da


versidade Federal do Ceará (UFC). O proje- criança. Pois estas, nos primeiros anos de
to faz estudos na direção da compreensão vida, entram em contato com diversos sen-
da infância contemporânea e suas relações timentos que até então são desconhecidos
com a linguagem, examinando as perspec- e, com isso, precisam receber alguma aju-
tivas dialógicas, histórico-culturais e críti- da para que possam entender e dar senti-
cas, a partir do texto de Jobim e Sousa do a esses sentimentos. Por meio das leitu-
(2009). Partimos desse referencial teórico ras realizadas dos atuais estudos feitos so-
para pensar esta problemática que envol- bre a infância, percebemos a importância
ve a infância na contemporaneidade e os das pesquisas sobre a infância na contem-
contos de fadas. Nesse sentido, surgiu o poraneidade e como os contos de fadas
desejo coletivo de pesquisar sobre os sen- podem estar inseridos neste contexto, o
tidos e significados atribuídos pelas crian- que nos levou a escolha do tema e ao en-
ças aos contos de fadas e suas releituras. tendimento da relevância deste. As crian-
Nessa perspectiva, acreditamos que as ças conhecem o mundo na medida em que
crianças, enquanto sujeitos sociais pos- o cria. A criação desse mundo nos revela
suem plenas condições de expressar suas diversos sentidos diferentes para objetos
concepções através de sua cultura, suas que já possuíam significados atribuídos
falas e ações. Em uma breve pesquisa bi- pela cultura dominante (Jobim & Souza,
bliográfica observamos que outros estu- 2009). A criança está exposta à sociedade
dos realizados no contexto atual eviden- em que vive, e certamente aprenderá a en-
ciam a importância de pesquisas no que frentar as condições que lhe são próprias,
diz respeito à infância na contemporanei- desde que seus recursos interiores o per-
dade, a linguagem e a sua relação com os mitam. Contudo, para conseguir êxito nes-
contos de fadas. Estes estudos nos mos- te aspecto, deverá receber ajuda para que
tram que as crianças possuem necessida- possa dar algum sentido coerente ao seu
des em relação à cultura em que estão in- turbilhão de sentimentos. Necessita de
seridas e que o conto de fadas pode ser idéias sobre a forma de colocar ordem na
instrumento propício para a elaboração da sua casa interior, e com base nisso, ser ca-
fantasia na criança atendendo, portanto, a paz de criar ordem na sua vida. Nessa pers-
essas necessidades. Segundo Bettelheim pectiva, a criança encontra este tipo de
(2011), os contos de fadas são obras de significado nos contos de fadas. O conceito
arte integralmente compreensíveis para as de infância é bastante recente, tratando-se
crianças, como nenhuma outra forma de de uma criação da sociedade e que está
arte. E como ocorre com toda grande arte, sujeita a mudança sempre que surgem
o significado do conto de fadas será dife- transformações sociais mais amplas. A in-
rente para cada pessoa, e diferente para fância, nos séculos XII ao XVIII, era definida
cada pessoa em vários momentos de sua pelas pessoas da época como a idade em
vida. Com isso, a criança extrairá significa- que surgem os dentes. Nessa idade aquilo
dos diferentes do mesmo conto de fadas, que nasce é chamado de enfant (criança),
dependendo de seus interesses e necessi- que quer dizer não falante, pois nessa ida-
dades do momento. Nesse sentido, os con- de a pessoa não pode falar. (Ariès, 1981). A
tos de fadas atuarão como mediadores, infância seria caracterizada pela ausência

1092
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da fala e de manifestações consideradas tabelecendo comparações e colocando a


“irracionais”. Dessa forma, a infância se infância como fase pouco desenvolvida e
contrapõe a vida adulta, pois os comporta- imatura. Dessa forma, as crianças são vis-
mentos considerados racionais seriam en- tas como sujeitos, que pensam e agem so-
contrados apenas nos indivíduos adultos, bre o mundo. Este projeto tem como pro-
identificando o homem como um ser pen- posta ouvir o que as crianças têm a dizer
sante e que possui a capacidade de agir sobre o que as cercam e o sentido atribuí-
sobre o mundo em que está inserido. A in- do por elas. Contudo, percebemos ainda
fância ainda hoje é compreendida através nos dias de hoje uma ênfase na valorização
de uma concepção desenvolvimentista, do discurso do indivíduo adulto, excluindo
formalista, sendo vista como uma fase de as crianças dos diversos setores e espaços
preparação para a vida adulta, como se o sociais. A concepção de criança é vivida e
ser humano estivesse ainda incompleto, apreendida a partir das construções feitas
tendo que tornar-se. As práticas educati- pelos adultos, nas quais, muitas vezes, a
vas e familiares, nestes termos, são pensa- criança não pode defender-se ou falar so-
das a fim de promover o desenvolvimento bre si mesma. Prevalece a idéia de que a
da criança, fazer com que ela cresça e che- criança não possui a capacidade de com-
gue a sua finalidade, que é ser adulto. Essa preender o mundo e expressar-se nele e
lógica desenvolvimentista usada como re- acerca dele. Entendemos que ouvir as
ferencia para se estudar e compreender a crianças é importante e elucidará muitas
infância tem sua razão de ser, principal- de nossas questões, como buscar compre-
mente nos dias atuais onde estão arraiga- ender como elas atribuem sentidos aos
dos valores como desenvolvimento, pro- contos e suas releituras e observar como
gresso e evolução. Na perspectiva desen- elas percebem certas mudanças. É através
volvimentista o homem tenderia a passar de suas falas que poderemos investigar
de estágio menos desenvolvido para um como elas pensam, o que sentem, como
mais desenvolvido, o homem se tornaria percebem as coisas. A maneira singular e a
cada vez mais perfeito. Para tanto se sub- especificidade de cada uma delas. Pois em-
meteria a certos valores e padrões cultu- bora as histórias sejam iguais, múltiplas
rais vigentes que o enquadrariam social- serão as interpretações e os significados
mente e caracterizariam sua evolução atribuídos por cada uma. Nesse sentido, a
como o autocentramento e o racionalis- partir das falas das crianças poderemos
mo. Desconstruir a lógica desenvolvimen- analisar as visões de mundo que elas pos-
tista é de grande importância para que se suem, e observarmos a complexidade das
compreenda as especificidades da infân- relações sociais que envolvem as crianças.
cia, encarando-a não somente como uma Dessa forma há de se perceber que as
“preparação” para a fase adulta, tomando crianças produzem significados e sentidos
esta como referência para, a partir de com- sobre tudo o que entram em contado, e
parações entre ambas, estabelecer as ca- que os produtos das análises das crianças
racterísticas da infância. Compreendemos devem ser ouvidos e considerados de for-
e procuramos estudar a infância fora da ma adequada, assim não havendo desqua-
lógica desenvolvimentista que sempre lificação dos discursos desses sujeitos. As
contrapõe a infância com a fase adulta, es- crianças adquirem seus saberes por meio

1093
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos produtos (filmes, desenhos, livros) em Palavras-chave: Criança; Contos de Fadas;


que entram em contato. Os contos de fa- Infância Contemporânea.
das fazem parte desses produtos, de onde
as crianças adquirem seus saberes e os
aplicam em seu cotidiano. Dessa forma, LT02 - 1440 - PARALISIA CEREBRAL E
podemos entender por que devemos ouvir LINGUAGEM: UM ESTUDO DE CASO
as crianças a cerca dos contos de fadas, Ana Ribeiro Santana - UFRB/CCS
pois só a partir dessa escuta é que enten- ana.ribeiro_22@hotmail.com
deremos o real significado atribuído pelas Gustavo Marcelino Siquara - UFRB/CCS,
crianças para as histórias contadas a elas. gustavosiqura@hotmail.com
Tendo em vista a concepção de infância, Thiago da Silva Gusmão Cardoso - UFRB/CCS
como se concebe a cultura lúdica e a parti- thiago_gusmao1@hotmail.com.
cipação dos contos de fadas na mesma, Mariângela Santos de Jesus - UFRB/CCS
deparamo-nos com os seguintes questio- mariangela.santos@msn.com
namentos: Qual a interpretação que as Patrícia Martins de Freitas - UFRB/CCS
crianças dão aos contos de fadas? Qual o pmfrei@yahoo.com.br
papel dos contos de fadas para a infância Financiamento: FAPESB, CNPq
contemporânea? Como as crianças perce-
bem as mudanças de comportamento das A Paralisia Cerebral é uma desordem do
personagens nas releituras dos contos de movimento e da postura, persistente,
fadas? Qual a julgamento dado pelas crian- porém não fixa que ocorre nos primeiros
ças ao comportamento das personagens anos de vida pela interferência no desen-
do conto tradicional? Com qual persona- volvimento do Sistema Nervoso Central
gem as crianças na contemporaneidade se (SNC) secundária a lesões cerebrais ou
identificam mais, com as presentes nos malformações causadas quando o cérebro
contos tradicionais ou em suas releituras? está imaturo. Quanto à sintomatologia, a
Qual o sentido atribuído pela criança a his- PC difere na gravidade dos sintomas de
tória para ela contada? Esse sentido atri- uma pessoa para outra, o que depende
buído corresponde ao significado social- da expansão e localização da lesão. En-
mente construído da mesma história? Ten- tretanto, caracteriza-se basicamente por
do estas perguntas como base, iniciamos distúrbios motores, atraso ou interrupção
um projeto de pesquisa em fase de realiza- do desenvolvimento sensório-motor, com
ção, que não tem como objetivo atribuir mecanismo de reação postural insuficien-
valores sobre as histórias dos contos de te; presença de reflexos em épocas em que
fadas, contrapondo a história tradicional e já deveriam estar inibidos; alteração do tô-
a releitura, mas aponta como finalidade nus muscular e inabilidade na realização
apenas ouvir as crianças a cerca do que dos movimentos. OuviLer foneticamen-
elas têm a dizer sobre os contos de fadas, teA prevalência da síndrome é de 2 a 2,5
para que, a partir da análise das compre- crianças para da 1.000 nascidos vivos. A PC
ensões das crianças a cerca dos contos de diplégica trata-se de um comprometimen-
fadas, possamos entender como as crian- to dos membros inferiores, comumente
ças atribuem sentido aos contos de fadas e evidenciando uma a hipertonia acentuada
sua visão de mundo. dos adutores, que configura em alguns do-

1094
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

entes o aspecto semiológico denominado foram utilizadas as tarefas para avaliação


síndrome de Little (postura com cruzamen- do processamento lexical que constituem
to dos membros inferiores e marcha “em a Bateria de Avaliação do Processamen-
tesoura”. A diplegia espástica é associada a to Lexical (BANPLE). Nível Fonológico da
prematuridade e as complicações perina- Compreensão: (DF) Tarefa de Discrimina-
tais. Embora as Paralisias Cerebrais sejam ção de Fonemas (DR) Tarefa de Detecção
caracterizadas por sua disfunção motora, de Rimas. Nível Lexical da Compreensão:
elas podem vir acompanhadas por outros (DLA) Tarefa de Decisão Lexical Auditiva.
distúrbios da função cerebral, como alte- Nível Semântico da Compreensão: (ASPF)
rações nos componentes da linguagem. A Tarefa de Associação Semântica Palavra-fi-
linguagem é definida a partir de aspectos gura; (ASFF) Tarefa de Associação Semân-
biológicos e sociais que exprimem seu ca- tica Figura-figura. Nível Semântico da Pro-
ráter essencial de favorecer adaptação do dução Oral: (FV) Tarefa de Fluência Verbal;
indivíduo ao ambiente. Estudos mostram (NF) Tarefa de Nomeação de Figuras. Nível
que crianças e adolescentes com Parali- Lexical da Produção Oral: (RPP) Tarefa de
sia Cerebral podem apresentar alteração Repetição de Palavras e Pseudopalavras.
em pelo menos um aspecto da linguagem, Nível Fonológico da Produção Oral: (JR)
como fonologia e sintaxe e preservação da Tarefa de Julgamento de Rimas e Anam-
semântica e da pragmática. A partir desse nese. A análise de dados foi realizada por
enfoque, o objetivo do trabalho caracteri- técnicas descritivas quanto ao desempe-
zar o perfil linguístico de uma criança de nho nas tarefas de avaliação da linguagem.
05 anos com Paralisia Cerebral conhecen- Quanto ao aspecto da Compreensão oral
do assim a linguagem nos seus aspectos foram observados os seguintes resultados:
semânticos, fonológicos e léxicos, quanto 1.Nível Fonológico-(DF) 14%; (DR) 26%. 2.
à produção e compreensão oral. O estudo Nível Lexical-(DLA) 23%. 3. Nível semânti-
foi realizada no IBR- Instituto Baiano de Re- co-(ASPF) 27%; (ASFF) 28%. Para a Produ-
abilitação- BA, sendo o participante uma ção oral: 1.Nível Semântico- (FV) 88%; (NF)
criança do sexo masculino (T.M.), 05 anos, 24%. 2. Nível fonológico-(JR) 15%. Nos
da cidade de Salvador/Ba, com diagnóstico resultados descritos acima o foi possível
de Paralisia Cerebral do tipo diplégica, que perceber que T.M, teve um bom desempe-
foi detectada mediante tomografia. Du- nho nas tarefas que avaliavam a compre-
rante a gestação a mãe não fez pré-natal, ensão e a produção oral quanto ao aspec-
aos seis meses começou a perder líquido to semântico e léxico, mas duas tarefas de
amniótico e tomou soro por aproximada- avaliação fonológica apresentaram uma
mente 11 dias até completar sete meses, porcentagem abaixo da média em duas ta-
quando, o parto foi induzido. Os marcos do refas correspondentes a fonologia. Embo-
desenvolvimento mostram que não ocor- ra se espere que as crianças com Paralisa
reram atrasos significativos na linguagem. Cerebral tenham alta incidência de altera-
Segundo a mãe a criança não apresenta di- ções cognitivas, alguns tipos de PC como
ficuldades auditivas ou visuais. Para iniciar a diplégica apresentam uma deficiência
a avaliação foi assinado o Termo de Con- cognitiva leve ou moderada. A linguagem
sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pela tem seus aspectos preservados pela neu-
mãe. Para traçar, o perfil da linguagem roplasticidade que é responsável por uma

1095
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

reorganização estrutural e funcional, o que ma, menor unidade de significado da lín-


pode ser entendido como resultado das gua - é necessariamente considerada du-
interações com o ambiente para compen- rante o seu processamento. Desse modo,
sar e recuperar os déficits ocasionados por uma palavra complexa é reconhecida e,
lesões. Embora as alterações sejam peque- posteriormente, pronunciada, a partir das
nas, essas diferenças são relevantes para o seguintes etapas de reconhecimento visu-
desempenho comunicativo das crianças al (Taft & Foster, 1975): (1) o leitor realiza
com Paralisia cerebral que estão em ida- um procedimento de decomposição mor-
de escolar. Sendo, de muita importância fológica pré-lexical, que resulta no isola-
o contexto e as relações interpessoais na mento dos morfemas constituintes, antes
determinação dos significados, na promo- de se completar o acesso ao léxico: a pala-
ção de estimuladores que provocam moti- vra desatar, por exemplo, seria decompos-
vação e bem estar em atividades comuni- ta em des- (prefixo) atar (raiz); (2) em se-
cativas, bem como favorecer o desenvolvi- guida, a representação da raiz é localizada
mento dos processos neuronais, afetando e, por último (3) é realizado um teste para
a maturação e plasticidade do SNC. verificar a legalidade da combinação entre
o afixo e o morfema lexical. Um impasse
Palavras-chave: Avaliação; Linguagem; procedimental é desencadeado quando
Paralisia Cerebral. o leitor encontra uma palavra pseudo-
Contato: Ana Ribeiro Santana, ana. -afixada que tornará sua leitura mais len-
ribeiro_22@hotmail.com ta e sujeita a erros. Isto ocorrerá porque
este procedimento de decomposição é
relativamente automático e desencadea-
LT02-1485 - PADRÕES DE do para todas as palavras potencialmente
SEGMENTAÇÃO LINGUÍSTICA NA complexas, ou seja, nas quais se identifi-
LEITURA DE PALAVRAS EM VOZ ALTA cam segmentos que lembram a estrutura
Daniela Tankevicius Ferraz - IPUSP de afixos como, por exemplo, deserto, em
danitf12@gmail.com que o des- não é um prefixo. A aplicação
Ticiana Chiarastelli Salomão - IPUSP automática desse procedimento levará à
tici_salomao@hotmail.com leitura mais eficiente da palavra desatar,
Fraulein Vidigal de Paula - IPUSP que é de fato composta por prefixação,
frauleindepaula@gmail.com do que a palavra deserto, que é pseudo-
Financiamento: CNPq -afixada (Paula, 2007). Atualmente há mo-
delos mais flexíveis quanto à consideração
Este estudo teve o objetivo de verificar de que a decomposição morfológica não
que padrões de segmentação linguística seria o único procedimento ativado em to-
podem ser observados na leitura de pala- dos os casos (Caramazza, Laudanna & Ro-
vras por crianças entre 7 e 9 anos de idade. mani,1988; Schereuder & Baayen, 1995).
A esse respeito, Taft e Foster (1975, 1976) Estes passam a considerar que dois proce-
apresentam a hipótese da decomposição dimentos distintos de acesso ao léxico são
morfológica, de que a informação sobre ativados em paralelo: (1) um deles leva em
a estrutura morfológica das palavras com- conta a forma global da palavra complexa,
plexas - formadas por mais de um morfe- enquanto outro (2) lança mão da repre-

1096
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sentação e discriminação dos morfemas, e delineamentos experimentais: Carlisle


afixos e raiz. Porém, a via de acesso global (2000), Carlisle e Stone (2003) e Mann e
seria mais eficaz para acesso de palavras Singson (2003), em inglês, Burani, Marco-
familiares, enquanto que as raras, ou en- lini e Stella (2002), por exemplo, verifica-
contradas pela primeira vez, seriam lidas ram que tanto leitores do italiano, adultos
pela via da decomposição morfológica. e crianças, utilizam os processos de de-
A maior parte desses estudos focalizou o composição morfológica. Scliar-Cabral e
processamento de palavras complexas em Trindade (2004) evidenciam a sílaba como
leitores adultos e proficientes (Taft & Fos- unidade principal de segmentação na lei-
ter, 1975; Caramazza et al., 1988). Laxon, tura em português e Correa e Dockrell
Rickard & Coltheart (1992), foram os pri- (2007) identificaram padrões convencio-
meiros investigar o processamento mor- nais e não convencionais (supra e infra-
fológico em atividades de crianças entre 7 lexical) na escrita de texto por crianças.
e 9 anos, seguidos de estudos em francês Neste sentido, para verificar se padrões de
(Marec-Breton 2003; Marec-Breton et al., decomposição morfológica aparecem na
2005b) com leitores iniciantes, com idade leitura de palavras do português, são apre-
entre 6 e 8 anos e italiano (Burani, Marco- sentados e analisados os dados referentes
lini & Stella, 2002), com idade entre 8 e 10 a dez crianças matriculadas no 2° e 4° ano
anos. Em todos foram encontrados resul- do ensino fundamental, de uma escola de
tados semelhantes quanto à utilização da São Paulo. As mesmas fizeram a leitura
segmentação morfológica como critério em voz alta de uma lista de 72 itens, sen-
que permite a leitura de palavras, de modo do estes igualmente distribuídos e quatro
mais rápido e com menos erro. O estudo categorias: pseudopalavras não afixadas;
original de Laxon et al. (1992), assim como palavras pseudo-afixadas; pseudopalavras
o de Marec-Breton (2003) foram nortea- afixadas e palavras afixadas, conforme de-
dos pelas seguintes hipóteses: As crianças finido introdução, incluindo itens afixados
são sensíveis à estrutura morfológica das por prefixo e por sufixo. Sua aplicação é
palavras. Ou seja, a estrutura morfológica individual. A tarefa consistiu em solicitar
das palavras deve aparecer como unidade que as crianças lessem os quatro grupos
sonora na análise dos padrões de vocaliza- de itens lexicais, alternando a ordem de
ção das crianças, durante a leitura de pa- apresentação dos mesmos. Tratava-se de
lavras: O tempo de leitura de uma palavra itens construídos morfologicamente (pre-
composta deve ser menor do que de uma fixo + base; base + sufixo), subdivididos
palavra não composta morfologicamente; em: palavras afixadas (palavras constru-
tempo de leitura das pseudopalavras, de ídas pela associação de uma base e de
um modo geral, deve ser maior do que o um afixo disponível na língua avaliada) e
das palavras afixadas e não afixadas; Po- pseudopalavras afixadas (construídas com
rém, nas pseudopalavras, além do padrão um afixo e uma base disponível na língua
de leitura por sílabas, devem aparecer avaliada, mas o resultado desta construção
padrões correspondentes aos morfemas. não é atestado - não existe). E também de
Outros estudos também investigaram o itens não-construídos morfologicamente:
papel da morfologia na leitura no início da palavras pseudo-afixadas (palavras que
alfabetização, sob diferentes perspectivas têm por inicial ou final um grupo de letras

1097
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

homófonas de um afixo, mas não sendo de jogador profissional de futebol está em


afixadas) e, por último, pseudopalavras terceiro lugar, após s profissões de advoga-
não afixadas (construído pela combinação do e médico. Isso é um indicador de que,
de um grupo de letras homófonas de um entre os jovens da sociedade brasileira,
afixo em português à uma pseudo-base). ser jogador de futebol é visto como uma
Os dados são referentes à leitura de pa- profissão de sucesso (Damo, 2005). É co-
lavras isoladas áudio gravadas e tratadas mum estes jogadores receberem salários
conforme um software livre, que permite bem maiores do que muitos executivos.
a transcrição gráfica dos padrões sonoros A meta do sucesso financeiro já é grava-
de pronúncia (leitura dos itens do instru- da na consciência do jovem desde o início
mento) dos participantes. A leitura de cada da sua carreira futebolística, ainda quando
palavra por cada participante recebeu eti- criança. Na carreira do futebol, entende-
quetas relacionadas ao item e padrão de -se por categorias de base as categorias
leitura identificado. Estes resultados são amadoras que servem para a formação do
discutidos em relação aos padrões identifi- elenco dos clubes com atletas profissio-
cados - segmentação morfológica, de divi- nais. Os jovens atletas categorias de base
são silábica e decodificação letra a letra - e possuem uma precoce responsabilidade,
em termos de aspectos analisados a partir pois treinam de segunda a sexta, estu-
desta amostra para refinamento do instru- dam em escolas regulares e participam de
mento e ampliação do estudo, envolvendo competições nos períodos de abril a de-
um número maior de crianças e de outros zembro. Participam também de atividades
anos escolares. socioculturais programadas e acompanha-
mento psicológico, por exemplo, por meio
Palavras-chave: Leitura; Processos Cognitivos; de dinâmica de grupo. Vários moram no
Habilidades Linguísticas. próprio Centro de Treinamento, onde têm
folgas nos finais de semana e feriados. Os
atletas até 15 anos dispõem de uma ajuda
PO-LT07 de custo até os dezesseis anos, passando
a ter contrato e salário. Esses jovens atle-
tas também vivenciam sua adolescência
LT07-743 - AVALIAÇÃO nesse contexto, enfrentando essa fase
COMPORTAMENTAL DE JOGADORES DE de mudanças, rupturas, conflitos e crises.
FUTEBOL CATEGORIA SUB-15 DE UMA Como resposta a complexidade do proces-
EQUIPE PROFISSIONAL DE SÃO PAULO so maturacional e biopsicossocial viven-
Paulo Roberto Pereira de Souza - UPM ciado, alguns adolescentes apresentam
paulosouza70@terra.com.br um desenvolvimento saudável, enquanto
Renata dos Santos Francisco - UPM outros podem apresentar problemas de
rena.francis@hotmail.com comportamento (Silva & Hutz, 2002). O
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira - UPM objetivo do nosso trabalho é descrever o
mcris@mackenzie.br perfil comportamental dos atletas de fute-
bol de um clube profissional de cidade de
Dentre as três profissões mais valorizadas São Paulo. Para tanto, analisamos o perfil
nas escolas públicas e privadas, a carreira de dois atletas de futebol de base de um

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

clube profissional da cidade de São Paulo, sultados para problemas externalizantes,


da categoria Sub-15. Os materiais utiliza- embora esteja dentro do limite da norma-
dos para a avaliação do perfil comporta- lidade. Considera-se com muitas qualida-
mental são o Inventário de Auto Avaliação des positivas e que a sua interação social
para Jovens entre 11 e 18 anos, Youth Self- é intensa. Já seu psicólogo incomoda-se
-Report – YSR (YSR/11-18), de Achenbach com seu jeito questionador e com com-
e Rescorla (2001) e o Teacher Rating Form portamentos inadequados, o que confere
(TRF 6/18), que investiga a percepção do com os resultados obtidos para os proble-
perfil comportamental conforme relato mas externalizantes no TRF/6-18. Os resul-
de professores/cuidadores de crianças e tados da YSR para o segundo atleta, MHB,
adolescentes entre 6 e 18 anos (Achen- também indicam que sua competência to-
back, 2001). O perfil comportamental dos tal e sua pontuação na escala de ‘ativida-
atletas foi traçado com auxílio de progra- de’ e ‘social’ estavam no intervalo normal
ma Assessment Data Manager/ADM do para os relatos de meninos com idade en-
Sistema de Avaliação Empiricamente Ba- tre 11 e 18 anos. O TRF do segundo atleta
seado de Achenbach (ASEBA). Os resulta- sugere que o seu desempenho acadêmico
dos apontam que o YSR do primeiro atleta foi dentro do normal para as classificações
(GPM) evidenciam que sua competência dos professores em meninos com idade
total bem como a sua pontuação na es- entre 12 e 18 anos. Apesar da pontuação
cala de ‘atividade’ e ‘social’ estavam no para funcionamento adaptativo total ter
intervalo normal para os relatos de meni- sido dentro do normal, o psicólogo relatou
nos com idade entre 11 e 18 anos. Apesar mais problemas de ansiedade ou depres-
do resultado apresentado em relação aos são que a média relatada por professores
problemas internalizantes e externalizan- de meninos com idade entre 12 a 18. O
tes estar dentro da normalidade, pode- jogador MHB se julga preocupado consigo
-se observar tendência para problemas mesmo, com os outros e com sua família,
de comportamentos de externalização. em tirar boas notas e apresenta resulta-
Com relação ao TRF, o psicólogo avaliou o dos no YSR e no TRF dentro da normali-
desempenho de GPM quanto ao esforço, dade, porém com tendência a problemas
aprendizagem e felicidade como dentro internalizantes. Seu psicólogo preocupa-
da média e considerou seu comporta- -se com seu comportamento introvertido
mento ligeiramente menos adequado em e passivo, apontando sinais de ansiedade
comparação aos estudantes típicos da e depressão. Apesar disto, o psicólogo re-
mesma idade. Nas escalas de problemas conhece que MHB é um garoto dedicado,
do TRF, todos os escores de GPM em todas responsável e disciplinado. Concluímos
as escalas classificadas, inclusive para pro- que os nossos resultados mostram que os
blemas externalizantes e internalizantes, dois adolescentes avaliados não apresen-
estavam na faixa normal para os meninos tam problemas de comportamento; en-
de idade entre 12 e 18. Sua pontuação nos tretanto, algumas respostas que indicam
externalizantes estava na faixa limítrofe tendências a problemas de internalização
clínica. De maneira geral, o jogador GPM em um e leves sinais de comportamentos
julga-se um pouco desatento e hiperativo de desafio e oposição no outro. É impres-
e apresentou pontuação maior nos re- cindível que os pais e todas as pessoas

1099
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

responsáveis pela educação destes jovens (identidade) e aos jogos infantis. Todo
atletas estejam atentos a esses sinais para ser humano possui características físicas
que medidas preventivas sejam tomadas determinadas por genes provenientes da
para evitar problemas psicológicos em mãe e do pai. Os indivíduos portadores
sua fase adulta. Sugerimos outros estudos de síndrome de Down possuem um cro-
mais detalhados a respeito do desenvol- mossomo adicional no par 21; por conta
vimento dos jovens atletas das categorias disso, suas características físicas se asse-
de base, comparando os resultados com melham mais entre si do que com os seus
outras populações de jovens atletas. pais. Essa semelhança pode interferir no
desenvolvimento da representação de sua
Palavras-chave: futebol, avaliação individualidade (PUESCHEL, 1998). Ana-
comportamental, categorias de base lisamos os aspectos sociais e cognitivos
em duas crianças do sexo feminino, cujos
nomes fictícios são Maria e Clara, com
LT07-855 - FORMAÇÃO DO EGO EM onze anos de idade, residentes da cidade
CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME de Itaitinga, na região metropolitana de
DE DOWN Fortaleza. São alunas de escola pública,
Isadora Leite Ribeiro Alves - UFC cursando o segundo ano do Ensino Funda-
isadora_alves@hotmail.com mental em salas de inclusão, sem, todavia,
Natália Araújo da Silva - UFC a assistência de uma equipe multidiscipli-
nads_araujo@hotmail.com nar de suporte para o desenvolvimento de
Rachel Xavier de Faria Vecchio - UFC suas potencialidades. Tais crianças podem
ra_vecchio@hotmail.com ser consideradas um grupo de estudo di-
Rebeca Barros de Lima - UFC ferenciado por se inserirem em grupos
rebecabdl@hotmail.com sociais restritos às suas famílias e esco-
la. Um fator determinante na escolha da
O presente resumo é resultado de uma amostra parece ser a sua condição bioló-
pesquisa desenvolvida como prática na gica comum. Porém, podemos considerar
disciplina de Psicologia do Desenvolvimen- que o incentivo de suas potencialidades
to I, ministrada no curso de Psicologia da ao desenvolvimento implicará em respos-
Universidade Federal do Ceará pela pro- tas particulares. Tal condição as aproxima
fessora Susana Kramer, com a colaboração do estudo de Erik Erikson, em que o de-
do monitor Eduardo Alverne. A pesquisa senvolvimento humano se dá de forma
(em andamento) tem como objetivo iden- contínua, dinâmica e criativa, organizado
tificar, em situação de brincadeira coleti- a partir de três dimensões centrais: bioló-
va, o desenvolvimento do ego em crianças gica, individual e social (ERIKSON, 1976).
portadoras de Síndrome de Down, a partir A identidade é construída nas experiên-
da ideia de conflitos nucleares propostos cias vividas nessas três dimensões, sendo
por Erik Erikson. Abordamos fatores so- o ego uma síntese desse processo, o qual
ciais (família e escola) e fatores biológicos pode ser observado através de jogos in-
(síndrome de Down) relacionando-os ao fantis (brincadeira coletiva), adentrando-
modelo teórico-prático de Erikson, que -se ao universo lúdico dessas crianças. Nos
se refere à formação da personalidade estudos sobre a Teoria Psicossocial do De-

1100
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

senvolvimento de Erik Erikson, vimos que ximidade a ele, o que não foi percebido
há uma transferência por parte da crian- em relação à figura materna. Também se
ça em suas brincadeiras, pois, através do destaca na brincadeira coletiva sua busca
lúdico, representará suas relações sociais. de comando sobre a situação proposta, o
Este é o modo como consegue expressar que não se deu na vivência interpessoal,
a realidade e se libertar das censuras con- na qual Clara revelou ter medo de Maria.
solidadas na sociedade, o que implica em A pesquisa permitiu a observação da for-
uma representação do ego. Realizamos mação do ego em crianças portadoras de
jogos com as duas meninas, no espaço da síndrome de Down, destacando-se alguns
brinquedoteca da escola. Foram disponibi- conflitos durante a brincadeira coletiva.
lizados jogos de montagem, bonecas, casi- O primeiro desses foi o de “autonomia x
nha de boneca e fantoches, permitindo a vergonha e dúvida”, superado por Clara ao
livre escolha da dupla participante, diante demonstrar independência e extroversão,
da presença das pesquisadoras. De um enquanto Maria assumiu uma posição de
modo geral, observamos que Maria orga- dependência ficando sempre à espera de
nizava seu espaço, enquanto brincava. No autorização para brincar, evidenciada em
início, não queria brincar; porém, ao inte- sua postura física (cabeça baixa com ges-
grarmos o lanche dela à brincadeira, suge- tos que demonstravam vergonha). Outro
rindo que também oferecesse comida às conflito interpretado é o da “iniciativa x
bonecas, ficou menos retraída. Durante culpa”, em que observamos a iniciativa de
toda a brincadeira, não ouvimos a voz de Clara durante a brincadeira, aproximan-
Maria, que apenas gesticulava e apontava do os bonecos que representavam o pai
para o que queria fazer. Na brincadeira e ela própria, afastando a que represen-
com os fantoches, Maria colocou-os para tava a sua mãe, remetendo ao Complexo
beijarem na boca constantemente, rindo de Édipo. Maria demonstra retraimento,
de sua própria ação. Quando propusemos na brincadeira, o que pode ser resultado
que desenhasse sua família, rabiscou um de relações em que lhe faltaram tempo
bonequinho triste, recusando-se a conti- e espaço que permitissem o desenvolvi-
nuar o desenho. Depois, quando solicita- mento de suas atividades com autonomia.
da a representar o seu pai, continuou o Ela não tomou a iniciativa em nenhum
desenho apresentando um bonequinho dos jogos propostos, imitando, inclusive,
feliz. Não quis desenhar a mãe, reagindo certas atividades executadas por uma das
com batidas na mesa e gestos de negação pesquisadoras. Foi observada também, no
com as mãos, sugerindo um contexto de conflito da “identidade x confusão de pa-
reprimendas. Clara, por sua vez, apresen- péis”, uma identificação por parte de Clara
tou-se de forma alegre e comunicativa. com o pai, devido à sua incapacidade de
Durante a brincadeira de casinha, despiu fixar uma identidade própria. Já em Ma-
as bonecas, diversas vezes, sugerindo in- ria, embora isso não tenha emergido cla-
terações sexuais entre elas. Também apre- ramente no contexto da brincadeira, o seu
sentou a ação de aproximar o boneco-pai papel na família ou na escola é problema-
da boneca-filha e afastar a boneca-mãe. tizado, ao se observar seu sentimento de
Verbalmente, também mencionou o pai inadequação e inferioridade na dinâmica
de forma carinhosa, demonstrando pro- proposta, o que pode constituir, segundo

1101
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Erikson (1976), empecilho à sua identifi- pois inclusão não se reduz ao aluno se en-
cação nos contextos sociais em geral. O quadrar no espaço escolar, mas a escola
contexto social das duas meninas parece estar preparada para acolher as diferen-
corroborar tal situação, diante de relato ças. Assim, impulsionado por tais inquie-
das professoras das meninas sobre a evi- tações, o estudo teve como objetivo geral
tação dos demais alunos na interação com compreender como a escola inclusiva atua
as crianças das salas de inclusão. Além frente à necessidade de atender e ofere-
disso, notamos que, em Clara, a resolu- cer uma prática educativa que respeite as
ção dos conflitos é mais evidente do que diferenças, no intuito de favorecer o de-
em Maria. Neste sentido, segundo Erikson senvolvimento e aprendizagem dos seus
(apud Steiner, 2008), “o desenvolvimento alunos com necessidades educacionais
humano impõe conflitos nucleares que especiais – ANEE’s. Partindo dessa meta,
desencadeiam crises... [com] duas saídas os objetivos específicos propuseram: a) in-
possíveis: se o conflito é resolvido de ma- vestigar práticas educativas que procuram
neira satisfatória, a qualidade positiva é padronizar os processos de aprendizagem
construída no ego e o desenvolvimento é no espaço escolar e que comprometem o
sadio, se o conflito é resolvido de manei- desenvolvimento e aprendizagem do alu-
ra insatisfatória, a qualidade negativa se no; b) identificar tratamentos especiais es-
incorpora ao ego e o desenvolvimento é tigmatizados e preconceituosos para com
prejudicado” (p. 55). os alunos com necessidades educativas
especiais; c) registrar práticas e concep-
Palavras-chave: síndrome de Down, ções realizadas no espaço educativo que
brincadeira coletiva, ego não tenham preconceitos com as diferen-
Contato: Rebeca Barros de Lima, UFC, ças e otimizem uma aprendizagem signi-
rebecabdl@hotmail.com ficativa; e d) identificar as principais dife-
renças entre práticas educativas inclusivas
e não-inclusivas, verificando a relevância
LT07-1309 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA OU dessas diferenças para a efetivação e qua-
EXCLUSIVA: REFLEXÕES SOBRE UMA lidade da política da inclusão escolar. Pes-
PRÁTICA EDUCATIVA QUE RESPEITE ÀS quisadores na área de desenvolvimento
DIFERENÇAS humano e educação vêm constantemente
Franciene Soares Barbosa de Andrade - UnB salientando a necessidade de uma educa-
Geane de Jesus Silva - UnB/UAB ção de qualidade para todos, no sentido
de respeitar as diferenças, sejam elas, cog-
No contexto educacional, verificou-se nitivas, culturais, afetivas e outras. Portan-
certa dificuldade da equipe escolar em to, como pressupostos teóricos, a pesqui-
compreender e aceitar as diferenças, pois, sa baseia-se em autores como: Vygotsky,
na maioria das vezes, são vistas como um Taylor, Mendes, Kelman, além da legisla-
problema que precisa ser melhorado e ção brasileira referente à educação e edu-
ajustado diante do processo de ensino- cação inclusiva. Para tanto, a construção
-aprendizagem homogêneo. Essa proble- empírica teve como suporte metodológico
mática revela que, no âmbito escolar, a de pesquisa a abordagem qualitativa, por
educação inclusiva requer um novo olhar, meio da análise documental, entrevista

1102
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

semiestruturada e observação não-es- LT07-1400 - PESQUISANDO COM AS


truturada com o corpo docente, gestores CRIANÇAS: COMO ELAS REPRESENTAM
e organização pedagógica de uma Escola A INFÂNCIA A PARTIR DO USO DE
Classe em Taguatinga Norte-DF. Como re- DESENHOS DE UM DIA LIVRE
sultado da pesquisa, observou-se que a Márcia Elisabette Wilke Franco - CESUCA
padronização da aprendizagem deve ser marcia.franco@cesuca.edu.br
desconstruída em favor da igualdade de
oportunidades e, independente do como Este trabalho é resultado de uma pes-
se aprende, ocorra a aprendizagem e o de- quisa de doutorado realizada no Progra-
senvolvimento do aluno. Em relação aos ma de Pós-graduação em Educação da
tratamentos especiais estigmatizados e Universidade do Vale do Rio dos Sinos e
preconceituosos para com ANEE’s, foi evi- tem como objetivo compreender como,
denciada pela pesquisa a importância de na visão das crianças de 6 a 12 anos de
distinguir o “tratamento” do “respeito”. Gravataí-RS, se articulam e aparecem as
Sobre práticas e concepções pedagógicas possibilidades de infância. Observações
que demonstram preconceitos com as di- realizadas previamente acerca das ações
ferenças, percebeu-se maior otimização das crianças em diversos espaços sociais
da aprendizagem quando as limitações mobilizaram-me a estudar as mudanças
biológicas não são vistas como determi- na concepção da infância ao longo dos
nantes para o não desenvolvimento biop- tempos Ao ver crianças compartilhando
sicosocial dos ANEEs. Quanto às principais os mesmos espaços sociais dos adultos,
diferenças entre práticas educativas inclu- ao dar-me conta que as questões histó-
sivas e não-inclusivas, observou-se que, rico-sociais acabam por conformar uma
se a escola realizar um trabalho diversifi- nova infância, assim como as propostas
cado em grupo e incentivar a socialização pedagógicas (ou a falta destas propos-
dos ANEEs, contribuirá para a diminuição tas) favorecem a homogeneização dos
dos tratamentos especiais estigmatizados espaços escolares, organizei o presente
e preconceituosos que comprometem o trabalho de pesquisa.Uma pluralidade
desenvolvimento e aprendizagem desses de olhares para a dimensão social da in-
alunos. No que concerne à qualidade da fância se faz necessário. Pinto (1997), em
política de inclusão, os resultados mos- seu artigo sobre a infância como cons-
traram que a comunidade escolar precisa trução social, nos leva a refletir sobre a
participar mais das mudanças das políticas aparente naturalidade que caracteriza a
educacionais em prol de uma aprendiza- infância e nos mostra como essa etapa da
gem mais contextualizada e significativa vida possui uma importante dimensão de
para todos os alunos; contudo, ficou evi- construção social. Ao analisarmos as con-
denciado também que, isso só será possí- cepções sobre o mundo infantil, em es-
vel caso haja um Projeto Político Pedagó- pecial a criança, encontramos comumen-
gico condizente com a realidade de uma te diferentes discursos. Para esse autor,
Escola inclusiva. a perspectiva que melhor olha a criança
é aquela que foca as dimensões sociais
Palavras-chave: inclusão, diversidade, da infância no conjunto de processos so-
aprendizagem, educação, prática ciais. “A infância emerge como realidade

1103
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

social, realidade essa que também pro- preciso problematizar os dados etnográ-
duz, em certa medida, a própria socieda- ficos, de modo a permitir transitar entre
de” (Pinto, 1997, p.34). O conceito de in- universos culturais diversos – o nosso e
fância na perspectiva histórica nos indica o do nosso sujeitos” (1996, p.67). O mé-
que não podemos compreender a criança todo utilizado foi o quanti-qualitativo.
fora de suas relações com a sociedade na Neste momento, considero fundamental
qual está vivendo e desvinculada de suas reafirmar minha convicção de que infân-
interações com os sujeitos e com a cultu- cia não pode ser entendida como uma
ra do grupo social no qual está inserida. categoria natural, mas histórica e cultu-
As crianças, através de suas narrativas, ral, ainda que não determinada de modo
não expressam uma representação única absoluto pelo social. E que, por isso, há
de infância, mas seus distintos olhares. É diversos modos de “ser” criança e “viver”
importante nos darmos conta de que a a infância, não se podendo falar dessas
cumplicidade entre sociedade, educação categorias no singular ou se entender
e infância faz surgir discursos e saberes que exista um lugar específico, distintivo
que produziram e produzem o “ser infan- de infância e de criança. Este trabalho
til” de hoje, do presente. Buscando re- procurou compreender e destacar valo-
flexões com as crianças e entrecruzando res e significados das vozes infantis, obje-
diferentes saberes disciplinares, psicoló- tivando conhecer a criança e suas carac-
gicos, pedagógicos, sociológicos, filosófi- terísticas atuais. Procurou ver a criança
cos, pediátricos, e com o uso de um ins- enquanto sujeito histórico, que produz
trumento conhecido como “teste de epi- cultura. “O olhar das crianças permite re-
sódios” utilizado por Elsa Schmid-Kitsikis velar fenômenos sociais que o olhar dos
em suas pesquisas em Genebra, procurei adultos deixa na penumbra ou obscure-
conhecer e ampliar a compreensão de ce totalmente” (Sarmento, 1997, p.25).
suas relações com o conhecimento, a cul- As pesquisas com as crianças vêm sendo
tura e os modos de subjetivação da crian- realizadas de modo especial pelos pes-
ça e com quem ela estabelece relações quisadores representantes da sociologia
na contemporaneidade. Ao se produzir da infância. Estes consideram a criança
conhecimento, cada nó, cada ponto al- como ator social e buscam ultrapassar a
cançado, acaba por sugerir um caminho e dicotomia das outras abordagens. Acre-
que vai se transformando. De uma forma ditam que as crianças como seres sociais
séria e sem abrir mão do rigor e da busca representam certos papeis sociais que
de uma explicação como uma forma de estão internalizados na sua subjetivida-
conhecer essa infância que se torna um de. As crianças dispõem de um conheci-
dos fios desta tapeçaria, tomo a criança mento, fazem várias relações, são capa-
com um ator social, a partir do olhar da zes de avaliar e vivenciar vários papéis e
sociologia da infância. Muito são os ris- inventam suas estratégias. Transgridem
cos de ver, ouvir, descrever, registrar e in- as regras atribuindo outros significados
terpretar as falas das crianças sem o de- para suas atividades. Pesquisando com as
vido rigor teórico-metodológico, salienta crianças, precisamos reconhecê-las como
Gusmão, ressaltando ainda que devemos sujeitos de cidadania. Seus conhecimen-
ir além das aparências dos fenômenos. “É tos são válidos, elas elaboram juízos acer-

1104
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ca do que as rodeia. Nesta perspectiva, LT07-1434 - ARTICULANDO


as crianças não são idiotas culturais. Para RELAÇÕES ENTRE AS CRIANÇAS E OS
Ferreira (2004), toda investigação supõe PROFISSIONAIS DA ESCOLA MUNICIPAL
uma relação com as crianças na qual o DE EDUCAÇÃO INFANTIL CHAPEUZINHO
pesquisador deve estar com e não apenas VERMELHO DE CACHOEIRINHA/RS
estar lá. Tentar compreender a compre- Camila Francisco Zanette - CESUCA,
ensão do outro. Criar um espaço o mais camilafzanette@hotmail.com
espontâneo possível para que a criança Felipe Pereira de Assis - CESUCA
se revele. Ter consciência da necessidade Simone Wurzel - CESUCA
de uma refletividade metodológica como Márcia Elisabette Wilke Franco - CESUCA
pesquisadora, buscando escapar da po-
sição adultocêntrica, foi uma vigilância O presente trabalho de iniciação científi-
metodológica que fiz permanentemen- ca foi desenvolvido pelos acadêmicos do
te. Essas são algumas das questões que IV semestre do curso de psicologia do CE-
busquei compreender a partir da inser- SUCA – Complexo de Ensino Superior de
ção ao campo. Como a criança percebe Cachoeirinha, no intuito de, através da
o ser criança? Como ela representa os prática observacional, empregar a teoria
cotidianos da criança através do teste de estudada em curso. Esta pesquisa foi re-
episódios adaptado? Quais as possibili- alizada em Escola Municipal de Educação
dades de infâncias que encontramos nas Infantil Chapeuzinho Vermelho situada
cenas representadas em um dia livre? Os na cidade de Cachoeirinha/RS região me-
dados coletados indicam claramente que tropolitana de Porto Alegre. O quadro de
a dinâmica das interações na casa, na rua servidores da escola é composto por um
e na escola é própria. Para elas, a escola, total de 28 profissionais, sendo: 01 dire-
por exemplo, é mais um lugar para crian- tora, 01 vice-diretora, 01 articuladora pe-
ças viverem suas infâncias. As crianças dagógica, 01 secretária, 14 atendentes de
não são passivas nas situações de entre- educação infantil, 05 atendente de creche,
tenimento; elas são ativas protagonistas. 02 cozinheiras, 01 auxiliar de cozinheira e
Meninos e meninas têm presente que a 03 serventes. Os objetivos deste traba-
não-ludicidade faz parte da vida e, por- lho são: possibilitar que os profissionais
tanto, das suas infâncias, marcando as que atuam na instituição de ensino in-
relações sociais e afetivas com adultos, fantil descubram sua importância nesse
crianças ou outros. O lúdico e as formas espaço; que possam ter consciência dos
de viver esse lúdico constituem uma das papéis que cada um desempenha dentro
possibilidades das crianças viverem suas da escola de acordo com a sua especifi-
infâncias. cidade; resgatar a sua autoestima e sua
valorização, fazendo com que eles possam
Palavras-chave: criança, infância, sociologia perceber o quanto são fundamentais para
da infância que a instituição se desenvolva e para o
Contato: Márcia Elisabete Wilke Franco, melhor desenvolvimento das crianças.
CESUCA, marcia.franco@cesuca.edu.br Ao consideramos o meio como um fator
importante no desenvolvimento como
um todo, torna-se imprescindível com-

1105
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

preender que o meio não é estático e é e as habilidades sociais para um bom con-
múltiplo e que o desenvolvimento infantil vívio, potencializando um ambiente sadio
está diretamente ligado ao meio em que para as crianças e para os adultos. Para a
a criança está inserida. Logo, é necessá- finalização do projeto, foi feita uma dinâ-
rio compreender o processo de aprender mica de grupo que consistia em reunir um
como um processo contínuo e intermiten- pequeno grupo no meio do grande grupo.
te, em que o individuo é capaz de recons- Os integrantes do pequeno grupo que es-
truir novas realidades. Existem diversos tavam no centro deveriam realizar ativida-
sistemas que têm capacidade de intervir des propostas pelos demais (como fechar
no ambiente infantil e no aprendizado das a porta da sala, segurar um participante
crianças. Ao iniciarmos as observações, foi no colo) com um único cordão amarrado
possível compreender que todos os pro- na cintura de cada um dos participantes,
fissionais que ali trabalham interferem no unindo-os em um círculo. A realização da
ambiente das crianças. O objetivo inicial dinâmica possibilitou a compreensão de
da proposta de intervenção foi resgatar as que, para funcionar de forma eficiente,
capacidades de cada um dos profissionais o grupo deve ter a participação de todos
que atuam na escola, visando fortalecer e que cada um tem um papel definido e
as suas relações sociais e as suas habilida- insubstituível. A proposta de intervenção
des sociais para que, desta forma, todos possui fundamentação teórica na psicolo-
possam se sentir melhor na instituição em gia de grupos e nas práticas em grupo de
que convivem e em que passam uma boa Pichon Rivière. Foi possível analisar e re-
parte de sua vida diária. Foram realizadas fletir junto com todos os profissionais da
entrevistas individuais com cada um dos instituição observada sobre como é amplo
profissionais que atuam na escola, anali- o número de microssistemas que interfe-
sadas de forma qualitativa. Aplicou-se um rem no processo de conhecimento e de
questionário com perguntas semiabertas relacionamento entre todos os participan-
e as entrevistas foram realizadas dentro tes da educação infantil. Os participantes
da instituição de ensino infantil, com re- se deram conta que, em uma sala de aula,
gistro de imagem e som. A entrevista foi o professor, as crianças, os faxineiros, os
composta por três perguntas-chave: a) há pais, os serventes, a direção e até mesmo
quanto tempo trabalha na instituição; b) a estrutura física podem ser estímulos ca-
qual é a função que exerce atualmente no pazes de interferir no ambiente social e
local (falar um pouco sobre a sua rotina); psicológico de todos os integrantes. Como
e c) quais as principais lembranças que se articulam, se estabelecem e se constro-
possuem da escola durante o período que em as relações entre as crianças e os pro-
trabalham ali. Em um segundo momen- fissionais da educação infantil dessa Esco-
to da pesquisa, foi feita uma montagem la Municipal de Educação Infantil é alvo a
áudio-visual com os dados já coletados. ser trabalhado em conjunto com o projeto
Esse material foi trabalhado em uma reu- de pesquisa chamado “Possibilidades de
nião feita trimestralmente no próprio lo- Viver as Infâncias na Contemporaneida-
cal, visando trabalhar as particularidades de”, orientado pela professora Márcia
de cada profissão, a interdependência de Elisabette Wilke Franco. O problema de
cada um dos indivíduos dentro da escola pesquisa desse projeto é compreender

1106
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

como aparecem, na perspectiva das crian- de forma mais produtiva aos desafios em
ças, as possibilidades de infância. Faremos sua vida pessoal e profissional. Não obs-
um trabalho onde as crianças irão mostrar tante o reconhecimento do valor de se
como percebem os profissionais que con- cultivar a criatividade discente e a criati-
vivem com elas neste espaço educacional. vidade almejada por educadores e gesto-
res, nem sempre essa meta se reflete nas
práticas pedagógicas. A escassez de infor-
mação sobre criatividade e as lacunas na
formação do professor explicam esse qua-
DIA 15/11 - Terça-feira dro. Reconhece-se a necessidade de mu-
danças substantivas na educação de modo
10h30-12h a garantir uma cultura de ensino e apren-
dizagem voltada para a criatividade. Cabe
ao docente assumir o papel de catalisador
do potencial de seus estudantes e a estes
LT04 - Mesa Redonda incorporar novos hábitos de produção, ex-
Convidada pressão e implementação de novas ideias.

DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE CRIATIVIDADE NA DOCÊNCIA SUPERIOR:


NA EDUCAÇÃO SUPERIOR PESQUISAS RECENTES
Eunice Soriano de Alencar - UCB Eunice Soriano de Alencar - UCB
Denise de Souza Fleith - UnB
Sheyla Blumen - UC/Peru
RESUMO

RESUMO Esta apresentação inicia-se com a apre-


sentação das razões para a importância de
É o objetivo do simpósio discutir questões se promover um ambiente propício à cria-
referentes à criatividade na educação su- tividade na educação superior. Ressalta
perior. Reconhece-se que cabe à educação que, apesar de a criatividade ser conside-
superior preparar os estudantes para um rada um elemento chave para a realização
mundo que exige mais do que amplitude e do indivíduo e prosperidade de organiza-
profundidade de conhecimento. Há carac- ções e países, a atenção a ela na educação
terísticas desejáveis em profissionais de superior é ainda limitada, Considera que a
distintas áreas, as quais caberiam a educa- ênfase maior tem sido na transmissão do
ção superior, fomentar. Entre elas, as com- conhecimento e no pensamento crítico e
petências comportamentais, perceptuais, racional, desconhecendo a grande maioria
afetivas e simbólicas. De forma similar, dos professores universitários o que vem
em discussões sobre o profissional ideal, sendo pesquisado sobre criatividade na
a criatividade ocupa um lugar central. Esta educação superior e ambientes de apren-
se constitui em recurso fundamental para dizagem, ensino e avaliação que levem os
o indivíduo, possibilitando-lhe tirar maior estudantes a tomarem consciência de seu
proveito das oportunidades e responder potencial para criar e expressarem a sua

1107
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

criatividade. Será apresentada ainda uma CREATIVIDAD Y DESARROLLO DE


síntese de pesquisas recentes a respeito TALENTOS HACIA LA TRANSFORMACIÓN
de criatividade na educação superior, as SOCIAL
quais focalizaram tópicos diversos, como Sheyla Blumen - PUCP
avaliação do nível de criatividade de pro-
fessores universitários, características do Se reflexiona acerca de la importancia de
professor facilitador e inibidor da criati- la creatividad como expresión de salud
vidade, barreiras apontadas por profes- en el desarrollo humano y su desarrollo
sores do magistério superior ao fomento en entornos de diversidad etnolingüística
da criatividade nas disciplinas sob sua res- para la transformación social, a partir de
ponsabilidade e formas de avaliação que datos empíricos. Asimismo, se analiza la
estimulam o pensamento criativo. construcción social del concepto talento
en Perú, Chile y Colombia considerando la
influencia de la psicología positiva en su
CRIATIVIDADE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: concepción actual, así como la necesidad
TENDÊNCIAS E DESAFIOS de fomentar su desarrollo desde el esfuer-
Denise de Souza Fleith - UnB zo individual y grupal hacia la mejora del
bien común. Posteriormente, se discute
la relación de los conceptos creatividad y
RESUMO
talento, considerando estudios empíricos
Muito tem sido debatido acerca da neces- y el análisis de un caso, con el fin de com-
sidade de uma reorganização das práticas prender las contribuciones particulares
docentes na educação superior a fim de de aquellas personas que utilizaron su ta-
se proporcionar um ensino criativo, desa- lento para hacer de éste, un mundo mejor
fiador, motivador, integrado e interdisci- para vivir, enfatizando el importante rol
plinar. No mundo do século XXI, marcado que juegan las oportunidades y servicios
pelo crescente avanço tecnológico, pelas complementarios a los que están expues-
rápidas mudanças sociais e culturais, pelas tos las y los jóvenes potencialmente ta-
turbulências econômicas, pelo fenômeno lentosos. Asimismo, se proponen diversas
da globalização, pela complexidade das estrategias de aceleración pedagógica en
relações interpessoais e pelo declínio dos el entorno escolar y universitario, para
valores, é imperativo o investimento no apoyar el desarrollo del talento en niñas,
potencial criativo humano. Embora o va- niños y jóvenes, tomando consciencia de
lor de se cultivar a criatividade em sala de nuestra responsabilidad en la formación
aula seja reconhecida e almejada por edu- intelectual, ética y moral de las y los lí-
cadores e gestores, nem sempre as prá- deres del futuro. Finalmente, se subraya
ticas docentes implementadas refletem la necesidad de mejorar la comprensi-
esta meta educacional. Portanto, o objeti- ón de las y los profesionales de la salud
vo dessa apresentação é discutir obstácu- y educadores acerca de las y los jóvenes
los ao desenvolvimento da criatividade na talentosos, tomando en consideración la
educação superior e propor estratégias de diversidad etnolingüística característica
estimulação do potencial criador de estu- del contexto en que crecen y se desar-
dantes e professores universitários. rollan, asumiendo que la gran mayoría

1108
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se encuentra en espacios de pobreza, ca- gênero, etc). O processo de desenvolvi-


rentes de oportunidades para desarrollar mento se dá nas múltiplas e simultâneas
sus capacidades. Se recomienda el plan- interações entre as condições e recursos
teamiento de lineamientos formales de pessoais e as condições e recursos con-
fomento al talento en sus diferentes ma- textuais. É através das interações que os
nifestaciones, con el compromiso de los agentes de socialização - pais, educadores
diferentes agentes de la sociedad civil y - transmitem crenças e práticas veiculadas
del estado, así como de las universidades no meio social ao qual pertencem, que são
y empresas, con el fin de asegurarles un essenciais para a constituição do sujeito.
espacio comunitario, social y laboral, evi- Essas práticas educativas são, portanto,
tando la fuga de talentos y apoyando su culturalmente organizadas e interpelam
desarrollo para la transformación social. o campo de estudos sobre o desenvolvi-
mento humano acerca do modo como as
Palabras-clave: creatividad, talento, bienestar relações intergeracionais oferecem anco-
social, diversidad etnolingüística, aceleración ragem para as transições juvenis. Faz-se
necessário refletir sobre a crise de senti-
dos que questiona instituições tais como a
família e a escola, pela fragilidade do seu
MR LT05 - Mesa Redonda contrato social, que não mais responde às
Convidada novas demandas juvenis por espaços de
participação político-culturais. Pretende-
-se aqui abrir o debate sobre as formas de
MR LT05-1345 - TRANSIÇÕES JUVENIS E sociabilidade e participação juvenil, tra-
LAÇOS GERACIONAIS: ENTRE TRADIÇÃO zendo como elementos para discussões
E INOVAÇÃO temáticas como sexualidade, vulnerabi-
Miriã Alves Ramos de Alcântara - UCSa lidades, violência, protagonismo e auto-
miria.alcantara@gmail.com nomia como espectro que alarga o foco
Mirela Figueiredo Iriart - UEFS sobre as transições juvenis, nas tensões
mifis36@gmail.com entre passado, presente e futuro, num
contexto de múltiplas referências cultu-
A socialização do jovem na contempora- rais e identitárias e atravessado por um
neidade acontece através da família, da ethos individualista. São nas transações
escola e do trabalho centrada, sobretudo, geracionais, em meio às tensões entre
em padrões marcadamente adultocêntri- tradição e inovação, que tais referências
cos nos quais há relativa autonomia para são negociadas, de acordo com uma ética
sua inserção sócio-profissional e político- com menor investimento na dialética e na
-cultural. Entre a influência sócio-cultural ontologia que perpassam os vetores da
da família, da comunidade, da escola e a democracia e da cidadania. Favorecer o
trajetória individual existe uma margem protagonismo juvenil pode ser uma estra-
“relativa de escolha”, que se dá dentro de tégia na formulação de projetos de vida
um campo de possibilidades circunscritos por parte dos jovens, em diferentes con-
por determinantes sociais de diferentes textos e condições sócio-econômicas e na
ordens (classe social, local de moradia, emergência de novas discursividades que

1109
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

questionem os lugares pré-estabelecidos nuidades e descontinuidades, conflitos e


e as posições estereotipadas. Os jovens contradições, representam distintas pos-
dificilmente serão agentes de construção sibilidades de transmissão e recepção na
do seu próprio destino, com capacidade negociação entre tradição e inovação, no
de influir sobre as políticas públicas, na processo de individualização, implicando
ausência de instituições capazes de mobi- mudanças sociais, na dialética intergera-
lizar sua ação solidária. Aposta-se, ainda, cional. A fragilidade do laço intergeracio-
na inversão das posições hierárquicas na nal (de solidariedade e de reciprocidade)
transmissão cultural, quando se reconhe- na contemporaneidade questiona o posi-
ce que os mais velhos podem e devem cionamento das novas gerações frente à
aprender com os mais novos, convidan- tradição, quando os mais novos têm de
do-os à cena, como interlocutores A mesa “se encarregar de construir seu próprio
redonda é composta por pesquisadores destino, dar sentido às suas ações e de-
da Universidade Católica do Salvador, da cisões, se afirmar como singularidade”,
Universidade Estadual de Feira de Santana (Castro, 2006, p.256). A partir da análise
e da Universidade Federal do Recôncavo da autora, observam-se prováveis “racha-
Baiano alinhados a perspectivas teóricas duras” entre a transmissão da herança
interdisciplinares que tangenciam a psico- cultural por parte dos mais velhos e a sua
logia cultural e sistêmica, a sociologia e a recepção pelos mais jovens, colocando
filosofia da juventude, contribuindo para em risco as trocas geracionais. Reconhe-
se pensar a educação formal e não formal, ce-se que estas trocas nunca são pacíficas,
familiar, crítica e sensível a linguagens cul- pois não se trata de uma mera recepção,
turais juvenis, formatadas na dialogia. mas de uma reconstrução negociada de
sentidos, cuja agencia do sujeito deve ser
reconhecida. A trajetória biográfica, como
A DIALÉTICA INTERGERACIONAL: memória ou legado cultural, tenciona-
NEGOCIANDO O PASSADO, O PRESENTE -se com o ideário de um projeto indivi-
E O FUTURO dual, com ênfase na autodeterminação,
Mirela Figueiredo Iriart - UEFS nas escolhas pessoais e na autonomia
mifis36@gmail.com do sujeito, sendo a trajetória individual o
Financiamento: FAPESB lugar onde estão inscritas as marcas das
escolhas que o sujeito assume ao longo
A debilidade dos laços sociais e a fragili- da sua biografia. A transição desenvol-
dade das agências socializadoras - sobre- vimental, ora entendida como percurso
tudo a família, a escola e o trabalho - nos linear e normatizador do curso de vida,
interpelam sobre como as relações inter- hoje deve ser pensada como uma trajetó-
geracionais oferecem ancoragem para ria descontínua, ou trajectiva (Pais, 2006),
as transições juvenis, numa sociedade denotando um percurso sinuoso, constru-
marcadamente adultocentrica, com pou- ído nos intersticiais domínios da cultura,
ca ou relativa autonomia dos jovens na da sociabilidade, dos laços de amizade e
construção de mecanismos de inserção das condições estruturais, num horizonte
sócio-profissional e político-cultural. As temporal caracterizado pelas inconstân-
transações geracionais, envolvendo conti- cias do presente e pelas incertezas do

1110
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

futuro. A globalização, o pluralismo dos nidades rurais, este campo de possibili-


valores e das autoridades, o individualis- dades é tangenciado pelas tensões entre
mo institucionalizado e a ausência de con- a tradição familiar, o ethos coletivista e o
trole sobre riscos, envolvem o futuro com ideal urbanocêntrico, apostando no su-
um caráter de incerteza e um sentimento cesso individual, em que a cultura de mas-
de verdadeiro temor (Leccardi, 2005). A sa, os meios de comunicação e os grupos
maior parte dos jovens encontra refúgio, de pertencimento (inclusive, virtuais) pas-
sobretudo em projetos de curto ou curtís- sam a dividir as tarefas de educar com as
simo prazo. Nas tensões existentes entre tradicionais agências socializadoras. O es-
distintas temporalidades: passado, como tudo da juventude rural supõe a compre-
memória biográfica, presente, como tem- ensão da complexa dinâmica social que
po da experiência/consciência geracional relaciona a casa (a família), a vizinhança
e futuro, como tempo do por vir, proje- (a comunidade) e a cidade (o mundo ur-
tado a partir do presente aberto como bano-industrial), não como espaços dis-
campo de possibilidades, compreender o tintos, mas sim como espaços de vida que
papel da escola e da família na construção se entrelaçam e que dão conteúdo à ex-
negociada de estratégias de alcance do periência dos jovens (Wanderley, 2007).
futuro e de significação do presente, nos A escola é um contexto privilegiado para
anos finais do ensino médio, em um con- se pensar a juventude, como comunidade
texto rural é o que se propõe aqui neste de prática, que mediatiza as experiências
trabalho. Tal recorte emerge do conjunto de vida através do compartilhamento de
de dados produzidos através da pesquisa idéias, memórias, emoções, fornecendo
“Juventude, Escolarização e Inserção so- recursos cognitivos/simbólicos que fa-
cial: um estudo em diferentes contextos voreçam a produção de narrativas de si,
da rede pública de educação do município onde sentidos subjetivos são criados nas
de Feira de Santana10. Entre a influência interações, em espaços discursivos múl-
sócio-cultural da família, da comunidade, tiplos, configurados por elementos de
da escola e a trajetória individual, há uma natureza psicológica, histórica, cultural,
margem “relativa de escolha”, que se dá ideológica e institucional. Vale ressaltar
dentro de um campo de possibilidades que a escola ainda assume um papel im-
(Velho, 1981), circunscritos por deter- portante para os jovens, sobretudo na
minantes sociais de diferentes ordens ausência de outros equipamentos sociais
(classe social, local de moradia, gênero, (de lazer, esportivos, de participação polí-
etc), tendo como contexto de referência tica), que favorecem os laços geracionais,
sociedades complexas caracterizadas pela a sociabilidade juvenil e o senso de per-
coexistência de distintas instancias produ- tencimento, como é o caso de jovens mo-
toras de valores e de referências culturais. radores de um contexto na fronteira entre
Em relação mais especificamente a comu- o urbano e o rural11. Problemas estrutu-

11
O lócus escolhido para a pesquisa é uma escola pública,
10
Pesquisa realizada pelo NETTE, Núcleo de Estudo e Pes- localizada num distrito rural distante cerca de 12 quilô-
quisa Trabalho, Trajetórias e Educação, da Universidade metros da sede da cidade de Feira de Santana. A localida-
Estadual de Feira de Santana (UEFS), com financiamento de vive basicamente da agricultura familiar ou comercial
da FAPESB no período de 2008-2009. de pequena escala.

