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Revista Semestral do Nu-Sol — Núcleo de Sociabilidade Libertária
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP
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2003
VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP.
Nº3 (abril 2003 - ). - São Paulo: o Programa, 2003-
Semestral
1. Ciências Humanas - Periódicos. 2. Anarquismo. 3. Abolicionismo Penal.
I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciências Sociais.
ISSN 1676-9090
Editoria
Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária.
Nu-Sol
Acácio Augusto S. Jr., Andre R. Degenszajn, Maria Cristina Lima, Edson
Lopes Jr., Edson Passetti (coordenador), Francisco E. de Freitas, Guilherme
C. Corrêa, Heleusa F. Câmara, José Eduardo Azevedo, Lúcia Soares da
Silva, Martha C. Lossurdo, Natalia M. Montebello, Rogério H. Z. Nascimen-
to, Salete M. de Oliveira, Thiago M. S. Rodrigues, Thiago Souza Santos.
Conselho Editorial
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Christian Ferrer (Universidade de Buenos Aires), Dorothea V. Passetti (PUC-
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lho Ferreira (Universidade Técnica de Lisboa), Maria Lúcia Karam, Paulo-
Edgard de Almeida Resende (PUC-SP), Plínio A. Coelho (Instituto de Cultura
e Ação Libertária – ICAL/SP), Silvio Gallo (Unicamp, Unimep), Vera Malaguti
Batista (Instituto Carioca de Criminologia).
ISSN 1676-9090
verve
revista de atitudes. transita por limiares e ins-
tantes arruinadores de hierarquias. nela, não
há dono, chefe, senhor, contador ou progra-
mador. verve é parte de uma associação livre
formada por pessoas diferentes na igualdade.
amigos. vive por si, para uns. instala-se numa
universidade que alimenta o fogo da liberdade.
verve é uma labareda que lambe corpos, ges-
tos, movimentos e fluxos, como ardentia. ela
agita liberações. atiça-me!
Mistérios de Paris
Max Stirner 11
RESENHAS
Ruídos e rebeldias:
Boletim do Centro de Cultura Social (1985-2003)
Thiago Souza Santos 321
Crime e sobrevivência
Roberto Barbato Jr. 328
Kropotkin e as prisões
Natalia Montebello 332
O fogo de Foucault
Salete Oliveira e Edson Passetti 336
verve chega ao terceiro número sempre edita-
da de maneira autogestionária. o nu-sol dis-
cute o índice segundo os debates e pesquisas
do momento, contata escritores e recebe tex-
tos para publicação (nu-sol@nu-sol.org). acio-
na conselheiros para emitir sugestões, revisa,
redige resumos e abstracts quando não envia-
dos pelos autores. inventa capas e prepara os
originais para a gráfica contatada para aquele
número. depois de pronta ela é lançada, distri-
buída e debatida publicamente pelos integran-
tes do nu-sol.
verve 3 traz nesta edição outro artigo inédito
de max stirner e reflexões intensas sobre o
abolicionismo penal e a atualidade do
anarquismo. cresce nosso interesse e o dos lei-
tores por resenhas de livros e publicações
libertárias tanto quanto o número de colabo-
radores escrevendo artigos e ensaios libertários.
verve é uma revista libertária, semestral e
autogestionária realizada pelo nu-sol.
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Conclusão
A figura humana de Courbet não é irrepreensível.
Sua posição com relação às mulheres, por exemplo, re-
vela uma certa misoginia, como em Proudhon. Nisso,
encontra-se atrasado com relação a Joseph Dejacques
(que ele não menciona), Louise Michel (que no entanto
é da Comuna, sobre a qual não se encontra qualquer
menção na correspondência de Courbet) ou Elisée
Reclus (com quem ele convive na Suiça, mas que talvez
nunca tenha lido). Sem dúvida, ele pensaria de outra
forma se seu entusiasmo por Proudhon (do qual
Champfleury e Victor Hugo zombavam) o tivesse levado
a ler anarquistas contemporâneos mais maduros e coe-
rentes. Mas a história não pode ser modificada a
posteriori. De qualquer forma, Courbet não deixa de ser
um exemplo de grande artista, corajoso, generoso,
libertário, que soube unir o pensamento e a ação, e que
defendeu encarniçadamente idéias progressistas que,
apesar de não levarem o rótulo de anarquistas, mos-
tram uma concepção profunda e autenticamente
libertária da sociedade tal qual ela é, e tal como poderia
ser em um clima de cooperação comunalista federada.
Suas idéias federalistas não são distantes das do dele-
gado espanhol na Conferência de Londres de 1872, nem
do organograma da CNT-FAI na Espanha de 1936.
Notas
1
Cf. “Compte-rendu de l´intervention de Courbet au Congrès d´Anvers” in
Peut-on enseigner l´art? Paris, L´Échoppe, 1986.
2
Coleção: Regards sur la peinture, nº 41, Paris, Fabbri, s.d., pp. 16-19
3
Catálogo da Exposição de 1855.
4
Pour un nouveau roman. Paris, Editions de Minuit, 1963.
5
George Boas. “ Courbet and the naturalistic movement”. (Ensaios lidos no
Baltimore Museum of Art, 16, 17 e 18 de maio de 1938).
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6
Pierre-Joseph Proudhon. Du principe de l´art et de as destination sociale. Paris,
Garnier, 1865, pp. 106-107.
7
Na verdade, há um embrião de movimento anarquista francófono mas, muito
curiosamente, nos Estados Unidos. São os exilados franceses reunidos ao re-
dor de Joseph Dejacques que lançaram, já em 1858, o periódico Le Libertaire.
Esse mesmo militante, aliás, é o autor de um panfleto anti-proudhoniano que
ataca o pensador (tratado de conservador) situando-se mais à esquerda do que
ele, devido a idéias bastante coerentes. Mas, na correspondência de Courbet,
não há qualquer traço desse nome, e é provável que ele nunca o tenha encon-
trado ou lido, pois eles navegavam em meios totalmente diferentes.
8
Óleo sobre tela que se encontra no Museu Histórico do Palácio Granvelle de
Besançon.
9
Existem ao menos dois estados do quadro Proudhon e sua família, pintado em
1865 após o falecimento do filósofo. A data de 1853 refere-se ao retratado de
um outro autor no qual ele se baseou, já que Proudhon nunca posou para ele.
10
É difícil falar sobre ele sem vê-lo ( baseando-se em pálidas reproduções ou
em descriões escritas). Esse quadro desapareceu e imagina-se que foi através
das manipulações dos inimigos de Courbet que sem dúvida ele foi comprado
para poder ser escondido ou destruído.
11
Proudhon, op. cit, pp. 160-107.
12
Idem, pp. 239-240.
13
Edição estabelecida, apresentada e anotada pro Petra tem-Doesschate Chu
(org). Correspondance de Courbet. Paris, Flammarion, 1996, pp. 85-86.
14
“L´atelier du peintre” in Regards sur la peinture, nº 41. Paris, Fabbri, s.d., pp.
16-19.
15
Courbet, Correspondance, p. 208.
16
Fotos de Nadar, quadros de Corbineau e Bourson, litografia de Charles Bazin,
entre outros.
17
Proudhon, op. cit, p. 282.
18
Courbet, Correspondance, p. 208.
19
Idem, pp. 204-205.
20
Ibidem, p. 238.
21
Visível, unicamente nas reproduções a cores.
22
Seria preciso também mencionar A Partida do Conscrito (1863) e O Cemitério de
Solferino (1872), fortemente antimilitaristas. Ver principalmetne o artigo de Petra
Ten-Doesschate Chu “Courbet´s Unpainted Pictures”, in Arts Magazine, 1982,
pp. 134-141.
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Courbet, Correspondance, p.76. Bem antes que Tolstoi (que aliás também inspi-
rou-se em Proudhon) desenvolvesse teorias que chegaram a Gandhi, Vinoba
Babe e toda uma concepção não violenta do anarquismo.
24
Courbet, Correspondance, p. 78.
25
Idem, p. 108.
26
Courbet à Montpellier. Museu Fabre 5 de novembro — 29 de dezembro de
1985, Cidade de Montpellier, Comité du Millenaire, Catálogo de Exposição, p.
124.
27
“Compte-rendu de l´intervention de Courbet au Congrès d´Anvers” in Peut-
on enseigner l´art? Paris, L´Échoppe, 1986.
28
Courbet, Correspondance, p. 208.
29
Idem, p. 350.
30
Ibidem, p. 342.
31
Esta carta, dirigida ao Governo da Defesa Nacional, é datada de Paris, 5 de
outubro de 1870. Courbet, Correspondance, pp. 345-346.
32
Idem, p. 360.
33
Ibidem, p. 366.
34
Paul Hippeau. Les Fédérations Artistiques sous la Commune. Paris, Comptoir
d´Éditions Lettres, Sciences et Arts, 1890, p. 36.
