a. 177
n. 472
jul./set.
2016
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
DIRETORIA – (2015-2016)
Presidente: Arno Wehling
1º Vice-Presidente: Victorino Chermont de Miranda
2º Vice-Presidente: Affonso Arinos de Melo Franco
3º Vice-Presidente: José Arthur Rios
1º Secretário: Cybelle Moreira de Ipanema
2º Secretário: Maria de Lourdes Viana Lyra
Tesoureiro: Fernando Tasso Fragoso Pires
Orador: Alberto da Costa e Silva
CONSELHO FISCAL
Membros efetivos: Antonio Gomes da Costa, Luiz Felipe de Seixas Corrêa,
Marilda Correia Ciribelli
Membros suplentes: Marcos Guimarães Sanches, Pedro Carlos da Silva Telles,
Roberto Cavalcanti de Albuquerque
CONSELHO CONSULTIVO
Membros nomeados: Antonio Gomes da Costa, Carlos Wehrs, Célio Borja,
José Pedro Pinto Esposel, Miridan Britto Falci e Vasco
Mariz
DIRETORIAS ADJUNTAS
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Biblioteca: Claudio Aguiar
Cursos: Antonio Celso Alves Pereira
Iconografia: Pedro K. Vasquez
Informática e Dissem. da Informação: Carlos Eduardo de Almeida Barata
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Relações Externas: Maria Beltrão
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Coordenação da CEPHAS: Maria de Lourdes Viana Lyra e Lucia Maria Paschoal
Guimarães (subcoord.)
Editor do Noticiário: Victorino Chermont de Miranda
COMISSÕES PERMANENTES
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Alberto Venancio Filho Cândido Mendes de Almeida Alberto Venancio Filho
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Fernando Tasso Fragoso Pires José Murilo de Carvalho João Maurício A. Pinho
José Arthur Rios Maria Beltrão Victorino Chermont de Miranda
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Sumários Correntes Brasileiros
Correspondência:
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Tiragem: 700 exemplares
Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Revisora: Sandra Pássaro
Secretária da Revista: Tupiara Machareth
Trimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450
(2011)
N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional. – N. 427: Inventá-
rio analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia e Oceania integrante do acervo
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro / coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley
– N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26 de maio de 2006.
– N. 436: Curso - 1808 - Transformação do Brasil: de Colônia a Reino e Império.
CONSELHO CONSULTIVO
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António Manuel Botelho Hespanha – Universidade Nova Lisboa – Lisboa – Portugal
Edivaldo Machado Boaventura – Universidade Federal da Bahia – Salvador-BA-Brasil
Fernando Camargo – Universidade Federal de Pelotas – Pelotas-RS – Brasil
Geraldo Mártires Coelho – Universidade Federal do Pará – Belém-PA – Brasil
Guilherme Pereira das Neves – Universidade Federal Fluminense – Niterói-RJ – Brasil
José Marques – Universidade do Porto – Porto – Portugal
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Maria de Fátima Sá e Mello Ferreira – ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa – Lisboa – Portugal
Mariano Cuesta Domingo – Universidad Complutense de Madrid – Madrid – Espanha
Miridan Britto Falci – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Nestor Goulart Reis Filho – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Renato Pinto Venâncio – Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto-MG – Brasil
Stuart Schwartz – Universidade de Yale-Connecticut – EUA
Ulpiano Bezerra de Meneses – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Victor Tau Anzoategui – Universidade de Buenos Aires – Buenos Aires – Argentina
SUMÁRIO
SUMMARY
Carta ao Leitor 11
Lucia Maria Paschoal Guimarães
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Sobre a história da historiografia brasileira: um breve panorama 13
On the history of brazilian historiography: a brief overview
Maria da Glória de Oliveira
Rebeca Gontijo
Os caminhos do sertão 39
The paths of the hinterland
André Heráclio do Rêgo
A “mal-aventurada escolha”: d. Pedro I e a nomeação 77
dos senadores em 1826. Estratégias políticas na formação do
Legislativo brasileiro.
The “ill-fated choice”: D. Pedro I and the appointment of the se-
nators in 1826. Political strategies in the formation of the brazilian
legislature.
Marina Garcia de Oliveira
Monica Duarte Dantas
República e soberania antes de 1889 117
Republic and sovereignty before 1889
David F. L. Gomes
A monarquia e os banhos de mar: o caso brasileiro 147
The monarchy and sea bathing in brazil
Paulo Francisco Donadio Baptista
Um republicano em plena monarquia. A construção 165
das memórias de Ramiz Galvão no IHGB
A republican in the midst of the monarchy: constructing the memo-
ries of Ramiz Galvão in IHGB
Ana Paula Sampaio Caldeira
O que há de errado com o português? O processo de 197
adaptação linguística de Stefan e Lotte Zweig no país do futuro
What’s wrong with portuguese? Stephen and Lotte Zweig´s
language adaptation process in the country of the future
Maria das Graças Salgado
Eduardo Silva
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Um pioneiro da limnologia no Brasil: 215
Herman Kleerekoper (1910-2005)
A pioneer in the field of limnology in brazil: Herman Kleerekoper
(1910-2005)
Melquíades Pinto Paiva
O 70º aniversário do final da Segunda Guerra Mundial 227
e o seu significado para o Brasil
The 70th anniversary of the end of the Second World War
and its meaning for Brazil
Sérgio Paulo Muniz Costa
D. João III, D. Catarina e o Rio de Janeiro 255
D. João III, D. Catarina and Rio de Janeiro
Fernando Lourenço Fernandes
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
E-236 – Pastorais e Editais. 1742-1838. Um códice 273
sobre rituais no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro
E-236 – Pastorals and Edicts. 1742-1838. A Codex about rituals in
the Archive of the Metropolitan Curia of Rio de Janeiro
Beatriz Catão Cruz Santos
V – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
D. Marcos de Noronha e Brito, 8º Conde dos Arcos 317
(Elementos para uma biografia)
Armando Alexandre dos Santos
Azulejaria em Belém do Pará. Inventário. 325
Arquitetura Civil e Religiosa. Século XVIII ao XX
Cybelle de Ipanema
• Instrução aos autores 329
Guide for the authors 331
Carta ao Leitor
Nos últimos quinze anos, a história da historiografia brasileira co-
nheceu grandes avanços e consolidou-se como campo de investigação
fecundo. Neste número da R.IHGB, a seção Artigos e Ensaios apresenta
um balanço panorâmico desse movimento renovador, produzido por Ma-
ria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo. As autoras apontam os fatores
que contribuíram para a emergência de uma reflexão historiográfica nos
anos 1970, bem como discutem os novos modelos de pesquisa que possi-
bilitaram a reconfiguração do campo, a partir do final da década de 1980.
O segmento Artigos e Ensaios traz mais seis inéditos, a começar
pela análise de André Heráclio do Rêgo sobre os chamados “caminhos
do sertão”. Ele demonstra como o processo de conquista do território e
o seu povoamento ajudaram a implantar a soberania portuguesa seja nos
sertões americanos, seja nos sertões de África. Por sua vez, a instigan-
te contribuição de Marina Garcia de Oliveira e Monica Duarte Dantas
examina as estratégias políticas empregadas por D. Pedro I na formação
do Legislativo brasileiro, em especial, na composição do Senado impe-
rial, cujos membros eram vitalícios. Ainda no âmbito da história políti-
ca, David F. L. Gomes oferece um alentado ensaio sobre a história dos
conceitos de república e de soberania no Brasil antes da proclamação de
1889, tomando como exemplo paradigmático os escritos de Frei Caneca.
Já a colaboração de Francisco Donadio Baptista – um exercício de micro-
-história – contempla a prática dos banhos de mar no Rio de Janeiro no
século XIX, iniciada pelos membros da familia real portuguesa (D. João
e D. Carlota Joaquina) e, depois da independência, cultivada pelos mem-
bros da família imperial. O artigo de Ana Paula Sampaio Caldeira tem
como objeto a figura do médico Benjamin Franklin de Ramiz Galvão. Ela
aborda a atuação de Ramiz no cenário intelectual do Segundo Reinado
e depois o papel proeminente que desempenhou no Instituto Histórico
já no período republicano ao lado de Max Fleiuss e do conde de Afonso
Celso, devassando as memórias de Ramiz construídas no IHGB, no seu
entender, um espírito republicano em plena monarquia. A seção se encer-
ra com o ensaio da dupla Maria das Graças Salgado e Eduardo Silva, que
joga luz sobre a presença do escritor austríaco Stefan Zweig e sua esposa
alemã Lotte no Brasil, centrando o foco no processo de adaptação do ca-
sal Zweig às particularidades do idioma de Camões, no “país do futuro”.
Na parte destinada às Comunicações, em que se divulgam trabalhos
expostos nas sessões da CEPHAS/IHGB, o sócio titular Melquíades Pin-
to Paiva se debruça na história de vida do cientista holandês Hermann
Kleerekoper (1910-2005), um dos pioneiros no estudo da limnologia
no Brasil, enquanto o sócio correspondente Sérgio Paulo Muniz Costa,
a propósito da passagem do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra
Mundial, tece comentários sobre a efeméride e o seu significado para o
nosso país. Outro sócio correspondente, Fernando Lourenço Fernandes,
examina o contexto internacional que levou à fundação da cidade do Rio
de Janeiro, em 1565, articulando a presença francesa na Guanabara com
a tentativa de colonização dos huguenotes na Flórida, em 1562, chefiados
por Jean Ribauld.
A seção Documentos reproduz um conjunto de manuscritos íneditos,
sob o título “Pastorais e Editais. 1742 – 1838”. Trata-se de um códice que
reúne diversos tipos de documentos relativos aos rituais eclesiásticos no
Rio de Janeiro. A transcrição vem acompanhada de ensaio crítico, redigi-
do por Beatriz Catão Cruz Santos.
Arrematam o número duas resenhas. A primeira é de autoria de Ar-
mando Alexandre dos Santos e aborda o livro D. Marcos de Noronha e
Brito, 8º Conde dos Arcos (Elementos para uma biografia) – (Lisboa:
Academia Porguesa da História, 2011), escrito por um descendente do
fidalgo português, o seu hexaneto D. Marcus de Noronha da Costa. A
segunda vem assinada por Cybelle de Ipanema, que esquadrinha a obra
Azulejaria em Belém do Pará. Inventário. Arquitetura Civil e Religiosa.
Século XVIII ao XX. (Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
tístico Nacional, 2016), contribuição produzida pelas especialistas Dora
Alcântara, Stella Regina Soares de Brito e Thais Alessandra Bastos Ca-
minha Sanjad.
Boa leitura!
Lucia Maria Paschoal Guimarães
Diretora da Revista
13
I – ARTIGOS E ENSAIOS
ARTICLES AND ESSAYS
Resumo: Abstract:
Neste ensaio, propomos um balanço, mais pano- We propose in this essay to present an overview
râmico do que exaustivo, dos estudos de história rather than an in-depth analysis of the studies of
da historiografia no Brasil, de modo a destacar the history of historiography in Brazil in order
questões e temas mais frequentes, bem como to address some of the more frequent questions
possibilidades e perspectivas de investigação and topics related to it, as well as to focus on
que contribuíram para a configuração dessa the possibilities and research perspectives that
subárea de pesquisa. Na primeira parte da ex- contributed to the configuration of this research
posição, procuramos mapear a emergência de sub-area. First, we seek to map the emergence
uma reflexão historiográfica, que se evidencia of a historiographical reflection, evidenced by
com os trabalhos desenvolvidos até a década de the works developed up to the 1970s. We then
1970 e, na segunda, destacamos alguns modelos highlight some models of historiographical re-
de pesquisa historiográfica surgidos a partir da search that emerged from the 1980s onwards
década de 1980, que se constituíram em referên- and which have become landmark references
cias balizadoras para as pesquisas produzidas for the researches produced in the following
nas décadas seguintes. decades.
Palavras-chave: História da historiografia; his- Keywords: History of historiography; contem-
toriografia brasileira contemporânea; Teoria da porary Brazilian historiography; theory of his-
História. tory.
mais sistemático de estudo e escrita foi posto em prática por José Honório
Rodrigues entre os anos 1940 e 1970.8
dade de seu projeto pode ser medida não apenas pelas intenções explícitas
de conjugar o exame da teoria e da historiografia brasileira, mas também
pela forma de divulgação de seus trabalhos para um público amplo, com-
posto por estudantes universitários de história e professores secundários,
por meio da importante coleção Brasiliana, dedicada à edição de estudos
nacionais e estrangeiros sobre o Brasil, com destaque para pesquisas his-
tóricas. Tal empreendimento teve participação efetiva no movimento de
“redescobrimento do Brasil” ocorrido ao longo dos anos 1930 e 1940.
Por meio desse projeto, José Honório expôs as linhas gerais para
a interpretação da história da história do e no Brasil, listando nomes e
obras, estabelecendo uma cronologia da produção historiográfica, tecen-
do relações entre essa produção e as teorias da história. Mas, além disso,
tal empreendimento possui uma clara função crítica. Seu alvo principal
é aquela historiografia que o autor considerava distante dos interesses
nacionais, incapaz de dar conta do processo de emancipação do país. Em
sua opinião, essa historiografia a ser ultrapassada só tinha olhos para a
história colonial, não sendo capaz de desenvolver seu oposto: uma histó-
ria nacional. A primeira, consitiria em uma escrita da história inspirada
por valores estrangeiros e compromissada com a difusão de ideologias
antinacionais. A segunda, que ainda não estaria plenamente desenvolvida,
representaria o pensamento genuinamente brasileiro. Segundo o autor, a
historiografia brasileira era “um espelho de sua própria história”, inega-
velmente integrada à sociedade de que era parte, por meio de um “nexo é
econômico e ideológico”.11
12 – RODRIGUES, José Honório. Vida e história. São Paulo: Perspectiva, 1986, p. 62.
