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Título do trabalho:

A SUBJETIVIDADE DO SENTIR DA ALMA DA MULHER NA METANOIA

Autor;

EUGENIA CORDEIRO CURVELO 1

Resumo

Encontrar dentro das variedades das historias de vida o que é comum a


todos, pode ser uma chave para muitas questões com as quais nos defrontamos ao longo
da vida. O conhecimento destes arquétipos, que atravessam a mulher na metanóia, pode
auxiliá-la a encontrar suas próprias verdades. A metanóia exige transgressões, ela
produz inquietação vulcânica, conflito entre o desejo da alma e a submissão do corpo.
Nesta guerra, a tensão e o tesão podem produzir harmonia, no entanto torna-se
necessário revisitar valores e visão de mundo. Nesta inquietante crise surge a
oportunidade de ir ao encontro do processo de individuação.

Objetivos;

 O principal objetivo é analisar se a metanóia exige transgressões para ser


superada.
 Um dos objetivos secundários é apresentar um novo olhar para a crise da
meia idade, que atinge as mulheres dando início ao processo de metanóia.

Justificativa

 No exercício do meu trabalho, tanto na clínica quanto como educadora do ensino


superior, o desenvolvimento humano tem sido meu foco e objeto de estudo. Na
atualidade podemos constatar um crescente interesse pela temática do
envelhecimento, tanto na mídia tradicional quanto nas novas tecnologias de
informação e comunicação. Os fatores determinantes desse interesse midiático

1
Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Santo André (1986), graduação em
pedagogia pela Universidade Guarulhos (2005) e mestrado em Administração pela Universidade
Metodista de São Paulo (2007). Especialização em Andragogia e Psicologia Junguiana
Membro candidata do Instituto Junguiano de SP, IJUSP. Atualmente é docente na graduação e no
programa de pós-graduação, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia do envelhecimento,
potencial humano, desenvolvimento psicológico e psicologia analítica
eucurvelo@gmail.com tel. +55 (11) 99615-3317
podem ser esclarecidos pela perspectiva do aumento da expectativa de vida do
ser humano.

 Portanto este trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica, fundamentada pela


teoria desenvolvida por Carl Gustav Jung, a psicologia analítica, e os teóricos
junguianos. Para tanto foram revisitados os alicerces da psicologia analítica, que
são seus principais conceitos. O estudo demonstrou que a conscientização da
responsabilidade de assumir a própria sombra pode proporcionar o início do
processo de individuação. No entanto, o presente estudo não objetivou esgotar o
tema, mas sim apresentar reflexões quanto ao aspecto sombrio na crise de meia
idade enfrentada pelas mulheres. Este momento é de grande importância, na
medida em que obriga a pessoa a encarar sua própria sombra, sendo, portanto,
uma oportunidade de transformar a sua alma. Desta forma, demonstrou a
importância de cada um assumir a responsabilidade de sua própria vida o mais
cedo possível.

Desenvolvimento do tema

Observo com frequência insistente mulheres que estão na faixa de idade entre 49
e 56 anos com evidências de uma angústia existencial sem precedentes. Segundo os
antigos gregos, o ser humano leva vinte anos para aprender, vinte anos para lutar e vinte
anos para tornar-se sábio. Neste momento, as confrontações das verdades internas com
as verdades do mundo são frequentes e angustiantes. Estes questionamentos trazem o
contato com uma nova forma de ser que assusta, causa estranheza a si mesmo e às
pessoas que vivem ao seu entorno. É um momento de escolhas e possível
desenvolvimento da alma, que briga pela libertação, mas que está contida no
aprisionamento de um corpo biologicamente com energia reduzida. As ideias de
concreto, contidas e aprisionadas, em verdades absolutas, são balançadas por abalos
sísmicos, que trincam e forjam uma nova reestruturação de uma psique em
desenvolvimento e amadurecimento que terá o encontro com a noite escura da alma.
O processo de metanóia pode ser sinônimo de mudança radical, proveniente de
uma força inconsciente, segundo Monteiro (2008, p.88). Para Stein (2007), a crise da
meia-idade vem acompanhada de uma espécie de loucura secreta que inesperadamente
surge de forma inconveniente, na maioria das vezes.
De tal sorte que este processo vem acompanhado de transformações e novas
escolhas que irão determinar como serão vividos os próximos e últimos dias
existenciais, a escolha do vir a ser. Neste sentido, o entardecer biológico, carrega em si
o potencial de transformar a vida de sacrifícios no “sacro-oficio” e encontrar o caminho
da individuação.
Metanóia é um termo originário da língua grega formado pela união do prefixo
μετά (metá) e do sufixo νοῦς (nous). Metá pode ser traduzido como “além” ou “depois”,
mas no termo tem o sentido de “mudança”, enquanto que nous, apesar de ser um termo
filosófico que não possui uma transcrição exata, pode ser entendido como “mente” ou
“intelecto”. Desta forma, o termo metanóia pode ser entendido como mudança de
pensamento ou sentimento, arrependimento, mágoa e penitencia.