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ABSTRACT
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Notas
1
Este artigo, preparado para a reunião da ANPUH do Rio de Janeiro, realizada
entre 14 e 18 de outubro de 2002, na Universidade do Estado do Rio de Janei-
ro/UERJ, apresenta resultados parciais da pesquisa: Intelectuais, política e poder,
desenvolvida sob os auspícios de bolsa do CNPq.
2
Então, em virtude da defasagem de calendários, havia uma diferença de 12
dias entre o calendário Juliano, ao qual se mantinham fiéis os russos, e o calen-
dário Gregoriano, adotado na Europa Ocidental.
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Dos 600 mil invasores, apenas entre 30 a 50 mil conseguiram cruzar a frontei-
ra do Império tsarista no caminho de volta.
4
Em 1736, fora dado um primeiro golpe no serviço obrigatório, com a redu-
ção do mesmo a um período de 25 anos. Cf. Riasanovsky. A parting of ways.
Government and the educated public in Russia, 1801-1855. Oxford, Oxford at the
Clarendon Press, 1976.
5
Riassanovsky, op. cit., pp. 275 e seguintes.
6
Uma das mais ilustres personalidades desta primeira geração foi Alexandre
Radichtchev, autor de um livro clássico de crítica social: Viagem de St. Petersbourg
a Moscou, um libelo contra a servidão, que lhe valeria a prisão e a condenação à
morte, depois comutada em pena de exílio. Cf. D. A. Reis Filho, “Intelectuais e
política nas fronteiras entre reforma e revolução” in Daniel Aarão Reis Filho
(org.) Intelectuais, história e política, Rio de Janeiro, Sette Letras, 2000, pp. 11-34.
7
Alexandre Herzen. Passé et Méditations (Byloié i Dumy). L’Age d’Homme. Volumes
I-IV, 1974, volume 1, 1974-1981, Genebra, p. 116.
8
Idem, pp. 74 e seguintes.
9
Não sem amargura, Herzen refere-se ao choque da “descoberta”de suas
origens em sua clássica autobiografia: Byloie i Dumy (Passado e Meditações).
Alexandre Herzen, ibidem, vol. 1, pp. 59- 60.
10
Depois de saber de sua falsa posição (a expressão é dele mesmo), Herzen
confidenciou: “Eu me senti livre em relação a uma sociedade que não
conhecia…entregue a minhas próprias forças…com uma presunção um tanto
infantil, eu me dizia que ainda mostraria quem eu era”. Alexandre Herzen,
ibidem, volume 1, p. 60.
11
À morte de Alexandre I, o sucessor legítimo era Constantino, segundo filho
do imperador Paulo I, já que Alexandre não teve descendência. Mas ele há
muito renunciara ao trono, embora secretamente. Até que isto fosse devida-
mente esclarecido, houve um hiato no poder supremo, do qual se aproveitari-
am os decembristas para empreender sua revolta.
12
O estudo é feito por M. Miakotin, vol. 2, cap. XV, pp 717-733, P.N. Miliukov
(org.) Histoire de Russie. Paris, Librairie Ernest Leroux, 1932.
13
A descrição detalhada do episódio, extremamente romântico, que marcou
para sempre os dois amigos, encontra-se em Alexandre Herzen, op. cit., volu-
me 1, 1974, p. 109.
14
Alexandre Herzen, 1853, p. 96.
15
Conde Serge Semionovitch Uvarov (1786-1855), alto funcionário, presiden-
te da Academia de Ciências, ministro da Instrução Pública de 1836 a 1849.
Nacionalista extremado, é dele a famosa divisa: Autocracia, Ortodoxia, Nacio-
nalidade.
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N. V. Riassanovsky, op. cit., p. 370.
17
N. V. Riassanovsky, op. cit., pp. 375 e seguintes.
18
Entre outros, o Telégrafo de Moscou, O Mensageiro de Moscou, O Mensa-
geiro da Europa, O Telescópio, O Europeu, todos fundados entre 1825 e 1832,
por intelectuais e/ou professores universitários in M. Malia, 1975, p. 60.
19
I. Berlin, 1988, dedica vários ensaios, sob este título, à análise das correntes
intelectuais e dos debates então ocorridos na Rússia.
20
Cf. a fórmula antológica de Tchadaeiv: “Digo à Rússia: seu passado foi inútil,
seu presente é supérfluo e seu futuro é nenhum”. In Alexandre Herzen, 1853,
p. 95.
21
Cf. o excelente ensaio a respeito de Belinsky formulado por I. Berlin, op. cit.,
pp. 158-191.
22
Herzen e mais cinco colegas foram acusados de liderar uma monumental
vaia ao Professor Malov, detestado por suas maneiras rudes e por sua ignorân-
cia. A vaia, iniciada no anfiteatro, interrompeu a aula e “acompanhou”o profes-
sor até o portão da universidade. A punição, decretada pelo Conselho Superior
da Universidade, consistiu em detenção, na cave da Universidade, a pão e água,
por alguns dias. Na prática, os estudantes driblavam a vigilância e organizavam
grandes tertúlias, regadas a vinho, dormindo de dia. Cf. Alexandre Herzen, vol.
1, pp. 152 e seguintes.
23
A. Herzen, 1974, vol. 1, p. 215 e seguintes.
24
Op. cit., pp. 249 e 251.
25
Alexandre Herzen, 1853, pp. 95-96.
26
Cf. E.H.Carr, 1968, p. 21. Herzen desloca-se ilegalmente a Moscou e, num
episódio teatral e romântico, rapta Natália, levando-a para o seu novo lugar de
exílio — Vladimir — para onde fora recentemente transferido, e onde se efe-
tuaria finalmente o casamento.
27
Alexandre (Sacha), nasceu em 13 de junho de 1839.
28
Alexandre Herzen, 1974, volume 2, pp. 13 e seguintes.
29
Cf. nota 14.
30
“A filosofia de Hegel é a álgebra da revolução; ela liberta extraordinariamen-
te o homem e não deixa pedra sobre pedra do universo cristão, do universo das
tradições remanescentes”. Alexandre Herzen, 1974, volume 2, p. 28.
31
Cf. N.V. Riasanovsky, 1994, pp. 390 e seguintes. Da situação, A. Herzen diria:
“Nós estamos muito habituados a nos distrair entre as paredes de uma
prisão”.Cf. A. Herzen, 1853, p. 95.
32
A descrição detalhada do episódio está narrada pelo próprio Hezen, cf. op.
cit., volume 2, pp. 70 e seguintes.
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Cf. Martin Malia, 1975, capítulo XII e esta interessante “confissão”de Herzen
sobre suas relações com os eslavófilos: “Nós tínhamos o mesmo amor, mas
não amávamos da mesma forma, éramos como a águia de duas cabeças, ou
Janus, olhando simultaneamente em duas direções opostas, mas, por baixo, no
corpo, o coração batia em uníssono”, idem, p. 312.
34
Alexandre Herzen, op. cit., 1853, Introdução, pp. X e XXIII.
35
Além de Sacha, o primogênito, Natália e Herzen teriam ainda três filhos na
Rússia: Ivan, nascido em fevereiro de 1841, que não sobreviveu, e mais Nicolau
(nascido surdo-mudo, em 30 de dezembro de 1843) e Natalia (Tata, nascida em
13 de dezembro de 1844).
36
Alexandre Herzen, 1974, volume 2, p. 291.
37
“Eu teria traído minhas convicções, se não tivesse retornado a Paris, onde se
instaurara a República”. Alexandre Herzen, idem, p. 293.
38
E.H. Carr, op. cit., p. 38.
39
Alexandre Herzen, 1871, p. 82.
40
Idem, p. 107.
41
Idem, p. 123.
42
I. Berlin, op. cit., p. 203.
43
Idem, pp. 203-204.
44
“No presente, como no passado, vejo o saber, a verdade, a força moral, a
aspiração à independência, o amor da estética - tudo isto num pequeno punha-
do de homens que são antipáticos à maioria, que não simpatizam com ela,
fechados em sua própria esfera”. Alexandre Herzen, 1871, p. 150.
45
E.H.Carr, op. cit. principalmente os capítulos 3 e 4; e o relato do próprio
Herzen, 1974, volume 3, pp. 109-207.
46
Cf. N.V. Riasanovsky, op. cit., pp. 401-402.
47
A Terceira Seção da Chancelaria Particular de Sua Majestade, polícia secreta,
política, instituída por Nicolau I, verdadeiro ministério, subordinada direta-
mente ao autocrata. Seria suprimida nos anos 80, substituída pela não menos
temível Okhrana, abolida em 1917 para dar lugar às não menos eficientes e
assustadoras polícias políticas do regime soviético. Uma tradição.
48
Observar a multiplicação das revoltas na conjuntura que antecede imediata-
mente à abolição da servidão, uma vez que as primeiras cifras referem-se a
períodos de 25 anos ou mais, enquanto a última cifra refere-se a um período de
apenas 6 anos. Cf. N.V. Riasanovsky, op. cit. p. 400.