13 – RODRIGUES apud MARQUES, Ana Luíza. José Honório Rodrigues: uma siste-
mática teórico-metodológica a serviço da História do Brasil. Rio de Janeiro: PUC/Pós-
-Graduação em História, 2000, p. 5 (nota 17). Dissertação de mestrado.
Ainda nos anos 1970, dois livros se destacam por abordar a produção
historiográfica oitocentista na interseção com a história política e a ques-
tão nacional, ambos frutos de teses de doutoramento: O fardo do homem
branco: Southey, historiador do Brasil (1974), de Maria Odila Leite da
Silva Dias; e João Francisco Lisboa: jornalista e historiador (1977), de
Maria de Lourdes Mônaco Janotti.
18 – Idem, p. 10
32 – A tese foi traduzida por Paulo Knauss e Ina de Mendonça, e publicada no Brasil
postumamente: GUIMARÃES, Manoel L. Salgado. Historiografia e nação no Bra-
sil:1838-1857. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
33 – Idem, p. 52.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
François Hartog identificou na emergência de uma consciência his-
toriográfica, desde o final dos anos 1980, o fenômeno mais amplo de crise
do regime moderno de historidade, caracterizada pelo presentismo (“um
presente onipresente”), que se faz acompanhar pela experiência de “um
futuro imprevisível” e de “um passado visitado e revisitado de forma
incesssante e compulsiva”.37 No âmbito da produção acadêmica, tais mu-
tações talvez nos permitam refletir sobre as relações que as pesquisas
atuais de história da historiografia mantêm com o que podemos identi-
ficar como uma “tradição” de estudos historiográficos, sobretudo aquela
que, no passado recente (entre os anos de 1970-80), consolidou certos
modelos de análise.38 Como foi destacado acima, em grande parte desses
estudos “precursores”, havia a explícita preocupação de retirar a histo-
riografia brasileira de um nicho originalmente ocupado nas histórias da
literatura nacional, para situá-la entre os objetos privilegiados de análise
dos historiadores, tomando-a como “documento” para a identificação das
linhas de “evolução” da história da disciplina.
37 – HARTOG, François. Prefácio. In: O século XIX e a história: o caso Fustel de Cou-
langes. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003, p. 2.
38 – Um balanço analítico cuidadoso dos trabalhos mais recentes na área, incluindo pes-
quisas realizadas desde o início dos anos 2000, ainda está por ser feito. Neste sentido, des-
tacamos o mapeamento inicial dessa produção em: ARAÚJO, O século XIX no contexto
da redemocratização brasileira, op. cit..
Referências bibliográficas
Anais do I Seminário de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB/USP, 1971. 3 vo-
lumes.
ARAÚJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na for-
mação nacional brasileira (1813-1845). São Paulo: Editora Hucitec, 2008.
ARAÚJO, Valdei Lopes de. O século XIX no contexto da redemocratização
brasileira: a escrita da história oitocentista, balanço e desafios. In: OLIVEIRA,
Maria da Gloria de e ARAÚJO, Valdei L. de (org.) Disputas pelo passado: his-
tória e historiadores no Império do Brasil. Ouro Preto/MG: EdUFOP/PPGHIS,
2012.
BEZERRA, Alcides. Os historiadores do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro:
Oficinas Gráficas do Arquivo Nacional, 1927.
BLANKE, Horst W. Para uma nova história da historiografia. In: MALERBA,
Jurandir (org.). A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo:
Editora Contexto, 2006, pp. 27-64.
OS CAMINHOS DO SERTÃO
THE PATHS OF THE HINTERLAND
André Heráclio do Rêgo1
Resumo: Abstract:
Os caminhos do sertão foram decisivos para a The paths of the hinterland both in America
conquista do território e para o seu povoamen- and in Africa were decisive for the conquest of
to, seja nos sertões americanos, seja nos sertões territory and its settlement. The process was
africanos. Esse processo se caracterizou, de um characterized on the one hand by persistence,
lado, pela persistência e, de outro, pela desconti- and on the other by discontinuity, both in time
nuidade, tanto no tempo quanto no espaço. Ter- and space. Whether terrestrial or fluvial, wide
restres e fluviais, amplos e mesquinhos, estradas or narrow, royal or damaged, these paths were
reais e picadas, esses caminhos, boa parte dos used by the natives on both sides of the Atlantic
quais aproveitados dos nativos dos dois lados and helped to establish Portuguese sovereignty
do Atlântico, ajudaram a implantar a soberania in the back lands, however fragile and precari-
portuguesa naqueles sertões, por mais frágil e ous it may have been. Originating in Brazil in
precária que ela fosse. Tendo como origem, no the hubs of Olinda, Salvador, Rio de Janeiro and
Brasil, os núcleos de Olinda, Salvador, Rio de São Paulo, and in Africa in cities like Luanda,
Janeiro e São Paulo e, na África, de Luanda, Bié, Sofala, these paths were essential not only
Bié, Sofala e outros, esses caminhos foram es- for exploitations, discoveries and movement
senciais para as tentativas de exploração e des- of troops, but also for daily activities such as
cobrimento e para a circulação de tropas, mas trade and the transportation of goods by mules
também para atividades mais comezinhas como or by the natives. Built on the initiative of the
as trocas comerciais e o transporte de mercado- Crown, with or without its collaboration or con-
rias, seja nos lombos das mulas, seja nas costas sent, they were also one of the favored places
dos nativos. Feitos por iniciativa da Coroa, com for the expression of one of the great paradoxes
sua colaboração ou a sua revelia, foram, tam- of the Portuguese expansion and colonization
bém, um dos locus privilegiados para a manifes- process, namely the permanent tension, not to
tação de um dos grandes paradoxos do processo mention confusion, between the public and pri-
de expansão e colonização portuguesa: a tensão vate realms.
permanente, para não dizer a confusão, entre o
público e o privado.
Palavras-chave: Brasil; África Portuguesa; Keywords: Brazil; Portuguese Africa, hinter-
Sertões; Expansão; Ocupação. land, expansion, occupation.
10 – Idem, p.25.
11 – MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geográfica do Brasil colonial, p.289.
12 – LIMA SOBRINHO, Alexandre José de Barbosa. O devassamento do Piauí. São Pau-
lo: Companhia Editora Nacional, 1946.
13 – HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras, p.13.
Havia caminhos de São Paulo para Cuiabá, também por terra e por
rio, em meio a “cachoeiras seguidas” e “matas muito grossas”, povoadas
ainda de muitas nações de gentios, muito ferozes, que viviam “vagos sem
domicílio”18. É o caso daquele que passava pela Vila Boa de Goiás, de
cuja abertura foi encarregado o cartógrafo Tosi Colombina, em troca da
concessão do seu rendimento por dez anos, em 1750. A iniciativa não foi
adiante, por falta de recursos do interessado. Havia caminhos também
para o sertão paraguaio, “parte de navegação, parte de viagem por terra”,
que ligavam o litoral brasileiro ao Peru. O Paraguai era o epicentro des-
sas comunicações, que visavam instituir uma nova – e informal – rota da
prata, em concorrência com a oficial.
de Proença, a abertura do novo Caminho para as Minas, iniciado por Garcia Rodrigues
Pais. AHU-Rio de Janeiro, cx. 19, doc. 124. AHU_CU_017, Cx. 18, D. 2022.
17 – MACHADO, Marina Monteiro. Duas gerações de caminhos pelos sertões: Fernão
Dias Pais e Garcia Rodrigues Pais. In: MOTTA, Márcia; SERRÃO, José Vicente; MA-
CHADO, Marina (orgs). Em terras lusas: conflitos e fronteiras no Império Português.
Vinhedo: Editora Horizonte, 2013, pp. 23-53, pp. 42 e 43.
18 – “Demonstração dos diversos caminhos de que os moradores de São Paulo se servem
para os rios Cuiabá e Província de Cochiponé”. Anais do Museu Paulista, Tomo I. São
Paulo: Oficinas do Diário Oficial, 1925, pp. 459-464, pp. 460 e 462.
Havia, por fim, dois caminhos que ligavam São Paulo aos extremos
da colônia. O primeiro deles, o Caminho Geral do Sertão, que ia dar no
rio São Francisco, rota para caçar índios e alcançar o norte. Este caminho
foi descrito em manuscrito arquivado na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa,
intitulado Das vilas de São Paulo para o Rio São Francisco19. Este ma-
nuscrito, de autoria provável de dom Luís César de Meneses, governador-
-geral do Brasil entre 1705 e 1710, fez uma das primeiras descrições dos
caminhos para as Minas Gerais a partir de São Paulo, baseados em um
eixo central, o mencionado Caminho Geral do Sertão, que se desdobrava
em inúmeras picadas e veredas, praticamente impossíveis de controlar.
Ele, aberto por paulistas em demanda do sertão do São Francisco, fonte
de tapuias para apresar, que segundo o manuscrito seriam as “melhores
minas”, praticamente desconsiderava a região das minas, e seguia rumo
ao norte, encontrando e se interligando com caminhos oriundos da Bahia,
de Pernambuco e do Maranhão20.
19 – “Das Vilas de São Paulo para o Rio de São Francisco (…)”. Anais da Biblioteca Na-
cional do Rio de Janeiro, vol. LVII, 1935. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Ministério
da Educação, 1939, pp. 172-186.
20 – RESENDE, Maria Efigênia Lage de. Itinerários e interditos na territorialização das
Gerais. In: RESENDE, Maria Efigênia e VILLALTA, Luiz Carlos (orgs.). História de
Minas Gerais. As Minas Setecentistas. Vol 1. Belo Horizonte: Autêntica, Companhia do
Tempo, 2007, pp. 25-53, pp. 39, 40 e 41.
21 – ELLIS JUNIOR, Alfredo. ‘O ciclo do muar’. Revista de História, nº 1., janeiro-
-março, 1950, São Paulo.
OS CAMINHOS DA BAHIA
Mais ao norte havia os caminhos baianos, como aquele que ia de Sal-
vador ao São Francisco, pelas freguesias de Itapicuru, Lagarto, Itabaiana
e Jeremoabo, descrito por volta de 1698 na Informação sobre o estado das
missões nos sertões da Bahia e Pernambuco como um dos três caminhos
mais comuns entre a capital baiana e os “dilatadíssimos sertões”. Trata-se
de um dos mais antigos caminhos sertanejos, mencionado por Martinho
de Nantes, que o teria frequentado. Outros caminhos baianos seriam os
do Peruaçu, Jacobina e Morro do Chapéu, mencionados anos depois por
Domingos Afonso Sertão em carta para o governador-geral, em 1702.
Esta carta, dirigida a dom João de Lencastro, é de extrema valia como
testemunho feito por um dos mais célebres sertanistas. Domingos Afonso
nela descreveu, a pedido do governador, os “caminhos, povoações e dis-
22 – Essas notícias podem ser encontradas no manuscrito sob o código CXVI 1-15, FLS.
169-178V, da Biblioteca Pública de Évora.
23 – GOULART, José Alípio. Tropas e tropeiros na formação do Brasil. Rio de Janeiro:
Conquista, 1961.
24 – A Estrada Coimbrã era o caminho principal que ligava o norte ao sul de Portugal, a
partir de Coimbra, desde o século XII. Vale por estrada principal.
25 – RAU, Virginia; SILVA, Maria Fernanda Gomes da. Os manuscritos do arquivo da
beira deste último até as minas de ouro à sua margem, bem como co-
municando-se com “todas as minas descobertas, assim para as chamadas
gerais [do sertão dos Cataguases] como para as do Serro Frio e para todas
as outras de que se tira ouro por entre aquelas dilatadas serras”29. O certo
é que, por esse caminho, vieram muita gente e muitos problemas, dos ser-
tões da Bahia para as minas, como especificou esse testemunho coetâneo:
E com notícias de haver ouro nestas minas e povoação de gente, vie-
ram do sertão da Bahia abrindo picadas e trazendo algum gado para
elas, e o grande preço por que vendiam a cabeça, que era a meia libra
de ouro naqueles princípios, os animava à esterilidade do caminho, no
qual morreu muita gente naquele tempo de doenças e à necessidade,
e outros que matavam para os roubar na volta, que levavam o ouro, e
ainda os camaradas que iam juntos fazer seu negócio ou de retirada
com algum ouro matavam uns aos outros pela ambição de ficarem
com ele, como sucederam muitos casos destes; e pelo tempo em diante
se foram franqueando mais os caminhos com a muita gente que para
elas veio de toda América, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São
Paulo, e também do sertão, que é muito extenso e tem muita gente. E
fizeram arraiais onde achavam melhores conveniências, que alguns
são hoje vilas, como seja esta Vila Rica, a Cidade Mariana, duas no
Rio das Mortes, a do Sabará, Caeté, Pitangui, Serro do Frio30.