Encontramos a direta referência de Jung, quanto à metanóia, em sua obra Aion –


Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo (2008d, p.263):

Na mencionada passagem dos Atos dos Apóstolos lê-se que


Paulo recorda aos atenienses serem eles da “linhagem divina” –
Genus ergo cum simus Dei – e que Deus, lançando por assim
dizer um olhar de reprovação para “estes tempos de ignorância
(inconsciência)”, enviou à humanidade a mensagem: pantas
pantachon metanoein, isto é, que em toda parte todos se
arrependessem (mudassem de pensar); como, ao que parece, o
estado inicial fora inteiramente deplorável, o verbo metanoien
(mudar de mente) assumiu caráter moral de arrependimento dos
pecados, de modo que a Vulgata o traduziu por poenitentiam
agere (fazer penitência).

Em certo ponto da vida, particularmente nos meados da mesma, os aspectos


inconscientes negligenciados, os conteúdos sombrios reprimidos, os arquétipos
adormecidos começam a aflorar e a manifestam-se na consciência. Isso é um processo
natural e precedente à individuação necessária e exigida pelo Self. É um período de
transição que pode ter durações imprecisas e caracteriza-se por uma crise psicológica
intensa, haja vista que esses conteúdos ultrapassam a consciência e afetam todas as
áreas da vida de cada indivíduo que está passando por ela.
Esse período pode ser muito delicado, tanto que pode ser considerado uma
emergência psicológica, pois faz com que o indivíduo, e no caso que estamos
trabalhando, a mulher na meia-idade perde seu sentido de vida e seus próprios valores
pessoais, de tal sorte que muitas vezes provoca problemas nas relações afetivas e até
mesmo no âmbito profissional. É comum que nesse período desenvolva-se a perda da
autoestima e da autoconfiança, angústias, ansiedades, confusão mental, estados
depressivos ou outros sintomas patológicos que podem levar a dúvida do equilíbrio
emocional e mental. Esse período é, também, um momento de grandes transformações e
mudanças que provocam o balanço de toda a vida causando o desespero existencial.

Conforme supradito, ao chegar à meia-idade, é comum observarmos mulheres se


comportando de uma maneira muito estranha; como se alguma coisa começasse a ferver
dentro de cada um quando se aproxima este período da vida. Conhece-se esse fenômeno
por crise da meia-idade.

Podemos encontrar uma boa teorização da crise da meia-idade em Sharp (1995,


p.13):

A crise da meia-idade é marcada pelo súbito aparecimento de


estados de espírito e de padrões de comportamento atípicos. [...]
(As pessoas) passam por terríveis estados de espírito que as
consomem por dentro. Têm pensamentos sombrios, suspeitas ou
fantasias que não as deixam em paz. Suas perspectivas são
tristes. Eles perdem a energia e a ambição, são ansiosos e têm a
impressão de haver perdido o trem.