49
Constantino Dmitrievitch Kavelin (1818-1885), historiador e jurista, publicista
liberal. Professor da Universidade de Moscou desde 1844.
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50
Nicolau A. Miliutin, funcionário do Estado tsarista, considerado pelos con-
servadores líder do partido reformista.
51
N.V. Riasanovsky, op. cit., pp. 400 e seguintes. e M. Mirkin-Guetzevitch in
P.M. Miliukov, 1932, tomo III, capítulo XVII, pp. 829-885.
52
Os pagamentos foram feitos ao Estado, já que as terras atribuídas aos mujiks,
embora propriedade dos nobres, estavam hipotecadas por dívidas colossais.
Assim, a nobreza perdeu terras, mas quem recebeu por elas foi o Estado.
53
Khodsky calculou que 13% dos servos foram bem aquinhoados; 45% ganha-
ram o suficiente para viver, mas em 42% dos casos os lotes atribuídos teriam
sido insuficientes. A questão dos pagamentos também seria enfatizada: quan-
do, em 1905, suspendeu-se o pagamento das anuidades, os mujiks já haviam
pago 1,5 bilhão de rublos por terras avaliadas em 1 bilhão de rublos…cf. N.V.
Riasanovsky, op. cit., pp. 400 e seguintes.
54
Chamo assim os funcionários do Estado empenhados no processo de refor-
mas pelo alto. Entre muitos outros, destacaram-se os irmãos Miliutin. Cf. Daniel
Aarão Reis Filho, 2000. A trajetória de Herzen no exílio londrino está particu-
larmente bem narrada pelo própiro Herzen em sua obra clássica, 1974, volume
IV, sétima parte, pp. 255-388. Cf. igualmente, a obra de F. Venturi, 1972, pp.
103-158.
55
Emprego o termo “geração” no sentido construído por J. F. Sirinelli, ou seja,
um grupo de pessoas menos referido a marcos cronológicos do que a determi-
nados períodos/acontecimentos decisivos, que estruturam e nucleiam sua me-
mória. Assim, Herzen seria um filho da geração dos decembristas, ou da déca-
da notável (anos 40), enquanto os filhos — radicais — seriam nucleados pela
frustração da reforma de 1861. Cf. J. F. Sirinelli, 1986.
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A incriminação do anarquismo
O anarquismo, considerado pelas classes conserva-
doras brasileiras como uma doutrina originária da Eu-
ropa, própria dos países desenvolvidos que enfrenta-
vam a luta de classes, era visto como uma “planta exó-
tica” que não encontraria solo fértil para germinar no
Brasil, mesmo porque as relações que aqui se estabele-
ciam entre o capital e o trabalho eram tidas como “har-
mônicas”. No entanto, o anarquismo deitou raízes em
terras brasileiras e floresceu revelando ser uma força
política ativa, capaz de fazer adeptos e de mobilizar tra-
balhadores em movimentos de protesto que tomaram
conta do cenário político-social durante as primeiras
décadas dos novecentos.
A influência das idéias anarquistas no nascente
mundo operário brasileiro foi marcante. Os militantes,
em sua maioria estrangeiros7, introduziram uma nova
leitura do universo social brasileiro desnudando a rela-
ção tensa e conflituosa existente entre o capital e o tra-
balho conquistando a ira das elites e a mira da repres-
são. A ressonância da estratégia política anarquista de
ação direta8 junto ao operariado despertou a solidarie-
dade entre os trabalhadores assustando as autorida-
des. Movimentos de protesto contra a carestia de vida,
contra as precárias condições de moradia, contra a ex-
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O espírito das leis: anarquismo e repressão política no Brasil
Notas
1
Além da questão econômica de suprir a demanda de mão-de-obra nas lavou-
ras de café a baixo custo, estava em jogo, nos bastidores das discussões sobre a
opção pelo trabalhador branco-europeu, o aprimoramento da raça, apregoado
pelas teorias eugênicas que aportaram no Brasil em fins do século XIX.
2
Lená Medeiros Menezes. Os Indesejáveis: desclassificados da modernidade (Protesto,
crime e expulsão na capital federal 1890-1930). Rio de Janeiro, EDUERJ, 1996, p.
91.
3
Correio Paulistano, 30 de Julho de 1893, p. 1.
4
Guido Fonseca. “O anarquismo e as origens da polícia política em São Pau-
lo”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. São Paulo, vol. XCIII,
1996, p. 1.
5
Lená Menezes. Op. cit., p. 165.
6
Idem, p. 98.
7
Merece destaque a importância dos libertários estrangeiros na difusão das
idéias anarquistas no Brasil. Mas, deve-se ressaltar que muitos destes imigran-
tes que professavam o anarquismo aqui chegaram ainda jovens e aqui se fize-
ram militantes aguerridos. Por outro lado, não se pode esquecer a existência de
uma matriz brasileira do anarquismo oriunda do republicanismo de fins dos
oitocentos como é exemplar o caso de Edgard Leuenroth, reconhecido mili-
tante brasileiro pela difusão das idéias anarquistas no país.
8
A estratégia política de ação direta contrapõe-se a qualquer forma de repre-
sentação política. Ela se caracteriza pela autonomia do indivíduo e pelo impul-
so da iniciativa. Segundo os princípios fundantes do anarquismo, cada indiví-
duo é o melhor juiz da sua capacidade de agir. O trabalhador deve, portanto,
confiar na influência da sua própria ação, direta e autônoma, prescindindo de
intermediários no conflito capital x trabalho.
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9
O decreto nº 1.169 de 15 de dezembro de 1893 revogou o decreto nº 1.566 de
13 de outubro de 1893. Informações complementares sobre estes decretos
podem ser encontrados no livro Expulsão de Estrangeiros de autoria de Anor
Butler Maciel. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1953, p.
35.
10
“Estava esquecida esta tentativa legislativa, quando a irrupção violenta de
uma parede operária despertou, novamente, interesse pelo assunto. Foi, então,
desenterrado dos arquivos o projeto da Câmara e emendado foi convertido no
Decreto Lei nº 1641 de 7 de janeiro de 1907”. Cf. Anor Butler Maciel, Op.cit.,
p. 37.
11
Francisco de Paula Lacerda Almeida. O Decreto nº 1.641 de 7 de Janeiro de
1907 sobre a expulsão de estrangeiros do território nacional (ligeiramente co-
mentado e precedido de alguns capítulos doutrinários sobre o fundamento
jurídico e aplicação prática do direito de expulsão com referencia aos autores
nacionais e à jurisprudência prática). Rio de Janeiro, Typographia da Revista
dos Tribunais, 1907, p. 9.
12
Francisco de Paula Lacerda Almeida, op. cit., p. 70.
13
Idem, ibidem, grifo nosso.
14
Antes mesmo da promulgação da lei de expulsão, o critério de residência
suscitou um debate acalorado. Em dezembro de 1906, no calor das discussões
sobre o artigo da lei em que se definia o tempo de residência (2 anos contínuos
ou por menos tempo quando: a) casado com brasileira ou b) viúvo com filho
brasileiro) como impeditivo da expulsão, o deputado Medeiros de Albuquerque,
em discurso proferido na Câmara, salientou que “a lei não tem ternuras para as
mulheres casadas com brazileiros... é antifeminista a seu modo...” E acrescen-
tava: “Tem mais medo das anarchistas que dos anarchistas”, pois a lei era
omissa quanto a situação das mulheres casadas com brasileiros ou viúvas com
filhos brasileiros. Cf. Anais da Câmara dos Deputados, sessão de 26 de dezem-
bro de 1906, p. 988. Sobre o critério de residência, muitas dúvidas ainda paira-
vam no ano de 1917, quando da leva de expulsão após a greve geral que teve
lugar em São Paulo.
15
Anais da Câmara dos Deputados, sessão de 12 de agosto de 1907, pp. 396-
397.
16
Os artigos suprimidos do Decreto Lei nº 1641 de 7 de Janeiro de 1907 são:
artigo 3º — “não pode ser expulso o estrangeiro que residir no território da
República por 2 anos contínuos, ou por menos tempo, quando: 1) casado com
brasileira e 2) viúvo com filho brasileiro”; artigo 4º: “O Poder Executivo pode
impedir a entrada no território da República a todo o estrangeiro cujos antece-
dentes autorizem a incluí-lo entre aqueles que se referem os artigos 1º e 2º.
Parágrafo único: a entrada não pode ser vedada ao estrangeiro nas condições
do 3º, se tiver se retirado da República temporariamente” e artigo 8º: “Dentro
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O espírito das leis: anarquismo e repressão política no Brasil
do prazo que for concedido, pode o estrangeiro recorrer para o próprio poder
que ordenou a expulsão, se ela se fundou na disposição do artigo 1º, ou para o
Poder Judiciário Federal, quando proceder do disposto no artigo 2º. Somente
neste último caso o recurso terá efeito suspensivo”.
17
Florentino de Carvalho. Agitação internacional contra a lei de expulsão bra-
sileira. Germinal (semanário anarquista). São Paulo, Ano I, nº 7, 10 de Maio de
1913, p. 1.