OS CAMINHOS DE PERNAMBUCO
Durante a ocupação holandesa, ao contrário do que geralmente se
supõe, houve uma certa penetração nos sertões, pelo estabelecimento de
novos caminhos que procuravam escapar do encontro com os flamengos,
que ocupavam o litoral. Assim, além das rotas de abastecimento de gado
e mão de obra indígena, foram abertos caminhos para o deslocamento de
tropas, dos quais o mais famoso foi o de Luís Barbalho Bezerra. A esse
se deve acrescentar o caminho do Camarão, trilha de 70 léguas utilizada
por Filipe Camarão e sua tropa de índios nas suas tropelias contra os
holandeses31. O resultado foi o aprofundamento das relações entre as ca-
29 – Das Vilas, p. 174.
30 – “Relação do princípio descoberto destas Minas Gerais...
31 – CASCUDO, Luiz da Câmara. Geografia do Brasil holandês. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1956, p. 169.
O CAMINHO DO BRASIL
A busca e a exploração desses caminhos do sertão revelavam uma
visão estratégica que, em primeira mão, era a Coroa e seus agentes que
possuíam. Essa visão estratégica se consubstanciou sobretudo no que se
refere à descoberta e exploração do chamado caminho do Brasil, que li-
gava este ao Maranhão, então Estado separado formalmente, e difícil de
alcançar pelo mar, devido às correntes marítimas contrárias34.
37 – Ibidem, p. 312.
38 – Ibidem.
39 – Ibidem, p. 314.
40 – PUNTONI, Pedro, op. cit. Patente de Manuel Gonçalves Pereira, 28 de março de
1695 […] citado por Afonso de E. Taunay. História Geral das bandeiras paulistas, São
Paulo, 1950, vol. 6, pp. 287-8, p. 28.
41 – ANTONIL, André João, op. cit., Anexos, – Arq. Casa Cadaval – Cód. 1087, fl. 399-
400), pp. 401 e 402.
59 – Grande império dos sertões austrais africanos, que floresceu a partir do século XV.
60 – SANTOS, Maria Emília Madeira. Viagens de exploração terrestre, pp. 71 e 73.
61 – Idem, p. 75.
62 – Ibidem, p. 83.
63 – Ibidem, p. 84.
O tema estava na ordem do dia desde a época de dom João II, quan-
do se esboçou a ideia de um caminho ligando a costa ocidental e a costa
oriental da África, havendo, na última década do século XV, a esperança
de se chegar à Etiópia oriental, ao império do preste João, possível alia-
do contra os muçulmanos, como testemunhou um estrangeiro, Jerônimo
Munzer, em visita a Lisboa:
Desde a costa ocidental até a costa oriental há muitos domínios que
não foi possível ainda atingirmos por causa da barbárie dos indígenas
que, no entanto, se vão tornando cada vez mais tratáveis, de modo que
os portugueses esperam chegar brevemente à Etiópia oriental68.
Mas não foi assim a realidade, que evoluiu bem longe de tais pla-
nos. O que se verificou ao longo de todo o século XVII e até meados do
seguinte são diversas tentativas, de iniciativa governamental, dotadas de
meios muito modestos e que produziram resultados bastante limitados,
já que “os exércitos encontravam uma resistência tenaz e os descobrido-
72 – “Comunicação entre as duas costas africanas (1663) In: BRÁSIO, Padre Antônio.
Monumenta Missionaria Africana – África Ocidental (1655-1665), coligida e anotada
pelo padre Antônio Brásio, C.S.Sp. Vol. XII, Lisboa: Academia Portuguesa da História,
MCMLXXXI, p 474; “Relação do novo caminho que fez por terra e mar, vindo da Índia
para Portugal no ano de 1663. Padre Manuel Godinho S. J. Lisboa, 1665, cap. 24, pp. 156-
157.
73 – Idem.
por ser o sertão todo muito povoado de imensa e vária caça, como
elefantes, rinocerontes, impacaças, zebras, impalancas…80.
OS DESCAMINHOS
O governador-geral do Brasil, dom João de Lencastro, discorren-
do sobre a arrecadação dos quintos do ouro das minas, observava que
daquelas novas minas de ouro descobertas naqueles sertões do Brasil,
que prometiam riquezas e felicidades, já se previam consequências pre-
judiciais. Nesse sentido, indicava que o primeiro grande mal que pode-
ria advir daquelas minas, “seria sair o ouro pelo mesmo Tejo por onde
entrasse”, já que França, Inglaterra, Holanda e Itália, se, a exemplo do
ocorria com a prata espanhola, dele se apropriassem, “seria o proveito
todo seu e o trabalho nosso, além de que iríamos dar armas e nutrir quem
nos poderia guerrear e fazer sombra”. A esses se somavam os “inconve-
nientes no próprio Brasil, nascidos da liberdade, a todos concedida, de ir
às minas”. Com efeito, para lá se dirigia uma multidão de vagabundos e
desocupados, que viviam à margem da lei e da justiça. Havia o perigo de
se formar ali um “valhacouto de criminosos, vagabundos, e malfeitores”,
que, se rebelados, poderiam pôr em perigo todo o Brasil. Outro problema
seria que, com o livre acesso às minas, haveria no Brasil mais ouro que o
conveniente, desvalorizando-se em relação à prata, o que seria altamente
prejudicial. As minas, ademais, prejudicavam as lavouras de açúcar e de
tabaco, bases econômicas do reino, atraindo muitos dos que podiam ser-
vir nestas lavouras, que as abandonavam levados pela ambição do ouro,
tanto brancos quanto negros. O preço destes últimos subia, o que não só
dificultava mas impossibilitava a manutenção das lavouras na Bahia, em
Pernambuco e no Rio de Janeiro. Havia ainda a questão do descaminho
dos quintos reais, agravado pela livre entrada nas minas. O remédio para
82 – “Carta de dom Miguel Antônio de Melo, de 8/3/1800, para dom Rodrigo de Sousa
Coutinho”. In: FELNER, Alfredo de Albuquerque. Angola – Apontamentos sobre a colo-
nização dos planaltos e litoral do sul de Angola. Extraídos de documentos históricos por
Alfredo de Albuquerque Felner (obra póstuma). I Tomo. Lisboa: Divisão de Publicações
e Biblioteca da Agência Geral das Colônias, 1940, pp.243-247, pp. 244, 245 e 246.
tais males seria, em primeiro lugar, proibir, sob pena de morte e confisca-
ção de bens, que se fosse às minas sem autorização do governador-geral,
ou dos governadores de Pernambuco e Rio de Janeiro, sendo estas auto-
rizações limitadas a um determinado número de pessoas, pelas quais se
repartiriam as terras ou ribeiras segundo as possibilidades de cada um.
Outra solução seria estabelecer o caminho mais curto para minas, segun-
do ele pelo Espírito Santo, “vila marítima e a mais bem fortificada do Bra-
sil”, a mais adequada por ser a “porta única” daquelas minas83. A solução
para todos esses problemas, em resumo, era limitar a entrada nas minas.
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Resumo: Abstract:
Neste artigo, nos propomos a analisar a monta- We analyze in this paper the formation of the
gem do primeiro Legislativo do Império do Bra- first legislature of the Brazilian Empire, with
sil, dando especial ênfase às estratégias usadas special focus on the strategies used by D. Pe-
por d. Pedro I para a escolha dos senadores, a dro I for appointing senators from the provin-
partir das listas provinciais, em janeiro de 1826. cial lists in January of 1826. We seek to further
Pretendemos, assim, elucidar quais critérios elucidate the criteria used by the emperor in
foram utilizados pelo imperador na nomeação the appointment of the senators, as well as the
dos senadores, bem como os recursos utilizados resources he used to guarantee to his allies a
para garantir, aos seus aliados, uma cadeira na lifetime chair in the legislature so that the Up-
casa vitalícia, de tal modo que a câmara Alta se per House could serve as a barrier capable of
colocasse como uma barreira capaz de conter as curbing the discussions held in the Chamber
discussões propostas na Câmara dos Deputados. of Deputies. Along this line, we will analyze
Dentro dessa temática, será analisado o funcio- how the first legislature (1826 - 1830) worked
namento do primeiro legislativo (1826 – 1830), when drafts were discussed in the two houses
tanto no sentido de discutir os projetos debati- and what position the senators took towards
dos nas duas casas do Legislativo, quanto os po- the drafts coming from the temporary house. We
sicionamentos dos senadores frente aos projetos will show that in light of the content of the drafts
oriundos da casa temporária. Além disso, já com elaborated by the deputies, D. Pedro I made use
o Legislativo em funcionamento, diante do teor of one more resource to assure the support of
1 –1 Doutoranda em História Social (FFLCH – USP), desenvolvendo pesquisa intitulada
“O poder da distinção ou a distinção da recusa: a política das concessões de títulos de
nobreza no Segundo Reinado (1840-1889)”, financiada pelo CNPq e orientada pela Profª
Drª Monica Duarte Dantas.
2 –1 Doutora em História Social pela USP. Professora do Instituto de Estudos Brasileiros
da Universidade de São Paulo (IEB – USP) e do Programa de Pós-Graduação em História
Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade
(FFLCH – USP). No presente artigo, foram incorporadas discussões desenvolvidas no
âmbito do projeto intitulado “O Código do Processo Criminal e a reforma de 1841: de-
bates legislativos e influências estrangeiras na disputa pela implementação de diferentes
modelos de organização do Estado (1826 - 1841)”, que conta com bolsa de produtividade
em pesquisa do CNPq.
dos projetos elaborados pelos deputados, d. Pe- the senators, granting them titles of nobility and
dro I fez uso de mais um recurso para assegurar pecuniary benefits. Finally, we discuss the dif-
o apoio dos senadores, concedendo títulos de ficulties faced by the emperor after the influx of
nobreza e uma mercê pecuniária a eles. Final- new senators in the second legislature during
mente, a partir da entrada de novos senadores ao the First Empire, and the obstacles he had to
longo do Primeiro Reinado e da posse da segun- overcome so that the strategy he had adopted
da legislatura, tratamos das dificuldades enfren- in 1826 could have the same impact as in the
tadas pelo Imperador, bem como os empecilhos years before.
para que a estratégia por ele adotada em 1826
continuasse a funcionar da mesma maneira que
nos anos anteriores.
Palavras-chave: Senado, Eleições, Primeiro Keywords: Senate, elections, First Empire.
Reinado.
3 –1 ARMITAGE, John. História do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,
1981, p.128.
14 – Embora Armitage tenha afirmado que a lista de Goiás fora formada por cinco nomes
porque os dois primeiros foram nomeados senadores por outras províncias (o que teria
motivado sua exclusão dos mais votados, justificando-se, assim, um rol de cinco nomes),
tal estratégia não se transformou em uma regra no que tange às demais nomeações para o
Senado, já que em outras províncias, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, por
exemplo, o total de nomes nas listas ultrapassava o triplo de assentos a que cada uma tinha
direito, sendo que o total de nomes excedentes não correspondia ao número de senadores
nomeados por outras províncias.
15 – Diário Fluminense e Diário do Rio de Janeiro, 03/08/1824.
Se, conforme os coevos, a opção por nomes que não deveriam cons-
tar das respectivas listas provinciais era especialmente digna de espanto,
tampouco se deve desconsiderar a reiterada preferência do monarca por
Diante desses cinco exemplos, salta aos olhos não apenas a opção
por listas provinciais, como também o inchaço dessas mesmas listas e,
finalmente, a opção por figuras pouco expressivas em termos de votos.
Esse último ponto fica ainda mais evidente se atentarmos para alguns
exemplos, especialmente para políticos com votação significativa e que
não foram escolhidos pelo Imperador.
Vale também olhar com mais vagar para o caso dos sufragados pelo
Rio de Janeiro. Ainda que a província tivesse direito a quatro assentos,
o que corresponderia a uma lista provincial de 12 nomes, o Imperador
escolheu os quatro senadores da província a partir de um arrolamento de
22 candidatos. Não bastasse tal discrepância, chama ainda a atenção o
O caso de Goiás merece ser revisitado, até porque três dos cinco
nomes de sua lista alcançaram o posto de senadores. O primeiro coloca-
do, d. Francisco de Assis Mascarenhas, tornou-se senador por São Pau-
lo, o terceiro, José Caetano Ferreira de Aguiar, pelo Rio de Janeiro, e
o quarto colocado, Francisco Maria Gordilho Velloso de Barbuda, pela
própria província de Goiás. Assim, não foram nomeados para a casa vita-
lícia, o segundo colocado, Joaquim Curado e, o quinto, Raymundo José
da Cunha Mattos (que veio a assumir a representação por Goiás, mas na
Câmara dos Deputados).
16 – Em 1823 foi eleita uma Assembleia Legislativa e Constituinte, que elaborou um pro-
jeto de constituição, conhecido como Projeto de 1823, porém essa assembleia foi dissol-
vida por Pedro I em 12 de novembro de 1823. No dia seguinte à dissolução, o Imperador
nomeou um conselho de Estado, formado por dez membros, que deveria redigir a nova
Constituição para o Império do Brasil, outorgada em 25 de março de 1824. Uma interpre-
tação da Constituição e uma análise de suas determinações e comparações com o Projeto
de 1823 podem ser consultadas em DANTAS, Monica Duarte. Constituição, poderes e ci-
dadania na formação do Estado-nacional brasileiro. In Instituto Prometheus (org.), Rumos
da cidadania. São Paulo: Instituto Prometheus, 2010.