No meio da vida, descobrimos que não abandonamos totalmente a adolescência:


a confusão emocional e os pesadelos ficaram e a psique ainda está muito viva e ativa.
Com a crise da meia-idade, a psique explode como um vulcão e a lava desta erupção
tanto destrói como, posteriormente, redesenha a paisagem de nossa vida psicológica, o
que não deixa de ser um processo de desenvolvimento contínuo, pois pesquisas recentes
provam que a idade adulta é no mínimo tão desenvolvimentista quanto a nossa infância
e adolescência (STEIN, 2007).

Uma das maneiras de entrar em contato com a alma é através da crise, pois é na
crise que vemos a metanóia, o processo de transformação da alma. Quando não há
mudança e tudo se comporta como deveria, a alma fica adormecida; mas durante a noite
da crise psicológica, quando a luz do sol fica eclipsada, as figuras da psique aparecem e
ganham outra dimensão. Sonhos nos atingem impiedosamente e nos sacodem até os
ossos. É nessa noite tormentosa que Hermes surge e faz seu trabalho.

Como visto anteriormente, a pessoa no meio da vida, já está organizada em


padrões psicológicos conhecidos e então, de repente, a crise vem de encontro, fazendo
com que a pessoa perceba que perdeu a posse e o controle sobre a própria vida. Para a
mulher de meia idade o que antes lhe assegurava a autoestima se foi; sua habilidade de
valorizar as próprias conquistas também se foi; suas posições de estima, conquistas e
poder parecem ter sido roubadas, e a pessoa começa a se questionar sobre o que
aconteceu do dia para a noite.

Nesta crise existencial, somos atingidos pela experiência do limiar, temos que
fazer uma passagem, de um lado a vida até então vivida, ou até mesmo mal vivida, e do
outro, uma nova possibilidade com novas escolhas. De qualquer modo, não há
possibilidade de adiamento ou fuga, os portais do inconsciente serão acessados.

No limiar psicológico, o senso de identidade de uma pessoa fica suspenso de tal


sorte que o ego fica indefinido entre aquilo que foi e o que ainda não é. Desta maneira, o
ego acaba por vaguear através de áreas fronteiriças, separando-se do senso fixo de sua
história e perdendo a identificação com as imagens internas que davam sentido.
Portanto, psicologicamente falando, a consciência da mulher na meia-idade flutua, e ela
fica distante dos fatos do dia-a-dia, de maneira inconsciente.

O senso de identidade continua a existir, mas apesar disso, no limiar, as


sensações que nos dominam são de marginalidade, alienação e mudança. O passado
volta à tona, invadindo o presente de uma maneira que pode nos surpreender, além
disso, o futuro ainda não está definido em termos exatos.

O intuito dessas mensagens que o Self envia ao indivíduo é levar o ego adiante,
fazendo com que este se afunde nos limites de sua alma, para que então, mais tarde, o
ego volte são e salvo.

Portanto, o limiar é um momento de confronto entre os valores adquiridos pela


mulher durante sua vida inteira por imposições sociais, políticas e religiosas e valores
que ela desenvolveu em sua alma, também durante toda sua vida, pela manifestação de
seu próprio Self.
Vemos as neuroses sendo desencadeadas com maior frequência no limiar.
Percebendo-se nessa condição, a mulher na meia-idade procura consultórios
psiquiátricos com o intento de uma cura externa para os males que ela está sentindo.
Neste ponto, devemos lembrar que, para Jung, as neuroses são sofrimentos de uma alma
que ainda não descobriu seu próprio significado. Desta forma, a neurose não é
exclusivamente uma forma de defesa, ela é, ao mesmo tempo, a própria busca da cura.
Assim, as causas das neuroses devem ser buscadas no presente da mulher, não no seu
passado, e a cura é feita na medida em que a mulher entende seus próprios mitos, pois é
através do entendimento deles que a mulher consegue a transformação espiritual, na
medida em que é o espírito quem dá o impulso para o descobrimento de uma nova vida.