1111
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

rais da escola pública aparecem de forma ENTRE O PASSADO E O FUTURO:


ampliada para estes jovens, seja na defici- CONSIDERAÇÕES SOBRE JUVENTUDE EM
ência da formação específica dos docen- TRÊS GERAÇÕES
tes, na infra-estrutura, no transporte, ou Miriã Alves Ramos de Alcântara - UCSal
ainda na ausência de políticas públicas miria.alcantara@gmail.com
culturais que valorize a memória local e Patrícia Caldeira de Queiroz - UCSal
universal. Sendo depositaria da esperança patrícia.caldeira@yahoo.com.br
de um futuro melhor, a escola apresenta-
Financiamento: CNPq, FAPESB
-se desconectada da realidade e dos an-
seios da maioria dos jovens. O sentido de
“ser alguém na vida” é o que os motiva O diálogo intergeracional requer que se
a permanecer na escola, dividindo o seu ultrapasse a visão de gerações como com-
cotidiano com o trabalho doméstico e no posta por indivíduos da mesma faixa etária
roçado. Vislumbram a qualificação profis- ou condição social, o que implica conside-
sional, e a passagem pela escola, como rar elos que ligam quem precede e se su-
condição para a ruptura com a trajetória cede na genealogia familiar. A família con-
biográfica e o ethos familiar, negociando temporânea, contexto fundamental para
no interior da família a tradição e a inova- o desenvolvimento humano, influencia e
ção. Imprimem também outros sentidos sofre profundas alterações do contexto so-
paradoxais à instituição escolar, ao ques- ciocultural, processo que se evidencia nas
tionarem a qualidade do ensino oferecido relações entre gerações. Portanto, é inte-
e a invisibilidade das suas demandas, tais ressante aprofundar o estudo das intera-
como: maior abertura ao diálogo, profes- ções entre famílias e jovens como cenário
sores mais comprometidos com o ensino, que, de um lado, atualiza padrões do mer-
valorização dos espaços de sociabilidade, cado globalizado e, de outro, manifesta o
conteúdos acadêmicos mais significativos, fenômeno da dádiva. Definido pela trocas
que favorecem a inserção sócio-profissio- entre os membros da família, o conceito de
nal. Põe-se em questão se a escola está dádiva viabiliza compreender o convívio, a
sendo capaz de atender a demandas so- integração e o conflito da cultura familiar
ciais complexas e heterogêneas, e como com a lógica do mercado. Discute-se, com
favorece que o jovem negocie as suas re- base nas categorias dádiva, autonomia e
ferências pessoais, culturais e familiares liberdade, a posição de adolescentes e jo-
na construção de projetos de vida, apos- vens nos dinamismos familiares, a fim de
tando, ainda na horizontalidade da trans- indicar permanências, conflitos e rupturas
missão cultural. para com as perspectivas de socialização
de pais e avós. Um estudo empírico foi
Palavras-chave: transições juvenis, dialética conduzido junto a 20 famílias residentes
intergeracional, escola na cidade do Salvador, entrevistadas com
Contato: Mirela Figueiredo Iriart, UEFS, base em um roteiro semiestruturado cons-
mifis36@gmail.com truído especialmente para esta pesquisa,
com o objetivo de caracterizar o conceito
de juventude entre membros de três gera-
ções (avô, pai e filho) diferenciados segun-

1112
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do gênero e grupo sociocultural. A partir incipiente agenda pública. Este paradoxo


da perspectiva dialógica a análise revelou insere-se nos processos que caracterizam
distintas considerações a respeito da ju- a sociedade globalizada no capitalismo
ventude entre membros de uma mesma avançado, descortinando elementos ino-
família. Os resultados mostram que avós vadores das trocas intergeracionais que
reconhecem maior iniciativa e avanço dos desafiam as estratégias educativas em seu
jovens especialmente quanto a tecnolo- potencial de socialização. A família é um
gia e educação formal. Consideram valo- dos objetos centrais das Ciências Humanas
res e costumes atuais negativos devido a e Sociais Aplicadas, marcada pela comple-
influências como TV, drogas e liberdade xidade, o que exige tratamento interdis-
sexual, o que requer vigilância e acompa- ciplinar e transversal. O contexto familiar
nhamento dos pais. A atitude dos jovens acolhe os diversos olhares que a atraves-
para com os mais velhos é vista como sam e que reconhecem nela a origem e a
descomprometida, pois embora possuam convergência de processos fundamentais
liberdade e acesso ao conhecimento, têm para as relações humanas e para a subjeti-
menos ideais que as gerações anteriores; vação. Constitui espaço social no qual seus
supostamente lutam menos, pois possuem membros são instados a participar de in-
tudo. Esta perspectiva diverge dos pais que tercâmbios que lhes conferem identidade
apresentam uma imagem mais positiva (Levi-Strauss, 1967). Suas relações carac-
das conquistas da juventude. Na sua visão, terizam-se por elementos próprios do fato
os jovens ocupam espaço social significati- social total a partir do qual os indivíduos
vo, usufruem da liberdade alicerçando um vivenciam os acontecimentos constitutivos
mundo em construção (responsabilidade); da vida (Mauss, 1932; Donati, 2008). O en-
representam uma geração preocupada contro de diferentes gerações é marcado
com problemas ambientais e com o mun- pela vivência do tempo geracional no qual
do. Por outro lado, os pais apresentam crí- ocorrem a transmissão cultural e a educa-
ticas mais contundentes com relação aos ção dos membros mais jovens. A reunião
gostos e interesses do jovem por temas de diferentes gerações no contexto fami-
considerados vazios e sem estética, o que liar revela que a família integra condições
reflete ausência de ideal e de razões para de desenvolvimento de relações de cida-
lutar. Eles ponderam ainda acerca do aces- dania (Pereira, 2004; Donati, 2003). Tudo
so a informação diversificada, a existência isto consolida seu estatuto de fundação e
de múltiplas tendências de comportamen- fundamento social (Giddens, 2005). A es-
to, de distintas formas de pensar, a divisão truturação psíquica contribui nas relações
em tribos e guetos e a juventude como fundamentais da família pelas quais o su-
valor ligado ao bem estar como elementos jeito dá seu aporte para desenvolver-se
a serem considerados na socialização. Em psicologicamente (Mizhari, 2001). A socia-
seu conjunto, as considerações evidenciam bilidade de seus membros expressa-se na
que, em meio a diferentes tendências, a fa- capacidade de assumir as tarefas relativas
mília ainda se reconhece como responsá- ao trabalho e ao afeto, características da
vel por favorecer a inserção do jovem. No vida do adulto, processo que revela sua
entanto, as profundas desigualdades so- atribuição de promotora das normas de
ciais dificultam este processo evidente na conduta (Braganholo, 2005).

1113
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: família, gerações, juventude mais que respeitados sejam compreen-


Contato: Miriã Alves Ramos de Alcãntara, didos, compreendidas como sujeitos de
UCSal, miria.alcantara@gmail.com direitos e de desejos, mais também su-
jeitos a criar direitos, tipo de orientação
que é frustrada na educação familiar e
JUVENTUDES, FAMILIAS E ESCOLAS: escolar corrente. Recorrendo ao conceito
DESENCONTROS EM RELAÇAO À de representações em Moscovici, Melluci
SEXUALIDADE E À ETICA DO CUIDAR e Jodelet o texto se modela por enfoque
Mary Garcia Castro - UCSal interdisciplinar, privilegiando entrelaces
castromg@uol.com.br da psicologia política e social e a sociolo-
gia de Bourdieu (reflexiva) na analise de
O texto em proposição combina ensaio falas de jovens de diferentes inscrições
e analises que decolam de pesquisas. O ou ‘tribos’. Assim tem-se como referencia
ensaio mais reflexivo discute os conceitos o Brasil na virada do texto para o empí-
de vulnerabilizações (limites materiais e rico, reacessando pesquisas construídas
sistêmicos) e vulnerabilidades ou neces- por grupos focais e entrevistas, alem de
sidades dos seres humanos e a relativida- surveys, que co-coordenei com Miriam
de e o impulso por busca por autonomia, Abramovay entre 2004-2010 com jovens
que entre os jovens tem na dimensão entre 15 a 29 anos. Assim analisam-se
da sexualidade, configuração de rito de discursos de diferentes grupos de jovens
passagem e de pertença a fratrias (Kehl), como ativistas em grupos identitários—
assim como afirmação identitária. A cri- LGBT e jovens feministas; jovens (homens
tica as instituições escola e família pas- e mulheres) em gangues em Brasília, jo-
sam por resgatar os debates propostos vens no ensino médio e na população
por Martha Nussbaum sobre o sistema em geral. Discutem-se representações de
escolar ocidental, mais voltado para o jovens sobre família e escola e como os
mercado e projetos desenvolvimentistas, conceitos de vulnerabilidade e autono-
deixando de lado a formação democrá- mia têm referencias conflitivas quando
tica, por cidadania ativa e solidaria e so- discursos de jovens e adultos são rela-
bre suas teorias baseadas na perspectiva cionados e ainda se pautam por estere-
liberal12 que combina o lugar do Estado ótipos quanto a gênero. Defende-se por
no plano de garantir capacidades para outro lado que o debate sobre sexualida-
que os indivíduos possam fazer livres es- de e cuidado, passa por discutir ethos in-
colhas, baseadas na razão ética, ou seja, dividualista, resistências à diversidade e
em que o outro, e em particular a outra, à alteridade. Alinha-se o texto à perspec-
tiva de Nussbaum sobre a importância de
uma educação formal (escolar) e familiar
12
Serão acessados em particular os trabalhos de Goldstein, critica e sensível a linguagens culturais
Pierre “V”Vulnerabilité ET Autonomie dans La pensée juvenis, mais voltadas para performáticas
de Martha Nussbaum”. Philosophies, PUF, Paris, 2011
e Nussbaum, Martha “Not for Profit. Whay democracy
e sensações (Nussbaum discute sobre o
needs the humanities”, Princeton University Press, New conhecimento critico em Platão e o co-
Jwrsey, 2010 e ; Nussbaum, Martha “Introduction” in nhecimento interdisciplinar que combina
Winnicott “The Fam,ily and Individual Development”,
Routledge, London, 1965 arte e humanidades em Tagore). Sexua-

1114
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lidade e ética de cuidar são saberes que mento de estereótipos (principalmente


tendem a ser ativados nas relações inter em relação ao jovem pobre, da periferia),
generacionais de forma moralista, mas a geração de um clima de histeria e sen-
sem a preocupação em como se cons- timentos fatalistas, e para a proposição
troem na moral da modernidade con- de soluções baseadas em raciocínio uni-
temporânea e com pouco investimento causal e linear. Concomitantemente, mui-
em combinações dialéticas, que tenham tas escolas vêm tomando iniciativas de
como vetor a democracia e formação de enfrentamento às violências – iniciativas
cidadãos e cidadãs solidários. Por outro de distintas naturezas, abordagens, graus
lado a ênfase na razão critica combina- de complexidade e eficácia. Na mesma
da com o cultivo das sensibilidades, da trilha, organizações não-governamentais
beleza, ou seja, da arte afasta o texto de (ONG’s) direcionam os trabalhos que de-
conceitos como tolerância e respeito, se senvolvem com crianças e adolescentes
não formatados em dialógica, ou seja, na para enfoques que dêem conta dos de-
comunicação. O debate epistemológi- safios impostos pela cultura de violência.
co subjacente é sobre possibilidades de Em meio a esse panorama de incertezas,
estimulo à solidariedade e ao cultivo do tentativas e aprendizados, reconhece-se
exercício de individualidades não ego- a emergência de novas “práticas culturais
cêntricas, portanto sensíveis a gênero, e profissionais” (Testa, 1994, p.135) no
reconhecendo a interação entre vulnera- contexto das organizações educacionais.
bilidades e buscas por autonomia dos e Essas novidades, no entanto, permane-
das jovens e a complexidade para as fa- cem, na maioria das vezes, no nível do
mílias e a escola com o tema sexualidade. “conhecimento comum ou pré-conheci-
mento pré-científico” (idem). No intuito
Palavras-chave: sexualidade, ética do cuidar, de contribuir para a identificação de práti-
dialogia cas fomentadoras de uma cultura de paz,
Contato: Mary Garcia Castro - UCSal em curso em escolas e organizações não-
castromg@uol.com.br -governamentais, realizou-se pesquisa
em três organizações educacionais cujo
trabalho em prol da prevenção da violên-
PROTAGONISMO JUVENIL COMO cia e/ou promoção de uma cultura de paz
ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO E têm obtido reconhecimento social. As or-
PROMOÇÃO DA PAZ ganizações situam-se em distintas Unida-
Feizi Masrour Milani - UFRB des Federativas do Brasil – uma escola pú-
feizi.milani@gmail.com blica em bairro periférico, um projeto de
educação em Saúde desenvolvido por um
No Brasil, o aumento das preocupações órgão oficial em parceria com uma ONG,
da população, autoridades, especialistas num bairro de baixa renda, e uma escola
e educadores com o fenômeno das vio- internacional privada. Todas têm como
lências nas escolas tem, por um lado, le- público alvo os adolescentes. A análise de
vado esses atores sociais a se engajarem dados foi orientada pelo modelo ecológi-
em discussões em busca de alternativas co do desenvolvimento humano proposto
e, por outro, contribuído para o agrava- por Bronfenbrenner (1977, 1996), o qual

1115
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

enfatiza a necessidade de considerar- de vida, por parte do adolescente (Sousa,


-se o desenvolvimento humano em seu 2004). Esses aprendizados constituem-
contexto social, num processo dinâmico -se em elementos-chave de qualquer es-
e contínuo de interações entre os fatores tratégia de prevenção à violência nessa
biológicos, psicológicos e ambientais. O faixa etária. Na realidade, uma parcela
indivíduo e o seu ambiente não são vistos da juventude brasileira já está integrada
como entidades separadas, ao contrário, a alguma forma de participação coletiva,
o indivíduo é uma parte ativa e inten- a exemplo de grupos artísticos, culturais,
cional do ambiente com o qual interage desportivos ou religiosos, ONG’s, movi-
e pelo qual é influenciado. É através das mentos estudantis, ecológicos, sociais ou
interações que os agentes de socialização comunitários, escotismo e serviços volun-
- pais, educadores - transmitem crenças tários. Rua (1998) constata que, “em ge-
e práticas veiculadas no meio social ao ral, o jovem se mobiliza a partir das agre-
qual pertencem, que são essenciais para gações estabelecidas por instituições pre-
a constituição do sujeito. Essas práticas existentes” (p.748). Portanto, se as insti-
educativas são, portanto, culturalmente tuições forem incapazes de “mobilizar a
organizadas (Bastos, 1994). Identificou- ação solidária dos jovens, é bastante pos-
-se como característica em comum às sível que eles continuem a ser objeto de
três organizações educacionais estudadas políticas, sem capacidade de influir sobre
o fato destas criarem espaços de parti- as mesmas” (idem). O modelo proposto
cipação dos adolescentes/educandos, por Bronfenbrenner permite ao pesqui-
promoverem o seu engajamento ativo sador transitar entre os vários níveis de
em atividades intra e extra-muros, reco- atuação e interação da pessoa, assumin-
nhecerem sua liderança e valorizarem do que ela é um sujeito com sua própria
suas iniciativas. Em outras palavras, elas identidade e capaz de fazer escolhas –
adotam o protagonismo juvenil como dentre as quais, agir/reagir com violência
princípio norteador e estratégia educati- ou promover a paz – reconhecendo, ao
va, reconhecendo ser o jovem não apenas mesmo tempo, que essa pessoa se insere
beneficiado, mas também o promotor da em determinado ambiente familiar, clas-
transformação social (Milani, 2004). O se econômica, situação social e contexto
conceito de protagonismo juvenil busca histórico, os quais exercerão grande influ-
“uma forma de ajudar o adolescente a ência em sua trajetória de vida, inclusive
construir sua autonomia, através da gera- expandindo ou reduzindo drasticamente
ção de espaços e situações propiciadoras seu rol de escolhas. Por outro lado, as es-
da sua participação criativa, construtiva e colhas que ela fizer repercutirão sobre as
solidária na solução de problemas reais pessoas e ambientes com os quais inte-
na escola, na comunidade e na vida social rage, levando a distintas consequências.
mais ampla” (Costa, 2000, p.22). Favore- Cada uma das organizações educacionais
cer o protagonismo juvenil pode ser uma analisadas promove o protagonismo ju-
estratégia eficaz de promoção da saúde. venil através de abordagens distintas:
Seus benefícios são múltiplos – contri- (1) A escola pública em questão fomen-
buindo, inclusive, para a autoestima, a as- ta a inclusão – reintegrando estudantes
sertividade e a formulação de um projeto anteriormente expulsos ou desistentes

1116
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e confiando-lhes tarefas relacionadas à MR LT01


disciplina escolar; disponibilizando suas
quadras e salas nos fins de semana para
Mesa Redonda
jovens do bairro praticarem esportes e
estudantes da escola ministrarem ofici-
nas artísticas; oferecendo oportunidades MR LT01-766 – O ENSINO DA
de estágio aos estudantes e de trabalho PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
aos egressos; encorajando a meta de cur- NA CONTEMPORANEIDADE: LIMITES E
sar a universidade. (2) O projeto observa- POSSIBILIDADES
do fomenta duas vias interligadas – a des- Ana Maria Monte Coelho Frota - UFC
coberta de um novo olhar do adolescente Ercília Maria Soares Souza - FANOR
sobre si mesmo e sua comunidade, e a Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
atuação como multiplicadores de Educa- Terezinha Teixeira Joca - UNIFOR
ção em Saúde. (3) A escola internacional
estudada enfatiza a “unidade na diversi- Esta mesa se propõe a discutir a especifi-
dade” e gera situações e oportunidades cidade da área da Psicologia do Desenvol-
nas quais os estudantes exercitam a au- vimento, questionando seus paradigmas,
tonomia – cooperando para a realização metodologias e livros-texto. A primeira
de projetos transversais e organização de autora discute a importância dos estudos
festivais; cultivando o voluntariado den- na área, acreditando que a ela compete
tro da escola e em instituições sociais; trazer questões sobre transformações e
fomentando a integração entre estudan- processos do homem. Assinala que o de-
tes de diferentes nacionalidades, grupos senvolvimento vem sendo estudado em
étnicos e religiões. As três organizações classes etárias e que, na contemporanei-
educacionais apresentam inúmeras dife- dade, existe uma desconstrução da ideia,
renças entre si, no que tange a estrutura que se fez universal e a-histórica, de ser
física, número de educadores e adoles- este o formato da existência concreta.
centes, contexto sócio-cultural, objetivos Acredita que esta é uma divisão aleató-
e históricos institucionais, dentre outras. ria, construída histórica e socialmente,
No entanto, o foco da análise realizada foi além de transitória. Apesar disso, muitas
a busca por aquilo que existe em comum teorias tentam explicar, compreender,
a esses programas. Todos promovem a predizer, avaliar o desenvolvimento. As te-
“difusão de uma ética da solidariedade, orias são tantas e tão diversas, que pare-
cuja base seja o respeito ao outro” e re- ce possível dizer que existem psicologias
presentam “linhas de fratura no dispositi- com paradigmas distintos. A autora ainda
vo da violência” que possibilitam “pensar salienta que é a clareza dos paradigmas
a construção de uma cidadania mundial” adotados na práxis acadêmica, que nor-
(Tavares dos Santos, 2002, p.23). teia a escolha de livros para estudos, me-
todologias, avaliação e conteúdos a serem
Palavras-chave: juventude, protagonismo, discutidos. A segunda autora defende que
cultura da paz a disciplina Psicologia do Desenvolvimen-
Contato: Feizi Masrour Milani, UFRB, feizi. to é um dos sustentáculos do curso de
milani@gmail.com graduação em Psicologia, tornando seu

1117
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ensino um desafio constante. Tentando vida na disciplina Psicologia da adolescên-


superá-lo, apresenta um relato de experi- cia, fase adulta e velhice, com estudantes
ências, com o objetivo de tornar cotidiano do curso de Psicologia, que vivenciaram
os questionamentos e a profusão de res- o papel de coparticipes de seu processo
postas e perguntas. A maior conquista foi de aprendizagem e entraram em contato
ressaltar indicadores de desenvolvimento, com suas próprias histórias de vida. Ado-
considerando quadros clínicos específi- tou a proposta do Método (Con)texto de
cos. Para os estudantes foi estruturante Letramentos Múltiplos, levando estudan-
poder aprender a teoria e exercitá-la sem tes a refletir e construir suas autorias, par-
rigidez. Por fim, revelou uma maneira de tindo dos textos evocativos indicados pelo
aliar conhecimento, desejo de saber e curso, na bibliografia. Esperamos, com
relações sensíveis, produzindo interroga- este espaço, proporcionar uma troca de
ções mais do que respostas, conduzindo experiências entre profissionais da área,
a formas de acessar um mundo com dife- ampliando questionamentos e pensando
rentes linguagens. O terceiro autor identi- em possibilidades de melhoria do ensino
fica a dificuldade de bibliografia que seja (teórico e prático) desta disciplina.
capaz de apresentar os estágios do de-
senvolvimento, ao mesmo tempo em que
desperta o prazer de ler e de aprender. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO OU
Além disso, desenvolve uma metodologia PSICOLOGIAS DO DESENVOLVIMENTO? –
que considera o aprendiz como sujeito de DO QUE FALAMOS?
sua expressão verbal, numa universidade Ana Maria Monte Coelho Frota - UFC
que não priva o estudante de seus dese- anafrota@ufc.br
jos de ser e de pertencer, dando-lhe auto-
nomia no desencadear de seus esforços. A Psicologia do Desenvolvimento vem se
Adota uma perspectiva interacionista do debruçando sobre o estudo do desen-
sujeito-palavra, considerando os aspec- volvimento, focada, principalmente, na
tos da interlocução, intersubjetividade e perspectiva temporal, ou seja, na idade
interpessoalidade indispensáveis no de- cronológica. Porém, o tempo em si não é
senvolvimento da aprendizagem. Usa a uma característica psicológica, o que nos
aplicação do Método (Con)texto de Letra- possibilita afirmar que as idades se cons-
mentos Múltiplos nas disciplinas de Psico- tituem como categorias sociais, a partir
logia do Desenvolvimento da Infância e da de um contexto histórico e socialmente
Adolescência. Apresenta o livro Odisseia constituído (Figueiredo, 1993). Da mesma
do Desenvolvimento Humano: navegando forma, é possível refletir que o que é tido
pelos 12 estágios da vida, cuja excelente como características essenciais de cada
recepção pelos estudantes tem desper- uma das idades ou fases da vida huma-
tado interesse sobre a função do livro na na, também é construção histórica, uma
aprendizagem exitosa da Psicologia do De- vez que o que ocorre em cada idade, e
senvolvimento. Finalmente, o quarto au- sua expressão, dependem do contexto no
tor discute a escassez de livros que tratem qual os indivíduos estão inseridos. A partir
do desenvolvimento humano. Apresenta disso, é possível afirmar que a idade cro-
uma prática docente inovadora, desenvol- nológica não é o mais determinante para

1118
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se estudar o crescimento humano, e sim sempre são o mesmo. Para nós, profes-
as mudanças vividas pelo humano, no seu sores da área, coloca-se uma indagação:
tempo de vida. As fases de desenvolvi- quando damos aula, de qual psicologia
mento, suas conceituações e caracteriza- falamos? A clareza dos paradigmas das
ções, as diversas teorias que se detém a teorias adotadas por nós, na nossa práxis
compreendê-las e analisá-las, têm em si a acadêmica, é disparadora da escolha de li-
“leveza da falsidade”, são somente “sinto- vros que norteiam nossos estudos, da me-
mas do homem”, pois que representações todologia adotada nas aulas, das formas
sociais e, portanto, sempre precárias e em de avaliação e dos conteúdos a serem dis-
transformação (Frota, 2007). A descrição cutidos com nossos alunos. Porém, mui-
do desenvolvimento humano em fases ou tas vezes esta clareza não existe, e nos
estágios parece perder-se na sua aparente flagramos trabalhando com manuais de
concretude e naturalidade, deixando de Psicologia do desenvolvimento Humano
lado a busca de entender realmente como que apresentam estudos e resultados a
se processa o desenvolvimento humano. partir de uma visada maturacional e bio-
Cabe-nos refletir: o que, especificamente, logicista, como os Manuais de Helen Bee
cabe à Psicologia do Desenvolvimento? O (2003), Papalia (2008), e outros, enquanto
que a ela, importa estudar? Como estudá- defendemos uma perspectiva, por exem-
-la com nossos alunos? Biaggio (2009) plo, dita “interacionista”. A ausência de
aponta 3 fases históricas dentro da evolu- livros-texto construídos dentro da nossa
ção do campo da Psicologia do Desenvol- realidade brasileira também é outro pro-
vimento: (a) a primeira, dos anos 20 a 40 blema encontrado por docentes da área.
do século passado, caracterizada por um Finalmente, é importante ressaltar a ca-
saber centrado na maturação biológica; rência de uma teoria do desenvolvimento
(b) a segunda, que contempla os anos 40 humano organizada, acompanhada de es-
a final dos anos 50, afirma uma psicologia tudos, discussões e aplicação prática, das
mais preocupada com a correlação dos di- novas tendências apontadas por Biaggio
versos saberes, mas ainda sem conseguir (2009), tais como as teorias da psicolo-
correlacioná-los; e (c) a última fase, dos gia sócio-histórica, referidas acima. Par-
anos 60 até a atualidade, centra-se no in- tindo de uma perspectiva crítica, Kramer
teresse em explicação das causas das mu- (1997) assinala a ruptura da Psicologia do
danças do comportamento, mais que na Desenvolvimento com a vertente mecani-
sua descrição ou associação de variáveis. cista da ciência positivista, enfatizando a
Aponta, ainda, para novas tendências da crítica à visão naturalizante, biologizante,
Psicologia do Desenvolvimento, trazidas universalista e abstrata da concepção de
pela Teoria de Processamento de Infor- criança e de infância, que atravessam as
mações, pela Psicologia Dialética, pela teorias de desenvolvimento divulgadas
Sociobiologia e pelo Enfoque Ecológico de até os anos setenta do século passado.
comportamento. Falamos, assim, não de Apresenta, como contraposição, a criança
Psicologia do Desenvolvimento, mas de como sujeito da própria história, produ-
PsicologiaS do Desenvolvimento, configu- zida e produtora de cultura. Dentro des-
radas com pressupostos distintos, meto- ta perspectiva Vasconcellos (2007), por
dologias diferentes, conteúdos que nem exemplo, se nega a ver a criança como

1119
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

fazendo parte de uma categoria genérica, (Piaget, Vygotsky, Wallon), sócio-histórica


na qual a incompletude e a imaturidade (Bock e Ozella), e/ou outra, adotando o
sejam as características basilares. Acredi- estudo das teorias defendidas por seus
ta que uma das causas da invisibilidade da criadores, ao invés de estudar o processo
criança se faz pela segmentação da vida do desenvolvimento humano. Questiono
em etapas cronológicas, naturalizadas, e a possibilidade de se estudar a psicologia
não como construção social. Vasconcelos do desenvolvimento de um modo que
(2008) apresenta alguns dos marcos teó- não nos percamos da sua especificidade,
ricos da psicologia do desenvolvimento da deixando de lado o processo, para estu-
criança na perspectiva sócio-interacionis- darmos a teoria de alguns de seus ícones.
ta, as quais reforçam a indissociabilidade Volto a indagar: o que importa mesmo à
homem-mundo. É neste caminho que a Psicologia do Desenvolvimento? Qual a
Psicologia do Desenvolvimento vem se melhor metodologia a ser trabalhada?
constituindo na contemporaneidade: afir-
mando a interação homem-mundo social. Palavras-chave: Psicologia do
O desenvolvimento humano se dá através Desenvolvimento, perspectiva crítica, teorias.
de uma rede de relações e interações, na
qual os indivíduos se constituem enquan-
to sujeitos, negociando significados (Ros- RELATO DE EXPERIÊNCIAS: ELABORAÇÃO
setti-Ferreira et al, 2004). Dentro desta DE UM PLANO DE TRABALHO PARA
perspectiva, não pode ser visto como um ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO
processo individual, a-histórico e passivo. DE CRIANÇAS, CONSTRUINDO
Ao contrário, o processo de desenvolvi- POSSIBILIDADES.
mento é dinâmico, com possibilidades Ercília Maria Soares Souza - FANOR
constantes de transformações, criações e esouza3@fanor.edu.br
recriações. A pessoa, como assinala Silva
(2003), é considerada sujeito múltiplo, e A disciplina Psicologia do Desenvolvimen-
não como produto/objeto de sua história. to é um dos sustentáculos do curso de
Ele tem a possibilidade de se transformar, graduação em Psicologia, visto que apre-
assim como de transformar seu mundo. A senta descrição (e problematização) das
partir dessas premissas, algumas questões características, particularidades, especi-
merecem ser assinaladas: é marcante a ficidades do desenvolvimento humano.
ausência de livros que orientem o estudo Lecionar esta disciplina é um desafio, ao
das disciplinas da área de desenvolvimen- mesmo tempo em que se constitui uma
to humano, seja de crianças, adolescen- imersão em uma complexa rede de sabe-
tes, adultos ou idosos. Continuamos a uti- res, desejos e possibilidades de aprendi-
lizar os mesmo manuais oferecidos numa zagem. Este trabalho apresenta um relato
orientação maturacionista, apesar de his- de experiências, ditas significativas, com
toricamente ter sido superada. Fugindo a o objetivo de tornar cotidiano na sala de
esta orientação, muitos dos professores aula questionamentos, profusão de res-
da área escolhem trabalhar numa pers- postas e perguntas, inquietações frente às
pectiva psicanalítica (Freud, Lacan, Win- teorias e a descoberta de como apreen-
nicott ou Ericsson), sócio-interacionista der um conteúdo, tornando-o “um saber”.

1120
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Ao buscar embasamento teórico para es- já atendida em clínica especializada (per-


tas questões, deparamo-nos com auto- tencente à mesma Faculdade). As crian-
res como Freire (2003), Moreira (2005) e ças atendidas tinham um “diagnóstico”,
Pellizzari et al (2002), que demonstram, não informado aos alunos, para que eles
teórica e tecnicamente, que os aprendizes tivessem como parâmetro o desenvolvi-
não são receptores passivos e que, quan- mento de cada criança e não seus trans-
do supomos que um novo conhecimento tornos e/ou impedimentos. Desta forma,
é pautado em um conhecimento prévio, o foco principal desta atividade foi, desde
e que, a partir desta interação, é possível o início, promover a apreensão de saberes
criar condições extremamente favoráveis sobre desenvolvimento infantil. Contudo,
na construção de saberes, temos a chance no momento em que os estudantes se
de instigar os atores envolvidos (apren- depararam com quadros que ainda não
dizes, mesmo que estudantes e/ou pro- (re)conheciam, como Paralisia Cerebral,
fessores) a criar suas metáforas, ou suas Autismo, Dislexia, Síndrome de Rett, Sín-
formas de (de) codificar o mundo. Além drome de Asperger, Transtorno de Déficit
disso, podemos articular mais um tema, de Atenção e Hiperatividade, dentre ou-
presente em nossa prática: o desejo de tros, inquietaram-se, questionaram-se e
saber. Márcia Tiburi (2006) é brilhante foram buscar estudos que favorecessem
quando afirma que o que move o huma- seu percurso teórico e o discernimento
no é sua curiosidade, portanto seu desejo entre as várias nuances do desenvolvi-
de saber sobre algo “obscuro” (em algum mento infantil. Eis aqui a primeira contri-
momento). Esse desejo está vinculado, buição desta experiência: o desconhecido
segundo a autora, ao outro e ao universo instigou os alunos em direção ao saber. Os
da linguagem, ou aquilo que ela chama de Planos de Trabalho foram elaborados em
“espaço intersubjetivo, o intervalo que é pequenos grupos, supervisionados por
espaço aberto e conexão que há entre Eu mim, tanto na fase de elaboração quan-
e Tu”. Fica assim demarcado nosso cam- to na fase de execução. A execução do
po de trabalho: o encontro entre huma- Plano foi programada para acontecer em
nos, suas diferenças e semelhanças e o horários antes ou após os atendimentos
conhecimento, em um exercício contínuo das crianças, já realizados na clínica, e de
de sensibilidade. Tendo estas referências acordo com a disponibilidade e aceitação
como retaguarda, dedico-me a relatar um das crianças e seus responsáveis. Em ter-
trabalho realizado na disciplina “Psicolo- mos práticos, primeiro foram realizadas
gia do Desenvolvimento I: Infância” com observações iniciais, que deveriam ser
alunos do 2º semestre de um curso de “silenciosas”. Depois os estudantes deve-
graduação em Psicologia. Além do percur- riam conhecer/estudar os autores indica-
so teórico, promovido por meio de aulas dos e fazer um levantamento, desenvolver
dialogadas, seminários temáticos e semi- descrições e estabelecer critérios e finali-
nários clínicos, foi proposta aos alunos, a dades para as atividades que proporiam.
elaboração de um Plano de Trabalho, com Depois deste momento inicial, acontece-
tarefa principal de estruturar um roteiro ram as primeiras interações propriamente
de intervenção, que os permitissem ana- ditas com as crianças, e a proposição das
lisar o desenvolvimento de uma criança atividades: brincadeiras infantis, jogos,

1121
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dramatizações, fantoches, uso de provas tas. Ao tentar saber quem eram as crian-
piagetianas, etc. Toda semana, após as ças e não exatamente quais seus diagnós-
tarefas realizadas e seu detalhado relató- ticos, produziram estratégias de interven-
rio parcial, reservávamos um tempo das ção ancoradas no exercício do que chamei
aulas para discussão em grupo e partilha aqui de sensibilidade. A maior conquista
de experiências, promovendo calorosos desta experiência parece ter sido ressal-
debates em como e o que avaliar/anali- tar os indicadores de desenvolvimento,
sar. Ao final do trabalho foram elabora- considerando quadros clínicos muito es-
dos relatórios, e um deles era destinado pecíficos, garantindo às crianças a valori-
às crianças e seus familiares. O direcio- zação de seu potencial criativo. Por outro
namento desta etapa foi promover um lado, para os estudantes, foi estruturante
encontro para indicar o desempenho das poder aprender a teoria e exercitá-la sem
crianças nas diversas atividades, conside- rigidez, com delicadeza e seriedade. Por
rando os indicadores estudados do de- fim, esta experiência revelou uma manei-
senvolvimento infantil, relacionando-os ra (ou pelo menos uma tentativa) de aliar
aos quadros apresentados pelas crianças. conhecimento, desejo de saber e relações
Nestas ocasiões, os estudantes também sensíveis, produzindo muitas mais inter-
sugeriram aos pais atividades que estimu- rogações do que respostas. Sem dúvida,
lavam o desenvolvimento, a partir das ob- esta proposta de trabalho sugere que de-
servações e do desempenho nas tarefas e sejar saber pode ser uma linha que con-
brincadeiras realizadas pelas crianças. Os duza a formas de acessar um mundo com
Planos de Trabalho de cada grupo foram diferentes linguagens.
apresentados em seminários em sala. Os
ouvintes, também motivados pelas suas Palavras-chave: relato de experiência,
próprias experiências, se tornaram per- desenvolvimento infantil, intervenção.
guntadores incansáveis. Todos desejavam
saber como foi a interação com as crian-
ças, quais as dificuldades, que conceitos e EM BUSCA DO LIVRO IDEAL PARA
preconceitos estavam presentes, que situ- O ENSINO DE PSICOLOGIA DO
ações inusitadas enfrentaram, que adap- DESENVOLVIMENTO
tações precisaram fazer, que sentimentos Francisco Silva Cavalcante Junior - UFC
vivenciaram, o que aprenderam, o que se fscavalcantejunior@gmail.com
tornou belo, o que continuou difícil, que
critérios de avaliação usaram, quais dife- Esta comunicação emerge da necessidade
renças identificaram, quais suas conclu- de se refletir sobre a utilização de livros no
sões, etc. Ao final da disciplina foi possível ensino da Psicologia do Desenvolvimento
identificar que os estudantes manejaram em cursos de graduação de universidades
de forma criativa seu conhecimento pré- brasileiras. Identificamos a dificuldade en-
vio, acrescido dos novos conhecimentos, contrada por muitos professores na esco-
transformando-os em saberes. A partir de lha de uma bibliografia que seja capaz de
interrogações sobre os quadros “clínicos” apresentar os estágios do desenvolvimen-
das crianças observadas, tornaram sua to humano ao mesmo tempo em que des-
aprendizagem um contínuo de descober- perta no leitor o prazer de ler e de apren-

1122
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

der. Insatisfeitos com os relatos ouvidos profunda do lido, estética, também, do


de estudantes sobre a ineficiência do lido”. Objetivamos com esta comunicação
ensino dessa disciplina em cursos de gra- apresentar observações empíricas sobre
duação, desenvolvemos uma metodologia a importância da utilização de livros que
que considera o aprendiz como sujeito de despertam no estudante universitário o
sua expressão verbal, numa universidade desejo de querer conhecer e aprender
que não priva o estudante de seus desejos conteúdos da Psicologia do Desenvolvi-
de ser e de pertencer, dando-lhe autono- mento e criar um espaço, durante a mesa
mia no desencadear de seus esforços para redonda, para que os professores presen-
o estudo da Psicologia do Desenvolvimen- tes compartilhem as bibliografias adota-
to. Adotamos uma perspectiva interacio- dos em suas disciplinas. Apresentaremos
nista do sujeito-palavra, considerando os nossas reflexões sobre o ensino da disci-
aspectos da interlocução, intersubjetivi- plina em foco, nos cursos de bacharelado
dade e interpessoalidade indispensáveis e licenciatura em Educação Física, com a
no desenvolvimento da aprendizagem. A utilização do livro Odisseia do Desenvol-
expressão linguística sujeito-palavra ex- vimento Humano: navegando pelos 12
traímos do léxico de Alain Touraine para estágios da vida, de autoria do psicólogo
denotar o sujeito que verbaliza suas emo- norte-americano Thomas Armstrong, cuja
ções, numa escola/universidade centrada excelente recepção pelos estudantes tem
na comunicação inter e intrapessoal. Com despertado o nosso interesse sobre a fun-
a aplicação do Método (Con)texto de Le- ção do livro na aprendizagem exitosa da
tramentos Múltiplos, nas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento. Escrito ao
Psicologia do Desenvolvimento da Infân- longo de 25 anos de pesquisas e de prática
cia e da Adolescência, chegamos a três docente, o autor conseguiu um feito fan-
importantes constatações: (1) a concep- tástico na sua obra: sintetizou os estágios
ção comunicativa constitutiva da mente e do desenvolvimento físico, psicológico e
de um potencial inerente ao sujeito que espiritual, utilizando-se de conteúdos das
é capaz de fazer objeções no processo de mais diversas áreas do conhecimento, tais
leitura e escrita, na aprendizagem e nas como neuropsicologia, antropologia, bio-
reações sobre esta aprendizagem; (2) per- logia evolutiva, psiquiatria, folclore, socio-
cepção de educação que se volta para a logia, religião e literatura. Os treze capítu-
cultura da aprendizagem constitutiva da los abordam os estágios da vida, desde o
mente na formação da consciência do su- pré-nascimento até a experiência da mor-
jeito, a partir de suas crenças no proces- te e do morrer. Ilustrado com narrativas
so de apreensão do conhecimento e (3) de sua vida pessoal, o texto torna-se uma
concepção de liberdade constitutiva da leitura prazerosa, informativa e transfor-
mente que se justifica pela reação do su- madora para os estudiosos do desenvol-
jeito como verbalizador de suas emoções vimento humano e para os interessados
e pensamentos. Neste trabalho focamos em conhecer os estágios da vida humana.
nossas reflexões na terceira premissa, a Cada capítulo sugere uma lista de ativida-
libertadora, que se inspira em Paulo Frei- des e de filmes para o aprofundamento da
re, para quem “ler não é passear por cima fase da vida em estudo. A adoção do livro,
das palavras, ler é ter uma compreensão disponibilizado no mercado editorial bra-

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sileiro em meados do primeiro semestre cia e da Adolescência, com a utilização do


de 2011, possibilitou-nos renovar a cons- Método (Con)texto, adotamos um postu-
tatação que publicamos anteriormente ra pedagógica de empoderamento huma-
em Letramentos para um mundo melhor, no capaz de promover aprendizagens e de
sobre a importância da utilização de bons transformar vidas por intermédio da livre
livros para despertar no estudante univer- comunicação e expressão de idéias, pen-
sitário, o desejo de ler e de escrever. Da samentos e sentimentos. Os resultados
angustiante leitura de manuais densos e obtidos indicam o valor da escrita espon-
enfadonhos para o estudo da Psicologia tânea e do registro dos estágios de vida
do Desenvolvimento no Brasil, conta- dos estudantes, em um processo de au-
mos, agora, com um livro que consegue toconhecimento que impulsiona a emer-
fomentar no aprendiz o seu interesse de gência da aprendizagem e da educação,
ler. Melhor ainda, um livro que consegue numa concepção formadora do sujeito
suscitar no sujeito-aprendiz a expressão que aprende. Atribuímos à interdepen-
da palavra que comunica a sua alegria de dência da mediação do professor, do en-
aprender e de querer saber mais sobre gajamento dos estudantes e da relevância
os conteúdos estudados: “professor, que da bibliografia estudada, o êxito obtido no
livro maravilhoso!” A formação do estu- ensino de Psicologia do Desenvolvimento
dante-leitor é uma prioridade nas discipli- em cursos de graduação.
nas que ministramos na Universidade. Em
um processo conjunto de conhecimento Palavras-chave: ensino, livros, letramentos.
e autoconhecimento, que congrega senti-
mentos e pensamentos numa prática de
letramentos, onde o sujeito-palavra deixa UMA EXPERIÊNCIA REFLEXIVA COM
de ser espectador e torna-se interpretan- ESTUDANTES DE PSICOLOGIA SOBRE AS
te, planeja suas idéias, transaciona com o FASES DO DESENVOLVIMENTO
texto, transformamos, juntos, professor e Terezinha Teixeira Joca - UNIFOR
estudantes, a sala de aula em uma comu- terezinhajoca@unifor.br
nidade de aprendizagens cooperativas e
significativas para o empoderamento de O ensino da Psicologia do Desenvolvimen-
vidas. Inseridos no contexto que empode- to reduzia-se, inicialmente, ao estudo da
ra e transforma todos os agentes envolvi- infância e da adolescência. Somente, mais
dos na aprendizagem da Psicologia do De- recentemente, incluímos no programa
senvolvimento, constatamos, a cada nova desta disciplina a adultez e a velhice como
aula, o que definiu Concha Delgado-Gai- fases do desenvolvimento humano. Cons-
tan como resultado de uma prática de em- tatamos, todavia, uma escassez biblio-
poderamento humano: a “revelação dos gráfica que apresente todos os estágios
potenciais de uma pessoa, através da re- da vida de uma forma mais abrangente.
flexão coletiva e diálogo contínuo, onde as No Brasil, embora haja um interesse cada
diferenças cedem espaço para propósitos vez maior no desenvolvimento ao longo
e objetivos comuns – consequentemente, do ciclo vital, há ainda uma concentração
transformando vidas”. Em nossas aulas de no estudo da infância e da adolescência
Psicologia do Desenvolvimento da Infân- (Mota, 2005). Esta comunicação objetiva

1124
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

apresentar uma prática docente inovado- tários. Posteriormente, os aprendizes de


ra, desenvolvida na disciplina Psicologia pesquisadores fizeram a compilação dos
da adolescência, fase adulta e velhice, du- dados coletados, identificando categorias
rante o primeiro semestre de 2011, com nas entrevistas transcritas, analisando os
estudantes do quinto período do curso de dados com a orientação da professora,
Psicologia, em uma Universidade da rede culminando com apresentações dos estu-
particular de ensino. Os estudantes ma- dos realizados pelas equipes de pesquisa.
triculados vivenciaram o papel de copar- A redação de um artigo científico concluiu
ticipes de seu processo de aprendizagem a experiência do estudo com a composi-
e entraram em contato com suas próprias ção de trabalhos portadores de excelente
histórias de vida. Passaram a expressar os qualidade para apresentações em eventos
seus sentimentos de forma transparente, científicos. Enquanto isso, as quartas e
atribuindo sentido a cada texto lido: “tor- sextas-feiras, no mesmo semestre, traba-
na-se até engraçado a forma em que per- lhamos com os textos propostos na biblio-
cebo cada texto retratado sobre os adoles- grafia, servindo de referencial teórico para
centes e acredito que de alguma forma a a análise das pesquisas realizadas. Com
dúvida de saber em que fase eu estou, dei- o diferencial da metodologia proposta,
xa muito a desejar”. Para alcançar o nosso não se fez mais necessário a aplicação de
intuito, adotamos a proposta do Método provas que foram substituídas por apre-
(Con)texto de Letramentos Múltiplos de- sentações das leituras dos textos sugeri-
senvolvido por Francisco Cavalcante Junior dos e a exibição de filmes abordando as
(2001, 2002, 2003), levando os estudantes temáticas das fases do desenvolvimento
a refletir e construir suas autorias a partir humano. Não foi nossa intenção fugir do
dos textos evocativos indicados pelo cur- conteúdo proposto pelo curso, mas de-
so, na bibliografia unificada da disciplina, senvolver uma metodologia que nos pos-
que compreende as visões naturalistas, sibilitasse evocar conteúdos significativos
históricas e culturais, somada a uma pes- no estudante e incentivar, cada um deles,
quisa com o objetivo de discutir as repre- à produção de textos-sentido, “uma es-
sentações sociais de jovens universitários, crita autêntica, que passa pelo aluno, to-
entre 17 e 27 anos, sobre a adolescência, mando significados diferenciados a partir
a adultez e a velhice. Durante o decorrer da experiência singular com a leitura por
do semestre caminhamos semanalmente ele realizada” (Cavalcante Jr., 2003a, p.
com os estudantes, todas as segundas- 87). Dessa forma, abdicamos da visão de
-feiras, na condição de pesquisadores. Re- um ensino fragmentado, focado no uso de
alizamos uma coleta de dados com três vi- provas, atribuição de notas e transmissão
sitas ao campus, entrevistando jovens dos de conteúdos. Convidamos cada estudan-
diversos Centros (Ciências Administrati- te para assumir a corresponsabilidade na
vas, Ciências Humanas, Ciências Jurídicas, construção do saber. Evidencia-se nesta
Ciências da Saúde e Ciências Tecnológi- experiência, conforme nos mostram os
cas) e seus respectivos cursos, atribuindo relatos dos estudantes, que a metodologia
a cada dupla a responsabilidade por seis adotada, apesar ter causado um estranha-
sujeitos, as quais, ao final da pesquisa, mento inicial, imprimiu um novo sentido
realizaram entrevistas com 108 universi- às leituras realizadas, passando o leitor a

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

assumir a responsabilidade de significação Como profissional é preciso ter um olhar


do texto lido com a redação de textos- aberto sobre a infância, adolescência,
-sentido, ricos em reflexões sobre a ado- adulto e velhice”. Se a disciplina despertou
lescência de cada estudante e, ao mesmo um olhar mais apurado, ampliado e cui-
tempo, geradores de inquietações sobre o dadoso sobre cada fase da vida humana,
processo de tornar-se adulto e o medo da consideramos que a finalidade maior de
velhice. Constatamos o desenvolvimento nossa proposta foi alcançada.
de uma aprendizagem vivida e plenamen-
te experienciada por cada aprendiz que se Palavras-chave: pesquisa-ação, letramentos,
fez autor de seus próprios pensamentos, desenvolvimento humano.
idéias e sentimentos. Nos meses seguintes
do semestre letivo, em uma atmosfera in-
timista propiciada pela metodologia ado- MR LT01
tada, os participantes da disciplina em- Mesa Redonda
barcaram na Odisseia do desenvolvimento
humano (Armstrong, 2011) e navegaram
pelos estágios de suas vidas, de seus pais e MR LT01-1054 – PROCESSO DE
de seus avós. Esta vivência deu-se enquan- ENVELHECIMENTO HUMANO E
to elaboravam os seus textos, entravam APOSENTADORIA: PROJETOS DE VIDA E
em contato com suas fases de desenvol- OS PROGRAMAS DE PREPARAÇÃO PARA
vimento, seus medos e suas angústias, ao O PERÍODO PÓS-CARREIRA
mesmo tempo em que se envolviam com Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
os seus processos de aprendizagem e de- jac.marangoni@gmail.com
monstravam um maior engajamento com Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto
a proposta da disciplina: “O trabalho de Agilitá
pesquisa deixou-nos envolvidos durante eugeniaagilita@gmail.com
todo o semestre com algo que certamen- Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá
te nos levou a uma forma de aprendizado anamaria.agilita@gmail.com
mais ampla” (G.M). Com este modelo in- José Eustáquio Moreira de Carvalho - CEFIBRA
trodutório de pesquisa-ação, libertamo- jeustaquio@cefibra.com.br
-nos de um formato de ensino que nos
faz lembrar um “prato-feito” e pudemos O envelhecimento da população mundial,
constatar o nascimento e a descoberta de em particular, no Brasil, apresenta-se em
grandes potencialidades humanas desve- múltiplas experiências de envelhecimento
ladas nas múltiplas formas de expressão e traz importantes desafios para as políti-
do sujeito aprendente em Psicologia do cas públicas de saúde, para o sistema de
Desenvolvimento. Testemunhamos a des- previdência social, para as organizações
coberta de estudantes construtores dos de trabalho, para o sistema familiar e para
seus caminhos acadêmicos. A fala de uma as ciências que tratam do desenvolvimen-
estudante sintetiza o valor da experiência to humano. Na literatura, não há uma de-
aqui apresentada: “essa disciplina é fun- finição consensual sobre velhice, devido
damental para se entender o mundo e a à heterogeneidade das “velhices” expe-
subjetividade que gira pelo ser humano. rimentadas pelos sujeitos. Em um senti-

1126
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do amplo, a velhice pode ser entendida CURSO DE VIDA E PROCESSO DE


a partir de um conjunto de aspectos que ENVELHECIMENTO HUMANO
envolvem múltiplas dimensões, de caráter Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
biológico, social, econômico, histórico e jac.marangoni@gmail.com
psicológico. Nesse sentido, esse momento Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto
do curso de vida consiste em uma cons- Agilitá
trução social e histórica, portanto como eugeniaagilita@gmail.com
tal não pode ser tratado como uma cate- Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá
goria natural. Em grande parte do século anamaria.agilita@gmail.com
XIX, a velhice foi considerada uma fase José Eustáquio Moreira de Carvalho -
de involução e estava vinculada a uma CEFIBRA
visão biomédica que permeava os estu- jeustaquio@cefibra.com.br
dos sobre o desenvolvimento humano e
o envelhecimento, sendo estes processos O envelhecimento da população mundial,
considerados antagônicos. Pode-se dizer em particular, no Brasil, apresenta-se em
que avanços teóricos significativos sobre múltiplas experiências de envelhecimento
o processo de envelhecimento ocorreram, e traz importantes desafios para as políti-
sobretudo a partir da segunda metade do cas públicas de saúde, para o sistema de
século XX, quando a Gerontologia começa previdência social, para as organizações
a marcar seu espaço no campo científico e de trabalho, para o sistema familiar e para
estudos anunciam que o processo de en- as ciências que tratam do desenvolvimen-
velhecimento é também desenvolvimen- to humano. Quando se fala em velhice
to. Um dos elementos significativos desse não há uma definição consensual, devido
cenário refere-se aos preconceitos dire- à heterogeneidade das “velhices” expe-
cionados à população idosa. Entre os mais rimentadas pelos sujeitos. Em um senti-
marcantes, tem-se a percepção de que a do amplo a velhice pode ser entendida
experiência de envelhecer está associada a partir de um conjunto de aspectos que
à dependência e à perda de autonomia, envolvem dimensões biopsicossociais. De-
bem como da capacidade produtiva. A bert (2003) chama atenção para o fato de
proposta em questão tem como objetivo que a velhice consiste em uma construção
central analisar e debater: a) o curso de social e histórica e como tal não pode ser
vida e o processo de envelhecimento hu- tratada como uma categoria natural. Em
mano; b) trabalho, identidade profissional grande parte do século XIX, a velhice foi
e projetos de vida na sociedade contem- considerada uma fase de involução, a qual
porânea; c) o potencial de propostas em estava associada somente a perdas quanto
grupo: uma atividade preventiva para o aos aspectos físico, cognitivo, social e psi-
envelhecimento saudável e o preparo cológico. Esta concepção estava vinculada
para a aposentadoria; d) os programas de a uma visão biomédica que permeava os
preparação para o período de pós-carreira estudos sobre o desenvolvimento huma-
como estratégia de desenvolvimento. no e o envelhecimento, sendo estes pro-
cessos considerados antagônicos (Araújo
Palavras-chave: envelhecimento; & Carvalho, 2005). Até a década de 1940,
aposentadoria; pós-carreira. um número pequeno de pesquisas sobre

1127
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

desenvolvimento se voltou para as temáti- Não há mais espaço para visões que frag-
cas relacionadas à vida adulta e à velhice, mentam o desenvolvimento humano em
sendo esta uma época marcada pela pri- períodos pré-estabelecidos, sucessivos e
mazia dos estudos da Psicologia da Infân- universais (infância, adolescência, maturi-
cia (Rosseti-Ferreira, 2006). Pode-se dizer dade e velhice), nem para abordagens que
que avanços teóricos significativos sobre tomem os grupos de idades segundo uma
o processo de envelhecimento ocorreram, lógica sequencial e linear. Tal movimento
sobretudo a partir da segunda metade do reflexivo emergente oferece espaço para
século XX, quando a Gerontologia começa uma concepção diferenciada acerca do de-
a marcar seu espaço no campo científico. senvolvimento humano no curso de vida
Outro aspecto relevante refere-se ao en- (Castro & Souza, 1995; Rosseti-Ferreira,
tendimento de que o desenvolvimento 2006). Atualmente, a velhice não pode ser
humano é entendido como um processo mais associada a características negativas,
dinâmico que se constitui a partir de uma isto é, esse momento do curso de vida não
rede sistêmica de interações, na qual as está necessariamente vinculado a doenças
dimensões sociais, históricas e culturais e incapacidade. A velhice bem sucedida
estão imbricadas dialeticamente. Compre- consiste em uma realidade concreta e que
ender a gênese social do desenvolvimento transforma a imagem das pessoas idosas
humano implica em considerar que as rela- no século XXI (Neri, 1995, 2002, 2004;
ções sociais constituem “arena e motor do Freire, 2000; Rocha-Coutinho, 2006). Esta
processo de desenvolvimento” (Rosseti- nova imagem sobre o envelhecimento
-Ferreira, Amorim & Silva, 2004, p. 24). A configura-se tanto na literatura específica
partir dessa compreensão, o processo de quanto na rede de significações que atra-
envelhecimento é visto como também de vessa o cotidiano popular, e é divulgada
desenvolvimento. Nesse contexto, Erikson principalmente na mídia e nos mercados
(1976) é um autor de extrema relevân- econômico e estético. Portanto, para se
cia na compreensão de como a velhice entender o processo de envelhecimento e
tornou-se alvo de investigações em Psico- a velhice é fundamental considerar esses
logia. Sua teoria foi inovadora ao integrar fenômenos em associação com o contex-
a experiência do envelhecimento como to sociocultural e histórico no qual estão
parte do processo de desenvolvimento inseridos e entender que a velhice supera
humano, insistindo que este não cessa atribuições cronológicas. Cada pessoa ex-
após a adolescência, como preconizavam perimenta o meio social de forma singular,
as pesquisas tradicionais. Neste novo mi- do qual participa de forma mais ou menos
lênio, novos processos de construção de ativa, conforme os condicionantes históri-
significados sobre a velhice se constituem co-culturais para as oportunidades de par-
na prática científica e no senso comum. A ticipação. É preciso levar em conta toda
nova concepção de desenvolvimento hu- uma realidade imaginária dependente de
mano que respeita as idiossincrasias e o juízos de valor, crenças, atitudes, ações, re-
contexto no qual o indivíduo está inserido presentações sociais relacionadas a épocas
exige um “olhar” interdisciplinar e contex- históricas, enfim, um leque de situações
tualizado sobre os fenômenos humanos em que o pensar, o sentir e o agir afetam
investigados ao longo do curso de vida. e são afetados por múltiplos fatores. Um

1128
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos elementos de grande expressão desse inserção social e status atribuído ao cargo
cenário relaciona-se aos preconceitos dire- e função exercida pelo trabalhador. Além
cionados à população idosa. Entre os mais de ser fonte de sobrevivência é também
marcantes, tem-se a percepção de que a organizador da vida diária e instrumento
experiência de envelhecer está associada de realização. Existe, portanto, valorização
à dependência e à perda de autonomia, pela sociedade das pessoas inseridas em
bem como da capacidade produtiva. Em uma vida produtiva. O fato é que o ser hu-
uma sociedade em que o fenômeno do mano prescinde do trabalho para se inserir
aumento da longevidade é significativo, no mundo contemporâneo, permitindo-
torna-se indispensável rever valores, cren- -lhe a expressão de si mesmo, o desen-
ças e atitudes frente ao processo de desen- volvimento de competências, assim como
volvimento humano e de envelhecimento, favorece a concretização de projetos de
identificando seus desafios para esse novo vida e realizações pessoais e profissionais.
século, sobretudo, em razão das distintas Borges e Tamayo (2001, p. 13) afirmam
experiências de envelhecer. Assim, é pre- que o trabalho “é meio de produção da
ciso que os contextos relacionais e edu- vida de cada um, promovendo a subsistên-
cativos assumam a temática em questão cia, criando sentidos existenciais ou contri-
como prioridade, na tentativa de se cons- buindo na formação da personalidade e da
truir uma sociedade que trate as pessoas identidade”. A identidade de uma pessoa
ao longo de todo o curso de vida a partir é a constituição psíquica que a distingue
de princípios éticos, de cidadania e justiça. das outras e está fortemente relacionada
às relações sociais que cada um estabelece
Palavras-chave: curso de vida; com o mundo. Um sistema de habilidades
desenvolvimento; envelhecimento; desenvolvidas ao longo da vida, que define
e a faz ser o que é. O trabalho e as rela-
ções interpessoais são aspectos que estão
TRABALHO, IDENTIDADE PROFISSIONAL vinculados ao processo de construção da
E PROJETOS DE VIDA NA SOCIEDADE identidade. Desta maneira, a pessoa cos-
CONTEMPORÂNEA. tuma perceber seu valor ligado àquilo que
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF produz. Assim, a ocupação profissional é
jac.marangoni@gmail.com parte da autoimagem, da autoestima e do
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto sentimento de pertencimento. Vale con-
Agilitá siderar que o aumento da expectativa de
eugeniaagilita@gmail.com vida na sociedade contemporânea promo-
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá ve diferentes desafios qualitativos, entre
anamaria.agilita@gmail.com eles a aposentadoria. Uma situação a ser
José Eustáquio Moreira de Carvalho - CEFIBRA confrontada: aposentadoria X mais tem-
jeustaquio@cefibra.com.br po no mercado de trabalho. O fenômeno
do aumento da longevidade faz com que
O trabalho configura-se como questão as pessoas vivenciem o papel profissional
central para o desenvolvimento da socie- por um período maior de tempo, exigin-
dade e do indivíduo. Ocupa um papel im- do novas posturas das organizações de
portante na vida das pessoas, é razão de trabalho e dos trabalhadores. O desliga-

1129
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mento por motivo de aposentadoria não O POTENCIAL DE PROPOSTAS EM


significa improdutividade. As experiências GRUPO: UMA ATIVIDADE PREVENTIVA
de envelhecimento ativo provocam novas PARA O ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL E
necessidades e demandam novos enga- O PREPARO PARA A APOSENTADORIA
jamentos sociais. O trabalhador precisa, Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
então, investir em novos projetos de vida jac.marangoni@gmail.com
que possam organizar sua vida pessoal e Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto
profissional na fase de pós-carreira. Uns Agilitá
precisam continuar em trabalhos remune- eugeniaagilita@gmail.com
rados, como fonte de complementação de Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá
renda, outros poderão se preparar e pla- anamaria.agilita@gmail.com
nejar outras atividades que independem José Eustáquio Moreira de Carvalho -
de remuneração. Uma alternativa para as CEFIBRA
questões abordadas poderá ser o desen- jeustaquio@cefibra.com.br
volvimento do aprendizado voltado para a
elaboração de projetos de vida, que servirá Do ponto de vista biológico, o envelheci-
tanto para cuidar do aspecto relacionado mento é um processo que acarreta uma
à trajetória de vida quanto nas dimensões maior fragilidade ao organismo e a dimi-
pessoal e profissional. O projeto de vida é nuição gradual da sobrevivência, não sig-
um instrumento de planejamento voltado nificando o adoecimento patológico (Vit-
para a trajetória de vida. Um exercício que ta, 2000). Para uma considerável parcela
leva a ressignificação da historia pessoal, da população idosa é possível manter uma
bem como a definição de novas metas. A boa qualidade de vida e um razoável fun-
preparação para a aposentadoria, as defi- cionamento do organismo ao longo desse
nições de novos rumos, um plano de ação período. A qualidade vida nessa fase irá
em andamento, afetarão positivamente depender da forma como cada pessoa vi-
os elementos profissionais, familiares, fi- veu o seu processo de desenvolvimento e
nanceiros, sociais e culturais de maneira a de cuidados para consigo mesma. O en-
propiciar autonomia, realização pessoal e velhecimento saudável implica em apren-
qualidade de vida. Enfim, o trabalho con- der a lidar com as perdas e as mudanças
siste em importante ponto de referência e biopsicossociais que envolvem esta fase
pertencimento na sociedade contemporâ- da vida. Para que isso ocorra, não basta
nea, sendo fundamental para o processo apenas que o indivíduo tome consciên-
de construção da identidade. Consideran- cia de si mesmo, é importante também,
do isso, torna-se indispensável a promo- que a sociedade, as organizações e as
ção de espaços de debate e reflexão sobre instituições invistam em trabalhos pre-
o tema, com foco no desenvolvimento de ventivos que preparem as pessoas para
novas metas, redes sociais e projetos de aprenderem a lidar com o envelhecer e o
vida no período de transição vivido com a processo de aposentadoria que costuma
experiência da aposentadoria. chegar acompanhado de sentimentos de
baixa autoestima, desvalorização do eu e
Palavras-chave: trabalho, identidade, projetos de outras perdas, muitas vezes acompa-
de vida. nhadas de doenças físicas e emocionais