José Egídio Álvares de Almeida tornou-se senador pelo Rio de Janeiro, figurando em 7º
da lista, sua pior colocação, já que foi o 2º do Rio Grande do Sul, o 3º da Bahia e o 6º de
Minas Gerais; e José Feliciano Fernandes Pinheiro, ainda que tenha sido o 1º da lista do
Rio Grande do Sul, foi nomeado por São Paulo, sendo o 15º da lista, mas constava tam-
bém como o 31º da lista mineira.
19 – Se somarmos as representações das sete províncias cujas listas já tinham sido divul-
gadas, os números tornam-se ainda mais significativos, já que elas possuíam 59 deputados
e 28 senadores, correspondendo, portanto, a 57,84% da casa temporária e a 56% da casa
vitalícia.
20 – “Hei por bem crear um Conselho de Estado [...] composto de dez membros: os meus
seis actuaes Ministros, que ja são Conselheiros de Estado natos, pela Lei de 20 de Outubro
proximo passado, o Desembargador do Paço Antonio Luiz Pereira da Cunha, e os Conse-
lheiras da Fazenda, Barão de Santo Amaro, José Joaquim Carneiro de Campos e Manoel
Jacinto Nogueira da Gama: os quaes terão de ordenado 2:400$000 annuaes, não chegando
a esta quantia os ordenados que por outros empregos tiverem”. Decreto de 13/11/1823 –
Cria um conselho de Estado e nomeia os respectivos membros. CLIB, 1823, parte 2, p.86.
21 – “Decreto de 08/08/1825 – eleva os ordenados dos Conselheiros de Estado”. Coleção
de Decretos, Cartas Imperiaes e Alvarás do Imperio do Brazil, 1825, parte 1. Rio de Ja-
neiro: Imprensa Nacional, 1885, p.77.
24 – Seu nome também viria a compor a lista de Pernambuco, que, àquela altura, ainda
não era conhecida.
para o Senado não causou maior estranheza, uma vez que foi eleito em
segundo lugar na lista do Maranhão. O mesmo, contudo, não se pode
dizer de Veloso de Barbuda. O barão de Pati do Alferes seria incluído,
posteriormente, pelo Imperador, em 4º lugar na lista de Goiás, cujos três
nomes, quando das nobilitações, já eram conhecidos desde abril daquele
ano. Dada tal manobra, por parte de Pedro I, pode-se aventar a hipótese
de que ele pretendesse, a qualquer custo, se necessário, garantir a inclusão
de seus recém-titulados no Senado do Império.
Vale ainda ressaltar que todos esses nobres, como era o caso dos con-
selheiros de Estado, já haviam, quando de sua titulação, ocupado algum
cargo ou posição no governo ou no Paço. Dentre os nobilitados, além de
dez conselheiros, havia também dois antigos ministros25, dois presidentes
de província26, um regedor da Casa de Suplicação27, dois desembargado-
res do Paço28, um membro do Tesouro Público, dois gentis-homens do
Paço29; e um ministro em Paris30.
25 – Estêvão Ribeiro de Resende e Caetano Pinto de Miranda Montenegro, que era tam-
bém gentil-homem e membro aposentado do Conselho da Fazenda. Almanach do Rio de
Janeiro para o ano de 1826. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1825.
26 – José Teixeira da Fonseca e Vasconcelos e Lucas Antonio Monteiro de Barros, que
também era desembargador do paço. Idem.
27 – João Inácio da Cunha. Idem.
28 – José da Silva da Lisboa e d. Francisco de Assis Mascarenhas, que, além de ser presi-
dente do desembargo do Paço, era também mordomo-mor. Idem.
29 – Francisco Maria Gordilho Veloso de Barbuda e João Carlos Augusto de Oyenhausen,
que era também membro do conselho da Fazenda. Idem.
30 – Domingos Borges de Barros. Idem, e SISSON, S.A. Galeria dos Brasileiros Ilustres.
Brasília: Senado Federal, 1999, vol. 2, pp.407-410.
sim, apesar de ter sido estudado por autores como Vantuil Pereira e Andréa Slemian,
não houve um aprofundamento no que se refere ao processo de eleição dos deputados,
tampouco da eleição e nomeação dos senadores. Descrevendo a montagem do Senado,
Vantuil Pereira afirma que “a nomeação se faria pelo Imperador (Poder Moderador) que,
mediante uma lista tríplice de eleição, escolheria o indicado para a vaga em questão, que
teria um mandado vitalício. Era da Câmara do Senado que saíam os membros do Conse-
lho de Estado, o que era uma importante distinção política e social, visto que aquele era
o órgão consultivo a ser ouvido pelo Imperador no exercício do Moderador”. PEREIRA,
Vantuil, op.cit., p.248; e SLEMIAN, Andréa. Sob o império das leis: Constituição e uni-
dade nacional na formação do Brasil (1822-1834). São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2009.
35 – Bahia e Maranhão, por exemplo, foram cobrados, por meio de dois ofícios publi-
cados no Diário Fluminense de 28/02/1826, a enviarem as atas de suas eleições para
deputados, juntamente com os nomes dos suplentes que deveriam substituir os titulares
nomeados senadores no mês anterior.
36 – Januário da Cunha Barbosa foi eleito por Minas Gerais, mas também alcançou votos
como suplente na lista do Rio de Janeiro. Com a nomeação do então deputado fluminense
Antonio Luis Pereira da Cunha para a casa vitalícia, Januário assumiu a cadeira de depu-
tado pelo Rio de Janeiro, província de onde era natural e possuía residência, segundo seus
colegas de plenário. Na deputação mineira, Januário da Cunha Barbosa foi substituído por
João Joaquim da Silva Guimarães. APB-CD, segunda sessão preparatória, 30/04/1826.
37 – Para exemplificar, Manuel Antonio Galvão, eleito pela Bahia, teve seu diploma
aprovado, apenas, em 19/08/1826, e Joaquim Marcelino de Brito, deputado cearense, em
26/04/1827. Contudo, ainda que pontuais, esses casos não representam a totalidade dos
deputados que demoraram a tomar assento. Caso dos mais sintomáticos é o da Paraíba, já
que, dos cinco deputados, um teve o diploma aprovado em agosto de 1826, três em 1827,
e o último não há indicativo de que tenha tomado assento.
38 – A Comissão de Poderes era formada por cinco membros eleitos, a saber, Nicolau
Vergueiro, Teixeira de Gouveia, Manoel Caetano de Almeida e Albuquerque, Januário da
Cunha Barbosa e Bernardo Pereira de Vasconcelos. Para verificar os diplomas dos cinco
membros dessa comissão, foi eleita outra comissão, com apenas três nomes, José da Cruz
Ferreira, Luis Paulo de Araújo Basto e João Gomes de Campos. APB-CD, primeira sessão
preparatória, 29/04/1826.
39 – Vale destacar que, em 05/05/1826, estavam presentes 54 deputados, tendo faltado,
apenas, Lino Coutinho. APB-CD, 05/05/1826.
40 – Apesar de Luis Correia Teixeira de Bragança, nomeado senador pelo Rio Grande do
Sul, ter falecido em 26 de janeiro de 1826, dias depois de sua nomeação, novas eleições
foram realizadas nessa província, de tal modo que, em 24 de julho, Antonio Vieira de
Soledade foi nomeado e seu diploma foi aprovado no dia 30 desse mesmo mês, assim,
Soledade já está incluído entre os 43 senadores que exerceram suas atividades no ano de
1826.
41 – Para uma análise do funcionamento do Legislativo no Primeiro Reinado, consultar
PEREIRA, Vantuil. Op.cit.
42 – Os projetos citados foram extraídos dos APB-CD de 1826.
43 – Sobre o debate a respeito da naturalização dos estrangeiros, ver POZO, Gilmar. Imi-
grantes Irlandeses no Rio de Janeiro: Cotidiano e Revolta no Primeiro Reinado. Disser-
tação de mestrado. São Paulo: FFLCH , 2010.
44 – O ofício elaborado pelos deputados continha o seguinte teor: “A Camara dos Depu-
tados envia ao Senado o seu Projecto de Regimento dos Conselhos Geraes de Provincia
com as Emendas juntas, e pensa que com ellas tem lugar pedir-se ao Imperador a Sancção
Imperial”. APB-CD, 17/08/1826, p.873.
45 – “A Commissão de Regimento Interno por ocasião de ponderar sobre o obstáculo
que se offerece ao Senado para a reunião das duas Camaras, que alias já se faz precisa,
dada a discordância a respeito das Emendas, que nesta se fizerao aos Projetos de Lei da
Natualisação dos Estrangeiros e do Regimento dos Conselhos Provinciaes, reconheceo
a necessidade urgente de prompta providencia para conseguir-se a ultimação dos ditos
projectos [...]”. APB-CD, 03/08/1826, p.1.115.
46 – SLEMIAN, Andréa. Op.cit., especialmente o subcapítulo “Os Governos das Provín-
cias”.
Contudo, o ano de 1826 não foi marcado apenas pelas tensões entre
as duas casas, mas também entre os deputados e os ministros indicados
por Pedro I. Foram constantes os pedidos de explicação acerca dos gastos
com a Guerra da Cisplatina, o envolvimento do monarca com a sucessão
portuguesa, e o tratado de reconhecimento da independência do Brasil
com Portugal, assinado em 182548. Tensão que só viria a piorar, ao final
do ano, quando se tornasse pública a assinatura do tratado de abolição do
tráfico de escravos com a Inglaterra, datada de 23 de novembro de 1826,
ou seja, pouco mais de dois meses depois de encerrados os trabalhos le-
gislativos.49
47 – Índice cronológico das leis e decretos, formulados pela Assembleia Geral Legislati-
va do Império do Brasil na sua primeira legislatura de 1826 a 1829, p. 20.
48 – Sobre essas questões, ver POZO, Gilmar. op.cit., PEREIRA, Vantuil. op.cit., e RI-
BEIRO, Gladys Sabina e PEREIRA, Vantuil. O Primeiro Reinado em revisão. In GRIN-
BERG, Keila e SALLES, Ricardo (org.). O Brasil Imperial, vol. I (1808-1831). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
49 – Segundo Gladys Ribeiro e Vantuil Pereira, tal tratado foi recebido de maneira nega-
tiva pelos contemporâneos, inclusive pelo Legislativo, por perceberem que essa medida
era uma ameaça à economia do país, podendo provocar a “paralisia do desenvolvimento
econômico”. Já na interpretação de Tâmis Parron, a assinatura desse tratado, sem anuên-
cia do Legislativo, se configurou em mais um ponto de embate entre o Imperador e os
deputados. De acordo com o historiador, em outubro de 1826, “[...] Robert Gordon de-
sembarcou no RJ e acertou uma nova convenção com o marquês de Inhambupe, senador,
conselheiro de Estado, um dos redatores da Constituição de 1824, e então ministro dos
Estrangeiros. Esse ajuste, ao contrário do anterior, estipulou pontos não previstos pelos
deputados: no lugar dos prazos de 15, 6 ou 4 anos, fixou-se a abolição em um triênio.[...]
Quando o acordo, já vigente, foi submetido à apreciação formal dos deputados, suscitou
não apenas o problema da escravidão, mas também da soberania nacional e suas com-
petências. Depois dele, parecia inalcançável uma trégua entre a Câmara e d. Pedro I”.
PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Ja-
neiro: Civilização Brasileira, 2011, p.64. RIBEIRO e PEREIRA, op.cit., pp. 159-160. O
tratado de 1826 está em BONAVIDES, Paulo e AMARAL, Roberto. Textos políticos da
54 – SILVA, Pereira da. op.cit., pp. 37-38. Evidente que, em termos de quantidade de
títulos de nobreza ofertados, os anos de 1825 e 1826 marcaram um ponto de inflexão
na política nobilitadora de Pedro I. Se, em 1822, o primeiro imperador concedeu apenas
cinco títulos, em 1823, seis títulos, e em 1824, três, esses números aumentaram significa-
tivamente em 1825, quando foram ofertados 45 títulos e em 1826, 61 títulos. Contudo, tais
números não se mantiveram elevados nos anos subsequentes, reduzindo a 1 único título
ofertado em 1827, a 10 em 1828, 11 em 1829 e 8 em 1830, totalizando 150 nobilitações
em 9 anos de reinado.
55 – Anais do Senado do Império do Brasil, 1827. Sobre a discussão desse projeto, ver
OLIVEIRA, Marina. op.cit.
Tal estratégia mostrou-se vital para o monarca, uma vez que os se-
nadores conseguiram conter vários dos projetos em discussão na Câmara
dos Deputados, assegurando a defesa dos interesses do Imperador. Se não
bastasse essa cuidadosa nomeação dos senadores, Pedro I também no-
bilitou um número elevado dos membros da casa vitalícia e concedeu, a
parte deles, uma mercê pecuniária como forma de ou bem remunerar, ou
garantir a fidelidade desses homens. Contudo, a saída de alguns senadores
e a consequente entrada de novos membros, já não tão caros ao monarca,
aliadas à posse da nova legislatura, impediram a manutenção da política
senatorial tal como efetivada nos primeiros anos de funcionamento do
Legislativo.
67 – Índice Cronológico das leis e decretos formulados pela Assembleia Geral do Império
do Brasil na sua primeira legislatura de 1826 a 1830.
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e a positivação das leis no pós-Independência. Dissertação de mestrado. São Paulo: IEB-
-USP, 2013.