Alguns sintomas típicos desta fase podem acontecer com longos períodos de
depressão e desinteresse pela vida, ao mesmo tempo em que a mulher sente uma
sensação de fracasso e desilusão tanto pela própria vida quanto pelas pessoas que ela
estimava e/ou idealizava; há o medo de morrer, assim como a sensação de que não
viverá tempo o bastante para viver como gostaria, ao mesmo tempo há a destruição dos
sonhos e realizações da juventude; fisicamente, há sinais de envelhecimento.
Paralelamente a isso, há também a possibilidade de agora que os filhos já estão
crescidos e maduros. Eles saem de casa para viver suas próprias vidas e aliado a isso,
há a inversão dos papeis com os pais, na medida em que agora quem necessita de apoio
são eles. Há também a possibilidade de perda dos pais, com a morte dos mesmos, o que
provoca uma sensação de abandono e perda, fato que pode agravar a crise, causando
grande depressão.

Em nossa meia idade e como anciãs, com toda a probabilidade


veremos nossos pais ficarem dependentes de nós; mesmo que
tenhamos tido um relacionamento difícil, cheio de ressentimento
com eles, isto também acaba mudando, pois eles já não são mais
o que costumavam ser. Nessas circunstâncias, quanto mais
velha a mulher se torna, mais oportunidades ela tem de conhecer
a verdade sobre a vida, sobre o contexto que envolve uma
pessoa, passando a sentir com ela, respondendo à altura com
consideração e carinho, tornando-se cada vez mais compassiva
com o tempo. Entretanto, cuidar e perdoar nem sempre são
expressões de compaixão ou altruísmo. Podem também
expressar dependência. (BOLEN, 2005, p. 153)

Na verdade, o que realmente está acontecendo é uma reestruturação na matriz


intrapsíquica da personalidade das pessoas. E para que haja essa transformação psíquica
é de suma importância que a mulher direcione a sua orientação do ego para o Self; sendo
esse direcionamento de essencial para o desenvolvimento da personalidade na crise da
meia-idade.

Essa situação provoca uma série crise, na medida em faz com que a mulher na
meia-idade se sinta derrotada, o que ocasiona uma lacuna entre o ego e a persona. E isso
faz com que a mulher se encontre no profundo dilema entre quem ela realmente é e o
que ela precisa ser para os outros e para si mesma. De tal sorte que esse momento se
mostra como uma ocasião crítica, pois é necessária a separação da identidade anterior da
persona2. Desta forma, para que a separação de fato ocorra, é preciso que se coloque um
fim nessa situação, enquanto a nova situação psicológica é absorvida.

O processo de descobrir e enterrar os mortos é um movimento retrógrado que


evolui para a experiência limiar, na qual o destino e a fatalidade se tornam concepções
principais e os conceitos de possibilidade e expansão perdem o valor.

Para Bolen (2005), as mulheres depois de terem sido desmembradas de si


mesmas, podem libertar seu lado escondido, contido e embutido, podendo mudar de
vida, de atitude, de amigos, de vizinhos e de vontades. É como se o espirito
reivindicasse sua liberdade, um grande encontro com o mais profundo de sua alma e
dessa forma uma renovação.

No processo de individuação é necessário a troca da roupa do ego, suas


personas. Este importante processo pode ser vivenciado de diferentes formas pelas
mulheres de meia idade, tanto pode ser uma experiência com mudanças homeopáticas
ou numa estrondosa e abrupta mudança, de um instante a outro.

Rompendo com o rotineiro e acostumado jeito de ser e iniciando uma nova


continuidade psicológica, desta forma as mulheres de meia idade passam a perceber a si
mesmo e os outros de maneira diferente.

2
Se a separação da identidade anterior da persona não for absorvida completamente pode haver a
instigação de defesas naturais egóicas que procuram fazer com que a mulher volte à situação anterior na
sua identificação com aquela persona, mesmo que ela pareça um pouco falsa e gasta. Porque, apesar de
suas rachaduras, ela continua intacta e parece mais segura do que se expor sem ela.
Seria muito interessante que estas mulheres da meia idade, pudessem possuir um
bom senso de humor, pois para Bolen (2005, p. 121) é de grande valia em uma situação
difícil. Segundo a autora, quando o corpo muda, ao ser tocado pelo envelhecimento,
perde a elegância, desta forma o humor conduz a uma espontaneidade.

