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Uma noção de dívida, em lugar à noção de dádiva, se faz necessária a partir da

questão do poder. É este tipo de conceito que se encontra no trabalho de Clastres: o grupo e
o chefe mantêm relações através da circulação grupo-chefe de mulheres e chefe-grupo de
bens e palavras. Todavia, o status do chefe se faz fora da cultura do grupo, ele está aquém
da reciprocidade, em um lugar privilegiado no sistema de trocas, ou seja, o poder político
fundamentaria a imposição de uma relação não-recíproca, sendo que dentro do grupo as
trocas seriam reciprocamente organizadas. Tudo isso soa um pouco como o poder na
concepção weberiana: a possibilidade de se impor uma vontade. Mesmo Weber reconhecia
que esse conceito era extremamente volátil e propunha a análise da dominação enquanto
probabilidade de se ter uma ordem atendida. De qualquer forma, e este é também o
problema da “Sociedade contra o Estado” de Clastres, o poder, neste conceito específico,
apenas determina uma relação assimétrica. Ora, relações assimétricas estão em toda a parte
da vida social, não só na questão chefe-grupo. Em um exemplo de certa forma radical,
pode-se demonstrar que mesmo a mais simples circulação de palavras pressupõe uma
assimetria na medida em que enquanto um indivíduo fala o outro apenas escuta. Desta
forma, a questão do poder e reciprocidade só pode ser lavada a cabo consistentemente a
partir do conceito dumontiano de hierarquia.
Dumont propõe o entendimento de hierarquia segundo um englobamento de
contrários, isto é, vemos uma hierarquia enquanto o conceito de “sociedade burguesa”
engloba burgueses e proletários. Logo, toda a questão da reciprocidade frente à existência
do poder central pode ser sintetizada através do que Lanna chama de reciprocidade
hierárquica. As trocas recíprocas são por natureza assimétricas no tempo, pela posição
social dos parceiros e particularidades dos objetos trocados. Além disso, se organizam de
forma hierárquica (no conceito dumontiano), como demontrou Lanna (1992:144): No kula
trobriandês o termo vaygu’a engloba diversas esferas de troca como os presentes de
solicitação e presentes intermediários. Desta forma, temos uma superposição de
reciprocidade e hierarquia; e, especulando-se mais adiante, temos uma unificação dos
princípios de reciprocidade e redistribuição de Polanyi, pois estes princípios podem ser
explicados enquanto formas hieraquizadas de reciprocidade.
A noção de dívida surge, então, como fenômeno estrutural no contexto acima
exposto. A reciprocidade é sempre desigual e desequilibrada. Assim, o que se percebe em
toda circulação de bens através da reciprocidade, redistribuição, ou melhor, de sua
conseqüente justaposição em uma reciprocidade hierárquica é a presença da dívida. A
assimetria cria a dívida que seria a “infraestrutura” deste modo de relação social, deste fato
social total (se levarmos em conta que este aspecto estrutural se apresenta em várias esferas
do social). Por fim, é demonstrado que a dívida é o que fundamentaria os fenômenos de
reciprocidade.

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