Resumo: Abstract:
Este artigo aborda a história dos conceitos de re- This article discusses the history of the concepts
pública e de soberania no século XIX brasileiro. of republic and sovereignty in nineteenth-cen-
Em primeiro lugar, discute-se o conceito de re- tury Brazil. We first focus on the concept of re-
pública entre 1750 e 1850, tal qual apresentado public between 1750 and 1850 as presented by
pelo projeto Iberconceptos. Em seguida, foca-se the project Iberconceptos. We then examine Frei
nos escritos de Frei Caneca para analisar mais Caneca’s writings in order to analyze more spe-
especificamente o conceito de república no con- cifically the concept of republic in the context of
texto da Independência do Brasil e para rela- the Independence of Brazil so as to relate it to
cioná-lo ao conceito de soberania. Finalmente, the concept of sovereignty. Finally, we demon-
demonstra-se a articulação em geral entre os strate the general link between the concepts of
conceitos de república e de soberania da Inde- republic and sovereignty from the Independence
pendência do Brasil até o Manifesto do Partido of Brazil up to the Manifesto of the Republican
Republicano. Party.
Palavras-chave: República; Soberania; Brasil; Keywords: Republic, sovereignty, nineteenth
Século XIX. century.
I. INTRODUÇÃO
O presente texto aborda a história da república no Brasil antes de sua
proclamação oficial no fim do século XIX. O foco escolhido para tanto é
a história do conceito de república. Todavia, o principal argumento defen-
dido nas páginas seguintes é este: a história do conceito de república no
Brasil antes de 1889 não se compreende adequadamente se não ao lado
da história de um outro conceito, o conceito de soberania, de modo que
mesmo a articulação – em geral apresentada como fundamental pela his-
toriografia relativa ao tema – entre republicanismo e federalismo somente
adquire seu sentido completo à luz da história desse outro conceito.
Uma terceira questão que não pode deixar de ser abordada diz res-
peito a que, embora o horror à república, exacerbado pelo isolamento
de uma monarquia cercada pelas repúblicas recém-emancipadas da Es-
panha, tenha feito prevalecer o sentido de república como sinônimo da
então temível e odiável democracia4, suas outras camadas de sentido não
estiveram ausentes do cenário político da Independência, como veremos
no próximo tópico ao tratarmos mais especificamente dos textos de Frei
Caneca.
4 –1 É importante lembrar que essa aversão à democracia nos séculos XVIII e XIX não era
privilégio do Brasil. Nos famosos Federalist Papers, textos escritos em prol da ratificação
da Constituição dos Estados Unidos durante o processo de discussão e votação da mesma
pelos então Estados confederados, a defesa da república é feita, muitas vezes, em conjunto
com a crítica da democracia entendida como seu oposto. Cf. HAMILTON; MADISON;
JAY, 1961.
7 –1Sobre a aversão à democracia nos séculos XVIII e XIX, cf. nota 3 acima.
Sabes, portanto, que não proclamamos uma república porque não que-
remos; e não queremos, não por temor de nada, sim porque esperamos
ser felizes em um império constitucional; (...). (CANECA, 2001d, p.
140)
Uma tal leitura, contudo, parece inadequada, posto que não conside-
ra uma dimensão fundamental dos textos que se apresentam em alguma
medida como discursos políticos. Trata-se daquela dimensão a qual Q.
Skinner8 dedicou maior atenção, perguntando-se pelo quê os autores esta-
vam fazendo com os textos que escreviam. Em outras palavras, qual era o
sentido prático desses textos, a quem se dirigiam, com quem dialogavam,
quais efeitos esperavam produzir?
Em outro texto:
O poder soberano, isto é, aquele que não reconhece outro acima de si,
existe na nação. (...).
(...)
(...) residindo a soberania na nação, como até s.m.i.c. tem por muitas
vezes confessado à face do universo, e sendo unicamente a nação a
que se deve constituir, só ela usa de um direito seu inauferível na esco-
13 – Sem pretensão exaustiva: CANECA 2001d, p. 138; 2001e, pp. 183, 184, 185, 191,
197, 203, 204, 205, 206, 210, 248, 297; 2001f, pp. 304, 307-308, 311, 312, 314, 315, 319,
321, 331, 334, 335, 337, 338, 345, 353, 363, 367, 382, 393-395, 417-418, 434, 441, 443,
445, 446, 452, 454, 455, 458-459, 463-465, 473, 484, 503, 508-509, 518-519; 2001g, p.
542; 2001h, pp. 560, 563-564, 565, 566; 2001j, pp. 613, 629, 632, 635.
Ficou o Brasil soberano, não só no todo, como em cada uma das suas
partes ou províncias.
(...)
No meio dessas possibilidades, o Rio, pelo poder soberano que ti-
nha no seu território, aclamou s.m. imperador constitucional, e então
s.m. não ficou mais do que imperador do Rio de Janeiro. As outras
províncias, ou seduzidas pelos emissários do Rio, ou por seu mesmo
conhecimento, esperando que nesta forma de governo podiam achar a
felicidade a que aspiravam, foram-se chegando muito de sua vontade
aos negócios do Rio, aclamando a s.m. imperador constitucional, com
o que nada mais fizeram que declarar que se uniam todas para formar
um império constitucional, e que s.m. seria o seu imperador.
Daqui se conhece que duas são as condições da união das províncias
com o Rio de Janeiro, a saber, que se estatua império constitucional,
e que s.m. seja o imperador; de modo que, se o Rio de Janeiro quiser
coisas fora ou contrárias a qualquer destas duas condições, está des-
feita a união, que mal se achava esboçada, e cada província libérrima
para, pelo seu poder soberano no seu território, proclamar e estatuir
aquela forma de governo que bem quiser, como fez o Rio proclaman-
do império constitucional.
(...)
Já se deixa ver que os efeitos da falta do cumprimento dessas duas
condições são os mesmos, se acaso o imperador for o que as embara-
ce, contra o voto das províncias, como desgraçadamente sucedeu com
a dissolução despótica e à força de armas da soberana Assembleia.
(...)
Pelo que, está dissolvida a prometida e não consumada união das pro-
víncias; e, por esta razão, cada uma reintegrada na sua independência
e soberania. (CANECA, 2001f, pp. 463-465).
deixando claro que a almejada república, para boa parte de seus adeptos, não deveria sig-
nificar abolição da escravatura e uma inclusão social mais profunda. Mas nada se altera
em relação à argumentação que vem sendo desenvolvida neste texto: no limite, quando a
recusa expressa da monarquia não se fazia uma opção viável, a estratégia política consis-
tia em defender uma monarquia republicanizada, uma monarquia moldada na forma de
uma república, ainda que na forma de uma república extremamente excludente.
povo e nação eram palavras diferentes, que não podiam ser confundidas,
sob pena de desordem. A nação abrangia o “Soberano e os Subditos”,
enquanto o povo compunha-se apenas dos “Subditos”. O “Soberano” era
a “razão social, collecção das razões individuais”. O povo era o “Corpo
que obedece á razão”. A confusão entre as duas palavras, conduzindo à
“almagação imphilosophica da Soberania e povo”, gerava consequências
que “ensanguentarão a Europa, e nos ameação tãobem”. Nesse sentido,
Andrada Machado e Silva solicitava que se substituísse povo por nação
sempre que se falasse de soberania (BRASIL, 1973, p. 31).
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21 – No corpo do manifesto, ficaria clara também a relação entre ambos esses conceitos
e a defesa do federalismo. Assim, o Manifesto do Partido Republicano reforça o que foi
alegado nas páginas precedentes: a defesa do federalismo somente adquire sentido e força
prática unida à determinada concepção de soberania.
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Resumo: Abstract:
Este artigo situa a atitude dos membros da fa- This article assesses the attitude of the members
mília real brasileira em relação às práticas de of the Brazilian royal family towards the prac-
banho de mar adotadas pelas realezas europeias. tice of sea-bathing, as adopted by European
Relata a presença de D. João, Carlota Joaqui- royalties. It discusses the presence of D. João,
na, Pedro I, Pedro II, Tereza Cristina e Isabel Carlota Joaquina, Pedro I, Pedro II, Tereza
nas praias de banho da Corte Imperial. Analisa Cristina and Isabel on the bathing beaches of
como o exemplo tímido dado pelos monarcas the Imperial Court. We analyze how the timid
brasileiros deixou a aristocracia do Rio de Ja- example given by the Brazilian monarchs left
neiro indiferente aos banhos de mar e atrasou a the aristocracy of Rio de Janeiro indifferent to
adesão dos cariocas à sua prática. sea bathing and delayed the adherence of the
Cariocas to this practice.
Palavras-chave: Banhos de mar; Monarquia; Keywords: Sea baths; monarchy; Rio de Ja-
Rio de Janeiro. neiro.
Ao contrário do que sugere a anedota do rei nu,25 não havia nem lei
nem costume, no tempo das monarquias fortes, que impedisse um sobera-
Por essa época, a filha mais velha do casal, a princesa Isabel, também
fazia uso dos banhos de mar, como parte de um tratamento médico, em
resposta ao seu “temperamento linfático (...), a um certo grau de cloro-
-anemia que se notava em seu hábito externo, bem como aos sintomas
evidentes de um vício herpético”.32 Não era evidente a eficácia dessa tera-
pêutica, mas Sua Alteza insistiu nos banhos de mar. De 1886 a 1889, sem-
pre na primavera, Isabel instalou-se no seu palácio da rua da Guanabara,
em Laranjeiras, de onde saía, no final da tarde, para o banho da praia do
Flamengo, em companhia do esposo, o conde d’ Eu.33
ladeira dos Tabajaras), que, escalando o morro de São João, ligava o final
da rua Real Grandeza, em Botafogo, à primeira via traçada em Copaca-
bana, a rua do Barroso (atual rua Siqueira Campos). Agora, era possível
alcançar o lugar por meio de veículos, atenuando-se o sacrifício dos pe-
regrinos que demandavam a Igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana,
única edificação da localidade, além das cabanas de pescadores que a
rodeavam.36 Nessas condições, parte do povo carioca se animou a ir ver
as famosas baleias. E o jovem Imperador, acompanhado da esposa e das
duas filhinhas, também se colocou a caminho, na manhã de 22 de agosto.
Não era por acaso, mas pela defesa deliberada de um estilo de vida
e ao mesmo tempo de uma política de Estado, que o monarca brasileiro
desprezava as oportunidades de conferir à sua vida pessoal a espetacula-
ridade em que investiam os seus colegas europeus para bem governar. Os
banhos de mar dos Bragança, no Rio de Janeiro, eram de uma intimidade
essencialmente burguesa.
nas ruas, onde aristocracia e diplomacia podiam fazer valer sua elegância.
Aí Pedro II passeava à vontade ao lado dos súditos, como naquele dia em
Copacabana.42
42 – SCHWARCZ, Lilia Moritz. Op. cit., pp. 231-244; CARVALHO, José Murilo de. Op.
cit., p. 95; KOSERITZ, Carl Von. Imagens do Brasil, pp. 61-68; RENAULT, Delso. O Rio
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Resumo: Abstract:
Esse artigo insere-se em uma pesquisa maior, This article is part of a larger research focused
centrada no estudo de um dos membros mais on the study of one of the most influential mem-
influentes do Instituto Histórico e Geográfico bers of the Brazilian historical and Geographi-
Brasileiro na passagem do Império para a Repú- cal Institute in the transition period from empire
blica: Benjamin Franklin Ramiz Galvão. Aceito to republic, namely Benjamin Franklin Ramiz
como membro do IHGB em 1872, Galvão per- Galvão. Accepted as a member of the IHGB in
maneceu 66 anos dentro do Instituto, mantendo- 1872, Galvão served actively at the Institute for
-se bastante atuante em boa parte desse período. 66 years. Together with Count of Afonso Celso
Compôs, junto com o Conde de Afonso Celso e and Max Fleiüss, he participated in the so-
Max Fleiüss, a chamada “trindade do Silogeu”, called “Trinity of the Silogeu”, a sort of funda-
uma espécie de núcleo fundamental, responsá- mental nucleus responsible for conducting the
vel pela condução dos trabalhos dentro da insti- work within the institution He also held posi-
tuição, além de ter ocupado cargos em diversas tions in various commissions, directed the IHGB
comissões, dirigido a Revista do IHGB e assu- Magazine and assumed the role of perpetual
mido o papel de orador perpétuo da agremiação. speaker of the association. He was, therefore,
Era, portanto, um especialista em memória: a specialist in memory, not only because of his
não só porque se dedicava, como acadêmico, à devotion as an academic to the construction of
construção da memória nacional, como também the national memory, but also because of his
pelo empenho na elaboração da sua memória e commitment to piecing together his memory
de seus pares. O tema da memória e, de maneira and that of his peers. Memory and, more specifi-
mais específica, o trabalho de construção me- cally, the memory construction work he carried
morialística de Ramiz Galvão dentro do IHGB out within the IHGB is the main object of study
é justamente o nosso objeto de estudo neste arti- in this article. We will try to analyze the process
go. Buscaremos analisar o processo de “enqua- of “framing” Ramiz Galvão´s memory within
dramento” da memória de Ramiz Galvão dentro the Institute, highlighting the creation of his im-
do Instituto, evidenciando a constituição da sua age as a legitimate republican intellectual. For
imagem como um legítimo intelectual republi- this, we will focus chiefly on some of the main
cano. Para isso, selecionamos, prioritariamente, homages bestowed on him by the IHGB between
algumas das principais homenagens feitas pelo 1918 and 1946
IHGB ao acadêmico entre 1918 e 1946.