18
Mensagem presidencial de Altino Arantes dirigida ao Congresso Legislativo
de São Paulo, em 15 de Julho de 1917.
19
Para informações detalhadas sobre o episódio da expulsão de anarquistas no
ano de 1917 consultar: Christina Roquette Lopreato. O espírito da revolta: a
greve geral anarquista de 1917. São Paulo, Editora Annablume/FAPESP, 2000
(em especial capítulo 5: Os indesejáveis).
20
Discurso de Maurício de Lacerda proferido na sessão de 5 de outubro de
1917 na Câmara dos Deputados. Anais da Câmara dos Deputados, v. VII, p.
449.
21
Artigo 3º: “Se a provocação de que trata o art. 1º for dirigida diretamente a
militares, praças ou oficiais de corporações militarizadas da União ou dos Esta-
dos, ou se a apologia ou elogio de que trata o art. 2º forem feitos perante os
mesmos militares, praças ou oficiais de corporações militarizadas. Pena: prisão
celular, no caso de provocação por dois a cinco anos; no caso da instigação, por
um a dois anos”. Decreto nº 4.269 de 17 de janeiro de 1921.
RESUMO
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rogério h. z. nascimento*
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Positivismo e anarquismo
A Vida. Ano I — N° 05.
Rio de Janeiro — RJ — 31.03.1915.
Francisco Viotti (não assinado).
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Mãos à obra!
As escolas racionalistas serão o meio, e a transfor-
mação social o fim, de nossos atos, de nossa dedicação,
de nosso esforço de hoje e de amanhã e de sempre, em
quanto pudermos articular uma palavra, mover um pas-
so, fazer um gesto enunciador de força, de energia, de
vida!
As escolas racionalistas, as escolas livres, as escolas
despidas de todos os prejuízos políticos, sociais e religi-
osos — eis o recurso mais eficaz, mais poderoso, mais
praticamente realizável para a consecução do ideal lu-
minoso, radiante de amor, de bondade e de justiça, que
tenta reabilitar a humanidade para a vida de harmonia
e de fraternidade que se nos afigura perto, muito perto,
na perspectiva feliz e iluminada da cidade Futura, em
que seremos todos iguais, fortes e livres sobre a Terra
livre.
Ai! então, não haverá mais mendigos nem potenta-
dos, porque o homem, emancipado, de posse de todos
os seus direitos, saberá tirar da nossa mãe Natureza o
pão da alegria e o pão da vida.
S. Paulo, 15 de dezembro de 1914
A instrução e o Estado
A Vida. Ano I — N° 03.
Rio de Janeiro — RJ — 31.01.1915.
Éfren Lima.
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Notas
1
Em 1988 o Centro de Memória Sindical — CMS — junto do Arquivo Storico
do Movimento Operário Brasileiro - ASMOB — de Milão, dando continuida-
de ao projeto de reedição de jornais e revistas produzidas pelos operários da
primeira república brasileira, organizaram a reedição em fac-símile de A Vida.
Regina Aída Crespo desenvolveu pesquisa de Mestrado na UNICAMP em que
trata, dentre outros periódicos, de A Vida. Sua dissertação intitula-se Crônicas e
Outros Registros: flagrantes do pré-modernismo (1911-1918).
2
Em relação à questão dos universais em Florentino de Carvalho ver Nasci-
mento, op. cit. todo o capítulo cinco, sobretudo o primeiro item intitulado
“Anarquismo sem Adjetivos”.
3
Sobre a greve de 1917 ver Christina Roquete Lopreato. O Espírito da Revolta: a
greve geral anarquista de 1917. São Paulo, Annablume, 2000.
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RESUMO
ABSTRACT
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Gastronomia e anarquismo — vestígios de viagem à Patagonia trapeiro
christian ferrer*
As expedições
Quatro são os pontos cardeais e quatro os homens
significativos que entraram pela Patagônia no final do
século XIX. Pelo norte, o General Julio Argentino Roca
no comando de um exército; pelo sul, o anarquista Errico
Malatesta junto a outros quatro companheiros de idéi-
as; pelo leste, duzentos imigrantes galeses que desem-
barcaram num navio chamado Mimosa, um tipo de
Mayflower para a região do Chubut, em busca de uma
nova vida; e pelo oeste, através de terras araucanas, o
francês Orllie Antoine de Tounens, fidalgo provinciano
falido que pretende um cetro e uma coroa. A Patagônia
foi invadida por um militar, que seria em breve Presi-
dente da Argentina; por um rei de opereta; por um anar-
quista fugitivo do governo italiano; e por colonos cujo
líder, Lewis Jones, acreditava num vago ideário socia-
lista de inspiração fabiana. Cada um deles tinha em
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Colonos e soldados
Alguns galeses fugiam da intolerância religiosa; e
todos eles, dos ingleses. Em 1865, os colonos desem-
barcaram no Golfo Nuevo e se embrenharam pelo vale
do rio Chubut. Lutaram contra as intempéries e funda-
ram povoados ao longo das margens: Madryn, Rawson,
Gayman, Trevelyn. Por muitos anos, seus vizinhos ha-
bituais não seriam os argentinos, mas os índios
Tehuelches, que, pedintes por natureza, solicitavam
constantemente comida e todo tipo de objeto. A troca
se fazia em linguagens intraduzíveis em Buenos Aires:
em galês e em tehuelche. Pouco depois de chegar, mor-
reu o primeiro dos colonos e foi enterrado num cemité-
rio consagrado, atrás da capela protestante. Foi então
que a cidade dos imigrantes concluiu a primeira rota-
ção sobre si mesma. Esse cemitério, já repleto, foi fe-
chado na década de 1930. Mesmo assim, o último dos
imigrantes originários foi enterrado nesse primeiro cam-
po-santo, reaberto exclusivamente para este último dos
primeiros. Lentamente, os galeses se miscigenaram, e o
vale do rio Chubut começou a ser compartilhado com
outras correntes migratórias, incluindo argentinos.
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O rei
Duas décadas antes, pelo leste, desde o Chile, um
homem solitário que sonha com impérios, cruza a Cor-
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O anarquista
Errico Malatesta nascera em 14 de dezembro de 1853,
em Santa Maria Capua Vetere, uma cidade presidiária.
Seus pais eram modestos latifundiários, de idéias libe-
rais. Quando Malatesta tinha catorze anos escreveu uma
carta, insolente e ameaçadora, dirigida ao Rei Vittorio
Emmanuele II. A polícia levou a correspondência muito
a sério: foi detido e apenas conseguiu salvar a roupa. O
prognóstico do seu pai não foi alentador: “pobre filho,
não gosto de dizer isto, mas deste jeito você vai acabar
na forca”. Depois de saber da insurreição de Paris, em
1871, aderiu às idéias da Internacional, e com dezessete
anos viajou para Suíça, para conhecer Mikhail Bakunin.
Dali em diante, transformou-se num dos revolucionári-
os mais famosos de seu tempo. Editou o periódico La
Questione Sociale, primeiro em Florença, entre 1883 e
1884, depois em Buenos Aires, entre 1885 e 1886, e
por último em Nova Jersey, entre 1899 e 1900. Organi-
zou grupos de companheiros, sindicatos e publicações,
liderou revoltas, escreveu alguns livretos, sobretudo
procurou unir a “família anarquista” e salvá-la de suas
tendências centrífugas. Com o tempo, editaria também
os jornais L’Associazíone, L’Agitazíone, Volontà, Umanità
Nova e Pensiero e Volontà. Passou trinta e cinco anos de
sua vida no exílio, difundindo “a idéia” pela Espanha,
França, Suíça, Inglaterra, Portugal, Egito, Romênia,
Áustria-Hungria, Bélgica, Holanda, Estados Unidos,
Cuba e Argentina. Em 1874, foi preso pela primeira vez
por liderar uma insurreição em Apulia. Três anos de-
pois, no comando de um grupo de anarquistas, Malatesta
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Geografia espiritual
Bússolas, teodolitos e astrolábios são imprescindí-
veis para cartógrafos e exploradores; também para pro-
prietários de terras e governantes. Não obstante, a ter-
ra também foi uma cavidade moldada por caravanas
nômades, expedições perdidas, errâncias, diásporas,
odisséias e êxodos. O espaço físico não é um dado ma-
terial constante; ao contrário, é a argila fendida e modi-
ficada continuamente pelas leis humanas do
espaçamento, em cuja jurisdição regem o esforço e a
imaginação tanto quanto a sorte e a reticência da natu-
reza. Na conjunção destas quatro condições abrem-se
caminho às expedições de homens solitários ou de tro-
pas organizadas. Assim como alguns adivinham o des-
tino sobre um atlas portuário ou observando a rosa dos
ventos, outros avistam o caminho em manifestos ou nos
rumores emitidos nas cidades. Entre os homens e as
regiões existem secretas correspondências que o
cartógrafo faria bem em atender: paralelos insuspeitos,
e meridianos caprichosos. Onde localizar a seção áu-
rea, o “corte de ouro” dos pintores renacentistas, que
ajude a organizar as proporções de um atlas espiritual?