1130
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

comprometendo o desempenho profis- de criação de possibilidades e projetos


sional. Em alguns casos chegando a cau- de vida (Zimerman, 1997). Diante do ex-
sar outros danos pessoais como o afasta- posto, criamos o projeto: grupo, atividade
mento precoce da vida produtiva, devido preventiva para o envelhecimento sau-
a doenças como a depressão, alcoolismo dável e o preparo para a aposentadoria,
e outros transtornos mentais. Diante do é uma proposta de trabalho através de
exposto, os grupos são apontados como técnicas das oficinas em dinâmica de gru-
um recurso muito utilizado pela psicolo- po. O nome dado ao grupo foi Viva bem
gia para trabalhar conflitos emocionais, a velhice e tem como público alvo pesso-
favorecendo um espaço de escuta, de as que estão se aproximando da fase que
apoio e de trocas de experiências entre chamamos de terceira idade, com idade a
as pessoas. Nesse sentido, a Organização partir de 58 ou superior a 60 anos ou em
Mundial da Saúde estipulou a idade de 60 fase de preparo para a aposentadoria. O
anos para marcar o início da velhice em foco do grupo é trabalhar temas referen-
países em desenvolvimento, e 65 anos, tes ao envelhecimento e a aposentadoria
em países desenvolvidos. Por volta dessa visando à promoção e à prevenção da
idade, acentuam-se as transformações saúde mental e a qualidade de vida na ve-
biológicas e costuma acontecer o afasta- lhice. Os objetivos deste grupo são: traba-
mento do mundo do trabalho – a aposen- lhar temas referentes á aposentadoria e
tadoria . A afiliação a grupos possibilita à ao envelhecimento saudável e as formas
pessoa idosa dispor de uma rede social, de prevenção. A metodologia envolve dis-
onde se sente compreendida pelas outras cussões de temas escolhidos pelos parti-
participantes, fazendo-a se sentir acolhi- cipantes, técnicas de dinâmica de grupo,
da e importante. A intervenção grupal é filmes, associação livre de idéias, entre-
uma das formas consideradas eficazes vistas, dramatizações, uso da música, co-
para trabalhar os sintomas do envelheci- lagens, pequenos textos para discussão
mento, pois proporciona aos idosos uma no grupo, depoimentos dos participantes.
rede de suporte e apoio, um espaço aco- Este trabalho aconteceu em uma clínica
lhedor para falar sobre suas vidas e para privada em Brasília-DF, durante 5 anos, os
melhorar os relacionamentos interpesso- encontros eram semanais. Era realizado
ais, a qualidade de vida, a autoestima e por uma dupla de psicólogas. O grupo es-
autoconfiança, bem como a diminuição colhia os temas para serem trabalhados.
de sentimentos de impotência e solidão Foram feitos muitos encaminhamentos
(Kaplan & Sadock, 1997). Podemos pre- para o psiquiatra, devido a problemas de
venir o processo de adoecimento com depressão e ansiedade. Outro elemento
intervenções de prevenção para promo- para debate e intervenção psicológica evi-
ver saúde e qualidade de vida, sendo as denciou-se: relacionamento conjugal e fa-
atividades grupais as mais indicadas. Os miliar; queixas de solidão e falta de apoio
grupos permitem aos idosos a abertura dos filhos, que muitas vezes eram agressi-
de um novo espaço adequado ao extra- vos e exploradores na área financeira. O
vasamento de emoções, pois estimulam grupo teve uma função de acolhimento,
o sentimento de valorização facilitando apoio, compreensão para as dificuldades
o processo de novos contatos sociais e trazidas. No decorrer do processo grupal

1131
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

eram feitas avaliações junto ao grupo. En- realidade profissional pode ocasionar
fim, o trabalho terapêutico e em grupo processos de sofrimento, sobretudo para
possibilitou o enfrentamento das dificul- as pessoas que não se prepararam para a
dades apresentadas pelos participantes. aposentadoria. A criação de espaços de
fala e reflexão no ambiente de trabalho
Palavras-chave: idosos, grupo, aposentadoria. pode propiciar a oportunidade para a pre-
paração para o período de pós-carreira,
especificamente, no que se refere ao estí-
PROGRAMAS DE PREPARAÇÃO PARA O mulo e apoio quanto a elaboração de um
PERÍODO PÓS-CARREIRA projeto de vida consistente e responsável.
Neste sentido, o Estatuto do Idoso, no ar-
Jacqueline F. C. Marangoni - GDF
tigo 28 declara que o poder público criará
jac.marangoni@gmail.com
e estimulará o desenvolvimento de pro-
Maria Eugênia de Athayde Nunes - Instituto
gramas de preparação para a aposenta-
Agilitá
doria: “II - Preparação dos trabalhadores
eugeniaagilita@gmail.com
para a aposentadoria, com antecedência
Ana Maria Freitas Coelho - Instituto Agilitá
mínima de 1 (um) ano, por meio de es-
anamaria.agilita@gmail.com
tímulo a novos projetos sociais, confor-
José Eustáquio Moreira de Carvalho - me seus interesses, e de esclarecimento
CEFIBRA sobre os direitos sociais e de cidadania”.
jeustaquio@cefibra.com.br Os Programas de Preparação para a Apo-
sentadoria possuem caráter educativo e
O período que antecede a aposentadoria ainda configuram-se como ferramenta
é um momento a ser considerado como importante na política de Gestão de Pes-
uma fase importante no ciclo de vida dos soas das organizações de trabalho con-
trabalhadores. Ocorre no período em que temporâneas. O desenvolvimento destes
o envelhecimento se expressa com mu- programas traz benefícios importantes
danças marcantes e significativas. Princi- para a organização, tais como: clima or-
palmente, para aqueles que tiveram o tra- ganizacional favorável; contribuição para
balho como uma das importantes fontes a Gestão do Conhecimento, sem ruptura
de realização. Aspectos psicossociais refe- entre as gerações e perdas de valores tec-
rentes ao processo de envelhecer estarão nológicos e culturais da organização; fa-
presentes, questões relacionadas à dinâ- cilita o processo de sucessão, além de se
mica familiar: o reencontro do casal, os fi- constituir em uma prática de Responsabi-
lhos que ainda permanecem em casa, ou lidade Social Interna. Entre os benefícios
que começam a sair de casa, a divisão dos para o trabalhador tem-se visualização da
espaços emocionais e físicos, a retoma- pós-carreira como um conjunto de novas
da de projetos, sonhos, o redimensiona- possibilidades e de autorrealização; ofe-
mento das finanças pessoais, os aspectos rece subsídios para a tomada de decisão,
legais envolvidos fazem parte do proces- manutenção da autoestima e ampliação
so de tomada de decisão. Diante de um dos horizontes pessoais e funcionais;
processo que permeia a noção de perda motivação para substituir a satisfação de-
de status e poder, uma ruptura com uma rivada do trabalho para a elaboração de

1132
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um projeto de vida com a perspectiva de nas mais diversas sociedades. Porém,


uma aposentadoria ativa; valorização da investigações sistemáticas sobre o tema
experiência e reconhecimento; ameniza começaram há um pouco mais de um sé-
conflitos internos e tensões, ao tempo culo e desde então muitas controvérsias
em que permite a adoção de atitude posi- têm permeado as pesquisas. Uma ampla
tiva, participativa e responsável até o dia discussão no campo diz respeito à concei-
da aposentadoria/desligamento; melhor tuação da superdotação, principalmente
preparo para o retorno ao lar e o conví- quando se salientam conceitos como in-
vio com a família. Enfim, as organizações teligência, talento e criatividade. Contu-
de trabalho contemporâneas assumem do, como inteligência e criatividade não
importante papel no processo de prepa- têm uma definição única e global, os pro-
ração para o período pós-carreira, contri- fissionais da área pontuam a necessidade
buindo para uma transição responsável e de uma definição operacional da super-
consciente para novos momentos do cur- dotação e do talento para tornar possível
so de vida pessoal e profissional. a aplicabilidade destes conceitos em sala
de aula. É objetivo desta mesa abordar al-
Palavras-chave: organizações de trabalho, gumas variáveis que permeiam o desen-
pós-carreira, programas de preparação para a volvimento do potencial humano, salien-
aposentadoria, tando aspectos da inteligência, criativida-
Contato: Jacqueline Ferraz da Costa de e altas habilidades que nos ajudem a
Marangoni – Especialista em Políticas Públicas entender a complexidade do sujeito em
do Governo do Distrito Federal – GDF – jac. seu ambiente afetivo e sócio-cultural.
marangoni@gmail.com Embora ainda não se tenha chegado a um
consenso sobre as intrincadas teias de re-
lação entre aspectos inatos e aprendidos
no desenvolvimento, a identificação dos
MR LT01 fatores internos e externos que impulsio-
Mesa Redonda nam ou inibem o pleno desenvolvimento
de um talento excepcional deve ser apre-
endido. Modernas teorias do desenvolvi-
MR LT01-1517 – INTELIGÊNCIA, mento destacam que os seres humanos
CRIATIVIDADE, E ALTAS HABILIDADES: possuem potenciais genéticos muito além
DESDOBRAMENTOS PARA A PSICOLOGIA do que são capazes de manifestar e tais
DO DESENVOLVIMENTO potenciais não realizados podem ser atu-
Angela M. Rodrigues Virgolim - UnB alizados por meio da exposição a proces-
Jane Farias Chagas - UnB sos proximais ou oportunidades ambien-
Mônica Souza Neves-Pereira - UnB tais que tornem tais processos maxima-
Vera Lucia Palmeira Pereira - UnB mente efetivos. Teorias contemporâneas
da superdotação incluem a criatividade
O interesse pelas pessoas que se desta- como um dos fatores essenciais para o
cam por suas capacidades superiores ou desenvolvimento do talento. No entanto,
inusitadas em algum campo do conheci- torna-se fundamental perceber a criati-
mento não é novo e tem sido observado vidade em suas origens e processos, en-

1133
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tendendo os caminhos desenvolvimen- O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-


tais que orientam a imaginação criativa EMOCIONAL E ASSINCRÔNICO DA
no encontro do sujeito com a cultura. Na PESSOA COM ALTAS HABILIDADES/
essência do processo criativo encontra-se SUPERDOTAÇÃO NA PERSPECTIVA DE
a função imaginativa que, intimamente KAZIMIERZ DABROWSKI
vinculada às emoções e à realidade, per- Angela M. Rodrigues Virgolim - UnB
mite ao sujeito retirar fragmentos da rea- angela.virgolim@gmail.com
lidade e, por meio de novas significações
subjetivas destes fragmentos, devolver à A literatura mais moderna na área de su-
cultura leituras renovadas desta mesma perdotação tem se voltado, nos últimos
realidade. Na mesma direção, o estudo anos, para o estudo e a descrição do de-
e o entendimento dos aspectos afetivos senvolvimento sócio-emocional da pessoa
da pessoa com altas habilidades/super- com altas habilidades. No entanto, pesqui-
dotação se torna essencial, se quisermos sas nesta área indicam que este grupo é
abarcar a complexidade do seu universo altamente heterogêneo e apresenta uma
psicológico. A literatura mais moderna na enorme variabilidade de características,
área do talento indica que este grupo é sejam elas no campo cognitivo, emocional
altamente heterogêneo e apresenta uma ou social, o que dificulta, inclusive, o uso
enorme variabilidade de características; de uma única definição de superdotação
mas quanto maior a capacidade intelec- (Callahan, 2009; Cross, 2005; Fertig, 2009;
tual da pessoa, maior é a sua assincronia Gillespie, 2009; Klein, 2007; Neihart, Reis,
com relação aos pares, e maior a sensibi- Robinson & Moon, 2002; Silverman, 1993;
lidade e intensidade com que vivenciam Strip & Hirsch, 2000; Webb, Gore, Amend
o mundo. Mas é na sala de aula que o ta- & DeVries, 2007). No entanto, os autores
lento passa efetivamente a ser valorizado parecem concordar que a pessoa super-
ou desprezado pelo ambiente cultural, dotada e talentosa demonstra habilidades
trazendo conseqüências para o sentimen- (ou potenciais) em um ou mais domínio
to de “pertencer” desse grupo de alunos socialmente aceitável e são suficiente-
em seus contextos educacionais. Pesqui- mente avançadas para requerer adapta-
sas indicam que, em muitos ambientes ção do ambiente para suprir suas neces-
que se dizem inclusivos, os alunos com sidades especiais (Robinson, 2002), entre
altas habilidades e talentos diferencia- elas as necessidades sócio-afetivas. Para
dos permanecem transparentes e imunes Silverman (1993, 2009) a superdotação
ao ensino de qualidade para todos, que não é meramente uma precocidade, mas
deixa de atender os estudantes em suas uma diferença na experiência interna e na
necessidades especiais. Desta forma, consciência desses indivíduos, a que ela
torna-se imperativo entender a educação denomina assincronia. Ter um desenvolvi-
do superdotado em um contexto de reno- mento assincrônico significa, literalmente,
vação pedagógica atento às diferenças in- não estar em sincronia com os pares; ou
dividuais, à construção da cidadania e da ter um desenvolvimento desigual da idade
participação social. mental com relação à idade cronológica, o
que pode se dar tanto interna quanto ex-
ternamente. Roeper (2000) assinala que,

1134
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

quanto maior a capacidade intelectual da traços é também responsável por deter-


pessoa, maior é a sua assincronia com re- minar o nível de desenvolvimento moral a
lação aos pares, e maior sua sensibilidade que uma pessoa pode chegar em circuns-
e consciência das suas diferenças. O de- tâncias ideais (Fortes, 2004; Tieso, 2009).
senvolvimento assincrônico também assi- Assim, é a grande complexidade cogniti-
nala habilidades cognitivas avançadas que va que permite a ela assumir o ponto de
se combinam com a grande intensidade vista dos outros, a reconhecer injustiças,
com que estas pessoas vivenciam o mun- a criar um forte sistema de valores, e a
do, proveniente da facilidade com que se tornar mais emocionalmente reativa
elas acumulam informações e emoções, ao ver comportamentos que violam esse
mas em uma quantidade maior do que sistema (Silverman, 1993). Segundo Da-
ela pode absorver e processar. A intensi- browski, a criança superdotada já vem ao
dade emocional do superdotado tem sido mundo equipada com um sistema nervo-
estudada por vários pesquisadores, sen- so supersensível, que a permite assimilar
do a Teoria da Desintegração Positiva do uma quantidade extraordinária de estí-
psiquiatra e psicólogo polonês Kazimierz mulos sensoriais. Esta supersensibilida-
Dabrowski (1902-1980) a mais discutida de13 (a que seus tradutores denominam
pela literatura contemporânea (Daniels overexcitability) faz a criança superdotada
& Piechowski, 2009; Piechowski, 1997; ser bastante perceptiva e sensível, discri-
Piechowski & Colangelo, 1984; Silverman, minando mais acuradamente os detalhes
1993, 2008; Tieso, 2009; Tillier, 2008). de um estímulo, o que acaba por torná-la
Esta teoria passou também a ser conhe- mais analítica e crítica de si mesmo e dos
cida por Teoria do Desenvolvimento Emo- outros. Esta supersensibilidade é respon-
cional, pela ênfase colocada no papel das sável pela forma com que a pessoa en-
emoções no desenvolvimento da pessoa tende, atua e responde ao mundo (Tieso,
com altas habilidades. O ponto principal 2009) e pode ser entendida como uma su-
da teoria diz respeito ao desenvolvimen- perabundância de energia ou capacidade
to cognitivo avançado do indivíduo, o qual de exuberância e maiores possibilidades
requer a ruptura das estruturas psicológi- de processar uma experiência (Silverman,
cas existentes a fim de formar outras es- 2008). Piechowski (1997) acredita que as
truturas mais desenvolvidas. O conflito in- super-sensibilidades podem ser mais pre-
terior gera uma grande tensão que impele valentes em indivíduos criativos e com
o indivíduo a níveis mais elevados de fun- altas habilidades do que na população ge-
cionamento. Assim, a desintegração posi- ral, especialmente à luz das necessidades
tiva se traduz pela passagem do descon- sociais e emocionais deste último grupo.
tentamento com as formas de ser e estar Dabrowski afirma que a expressão de cada
no mundo para uma forma mais altruísta, forma de supersensibilidade nestas pesso-
de maior integridade e maior compaixão. as se dá em um maior nível que a média e,
A preocupação com os sentimentos do como resultado, uma pessoa dotada com
outro, com outras formas de vida e com o diferentes formas de supersensibilidades
futuro da humanidade são constantemen-
te observados ainda na infância da pessoa
superdotada. Esta dotação genética de 13
Tradução nossa.

1135
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

vê a realidade de uma forma diferente, Os pesquisadores que adotam uma pers-


mais forte e multifacetada. A sensibilida- pectiva ambiental proclamam a educação
de aumentada significa assim uma forma e o treinamento precoce como fatores de
de interação mais frequente com uma preponderância para o desenvolvimento
gama maior de experiência com o mundo do talento (Dai & Coleman, 2005). Nesse
(Silverman, 2008). A supersensibilidade a sentido, postulam que o talento é produto
que se refere Dabrowski pode se manifes- do ambiente, sendo construído e amplia-
tar em cinco grandes áreas: a psicomoto- do por meio de estimulação precoce ou
ra; a intelectual; a área da imaginação; a treinamento intensivo. Estudos clássicos
área sensual; e a área emocional (Daniels desenvolvidos por Bloom (1982) e Erick-
& Piechowski, 2009; Daniels & Meckstro- son, Kramer e Tesch-Romer (1993) pare-
th, 2009; Piechowski, 1997; Piechowski & cem indicar que os participantes de suas
Colângelo, 1984; Silverman,1993, 2008; pesquisas começaram como crianças co-
Tieso, 2009; Tillier, 2008). É objetivo des- muns, que tinham pais e professores de-
te artigo discutir as diferentes formas e a dicados que os motivaram ao treinamento
complexidade com que essa supersensibi- intensivo de habilidades específicas e à
lidade se manifesta no indivíduo com altas prática deliberada visando desempe-
habilidades/superdotação, refletindo so- nho de alta eficiência. Estudos realizados
bre as necessidades sócio-afetivas deste por Thompson e Plomin (1993) e Plomin
grupo e as implicações de um desenvol- (1999) sobre a influência genética nos
vimento assincrônico para o indivíduo em níveis de inteligência demonstram que a
seu meio sociocultural. variação genética tem correlação com a
inteligência elevada. Os fatores hereditá-
Palavras-chave: superdotação, assincronia, rios tendem a influenciar de maneira di-
Teoria de Dabrowski versa os processos cognitivos superiores
ao longo do curso de vida, criando efeitos
fenótipos, levando os indivíduos a selecio-
O DESENVOLVIMENTO DO TALENTO AO nar ou criar ambientes que promoveriam
LONGO DO CURSO DE VIDA: QUESTÕES suas propensões genéticas (Gagné, 2004;
GENÉTICAS E AMBIENTAIS Gagné & Schader, 2006; Plomin, 2000;
Jane Farias Chagas - FTBB/UnB Simonton, 2004). Apesar dos resultados
janefcha@gmail.com encontrados pelos dois grupos de pesqui-
sadores confirmarem seus pressupostos
De acordo com Simonton (2002, 2005a, iniciais, esses achados demonstram a im-
2005b), a definição e desenvolvimento portância do trabalho árduo ou estímulo
do talento giram em torno das questões precoce no desenvolvimento de habilida-
genéticas e ambientais. De um lado, há des superiores, porém não invalidam ou
aqueles que consideram o talento como descartam o papel das habilidades inatas
resultado de superestimulação ambiental para o desenvolvimento do talento. Para
ou modelagem de demandas sócio-histó- Bronfenbrenner (1994), os seres humanos
rico-culturais. Por outro lado, há aqueles possuem potenciais genéticos muito além
que descartam a capacidade ambiental de do que são capazes de manifestar e tais
modificar os traços genéticos herdados. potenciais não realizados podem ser atua-

1136
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lizados por meio da exposição a processos figuração total de genes é transmitida (Si-
proximais ou oportunidades ambientais monton, 2001, 2002; Winner, 1998, 2000).
que promovam estabilidade e recursos Podemos destacar, ainda, uma crescente
que tornem tais processos e potenciais valorização das bases biológicas para o
maximamente efetivos. Na mesma dire- desempenho cognitivo superior associada
ção, as análises genéticas multivariadas de forma complexa a variáveis ambientais
relacionadas às habilidades cognitivas de contextos compartilhados e não-com-
específicas têm indicado que os mesmos partilhados (Simonton, 2002). A combina-
fatores genéticos influenciam um grande ção entre uma configuração de interesses,
número de habilidades diferentes e que, capacidades e valores em permanente
por outro lado, qualquer que seja a ha- evolução e os nichos familiares, educacio-
bilidade, ela não pode ser atribuída ao nais e ocupacionais, em constante trans-
efeito principal de um único gene, mas à formação, produzem múltiplos efeitos
associação de múltiplos genes (Palácios, e conjugam aspectos subjetivos e mul-
2004; Simonton, 2001). Essas descober- tidimensionais tanto para forjarem uma
tas trazem algumas implicações ao estu- trajetória de vida única, quanto certos
do do desenvolvimento do talento: (a) o tipos de talento (Papierno, Ceci, Makel &
domínio de algumas habilidades especí- Williams, 2005; Simonton, 2002, 2005b).
ficas depende da configuração de vários Dentro de uma concepção bioecológica
componentes genéticos; (b) um mesmo do desenvolvimento, segundo Papierno,
traço pode contribuir para o desenvolvi- Ceci, Makel e Williams (2005), o talento
mento de mais de um tipo de talento; (c) ou a ontogenia das competências excep-
dois indivíduos com o mesmo talento não cionais estariam fundamentadas em dois
possuem no mesmo nível ou ordem os princípios: (a) a ação de efeitos múltiplos
mesmos traços genéticos; (d) a distribui- sobre as interações recíprocas entre os
ção do talento na população não segue, indivíduos e os ambientes que pavimen-
necessariamente, a curva normal, uma tam os padrões de desenvolvimento de
vez que não se trata de adição linear de habilidades superiores e (b) as condições
traços, mas de uma configuração múltipla; iniciais que são derivadas da combinação
(e) um componente que pode desencade- entre traços inatos e aprendidos que cons-
ar o processo de desenvolvimento do ta- tituem o potencial máximo a ser realizado
lento em uma pessoa pode ser irrelevante ou atualizado. Nessa direção, os proces-
para o desenvolvimento do mesmo talen- sos proximais assumem papel de extre-
to em outra pessoa; (f) a capacidade inata ma relevância, uma vez podem facilitar e
para uma performance excepcional pode ampliar as possibilidades de aquisição de
mudar, desaparecer ou estabilizar ao lon- habilidades relevantes para um domínio
go do tempo; (g) a mediação ou interven- específico e prover diversidade de condi-
ção educativa precoce é necessária para o ções iniciais, endógenas e exógenas, para
desenvolvimento do talento; (h) a posição o desenvolvimento dessas habilidades. É
na família, ordem biológica ou funcional, possível que a falta de consenso entre os
precisa ser investigada à luz da dinâmica pesquisadores sobre a qualidade e quan-
familiar e (i) alguns traços ou tipos de ta- tidade da influência dos fatores genéticos
lento emergem apenas quando uma con- e ambientais para a realização máxima

1137
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do potencial inato de cada indivíduo ou o para a sociedade. É notória, no campo


aparecimento de certos talentos ao longo científico, a construção de distintos cami-
do curso de vida ainda persista por mais nhos metodológicos que buscam inves-
alguns anos. No entanto, é relevante reco- tigaro ato de criar como expressão típica
nhecer a complexidade multidimensional do homem. Este trabalhorepresenta um
dos processos inerentes ao desenvolvi- destes caminhos, onde optaremos poru-
mento do talento, que vão tecendo uma ma leitura sociogenética do fenômeno
rede intricada de relações que formatam criativo, inserido na história do comporta-
trajetórias de vida únicas e que ampliam mento do homem, com destaque para as
os tremendos recursos genéticos e am- instâncias sociais e culturais que definem
bientais à disposição da civilização hu- os processos de subjetivação humana,
mana. Nesse sentido, as palavras finais sempre circunscritos ao tempo histórico
de Terman, proferida em conferência re- e seus respectivos contextos. Criatividade,
alizada na Universidade da Califórnia em sob esta ótica, é fenômeno desenvolvi-
1954 nos parecem muito atuais: Identifi- mental mediado por significados culturais
car os fatores internos e externos que aju- que dialogam com outras instâncias cons-
dam ou dificultam a fruição de um talento titutivas do homem, como: a construção
excepcional, e medir a extensão de suas do sujeito, seus processos de desenvolvi-
influências, estão certamente entre os mento e aprendizagem, a ação educativa
grandes problemas de nossa época. Esses e, especialmente, o desenvolvimento do
problemas não são novos: sua existência potencial criativo que emerge deste cal-
tem sido reconhecida por um número sem do relacional e contextual. Acreditamos
fim de homens, desde Platão até Francis que somente por meio de um diálogo sis-
Galton. O que é novo é a consciência geral temático, sistêmico, dialético e profundo
de sua existência causada pela escassez entre estas instâncias será possível com-
de cientistas, engenheiros, líderes morais preender a criatividade em suas origens
e estadistas, literatos e professores de que e processos. Para Vygotsky, autor com
precisa o país para sobreviver num mundo enfoque sociogenético, criatividade e ima-
ameaçado (Terman, 1971, p. 22). ginação são funções psicológicasque se
desenvolvem de modo paralelo e que se
Palavras-chave: desenvolvimento, talento, encontrarão muitas vezes ao longo da vida
curso de vida. do sujeito, articulando-se, rejeitando-se,
ajustando-se até formarem um sistema,
por ele denominado Imaginação Criativa.
A IMAGINAÇÃO CRIATIVA: ONDE Vygotsky compreende as funções psicoló-
SUJEITO E CULTURA SE ENCONTRAM gicas como processos interdependentes,
PARA MODIFICAR O MUNDO. dialeticamente relacionadas e destaca a
Mônica Souza Neves-Pereira - UnB presença da emoção e do afeto como in-
monicasouzaneves@yahoo.com.br tegrantes da função pensamento. Para
ele, a imaginação também atua como
A Psicologia vem, ao longo do tempo, função psicológica intimamente vincu-
destacando o papel da criatividade como lada às emoções. Todas estas funções se
fenômeno humano de grande relevância desenvolvem e operam de modo inter-

1138
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dependente, muitas vezes em processos nam-se com o encontro das linhas de de-
cooperativos ou concomitantes, outros senvolvimento da imaginação com a linha
em processos competitivos ou desencon- do pensamento, que são distintas em suas
trados. Porém, quando a imaginação e a trajetórias. A fala interna é que funciona-
criatividade se encontram em certa etapa rá como mecanismo de elevação da ima-
do desenvolvimento infantil e se unem, ginação ao status de função superior no
geram um sistema denominado Imagina- psiquismo humano. Do mesmo modo que
ção Criativa que vai, por sua vez, trilhar regula as funções mentais humanas, a fala
seus caminhos desenvolvimentais até interna vai regular a expressão da imagi-
encontrar as linhas do pensamento e da nação, colaborando nas interações que
linguagem e, aí sim,alcançar o status de ocorrerão entre imaginação e pensamen-
Função Psicológica Superior. Neste mo- to conceitual, lógico e formal. As relações
mento, segundo Vygotsky, o sujeito está estabelecidas por Vygotsky entre a fala, o
pronto para intercambiar com a cultura os brincar e a imaginação pressupõem a ori-
sentidos, significados e mensagens recebi- gem sociogenética da imaginação criativa.
das, de uma direção interpsicológica para Sendo assim, torna-se difícil compreender
a internalização intrapsicológica, prepa- os processos de imaginação desvincula-
rando o cenário para a geração do novo. dos da realidade. No senso comum, e para
Vygotsky compreende a imaginação como grande parte de pesquisadores e cientis-
atividade mental totalmente compatível tas de diversas áreas, os processos imagi-
com a realidade. Os conteúdos que cons- nativos correspondem a delírios oníricos,
tituem a imaginação são retirados da re- oriundos de necessidades emocionais in-
alidade e, posteriormente, transformados dividuais, sem correspondência com a re-
e/ou recombinados pela função imagina- alidade e com os processos de pensamen-
tiva, construindo novas realidades. Sendo to formal. Para Vygotsky, a imaginação só
assim, a atividade criativa, originária da é possível se alimentada pelos elementos
função da imaginação, é uma ação relacio- da cultura, pelo conhecimento, saberes,
nada com a interpretação da realidade fei- informações, conceitos, sentidos e sig-
ta pelos sujeitos e depende, diretamente, nificados. Desta forma, todo e qualquer
das experiências do homem em contato produto novo não passa de fruto concreti-
com sua vida cultural objetiva e subjetiva. zado de um processo imaginativo, porém
A imaginação está ligada à emoção. Ela re- construído a partir de leituras da realida-
tira fragmentos da realidade e, por meio de, seja lá como ela for compreendida por
de novas significações destes fragmen- cada cultura. Finalizando, os caminhos de-
tos, devolve à cultura leituras renovadas senvolvimentais que orientam a imagina-
desta mesma realidade. Esta é a essên- ção criativa se alteram, invertendo-se, ora
cia do processo criativo na concepção de indo da dimensão interpsicológica para
Vygotsky. A imaginação é, ao mesmo tem- a dimensão intrapsicológica, ora percor-
po, intelectual e emocional e é este fato rendo o caminho oposto. O sujeito que é
que favorece a emergência dacriatividade. criado pela e na cultura passa a criar cul-
Os processos que permitem à imaginação tura também, em um processo dialético
galgar novos patamares, constituindo-se e sistêmico.A criatividade não representa
como função psicológica superior, relacio- mera ação adaptativa, pois tal ação está

1139
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

presente no reino animal, mas caracteriza- um novo paradigma de pensamento e


-se por ser ação combinatória, onde diver- de ação que refletem mudanças em uma
sos elementos simbólicos produzidos pela sociedade que começa a perceber a di-
cultura são reorganizados e reconstruídos, versidade mais como norma do que como
gerando novos produtos e contribuições exceção. Em se tratando de alunos com
culturais.É a atividade criadora que faz do altas habilidades/superdotação Barrera
homem um ser capaz de se projetar no fu- Pérez (2004), em uma análise sobre a re-
turo, de pensar, imaginar e criar o novo, alidade da inclusão de pessoas com altas
de buscar respostas e soluções para dile- habilidades, ressalta que estes cidadãos
mas e problemas humanos. Por meio da permanecem “transparentes e imunes ao
imaginação criativa, esta função psicológi- ensino de qualidade para todos” (p.1). Ao
ca que surge do encontro do sujeito com a refletir sobre a realidade desses alunos, é
cultura, é que emerge o enorme potencial possível perceber a distância da escola em
criativo humano, capaz de transformar ci- fornecer o apoio necessário para garantir
vilizações e garantir nossa sobrevivência. a inclusão de “todos” os alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, como
Palavras-chave: Imaginação Criativa, Cultura, ressaltado por Tessaro, Waricoda, Bolo-
Desenvolvimento Humano. nheis & Rosa (2005), cuja ênfase apresen-
tada nos contextos escolares, diz respeito
à atenção e estratégias de ações voltadas
ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/ prioritariamente aos alunos com deficiên-
SUPERDOTAÇÃO E SUA INCLUSÃO cias. Grupos de alunos de altas habilida-
EDUCACIONAL: CONTEXTOS, DESAFIOS E des/superdotação convivem entre o hiato
PERSPECTIVAS da legislação educacional, que ampara
Vera Lucia Palmeira Pereira - SEE/DF práticas pedagógicas flexíveis, e a realida-
veralppereira@gmail.com de de muitos educadores, que geralmente
desconhecem as características e estilos
O movimento de educação inclusiva ga- de aprendizagens de seus alunos e não
nhou força no início da década de 90 oportunizam, nos ambientes de ensino, a
como resposta às mudanças aos mode- qualidade educacional de que necessitam.
los e serviços educacionais oferecidos Segundo Carvalho (2000; 2005), a inclu-
aos alunos com necessidades especiais. são educacional se configura não somente
Esse movimento enfatiza a valorização como dados numéricos de matrícula ou
da diversidade e a expressão de todos os como um elemento a mais em sala de aula,
alunos - independentemente de talento, mas, sobretudo, como acesso, ingresso e
deficiência, origem socioeconômica ou permanência de alunos como aprendizes
cultural - e com elas se estabelecem o de sucesso, referindo-se ao sentimento de
respeito aos ritmos, habilidades e estilos “pertencer” ao grupo, como aspecto pon-
de aprendizagem de cada estudante. Ka- tual dessa inclusão. O pertencimento se
ragiannis, Stainback e Stainback (1999) qualifica no sentimento de acolhimento.
afirmam que a inclusão é muito mais do Em várias situações alunos superdotados
que um modelo de prestação de serviços não se percebem acolhidos no ambiente
em educação especial. Constitui-se em educacional (Barrera Perez, 2008). Rela-

1140
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tos apresentados em distintos estudos minimizar as ambigüidades e liberar suas


revelam que muitas de suas indagações e potencialidades. O reconhecimento das
contribuições em sala têm sido interpre- particularidades dos alunos superdota-
tadas como exibicionismo e falácia, ou dos transcende divergências conceituais,
que, sua vivacidade e fluência têm sido idéias pessoais e tendências políticas a
percebidas como falta de limites, quando respeito das necessidades educacionais
essas monopolizam o discurso com seus de pessoas com potenciais superiores. As
professores. Para seus educadores e pares propostas de atendimento educacional
a resistência desse aluno na realização de em vigor em nosso país para esses estu-
atividades de fixação de conteúdos refle- dantes fundamentam-se em princípios
te um comportamento de resistência às filosóficos e ideológicos que embasam a
normas. Seu ritmo rápido de aprendiza- educação inclusiva: valorização da diver-
gem, muitas vezes, percebido como um sidade como elemento enriquecedor do
problema a ser resolvido. Suas atitudes desenvolvimento pessoal e social; pro-
e comportamentos são, repetidamen- moção do desenvolvimento de currículos
te, alvos de críticas por seus professores amplos, flexíveis e abertos que possibi-
em conselhos de classe ou em reuniões litem a aprendizagem e participação de
com seus responsáveis na escola (Pereira, todos; respeito às diferentes formas de
2008). Estudos apontam que muitos as- aprender; atendimento às necessidades
pectos do desenvolvimento dos alunos de educacionais de todos os alunos e desen-
altas habilidades/superdotação se encon- volvimento do trabalho cooperativo entre
tram desconhecidos de seus professores e os diversos segmentos que compõem a
equipes pedagógicas, os quais tendem a comunidade escolar (Mittler, 2003). Pes-
esperar desses estudantes os comporta- quisadores (Camargo & Silva, 2004; Ferrei-
mentos que estão freqüentemente acos- ra & Nunes, 1997) apontam a importância
tumados a encontrar, quando convivem da formação de professores e os proble-
com os demais alunos, ou exigir condutas mas relacionados à educação dos alunos
que correspondem a um alto grau de exi- com necessidades especiais, uma vez que
gência nas áreas cognitivas, sociais e/ou a educação depende, sobretudo, da ação
emocionais, ignorando as especificidades dos professores que irão atuar em salas de
de sua natureza (Chagas, 2008; Ourofino, aula. Em se tratando de alunos superdota-
2005; Vieira, 2005). Colangelo (1997) já dos, a inclusão pretendida é apoiada, não
ressaltava que a percepção de professo- nas bases de acesso e garantia de educa-
res, ou das pessoas que se dispõem a de- ção, mas na permanência desses alunos
senvolver atividades com alunos de altas em ambientes educacionais que permi-
habilidades/superdotação, seja no campo tam tanto o atendimento de suas neces-
social ou pedagógico, devem ser nortea- sidades educacionais, como o estímulo de
das pela compreensão de que muitos su- suas habilidades. Carvalho (2000) ressalta
perdotados “vivem em contextos de am- ainda que seja importante pontuar que
bigüidades acerca deles mesmos e acerca “especiais” devem ser consideradas as
da percepção dos outros” (p. 110), e que alternativas e as estratégias que a prática
como tal, necessitam de um programa de pedagógica deve assumir para remover
aconselhamento na escola com vistas a barreiras para a aprendizagem e participa-

1141
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção de todos os alunos. Assim, afasta-se o do desenvolvimento visual e auditivo, os


foco do especial ligado ao aluno para o en- aspectos de reconhecimento de fala em
foque do especial atribuído à educação. A crianças em fase de escolarização e a uti-
superdotação é, sem dúvida, uma questão lização de uma bateria de avaliação neu-
desafiadora e controvertida no contexto ropsicológica e de um teste de aquisição
educacional da atualidade. Ressaltada por de leitura, desenvolvidos para avaliar as
aspectos da natureza heterogênea, assin- funções preditoras da leitura nessas crian-
crônica e multidimensional da expressão ças. São debatidas na presente mesa a
humana, reveste-se de desafios. As ca- importância do conhecimento dos meca-
racterísticas específicas de aprendizagem nismos atencionais envolvidos no proces-
desse alunado sugerem ações pontuais, so de escolarização de crianças, visto que
posturas pedagógicas flexíveis, organiza- dificuldades de aprendizagem estão dire-
ção administrativa e gestão educacional, tamente ligados a capacidade de focar a
eficientes, que os estimulem a ampliar atenção, além da importância da percep-
seus talentos. As estratégias de ensino, os ção auditiva como aspecto fundamental
modelos de atendimento especializado e na interpretação e compreensão dos estí-
o dinamismo de nossa sociedade confi- mulos sonoros a elas apresentados, visto
guram e provocam nas equipes educacio- que falhas na percepção dos sons da fala
nais e de apoio escolar e seus psicólogos, podem resultar em uma representação fo-
novas reflexões sobre caminhos possíveis nológica inadequada e erros de produção,
para o desenvolvimento de talentos e o afetando o desenvolvimento da lingua-
sentimento de pertencer desse grupo de gem e, posteriormente, a alfabetização.
alunos em seus contextos educacionais. São abordados um teste de aquisição de
leitura (ALER) e uma bateria neuropsicoló-
Palavras-chave: superdotação, altas gica, desenvolvidos para avaliar e analisar
habilidades, inclusão educacional a prontidão da criança para a leitura em
processo de alfabetização, com vistas a
identificar a prontidão para aprendizagem
e subsidiar ações preventivas. Tais discus-
MR LT02 sões visam uma maior compreensão dos
Mesa Redonda aspectos cognitivos durante o processo
de escolarização, bem como divulgar me-
todologias inovadoras de acesso a estes
MR LT02-1372 – DESENVOLVIMENTO DE aspectos em escolares.
CRIANÇAS EM FASE DE ESCOLARIZAÇÃO:
PERCEPÇÃO AUDITIVA E VISUAL E
PRONTIDÃO PARA LEITURA ONTOGENIA DA ATENÇÃO VISUAL
Valéria Reis do Canto Pereira - UnB
Muitos estudos foram realizados com o vrcantopereira@unb.br
objetivo de compreender o complexo
processo de desenvolvimento durante a A atenção tem sido objeto de estudo de
infância. A presente mesa redonda abor- muitos pesquisadores desde o século XIX.
dará os aspectos cognitivos e perceptuais A partir do advento da psicologia cogniti-

1142
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

va os estudos sobre atenção foram inten- menos eficiente dos estímulos em outras
sificados. Defini-se Atenção Visual como a posições que não àquela selecionada pre-
capacidade neural de selecionar determi- viamente. Uma medida clássica e muito
nada área do campo visual em detrimento utilizada em estudos psicofísicos para ava-
das demais. A atenção pode distribuir-se liação de mecanismos atencionais envol-
pelo campo visual tanto de forma locali- ve Tempo de Reação (TR). É uma medida
zada ou focalizada como de forma difusa. que possibilita ao pesquisador observar
A primeira seria a habilidade de proces- a latência e a acurácia de respostas a es-
sar de forma mais seletiva determina- tímulos apresentados ao observador. Em
da região, enquanto na segunda o foco psicofísica visual, medidas obtidas por
atencional estaria representado de forma meio de TR a estímulos luminosos, podem
aproximadamente igual por todo campo auxiliar na compreensão do processo de
visual (Eriksen & St James, 1986; Posner, seleção de informações relevantes para
1980). A atenção desempenha um papel o sistema visual, priorizando o processa-
de seleção de determinados estímulos mento de alguns atributos de um dado es-
proporcionando o melhor processamento tímulo em detrimento de outros (Posner
destes. Para que informações importan- & Raichle, 1997). Conhecer o desenvol-
tes sejam reconhecidas prioritariamente, vimento de habilidades mentais, desde a
é necessário que haja esta seleção. Este infância até a vida adulta, é fundamental
processo de seleção denomina-se Aten- para compreender a organização e função
ção Seletiva (Desimone & Duncan, 1995). cerebral, visto que o ser humano sofre
Pode-se dividir a atenção em duas formas, mudanças significativas ao longo do seu
diferentes em suas propriedades e seus desenvolvimento, em especial mudanças
mecanismos neurais, são elas: atenção vo- relacionadas à cognição. Durante mui-
luntária e atenção automática (Gazzaniga, tos anos, desde o nascimento até a vida
Ivry & Mangun, 2006). Defini-se atenção adulta, ocorre o desenvolvimento cogniti-
voluntária ou “atenção endógena” como vo, porém algumas funções cognitivas se
sendo a habilidade ou intencionalidade tornam maduras em tempos diferentes,
em prestar atenção em algo. Já a atenção i. e., diferentes regiões cerebrais amadu-
automática ou “atenção exógena” por sua recem mais cedo do que outras, conceito
vez, é descrita como o fenômeno no qual denominado Heterocronicidade. Métodos
alguma coisa capta nossa atenção, sendo que correlacionam a maturação destas
esta de ordem sensorial. A capacidade de funções cognitivas a um estágio específi-
dirigir a atenção voluntariamente para um co do desenvolvimento neural são usados
determinado local do espaço enquanto em humanos. Assim, analisar o desenvol-
se ignora outros é chamada de atenção vimento nos fornece informações sobre
espacial. Essa capacidade propicia uma a circuitaria cerebral, suas estruturas e
melhora no desempenho do observador sistemas, bem como processos cognitivos
quando ele tem o conhecimento prévio que ela mantém, possibilitando também
da posição em que irá aparecer um alvo estudos sobre a origem e o desenvolvi-
para o qual ele deve emitir uma resposta. mento de diversos fenômenos cognitivos.
Esta concentração de recursos atencio- Um exemplo é o conhecimento de que a
nais também conduz a um processamento atenção automática se desenvolve antes

1143
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

da atenção voluntária, o que nos traz in- Os autores realizaram o mapeamento es-
formações preciosas a respeito das formas pacial da atenção visual em voluntários de
distintas de comportamentos atencionais 18 a 30 anos por meio de testes avaliando
(Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2006). Com a atenção explícita (foco atencional coinci-
relação ao desenvolvimento cognitivo, dente ao ponto de fixação) e dividida (foco
Surnina e Lebedeva (2001) realizaram um atencional dividido à esquerda e à direita
estudo com 296 sujeitos na faixa etária de do ponto de fixação, simultaneamente. Os
3 a 28 anos, divididos em 5 grupos (3 - 4 autores demostraram que tanto a atenção
anos, 5 - 6 anos, 7 - 8 anos, 10 - 12 anos e explícita como a atenção dividida estavam
16 - 28 anos) utilizando medidas de tem- presentes no grupo estudado. Reis (2010)
po de reação. Os resultados mostraram utilizou o mesmo protocolo para mape-
que há uma tendência de diminuição, sem ar a atenção visual de crianças de 8 a 15
contudo clara significância, dos tempos anos. Os resultados demonstraram que há
de reação com o aumento da idade. Es- melhora no desempenho em função da
sas autoras também observaram que os idade, sendo que na situação de atenção
tempos de reação de meninos apresen- explícita todos os voluntários apresenta-
tam uma tendência a serem menores do ram menores TR na área atendida, como
que das meninas, mas novamente sem esperado. Na situação de atenção dividida
significância estatística. Kolb e Whishaw apenas a maior faixa etária estudada (15
(2002) sugerem que o desenvolvimento anos) apresentou divisão atencional, tare-
das habilidades motoras mais complexas fa esta mais demandante cognitivamente.
ocorre na faixa etária de 6 a 10 anos pelo Estes dados suportam a hipótese de que
aprendizado motor proporcionado pela diferentes estruturas cerebrais amadu-
maturação da área pré-frontal associado recem em diferentes idades, compreen-
às experiências da criança. Nesta faixa dendo de forma mais detalhada de como
etária ocorreria uma maturação progres- ocorre o desenvolvimento neuromatura-
siva da região pré-frontal permitindo um cional destes voluntários.
melhor planejamento do movimento e
conseqüentemente permitiria associar Palavras-chave: Atenção visual; Crianças;
de forma mais elaborada dois ou mais Escolares.
movimentos, associação esta que se tor-
na com o passar do tempo mais refinada,
possibilitando uma aprendizagem motora PERCEPÇÃO AUDITIVA E
mais eficiente. Esses autores relatam que RECONHECIMENTO DE FALA
na idade de 10 a 20 anos o comportamen- EM CRIANÇAS EM IDADE DE
to caracteriza-se pela fase de habilidades ESCOLARIZAÇÃO
motoras especializadas. Ocorreriam mu- Keila Jacob da Silva - UnB
danças nessa faixa etária não relacionadas keilajacob.s@gmail.com
ao padrão motor, porém na precisão, exa-
tidão e no controle motor. Canto-Pereira A percepção auditiva é um aspecto fun-
e Ranvaud (2004) desenvolveram um pro- damental na interpretação e compreen-
tocolo para mapear a atenção utilizando são dos estímulos sonoros do ambiente.
uma série de experimentos psicofísicos. Crianças com desenvolvimento típico

1144
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mostram muito precocemente, sensibili- tentar compreender as palavras e senten-


dade aos estímulos acústicos e, logo nos ças faladas, os sinais acústicos de entrada
primeiros três anos de vida apresentam devem ser decodificados. Essa análise é
capacidade auditiva suficiente para dis- então traduzida em um código fonológico
criminar contrastes lingüísticos relevantes que possibilita o acesso léxico às informa-
na fala, o que é similar à capacidade apre- ções sobre as palavras e, posteriormente,
sentada por adultos com desenvolvimento seu significado. Observa-se uma distinção
normal (Bailey & Snowling, 2002). A fala é entre a interpretação dos sinais da lingua-
um estímulo acústico complexo, compos- gem falada e escrita. Na leitura, ressalta-se
to por uma ampla faixa de freqüências e a importância dos aspectos gráficos, como
intensidades que variam ao longo do tem- por exemplo, as letras e os espaços entre
po. Sua percepção envolve a identificação as palavras. De acordo com Gazzaniga, Ivry
e interpretação dos estímulos acústicos & Mangun (2006), na compreensão da lin-
de forma adequada sendo que, a audi- guagem falada o ouvinte se depara com
bilidade, recepção, discriminação, reco- uma série de sons e precisa identificar e
nhecimento, memória e compreensão da distinguir: a) os sinais relevantes da fala
mensagem da falada são fundamentais de outros ruídos presentes no ambiente,
nesse processo. O estímulo auditivo deve b) os diferentes sons produzidos pela fala
ser suficientemente audível e possibilitar em relação às características do aparelho
a discriminação, envolvendo sua segmen- fonador, c) os vários fonemas produzidos
tação em unidades menores, como os fo- em uma palavra/sentença, considerando
nemas, que serão armazenados e poste- a modificação de sua pronúncia quando
riormente utilizados no reconhecimento e seguido por diferentes vogais/consoantes;
compreensão da fala escutada (Carvalho, d) as características que diferenciam a pro-
2007). A aquisição da linguagem abrange dução de um mesmo som por diferentes
principalmente a percepção da fala das pessoas e principalmente, de sexo dife-
pessoas que fazem parte do ambiente. A rente. A compreensão da linguagem oral
complexidade dessa habilidade requer do envolve aspectos relacionados ao sinal da
ouvinte a capacidade de extrair informa- fala e ao contexto no qual é produzida. A
ção quanto à forma espectral do som, a importância do contexto é sinalizada em
detecção e discriminação de modulação situações em que uma mesma palavra
de amplitude e frequência, e identifica- pode assumir diferentes significados, de-
ção de alterações temporais que ocorrem pendendo do seu uso. É importante que
tanto em mudanças lentas presentes ao essa capacidade seja desenvolvida, tendo
longo de um enunciado, quanto em mu- em vista sua importância para o estabele-
danças relativamente rápidas, resultantes cimento da comunicação com outras pes-
da rápida articulação consonantal (Bailey soas. Crianças com problemas de apren-
& Snowling, 2002). A integridade do siste- dizagem frequentemente apresentam di-
ma auditivo central e periférico é funda- ficuldades para processar sinais auditivos
mental para o sucesso de todo este proce- complexos, como discriminar as mudanças
dimento. A percepção dos sinais acústicos acústicas que ocorrem rapidamente na
da fala envolve a representação das pala- fala (Kraus et al., 1996). O período em que
vras e a integração destas às sentenças. Ao a criança inicia o processo de escolariza-

1145
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ção é caracterizado por constantes mudan- DESENVOLVIMENTO DE UMA BATERIA


ças na representação fonológica a partir NEUROPSICOLÓGICA PARA AVALIAÇÃO
da fala escutada. Falhas na percepção dos DE FUNÇÕES PREDITORAS DE
sons da fala podem resultar em uma repre- AQUISIÇÃO DA LEITURA EM CRIANÇAS
sentação fonológica inadequada e erros de SUBMETIDAS À ALFABETIZAÇÃO
produção, afetando o desenvolvimento da Kátia Estevão Rodrigues da Silva - CECEPAZ
linguagem e, posteriormente, a alfabetiza- katiaers@gmail.com
ção (Tallal, 2004; Mengler, Hogben, Michie
& Bishop, 2005). Além disso, podem refletir O processo da alfabetização é um campo
em problemas de aprendizagem, concen- de estudo explorado por diversas áreas
tração, atenção e nas interações sociais, do conhecimento, expressando, assim, a
visto que a percepção incorreta de uma importância e a complexidade do tema.
palavra pode prejudicar e dificultar a co- Atualmente, na literatura são encontradas
municação com outras pessoas, diante de várias metodologias, linguagens e abor-
uma limitação para processar a mensagem dagens, muitas vezes divergentes, para a
falada. Vários fatores podem contribuir realização destes estudos, não alcançan-
para que esse entendimento não ocorra do um esclarecimento conciso do assun-
de forma adequada, dentre eles alterações to (Parente & Salles, 2006). Busca-se aqui
físicas (auditiva, neurológicas), emocionais discutir, sob o olhar amplo da ciência da
e ambientais. Gary Sieben, Gold, Gleen Neuropsicologia, baseado na abordagem
Sieben e Ermann (2000) destacam que ca- sistêmica de Alexander Luria, a prontidão
racterísticas relacionadas à acústica do am- neuropsicológica da criança para a aqui-
biente podem influenciar a inteligibilidade sição da leitura. A Neuropsicologia é uma
dos sinais da fala e comprometer o apren- ciência que busca compreender o dina-
dizado. É importante considerar que, algu- mismo e as especificidades das diversas
mas habilidades auditivas da criança em estruturas do sistema nervoso central,
idade de escolarização ainda se encontram com maior enfoque às estruturas corticais,
em desenvolvimento e tendem a melhorar analisando esse como um sistema interde-
com a idade. Até os dois anos de idade, a pendente, dinâmico e complexo. Este tipo
percepção de estímulos auditivos simples de estudo tem um papel importante na
está desenvolvida, entretanto, muitas fun- compreensão das ligações fundamentais
ções auditivas ainda permanecem imaturas do cérebro e do comportamento, o que
até os dez anos (Moore, Halliday & Amitay, permite determinar a relação entre os re-
2009). Assim, o desempenho em algumas sultados dos testes neuropsicológicos e o
tarefas pode ser limitado tornando-se fun- comportamento do ser humano, identifi-
damental que o professor conheça os prin- cando e predizendo alterações dos trans-
cipais aspectos que podem influenciar a tornos neurológicos (Glozman, 2006). O
percepção de fala em faixas etárias especí- alto índice de distúrbios de leitura tem exi-
ficas, planejando intervenções adequadas gido maior compreensão sobre eles, ações
às capacidades de seus alunos. preventivas e estratégias de intervenção
adequadas (Guardiola, Ferreira & Rotta,
Palavras-chave: Percepção auditiva; 1998). avaliação neuropsicológica fornece
reconhecimento de fala; linguagem. informações, através de testes padroniza-

1146
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos, que identificam alterações focais ou Stuart, 2002) que afirmam que o processa-
sistêmicas do sistema nervoso. A aquisição mento fonológico é a principal função neu-
da leitura é um processo neuropsicológico ropsicológica preditora da leitura. As outras
complexo que exige o amadurecimento de funções também preditoras são memória
diversas funções preditivas básicas para semântica e articulação da fala. Sexo, QI e
a sua habilitação, além de sofrer interfe- idade não são fatores que apresentaram
rência de diversas varáveis como sócio- correlação com a aquisição da leitura.
-cultural, biológica, ambiental, educacional
e afetivo-emocional, por exemplo (Silver, Palavras-chave: Avaliação Neuropsicológica;
Ruff, Iverson, Barth, Broshek & Bush et al., Leitura; Processamento Auditivo.
2008). Para avaliar e analisar a prontidão Contato: Valéria Reis do Canto Pereira, UnB,
da criança para a aquisição da leitura, foi vrcantopereira@unb.br
construída uma bateria neuropsicológica
para avaliar as funções preditoras da leitura
(BANLER), com vistas a identificar a pron- MR LT04
tidão para aprendizagem e subsidiar ações
preventivas, e um teste para avaliação da Mesa Redonda
aquisição da leitura (ALER). Ficou eviden-
te que, após estimulação para habilitação
da função da linguagem escrita, enquanto MR LT04-1317 - EXCELÊNCIA,
leitura, outras funções neuropsicológicas EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
foram habilitadas, que, em contrapartida, HUMANO
aqueles que se submeteram a mesma es- Mônica Souza Neves-Pereira - UnB
timulação, mas não adquiriram a leitura, monicasouzaneves@yahoo.com.br
também não desenvolveram as outras fun-
ções neuropsicológicas. A bateria neuropsi- O presente trabalho objetiva discutir as
cológica é constituída de 18 subtestes, den- relações, interfaces e interferências entre
tre eles, cinco avaliam funções preditoras, os fenômenos da Excelência, Educação e
12 avaliam funções que foram adquiridas Desenvolvimento Humano compreendidos
intrinsecamente ao processo da aquisição como processos socioculturais originados
da leitura e apenas um não apresentou da mediação, aqui compreendida como
correlação com o processo de aquisição da ação inerente à experiência humana. As
leitura (memória visual). Os resultados da abordagens sociogenéticas do desenvol-
avaliação neuropsicológica através destes vimento buscam compreender os proces-
instrumentos corroboram os estudos teó- sos de construção da natureza humana
ricos (Lyytinem, Erskine, Kujala, Ojanem & partindo do pressuposto central de que a
Richardson, 2009; Tunmer, 2008; Shaywitz, gênese das estruturas psicológicas do ho-
Shaywitz, Fullbright, Mencl, Constable & mem situa-se na dimensão histórica, so-
Skudlarski et al., 2001; Termine, Stella, Cap- cial e cultural onde os sujeitos se inserem.
soni, Rosso, Binda & Pirola et al 2007; Ca- A biologia, por si só, não é suficiente para
povilla, Gütschow & Capovilla, 2004; Ger- definir um estatuto de humanidade. Para
rits & Bree, 2009; Spugevica & Hoien, 2003; alcançar as potencialidades específicas da
Hulme, Hatcher, Nation, Brown, Adams & espécie homo sapiens, o ser humano ne-

1147
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cessita pertencer a grupos sociais, precisa ceitos de desenvolvimento humano, edu-


apropriar-se da cultura. A educação, em cação e excelência é possível propor diá-
seu sentido amplo, é o processo pelo qual logos que investiguem as relações, interfa-
ocorre essa apropriação em toda sua com- ces e interferências entre estas instâncias,
plexidade. É, portanto, um processo social, destacando perguntas inevitáveis, como:
cultural, histórico, político, econômico e, (a) A escola tem ciência de seu papel não
principalmente, subjetivo. O sentido res- só formativo e instrutivo, mas constitutivo
trito de educação, compreendido em sua da dimensão humana? (b) Ciente ou não
forma instituída, materializada nas práticas da complexidade de sua atuação, a escola
de ensino formal e se define pelas ideias de considera a busca da excelência e do su-
“formar, instruir ou ensinar” um ser. Um cesso em suas ações e práticas? (c) Como
conceito de educação é sempre resultado implementar um olhar transdisciplinar so-
de uma ampla reflexão sobre concepções bre as práticas escolares, se seus profissio-
específicas de ser humano, de sociedade e nais se tornam reféns dos planos políticos
de natureza. Apresenta uma perspectiva, e econômicos descompromissados com o
uma intenção para a vida humana e ideais desenvolvimento humano, com o estudo
para o desenvolvimento da sociedade, com das realidades específicas das instituições
uma ponta de transcendentalidade que e com a formação desses profissionais?
propõe ir além do concreto e do objetivo. (d) Tem a escola proporcionado espaço
Pensar sobre educação implica sempre adequado ao amplo desenvolvimento das
em considerar esses aspectos: o que é da potencialidades de seus alunos? Mergulhar
ordem do humano, do social, do transcen- nestas questões teóricas consiste na pro-
dental. Paulo Freire sempre diz que “edu- posta desta mesa redonda.
car é conscientizar”, é lidar com a integra-
lidade do ser humano, despertando-o para
uma elevação espiritual com o objetivo de NA ESCOLA NOS TORNAMOS PESSOAS.
torná-lo sensível ao mundo e aos seus se- EXCELENTES PESSOAS OU PESSOAS COM
melhantes. Esses propósitos compõem os PADRÕES DE EXCELÊNCIA?
ideários educacionais dos grupos culturais, Mônica Souza Neves-Pereira - UnB
em suas trajetórias históricas. Bruner ar- monicasouzaneves@yahoo.com.br
gumenta que a educação não é uma ilha,
mas parte do continente da cultura. Dentre A escola tem respondido, ao longo da
suas funções destacam-se a construção e História, pelo processo de instrução e de
a distribuição de recursos, em especial os educação formal do ser humano. Em uma
humanos, favorecedores de estratégias de leitura evolutiva, percebe-se que esta ins-
sobrevivência e posicionamento dos sujei- tituição enfrenta dificuldades em ampliar
tos, agentes e receptores destes recursos, seu caráter “formador e estruturador”
no âmbito sociocultural. A escola, como das competências cognitivas humanas,
motor de desenvolvimento humano e local abrindo-se para novas práticas mais abran-
privilegiado de aprendizagem reflete sua gentes e complexas e que contemplem o
importância na constituição dos sujeitos e homem em suas múltiplas facetas. No que
na percepção que cada um vai elaborar a diz respeito ao ensino formal, estruturado
respeito de si mesmo. Articulando os con- por meio de currículos, metodologias e

1148
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

políticas públicas não há dúvidas de que a cas, econômicas, sociais e ideológicas que
escola venha cumprindo sua função, mes- permutam trocas e negociações contínuas
mo que precariamente (em muitos mo- com o sujeito em desenvolvimento; e (b)
mentos). Mas, e quanto aos outros aspec- em uma perspectiva micro, olhar esta cul-
tos constituintes do “ser integral” que ela tura como palco onde sujeitos se movem,
inscreve em seus objetivos educacionais? se posicionam e são afetados por todos os
Como a escola tem tratado a afetividade, componentes de um sistema cultural que
as emoções, a imaginação, a criatividade e toca, mobiliza, transforma, muda o ho-
a busca da excelência de seus alunos? Na mem, não importa em qual direção. Neste
escola nos tornamos pessoas, para o bem caldo relacional os seres humanos constro-
ou para o mal. É neste cenário, onde passa- em leituras da “realidade”, posicionando-
mos grande parte de nossas vidas, que va- -se como sujeitos agentes e receptores dos
mos aprender a ler, escrever, pensar, com- significados culturais, em uma dança dialé-
preender o mundo e a nós mesmos, além tica que revela a complexidade investida no
de nos tornarmos sujeitos de uma cultura, desenvolvimento humano e na construção
sujeitos de valores, crenças, premissas mo- da cultura. A escola, como agência social de
rais e princípios estéticos e éticos. Ensinar extrema relevância, faz parte desta dinâmi-
e aprender são processos que exigem se- ca. Passar por ela traz consequências aos
riedade, retidão e excelência. Não só por- homens, consequências que podem ser
que estas dimensões são constitutivas do transformadas em recursos que habilitam
humano, mas, especialmente, porque me- para a vida e que interferem em nossas es-
recemos qualificar nossa existência e a dos colhas, dando-nos instrumentos para nossa
nossos semelhantes. Ao experimentarmos sobrevivência. Na escola ocorre o encontro
a vida escolar somos profundamente trans- entre a cultura formalizada por meio de
formados por suas práticas, pelas media- currículos e o sujeito que necessita (dese-
ções presentes, pelas mensagens culturais ja?) “ser educado”. Na realidade, ocorre o
recebidas, internalizadas e ressignificadas. encontro entre os cânones culturais, que
A escola é lugar de desenvolvimento hu- são frutos de uma cultura coletivamen-
mano, espaço onde nos transformamos te construída, com a individualidade em
em sujeitos de uma cultura, onde ascen- busca de expressão e compreensão, tanto
demos à nossa condição de humanidade, destes legados e mensagens, como de si
por meio do desenvolvimento de nossas mesma. De acordo com Bruner, nada está
funções psicológicas, nossa consciência, isento de cultura, porém, os indivíduos não
nossa subjetividade. Apropriar-se de uma são meros espelhos das mensagens cultu-
leitura sociogenética de desenvolvimento rais. Viver em cultura exige este equilíbrio,
humano e por meio dela buscar compre- esta negociação entre o que é da ordem
ender o fenômeno educativo e a busca da individual e o que é da ordem coletiva. E
excelência implica na consideração de dois exige mais: demanda preparo do sujeito
aspectos básicos de uma visão culturalista, não só para internalizar estas mensagens,
que são: (a) em uma perspectiva macro, como para mantê-las posteriormente,
compreender a cultura como um sistema transformadas e readaptadas a outro mo-
de valores e significados em permanente mento histórico. A escola se insere nesta
transformação, com suas instâncias políti- missão, a de promover capacidades, esti-

1149
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

los de pensar, de sentir, de falar e de viver novar a existência, sempre orientados por
que, posteriormente, serão transacionados princípios humanos e éticos, com vistas ao
pelo sujeito em formas de trabalho, de pro- bem-comum e ao cultivo de um espírito de
dução, de criação, de renovação cultural. solidariedade, cooperação e fraternidade
Como agência sociocultural, a escola en- entre os povos.
frenta desafios gigantescos, muitos, talvez,
impossível de serem alcançados. Ela se pro- Palavras-chave: Desenvolvimento, Educação e
põe a formar pessoas em sua integralidade, Excelência.
transmitindo-lhes o legado cultural da hu- Contato: Mônica Souza Neves Pereira, IP/UnB,
manidade e construindo hábitos que, pos- monicasouzaneves@yahoo.com.br
teriormente, gerarão resultados cognitivos,
intelectuais e mentais. Se a educação ofer-
tada for eficiente, estes resultados passam CULTURA ESCOLAR E OS PROCESSOS DE
a caracterizar “zona de perigo”. O saber de SIGNIFICAÇÃO DE SI: RECUPERANDO O
qualidade modifica o mundo, os valores, os ELO PERDIDO
princípios, as nações. Este tipo de interfe- Sandra Ferraz de C. D. Freire - FE/UnB
rência no tecido sociocultural é, de modo sandra.ferraz@gmail.com
geral, mal visto. Uma escola excelente é Angela Cristina Uchoa Branco - IP/UnB
desejo de todos, mas causa medo e inquie- ambranco@terra.com.br
tação. Somos este paradoxo: buscamos a
manutenção do nosso status e desejamos O presente trabalho aborda os processos
modificações em nossas vidas, ao mesmo de desenvolvimento na escola enfatizando
tempo, mobilizando forças antagônicas que a interface entre práticas pedagógicas e a
terminam por ceder ao lado mais forte, em constituição de si. Tem por objetivo identi-
geral representado pelos setores dominan- ficar aspectos relacionados ao processo de
tes em uma sociedade. Talvez por esta ra- mudança no desenvolvimento das significa-
zão básica e por outras tantas periféricas, a ções de si no contexto das experiências es-
excelência não se constitua como um valor colares por meio da caracterização de Con-
no cenário educacional, especialmente em cepções Dinâmicas de Si. Fundamenta-se
países com atrasos em seu desenvolvimen- na abordagem sociocultural construtivista,
to. Por excelência compreendemos a cons- de base sistêmica, que considera o sujeito
trução de padrões intelectuais, cognitivos, ativo em seu processo de desenvolvimento
estéticos, éticos e emocionais diferencia- por meio das interações com o outro social
dos da média e que fornece instrumentos e significativo em contexto e em constante
recursos para que o sujeito se expresse de mudança. As demandas complexas postas
modo destacado em uma sociedade, pro- pela pesquisa psicoeducacional revelam a
movendo mudanças profundas e de qua- necessidade de estudar as categorias dinâ-
lidade em suas estruturas. Necessitamos micas dos processos de desenvolvimento
e temos o direito de lutar por uma escola de si no contexto escolar. As instituições e
onde possamos nos tornar excelentes pes- os grupos sociais são agentes de canaliza-
soas com padrões de excelência em nossos ção cultural e lançam mão de sofisticadas
estilos de pensar, agir, vivenciar, compre- estratégias de discriminação e exclusão,
ender, contestar, criticar, criar, inovar e re- na maioria das vezes veladas e silenciosas,