Palavras-chave: Ramiz Galvão; Instituto His- Keywords: Ramiz Galvão; Brazilian Historical
tórico e Geográfico Brasileiro; Memória; Bi- and Geographical Institute; memory; National
blioteca Nacional. Library.
30 – Ibidem. p. 560.
31 – GONTIJO, Rebeca. O “cruzado da inteligência”: Capistrano de Abreu, memória e
biografia. Anos 90, Porto Alegre, v. 14, n. 26, pp. 41-76, dez. 2007.
de o governo ter receado que “vindo nos faltar Ramiz Galvão, ninguém
mais soubesse e pudesse ensinar [essa língua] no Brasil”.34
34 – Ibidem. p. 569.
35 – Ibidem. p. 573. Os grifos constam no original.
Mas, o que teria Ramiz a dizer sobre si mesmo em 1918? Que ele-
mentos de sua trajetória ressaltaria naquela época? Após Basílio de Ma-
galhães, foi a vez do próprio Ramiz Galvão subir à tribuna. Seu discurso é
extremamente “pedagógico”, pois ali expôs publicamente a sua trajetória.
Para ele, sua vida poderia ser dividida em três fases. A primeira com-
preenderia o período em que ministrava aulas e dirigia a BN, ao momento
inicial de sua carreira, quando emergiu como o jovem e promissor diretor
da Biblioteca Nacional. A segunda fase corresponderia à época em que
cuidou da educação dos príncipes, de 1882 a 1889. E, por fim, a terceira
estaria ligada à sua volta ao ensino, dessa vez no cargo de diretor da Ins-
trução Pública. Vale observar como, na própria compreensão que Ramiz
tinha de sua trajetória, a passagem pela BN ocupava um papel de divisor
de águas em sua biografia. O outro grande evento era o exercício do ma-
gistério. Embora ele perpassasse os três períodos traçados, tornando-se o
mote condutor de sua vida, o momento da educação dos príncipes teve
especial destaque. Essa divisão não aparece sem propósito em sua fala.
Antes, confirma a imagem de “velho batalhador da causa do ensino”, que
atribuiu fortemente a si mesmo e que, com certeza, queria estender para
além de 1918.36
Nesse ponto de sua fala, Afrânio Peixoto lançou mão de uma ex-
pressão que nos chama a atenção: ele chamou Galvão de homem de ação.
Uma espécie de administrador diligente e eficiente que organizou – e, na
verdade, fez – a Biblioteca Nacional. Um antes e um depois para a BN e
para Ramiz. Ainda de acordo com ele, apesar desse fato decisivo, Galvão
jamais teria deixado de lado a eloquência, sendo, portanto, um homem
da palavra – um professor e orador – ao mesmo tempo em que era um
homem de ação.
entre ação e palavra não deve ser tomada de forma rígida. No caso do
discurso de Afrânio Peixoto, o orador parece representar Ramiz Galvão
como um homem que circulava entre as duas esferas, a da eloquência e
a da ação.
toriográficos. Não por acaso, ele o inseriu na evolução dos estudos histó-
ricos no Brasil a partir da sua passagem pela Biblioteca Nacional. Afinal
foi ali que Ramiz executou sua maior ação como mediador cultural. Pa-
trocinou a construção do Catálogo da Exposição de História e Geografia
do Brasil, que, para Rodrigues, forneceu ferramentas para a elaboração
de inúmeros novos estudos acerca da história brasileira.
bidas ao livro, objeto que deu sentido à sua existência. Em sua fala, ele
mesmo percorreu sua biografia:
Essa foi a última vez que Ramiz esteve presente a uma homenagem
no IHGB. Dois anos depois, quando morreu, sua imagem de homem das
letras, que viveu boa parte de seus 92 anos em meio aos livros e aos alu-
nos, movido por um profundo sentimento patriótico, parecia consolidada,
tal como ele mesmo gostava de ser lembrado.
48 – Ibidem. p. 310.
49 – VALADÃO, Alfredo. Discurso do Sr. Alfredo Valadão, fazendo o necrológio dos srs.
Conde de Afonso Celso, Ramiz Galvão, barão de Studart... R.IHGB, v. 173. p. 882, 1938.
50 – Ibidem. p 877.
51 – GOMES, Angela de Castro. A República, a História e o IHGB. Belo Horizonte: Ar-
gumentum, 2009.
52 – TURIN, Rodrigo. Uma nobre, difícil e útil empresa: o ethos do historiador oitocen-
tista. História e Historiografia, n. 2, 2009, p. 21.
53 – Ibidem. p. 22.
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GALVÃO, Ramiz. Discurso de Benjamin Franklin Ramiz Galvão agradecendo
as homenagens que lhe foram prestadas por ocasião da comemoração dos cin-
quenta anos de seu ingresso no IHGB. R.IHGB, t. 92, v. 146, pp. 506-16, 1922
[publicado em 1926].
____. Gratas reminiscências. R.IHGB, t. 75, v. 152, pp. 859-61, 1925.
____. Necrológios de.... R.IHGB, 1932, v. 166, p. 749.
Resumo: Abstract:
Tanto o escritor austríaco Stefan Zweig quan- Both the Austrian writer Stefan Zweig and his
to sua jovem esposa alemã Lotte Zweig sabiam young German wife Lotte Zweig were able
falar, ler e escrever em diversas línguas. Stefan, to speak read and write in several languages.
além do alemão nativo, dominava com fluência Stefan, in addition to being a native German
italiano, francês e inglês. Também Lotte, além speaker, was fluent in Italian, French and Eng-
do alemão, dominava inglês e francês. Am- lish. And Lotte, besides German, also mastered
bos tinham, portanto, alto nível de interesse e English and French. Both, therefore, were lin-
conscientização linguística. Nenhum dos dois, guistically gifted and had a high level of linguis-
porém, dominava o estranho português, língua tic awareness. Neither of them, however, spoke
do país que amavam e escolheram como abrigo. Portuguese, the foreign language of the country
Neste trabalho, pretendemos examinar algumas they loved and chose to live in. In this paper
questões emocionais – dificuldades e bloqueios we intend to examine some emotional difficul-
– envolvidas com o aprendizado desta nova ties and blockages involved in learning this new
língua numa situação de exílio. Por que o por- language while in exile. Why does Portuguese
tuguês parece aos dois tão feio e complicado? sound so ugly and complicated to them? Is it
Será possível gostar do país e do povo e, ao possible to like a country and its people and, at
mesmo tempo, rejeitar a língua? the same time, reject its language?
Palavras-chave: Stefan Zweig; Charlotte Keywords: Stefan Zweig; Charlotte Zweig; exile
Zweig; exílio no Brasil; discurso; gênero; emo- in Brazil; speech; genre; emotion; Portuguese
ção; língua portuguesa. language.
5 –1 DAVIS, Darién J. e MARSHALL, Oliver (Orgs.). Stefan & Lotte Zweig: Cartas da
América: Rio, Buenos Aires e Nova York, 1940-42. Tradução de Eduardo Silva e Maria
das Graças de S. Salgado. Rio de Janeiro, Versal, 2012 (Edição original: Nova York, Con-
tinuum, 2010). Trata-se de um conjunto documental riquíssimo, não só sobre o grande
escritor e sua esposa, mas sobre o Brasil que os abrigara, e que o próprio Zweig identificou
como “um país do futuro”. De Stefan Zweig sobre o Brasil, ver: ZWEIG, Stefan. Pequena
viagem ao Brasil. Organização Heike Muranyi; tradução Petê Rissatti. Rio de Janeiro:
Versal, 2016; Idem, Brazil: land of the future. London: Cassel and Company, 1942. Sobre
Stefan Zweig, além da magistral autobiografia The world of Yesterday (Tradução para o
inglês de Anthea Bell. Londres: Pushkin Press, 2011), três excelentes estudos biográficos
podem ser encontrados em: DINES, Alberto. Morte no paraíso: a tragédia de Stefan
Zweig. Rio de Janeiro, Rocco, 2004; MATUSCHEK, Oliver. Three lives: A biography of
Stefan Zweig. Tradução para o ingles de Allan Blunden. Londres, Pushkin Press, 2011; e
PROCHNIK, George. The impossible exile: Stefan Zweig at the end of the world. Nova
York, Other Press, 2014. Informações relevantes também podem ser encontradas em: MI-
CHAHELLES, Kristina (Org.). “Contei com sua palavra, e ela foi como uma rocha”;
como Stefan Zweig salvou Giuseppe Germani dos cárceres de Mussolini: cartas inéditas
de Zweig para Elsa Germani, 1921-1937. Rio de Janeiro, Gráfica Stampa, 2011.
6 –1 Ver, em especial, PAVLENKO, Aneta. Emotion and multilingualism. Cambridge,
Cambridge University Press, 2005.
8 –1 Carta de Stefan para “H&M” a bordo do S.S. Uruguay, 24 de agosto de 1941, pp.180-
1.
9 –1 Carta de Lotte para Hanna e Manfred. Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1941, p.182.
10 – Carta de Lotte para Hanna. Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1941, p.184.
11 – Carta de Lotte para Hanna e Manfred. Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1941, pp.
186-7.
12 – Idem, ibidem.
13 – Idem, ibidem.
14 – Carta de Lotte para sua mãe. Rio de janeiro, 13 de setembro de 1941, pp. 188- 41.
Esse novo papel, essa nova jornada de trabalho, é assumida com na-
turalidade, dedicação e, na verdade, com extrema competência, expondo-
-a com mais frequência a situações de aprendizagem da língua portugue-
sa. Lotte faz compras no mercado, decide o cardápio do dia, dirige todo
o trabalho doméstico. Para colocar a casa em funcionamento ela precisa
desesperadamente daquela nova língua. Enquanto Stefan pode permane-
cer olímpico em seu escritório improvisado na varanda do bangalô, lendo
e escrevendo em alemão, Lotte tem que sujar as mãos na cozinha, tem
que aprender a usar um inadequado e primitivo fogão a lenha, tem que
relacionar-se com a “empregada”. Tudo isso dependia de comunicação
em língua portuguesa.
os Zweigs, dando uma tosa periódica nas hortênsias quando estas amea-
çavam o próprio acesso à residência.20
Feder. Uma ou outra vez, uma visita à grande poetisa chilena Gabriella
Mistral, quando podia exercitar um pouco o espanhol. Com a elite do país
e nas palestras e conferências formais, podia também exercitar o seu bom
francês. Além do alemão nativo, portanto, predominavam em seu dia a
dia línguas que aprendera na juventude e que dominava com relativa fa-
cilidade. Na correspondência, todavia, por motivo de segurança, ambos
usavam o inglês.
Além disso, as pessoas têm muito tempo aqui e ainda existe o velho e
bom hábito de chegarem sem avisar para uma conversinha de fim de
tarde, e três vezes por semana Stefan tem aulas de espanhol porque
vai falar em espanhol em alguns lugares na Argentina e no Uruguai. 28
28 – Carta de Lotte para “Dearst mother”. Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1940, pp. 103-
5.
Aqui há grande alegria por toda parte pelo sucesso das ofensivas gre-
ga e inglesa, e o grande número de piadas que estão circulando sobre
os italianos é um bom exemplo desse estado de espírito. – Quem são
os corredores mais rápidos do mundo? Os gregos, porque eles batem
até os italianos. – Dizem que a grande colônia italiana em São Paulo
pediu proteção policial porque dois imigrantes gregos desembarcaram
no porto de Santos. – Alguém pede espaguete num restaurante e quan-
do é servido pede molho inglês. Quando o molho chega o espaguete
italiano já fugiu de medo do molho inglês, – etc. etc.. 31
No fundo, Stefan achava que não valia a pena estudar um idioma tão
desimportante e complicado quanto o português. Em suas cartas, ambos,
Stefan e Lotte viam a língua portuguesa como a principal barreira que os
impedia de trazer a sobrinha Eva para o Brasil.
31 – Carta de Lotte para Hanna. Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1940, pp. 133-5.
32 – Carta de Stefan para Hanna e Manfred. Petrópolis, 21 de janeiro de 1942, pp.233-4.
33 – Idem, ibidem, p.233.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, podemos dizer – embora com certo exagero – que
para Stefan Zweig o Brasil era realmente um país do futuro, mas a língua
portuguesa era quase uma catástrofe: difícil, complicada e sem sal.
Referências bibliográficas
DAVIS, Darién J. e MARSHALL, Oliver (Orgs.). Stefan & Lotte Zweig: Cartas
da América: Rio, Buenos Aires e Nova York, 1940-42. Tradução Eduardo Silva e
Maria das Graças de S. Salgado. Rio de Janeiro, Versal, 2012 (Edição original:
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rocha”; como Stefan Zweig salvou Giuseppe Germani dos cárceres de Musso-
lini: cartas inéditas de Zweig para Elsa Germani, 1921-1937. Rio de Janeiro,
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PAVLENKO, Aneta. Emotion and multilingualism. Cambridge, Cambridge Uni-
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34 – Carta de Stefan (em seguida à de Lotte) para Manfred e Hanna. Rio de Janeiro, 12 de
janeiro de 1941, pp. 144-5.
PROCHNIK, George. The impossible exile: Stefan Zweig at the end of the world.
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ZWEIG, Stefan. Pequena viagem ao Brasil. Organização Heike Muranyi; tradu-
ção Petê Rissatti. Rio de Janeiro: Versal, 2016.
_____. Brazil: land of the future. London, Cassel and Company, 1942.
_____. The world of Yesterday. Tradução para o inglês de Anthea Bell. Londres,
Pushkin Press, 2011.