A mulher que conseguir aceitar a ação de Cronos e da lei da gravidade, irá


conseguir incorporar a alegria e humor com sabedoria. Para Bolen (2005, p. 121), “Uma
risada que vem das entranhas é radical, autêntica e geralmente acontece longe dos
ouvidos masculinos e de suas criticas”.

A experiência da separação e a aceitação das perdas podem levar a uma nova


consciência de uma identidade negada. Ao longo existencial, a maioria das mulheres
recebem do meio a informação que não deve ser ingênua nem generosa. Na transição,
neste linear as mulheres da meia idade enfrentarão o desenvolvimento da compaixão e
da sabedoria, que surgem com a experiência de vida. Para Holls (2011), a experiência
psicológica que as mulheres de meia idade são obrigadas a encarar na transição da meia
idade é também uma experiência cronológica, ou seja, vivencial.

É importante observar que compaixão não deve ser confundida por dependência,
Segundo Bolen (2005, p. 154) o conceito de dependência, ou codependências, está
interligado com a psicologia da adição, de onde proveio este conceito. Quando
observamos um casal, onde um dos parceiros é dependente do álcool, a parceira
(codependente), acaba perdoando e desculpando-o repetidamente. Desta forma, a
parceira vai colocando-se em segundo plano, perdendo o entusiasmo pela vida, não mais
celebrando os dias que vão se torando repetitivos e densos, pesados, angustiantes e
tenebrosos.

Portanto, o desenvolvimento da compaixão é uma experiência psicológica, mas


também espiritual, sendo que pode ser vivenciado de formas diferentes por cada pessoa
que atravessa este limiar. Já Stein (2007) comenta que estamos sempre no limiar,
flutuando e desligados de identificações; figuras limiares estão sempre presentes em
algum lugar da psique, mesmo que a pessoa possa ou não estar consciente da presença
ou da influência deles.

Com a experiência através do tempo observamos a organização dos fatos em


sequencia linear. No entanto, na experiência do limiar o tempo não pode ser vivenciado
de forma linear, nem enclausurados em contextos temporais rígidos, devem ser vividos
de maneira livre como são os sonhos, portais para o diálogo com o inconsciente que
traduz suas necessidades de maneira simbólica.

Podemos citar a existência de mulheres incomuns, que vivem de forma a não


corresponderem às ordens ditadas pela cultura social. Neste caso, a persona é
simplesmente uma máscara coberta de mentiras e posturas inadequadas, que é posta ao
ridículo e ofendida, ao passo em que a alma assiste a tudo isso de sua posição de
submersão no fundo da experiência liminar.

Mas na vida ordinária e corriqueira, observamos também as mulheres em busca


de novos amores, com audácia elas buscam encontrar em braços jovens os anos idos que
não voltam mais. Perdem a noção do que é esperado pelos padrões ditados pela
sociedade e rompem com o aprisionamento destes padrões de comportamento e, com a
alma livre, voam em busca de novos sabores, novas descobertas, novos encontros e
novos amores.

Com a solidão como possibilidade de escolha ou com companhias cultivadas, na


possibilidade de alcançar a sabedoria, as mulheres de meia idade, que estão no caminho
espiritual, encontram a promessa e a possibilidade de terem um novo proposito e
significado na vida. As mulheres atuantes profissionalmente estão em posição de
exercer influência e fazer mudanças não só em suas vidas, mas nas vidas que cruzam
seu caminho. Para Bolen (2005), na terceira fase da vida, deve ser dirigida para o âmago
de si mesma, é a grande possibilidade de tornar-se sábia, para tanto é condição exclusiva
passar algum tempo com o seu circulo interior de arquétipos.