1150
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mas altamente eficazes em posicionar o base em uma perspectiva dialógico-desen-


outro de forma inferior. São estratégias que volvimental. As CDS permitiram ressaltar
contaminam as práticas socioculturais de a plasticidade, a pluralidade e ao mesmo
forma que nem seus membros conseguem tempo, a singularidade do processo de sig-
compreender a dialogicidade entre suas nificação de si em contexto. Por ser uma
ações e as ações de outrem, nem quais categoria que emergiu de forma integrada
os mecanismos de opressão envolvidos. entre sujeito e experiência, nos permitiu
Diante do emergente debate sobre for- compreender a relação entre os processos
mas de violência, nos questionamos como de mudança da criança e as práticas esco-
podemos tornar a escola e a experiência lares. Os resultados sugeriram que a posi-
escolar contextos significativos para o au- ção da professora foi fundamental para a
todesenvolvimento e para a transformação promoção de CDS integradoras capazes de,
da sociedade. Propomos as Concepções em diálogo com as outras CDS, mobilizar a
Dinâmicas de Si (CDS) como categoria ana- criança ao desenvolvimento construtivo de
lítica para o estudo dos processos de signi- si. No estudo do caso Kelly, transformações
ficação de si em mudança e representam significativas ocorreram com o apoio parti-
a dimensão reflexiva do sistema semiótico cipativo e intencional da professora quanto
subjetivo. Ilustramos a situação com o caso à qualificação positiva sistemática do tra-
Kelly. Uma menina negra e pobre com uma balho escolar em associação à valorização
história escolar problemática que passa das atitudes de Kelly. A ação mediadora
por uma mudança radical com relação ao da professora no processo de emergência
trabalho escolar e ao seu desenvolvimento e re-significação da subjetividade da alu-
psicossocial. O caso Kelly foi acompanhado na esteve relacionada inicialmente com o
ao longo do 5º. ano. Foram realizadas duas estabelecimento de relação afetiva e de
entrevistas formais, individuais, gravadas confiança da professora não só com Kelly,
em vídeo, observações das suas intera- mas com todas as crianças. A mediação
ções nos diferentes momentos escolares, também utilizou o reconhecimento público
incluindo a participação em quatro fóruns e individualizado do desempenho positivo
de avaliação coletiva denominado Conse- frente a tarefa escolar e com o estabeleci-
lho de Classe Participativo. Também foram mento de objetivos palpáveis, construídos
realizadas duas entrevistas individuais com e compartilhados com a turma – embora
a professora. A partir da análise da narrati- diferenciados no plano da subjetividade
va de Kelly sobre si e sobre seu desenvolvi- – com base em elaborados processos de
mento escolar em articulação com a análi- significação. A perspectiva de adentrar a
se da narrativa da professora, foi possível quinta série, por exemplo, constituiu-se
construir um sistema representativo das como importante mediador semiótico que
relações entre as Concepções Dinâmicas mobilizou e orientou, de acordo com a no-
de Si e as práticas escolares. A metodolo- ção de ‘orientação para objetivo, determi-
gia usa análise dos posicionamentos pre- nadas CDS de Kelly, considerando o alcance
sentes nas narrativas, priorizando relações da meta, um futuro desejável. Dado o ca-
dialógicas envolvendo CDS diferentes ao ráter dialógico das CDS, observamos que
longo do tempo, enfatizando processos de algumas práticas pedagógicas e institucio-
construção semiótica e reflexiva do eu com nais de intensas negociações interpessoais

1151
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se mostraram relevantes na emergência, dança. Para concluir, é muito importante


re-significação e mudança nos posiciona- ressaltar que a construção de sentido da
mentos pessoais de Kelly. Atividades avalia- experiência escolar está relacionada ao
tivas convencionais – provas, trabalhos de sentimento pessoal positivo nutrido em
grupo, apresentações – previam momen- relação ao contexto mediado pela mobi-
tos de autoavaliação sistemática das crian- lização de CDS integradoras. É esse sen-
ças em contexto coletivo mediada por uma timento que possibilita o sujeito, em sua
profissional (professora, coordenadora), complexidade socio-psíquica, lidar com os
por escrito individualmente, ou em grupo paradoxos e contradições, desconfortos,
sem a mediação intencional da professora. assimetrias, exclusões, discriminação e pre-
Foi possível observar que os momentos de conceitos e relações de poder inerente às
reflexão e autorreflexão se apresentaram relações humanas, à vida em sociedade e à
como contextos produtivos na emergência convivência nas instituições. Este é o eter-
de novos significados, sentidos e ações. Em no desafio das instituições escolares, re-
especial, as sessões de Conselho de Clas- conhecer e dar conta dessa complexidade
se Participativo representou uma prática visto que a escola tem imenso poder sobre
transformadora a julgar pelas negociações a promoção ou a desqualificação de cada
valorativas sobre situações conflituosas. A um de seus estudantes.
preocupação com a vida familiar da crian-
ça também pode ser considerado aspecto Palavras-chave: Concepções Dinâmicas de
relevante para o processo de significação Si; Práticas Pedagógicas; Desenvolvimento
de si e de construção de Concepções Dinâ- Humano.
micas de Si. A socialização de experiências
familiares no contexto escolar foi produti-
va para a re-construção social e dialógica EXCELÊNCIA COMO CONCEITO
da história pessoal de Kelly na medida em PROMOCIONAL DA QUALIDADE
que sua agencialidade passou a também EDUCATIVA E O CONCEITO DE PROLEPSE
ser promotora de mudanças no espaço Fancisco Rengifo Herrera - UI-Colômbia,
familiar. A relação do processo de significa- frengifoherrera@gmail.com
ção de si no contexto do trabalho escolar
envolve: desenvolvimento de sentimentos Os currículos escolares são planejados
de segurança e autoconfiança a partir da levando em conta os critérios estabeleci-
compreensão e domínio das ferramentas dos pelos Ministérios de Educação, pelas
notacionais; do sentimento de pertenci- tendências teóricas em voga e/ou pelos
mento; da mediação semiótica dos valores, interesses de dirigentes e proprietários de
crenças referentes aos papéis sociais e às instituições de ensino. Muitas vezes a exe-
perspectivas de futuro. Entre os aspectos cução desses planos curriculares é alheia à
envolvidos nos processos de mudança, realidade específica da escola, não apenas
sintetizamos: a participação ativa de pes- dos conteúdos, mas das condições e neces-
soas significativas da escola e fora dela, o sidades sociais, culturais e humanas espe-
reconhecimento público, a expressão mais cíficas dos alunos. Mas pouco se leva em
ativa da agencialidade da criança, e princi- consideração as propostas, experiências e
palmente, sua motivação e desejo de mu- conhecimentos dos professores, pais, co-

1152
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

munidades ou estudantes. Além disso, as alunos. Sua necessidade de planejar cada


escolas como contextos, poderiam ser con- ação e desconsiderar os contextos nos
sideradas espaços que oferecem o desen- quais os estudantes estão imersos faz com
volvimento pretendido e promover a diver- que os percursos dos estudantes fiquem
sidade das características de cada um dos restritos e limitados a planos pré-conce-
participantes, mas no final, Na maioria das bidos, frequentemente alheios às salas de
vezes, a escola fica reduzida a um espaço aula. Estabelecer o critério de excelência
para abrigar simples dispositivos de repro- nas escolas, têm se convertido numa forma
dução dos sistemas de conhecimento for- promocional da qualidade do ensino, das
mal, esquecendo-se de que nelas existem políticas dos ministérios da educação o das
relações, significações, emoções e formas agencia de avaliação da qualidade educati-
específicas que podem permitir aos atores va, mas principalmente das escolas. Mas,
principais gerar formas de ação transfor- se procurar outros significados da palavra
madora, tornando-se estes agentes impul- excelência nos dicionários é possível des-
sores da sua própria realidade. Cole desen- cobrir acepções diferentes, tais como algo
volveu o conceito de prolepse, a partir do apreciável ou transcendente. Nesse sen-
latim, para explicar como as ações huma- tido, o futuro do desenvolvimento deverá
nas estão, de forma inexorável, ligadas à levar em conta esses significados, e não
antecipação do futuro. Do mesmo modo, aqueles relacionados apenas à competição,
autores como Valsiner e Branco também seleção e exclusão. Utilizar o conceito de
sugerem ferramentas para compreender o prolepse pode gerar reflexões produtivas
papel do tempo, da antecipação e dos sis- sobre os currículos, as relações dos agen-
temas semióticos no desenvolvimento de tes da escola, os conteúdos, as rotinas e até
sistemas de regulação das ações, emoções mesmo as formas de avaliação escolares. É
e formas de interagir em diferentes contex- por isso que nos sistemas educativos preci-
tos, incluindo o contexto educativo. Usar o sam se delinear e se pôr em prática currícu-
conceito de prolepse exige desconstruir a los que considerem o papel da canalização
ideia de teleologia dos planejamentos cur- cultural e do planejamento do ensino sobre
riculares e compreender que as divergên- as ações, emoções, valores e experiências
cias entre planejamento e expectativas das do individuo. Tais ações se relacionam de
pessoas é o que pode dar sentido às ações perto com a coconstrução de significados e
pedagógicas. Considerar a diversidade in- a apropriação de sentidos específicos para
dividual, do aprendizado, e reconhecer o desenvolvimento integral do estudante.
que apenas quando existe espaço para o Esses processos de canalização e signifi-
surgimento da novidade é que a escola é cação são amplamente explicados desde
capaz de atingir os seus objetivos. Assim, é a Psicologia Cultural e a discussão destes
essencial que a escola promova o desenvol- processos precisa ser feita entre os inte-
vimento, e não apenas reproduza conheci- grantes da escola, incluindo aí os educado-
mentos, práticas e valores sociais. A escola res e também a família dos alunos. Esses
atual fica presa a antigas amarras e impos- processos permitem a compreensão das
sibilitada de oferecer os necessários espa- formas como os sujeitos se apropriam dos
ços de tensão entre currículo e autonomia, valores, crenças, motivações e emoções
por parte tanto dos professores como dos que definem o seu relacionamento consi-

1153
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

go mesmo, com outros e com o mundo. outros resultados, expressão escrita criati-
Se fossem utilizados de forma produtiva va e bem organizada, em alunos de diferen-
como pilares fundamentais do ensino e do tes séries; do mesmo modo e em propor-
aprendizado, com certeza a excelência se- ção maior, redações “padronizadas” e com
ria uma condição sine qua non na vida das informações incorretas. Na semana seguin-
crianças e adolescentes. te foram realizados sociodramas em cada
uma das turmas. As narrativas propostas
Palavras-chave: prolepse, escola, foram lidas pelos autores, escolhidas dez
desenvolvimento, novidade, currículo. pela turma e dramatizadas por atores es-
pontâneos. Cada autor pode retornar ao
seu texto e modificá-lo apreendendo o sen-
MR LT04 tido e criando novas possibilidades de ex-
pressão de suas ideias. No segundo traba-
Mesa Redonda lho é apresentada experiência com jovens
de 15 a 19 anos, alunos do ensino médio.
No contexto da formação de multiplicado-
MR LT04-1464 - PSICODRAMA E O res na prevenção das DST/AIDS, o tema dos
ALUNO EM DESENVOLVIMENTO líquidos corporais (sêmen, sangue, suor) é
trabalhado através do teatro e do sociodra-
O psicodrama constitui abordagem teóri- ma. Nessa fase do desenvolvimento a “irre-
co-metodológica com ampla utilização na verência” e a “transgressão”, compartilha-
educação. Proposto por J. L. Moreno, no dos na linguagem teatral se transformaram
início do século XX, foi utilizado nos últi- em um discurso articulado e compromis-
mos cem anos em diferentes ambientes sado com a prevenção e a atenção à saú-
de aprendizagem, formais e informais. O de. Como consequência, por iniciativa dos
objetivo desta mesa redonda é apresentar próprios alunos, ações de cidadania foram
três experiências educativas, em diferentes propostas e executadas, como a distribui-
níveis de ensino, que utilizam esta referên- ção de mais de 40 mil camisinhas durante
cia, além de discutir sua importância no o carnaval e formação do laço simbólico no
âmbito da psicologia do desenvolvimento. dia dos namorados e no dia da luta contra a
No primeiro trabalho, um modelo de ação AIDS. Finalmente, o terceiro trabalho obje-
foi empregado para se ensinar conteú- tiva discutir, refletir e apresentar o empre-
dos relacionados à água a alunos do ensi- go da metodologia educacional psicodra-
no fundamental. Cerca de 400 alunos de mática, como alicerçada em Moreno e na
seis aos 14 anos foram levados ao teatro, proposta educacional de Romaña, no curso
onde apreciaram uma peça didática infan- de pedagogia, na disciplina Socionomia,
til. De maneira interdisciplinar, na mesma Psicodrama e Educação. Enfoca o emprego
semana, realizaram redações livres sobre dos recursos de ação, envolvendo desde a
o tema nas aulas de português. Nas aulas dramatização e recursos multissensoriais,
de ciências o conteúdo ainda foi reforçado como jogos, textos, música, dança, etc, Os
apresentando-se cartilha com os persona- temas que emergiram, em sala de aula fo-
gens da peça. As redações foram analisadas ram os seguintes: bullying, inclusão, assé-
quanto ao conteúdo, verificando-se, entre dio moral no local de trabalho, sexualidade

1154
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do adolescente, entre outras. Os alunos to e a organização de atividades em espa-


relataram que o método educacional psi- ços de aprendizagem formais e informais.
codramático possibilita aos educadores, Nesse contexto, o espaço lúdico tem sido
trabalharem com os aspectos criativos, considerado por diversos autores (Mo-
espontâneos, além da motricidade, afeti- reno, 1984; Romaña, 1985; Wechscler,
vidade e o grupo, em um campo relaxado. 1991) como lócus para a compreensão
Paralelamente, ocorre a aprendizagem, de do desenvolvimento humano e da orga-
uma proposta filosófica e metodológica, nização da aprendizagem sócio-cognitiva.
utilizando técnicas específicas, para inter- Dentre seus mais importantes aspectos
venção na realidade. Em suma, o grupo é podemos destacar o sentido de liberda-
fonte de aprendizado, de realização e reso- de, de espontaneidade e de criativida-
lução de problemas. de. O objetivo deste artigo é apresentar
e discutir um experimento pedagógico
realizado em Brasília com alunos do en-
O PAPEL DOS JOGOS TEATRAIS NO sino fundamental. A perspectiva sociop-
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES sicodramática oferece interpretação da
SOCIO-COGNITIVAS EM ALUNOS DO interação a partir das ações. Cada ato
ENSINO FUNDAMENTAL corresponde a um tecido ou complexo
Paulo Bareicha - UnB psicodramático, que integra pensamento
paulo.bareicha@gmail.com e ação através de diferentes linguagens
expressivas. Na Figura 1 apresentamos o
A abordagem sociopsicodramática é im- esquema teórico como proposto por Ro-
portante referencial para o entendimen- maña (1998):

Figura 1 – Tecidos ou complexos psicodramáticos

Fonte: Romaña, 1998.

1155
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

A proposta de ação foi organizada como Depois da apresentação, uma cartilha,


um PEAC (Projeto de Extensão de Ação elaborada por alunos da UnB foi entregue
Contínua) tendo características interdisci- aos alunos com conteúdo especialmente
plinares e multirreferenciais. Participaram relacionado ao lixo jogado na água. A ex-
professores e alunos dos cursos de Peda- periência funcionou como uma campanha
gogia, Artes Cênicas e Sociologia; partici- para a despoluição do lago Paranoá. Foram
param ainda alunos de Letras, Psicologia e distribuídas cerca de 10.000 (dez mil) car-
Antropologia. O modelo de ação, como ob- tilhas aos participantes espectadores. Or-
servado na Figura 2, foi organizado a partir ganizados em suas próprias salas de aula,
de uma peça teatral. Esta peça contou com alunos e professores realizaram “sociodra-
a participação dos alunos de artes cênicas mas da água”. A plateia oscilou entre 50 e
e a direção de uma professora. Também 400 pessoas, sendo realizadas no total 163
participaram alunos e professores da pe- (cento e sessenta e três) apresentações
dagogia. A peça foi apresentada para 40 em salas de aula das escolas. Nas aulas de
escolas de tempo integral no complexo Fu- ciências os alunos tinham aula expositiva
narte. As apresentações mobilizaram toda sobre o lago Paranoá e realizaram projetos
a escola e atingiram perto de cinco mil alu- individuais apresentados em grupo nas
nos. O aprendizado decorrente do desafio semanas seguintes. Era feita uma compa-
constante de adequação das metodologias ração entre o que os alunos tinham de co-
do teatro-educação, demandado pelos nhecimento sobre o tema e a visão poste-
diferentes espaços e públicos, instigou a rior à atividade. Nas aulas de português foi
curiosidade dos alunos e professores, ge- realizado um concurso de redações sobre
rando, inclusive, a organização de ciclos de o Lago Paranoá. Foram produzidas quase
leituras e debates sobre o tema. 5 mil redações cujo conteúdo foi analisa-

Figura 2 – Modelo de Ação realizado nas escolas

Fonte: Bareicha, 2006.

1156
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do conforme a metodologia proposta por metodologias pedagógicas. Tais iniciativas


Bardin (2002). Os resultados apresentaram mostraram que o tema da “morte pela fal-
erros como afirmar que o Lago foi “obra de ta de água” protagoniza uma preocupação
Deus” ou foi feita “na época do império” social verificada no pronto engajamento de
ou “na época dos militares”; também hou- professores e alunos na proposta. A diversi-
ve respostas estereotipadas como o “lago dade metodológica otimizou diferentes for-
é azul”, “é bonito”, “tem peixes”; houve mas de ação social e elucidou a importân-
respostas munidas de preconceito, como cia do Protagonismo Juvenil como forma
afirmar que “são as pessoas que moram ao de superar os limites e desafios. O trabalho
redor do lago que poluem o lago”; e houve conjunto de professores e alunos viabilizou
respostas criativas, criação de enredos, tra- maior aproximação da universidade com a
mas e circunstancias que utilizaram o con- comunidade. Nas salas de aula, o aprendi-
texto do lago Paranoá como pano de fundo zado mediado por adultos e jovens fez que
de suas narrativas. Para os sociodramas, as os juvenis fossem motivados a expressa-
redações foram lidas pelos autores em sua rem melhor suas ideias oferecendo espaço
classe, que elegeram dez para serem dra- para crescimento e aprendizagem.
matizadas. Após exercício teatral, alunos se
transformaram em atores espontâneos e
dramatizaram as propostas redigidas. Nes- CIDADANIA: PARA APRENDER NO ATO
se momento os tecidos psicodramáticos Fernando de Assis Alves - EDUCAVIDA
foram esgarçados e observou-se desen- fernando.educavida@gmail.com
voltura (qualidade dramática) dos jovens
atores, ao improvisarem textos e cenas O desafio da formação de jovens, em edu-
novas, dando novo colorido, nova forma e cação e saúde em HIV/Aids é permanente.
conteúdo aos textos. Os primeiros autores Congressos, encontros, cursos, eventos,
se divertiram ao ver sua redação dramati- palestras e demais espaços de comparti-
zada e presenciaram a apropriação de sua lhamento de experiências e conhecimentos
proposta pelo coletivo, transformada em contribuem ao desafio diário no âmbito da
sociodrama. A arte, de modo geral, e o tea- prevenção, do tratamento e de assistência.
tro, em diferentes variações, foram identifi- Partindo desse pressuposto e da relevância
cadas tanto como importantes instrumen- que tem a extensão universitária enquanto
tos metodológicos, quanto como sensíveis eixo central da formação, se faz extrema-
linguagens na expressão, na transmissão, mente necessária a participação dos estu-
na difusão e na construção coletiva e ex- dantes em espaços que contribuam para o
perimental de conhecimentos, qualidades aprimoramento com o trabalho na ponta,
essenciais à realização de ações afirmativas nas suas respectivas áreas de atuação e
de cidadania em uma perspectiva ecope- interesse. A formação permanente é pilar
dagógica (Bareicha, 2006). A falta de água para a formulação de políticas públicas
como drama coletivo mundial foi o tema que atendam as demandas apresentadas
central abordado. O objetivo geral foi o de e articuladas com as universidades, organi-
implicar jovens estudantes como protago- zações da sociedade civil, organizações go-
nistas na reflexão e na transformação de vernamentais e organismos internacionais.
sua realidade. Foram utilizadas diferentes Em 2005/2006, tem início uma adaptação

1157
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do texto de Nicolai Gogol, por Paulo Barei- bém utilizou método baseado na Pedago-
cha e direção de Clarice Costa, da peça “o gia do Drama. Desenvolve uma divertida
Nariz”, com o objetivo de trabalhar os “lí- comédia em que aspectos da sexualidade
quidos corporais”: sangue, suor e sêmen. humana são abordados incluindo-se bri-
A peça retratava, de forma bem humorada gas de casal, assédio, moralismo, abuso
em críticas sociais, o dia de um egocêntri- de poder e outras vicissitudes da vida se-
co Major que, inexplicavelmente, acordou xual cotidiana, onde a platéia entende
sem o seu nariz. A peça esta dentro da pro- como quiser as metáforas “do nariz” e se
posta ecopedagógica, que provoca uma identifica com os personagens durante o
série de inquietações, reflexões, relações espetáculo. Foram desenvolvidas, ainda,
com seu interior, seus papéis e relações so- ações durante o carnaval, dada a neces-
ciais. O tema da água perpassava de modo sidade de um trabalho de prevenção em
transversal, por todo o trabalho, enfatizan- espaços de maior vulnerabilidade frente à
do os fluídos corporais. O trabalho contou gravidez não planejada, a infecção por DST/
com a participação de estudantes e profes- HIV/Aids, ao uso abusivo de álcool e outras
sores no elenco e foi apresentada diversas drogas, dentre outros problemas. Momen-
vezes. Dentre as diversas ações que com- tos de diversão por vezes fazem com que
punham a preparação, o grupo teve aulas as pessoas tenham comportamentos que
de maquiagem. Essa preparação, num for- podem contribuir para uma maior propen-
mato completo, foi extremamente relevan- são a atitudes vulneráveis. O projeto Teatro
te, porquanto nem todos que participavam Ecopedagógico, desde 2004, desenvolve
dos trabalhos eram alunos de artes cêni- ações no campo da educação e promoção
cas. Havia, no entanto, a necessidade, não da saúde, com atividades diversas. Duran-
só de “uniformizar” conceitos, métodos e te o carnaval os estudantes de Projetos 3
técnicas, mas, acima de tudo, aprimorar de e 4 coordenaram ações de prevenção. No
modo holístico toda a produção do traba- ano de 2005 houve a primeira inserção do
lho. Os exercícios corporais trabalhavam a grupo nos trabalhos, onde se desenvolveu
expressão, o improviso, o foco e a atenção. ações que variaram entre palestras, ofici-
Essa parte do projeto foi importante para nas, cursos e até a disponibilização de in-
a formação individual e coletiva, refletindo sumos de prevenção (preservativo mascu-
na própria execução das apresentações, lino, feminino, gel lubrificante) durantes os
que exigiam bastante performance de dias de intervenção. Essas ações demanda-
improviso. Exercícios de improviso eram vam planejamento e preparação por meio
muito utilizados nos encontros, uma vez de revisão de literatura, discussão de técni-
que, durante as técnicas de sociodrama e cas e estratégias de intervenção educativa,
teatro-fórum realizadas após as apresenta- preparação do ambiente (cenário), dentre
ções se faziam necessárias para os traba- outras questões que são necessárias para
lhos, onde, após as apresentações havia a realização dos trabalhos. Garantir a partici-
coordenação do sociodrama, momento em pação juvenil nos espaços democráticos de
que a plateia podia, não só sugerir altera- planejamento, avaliação, implementação
ção de determinadas cenas, como também e compartilhamento de experiências no
participar delas, nesse caso com foco em tocante as políticas de educação e saúde é
DST e Aids. O teatro ecopedagógico tam- imprescindível.

1158
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

O PSICODRAMA NA UNIVERSIDADE: soriais e linguagens diversas como exem-


ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E plos, metáforas, imagens, experiências,
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS depoimentos que são fundamentais para
E HABILIDADES PARA INTERVENÇÃO EM produção e conexões significativas entre os
GRUPOS conhecimentos prévios e os novos (Roma-
Ana da Costa Polonia - UnB nã, 1992). Neste sentido, os alunos e alu-
polonia@unb.br nas, em todas as aulas, têm oportunidade
de experienciar e se apropriar do método
A disciplina Socionomia, Psicodrama e Edu- educacional psicodramático, já que o es-
cação, ofertada para o curso de Pedagogia, paço da aula é divido em dois momentos:
tem um caráter, eminentemente vivencial, fundamentação teórico-metodológico e
e em todos os momentos, se busca a ar- cenas, onde tais fundamentações são ex-
ticulação teórico-prática. Sua vocação é plicitadas por meio da dramatização. Nas
promover a constante interlocução entre primeiras aulas, se empregou recursos
o conteúdo e a sua forma de aplicação, disponíveis no ambiente, com o objetivo
ou melhor, intervenção no espaço educa- de demonstrar que o psicodrama não ne-
tivo. Neste sentido, as várias linguagens, cessita de materiais sofisticados, espaços
os recursos de ação e a dramatização, fechados ou mesmo, de script para se de-
são potencializadores do conhecimento e senvolver. Paralelamente, a esta noção de
da capacitação profissional. Facilitando a ampliação de recursos de ação, os estudan-
emergência da criatividade e da esponta- tes podem superar a ‘conserva cultural’,
neidade, a qualidade dramática presente termo cunhado por Moreno, que não há
nas cenas que posteriormente, os futuros planejamento ou organização, por parte do
docentes podem empregar nos espaços de diretor, já que a cena é escolhida pelo pró-
trabalho. A articulação entre a didática, a prio grupo. Na verdade, eles assimilam que
dramatização e o espaço pedagógico, é o diretor deve ter um preparo, fomentando
reconhecida Romanã (1987, 1992, 1996 e a espontaneidade e criatividade e dominar
1998), apontando a colaboração direta dos as técnicas (duplo, solilóquio, inversão de
recursos do psicodrama pedagógico para o papéis, interpolação de resistências, etc)
processo ensino-aprendizagem. Esta pro- para manejar e desenvolver a proposta do
posta de trabalho integrativo, característica grupo. Reconheceram que a preparação do
do método educacional psicodramático, diretor, seu conhecimento teórico, didático
resgata os conhecimentos oriundos do e metodológico asseguram trabalhar com
movimento, da afetividade, do social, da o improviso, incrementando os estados es-
história de vida das pessoas se concatena pontâneos, desenvolvendo o trabalho em
com os aspectos cognitivos. As técnicas di- um campo relaxado e possibilitando a ação
dáticas devem então buscar a integração dramática. Entre os temas que surgiram en-
da condição humana e suas relações inter- tre os alunos tanto para dramatizar quanto
pessoais. Sendo, então, imprescindível que para implementar a vivencia entre os seus
o educador possa empregar várias lingua- colegas, se pode listar: disciplina em sala de
gens para facilitar e mediar os conhecimen- aula, assédio moral no espaço de trabalho,
tos. Estas competências e habilidades são processo de inclusão, sexualidade e esco-
direcionadas ao uso de recursos multissen- la, bullying, jogos dramáticos, etc. Wallon

1159
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(1986 citado em Nascimento, 2004) postu- vezes, estagnados nas pessoas. A meto-
la que além dos conteúdos, a escola deve dologia psicodramática é um instrumento
trabalhar para formação integral do ser fundamental para aprendizagem, seja ela
humano e, com isso, os aspectos ligados formal ou informal. Tanto nas organiza-
à cidadania, à personalidade, à expressão ções, na saúde, na escola e na comunidade,
da subjetividade e, o interjogo entre o in- o sujeito e o seu grupo estão em constante
dividual e o coletivo. Ele ainda amplia esta aprendizagem. Enfim, a metodologia psi-
discussão apontando que os campos fun- codramática fomenta a ação, o potencial
cionais: afetividade, movimento e cognição ativo e, assim está focalizado no interesse
estão interligados para promover o desen- do aluno e de suas experiências, aliada a
volvimento e aprendizagem. Ainda, sobre o uma situação viva, que permite ao profes-
processo de aprendizagem, Romanã (1992) sor empregar os mais variados recursos
ressalta a sua preocupação quanto à artifi- para construir o conhecimento. A espon-
cialidade dos conteúdos educacionais, isto taneidade e a criatividade como aspectos
é, a distância do que é aprendido no espaço inerentes ao psicodrama e o trabalho num
educativo formal e a vida dos alunos. E as- campo relaxado facilita a apreensão de
sim, ela enfatiza algumas características da uma dada experiência e conteúdo. E o que
utilização pedagógica dos conhecimentos se recomenda que ela esteja aliada com
do psicodrama: como método no proces- outras, por exemplo, meios audiovisuais,
so de construção de conhecimento, o role filmes, textos, com qualquer técnica gru-
playing ou jogo dramático de papéis em- pal e de ensino programado entre outras.
pregados na estruturação daqueles papéis Romanã (2004) amplia a perspectiva do
ligados ao espaço educativo, os sociodra- psicodrama pedagógico por meio da ‘peda-
mas para focalizar e interferir em situações gogia do drama’, que emprega a proposta
de conflito, o jornal vivo para dar tratamen- socionômica de Moreno aplicada à educa-
to diferenciado às notícias veiculadas pela ção, buscando a transformação pela ação
mídia e refletir sobre elas, e por último, o torna-se uma ação pedagógica estruturada
teatro espontâneo para a percepção dos sobre três pilares: a teoria sócio-histórica
conteúdos ocultos na compreensão da re- de Vygotsky, a ética presente na Pedagogia
alidade. O psicodrama, além de garantir a da Autonomia de Paulo Freire e a didática
aquisição do conhecimento em nível intui- sociopsicodramática inspirada na sociono-
tivo e intelectual, ainda possibilita a parti- mia de Moreno. Consiste, então, em uma
cipação ativa e ressalta-se de forma pro- abordagem educacional que aglutina ao sa-
ativa ao aluno, em um contexto grupal. O ber adquirido na aprendizagem formal com
método educacional psicodramático, uma a experiência vivida. Em resumo, articula os
proposta com fins pedagógicos, apresenta saberes ditos formais com as experiências
as etapas (aquecimento, ação dramática afetivas e culturais dos estudantes, visando
e comentários), resgatando os contextos o desenvolvimento de uma postura crítico-
(social, grupal e dramático) e por meio dos -reflexiva para compreender o mundo e as
instrumentos (diretor, ego-auxiliar, pro- relações interpessoais, ressaltando o com-
tagonistas, cenário e platéia), propostos promisso e autonomia nos indivíduos. Ain-
por Moreno, como retomado por Romanã da, possibilitando alternativas didáticas e
(1992), aciona os recursos criativos, por criativas com a participação ativa de todos

1160
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os atores no espaço educacional, por meio nância com essa interpretação, há evidên-
de diálogos e projetos que visem trabalhar cia de que comportamentos de atenção
valores e a ética, além das mediações cul- compartilhada aos 18-30 meses de idade
turais e sociais. predizem o desempenho em tarefas de te-
oria da mente aos 4 anos de idade (Char-
man et. al, 2000; Nelson, Adamson & Bake-
man, 2008). O presente estudo avalia se o
CO 53 - LT02 mesmo é verdade para as primeiras mani-
Cognição festações da atenção compartilhada. Meto-
dologia: Vinte e oito crianças (22 meninas
e 6 meninos), provenientes de famílias de
LT02-824 - A RELAÇÃO ENTRE classe sócio-econômica média e média-alta
A HABILIDADE DE ATENÇÃO da região metropolitana de Belo Horizonte,
COMPARTILHADA E O participaram do estudo. As crianças foram
DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DA submetidas a uma série de avaliações ao
MENTE longo de um período de aproximadamente
Camila Soares de Abreu - UFMG quatro anos. Todas as avaliações ocorre-
casoares.abreu@yahoo.com.br ram na casa da criança, em horários pré-
Cláudia Cardoso-Martins - UFMG -determinados pelas mães. No presente
cardosomartins.c@gmail.com estudo, relatamos os resultados de análises
que investigaram a relação entre a atenção
A partir dos 9 meses de idade, os bebês co- compartilhada aos 9 meses de idade e o de-
meçam a coordenar deliberadamente sua senvolvimento da teoria da 4 anos e 2 me-
atenção com a atenção de outras pessoas. ses de idade. A atenção compartilhada foi
Por exemplo, olham na direção do olhar avaliada através da Escala de Comunicação
ou do gesto de apontar de um adulto pro- Social Inicial (Early Social Communication
curando, ao que tudo indica, identificar o Scales - ESCS), uma medida desenvolvida
objeto ou evento de sua atenção. Também por Mundy et. al (2003). Além da habilida-
chamam a atenção das pessoas para obje- de de atenção compartilhada (e.g., como
tos e eventos ao seu redor, aparentemente quando a criança segue o gesto de apon-
com o único propósito de compartilhar sua tar do examinador, ou quando ela alterna
experiência ou interesse (Carpenter, Na- seu olhar entre um objeto e os olhos do
gell, & Tomasello, 1998; Tomasello & Car- examinador), a ESCS avalia a habilidade de
penter, 2007). Esses comportamentos têm solicitação/demanda (e.g., quando a crian-
sido denominados de comportamentos de ça olha para o examinador ao tentar pegar
atenção compartilhada. De acordo com um um objeto fora de seu alcance ou quando
ponto de vista proeminente na literatura entrega um objeto ao experimentador em
(Tomasello, 1995), a atenção compartilhada resposta à sua solicitação) e de interação
revela a compreensão nascente na criança social (e.g., quando a criança bate palmas
de que as pessoas são seres psicológicos enquanto o examinador canta uma música
que possuem intenções e desejos próprios ou quando a criança inicia a brincadeira de
e, como tal, prenuncia o desenvolvimento rolar uma bola ou um carrinho para o exa-
posterior da teoria da mente. Em conso- minador). Como os exemplos acima ilus-

1161
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tram, para cada habilidade, a ESCS distin- Palavras-chave: atenção compartilhada, teoria
gue entre comportamentos iniciados pela da mente, compreensão de intencionalidade
criança e comportamentos de resposta da Contato: Camila Soares de Abreu, UFMG,
criança a interações iniciadas pelo examina- casoares.abreu@yahoo.com.br.
dor. A administração da escala foi filmada
para posterior codificação dos compor-
tamentos da criança. O desenvolvimento LT02-902 - COGNIÇÃO, BILINGUISMO E
da teoria da mente foi avaliado através de PESQUISA NO BRASIL
cinco tarefas que avaliam a compreensão Ana Catharina Lima
de crenças falsas. Finalmente, utilizamos anaclc@yahoo.com.br
a Escala de Maturidade Mental Colúmbia Luciana Hodges - UFPE
(Alves, Duarte & Faria, 2001) para avaliar lucianahodges@gmail.com
a inteligência não-verbal das crianças. Esse Alena Nobre - UFPE
teste, administrado quando as crianças alenacabral@gmail.com
completaram 3 anos e 7 meses, avalia a ha- Antônio Roazzi - UFPE
bilidade de o examinando identificar, entre roazzi@gmail.com
figuras apresentadas em um cartão (e.g.,
uma cama, uma escrivaninha, um armário O Brasil é tradicionalmente considerado
e uma janela), aquela que é “diferente” ou um país monolíngue; entretanto, é um país
“não combina” com as demais. Resultados. multicultural formado a partir da coloniza-
Tanto a habilidade de responder à atenção ção e imigração de vários povos, que trou-
compartilhada quanto a habilidade de res- xeram consigo suas línguas e culturas. Des-
ponder a solicitações comportamentais aos ta forma, como afirma Moura (2009), com-
9 meses correlacionaram-se significativa- preender a identidade nacional brasileira,
mente com a teoria da mente aos 4 anos e a despeito desta formação multifacetada,
2 meses de idade. Ou seja, as crianças que, como uma nação uniforme, de convivência
durante a administração da ESCS, exibiram pacifica e monolíngue, trata-se de ilusão.
maior frequência de comportamentos de O Brasil, portanto, pode ser considerado
responder à atenção compartilhada e de um pais multilíngue. Isso é reforçado pela
comportamentos de responder a solicita- presença crescente das escolas bilíngues,
ções comportamentais apresentaram um escolas internacionais, e escolas localiza-
melhor desempenho nas tarefas de teoria das em fronteiras de países com o Brasil.
da mente. Entretanto, apenas a habilida- Há também que se levar em consideração
de de responder à atenção compartilhada a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, as
continuou a contribuir significativamente 170 línguas ainda presentes nas comuni-
para o desenvolvimento da teoria da men- dades indígenas (ainda que minoritárias),
te após o controle do efeito de diferenças bem como uma variedade de dialetos exis-
individuais na inteligência das crianças. tentes (Moura, 2009). Se por um lado há
Conclusões. Esses resultados corroboram a argumentos apontando o Brasil enquanto
hipótese de Tomasello (1995) de que, des- pais multilíngue, é difícil discutir a relevân-
de o início, as crianças interpretam o com- cia dada a isso no país. Nobre, Hodges e
portamento de seguir o olhar ou o gesto de Roazzi (2011) realizaram um levantamento
apontar do adulto como atos intencionais. de estudos publicados em português nas

1162
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

bases de dados de psicologia e educação do que se costuma encontrar no Brasil. En-


veiculada pela CAPES nos últimos dez anos quanto na realidade brasileira atual os es-
(2000 – 2010). Foram encontradas apenas trangeiros que têm uma educação bilíngue
28 publicações sendo a maioria voltada são aqueles com boas condições econômi-
para o Bilinguismo relativo à surdez, e ne- cas e que optaram por essa modalidade
nhuma relativa ao bilinguismo indígena. educativa, na realidade de outros países é
Uma análise das palavras-chaves realiza- mais comum encontrar estrangeiros com
das neste estudo revelou que 50% delas baixo nível sócio-econômico e cujas cultu-
faziam referência à déficits ou distúrbios ra e língua de origem não são valorizadas
(fala, escrita, etc.) e apenas 21% delas rela- socialmente; para estes últimos, o bilin-
cionavam-se à cognição. Embora este estu- guismo aparece mais como uma necessi-
do seja um recorte limitado sobre o tema, dade do que uma escolha. Esse status do
ele revela algo já perceptível nas práticas imigrante perante a cultura de seu país de
educativas: as especificidades da aquisição migração vai interferir de modo particular
de um segundo idioma, enquanto segunda na vivência que tem da situação bilíngue, o
língua e em situação de educação bilíngue, que é fator que influencia os resultados de
no Brasil, parecem não receber suficiente pesquisas. Há que se considerar ainda que
atenção de pesquisadores brasileiros, ha- o bilinguismo no Brasil (em se tratando da
vendo, portanto muito a ser esclarecido aquisição de um segundo idioma no con-
nesse domínio. Isso é ainda mais agravan- texto da educação bilíngue) é vivenciado,
te quando se confirma o baixo número de em geral, não por imigrantes, mas por uma
estudos que relacionam bilinguismo com parte minoritária da população que tem
aspectos cognitivos. Isso resulta em que os condições de custear seus estudos numa
educadores e outros profissionais interes- Escola de Educação Bilíngue e que vê no
sados sobre o assunto têm necessariamen- bilinguismo oportunidades de um futuro
te que se apropriar como referência para profissional melhor. O próprio conceito de
seus estudos, das pesquisas realizadas fora Bilinguismo não tem uma definição unâ-
do país. Entretanto, esses estudos, inevi- nime entre os estudiosos, o que ocasiona
tavelmente, trazem consigo particularida- estudos que se referem a níveis de habi-
des culturais, políticas, sociais do contexto lidade linguística muito variados. Também
onde o estudo foi realizado e que interfe- o conceito de Educação Bilíngue é amplo,
rem no desempenho cognitivo do sujeito. devido à existência de várias modalidades
Essas particularidades podem não se igua- (Megale, 2005). Podemos dizer que, em
lar aos contextos brasileiros, fazendo com geral, no Brasil privilegia-se um modelo de
que a generalização dos resultados desses Educação Bilíngue de enriquecimento por
estudos para a realidade brasileira deva imersão, cujas motivações produzem um
ser feita, no mínimo, com muita cautela, tipo de Bilinguismo denominado, fazendo
podendo até se tornar inviável como refe- referência ao critério cultural, de elitis-
rência. Um exemplo disso são os estudos ta (Harmer & Blanc, 2000). Se, portanto,
realizados fora do país com imigrantes. Em apresenta-se como característica princi-
muitas pesquisas, o contexto de imigração pal da educação bilíngue no Brasil uma
traz consigo elementos tais como nível só- amostra pequena da população que pos-
cio-cultural e econômico muito diferentes sui condição financeira diferenciada e que

1163
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tem como objetivo principal a aquisição ajuda a compreender as especificidades


de uma segunda língua para inserção num do desenvolvimento cognitivo e linguístico
mundo globalizado, deve-se considerar ou- de sujeitos expostos a duas línguas. Elas
tras características relativas a essa amostra oferecem também elementos a favor do
que podem influenciar na cognição, tais fortalecimento de uma cultura de Educa-
como: acesso fácil e orientado aos meios ção Bilíngue no país; bem como sugere as
de comunicação (livros, jornais, revistas, especificidades que devem ser observadas
programas de televisão aberta e a cabo, numa intervenção psicopedagógica com
internet); conhecimento e vivências cultu- sujeitos bilíngues, que porventura, neces-
rais possibilitadas por viagens para outros sitem de apoio no percurso do seu desen-
países, uso da tecnologia da informação, volvimento cognitivo ou acadêmico.
entre outros. Portanto, estudar este tipo
de amostra requer cuidados metodológi- Palavras-chave: Bilinguismo; cognição,
cos que possam estar apropriados para o pesquisas brasileiras.
estudo das especificidades do mesmo. A Contato: Ana Catharina Lima de Carvalho,
psicologia cognitiva é uma área que pode anaclc@yahoo.com.br.
ser considerada como uma importante
contribuidora dos estudos sobre bilinguis-
mo e educação bilíngue, uma vez que há LT02-940 - CONVERSAR COMIGO E
forte tendência dos estudos realizados CONVERSAR COM DEUS: A PERCEPÇÃO
fora do Brasil correlacionarem bilinguismo DE ADULTOS JOVENS SOBRE A FUNÇÃO
e cognição. Em geral, os resultados desses DA ORAÇÃO E DO DIÁLOGO INTERNO
estudos indicam que em comparação aos Laís Almeida Ambrósio - UFES
monolíngues, os bilíngues apresentam ga- lais.ambrosio@gmail.com
nhos nas funções executivas, tais como: M. Lima de Souza - UFES
atenção, inibição, monitoramento e alter- limadesouza@gmail.com
nância de tarefas (Bialystok, 2007, 2008). Financiamento: CAPES
Pesquisas anteriores só consideravam a
existência de tais diferenças cognitivas Em psicologia, há um interesse crescente
quando os sujeitos bilíngues eram profi- em estudar as relações que o ser humano
cientes nas duas línguas. Mas hoje, levam- estabelece com a religião. Estudos suge-
-se em consideração os diferentes níveis rem que pessoas mais religiosas apresen-
de domínios em diferentes habilidades tam um melhor enfrentamento de situa-
(ler, escrever, falar, compreender). Refor- ções estressantes e traumáticas, como no
ça-se, mais uma vez, que para entender caso de uma doença, e a oração se mostra
essas diferenças cognitivas, é preciso levar eficiente em auxiliar esse processo. Isso
em consideração os fatores que cercam o porque a oração funciona também como
individuo bilíngue no percurso do seu de- uma forma de elaboração de situações vi-
senvolvimento, tais como aspectos sociais, venciadas. Por outro lado, estudos sobre
culturais, contextuais, e mudanças biológi- o processo psicológico do diálogo interno
cas. Chama-se para as ampliações de pes- indicam que a fala interior seria uma forma
quisas neste sentido contribuem não só de linguagem de grande importância para
à psicologia cognitiva, na medida em que o pensamento. A função desse discurso

1164
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

interior é apoiar processos psicológicos denominada ministério (canto, dança,


como planejamento da ação e processos lecionar). O contato com os participantes
de pensamento. Quanto a utilização do foi feito de forma direta e as entrevistas
diálogo interno em adultos, há indícios realizadas em locais escolhidos pelos pró-
que essa prática se relaciona diretamen- prios participantes. Para as entrevistas foi
te com o autoconhecimento e resolução criado um roteiro semiestruturado dando
de problemas. Contudo, um estudo ale- a liberdade de serem acrescidas pergun-
mão sobre a frequência de oração, auto- tas ao longo da entrevista a fim de se ob-
eficácia e o diálogo interno apontou uma ter melhor esclarecimento durante a nar-
correlação negativa entre autoeficácia e rativa dos participantes. As entrevistas
oração. Todavia, o próprio pesquisador foram gravadas em áudio, com duração
ressalta que esses resultados podem ter média de dez minutos, e transcritas na
sido enviesados pelo fato de que alguns íntegra para posterior análise. O método
participantes terem declarado que ora- escolhido de análise foi o método feno-
vam nunca ou às vezes. Tais estudos tem menológico que consiste em três etapas:
se concentrado primordialmente em par- descrição, redução e interpretação. A des-
ticipantes adultos. Investigar a faixa etá- crição fenomenológica fez emergir seis
ria adulta jovem pode levantar evidências temas: 1) diálogo interno como forma de
importantes sobre o papel da oração no autoconhecimento (“Conversar comigo
processo de pensamento em um momen- mesmo é uma forma de eu me conhe-
to em que o individuo está vivenciando cer um pouco mais, eu saber dos meus
eventos importantes como a entrada na planos, dos meus objetivos”, Masc1); 2)
vida adulta e muitas vezes também no diálogo interno como ferramenta de pla-
mercado de trabalho e o início da vida nejamento e resolução de problemas (“É
universitária. Definimos como objetivo o seu pensamento, o seu modo de pensar
geral desse trabalho identificar e descre- que daí você vai tomar uma decisão, das
ver a percepção de adultos jovens pro- várias formas que você tá pensando pra
testantes sobre a função da oração e do saber sobre o melhor pra gente”, Fem3);
diálogo interno e, mais especificamente, 3) diálogo interno como prática de escri-
se há semelhanças e ou diferenças entre ta (“A minha forma de conversar comigo
a prática religiosa e o processo reflexivo mesmo é escrevendo e lendo o que eu es-
de pensamento. Nessa pesquisa, de cará- crevi e pensando e... E as respostas ali es-
ter qualitativo, participaram 8 indivíduos, critas”, Masc4); 4) oração como conversar
sendo quatro homens e quatro mulheres, com Deus e experiência espiritual (“Ah,
com idades entre 20 e 30 anos. Dos parti- oração é falar com Deus, né? Você tem
cipantes, duas haviam terminado ensino que ter fé, né, não adianta fazer sem fé”,
superior, 5 ainda estavam em formação Masc3); 5) oração como garantia de certe-
e um em curso preparatório para o ves- za para vida cotidiana e futura (“Oração é
tibular. Com exceção de um participante, confiável, oração é certeza. Agora, quan-
todos eram envolvidos ativamente na do você para e faz uma análise você pode
igreja, ou seja, que frequentam a igreja errar”, Masc2); 6) oração como diálogo
ao menos uma vez por semana e/ou es- consigo mesmo (“Então, quando eu falo
tão envolvidos no que o protestantismo com Deus eu também tô falando comigo

1165
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mesmo, automaticamente. Eu tô refletin- ção. A oração possivelmente garante uma


do sobre... sobre mim mesma”, Fem2). convicção vinculada à fé e a uma experi-
Foi possível definir dois focos proble- ência religiosa de vida que garante mais
máticos. O primeiro é a interferência da crédito a essa atividade em detrimento da
personificação do interlocutor no funcio- outra, criando um sentimento de certeza
namento da reflexividade. Ao relatarem a em relação as escolhas feitas. Do ponto
respeito de oração e discurso interno, os de vista psicológico, pode-se pensar que
participantes declararam que existe uma essas pessoas precisam de uma vivência
forma diferente em realizá-las. A oração afetiva que as assegure de que tomaram
é realizada de forma também verbaliza a decisão certa (“E eu converso com Deus
e existe uma preocupação em manter geralmente quando eu tomo uma posição
uma estrutura narrativa necessariamente nas minhas reflexões. A partir daí que eu
na sequencia “Exaltar-agradecer-pedir” converso com Deus, pra poder ver se isso,
(“Primeiro eu exalto a Deus, depois eu se a minha decisão é dele ou não é muitas
agradeço por tudo, depois eu falo o que vezes, entendeu?”, Fem3).
tá me preocupando, peço alguma coisa e
peço perdão em nome de Jesus, amém”, Palavras-chave: Diálogo interno; oração;
Fem2). Além disso, por estar sendo dirigi- adulto jovem.
do a uma entidade divina, há ainda uma Contato: Laís de Almeida Ambrósio, UFES,
preocupação em construir uma exposição lais.ambrosio@gmail.com
de forma mais cuidadosa do que no diá-
logo interno. (“E quando você conversa
com Deus, você conversa geralmente de LT02-1215 - DESENVOLVIMENTO
forma diferente do que você faz consigo DO PENSAMENTO REFLEXIVO:
mesmo. Por exemplo, comigo mesmo eu TRANSFORMAÇÕES NA QUALIDADE
falo de qualquer jeito”, Fem3). Uma expli- DE ARGUMENTOS DE ESTUDANTES
cação possível é que existe uma diferença PARTICIPANTES DO DEBATE CRÍTICO
entre a linguagem externa e interna. A Nancy Lizeth Ramírez Roncancio - UFPE
linguagem externa necessita da utilização nalyrra@hotmail.com.
de significados que são consenso entre Selma Leitão Santos - UFPE
falantes de mesma língua. Internalizada, selma_leitao2001@yahoo.com
ela funciona em um campo que pode- Financiamento: CNPq/CAPES-Reuni
mos chamar abstrato, aonde prevalece
o sentido individual da palavra sobre o Este trabalho visa analisar o desenvolvi-
significado generalizado. O segundo foco mento do pensamento reflexivo de estu-
problemático é a diferenciação entre sen- dantes universitários através da analise
tir que tomou a melhor decisão e pensar das possíveis transformações na quali-
em qual a decisão melhor a tomar. Tan- dade dos argumentos que apresentam
to a oração quanto o diálogo interno são enquanto participantes de uma experiên-
usados como ferramenta para resolução cia pedagógica que proporciona intensi-
de problemas. Contudo, o diálogo inter- va reflexão e exercício de argumentação
no não oferece um sentimento de certeza (Fuentes, 2009) sobre temas curriculares.
que precisa ser complementado pela ora- Os pressupostos centrais sobre os quais

1166
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

se ancora esta pesquisa são duplos. Por mento para um plano reflexivo, no qual o
um lado, o estudo se fundamenta em próprio indivíduo se volta sobre os funda-
Fuentes (2009), que considera que a mentos e limites de seu próprio discurso
participação e prática em atividades de (Leitão, 2007b). Das acepções aqui abor-
“debate crítico” mobilizam operações es- dadas sobejassem três princípios teóricos
pecíficas de raciocínio que possibilitam o que são assumidos dentro desta pesqui-
desenvolvimento do pensamento crítico. sa: a) A cognição vista como um sistema
Por outra parte, o estudo se ancora no complexo de funcionamentos psicoló-
consenso encontrado entre teóricos e gicos construídos a partir da relação de
pesquisadores sobre o papel mediador interdependência entre o sujeito e o am-
da argumentação no desenvolvimento biente histórico-cultural que possibilita
cognitivo dos indivíduos. Tal mediação a interpretação e compreensão da reali-
é observada na medida em que o enga- dade circundante (Vigotsky, 1934/2001;
jamento do indivíduo na argumentação Bruner, 1997); b) Desde uma perspecti-
incrementa a tomada de consciência e a va histórico-cultural (de base dialógica),
reflexão sobre seu próprio discurso, assim se ressalta o papel da linguagem como
como do de outros, propiciando um cená- fundamental na constituição da cognição
rio favorável para a construção de novas humana e como parte relevante na cons-
concepções e pontos de vista relativos ao trução e transformação do pensamento
tema em questão (Ascione, 2000; Saíz & (Leitão, 2010), e c) A natureza metacogni-
Rivas, 2008; Fuentes, 2009; Leitão, 2010). tiva da argumentação como o mecanismo
Reconhecer o “debate crítico” como uma que instaura a reflexão sobre o próprio
atividade discursiva, caracterizada pela pensamento (Leitão, 2007b). Portanto, a
oposição dialógica em que se enfrentam natureza eminentemente metacognitiva
distintos usuários da linguagem que sus- que caracteriza o pensamento reflexivo
tentam diferentes pontos de vista em define-o como um “processo autorregu-
relação a um conflito de opinião (Fuen- lador do pensamento constituído quando
tes, 2009, Plantin, 2004), leva a pensá-lo um indivíduo toma suas próprias con-
como processo particular de negociação cepções sobre os fenômenos do mundo
discursiva que privilegia o pensamento. (conhecimento), como objeto de pensa-
As trocas contínuas que acontecem du- mento e considera as bases em que estas
rante a negociação de um conflito de opi- se apoiam e os limites que as restringem”
nião e exigem do indivíduo que se volte (Leitão, 2003, pp. 455). O presente es-
sobre seu próprio pensamento e o tome tudo se caracteriza como uma pesquisa
como objeto de reflexão (Ascione, 2000; qualitativa de tipo longitudinal de serie
Ascione & Rolando, 2002; Fuentes, 2009; de casos (Stake, 2000; Yin, 2001, Flick,
Leitão, 2007b). A ideia anteriormente 2009) cujos participantes eram estudan-
citada permite destacar o caráter de au- tes de primeiro período da graduação em
torreferencialidade da linguagem –o dis- psicologia de uma universidade publica,
curso em si mesmo– como possibilitador matriculados em uma disciplina que teve
do movimento autorregulador do pen- como proposta pedagógica central a utili-
samento, ou seja, o papel regulador do zação do Modelo do Debate Crítico (Fuen-
discurso favorece a mudança do pensa- tes, 2009) como recurso para discussão

1167
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do conteúdo da disciplina. Os dados uti- autora pela estrutura e a avaliação dos ar-
lizados para a análise foram construídos a gumentos levá-a a propor como critérios
partir dos registros videográficos e o ma- de valoração qualitativa, tanto na cons-
terial pré-existente pertencentes ao ban- trução quanto na produção do argumen-
co de dados gerado no contexto do pro- to, as condiciones ARS – aceitabilidade,
jeto “O Debate Crítico como contexto de relevância e suficiência –, que permitem
desenvolvimento do pensamento reflexi- avaliar o grau de apoio que as premissas
vo”, desenvolvido pelo Núcleo de Pesqui- oferecem para a conclusão; portanto, um
sa da Argumentação da UFPE (NupArg/ argumento racional seria aquele que ofe-
Diretório de Grupos de Pesquisa-CNPq). rece como apoio boas razões para a con-
Atendendo aos critérios de participação clusão. Na segunda fase da macroanálise,
no papel de avaliador e participação ativa procurou-se observar possíveis trajetó-
nos debates, foram escolhidos de forma rias de desenvolvimento do pensamento
intencional (Morse, 1991) dentre os es- reflexivo de cada participante através da
tudantes matriculados naquela discipli- análise de se e como se transforma a qua-
na oito (8) participantes. Neste trabalho lidade de seus argumentos. Dado que na
serão apresentados dois casos como um atualidade não se conhecem resultados
recorte da analise dos dados construídos, de pesquisas voltadas a indagar o impac-
no qual se busco observar a emergência to do programa de intervenção baseado
de variações tanto na qualidade dos argu- no “Modelo de Debate Crítico” (Fuentes,
mentos de cada sujeito (trajetória indivi- 2009), nem medições sistemáticas que
dual), como nas trajetórias de desenvolvi- mostrem o impacto no funcionamento
mento de diferentes sujeitos. Este estudo psicológico dos sujeitos engajados neste
privilegia a análise qualitativa, visto que tipo de atividades no contexto de sala de
seu objetivo é estudar possíveis trans- aula. Apresenta-se uma pré-análise que
formações que acontecem na qualidade mostra uma descrição exploratória sobre
de argumentos produzidos por estudan- o desenvolvimento e aquisição do pen-
tes inseridos numa experiência pedagó- samento reflexivo a partir das possíveis
gica intensiva de reflexão e exercício de transformações que acontecem na qua-
argumentação sobre temas curriculares lidade dos argumentos. Por outra parte,
(debate crítico). Devido às características com o intuito de contribuir no entendi-
discursivas próprias do debate critico e mento do funcionamento psicológico dos
ao objetivo antes mencionado, a análi- sujeitos que participam em experiências
se qualitativa se deu em dois níveis: Na pedagógicas intensivas de reflexão e exer-
primeira fase da microanálise, se avaliou cício argumentativo caracterizou-se como
a qualidade dos argumentos produzidos acontecem tais mudanças.
pelos participantes durante a realização
de debates como em outras situações Palavras-chave:Desenvolvimento;
de argumentação que aconteceram em pensamento reflexivo; qualidade dos
sala de aula ao longo do semestre aca- argumentos.
dêmico, tomando-se como referencia as Contato: Nancy Lizeth Ramírez Roncancio,
concepções de força e solidez definidas UFPE, nalyrra@hotmail.com.
por Govier (2010). A preocupação desta

1168
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT02 – 1257 - DESENVOLVIMENTO DO das, revistas e (trans)formadas. Segun-


RACIOCÍNIO NO CAMPO DA HISTÓRIA: do Leitão (2003/2007), esse processo de
ARGUMENTO BASEADO EM EXEMPLO negociação confere a argumentação uma
Dayse Souza - UFPE dimensão epistêmica que a institui como
dayse_arianne@hotmail.com recurso privilegiado na construção do
Selma Leitão - UFPE conhecimento. No que se refere à episte-
selma_leitao2001@yahoo.com mologia da História, Pontecorvo e Girar-
Financiamento: CNPq det (1993) apontam um mínimo de dois
grupos de ações epistêmicas característi-
O presente estudo investigou relações cos deste campo: (1) raciocínios e proce-
entre argumentação em sala de aula e dimentos metodológicos que servem de
o desenvolvimento de formas de racio- base para a atividade interpretativa; (2)
cínios que possibilitam a construção de raciocínios e procedimentos utilizados na
conhecimento em domínios específi- explicação de eventos históricos particu-
cos. O objetivo específico consistiu em lares. Considerando esse conjunto de ra-
investigar como a ação epistêmica de ciocínios e procedimentos, constatam-se
contestar ou justificar uma afirmação como ações epistêmicas típicas da Histó-
recorrendo ao exemplo (raciocínio ca- ria: as definições, as categorizações, as
racterístico do campo da história) é ge- predicações (não avaliativas), avaliações
rado na argumentação em sala de aula. e a justificação de afirmativas, sendo
O pressuposto subjacente ao estudo é esta última a ação de interesse particu-
que ‘aprender’ num determinado campo lar aos propósitos do estudo em questão
do conhecimento implica não só a apro- devido à sua natureza argumentativa.
priação de conteúdos e informações es- Dentre os recursos tipicamente usados
pecíficos daquele campo, mas, também, na justificação de afirmativas (apelos a
de raciocínios e procedimentos típicos e analogias, exemplos, condições, regras
aceitáveis naquela área (Leitão, 2003). e princípios gerais, autoridade (especia-
Na presente perspectiva a argumentação listas, fontes), motivos/intenções/metas,
é compreendida como uma atividade de conseqüências/implicações) o estudo
natureza dialógico/dialética que ocorre a priorizou a ação epistêmica de justificar
partir da justificação de pontos de vista ou contestar uma afirmação apelando-
e consideração de perspectivas opostas -se a exemplos. A escolha do raciocínio
com o objetivo último de promover acei- baseado em exemplo está diretamente
tabilidade das concepções apresentadas relacionada a resultados obtidos em fase
(Van Eemeren, et al.,1996). A necessida- preliminar do estudo, durante a qual foi
de de defender um ponto de vista para observado que exemplos eram freqüen-
torná-lo aceitável aquele com quem se temente invocados por professora e alu-
argumenta, e de responder a idéias alter- nos. O propósito deste estudo foi então
nativas que emergem no diálogo ocasio- definido como sendo o de investigar em
nam, no discurso argumentativo, um es- que medida exemplos eram invocados
paço de negociação no qual perspectivas em sala de aula com o intuito de funda-
contrárias a respeito do mundo (físico ou mentar afirmações (argumento baseado
simbólico) são continuamente formula- em exemplo). No argumento baseado

1169
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

em exemplo o mais importante não é o (3) identificação do uso de exemplos;


número de exemplos usados, mas sim e (4) identificação de exemplos usados
se são típicos daquilo que pretendem como parte de um argumento ou contra-
exemplificar. Este tipo de argumento é -argumento.Resultados e Discussão. A
geralmente usado como apoio quando se partir das análises realizadas constatou-
pretende fazer uma generalização. Vale -se que: 50% das aulas analisadas apre-
ressaltar que nem todo uso de exemplo sentavam episódios argumentativos, das
pode ser considerado um caso de argu- quais 10% foram iniciadas por algum
mento baseado em exemplo. Os ‘exem- aluno e os outros 40% foram iniciados
plos’ são também utilizados em explica- pelo professor. Verificou-se argumento
ções e outras ações verbais que não se baseado em exemplo em apenas 20%
caracterizam como argumentação. Por- dos episódios argumentativos identi-
tanto, é considerado como parte de um ficados. O uso de exemplos não argu-
argumento apenas o exemplo utilizado mentativos, mas para fins explicativos/
para fortalecer (justificar, fundamentar) elucidativos, foi observado em 60% das
ou enfraquecer (contra-argumentar) um aulas analisadas. Os resultados apresen-
ponto de vista. (Walton, 1996). Método: tados evidenciam que, naquele contexto
O estudo ora proposto foi realizado com instrucional, a argumentação foi gerada,
dados obtidos durante a primeira fase do principalmente, pelo professor. Ocorria
projeto Argumentação e processos de a freqüente utilização de exemplos para
construção de conhecimento (CNPq/pro- fins não argumentativos. O argumento
cesso no. 501259/2004-0), atualmente baseado em exemplo surgiu com pou-
pertencentes ao Banco de Dados do Nú- ca freqüência, sendo essa forma de ra-
cleo de Pesquisa da Argumentação (Nu- ciocínio, embora considerada típica no
pArg) da Pós-Graduação em Psicologia campo da história, pouco utilizada para
Cognitiva da UFPE, cujo conteúdo total fundamentar e/ou contestar afirmações
abrange dois anos de registros videográ- de modo a favorecer a elaboração de
ficos de aulas de História de uma turma pontos de vista e a (re)construção do co-
do ensino fundamental (no percurso da nhecimento sobre o tema em discussão.
6º, 7º e 8º série) de uma escola pública Em consonância com Pontecorvo (2005),
experimental do Recife. O presente estu- a análise dos dados legitima a idéia de
do visou, especificamente, a análise dos que a potência dos contextos de conflito
dados do primeiro semestre da 7ª série. de opiniões para explicar e argumentar,
O procedimento de análise efetivou-se ainda é pouco utilizada na escola para
em quatro fases: (1) transcrição; (2) iden- fins de aprendizagem. A instituição esco-
tificação dos episódios argumentativos lar freqüentemente mantem a estrutura
com base na unidade de análise (Leitão, usual das conversações em sala de aula,
2007) composta pela tríade: argumento com a típica seqüência “pergunta do pro-
(ponto de vista mais justificativa de um fessor - resposta do aluno - comentário
proponente), contra-argumento (ponto do professor”, que responde, sobretudo,
de vista contrário de um oponente ao ao objetivo de avaliar o aluno, verifican-
ponto de vista inicial) e resposta (respos- do os conhecimentos que ele já possui,
ta do proponente ao contra-argumento), ao invés de favorecer a contraposição