O ar familiar entre humanos e territórios pertence à or-
dem dos elementos cuja correspondência pode elevar-
se à altura de princípio cosmogônico. Essa correspon-
dência “cartográfica” podemos chamá-la geografia espi-
ritual, uma ciência que, sem renegar a história ou a
economia, torna evidente os passos perdidos, os cami-
nhos esquecidos, as rotas abandonadas, e sobretudo,
permite-nos a interseção com atlas imaginários (literá-
rios, utópicos, lendários) e com os dramas biográficos.
A imaginação se sobrepõe e se imprime na matéria: ser-
ve de exemplo a toponímia patagônica, que expõe a
transbordante criatividade lingüística de exploradores
e pioneiros: o humor e o delírio se unem a uma hagiologia
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Ouro e anarquia
O arame farpado e os decretos de criação de
governanças são as conseqüências forçosas do povoa-
mento pioneiro, prévio e desordenado, de um território.
Muito mais tarde, exploram-se as riquezas “naturais”
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A febre
Às vezes, a geografia prega peças pesadas aos esta-
distas: o ouro do Yukon se encontra a escassos quilô-
metros do Alaska, território norte-americano. Entretan-
to, sempre há compensação para os poderosos: déca-
das depois descobriu-se ouro negro no Alaska. E antes
ainda, os russos prosperaram com a carne da baleia e
com as peles dos grandes roedores e veados. Porém, ao
populacho, aos mendigos, aos párias e ao proletariado
somente lhes resta recorrer à sorte e à ilusão. Muitas
vezes isto acaba em desvario: o ouro e a febre são sia-
meses inseparáveis. A corrida do ouro, filme do comu-
nista Charles Chaplin sobre o rush do ouro do Yukon, e
o livro do anarquista B. Traven (Rett Marut) O Tesouro
de Sierra Madre, do qual John Houston dirigiu sua ver-
são, são duas indagações desoladoras sobre as conse-
qüências que traz consigo essa droga em pó. Muitos
que peregrinaram ao Yukon morreram de fome durante
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Gastronomia e anarquismo — vestígios de viagem à Patagonia trapeiro
Em letra de forma
Cada uma das expedições teve seu cronista. Ao ge-
neral Roca corresponde toda a história oficial, e em par-
ticular os comunicados de guerra da campanha militar
enviados a Buenos Aires. Seu partido político editará
um jornal, La Tribuna. Atualmente, o nome de Roca re-
pete-se em todas as placas de rua de uma das mais
importantes avenidas da cidade de Buenos Aires e seu
rosto ilustra a nota de 100 pesos, a mais valiosa das
notas argentinas. Não é surpreendente: a toponímia do
território assim como os monumentos urbanos e a efígie
gráfica obrigatória são privilégios dos Estados. Mas a
monetária constituirá, sem dúvida, uma glória efêmera:
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Tragédia
Em 1921, a Patagônia seria o cenário de um dos dra-
mas mais conhecidos da epopéia anarquista. Esse epi-
sódio trágico garantiu à região seu aparecimento no atlas
histórico da revolução. Nas greves e revoltas ocorridas
no Território de Santa Cruz morreram mais de mil tra-
balhadores. Mesmo assim, a Patagônia atrai a imagina-
ção libertária até os dias de hoje. Osvaldo Bayer, cro-
nista daquelas epopéias anarquistas de 1920 e 19217,
exigiu em 1996 a independência da Patagônia8, propos-
ta que lhe rendeu o desafeto do Senado Nacional, e a
ameaça de ser declarado persona non grata. Mas, pen-
sando melhor, é inevitável que encontremos anarquis-
tas em todos os aprisionamentos febris da história. Na
Febre do Ouro, lá estavam. A terra prometida é sempre
Terra Nova, e os primeiros que ali chegam logo desco-
brem que andaram a passos demasiado rápidos que os
levaram demasiado longe e que é tarde para voltar atrás.
Ironicamente, os anarquistas, quando ainda eram peri-
gosos, costumavam acabar no presídio de Usuahia, ins-
tituição que maculou a Terra do Fogo com o mote sinis-
tro de A Sibéria Argentina, a fria Ilha do Diabo9.
Seqüelas
Em 2 de abril de 1982, o exército argentino iniciou
abruptamente a conquista do único pedaço de solo
patagônico que cem anos atrás ficara fora de seu alcan-
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Gastronomia
Aqueles que se embrenham num território desconhe-
cido devem passar ainda por mais uma prova, e uma
das mais básicas: a prova da fome. Muitas vezes comer
e sobreviver tornam-se verbos homônimos. A comida —
salvo no caso do exército organizado de Roca — não era
garantida aos pioneiros, ao rei sem coroa, nem aos anar-
quistas. De cada uma das quatro expedições à Patagônia
cabe destacar sua derivação gastronômica, que depois
de tudo seria a única permanente. De antigos impérios
e de linguagens que alguma vez se falaram em enormes
extensões, hoje somente restam suas ruínas e suas
ininteligíveis escrituras. Entretanto, seus costumes
culinários sobreviveram às posteriores reorganizações
geopolíticas e na população, que, ao mesmo tempo, pôde
mudar seus deuses, sua tecnologia e seu alfabeto. A
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Notas
1
Galileo Palla, Cesare Agostinelli e outro, de sobrenome Meniconi.
2
Existia um sindicato de tipógrafos desde a década de 1870, organizado segun-
do modalidades mais clássicas, semelhante às organizações gremiais que for-
neciam ajuda mútua e formação profissional.
3
Foi publicado como prólogo do livro de Max Nettlau. Errico Malatesta. La vida
de un anarquista. Buenos Aires, Ed. La Protesta, 1923.
4
Luigi Fabbri. Malatesta. Buenos Aires, 1954.
5
Publicado em Paris em 1863. Antes de morrer voltaria a tentar uma alegação
em favor de seu reino, Araucanie, publicado em Bordeaux em 1878.
6
El reino de Araucanía y Patagonia. Buenos Aires, EMECE Editores, colección
“Buen Aire”, 1936. É curioso que Braun Menéndez, membro de uma das três
famílias mais ricas da Patagônia, contara a história do rei pobre. O filme cha-
mou-se La película del Rey, lançado em 1986, e dirigido por Carlos Sorín, com
roteiro dele e de Jorge Goldemberg.
7
Osvaldo Bayer. La Patagonia rebelde. 4 volúmenes, edición revisada y aumentada.
Buenos Aires, Ed. Planeta, 1982-2000. A edição original chamava-se Los
vengadores de la Patagonia trágica, editada em três volumes por Ed. Galerna, em
Buenos Aires, 1974-1975, e cujo quarto e último volume foi editado, já no
exílio de Bayer, na Alemanha, em 1978. Do livro, fez-se uma versão cinemato-
gráfica em 1974, que seria proibida naqueles anos: La Patagonia rebelde, dirigida
por Héctor Olivera, com roteiro de Bayer e Olivera.
8
Numa entrevista realizada na efêmera seção “Patagônia” do jornal Página/12.
9
O presídio funcionou até finais dos anos 1950. O anarquista mais famoso que
lá esteve confinado foi Simón Radowitzky, que executara o chefe de policia
Coronel Ramón Falcón, e que seria protagonista de duas frustradas fugas. Mui-
tos outros anarquistas permaneceram anos nesse lugar. Mas também ali estava
um preso enlouquecido conhecido como “O Rei das Finanças”, que realizava
rocambolescas e imaginárias especulações financeiras que faziam afluir à sua
cela milhões de dólares todos os dias para divertimento dos turistas ocasionais.
A história da via-crúcis de Radowitzky foi contada por Osvaldo Bayer em seu
livro Los anarquistas expropiadores. Buenos Aires, Ed. Galerna, 1975. E a história
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RESUMO
ABSTRACT
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verve
Porque a idéia de anarquismo é necessária à sociedade japonesa...
misato toda*
*
Professora na Universidade de Dunkyo, Japão. Autora de Errico Malatesta da
Mazzine à Bakunin. La sua formazione giovaline nell ‘ambiente napoletano (1868-1873).
Napoli, Guida, 1988.
verve, 3: 161-177, 2003
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Porque a idéia de anarquismo é necessária à sociedade japonesa...
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3
2003
176
verve
Porque a idéia de anarquismo é necessária à sociedade japonesa...
Nota
1
Tradução de Margareth Rago
RESUMO
ABSTRACT
177
3
2003
edson passetti*
*
Professor no Depto. de Política do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Ciências Sociais da PUC-SP e Coordenador do Nu-Sol.
179
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Rebeldias e invenções na anarquia
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Rebeldias e invenções na anarquia
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3
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186
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Rebeldias e invenções na anarquia
Notas
1
Neste sentido, permanece atual e ativa a noção de homem revoltado de Albert
Camus, em O homem revoltado. Record, Rio de Janeiro/São Paulo, 1996.