É evidente que cada um de nós tem um lado bom e um lado que negamos e
queremos esconder. Os autores Zweig e Abrams (2011) apresentaram a ideia de que
cada um e todos nós temos um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde, ou seja, uma persona
amigável, da qual fazemos uso diário para que as pessoas à nossa volta gostem de nós e
um “eu” que permanece oculto na maior parte do tempo.

Esse “eu” oculto possui algumas emoções e comportamentos negativos, como


por exemplo, raiva, inveja, vergonha, falsidade, ressentimento, luxúria, cobiça,
tendências suicidas e homicidas. Esses sentimentos permanecem ocultos imediatamente
abaixo da superfície, juntamente com o nosso “eu oculto”, sendo mascarados pelo nosso
“eu” mais agradável. Podemos chamá-los, no seu conjunto, de sombra pessoal, sendo
que esta sombra é uma parte de nós que não conhecemos muito bem e que não temos
controle.

Nesta fase de envelhecimento que somos confrontadas com nossa sombra, temos
que resistir aos desejos traçados para nós, pelos outros e não morreremos lentamente, ou
até viver a vida em função dos filhos, netos ou comunidades. Devemos vencer este lado
sombrio e ter o nosso destino em nossas mãos.

Dizemos então, que a sombra se origina durante a formação do ego, enquanto a


coletividade e a individualidade estão em confronto. Desta forma, a sombra faz
referência àquilo que a personalidade reprimiu, em concessão ao ego ideal, portanto,
tudo aquilo que o indivíduo reprimiu durante sua vida é encontrado em sua sombra.

Após ter contato com a sombra, ter passado pela noite escura da alma, ter
enfrentado os medos, os mais absurdos desejos e ter guerreado, é a hora de encarar a
verdade: ninguém fica para semente. Mas a semente traz o potencial de toda uma
floresta. Para Bolen (2005 p. 258), “Virar semente é a terceira face da deusa tripla, as
três fases da vida se refletem na natureza, na lua crescente, cheia e minguante, e nas
flores, frutos e semente da vida vegetativa.”

A semente tem em seu DNA todas as informações para gerar novas vidas, são
importantes para a continuidade da vida e do nosso planeta. Mas são as sementes de
sabedoria que devem ser levadas ao futuro. Para Bolen (2005), a semente descreve o
processo de individuação.

Para as sementes germinarem devem ser enterradas no amago da terra, na


escuridão, sua casca será arrebentada pela energia vital do broto que surge em direção à
luz. Somente quem enfrenta sua escuridão encontrará sua própria luz.

Por que o ser humano, em seu processo de envelhecimento, tem marcado o


encontro com a noite escura da alma? Jung (2008c), que conceitua arquétipo como
indicativo de existência de determinadas formas na psique que se apresentam em todo
tempo e lugar, pode nos ajudar a compreender este fenômeno que se apresenta no
processo de envelhecimento biológico. Ao longo da existência humana, somos
atravessados por conceitos e preconceitos determinados pela sociedade e cultura, de um
determinado tempo e espaço, na qual estamos sob influência, podemos denominá-los de
arquétipos. Cada ser humano, ao viver sua vida, faz escolhas mediante suas percepções
de mundo, internalizadas em sua memoria que muitas vezes armazenam experiências
com conteúdos não elaborados no mais profundo de seu inconsciente. Um dia estes
conteúdos retidos vêm para a superfície na tentativa de elaboração e transformação e
principalmente por meio da confrontação.

Este evento tem a possibilidade de avaliação e autoquestionamento: “Quem sou?


Em quem me transformei? Quem eu deveria ser?” Neste processo o destino pode
presentear esta alma, com confrontos maestrais e atrair, como experiências provatórias
os medos reprimidos, escondidos, malditos e negados. A sombra se apresenta para
guerrear com o ego, nesta luta o poder é o prêmio final. Nessa guerra insana, a sugestão
como aprimoramento é que esta alma possa experimentar e aprofundar-se nas
profundezas sombrias, deprimindo-se para ressurgir transformada. É interessante
ressaltar que a sombra possui em sua complexidade não só os aspectos repugnantes e
monstruosos que um ser humano pode ser capaz de realizar, mas também contém o ouro
reluzente de qualidades não assumidas, mas também temidas.