1170
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos pontos de vista e a construção do penho. O processo de avaliação constitui-


conhecimento.Tendo em vista que a ar- -se numa peça importante da educação,
gumentação comporta processos lingüís- pois sem ela não é possível acompanhar
ticos e sociocognitivos relevantes para a o processo ensino-aprendizagem. A ava-
aquisição e construção de conhecimento, liação possibilita verificar o cumprimento
espera-se que os resultados obtidos no dos objetivos, uma vez que averigua me-
presente estudo incentivem reflexões di- diante um processo gradual, contínuo,
recionadas para a importância da discus- sistemático e acumulativo as mudanças
são em sala de aula, e contribua com a que o ensino produziu no conhecimen-
produção de novas estratégias didáticas to do aluno. Somente ao identificar os
que valorizem o discurso argumentativo objetivos e expressá-los claramente em
e que tornem cognitivamente produtivo termos de comportamentos específicos,
esse tipo de interação verbal no contexto é que podemos estabelecer um melhor
instrucional. direcionamento ao processo de ensino
e estabelecer parâmetros para a avalia-
ção dos produtos da aprendizagem. No
Palavras-chave: argumentação; construção entanto, a realidade brasileira no que
de conhecimento; ensino de história tange a avaliação de desempenho esco-
Contato: Dayse Arianne de Souza; UFPE; lar é caracterizada por uma escassez de
dayse_arianne@hotmail.com instrumentos psicopedagógicos, psico-
metricamente adequados e construídos
para a nossa realidade. Os instrumentos
LT02-1395 - ESTUDO DE REVISÃO existentes atualmente destinam-se qua-
SISTEMÁTICA: UM LEVANTAMENTO se que exclusivamente à medição de ap-
SOBRE COMO O TESTE DE tidões específicas e não ao processo de
DESEMPENHO ESCOLAR (TDE) TEM SIDO aprendizagem escolar amplo, ou seja,
UTILIZADO NOS ÚLTIMOS DEZESSEIS de conhecimentos básicos adquiridos
ANOS na escola. Com o objetivo de preencher
Claudia Giacomoni - UFRGS parte dessa lacuna, e inspirados no Wide
giacomon@uol.com.br Range Achievement Test, uma bateria pu-
Luiza Feijó - PUCRS blicada pela Psychological Corporation,
lulufeijo@gmail.com cujo objetivo é identificar déficits nas ha-
Pilar Petrasi Guahnon - FFCMPA bilidades básicas de leitura, escrita e arit-
pilarpetrasi@gmail.com mética, há dezesseis anos construiu-se
Lilian Milnitsky Stein - PUCRS o Teste de Desempenho Escolar (TDE).
lilian@pucrs.br O TDE é um instrumento psicométrico
Financiamento: CAPES de aplicação individual que possibilita
avaliar de forma objetiva o desempenho
A avaliação da aprendizagem escolar tem escolar de crianças de 1ª à 6ª séries do
como objetivo acompanhar a aquisição ensino fundamental, fornecendo uma
de conhecimento do aluno de uma forma visão ampla dos elementos fundamen-
sistemática e gradual, verificando as mu- tais da aprendizagem da leitura, escri-
danças que o ensino produz no desem- ta e aritmética. O teste é composto por

1171
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

três subtestes: escrita – escrita do nome critérios de inclusão (i.e. referência bi-
próprio e de palavras isoladas apresen- bliográfica completa). Entre as publica-
tadas sob a forma de ditado; aritmética ções analisadas: 55% foram provenientes
– solução oral de problemas e cálculo de do Google Acadêmico, 22% do banco de
operações aritméticas por escrito; e lei- Testes CAPES, 13% do Scielo, 8% Lilacs e
tura – reconhecimento de palavras isola- 2% Pepsic. Ao verificar-se o número de
das do contexto (Stein, 1994). Cada um publicações do TDE por tipo de referên-
dos subtestes apresenta uma escala de cia foram obtidos 111 artigos em revistas
itens em ordem crescente de dificuldade qualis A, B e C, 49 dissertações, 21 teses
que são apresentados à criança indepen- de doutorado, 18 resumos em anais e
dentemente de sua série, uma vez que a duas referências de outro tipo. Foi ana-
criança interrompe o subteste assim que lisado o número de publicações por ano,
os itens apresentados em determinado ao longo de treze anos, e observou-se
nível da escala forem muito difíceis de um aumento gradativo do número de
serem resolvidos. Para a construção de publicações, com especial destaque para
cada um dos subtestes do TDE processos o biênio 2008-9 com um total de 74 pu-
distintos foram desenvolvidos. O pro- blicações científicas. Observou-se o uso
cesso de normatização foi realizado com do instrumento por diversas áreas, além
uma amostra estratificada em três tipos da psicologia. Dentre algumas das críti-
de escolas de Porto alegre: estaduais, cas apontadas nos estudos destaca-se
municipais e particulares. Os dados nor- a necessidade de renormatizar o teste
mativos do TDE derivam-se das médias para a nova realidade do ensino funda-
dos Escores Brutos (EB) e Desvio Padrão mental brasileiro de nove anos, fazendo-
(DP) que foram calculados com base no -se necessária a realização de uma re-
desempenho das crianças para cada um construção, validação e normatização do
dos extratos da amostra por série e para TDE. Outras variáveis foram analisadas e
a idade cronológica. Deste modo, o obje- contribuíram para a constatação de que,
tivo do presente trabalho foi realizar uma mesmo após dezesseis anos, e sem sofrer
revisão sistemática da literatura científica nenhuma atualização, o TDE continua
buscando estudos publicados que utiliza- sendo bastante utilizado, mostrando-se
ram o TDE. A metodologia empregada foi ainda muito relevante.
um levantamento da literatura nacional
em bases de dados nas áreas de psico- Palavras-chave: TDE; desempenho escolar;
logia, pedagogia e medicina. Foram con- revisão sistemática.
sultadas cinco ferramentas de busca de Contato: Lilian Milnitsky Stein, PUCRS, lilian@
referências científicas: Google Acadêmi- pucrs.br
co, Scielo, Lilacs, Pepsic e Banco de Teses
CAPES. As palavras chave “Teste de De-
sempenho Escolar” e “TDE” foram utiliza-
das em todos os anos disponíveis desde
1994. Foram analisados os dados de 201
publicações, entre artigos, dissertações,
teses, resumos em anais, após adotados

1172
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

CO 26 - LT04 com Deficiência Intelectual e de seus pais


sobre as razões de sua não inclusão nas
Inclusão 1 classes regulares de ensino. O referencial
teórico apoiou-se na perspectiva da psi-
cologia sócio-histórica. A pesquisa foi
LT04-706 - A INCLUSÃO/EXCLUSAO
qualitativa e o instrumento de coleta de
ESCOLAR: CONCEPÇÕES DE PAIS E DE
dados a entrevista semiestruturada. As
JOVENS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
respostas foram analisadas estabelecen-
INTELECTUAL
do-se categorias temáticas por meio da
Fabíola Ribeiro de Souza - Secretaria de análise dos núcleos de significação e sen-
Educação do Distrito Federal tidos. Participaram 22 pessoas: 10 alu-
fabiquilt@ig.com.br nos, entre 12 e 17 anos de idade, e 12
Sandra Francesca Conte de Almeida - UCB responsáveis. Os núcleos de significação
sandraf@pos.ucb.br foram nomeados como seguem. O diag-
nóstico. Foram identificadas concepções
Pessoas com deficiência intelectual (DI) equivocadas acerca da D.I., como, por
foram “tratadas”, historicamente, por exemplo, ser considerada um problema
pressupostos preconceituosos na crença irreversível, sem possibilidades significa-
de sua incapacidade. Estudos redirecio- tivas de desenvolvimento e aprendizado.
naram essa concepção equivocada, de- Segundo os participantes, as informações
monstrando as inúmeras possibilidades eram repassadas por médicos, professo-
de desenvolvimento desses sujeitos. Atu- res e psicólogos, sendo raramente ques-
almente, existem diversas leis de apoio à tionadas pelos alunos e seus responsá-
inclusão escolar, porém o sistema de veis. Assim, o poder médico e pedagógi-
educação pública do Distrito Federal ain- co parece não encontrar resistência na
da apresenta um quantitativo considerá- maioria dos participantes, influenciando
vel de alunos com D.I. frequentando ape- sobremaneira na escolarização e nos re-
nas o ensino especial, principalmente jo- lacionamentos dos alunos com D.I. A
vens e adolescentes. Assim, pergunta-se: educação especial: motivos e justificati-
por que tais alunos estão excluídos da vas. Os alunos afirmaram que sua escola-
educação regular? Será a educação espe- rização acontecia apenas na educação
cial expressão de seu próprio desejo ou especial por haver recusa das escolas re-
do de seus pais? Ao responder a essas gulares em os aceitarem ou da escola es-
perguntas, esse estudo pretendeu dar pecial em liberá-los, pelo “mau compor-
voz a uma minoria escolar que pode estar tamento” e por não saberem ler ou es-
sendo privada de exercer seus direitos. crever. Os pais relataram o medo de que
Também visou contribuir para a efetivi- seus filhos fossem descriminados na es-
dade da educação inclusiva, que deve le- cola regular, que tende a excluir aqueles
var em conta as reais necessidades dos que destoam de seu modelo homogenei-
alunos com D.I, bem como apreender as zante. As potencialidades e dificuldades
preocupações e concepções de seus pais. dos alunos. Pais e alunos reconheciam
O objetivo da pesquisa foi o de investigar inúmeras potencialidades, sendo o prin-
as concepções de alunos diagnosticados cipal problema apontado o fato de os alu-

1173
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nos não conseguirem ler e escrever. A lhos, caso eles manifestassem o desejo
educação especial: avaliação. Pais e alu- de frequentar a escola regular. Concep-
nos disseram gostar do ambiente em que ções acerca do desempenho escolar. So-
os filhos estudavam, em especial nos bre o sentimento que nutriam frente às
centros de ensino, devido à ausência de sucessivas reprovações e a permanência
preconceitos. Porém, se queixaram de no ensino especial, alguns alunos disse-
pouco investimento na aprendizagem ram sentir-se bem e outros com “raiva”.
formal dos alunos (notadamente leitura e Algumas mães relataram sofrer de forma
escrita). Inclusão escolar: de direito, mas isolada frente às dificuldades encontra-
não de fato. Este núcleo remete a duas das pelos filhos e outras alegaram indife-
questões importantes: o desconheci- rença, pela certeza de que seu desenvol-
mento acerca do que consistia a inclusão vimento seria sempre lento e limitado.
escolar e a ausência de empoderamento Expectativas presentes e futuras. A maio-
dos alunos em relação à sua escolariza- ria dos alunos projetava grandes realiza-
ção. Nenhum dos entrevistados tinha cla- ções de cunho profissional e pessoal para
reza acerca do que consistia a inclusão seu futuro. A maioria dos pais, por sua
escolar. Os pais a concebiam como sendo vez, esperava que executassem tarefas
a inserção dos alunos nas classes espe- braçais, manuais, angustiando-se a res-
ciais, sendo que alguns acreditavam que peito do “que aconteceria com os filhos,
os filhos já haviam sido incluídos ou esta- ao fim da escolarização especial”. Os re-
vam em classes inclusivas. Mesmo que sultados da pesquisa indicam que, de
fossem insultados pelos colegas e não fato, os alunos encontravam-se na educa-
estarem alfabetizados, a maioria dos alu- ção especial por “decisão” de outrem.
nos disse querer participar da escola re- Esta imposição suposta demanda uma
gular e apenas dois afirmaram temer os série de questões e sugestões. Com rela-
maus tratos por parte de colegas e pro- ção às equivocadas concepções acerca da
fessores. Alguns alunos e responsáveis D.I. e aos direitos e deveres referentes à
relataram ter solicitado à direção de Cen- inclusão escolar, sugerimos que as auto-
tros de Ensino a transferência para o regi- ridades competentes utilizem os meios
me de integração, mas isto lhes foi nega- de comunicação para divulgar junto à co-
do pelos profissionais que avaliavam os munidade informações corretas e conhe-
estudantes. Esclarecidos acerca da inclu- cimento científico acerca da D.I. e no que
são escolar, a metade dos pais afirmou consiste o direito à inclusão escolar; que
que não deixaria seus filhos estudar na investigações sejam feitas com profissio-
educação regular, a despeito do desejo nais da área de saúde sobre suas concep-
dos mesmos, por temor dos maus tratos ções e atuação, no que se refere à D.I..
e pela não alfabetização. Outros relata- Com relação às queixas dos pais sobre o
ram que gostariam que os filhos estives- não investimento na aprendizagem for-
sem na inclusão, mas que não poderiam mal dos filhos, se considerados os estu-
atender ao desejo dos mesmos porque a dos de Vigotsky sobre a escolarização, o
decisão não dependia deles e sim da di- desenvolvimento e o aprendizado desses
reção da escola. Apenas duas mães afir- alunos, somos forçadas a reconhecer que
maram que lutariam pelo direito dos fi- o sistema educacional vigente pode não

1174
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os estar promovendo da melhor forma mães, participantes desta pesquisa, mos-


possível. A intervenção pedagógica rela- traram-se desejosos de serem escutados.
tada pelos entrevistados tem privado os Alguns poucos, aqui, tiveram voz, mas
estudantes de dois fatores primordiais eles são muitos e resta saber se outro, de
para o seu desenvolvimento: a aprendi- fato, acolherá suas demandas e desejo.
zagem formal e a interação social com
pessoas mais capazes. Com relação à Palavras-chave: deficiência intelectual;
“imposição” da escolarização apenas na inclusão
modalidade educação especial, justifica-
da pela idade avançada dos filhos e pelas
baixas aquisições acadêmicas, é preciso LT04-714 - BARREIRAS A INCLUSÃO
que tal posição seja repensada pelos DE ALUNOS COM NECESSIDADES
pais. Pessoas com D.I. devem interagir EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM UMA
com o ambiente social e cultural e com os UNIDADE PÚBLICA DE ENSINO DO
que dele fazem parte e esta interação DISTRITO FEDERAL
lhes é essencial e deve ser valorizada. As- Gina Vieira Ponte de Albuquerque - SEEDF
sim, sugerimos a inclusão de alunos com ginaponte@ig.com.br
D.I. nas séries regulares de ensino, por Rute Nogueira de Morais Bicalho - UAB
meio das adequações curriculares, com arutebicalho@gmail.com
oferta de educação especial nos centros
de ensino, ou classes especiais, em turno As discussões acerca da Educação Inclusi-
contrário, e reiteramos a importância da va e da Educação Especial estão em franco
aquisição da leitura e escrita, habilidades processo de ampliação. A cada ano, novos
fundamentais no processo de escolariza- estudos são publicados sobre o tema e
ção. Com relação ao desejo e direito dos várias mudanças são propostas na busca
alunos de participar das classes regula- por um atendimento que se adéque às ca-
res, frustrado por pais e professores, essa racterísticas e particularidades dos alunos
atitude pode ser interpretada como con- com necessidades educacionais especiais
seqüência da concepção hegemônica de (ANEEs). Apesar disso, ainda registram-
que os alunos não se beneficiariam desta -se muitas práticas desenvolvidas na es-
escolarização. Os jovens alunos com D.I., cola e na sociedade que sinalizam para
se empoderados, poderiam optar pela a existência do preconceito, da discrimi-
escolarização de sua conveniência, o que nação e da estigmatização daqueles que
lhes é garantido por resolução legal. Alia- se convencionou chamar de deficientes.
da a isto, a necessidade de interação so- Pesquisadores, como González Rey, Go-
cial destes alunos com pares mais capa- mes (2007) e Carvalho (2007) utilizam
zes, para seu desenvolvimento cultural, o termo barreiras para se referir a todas
reforça a perspectiva da inclusão escolar. essas práticas e situações que se tradu-
Sugerimos experiências de inclusão com zem em obstáculos para que os ANEEs
esses alunos, de modo a que possam par- tenham assegurado o seu direito à esco-
ticipar da educação regular e lhes seja larização, de inserção em classes regula-
garantida uma educação de qualidade. res e de atendimento adequado às suas
Os jovens e adolescentes com D.I., e suas características. A construção de uma es-

1175
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cola que seja cada vez mais aberta à diver- que é uma prática comum nas escolas res-
sidade e que tenha melhores condições ponsabilizar pelo seu próprio insucesso o
de atender aos alunos, oferecendo-lhes aluno que represente um maior desafio
intervenções pedagógicas diferenciadas, àqueles que respondem por sua aprendi-
passa pela necessidade de se identificar zagem e desenvolvimento. Na segunda ca-
e refletir sobre esses obstáculos. O pre- tegoria - Instrucionismo e Preleção como
sente estudo teve por objetivo investigar práticas pedagógicas predominantes em
essas barreiras no contexto específico de sala de aula, observa-se na unidade de en-
uma unidade pública de ensino funda- sino pesquisada a predominância de um
mental, series finais, localizada no Distrito modelo pedagógico muito mais centrado
Federal. Para a realização da pesquisa foi no professor e no ensino do que no aluno
adotada a metodologia qualitativa com a e na aprendizagem. As falas dos professo-
participação de vinte e duas pessoas, sen- res entrevistados evidenciam que dadas
do treze professores, três mães, um pai, as circunstâncias enfrentadas em sala de
três alunas ANEEs e duas profissionais da aula, a construção de ações pedagógicas
Sala de Recursos. Empregou-se como ins- compatíveis a uma escola que respeita
trumento o questionário aberto, a entre- a diversidade, se torna algo muito difícil
vista semiestruturada e a observação. As de ser concretizado. Para Demo (2006) o
informações apreendidas a partir de tais modelo educacional pautado no Instrucio-
instrumentos foram analisadas buscando nismo mostra-se ineficiente na promoção
evidenciar a construção de significados de aprendizagens significativas porque
dos participantes sobre as barreiras que não fomenta a autonomia do aluno e não
dificultam a efetivação da Educação Inclu- o coloca como protagonista do processo
siva. Os resultados alcançados apontaram pedagógico. Na perspectiva do Instru-
para a existência de várias barreiras à in- cionismo as diferenças e especificidades
clusão dos ANEEs no contexto escolar. Es- dos alunos são muitas vezes ignoradas. A
sas barreiras foram organizadas em cinco terceira categoria diz respeito à Violência
categorias. Ilustrando a primeira barreira simbólica imposta ao professor. Segundo
– A falta de apoio às famílias dos ANEEs, os professores, as salas de aula superlota-
uma das mães entrevistadas menciona o das, as cargas horárias exaustivas, a falta
seu trabalho de acompanhamento da vida de recursos materiais e humanos se cons-
escolar da filha, referindo-se a esse pro- tituem em fatores que desestimulam o
cesso como “minha batalha”. É recorrente professor, o submetem a violência e, por-
nas falas de todas as entrevistadas desse tanto, o impedem de fazer um trabalho a
segmento, um sentimento de abandono contento, dentro dos princípios de uma
e de resignação frente aos desafios que Escola Inclusiva. Segundo Nóvoa (2001),
precisam enfrentar para assegurar que o o fato de a sociedade hoje não conseguir
direito que os seus filhos têm à escolarida- estabelecer com clareza o que espera da
de seja respeitado. Elas mencionam ainda escola, faz com que os professores sintam-
a tendência da escola de tentar se eximir -se confusos e cobrados de forma des-
da responsabilidade de atender aos alu- proporcional às condições que lhes são
nos considerados difíceis. Dubet, (2003), dadas para desenvolver o seu trabalho. A
Ribeiro, Mieto e Silva (2010) esclarecem quarta categoria versa sobre A formação

1176
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

insuficiente e ineficiente do professor. não recebam um atendimento que torne


Neste sentido, tanto os professores que possível o seu desenvolvimento e a sua
responderam ao questionário, quanto os aprendizagem. Todas as barreiras identifi-
professores e pais entrevistados, apontam cadas evidenciam que para se construir de
a falta de formação adequada dos profis- fato uma educação pautada pelos princí-
sionais da educação como um dos maio- pios da escola inclusiva, há a necessidade
res obstáculos à efetivação de uma escola de oferecer apoio e orientação às famílias
que se adéque às necessidades de todos dos alunos inseridos em classes inclusivas,
os ANEEs. Charlot (2008) esclarece que as de promover a ressignificação do espa-
lacunas na formação do professor se dão, ço escolar, a reestruturação dos progra-
sobretudo, porque as exigências que lhes mas de formação inicial e permanente
são apresentadas demandam uma cultu- dos professores, a superação do modelo
ra profissional que não foi e ainda não é educacional ligado ao Instrucionismo e à
a cultura tradicional do universo docente. preleção e a revisão e reorganização das
Salgado (2002) lembra que para superar condições de trabalho oferecidas aos pro-
as limitações recorrentes nos programas fessores para o cumprimento de suas res-
de formação de professores é fundamen- ponsabilidades.
tal se redimensionar a forma de perceber
os profissionais da educação. Para a au- Palavras-chave: Educação Inclusiva, Educação
tora, é necessário que os educadores se- Especial, Barreiras
jam vistos como pessoas de capacidade
crítica, plenos de condições de transfor-
marem eles mesmos a escola em um es- LT04-732 - CONTRIBUIÇÃO DA
paço de formação permanente. A última PSICOLOGIA PARA A INCLUSÃO ESCOLAR
categoria – A negação da subjetividade do Maria Elisa Takahashi - UAB/UnB
ANEE- refere-se à dificuldade que as pes- despertar@terra.com.br
soas que atuam em classes inclusivas têm Sílvia Ester Orrú - UnB
de reconhecer a subjetividade dos alunos seorru@unb.br
com necessidades educacionais especiais.
A narrativa dos professores entrevistados Este trabalho tem como objetivo discutir
revela que alguns percebem os ANEES a contribuição da psicologia na inclusão
como indivíduos que sempre agem den- escolar, especificamente de alunos com
tro de um padrão determinado segundo comportamentos agressivos. Foram abor-
o diagnóstico que eles apresentam. Re- dadas questões inerentes a comporta-
lacionada a esta barreira foi identificada mentos agressivos na escola, através do
também a atitude de alguns professores método qualitativo de pesquisa, utilizan-
de associar o atendimento aos alunos do a técnica de estudo de caso. Este estu-
com necessidades educacionais especiais do de caso teve como sujeito um aluno de
a partir da perspectiva do humanitarismo 14 anos, que possui um comportamento
e da caridade. Atitudes similares a essas agressivo no universo escolar, passando
tornam-se um impedimento para a efetiva durante este estudo por duas escolas, de-
inclusão, porque fazem com que, de for- vido a problemas de agressividade. Rece-
ma sutil, os alunos estejam na escola, mas beu, nesse período, juntamente com sua

1177
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

família, acompanhamento multidisciplinar dialético da compreensão do desenvolvi-


pela equipe do Centro de Referência de mento humano e não apenas das dificul-
Assistência Social (CREAS), por um médico dades de aprendizagem e comportamen-
psiquiatra e pela equipe do Conselho Tu- to, mas as que perpassam ambientes mais
telar. Foram realizados entrevistas e testes amplos do contexto educacional como,
psicológicos que permitiram organizar as por exemplo, espaços comunitários, nú-
seguintes categorias: 1 - Como o adoles- cleos, associações, entre outros. Segundo
cente é percebido; 2 - Como o adolescen- Ribeiro (2008), um dos mais significativos
te se apresenta no quesito relacionamen- desafios exigidos das novas práticas em
to interpessoal; 3- Intervenções feitas em psicologia tem relação com as questões
relação ao comportamento agressivo do em torno da inclusão social e escolar. Es-
adolescente. Conclui-se que a contribui- sas questões dizem respeito a todo um
ção da psicologia na inclusão escolar ocor- contexto mundial, como a Declaração de
re quando ela atua como um agente escla- Salamanca (1994), da qual o Brasil é sig-
recedor das subjetividades, auxiliando na natário, que definiu diretrizes mundiais
resolução dos conflitos presentes e, den- para a educação inclusiva bem como as
tro de um enfoque multidisciplinar, cola- interfaces com a legislação nacional sobre
bora com a efetividade dos processos que a inclusão escolar. As discussões atuais,
caracterizam o espaço escolar. No Brasil, tanto políticas quanto educacionais, estão
a história da psicologia, conforme Patto transformando a temática da inclusão em
(1984), apud Guzzo (2010), divide-se em um projeto de valorização e respeito às
três grandes períodos: o primeiro, de 1906 diferenças humanas, buscando alterar o
a 1930, na 1ª República, marcado por estu- universo sócio-histórico que tem embasa-
dos de laboratório num modelo europeu e do, até os dias atuais, as instituições esco-
sem a preocupação de intervir na realida- lares. De acordo com a Política Nacional
de; o segundo, de 1930 a 1960, marcado de Educação Especial (2008), a educação
pelo tecnicismo de origem norte-america- inclusiva constitui um paradigma educa-
na; e o terceiro, a partir de 1960, quando cional fundamentado na concepção de
o trabalho do psicólogo passa a ter uma direitos humanos, que conjuga igualdade
forma mais adaptacionista. O que referen- e diferença como valores indissociáveis,
ciava a prática dos psicólogos na educação e que avança em relação à ideia de equi-
era o atendimento a crianças em clínicas dade formal, ao contextualizar as circuns-
de psicologia centrada no modelo médico tâncias históricas da produção da exclusão
de atendimento. De acordo com Tanama- dentro e fora da escola. A inclusão escolar
chi (2000), apud Guzzo (2010), somente a coloca ao psicólogo um conjunto de desa-
partir da década de 1990 é que a grande fios específicos que devem ser assumidos
diversidade do trabalho do psicólogo edu- crítica e criativamente. Segundo Maluf
cacional, para além dos muros da escola, (2003), apud Mitjáns (2005), os psicólogos
trouxe reflexões mais críticas acerca da devem dar ênfase aos contextos nos quais
formação e atuação desse profissional. Es- o indivíduo está inserido, pela emergência
sas últimas décadas foram mais marcadas de novas áreas de atuação que ampliam o
por novos encontros entre Psicologia e campo de trabalho muito centrado, inicial-
Educação, assumindo um direcionamento mente, nas queixas escolares e seus con-

1178
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dicionantes, para o trabalho com a equi- com os professores. Como um fenômeno


pe pedagógica e outras áreas de atuação gerador de problemas emocionais, rela-
mais abrangentes e por uma procura da cionais e consequentemente cognitivos o
multidisciplinaridade, visando dar conta enfrentamento do comportamento agres-
da complexidade dos processos que carac- sivo e suas consequências demanda uma
terizam o espaço escolar. Mitjáns (2005) intervenção efetiva orientada sobre os
avalia que, além da própria representação princípios da inclusão e do respeito à di-
da inclusão escolar, é necessário que ou- versidade. Esta intervenção sobre o com-
tras mudanças aconteçam: a valorização portamento agressivo deve levar em conta
da singularidade no contexto educacional, a subjetividade do indivíduo e tudo mais
enxergar a deficiência como uma constru- que o envolve, isto é, o contexto onde ele
ção social e não como algo pertencente convive, sua família e o ambiente escolar.
apenas ao sujeito, conceber o sistema es- A contribuição da psicologia se faz presen-
colar como um contexto social complexo te ao identificar e permitir a compreensão
que envolve a aprendizagem e o desen- do comportamento agressivo como um si-
volvimento dos indivíduos que a ele per- nalizador da existência de problemas com
tencem. A escola, como representante do crianças e adolescentes que se encontram
universo maior que é a sociedade, repete em situação de risco, e que têm sido ali-
nas devidas proporções tudo o acontece a jados do convívio escolar possibilitando
sua volta. O comportamento agressivo nas ações efetivamente inclusivas para ele.
escolas, por exemplo, pode ser analisado
dentro desse viés das contradições e mu- Palavras-chave: inclusão escolar, psicologia,
danças. Fante (2003, 2005), apud Francis- comportamento agressivo.
co (2009), aponta que o comportamento
agressivo nas escolas nas últimas décadas
adquiriu crescente dimensão em todas as LT04-767 - UMA COMPREENSÃO DOS
sociedades. O que o torna questão pre- SENTIDOS CONSTRUÍDOS POR UM
ocupante é a grande incidência de sua PROFESSOR SOBRE A INCLUSÃO DE
manifestação em todos os níveis de esco- PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS
laridade. Alunos hiperativos, com baixo li- PROCESSOS FORMATIVOS VIVIDOS
miar para frustrações, com uma ordem de Madalena Maria Barbosa Tsyganok - UFES
problemas escolares decorrentes do baixo mada_sy@hotmail.com
rendimento escolar, de dificuldade de re- Juliana Eugênia Caixeta - UnB
lacionamento com os colegas e com sig- eugenia45@hotmail.com
nificativos problemas familiares são vistos Hiran Pinel - UFES
como sujeitos diferentes, problemáticos. hiranpinel@ig.com.br
Apresentam comportamentos agressivos
e, como consequência dessas ações, são, Este trabalho consiste em refletir sobre
na grande maioria dos casos, pouco com- a construção do processo formativo re-
preendidos, e muitas vezes excluídos so- lacionado à inclusão educacional de um
cialmente. Esses alunos, com o passar do educador, sua trajetória pessoal-profis-
tempo, acabam sendo afastados do pleno sional-formativa e as experiências como
e bom convívio com os colegas e também docente. O que nos interessa são os senti-

1179
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos produzidos e como eles se entrelaçam pedagógica da escola tendo em vista a


com o acontecer da sala de aula inclusiva. inclusão. Conforme Mantoan (2006): “A
Trata-se de um estudo qualitativo inspira- inclusão implica em uma mudança de pa-
do na metodologia de História Oral na mo- radigma educacional, que gera uma reor-
dalidade História de Vida (Portelli, 1997, ganização das práticas escolares” (p.207).
em Puntel, 2002, p. 63). As indagações Assim, defendemos que os processos for-
de pesquisa foram: quais são as vivências mativos docentes também tenham como
e experiências mais significativas da tra- referência as experiências e vivências de
jetória narrada pelo docente? O que ele outros educadores. A idéia é de valoriza-
narra sobre os processos formativos vivi- ção da pessoa do docente (Nóvoa, 2007),
dos sobre a inclusão educacional? Assim, seus sentimentos, pensamentos, emoções
estudamos as versões que o nosso cola- e crenças. Nesse contexto, as histórias de
borador, pseudônimo José, tem diante do vida possuem um valor formativo, porque
tema: os processos formativos de docen- podem contribuir com a construção da
tes em educação inclusiva. Ele é professor identidade como docente. Acreditamos
em uma instituição federal e atua com a que um processo formativo que conside-
temática da educação inclusiva. Como ins- ra os sentidos e significados atribuídos às
trumento de pesquisa, utilizamos a entre- vivências e experiências docentes abre
vista narrativa, que foi gravada, transcrita possibilidades para a expansão do movi-
e textualizada (Gatazz, 2006). Conforme mento de inclusão educacional na escola.
Caixeta (2006, p. 69), nesse modo de pes- A nossa visão é que precisamos enrique-
quisar, o conhecimento é produzido a par- cer o desenvolvimento pessoal e profis-
tir da “relação dialógica” entre a pesquisa- sional a partir de um processo gerador
dora e o participante, e é nessa interação de reconhecimento do humano. O “[...]
que os sentidos vão sendo produzidos. humano que pode ser construído junto
Trazer a lume as lembranças, memórias ao exercício da profissão. Profissão que
e recordações do educador-participante exige assegurar a vivência completa do
possibilitaram uma compreensão dos sen- sujeito. Para isso é preciso que o sujeito
tidos (Barbosa, 2006) construídos por ele, vivencie a totalidade de sua afetividade e
na relação com a pesquisadora, sobre o emoção para poder trabalhar os aspectos
trabalho com as crianças e adolescentes sócios educativos (Puntel, 2002, p. 12-13).
com deficiência em sala de aula regular, o Queremos pontuar, também, que o edu-
seu próprio processo de inclusão na esco- cador tem um papel importante nesses
la, no trabalho e na vida. Nessa perspecti- processos de formação docente, e que
va, entendemos que a escola precisa pos- isso depende de suas escolhas, desejos,
sibilitar um processo educativo embasado interesses, projetos, pois eles possuem
nos valores humanos, na perspectiva da suas especificidades e singularidades, na
transformação da sociedade e, sobretudo, pluralidade de ser (Pinel, 2010). Nos resul-
na crença de que as crianças e adolescen- tados, encontramos os seguintes sentidos
tes possuem diferentes possibilidades e que foram construídos pelo colaborador
caminhos para elaborar as suas aprendi- no diálogo com a pesquisadora: I - O sen-
zagens. No sentido dessas reflexões, res- timento de sentir-se estranho e o quanto
gatamos a necessidade de transformação isso desafia José a sustentar uma atitude

1180
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de envolvimento com os sujeitos e os pro- Para José, [...] opor é uma boa e agradável
cessos educativos. Para José: O estranho ação, mas que também traz complicações.
não deixa o familiar fixar-se. O estranho Você fica mais aguerrido e tenso. Por isso
é o não-familiar. O estranho não deixa falo que eu fico aberto aos meus modos
quieto a normalização, as regras preten- de ser de oposição no mundo junto ao ou-
samente sólidas como rochas. Talvez por tro. Ao narrar sobre a sua vida e os sen-
isso eu produza tanta crítica à Psicopato- tidos construídos ao longo da trajetória
logia tradicional quando presentes nas pessoal-profissional-formativa, José nos
práticas escolares: a classificação como instiga a refletir sobre o saber e a educa-
regra única e válida universalmente. O ção inclusiva, associando a uma atuação
nominalismo como perversão – nomeio como oposição a tudo que é conformati-
o outro de algo que acabo diminuindo-o vo. A sua história de vida contribui para o
– o outro é disléxico, é deficiente mental, desenvolvimento de uma modalidade de
tem problemas familiares, é gênio etc. As “investigação-ação” (Goodson, 2007), ou
narrativas nos possibilitaram refletir sobre seja, sendo investigador e nos fornecendo
os atos e os modos cotidianos de educar, dados e conhecimentos sobre o que é e
as concepções pessoais, valores e ideais, como é ser oposição. Nesse processo de
e os modos como José produziu sentidos reflexão sobre o sentido de ser opositor ao
na própria existência e no desenrolar das estabelecido José revela que o ato de edu-
atividades que propiciam uma educação car e praticar a educação inclusiva na sua
inclusiva. A nosso ver, a formação docente trajetória requer coragem para se erguer
requer a apropriação dos saberes e mo- ou reerguer das quedas. Concluímos que
dos de agir intencionais, produtores de “a maneira como cada um de nós ensina
processos sociais-políticos-educacionais- está diretamente dependente daquilo que
-éticos, que considerem a presença do ou- somos como pessoa quando exercemos
tro, que tem uma visão diferenciada e nos o ensino” (Nóvoa, 2007, p. 17). Diante
ensina quando não sabemos, objetivando das resistências e rigidez dos professo-
autonomia nos processos de criação e res, esse autor propõe que os docentes
prática de uma escola inclusiva. Para José, se apropriem dos seus próprios saberes,
a inclusão tem [...] muitos sentidos, mas como também trabalhem as perspectivas
sempre comovidos ou conduzidos por teóricas e conceituais. Nas narrativas per-
posturas de diálogo, respeito, tolerância, cebemos a forte ligação com os contextos
permissão do outro ser, perseverança no sociais, culturais, político e econômico re-
sentido também de persistir [...]. As expe- lativo ao tempo-espaço de suas vivências.
riências de vida e o ambiente sociocultural José tornou públicas as suas experiências
são fundamentais na formação pessoal- e abriu possibilidades de diálogo com elas,
-profissional, conforme “o ‘quanto’ inves- mostrando os sentidos construídos em re-
timos o nosso ‘eu’ no nosso ensino, na lação aos processos profissionais-formati-
nossa experiência e no nosso ambiente vos em educação inclusiva.
sociocultural, assim como concebemos a
nossa prática” (Goodson, 2007, p. 72). II Palavras-chave: História de Vida; Educação
- Outro sentido forte revelado nas narrati- Inclusiva; Processos Formativos.
vas do José é o de se opor ao estabelecido.

1181
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-835 - O TRANSTORNO DE DÉFICIT depende consistentemente de processos


DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE E O cognitivos, o Grupo de Pesquisa Cognos-
CONHECIMENTO DAS PROFESSORAS cere, no ano de 2010, fez um piloto para
DA REDE MUNICIPAL DO ENSINO verificar o conhecimento das professoras
FUNDAMENTAL SOBRE ESSE da rede pública de ensino na cidade de Di-
TRANSTORNO vinópolis de Minas Gerais, sobre o envolvi-
Cláudia Lúcia Carazza - Bolsista PAEx/UEMG mento dos processos cognitivos no TDAH.
(FUNEDI/UEMG) Os resultados encontrados justificam a
Lúcia Maria Silva Arruda - (FUNEDI/UEMG) preocupação de vários pesquisadores em
Marcos Paulo Alves de Oliveira - Bolsista relação à maneira como o TDAH tem sido
PAPq/UEMG (FUNEDI/UEMG) tratado pela Educação, Saúde, Governo
Marilene Tavares Cortez - (FUNEDI/UEMG), e mesmo pela sociedade civil. Tais resul-
(UFMG) tados confirmam também a hipótese por
nós estabelecida de que as professoras
A atual classificação do Transtorno de Dé- não conseguem perceber a relação entre
ficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) os déficits no processamento cognitivo
foi proposta pelo Manual Diagnóstico e no TDAH e o pior desempenho escolar
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- da criança TDAH. Realizar um estudo de
-IV, 1994), sendo considerado por muitos cunho exploratório sobre o conhecimento
pesquisadores o diagnóstico infantil mais das professoras de quatro escolas da rede
comumente estabelecido (Mcinnes & cols, pública de ensino de Divinópolis de Minas
2003; Cohen & cols, 2000; Martinussen e Gerais quanto aos processos cognitivos
Tannock, 2006; Rapport & cols, 2008, den- envolvidos no TDAH. Cruzar os dados obti-
tre outros). As características mais comuns dos sobre esse conhecimento das profes-
desse transtorno, relatados pelo DSM-IV, soras pesquisadas com o conhecimento
são a desatenção, a hiperatividade e a im- fornecido sobre as pesquisas sobre a rela-
pulsividade. Contudo, as pesquisas mais ção do TDAH com os processos cognitivos
recentes sobre o TDAH estabelecem que disfuncionais. Um levantamento mais am-
esse transtorno envolve, necessariamen- plo sobre o conhecimento da professora
te, algum déficit no processo cognitivo sobre os déficits cognitivos envolvidos no
(Rapport & cols, 2008; Pennington, 2005; TDAH está sendo feito para que, em um
Willcutt, Doyle, Nigg, Faraone, Penning- próximo momento da pesquisa, o Grupo
ton, 2005). Ou seja, para que uma pessoa Cognoscere faça um mapeamento sobre
receba o diagnóstico de TDAH, ela tem as atividades acadêmicas exigidas das
que apresentar algum comprometimento crianças, entre nove e onze anos, em sala
na sua atenção, funções executivas, lin- de aula e a dependência de tais atividades
guagem e em sua memória de trabalho, escolares dos processos cognitivos, como
processos cognitivos identificados como as funções executivas, memória de traba-
deficitários pelas pesquisas sobre o TDAH. lho e linguagem. Quando tal correlação
Diante dos resultados das pesquisas sobre for realizada, buscaremos desenvolver
o TDAH acerca da relação desse transtorno estratégias para auxiliar a comunidade
com déficits no processamento cognitivo, acadêmica sobre uma melhor compreen-
e sabendo que toda a atividade acadêmica são do transtorno e também serão criadas

1182
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

propostas pedagógicas de intervenção resultado que obtivemos em nosso piloto,


mais adequadas para abordar o TDAH em confirmamos a nossa hipótese de que as
sala de aula. Especificamente crianças en- professoras não conseguem perceber a
tre nove e onze anos. Os procedimentos relação entre déficits no processamento
metodológicos se dividiram em duas eta- cognitivo no TDAH e o pior desempenho
pas distintas. A primeira etapa envolveu a escolar da criança TDAH. Corroboramos
revisão de literatura, buscando encontrar, também a importância da ampliação da
especificamente, pesquisas que investiga- investigação do tema da pesquisa aqui
ram o conhecimento das professoras so- apresentada, para que seja possível de-
bre os déficits cognitivos ligados ao TDAH. senvolver estratégias de intervenções pe-
A partir desta revisão e dos resultados de dagógicas mais consistentes em relação
pesquisas que investigam os processos ao TDAH, como já é feito em relação à
cognitivos no TDAH, elaboramos um ques- criança disléxica, por exemplo. Vale res-
tionário piloto que explorou o conheci- saltar que atualmente o Cognoscere está
mento das professoras sobre os processos iniciando essa pesquisa mais sistematiza-
cognitivos envolvidos no TDAH. Aplicou-se da envolvendo o tema aqui apresentado.
esse questionário em professoras que tra-
balham com crianças de diferentes faixas Palavras-chave: TDAH; Processamento
etárias. O resultado aqui apresentado é cognitivo; Conhecimento das professoras.
parcial, uma vez que a pesquisa envolveu
apenas a realização de um piloto, o qual
está sendo expandido, atualmente, pelo LT04-1005 - PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO
Cognoscere. Assim, foram identificadas INCLUSIVA E CONDIÇÕES DE
respostas contraditórias fornecidas pelas DESENVOLVIMENTO: O CONCEITO DE
professoras. Por exemplo, 61% das pro- COMPENSAÇÃO EM DISCUSSÃO
fessoras consideram que a criança TDAH Débora Dainêz - UNICAMP
não apresenta um desempenho acadêmi- ddainez@yahoo.com.br
co pior, mas 53% das professoras afirmam Ana Luiza Bustamante Smolka - UNICAMP
que a criança TDAH tem dificuldade em asmolka@unicamp.br
processar o conteúdo ministrado em sala Financiamento: FAPESP
de aula. Claramente há uma contradição
nessas respostas, pois se 53% das profes- A proposta apresentada está ancorada
soras afirmam que a criança TDAH tem na perspectiva histórico-cultural que con-
dificuldade em processar o conteúdo mi- cebe o desenvolvimento humano como
nistrado em sala de aula, como é possível apropriação cultural. Com base nos ques-
que 61% das professoras consideram que tionamentos de situações experienciadas
a criança TDAH não apresenta um desem- no cotidiano de uma escola pública, situ-
penho acadêmico pior? Portanto, respos- ada no contexto da inclusão escolar, o ob-
tas como essa confirmam a nossa hipó- jetivo é colocar em discussão o conceito
tese de que as professoras não sabem da de compensação (Vigotski,1997). Refletir
importância dos processos cognitivos nas sobre a problemática da compensação
tarefas acadêmicas, nem do envolvimento do desenvolvimento, sobretudo na exis-
de déficits cognitivos no TDAH. Diante do tência de uma alteração de ordem orgâ-

1183
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

nica, implica indagar sobre os (efeitos de) ga à apurar conceitualmente a noção de


sentidos do termo desenvolvimento na compensação a partir da problematização
obra de Vigotski. Desenvolver é melhorar, do núcleo das proposições vigotskiana e
aperfeiçoar, progredir, consertar, sanar, das situações empíricas.Esse estudo adota
evoluir, superar, mudar, transformar? Por como campo empírico uma escola da rede
outro lado, compensar é desenvolver? municipal de Campinas/SP. O material de
Como podemos conceber essa relação (in) análise foi construído a partir do registro
tensa entre compensação da deficiência (videogravação e diário de campo) do
e (concepção de) desenvolvimento apon- convivido semanalmente durante os anos
tada por Vigotski? É importante conside- de 2010. Os casos acompanhados foram:
rar que o conceito de compensação vem Mário (8 anos), 2o Ano (professora Sara),
sendo trabalhado por pesquisadores con- diagnóstico de Síndrome de Down e apre-
temporâneos e assim assumindo diversos senta problemas motores como sequela
sentidos a partir dos diferentes pontos de de um acidente vascular cerebral; Gustavo
vistas analíticos. García e Beatón (2004), (10 anos), 4oAno (professora Marta), diag-
ao propor uma tentativa de aplicação pe- nóstico de Síndrome de Down e Hiperati-
dagógica do conceito, concebem a ideia vidade, comunica-se por uso de gestos e
de compensação como correção de um algumas poucas palavras. Como pensar
defeito, apresentando assim um programa a educação inclusiva frente à história de
educativo corretivo. Cunha, Ayres e Mora- relações desses casos? Como olhar para
es (2010) entendem os processos com- cada um, Gustavo e Mário? O que cada
pensatórios como niveladores no desen- caso revela? O que o conceito de com-
volvimento da criança, o que pressupõe pensação ajuda a enxergar? Quais são as
uma ideia de desenvolvimento contínua, possibilidades e os limites das discussões
linear. Rivière (1985) comenta que, para defectológicas? Mário entrou na rede
Vigotski, a criança deficiente requer uma regular de ensino em 2009, ano em que
educação especial devido ao seu funcio- era, constantemente, colocado sentado
namento psíquico que também é especial, em cima da mesa da professora, por ser
pois, devido à existência do déficit tem- agitado, cuspir saliva e derrubar os mate-
-se uma reorganização psicológica que é riais dos colegas. Ao perceber que Mário
peculiar. Uma educação baseada nas ca- apresentava medo de altura, essa foi uma
racterísticas positivas da criança é uma saída encontrada pela professora a fim de
educação com objetivos fundamental- conseguir dar aula sem ser interrompi-
mente compensatórios. Carvalho (2004) da. No ano de 2010, Mário rastejava pelo
aborda o princípio da compensação como chão da sala de aula, derrubava os mate-
a variação dos vínculos interfuncionais riais escolares... A professora tenta de to-
do sistema psicológico, indicando que a das as formas atender Mário. Em uma de-
fonte e os meios da compensação são as terminada situação em que Mário estava
interações sociais. Góes (2002) destaca deitado no chão da sala, a professora que
a ideia de compensação sociopsicológica lia uma história em um livro para a classe
do déficit, ou seja, a compensação nesse se aproxima do garoto, pega na sua mão,
caso depende da qualidade de instrução. o levanta e anda pela sala com ele, drama-
Essa multiplicidade de olhares nos insti- tizando e contando a história. Em outros

1184
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

momentos, em que faz roda de leitura deramos que o potencial do conceito de


com a turma, a professora pega Mário no compensação na educação inclusiva esta
colo a fim de evitar que ele corra pela sala na premissa da perspectiva de Vigotski
e envolve o aluno na leitura juntamente que articula o psicológico e a educação,
com os demais alunos. Gustavo é consi- o individual e o social, a dinâmica do ser
derado o aluno impossível da escola, que humano em se fazer-se nas relações so-
causa problemas, que foge da sala, que é ciais. Contudo, apontamos para os limites
agressivo. A professora Marta questiona da ideia de compensação como correção
em muitos momentos sobre o que fazer do déficit, como qualidade de instrução,
e como fazer com Gustavo. Vale destacar como inclusão e adaptação ao meio, re-
uma situação: A professora planeja com a lacionadas à noção de uma educação
classe um trabalho em grupos sobre tópi- compensatória ou de uma compensação
cos acerca da cidade de Campinas. No dia sócio-psicológica do desenvolvimento. O
em que a classe, organizada em grupo, estudo e as discussões levadas a efeito até
prepara cartazes para apresentar no dia o momento indicam que a noção de com-
posterior, Gustavo faltou. No dia seguinte, pensação trazida por Vigotski demanda
a fim de incluir Gustavo na apresentação, um adensamento dos pressupostos que
a professora faz com ele um trabalho com sustentam a idéia de desenvolvimento
recortes sobre alguns lugares de Campi- cultural do sujeito humano e de (trans)
nas e apresenta com ele. Fala por ele, para formação do funcionamento psíquico; ao
ele e para os alunos. Gustavo se envolve mesmo tempo em que requer um refina-
nas apresentações, participa das discus- mento conceitual e uma re-elaboração do
sões, ajuda a segurar os cartazes de ou- próprio termo/conceito em questão.
tros grupos... Esses pequenos momentos
vivenciados no cotidiano e condensados Palavras-chave: Práticas de educação
nos gestos dos professores e nos gestos inclusiva, Condições de desenvolvimento,
dos alunos vão sendo significativos pelo Perspectiva histórico-cultural
que revelam de possibilidades e também Contato: Débora Dainêz, UNICAMP,
de impossibilidades criadas pelas (faltas ddainez@yahoo.com.br
de) condições concretas. A ação das pro-
fessoras orientada pela preocupação em
trabalhar a especificidade do aluno na LT04-1424 -PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
relação com o todo nos instiga a refletir INCLUSIVA: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
sobre como é vislumbrada as potenciali- NA PERSPECTIVA DA EQUIPE
dades desses sujeitos e como isso afeta, PEDAGÓGICA
ou seja, produz efeitos diferenciados nos Jucineide Della Valentina de Oliveira - FPL
sujeitos que respondem a isso. Concebe- jucineidedella@yahoo.com.br
mos a deficiência como o lugar de exce- Poliana Sfalsin Zatta - FPL
lência ao que enxergamos como natural. polly-rcc@hotmail.com
A presença da criança deficiente na sala
de aula agudiza, intensifica a necessidade Sabe-se que o psicólogo, no âmbito esco-
de problematizar as relações de ensino lar, tem como função aprimorar o proces-
e as condições que (in)viabilizam. Consi- so ensino-aprendizagem no seu aspecto

1185
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

integral (motor, social, emocional, cog- escolar para os educadores da instituição,


nitivo) por meio de intervenções a indi- na relação professor-aluno, nos processos
víduos, grupos, famílias e organizações1. cognitivos e emocionais da criança, entre
No entanto, durante muito tempo, as pri- outros4. Na educação inclusiva, a escola
meiras disciplinas de Psicologia Escolar le- passa a se preparar para receber a criança
cionadas em universidades examinavam com deficiência, alterando sua estrutura
os problemas de aprendizagem a partir física, adequando seu projeto pedagógico
de uma perspectiva na qual o aluno era à realidade de cada sujeito e, sobretudo,
culpabilizado por não se adequar aos pa- transformando suas crenças a respeito
drões de normalidade. Assim, a prática do do processo ensino-aprendizagem e do
profissional de Psicologia baseava-se em desenvolvimento infantil5. Em consonân-
instrumentos que podiam medir a capaci- cia com a proposta de Educação Inclusiva
dade dos alunos, dentre eles os testes de a Secretaria Municipal de Educação de
QI e de personalidade, separando aque- Aracruz (ES) implantou desde 1998 um
les que eram aptos dos não aptos para a programa para atender os alunos com ne-
aprendizagem3. Tal atitude excludente fa- cessidades especiais incluídos nas esco-
vorecia uma série de problemas, como a las municipais. Em 2004 foi constituída a
estigmatização de alunos que faziam uso primeira equipe multidisciplinar formada
desse tipo de serviço. Inúmeros outros por psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo,
argumentos foram utilizados para justi- psicopedagogo e assistente social, com-
ficar o fracasso desse aluno pela escola, pondo assim Centro de Referência Edu-
desde a “família desestruturada” até a cacional Multiprofissional. No período de
presença de deficiências2. Nesse momen- 2004 a 2006 as intervenções da equipe
to, então, cabia ao psicólogo atuar como eram clínicas e institucionais e a partir de
clínico em uma sala de atendimento den- 2007 passaram a ser focadas na institui-
tro da escola, cuja intervenção focava a ção escolar, sendo abolido, desse projeto
saúde e a doença mental, bem como o o atendimento clínico. Atualmente a equi-
diagnóstico e a cura dos problemas de pe é formada por 14 psicólogos, 11 fono-
comportamento do aluno desviante. Ao audiólogos, 2 terapeutas ocupacionais e
romper com todo esse paradigma, o psi- 1 assistente social que atuam em 30 das
cólogo passa a ser um agente de mudan- 44 escolas do município. O objetivo desse
ças dentro da instituição escolar, atuando estudo é identificar as atribuições do pro-
frente às relações que se estabelecem fissional de psicologia nas escolas, assim
nesse espaço3. A partir dessa perspectiva, como o que os profissionais da equipe
a Psicologia demonstra inconformidade pedagógica, das escolas nas quais há a
com a exclusão de pessoas com deficiên- presença do psicólogo, pensam a respei-
cia, manifestando-se a favor da inclusão to da atuação desse profissional. Nesse
social e escolar e defendendo um ensino projeto, o profissional de psicologia tem
de excelência a alunos reunidos pelo fun- como foco de atuação o processo de in-
damento da diversidade. Nesse contexto clusão de crianças com necessidades es-
o psicólogo pode atuar, no acompanha- peciais, incluindo alunos com deficiência
mento das crianças com deficiência, no (física, mental ou sensorial), transtornos
esclarecimento técnico sobre a inclusão globais do desenvolvimento e altas habi-

1186
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

lidades/superdotação. Hoje, são identifi- seguintes resultados: em relação ao en-


cadas nas escolas municipais de Aracruz volvimento do psicólogo com as ativida-
(ES) 389 crianças com algum desses qua- des desenvolvidas na escola, 37% avaliam
dros. O psicólogo é encaminhado à escola como muito boa, enquanto 32% analisam
quando esta possui três ou mais crianças como boa. 74% afirmam que o relaciona-
com necessidades especiais, perfazendo mento do psicólogo com os demais pro-
uma carga horária mínima de 5 horas e fissionais da escola é muito bom. Quanto
máxima de 30 horas em cada escola, de à responsabilidade e compromisso com o
acordo com o número de alunos especiais desenvolvimento das atribuições relativas
que a escola possui. Existem três frentes ao profissional de psicologia, 63% avaliam
de atuação: os alunos, a família e a equi- como muito boa. A iniciativa do psicólo-
pe escolar. Dentre as intervenções com o go na resolução de situações-problema
aluno estão: conhecer a criança, por meio na maior parte das vezes (58%) também
de observação e propor atividades gru- foi considerada muito boa. A partir des-
pais, objetivando perceber as potenciali- se estudo pode-se perceber que há um
dades do aluno. O trabalho com a família bom nível de satisfação da equipe esco-
envolve esclarecimento, conscientização lar (diretor, pedagogo, professor e APEE)
e orientação em relação à necessidade em relação à atuação do profissional de
especial apresentada pela criança; o en- psicologia na escola e que as atribuições
caminhamento para atendimentos espe- do psicólogo, frequentemente estão em
cializados, quando necessário; realização consonância com o que é esperado. O
de grupos reflexivos e a visita domiciliar, trabalho do psicólogo, numa equipe mul-
em casos de negligência e/ou violência. ti, quiçá, interdisciplinar pode auxiliar no
Com a equipe escolar são realizados estu- planejamento e realização de ações que
dos com os professores, analisando, den- atendam o aluno de acordo com sua ne-
tre outras coisas, a necessidade especial cessidade, objetivando sempre, o desen-
apresentada pelo aluno assim como, suas volvimento de suas potencialidades. Nes-
potencialidades; atividades grupais visan- te contexto, os profissionais de psicologia
do a efetivação de um clima de aceitação envolvidos no projeto de inclusão são
do aluno especial em sala de aula; análise instigados a buscar soluções para proble-
da coerência entre as atividades dispo- mas que não estão descritos em manuais
nibilizadas ao aluno e a necessidade que de psicologia, (re)construindo, assim suas
este possui; e a elaboração interdiscipli- práticas a partir das vivências cotidianas.
nar da Proposta Educativa do Aluno. No
final do ano letivo de 2010 foi realizada Palavras-chave: Psicólogo, Educação Inclusiva,
uma avaliação da atuação do profissional Psicologia Escolar.
de psicologia na escola, por meio de um
questionário enviado aos diretores, peda-
gogos, professores e auxiliares de profes-
sor da educação especial (APEE). Ao todo,
19 escolas se dispuseram a participar da
avaliação respondendo ao questionário. A
partir da análise dos dados chegou-se aos

1187
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT04-1478 - CORRELATOS PESSOAIS E uma variável importante no processo ensi-


ESCOLARES DO AJUSTAMENTO ESCOLAR no-aprendizagem. Para lograr tal objetivo,
Patrícia Nunes da Fonsêca - UFPB contou-se com uma amostra de conveni-
patyfonseca@hotmail.com ência (não-probabilística) formada por 588
José Farias de Souza Filho - UFPB estudantes procedentes, eqüitativamente,
farias.mp@hotmail.com de escolas particulares e públicas da cida-
Deliane Macedo Farias de Sousa - UFPB de de João Pessoa (PB), a maioria do sexo
delianemfs@gmail.com feminino (57,7%) com idades entre 12 a 20
Marina Pereira Gonçalves - UNIVASF anos (m = 14,4; dp = 1,97). Com relação
marinapgoncalves@gmail.com à escolaridade, 33,7% cursavam a sexta e
Viviany Silva Pessoa - UFPB 33% a oitava série do ensino fundamental;
viviany.pessoa@gmail.com outros 33,3% cursavam o segundo ano do
Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira - UFPB ensino médio. Aproximadamente metade
geninha-gba@yahoo.com.br dos participantes, (49%) se avaliou como
bom estudante, tendo relatado médias
Atualmente, tem-se observado a prolife- de 7,6 e 7,3 nas disciplinas de português
ração de comportamentos desajustados, e matemática, respectivamente. Os parti-
externados em forma de desrespeito às cipantes responderam um livreto conten-
regras sociais, inversão de valores morais do os seguintes instrumentos: Escala de
e menosprezo à vida humana. No contexto Ajustamento Escolar (CPPRG, 1997); Escala
escolar, por exemplo, muitos são os alunos de Percepção da Escola como Comunidade
que não respeitam professores e colegas (Roberts, Hom & Battistich, 1995); Ques-
e que não cumprem suas obrigações aca- tionário de Percepção dos Pais (Pasquali &
dêmicas (Fonseca, 2008). Nesse sentido, Araújo, 1986; Schneider, 2001); Indicado-
entende-se urgente e necessária a reali- res de Bem-Estar Subjetivo (Chaves, 2003)
zação de pesquisas científicas para com- obtido a partir de das seguintes medidas:
preensão de variáveis envolvidas nesses Escala de Satisfação com a Vida, Escala de
comportamentos, subsidiando propostas Afetos Positivos e Negativos e Escala de
de programas de prevenção e/ou promo- Vitalidade; Questionário de Saúde Geral
ção do ajustamento escolar. Este pode ser (QSG-12) (Pasquali, Gouveia, Miranda &
compreendido como o comportamento Ramos, 1994); e por fim o Questionário
acadêmico e disciplinar satisfatório dos Sócio-Demográfico e Educacional (idade,
alunos, segundo as normas da escola, con- sexo, escolaridade, tipo de escola, notas
siderando também as relações interpesso- em Português e Matemática, classificação
ais harmoniosas com colegas e professores acadêmica autopercebida). Inicialmente,
e aspectos relacionados à escola, como, entrou-se em contato com as escolas para
por exemplo, as atividades desenvolvidas apresentar o projeto às direções, a fim de
(Conduct Problems Prevention Research solicitar autorização para encaminhar o
Group, 1997). Nesse sentido, objetivou- Termo de Consentimento Livre e Esclare-
-se conhecer os correlatos pessoais (bem- cido para os pais dos alunos. Em seguida,
-estar subjetivo e percepção parental) e os pesquisadores aplicaram os questio-
escolares (percepção da escolar como co- nários aos alunos que tiveram o termo
munidade) do ajustamento escolar, que é de consentimento assinado pelos pais ou

1188
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

responsáveis. Os questionários foram res- jetos, demonstravam melhor autoestima,


pondidos de forma individual, em sala de mais satisfação com a escola e maior nível
aula, tendo sido necessários, em média, 30 de emoções positivas e, consequentemen-
minutos para que os estudantes terminas- te, menos ansiedade, depressão e afetos
sem. Para efetuar as análises estatísticas, negativos. Esses componentes de mal-es-
empregou-se o Pacote Estatístico para as tar subjetivo, conforme Lourenço e Paiva
Ciências Sociais (PASW, versão 18). Como (2006), são preditores de comportamentos
resultados, obteve-se que a pontuação inadaptados, como \aqueles denominados
geral em ajustamento escolar se correla- como antissociais. Portanto, pode-se su-
cionou diretamente com a percepção da por que estudantes que passam por situ-
escola como comunidade (r = 0,40, p < ações frequentes de baixo desempenho
0,001), pontuação geral de bem-estar sub- podem estar sofrendo de ansiedade e de-
jetivo (r = 0,50, p < 0,001) e a percepção pressão, gerando um mal-estar que, possi-
do estilo autoritativo da mãe (r = 0,18, p velmente, influenciará nas relações sociais
< 0,001); porém, o fez inversamente com e no próprio ajustamento escolar (Batista
a percepção do estilo negligente desta (r & Oliveira, 2005). A literatura relata uma
= -0,20, p < 0,001). No que diz respeito à correlação do ajustamento escolar com
correlação entre o ajustamento escolar e os estilos parentais autoritativo (positiva)
a percepção da escola como comunidade, e negligente (negativa) (Englund, Luckner,
compreende-se que à medida que o estu- Whaley & Egeland, 2004), aspecto eviden-
dante percebe a escola como um espaço ciado no presente estudo. De acordo com
de colaboração e aprendizagem, com ati- a literatura os pais têm por objetivo funda-
vidades agradáveis, terá a tendência a se mental a introdução dos filhos no contexto
envolver mais nas atividades oferecidas social, sendo que o modo como cumprem
pela escola, a ajudar os pares, a respeitar essa missão pode acarretar em benefícios
os professores, a cumprir as normas esta- ou prejuízos para o comportamento des-
belecidas pela instituição, enfim, apresen- ses. Pais autoritativos tratam a questão da
tar um comportamento mais adaptado ao disciplina e da autoridade de forma clara,
contexto escolar. No que se refere à rela- fazendo os filhos cientes das regras a se-
ção entre o ajustamento escolar e o bem- rem observadas, das obrigações a serem
-estar subjetivo, alguns autores (Batista & cumpridas e dos direitos a serem gozados.
Oliveira, 2005; Cassady & Johnson, 2002; Em consequência de tais atitudes, criam
Giacomoni, 1998) relatam que indivíduos filhos com comportamentos mais ajusta-
satisfeitos com a vida e experimentando dos ao contexto social e escolar. Por outro
mais afetos positivos que negativos, apre- lado, pais negligentes, que permitem aos
sentam um estado de bem-estar que se filhos fazerem o que desejarem, sem limi-
reflete no comportamento, quer no am- te pré-determinado e efetivo controle, pa-
biente familiar ou escolar. Por exemplo, recem não estimular o respeito às regras
poder-se-ia destacar o estudo de Arteche, sociais, fundamental para uma convivên-
Bandeira e Gonzalvo (2003), realizado com cia social equilibrada, levando seus filhos a
adolescentes que estavam envolvidos em não apresentarem ajustamento ao contex-
projetos públicos e privados. À medida to escolar. Destarte, considera-se que este
que estes jovens participavam de tais pro- estudo contribui para o conhecimento das

1189
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

variáveis que estão relacionadas ao ajusta- que o docente, pessoa privilegiada na fun-
mento escolar. Isso é relevante, sobretudo ção de mediador do conhecimento, tem a
na atual realidade escolar, em que os ín- respeito da afetividade. Vale ressaltar que
dices de violência e de indisciplina nas es- as concepções são determinantes da ação
colas brasileiras têm sido ascendentes. As- e preditoras de comportamento; em virtu-
sim, saber que promover o bem-estar sub- de disso, estudar as concepções docentes
jetivo e oferecer uma escola que desperte sobre afetividade esclarece muitos aconte-
nos jovens o sentimento de pertencimento cimentos que têm a sala de aula como lo-
pode ser útil à medida que auxilia os dire- cus. A afetividade, não raro, é compreendi-
tores educacionais a prevenir comporta- da, no contexto educacional, de forma con-
mentos desajustados na escola, a exemplo traditória. Por vezes, acredita-se que seja
do bullyng, das condutas antissociais e do somente emoções (expressões plásticas),
uso potencial de drogas (Chaves, 2006). ou somente sentimentos (representação
psicologizada); não se percebe que emoção
Palavras-chave: Ajustamento Escolar; Estilos e sentimento são, em conjunto com as pai-
Parentais; Bem-Estar Subjetivo. xões, as bases da afetividade, não poden-
Contato: Eugênia Lúcia Paiva de Oliveira, do ser, sozinhas, afetividade em si. Partin-
UFPB, geninha-gba@yahoo.com.br do dessa ideia diretriz, esta pesquisa teve
como objetivo geral investigar as concep-
ções de professores do 6º Ano do Ensino
Fundamental a respeito da afetividade e do
CO 34 - LT04 papel que atribuem aos aspectos afetivos
Afeto em sua prática pedagógica e na aprendiza-
gem dos alunos. De forma mais específica,
a pesquisa pretendeu: identificar o papel
LT04-720 - O PROFESSOR DO 6º ANO E que os professores atribuem ao aspecto
SUAS CONCEPÇÕES SOBRE AFETIVIDADE: afetivo na relação professor-aluno; analisar
EFEITOS NA PRÁTICA DOCENTE E NA de que modo professores do 6º Ano do En-
APRENDIZAGEM sino Fundamental compreendem os efeitos
Leandro Batista da Silva - UCB da dimensão afetiva em sua prática peda-
leandroletras@gmail.com gógica e na aquisição do conhecimento
Sandra Francesca Conte de Almeida - UCB pelos alunos; e verificar se o tempo de atu-
sandraf@pos.ucb.br ação docente e a área de formação inter-
ferem nas concepções que os professores
Estudar o processo ensino-aprendizagem têm a respeito da afetividade. Os sujeitos
é refletir sobre os aspectos que interferem do estudo foram professores do 6º Ano do
na constituição das principais pessoas en- Ensino Fundamental de uma escola militar.
volvidas no processo: professor e aluno. A base teórica são os pressupostos de Hen-
Durante o processo de aprendizagem, pro- ri Wallon e pesquisas recentes, decorrentes
fessor e aluno desenvolvem trocas relacio- da aplicação de sua teoria, relacionadas à
nais, profundamente influenciadas pelas constituição da pessoa concreta e à inter-
questões da afetividade. É essencial, pois, face pedagogia-psicologia. Tendo em vista
que se busque conhecer as concepções o contexto histórico-social a que Wallon es-