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Resumo: Abstract:
Este trabalho trata de Herman Kleerekoper This paper deals with Herman Kleerekoper
(1910 – 2005), um dos fundadores de estudos (1910 - 2005), one of the founders of limnologi-
limnológicos no Brasil (1936 – 1947). São cal studies in Brazil (1936 - 1947). We present
apresentados dados biográficos e lista dos seus biographical data and a list of his works about
trabalhos sobre o Brasil, com os comentários Brazil, accompanied by relevant comments.
pertinentes.
Palavras-chave: Herman Kleerekoper; Limno- Keywords: Herman Kleerekoper; limnology;
logia; Brasil. Brazil.
FIGURA 1 – Herman Kleerekoper (1910 – 2005). Foto tirada em novembro de 1936, na cidade de São Paulo
(Brasil). Cortesia de Catie Allan (nee Kleerekoper).
FIGURA 2 – Carro do Posto de Piscicultura da Lagoa dos Quadros (RS), usado de 1942 até 1947. Cortesia de
Catie Allan (nee Kleerekoper).
Teve longa vida (Figura 5). Morreu aos 12 de julho de 2005 em Re-
gina (Saskatchewan – Canadá).
– “Let me first say that he is a man with extremely wide interests and
great competence in a number of fields. During the last years, however,
he has made his contribution through pioneering instrumentation for the
investigation of sensory and behavior problems in fishes.” Carta do pro-
fessor John E. Bardach, da University of Michigan (Ann Arbor – Michi-
gan), com data de 01/03/1971, para J. van Overbeek, director do Institute
of Life Science (Texas A&M University).
FIGURA 3 – Herman Kleerekoper (1910 – 2005). Foto tirada em 1966 – Hamilton (Ontário – Canadá). Cortesia
de Catie Allan (nee Kleerekoper).
FIGURA 4 – Herman Kleerekoper (1910 – 2005), possivelmente do início dos anos 70 (século XX). Cortesia do
Departamento de Biologia da Texas A&M University (USA).
FIGURA 5 – Herman Kleerekoper (1910 – 2005). Foto tirada em Regina (Saskatchewan – Canadá) – 2003.
Cortesia de Catie Allan (nee Kleerekoper).
BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA
KLEEREKOPER, H. – 1939 – Estudo Limnológico da Represa de
Santo Amaro em São Paulo. Bol. Fac. Phil. Sciên. Letr. USP – Botânica,
São Paulo, (2):11 – 151, 2 + 83 figs.
Referências bibliográficas
Resumo: Abstract:
No dia 8 de maio de 2015 se foram completa- 70 years have passed since the Allied victory
das 70 anos desde a vitória aliada sobre o nazi- over Nazi-fascism in Europe on May 8, 2015,
-fascismo na Europa, vitória da qual o Brasil a victory in which Brazil participated directly
participou diretamente na campanha marítima in the maritime campaign in the South Atlan-
no Atlântico Sul, com sua Marinha de Guerra tic with its Navy and Air Force, and also in the
e Força Aérea, e da guerra na Europa, na cam- war in Europe with the Brazilian Expeditionary
panha no Teatro de Operações da Itália, com a Force and the 1st Fighter Group participating
Força Expedicionária Brasileira e o 1º Grupo in the Italian Theater of Operations. This par-
de Aviação de Caça. Essa participação, ini- ticipation, initiated even before the declaration
ciada mesmo antes da declaração de guerra à of war to Germany and Italy in August 1942,
Alemanha e Itália em agosto de 1942, somada together with the task of defending its national
às exigências de defesa do território nacional e territory and protecting both the air and naval
de segurança das bases aéreas e navais cedidas bases ceded to the United States and the stabil-
aos Estados Unidos, bem como de estabilidade ity in the South American continent, particularly
no continente sul-americano, particularmente in the La Plata region, highlighted Brazil’s con-
na região do Prata, assinalou o ponderável es- siderable military effort to produce important
forço militar cometido pelo Brasil que haveria changes for the country, opening both abroad
de produzir mudanças importantes para o País, and at home new perspectives for its develop-
abrindo-lhe novas perspectivas, tanto externas, ment.
mundial e regionalmente, quanto internas, para
o seu desenvolvimento.
Palavras-chave: Segunda Guerra Mundial; Keywords: Second World War; Brazilian Expe-
Força Expedicionária Brasileira; Defesa. ditionary Force; defense.
INTRODUÇÃO
Apreciar o significado da participação do Brasil na Segunda Guerra
Mundial, passados setenta anos do encerramento do conflito, é uma con-
tribuição importante para a compreensão da história do País, não só no
século XX, como ao longo de sua existência como nação independente.
Aproximando-se o final da guerra, o Brasil foi o único país realmente co-
gitado para ocupar uma eventual sexta cadeira no Conselho de Segurança
3 –1 “Mesmo ausente em Dumbarton Oaks, o Brasil foi o único país a ser cogitado naquela
Conferência como possível detentor de uma sexta cadeira permanente.” (GARCIA, 2012,
p. 20).
4 –1 Para uma apreciação da questão da eventual participação do Brasil no Conselho de
Segurança, é importante lembrar que entre a carta do embaixador Pedro Leão Velloso,
datada de 14 de maio de 1945, na qual reivindicava para o Brasil um lugar permanente do
conselho, e a resposta do secretário de Estado norte-americano E. R. Stettinius Jr., de 13
de junho, em que limitava a participação brasileira a um lugar não permanente, o governo
brasileiro negou a participação da FEB na ocupação da Europa, dando início ao repatria-
mento da força no dia 3 de junho.
b. A ameaça no Sul
c. A guerra na Europa
8 –1 Em 27 de maio de 1942, três meses antes da entrada do Brasil na Guerra, foi firmado
pelo ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha e o embaixador Jefferson Caffery
o Convênio Político-Militar entre os Estados Unidos do Brasil e os Estados Unidos da
América, pelo qual os dois países combinavam medidas para a defesa comum do con-
tinente americano. Dentre as medidas acertadas, previa o acordo a organização de duas
comissões técnico-militares mistas brasileiro-americanas, uma no Brasil e outras nos Es-
tados Unidos (art. I); o emprego das forças brasileiras dentro de seu território, e só excep-
cionalmente, em outros pontos do continente; a organização de bases aéreas e navais que
podiam ser ocupadas por forças norte-americanas; e a assistência americana ao Brasil no
caso de ele ser agredido por outra República americana considerada pelos Estados Unidos
como simpática às potências do Eixo ou por elas instigada. (MACEDO, 1998, p.164).
força brasileira deveria estar pronta em um ano e que ela seria empregada
na Itália, que seria invadida pelas forças aliadas em julho de 1943. No
final do ano, uma comitiva brasileira chefiada pelo general Mascarenhas
de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), via-
jou ao Norte da África e Itália para conhecer as peculiaridades do Teatro
de Operações do Mediterrâneo, onde combatia, na Itália, o 4º Corpo de
Exército dos EUA, ao qual em breve iria se juntar à 1ª Divisão de Infan-
taria Expedicionária (1ª DIE) da FEB.
10 – No Oeste europeu, a média por divisão [americana] foi de 1.871 mortos, 5.954 feri-
dos e 1.232 prisioneiros. No Pacífico, a média por divisão foi de 736 mortos, 1.705 feridos
e 552 prisioneiros. Na Itália, a média por divisão foi de 5.543 mortos, 15.276 feridos e
2.854 prisioneiros. (MORAES, 2005, p. 337).
A quinta fase, depois que a FEB foi transferida para o Vale do Pana-
ro, foi a da ofensiva da primavera, ocorrida entre 9 de abril e 2 de maio
de 1945, data em que se encerrou a guerra na Itália. Durante esse período,
a FEB, com tropa e comando experimentados, explorou ao máximo as
oportunidades que se lhe ofereceram, ultrapassando o papel que lhe havia
sido reservado nos planejamentos originais do 4º Corpo de Exército e do
V Exército norte-americanos. Foi assim que ela assumiu um papel dinâ-
mico, por iniciativa de seu comandante, aprovada pelo escalão superior,
na proteção do flanco esquerdo do ataque principal da 10º Divisão de
Montanha, obtendo a grande vitória de Montese (14 de abril), o primeiro
triunfo aliado na grande ofensiva. Em seguida, iniciada a perseguição do
inimigo que fugia na direção do Vale do Pó, a FEB surpreendeu aliados e
inimigos, embarcando sua Infantaria nas viaturas da Artilharia para blo-
quear (Collecchio, 26 e 27 de abril), cercar e bater (Fornovo, 28 de abril)
a vanguarda da 148ª Divisão alemã, levando à rendição dessa grande uni-
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GAMA, Arthur Oscar Saldanha da; MARTINS, Hélio Leôncio. A MARINHA
NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. In: Serviço de Documentação Geral da
Marinha. História Naval Brasileira, v. 5, tomo II. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação Geral da Marinha, 1985. pp. 257-434.
1939
1940
1941
A DEFESA DO NORDESTE
A AMEAÇA NO SUL
A GUERRA NA EUROPA
Resumo: Abstract:
A presença francesa na Guanabara, ao tempo da The French presence in Guanabara at the time
aventura de Villegagnon e da França Antártica, of Villegagnon´s adventure and the Antarctic
já era antiga e bem sabida tanto em Portugal France was already established and well known
quanto em grande parte da Europa atlântica e both in Portugal and in much of Atlantic and
mediterrânea. Não era, portanto, uma novidade Mediterranean Europe. It was, therefore, no
que pudesse assombrar a corte de D. João III. novelty that could have haunted the court of
Por que Lisboa tardou para agir contra a mano- King John III. Why did Lisbon delay acting
bra francesa de apropriação de seu território co- against the French maneuver of appropriating
lonial e por tão longo tempo? Que implicações its colonial territory and why for so long? What
geopolíticas o caso ensejava e que não teriam geopolitical implications were behind it and
sido percebidas pelo almirante Coligny, o men- why weren´t they perceived by Admiral Coligny,
tor do plano francês para La Ravardière. O texto the mentor of the French plan for La Ravard-
a seguir procura examinar o contexto dos acon- ière? The text seeks to examine the context of
tecimentos que levaram à fundação da cidade do the events that led to the founding of the city of
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Franceses; Rio de Janeiro; im- Keywords: French in Rio de Janeiro; geopoliti-
plicações geopoliticas; D João III. cal implications; King John III.
que nem sempre concordavam com ele. Portugal iria trabalhar para os
espanhóis?
2 – REALINHAMENTO E PERSONAGENS
Seria interessante reexaminar, sob um outro enfoque, o desempenho
de alguns personagens já aludidos aqui. Agora no contexto das circuns-
tâncias do ambiente político de Lisboa, naquela fase em que, para alguns
historiadores lusos, despontava o “redescobrimento” do Brasil.
que fica ainda mais evidente o relevo de seu nome junto à família real,
conduzido à assessoria dos monarcas.
15 – Idem, p. 250.
16 – Ibidem, p. 259.
17 – O processo depressivo do rei, a desagregação da saúde física, inicia-se em 1540 –
como a historiografia parece estabelecer – com a morte do filho mais novo, depois de uma
ceifa trágica entre descendentes e irmãos naquele ano. Iria perdê-los a todos.
18 – Muito embora, com o episódio que envolveu a escolha do consorte de D. Maria, a
filha dos reis portugueses, D. Catarina, e D. Luís estivessem agastados um com o outro. O
irmão do rei quisera assumir o papel de pretendente à mão da princesa, fato que despertou
no soberano luso irritada contestação. D. Luís iria falecer em 1555.
19 – Para uma boa parte da historiografia, o período de relevo de D. Catarina ganha evi-
dência apenas durante a fase de regente do neto, D. Sebastião, entre 1557 e 1562.
3 – CONCLUSÕES
A castelhanização de Portugal, de que nem sempre se cogita no de-
senrolar dos estudos sobre a política ibérica de então, parece ter um su-
gestivo papel nesse relacionamento dos dois países ibéricos no decorrer
dos anos quinhentos, se considerarmos aí os laços conjugais da monar-
quia lusa, desde D. Manuel, com a coroa de Castela.
E importante.
A Flórida Francesa
La Caroline e S. Augustin (ao sul)
(1) – Na concepção arrojada de John Ogilby (apoiado nos desenhos de Arnoldus Montanus). Publicado em
Londres, 1671.
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Resumo: Abstract:
O trabalho é um instrumento de pesquisa que This research study presents the book or codex
apresenta o livro ou códice E-236 – Pastorais E-236 - Pastorals and Edicts 1742-1838 locat-
e Editais, 1742-1838, localizado no Arquivo da ed in the Archive of the Metropolitan Curia of
Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Con- Rio de Janeiro. It contains, among other docu-
tém um inventário que reúne pastorais, editais, ments, an inventory that includes pastorals,
pautas, provisões, portarias, um interdito, entre edicts, guidelines, provisions, ordinances and
outros tipos de documentos, sob a rubrica “Pas- an interdict, all under the heading “Pastorals
torais e Editais”. Eles foram produzidos e/ou and Edicts.” Produced and / or published by
publicados pelo Bispado do Rio de Janeiro en- the bishopric of Rio de Janeiro between 1742
tre 1742 e 1838 e destinavam-se aos párocos e and 1838, they were intended for parish priests
seus fregueses. O inventário vem acompanhado and their patrons. The inventory is accompanied
de uma introdução, que identifica os diversos by an introduction that identifies the various is-
assuntos tratados pelo códice e seu potencial sues addressed by the codex and its potential for
de análise. Entre esses assuntos, destacam-se analysis. Feasts and rituals stand out in the fore-
as festas e rituais, de forma que o códice 236 ground so that codex 236 can be characterized
pode ser caracterizado como uma espécie de as a sort of panorama of the rituals and feasts
panorama dos rituais e festas da diocese no pe- of the diocese in the period. The publication of
ríodo. A publicação desse instrumento resulta this study results from a research on “Fraterni-
da pesquisa “Irmandades, Capelas e Rituais no ties, Chapels and Rituals in 18th century Rio de
Rio de Janeiro do século XVIII”, desenvolvida Janeiro” conducted at the Federal University of
na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em Rio de Janeiro. In general terms, the study is
termos gerais, ele é importante para a história da important for the history of Portuguese America
América portuguesa e sua inserção no Império and its insertion in the Portuguese Empire.