Segundo Jung (2009b, p. 344):

[...] quanto mais nos aproximamos do meio da existência e mais


conseguimos firmar-nos em nossa atitude pessoal e em nossa
posição social, mais nos cresce a impressão de havermos
descoberto o verdadeiro curso da vida e os verdadeiros
princípios e ideais de comportamento.

Para produzir ouro, o alquimista precisa do ouro, para elaborar e transformar é


necessário ir ao encontro da profundeza da alma, fuçar o escondido encontrar o maldito
negado, apagado, mas que teima em ressurgir muitas vezes disfarçado, sempre
personificado pela sombra que assombra. Esta alma que está embebecida por uma vida,
talvez mal vivida, muitas vezes renegada e poucas vezes abençoada, agora é
confrontada e reapresentada para tudo que negou e não reconheceu como seu. Conforme
Jung (2008c, p.277), “A figura da sombra personifica tudo o que o sujeito não
reconhece em si e sempre o importuna, direta ou indiretamente como, por exemplo,
traços inferiores de caráter e outras tendências incompatíveis”.

A partir da segunda metade da vida, no entardecer existencial, a alma


aprisionada no corpo, encontrará a metanóia e nesse processo suas personas
acompanhadas com seu lado sombrio, poderão produzir a negação desta etapa biológica,
então o corpo que não quer se entregar suplica à alma que procure cirurgias plásticas,
que busque novos amores e amantes juvenis, deliciosamente em busca do passado para
não caminhar para um futuro incerto, mas com cenário aterrorizante cheio de doenças e
dessabores. Porém, será que é isso mesmo? O envelhecimento produz consciência senil?
Não há alternativas? Ou apenas a solidão cruel que arrasta a alma e o corpo para uma
depressão devastadora. Depressão esta que pode ser acompanhada da conscientização
de uma vida finita, da morte certeira e de separações anunciadas. É o momento de
descobrir e enterrar, não há possibilidade de voltar a ser o que foi, mas por meio da
conscientização, elaboração pode-se transmutar e individuar, por meio de um processo
alquímico espiritual.

A tensão e os conflitos estão presentes, como é característica em todo processo


de mudança de fase da vida, para germinar a reflexão e a criatividade ir ao encontro do
processo de individuação. Citando Jung (2008c, p.281), “É aproximadamente a isso que
denomino “processo ou percurso de individuação”. Como o nome sugere, trata-se de um
processo ou percurso de desenvolvimento produzido pelo conflito de duas realidades
anímicas fundamentais.” Para Edinger (1992), a individuação é um processo e não um
alvo, neste processo a dicotomia entre a realidade interna a e externa é substituída por
um sentimento de realidade unitária. Para ele, a necessidade de individuação produz um
estado em que o ego mantém uma relação com Self sem estar identificado com ele.

Nesta fase da vida, no entardecer existencial, o corpo que avança em seu


declínio, o corpo biológico não tem mais o rigor da juventude, no entanto a alma pode
acompanhar o ritmo do corpo ou ir ao encontro da sabedoria, luz, com consciência de
suas escolhas. Observo grandes dificuldades para os viajantes na jornada existencial,
que por motivos diversos, nunca tiveram contato com os valores espirituais e apenas
buscaram ao longo de sua existência os valores materiais, que agora lhes parecem
finitos e vazios. Quanto mais cedo estas almas não procurarem a quem culpar por suas
escolhas, mais rápida é a possibilidade da alma voar e buscar a sabedoria por meio da
luz da consciência.

É possível compreender que, ao encararmos a certeira morte, característica de


finitude, que nos torna humano diferenciando-nos dos deuses imortais, torna-se possível
sermos mais intensos, criativos e autênticos. Descortinando a realidade ilusória, tirando
o véu dos olhos e assumindo nossa missão de vida, nosso dáimon pessoal.

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