1190
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

teve vinculado e às suas convicções ideoló- disso, a afetividade ainda é percebida, pe-
gicas, buscou-se compreender a pertinên- los professores, de maneira contraditória:
cia do materialismo histórico-dialético, em ora como emoção, ora como sentimento, o
virtude do método e suas implicações na que vai ao encontro da visão dialética da te-
análise e construção dos dados da pesqui- oria walloniana. No entanto, os núcleos de
sa, que visava à apreensão das concepções significação obtidos demonstraram que es-
docentes, a partir da elaboração de núcle- ses profissionais ainda não conseguem ex-
os de significação e sentido. Após contato pressar, de forma clara e concreta, como se
com a escola e com os professores que dá a influência da afetividade em sua prá-
aceitaram participar do estudo, realizaram- xis. Mostra-se presente, portanto, também
-se entrevistas semiestruturadas, individu- uma visão dicotômica entre afetividade e
ais, com vistas a identificar as concepções cognição (ainda que mudanças nesse para-
desses professores a respeito da afetivida- digma já se prenunciem, como se verificou
de e seus desdobramentos na prática peda- no estudo). Em se tratando do locus da sala
gógica e na aprendizagem dos seus alunos,. de aula, afetividade e cognição seriam dois
Após as entrevistas, procedeu-se à análise constructos independentes, com espaços e
e discussão dos dados, estabelecendo-se, momentos próprios de expressão. Quanto
inicialmente, pré-indicadores discursivos aos efeitos da afetividade na relação que os
das concepções dos docentes entrevista- alunos estabelecem com os objetos de co-
dos. A análise dos pré-indicadores possibili- nhecimento, verificou-se que os professo-
tou a construção de indicadores que emba- res concebem que a aprendizagem do alu-
saram a constituição dos seguintes núcleos no será tanto melhor quanto sua relação
de significação e sentido: “Os interesses e com o docente for calcada na afetividade.
motivações do docente em trabalhar no 6º No entanto, essa relação com os objetos de
Ano do Ensino Fundamental”, “ ‘Meu alu- conhecimento sinalizou, com uma exceção,
no’: a pessoa que está no 6º Ano do Ensino que os docentes não trazem em suas con-
Fundamental”, “O lugar da afetividade na cepções a noção de que o professor deve
formação dos professores do 6º Ano do En- apresentar-se como uma via que conduz
sino Fundamental”, “O professor do 6º Ano o aluno ao conhecimento e que este deve
do Ensino Fundamental e suas concepções ser o principal objetivo do educador e do
sobre afetividade”, “Manifestações de afe- educando. Quanto à formação, no tocante
tividade na escola”, “Afetividade, aprendi- à área da Psicologia do Desenvolvimento e
zagem e relação professor-aluno” e “Afeti- Aprendizagem, pouca alteração significa-
vidade e a prática do docente do 6º Ano do tiva se produziu na formação docente ao
Ensino Fundamental”. A partir dessa análi- longo das últimas décadas, haja vista o fato
se, apreenderam-se, no discurso docente, de professores com grandes diferenças de
suas concepções acerca da afetividade e tempo de formação apresentarem respos-
seus efeitos no processo ensino-aprendi- tas muito semelhantes a respeito do lugar
zagem. A investigação das concepções dos da afetividade em sua formação. Infere-se
docentes mostrou que os professores do 6º que, ao adentrarem na escola, os docentes
Ano do Ensino Fundamental acreditam ser acabam tendo suas concepções moldadas
a afetividade um dos elementos que pode pelas interações com o meio e, portan-
influenciar sua prática pedagógica. Apesar to, com as concepções recorrentes nesse

1191
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

meio, que exercem mais influências em Por compreender a afetividade como uma
sua prática do que a sua própria formação. dimensão tão importante quanto a di-
Confirmou-se, nos relatos, que o profes- mensão cognitiva na constituição do ser
sor, por vezes, ainda percebe seu aluno de humano e, portanto, acreditar que ambas
forma contraditória: ora ele é uma criança, devam ser igualmente valorizadas no pro-
ora um adolescente; já é positiva, contudo, cesso ensino-aprendizagem do aluno no
a ênfase dada ao fato de considerarem esse contexto escolar, o estudo de que trata
discente como uma pessoa em transição. este texto, denominado estado do conhe-
Também mostrou-se muito forte a associa- cimento, identificou a produção de teses
ção entre afetividade e os anos iniciais da e dissertações que priorizaram questões
escolarização. Ainda se observou, ao longo relativas à afetividade no contexto escolar,
da fala dos professores, uma grande pre- defendidas no Programa de Estudos Pós-
ocupação em não se perder a autoridade -Graduados em Educação: Psicologia da
e o status de educador perante os alunos. Educação da Pontifícia Universidade Cató-
Por fim, foi muito presente nas concepções lica de São Paulo – PED-PUCSP, no perío-
desses professores a noção de que o edu- do de 1969 a 2009. Este estudo teve por
cador deve respeitar o seu aluno e estar objetivo mapear pesquisas sobre a temáti-
atento às suas demandas. ca “afetividade” para, a partir de análises,
oferecer possíveis encaminhamentos, para
Palavras–chave: Afetividade. Concepções potencializar a prática educativa docente.
docentes. Aprendizagem. Para sua realização, foram estabelecidos
critérios para nortear a seleção dos traba-
lhos que comporiam o corpus do estudo: o
LT04-911 - AFETIVIDADE E primeiro deles foi a definição de descrito-
APRENDIZAGEM: PRODUÇÃO DE TESES E res relacionados à afetividade no contexto
DISSERTAÇÕES NO PED-PUCSP escolar, abrangendo diferentes aborda-
Laurinda Ramalho de Almeida - PUC/SP gens teóricas; o segundo critério referiu-se
laurinda@pucsp.br à seleção dos trabalhos, a partir de títulos,
Andrea Jamil Paiva Mollica - PUC/SP palavras-chave, resumos e, em caso de dú-
ajmollica@uol.com.br vida, leitura das pesquisas na íntegra; o ter-
Priscilla Andrea Glaser - PUC/SP ceiro critério foi quanto à fonte que seria
priglaser@yahoo.com.br utilizada, o catálogo “30 anos de Produção
Fátima B. M. Cintra - PUC/SP em Psicologia da Educação – Dissertações
fbissoto@gmail.com e Teses” (Moroz, 1999); Biblioteca Digital
Glaucia C. R. Medrado - PUC/SP da PUC-SP – Sapientia ou visitas à biblio-
glaucia.medrado@yahoo.com.br teca da PUC-SP. Estes critérios possibilita-
Lilian Corrêia Pessôa - PUC/P ram a identificação de 71 pesquisas, sendo
lilipessoa@hotmail.com 17 teses e 54 dissertações. Em relação aos
Márcia T. C. Necyk - PUC/SP resultados, a primeira evidência do estudo
mnecyk@uol.com.br foi que a temática “afetividade” foi pesqui-
Yuska N. B. Felicio-Garcia - PUC/SP sada em toda a trajetória do PED-PUCSP:
yuskinha@hotmail.com na década de 1970 (o PED foi criado em
Financiamento: CNPq/CAPES 1969), com a predominância da aborda-

1192
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gem rogeriana, introduzida por uma das interpessoais entre os vários agentes edu-
primeiras professoras do programa, Abigail cativos, provoca avanços no desenvolvi-
Alvarenga Mahoney. Outros referenciais mento do aluno e de todos os que estão
foram empregados nas décadas seguintes, implicados no processo educativo.
mas, a teoria que fundamenta o maior nú-
mero de pesquisas sobre afetividade é a Palavras-chave: afetividade, estado do
psicogenética walloniana, também intro- conhecimento, contexto escolar
duzida no PED pela mesma professora, na Contato: Laurinda Ramalho de Almeida, PUC/
década de 1980. Outra constatação propi- SP, laurinda@pucsp.br
ciada pelo estudo foi que a temática “afe-
tividade” tem despertado o interesse dos
pesquisadores, intensificando-se a partir LT04-977 - MAPAS AFETIVOS DA
de 1995, especialmente, nas pesquisas de JUVENTUDE SOBRALENSE
mestrado. Os resultados obtidos neste es- Verônica Salgueiro do Nascimento - UFC
tado do conhecimento evidenciam o quan- vesalgueiro@gmail.com
to a dimensão afetiva precisa ser levada Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
em conta, da creche à universidade, pois, naradiogo@hotmail.com
em todos os níveis de ensino, professores Alexsandra Maria Sousa Silva - UFC
e alunos se referiram à importância da alelexsandra@yahoo.com.br
relação afetividade-aprendizagem. Cabe
ressaltar que apenas quatro pesquisas in- O presente trabalho visou investigar os sen-
cidem na educação infantil e que o maior timentos dos jovens participantes do Pró-
número de pesquisas está centrado no en- -Jovem Adolescente em Sobral, sobre esta
sino superior. Nota-se, ainda, um pequeno cidade. Juventude e adolescência, apesar
número de pesquisas (nove) sobre outros de serem termos, muitas vezes, utilizados
atores que atuam na escola, ao lado de de forma intercambiável, têm sido referên-
alunos e professores: diretores, coordena- cia de grupos populacionais distintos. Na
dores pedagógicos e orientadores educa- década de 1980 emergiram políticas volta-
cionais. O estudo evidenciou, pelo número das para a garantia de direitos de crianças
expressivo de pesquisas que tratam da te- e adolescentes, sendo a adolescência legal-
mática afetividade, a importância da mes- mente posta entre 12 e 18 anos. No Bra-
ma e o interesse que vem despertando nos sil, as políticas de juventude têm avançado
pesquisadores. Dele também emerge a desde a década de 1990 devido, principal-
compreensão de que as diferentes manei- mente, à visibilidade que este segmento
ras pelas quais o professor expressa afeti- populacional tem conseguido focalizando,
vidade repercutem diretamente no aluno, sobretudo, aqueles depois dos 18 anos e
tanto no que se refere à dimensão cogniti- suas questões, relativas à construção da au-
va, como no que tange à forma de relação tonomia na vida adulta. Em 2005, o governo
que estabelece com a disciplina curricular federal lançou a Política Nacional de Juven-
e com a escola. As pesquisas chamam, tude, da qual faz parte o Programa Nacio-
ainda, atenção para o fato de que um cli- nal de Inclusão de Jovens: Educação, Qua-
ma favorável à expressão de sentimentos, lificação e Ação Comunitária – ProJovem.
bem como ao aprimoramento das relações O presente trabalho de pesquisa abordou,

1193
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

especificamente, o ProJovem Adolescente; configurações são influenciadas pela Psi-


assim, não pretendemos nos deter nos de- cologia e, também, afetadas pelas mudan-
mais, afirmando apenas que cada um de- ças sociais, indicando formas pelas quais
les destina-se a uma faixa etária e enfoca a sociedade cuida de sua transformação/
questões ligadas à especificidade retratada manutenção. Com a redemocratização do
na sua nomenclatura. Dessa forma, tal in- país, na década de 1980, infâncias e juven-
vestigação torna-se relevante, posto que os tudes, assim como outras minorias passa-
jovens envolvidos, que estão em situação ram a compor, diferentemente, o quadro
de exclusão, procuram assumir ações de de preocupações sociais. Contemporane-
protagonismo no desenvolvimento da cida- amente, o reconhecimento das diversas
de, através do Pro-Jovem. Esta pesquisa foi condições e situações destes momentos da
iniciativa no Observatório da Infância e Ju- vida, bem como o avanço das discussões
ventude de Sobral, como extensão do Cur- no sentido de uma análise crítica e contex-
so de Psicologia da Universidade Federal do tualizada de tais aspectos, tem exigido do
Ceará, que tem como principais objetivos saber psicológico um constante repensar
construir saberes e articular parceiros em de sua práxis. A cidade de Sobral foi criada
torno da questão da infância e juventude em 1772; situa-se a noroeste no Estado do
de Sobral. Como um espaço de troca, cria- Ceará, a 224 Km² da capital do estado. O
ção e reflexão de ações voltadas a crianças acesso é feito pela rodovia Br 222, que liga
e jovens, o Observatório tem como um o Ceará ao Piauí e, consequentemente, ao
de seus pressupostos a desnaturalização Maranhão e ao Pará. Existe também uma
destes momentos da vida, das categorias ferrovia, atualmente usada, sobretudo,
de análise a elas associadas, primando pe- pelo grupo Votorantim. Em 2009 registrou
las diversas formas de pertencimento de o total de 182.431 mil habitantes. A popu-
crianças e jovens em nosso mundo. O ob- lação urbana é de 103. 868 mil habitantes
jetivo geral deste estudo foi o de investigar (81,47%), enquanto a rural é de 23.621 mil
os sentimentos dos jovens do ProJovem habitantes (18,53%). Possui uma área ab-
Adolescente de Sobral sobre a cidade. Es- soluta de 2.122,98 Km². Tem altitude de
pecificamente, foram construídos os ma- 69,49m². O clima tem uma variação entre
pas afetivos com os jovens participantes do tropical quente semiárido e tropical quente
projeto, em Sobral, e procedeu-se à análise semiárido brando. Em 2007, o seu Produ-
dos mesmos, divulgando os resultados no to Interno Bruto (PIB) foi de 1.752.648,00
meio científico, bem como junto aos parti- obtendo o posto de 3ª economia do esta-
cipantes. Infância, adolescência e juventu- do. O ProJovem Adolescente em Sobral é
de constituem-se como categorias sociais executado pela Fundação de Ação Social
de relevância a partir da modernidade, (FASM), órgão administrativo da Prefeitura
tendo emergido, cada uma ao seu tempo, de Sobral, que conta com 1400 jovens em
como momento estratégico do desenvol- 56 coletivos. São 30 coletivos de 25 jovens
vimento humano e, portanto, tornando-se na sede e 26 coletivos nos distritos. Os co-
alvo de diversas intervenções, muitas delas letivos se encontram, diariamente (excluin-
fundamentadas em saberes da Psicologia. do sábados, domingos e feriados), com o
Portanto, consideramos tais noções como apoio dos Centros de Referência da Assis-
históricas e socialmente construídas, cujas tência Social. Há um orientador contratado

1194
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

pela FASM, que coordena os encontros e é nistas de ações inclusivas e solidárias; para
responsável por cada coletivo, além de um tanto, faz-se necessária a inclusão destes
facilitador, responsável por trabalhar temá- atores na reflexão e construção de referen-
ticas ligadas à Saúde, Educação, Cultura, ciais para intervenções públicas e privadas,
Meio Ambiente, dentre outras, definidas interessadas no aumento da qualidade de
pelo Ministério do Desenvolvimento Social. vida nas regiões urbanas.
Como se trata de uma pesquisa de nature-
za qualitativa, em que a construção dos da- Palavras-chave: juventude, mapas afetivos,
dos se estabelece no diálogo entre partici- protagonismo
pante e pesquisador (Gonzalez-Rey, 2002), Contato: Verônica Salgueiro do Nascimento,
o critério de escolha dos participantes é Universidade Federal do Ceará – Campus de
fazer parte do Pro-Jovem Adolescente, em Sobral, vesalgueiro@gmail.com
Sobral, e desejar produzir o mapa afetivo.
Os mapas afetivos, de acordo com Bomfim
(2010), constituem uma metodologia que LT04-1380 - O CORPO APRENDIZ: A VISÃO
visa, a partir da captura de imagens e pa- SOBRE O CORPO NO PROCESSO DE
lavras, utilizar as representações para com- EDUCAÇÃO INFANTIL
preender as relações entre os sentimentos Isabelle Borges Siqueira - Unb
e o espaço. Foi entregue a cada participan- ibs.siqueira@gmail.com
te uma folha de papel A4, e pedido que eles Regina Lúcia Sucupira Pedroza - Unb
representassem, através de um desenho, a rpedroza@unb.br
cidade onde moram. Foram disponibiliza-
dos materiais como lápis de cor e canetas Na atual sociedade capitalista, a escola é
hidrocor e, no verso desta folha, encontra- apresentada como um ambiente impor-
vam-se algumas questões visando explorar tante para a socialização e educação da in-
o sentido do desenho. Os mapas foram fância. Nesse espaço a criança amplia suas
analisados mediante o quadro de análise relações sociais e se apropria e manifesta
apresentada por Bonfim (2010, p. 151). conteúdos vivenciados em sua realidade.
Como resultados, identificou-se a relação Diante disso, quando surge o interesse em
entre subjetividade e espaço construído, estudar a infância e o processo de desen-
enfatizando o afeto como grande agrega- volvimento humano é necessário compre-
dor da percepção e do conhecimento sobre ender sobre o papel histórico e social da
a cidade. As imagens apresentadas pelos escola na sociedade. Considerando que a
participantes, em sua maioria, revelam o escola deve ser um espaço privilegiado na
sentimento de agradabilidade pela cidade, infância, Pinto (2007) busca compreender
indicando satisfação em viver nesse lugar. a condição da criança nesse âmbito e na
Outro sentimento revelado pelos mapas sociedade em geral. Em seu estudo a au-
indica a presença de contrastes, ou seja, tora discorre sobre o fenômeno do confi-
o jovem afirma gostar de sua cidade, mas, namento da infância, no qual a criança é
também, apresenta preocupações com a confinada em instituições especializadas
degradação ambiental, ausência de paz e voltadas à educação e que se baseiam em
aumento do vandalismo. Entendemos que uma estrutura autoritária, burocrática e
os jovens podem assumir papel de protago- hierárquica, onde as crianças perdem seu

1195
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

espaço de socialização e produção de cul- se mudo real de opressores e oprimidos o


tura. Nesse contexto, é o adulto, o profes- corpo da criança é visto como objeto do
sor, que organiza o tempo e os espaços da controle e a disciplina como mecanismo
criança, construindo regras e modelos de de manutenção desse domínio social. Para
disciplina que devem ser seguidos. Nes- Foucault (1987), no processo de disciplina,
se sentido, encara-se que os professores há uma coerção mecânica sobre o corpo
assumem a responsabilidade de controle ativo, incluindo gestos, movimentos, com-
dos alunos e da conservação da antiga con- portamentos e atitudes. Essa manipulação
cepção hierárquica das relações escolares. calculada é o que acontece nas instituições
A autoridade é vista como uma necessida- educacionais que não permitem ao aluno
de natural quando o educador se depara se manifestar e se expressar usando sua
com a criança que requer um apoio e que linguagem corporal. Diante disso, os “cor-
está chegando ao mundo novo. Ainda há a pos aprendizes”, aqueles que estão em
possibilidade de a autoridade ser uma ne- um interessante e estimulador processo
cessidade política, sendo a educação dos de descoberta e aprendizagem, se tornam
recém-chegados uma forma de garantir a “corpos dóceis”, que são corpos submis-
continuidade de uma civilização pré-esta- sos e dominados. Contrapondo a idéia de
belecida. Nessas relações de quem tem o um domínio do corpo para se estabelecer
poder e de quem obedece ambos já têm a educação da infância, Fernandez (1991)
seus lugares definidos, não existindo ne- acredita que a aprendizagem passa pelo
nhuma possibilidade de persuasão e argu- corpo e que não há aprendizagem se o cor-
mentação (Arendt, 1968). Essa visão opres- po está inibido. O corpo é o primeiro conta-
sora que a escola exerce sobre seus alunos to do indivíduo com o mundo e o “brincar”
também é uma preocupação de Paulo Frei- um ato que permite o corpo se expressar e
re (2005) que critica a concepção “bancá- comunicar com esse mundo exterior. Para
ria” da educação nos dias atuais, na qual Fernandez (2001), quando a criança joga,
os educadores apenas depositam conheci- ela participa de um processo de constru-
mento e os alunos os recebem de maneira ção e reconstrução permanente, onde há
passiva sem desenvolver um olhar reflexivo uma transformação da realidade e o pen-
e criativo sobre os conteúdos. Consideran- samento surge para resolver desafios. No
do que na escola realmente exerce-se a lei entanto, no ambiente escolar a criança não
da autoridade e da hierarquia, os alunos tem a liberdade de realizar suas próprias
reconhecem seu papel e não se arriscam manifestações corporais, sendo, muitas ve-
no processo de persuasão e, desse modo, zes, o brincar encarado como um ato trans-
como não há argumentação, não há o de- gressor. Baseado nessa visão, Soares e Fi-
senvolvimento da criticidade e do conheci- gueiredo (2009) refletem sobre a tentativa
mento construtivo. Ressalta-se ainda que a da escola capitalista de reprimir os corpos
supressão da liberdade e da capacidade de pensantes, sendo mais interessante para a
expressão é uma forma sutil, porém violen- manutenção do sistema, os corpos analfa-
ta de opressão. Contesta-se, portanto, as betos e metódicos. Vislumbra-se, portanto,
relações de autoridade nas escolas, pois, que o corpo aprendiz não é bem recebido,
seguindo os argumentos de Arendt (1968), pois esse é o corpo que brinca, que apren-
onde há violência não há autoridade. Nes- de, que fala e que, conseqüentemente,

1196
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

contrapõe um sistema há anos construí- de socialização orientadores para as si-


do. Todo esse contexto gera na criança um milaridades e diferenciações de crianças
sentimento de incompetência e fracasso, gêmeas. A pesquisa em questão dedicou
resultado de uma insatisfação e negação especial atenção às dinâmicas de inte-
pela escola (Soares e Figueiredo, 2009). A ração social, relacionamentos, padrões
grande preocupação em disciplinar o corpo comunicativos e metacomunicativos, en-
do aluno para uma transmissão de infor- quanto orientadores dos processos de co-
mações não permite que o professor crie -construção de significados pessoais e cul-
os espaços adequados para a construção turais na infância. Relações entre crenças,
do conhecimento. As crianças não são esti- expectativas sociais e práticas educativas
muladas a desenvolver sua emancipação e de pais e educadores em relação ao desen-
autonomia, pois não participam da autoria volvimento das crianças também foram
dos pensamentos. Há a necessidade de a consideradas. A gemelaridade monozigóti-
comunidade educativa perceber sua im- ca (Stewart, 2003), objeto deste trabalho,
portância para a qualificação do ensino e é entendida como fenômeno biológico e
seu papel no desenvolvimento de um espa- social, e também psicológico e cultural,
ço de aprendizagem criativo. Dessa forma, daí o interesse pela compreensão dos sis-
o espaço educativo deve se apropriar da temas de significados construídos no jogo
liberdade e do jogo e o corpo aprendiz ser intersubjetivo, narrativo e dialógico entre
incorporado como parte do ensinamento posições pessoais e sociais da situação
integral da criança. Diante disso, por meio gemelar (Vieira, 2010). Fundamentado na
de uma revisão bibliográfica, o objetivo psicologia cultural (Bruner, 1998; Rogoff,
desse estudo é analisar e propor as manei- 2005; Valsiner, 2007; Vygotsky, 1962/1993,
ras de se receber o corpo aprendiz no uni- 2000), o objetivo principal foi investigar a
verso do cotidiano escolar. dinâmica relacional e os padrões de inte-
ração social entre cinco pares de crianças
Palavras-chave: corpo, escola,jogo. gêmeas (entre 5 e 6 anos de idade), dos
Contato: Isabelle Borges Siqueira, Universidade quais dois compõem os estudos de caso
de Brasília, ibs.siqueira@gmail.com aqui apresentados. Como objetivos espe-
cíficos buscaram-se analisar a dinâmica
interacional entre as crianças e os adultos
LT04-1403 -PADRÕES DE INTERAÇÃO em situações estruturadas; identificar e
SOCIAL E COMUNICAÇÃO: UMA analisar, a partir das narrativas das mães
ANÁLISE DE SISTEMAS DE SIGNIFICADOS e professoras, as orientações para crenças
CONSTRUÍDOS NA SITUAÇÃO GEMELAR (Valsiner, Branco & Dantas, 1997), valores
Alessandra Oliveira Machado Vieira - UFG e expectativas em relação à socialização e
avieira@fe.ufg.br desenvolvimento das crianças gêmeas; e
Angela Uchoa Branco - UnB finalmente, identificar e analisar os contex-
ambranco@terra.com.br tos orientadores para as similaridades ou
diferenciações assumidos nos momentos
Este trabalho propõe apresentar resulta- de comunicação entre todos. A partir de
dos de uma pesquisa de doutorado que uma abordagem metodológica qualitativa
buscou investigar acerca dos processos (Branco & Rocha, 1998; Branco & Valsiner,

1197
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

1997; González Rey, 1997; Kindermam & truída em suas relações com o co-gêmeo
Valsiner, 1989; Madureira & Branco, 2001), e outros sociais, e depende da qualidade
vários procedimentos foram utilizados e da mediação semiótica em cada contexto;
criados, a saber: (a) abordagem etnográ- (4) na gênese sociocultural da gemelarida-
fica e observações diretas no contexto da de (Vieira, 2011), os sistemas psicológicos
escola; (b) quatro sessões estruturadas, (que envolvem crenças, afetos e emoções)
com cada par e diferentes participantes são metacomunicados intersubjetivamen-
nessas sessões (professora, mãe, colegas te, regulam e transformam as práticas
e pesquisadora), onde se buscou analisar educativas e os padrões de interação so-
as dinâmicas socioafetivas, comunicativas cial, tendo em jogo, sobretudo, a dialogi-
e metacomunicativas em contextos de cidade constituída através da co-existência
brincadeiras e desenhos; e (c) entrevistas de diferentes versões narrativas sobre o
semiestruturadas com mães e professoras. desenvolvimento de crianças gêmeas, nas
As informações foram analisadas de acor- vozes dos adultos e das próprias crianças;
do com os parâmetros de estudos micro- (5) as práticas educativas das professoras e
genéticos (Lavelli & cols., 2005), a partir sua ação mediadora podem ser potencial-
dos quais três níveis de análise foram cons- mente significativas para a conscientização
truídos para comparar as interações e nar- sobre a importância de se promover expe-
rativas das mães e professoras em relação riências e trajetórias distintas para cada
às duas duplas de crianças. Desse modo, o criança, capazes de favorecer o desenvol-
sistema de significação dos adultos, sobre vimento pleno e integrado da criança gê-
a gemelaridade e o desenvolvimento das mea, desconstruindo mitos e ressignifican-
crianças, construídos a partir de tais níveis do concepções equivocadas sobre o fenô-
de análise compõe o foco de nossa apre- meno da gemelaridade. O presente estudo
sentação nesse trabalho. Os resultados e contribui com uma apresentação teórico-
discussões indicam que: (1) os contrastes e -metodológica de investigação sobre a
inconsistências de objetivos e dos sistemas gemelaridade, destacando a importância
de crenças entre o contexto da família, da de abordagens qualitativas e idiográficas
escola e seus diversos atores, em relação na psicologia (Molenaar & Valsiner, 2008),
às expectativas para o comportamento, que considera a variação interindividual e
desempenho e relacionamentos de crian- intraindividual do fenômeno psicológico,
ças gêmeas comprovam a importância e permitindo revelar continuidades e ruptu-
o valor da relação de interdependência ras de padrões na micro e ontogenênese
entre escola e família, podendo tais con- das interações sociais. Como contribuições
textos de tensão permitir trajetórias flexí- sociais, o estudo promove a autoreflexão
veis de desenvolvimento e possibilitarem dos pais e mobiliza a construção de novas
mudanças orientadas à não sameness; (2) perspectivas para a socialização, orienta-
o clima emocional das interações legitima ção e educação dos filhos(as). À escola, um
o fenômeno afetivo como tendo posição conhecimento sobre possíveis circunstân-
central nos processos de transformação cias e ações mediadoras que dificultam às
semiótica das experiências; (3) same- crianças gêmeas experimentarem posicio-
ness não é uma característica imposta ou namentos de si e suas identidades. À cul-
transmitida à criança gêmea, mas cocons- tura, a desconstrução de mitos e estigmas,

1198
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e a construção e circulação de novos sig- estudantes. As teorias sócio-cognitivas de


nificados sobre temas pertinentes à geme- motivação têm mostrado que as percep-
laridade, como separação de irmãos, imi- ções das dimensões acadêmicas e sociais
tação, tratamento igualitário; sameness, da sala de aula influenciam as crenças dos
“extraordinária amizade”, dependência e alunos sobre si mesmos e as metas de re-
outros. A pesquisa demonstra o valor da alização relativas ao trabalho escolar. Es-
abordagem sociocultural construtivista tas por sua vez influenciam a natureza e
para o estudo deste tópico, e sugere a ne- extensão do engajamento nas tarefas. Os
cessidade de mais estudos sobre as dinâ- estudos apoiados na Teoria de Metas de
micas interativas entre crianças e adultos, Realização e na Teoria Social Cognitiva evi-
especialmente a partir de um delineamen- denciam o papel dos construtos motiva-
to longitudinal. Aponta como sugestões cionais metas de realização e a autoeficá-
de novos estudos, (a) a investigação da cia. Os alunos que adotam a meta apren-
presença hegemônica das mídias sobre a der (focada no aprimoramento pessoal e
gemelaridade, na construção do sistema ganho de entendimento e ou habilidade,
psicológico de gêmeos, falsas expectativas, com a aprendizagem sendo um fim em si
equívocos, enfim, no processo de canaliza- mesma) e apresentam autoeficácia (julga-
ção cultural do desenvolvimento de crian- mentos positivos de suas capacidades para
ças gêmeas, e (b) a análise dos processos desempenhar uma tarefa bem sucedida)
de formação de identidade e posições de tem maior probabilidade de se esforçarem
self nos contextos de desenvolvimento de e persistirem nas tarefas escolares. Duas
crianças gêmeas. linhas de investigação vêm sendo condu-
zidas de forma independente. Uma sobre
Palavras-chave: gemelaridade, psicologia as associações entre as crenças motiva-
cultural, crenças e padrões de interação social. cionais do aluno e suas percepções acerca
Contato: Alessandra Oliveira Machado Vieira, das dimensões acadêmicas. Esta procura
UFG, avieira@fe.ufg.br investigar como as percepções dos alunos
acerca das tarefas da sala de aula conside-
radas motivadoras (conjunto de práticas
LT04-1426 - DIMENSÕES ACADÊMICAS em que os alunos percebem as tarefas da-
E SOCIAIS DA SALA DE AULA E CRENÇAS das como interessantes, significativas e re-
MOTIVACIONAIS DE ADOLESCENTES levantes), do apoio a autonomia (promo-
Pedro Eugênio Pereira Aloi - UFSCar ção de atividades que forneçam escolhas
pedropaloi@yahoo.com.br e desenvolvam responsabilidade) e da uti-
Tânia Maria Santana de Rose - UFSCar lização de avaliação por domínio (práticas
tmsrose@terra.com.br avaliativas que sejam justas e não enfati-
zem a competição), estão relacionadas a
O papel do contexto da sala de aula e das adoção da meta aprender e a autoeficácia
crenças motivacionais tem sido demons- por parte dos alunos. A outra sobre as re-
trado como relevante para o entendimen- lações entre as crenças motivacionais e as
to do engajamento adaptativo nas tarefas dimensões sociais tem explorado como a
de aprendizagem de sala de aula e, conse- percepção dos alunos acerca da relação
quentemente, do sucesso acadêmico dos professor-aluno e da relação entre colegas

1199
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

(como sendo fornecedoras de suporte, as crenças motivacionais e as associações


auxílio e respeito mútuo) esta relacionada entre ambas dimensões. Entende-se que
à meta aprender e a autoeficácia. Dada a este tipo de estudo contribui para subsi-
importância da verificação de como estas diar a identificação de aspectos do con-
dimensões do contexto de sala de aula texto escolar (dimensões acadêmicas e
influenciam a motivação de estudantes sociais) que deveriam ser foco de atenção
brasileiros e o fato de serem raros os es- dos professores tendo em vista o aprimo-
tudos nacionais que abordem tais ques- ramento da motivação dos alunos.
tões, pretendeu-se no presente estudo
identificar como o seguinte conjunto de Palavras-chave: Motivação; Relação Professor-
variáveis se relacionam: tarefas motiva- Aluno; Estrutura de Meta; Sala de Aula.
doras, apoio a autonomia, avaliação por
domínio, relação professor-aluno, relação
entre colegas, meta aprender e autoeficá-
cia. A amostra foi composta de 41 alunos
PO-LT03
do Ensino Médio de uma escola pública
do interior do estado de São Paulo. Os da-
LT03-795 - REORGANIZAÇÃO FAMILIAR
dos foram coletados de forma coletiva por
E REDE SOCIAL DE APOIO PÓS
meio das respostas dos alunos a sete es-
HOMICÍDIO JUVENIL
calas do tipo Likert elaboradas para medir
tais variáveis. Foram realizadas análises Daniela Fontoura Domingues - UnB
acerca da consistência interna dos itens danydom61@gmail.com
das escalas e análises correlacionais entre Maria Auxiliadora Dessen - UnB
as variáveis. Os resultados indicam terem dessen@unb.br
sido significativas e positivas as correla- Financiamento: CAPES
ções entre os escores da meta aprender
aproximação e relação professor-aluno, A morte de jovens, vítimas de homicídio, é
meta aprender aproximação e tarefas mo- um problema grave e complexo que afeta
tivadoras, meta aprender aproximação e anualmente centenas de famílias e a so-
avaliação por domínio, autoeficácia e rela- ciedade como um todo. As perdas provo-
ção professor-aluno, autoeficácia e apoio cam não apenas mudanças no cotidiano
a autonomia e também foram significati- dos sobreviventes, alterando seus modos
vas e positivas as correlações entre a re- de organização e suas redes de relações
lação professor-aluno e as três dimensões interpessoais, como também modificam
acadêmicas avaliadas. Apesar da amostra o dia a dia das comunidades. Após even-
reduzida, os resultados do presente estu- tos dessa natureza, o processo de luto dos
do sugerem que os achados da literatura parentes e amigos costuma ser carregado
sobre a influência das dimensões acadê- de forte conteúdo emocional, em razão
micas e sociais podem ser generalizados da precocidade das mortes e da violência
para este grupo de alunos brasileiros. O do ato, incluindo desde ideias retaliatórias
estudo oferece uma contribuição original para com os perpetradores dos homicí-
ao mostrar conjuntamente a importância dios até fantasias autodestrutivas. Além
das dimensões sociais e acadêmicas para disso, pelo fato de os óbitos geralmente

1200
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

acontecerem de forma abrupta e inespe- foram selecionadas por profissionais da


rada, há um aumento em seu potencial área do Direito e da Psicologia compondo,
nefasto, o que exige dos familiares diver- portanto, uma amostra por conveniência.
sos níveis de ajustes. Neste contexto, a Das 16 famílias convidadas, apenas 8 ade-
rede social de apoio constitui um recurso riram à pesquisa. Dentre os motivos ale-
importante no enfrentamento e recupe- gados para a recusa estava a falta de con-
ração dos enlutados. Pais e irmãos, por dições emocionais e psicológicas e o re-
exemplo, podem recorrer à ajuda de pa- ceio de represálias, em virtude de alguns
rentes, vizinhos, colegas e amigos para perpetradores dos homicídios não terem
driblar as necessidades afetivas e fazer sido encarcerados até a época da reali-
frente aos gastos e despesas decorrentes zação do estudo. A coleta de dados ocor-
das mortes. Por outro lado, as instituições reu na residência dos participantes, após
presentes nas comunidades, como igreja aprovação do Comitê de Ética. O trabalho
e escola, além do próprio Estado, também consistiu na aplicação de dois instrumen-
podem ser uma fonte de apoio financeiro, tos: (a) Questionário de Caracterização do
espiritual ou terapêutico aos familiares. O Sistema Familiar, respondido pelas mães,
presente trabalho apresenta as transfor- incluindo perguntas sobre idade, nível de
mações enfrentadas por famílias vitima- escolaridade e ocupação dos participan-
das pela violência e o papel da rede social tes, além de questões específicas sobre
de apoio neste contexto. O estudo teve as relações familiares e sobre aspectos de
por objetivo investigar as transformações infraestrutura e recursos disponíveis aos
nos sentimentos, nas relações sociais e moradores das comunidades; (b) roteiro
na rede social de 8 famílias que perderam de entrevista semiestruturada, respon-
jovens vitimados por homicídio por arma dido pelas mães e irmãos, a respeito das
de fogo no Distrito Federal. Participaram circunstâncias dos homicídios, do impacto
do estudo duas pessoas de cada uma das da perda na organização familiar, da rede
famílias: uma do sistema parental (mãe: social de apoio, dos padrões de comuni-
n=8) e outra do fraternal (irmão: n=5). cação na família, bem como dos valores e
Em duas destas famílias, o jovem faleci- expectativas dos familiares para o futuro.
do era o único filho e, em uma, o irmão Os dados do questionário de caracteriza-
não pode participar. As famílias eram de ção do sistema familiar foram tabulados, e
nível socioeconômico baixo, procedentes as entrevistas gravadas em áudio, com du-
de regiões periféricas do Distrito Federal. ração média de duas horas, foram trans-
Todas se encontravam em um período de critas, na íntegra, totalizando 13 entrevis-
luto compreendido entre os primeiros 30 tas e 26 horas de gravação. O material foi
dias e os 12 meses após o episódio. Em identificado e digitalizado para viabilizar o
razão das circunstâncias ambientais im- processo de escuta e transcrição. Todas as
plicadas nas mortes, tais como tráfico de verbalizações foram submetidas à técnica
drogas e disputas entre gangues, algumas de Análise de Conteúdo e, em seguida, o
famílias do estudo foram indicadas por material passou por nova categorização,
pessoas que pertenciam a organizações envolvendo quatro etapas, a saber: (a)
não-governamentais (ONGs) que atuavam seleção e exploração do material (pré-
na prevenção da violência no DF. Outras -análise); (b) codificação; (c) agrupamento

1201
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e reagrupamento de temas; e (d) defini- LT03-879 - DESENVOLVIMENTO MORAL:


ção das categorias empíricas (tratamento, REVISÃO DOS ARTIGOS BRASILEIROS
inferência e interpretação dos resultados). PUBLICADOS NO CAMPO DA
Os resultados do estudo apontaram que, PSICOLOGIA
devido às circunstâncias envolvidas nos Letícia Lovato Dellazzana - UFRGS
homicídios, o processo de luto dos fami- leticiadellazzana@gmail.com
liares mostrou-se distinto ao daqueles que Gabriela Sagebin Bordini - UFRGS
enfrentam a perda de um ente por morte gsagebin@hotmail.com
natural. Os sobreviventes, por exemplo, Tania Mara Sperb - UFRGS
expressaram sentimentos exacerbados de sperbt@terra.com.br
desespero, dor, culpa, revolta e medo. O Lia Beatriz de Lucca Freitas - UFRGS
episódio alterou o funcionamento fami- lblf@ufrgs.br
liar, acarretando em desorganização nas Financiamento: CAPES
relações conjugais e parentais. Entretan-
to, as famílias demonstraram que mesmo Desde que a psicologia consolidou-se
as perdas que envolvem situações de vio- como uma ciência autônoma, o fenôme-
lência são capazes de promover mudanças no moral tem sido um dos seus objetos
positivas no indivíduo e na família. Entre de pesquisa (Freitas, 2007). Dentre os
elas está o aumento da empatia, da soli- trabalhos que inauguraram a investi-
dariedade no ambiente intra e extra-fami- gação empírica da moralidade humana
liar, a expressão de sentimentos afetuosos pode-se destacar O Julgamento Moral
e a aproximação com os filhos e entre os na Criança, de Piaget (1932/1977). Esta
irmãos. Os resultados indicam, ainda, que obra tornou-se um clássico da literatura
as instituições das comunidades tiveram em psicologia (Freitas, 2003; Kesselring,
uma pequena atuação no período pós- 1990; La Taille, 1992) e é leitura obriga-
-homicídio, o que demonstra a fragilidade tória para todos os pesquisadores que se
ou até ausência de vínculos entre os enlu- dedicam a estudar a moralidade e as in-
tados e as organizações públicas. A rede terações sociais (Freitas, 2007; La Taille,
de apoio institucional deveria ser capaz 1992). Desde então, a psicologia tem pro-
de oferecer assistência legal, psicológica e duzido constantemente novas pesquisas
financeira, sobretudo, à população oriun- sobre o desenvolvimento moral (Killen &
da de classe socioeconômica menos favo- Smetana, 2006; Sampaio, 2007). De acor-
recida. Neste sentido, o estudo salienta do com Piaget (1954/2005), o desenvol-
a necessidade de fortalecimento da rede vimento moral ocorre graças à interação
social de apoio de pessoas vitimadas pela da criança com outros indivíduos e na
violência, no que se refere às instituições medida em que novas aquisições no cam-
das comunidades, e investimentos em po- po cognitivo e afetivo são conquistadas
líticas dirigidas aos jovens e suas famílias. pelo sujeito. Ao longo do século XX dife-
rentes perspectivas teóricas dedicaram-
Palavras-chave: Família; homicídio juvenil; -se ao estudo dos fenômenos morais, tais
rede social de apoio como a psicanálise, o comportamenta-
Contato: Daniela Fontoura Domingues, UnB, lismo e o construtivismo (Biaggio, 2006;
danydom61@gmail.com Lourenço, 1992). No que diz respeito à

1202
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

moralidade, apesar das suas diferenças, rais. Foram considerados apenas os arti-
a psicanálise e o comportamentalismo gos publicados em revistas específicas de
têm em comum, a desvalorização da psicologia e disponíveis online na íntegra.
consciência (Freitas, 2003). Ambas as No levantamento realizado, foram iden-
abordagens entendem a consciência mo- tificados 62 artigos cujos temas estavam
ral como uma interiorização por parte da relacionados ao desenvolvimento moral.
criança dos valores morais dos adultos, Através de uma primeira análise, os ar-
seja por meio de identificações, seja por tigos foram divididos entre empíricos e
meio de prêmios e castigos. A formação teóricos. Foram identificados 32 artigos
moral seria, então, um processo no qual empíricos e 30 teóricos (51,6% e 48,4%,
o indivíduo tem pouca participação ativa. respectivamente). Neste trabalho, são
Para o construtivismo, por outro lado, a apresentados resultados referentes aos
formação da consciência moral é enten- artigos empíricos. A unidade de análise
dida como uma construção do sujeito foram os artigos, os quais foram lidos na
em interação com seu meio e não como íntegra. Inicialmente, analisaram-se os
mero produto das influências do ambien- artigos em função do foco de interesse
te (Freitas, 2007). Diante dessa variedade dos pesquisadores, identificando-se o
de abordagens teóricas no campo do de- aspecto central da investigação empírica
senvolvimento moral, acredita-se haver, relatada em cada artigo. Encontraram-se
também, diversidade de focos de inte- os seguintes focos de interesse: juízo mo-
resse e dos métodos utilizados nas pes- ral, comportamento moral, concepções
quisas sobre esse tema. O objetivo deste sobre aspectos do desenvolvimento mo-
trabalho é traçar um panorama das con- ral e avaliação de instrumentos que exa-
tribuições da psicologia brasileira para minam o desenvolvimento moral. O juízo
o estudo do desenvolvimento moral, na moral foi o foco de interesse de 71,9%
primeira década do século XXI, investi- dos artigos. Estes examinavam como o
gando-se o foco de interesse dos pesqui- participante julgaria uma determinada si-
sadores e os tipos de estudo. Realizou-se tuação, a partir de uma história ou de um
um levantamento dos artigos científicos dilema. Os demais focos de interesse fo-
sobre desenvolvimento moral, produ- ram: (a) comportamento moral (12,5%),
zidos no Brasil, desde o ano 2000 até o que relatavam o estudo das atitudes dos
primeiro semestre do ano 2010. A busca participantes, como, por exemplo, práti-
dos artigos foi realizada na Biblioteca Vir- cas parentais; (b) concepções dos parti-
tual de Saúde (BVS) através das seguintes cipantes a respeito de algum aspecto do
bases de dados: (a) Index Psi Periódicos desenvolvimento moral (9,4%), como,
Técnico-Científicos, (b) Periódicos Eletrô- por exemplo, regras no contexto escolar;
nicos em Psicologia (PePSIC), e c) Scienti- e (c) avaliação de instrumentos de medi-
fic Eletronic Librery Online (Scielo). Para da de julgamento moral para o uso em
tal, utilizaram-se os seguintes descrito- contextos específicos (6,2%). A seguir, os
res: desenvolvimento moral, psicologia artigos foram classificados conforme o
moral, moralidade, juízo moral, justiça tipo de estudo: (a) qualitativo, (b) quan-
distributiva, justiça retributiva, sentimen- titativo ou (c) qualitativo-quantitativo.
tos morais, valores morais e virtudes mo- Foram encontrados 18 (56,2%) artigos

1203
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

qualitativos, 10 (31,2%) quantitativos Este estudo fez parte de um trabalho


e 4 (12,5%) qualitativos-quantitativos. mais abrangente, que contou com um
Tais resultados indicam que, na primei- grupo de pesquisadores participantes da
ra década do século XXI, predominaram ANPEPP (Associação Nacional de Pesqui-
estudos sobre o juízo moral do tipo qua- sa e Pós-Graduação em Psicologia) e com
litativo. Isso sugere que persiste ainda apoio do CNPQ (Conselho Nacional de
uma forte influência das contribuições Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
de Piaget (1932/1977) e seus sucessores co). Entendemos por moral a concepção
nas pesquisas brasileiras sobre desen- de La Taille (2006) segundo a qual refere-
volvimento moral. Pode-se pensar que o -se a um conjunto de deveres, princípios
construtivismo exerce tal influência nes- e regras que devem ser obrigatoriamente
se campo de pesquisa, pois, conforme sa- observados, o que é bom ou mau, certo
lientou Lourenço (1992), esta abordagem ou errado numa cultura, corresponden-
é a que mais enfatiza uma perspectiva de do à pergunta “como devo agir?” (p.29).
desenvolvimento psicológico. Desde os estudos pioneiros de Jean Pia-
get (1932/1994), consideramos a exis-
Palavras-chave: desenvolvimento moral, tência de um desenvolvimento do juízo
psicologia moral, moralidade moral no ser humano. Dessa forma, uma
Contato: Letícia Lovato Dellazzana, UFRGS, criança pode passar de uma consciência
leticiadellazzana@gmail.com heterônoma das regras para a moral da
autonomia. Assim sendo, os métodos da
educação moral são fundamentais e, ne-
LT03-882 - ANÁLISE DE EXPERIÊNCIA cessariamente, não podem ser realizados
DE EDUCAÇÃO EM VALORES MORAIS de maneira autoritária, mas ativos, tendo
NA MESORREGIÃO LITORAL NORTE como objetivo a construção da autono-
ESPÍRITO-SANTENSE mia moral nos alunos. Para a descrição
Barbara Frigini De Marchi - UFES da experiência, realizamos entrevistas
barbara.fdm@hotmail.com com a ex-diretora da escola, a diretora
Heloisa Moulin de Alencar - UFES atual, uma supervisora pedagógica, uma
heloisamoulin@gmail.com pedagoga, duas professoras, uma auxiliar
Leandra Lúcia Moraes Couto - UFES de secretaria e três alunos. As entrevis-
leandrabj@hotmail.com tas, com roteiro semiestruturado, foram
Mayara Gama de Lima - UFES organizadas nos seguintes blocos de per-
mayaragl@gmail.com guntas: a) caracterização do participante;
Mariana Santolin Romaneli - UFES b) descrição do ambiente; c) motivação/
marianaufes@yahoo.com.br contexto do projeto; d) caracterização da
Financiamento: FACITEC experiência propriamente dita e e) con-
siderações finais. Em relação à caracte-
A presente pesquisa buscou descrever e rização da experência propriamente dita
analisar uma experiência “bem sucedi- (item d) analisamos os seguintes aspec-
da” de Educação em Valores Morais em tos: avaliação dos resultados, dificulda-
uma escola pública, localizada na mesor- des/limites e apreciações gerais. A escola
região Litoral Norte Espírito-Santense. em questão atende ao ensino médio na

1204
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

modalidade de ensino regular nos turnos os alunos pudessem se expressar. Já em


matutino, vespertino e noturno, e ao EJA relação aos demais funcionários, esses
(Educação para Jovens e Adultos) no perí- davam suporte, por meio de materiais, às
odo noturno. Recebe alunos de todos os atividades desenvolvidas, assegurando a
bairros e distritos do município em que estrutura necessária. Quanto às famílias
está localizada, em um total de 1.170, dos alunos, essas tiveram participação
sendo a maior parte deles proveniente restrita, que se resumia a prestigiar os
de classe média baixa. O projeto teve iní- eventos. A escola não contou com par-
cio em 2007, destinado apenas ao turno cerias externas, mas recebeu o apoio
noturno e idealizado pela então pedago- de várias pessoas nas atividades, princi-
ga do colégio. Ele foi motivado por recla- palmente, nas palestras, como médicos,
mações dos profissionais de educação do pastores, padres, policiais e psicólogos da
turno em questão, feitas em reuniões, comunidade. Dentre as atividades desen-
conselhos de classe e outros encontros volvidas, destacaram-se desfiles, danças,
acerca dos desafios encontrados em sala paródias, visitas – à Câmara Municipal e à
de aula em relação aos alunos, tais como Casa de Cultura do município, por exem-
evasão, desinteresse, cansaço e dificul- plo – idas ao cinema, dinâmicas e mostra
dades de aprendizagem. A maior insatis- cultural. Além disso, visando facilitar o
fação referia-se à falta de respeito que aprendizado dos alunos, os professores
enfrentavam tais profissionais no dia-a- se esforçavam em aproximar os conteú-
-dia da sala de aula; que estava caracteri- dos escolares da realidade dos mesmos.
zada como ausência de respeito entre os Como resultado da referida experiência,
próprios alunos e, também, para com os a visão que a sociedade local tinha da
professores. Além disso, valores, como escola mudou. Antes de sua implantação
amizade e solidariedade, foram deixados e de seus primeiros resultados positivos,
de lado, o que dificultava a convivência a qualidade da escola era vista como du-
escolar. Diante desse quadro, implemen- vidosa e se acreditava que qualquer alu-
tou-se o projeto, com o apoio de 18 pro- no, se empenhando ou não, passava de
fessores. Os temas trabalhados foram os ano. Por sua vez, verificamos outros re-
mais variados: drogas, sexualidade, direi- sultados: (1) desenvolvimento do autor-
tos da mulher, perspectiva de vida, cultu- respeito e da autoestima; (2) criação de
ras, dentre outros. Quanto aos procedi- condições propícias para o exercício da
mentos adotados, a pedagoga elaborava cidadania, com conhecimento de direitos
as atividades, que tinham dia e horário e deveres; (3) aumento da responsabili-
específicos para serem trabalhadas em dade e do conhecimento dos limites; (4)
sala com os alunos, a partir das sugestões valorização e incremento da solidarieda-
dadas pelos docentes. A execução e o an- de e (5) estabelecimento de relações de
damento do projeto foram de responsa- respeito mútuo. No decorrer do projeto,
bilidade de toda a comunidade escolar, contudo, os propositores enfrentaram
mais diretamente dos professores, que dificuldades no que diz respeito à infra-
exerciam o papel de mediadores. Dessa -estrutura da instituição e à participação
forma, cabia a eles criarem situações, por do corpo docente. Durante a realização
meio das atividades propostas, em que do projeto, a escola passou por reformas

1205
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

e teve que funcionar em outro prédio, tas inacessíveis, entre outros aspectos
bastante danificado. Além disso, alguns que auxiliam no adoecimento dos traba-
docentes, mais conservadores, apresen- lhadores e de suas relações no trabalho.
taram resistência em executar o projeto, O assédio moral é um tema que abrange
alegando que este era sinônimo de perda o entendimento e a ação interdisciplinar,
de tempo. Essas dificuldades foram tra- pois, por se tratar de um problema que
balhadas pelos alunos juntamente com ocorre no âmbito ocupacional, deve ser
os professores, alcançando um resulta- percebido e trabalhado preventivamente
do satisfatório. Isto posto, consideramos pela gestão organizacional. E por gerar
que a referida experiência contribuiu conseqüências de desgaste emocional e
para a formação moral e ética dos alunos. sofrimento psíquico deve ser diagnosti-
cado e tratado por profissionais da saú-
Palavras-chave: educação em valores morais, de, e por configurar prejuízo da vítima,
valores morais, moral e escola. deve ser apurado pelos atores do direito.
Contato: Barbara Frigini De Marchi, UFES, O assédio destrói a capacidade de traba-
barbara.fdm@hotmail.com lho e a resistência psicológica das víti-
mas, numa tentativa do agressor de “in-
timidar, diminuir, humilhar, amedrontar e
LT03-1072 - ASSÉDIO MORAL: A consumir emocional e intelectualmente
QUESTÃO DA VULNERABILIDADE DE a vítima, com o objetivo de eliminá-la
GÊNERO da organização (Piñuel & Zabala, 2003,
Helena Diefenthaeler Christ - PUCRS p.32). Guedes (2004) explicita as condu-
helenachrist@hotmail.com tas de assédio moral tais como: recusar a
Tatiana Helena José Facchin - PUCRS comunicação, desqualificar, destruir a au-
tatyhelena@yahoo.com.br toestima, cortar as relações sociais, vexar
Deise Fonseca Fernandes - PUCRS e constranger. Mas nem sempre é fácil
deise.ff@hotmail.com aferir estas situações bem como averi-
Bruna Ferreira Fernandes - PUCRS guar as conseqüências na vítima, mesmo
brufernandes1@hotmail.com que também conhecidas como sintomas
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS de estresse, de ansiedade, de depressão,
ggauer@pq.cnpq.br confusão, síndrome de burnout, entre
Financiamento: CNPq /CAPES outros. Quanto às conseqüências para a
vítima, segundo Piñuel & Zabala, (2003),
As relações no trabalho e com o trabalho elas vão desde alterações mais super-
têm sido alvo crescente de estudos, so- ficiais e imediatas, tais como: confusão
bretudo em função da importância que mental, confusão que gera estresse re-
o labor exerce na vida das pessoas, seja forçado pela dúvida e pelo medo, levan-
na formação da identidade, status social, do esta a isolar-se socialmente. Com o
satisfação pessoal, realização profissional passar do tempo, tais alterações chegam,
e/ou financeira. Juntamente com isso, as- muitas vezes, a modificações psíquicas
pectos negativos também encontram um mais intensas: desvitalização, levando a
campo fértil nas organizações, tais como um estado depressivo crônico; uma “ri-
alta competitividade, estipulação de me- gidificação” da personalidade com o sur-

1206
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

gimento de traços paranóides, podendo cem atividade laboral, nos cursos de Ad-
chegar a uma autêntica patologia deliran- ministração de Empresas e Ciências Con-
te, dentro de uma atmosfera de mania e tábeis da Pontifícia Universidade Católica
perseguição, chamada de psicose aluci- do Rio Grande do Sul e 200 estudantes do
natória crônica. Hirigoyen (2005, p.100) EJA. São homens e mulheres com idades
afirma que “as mulheres não somente entre 18 a 59 anos, que estão no mesmo
são frequentemente vítimas, como tam- emprego há no mínimo 1 ano, ou que
bém são assediadas de formas diferentes no último emprego permaneceram pelo
dos homens: as conotações machistas ou período mínimo de 1 ano. A pesquisa
sexistas estão muitas vezes presentes”. foi realizada por meio de delineamento
Segundo a Organização Internacional transversal, quantitativo de correlação
do Trabalho – OIT, o número de vítimas entre o resultado do instrumento e a va-
de assédio moral varia de 5 a 8%, den- riável sócio-demográfica sexo. Foram uti-
tre estes, 70% são mulheres (Jacques e lizados como instrumentos questionário
Amazarray, 2006). Estudo realizado por de dados sócio-demográficos e Negative
Barreto (2006) com 2072 trabalhadores Act Questionnaire (NAQ-R), o qual está
constatou que 870 (42%) foram assedia- sendo validado para o português. Após
dos no ambiente de trabalho, sendo que leitura e assinatura do Termo de Con-
deste total, 65% foram mulheres. Por- sentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
tanto, estudos têm demonstrado que o os questionários foram entregues aos
gênero feminino apresenta uma maior participantes, na sala de aula, para que
vulnerabilidade ao assédio moral. Para estes respondessem de forma individual
Barreto (2000, p. 242) “quando o homem e autoaplicável. Todos os dados foram di-
prefere a morte à perda da dignidade, se gitados no programa SPSS 17.0, para as
percebe muito bem como a saúde, traba- análises estatísticas de freqüência, mé-
lho, emoções, ética e significado social se dias e desvios padrões por meio do Qui-
configuram num mesmo ato, revelando a -quadrado e da correlação de Spearman.
patogenicidade da humilhação”. Embora Este estudo está aprovado pelo Comitê
não sejam encontradas muitas pesquisas de Ética em Pesquisa da PUCRS sob o nú-
com este tema no nosso país, as já rea- mero CEP 10/05295. Como análise dos
lizadas apontam uma alta incidência de resultados, identificou-se que a literatura
casos de assédio moral, ao mesmo tem- aponta que mulheres são frequentemen-
po em que esse assunto ainda seja pouco te mais assediadas no ambiente de traba-
esclarecido para a maioria da população lho do que os homens, sendo que o tipo
e, portanto mais difícil de ser detecta- de assédio varia conforme o gênero. Os
do, tratado e evitado. Assim, o presente fatores de assédio moral possivelmente
projeto visa verificar se estes achados mais praticados contra mulheres sejam o
correspondem à população geral pesqui- isolamento social e as medidas relaciona-
sada em Porto Alegre. Tais pesquisas se das com o trabalho, tais como: retenção
tornam importantes para que haja dados de informações relevantes ao desempe-
relevantes para a criação de programas nho profissional, realização de atividades
preventivos. A amostra é composta por em nível inferior a sua competência, ex-
200 estudantes universitários que exer- clusão do grupo, opinião ignorada, entre

1207
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

outras. Portanto, os resultados encon- implantação e avaliação de políticas pú-


trados apontarão se realmente mulhe- blicas coerentes, eficazes e justas. No
res são mais vulneráveis que homens ao Brasil, existe um número considerável de
assédio moral no ambiente de trabalho, políticas destinadas a este segmento da
bem como se há diferenças significativas população e, essencialmente, dois mo-
nos fatores avaliados entre os gêneros. delos distintos norteiam os programas já
implantados: o modelo médico, também
Palavras-chave: Assédio moral, Gênero, conhecido como modelo individual, e o
NAQ-R. modelo social de deficiência. Segundo o
Contato: Helena Diefenthaeler Christ, PUCRS, modelo médico, a abordagem da defici-
helenachrist@hotmail.com ência fundamenta-se no substrato bioló-
gico do impedimento diagnosticado. Em-
bora doença e saúde possam ter origens
LT03-1275 - DEFICIÊNCIA E POLÍTICAS no ambiente físico e social do indivíduo,
PÚBLICAS: UM ESTUDO SOBRE A é no corpo que a doença está situada e
PERCEPÇÃO DE GESTORES PÚBLICOS E se manifesta. Neste modelo, a deficiência
DEFENSORES DE DIREITOS é considerada como atributo ou caracte-
Liliane Cristina Gonçalves Bernardes - UnB rística pessoal, causados diretamente por
lilicgb@gmail.com infecção, trauma ou outra condição de
Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo saúde, que requer algum tipo de inter-
- UnB venção por parte de profissionais espe-
araujotc@unb.br cialistas que irão “corrigir” ou “compen-
sar” o problema para que o indivíduo se
Historicamente, na organização adminis- adapte à sociedade previamente constru-
trativa do Estado brasileiro, as questões ída e organizada. Em oposição, o modelo
sociais envolvendo pessoas com defici- social foi desenvolvido por pessoas com
ência eram objeto de interesse e ação deficiência, em resposta ao modelo mé-
de setores da assistência social, saúde e dico e ao impacto negativo que este tinha
educação. Porém, nas últimas décadas, tido em suas vidas. Para o modelo social,
houve uma mudança paradigmática e a a deficiência é um produto das barrei-
luta pelos direitos das pessoas com de- ras físicas, organizacionais e atitudinais
ficiência foi deslocada para o campo dos presentes na sociedade e não pode ser
Direitos Humanos. Isso gerou modifica- concebida como conseqüência de limi-
ções no desenho institucional do Estado tações provocadas por uma mera fatali-
e a questão da deficiência passou a ser dade da existência de alguém. No que se
abordada transversalmente por várias refere à temática da deficiência humana,
áreas, estendendo-se para aquelas vol- outros debates se somam aos dilemas e
tadas para o trabalho e emprego, ciência impasses anteriores, tais como: eutaná-
e tecnologia, previdência social, comuni- sia, aborto, infanticídio e alocação de re-
cação, habitação, cultura, esporte, turis- cursos em saúde perpassam o debate e
mo, transporte, arquitetura e urbanismo. afetam a vida de um grande contingente
Sendo assim, são cada vez mais comple- da população. Em nosso país, apesar da
xos os desafios impostos à elaboração, vulnerabilidade social das pessoas com

1208
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

deficiência, constata-se a hegemonia do conhecimentos teóricos e técnicos com o


modelo médico, em detrimento do mo- desenvolvimento de mais estudos sobre
delo social de deficiência. No campo da o assunto. Sendo assim, realizou-se uma
saúde, a prevenção das deficiências por pesquisa de natureza descritiva e explo-
meio de medidas de saúde pública ainda ratória com objetivo geral de conhecer,
recebe atenção e recursos insuficientes. analisar e compreender a percepção de
Quando a eliminação da deficiência não gestores e conselheiros de direitos sobre
é possível por meio de medidas preventi- modelos de deficiência, políticas públicas
vas, a abordagem se volta para o manejo direcionadas a pessoas com deficiência e
da deficiência. Mas, ao invés de aumentar questões bioéticas concernentes. A inves-
o acesso e o controle do indivíduo quanto tigação foi previamente autorizada pelo
ao tipo de ajuda que ele pode vir a pre- Comitê de Ética em Pesquisa da Facul-
cisar, como, por exemplo, equipamentos dade de Ciências da Saúde da Universi-
de tecnologia assistiva, as ações estão dade de Brasília e todos os participantes
voltadas para a dissimulação da deficiên- expressaram sua concordância por meio
cia. Evidentemente, existem políticas vol- da assinatura de um Termo de Consen-
tadas para pessoas com deficiência em timento Livre e Esclarecido. A amostra
situação de pobreza. Quanto à educação, definitiva reuniu 21 gestores públicos e
programas, projetos e ações destinados 29 conselheiros de direitos. A coleta de
aos alunos com deficiência nos sistemas dados foi feita por meio da aplicação pre-
públicos de ensino, são realizados pela sencial, ou pela internet, de um questio-
Secretaria Nacional de Educação Especial. nário composto por 24 enunciados, cujas
Recentemente, foi criada a Secretaria Na- possibilidades de resposta eram: ‘concor-
cional de Promoção dos Direitos da Pes- do’, ‘concordo parcialmente’ ou ‘discor-
soa com Deficiência, no âmbito da Secre- do’. Os dados obtidos foram submetidos
taria de Direitos Humanos da Presidência à análise quantitativa e os resultados indi-
da República. Na administração pública caram que os dois grupos se distinguem.
nacional, os gestores públicos figuram O grupo de conselheiros reuniu 66,7%
como responsáveis, dentre outras ativi- (n=14) participantes do sexo masculino
dades típicas de Estado, pela formulação, e 33,3% (n=7) do sexo feminino; 66,7%
execução e monitoramento de políticas (n=14) informaram ser casado ou viver
públicas. Mas, outros atores participam com companheiro, 19% (n=4) comuni-
da arena decisória das políticas públicas, caram ser solteiro, 14,3% (n=3) divorcia-
dentre eles, os Conselhos de Direitos, os do ou separado. Quanto à escolaridade,
quais muitas vezes buscam o equilíbrio 52,4% (n=11) alcançaram o ensino supe-
na disputa por recursos, defendendo rior, 38,1% (n=8) fizeram pós-graduação
os interesses de minorias. Em síntese, a e 9,5% (n=2) cursaram o ensino médio. A
institucionalização do tema é um refle- subamostra de gestores foi integrada por
xo da crescente relevância das questões 65,5 % (n=19) participantes do sexo mas-
vinculadas à deficiência na esfera pública. culino e 34,5% (n=10) do sexo feminino.
Todavia, permanecem impasses cruciais Em relação ao estado civil, 75,9% (n=22)
diante de uma demanda social em ex- informaram estar casado, 20,7% assina-
pansão. É preciso, portanto, ampliar os laram ‘solteiro’ (n=6) e 3,4% ‘divorciado

1209
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ou separado’ (n=1). Doze conselheiros incidente, a oportunidade de reunião