2
Proudhon Pierre-Joseph, O princípio federativo, São Paulo, Imaginário, 2000; De
la création de l’ordre dans l’humanité, Paris, Marcel Rivière, 1927. Convém
ainda chamar a atenção para o derradeiro livro escrito por Proudhon e atual a
qualquer ocasião. Trata-se do livro concluído em 1864, De la capacite politique da
clase ouvrière, Paris, Marcel Rivière, 1924, no qual Proudhon sublinha a necessi-
dade de se rebelar constantemente, não havendo descanso para os libertários
na história. A sociedade livre, da Anarquia ou Liberdade, depende de uma re-
belião permanente antes, durante e depois. Os libertarismos de Proudhon e
Stirner se comunicam por intensidades, assim como podem ser remetidos a
Camus.
3
A historiadora Christina Lopreato, chamava minha atenção para a crítica
dirigida por mim a Kropotkin, em artigo na Verve 2. Dizia ela que a aversão de
Kropotkin à universidade se devia às condições históricas de época. De fato.
Contudo, há uma permanência ossificada desta aversão histórica que prosse-
187
3
2003
RESUMO
ABSTRACT
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Diversões decriança ,
as idéias humanas.
Heráclito
189
3
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louk hulsman*
190
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Temas e conceitos numa abordagem abolicionista da justiça criminal
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2003
Notas
1
Texto apresentado, inicialmente, no “Seminário Internacional: O abolicionismo
Penal”, realizado na PUC-SP, em 1997 e publicado em Edson Passetti e Roberto
B. Dias da Silva (orgs). Conversações abolicionistas: uma crítica do sistema penal e da
sociedade punitiva. São Paulo, IBCCrim/PPG - Ciências Sociais PUC-SP, 1997.
Edição esgotada. Tradução de Maria Abramo Brant de Carvalho.
2
Nos contextos sociais com os quais tornei-me mais ou menos familiarizado
em muitas partes do mundo, o modo de interação de punição era reservado a
situações-problema relativamente simples de importância menor. Questões mais
complicadas ou mais importantes eram sempre lidadas de outras maneiras.
3
Isto é verdadeiro até para as pessoas que, enquanto profissionais, trabalham
nas organizações que formam a base material do sistema. A divisão de trabalho
dentro do sistema torna praticamente impossível para os funcionários terem
experiência direta das diferentes atividades que, juntas, formam o processo de
criminalização.
4
A punição “completa” pressupõe o acordo entre punidor e punido: um
“punidor” que quer punir e uma pessoa punida que aceite a atividade do punidor
como uma punição. É possível que alguém experimente uma decisão de outra
pessoa como punição, apesar do suposto punidor não ter tido a intenção de
punir. Considere alguém que receba em seu emprego outra função que experi-
menta como sendo degradante e que erroneamente supõe que esta mudança
de função foi feita com a intenção de puni-lo. É possível, também, que alguém
queira punir e o “punido” não reconheça sua autoridade para fazê-lo, experi-
mentando esta atividade como violência ilegítima. Dentro de um processo de
justiça criminal, eventos de punição “real” podem ocorrer quando relações de
autoridade entre as pessoas envolvidas forem estabelecidas. Observei isto num
documentário onde um policial mais velho criou uma relação real com um
acusado mais jovem e o puniu durante o processo de investigação. Ele repre-
endeu sua atitude numa relação de autoridade e esta repreensão foi aceita como
tal. A punição é melhor definida, para mim, como uma repreensão numa rela-
ção de autoridade. Esta repreensão pode ser combinada ou expressa com o
inflingimento de dor, mas este inflingimento de dor não parece ser um ele-
mento necessário da punição.
5
Claudia Lauh, uma socióloga argentina que trabalhou por muito tempo no
Ministério de Questões Sociais na província de Córdoba, Argentina, tem um
papel central nesta organização. Ela também está associada às atividades do
Fórum Europeu para a Segurança Urbana. Foi no contexto das atividades do
Fórum que eu a encontrei pela primeira vez. A participação nas atividades do
Fórum foi muito frutífera para que eu tivesse uma compreensão melhor das
questões discutidas neste texto.
214
verve
Temas e conceitos numa abordagem abolicionista da justiça criminal
6
Refiro-me aqui, em primeiro lugar, ao valor crítico acadêmico incorporado na
expressão: “não necessariamente”: um valor crítico emancipatório. Uma parte
muito importante da produção acadêmica refere-se a valores que não são de
maneira alguma emancipatórios.
7
Explicarei mais tarde, com mais detalhes, que o fato de que uma situação
possa catalisar processos de criminalização (primária ou secundária) não impli-
ca de maneira alguma que a situação seja problemática. Organizações como a
polícia, tribunais, o executivo e o parlamento envolvem-se, em primeiro lugar,
em atividades de criminalização porque isto é visto como seu interesse ou por-
que não fazê-lo é visto como prejudicial a elas; a mesma coisa é, em muitos
aspectos, verdadeira para os atores individuais dentro destas organizações. Sob
a perspectiva da linguagem dominante no debate da justiça criminal (e no de-
bate político em geral) é fácil para os atores individuais neutralizarem “sua
própria responsabilidade” pelas conseqüências.
8
Digo “ajudar as pessoas” e não “desenvolver modelos para lidar...” porque
concordo com a maneira pela qual Foucault (em “Qu’ apelle -t-on punir”, in F.
Ringelheim (org.). Punir mon beau souci. Bruxelas, Presses Universitaires de l’
Université Libre, 1985.) define o papel do acadêmico nestas questões. De acor-
do com ele, os acadêmicos não deveriam lutar para fazer o papel do profeta
intelectual que diz às pessoas o que elas devem fazer e lhes prescreve mentali-
dades, objetivos e meios (que desenvolve em sua cabeça, trabalhando em seu
escritório, cercado por suas ferramentas – a maneira tradicional na qual muitos
acadêmicos da lei criminal trabalharam). Ao invés disto, o papel do acadêmico
é mostrar 1) como as instituições realmente funcionam e 2) quais são as conse-
qüências reais de seu funcionamento nos diferentes segmentos da sociedade.
Além disso, ele tem de descobrir 3) os sistemas de pensamento que jazem sob
estas instituições e suas práticas. Ele tem de mostrar o contexto histórico des-
tes sistemas, as restrições que eles exercem sobre nós, e o fato de que eles
tornaram-se tão familiares que são parte de nossas percepções, atitudes e com-
portamentos. Por último, 4) ele tem que trabalhar com os envolvidos e com
praticantes para modificar as instituições e suas práticas e desenvolver outras
formas de pensamento. Não é possível ser fiel a este modelo de funcionamen-
to e desenvolver modelos especulativos de alternativas.
9
Quero dizer acordo no fato de que as estruturas estatais devem ser seculares
e não fundamentalistas. Todo mundo tem consciência do fato de que esta exi-
gência não é, em muitas áreas, satisfeita de maneira alguma. Muitas práticas
estatais ainda seguem o modelo de religiões totalitárias e autoritárias.
10
Menciono-as aqui de forma “estenográfica”, como as apresentei anterior-
mente em Hulsman (em “Prevención del delito y nuevas formas de justicia”.
Prevencio quaderns déstudis/documentacio, Março, 1996). Elas foram mais
desenvolvidas em Faugeron e Hulsman (em “Le développemente de la
criminologie au sein du Conceil de l’Europe: état et perspectives”, in F. Tulkens
e H. Boslay (orgs.). La justice pénale en Europe. Bruxelas, 1996).
215
3
2003
11
J. Gunsfield. The culture of public problems. Drinking and driving and the symbolic
order. Chicago/Londres, 1981.
12
A idéia básica é a de que a punição de acordo com a gravidade é a pedra
fundamental da ordem. Relacionada a isto está a idéia de que agressores espe-
cialmente sérios não podem escapar da punição: “isto é tão sério que não pode
deixar de receber punição”. Na prática, eventos com conseqüências realmente
desastrosas, como a limpeza étnica na Iugoslávia e na África são quase sempre
praticados sem punição. Além disso, na minha experiência, pessoas que conhe-
ço (na Holanda e em outros lugares do mundo) usam o modelo de punição
para controlar socialmente transgressões de regras pequenas e não tão impor-
tantes. Quando as coisas se tornam sérias, as pessoas recorrem a tipos muito
diferentes de controle social: recompensas, conciliação, negociação. Isto não é
verdadeiro somente em problemas familiares, mas em geral (relações de traba-
lho e negócios etc).
13
Em outros processos legais (civis/administrativos), a pessoa prejudicada é
claramente o cliente e tem o poder (sobre os profissionais) de orientar os pro-
cedimentos. Se não estiver satisfeita, ela pode parar com os procedimentos. A
parte chamada ao tribunal também torna-se um cliente e também tem poder.
Na justiça criminal, isto é diferente. Este aspecto foi mais elaborado em
Faugeron e Hulsman, Op. Cit., 1996.
