Sei sulla pagina 1di 2

JORNAL VALOR ECONOMICO

OPINIÃO
17/06/2014 às 05h00 12

Voltar a crescer
Por Antonio Delfim Netto
Em linhas muito gerais, a redução da taxa de crescimento do Brasil no último meio
século pode ser explicada por dois fatos muito simples e que dispensam as "grandes
teorias" que costumam esconder as ideologias:

1) Uma redução dramática dos investimentos em infraestrutura, junto com um


aumento não menos dramático da carga tributária bruta, combinados com uma
formidável revolução demográfica, que se vê no quadro abaixo.

É claro que se trata de uma gigantesca simplificação, mas ela vai ao cerne do
problema técnico do crescimento: o aumento da quantidade de capital físico (kWh,
tornos, tratores, estradas, pontes, portos, comunicação, saneamento etc.) por
trabalhador, que aumenta a sua produtividade e é, por definição, o próprio
desenvolvimento econômico.

Está cada vez mais difícil prosseguir com a redistribuição de renda

Como o investimento líquido (isto é, o investimento bruto, deduzido da depreciação


do capital físico utilizado para produzir o PIB) incorpora ao longo do tempo
inovações e progressos tecnológicos, uma parte dele tem que ser destinada para
educar a força de trabalho. O investimento público em infraestrutura e em
educação, num ambiente de confiança e estabilidade, é o principal indutor do
investimento privado, o que cria uma espécie de círculo virtuoso que sustenta o
crescimento.

2) Enquanto existe mão de obra disponível (porque a população está crescendo


depressa, ou a agricultura a está liberando, ou aumenta a participação da população
na força de trabalho), o crescimento - produzido pelo aumento do capital físico por
trabalhador - é auxiliado na produção do PIB pelo aumento dos trabalhadores
incorporados ao processo produtivo.

Nos últimos 40 anos, a situação demográfica mudou completamente, devido à


revolução produzida pelas mulheres: elas se educaram mais do que os homens,
reduziram sua taxa de fertilidade (em 1970, cada mulher deixava seis filhos, hoje
deixa menos de dois) e introjetaram que a única forma de ascensão social de seus
filhos é a educação. Isso reforça a ideia de que hoje o desenvolvimento só pode vir
ligado ao aumento dos investimentos públicos e privados para dar a cada
trabalhador mais capital físico, que incorpora mais tecnologia, e educação, para que
ele possa manipulá-lo de forma mais adequada.
Temos insistido que a combinação dos fatores para produzir o PIB é uma questão
técnica. Ela se resolve pelo uso de mercados que, quando bem regulados, produzem
um sistema de preços relativos, que estimula a busca do resultado produtivo mais
eficiente. Com relação a isso, os avanços da microeconomia sugerem que decisões
políticas apressadas, ou pouco sofisticadas, produzem (no longo prazo, porque as
consequências vêm sempre depois...) resultados muito inferiores para o aumento
do nível de bem-estar da sociedade.

Por outro lado, a distribuição do que cabe ao trabalho e do que cabe ao capital no
que foi produzido (o PIB) é um problema político. Resolve-se pela ação do poder
incumbente escolhido nas urnas numa democracia, condicionado pelas instituições
que a controlam. A sua solução pode impor, portanto, restrições ao nível dos
investimentos e, no final, ao próprio desenvolvimento, se não houver uma relativa
harmonia entre o que se distribui e consome, e o que se acumula para aumentar a
produtividade e trabalho. É isso que cria as condições para a continuidade do
processo redistributivo.

O Brasil colhe os efeitos benéficos de uma redistribuição de renda que, até


recentemente, foi facilitada pelos ganhos externos proporcionados pela melhoria de
nossas "relações de troca", mas que está cada vez mais difícil de prosseguir,
principalmente pelo aumento exponencial do seu custo fiscal.

A preocupação com a higidez da economia nacional está ligada à ausência visível da


necessária revisão na própria política de proteção - às vezes contraditória a alguns
setores -, que deveria ser acompanhada de uma profunda mudança de todo o
sistema de apropriação e distribuição dos recursos pelo governo. É preciso começar
com orçamento de base-zero, que elimine os milhares de programas que subsistem
por inércia (uma vez que perderam a sua funcionalidade) e ir até a crítica cuidadosa
da eficiência de todas as ações fiscais.

Sem providências dessa natureza, a possibilidade de continuarmos a reduzir o nível


de desigualdade ainda existente e, ao mesmo tempo, acelerarmos o crescimento
para maximizar o avanço do bem estar de toda a população, ficará cada vez menor.

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da


Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

E-mail: contatodelfimnetto@terra.com.br

Potrebbero piacerti anche