(57%) afirmaram ter deficiência. Apenas com os envolvidos para expressar seus
um gestor declarou ter deficiência física sentimentos, descrever como foram afe-
ou motora moderada. Dentre os resul- tados e desenvolver um plano para repa-
tados obtidos, destaca-se que, para os rar os danos ou evitar que se repitam. A
conselheiros, a deficiência é uma questão abordagem restaurativa é reintegrado-
social que deve ser compartilhada com o ra e permite que o transgressor repare
restante da sociedade; ao passo que, para danos e não seja mais visto como tal. O
os gestores, trata-se, sobretudo, de uma engajamento cooperativo é elemento es-
tragédia pessoal, circunscrita à esfera in- sencial da justiça restaurativa, que trata
dividual e familiar. Hipotetiza-se, então, de suprir as necessidades emocionais e
que essa visão diferenciada decorre de materiais das vítimas e, ao mesmo tem-
perspectivas diferentes em relação à alo- po, fazer com que o infrator assuma res-
cação dos recursos públicos. Destaca-se, ponsabilidade por seus atos, mediante
também, a importância da vivência da compromissos concretos. É fundamental
deficiência, ou da convivência com pes- salientar que as práticas restaurativas
soas com deficiência, para fundamentar a pressupõem um acordo livre e plenamen-
avaliação da qualidade e a satisfação com te consciente entre as partes envolvidas.
a vida experimentada pelas pessoas com Sem esse consenso, não há alternativa a
deficiência e contribuir para a elaboração não ser recorrer ao procedimento tradi-
de políticas públicas. Recomendam-se es- cional. Portanto, a capacidade da justiça
tudos semelhantes, com amostras mais restaurativa de preencher essas necessi-
abrangentes e diversificadas, assim como dades emocionais e de relacionamento é
a adoção de metodologias qualitativas e o ponto chave para a obtenção e manu-
participativas. tenção de uma sociedade civil saudável,
a qual será responsável, através deste
Palavras-chave: deficiência, políticas públicas, processo, por uma participação ativa de
modelos de deficiência. todos os cidadãos envolvidos, promoven-
Contato: Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira do, desta forma, o efetivo exercício da
de Araujo, UnB, araujotc@unb.br cidadania (Vasconcelos, 2008). A impor-
tância de se aprofundar neste assunto
reside no fato de que cada vez mais au-
LT03-1353 - PERSPECTIVA DE DIRETORES menta o número de violência nas escolas,
DE ESCOLAS PÚBLICAS SOBRE JUSTIÇA sendo que os professores muitas vezes
RESTAURATIVA não estão preparados para enfrentar esta
Letícia Lovato Dellazzana - UFRGS realidade. As escolas públicas em geral
Tatiana Dias Lawrenz - FACCAT parecem estar sendo abandonadas pelos
Paula Grazziotin Silveira Rava - FACCAT usuários e funcionários perante o avanço
da agressividade física e emocional por
A essência da justiça restaurativa é a re- parte de alunos e também dos professo-
solução de problemas de forma colabora- res. A forma de a mídia apresentar o fe-
tiva. Práticas restaurativas proporcionam, nômeno da violência, na medida em que
àqueles que foram prejudicados por um se concentra nos episódios truculentos,

1210
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ou no olhar medroso do grupo de pais método de pesquisa qualitativa e trata-se


em vigília em torno das escolas, impede de um tipo especial de grupo em termos
a realização de uma reflexão séria sobre de seu propósito, tamanho, composição
suas causas, que são múltiplas e, por isso, e dinâmica. Basicamente, o grupo focal
sumamente complexas de serem compre- pode ser considerado uma espécie de en-
endidas (Codo, 1999). O principal objeti- trevista de grupo, embora não no sentido
vo do procedimento restaurativo é o de de ser um processo no qual se alternam
conectar pessoas além dos rótulos nas perguntas do pesquisador e resposta dos
necessidades determinantes e emergen- participantes. Diferentemente, a essência
tes do conflito, de forma a aproximar e do grupo focal consiste justamente em se
corresponsabilizar todos os participantes, apoiar na interação entre seus participan-
com um plano de ações que visa restau- tes para colher dados, a partir de tópicos
rar laços sociais, compensar danos e ge- que são fornecidos pelo pesquisador, no
rar compromissos futuros mais harmôni- caso, o moderador do grupo. Este grupo
cos entre vítima, ofensor e testemunha; foi gravado e transcrito para posterior
desenvolvendo ações construtivas que análise e interpretação, com base no mé-
beneficiem a todos. Sua abordagem tem todo de Análise de Conteúdo de Bardin
o foco nas necessidades determinantes (1977), que é um método que recorre a
e emergentes do conflito, de forma a “indicadores não frequenciais suscetí-
aproximar e corresponsabilizar todos os veis de permitir inferências, sendo que a
participantes (Branchier, 2006). O mes- presença ou ausência pode constituir um
mo autor, Branchier (2006), comenta que índice tanto ou mais frutífero que a frequ-
a justiça restaurativa tem como valores ência da aparição” (Bardin, 1977, p. 114).
fundamentais: participação, respeito, Os resultados mostraram a dificuldade
honestidade, humildade, interconexão, que as diretoras de escolas públicas en-
responsabilidade, empoderamento e es- frentam para resolver os conflitos escola-
perança. Estes valores distinguem a jus- res no dia a dia. Outro aspecto relevante
tiça restaurativa de outras abordagens é a preocupação que as diretoras de esco-
mais tradicionais de justiça como resolu- las públicas sentem em trazer os pais e a
ção de conflitos. A mesma se dá através comunidade para participação mais ativa
do círculo restaurativo. O objetivo deste nas escolas. Pôde-se perceber também
estudo é explorar o entendimento que que o grau de agressividade é preocupan-
diretores de escolas públicas têm sobre te já na educação infantil, tornando-se ur-
a justiça restaurativa, buscando-se, por- gente a elaboração de um projeto como a
tanto, responder o seguinte problema de justiça restaurativa para a resolução dos
pesquisa: qual é a percepção de diretores conflitos escolares. Verificou-se que, em-
das escolas públicas de uma cidade ser- bora já tenham tido algum contato com o
rana do Rio Grande do Sul, sobre justiça tema, a justiça restaurativa ainda é pou-
restaurativa nas escolas? Participaram co conhecido pelas diretoras das escolas
desse estudo quinze diretoras de escolas pesquisadas. As diretoras mostraram um
públicas de uma cidade serrana do Rio grande interesse sobre o tema e a neces-
Grande do Sul. Foi realizado um grupo sidade da realização de futuros projetos
focal, que segundo Morgan (1988), é um tanto nas escolas como na comunidade

1211
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

em geral. As pesquisas relacionadas ao podem favorecer (fatores de proteção)


assunto revelam-se importantes, pois se ou dificultar (fatores de risco) o funcio-
trata de um tema atual e relevante na namento dos indivíduos, especialmente,
nossa sociedade, uma vez que a violên- frente a situações adversas, enfatizando
cia escolar está cada vez mais evidente, as trajetórias e a multiplicidade de variá-
não somente nas escolas, mas na família, veis que concorrem para desfechos diver-
nos grupos de amigos e na comunidade sos (Bee, 1996). Nesse sentido, a investi-
em geral. Sugere-se que sejam realizadas gação acerca desses fatores, que podem
palestras e grupos de estudos sobre jus- se figurar como risco ou proteção ao de-
tiça restaurativa em escolas privadas, já senvolvimento, é importante por permitir
que a violência se manifesta em todas as compreender como eles afetam o modo
classes sociais. de funcionamento e a adaptação do indi-
víduo diante de condições adversas, favo-
Palavras-chave: justiça restaurativa, recendo a vulnerabilidade ou a resiliên-
diretores, escolas públicas. cia (Masten & Gerwitz, 2006). Assim, tal
Contato: Letícia Lovato Dellazzana, UFRGS, perspectiva se propõe a conhecer as difi-
leticiadellazzana@gmail.com culdades que podem ocorrer na trajetória
do desenvolvimento, como condição fun-
damental para que se possa atuar sobre
as mesmas, evitando que os problemas
PO-LT06 se estabeleçam e interfiram no processo
de adaptação do indivíduo (Achenbach,
1992). Dentre as condições reconhecidas
LT06-708 - INDICADORES DE DEPRESSÃO
como de risco biológico ao desenvolvi-
INFANTIL APRESENTADOS POR UMA
mento infantil incluem-se o baixo peso ao
COORTE DE CRIANÇAS, ESTRATIFICADA
nascer e o nascimento em idade gestacio-
PELA ADEQUAÇÃO DO PESO AO NASCER
nal prematura. Considera-se que desvios
À IDADE GESTACIONAL
nesses parâmetros possam comprometer
Claudia Mazzer Rodrigues - FFCLRP/USP os processos normais de desenvolvimen-
claudiamr@usp.br to, além de expor esses bebês a uma ca-
Sonia Regina Loureiro - FMRP/USP deia de adversidades decorrentes destas
srlourei@fmrp.usp.br condições (Klein & Linhares, 2006). Nota-
Financiamento: FAPESP, CNPq -se, na literatura, a predominância de es-
tudos que se ocupam dos efeitos do baixo
Dentre as diversas abordagens que se peso ao nascer e da prematuridade sobre
ocupam do estudo do desenvolvimento os aspectos comportamentais, cognitivos
humano, a psicopatologia do desenvol- e emocionais, utilizando de modo inde-
vimento se caracteriza por focalizar as pendente os seguintes critérios de inclu-
condições de vulnerabilidade e proteção são: peso ao nascer e idade gestacional
aos processos básicos de adaptação do da criança. Contudo, mais recentemente,
indivíduo, se ocupando das trajetórias alguns estudos têm utilizado como crité-
do desenvolvimento típico e atípico. Sob rio de inclusão uma medida combinada
tal perspectiva, focaliza os fatores que que relaciona as variáveis: peso ao nas-

1212
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

cer e idade gestacional, tendo por base to “Pequeno para a Idade Gestacional”
a curva de crescimento intra-uterino, (PIG) apresentariam, na idade escolar,
como parâmetro de adequação do peso mais indicadores de depressão infantil.
ao nascer à idade gestacional. Diversas Objetivou-se comparar os indicadores de
curvas têm sido propostas e, dentre es- depressão infantil avaliados em uma co-
sas, inclui-se a curva de Alexander, Himes, orte de crianças em idade escolar, estrati-
Kaufman, Mor e Kogan (1996), em que as ficada pela adequação do peso ao nascer
crianças são classificadas, de acordo com à idade gestacional. Foram avaliados 665
os ajustes do peso ao nascer em relação escolares, com 10 e 11 anos de idade, de
à idade gestacional, da seguinte forma: ambos os sexos, nascidos em 1994 em
“Pequena para a Idade Gestacional” (PIG) Ribeirão Preto-SP. Os participantes foram
- abaixo do percentil 10; “Adequadas para classificados conforme a curva de peso ao
a Idade Gestacional” (AIG) - entre os per- nascer em relação à idade gestacional de
centis 10 e 90; e “Grandes para a Idade Alexander et al (1996), sendo distribuídos
Gestacional” (GIG) - acima do percentil em três grupos: PIG- 136 crianças nasci-
90. Estudos evidenciam que crianças nas- das pequenas para a idade gestacional,
cidas pequenas para a idade gestacional AIG- 485 crianças nascidas adequadas
(PIG) apresentam maior risco de déficit para a idade gestacional e GIG- 44 crian-
cognitivo e problemas comportamentais ças nascidas grandes para a idade gesta-
ao longo da infância e adolescência (Bear, cional. O estudo foi aprovado pelo Comi-
2004; O’Keeffe et al, 2003; Pryor, Silva, tê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP
Brooke, 1995). Porém, o risco para o de- e as participações ocorreram mediante
senvolvimento de problemas emocionais, assinatura do Termo de Consentimento
como a depressão infantil, ainda é pou- Livre e Esclarecido pelos pais ou respon-
co pesquisado. Ademais, no Brasil, pes- sáveis. Procedeu-se a avaliação dos indi-
quisas voltadas para a identificação dos cadores de depressão infantil por meio
efeitos psicológicos de vulnerabilidade do Inventário de Depressão Infantil-CDI,
biológica ao nascer, especialmente, aque- respondido pelas crianças. Tal instrumen-
les relacionados ao seguimento a médio to, elaborado por Kóvacs (1983), foi adap-
e longo prazo, são escassos (Linhares et tado e normatizado para o contexto brasi-
al, 2005). Ressalta-se que investigações leiro por Gouveia et al. (1995) e validado
realizadas com crianças em período esco- para Ribeirão Preto por Hallak (2001).
lar são consideradas relevantes, uma vez Para obtenção de informações referentes
que este consiste em um período de gran- às condições clínicas, à idade gestacional
des demandas e desafios para a criança, e o peso ao nascer, utilizou-se dos dados
com exigências de produtividade e rea- dos prontuários das crianças por ocasião
lizações que se expressam pelo desem- do nascimento e os pais responderam a
penho acadêmico e pela socialização em um questionário sobre as condições só-
contexto social diverso ao ambiente fa- cio-econômicas da família. Os dados re-
miliar (Linhares, Bordin, Carvalho, 2004). ferentes aos indicadores emocionais ob-
Nesse contexto, definiu-se como hipó- tidos pelo CDI foram codificados confor-
tese norteadora do estudo que crianças me as proposições técnicas, adotando-se
expostas ao risco biológico do nascimen- como nota de corte do escore total a pon-

1213
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tuação igual ou superior a 17, como indi- LT06-724 - REPERCUSSÕES DA


cadora de provável depressão infantil. Os DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA
grupos foram comparados pelo teste Qui- Grace Hossni Sarkis - FMU
-Quadrado, adotando-se p<0,05. Foi veri- grace.sarkis@gmail.com
ficada uma taxa de 13,2% de indicadores Gabriela Lara da Cruz Lucas - FMU
de depressão infantil para crianças PIG, gabilcl@hotmail.com
enquanto a taxa em AIG foi de 5,8% e em Luana Ariga Regis Coelho - FMU
GIG não foram encontradas crianças com luan_arc@yahoo.com.br
tais indicadores e, no total, verificou-se Vanessa Mendonça Lima Borba - FMU
que 7% das crianças apresentaram indi- vmlima@gmail.com
cadores de depressão infantil. Constatou-
-se que os indicadores de sintomatologia
Segundo o Estatuto da Criança e do Ado-
depressiva foram significativamente mais
lescente (ECA), a adolescência é o perío-
freqüentes no grupo de crianças nascidas
do que compreende a faixa etária de doze
PIG, em comparação aos grupos de crian-
a dezoito anos: Art. 2º, “Considera-se
ças nascidas AIG e GIG (p=0,002). Portan-
criança, para efeitos dessa Lei, a pessoa
to, confirmou-se a hipótese de associação
até doze anos de idade incompletos, e o
entre a vulnerabilidade biológica relativa
adolescente aquela entre doze e dezoito
ao nascimento PIG e a suscetibilidade à
anos de idade.” Nessa fase, o adolescente
depressão infantil, na idade escolar. Tais
vivencia diversas situações, possivelmen-
achados sugerem que crianças nascidas
te, desencadeantes de comportamentos
PIG apresentam desvantagens em rela-
ção a indicadores emocionais, quando conflitantes e até patológicos, tais como:
comparadas com seus pares. Evidencia-se gravidez precoce, uso de drogas lícitas
a importância de investigações longitudi- ou ilícitas, conflitos familiares, bullying,
nais acerca de indicadores emocionais de transtornos alimentares e a depressão
crianças em condições de vulnerabilidade propriamente dita, que poderá surgir por
biológica ao nascer considerando-se, de questões orgânicas, ou seja, as mudanças
acordo com a perspectiva da psicopatolo- hormonais devido à puberdade e, tam-
gia do desenvolvimento, a importância da bém, por influências sociais. A depressão,
identificação de dificuldades e recursos, segundo Holmes (2001), enquadra-se na-
de modo a contribuir para a proposição quilo que se entende por transtornos de
de medidas preventivas e terapêuticas humor. A depressão envolve um aumento
voltadas para a promoção do desenvolvi- no nível de energia, de modo que até as
mento e da saúde mental infantil. tarefas mais comuns possam parecer mui-
to difíceis e, algumas vezes, impossíveis
Palavras-chave: recém-nascido pequeno para de serem realizadas. É importante distin-
idade gestacional, fatores de risco, depressão guir a depressão normal, que poderá ser
infantil vivida por todos os indivíduos (tristeza,
Contato: Claudia Mazzer Rodrigues, pesar, etc), da depressão mais profunda e
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de prolongada do que o justificado pela cau-
Ribeirão Preto – USP, claudiamr@usp.br sa original. As estatísticas da Organização
Mundial de Saúde (apud Monteiro & Lage,

1214
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

2007) resultam em dados alarmantes que rada como imprescindível aos estudos
estimam, para as próximas duas décadas, psicanalíticos acerca da depressão, assim
um aumento considerável para o número como a posição depressiva teorizada por
de novos deprimidos. Em 2020, por exem- Klein contribui para a compreensão do
plo, a depressão representará a segunda funcionamento psíquico do depressivo.
afecção que mais perpassará os anos de Teóricos mais atuais, que buscam enten-
vida útil da população mundial, poden- der as correlações entre a depressão e o
do ultrapassar o número de afetados por adolescente contemporâneo, entre eles,
doenças cardiovasculares. Atualmente, é o psiquiatra e psicanalista de crianças e
relacionada como a quarta causa mundial adolescentes, Guillermo Carvajal (1998),
de deficiência e o segundo lugar na faixa também foram abordados neste traba-
etária compreendida entre 15 a 44 anos, lho. É interessante definir depressão, a
podendo se tornar um problema crônico fim de esclarecer a complexidade diag-
ou recorrente que venha a impossibilitar nóstica, já que se assiste, na atualidade,
o sujeito de cuidar de si mesmo e de suas certa confusão entre sofrimento psíquico,
atividades diárias. Dessa forma, este tra- luto e depressão, levando a diagnósticos
balho tem como objetivo correlacionar o precipitados de um quadro depressivo.
período da adolescência e a depressão, Carvajal (2001) tece distinções importan-
avaliando as causas e as repercussões da tes entre mudança, perda e luto patoló-
depressão na adolescência, além de le- gico; este último, segundo o autor pode,
vantar algumas contribuições de teóricos de fato, levar ao estado depressivo. As
da Psicanálise sobre o tema. A metodolo- mudanças no púbere são, muitas vezes,
gia utilizada nesta pesquisa foi de levanta- intencionais e saudáveis, desmistificando
mento bibliográfico e o referencial teórico a ideia de que todo adolescente sofre um
que dá corpo a este trabalho constitui-se luto doloroso na passagem da infância
de autores da Psicologia do Desenvolvi- para a adolescência. O que pode ocor-
mento, autores consagrados da Psicaná- rer, em termos de patologia, segundo o
lise e da Psiquiatria, além de estudos atu- autor, seriam lutos mal elaborados: (a)
ais difundidos em sites como o do Scielo. “luto por identificação” devido à identi-
Partindo do entrecruzamento entre os ficação inconsciente com o luto dos pais
clássicos da Psicanálise (Freud; Klein), a que não aceitam “a perda de seu bebê”;
interface entre a Psicanálise e a Psiquia- (b) “luto patológico por regressão”, quan-
tria (Zimerman; Carvajal) e autores da do o adolescente tem dificuldade de lidar
Psicologia do Desenvolvimento (Berger; com as mudanças de seus esquemas cor-
Papalia & Olds), este trabalho procurou porais; (c) “lutos infantis mal elaborados
conceituar Depressão e Adolescência, a da infância” que são caracterizados por
fim de compreender as repercussões do conflitos infantis que emergem na adoles-
quadro clínico da Depressão na Adoles- cência; (d) “luto parental”, que consiste
cência. Recorreu-se a autores clássicos em identificações negativas dos pais, que
como Freud (1917) e Klein (1921-1945). vêem no filho o espelho de seu envelhe-
A frase conhecida de Freud acerca dos cimento e a possibilidade de morte, le-
estados melancólicos, “a sombra do ob- vando à inveja do corpo do adolescente,
jeto recai sobre o ego”, ainda é conside- negação do crescimento deste, ocupação

1215
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

do seu lugar adolescente, assim com a Palavras-chave: adolescência, depressão,


extensão edípica que se dá na dupla: in- desenvolvimento humano
fantilização e erotização dos filhos. As re- Contato: Grace Hossni Sarkis, Complexo
percussões da depressão na adolescência Educacional FMU, grace.sarkis@gmail.com
são inúmeras; o jovem pode manifestar
irritabilidade, instabilidade, humor depri-
mido, perda de energia, desmotivação e LT06-728 - ESTRESSORES FAMILIARES
desinteresse, retardo psicomotor, senti- DE CRIANÇAS QUE CONVIVEM COM A
mentos de desesperança, culpa, altera- DEPRESSÃO MATERNA
ções do sono, isolamento, dificuldade de Isabela Mendes Vilanova e Silva - USP
concentração, prejuízo no desempenho isabelamendesesilva@hotmail.com
escolar, baixa autoestima, ideação, com- Fernanda Aguiar Pizeta - USP
portamentos suicidas e agressividade. Os fepizeta@usp.br
quadros polimórficos podem estar acom- Sonia Regina Loureiro - USP
panhados de distúrbios psicossomáticos, srlourei@fmrp.usp.br
alterações de peso e do comportamento Financiamento: CNPq e CAPES
alimentar, falta de reatividade, anedonia
e fadiga (Bahls, 2002). Considerando o A Psicopatologia do Desenvolvimento
quadro exposto, este trabalho ressalta a configura-se como um modelo da ação
importância do conhecimento e reconhe- humana e da ação social, que respeita a
cimento das repercussões da depressão complexidade de ambas. Baseia-se no
na adolescência, para um possível enca- pressuposto de que, através do estudo
minhamento do tratamento terapêutico do ambiente, obtém-se uma melhor com-
e, quando necessário, psiquiátrico, assim preensão do individual e, por meio do
como a necessidade de diagnóstico clíni- estudo do indivíduo, tem-se uma melhor
co eficaz, já que a depressão consiste em compreensão do ambiente. Isto evidencia
um quadro patológico específico e que, a relação mútua que se estabelece entre
por sua vez, requisita tratamento próprio. esses campos de pesquisa e a complexi-
Nesta pesquisa, procurou-se compreen- dade do desenvolvimento humano. Com
der o fenômeno da depressão no con- base nessa perspectiva, a partir da década
texto da adolescência e pode-se concluir de 1980, começaram a surgir estudos, vol-
que esse fenômeno é mais recorrente do tados para a compreensão de condições
que se imagina nessa fase da vida, devido favorecedoras tanto o desenvolvimento
tanto a fatores sociais, que estão presen- de competências quanto de dificuldades,
tes na dinâmica do jovem, quanto a uma com ênfase para a utilização de conceitos
série de lutos que devem ser elaborados como resiliência, vulnerabilidade e risco.
pelo adolescente. Há, ainda, questões Dentre tais condições, destaca-se a de-
hormonais envolvidas, devido ao desen- pressão materna, que vem sendo identi-
volvimento biológico. Portanto, pode-se ficada como condição de risco ao desen-
afirmar que nessa fase de transição para volvimento infantil e pode estar associada
a vida adulta, há uma série de contingên- a outros eventos estressores e a fatores
cias multifatoriais, determinantes para o de proteção, que interagem de forma a
desencadeamento da patologia. interferir no comportamento das crianças.

1216
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Dessa forma, ressalta-se que nem todas as sócio-demográficos; e (d) Entrevista com
crianças que convivem com mães depres- Roteiro Semiestruturado, elaborado para
sivas apresentam, necessariamente, pro- as finalidades do estudo e relativo à per-
blemas de adaptação, observando-se uma cepção sobre os estressores e a rede de
grande variedade de trajetórias desenvol- apoio social. As crianças responderam aos
vimentais. Contudo, estudos indicam que testes: (a) Matrizes Progressivas Coloridas
desfechos negativos podem estar associa- de Raven, para avaliação do nível intelec-
dos à presença de um maior número de tual e (b) Teste do Desempenho Escolar,
estressores associados à depressão ma- para a avaliação do desempenho acadêmi-
terna e de maior cronicidade de tais even- co. Procedeu-se às avaliações em sessões
tos. Neste estudo, objetivou-se caracteri- individuais, face a face; os dados foram
zar as condições contextuais do ambiente quantificados e os grupos, comparados
de famílias que convivem com a depres- (p<0,05), em relação aos estressores do
são materna recorrente, identificando os ambiente familiar de crianças com e sem
principais estressores atuais e crônicos, dificuldades de socialização. Os instru-
segundo a percepção das mães. Foram mentos psicométricos foram codificados
avaliadas 40 díades mãe-criança, distribu- conforme as normas. As entrevistas foram
ídas em dois grupos, a saber, G1 (25 crian- transcritas, categorizadas e submetidas à
ças com dificuldades de socialização) e G2 concordância quanto à classificação. Fo-
(15 crianças com indicadores positivos de ram pontuadas quanto à presença ou au-
socialização). Incluíram-se crianças de am- sência de estressores e eventos adversos,
bos os sexos, na faixa etária de sete a 12 relativos a: (a) o contexto geral do ambien-
anos, cujas mães biológicas apresentavam te familiar; (b) doenças, perdas e organi-
diagnóstico psiquiátrico confirmado de zação familiar; (c) interações familiares e
Depressão Recorrente, com episódios mo- práticas educativas; e (d) problemas de
derados ou graves nos últimos dois anos saúde e de comportamento das crianças.
e sem sintomas nos seis meses anteriores Com relação ao perfil sócio-demográfico,
à coleta de dados. As mães responderam não foram observadas diferenças estatisti-
aos seguintes instrumentos: (a) Entrevista camente significativas quanto às variáveis:
Clínica Estruturada para o DMS-IV - visa a ocupação, estado civil, número de filhos e
confirmação do diagnóstico de Depressão; classificação socioeconômica, idade e es-
(b) Questionário de Capacidades e Dificul- colaridade das crianças. Considerando-se
dades (SDQ) - relativo ao comportamento a amostra total, evidenciou-se como perfil
da criança; (c) Escala de Eventos Adversos predominante de mães casadas, com até
e Escala de Adversidade Crônica que vi- três filhos, trabalhadoras assalariadas e
sam, respectivamente, identificar eventos da Classe C, de acordo com os critérios
adversos que podem ter ocorrido na vida de classificação econômica e crianças na
da criança, abrangendo três domínios: faixa entre 10 e 12 anos, 55% cursando
vida escolar, vida familiar e vida pessoal e os primeiros quatro anos do Ensino Fun-
eventos adversos que podem ter ocorrido damental. Os indicadores de socialização,
na vida da criança, com duração ou ocor- avaliados por técnicas específicas, aponta-
rência repetida por um ano ou mais; (c) ram 64% das crianças com dificuldades es-
Questionário Geral – relativo aos aspectos colares e 72% com problemas de compor-

1217
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tamento. A análise dos eventos estresso- estas crianças e famílias; neste sentido,
res sinalizou, com diferença significativa, a são necessários mais estudos. Tais dados
presença de maior número de estressores evidenciam a necessidade de práticas de
em G1 em comparação ao G2, expresso saúde mental que levem em conta a multi-
por: (a) um número total de eventos es- plicidade de estressores, os quais concor-
tressores (G1=69,2%; G2=30,8%); (b) pre- rem para os desfechos comportamentais
sença de maior número de estressores das crianças expostas a condições adver-
relativos ao contexto geral do ambiente sas, como a depressão materna.
familiar, caracterizados por dificuldades fi-
nanceiras, inclusão de membros estranhos Palavras-chave: depressão, estressores,
no lar e mudanças de cidade, residência, comportamento.
bairro ou escola (G1=66,3%; G2=33,7%); Contato: Isabela Mendes Vilanova e
(c) doenças, perdas e organização fami- Silva, Universidade de São Paulo – USP,
liar (G1=66,2%; G2=33,8%); (d) interações isabelamendesesilva@hotmail.com
familiares e práticas educativas expressas
por conflitos conjugais e familiares, sepa-
ração e recasamento, práticas educativas LT06-993 - TECENDO HISTÓRIAS DE
negativas e violência no lar (G1=69,9%; VIDA: VIVÊNCIA COM MULHERES
G1=30,1%); e (e) problemas de saúde e de ARTESÃS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA
comportamento das crianças (G1=74,0%; ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)
26,0%). Na comparação dos estressores Roxane Mangueira Sales - UNIFOR
crônicos, verificou-se a presença, com roxane_mangueira@hotmail.com
significância estatística, de mais adversi- Nara Maria Forte Diogo Rocha - UFC
dades crônicas no ambiente familiar das naradiogo@hotmail.com
crianças de G1 em relação às de G2. Cons- Márcio Silva Gondim - FANOR
tatou-se que, além da depressão mater- mgondim@fanor.edu.br
na - adversidade reconhecida e condição
de inclusão no estudo - as famílias estão O Centro de Referência da Assistência So-
expostas a um extenso número de estres- cial (CRAS) é um serviço público de prote-
sores; alguns, inclusive, de gravidade com- ção social básica, cuja atuação ocorre na
parável à psicopatologia materna, o que, perspectiva da prevenção de situações
possivelmente, concorre para as dificul- de risco. Localiza-se em territórios onde
dades observadas. A presença de mais es- há presença de vulnerabilidades sociais,
tressores no ambiente familiar de crianças enfocando a família e os vínculos comuni-
com dificuldades de socialização chama a tários (Ministério do Desenvolvimento So-
atenção para o efeito potencializador dos cial e Combate à Fome, 2006). Portanto,
riscos, concorrendo para tal desfecho ne- seu objetivo concerne à responsabilidade
gativo. Por outro lado, a presença de um pela execução de serviços, programas e
menor número de estressores no ambien- projetos que potencializem a família como
te familiar das crianças sem dificuldade de unidade de referência, reconhecendo a
socialização chama a atenção para a pre- diversidade sócio-cultural e referendando
sença de fatores protetores, que podem particularidades do grupo social em que
estar funcionando como suporte para está inserido. Sua ação fortalece os víncu-

1218
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

los entre a população e o seu contexto co- extrema pobreza. Os encontros ocorriam
munitário, articulando-os. O objetivo des- duas vezes por semana; no primeiro deles,
te estudo é o de relatar uma experiência as mulheres recebiam um kit com linhas
com arte-terapia, realizada com um “Gru- e agulhas de crochê e, no outro dia, rea-
po de mulheres artesãs” do CRAS, para lizavam-se rodas de conversa e vivências
compreender a “eficácia percebida” pela arte-terapêuticas. Para a coleta de dados,
população participante. De janeiro a de- utilizaram-se as descrições semanais dos
zembro de 2006, esta pesquisa qualitativa grupos, que eram transcritas após sua
e antropológica foi realizada no contexto realização. Além disso, foi feita uma en-
do CRAS do município de Itarema/Ceará, trevista aberta, com o objetivo de avaliar
cidade de origem indígena com 37462 mil como as participantes percebiam o efeito
habitantes e localizada a 220 km da cidade do grupo na sua situação de vida. A aná-
de Fortaleza. O nome Itarema vem do tupi lise dos dados ocorreu através da análise
guarani e significa “pedra de cheiro agra- de conteúdo temática de Bardin, método
dável” ou “pedra cheirosa” e associa-se que consiste em descobrir os núcleos de
ao nome dado à localidade pelos índios, sentido que compõem a comunicação, e
por causa de uma pedra com forma de cuja presença ou freqüência de aparição
obelisco em alto mar e que só era visível pode significar algo para o objetivo analí-
em maré baixa. Entre os procedimentos tico escolhido (Bardin, 1979). A interpre-
adotados para a formação do grupo, re- tação transcorreu à luz da antropologia
alizou-se uma “cartografia” da população interpretativa. O sigilo e o anonimato dos
de Itarema em parceria com a Secretaria informantes foram garantidos - portanto,
de Ação Social (SAS) do Município (carto- os nomes citados são fictícios - tendo sido
grafar é conhecer paisagens e capturar in- assinado o Termo de Consentimento Livre
tensidades em que se registram os encon- e Esclarecido, de acordo com Resolução
tros). Identificou-se, com isto, um grande nº. 196/96 do CNS/Ministério da Saúde,
índice de desemprego e alto percentual Brasil. Como parte dos resultados, com a
de mulheres donas de casa, em situação intenção de conhecer as singularidades
de risco, que utilizavam o artesanato (cro- e o cotidiano do CRAS, foram encontra-
chê) como fonte de renda e “passatempo”, das especificidades e semelhanças nos
enquanto muitos homens viviam da pes- discursos dessas mulheres; tais discursos
ca. Foram abertas inscrições para àquelas foram divididos nas seguintes categorias,
mulheres que estivessem interessadas as quais serão ilustradas com falas das
em participar do grupo de artesãs, que participantes: 1. Soltando o novelo de lã:
funcionaria em parceria com a SAS, com proseando entre amigas: “aqui nós fala de
o número máximo de 30 participantes, tudo um pouco, dos menino, dá risada a
que tivessem entre 15 e 65 anos de idade. baita, fala dos homens, de tudinho... pa-
O grupo foi conduzido por três profissio- rece até que nós se conhece mais aqui do
nais: assistente social, educadora física e que antes de todo mundo se juntar”; 2.
psicóloga e composto por 30 mulheres de Melhorando habilidades: desenvolvendo
diversas faixas etárias, com idades entre a arte com as linhas e com a vida: Ruth,
17 a 65 anos; a maioria, com baixo grau 42 anos, revela que se sentia insegura com
de escolaridade e vivendo em situação de suas habilidades e pôde compartilhar que

1219
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

as colegas sentiam o mesmo: “Daí os cur- LT06-1010 - AS CONDIÇÕES SÓCIO-


sos ajuda a gente a melhorar a nossa qua- FAMILIARES DE CRIANÇAS ACOLHIDAS
lidade, vejo que a bichinha da Maria tam- EM ESPAÇO INSTITUCIONAL
bém nem enxerga direito, não sou só eu. Érica Luana Carneiro Góes - FASS/UFPA
Com os cursos e a arte que a gente faz pra erica.goes17@gmail.com
relaxar, o fechar os olhos pra relaxar, eita Djane Cristina Ribeiro de Araújo - FASS/UFPA
é bom demais, saio feliz”; 3: Desfiando o djanecris@yahoo.com.br
sofrimento: o compartilhar de vivências Lília Iêda Chaves Cavalcante - PPGTPC/UFPA
intersubjetivas. Maria, muito cabisbaixa liliaccavalcante@gmail.com
nas atividades, passa a compartilhar sua Celina Maria Colino Magalhães - PPGTPC/UFPA
história, mobilizando as outras a fazerem celina.magalhaes@pesquisador.cnpq.br
o mesmo; 4. “Melhorando a autoestima e
capacidade laborativa”: Joana e as demais, Financiamento: CNPq
com o passar do tempo, construíram uma
intimidade, onde era visível até por suas Estudos referentes às condições sócio-
aparências físicas, um aprimoramento do -familiares de crianças institucionalizadas
autocuidado, como se sentiam melhores apontam para diferentes aspectos presen-
com seu corpo: “Quando a gente dança e tes no cotidiano de suas famílias, que vão
faz relaxar, como tu diz aí, ‘boli’ o corpo desde a privação material - sendo precá-
vem tudo, tudo pra fora, fica leve, chega rias as condições de moradia, de alimen-
em casa e concentra melhor.” Conclui-se tação e higiene - perpassando, também,
que o trabalho do grupo de mulheres com pela privação afetiva, na qual os vínculos
arteterapia, que ocorreu de modo integra- estão ameaçados ou já foram rompidos.
do e de forma interdisciplinar com os de- Este processo deriva de fatores internos,
mais profissionais do CRAS (assistente so- presentes nas relações pessoais e exter-
cial e educador físico), foi percebido pelas nos, no que diz respeito à vulnerabilidade
mulheres artesãs como geradores de um social e econômica colocadas às famílias.
“bem viver” (qualidade de vida), trazendo Usualmente, as crianças estão expostas
melhorias tanto na autoestima como na a problemas relacionados à pobreza e à
capacidade laborativa de cada uma delas. precariedade da renda, principalmente,
Percebe-se, no entanto, a necessidade de dos pais, como a fome, a desnutrição, a
consolidação da articulação da rede sócio- mortalidade infantil, entre outros. A litera-
-assistencial, uma vez que mesmo com tura que aborda essa temática se remete à
toda regulamentação política do CRAS e construção histórica de que a criança não
das políticas públicas, ainda é árdua a ta- era percebida pelos responsáveis familia-
refa de articulação dos trabalhos desen- res enquanto um ser em desenvolvimen-
volvidos pelos diversos profissionais. to; ela era vista, apenas, como incapaz.
Assim, acolher em instituição significava
Palavras-chave: arteterapia, diversidade recolher os enjeitados, aquelas crianças
cultural, qualidade de vida que não eram bem quistas pela sociedade,
Contato: Roxane Mangueira Sales, bem como por sua família. Este trabalho
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) debate aspectos relacionados às condi-
roxane_mangueira@hotmail.com ções sócio-familiares de crianças cuidadas

1220
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

em uma instituição de abrigo, localizada -las sob os seus cuidados. No que se refe-
na Região Metropolitana de Belém, atra- re à pessoa de referência na família, em
vés de estudo comparativo entre os anos 63,46% do universo pesquisado, havia a
de 2004 e 2009, ressaltando as principais presença do pai ou da mãe ou de ambos;
mudanças ocorridas após cinco anos do em 38,56% dos casos, a criança estava sob
primeiro levantamento. Os dados foram o convívio dos pais, ora sob os cuidados
coletados utilizando o instrumento adap- da mãe (23,3%) ora do pai (1,6%). Ao se
tado por Cavalcante (2008), retirando as comparar com a pesquisa precedente,
informações dos prontuários das crianças observou-se que houve um acréscimo sig-
e das fichas de atendimento médico. As nificativo na variável que mostrou o per-
respostas aos formulários foram analisa- centual de convívio com os pais, passando
das com base nas categorias de caracteri- de 13,24% em 2004 para 38,56% em 2009,
zação das crianças, criadas por Cavalcante, o que pode estar ligado ao maior número
referentes ao ano de 2009, comparando- de casamentos civis realizados nos últi-
-os com outros 287 já analisados em 2004, mos anos em todo o país. Outra discussão
sendo utilizado o mesmo formulário em relevante é o reconhecimento da paterni-
ambas as pesquisas. No período de 2009- dade no registro civil, sendo que na atual
2010 foram preenchidos 249 formulários. pesquisa esse percentual foi de 46,58%,
Os principais resultados indicam uma di- havendo um ligeiro aumento nesse reco-
minuição no número de ingressos, quando nhecimento, ao se tomar por base a aná-
comparados os anos 2004 e 2009 com 287 lise anterior (43,91%). Contudo, houve
e 249, respectivamente. Na atual pesqui- um acréscimo no número de crianças que
sa, constatou-se que há um predomínio não possuíam a paternidade reconhecida,
da população de sexo masculino (54,62%) passando de 28,57% para 34,94%. Já em
sobre o feminino (45,38%), diferentemen- relação à idade, notou-se que a maioria
te da pesquisa realizada em 2004, na qual das mães possuía idades entre dezenove
havia uma ligeira prevalência do sexo fe- e trinta anos (58,24%), mesma faixa etária
minino (51,22%). Observou-se, ainda, que na qual se encontrava a maioria dos pais
a maioria das crianças que deu entrada (15,26%). Ao se referir à escolaridade dos
nesse espaço de acolhimento encontrava- pais, percebeu-se que, em mais da meta-
-se no segundo ano de vida (18,88%). Ao de dos casos (51,81%), a mãe possuía o
se tomar como base as faixas etárias de ensino fundamental incompleto, nível de
dois a quatro anos, percebeu-se um acrés- escolaridade no qual também prevaleceu
cimo nesse percentual, o qual passou a o percentual entre os pais (12,86%), de-
ser de 53,83%. Dado este que se distan- monstrando a baixa escolaridade na qual
cia do estudo anterior, o qual demonstrou os pais dessas crianças se encontravam,
que 34,84% das crianças se encontravam o que, muitas vezes, estaria dificultando
no primeiro ano de vida, no momento o acesso a bons empregos, para que os
em que foram acolhidas. Isto pode estar mesmos pudessem garantir o sustento
associado a um maior cuidado que as fa- dos filhos, o que poderia estar associado
mílias estariam despendendo às crianças a própria condição de pobreza na qual se
nas primeiras etapas do desenvolvimento, situavam a maioria das famílias dos aco-
assim como uma maior busca para mantê- lhidos. Ressaltando, ainda, que as mães

1221
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de grande parte dos sujeitos pesquisados Palavras-chave: condições sócio-familiares,


não exerciam nenhum tipo de atividade acolhimento institucional, desenvolvimento
remunerada (35,34%), o que deve estar infantil
ligado ao fato de muitas mães ainda exer- Contato: Érica Luana Carneiro Góes – FASS/
cerem apenas o papel de dona de casa; UFPA – erica.goes17@gmail.com
nesses casos, somente o homem traba-
lhava fora, alcançando um percentual de
27,72%, incluindo o trabalho informal. LT06-1031 - ATOS SUICIDAS: VIDA E
Muitas pesquisas indicam que as situa- MORTE PELO TESTE ZULLIGER
ções de miséria e pobreza levam os pais Luana Gasparetto Fontanella - Fundação
a maltratarem e abandonarem seus filhos, Hospitalar Santa Terezinha, Erechim/RS,
deixando-os vulneráveis à institucionaliza- luluzinhagf@erechim.com.br
ção. Logo, essas condições de pobreza le- Silvana Alba Scortegagna - UPF/RS
vam-nos a se omitirem e falharem no cui- silvanalba@upf.br
dado e atenção aos filhos, desencadeando
várias situações que afetam diferentes ní- As tentativas de suicídio compreendem
veis do desenvolvimento infantil. Assim, a todos os atos pelos quais um indivíduo
família não é somente responsável pelos causa lesão a si mesmo, independente-
cuidados diários, mas, também, deve ser mente do grau de intenção letal e da sua
fonte de estímulos e estabilidade emocio- motivação. Estima-se que ocorram entre 8
nal, além de propiciar meios para o pleno a 10 tentativas de suicídio para cada morte
desenvolvimento da criança, o que pode consumada. As situações podem emergir
estar comprometido devido ao risco e à de forma mais sutil, a partir de pensamen-
degradação humana que são advindas da tos de autodestruição, tornando-se mais
pobreza. Essa análise de resultados admi- graves por ameaças, gestos, tentativas de
te concluir que a família exerce um papel suicídio e finalmente, o suicídio. Verifica-
fundamental para o desenvolvimento das -se que apenas um quarto dos pacientes
crianças. Pontos importantes são discu- que tentam suicídio quer, realmente,
tidos a partir do modelo bioecológico de morrer. Embora isso não seja admitido
Bronfenbrenner (1996) permitindo, assim, em uma parcela dos casos, o comporta-
compreender aspectos sociais, econômi- mento suicida parece querer alterar uma
cos e culturais que envolvem a família e o situação de desadaptação e sofrimento,
espaço de acolhimento enquanto contex- e influenciar pessoas significativas. Nessa
tos de desenvolvimento. A idéia é cons- perspectiva, pode ser considerado como
truir uma série histórica que possa moni- um grito de socorro, que busca provocar
torar a evolução de aspectos implicados um movimento de apoio e reestruturação
na institucionalização, se são mais meni- familiar ou que, em contrário, pode inci-
nos e meninas os acolhidos, em que idade tar mais hostilidade e agressão de pesso-
isso ocorre, dentre outras categorias e, a as próximas e da equipe de assistência. É
partir desse estudo, contribuir para a apli- importante considerar que esse fenôme-
cação de políticas públicas na garantia dos no não se resume a um ato de impulsão
direitos tanto das crianças institucionaliza- incidental, inexplicável ou lógico, mas, a
das como de seus familiares. algo que deve ser compreendido como

1222
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

manifestações conscientes ou inconscien- várias tentativas de suicídio, os fatores de


tes das tendências de vida-morte, a saber: risco relacionados e a validade do Zulli-
o desejo de matar, o desejo de ser morto ger nesse contexto. Foram participantes
e o desejo de morrer. Desse modo, pode duas mulheres, de 41 e 47 anos de idade,
decorrer de uma série de fatores ineren- divorciadas, auxiliares de serviços gerais
tes a cada pessoa e ao seu contexto de e de indústria, com Ensino Fundamental
vida, manifestando-se não só em um ato e Médio, respectivamente. Utilizaram-se
suicida, mas, em outros comportamentos como critérios de inclusão: (a) tentativas
autodestrutivos de menor ou maior letali- de suicídio anteriores; (b) hospitalização,
dade. Tentativas de menor letalidade são em decorrência da tentativa de suicídio,
cometidas por mulheres; são elas, tam- em um período de no mínimo três dias; (c)
bém, que procuram mais ajuda. Os ho- não fazer uso de medicações que pudes-
mens, em contrário, fazem tentativas mais sem interferir na fidedignidade dos acha-
letais e, menos frequentemente, procu- dos. Como instrumentos utilizaram-se a
ram ajuda psicológica. Em ambos os ca- entrevista clínica semiestrutura e o teste
sos, os principais fatores psicossociais de Zulliger no Sistema Compreensivo ZSC.
risco são: nível socioeconômico e de edu- Os dados foram analisados quanti e qua-
cação baixos, dinâmica familiar conturba- litativamente, trazendo elementos sobre a
da, experiências adversas ou traumáticas, leitura da realidade, defesas psicológicas,
baixa autoestima, falta de controle da autopercepção, percepção interpessoal e
impulsividade e da agressividade, humor história de vida. A entrevista semiestrutu-
lábil. Entre as perturbações mentais mais rada revelou que o Caso “A”, de 41 anos, é
evidentes encontram-se os transtornos divorciada, mas vive, atualmente, com um
borderline, a esquizofrenia, a dependên- companheiro, é mãe de um menino de 15
cia química e os quadros depressivos. Es- anos e de uma menina de 25 anos. A baixa
sas organizações permitem perceber que hospitalar deu-se pela intoxicação de 20
os atos suicidas podem ter motivações comprimidos de carbamazepina e de ami-
totalmente diversas, e que têm relação triptilina, sendo sua terceira tentativa de
com rupturas em diferentes períodos do suicídio. As duas tentativas anteriores fo-
desenvolvimento afetivo-emocional. Con- ram: uma por ingerir veneno, aos 20 anos
siderando ser esse um problema de saúde de idade, ocasião em que começou a sen-
pública e a escassez de estudos com esses tir vontade de se matar e, a outra, quando
pacientes que, frequentemente, encon- tentou cortar os pulsos, por sua perícia
tram-se nas emergências dos hospitais e, ter sido negada. O início desses episódios
em sua maioria, sobrevivem às tentativas foi relacionado com a morte de seus dois
de seus atos lesivos, há necessidade de irmãos, que foram assassinados com um
se verificar a validade de instrumentos de tiro na cabeça. O Caso “A” pensa em se
avaliação psicológica, eficientes e rápidos, matar porque acredita que irá para um
para que possam auxiliar na compreensão lugar melhor, mas, ao mesmo tempo, em
da estrutura e da dinâmica psíquica dos que quer morrer quer melhorar para cui-
mesmos. Com esse propósito, o presente dar de seu neto. O Caso “B”, de 47 anos, é
estudo buscou investigar as característi- divorciada e mãe de duas meninas, uma
cas de personalidade de pacientes com de 14 e outra de 27 anos de idade, e de

1223
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um menino de 18 anos. A baixa hospitalar Palavras-chave: teste Zulliger, tentativa de


deu-se pelo consumo de 18 comprimidos suicídio, fatores de risco
de diazepam, sua quarta tentativa de sui- Luana Gasparetto Fontanella, Fundação
cídio, com uma anterior, ao tentar atirar- Hospitalar Santa Terezinha, Erechim/RS,
-se do quarto andar de um prédio. O início luluzinhagf@erechim.com.br
desses episódios foi relacionado com o
excesso de trabalho, quando também co-
meçou a apresentar sintomas psicóticos. LT06-1237 - ADOLESCENTES EM
Dados da família de origem revelaram a SITUAÇÃO DE RISCO SOB UMA NOVA
presença de irmãos usuários de drogas, PERSPECTIVA DE FUTURO
sendo um deles morto por overdose; e de Camila Fernandes Ferreira - UFU
morte por suicídio dos dois avôs, tanto por camila.ff.psi@gmail.com
parte de pai quanto de mãe. O Caso “B” Glenda Matias de Oliveira - UFU
pensa em se matar porque não tem outra glenda_matias@hotmail.com
opção; além de querer morrer, quer ma- Lara Cristina Furtado Morais - UFU
tar seus filhos. A análise comparativa dos laracfmorais@gmail.com
protocolos de entrevista permitiu verificar
que as pacientes apresentaram várias ten- O presente trabalho aborda a perspectiva
tativas de suicídio, sobretudo, pela inges- de vida de adolescentes em situação de
tão de medicamentos, possuem histórico risco, procedentes de população empo-
familiar disfuncional e de perdas traumáti- brecida. Relatamos, aqui, nossa experi-
cas, além de diagnóstico de transtorno de ência no desenvolvimento de projetos so-
personalidade borderline. A interpretação ciais voltados para adolescentes com ida-
dos protocolos do ZSC, por sua vez, pos- de entre 11 a 15 anos, que participam da
sibilitou confirmar a história do desenvol- ONG “Estação Vida”, no bairro Shopping
vimento pessoal, por meio dos dados de Park da cidade de Uberlândia-MG. Ali, es-
personalidade, e a identificar prejuízos na tes adolescentes são recebidos por educa-
apreensão da realidade, de si mesmo, do dores e voluntários que os acompanham
outro e nas interações sociais, por meio na feitura de tarefas escolares, introdu-
de atribuições de aspectos subjetivos, ção ao mundo da computação, atividades
distorcidos e falhos. Os dois casos apre- físicas orientadas, atividades esportivas,
sentaram, ainda, dificuldades de controle recreativas e refeição comunitária, com o
emocional, impulsividade, instabilidade intuito de acolhê-los em seu período não
nos relacionamentos e isolamento. Esses escolar, de modo que não perambulem
resultados podem ser úteis para ampliar a pelas ruas enquanto suas famílias estão
compreensão de pacientes com tentativas no trabalho. Conforme comenta Burlama-
de suicídio, para predizer as possibilidades qui (2006), o futuro dos jovens, no Brasil,
de novas ocorrências e, ainda, para dire- está ameaçado. Pesquisas revelam núme-
cionar programas de tratamentos mais efi- ros que comprovam a falta de perspecti-
cientes e adequados. Além disso, conclui- va de vida da juventude pobre brasileira.
-se que o ZSC pode ser útil em contextos Esta autora ainda comenta que jovens e
de avaliação clinica e hospitalar, respei- adolescentes sem perspectiva tornam-se
tando-se as limitações de seu emprego. pessoas sem horizontes e sem o direito

1224
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de sonhar. Considera, também, que a di- ção de oportunidades de discussão, deli-


mensão do tempo, para estes adolescen- neamentos e constituição de sonhos para
tes sem sonhos nem horizonte, é muito um futuro de cidadania e dignidade.
diferente da dimensão do tempo para
aqueles que têm oportunidades. Somado Palavras-chave: adolescentes, futuro, pobreza
a este fator, há um alto índice de gravidez Contato: Glenda Matias de Oliveira,
na adolescência e isso não é visto, por Universidade Federal de Uberlândia-MG,
eles, como impróprio para sua condição glenda_matias@hotmail.com
de adolescente. Há uma tradição familiar
de gravidez precoce: mulheres de trinta
anos são avós e garotas de treze anos são LT06-1254 - INVENTÁRIO DE PSICOPATIA
mães. Pela experiência com estes adoles- DE HARE: VERSÕES JOVENS (PCL:YV):
centes do Bairro Shopping Park, foi pos- ESTRUTURA FATORIAL PARA AMOSTRA
sível constatar que, em geral, eles vivem BRASILEIRA
um cotidiano que parece não favorecer a Tárcia Rita Davoglio - PUCRS
constituição de projetos de vida que in- tarciad@gmail.com
cluam a preocupação com a escolha de Deise Fonseca Fernandes - PUCRS
um curso superior ou com os caminhos deise.ff@hotmail.com
que levam à inserção no mercado formal Marina Davoglio Tolotti - PUCRS
de trabalho; não sonham ingressar em matolotti@hotmail.com
uma Universidade, tampouco no Ensino Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS
Médio; não vislumbram para si um em- gabrielgauer@gmail.com
prego, portanto, não se importam com a Financiamento: CAPES e CNPq
disputa por uma vaga no mercado de tra-
balho. Quando falamos de sonhos para o A psicopatia é um transtorno de perso-
dia de amanhã, muitos garotos manifes- nalidade multifatorial, que se manifesta
taram o desejo de se tornarem “craques” nas relações interpessoais e afetivas pela
de futebol; as garotas não demonstraram ausência de empatia ou remorso, gran-
perspectiva alguma para os dias vindou- diosidade, manipulações, mentiras reinci-
ros; tampouco há, para eles, modelos de dentes, dificuldades em aceitar responsa-
pessoas que se preparam para participar bilidade e uma gama de comportamentos
do mercado formal de trabalho. A Univer- eticamente incorretos e antissociais que
sidade, enquanto Sede da Sabedoria, não não são, necessariamente, criminosos
pode se colocar alheia a este cenário de (Hare & Neumann, 2008). Apesar da per-
desenvolvimento dos nossos adolescen- sonalidade psicopática (PP) ser detectável
tes. Acreditamos que, ontologicamente, em adultos e, presumivelmente, iniciar-se
o homem é um ser de TELOS, portanto, durante a infancia e adolescência (Frick,
necessário se faz o diálogo entre as aca- 2009), o diagnóstico de Psicopatia não é
demias de Psicologia para a busca de sa- descrito pelas atuais classificações diag-
beres que ajudem os adolescentes brasi- nósticas. Contudo, a literatura emergente
leiros empobrecidos a constituírem a sua aponta evidências que sugerem valida-
teleologia de vida. Nesse sentido, nosso de de construto para o transtorno entre
trabalho focaliza, prioritariamente, a cria- os adolescentes (Forth, Kosson, & Hare,

1225
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

2003; Frick & Marsee, 2006; Salekin, Ro- duração, envolvendo diferentes etapas e
senbaum, Lee, & Lester, 2009). A com- amostras populacionais. Dessa forma, é
preensão e pesquisa empírica da PP com recomendável que instrumentos que se
jovens representa um grande desafio aos propõem a avaliar a PP, como o PCL:YV,
pesquisadores e clínicos (Hare & Neu- passem por sucessivas etapas de valida-
mann, 2008; Salekin & Lochman, 2008) ção, afim de serem produzidas evidências
e diversas pesquisas demonstram-se co- psicométricas substanciais. Considerando
erentes com sua compreensão na pers- que qualquer medida psicométrica é em
pectiva do desenvolvimento (Forth et al., algum grau falível, sofrendo influências
2003; Frick, 2002). A partir de princípios tanto das variáveis latentes quanto do
consistentes com essa recomendação, foi erro das mensurações, a análise fatorial
desenvolvido o Inventário de Psicopatia (AF) representa uma técnica estatística
de Hare: Versão Jovens (PCL:YV; Forth et muito importante para a compreensão
al., 2003), baseado nos mesmos 20 itens de um construto psicopatológico. A AF
do PCL-R (Hare, 2003). Os títulos e as des- contribui para explicitar a relação das
crições dos itens, as fontes de informação múltiplas variáveis latentes que formam
e os critérios de pontuação foram modifi- o construto e que, juntas, influenciam a
cados, visando refletir os diferentes con- classificação dos itens (Cooke, Michie, &
textos adolescentes e garantir atenção Skeem, 2007). Esta pesquisa, desenvolvi-
adequada às normas de desenvolvimento. da no Programa de Pós Graduação da Fa-
O PCL:YV avalia características interpesso- culdade de Psicologia (FAPSI) da PUCRS,
ais, afetivas, comportamentais e antisso- objetiva obter evidências psicométricas
ciais da psicopatia, utilizando o formato do Inventário de Psicopatia de Hare: Ver-
de pontuação por perito, valendo-se de são Jovens em adolescentes brasileiros, a
informações de diversas fontes e con- partir das análises fatoriais exploratórias
textos e sendo pontuado de zero a dois, (AFEs) e confirmatórias (AFCs). A amos-
por meio de entrevistas. Ao contrário das tra será composta por 217 adolescentes
versões adultas, não utiliza ponto de cor- masculinos, que cumprem medida socio-
te considerando, especialmente, caracte- educativa de restrição de liberdade na Re-
rísticas intrínsecas do construto, quando gião Metropolitana de Porto Alegre, com
associado à adolescência (Forth et al., idade média entre 16 e 17 anos. Os dados
2003). O PCL:YV está traduzido/adaptado são provenientes de estudos prévios, que
para o português do Brasil (Gauer, Vas- embasaram outras etapas do processo
concellos, & Werlang, 2006) e há alguns de validação e pesquisas com traços de
resultados psicométricos com amostras psicopatia em amostras jovens, desen-
adolescentes brasileiras já disponíveis volvidos no Programa de Pós Graduação
(Ronchetti, 2009; Ronchetti, Davoglio, Sal- da FAPSI/PUCRS, atendendo aos proto-
vador-Silva, Vasconcellos, & Gauer, 2010) colos éticos e institucionais recomenda-
que, embora incipientes, mostram-se sig- dos à pesquisa científica. As AFEs serão
nificativos e similares aos internacionais realizadas utilizando-se o pacote estatís-
(Forth et al., 2003). No entanto, estudos tico SPSS, versão 18.0, rotação promax e
de validação de instrumentos psicométri- técnica de eixo principal. As AFCs serão
cos representam um processo de longa rodadas no programa de modelagem

1226
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Mplus, 5.0, a partir das AFEs e dos mo- (a) estimulem a aprender mais sobre as
delos teóricos já consolidados. Segundo características do construto em popula-
a literatura atual, a estrutura fatorial das ções jovens; (b) aumentem a compreen-
Escalas Hare pode ser testada nos mode- são e o debate relativos aos múltiplos fa-
los de três e quatro fatores (Cooke e Mi- tores que se associam ao construto e suas
chie, 2001; Forth et al., 2003; Hare, 2003), implicações, e (c) promovam subsídios à
desenvolvidos a partir dos anos oitenta, pesquisa sistemática, visando o desenvol-
com a maior parte das análises realizada vimento de programas de prevenção e in-
com amostras masculinas adultas e presi- tervenção precoce. É válido ressaltar que
diárias, tornando recomendável a cautela os pesquisadores consideram legítima a
nas generalizações dos resultados para preocupação com a potencial má utiliza-
outros grupos. Cooke & Michie (2001), ção de instrumentos desta natureza, em
usando a AFC e a teoria de resposta ao especial, quanto à rotulação e/ou exclu-
item, em 13 dos 20 itens PCL-R, encontra- são à atenção integral ou terapêutica. O
ram uma solução denominada Modelo de PCL:YV não se propõe a ser um critério
Três Fatores: estilo de vida interpessoal único para a tomada de decisões acerca
arrogante e enganoso; experiência afeti- de um jovem em desenvolvimento ou de
va deficitária; comportamento impulsivo qualquer prescrição relativa ao sistema de
e irresponsável. Esta estrutura reflete um saúde ou justiça, sendo que o próprio ma-
modelo em que os traços do geral para nual técnico contra-indica esta utilização.
o mais específico são estruturados de A integração de informações originárias
maneira hierárquica, porém, exige que de fontes variadas, e não apenas de uma
os fatores investigados sejam realmen- ferramenta, proporciona um quadro mais
te componentes do construto. Por isso, compreensivo e ecologicamente válido a
cinco itens que refletem, principalmente, respeito do jovem (Forth et al., 2003).
o comportamento anti-social, devem ser
excluídos para a análise deste modelo. Palavras-chave: adolescentes brasileiros,
Os argumentos divergentes ao modelo PCL:YV, estrutura fatorial
anterior levaram ao desenvolvimento do Contato: Tárcia Rita Davoglio, PUCRS,
Modelo de Quatro Fatores (Hare, 2003; tarciad@gmail.com
Hare & Neumann, 2005; Neumann et al.,
2007). Os fatores identificados por Cooke
e Michie (2001) permanecem idênticos,
sendo acrescentado um quarto fator,
composto por cinco itens que avaliam o
comportamento antissocial e o fraco con-
trole comportamental, excluídos no mo-
delo precedente. São propostas, então,
quatro dimensões latentes: Interpessoal,
Afetiva, Estilo de Vida e Comportamento
Antissocial. Os resultados deste estudo
ainda se encontram em fase de elabora-
ção. Espera-se que pesquisas como esta:

1227
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

LT06-1255 -INFÂNCIA CONFINADA AO abordem a questão considerando todas as


CÁRCERE: A PERCEPÇÃO DAS MÃES contingências, o que implica em uma abor-
APENADAS E O DESENVOLVIMENTO dagem interdisciplinar, que contemple não
PSICOSSOCIAL DAS CRIANÇAS apenas o jurídico, mas, também, o psicoló-
Tárcia Rita Davoglio - PUCRS gico. As questões que se colocam a partir
tarciad@gmail.com daí são: Como as mães lidam com as de-
Daniela Canazaro de Mello - PUCRS mandas próprias da relação mãe-bebê em
danielacanazaro@hotmail.com um ambiente não familiar? Como as mães
Marina Davoglio Tolotti - PUCRS percebem o desenvolvimento do filho den-
matolotti@hotmail.com tro do cárcere, a partir de sua relação com
Gabriel José Chittó Gauer - PUCRS o próprio filho? Que implicações isto tem
gabrielgauer@gmail.com para o desenvolvimento psicossocial da
Financiamento: BPA/PUCRS criança “encarcerada”? Para exemplificar,
um estudo atual sobre as mães que vivem
A legislação brasileira determina que o re- com seus filhos em regime prisional fecha-
cém nascido de mães aprisionadas deverá do revelou que 51% das prisões femininas
permanecer com sua mãe, no cárcere, até brasileiras com berçários possuem locais
uma determinada idade. A Constituição improvisados para as crianças, geralmente,
estabelece o período que durar a amamen- restritos às próprias celas (Armelin, Mello,
tação, enquanto a Lei de Execução Penal & Gauer, 2010; Mello, 2010). As crianças,
(11.942/09) preceitua às mães o direito diretamente ou por implicação, são afetas
de permanecerem com os filhos, no míni- por essa realidade, uma vez que o espaço
mo, até os seis meses de idade. Porém, na das celas é dividido com outras mulheres e
prática, os estabelecimentos prisionais con- seus filhos e o ritmo de sono, alimentação
vencionam diferentes idades e critérios de e choro das crianças durante a noite acaba
organização, pautados em referenciais pou- por ocasionar desavenças e estresses. O
co explorados cientificamente. Se por um modo como as mães administram e per-
lado, esse direito é assegurado e é indiscu- cebem as demandas físicas e psicológicas
tível a importância para o bebê do contato do filho, neste espaço muito distinto do lar
constante com a mãe, por outro, é possível tradicional, tende a se evidenciar na intera-
supor, com base na Psicologia do Desen- ção mãe-bebe que está sendo construída.
volvimento, que a estadia na prisão pode A literatura descreve inúmeras abordagens
interferir de maneira peculiar na formação para a interação pais-bebês e seu papel no
psicossocial de uma criança. Assume-se, desenvolvimento, entendendo-se por inte-
então, a hipótese da existência de um pon- ração a ação recíproca, de co-construção
to ótimo, para além do qual a criança atinja e bidirecionalidade, que não envolva, ape-
uma idade em que dita permanência na ca- nas, ações explícitas (Piccinini et al, 2001). O
deia viria a ser iatrogênica devendo, então, modo como os padrões de apego (Bowlby,
a criança ser retirada do estabelecimento 1969/ 1984; Brazelton, 1988) se estabele-
prisional. Porém, este momento mais opor- cem está fortemente associado com a sen-
tuno para ocorrer o afastamento mãe-filho sibilidade materna às necessidades infantis.
ainda não está empiricamente definido e Além disto, o comportamento materno,
justificado, demandando por estudos que em geral, constitui-se no primeiro contexto

1228
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

para o desenvolvimento do bebê e, por isto, do, além de dados sociodemográficos e pe-
continua merecendo atenção especial (Pic- nais, temas referentes às rotinas intrínsecas
cinini et al, 2001). Inúmeros autores, psica- à relação mãe-filho, envolvendo aspectos
nalistas ou não, têm trazido contribuições tais como: sono, alimentação, linguagem,
relevantes para uma leitura aprofundada hábitos de higiene, interação social, vincu-
dos elementos que entram em cena nes- lação afetiva, lazer e problemas de saúde
ta construção. Esta pesquisa se insere no da criança. Quanto aos procedimentos,
projeto de integração interdisciplinar BPA/ este estudo foi aprovado pela Comissão
PRAIA- 07/2011, da Pontifícia Universidade Científica da Faculdade de Direito e pelo o
Católica do Rio Grande do SUL, envolvendo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS e
os Programas de Pós Graduação em Ciên- pela Direção da Instituição onde será rea-
cias Criminais da Faculdade de Direito e Pós lizado o estudo. Segue, portanto, todos os
Graduação em Psicologia da Faculdade de procedimentos éticos recomendados pela
Psicologia. A temática geral do estudo cen- comunidade científica, quanto à confiden-
tra-se sobre a relação da mãe apenada com cialidade das informações e ao consenti-
o filho que vive, conjuntamente, no cárcere. mento expresso, livre e esclarecido de cada
Por se tratar de um estudo interdisciplinar, participante. A participação é voluntária e
há tanto o interesse no debate das questões não implica em nenhum ganho direto ao
jurídicas e penais quanto das psicológicas e participante. As entrevistas e observações
sociais envolvidas, sendo uma pesquisa que serão realizadas nas dependências da insti-
se complementa a partir do vértice do Di- tuição prisional, por graduados ou acadêmi-
reito e da Psicologia. Portanto, sob o foco cos de Psicologia, seguindo todos os proce-
da Psicologia, este estudo tem por objetivo dimentos protocolares estabelecidos pelo
conhecer os padrões de manejo e enfrenta- local para o acesso dos pesquisadores. Os
mento de situações cotidianas e intrínsecas dados qualitativos serão analisados através
à relação mãe-bebê nas díades mãe-filho da análise categorial de acordo com Bardin,
encarceradas, a partir do relato materno o qual consiste em operações de desmem-
e, se possível, da observação da interação bramento do texto em unidades, com o
com o bebê, a fim de analisar suas implica- intuito de descobrir os diferentes núcleos
ções no desenvolvimento psicossocial à luz de sentido que constituem a comunicação
da literatura. Em relação ao método, esta e, posteriormente, realizar o seu agrupa-
pesquisa transversal terá delineamento mento em classes ou categorias. Os dados
misto e será realizada na Unidade Materno quantitativos serão analisados por meio de
Infantil da Penitenciária Feminina Madre técnicas estatísticas variadas, descritivas e
Pelletier, localizada em Porto Alegre/RS. inferenciais, através do SPSS, versão 18.0.
Serão incluídas no estudo todas as díades Quanto aos resultados esperados, este pro-
mães-bebês reclusas no convívio do cárce- jeto, que no momento encontra-se em fase
re durante o período da coleta, de março a de coletas preliminares, reveste-se de gran-
setembro de 2011, envolvendo a capacida- de relevância, por abordar temática pouco
de máxima de lotação do local (cerca de 25 estudada, podendo gerar subsídios empíri-
mulheres). Serão realizadas entrevistas com cos e teóricos que fomentem o debate e as
as mães, durante as quais será preenchido políticas públicas dirigidas à realidade das
um questionário semiestruturado abordan- crianças de mães apenadas.