14
E. Fattah. “From a handful of dollars to tea and sympathy”. Amsterdam, 9th.
International Symposium on Victimology, 1997.
15
Para uma aplicação concreta de tal abordagem à política criminal veja a 15ª
Conferência de Pesquisa Criminológica do Conselho da Europa (1984), espe-
cialmente as recomendações adotadas e conclusões da conferência. Conselho
da Europa: “Comportamento e Atitudes Sexuais e Suas Implicações na Lei
Criminal” (Strasburgo, 1984).
16
Em questionários de auto-denúncia, pergunta-se a uma amostra de pessoas a
freqüência com a qual cometeram atos criminalizáveis em um determinado
período e o quão freqüentemente isto foi seguido por uma intervenção da jus-
tiça criminal. Nos questionários sobre vítimas, questões são perguntadas sobre
a freqüência e natureza de problemas que foram conseqüência de atos
criminalizáveis. Em muitos países: Estados Unidos, Holanda etc, questionários
sobre vítimas ocorrem regularmente e levam a estatísticas separadas. Estas
estatísticas formam, então, a base primária de dados (combinadas com estatís-
ticas da polícia e dos tribunais) para os criminologistas.
17
L. Hulsman. “The abolicionist case: alternative crime policies”. Israel Law
Review, vol. 25, no. 3-4, 1991.
18
No entanto, o impacto negativo da criminalização em certos segmentos da
população é muito maior do que geralmente se imagina. Mesmo num país como
a Holanda (que tinha uma população carcerária relativamente baixa), um estu-
216
verve
Temas e conceitos numa abordagem abolicionista da justiça criminal
217
3
2003
24
A distinção entre os que estão diretamente envolvidos e os que não estão é
bastante clara na área central do conceito, mas na periferia pode ser bastante
controversa. A distinção também não é uniforme para as diferentes práticas
nas quais o conceito tem de ser aplicado (especialidades sócio-médicas, legais,
de administração pública, jornalísticas e de outros meios de comunicação). O
pesquisador tem de estar consciente destas diferenças na construção dos indi-
cadores necessários. Na minha opinião, a noção dos “diretamente envolvidos”
não pode ser restrita nas práticas legais a pessoas físicas individuais: corporações
e outras “coletividades” podem também ser diretamente envolvidas. Na lei
civil, muito material interessante para delimitar as fronteiras entre os direta-
mente envolvidos e os não diretamente envolvidos pode ser encontrado.
25
Liberar a sua diversidade também é uma obrigação legal na perspectiva dos
direitos humanos: a igualdade das pessoas perante a lei tem de ser baseada no
reconhecimento de sua diversidade. Sem a emancipação das pessoas que se
sentem prejudicadas ou vitimizadas, a integração social permanece sendo uma
ilusão.
26
A liberação de pessoas injustiçadas e daqueles que são convidados a intervir
em situações-problema já é posta em prática em algumas forças policiais locais
para promover a segurança urbana. Informações sobre estas práticas podem
ser obtidas nas publicações do Forum European for Urban Security, 38, Rue
Liancourt, 75014, Paris, France. Tel. 33-143278311.
27
Hulsman e Bernard de Celis, Op. Cit., 1993.
28
A respeito do Fórum, veja a publicação (em inglês e francês) Security and
Democracy. Analytical college on urban safety. Forum Europeen pour la Securité
Urbaine, 1994.
29
E. Zaffaroni (Em busca de las penas perdidas. Buenos Aires, Ed. Ediar, 1989) é,
duplamente, um bom exemplo: o que você pode conseguir numa direção
abolicionista na universidade e como advogados podem contribuir de modo
abolicionista nos tribunais.
30
Hulsman e Bernat de Celis, Op. Cit.,1993 e Hulsman, Op Cit., 1991.
218
verve
Temas e conceitos numa abordagem abolicionista da justiça criminal
RESUMO
ABSTRACT
219
3
2003
salete oliveira*
Grotescos
Crianças são temidas. Crianças exasperam. Crian-
ças desconcertam. Crianças descabelam. Crianças des-
fazem certezas seguras no extravio inesperado de bus-
cas inférteis que não suportam o jogo arriscado da ins-
tabilidade. Crianças reverberam tons cruéis que
desfazem os nós planos de verdades centralizadas que
não concebem a vida sem o seu assentamento entrela-
çado em confortáveis redes de segurança. Crianças são
o desespero para a centralidade da ordem e seus diletos
defensores. Crianças são enjauladas nas grades da es-
perança do futuro no progresso, precisamente, por se
mostrarem o incontível na afirmação do presente.
Crianças são enclausuradas no jogo da defesa dos
direitos porque a lógica da centralidade não dispensa
que sejam destinadas a elas cotas de proteção e corre-
ção que devem fazer cabê-las na reconstrução do rol
dos confessados, reatualizando acomodações entre pas-
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O Estado contra os jovens
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Espelho inequívoco
Os perpétuos reequacionamentos burocráticos tra-
zem subordinados a si as resistências mais veiculadas,
portadoras de reacomodações que imprimem uma du-
pla centralização, equalizando-se no mesmo tom daquilo
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O Estado contra os jovens
Notas
1
Texto extraído de Política e Peste: Crueldade, Plano Beveridge, Abolicionismo Penal.
São Paulo, Tese de Doutorado em Ciências Sociais - PUC/SP, 2001.
2
Edson Passetti. “Abolicionismo penal: um saber interessado” in Discursos Sedi-
ciosos - crime, direito e sociedade, ano 6 no 12, Rio de Janeiro, Freitas Bastos Editora/
Instituto Carioca de Criminologia, 2001, p. 51.
3
Idem. Política Nacional de Bem-Estar do Menor. São Paulo, Dissertação de Mestrado
- PUC/SP, 1982, p. 56.
4
“Art. 2°. Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor:
I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instru-
ção obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-
los;
II - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos
pais ou responsável;
III - em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons
costumes;
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual
dos pais ou responsável;
V - com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação famili-
ar ou comunitária;
VI - autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe,
exerce a qualquer título, vigilância, direção ou educação do menor, ou voluntariamente o traz
em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial”. Código de menores de
1979.
5
Sobre a criação da Secretaria do Menor e seus posteriores desdobramentos
até 1994, ver Marcia Cristina Lazzari. Panacéia Burocrática: uma secretaria de governo
para crianças e adolescentes no estado de São Paulo. São Paulo, Dissertação de Mestrado
em Ciências Sociais - PUC/SP, 1998. “Foram analisados os documentos elaborados
pela Secretaria concernentes às formulações básicas dos programas, os dados estatísticos de
boletins relativos ao número de atendimentos e cálculos orçamentários voltados para as folhas
de pagamento e despesas. (...) A Secretaria entendida enquanto produto da intervenção demo-
243
3
2003
crática mostra o jogo de deslocamentos entre beneficiários que consolida a burocracia adminis-
trativa como articuladora central e segmento principal na realização dos interesses e dentro do
governo. As reformas administrativas, como resposta às crises cíclicas das políticas sociais,
apontaram para um reajuste das burocracias, enquanto a clientela alvo continuou funcionando
como justificativa para outras reformas (...) assistimos a realização da panacéia burocrática
como continuidade fundada numa suposta política de descontinuidade” (Idem, p. 3). A
autora, neste estudo, demonstra como os vários projetos, introdução de pro-
gramas, revisão de metas e reprodução de reformas da Secretaria provocou o
escandaloso resultado remetido à sua própria sobrevivência: a realização fan-
tástica que consistiu em que em 1994 o número de funcionários administrati-
vos ultrapassasse de longe o número de crianças e adolescentes atendidos pe-
los diversos programas criados no período analisado.
6
Michel Foucault. Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo,
Martins Fontes, 2001, p. 16.
7
Loïc Wacquant. As prisões da miséria. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001.
8
Karl Marx. A questão judaica. São Paulo, Editora Moraes, s.d., pp. 75-76.
9
“Os conceitos de ‘menor’ e de ‘minoria’ — antes acontecimentos singulares do que essências
individuais, antes individuações por ‘ecceidade’ do que substancialidade — foram elaborados
por G. Deleuze e F. Guatarri, in Kafka Pour une littérature mineure (Paris, Éd de Minuit,
1975), retomados por Deleuze no artigo ‘Philosophie et minorité” (Critique, fevereiro
1978), e desenvolvido ulteriormente em especial em G. Deleuze e F. Guatarri. Mille plateux.
Capitalisme et schizophrénie. Paris, Éd De Minuit, 1980. Nota de Foucault.
10
Michel Foucault. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976).
São Paulo, Martins Fontes, 1999, pp. 14-16.
11
Samuel Beckett. O inominável. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1989, p.18.
12
Michel Foucault. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1979, pp.
73-74.
13
Louk Hulsman &Jacqueline Bernat de Celis. Penas perdidas: o sistema penal em
questão. Rio de Janeiro, Luam Editora, 1993, pp. 179-180.