Português.
Palavras-chave: Bispado; pastorais; editais; Keywords: Bishopric, pastoral, edicts, rituals,
rituais; festas. feasts.
9 –1 Sou grata a vários alunos que trabalharam ao longo do tempo neste projeto, como
Anna Beatriz Sarcedo Dias, Mayara Novaes Valverde, Lucas Domingues Torres do Nas-
cimento e, particularmente, à Laís Morgado Marcoje.
10 – SANTOS, Beatriz Catão Cruz. E-278 – Ordens Régias 1681-1809. Um códice do
Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Doravante, farei menção aos códices
apenas pelo número.
11 – Em 1575 foi criada a prelazia do Rio de Janeiro. Um século depois, por intermédio
da bula Romani Pontificis pastoralis sollicitudo (1676), a prelazia foi elevada a bispado de
São Sebastião do Rio de Janeiro, sufragâneo da Bahia, que no mesmo ano torna-se arqui-
execução das mesmas na Bahia: MENDES, Ediana Ferreira. Festas e Procissões reais na
Bahia colonial: séculos XVII e XVIII. pp. 51-52.
25 – doc. 87, f.87-87v e doc. 111, f.112v.
26 – Sobre a procissão de Santa Ana, seguem os documentos encontrados no códice: doc.
99, f.102 e doc. 102, f.105v-106. Sobre a festa e procissão de São Sebastião sugiro os tra-
balhos e pesquisa em andamento de Vinicius Cardoso, que sugere a existência da procis-
são na cidade do Rio de Janeiro antes do século XVIII e qualifica a festa como celebração
do patronímico da cidade e, simultaneamente, festa real. Ver especialmente: CARDOSO,
Vinicius Miranda. O Padroeiro principal da terra: poderes locais e o culto político-re-
ligioso a São Sebastião no Rio de Janeiro, 1710-1713. 2015. Qualificação (Doutorado
em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro: Programa de Pós-graduação em
História. mimeografado.
27 – doc. 129. f.126v-127v; doc. 222, f.184; doc. 223, f.184-184v;doc. 64, f.63-63v.
28 – doc. 128, f.126-126v. Sobre a exclusão dos jesuítas das relações sociais e temas cor-
relacionados a eles há outros documentos como:doc.94, f.94-96; doc. 95, f.96-96v.
29 – Para além das indicações bibliográficas já fornecidas, há coletâneas resultantes de
eventos, que tiveram como tema festas no período: SANTOS, M. H. Carvalho dos (org.)
A festa. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII – Universitária Edi-
tora, 1992; JANCSÓ, István e KANTOR, Iris. (org). Festa: cultura & sociabilidade na
América portuguesa. São Paulo: Hucitec: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp:
Imprensa Oficial, 2001. 3 vols; JACQUO, Jean; KONIGSON (éd.)Elie. Les Fêtes de la
Renaissance. Paris: Éditions du Centre National de la Recherche Scientifique, 1975. v. 3.
30 – doc. 1, f.2-4; doc. 32, f.34-34v; doc. 68, f.66-67v; doc. 69 f.68-68v; doc. 81, f.81-
81v; doc. 123.f.120v; doc. 231, f.189v-197v
31 – Os conceitos de disciplinamento social e confessionalização tem origem na Ale-
manha protestante dos anos 60 do século passado, a partir de Gehard Oestreich e Ernst
Walter Zeeden respectivamente. Sobre a definição desses conceitos, sua genealogia e apli-
cabilidade a contextos católicos: PO-CHIA HSIA, Ronald. Disciplina social y catolicismo
en la Europa de los siglos XVI y XVII. Manuscrits, n. 25, pp. 29-43, 2007. Em termos
sintéticos, disciplinamento social (Sozialdisziplinierung), “o processo/ato de disciplinar”
aponta não somente para a transformação das estruturas políticas e sociais, mas provoca
uma mudança, a longo prazo, de posturas, de normas e de comportamentos e, confessio-
nalização (Konfessionalisierung), “o processo/ato de confessionalizar”, interiorizar nos
indivíduos uma convicção interna baseada na moral cristã, que é levada sobretudo pelos
agentes eclesiásticos. SONJAJÄRVI, Hanna. O Disciplinamento Social e a Confessiona-
lização como conceitos-chave da historiografia da Idade Moderna na Alemanha. mimeo-
grafado.
32 – doc.44; f.43-44; doc. 51,f.51-52; doc. 46, f.45-45v; doc. 127, f.124v-125v; doc. 215,
f.177-178; doc. 242, f.207-209.
33 – GOUVEIA, António Camões. A sacramentalização dos ritos de passagem. In: GOU-
VEIA, António Camões e MARQUES, João Francisco (Coord.). História religiosa de
Portugal. Humanismos e Reformas.vol.II, pp. 334-345.
34 – doc. 9, f.8v-13;doc.44; f.43-44.
ASPECTOS FORMAIS
É importante observar certos aspectos formais dos títulos dos docu-
mentos que constam do 236. Como é costumeiro na época, há uma enor-
me variedade de grafias no interior do códice, que mantivemos como no
original. Por isso, selecionamos os exemplos, localizados nos respectivos
documentos. São eles: Syqueyra (doc. 14); Siqueira (doc. 7 e 81); Proci-
ção (doc. 87); Processão (docs. 174, 178, 179, 180, 214, 216, 217, 218,
237); provizão (docs. 2, 6, 115, 117, 118, 119); Provizam (docs. 33 e 116);
Provisam (doc. 215); Jubileo (docs. 17, 58, 72, 190 e 191); Jubileu (doc.
24, 59 e 101); Corpus Christi (docs. 91, 98, 101, 124, 131, 134, 135, 138,
145 e 178); Corpuz Christi (doc. 169); Corpuz Chrizti (doc. 155); Corpo-
re Christi (docs. 171 e 172); Parocho (docs. 69 e 79); Parocos (docs. 90 e
107); Parocoz (doc. 104); Parochos (docs. 32, 35, 37, 38, 40, 74, 80, 103,
106, 162 e 183); Parochoz (doc. 127); Martyr (docs. 161 e 163); Editaes
(docs. 184, 194, 214, 216, 217, 218, 224, 225, 237); Editais (docs. 199,
203 e 210); Devizão (doc. 238); Divizão (docs.66 e 210); Divisão (doc.
225). Em todos os casos, mantivemos um respeito ao documento.
41 – doc.66, f.64-65; doc. 166, f.143-144; doc. 188,f.151v-152; doc. 169, f.152v-153;
doc. 193, f.158v; doc. 197, f.159v-160; doc. 201, f.166v-167; doc. 204, f.168-169; doc.
209, f.175v-176; doc. 211, f.176v; doc. 238, f.200; doc. 239,f.200v-201. Para dados po-
pulacionais sobre a cidade do Rio e capitania sugere-se: CAVALCANTI, Nireu. O Rio
de Janeiro setecentista. a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada
da corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. pp. 253-258. Considerando a imprecisão dos
dados demográficos disponíveis, Cavalcanti informa que, em 1760, a sua população era
de 32.746 indivíduos, entre 1779 e 1789, de 38.707 e, em 1808, atingia a cifra de 60.000
habitantes, tornando-se a 29ª cidade entre as trinta maiores do mundo.
42 – Veja, por exemplo, a coincidência entre a véspera do dia de São Matias, marcada
pelo jejum, e o entrudo que determina uma ação antecipatória por parte do bispado no
calendário. doc. 67, f.65-65v. A véspera do Santo não pode ser festiva, no sentido que
empregamos no corpo do texto.
44 – Quando o título não informa o assunto, ele será indicado na medida do possível.
Neste caso, trata-se das contas para o novo Convento de Nossa Senhora da Ajuda.
58) Pastoral, em que Sua Santidade conceda [sic] aos Fieis Catholi-
cos irem a Roma ao jubileo do Anno Santo [f.56v-58]
70) Edital que Sua Excelência Reverendíssima deve por bem mandar
passar Sobre a providencia para todos os Seos Subditos alcancarem o
Jubilo e Anno Sancto o seguinte [f.68v-69v]
71) Edital porque Sua Excelência Reverendíssima deve por bem de-
clarar algumas duvidas Sobre se ganhar o Jubilo de anno Santo. o Seguin-
te. [f.69v-70v]
72) Edital que Sua Excelência Reverendíssima devesse [sic] por bem
conceder aos Reverendos Vigários da Vara das Comarcas deste Bispado
para se poder ganhar [sic] o Jubileo do Anno Sancto deputando lhes as
Igrejas para as visitas he o Seguinte [f.71-72v]
75) Edital em que Sua Excelência faz patente a todos [graças] e in-
dulgencias ainda que verdadeiramente sam concedidas a ordem tercei-
ra de Sam Francisco na forma da Bulla de Sua Santidade hoje Reynan-
te [f.75-77]
para todo o sacerdote secular que se quizer opor a dita Igreja recorrer no
dito tempo [f.113-113v]
124) Alvará de Editos para por elle ser Citado o Reverendo Antonio
Josê Malheiro Conego Cura da Sê dezte Bispado, para dentro do termo de
seis mezes vir Rezidir pessoalmente no Seu Beneficio com a cominação
de se proceder athé privação [sic] do dito Beneficio [f.120v-121v]
126) Pastoral, pela qual foi Vossa Senhoria servido mandar, que se
conservem nos Empregos, e Ocupações do Bispado os providos pelo Ex-
cellentíssimo, e Reverendíssimo Senhor Dom Frei Antonio do Desterro
Bispo, que foi do mesmo, ora fallecido, e que durem as Licenças, e graças
feitaz em sua vida pelo tempo concedido, Sômente como obrigação [de]
as aprezentarem a Vossa Senhoria, tudo na forma abaixo [f.123-124]
127) Pastoral, pela qual foi Vossa Senhoria servido inhibir aoz Re-
ligiozos, se Santo Antônio desta Provincia, da Jurisdição de confessar, e
Pregar neste Bispado, e para que oz Reverendos Parochoz delle, Sachris-
nas Igrejas desta Dioceze, e ainda nas de Suas proprias cazas Sem expres-
sa licença, e bensam de Sua Excelência na forma do Sagrado Concílio
Tridentino [f.131-132v]
mirim por Provisão Regia de 3 de Abril de 1810. Do que fiz ezte Registro.
E eu o Padre Francisco dos Santos Pinto, Escrivão da Camera o escrevy
[f.158v]
223) Aos Vinte e Seis dias do mez de Outubro de mil de mil oito cen-
tos e quinze me foi apresentada a Certidão de Baytismo do Serenissimo
Senhor Infante Dom Sebastiam Gabriel Carlos José Francisco. Xavier de
Paula Miguel Bartholomeu de São Gemianno Rafael Gonzaga [sic] que
nasceo aos quatro de Novembro de mil oito centos, e onse, e foi baptizado
pelo Diocesano, e Capellão Mor aos dezasette de Dezembro Senhor In-
fante Dom Pedro Carlos de Borbom, e de Bragança, e da Muita Augusta
Princesa Senhora Dona Maria Theresa; Forão Padrinhos o Serenissimo
Principe Regente, e a Fidelissima Rainha de Nossa Senhora, de que fiz
V – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
vassas quanto aos atos praticados no cargo. Esta última preocupação era
bem compreensível, pois com frequência invejas e rivalidades davam azo
a procedimentos investigatórios por vezes bastante desagradáveis. Tal
aconteceu, aliás, com o próprio Conde dos Arcos, que chegou a ser apri-
sionado na Torre de Belém, em Lisboa, e precisou prestar contas de seus
atos no Brasil, sendo inocentado e até nomeado, depois disso, membro do
Conselho Privado do Rei D. João VI.
Vem em seguida o prefácio, que tem por título “O Conde dos Arcos,
um governante ilustrado na crise do Antigo Regime”. Nele, o prof. Arno
Wehling, presidente do IHGB, mostra como nas últimas duas décadas
vem sendo revalorizado o gênero biográfico, que esteve longo tempo co-
locado à margem dos debates historiográficos de ponta; faz depois uma
O Conde dos Arcos viveu numa sociedade sobre a qual atuavam duas
forças opostas, agindo à maneira de dois vetores, o conservador e o trans-
formador, procurando ambos um ponto de equilíbrio. E esse confronto
Essas duas forças, que agiam nas elites da época, agiram dentro da
cabeça dos circunstantes do nosso processo de Independência, como D.
Pedro, José Bonifácio, o Conde dos Arcos. É indispensável se entender
2 –1 TOMASI DI LAMPEDUSA, Giuseppe. Il Gattopardo. Roma: Filtrinelli, 1961.
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