1229
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Palavras-chave: infância, cárcere materno, momento histórico. “Menino das Laranjas”,


desenvolvimento psicossocial de 1965, escrita por Théo de Barros, relata
Contato: Tárcia Rita Davoglio, Programa o cotidiano cansativo de um menino que
de PÓS Graduação em Psicologia / PUCRS, vende laranjas na feira, sob pena de ser
tarciad@gmail.com substituído por outro irmão na venda e de
ser castigado caso não cumpra sua “fun-
ção” direito, como na estrofe: “é madruga-
LT06-1356 - A INFÂNCIA NA MPB: da (...), se o cesto não voltar vazio/A mãe já
TRABALHO INFANTIL E SITUAÇÃO DE RUA arranja um outro pra laranja/Esse filho vai
Luna Pinheiro Valle - UFRN ter que apanhar”. Pouco antes, em 1959,
labellaluna20@gmail.com ocorria a Declaração Universal dos Direitos
Dandara Morais - UFRN da Criança, ampliando o leque de direitos
dandaramrs@gmail.com voltados a essa população. Em 1964, o país
Daniele de Souza Paulino - UFRN tinha sofrido o Golpe Militar e passava por
dandinhapaulino198@hotmail.com uma atmosfera de intensa repressão à so-
Cíntia Asfora Fernandes - UFRN ciedade, em todos os níveis (físico, ideoló-
cintiaasfora@hotmail.com gico, político etc). Ano em que também é
Dayany Ribeiro de Oliveira - UFRN criada a FUNABEM (Fundação Nacional de
dayribeiro19@gmail.com Bem-estar do Menor), marco da postura
Rosângela Francischini - UFRN assistencialista à criança e ao adolescente,
rfranci@uol.com.br mas que, na prática, não trouxe benefícios
para essa população (e não há registros
A situação do trabalho infantil, no Brasil, históricos de mobilização em favor desta,
em suas diversas formas (seja através dos na década) (Patiño, 2010). Em 1979, há o
três setores da economia, da chamada segundo Código de Menores, com nova
“economia informal”, das atividades do- concepção assistencialista. De 1978, “Tiro
mésticas ou mesmo nos ramos ilegais), tem de Misericórdia”, de João Bosco, retrata o
ganhado visibilidade, apenas do período trabalho ilegal com o tráfico de drogas, em
entre o final da década de oitenta e início que um menino de treze anos é o próprio
da década de noventa até os dias atuais. traficante, dono de muitas favelas, como as
Dentre os fatores que impulsionaram o in- citadas no trecho “borel, juramento, urubu,
teresse, as discussões, pesquisas e denún- catacumba...”. O trabalho com o tráfico,
cias sobre essa temática, no Brasil, temos apesar de ilegal, tem ganhado expressivi-
o nascimento do Estatuto da Criança e do dade no cenário nacional, em especial, nas
Adolescente (ECA), em 1990, e a criação favelas. Muitas são as funções possíveis
dos Conselhos de Direitos (Municipais, para uma criança no tráfico (como olhei-
Estaduais e Nacional) e dos Conselhos Tu- ro ou fogueteiro, o falcão, aviãozinho) e
telares (Ferreira, 2001). O presente traba- o número de garotos alistados no tráfico
lho objetiva traçar uma “linha do tempo”, era de 73 mil, no Brasil, dados do IBGE (Ci-
acompanhando o trabalho infantil, no país, pola, 2001). Exemplos como o da música
desde a década de 1960 até recentemen- têm sido retratados em outras produções
te, através de exemplos da música popu- artísticas mais recentes (mostrando que a
lar brasileira sobre esta temática, em cada situação ainda se mantém), como no per-

1230
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

sonagem “Zé Pequeno” do filme “Cidade 14 anos. É o início de um processo de mo-


de Deus” e no documentário “Falcão: me- bilização da opinião pública e “pressão polí-
ninos do tráfico”, ambos apresentando for- tica” para a implementação das determina-
te caráter de denúncia. Dentre as principais ções do Estatuto (Carvalho, 2008). Ferreira
consequências dessa realidade estão uso e (2001), em contrapartida, reconhece que
possível vício em drogas e a morte precoce as denúncias e o desvelamento do fenô-
(Cipola, 2001). A década de 1980, também meno, através de estudos amplos e gené-
chamada de década perdida, é marcada ricos, não foram acompanhados de conhe-
por estagnação econômica, altos índices de cimento suficiente quanto às estratégias de
inflação e conseqüente perda do poder de combate dificultando, assim, a intervenção.
consumo da população, aumento da dívida “Pivete”, de Chico Buarque (1993), mostra
externa e do desemprego. Temos, então, a o trabalho informal infantil através do co-
criação do Movimento Nacional dos Meni- tidiano do garoto Pelé, que vende chicletes
nos e Meninas de Rua (em 1985, trazendo no sinal e, eventualmente, comete infra-
a noção de protagonismo juvenil), a Frente ções para ganhar mais dinheiro e desfrutar
de Defesa dos Direitos das Crianças e dos da idade como os garotos ricos, como em
Adolescentes (em 1986). De 1981, “O Meu “agita numa boca, descola uma mutuca e
Guri”, do compositor Chico Buarque, fala de um papel. Sonha aquela mina...”. “Malaba-
uma criança inserida em outra modalidade ristas do Sinal Vermelho”, de João Bosco,
de trabalho ilegal: o contrabando. O “guri” 2003, denuncia uma realidade perversa
da música é admirado de maneira despro- de contrastes sociais e exclusão, através
porcional (e ingênua) pela mãe, como nos da imagem dos jovens que aproveitam os
trechos “chega suado e veloz do batente, sinais fechados do trânsito para fazer seus
traz sempre um presente pra me encabu- malabares, ganhando algumas moedas, as
lar” e “de repente acordo, olho pro lado e humilhações e reações que eles têm diante
o danado já foi trabalhar”. Há indícios, nes- disso. Nesse ano ocorre a aprovação do Pla-
sa e outras músicas sobre o tema, de outra no Nacional de Prevenção e Erradicação do
dinâmica familiar, que vem se constituindo Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador
nas famílias em que a criança ou adoles- Adolescente e, em 2006, do Plano Nacional
cente é o principal provedor do sustento de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
e o trabalho é naturalizado sob o nome de de Crianças e Adolescentes à Convivência
“ajuda”, como evidencia o estudo de Cam- Familiar e Comunitária e do Sistema Nacio-
pos e Francischini (2007). Ao final da can- nal Socioeducativo (Sinase): ambos buscan-
ção, “chega estampado, manchete, retrato do garantir o previsto no ECA, mas, encon-
(...) acho que tá lindo de papo pro ar” mos- trando dificuldades na efetivação. Uma vez
tra a morte precoce entre crianças que con- demonstrado que a arte reflete a realidade,
trabandeiam. O início dos anos 90 foi mar- sugerimos uma maior exploração da produ-
cado, fortemente, por movimentos sociais, ção artística brasileira como subsídio para
luta por direitos (ampliados pela Constitui- a produção científica não só de denúncia,
ção de 1988) e, com relação ao trabalho in- mas, também, de intervenção.
fantil, mais especificamente, pela proibição
- como previsto no ECA (Brasil, 1990) - da Contato: Luna Pinheiro Valle, UFRN,
utilização de mão-de-obra de menores de labellaluna20@gmail.com

1231
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

15/11 - Terça-feira Luciana M. Caetano, discorre sobre o re-


lacionamento entre pais de adolescentes
e sua formação moral. Maria Thereza
C.C.de Souza apresenta um estudo teó-
12h-14h
rico sobre moral e sua intersecção entre
inteligência e afetividade. Maria A. Belin-
tane Fermiano apresenta dados sobre o
SP LT01 - Simpósio cotidiano econômico dos pré-adolescen-
tes e utilização de dinheiro. Sonia Bessa
descreve o nível de alfabetização econô-
SP LT01-996 - DESENVOLVIMENTO E mica de estudantes universitários e os
EDUCAÇÃO: ASPECTOS SOCIAIS, MORAIS resultados pós intervenção pedagógica.
E AFETIVOS.
Luciana Maria Caetano - UEM/PR
Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP RELAÇÃO PAIS E FILHOS E A EDUCAÇÃO
Maria A. Belintane Fermiano - Faculdades MORAL.
NetWork-SPe LPG/FE/Unicamp-SP Luciana Maria Caetano - UEM/PR
Sonia Bessa - LPG/FE/Unicamp-SP e Centro luma.caetano@hotmail.com
Universitário Adventista-SP Financiamento: FAPESP

Considerando as mudanças que são ob- Para a teoria do desenvolvimento de Jean


servadas no comportamento das pessoas, Piaget, o processo de construção de au-
possivelmente por influência da globali- tonomia moral é o caminho de evolução
zação, se faz necessário que profissionais possível para todo adolescente, que, deve
que trabalham com o ser humano investi- construir um plano de vida, o que signi-
guem estratégias que as pessoas utilizam fica organização autônoma das regras,
para lidar com novas solicitações no cam- afirmação da vontade como regulariza-
po social, moral e afetivo. Desde modo, é ção das tendências, inserção do jovem
possível encontrar caminhos, com ênfase no mundo adulto. Para teoria piagetiana
na educação, para favorecer o processo que tem uma abordagem deontológica,
de desenvolvimento da pessoa em todos o tema da moral diz respeito aos deve-
os seus aspectos. O objetivo desse sim- res, e, portanto, responde as perguntas:
pósio é o de apresentar estudos e dados como se deve agir e o que se deve fazer. A
de pesquisas cujas implicações represen- evolução da moralidade depende, dessa
tam excelente contribuição para a prática forma, das relações que se estabelecem
pedagógica de profissionais da educação com o outro. Quando o sujeito constrói
e orientação educacional familiar, pesso- o respeito mútuo e os princípios de jus-
al e infanto-juvenil. O referencial teórico tiça como dever, e as regras são funda-
da Epistemologia Genética de Jean Piaget mentadas em tais princípios e cumpridas
fundamenta os estudos apresentados e por opção racional de tais sujeitos, outro
pretende-se demonstrar que sua teoria nível de desenvolvimento moral é atingi-
não se limita ao estudo dos estágios do do, a autonomia, também denominada
desenvolvimento cognitivo, A pesquisa por Piaget (1932/94) de moral do bem,

1232
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

já que a noção do bem, segundo ele, diz de Piaget, para que os jovens tenham a
respeito ao bem estar comum: “constitui oportunidade de evoluir da heteronomia
talvez a última tomada de consciência para autonomia, as relações sociais re-
do que é condição primeira da vida mo- presentam um fator importante, embora
ral: a necessidade de afeição recíproca” não único. “Para que o meio social atue
(p.141). Portanto, para Piaget a própria realmente sobre os cérebros individuais,
tomada de consciência de si é estimulada é preciso que estes estejam em condi-
pela cooperação, na medida em que, é ções de assimilar as contribuições desse
fruto da conduta social e não da psicolo- meio”. (Inhelder e Piaget, 1970/1976,
gia individual, pois as próprias opiniões, p.251). Portanto, a convivência com a
sentimentos e vontades, se constituem, família tem uma influência importantís-
modificam-se e se constroem na opo- sima no desenrolar do desenvolvimento
sição, nos conflitos e na compreensão do adolescente, seja no aspecto cognitivo
mútua. Para Piaget (1948/2000, p.48), os (quando suas intervenções permitem ao
dois problemas essenciais da educação jovem pensar e refletir), no aspecto afeti-
moral são: (1) assegurar a descentraliza- vo (que respeita e interage sem humilha-
ção: a pessoa ser capaz de situar o seu ções ou depreciações), e no aspecto so-
eu na verdadeira perspectiva em relação cial (relações de cooperação). Portanto, o
aos outros; (2) estabelecer a disciplina interesse dessa investigação foi elaborar
autônoma: inserida num sistema de re- um mapeamento das concepções de edu-
ciprocidades; (3) Os pais para educarem cação dos pais, especialmente, no que
bem moralmente, necessitam ter clareza diz respeito aos quatro construtos: obe-
a respeito de quais valores querem que diência, respeito, justiça e autonomia,
os seus filhos construam e, mais que apresentados por essa pesquisa como fa-
isso, quais são as boas intervenções, ou, tores responsáveis pela possibilidade da
conforme a teoria piagetiana, como esta- construção da moral autônoma. Trata-se
belecer com os filhos relações de coope- de uma investigação com uma amostra
ração que, de fato, lhes permitam tomar de 860 pais e mães oriundos das cinco
consciência das regras, refletir sobre elas regiões brasileiras. A análise dos concei-
e incorporar os seus princípios como va- tos e intervenções dos pais em relação
lores que os constituirão como pessoa. A às suas atitudes educativas, procurando
autonomia moral é produto das relações apontar quais foram as facilidades, as di-
de cooperação que propiciam a descen- ficuldades, as tendências, os encontros
tração e a troca de pontos de vista. Sendo e desencontros dos adultos nas relações
a cooperação fonte de personalidade, na com seus filhos adolescentes, permitiu
mesma ocasião as regras deixam de ser o conhecimento das atitudes educativas
exteriores. Tornam-se, ao mesmo tempo, dos pais e mães brasileiros. Os pontos de
fatores e produtos da personalidade, se- partida dessa investigação foram os cons-
gundo um processo circular tão frequente trutos piagetianos: obediência, respeito,
no decorrer do desenvolvimento mental. justiça e autonomia, fatores para os quais
A autonomia sucede assim à heterono- foram criados itens que puderam avaliar
mia. (Piaget, 1932/1994, p. 82). Confor- as concepções educativas dos participan-
me se pode constatar segundo a teoria tes. Entretanto nesse trabalho, fazemos

1233
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

um recorte, apresentando apenas as A COMPLEXA INTERAÇÃO ENTRE


discussões do construto autonomia. “A JULGAR, SENTIR E AGIR: UM OLHAR
autonomia é um poder que se conquista PIAGETIANO.
de dentro e que só se exerce no seio da Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP
cooperação”. (Piaget, 1932/1994). Para mtdesouza@usp.br
ser autônomo, dessa forma, é necessá-
rio que a pessoa tenha as suas próprias O objetivo desta apresentação é discutir,
experiências. Se as relações com os pais tomando como referência a afirmação de
são tão autoritárias que os adolescentes Piaget de que a moral é a intersecção en-
necessitam ser autorizados pelos primei- tre inteligência e afetividade , como sen-
ros para o que quer que desejem fazer, timentos e julgamentos se apresentam
fica vedada a essência da construção da nos diferentes momentos do desenvolvi-
autonomia: a ação do sujeito. Os resul- mento e como se relacionam em contex-
tados revelam a dificuldade em conciliar tos nos quais o DEVER está presente. Para
o juízo e ação se explicita mais uma vez. contextualizar a temática proposta, serão
Por exemplo, os pais admitiram em una- abordadas outras perspectivas psicoge-
nimidade (99%) que é fundamental que néticas para indicar diferentes modos de
os pais conversem com os filhos, todavia, conceber as relações entre sentimentos e
67,5% dos mesmos pais, admitiram que pensamentos, a partir de diferentes me-
não podem ou não conseguem, ouvir os diações entre os indivíduos e o meio. É an-
próprios filhos. Ora, se a autonomia é tiga na história da Psicologia a questão da
fruto de relações de cooperação, o diá- prevalência da razão ou da cognição sobre
logo é absolutamente indispensável para a emoção ou afetividade, ou, o inverso,
o processo de troca de pontos de vista, revelando visões dicotômicas herdadas de
de argumentação racional a respeito dos posições filosóficas e gerando pesquisas
princípios norteadores das regras e até com orientações diversas sobre a nature-
mesmo, a atenção e o afeto disponibiliza- za humana. Neste contexto, o interesse
dos no momento de ouvir o adolescente da Psicologia passou da discussão sobre
são significativos para o desenvolvimen- predominâncias da razão ou da emoção
to moral. Os outros resultados caminham para a pesquisa sobre as influências da
pelo mesmo caminho, demonstrando a experiência, em sentido amplo, do que foi
intenção dos pais em educar de modo denominado o ‘vivido’ sobre o desenvolvi-
cooperativo, com o desejo de favorecer o mento psicológico, buscando romper com
desenvolvimento moral dos filhos, entre- a ideia de que a afetividade romperia os
tanto, suas intervenções concretas con- limites estabelecidos pelo homem lógico,
tradizem os seus objetivos iniciais. tendo exclusivamente um efeito negati-
vo. Vários autores se debruçaram sobre o
Palavras-chave: pais e filhos, educação
tema das relações afetividade-inteligência,
moral, teoria de Piaget.
apresentando diferentes arranjos entre
estes aspectos e imprimindo estatutos di-
ferentes a cada um. Consideraram que vi-
sões dicotômicas podem parecer vantajo-
sas para a apresentação didática de tema

1234
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

tão complexo, mas são insuficientes para afetividade e ‘como’ fazer seria definido
sua compreensão integral, promovendo prioritariamente pela inteligência. Quanto
somente uma apreensão e entendimen- às ações de cunho moral, estas também
to ilusórios. No âmbito das perspectivas seriam reguladas por sentimentos e julga-
denominadas psicogenéticas quanto às mentos, pela razão e pela afetividade, não
relações entre afetividade e inteligência, podendo haver nenhuma ação somente
observamos diferentes ‘equações’ en- afetiva ou apenas cognitiva. Para compre-
tre estes elementos. Poderíamos dizer ender as concepções piagetianas sobre
que, segundo a abordagem de Wallon, a afetividade, devemos retomar a ideia de
equação proposta para as relações entre ‘valor’, como a expansão da atividade do
julgar e sentir seria: ‘Sentir para julgar’, já eu na conquista do universo; como o in-
que a gênese da cognição está, para ele, tercâmbio afetivo com o exterior (objeto
nas primeiras emoções, as quais, por sua ou pessoa); como o aspecto qualitativo do
vez, estão diretamente ligadas ao desen- interesse; e, sobretudo como o ponto de
volvimento do tônus (aspecto orgânico). partida para os sentimentos (no caso dos
O desenvolvimento é concebido como a valores atribuídos às pessoas). Piaget insis-
passagem do eu orgânico ao eu psíquico, tiu em afirmar que a vida afetiva, tal como
pela via das primeiras emoções que são, a vida intelectual seria adaptação contínua
em essência, o instrumento para a inte- e que as duas adaptações são interdepen-
ração com o outro, antes que a cognição dentes, já que os sentimentos expressam
seja construída. Se tomarmos a teoria de os interesses e os valores das ações, das
Vygotsky, a equação parece se inverter, quais a inteligência constitui a estrutura.
podendo ser assim definida: ‘Julgar para Assim sendo, toda conduta possui um ele-
sentir’. A razão teria a capacidade de con- mento energético (afetivo) e um elemento
trolar as emoções mais primitivas, graças estrutural (intelectual) que se relacionam
ao domínio dos instrumentos culturais, em mutuamente e que possuem naturezas di-
especial a linguagem. Este autor diferencia ferentes. Buscando estabelecer uma cor-
emoções primitivas originais, tais como respondência entre as evoluções afetiva e
alegria, medo e raiva, das emoções ditas cognitiva, Piaget afirmou que à evolução
‘superiores’, complexas, como, por exem- cognitiva do período sensório-motor, cor-
plo, a melancolia e o respeito, apontando responderiam os afetos perceptivos com
também que a qualidade das emoções vistas a enfrentar as necessidades fisio-
sofreria mudanças à medida que o conhe- lógicas e as novidades trazidas pela per-
cimento conceitual e os processos cogniti- cepção. São basicamente sentimentos de
vos se desenvolvem. Considerando as teo- agrado e desagrado, êxito e sucesso, de-
rizações de Piaget, a equação tomaria uma correntes das ações no mundo. Às repre-
terceira forma, assim apresentada por ele sentações pré-operatórias, rígidas e infle-
próprio: ‘Julgar e sentir para agir’. Sua tese xíveis, corresponderiam sentimentos tam-
é a de que haveria correspondência entre bém rígidos e inflexíveis (simpatias e anti-
afetividade e inteligência durante todo patias), bem como sentimentos ligados às
o desenvolvimento, desde o nascimento pessoas como objetos privilegiados (o que
até a vida adulta. Em todas as condutas, não ocorria antes). Esta configuração afeti-
‘o que’ fazer seria diretamente ligado à va e cognitiva será a base para a moral da

1235
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

heteronomia e para ações ligadas ao dever EDUCAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO


regidas, sobretudo, pelos sentimentos de ECONÔMICA AUXILANDO A
obediência, amor e temor. À inteligência COMPREENSÃO DO COMPORTAMENTO
operatória (reversível e flexível) corres- DE PRÉ-ADOLESCENTES
ponderia uma afetividade regulada por Maria A. Belintane Fermiano - Faculdades
sistemas de valores hierarquizados, bem NetWork/LPG-FE/UNICAMP
como uma afetividade que coordena con- maria.belintane@gmail.com
flitos entre tendências de forças diferen-
tes. Os sentimentos se tornam normativos Nos últimos 60 anos a estrutura e as re-
incorporando em sua dinâmica, as regras, lações familiares têm sido influenciadas,
a reciprocidade de interesses e os valores. por vários fenômenos, em especial o da
Neste cenário, a moral autônoma poderá globalização. Uma das mudanças que se
ser construída e as ações morais se pau- pode observar é a posição de maior des-
tarão muito mais por sentimentos de jus- taque que pré-adolescentes ocupam no
tiça do que de obediência, como bem de- espaço familiar. A partir da década de
monstrou Piaget. Da ‘regulação superior’ 80 tem início o processo de socialização
promovida pela força de vontade resultará econômica dos filhos, que passam a ser
a priorização das valorizações, num siste- consumidores a partir do modelo dos
ma móvel que se articulará a julgamentos pais. Esses pré-adolescentes são alvo do
morais pautados em princípios e não mais marketing que os considera um mercado
em pessoas. Quando as operações formais promissor, pois recebem dinheiro para
são construídas, permitindo o desligamen- seus gastos e agem como consumidores.
to do real, por um lado, e, simultaneamen- Esse panorama deu origem à pesquisa
te, sua submissão ao universo do possível, de Fermiano (2010) Pré-adolescentes
a afetividade se desloca mais ainda das (“tweens”) desde a perspectiva da teoria
pessoas e das normas enquanto objetos, piagetiana à da Psicologia Econômica. Os
para as teorias e ideais que o pensamen- pré-adolescentes também são chamados
to pode agora constituir. São os denomi- de “tweens”, termo derivado da palavra
nados sentimentos ideológicos. Podemos inglesa “between”, que significa “entre”.
concluir, então, que no âmbito do DEVER, Estão na faixa etária de 8 a 14 anos. Pes-
pensar, sentir e agir estão intrinsecamen- quisa, metodologia e objetivos: A pes-
te ligados, visto que pensar o que é certo; quisa é um “survey” com caracterização
reconhecer o que é o dever; valorizar me- sócio-demográfica que investigou uma
tas morais/princípios, parecem elementos amostra de 423 participantes, de 8 a 14
incontornáveis da ação moral, o que traz anos, estudantes de escolas pública e
implicações tanto para a Psicologia como particular, de cidades da Região Metro-
para a Educação. politana de Campinas/São Paulo. Quanto
à classificação socioeconômica, os parti-
Palavras-chave: teoria de Piaget; julgamento; cipantes foram distribuídos da seguinte
afetividade. forma: classe A1 e A2, 19,4%; B1, 27,4%;
Contato: Maria Thereza Costa Coelho de Souza B2, 32,4%; C1, 14,2%; C2, D, E, 6,6%. Os
Instituto de Psicologia da Universidade de São dados coletados descreveram hábitos fa-
Paulo - mtdesouza@usp.br miliares, culturais de consumo, televisivos

1236
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

em diferentes níveis socioeconômicos, de respostas para “nunca recebe dinhei-


organizados em três eixos: Identidade e ro para os gastos” foi ligeiramente maior
relações interpessoais, Cotidiano econô- para os participantes das classes C2/D/E.
mico, Mídia. Os resultados quantitativos É significante o percentual de “tweens”
foram submetidos à análise exploratória que recebem dinheiro e, ao mesmo tem-
dos dados em relação à sua frequência e po, a frequência de recebimento não é
porcentagem e as variáveis categóricas constante, apontando a falta de sistema-
foram comparadas através de teste Qui- tização de orientação econômica que as
-Quadrado, o que forneceu suporte aos famílias dão a seus filhos. B – Os “tweens”
pressupostos da pesquisa, os quais são: necessitam de mais dinheiro. A maioria
a homogeneização de comportamentos dos participantes, para todas as classes
dos “tweens”; a necessidade de constru- sociais, afirmou “necessitar de mais di-
ção de novas alfabetizações, estratégias e nheiro, às vezes”, 62,8%. Quando se ana-
conhecimentos para agir no contexto so- lisam os dados, observando-se os percen-
cial. Os dados desse artigo caracterizam tuais daqueles que dizem “sim”, 12,4% e
o eixo “Cotidiano econômico”. A pesquisa os que dizem “às vezes”, infere-se que a
teve como objetivos caracterizar, nos di- amostra tem uma tendência a necessitar
versos níveis socioeconômicos, as cren- de mais dinheiro. Essa informação é sig-
ças, os valores, os costumes que os par- nificativa e pode provocar, pelo menos,
ticipantes têm a respeito do manejo com duas perguntas: Se os pais são provedo-
o dinheiro; considerar a necessidade de res das necessidades dos filhos, porque
um currículo, de uma proposta pedagógi- lhes dão dinheiro? Se as necessidades
ca de intervenção e de um programa de são satisfeitas, quais seriam aquelas que
formação de professores para a Educação não estão sendo satisfeitas, a ponto de
Econômica. Socialização econômica, um necessitarem de mais dinheiro? C – O
grande desafio para os pré-adolescentes. que o “tweens” compram com o dinhei-
A compreensão da realidade econômica ro. As classes A1/A2, B1 e B2 apresentam
e também a da política, pela criança, é de percentual significativo para a categoria
grande importância para o estudo do de- compram “brinquedos, eletrônicos, en-
senvolvimento da psicologia infantil, por tretenimento”, comparadas às demais. A
ser um eixo da organização social e por porcentagem de respostas para compram
estar em contato com essa realidade dia- “alimentos” foi maior nas classes sociais
riamente, desde muito cedo. Os peque- C2/D/E. Os gastos com “brinquedos, ele-
nos têm conhecimento sobre o dinheiro trônicos, entretenimento” foram quase
e também fazem perguntas sobre como nulos para a classe C2/D/E e muito pe-
os produtos surgem. A seguir, apresenta- quenos para a classe C1. Infere-se que, se
-se os resultados de análise de 4 ques- houvesse uma renda maior, tais classes
tões sobre o cotidiano econômico dos consumiriam as mesmas coisas, pois a ca-
pré-adolescentes ou “tweens”. Os resul- tegoria de resposta com maior incidência
tados. A - Os “tweens” recebem dinhei- sobre o que gostaria de ganhar no dia das
ro. A maioria dos participantes de todas crianças foi “brinquedos” e “eletrônicos”.
as classes afirmou receber dinheiro “só D – Os pais pedem a opinião dos “twe-
quando pedem”, 39,2%. A porcentagem ens” na compra de coisas para casa. Não

1237
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

foi encontrada associação significativa construam estratégias de resistência ao


entre classe social e “se os pais pedem marketing e para lidar com o dinheiro. Os
opinião dos participantes quando vão pré-adolescentes agem no mundo eco-
comprar algo para a casa” (χ2(8)=10,35, nômico e necessitam de oportunidades
p=0,241). Nas categorias “sim”, 44,2%, para refletir sobre ele. É na família que
e “às vezes”, 38%, respectivamente, os ocorre a socialização econômica, se nela
resultados demonstram que os pais con- há analfabetismo econômico, então ele
cedem espaços nos quais os filhos po- é reproduzido, já que as crianças imitam
dem ou não influenciar nas decisões de seus pais nas atividades de compras e ex-
compra para a casa. Considerações: Coti- pressão de outros valores.
diano econômico dos pré-adolescentes.
Pode-se observar analisando as respostas Palavras-chave: socialização-econômica; pré-
que os pré-adolescentes estão inseridos adolescentes; educação econômica.
no mundo econômico e, como possuem
recursos para comprar sozinhos além de
capacidade de influência no seio familiar, EDUCAÇÃO ECONOMICA DE
são tratados como clientes pelo merca- ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR:
do. Verificar as compras que os “tweens” UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
fazem com seu dinheiro, onde e porque Sonia Bessa - LPG/FE/UNICAMP
compram, os produtos que solicitam a soniabessa@gmail.com
seus pais e aqueles comprados na escola,
quantia dispendida para isso, necessida- Pesquisa, metodologia e objetivos: A
de ou não de ter mais dinheiro, participa- compreensão do mundo econômico re-
ção nas compras para si e para casa, tem quer que o indivíduo construa uma visão
grande significado para mapear o univer- sistêmica do modelo financeiro social em
so econômico do qual eles participam e que está inserido, o que implica manejar
os comportamentos que manifestam. Os uma série de informações específicas e
pressupostos referentes à socialização desenvolver atributos e atitudes que lhe
econômica e do consumidor dos “twe- possibilite um uso adequado de seus re-
ens” desta pesquisa são confirmados. cursos econômicos, incluindo hábitos e
Estes “tweens” apresentam, também, os condutas de consumo e de uso do dinhei-
mesmos hábitos e valores, independente ro de forma racional e inteligente. Essa
do nível socioeconômico. Os comporta- investigação é de natureza quase-experi-
mentos estão mudando provocando re- mental e teve como objetivos identificar,
flexos na família, escolas, instituições reli- caracterizar e descrever a compreensão
giosas, trabalho e outros lugares no quais econômica de estudantes do Ensino Su-
há convívio social. Não é possível analisar perior, avaliar os hábitos e condutas de
o que está ocorrendo fora do contexto da consumo relacionando o nível de alfabe-
globalização e todas as mudanças prove- tização econômica e os hábitos de consu-
nientes desse fenômeno possui aspectos mo antes e depois do programa de inter-
positivos e negativos. É, portanto, neces- venção. A amostra intencional não-alea-
sário intervenção pedagógica para que fa- tória constituiu-se de 47 estudantes do
mílias, filhos e profissionais da educação último semestre do curso de Pedagogia,

1238
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

com idade entre 23 e 49 anos, de nível de conceitos, habilidades e destrezas que


sócio econômico baixo. O grupo foi sub- permitam ao indivíduo a compreensão
metido a um programa de intervenção do seu entorno econômico e o ajude a
de 4 meses antecedido e precedido da tomar decisões econômicas que venham
aplicação de Teste de Alfabetização Eco- de alguma forma melhorar sua qualida-
nômica para adultos TAE-A e da escala de de de vida. Alfabetização econômica e a
hábitos e condutas de consumo. Os eixos educação para o consumo podem pro-
temáticos da intervenção foram: “reco- porcionar ferramentas para que as pes-
nhecendo-se como Consumidor”; “com- soas entendam seu mundo econômico,
portamento compulsivo”; “necessidades interpretem os eventos que podem afetá-
humanas”; “consumo e impacto ambien- -los direta ou indiretamente e melhorem
tal”; “direitos e deveres do consumidor”; as competências para tomarem decisões
“influência dos meios de comunicação pessoais e sociais sobre a multiplicidade
de massa”; “publicidade e marketing”; de problemas econômicos que se encon-
“recursos da publicidade”; “identificação tram na vida cotidiana. A alfabetização
de estereótipos” e “estrutura e funcio- econômica e a educação para o consumo
namento das sociedades de consumo”. devem ser iniciadas desde a educação
Educação e alfabetização econômica. infantil através do desenvolvimento de
A educação econômica se constitui em hábitos básicos de consumo e o reconhe-
ações educativas que tem como objetivo cimento do uso do dinheiro; isso deve ser
favorecer a construção de noções econô- aprofundado na Educação Básica, Ensino
micas básicas e estratégias para tomada Médio e Ensino Superior. Para a compre-
de decisões pertinentes que permitam ensão de conceitos econômicos, segundo
crianças e adolescentes posicionarem-se Denegri (2007) é necessário que a pessoa
diante da sociedade de consumo como construa uma visão sistemática do mode-
pessoas conscientes, críticas, responsá- lo econômico social no qual está inserida
veis e solidárias. Denegri (2007) dividiu e, ao mesmo tempo, seja capaz de mane-
a educação econômica em três grandes jar uma série de informações específicas
linhas de pesquisa. Socialização Econô- que possibilitem agir de maneira eficaz.
mica, que é o processo de aprendizagem Resultados e considerações. No pré-teste
das formas de relacionamento com o verificou-se que vários conceitos econô-
mundo econômico mediado pela família, micos, entre eles, o de bens, serviços,
escola, nas relações com os pares e pe- inflação, sistemas econômicos, mercado,
los meios de comunicação. Alfabetização oferta, demanda, preços, funcionamen-
Econômica corresponde àqueles elemen- to bancário, bolsa de valores, consumo,
tos conceituais e práticos que permitem utilização do dinheiro, estavam muito
ao sujeito compreender as várias ativida- distantes da realidade dos estudantes do
des econômicas a que está exposto dia- ensino superior do curso de pedagogia.
riamente. E a Psicologia Econômica, que Após a intervenção pedagógica os índices
também é conhecida como psicologia do de acertos mudaram sensivelmente con-
consumo. Para Yamane (1997) o proces- forme tabela 1.
so de alfabetização econômica se refere
a aprendizagem e ao desenvolvimento

1239
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Tabela 1 - Acertos TAE-A Pré e pós-teste.

Mínimo de Máximo de Índice de


Grupos Média Desvio Padrão Mediana
acertos acertos significância

Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós
teste teste teste teste teste teste teste teste teste teste

Estudantes 7.7 13.6 2.4 1.9 8.0 14.0 2.0 8.0 12.0 17.0 <0.0001

Foi utilizado o teste Wilcoxon para amostras relacionadas p < 0,05

O teste de alfabetização econômica (TAE taxas de juros. Observa-se uma sensível


A) está dividido em quatro subtemas: Eco- mudança no pós-teste, conforme consta
nomia geral; Micro economia e economia no Gráfico 2, após intervenção pedagógi-
financeira; Macroeconomia; Economia in- ca. Para comparação das medidas avalia-
ternacional. das nos dois momentos (pré e pós-teste)
foram aplicados o teste de McNemar e o
Gráfico 1 – Subtemas do TAE A teste de Wilcoxon para amostras relacio-
nadas. O nível de significância adotado
para os testes foi de 5%. Quando conside-
Economia Geral
radas as duas condutas, houve um índice
Micro economia
Macro economica
de significância p<0.0001 para a conduta
Economia Internacional reflexiva. A média da conduta reflexiva no
pré-teste foi de 9.5 e no pós-teste de 10.7.
O desvio padrão de 2.3 foi para 1.9 e a me-
diana 10.0 foi para 11.3 respectivamente.

Grafico 2 – Hábitos e condutas de consu-


mo – condutas do consumo reflexivo.
Quanto à escala de hábitos e condutas
de consumo os estudantes mostraram- Responderam SIM no pré teste Responderam Sim no pós teste
Condutas de consumo reŇexivo
-se pouco reflexivos no pré-teste. Apre-
sentaram pouco conhecimento quanto
aos direitos e deveres dos consumidores;
somente 27% faz planejamento de com-
pras; 76% não lê a etiqueta dos produtos;
mais de 50% compra no mercado ambu-
lante, 40% acreditam que gastam mais do
que ganham e compram no crédito, mas
somente a metade deles pergunta pelas

1240
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

Os estudantes que foram submetidos mobilizar processos de desenvolvimento


ao programa de intervenção pedagógica docente em diferentes cenários, a saber:
desenvolveram condutas mais reflexi- a) um curso de especialização lato sensu
vas diante do consumo. Por exemplo, a em docência universitária; b) um curso de
compra a crédito ficou mais consciente e licenciatura em Letras: Libras; c) um curso
reflexiva, pois, antes 41,18% perguntava de licenciatura em Letras; e d) um curso
pelas taxas de juros, no pós-teste este ín- de pedagogia e na formação continuada
dice aumentou para 55,88%. A interven- de professores de uma instituição privada
ção foi capaz de provocar um processo de de ensino fundamental. Os contextos de
tomada de consciência quanto aos conhe- formação docente favorecem a constru-
cimentos econômicos implícitos no dia- ção de conhecimento que orientam o de-
-a-dia e agregou atitudes mais austeras senvolvimento pessoal e profissional dos
quanto à seleção e qualidade dos produ- professores e engendram processos de
tos e importância da compra. A pesquisa significação acerca da identidade docen-
demonstrou a necessidade de ampliação te. Nesse cenário o ensino de Psicologia
das intervenções para que as pessoas se- historicamente tem ocupado um espaço
jam alfabetizadas economicamente e sai- privilegiado, estando presente tanto na
bam atuar com consciência de seus direi- formação inicial, através de disciplinas
tos e deveres. obrigatórias nos cursos de licenciatura,
como na formação continuada, por meio
Palavras-chave: educação econômica; de disciplinas e atividades que abordam
alfabetização econômica; consumo os conhecimentos psicológicos. Porém,
consciente. nas últimas décadas têm sido realizados
estudos que evidenciam limitações no
ensino de Psicologia nessas esferas, apon-
SP LT04 - Simpósio tando uma contribuição insuficiente para
a formação docente, por apresentar-se
de forma descontextualizada da realidade
SP LT04-1222 - DESAFIOS DA PSICOLOGIA educacional, dentre outros fatores. Nessa
EDUCACIONAL EM DIFERENTES direção, pretendemos discutir aspectos
CONTEXTOS DE FORMAÇÃO DOCENTE de ordem teórico-metodológica, compre-
endendo que essa disciplina propicia um
Neste Simpósio pretendemos discutir espaço particularmente relevante para a
estudos e experiências desenvolvidas no constituição do professor, por meio do es-
ensino de Psicologia em diferentes con- tudo sobre a relação entre os processos
textos de formação de professores. O de desenvolvimento e de aprendizagem
referencial teórico-epistemológico nor- humana, e a complexidade dos fatores
teador dos participantes do Simpósio se que constituem os contextos educativos,
fundamenta na perspectiva sócio-histó- considerando os aspectos sociais, cultu-
rico-cultural do desenvolvimento huma- rais e históricos. E também visamos am-
no. Serão temas de discussão as possi- pliar a discussão sobre a qualificação de
bilidades de contribuição do ensino de práticas profissionais no ensino de Psi-
Psicologia, a partir de práticas que visam cologia com o intuito de contribuir com

1241
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

os processos de desenvolvimento adulto ck, 1999; Oliveira, Sadalla & Azzi, 2002). O
que podem ocorrer em diferentes contex- papel da Psicologia na formação inicial e
tos de formação docente. continuada dos professores tem sido tema
recorrente entre os profissionais que lidam
com a formação docente, uma vez que re-
A PSICOLOGIA NA FORMAÇÃO conhecem as contribuições dos conheci-
CONTINUADA: CONTRIBUIÇÕES mentos relativos aos processos de desen-
PARA A QUALIFICAÇÃO DO DOCENTE volvimento humano e de aprendizagem
UNIVERSITÁRIO para o fazer pedagógico (Cunha, 2008; Ma-
Alba Cristhiane Santana - UEG luf & Cruces, 2008). Porém, desde os anos
albapsico@gmail.com oitenta são realizadas críticas contunden-
tes sobre as limitações do ensino de Psi-
O presente trabalho tem como objetivo cologia nesses espaços, sendo destacada a
discutir os estudos e as experiências de- distância entre o seu conteúdo e a prática
senvolvidas em uma disciplina de Psicolo- escolar, levando a uma contribuição insufi-
gia da aprendizagem, inserida em um curso ciente na formação docente, restringindo-
de especialização lato sensu em docência -se ao contexto psicológico, sem alcançar o
universitária. Pretendo ainda refletir sobre pedagógico e muito menos o social (Gatti,
as contribuições dos conhecimentos psico- 2003; Patto, 2005; Sadalla, Bacchiegga,
lógicos em contextos de formação de pro- Pina & Wisnivesky, 2002). Larocca (2000)
fessores, destacando as possibilidades de assinala que em muitos casos a Psicologia
mediação que as disciplinas relacionadas na formação docente é trabalhada em seu
à Psicologia podem gerar aos processos aspecto estritamente teórico, de forma iso-
de desenvolvimento docente. O ensino de lada da complexidade dos contextos sócio-
Psicologia passou a fazer parte dos cursos -culturais e históricos e, principalmente,
de formação de professores na criação das desvinculada das experiências concretas
Escolas Normais, em 1830. Antunes (2007) no contexto escolar. Uma Psicologia teóri-
aponta que tais instituições propiciaram as ca e abstrata não chega aos espaços edu-
condições para a inserção dessa disciplina cativos, essa disciplina só poderá contribuir
nos primeiros cursos de pedagogia das Fa- efetivamente com a formação dos profes-
culdades de Filosofia, Ciências e Letras, na sores a partir de uma imersão na realida-
década de 1930. E por volta de 1960 a dis- de, dialogando com a prática vivenciada no
ciplina Psicologia da Educação, junto com cotidiano educacional. Algumas discussões
outras disciplinas da área pedagógica, pas- (Larocca, 2002; Sadalla et al., 2002) apon-
sou a ser obrigatória nos cursos de licen- tam para a necessidade de desenvolver
ciatura no Brasil (Guedes, 2002). Nessa tra- disciplinas de Psicologia a partir de uma
jetória, o ensino de psicologia foi se trans- perspectiva dialética de ação e reflexão,
formando, a concepção inicial de oferecer a qual ultrapassa a noção de fundamento
fundamentos para a prática docente tem teórico na formação docente, pois se am-
sido discutida e ressignificada em função pliam as possibilidades de compreensão e
da busca por uma formação que contribua de contribuição com a Educação, já que se
efetivamente com a realidade concreta traduz na interlocução entre teorias e prá-
dos variados contextos educativos (Bzune- ticas. Nessa perspectiva, a ação e a reflexão

1242
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

são fatores constituintes das disciplinas de ciaturas. A identificação desse indicador


Psicologia em contextos de formação do- orientou a elaboração do próximo passo,
cente. Partindo dessa proposta, tenho tra- cujo objetivo foi colocar o aluno em con-
balhado uma disciplina de Psicologia com tato com o contexto da educação superior,
turmas de um curso de especialização, com por meio de observações e de entrevistas
vistas a promover uma articulação entre as com docentes e discentes. A tarefa dos alu-
dimensões da teoria e da prática. E para nos foi identificar a complexidade dos fato-
alcançar tal objetivo foi desenvolvido um res que constituem esse espaço formativo
projeto de pesquisa de campo, no qual os e problematizar as questões destacadas,
alunos são instigados a realizarem investi- tendo como base o diálogo com o conhe-
gações sistematizadas no contexto educa- cimento psicológico. E a finalização do pro-
tivo, por meio de observações e entrevistas jeto foi a elaboração de um memorial, ou
qualitativas. Nesta discussão apresentarei seja, uma narrativa autobiográfica sobre a
a experiência desenvolvida com uma tur- experiência vivenciada na disciplina de Psi-
ma de 32 alunos de um curso de docência cologia e na pesquisa de campo. Na análise
universitária, que se caracterizou por ser dos memoriais foi possível levantar alguns
constituída por profissionais de diferentes indicadores sobre as contribuições que
áreas do conhecimento, como: engenha- essa disciplina pode trazer para a formação
ria, direito, fisioterapia, contabilidade, in- docente, a saber: a) a pesquisa de campo
formática, filosofia, pedagogia e diferentes contribuiu para desmistificar o contexto
licenciaturas. Essa heterogeneidade abran- da educação superior, evidenciando a di-
gia alunos que já haviam estudado psico- versidade de fatores que o constitui; b) as
logia na graduação (licenciaturas) e os que concepções sobre a mediação pedagógica
nunca estudaram (bacharelados). E em re- foram ressignificadas a partir das reflexões
lação à prática profissional, 60% dos alunos propiciadas pela articulação entre a reali-
dessa turma atuavam na educação básica e dade concreta e os conhecimentos acerca
40% não tinham experiência na docência. dos processos de ensinar e de aprender; c)
Considerando essa diversidade, o primeiro o contato com os docentes e os discentes
passo foi investigar os significados e as con- da educação superior (nas entrevistas) ge-
cepções dos alunos acerca da Psicologia rou discussões sobre as possibilidades de
em sua relação com o processo educativo. a formação acadêmica mobilizar processos
Essa investigação foi realizada por meio de de desenvolvimento profissional. Entendo
um questionário com questões abertas. As que a relação entre teoria e prática é mais
análises dos significados apresentados no complexa que uma relação de implicação
instrumento apontaram como indicador causal, na qual os saberes científicos man-
que os alunos entendiam os conhecimen- têm uma relação constitutiva com os sa-
tos psicológicos como solução de proble- beres da experiência. A complexidade do
mas relativos aos alunos e ao seu processo contexto educativo exige do professor algo
de aprendizagem, a partir de uma visão da mais do que simplesmente tomar conhe-
Psicologia como fundamento para a prática cimento das teorias psicológicas, implica
docente. Esse indicador emergiu da maio- em dialogar criticamente e produzir sig-
ria da turma, inclusive dos alunos que já nificados a partir da articulação entre co-
haviam estudado essa disciplina nas licen- nhecimentos científicos, realidade concre-

1243
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ta e prática docente. Assim, é necessário na está na sua segunda oferta. A disciplina


repensar o lugar da Psicologia no processo de Psicologia da Educação na formação de
de formação de professores, revendo as professores, nesse curso, ganha roupagem
especificidades da relação entre Psicologia desafiadora. Mesmo alguns cursos inclu-
e Educação. írem a educação especial como conteúdo
formativo, no curso de Letras-Libras o eixo
Palavras-chave: psicologia da educação, articulador da Psicologia da Educação é o
formação continuada de docentes, teoria e sujeito surdo, sua língua e sua cultura. Nes-
prática. se cenário, objetiva-se compreender sobre
Contato: Alba Cristhiane Santana, UEG, quais seriam as contribuições da disciplina
albapsico@gmail.com de Psicologia da Educação de Surdos na
formação do professor de Letras-Libras na
UFG, a partir de um estudo dos documen-
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS tos que orientam o desenvolvimento do
E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE curso e de um estudo teórico em relação
LETRAS-LIBRAS a Libras, a sua constituição e o sujeito sur-
Juliana Guimarães Faria - UFG do. Para o desenvolvimento desse estudo,
julianagf@yahoo.com.br a metodologia utilizada possui uma abor-
dagem qualitativa (Bogdan & Biklen, 1999)
A presença da Língua Brasileira de Sinais tendo como estratégia a análise de conte-
(Libras) se faz necessária em todos os cur- údo (Bardin, 2010). A análise de conteúdo
sos de formação de professores no Brasil, tem como referência o Projeto Pedagógico
pelo cumprimento da Lei 10.436/2002, que do Curso de Letras-Libras da UFG e busca
a reconhece como meio legal de comunica- identificar qual a perspectiva do curso e
ção e expressão, próprios da comunidade de que forma a Psicologia da Educação de
surda. E, também, por conta do Decreto Surdos pode contribuir com a formação do
5.626/2005, que regulamenta e determina egresso. Além disso, faz-se um estudo teó-
como se dará a formação de docentes para rico sobre a questão da Libras e da surdez
o ensino da Libras, devendo ser realizada e as especificidades desse campo para as
em nível superior, em curso de graduação práticas educativas. O Projeto Pedagógico
de Licenciatura Plena em Letras-Libras. do Curso de Letras-Libras da UFG ainda não
Este estudo nasce de inquietações e desa- foi aprovado nas instâncias superiores da
fios em relação à disciplina de Psicologia da UFG e está em fase de conclusão. Mas, já é
Educação de Surdos na formação de pro- possível perceber suas nuances. É possível
fessores para o ensino da Libras. Especifi- identificar que não há explicitação da con-
camente, em relação à formação de pro- cepção de formação de professores, mas
fessores no recém criado curso de Letras- traz esclarecimentos sobre a exposição de
-Libras da Universidade Federal de Goiás motivos em relação à criação do curso e
(UFG). A partir de 2009, inicia-se o curso de dos princípios em relação à interdisciplina-
Letras-Libras na UFG com a perspectiva de ridade e a integração entre teoria e prática
formar professores para o ensino da Libras, na formação do professor. Em relação ao
que tem como referência o sujeito surdo, perfil do egresso, o PPC traz as seguintes
aquele que é nativo nesta língua. A discipli- considerações: “Prevê-se, sobretudo, a for-

1244
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

mação de um profissional crítico, reflexivo docente. Percebe-se, ainda, que a discipli-


e investigativo, que esteja preparado para na de Psicologia da Educação de Surdos
exercer uma prática cotidiana de formação pode contribuir com o desenvolvimento
continuada, considerando o eixo episte- da percepção de linguagem enquanto ex-
mológico do curso: a linguagem. Espera-se, pressão de valores e uma cultura própria
também, que o egresso desenvolva com- da comunidade surda (Skliar, 1997). Além
petências em práticas e legislações inclu- disso, a área possui poucos estudos so-
sivas, especialmente em relação à educa- bre a psicologia da educação de surdos
ção de surdos” (PPC de Letras-Libras, UFG, e, essa realidade, acaba por impactar na
2011, p. 16). O eixo epistemológico do cur- construção da identidade e na estrutura
so é a linguagem e as capacidades práticas da própria disciplina. Compreende-se que
na educação de surdos. Quadros e Karnopp se faz importante, na prática docente do
(2004), explicam que as línguas propagam ensino de Libras, compreender a relevân-
a capacidade específica dos seres huma- cia dessa língua dentro do contexto políti-
nos para a linguagem, e que as diferentes co social que garante os direitos humanos
línguas que existem expressam bem mais linguísticos como mecanismo de inserção
do que essa capacidade para a linguagem. e integração social da comunidade surda.
Elas expressam padrões sociais, valores, Essa integração social passa pelo processo
ideais e culturas. Sendo assim, as línguas educacional e pela escola, atingindo a for-
são epifenomenais, o que significa que re- mação e a prática docente. Silva e Pereira
presentam uma multiplicidade de fatores (2003) argumentam, a partir de pesquisa
que as tornam diferentes e caracterizam realizada com professores de classes mis-
grupos sociais específicos. Essa concepção tas, com crianças ouvintes e surdas, que a
está presente no PPC do curso. Em relação dificuldade de linguagem da criança surda
à Psicologia da Educação de Surdos, apa- leva, muitas vezes, o professor a construir
rece na proposta no formato de duas dis- uma percepção equivocada do aluno sur-
ciplinas, correspondendo a 128 horas do do. Essa percepção acaba por refletir nas
currículo proposto. A oferta da disciplina suas ações em relação às crianças. Nesse
é anterior ao Estágio Supervisionado e na sentido, a Psicologia da Educação de Sur-
ementa constam os mesmos conteúdos dos pode contribuir com a formação de
que estão presentes nos outros cursos de um profissional que seja capaz de ensinar
formação de professores da UFG, mas traz mais do que uma língua, mas uma per-
o termo ‘Educação de Surdos’ como dife- cepção do surdo dentro da escola. Além
rencial. A bibliografia básica do curso apre- disso, muito ainda precisa ser estudado
senta produções em relação à psicologia sobre a forma pela qual a disciplina pode
da educação e à construção da identidade contribuir com o professor de Libras, sen-
do sujeito surdo. Mas, não há produções do necessário o avanço nos estudos sobre
específicas de pesquisas no campo da Psi- educação de surdos.
cologia da Educação. Com esse cenário,
acredita-se que o curso ainda necessita Palavras-chave: psicologia da educação,
expressar no seu PPC a própria concepção formação de professores, Libras.
de formação de professores e os desafios Contato: Juliana Guimarães Faria, UFG,
da profissão e da construção da identidade julianagf@yahoo.com.br

1245
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

FORMAÇÃO DOCENTE E INCLUSÃO reitos e deveres. O paradoxo da educação


ESCOLAR inclusiva é que apesar de sermos iguais
Candice Marques de Lima - UFG, perante a lei, somos todos diferentes nas
candicemarques1@gmail.com características físicas e especialmente nas
subjetivas. Cada pessoa se constitui num
O processo de inclusão escolar não se meio socioeconômico e cultural específico
constitui mais como novidade no cenário e cada um vai subjetivar suas vivências de
das escolas brasileiras. Desde o ano de forma diferente, sendo que isto nos tor-
1994, com a Declaração de Salamanca, na seres únicos. O grande desafio para a
a inclusão tem sido pauta importante na educação é conseguir compreender cada
educação. Um dos pontos importantes sujeito diferente e educar a todos, pois na
dessa declaração propõe que escolas re- proposta inclusiva sugere-se que o profes-
gulares que possuam orientação inclu- sor trabalhe com metodologias diferencia-
siva constituem os meios mais eficazes das para que todos os alunos aprendam.
de combater atitudes discriminatórias, Neste sentido, a psicologia tem importan-
criando-se comunidades acolhedoras, te contribuição, pois diferentemente da
construindo uma sociedade inclusiva e educação, que tenta padronizar o aluno,
alcançando educação para todos; além a primeira compreende o sujeito cons-
disso, tais escolas provêem uma educação tituído socialmente, embora com carac-
efetiva à maioria das crianças e aprimo- terísticas diferenciadas. Apesar de várias
ram a eficiência e, em última instância, o discussões teóricas a respeito da inclusão
custo da eficácia de todo o sistema edu- e de esta ser uma realidade nas escolas
cacional. A inclusão escolar, ou como tem comuns de ensino, tanto públicas quanto
sido chamada atualmente, Educação para privadas, a inclusão ainda não tem garan-
a diversidade do desenvolvimento huma- tido o seu espaço na formação docente. A
no, é uma proposta de inserção de todos partir da realidade que observamos no Es-
os alunos nas escolas comuns de ensino. tado de Goiás, a Universidade Federal de
Na proposta inclusiva é a sociedade que Goiás não propõe em sua matriz curricular
se organiza para receber todos, tanto pes- dos cursos de licenciatura disciplina sobre
soas com deficiência quanto pessoas sem Inclusão Escolar. Tendo em vista esse défi-
deficiência. A inclusão diferencia-se do pa- cit na formação docente, trabalho conte-
radigma da integração, pois neste a pes- údos referentes a inclusão nas disciplinas
soa com deficiência é quem deve lutar por de Psicologia da Educação I e II no curso
seus direitos e somente os alunos aptos de Letras da UFG. Essas discussões acon-
devem ir para a escola regular. A proposta tecem de forma breve para não prejudicar
inclusiva tem seu respaldo legal na Cons- o conteúdo extenso das duas disciplinas.
tituição Brasileira de 1988, no Estatuto da Nestas aulas são trabalhados: o conceito
Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e de inclusão, as leis que respaldam o pro-
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação cesso inclusivo e a terminologia inclusiva
de 1996. Em todas essas leis indica-se necessária para o tratamento das pesso-
que todas as crianças devem freqüentar a as com necessidades educacionais espe-
escola comum de ensino, pois todos são ciais (n.e.e.). Infelizmente não há tempo
iguais perante a lei, com os mesmos di- disponível para trabalhar possibilidades

1246
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

de metodologias em sala de aula que fa- propor disciplinas voltadas para a compre-
voreçam o ensino de pessoas com n.e.e. ensão do processo inclusivo nas escolas e
No curso de Letras da Universidade Fede- para o desenvolvimento de metodologias
ral de Goiás, há uma disciplina semestral de ensino aos alunos.
- Prática como Componente Curricular
(PCC), com carga horária de 50 horas, em Palavras-chave: inclusão escolar, formação
que cada professor oferece uma proposta docente, necessidades educacionais especiais
de pesquisa aos alunos. Na tentativa de Contato: Candice Marques de Lima, UFG,
possibilitar uma melhor compreensão do candicemarques1@gmail.com
processo de inclusão escolar, tenho ofere-
cido essas disciplinas dirigidas ao tema da
inclusão. No semestre de 2010/2, alunos EDUCAÇÃO INCLUSIVA, A FORMAÇÃO
inscritos na pesquisa entrevistaram pro- CONTINUADA E A PRÁTICA DOCENTE:
fessores e produziram relatório sobre In- UM DESAFIO PARA A ESCOLA.
clusão Escolar e Formação Docente. Nes- Ádria Assunção Santos de Paula - UFG/CESJ
sas entrevistas os professores expuseram adriapsi1@yahoo.com.br
a necessidade de uma formação que pos-
sibilite sua atuação em sala de aula com O contexto educacional brasileiro atraves-
a diversidade. No semestre de 2011/1, sa grandes mudanças após a criação da úl-
alunos fizeram entrevistas com pessoas tima Lei de Diretrizes e Bases da Educação
com necessidades educacionais especiais Nacional (LDB 9394/96). Esse documento
que desde o início de sua vida escolar es- reafirma o direito de todos os cidadãos
tudaram em escolas comuns de ensino e brasileiros à educação na rede regular de
que atualmente estão em cursos superio- ensino, tenham eles deficiências, neces-
res ou já terminaram a graduação. O tema sidades educacionais especiais (n.e.e.) ou
da pesquisa era Histórias de Sucesso em não. A escola regular precisa atender a
Inclusão Escolar, entendendo-se como todos os alunos, desde que eles possam
sucesso o fato de pessoas com n.e.e. te- aprender e beneficiar-se da convivência
rem acesso a cursos de graduação. As em um ambiente social comum como é a
análises das entrevistas apontaram como escola. Esse atendimento está previsto na
indicadores que as pessoas estão satisfei- Constituição Federal de 1988, art. 208: “o
tas com os cursos de graduação; um dos dever do estado com a educação será efeti-
entrevistados, com deficiência visual, já vado mediante a garantia de (...) III- atendi-
concluiu o curso em Direito e é concur- mento educacional especializado aos por-
sado no Tribunal de Justiça de Goiânia, e tadores de deficiência, preferencialmente
todos os dez entrevistados disseram ser na rede regular de ensino”. De acordo com
pessoas felizes. Uma das entrevistadas, a LDB 9394/96, no artigo 58, “entende-se
que era surda, disse ser “a pessoa mais por educação especial, para efeitos dessa
feliz do mundo”. Nossa tentativa é possi- lei, a modalidade de educação escolar ofe-
bilitar que os alunos de licenciatura em recida preferencialmente na rede regular
Letras possam ter acesso a informações de ensino para educandos portadores de
básicas sobre inclusão escolar. Entretanto necessidades especiais”. São consideradas
seria necessário que a instituição pudesse necessidades educacionais especiais: defi-

1247
VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

ciência mental, deficiência auditiva, defi- construção de uma educação efetivamen-


ciência visual, deficiência física, deficiên- te inclusiva. Diante desta necessidade,
cias múltiplas, altas habilidades, condutas ministrando aulas no curso de Pedagogia
típicas (síndromes, quadros psiquiátricos em uma Instituição de Ensino Superior
e/ou neurológicos). Além das descritas na cidade de Goiânia, elaborei, no ano de
anteriormente, há o fracasso escolar, as 2003, o programa da disciplina Educação
dificuldades e distúrbios de aprendizagem Inclusiva, cujo referencial teórico se apóia
- multirrepetência – a condição dos sujei- na perspectiva da psicologia Histórico-
tos pertencentes às minorias e em situa- -Cultural. Tal disciplina é ministrada em
ções atípicas: alunos circenses, alunos ad- dois semestres - Educação Inclusiva I e
vindos da zona rural, migrantes. Segundo Educação Inclusiva II - cujos objetivos são:
Mantoan (1997) “inclusão refere-se à vida compreender a inclusão escolar como um
social e educativa; todos devem ser inclu- processo dialético, constituído a partir de
ídos (ritmos e modalidades de aprendiza- pressupostos históricos, epistemológicos,
gem); supõe mudanças físicas no ambien- teóricos e das políticas públicas; Discutir
te; adoção de segunda língua para todos o processo de aprendizagem dos sujeitos
os alunos; apoio técnico e instrumental com necessidades educacionais especiais
para professores e alunos.” Sabemos que a partir dos conhecimentos produzidos
a escola, da forma como está organizada, pela psicologia; Discutir o processo de for-
não conseguirá atingir a meta proposta mação do profissional inclusivo na escola,
pela lei. É preciso que haja uma profunda enfatizando a formação do professor. A
reorganização epistemológica, curricular e disciplina colabora sobremaneira para a
metodológica para que consigamos pro- formação dos futuros professores. Embora
porcionar o desenvolvimento a todos os não tenha o objetivo de aprofundar-se em
alunos. O processo inclusivo só ocorrerá temas específicos relacionados às defici-
de fato quando toda comunidade educati- ências, oferece oportunidade para que os
va estiver envolvida e, sobretudo, quando graduandos construam uma base teórica
os diversos segmentos da escola – admi- importante para buscarem o aperfeiçoa-
nistração, direção, professores e funcioná- mento em cursos de pós-graduação. Atu-
rios – se conscientizarem de que todos são ando, concomitantemente, como psicólo-
responsáveis pela aprendizagem e pelo ga escolar/educacional em uma instituição
desenvolvimento de cada aluno. Além da privada de ensino fundamental, constatei
conscientização, é necessário que ações que há a necessidade de que a escola pro-
práticas, efetivas, previstas pedagógica e mova a formação continuada de seus pro-
financeiramente, sejam implementadas fessores e de todos aqueles que compõem
de forma planejada, de acordo com a de- o ambiente escolar, uma vez que a maioria
manda vivenciada pela instituição. Neste deles não cursou nenhuma disciplina que
contexto, formar, capacitar e instrumen- discutisse a perspectiva da educação inclu-
talizar o professor para contribuir com a siva em seus cursos de graduação. Com o
promoção de aprendizagem e de desen- objetivo de intervir nesta realidade elabo-
volvimento de todos os alunos, inclusive rei o projeto de Educação Inclusiva da es-
daqueles com necessidades educacionais cola, o qual prevê, dentre outros objetivos,
especiais é uma condição básica para a promover a capacitação teórico-prática

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VIII Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento

dos professores e funcionários, de acordo SP LT04 - Simpósio


com a demanda do cotidiano pedagógico
e do funcionamento da escola em geral,
realizada por uma equipe multiprofissio- SP LT04-1444 - O DESENVOLVIMENTO
nal composta por psicólogo (a), fonoaudi- DE COMPETÊNCIAS NA EAD DIGITAL E
ólogo (a), professores com formação para A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
atuarem junto aos alunos com as diferen- EM AMBIENTES VIRTUAIS DE
tes n.e.e.’s, além

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