244
verve
O Estado contra os jovens
RESUMO
ABSTRACT
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3
2003
lúcia soares*
*
Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e pesquisadora no Nu-Sol.
verve, 3: 246-256, 2003
246
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Violência contra a mulher e o abolicionismo penal
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3
2003
Notas
1
Texto extraído de Mulheres e punição: uma história das Delegacias de Defesa da Mu-
lher. São Paulo, Tese de Mestrado em Ciências Sociais — PUC/SP, 2001.
2
“Dentro do conceito de criminalidade, uma grande variedade de situações
são colocadas juntas. A maioria delas, no entanto, tem propriedades separadas
e nenhum denominador comum: violência dentro da família, violência num
contexto anônimo nas ruas, invasão de propriedades privadas, formas comple-
tamente diferentes de receber bens ilegalmente, diferentes tipos de conduta no
tráfico, poluição do meio-ambiente e algumas formas de atividades políticas.
Nenhuma estrutura comum pode ser encontrada na motivação daqueles que
estão envolvidos em tais eventos, nem na natureza das conseqüências, nem nas
possibilidades de se lidar com eles (seja no sentido preventivo, seja no sentido
do controle do conflito). Tudo o que estes eventos têm em comum é o fato de
que o sistema judiciário está autorizado a tomar providências contra eles. Al-
guns destes eventos causam sofrimento considerável àqueles diretamente en-
254
verve
Violência contra a mulher e o abolicionismo penal
255
3
2003
RESUMO
ABSTRACT
256
verve
Política das drogas e a lógica dos danos
thiago rodrigues*
Friedrich Nietzsche
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Política das drogas e a lógica dos danos
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2003
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Política das drogas e a lógica dos danos
271
3
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272
verve
Política das drogas e a lógica dos danos
273
3
2003
Notas
1
Edson Passetti. Das fumeries ao narcotráfico. São Paulo, EDUC, 1991.
2
John Marks. “Dosagem de manutenção de heroína e cocaína” in Maurides
Ribeiro & Sérgio Seibel (orgs.). Drogas: hegemonia do cinismo. São Paulo, Memorial
da América Latina, 1997.
3
G. Alan Marlatt. “Redução de danos no mundo: uma breve história” in G.
Alan Marlatt (e cols.). Redução de danos: estratégias práticas para lidar com comportamen-
tos de alto risco. Porto Alegre, Artmed, 1999.
274
verve
Política das drogas e a lógica dos danos
4
Edward MacRae. Redução de danos para cannabis e alucinógenos. Apresentação rea-
lizada no Seminário Nacional de Redução de Danos. São Paulo, novembro de
2002, [mimeo].
5
Peter Lurie. “Redução de danos: a experiência norte-americana” in Maurides
Ribeiro e Sérgio Seibel (orgs.), op. cit.
6
Edward MacRae, op. cit., 2002, p. 01.
7
Idem.
8
A eficiência da metadona no tratamento de heroinômanos é contestada no
meio médico devido ao alto grau aditivo atribuído à droga. Questiona-se se a
aplicação de metadona simplesmente não substituiria um hábito por outro;
com a diferença de que a produção comercial da metadona envolve maiores
interesses da indústria farmacêutica do que a banida produção de heroína. Essa
mesma indústria defende a eficiência da substância nos processos de
desintoxicação. Antonio Escohotado. O livro das drogas. São Paulo, Dymanis
Editorial, 1997 e John Marks. “Dosagem de manutenção de heroína e cocaína”
in Maurides Ribeiro & Sérgio Seibel (orgs.). Drogas: hegemonia do cinismo. São
Paulo, Memorial da América Latina, 1997.
9
G. Alan Marlatt. “Princípios básicos e estratégias de redução de danos” in G.
Alan Marlatt, op. cit.
10
G. Alan Marlatt & Kenneth Wingardt. “Redução de danos e políticas públi-
cas” in G. Alan Marlatt, op. cit.
11
Guilherme Corrêa. “Escola-droga” in Verve. São Paulo, Nu-sol/PUC-SP, no
1, 2002, pp. 165-181.
12
G. Alan Marlatt. “Redução de danos no mundo: uma breve história” in G.
Alan Marlatt (e cols.), op. cit.
13
idem, p. 46.
14
Ibidem.
15
Antonio Escohotado. O livro das drogas. São Paulo, Dymanis Editorial, 1997.
16
G. Alan Marlatt & Kenneth Wingardt. “Redução de danos e políticas públi-
cas” in G. Alan Marlatt, op. cit. p. 257.
17
Idem, p. 258.
18
Na Holanda, o proibicionismo mais tradicional (aquele afinado às diretrizes
internacionais e estadunidenses) vigorou até meados da década de 1970. Em
1976, foi aprovada a Lei Holandesa do Ópio, que diferenciava drogas psicoativas
que produziam efeitos toleráveis (haxixe, maconha) e as que não (heroína, co-
caína, LSD, anfetaminas). Nos anos oitenta, as mudanças ocorridas no sentido
da aplicação de medidas de redução de danos para consumidores de heroína
assinalou um novo percurso que, todavia, não implicava na reformulação das
leis específicas de drogas. Em 1996, em resposta às pressões dos Estados Uni-
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3
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dos e de vizinhos europeus (que visavam coibir viagens de “turismo das dro-
gas” à Holanda), os Países Baixos limitaram a venda de maconha e haxixe nos
coffee shops (estabelecimentos com autorização para vender esses psicoativos)
das antigas 30g para 05g por pessoa. Aos holandeses ficou permitido o cultivo
de até 10 pés de maconha por indivíduo cultivador. Essas medidas denotam a
preocupação do Estado holandês em restringir a produção e venda de maco-
nha e haxixe em níveis mínimos para consumo pessoal. Dessa maneira, perce-
be-se que a Holanda não é um país tão permissivo quanto o senso comum
sobre a questão das drogas ilegais ou as diretrizes proibicionistas internacio-
nais pode considerar.
19
G. Alan Marlatt & Kenneth Wingardt, op. cit.
20
John Marks, op. cit.
21
G. Alan Marlatt. “Redução de danos no mundo: uma breve história” in G.
Alan Marlatt (e cols.), op. cit., p. 50.
22
Idem, p. 51.
23
John Stuart Mill. A Liberdade e Utilitarismo. São Paulo, Martins Fontes, 2000,
pp. 119-120.
24
Idem, p. 122.
25
Michel Foucault. “O nascimento da medicina social” in Microfísica do poder,
Rio de Janeiro, Graal, 1998.
26
Salete Oliveira. Política e Peste: Crueldade, Plano Beveridge, Abolicionismo Penal. São
Paulo, Tese de Doutorado em Ciências Sociais — PUC/SP, 2001.
27
Edward MacRae & Júlio Simões. Rodas de Fumo — O uso da maconha entre cama-
das médias urbanas. Salvador, EDUFBA, 2000.
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verve
Política das drogas e a lógica dos danos
RESUMO
ABSTRACT
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O mundo do terror e da insegurança
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Minha avó me fez anarquista
Resenhas
*
Autodidata. Entre outras publiações encontram-se Errico Malatesta, Articles
politiques, Paris, 10/18, 1979, 439 pp., com o psudônimo de Isräel Renov e Ouevres,
de Piotr Kropotkin, Paris, Maspéro, 1976, 445 pp., sob o pseudônimo de Martin
Zemliak.
1
Tradução de Natalia Montebello.
verve, 3: 297-300, 2003
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História, memória, invenção
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História, memória, invenção
Nota
1
Hans Magnus Enzensberger. O Curto Verão da Anar-
quia. São Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 16.
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O anarquismo hedonista de Michel Onfray
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O anarquismo hedonista de Michel Onfray
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Oreste Ristori, uma biografia
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Oreste Ristori, uma biografia
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clevelândia do norte
— aqui começa o brasil! carlo romani*
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Clevelândia do Norte — aqui começa o Brasil!
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Clevelândia do Norte — aqui começa o Brasil!
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Clevelândia do Norte — aqui começa o Brasil!
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Nota
1
“Aos companheiros da construção civil”, A Nação, 10/03/1927 in J. F. Dulles,
Anarquistas e comunistas no Brasil.
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Ruídos e rebeldias: Boletim do Centro de Cultura Social (1985-2003)
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Ruídos e rebeldias: Boletim do Centro de Cultura Social (1985-2003)
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Nota
1
Nildo Avelino. Boletim do Centro de Cultura Social. No 3. CCS, maio/junho
1999.
elogio no
desejo, juízo na prisão edson lopes*
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Elogio no desejo, juizo na prisão
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Elogio no desejo, juizo na prisão
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Nota
1
Oscar Wilde. A alma do Homem sob o socialismo. Rio Grande do Sul, LP&M,
1998, p. 26.
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Crime e sobrevivência
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Kropotkin e as prisões
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verve
Kropotkin e as prisões
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3
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salete oliveira e
o fogo de foucault edson passetti*
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3
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O fogo de Foucault
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3
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Max Stirner
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